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CRIMINALÍSTICA

Aula 1 - ATUAÇÃO PROFISSIONAL E


ELABORAÇÃO DE PARECERES – Parte 1

Olá aluno e aluna sejam bem vindos ao módulo quatro, no presente módulo
vamos falar sobre atuação profissional e elaboração de pareceres, vamos dividir esse
tema em algumas partes. Bons estudos.

Introdução

Vamos começar abordando qual será nossos principais objetivos neste módulo:

Objetivos:

Compreender conceitos e objetivos da criminalística.

Descrever a atuação do perito criminal e a sua importância no esclarecimento de


um crime.

Conhecer as áreas de atuação do perito criminal.

Interpretar documentos e relatórios da Perícia Criminal.

Criminalística nasceu da Medicina Legal principalmente porque, em épocas


passadas, o médico era o profissional de notável saber e, por isso, sempre consultado.

Com o avanço dos diversos ramos da ciência como Química, Biologia e Física
houve necessidade de maior especialização fazendo com que outros profissionais
fossem considerados importantes na análise de crimes.

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Criminalística – o que é?

O surgimento da criminalística ocorreu a partir da necessidade da criação de uma


nova disciplina que abarcasse a pesquisa, a análise e a interpretação dos vestígios
encontrados nos locais de crime. A criminalística nasceu, portanto, para ser uma
ciência independente para dar apoio à polícia e à justiça, servindo de base para o
esclarecimento de crimes.

Hans Gross é considerado o pai da ciência “criminalística” por ter utilizado o


termo pela primeira vez em sua obra “System der Kriminalistic”, em 1893. Nesta obra,
Gross definiu criminalística como sendo “O estudo da fenomenologia do crime e dos
métodos práticos de sua investigação”.

Mesmo antes de Gross, já existiam métodos para esclarecer crimes. Num


primeiro momento, o esclarecimento de crimes era feito por métodos primitivos e nada
racionais como, por exemplo, tortura. Num segundo momento, passou-se a aplicar
métodos com fundamentos científicos.

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A criminalística visa estudar o crime sem distorcer os fatos, zela pela integridade
e persegue as evidências (ZARZUELA, 1996). Desde Gross, vários autores e
estudiosos vêm pesquisando o tema criminalístico e aperfeiçoando a definição inicial.

Assim, podem-se citar vários autores que contribuíram para a evolução do


conceito:

A Enciclopédia Saraiva de Direito, define criminalística como sendo o conjunto


de conhecimentos que, reunindo as contribuições das várias ciências, indica os meios
para descobrir crimes, identificar os seus autores e encontrá-los, utilizando-se de
subsídios da Química, da Antropologia, da Psicologia, da Medicina Legal, da
Psiquiatria, da Datiloscopia etc., que são consideradas ciências auxiliares do Direito
Penal.

Para Porto (1960) criminalística é o sistema que se dedica à aplicação de


faculdades de observação e de conhecimento científico que nos levem a descobrir,
defender, pesar e interpretar os indícios de um delito, de modo a sermos conduzidos à
descoberta do criminoso, possibilitando à Justiça a aplicação da justa pena.

A definição de Del Picchia Filho (1982) diz que criminalística cogita do


reconhecimento e análise dos vestígios extrínsecos relacionados com o crime ou com
a identificação de seus participantes.

Já Garcia (2002) afirma que criminalística trata da pesquisa, da coleta, da


conservação e do exame dos vestígios, ou seja, da prova objetiva ou material no campo
dos fatos processuais, cujos encargos estão afetos aos órgãos específicos, que são os
laboratórios de Polícia Técnica.

A Criminalística é o estudo da ciência que trabalha com os indícios deixados no


local do delito, por meio dos quais se pode estabelecer, nos casos mais favoráveis, a
identidade do criminoso e as circunstâncias que concorreram para o referido delito,
afirma Opilhar (2004).

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As definições de criminalística pós Gross incorporam outras dimensões, mas não


alteram a base estabelecida pelo seu precursor. A criminalística evoluiu e ainda tem
“fôlego” para evoluir a partir dos avanços de outras ciências.

Para Zarzuela (1996), a criminalística tem como objetivo principal estudar o


crime sem distorcer os fatos, zelando pela integridade, perseguindo as evidências com
o propósito de promover a justiça e como meio de obter os argumentos decisórios para
a prolação da sentença.

Para tanto, segue dois princípios básicos: Princípio de Locard que valoriza o
vestígio e afirma “que todo contato deixa um rastro”;

Princípio da Individualidade que defende “que dois objetos podem parecer


indistinguíveis, mas não há dois objetos idênticos”. A elucidação dos crimes estaria
condicionada, então, a partir da combinação desses dois princípios.

Maia (2012) defende que, além desses princípios, a criminalística cresceu e


edificou-se como ciência de prova material e se apoia em outros princípios.

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Princípios de base científica:

• Do uso – estabelece que os fatos apurados na criminalística sejam produzidos


por agentes químicos ou físicos ou biológicos.

• Da produção – afirma que os agentes produzem vestígios de natureza,


morfologia e estruturas variadas.

• Do intercâmbio – defende que a interação entre objetos ou materiais permutam


características, mesmo que microscópicas.

• Da correspondência de características – determina que a ação dos agentes


mecânicos traduza morfologias caracterizadas pela sua natureza e seu modo de
agir.

• Da reconstrução – permite que a partir da aplicação das leis, dos achados


científicos e dos conhecimentos tecnológicos sobre os vestígios de uma
ocorrência possa estabelecer os nexos causais entre as várias etapas da
ocorrência, culminando na reconstrução do evento.

• Da certeza – defende que, se os princípios técnicos e científicos que norteiam os


fatos criminalísticos permanecem inalteráveis e são suficientemente
comprovados, atesta a certeza das conclusões periciais.

Princípios fundamentais da perícia criminalística:

➢ Da observação – todo contato deixa uma marca (LOCARD).

➢ Da análise – a análise pericial deve sempre seguir o método científico.

➢ Da interpretação – dois objetos podem ser indistinguíveis, mas nunca idênticos.

➢ Da descrição – o resultado de um exame pericial é constante com relação ao


tempo e deve ser exposto em linguagem ética e juridicamente perfeita.

➢ Da documentação – toda amostra deve ser documentada, desde o seu nascimento


na cena do crime, até sua análise e descrição final, de forma a se estabelecer um
histórico completo e fiel da sua origem.

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“O criminoso, no momento em que pratica o seu crime, é sempre um doente”.


Fiodor Dostoievski

Referências

Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás.

Secretaria de Segurança Pública do Estado do Mato Grosso do Sul.

Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná.

Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina.

Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.

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Aula 2 - ATUAÇÃO PROFISSIONAL E


ELABORAÇÃO DE PARECERES – Parte 2

Olá aluno e aluna na aula de hoje vamos dar continuação ao tema e falar um
pouco a respeito do perito criminal. Bons estudos.

Profissional perito criminal

Perito Criminal é o profissional que realiza perícia no local onde ocorreu o crime.
Essa é a definição genérica e mais popular para perito criminal. Mas pode-se
acrescentar a esta definição outras condições que qualificam melhor este profissional.

O termo “Perito” traduz, em princípio, a ideia de experto, que possui


determinadas aptidões relativas a um sujeito, técnica ou conhecimento. Pode-se
considerar perito, em sentido amplo, como qualquer especialista. Para ser considerado
oficial, deve pertencer aos quadros do Estado, ou seja, servidor público. Assim, em
sentido estrito, refere-se ao cargo público intitulado Perito Criminal.

Está a serviço da justiça, e sua especialidade é encontrar ou proporcionar a


chamada prova técnica ou prova pericial, por meio da análise científica de vestígios
produzidos e deixados no local do crime, ou seja, localizar evidências para solucionar
delitos. As atividades periciais são consideradas como de alta complexidade,
principalmente pela responsabilidade envolvida na atividade e na formação
especializada exigida para os profissionais peritos criminais. O trabalho do perito
consiste, principalmente, na reconstrução, determinação da autoria e do grau de
participação dos envolvidos.

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Faz parte, também, das atividades dos peritos, oferecer segurança e integridade
ao vestígio. Assim, o trabalho do perito estará voltado para responder às seguintes
questões:

O que ocorreu?

• A resposta obtida corresponde à verificação dos fatos.

Qual meio empregado?

• A resposta obtida corresponde à caracterização dos fatos.

Como ocorreram os fatos?

• A resposta obtida corresponde à interpretação dos fatos.

• Depois de respondidos os quesitos, o perito fará aplicará os procedimentos que


servirão para documentar a perícia:

Registro do laudo

• Que significa perpetuação.

Produção da prova para a justiça

• Que significa legalização.

Coleta dos vestígios da ocorrência

• São os elementos que têm utilidade na elucidação das circunstâncias do fato e a


prova da autoria.

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VESTÍGIOS, EVIDÊNCIAS E INDÍCIOS.

As expressões “vestígios”, “evidências” e “indícios” são muito usados nas


atividades de perícia criminal. São termos muito utilizados também no jargão
criminalístico de seriados, filmes e artigos escritos policiais. Apesar de possuírem
significados diferentes, muitas vezes são utilizados como sinônimos. Entretanto, no
contexto criminalístico, existe uma diferenciação importante em suas semânticas
formais.

Apesar de relacionados, tais constructos podem gerar equívocos interpretativos


quando não são bem delineados. Enquanto o Vestígio abrange, a evidência restringe e
o indício circunstância.

Vestígio – pode ser qualquer marca objeto ou sinal sensível que possa ter relação
com o fato investigado. A existência do vestígio confirma a existência de um agente
que o causou ou que contribuiu para o fato investigado.

Obs. O vestígio pode ser categorizado em verdadeiro, ilusório ou forjado.

Vestígios verdadeiros - são aqueles produzidos, diretamente, pelos autores da


infração e, ainda, que sejam produtos diretos das ações do cometimento do delito em
si.

Vestígios ilusórios - são os elementos encontrados no local do crime que não


estejam relacionados às ações dos autores da infração e que a sua produção não tenha
ocorrido de maneira intencional. A produção de vestígio ilusório nos locais de crime é
muito grande, por conta, principalmente, da falta de isolamento e da falta de
preservação do local do crime.

Vestígios forjados – são todos os elementos encontrados no local do crime com


a intenção de modificar o conjunto dos elementos originais produzidos pelos autores
da infração. A maioria dos produtores de vestígios forjados são os próprios autores de
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delito, que o fazem com o objetivo de dificultar as investigações. É considerado crime


a ação de modificar dolosamente o conjunto de elementos originais produzidos pela
infração penal. Este crime está previsto no parágrafo único do artigo 347 do Código
Penal (Fraude Processual). No caso de delito de trânsito há um tipo penal mais
específico descrito no artigo 312 do Código de Trânsito Brasileiro (Inovação
Artificiosa). Cabe destacar a existência da Lei n° 5.970/1973 que considera exceção o
exame de local em caso de remoção de acidentados, para não prejudicar o tráfego de
veículos.

Conforme o Dicionário da Língua Portuguesa, Vestígio (lat vestigiu)


significa: sinal deixado pela pisada ou passagem, tanto do homem como de
qualquer outro animal; pegada, rasto. Indício ou sinal de coisa que sucedeu de
pessoa que passou (...)

Evidência – para a criminalística, a expressão evidência representa o vestígio


que, após analisado pelos peritos, se mostra diretamente relacionada com o delito
investigado. As evidências, por decorrerem dos vestígios, são elementos
exclusivamente materiais e, por isso, de natureza puramente objetiva.

Conforme o Dicionário da Língua Portuguesa, Evidência é a “qualidade daquilo


que é evidente, que é incontestável, que todos veem ou podem ver e verificar, certeza
manifesta”.

Indício – o indício aparece na fase processual da investigação criminal, ou seja,


no momento pós-perícia. Pode-se considerar, então, que a expressão “indício” engloba,
além dos elementos materiais de que tratam a perícia, outros de natureza subjetiva,
próprios da esfera da polícia judiciária. Caberá aos peritos a transformação de vestígios
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em evidências; aos policiais caberá a tarefa de, agregando-se às evidências informações


subjetivas, apresentar o indiciado à Justiça. Pode-se concluir que toda evidência é um
indício, porém, nem todo indício é uma evidência.

Conforme o Dicionário da Língua Portuguesa, a expressão indício significa


vestígio, sinal. Indicação. Sinal ou fato que deixa entrever alguma coisa, sem a
descobrir completamente, mas constituindo princípio de prova.

“Sem perícia, o local de crime permanecerá mudo”.

Autor desconhecido

Referências

Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás.

Secretaria de Segurança Pública do Estado do Mato Grosso do Sul.

Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná.

Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina.

Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.

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ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 2)

As expressões “vestígios”, “evidências” e “indícios” são muito usados na


atividade de perícia criminal. São termos muito utilizados também no jargão
criminalístico de seriados, filmes e artigos escritos policiais. Apesar de possuírem
significados diferentes, muitas vezes são utilizados como sinônimos.

Explique a diferença entre vestígio, evidência e indício, comentando a relação


entre os três.

Não copie os conceitos do conteúdo da disciplina – já sabemos o que está escrito


lá. Pesquise fontes diferentes e faça a devida citação. E não se esqueça de colocar a
fonte de pesquisa!

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Aula 3 - ATUAÇÃO PROFISSIONAL E


ELABORAÇÃO DE PARECERES – Parte 3

Olá aluno e aluna nesta aula vamos falar um pouco a respeito do perfil do perito
criminal e quais são as formações necessárias para prestar um concurso público. Bons
estudos.

Perfil do perito criminal

Para se tornar um Perito Criminal o profissional deve atender a alguns requisitos


de escolaridade, de conhecimento e de habilidade. Por ser servidor público, para
ingressar na carreira, o profissional deverá prestar concurso público e cumprir o
estabelecido no edital do concurso. Assim, o primeiro requisito para ser Perito Criminal
é ser aprovado no concurso público e atender às exigências do Edital do concurso.

Exemplo Concurso Perito Criminal Federal:

REQUISITO GERAL: diploma, devidamente registrado, de conclusão de


curso superior em nível de graduação, fornecido por instituição de Ensino Superior
reconhecida pelo Ministério da Educação.

ATRIBUIÇÕES: realizar exames periciais em locais de infração penal, realizar


exames em instrumentos utilizados, ou presumivelmente utilizados, na prática de
infrações penais, proceder a pesquisas de interesse do serviço, coletar dados e
informações necessários à complementação dos exames periciais, participar da
execução das medidas de segurança orgânica e zelar pelo cumprimento das mesmas,
desempenhar outras atividades que visem apoiar técnica e administrativamente as
metas da Instituição Policial, bem como executar outras tarefas que lhe forem
atribuídas.

REQUISITOS ESPECÍFICOS:

CARGO 1: PERITO CRIMINAL FEDERAL/ÁREA 1 - diploma, devidamente


registrado, de conclusão de curso de graduação de nível superior em Ciências
Contábeis ou Ciências Econômicas, fornecido por instituição de Ensino Superior
reconhecida pelo Ministério da Educação

CARGO 2: PERITO CRIMINAL FEDERAL/ÁREA 2 - diploma, devidamente


registrado, de conclusão de curso de graduação de nível superior em Engenharia
Elétrica, Engenharia Eletrônica, Engenharia de Telecomunicações ou Engenharia de
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Redes de Comunicação, fornecido por instituição de Ensino Superior reconhecida pelo


Ministério da Educação.

Exemplo Concurso Público Perito Criminal Estado de São Paulo:

REQUISITOS:

Ser habilitado para a condução de veículos automotores na categoria “B”, no


mínimo

Nos termos do artigo 5° da Lei Federal no 12.030, de 17 de setembro de 2009,


possuir diploma de graduação, expedido por escola oficial ou reconhecida e
devidamente registrado e/ou colação de grau em um dos seguintes cursos de
Bacharelado em: Análise de Sistemas, Arquitetura e Urbanismo, Biologia,
Biomedicina, Biotecnologia, Ciências da Computação, Ciências Físicas e
Biomoleculares, Ciências Moleculares, Contabilidade, Direito, Enfermagem,
Engenharia, Estatística, Farmácia, Farmácia e Bioquímica, Física, Fonoaudiologia,
Geografia, Geologia, Informática, Matemática, Medicina, Medicina Veterinária,
Museologia, Nutrição, Odontologia, Química, Sistemas de Informação e Tecnologia
da Informação.

O Código de Processo Penal não faz diferenciações entre os tipos de Peritos, mas
ocorre comumente nas Polícias Civis dos estados a distinção entre Perito Criminal e
Perito Legista. Perito Criminal exige formação de nível superior em qualquer área do
conhecimento.

Em algumas Polícias exige-se formação específica, por exemplo: Biologia,


Biomedicina, Computação, Contabilidade, Direito, Engenharias, Farmácia, Física,
Fonoaudiologia, Matemática, Medicina, Psicologia, Medicina Veterinária, Química,
entre outras.

Os Peritos Criminais geralmente trabalham em locais de crime (perícias de


natureza externa) e nos Institutos de Criminalística (natureza interna). O cargo de
Perito Legista subdivide-se em Perito Médico-Legista, Perito Odontolegista e Perito
Farmacêutico-Legista, cargos privativos de médicos, odontólogos e farmacêuticos,
respectivamente. Os Peritos Legistas geralmente trabalham nos Institutos Médicos
Legais (IMLs) e são responsáveis pelas análises das vísceras e demais vestígios
coletados durante os exames de corpo de delito, seja no morto ou na pessoa viva.

O exame de corpo de delito tem a finalidade de determinar fatores como autoria,


temporalidade, extensão de danos etc. A realização deste tipo de perícia é feita a partir
dos vestígios e é obrigatória. Antigamente, o exame de corpo de delito era feito

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CRIMINALÍSTICA

somente em cadáveres de pessoas vitimadas por homicídio. Por esse motivo, o sentido
etimológico do corpo de delito.

O exame de corpo de delito pode ser categorizado em direto e indireto:

Corpo de delito direto – é realizado a partir do conjunto de vestígios deixados


pelo fato criminoso. São os elementos materiais, perceptíveis pelos nossos sentidos,
resultantes da infração penal. Esses elementos serão objetos de análise pelos peritos
que atestaram sua natureza, estabelecendo conexão entre eles e o crime objeto de
exame. O exame de corpo de delito deve realizar-se o mais rápido possível, logo que
se tenha conhecimento da existência do fato. Todos os elementos que se vinculam ao
crime devem ser objeto de análise, sobretudo os que possam influenciar na aplicação
da pena.

Corpo de delito indireto – Nos casos em que o corpo de delito se torna


impossível, admite-se a prova testemunhal, por haverem desaparecido os elementos
materiais. Essa substituição do exame objetivo pela prova testemunhal, subjetiva, é
indevida, pois não há corpo, embora haja o delito.

Obs. O candidato tem que observar o edital e analisar quais são as


formações que estão presentes no mesmo, pois poderá mudar de estado para
estado, inclusive ter a opção de um tecnólogo, o candidato tem que ficar muito
atento.

Referências

Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás.

Secretaria de Segurança Pública do Estado do Mato Grosso do Sul.

Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná.

Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina.

Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.


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Aula 4 - ATUAÇÃO PROFISSIONAL E


ELABORAÇÃO DE PARECERES – Parte 4

Olá aluno e aluna na aula de hoje vamos dar continuação ao tema e falar um
pouco a respeito das principais características de um perito criminal. Bons estudos.

As principais características de um perito criminal.

A atividade perícia criminal está relacionada a trabalhos em cenários de crimes


diversos e, portanto, exige um profissional que tenha interesse em desvendar mistérios,
associado a um comportamento caracterizado por “frieza”. Além dessas características
gerais, o perito criminal deve apresentar outras competências, tais como:

Responsabilidade – que pode ser compreendida como a obrigação de responder


pelas suas próprias ações, pressupondo que estas ações se apoiam em razões ou motivos
que fazem sentido.

Capacidade de observação – esta capacidade ou competência permite adquirir


com maior facilidade o conhecimento e detectar pormenores que a maioria não vê.
Com isso, é possível obter um juízo mais apurado, crítico e completo do objeto
observado.

Raciocínio rápido – raciocínio é uma ação mental ou um processo de pensamento


necessário à absorção de conhecimento e que permite associar conhecimentos já
adquiridos para novos conhecimentos. A condição “rápida” permite que a absorção e
a aplicação deste novo conhecimento sejam elaboradas de maneira em ritmo mais
rápido em algumas pessoas.

Capacidade de concentração – A concentração mental consiste em focar toda a


atenção da mente sobre um objetivo, objeto ou atividade, de forma voluntária. A
capacidade de concentração faz com o indivíduo deixe de lado qualquer outro estímulo
que poderia interferir na realização da tarefa que está executando.

Visão realista – realismo pode ser definido como sendo oposição ao idealismo
romântico. É caracterizado por não envolver sentimentos e, por isso, retrata de forma
mais fiel a realidade.

Capacidade de interligar fatos e motivos – refere-se à capacidade de análise do


indivíduo.

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CRIMINALÍSTICA

• Metodologia – é a aplicação de diferentes métodos no trabalho.

• Sinceridade – é a forma de expressão de modo direto, sem disfarces.

• Curiosidade – pode ser entendida como sendo ambição por conhecimento e pelo
desejo de conhecer segredos.

• Imparcialidade – é a forma de análise e decisão que não privilegia nenhuma das


partes envolvidas.

PALAVRA DO PERITO

Sérgio Vieira Ferreira, 51 anos, foi o perito que atuou em um dos crimes mais
famosos na história recente do país. Ele estava de plantão na noite da morte da menina
Isabella Nardoni, em março de 2008, e foi o primeiro perito a chegar à cena do crime,
o apartamento de Alexandre Nardoni, condenado com base na acusação de ter jogado
a filha pela janela. Entrevistado Ferreira explicou que um perito não pode se envolver
com nenhum caso. “Somos policiais técnicos. É necessário coletar provas técnicas.
Não se pode emocionar. Tem casos difíceis que, como ser humano, você tem que dar
aquele breque. Mas vamos fazer o serviço e coletar o que tiver para coletar”, afirmou.
“Não estamos aqui para condenar nem inocentar, mas para dar subsídios para que se
tenha investigação honesta”.

Diretor do Núcleo de Perícias em Crimes contra a Pessoa da Polícia Técnica


de São Paulo, José Antônio de Moraes comenta: “Tem gente que entra, ficam três
meses, e depois não quer mais voltar. Não pode se envolver emocionalmente com o
crime. Isso não é frieza, é profissionalismo. A perícia é imparcial. Não importa se os
vestígios ajudarem a defesa ou a acusação. O processo tem dois tipos de prova, a
testemunhal e a técnica. Pessoas mentem vestígios jamais”.

Adílson Pereira, do laboratório da Polícia Técnico-Científica de São Paulo,


comenta que há semelhança entre a realidade da perícia e as séries de televisão que
atraem os jovens para a profissão. “A consultoria para esses seriados é muito boa. Os
equipamentos são os mesmos de que dispomos. Evidentemente nos seriados mostram
os produtos ‘top de linha’. As técnicas utilizadas são parecidas. A diferença é que lá
eles fecham os episódios em 40 minutos. Aqui, não recebemos o roteiro, é uma
incógnita. Não dá para fechar em 40 minutos, às vezes demora seis meses para fechar
um caso.”

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CRIMINALÍSTICA

Você sabe qual a diferença entre provas criminais e técnicas?

As provas técnicas são as perícias, realizadas por peritos criminais, e são


formadas pelas evidências materiais do crime. As provas criminais, também chamadas
de testemunhais, são constituídas pelos depoimentos das testemunhas, que podem ser
as declarações das vítimas e o interrogatório dos suspeitos ou indiciados.

Principais atividades

As atividades desenvolvidas pelos Peritos Criminais caracterizam-se pela


precisão, mas, também, pela urgência. Assim, a chegada rápida ao local do crime é
muito importante, para que as provas e as evidências do crime não se percam ou não
sejam manuseadas por pessoas não especializadas. Característica de precisão decorre
da necessidade da análise minuciosa da cena do crime, para localizar todas as
evidências e possíveis provas técnicas.

No caso de vítimas fatais, o perito analisa os machucados e lesões, conseguindo


assim distinguir o objeto utilizado para ferir a vítima e dados importantes como, de que
lado veio o golpe, quantas pessoas agrediram, ou até mesmo se o agressor é destro ou
canhoto. Faz parte das atividades dos peritos, também, analisar o corpo das provas,
analisar e interpretar o resultado das análises laboratoriais, trabalhar em conjunto com
outros peritos e profissionais para desvendar os autores do crime, as armas e os
métodos utilizados, as vítimas etc.

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CRIMINALÍSTICA

O Perito Criminal é responsável, ainda, pela elaboração de um laudo pericial que


será entregue aos órgãos competentes que será anexado ao processo. São atribuições
legais dos Peritos Criminais:

• Supervisionar, coordenar, controlar, orientar e executar perícias criminais em


geral;

• Planejar, dirigir e coordenar as atividades científicas;

• Fornecer elementos esclarecedores para a instrução de inquéritos policiais e


processos criminais;

• Promover o trabalho especializado de investigação e pesquisa policial;

• Executar atividades técnico-científicas de nível superior de análises e pesquisas


na área forense;

• Proceder a levantamentos topográficos e fotográficos e a exames periciais,


laboratoriais, odonto-legais, químico-legais e microbalísticos;

• Emitir parecer sobre trabalhos criminalísticos;

• Produzir laudos periciais;

• Elaborar estudos estatísticos dos crimes em relação à criminalística;

• Praticar atos necessários aos procedimentos das perícias policiais criminais;

• Executar as atividades de identificação humana, relevantes para os


procedimentos pré-processuais judiciais;

• Desempenhar atividades periciais relacionadas às atribuições legalmente


reservadas às classes profissionais a que pertencem.

Órgãos da polícia técnico-científica

As Polícias Técnico-Científicas são os órgãos da administração pública


responsáveis pela coordenação das atividades dos Institutos de Criminalística,
dos Institutos Médicos Legais e, na maioria dos estados, dos Institutos de
Identificação. Os órgãos das Polícias Técnico-Científicas estão subordinados à
Secretaria de Segurança Pública. Suas atividades estão relacionadas diretamente
com as Polícias Civil e Militar Os Institutos de Criminalística são dirigidos por
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CRIMINALÍSTICA

Peritos Criminais e têm como competências a realização de exames periciais,


tais como:

• Pesquisas e experiências no campo da Criminalística (informática, engenharia,


reconstituições, balística, documentoscopia, disparo, ambiental, fonética etc.);

• Levantamentos topo fotográficos e sinistros envolvendo patrimônio público;

• Auxiliar a Justiça, fornecendo provas técnicas sobre locais, coisas, objetos,


instrumentos e pessoas, para a instrução de processos criminais.

Os Institutos Médicos Legais são responsáveis pela realização de necropsias e


elaboração de laudos cadavéricos para as Polícias Científicas de um determinado
Estado na área de Medicina Legal. Além das autópsias, o IML faz vários outros exames
de corpo de delito e demais perícias como:

• Exame de lesões corporais;

• Exame de constatação de embriaguez ou intoxicação por substância de qualquer


natureza;

• Exame de constatação de violência sexual;

• Exame de sanidade mental;

• Exame de constatação de idade;

• Exame de constatação de doença sexualmente transmissível;

• Demais perícias que demandem a opinião de especialistas em Medicina Legal.

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CRIMINALÍSTICA

Aula 5 - ATUAÇÃO PROFISSIONAL E


ELABORAÇÃO DE PARECERES – Parte 5

Olá aluno e aluna na aula de hoje vamos dar continuação ao tema e falar um
pouco a respeito da organização e estrutura da polícia técnica em alguns estados e
também da polícia federal.

Mato grosso do Sul

A Coordenadoria Geral de Perícias é um órgão da Secretaria de Estado de Justiça


e Segurança Pública responsável pela realização das perícias oficiais e identificação do
Estado de Mato Grosso do Sul. Da sua fundação até a Constituição de 1988, era
denominado Departamento de Polícia Técnica. Com a inserção do artigo 35 dos Atos
das Disposições Constitucionais Gerais e Transitórias, passou a denominar-se
Coordenadoria de Perícias com subordinação direta do Secretário de Segurança
Pública. Aderindo à edição da Lei Complementar n° 114/2005, a Coordenadoria Geral
de Perícias passou a ter nova estrutura organizacional, composta pelas seguintes
unidades:

Instituto de Análises Laboratoriais Forenses – IALF

Realiza exames periciais laboratoriais, relativos às infrações penais nas áreas de


Biologia, Química, Bioquímica, Física e Identificação relacionada à Genética,
Toxicologia, entre outras ciências correlatas da atividade forense.

Instituto de Análises Laboratoriais Forenses - IALF

Realiza exames periciais laboratoriais, relativos às infrações penais nas áreas de


Biologia, Química, Bioquímica, Física e Identificação relacionada à Genética,
Toxicologia, entre outras ciências correlatas da atividade forense.

Instituto de Identificação – II

Realizam exames periciais de papiloscopia, necropapiloscopia, retrato falado,


pesquisa de busca, comparação de impressões digitais de classificação datiloscópica e
identificação civil e criminal do estado.

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CRIMINALÍSTICA

Instituto de Medicina e Odontologia Legal - IMOL

Realiza perícias médico-legais, relativas à área criminal requisitada pelas


autoridades competentes, por intermédio de exames da área clínica médica, de
tanatologia de exames indiretos e do DPVAT entre outros.

A Coordenadoria Geral de Perícias do Estado do Mato Grosso do Sul é composta


pelos seguintes órgãos:

• Instituto de Análises Laboratoriais Forenses – IALF.


• Instituto de Criminalística – IC.
• Instituto de Identificação “Gonçalo Pereira” – II.
• Instituto de Medicina e Odontologia Legal – IMOL.
• Departamento de Apoio às Unidades Regionais – DAUR.
• Departamento de Apoio Operacional – DAO.
• Unidade Regional de Perícia e Identificação - URPI Aquidauana.
• Unidade Regional de Perícia e Identificação - URPI Corumbá.
• Unidade Regional de Perícia e Identificação - URPI Coxim.
• Unidade Regional de Perícia e Identificação - URPI Dourados.
• Unidade Regional de Perícia e Identificação - URPI Fátima do Sul.
• Unidade Regional de Perícia e Identificação - URPI Jardim.
• Unidade Regional de Perícia e Identificação - URPI Naviraí.
• Unidade Regional de Perícia e Identificação - URPI Nova Andradina.
• Unidade Regional de Perícia e Identificação - URPI Paranaíba.
• Unidade Regional de Perícia e Identificação - URPI Ponta Porã.
• Unidade Regional de Perícia e Identificação - URPI Três Lagoas.

Entre outras.

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CRIMINALÍSTICA

Áreas de atuação do perito criminal

Atuação na esfera federal:

O Perito Criminal Federal tem como atribuições: realizar exames periciais em


locais de infração penal; realizar exames nos instrumentos utilizados, ou supostamente
utilizados, na prática de infrações penais; proceder a pesquisas de interesse do serviço;
coletar material, dados e informações necessários à complementação dos exames
periciais; participar da execução das medidas de segurança orgânica; zelar pelo
cumprimento das mesmas e; desempenhar outras atividades de apoio técnico
administrativo. Para execução das atividades elencadas, várias áreas de conhecimento
são necessárias. De acordo com a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais
- APCF a perícia criminal tem as seguintes áreas de atuação, na esfera federal:

Perícia em Informática:

Desempenha papel fundamental na solução de crimes que utilizam a internet,


entre outros recursos informatizados. Todo trabalho é feito com base em exames
minuciosos, que vão desde análises em local de crime na internet e mídias de
armazenamento, até o rastreamento de mensagens eletrônicas, identificação e
localização de internautas e sites ilegais. Outros crimes que são desvendados por meio
da perícia em informática são os de exploração sexual de menores na internet e fraude
contra instituições financeiras. Na busca pelos responsáveis, os profissionais produzem
a prova material que, por meio de exames e laudos periciais, evidenciam todos os
rastros deixados pelos criminosos.

Perícia Contábil e Financeira:

Tem por objetivo a repressão aos crimes financeiros. Os crimes desta natureza
são os praticados sem o uso de violência e tem como objetivo final a obtenção de lucro.
Inclui as atividades ilegais: crimes do colarinho branco, gestão fraudulenta de
instituição financeira, evasão de divisas, manutenção de depósitos não declarados no
exterior, sonegação fiscal, crimes em licitações, apropriação indébita de contribuição
previdenciária, corrupção (ativa e passiva), peculato, crimes contra o mercado de
capitais, crimes contra as finanças públicas, lavagem de dinheiro, entre outros. Os
exames financeiros analisam extratos e documentos provenientes de quebra de sigilo
bancário e fiscal, com o objetivo de verificar possíveis incompatibilidades entre a
movimentação financeira e as declarações do imposto de renda e evolução patrimoniais
incompatíveis. Para identificação de crimes dessa natureza os peritos em informática
têm atuação permanente.

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CRIMINALÍSTICA

Perícias Documentoscópicas:

Estão presentes em quase todas as ações da Polícia Federal, principalmente no


combate aos crimes contra a fraude documental. A fraude documental é muito utilizada
nos crimes contra o sistema financeiro. Os peritos da área buscam, por meio de exames,
comparações e análises científicas em documentos, esclarecer a autenticidade do
material recolhido, revelando os processos e métodos utilizados nas falsificações de
papéis e assinaturas. Um dos ramos mais requisitados da documentoscopia é a
grafoscopia, técnica utilizada para estabelecer a autenticidade ou autoria de textos
escritos à mão. É tarefa do perito desta área analisar qualquer documento impresso que
seja objeto de investigação policial ou criminal, podendo ser passaportes, títulos da
dívida pública, carteiras de habilitação, cédulas de identidade, carteiras profissionais,
selos, papel-moeda, vistos, certidões e formulários, entre outros.

Perícias em Audiovisual e Eletrônicos:

Nessa área são investigados grampos telefônicos, clonagem de cartões de


crédito, centrais de telefonia clandestina, rádios piratas e provedores de internet ilegais.
Os peritos realizam exames que visam identificar a “autenticidade” de imagens
estáticas, gravações em áudio e vídeo. O objetivo é apurar se não há montagens,
trucagens, supressões e outras alterações de caráter fraudulento. Eles também realizam
exames para a verificação do locutor e reconhecimento facial.

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CRIMINALÍSTICA

Perícias de Química Forense:

Consistem na análise, caracterização e desenvolvimento de novas metodologias


de exames em drogas, fármacos (medicamentos), agrotóxicos, alimentos, tintas,
documentos, bebidas, combustíveis, em diferentes formas de apresentação. Os Peritos
Criminais em Química Forense realizam exames no material solicitado, a fim de
identificar as substâncias presentes, sua quantidade, princípio ativo, além da
prerrogativa legal, que tange à parte técnica, ou seja, à licitude da substância. A maioria
dos exames realizados nos laboratórios de Química Forense é em drogas proscritas -
cocaína, maconha, esctasy e LSD. Em seguida vêm os fármacos e os demais
(agrotóxicos, fluídos biológicos (toxicologia forense), combustível, fertilizantes,
acelerantes de incêndio, tintas, alimentos, explosivos, entre outros).

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CRIMINALÍSTICA

Perícias de Engenharia:

Nesta área são analisados superfaturamento de licitações, financiamentos e


contratos de obras públicas. São os Peritos em Engenharia os responsáveis por analisar
se uma rede de esgoto foi toda construída, o custo de mercado da escola no interior do
estado, se a venda de um imóvel foi abaixo do valor de mercado ou a causa do
rompimento de uma barragem. A área de perícias em engenharia tem em seu histórico
casos de grande diversidade, tais como, desvio de verbas em obras públicas, avaliações
de imóveis urbanos e rurais, acidentes aéreos e até mesmo análises em obras de arte.

Perícias de Meio Ambiente:

Os Peritos Criminais Federais de criminalística ambiental trabalham na


realização de exames e produção de laudos periciais em crimes que envolvem a fauna,
flora, poluição, extração mineral e invasão de áreas protegidas. Em determinados
casos, as perícias incluem ainda, exames em sítios arqueológicos, fossilíferos e de
patrimônio natural, que visam caracterizar e avaliar danos ambientais em áreas
alteradas, identificar taxonomicamente organismos vivos ou partes deles, classificar
minerais e, quando possível, valorizar economicamente os recursos naturais. Além
disso, busca avaliar o impacto ao meio ambiente decorrente da intervenção sobre esses
organismos ou minerais, conforme a legislação em vigor.

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CRIMINALÍSTICA

Perícias em Genética Forense:

Os Peritos de Genética Forense Realizam análises de identificação genética em


humanos, animais e vegetais. Os exames e pesquisas do Departamento de Polícia
Federal são realizados, exclusivamente, no Instituto Nacional de Criminalística, em
Brasília. Nos exames com DNA humano, a perícia identificou a origem do material
biológico questionado deixado no local de crime. Em caso de exame de vínculo
genético, o objetivo, em geral, é a identificação de restos mortais, principalmente
ossadas ou corpos carbonizados. Qualquer tipo de material biológico humano, como
sangue, sêmen, saliva, tecido epitelial, entre outros, são passíveis de exame. No caso
de espécies animais, o exame de identificação tem por objetivo determinar se o material
apreendido é originado de algum animal silvestre, o que configura crime, ou ainda, se
é de espécie ameaçada de extinção. Penas, pele, dentes, ossos, além de outros, são
utilizados nas análises. Porém, o mais comum, são fragmentos de carne de caça.

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CRIMINALÍSTICA

Perícias em Balística:

Os Peritos em Balística Forense são responsáveis por confirmar a prova da


ocorrência de um crime, que tenha como objeto principal uma arma de fogo. O trabalho
consiste na identificação de armas e revelação de caracteres de registro que foram
adulterados e suprimidos pelos criminosos. Além disso, são realizados exames mais
completos em armas, munições, entre outros elementos, à procura de provas materiais.

Perícias em Locais de Crime:

Para a produção dos laudos de perícia é preciso, antes de qualquer coisa, que o
local de crime seja fotografado, analisado e feito à coleta de todos os vestígios
necessários, que, posteriormente, serão submetidos a análises em laboratório. O
trabalho de perícias em locais de crimes é realizado pelos peritos criminais de qualquer
área de formação e que estejam de plantão nos Setores Técnicos Científicos - SETECs
dos estados, ou no Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília. Os Peritos
Criminais Federais atendem as ocorrências em locais que envolvam os mais diversos
tipos de crimes, tais como: incêndios, acidentes de trânsito, desastres, crimes contra o
patrimônio e pessoas, ameaças químicas, biológicas, radiológicas e nucleares, entre
outros. O maior número de ocorrências acontece nos estados. O INC, por sua vez, se
destaca no atendimento aos grandes desastres e às ameaças de bombas, recorrentes na
capital federal.

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CRIMINALÍSTICA

Perícias em Bombas e Explosivos:

Para combater e solucionar as ameaças que colocam em risco a segurança


pública, o Departamento de Polícia Federal designou peritos especializados para o
exame em suspeitas de ataques com bombas e/ou explosivos. As equipes são
responsáveis por atender as ocorrências de ameaça de bomba, entre outras atividades
correlatas, como varreduras de segurança, perícias de pós-explosão e o planejamento
da segurança antibomba em grandes eventos nacionais e internacionais. Os peritos
criminais dessa área participam de operações de segurança contra possíveis atos
terroristas e realizam exames, transporte, desativação e destruição de objetos suspeitos,
além da coleta de vestígios em locais de pós-explosão de forma preventiva, realizando
varreduras em prédios ou em eventos, principalmente aqueles que contam com a
presença do Presidente da República ou de autoridades de outros países.

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CRIMINALÍSTICA

Perícias de Veículos:

Em diversas ocorrências criminais existe a ligação direta ou indireta com um


veículo e em muitas delas, os veículos envolvidos apresentam uma série de vestígios,
cujo processamento pode demandar a atuação de Peritos Criminais Federais de
diferentes áreas. Os exames realizados em veículos podem visar à busca por alterações
no mesmo, a identificação de compartimentos preparados com o fim de ocultar itens
ou mercadorias, além da análise de sua estrutura.

Perícias de Medicina e Odontologia Forense:

As perícias médico-legais são realizadas em casos de crimes contra a integridade


física da pessoa. Esses exames são empregados geralmente quando estão relacionados
com situações cuja responsabilidade é demandada pela polícia judiciária da União ou
da Justiça Federal. Com o foco na caracterização da materialidade dos delitos, cabe aos
peritos do setor a realização de exames de corpos de pessoas vivas ou mortas ou análise
de documentação médica.

Perícias sobre o Patrimônio Cultural

A Constituição Federal define o que é o patrimônio cultural e, dessa forma, os


bens examinados por essa área específica da perícia podem ser imóveis ou móveis,
como edificações, peças e até mesmo sítios históricos ou arqueológicos ameaçados
pela ação criminosa. Entre os exames estão os que buscam apontar a autenticidade, a
avaliação de danos e no caso de bens artísticos, a avaliação de mercado.

Foram apresentadas as áreas de atuação dos Peritos Criminais na esfera federal.


As áreas de atuação na esfera estadual seguem os padrões estabelecidos pela esfera
federal com pouquíssimas diferenciações.

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CRIMINALÍSTICA

Aula 6 - PRODUÇÃO DE DOCUMENTOS E


RELATÓRIOS EM PERÍCIA CRIMINAL – Parte 1

Olá aluno e aluna na aula de hoje vamos falar sobre a produção de documentos
e relatórios em perícia criminal. Bons estudos.

O laudo técnico pode ser definido como sendo o parecer técnico resultante da
análise realizada pelo perito. O laudo pericial faz parte do elenco de provas materiais.
Todos os profissionais envolvidos na questão da segurança pública têm,
necessariamente, de saber da importância da prova pericial e saber interpretar os laudos
periciais, na sua forma e no seu conteúdo.

Caracterização do laudo pericial

O laudo pericial tem por objetivo apresentar o resultado de uma perícia; é o


parecer técnico emitido por um perito. Este documento relata tudo que foi objeto de
exames levado a efeito pelos peritos. O vocabulário utilizado deve ser simples, objetivo
e preciso. Ao elaborar o laudo pericial, o perito deve evitar termos muito técnicos e
jargões específicos de determinadas profissões para que seja de fácil leitura e
compreensão por diversos profissionais. O relato deve fornecer informações técnicas e
não deve expressar juízos de valor ou considerações subjetivas. O Laudo Pericial
Criminal é o instrumento que descreve, quantifica e caracteriza o delito.

Mallmith (2007) descreve os objetivos da perícia e o que deve ser


expresso no laudo pericial:

Analisar todos os vestígios existentes para constatar a materialidade do fato, ou


seja, a efetiva ocorrência do fato que foi informado à Autoridade Policial, como por
exemplo, de um homicídio, de um furto, de um tiro de arma de fogo, de furto de energia
elétrica etc., ou ao contrário, apontar para a ocorrência de uma falsa comunicação de
crime;

Possibilitar, por meio da análise dos vestígios encontrados, a qualificação da


infração penal;

Buscar, nos vestígios e nas evidências presentes, a identificação da autoria do


crime.

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CRIMINALÍSTICA

Assim, o laudo pericial é o documento apresentado pelo perito no qual ele


registra suas respostas aos quesitos, suas análises e suas conclusões, que devem ser
expostos de maneira clara e objetiva, e abordar, principalmente, os pontos
controvertidos.
O Art.429 (CPC) prevê que para elaborar o laudo o perito deve ter contato direto com
as fontes de prova - pessoas e coisas - analisando-as com base em métodos técnicos e
científicos e todos os outros elementos que se façam necessário. Os laudos periciais
criminais, podem se distinguir pela sua forma ou seu propósito, dentre os tipos de
laudos periciais criminais, pode-se destacar:

Laudo de levantamento de local

Conjunto de exames realizados no local, mediato e imediato, no corpo da vítima


e nos instrumentos relacionados, por meio de descrição, fotografia, desenho,
modelagem, técnicas de laboratório ou reprodução simulada dos fatos, com vistas a
perpetuar e legalizar os indícios e vestígios materiais encontrados (Del CAMPO,
2009).

Laudo de identificação de projétil ou laudo de comparação balística

O exame de comparação balística tem por objetivo estabelecer a relação entre a


arma de fogo e o projétil, entre a arma e o estojo, entre projéteis e entre estojos. Os
procedimentos periciais adotados seguem as rotinas padronizadas no Brasil e no
Exterior.

O exame é feito com o uso de microscópio comparador auxiliado por processo


de captura de imagens esse procedimento permite a análise em vídeo de alta resolução.

Laudo de verificação de eficácia de arma de fogo

Análise feita para determinar o estado de funcionamento da arma, identificando


eventuais deficiências e suas causas.

Laudo de exame cadavérico

Trata-se de procedimento médico que tem o propósito de examinar um cadáver


para determinar a causa e modo como aconteceu a morte. Além disso, identifica doença
ou Ferimento que possa estar presente e relacionado com a morte. Este tipo de perícia
é realizado por um médico especializado, chamado de Médico Legista. A forma de
apresentação do laudo pericial deve seguir normas rígidas que estabelecem ordem
hierárquica, contínua e sistêmica. Segundo Tochetto (1995) os itens que devem constar
do laudo pericial relacionado a crimes contra o patrimônio, que, de forma geral, podem
ser adotados na confecção dos demais. São eles:
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CRIMINALÍSTICA

Preâmbulo ou histórico:

O perito deverá discriminar a data, a hora e o local da elaboração do laudo


pericial, o nome do instituto e órgãos superiores aos quais está subordinado, tipo de
laudo, a data da requisição e/ou solicitação, nome da autoridade que requisitou e/ou
solicitou a perícia, nome do diretor e dos peritos signatários do laudo, bem como o
objetivo geral dos exames periciais. Neste tópico deverá ser feito um histórico
resumido da requisição, uma síntese do fato que originou a requisição da perícia, as
providências tomadas referentes ao fato e as Informações fornecidas por autoridades,
funcionários e proprietários.

Preliminares:

Nesta sessão o perito vai registrar as informações referentes à preservação e


isolamento do local e quaisquer outras alterações consideradas relevantes para o caso,
ou que prejudicaram o andamento dos trabalhos periciais. Nos casos de exames em
peças, este tópico destina-se à consignação de qualquer fato conflitante entre a
requisição e o objeto de exame, tais como número de peças distinto do constante na
requisição, peças que não estão discriminadas, objetivos do exame incompatíveis com
o tipo de peça a ser examinada.

Objetivo da perícia ou quesitos:

São descritos, de acordo com a requisição, quais os objetivos a serem buscados


na perícia.

Exames periciais

Sessão na qual são discriminadas as técnicas e métodos empregados e os


respectivos exames levados a efeito naquela perícia. Integra o texto os exames
periciais:

Do local:

Descreve de forma metódica, objetiva, fiel, minuciosa, clara síntese do local


observado. Quando os fatos forem variados, convém distribuí-los em capítulos
conforme sua natureza e interdependência.

Dos vestígios:

A descrição deve ser feita de acordo com a ordem, a importância, como o acesso
ao terreno, ao prédio, ao cômodo, à gaveta etc. Devem ser relacionados e descritos
todos os vestígios encontrados no exame pericial.
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CRIMINALÍSTICA

Considerações técnicas ou discussão:

O perito neste tópico deve tecer suas considerações sobre os fatos e analisá-los.
Nesta sessão o perito fará conclusões lógicas, afastando as hipóteses capazes de gerar
confusão, evidenciando aquelas que, depois de cotejadas, conduzirão e subsidiarão a
conclusão final. A sessão serve, também, para apontar a coerência ou não dos
elementos observados. Neste tópico o perito relata as análises e interpretações das
evidências constatadas e respectivos exames, de maneira a facilitar a compreensão e o
entendimento por parte dos usuários do laudo pericial.

Conclusão:

A sessão conclusão deve, assim como as outras sessões, obedecer a critérios


técnicos, ou seja, somente quando restar uma possibilidade para aquele evento, sob a
ótica técnico-científica é que se pode concluir a análise. Para chegar à única
possibilidade, apenas duas situações são viáveis:

Quando, no conjunto dos vestígios encontrados e examinados, há um que, por si


só, é determinante - deve estar caracterizado pela sua condição autônoma associada ao
seu significado no evento em estudo;

A segunda possibilidade é a conclusão a partir de um universo de vestígios, em


que nenhum deles por si só é determinante, e represente apenas probabilidades, mas,
no conjunto de informações técnico-científicas levem a uma única alternativa.

Outras situações que podem ocorrer

Existirem mais de um vestígio relacionados com o fato, mas nenhum deles seja
determinante de forma isolada. Neste caso, os peritos deverão apontar quais são e
descrevê-los.

Há ainda casos em que, mesmo analisando os vestígios em conjunto, não é


possível chegar a uma definição conclusiva. Nesta situação, os peritos não poderão
fazer qualquer afirmativa conclusiva quanto ao fato, salientando que os vestígios
existentes são quantitativa e qualitativamente insuficientes para se chegar a uma
conclusão categórica.

Outra possibilidade é no caso do exame ou da análise, não fornecer vestígios


materiais capazes de fundamentar uma conclusão. Neste caso deve constar no laudo
que, face à exiguidade de vestígios, não há elementos técnicos suficientes para uma
conclusão categórica. Fecho ou encerramento - deve conter informações como número
de páginas, número de vias, especificação da seção de lotação dos peritos, citação dos

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CRIMINALÍSTICA

anexos e declaração de devolução de documentos e material, citação do local e data,


nome dos peritos e seus respectivos cargos.

Anexos – são as peças que foram utilizadas para produção do laudo. Os anexos
têm a função de auxiliar na compreensão das análises e das conclusões, podendo ser:
resultado de exames complementares, fotografias, gráficos, relatórios de outros peritos
ou profissionais etc. No entanto, a informática permite muitos recursos gráficos que
podem ser inseridos ao lado, ou logo abaixo, da parte do texto a que se refere tal
assunto.

Referências

Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás.

Secretaria de Segurança Pública do Estado do Mato Grosso do Sul.

Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná.

Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina.

Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.

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CRIMINALÍSTICA

Aula 7 - PRODUÇÃO DE DOCUMENTOS E


RELATÓRIOS EM PERÍCIA CRIMINAL – Parte 2

Olá aluno e aluna na aula de hoje vamos falar sobre a produção de documentos
e relatórios em perícia criminal, mostrando alguns tipos de laudos. Bons estudos.

Modelos de laudos periciais

Aos 10 dias do mês de março do ano de 2013, nesta Capital, no Departamento


de Criminalística, pelo Diretor XXXXX foram designados YYYY e ZZZZ para
proceder ao exame pericial de documento, a fim de ser atendida requisição do Bel. AA,
Delegado Titular do 1° DP, conforme Ofício no__.

Peças Motivantes:

Trata-se de manuscritos apostos em um pedaço de papel sem pauta medindo


aproximadamente 14,7 cm e 6,7 cm. O documento encontra-se colado em uma folha
de papel sem pauta apresentando no canto superior direito “24-Z”. Trata-se de envelope
que apresenta manuscritos feitos com caneta dita esferográfica, tinta preta. Encontra-
se ele endereçado a SS e está colado a uma folha em branco, apresentando no canto
superior direito o n. “25-z”.

Peças Paradigmáticas:

Como espécimes de confronto, contamos com padrões autênticos de JJ e JL,


contidos em Auto de Colheita de Material Gráfico Autêntico, coletados pela Polícia
Civil de São Paulo – DEGRAN – por meio do Dr. AB.

Dos Exames:

As peças motivantes e paradigmáticas foram examinadas a olho nu e por meios


óticos adequados em busca e de hábitos gráficos característicos que, uma vez
determinados, foram confrontados entre si para uma possível origem comum ou não.

Fotomacrografias foram tomadas, e os assinalamentos necessários foram


permitindo assim um controle da conclusão pericial.

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CRIMINALÍSTICA

Quesitos e Respostas:

1° O autor do Auto de Colheita de Material Gráfico Autêntico, JJ, é também


autor das escritas gravadas no bilhete de fls. 24, doc 5 e envelope, documento 6, fls.
25?

Resposta: sim

Para que dois grafismos sejam aceitos como do mesmo punho, é necessário que
em ambos os seguintes valores sejam convergentes:

a. habilidade gráfica;

b. hábitos gráficos;

c. que não haja divergências estruturais entre os dois grafismos.

Laudo de exame de arma de fogo

Aos 23 dias do mês de março do ano de 2013, nesta Capital, no Departamento


de Criminalística da Diretoria Geral da Polícia Civil, pelo Diretor LL, foram
designados os peritos PP e PQ para proceder ao exame pericial em arma de fogo, a fim
de ser atendida requisição do Bel AA, Delegado do 1°Distrito Policial, por meio do
Ofício n°XX.

1. Características das Peças Examinadas

Aos peritos foram apresentados sete cartuchos intactos e um estojo calibre


nominal 7.65 mm, de marca CBC, bem como uma arma de fogo, curta e de porte
classificado como pistola semiautomática, tendo as seguintes características:

a. Marca: Beretta.

b. Fabricação: italiana.

c. N° de série: 683C09.

d. Calibre nominal: 7.65mm.

e. Mecanismo de percussão central, cão aparente e pino percursos isolado.

f. Carregamento por pente.


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CRIMINALÍSTICA

g. Coronha guarnecida por talas de plástico pretas com inscrição “Cb.BN” (lateral
esquerda), bem como com o logotipo da marca da arma.

h. Dimensões: 8,5cm de comprimento de cano X13,5 de diagonal máxima.

i. Acabamento oxidado, em desgaste.

j. Obs.: Foi utilizado um cartucho em disparo experimental.

2. Funcionamento da arma:

O estado geral da arma é bom, não apresentando suas peças quaisquer anomalias
que impeçam seu funcionamento. Está apta à realização de disparos.

3. Quesitos e Respostas:

Quais as características da arma periciada?


Resposta: Vide item 1.

b. No estado em que se encontra, está em perfeitas condições de uso?


Resposta: Sim, vide item 2.

c. A munição que a acompanha é do mesmo calibre da arma, e qual o seu estado?


Resposta: Sim, estado em condições de uso. Seu calibre corresponde ao da arma,
ou seja, 7,65mm.

d. Há evidências de disparo recente?


Resposta: Vide laudo químico.

e. O pedaço de chumbo pertence ao mesmo calibre da arma?


Resposta: O pedaço de chumbo a que se refere o quesito é um projétil de arma
de fogo calibre nominal 7.65mm, que, inclusive, foi expelido pela arma de fogo aqui
periciada. Portanto, a resposta não só é afirmativa, como também identifica a arma que
o expeliu.

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CRIMINALÍSTICA

E o relatório.

Obs.: O material examinado é devolvido com o presente.

Laudo de exame cadavérico

Aos 15 dias do mês de março de 2013 no Necrotério do Instituto Médico Legal,


nós, médicos-legistas que abaixo assinamos, atendendo à requisição da Delegacia do
1° DP, procedemos ao exame CADAVÉRICO no cadáver que nos foi apresentado
como sendo de SS (qualificação completa), no qual observamos:

Descrições das lesões:

1. Ferida pérfurocontusa, medindo 0,8 cm de diâmetro, com área de


chamuscamento, localizada na região bucinadora (cochecha) direita, com trajeto
transfixando a língua e ramo mandibular esquerdo, com saída na região bucinadora
contra-lateral;

2. ferida pérfurocontusa, medindo 0,8 com de diâmetro, com área de


chamuscamento e câmara de mina, localizada na região parietal esquerda, logo acima
do pavilhão auricular (orelha), transfixante, com grande destruição de massa
encefálica, com saída na região carotideana direita, logo abaixo do pavilhão auricular;

3. Sem outras lesões.

Nada mais tendo sido constatado, passamos a responder aos quesitos.

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CRIMINALÍSTICA

1° Houve morte?
Resposta: Sim, houve morte.

2° Qual a causa da morte?


Resposta: Hemorragia intracraniana.

3° Qual o instrumento ou meio que a produziu?


Resposta: Pérfurocontundente.

4° Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel?

Resposta: Prejudicado.
5° Qual a data do óbito?

(especificar hora, dia, mês e ano); Resposta:


Óbito dia 28/2/2013, às 17 h.

Dado e passado no Instituto Médico Legal, em Goiânia, Capital de Goiás, aos


15 dias do mês de março de 2013.

Obs. Nesta etapa assinar o laudo.

Laudo de exame de lesões corporais

Aos 8 dias do mês de março de 2013, no Gabinete do Instituto Médico Legal,


nós, médicos-legistas que abaixo assinamos, atendendo à requisição da Delegacia do
1° DP, procedemos ao exame de corpo de delito – LESÕES CORPORAIS - a pessoa
que nos foi apresentada como sendo SS (qualificação completa), na qual observamos:

Descrição das lesões:

1 - Cicatriz de ferida perfurocortante, medindo 3 cm de extensão, localizada no


hipocôndrio esquerdo, próximo ao rebordo costal;

2 - Cicatriz de incisão cirúrgica, mediana, medindo 25 cm de extensão,


localizada na linha média do abdome;

3 – Cicatriz de incisão cirúrgica, medindo 2 cm de extensão, localizada no flanco


esquerdo (dreno);

4 – Relatório de lesões, cujo teor é o seguinte: “Aos 8/3/2013, examinei SS e


constatei o seguinte: estado geral comprometido. Lesões apresentadas: 1 – ferida
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CRIMINALÍSTICA

penetrante no abdome, no hipocôndrio esquerdo; 2 – choque hipovolêmico,


Instrumento: arma branca. Tratamento: cirúrgico, ressecção de estômago devido à
laceração extensa; reposição sanguínea; antibióticos, soroterapia. Sequelas que
futuramente poderão se apresentar: distúrbio digestivo. Afastamento de suas ocupações
por 40 dias. Hospital BDF. Dr. OS, CRM – GO 7”. Nada mais tendo sido constatado,
passamos a responder os seguintes quesitos:

1° Houve ofensa à integridade corporal ou à saúde do paciente?


Resposta: Sim.

2° Qual o instrumento ou meio que a produziu?


Resposta: Perfurocortante.

3° Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel?
Resposta: Prejudicado.

4° Resultou incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias?


Resposta – Sim

5° Resultou perigo de vida?


Sim, devido à lesão penetrante no abdome com a laceração do estômago e devido
ao estado geral comprometido produzido por choque hipovolêmico que necessitou de
cirurgia e de reposição sanguínea.

6° Resultou debilidade permanente ou perda ou inutilização de membro, sentido


ou função?
Resposta: Sim, debilidade permanente da função digestiva.

7° Resultou incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável ou


deformidade permanente?
Resposta: Não

8° Resultou aceleração de parto ou aborto?


Resposta: Não

Dado e passado no Instituto Médico Legal, em Recife, Capital de Pernambuco,


aos 8 dias do mês de março de 2013.

Obs. Nesta parte assinar o laudo.


“Função pericial requer duas condições ao Perito Oficial: preparação técnica e
moralidade. Não se pode ser bom perito se falta uma destas condições. O dever de um
perito é dizer a verdade; no entanto, para isso é necessário: primeiro saber encontrá-la
6
CRIMINALÍSTICA

e, depois, querer dizê-la. O primeiro é um problema científico, o segundo é um


problema moral”.

Nerio Rojas

Referências

Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás.

Secretaria de Segurança Pública do Estado do Mato Grosso do Sul.

Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná.

Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina.

Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.

DEL PICCHIA FILHO, José. Manual de documentoscopia jurídica. São Paulo: Editora
Universitária de Direito. 1982.

NCICLOPÉDIA Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva. 1997

OPILHAR. Maria Carolina Milani Caldas. Criminalística e investigação criminal.


Palhoça: UnisulVirtual, 2006.

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CRIMINALÍSTICA

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 7)

O laudo pericial tem por objetivo apresentar o resultado de uma perícia; é o


parecer técnico emitido por um perito. Este documento relata tudo que foi objeto de
exames levado a efeito pelos peritos. Discorra sobre o laudo pericial, os principais
tipos de laudos e quais são as partes que compõem este documento, destacando o
motivo que a descrição é a parte mais importante de qualquer laudo pericial.
Lembre-se de citar as fontes pesquisadas.

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CRIMINALÍSTICA

Aula 8 - VESTÍGIOS MATERIAIS E PSÍQUICOS –


Parte 1

Olá aluno e aluna na aula na aula de hoje vamos falar a respeito de vestígio
material e imaterial também chamado de psíquicos, vamos dividir esse assunto em duas
partes. Bons estudos.

Nos exames periciais em locais de crimes a matéria prima de todo o


levantamento é sempre o vestígio. Ele é a fonte de onde se extraem todas as
informações e, consequentemente, é através dele que o perito realiza suas
interpretações baseadas em metodologia científica. Ao longo do tempo, diversos
autores se manifestaram sobre a definição do que é um vestígio. No início era
perceptível a identificação clara com a natureza exclusivamente material destes
elementos.

É nesse enfoque mais abrangente, onde são referidos os vestígios psíquicos,


também denominados imateriais, comportamentais ou ainda psicológicos, que
pretendemos centralizar nosso estudo. Este trabalho apresenta uma abordagem sobre
os vestígios psicológicos, destacando a sua identificação em locais de crime e
apresentando casos concretos onde tais tipos de vestígios se fazem presentes.

Dita evolução resultou no que o autor denomina de Criminalística Pós-Moderna,


representativa de uma visão atual, no qual o perito faz cotejos, interpretações,
construindo um modelo inteligível que englobe todos os elementos válidos, colocados
assim à disposição da justiça.

Com essa postura conservadora, muitos peritos acabaram por relegar o


imponderável, o incomensurável, representado na cena de crime exatamente pelo
vestígio imaterial, cuja ligação com o aspecto subjetivo parecia lógica.

O vestígio material

A tradição formativa dos peritos brasileiros insere em nosso imaginário frases


como:

“o perito trabalha sempre com o que se pode constatar materialmente”, ou “o


perito, sempre que possível, deve evitar tudo que possa ser subjetivo, valorizando
aquilo que é objetivo”.

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CRIMINALÍSTICA

É esse o arquétipo termo consagrado pela psicologia e aqui intencionalmente


empregado no sentido de paradigma que a maior parte dos peritos leva para seus
primeiros levantamentos periciais. Forma-se, assim a convicção de que vestígio é
sinônimo de matéria, passível de sustentar o arcabouço da prática.

O caminho da mudança do pensamento científico sobre a questão, quando


discute a evolução da ciência Criminalística para o que foi denominado de
Criminalística Dinâmica, que conservaria a mesma matriz axiológica, cultuando os
vestígios materiais, mas introduzindo a utilização de “informações técnicas” recolhidas
nas cenas de crime ou mesmo nas ocorrências, apenas no sentido de orientar
procedimentos e raciocínios sobre fatos assinalados de modo objetivo.

A questão da subjetividade do ponto de vista concernente às interpretações e


conclusões dos laudos, lembrando que os elementos subjetivos mais processados pela
Criminalística são as versões de vítimas e testemunhos analisadas pelos peritos em
exames de reprodução simulada, informes que aparecem em subitens do laudo com
títulos como De Outros Elementos, representações cênicas e pressupostos do tipo
“causalidade invertida” (ou backward causation – efeito que explica a ocorrência de
outro fenômeno).

Mas a questão perpassa também pela própria possibilidade de constatação de um


vestígio não material. Está lançado o desafio de se observar o todo, o contexto, às vezes
o não visualizável, ou seja, o vestígio psíquico, comportamental ou imaterial. E
assim, diante da evolução do conhecimento, cada vez mais, não apenas o material, mas
o imaterial passou a fazer parte da análise de uma cena de crime. É tempo de
atualizarmos nossos procedimentos e buscar compreender a que se refere o próprio
conceito de vestígio

O vestígio imaterial

Interessante notar que a definição de vestígio elaborada por Zbinden não surgiu
em uma época tão recente; ela aparece em 1957. Castro detalha a que se refere a
definição dos vestígios psíquicos ou imateriais quando escreve:

“...vestígios psíquicos ou imateriais consubstanciados em determinados tipos de


comportamentos associados à prática de ilícitos criminais...”

Braz, ao se referir à definição de Zbinden e pontuar a classificação dos vestígios


quanto a sua natureza, apresentação e valor, esclarecem sobre os vestígios psíquicos
ou imateriais:

“Quando se revelam por condutas, comportamentos, distúrbios mentais ou da


personalidade”.
2
CRIMINALÍSTICA

Esse esclarecimento nos remete a uma indagação: como peritos, estamos


preparados para reconhecer tais condutas, comportamentos, distúrbios mentais ou da
personalidade; enfim perturbações que se manifestam na cena de crime através de
vestígios materiais, mas cuja interpretação os remete uma natureza psíquica
relacionada?

Desta indagação podemos por extensão acrescentar: Que conhecimentos, além


daqueles já consagrados, são necessários para compor o arcabouço formativo de um
bom perito de local de crime?

Parece-nos razoável a incorporação de conhecimentos básicos de Psicologia,


bem como de Criminologia. Está claro que o processo interpretativo dos vestígios passa
a ser fundamental, uma vez que na prática, a real natureza de um vestígio continua
sendo matéria - o que se constata pela própria essência do que é o visum et repertum,
mas esse vestígio pode receber a interpretação de imaterial psíquica, comportamental,
a depender da argúcia daquele que examina o cenário do crime e que, através da
identificação, análise e interpretação, terá condições de mudar a compreensão sobre
esses vestígios.

Soto Castro assim se refere às evidências psicológicas ou comportamentais:

“A evidência comportamental é mais sutil do que a evidência física e


fundamentalmente se detecta mediante a observação e a inferência, enquanto a
evidência física, por sua evidente natureza, necessita de procedimentos físicos de
detecção, reconhecimento e análises”.

“É importante ter em conta a sutileza das evidências psicológicas, e que, em


certas ocasiões, a sua relevância não está tantonaquilo que se observa, mas
precisamente naquilo que não se vê”.

O mesmo autor apresenta ainda uma abordagem diferenciada e mais abrangente


em relação aos vestígios (que ele prefere chamar de evidências) comportamentais,
comparando-os com os vestígios materiais. Ele explicita que na Espanha os vestígios
materiais são considerados meios de prova, enquanto os vestígios comportamentais
são, fundamentalmente, uma ferramenta de investigação.

Essa questão é controversa. No Brasil, o arcabouço de produção das provas


técnicas possui nos laudos periciais a sua forma de manifestação e materialização.
Parece lógico considerar que tudo que for relatado, discutido e analisado, mesmo no
campo de hipóteses dentro de um laudo pericial, recebe o status de prova e está pronto
para a apreciação daqueles que serão usuários do trabalho pericial.

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CRIMINALÍSTICA

Vale lembrar também que em nosso país, a compartimentação das atividades de


segurança pública acaba afastando o perito do investigador (agente de polícia).

A interação esperada torna-se difícil e cada um executa sua atividade muitas


vezes de forma desconectada, um produzindo a prova técnica e outro investigando,
trazendo assim prejuízos para a investigação.

Na abordagem de Soto Castro, as chamadas evidências comportamentais mais


comuns englobariam:

1. Aquelas que se extraem de declarações de vítimas, testemunhas ou suspeitos;

2. As informações derivadas da documentação recolhida na cena de crime, como


mapas, croquis, fotos, vídeos, etc.;

3. As informações comportamentais derivadas das evidências físicas existentes e sua


documentação em foto e vídeo;

4. As feridas da vítima e sua documentação;

5. As informações relativas ao campo da Vitimologia, ou seja, a sua ocupação,


atividade, biografia, idade, características físicas, etc.

Assim considerados, percebemos que os vestígios comportamentais não


constituem matéria prima exclusiva da atividade pericial, mas aquelas elencadas que
nos remetem a cena do crime e ao laudo pericial.

Particularmente nos casos de prováveis suicídios, os vestígios comportamentais


parecem ganhar uma relevância ainda mais perceptível.

Quando evidenciamos uma cena de suicídio, acabamos, mesmo que de modo


indireto, traçando um quadro do momento psicológico experimentado pela mente do
suposto suicida.

Seu comportamento nos momentos que antecedem a consumação de um ato de


auto eliminação, muitas vezes permite ao perito e àqueles que serão levados a analisar
ocaso, acessar ações as quais podemos agrupar como parte de um ritual de alívio.

O termo foi utilizado para designar exatamente quaisquer ações ou omissões,


que tivessem uma relação direta com a conduta suicida, como a escrita de cartas,
bilhetes, arrumações de objetos ou do ambiente, dentre outros.

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CRIMINALÍSTICA

Quando examinamos um local de provável suicídio, muitas vezes está ausente a


manifestação da intencionalidade do suicida. Este é um ponto crucial no auxílio à
formação da convicção do perito. Seria ótimo se esse elemento estivesse
inexoravelmente presente nos locais suspeitos, mas isso nem sempre ocorre.

Referências bibliográficas

E. Anuschat. Kriminalistische Spurenkunde. Berlim: Kameradschaft, 1933.

K. Zbinden. Criminalística. Lisboa: Investigação Criminal, 1957.

P.M. Castro. Vestígios no locus delicti. Blog Segurança e Ciências Forenses, 2014.

R.F. Aragão. Vestígio Material e Imprecisão - Criminalística Estática, Dinâmica e Pós-


moderna, IV Seminário Brasileiro de Balística Forense e Perícias de Crimes Contra a
Vida, Recife, PE, 2006.

J.E. Soto Castro. La Evidencia Psicológica. Blog Criminología y Justicia, 2011.

J. Braz. Investigação Criminal: A Organização, o Método e a Prova. Os Desafios da


Nova Criminalidade, 3ª ed. Coimbra, Edições Almedina S.A, 2013.

C.T.A. Rosa. Locais de Crimes Contra a Pessoa: Recomendações Técnicas para a


Padronização de Procedimentos e Metodologias. In: D. Tocchetto, A. Espindula
(organizadores). Criminalística: Procedimentos e Metodologias. 3ª ed. Campinas,
Millennium Editora, p. 1-84, 2015.

T.G. Miranda. Autópsia Psicológica: compreendendo casos de suicídio e o impacto da


perda. 2014. 158 f. Tese (Mestrado em Psicologia) - Instituto de Psicologia,
Universidade de Brasília, Brasília, 2014.

D.C. Clark, S.L. Horton-Deutsch. Assessment in absentia: The value of the


psychological autopsy method for studying antecedents of suicide and predicting future
suicides. In Maris, R. W., Berman, A. L., Maltsberger, J. T., & Yufit, R. I. (Eds.).
Assessment and prediction of suicide. New York: The Guilford Press, p. 144-182,
1992.

E.S. Shneidman. Comment: The psychological autopsy. American Psychologist 1(39),


75-76, 1994.

M.J.R. Rodrigues. Perfis Criminais: Validade de Uma Técnica Forense. 2010. 58 f.


Tese (Mestrado em Medicina Legal) - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel
Salazar da Universidade do Porto. Porto, 2010.
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CRIMINALÍSTICA

Aula 9 - VESTÍGIOS MATERIAIS E PSÍQUICOS –


Parte 2

Olá aluno e aluna na aula na aula de hoje vamos dar continuidade ao tema
falando um pouco mais a respeito do vestígio material e imaterial que também pode
ser chamado de vestígio psíquico. Bons estudos.

Na década de 1960, nos Estados Unidos da América, em função da necessidade


de peritos legistas em precisar as condições em que se deram mortes suspeitas, surge à
busca de auxílio de psicólogos para averiguar a intenção de autoextermínio, condição
intrínseca nos casos suicidas.

Nasce a denominada Autópsia Psicológica, termo introduzido por Edwin


Shneidman. Miranda, citando Clark & Horton, assim esclarece:

“...faltava a investigação no domínio psicológico para saber se a intenção se


caracterizava ou não. A autópsia psicológica aparece nesse contexto com o objetivo
primordial de esclarecer o modo de morte em casos duvidosos ou incertos”.

Castro destaca uma área já bastante familiarizada com a questão dos vestígios
psíquicos: o campo dos perfis criminais, e citando Rodrigues, escreve:

“...entrando-se no campo dos perfis criminais, os quais “representam um sistema


no qual os comportamentos e/ou ações manifestados num crime são avaliados e
interpretados, a fim de compor as previsões relativas às características do provável
autor(es) do crime”. “As características previstas são muitas vezes referidas como um
perfil criminal, cuja finalidade é ajudar os investigadores na identificação, e, portanto,
a detenção de criminosos”.

A área denominada Análise Comportamental ou Profiling Criminal é


considerada uma técnica forense, ou seja, uma ferramenta de auxílio importante no
âmbito investigativo. Como se refere Konvalina Simas:

“O Profiling Criminal ou a análise comportamental em contexto investigativo


procura interpretar todas as pistas comportamentais relacionadas com uma ocorrência,
quer sejam de cariz social, biológico ou psicológico. A triangulação destas
características é que vai permitir a construção de um perfil aproximado doofensor e
fornecer pistas para direcionar a investigação criminal. Outras aplicações desta técnica
de análise comportamental podem incluir desenvolver estratégias de entrevista de
suspeitos e de testemunhas, estratégias para casos de sequestro, estratégias de
1
CRIMINALÍSTICA

negociação no caso de reféns e, no contexto da pesquisa criminológica, indicar


tendências, expor fenômenos e sugerir novos caminhos para a compreensão, prevenção
e combate ao crime”.

A análise do local de crime adquire nesse contexto uma importância


fundamental, pois o cenário do fato criminoso será a fonte de informações para todas
as interpretações que se possam extrair, referentes às possíveis manifestações de ordem
comportamental expressa pelo criminoso. Aqui podemos analisar aspectos como a
assinatura ou marca de um criminoso, considerada como uma maneira particular pela
qual um autor comete seus crimes. Sobre esse tema, Ebsike cita Holmes & Holmes,
mencionando que estes autores sustentam que:

“A assinatura de um autor é a única maneira em que ele ou ela comete crimes.


A assinatura pode ser a maneira como a pessoa mata, certas palavras que um estuprador
usa com suas vítimas, a forma particular com que um criminoso deixa algo em suas
cenas de crime, ou algum outro indicador”.

Outro autor, Geberth, também citado por Ebsike , se refere à assinatura, trazendo
duas importantes contribuições:

"o aspecto assinatura de um crime violento é uma parte única e integral do


comportamento do criminoso. Este componente refere-se à assinatura da
psicodinâmica, ou seja, os processos mentais e emocionais subjacentes ao
comportamento humano e suas motivações”.

“De fato, quando um agressor exibe um comportamento dentro da cena do crime


e desenvolve atividades que vão além dos necessários para realizar o ato, ele está
revelando a sua assinatura. Estes identificadores de personalidade significativos
ocorrem quando um agressor repetidamente empreende a sua atividade sexual em uma
ordem específica, fere e/ou inflige repetidamente, tipos semelhantes de lesões, usa um
tipo específico de amarração, dispõe o corpo da vítima em uma posição para valorar o
choque causado, tortura e mutila sua vítima, e se envolve de alguma forma em
comportamento ritualístico"

Muitos desses aspectos certamente podem ser observados, descritos e


interpretados pelos peritos de local, que terão liberdade para fazer a análise dos
vestígios psíquicos e, mesmo que não possam atribuir especificamente uma conclusão
a respeito do observado deve chamar a atenção em suas discussões sobre a possível
relevância daquele elemento quanto a representar uma manifestação de ação do
criminoso que possam ter uma conotação comportamental, colaborando assim para o
contexto da investigação policial.

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CRIMINALÍSTICA

Ebsike, embora chame a atenção para a falta de consenso em relação a definição


dos tipos de crimes passíveis de serem investigados sob a ótica da Análise
Comportamental ou Profiling, relaciona cinco deles:

1. Crimes em que o autor demonstra elementos de psicopatologia.

2. Crimes que se acredita serem parte de uma série (Serial Crimes).

3. Crimes violentos.

4. Ataques contra estranhos (sem relação com o agressor).

5. Crimes de Contato - crimes em que o infrator se envolve em longas conversas e


comunicações com a vítima.

Portanto, crimes como assassinatos em série, estupros em série, homicídios


sexuais, crimes ritualísticos, incêndio criminoso e tomada de reféns, têm sido
considerados como casos adequados para a aplicação da técnica.

O mesmo Ebsike cita que Holmes e Holmes têm mostrado que os tipos de crimes
mais adequados para o perfil incluem tortura sádica em agressões sexuais, evisceração,
cortes pós mortem, luxúria e assassinato com mutilação, estupro, crime ritualístico e
satânico e pedofilia.

Na relação dos crimes considerados adequados à aplicação da técnica do


Profiling, estão os crimes seriais, e dentre esses, os denominados homicídios em série,
que tanta repercussão e espaço na mídia despertam quando são identificados e afloram
como realidade, criando verdadeiras celebridades dentre os denominados Seriais
Killers.

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CRIMINALÍSTICA

Referências bibliográficas

E. Anuschat. Kriminalistische Spurenkunde. Berlim: Kameradschaft, 1933.

K. Zbinden. Criminalística. Lisboa: Investigação Criminal, 1957.

P.M. Castro. Vestígios no locus delicti. Blog Segurança e Ciências Forenses, 2014.

R.F. Aragão. Vestígio Material e Imprecisão - Criminalística Estática, Dinâmica e Pós-


moderna, IV Seminário Brasileiro de Balística Forense e Perícias de Crimes Contra a
Vida, Recife, PE, 2006.

J.E. Soto Castro. La Evidencia Psicológica. Blog Criminología y Justicia, 2011.

J. Braz. Investigação Criminal: A Organização, o Método e a Prova. Os Desafios da


Nova Criminalidade, 3ª ed. Coimbra, Edições Almedina S.A, 2013.

C.T.A. Rosa. Locais de Crimes Contra a Pessoa: Recomendações Técnicas para a


Padronização de Procedimentos e Metodologias. In: D. Tocchetto, A. Espindula
(organizadores). Criminalística: Procedimentos e Metodologias. 3ª ed. Campinas,
Millennium Editora, p. 1-84, 2015.

T.G. Miranda. Autópsia Psicológica: compreendendo casos de suicídio e o impacto da


perda. 2014. 158 f. Tese (Mestrado em Psicologia) - Instituto de Psicologia,
Universidade de Brasília, Brasília, 2014.

D.C. Clark, S.L. Horton-Deutsch. Assessment in absentia: The value of the


psychological autopsy method for studying antecedents of suicide and predicting future
suicides. In Maris, R. W., Berman, A. L., Maltsberger, J. T., & Yufit, R. I. (Eds.).
Assessment and prediction of suicide. New York: The Guilford Press, p. 144-182,
1992.

E.S. Shneidman. Comment: The psychological autopsy. American Psychologist 1(39),


75-76, 1994.

M.J.R. Rodrigues. Perfis Criminais: Validade de Uma Técnica Forense. 2010. 58 f.


Tese (Mestrado em Medicina Legal) - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel
Salazar da Universidade do Porto. Porto, 2010.

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CRIMINALÍSTICA

Aula 10 - CASOS DE CRIMES RECENTES – Parte 1

Olá aluno e aluna na aula de hoje vamos falar de alguns casos recentes de crimes
relacionados à Seriais Killers vamos dividir esse assunto em duas partes. Bons estudos.

Casos recentes e conhecidos no Brasil incluem, dentre outros:

Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do parque, que em 1998 teria matado pelo
menos seis mulheres em São Paulo.

Francisco das Chagas Rodrigues de Brito, suspeito de ter matado até 42 crianças
e jovens nos estados do Maranhão e Pará, entre 1989 e 2003.

Admar de Jesus, que entre 2009 e 2010, teria matado sete jovens com idades
entre 13 e 19 anos na cidade de Luziânia-GO.

Adriano da Silva, acusado de matar 12 crianças no norte do Rio Grande do Sul,


entre 2003 e 2004.

Tiago Henrique Gomes da Rocha, suspeito de matar 39 pessoas entre 2011 e


2014 em Goiânia.

Sailson José das Graças, preso em 2014, suspeito de matar mais de 38 mulheres
na região da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.

Muito provavelmente, várias das cenas de crimes relacionadas a estes Seriais


Killers, deveriam apresentar vestígios comportamentais importantes, capazes de não
apenas serem utilizados como provas materiais, dependendo de sua natureza, mas
também de auxiliar no processo investigativo e de compreensão sobre a personalidade
do criminoso.

Homicídios

CASO 1:

Em 1992, em Brasília, na asa sul, ocorre um homicídio, cuja vítima, do sexo


masculino, idade superior a sessenta anos, fora encontrada em seu apartamento, já em
adiantado estado de putrefação. O relato do caso é feito por Espindula. O caso ficou
conhecido como Caso Satiricon, graças à palavra Satiricon, escrita com sangue em um
espelho de um dos banheiros do apartamento onde o crime ocorreu. Os vestígios que
1
CRIMINALÍSTICA

podem ser considerados comportamentais, por expressarem algum significado relativo


à conduta do agressor, e que mereceram por parte dos peritos a consideração de que
estavam relacionados a uma mensagem foram:

A disposição do corpo: em decúbito dorsal, com os membros inferiores


levemente afastados e estirados; membros superiores estendidos, dispostos
perpendicularmente em relação ao tronco. Em conjunto a posição reproduzia uma
posição compatível a de uma crucificação.

Um quadro com um homem crucificado: Ao lado do corpo estava disposto um


quadro que reproduzia uma pintura de autoria de Salvador Dali, denominado
Crucificação, ou Corpo Hipercúbico, no qual se observa Jesus crucificado flutuando
diante de uma cruz composta por oito cubos, observada por Maria Madalena.

As posições do Cristo crucificado e do corpo da vítima são correspondentes.


Embora os autores do laudo não tenham inferido interpretações sobre esse vestígio, a
crucificação poderia estar relacionada a um sentido punitivo, de castigo ou mesmo de
sacrifício.

Um livro colocado sobre a região torácica da vítima: O livro O Estorvo, de


autoria de Chico Buarque, estava sobre a vítima, com sua capa voltada para cima. Os
peritos interpretaram que a palavra título da obra, “Estorvo” poderia expressar a
mensagem que o autor do crime intencionalmente demonstrava em relação à vítima,
ou seja, alguém visto como um empecilho, um estorvo.

A palavra Satiricon: escrita em sangue no espelho de um dos banheiros, foi


interpretada pelos peritos como uma referência à obra de Gaio Petrônio, escrita a cerca
de 2000 anos, a qual retratava a época da decadência do império romano, sobretudo
em seu aspecto moral. Na obra os personagens não obedecem a limites quanto à forma
e parceria na prática sexual. O comportamento libertino e homossexual é retratado
claramente. A obra serviu de roteiro para uma produção cinematográfica do diretor
Federico Fellini, do ano de 1969. A interpretação dos peritos do caso para esse vestígio
é a de que ele pode estar relacionado a opção homossexual da vítima, informada pela
investigação.

Lesões: a vítima apresentava 30 feridas pérfuroincisas, nas regiões torácicas,


hipocôndrios, esternal, epigástrica, mesogástrica e flanco direito. A multiplicidade de
lesões é uma das características comumente relacionadas a crimes de natureza
passional.

2
CRIMINALÍSTICA

Foto do Laudo do Caso Satiricon. Em primeiro plano o quadro com uma reprodução
da obra de Salvador Dali. Ao fundo o corpo colocado em posição correspondente à
do corpo crucificado. A seta indica o livro intitulado “O Estorvo”, colocado sobre o
tórax da vítima. Foto cedida pelo perito responsável pelo exame.

CASO 2:

Em 2005, na cidade de Ceilândia, Distrito Federal, um corpo é encontrado às


margens de uma estrada de terra. A vítima, um homem jovem de 23 anos, havia saído
de uma festa e seria vítima de um latrocínio (roubo seguido de morte). A ocorrência
não é incomum, porém as características relacionadas a produção do óbito chamavam
a atenção pelo grau de violência e brutalidade empregados. O laudo foi cedido pelo
perito Luiz Sérgio Henriques da Silva. Dois autores do crime foram identificados,
ambos adolescentes com 16 e 17 anos. Os vestígios que podem ser considerados
comportamentais foram:

A disposição do corpo: sentado sobre o solo, com o dorso encostado a uma estaca
de uma cerca de arame farpado. Os membros superiores apoiados aos fios de arame,
lembrando uma crucificação. Essa forma de dispor o corpo pode sugerir a intenção de
expor o cadáver como um troféu e também chocar as pessoas no momento em que o
mesmo fosse encontrado.

Lesões: a vítima apresentava fraturas, feridas contusas e lesões do grupo das


contusões na cabeça, com esmagamento e perda significativa de massa encefálica. No
interior da cavidade craniana foram observados fragmentos de um vaso sanitário
utilizado como instrumento contundente. No pescoço havia um cinto de couro disposto
de modo a formar uma laçada. A violência empregada atingiu um grau extremo,
incomum nos casos de latrocínio, cuja motivação, normalmente, é a vantagem
patrimonial, com a subtração de algum bem.

3
CRIMINALÍSTICA

Acessando informações na Vara da Infância e Juventude do Distrito Federal,


onde estão arquivados os autos do PAAI (Procedimento de Apuração de Ato
Infracional) referente ao ato infracional cometido pelos dois menores de idade, foram
obtidas informações relevantes:

Um dos autores do latrocínio, aqui denominado como Menor Infrator 1, aos 18


anos apresentava uma ficha criminal que incluía, dentre outros, quatro ocorrências de
roubos, duas de posse e uso de drogas, duas de lesões corporais, uma de tentativa de
furto e uma por latrocínio (caso analisado aqui); enquanto o segundo dos autores, aqui
identificado como Menor Infrator 2, aos 18 anos possuía em sua ficha criminal, dois
latrocínios (um dos quais o caso em questão), um homicídio, além de uma ocorrência
de lesões corporais;

No relatório da equipe técnica da instituição onde o Menor Infrator 1 cumpriu


medida socioeducativa, a equipe do departamento de psicologia informa sobre o
menor: “...instável, fortes traços de liderança, impulsividade, agressivo,
questionador...”. “Não revela indícios de arrependimento”. “Sua postura sociável e a
facilidade que demonstra em expor seus pensamentos, traços de liderança e carisma
são pouco condizentes no que se refere ao elevado grau de agressividade apresentado
no ato infracional”.

Em relação ao Menor Infrator 2, o relatório da equipe técnica da instituição onde


este cumpriu medida socioeducativa, informa: "...às vezes agressivo. Indícios de
histórico de alcoolismo e violência doméstica. Indícios vagos de arrependimento”.

Nas declarações prestadas pelos dois menores, restou claro que não havia
qualquer relação entre os mesmos e a vítima, que, portanto, era desconhecida para eles;

O grau de agressividade e violência empregado pode ser avaliado pelas


declarações constantes no Termo de Declarações prestado pelo Menor Infrator 1, cujos
trecho escolhido é aqui reproduzido:

“...que o declarante passou a ajudar..., vindo a jogar pedras por várias vezes na
cabeça da vítima, que ainda não aparentava estar morta; Que o declarante achou um
vaso sanitário próximo e avisou a ... (Menor Infrator 2), que de imediato o pegou e o
quebrou na cabeça da vítima; Que havia uma ponta do vaso, com a qual acabou
furando o pescoço da vítima; Que em determinado momento, começaram a arrancar
os miolos com as mãos, e os jogou dentro de uma poça de lama; Que ato contínuo,
...(o Menor infrator 2) tirou o cinto da vítima e amarrou o pescoço da mesma para que
ficasse fácil arrastá-lo pela estrada; Que ...(o Menor infrator 2) teve a ideia de
pendurar a vítima na cerca de arames farpados que margeia a estrada, isto como se
fosse roupa; Que antes de começarem a arrastar a vítima, ... (Menor Infrator 2) puxou
a língua desta com a mão, tentando arrancá-la...”;
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CRIMINALÍSTICA

Foto do Laudo mostrando a disposição como o corpo fora encontrado, em vista


anterior.

Foto do Laudo mostrando a disposição como o corpo fora encontrado, em vista


posterior.
5
CRIMINALÍSTICA

CASO 3: EMASCULAÇÃO:

Em 2008, na cidade de São Sebastião, Distrito Federal, o autor atendeu a uma


ocorrência de homicídio, verificada em um barraco de madeira. Em seu interior, uma
vítima do sexo masculino, idade entre 25 e 30 anos. A vítima foi encontrada
parcialmente sobre uma cama de solteiro. Duas lesões importantes justificavam o óbito,
ambas feridas pérfuroincisas no pescoço. Entretanto, uma lesão rara chamava a atenção
dos peritos: uma emasculação completa, com os órgãos genitais sendo encontrados sob
a cama onde estava o corpo. Os vestígios que podem ter uma conotação
comportamental, por expressarem algum significado relativo à conduta do autor foram:
A lesão nas genitais: a emasculação completa (retirada do pênis e dos testículos)
mereceu do autor um comentário no item análise dos vestígios, que compunha o laudo:
“os peritos ressaltam que esse tipo de mutilação é bastante raro no que se refere à
casuística, podendo estar relacionado a motivações de vingança com conotação sexual,
sobretudo nos casos em que os órgãos extirpados permanecem na cena do crime”. A
ação poderia representar assim, uma mensagem do agressor, deixando claro qual a sua
motivação, ou mesmo, a razão pela qual a vítima teria sido morta.

Inscrições na face externa do barraco foram observadas inscrições produzidas


em letra cursiva, com giz e assim especificadas “Tudo sobre orgasmo e sexo e
felicidade”. Mesmo se a autoria fosse atribuída à própria vítima, tais escritos já
representam uma provável ligação com os fatos que envolvem a ocorrência.

Foto do Laudo mostrando a disposição como o corpo fora encontrado. As setas


indicam vestígios assinalados pelo autor.
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CRIMINALÍSTICA

Foto do Laudo destacando a emasculação da vítima.

Foto do Laudo destacando inscrições observadas no barraco.

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CRIMINALÍSTICA

Foto do Laudo destacando as inscrições observadas na parede externa do barraco.

