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Austrália quer exterminar 2 milhões de


gatos até 2020 usando petiscos
envenenados
26 abril 2019

GETTY IMAGES

Gatos selvagens são uma ameaça para mais de 100 espécies selvagens na Austrália

Dois milhões de gatos exterminados. Essa é a meta que o governo australiano pretende
atingir até 2020.

Não são gatos quaisquer, mas animais que retornaram para a vida selvagem e agora estão
ameaçando cerca de 140 espécies nativas na Austrália.

São os chamados gatos ferais. "Os gatos ferais são da mesma espécie dos gatos domésticos,
mas vivem e se reproduzem na selva, sobrevivendo da caça ou de animais mortos. São
encontrados em toda a Austrália, em todos os habitats", diz o Departamento de Meio
Ambiente e Energia do país.

Cães podem ser uma das maiores ameaças à vida selvagem


Estima-se que existam entre dois e seis milhões de gatos ferais na Austrália. Eles se
alimentam principalmente de pequenos animais nativos ou exóticos, como coelhos, pássaros
e lagartos.

Em julho de 2015, o país declarou oficialmente que gatos ferais são uma praga que ameaça a
vida nativa australiana. "Apesar de reconhecer a importância dos gatos domésticos como
animais de companhia, gatos que voltam à vida selvagem podem ameaçar a fauna nativa",
diz a declaração.

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me conhece sabe a minha idade'

Além disso, o país lançou um programa de eliminação desses gatos não domesticados. "Eles
têm sido um dos principais responsáveis pela extinção de pelo menos 27 mamíferos, desde
que foram introduzidos na Austrália. Hoje, eles colocam em perigo pelo menos 142 espécies
e mais de um terço dos mamíferos, répteis, sapos e pássaros que estão ameaçados", afirma o
documento Estratégia para Espécies Ameaçadas, também de 2015.

"Sendo um fator de extinção para tantos dos nossos animais nativos, e sendo uma ameaça
que foi relativamente negligenciada no passado, o combate à ameaça dos gatos selvagens é
a principal prioridade desse plano de ação."
GETTY IMAGES

Gato selvagem se alimenta de animal morto em estrada na Austrália

Ativistas e personalidades criticaram a medida


Na época do lançamento do programa de abate
de gatos, em 2015, foram criados abaixo-
assinados contra a medida. Podcast

Um dos mais populares conseguiu cerca de 30


mil assinaturas, muitas delas este ano, depois
que o fato voltou a ganhar destaque na imprensa
internacional. O texto da petição recomenda que
o governo australiano utilize outro método de
controle da população de gatos: fazer
armadilhas para capturar os animais, castrá-los e
depois liberá-los.

Personalidades também fizeram críticas públicas


ao governo australiano, entre elas, a atriz
francesa e ativista pelo direito dos animais
Brigitte Bardot. "Esse genocídio animal é
desumano e ridículo. Além de ser cruel, matar Brasil Partido
esses gatos é absolutamente inútil, já que o resto
João Fellet tenta entender como
deles continuará se reproduzindo", escreveu
brasileiros chegaram ao grau atual de
Bardot em carta para o então ministro do Meio
divisão.
Ambiente australiano.
Episódios

Em resposta, o governo australiano disse que


"não é realista ou factível fazer armadilhas e
castrar milhões de gatos ferais nos mais de sete milhões de quilômetros quadrados" do
território australiano. Além disso, argumentou que não seria humano permitir que animais
nativos continuem sendo mortos pelos gatos, dia após dia.
REPRODUÇÃO

Reprodução do mapa de avistamento de gatos selvagens no site Feral Cat Scan

Petiscos envenenados e espalhados com aviões e drones

Segundo o Departamento de Meio Ambiente da Austrália, os métodos de tiro e armadilha


são difíceis, caros, demorados e exigem pessoal especializado. Assim, "a forma mais efetiva
de controlar os gatos selvagens em grandes áreas é por meio de petiscos envenenados".

Tratam-se de pequenos petiscos de carne, injetados com uma toxina fatal para os gatos. A
recomendação é que sejam jogados no chão, com aviões ou drones, por exemplo - já que
gatos não cavam o solo para achar comida.

Há mais de um tipo de veneno. Para a região da Austrália Ocidental, o governo desenvolveu


uma isca chamada "Eradicat". É um petisco de carne de canguru e frango com uma toxina
sintética chamada de 1080, que reproduz um veneno natural encontrado em algumas
plantas dessa região.

Por isso, muitos dos animais nativos da região já desenvolveram resistência. Já os gatos, que
são espécies exóticas, não têm a mesma tolerância e acabam não resistindo. Ao ser ingerido,
o 1080 interromper a capacidade das células dos gatos de processar energia, fazendo com
que percam a consciência e morram.

Já em outras regiões da Austrália, como o Norte e o Leste, a toxina 1080 pode ser perigosa
também para espécies nativas. Assim, o "Eradicat" não é recomendado. Como alternativa, o
Departamento do Meio Ambiente desenvolveu outro tipo de petisco, contendo uma cápsula
de plástico rígido com veneno, chamada "Curiosity".
Gatos não costumam mastigar muito a comida, pelo contrário, tendem a engolir pedaços
inteiros. Assim, acabam ingerindo a cápsula envenenada presente no petisco. Já a maioria
dos animais nativos australianos mordiscam e mastigam a comida e acabam cuspindo o
plástico presente no petisco.

A "Curiosity" provoca a morte por falta de envio de oxigênio para o cérebro e outros órgãos
vitais. "É um claro ganho de humanidade em relação a outras toxinas", diz o Departamento
de Meio Ambiente da Austrália.

REPRODUÇÃO/DEPARTAMENTO DE MEIO AMBIENTE

Imagem do petisco Curiosity com a cápsula de veneno em seu interior

Abatimento de 2 milhões de animais


O documento Estratégia para Espécies Ameaçadas, de 2015, estabelece metas para conter
os gatos ferais.

Entre elas, abater 2 milhões de animais até 2020; erradicá-los completamente de cinco ilhas,
para que estas se tornem santuários de espécies selvagens; e manejar sua presença em até
12 milhões de hectares (equivalente aos Estados de Pernambuco e Sergipe juntos).

A previsão era abater 150 mil gatos até 2016, 1 milhão até o 2018, até chegar a 2 milhões
em 2020.

Os princípios que norteiam a eliminação dos gatos são que ela seja feita de forma "humana,
efetiva e justificável". As ações são tomadas principalmente em regiões remotas e longe das
cidades - reduzindo o perigo para os gatos domésticos.

Uma das maiores dificuldade para atingir essas metas é que os gatos não domesticados
estão espalhados por regiões muito extensas e são tímidos. Por isso, é difícil localizá-los.

Para ajudar na tarefa de localização dos animais, o Departamento do Meio Ambiente da


Austrália financiou o lançamento do site Feral Cat Scan, que recebe relatos de avistamento
de gato ferais.

"As informações fornecidas vão ajudar a identificar soluções para manejar os gatos selvagens
e reduzir seu impacto na preciosa vida nativa australiana", diz o site, que já recebeu mais de 4
mil notificações - 130 apenas este ano.

Ainda não há informações sobre o status das metas de abate. Este ano, o governo
australiano lançou uma pesquisa destinada a organizações e australianos em geral que
estejam envolvidos no combate ao gato feral. O objetivo é entender como está sendo o
"esforço nacional para combater essa ameaça" e conhecer os progressos feitos até 2018.

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