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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

ANIMAIS OBSERVADOS E CAPTURADOS NO PROGRAMA DE


AFUGENTAMENTO E RESGATE DE FAUNA DURANTE
SUPRESSÃO DE MANGUEZAL-PE
Jonathas Lins de Souza1, Eduardo Pereira Duarte da Silva2, David Luan Alves dos Santos3, Rafael Cavalcanti
Damasceno4, Paulo Henrique Pereira Gusmão5, Andreza Cristina da Rocha6, Geraldo Jorge Barbosa de Moura7

Introdução
Manguezais são ecossistemas de transição entre o meio marinho e o meio terrestre que se estabelecem em áreas sob
ação de marés (Olmos et al., 2003). Ocorrem em regiões costeiras abrigadas e apresentam condições propicias para
alimentação, proteção e reprodução de varias espécies animais, sendo assim considerados importantes transformadores
de nutrientes em matéria orgânica e geradores de bens e serviços (Schaeffer-novelli, 1995).
Segundo Silva & Freitas (2004), a primeira atividade de resgate na América do Sul ocorreu na segunda metade da
década de 60 no Suriname, realizada no reservatório da UHE Brokopondo e denominada de operação Gwanba e durou
18 meses. No Brasil atividades de resgate de fauna estão geralmente relacionadas a processos de construção de
reservatórios, o que é uma prática recente, sendo o primeiro registro e preocupação ocorrente devido ao afugamento de
animais silvestres em face do alagamento de vastas áreas em 1974 quando, durante o enchimento do reservatório de
propriedade da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), onde apareceram problemas com animais que ficaram
ilhados pelas águas sendo salvos numa operação de emergência pela Fundação Parque Zoológico de São Paulo e pela
Polícia Florestal (Chesf, 1994). Pode-se interpretar como processo de fragmentação, qualquer alteração realizada em um
habitat original, assim como processos que dividam habitats contínuos em manchas muito ou pouco isoladas (Mma,
2003). Desta forma, espécies da fauna que necessitem de grandes áreas de vida podem ser prejudicadas, assim como
espécies que careçam de habitats específicos para reprodução e/ou alimentação (Oehlmeyer et al., 2010).

O objetivo deste trabalho é relatar os resultados de um Programa de Afugentamento e Resgate de Fauna utilizado
como método de mitigar os impactos gerados sobre o meio biótico em decorrência da instalação de um empreendimento
no ecossistema manguezal no Estado de Pernambuco.

Material e métodos
A área de estudo foi um manguezal próximo ao rio Tatuoca em Suape Pernambuco. Durante o Programa de
Afugentamento e Resgate de Fauna foram utilizadas as metodologias de afugentamento e resgate de fauna em conjunto.
A Equipe de Fauna, composta por biólogos e estudantes de graduação em Biologia, acompanhada por técnicos da
empresa, esteve equipada com materiais próprios para atividades, como ganchos e pinças para serpentes, puçás para
mamíferos, caixas e sacos de contenção, bem como itens de proteção e segurança da equipe.

A metodologia de afugentamento consiste em afastar a maior parte da fauna existente dos locais de intervenção. Para
isso, precedendo as atividades de supressão vegetal, todo o trecho onde houve interferência foi percorrido, com a
finalidade de reconhecer tocas, ninhos e passagens de fauna, os quais eram marcados com fita tipo zebrada.
Posteriormente ao reconhecimento foram realizadas rondas de afugentamento da fauna com intervenção nos animais que
apresentavam baixa mobilidade, que foram resgatados e manejados em área segura. A Equipe de Fauna permaneceu no
durante toda a supressão para atender possíveis acidentes com a fauna local. Os dados sobre animais observados e
resgatados foram anotados e tabulados em uma planilha do programa Microsoft Excel, onde foram elaboradas as
tabelas, gráficos e cálculos (Lapponi, 2005).

Resultados e Discussão
O trabalho de Afugentamento e Resgate de Fauna iniciou-se em 2 de abril e finalizou 22 de junho de 2013. Durante
todo o período a Equipe de Fauna permaneceu no local da obra acompanhando a supressão do habitat Manguezal,