Acessando os autos do processo, os dados da investigação revelaram que a


vítima, conhecia os dois indiciados de sua morte, os quais mantinham entre si um
relacionamento homossexual.

Dias antes do homicídio, a vítima envolveu-se em uma discussão com um dos


indiciados, reagindo a uma tentativa de aproximação, o que teria sido ouvido por uma
testemunha, quando a vítima apela para que esse indiciado “não toque em seu pênis”.

No episódio a vítima teria "riscado de faca” esse indiciado. O outro indiciado


motivado por ciúme e também pelo desejo de vingança decide invadir o barraco da
vítima junto ao seu parceiro, acabando por produzir a emasculação e matar a vítima.

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CRIMINALÍSTICA

Referências bibliográficas

E. Anuschat. Kriminalistische Spurenkunde. Berlim: Kameradschaft, 1933.

K. Zbinden. Criminalística. Lisboa: Investigação Criminal, 1957.

P.M. Castro. Vestígios no locus delicti. Blog Segurança e Ciências Forenses, 2014.

R.F. Aragão. Vestígio Material e Imprecisão - Criminalística Estática, Dinâmica e Pós-


moderna, IV Seminário Brasileiro de Balística Forense e Perícias de Crimes Contra a
Vida, Recife, PE, 2006.

J.E. Soto Castro. La Evidencia Psicológica. Blog Criminología y Justicia, 2011.

J. Braz. Investigação Criminal: A Organização, o Método e a Prova. Os Desafios da


Nova Criminalidade, 3ª ed. Coimbra, Edições Almedina S.A, 2013.

C.T.A. Rosa. Locais de Crimes Contra a Pessoa: Recomendações Técnicas para a


Padronização de Procedimentos e Metodologias. In: D. Tocchetto, A. Espindula
(organizadores). Criminalística: Procedimentos e Metodologias. 3ª ed. Campinas,
Millennium Editora, p. 1-84, 2015.

T.G. Miranda. Autópsia Psicológica: compreendendo casos de suicídio e o impacto da


perda. 2014. 158 f. Tese (Mestrado em Psicologia) - Instituto de Psicologia,
Universidade de Brasília, Brasília, 2014.

D.C. Clark, S.L. Horton-Deutsch. Assessment in absentia: The value of the


psychological autopsy method for studying antecedents of suicide and predicting future
suicides. In Maris, R. W., Berman, A. L., Maltsberger, J. T., & Yufit, R. I. (Eds.).
Assessment and prediction of suicide. New York: The Guilford Press, p. 144-182,
1992.

E.S. Shneidman. Comment: The psychological autopsy. American Psychologist 1(39),


75-76, 1994.

M.J.R. Rodrigues. Perfis Criminais: Validade de Uma Técnica Forense. 2010. 58 f.


Tese (Mestrado em Medicina Legal) - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel
Salazar da Universidade do Porto. Porto, 2010.

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CRIMINALÍSTICA

Aula 11 - CASOS DE CRIMES RECENTES – Parte 2

Olá aluno e aluna na aula de hoje vamos dar continuidade ao nosso tema,
enfatizando casos de suicídios. Bons estudos.

Suicídios

CASO 1:

Em 2008, na cidade de Brasília, Distrito Federal, atendendo uma ocorrência de


Cadáver Encontrado, o autor pode acessar um caso bastante interessante. O local, um
apartamento localizado em um bairro de classe média alta, era dividido em seis
cômodos. A vítima encontrava-se caída no piso da sala, em adiantado estado de
putrefação, com cerca de 5 dias de óbito. Entre o corpo da vítima e o piso havia uma
faca de caça empregada na consumação do ato suicida.

A única lesão verificada foi uma ferida pérfuroincisa na região esternal. No local
foram encontrados muitos vestígios, os quais, interpretados, revelaram-se úteis na
compreensão da personalidade da vítima, bem como na demonstração da sua
intencionalidade quanto à consumação do ato de auto eliminação, podendo ser
considerados dessa forma como vestígios comportamentais.

Eis a lista desses vestígios:

Acúmulo e organização de objetos: grande quantidade de lixo armazenado, em


sua maior parte em sacos plásticos empilhados na sala, corredor e cozinha; acúmulo de
diversos itens, embalados em caixas e distribuídos pelos cômodos, em especial os
quartos; alinhamento ou ordenação de objetos segundo determinados critérios, tais
como diversas tampas de embalagens (como iogurtes), diversas vértices de embalagens
tipo Tetra Pac seccionadas, assim como embalagens do mesmo tipo observadas sobre
a pia da cozinha; moedas acumuladas e organizadas por valor, que estavam sobre uma
mesa de madeira do tipo aparador localizada na sala.

Deterioração do ambiente, com acúmulo de sujidades nas áreas de menor


circulação e de acesso mais difícil, formando trilhas mais limpas nas áreas de maior
circulação.

Disposição de peças e objetos de pouca ou nenhuma utilidade prejudicando a


convivência e a circulação das pessoas.

1
CRIMINALÍSTICA

Vasto material escrito em nove folhas de papel A4 que estavam em uma


prancheta encontrada sobre a mesa da sala.

Em conjunto aos itens analisados expressou assim uma interpretação desses


vestígios:

“são todos elementos que sugerem que a pessoa que habitava o local apresentasse
sintomas de compulsão por armazenagem ou colecionismo, um dos sintomas
conhecidos do TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), um tipo de transtorno mental
reconhecido, que pode guardar relação direta com estados de depressão”.

Foto do Laudo destacando o corpo na posição em que fora encontrado, já em


adiantado estado de putrefação. As setas azuis indicam lixo acumulado em sacos
plásticos. Notar a distribuição de objetos pelo ambiente.

Foto do Laudo destacando um dos quartos do apartamento examinado.


2
CRIMINALÍSTICA

Foto do Laudo destacando sobre a pia da cozinha embalagens do tipo Tetra Pac,
vértices dessas embalagens seccionados e tampas de outras embalagens.

Foto do Laudo destacando sobre a mesa, a prancheta onde estavam as folhas com os
escritos verificados (círculo maior). A seta indica materiais acumulados e o círculo
menos, de cor amarela, objetos organizados (moedas).

3
CRIMINALÍSTICA

Foto do Laudo destacando na cozinha o acúmulo de lixo em sacos. No piso a trilha


com menos sujidades, formada pelo deslocamento regular da vítima.

CASO 2:

Em 2006, na cidade de Brasília, Distrito Federal, atendendo uma ocorrência de


Suicídio, o autor examinou um local que apresentava interessantes vestígios, alguns de
natureza psíquica. O local, um apartamento localizado no plano piloto, era dividido em
sete cômodos. A vítima projetou-se por uma das janelas do apartamento, localizado no
sexto andar de um bloco residencial. O corpo estava caído sobre o gramado da área
verde, defronte ao edifício, em posição de decúbito dorsal, tendo sua posição sido
modificada antes do início dos exames periciais. As lesões externas eram discretas,
representadas por equimoses e escoriações. Dois vestígios importantes, relatados pelos
policiais militares presentes no local, deixaram de ser processados em função de sua
retirada da cena antes da chegada dos peritos: um bilhete com inscrições trazendo o
número de telefone do marido da vítima e uma agenda, os quais acompanhavam o
corpo no momento da queda. No apartamento foram encontrados muitos vestígios, os
quais, interpretados, revelaram-se úteis na compreensão dos momentos que
antecederam a projeção da vítima, consumando seu óbito. A demonstração da sua
intencionalidade quanto à consumação do ato de auto eliminação, compondo um ritual
de alívio, manifestava-se na forma de vestígios comportamentais. Eis os vestígios:

Organização de objetos: sete porta-retratos e diversas fotos espalhados sobre um


tapete da sala, junto com imãs coloridos usados na fixação de fotos em painel metálico
4
CRIMINALÍSTICA

localizado na sala. Nas fotografias, imagens da vítima em diversos momentos da vida,


com sua família e seu marido.

Mensagem escolhida em uma bíblia: sobre uma mesa de madeira que apoiava
um aparelho televisor havia uma bíblia aberta, com uma moeda de vinte e cinco
centavos exatamente na brochura entre duas páginas, servindo como um marcador. Na
página da direita, entre os diversos dizeres que faziam parte dos Salmos, uma das
orações, a saber, o Salmo número 13, intitulado Oração de Fé - Ao mestre de canto.
Salmo de Davi trazia dentre outros os seguintes dizeres:

“Até quando Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando


ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro em minha alma, com
tristeza no coração cada dia? Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo? Atenta
para mim, responde-me, SENHOR, Deus meu! Ilumina-me os olhos, para que eu não
durma o sono da morte”.

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CRIMINALÍSTICA

Referências bibliográficas

E. Anuschat. Kriminalistische Spurenkunde. Berlim: Kameradschaft, 1933.

K. Zbinden. Criminalística. Lisboa: Investigação Criminal, 1957.

P.M. Castro. Vestígios no locus delicti. Blog Segurança e Ciências Forenses, 2014.

R.F. Aragão. Vestígio Material e Imprecisão - Criminalística Estática, Dinâmica e Pós-


moderna, IV Seminário Brasileiro de Balística Forense e Perícias de Crimes Contra a
Vida, Recife, PE, 2006.

J.E. Soto Castro. La Evidencia Psicológica. Blog Criminología y Justicia, 2011.

J. Braz. Investigação Criminal: A Organização, o Método e a Prova. Os Desafios da


Nova Criminalidade, 3ª ed. Coimbra, Edições Almedina S.A, 2013.

C.T.A. Rosa. Locais de Crimes Contra a Pessoa: Recomendações Técnicas para a


Padronização de Procedimentos e Metodologias. In: D. Tocchetto, A. Espindula
(organizadores). Criminalística: Procedimentos e Metodologias. 3ª ed. Campinas,
Millennium Editora, p. 1-84, 2015.

T.G. Miranda. Autópsia Psicológica: compreendendo casos de suicídio e o impacto da


perda. 2014. 158 f. Tese (Mestrado em Psicologia) - Instituto de Psicologia,
Universidade de Brasília, Brasília, 2014.

D.C. Clark, S.L. Horton-Deutsch. Assessment in absentia: The value of the


psychological autopsy method for studying antecedents of suicide and predicting future
suicides. In Maris, R. W., Berman, A. L., Maltsberger, J. T., & Yufit, R. I. (Eds.).
Assessment and prediction of suicide. New York: The Guilford Press, p. 144-182,
1992.

E.S. Shneidman. Comment: The psychological autopsy. American Psychologist 1(39),


75-76, 1994.

M.J.R. Rodrigues. Perfis Criminais: Validade de Uma Técnica Forense. 2010. 58 f.


Tese (Mestrado em Medicina Legal) - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel
Salazar da Universidade do Porto. Porto, 2010.

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CRIMINALÍSTICA

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 11)

Caro aluno e aluna pesquisem na internet casos recentes de crimes ocorridos no


mundo praticados por Serial Killer, escolha um e fale sobre ele no máximo em 30
linhas. Não se esqueça de colocar a fonte de pesquisa e o capricho é levado em
consideração na hora da correção. Boa atividade.

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BALÍSTICA FORENSE

Aula 1 - ARMA DE FOGO - Parte 1

História do início do uso de armas de fogo

As armas de fogo surgiram no século XIV, consistindo comumente uma armação


semelhante às empregadas em flechas. Até o século XIX, as armas utilizadas eram as
de um único cano, e seu desenvolvimento teve relação direta com a invenção da
pólvora.

Na Europa, a pólvora já era mencionada pelo monge Roger Bacon, no ano 1250
(aproximadamente), porém existem diferentes versões a respeito de sua descoberta e
de quem a realizou.

Estima-se que a substância já era conhecida e utilizada na China como elemento


propulsor de foguetes e em armas para fins militares séculos antes.

A partir do conhecimento de seus efeitos, logo iniciou-se seu uso para a


combustão de projéteis impelidos e, por conseguinte, houve a proliferação da
fabricação de armas de fogo (TRAMPE, 2008).

A primeira referência sobre arma de fogo foi observada em um manuscrito inglês


do ano de 1326, no qual há uma ilustração de um pequeno canhão disparando.

1
BALÍSTICA FORENSE

Esse pequeno canhão é o mais antigo já encontrado e ficou conhecido como


“Tannenberg Gun”, por ter sido encontrado em um poço nas ruínas da fortaleza de
Tannenberg (localizado em Hesse, na Alemanha, local que foi palco de diversos
confrontos militares entre o exército alemão e russo durante a primeira guerra
mundial).

Sabe-se, assim, que o principal estímulo para o desenvolvimento de armas é sua


utilização para fins militares e, para isso, elas devem possuir confiabilidade, precisão,
força efetiva (quanto ao projétil) e velocidade ou cadência de fogo (TRAMPE, 2008).

Desde o século XVIII, os mosquetes funcionavam por meio de um pavio aceso


que gerava faíscas por fricção.

2
BALÍSTICA FORENSE

Já no século XIX, inventou-se o sistema de percussão, no qual, ao bater um


“martelo” contra um fulminante, a chama era gerada e produzia a ignição da pólvora.
Na metade desse mesmo século, um sistema integrado contendo o projétil, a carga de
pólvora e o fulminante foi fabricado, e a este deu-se o nome de cartucho.

‘Até esse momento, as armas eram carregadas pelo sistema ante carga (pelo cano
da arma).

Com a criação das novas armas que faziam uso de cartuchos iniciou-se a
retrocarga (carga pela parte posterior).

Em sequência, novos inventos introduziram armas contendo múltiplas câmaras


de carga e as armas de pistão ou percussão (TRAMPE, 2008). Nessa época, o norte-
americano Samuel Colt (1814-1862) se tornou sinônimo de “revólver”, pois
revolucionou seu design e introduziu um sistema de produção em massa para que esse
material fosse fabricado.

3
BALÍSTICA FORENSE

Em sequência, Eliphael Remington aperfeiçoou esse trabalho, o qual foi ainda


alterado, dando espaço para outros mecanismos que permitiram a carga sucessiva de
cartuchos, o que originou as armas de repetição. Ao final do século XIX, foram
desenvolvidas armas capazes de realizar disparos rápidos de um grande número de
projéteis, e a essa classe foi dado o nome de metralhadora.

Em meados do século XVIII passou-se a fabricar canos com estrias espiraladas


na superfície interna e descobriu-se que essa característica faz com que a projetil
adquira um movimento de rotação sobre seu eixo longitudinal, originando um efeito
giratório que torna sua trajetória mais estável e aumenta significativamente sua
precisão.

Essa forma de funcionamento é utilizada na atualidade com variações de


modelo para modelo, o que por consequência gera a impressão de marcas distintas nas
superfícies dos projéteis e, por essa razão, as ciências forenses utilizam dessas
características para realizar identificações (TRAMPE, 2008).

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BALÍSTICA FORENSE

Armas de fogo são utilizadas para expelir projéteis por meio da força expansiva
dos gases provenientes da combustão da pólvora. Nesse sentido, projéteis podem ser
balísticos e não balísticos, e estes se diferem entre si devido à ação da força que
promove seu movimento.

No caso do projétil balístico, a força de propulsão cessa quando acontece o


lançamento dele na atmosfera.

Em contrapartida, quando se trata de projéteis não balísticos, a força de


propulsão continua agindo, como, por exemplo, em foguetes (JUNIOR, 2017).

Dois exemplos de projétil balístico e não balístico são apresentados na


Figura (a) e (b), respectivamente.

Representação de projétil balístico: disparo de bala (a) e projétil não balístico:


lançamento de foguete (b)

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BALÍSTICA FORENSE

Diferentes formas de classificar armas de fogo

Além de saber a diferença existente entre projéteis balísticos e não balísticos, é


indispensável ter conhecimento dos aspectos classificatórios de armas. Uma arma de
fogo é um artefato mecânico cujo uso é destinado para ofensa ou defesa, de diferentes
formas e dimensões, que faz uso da pressão gerada pela combustão da pólvora para
expulsar à alta velocidade um ou vários projéteis de uma só vez (VILLATORO, 2013).

De modo geral, armas são classificadas de acordo com elementos relacionados


à sua estrutura, como suas características específicas.

Essa classificação é feita de acordo com:

• A tipo do cano;
• O sistema de inflamação;
• O sistema de carregamento;
• O sistema de funcionamento;
• À mobilidade e uso.

Quanto ao tipo de cano, pode-se dizer que suas principais funções


são proporcionar direção aos projéteis e resistir às pressões elevadas que são geradas
em seu interior (VILLATORO, 2013). Segundo Trampe (2008), o cano pode ser:

• Liso;
• Estriado (ou raiada);
• Poligonal.
6
BALÍSTICA FORENSE

O cano liso é aquele confeccionado a partir de um cilindro de aço, o qual é


perfurado longitudinalmente por brocas especiais. Exemplos de armas de cano liso são
as espingardas e o revólver Taurus RT 410 calibre 36 GA.

Já o cano raiado é aquele no qual a parte interna possui sulcos helicoidais que
geram impressões e são destinados a forçar um movimento de rotação no projétil. Raias
em direção horária geram no projétil um giro da esquerda para a direita com relação ao
eixo do cano (destrógiro). Em contrapartida, raias em direção anti-horárias causam no
projétil um giro da direita para a esquerda (sinistrógiro)

Sistema de funcionamento de armas raiadas

Destrógiro Sinistrógiro

A quantidade de raias existentes no interior de uma arma de fogo pode variar de


quatro a oito ou mais; contudo, é mais comum a presença de quatro e seis raias. A
profundidade das estrias helicoidais deve ser constante (no mínimo um milésimo de
polegada e no máximo seis) para que o projétil adquira a rotação necessária e para
evitar uma fricção excessiva nas paredes da arma.

Nesse sentido, é importante compreender a formação das raias nos campos de


estrias, podemos encontrar os seguintes tipos (VILLATORO, 2013):

A. Raias primárias: são os limites dos campos, ou seja, formam as arestas vivas e
curvas (observadas nitidamente e pouco nítidas, respectivamente). Tais marcas
são paralelas entre si e quase horizontais. Não é recomendado considerá-
las numa identificação, pois supõe-se que toda arma possui um cano de seis
estrias e sejam da mesma fabricação, o que implica na coincidência das marcas;
7
BALÍSTICA FORENSE

B. Raias secundárias: estas são as marcas as quais devem ser consideradas quando
se trata da identificação de projéteis. São as marcas permanentes dentro do cano,
e podem ser sulcos (baixo nível) ou unhas (alto nível). Em geral, as raias
secundárias são paralelas às primárias;

C. Raias terciárias: conhecidas também como raias parasitas, são produzidas por
corpos estranhos soltos acumulados no interior do cano. Destaca-se que esse é o
tipo de cano da maioria das armas, incluindo curtas e longas.

E, no caso do cano poligonal, não são observadas estrias bem definidas, no


entanto é possível precisar características individualizantes. Esse é o tipo de cano de
diversas armas curtas.

No que diz respeito ao sistema de inflamação, para armas existem quatro formas
para que este ocorra:

• Mecha;
• Atrito;
• Percussão;
• Elétrico.

Dentre essas formas de inflamação, é importante destacar a percussão, que pode


ser extrínseca (armas de antecarga) ou intrínseca (pino lateral, central ou radial),

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BALÍSTICA FORENSE

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BALÍSTICA FORENSE

Sobre o sistema de carregamento, este pode ser antecarga ou retrocarga.

O carregamento antecarga é realizado pela extremidade anterior do cano, ou seja,


na boca da arma, enquanto o carregamento retrocarga se dá na extremidade posterior
do cano (na câmara). Já o sistema de funcionamento, é dividido em duas classes:

• Tiro unitário (manual);


• repetição (não automática, semiautomática e automática).

O tiro unitário pode ser simples – somente comportando carga para um tiro –, ou
pode ser múltiplo – nesse caso, comporta carga como se duas ou mais armas estivessem
numa mesma coronha.

Quando se trata do tiro em repetição em arma não automática, o funcionamento


se dá pela força muscular do atirador, que desencadeia cada fase do funcionamento por
meio de suas ações.

Em armas semiautomáticas o funcionamento acontece pelo aproveitamento dos


gases provenientes da queima da carga de projeção.

Com exceção da liberação da massa percutente, esses gases realizam todas as


demais fases do funcionamento nessas armas. E, para as armas automáticas, o
funcionamento também acontece pelo princípio do aproveitamento dos gases
resultantes da queima da carga de projeção.

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BALÍSTICA FORENSE

Além disso, de acordo com Trampe (2008), às armas de fogo podem ser também
classificadas por:

Modo de transporte

• Portáteis: são as armas que uma única pessoa é suficiente para realizar o
transporte (fuzil, escopeta, revólver);

• Não portáteis: são as armas que necessitam de mais de uma pessoa ou de um


meio mecânico ou animal para realizar o transporte (morteiro, canhão,
metralhadora). Forma de uso

• Punho: são armas desenhadas para utilização com apenas uma mão (revólver,
pistola, pistola de caça);

• Ombro: são armas que necessitam do uso das duas mãos e/ou apoio em alguma
outra parte do corpo do atirador, que normalmente é o ombro (fuzil, escopeta,
pistola-metralhadora).

Existem características mais específicas que devem ser conhecidas


principalmente se tratando de áreas como a balística forense, pois indicam as
particularidades de cada arma. O calibre é a medida do diâmetro interno do cano de
uma arma.

Quando se trata de armas de cano com alma raiada, é necessário realizar


distinções entre o calibre real, calibre do projétil de calibre nominal, O calibre real é o
diâmetro interno do cano da arma, expresso em milímetros ou fração de polegadas.

11
BALÍSTICA FORENSE

O calibre do projétil é a medida do diâmetro interno do cano de uma arma raiada,


que é medido entre “profundidades” das raias.

E, finalmente, o calibre nominal é a dimensão empregada para definir ou


caracterizar um tipo de munição ou arma designada pelo fabricante. Não
necessariamente possui relação com o calibre real ou o calibre do projétil e também é
expresso em milímetros ou frações de polegadas.

Armas de fogo

Quando se trata de armas, existe uma dificuldade muito comum em


diferenciação e nomenclaturas a serem utilizadas para se tornar claro o que é pistola,
revólver, pistola de carregamento automático, entre outras.

Por essa razão, a seguir serão apresentadas as características de armas visando


tornar claro o entendimento das classificações corretas.

Existe uma classificação geral que divide as armas em curtas e longas


(ÁLVAREZ; DE ARCO, 2012).

São consideradas como armas curtas:

• Revólver;

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BALÍSTICA FORENSE

• Pistola;

• Pistola metralhadora.

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BALÍSTICA FORENSE

Um revólver é definido como uma arma curta, de mão, a qual apresenta


diferentes modelos, mas possui os mesmos mecanismos de funcionamento. É uma
arma de repetição, ou seja, a cada disparo é necessária uma ação manual para que a
operação se repita.

Seu sistema de armazenamento é bastante particular, consistindo em um cano


estriado e um tambor giratório (peça cilíndrica), que apresenta de quatro a dez câmaras
onde ficam os cartuchos (VILLATORO, 2013).

Cada câmara existente no tambor de um revólver contém um cartucho. O


movimento giratório acontece mecanicamente para que haja o alinhamento de cada
cápsula com o tambor e o pino de disparo sucessivamente. Esse alinhamento acontece
de modo tangencial à medida que os disparos são realizados, podendo ser
(MENDOZA, 2015):

• Alinhamento por ação simples;


• Alinhamento de ação dupla.

Quando o alinhamento ocorre por ação simples, significa que o recuo do martelo
é realizado manualmente pelo atirador a cada disparo. Contrariamente, quando se trata
da ação dupla, o retrocesso e a percussão do martelo são efetuados diretamente a partir
da cauda do gatilho ou pela ação do atirador que aciona o martelo manualmente
(MENDOZA, 2015).

Há três tipos de revólveres, sendo o mais comum o “swingout” que, a partir do


momento em que o gatilho é pressionado, empurra e abre o tambor, promovendo a
exposição das câmaras. Cada câmara é carregada individualmente com um cartucho,
tornando-se apta a realizar disparos.

Após a descarga de todos os cartuchos, a trava do tambor é pressionada


empurrando-o para fora. A haste de ejeção posicionada na frente do tambor é
pressionada para trás, ejetando as cápsulas.

A partir desse momento, o tambor se torna apto à recarga (De MAIO, 1999). No
caso de revólveres break-top, o chassi é articulado na parte posterior, de modo que, ao
soltar-se a trava superior, tanto o cano quanto o tambor giram para baixo, causando a
exposição da parte traseira do cilindro de.

Essa ação de abertura também faz com que cápsulas vazias sejam ejetadas do
tambor (De MAIO, 1999). Um revólver é bastante útil quando se trata de combates à
curta distância, e os mais comumente utilizados são os calibres .22”, .32” e .38”. Essas

14
BALÍSTICA FORENSE

classificações são referentes à munição, visto que existem diferentes tipos (TRAMPE,
2008).

Existem diferentes tipos e modelos de pistolas, no entanto os mecanismos de


disparos são basicamente os mesmos. É importante compreender ainda que revólveres
e pistolas se diferem quanto ao formato, carga, funcionamento, eficácia e potência de
disparo, rapidez, alcance e efetividade.

Por exemplo, o tipo de munição utilizada em revólveres é diferente do usado em


pistolas, sendo que, no caso dessas últimas, normalmente emprega-se projéteis
encamisados (recobertos de metal ou ligas metálicas) (TRAMPE, 2008). Quando se
trata de pistolas, é necessário levar em consideração as seguintes definições
(MENDOZA, 2015):

• À recamara deve estar permanentemente alinhada com o cano (ou canos);


• O(s) cano (s) deve(m) ser estriado(s).

A partir desses dois parâmetros, é possível identificar uma arma como pistola,
porém sem informações específicas como forma e design, sistema de disparo etc. Há
exemplos de diferentes modelos de pistolas de carga tiro a tiro.

É possível observar que nenhuma delas possui local de depósito ou


armazenamento de munições, o que significa que a pessoa a qual efetuará os disparos
deve realizar a carga e descarga manualmente.

O armazenamento de carga em pistolas é realizado introduzindo o carregador de


armazenamento na coronha da arma, que, nesse caso, é o local de carga.

A capacidade de armazenagem pode variar de acordo com o calibre e o design


da arma. Além disso, existem carregadores com capacidade de armazenamento de um
maior número de cartuchos (TRAMPE, 2008).

15
BALÍSTICA FORENSE

Aula 2 - ARMA DE FOGO - Parte 2

Das variações existentes, podemos falar no caso da pistola automática, em que a


munição é colocada num compartimento de mola removível que se encontra dentro da
empunhadura. O cano da arma é rodeado por um ferrolho (slide) com um bloco de
culatra integral o qual é mantido em bateria com a parte posterior do carregador por
uma mola (a face do bloco da culatra é mantida apertada contra sua extremidade no
cano em posição de disparo).

O ato de puxar o slide para trás permite que a munição superior do depósito se
apresente na parte posterior do cano.

1
BALÍSTICA FORENSE

Ao permitir que o slide se mova para frente sob a pressão da mola, a bala é
empurrada do depósito para a câmara do carregador pelo bloco da culatra. Essa ação
também aciona o mecanismo do gatilho (HEARD, 2008). Puxando o gatilho, o martelo
desce e a bala é, então, disparada. Esta bala é empurrada ao longo do cano pelos gases
em expansão.

Não apenas isso, esses gases exercem ainda uma força igual e oposta no
invólucro do cartucho e, por consequência, faz com que o slide e a culatra se movam
para trás. Isso ejeta o pente do cartucho gasto por uma porta lateral ou superior ao slide,
dependendo do modelo da pistola. Ao final do movimento de recuo, o slide carregado
move-se para frente trazendo uma nova bala da parte superior do depósito,
alimentando-o na parte posterior do cano, de modo que fique pronto para o disparo.

Uma vez que a ação é somente de auto carregamento, a pressão no gatilho deve
ser removida e reaplicada antes que uma nova munição possa ser disparada. Para evitar
disparos contínuos, parte da ação (conhecida como “desconexão”) retira o contato do
gatilho com os demais mecanismos.

Por fim, a liberação do gatilho desengata o desconector, permitindo que seu


contato seja novamente iniciado e assim, todo o processo de disparo é reiniciado
(HEARD, 2008).

Uma ação como essa, na qual o ferrolho é mantido apenas por ação da mola, é
o modo mais simples de mecanismo de uma pistola autocarregável (também
conhecida como ação de blowback), e seu uso é realizado somente para cartuchos de
baixa potência.

2
BALÍSTICA FORENSE

Caso a ação blowback fosse aplicada para calibres mais potentes, o cartucho não
suportado existente no pente explodiria em virtude das pressões altamente elevadas
produzidas durante o disparo (HEARD, 2008).

Quanto às pistolas semiautomáticas, a empunhadura aloja um carregador de


munição que pode ser extraído. Nesse tipo de arma, é necessário que o atirador acione
o retém de deslizar e produza manualmente a carga do cartucho. A deflagração dos
gases do disparo faz com que aconteça o recuo, expulsão e carga do novo cartucho.
Nessa arma, é necessário que o atirador aperte o gatilho a cada disparo (MENDOZA,
2015).

3
BALÍSTICA FORENSE

É importante ressaltar que uma pistola comum e uma pistola de caça são bastante
semelhantes e, portanto, é necessário ter atenção para não as confundir. Geralmente, a
pistola de caça possui dois canos lisos (MENDOZA,
2015).

Há também a pistola metralhadora, que é automática, projetada para uso com


as duas mãos (e apoiadas no corpo). Essas pistolas possuem uma recamara alinhada
com o cano, é possível que possuam seletor de fogo para realizar tiro simples, isto é,
semiautomático, e utilizam para sua alimentação um armazenamento de carga
removível.

Ressalte-se que a denominação subfusil é cabível a uma pistola metralhadora


quando tecnicamente retira-se a possibilidade de efetuar disparos automáticos
(MENDOZA, 2015).

Na classe de armas longas, entram:

• Carabina;

4
BALÍSTICA FORENSE

• Fuzil;

• fuzil de ataque;

• Subfusil;

5
BALÍSTICA FORENSE

• Escopeta;

• Metralhadora.

A carabina e o fuzil serão apresentados juntos, pois se diferem apenas quanto


ao comprimento do cano (a carabina é alguns centímetros menor). Essas duas armas de
fogo são portáteis, individuais, cujo sistema de funcionamento mecânico consiste no
aproveitamento da energia do disparo para realizar automaticamente a ejeção,
realimentação e fechamento.

Elas são destinadas a segmentar largas distâncias por meio do uso das mãos. E
se tratando dos exemplares específicos para fins militares, esses são destinados a
combate corpo a corpo com culatra e baioneta.

Os canos de carabinas e fuzis são sempre raiados, com pontos de mira fixos,
que podem estar localizados em suportes e ser protegidos por uma cobertura para evitar
deformações e desalinhamento. As alças são reguláveis e podem ser de diferentes tipos,
tanto em relação ao alcance do cartucho quanto pelo design, (JEAN JACQUES, 2002).

6
BALÍSTICA FORENSE

São armas de uso exclusivo das forças de ordem. Possuem calibre pequeno e
largo alcance, e normalmente são empregados em guerras (ÁLVAREZ; DE ARCO,
2012).

O sistema de retenção é mais volumoso que o das demais armas, ocupando


cerca de 30 a 40% da arma, além de combater a energia de retrocesso. Seu design
possibilita que a mão ativa do atirador segure a arma enquanto aperta o gatilho em um
ponto que é chamado de punho ou pescoço da coronha.

De modo geral, os fuzis são dotados de uma correia porta fuzil sustentada por
anilhas situadas uma na culatra e outra no guarda mato inferior. Existem também os
que podem apresentar até três anilhas localizadas em diferentes pontos do guarda mato,
com o intuito da correia se sustentar em qualquer uma delas.

A alimentação é realizada em fuzis com carregadores fixos, e a estes são


fornecidos os de três a dez cartuchos (por baixo ou por cima) (JEAN JACQUES, 2002).

Existe ainda o tipo conhecido como fuzil de ataque, uma variedade que possui
as mesmas características dos demais, com exceção de alguns mecanismos especiais
que os tornam mais portáteis para ações específicas. Os fuzis de ataque são
classificados como armas apropriadas para missões de alto risco (ÁLVAREZ; DE
ARCO, 2012).

7
BALÍSTICA FORENSE

As escopetas são armas portáteis, individuais, de cano parcial ou totalmente liso,


destinadas a fazer alvos a 60-90 metros. Nesse tipo de arma, faz-se uso das duas mãos.
Há escopetas mecânicas de um só tiro por cano e as de vários disparos, ou seja, de
repetição. Existem também as de apenas um cano e as de vários, podendo chegar a até
cinco canos.

O funcionamento pode ser mecânico ou automático, de fechamento deslizante


por alavancas localizadas no cano ou sob o disparador, com percussão de martelo e
agulha percutora. O sistema de disparo de escopetas consiste no cano liso, que as
classifica como armas independentes e que aloja os elementos relacionados à pontaria,
os quais, por serem bastante rudimentares, não cumprem papel tão importante como
nas armas de cano listrado (JEAN JACQUES, 2002).

O perfil interno da boca dos canos das armas possui um estreitamento de


diferentes magnitudes, denominado como choque, sendo destinado a concentrar a saída
das munições. Além disso, diversas escopetas apresentam uma área rosqueada na
superfície externa da boca do cano, a qual é responsável por fixar um mecanismo que
possibilita regular o estreitamento da boca. A alimentação é realizada principalmente
pelo fornecimento direto dos cartuchos na câmara de cada cano (manualmente),
contudo, nas escopetas de repetição e nas automáticas, a alimentação ocorre por meio
de carregadores fixos que em geral são alojados na ante a câmara situada debaixo do
cano, como no caso de fuzis mecânicos. A capacidade desses carregadores é bastante
variável, todavia, costuma estar entre cinco a nove cartuchos (JEAN JACQUES, 2002).

A metralhadora é uma arma longa que faz uso de cartuchos ou abastecedores


especiais. Sua característica fundamental é a capacidade de efetuar disparos sucessivos
e enquanto o botão do obstrutor é pressionado (no caso das automáticas). O sistema
seletor de tiros possui apenas as opções “seguro” e “rajada/disparo”.

8
BALÍSTICA FORENSE

Nos casos mais modernos, existe a opção de tiro semiautomático, diferenciando-


se dos fuzis por apresentarem um cano especial, isto é, de alto sobreaquecimento, e
estruturas apropriadas para suportar pressões de disparo elevadas. Podem ainda ser
armas de uso coletivo, quando são pesadas, e de uso individual se forem leves
(ÁLVAREZ; De ARCO, 2012)

Munição e tipos de disparo

Munições são definidas de forma ampla como os elementos consumidos pela


arma de fogo para que os disparos sejam produzidos, e as partes que as compõem são
divididas.

O projétil é a parte efetivamente expelida durante o disparo, é um corpo


compacto e resistente, o qual pode ser ogivado na parte superior e apresentar forma e
material de fabricação distintos, de acordo com o propósito de uso (ÁLVAREZ, De
ARCO, 2012; AROUCA, 2016).

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BALÍSTICA FORENSE

A dureza do material depende do tipo de liga que o compõem e, por isso, existem
projéteis metálicos, plásticos, gomas e até mesmo de nylon. Particularmente, quanto à
ponta da bala (ogiva), esta pode ser (ÁLVAREZ; De ARCO, 2012):

1. Cônica: possui ogiva bastante aguda, encamisada e com características


perfurantes (exemplo: cartuchos de guerra);

2. Semi-cônica: a ponta da ogiva é oval, pode ser encamisada ou semi


encamisada com ponta de chumbo, que em geral são usadas
para caça;

3. Ogival: É ovalada e pode ser encamisada ou de chumbo. São os cartuchos


normais e ordinários.

4. Semi-ogival: nesse caso, a ponta não chega a ser ovalada por truncamento
plano, e podem ser encamisados ou semi encamisados possuindo ponta mole. Em geral,
são pré-fragmentadas, ocasionando uma abertura que aumenta suas características
expansivas, bem como o poder de parada;

5. Ponta chata: esse modelo não possui ogiva, a parte superior do projétil se
encontra ao lado da boca do cartucho, é cilíndrico e para tiros de precisão, visto que
atinge o alvo deixando um círculo perfeito;
10
BALÍSTICA FORENSE

6. Ponta oca: como sugere o próprio nome, essa se trata de uma ponta totalmente
oca, independente do formato do projétil, gerando alta deformação com alto poder de
parada. O propelente é, por definição, um material explosivo cuja função é gerar
grandes volumes de gases a partir de sua queima.

Há algum tempo, utilizava-se como propelente a pólvora negra que é produzida


de uma mistura de carvão, nitrato de potássio (salitre) e enxofre numa proporção de
15:75:10. Atualmente, utiliza-se nitrocompostos (conhecidos como pólvora sem
fumaça) devido à sua maior eficiência e segurança (AROUCA, 2016).

Pode-se dividir os propelentes atuais em base simples, dupla ou tripla:

• base simples: possui somente a nitrocelulose (NC) como base energética;

• base dupla: possui a nitrocelulose (NC) e nitroglicerina (NG) como base


energética;

• base tripla: são compostos por nitrocelulose, nitroglicerina e nitroguanidina


(NQ)

As duas primeiras bases são as mais empregadas na produção de munição.


Quanto à massa iniciadora, que também é conhecida como primer, esta é
acondicionada dentro da espoleta, que, por sua vez, possui a responsabilidade de
provocar a queima da pólvora. Devido à sensibilidade ao choque mecânico, após o
contato com o pino percussor da arma, o primer entra em combustão fornecendo a
energia necessária para que a pólvora seja queimada.

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BALÍSTICA FORENSE

O primer é composto por diferentes constituintes, dos quais os principais são


explosivos, agentes oxidantes, combustível, sensibilizadores e ligantes (AROUCA,
2016).

O cartucho pode ser de cobre, material sintético, mas é comumente fabricado de


latão (liga que contém 70% de cobre e 30% de zinco). É a parte mais importante devido
ao fato de ser responsável pela união entre a bala com o propelente e o primer. Ou seja,
aloja a massa iniciadora, pólvora e bala. O cartucho possui variações de tamanho e
forma, de acordo com a aplicação. (ÁLVAREZ; De ARCO, 2012; AROUCA, 2016).

A classificação dos cartuchos é feita de diferentes formas, podendo ser:

Pelo sistema de percussão:

• Central;
• Lateral ou marginal;
• Em espiga.

Na percussão lateral ou marginal, a inflamação da pólvora acontece pelo choque


do percussor em qualquer parte da região periférica.

Pelo calibre:

• Pequeno (diâmetro < 20mm);


• Médio (diâmetro entre 20 e 75 mm);
• Grande (diâmetro maior que 75 mm).

Pela forma do projétil:

➢ De chumbo não encamisado: é o caso de projéteis de revólver (todos os


calibres: 22’’, 32’’e 38’’), que não são encamisados e são uma liga de chumbo
e antimônio;

➢ De chumbo semi encamisado: são projéteis parcialmente encamisados, em


geral na parte posterior da ogiva, de modo que deixa a ponta descoberta, oca ou
com formas especiais dependendo do efeito desejado;

➢ De chumbo encamisado: possuem um núcleo de chumbo e uma tampa de latão


vermelho (produzida pela mistura de cobre com estanho e alumínio) que envolve
a bala (exemplos: balas de pistola, revólveres magnum, fuzis e carabinas);
12
BALÍSTICA FORENSE

➢ De núcleo de aço encamisado: tipo empregado em cartuchos perfurantes


(exemplos: calibre 5.7 mm de pistola semiautomática, sub fuzil FN, fuzil GALIL
calibre 5.56x45mm, fuzil AKM 7.62x39mm, fuzil HK G3 7.62x51mm);

➢ De chumbo com revestimento: além do chumbo, esses projéteis possuem


banhos eletrolíticos ou revestimentos de teflon, que servem para lubrificar e
proteger as estrias durante a passagem pelo cano (exemplos: balas calibre 22’’ e
38’’ Special);

➢ Munição de ar comprimido: vão desde armas Daisy BB até rifles sofisticados.


Uma arma Daisy BB por exemplo, é capaz de realizar disparo de uma bala de
aço 4.445 mm em um cano de alma lisa a uma velocidade de 83 a 106 m/s
(podendo danificar um olho);

➢ Munição de armas tóxicas: é o caso de armas produzidas de forma rústica, elas


permitem;

➢ Projéteis de balas fundidas: casos em que se pode fundir o chumbo de outros


projéteis fazendo com que a cor altere de cinzenta para cinzenta opaca.

13
BALÍSTICA FORENSE

Aula 3 - TIPOS DE DISPAROS REALIZADOS COM


ARMAS DE FOGO - Parte 1

Quando falamos em disparo de projéteis, é importante ter conhecimento das


diferentes distâncias entre atirador e alvo, assim como as marcas resultantes. A
estimativa da distância de realização de um disparo deve levar em conta a aparência do
orifício de entrada do projétil e a distribuição dos resíduos de disparo.

Além disso, é importante levar em conta a influência da arma na produção de


resíduos do disparo. A partir do acionamento da arma, partículas e gases são ejetados
do cano e, assim, forma-se uma espécie de cone, que sequencialmente se torna mais
turbulento, gerando um tipo de vórtice na periferia.

1
BALÍSTICA FORENSE

Posteriormente, o projétil penetra essa nuvem juntamente com um novo jato de


gases e partículas e este permanece por um tempo maior. Isso faz com que se formem
duas espécies de nuvens esféricas que continuam suspensas no ar após a emissão de
gases do cano findar. O formato cônico depende principalmente do tamanho do cano e
calibre da arma, e da velocidade do projétil. Isto é, esses três fatores possuem relação
com o número de partículas de GSR (resíduo de disparo de arma de fogo, do inglês
Gunshot Residue) depositadas no atirador e no alvo.

Quando um tiro é efetuado à curta distância do alvo, grande quantidade de GSR


é depositada na região próxima ao orifício do projétil. Se o atirador se distancia do
alvo, o padrão de dispersão das partículas se torna mais difuso. A distância de disparo
pode ser classificada conforme apresentado a seguir: contato, quase contato,
intermediário e distante (AROUCA, 2016).

O disparo de contato é aquele realizado com a boca da arma em contato direto


com o alvo, como, por exemplo, a pele de uma pessoa. Esse tipo de disparo é
determinado de acordo com a violência das lesões, principalmente pelas explosões e
arrancamentos cutâneos provenientes da ação dos gases.

São considerados disparos de contato todos aqueles realizados a até 1 (um) cm


de distância do alvo. Acerca do disparo à queima-roupa, a distância é superior ao
alcance da chama (entre 1 a 4 cm) e, em alguns casos, pode chegar a 10 cm.
Consequentemente, o orifício de entrada é rodeado por um hematoma e uma tatuagem
densa e escura, marcas resultantes do efeito da queimadura por chama.

Antigamente, quando ainda era comum o uso de pólvora negra, tais disparos
eram identificados à longas distâncias, contudo, nos dias atuais esses efeitos são raros
sobre a epiderme, pois as pólvoras modernas queimam mais rapidamente e de forma
completa (AMOR, 2016).

2
BALÍSTICA FORENSE

O disparo à curta distância pode ser realizado a distâncias inferiores ao alcance


dos elementos que formam a tatuagem no alvo (queimadura, grãos de pólvora e
fumaça). Esses componentes possuem densidades diferentes e, consequentemente, o
alcance de cada um é diferente dos demais.

As diferenças de aspecto nesse caso são dependentes da distância e servem como


parâmetros para a realização de perícias. E o disparo a longas distâncias é o caso que
inclui todas as variedades de disparos efetuados a distâncias superiores ao alcance dos
elementos da tatuagem.

Ou seja, nesse caso, especificamente, não existe tatuagem. No entanto, essa


classe necessita de grande atenção, pois o mesmo tipo de ferida pode ser produzido por
um disparo a um metro ou a 500 metros. Ao redor das feridas provenientes de disparos
a longas distâncias são observados apenas o orifício de entrada da bala e sinais da
combustão (AMOR, 2016).

3
BALÍSTICA FORENSE

Definição de balística

De uma forma geral, podemos definir a balística como a ciência centrada no


estudo das forças, trajetórias, rotações e diversos comportamentos de projéteis em
diferentes ambientes. Além disso, essa ciência se responsabiliza por estudos acerca das
substâncias e forma dos projéteis, temperaturas, pressões gasosas, situações que
ocorrem nas diferentes fases do disparo, deslocamento de projétil no interior de uma
arma, sua saída para o exterior, trajetória e impacto.

De acordo com Villatoro (2013), a balística é classificada em diferentes áreas


particulares para facilitar seu estudo e abordagem:

• Balística comparativa;

4
BALÍSTICA FORENSE

• Balística médico-legal;

• Balística terminal ou de efeitos;

• Balística identificativa.

A balística comparativa é aplicada ao tratamento físico dos indícios, o que é


realizado em laboratório quando ações delituosas tenham sido realizadas com armas
de fogo e tenha sido feita a coleta de cápsulas e projéteis.

Essa área se dedica à procura, detecção e comparação de particularidades que


possam identificar uma determinada arma de fogo, por meio das cápsulas e projéteis
que originalmente constituem o cartucho, cujas marcas específicas são impressas no
processo de disparo.

Nesse caso, pode-se dizer que sua base se encontra no princípio de


correspondência de características. Pode-se realizar estudos micro e macro
comparativos de elementos, visando identificar o agente de produção, que, na balística
comparativa, corresponde às estrias provenientes dos mecanismos e estruturas que
conformam as armas de fogo, assim como as alterações geradas pelo desgaste de uso e
deterioração sofrida pelas armas.

A balística médico-legal é a área de trabalho que somente é realizada mediante


médicos forenses. Uma de suas principais contribuições é a realização do estudo da
trajetória do projétil dentro do corpo humano. É o estudo da trajetória do projétil
5
BALÍSTICA FORENSE

disparado por uma arma de fogo, desde o orifício de entrada até o de saída de um corpo
humano. Também conhecida como trajetória de efeito, tal trajetória pode ser
classificada em duas classes (VILLATORO, 2013):

• Completa: possui orifício de saída;

• Incompleta: não possui orifício de saída, o projétil permanece dentro do corpo.

Em ambos os casos, a trajetória pode acontecer de diferentes formas:

• Trajetória reta: não possui contato com nenhuma parte óssea;

• Trajetória poligonal: o impacto com partes duras altera bruscamente a trajetória;

Projétil migratório: caso de projéteis de calibre pequeno e pouca massa; quando


penetram na corrente sanguínea abundante como uma artéria, freiam e são arrastados
por ela.

A balística terminal ou de efeito é aquela que se dedica ao estudo da ação e das


consequências produzidas pelos projéteis durante a após terem impactado em alguma
estrutura. Essa área particular considera o projétil como o elemento mais ativo do
cartucho e, consequentemente, o elemento de maior importância para a eficácia dos
disparos.

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BALÍSTICA FORENSE

Para que um projétil seja efetivo, é necessário que possua um mínimo de energia
remanescente para ser transferida parcial ou totalmente ao objeto. Por essa razão,
quando se fala em balística de efeitos, é necessário considerar a energia cinética como
principal fator causador de danos a uma estrutura.

O que é balística forense?

Quando se trata do estudo focado nas armas de fogo, temos então a balística
forense, que é a ciência responsável principalmente pelo estudo dos seguintes
fenômenos:

➢ Balística interna: os que acontecem no interior de uma arma ao longo do


disparo de um projétil;

➢ Balística externa: a trajetória deste projétil, desde o momento que abandona o


cano da arma até atingir seu alvo;

➢ Balística terminal: os efeitos provocados no organismo durante o curso;

➢ Balística identificativa e operativa: as diversas formas e características das


armas de fogo, bem como suas munições.

Balística interna

A balística interna é a área responsável pelo estudo dos fenômenos físico-


químicos e dos elementos que conferem o movimento do projétil desde o início da
carga de lançamento até alcançar a saída do cano da arma (JUNIOR, 2017).

7
BALÍSTICA FORENSE

Isso significa que essa parte específica da balística se dedica ao estudo de


aspectos como a percussão, ignição da pólvora, expansão dos gases da pólvora, a
pressão do projétil nas paredes do cano da arma, velocidade que adquire e desenvolve
desde o início do disparo até alcançar a boca do cano (ÁLVARES; De ARCO, 2012).

Além disso, esta área se ocupa dos aspectos relativos às armas de fogo, tais como
sua estrutura, mecanismos, funcionamento, calibres, carregamento e disparo
(TRAMPE, 2008). Todos os aspectos que possuem relação direta com a carga
propulsora responsável por gerar a velocidade inicial dentro da arma são considerados
na balística interna. Esses aspectos dependem dos seguintes fatores:

• O peso do projétil;

• Pesos da carga propulsora;

• Velocidade na boca do cano da arma;

• Aceleração da gravidade;

• Calor liberado na combustão da pólvora;

• Porção de calor liberada na combustão que pode ser convertida em energia


cinética.

Isso porque, quando acontece um disparo, a arma – que normalmente é


produzida de aço – entra em contato com a cápsula e o projétil, que são produzidos de
um metal mais mole e, por isso, acabam adquirindo as características internas da arma.
Ou seja, sempre que acontece um disparo, marcas características são deixadas na
superfície da cápsula percutida e do projétil disparado.

8
BALÍSTICA FORENSE

Por essa razão, torna-se possível realizar comparações das marcas existentes nas
cápsulas e projéteis com armas suspeitas. Esta ação comparativa da balística interna é
realizada em perícias, com o intuito principal de identificar a arma de que tenham sido
feitos os disparos (POLÍCIA NACIONAL, 2013).

Dada a importância dessas marcas para a balística, é importante ter


conhecimento de quais são impressas nas cápsulas:

• Marcas de percussão: as deixadas pelo percussor da arma de fogo;

• Marcas de extração: as deixadas pelo extrator da arma de fogo;

• Marcas de ejeção: as deixadas pelo ejetor da arma de fogo;

• Impressão da placa de apoio ou placa de encerramento da recamara da arma


de fogo.

Falando especificamente de marcas impressas nas cápsulas percutidas por armas


de fogo, a mais comum é a impressão de raias, que vem de fábrica na parte interna do
cano da maioria das armas e são formadas por campos e estrias (marcas características
em projéteis disparados),

Balística externa

A balística externa se concentra na parte mecânica, a qual estuda o movimento


de projéteis se deslocando livremente no espaço devido a um impulso inicial recebido.
Ou seja, é a área responsável pelo estudo de tudo que acontece fora da arma desde a
saída do projétil, o que compreende o estudo das leis e fenômenos que alteram o
movimento do projétil no espaço.

9
BALÍSTICA FORENSE

Em outras palavras, esse estudo tem seu foco na trajetória do projétil, o que inclui
também as possíveis variações do movimento e fenômenos que afetam essa trajetória
(causadores de rebote), como, por exemplo, a gravidade, resistência do ar, a influência
da direção e intensidade dos ventos (TRAMPE, 2008).

Esse estudo se estende ainda à avaliação de ângulos de incidência, penetração e


inclinação do projétil para determinação da posição do elemento agressor (arma) com
relação ao elemento agredido (vítima/alvo) (ÁLVARES DE ARCO, 2012).

Quando falamos desses fenômenos causadores de alterações na trajetória do


projétil, é necessário compreender de que modo cada um age. A projeção pode ser
entendida como a força cedida para que o projétil possua impulso para realizar seu
percurso. A gravidade é a força que atrai o projétil para o solo, e a resistência do ar é a
força que se opõe ao projétil, fazendo com que seu percurso tenha fim em um
determinado momento (POLÍCIA NACIONAL, 2013).

Quando falamos em armas de fogo, em muitos casos, seus projéteis sobressai a


velocidade do som, de forma que o ar exerce uma elevada resistência ao deslocamento
e, por consequência, provoca um aumento na turbulência. Conforme a potência dos
cartuchos disparados por armas com características particulares, os projéteis podem se
deslocar a diferentes velocidades (VILLATORO, 2013):

A. Subsônicas: abaixo da velocidade do som no ar;

B. Sônicas: em média com a mesma velocidade do som;

C. Supersônicas: acima da velocidade do som.

Além dessa consideração, na balística externa, leva-se em conta a forma do tiro,


ou seja, a distância percorrida quando um projétil é disparado. Para tanto, existem
diversas terminologias aplicadas nesse estudo, conforme apresentado a seguir
(VILLATORO, 2013):

➢ Eixo do cano: linha imaginária que passa pelo centro do cano na ponta da arma;

➢ Linha de mira: reta imaginária que parte do olho do atirador, passa pelo centro
da mira posterior da arma e toca o pico do ponto de mira;

10
BALÍSTICA FORENSE

Linha de tiro: prolongamento do eixo do cano no momento em que a arma se


encontra apontada;

Trajetória: linha que une as posições que o projétil ocupa no espaço ao longo
do tempo;

Origem da trajetória: o centro da boca do cano;

Horizonte da arma: linha horizontal que passa pela origem da trajetória (em
relação ao alvo);

Ângulo de tiro: ângulo formado pela linha de projeção e o plano horizontal;

Ramo ascendente: etapa da trajetória que vai da origem ao vértice;

Ramo descendente: ponto máximo da trajetória;

Duração da trajetória: tempo necessário para o projétil percorrer sua trajetória


desde a origem até alcançar o ponto de chegada;

Ângulo de queda: tangente à trajetória no ponto de queda, em relação a


horizontal;

Impacto: dano, efeito ou marca gerada pelo projétil na estrutura atingida;

11
BALÍSTICA FORENSE

Rebote: percurso irregular que ordinariamente ocorre com projéteis quando


atingem estruturas duras e em ângulos menores que 30°, podendo seguir uma trajetória
imprevisível conforme sua velocidade. Para a determinação do movimento de
projéteis, os principais aspectos observados por Galileu Galilei são empregados como
referência para as determinações matemáticas realizadas nessa área da balística. Tais
considerações são:

1. O movimento acontece num plano vertical;

2. É possível que o movimento seja decomposto em dois outros: um movimento


uniforme ao longo de um plano horizontal e um uniformemente variado ao longo
de um eixo vertical;

3. A trajetória é um segmento de parábola;

4. As considerações 2 e 3 são válidas se não considerarmos a resistência do ar, ou


seja, utilizá-la como uma aproximação.

12
BALÍSTICA FORENSE

Aula 4 - TIPOS DE DISPAROS REALIZADOS COM ARMAS DE FOGO -


Parte 2

A direção do disparo é um problema muito frequente na balística externa; por


esse motivo, torna-se indispensável o seu estudo para que se chegue a determinações
periciais. Em disparos de longas distâncias, a altura da trajetória chega a valores
consideráveis.

É possível que o projétil atinja sobre a linha de tiro a estabilidade para seu voo.
No vácuo, teoricamente a posição da bala deveria ser a mesma desde quando saiu da
arma até o fim de sua trajetória e, assim, voaria com a ponta para cima até iniciar o
processo de descida, no qual faria contato com o chão por seu culote

No ar, um projétil que gira em seu próprio eixo acaba por não conservar a
posição, atingindo o alvo por conta própria, devido à rotação que atribui a ele
propriedades giratórias. Desse modo, o projétil não somente conserva a posição de seu
eixo no espaço, como também se opõe às forças externas que provocam influências
negativas na sua posição.

1
BALÍSTICA FORENSE

É importante lembrar que, durante o voo, a posição é mantida, mas a força da


gravidade faz com que o projétil desça da linha de tiro e, por consequência, a trajetória
apresenta uma curvatura.

A primeira parte afetada pela resistência do ar é a parte traseira do projétil, que


responde a essa ação retornando para a direção que atua a força no sentido de sua
rotação (movimento conhecido como efeito giroscópico).

Essa oscilação ocorre tanto para cima quanto para baixo, de tal forma que
descreve constantemente um círculo sobre sua trajetória, o qual é denominado na
balística como rotação cônica retardada. É devido a essa rotação que o projétil sempre
voa com a ponta direcionada para frente, de modo que apenas duas situações se tornam
possíveis para o fim de seu movimento: impactar o alvo ou cair ao perder sua energia
(JEAN JACQUES, 2002).

Além disso, é necessário destacarmos os elementos balísticos que constituem a


trajetória de voo de projéteis, quais são apresentados a seguir:

1. Eixo da arma (E) – eixo geométrico da ponta do cano;

2. Origem de fogo ou origem da trajetória (O) – centro geométrico da boca do


cano da arma empregada no disparo do projétil;

3. Linha de tiro (LT) – extensão do eixo geométrico do cano da arma;

4. Plano de tiro – plano vertical no qual se situa a linha de tiro;

5. Linha de projeção (LP) – linha de tiro no instante que o projétil abandona o


interior do cano com sua ponta direcionada para cima (antes do início da ação
da resistência do ar, que pode coincidir com a linha de tiro);

6. Linha de situação (LS) – linha imaginária reta que une a origem da trajetória
com o alcance;

7. Horizonte de arma (HA) – plano horizontal que possui a origem da trajetória


(todos os valores acima e abaixo desse plano devem ser positivos e negativos,
sucessivamente;

8. Ângulo de tiro (αt) – ângulo entre a linha de trajetória e a linha de situação;

9. Ângulo de revelação (αr) – ângulo compreendido pelas linhas de projeção e


tiro;

2
BALÍSTICA FORENSE

10.Ângulo de projeção (αp) – formado pela linha de projeção e o horizonte da


arma;

11.Ângulo de mira (αm) – formado pelas linhas de mira e de situação. O vértice


desse ângulo é o centro do branco;

12.Ângulo de queda (αq) – formado pela linha de situação e pela tangente da


trajetória no ponto de queda;

13.Declive (p) – semi-reta tangente à trajetória que finaliza no ponto de queda ou


no branco;

14.Altura da trajetória (hT) – ponto mais elevado da parábola que conforma a


trajetória;

15.Branco (B) – ponto de impacto do projétil;

16.Ponto de queda (PC) – ponto em que o projétil cai devido ao desaparecimento


das forças que garantem seu voo.

Agora que já compreendemos um pouco sobre o movimento dos projéteis no ar,


quando estes são disparadas, partamos para a parte de interesse da balística externa,
que se trata de aspectos como:

• Direção do disparo;

• Distância do disparo.

Tratando-se da direção do disparo, são utilizados elementos como: a repartição


da incrustação dos grãos de pólvora e do depósito de fumaça, bem como o anel de
contusão. A repartição da incrustação dos grãos de pólvora e do depósito de fumaça
somente tem validade para casos de disparos a curtas distâncias, pois permite
diferenciar os disparos entre perpendiculares e oblíquos (AMOR,2016).

3
BALÍSTICA FORENSE

Quanto à determinação da distância do disparo na balística, consideram-se os


padrões visuais dos resíduos do disparo existentes em torno do orifício de entrada do
projétil, quando esta atinge um corpo ou uma superfície, além disso, realiza-se a
detecção química no vestuário, quando se trata de um corpo. A grosso modo, quando
resíduos macroscópicos de pólvora são observados ou detectados por meio de testes
químicos, é um indício de que o disparo foi realizado à curta distância.

Contrariamente, quando esses resíduos não são observados nem detectados, é


provável que o disparo tenha sido realizado a uma distância maior, sendo possível
apenas observar o orifício de entrada.

Quando uma vítima é atingida por um disparo à curta distância em uma parte
coberta por roupas, existe a possibilidade de estimar o alcance, por meio da medida da
distância entre o cano da arma e a superfície no momento em que o disparo foi efetuado

Balística de Efeitos e Balística Identificativa

A balística de efeitos é a parte responsável pelo estudo dos fenômenos que


ocorrem quando o projétil chega às superfícies de impacto. Nesse caso, são estudados
os efeitos, tais como feridas, destroços, etc. que tenham sido produzidos pelo projétil.

Em particular, o corpo humano é uma das barreiras que recebe maior atenção,
por ser a barreira de maior incidência em delitos com armas de fogo. Esses efeitos
podem ser consequência dos elementos apresentados a seguir (JEAN JACQUES,
2002):

• Ação termomecânica dos gases da pólvora;

• Deposição de grãos de pólvora;

• Ação mecânica dos grãos de pólvora e sua deposição;

• Velocidade, forma e constituintes do projétil.

4
BALÍSTICA FORENSE

As marcas provenientes de disparos produzidos por armas de fogo são


denominadas de brechas, podendo ser de três tipos:

• De ricochete;

• De transferência;

• Cegas.

Brechas de ricochete são as que, quando entram em contato com uma barreira,
alteram a direção de voo de forma brusca. As de transferência são as formadas quando
o projétil atravessa a barreira completamente, constituindo um orifício de entrada, um
canal e um orifício de saída, com as arestas revertidas para o sentido da trajetória do
projétil.

Geralmente, o orifício de saída é o que possui maior diâmetro e mais elementos


de destruição no local de passagem do projétil. Todavia, existem exceções a esse
comportamento, tais como (JEAN JACQUES, 2002):

• Disparos de contato: deformações provenientes dos gases de disparo causam


deformações no orifício de entrada;

• Nos orifícios de entrada precedidos de ricochete, caso o projétil penetra de perfil;

• Quando o projétil altera de um meio a outro durante sua trajetória.

Geralmente, o canal possui configuração retilínea e uniforme o suficiente para


que se façam considerações sobre a linha de tiro por meio de métodos convencionais.
Por fim, as brechas cegas são aquelas em que o projétil entra na barreira sem possuir a
energia necessária para permeá-la completamente e, assim, fica alojado em seu interior.
Nesse caso, apenas o orifício de entrada é formado (JEAN JACQUES, 2002).

Os casos de maior complexidade para as investigações criminalísticas são os de


rebotes e, por essa razão, falaremos um pouco mais sobre eles. Uma série de condições
é capaz de ocasionar o rebote, como, por exemplo, um projétil com ângulo de queda
de pequena amplitude, porém com velocidade suficiente na ocasião do impacto.

Quando a barreira possui grande resistência ao impacto, o rebote não é completo,


o projétil sofre uma reflexão, formam ângulos de 0 a 35º e perdem sua energia. Assim,
o ângulo de rebote (αR) é semelhante ao ângulo de incidência (αI). Após ricochetear,
continua seu voo com uma nova trajetória, a qual recebe o nome de trajetória de
ricochete (TR).

5
BALÍSTICA FORENSE

As trajetórias de ricochete, além de complexas, são quase impossíveis de


determinar matematicamente quando o projétil sofre forte deformação durante o
ricochete. É comum que, nas imediações da brecha, apareçam incrustações de
partículas da barreira sobre sua superfície, na região da fenda. Caso não haja
deformação, o voo do projétil passa a ser regido por leis físicas ainda não
compreendidas em sua totalidade pela balística.

Após o ricochete, o alcance do projétil depende da amplitude de ângulo do rebote


e de seu desvio do plano da direção inicial do projétil (voo primário). Esse desvio
sempre será no sentido de sua rotação acelerada, devido ao efeito da derivação. O
alcance máximo do projétil nesse caso ocorre com ângulos de incidência pequenos e
pouco desvio no sentido da rotação acelerada. Assim, esse alcance será sempre
consideravelmente menor que o de um projétil que realiza sua trajetória livremente e
sem interrupções no voo.

Quanto a uma barreira com pouca resistência, o rebote ocorre de forma diferente
da anteriormente descrita, o projétil penetrará a barreira emergindo tardiamente, pois a
resistência externa é inferior à resistência interna. Desse modo, obtém-se um ângulo de
rebote maior que o ângulo de incidência.

Em razão da penetração do projétil na barreira, parte de sua energia é perdida e,


consequentemente, sua velocidade diminui. Partindo para os disparos que não
ricocheteiam, podemos mencionar algumas características importantes para a balística
de efeitos.

Disparos perpendiculares produzem tatuagens circulares em que o centro é o


orifício de entrada, enquanto nos disparos oblíquos o orifício é excêntrico e possui
formato ovalado irregular. Outra característica importante é a forma do anel de
combustão que, em relação a disparos perpendiculares, tem formato completo.

6
BALÍSTICA FORENSE

Outra indicação valiosa sobre como foram realizados disparos é a densidade


relativa dos elementos da tatuagem em diferentes zonas. A parte da tatuagem que se
encontra mais próxima da arma tem por característica a proximidade e grande
quantidade de resíduos dos disparos, enquanto a região mais distante possui menos
marcas, as quais são separadas umas das outras.

Além disso, podem-se tirar informações sobre o formato dos anéis de contusão,
que, no caso de disparos perpendiculares, têm forma de anel completo, enquanto os
disparos oblíquos possuem forma semilunar situada no lado de que proveio a bala
(AMOR, 2016).

Balística identificativa

No que diz respeito à balística identificativa, ela é responsável por estabelecer


uma relação de identidade entre lesões e marcas observadas nos elementos de um
cartucho que não sofrem combustão, isto é, projétil, cápsula e fulminante.

De modo geral, pode-se dizer que a balística identificativa se concentra na parte


da arma que provoca as lesões, isso significa que as estrias do cano, percussor, extrator
e ejetor são as peças que possibilitam a realização de comparações entre elementos
disparados ou percutidos por uma arma de fogo (ÁLVARES DE ARCO, 2012).

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BALÍSTICA FORENSE

As características individuais de cada arma são estabelecidas durante o processo


de produção e ajuste das peças que, posteriormente, transferem-se ao projétil ou à
cápsula do cartucho. Nesse sentido, a balística identificativa objetiva investigar a
existência de variações nas impressões balísticas nos projéteis disparados por uma
mesma arma.

Quando se trata de projéteis de mesmo calibre, torna-se imprescindível o


entendimento do processo de formação de tais impressões balísticas. Conforme se sabe,
a superfície interna do cano é a parte que produz a transferência das marcas ao projétil
e, por essa razão, é preciso compreender o processo de fabricação dos canos de armas
(SAMAYOA, 2016).

Quanto aos aspectos investigativos, a balística forense é amplamente conhecida


pela recuperação de projéteis e suas cápsulas para averiguação de sua arma de origem.
É importante destacar que, apesar de essa ciência ser aparentemente recente, seu uso é
conhecido desde 1835, quando o primeiro caso de exames forenses em arma de fogo
foi documentado.

8
BALÍSTICA FORENSE

Nessa época, a produção de moldes de projéteis era realizada à mão por armeiros,
e, como consequência, cada arma possuía características exclusivas. Ou seja, sempre
que um projétil era disparado, ela trazia consigo algumas impressões exclusivas da
arma de fogo empregada no disparo. Inevitavelmente, os exames criteriosos para uma
determinada bala, com vistas ao rastreio da arma de origem, iniciaram-se.

Henry Goddard foi a pessoa responsável por tal ação, quando, a partir de uma
bala extraída da vítima de um assassinato, utilizou a impressão digital para vincular
evidências ao culpado. Nesse trabalho, ele descobriu que o projétil avaliado possuía
um defeito de fabricação em sua superfície. Considerando que o próprio atirador teria
produzido a bala, Goddard se focou na recuperação de seu molde para conseguir
confirmar o autor do disparo.

Com essa investigação, ele conseguiu chegar à verdadeira identidade do atirador


quando encontrou, na casa do até então suspeito, um molde que correspondia às marcas
existentes no projétil daquele caso. Essa investigação baseada na evidência encontrada
na vítima foi crucial para a condenação do culpado, embora este tenha confessado a
autoria do crime diante das evidências (ORTÍZ, 2007).

Conforme mencionado, a balística forense é uma área da físico-química aplicada


à Criminalística para a realização do estudo de armas de fogo, suas munições e efeitos
dos disparos por elas produzidos.

Dessa forma, sempre que tais ações possuem relação direta ou indireta com
infrações penais, a balística forense busca esclarecimentos e provas de sua ocorrência.
Com relação à sua finalidade jurídico-penal, seu valor é probatório, podendo chegar à
condenação ou absolvição de um réu (OLIVEIRA, 2016).
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BALÍSTICA FORENSE

Em estudos de campo, peritos em balística forense realizam análises como:

• Coleta, classificação e embalagem de diferentes elementos de prova no local do


feito;

• Descrição, identificação e análises de armas, cartuchos, projéteis;

• Estudo das feridas e trajetórias no corpo humano a partir do protocolo de


necropsia e/ou história clínica;

• Reconstrução da ação, inspeção judicial de trajetórias em lugares abertos e


fechados, veículos, aeronaves, etc.

Nesse sentido, a balística se concentra na termodinâmica, ciência que consiste no


estudo dos processos de transformação da energia calorífica em energia cinética. A
carga de lançamento existente dentro do cartucho contém uma determinada quantidade
de pólvora que é inflamada a partir da ação da mistura iniciadora.

Essa mistura queima rapidamente, resultando na emissão de gases que se expandem


em virtude do calor gerado, e, por conseguinte, surge uma pressão elevada. Assim, o
trabalho mecânico produzido movimenta o projétil, fazendo com que ele adquira
velocidade rapidamente e chegue ao cano (JUNIOR, 2017).

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BALÍSTICA FORENSE

Aula 5 - EXAMES BALÍSTICOS E EQUIPAMENTOS


DE ANÁLISES

Exame de munição e de comparação: Diversos crimes são realizados por meio


do uso de armas de fogo, e, para que sejam julgados e se chegue à sua autoria, é
necessário aplicar a balística identificativa para conseguir determinar a arma e,
possivelmente, o autor do crime.

O exame pericial de comparação balística tem por objetivo precisar a relação


entre uma dada arma de fogo e uma ou várias balas e cartuchos. Esse tipo de exame é
realizado com uma rotina padrão tanto no Brasil quanto no exterior, que consiste na
utilização de um microscópio comparador, além de imagens capturadas que
possibilitam a análise em vídeo de alta resolução.

1
BALÍSTICA FORENSE

Uma vez que toda arma deve possuir registro, certificado de propriedade ou
autorização para porte, torna-se possível chegar ao autor do crime (na maioria dos
casos). A princípio, realiza-se uma identificação indireta ou mediata que consiste no
estudo comparativo das características gerais e particulares das deformações impressas
pela arma nas diversas partes da munição.

Análise indireta é feita por análises macro e microscópicas de comparação das


alterações que as munições provocam nas armas (e vice-versa) e das deformações já
existentes na munição suspeita. Por exemplo, quando se inicia a queima dentro da
arma, a pressão dos gases gerados na combustão provoca uma deformação leve na bala,
fazendo com que ela inche para preencher o interior do cano. Essa deformação auxilia
na vedação dos gases enquanto ainda está se movimentando no interior do cano. Esse
efeito de deformação é nomeado obturação

A finalização do procedimento depende de diferentes fatores como a condição


da munição, a quantidade de deformação e a existência de material apropriado para que
o perito consiga realizar o exame. Por meio do exame de comparação, um perito
consegue precisar se a arma do acusado ou do suspeito foi a utilizada para efetuar um
disparo que tenha resultado em um ferimento ou morte de uma determinada vítima
(MANETI, 2018).

2
BALÍSTICA FORENSE

Em geral, a munição se encontra no corpo de uma vítima ou no local de um


crime. Nesse sentido, o perito balístico examina o projétil, verificando (OLIVEIRA,
2016):

• Peso;
• Formato;
• Comprimento;
• Diâmetro;
• Composição;
• Calibre;
• Raiamento;
• Estriações laterais finais;
• Deformações.

O calibre da arma possibilita identificar a medida do cano, enquanto o raiamento


demonstra o tipo de arma e a estriação, lateral fina, individualiza a arma.

Quando o perito avalia o tipo de raia, é necessário que se observe sua


correspondência com a arma suspeita, mencionando seu número, largura, aspecto e se
estas são dextroversas ou sinistroversas (se são obliquamente dirigidas para a direita
ou para a esquerda).

3
BALÍSTICA FORENSE

É importante ressaltar que a individualização só ocorre de fato pela avaliação das


estrias e deformações existentes no projétil. (OLIVEIRA, 2016)

Duas armas diferentes não possuirão impressões iguais e, assim, uma análise de
igualdade de estrias entre dois projéteis é um resultado fortemente positivo. Além
disso, a situação das estrias também é bastante relevante para a avaliação de uma
munição.

A igualdade de um grande número de estrias é um indicativo da identidade da


arma da qual provém a munição. Contudo, um resultado negativo para essa análise não
possui valor, visto que a mesma arma é capaz de produzir diferentes estriações
identificáveis em diferentes projéteis (OLIVEIRA, 2016).

Além do projétil, podem-se, também, realizar testes de comparação por meio dos
cartuchos encontrados nos locais de crimes ou no tambor da arma apreendida
(considerada suspeita).

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BALÍSTICA FORENSE

Nos dois casos, é necessário que o cartucho seja apreendido e encaminhado para
exame. Na etapa de análise, ao receber o cartucho, o perito balístico deve determinar
(OLIVEIRA, 2016):

• Marca;
• Material;
• Calibre;
• Deformações existentes.

Possuindo essas informações, é possível concluir o tipo de arma empregada na


realização do delito investigado. Vale lembrar que os cartuchos apresentam marcas que
os individualizam, visto que elas são provenientes da arma utilizada para efetuar o
disparo. Portanto, o perito deve avaliar as marcas geradas pelas partes apresentadas a
seguir (OL IVEIRA, 2016):

• Superfície interna do cano da arma;


• Do percussor sobre a espoleta;
• Marca da espalda do cano sobre o talão;
• Marca do extrator no cartucho.

Tais marcas variam de arma para arma de acordo com o exemplar e


características individuais. Nesse sentido, são efetuados tiros de prova com a arma
suspeita, para que se possam confrontar as marcas produzidas e a similaridade das
marcas geradas.

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BALÍSTICA FORENSE

O cartucho suspeito e o padrão são levados ao microscópio comparador para


examinar os sinais deixados no culote do percussor. Além disso, avaliam-se os sinais
deixados pelo extrator e ejetor, os quais produzem marcas específicas da arma utilizada
devido à rapidez de movimentação.

Outro aspecto da munição, frequentemente utilizado para identificar uma arma,


é a pólvora. Ela pode ser encontrada na cápsula, na arma ou no alvo (corpo ou vestes
de uma vítima, por exemplo) e apresentar-se queimada ou não. Sua avaliação é
realizada pelo exame de sarro, que possibilita a verificação do tipo de pólvora
empregada no disparo (pólvora negra ou pólvora piroxilada) (OLIVEIRA, 2016).

Quando um disparo é efetuado, o aumento da pressão proveniente dos gases


gerados na queima impulsiona o projétil para fora da arma, e, devido a isso, os
componentes presentes na massa iniciadora e na pólvora são vaporizados. Essa
vaporização faz com que uma nuvem seja formada em torno da arma.

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BALÍSTICA FORENSE

Os gases expelidos da arma resfriam quando entram em contato com o ar e, por


conseguinte, condensam-se formando partículas de forma predominantemente
esferóide em razão das condições de temperatura e pressão (AROUCA, 2016).

Partículas esferoidais que apresentam antimônio, bário e chumbo constituem os


resíduos de tiro. Tais resíduos podem ser classificados como:

• GSR característico.

• GSR consistente.

Um GSR (gunshot residue) característico possui, em uma mesma partícula, os


elementos Sb, Ba e Pb, além de metais provenientes da arma e de outros componentes
da munição, tais quais alumínio, cálcio, potássio, cloro etc.

Um GSR consistente é aquele que possui a combinação dos elementos


apresentados a seguir (AROUCA, 2016):

• Bário, cálcio, silício (com traços de enxofre);


• Antimônio e bário (com traços de enxofre e ferro);
• Ferro e antimônio;
• Bário e alumínio (em ausência de enxofre);
• Chumbo e bário;
• Chumbo;
• Antimônio;
• Bário (em ausência de enxofre).

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BALÍSTICA FORENSE

Ressalta-se que variações na composição das partículas de GSR ocorrem devido


à baixa homogeneidade do primer. Para a identificação e a caracterização do GSR,
existem diversas técnicas descritas na literatura. Para a detecção de nitritos e chumbo,
é bastante comum o uso dos métodos (via úmida):

• Reativo de griess modificado;


• Testes com rodizonato de sódio.

O teste colorimétrico realizado com rodizonato de sódio como reagente


identifica a presença de chumbo (Pb) e bário (Ba) advindos de GSR. Contudo, é
importante salientar que esse método não é totalmente indubitável, pois o rodizonato
de sódio é instável tanto em solução quanto em estado sólido, além de possuir baixa
sensibilidade aos resíduos em questão, o que pode implicar resultados falso-negativos
e, consequentemente, comprometer a investigação (MOTTA, 2018).

Exame de eficiência

O exame de eficiência é realizado tanto em armas quanto em munições. Sendo


assim, ao perito cabe a responsabilidade de avaliar a existência de anomalias que
possam dificultar ou mesmo impedir o funcionamento da arma ou efetividade do
disparo de projéteis.

Quando de fato existem anomalias, é importante determinar se a causa é


proveniente do desgaste normal ou provocado de forma intencional. Em muitos casos,
esse tipo de exame é crucial para o desenvolvimento da convicção do julgador.

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BALÍSTICA FORENSE

Se uma arma for nitidamente incapaz de efetuar disparos, ela é uma prova cabal
da impossibilidade de uso para a perpetração de homicídio, por exemplo (DEBETIL,
2015). Na perícia de eficiência de uma arma de fogo, além da marca e do calibre,
observam-se:

• Números identificadores;
• Acabamento das partes metálicas;
• Características de fabricação que identifiquem montagens ou alterações
artesanais e clandestinas.

Tratando-se da munição, uma situação similar à de cartuchos de festim, que


possuem pólvora e, portanto, provocam barulhos, mas não possuem projéteis e,
consequentemente, são incapazes de provocar ferimentos, pode ser tida como
determinante para predizer sobre sua capacidade de ser usada para efetuar disparos ou
não.

O exame de eficiência permite realizar o correto enquadramento referente a


crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido ou de uso restrito. É por meio
de tais determinações que o perito coopera com o julgamento de crimes permitindo ao
juiz a possibilidade de distinguir o crime supostamente praticado (DEBETIL, 2015).

Exame metalográfico

Conforme estabelecido pelo Ministério da Defesa, art. 5° da Portaria no 7 – D


LOG, de 2006, sobre as normas reguladoras para identificar armas de fogo produzidas
no país, é necessário que elas possuam os seguintes dados (TRAMPE, 2008;
TOCHETTO, 2016):

• Nome ou marca do fabricante;


• Nome ou sigla do país;
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BALÍSTICA FORENSE

• Calibre;
• Número de série impresso na armação, cano e culatra;
• Ano de fabricação, se não tiver incluso no sistema de numeração serial.

A adição dessas informações serve não somente como garantia da autenticidade


do material, mas também para identificação e orientação do tipo de munição a ser
utilizada na arma.

Cada fabricante possui seu próprio critério de escolha do local em que realizará
a gravação do número de série, que é uma referência de identificação da arma de fogo
e que evita confusão de duas armas de mesmo modelo, calibre ou marca, já que é uma
característica particular de cada uma, devendo ter profundidade de 0.08 a 0.12 mm.

O exame metalográfico é realizado em automóveis e armas de fogo. Geralmente,


pessoas com o objetivo de dificultar o rastreamento e a identificação de carros e armas
furtadas adulteram a numeração serial gravada no item.

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BALÍSTICA FORENSE

Em contrapartida, existem técnicas que possibilitam a recuperação dos números,


dependendo do grau de adulteração e do material no qual são aplicados. Esses métodos
podem ser destrutivos ou não destrutivos

Ataque químico

É a técnica mais aplicada para a recuperação de números seriais em materiais


metálicos, consistem na criação de um contraste visível nas regiões avariadas e não
avariadas. Esse contraste é criado graças às diferenças de reflexão e espalhamento da
luz de cada uma das áreas.

Esse método surgiu das inspeções metalográficas realizadas com soluções


químicas para observação de microestruturas de materiais, ele é dependente da
diferença na velocidade da reação entre as áreas obliterada e não obliterada.

É possível dizer que o ataque químico é um processo de corrosão entre as


superfícies que possuem potenciais diferentes. É comum que as partes submetidas a
um trabalho a frio sejam quimicamente mais reativas e, consequentemente, dissolvidas
em reagentes a taxas maiores que as áreas não afetadas. Nesse sentido, existe variação
local na refletividade da luz, o que gera o contraste almejado. (MINEIRO, 2017).

Ataque eletrolítico

Esta técnica consiste na adição de uma corrente elétrica ao longo do processo de


ataque químico que é realizado por meio de uma fonte DC. Nesse caso, o ânodo é a
amostra, enquanto o cátodo é um fio metálico contendo um algodão na ponta e o
eletrólito é o reagente (uma solução condutora de eletricidade: NaCL, KCl, HCl, etc.).

O metal, após polimento, tem sua superfície atacada por um leve esfregaço com
o cátodo embebido no reagente. Além disso, uma tensão inicialmente menor que o
potencial de decomposição do reagente é aplicada. Por esse método, a determinação da
tensão na qual se obtêm os melhores resultados é determinada empiricamente
(MINEIRO, 2017).

Ataque térmico

Por meio do ataque térmico, obtêm-se excelentes resultados de fundição de ferro.


Uma superfície na qual tenha sido gravada a numeração é aquecida por maçarico até o
metal apresentar cor avermelhada. Dessa forma, as tensões residuais provenientes da
gravação são aliviadas, possibilitando a formação de um relevo na área deformada.

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BALÍSTICA FORENSE

Como a energia térmica provoca a relaxação das camadas superficiais do


material, a energia elástica das zonas mais internas força as zonas superficiais,
provocando um arqueamento das marcações e possibilitando sua visualização.

Após aquecimento, a superfície é lixada para remoção de resquícios de fuligem


ou camada de óxido dos caracteres recém-sobre revelados. Assim, obtém-se contraste
com a área não obliterada (MINEIRO, 2017).

Cavitação ultrassônica

A cavitação ultrassônica, ou erosão cavitacional, tem por característica o


desgaste por fadiga provocada por implosões de bolhas devido às diferenças de
pressão. A implosão das cavidades gera na superfície do metal um micro jato d’água
de energia elevada, podendo provocar alterações nessas superfícies.

Quando esse método de restauração é selecionado para uso, deve-se levar em


conta a erosão da superfície do material e o tempo de incubação do processo de
desgaste por fadiga, que são decisivos para o sucesso da análise.

Para alcançar a recuperação de números obliterados por meio dessa técnica, é


necessário polir a peça e colocá-la em um recipiente com água para ser analisada. Para
sofrer excitação, essa peça recebe uma frequência ultrassônica por meio de um
transdutor piezoelétrico cujo nome é sonotrodo, a ponta produz bolhas.

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BALÍSTICA FORENSE

Aula 6 - DISPARO E TIRO

Disparo e tiro

Muitas vezes, os termos disparo e tiro são empregados como sinônimos, mas
na verdade não são.

Disparar uma arma significa acionar o mecanismo de funcionamento regular da


arma, geralmente pressionando o gatilho e movimentando as peças para que o
percussor avance.

Entende-se que o fusível do cartucho detona, seguido pela ignição e detonação


do pó, e é atingida pressão suficiente dentro do cartucho para permitir que o projétil
saia do invólucro e siga qualquer trajetória. Dessa forma, nem todo tiro causará um
tiro, mas todo tiro precederá o disparo do mecanismo da arma.

Tiro acidental

1
BALÍSTICA FORENSE

Tiro acidental, tiro involuntário, acidente e/ou incidente de tiro são situações que
estão presentes no nosso dia a dia, no entanto os seus conceitos, em muitas ocasiões,
geram dúvidas, confusões ou erros.

Em geral, entendemos que um fato ou circunstância originária de natureza


contingente surge por acaso, uma situação imprevista, cuja probabilidade é
inteiramente final, ou seja, não habitual, mas contingente. Um acidente é um evento
inesperado que ocorre inesperadamente, resultando em ferimentos pessoais ou danos
materiais. Esta noção de acidente confunde-se com a noção de involuntário.

É entendido como uma coisa involuntária que acontece independentemente da


vontade. Ao contrário, voluntária, é algo que vem da vontade, como a execução
consciente de alguma ação. Pode-se dizer que o comportamento voluntário é um
comportamento consciente com um determinado propósito.

Acusações de disparos acidentais são comuns em muitos casos de morte ou


danos pessoais, alegando que algum efeito não foi intencional. Perceba que tal disparo
geralmente ocorre de forma instintiva, sem deliberação, ou seja, sem vontade, como
reflexo automático e intuitivo do portador da arma. Neste caso, foi um tiro involuntário,
mas não acidental.

No tiro involuntário, o atirador atua sobre os mecanismos de disparo da arma,


sem ter a intenção de fazê-lo, tendo como resultado um tiro.

Na balística forense, segundo Rabello (1995 apud TOCCHETTO, 2011, p. 228),


tiro acidental é: “Todo tiro que se produz em circunstâncias anormais, sem o
acionamento regular do mecanismo de disparo, devido a defeitos ou falta de segurança
do mecanismo da arma”.

Se for considerado o caso hipotético já mencionado, só seria disparo acidental


se o homem não tivesse efetuado intencionalmente o acionamento da tecla do gatilho.

Tiro acidental envolvendo munições avulsas

Por ser um material sensível ao choque e ao calor na espoleta, a munição é


propensa à deflagração por mecanismos e circunstâncias que não envolvem a arma de
fogo. A exposição da munição à energia térmica faz com que a espoleta detone e/ou a
pólvora queime por condução térmica. A resistência mecânica ao impacto do primer é
suficiente para sensibilizar a mistura de primer. Mesmo um choque produzido pela
queda da munição no chão pode produzir a detonação da espoleta, caso ela seja atingida
diretamente por uma pedra, por exemplo.

2
BALÍSTICA FORENSE

Tiro involuntário

O conceito de disparo involuntário sugere que o disparo ocorre sem acionar um


mecanismo de disparo. O fogo voluntário ocorre quando o mecanismo de disparo é
acionado pela ação do atirador para produzir a intenção de atirar. O disparo
involuntário é um mecanismo de disparo ativado pelo atirador, mas não destinado a ser
disparado por imprudência, negligência ou má conduta.

A submetralhadora "Taurus MT 12" é uma arma que utiliza um ferrolho aberto


e um pino de disparo fixado ao ferrolho, ou seja, a bala permanece sempre no
carregador e o ferrolho é travado na parte traseira. Quando o gatilho é pressionado, o
ferrolho é liberado para frente; a arma é carregada (o cartucho é introduzido na câmara)
e o cartucho é detonado.

Muitas pessoas, por não estarem familiarizadas com o sistema de ferrolho aberto,
pensam que o ferrolho travado na parte traseira significa que a arma está com defeito.
Para corrigir o problema, eles dispararam gatilhos, o que causou a ocorrência de
gatilhos indesejados.

3
BALÍSTICA FORENSE

Exemplo:

Quando a tecla do gatilho é acionada por qualquer objeto, como um galho ou


cordão de apito, que se prendeu a ela durante o deslocamento de quem conduzia a arma
ou ainda nos casos de a arma apresentar o percussor travado quando do fechamento do
tambor ou pela introdução de um cartucho na câmara.

Dessa forma, a conceituação e caracterização de incidente de tiro, acidente de


tiro, tiro involuntário e tiro acidental são importantes em casos de vítimas de tiro, sendo
que a análise dos aspectos técnicos desses eventos é de fundamental importância na
busca de definir o ocorrido.

Pelo entendimento jurídico

Acidente é aquele em que o fato é resultante da ação ou omissão humana, direta


ou indiretamente, em que o agente não quis o resultado ou nem assumiu o risco de
produzi-lo, normalmente levado a efeito por negligência, imperícia ou imprudência.

Observe que o conceito pericial de tiro acidental aqui apresentado requer uma
constatação material do fato, objetiva, e difere ligeiramente do conceito jurídico. Dessa
forma, o caso da “submetralhadora MT12”, quando analisado somente pelo aspecto
jurídico, em face de evidente imperícia, a qual o operador não queria o resultado, pode
ser classificado como tiro acidental, ao mesmo tempo em que para a balística trata-se
de tiro involuntário.

Importante!

Assim, uma pessoa que ao brincar com uma arma de fogo não verificou se ela
estava municiada e, a partir desse comportamento, produziu um tiro vindo a lesionar
alguém. A conduta pode ser classificada como acidental, pela não intencionalidade da
ação, entretanto, somente fatores de ordem subjetiva poderão comprovar ser
involuntário ou não da conduta. Contudo, sob o ponto de vista pericial, seria
classificado como um tiro não acidental, sendo admitido como tiro involuntário.

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BALÍSTICA FORENSE

Incidente de tiro

Eventos são eventos imprevisíveis que causam interrupções, muitas vezes


inconvenientes, que alteram o curso normal do comportamento ou dos fatos.

Um incidente de tiro também é um evento acidental e indesejado que faz com


que uma sequência de tiro seja interrompida sem causar danos materiais e/ou pessoais.
Eles geralmente são devido a falha mecânica da arma ou falha de várias propriedades
da munição. São dificuldades temporárias que desaparecem após o atirador tomar
medidas para corrigir o problema, permitindo que a arma e o atirador continuem sua
série de tiros.

Os incidentes de tiro, listados a seguir, são exemplos comumente verificados:

1. Falha no sistema de percussão por pouca pressão do percussor ou falha da


munição em que a espoleta não detonou ou não ocorreu a queima do propelente;

2. Falha na alimentação, que pode ocorrer por problemas na câmara, mesa


transportadora, por falha na ejeção ou extração etc.

3. Travamento do tambor que não gira ao ser acionado o gatilho, o que geralmente
ocorre devido a problemas no conjunto impulsor do tambor e anel dentado do
extrator; ocorrendo ainda em função de uma série de outras causas como haste
central empenada, espoleta saliente (positiva) travando o tambor, entre outras;

4. Não retorno do gatilho à sua posição normal, geralmente em função de falha no


impulsor do gatilho;

5. Não permanência da abertura do ferrolho após o último tiro (recuado).

Importante!

A maioria dos incidentes de tiro pode ser evitada com manutenção preventiva da
arma, por meio de limpeza e lubrificação adequadas e com o uso da munição correta e
apropriada para cada tipo de arma.

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BALÍSTICA FORENSE

Acidente de tiro

Em um acidente de tiro, a dificuldade não é mais temporária, pois pode resultar


em danos à arma e possivelmente ferimentos ao atirador. Em caso de acidente de tiro,
a sequência de tiro dessa arma/fato de tiro será definitivamente interrompida, pois a
apresentação de danos materiais e/ou pessoais é uma característica essencial. Os
eventos que podem levar a um acidente com tiro são de natureza variada, mas
geralmente têm como origem uma trilogia: arma, munição e atirador.

Munições recarregadas

O processo de recarga de munição permite a utilização de caixas já utilizadas


para a produção de novos cartuchos. Para isso, o primer é ejetado do bolso e passa por
um processo contínuo onde um novo primer é inserido enquanto o exterior está
calibrando o case. Em seguida, abra a boca da caixa colocando pólvora. Em seguida,
coloque o projétil e ajuste a boca do invólucro para melhor segurar o projétil (crimp).

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BALÍSTICA FORENSE

Este processo pode ser feito individualmente em uma prensa tipo "O" ou "C", ou
pode ser feito de forma incremental usando uma prensa que executa cada etapa em
sequência, agilizando a produção.

A recarga em nível industrial também pode ocorrer. Isso normalmente é usado


onde há uma alta demanda por munição, como algumas academias de Polícia Militar,
que possuem grandes pátios de recarga em escala industrial.

Munições não recarregáveis

Algumas munições vendidas no exterior apresentam a inscrição NR, abreviatura


para Non-Reloadable (não recarregável). Tais munições são fabricadas com estojos de
alumínio que, de acordo com o fabricante, não resistem ao processo de recarga por ser
um material mais frágil que a liga de cobre empregada nas munições recarregáveis.
Portanto, não é recomendável recarregá-las. Contudo, diversos atiradores recarregam
tais munições por sua conta e risco.

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BALÍSTICA FORENSE

Munições que atendem aos requisitos da OTAN (NATO)

A OTAN estabelece parâmetros específicos para as munições dos calibres de sua


dotação oficial. Quando a munição de determinado fabricante é submetida aos testes
da OTAN e é aprovada, atendendo aos seus requisitos, o fabricante passa a inserir uma
inscrição de base composta por uma cruz inserida em um círculo. Isso indica que o
fabricante foi aprovado nos testes da OTAN.

Munições SHOTSHELL

As munições shotshell disponíveis em diferentes configurações, o projétil é


composto por uma cápsula plástica contendo várias esferas de aço. Quando ocorre um
tiro, a esfera de aço rompe o invólucro e é impelida pelo cano da arma, espalhando-se
por uma área que varia de acordo com a distância do cano do cano. Tais munições são
geralmente utilizadas nos Estados Unidos para o “varmint” (caça de animais pequenos)
ou para abater roedores, cobras ou outros animais de pequeno porte.

Apesar da carga de esferas de aço, essas munições apresentam baixa letalidade


em humanos, só oferecendo risco em distâncias pequenas e, mesmo assim, a depender
da região atingida. Nos Estados Unidos, são mais comuns as munições fabricadas pela
CCI, não havendo produção de munições desse tipo no Brasil.

Munições de festim

As munições de festim possuem as mesmas dimensões de munições normais,


porém são destinadas às simulações e salvas de tiros. Possuem apenas carga de pólvora,
que geram um estampido semelhante ao tiro. Podem ser utilizadas em armas normais,
entretanto, não são capazes de produzir a ciclagem de armas automáticas ou
semiautomáticas, a menos que haja um dispositivo na boca do cano para que a pressão
seja suficiente para isso.

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BALÍSTICA FORENSE

Munições de manejo

As munições de manejo são inertes, ou seja, não possuem carga. Destinam-se


aos treinamentos em seco de manejo das armas. Entretanto, suas dimensões são
exatamente as mesmas de uma munição normal. Podem ser feitas a partir de cartuchos
desmontados ou, então, de maneira industrial, por exemplo, por meio da usinagem de
um tarugo de alumínio. São vendidas livremente, não necessitando de autorização para
compra.

Munições de treinamento (SIMUNITION)

As munições fabricadas pela empresa Simunition são destinadas apenas para


treinamentos. Há desde munições inertes, que não possuem carga alguma, até munições
para marcação do alvo, cujo projétil é uma pequena cápsula plástica contendo tinta.
Raramente são encontradas no Brasil e são classificadas como munições de menor
potencial ofensivo (não letais).
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BALÍSTICA FORENSE

Munições para lançamento de granadas

Destinadas à utilização em fuzis, são semelhantes às munições de festim, porém,


possuem maior carga de pólvora para a propulsão de granadas de bocal.

Munições para uso industrial

Algumas munições são produzidas não para uso em armas de fogo e, sim, para
ferramentas industriais e de construção civil. Geralmente são cartuchos pequenos, com
dimensões compatíveis com o calibre .22 LR, com percussão radial para utilização em
pistolas finca-pinos. Possuem apenas carga de pólvora, sem projétil.

Munições alteradas

É comum serem encontradas munições alteradas, seja para sua reutilização, seja
para produzir efeitos diferentes daqueles para os quais a munição foi projetada. Uma
alteração bastante comum é a recarga de munição, substituindo a espoleta Boxer ou
10
BALÍSTICA FORENSE

Berdan por uma espoleta do tipo bateria. Também se observam tentativas de alteração
no projétil, por meio de cortes ou furos na ponta para aumentar a expansão ou
fragmentação. Alterações essas que não geram resultados concretos na prática.

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BALÍSTICA FORENSE

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 6)

Caro aluno e aluna, pesquise na internet caso de acidente com arma de fogo
onde a vítima foi a óbito e faça um resumo sobre esse caso dando a sua opinião
profissional de como aconteceu esse acidente, se foi problema na arma de fogo ou foi
despreparo do atirador, e após diga como isso poderia ser evitado. Lembre-se que o
capricho é levado em consideração na hora da correção e não se esqueça de colocar a
fonte de pesquisa.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Aula 1 - BIOLOGIA FORENSE

A Biologia Forense é a ciência que analisa os vestígios de origem biológica,


como sangue, urina, saliva, sêmen, pele, entre outros. Os principais campos da biologia
forense incluem: hematologia forense, ciência forense do cabelo, patologia forense,
entomologia forense, botânica forense e genética forense. Além disso, além da genética
forense, o campo da medicina forense também usa três métodos principais de
identificação humana: endoscopia de mamilo, antropologia forense e odontologia
forense.

A Biologia Forense integra uma série de campos científicos denominados


criminologia, e a sua definição é dada na primeira Conferência Técnica Nacional da
Polícia "disciplina'', cujo objetivo é identificar e interpretar provas materiais externas
relacionadas com o crime ou a identidade. Criminal”.

Indícios materiais, neste caso, podem ser interpretados como sinônimo de


vestígios, visto que o indício material é fonte de análise objetiva e não uma
circunstância, como o próprio código penal brasileiro define em seu art. 239:
“Circunstância conhecida e provada, que tendo relação com o fato, autorize, por
indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias (BRASIL, 1940).”

Entende- se por vestígios “todo e qualquer sinal, marca, objeto, situação fática
ou ente concreto sensível, potencialmente relacionado a uma pessoa ou a um evento de
relevância penal” (DIAS FILHO, 2009).

1
BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Recebimento de evidências

Todos os materiais coletados durante a perícia devem ser corretamente


identificados, pois devem ser armazenados e arquivados durante a elaboração do laudo,
e mesmo nas etapas subsequentes do processo judicial em que participarão.

Portanto, recomenda-se que, além de fornecer informações sobre as condições


de coleta, as etiquetas de identificação dos materiais biológicos coletados na cena do
crime devam conter, no mínimo, os seguintes dados:

• Natureza da amostra (sangue, sêmen, cabelo, pelo, saliva etc.).


• Local do fato (endereço).
• Data/hora (da coleta).
• Perito responsável pela coleta do local.
• Observações (localização no ambiente, condições em que se encontrava,
quantidade de amostras, etc.).

Um material bem identificado, além de gerar confiança relacionada a sua


procedência e sua individualidade, auxilia na manutenção da cadeia de custódia.

Mas o que de fato é a cadeia de custódia?

Para um efetivo controle da integridade física do material biológico coletado,


bem como do valor legal, faz-se necessária a documentação da respectiva cadeia de
custódia. A Cadeia de custódia diz respeito à identificação de todas as pessoas que
ficaram responsáveis pela guarda/cuidado da amostra, e das condições em que ela se
encontrava a cada nova transmissão, desde a coleta até sua análise em laboratório.

Esta cadeia de controle não se refere apenas às amostras biológicas, e sim a todo
e qualquer vestígio material. A amostra biológica merece especial atenção devido a sua
susceptibilidade à degradação e contaminação. Este controle é obtido mediante
documentos, ou qualquer outro tipo de registro, assinados a cada transmissão de posse
da amostra. O ideal é que cada instituição tenha um modelo padrão impresso de entrega
de material.

As evidências encontradas em locais de crime e, posteriormente, tratadas


laboratorialmente só podem ser aceitas e consideradas confiáveis como meios de prova
para a justiça se a coleta, o manuseio e as análises obedecerem a condições mínimas
de segurança e conservação. Deste modo, garante a integridade do material a ser
2
BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

examinado e a idoneidade dos meios empregados. Daí a importância da cadeia de


custódia.

Assim, a cadeia de custódia é constituída por um conjunto de procedimentos que


visam a garantia da autenticidade, a idoneidade do produto elaborado, a rastreabilidade
e a garantia da história cronológica, permitindo transparência de todo o processo de
produção da prova.

Mas isso é fácil de ser obtido?

Não. Não é uma tarefa fácil, tampouco simples

Um dos maiores problemas que se tem hoje na perícia brasileira é a falta de


garantia da manutenção de uma cadeia de custódia “resistente” a possíveis
questionamentos.

Patologia forense

A patologia forense é a área da medicina legal que estuda a causa da morte de


uma pessoa.

A patologia deriva do grego PATHOS, que significa sofrimento, doença; e


LOGIA, que significa ciência, estudo. Assim, a patologia forense apresenta um campo
bem amplo, compreendendo os sintomas, a origem, a natureza, a evolução e as
alterações das doenças e sua expressão pós-morte, no cadáver (FILHO; FRANCEZ,
2016).

O estudo da causa da morte faz-se por meio do estudo do cadáver, isto é, da


necropsia médico-legal. Por meio da patologia forense, pode obter-se respostas sobre
a patologia da morte violenta em todas as formas: mecânica, traumática e tóxica.
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

A patologia forense, além de estudar a causa da morte, tem como objetivo


esclarecer as circunstâncias em que a morte ocorreu. Nos casos de morte ignorada,
estabelece o diagnóstico diferencial entre morte natural e morte violenta e, neste caso,
homicídio, suicídio, acidente e ainda outros exames cadavéricos, como, por exemplo,
de antropologia forense para os mesmos fins.

O estudo da decomposição cadavérica e a preservação dos cadáveres fazem parte


da patologia forense. No seu âmbito, também cabe a prática do embalsamento
cadavérico, a qual pode ser requisitada quando da trasladação de cadáveres para países
que a obriguem por normas de saúde pública. Interessante notar que já no Antigo Egito
era prática comum este processo de conservação cadavérica.

O embalsamento visa preservar o cadáver, evitando que a putrefação se instale


de imediato. Outros exemplos de preservação do cadáver são congelação, formalização
e plastificação. Por meios naturais, cita-se a mumificação, calcificação, corificação e
saponificação.

Resumidamente, a patologia forense pode dividir-se em dois grupos (FILHO;


FRANCEZ, 2016)

Macroscópica: isto é, o exame direto baseado na observação do cadáver.

Microscópica: também chamada de histologia forense, se dedica ao exame


microscópico dos tecidos cadavéricos com fins de diagnóstico da patologia encontrada
quando da realização do exame cadavérico ou quando da reafirmação dos dados
observados macroscópicamente.

É importante ter em mente que a patologia forense, assim como os outros ramos
da perícia, não anda só. O patologista forense tem de ter conhecimentos de várias áreas
além da medicina, como balística, toxicologia, biologia, genética, psicologia, dentre
outros.

Por exemplo, a patologia forense pode estar muito associada à toxicologia


forense, visto que um dos exames complementares da necropsia médico legal inclui os
exames toxicológicos a fim de excluir a hipótese de a vítima estar sob ação de um
tóxico, administrado dolosa, acidental ou até terapeuticamente. Outro exemplo é a
biologia forense, pois permite identificar um cadáver por meio do estudo do seu
material biológico, como é o caso das necropsias de cadáveres previamente inumados
e que são exumados apenas para colher material biológico para determinação do seu
perfil genético, em casos de investigação de paternidade pós-morte. A patologia
forense ou a anatomia patológica tem importância como método auxiliar nas perícias
médicas e odontológicas para fins judiciais de qualquer natureza. Estes exames,
embora subsidiários (ou complementares) em relação ao exame macroscópico do corpo
4
BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

humano, muitas vezes podem servir como pedra angular para o balizamento de
questões, por meio de exames de diagnósticos específicos que poderão determinar as
conclusões periciais.

A patologia é, basicamente, o estudo das alterações estruturais e funcionais


expressas por meio de doenças em órgãos e sistemas. A patologia engloba diferentes
áreas da Medicina, dentre elas:

• A etiologia das doenças (estudo das causas);


• A patogênese (estudo dos mecanismos);
• A fisiopatologia (estudo das alterações funcionais dos órgãos afetados);
• A anatomia patológica (estudo das alterações morfológicas dos tecidos que, em
conjunto, recebem o nome de lesões).

A lesão ou processo patológico constitui o conjunto de alterações morfológicas,


moleculares e/ou funcionais que surgem nos tecidos por agressões das mais variadas
origens (biológicas, físicas, químicas etc.) e que podem ser observadas
macroscopicamente, microscopicamente, ao microscópio óptico ou eletrônico, e
também por métodos bioquímicos e de biologia molecular.

Na prática, a patologia forense entra nesse contexto estudado, do ponto de vista


macro e microscópico, o material enviado pelos médicos legistas para detectar
alterações morfológicas em órgãos ou tecidos, contribuindo assim para a detecção da
causa da morte.

Portanto, na cadeia de trabalho dos Institutos Médico Legais (IML), a patologia


forense é de vital importância, pois proporciona maior resolubilidade à demanda
judicial.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Aula 2 - NECROPSIA MÉDICO-LEGAL – Parte 1

Parte 1

A necropsia médico-legal tem como objetivo principal fornecer subsídios a


autoridades requisitantes para a determinação da causa jurídica da morte, seja natural
ou violenta (acidentais, suicidas ou criminosas), além da elucidação das mortes
consideradas suspeitas, de qualquer origem. Auxilia também a elucidação do modus
operandi dos agressores e das circunstâncias dos crimes contra a pessoa.

Uma coisa interessante na perícia é a troca de informações entre os colegas de


diferentes áreas. Muitas vezes, o perito criminal assiste à necropsia referente ao caso
que está sob sua responsabilidade, com a finalidade de entender melhor a dinâmica do
fato. Não sendo possível o acompanhamento da necropsia, é de praxe o perito criminal
solicitar o laudo médico-legal no que se refere ao caso em questão. Assim, o resultado
de uma necropsia realizada pelo médico legista auxilia o laudo do perito criminal e
suas possíveis conclusões.

Bom, a patologia forense, como dito anteriormente, auxilia em qualquer tipo de


caso, mas existem casos em que a solicitação do exame anatomopatológico é
imprescindível, como os seguintes:

• Verificação de docimasia histológica pulmonar;


• Auxílio nos casos suspeitos de morte por asfixia (afogamento, constrição
cervical, entre outros) e pela ação do fogo ou calor;
• Pesquisa histopatológica de reação vital;
• Auxílio para diagnóstico da causa mortis de periciados custodiados;
1
BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

• Auxílio para diagnóstico nos casos de apuração de denúncia de responsabilidade


profissional;
• Mortes súbitas e que possam gerar suspeição (mortes suspeitas);
• Pesquisa de gravidez e aborto.

Sorologia

A sorologia forense é o estudo e uso de sangue e outros fluidos corporais na


investigação e resolução de casos criminais e é um dos ramos da química forense. Este
campo se concentra principalmente na prova, utilizando como fluido o sangue, embora
outros fluidos, tais como a saliva, o suor e o esperma também possam ser utilizados.

Genética forense

A genética forense é, sem dúvidas, uma das áreas mais fascinantes da perícia
criminal.

Embora muito do conhecimento popular seja baseado em filmes e minisséries,


que muitas vezes não condizem com a realidade prática, todo mundo sabe um pouco
sobre o papel do DNA em análises forenses. Esta área fascina não só os que trabalham
diretamente com ela, como também a população num contexto mais geral. Via de regra,
insere-se muita credibilidade nos resultados genéticos e tudo que envolve o DNA.

Vamos entender um pouco como a genética forense funciona?

O DNA é um tipo de ácido nucleico composto por nucleotídeos, que por sua vez
são formados por bases nitrogenadas, açúcar (desoxirribose) e fosfato. Qualquer
material biológico pode ser fonte de DNA, incluindo sangue, saliva, sêmen, pelos,
tecidos, dentes, ossos, suor, entre outros. Podemos encontrar nestes materiais dois tipos
de DNA, um localizado no núcleo das células, o DNA nuclear, e outro no interior da
organela chamada de mitocôndria, o DNA mitocondrial. Os dois tipos podem ser
utilizados para exames genéticos. Entretanto, as técnicas baseadas em DNA nuclear
são preferencialmente utilizadas na área forense, devido ao seu maior poder
discriminatório. O DNA nuclear é do tipo dupla fita linear, enquanto o DNA
mitocondrial é dupla fita circular.

Os procedimentos de análise de DNA normalmente se iniciam com a extração


do DNA das amostras, amplificação das regiões que serão comparadas, leitura do
produto de amplificação em um analisador genético e, finalmente, as comparações
entre as diferentes amostras examinadas.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Exames baseados na análise de DNA podem ter diversas aplicações na área


forense. Entre elas, pode-se citar o auxílio na identificação de suspeitos de crimes
sexuais, de crimes contra a vida ou contra o patrimônio, na identificação de restos
mortais de pessoas desaparecidas ou de vítimas de desastres, nos exames de parentesco
e na identificação de animais silvestres em crimes contra a fauna.

Os exames genéticos de identificação humana têm como objetivo principal


determinar, com alto grau de segurança, a compatibilidade e (ou) vínculo entre
amostras de DNA. Vinculação ou não de suspeitos a locais de crime, identificação de
restos mortais e determinação de parentesco são exemplos destes exames.

No caso dos exames para identificação de animais, o principal objetivo é


determinar, com maior precisão e grau de segurança possíveis, a espécie ou outro grupo
taxonômico de origem do material questionado.

Identificação humana e confronto

Inicialmente, precisamos entender o conceito de dois tipos de amostras que são


analisadas:

Amostra questionada provenientes da análise de amostras de DNA coletadas em


locais de crime, podendo ser quaisquer vestígios (vestes, armas, preservativo, objetos
em geral etc.) coletados no próprio local de crime ou em pessoa vitimada; desde que
contenha ou seja um material biológico humano, a exemplo: sangue, sêmen, saliva,
urina, pele, pelo/cabelo, dentes, ossos, secreções corporais etc.

Amostra Referência Amostra biológica coletada de pessoa com identidade


conhecida, exclusivamente para estabelecer o vínculo biológico ou o confronto
genético com a amostra questionada (vestígio). Dentre os doadores de referência, os
mais frequentes são: a vítima, o suspeito e os familiares da vítima.

A partir de amostras do DNA nuclear, são determinados os perfis genéticos, que


são combinações de pares de genes alelos, herdados um do pai e outro da mãe, e que
se localizam em locais correspondentes em cromossomos homólogos. Os exames são
realizados por meio da comparação dos perfis genéticos obtidos de amostras
questionadas com perfis genéticos do DNA de amostras de referência.

Caso haja coincidência entre os perfis genéticos dessas amostras, pode-se


conduzir a realização de testes estatísticos que mostrarão a probabilidade daquela
amostra biológica coletada no local de crime ser proveniente do indivíduo doador do
DNA de referência.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Como metade dos alelos que compõem um perfil genético de um indivíduo é


herdada da mãe, enquanto a outra metade é herdada do pai, além de confrontos diretos
para se determinar a compatibilidade entre perfis, também é possível determinar
relações de descendência/ascendência por meio da análise dos perfis dos pais, filhos,
irmãos, avós e outros, popularmente conhecidos como exames de paternidade ou
parentesco.

Além das regiões que compõem os perfis genéticos, também podem ser
comparadas determinadas regiões do DNA nuclear que fazem parte do cromossomo Y.
Essas regiões desse cromossomo sexual existem apenas em indivíduos de gênero
masculino, sendo herdadas apenas do pai. Por isso, o DNA do cromossomo Y de um
indivíduo será idêntico ao de todos os indivíduos de sua linhagem paterna. Embora não
sejam únicas para cada pessoa com os perfis genéticos, estas regiões são úteis para
investigar se indivíduos pertencem à mesma linhagem paterna.

Com relação ao DNA mitocondrial, são comparadas curtas sequências de DNA


em regiões específicas que apresentam grande variabilidade entre indivíduos. O DNA
mitocondrial é herdado apenas da mãe e, sendo assim, indivíduos pertencentes à mesma
linhagem materna possuem sequências iguais. Embora cada sequência não seja
individualmente exclusiva, a elevada sensibilidade da técnica pode ser muito útil
quando as amostras possuem pouco DNA ou quando este se encontra muito degradado,
como nos casos de fios de cabelo sem raiz, dentes e ossos antigos, corpos carbonizados
e outros.

Fluxo de trabalho e técnicas aplicadas à genética forense

Embora, em geral, somente as etapas de processamento de DNA intrínsecas ao


laboratório de genética forense sejam consideradas fases do exame de DNA (extração
de DNA, quantificação, PCR, análise de polimorfismos etc.), é fundamental o
entendimento de que as etapas prévias de coleta, registro, acondicionamento,
conservação, custódia e triagem são críticas para o aproveitamento destes vestígios
durante a persecução penal e jurisdicional, até se configurarem como uma prova
técnica. A negligência em qualquer uma dessas etapas e o emprego de procedimentos
inadequados podem desqualificar e invalidar o laudo de genética forense produzido.
Assim, é necessário que todos os centros periciais tenham um sistema bem
regulamentado de gerenciamento de vestígios desde a origem na coleta até a destinação
final.

Lembram-se do conceito de cadeia de custódia?

Pois bem, esse sistema regulamentado de gerenciamento de vestígio nada


mais é que a cadeia de custódia!

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Extração de DNA

Extrair o DNA, em termos simples, nada mais é do que utilizar


técnicas/reagentes para “retirar” o DNA genômico do núcleo das células, no caso de o
DNA referido ser o nuclear (mais comumente utilizado). A extração é a primeira
técnica a ser realizada na amostra, visto que as etapas posteriores necessitam do DNA
disponível.

As técnicas de extração variam de acordo com a fonte biológica empregada, e o


princípio utilizado pode ser por meio da ruptura química das membranas celulares e
separação do DNA, empregando solvente e precipitação em álcool. O isolamento do
DNA pode ocorrer por meio de membranas concentradoras à base de sílica, ou
empregando-se beads magnéticos com afinidade condicional pelo DNA. Atualmente,
também existem equipamentos que automatizam a extração do DNA, empregando
diferentes princípios. A vantagem da automação é minimizar riscos de troca ou
contaminação de amostras.

Quantificação do DNA: As amostras forenses, em geral, são submetidas a uma


gama de variáveis químicas e ambientais que podem ocasionar sua degradação, sua
diluição ou sua contaminação do DNA. A imprevisibilidade quantitativa e qualitativa
de DNA isolado de amostras forenses faz com que seja necessária a quantificação
prévia do DNA, antes da amplificação e análise dos perfis genéticos ou
sequenciamento. Diversos métodos de quantificação são utilizados nos laboratórios
forenses, desde uma simples visualização de padrões de bandas de DNA total em um
gel de agarose, passando pela quantificação de DNA por espectrofotometria, até a
quantificação de DNA humano, empregando-se a técnica de PCR em tempo real
(inglês: real time PCR).Na PCR em tempo real, à medida que se realiza uma reação de
PCR, sondas fluorescentes específicas se ligam às moléculas em amplificação,
liberando fluorescências que são captadas por um fotômetro acoplado ao
termociclador.

Após analisada com base em uma curva de calibração, a intensidade do sinal


fluorescente produzido ao longo de cada ciclo permite inferir a quantidade de DNA
humano presente em cada amostra.

As vantagens da técnica de PCR em tempo real em relação às demais baseiam-


se na especificidade e na elevada sensibilidade desta metodologia. A PCR em tempo
real emprega kits com sondas e iniciadores específicos para o DNA humano,
diferentemente de outros métodos que quantificam também o DNA bacteriano ou outro
DNA não humano que estiverem presentes na amostra.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Aula 3 - NECROPSIA MÉDICO-LEGAL – Parte 2

Parte 2

Amplificação do DNA

Bom, é nesta etapa que vamos entender como ocorre a multiplicação das cópias
de um segmento de DNA específico em milhares ou milhões de vezes.

O advento da técnica de reação em cadeia da polimerase viabilizou a realização


de confrontos entre perfis genéticos de amostras questionadas e de referência. A PCR
permite à amplificação de uma região específica do DNA milhões de vezes, utilizando
marcadores genéticos. Os marcadores mais amplamente utilizados nas investigações
forenses atualmente são as repetições curtas consecutivas, cujo poder de identificação
permite discriminar geneticamente um indivíduo em um pool gênico de trilhões de
pessoas.

Entretanto, em cenários investigativos em que o material genético muitas vezes


é escasso ou muito degradado, a recuperação de perfis genéticos torna-se mais difícil
em consequência da perda de STRs de tamanhos superiores cerca de 100-450 pares de
base, isso pode acontecer, por exemplo, na identificação de vítimas de desastres em
massa.

Tem como imaginar, não é mesmo?

Sendo assim, outra classe de marcador pode ser utilizada: polimorfismos de


nucleotídeo único. Os SNPs têm sido aplicados à identificação humana como forma de
complementar os resultados oriundos dos STRs.

1
BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Polimorfismos de único nucleotídeo têm sido introduzidos no universo das


análises forenses, principalmente, pelo tamanho reduzido dos produtos de o que
significa potencialização na obtenção de resultados oriundos de amostras degradadas.
Isso porque os produtos de PCR gerados são de tamanho inferior àqueles gerados pelo
sistema de loci. Os produtos de PCR de SNPs são menores pelo fato de a região alvo
ser apenas um único nucleotídeo, ao invés de uma região expansível de 20-60
nucleotídeos, como no caso dos tetranucleotídeos com 5-15 repetições.

Os SNPs caracterizam-se pela variação de uma base em determinada posição da


sequência genética quando comparamos os indivíduos. Esses polimorfismos são
extremamente abundantes no genoma humano. Um dos maiores desafios na utilização
de SNPs em análises forenses consiste na dificuldade de criar ensaios para PCR
multiplex com uma quantidade suficiente de SNPs. Em razão dos loci SNPs
fornecerem menos informação em relação aos lociSTRs, é necessária a análise de uma
grande quantidade deles, a fim de obter um poder de discriminação equivalente aos
STRs.

Eletroforese em gel e eletroforese capilar: Após a amplificação de regiões


específicas do DNA de interesse empregando a técnica de PCR, é necessário visualizar
os polimorfismos moleculares presentes nas amostras investigadas. Uma das técnicas
utilizadas para esta finalidade é a eletroforese em gel de agarose ou em gel de
poliacrilamida.

O princípio da eletroforese é que o DNA possui carga negativa e, portanto,


quando aplicado a uma corrente elétrica, migraram para o polo positivo. Além disso,
quanto maior o fragmento, mais dificuldade e mais lentamente ele migram no gel, de
forma que as diferenças de tamanho de fragmentos poderão ser visualizadas por meio
da posição assumida pelos fragmentos de DNA ao final da corrida eletroforética.

Atualmente, a maioria dos laboratórios de genética forense não utiliza mais


eletroforese em gel para detectar os polimorfismos moleculares. Esta técnica foi
gradualmente substituída pela eletroforese capilar.

A eletroforese capilar emprega os mesmos princípios da eletroforese em gel, mas


apresenta resultados muito superiores em vários aspectos, tais como automação do
processo, segurança, rapidez de processamento das amostras, uniformidade dos
resultados, além da capacidade de identificar marcadores de fragmento semelhante
utilizando diferentes fluorescências. Na eletroforese capilar, as amostras são aplicadas
em cavidades de uma placa que, em geral, apresenta a capacidade para 96 amostras.
Em seguida, a placa com as amostras é inserida em uma bandeja do analisador genético
ou sequenciador. Através da movimentação da bandeja, os capilares do equipamento
são inseridos nos poços da placa e por meio de uma corrente elétrica promove a

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

migração dos fragmentos de DNA ao longo do polímero presente no interior dos


capilares.

Como cada fragmento está associado a uma determinada fluorescência, ao passar


por uma janela presente no capilar, um laser detecta o fragmento, e por meio de um
algoritmo que utiliza marcadores de peso molecular (escala alélica), marcadores de
alelos (lader) e a fluorescência emitida pelo fragmento, possibilita que um software
identifique e nomeie o fragmento detectado.

Não é incrível?

Sequenciamento automático de nova geração

Agora falaremos um pouco sobre uma das técnicas que mais revolucionaram a
biologia molecular nos últimos tempos. A técnica de sequenciamento de nova geração,
como ficou conhecida no Brasil, é uma plataforma que permite a análise simultânea de
milhares a milhões de fragmentos de DNA. Essa plataforma gera grande quantidade de
dados em um prazo relativamente curto em comparação aos métodos de
sequenciamento tradicionais. A tecnologia envolvida permite o aprimoramento da
compreensão da variação de polimorfismos genéticos com um maior grau de
informatividade, possibilitando aplicações em diversas áreas da genética humana, tais
como: variação estrutural do genoma, diagnósticos de polimorfismos de interesse
médico, estudos populacionais, genética do câncer, além da genética forense. Dessa
forma, a tecnologia aplicada à análise de STR possibilita maior sensibilidade, precisão
e informatividade do que os métodos tradicionais empregados para investigação destes
polimorfismos.

Tricologia Forense: A tricologia forense estuda pelos humanos e pelos de


outros animais, bem como fibras, e aplica esses conhecimentos à investigação e à
elucidação de crimes, por meio de técnicas e procedimentos científicos que permitem
uma correta identificação, comparação ou diferenciação deles. Vamos parar para
pensar que muitas vezes os pelos são os únicos vestígios encontrados num local de
crime, ou seja, o único elemento que ajudará na solução do respectivo crime. Desta
forma, é fundamental que estejam disponíveis técnicas que permitam uma correta
diferenciação entre pelos humanos e pelos de outros animais, bem como de fibras
(sintéticas ou não sintéticas). Os pelos podem ser utilizados para a identificação
humana, seja comparando-se diretamente a estrutura do pelo questionado com a
amostra referência do suspeito, seja empregando as técnicas de Biologia Molecular.

Análise de pelos e cabelos: A análise de pelos e cabelos auxilia numa série de


aspectos. Por meio de exames visuais de comparação macro e microscópicos, a
tricologia forense nos permite:

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

A. Diferenciar pelos humanos de não humanos, assim como de fibras;

B. Identificar espécies animais, podendo caracterizar, por exemplo, crimes


ambientais contra a fauna;

C. Avaliar o controle de qualidade de alimentos;

D. Vincular pessoas ou animais a objetos e/ou locais de crime;

E. Indicar contato físico nos casos de violência sexual;

F. Caracterizar casos de maus tratos e agressão física;

G. Além disso, distúrbios e doenças capilares também podem contribuir na


indicação de possíveis vítimas ou suspeitos de crimes.

A importância do pelo/cabelo como elemento de estudo forense está ligada,


sobretudo, a duas características: a primeira se relaciona a sua alta resistência a
deterioração temporal, mantendo suas características por períodos relativamente
longos; a segunda, à utilização de técnicas de relativamente baixo custo.

O local do corpo do qual procedem os pelos pode ser avaliado, de forma relativa,
analisando-se a morfologia, o diâmetro médio, o comprimento e a forma da seção
transversal. Porém, para chegar a um resultado plausível, é necessário um número
suficiente de pelos que permitam determinar uma média de suas dimensões e
características (FILHO; FRANCEZ, 2016).

Outras características morfológicas também podem ser úteis.

Exemplos: pelos das sobrancelhas e das pálpebras são curtos, terminam em ponta
e são mais espessos que cabelos; os pelos das axilas e da região pubiana são mais
longos e encaracolados; os pelos do tronco e dos membros variam em espessura e têm
menos pigmentos do que os outros. Ainda nos exemplos: a secção transversal, se
possuir formato triangular côncavo, sugere que se trata de pelo de bigode ou barba.
Além disso, o exame da composição química do pelo pode revelar, em alguns casos,
tratar-se de pelo da axila, em razão da ação do suor e de outras substâncias presentes
nesta localização, assim como a presença de sêmen pode indicar pelos pubianos.

Perceberam como cada detalhe faz diferença?

Perícia é isso!

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Formato dos cabelos: Segundo Peyrefitte (1998), citado por Filho e Francez
(2016), a forma do cabelo é determinada pelo folículo piloso. A secção transversal
depende do grau de curvatura do cabelo ou pelo, e o que determina o formato do
folículo é a posição dele em relação à pele. O formato do folículo piloso, por onde o
fio sai do corpo, define a estrutura do pelo.

Quanto mais cilíndrico for o canal piloso, mais liso sai o cabelo; ao passo que
quanto mais inclinado ou achatado, o pelo fica ondulado ou mais crespo.

De acordo com a classificação antropológica de Cavalcante (1995), citado por


Filho e Francês (2016), o corte perpendicular ao eixo dos cabelos pode se apresentar
da seguinte forma: cabelo liso tem formato circular, cabelo ondulado tem formato
ovalado e o cabelo crespo tem formato elíptico, em seu corte transversal.

Análise das extremidades proximal e distal: A extremidade distal ou ponta do


pelo pode ser natural ou cortada. Assim, o exame da extremidade distal pode
proporcionar evidência da presença ou ausência de um corte de cabelo, e se foi recente
ou não (CAVALCANTE, 1995). Interessante notar que os pelos que nunca foram
cortados terminam em ponta natural, se cortados, têm a superfície plana, perpendicular
ou oblíqua, em relação ao eixo, com ângulos limpos e vértices agudos. Depois de certo
tempo, os cabelos cortados apresentam seus ângulos arredondados, porém, após serem
cortados, jamais tomarão sua forma pontiaguda na extremidade livre de novo.

No pelo caído, normalmente a papila dérmica que o nutre cai junto com o bulbo.
No pelo arrancado em plena vitalidade, a papila não se desprende e o bulbo aparece
vazio ou oco.

Enfermidades e anomalias capilares: Vocês sabiam que até as enfermidades


ou anomalias capilares podem auxiliar na identificação de um indivíduo?

Enfermidades e anomalias capilares podem ajudar a identificar um indivíduo a


partir de suas características peculiares.

Muito importante essa abordagem!

São exemplos de algumas destas anomalias: presença de alopecia que é a queda


do cabelo, eflúvio que é distúrbio no ciclo de vida do cabelo, tricoftose que são
infecções por parasitas, que quando sabidamente presentes em um determinado
indivíduo, em vida, auxiliam na identificação do mesmo quando vier a óbito.

Análise de fibras: As fibras são constituídas por macromoléculas lineares, cuja


característica é a alta proporção entre seu comprimento e seu diâmetro. Ainda de
acordo com Cavalcanti (1995), citado por Filho e Francês (2016):
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

As fibras podem ter importância relevante, assim como os pelos e cabelos. Nos
crimes contra a pessoa, em que há contato entre o criminoso e a vítima, é inevitável
que haja troca entre as fibras de suas roupas ou entre a roupa do criminoso e o ambiente.

A análise das fibras ou sua comparação com amostras coletadas no suspeito, na


vítima ou no local do crime oferecerem, frequentemente, importantes indícios,
principalmente quando a fibra não é comum. Mas, claro, ficar atento para saber
diferenciar as fibras em relação a pelos e a cabelos é um fundamento básico.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Aula 4 - ANÁLISE DE MANCHAS DE SANGUE

Os padrões formados por manchas e os mecanismos envolvidos em suas


formações são objetos de estudo da hematologia forense reconstrutora ou, como mais
conhecida, análise de padrões de manchas de sangue.

O objetivo dessas análises é interpretar manchas de sangue encontradas em


locais de crime ou sobre objetos de interesse criminal e, a partir delas, apontar as
hipóteses mais prováveis em termos de eventos que as teriam originado. Para
entendermos um pouco sobre a dinâmica das manchas de sangue, teremos de relembrar
pequenos conceitos de física.

Estão prontos?

Altura da queda em gotejamento isolado (estático) conseguimos facilmente


imaginar que, quanto maior a altura da queda livre de uma gota de sangue, mais energia
potencial possui essa gota. Na iminência de tocar o pavimento, toda energia mecânica
da gota é cinética, isto é, toda a energia potencial foi transformada em velocidade ao
longo da queda. Ao impactar com o anteparo, boa parte dessa energia cinética é
dissipada em deformação, o que pode ser avaliado pelo diâmetro da mancha de sangue
resultante da gota. Logo, quanto maior a altura da queda, maior a energia potencial e,
consequentemente, maiores são a velocidade na iminência do impacto e a deformação
da mancha formada.

Em trajetória perpendicular com a superfície do impacto, ao atingir o pavimento,


a deformação da gota resultará, pressuposta mente, em uma mancha circular. A partir
de certa altura, como resultado do impacto e da dissipação da energia, podem ser

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

formadas manchas cujas bordas são coroadas, que normalmente são acompanhadas de
acúleos (projeções espinhosas) e gotas satélites.

Tipos de gotas de sangue coroada e com acúleos.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Ângulos de manchas de sangue 80 graus, 60 graus e 40 graus da esquerda para


a direita e 20 graus na parte inferior do ângulo.

A relação positiva entre a altura de queda e o diâmetro da mancha, entretanto,


não é linear, como seria esperado se a queda ocorresse no vácuo.

A velocidade terminal de uma gota no ar depende de sua massa e sua área


projetada. Consequentemente, depende do volume da gota. Quanto ao diâmetro das
manchas, elas são menores quanto a altura da queda. A superfície sobre a qual o sangue
cai também é um fator de grande influência sobre a morfologia da mancha.

Como regra geral, quanto mais rígida e menos porosa a superfície, menos
deformado é o resultado da mancha, pois a tensão superficial da gota de sangue tende
a se manter nessa situação, apesar da deformação geométrica.

Superfícies salientes e de textura áspera e porosa rompem a tensão superficial da


gota com mais facilidade, aumentando a deformação da mancha. Quando a superfície
é muito rugosa e porosa, as manchas perdem o caráter circular, dificultando a tomada
do diâmetro. Direcionalidade e área de convergência.

A relação entre altura de queda e diâmetro da mancha formada somente pode ser
estabelecida se o ângulo formado entre a trajetória da gota e a superfície-alvo for igual
a 90 graus.

Esta é a situação normalmente encontrada quando uma gota em queda livre,


desprendida apenas pela ação gravitacional, atinge o pavimento, sendo, portanto,
evidentes a direção e o sentido do impacto. Porém nem sempre o ângulo de impacto é
perpendicular à superfície. Quando o ângulo é diferente de 90 graus, a mancha formada
pela gota tende a ser ovalada, ou seja, elíptica. Em uma análise bidimensional, a direção
da trajetória antes do impacto é coincidente com o eixo longitudinal da mancha. Já o
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

sentido é determinado pela extremidade longitudinal mais aguda. Essa mancha angular
pode ser dividida em duas partes, conhecidas por cabeça e cauda.

A cabeça é formada pela porção elíptica da mancha, ao passo que a cauda é a


porção disforme, com projeções agudas. A formação da mancha ocorre da cabeça para
a cauda, sendo o ponto de impacto coincidente com a extremidade da cabeça, oposta à
cauda. Assim, o sentido da trajetória da gota que formou a mancha é o que aponta da
cabeça para a cauda, é muito importante saber a direção e o sentido das manchas de
sangue, pois em um conjunto de manchas, ao traçar linhas sobre o eixo longitudinal de
cada mancha individualmente, será possível notar que tais linhas geram uma área de
convergência comum. Essa área de intersecção é o ponto de origem que, como o nome
já diz, é o ponto que originou as manchas, este ponto pode ser a cabeça de uma pessoa,
por exemplo.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Terminologia e nomenclatura de manchas de sangue como não há uma


nomenclatura padronizada a ser empregada na perícia criminal brasileira, Filho e
Francês (2016) no livro “Introdução à Biologia Forense” propuseram uma
nomenclatura baseada não apenas nos aspectos morfológicos da mancha, mas também
nos mecanismos envolvidos em sua formação, não ignorando os trabalhos consagrados
na literatura internacional. Convido vocês a irem ao anexo B a fim de observarem esta
nomenclatura no disponível Manchas de formação passiva Mancha passiva é aquela
formada por força derivada exclusivamente da aceleração gravitacional, isto é, por ação
da gravidade (gotejamento isolado, gotejamento sucessivo estático, empoçamento,
escorrimento, saturação).

O gotejamento isolado é quando ocorre apenas uma gota, e o gotejamento


sucessivo estático ocorre quando várias gotas consecutivas em queda livre atingem o
mesmo ponto em uma superfície horizontal rígida. O escorrimento é decorrente de
acúmulo sanguíneo em uma superfície inclinada, de tal sorte que o volume flui em
direção à porção mais baixa do pavimento. A formação da mancha por escorrimento
sugere que o fluxo de sangue extravasou mais rápido do que os mecanismos de
coagulação puderam agir. Além disso, manchas de escorrimento sobre um corpo
podem indicar em qual posição a lesão externa passou a ser hemorrágica: se alguém
sofre uma lesão enquanto está em pé, o sangue tende a escorrer verticalmente ao corpo;
quando caído, o escorrimento muda de direção (transversal ao corpo).

Quando um objeto ou uma superfície são porosos, por exemplo estofados, o


sangue tende a não empoçar, mas sim ser absorvido. Nesta situação, formam-se
manchas de saturação, que se caracterizam pelo embebimento ou pela impregnação
saturada do objeto. Manchas de formação ativa as manchas ativas são aquelas formadas
por influência de energia diversa da ação da gravidade, podendo a gravidade exercer
algum papel, mas não exclusivo. São, geralmente, manchas de aspecto dinâmico, e os
tipos mais evidentes são as de transferência e as de projeção. As manchas de
transferência estão entre as mais comuns encontradas em locais de crime e se dividem
em dois tipos: as manchas de contato e as manchas de arrastamento. As primeiras são
resultado da interação por pressão entre duas superfícies, uma das quais impregnada
com sangue, transferindo o material hemático para a outra, sem que ocorra
deslizamento entre elas, é o caso das manchas em formato palmar nas mãos e plantar
nos pés.

As manchas de arrastamento são formadas quando um objeto ensanguentado e


em movimento toca o outro, transferindo o sangue entre eles, formando um esfregaço.
Nestes casos, a extremidade em que o sangue estiver mais concentrado é
provavelmente o polo de início do movimento. À medida que o sangue se espalha sobre
a superfície, a mancha tende a se tornar mais clara.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

As manchas de projeção são formadas por mecanismos dinâmicos que, por


definição, projetam o sangue em uma superfície. Costumam formar um padrão de
respingos cujo tamanho depende da energia que colocou o sangue em movimento,
quanto maior a energia, maior a probabilidade de quebrar a tensão superficial do sangue
e, consequentemente, menores as gotículas originadas e as manchas formadas. Por este
motivo, essas manchas são por vezes classificadas em projeção alta, média e baixa
velocidade.

Manchas alteradas

As manchas alteradas se caracterizam por terem sofrido uma ação secundária


sobre uma mancha preexistente, modificando a configuração original do vestígio. As
manchas de arrastamento, por exemplo, quando sobrepostas a empoçamentos,
escorrimentos ou outros arrastamentos, modificam sua morfologia original, sendo este
um caso típico de mancha alterada. As manchas alteradas por limpeza são o resultado
do deslizamento de uma superfície com outra que já possui uma mancha formada,
alterando suas características. Nas situações em que alguém, na tentativa de ocultar o
acontecimento de um evento, passa a limpar uma mancha de sangue no pavimento, o
resultado dessa tentativa de limpeza é tipicamente de manchas de alteração.

Outra forma de alteração pode ocorrer quando o sangue, na forma de manchas


pequenas, com o passar do tempo, tende a secar e se descolar da superfície de forma
craquelada. Nas manchas originais, o resultado é que apenas a porção cortical
permanece na posição original, isto é, deixam silhuetas de manchas de sangue. Outras
consignações A ausência de sangue em uma área cuja continuidade seria esperada
também deve ser foco de análise pericial. Essa área de sombreamento pode significar
que um objeto esteve no local quando da projeção do sangue e foi removido após o
evento ou pode sugerir a posição do próprio agressor.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Manchas de sangue

Alongamento da gota de sangue.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Aula 5 - ENTOMOLOGIA FORENSE – Parte 1

Sabiam que os insetos podem ajudar a desvendar casos de crime?

Provavelmente sim. Então... vamos entender um pouco como isso acontece?

A entomologia forense pode ser conceituada como a aplicação de conhecimentos


relativos à biologia e à ecologia de insetos com o intuito de responder questões
relevantes para a investigação criminal, ou seja, uma interação entre biologia e o
sistema legal (FILHO; FRANCEZ, 2016).

Dentre os vestígios biológicos que podem ser encontrados em locais de crime ou


mesmo em cadáveres relacionados a alguma atividade criminal, vestígios
entomológicos estão entre os mais negligenciados pelos profissionais de investigação
pericial. Muito provavelmente isso acontece por falta de reconhecimento do potencial
que tais elementos têm para uma perícia, ou mesmo por falta de infraestrutura/expertise
para trabalhar com tal especialidade.

Evidências de insetos podem demonstrar objetivamente várias circunstâncias


relativas ao crime, como o tempo de morte, se houve em algum momento algo
manipulado por animais, se houve uso de entorpecentes (entomotoxicologia), entre
outras. Há ainda a possibilidade de avaliar danos em bens imóveis, a contaminação de
materiais e de produtos estocados, dentre outras aplicações.

Fauna cadavérica

Como é do conhecimento de todos, o Brasil é um país com muita biodiversidade


e cada bioma tem sua fauna e condições locais próprias. Assim, antes da aplicação das
técnicas de entomologia forense, exige-se um estudo das entomofaunas regionais e seus
padrões de sucessão em cadáveres. As estimativas devem ser aferidas de acordo com
os padrões regionais e locais. Os insetos associados a cadáveres estão classificados em:

1. Necrófagos: insetos que se alimentam de tecido em decomposição. Os


principais exemplos são as moscas como dípteros muscoides e os besouros coleópteros.

2. Onívoros: insetos que se alimentam do corpo e da fauna associada, como


formigas e vespas chamadas de himenópteros e alguns parasitas e predadores.

3. Parasitas: insetos que utilizam a entomofauna cadavérica, da qual retiram os


meios para seu próprio desenvolvimento; e os predadores são os seres que se alimentam
das formas adultas e imaturas dos insetos cadavéricos. Nessas duas classificações,
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

podemos encontrar himenópteros parasitando ou predando, coleópteros, dípteros


mucoide e dermápteros vulgo tesourinha.

4. Acidentais: insetos e outros artrópodes que utilizam a carcaça como uma


extensão do seu habitat. São exemplos desses animais os colêmbolos,
as aranhas e alguns ácaros.

Subdivisões da entomologia forense e suas aplicações

Lord e Stevenson (1986), citados por Filho e Francez (2016), classificaram a


entomologia forense em três subdivisões:

1. Entomologia forense urbana: refere-se às ações judiciais envolvendo a


presença de insetos em bens culturais, imóveis ou estruturas. Exemplo: uma pessoa
compra um imóvel e logo depois descobre que ele se encontra infestado de cupins,
obtendo assim um prejuízo. Uma das questões a serem sanadas pela entomologia
forense seria o tempo de infestação, se ocorreu antes ou depois da compra do bem.

2. Entomologia forense de produtos estocados ou armazenados: refere-se à


contaminação, em pequena ou grande proporção, de produtos comerciais estocados.
Exemplo: o comprador de um lote de alimentos infestados por insetos ou pragas pode
exigir do vendedor uma compensação pelo prejuízo. O desafio seria determinar quando
ocorreu a infestação.

3. Entomologia forense médico-legal: refere-se a casos de morte violenta


(crime contra pessoas, acidentes em massa, genocídio etc). A principal contribuição da
entomologia é a estimativa do intervalo post mortem (IPM), apesar de muitas outras
aplicações já terem sido descritas.

4. Entomologia forense ambiental: é a área em que insetos são avaliados como


indicadores ambientais, a julgar por sua biologia e sua diversidade, ou como um bem
jurídico a ser preservado. A caracterização do meio ambiente e dos aspectos que levam
a sua degradação pode ser avaliada pela ecologia dos insetos, de forma que o impacto
ambiental é mensurável por meio da variação de sua população. Insetos também são
alvo de exploração comercial ilegal por uma prática conhecida por biopirataria. Assim,
a repercussão da entomologia forense ambiental afeta a legislação ambiental.

Perceberam como a entomologia forense é ampla?

A seguir, daremos ênfase à entomologia forense médico-legal, que é a mais


comumente utilizada na prática.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Estimativa de Intervalo post mortem (IPM)

Uma das questões mais relevantes em casos de morte violenta é saber/estimar


quando ocorreu a morte. Tal informação pode ajudar na identificação tanto da vítima
quanto do criminoso, eliminando suspeitos e confrontando os dados da vítima com os
de desaparecidos no período da ocasião da morte. Informações investigativas, como
quando a vítima foi vista viva pela última vez, podem indicar um IPM máximo, mas
dependem da identificação da vítima, que nem sempre está disponível. A medicina
legal, por meio de alterações abióticas, tem sido utilizada para elucidar quando ocorreu
a morte (baseando-se no resfriamento corporal, alteração da coloração cutânea,
aparecimento de hipóstases e rigidez cadavérica). Entretanto, segundo Goff e Odom
(1987), citados por Filho e Francês (2016). A precisão dos métodos médico-legais é
inversamente proporcional ao tempo decorrido da morte. Já as estimativas de IPM,
utilizando-se dados entomológicos, têm sua acuidade diretamente proporcional ao
tempo após a morte. Isto é, quanto maior o tempo após a morte, maior a precisão do
IPM baseado em vestígios entomológicos.

As características que os principais grupos de insetos de interesse forense


apresentam e que são úteis na estimativa de tempo de morte são:

Pecilotermia os insetos não controlam sua temperatura corporal, assim, seu


desenvolvimento e seu metabolismo são amplamente dependentes da temperatura
ambiental para sua metamorfose completa

Exemplo: ovo, larva, pupa, adultos e sucessões da fauna cadavérica.

Exemplo: presença dípteros, que são as moscas, e depois de coleópteros, que são
os besouros.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Ciclo de vida da mosca doméstica.

O tempo de duração de cada fase da metamorfose depende da taxa de


metabolismo e, portanto, da temperatura do ambiente. Em tese, conhecendo o estágio
de desenvolvimento do animal e a temperatura ambiental nesse decurso, é possível
estimar o tempo transcorrido até determinada fase e, consequentemente, há quanto
tempo o inseto estaria sobre o cadáver, especialmente em se tratando de espécies cujas
fêmeas põem ovos apenas sobre cadáveres. Esse tempo estimado é extrapolado para a
estimativa de IPM mínimo das larvas de moscas que se alimentam de tecidos em
decomposição, as das famílias Calliphoridae, Sarcophagidae e Muscidae são as mais
comumente vistas pelo seu tamanho, número e ubiquidade. Estas são frequentemente
sucedidas por larvas de besouros das famílias Silphidae e Dermestidae. A estimativa
da idade dos imaturos, ou seja, a larva mais imatura, presente destes insetos é que
elucida um IPM mínimo, pois, com raras exceções, fêmeas adultas das espécies de
interesse não ovipõem em tecidos vivos. Este método, no entanto, não estima um IPM
máximo, pois um período desconhecido se passou entre a morte e a deposição dos ovos
no corpo.

Se associarmos a estas estimativas o fato de que diferentes grupos de insetos


visitam o cadáver com objetivos diversos, como alimentação, reprodução, predação e
em momentos diferentes da decomposição por sucessão da fauna cadavérica, com
alguns grupos chegando nas fases iniciais como os dípteros e outros nas fases mais
tardias como os coleópteros, podemos inferir as estimativas de IPM máximo pelo
somatório do IPM mínimo com o tempo necessário para a chegada ao cadáver daquele
grupo específico de insetos que é a espécie.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Aula 6 - ENTOMOLOGIA FORENSE – Parte 2

Local da morte e transporte do corpo

Os insetos são diversos não só morfologicamente falando, como também em


relação a distribuição geográfica, área de vida, preferência de habitat, nicho ecológico
e características comportamentais. Com base nesta diversidade, é possível verificar se
a vítima foi transportada, isto é, se houve mudança de local após a morte. Algumas
espécies são típicas de ambientes urbanos exemplos: Calliphora Vicina e Lucilia
Sericata, ao passo que Lucilia Caesar tem preferência por áreas rurais abertas, e
Calliphora Vomitoria e Phaonia subventa, por exemplo, apresentam preferência por
ambientes rurais de fisionomia florestal. Assim, a presença de imaturos de espécies
urbanas em cadáveres encontrados em regiões rurais, e vice-versa, é indicativo de
transporte de cadáver de um local para outro.

Maus tratos e abandono de incapaz, lamentavelmente, as vítimas mais frequentes


dessas infrações são crianças e idosos. Quando carecem de cuidados, podem apresentar
ferimentos decorrentes de atividades não monitoradas, em crianças, ou do atrito e apoio
do corpo sobre superfície por períodos muito longos, em idosos. Estes ferimentos,
quando não cuidados, são frequentados por moscas, que ali colocam seus ovos. Em
pouco tempo, tais feridas estão infestadas por larvas de dípteros se alimentando dos
tecidos vivos e formarão a chamada miíase.

Informações acerca da biologia e da história natural de insetos parasitários


podem fornecer dados à investigação de um caso de maus tratos. Para isso, é necessário
responder uma pergunta fundamental:

As larvas se instalaram no corpo antes ou depois de sua morte?

Comparar o tempo de desenvolvimento dessas larvas com o tempo de morte do


indivíduo pode ser um caminho para respondê-las. Porém, a estimativa de IPM que
será comparada com a idade das larvas de miíase deve ser lastreada em métodos
descritos pela medicina legal ou a partir de larvas de espécies cujas fêmeas procedam
a oviposição apenas em cadáveres. Algumas famílias de dípteros apresentam espécies
causadoras de miíases, como Calliphoridae, Sarcophagidae e Oestridae, dentre outras
(FILHO; FRANCEZ, 2016).

A verificação do período de abandono de criança ou incapaz também pode ser


feita por meio da análise do tempo de desenvolvimento larval de imaturos presentes no
conteúdo fecal da fralda da vítima. Apesar de a entomologia forense ser capaz de

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

revelar informações de grande valia para as investigações, quando há suspeita de maus


tratos, a prática ainda é pouco difundida no Brasil.

Crimes sexuais seguidos de morte

Nestes crimes, não raramente o sêmen permanece na região da vagina e do ânus


da vítima, viva ou morta. Uma vez que moscas colonizam cadáveres ovipondo em
ferimentos e orifícios naturais, como vagina e ânus, é de se esperar que as larvas que
se alimentam dos tecidos da região genital ingerem também sêmen do criminoso.

Tendo isso em mente, Clery (2001), citado por Filho e Francez (2016), realizou
testes em laboratório visando detectar a presença de sêmen no trato digestório de larvas
de Lucilia Sericata. O autor encontrou resultados positivos em imaturos de 48 horas de
idade e foi possível encontrar o perfil genético para quatro marcadores de herança
paterna, mesmo dois dias após a colonização por moscas. Tendo em vista que a maioria
das vítimas são mulheres e que estas não apresentam cromossomo Y, fica evidente o
contato sexual da vítima com um homem no período adjacente ao óbito.

Chamoun(2014), citado por Filho e Francez (2016), realizou pesquisas


semelhantes utilizando porcas (Sus scrofa) como modelo. O autor inoculou sêmen
humano na região vaginal, logo após o abate, e avaliou o trato digestório de imaturos
de Chrysomya Albiceps coletadas em experimentos insistiu mesmo após 14 dias de
decomposição.

Conseguiu demonstrar a viabilidade de recuperação e amplificação de locos de


STR de cromossomo Y humano, assim, é possível comparar o perfil genético obtido
das moscas com o do suspeito, ou constatar a presença de sêmen na região genital da
vítima morta há dias.

Entomologia forense molecular


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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

A identificação genética de espécies de insetos empregando as técnicas de


biologia molecular, apesar de mais cara, permite uma rápida conclusão do laudo
pericial, sem a necessidade de criar os espécimes até a fase adulta. A entomologia
forense molecular utiliza as técnicas de biologia molecular para identificação de insetos
ou partes destes, ou usa o DNA humano presente no trato digestivo destes animais,
estas são as mesmas técnicas utilizadas para casos de entomologia molecular, diferindo
apenas o objetivo dos testes).

Entomotoxicologia

A entomotoxicologia busca estudar o efeito de diferentes substâncias na taxa de


desenvolvimento de insetos para ajustar a previsão do intervalo decorrido desde a
morte e também determinar a presença de xenobióticos nestes insetos de maneira a
auxiliar na identificação da causa da morte (INTRONA, 2001).

De acordo com Gagliano-Candela (2001), citado por Filho e Francês (2016),


uma das aplicações mais interessantes da entomotoxicologia é, indiscutivelmente, a
identificação de traços de substâncias químicas, tais como entorpecentes,
medicamentos ou venenos, a partir dos insetos presentes em um cadáver ou de seus
remanescentes, isto se deve ao fato de que, a medida em que insetos necrófagos
presentes no cadáver se alimentam de seus tecidos orgânicos, acabam por incorporar
em seu próprio organismo certa quantidade das substâncias presentes no corpo da
vítima.

Tratamento de material entomológico

A técnica a ser empregada e o material a ser utilizado dependerão da espécie e


da fase de desenvolvimento do inseto a ser coletado.de forma geral, os espécimes
adultos são coletados com o uso de rede entomológica e conservados em meio líquido
(álcool etílico a 70%), exceto os insetos cuja cor é relevante na identificação, pois,
neste meio, podem sofrer perda de coloração.

Os ovos devem ser coletados com pinça e acondicionados sob papel de filtro
umedecido em um recipiente de vidro, tal como uma placa de Petri. Os imaturos que
são larvas e pupas podem ser divididos:

Uma parte conservada em álcool etílico a 70% e a outra, em recipiente de


plástico ou vidro transparente, com uma abertura coberta com gaze ou outro tecido
fino.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

O recipiente deverá conter serragem ou vermiculita umedecidos para manter a


viabilidade dos espécimes até a chegada ao laboratório e posterior criação.

Rede entomológica.

Transporte

Se o material entomológico tiver de ser transportado por um período de tempo


significativo, é importante manter controladas a umidade e a temperatura do interior
do recipiente no qual será transportado e, se necessário, deve-se fornecer uma fonte de
proteína para as larvas. Em geral, utiliza-se carne bovina, suína ou ração úmida à base
de vísceras para gatos.

Criação

As larvas devem ser mantidas em um recipiente com vísceras, carne moída,


ração de cachorro ou de gato que contenham carne ou dieta artificial, com o intuito de
simular o ambiente nutricional de um cadáver. Os recipientes podem ser sacos plásticos
ou “zip lock” perfurados, para ventilação. Devem ser colocados no interior de outro
recipiente contendo serragem umedecida, areia estéril ou vermiculita no fundo e uma
tampa vazada, e fechado com tecido de malha fina. Todos os frascos devem ser
colocados dentro de recipientes contendo água com sabão, azeite ou óleo, para evitar
o ataque de formigas.

Identificação

A identificação do material entomológico é a etapa mais complexa do trabalho


do perito em um caso que envolve a entomologia forense, visto que, para fazer uma
identificação precisa deste material, é necessário o domínio de técnicas de taxonomia
e sistemática, bem como anos de experiência estudando diferentes grupos de insetos
de interesse forense, particularmente suas características morfológicas.
4
BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Aula 7 - BOTÂNICA FORENSE

Botânica Forense

A Botânica Forense é uma área das ciências criminais que aplica os


conhecimentos relacionados às plantas ou qualquer outro ente botânico na resolução
de crimes.

Frequentemente há plantas nos locais de crime, e sua presença pode ajudar


a solucionar o caso em questão.

A botânica forense é uma área relativamente “subestimada”, mas isso se deve


também à falta de conhecimento sobre o assunto, que, diga-se de passagem, é bem
complexo e detalhista. Poucos são os peritos especializados na área. Aspectos gerais
do reconhecimento botânico em locais de crime muitas vezes, o local de crime
corresponde a um ambiente externo, com grande variedade de plantas, possibilitando
ao perito criminal usar termos genéricos para descrevê-lo, como floresta, selva, mata,
bosque, campo, brejo etc.

Essa descrição pode ser enriquecida por pormenores das plantas observadas,
começando com a classificação por hábitos. Assim, temos as ervas como plantas com
caule não lenhoso, os arbustos que são plantas lenhosas com caules e ramos, cujos
eixos aparecem conjuntamente a partir do solo e as árvores que são plantas lenhosas
com caules e ramos, mas com um tronco principal.

Quando o local é um campo, é interessante observar se ocorre apenas um estrato


herbáceo, ou se também temos um arbustivo. Se o local for uma floresta, iremos
identificar inúmeros estratos, inclusive mais de um por tipo de hábito. Os estratos
superiores são, obviamente, formados por árvores acima de 5 metros, sendo o mais alto
chamado dossel – situação em que as copas das árvores se tocam.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Também é possível relacionar as plantas presentes a seus grandes grupos:

1. Briófitas: plantas pequenas, encontradas em ambientes úmidos, que têm


como representante principal os musgos.

2. Pteridófitas: plantas vasculares (com células condutoras), que apresentam o


corpo diferenciado em raiz, caule e folhas. Neste grupo, na face inferior das folhas,
verificamos os esporângios (nos quais ocorre a produção de esporos), de fácil
observação nas samambaias.

3. Gimnospermas: plantas vasculares,que podem alcançar grande altura e cujas


sementes são encontradas nos estróbilos, como os cones dos pinheiros.

4. Angiospermas: plantas vasculares com flores, frutos e sementes, com grande


variação morfológica, abrangendo gramíneas, palmeiras, orquídeas, rosas, árvores
tropicais etc.

Importância do nome Científico

No laudo pericial, recomenda-se que o perito apresente o nome popular seguido


do nome científico. Como nomes populares são designados de acordo com a população
de uma região, um mesmo nome pode significar plantas diferentes ou do mesmo
gênero, e vice-versa. Além disso, uma mesma planta pode ter múltiplos nomes. Aí está
a importância do nome científico, que é exclusivo e padronizado internacionalmente.

Estado e situações das plantas

Ao analisar plantas que apresentam fraturas, corte, carbonização e outros danos,


é importante considerar a parte da planta afetada. Ramos fraturados e vegetação
forrageira compactada são indicativos da passagem de indivíduo(s). Apontar o estado
de ressecamento ou de decomposição também pode ser relevante para as circunstâncias
que culminaram com o crime. Portanto, o estudo da morfologia externa pode auxiliar
tanto na identificação quanto na avaliação do estado e da situação das plantas. Ao
descrever o material vegetal, é necessário citar características de suas partes (também
chamados órgãos) que são: folha, fruto, flor, caule e raiz.

Folhas

Primeiramente de posse de um ramo, podemos considerar a disposição das folhas


no caule, que recebe o nome de filotaxia. Na filotaxia alterna, as folhas colocam-se em
níveis diferentes no caule. Na filotaxia oposta, duas folhas se posicionam ao mesmo
nível, mas em oposição. Na filotaxia verticilada, três ou mais folhas dispõem-se ao
redor do mesmo nó.
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Macroscopicamente, podemos também classificar o tipo de venação, ou seja, o


arranjo dos feixes vasculares das veias/nervuras. Para fins didáticos, os dois tipos
principais são o reticulado reticulinérvea, comum em dicotiledôneas, que é um sistema
de ramificações com nervuras delgadas e divergem de outras de maior calibre e o
paralelo paralelinérvea, comum nas monocotiledôneas, que apresenta nervuras de
calibre uniforme dispostas no sentido longitudinal. Flores, frutos e sementes

De acordo com Souza e Lorenzi (2005), citado por Filho e Francez (2016) uma
grande vantagem da presença das flores é a possibilidade de identificação mais segura
em relação à espécie, uma vez que a taxonomia tradicional das angiospermas se apoia
de modo substancial nos caracteres florais, que são constantes para cada espécie, mas
variados entre elas.

A primeira característica que nos chama atenção numa flor são as pétalas. O
conjunto de pétalas, que pode ser formado por duas, três, quatro ou cinco pétalas, em
uma ou mais séries, e cujas flores recebem o nome de dímera, trímera, tetrâmera ou
pentâmera. Por exemplo, as monocotiledôneas são caracterizadas pelas flores trímeras.

Outra característica simples de ser observada se refere à apresentação das


pétalas. Se cada pétala se encontra livre uma da outra, classificamos a flor como
dialipétala ex.: lírio. Do contrário, se as pétalas estão unidas na base ou de modo a
formar um tubo, a flor será gamopétala ex.: azaleia. Uma informação valiosa para casos
forenses é o variado arranjo das plantas quanto à sexualidade. Assim, temos as flores
divididas em monóclinas que possuem os sexos masculino e feminino e díclinas que
os sexos se encontram em flores diferentes.

Quanto às plantas, se apresentarem flores monóclinas, são ditas hermafroditas.


Mas se numa mesma planta, encontrarmos flores díclinas, ou seja, masculinas e
femininas separadamente, será chamada de monóica e se encontrarmos flores
femininas numa planta e masculinas em outra, esta será dioica. Por fim, se uma mesma
planta apresenta flores monóclinas e diclinas, ela será chamada poligâmica.

Vamos pensar que um perito criminal encontre folhas e flores nas vestes de um
suspeito da autoria de um estupro e, quando comparadas às folhas e flores de uma
amostra coletada no local do crime, elas apresentem resultado coerente ou positivo.

Qual seria sua conclusão a respeito?

Poder-se-ia simplesmente apresentar este resultado e incriminar o suspeito.

Porém, digamos que, após uma segunda análise de um perito taxonomista,


descubra-se que na amostra do local há flores femininas e na outra, do suspeito, flores
masculinas. E, ainda, que a espécie apresente as formas dioica e poligâmica. Diante
3
BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

dessas informações, o perito retorna ao local do crime e verifica que todos os arbustos
dessa espécie produzem somente flores femininas, tratando-se da forma dioica. Logo,
o resultado preliminar estaria equivocado.

Caules e raízes

O caule é uma estrutura alongada, que cresce em altura pela atividade da gema
terminal, dividida em nós e entre nós. Da região dos nós, saem as folhas e as gemas,
chamadas axilares ou laterais, que em atividade formam as ramificações regulares por
meio da atividade das gemas axilares (laterais). Encontramos muitos tipos de caules:
eretos, como na palmeira, rastejantes, como no morango, ou de reserva (caules
subterrâneos), como na batata. Observar atentamente que as folhas e ramificações
partem deles é um modo de evitar confundi-los com as raízes. Além disso, o exame da
morfologia interna também é capaz de distingui-los. As raízes são órgãos
predominantemente subterrâneos, que apresentam ramificações irregulares e pelos
absorventes. Nas monocotiledôneas, a raiz primária se degenera e o sistema radicular
se apresenta como uma estrutura composta de numerosas raízes semelhantes, que
partem do caule que são raízes adventícias. Nas eudicotiledôneas, a raiz primária cresce
de modo a formar um eixo pivotante, principal, de onde partem as raízes laterais,
normalmente mais finas.

Coleta e preservação

De forma geral, o que se espera da análise de amostras forenses é a obtenção de


informações que liguem o suspeito à vítima e ao local do crime. Para isso, comumente,
invoca-se a comparação entre amostra referência e amostra questionada.

No tópico sobre Genética Forense, a amostra referência é de origem conhecida


e serve de padrão num confronto, e a amostra questionada nada mais é do que os
materiais de interesse pericial coletados e cuja origem é desconhecida. Ou seja, os
mesmos conceitos são aqui utilizados, mudando apenas o material a ser analisado,
idealmente, em se tratando de Botânica Forense, tanto as amostras questionadas quanto
às amostras referência, devem ser analisadas a fresco.

No entanto, amostras forenses raramente se apresentam da forma ideal, e os


vestígios botânicos não são exceção. Salvo vestígios botânicos chegam para análise
como fragmentos ressecados ou como resíduos em decomposição. O material seco
pode ser prontamente analisado e hidratado para posterior observação da morfologia
interna. Já do material decomposto, pouca informação pode ser extraída.As ocasiões
em que o material vegetal possa ser coletado fresco, no próprio local, oferecem a
melhor condição de preservação das características.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

As herbáceas e outras pequenas plantas podem ser coletadas integralmente.


Ramos com folhas, flores e frutos devem ser coletados por meio de tesouras. Para
coleta de ramos das arbóreas, cuja altura é um complicador, deve-se usar uma tesoura
de alta poda. Uma vez coletadas, as amostras devem passar por uma análise descritiva
inicial, seguida de um procedimento de preservação (a fim de deter os processos de
decomposição). Portanto, deve-se retirar a água do material, herborizado-o, ou mantê-
lo em algum líquido de preservação, como o álcool 70%.

A herborização destina-se à preservação integral de herbáceas e de partes de


plantas maiores, como ramos contendo folhas, flores e, em alguns casos, frutos e
sementes. O estudo posterior desse material, acompanhado das informações da área da
coleta, da data e de outras características da planta que foram perdidas com o tempo,
possibilita a identificação de sua espécie.

Anatomia vegetal

Em algumas situações, a análise morfológica (macroscópica) do vestígio não


permite identificar as características relevantes para a perícia. O principal motivo,
embora tenha outros, é a carência do material disponível para exames. Nestas situações,
a análise microscópica da organização celular e tecidual pode ser um caminho para
atingir os objetivos da perícia. A este ramo da perícia dá-se o nome de anatomia vegetal
(FILHO; FRANCEZ, 2016).

Uma vez que as amostras são compostas por partes mortas dos vegetais, muito
do conteúdo celular já foi eliminado, e a análise forense estará circunscrita ao exame
das paredes das células vegetais, cuja rigidez facilita o estudo da organização estrutural.
Todas as paredes celulares são constituídas por celulose e alguns tipos de células
possuem paredes incrustadas pela lignina, que lhes confere maior resistência mecânica,
química e biológica.

A observação anatômica depende de procedimentos de preparação de lâminas,


que envolvem a secção do material e sua coloração. O primeiro consiste na produção
de cortes finos o suficiente para que a luz possa passar através deles durante a
observação em microscopia de luz. O segundo resume-se a uma maneira de intensificar
os contrastes entre as estruturas para facilitar a observação. Cortes finos podem ser
realizados, a princípio, transversalmente em qualquer tipo de material, e os mais rígidos
e os difíceis de manipular devem ser levados a um laboratório da área para inclusão em
parafina ou resina, a fim de que seu seccionamento seja produzido em micrótomo.

Nos casos em que o material é pequeno e pouco rígido, como folhas, caules, e
raízes finas, pode-se proceder ao corte manual. Para isso, deve-se encaixar o material
entre dois pedaços de isopor ou madeira balsa, aparando as arestas de modo a montar
um "sanduíche" e igualando a superfície a ser cortada. Com um pouco de água, desliza-
5
BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

se a lâmina obliquamente, de modo a retirar cortes transversais diretamente para um


recipiente com água (recomenda-se vidro de relógio).

Para acentuar os contrastes entre os componentes das células, procede-se à


coloração do material e, na sequência, à montagem de lâminas temporárias com
glicerina ou permanentes com bálsamo do Canadá e afins, realizado o corte transversal,
o corpo de uma planta possui três sistemas de tecido:

a. Sistema dérmico: responsável pelo revestimento do órgão, formado pela


epiderme no corpo primário ou pela periderme, no caso das plantas que apresentam
corpo secundário. Em geral, as células da epiderme possuem apenas parede primária.

b. Sistema fundamental: denominado córtex ou medula, corresponde ao


parênquima, que pode ser fotossintetizador que é o clorofiliano ou ter função de
preenchimento, reserva nutricional de amido, de água etc. As células parenquimáticas
com paredes primárias.

c. Sistema vascular: formado pelos tecidos condutores xilema e floema,


organizados em cilindros, cordões ou feixes vasculares no corpo primário, e em
camadas de crescimento no corpo secundário. Enquanto o xilema é reconhecido por
suas células condutoras longas e lignificadas que são traqueídes e elementos de vasos,
que possuem parede secundária, o floema apresenta células condutoras não
lignificadas, curtas ou longas que são células crivadas e elementos do tubo crivado.
Além disso, o xilema ocupa posições mais internas em relação ao floema. Com estes e
outros conhecimentos, o perito consegue identificar e individualizar as espécies
encontradas no local do crime, podendo confrontá-las com os vestígios por vezes
encontrados em vestes ou objetos de vítimas e/ou suspeitos.

Contribuição da Botânica Forense na elucidação de casos Periciais.

Muitos imaginam que a Botânica Forense não contribui muito para a perícia
criminal. Se você ainda tem esta ideia em mente, vou te mostrar que esta é apenas uma
falsa impressão!

Veja abaixo algumas áreas de atuação da Botânica Forense:

a. Dendrocronologia: identificação da idade de uma árvore, tendo como base a


contagem dos círculos ou anéis dos troncos das árvores, muito útil em casos de crimes
ambientais;

b. Limnologia: estuda a água doce no que diz respeito a suas condições ou


aspectos químicos, geológicos, biológicos, físicos, meteorológicos ou ecológicos. Pode
ser útil em uma imensidão de casos periciais que envolvam água doce, seja casos
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

criminais ambientais como contaminação de rios, lagos e etc, ou em casos criminais


como afogamentos;

c. Ficologia: estuda as algas. O estudo das algas pode ser útil, por exemplo, quando for
encontrado um tipo de alga no interior corpo de uma vítima, sugerindo que o óbito foi
por afogamento em local que possui aquele tipode alga encontrada;

d. Palinologia: estuda a constituição, dispersão e classificação dos grãos de pólen e


esporos. Esta é uma das áreas da botânica mais importantes para casos periciais. Isso
porque os pólens além de serem encontrados em grande quantidade no ambiente, são
muito resistentes à deterioração;

e. Casos de fraude alimentar: uso de drogas ou envenenamentos por meio do


encontro de toxinas vegetais em alimentos ou no estômago de um indivíduo, por
exemplo.

Além de uma infinidade de outros exemplos, como encontro de qualquer parte


vegetal em vestes, calçados, partes do corpo, locais internos ou externos ao crime, seja
em suspeitos ou na própria vítima, análise da botânica forense em calçado.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Aula 8 - Odontologia Legal

A Odontologia Legal é a disciplina que oferece à Justiça os conhecimentos da


Odontologia e suas diversas especialidades.

Apresenta ao menos três áreas precípuas de atuação:

A. Exame diagnóstico e terapêutico, bem como avaliação dos danos de maxila,


mandíbula, dentes e tecidos moles da boca;

B. A identificação de indivíduos encontrados em investigações criminais e/ ou em


desastres em massa;

C. A identificação, o exame e a avaliação de mordeduras que aparecem, com


frequência, em agressões sexuais, maus-tratos infantis e em situações de defesa
pessoal, por exemplo.

No entanto, seu campo de atuação é bem mais amplo, incluindo o estudo de toda
e qualquer agressão direcionada à região da cabeça e do pescoço, analisando os danos
fonéticos, mastigatórios e estéticos, além da estimativa de idade de cadáveres não
identificados.

A lei n° 5081/1966 regulamenta o exercício da Odontologia no Brasil. No seu


art. 6°, inciso IV, há a autorização legal para o dentista atuar como perito criminal:

“Art. 6°Compete ao cirurgião-dentista: IV- proceder à perícia odontolegal em


foro civil, criminal, trabalhista e em sede administrativa.” (BRASIL, 1966).

Normalmente, o odontolegista trabalha nos Institutos Médico-Legais (IML) ou


congêneres. No IML, os odontolegistas ficam restritos à regionalização da cabeça e
pescoço, abrangendo as perícias no vivo, no morto, nos esqueletos como encontro de
ossadas, em fragmentos, trabalhos encontrados, peças dentárias isoladas e/ou vestígios
lesionais. Fora dos Institutos Médico-Legais, os odontolegistas podem ter suas
atividades mais atreladas ao Direito Penal, ou auxiliando a justiça ao atuar junto às
varas cíveis e trabalhistas. Embora a opinião popular tenda a achar que o papel do
odontolegista se restrinja a exame de carbonizados, acidentes e /ou de cadáveres
vítimas de acidentes em massa, essa não é a realidade. É bem verdade que, há alguns
anos, a Odontologia Legal não passava de uma utopia, contudo, com o tempo, vem se
consolidando.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Então, vamos falar um pouco da Odontologia Legal nos tempos de hoje…


atualmente, para casos problemáticos de identificação, o odontolegista conta com uma
série de subsídios que não existiam no início do século XX, quando tudo era feito de
maneira quase que artesanal. Hoje em dia conta-se com tecnologia de ponta, de acesso
relativamente fácil, mesmo que nem sempre disponível nas dependências públicas em
que se desenvolvem as perícias.

Nessa linha, podem-se utilizar:

A. Estudos de racemização de aminoácidos, notadamente do ácido aspártico: O


ácido aspártico é um integrante da dentina que tem sido utilizado para estimar a
idade. É o aminoácido que tem o maior índice de racemização. Foi demonstrado
que, comparando-se os índices de ácido aspártico nos dentes, é possível ter uma
boa estimativa de idade das pessoas. Os índices mais elevados, naturalmente,
são encontrados em pessoas mais jovens. Este método é mais acurado do que os
métodos convencionais.

B. Estudos histológicos das estrias de Retzius (linhas de tensão) e das linhas de


deposição:As estrias de Retzius são observadas no esmalte dos dentes e
representam o efeito de fatores tensionais sobre os prismas, e pode ser utilizado
reforçando os padrões de erupção, pelo menos em populações jovens.

C. Microscopia eletrônica de varredura, com ou sem análise de difração de raios X:


Em combinação com a histologia dentária, é utilizada na estimativa de idade de
restos não identificados. Não é um aparelho de fácil acesso por conta do custo,
mas é uma possibilidade.

D. Análise comparativa de proporções de metais em ossos e dentes: A necessidade


de conhecer a identidade de origem de ossos esparsos inclusive crânio ou ossos
misturados levou ao desenvolvimento de procedimentos de natureza analítica,
como a análise da relação proporcional de certos metais. É o caso, por exemplo,
dos índices magnésio/zinco (o melhor) e cromo/sódio (complementa o anterior).
Este procedimento não substitui os métodos antropológicos convencionais.

E. Estudos sorológicos para tipagem sanguínea, proteínas séricas e polimorfismos


enzimáticos: Trabalha-se com as polpas dentárias, nas quais podem ser
caracterizados os grupos sanguíneos do sistema ABO, algumas proteínas séricas
e enzimas polimórficas.

F. Análise do perfil de DNA: Normalmente, os dentes são enviados para o setor de


genética forense e utilizando as técnicas de biologia molecular, como discutidas
no tópico sobre Genética Forense, do Capítulo 2, Unidade I, o DNA é extraído
e posteriormente analisado.
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

A Perícia em Odontologia Forense

Para obter a identificação de um indivíduo por meio da Odontologia Legal, o


mais importante é poder fazer um estudo minucioso da dentadura questionada, de modo
a poder captar o maior número de informações para sua caracterização.

Lembra-se do conceito de amostra questionada?

No caso de ossada, é muito mais simples e é possível estudar ambos os arcos,


superior e inferior, separadamente. Já quando se tratar de um cadáver fresco, completo
ou de uma cabeça decepada, dever-se-á proceder à retirada do arco maxilar e do arco
mandibular, para facilitar o manuseio, obtendo toda a informação dental, inclusive
permitir a tomada de radiografias

Radiografia panorâmica em Odontologia Forense.

Uma vez concluído o estudo das peças isoladas, articulam-se os arcos com o
auxílio de massa plástica, e se toma uma radiografia panorâmica, que complementam
as primeiras, mostrando um alto número de pontos de grande valor na identificação.
Estas radiografias ainda são úteis a título de comparação com radiografias realizadas
em consultas clínicas prévias. No caso específico de cadáveres carbonizados, tanto os
dentes sadios como aqueles que tenham sido alvo de tratamentos restauradores resistem
bastante à ação do calor, quando a boca permanece com os lábios fechados, dos
materiais protéticos, a amálgama é o mais frágil ao calor.

Já as porcelanas, os compostos de resinas + minerais, os cimentos e o ouro são


resistentes ao calor que se fundem entre 800 e 1400 graus.
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Nas peças dentárias submetidas, de forma isolada, diretamente à ação do fogo


podem produzir-se fissuras já a 150 graus, sob temperaturas de 270 graus, as raízes se
tornam de cor negra; com 400 graus ocorre a queda espontânea da coroa quando o
dente está sadio ou, então, a coroa se pulveriza, quando existem cáries e infiltrações.
A 800 graus carboniza-se o esmalte, que se torna azul; a dentina é mais resistente ao
fogo. As raízes dos dentes calcinados mostram-se curvados, podendo levar a confusão
com a dos animais.

Via de regra, em casos que envolvem Odontologia Forense, é recomendada a


retirada de radiografias post mortem para posterior comparação com radiografias de
arquivos clínicos obtidos antes da morte

Ficha odontológica para identificação forense

Existem diversos modelos de fichas odontológicas, não havendo um modelo


específico, no entanto, algumas características são essenciais:

1. Fácil manuseio e entendimento.

2. Conter espaço suficiente para recolher todos os dados identificadores, como:

A. Falta de peças dentárias;


B. Alterações, congênitas ou adquiridas, das peças dentárias remanescentes;
C. Restaurações odontológicas;
D. Obturações;
E. Próteses, fixas e móveis;
F. Radiografias obtidas etc.

Conter os seguintes tópicos, ao menos:

A. sistemas de numeração das peças dentárias;


B. diagrama para o registro das particularidades morfológicas das coroas de cada
dente;
C. um local para registrar, se necessário, algumas características odontológicas de
especial interesse, como radiografias, próteses, obturações, restaurações etc.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Funções fonéticas, estéticas e mastigatórias

Bom, a perícia odonto forense exige que sejam levados em conta os valores das
funções mastigatórias que é apreensão, corte e trituração do alimento, estéticas –
aparência – e fonéticas – emissão de sons e articulação das palavras, inclusive, é um
erro frequente dos peritos, quando respondem aos quesitos relativos à debilidade e à
perda funcional, levarem em conta apenas os índices mastigatórios relativos às peças
dentárias lesadas, omitindo os coeficientes estéticos e fonéticos da vítima.

Identificação Odontolegal: marcas de mordidas e Antropologia Forense


Marcas de mordidasEm Odontologia Legal, consideram-se mordidas as marcas
impressas na pele de pessoas vivas, de cadáveres ou sobre objetos inanimados
relativamente moles, por meio de dentes de humanos ou de animais.

Como isso pode ajudar a perícia?

As marcas ou impressões deixadas pelos dentes ou qualquer outro elemento duro


da boca como pontes móveis, aparelhos ortodônticos etc. sobre um suporte possuem
características individualizadoras incontroversas, que podem ser utilizadas na
identificação da pessoa que provocou a lesão, partindo-se do pressuposto que esta
impressão é única para cada indivíduo visto que a dentadura é única e individual.

Assim, para analisar uma mordida, serão utilizados o exame cuidadoso da lesão,
medições e comparações minuciosas, de modo a poder comparar com as características
próprias dos arcos dentais do suspeito

Medição de marca de mordida com régua graduada.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Além da identificação do agente, quatro pontos fundamentais na investigação


forense podem ser elucidados pela análise das marcas de mordidas. São eles:

A. Violência da agressão.

B. Precedência ou sequência na produção das mordidas, quando mais de uma.

C. Reação vital das lesões, para determinar se foram produzidas em vida ou pós
morte.

D. Data aproximada das mesmas, isto é, tempo transcorrido entre sua produção e o
exame.

Bom, o problema é que a análise de mordidas apresenta algumas dificuldades:

A. Por vezes as mordidas passam inadvertidas durante o exame Peri necroscópico


(exame externo).

B. Trata-se de lesão que se altera com o tempo.

C. Os padrões de mordidas são bastante variáveis, já que se trata de uma ação de


dois instrumentos móveis: a mandíbula e a pele.

D. A pele não é um suporte adequado para conservar as marcas de mordida, nem


para facilitar a colheita de impressões.

Dessa forma, é fundamental o reconhecimento rápido das mordidas, uma boa


técnica de colheita de impressões e uma avaliação minuciosa de todas as evidências,
para o sucesso na análise de mordidas. Além disso, é imprescindível seguir os três
passos minuciosamente:

A. Reconhecimento da mordida e colheita do material, por moldagem, para análise


ulterior.

B. Colheita de amostras do(s) suspeito(s) e moldagem.

C. Confronto das marcas de mordidas com as amostras obtidas do(s) suspeito(s).

Moldagem da mordida

Em todos os casos em que a mordida provoca lesões corto-contusas ou


lacerações na superfície cutânea, a moldagem de tais lesões podem ser feitas com o
auxílio de materiais de moldagem de alta precisão, do tipo silicone ou vinil
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

polisiloxano. Esse material de moldagem de precisão pode ser reforçado pela aplicação
sobre ele de um material mais duro e rígido, como o gesso, para evitar que a impressão
sofra deformações. O positivo da impressão original deverá ser executado com um
material adequado que é o gesso, de modo a colocar a “mordida” no articulador. Em
casos de levantamento de lesões de mordida em cadáveres, pode-se dissecar a pele na
área da mordida ou fazer uma retirada, em bloco, da área da mordida, seguida da
fixação pelo formol tamponado.

Mordidas sobre objetos

Marcas de mordidas podem ser encontradas sobre objetos inanimados perecíveis


como frutas, queijos etc, que deverão ser conservados em sacos de plástico herméticos
no refrigerador a 4 graus. Como sobre esses objetos inanimados também podem
encontrar-se restos de saliva, sua colheita deve ser prévia a qualquer manipulação sobre
a peça. Para fazer o exame comparativo posterior, deve-se fotografar e tomar a
impressão das mordidas com material de moldagem de precisão (ex.: silicone).

Colheita de amostras do suspeito

Para possibilitar a comparação das marcas, torna-se necessária a colheita de


amostras do(s) suspeito(s), caso exista(m), incluindo:

A. Mordidas em lâmina de cera;

B. Moldagem dos arcos dentários, superior e inferior;

C. Colheita de saliva ou de células da mucosa oral;

D. Colheita de sangue.

Os positivos, em gesso, dos arcos dentais superior e inferior deverão ser


montados no articulador, verificando se a mordida na cera se adapta aos mesmos.

Comparação das marcas de mordida com as moldagens do(s) suspeito(s)

A comparação entre as marcas de mordidas colhidas na vítima ou em objetos e


as moldagens obtidas a partir do suspeito inclui duas etapas:

A. A análise métrica da mordida na vítima deverá ser feita sobre as fotografias que
têm a régua graduada sobre os modelos em alginato ou em gesso e sobre as
mordidas em cera, e deverá repetir-se sobre o material da vítima e o material
do(s) suspeito(s).
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

B. Associação e comparação da forma da lesão com a forma dos dentes do(s)


suspeito(s):

C. comparação física da forma da lesão com a dos dentes do suspeito.

D. análise das rotações dentárias;

E. verificação das posições de cada peça no respectivo arco;

F. registro de ausência de peças, distância entre as peças, curvatura dos arcos,


outras características individualizadoras (fraturas, restaurações etc.).

Comparação da lesão em forma de mordida com a moldura da dentadura suspeita.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Aula 9 - Antropologia Forense

A Antropologia Forense é uma das áreas de maior atuação do odontolegista e é


de suma importância para a perícia criminal. É uma área conjunta da Medicina Legal
e da Odontologia Legal. Em sentido amplo, a antropologia representa o estudo do
homem em sua totalidade, física e socioculturalmente, abrangendo o enfoque de outras
ciências que têm como centro o ser humano.

A antropologia é a ciência que estuda o homem num âmbito cultural e físico,


considerando igualmente suas relações. Por outro lado, o termo “forense” implica uma
ciência aplicada à Justiça. Logo, a Antropologia Forense é a aplicação legal da ciência
antropológica, com o objetivo de ajudar na identificação de cadáveres e na
determinação da causa da morte. Este ramo da antropologia é aplicado quando existem
danos nos cadáveres, tais como decomposições, amputações, queimaduras graves ou
qualquer outro elemento que cause a deformação do corpo a ponto de torná-lo
irreconhecível.

A Antropologia Forense pode fornecer importantes subsídios para o


esclarecimento de crimes, bem como a identificação de ossadas humanas e não
humanas, além dos casos de exumação (ossadas exumadas), quando de alguma forma
restarem dúvidas nas autoridades investigatórias.