1,2,4,5
Graduandos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas – UFRPE. Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52.171-900.Email: jonathas_lins@oi.com.br
3
Graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas – FAFIRE.
6
Sexto autor é Segundo Autor é Graduando do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Departamento de Biologia, Universidade Federal de
Pernambuco. Centro Acadêmico de Vitoria de Santo Antão. Rua do Alto do Reservatório S/N Bela Vista.Vitoria de Santo Antão. Cep 55608-680
7
Lab. de Estudos Herpetológicos e Paleoherpetológicos da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Programa de Pós-graduação em Ecologia-
UFRPE; Programa de Pós-graduação em Etnobiologia e Conservação da Natureza-UFRPE; Programa de Pós-graduação em Ecologia Humana e
Gestão Socioambiental-UNEB; Programa de Pós-graduação em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável-UPE.
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executando o monitoramento, afugentamento e fazendo o resgate das espécies e espécimes quando necessário.
Verificou-se que as espécies da classe Reptilia foram predominantes no processo de contenção e manejo (75%),
sendo seguidas por Mamalia (13%) e Aves (12%). Segundo Pough et al. 2008, isso justifica-se pelo fato de os “répteis”
serem animais que apresentam baixa mobilidade, ou seja, baixa taxa de deslocamento, o que os põem em “desvantagem”
em relação a outros animais, tornando fácil a captura. Já em relação ao afugentamento e observação do deslocamento
normal, observou-se predominância da classe Aves (88%) seguida por Mamalia (9%) e Reptilia (3%), visto que as duas
primeiras são de grupos animais com maior mobilidade e deslocamento (Pough et al., 2008). Em linhas gerais apenas
8% das espécies foi manejada e contida em quanto 80% foi afugentada ou apresentava processo de deslocamento
normal, sem nenhum histórico de óbito, o que fez com que se considerasse a operação um sucesso. Induzir o
deslocamento natural dos animais e evitar manejo/contenção dos animais, além de ter equipe acompanhando a supressão
na medida em que ela avança podem ser metodologias viáveis no que se refere à prevenção de acidentes com animais (e
até mesmo com humanos) e diminuição da taxa de mortalidade dos mesmos, garantindo a sobrevivência e homeostasia
da fauna antes e depois da supressão de áreas verdes. Em trabalho feito por Oehlmeyer et al. (2010), no qual foi
utilizada metodologia semelhante a nossa, 17 indivíduos da fauna foram, ainda assim, encontrados em estado de óbito
durante a supressão, devido a atropelamentos pelos carros/máquinas. Todos os animais contidos Figuras 1A, 1B, 1C, 1D
e 1E foram liberados na área de soltura, por não apresentarem nenhuma lesão. A Tabela 1 demonstra o inventario das
40 espécies presentes durante o processo de supressão do manguezal, a partir da qual se pode concluir que trabalhos
como este ajudam na diminuição do impacto causado aos animais durante as construções de grandes complexos,
prédios, entre outros empreendimentos considerando a operação como um processo de conservação.

Referências
Chesf – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco. Usina Hidrelétrica de Xingo: Projeto Básico Ambiental – PBA;
Programa de aproveitamento Científico da fauna Silvestre. ENGE – RIO, fevereiro de 1994.

Lapponi, J.C. Estatística usando Excel. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

Mma. Fragmentação de Ecossistemas: Causas, efeitos sobre a biodiversidade e recomendações de políticas públicas –
Ministerio do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e Florestas. Brasilia, 2003, 510p.

Oehlmeyer, A. S.; Narita, J. ; Alves, F. A.; Lima, J. R. V. Programa de afugentamento e resgate de fauna durante a
implantação de um empreendimento no bioma Mata Atlântica SP. In: VI Simpósio de Meio Ambiente, 2010, Viçosa -
SP. Anais do VI Simpósio de Meio Ambiente, 2010.
Olmos F, Silva e Silva R. Guará: ambiente, flora e fauna dos manguezais de Santos-Cubatão. São Paulo: Empresa das
Artes; 2003, 216p.
Pough, F.H., Janis, C.M.; Heiser, J.B. A vida dos vertebrados. São Paulo: Atheneu, 2006.

Schaeffer-novelli, Y. Manguezal: ecossistema entre a terra e o mar. São Paulo: EDUSP, 1995, 64p.

Figura 1. Philodryas olfersii (A); Tupinambis merianae (B); parte da equipe de resgate (C); Iguana iguana (D;, Crotalus durissus
(E).
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Tabela 1. Espécies encontradas durante da supressão de fauna em hábitat Manguezal.

A/O = Afujentado ou Observado


em Deslocamento. C/M =
CLASSE NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR Contido e Manejado
Reptilia Philodryas olfersii cobra-verde C/M
Reptilia Crotalus durissus cascavel C/M
Reptilia Botrophis SP jararaca C/M
Reptilia iguana iguana iguana C/M
Reptilia Tupinambis merianae tejú C/M
Reptilia Bufo granulosus sapo-cururu C/M
Reptilia Boa constrictor jiboia A/O
Aves Guira guira anu branco C/M
Aves Turdus rufiventris sabia A/O
Aves Passer domesticus pardal A/O
Aves Pitangus sulphuratus bem ti-vi A/O
Aves Fluvicola nengeta lavadeira A/O
Aves Egretta thula garça pequena A/O
Aves Bubulcus íbis garça vaqueira A/O
Aves Ardea Alba garça branca grande A/O
Aves Volatinia jacarina tziu A/O
Aves Estrilda astrild bico de lacre A/O
Aves Tangara sayaca sanhaçu A/O
Aves Coereba flaveola cambacica A/O
Aves Coragyps atratus urubu da cabeça preta A/O
Aves Euphonia chlorotica fim fim A/O
beija-flor-de-banda-
Aves Amazilia versicolor branca A/O
Aves Troglodytes musculus rouxinol A/O
Aves Columbina passerina rolinha-cinzenta A/O
beija-flor-rabo-de-
Aves Eupetomena macroura tesoura A/O
Aves Myiozetetes similis bem-te-vi-do-pequeno A/O
Aves Tyrannus melancholicus siriri A/O
Aves Forpus xanthopterygius tapacu A/O
Aves Columba Lívia pombo-doméstico A/O
Aves Vanellus chilensis quero quero A/O
Aves Caracara plancus carcará A/O
Aves Rupornis magnirostri gavião-carijó A/O
Aves Tangara cayana frei-vicente A/O
Aves Sicalis flaveola canário-da-terra A/O
Aves Sporophila nigricollis papa capim A/O
Aves Crotophaga ani anu-preto A/O
Mammalia Canis lupus familiaris cachorro C/M
Mammalia Galea spixii preá A/O
Mammalia Didelphis albiventris tinbu A/O
Mammalia Callithrix jacchus saguin A/O

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