Alguns de vocês podem estar se perguntando: “o que é exumação?”

A exumação é o ato de desenterrar um cadáver. Tem por finalidade atender a


dúvidas da Justiça em relação a uma causa de morte passada despercebida, esclarecer
algum detalhe, confirmar um diagnóstico ou uma identificação.

A identificação antropológica é efetuada quando se depara com a necessidade de


se reconhecer a espécie, a raça, o sexo, a idade e a estatura.

Vocês sabem qual o método de identificação mais utilizado na atualidade?

É a identificação papiloscópica (método datiloscópico de Vucetich), uma vez


que contempla todos os requisitos biológicos (os três primeiros) e os técnicos (os dois
últimos) da identificação:

A. Unicidade = individualidade (apenas um indivíduo pode tê-los);


B. Imutabilidade = os caracteres não mudam com o passar do tempo;
C. Perenidade = os caracteres têm a capacidade de resistir à ação do tempo;
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

D. Praticabilidade = método simples, de fácil obtenção, registro e baixo


E. custo;
F. Classificabilidade = possibilidade de classificação para rapidez na localização
em arquivos.

A identificação papiloscópica é de fácil utilização nos indivíduos vivos e nos


cadáveres recentes e preservados. Já a missão da antropologia é auxiliar na
identificação nos casos de maior dificuldade, pois identificar é muito mais fácil quando
se trata de indivíduo vivo ou do cadáver cronologicamente recente e íntegro do que
quando nos deparamos com cadáveres em avançado estado de decomposição,
mutilados, carbonizados ou esqueletizados. Muitas vezes, só temos disponíveis grupos
de ossos ou mesmo um osso isolado ou parte dele. A dificuldade aumenta quando a
ossada é juvenil, infantil ou de feto, pois os estudos para estas populações são ainda
escassos. Como a maioria dos periciados em antropologia chegam em fase avançada
de decomposição, isso os tornam muito difíceis de serem identificados pela simples
visualização/reconhecimento pelos familiares ou até mesmo por identificação
papiloscópica.

Assim, a identificação antropológica assume papel fundamental nas grandes


catástrofes e acidentes coletivos, ou ainda nos homicídios, quando o assassino usa
procedimentos como a carbonização, a desfiguração, a decapitação, a amputação de
segmentos do corpo, ou até mesmo espostejamento.

O exame antropológico auxilia a investigação criminal, e poderá ser conduzido


de duas formas:

1. Forma dirigida ou específica: quando há um suposto desaparecido e que


preencha os requisitos para ser correlacionado com um cadáver em exame.

2. Forma não dirigida ou inespecífica: quando não se tem um suspeito e a perícia


se desenrola como sendo de um indivíduo ignorado ou desconhecido e que será
mantido em cadeia de custódia por determinado tempo para futuros exames, até
que surja um suspeito (caso surja).

Como vocês já devem imaginar, o objetivo do exame antropológico é a


identificação; e como já dito anteriormente, é realizado por médico legistas e
odontolegistas mediante análise do corpo humano, utilizando-se de segmentos
corporais, ossadas completas ou restos esqueletizados.

A finalidade do exame antropológico é a determinação de espécie (humana ou


não humana) e sexo (feminino ou masculino) e estimativa do fenótipo/cor da pele,
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

idade e estatura (estes três últimos permitem apenas estimativas); além disso, a
determinação da causa da morte, o instrumento utilizado e a estimativa do tempo de
morte, culminando na identificação do indivíduo. Aplica-se a Antropologia Forense ao
setor de Antropologia dos IML, à sala de necropsia, bem como ao local de encontro do
corpo de delito (local de crime) e cemitérios (quando se trata de exumações).

Determinação da espécie

A identificação da espécie humana pode ser investigada macroscopicamente


pela morfologia dos ossos ou dos dentes (sobretudo os caninos). Importante destaque
se dá à clavícula, pois sua forma em “S” itálico (Figura 25) não se repete em nenhuma
outra espécie animal. Microscopicamente, a avaliação dos ossos pode ser feita pela
mensuração de canais de Havers (forma, diâmetro, dimensões e número), dos
osteoplastos (morfologia, dimensões e canalículos) e lamelas ósseas.
Microscopicamente, os canais de Havers são mais largos e em menor número nos
humanos, e mais estreitos, redondos e numerosos nos outros animais.

Quanto ao exame histológico, pode ser realizado em qualquer osso, fornecendo


excelentes subsídios para a determinação da espécie.Constatada a espécie humana, é
iniciado o exame da ossada.

Clavícula humana

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Determinação do sexo

Os ossos da pelve são as estruturas de eleição, pois fornecem informações


específicas no estudo do dimorfismo sexual ou diagnose do sexo a pelve androide é
mais comum em homens, e a ginecoide, em mulheres; seguindo-se em ordem, teremos
o crânio, o esqueleto axilar, os ossos longos como fêmur e úmero e a primeira vértebra
cervical. Quando os ossos da pelve estão presentes, as outras estruturas devem ser
consideradas como meios subsidiários. Quando ausentes, passa-se para o estudo do
crânio, realizando as análises qualitativa e quantitativa do crânio e da mandíbula.

Diferenças entre a pelve feminina e a masculina

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Crânio feminino e crânio masculino.

Determinação do fenótipo cor da pele

No caso da determinação do fenótipo, o crânio é a primeira opção para o


estudo dessa característica, seguido do esqueleto clavícula, úmero, tíbia e fêmur.

Crânio europeu e crânio africano


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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

As mensurações do crânio são feitas tomando como base os pontos


craniométricos do crânio como neurocrânio e da face como esplancnocrânio e
estabelecidas as grandezas lineares. O estudo prévio e aprofundado da craniometria e
da anatomia óssea do crânio é essencial para a precisão das medidas, garantindo a
confiabilidade dos resultados. Claro que este assunto de fenótipo de pele, raça e etnia
é muito polêmico, ainda mais num país tão miscigenado como o Brasil...

Estimativa da idade

A estimativa da idade pode auxiliar na resposta aos questionamentos da


autoridade policial como delegado ou de advogados. Inclusive, os peritos têm sido
convocados para determinar a idade de examinados vivos, não só de mortos, como de
praxe. Na reconstrução facial (assunto da próxima unidade), conhecer a idade auxilia
na produção da face. Dessa forma, a estimativa da idade é fundamental para a
determinação do perfil biológico.

No âmbito criminal, não raramente, a estimativa da idade por meio dos exames
dos dentes pode ser a única forma capaz de identificar o indivíduo. Isso porque os
elementos dentários sofrem menos interferências de fatores sistêmicos e de
desnutrição, sem contar o grau de dureza que resiste a muitos fatores ambientais
extremos. Assim, os dentes são as estruturas orgânicas que fornecem os melhores
subsídios para esta análise. Em situações de cadáveres carbonizados, em despojos
humanos ou putrefeitos, por exemplo, a análise de elementos dentários fornece dados
que são de significativo valor na estimativa da idade e posterior identificação do
indivíduo. Outra forma de estimar a idade é estudando o crescimento esqueletal. Há
uma correlação positiva entre a maturidade óssea e a idade cronológica. Um método
muito utilizado nas perícias em indivíduos vivos e cadáveres recentes consiste no
estudo dos centros de ossificação do carpo. Contudo, na ossada é muito difícil uma
estimativa baseada neste parâmetro, visto que a recuperação de peças pequenas é muito
negligenciada.

Rotineiramente, avalia-se a clavícula, o rádio, a ulna, o fêmur, a tíbia, o úmero,


a omoplata, o ilíaco, a fíbula e o sacro.Além disso, a ossificação de zonas
cartilaginosas, como o apêndice xifóide, a cartilagem tireóide da laringe e as cartilagens
condroesternais, é mais um dado na interpretação da estimativa da idade.

Estimativa da estatura

A identificação de ossadas humanas representa um dos grandes papéis da


Antropologia Forense e, neste caso particular, a estatura constitui um dado fundamental
para a identificação antropológica. O problema é que não há padrões brasileiros para
estimativa da estatura.Dessa forma, há possibilidade de falhas nessas estimativas, as

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

quais são minimizadas em razão da estratégia de se calcular a média entre as diversas


metodologias conhecidas:

Tabelas de Lacassagne & Martin, Orfila, Etienne- Rolet, Trotter e Gleser,


Dupertius & Hadden, as fórmulas de regressão de Pearson etc.

Estimativa do tempo de morte

A Tanatognose estuda o diagnóstico da realidade da morte. No âmbito da perícia


antropológica, o que se estuda comumente é o indivíduo em estado avançado de
putrefação, nas fases coliquativa ou esqueletizada.

Na cronologia da morte para estudo comparativo, convém considerar as


seguintes observações:

1. Corpo flácido, quente e sem livores: <2 horas;

2. Rigidez de nuca e mandíbula, esboço de livores: 2 a 4 horas;

3. Rigidez de membros superiores, nuca, mandíbula e livores acentuados: 4


4. a 6 horas;

5. Rigidez generalizada, manchas de hipóstases: >8< 16 horas;

6. Rigidez generalizada, mancha verde abdominal, circulação de Brouardel: 16 a


24 horas;

7. Mancha verde abdominal, início de flacidez: 24 a 48 horas;

8. Aumento da mancha verde abdominal: de 48 a 72 horas;

9. Digestão de ácidos graxos: entre 8 e 15 dias;

10.Consumo das substâncias em fase de liquefação ainda não consumida: entre 15


e 30 dias;

11.Absorção de humores e início da fase de dissecação: entre 3 e 6 meses;

12.Deterioração de tendões e ligamentos: entre 12 e 24 meses;

13.Desaparecimento das partes moles: 2 a 3 anos;

14.Esqueletização completa: > 3 anos.


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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Bom, esta cronologia é apenas uma estimativa. Sabemos que condições


climáticas, tipos de terrenos, presença da fauna cadavérica, entre outros aspectos,
podem mudar radicalmente esta cronologia.

Determinação da causa mortis

É consensual a importância da determinação da causa da morte para o


esclarecimento dos fatos e a intervenção do Direito. No exame, em uma lesão no vivo
ou em um cadáver preservado, as lesões decorrentes de violência externa estão, na
maioria das vezes, evidentes, e sua descrição e classificação, padronizadas. Contudo,
o exame de um corpo esqueletizado ou pós-exumação apresenta novos desafios para o
perito. O estudo minucioso das peças ósseas, a olho nu e com auxílio de instrumentos
ópticos, possibilita, frequentemente, elucidar a causa do óbito. É importante também
que todo segmento ósseo com lesão traumática seja radiografado e fotografado, pois
podem ser identificados, por exemplo, pequenos fragmentos de metal de uma faca ou
fragmentos de projétil. Diante de uma ossada com lesões traumáticas, o perito deve
tentar esclarecer quantas lesões existem, qual o instrumento, o meio e o modo de ação
utilizados nessas lesões e sua relação temporal com o evento morte.

Odontolegista: interface com o médico legista

Comecemos pela definição dada pelo Conselho Federal de Odontologia, Seção


VIII, Resolução n° 63, de 8 de abril de 2005:

Art. 63. Odontologia Legal é a especialidade que tem como objetivo a pesquisa
de fenômenos psíquicos, físicos, químicos e biológicos que podem atingir ou ter
atingido o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestígios, resultando
lesões parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis.

Parágrafo único. A atuação da Odontologia Legal restringe-se a análise, perícia


e avaliação de eventos relacionados com a área de competência do cirurgião-dentista,
podendo, se as circunstâncias o exigirem, estender-se a outras áreas, se disso depender
a busca da verdade, no estrito interesse da justiça e da administração (BRASIL, 2005).

Infelizmente, nem todos os Institutos Médico Legais (IML) do país possuem


odontolegistas. O problema é que os médicos não possuem em sua formação
conhecimentos específicos relacionados às consequências de lesões intra e extrabucais,
podendo prejudicar o enquadramento dessas lesões no âmbito civil e penal.

A complexidade e a especificidade de casos de traumatismos dento-faciais


exigem a participação de um odontolegista para apresentação do perfil completo da
lesão, e se há nexo causal ou temporal com a perícia em questão.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

O odontolegista também é muito importante nos casos em que uma perda


dentária (prejuízo permanente para a vítima), por exemplo, gera também um prejuízo
psicológico para a vítima, além dos danos mastigatórios e fonéticos que uma vítima
pode ter vindo a sofrer.

A lei n°8.051/1966, em seu art. 6°, inciso IX, como uma das competências do
cirurgião-dentista: “XI- utilizar, no exercício da função de perito odontólogo, em casos
de necropsia, as vias de acesso do pescoço e da cabeça.”.

Mas, ao contrário do que se pensa, as lesões periciadas pelos odontolegistas não


se restringem ao aparelho estomatognático em si. Estas análises podem se estender pelo
corpo todo.

Bom, um bom exemplo é o caso de marcas de mordidas em casos de atentado


violento ao pudor, estupro ou lesões corporais e, nestes casos, é realizado o confronto
a fim de condenar um determinado suspeito ou inocentá-lo. Sem contar que a perícia
também pode ser realizada em objetos inanimados encontrados no local do crime; não
se restringem a apenas o ser humano. Um exemplo seria o confronto de uma marca de
mordida na fruta, como maçã.

Convenci vocês de que um IML sem um odontolegista é um IML incompleto?

Quem iria periciar lesões de cavidade oral ou um odontograma?

O odontolegista num IML representa peça fundamental na perícia em vivo em


casos de lesões corporais e perícia no morto, como no caso de necropsia, mas também
identificações em catástrofes, determinação da idade, raça, sexo e estatura e perícias
em instrumentos e próteses, sem contar a avaliação de danos funcionais e estéticos que
colaboram para direito civil e trabalhista. Isso é feito realizando-se diversas técnicas,
como radiografias dentais e faciais, análises de fichas clínicas e exames de DNA.

Os dentes são mais resistentes do que qualquer outro tecido humano à


degradação pós morte, o que leva à preservação da identidade genética mesmo após
grandes variações ambientais. A identificação pode ser realizada pela extração do DNA
pela parte interna do dente (polpa dentária). Assim, o trabalho realizado pelo médico
legista e pelo cirurgião dentista nos Institutos Médicos Legais se complementam de tal
forma que se torna essencial a interação entre eles.

Ambos são igualmente importantes neste ambiente, cada um em sua área de


formação. A perícia em corpos humanos para fins de identificação é uma tarefa
multidisciplinar que envolve médicos e odontolegistas. Os médicos legistas não estão
habilitados legalmente para elaborar uma descrição de um laudo com achados típicos
odontológicos. E, claro, o inverso também é verdadeiro.
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Normalmente, nos IML, cabe ao perito odontolegal a análise dos ossos do crânio
e da mandíbula, e ao perito médico legal o estudo do pós-crânio, e nesse campo de
atuação ambos profissionais irão determinar a espécie e o sexo, assim como estimar o
fenótipo/cor da pele, idade, estatura, tempo e causa da morte.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Aula 10 - RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE -


Parte 1

Muitos de vocês já devem ter ao menos ouvido falar em reconstrução facial de


criminosos, seja em jornais, revistas ou filmes. Vamos então ter uma ideia de como
isso é feito...Reconstrução facial é a expressão que designa o processo de projetar a
aparência do tecido mole com base na arquitetura do crânio.Claro que não se refere a
uma cópia exata ou fiel do indivíduo em vida, mas tende a se aproximar ao máximo.

A reconstrução facial é uma técnica importante para as investigações, e é auxiliar


na identificação que torna possível direcionar tais investigações após o reconhecimento
de imagens de uma fase inferida sobre um crânio desconhecido, divulgada nos meios
de comunicação.

São termos sinônimos: reprodução facial, restauração facial e aproximação


facial. Porém, o termo mais comumente utilizado hoje em dia é reconstrução facial.
Como vimos anteriormente, as principais técnicas científicas utilizadas na
identificação médico/odontolegal se fundamentam em estudos que comparam registros
ante mortem registros post mortem, a fim de estabelecer uma ligação entre os
restos/fragmentos humanos e algum indivíduo previamente identificado.

Mas imaginem quando nos deparamos com um cadáver em adiantado estado de


decomposição, esqueletizado, mutilado ou calcinado...a identificação por comparação
torna-se extremamente difícil. A obtenção de dados do pós morte se torna inútil quando
não podemos compará-los aos dados de antes da morte.

A reconstrução facial pode ser considerada o último recurso para desencadear o


processo de identificação e tem uma melhor aplicação em casos em que despojos
humanos apresentam-se sem identidade atribuível.

Por meio desta técnica, é possível reconstruir os contornos aproximados dos


tecidos moles sobre o crânio esqueletizado, obtendo-se uma face e permitindo que
características perdidas do indivíduo sejam visualizadas a partir do crânio, como matriz
que dá suporte aos tecidos moles que o recobre com o objetivo de estimular o
reconhecimento por parentes, amigos ou conhecidos, a face reconstruída é então
veiculada nos meios de comunicação, e isto inclusive pode levar a novos achados que
auxiliarão na investigação.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

É possível realizar reconstruções da face de basicamente três formas:

1. Bidimensional/ duas dimensões (2D) / convencional;


2. Tridimensional ou três dimensões (3D) clássica/ plástica/ manual;
3. Tridimensional ou três dimensões (3D) digital/ computadorizada.

De forma bidimensional pode ser por meio de desenho, inferindo o tecido mole
correspondente sobre imagem radiográfica e fotográfica de crânio. O famoso “retrato
falado” muitas vezes também tem sido classificado como reconstrução facial por
alguns autores. Estas metodologias têm entrado em desuso para dar lugar às
metodologias tridimensionais.

As reconstruções faciais tridimensionais normalmente são realizadas mediante


esculturas modeladas em material plástico, argila ou qualquer outro material sintético,
como uma escultura (método tridimensional clássico) ou por programas
computadorizados/computação gráfica (método tridimensional digital). Independente
da técnica tridimensional clássica, a maioria delas emprega conjuntos de médias da
profundidade/espessura de tecidos moles sobre determinados pontos craniométricos,
atuando como guias dos contornos faciais. Tradicionalmente, a mensuração dos pontos
era realizada diretamente em cadáveres frescos. Porém, com o advento de novas
tecnologias digitais e de exames por imagem, se tornou possível a realização da
mensuração por meio de ressonância magnética ou de tomografia computadorizada, o
que vem tornando tais medidas ainda mais precisas.

Como devem ser reconstruídos os olhos, pálpebras, lábios e ponta do nariz, visto que
não possuem correspondentes ósseos?

A grande dificuldade da reconstrução é que as formas dos olhos, das pálpebras,


dos lábios e da ponta do nariz não têm correspondência óssea estabelecida no crânio, e
como estas características são bem importantes para o reconhecimento facial, isto não
deixa de ser a maior ou uma das maiores fragilidades desta técnica. Além disso,
mudanças nas espessuras dos tecidos faciais relacionadas a sexo, idade, origem
geográfica e estado nutricional têm sido apontadas como causa de alguns insucessos
nas reconstruções faciais.

Reconstrução Facial Tridimensional Manual

Foi no início do século XIX que surgiram as primeiras reconstruções de uma


face sobre um crânio esqueletizado. Sua aplicação em casos forenses de identidade
desconhecida surgiu esporadicamente nos anos de 1940, sendo popularizada no campo
forense por Krogman, que apresentou seu método para reconstrução facial em 1946.

2
BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Os pioneiros desses estudos realizaram mensurações da espessura dos tecidos


moles em pontos anatômicos selecionados no crânio, que possibilitaram, assim, a
reconstrução facial. Desde então, diferentes metodologias têm sido empregadas com o
intuito de obter a relação dos tecidos moles da face, sua base óssea no crânio e sua
aparência externa.

Bom, com base no conhecimento da espessura dos tecidos moles que recobrem
a face ou determinados pontos do crânio, diferentes metodologias têm sido aplicadas
na reconstrução facial tridimensional convencional, e recentes estudos têm
desenvolvido programas para que um computador possa gerar uma imagem da face
utilizando a mesma relação entre tecidos moles e crânio (reconstrução facial
tridimensional digital).

A literatura mostra a existência de três métodos que se baseiam no conhecimento


das espessuras de tecido mole:

A. Método Russo: propõe a definição e modelação de músculos diretamente sobre


o crânio (ou sua réplica).

B. Método Americano: utiliza dados de espessura/profundidade de tecidos faciais


e estudos antropométricos do crânio em pontos anatômicos pré-determinados.

C. Método de Manchester: combina os dois anteriores.

Roteiro para prática da técnica manual

Vamos aqui descrever de forma resumida e geral como proceder em relação à


reconstrução facial tridimensional. Inicialmente, como pré-requisito para o método de
reconstrução facial, é preciso que uma grande parte do crânio esteja intacta e de
preferência com a mandíbula. Caso lesões ósseas ou destruições estejam presentes, o
crânio deverá ser previamente restaurado. É interessante também estar atento às
informações coletadas no local de encontro da ossada, pois poderão ser bastante úteis
ao trazerem indícios importantes para a caracterização da reconstrução, como os fios
de cabelo e adereços diversos.

Realização do exame antropométrico de crânio

Antes da reconstrução, o crânio e as partes pós crânio, devem ser investigadas e


avaliadas do ponto de vista antropológico. É importante reunir o máximo de
informações, como investigação do sexo, da idade (rotineiros, quando o cadáver é não
identificado); o possível estado nutricional em vida (caso seja possível); a cor da pele
e/ou a origem geográfica (se não for possível, sugere-se o uso de cor neutra).

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

A forma do crânio determina uma face correspondente e pode ser observada por
meio de cranioscopia. Confecção de uma réplica do crânio. Confeccionar uma réplica
(cópia) do crânio possibilita trabalhar com mais tranquilidade, pois libera o crânio
original para outros exames e pode-se então trabalhar com a cópia sem perigo de
danificar o original.

A réplica pode ser realizada por meio de diferentes metodologias. De


preferência, e se estiver disponível, a réplica em resina baseada na reconstrução em
três dimensões de uma tomografia computadorizada oferece precisão e acurácia nas
medidas. Outra possibilidade muito boa é a moldagem à base de silicone fino e
obtenção do modelo de resina. Contudo, via de regra, os custos e indisponibilidade
destes recursos inviabilizam estas técnicas na rotina. Uma opção comum utilizada pelo
odontolegista é a moldagem com “alginato” e obtenção do modelo em gesso.

Localização dos pontos craniométricos

Sobre cada ponto localizado, a espessura do tecido correspondente é indicada


por marcadores contendo o tamanho em milímetros, constantes na tabela conhecida
para a população de referência. Os marcos cortados no tamanho exato são colados
sobre os pontos correspondentes e servirão de guia para o preenchimento com massa
plástica (plastilina) ou argila.

Ligação dos pontos. Os pontos craniométricos são ligados com o material


escolhido, respeitando-se a orientação das inserções musculares. Caso tenham dentes
disponíveis, deve-se esculpir os lábios de modo a deixá-los visíveis, pois são de grande
valor na individualização e posterior reconhecimento. Os acidentes anatômicos
presentes no crânio, como ângulos mandibulares, eminência frontal, pequenas marcas
de fraturas, desvios ou qualquer outra particularidade, deverão ser representados o mais
fielmente possível.

Caracterização: A caracterização é também muito importante e não deve ser


subestimada, pois o molde fica enriquecido ao serem inseridos objetos pertencentes
comprovadamente ao crânio em questão, como brincos, óculos,
piercing, bonés etc.

Fotografias e publicação: A realização de fotografias de frete e de perfil é


preconizada, e estas imagens podem então ser publicadas para possível
reconhecimento. Já a opção de se publicar as imagens em tons neutros (tons de cinza)
ou colorido, depende da quantidade de dados obtidos nas primeiras fases da
reconstrução. Isso porque, dados que sejam quantitativamente ou qualitativamente
pobres ficam melhores em tons de cinza (preto e branco), por disfarçar os detalhes que
não estejam bem definidos. Do inverso, a melhor opção é publicar colorido.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Reconstrução Facial Forense Tridimensional: Técnica Manual Vs. Técnica Digital

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Aula 11 - RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE -


Parte 2

Reconstrução Facial Tridimensional Digital

Não podemos falar de reconstrução facial digital sem citar o nome de Cícero
Moraes, designer 3D brasileiro com destaque nacional e internacional que, por meio
de programas de código aberto, como InVesalius Blender, tornou-se referência no
campo da reconstrução facial forense.

Quando há pouca ou nenhuma evidência que permita a utilização dos métodos


convencionais, a técnica da Reconstrução Facial Forense (RFF) pode ser útil como um
instrumento auxiliar neste processo, e não como um científico de identificação. Toda
reconstrução facial forense precisa de um crânio. Assim, para obter-se a forma digital
da reconstrução facial, é necessário obter o crânio no computador.

Você deve estar se perguntando: “Mas...como?”

E eu respondo: Por meio das tomografias computadorizadas ou outras formas de


exames por imagem 3D. A partir da tomografia, por exemplo, consegue-se gerar uma
sequência de imagens e obter a distância dos cortes assim, após importar uma sequência
com várias imagens, podemos visualizar não apenas os cortes de lado, mas também
cortes de cima para baixo e de frente para trás.

Para compreender melhor, tendo em mente que em tomografias


computadorizadas, quanto mais mole o tecido, mais escura a imagem. Dessa forma, os
ossos parecem mais esbranquiçados nas imagens.

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Tomografia computadorizada de uma múmia

Visualização de vários cortes em uma mesma tomografia no software: InVesalius.


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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Atualmente, existem softwares livres que auxiliam bastante na reconstrução


forense, o que permite maior acesso a esta técnica, seja no âmbito acadêmico ou
forense. Em outras palavras, qualquer pessoa que se dedique a estudar e entender os
preceitos da reconstrução forense será capaz de trabalhar com esta ferramenta.

Não é maravilhoso?

Um bom exemplo é o InVesalius, um software para visualização de arquivos


provenientes de exames odontológicos e médicos (arquivos DICOM). Assim, o
primeiro passo é isolar as áreas de interesse a partir de um exame por imagem
(exemplo, os ossos), em seguida visualizar a imagem em 3D e, posteriormente,
convertê-las em malhas virtuais exportáveis nos formatos de maior compatibilidade.

Ossos gerados a partir da parte de interesse mais clara no software InVesalius

É possível também a conversão de imagens simples em arquivos DICOM e


posterior reconstrução facial a partir deles mesmos. Outro bom exemplo é o
escaneamento 3D por fotografia, utilizando, por exemplo, o software Python
Photogrammetry Toolbox do software Meshlab. Esta técnica é chamada de
fotogrametria e é bem mais acessível, uma vez que utilizamos uma câmera digital ao
invés de um tomógrafo ou scanners, por exemplo. Após uma sequência de fotografias
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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

do crânio, uma nuvem de pontos é gerada e será convertida em uma malha 3D com o
software Meshlab .

Depois, por meio das cores obtidas através das fotografias, o modelo 3D é
pigmentado automaticamente, fazendo junções de tamanho e formato com informações
de textura e cor.

Alguns exemplos de casos famosos de reconstrução facial

Reconstrução facial do compositor Johann Sebastian Bach Em 1895, o


anatomista suíço Wilhelm His reconstruiu a face do compositor Johann Sebastian Bach
a partir de uma reprodução de seu crânio, depois de fazer a medição da profundidade
do tecido mole em alguns cadáveres. Este é um dos exemplos mais antigos relatados
nos livros que tratam sobre o assunto. Em 2008, a reconstrução do compositor foi
refeita.

À esquerda, a pintura do compositor alemão Johann Sebastian Bachpor Elias Gottlob


Haussmann, datada de 1746. À direita, a reconstrução do rosto do músico datada de
2008.

Reconstrução facial de Valentina Kosova: O russo Mikhail M. Gerasimov


(1907-1970), utilizando tabelas de profundidade de tecido mole e modelando alguns
músculos principais, desenvolveu um método bastante eficaz para reconstruir faces.
Com isso, alcançou resultados extraordinários, como, por exemplo, o caso da
identificação de Valentina Kosova (1940).

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Reconstrução facial de Valentina Kosova.

Reconstrução facial de Santo Antônio: O Museu de Antropologia da


Universidade de Pádua contratou o grupo italiano Arc-Team e Cícero Moraes para
compor vinte e sete reconstruções faciais para a versão italiana da mostra “Faces da
Evolução” (FACCE, i molti volti della storia umana). Esta mostra aconteceu em 14 de
fevereiro de 2015 em Pádua, na Itália. Dentre as vinte e sete reconstruções, estava a de
Santo Antônio de Pádua, figura popular na Igreja Católica, fato este que foi um
verdadeiro marco para a história da Odontologia Forense do Brasil

Reconstrução facial de Santo Antônio de Pádua.


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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Reconstrução Santa Maria Madalena: A partir de um crânio guardado num


relicário localizado no sul da França, o brasileiro Cícero Moraes reconstruiu o rosto de
Santa Maria Madalena, em parceria com Paulo Miamoto e José Lira. Maria Madalena
é figura comum nas histórias cristãs e considerada a primeira mulher a ver Jesus
ressuscitado.A revelação foi realizada em 2015 no Adoratio, na França, e no Brasil, foi
realizada no Instituto de Pesquisa História e Arqueológica do Rio de Janeiro

Reconstrução facial de Santa Maria Madalena.

Reconstrução facial de Dom Pedro I: A reconstrução do primeiro Imperador


do Brasil foi um fato significativo para nossa história. Ele que declarou a
Independência do Brasil (7 de setembro de 1822) e outorgou a primeira Constituição
em 1824, teve sua face reconstruída a partir de um projeto idealizado pelo cearense
José Luís Lira por meio de fotos adquiridas após exumação dos restos mortais para um
estudo científico em 2012. A reconstrução foi realizada pelo designer 3D Cícero de
Moraes, tendo como base uma foto. Assim, Cícero teve de utilizar um crânio
tridimensional de outra pessoa, adaptar ao crânio de Dom Pedro I e cruzar a foto com
o modelo 3D

Reconstrução facial de Dom Pedro I


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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

Referências

ACIDIGITAL. Peritos forenses tentam reconstruir o rosto de Santo Antônio de Pádua.

FILHO, C. R. D; FRANCEZ, P. A. C. ANDREASSA, A; et al. Introdução à Biologia


Forense.1ª ed. São Paulo: Millennium, 2016.

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Moscas necrófagas de interesse forense. 2016.

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Entomologo Putrefato. 2011. CSI da vida real: conheça a entomologia forense.

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Identificação Humana. São Paulo: Millennium, 2003.

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vestígio à evidência. Revista dos Tribunais, 2009.
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FERRETTO, N. P. Manual de Tricología Forense – Aspectos básicos para la


descripción de cabelos.

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Science, 2001 Int. 120, pp. 42-47.

MARTINS, F. Reconstrução Facial de Personagens Históricos, 2018.

MORAES, C.; MIAMOTO, P. Introdução à Reconstrução Facial com Software Livre,


2018.

MORAES, C.; MIAMOTO, P. Manual de Reconstrução Facial 3D Digital: Aplicações


com Código Aberto e Software Livre. 1ª ed. -- Sinop-MT: Expressão Gráfica, 2015.

MORAES, C. Sobre Cícero Moraes, 2018. Disponível em: Padrões de manchas de


sangue: Os princípios básicos da hematologia reconstrutora.

PEREIRA, J. G. D; MAGALHÃES, L. V. COSTA, P. B.; DA SILVA, R. H. A.


Reconstrução Facial Forense Tridimensional: Técnica Manual Vs. Técnica Digital.

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WOLFF, M., 2017.

Postmortem interval estimation based on Chrysomya albiceps (Diptera, Calliphoridae)


in a forensic case in the Andean Amazon, Caquetá, Colombia.

Radiografia panorâmica em odontologia forense.

Radiografia panorâmica ante mortem e


post mortem.

Rede entomológica profissional. Rosaminas.

Saiba mais sobre Botânica Forense. Instituto Biomédico de Aprimoramento


Profissional

A utilização da Ciência Forense e da Investigação Criminal como estratégia didática


na compreensão de conceitos científicos. Educación química, 2013, 24, pp. 49-56.

SILVEIRA, E.M.S.S.F. A importância do odontolegista dentro do Instituto Médico


Legal. Rev Bras Med Trab, 2013, v. 11, n. 1, pp. 34-39.

SOUZA, A. A. Marcas de mordida, aula odontologia legal, 2013.Disponível


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Guanabara Koogan, 2009. Clavícula humana. Disponível em:
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Disponível em: <http://www.ciceromoraes.com.br/blog/?p=646>.

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PEYREFITTE, M. C. Cosmetologia: biologia geral: biologia da pele. São Paulo:


Organização Andrei Editora, 1998. Apud FILHO, C. R. D e FRANCEZ, P. A. C.

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R. D e FRANCEZ, P. A. C. Introdução à Biologia Forense. São Paulo: Millennium


Editora, 2016

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BIOLOGIA FORENSE E RECONSTRUÇÃO FACIAL FORENSE

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 11)

Caro aluno e aluna, conforme foi estudado nesta aula, nós falamos sobre a
reconstrução facial e mostramos a importância dentro da perícia criminal. Pesquisem
na internet ou outros meios de informação, algum caso que foi desvendado usando a
técnica da reconstrução facial. Faça um resumo e poste na plataforma para correção,
não se esqueça de colocar a fonte de pesquisa. O capricho é levado em consideração
na hora da correção. Boa ATIVIDADE!

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PERITO CRIMINAL

INTRODUÇÃO AO CURSO DE PERITO CRIMINAL

Olá aluno (a), seja bem-vindo ao curso de perito criminal.

O presente curso tem o objetivo de capacitar o aluno para atuar na área de


Ciências Forenses e Perícia Criminal;

Apresentar os conceitos utilizados e terminologia própria em Ciências Forenses


e Perícia Criminal;

Demonstrar as áreas e atividades de risco relacionadas com o campo do exercício


profissional em Ciências Forenses com foco na análise de evidências;

Discutir a análise e abordagem pericial nos diversos ramos das Ciências


Forenses;

Dotar o aluno de informações e ferramentas que permitam adquirir o


conhecimento necessário para atuar na área.

Quem é o perito criminal?

O perito criminal é o profissional treinado para usar ferramentas científicas e


tecnológicas na investigação de crimes diversos.

Inteligência, sangue frio, paciência e atenção aos detalhes são algumas de suas
principais características.

1
PERITO CRIMINAL
No seu dia a dia, acompanha equipe de policiais na ocorrência de diversos tipos
de delito ou acidentes, como:

• Explosões e incêndios
• Acidentes de trânsito com vítimas
• Roubos
• Acidentes de trabalho
• Homicídios

Ele busca evidências de diferentes formas:

• Realizando exames de balística.


• Extraindo informações em computadores e celulares apreendidos.
• Buscando rastros e materiais genéticos na cena do crime.
• Examinando drogas apreendidas.
• Realizando exames de DNA.
• Analisando a autenticidade de documentos.

Na maioria dos casos, o perito sai à procura de indícios que ajudem a esclarecer
quem foi o autor do crime e os motivos que o levaram a praticá-lo.

Ele tenta desvendar caminhos para entender como ocorreu determinado acidente,
reconstruir cenas, definir o tipo de exame a ser aplicado e efetuar medições
laboratoriais seguindo métodos científicos.

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PERITO CRIMINAL
Para isso, produz fotos, recolhe material para análise, impressões digitais,
vestígios de bala, armas brancas, fluidos corporais, etc.

O resultado de sua análise é levado aos tribunais e pode ser utilizado como prova.

Os peritos trabalham nos institutos de criminalística de cada estado. Eles podem


ficar nas capitais ou em cidades do interior por todo o país.

É uma atividade dinâmica, que passa longe do tédio – já que todo dia tem uma
nova ocorrência para desvendar!

3
PERITO CRIMINAL

Que tal trabalhar desvendando crimes?

Numa cena de crime, o perito atravessa a multidão de curiosos e começa a


procurar vestígios deixados pelo criminoso.

Um fio de cabelo, um fragmento de pele abaixo das unhas da vítima, uma


impressão digital, uma minúscula gota de saliva: tudo pode ser usado para elucidar o
que aconteceu ali.

Você com certeza já viu uma cena similar em filmes e séries, e isso deve ter
provocado àquela vontade de trabalhar como perito criminal.

Como se tornar um perito criminal?

Para se tornar perito criminal é preciso passar em um concurso público, lançado


periodicamente pelos estados ou pela União (cargos federais).

No Brasil estamos com uma carência de peritos, dada a triste escalada da


violência no país, à tendência é os concursos aumentarem cada vez mais.

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PERITO CRIMINAL

Quando acontecem, são bastante concorridos por alguns motivos:

O cargo é bem remunerado, oferece estabilidade e aceita formação em diversas


áreas do conhecimento. Sobre os cursos, veja detalhes mais adiante.

Quanto ganha um perito criminal?

O salário de um perito criminal varia de acordo com o estado onde ele presta
concurso.

Em edições recentes, por exemplo, encontramos valores que iam de R$ 9.800 no


Paraná a mais de R$ 16.000 em Santa Catarina.

A média nacional geral, no entanto, fica por volta de R$ 10.200.

Esses são os valores iniciais, para quem passa no concurso.

Conforme o profissional vai ganhando experiência, o salário vai subindo


podendo se aposentar com 21.000.

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PERITO CRIMINAL
Sem contar outro fator muito importante: estabilidade no emprego assegurada
por lei!

Cursos para quem quer ser perito criminal:

Os concursos públicos para peritos criminais exigem que os candidatos tenham


formação de nível superior.

No entanto, nem sempre é aceito qualquer curso. As exigências variam de estado


para estado e, normalmente, pedem graduações que tenham a vem com a profissão, de
preferência aquelas com forte apelo tecnológico e científico.

Veja alguns exemplos mais comuns:

• Biologia
• Ciências Contábeis
• Direito
• Engenharia (diversas habilitações)
• Farmácia
• Física
• Geografia
• Medicina (para o cargo de Perito Médico Legista)
• Medicina Veterinária
• Nutrição
• Odontologia,
• Química
• Tecnologia da Informação
• Enfermagem

Nenhuma dessas graduações trata a fundo a questão da investigação criminal.


Por isso, ao ser aprovado em um concurso, o profissional tem de passar por um curso
de especialização na área.

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PERITO CRIMINAL
Quem busca mais chances de se dar bem no concurso pode investir em um curso
ainda novo, mas que prepara profissionais interessados em atuar como peritos
criminais.

Trata-se do curso de Perito criminal que trabalha o tempo todo com assuntos de
interesse da área, ensinando como atuar facilitando sua atuação.

Durante o curso, os alunos mergulham nas estratégias utilizadas pelos peritos,


estudam formas de combate a fraudes, aprendem a identificar crimes reais e virtuais,
analisam armas de fogo, munições, retratos falados, fraudes documentais e emissão de
laudos.

E a boa notícia é que, por estar disponível no formato a distância, você pode
estudar sem sair de casa.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Aula 1 - CONHECENDO O ENSINO A DISTÂNCIA

Olá aluno (a), na aula de hoje vamos entender como é a educação a


distância, abordando seus pontos principais. Bons estudos!

A dinamicidade na disponibilização de conhecimentos por meio das Tecnologias


da Informação e Comunicação (TIC) é característica da sociedade da informação e do
conhecimento, que está fortemente marcada pela era da comunicação e da informação.
A Educação a Distância (EAD), em seu modelo convencional, vem sofrendo vários
aperfeiçoamentos e adaptações a partir do momento que faz uso do computador e
da Internet, enriquecendo modelos antigos que se pautavam pela construção individual
e não coletiva do conhecimento. Esse tipo de EAD, mesmo respeitando seus princípios
básicos, como, por exemplo, a relação de espaço e tempos distintos, era capaz de levar
o conhecimento a seus alunos, entretanto, o foco não era na interação entre os
participantes.

Para exemplificar essa situação, apresenta-se o pensamento de Fernandes (2007,


p. 16), que versa sobre o avanço nos modelos de EAD com o uso das tecnologias da
informação e comunicação:

As TIC foram e são grandes aliadas no que tange à Educação a Distância,


passando por evoluções na maneira de transmitir e gerar conhecimento. Tempos atrás,
a educação a distância era feita por módulos impressos enviados por correspondência,
ou por videoaula, ou por televisão, ou cd rom etc. Ou seja, o princípio da EAD estava
mantido, pois, os sujeitos podiam estudar em tempos e lugares distintos, todavia, não
havia interação entre os pares. Por exemplo: em um curso por correspondência, qual
era a inter-relação estabelecida entre os indivíduos que faziam o mesmo curso?
Praticamente nula

É notável que os avanços científicos e tecnológicos são gerados em grande parte


pelas universidades. Dessa maneira, o Ensino Superior incorpora e faz uso,
intrinsecamente, das TIC como aliadas no processo de construção do conhecimento,
principalmente quando se tenta eliminar barreiras, como a distância física, e encurtar a
demora na aquisição de conhecimentos. As linhas anteriores podem representar
facilmente a congruência da utilização das metodologias de educação a distância em
cursos de graduação, extensão e pós-graduação.

Conforme apresenta Vargas (2006, p. 5), o uso das TIC revolucionou o modelo
presencial e o de EAD que vigoravam tempos atrás:

Educação a Distância (EAD), agora imbuída de uma nova perspectiva


tecnológica, ganha força e também inicia sua própria revolução, interferindo nas
1
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
estruturas tradicionais de ensino e modificando suas práticas, tanto no contexto
acadêmico quanto no contexto das organizações de trabalho.

De acordo com os parágrafos anteriores, nota-se que a Educação a Distância já


avançou no processo de credibilidade e qualidade, que antes eram fatores de empecilho
à sua institucionalização. Ainda há vários pontos que devem ser debatidos, entretanto,
não é possível desconfiar da incorporação da EAD como modelo viável de educação.
Você perceberá isso!

Segundo os ensinamentos de Levy (1999), a distinção entre as ações educativas


do modelo presencial e da EAD é cada vez menos pertinente, já que as Tecnologias da
Informação e Comunicação permitem a intensa interatividade e comunicação entre os
envolvidos no processo de aprendizagem, superando, desse modo, a necessidade da
enganosa sensação de que a educação somente é possível entre quatro paredes, com
professor, lousa, giz e alunos receptores passivos.

A conceituação de sujeitos da aprendizagem na perspectiva de meros receptores


passivos da informação e caçadores ativos do conhecimento é apresentada pela criação
de oportunidades de aprendizagem ao longo da vida (VALENTE, 2000). É importante
que, se você deseja ter sucesso no seu curso, a busca pelo conhecimento seja sua
principal motivação para concluí-lo.

Aprendizagem colaborativa

Antes de qualquer coisa, ao fazer a leitura sobre aprendizagem colaborativa nota-se


que há divergências na conceituação da construção do conhecimento coletivo. Alguns
autores inclinam-se a conceituar a atividade de construir o conhecimento em conjunto
como aprendizagem colaborativa e outros como aprendizagem cooperativa. Até
mesmo em dicionários os termos colaborar e cooperar confundem-se. Houaiss (2001,
pp. 756 e 829) conceitua colaborar como:

1 – Trabalhar com uma ou mais pessoas numa obra; cooperar, participar; 4 –


efetuar trabalho de cooperação ... trabalhar de comum acordo; e cooperar como:
atuar, juntamente com outros, para um mesmo fim; contribuir com trabalhos, esforços,
auxílio; colaborar.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Nitzke (2002, p. 2) aponta que a cooperação implica muito mais do que a simples
troca entre pessoas ou entre o sujeito e seu objeto de conhecimento. Afirma que o
significado de cooperação é "simultaneidade entre os agentes, e que, portanto, o
conhecimento acontece no encontro e não em apenas um participante". Ainda, coloca
que embora opte pelo termo cooperativo baseado na teoria piagetiana, indo contra a
tendência internacional, conceitua aprendizagem colaborativa como as "atividades
cognitivas coordenadas que envolvam uma tentativa de construção conjunta e
concepção compartilhada de um problema".

Gava (2003, p. 358) afirma que no Brasil não há consenso entre as terminologias
"Apesar do forte interesse da comunidade acadêmica pelo uso de um vocabulário
comum, com muita frequência, na literatura, os significados dos termos se confundem
e até se contradizem". No mesmo estudo, Gava (2003, p. 359) apresenta definições de
colaboração e cooperação:

Por colaboração entende-se a junção de esforços para atingir um objetivo


coletivo comum, sem necessariamente uma construção conjunta, mas apenas a união
de esforços, que podem ser até isolados, mas unidos ao final para atender ao objetivo
traçado. Na cooperação também se pretende atingir um objetivo coletivo comum, mas
subtende-se um esforço conjunto em prol do alcance deste objetivo.

Por mais diferente que os nomes sejam, não deixe de contribuir. Dessa forma,
optou-se por não diferenciar os termos e utilizar aprendizagem colaborativa como o
processo de construir conhecimento em conjunto. Você deve contribuir ao longo do
curso!

A aprendizagem em cursos on-line não se faz apenas mediante colaboração entre


sujeitos. O ato de colaborar envolve uma série de outras ações que resultarão na
3
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
construção e aquisição do conhecimento pelos envolvidos no processo de
aprendizagem.

Em cursos à distância há a construção do conhecimento tanto individual quanto


coletivo. O fato é que, os envolvidos no processo de aprendizagem (você, seus colegas
e o profissional que acompanhará sua turma) saibam quando estão trabalhando
individualmente e coletivamente. Aqui, trata-se de uma das formas de construir o
conhecimento: a aprendizagem colaborativa. O simples ato de todos os alunos
postarem uma mensagem com suas ponderações em um fórum não significa que o
conhecimento foi gerado coletivamente.

Bibliografia

https://www.ibccoaching.com.br/portal/rh-gestao-pessoas/o-que-e-
aprendizagem-colaborativa/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Aprendizagem_colaborativa

https://www.educabrasil.com.br/aprendizagem-colaborativa/

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Aula 2 - BASES LEGAIS

Olá aluno (a), na aula de hoje vamos dar continuidade ao tema educação a
distância, falando de suas bases legais. Bons estudos!

Educação a distância: Bases legais

Com o avanço da tecnologia incorporada à educação nos deparamos com a


alternativa do ensino a distância que teve a sua primeira aparição em lei no artigo 80
da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Esse artigo estabelecia as diretrizes e
bases da educação nacional, na qual "O Poder Público incentivará o desenvolvimento
e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades
de ensino, e de educação continuada".

Não obstante, tornou-se imprescindível regulamentar essa nova modalidade de


ensino. O governo, então, regulamenta o artigo 80 da lei supracitada com o Decreto nº
2.494, de 10 de fevereiro de 1998, normatizando a educação e distância, no artigo 1º,
como a modalidade que permite a auto aprendizagem, utilizando-se de recursos
mediatizadores proporcionados por suportes de informação distintos, podendo ser
empregados de maneira isolada ou combinada, conduzidos pelas tecnologias de
comunicação.

Acompanhando a evolução da sociedade e das TIC’s, mais a necessidade de


definir o modo como a educação a distância poderá ser aliada à educação, o governo
vem desde 1996 tentando regulamentar tal modelo de ensino. No que tange à esfera do
Ensino Superior, o Ministério da Educação publicou em 10 de dezembro de 2004 a
Portaria nº 4.059 que, no artigo 1º, institui a introdução da modalidade semipresencial
nos cursos de Ensino Superior. Adverte, ainda, que, quando tal modalidade for

1
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
empregada em uma disciplina, não poderá ultrapassar o limite de 20% (vinte por cento)
da carga horária.

Na mesma portaria, o governo compreende Educação a Distância, ainda que


modalidade semipresencial, como autodidata, todavia utilizando "mediação de
recursos didáticos organizados em diferentes suportes de informação que utilizem
tecnologias de comunicação remota", indo contra ao que autores como Palloff e Pratt
(2002), Belloni (1999) e Moran (2004) indicam que o Ensino a Distância não deve ser
totalmente pautado pela aprendizagem individual, todavia criando comunidades de
aprendizagem, fazendo uso da aprendizagem colaborativa. Conforme artigo 2º, da
mencionada Lei, a modalidade semipresencial deverá:

(...) incluir métodos e práticas de ensino-aprendizagem que incorporem o uso


integrado de tecnologias de informação e comunicação para a realização dos
objetivos pedagógicos, bem como prever encontros presenciais e atividades de tutoria.

O governo, ainda reconhecendo Educação a Distância como autodidatismo, em


que o aluno é o único responsável pela aprendizagem, apoiada por alguma(s)
tecnologia(s), como indicado no Decreto nº 2.494/98 e na Portaria nº 4.059/2004,
atenta para a atividade de tutoria na modalidade semipresencial, dizendo que, quando
tal modalidade for utilizada, esta “implica na existência de docentes qualificados em
nível compatível ao previsto no projeto pedagógico do curso, com carga horária
específica para os momentos presenciais e os momentos a distância”. Moran (2004)
tentando, de tal maneira, criticar o uso das tecnologias como mero apoio ao ensino
tradicional, diz que "colocamos tecnologias na universidade e nas escolas, mas, em
geral, para continuar fazendo o de sempre – o professor falando e o aluno ouvindo –
com um verniz de modernidade", ou como Kenski (2005, p. 72) coloca: Embora a
tecnologia seja avançada, a forma como é usada, em muitos casos, é bem convencional.

Já com olhar mais atento e menos restrito, em 19 de dezembro de 2005, o


governo revoga o Decreto nº 2.494 e publica o Decreto nº 5.622, no qual, de maneira
mais clara e objetiva, caracterizar Educação a Distância como sendo a:
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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
(...) modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos
processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias
de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades
educativas em lugares ou tempos diversos.

Com a definição mais clara de Educação a Distância em lei, o desafio é como


fazer uso das tecnologias para o ensino a distância com qualidade, corroborando o que
Kenski (2005, p. 73) coloca:

A grande revolução no ensino não se dá apenas pelo uso mais intensivo do


computador e da Internet em sala de aula ou em atividades a distância. É preciso que
se organizem novas experiências educacionais em que as tecnologias possam ser
usadas em processos cooperativos de aprendizagem, em que se valoriza o diálogo e a
participação permanente de todos os envolvidos no processo.

Se você optou por se matricular em um curso a distância, já deu um grande


salto para seu crescimento! Tente explorar ao máximo todos os recursos
disponibilizados e tenha sempre uma postura ativa! Desse modo, você terá as
condições necessárias para concluir seu curso!

Educação a distância ON-LINE

Como o objetivo aqui não é traçar históricos da Educação a Distância, mas saber
como ela está sendo utilizada, não cabe entrar no mérito que alguns autores apontam
quanto à evolução histórica da EAD. Contudo, Peters (2003, p. 46) afirma que
historicamente a Educação a Distância passou por quatro períodos (além de abordagens
históricas e individuais), sendo que se torna necessário fazer referência do último.
Desse modo, caracteriza o quarto período como a “Educação a Distância
informatizada, que nos permite reagir e lidar com as principais mudanças sociais... ela
3
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
agora irá assumir a maior importância, já que pode contribuir por meio de suas
abordagens, técnicas, estratégias...”. Já Kenski (2005, p. 75) indica que:

(...) o grande salto nas relações entre educação e tecnologias dá-se, no entanto,
em um terceiro momento, com as possibilidades de comunicação entre computadores
e o surgimento da internet, possibilitando o acesso à informação em qualquer lugar
do mundo.

Nos dias de hoje, a modalidade de ensino a distância usufrui de enorme gama de


tecnologias de informação e comunicação, sendo que a mais utilizada é a Internet,
devido a possibilidade de interação síncrona e assíncrona, ou seja, simultânea ou não.

Exemplos de recursos que permitem dessas relações são os chats, wikis e e-mail,
que normalmente estão em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), no caso a
nossa sala de aula.

É interessante considerarmos também que a EaD on-line não se limita ao uso do


computador, atualmente existem outros recursos tecnológicos
como tablets e smartphones, que por meio de Internet móvel 3G ou 4G, permitem ao
aluno acompanhar o curso de qualquer lugar.

A Internet não “nasceu” com essa terminologia e nem com finalidades


educacionais. No período da Guerra Fria, entre 1960 e 1970, o governo norte-
americano e o Pentágono necessitavam criar um sistema no qual os computadores
militares pudessem trocar informações entre suas bases, desenvolvendo assim a
ARPANET, em referência à Advanced Research Projects Agency (Agência de
Pesquisa de Projetos Avançados). Com efetivo sucesso, em meados da década de 1980,
as universidades norte-americanas começaram a fazer uso desse sistema, eliminando,
dessa forma, a distância e demora no acesso ao conhecimento. Com efeito, o sistema
ficou sobrecarregado e dividiu-se em dois: a MILNET para áreas militares e a
ARPANET para localidades não militares.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
A Internet, como é conhecida hoje, é possível graças a Tim Berners-Lee, um
pesquisador do CERN - Conseil Européen pour la Recherche (Centro Europeu de
Pesquisas Nucleares). Ele desenvolveu a World Wide Web (rede de alcance mundial;
Sistema de documentos em hipermídia que são interligados e executados na Internet.)
unindo o hipertexto e a Internet, que inicialmente interligou sistemas de pesquisas
científicas e posteriormente universidades europeias. O navegador Mosaic 1.0 foi
lançado em 1993, possibilitando acesso público à Internet e a partir de 1996 esse já
estava popularizada nos países desenvolvidos.

Abandonando a linguagem técnica, aproveita-se para inserir o que Lévy (1999,


p. 11) chama de ciberespaço. Esse é o universo formado pelas redes digitais no qual a
informação encontra-se em contato virtual com todos e com cada um. Serrano (2005,
p. 5) coloca que a aprendizagem on-line tem caráter colaborativo e ela demanda
participação ativa e interação entre professores e/ou alunos. O conhecimento deve ser
construído por meio da interação social. Assim, a mesma autora afirma que
o ciberespaço:

Se configura então como um local onde o processo de aprendizagem é facilitado,


visto que a produção do conhecimento é fruto da ação coletiva, da sinergia das
competências e modelos mentais independente da sua diversidade e onde quer que eles
se encontrem.

Com efeito, pode-se dizer que a Educação a Distância on-line é aquela que
utiliza estratégias pedagógicas de aprendizagem baseadas em atividades interativas
autônomas, todavia colaborativas, possibilitadas por uma tecnologia de informação e
comunicação, nesse caso a Internet; ou como afirma Almeida (2003):

Educação on-line é uma modalidade de Educação a Distância realizada via


internet, cuja comunicação ocorre de formas sincrônicas ou assim crônicas. Tanto
pode utilizar a internet para distribuir rapidamente as informações como pode fazer
uso da interatividade propiciada pela internet para concretizar a interação entre as

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
pessoas, cuja comunicação pode se dar de acordo com distintas modalidades
comunicativas.

Para que a construção do conhecimento seja efetiva e com qualidade, as salas de


aula on-line necessitam oferecer condições básicas para que os alunos possam definir
os caminhos para a aprendizagem individual e grupal. Kenski (2005, p. 76) aponta três
características para tal, quais sejam:

Interação (síncrona e assíncrona) permanente entre os usuários.

Hipertextualidade que facilita a propagação de atitudes de cooperação entre os


participantes.

Conectividade garantindo o acesso rápido à informação e a comunicação


interpessoal, em qualquer tempo e lugar, o que sustenta o desenvolvimento de projetos
em colaboração e coordenação das atividades.

Um fato que merece atenção é que indiferente do que uns chamam de interação
e outros de interatividade estas são fundamentais na construção do conhecimento
coletivo. Tanta interação (e/ou) quanto interatividade são fundamentais no que diz
respeito à distância física e comunicativa no processo de aprendizagem. Tal distância
Kenski (1998, p. 3 apud MOORE) chama de distância transacional. Essa pode ser
maior ou menor, variando de acordo como os alunos são tratados. Sendo assim, Kenski
acrescenta que se os alunos forem abandonados apenas com materiais de estudo e sem
comunicação entre os pares, a distância transacional será maior; ou, se os alunos podem
estabelecer comunicação tanto com seus pares quanto professores a distância será
menor.

Exemplifica desta maneira "(...) havendo mais comunicação entre alunos e


professores, a distância entre eles é menor, independente da distância física". Tomando
como base a aprendizagem que as salas da aula virtuais possibilitam, Kenski (1998).
Afirma que "a aprendizagem será mais significativa quanto maior for o grau de
interação e comunicação entre os participantes do processo".

A produção do conhecimento pelo coletivo nas salas de aula virtuais faz-se


mediante duas modalidades de comunicação, uma síncrona e outra assíncrona. A
comunicação síncrona é aquela que ocorre entre sujeitos em tempo real (chat, vídeo
conferência, áudio conferência) enquanto a assíncrona acontece em tempos distintos
(fórum, listas de discussão).

Ao contrário dos termos interatividade e interação, essas duas formas de


comunicação são distintas. Contudo, não podemos afirmar que uma é melhor ou
superior a outra. Santos (2001, p. 8), num estudo realizado sobre as contribuições das
formas síncronas e assíncronas, constata que:
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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
(...) a comunicação síncrona, devido a sua característica de simultaneidade da
comunicação, pode contribuir para a troca de experiências, enquanto que, a
comunicação assíncrona possibilita mais tempo para a pesquisa, reflexão, análise,
necessárias para a construção de uma argumentação fundamentada e mais teórica
sobre a questão. Entretanto, a experiência vivenciada tem um lugar de destaque
servindo de catalisadora da discussão.

Outro ponto a ser destacado é colocado por Silva (2000) quanto ao sucesso das
ações interativas síncronas e assíncronas:

O nível de sucesso da interação ou de interatividade que acontecerá no curso


dependerá da escolha que fizermos entre essas duas formas de comunicação. Nas duas
encontraremos vantagens e desvantagens, porém, as vantagens irão sempre superar
as desvantagens se a utilização for feita de forma adequada, harmônica e
complementar no âmbito de um projeto educacional que envolva os recursos de
Educação a Distância.

Tanto a comunicação síncrona quanto a assíncrona são de extrema relevância


quando a aprendizagem colaborativa está em jogo. Dessa maneira, os professores têm
que atentar para a avaliação da qualidade nas participações. Portanto, não se esconda!
Mostre-se e diga a que veio! Assim, Gerosa; Fuks e Lucena (2003, p. 12) apontam que:

Serviços de comunicação assíncronos normalmente são utilizados quando se


deseja valorizar a reflexão dos participantes, pois estes terão mais tempo antes de
agir. Em um serviço de comunicação síncrono, valoriza-se a interação, visto que o
tempo de resposta entre a ação de um participante e a reação de seus companheiros é
curto. Desta forma, surge a necessidade de avaliar diferentemente as contribuições
dos dois tipos de serviço.

Bibliografia

https://www.nead.ufrr.br/index.php/sobre-a-ead

https://blog.eadplataforma.com/setor-ead/regulamentacao-ead-brasil/

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Aula 3 - DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E


LIDERANÇA

Na aula de hoje vamos falar um pouco sobre o Desenvolvimento Profissional


e Liderança, seja na sua vida particular, quanto no seu ambiente de trabalho,
vamos dividir essa aula em duas partes. Bons estudos.

Desenvolvimento profissional e liderança

Introdução

Temos certeza de que o conteúdo desta unidade será de grande interesse para
você, apesar de já ter ouvido bastante e, possivelmente, estudado sobre o tema. Nessa
unidade procuramos trazer, de forma objetiva, uma visão atualizada do tema liderança,
considerando o perfil ideal do líder para a atualidade. Muitos de nós gostaríamos de
assumir o papel de líder, seja na nossa vida pessoal, seja em nosso trabalho. Isso não
significa dizer que desejamos, necessariamente, ser chefes no ambiente de trabalho.

Mas, o fato é que quando lideramos no contexto laboral, buscamos nos sentir
seguros, orgulhosos de nós mesmos, admirados por nossos pares e superiores,
produtivos e reconhecidos pelo nosso esforço e dedicação. Tem coisa melhor que isso?

Esses sentimentos nos motivam a querer mais, a nos desenvolvermos dia a dia,
buscando realizar nosso propósito. Claro que não é sempre que iremos assumir a
liderança.

E tudo bem! Porque para liderar não basta apenas a nossa vontade e
competência. A liderança é um processo de influência entre o líder e seus liderados,
que envolve o perfil do líder e suas competências, o perfil da equipe e o contexto em
que esse processo acontece. De acordo com Dorfman (1996), não existe liderança sem
seguidores; a liderança irá ocorrer se as pessoas aceitarem seguir o líder, legitimando-
o na situação específica.

A liderança, nas abordagens contemporâneas, é vista como um atributo que


decorre da situação. Portanto, a pessoa não nasce líder, são os seguidores que atribuem
a ela essa característica. Apesar dos vários estudos sobre liderança, muitos defendem
que a pessoa nasce líder.
Na verdade, existem pessoas que apresentam algumas características que são
comuns aos líderes, mas isso não quer dizer que elas irão assumir a liderança em
qualquer situação. É muito importante que você compreenda claramente o conceito de
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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
liderança. Se eu fosse destacar uma ou duas palavras para falar de liderança, essas
palavras seriam: influência e confiança.

Eu só serei líder de uma equipe, se as pessoas confiarem em mim e se eu


conseguir influenciar seus comportamentos. O líder precisa manter a motivação dos
seus colaboradores com atividades desafiadoras, prazerosas e com significado.

Se eu fosse destacar uma ou duas palavras para falar de liderança, essas palavras
seriam: influência e confiança. Eu só serei líder de uma equipe, se as pessoas confiarem
em mim e se eu conseguir influenciar seus comportamentos. O líder precisa manter a
motivação dos seus colaboradores com atividades desafiadoras, prazerosas e com
significado.

O ambiente de trabalho é um elemento que influencia no comportamento e nas


entregas dos colaboradores, especialmente a qualidade das relações de trabalho. Não
existe processo de liderança sem os inter-relacionamentos, que se estabelecem por
meio da comunicação, seja ela verbal ou não verbal.

Na comunicação que estabelece uma relação ganha-ganha, os relacionamentos


serão pautados pela escuta ativa, pelo respeito às diferenças, pela construção coletiva
dos aprendizados, das soluções e das decisões, da parceria e do compartilhamento de
conhecimentos. Nesse contexto, os conflitos surgidos serão de ideias e não pessoais.

Os conflitos serão vistos como algo normal e positivo, gerando ideias criativas
que irão enriquecer o processo e proporcionar excelentes resultados organizacionais.
Nos casos em que o conflito não é percebido como oportunidade de amadurecimento
e de geração de inovação, caberá ao líder redirecionar os sentimentos para garantir o
alcance dos resultados almejados.
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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Por último, serão abordados o papel e os desafios do líder no mundo


contemporâneo e a importância da pessoa assumir a liderança da sua própria carreira,
buscando os diferenciais em termos de conhecimento e habilidades, especialmente, os
comportamentos requeridos pelo mundo do trabalho.

Atualmente, ser um bom líder não é mais suficiente para que a organização
consiga enfrentar seus desafios. Uns ambientes de trabalho rico em oportunidades, com
clima de harmonia entre os pares, chefia e colaboradores, são fundamentais para manter
as pessoas na empresa, motivadas.

Objetivos:

• Compreender a importância do autoconhecimento para atuação do líder.


• Identificar os fatores-chave do líder.
• Compreender o conceito e a importância da liderança na gestão das
organizações.
• Discutir os desafios do líder no mundo contemporâneo.
• Analisar o papel de líder da própria carreira.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Tipos de líderes:

LÍDERES CARISMÁTICOS: buscam a todo momento envolver os


colaboradores em novas funções que exijam alto poder de comunicação, pessoalidade
e, ao mesmo tempo, dão constante feedback no que diz respeito ao trabalho em equipe
e o impacto das pessoas no trabalho.

LÍDERES RESOLUTIVOS: desenvolvem no colaborador a escuta ativa,


mostrando a importância de entender os conceitos e as práticas para pensar “fora da
caixa” ao resolver os problemas. Estimulam o foco em metas e objetivos direcionados
em crescimento sólido.

LÍDERES HARMONIOSOS: procuram desenvolver no colaborador foco no


resultado e comportamento de confiança. Conflitos podem dispersar o grupo no alcance
das metas e resultados. Tendem a focar no aperfeiçoamento do nível de assertividade,
para eliminar o rótulo que possa ser criado pelo foco em pessoas.

LÍDERES ANALÍTICOS: promovem o aprendizado inovador contínuo,


tentando mostrar ao colaborador o como, com base em dados e fatos. Valorizam a
disciplina e as regras como sendo a forma mais apropriada de se alcançar maiores
ambições.

Fatores-chave para um líder:

Poucas são as organizações que se preocupam em desenvolver as pessoas para


assumirem cargos de liderança, talvez por acreditarem que um bom técnico será
consequentemente um bom líder. Para liderar uma equipe é preciso um líder que exerça
influência sobre as pessoas, que saiba identificar o que as motiva, que consiga conecta-
las, formando uma sinergia que mobilize o talento de cada uma delas.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Um bom perito criminal nem sempre será um bom líder, cada um tem seu
momento dentro da equipe, porém em determinados momentos ele deverá liderar
situações em que ele é a pessoa mais indicada e treinada para tal, imagine você futuro
socorrista que não assume o papel de um líder dentro da sua equipe e se depara com
um acidente onde o mais capacitado a atender será você, sua obrigação é assumir essa
liderança sobre as pessoas leigas e orienta-las a fazer o correto, evitando mais acidentes
numa mesma cena ou até mesmo piorando o estado do acidentado por ser atendido de
forma incorreta por leigos.

Percepção e valores: Você já parou para pensar: por que você percebe o mundo
de forma diferente do seu colega de trabalho? Que fatores podem influenciar nossas
escolhas e percepção do mundo? Como somos percebidos?

Existem dois processos que nos fazem enxergar o mundo a nossa volta.

Sensação e percepção: É por meio desses dois processos que sentimos e


interpretamos o mundo. Ao captarmos o mundo, sentindo emoções e interpretando-o
de acordo com a forma que o percebemos, criamos comportamentos observáveis. Cada
pessoa interpreta o mundo de forma diferente. A percepção é o resultado de
experiências que são influenciadas por diversos fatores como, por exemplo, a família
em que fomos criados, pessoas com quem nos relacionamos e até o ambiente em que
estamos inseridos. A percepção de uma pessoa sempre estará condicionada à
experiência e às expectativas e será influenciada por alguns fatores, dentre eles,
destacamos dois: valores pessoais e modelos mentais.

Valores pessoais: É o conjunto de crenças que norteiam nossas ações e


comportamentos no que se refere à relação com outras pessoas e com o ambiente em
que vivemos. Cada pessoa tem uma priorização de valores, ou seja, uma hierarquia.
Imagine se você tivesse que escolher os cinco valores que você não abre mão em sua
vida?

Você teria uma listagem, certo?

E seu colega outra! E isso pode fazer muita diferença entre o seu comportamento
e o dele numa mesma situação. Quando estamos em um ambiente em que nossos
valores pessoais estão em sinergia e coerência com os valores de outras pessoas, temos
uma sensação de felicidade e de amparo.

Porém, em ambiente ou com pessoas com valores diferentes dos nossos, em


dissonância, podemos ter conflitos de valores e desconforto. Identificar quais são os
valores que norteiam sua carreira e vida pessoal é importante, pois por meio destes
valores você fará escolhas de profissão, amigos, viagens, religião e até de organizações
na qual irá atuar.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Para um líder, saber identificar quais são seus valores e aqueles que conduzem
os seus colaboradores, permitirá direcionar ações com significado para as pessoas,
garantindo uma equipe coesa, capaz de atingir resultados superiores.

Motivação

A palavra “motivo” pode ser encontrada em dicionários como “algo que


impulsiona um indivíduo a atuar de alguma maneira”. Logo, o estudo da “motivação”
compreende essencialmente o estudo “da direção e persistência da ação”.

Outra conceituação está relacionada à “conduta em termos dos objetivos a serem


perseguidos”. Podemos afirmar que uma pessoa possui dois pilares relacionados à
motivação: a motivação extrínseca e a motivação intrínseca.

A motivação extrínseca é quando a motivação se dá devido a um estímulo externo


ao trabalho em si, pode ser algo material como dinheiro ou intangível como uma
promoção. Tal motivação, embora atenda às nossas necessidades, tem caráter
passageiro ou temporário.

Ou seja, depois de algum tempo, será necessária uma nova motivação.

Por exemplo: você foi promovido ao cargo de líder de uma empresa, a sensação
é muito boa e você desejava muito este reconhecimento, porém, passados três anos na
função, você provavelmente almejará outro cargo.

Já a motivação intrínseca tem um caráter mais interno ao indivíduo, sendo uma


motivação inerente ou inata de uma pessoa e que não precisa de influência externa para
acontecer.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
É o motivador pessoal mais eficaz de uma pessoa. Muito impulsionado pelos
valores internos, crenças e personalidade de cada pessoa.

Os motivadores intrínsecos incluem ações como aprender a tocar um


instrumento por conta própria, pintar um quadro, ou escrever um livro.

Autoconhecimento

Antes de pensarmos em conhecer o outro, é necessário conhecer a si mesmo.


Antes de liderar alguém, é necessário que o líder lidere a si mesmo, tenha ciência de
suas fortalezas e fraquezas, conheça suas crenças, padrões mentais, emoções e o que o
motiva em sua vida.

Os valores e as crenças têm papel fundamental em nossas ações com os


liderados, pois podem nos impulsionar, como também nos limitar.

Ao ter consciência de si, o líder está apto e fortalecido para compreender seus
liderados, e, assim, direcioná-los com menos julgamento e considerá-los seres em
desenvolvimento, estimulando o potencial de cada um e maximizando os resultados
para a empresa. Em todo processo de autoconhecimento é preciso um olhar cuidadoso
para cada um dos aspectos que enxergamos nesse caminho. Alguns aspectos, muitas
vezes, já conhecemos, pois recebemos feedbacks constantes de nossos familiares e
amigos. Nem sempre estaremos prontos para lidar com aquilo que descobrimos.

Vamos imaginar, por exemplo, que acabamos de mudar para uma cidade.
Tentamos descobrir o que gostamos, o que não gostamos, quais locais são mais
interessantes, entre outros, e damos prioridade àquilo que é essencial para o nosso dia
a dia. Pode ser que, naquele momento, o que esteja nos agradando mais seja uma praça
ou um parque, mas daqui a algum tempo, não seja essencial.
Descobrimos novos locais, sensações e limitações daquela cidade. Assim é nosso
autodesenvolvimento!

Em determinada fase da vida damos mais valor a ter mais dinheiro, em outra
fase, ter mais tempo para a família. O importante é entender esta evolução e saber tirar
o melhor destas fases.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Referências

BARTOLOMÉ, F. Ninguém confia plenamente no chefe – e agora? In: Harvard


Business Review (org). Liderança: os melhores artigos da Harvard Business Review.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, pp. 104-120.

BERGAMINI, C.W. Motivações nas Organizações. São Paulo: Atlas, 1997, 4. ed., pp.
20-35.

BROWN, R. Social psychology. New York, The Free Press, 1965.

COVEY, S.R. Mentalidade e habilidades de um líder. In: Peter Drucker Foundation


(org). Liderança para o Século XXI. São Paulo: Futura, 2000, pp. 160-168.

DORFMAN, P. W. (1996). International and cross-cultural leadership research. In B.


J. Punnett, & O. Shenkar (Eds.), Handbook for international management research (pp.
267 – 349). Oxford, UK: Blackwell

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Aula 4 - RELACIONAMENTO INTERPESSOAL

Olá aluno (a), na aula de hoje vamos dar continuidade e falar um pouco
sobre relacionamento interpessoal e comunicação. Bons estudos!

Relacionamento interpessoal

Comunicar-se de maneira eficaz é uma arte, que bem poucos dominam. A


maneira como nos comunicamos define o tipo de relacionamento que queremos
estabelecer com as pessoas do nosso convívio. Em nossos relacionamentos utilizamos
a comunicação verbal e não verbal. Seja no trabalho, em família ou na sociedade,
expressarmos abertamente nossos pensamentos e interesses verbalmente.

A comunicação não verbal ou a linguagem corporal - o tipo de contato visual,


um aperto de mão, a postura em uma cadeira quando participamos de uma reunião, a
posição das mãos e braços, a forma como cruzamos as pernas -, todos estes e outros
movimentos representam sinais que são facilmente observáveis e que, de alguma
maneira, refletem sentimentos das partes envolvidas em uma conversa.

Torna-se, portanto, importante tomar consciência de como a comunicação não


verbal pode transmitir os sentimentos e as intenções das pessoas.

A qualidade dos relacionamentos e da comunicação no ambiente de trabalho,


determinam o sucesso dos resultados. A comunicação é a base das relações
interpessoais.
Os problemas na comunicação entre o líder e os membros da sua equipe,
frequentemente, geram distorções que dificultam os relacionamentos.

Você já teve oportunidade de observar como o comportamento e o humor do seu


chefe influenciam no clima do seu setor de trabalho?

O comportamento do líder tem um papel determinante na configuração do clima


organizacional, que é formado pelas relações no ambiente de trabalho. O líder é
responsável por fomentar, estimular, desenvolver e aperfeiçoar as relações
interpessoais, criando o ambiente adequado à realização das atividades e dos objetivos
organizacionais.

O fato é que os líderes não podem prescindir de determinadas competências.


Manter um clima sadio nas relações interpessoais é indispensável para a formação de
equipes eficazes. O líder é o maestro da orquestra que precisa estar bem ajustada e
integrada para que o conjunto produza resultados (melodias) que encantem a todos.
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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Como maestro, a líder precisa conhecer cada membro da sua equipe - o que os
motiva, o que valorizam, quais são seus talentos, quais são suas limitações -, criando
desafios que os valorizem.

Um colaborador desestimulado, sentindo-se subaproveitado e desqualificado,


contribui para um ambiente de trabalho negativo, que contamina todos os demais da
equipe. Quando a equipe tem pessoas mal-humoradas, amargas, insatisfeitas, se
sentindo desprestigiadas, as relações acabam se tornando pouco amistosas e distantes.
São as pessoas em cooperação que irão fazer a diferença na empresa, criando um clima
de trabalho propício ao desenvolvimento de equipes de alto desempenho.

O líder precisa convergir todas as forças em uma única direção e isto só é


possível em um ambiente de parceria e cooperação. Trabalhar em um ambiente de
camaradagem, parceria, com pessoas alegres e satisfeitas com o que realizam, é o que
boa parte dos profissionais procuram.

Mais que um bom salário, as pessoas buscam um ambiente de trabalho no qual


cada um possa realizar seus desejos pessoais e profissionais, em um clima amistoso e
tranquilo. O bom clima organizacional é um dos fatores que mais elevam a motivação
e, por consequência, a produtividade. Isso não significa que não irão ocorrer conflitos
no ambiente de trabalho.

Quando as posições divergentes são discutidas de forma saudável e construtiva,


podem gerar ideias e resultados extraordinários. Mas, os conflitos não controlados
podem frustrar os esforços da equipe e prejudicar os resultados a serem alcançados

Líder facilitador: Cada vez mais o papel do líder que comanda, determina e
centraliza é substituído pelo líder facilitador, que promove o compartilhamento de
ideias e conhecimentos, reconhecendo o potencial de cada um dos membros de sua
equipe. O líder facilitador é capaz de criar espaços para a construção coletiva de ideias,
engajar pessoas e promover debates construtivos, extraindo informações,
conhecimento e potencial de um grupo em torno de um objetivo em comum ou
resultado maior.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Pode-se dizer que, ao facilitar o processo de trabalho, o líder assume o papel de
educador, com enorme preocupação em ensinar e fazer com que todos ampliem seus
conhecimentos e habilidades. Ele reforça a iniciativa e faz com que seus liderados
assumam as responsabilidades.

Líder parceiro: Em ocasiões de crise, de dificuldades econômicas, o sentimento


de insegurança permeia todo o ambiente organizacional.

É principalmente, nestes momentos que os colaboradores mais necessitam de


parcerias para se sentirem fortalecidos para realizarem suas atividades e atingir suas
metas. Líderes abertos e próximos de sua equipe ajudam a minimizar os possíveis
reflexos desse período nebuloso. O líder parceiro é aquele que estimula o colaborador
a experimentar o novo, proporcionando um ambiente em que possa ser motivado, a
partir de um trabalho que tenha significado para ele.

Líder servidor: O líder servidor vê seus colaboradores de forma integrada, não


apenas profissional. Com esta visão, o líder servidor busca compreender as reais
necessidades de cada um dos membros de sua equipe, no sentido de auxiliar, apoiar,
ensinar, inspirar e motivar os colaboradores, para que todos possam desenvolver
potenciais e talentos. Nesse papel, o líder deve se assegurar que os membros de sua
equipe sintam os motivadores internos que os impulsionam para o sucesso. Sendo estes
motivadores pessoais, o que motiva um colaborador pode não funcionar para outro,
que é motivado por algo diferente.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Comunicação

A comunicação tem um papel importante no mundo de hoje em que as pessoas


e as empresas precisam ser eficientes em seus desempenhos e nos resultados que
geram. A boa comunicação é essencial para a eficácia de grupos e organizações.
Nenhum grupo pode existir sem a comunicação, pois é pela transferência de
significados entre seus membros que as ideias e informações são disseminadas e
compartilhadas.

Entretanto, a comunicação abrange a transferência, mas também a compreensão


do significado. Não basta falar, é preciso que o outro compreenda o que foi dito. A boa
comunicação entre o líder e seus liderados possibilita o engajamento dos
colaboradores, compatibilizando as necessidades da empresa e o interesse dos
colaboradores.

Os desafios, no entanto, não são pequenos: é preciso desenvolver essa


competência nos gestores, integrar essa perspectiva na rotina da comunicação interna
e criar mecanismos de avaliação e implementação.

Estudos têm demonstrado que a comunicação deficiente é, provavelmente, a


causa mais percebida como geradora de conflitos interpessoais. Os diversos problemas
de comunicação que existem no ambiente de trabalho podem ser resolvidos se o
emissor se responsabilizar pela comunicação. Se eu me responsabilizo pela
comunicação, eu irei escolher a melhor forma de transmitir a informação ou orientação
e verificar se a mensagem foi compreendida pelo receptor.

A comunicação numa cena de socorro é fundamental, o socorrista deve se


comunicar com sua equipe, elaborando uma forma de atendimento eficiente, para
melhor atender, sempre precisamos de um líder comunicativo em determinada cena,
coordenando o atendimento de forma eficaz, uma equipe sem um líder não é uma
equipe.

OS SETE ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO

Lembre-se, comunicar não é falar. Comunicar é a capacidade de se fazer


entender pelo outro. Para melhor compreensão, vamos começar pelos sete elementos
básicos da comunicação:

Emissor: É quem inicia o processo de comunicação, transmitindo uma


informação, demanda ou necessidade. Sua responsabilidade é escolher o tipo de
mensagem e o canal mais eficiente.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Codificação: É a transformação da informação em uma série de símbolos e
representações, que possam ser entendidas pelo receptor.

Receptor: É o indivíduo que recebe por meio dos seus sentidos, a mensagem do
emissor.

Decodificação: É a interpretação e tradução de uma mensagem para que a


informação faça sentido. Um dos principais requisitos que o receptor deve ter é a
capacidade de escutar.

Mensagem: É a informação codificada que o emissor envia ao receptor.

Canal: É a via de comunicação entre o emissor e o receptor.

Retroalimentação ou Feedback: É a resposta do receptor à mensagem do


emissor. A resposta do receptor permite verificar se a mensagem foi recebida e
compreendida.

Exemplo

Vejamos um exemplo simples de todo este processo: Roberto, Perito criminal


chefe da unidade, deseja fazer uma reunião com Carol na segunda-feira.

Roberto é a fonte de comunicação, ou seja, o emissor. Ele precisa formular uma


mensagem, convocando Carol para a reunião.

Roberto codifica sua mensagem enviando um e-mail para Carol. Carol é o


receptor da mensagem transmitida Roberto, por meio da intranet, que é o canal.

Os sentidos de Carol decodificam a mensagem. Ele responde enviando uma nova


mensagem “Prezado Chefe da Unidade, acuso recebimento e confirmo minha
participação”, que é o feedback que confirma que a mensagem foi recebida e
compreendida. Comunicar é algo tão automático na nossa vida, que você deve estar
surpreso com todos estes detalhes no processo de comunicação. É exatamente pela
complexidade deste processo e do pouco cuidado com todos estes detalhes que temos
tantos problemas de comunicação, seja nas relações pessoais ou de trabalho.

O feedbackque com as equipes é muito importante principalmente após realizar


um atendimento, colocando no que poderiam melhorar, de como foi o atendimento,
qual foi a dificuldade do colega durante o atendimento, ou seja, levantar os problemas
e acertos realizando uma conversa e colocando soluções simples, com o objetivo de
melhorar o atendimento o facilitando a investigação.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Referências

BARTOLOMÉ, F. Ninguém confia plenamente no chefe – e agora? In: Harvard


Business Review (org). Liderança: os melhores artigos da Harvard Business Review.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, pp. 104-120.

BERGAMINI, C.W. Motivações nas Organizações. São Paulo: Atlas, 1997, 4. ed., pp.
20-35.

BROWN, R. Social psychology. New York, The Free Press, 1965.

COVEY, S.R. Mentalidade e habilidades de um líder. In: Peter Drucker Foundation


(org). Liderança para o Século XXI. São Paulo: Futura, 2000, pp. 160-168.

DORFMAN, P. W. (1996). International and cross-cultural leadership research. In B.


J. Punnett, & O. Shenkar (Eds.), Handbook for international management research (pp.
267 – 349). Oxford, UK: Blackwell

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 4)

Caro aluno (a), a respeito do conteúdo abordado nessa aula responda:

1. Comunicação e liderança: por que elas devem caminhar juntas?


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2. Como você vivência essa experiência integrativa no seu ambiente de trabalho?


(Caso não tenha experiência profissional no momento, relate quais os pontos
primordiais para uma boa integração no ambiente de trabalho).
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3. Quais seriam os princípios fundamentais para a comunicação ser efetiva no


ambiente de trabalho?
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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Aula 5 - PRINCÍPIOS ÉTICOS

Olá aluno (a), na aula de hoje vamos falar sobre os princípios éticos, dentro
do ambiente de trabalho e no nosso dia a dia, mostrando sua importância quando
forem atuar em casos que terão que manter sua confidencialidade, tudo se baseia
em ética e moral. Bons estudos.

Princípios éticos

A ética estuda uma área da filosofia que tem como objeto de estudo o
comportamento do ser humano em relação à moral. Os códigos de ética têm por base
um conjunto de princípios morais que determinam o que deve ou não deve ser feito em
função do que é considerado certo ou errado por determinada comunidade. Ser ético é
agir de acordo com os padrões convencionais; é não prejudicar o próximo.

A ética, portanto, está associada ao estudo dos valores morais que orientam o
comportamento humano em sociedade, enquanto que a moral está associada aos
costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade.

A moral é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente


por cada cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os
seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau.

Na prática, os dois termos guardam semelhança nos seus significados. Ética e


moral representam a base que orienta a conduta das pessoas, como se comportar e agir
em sociedade.

Quando um mendigo pede auxílio, você pode ajudar ou não. Não existe, na ética,
determinação para essa situação, contudo os seus valores pessoais farão com que você
reflita sobre a situação e dê a ajuda ao pedinte ou não.

Outro exemplo pode ser tirado das situações ilícitas como roubar ou matar. Essas
situações são legalmente proibidas, sendo eticamente ilegais e, da mesma forma, não
condizem com os bons valores e costumes da sociedade, sejam quais forem as razões.
Portanto, cometer atos ilícitos como roubar e matar geram punições legais e morais.

As organizações costumam ter seus códigos de ética, que explicitam, de forma


clara e objetiva, o que é permitido ou não no ambiente de trabalho, relacionados à ética
profissional.

1
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Quando um colaborador, por interesse de crescimento profissional, prejudica
algum colega, essa atitude é considerada ética e moralmente incorreta. Esse
colaborador não estará agindo de acordo com o código de ética profissional, e seu
comportamento não condiz com o comportamento moral considerado correto pela
sociedade.

ÉTICA X MORAL

Na sociedade existe uma grande confusão quando falamos de ética e moral,


muitos confundem a ética e a moral, sendo que tem diferentes significados. A ética está
associada ao estudo fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento
humano em sociedade, enquanto a moral são os costumes, regras, tabus e convenções
estabelecidas por cada sociedade. (CUNHA, 2015).

ÉTICA E RELIGIÃO

No passado a religião dominava todas as classes sociais e pregava moralidade


nas tradições e bons costumes do povo servindo ainda para manter as pessoas bem-
comportadas e obedientes. Nos dias de hoje com acesso a informação por muitos meios
de comunicação e conhecimento a maioria dos indivíduos já divide opiniões não quais
acreditam que não é obrigatório ter um comportamento religioso para ser moral e ético
os costumes impostos pela família, ajudam muito para que a pessoa cresça com mais
moral e tenha ética em seu modo de agir. (BREGA, 2012).

As normas morais e os códigos éticos não dependem da nossa natureza biológica,


mas da evolução cultural. As premissas dos nossos juízos morais provêm da tradição
religiosa e de outras tradições sociais, mas apressa-se a acrescentar: os sistemas morais,
assim como qualquer outra atividade cultural, não podem sobreviver muito tempo se
evoluem em franca contraposição com a nossa natureza biológica (Ayala,2006)

Se formos analisar de forma ampla as religiões são baseadas em sistemas


filosóficos, daí a sua ligação natural à ética a sua ligação à ideia de sociedade livre é
mais problemática. Nem todas as religiões podem levar a uma sociedade livre na
medida em que não concebem o livre arbítrio e a responsabilidade última do indivíduo,
a sociedade moderna só foi possível pela conjugação dos progressos civilizacionais
que a antecederam a dedicação grega à ciência pela razão. (Peterson 2011)

A ética e a moral historicamente são constituídas pelo processo de mudança entre


as sociedades e as épocas as doutrinas éticas fundamentais nascem e se desenvolvem
em diferentes épocas e sociedades como respostas aos problemas básicos apresentados
pelas relações entre os homens, e, em particular pelo seu comportamento moral efetivo
como demonstra a própria história da humanidade, a moral não somente se originada
2
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
religião, mas também é anterior a ela durante milênios, o homem primitivo viveu sem
religião, mas não sem certas normas consuetudinárias que regulamentavam as relações
entre os indivíduos e a comunidade e, ainda que em forma embrionária, já tinham
caráter moral. (Vazquez,2008)

Ética com passar do tempo

Segundo Reale (1999), “ética é a ciência normativa dos comportamentos


humanos”. Maximiano, define ética como a disciplina ou campo do conhecimento que
trata definição e avaliação de pessoas e organizações, é a disciplina que dispõe sobre o
comportamento adequado e os meios de implementá-lo, levando-se em consideração
os entendimentos presentes na sociedade ou em agrupamentos sociais particulares.

Dentro deste contexto Motta, afirma:

A Ética baseia-se em uma filosofia de valores compatíveis com a natureza e o


fim de todo ser humano, por isso, "o agir" da pessoa humana está condicionado a duas
premissas consideradas básicas pela Ética: "o que é" o homem e "para que vive", logo
toda capacitação científica ou técnica precisa estar em conexão com os princípios
essenciais da Ética (MOTTA, 1984, p. 69).

A ética vem mudando com o passar do tempo, assim como os costumes, se


formos pensar a anos atrás alguns costumes que hoje são normais eram banalizados
pela sociedade e até ser penalizado a morte um exemplo é o adultério, considerado uma
falta grave em épocas passadas e hoje amplamente tolerado pelo meio social.

Da mesma forma a escravidão, tida como normal até o final do século 19, e hoje
taxada como prática odiosa, há valores que se alteram ao sabor do tempo, mas, quando
se lida com a ética, é muito difícil considerar que o que era bom em outra época é ruim
hoje ou vice- versa, ou seja, revisitar a história nem sempre dá certo na resolução desse
enigma, uma vez que questões éticas nunca são questões fáceis a percepção de certo
ou errado vem mudando com esse passar do tempo. (Ribeiro 2015)

Constata-se então o forte conteúdo ético presente no exercício profissional e sua


importância na formação de recursos humanos.

É muito fácil encontrar a falta de honestidade quanto existe a fascinação pelos


lucros, privilégios e benefícios fáceis, pelo enriquecimento ilícito em cargos que
outorgam autoridade e que têm a confiança coletiva de uma coletividade. Já
ARISTÓTELES (1992) em sua "Ética a Nicômanos" analisava a questão da
honestidade.

3
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
A honestidade é a primeira virtude no campo profissional, é um princípio que
não admite relatividade, tolerância ou interpretações circunstanciais.

Em recente artigo publicado na revista exame o consultor dinamarquês Moller


(1996, p.103-104) faz uma associação entre as virtudes lealdade, responsabilidade e
iniciativa como fundamentais para a formação de recursos humanos. Segundo Moller
o futuro de uma carreira depende dessas virtudes.

Sem responsabilidade a pessoa não pode demonstrar lealdade, nem espírito de


iniciativa. Uma pessoa que se sinta responsável pelos resultados da equipe terá maior
probabilidade de agir de maneira mais favorável aos interesses da equipe e de seus
clientes, dentro e fora da organização. A consciência de que se possui uma influência
real constitui uma experiência pessoal muito importante. (MOLLER, 1986)

As mudanças social e cultural e as complexidades que elas criam para as


interações humanas, que vão do individual para as corporações globalizadas, têm
fornecido uma explicação para uma incidência crescente e aparente ampliação do
comportamento organizacional antiético. Isso leva a uma frequência quase comum do
colapso ético das organizações e dos indivíduos que são responsáveis por liderá-las e
dirigi-las (BRUHN, 2009).

Ética perante a sociedade

As pessoas precisam ser éticas perante a sociedade dentro da profissão e fora,


estes são valores do indivíduo, e não somente do profissional, profissional deve seguir
tanto os padrões éticos da sociedade quanto as normas e regimentos internos das
organizações. A ética profissional proporciona ao profissional um exercício diário e
prazeroso de honestidade, comprometimento, confiabilidade, entre tantos outros, que
conduzem o seu comportamento e tomada de decisões em suas atividades. Por fim, a
recompensa é ser reconhecido, não só pelo seu trabalho, mas também por sua conduta
exemplar (MACHADO 2009).

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Uma visão ética acerca do mundo atual

Sendo o ser humano capaz de cultivar o bem, também é capaz de cultivar o que
é mal. Nisto que consiste fazer boas encolhas entre virtude e vícios, ou seja, ser ético
ou desprezar o intelecto virtuoso de agir perante as coisas.

Talvez pudéssemos considerar a infelicidade fruto de escolha, como fruto das


más ações do ser humano. A infelicidade pode ser a grande vilã de uma sociedade
decaída, pobre e miserável. Podemos pensar as infelicidades mascaradas com outros
substantivos bem conhecidos do ser humano (SILVA, 2009).

A infelicidade pode talvez ser nomeada de desigualdade social, fome, miséria,


doenças e outros substantivos desse gênero. Um desencadeamento de maledicências
decorrente de uma falta de ética humanitária.

Talvez seja possível reconhecer que os frutos das mazelas da infelicidade sejam
as guerras, o desentendimento, a falta de caridade e fraternidade entre os povos e entre
as pessoas da mesma raça e etnia. Pode ser possível que a infelicidade seja o mal que
assola a humanidade. O mundo está carente de uma ética prática, que faça do ser
humano mais humano para com os outros.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Estamos necessitados de uma reflexão sobre o sentido da vida do outro, a


importância do outro. Não é mais possível deixar que nosso egoísmo, racismo e
intolerância religiosa, exclua o outro de fazer parte da sociedade que desfruta das
benesses da minoria.

Esta falta de respeito ético é explícita na camada governamental do nosso pais.


Quando nos deparamos com escândalos de senadores, governadores e outros mais deste
meio.

O favoritismo para com poucos e o desrespeito para com o povo que trabalha e
serve de alicerce que sustenta uma minoria gananciosa e sem compaixão para com os
demais. Poderíamos também refletir a falta de ética do próprio povo quando não tem
uma visão crítica daqueles que elege pelo voto. Nossas escolhas devem ser baseadas
nas virtudes, a partir das virtudes podemos construir uma sociedade ética, ou seja, com
igualdade, respeito, educada e consciente de seu papel no mundo.

Por mais ignorantes que sejamos, sabemos que o bem é melhor que o mal,
mesmo que alguém possa ter uma mentalidade fraca, escolhe o que é bom para si.
Muitos filósofos considerarão em alguns textos que o bem é o que está além do nosso
mundo, a perfeição de tudo que é bom.

Tal quanto o mal foi entendido como deficiência. Podemos também pensar a
felicidade como bem do ser humano, o bem do qual podemos estar destinados segundo
nossa vida. Temos em nosso mundo uma participação na perfeição da bondade (LEITE,
2014).

Bibliografia

https://www.sbcoaching.com.br/etica-profissional-importancia/

https://www.ibccoaching.com.br/portal/comportamento/importancia-conduta-
etica-trabalho/

https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/diferenca-entre-etica-moral.htm

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Aula 6 - NOÇÕES BÁSICAS DE BIOSSEGURANÇA

Olá aluno (a), na aula de hoje vamos falar sobre noções básicas de
biossegurança, dando ênfase no uso de equipamento de proteção individual.

Introdução

A Biossegurança é um conjunto de ações voltadas para prevenção, minimização


ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino,
desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, as quais possam comprometer a
saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos
desenvolvidos.

A Biossegurança está presente ao adotarmos procedimentos específicos para


evitar ou minimizar os riscos de atividades potencialmente perigosas que envolvem
organismos vivos.

Os profissionais que atuam em local de crime estão expostos a risco biológico


intenso e permanente por manusearem artigos com matéria orgânica das vítimas
atendidas, podendo ser veículos de transmissão de microrganismos para si próprios
como também para outras vítimas.

Esse risco é ainda maior quando se considera as condições adversas em que o


serviço é prestado, uma vez que acontece fora do ambiente hospitalar, favorecendo a
contaminação.

Deve-se ainda considerar o risco aumentado dos usuários desse serviço de


contraírem algum tipo de infecção ocasionada na pele relacionada a ferimentos e
escoriações e ao local, normalmente insalubre em que os acidentes ocorrem (asfalto,
terra, lixo e outros). Risco este também relacionado à inadequada limpeza e
desinfecção da viatura ou dos materiais de trabalho.

Sendo assim, faz-se necessária a implementação de treinamentos e protocolos de


biossegurança destinados às suas atividades para a minimização dos riscos aos
profissionais e aos usuários desse serviço. O conhecimento é importante para a
formação da chamada disciplina consciente, onde o militar adere às práticas e às rotinas
de biossegurança, independentemente de qualquer tipo de fiscalização.

O conhecimento é fundamental para o seu bem-estar, de sua equipe e das


possíveis vítimas que serão atendidas.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Conceitos

Para o melhor entendimento deste capítulo é necessário o conhecimento dos


seguintes conceitos:

● Artigos: materiais e/ou equipamentos destinados à conservação e assistência


à saúde individual ou coletiva, à higiene pessoal ou de ambientes.

●Reprocessamento: passos para converter um produto contaminado em


dispositivo biologicamente seguro e pronto para uso.

● Limpeza: processo pelo qual ocorre na remoção física da sujidade dos artigos,
realizada com água e sabão apropriado, por meio de ação mecânica. É a primeira e
mais importante etapa para a eficácia do procedimento de desinfecção de artigos.
Todos os artigos, materiais e equipamentos devem ser lavados antes de ser desinfetados
ou esterilizados, independentemente de presença visível de sujidade e/ou matéria
orgânica. A limpeza deve ser feita sempre com água e sabão. Se for utilizado o método
de imersão, deve-se utilizar preferencialmente o detergente enzimático.

● Tipos de limpeza:

● Concorrente: procedimento de limpeza realizado nas trocas de plantão e após cada


ocorrência (atendimento), com o objetivo de limpar e organizar o ambiente, repor os
materiais de consumo e recolher os resíduos.

● Terminal: limpeza minuciosa, abrangendo todas as superfícies horizontais e verticais.


Ela deve ser programada, geralmente para cada 15 dias, quando ocorre a retirada da
viatura da escala de serviço para a limpeza, bem como de todos os materiais é
necessária a programação para que não haja prejuízos ao serviço.

● Desinfecção: processo físico ou químico aplicado a objetos inanimados e superfícies,


que destrói todos os microrganismos causadores de doenças (patogênicos), com
exceção de esporos bacterianos, estes por sua vez são eliminados parcialmente com a
desinfecção em torno de 98%, sendo a esterilização a responsável pela eliminação
completa destes micro-organismos.

● Produtos saneantes: produtos utilizados para a limpeza e desinfecção (sabões,


detergentes e desinfetantes).

● Precauções Padrão (PP): são ações adotadas pelos profissionais expostos a riscos
biológicos no atendimento a todo e qualquer paciente, independentemente de doença
infectocontagiosa diagnosticada. O profissional deve ter postura consciente da
utilização destas precauções como forma de não se infectar ou servir de fonte de
contaminação, visto que não é possível saber previamente se as vítimas são portadoras
2
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
de doenças infectocontagiosas como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(AIDS), hepatites, meningites e outras.

As Precauções Padrão constituem em:

• Correta higienização das mãos;


• Uso adequado de equipamentos de proteção individual – EPI;
• Descarte adequado de perfuro cortantes.

Higienização das mãos: A higienização das mãos é medida simples, individual,


consciente e indiscutivelmente a mais eficiente e menos dispendiosa na prevenção de
infecções. Essa medida se torna indispensável devido às condições adversas em que o
serviço acontece, aumentando consideravelmente a exposição biológica. A
higienização simples é realizada com água e sabão e indicada nas seguintes situações:

Quando as mãos estiverem visivelmente sujas ou contaminadas com sangue e


outros fluidos corporais;

• Ao iniciar e terminar o plantão;


• Antes e após ir ao banheiro;
• Antes e depois das refeições;
• Após várias aplicações consecutivas de produto alcoólico; e
• Entre cada atendimento.

BARREIRAS DE CONTENÇÃO - EPI e EPC

É a utilização correta das medidas de proteção para minimizar qualquer risco


para o profissional.

EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPIS)

“Todo dispositivo ou produto de uso individual utilizado pelo trabalhador,


destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no
trabalho”.

OS EPI ́S UTILIZADOS NO DIA A DIA DOS PROFISSIONAIS SEJA ELE DA


SAÚDE OU DA SEGURANÇA PÚBLICA SÃO:

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
1. Calçados: Para proteger de respingos de substâncias químicas; material
biológico; derramamento de líquidos quentes; impacto de objetos; cacos de vidrarias;
materiais perfuro cortantes, etc.

ATENÇÃO:

Calçados que NÃO devem ser usados:

• Tamancos;
• Sapatos de salto alto;
• Sandálias e sapatilhas;
• Sapatos de tecido.

LUVAS:

As luvas são equipamentos padrão como barreira biológica. Devem ser


anatômicas, resistentes, confortáveis e flexíveis. Temos as Luvas Estéreis (luvas
cirúrgicas) e Luvas Descartáveis ou não estéreis (luvas de procedimento), que servem
para manipulação de materiais potencialmente infectantes (sangue e fluidos corporais).

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Temos também as luvas Reutilizáveis: resistentes a rasgos, cortes e detergentes.


Devem ser descontaminadas após o uso, e servem para a parte da limpeza e lavagem
de material.

Quando utilizar luvas?

Sempre que houver risco e\ou contato direto com sangue e fluidos corporais,
membranas, mucosas, lesões de pele ou qualquer outro material potencialmente
infectado;

Durante a manipulação de pacientes colonizados ou infectados com patógenos


transmissíveis por contato.

Toucas ou Gorros

Esse material Evita acidentes ou contaminação por microrganismos e também a


contaminação do ambiente de Trabalho.

Nossos cabelos são veículos de contaminantes e o gorro deve envolver


completamente o cabelo; deve permitir a oxigenação do couro cabeludo e podem ser
reutilizáveis ou descartáveis.

Óculos

São usados em situações em que ocorrem riscos de exposição do profissional a


respingos de sangue, secreções ou excreções, durante a realização de suas atividades
ou mesmo manejo e transporte de materiais contaminados.

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

OBSERVAÇÃO: O uso de óculos de grau não isenta ao uso dos óculos de


proteção, pois depende do tipo de lente empregada que deve ser compatível com
o uso de respiradores ou máscaras.

Devem proteger completamente os olhos, sem comprometer o campo visual.


Os Óculos comuns não oferecem proteção adequada. Devem ser constituídos de
material que permita a desinfecção.

Equipamento de Proteção Respiratória (EPR)

Máscaras cirúrgicas;

Máscara N95

Quando utilizar?

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Durante a realização de procedimentos em que exista risco de contágio por
secreções respiratórias, sangue e fluidos corporais um exemplo é um paciente que
apresenta quadro de tosse.

EPCS – equipamentos de proteção coletiva

Caixa para descarte de artigos perfuro cortantes:

Nas quais suas paredes devem ser rígidas e apropriadas para descartar materiais
como agulha, ampolas e vidros em geral. Deve ser utilizada até a sinalização pontilhada
efetuada pelo fabricante, não ultrapassando dois terços de seu volume.

Chuveiro de Emergência: está presente principalmente em laboratórios, com


função de eliminar ou minimizar os danos em caso de acidentes com produtos
químicos, biológicos ou fogo.

Tipos de exposições

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Os profissionais peritos podem exercer atividades onde há risco de exposição ao
sangue e a outros materiais biológicos.

As exposições que podem trazer riscos de transmissão ocupacional do HIV e dos


vírus das hepatites B (HBV) e C (HCV) são definidas como:

• Exposições percutâneas – lesões provocadas por instrumentos perfurantes e


cortantes (por ex. agulhas, bisturi, vidrarias);

• Exposições em mucosas – por exemplo, quando há respingos na face envolvendo


olho, nariz, boca ou genitália;

• Exposições cutâneas (em pele não íntegra) – por exemplo, contato com pele com
dermatite ou feridas abertas;

• Mordeduras humanas – consideradas como exposição de risco quando


envolverem a presença de sangue, devendo ser avaliadas tanto para o indivíduo
que provocou a lesão quanto àquele que tenha sido exposto.

Cuidados imediatos com a área de exposição

Recomendam-se como primeira conduta, após a exposição a material biológico,


os cuidados imediatos com a área atingida. Essas medidas incluem a lavagem exaustiva
do local exposto com água e sabão nos casos de exposições percutâneas ou cutâneas.

Apesar de não haver nenhum estudo que demonstre o benefício adicional ao uso
do sabão neutro nesses casos, a utilização de soluções antissépticas degermantes é uma
opção. Não há nenhum estudo que justifique a realização de expressão do local exposto
como forma de facilitar o sangramento espontâneo.

Nas exposições de mucosas, deve-se lavar exaustivamente com água ou com


solução salina fisiológica. Procedimentos que aumentam a área exposta (cortes,
injeções locais) e a utilização de soluções irritantes como éter, hipoclorito ou
glutaraldeído são contraindicados.

Quimioprofilaxia para o HIV

As principais evidências da quimioprofilaxia pós-exposição ocupacional (PEP)


dos medicamentos antirretrovirais na redução da transmissão do HIV estão baseadas
em:

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Estudo caso-controle, multicêntrico, envolvendo profissionais de saúde que
tiveram exposições percutâneas com sangue sabidamente infectado pelo HIV.

Evidências com os protocolos de uso de antirretrovirais para prevenção da


transmissão vertical do HIV sugerindo um efeito protetor com o uso dos medicamentos
pós-exposição.

Sinalizações presentes no cotidiano do profissional

• Resíduos com risco biológico - Grupo A


• Resíduos com risco químico - Grupo B
• Rejeitos radioativos - Grupo C
• Resíduos comuns - Grupo D
• Resíduos perfuro cortantes - Grupo E

Riscos biológicos

Considera-se Risco Biológico a probabilidade da exposição ocupacional a


agentes biológicos (agentes Biológicos os microrganismos, geneticamente
modificados ou não; as culturas de células; os parasitas; as toxinas e os príons).

Riscos químicos

Deve ser mantida a rotulagem do fabricante na embalagem original dos produtos


químicos utilizados em serviços de saúde. Todo recipiente contendo produto químico
manipulado ou fracionado deve ser identificado, de forma legível, por etiqueta com o
nome do produto, composição química, sua concentração, data de envase e de validade,

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
e nome do responsável pela manipulação ou fracionamento. É vedado o procedimento
de reutilização das embalagens de produtos químicos.

Radiações ionizantes

Definido como qualquer material derivado do uso pacífico de energia nuclear


que contém isótopos radioativos para os quais não se espera reutilização.

Resíduo comum

Todo o resíduo reciclável é capaz de passar pelo processo de transformação.


Nesse processo o resíduo pode voltar para o seu estado original ou se transformar em
outro produto. Os resíduos recicláveis devem ser separados e armazenados
corretamente.

Material perfuro cortante


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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
São objetos com partes rígidas ou agudas que possuem fios de corte capazes de
perfurar ou cortar, como agulhas, lâminas, pinças, seringas, vidros, entre outros.

Podemos verificar que são diversos os riscos que o

profissional pode enfrentar no seu dia a dia, por isso a

importância de usar equipamentos de proteção individual.

Bibliografia

https://pt.wikipedia.org/wiki/Biosseguran%C3%A7a

https://onsafety.com.br/o-que-e-biosseguranca-e-porque-e-tao-importante/

https://blog.radcare.com.br/quais-sao-as-principais-normas-de-biosseguranca/

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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Atividade Complementar (Aula 6)

Caro aluno (a), conforme visto nesta aula podemos definir o quão importante é
a biossegurança em nossas vidas, principalmente no ambiente de trabalho, levando em
consideração o que aprendeu sobre conduta pós exposição. Escreva com no máximo
30 linhas qual é a conduta pós exposição, a material com suspeita de contaminação
por vírus HIV e Hepatite C.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Aula 1 - INTRODUÇÃO A CROMATOGRAFIA - Parte 1

Olá aluno (a), seja bem-vindo (a) a aula um do módulo dois, nessa aula vamos
conhecer um pouco sobre cromatografia, vamos dividi-la em duas partes. Bons estudos.

Introdução

Caro aluno (a), a utilização de substâncias psicoativas é antiga na história da


civilização, sendo que as primeiras experiências humanas ocorreram através do
consumo de plantas. Há bastante tempo atrás, o homem isolou princípios ativos
vegetais como morfina, cocaína e efedrina. Entretanto, foi no final do século passado
que uma substância psicoativa foi totalmente produzida em laboratório, sendo que este
fato ocorreu com o surgimento das anfetaminas. As drogas produzidas em laboratório
podem criar ou aumentar os efeitos psicoativos e também burlar a legislação vigente.
Desta forma, a facilidade em obter os materiais necessários e seus baixos custos
permite que tais drogas sejam sintetizadas em laboratórios clandestinos sintéticos. Com
a facilidade em sintetizar novas drogas existe uma grande dificuldade em identificar as
diversas classes de droga corretamente. A dificuldade em analisar estas novas drogas
pelos métodos que já são conhecidos é por causa das grandes modificações ocorridas
nas moléculas e também a grande rapidez que elas surgem no mercado. Assim, para
acompanhar o desenvolvimento de drogas ilícitas é necessário adaptar continuamente
os métodos de análises existentes ou propor novos métodos que possam determinar
corretamente estes novos compostos. Desta forma, existe uma grande importância na
utilização de métodos analíticos para a detecção e caracterização de drogas. Assim, é
de grande importância estudar as técnicas utilizadas para o isolamento e identificação
de substâncias tóxicas, incluindo drogas de abuso, medicamentos e outras substâncias.
Ao longo do estudo serão abordadas as principais técnicas analíticas para a
identificação de substâncias tóxicas, como por exemplo, as técnicas cromatográficas e
as técnicas espectroscópicas. Será estudada também a detecção de drogas in vivo.

Objetivos:

• Promover o conhecimento sobre as técnicas cromatográficas, descrevendo a


Cromatografia em Camada Delgada, a Cromatografia Gasosa e a Cromatografia
Líquida de Alta Eficiência.

• Demonstrar as técnicas espectroscópicas, descrevendo a Espectroscopia no


Infravermelho, a Espectroscopia no Ultravioleta e a Espectroscopia Magnética
Nuclear.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
• Analisar a detecção de drogas in vivo, descrevendo o tratamento de amostras, a
detecção de drogas em amostras de sangue, a detecção de drogas em amostras
de urina e a detecção de drogas em amostras de cabelo.

• Queridos leitores, o objetivo deste módulo é descrever passo-a-passo a detecção


e caracterização de substâncias tóxicas, sendo as drogas de abuso, medicamentos
ou outras substâncias.

Técnicas cromatográficas

Entre os métodos modernos de análise, a cromatografia possui uma grande


importância por causa da sua facilidade em efetuar a separação, identificação e
quantificação das espécies químicas, por si mesma ou em conjunto com outras técnicas
instrumentais de análise, como, por exemplo, a espectrofotometria ou a espectrometria
de massas. A cromatografia é um método físico-químico de separação dos
componentes de uma mistura. A separação é feita pela distribuição dos componentes
entre duas fases, os quais estão em contato íntimo. Uma das fases permanece
estacionária enquanto a outra se move através dela. Durante a passagem da fase móvel
sobre a fase estacionária, os componentes da mistura são distribuídos entre as duas
fases, de tal forma que cada um dos componentes é seletivamente retido pela fase
estacionária, resultando em migrações diferenciais destes componentes. Existem várias
formas de se fazer o processo cromatográfico e os detalhes destas formas serão
discutidos a seguir.

CROMATOGRAFIA EM CAMADA DELGADA

A Cromatografia em Camada Delgada (CCD) é baseada na separação dos


componentes de uma mistura através da migração diferencial sobre uma camada
delgada de adsorvente retido sobre uma superfície plana (COLLINS, 1995). Esta
técnica é indispensável em qualquer laboratório que envolva análise de substâncias
orgânicas e organometálicas. A cromatografia em camada delgada tem várias
vantagens sobre outras formas de cromatografia:

A preparação da amostra é simples:

• As amostras podem ser comparadas diretamente durante toda a corrida;

• O desenvolvimento paralelo de amostras relacionadas e não relacionadas pode


ser feito simultaneamente;

• Vários procedimentos de detecção podem ser aplicados, frequentemente na


mesma placa;
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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
• A separação pode ser acompanhada todo o tempo e interrompida quando
desejado ou quando se troca o sistema de solventes;

• O volume de solventes e outros reagentes é muito pequeno.

O processo de separação da cromatografia em camada delgada está


fundamentado, principalmente, no fenômeno da adsorção. Entretanto, usando fases
estacionárias tratadas pode ocorrer também por partição ou troca iônica, o que permite
seu emprego tanto na separação de substâncias hidrofóbicas como hidrofílicas
(COLLINS, 1995). Na cromatografia em camada delgada a fase estacionária é uma
fina camada de um adsorvente colocada sobre um material rígido e inerte, como uma
placa de vidro ou uma folha de alumínio ou de plástico. Entre os adsorventes mais
utilizados em cromatografia em camada delgada estão a sílica, a alumina, a celulose e
a poliamida. Na cromatografia em camada delgada o processo de separação ocorre em
uma superfície plana e essencialmente em duas dimensões (COLLINS, 1995). A
química legal tem utilizado muito a cromatografia em camada delgada, por causa de
sua boa capacidade na análise preliminar de drogas.

ADSORVENTES:

Sílica (SiO2): Ácido silício amorfo, altamente poroso, é um dos adsorventes


mais utilizados em cromatografia por adsorção. Apresenta caráter fracamente ácido,
que pode ser aumentado pela presença de impurezas ácidas, podendo ocorrer como
consequência fenômenos de quimiosorção de bases ou reações ácido-catalizadas das
amostras. Geralmente, a sílica é empregada na separação de compostos lipofílicos
como aldeídos, cetonas, fenóis, ácidos graxos, aminoácidos, alcaloides, terpenoides e
esteroides, usando o mecanismo de adsorção (COLLINS, 1995).

Alumina (Al2O3): A alumina é o segundo adsorvente mais utilizado. Possui


características alcalinas, embora possa também ser preparada para apresentar
características neutra ou ácida. A alumina pode catalisar diversas reações orgânicas,
como as condensações de compostos carbonílicos. A alumina é geralmente empregada
na separação de compostos lipofílicos e também separa bem hidrocarbonetos
policíclicos, alcaloides, aminas e vitaminas lipossolúveis (COLLINS, 1995).

Terra Diatomácea: É um adsorvente neutro amplamente empregado como


suporte nas separações por partição. Quando comparado com a sílica e alumina é
menos adsorvente e com menor poder de resolução. Algumas vezes é adicionado à
sílica para diminuir seu poder adsorvente (COLLINS, 1995).

Celulose: Existem vários tipos de celulose, por exemplo, a celulose impregnada


com polietilenoimina (PEI-celulose), empregada na separação de nucleotídeos e
nucleosídeos; a carboxilmetil-celulose (CM-celulose) para a separação de proteínas; a
3
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
dietilaminoetil-celulose (DEAE-celulose) para a separação de proteínas e ácidos
nucléicos, e uma mistura de celulose alcalina; trietanolamina e epicloridrina
(ECTEOLAcelulose) para separação de proteínas e ácidos nucleicos; e a celulose
microcristalina pode ser empregada na separação de ácidos carboxílicos, aminoácidos,
carboidratos, cátions inorgânicos e fosfatos (COLLINS, 1995).

Poliamida: Existem dois tipos de poliamida: a poliamida 11, que é preparada a


partir do ácido poliaminoundecanóico (Nylon 11), e a poliamida 6, a qual vem da
aminopolicaprolactama (Perlon). As separações ocorrem através da competição, pela
formação de ligações de hidrogênio com o adsorvente, entre soluto a as fases. Tem sido
empregada na separação de fenóis e de ácidos carboxílicos. Este adsorvente não é
muito utilizado devido à dificuldade em se preparar as cromatoplacas no laboratório,
em função de sua baixa aderência ao vidro (COLLINS, 1995).

Preparação da placa

A placa cromatográfica pode ser preparada manualmente ou com o auxílio de


espalhadores. Independentemente da maneira escolhida para preparar a placa é
necessária a realização da limpeza da placa de vidro antes da iniciação do processo.
Quando se utiliza espalhadores para a aplicação do adsorvente tem que ter cuidado com
tamanho da placa, pois os espalhadores, em geral, são construídos para a utilização em
placas de 20 cm de comprimento e largura variável. Se a aplicação for manual este
problema é evitado. Assim, uma suspensão de adsorvente é depositada uniformemente
sobre a placa, com o auxílio de espalhadores, o qual é um dispositivo comercial
próprio. A espessura de adsorvente recomendada é de 150-250 µm. Após secagem ao
ar por algumas horas ou em estufa a 80-90o C por cerca de 30 minutos, a placa está
pronta para o uso. A função dos espalhadores é manter as placas fixas em um suporte
e sobre elas deslizas um recipiente contendo a suspensão adsorvente. Enquanto o
recipiente desliza, deixa escoar a suspensão, através de uma fenda regulável existente
ao longo de sua base. A abertura da fenda varia segundo a origem do equipamento,
entretanto, em geral estão dentro dos limites de 0 a 2,0mm. Existem ainda espalhadores
que mantêm o recipiente, com adsorvente, fixo e sob ele deslizam as placas fixadas em
um suporte móvel. Quando não se utiliza o espalhador comercial, existem outras
formas bastante simples de se preparar a placa. Desta forma, realiza-se a preparação da
suspensão do adsorvente no solvente adequado, e mantendo-se a placa de vidro na
horizontal, transfere-se a suspensão para a superfície da placa, espalhando-a de maneira
uniforme com o auxílio de um bastão de vidro e movimentando a placa para permitir a
uniformização da suspensão. Coloca-se a placa em uma superfície plana horizontal e
deixa-se secar ao ar. A dificuldade encontrada neste processo é a obtenção de
superfícies uniformes. Outro processo bastante simples, mas indicado para placas de
pequenas dimensões, consiste na imersão da placa em uma suspensão do adsorvente,
mantido em um frasco fechado de boca larga. Nestes casos, a suspensão é feita em um
solvente orgânico volátil, como o clorofórmio. Junta-se duas placas com faces
4
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
justapostas e mergulha-se na suspensão, segurando-se com uma pinça, e então, retira-
se lentamente. Posteriormente, as placas são separadas, o solvente é evaporado e a
camada de adsorvente exposta ao vapor d´água. Com este processo é possível obter
superfícies bem mais delgadas e uniformes, o que permite a utilização de menores
quantidades de amostras e desenvolvimento mais rápido dos cromatogramas. Placas
preparadas desta maneira têm seu uso restrito à escala analítica.

Também existe a possibilidade de utilização de placas pré-fabricadas dos


adsorventes mais utilizados, pois estão disponíveis no mercado. Estas placas possuem
um custo mais elevado, mas dispensam a fase de preparação e são bem mais uniformes
e homogêneas, sendo que estes fatores melhoram a separação e torna os valores de R
(fator de retenção) mais reprodutíveis (COLLINS, 1995; SKOOG, 2002).

Bibliografia

ABBOT, D.; ANDREWS, R. S. An introduction to chromatography. Longman,


Londres, 1995.

BROWN, S. D. Applied Spectroscopy. 49 (1996) 14A.

BRUICE, P. Y. Química orgânica. 4. ed. São Paulo: Pearson/Prentice, 2006.

COLE, M. D., CADDY, B. The analysis of drugs of abuse: an instruction manual. Ellis
Horwood, New York, 1995.

COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S. Introdução a métodos


cromatográficos. 6. ed. Campinas: Editora UNICAMP, 1995.

5
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Aula 2 - INTRODUÇÃO A CROMATOGRAFIA - Parte 2

Olá aluno (a), na aula passada abordamos um pouco sobre a introdução e técnicas
cromatográficas. Na aula de hoje vamos continuar falando sobre cromatografia dando
ênfase no passo a passo para realizar o procedimento.

Ativação das placas

Para muitas separações, as placas preparadas ou pré-fabricadas, secas ao ar livre,


são usadas diretamente, enquanto outras separações exigem a ativação. O tempo e a
temperatura utilizados para a ativação estão na dependência do adsorvente utilizado e
da atividade desejada.

Temperaturas mais elevadas, por tempo prolongado, tornam a maioria dos


adsorventes mais ativos. Sílica, alumina e terra diatomácea são ativadas a 105-110o C
por 30 a 60 minutos. A celulose não deve ser aquecida por mais de 10 minutos a 105o
C.

As placas podem ser conservadas, prontas para uso, em ambientes secos como
dessecadores ou caixas tipo estante fechadas (COLLINS, 1995; SKOOG, 2002).

Seleção da fase móvel

O solvente ou mistura de solventes que serão utilizados como fase móvel deve
ser escolhido com cuidado, pois terão importante função na separação de misturas.
Existe uma competição entre as moléculas da fase móvel e da amostra, pela superfície
do adsorvente. Portanto, na escolha da fase móvel é importante considerar a natureza
química das substâncias a serem separadas e a polaridade da fase móvel. Quando uma
fase móvel pura não separa bem os componentes de uma amostra, pode-se utilizar uma
mistura. É possível ter diferentes misturas que promovam igual separação das amostras
(COLLINS, 1995; SKOOG, 2002).

Aplicação das amostras nas cromatoplacas

As amostras são aplicadas nas cromatoplacas na forma de soluções, em solventes


bastante voláteis, que possam ser facilmente eliminados após a aplicação. Geralmente
são utilizadas soluções de 0,1 a 1,0%, devendo sempre estar atento à sensibilidade do
revelador, pois se a amostra não for sensível, devemos aumentar sua concentração na
placa. Soluções muito diluídas podem exigir a aplicação de um volume grande de
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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
amostra e, assim, aumentar muito o diâmetro da mancha. É muito importante, quando
se deseja fazer análise quantitativa, aplicar as manchas de amostras com bastante
precisão. Usam-se volumes de 1, 2 ou 5 µL, medidos em um instrumento de precisão,
como micropipetas ou microsseringas, que permitem determinar a quantidade de
substância colocada na placa. Quando não é exigida a precisão na quantidade de
amostra podem ser utilizados tubos capilares de vidro. Deve-se ter cuidado para não
perturbar a superfície da camada de adsorvente porque isto distorce a forma das
manchas no cromatograma desenvolvido e atrapalha a análise quantitativa. As gotas
devem ser aplicadas 1,5 a 2,0 cm acima da borda inferior, evitando-se que fiquem
mergulhadas na fase móvel quando a placa for colocada na cuba. A distância entre cada
gota deve ser de 1,0 cm, evitando sempre que haja contato entre as gotas de soluções
(COLLINS, 1995; SKOOG, 2002).

Desenvolvimento das placas

A cuba cromatográfica é o recipiente com tampa removível onde a placa fica


contida e é realizada a separação. O nível de solvente colocado na cuba deverá ficar
abaixo dos pontos de aplicação das amostras.

O cromatograma é usualmente desenvolvido com a técnica ascendente, na qual


a placa é imersa 0,5 cm no solvente de desenvolvimento. Deve-se sempre utilizar
solvente redestilado ou de grau cromatográfico. Durante a ascensão do solvente o
sistema fica fechado para que a atmosfera esteja saturada pelo vapor do solvente, isso
é importante, pois se o sistema estiver aberto o solvente irá evaporar para saturar a
atmosfera e equilibrar o sistema líquido-gasoso, podendo produzir variações nos
resultados. Colocam-se fitas de papel de filtro nas paredes da cuba, mergulhadas no
solvente, para permitir que a cuba fique saturada com o vapor de solvente. A placa
cromatográfica deverá ser retirada da cuba somente quando o solvente atingir um limite
predeterminado na parte superior da placa, sendo cerca de 2,0 cm (COLLINS, 1995;
ABBOT, 1995).

2
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Desta forma, a placa é então transferida para uma cuba cromatográfica contendo
o solvente, que ascende pela placa. Durante este processo, chamado de
desenvolvimento do cromatograma, os vários componentes da mistura são separados.
A separação é baseada em muitos equilíbrios dos solutos entre as fases móvel e
estacionária e resulta das diferenças de velocidade, nas quais os componentes da
mistura migram pela placa (COLLINS, 1995; ABBOT, 1995). A Figura 2 ilustra o
arranjo usual para comparação de amostras e padrões em cromatografia em camada
delgada.

A separação dos componentes é baseada em muitos equilíbrios dos solutos entre


as fases móvel e estacionária e resulta das diferenças de velocidade, nas quais os
componentes individuais da mistura migram pela placa (COLLINS, 1995; ABBOT,
1995).

Revelação dos cromatogramas

Após o desenvolvimento do cromatograma, as placas são secas e reveladas. Esta


última etapa consiste em tornar visíveis as substâncias incolores presentes na amostra.
A visualização pode ser feita através de métodos físicos ou químicos, podendo também
ser biológicos como no caso da utilização de reações enzimáticas ou bacterianas
(COLLINS, 1995; SKOOG, 1995).

3
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
Os diversos solutos separados podem ser localizados por diferentes métodos.
Substâncias coloridas podem ser vistas diretamente sobre a fase estacionária.
Substâncias incolores podem ser detectadas borrifando-se a placa com um reagente
apropriado que colore as regiões ocupadas pelas manchas.

Os reagentes de revelação devem ser manipulados em capela. Alguns compostos


podem ser localizados com luz ultravioleta, sem necessidade de revelação, se forem
fluorescentes. Caso o adsorvente da placa de cromatografia em camada delgada
contiver um material fluorescente, é possível observar os solutos com luz ultravioleta
como manhas escuras em um fundo escuro fluorescente (COLLINS, 1995; SKOOG,
1995).

Para compostos orgânicos é muito utilizada a exposição da cromatoplaca aos


vapores de iodo, em recipiente fechado. A maioria delas dá manchas marrons, tanto
mais escuras quanto maior o tempo de exposição.

A grande vantagem deste método é que o iodo pode ser posteriormente


eliminado através do aquecimento da placa, a qual pode então ser borrifada com outro
reativo. Isto é possível porque o iodo se une apenas fisicamente com as substâncias,
exceto em compostos insaturados em que ele pode se adicionar às insaturações
(COLLINS, 1995; SKOOG, 1995).

Medida e identificação de solutos

O sucesso da cromatografia em camada delgada depende dos solventes de


desenvolvimento e das afinidades diferentes dos solutos pelo adsorvente da placa. A
ordem de separação das substâncias depende das combinações de solventes utilizadas.
Sob condições constantes de temperatura, sistema de solventes e adsorventes, qualquer
soluto (uma droga, um corante, um esteroide etc.) move-se com uma razão constante
em relação à frente de solvente. Esta razão é conhecida como fator de retenção, Rf.
Assim, um composto percorre sempre a mesma distância em relação ao deslocamento
da frente de solvente. A razão entre esses deslocamentos é o valor de Rf (SKOOG,
1995; VOGEL, 2002).

DISTÂNCIA PERCORRIDA PELA SUBSTÂNCIA.


RF=
DISTÂNCIA PERCORRIDA PELA FRENTE DO SOLVENTE.

Quando as condições são especificadas, Rf é constante para um composto e


corresponde à uma propriedade física do mesmo, os valores ideais para Rf estão entre
0,4 e 0,6. E ele pode ser usado para auxiliar a identificação de uma substância. Porém
não é um método com uma boa exatidão, por isso a identificação do composto deve ser
4
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
confirmada por outra técnica. Portanto, as comparações feitas do Rf obtido com o Rf
de padrões é considerado um método qualitativo.

Medidas quantitativas

A cromatografia em camada delgada pode ser utilizada como um método


quantitativo de análise, diretamente sobre a camada de adsorvente ou retirando da placa
a área que contenha a substância, que é então eluída e quantificada. Um dos métodos
utilizados é a densitometria, que consiste em determinar a área e a intensidade da
mancha. Tem como inconveniente o fato de compostos incolores, ao serem revelados,
apresentarem distribuição desigual da mancha, em função da quantidade de revelador
utilizado, aquecimento ou volatilização da amostra.

Outros métodos de emprego direto são a medida de fluorescência e


radioatividade, para substâncias que apresentarem estas características. As dosagens
são feitas pelas comparações com padrões (SKOOG, 1995; VOGEL, 2002).

Cromatografia em camada delgada de alta eficiência

Como mencionado anteriormente, a cromatografia em camada delgada pode ser


utilizada em análise quantitativa, porém tradicionalmente é um método simples, rápido
e econômico de análise qualitativa. Entretanto, nos últimos anos a CCD vem
adquirindo aplicações mais definidas em análise quantitativa. Esta alteração nas

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
características se deve ao desenvolvimento na qualidade dos adsorventes, na forma de
aplicação da amostra e nos densitômetros.

Este aumento na eficiência, em relação a CCD usual, levou ao aparecimento da


cromatografia em camada delgada de alta eficiência (CCDAE), sendo que as duas
técnicas são muito semelhantes quanto ao fenômeno que as rege, diferindo
fundamentalmente no aspecto prático (COLLINS, 1995).

Aplicações da CCD

A CCD é a mais simples e a mais econômica das técnicas cromatográficas


quando se pretende separação rápida e identificação visual. Ela tem se mostrado ser de
grande valor na análise de substâncias orgânicas e inorgânicas, acompanhamento de
reações em sínese e de processos de purificações. A cromatografia em camada delgada
possui uma fácil execução, rapidez, boa resolução, manchas em geral menos difusas,
baixo custo e versatilidade. Entretanto possui uma difícil reprodutibilidade, pois é
muito difícil a confecção de duas placas idênticas, com a mesma quantidade de
amostra, e também é difícil a determinação exata do fator de retenção (COLLINS,
1995).

Bibliografia

ABBOT, D.; ANDREWS, R. S. An introduction to chromatography. Longman,


Londres, 1995.

BROWN, S. D. Applied Spectroscopy. 49 (1996) 14A.

BRUICE, P. Y. Química orgânica. 4. ed. São Paulo: Pearson/Prentice, 2006.

COLE, M. D., CADDY, B. The analysis of drugs of abuse: an instruction manual. Ellis
Horwood, New York, 1995.

COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S. Introdução a métodos


cromatográficos. 6. ed. Campinas: Editora UNICAMP, 1995.
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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 2)

Caro aluno (a) a respeito do que foi estudado nessa aula, faça uma reflexão sobre
a cromatografia e escreva com suas palavras no máximo em 30 linhas quais são os
pontos positivos e negativos desse procedimento.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Aula 3 - CROMATOGRAFIA GASOSA - Parte 1

Olá aluno (a), na aula de hoje vamos falar sobre cromatografia gasosa, por esse
tema ser bem complexo vamos dividir essa aula em duas partes para abordarmos todo
o assunto. Bons estudos.

Gases ou substâncias volatilizáveis podem ser separados utilizando-se a técnica


denominada de cromatografia gasosa. A separação consiste na diferente distribuição
das substâncias da amostra entre uma fase estacionária, que pode ser sólida ou líquida,
e uma fase gasosa, que é gasosa (COLLINS, 1995).

Neste sistema, a amostra é introduzida em uma coluna por meio de um sistema


de injeção, sendo que na coluna tem-se a fase estacionária. O uso de temperaturas
adequadas no local de injeção da amostra e na coluna possibilita a vaporização destas
substâncias que, de acordo com suas propriedades e as da fase estacionária, são retidas
por tempos determinados e chegam à saída da coluna em tempos diferentes.

A detecção e quantificação destas substâncias são possíveis pela utilização de


um detector apropriado na saída da coluna (COLLINS, 1995).

Técnicas semelhantes à cromatografia gasosa apareceram desde 1930, no


entanto, seu desenvolvimento só foi acelerado depois da introdução da cromatografia
gás-líquido, em 1952, por James e Martin. O interesse pela cromatografia gasosa fez
com que houvesse um grande desenvolvimento de equipamentos e métodos e hoje ela
tornou-se uma técnica comum, presente na maioria dos laboratórios que utilizam a
análise química (SKOOG, 2002).

A cromatografia gasosa é uma técnica com um poder de resolução excelente,


tornando possível, muitas vezes, a análise de dezenas de substâncias de uma mesma
amostra. Uma das principais características da cromatografia gasosa é a sua
sensibilidade e desta forma, utiliza-se pequenas quantidades de amostra na análise
(SKOOG, 2002).

A cromatografia gasosa também apresenta algumas desvantagens como, por


exemplo, que devem ser empregadas na análise de substâncias voláteis e estáveis
termicamente.

A análise cromatográfica é rápida, entretanto, muitas vezes há a necessidade de


etapas de preparação da amostra, antes que ela possa ser analisada, para que não haja
interferências durante a análise e contaminação da coluna cromatográfica. Às vezes,
esta etapa de preparação é longa e complexa, aumentando em muito o tempo e o custo
da análise. A cromatografia gasosa não é uma técnica qualitativa eficiente,
1
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
necessitando muitas vezes de técnicas auxiliares para identificação segura das
substâncias presentes na amostra (SKOOG, 2002).

Princípios básicos

A Cromatografia Gasosa (CG) é uma técnica para separação e análise de


misturas de substâncias voláteis. A amostra é vaporizada e introduzida em um fluxo de
um gás adequado denominado de fase móvel (FM) ou gás de arraste. Este fluxo de gás
com a amostra vaporizada passa por um tubo contendo a fase estacionária (FE), que é
a coluna cromatográfica, sendo o local onde ocorre a separação da mistura.

A fase estacionária pode ser um sólido adsorvente (Cromatografia Gás-Sólido)


ou, mais comumente, um filme de um líquido pouco volátil, suportado sobre um sólido
inerte (Cromatografia Gás-Líquido com Coluna Empacotada ou Recheada) ou sobre a
própria parede do tubo (Cromatografia Gasosa de Alta Resolução). Na cromatografia
gás-líquido (CGL), os dois fatores que governam a separação dos constituintes de uma
amostra são (SKOOG, 2002):

A. A solubilidade na FE: quanto maior a solubilidade de um constituinte na FE,


mais lentamente ele caminha pela coluna.

B. A volatilidade: quanto mais volátil a substância (ou, em outros termos, quanto


maior a pressão de vapor), maior a sua tendência de permanecer vaporizada e
mais rapidamente caminha pelo sistema.

As substâncias separadas saem da coluna, as quais são dissolvidas no gás de


arraste e passam por um detector; dispositivo que gera um sinal elétrico proporcional
2
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
à quantidade de material eluido. O registro deste sinal em função do tempo é o
cromatograma, sendo que as substâncias aparecem nele como picos com área
proporcional à sua massa, o que possibilita a análise quantitativa (SKOOG, 2002).

Detalhes do equipamento

A amostra é transportada por uma corrente de gás por meio de uma coluna
empacotada com um sólido recoberta com uma película de um líquido. Devido a sua
simplicidade, sensibilidade e efetividade para separar os componentes de misturas, a
cromatografia de gás é uma das ferramentas mais importantes em química.

É amplamente usada para análises quantitativas e qualitativas de espécies


químicas e para determinar constantes termoquímicas tais como calores de solução e
vaporização, pressão de vapor e coeficientes de atividade.

A cromatografia gasosa é também usada para monitorar os processos industriais


de forma automática: analisam-se as correntes de gás periodicamente e realizam-se
reações de forma manual ou automática para compensar variações não desejadas
(SKOOG, 2002). A Figura 4 representa um cromatógrafo a gás típico.

Suprimento de gás de arraste

O gás de arraste é normalmente hélio, nitrogênio, hidrogênio ou argônio. A


escolha depende da disponibilidade, pureza, consumo e tipo de detector utilizado. O
3
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
gás hélio, por exemplo, é o preferido com detectores de condutividade térmica porque
tem condutividade térmica alta em relação aos vapores da maior parte dos compostos
orgânicos.

Além do reservatório de gás em alta pressão, são necessários reguladores de


pressão e medidores de vazão para controlar e medir o fluxo de gás. A eficiência da
aparelhagem depende muito da manutenção de um fluxo constante de gás de arraste.
Duas considerações importantes de segurança têm de ser levadas em conta (COLLINS,
1995; SKOOG, 2002):

A. Os cilindros de gás devem estar sempre presos por cintos ou correntes;

B. Gases de refugo, especialmente hidrogênio, devem ser eliminados em uma


capela.

Devido aos problemas de segurança e armazenagem associados com cilindros


de gás, alguns gases de uso em cromatografia (ar, hidrogênio e nitrogênio) podem ser
obtidos com geradores de bancada capazes de fornecer gases de alta pureza com
velocidade de fluxo entre 300 e 900 mL.min-1. O sistema de gás de arraste pode conter
um filtro molecular para a remoção de água e outras impurezas (COLLINS, 1995;
SKOOG, 2002).

Sistema de injeção de amostras

Vários dispositivos de introdução da amostra foram desenvolvidos. Os mais


importantes envolvem a introdução de amostras líquidas com uma microsseringa
dotada de uma agulha hipodérmica. A agulha passa através de um septo de borracha
de silicone autosselante e coloca a amostra em um bloco de metal aquecido que está na
entrada da coluna.

A manipulação da seringa é uma arte a ser desenvolvida com a prática, que tem
como objetivo introduzir a amostra sempre da mesma maneira. A temperatura do bloco
deve ser suficiente para que a amostra líquida se vaporize rapidamente sem
decomposição ou fracionamento.

Uma regra prática útil é manter a entrada da amostra aproximadamente na


temperatura de ebulição do componente menos volátil. Para melhorar a eficiência, a
amostra deve ser a menor possível (1 a 10 µL), compatível com a sensibilidade do
detector. Amostras gasosas (0,5 a 10 mL) podem ser injetadas do mesmo jeito, desde
que se disponha de uma seringa de gás capaz de resistir à pressão existente na entrada
da coluna (SKOOG, 2002). Infelizmente, a injeção de amostras em sistemas capilares
é muito mais difícil devido às pequenas quantidades de material envolvidas e aos
baixos fluxos de gás de arraste usados.
4
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
Desta forma, para colunas capilares utiliza-se uma câmara de injeção separada
onde somente uma pequena parte da amostra vaporizada/ gasosa é transferida à coluna,
este método é conhecido como injeção com divisão de fluxo (split injectíon). Isto é
necessário para não sobrecarregar a coluna com volume de amostra. O procedimento
consiste na injeção de 0,1 a 1,0 µL de amostra em um ejetor cuja superfície interna está
recoberta com vidro, em que ela se vaporiza e se mistura com o gás de arraste (SKOOG,
2002).

No caso de amostras com baixas concentrações de analito, a injeção sem divisão


de fluxo (splitless injection) é frequentemente mais apropriada. O procedimento
consiste em injetar lentamente um volume maior, entre 0,5 e 5 µL, da solução diluída
e um solvente volátil, com a janela de divisão de fluxo fechada. A temperatura da
coluna é mantida em uma temperatura 20 a 25o C mais baixa do que o ponto de
ebulição do solvente (SKOOG, 2002).

O método geral de introduzir a amostra em uma coluna capilar é o método de


injeção direta na coluna (direct on-column mehod), que é normalmente empregado em
sistemas empacotados (SKOOG, 2002). O procedimento para a cromatografia gasosa
consiste primeiramente na introdução da mistura de prova ou amostra em uma corrente
de gás inerte, normalmente hidrogênio, hélio, nitrogênio ou argônio, que atuarão como
gás de arraste. As amostras líquidas vaporizam-se antes da injeção no gás de arraste.

O fluxo de gás passa pela coluna empacotada pela qual os componentes da


amostra se deslocam a velocidades influenciadas pelo grau de interação de cada
componente com a fase estacionária não volátil. As substâncias que têm a maior
interação com a fase estacionária são retidas por mais tempo e, portanto, separadas
daquelas de menor interação.

À medida que as substâncias eluem da coluna, podem ser quantificadas por um


detector e/ou tomadas para outra análise (SKOOG, 2002). Existem dois tipos de
cromatografia de gás: cromatografia Gás - Sólido (CGS) e cromatografia Gás - Líquida
(CGL). A cromatografia Gás - Sólida se baseia na base sólida estacionária, na qual a
retenção das substâncias analisáveis é a consequência da absorção física. A
cromatografia Gás -Líquida é útil para separar íons ou moléculas dissolvidas em um
solvente.

Se a solução de amostra estiver em contato com um segundo sólido ou fase


líquida, os diferentes solutos interagem com a outra fase em diferentes graus, devido
as diferenças de adsorção, intercâmbio de íons, partição ou tamanho.

Estas diferenças permitem que os componentes da mistura se separem usando


estas diferenças para determinar o tempo de retenção dos solutos pela coluna (SKOOG,
2002).

5
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Bibliografia

COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S. Introdução a métodos


cromatográficos. 6. ed. Campinas: Editora UNICAMP, 1995.

DUPONT, R.; BAUMGARTNER, W. Drug Testing by Urine and Hair Analysis:


Complementary Features and Scientific Issues. Forensic science international. No70
(63-76), 1994.

FESSENDEN, R. J.; FESSENDEN, J. S. Techniques and experiments of organic


chemistry. Willard Grant Press, Boston, 1982.

6
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Aula 4 - CROMATOGRAFIA GASOSA - Parte 2

Olá aluno (a), na aula de hoje vamos dar continuidade ao tema cromatografia
gasosa falando das separações dos componentes na coluna. Bons estudos.

Coluna

A separação dos componentes da amostra é feita na coluna. A natureza do


suporte sólido, o tipo e quantidade da fase líquida, o método de empacotamento, o
tamanho da coluna e a temperatura são fatores importantes para a resolução desejada.

A coluna é colocada em um forno controlado termostaticamente, de modo a


manter a temperatura constante com a aproximação de 50° Celsius, garantindo assim
condições reprodutíveis.

A temperatura de operação pode variar desde a temperatura normal do


laboratório até acima de 400° C, podendo ser mantida constante durante a separação se
a operação é isotérmica (SKOOG, 2002).

Colunas recheadas

Os primeiros experimentos foram feitos com colunas recheadas, tubos de até 5


metros de comprimento e 2 a 4mm de diâmetro interno, feitos de vidro, metal ou
plásticos resistentes a temperaturas elevadas. O recheio era um suporte de material
inerte, geralmente terra diatomácea lavada e desativada por tratamento com ácido e
peneirada até uma faixa estreita de tamanhos de partículas.

1
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Neste tipo de coluna, o papel do suporte é manter a fase líquida na forma de uma
película de alta superfície que permite o estabelecimento muito rápido do equilíbrio
entre as fases gás e líquida.

Assim, nas colunas recheadas a fase estacionária era constituída de um filme fino
de líquido retido por adsorção na superfície de um suporte sólido inerte finamente
dividido. A fase escolhida era colocada de forma uniforme no suporte, na concentração
de 1 a 15%, e este, na coluna escolhida.

Desta forma, foi possível obter um número muito grande de colunas recheadas,
cada uma das quais sendo considerada a mais apropriada para a separação de uma dada
mistura. Decidir que coluna usar era muitas vezes difícil (SKOOG, 2002).

Em grande parte, as fases podem, porém, ser agrupadas em não polares, de


polaridade média e polares, e a ideia de que coisas parecidas separam coisas parecidas
era usada como guia na escolha da coluna (SKOOG, 2002).

Colunas capilares

Felizmente, o uso de colunas recheadas tem diminuído muito nos últimos anos
devido ao uso recente de colunas tubulares abertas ou colunas capilares. A partir de
estudos teóricos tornou-se aparente que as colunas não recheadas com diâmetro de
poucos décimos de milímetro poderiam proporcionar separações superiores do que
aquelas obtidas em colunas recheadas quanto à velocidade e à eficiência da coluna.

Nessas colunas capilares, a fase estacionária é constituída por um filme de


líquido de espessura igual a poucos décimos de micrômetro recobrindo uniformemente
o interior do tubo capilar (COLLINS, 1995; SKOOG, 2002). Posteriormente, as
colunas tubulares abertas apresentaram características espetaculares de desempenho,
sendo que as colunas capilares não ganharam ampla aceitação e uso até mais de duas
décadas após a sua invenção.

As razões para esse atraso foram muitas, incluindo a pequena capacidade de


amostra, fragilidade das colunas, problemas mecânicos associados com a introdução
da amostra e com a conexão da coluna com o detector, dificuldades de recobrimento
da coluna de forma reprodutível, a vida curta de colunas preparadas de forma
ineficiente, à tendência das colunas de entupirem e as patentes, que restringiram o
desenvolvimento comercial a um único fabricante.

No final dos anos 1970 esses problemas tornaram-se contornáveis e muitas


companhias de instrumentos começaram a oferecer colunas tubulares abertas a um
2
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
custo razoável. Em consequência, ocorreu um crescimento importante no uso de
colunas capilares desde essa época (COLLINS, 1995; SKOOG, 2002).

A grande maioria das análises são realizadas em colunas capilares estreitas e


compridas feitas de sílica fundida (SiO₂) e recobertas com poliimida (um plástico capaz
de resistir até 350 °C) para suportar e proteger a coluna da umidade atmosférica.

As colunas capilares oferecem maior resolução, menores tempos de análise e


maior sensibilidade do que as colunas empacotadas, pois numa coluna empacotada, as
partículas resistem ao fluxo da fase móvel e, por isso, a vazão linear não pode ser muito
rápida.

Para um mesmo comprimento de coluna e uma mesma pressão aplicada, a vazão


linear em uma coluna capilar é muito maior do que em uma coluna empacotada.
Portanto, para uma mesma pressão e vazão linear, a coluna capilar pode ser 100 vezes
mais comprida do que a coluna empacotada.

Se a altura do prato for a mesma, a coluna mais comprida fornece 100 vezes mais
pratos teóricos, fazendo com que a resolução aumente em √100= 10 vezes. Mas as
colunas capilares têm menos capacidade de amostra (COLLINS, 1995; SKOOG,
2002).

As colunas tubulares abertas ou capilares são de dois tipos básicos: coluna


tubular aberta de parede recoberta (TAPR) – WCOT, do inglês wall-coated open
tubular – e colunas tubulares abertas revestidas com suporte (TARS) – SCOT, do inglês
supportcoated open tubular.

As colunas de parede recoberta são simplesmente tubos capilares recobertos com


uma fina camada de fase estacionária. Nas colunas revestidas com suporte, a superfície
interna do capilar é revestida com um filme fino (30m) de um material de suporte, com
terra diatomácea.

Esse tipo de coluna retém uma quantidade de fase estacionária muitas vezes
maior que uma coluna de parede recoberta e assim apresenta maior capacidade de
amostra. Geralmente, a eficiência de uma coluna TARS é menor que uma coluna
TAPR, mas significativamente maior que a de uma coluna recheada (COLLINS, 1995;
SKOOG, 2002). As primeiras colunas TAPR foram construídas de aço inoxidável,
alumínio, cobre ou plástico. Posteriormente, o vidro foi utilizado.

Frequentemente, o vidro é corroído com ácido clorídrico gasoso, soluções


aquosas fortes de ácido clorídrico ou hidrogeno fluoreto de potássio, o que proporciona
uma superfície rugosa que retém a fase estacionária mais firmemente. As colunas
capilares mais empregadas são as colunas tubulares abertas de sílica fundida (CTAS)
– FSOT, do inglês fused-silica open tubular.
3
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Os capilares de sílica fundida são puxados a partir de sílica purificada especial


que contém quantidades mínimas de óxidos metálicos. Esses capilares apresentam
paredes muito mais finas que os de vidro. Os tubos têm sua resistência reforçada por
meio do recobrimento externo de proteção de poliimida, o qual é aplicado à medida
que o tubo capilar é puxado.

As colunas resultantes são bastante flexíveis e podem ser enroladas em bobinas


com diâmetros de poucas polegadas. Essas colunas estão disponíveis comercialmente
e oferecem muitas vantagens importantes como resistência física, reatividade muito
menor em relação aos componentes da amostra e flexibilidade. Para a maioria das
aplicações, elas têm substituído as colunas de vidro antigas do tipo TAPR (COLLINS,
1995; SKOOG, 2002).

As colunas tubulares abertas de sílica mais amplamente empregadas apresentam


diâmetros de 0,32 e 0,25 m. As colunas de alta resolução são vendidas com diâmetros
de 0,20 e 0,15 m. Essas colunas são de uso mais complexo e são mais restritivas com
relação aos sistemas de injeção e detecção. Assim, um divisor de amostra deve ser
empregado para reduzir o tamanho da amostra injetada na coluna e um sistema de
detecção mais sensível com baixo tempo de resposta é necessário.

Recentemente, capilares de 530 m, algumas vezes denominados colunas


megabore, têm surgido no mercado. Essas colunas toleram amostras de tamanho
similar àqueles para as colunas recheadas.

As características de desempenho das colunas tubulares abertas megabore são


tão boas como aquelas de diâmetros menores, porém são significativamente melhores
que aquelas das colunas recheadas (COLLINS, 1995; SKOOG, 2002).

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
Detector

A função do detector, situado na saída da coluna, é registrar e medir as pequenas


quantidades dos componentes da mistura separados na coluna e levados pelo fluxo do
gás de arraste. O sinal de saída do detector alimenta um dispositivo que produz um
gráfico denominado cromatograma.

A escolha do detector depende de fatores como o nível de concentração e a


natureza dos componentes da mistura. Os detectores mais usados na cromatografia a
gás são os de condutividade térmica, ionização de chama e captura de elétrons
(COLLINS, 1995; SKOOG, 2002).

Detector por condutividade térmica

São detectores de resposta universal, sensíveis à concentração. Seu


funcionamento baseia-se no princípio de que um corpo quente perde calor a uma
velocidade que depende da composição dos gases que o circundam. Assim, a
velocidade de perda do calor pode ser usada como uma medida da composição do gás
(COLLINS, 1995; SKOOG, 2002).

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
Detector por ionização de chama

Este detector é bastante popular devido à alta sensibilidade e resposta quase


universais, apesar de responder a propriedades do soluto; é sensível ao fluxo de massa
passando por ele em um determinado tempo. O gás de arraste chega ao detector e uma
chama produzida pela combustão de ar e hidrogênio queima e ioniza algumas das
moléculas presentes nesta corrente gasosa.

Quando moléculas presentes no gás de arraste chegam ao detector, elas são


queimadas na chama, ocorrendo a formação de íons, que são coletados por um eletrodo.
A quantidade de íons formados quando a amostra está presente no gás é muito maior
que a quantidade formada quando somente o gás de arraste está sendo queimado. A
corrente gerada é convertida em voltagem, amplificada e captada pelo computador
(COLLINS, 1995; SKOOG, 2002).

Detector por captura de elétrons

Este detector é seletivo, respondendo muito bem a halogenetos orgânicos,


aldeídos conjugados, nitrilas, nitratos e organometálicos. É praticamente insensível a
hidrocarbonetos, álcoois e cetonas.

Quando o gás de arraste (N2) passa pelo detector, é ionizado por partículas betas
emitidas por fontes de 3 H ou 63Ni.nos elétrons produzidos neste processo são
coletados em um ânodo, gerando uma corrente que é amplificada por um eletrômetro,
6
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
resultando a linha de base. Moléculas eluindo da coluna, capazes de capturar elétrons,
diminuem esta corrente, gerando um sinal proporcional a sua concentração (COLLINS,
1995; SKOOG, 2002).

Análise quantitativa

Na cromatografia com fase gasosa, a determinação quantitativa de um


componente com detectores diferenciais dos tipos descritos anteriormente baseia-se na
medida da área e da altura do pico, sendo esta última mais apropriada no caso de picos
pouco intensos ou de pequena largura. Duas condições são essenciais para que se possa
relacionar estas duas grandezas com a concentração de soluto na amostra (COLLINS,
1995; SKOOG, 2002, VOGEL; 2002):

A. A resposta do conjunto detector/registrador deve ser linear em relação à


concentração do soluto.

B. Fatores como a vazão do gás de arraste, a temperatura da coluna etc. devem


permanecer constantes ou seus efeitos devem ser eliminados.

A área do pico é comumente usada nas medidas quantitativas de um dado


componente da amostra e pode ser medida por técnicas geométricas ou por integração
automática. Nas chamadas técnicas de triangulação, traçam-se tangentes pelos pontos
de inflexão do pico de eluição de modo a formar um triângulo com a linha de base,
como representado na Figura 5. A área do triângulo é a metade do produto do
comprimento da base pela altura do pico.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
O valor obtido nesta aproximação corresponde a cerca de 97% da área correta
dos picos cromatográficos quando estes têm a forma gaussiana. A área pode ser
também calculada como o produto da altura do pico pela largura na metade da altura
do pico, isto é, pela técnica do produto da altura vezes a largura à meia-altura (VOGEL;
2002).

As técnicas mais antigas de obtenção da área do pico são lentas e nem sempre
satisfatórias em termos de acurácia e reprodutibilidade. Hoje, computadores são muito
utilizados na cromatografia com fase gasosa quantitativa para processar o sinal
analítico gerado durante a corrida cromatográfica (VOGEL; 2002).

Aplicações

A cromatografia gasosa é, atualmente, uma das técnicas de análise de maior uso.


É utilizada para a separação e quantificação de produtos diversos, podendo também ser
usada como técnica de identificação, em casos especiais, principalmente quando
acoplada a um espectrômetro de massas ou outro detector qualitativo.

Os recentes avanços na área com a utilização de colunas da cromatografia gasosa


uma técnica altamente atrativa (COLLINS, 1995).

A cromatografia gasosa também é utilizada na análise de drogas, por exemplo,


foram analisados comprimidos de Ecstasy provenientes de sete diferentes lotes da
droga, visando à pesquisa de metilenodioxi fenilalquilaminas.

Em seis amostras foi detectada a presença de 3, 4-metilenodioximetanfetamina


(MDMA), sendo que numa delas foi encontrada também cafeína. Apenas numa, foi
identificada a 3, 4-metilenodioxietilanfetamina (MDEA).

A cromatografia em fase gasosa com detector de nitrogênio/fósforo (CG/DNP)


e a espectrometria de massas acoplada à cromatografia em fase gasosa (CG/EM) foram
utilizadas como técnica de triagem e confirmação, respectivamente.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
Bibliografia

COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S. Introdução a métodos


cromatográficos. 6. ed. Campinas: Editora UNICAMP, 1995.

DUPONT, R.; BAUMGARTNER, W. Drug Testing by Urine and Hair Analysis:


Complementary Features and Scientific Issues. Forensic science international. No70
(63-76), 1994.

FESSENDEN, R. J.; FESSENDEN, J. S. Techniques and experiments of organic


chemistry. Willard Grant Press, Boston, 1982.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Aula 5 - CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA


EFICIÊNCIA - Parte 1

Olá aluno e aluna, na aula de hoje vamos falar sobre cromatografia de líquida de
alta eficiência, iremos dividir esse tema em algumas aulas. Bons estudos

Cromatografia líquida de alta eficiência

A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) é o mais novo e mais


importante membro de uma família inteira de técnicas de separação. O seu emprego
em vários laboratórios é considerado atualmente indispensável (COLLINS, 1995). A
cromatografia líquida de alta eficiência utiliza instrumentos muito sofisticados que
podem ser totalmente automatizados.

É um tipo de cromatografia líquida que emprega pequenas colunas, recheadas


de materiais especialmente preparados e uma fase móvel que é eluída sob altas
pressões. Ela tem a capacidade de realizar separações e análises quantitativas de uma
grande quantidade de compostos presentes em vários tipos de amostras, em escala de
tempo de poucos minutos, com alta resolução, eficiência e sensibilidade (COLLINS,
1995; SKOOG, 2002).

Somente a partir dos anos 70 se conseguiu um avanço considerável da


cromatografia líquida moderna que até então era essencialmente subdesenvolvida,
apesar de que um dos primeiros experimentos sobre cromatografia, no início do século,
foi o tipo que é hoje chamado cromatografia líquida clássica. O avanço foi gradual e
atingiu o atual nível de sofisticação que a CLAE apresenta, devido ao revolucionário
desenvolvimento tecnológico da prática deste tipo de cromatografia (COLLINS, 1995).

Desde 1968 tornou-se possível rechear colunas com partículas de pequeno


tamanho, necessárias para alta resolução e, também, adquirir equipamentos que
funcionam nas altas pressões necessárias para obter uma boa velocidade de eluição.
Nos últimos dez anos ocorreu o desenvolvimento de vários detectores
espectrofotométricos que operam em comprimentos de onda variável até 190 nm, e
houve um aumento na utilização dos detectores por fluorescência, eletroquímicos, e
por fluorescência induzida por laser, bem como acoplamento com o espectrômetro de
massas.

Com estes, tornou-se possível a detecção da maioria dos compostos e a análise


de traços em amostras complexas, como sangue, urina, solo, alimentos, petróleo etc
(SKOOG, 1995). Hoje em dia são comuns estudos com partículas pequenas, a

1
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
execução da CLAE com fase reversa e, particularmente, o uso de equipamentos para
uma perfeita eluição com gradiente, bem como de métodos especiais, tais como a
formação de pares iônicos. Como resultado, dificuldades anteriores ou separações
difíceis de compostos como corantes polares, isômeros, drogas básicas e seus
metabólitos são agora rotina.

A Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) também é conhecida como


de Alta Velocidade, ou de Alta Pressão, ou ainda de Alto Desempenho, ou ainda, de
Alta Performance, que vem do inglês – HPLC – High Performance Liquid
Cromatography (SKOOG, 1995).

Processo cromatográfico

O processo cromatográfico consiste na partição dos componentes de uma


mistura entre a fase móvel e a fase estacionária. No caso da cromatografia gasosa o
fluido é um gás e na cromatografia líquida o fluido é um solvente.

Na cromatografia líquida a fase estacionária é constituída de partículas sólidas


empacotadas em uma coluna, a qual é atravessada pela fase móvel. São as forças físicas
e químicas que atuam entre os solutos e as duas fases são responsáveis pela retenção
dos solutos sobre a coluna cromatográfica. A diferença na magnitude dessas forças que
determina a resolução e, portanto, a separação dos solutos individuais. As forças
elementares que agem sobre as moléculas são de cinco tipos (SKOOG, 1995):

• Forças de dispersão de London ou forças de Van der Waals;


• Interações de dipolo induzido;

2
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
• Ligações de hidrogênio;
• Interações dielétricas;
• Interações eletrostáticas e coulombianas.

As variáveis que afetarem essas forças intermoleculares vão influenciar o grau


de separação obtido pela passagem dos solutos através da coluna cromatográfica
(SKOOG, 1995).

Cromatografia líquida de alta eficiência e cromatografia líquida


clássica

Na cromatografia líquida clássica (CLC) o recheio da coluna é utilizado


geralmente uma só vez, porque parte da amostra usualmente se adsorve de forma
irreversível. O enchimento da coluna deve ser repetido para cada separação. A
aplicação da amostra, para ser feita corretamente, requer alguma habilidade, fatos que
representam um desperdício de material e tempo.

A vazão de eluente na CLC é promovida pela ação da gravidade e as frações


individuais da amostra são coletadas manualmente ou através de um coletor de frações.
As separações requerem, geralmente, várias horas e a detecção e a quantificação das
frações são realizadas por análise manual.

Na CLAE emprega-se uma coluna fechada, reaproveitável; portanto, até


centenas de separações individuais podem ser realizadas com a mesma coluna. Essas
colunas são muito eficazes, mas oferecem uma grande resistência à vazão da fase
móvel, ou seja, ela sofre uma perda de carga. Por esta razão é necessário empregar
sistemas de bomba de alta pressão (até 400 bars) que fazem a fase móvel migrar a uma
velocidade razoável através da coluna.

A vazão da fase móvel é controlada facilmente, resultando em operações mais


reprodutíveis, que tornam as análises executadas por CLAE mais precisas. Vários tipos
de detectores, que podem ser colocados na saída da coluna, proporcionam uma
identificação e quantificação continua dos componentes da amostra.

A análise quantitativa pela CLAE pode atingir uma precisão superior a + 0,5%.
Finalmente, separações em escala preparativa de miligramas de amostras são
relativamente fáceis (COLLINS, 1995).

3
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Cromatografia líquida de alta eficiência e cromatografia gasosa

Na cromatografia gasosa (CG) é necessário que a amostra seja suficientemente


volátil, a fim de que possa passar pela coluna na forma de vapor, e estável termicamente
para não se decompor nas condições de separação. Os métodos de detecção utilizados
em CG são mais rápidos e sensíveis, a aparelhagem mais fácil de ser manipulada e em
geral mais barata.

A CLAE requer somente que a amostra seja solúvel na fase móvel. Assim, a
CLAE é um método ideal para a separação de espécies iônicas ou macromoléculas de
interesse biológico e produtos naturais lábeis, bem como uma imensa variedade de
outros compostos de alta massa molecular e/ou baixa estabilidade térmica.

A CLAE possui como vantagens adicionais: duas fases cromatográficas de


interação seletiva com as moléculas da amostra, versus somente uma na CG e maior
variedade de possíveis mecanismos de separação.
4
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
A conclusão que pode ser tirada sobre as duas técnicas é que se complementam
na análise de diferentes tipos de amostras (COLLINS, 1995).

Vantagens e limitações da CLAE

As vantagens da técnica CLAE são: menor tempo de análise, alta resolução,


resultados quantitativos, boa sensibilidade, versatilidade e automação.

Como toda técnica, a CLAE tem algumas limitações, como por exemplo, como
o alto custo da instrumentação, alto custo de operação, pouco usada para análises
qualitativas, falta de detector universal sensível e necessidade de experiência no seu
manuseio. Entretanto, as limitações da CLAE não têm impedido o aproveitamento
adequado de suas vantagens e por isso, a técnica tem sido cada vez mais empregada
(COLLINS, 1995).

Características das fases estacionárias em CLAE

Considerando as suas propriedades físicas, os recheios para CLAE podem ser


classificados de acordo com os seguintes aspectos (SKOOG, 1995):

• Asólidos rígidos, semirrígidos ou não rígidos;


• Partículas porosas ou peliculares;
• Partículas esféricas ou irregulares;
• Partículas com diferentes diâmetros.

Sólidos rígidos a base de sílica são os recheios mais usados atualmente. Esses
recheios podem resistir a pressões relativamente altas, resultando em enchimento
estável e colunas eficientes de partículas pequenas. Sólidos semirrígidos são
geralmente constituídos de partículas porosas de poliestireno entrecruzadas com
divinilbenzeno.

O semirrígido tem sido usado para pressões até 350 bars. O maior interesse no
semirrígido atualmente é para aplicações na CLAE por exclusão com fase móvel
orgânica; contudo eles também são usados na troca iônica.

Sólidos não rígidos, tais como agarose ou dextrose, usados em cromatografia por
exclusão, são aplicados exclusivamente para a separação de moléculas grandes,
solúveis em água, como as proteínas. Contudo, estes sólidos não rígidos não podem
resistir às pressões usadas na CLAE.

5
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
Os dois tipos de materiais, peliculares e porosos, diferem em algumas de suas
propriedades e têm muitas outras em comum. Ambos podem ser introduzidos na coluna
com certa facilidade, obtendo-se colunas muito eficazes.

Elas podem ser utilizadas em cromatografia líquido-sólido, dependendo da


atividade da sua superfície ou pode ser recoberto com alguma fase líquida e obter-se
uma coluna para CLAE com fase quimicamente ligada.

Além destes tem-se os materiais de recheio do tipo pelicular ou poroso para


cromatografia por troca iônica. A Figura 6 apresenta esquematicamente algumas
formas mais comuns de partículas para cromatografia de líquidos (COLLINS, 1995;
SKOOG, 1995).

Os adsorventes peliculares, com diâmetro de partícula entre 30 e 45 μm,


apresentam eficiência, rapidez, reprodutibilidade e custo similar aos adsorventes
porosos (5 - 10 μm), mas têm menor capacidade e, por isto, o seu emprego tem
diminuído notavelmente nos últimos anos.

Para obter distribuição homogênea do recheio em toda extensão da coluna, o que


aumenta a eficiência da separação, as partículas devem ter a menor variação de
diâmetro possível. As partículas esféricas são melhores do que as irregulares, mas estas
têm menor custo (SKOOG, 1995).

6
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO
O tamanho da partícula controla o processo de difusão das moléculas da amostra
ao penetrar e sair dos poros da partícula. Quanto maior o tamanho da partícula porosa,
mais lento o processo de difusão e, como consequência, mais lenta a transferência de
massa entre a fase estacionária e a fase móvel. Isto acontece porque, à medida que
aumenta o tamanho da partícula, aumenta também a profundidade dos poros e
consequentemente a amostra demora mais tempo para sair destes poros profundos.

Ao mesmo tempo deve-se considerar que um aumento da vazão da fase móvel,


para obterem-se análises rápidas, faz com que as moléculas da amostra nesta fase
migrem rapidamente, em comparação com as da fase estacionária (independente dos
poros). Isto resulta no alargamento dos picos.

Conforme diminui o tamanho da partícula, a profundidade dos poros diminui e


a saída dos poros acontece mais rapidamente, permitindo obter análises rápidas, sem
perda na eficiência (COLLINS, 1995).

Estas explicações justificam porque na CLAE utilizam-se somente materiais


porosos cujas partículas têm tamanho menor do que 30 μm, com exceção da troca
iônica.

Outros tipos de materiais utilizados são partículas esféricas, geralmente vítreas,


não porosas, recobertas por uma camada muito fina de um adsorvente poroso.

Este tipo de material e denominado de película de camada porosa, de porosidade


superficial ou de centro não poroso (COLLINS, 1995).

Bibliografia

COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S. Introdução a métodos


cromatográficos. 6. ed. Campinas: Editora UNICAMP, 1995.

DUPONT, R.; BAUMGARTNER, W. Drug Testing by Urine and Hair Analysis:


Complementary Features and Scientific Issues. Forensic science international. No70
(63-76), 1994.

FESSENDEN, R. J.; FESSENDEN, J. S. Techniques and experiments of organic


chemistry. Willard Grant Press, Boston, 1982.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Aula 6 - CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA


EFICIÊNCIA - Parte 2

Olá aluno e aluna, na aula de hoje vamos dar continuidade a cromatografia


líquida de alta eficiência. Bons estudos

As técnicas da CLAE

Há cinco tipos de fases estacionárias com diferentes mecanismos que regem as


separações cromatográficas na CLAE. Mediante a simples troca de coluna e fase móvel
é possível utilizar um deles (SKOOG, 1995).

Cromatografia líquido-sólido ou por adsorção

O mecanismo de separação da cromatografia líquido sólido (CLS), ou adsorção,


se baseia na competição que existe entre moléculas da amostra e as da fase móvel em
ocupar os sítios ativos na superfície de um sólido (fase estacionária). O equilíbrio
estabelecido é:

ADSORVENTE

SOLVENTE SOLUTO

Para que a molécula do soluto possa ser adsorvida na fase estacionária, primeiro
uma molécula da fase móvel deve ser deslocada da superfície. Se assumir que o
adsorvente possui uma superfície polar (por exemplo: sílica ou alumina), grupos
apolares (por ex.; hidrocarbonetos) terão pouca afinidade por essa superfície e não irão
deslocar a molécula da fase móvel; por isso, não serão retidos.

Grupos funcionais polares capazes de formar pontes de hidrogênio terão fortes


afinidades pela superfície e serão fortemente retidos. Moléculas polarizáveis (por ex.:
1
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

moléculas aromáticas) irão apresentar interação dipolo induzido-dipolo com a


superfície do adsorvente e, portanto, também serão retidas; o grau de retenção depende
da polarização de cada molécula ou grupo funcional. É importante que as partículas da
fase estacionária apresentem uma grande área de superfície, isto é, um grande número
de sítios ativos (SKOOG, 1995).

A atividade da superfície de muitos sólidos (incluindo a sílica e alumina) se


encontra com frequência afetada pela retenção de certas moléculas de alta polaridade
como álcoois, fenois, água etc., e, devido a eles, em determinadas ocasiões, é difícil
reproduzir os resultados obtidos nas análises, porque as propriedades da superfície
sofrem mudanças.

Em consequência, a superfície da sílica empregada na CLAE é habitualmente


submetida a determinados processos de desativação com o propósito de diminuir a
retenção de moléculas muito polares e, assim, se mantém a superfície em condições
uniformes, o que contribuirá para melhorar a reprodutibilidade das análises.

Muitas vezes, devido a uma forte adsorção ou retenção de alguns componentes


da amostra no sólido ativo, é necessário aumentar a polaridade da fase móvel de uma
maneira constante e uniforme, com o qual se consegue um incremento de solubilidade
dos componentes da amostra na fase móvel.

A essa variação dá-se o nome de eluição por gradiente ou programação da fase


móvel (SKOOG, 1995). Para a maioria das separações realizadas por adsorção (CLS)
usa-se partículas porosas, na faixa de 5-10 μm, além de se empregar, às vezes, os
materiais maiores (30-40 μm), como película porosa.

Quase todas estas separações são limitadas a alguns tipos de adsorventes: sílica
e alumina. A retenção e a separação nestes adsorventes são geralmente similares, os
componentes mais polares da amostra serão retidos preferencialmente (SKOOG,
1995).

Na modalidade de cromatografia por partição com fase líquida, é preferível usar


suportes que sejam inertes; mas não existem suportes inertes com rigidez e
uniformidade requeridas pela CLAE. Usa-se a sílica, sabendo-se que tem pontos
adsorventes que necessitam ser completamente cobertos ou inativados, como em CG.

Os poros deverão ser suficientemente grandes para permitir total acesso das
moléculas do soluto à fase estacionária contida dentro da estrutura dos poros, mas
suficientemente pequeno para resistir a remoção do líquido estacionário pelo arraste
mecânico da fase móvel (SKOOG, 1995).

2
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Cromatografia líquido-líquido ou por partição

A cromatografia líquido-líquido (CLL) foi desenvolvida por Martin e Synge em


1941 para separação de vários aminoácidos, usando fase estacionária de água em sílica
e clorofórmio como fase móvel. O mecanismo de separação neste tipo de
cromatografia, ou mecanismo de distribuição como também é chamado, baseia-se nas
diferentes solubilidades que apresentam os componentes da amostra na fase móvel e
na fase estacionária. Então, os componentes mais solúveis na fase estacionária são
seletivamente retidos por ela, enquanto os menos solúveis são transportados mais
rapidamente pela fase móvel.

O maior inconveniente desta técnica é a solubilidade da fase estacionária na fase


móvel, o que rapidamente deteriora a coluna, levando a não reprodutibilidade nas
separações repetitivas. Isto pode ser resolvido de duas maneiras. A primeira é saturando
a fase móvel com a fase estacionária por meio de uma pré-coluna, colocada antes do
injetor, que contenha uma alta percentagem de fase estacionária.

A segunda é utilizando materiais que contenham a fase estacionária,


quimicamente ligada a um suporte sólido (SKOOG, 1995).

Cromatografia líquida com fase ligada

A fase estacionária para a cromatografia líquida com fase ligada (CLFL) surgiu
como resposta aos problemas com a CLL. Como a fase estacionária é quimicamente
ligada à superfície do suporte, não há mais solubilidade da fase estacionária na fase
móvel. O mecanismo principal desta técnica baseia-se na partição. Por outro lado,
como esta fase estacionária também apresenta influência de grupos ativos (polares) da
superfície, isto é, também ocorre o mecanismo de adsorção, a maioria dos
pesquisadores considera esta técnica um método separado.

Variando a natureza dos grupos funcionais da fase estacionária é possível obter


diferentes tipos de seletividade. Estes grupos podem ser polares, como o grupo amino
(-NH2 ) e o grupo nitrilo (-CN), que funcionam similarmente às fases polares da CLS,
sendo chamados de fase normal.

E há os de natureza apolar, como os grupos octil (-C8H 17), octadecil (-C18H


37), fenil (- C6 H 5 ), etc., que são chamados de fase reversa. Este tipo de cromatografia
é muito útil e se aplica a moléculas de baixa ou média polaridade, não iônica, de massa
molecular inferior a 2000 e solúveis em solvente orgânico.

3
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Cromatografia líquida por troca iônica

Na cromatografia por troca iônica (CTI), a fase estacionária possui grupamentos


iônicos quimicamente ligados que podem ser trocadores de cátions ou de ânions. Esses
grupamentos apresentam contra-íons que são deslocados pelos íons da amostra
(SKOOG, 1995).

Os materiais usados como recheio para CLAE por troca iônica têm grupos
(cátions ou ânions) quimicamente ligados às partículas porosas de resinas poliméricas,
a sílica com camada pelicular, as micropartículas porosas de sílica e as micropartículas
porosas de resinas poliméricas.

Tradicionalmente, as partículas porosas de resina polimérica são usadas na


separação de aminoácidos, peptídeos e carboidratos. Este material consiste em
partículas rígidas do copolímero de poliestireno-divinilbenzeno, cuja superfície e poros
contém os grupos trocadores de íons.

Estes materiais são de capacidade elevada, geralmente da ordem de


miliequivalentes por grama de material e são encontrados com diâmetros maiores (30
- 40 μm) ou menores (5 μm, 10 μm).

As sílicas com camadas peliculares consistem de uma partícula vítrea de forma


esférica recoberta com uma camada fina do copolímero poliestireno-divinilbenzeno
que contém os grupos ativos trocadores de íons. Estes materiais são de capacidade
reduzida, da ordem de 10 μg/g, mas muito eficazes e podem ser utilizados com
solventes orgânicos. Existem também materiais que têm a vantagem de resistir a
pressões elevadas e possuir uma capacidade de troca superior à dos materiais
peliculares; são as micropartículas porosas de sílica com grupos trocadores
quimicamente ligados.

Os processos de troca iônica dependem muito da temperatura, é conveniente ter


algum sistema de controle térmico quando for empregado este tipo de fase estacionária,
pois mudanças normais na temperatura ambiente podem afetar os resultados (SKOOG,
1995).

Cromatografia líquida por exclusão

A cromatografia por exclusão tem sua resolução baseada no tamanho efetivo das
moléculas dos componentes da amostra em solução. E existem limites que determinam
o intervalo de tamanhos em que um material é útil.

4
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

O primeiro é o inferior, chamado de limite de permeação, abaixo do qual todas


as moléculas de menor tamanho são igualmente difundidas dentro dos poros do
material e o segundo é o superior, chamado limite de exclusão, acima do qual todas as
moléculas são muito grandes para penetrar nos poros.

Moléculas de tamanho intermediário entre ambos os limites serão separadas


totalmente ou parcialmente de acordo com a seletividade característica de cada
material.

Então, serão eluídas sem resolução as moléculas menores que o limite de


permeação e as maiores do que o limite de exclusão, separando somente as que se
encontram dentro destes limites (COLLINS, 1995).

Atualmente dispõe-se de um grande número de materiais para cromatografia por


exclusão. Eles variam de acordo com a sua rigidez e com o intervalo de tamanho dentro
do qual são úteis, isto é, o material a ser utilizado na coluna dependerá do tamanho
efetivo das moléculas que devem ser separadas (COLLINS, 1995). Quanto à rigidez
existem três tipos de materiais.

Os primeiros são os materiais fracos não rígidos, constituídos de géis de


polidextrano (Sephadex), poliacrilamidas (Bio-Gel P) e poliagaroses (Sepharose e Bio-
Gel A), usados quase sempre com fases móveis aquosas. Sua capacidade é elevada,
mas eles não resistem a pressões superiores a 3 bars; então, são usados somente na CE
clássica.

Os segundos são os materiais semirrígidos que normalmente resistem a pressões


da ordem de 100 a 150 bars. Estes materiais são constituídos de microesferas de algum
copolímero, como o poliestireno-divinilbenzeno. Podem ser empregados com fases
móveis aquosas ou não aquosas e existem em uma grande variedade de porosidade.
São usados em CLAE e também em CE clássica (COLLINS, 1995).

Os terceiros são os materiais rígidos que resistem a qualquer pressão e são


geralmente constituídos de partículas de sílica porosa ou de vidro poroso. Devido a sua
rigidez podem-se obter separações muito rápidas com fluxo de fase móvel muito alto,
o que produz pressões elevadas, para o uso de CLAE (COLLINS, 1995).

Os materiais à base de sílica ou vidro podem ter a superfície muito ativa e


apresentar adsorção ou degradação de certos materiais (por exemplo, desnaturação de
proteínas). Existem tratamentos para eliminar estes efeitos mediante processos de
desativação química, tais como silanizar a sua superfície de modo muito similar ao
tratamento químico dos suportes em cromatografia gasosa (COLLINS, 1995).

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Características das colunas usadas em CLAE

As colunas são constituídas de um pedaço de tubo de algum material inerte, de


diâmetro interno uniforme e capaz de resistir às pressões em que será usado. O aço
inoxidável é o mais usado entre todos os materiais.

Existem também algumas feitas com vidro de paredes grossas, mas apresentam
o inconveniente de não se conseguir conexões adequadas, entre o vidro e o metal, que
resistam a altas pressões sem vazamento. Geralmente, o diâmetro interno das colunas
para fins analíticos é ao redor de 3 a 5mm e para colunas preparativas igual ou maior
do que 10 mm. As colunas com microdiâmetro apresentam diâmetros internos entre
0.05 e 2 mm.

O comprimento na maioria dos casos fica entre 10 e 50 cm, com exceção da


cromatografia por exclusão onde, às vezes, usam-se colunas de comprimento maior ou
várias colunas conectadas uma na outra.

A capacidade da coluna é determinada pelo seu comprimento, diâmetro e


material de recheio. As colunas são normalmente retas porque apresentam uma perda
de eficiência quando são dobradas. Nos extremos da coluna coloca-se um disco de
teflon ou metal poroso para evitar a perda do recheio ou mudanças na sua compactação.

É importante que este disco retenha as partículas do recheio sem produzir um


aumento muito grande na pressão. Nas colunas atuais é comum obter-se eficiência da
ordem de 50.000 pratos teóricos por metro de coluna, que é superior às eficiências
normalmente obtidas em cromatografia gasosa com colunas recheadas (COLLINS,
1995).

Bibliografia

COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S. Introdução a métodos


cromatográficos. 6. ed. Campinas: Editora UNICAMP, 1995.

DUPONT, R.; BAUMGARTNER, W. Drug Testing by Urine and Hair Analysis:


Complementary Features and Scientific Issues. Forensic science international. No70
(63-76), 1994.

FESSENDEN, R. J.; FESSENDEN, J. S. Techniques and experiments of organic


chemistry. Willard Grant Press, Boston, 1982.

6
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Aula 7 - CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA


EFICIÊNCIA - Parte 3

Olá aluno e aluna, ainda sobre cromatografia de alta eficiência vamos dar entrar
na terceira e última parte falando das técnicas de enchimentos em colunas. Bons
estudos.

Técnicas de enchimento das colunas

O enchimento de colunas para CLAE pode ser feito a seco ou usando uma
suspensão da fase estacionária em um solvente apropriado.

Sendo que as pequenas partículas, durante o enchimento a seco com vibração,


tendem a formar aglomerados, produzindo um acúmulo das partículas maiores perto
da parede e das menores no centro da coluna, o método de enchimento por suspensão
com alta pressão é preferido para rechear colunas com partículas de diâmetro menor
do que 25 μm

Cuidados com as colunas da CLAE

No emprego das colunas de partículas microporosas são necessárias algumas


precauções. Em amostras muito sujas convém utilizar uma pré-coluna. A pré-coluna é
uma coluna pequena com o mesmo recheio ou similar da camada porosa usada na
coluna. Coloca-se entre o injetor e a coluna. As pré-colunas com esta finalidade
geralmente são de 2 - 5 cm de comprimento com o mesmo diâmetro interno da própria
coluna, para que apresentem as mesmas características de separação. Os solventes
devem ter um alto grau de pureza para evitar a contaminação da coluna.

Um cuidado importante é que os solventes devem ser filtrados, em filtros de 0.2


μm, para retirar partículas sólidas, que podem riscar o pistão ou a válvula injetora ou
mesmo entupir os tubos do sistema. Solventes halogenados podem conter traços de
HCl, HBr etc., que podem reagir com o aço inoxidável da coluna e outras partes do
sistema.

Dependendo da natureza potencialmente corrosiva de cada solvente, eles podem


também trazer problemas para a coluna, com a solubilização de íons metálicos
(COLLINS, 1995).

1
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Equipamentos para clae

As principais características que devem ser levadas em consideração na escolha


de um equipamento para CLAE são (COLLINS, 1995):

Versatilidade: o equipamento deve resolver amostras de diferentes tipos, servir


a distintas técnicas cromatográficas e realizar o máximo de operações, tais como,
gradiente de fase móvel, coleta das frações, reciclagem de frações etc., necessárias às
análises sofisticadas.

Rapidez: Para se conseguir análises rápidas, deve-se obter as melhores


condições de CLAE, isto é, fase móvel de baixa viscosidade, bomba de alta pressão e
colunas com partículas de pequeno diâmetro (grande área de superfície, que ajuda os
processos de separação).

Reprodutibilidade e Estabilidade: características essenciais para obter do


equipamento um bom funcionamento em longo prazo. O equipamento deve ter controle
adequado sobre os parâmetros de operação, como vazão, temperatura, pressão e
composição da fase móvel.

Sensibilidade: Um bom equipamento, mesmo trabalhando com pequenas


quantidades de amostra, deve gerar sinais de intensidade apreciável.

2
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Reservatório da fase móvel

O reservatório pode ser uma garrafa de solvente bem limpa. Para análise de íons
não se utiliza reservatório de vidro comum, para evitar que a solução tenha íons
provenientes da parede do reservatório. Pode-se trabalhar com frasco de polietileno.
Utiliza-se esse tipo de frasco quando se trabalha com soluções tampão, soluções
contendo íons F- ou soluções levemente alcalinas. Não se lava o reservatório com
solução sulfocrômica e nem com solução muito alcalina, pois estas corroem as paredes
internas, favorecendo a transferência de íons para a solução.

O volume desses frascos varia de 1 a 3 litros de capacidade, o que normalmente


é suficiente para um dia de trabalho. A captação da fase móvel é feita através de filtro,
para remover partículas que possam obstruir e estragar o sistema de bombeamento e a
coluna. Este filtro deve ter a capacidade de reter partículas sem produzir queda
excessiva de pressão (COLLINS, 1995).

As fases móveis polares têm tendência a dissolver oxigênio e outros gases. Se


esses gases são liberados dentro do equipamento, formam bolhas e podem afetar o
funcionamento do detector e a eficiência da coluna. Por esse motivo é necessário
remover os gases dissolvidos na fase móvel. Em muitos equipamentos, o próprio
reservatório está condicionado a efetuar a remoção, por exemplo, pela aplicação de
vácuo no reservatório e agitação da fase móvel sob ação de ultrassom e/ou
aquecimento.

O problema da formação de bolhas tem sido reduzido pela adição de um filtro


na saída do detector, o que restringe um pouco a vazão e produz uma pequena pressão
na cela do detector, impedindo a formação de bolhas (COLLINS, 1995).

Sistema de bombeamento

O desenvolvimento do sistema de bombeamento adequado foi o fator mais


importante para o desenvolvimento da CLAE. A bomba tem que proporcionar uma
vazão razoável pela coluna, para que a análise não seja lenta, e uma vazão constante,
para não atrapalhar o sistema de detecção. Os aspectos mais importantes para o sistema
de bombeamento são (COLLINS, 1995):

• Pressão máxima de operação na faixa de 600 bars.

• Vazão contínua, sem pulsos (usando, por exemplo, amortecedor de pulsos).

3
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

• Intervalo de vazões entre 0.01 e 10 mL/min, para aplicações analíticas, e até 100
mL/min, para aplicações preparativas.

• Reprodutibilidade e constância da vazão de 1%.

• Inércia química a solventes comuns.

• Pequeno volume bombeado (máximo de 0,5 mL) nos sistemas com bomba de
pistão, para uso em eluição com gradiente e reciclagem.

• Volume interno pequeno.

Podem ser considerados basicamente dois tipos de bombas, as mecânicas e as


pneumáticas. Entre as bombas mecânicas existem dois tipos diferentes, recíprocas
(pistão ou diafragma) e do tipo seringa.

Bombas de seringas com volume constante

Chamadas também de êmbolo ou de deslocamento contínuo, estas bombas


possuem um êmbolo ou pistão que é deslocado de forma contínua e uniforme por um
motor de precisão, comprimindo o líquido contido em uma câmara de volume
constante. As vantagens apresentadas por essas bombas são não apresentarem pulsação
e terem fluxo constante da fase móvel. A desvantagem é um reservatório de solvente
limitado, o que dificulta o preenchimento e a mudança da fase móvel, pois implica
parar o sistema e despressurizar (SKOOG, 1995).

Bombas de seringas com pressão constante

Esta bomba tem um pistão que se movimenta pela ação de agente pneumático.
O reservatório da bomba é cheio pela força do ar comprimido, que desloca o pistão ou
diafragma. As vazões obtidas são livres de pulsações e de pressão constante, mas isso
significa que, se a resistência à pressão da coluna muda, a vazão também muda. As
desvantagens deste sistema são (COLLINS, 1995):

• Instabilidade na velocidade do fluxo;


• Mudanças no tempo de retenção, dificultando a interpretação dos resultados;
• Capacidade limitada do volume total que pode ser bombeado.

4
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Bombas reciprocadoras

São bombas que escoam volumes constantes de forma não contínua, isto é,
pulsante. Essas bombas operam mediante o movimento de um pistão (movimentado
por via de um eixo excêntrico) e por meio de um sistema de válvulas que
alternadamente se abrem e fecham, onde se enche e esvazia, de modo alternativo, uma
pequena câmara.

Estas bombas apresentam um volume interno de 100-200 μL. As principais


vantagens deste tipo de bomba são uma vazão com volume constante, capacidade de
alimentação contínua do sistema, facilidade na mudança da fase móvel e o trabalho
com pequenos volumes (COLLINS, 1995).

Uma das desvantagens deste tipo de bomba é que se obtém uma vazão pulsante
e não uniforme e contínua. Isto pode causar perda de eficiência na coluna e
instabilidade no detector. Sistemas de amortização hidropneumáticos, localizados entre
a bomba e a coluna, têm sido utilizados para solucionar esse problema.

A forma mais simples de amortecedor utilizada consiste de uma secção


normalmente espiralada de espessura reduzida de aço inoxidável ou tubo de teflon (6
m x 1 mm). Este tubo capilar se deixa fluir livremente e assim absorve as pulsações
produzidas pela bomba. A grande desvantagem desse tipo de amortecedor é seu grande
volume morto, que pode provocar alargamento da banda cromatográfica, além de
tornar o processo de mudança da fase móvel lento e dispendioso (COLLINS, 1995).

Bombas reciprocadoras de duplo-pistão

Neste tipo de bomba, dois pistões são acionados por um mesmo eixo excêntrico,
de forma que, quando um pistão succiona a fase móvel o outro expulsa o líquido para
fora da bomba. A vazão de ambos os pistões, já quase livre de pulsação, é encaminhada
à coluna por uma via comum. Assim o sistema de duplo pistão tem todas as vantagens
da reciprocadora de pistão simples, além da vantagem adicional da grande diminuição
do problema de pulsação (COLLINS, 1995).

Válvulas para amostragem

Anteriormente, a introdução da amostra era efetuada de forma similar à realizada


na cromatografia gasosa, ou seja, mediante microsseringa que injeta a amostra dentro
de uma pequena câmara, de onde é eluida pela fase móvel. Os equipamentos modernos
5
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

empregam válvulas para amostragem, como a ilustrada esquematicamente na Figura 9.


A amostra, introduzida na válvula mediante seringa, deve encher o espaço interno da
porção do tubo capilar de aço, a alça de amostragem (carga). Normalmente o volume
contido na alça é de 1 a 100 μL.

A amostra é injetada na coluna, ao girar a válvula para que a posição de entrada


e saída mude (injeção na coluna). Desta forma pode injetar-se na coluna pressurizada
um intervalo amplo de volumes de amostra, dependendo do tubo capilar (alça de
amostragem) utilizado, com um alto grau de reprodutibilidade.

As válvulas para amostragem são fabricadas somente de material inerte, como


teflon e aço inoxidável, e seu desenho é tal que resistem a pressões muito elevadas
(COLLINS, 1995).

Bibliografia

COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S. Introdução a métodos


cromatográficos. 6. ed. Campinas: Editora UNICAMP, 1995.

DUPONT, R.; BAUMGARTNER, W. Drug Testing by Urine and Hair Analysis:


Complementary Features and Scientific Issues. Forensic science international. No70
(63-76), 1994.

FESSENDEN, R. J.; FESSENDEN, J. S. Techniques and experiments of organic


chemistry. Willard Grant Press, Boston, 1982.

GOMES, M. S. Contributo da química forense na detecção de drogas de abuso.


Dissertação de Mestrado. Universidade de Lisboa, Lisboa, 2013.

GOUCH , T. A. The analysis of drugs of abuse. John Wiley, Chichester, 1991.

6
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

AULA 8 - ESPECTROMETRIA

Olá aluno e aluna, na aula de hoje vamos falar um pouco sobre espectrometria,
só vamos abordar conhecimentos básicos sem se aprofundar no assunto.

Técnicas espectroscópicas

Existem diversas maneiras de identificar um material, da simples até a mais


tecnologicamente avançada. A história conta que Arquimedes teria constatado a
falsificação de uma coroa com pesagens sob a água, o que ilustra como identificar um
material utilizando o conceito de massa específica, empuxo e o princípio de
Arquimedes.

Entretanto, a nível atômico, ou mesmo microscópico, é impossível fazer medidas


de pesos com balanças hidrostáticas. As balanças hidrostáticas funcionam para fazer
medidas de objetos da ordem de centímetros, mas não da ordem de angstroms. Desta
forma, é muito mais viável medir a radiação eletromagnética absorvida ou emitida pelo
material. No lugar de uma balança hidrostática, utiliza-se um espectrômetro.

No lugar de conceitos como o de massa específica, empuxo e princípio de


Arquimedes, são usados conceitos como o de espectro, frequência e radiação
eletromagnética. Por meio de medidas do espectro de absorção ou emissão de radiação
pela matéria é possível elaborar modelos e conhecer as estruturas atômicas que formam
os materiais. As várias técnicas espectroscópicas existentes podem ser utilizadas para
uma série de finalidades como, por exemplo, identificar substâncias presentes na cena
de um crime, que pode ser algo crucial para a identificação do culpado; determinar a
concentração de substâncias em alimentos e medicamentos, permitindo avanços no
controle de qualidade desses produtos; melhor compreender as propriedades
microscópicas responsáveis por características macroscópicas, algo fundamental para
o desenvolvimento, produção e utilização de novos materiais.

Toda técnica espectroscópica baseia-se na detecção e análise de um feixe de


radiação eletromagnética vinda de uma amostra do material que está sendo investigado.
Essa radiação pode ser parte de um feixe que incidiu sobre a amostra e foi parcialmente
atenuado (espectroscopia de absorção ou transmissão); pode ser um feixe que, após
incidir sobre a amostra foi espalhado ou difratado (espalhamento); pode ainda ter se
originado na própria amostra, como resultado de diferentes processos (espectroscopia
de emissão).

1
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Existem diversas variantes desse esquema básico, mas o importante é entender


que tipo de interação ocorre entre a radiação e a matéria, e que tipo de informação pode
ser obtida com cada técnica espectroscópica.

O espectro eletromagnético e a excitação molecular

A espectroscopia no infravermelho, fornece evidências da presença de vários


grupos funcionais na estrutura orgânica devido à interação das moléculas ou átomos
com a radiação eletromagnética em um processo de vibração molecular.

Uma molécula muito simples pode gerar um espectro muito complexo. Desta
forma, a interpretação do espectro é feita comparando o espectro de uma substância
desconhecida ao de um composto padrão. Uma correlação pico a pico é uma excelente
evidência para a identidade das amostras. É muito pouco provável que duas substâncias
que não sejam enantiômeras, deem exatamente o mesmo espectro de infravermelho
(BRUICE, 2006).

Embora o espectro de infravermelho seja característico da molécula como um


todo, certos grupos de átomos dão origem a bandas que ocorrem mais ou menos na
mesma frequência, independentemente da estrutura da molécula. É justamente a
presença destas bandas características de grupos que permite ao químico a obtenção,
por meio de simples exame do espectro e consulta a tabelas, de informações estruturais
úteis, e é neste fato que se baseia a identificação de estruturas (BRUICE, 2006).

As ligações covalentes que constituem as moléculas orgânicas estão em


constantes movimentos axiais e angulares. A radiação no infravermelho faz com que
átomos e grupos de átomos de compostos orgânicos vibrem com amplitude aumentada
ao redor das ligações covalentes que os ligam.

O processo é quantizado, porém o espectro vibracional costuma aparecer como


uma série de bandas, porque a cada mudança de nível de energia vibracional
corresponde uma série de mudanças de níveis de energia rotacional, desta forma, as
linhas se sobrepõem dando origem às bandas observadas no espectro. As posições das
bandas no espectro podem ser apresentadas em número de ondas, utilizando a unidade
centímetro inverso (400- 400 cm-1) ou em micrômetros (2,5- 16 μm) (BRUICE, 2006).

2
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Espectrômetro

A radiação no infravermelho passa pela amostra a ser analisada, sendo que a


radiação transmitida é comparada com aquela transmitida na ausência de amostra.

O espectrômetro registra o resultado na forma de uma banda de absorção. Um


espectrômetro que possui uma alta sensibilidade é o espectrômetro com transformada
de Fourier (FTIR), o qual possui um interferômetro de Michelson, que serve para
dividir o feixe da radiação da fonte de infravermelho de tal forma que ele reflita
simultaneamente a partir de um espelho em movimento e de um espelho fixo.

Os feixes refletidos voltam a se combinar e passam através da amostra para o


detector e são reproduzidos na forma de um gráfico de tempo contra a intensidade do
sinal denominado de interferograma (SOLOMONS, 2005).

Espectroscopia no ultravioleta

A absorção molecular na região do ultravioleta e do visível do espectro depende


da estrutura eletrônica da molécula. A absorção de energia é quantizada e conduz à
passagem dos elétrons de orbitais do estado fundamental para orbitais de maior energia
em um excitado (SILVERSTEIN, 2006).

A espectroscopia na região do ultravioleta e do visível fornece informações a


respeito da interação entre a matéria e a radiação eletromagnética. Essa radiação
apresenta tanto as propriedades de partículas quanto as de ondas. A absorção de luz
ultravioleta ou visível por uma molécula é, geralmente, o resultado de uma transição
eletrônica, e pode ser estudada pela espectroscopia eletrônica. Dependendo da energia
necessária para a transição eletrônica, a estrutura orgânica absorverá a luz ultravioleta
ou a luz visível.

A luz ultravioleta é a radiação eletromagnética com comprimento de onda entre


180 e 400 nanômetros (nm), enquanto que a luz visível tem comprimento de onda entre
400 e 780 nm. O valor de 1 nm corresponde a 10-9 m. O comprimento de onda (λ) é
inversamente proporcional a energia, sendo assim, a luz ultravioleta possui maior
energia que a luz visível.

Quando uma molécula é irradiada com luz UV ou visível pode ocorrer uma
transição eletrônica, durante a qual a molécula absorve um quantum de energia e um
dos elétrons é excitado do orbital que ocupa no estado fundamental a outro de maior
energia. A frequência da absorção é dada pela relação (SILVERSTEIN, 2006):

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Espectroscopia de ressonância magnética nuclear

A espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) é a parte da


espectroscopia que estuda a estrutura e as interações moleculares através de medidas
da interação de campo eletromagnético oscilante com os núcleos presentes num campo
magnético estático. Os núcleos são partes dos átomos, estes são partes das moléculas.
Assim, o espectro de RMN mostra informações, difíceis de serem obtidas por outros
métodos espectroscópicos, sobre a estrutura e dinâmica molecular (SILVERSTEIN,
2006).

Assim, a espectroscopia é o estudo da interação da radiação eletromagnética com


a matéria. Essa radiação pode ser vista como uma onda com duas componentes, uma
elétrica e outra magnética, que oscilam perpendicularmente entre si, sendo ambas
também perpendiculares à direção de propagação da luz. A interação entre a radiação
eletromagnética e a matéria pode ocorrer de duas formas: pela sua componente elétrica
ou pela sua componente magnética (NASCIMENTO, 2001).

Bibliografia

MOFFAT, A.C. Clarke’s analysis of drugs and poisons: in pharmaceuticals, body fluids and
postmortem material 3. ed. London : Pharmaceutical Press, 2004.

NASCIMENTO, C. J.; BLOCH Jr., C. Ressonância Magnética Nuclear – Gradus Primus.


Biotecnologia Ciência & desenvolvimento. Brasil v1 (2001) 52.

PAVIA, D. L.; LAMPMAN, G. M.; KRIZ, G. S. Introdução à Espectroscopia. 4. ed. São Paulo:
Cencage Learning, 2010.

ROUEN, D., DOLEN, K., KIMBER, J., A Review of Drug Detection Testing and an Examination
of Urine, Hair, Saliva and Sweat. Technical Report No. 120, National Drug, 2001.

SILVERSTEIN, R. M.; WEBSTER, F. X.; KIEMLE, D. J. Identificação espectrométrica de


compostos orgânicos. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 2006.

4
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Aula 9 - DETECÇÃO DE DROGAS IN VIVO - Parte 1

Olá aluno e aluna, nesta aula vamos falar sobre detecção de drogas in vivo,
dividiremos esse conteúdo em quatro aulas para um melhor entendimento. Bons
estudos.

Detecção de drogas in vivo

O desenvolvimento de métodos para a pesquisa de drogas de uso em matrizes


biológicas constitui um importante instrumento para a toxicologia clínica e forense:

Na toxicologia clínica contribui para o acompanhamento de indivíduos em uso


prolongado de medicamentos, no tratamento de toxicodependência e no controle do
uso abusivo de drogas; entretanto, na forense, contribui para esclarecer a causa de
morte e o diagnóstico de intoxicações acidentais ou intencionais relacionados com o
uso abusivo de drogas.

A exposição e distribuição de substâncias tóxicas no homem ocorrem mediante


múltiplas variáveis, que é por meio da via de administração, distribuição pelo
organismo e consequente pela passagem pelos fluídos orgânicos.

Desta forma, pela análise químico-toxicológica de amostras biológicas pode


obter-se informação sobre o consumo de drogas, sendo a escolha da amostra a analisar
fundamental, uma vez que cada uma apresenta características específicas. A detecção
de drogas de uso pode ser realizada em amostras de sangue, urina ou em cabelo.

Tratamento de amostras de forma a obter uma análise completa do consumo de


uma determinada substância, é fundamental a sua pesquisa e quantificação em
diferentes amostras biológicas, indicando diferentes períodos de detecção. As drogas
podem ser detectadas a partir de qualquer fluido ou tecido corporal.

Quando uma droga está presente no sangue, vai estar igualmente presente nos
fluidos orais, devido ao equilíbrio existente entre os fluídos corporais.

No entanto, a concentração nos fluidos orais poderá ser muito baixa, por vezes
menor que o limite de detecção analítico, pelo que não é garantido que se obtenha um
resultado positivo. Por outro lado, durante o consumo da droga, esta vai sendo
depositada no cabelo e em última análise a droga e os seus metabólitos vão ser
eliminados através da urina ou fezes.

1
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

A principal diferença entre as matrizes biológicas é essencialmente no intervalo


de tempo para o qual pode ser detectado o consumo da droga. Outro aspecto que as
distingue, está relacionado com a coleta. Algumas amostras são mais facilmente
coletadas e o processo é indolor.

No entanto, as matrizes, são mais facilmente manipuladas e consequentemente


adulteradas A análise de drogas tem por finalidade detectar indícios de exposição ou
consumo de substâncias tóxicas, existindo dois tipos de testes laboratoriais: os
baseados em fluidos corporais e em amostras de queratina (cabelos ou pelos).

Os fluídos corporais possuem uma janela de detecção muito pequena, em média


2 a 3 dias dependendo da droga analisada, com exceção da maconha que pode chegar
a 20 dias.

Já as amostras de queratina possuem uma janela de detecção mais longa,


podendo chegar a 6 meses.

O custo e a facilidade de realização da análise são também aspectos tidos em


consideração. Embora estes fatores se tenham vindo a alterar ao longo do tempo com
o desenvolvimento de tecnologia adequada, eles fornecem a base para determinar qual
o teste mais adequado.

As análises de drogas, em matrizes biológicas de sangue, urina, cabelos, saliva,


além da preservação e integridade da amostra, precisam ainda garantir a
confidencialidade do exame, dada a gravidade de se imputar a alguém o uso de
substância entorpecente. Todas essas amostras precisam ser corretamente identificadas
e terem cuidados especiais de conservação.

O tempo de semivida de uma droga é definido como o tempo decorrido para que
50% da droga seja eliminada do organismo pelo seu metabolismo ou pela sua excreção.
Após o consumo de uma droga, esta é metabolizada, dando origem a outras substâncias
que podem posteriormente ser detectadas em amostras biológicas.

A determinação do consumo de drogas é realizada por meio da análise dos


metabólitos de uma droga, bem como da própria droga em si, dependendo da amostra
a ser analisada. Este é um aspecto importante por duas razões.

Em primeiro lugar os metabólitos são mais susceptíveis de serem detectados em


certas amostras, principalmente na urina, já que estas substâncias têm tendência a ter
uma semivida mais longa que a substância que lhes deu origem (substância
consumida).

2
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Em segundo lugar para a identificação das concentrações do metabólito é


necessário determinar a droga consumida, uma vez que, diferentes drogas podem
metabolizar os mesmos compostos. Por outro lado, uma substância não metabolizada
pode estar presente por contaminação passiva e não por consumo (como acontece com
o cabelo)

Bibliografia

ROUEN, D., DOLEN, K., KIMBER, J., A Review of Drug Detection Testing and an
Examination of Urine, Hair, Saliva and Sweat. Technical Report No. 120, National
Drug, 2001.

SILVERSTEIN, R. M.; WEBSTER, F. X.; KIEMLE, D. J. Identificação


espectrométrica de compostos orgânicos. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos
e Científicos Editora S.A., 2006.

SKOOG, D. A., HOLLER, F. J., NIEMAN, T. A. Princípios de análise instrumental.


5. ed. Bookman, 2002.

SOLOMONS, G. T. W.; FRYHLE, C. B. Química orgânica. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC


v. 1, 2005.

VOGEL, A. I. Análise química quantitativa. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2002.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 9)

Caro aluno e aluna, conforme estudado nesta aula, faça uma dissertação
expositiva falando sobre O QUE É DETECÇÃO DE DROGAS IN VIVO E QUAL
SEU PONTO DE VISTA SOBRE O ASSUNTO. Após a realização deverá postar na
plataforma para correção, não se esqueçam de colocar a fonte de pesquisa, outro
detalhe importante é o capricho, ele é levado em consideração na hora da correção. Boa
atividade.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Aula 10 - DETECÇÃO DE DROGAS IN VIVO


Parte 2

Olá aluno e aluna, nesta aula vamos dar continuidade ao tema detecção de drogas
in vivo, falando da detecção de drogas em sangue e urina. Bons estudos

Detecção de drogas em amostras de sangue

A análise de sangue é um dos tipos de testes laboratoriais baseados em fluidos


corporais. As amostras de sangue e dos seus derivados, que são o soro ou o plasma, são
importantes nas análises toxicológicas, já que pelos níveis sanguíneos de determinados
xenobióticos (compostos químicos estranhos ao sistema biológico) é quase sempre
possível realizar correlações com os efeitos que essa substância tem no organismo.

As substâncias presentes no sangue têm a tendência para se equilibrarem


rapidamente nas células sanguíneas e nas proteínas plasmáticas, daí que qualquer fluido
(sangue a análise de sangue é um dos tipos de testes laboratoriais baseados em fluidos
corporais.

As amostras de sangue e dos seus derivados, que são o soro ou o plasma, são
importantes nas análises toxicológicas, já que pelos níveis sanguíneos de determinados
xenobióticos (compostos químicos estranhos ao sistema biológico) é quase sempre
possível realizar correlações com os efeitos que essa substância tem no organismo.

As substâncias presentes no sangue têm a tendência para se equilibrarem


rapidamente nas células sanguíneas e nas proteínas plasmáticas, daí que qualquer fluido
(sangue).

Detecção de drogas em amostras de urina

A análise da urina é um tipo de teste laboratorial baseado em fluídos corporais.


A urina é a matriz biológica mais utilizada para a análise de drogas e seus metabólitos
e apesar de apresentar vários inconvenientes, entre eles a sua facilidade para ser
adulterada, o exame da urina é um processo amplamente estudado que tem melhorado
ao longo dos anos (DUPONT, 1994).

Esta análise oferece um período de detecção intermédio o que a torna vantajosa


(ROUEN, 2011).
1
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

A urina é um subproduto líquido do corpo, tipicamente estéril (na ausência de


doenças), secretada pelos rins e excretada pela uretra. O metabolismo celular dá origem
a vários subprodutos, muitos ricos em nitrogênio, que necessitam de ser eliminados da
corrente sanguínea.

Estes subprodutos são eventualmente excretados do corpo pelo processo


designado de micção, método primário para excretar do corpo substâncias químicas
solúveis em água. É uma forma de limpar o organismo libertando gorduras, sais e
outros compostos.

A quantidade diária e composição da urina é bastante variável dependendo de


diversos fatores, como ingestão de líquidos, dieta, estado de saúde, efeitos do uso de
drogas e fatores ambientais. O volume de urina normalmente produzido varia entre 1 a
2 litros por dia embora existam valores fora deste intervalo (ROUEN, 2011).

As drogas são geralmente destruídas (metabolizadas) pelo fígado e eliminadas


pela urina. Portanto, analisar a urina em busca de metabólitos das drogas é um dos
métodos para detectar a presença do consumo de drogas.

A urina é geralmente aceita como amostra para verificar o uso recente de drogas
de abuso, mas não permite distinguir o usuário ocasional do abusivo ou do dependente
(GOMES, 2013).

Quando uma droga é consumida pela inalação do fumo, a absorção se dá quase


que instantaneamente e a excreção pela urina começa rapidamente. A absorção de uma
droga dá-se de forma mais lenta quando esta é administrada oralmente,
consequentemente a sua excreção dá-se também de forma mais lenta.

Na maioria dos casos uma amostra de urina tem a sua máxima concentração em
droga e seus metabólitos em 6 horas após a administração. A sua eliminação ocorre a
uma taxa exponencial e, para a maioria das drogas ilícitas, a sua dose será eliminada
quase por completo ao fim de 48 horas.

As amostras de urina oferecem, no geral um período de detecção de 1 a 3 dias,


o que significa que drogas consumidas 1 a 3 dias antes do teste de urina, têm grande
probabilidade de serem negativos.

Por outro lado, o álcool é metabolizado e eliminado rapidamente pelo que a sua
detecção por meio da urina apenas será possível em algumas horas. Os tempos de
detecção são afetados por uma série de fatores, no entanto a utilização frequente de
determinadas drogas, durante longos períodos de tempo, pode originar a sua
acumulação no organismo e resultar em tempos de detecção muito alargados,
principalmente para canabinoides (maconha) e cocaína (GOMES, 2013).
2
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Embora os resultados do teste da urina sejam dados em termos quantitativos, este


não consegue distinguir o consumidor ocasional do consumidor crônico. A exata
concentração da droga ou de seu metabólito presente na urina não pode ser estimada;
oferecendo um resultado preliminar.

A quantificação da droga é realizada, quando solicitada, por metodologia


específica em centros especializados. Portanto, a interpretação do resultado desta
triagem deve ser submetida à consideração clínica e ao julgamento profissional do
médico (GOMES, 2013).

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Bibliografia

ROUEN, D., DOLEN, K., KIMBER, J., A Review of Drug Detection Testing and an
Examination of Urine, Hair, Saliva and Sweat. Technical Report No. 120, National
Drug, 2001.

SILVERSTEIN, R. M.; WEBSTER, F. X.; KIEMLE, D. J. Identificação


espectrométrica de compostos orgânicos. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos
e Científicos Editora S.A., 2006.

SKOOG, D. A., HOLLER, F. J., NIEMAN, T. A. Princípios de análise instrumental.


5. ed. Bookman, 2002.

SOLOMONS, G. T. W.; FRYHLE, C. B. Química orgânica. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC


v. 1, 2005.

VOGEL, A. I. Análise química quantitativa. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2002.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Aula 11 - DETECÇÃO DE DROGAS IN VIVO


Parte 3

Olá aluno e aluna, nesta aula vamos dar continuidade ao tema detecção de drogas
in vivo, falando da detecção de drogas em amostras de saliva. Bons estudos.

Detecção de drogas em amostras de saliva

A detecção de drogas em amostras de saliva possui um número limitado de testes


quando comparada com os testes realizados em urina (KIDWELL, 1998).

A boca faz parte do sistema digestivo e, portanto, é nela que começa a digestão,
auxiliada pela saliva, que é um líquido produzido por três pares de glândulas salivares:
as parótidas, as submandibulares e as sublinguais (KIDWELL, 1998).

A saliva tem como função lubrificar e diluir o alimento, facilitando a mastigação,


a gustação e a deglutição. A saliva também tem como função proteger contra as
bactérias e umedecer a boca. A saliva é composta por ar, por isso apresenta o aspecto
espumoso, água (99,5%) ptialina, nitrogênio, enxofre, potássio, sódio, cloro, cálcio,
magnésio ácido úrico e ácido cítrico. Também possui proteínas enzimáticas, estruturais
e imunológicas.

A saliva humana contém uma substância chamada imunoglobulina secretória


(IgA) que tem a função de proteger o organismo contra vírus que invadem o trato
respiratório e digestivo. A saliva também possui um efeito microbiano, que controla o
crescimento de bactérias, por isso, quando não há saliva, há maiores chances de
aparecerem cáries dentárias. Alterações na quantidade de saliva também podem causar
halitose (GOMES, 2013).

Uma das enzimas presentes em nossa saliva é a amilase salivar, também


conhecida como ptialina, que inicia a digestão do amido e do glicogênio, quebrando-
os em maltose. A ptialina age no pH neutro da boca, mas é inibida ao chegar no
estômago por causa da acidez do suco gástrico. Uma pessoa adulta produz cerca de 1
a 2 litros de saliva por dia e ao ingerir algum alimento, a quantidade de saliva secretada
aumenta.

Ficamos com “água na boca” porque nosso sistema nervoso estimula a produção
de saliva pelas glândulas salivares quando sentimos o cheiro ou o sabor de algum
alimento. A xerostomia é uma alteração na quantidade de saliva na boca. Pode ser
1
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

causada pela ingestão de alguns medicamentos, idade avançada, pois com o


envelhecimento, as glândulas salivares vão se atrofiando.

O câncer na região da cabeça e pescoço, a diabetes e algumas outras doenças


podem alterar a quantidade de saliva. É sabido que existe alguma semelhança entre a
concentração do fluído oral e a concentração do sangue (exatamente no plasma). No
caso da maioria das drogas, a concentração do fluído oral, pode ser estimado pelo pH
do fluído oral e sangue, a ligação das proteínas à droga e o seu PCA.

Além disso, para substâncias ácidas o equilíbrio favorece a sua presença no


sangue, enquanto que para substâncias básicas ocorrem concentrações superiores em
saliva (GOMES, 2013). Pode considerar uma correlação entre a concentração do
medicamento livre em sangue e a sua concentração em saliva.

O plasma contém tanto a molécula livre como a molécula ligada a proteínas, no


entanto é a sua forma livre, a que pode ser considerada farmacologicamente ativa (a
que chega ao local de ação, a que pode ser metabolizada, a que pode ser eliminada).
Quando esta forma livre é excretada pelas glândulas salivares, é atingido um equilíbrio
saliva-plasma, sendo que as concentrações das substâncias no fluido oral podem refletir
as respectivas concentrações plasmáticas.

Desta forma a concentração em saliva está relacionada mais com a concentração


farmacologicamente ativa da substância do que com a concentração plasmática total.

Este aspecto depende da capacidade de cada molécula se ligar às proteínas


plasmáticas, mas poderá ser influenciada por outros fatores que condicionem uma
maior porcentagem de substância livre e, consequentemente, biologicamente ativo.

A saliva conter um baixo teor proteico comparando-se com o sangue, assim, uma
possível causa de erro nas determinações em saliva pode ser resultante da ligação às
muco proteínas salivares, quando se subestimam as concentrações determinadas após
centrifugação. Assim, frequentemente a fração ligada às muco proteínas pode ser
precipitada por centrifugação durante o processamento da amostra.

Alguns fatores como a idade, índice de massa corporal, sexo, estado de saúde,
dose consumida e consumo concomitante de outras substâncias, farão variar os níveis
de drogas e medicamentos de indivíduo para indivíduo, explicando também variações
encontradas para o mesmo indivíduo em alturas diferentes (GOMES, 2013).

Todos estes dados servem para demonstram que a farmacocinética de qualquer


substância na saliva é mais complexa do que no sangue. Os tempos de detecção nesta
matriz vão depender de diversos fatores, incluindo a dose, a frequência de utilização
(aguda ou crônica) e dos próprios limites de detecção do método analítico envolvido.
2
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

O interesse pela utilização da saliva como matriz biológica tem aumentado,


significativamente, com o decorrer dos anos, uma vez que esta amostra apresenta
propriedades particularmente interessantes. Por um lado, a saliva é facilmente acessível
e pouco invasiva a sua recolha e não necessitando de pessoal médico especializado.

Por outro lado, obtêm-se melhores resultados de correlação entre os casos


positivos para drogas em saliva e consequente estado de influenciado do que os casos
positivos em urina (apesar de apresentar menores tempos de detecção do que a urina),
bem como a correlação entre as concentrações detectadas em saliva e as detectadas no
sangue na sua forma livre (GOMES, 2013).

A maior parte das substâncias na sua forma livre desaparece da saliva e do


sangue cerca de 12 a 24 horas após a sua administração.

Existe, por isso, uma relação temporal entre o desaparecimento das substâncias
da saliva e a duração dos seus efeitos. Consequentemente, a saliva poderá constituir
uma amostra biológica muito útil para a detecção do consumo recente de substâncias
em condutores, vítimas de acidentes e no âmbito do controlo laboral, uma vez que
existe uma estreita correlação com o estado de influência.

Alguns estudos mostram que mais facilmente se obtêm tempos de detecção mais
semelhantes entre a saliva e o sangue do que entre o sangue e a urina. No entanto,
nunca existirá uma correlação de 100% entre os diferentes fluidos biológicos, uma vez
que os resultados sofrem a influência do tempo que decorre entre a administração e
colheita da amostra.

Se uma substância foi administrada muito recentemente, é possível que apenas


seja detectada em sangue e saliva, mas não na urina. O contrário poderá também
ocorrer, a presença apenas em urina e não em sangue e saliva, quando o consumo não
é recente (GOMES, 2013). Além de poder ser utilizada como alternativa ao sangue, a
saliva pode também ser utilizada como alternativa à urina.

A saliva tem sido utilizada como meio de diagnóstico, em análises de consumo


de substâncias ilícitas no local de trabalho, na estrada, em estabelecimentos prisionais
e também na avaliação do estado de influência de indivíduos após a prática de um crime
e por essa razão a avaliação de tempos de detecção e de farmacocinética de algumas
drogas tem também suscitado algum interesse científico (GOMES, 2013).

Outra vantagem que se apresenta na utilização da saliva é a de esta estar menos


exposta a interferências causadas pelo metabolismo, comparativamente com o sangue
ou urina e da existência do composto ativo nesta amostra estar sempre em maiores
concentrações comparativamente com os respectivos metabólitos.

3
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

No entanto, não se pode considerar a saliva como um substituto do sangue ou da


urina na detecção de drogas. Esta matriz apresenta como desvantagem a coleta da
amostra, pois pode se tornar desconfortável para o indivíduo, em especial em situações
de síndrome da boca seca. Além disso em situações de muita viscosidade da amostra,
esta necessita de um tratamento laboratorial prévio.

Outra possível desvantagem poderá ser o curto período de tempo de detecção


das substâncias em saliva (12-24 horas após o consumo), não validando a utilização
desta amostra para avaliar um consumo anterior (GOMES, 2013).

Bibliografia

ROUEN, D., DOLEN, K., KIMBER, J., A Review of Drug Detection Testing and an
Examination of Urine, Hair, Saliva and Sweat. Technical Report No. 120, National
Drug, 2001.

SILVERSTEIN, R. M.; WEBSTER, F. X.; KIEMLE, D. J. Identificação


espectrométrica de compostos orgânicos. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos
e Científicos Editora S.A., 2006.

SKOOG, D. A., HOLLER, F. J., NIEMAN, T. A. Princípios de análise instrumental.


5. ed. Bookman, 2002.

SOLOMONS, G. T. W.; FRYHLE, C. B. Química orgânica. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC


v. 1, 2005.

VOGEL, A. I. Análise química quantitativa. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2002.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Aula 12 - DETECÇÃO DE DROGAS IN VIVO


Parte 4

Olá aluno e aluna, nesta aula vamos finalizar o tema detecção de drogas in vivo,
falando da detecção de drogas em amostras de cabelo. Bons estudos.

Detecção de drogas em amostras de cabelo

Após a implementação da urina como matriz biológica para a detecção de drogas


de abuso, acreditava-se que o cabelo não seria uma amostra eficaz para ser utilizada na
prática, uma vez que a quantidade de droga incorporada, é muito menor, quando
comparado com a urina. No entanto, com o desenvolvimento de tecnologia apropriada,
a detecção de drogas utilizando o cabelo como amostra biológica apresentou-se como
uma alternativa viável (GOMES, 2013).

A análise da urina apresenta uma janela de detecção de drogas relativamente


pequena, por outro lado por meio do cabelo consegue-se um histórico mais completo
tendo em consideração o seu comprimento. Esta ampla janela de detecção é uma das
vantagens mais relevantes da utilização do cabelo como amostra biológica na detecção
de substâncias. Por essa razão, sempre que possível, a análise de cabelo e urina devem
ser exames complementares para verificação do consumo de drogas.

A coleta de amostras de cabelo é um processo simples, não invasivo, sendo


difícil a sua adulteração. Além disso, é possível, sempre que necessário, colher-se outra
amostra, que apresentará as mesmas características da previamente coletada, o que não
acontece com amostras de sangue ou urina.

Por outro lado, não necessita de condições especiais de transporte e


armazenamento, já que estas amostras são estáveis por um longo período de tempo.
Além disso, muitos estudos referem esta análise como sendo muito sensível e
específica (GOMES, 2013).

A primeira análise de cabelo humano para detecção de drogas descrita foi em


1958, sendo que foi realizada para detectar a presença de arsênio. Durante a década de
1960, o cabelo foi amplamente utilizado como amostra biológica para avaliar a
exposição a metais pesados como chumbo, mercúrio e arsênio. Nos últimos 30 anos o
cabelo tem sido utilizado para documentar a exposição de drogas de abuso em várias
situações: áreas forense, ocupacional e clínica. Embora não tenha ainda aprovação por

1
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

parte do comitê olímpico internacional, é bem conhecido o conhecido o grande


potencial da utilização do cabelo para análises de antidoping.

A análise de cabelo é uma poderosa ferramenta analítica, para detecção e


controle do consumo de drogas de abuso, já que as drogas são incorporadas durante a
formação da fibra capilar e permanecem estáveis na matriz queratinosa.

No entanto, uma interpretação exata dos resultados analíticos tem se mostrado


difícil, já que existem ainda algumas questões relativas à forma como é feita a
incorporação da droga no cabelo, principalmente em relação aos canabinoides. Vários
estudos têm sido desenvolvidos a fim de verificar como o uso de drogas, tais como
morfina, heroína, cocaína, crack, barbitúricos, anfetaminas, entre outras, pode ser
identificada no cabelo, meses ou anos após o uso. O cabelo pode, seguindo a orientação
da raiz até à ponta, ser sequencialmente seccionado, e cada secção, ser analisada
individualmente resultando num perfil tempo/exposição.

Em alguns casos é possível obter uma estimativa em relação ao consumo intenso,


moderado ou ocasional de determinadas substâncias (GOMES, 2013). As principais
dúvidas com relação a análise de cabelo é o com o tempo que uma droga e os seus
produtos de biotransformação podem ser detectados após a sua administração.

Por outro lado, a questão mais importante que se coloca é saber se a


administração única de uma droga pode ser detectada no cabelo e o seu intervalo de
tempo. Esta é uma questão difícil de ser respondida, já que o tempo de detecção de uma
substância depende de diversos fatores, e poucos foram os estudos feitos nesse sentido.
Além disso, é difícil conseguir a aprovação pela ética deste tipo de estudo, já que se
estaria permitindo a administração de drogas ilícitas a voluntários saudáveis.

Como consequência, em muitos estudos, a administração das doses é


relativamente baixa, comparadas com as doses reais utilizadas pelos consumidores
comuns. O cabelo constitui uma complexa estrutura que faz parte do corpo humano e
sua biologia não está ainda totalmente esclarecida.

O cabelo é constituído por proteínas, melanina e lipídios e por ser um tecido


vivo, as drogas podem ser incorporadas durante o crescimento capilar juntamente com
outros nutrientes. O cabelo não é uma fibra homogênea, mas sim um conjunto de
células queratinizadas aglomeradas através de uma membrana celular que unidas
formam três estruturas celulares concêntricas: a cutícula, o córtex e a medula.

A cutícula é composta por uma única camada de células alongadas justapostas.


A cutícula envolve o córtex central composto por células longas queratinizadas. É no
córtex que estão presentes os grânulos pigmentares designados por melanina,

2
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

responsáveis pela cor do cabelo. A medula localiza-se na região central e pode não
estar presente se este for muito fino (GOMES, 2013).

O mecanismo exato envolvido na incorporação de substâncias no cabelo ou os


fatores que influenciam a sua incorporação não foi ainda totalmente esclarecido. No
entanto, o mecanismo proposto baseia-se na difusão passiva das substâncias presentes
no sangue para as células na base do folículo capilar durante o processo de
queratogênese, permanecendo na estável estrutura do fio de cabelo, que é rodeada por
uma densa rede de capilares sanguíneos.

Existe uma grande dificuldade e incerteza na interpretação desta ferramenta


analítica relativamente à dose, frequência, e tempo de consumo da droga. Além disso,
existem ainda dúvidas relativamente à eficácia das técnicas de descontaminação,
existência de contaminação externa, efeitos da variação da textura e tipo de cabelo,
estabelecimento de padrões e valores de referência, os mecanismos de incorporação
das drogas, a relação dose administrada/analisada (GOMES, 2013).

Existem várias maneiras de se detectar as drogas de uso no ser humano, como


por exemplo, pela análise do sangue, da urina, da saliva e do cabelo. A urina é a matriz
biológica mais amplamente utilizada para a pesquisa de drogas de abuso, existindo
inúmeros testes presuntivos rápidos para o efeito.

No entanto, apresenta uma janela de detecção relativamente curta, já que a


maioria das drogas é eliminada por completo por meio da urina ao fim de 48 horas pelo
que se o consumo tiver sido realizado 2 a 3 dias antes, o resultado poderá ser negativo.
Por outro lado, o álcool é totalmente eliminado ao final de algumas horas.

Além disso, é uma amostra facilmente adulterada e a sua coleta é considerada


como invasão de privacidade caso se tente assegurar a sua veracidade, por outro lado
3
DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

é uma amostra que deve ser manuseada com cuidado por apresentar risco biológico. A
saliva, por sua vez, aparece como uma matriz biológica alternativa uma vez que é
facilmente acessível, pouco invasiva, não necessitando de pessoal especializado para a
sua colheita.

Apesar de apresentar uma boa correlação entre as concentrações de drogas


detectadas na saliva e as detectadas no sangue na sua forma livre, a saliva apresenta
um período de detecção mais curto que a urina (12 a 24h).

Por esta razão a saliva constitui uma amostra biológica muito útil para a detecção
do consumo recente por existir uma estreita relação entre o desaparecimento das
substâncias e a duração dos seus efeitos, assim como no sangue.

O sangue é considerado a melhor matriz biológica para correlacionar a


concentração de drogas e os seus efeitos. Permite ainda a detecção de drogas logo após
o seu consumo, mesmo antes da sua metabolização.

Finalizando, todas as matrizes biológicas apresentam vantagens e desvantagens


e a sua escolha dependerá do objetivo final.

No entanto, é possível estabelecer que o cabelo é a melhor matriz biológica para


quando se pretende um histórico do consumo de drogas, exceto para os canabinóides,
cuja amostra biológica ideal é a urina. Por outro lado, o sangue apresenta-se como a
solução mais viável caso se pretenda determinar o consumo de drogas imediatamente.

A saliva por apresentar grandes concentrações de droga, por ser de colheita


pouco invasiva, constitui também uma matriz biológica vantajosa.

O consumo de drogas ilícitas cada vez tem aumentado mais, por conta do tráfico
de drogas surgindo novas drogas todos os dias. Desta forma, é importante a detecção
destas drogas no organismo.

Para detecção das drogas existem vários tipos de análises, como por exemplo, as
técnicas cromatográficas, compreendidas pelas análises em cromatografia em camada
delgada, cromatografia gasosa e cromatografia líquida de alta eficiência.

As técnicas espectroscópicas também são importantes para a detecção de drogas,


que são: a espectroscopia no infravermelho, espectroscopia no ultravioleta e
ressonância magnética nuclear.

Existem várias maneiras de se detectar as drogas de uso no ser humano, como


por exemplo, por meio da análise do sangue, da urina, da saliva e do cabelo. Cada
matriz biológica responde a um tempo diferente do consumo da droga.
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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Bibliografia

ROUEN, D., DOLEN, K., KIMBER, J., A Review of Drug Detection Testing and an
Examination of Urine, Hair, Saliva and Sweat. Technical Report No. 120, National
Drug, 2001.

SILVERSTEIN, R. M.; WEBSTER, F. X.; KIEMLE, D. J. Identificação


espectrométrica de compostos orgânicos. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos
e Científicos Editora S.A., 2006.

SKOOG, D. A., HOLLER, F. J., NIEMAN, T. A. Princípios de análise instrumental.


5. ed. Bookman, 2002.

SOLOMONS, G. T. W.; FRYHLE, C. B. Química orgânica. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC


v. 1, 2005.

VOGEL, A. I. Análise química quantitativa. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2002.

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DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 12)

Caro aluno e aluna, conforme estudado no tema de detecção de drogas in vivo,


faça uma dissertação argumentativa com no mínimo 20 linhas e no máximo 30 linhas
expondo QUAL A MATRIZ BIOLÓGICA DE MAIOR EFICÁCIA NA
DETECÇÃO DE DROGAS IN VIVO. Após a realização deverá postar na plataforma
para correção, não se esqueçam de colocar a fonte de pesquisa, outro detalhe
importante é o capricho, ele é levado em consideração na hora da correção. Boa
atividade.

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Aula 1 - COMPUTAÇÃO FORENSE – Parte 1

Computação forense

Fundamentos e legislação da computação forense as civilizações da Idade Antiga


evoluíram determinados conceitos orientando a área forense primitiva por meio de
diferentes modos de pensar e agir.

Assim, cada uma destas civilizações conseguiu gerar códigos de leis distintos
para orientar seus cidadãos. A ciência forense teve seu primeiro registro na China onde
Ti Yen Chieh se tornou conhecido por fazer uso de vestígios do crime para solucioná-
lo vinculado à lógica, por meio de diferentes métodos e ferramentas (SILVA, 2015).

No século XIII, o juiz Song redigiu o primeiro compêndio da medicina legal


justificando como reconhecer sinais de estrangulamento, afogamento e ferimentos para
alcançar a determinação do tipo, tamanho e arma empregada no crime. Nesse mesmo
século, os decretos do papa Gregório IX estabeleciam perícias médicas em casos de
morte violenta e lesões corporais que pudessem apresentar interesse jurídico.

Na década de 1980, o campo de pesquisa sobre investigação digital teve sua


origem, e em 1984, houve a criação de um programa dentro do Federal Bureau of
Investigation (FBI, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos) que realizava
análises a respeito de mídias magnéticas (SILVA, 2015).

Anos depois, o agente Michael Anderson, considerado o “pai da forense


computacional” iniciou trabalhos nesse departamento. Em 1988 o termo Forense
Computacional foi utilizado pela primeira vez, num treinamento da Associação
Internacional de Especialistas em Investigação Computacional (IACIS) em Portland,
Oregon.

Essa área forense tem apresentado cada vez mais importância devido à evolução
tecnológica e ao surgimento de novos equipamentos, conceitos e informações (SILVA,
2015).

O desenvolvimento tecnológico traz inúmeros benefícios para a sociedade, no


entanto, também traz os problemas provenientes de práticas ilegais e criminosas, o que,
consequentemente, gera a necessidade da realização de novas práticas para controle de
tais impasses.

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Para punir aqueles que praticam esses atos é preciso de investigação, que é feita
por autoridades competentes e se inicia de acordo com o Código de Processo Penal
(CPP), pela apuração e análise dos vestígios deixados (ALMEIDA, 2011).

De acordo com a Lei n° 12.737 de novembro de 2012:

Art. 1° Esta Lei dispõe sobre a tipificação criminal de delitos informáticos e dá


outras providências.

Art. 2 O Decreto-Lei n°2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, fica


acrescido dos seguintes arts. 154-A e 154-B: “Invasão de dispositivo de informática”.

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de


computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de
obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita
do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

§ 1° Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde


dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta
definida no caput.

§ 2°Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resultar prejuízo


econômico.

§ 3°Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas


privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em
lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido:

Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não


constitui crime mais grave.

§ 4°Na hipótese do § 3°, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver


divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou
informações obtidas.

§ 5° Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra:

• I - Presidente da República, governadores e prefeitos;

• II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia


Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara
Municipal; ou

• “IV - Dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual,


municipal ou do Distrito Federal.”

Art. 154-B Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante
representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou
indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou
contra empresas concessionárias de serviços públicos.”

Art. 3° Os artigos. 266 e 298 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940


- Código Penal, passam a vigorar com a seguinte redação: “Interrupção ou perturbação
de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de
utilidade pública.

Art. 266. § 1°Incorre na mesma pena quem interrompe serviço telemático ou de


informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento.

§ “2°Aplicam-se as penas em dobro se o crime é cometido por ocasião de


calamidade pública.”

A Lei n°12.737 foi apelidada de “Lei Carolina Dieckmann" em virtude do


incidente de invasão de privacidade ocorrido com a atriz. A lei entrou em vigor em
abril de 2013 alterando o Código Penal para a tipificação de crimes cibernéticos, isto
é, aqueles voltados contra dispositivos ou sistemas de informação (não é voltada para
crimes comuns realizados por meio de computadores) (SILVA, 2015).

O uso de computadores para a prática criminal não é uma atividade muito


recente, todavia, a legislação brasileira referente a esses aspectos ainda não é
totalmente consolidada e preparada para a tipificação de todas as modalidades de
crimes cibernéticos.

Estima-se, por exemplo, que 90% dos exames forenses realizados na área da
informática sejam relacionados a investigações dessa modalidade de crime, sendo que
o computador, nesse caso, é uma ferramenta que auxilia criminosos na prática de
delitos que incluem falsificação de documentos, violação de direito autoral, sonegação
fiscal, tráfico de entorpecentes, entre outros (ALMEIDA, 2011).

Isso significa que o computador tem relação com o modus operandi do crime
que é o modo ilegal de execução da ação, assim como um carro que é utilizado na fuga
de bandidos. Por essa razão, em diversos casos, os exames forenses em tais objetos são
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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

formidáveis provas técnicas e, por conseguinte, os laudos produzidos neles tornam-se


peças imprescindíveis para o convencimento do juiz na definição da sentença.

A definição do que é a computação forense centra-se na área da ciência da


computação que se desenvolve de forma gradual com o objetivo de atender à demanda
oriunda da criminalística, e que também é uma parte da criminalística que se apropria
de fundamentos da ciência da computação (BEGOSSO, 2010).

Para que o magistrado consiga chegar a alguma conclusão sobre um determinado


fato, a perícia forense computacional em suas atribuições vinculadas ao mundo jurídico
utiliza o conhecimento de profissionais especializados para fazer a busca de provas.

No que tange a tais provas, existem aspectos a se considerar quanto à sua licitude
ou ilicitude. Uma prova ilícita é obtida de forma inidônea, ou seja, uma prova adquirida
violando a restrição constitucional. Num conflito entre bens jurídicos relevantes a
verdade é buscada a todo tempo, assim como é necessário verificar a existência de
violação à intimidade, pois os direitos fundamentais não são absolutos, mas auto
protetivos.

A legalidade da prova, portanto, é também uma forma de defesa em nome da


tutela dos direitos do acusado. Existem, no entanto, correntes doutrinárias que
defendem o uso total de provas ilícitas e outras que defendem o veto absoluto. São
exemplos dessas vertentes (MARINO et al., 2013):

• Admissibilidade processual da prova ilícita, considerando a persecução da


verdade real (exceto se a prova é ilícita e ilegítima);

• Inadmissibilidade processual da prova ilícita mesmo se esta tem respaldo


processual contrário;

• Teoria da proporcionalidade ou razoabilidade, que considera a possibilidade de


admitir uma prova ilícita se houver interesse público relevante e merecimento
de proteção;

• Teoria da proporcionalidade e prova ilícita pro réu dependendo de como a prova


foi produzida. Ocorre que, ao fazer uma análise forense em uma máquina,
sobretudo se é um servidor de serviços como e-mails ou arquivos, é preciso
tomar grandes cuidados para evitar a invasão de privacidade do usuário. Por essa
razão, é ideal definir um escopo contendo as restrições necessárias para não
haver interferências na ação de análise. São raras as ocasiões em que acontece
uma busca em todos os arquivos, quer seja por motivos de os arquivos não terem
relação com o que se procura, quer por limitações de processamento. A
computação forense tem como objeto os crimes eletrônicos e uma vez que
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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

grande parte dos negócios atuais se desenvolve na internet, sua importância é


notória para desvendar crimes e levar à punição necessária. Nesse cenário, é
comum encontrar agentes criminosos, isto é, indivíduos ou quadrilhas
organizadas que agem, por exemplo, falsificando websites de bancos visando
obter credenciais ou manipular contas correntes de clientes.

De acordo com Begosso (2010), a computação forense atua nos seguintes tipos
de situações:

• Validação de provas em ações trabalhistas;

• Validação de provas em ações cíveis;

• Crimes de calúnia;

• Crimes de injúria;

• Crimes de difamação;

• Crimes de pedofilia. Os profissionais da área podem usar suas competências em


diversas situações. Além de evidências criminais, seus conhecimentos também
podem ser empregados em situações que necessitam da comprovação de fraude,
casos de assédio e discriminação no trabalho, ou ainda, em provas de adultério
em casos de divórcio. Isso porque, quando tais delitos são cometidos,
obviamente deixam pistas, e essas, devem ser investigadas por um profissional
ou autoridade policial competente. Dado que um investigador normalmente não
tem o conhecimento necessário para analisar informações contidas em
computadores para identificar sua relevância na elucidação dos fatos, o
profissional da área da computação forense entra em ação (BEGOSSO, 2010).

Um programador é um profissional que tem vantagens nessa área de


atuação, principalmente porque as habilidades necessárias para a busca de um
erro em um código fonte são também necessárias para uma análise forense.
Podemos elencar como habilidades necessárias (GUIMARÃES et al., 2001):

• Raciocínio lógico;

• Compreensão das relações de causa e efeito em sistemas computacionais;

• Capacidade de utilizar as ferramentas adequadas para as análises;

• Conhecimento detalhado sobre sistemas operacionais.

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

É preciso que o profissional tenha conhecimentos específicos sobre as


ferramentas de análise devido à necessidade de não perturbar o sistema que está sendo
analisado. Essas perturbações podem ser interpretadas/traduzidas como alterações nos
tempos de acesso aos arquivos e anulam as formas de reconstituição do que aconteceu
na máquina num passado próximo (GUIMARÃES et al., 2001).

Além disso, um perito digital, em sua rotina de trabalho, lida, diariamente, com
códigos binários que compõem os arquivos e, portanto, é imprescindível que tenham
amplo conhecimento no assunto para fazer as análises. Dada à variedade de assuntos
envolvendo as atividades periciais em sistemas computacionais.

As áreas têm aspectos específicos que serão apresentados a seguir para melhor
compreensão das atribuições de um perito desta modalidade, tais como os tipos de
sistemas operacionais, quais ferramentas são utilizadas e os procedimentos de atuação.
Relacionado às definições, tem-se como atributos:

• Compreensão do que é a computação forense;

• Compreensão do que é um perito e suas áreas de atuação.

Sobre a legislação, o perito digital avalia parâmetros como:

• Licitude das provas;

• Respaldo legal para ser perito.

A respeito da segurança da informação, segue-se:

• Gestão (Normas – ISO 27001);

Entre as ferramentas de investigação utilizadas, incluem-se:

• Distribuições GNU/Linux: backtrack, FTDK, Helix, CAINE, DEFT;

• Comerciais: EnCase, FTK.

A linguagem de programação da perícia digital é: C/C + + e Assembly.

Quanto aos sistemas operacionais, o perito digital trabalha com:

• Windows;

• Linux;
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• Unix;

• OS X;

• Novell;

• DOS;

• Artefatos de investigação (log, registro, acesso de usuário, swap);

Processos em execução. Os sistemas de arquivos de conhecimento do perito são:

• NTFS;

• FAT;

• EXT3;

• EXT4;

• HSF+;

• Raise FS;

• FHS (File System Heirarchy Standard).

Referente a MAC times, o perito digital avalia:

• Data e hora de acesso;

• Data e hora de criação e;

• Data e hora de modificação de arquivo.

Das redes computacionais são avaliados:

• Funcionamento;

• Topologia;

• Protocolos;
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• Wi-fi.

Do Modus Operandi de um crime, o perito investiga aspectos das áreas


forenses e a pessoa que possa ter cometido algum crime:

• Forense enterprise, em rede, colaborativa;

• Extração de dados, preservação (cópia de disco), coleta de evidências, cadeia de


custódia, análise, documentação (laudo/parecer técnico);

• Fatores motivacionais do investigado para ter cometido o crime.

As investigações em geral incluem:

• Análise de malware;
• Análise de log;
• Data Carving;
• Dump de memória.

Os hardwares que o perito deve conhecer são:

• HDs (cluster, seção);


• RAM;
• Mídias removíveis (CD, DVD, Pen drives);
• Roteadores;
• Impressoras;
• Cartões de memória (SM, CF, MMC, SD, MS, xD).

Os smartphones periciados são:

• Android;
• Windows Phone;
• IOS;
• RIM;

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• Symbian.

E os procedimentos nos quais um perito atua são:

• Fraudes: o que procurar, quais provas devem ser levantadas;

• Pornografia infantil;

• Pirataria;

• Violação de direitos autorais;

• Recuperação de disco;

• Venda de segredo (base de dados de cliente);

• Auditoria;

• Descarte de dados (wipe).

Os softwares que causam ameaças digitais são definidos como


Malware:

Malicious software ou software malicioso, que são programas desenvolvidos


para a execução de ações maliciosas de vários tipos e com diferentes propósitos em
computadores.

São exemplos de malware:

• Vírus;
• Worm;
• Bots e botnet;
• Backdoors;
• Trojan;
• keyloggers;
• Programas spyware;
• Rootkits.
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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Vírus podem se alocar em programas executáveis e infectá-los, no entanto, eles


dependem da execução desses programas hospedeiros para que possam se propagar.
Quanto a isso, o sistema operacional Linux é vantajoso, pois impede que um binário
possa ser executado automaticamente, ou seja, dificulta a ação e propagação dos vírus.

Já Worms são softwares capazes de auto propagação, que enviam cópias de si


mesmos para computadores com qualquer sistema operacional. Bots são similares aos
worms, contudo, são capazes de se comunicar com o invasor possibilitando o controle
remoto. Por essa razão, crackers podem infectar diversos computadores, gerando às
chamadas botnets (BEGOSSO, 2010).

Quanto ao roubo de informações, os invasores usam trojans e keyloggers. Os


trojans conseguem controlar a máquina infectada, e os keyloggers capturam tudo o que
for digitado naquele computador.

Por fim, os rootkits que são instalados automaticamente, usam técnicas para
esconder processos e dados inerentes ao mecanismo, e, por conseguinte, dificultam sua
identificação (BEGOSSO, 2010).

Existem várias ferramentas para softwares e hardwares das quais os peritos


podem fazer uso em sua atuação profissional. O uso de ferramentas multiplataforma é
comum e funciona de forma eficiente em ambientes como Windows ou Linux.
Algumas delas têm uso fechado e exclusivo para a polícia e instituições de perícias
(CONSTANTINO, 2012).

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Aula 2 - COMPUTAÇÃO FORENSE – Parte 2

Ferramentas de hardware

Uma vez que estas ferramentas evitam que dados sejam apagados, alterados ou
comprimidos de um determinado dispositivo, elas são necessárias para análises
forenses. Os hardwares são bloqueadores de escrita e permitem que o perito possa fazer
uma cópia exata de um dispositivo em outros, como por exemplo, o espelhamento de
um Hard Disk (HD) para outro.

A partir desta ação o perito pode analisar determinados materiais sem a


preocupação com uma possível alteração no equipamento original.

Não somente isso, tais bloqueadores transferem dados com velocidade maior e
permitem a conexão de vários HDs sem a necessidade de haver um computador para
executar as cópias.

Existem diferentes hardwares disponíveis no mercado, dentre os quais o


Logicube Forensic Queste o Intelligent Computer Solutions Solo Ferramentas de
software.

Os softwares possibilitam a cópia de dispositivos de modo seguro, não havendo


riscos de alterações no equipamento analisado. No entanto, ressalta-se que o uso destes
softwares requer atenção maior do perito, pois é importante que não se confunda a
operação de espelhamento, ou seja, a operação na qual se seleciona o HD a ser copiado
e o que receberá a cópia.

Isso deve ser feito por softwares que não acessem o HD na inicialização ou ao
longo do processo de cópia de um dos mais conhecidos softwares, o Symantec Norton
Ghost. Nesse caso, o computador é ligado e o programa é carregado através de um pen
drive, CD ou DVD, ou ainda, por um disquete, sem haver necessidade de carga no
sistema operacional.

A partir daí, o espelhamento pode ser feito para outro disco. É possível também
realizar a duplicação de HDs usando softwares através de sistemas operacionais de
forma read-only, tal como o KNOPPIX. Este software é um sistema operacional
GNU/Linux baseado no kernel do Debian. Sua principal característica é a inicialização
livre, para a qual não é necessário instalar o sistema no computador, sendo possível
inicializá-lo por CD, DVD e dispositivos flash, como pen drives. Sua interface padrão
é o LXDE e com o comando dd (duplicate disc) faz-se o espelhamento de discos.

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

A origem é o HD que está sendo espelhado e o destino é o que receberá a cópia.


Após realizar o espelhamento e a cópia dos discos investigados, os peritos precisam
partir para a análise específica de cada arquivo existente. Para esta análise, existem
programas próprios para determinados sistemas como:

• Para o Windows: OSForensics;

• Para o Linux: Foremost;

• Para o Linux Ubuntu: Back Track e Delf.

As forças policiais podem utilizar soluções computacionais ainda mais


específicas que sejam de uso exclusivo, como por exemplo, a Encase que foi
desenvolvida pela empresa Guidance. A Encase é a ferramenta mais usada por peritos
criminais e é disponibilizada em ambientes contendo o sistema Windows.

Entre suas vantagens podemos citar a liberdade de desenvolver e implementar


novas funções para o software original, para facilitar ou melhorar sua forma de operar,
conforme as necessidades do caso analisado.

Alguns peritos desenvolveram outra ferramenta, chamada Nu Detective, que é


capaz de fazer uma triagem na memória da máquina periciada, para fazer a busca de
conteúdos que possam indicar a presença de material pornográfico. Seu funcionamento
ocorre através do reconhecimento automatizado de assinaturas de arquivos digitais
(CONSTANTINO, 2012).

Como se desenvolve o processo investigativo

A respeito dos procedimentos para a realização de investigações e perícias


digitais é importante que se conheçam alguns aspectos relevantes do ponto de vista
jurídico, como por exemplo:

• Coletar provas em um inquérito deve ser preservado para o aproveitamento no


processo judicial;

• Proteger o sistema investigado de qualquer tipo de manipulação durante a


operação, e, portanto, se possível deve ser feita uma cópia do disco rígido,
identificação e recuperação dos arquivos e aplicativos, inclusive dos excluídos;

• Avaliar o sistema todo (isso inclui sua estrutura);

• Identificar acessos ou cópias ocultas ou protegidas e arquivos temporários;

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• Monitorar fatores gerais relativos à atividade do usuário;

• Elaborar relatório detalhado e registro completo das atividades feitas ao longo


do inquérito policial. Ações policiais para a preservação da cena de crime antes
da chegada dos peritos digitais. A apuração de um delito, tendo este sido
realizado num computador ou não, deve seguir as normas estabelecidas na
legislação, assim como protocolos de investigação. Esta última se inicia
posteriormente a uma denúncia ou suspeita de ocorrência de um crime. Seu
objetivo é verificar e esclarecer a materialidade, dinâmica e autoria dos atos
ilícitos. De modo geral, são as autoridades policiais que executam os
procedimentos ao longo da inquirição. Esses procedimentos seguem a seguinte
ordem (ALMEIDA, 2011):

• Dirigir-se ao local e preservar tanto o estado quanto à conservação das coisas até
a chegada dos peritos criminais;

• Realizar a apreensão de objetos que tenham relação com os fatos;

• Coletar as provas que possam auxiliar o esclarecimento dos fatos e suas


circunstâncias;

• Realizar o reconhecimento de pessoas, coisas e fazer acareações;

• Determinar, caso se faça necessário, a realização do exame de corpo de delito e


quaisquer outras perícias.

Isso significa que as autoridades policiais devem se dirigir ao local onde tenha
ocorrido um crime computacional e isolar o local, sem ligar ou desligar os materiais
questionados para evitar que ocorram alterações ou perdas de possíveis provas e
arquivos importantes. Para realizar tais ações, é preciso que as autoridades tenham um
mandado de busca e apreensão, conforme o Direito Processual Civil para que o perito
possa realizar seu trabalho.

Quando há um crime, seja ele de natureza computacional ou não, o procedimento


inicial é realizado por policiais civis e/ou militares etc. Por razões de delegação estatal,
na condição de representantes do Estado. Portanto, é imprescindível que esses
garantam que o local em questão obedeça aos parâmetros legais, o que somente é
conseguido por meio da preservação e do isolamento do local do crime. Nesse caso, o
primeiro profissional a chegar ao local deve, de acordo com os artigos 6°e 169 do CPP
(TRUFINI, 2017):

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

1. Penetrar no local do crime e se dirigir ao corpo de delito percorrendo o menor


caminho em linha reta possível;

2. Ao constatar o delito, deve retornar à origem percorrendo o mesmo caminho


da ida, para consignar o trajeto ao perito que realizará os procedimentos
periciais posteriormente;

3. Realizar a identificação dos vestígios do delito, ao longo do trajeto


percorrido, para delimitar o local imediato;

4. Isolar o local imediato e parte do local mediato, visando preservar o corpo de


delito e vestígios visíveis pelo policial, e claro, os não captados por ele
também. O isolamento deve ser efetuado pelo uso de fitas zebradas e/ou
cones para evitar a circulação de populares;

5. Acionar a equipe de peritos;

6. Aguardar os especialistas mantendo a segurança do local, impedindo


quaisquer alterações ou invasões no local.

1. A partir da chegada dos peritos, inicia-se a investigação forense. Em


investigações que envolvam análises de dispositivos computacionais,
identificam-se quatro etapas:

• Coleta: Etapa em que o perito isola a área; identifica equipamentos; coleta,


embala, etiqueta e garante a integridade das evidências coletadas, de modo que
seja garantida a cadeia de custódia.

• Exame: Etapa de identificar, extrair, filtrar e documentar dados importantes para


a apuração.

Análise: É a etapa de usar os dados para coletar informações, ou seja, nesse caso
o perito computacional identifica e relaciona pessoas, locais e eventos, reconstroem as
cenas e documenta os fatos.

• Resultado: Etapa de redigir o laudo e anexar as evidências e documentos.

Etapas da perícia digital

O isolamento da cena de crime é importante e imprescindível para a


documentação minuciosa dos vestígios existentes no local e posterior coleta. Estas são
tarefas fundamentais para a apuração dos fatos. Um local de crime de informática
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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

funciona da mesma forma que uma cena de crime convencional, com a ressalva de
haver equipamentos computacionais que podem ter ou tem relação com o delito que
está sendo investigado, independente do computador ter sido usado apenas como
ferramenta de apoio ou como meio de realização da contravenção (ALMEIDA, 2011).

Para realizar uma busca é preciso que a autoridade judiciária faça a expedição
de um mandado de busca e apreensão, e assim, é possível fazer uma diligência para
buscar e apreender pessoas ou objetos que sejam de interesse judicial (ALMEIDA,
2011).

Nesta fase o perito identifica as evidências do material investigado ou do local


de crime, e, se for o caso, faz a documentação de cada evidência identificada. Além
disso, é importante tomar determinados cuidados tanto durante a coleta, quanto no
transporte e armazenamento do material que está sendo apreendido, já que os vestígios
digitais obtidos são sensíveis e podem ser perdidos ou destruídos por
eletromagnetismo, impacto, calor excessivo, atrito, umidade, e diferentes fatores
(ALMEIDA, 2011).

Durante a investigação forense digital, diversas partes de diferentes dados são


preservadas para uma investigação;

Os cuidados para preservar um material que possa conter provas valiosas é a


primeira etapa do trabalho do perito digital. Nesta etapa o perito visa conservar as
informações contidas em um determinado dispositivo apreendido ou questionado. Para
isso, o procedimento parte do espelhamento do disco ou dispositivo, de modo que seja
feita uma cópia fiel, ou seja, bit a bit. É importante considerar que o dispositivo que
receberá a cópia do material questionado deve ter tamanho maior ou igual ao do
material que será periciado, para que os dados sejam copiados fielmente.

Se tratando de HDs, o tamanho dos discos precisa ser analisado pela Logic Block
Addressing (LBA) para assegurar se o tamanho citado na etiqueta está correto ou não,
já que pode acontecer de estar mencionado um valor, mas não ser o tamanho real
disponível. Logic Block Addressing é uma organização lógica dos setores, empregada
nos discos rígidos atuais, que fica na etiqueta do fabricante. Ela faz o computador
endereçar cada setor do disco de forma sequencial, ao invés de fazer uso da localização
física (ALMEIDA, 2011).

No processo de espelhamento, caso o dispositivo questionado esteja sendo


copiado para um de maior capacidade, requer-se que os espaços não preenchidos
durante a cópia sejam “zerados” para assegurar que não haverá interferência de nenhum
bit no processo de análise. Esse procedimento é feito utilizando a técnica wipe e
aplicações como o Zero Fill podem auxiliar esse processo (CONSTANTINO, 2012).

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

A técnica wipe é uma metodologia de limpeza que consiste na exclusão de um


arquivo ou de toda uma partição, ao passo que grava bytes na mesma área do disco.
Havendo algum Software capaz de realizar a leitura binária do disco, este conseguirá
visualizar os dados recém gravados e não originais. O Wipe possui vários métodos que
executam algoritmos avançados, cada um com vantagens e desvantagens, e todos se
diferenciam entre si principalmente quanto ao nível de segurança e tempo de
processamento.

Durante um espelhamento, jamais se deve usar como destino discos rígidos com
setores defeituosos, pois o dado original daquele setor não será copiado, e assim,
acontecerão perdas de evidências e duplicação incompleta (ALMEIDA, 2011).

Algumas opções fazem a sobrescrição de toda a área desejada apenas com um


caractere específico (0x00), enquanto outras fazem este processo sete vezes,
modificando as seis primeiras entre 0x00 e 0xff, e a última com caractere randômico.
Contudo, de acordo com o documento SP 800-88 publicado pela NIST (National
Institute of Standards and Technology), existem estudos apresentando informações de
que a maioria das mídias atuais podem ser sanitizadas utilizando somente uma
sobrescrita. Uma questão de destaque sobre o wipe é que se pode utilizá-lo para evitar
enganos por meio da limpeza do espaço excedente, como também pode ser utilizado
por criminosos para apagar vestígios de suas ações ilícitas (ALMEIDA, 2011).

Quanto ao Zero Fill, é um método para limpar o HD (ZILION, 2017). Quando


um HD é formatado, alguns dados podem ainda ser recuperados, porque a formatação
normalmente não apaga os arquivos de forma definitiva. Caso durante a gravação do
novo sistema nada seja gravado em cima dos dados antigos, torna-se possível recuperar
estes arquivos, senhas e códigos de segurança. Por essa razão, vender um HD usado,
mesmo que após formatá-lo, pode trazer riscos à privacidade e segurança de quem o
está vendendo (MARTINS, 2009). Em geral as empresas fabricantes de HDs têm seus
próprios Softwares de Zero Fill (ZILION, 2017).

Este método consiste em inserir em cada bit do HD, o valor binário zero, da
mesma forma como quando o disco sai de fábrica. Para executar esta tarefa, é
necessário ter conhecimento das seguintes informações:

• Como os fabricantes disponibilizam softwares para a execução do Zero Fill, o


usuário deve saber a marca de seu HD e acessar o site do fabricante para garantir
que irá utilizar o programa correto;

• Se o HD tem mais de uma partição, salvar tudo de todas as partições, já que o


Zero Fill apagará completamente todo o disco rígido. Após executar a limpeza,
é quase impossível recuperar os dados;

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• Executar o Zero Fill somente quando for estritamente necessário.

Existe também a possibilidade de gerar uma imagem do dispositivo questionado


e, a partir dela, o perito consegue fazer análises sem a necessidade de copiá-lo para
outro HD (CONSTANTINO, 2012).

Esse procedimento é semelhante ao espelhamento, que faz a cópia do sistema


operacional, programas, drivers, configurações e arquivos, gerando uma reprodução
exata e fiel do disco. No entanto, ao invés de ser feita uma cópia bit a bit dos dados de
um dispositivo para outro, faz-se cópia para arquivos de imagem. As vantagens dessa
técnica em comparação com a anterior são (ALMEIDA, 2011):

• A possibilidade de fazer uma cópia do disco inteiro ou somente de partes dele;

• O dispositivo que irá receber as imagens, isto é, o dispositivo de destino, pode


receber imagens de diferentes dispositivos, se tiver capacidade suficiente para
tal;

• Os dados são mais facilmente manipulados, pois nesse caso os arquivos podem
ser replicados de forma simples por qualquer sistema operacional;

• Os arquivos de imagens podem ser compactados, de modo que se consegue uma


economia de uso do disco de destino. Esse processo é eficiente em casos de
dispositivos muito grandes, pois, gerando imagens de partes do disco e em
tamanhos menores, consegue-se uma análise mais veloz. Há softwares
específicos para a criação de imagens de discos, tais como o Clonezilla que gera
imagens pelo comando “dd” em sistemas GNU/Linux.

Cabe ao perito, decidir qual técnica usar dependendo do tamanho do disco, para
conseguir realizar uma análise mais eficiente (CONSTANTINO, 2012).

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Aula 3 - COMPUTAÇÃO FORENSE – Parte 3

Softwares

Atualmente, há disponíveis no mercado diferentes equipamentos e softwares


forenses para auxiliar a realização desta tarefa, como, por exemplo, produtos para
acesso somente das leituras das informações dos discos rígidos e para duplicação.

Os dispositivos mais comumente utilizados são os bloqueadores de escrita em


disco rígido, em virtude de serem mais simples de utilizar. Esses dispositivos têm
garantia certificada pelo hardware de que os dados não serão gravados quando
conectado ao material questionado e o computador, e, desse modo, somente é preciso
usar o programa específico para a cópia do disco (ALMEIDA, 2011).

Os dispositivos Espion Forensics Fastblock 3 FE e Forensic Bridge Tableau,


para discos, e ICS Write Protect Card Readerpara cartões de memória, são exemplos
de bloqueadores de escrita amplamente empregados em processos de duplicação
forense. Quanto aos duplicadores forenses, esses são equipamentos muito avançados
que bloqueiam a escrita e permitem fazer cópias para outros discos rígidos via
espelhamento ou imagem. Seu uso para o procedimento de duplicação de dados tem
como vantagem a capacidade de suportar múltiplas interfaces de conectores (IDE,
SATA), além de uma velocidade muito maior na cópia de informações e não requer o
uso de um computador dedicado (ALMEIDA, 2011). Eles são reconhecidos por fazer
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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

cópias de um ou mais discos de origem para outros discos de destino (um ou mais
discos), não havendo esses equipamentos, a duplicação pode ser feita com softwares
específicos que não causam alterações nas evidências existentes no material
questionado.

Esses softwares podem ser os sistemas operacionais forenses Knoppix e Helix,


acessam os dados de leitura e têm o comando dd (duplicar disco). Um computador que
contém discos rígidos questionados e que estão desprotegidos de gravações não deve
ser inicializado em sistemas operacionais convencionais, já que, mesmo se o usuário
não fizer operações, ainda ocorrerão alterações nos dados.

Pode haver não somente riscos de alterações das informações armazenadas, mas
os dados contidos nos equipamentos computacionais podem ser perdidos com o passar
do tempo, em virtude do fim da vida útil dos materiais de fabricação, quebra dos
dispositivos mecânicos ou desmagnetização. Em razão desta fragilidade, é comum no
meio computacional fazer cópias de segurança dos dados (CONSTANTINO, 2012).

Outro fator de influência a se considerar é a sensibilidade ao tempo de uso.


Quando um computador é usado para realizar um crime, seja ele o meio ou a ferramenta
de realização, os rastros deixados nos dispositivos de armazenamento podem ser
apagados pelo usuário. As chances de recuperação de tais informações nesse caso
diminuem à medida que os equipamentos são utilizados. Nesse sentido, o tempo é
crucial para as investigações que envolvam esses vestígios digitais e os exames
forenses devem ser feitos tão rapidamente quanto possível, a partir do momento em
que o material é apreendido, para minimizar a perda de evidências, seja pelo excesso
de tempo de vida ou de tempo de uso do dispositivo (CONSTANTINO, 2012).

Esses procedimentos são importantes porque, além de preservar a prova, se o


perito cometer algum erro que provoque alterações ou perda de informações, a
investigação não será comprometida, pois a fonte estará intacta e somente a cópia terá
sido perdida ou danificada. A importância dos cuidados com as amostras a serem
investigadas se estende até o tribunal: os juízes podem considerar as evidências
inválidas dependendo de como elas estiverem e os advogados de defesa podem
contestar a legitimidade da prova, o que consequentemente prejudica o caso
(CONSTANTINO, 2012).

Portanto, é de responsabilidade do perito a garantia da cadeia de custódia, pois


ele deve garantir a proteção e a idoneidade da prova para evitar questionamentos
referentes à origem ou ao estado final de uma evidência, já que qualquer suspeita pode
tornar a prova nula e colocar em risco toda a investigação. Existem ainda os cuidados
ao manipular os equipamentos que serão periciados, tendo em vista que até mesmo
uma operação simples pode causar alterações nas evidências armazenadas. O simples
ato de ligar o computador altera determinados arquivos, datas de último acesso, e cria
2
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

arquivos temporários (mesmo sem o usuário executar qualquer ação). Uma conexão de
pen drive na porta USB também pode gerar a gravação de dados no dispositivo.

Nesse sentido, podemos concluir que toda e qualquer atividade deve ser
executada buscando a garantia de que as informações armazenadas não irão sofrer
alterações. Assim, os exames forenses devem, sempre que possível, ser feitos em
cópias fiéis do material original (ALMEIDA, 2011). Ao finalizar a etapa de
preservação, o material questionado ou original que tenha sido copiado deve ser
lacrado e guardado como evidência em local específico (CONSTANTINO, 2012).

Coleta e recuperação de evidências

Após todos os cuidados para a preservação das provas, a perito parte para a etapa
seguinte que é a busca e coleta de evidências. A atuação pericial em um sistema violado
se inicia a partir do momento em que o profissional de segurança tenta identificar como
aconteceu o delito e qual a extensão do prejuízo causado, isto é, ele busca informações
e aspectos do sistema operacional que foram afetados. Posteriormente à etapa de
reconhecimento inicial, o perito procede à coleta e análise de evidências para obter o
máximo de dados periciais digitais possíveis (BEGOSSO, 2010).

As imagens Bit copy (cópia bit a bit) de discos rígidos com dados alocados e não
alocados podem conter informações importantes para a investigação, sendo que os
últimos (dados não alocados) podem ser intencionalmente excluídos, como podem ser
excluídos automaticamente gerando uma exclusão temporária de arquivos.

Infelizmente, muitas vezes esses dados não são facilmente acessados. Porém,
uma pesquisa nos dados brutos pode recuperar documentos de texto importantes, ainda
que esses não auxiliem na obtenção de informações presentes em imagens ou arquivos
compactados. Além disso, também acontece de não se ter conhecimento de antemão
das sequências exatas que devem ser procuradas (ALHERBAWI, SHUKUR,
SULAIMAN, 2013).

3
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Identificação e recuperação

Uma investigação deve ser conduzida primeiramente pela revisão das evidências
disponíveis e pela identificação de evidências perdidas ou apagadas. Esta etapa é
indispensável, principalmente porque leva o perito a informações não vistas e evita
conclusões incorretas ou incompletas sobre um determinado caso (CASEY, KATZ,
LEWTHWAITE, 2013).

Quando se tem informações a respeito dos arquivos que podem ter sido perdidos,
é preciso que esses sejam recuperados. Existem diversas formas de recuperar arquivos
do espaço não alocado, dentre as quais a maioria das técnicas faz uso de informações
do sistema de arquivos para localizar e recuperar aqueles excluídos. As vantagens dessa
abordagem são principalmente sua rapidez e a obtenção de metainformação (como data
de último acesso, resolução, ISO) que frequentemente pode ser recuperada.

Em contrapartida, existe a desvantagem de estas técnicas serem menos eficazes


quando as informações do sistema de arquivos estão corrompidas ou sobrescritas
(ALHERBAWI, SHUKUR, SULAIMAN, 2013).

Nesse sentido, o conhecimento do funcionamento de um HD é um fator crucial.


Quando um arquivo é excluído do disco, o sistema operacional não sobrescreve o
conteúdo com zero ou um, ou seja, com o processo feito no wipe para limpar ou zerar
Bits de um dispositivo. Ele apenas marca como livre o espaço que estava ocupado por
aquele conteúdo. Esse processo é conhecido como exclusão lógica, e com ele, os
arquivos existentes no HD são tratados pelo sistema operacional como um espaço
ocupado no disco. Quando esses arquivos são excluídos, o sistema os trata como espaço
livre (CONSTANTINO, 2012).

Com isso, esses trechos se tornam inacessíveis para o usuário comum, mas os
peritos conseguem recuperá-los e acessá-los a partir de técnicas e procedimentos
específicos. Se o processo de recuperação demora a ser realizado, o profissional se
deparará com grande dificuldade de recuperação das informações do dispositivo, tendo
em vista que o espaço no disco nesse momento já é marcado como livre. Assim, o
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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

sistema operacional pode ocupá-lo com outras informações e, consequentemente,


comprometer a possibilidade de recuperação e leitura completa das informações
(CONSTANTINO, 2012).

Essa recuperação é realizada por meio de cabeçalhos ou assinaturas presentes


nos arquivos. Todos os arquivos, como JPEG, BMP, GIF, AVI, DOC, TXT, MP3 etc.
possuem uma assinatura que os identificam e diferenciam. A busca por um arquivo
removido é inicialmente feita por sua assinatura e, assim que esta é identificada, se
torna possível buscar seu conteúdo, seja de forma integral, quando se consegue uma
recuperação completa, ou parcial, caso somente parte do arquivo tenha sido sobrescrito.

A recuperação por meio de assinaturas é também chamada de Data Carving. Em


sistemas GNU/Linux pode ser feita a recuperação por programas como o Foremost,
Scalpel, entre outros. A execução do Foremost deve ser feita pela instalação do
terminal do sistema. A busca pode ainda ser filtrada de acordo com o tipo de arquivo.
Dessa forma, o programa consegue procurar por arquivos GIF e PDF especificamente.

Esse programa apresenta diversos parâmetros e pode ser utilizado de diferentes


formas, como, acessando a documentação do programa digitando “man foremost” no
terminal do sistema. A partir disso, pode-se identificar parâmetros disponíveis, bem
como sua forma correta de uso. Para o uso do programa Scalpel, é preciso configurar
conforme o tipo de busca que será feita.

Assim, o procedimento segue com a edição do arquivo de configuração, aqui, o


“arquivo” é a imagem, partição ou dispositivo a ser analisado e o “diretório” indica
onde serão salvas as respostas da execução. Sabe-se ainda que cada computador tem
suas particularidades, e por essa razão, é necessário conhecer os diferentes sistemas
operacionais e suas características, para que a busca de informações e provas seja
realizada de forma correta.

A seguir serão apresentadas algumas especificidades dos sistemas operacionais


Windows e Linux/Unix, respectivamente:

Windows:

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

1. Arquivos e sistema de arquivos: Utilizar ferramentas de linha de comando pode


auxiliar o investigador a verificar e examinar a hora, data de instalação do
sistema operacional, service packs, patches e subdiretórios como drivers que
atualizam automaticamente.

2. Arquivos ocultos: Ferramentas que buscam no registro, localizam dados em


extensões de arquivos ocultos ou mascarados, como fluxos de dados alternativos
NTFS podem ser empregados.

3. Detecção de arquivos incomuns ou ocultos alterando as janelas para exibição de


determinados tipos de arquivos ocultos:

A. arquivos compactados;
B. arquivos mal nominados;
C. arquivos criptografados;
D. arquivos protegidos por senha;
E. Atributos de arquivos;
F. clusters marcados como ruins;
G. ID de segurança: ID de segurança da Microsoft é localizado no registro na lista
de perfis que possui dados do computador.

4. Slack space: Espaço existente no fim do arquivo do último Cluster que contém
dados do computador;

5. Registro do Windows: É um banco de dados que contém todas as informações


sobre o computador onde são armazenadas, como por exemplo:

A. Configuração do sistema operacional;


B. Informações de configuração do aplicativo;
C. Informações de configuração de hardware;
D. Informações de segurança do usuário;
E. Informações atuais do usuário.

6. Localizar evidências do spooler de impressão do Windows e meta-arquivos


avançados (EMF), ainda que um usuário nunca tenha salvado um documento de
processamento de texto, as versões temporárias de documentos de
processamento de texto algumas vezes permanecem no disco rígido.
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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Linux/Unix:

1. A cópia de trabalho restaurada deve ser montada e posteriormente deve-se iniciar


a análise do conteúdo.

2. O comando Is deve ser usado para visualizar o conteúdo do disco, para listar
todos os arquivos, inclusive os ocultos e listar os diretórios de forma recursiva.

3. Deve-se listar todos os arquivos, tempos de acesso e fazer a busca de evidências


prováveis utilizando o comando grep.

4. Listar extensões de arquivos desconhecidos e aparência de arquivo alterado.

5. Pesquisar nas áreas:

A. Syslog: Coração do logging do Linux.

B. tempo de acesso de arquivo.

C. detecção de arquivos incomuns ou ocultos, compactados e com nomes


incorretos, arquivos criptografados e protegidos por senha.

D. Data carving: O Data Carving é um método de identificação e extração de


arquivos também conhecido como File Carving, em que a identificação independe do
sistema operacional ou de arquivos existentes. Seu funcionamento é como uma
assinatura de um tipo específico de arquivo, além de ser baseado nas informações
existentes nos cabeçalhos, rodapés e setores de um disco (CONSTANTINO, 2012).

Este método é principalmente usado em casos que necessitam de uma técnica


independente que não requer as informações do sistema de arquivos. Essa ação pode
ser também realizada identificando as partes e arquivos excluídos, acessando
diretamente os dados brutos e extraindo-os de forma verificável (ALHERBAWI,
SHUKUR, SULAIMAN, 2013).

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Aula 4 - COMPUTAÇÃO FORENSE – Parte 4

Carving é um termo geral para a extração de arquivos de dados brutos, de acordo


com características específicas do formato de arquivo existente nesses dados, além de
utilizar somente as informações existentes neles, e não as informações do sistema de
arquivos. Nicholas Mikus escreveu que Disc carving é um aspecto essencial da
computação forense, embora seja uma área um pouco negligenciada no
desenvolvimento de novas ferramentas forenses. Após a tese de Mikus, esse campo de
análises evoluiu consideravelmente, no entanto, existem poucas técnicas carving
diferentes e não há um padrão de classificação ou comparação entre as existentes
(ALHERBAWI, SHUKUR, SULAIMAN, 2013).

Os softwares mais conhecidos para a realização da recuperação de arquivos


apagados, de modo automático, são o Photorec e Ontrack Recovery. O Photorec é um
software compatível com diversas assinaturas, além de ser capaz de suportar vários
sistemas de arquivos e ser um software livre. O Ontrack Recovery, por outro lado, tem
interface intuitiva e faz recuperação de diferentes tipos de arquivos, com base seja na
técnica de assinaturas, seja na estrutura do arquivo (SOUSA, 2016).

1
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Em geral, os dispositivos de armazenamento têm uma organização de dados que


guarda mais informações que as acessadas por usuários comuns. Nesse sentido, é
possível dividir os discos rígidos em camadas. As camadas superficiais contêm
arquivos visíveis para qualquer usuário comum. Já nas camadas mais internas existem:

• Arquivos ocultos;
• Arquivos criptografados;
• Arquivos temporários;
• Arquivos apagados;
• Fragmentos de arquivos;
• Sistemas computacionais;
• Bancos de dados;
• Registros de impressão;
• Swap de memória etc.

Para extrair dados de forma completa e correta, é essencial conhecer o sistema


operacional existente no disco, bem como o sistema de arquivos utilizado. Um sistema
de arquivos é um conjunto de estruturas lógicas e rotinas que define a forma como os
arquivos são estruturados, nomeados, acessados, usados, protegidos e manipulados
pelo sistema operacional. Este sistema armazena os arquivos como uma sequência de
bytes, além de organizá-los dentro de uma hierarquia de diretórios, gerenciando seus
nomes e conteúdo, seus atributos, tais como posse, permissões de acesso, data e hora
de última modificação, entre outros. Sistemas de arquivos alocam espaço por meio de
um arranjo linear de blocos de disco de mesmo tamanho e destinam parte da capacidade
de armazenamento para seus próprios propósitos (ALMEIDA, 2011).

À medida que desmontamos camada após camada, as informações vão se


tornando mais precisas em virtude de sofrer menor processamento. Por outro lado,
quanto mais próximo dos Bits brutos, menos significativas serão as informações, já que
se tem cada vez menos conhecimento de sua finalidade. Assim, para haver uma
recuperação correta de dados do disco, é imprescindível conhecer o sistema de
arquivos.

Atualmente, existem diversos sistemas, como por exemplo:

• FAT16;
• FAT32;

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• NTFS;
• EXT2;
• EXT3;
• UFS;
• JFS;
• HPFS;
• REISER etc.

Cada um desses sistemas tem uma forma de estruturação e organização de bits.


Além do mais, o conhecimento a esse respeito já é sistematizado, de modo que é
possível criar ferramentas forenses que examinem toda a superfície do disco buscando
bytes significativos conforme o sistema de arquivo subsistente. Tal automatização
proporciona uma redução de tempo na extração dos dados e permite que o perito se
dedique mais na etapa de análise e produção de evidências. Um impasse enfrentado na
etapa de extração é o aparecimento de programas e arquivos que necessitam de senhas
para serem extraídos, e assim, se torna necessário fazer uso de metodologias que
possam solucioná-lo, tais como (SOUSA, 2016):

• Engenharia reversa;
• Engenharia social;
• Ataques de força bruta.

A engenharia reversa de um software é um procedimento de desmontagem


seguida da análise, com o objetivo de construir e analisar um modelo representativo de
alto nível, de modo que, o programa alvo possa ser estruturado e compreendido. No
momento em que se consegue entender a estrutura e o funcionamento de um programa,
é possível localizar a parte que realiza o processo de login, ou seja, autenticação, e com
isso, se torna possível modificar o Software estética ou dinamicamente, o que, por
conseguinte, permite o acesso à parte protegida do software e à informação desejada
pelos peritos (SOUSA, 2016).

A engenharia social é uma forma de ataque por meio de persuasão, de modo que,
diversas vezes acontece abuso da ingenuidade ou confiança do usuário, objetivando
obter informações para acesso não autorizado em computadores. Por outro lado, a
técnica pode ser utilizada para auxiliar em um processo investigativo em casos em que
um ambiente onde os arquivos são protegidos por senha e os investigadores têm contato
com os usuários, possibilitando chegar às senhas por persuasão e, consequentemente,
facilitar o trabalho pericial. Já o ataque por força bruta, é realizado pelo uso de um
3
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

dicionário de senhas, de modo que cada senha é testada de forma automática, visando
localizar uma possível senha dentro do dicionário utilizado. Um Software bastante
empregado para realizar esse trabalho é o ElcomSoft Password Recovery (SOUSA,
2016).

Como já mencionado anteriormente, quando dados são apagados o sistema de


arquivos modifica seu status de “espaço ocupado” para “espaço livre”, assim, os dados
referentes aos arquivos apagados continuam armazenados no disco rígido, e a exclusão
definitiva acaba sendo uma tarefa complexa. Embora os discos magnéticos sejam
projetados para o armazenamento de informações digitais, a tecnologia adjacente é
analógica, o que significa que o valor de um bit é uma combinação complexa de valores
gravados no passado. Usando circuitos eletrônicos modificados, sinais dos cabeçotes
de leitura de disco podem revelar dados mais antigos com modulações no sinal
analógico.

Além desta, outra forma de analisar os discos é pelo exame da superfície, em


que, por meio de técnicas de microscopia eletrônica os padrões magnéticos antigos
persistentes em uma trilha de disco são revelados. Dessa maneira, os dados dos discos
magnéticos podem ser restaurados ainda que já tenham sido sobrescritos, múltiplas
vezes (MOSCATO; VON ZUBEN, 2019).

Contudo, a recuperação, nesses casos, só é possível em circunstâncias especiais,


ou seja, os processos para leitura de vestígios de dados anteriores demandam tempo,
equipamentos, instalações e procedimentos sofisticados, que não são viáveis numa
prática forense convencional. As informações apagadas podem ficar intactas por meses
ou anos, conforme o desempenho do sistema de arquivos, que por sua vez, evita
movimentos do cabeçote do disco e, por conseguinte, mantém os dados relacionados
juntos. Essa ação reduz a fragmentação do conteúdo de um arquivo individual, ao passo
que reduz retardos ao percorrer diretórios para o acesso de um arquivo (MOSCATO;
VON ZUBEN, 2019).

Um sistema de arquivos típico que contém tais propriedades divide o espaço de


armazenamento em múltiplas zonas, e cada uma delas possui sua própria tabela/bitmap
de alocação dos bytes, blocos de dados e blocos de atributo de arquivo. Geralmente, as
informações acerca de um arquivo pequeno são depositadas dentro de uma zona,
enquanto os novos arquivos são criados preferencialmente na mesma zona do seu
diretório-pai, e os novos diretórios são criados nas zonas que representam poucos
diretórios e muito espaço livre.

Esse processo de agrupamento de arquivos em usuários ou aplicativos distintos,


de acordo com as zonas do sistema e mantendo as informações relacionadas dentro da
mesma zona é chamado de clusterização (MOSCATO; VON ZUBEN, 2019)

4
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

A clusterização pode ser compreendida como uma classificação não


supervisionada de dados, gerando agrupamentos ou clusters. Esta análise envolve a
organização de conjunto de padrões que são comumente representados na forma de
vetores de atributos ou espaço multidimensional em clusters, conforme alguma medida
de similaridade. Os padrões de um cluster devem ser mais semelhantes entre si do que
com os padrões pertencentes a outros clusters. Nesse caso, o problema que recebe
atenção é o agrupamento de um conjunto de padrões ainda não rotulados em clusters,
de modo que possuam algum significado, isto é, que possuam propriedades em comum
(MOSCATO; VON ZUBEN, 2019).

Assim, uma vez que um Cluster é definido, os padrões também o são, e esses
últimos, são ditados pelos próprios padrões componentes de cada cluster. Ressalta-se
que os problemas enfrentados em uma Clusterização podem ser encontrados em várias
áreas de atuação e em diferentes contextos, como, por exemplo, na segmentação de
imagens, classificação de padrão, recuperação de informação, etc. Além disso, a
clusterização é normalmente associada com a análise exploratória, já que envolve
problemas dos quais se tem pouco conhecimento e pouca informação a priori. É
justamente a Clusterização que possibilita a criação de novas hipóteses acerca dos
inter-relacionamentos dos dados e sua estrutura intrínseca (MOSCATO; VON
ZUBEN, 2019).

Nesse processo, as seguintes ações estão envolvidas:

• Representação de padrões, que podem incluir extração ou seleção de


características;
• Definição de uma medida de similaridade adequada ao domínio da aplicação;
• Clusterização ou agrupamento;
• Apresentação de resultado.

Deste processo cada etapa compreende uma tarefa específica, e estas serão
esclarecidas a seguir:

• Representação de padrões: etapa em que se define o número, o tipo e o modo de


apresentação dos atributos que descrevem cada padrão.

• Seleção de características: é o processo de identificação do subconjunto mais


efetivo dos atributos disponíveis para a descrição de cada padrão.

5
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• Extração de características: é o uso de transformações junto aos atributos de


entrada para salientar uma ou mais características dentre as que estão presentes
nos dados;

• Medida de similaridade: dada por uma função de distância determinada entre


pares de dados ou padrões. É possível incluir na medida de distância os aspectos
conceituais e numéricos, ou seja, aspectos qualitativos ou quantitativos.

• Agrupamento: os grupos podem ser determinados como conjuntos crisp (padrão


pertencente ou não pertencente a um dado grupo) ou fuzzy (um padrão que pode
apresentar graus de pertinência aos grupos). O agrupamento pode ser hierárquico
apresentando um processo recursivo de junções ou separações de grupos, como
também pode ser não hierárquico e empregar de forma direta as técnicas de
discriminação de clusters.

• Apresentação: deve permitir que um computador utilize o resultado de forma


direta ou orientar o usuário, concedendo a visualização gráfica dos clusters, bem
como, a compreensão de suas inter-relações, por meio da proposição de
protótipos ou outras descrições compactas para clusters.

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Aula 5 - COMPUTAÇÃO FORENSE - Parte 5

Clusterização

A clusterização é empregada em situações em que o objetivo seja diminuir o


número de arquivos, para um número de subgrupos característicos. Para isso ocorrer
os dados devem ser analisados e segmentados. Para cada dado será traçado um perfil
de acordo com suas características gerais.

Se uma estrutura pode ser previamente determinada para um grupo de objetos, o


resultado da análise de clusters pode ser aplicado para fins comparativos e de validação
da estrutura inicial.

Indexação de dados

De acordo com Viana, a indexação é um processo que visa recuperar


informações e permite elaborar índices. Em sistemas informatizados de recuperação da
informação, uma indexação de qualidade garante uma recuperação mais precisa.

Conforme a Normativa Número 12676 sobre os métodos para analisar


documentos, determinar seus assuntos e selecionar termos de indexação, o processo
ocorre em três estágios:

1. Exame do documento e estabelecimento do assunto de seu conteúdo;

2. Identificação de conceitos existentes no assunto;

3. Tradução dos conceitos nos termos de uma linguagem de indexação.

Nesse caso, o responsável pela indexação deve atentar para três perguntas:

1. Do que trata o documento?

2. Por que foi agregado ao acervo?

3. Quais aspectos serão interessantes para os usuários?

1
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

O indexador tem a função inicial de compreender a leitura quando realiza uma


análise conceitual que representa de modo adequado, o conteúdo de certo documento,
para que haja correspondência com o assunto pesquisado pelo usuário.

Contudo, para essa correspondência acontecer, é preciso adotar uma política de


indexação, tendo em vista que ela será norteadora de princípios e critérios que guiarão
a tomada de decisões para aperfeiçoar o serviço e racionalizar os processos.

À medida que desmontamos camada após camada, as informações vão se


tornando mais precisas em virtude de sofrer menor processamento. Por outro lado,
quanto mais próximo dos Bits brutos, menos significativas serão as informações, já que
se tem cada vez menos conhecimento de sua finalidade.

Assim, para haver uma recuperação correta de dados do disco, é imprescindível


conhecer o sistema de arquivos.

Essa política, por sua vez, deve considerar três fatores:

1. Características e objetivos da organização, que são determinantes do serviço;

2. Identificação de usuários para atender às suas necessidades;

3. Recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis na instituição, que guiam


o funcionamento do sistema de informações, especificidades e limitações.

O termo de indexação representa um ponto de acesso, da mesma forma como as


informações sobre o suporte, forma de escrita, espécie e gênero.

Isso significa que um elemento de informação, termo ou código existente em


unidades de descrição serve à pesquisa, identificação ou localização de documentos
(VIANA et al., 2013).

A indexação de dados pode ser também compreendida como a varredura de


todos os dados ou bits do dispositivo, localizando ocorrências alfanuméricas, além de
organizá-las de modo que possam ser acessadas e recuperadas facilmente.

Uma ferramenta de triagem ou extração forense de dados pode tanto alimentar


dados em diferentes operações de extração quanto preservar a evidência digital, criando
uma duplicata forense, essa ação é vantajosa não somente por ser capaz de adquirir e
extrair dados simultaneamente, mas também por elevar significativamente a eficiência
do processo por meio da execução de várias operações em dados extraídos
paralelamente (CASEY, KATZ, LEWTHWAITE, 2013).

2
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Ao ser finalizado o processo de extração, é possível saber quais e quantas são as


ocorrências de cada cadeia alfanumérica.

Assim, cria-se uma espécie de catálogo com cada cadeia encontrada. Essa
técnica é principalmente utilizada pelos peritos na fase de análise dos dados, uma vez
que possibilita realizar buscas rápidas por palavras-chave no conteúdo que está sendo
questionado.

Além disso, o procedimento de Data Carving pode ser feito de forma mais rápida
e eficiente, já que todo o conteúdo foi percorrido e as assinaturas dos arquivos estão
organizadas e identificadas. As principais ferramentas usadas para realizar o processo
são (BARIKI, HASHMI, BAGGILI, 2011; CONSTANTINO, 2012):

• Forensic Toolkit

• Encase.

• ProDiscover.

Já a ferramenta Pro Discover fornece aos peritos um aplicativo integrado do


Windows para coletar, analisar, gerenciar e relatar evidências de disco de
computadores.

Além disso, o ProDiscover permite localizar dados em um disco de computador


ao passo que protege as evidências e cria relatórios de evidências com boa qualidade
para uso em procedimentos legais.

A Encase é um dos softwares mais empregados na computação forense, que tem


uma interface de uso organizada que simplifica a visualização de conteúdos de mídias
utilizando visualizações distintas, das quais podemos citar a galeria de fotografias,
evidências de imagem, hexadecimal e árvore de arquivos.

Essa ferramenta pode ser também utilizada para adquirir evidências, fornecendo
aos investigadores a possibilidade de conduzir investigações em larga escala do início
ao fim, sendo capaz de gerar diversos relatórios automaticamente, conforme
apresentado a seguir (BARIKI, HASHMI, BAGGILI, 2011):

• Lista de todos os arquivos e pastas;

• Lista detalhada de todos os sites acessados, além de dados de datas e horários de


visita ao site;

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• Relatório de incidente que auxilia a criar a documentação requerida ao longo do


processo de resposta a incidentes;

• Informações detalhadas acerca do disco rígido quanto às partições físicas e


lógicas.

De modo geral, esta fase inicial de análise é onde são feitos os exames nos
arquivos recuperados de um material questionado, ou seja, exames nos arquivos
extraídos. Essa fase pericial tem por objetivo a identificação de evidências digitais
vinculadas a um crime que está sendo investigado.

Uma vez que na fase de extração diversos arquivos podem ser recuperados, há
técnicas auxiliares para a busca pela informação ou arquivo desejado, ou seja, técnicas
de filtragem da informação, como, por exemplo, o Know File Filter(HFF), que
restringe a busca a um conteúdo específico.

Todavia, esta técnica só é eficaz quando se tem conhecimento do tipo de arquivo


que deve ser examinado (CONSTANTINO, 2012).

Outra técnica de filtragem é a busca por palavras-chave realizada posteriormente


à indexação de dados.

Nesse caso, os arquivos ficam organizados, permitindo ao perito realizar a busca


por palavras específicas, e assim, quando esta mesma palavra for buscada, todos os
arquivos que a contenham serão listados.

O perito pode ainda realizar busca de arquivos navegando em pastas do sistema,


apesar deste processo ser mais demorado que os anteriores.

De acordo com a complexidade do caso, pode ser necessário o trabalho de vários


peritos. Crimes diferentes geram evidências diferentes e cada caso deve ser tratado
conforme sua especificidade (CONSTANTINO, 2012).

Em um caso de acesso não autorizado, por exemplo, o perito terá que buscar por
arquivos log, conexões e compartilhamentos suspeitos.

Já em um caso de pornografia, o perito buscará por imagens armazenadas no


computador, histórico recente de sites acessados, arquivos temporários, dentre outros.

Esse momento de análise visa identificar o autor do crime, a forma e a ocasião


de sua ocorrência, bem como os danos causados. Nessa etapa, é comum que peritos
façam uso de uma técnica denominada Live Analysis ou Forense in vivo.
(CONSTANTINO, 2012).
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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

As informações são alcançadas em dois locais: nas áreas de atuação dos usuários
e no kernel do sistema operacional. Portanto, se torna necessário fazer uma busca
detalhada nos dados do sistema.

Evidências digitais, em geral, têm características específicas, como a


possibilidade de serem duplicadas precisamente, mantendo preservado o original ao
longo da perícia. Pode-se verificar se foram alteradas, assim como se pode modificá-
las durante a análise, devido à sua volatilidade.

Os dados mais voláteis são priorizados nessa fase, pois são facilmente perdidos
(CONSTANTINO, 2012).

A fase de busca de evidências pode ser dividida em três etapas:

Live, Network e Posten mortem (BEGOSSO, 2010).

Forense in vivo

Antes de compreendermos a etapa FORENSE IN VIVO precisamos entender os


aspectos da volatilidade e o tempo de vida de um dado pericial digital.

O tempo de vida de uma evidência digital varia conforme o local no qual está
armazenada.

Quanto mais volátil for um dado, mais complexa será sua extração e menos
tempo haverá para obtê-lo.

Assim, dependendo da volatilidade de uma informação, ela passa a ser


considerada irrelevante para a perícia. Esse tipo de situação costuma acontecer com
dispositivos de armazenagem na CPU, como caches e registradores, pois seu estado é
alterado no momento em que se faz a captura (BEGOSSO, 2010).

Por outro lado, apesar da alta volatilidade de algumas informações, como o


estado do sistema operacional e o conteúdo da memória principal, eles são importantes
para a identificação de ataques em curso.

Durante a forense in vivo existem informações que podem ser obtidas, tais como
(BEGOSSO, 2010):

• Dispositivos de armazenagem da CPU;

• Memória de periféricos;

5
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• Memória principal do sistema;

• Tráfego de rede;

• Estado do sistema operacional;

• Dispositivos de armazenagem secundária;

• Arquivos de registros;

• Análises de malwares identificados.

Estes dados podem, posteriormente, ser utilizados na fase de análise post


mortem.

A etapa de forense in vivo termina assim que o sistema é desligado, após a coleta
de todas as informações do disco rígido. Na sequência, faz-se a cópia bit a bit, que será
usada na busca de possíveis evidências para a perícia.

Contudo, é importante ressaltar que existe a possibilidade de haver dificuldades


quanto à geração da imagem do disco rígido, como, por exemplo, em casos onde o
desligamento da máquina gera influência no funcionamento da organização, ou em
casos em que o disco tem grande volume de dados.

Apesar dos riscos, é necessário tomar essas medidas (BEGOSSO, 2010).

Tratando-se de dispositivos periféricos, é importante coletar as evidências


durante a forense in vivo, uma vez que após o desligamento do sistema, algumas
informações não são mais encontradas (BEGOSSO, 2010).

Essa situação será tratada na fase de Análise Posten Mortem e tem relação com
a ordem de volatilidade dos dados, ou seja, nesse momento somente existirá a memória
não volátil para análise, como o HD, DVDs dentre outras fontes de armazenamento.

No que diz respeito à busca de dados periciais na memória principal do sistema,


os peritos normalmente empregam dumps de memória pela geração de core files ou
crash dumps.

Isso porque nela se encontram informações voláteis, tais como processos em


execução, dados manipulados e outras informações não salvas em disco até o
momento.

6
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Um processo dump, quando executado, é alocado na memória e altera parte das


informações obtidas. No entanto, isso não impede que se faça a verificação dos
processos ativos na memória na ocasião da coleta (BEGOSSO, 2010).

Já os, crash dumps, são fontes úteis de dados, tendo em vista que possuem uma
imagem da memória do sistema quando acontece alguma falha inesperada, ou seja,
funcionam como uma espécie de caixa preta do sistema.

Crash dumps fazem gravações das informações contidas na memória e, por


conseguinte, permitem uma análise posterior.

De acordo com Melo (2009), a análise do tráfego de rede é importante e realizada


por meio de sniffers, programas que capturam datagramas na rede e fazem sua
decodificação. Por meio dessa ação, vários tipos de informações, são obtidas, das quais
podemos destacar:

• Portas e endereços de IP questionáveis;

• Tráfego incompatível com o padrão do protocolo;

• Requisições HTTP suspeitas, dentre outros.

7
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Aula 6 - COMPUTAÇÃO FORENSE – Parte 6

Análise de tráfego

Das análises de tráfego de rede, as principais são as atividades de roteamento e


de aplicações que usam Raw Socket e processos inerentes aos serviços de redes. Além
dessas, outras análises igualmente importantes são:

• Estado do sistema operacional;


• Módulos de kernel;
• Informações de logs;
• Informações de horário do sistema;
• Informações do disco rígido;
• Duplicação do disco.

Em uma análise do sistema operacional, o perito se depara com informações


valiosas no que tange à origem e tipo de ataque realizado. Os dados de processos ativos
em memória podem ser perdidos quando a máquina é desligada e eles são importantes
para a identificação de instalações de malwares ou conexões suspeitas/não autorizadas.

Os módulos de kernel apresentam diferentes funções em um sistema, como, por


exemplo, a interceptação e a função de reescrever as chamadas do sistema operacional.
Um malware consegue assumir a forma de um módulo de kernel e compromete o
desempenho do sistema.

1
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Como consequência, é imprescindível fazer a busca de dados nos módulos em


memória. Outro fator de grande importância é a coleta de informações dos registros do
sistema (os logs) (BEGOSSO, 2010).

A partir da análise de logs, consegue-se verificar a ocorrência de fatos como


atividades de usuários e processos, conexões, entre outras atividades da rede. Em
contrapartida, a investigação pode ser comprometida se a estrutura de registro for
alterada pelo invasor, quando este tem o propósito de eliminar vestígios. O investigador
deve averiguar o horário do sistema para registrar suas atividades, principalmente para
não haver confusão de suas ações com as do invasor.

Além disso, a coleta de informações do disco e a imagem bit a bit são


importantes para alcançar a garantia de dados mais voláteis. Se estas análises são feitas
adequadamente, o perito consegue reconstruir a comunicação entre invasor e sistema
atacado, bem como uma sequência de eventos que pode ser comparada com outras
informações obtidas no sistema (BEGOSSO, 2010).

Análise de Evidências Forense em Rede e Banco de Dados A Forense em Rede


ou Network Analysis é uma técnica de obtenção de dados dos ativos de rede que
estejam envolvidos num incidente de segurança. Tais dados são confrontados com os
coletados na forense in vivo e cooperam com as conclusões dos peritos a respeito da
invasão. Recursos como backdoors vinculados à criptografia dificultam a atividade
pericial em casos de invasões, pois o malware pode não ser percebido por um IDS.
Mesmo com esse impasse, deve-se coletar as informações ativas, como, por exemplo,
IDS, IPS, servidores de logs e conexões capturadas por sniffers (BEGOSSO, 2010).

Ao longo da forense de rede, o perito deve observar alguns fatores, tais como,
técnicas de levantamento:

• Footprint;
• Fingerprint;
• Port scanner;
• Confirmação de invasão;
• Malware automatizado;
• Serviço usado para realizar a invasão;
• Vulnerabilidades exploradas;
• Origem da ameaça;
• Instalação de Backdoors e rootkits;

2
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• Tentativas de eliminação de rastros (cleanlogs).

Todos esses pontos costumam ser seguidos na forma de questões, para que o
perito possa tentar respondê-las quando está em ação no seu trabalho de busca por
evidências. De acordo com o contexto do incidente, essas questões podem variar, e,
por consequência, gerar resultados diferentes para o investigador. Existem dois
momentos em que ocorre a forense em rede. O primeiro acontece com a busca por
informações de comunicação de redes do servidor que está sendo periciado, e o
segundo, quando o investigador consegue dados referentes aos demais ativos de rede,
como servidores de logs, roteadores, IDS ou firewalls (BEGOSSO, 2010).

A primeira questão a ser verificada nesse procedimento é o horário dos registros


de log se sua concomitância. Sequencialmente, o perito tem o dever de observar os
arquivos do tipo PCAP, bem como, identificar o momento de início da atividade. É
recomendado que os arquivos de log sejam separados conforme os intervalos de tempo,
em virtude de seu tamanho, para possibilitar uma análise pormenorizada e precisa.
Além disso, é relevante analisar conexões obtidas por meio de ferramentas de detecção
de intrusos e da reprodução das sessões que ocorreram na ocasião do ataque.

Outro fator importante é a realização de análises estatísticas para identificar no


sistema ações suspeitas ou incomuns, uma vez que essas se distinguem facilmente das
ações habituais, e assim, atrairão a atenção do investigador (BEGOSSO, 2010).

De acordo com Abdalla, Hazem, Hazem (2007) a forense de rede contempla as


seguintes questões:

1. análise de qualquer processo anormal do sistema, arquivos de porta e serviços


que utilizam comandos preexistentes no sistema ou ferramentas de terceiros;

2. Análise de arquivos de inicialização para poder analisar qualquer alteração não


autorizada do sistema e verificação da existência de portas incomuns ouvindo as
conexões de outros hosts;

3. Inspeciona as configurações de rede para entradas não autorizadas;

4. Identifica o endereço IP inicial, porta de origem, serviço, data e hora;

5. Identifica relações de confiança de redes não autorizadas.

A análise forense em rede é indispensável e valiosa principalmente quando se


trata de incidentes de invasão de sistemas (TEIXEIRA, 2009).

3
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Numa perícia digital é imprescindível ter conhecimento acerca dos tipos de


invasores e suas formas de atuação. Conhecer a técnica de ação destes agentes
possibilita a obtenção de uma visão dos principais pontos do processo de invasão a um
sistema e a chance de antecipar onde haverá a geração de dados para uma perícia
forense computacional. O objetivo deste trabalho é reconstruir os passos dos invasores,
obtendo informações dos ativos de rede, tais como, IDS do inglês Intrusion Detection
Syste.

Nesse caso, o invasor busca informações de contato e DNS disponíveis em


registros do protocolo WHOIS, chegando à captura de pacotes montados pela pilha
TCP/IP e análise por scanner de fingerprint. Sequencialmente, o invasor usa port
scanners para o teste de portas lógicas e identificação das que estão abertas. Se existir
algum meio de detecção de varreduras é possível que sejam disparadas alertas em IDS
ou no servidor alvo, contudo, às vezes é quase impossível conseguir detectá-los porque
o invasor consegue evitar as varreduras.

Se a invasão acontece apenas na porta 80 de um servidor (e apenas uma vez), é


pouco provável que ela seja identificada, caso a comunicação seja cancelada. Isso só
não acontece se a porta não estiver ativa no servidor e se houver um sistema que detecta
intrusos com capacidade de registrar a solicitação de conexão indevida. No exemplo
dado, foi preciso empregar diferentes ferramentas de análise de protocolo para
conseguir realizar a reconstrução exata dos passos executados pelo invasor, além de
alcançar a identificação das técnicas empregadas por ele. Estima-se que, nesse caso, o
invasor tenha utilizado técnicas de levantamento de dados, tais como PING e portscan,
além de falsificar o IP aplicando o ip spoofing. A ferramenta utilizada foi o NMAP,
instalada pelo comando apt-get install nmap (para distribuições debian) e
posteriormente foi empregado o Nikto para descobrir vulnerabilidades na porta 80.

O invasor conseguiu detectar a existência de vulnerabilidades no PHP e então,


passou a injetar códigos PHP por meio da função inc, iniciando a execução da travessia
de diretórios e execução generalizada de comandos do sistema (TEIXEIRA, 2009).

Essa vulnerabilidade permite que o invasor ative um backdoor já existente,


instalado no servidor da vítima (programa NETCAT) fazendo-o escutar na porta
65321. Após a execução da transferência de arquivos, incluindo html e imagens, que
foram utilizados para a desconfiguração do site, foi feita a instalação de um backdoor
na porta 6666 nomeado Skull, além de ter sido deixado ativado no /etc/init.d/ para que,
sempre que o servidor fosse ligados esse fosse ativado deixando aberto o canal para
invasões futuras. O invasor não teve a preocupação de eliminar os rastros deixados no
servidor invadido nem de usar qualquer técnica antiforense (TEIXEIRA, 2009).

O trabalho de análise forense e identificação da invasão para esse caso foi


realizado na ordem apresentada a seguir:
4
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

1. Análise do arquivo PCAP do Firewall Bridge;

2. Verificação da primeira e última sessão;

3. Identificação de técnicas de varredura de portas no servidor alvo;

4. Identificação de técnicas de varredura de vulnerabilidades;

5. Reprocessamento de Payload dos pacotes;

6. Investigação de falhas de programação PHP.

Como já mencionado, a atividade pericial deve seguir os passos do invasor para


identificar suas ações. Nesse sentido, após seguir todas as etapas apresentadas, a análise
técnica do perito seguiu o ponto de vista cronológico fundamentado nas ações do
invasor. Esse método visa determinar as principais ações do invasor identificadas no
arquivo de log e relacionadas ao número de pacotes em que se iniciam, bem como, a
ordem cronológica em que acontecem. Essa ação busca ter ciência da duração de cada
atividade envolvida no processo que resultou na invasão do sistema.

Além dos aspectos da forense em rede, existe a vertente da forense em banco de


dados (data base forensics), que tem foco nos bancos de dados, bem como, em seu
conteúdo e metadados vinculados. Bancos de dados são arquivos de dados
estruturados, administrados e acessados a partir de um sistema de gerenciamento de
banco de dados. O SQL (Structured Query Language) controla a maior parte dos
bancos de dados, no entanto, existem diversas variações e extensões que são sujeitas a
recursos suportados. Nesse campo de análise, as perguntas podem ser a respeito da
interpretação de dados ou da determinação do momento em que determinadas
informações foram inseridas ou alteradas no banco de dados. Esse tipo de informação
depende do fornecedor do banco de dados e necessita de experiência e pesquisa para
que uma interpretação correta seja conseguida (HENSELER, LOENHOUT, 2018).

Com relação à estrutura de armazenamento de um banco de dados, este tem a


camada onde se armazenam dados relacionados às estruturas físicas em páginas
uniformes que têm tamanho típico de 4KB ou 8KB. O uso de uma página com tamanho
fixo simplifica de forma significativa o armazenamento e o gerenciamento de cache.

Esse tamanho de página pode ser alterado pelo administrador, no entanto, é


necessária uma reconstrução estrutural dos dados para que seja realizada. O
armazenamento em banco de dados tem duas camadas de metadados distintas. As
informações gerais descrevem onde e como as tabelas irão ficar armazenadas e os
metadados são especificados por página para o conteúdo de cada página individual
(WAGNER, RASIN, GRIER, 2015).
5
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

O desafio forense para a análise em banco de dados está na reconstrução de todo


o conteúdo sobrevivente da imagem do disco ou da memória, empregando apenas os
metadados incluídos em cada página. Ocorre que todas as páginas de bancos de dados
relacionais compartilham a mesma estrutura geral e se dividem em três componentes
de interesse: cabeçalho, diretório de linha e dados da linha. Conforme as
especificidades de cada banco de dados, o cabeçalho da página armazena informações
gerais desta página. O diretório de linha tem a responsabilidade de manter o controle
dos locais das linhas de acordo com a inserção ou exclusão de linhas novas e antigas,
respectivamente. Tal diretório pode ser posicionado entre cabeçalho da página e dados
da linha ou no final da página depois dos dados das linhas. Tratando-se do último
componente (dados das linhas), esse tem o conteúdo real da página e alguma
sobrecarga adicional (WAGNER, RASIN, GRIER, 2015).

6
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Aula 7 - COMPUTAÇÃO FORENSE - Parte 7

A importância de realizar análises forenses nesse tipo de material está


principalmente ligada ao fato deles possuírem, em muitos casos, informações
relacionadas a diversas investigações. Ainda que um banco de dados não seja o foco
de um crime, é comum que ele contenha informações que ajudam a solucioná-lo. Este
tipo de análise forense digital atua na identificação, preservação, análise e apresentação
de evidências de bancos de dados.

Outro aspecto de relevância acerca das análises forenses é a capacidade de


reconstrução de informações armazenadas em bancos de dados em um momento
anterior. Diferentes abordagens exploram a utilização de arquivos de log em bancos de
dados distintos, como fonte de informações para análise.

A maior parte dos bancos de dados é capaz de registrar operações executadas


neles, entretanto, o conteúdo de qualquer arquivo de log é definido pelas referências
de registro ativas pelo usuário ou pelas configurações padrão no sistema de
gerenciamento de banco de dados (Database management system – DBMS).

Devido à grande variedade de configurações padrão, em alguns casos elas não


são apropriadas para realizar uma reconstrução ou análise em geral. Portanto, é
importante que o perito conheça as configurações de registro ideais, além das
combinações de preferências de registro, que permitam uma análise forense eficiente
que torne possível reconstruir dados armazenados anteriormente às exclusões ou
alterações.

Uma vez que os bancos de dados permitem o armazenamento de informações,


bem como o uso de consultas para recuperar ou atualizar registros específicos,
diferentes técnicas são fornecidas para manter a integridade dos dados armazenados,
1
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

de modo que também seja garantida a sua segurança e recuperação em casos de falhas
(ADEDAYO, OLIVIER, 2015).

Tais técnicas fazem uso de logs mantidos pelo SGBD. Os logs são utilizados
para manter um registro das operações que afetam o valor dos itens do banco de dados
e são liberados para arquivos de log no disco (comumente antes das modificações
associadas nos arquivos de dados). Havendo uma falha, o procedimento de recuperação
faz a leitura dos arquivos de log e utiliza os registros para recuperar uma versão
consistente. A sobrecarga envolvida no processo de gravação de registros de log pode
ser considerada uma das principais razões da existência de vários níveis de registro em
um banco de dados, pois permite que o administrador decida quanta informação deverá
estar logada.

Em contrapartida, haverá sempre um padrão de preferências de registro ativado


se essas não forem especificadas. Nos diferentes DBMS existem diferentes
preferências de padrões registradas (MySQL, Microsoft SQL Server, Postgres, Oracle,
DB2 e Sybase) (ADEDAYO, OLIVIER, 2015).

A reconstrução pode ser feita de duas diferentes formas: a reconstrução


experimental, que tem foco no teste de hipóteses acerca de uma investigação para
confirmar, refutar ou revelar mais detalhes sobre as hipóteses, ou a reconstrução
retrospectiva que envolve uma tentativa de retroceder no tempo para fazer a
determinação das entradas e estados anteriores que eventualmente possam ter gerado
os dados disponíveis. Em ambos os casos, os dados costumam ter três tipos de
informações passíveis de exploração para a reconstrução (ADEDAYO, OLIVIER,
2015):

1. Informações relacionais: informações sobre localização de um dado e relação


que ele tem com outros dados;

2. Informação funcional: descreve a operação, seu propósito e a capacidade dos


dados quanto à investigação;

3. Informação temporal: gera pistas sobre a interação tempo e meio ambiente no


fragmento de dados (inclusive carimbos de data/hora em arquivos de log ou
registros de último acesso ou alteração em arquivo).

As três dimensões de dados a serem avaliadas na forense em banco de dado são:

• Banco de dados comprometido;

• Banco de dados danificado ou destruído;

2
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• Banco de dados alterado.

Eles apresentam divergências entre si, mas são relacionados à medida que
formam as dimensões do mesmo problema. O banco de dados comprometido dispõe
de alguns dos metadados ou softwares do DBMS alterados por um invasor, mas ainda
apresenta capacidade de operação. No caso desses dados, a preocupação da análise
forense se concentra no fato de não se pode confiar nas informações fornecidas pelo
banco de dados investigado. Nesse sentido, devem-se utilizar os metadados de acordo
com a forma como eles ocorrem no banco de dados ou realizar tentativas de obtenção
de uma cópia limpa do SGBD (ADEDAYO, OLIVIER, 2015).

No que concerne ao banco de dados danificado ou destruído, isto é, de arquivos


de dados ou de log que possam ter sofrido alterações, exclusões ou terem sido copiados
dos locais originais para outros, é possível que não estejam acontecendo operações
(dependendo da extensão dos danos). Para realizar perícias em bancos de dados
danificados é necessário aplicar técnicas de arquivamento de arquivos na regeneração
de arquivos destruídos ou subjacentes que possam ter utilidade na recuperação dos
dados de interesse.

E quanto à última dimensão (banco de dados alterado), não se trata de um banco


de dados comprometido ou danificado, mas de um que sofreu alterações devido a
processos de negócios normais desde a ocorrência de um evento de interesse.

Geralmente, essa dimensão é interessante em casos em que um banco de dados


não tem envolvimento direto com um incidente investigado, mas é utilizado para
armazenar informações que possam cooperar com a solução do caso. Num banco de
dados modificado é possível realizar a reconstrução ainda que várias modificações dos
dados possam ter acontecido (ADEDAYO, OLIVIER, 2015).

Para que o perito possa realizar tais ações é preciso que tenha conhecimento dos
principais bancos de dados utilizados, nesse sentido, o MySQL, Microsoft SQL Server
e Oracle serão brevemente descritos a seguir.

Servidor MYSQL

O MySQL é um sistema relacional de gerenciamento de dados aberto. O


software funciona como um sistema cliente-servidor ou um sistema embarcado que
utiliza a linguagem SQL como interface, que suporta diversas saídas, tarefas
administrativas etc. Este é o principal programa no SGBD que gerencia o acesso ao
diretório de dados que contém o banco de dados, tabelas e outras informações, tais
como, os arquivos de log. Além disso, ele tem cinco arquivos de log distintos, isto é,
log de erros, de consulta geral, binário, de consultas lentas e de retransmissão. Esses

3
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

logs armazenam informações a respeito das atividades que acontecem no banco de


dados (ADEDAYO, OLIVIER, 2015).

O log de erros armazena informações sobre problemas existentes ao iniciar,


executar ou parar um servidor MySQL, e o registro de erros é ativado por meio de um
padrão em um banco de dados MySQL.

O log de consulta geral é empregado para armazenar informações a respeito das


conexões estabelecidas, bem como instruções SQL, sendo que as consultas registradas
neste log são mantidas na ordem de recebimento podendo se diferenciar da ordem de
execução.

O log de consultas lentas é voltado para aquelas que demoram mais que o tempo
especificado para sua execução, e nesse caso, as instruções também são gravadas no
arquivo de log após a execução e antes de serem lançados bloqueios no banco de dados.
Desse modo, a ordem das entradas de logs pode também ser distinta da ordem de
consultas executadas (ADEDAYO, OLIVIER, 2015).

O log binário é utilizado para o armazenamento de instruções que modificam os


dados em um banco de dados MySQL, o armazenamento de operações de criação de
tabelas e de alteração de dados das tabelas. Quanto ao log binário, esse tem informações
acerca da duração das consultas que atualizam os dados, no entanto, nesse caso, não
acontece o armazenamento das consultas que não alteram os dados.

As instruções são registradas posteriormente à conclusão e antes da ocorrência


de bloqueios do banco de dados, sendo a ordem das declarações nos logs a mesma dos
acontecimentos. A ativação do log binário torna o desempenho do banco de dados mais
lento, contudo, é necessário fazê-lo por duas razões: replicação de modificações de
dados e recuperação da instância atual de um determinado banco de dados a partir do
ponto de backup anterior (ADEDAYO, OLIVIER, 2015).

E finalmente, o log de retransmissão é aquele empregado para o armazenamento


de instruções que descrevem as modificações de dados recebidas de um servidor de
replicação mestre. Nesse caso, também são armazenadas as instruções que descrevem
modificações nos bancos de dados e há o mesmo formato do arquivo de log binário.
Os registros liberados são automaticamente apagados após todos os eventos no arquivo
já terem sido executados.

Conforme as descrições expostas, pode-se concluir que existe um grande volume


de informações que podem ser coletadas dos logs do servidor MySQL para uma
investigação, se eles estiverem ativados. A desvantagem é que infelizmente a
preferência de log padrão nesse servidor desabilita todos os logs, deixando apenas o
log de erros habilitado (no sistema operacional Windows).
4
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Quando é necessário realizar uma análise forense no MySQL, o log de erros não
tem informações virtuais úteis para a reconstrução ou investigação do banco de dados
em geral e, portanto, torna-se necessário que uma preferência de registro adequada para
a análise forense seja ativada pelo usuário ou administrador (ADEDAYO, OLIVIER,
2015).

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Aula 8 - COMPUTAÇÃO FORENSE – Parte 8

Servidor Microsoft SQL

A Microsoft SQL é outro sistema relacional de gerenciamento de banco de dados


que contém o servidor SQL instalado e um conjunto de banco de dados do sistema e
dos usuários, que é criado conforme a necessidade. Quanto aos bancos de dados de
usuários, esses são produzidos para o armazenamento e manipulação de dados pelo
usuário. Neste caso, assim como num banco de dados do sistema, há dois tipos de
arquivos do sistema operacional, os arquivos de dados e de log. Arquivos de dados são
utilizados para armazenar objetos de banco de dados, tais como tabelas e
procedimentos. Já os arquivos de log mantêm os registros de eventos que acontecem
no banco de dados. Os quatro principais tipos de logs neste servidor são:

Log de eventos do Windows, log do agente servidor SQL, log de erro do servidor
e log de transações (ADEDAYO, OLIVIER, 2015).

O log de eventos do Windows tem três logs úteis que podem ser utilizados para
a solução de erros do servidor; o log do aplicativo que armazena eventos ocorridos no
agente do servidor, o log de segurança que armazena as informações de autenticação e
o log do sistema que faz o armazenamento de informações de inicialização e
desligamento do serviço.

O log do agente do servidor registra qualquer informação, aviso e mensagens de


erros relacionados ao agente do servidor SQL, bem como suas operações. A criação de
um novo log de agente do servidor é feita com um registro de data e hora sempre que
o servidor é iniciado. O log de erros atua da mesma forma e é utilizado para armazenar
informações de erros ocorridos ao longo das operações do banco de dados. Quando um
procedimento não se inicia, o log de transações é o mais importante, além de ser um
componente crítico, já que ele mantém um registro das consultas de modificação de
dados realizadas (na ordem em que ocorreram).

O banco de dados garante que os dados serão gravados nos arquivos de log de
transações antes deles serem afetados, e, portanto, os logs de transações cooperam com
a recuperação de transações com falha e de versões consistentes do banco de dados em
caso de falha do sistema. A vantagem do servidor SQL é que cada banco de dados tem
um log de transações e este é habilitado por padrão.

O tamanho deste log é definido dinamicamente pelo servidor e o truncamento de


log acontece automaticamente após determinados eventos. A partir do volume de
informações armazenadas nos diversos arquivos de log e nos bancos de dados do
1
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

sistema, é possível reconstruir tais dados durante uma investigação forense, desde que
a estrutura dos logs seja compreendida (ADEDAYO, OLIVIER, 2015).

Oracle

O Oracle é um sistema gerenciador de banco de dados relacional (SGBD). Nesse


sistema as informações podem ser coletadas de diferentes fontes de banco de dados,
como de logs de ouvinte, de alerta, sqlnet, de agente inteligente e de acesso, no entanto,
os principais logs no Oracle são os de redo, de redo arquivados e de alerta. O log de
redo (ou redo log) é a parte mais importante no Oracle se tratando da recuperação ou
análise forense. Cada instância de um banco de dados Oracle apresenta um redo log
que atua como proteção contra falhas.

O log consiste em dois ou mais arquivos de log utilizados para o armazenamento


de todas as modificações feitas no banco de dados conforme elas vão acontecendo.
Registros nos arquivos de log fazem descrições das alterações feitas em blocos únicos
no banco de dados. Os dados armazenados nos arquivos podem auxiliar na
identificação de todas as alterações feitas, assim como, os segmentos para desfazê-las
(ADEDAYO, OLIVIER, 2015).

O redo log é ativado por um padrão e seus arquivos podem ser salvos em locais
off-line pelo uso dos redo logs arquivados. Esses últimos, por sua vez, permitem a
recuperação de um determinado banco de dados caso aconteça alguma falha de disco,
bem como a atualização de um banco de dados em espera e fornecem informações
acerca do histórico de um banco de dados quando o utilitário Log Mineré empregado
no Oracle. Há dois modos possíveis de ativação para informar ao banco de dados que
se deseja ou não arquivar os redo logs.

Quando tal ação não é desejada, a função de arquivamento ou o redo log é


desabilitada (NoArchiveLog). Este modo protege o banco de dados de falhas de
instâncias, porém não permite a recuperação em caso de falha no sistema. Já quando
se quer arquivar os redo logs, utiliza-se o modo ArchiveLog que permite o
arquivamento dos logs tanto manual quanto automaticamente (ADEDAYO, OLIVIER,
2015).

Em geral, a escolha do modo de arquivar é feita no momento da criação do banco


de dados e é padrão. Os logs de alerta registram cronologicamente as mensagens de
erros que envolvem consultas de definição de dados, instruções de operação
2
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

administrativa, erros vinculados a funções de servidores e processos compartilhados,


além de erros com valores de parâmetros de inicialização distintos dos valores padrão.

Os processos que acontecem em segundo plano fazem a gravação em um arquivo


de rastreio quando um erro interno é detectado pelo processo. As informações gravadas
podem então ser utilizadas por um administrador para ajustar aplicativos e instâncias
do banco de dados. A configuração padrão para este tipo de arquivo é o nível de rastreio
0 que desabilita o rastreio de log de arquivo (ADEDAYO, OLIVIER, 2015).

Post mortem analysis

Esta é a última etapa de análise numa perícia forense computacional, além de ser
a etapa mais longa, pois nela se realiza um confronto entre as informações obtidas nas
duas etapas anteriores. Em contrapartida, a complexidade da análise post mortem
proporciona a obtenção de evidências ricas em detalhes, especialmente ao longo da
análise da imagem do disco rígido. A primeira ação que o perito deve executar é a
extração de todas as cadeias de caracteres dos arquivos inerentes ao ataque, desse
modo, torna-se possível elencar nomes de arquivos e diretórios, resíduos de textos não
sobrescritos nos slack spaces, além de arquivos alojados em áreas não alocadas
(BEGOSSO, 2010).

Na sequência, o perito deve dividir a imagem do disco rígido em cinco camadas:

• Camada física;

• Camada de dados;

• Camada de sistema de arquivos;

• Camada de metadados;

• Camada de arquivos.

A camada física possui informações básicas do disco e de dispositivos de


armazenamento de dados. Como exemplo, podemos citar o próprio disco rígido e
outras mídias. Quando criadas as imagens, elas devem ser examinadas quanto à sua
integridade. Na camada de dados, o perito consegue informações sobre o
particionamento, assim como do boot. Nessa etapa de análise, se faz a coleta bit a bit
de mecanismos de armazenamento. O perito deve verificar as características básicas de
uma imagem, tais como, tamanho e estrutura. Além disso, deve também montar
imagens com múltiplas partições (BEGOSSO, 2010).

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

No que diz respeito à análise da camada de sistema e arquivos, é preciso que o


perito busque informações acerca da própria estrutura de arquivos do sistema. Para
isso, executa-se a pesquisa por meio de informações estatísticas a respeito da
organização da partição e estrutura de journaling. Quanto aos metadados, que é a
camada que fornece informações dos elementos manipulados ou inseridos em áreas
relacionadas ao incidente, é preciso usar ferramentas capazes de mostrar informações
estruturais e criar timelines (BEGOSSO, 2010).

E, finalmente, temos a análise da camada de arquivos, considerada a mais


demorada. Para a execução dessa atividade é importante obter informações sobre
blocos de dados, áreas alocadas, não alocadas e slack space. Além disso, é preciso
examinar dados de arquivos e diretórios em imagens, ordená-los de acordo com o
formato, fazer busca de malwares e recuperar arquivos a partir de assinaturas e
imagens. Na análise post-mortem, o disco rígido deve ser examinado minuciosamente,
considerando que cada partição contém informações relevantes para a perícia forense.
Nesse sentido, o investigador deve ter conhecimento sobre a geometria do disco, isto
é, o número de cilindros, cabeças e setores para documentação, espaços entre as
partições e enumeração de setores, com o intuito de autenticar o disco original
(BEGOSSO, 2010)

Assim, o perito poderá identificar mais facilmente os dados ocultos pelo invasor,
ou ainda, indícios de informações que tenham sido apagadas. Quando o perito conhece
os mínimos detalhes de cada aspecto do disco rígido, ele se torna capaz de recuperar
arquivos apagados ou aqueles que tenham passado por subscrição parcial.

Examinar os sistemas de arquivos é uma ação indispensável para a análise post-


mortem, uma vez que permite a reconstrução de eventos inerentes a um ataque. Essa
reconstrução acontece por meio do uso de mactimes, ou seja, marcas de tempo de
arquivos, e dessa forma, consegue-se obter indícios de quais dados foram acessados ou
alterados e programas executados pelo atacante no sistema invadido (BEGOSSO,
2010).

Sendo necessário, o perito deve tentar identificar informações que tenham sido
escondidas, o que pode ser feito por combinações de nomes de diretórios com
caracteres da tabela ASCII ou por inserção de dados em arquivos core. Além disso,
existem os arquivos temporários, que funcionam como esboço para arquivos finais com
controles da aplicação, e que são importantes para a análise post-mortem por serem
fontes valiosas de informação.

A identificação e recuperação de arquivos excluídos é uma atividade altamente


relevante para a perícia forense computacional. Isso pode ser feito por meio de
comandos de exclusão, tendo em vista que um arquivo não é efetivamente extinto,
sendo conservado em uma área específica até que uma nova informação seja gravada
4
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

naquele espaço. As slack spaces que são áreas não alocadas, também são fontes de
informações significativas (BEGOSSO, 2010).

Na finalização da análise, o investigador precisa identificar arquivos


manipulados ou corrompidos, a presença de arquivos maliciosos deixados no sistema
invadido. Para esta atividade, podem-se utilizar ferramentas como (BEGOSSO, 2010):

• Rastreadores de funções;

• Emuladores de máquinas;

• Analisadores lógicos;

• Programas de monitoramento de tráfego de rede.

Caso seja realizada uma análise dinâmica, em tempo real, o perito pode
conseguir resultados mais rápidos e precisos, de modo que, se torna possível, por
exemplo, observar o funcionamento completo do malware questionado, de acordo com
o estudo das modificações provocadas no sistema (BEGOSSO, 2010).

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Aula 9 - COMPUTAÇÃO FORENSE – Parte 9

Padronização de dados

Uma vez que é necessário haver um trabalho pericial, existem instituições


responsabilizadas pela padronização dos termos e métodos comuns de tratamento de
evidências eletrônicas para facilitar o entendimento de outros profissionais que não têm
conhecimento de termos técnicos da área do perito. Um bom exemplo dessas
instituições é a International Organization on Computer Evidence (IOCE).

No Brasil a principal agência é a Seção de Apuração de Crimes por Computador


(SACC), que atua com o Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal
disponibilizando suporte técnico para as investigações conduzidas na presença de
materiais de informática. Contudo, ressalta-se que, no Brasil, ainda não há uma
padronização definida, somente trabalhos feitos a pedido da Polícia Federal, que são
voltados para o público leigo composto por promotores e juízes federais. As análises
forenses são feitas externamente em instituições fora da Polícia Federal, visando a
realização de esforços de padronização nacional. Podemos mencionar como exemplos
dessas instituições:

• NBSO (Network Information Center (NIC) – Brazilian Security Office): atua na


coordenação de ações e promove informações para Sites envolvidos em
incidentes de segurança.

• CAIS (Centro de Atendimento a Incidentes de Segurança): têm a missão de


registrar e acompanhar os problemas de segurança no backbone e PoPs da RNP,
inclusive auxiliar na identificação de invasões e reparos de danos causados por
invasores. Além disso, o CAIS dissemina informações sobre ações preventivas
relacionadas à segurança de redes.

• GT-S: Grupo de trabalho da segurança do comitê gestor da internet brasileira.


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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

É claro que cada país tem sua metodologia e legislação. No que diz respeito à
troca de evidências entre países, existem padrões definidos pelo SWGDE, apresentados
na International Hi-Tech Crime and Forensics Conference (IHCFC) que seguem o
princípio de que todas as organizações que trabalham com investigação forense têm o
dever de manter um alto nível de qualidade para garantir a confiança e a exatidão das
evidências.

Quanto ao nível de qualidade, esse pode ser alcançado por meio da elaboração
de Standard Operating Procedures, que precisam conter os procedimentos para todas
as modalidades de análises conhecidas, além de prever o uso de técnicas, equipamentos
e materiais aceitos e empregados na comunidade científica (GUIMARÃES et al.,
2011).

Antiforense

Como mencionado ao longo dos capítulos anteriores a respeito dos diversos


procedimentos que podem provocar alterações em um computador, é importante
mencionarmos as técnicas antiforenses, utilizadas com a finalidade de obter dados para
fins ilícitos ou causar alguma perturbação para interferir em uma investigação forense
(CONLAN, BAGGILI, BREITINGER, 2016).

Criptografia

O termo criptografia tem como significado ‘escrita escondida’ e consiste na


ocultação ou codificação de uma informação específica, de modo que apenas o emissor
e receptor possam acessá-la. Essa técnica é bastante empregada em cadastros via web,
como em sites bancários (Internet Bankings), onde informações de clientes são
criptografadas com o objetivo de impedir que pessoas não autorizadas tenham acesso
às informações correspondentes. Os métodos de criptografia mais conhecidos são o uso
de chaves criptográficas. Nesse caso, o processo criptográfico é feito a partir da criação
da chave. Apenas o detentor desta chave conseguirá acessar o conteúdo completo do
2
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

arquivo criptografado. Diversos algoritmos são usados para realizar esse processo,
ainda que esses sejam conhecidos por outras pessoas, isso porque elas só conseguirão
acessar as informações se tiverem a respectiva chave criptográfica (CONSTANTINO,
2012).

Há chaves de 8 bits, 64 bits, 128 bits, 256 bits etc. Esses valores se referem ao
tamanho da chave gerada. Para fazer o cálculo do número de combinações possíveis
conforme o algoritmo usado, basta fazer uma potência de dois, elevado ao número de
bits do algoritmo.

Exemplos:

1. Utilizando um algoritmo de 8 bits, o número de combinações para a chave é (28)


= 256.2. Utilizando um algoritmo de 128 bits, o número de combinações para a
chave é (2128) = 3.4028236692094E+38.

No caso do exemplo 1, o algoritmo de 8 bits não é seguro, uma vez que 256
combinações é um número rapidamente acessível e um computador é capaz de calcular
as combinações em questão de minutos. Já no exemplo 2, o algoritmo de 128 bits gera
uma possibilidade de combinações muito maior, e mesmo utilizando um computador
que tem alto poder computacional, necessitaria de bastante tempo para “quebrar” a
criptografia. Em termos de segurança, chaves geradas por algoritmos de 256 bits são
ainda mais difíceis de decodificar e na maioria dos casos é impossível, em virtude dos
milhares de combinações possíveis geradas a partir desse algoritmo, pois levaria meses
para conseguir obter um único caractere dessa chave por computadores
(CONSTANTINO, 2012).

Num processo de análise, se os peritos encontraram arquivos criptografados,


existem alguns programas que podem ser empregados na análise, como o FTK. Esses
programas apresentam algumas possibilidades de encontrar a chave, mas em alguns
casos não são eficazes, não sendo possível realizar o processo de decriptografia. Nesse
caso, o perito deve buscar pelo software responsável pela geração da criptografia, para
identificar o tipo de algoritmo usado e tentar trabalhar por meio de procedimentos
reversos. Se ainda assim não for possível encontrar a chave de acesso do arquivo, cabe
ao perito entrar em contato com o fabricante do software para que ele quebre a chave
e viabilize o acesso necessário para a análise pericial (CONSTANTINO, 2012).

Durante a segunda guerra mundial, por volta de 1944, os ingleses utilizavam


pombos-correios para transportar informações criptografadas e o SOE (departamento
de espionagem do governo britânico) utilizou mais de 250 mil pombos para esta
finalidade. De acordo com informações publicadas pela BBC, cada pombo tinha um
número de registro (apesar de não ter sido encontrado nos restos do pombo encontrado
pelo inglês David Martin). Especialistas que analisaram o caso acreditam que este
3
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

pombo estava a caminho de Bletchley Park, local que tinha uma base especial de
operações da SOE e seu ponto de partida teria sido a França.

Perícia em dispositivos móveis

De acordo com Silva (2015), o sucesso das análises forenses em dispositivos


móveis é o entendimento das características de Hardwares e Softwares dos telefones
celulares. Os dados de assinantes e atividades realizadas nos celulares em muitos casos
são fonte de provas valiosas para investigações. Para produzir provas é preciso contar
com um conjunto básico de características, que são obtidas a partir da maioria dos
celulares e que podem ser comparadas entre aparelhos distintos. Podemos elencar como
exemplos de características:

• Microprocessador;
• Memória ROM;
• Memória RAM;
• Módulo de rádio;
• Processador de sinal digital;
• Alto falante;
• Tela;
• Sistema operacional;
• Bateria;
• PDAs;
• GPS;
• Câmera.

A aquisição de dados em um dispositivo pode ser física ou lógica. A primeira


tem a vantagem de permitir que arquivos apagados e alguns dados restantes possam ser
examinados (SILVA, 2015). A segunda tem por característica o fato de ser um método
de aquisição intuitivo com limitações em virtude do privilégio do processo de acesso
do usuário e pela configuração de aplicativos (FENG et al., 2018).

Em geral, é recomendado que a aquisição física seja realizada primeiro.


Ferramentas forenses são capazes de adquirir informações dos dispositivos sem causar
alterações no conteúdo, isto é, realizam somente leitura, por meio de equipamentos
bloqueadores de escrita (Write Blocker). Além disso, geram hash garantindo a

4
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

integridade dos dados coletados. Essa característica é fundamental perante um juiz,


uma vez que cabe ao perito garantir a integridade das provas digitais coletadas e
analisadas por ele. São consideradas as melhores práticas de análise forense em
telefones aquelas que definem procedimentos para (SILVA, 2015):

• Apreensão;
• Aquisição;
• Exame;
• Documentação (relatórios/laudos).

Tais etapas são importantes, mas vale ressaltar que foram definidas a partir de
procedimentos empregados em análises forenses computacionais. O importante em
uma situação que requer extração de informações direta do dispositivo, é que o
examinador tenha competências e expertise suficiente para alcançar tais objetivos sem
causar danos ao equipamento ou às evidências, bem com a capacidade de explicar a
relevância e implicações dos procedimentos realizados. Como telefones celulares têm
distintos softwares, hardwares e funcionalidades, é preciso escrever procedimentos
específicos para as diversas categorias de aparelhos. Nesse sentido, a seguir serão
apresentados os procedimentos necessários para a realização da perícia em dispositivos
móveis (SILVA, 2015).

Procedimentos de busca, apreensão e preservação

Da mesma maneira que ocorre em perícias computacionais, perícias em celulares


também precisam da correta preservação do dispositivo para preservar as evidências e
evitar perdas ou alterações das provas. Nesse procedimento também são feitas buscas
por mídias eletrônicas que possam ser úteis e conter informações acerca dos aspectos
que estão sendo investigados. Por esse motivo, na etapa de apreensão, a equipe deve
avaliar e preservar a cena, documentando-a e coletando as evidências, além de realizar
o acondicionamento, transporte e armazenamento da evidência de modo confiável e
sem riscos de danos. Essa ação de isolar o dispositivo é importante principalmente
porque em alguns modelos de celulares mensagens SMS sobrescrevem
automaticamente as mais antigas quando uma nova mensagem é recebida (SILVA,
2015).

Por essa razão, o uso de um invólucro que bloqueia o recebimento de dados para
o acondicionamento ou o desligamento do aparelho pode ser feito para evitar tais
impasses. Além destas opções, pode-se ativar o modo avião offline naqueles
dispositivos que tenham esta função. As três opções têm vantagens e desvantagens que
devem ser levadas em consideração em uma investigação. O desligamento pode
dificultar o acesso durante os exames periciais, pois códigos de autenticação podem ser
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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

requisitados quando o telefone for reiniciado. O isolamento por bloqueio de sinal pode
elevar significativamente o consumo da bateria devido ao aumento da potência de sua
antena para buscar uma torre mais distante, e o uso do modo avião irá exigir uma
interação de um agente da lei com o dispositivo, mas nem sempre haverá uma pessoa
habilitada para fazê-lo (SILVA, 2015).

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Aula 10 - COMPUTAÇÃO FORENSE – Parte 10

Aquisição de dados

A aquisição de provas trata da extração de informações para uma análise


posterior, sendo que tal extração é feita em ambiente isolado da rede de comunicação
do dispositivo por meio de hardwares e softwares apropriados para a obtenção dos
dados. Antes de se iniciar a extração, o perito tem o dever de evitar que o dispositivo
possa se comunicar com a rede de telefonia ou realize conexões com a rede Wi-Fi,
bluetooth e IrDA, e para isso, é necessário utilizar equipamentos específicos para o
isolamento da comunicação ou intervir diretamente no dispositivo, desabilitando-o
para tais serviços. É importante que a extração seja iniciada com a bateria do
dispositivo totalmente carregada, para evitar corrupção ou perda de dados ao longo do
processo (SILVA, 2015).
1
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Um dispositivo atual possui:

• Memória interna;

• Cartão de memória;

• Dados de armazenamento na internet (computação em nuvem). Assim, o perito


deve considerar os objetivos dos exames para saber o que avaliar e até onde será
possível realizar a extração de informações. A interação dos telefones com os
softwares forenses deve ser a menor possível e, portanto, deve-se inicialmente
estabelecer uma conexão via cabo USB, portas seriais ou paralelas, seguida do
infravermelho, bluetooth e por fim Wi-Fi. Em casos em que é possível realizar
a extração com tais softwares, é necessário utilizar aplicativos proprietários dos
fabricantes do dispositivo móvel ou mesmo uma extração manual, que deve ser
realizada por um analista pericial com conhecimentos específicos acerca da
plataforma do telefone em questão (SILVA, 2015).

Exame

Na etapa de examinar o aparelho o perito extrai informações importantes dos


dados adquiridos. Nesse caso é preciso que o profissional tenha conhecimento para
lidar com as evidências, e a autoridade solicitante deve deixar claro o que se deve
esclarecer com a atividade pericial. O exame depende essencialmente do tipo de
evidência que será procurada, por exemplo, se a perícia tiver relação com crime de
abuso infantil, o perito inicia a operação buscando imagens e vídeos que eventualmente
tenham relação com o objeto da solicitação, por outro lado, em um caso de tráfico de
drogas, as mensagens e relação de contatos são as primeiras informações averiguadas
(SILVA, 2015).

Em dispositivos móveis deve-se atentar para as configurações como:

• Data e hora;
• Linguagem;
• Configurações regionais;
• Contatos;
• Agendas;
• Mensagens textuais;
• Chamadas realizadas, recebidas e não atendidas;

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• Imagens, vídeos, áudios e;


• Mensagens multimídia.

Com os avanços tecnológicos, atualmente os peritos também devem considerar


(MUTAWA, BAGGILI, MARRINGTON, 2012):

• E-mails;
• Históricos de navegação web;
• Documentos;
• Informações de GPS;
• Aplicativos específicos;
• Informações de computação em nuvem e;
• Exames de mídias removíveis, que são frequentemente utilizados em telefones.

Em virtude da grande variedade de celulares e sistemas operacionais, existem


métodos forenses específicos, que devem ser selecionados e usados dependendo da
marca, modelo e sistema operacional do dispositivo. Como na perícia computacional,
em dispositivos móveis também é preciso fazer cópias íntegras e idênticas às
informações originais, que, por sua vez, devem ser verificadas e certificadas (SILVA,
2015).

Assim, por questões de segurança, a perícia é feita na cópia e o original é mantido


em cadeia de custódia. Nesse caso, também se cria uma imagem forense pela cópia dos
arquivos em um processo semelhante ao bitcopy ou espelhamento, que permite
compactar os arquivos de imagem e, por consequência, gerar economia do disco de
destino, bem como maior facilidade de replicação dos dados, já que se torna mais fácil
fazer cópias para outros dispositivos e sistemas operacionais. Para isso, é
imprescindível que o perito tenha um plano de atuação estipulado, que deverá alcançar
respostas às perguntas norteadoras da atividade pericial (SILVA, 2015).

Os principais procedimentos vinculados a essa fase são a recuperação de


arquivos apagados e a indexação de dados, localizando todas as ocorrências
alfanuméricas e organizando-as de modo que posteriormente seja possível acessá-las e
recuperá-las de forma fácil e rápida. Finalizada essa ação, deve-se efetuar cálculos dos
hashes de todos os arquivos encontrados, seguido pela categorização dos arquivos
conforme a assinatura e geração de índices de palavras para uso em buscas
automatizadas. Com os dados processados é possível realizar procedimentos de

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

filtragem para separar dados relevantes dos irrelevantes, reduzindo a quantidade de


informações a serem analisadas (SILVA, 2015).

A última etapa do processo é a elaboração de relatórios/laudos e esta será


apresentada no próximo capítulo juntamente aos exemplos de laudos de perícias
computacionais. A seguir serão apresentados alguns aspectos gerais de análises
forenses em dispositivos móveis.

Smartphones

Numa descrição geral, podemos mencionar que dados de iPhones e Androids


podem ser conseguidos por métodos lógicos e físicos. Os métodos físicos, no caso de
iPhones, requerem a quebra do sistema (jailbreaking) que provoca poucas alterações
nos sistemas de dados, e no caso de Androids, necessitam da obtenção de imagens dd
da memória do telefone e acesso root ao dispositivo. Já a aquisição lógica, por exemplo,
de dados de contatos na rede social Facebook, difere de um sistema para o outro quanto
ao local de armazenamento. No caso do iPhone, as informações são armazenadas na
memória do telefone, enquanto no Android o armazenamento ocorre na lista de
contatos como se os dados estivessem sincronizados com os do telefone. Assim como
em computadores, os telefones celulares armazenam dados que podem ajudar na
determinação de como o dispositivo é utilizado (MUTAWA, BAGGILI,
HARRINGTON, 2012).

Conforme as informações expostas pode-se observar que existem várias


distinções de um determinado tipo de aparelho celular para outro. Uma vez que existem
diversos tipos de telefones, atualmente não há um modo de desenvolver uma única
estrutura que opere bem nas diferentes plataformas móveis (BARMPATSALOU et al.,
2013).

Contudo, a ferramenta comercial UFED Touch Ultimate pode ser mencionada


por possibilitar a extração, decodificação, análise e elaboração de relatórios
tecnologicamente mais desenvolvidos, em se tratando de dados móveis. Essa
ferramenta faz a extração física e lógica dos sistemas de arquivos e senhas de todos os
dados, incluindo aqueles que tenham sido excluídos. Destaca-se que existe uma ampla
gama de dispositivos nos quais a UFED Touch Ultimate consegue realizar tais ações,
o que consequentemente, torna mais rápido o processo de investigação além de atender
às necessidades do setor forense móvel (SILVA, 2015).

Em geral, iOS e Android constituem o maior percentual de mercado


(BARMPATSALOU et al., 2013).

Em Androids os aplicativos instalados podem armazenar informações por meio


de preferências de compartilhamento, quais sejam, arquivos XML (Extensible Markup
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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Language), armazenamento interno e externo, e por meio do banco de dados SQLite.


Nesses dispositivos, a extração lógica não oferece acesso direto ao sistema de arquivos,
e opera em nível abstrato e menos eficaz se comparado às técnicas tradicionais em
outros dispositivos, contudo, apresenta bons resultados, pois retorna dados
importantes. Em se tratando do iOS, que é um OS baseado no UNIX e segue a
arquitetura equivalente à do MacOS X, o armazenamento do dispositivo é dividido em
duas partições, uma contendo a estrutura fundamental e as aplicações e outra contendo
os dados manipulados pelo usuário (SILVA, 2015).

Laudo pericial

Os dois principais aspectos relacionados à perícia criminal são os técnicos e os


legais. Os aspectos técnicos compreendem os procedimentos técnicos de identificação,
preservação, análise, formalização, apresentação de dados da perícia computacional,
além de questões de infraestrutura de laboratórios, materiais de perícia e qualificação
de pessoal. Os aspectos legais envolvem os parâmetros de legislação, tais como, código
penal, código de processo penal, código de processo civil etc. Uma perícia bem
realizada deve não somente contemplar corretamente todas as etapas e resultados,
como também respeitar a legislação (RAMOS, 2014).

O laudo pericial é um documento técnico-científico no qual o perito faz


descrições objetivas e claras, dispondo da metodologia e exames periciais realizados
durante a fase de análise. Esse documento é uma forma de segurança para o perito
enquanto profissional que está apresentando seus serviços, e também para a
transparência do processo judicial. Nessa perspectiva, algumas seções básicas devem
estar presentes no laudo, que segue modelos e normas de elaboração.

A. Preâmbulo: é a identificação do laudo, e pode conter informações que


identifiquem o laudo em um processo judicial ao qual este documento esteja
vinculado. Nesta seção é necessário conter informações dos seguintes dados:

• Título do laudo;
• Subtítulo (opcional);
• Número do laudo e unidade de criminalística emissora;
• Data de emissão do documento e identificação dos envolvidos no exame e no
processo;
• Critérios formulados, se esses forem informados pela autoridade solicitante do
documento.

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

B. Histórico: é uma seção opcional na qual relatam-se fatos anteriores e de


interesse para o documento, como, por exemplo, quando um laudo tem relação
com um material questionado que já tenha sido examinado em outro laudo.
Nesse caso, é importante que os interessados no processo tomem conhecimento
do fato.

C. Material: seção que descreve de forma detalhada o material questionado,


concedendo informações necessárias para que este não seja confundido com
outro. Tais detalhes podem incluir:

• Marca;
• Modelo;
• Número de série;
• Capacidade de armazenamento;
• País de fabricação;
• Número do item ao qual o material pertence (nesse caso, no auto da apreensão);
• Número do lacre do material (exatamente quando este for recebido pelo perito);
• Estado de conservação do material;
• Possíveis divergências com a descrição do auto de busca e apreensão;
• Outras informações que o perito julgar úteis para a identificação inequívoca do
material questionado, como o valor do cálculo hash.

D. Objetivo: deve conter um ou dois parágrafos breves que contemplem os


objetivos principais da realização da perícia. Podem ser resumidos os quesitos
formulados, em casos em que a autoridade solicitante os informe.

E. Considerações técnico-periciais: seção opcional em que o perito pode fazer


descrição conceitual e informar aspectos técnicos para um melhor entendimento
do laudo.

F. Exames: é a principal seção do laudo, e o perito, neste momento, descreve os


métodos e as técnicas empregados para localizar as evidências e provas ligadas
às evidências. Ressalta-se que, nesta seção, devem ser apontados e descritos os
passos realizados pelo perito na tentativa de alcançar respostas para os quesitos
formulados. Além disso, as técnicas de preservação aplicadas devem ser
descritas. Esta seção é a única na qual os termos técnicos de informática podem

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

ser utilizados. Contudo, esses devem ser claros o suficiente para que pessoas de
fora da área consigam compreender as informações.

G. Respostas aos quesitos ou conclusões: é a última seção do laudo. Caso tenham


sido utilizados quesitos formulados, a seção será nomeada “Resposta aos
Quesitos” e caso não tenham sido utilizados, a seção será tratada como
conclusões. É necessário que esta seção seja clara e objetiva, uma vez que é a
mais lida ao longo de um processo judicial, onde juízes, advogados, delegados,
promotores e demais envolvidos no processo vão recorrer para conseguir
respostas ou resultados periciais.

É recomendável não utilizar siglas e nomes de tecnologias complexas na seção


de respostas aos quesitos ou conclusões, para que as informações concedidas sejam
compreendidas pelas pessoas envolvidas.

Depois de finalizado o laudo pericial, o perito deve informar a devolução do


material (is) questionado(s), bem como o(s) número(s) do(s) lacre(s) usado(s) na
devolução. Caso haja mídias ópticas de anexos digitais, anexos ou apêndices, estes
deverão ser informados após o fim da última seção do laudo, e finalmente, os peritos
devem ser identificados por suas respectivas assinaturas (RAMOS, 2014).

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 10)

Caro aluno e aluna, a respeito do que estudamos até agora sobre computação
forense. Escreva com suas palavras no mínimo em 15 linhas e no máximo 30 linhas
abordando as seguintes perguntas:

1. Qual é a importância da computação forense na perícia criminal?

2. Baseado no que foi estudado até agora é possível apagar todas as evidências de
um computador, a ponto de a perícia criminal não encontrar nada?

3. A informática é presente em seu dia e por que?

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Aula 11 - COMPUTAÇÃO FORENSE - Parte 11

Modelo 2 de laudo de perícia digital

De acordo com Marques, Mota e Mota (2015), um laudo pericial pode seguir
ainda o modelo apresentado:

Capa

• Número do laudo;
• Data: __/__/___;
• Tipo de documento: laudo pericial ou parecer técnico;
• Nome do perito;
• Formação;
• Telefone de contato;
• E-mail.

Contratantes

Esse tópico deve conter informações acerca do contratante ou requerente dos


serviços periciais, assim como, informações dos requeridos.

• Nomes;
• Documentos de identificação;
• Endereços residenciais;
• Endereço do local investigado ou dispositivo.

Se o laudo for requerido por um juiz, as informações necessárias neste tópico


são:

• Dados do foro;
• Nome do requisitante.

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Se o laudo deverá ser apresentado em formato de segredo judicial, é


recomendado que seja informado apenas o foro responsável pela solicitação.

Localização

Necessário apresentar relato sobre o(s) local(is) que possui(em) envolvimento


com os elementos componentes do laudo. Havendo mais de um local, é recomendado
acrescentar um mapa ilustrativo das distâncias dos locais, tempo de locomoção (por
veículo ou a pé).

Exemplo:

Preliminares ou histórico

Nesta seção é preciso entender o que levou ao pedido da perícia ou laudo para
que seja possível elucidar histórico ou preliminar do trabalho.

É importante também que esta seção contenha registros das informações sobre a
aquisição dos produtos que foram periciados, isso inclui:

• Notas fiscais;

• Garantias;

• Estado de conservação dos produtos;

• Atividades realizadas pelos donos do produto antes do incidente.

Metodologia utilizada, normas, referências, leis e decretos requer-se descrição


de como foram executados os métodos da perícia, bem como das ferramentas
empregadas.

Tipo de análise: normalmente descrita como forense post-mortem que aborda a


forense nos equipamentos ou ambiente posteriormente ao acontecimento de algo que
necessite de perícia.

• Tipo de cópia:preferencialmente bit a bit.

• Tipos de filtros empregados:tipificação da busca por documentos eletrônicos


tipificados por extensões (*.doc, *.docx, *.pdf) e de arquivos de armazenamento
de e-mails em lote do tipo (*.pst, *ost).

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

• Ferramentas de softwares utilizadas: descrição das ferramentas e suas funções


na investigação.

Exemplo:

“Utilizou-se a ferramenta DEFT LINUX, que é uma ferramenta de software


adquirida pelo perito...” (MARQUES, MOTA, MOTA (2015)).

• Garantias de integridade: descrição da integridade das ferramentas.

Exemplo:

“Antes de dar início ao procedimento de cópia, garantiu-se por meio das


ferramentas utilizadas que não houvesse modificações nos dispositivos de
armazenamento, de modo que não fossem geradas alterações nas mídias”.

• Mídias analisadas:

Exemplo:

“Foram analisadas as mídias indicadas na Figura 23, onde se encontram a mídia


do computador e de armazenamento externo, quais são denominadas discos rígidos...”
(MARQUES, MOTA, MOTA (2015)).

• Conversão de formato: Necessário descrever as ações tomadas.

Exemplo:

“Formatos de arquivos sem descrição dos tipos de filtros usados neste item não
foram identificados e/ou convertidos para análise...” (MARQUES, MOTA, MOTA
(2015).

Objeto do laudo pericial ou parecer técnico

Nesta seção consideram-se questões que se almejam provar, ou seja, os fatos


motivadores da investigação e elaboração do laudo ou parecer técnico. Do mesmo
modo, as observações feitas devem ser apresentadas resumidamente.

Se tiver ocorrido alguma visita ao local deve-se informar:

• Horário e testemunhas que presenciaram o fato ou cena do crime junto ao perito.

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Identificação ou tipologia

A tipologia diz respeito à descrição detalhada do que será ou foi analisado. Nesta
etapa deve-se incluir:

• Data de aquisição;

• Fornecedor ou onde o item foi adquirido;

• Número da nota fiscal;

• Descritivo do material;

• Situação do equipamento no momento da perícia: importante mencionar


existência ou não de embalagens e lacres do fabricante.

Exemplo:

Análise de dois itens no ambiente de perícia. No caso apresentado foram


descritas as informações e tipificações de cada equipamento.

6. Esta exposição das características é importante principalmente para casos em


que muitos equipamentos precisam ser analisados. Outro aspecto importante é a
informação da localização do equipamento e o relatório fotográfico da situação que o
item se encontra no momento da perícia. Recomenda-se também que cada passo
representado no escopo da coleta seja tipificado com uma imagem representativa do
início da execução e resultado da ação de um comando submetido ao sistema
(MARQUES, MOTA, MOTA, 2015).

Coleta

Na etapa de descrição da coleta, é necessário informar como ocorreu a coleta das


mídias digitais e computadores etc. O perito deve definir qual a melhor estratégia para
não corromper as provas digitais, bem como preservar o ambiente e garantir que as
informações não sofram modificações. Esta ação é semelhante à praticada em locais
de crimes convencionais, nos quais as evidências e provas devem ser preservadas.

Nos meios digitais o procedimento deve ser realizado seguindo as mesmas


etapas. O exame tem relação com a coleta física e lógica dos dados, que é realizada no
local do crime. Todavia, o processo de trabalho técnico para a coleta lógica de dados
deve ser realizado seguindo passos descritivos.

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Exame

Nesse momento, as informações coletadas são examinadas garantindo que o


material esteja preservado para aplicar as técnicas de busca e descoberta de dados
ocultos. O foco nesta etapa é manter a integridade da cópia da imagem digital gerada,
para que seja possível iniciar o processo de análise.

A perícia computacional ou em dispositivos móveis inclui, diferentes métodos


anti-forenses, para garantir a privacidade do usuário ou mesmo para evitar uma ação
pericial. Em 2016 aconteceu uma situação envolvendo privacidade e cumprimento da
lei entre a Apple e o FBI. O caso tratava de uma suspeita de realização de um ataque
em San Bernardino, na Califórnia, que provocou a morte de quatorze pessoas.

O FBI necessitava do acesso às informações dos celulares dos suspeitos para


investigar a autoria do crime, e a Apple, por outro lado, defendia a privacidade dos
usuários que caso fosse violada, daria lugar para posteriores utilizações da chave-
mestra ou "super senha" solicitada pelo FBI para acesso ao sistema de segurança iOS,
que poderia ser feita em qualquer dispositivo.

Após semanas, e diversas ordens judiciais e recursos, o FBI conseguiu


desbloquear o telefone de um dos responsáveis pelo ataque. De acordo com noticiários,
foi feita uma desencriptação e encriptação do sistema operativo ou ataque de Software
a partir de uma falha do sistema de informações explorando as vulnerabilidades no
gestor do iOS, o iBoot que é responsável por carregar o modo de recuperação.

Ou seja, estima-se que um trabalho pericial tenha sido realizado para alcançar as
respostas para o caso, contudo, o FBI não deu detalhes sobre como tal ação foi realizada
(BBC, 2016).

Referências

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investigation. Annual ADFSL Conference on Digital Forensics, Security and Law,
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5
FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

Casal acha restos de pombo espião e mensagem cifrada da 2ª Guerra. Dezembro de


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Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis – IMESA, Assis, 2010. BRASIL


ESCOLA. Forense computacional: técnicas para preservação de evidências em coleta
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Técnicas da computação forense. Monografia em Ciência da Computação. Assis, 2012.


Monografia em Ciência da Computação, Fundação Educacional do Município de Assis
- FEMA, Assis, 2010.

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Curso superior de tecnologia em análise e desenvolvimento de sistemas. Fundação
Educacional do Município deAssis – FEMA, Assis, 2015.

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coleta e análise de vestígios digitais. Monografia de tecnólogo em processamento de
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Forense computacional: Aspectos legais e padronização, 2001.

BRASIL. Lei 12.737 de novembro de 2012.

MARINO, A. M.; GUIDA, I.; PASSOS, J. F.; NOGUEIRA, R. F. Perícia forense


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MARQUES, R. O; MOTA, A. A.; MOTA, L. T. M. Modelo de laudo forense digital


considerando dispositivos de redes de computadores.X Workshop de pós-graduação e
pesquisa do centro Paula Souza, São Paulo, 2015.

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FORENSE DIGITAL E DOCUMENTOSCOPIA

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 11)

Caro aluno e aluna, conforme estudamos neste módulo a produção do laudo é


crucial para um processo de investigação criminal. Elabore um laudo pericial de um
dispositivo móvel, computacional, de acordo com as exigências e modelos
apresentados nas nossas aulas. Não é necessário que seja um caso real, basta que
seja simulada uma situação que requer o trabalho de um perito digital, contemplando
as competências necessárias para um bom parecer técnico. Não se esqueça de postar
na plataforma para correção. Boa atividade.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

AULA 1 - INTRODUÇÃO À PERÍCIA JUDICIAL


E EXTRAJUDICIAL – Parte 1

Olá aluno e aluna, na aula de hoje vamos falar um pouco sobre perícia
judicial e extrajudicial, vamos dividir esse tema em duas partes. Bons estudos.

Introdução

Na atualidade, a mídia vem relatando diversos processos criminais


envolvendo corrupção no nosso país. Certamente os acusados tentarão se defender
bem como o Estado tentará condenar os suspeitos. Eventualmente haverá
necessidade de se criar provas que darão suporte para a decisão do magistrado.

Uma das provas possíveis por lei advém da perícia, que é um procedimento
realizado por profissionais das mais diversas formações que buscam clarear
situações duvidosas ora para mero esclarecimento ora para produção de provas.

Objetivos

• Mostrar os conceitos de atuação pericial.


• Demonstrar qual é a formação e atuação do perito.
• Esclarecer como se calcula os honorários em perícias.
• Mostrar como funciona a atuação dos peritos nos tribunais.
• Demonstrar como funciona o início e a conclusão dos trabalhos periciais.
• Apresentar os modelos de análise pericial.

O que é o perito judicial e extrajudicial?

Perito

Antes de iniciar a discussão específica devemos ter em mente e sem


nenhuma dúvida o significado do termo “perito”.

1
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Assim, vamos discutir os motivos da nomenclatura com o objetivo de


compreendermos melhor a atividade em torno dela.

Quando adentramos nos meandros das atividades judiciais, esbarramos com


uma figura muito popular e que tem importância ímpar nos procedimentos.

Trata-se de um profissional responsável por julgar ocorrências


considerando os princípios de isenção e imparcialidade para garantir que a pessoa
correta tenha acesso ao direito que entende ter sido tolhido.

Se você for realizar uma busca em dicionários ou câmaras de discussão


jurisprudencial, não encontrará exatamente esta definição que demos ao juiz.
Porém, o objetivo foi explicar de forma simples e direta a atuação desde
profissional, o qual demandará os serviços do perito, que é o foco da nossa
abordagem acadêmica.

Ótimo! Vamos utilizar como base o que descrevemos da atividade de juiz


para nos ajudar a compreender o papel de um perito.

Uma análise objetiva a respeito do que um profissional de qualquer área faz


nos direciona ao entendimento de que ele é um perito naquilo que faz. Por outro
lado, os cursos de pós-graduação e os stricto sensu buscam amplificar as técnicas
de um profissional em um determinado ponto, ou seja, pretende torná-lo perito
em um aspecto específico.

Você pode começar respondendo: qual é sua formação?

Não é verdade que ao escolher o curso que fez tinha como objetivo aprender
o máximo que pudesse com relação à área relacionada?

Muito disso começa na infância quando os adultos questionam aos mais


jovens o que eles pretendem ser quando forem crescidos:

Professor?

Astronauta?

Advogado?

Arquiteto?

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

A resposta que você escuta é indiferente, pois quando concluir seus estudos
em nível superior certamente a pessoa irá se considerar perita no que se formou.

Essas habilidades vão crescendo conforme o indivíduo amplia seus


conhecimentos por meio de estudos complementares que comumente chamamos
de pós-graduações.

Desta forma, se o bacharel em Economia, por exemplo, resolver realizar


uma pós-graduação em Economia Internacional, se tornará um perito em
Economia com habilidades especificamente potencializadas na área Internacional.

Então você pode se questionar a respeito de alguns peritos que temos a


oportunidade de conhecer e que não necessariamente tem formação em ambiente
acadêmico certo?!

É verdade que existem muitos “profissionais” em artes, por exemplo, que


possuem o dom da pintura, da música etc. Esse tipo de artista não necessariamente
fez faculdade e pode vir a produzir algo que lhe renda milhões.

Contudo, as condições técnicas que aquele profissional terá de julgar o que


outra pessoa elaborou terá um limite de alcance sempre que ele tiver que realizar
medição de algum tipo de arte que não tenha sido produzida por ele mesmo.

Assim, considerando que nosso objetivo é termos o entendimento do que


vem a ser um perito do ponto de vista acadêmico, podemos concluir que se trata
de um profissional qualificado tecnicamente em alguma área específica do
conhecimento.

Não obstante, podemos concluir que quando o objetivo da perícia for tirar
alguma dúvida técnica ou dar suporte a um julgamento por meio de formação de
provas, a opção deverá recair por um profissional que seja notoriamente
conhecedor dos elementos científicos que circundam o tema em questão.

Como este módulo trará os conceitos que diferenciam o perito judicial do


extrajudicial, é interessante adentrarmos em alguns conteúdos acessórios para
melhor compreensão. Desta forma, vamos em frente!

Vamos falar de perícia judicial?

Para nos ajudar a diferenciar os dois tipos de perito, precisamos entender


um pouco do trabalho que cada um faz. O item anterior nos dá um ponto de
referência para podermos apresentar um conceito do que viria a ser perícia
judicial.
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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

A atividade pericial se trata de uma atividade que irá culminar na produção


de dados técnicos e/ou científicos que resultarão em um documento específico no
qual o perito apresentará subsídios para apoiar a decisão de alguém.

A título de exemplo, podemos mencionar o Art. 38 da Lei 8.666/1993 que


apresenta os seguintes institutos:

Art. 38. O procedimento da licitação será iniciado com a abertura de


processo administrativo, devidamente autuado, protocolado e numerado,
contendo a autorização respectiva, a indicação sucinta de seu objeto e do
recurso próprio para a despesa, e ao qual serão juntados oportunamente:

VI - parecer técnico ou jurídico emitido sobre a licitação dispensa ou


inexigibilidade;

O Decreto no 5.450/2005 é mais incisivo inclusive com os termos


utilizados. Veja o que diz em seu Art. 30:

Art. 30. O processo licitatório será instruído com os seguintes


documentos:

IX - parecer jurídico; A Lei de Licitações utiliza aquele artigo específico


para inserir uma ferramenta de instrução processual por meio de um documento
que apresentará uma análise técnica, ou seja, o Parecer Jurídico.

Qualquer pessoa que já tenha tido contato com compras públicas lembrará
que o referido parecer é uma peça opinativa na qual um cidadão formado em
Direito apresentará argumentos em torno de uma questão que tenha sido levantada
durante o procedimento de compra.

Veja que para o profissional conseguir emitir alguma opinião técnica


deverá pesquisar legislação, jurisprudência e doutrina com o objetivo de atestar
suas inferências.

Concorda que dado o nível de complexidade do trabalho poderíamos


chamar aquele parecer de laudo?

Essas discussões nos permitem conceituar perícia judicial como sendo um


procedimento na qual questões específicas são analisadas de maneira técnica para
as quais será necessário o suporte de um profissional especializado naquele
conteúdo objetivando a emissão de um laudo pericial que esclareça eventuais
dúvidas ou conflitos elencados em um processo judicial.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

O produto oriundo da análise pericial demandada (laudo) é desenvolvido


por um profissional que virá a ser nomeado pelo magistrado responsável pela lide
ou por uma das partes envolvidas no conflito para facilitar a decisão final do
litígio.

E a perícia extrajudicial?

Não é necessário muito esforço de pesquisa para que você encontre vários
artigos pela rede mundial de computadores apontando a atividade de “perito”
como uma demanda em crescimento nos últimos anos, causando atração no
mercado de trabalho.

Como acabamos de ver, a perícia judicial é um procedimento que será


realizado à luz de um processo judicial envolvendo pessoas ou coisas que
demandam know-how técnico por parte de quem irá elucidar dúvidas ou conflitos.

É o Estado, por meio do Poder Judiciário, o depositário desta atividade que,


aliás, é um direito de todos. Assim, será o Estado o detentor da tutela das ações.

Uma característica marcante nas perícias extrajudiciais é o fato de que não


será o Estado o agente de tutela. Isso quer dizer que esse tipo de atividade será
demandado por atores não servidores para resolver questões fora do âmbito
judicial.

Importante mencionar que o juiz, figura que media os litígios judiciais, não
será responsável pela mediação nesses casos. Em compras públicas existe uma
cláusula contratual que se chama Cláusula

Sancionatória. Trata-se de um dispositivo que dá à administração o poder


de reparar erros cometidos pelo contratado para que não haja danos ao erário
público. Considerando essa possibilidade, imagine que um contratado deveria
montar uma torre de 80m com parafusos protegidos de estática e não o fez. Abaixo
seguem algumas informações adicionais para ajudar na montagem e entendimento
deste exemplo:

Um servidor denominado “fiscal técnico” percebe que não são os tais


parafusos protegidos de estática e resolve solicitar a abertura de um procedimento
sancionatório.

A empresa contratada se defende apresentando documentos que indicam


que os parafusos são protegidos e requer revisão de decisão.

5
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

A junta responsável pelo sancionamento encaminha uma amostra para


análises periciais específicas e os resultados são que, de fato, não há proteção
contra estática.

A empresa contratada deverá ou apresentar uma contraprova, ou aceitar e


trocar todos os parafusos.

Veja que em nosso exemplo não houve judicialização da questão, ou seja,


o procedimento foi todo tratado no âmbito do órgão público. Quem analisou a
questão foi um servidor auxiliado por um perito fora do âmbito judicial.

Esse exemplo nos demonstra que a perícia extrajudicial pode apoiar a


solução de conflitos também!

Considerando o modelo acima, poderíamos definir perícia extrajudicial


como sendo uma atividade técnica especializada desenvolvida com o objetivo de
criar uma prova ou esclarecer dúvidas por profissional escolhido por uma ou mais
pessoas que pretendem entrar em acordo sobre algo sem levar a questão ao Poder
Judiciário.

Em tempo, você já deve ter escutado na imprensa alguma notícia sobre o


surgimento de impérios empresariais formados por fusões ou momentos em que
empresas de grande porte começam a vender ações nas bolsas de valores.

Agora vem a pergunta-chave: desses tipos de impérios empresariais quantas


vezes você soube de separações milionárias ao custo de anos e anos de discussões
em varas judiciais?

Caso tenha se lembrado de algo será um caso isolado no tempo e certamente


não terá ouvido falar em escândalos.

Um dos motivos disso é porque os sócios resolveram tratar a questão


extrajudicialmente e, dessa forma, podem ter demandado perícias extrajudiciais.
Um dos deveres do perito extrajudicial é o sigilo das informações e por isso estes
casos não costumam chegar à imprensa.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

AULA 2 - INTRODUÇÃO À PERÍCIA JUDICIAL E


EXTRAJUDICIAL - PARTE 2

Olá aluno e aluna, na aula de hoje vamos dar continuidade ao tema e entender
um pouco mais sobre perícia judicial e extrajudicial. Bons estudos!

Entendendo a ação judicial

Ao contrário do que muitas pessoas costumam dizer, uma ação judicial não se
limita ao mero conceito de um processo. Trata-se de um rito realizado no âmbito do
Poder Judiciário que poderá se dar em formato sumário, ordinário ou extraordinário.

Como qualquer atividade judicante, o propósito é garantir que uma situação


conflituosa seja resolvida aplicando-se o maior rigor de imparcialidade possível,
amparado pelos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório.
Ressalte-se que se algum desses princípios estiver ausente em um procedimento
judicial ele não terá validade.

Destarte, não apenas os elementos relacionados aos princípios deverão ser


considerados. Como se trata de um rito existe atividades que deverão ser realizadas
em uma sequência prevista por lei com o devido encadeamento lógico ou,
igualmente, todos os trâmites poderão ser nulos.

A legislação prevê como uma das etapas que é inerente ao rito judicial é a
escolha da pessoa que irá realizar os trabalhos de mediação da questão litigiosa ou
conflituosa.

Via de regra, o magistrado que irá se responsabilizar pelo julgamento do


processo será devidamente sorteado (isso não se aplicará a casos em que uma corte
possua apenas um juiz).

A impetração de uma ação judicial é algo razoavelmente simples de ser


iniciada. Para tal, basta que uma pessoa entenda que um ou mais de seus direitos foi
ou foram violados. Imagine-se comprando um imóvel à ordem de R$ 500.000,00
com a promessa da construtora de que iria recebê-lo em determinada data com
determinados itens adicionais que você escolheu. Ao chegar à data prometida o
imóvel não está concluído e, além disso, sua unidade foi construída sem um ou mais
dos itens adicionais escolhidos. Nesse momento o direito de reparação de danos
torna-se uma realidade.

1
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Digamos que o tal imóvel tinha como um dos itens adicionais a construção de
uma banheira de hidromassagem com iluminação interna.

Daí, ao receber o produto final, você percebe que além de não ser uma
banheira (em nosso exemplo teria recebido uma jacuzzi menor), a tal iluminação foi
colocada no ambiente em torno do local e não dentro como prometido.

Não é objetivo deste material realizar discussões apuradas sobre diferenças


técnicas entre banheira de hidromassagem e jacuzzi, contudo, são produtos de ordem
e preços diferentes.

Caso você insista que quer a banheira de hidromassagem com a iluminação


interna conforme projeto apresentado e produto pago por você e a construtora disser
que não irá resolver porque são a mesma coisa, firmou-se o direito à reparação.

De agora em diante você poderá trabalhar para reunir o máximo de elementos


de prova que conseguir para que o magistrado escolhido para resolver o seu caso
tenha condições de concluir que você de fato tem razão.

Perito judicial

Você já deve ter percebido que foi importante entendermos um pouco o


significado do que é ser um perito, bem como a compreensão macro de uma ação
judicial para podermos falar sobre o perito judicial.

Veja que nosso exemplo nos dá uma série de elementos que poderão necessitar
de comprovação técnica para que o magistrado envolvido no caso seja convencido
de seus argumentos.

Afinal, ele é formado em Direito, sua área de perícia, e eventualmente não terá
conhecimentos apurados sobre construções civis e banheiras de hidromassagem.

O profissional em Direito que for contratado para representar o caso no


tribunal juntará aos autos todas as informações técnicas que encontrar para provar
ao juiz que banheira de hidromassagem e jacuzzi são produtos diferentes. Contudo,
não podemos jamais esquecer daqueles princípios (contraditório e ampla-defesa).

Eles dão à outra parte o direito de se defender e, com certeza, trabalharão no


sentido de provar ao juiz que as duas coisas são iguais e que, dessa forma, não se
coaduna o pedido de reparação de danos.

2
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Veja que o magistrado terá duas situações distintas em mãos: a acusação e a


defesa.

No que for possível inferir de maneira legal ele o fará. Porém, certamente
chegará o momento de comprovar a especificidade de cada um dos dois produtos.
Nessa etapa, o juiz não poderá decidir sem que tenha certeza das informações.
Eis que surgirá a necessidade de que um profissional especializado em obras civis e
produção de banheiras de hidromassagem analisem os elementos técnicos para
apresentar ao magistrado uma conclusão científica sobre o que afinal foi entregue ao
reclamante. A esse profissional damos o nome de perito judicial.

A nomenclatura é “perito judicial” porque sua atividade técnica ocorrerá à luz


do judiciário e, para tanto, necessitará seguir as regras ali estabelecidas. Desta forma,
o perito judicial é o indivíduo que possui conhecimentos técnicos especializados em
determinado assunto que lhe confere a capacidade de elaborar um documento que
apresentará posição específica sobre o mesmo.

Ao perito judicial não basta o notório saber em sua especialidade profissional.


Ele deverá manter seu registro profissional junto ao órgão de classe regulador da
profissão (caso haja) em dia. Esses órgãos de classe são os denominados Conselhos
Regionais. Por exemplo, para cuidar do caso que utilizamos para ilustrar uma
situação de litígio, provavelmente o perito deveria ter formação específica em
engenharia civil com especialização em técnicas de produção de materiais
hidráulicos. Nesse caso, além daquele conhecimento profissional, ele também
precisa estar em dia com seu registro no Conselho Regional de Engenharia e
Arquitetura – CREA .

Um perito judicial pode ser requerido tanto por um magistrado


como pelas pessoas que estão envolvidas no conflito judicial que gerou a
necessidade de informações técnicas

Em termos de mercado de trabalho é evidente que há uma demanda por


habilidades específicas por parte das pessoas para que elas consigam desempenhar
as atividades objeto de sua contratação.

Não é diferente com o cidadão que opta por atuar como perito judicial. Aliás,
como se trata de um auxiliar da justiça, as habilidades vão além daquelas que ele já
desenvolveu durante seu curso superior. Para que você tenha uma noção, vamos
relacionar as que são mais destacadas:

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Trata-se de um profissional que deve conseguir atuar no sentido de que as


dúvidas estabelecidas em uma situação sejam devidamente esclarecidas. Assim, a
análise técnica necessária deve ser apresentada em conformidade com o que lhe é
requerido.

É necessário que o perito tenha plena convicção de que erros são inerentes a
qualquer atividade humana. No entanto, é sua responsabilidade por aqueles que
sejam cometidos durante sua atuação.

A capacidade de análise sistêmica é necessária para que a busca por uma


solução coerente seja efetiva. Isso se dá porque não há exatidão em análises periciais
e, assim, os laudos também não o serão. Não há uma lista de quesitos que uma vez
seguidos trarão a resposta absoluta. Por isso, o perito necessita dessa visão sistêmica
que lhe dê a visão de todas as possibilidades de solução.

A mera conclusão de um curso superior seguido de uma pós-graduação não é


suficiente para uma pessoa que opte por ser perito. Esses conhecimentos precisam
ser constantemente atualizados para que o profissional acompanhe as tendências.

Já que é esperado um profissional capaz de vislumbrar as mais variadas


soluções para um conflito, é necessário, também, que ele possa definir qual a
variável melhor se aplica para o caso em análise de maneira rápida e sem abertura
para dúvidas posteriores.

A atuação no mercado de perícias lhe dará um elemento essencial para que


suas habilidades e competências sejam cada vez mais polidas e melhoradas. Trata-
se da experiência que só é adquirida com o uso constante dos conhecimentos obtidos
na prática profissional.

Em um universo de informações tão vasto, é necessário ter a habilidade de


filtrar aquilo que realmente se aplica a uma questão específica. Para tal, o domínio
dos conhecimentos acadêmicos é de grande valia ao trabalho pericial.

O trabalho pericial obedece a uma sistemática ritualística da mesma maneira


que ocorre em pesquisas de campo acadêmicas. Desta forma, a metodologia é uma
ferramenta que dá suporte ao profissional para que ele consiga realizar sua atividade
de maneira objetiva e eficiente.

O profissional perito deve possuir a capacidade de enxergar elementos em um


conteúdo que as partes de um litígio e até mesmo o magistrado não conseguem. É o
famoso “ver fora da caixa”. Isso permitirá que as conclusões do profissional
esclareçam os pontos de dúvida ou criem as provas necessárias.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Já aprendemos que o trabalho de um perito resultará em análises relacionadas


a questões que não são de domínio por parte de quem demanda a atividade pericial.
Em função disso, o profissional deverá ter condições de zelar pelas informações, ter
capacidade de trabalhá-las, saber decidir quando necessário e possuir os demais
elementos de perfil que já discutimos. Justamente por isso, quem conta com esse
tipo de trabalho espera ter uma boa primeira impressão que vem junto com a
apresentação pessoal.

As pessoas que demandam a atividade pericial devem ficar seguras quanto à


capacidade de seus problemas serem resolvidos. Daí surge a necessidade de que o
perito não apenas tenha uma boa apresentação, mas, sobretudo, competência para
trabalhar a questão.

Note que o trabalho pericial será de uma maneira ou de outra, requisitado por
uma pessoa. Dessa forma, torna-se imperioso que o perito tenha condições de lidar
com pessoas nos mais variados níveis.

Perito extrajudicial

Até aqui tivemos a oportunidade de descrever os conceitos que envolvem um


perito de maneira genérica e o perito no contexto judicial. Assim, o perito
extrajudicial será o profissional que atuará dando apoio a ações que não entraram na
tutela do estado por meio do Judiciário.

Tal qual o perito judicial, o profissional que atuar em nível extrajudicial


utilizará seu treinamento técnico e científico para dar suporte no sentido de eliminar
dúvidas ou criar provas relacionadas aos itens elencados pelas partes em torno de
um determinado tema. Para facilitar a visualização é interessante desenharmos um
exemplo:

Um determinado Hotel Y costuma receber uma quantidade de clientes em


nível quase de lotação total durante um certo período sazonal.

Uma vez chegado o período, não se observou redução significante no volume


de hóspedes. Porém, os lucros apurados não condizem com as práticas comuns
daquela época.

Os responsáveis por levantamentos contábeis apresentam dados que dizem


que os valores estão dentro daquilo que era esperado. Contudo, os proprietários não
concordam.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

É definido que haverá a contratação de uma perícia para apurar os ganhos


apurados em função dos números apresentados em relatório.

Uma situação interessante nessa questão é que os proprietários não


prejulgaram seus funcionários. Ao invés disso, resolveram realizar um estudo
externo para fundamentar qualquer tipo de ação futura.

E quem será responsável por realizar esse estudo pericial?

Será o perito extrajudicial. Este ator é um técnico especialista em um assunto


que domina e utilizará seus conhecimentos para criar provas.

Caso você esteja se perguntando se uma atividade realizada fora dos tribunais
poderá acabar parando lá, a resposta é sim!

A questão aqui é que o apoio pericial de um especialista que ocorre antes de


uma controvérsia virar um litígio é realizado por um perito extrajudicial.

A relação entre habilidades e profissional tem o mesmo grau de importância


para o perito extrajudicial que tem para o judicial.

Afinal, o perito é um expert em resolver questões relacionadas a um


determinado assunto e sua atuação dará suporte às necessidades de alguém.

Assim, este profissional precisa de habilidades para atuar nesta área, tais
como:

• Capacidade de esclarecer dúvidas;


• Responsabilidade pelo que concluir;
• Visualização sistêmica do problema;
• Atualização constante de conhecimento;
• Rapidez e solidez na decisão pericial;
• Constância no uso de suas habilidades para obter mais experiência;
• Capacidade de filtrar informações úteis;
• Uso de métodos apropriados;
• Capacidade de enxergar pontos cegos no problema;
• Boa apresentação pessoal;

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

• Poder de passar segurança;


• Capacidade de se relacionar com pessoas.

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ONU. Resolução no 217 A III, de 10 de dezembro de 1948. Declaração Universal


dos Direitos Humanos.

SÁ, A. L. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

AULA 3 - FORMAÇÃO E ONDE ATUA

Olá aluno e aluna, na aula de hoje vamos falar entender quais são os tipos de
formações para ser um perito e onde ele poderá atuar. Bons estudos.

Formação do perito

No decorrer deste material já tivemos a oportunidade de repetir algumas vezes


que o perito é um profissional especializado em determinada área de atuação. Nesse
aspecto, tanto faz o cidadão exercer a atividade de perito judicial como extrajudicial.
De fato, o que se espera dele é aquela expertise no assunto para o qual foi designado.

Do ponto de vista legal, o CPC (Código de Processo Civil), em seu Art. 156,
nos apresenta um perfil para o perito. Vejamos:

Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de
conhecimento técnico ou científico.

1. Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os


órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido
pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado.

2. Para formação do cadastro, os tribunais devem realizar consulta pública, por


meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de grande
circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao
Ministério Público, à Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil,
para a indicação de profissionais ou de órgãos técnicos interessados.

Observe que no parágrafo primeiro do Art. 156 do CPC, o legislador vinculou a


nomeação de um perito a um profissional legalmente habilitado. Nesse ponto é
interessante que você compreenda que para cada profissão regulamentada (aquelas
que possuem Conselhos de Classe) existe uma legislação que irá regê-la. Assim,
caso você tenha curiosidade com relação à habilitação de sua profissão ou de outra
que lhe cause curiosidade, sugerimos pesquisa junto ao Conselho que regulamenta
a mesma.

Assim, considerando o que a lei expressa e o que a atividade pericial demanda de


um perito, podemos inferir que a formação do perito deverá ser aquela relacionada
à demanda para a qual foi nomeado ou contratado, ou seja: Administrador, Contador,
Economista, Engenheiro, Psicólogo etc.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Mercado do perito judicial

Neste ponto você já deve ter concluído que os campos de atuação possíveis
para um perito judicial têm como limite aquilo que o Poder Judiciário poderá
demandar enquanto estiver em procedimento litigioso, correto?

Do ponto de vista prático, o profissional que almeje trabalhar como perito


judicial deve se atentar a alguns elementos que irão tornar a empreitada possível.
Importante mencionar que a relação a seguir é complementar ao que já vimos em
termos de habilidades e competências. Vamos dar uma olhada:

Destarte o fato de um perito judicial poder ser requerido pelas partes, como
veremos mais à frente, ele será um auxiliar do juiz. Dessa forma, é interessante que
o profissional se dirija aos tribunais onde pretende prestar o serviço e conversar com
o magistrado ou com o responsável administrativo pelo local para deixar suas
credenciais e expor onde pode ajudar.

Quando o profissional souber em quais tribunais poderá atuar é interessante


que apresente suas credenciais por escrito. Estamos falando de um currículo com no
máximo 4 páginas a ser entregue pessoalmente.

Apesar o nível de expertise de um magistrado no que diz respeito ao Direito,


ele gosta de trocar ideias e respeita muito os peritos que lhe dão auxílio. Inclusive
repetem as nomeações para situações específicas conforme vai confiando no
profissional. Nesse contexto é interessante o perito realizar visitas constantes onde
se dispôs a ajudar para se manter no circuito.

Como mencionamos acima, é comum que com a repetição de atuações, os


juízes desenvolvam confiança por determinados peritos. Destarte, é comum que
magistrados passem por rodízios entre Tribunais. Considerando isso, é interessante
que o profissional tenha flexibilidade para atuar em outros locais, pois poderá ser
convidado por um juiz em trânsito.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Se você aprofundar um pouco a leitura, perceberá que a justiça brasileira opera


em mais de uma instância. Tirando a Justiça do Trabalho como exemplo, teremos a
primeira instância, a segunda instância, a instância extraordinária (TST) e, em casos
de violação de direitos constitucionais, outra instância extraordinária, desta vez
definitiva, que é o STF. Registre-se que a atuação de um perito se dará apenas em
primeira instância, pois nas demais não há previsão legal para produção de provas
periciais.

Isto posto, considerando a perícia judicial e alguns campos dos mais


recorrentes, o perito poderá se disponibilizar a trabalhar nas áreas que seguem:

Criminal:

O objetivo deste material é falar do perito e seu trabalho e não da perícia,


elemento já tratado em materiais específicos. Contudo, podemos afirmar que no
campo da perícia criminal a Polícia Federal lista alguns temas específicos que podem
contar com a ajuda de um perito judicial. Veja:

• Informática;
• Contabilidade e finanças;
• Documentos;
• Audiovisual e eletrônicos;
• Química forense;
• Engenharia;
• Meio ambiente;
• Genética forense;
• Balística;
• Locais de crimes;
• Bombas e explosivos;
• Veículos;
• Medicina e odontologia forense;
• Patrimônio cultural.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Trabalhista:

Os procedimentos trabalhistas possuem áreas mais objetivas para atuação de


um perito judicial. Nós não temos a intenção de afirmar que é possível esgotar as
possibilidades. Porém, normalmente litígios trabalhistas envolvem uma pessoa que
trabalhou e alguém que contratou seu trabalho. Assim, reiterando que não dá para
dizer que estamos esgotando as possíveis áreas de trabalho de um perito judicial
trabalhista, podemos listar as que seguem como exemplos:

• Cálculos trabalhistas;
• Desvio de função;
• Acidentes do trabalho;
• Doenças do trabalho;
• Trabalho perigoso;
• Trabalho insalubre;
• Assédio moral.

Cível:

Para ilustramos as eventuais atividades de um perito judicial cível precisamos


isolar bem o que as outras áreas do direito trabalham. Desta forma, qualquer
demanda judicial que não envolva questões trabalhistas, criminais, eleitorais,
securitárias ou de qualquer área específica do Direito, será um potencial campo de
trabalho para o perito judicial cível.

Imagine-se em um procedimento aberto em Vara de Família no qual houve


acusação de agressão física e o casal possua um ou mais filhos. A questão que
envolveu a agressão será objeto de perito de corpo de delito e, em função disso,
poderá ser requisitado um perito psicólogo, por exemplo, para definir com quem as
crianças ficarão.

Isso seria um exemplo de atuação mista em um processo.

Para este caso, se não recair em alguma área específica do Direito, um perito
judicial cível poderá auxiliar a justiça a dirimir a questão.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Securitário:

Em geral as áreas onde um perito securitário desempenha suas atividades


estão relacionadas com bens móveis e imóveis. Isso traz para a questão um grau de
subjetividade que não nos permite simplesmente discutir uma lista como fizemos
nos itens anteriores.

Ainda assim, imagine-se em uma situação na qual você tenha adquirido uma
filmadora à prova de água com capacidade para mergulhar até 50m por 1h
ininterruptas. Vamos supor que seu equipamento valha R$ 50.000,00 e, dessa forma,
você optou por realizar um seguro contra danos.

Agora imagine que durante um mergulho de 20 minutos a uma profundidade


de 20m sua filmadora simplesmente queimou por entrada de água.

Você pode achar que simplesmente acionando o seguro você irá conseguir
receber o valor do prêmio, só que não!

Tenha certeza absoluta que a seguradora vai querer um laudo especializado


atestando que o equipamento simplesmente sofreu um mal súbito e que não tem nada
a ver com mal-uso. Se em algum momento aparecer a possibilidade de mal-uso eles
se negarão a pagar o prêmio. O mesmo será feito pela garantia do produto.

Veja que agora tens um problema nas mãos e, com certeza, precisará contratar
um perito para comprovar que você não usou mal o equipamento e sim que ele foi
avariado por um mal súbito ou por defeito de fabricação.

Um perito judicial securitário especializado nesse tipo de equipamento deverá


lhe dar o suporte e o mesmo acontecerá pelo lado da seguradora!

Mercado do perito extrajudicial

Se olharmos para a atividade do perito extrajudicial, a lógica não é muito


diferente do judicial. A única questão específica é que, como está fora do âmbito
judicial, o perito extrajudicial será qualquer pessoa que domine algum tipo de
conhecimento e que conte com o reconhecimento daqueles que estão lhe
contratando.

Uma realidade tem ganhado espaço na solução de conflitos. Trata-se do desejo


das pessoas em resolver as questões com a maior brevidade possível, com

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

objetividade, discrição e de maneira que ninguém saia perdendo. Nosso exemplo do


Hotel é apenas uma possibilidade em um milhão de situações possíveis.

Por isso, da mesma forma que o perito judicial o extrajudicial precisa passar
alguns elementos a título de itens de confiança para o mercado demandante desse
tipo de serviço. A seguir vamos destacar pré-requisitos básicos sem esquecer que,
conforme a especificidade da demanda poderá haver requisitos igualmente únicos a
serem agregados.

Os contratantes de um serviço de perícia extrajudicial o fazem na expectativa


de que o profissional resolva a questão rapidamente e sem margem de contestação.

O profissional contratado para realizar perícia extrajudicial deve conseguir


expressar suas conclusões de forma que os contratantes entendam sem necessidade
de conhecimentos apurados do assunto. Não se trata de evitar elementos científicos,
se trata de concluir com linguagem de fácil acesso.

O que um perito extrajudicial apresentar em seu lado será tratado pelas


pessoas que contrataram seus serviços como a fonte de solução de um problema.
Nada mais natural que os argumentos sejam desenvolvidos com ordem lógica,
trabalhando aquilo que é mais relevante no trabalho em função daquilo que é mais
simples.

O perito extrajudicial deve ter consciência própria de que o conhecimento


nunca é absoluto. Aliás, o contrário é perfeitamente cabível nesse caso. Saber que
seus conhecimentos são limitados ajudará o profissional a buscar todos os elementos
necessários para decisões melhor fundamentadas. As pessoas que irão contratar esse
especialista devem perceber que ele irá até o limite para melhor apresentar suas
conclusões.

Por ser uma atividade que irá apresentar conclusões que podem não ser
satisfatórias para alguma das partes, o perito extrajudicial deve deixar claro aos seus
contratantes que possui perfil imparcial e que não se relaciona pessoalmente com
nenhum caso que venha a trabalhar.

O trabalho de um perito extrajudicial envolve princípios científicos e técnicos


para que uma dúvida se torne esclarecida. Ele não tem a função de apresentar juízo
de valor sobre nada relacionado ao tema que está sob seus cuidados. Em função
disso, a ele cabe meramente estudar e apresentar resultados, ainda que sejam
desfavoráveis a quem lhe contratou.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Não custa reiterarmos a necessidade que o perito extrajudicial tem de sempre


manter seus conhecimentos atuais. Para tanto, será necessário que continue
estudando e aperfeiçoando suas técnicas. Em dado momento ele deverá, inclusive,
se especializar ainda mais em sua área de atuação. Esse perfil fará com que as
pessoas que buscam um profissional especializado tenham mais confiança.

Face ao exposto e considerando as devidas proporções de cada especialidade,


lembrando sempre que o perito extrajudicial trabalha em questões que ainda não
estão sob a tutela do Estado, podemos listar algumas áreas das mais comuns para o
trabalho, conforme abaixo:

• Administração.
• Economia.
• Contabilidade.
• Direito.
• Engenharia.
• Artes.
• Medicina.

Entre outras...

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

BIBLIOGRAFIA

ARAÚJO. S. Conceito e características do processo penal. Revista Duc In Altum –


Caderno de Direito, vol. 5, no 8, jul-dez. 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.


Disponível em: . Acesso em: 20/1/2017.

Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: .


Acesso em: 30/1/2017

Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho.


Disponível em: . Acesso em: 24/1/2017.

Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da


Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 19/1/2017.

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: Acesso em:
26/1/2017.

Lei no 12.008, de 29 de julho de 2009.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL no 1.949/2007. Institui a Lei Geral da Polícia


Civil e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 23/1/2017.

CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Manual de perícia do


administrador.

CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA. Consolidação da regulamentação


profissional do economista.

MORAIS, A. C. S. Perícia judicial e extrajudicial. 2. ed. Brasília: Qualidade, 2004.

ONU. Resolução no 217 A III, de 10 de dezembro de 1948. Declaração Universal


dos Direitos Humanos.

SÁ, A. L. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

AULA 4 - CONTRATAÇÃO DO PERITO


JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL

Olá aluno e aluna, nesta aula vamos entender como é feita a contratação do
perito judicial e extrajudicial. Bons estudos.

Contratação do perito

Vamos começar essa discussão deixando bem claro que, no caso do perito
judicial, não podemos falar em contratação. Trata-se de uma demanda por
nomeação e a indicação poderá ser feita tanto pelo juiz quanto pelas partes.
Contudo, podemos demonstrar as previsões legais de nomeação conforme
veremos a seguir.

Nomeação do perito judicial nas situações mais comuns

Você sabe que cada ramo do Direito possui um regulamento, certo? Pois
bem, isso acaba criando algumas especificidades para cada situação em que um
perito judicial é requisitado para auxiliar a justiça. Vamos ver os mais comuns a
seguir:

Perito criminal:

Já discutimos no decorrer deste material que um perito judicial é acionado


por interesse do magistrado ou das partes para elucidar dúvidas ou criar prova,
não é verdade?

Temos uma peculiaridade no caso do perito criminal. Este profissional


atuará em processo judicial penal e, desta forma, será demandado por uma
instituição pública.

Como se trata de um agente auxiliar da justiça que está à disposição de


polícias diversas e órgãos com o mesmo mote, são aquelas instituições que irão
requisitar o serviço.

Assim, as atividades desempenhadas por um perito criminal serão


provocadas por:
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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

• Autoridades policiais;
• Membros do Poder Judiciário;
• Membros do Ministério Público; e
• Autoridades que desempenhem atividades correlatas às anteriores.

Perito trabalhista:

Quem irá requisitar os serviços de um perito para alguma causa relacionada


ao Direito do Trabalho será a justiça trabalhista. Para não restar dúvidas, vamos
ilustrar apresentando dispositivos legais que tratam o tema:

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a eventualidade de se requerer


um perito por meio de designação ocorre no Art. 195, conforme segue:

Art. 195 - A caracterização e a classificação da insalubridade e da


periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, faziam através de
perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados
no Ministério do Trabalho. (Redação dada pela Lei no 6.514, de 22.12.1977).

Segundo - Arguida em juízo insalubridade ou periculosidade, seja por


empregado, seja por Sindicato em favor de grupo de associado, o juiz designará
perito habilitado na forma deste artigo, e, onde não houver, requisitará perícia ao
órgão competente do Ministério do Trabalho. (Redação dada pela Lei no 6.514,
de 22.12.1977).

A possibilidade de as partes poderem apresentar um profissional perito é


disposta no Art. 826 daquele diploma, conforme abaixo:

Art. 826 - É facultado a cada uma das partes apresentar um perito ou


técnico. (Vide Lei no 5.584, de 1970) O Art. 879 da CLT nos traz mais uma
possibilidade de que a perícia trabalhista seja requerida. Vejamos:

Art. 879 - Sendo ilíquida a sentença exequenda, ordenar-se-á, previamente, a sua


liquidação, que poderá ser feita por cálculo, por arbitramento ou por artigos.
(Redação dada pela Lei no 2.244, de 23.6.1954)

Sexto - Tratando-se de cálculos de liquidação complexos, o juiz poderá


nomear perito para a elaboração e fixará, depois da conclusão do trabalho, o valor
dos respectivos honorários com observância, entre outros, dos critérios de
razoabilidade e proporcionalidade. (Incluído pela Lei no 12.405, de 2011).
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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Por sua vez, a Lei 5.584/1970 apresenta uma outra ocasião em que exames
periciais poderão ser demandados pelo magistrado responsável pelo caso.
Vejamos:

Art. Terceiro: Os exames periciais serão realizados por perito único


designado pelo Juiz, que fixará o prazo para entrega do laudo.

Observe que a exceção é a previsão do Art. 826 da CLT. Nos demais casos,
o perito será requisitado pelo magistrado que cuida do caso.

Perito cível:

As ocasiões em que um perito judicial de causas cíveis será acionado estão


previstas no CPC nos Art. 156, 465 e 471. Como se trata de um tema muito
objetivo, vamos transcrevê-los abaixo:

Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender
de conhecimento técnico ou científico.

Primeiro - Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente


habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro
mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado.

Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará


de imediato o prazo para a entrega do laudo.

Art. 471. As partes podem, de comum acordo, escolher o perito, indicando-


o mediante requerimento, desde que:

• I - Sejam plenamente capazes;

• II - A causa pode ser resolvida por autocomposição.

O interessante do Art. 471 e que vale para qualquer caso de nomeação de um


perito é o que está previsto no inciso “I”. Veja que o instituto demanda que o
perito seja uma pessoa plenamente capaz. Contudo, como já discutimos, não há
uma exigência de que seja formado em curso de nível superior. Isso fica
pressuposto pelo previsto no §1o do Art. 156 quando se menciona que a nomeação
se dará dentre “profissionais legalmente habilitados”.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Ainda assim, essa questão de habilitação é controversa dado que nos dias de
hoje existem muitos cursos técnicos de nível médio que habilitam os profissionais
a exercer determinadas atividades profissionais reguladas por Conselhos de
Classe, mas isso seria discussão para outro momento.

Perito securitário:

Via de regra, processos judiciais que envolvam causas securitárias serão


instruídos no âmbito cível. Sendo assim, já discutimos quem realiza a demanda
desse tipo de procedimento nos tribunais. O grande elemento de diferenciação é
o fato de que o litígio será relacionado com o acionamento de algum seguro. Nisso
teremos o contratante, o contratado e o Estado, ou seja, as mesmas pessoas que
podem demandar perícia conforme previsto no CPC. Lembramos que em
situações nas quais o Ministério Público (MP) age como o demandante do serviço
de um perito, aquele órgão atua na condição de parte. Isso se dá porque no
momento em que apresenta a denúncia passa a fazer parte do polo ativo do
procedimento judicial e, dessa forma, tem todo o direito de demandar perícia.

Perito administrativo:

Tal qual já discutimos nos tipos de peritos anteriores, os atores que irão
requerer os serviços de um perito administrativo serão os mesmos, a citar: o
magistrado e as partes ou órgãos que têm prerrogativa de denunciante.

Contratação do perito extrajudicial:

A primeira conclusão que podemos ter quando falamos em contratação de


um perito extrajudicial é que os termos pelos quais o trabalho será regido deverão
ser registrados em algum documento que regule a transação.

Você pode se questionar se há possibilidade de uma atividade de perícia


extrajudicial ser realizada sem necessidade de formalização contratual.
Entendemos que a resposta seja sim! Contudo, trata-se de um procedimento que
acontecerá fora da tutela do Estado e, desta forma, é interessante que a maneira
como se dará a atividade seja pactuada.

Acreditamos que ninguém gostaria de ser contratado para resolver uma


questão na condição de perito extrajudicial e dessa margem para que alguém,
insatisfeito com algum resultado, o acionasse na justiça, certo?

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Lembram que discutimos que uma das habilidades que se espera de um


perito é que seja zeloso?

Cuidar para que o produto oriundo de seu trabalho seja realizado com uma
margem de segurança é uma forma de zelo.

Assim, ao ser contratado para atuar como perito extrajudicial o profissional


deve incentivar o contratante a emitir o instrumento contratual com, no mínimo:

• Os termos que serão analisados pelo perito;


• O prazo que o perito terá para atender a demanda;
• A previsão da criação de um plano de ação por parte do perito; e
• Eventuais produtos acessórios que o perito deverá entregar com o laudo.

Para ilustrar uma situação em que pode ocorrer a contratação de um perito


extrajudicial, vamos nos utilizar de um procedimento adotado pela administração
pública em seus contratos. Trata-se da possibilidade de sancionar
administrativamente os fornecedores que desobedecerem a alguma cláusula do
contrato.

Nesse caso, haverá um servidor da administração que demandará o


procedimento, que será julgado por outro servidor. A questão é que naqueles
casos, também, o reclamado tem direito ao devido processo legal.

Assim, terá direito a defesa em três instâncias e, eventualmente, poderá


contratar um perito que ateste seus argumentos com o objetivo de não ser
sancionado extrajudicialmente.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

BIBLIOGRAFIA

ARAÚJO. S. Conceito e características do processo penal. Revista Duc In Altum


– Caderno de Direito, vol. 5, no 8, jul-dez. 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de


1988. Disponível em: . Acesso em: 20/1/2017.

Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em:


. Acesso em: 30/1/2017

Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho.


Disponível em: . Acesso em: 24/1/2017.

Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da


Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 19/1/2017.

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: Acesso


em: 26/1/2017.

Lei no 12.008, de 29 de julho de 2009.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL no 1.949/2007. Institui a Lei Geral da Polícia


Civil e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 23/1/2017.

CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Manual de perícia do


administrador.

CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA. Consolidação da regulamentação


profissional do economista.

MORAIS, A. C. S. Perícia judicial e extrajudicial. 2. ed. Brasília: Qualidade,


2004.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

AULA 5 - PARA ATUAR COMO PERITO E


REMUNERAÇÃO
Olá aluno e aluna, na aula de hoje vamos entender como funciona a
remuneração do perito extrajudicial e judicial e como eles atuam. Bons estudos.

Cadastro de peritos em tribunais

No decorrer deste material mostramos que o perito judicial pode ser requerido
tanto pelo juiz como pelos envolvidos em um litígio vamos rever o artigo do CPC que
dá a prerrogativa ao magistrado e mais um em sequência para podermos discutir esse
tópico:

Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de
conhecimento técnico ou científico.

1° Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os


órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo
tribunal ao qual o juiz está vinculado.

2° Para formação do cadastro, os tribunais devem realizar consulta pública, por


meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de grande
circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao
Ministério Público, à Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a
indicação de profissionais ou de órgãos técnicos interessados.

3° Os tribunais realizarão avaliações e reavaliações periódicas para


manutenção do cadastro, considerando a formação profissional, a atualização do
conhecimento e a experiência dos peritos interessados.

4° Para verificação de eventual impedimento ou motivo de suspeição, nos


termos dos arts. 148 e 467, o órgão técnico ou científico nomeado para realização da
perícia informará ao juiz os nomes e os dados de qualificação dos profissionais que
participarão da atividade.

5° Na localidade onde não houver inscrito no cadastro disponibilizado pelo


tribunal, a nomeação do perito é de, livre escolha, pelo juiz e deverá recair sobre
profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente detentor do
conhecimento necessário à realização da perícia.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
Art. 157. O perito tem o dever de cumprir o ofício no prazo que lhe designar o
juiz, empregando toda sua diligência, podendo escusar-se do encargo alegando
motivo legítimo.

1° A escusa será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, contado da


intimação, da suspeição ou do impedimento supervenientes, sob pena de renúncia ao
direito a alegá-la.

2° Será organizada lista de peritos na vara ou na secretaria, com


disponibilização dos documentos exigidos para habilitação à consulta de interessados,
para que a nomeação seja distribuída de modo equitativo, observadas a capacidade
técnica e a área de conhecimento.

Você poderá perceber, analisando os parágrafos 1, 2, 3 e 5 do Art. 156, que o


legislador teve preocupação especial com a questão do cadastro dos peritos.

Já o parágrafo 2o do Art. 157 menciona a lista de peritos que será organizada.

Ocorre que de maneira específica não há uma indicação de como exatamente


esse cadastro será feito, quem o fará, quando e outros regramentos. Pensando nisso, o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emitiu a Resolução n° 233 de 13 de julho de
2016.

Desta forma, vamos utilizar aquele instituto para compreendermos esse tópico.
Trata-se de um documento emitido com 16 artigos sequenciais sobre cadastro de
peritos e institutos no âmbito do poder judiciário para atuar como auxiliares da
Justiça.

Para facilitar a compreensão, vamos perpassar aqueles mais relevantes em


tópicos, apresentando nossa compreensão de cada um:

» No primeiro artigo é determinado que os tribunais do Brasil criarão cadastro


eletrônico de peritos e órgãos daquela natureza para gerenciar e escolher o
auxiliar de determinado processo.

» O cadastro denominado CPTEC (Cadastro Eletrônico de Peritos de Órgãos


Técnicos ou Científicos) será alimentado com aqueles que estiverem em
condições de dar apoio à justiça.

» O cadastro será formado por pessoas indicadas por entidades, órgãos de classe,
órgãos públicos e por chamamento público por meio de consulta pública.

» Os requisitos serão dispostos em edital a ser publicado pelo tribunal.

2
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
» Os profissionais aptos a atuar terão seus nomes disponibilizados em lista.

» Os dados pessoais e profissionais dos peritos ficarão à disposição de


interessados em serviço de perícia.

» Quem quiser prestar apoio à justiça na condição de perito deverá atender a


todos os requisitos previstos em edital.

» Os dados do interessado serão preenchidos em local específico do sítio do


tribunal e será de responsabilidade daquele.

» A veracidade dos dados será de inteira responsabilidade de quem os fornece.

» A atuação de um perito como auxiliar de justiça não gera vínculo de emprego.

» Cadastros que existiam antes da resolução 233 continuam valendo caso não
conflitem com ela.

» São os tribunais que validam a documentação apresentada pelos interessados e


isso poderá ser realizado por meio de comissão provisória específica para tal. Os
dados deverão ser constantemente atualizados pelo tribunal.

» Salvo o previsto no §5o do Art. 156 do CPC, só poderá atuar como perito
profissional cadastrado.

» Se o perito for escolhido pelas partes do litígio na forma do Art. 471 do CPC,
aquele se sujeitará ao que está previsto na resolução 233.

» Caso o previsto na resolução 233 seja descumprido o perito ou entidade poderá


ser suspenso ou excluído do cadastro por até 5 anos respeitados a ampla defesa e
o contraditório.

» Exceto por determinação contrária do magistrado, mesmo que suspenso ou


excluído do cadastro, o profissional deverá concluir suas atividades nos
processos para os quais tenha sido designado.

» Para permanecer cadastrado o profissional deverá estar com plenas condições


por parte de seu Conselho Fiscalizador.

» É dos Conselhos a responsabilidade de comunicar eventuais situações que


impeçam o profissional de exercer suas atividades.

» Qualquer comunicado sobre o profissional que parta de um Conselho deverá


ser registrado no CPTEC.
3
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

» No ato da atualização do registro os interessados devem informar se atuaram


como assistentes, em quais processos atuaram e onde.

» É do juiz a competência para nomear um perito cadastrado.

» Nada impede o juiz de selecionar peritos dentre aqueles cadastrados nos quais
já possui ampla confiança.

» Caso haja determinado grau de parentesco ele deverá ser informado ao


magistrado como fator de impedimento à atuação como perito no caso.

» Se o perito tiver atuado como assistente de qualquer das partes no prazo de três
anos ficará impedido de atuar.

» Os peritos ou entidades de perícia cadastrados terão seus dados


disponibilizados acrescidos de processos nos quais atuaram e valores dos
serviços.

» Ainda que a pessoa ou entidade detenham o conhecimento para atuar em um


processo deverão estar devidamente cadastrados.

» Caso haja um procedimento para o qual o cadastro não possua nenhum


profissional especializado o juiz poderá lançar mão de um que tenha e que não
esteja no cadastro.

» Uma vez nomeado, o profissional ou entidade deverá se cadastrar.

» Caso o juiz entenda possível e, desde que justifique, poderá substituir o perito.

O Art. 12 da Resolução 233 nos traz o rol de deveres do perito e, desta forma,
vamos transcrever para facilitar a compreensão:

Art. 12. São deveres dos profissionais e dos órgãos cadastrados nos termos
desta Resolução:

I – atuar com diligência;

II – cumprir os deveres previstos em lei;

III – observar o sigilo devido nos processos em segredo de justiça;

4
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
IV – observar, rigorosamente, a data e os horários designados para a realização
das perícias e dos atos técnicos ou científicos; V – apresentar os laudos periciais e/ou
complementares no prazo legal ou em outro fixado pelo magistrado;

VI – manter seus dados cadastrais e informações correlatos anualmente


atualizados;

VII – providenciar a imediata devolução dos autos judiciais quando


determinado pelo magistrado;

VIII – cumprir as determinações do magistrado quanto ao trabalho a ser


desenvolvido;

IX – nas perícias:

a) responder fielmente aos quesitos, bem como prestar os esclarecimentos


complementares que se fizerem necessários;

b) identificar-se ao periciando ou à pessoa que acompanhará a perícia,


informando os procedimentos técnicos que serão adotados na atividade pericial;

c) devolver ao periciando ou à pessoa que acompanhará a perícia toda a


documentação utilizada.

» Uma vez nomeado o perito se obriga a concluir a tarefa salvo as possibilidades


previstas em lei.

» Salvo em situações nas quais a parte responsável pelo pagamento da perícia


tiver a prerrogativa de gratuidade, um servidor não poderá atuar como perito.

» Os elementos discutidos até aqui não possuem efeito anterior (ex tunc).

» A resolução entrou em vigor em 14/10/2016.

Veja que o CNJ buscou ser conciso, porém amplo em especificar a forma como
os profissionais peritos poderiam ser cadastrados para dar suporte à justiça quando
requeridos por magistrados ou pelas partes.

Honorários em perícias

Como calcular você já deve ter se questionado algumas vezes sobre a validade
de atuar como um perito certo?

5
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
São muitos elementos complexos em torno da atividade e certamente hão de
existir diversas responsabilidades envolvidas, ou seja, vale a pena?

Honorários do perito judicial

Podemos dizer que valerá a pena conforme você amplie sua capacidade de
realizar perícias com precisão e reiterar sua participação.

Ora, não discutimos que um perito é um profissional que será especialista em


alguma atividade?

Também não vimos que deverá ser habilitado para ser demandado por um juiz
ou pelas partes em um procedimento judicial?

Muito bem! Justamente por ter que ser expert em algo e necessitar de uma
habilitação que o legislador previu que sua atuação deverá ser remunerada. Vamos
ver o que o CPC nos ensina a respeito desse assunto:

O Art. 95 apresenta situações de custeio dos honorários do perito, veja:

Art. 95. Cada parte adiantará a remuneração do assistente técnico que houver
indicado, sendo a do perito adiantada pela parte que houver requerido a perícia ou
rateada quando a perícia for determinada de ofício ou requerida por ambas às partes.

1° O juiz poderá determinar que a parte responsável pelo pagamento dos


honorários do perito deposite em juízo o valor correspondente.

2° A quantia recolhida em depósito bancário à ordem do juízo será corrigida


monetariamente e paga de acordo com o art. 465,

3° Quando o pagamento da perícia for de responsabilidade de beneficiário de


gratuidade da justiça, ela poderá ser:

I - custeada com recursos alocados no orçamento do ente público e realizada


por servidor do Poder Judiciário ou por órgão público conveniado;

II - paga com recursos alocados no orçamento da União, do Estado ou do


Distrito Federal, no caso de ser realizada por particular, hipótese em que o valor será
fixado conforme tabela do tribunal respectivo ou, em caso de sua omissão, do
Conselho Nacional de Justiça.

Agora observe que o mesmo artigo que dá ao juiz o poder de nomear um perito
com um prazo fixo para entregar laudo dá ao perito a prerrogativa de apresentar sua
6
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
proposta de honorários. Veja que essa proposta será participada aos envolvidos: Art.
465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o
prazo para a entrega do laudo

2° Ciente da nomeação, o perito apresentará em 5 (cinco) dias: I - proposta de


honorários;

3° As partes serão intimadas da proposta de honorários para, querendo,


manifestar-se no prazo comum de 5 (cinco) dias, após o que o juiz arbitrará o valor,
intimando-se as partes para os fins do art. 95.

4° O juiz poderá autorizar o pagamento de até cinquenta por cento dos


honorários arbitrados a favor do perito no início dos trabalhos, devendo o
remanescente ser pago apenas ao final, depois de entregue o laudo e prestados todos
os esclarecimentos necessários.

O texto legal não estipula um teto ou um valor mínimo para que o perito
desempenhe seus trabalhos. O que temos muito no mercado são entidades ligadas a
alguma profissão que, no intuito de dar apoio aos profissionais da categoria, regulam
tabelas de honorários para atividades diversas.

Bibliografia

ARAÚJO. S. Conceito e características do processo penal. Revista Duc In Altum –


Caderno de Direito, vol. 5, no 8, jul-dez. 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.


Disponível em: . Acesso em: 20/1/2017.

Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: .


Acesso em: 30/1/2017

Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho.


Disponível em: . Acesso em: 24/1/2017.

Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da


Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 19/1/2017.

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: Acesso em:
26/1/2017.

Lei no 12.008, de 29 de julho de 2009.


7
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL no 1.949/2007. Institui a Lei Geral da Polícia


Civil e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 23/1/2017.

CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Manual de perícia do


administrador.

CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA. Consolidação da regulamentação


profissional do economista.

MORAIS, A. C. S. Perícia judicial e extrajudicial. 2. ed. Brasília: Qualidade, 2004.

8
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

AULA 6 - O ASSISTENTE TÉCNICO


Assistente técnico pericial roteiro de atuação

Como já foi mostrado, o perito é nomeado pelo juiz, ainda que seja escolhido
pelas partes, conforme previsto no Art. 465 do CPC. Contudo, o parágrafo primeiro
daquele instituto dá às partes a possibilidade de, caso entendam necessário, indicar o
assistente técnico da atividade.

Vejamos:

Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de


imediato o prazo para a entrega do laudo.

1° Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do


despacho de nomeação do perito:

II - indicar assistente técnico; Dependendo do nível de complexidade da


atividade, que pode requerer a participação de mais de um profissional perito, o
magistrado poderá requerer isso e, em contrapartida, as partes poderão indicar mais
de um assistente técnico conforme Art. 475 do CPC.

Já sabemos que o perito tem prazos estipulados para apresentar seu laudo.
Ocorre que as partes têm possibilidade de pedir a seus assistentes técnicos que
avaliem aquele laudo que poderá, inclusive, ser divergente da opinião do perito em
seu parecer.

Art. 477. O perito protocolará o laudo em juízo, no prazo fixado pelo juiz, pelo
menos 20 (vinte) dias antes da audiência de instrução e julgamento.

1° As partes serão intimadas para, querendo, manifestar-se sobre o laudo do


perito do juízo no prazo comum de 15 (quinze) dias, podendo o assistente técnico de
cada uma das partes, em igual prazo, apresentar seu respectivo parecer.

2° O perito do juízo tem o dever de, no prazo de 15 (quinze) dias, esclarecer


ponto:

II - divergente apresentado no parecer do assistente técnico da parte. Um ponto


importante que deve ser discutido é que os valores referentes aos honorários do
assistente técnico deverão ser adiantados pela parte que o houver requisitado,
conforme disposto no Art. 95 do CPC.
1
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

O CPC dá algumas prerrogativas ao perito para que ele consiga desempenhar


sua atividade de maneira consistente. Como o ordenamento jurídico brasileiro é todo
voltado ao devido processo legal, o assistente técnico acaba tendo prerrogativas
semelhantes para poder trabalhar.

Veja o que diz o parágrafo terceiro do Art. 473 do CPC:

3° Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos podem


valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações,
solicitando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições
públicas, bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos,
fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da perícia.

Discutidos esses elementos legais, vamos nos ater agora a apresentar um


procedimento de trabalho do assistente técnico em perícia, levando em consideração
a atuação daquele profissional em atividades de perícia da Ciência da Administração.
Evidente que, se você for analisar a atuação de um Contador ou de um Médico
encontrará peculiaridades inerentes àquelas profissões.

Contudo, o modelo que apresentaremos pode ser utilizado tranquilamente por


qualquer especialidade.

Conceitualmente falando, por força de lei, o assistente técnico em perícia que


atuar no campo da Administração deverá ser um profissional registrado em Conselho
de Classe, detentor de curso superior (bacharelado ou tecnólogo) reconhecido pelo
Ministério da Educação.

Em caso de empresas que prestem serviço de perícia, a lei permite que um


sócio atue na condição de assistente, desde que o objeto da mesma seja voltado
àquela atividade.

A realização do trabalho

Vejamos agora como é a atuação de um assistente técnico em perícia


considerando que ele estivesse atuando em um procedimento demandado para dirimir
algum tipo de dúvida ou criar provas relacionadas aos campos previstos na
Administração.

●O passo zero da atuação de um assistente técnico é o momento em que a parte


interessada requer sua contratação.

2
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
●Na sequência, o assistente deve tomar conhecimento do procedimento pericial
em curso.

●É uma prerrogativa do assistente manter contato com o Advogado da parte que


tenha requisitado seus serviços para obter daquele os elementos processuais de
maneira a conhecer o que foi tratado até ali no processo.

●Uma vez tomada ciência do que está sendo trabalhado, o assistente pode (e
deve) manter contato com o perito oficial com o objetivo de participar do
planejamento das atividades e para disponibilizar documentos que o contratante
lhe tenha confiado.

●É interessante que o assistente sugira ao perito oficial que a perícia ocorra


conjuntamente.

●Caso o assistente técnico entenda necessário dar vista ao processo deverá


cuidar para sua perfeita guarda e manter a documentação segura.

●É dever do assistente técnico cuidar para que os prazos estabelecidos pelo


magistrado sejam obedecidos.

●O assistente técnico não poderá extrapolar os pontos de divergência ou as


requisições de provas previstas no processo.

●Caso o assistente técnico necessite apreciar documentos para realizar sua


atividade, deverá requerê-los por meio de um termo de diligência.

●Caso uma diligência seja frustrada por recusa, o assistente técnico dará ciência
justificada ao juiz (perícia judicial) ou à parte (extrajudicial).

●O CPC dá ao assistente técnico a prerrogativa de utilizar de todos os meios


previstos em lei para realizar suas atividades.

●O assistente técnico deverá registrar os locais e quando ocorreram suas


diligências bem como pessoas envolvidas, material bibliográfico, situações
observadas, informações e peculiaridades inerentes ao caso. Esses elementos
deverão ser firmados para possuir fé pública.

●Caso haja atividades de uma equipe durante a perícia, o assistente técnico


poderá supervisionar os trabalhos e cuidar para que os envolvidos tenham a
qualificação necessária.

3
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
●Considerando as Resoluções que regulam a atividade profissional, o assistente
técnico deverá relacionar todas as informações que utilizou para fundamentar os
argumentos apresentados em seu parecer.

●As informações mencionadas no item anterior recebem a nomenclatura de


“papéis de trabalho”. Esse material é a união organizada das provas, termos de
diligência, estudos documentais, estudos em mídia digital, documentos técnicos,
documentos iconográficos, missivas, relatos de pessoas, troca de informações ou
qualquer outro elemento que possa gerar ou apoiar a geração de provas.

●O assistente técnico que der suporte em estabelecimento de planos de trabalho


para que o objeto de sua contratação seja atendido deve se balizar em manual da
categoria profissional.

●O assistente deverá preparar e entregar seu parecer pericial tão logo as


diligências que entenda necessárias sejam concluídas. Não se pode esquecer que
haverá um prazo estipulado para isso.

●Se houver acordo entre o assistente técnico e o perito oficial para que eventuais
diligências ocorram conjuntamente, a data de entrega do laudo por parte do perito
deverá ser informada ao assistente.

●Caso o perito oficial não seja devidamente reconhecido pelo Conselho de


Classe do assistente técnico, este não poderá assiná-lo e tampouco apresentar
parecer sobre o documento. Destarte, produzirá laudo de sua área de atuação a
respeito do objeto da perícia.

●Se o assistente técnico optar por firmar o parecer do perito oficial, fica
impedido de opinar contrariamente àquele documento.

●Caso seja necessário, o termo de diligência poderá ser emitido pelo assistente
técnico, será entregue com recebimento registrado e apresentará tudo o que
norteará a produção do parecer.

●Todas as pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas que em virtude da


lei se obriguem a colaborar com os trabalhos de um assistente técnico são
denominadas “diligenciadas”.

●Em todas as oportunidades que a manifestação do assistente técnico recaia em


informação de prazos, ele deverá se ater ao prazo legal estabelecido pelo
magistrado como o limite para conclusão da atividade.

4
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
●Caso seja necessário emitir um termo de diligência é desejável que ele
contenha tudo o que for preciso para o assistente técnico consiga produzir seu
parecer ao final da atividade contratada.

●O parecer do assistente técnico deverá ter como anexo os vistos dos


diligenciados que tiverem colaborado com a perícia.

●O parecer deverá conter, também, o registro de sucesso ou não enquanto o


assistente estava buscando dados para compor as provas de seu trabalho.

●Uma vez denegada a colaboração de algum diligenciado o assistente técnico se


obriga a informar as partes responsáveis por sua contratação no sentido de que se
isente de responsabilidade por omissão de elementos essenciais à emissão de seu
parecer.

●A responsabilidade por um documento assinado conjuntamente pelo perito


oficial e pelo assistente técnico é solidária.

●Em seu parecer o assistente técnico irá registrar contextualmente todos os


elementos e particularidades que envolverão a realização de sua tarefa com o
objetivo de atender o motivo de sua contratação.

●As conclusões do parecer do assistente técnico deverão ser produzidas de modo


a facilitar o entendimento e a absorção das informações

●O parecer emitido pelo assistente técnico contará, além do que já foi visto, com
metodologias aplicadas durante o trabalho, os critérios de pesquisa,
fundamentação de todos os resultados, tudo de maneira lógica e sequenciada para
facilitar a compreensão.

●É vedado ao assistente técnico lançar dados manuscritos em seu parecer uma


vez que isso invalidará o instrumento.

●Evidentemente o trabalho do assistente técnico se balizará em dados científicos


e eventuais termos técnicos deverão ser utilizados, contudo, isso não deve ser
óbice à compreensão por parte de quem ler o parecer. Em função disso, o
documento deverá ser produzido em linguagem universal para que qualquer
pessoa consiga interpretar os resultados e argumentos. De forma alguma a
necessidade de uma linguagem de fácil compreensão deverá vir acompanhada
pelo desprezo às normas técnicas para produção daquele tipo de documento.

5
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
●Caso o assistente técnico não tenha alternativa com relação ao uso exacerbado
de termos técnicos, que o faça partindo daqueles que são mais comuns. É
desejável que seja apresentado um glossário.

●Destarte o fato de o parecer precisar ser escrito de maneira clara, objetiva,


técnica e profissional e, com isso, poder ser compreendido por qualquer parte
interessada, o que vier descrito nele jamais poderá suscitar outras dúvidas. Isso
fatalmente produziria um efeito ruim ao documento podendo, inclusive, levar as
pessoas ao erro.

●Outra preocupação que o assistente deverá ter em seu parecer é a de utilizar o


idioma português para se expressar. É cabível utilizar-se de idiomas aos quais o
poder judiciário está habituado como, por exemplo, o latim.

●Todas as conclusões, esclarecimentos de dúvidas e produção de provas de um


parecer serão acompanhados daquilo que o fundamenta.

●A emissão do parecer por parte do assistente técnico ficará sujeita a algum tipo
de discordância em relação ao laudo emitido pelo perito oficial. Caso o assistente
concorde com o que estiver disposto no laudo, deverá protocolizar os termos de
sua opinião e comunicar sua decisão a quem o contratou.

●Em respeito ao código de ética de sua profissão, o assistente técnico jamais


deverá apresentar qualquer tipo de opinião relativa ao perito oficial que tenha
emitido laudo. Sua análise deverá se ater exclusivamente aos itens para os quais
foi contratado.

●Ao apresentar discordância com os dados apresentados pelo perito oficial, o


assistente técnico deverá justificar sua posição a partir da reiteração do item com
o qual não concordou.

●O assistente técnico deverá atentar-se a alguns elementos básicos quando


apresentar as considerações finais de seu parecer:

› Caso haja apresentação de a quem pertence determinado bem, conclusão de


procedimento com depósito final da sentença, encerramento de sociedades,
reavaliação de bens e semelhantes, o parecer poderá conter valores descritos.

› É possível que cada um dos contratantes do assistente técnico apresente suas


próprias teorias em torno do problema. Nessa circunstância é possível que o
profissional acate uma ou outra, desde que justifique sua opção não ficando nenhuma
margem de pessoalidade ou vínculo sentimental.

6
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
› Como vimos o parecer deverá se ater aos elementos específicos de análise
propostos pelos contratantes. O texto final do assistente poderá remeter àqueles
elementos como fundamentação para suas conclusões.

› Já sabemos que, eventualmente, poderá haver valores apresentados nas


considerações finais, contudo, via de regra, esse texto deve ser simples e objetivo
deixando claro as conclusões relacionadas aos elementos estudados durante a perícia.

●Do ponto de vista estrutural o parecer do assistente técnico não poderá deixar
de considerar os seguintes elementos:

› Identificação dos autos processuais e dos contratantes.

› Resumo dos elementos que estão sob análise.

› Método utilizado para realizar as atividades de perícia.

› Descrição de todas diligências realizadas. › Descrição dos elementos


analisados e suas respostas com as devidas fundamentações relacionadas ao que
diverge do laudo oficial.

› Considerações finais.

› Firma do assistente técnico com os dados profissionais inerentes como:


registro profissional, sigla da profissão etc.

Você deve ter observado que o roteiro apresentado acima é deveras


completo. Justamente por isso entendemos que, realizadas as devidas
adaptações, ele pode ser aplicado a assistentes técnicos de qualquer profissão.
Ademais, tal roteiro também pode ser utilizado por Peritos Oficiais respeitados
os ajustes de nomenclatura e documentações.

Bibliografia

ARAÚJO. S. Conceito e características do processo penal. Revista Duc In Altum –


Caderno de Direito, vol. 5, no 8, jul-dez. 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.


Disponível em: . Acesso em: 20/1/2017.

Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: .


Acesso em: 30/1/2017

7
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho.
Disponível em: . Acesso em: 24/1/2017.

Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da


Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 19/1/2017.

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: Acesso em:
26/1/2017.

Lei no 12.008, de 29 de julho de 2009.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL no 1.949/2007. Institui a Lei Geral da Polícia


Civil e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 23/1/2017.

CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Manual de perícia do


administrador.

CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA. Consolidação da regulamentação


profissional do economista.

MORAIS, A. C. S. Perícia judicial e extrajudicial. 2. ed. Brasília: Qualidade, 2004.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

AULA 7 - ATUAÇÃO DO PERITO EM TRIBUNAIS

Olá aluno e aluna, nesta aula vamos apresentar um fluxo de atuação padrão
adotado em tribunais.

Fluxo de atuação

Você poderá observar que não é algo estanque, mas certamente favorece um
trabalho mais eficiente por parte de um perito, considerando seu papel de auxiliar da
justiça. Registre-se que não vamos nos ater a questões relacionadas aos deveres, uma
vez que serão tratados na próxima unidade. Sendo assim, vamos fazer nosso fluxo:

➢ O primeiro passo é o perito ser nomeado pelo juiz ou a pedido das partes.

➢ Uma vez nomeado o perito deverá requerer os autos para estudá-los no sentido
de verificar se ele é apto a assumir a atividade.

➢ Uma vez denegado, o serviço o perito deverá interpor petição justificando o


motivo.

➢ Aceito o serviço, o perito deverá planejar as atividades considerando todos os


elementos que podem interferir na conclusão dos trabalhos e interpor petição
que apresente seus honorários.

➢ Ademais, a aceitação da perícia vincula o perito aos prazos determinados pelo


juízo.

➢ O profissional deverá analisar os autos para obter todas as informações


necessárias ao desenvolvimento das atividades periciais

➢ Caso o magistrado determine que sejam realizadas diligências para análise de


processos o perito deverá realizar planejamento de pesquisa juntamente com o
mesmo no sentido de que o trabalho seja mais efetivo.

➢ Uma vez as partes optando por contratar assistentes técnicos, o perito deverá
contatá-los no sentido de que os autos sob sua guarda sejam disponibilizados
àqueles para apreciação.

➢ As primeiras atividades de diligência por parte do perito serão compostas de


reunião informações documentais que poderão ser requeridas mediante termo de
diligência.

1
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
➢ Eventuais negativas em fornecer informações deverão ser devidamente
registradas e peticionadas ao magistrado.

➢ O perito poderá contratar apoio para realizar suas atividades, no entanto qualquer
atuação que envolva diligência ou emissão do laudo deverão ser realizadas sob
sua supervisão direta.

➢ Eliminando qualquer possibilidade de ilação ou suposições, o perito deverá


descrever em seu laudo os fatos apurados e as justificativas objetivas de suas
argumentações em torno dos elementos sob estudo.

➢ Após a etapa de diligência, o profissional deverá preparar seu laudo de maneira


completa e conclusiva. Caso eventual assistente discorde de sua posição aquele
deverá preparar um parecer à parte apresentando seus argumentos.

➢ O documento emitido pelo perito denominado “laudo pericial” é uma peça


jurídica que irá não apenas dirimir dúvidas relacionadas a quesitos que
demandem conhecimento específico de determinada área como, também,
compor prova nos autos.

➢ O laudo deverá ser confeccionado em vernáculo, com expressões objetivas e


claras de seu entendimento, evitando implantação de estilo pessoal que denote
falta de impessoalidade ou inserção sentimental por parte do perito.

➢ Ainda na confecção do laudo, objetivando um padrão no documento, é


necessário que a ordem em que os elementos de estudo foram apresentados seja
respeitada quando da apresentação das respostas elaboradas pelo perito.
Ademais, caso existam, todos os documentos comprobatórios de argumentos
(fotos, mapas, artigos etc.) devem ser devidamente apresentados em conjunto
com os elementos que os demandaram.

➢ No ato de apresentar as respostas inerentes aos elementos em análise o perito


jamais deverá apresentar respostas simbólicas do tipo (é ou não é). Isso não quer
dizer que o texto não deva ser objetivo e claro.

➢ O laudo deverá ser devidamente revisado antes que o perito judicial firme o
documento.

➢ Uma vez concluída a emissão do laudo pericial o profissional responsável deverá


peticionar seu envio ao magistrado responsável pelo caso no qual está auxiliando
a petição mencionará que aquele documento fará parte dos autos do processo.

➢ Uma vez entregue o laudo pericial o perito requererá que seus honorários sejam
arbitrados fundamentando-se no levantamento inicial e nas despesas realizadas
2
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
durante o procedimento. Os valores deverão ser repassados no âmbito judicial,
nunca diretamente com as partes.

➢ O perito deve recorrer sempre que entenda que os valores pagos não
correspondem o nível de complexidade da atividade desempenhada podendo
alegar ao magistrado, inclusive, falta de respeito com sua posição profissional.

Roteiro de atuação do perito extrajudicial

Até aqui já tivemos a oportunidade de aprender que o perito extrajudicial será


contratado para atuar antes que um conflito se torne um litígio. Da mesma forma, as
mais diversas especialidades poderão ser acionadas com o objetivo de ajudar o
esclarecimento de dúvidas ou mesmo de criar prova.

Já aprendemos também que esses profissionais são, via de regra, vinculados a


Conselhos de Classe, os quais buscam dar apoio aos seus profissionais.

Uma das atividades de apoio é justamente desenhar uma forma de atuação na


condição de peritos ou assistentes peritos. Considerando que não temos no
ordenamento jurídico brasileiro um instrumento legal que regule a atuação do perito
extrajudicial, temos nas resoluções dessas entidades de fiscalização um ponto de
referência para poder trabalhar esse tópico.

E assim o faremos. Vale reiterar que, como são vários órgãos de classe para
várias profissões, eventualmente alguns terão situações específicas. Destarte, caso você
se interesse em comparar, notará que existe uma lógica no roteiro de atuação de todas
elas. Baseado nisso, iremos preparar o nosso próprio roteiro que é composto por:

➢ planejamento da perícia;
➢ execução da perícia;
➢ preparação do laudo; e
➢ fluxo de procedimentos.

Etapas da perícia Antes de apresentarmos o roteiro proposto, discutiremos sobre as


etapas de uma perícia.

Trata-se da processualização da atividade que irá tornar seu planejamento e demais


tópicos do roteiro passíveis de realização.

Etapa preliminar: Na etapa preliminar teremos a situação na qual alguém está


necessitando de apoio técnico para dirimir alguma dúvida ou compor uma prova. Dessa

3
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
forma, um profissional será contratado e preparará o seu planejamento, bem como
apresentará os montantes de seus honorários.

Etapa de operacionalização: Durante a etapa de operacionalização da demanda, o


profissional contratado irá, baseado em seu planejamento, realizar as atividades
necessárias com o objetivo de levantar as informações que irão fundamentar seus
argumentos para atender a demanda do contratante.

Etapa de encerramento: Por fim, na etapa de encerramento, o perito assinará o laudo


resultante da perícia realizada, será pago pelos serviços prestados e prestará os
esclarecimentos que forem solicitados por parte daqueles que tomaram seus serviços.
Planejando a perícia pode parecer repetitivo, mas o planejamento é uma atividade que
irá permitir ao profissional em perícia extrajudicial a realização de um trabalho fluído,
com menor margem de desorganização e, em consequência, maior possibilidade de
efetividade.

Não devemos esquecer que um perito é, fundamentalmente, um profissional


especializado e dele se espera alto nível de resposta. Evidente que, quanto maior for o
nível de resposta de um profissional perito, mais vezes ele será requisitado por
contratantes.

Quanto mais vezes dele for requisitado, maior será sua experiência e tudo vai se
alinhando para que a tarefa não seja apenas um “bico” e sim uma atuação profissional
de alto gabarito e “rentável”. Feitas essas considerações, vamos elencar quais são os
elementos essenciais para que o planejamento da perícia seja eficiente:

➢ O primeiro passo é o perito acessar todos os fatores que levaram o seu


contratante a ter a dúvida ou a necessidade de montar prova.

➢ Em seguida, o profissional precisa demonstrar aos seus contratantes que está


ciente do grau de complexidade do serviço. Para tal ele poderá relatar seu
entendimento aproveitando o ensejo para, caso haja, apresentar os vínculos
legais existentes com a demanda que lhe foi passada.

➢ O profissional perito deverá relacionar aqueles elementos sem os quais sua


atividade não será concluída. Ele pode detalhar informações essenciais,
diligências necessárias, pesquisas etc. O objetivo é apresentar o elemento e como
efetivamente ele será disponibilizado ou alcançado.

➢ O trabalho pericial poderá depender de vários fatores para ser concluído. O


perito, então, deve deixar esses fatores claros para que sejam providenciados tais
quais: transporte, viagens, equipamentos, traduções etc.

4
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
➢ O planejamento, como vimos, é um meio que permitirá o profissional perito
trabalhar de maneira organizada, aumentando a probabilidade de efetividade
durante a perícia. Contudo, ele é um meio e não um fim. Será necessário
trabalhar um plano que demonstre como o trabalho será realizado descrevendo
um cronograma que respeite o prazo contratado.

Como um documento, deverá conter alguns elementos básicos como:

➢ A consideração das ações que serão realizadas em conformidade com o contrato


firmado para realização da perícia.

➢ Relação de dados documentais que balizarão alguma etapa da perícia.

➢ Previsão de eventuais deslocamentos.

➢ Apresentação de tempo para que, caso haja necessidade de resposta a alguma


demanda do perito, ele seja cumprido.

➢ Caso o contratante entenda ser necessário ampliar o escopo da perícia o plano


demonstrará como as alterações serão procedidas, inclusive do ponto de vista
financeiro.

➢ O estabelecimento dos honorários é tarefa básica do planejamento. É a partir


desses valores iniciais que eventuais alterações serão discutidas no decorrer do
procedimento.

Executando a perícia

Do mesmo modo que o planejamento, analisando instruções de profissões


diversas, podemos perceber que há uma estrutura básica para a realização do trabalho.
Relembrando que em algumas profissões poderá haver especificidades, vamos
apresentar um roteiro apropriado padrão:

Durante a execução da perícia o profissional estará vinculado às situações que


tenham relação direta com sua especialidade.

Se o profissional entender que apenas dados quantitativos (números em geral)


são insuficientes para emitir seu laudo, deverá realizar pesquisas de campo
especializadas para obter dados qualitativos e, eventualmente, deverá realizar
entrevistas com pessoas.
Uma vez o perito tendo concluído que é preciso inserir dados secundários à sua
pesquisa para fortalecer seus argumentos, deverá buscá-los em fontes que os
reconheçam.

5
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
Uma vez definido durante o planejamento que os argumentos do perito também
se basearão em dados quantitativos o método de coleta daquelas informações deverá
ser especificado naquele planejamento para ser replicado durante a execução.

Se, por ocasião da obtenção de dados secundários, o perito entender que


documentos deverão ser analisados, há a necessidade de consulta minuciosa
considerando que:

➢ Todos os documentos deverão estar organizados com sua obtenção devidamente


registrada e formalizada bem como sua restituição à origem.

➢ Se um documento essencial à análise tiver seu acesso cerceado por alguém, o


perito deverá preparar uma notificação ao seu contratante para relatar o ocorrido.

➢ Qualquer questão relacionada ao seu acesso a documentos que entenda


necessários serem analisados deve ser registrada pelo perito.

Uma vez ficando definido que há montantes de ordem financeira ou quantitativa a


ser verificado presencialmente, o perito precisa executar a atividade seguindo os
métodos inerentes.

Durante a execução da atividade pericial, o profissional deverá cuidar para que as


ações discutidas anteriormente sejam integradas para evitar vieses de ideia ou
compreensão de informações.

Emitindo o laudo O laudo pericial é o documento no qual o profissional perito, após


concluir a execução das atividades periciais, deverá apresentar seus argumentos
fundamentados em torno dos elementos para os quais foi contratado.

Trata-se de um documento técnico que precisa ser produzido tal qual a importância
das expectativas dos contratantes, ou seja, que alguma dúvida complexa seja dirimida
ou que alguma prova essencial seja produzida. Desta forma, são necessários alguns
cuidados no ato de sua produção.

Vejamos:

Tudo aquilo para o qual o contratante resolveu acionar o trabalho do perito


deverá estar devidamente explicitado no laudo pericial.

Caso não haja uma relação complexa de elementos para ser analisado pelo perito,
seus argumentos deverão ser diretos e assertivos em torno do objeto de sua contratação.

Uma vez adotados dados oriundos de fontes já existentes, aquelas deverão ser
devidamente mencionadas no laudo pericial.
6
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

A validação de um laudo está diretamente vinculada à sua assinatura por parte


de quem o emitiu.

Qualquer elemento acessório ao laudo que tenha sido requerido pelo contratante
e devidamente registrado no contrato de perícia deverá ser devidamente entregue pelo
profissional juntamente com o laudo.

Fluxo de procedimentos Tal qualquer trabalho estruturado, a perícia extrajudicial


precisa ser realizada obedecendo a um processo que torne a atividade fluída, objetiva
e assertiva. Complementando esse tópico, vamos definir um fluxo de procedimentos
que pode ser aplicado não apenas a uma perícia extrajudicial, mas a qualquer atividade
semelhante.

Já aprendemos que o ordenamento jurídico brasileiro não traz em seu corpo


dados específicos sobre perícia extrajudicial. Isso pode ser compreendido, uma vez que
ela ocorre fora do âmbito do Poder Judiciário justificando, assim, essa lacuna de
procedimentos.

Se formos analisar friamente até este ponto do material, já podemos vislumbrar


qual seria o fluxo ideal de atuação do perito extrajudicial. Primeiramente é importante
reforçar que nesse procedimento (extrajudicial) não será instaurado um processo, ou
seja, não teremos nenhum tipo de ritual jurídico por trás do serviço. Isso faz com que,
no final das contas, o trabalho seja desenvolvido da melhor forma no entendimento dos
contratantes e do contratado.

Na área da Administração, o CFA criou um roteiro bastante maleável para os


profissionais da categoria. Aquele modelo de trabalho tranquilamente pode ser
adaptado a qualquer outra profissão considerada suas peculiaridades. Desta forma, o
fluxo abaixo segue aquele entendimento:

a. Contratação: uma vez tendo seus serviços requeridos é necessário que o perito
extrajudicial tome conhecimento do objeto da perícia.

b. Apreciação do objeto: nesse momento o perito mergulhará nos detalhes que


circundam o objeto da perícia por meio de leitura e estudo.

c. Concordância com a tarefa: concluídas as etapas anteriores, o profissional terá


condições de, em não havendo impedimentos, aceitar a execução da atividade.

d. Orçamento: o profissional deverá levar em consideração o tamanho do


trabalho, a complexidade das pesquisas e das análises, os riscos inerentes à perícia,
tempo para realização da atividade, prazo requerido pelo contratante e emissão do
laudo.
7
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

e. Índice: o profissional deverá dispor de todos os documentos disponíveis para


produzir índice que demonstra qual documento está disponível e em qual folha do
conjunto poderá ser encontrado.

f. Assistente técnico: caso seja desejo de alguma parte ou do próprio perito, a


participação de peritos assistentes deverá ser ajustada.

g. Necessidades de diligências: após o perito tomar conhecimento de todo o


contexto dos itens postos sob perícia ele será capaz de estimar eventuais diligências
que poderão ser necessárias à consecução do trabalho. Na oportunidade ele deverá
mencionar qualquer insumo que esteja faltando para emitir seu laudo.

h. Descolamentos: uma vez ficando evidenciada a necessidade de deslocamentos


por terra ou ar, o perito deverá apresentar uma programação.

i. Método de pesquisa: com base no rol de informações já obtidas e naquelas que


são essenciais ao trabalho, o perito deverá programar pesquisas de campo, métodos e
obtenção de dados secundários conforme permitido por lei.

j. Plano de ação: o perito deverá definir: › Estudo de documentos relacionados à


perícia.

➢ Descrição de estudos, vistorias, questionamentos, investigações, medições e


avaliações certificações necessárias obedecendo ao código de ética de sua
profissão.

➢ Estabelecimento de entrevistas e coleta de informações.

➢ Análise em laudos multidisciplinares e pareceres disponíveis.

➢ Realização de cálculos e avaliações qualitativas e quantitativas.

➢ Modelagem do laudo pericial que será emitido.

k. Ajustes: após a emissão do laudo pericial, o profissional deve revisá-lo


objetivando eventuais ajustes e confirmar se todos os componentes do documento estão
dispostos logicamente e devidamente numerados.

l. Prorrogação: caso o perito entenda que o tempo disposto para concluir a atividade
não seja suficiente, antes que se dê o advento, deve preparar aditivo contratual para
estabelecer prorrogação.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
m. Disponibilização do laudo: uma vez concluídas todas as etapas anteriores, o
documento pericial deve ser firmado e devidamente entregue ao contratante juntamente
com a requisição de repasse dos honorários. Como mencionado, você poderá concluir
que o roteiro apresentado acima e as indicações deste capítulo como um todo podem
ser utilizadas tranquilamente por qualquer atividade pericial, respeitadas as devidas
peculiaridades.

Bibliografia:
ARAÚJO. S. Conceito e características do processo penal. Revista Duc In Altum –
Caderno de Direito, vol. 5, no 8, jul-dez. 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.


Disponível em: . Acesso em: 20/1/2017.

Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: .


Acesso em: 30/1/2017

Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho.


Disponível em: . Acesso em: 24/1/2017.

Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da


Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 19/1/2017.

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: Acesso em:
26/1/2017.

Lei no 12.008, de 29 de julho de 2009.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL no 1.949/2007. Institui a Lei Geral da Polícia Civil


e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 23/1/2017.

CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Manual de perícia do


administrador.

CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA. Consolidação da regulamentação


profissional do economista.

MORAIS, A. C. S. Perícia judicial e extrajudicial. 2. ed. Brasília: Qualidade, 2004.

ONU. Resolução no 217 A III, de 10 de dezembro de 1948. Declaração Universal dos


Direitos Humanos.

SÁ, A. L. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.


9
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 7)

O trabalho de perito judicial e extrajudicial é, sem dúvida, um grande suporte às


atividades do Poder Judiciário. Não à toa aquele Poder buscou facilitar o acesso de
profissionais para desempenhar o seu trabalho, no entanto, sem desligar da legalidade
e da eficiência. Afinal, não adianta contratar alguém para desenvolver uma atividade
sem que aquela pessoa domine o que irá ser feito. Ademais, para o próprio profissional
é importante saber que sua escolha não se deu ao mero acaso. Produza um resumo
discorrendo sobre os elementos necessários para cadastro de peritos em tribunais, as
diferenças entre honorários de peritos judiciais e extrajudiciais e discorre sobre como
você executaria uma perícia. Após realizar poste na plataforma para correção.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

AULA 08 - ASPECTOS ÉTICOS NA ANÁLISE


PERICIAL - Parte 1

Olá aluno e aluna, na aula de hoje vamos falar um pouco a respeito dos aspectos
éticos na análise pericial vamos dividir esse tema em duas aulas. Bons estudos.

De uma maneira simples, ao abordamos o assunto ético no âmbito das análises


periciais devemos considerar três fatores distintos:

• As atribuições dos peritos nas diversas áreas;


• O direito constitucional das partes ao devido processo legal;
• As responsabilidades dos peritos.

Atribuições dos peritos nas diversas áreas este profissional será acionado por
autoridades competentes para tal e terá sua atuação vinculada aos entes estaduais e
federais.

No âmbito federal temos uma lista das atribuições dos peritos criminais federais
produzidas pela Polícia Federal:

• A instauração e a coordenação de procedimentos de investigação policial.

• Comando e orientação durante a execução de procedimentos de investigação que


visem prevenir e reprimir atos criminosos.

• Participação ativa no plano de operação de segurança e investigação.

• Supervisão e execução de missões sigilosas.

• Participação direta nas ações de segurança orgânica e demais atividades


relacionadas à sua especialidade.

O que encontramos no âmbito estadual foi o Projeto de Lei PL 1.949/2007 que ainda
está tramitando na Câmara dos Deputados. Naquele instrumento, o perito criminal
recebe a nomenclatura de Perito Policial e o Art. 27 apresenta algumas atribuições.

1
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
Vejamos:

Art. 27. São atribuições de perito de polícia:

I - coletar e interpretar os vestígios e os indícios materiais das infrações penais,


objetivando fornecer elementos esclarecedores para a instrução de inquéritos policiais
e outros procedimentos legais de investigação;

II - realizar exames sobre corpos de delito, E;

III - elaborar laudos no âmbito das suas especializações. Perito trabalhista O legislador
registrou no corpo da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que sua fonte
subsidiária seria o CPC onde fosse omissa.

Tal dispositivo está impresso no Art. 769 daquele diploma legal. Considerando
aquele dispositivo, podemos inferir que no caso do perito trabalhista as atribuições
serão parecidas, senão idênticas, às outras áreas de atuação.

Evidente que não se inclui na questão o criminal, que tem situações bem
específicas. O que haverá de novo serão as atribuições vinculadas a alguém que opera
segundo a justiça do trabalho.

Assim, além das atribuições básicas de um perito (que estarão melhor


discriminadas na explicação do perito cível), um perito trabalhista teria como
especificidades os seguintes elementos:

• Realizar as análises e estudar os fatos conforme previsto em sua especialidade


profissional.

• Certificar-se de que as dúvidas apresentadas no decorrer do procedimento


judicial sejam devidamente esclarecidas.

• Não apresentar fragilidade nas conclusões para que o juiz consiga compreender
as abordagens.

• Esclarecer todos os elementos de dúvida e solicitar apoio de profissionais de


áreas complementares se for o caso. Legalmente falando, a CLT nos dá um
pequeno rol de atribuições ao perito trabalhista.

Vejamos:

» No Art. 827 é estabelecido que o juiz poderá arguir o perito.

» O Art. 848 reforça a possibilidade de arguição do perito pelo juiz.


2
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

» O Art. 879 determina que em caso de cálculos complexos um perito deverá atuar.
Perito cível No caso de processos cíveis, o perito estará totalmente regrado pelo que
está disposto no CPC.

As atribuições básicas do perito cível estão enumeradas no Art. 473 do CPC uma
vez que o que se espera dele é o laudo pericial.

Vejamos:

Art. 473. O laudo pericial deverá conter:

I - a exposição do objeto da perícia;

II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito;

III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser


predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se
originou;

IV - resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo
órgão do Ministério Público.

1° No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem simples


e com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões.

Temos, ainda, outra atribuição prevista no Art. 477:

Art. 477. O perito protocolará o laudo em juízo, no prazo fixado pelo juiz, pelo
menos 20 (vinte) dias antes da audiência de instrução e julgamento.

1° As partes serão intimadas para, querendo, manifestarem-se sobre o laudo do


perito do juízo no prazo comum de 15 (quinze) dias, podendo o assistente técnico de
cada uma das partes, em igual prazo, apresentar seu respectivo parecer.

2o O perito do juízo tem o dever de, no prazo de 15 (quinze) dias, esclarecer


ponto. É importante registrar que o que está previsto nesses artigos do CPC se aplica a
qualquer perito que atue em ofício. Ainda assim, podemos enumerar um rol mais
explicativo de atribuições:

• O perito tem a atribuição de mudar um elemento de duvidoso para esclarecido


e, para tal, necessita apresentar seu conhecimento técnico sobre o tema.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
• O perito deverá assumir, imediatamente, qualquer situação controversa que
advenha de suas conclusões.

• O perito analisará a situação a ele confiada de maneira sistêmica.

• O perito precisa manter seus conhecimentos constantemente atualizados e em


pleno uso.

• O perito apresentará conclusões rápidas e sem margem de viés.

• O perito demonstrará domínio de sua área técnica profissional.

• O laudo pericial será emitido em conformidade com métodos consagrados.

• O perito trabalhará analisando principalmente, mas não somente, os elementos


que fogem àqueles que o contrataram.

• As atividades do perito serão realizadas com zelo, poder de decisão, capacidade


técnica e estudos alternativos.

• O perito será cortês e solícito com os envolvidos no procedimento judicial ou


extrajudicial. Perito securitário o elemento mais importante que devemos
considerar aqui é o fato de que o perito securitário atuará em conformidade à
área para a qual o seguro acionado está relacionado.

Destarte, temos alguns elementos legais que podemos destacar em torno de perícia
securitária:

• O Art. 784 do CPC dá ao seguro de vida, por exemplo, a condição de título


executivo extrajudicial.

• O Art. 833 do CPC complementa a questão dos valores de seguro de vida


dizendo que eles não são passíveis de penhora.

• No Art. 865 do CPC estão determinados que navios ou aeronaves só pudessem


funcionar, caso sejam objeto de penhora, se estiverem cobertos por um seguro
contra riscos.

• Na CF o Art. 7°, inciso XXVIII determina que o seguro contra acidentes do


trabalho é um direito do trabalhador.

• O Art. 101 da Lei 8.213/1991 define que é necessária a realização de perícia


médica no caso de manutenção de auxílio-doença. Você deve ter notado que a

4
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
situação é fragmentada. Os códigos de ética de cada profissão possuem institutos
que definem as atribuições de seus profissionais.

Assim, podemos concluir que além do que as profissões definem para atuação
profissional, serão atribuições dos peritos securitários aqueles já estudados no caso do
cível.

Peritos administrativos as atribuições aplicáveis aos outros tipos de perito também


são aos peritos administrativos. Nesse caso os códigos de ética das diversas profissões
também são levados em consideração sendo que, em alguns casos, os Conselhos
costumam produzir manuais para seus profissionais. A título de exemplo, uma vez que
cada profissão terá especificidades distintas, vamos apresentar algumas atribuições
determinadas ao Administrador pelo CFA:

• Manter contato com o contratante para conseguir acesso aos dados da perícia.

• Manter registro atualizado de todas as pessoas que participarem do


procedimento na condição de pesquisados ou diligenciados.

• Sempre que necessário, vistoriar, examinar e perguntar o que for essencial para
conclusão da atividade pericial.

• Caso seja demandado nesse sentido, realizar arbitramento de numerários


utilizando métodos técnicos.

• Dar autenticidade às informações que prestar. Caso você tenha pesquisado algo
sobre Direito Administrativo, eventualmente já deve ter escutado alguma coisa
relacionada a Processos Administrativos Disciplinares (PADs) ou Processos
Administrativos Sancionatórios (PASs).

São procedimentos extrajudiciais desenvolvidos no âmbito da Administração


Pública. Importante registrar que em situações que envolvam os procedimentos retro
mencionados, o perito que vier a ser contratado ou destacado para realizar atividades
de sua especialidade profissional (sem exceção, nem mesmo por conta do bom senso)
deverá seguir tudo o que o ordenamento jurídico brasileiro determina. Esse tipo de
procedimento não permite discricionariedade quando o assunto é o devido processo
legal.

Devido processo legal, vamos falar dos pontos mais importantes, pois para tratá-lo
com profundidade seria necessário um material exclusivo e muito mais denso. Na
verdade, entendemos que é importante falar a respeito do ponto de vista técnico, pois
isso seria o motivo de existir de todo e qualquer princípio ético que gira em torno de
atividades judiciais e extrajudiciais.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
Trata-se do princípio constitucional brasileiro com maior relevância quando
estamos tratando de direitos e deveres. O início da existência deste princípio remonta
ao ano de 1214 quando o Rei Inglês Eduardo III promulgou sua constituição.

Os princípios que envolvem o devido processo legal estavam implícitos no


documento, mas já determinavam a necessidade de que processos judiciais fossem
sequenciados para melhor entendimento.

Todos os princípios constitucionais interagem entre si, sejam eles explícitos ou


implícitos, no âmbito da CF.

No caso do devido processo legal há um vínculo mais evidente com os princípios


da legitimidade e da legalidade. Contudo, é errado achar que somente esses dois
princípios são vinculados ao primeiro.

Bibliografia

ARAÚJO. S. Conceito e características do processo penal. Revista Duc In Altum –


Caderno de Direito, vol. 5, no 8, jul-dez. 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.


Disponível em: . Acesso em: 20/1/2017.

Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: .


Acesso em: 30/1/2017

Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho.


Disponível em: . Acesso em: 24/1/2017.

Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da


Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 19/1/2017.

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: Acesso em:
26/1/2017.

Lei no 12.008, de 29 de julho de 2009.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL no 1.949/2007. Institui a Lei Geral da Polícia Civil


e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 23/1/2017.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL
CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Manual de perícia do
administrador.

CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA. Consolidação da regulamentação


profissional do economista.

MORAIS, A. C. S. Perícia judicial e extrajudicial. 2. ed. Brasília: Qualidade, 2004.

ONU. Resolução no 217 A III, de 10 de dezembro de 1948. Declaração Universal dos


Direitos Humanos.

SÁ, A. L. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

AULA 9 - ASPECTOS ÉTICOS NA ANÁLISE


PERICIAL - Parte 2

Olá aluno e aluna, na aula de hoje vamos dar continuidade a respeito dos aspectos
éticos na análise pericial. Bons estudos.

Fazendo um estudo constitucional sobre o que viria a ser vínculo do devido


processo legal com a legalidade, chegaríamos ao seguinte entendimento:

• Todas as pessoas têm direito à ampla defesa.

• Todas as pessoas têm direito ao contraditório.

• Todas as pessoas têm direito a recorrer de sentenças que obrigam ou retiram


direitos.

• Todas as pessoas têm direito de solicitar reconsideração de decisões que obrigam


ou retiram direitos.

• Todas as pessoas têm direito a representação por advogado.

• Todas as pessoas têm direito a julgamento justo. Se formos estudar o princípio


do devido processo legal, relacionado com o princípio da legitimidade,
poderíamos apresentar o seguinte entendimento:

• Todos os processos judiciais devem ser trabalhados por servidores competentes.

• Os processos judiciais serão tratados na jurisdição à qual esteja vinculado por


lei.

• Os processos judiciais devem obedecer ao ordenamento jurídico brasileiro em


vigor quando de sua tramitação.

• As decisões tomadas considerarão o ordenamento em vigor, salvo previsões


legais que possibilitem outro entendimento.

• O magistrado somente poderá aplicar uma sentença depois que tiver acesso a
todos os dados que viabilizarão sua tomada de decisão.

1
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

• Nenhuma sentença judicial é aplicada sem a participação de um juiz.


Considerando os elementos inerentes à legalidade e à legitimidade, temos que o
devido processo legal é um princípio que se desenvolve na substância da
demanda e no processo que a tratará.

Quando falamos de substância nesse contexto, estamos argumentando que o


ordenamento jurídico de um país possui em seu âmago a certeza de que o interesse
público sempre será superior ao pessoal. Quando falamos de processo a argumentação,
fundamenta-se no conjunto de direitos que todo o cidadão tem em questões judiciais.

Vejamos:

• Todas as pessoas devem ser citadas quando em procedimento judicial.

• Quem é processado tem direito de saber o fundamento da falta que lhe é


imputada. » Uma vez em procedimento judicial a pessoa tem direito a se
defender amplamente.

• Na defesa a pessoa tem direito a fazê-lo por meio oral.

• Para se defender é direito a possibilidade de juntar provas.

• Ainda durante a defesa é direito contratar um advogado.

• A pessoa tem direito a contradizer algo que lhe imputam.

• Uma vez juntadas provas contrárias, a pessoa tem direito de apresentar


argumentos para se defender delas.

• Direito a um juiz natural (regras de jurisdição para garantir julgamento


independente e imparcial).

• A pessoa tem direito a um julgamento público.

• A pessoa não pode ser prejudicada por provas produzidas ilegalmente.

• Caso sentenciada, a pessoa tem direito de compreender o teor da sentença e sua


fundamentação. » Uma vez sentenciada em 1a instância a pessoa tem direito de
recorrer a outras instâncias.

• Ninguém pode ser condenado novamente por algo pelo que já tenha respondido
em juízo. Lendo os elementos desse tópico você pode pensar que a justiça é
2
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

extremamente burocrática e sem objetividade. Pode ser que aconteça em alguns


casos.

No entanto, essa linha de ação impede que futuramente alguém que tenha
perdido uma causa na justiça conclua que pode se vingar de quem venceu.

Não obstante, se todas as pessoas que fossem sentenciadas em um procedimento


judicial voltassem aos palcos do poder judiciário para processar quem ganhou porque
entende que seu julgamento não foi justo, seria uma bola de neve sem fim. Além de
tornar a atividade extremamente onerosa, eventualmente o sistema judiciário sofreria
por excesso de processos e uma bela hora não atenderia mais ninguém.

Um exemplo é que durante os eventos catastróficos da II Grande Guerra


Mundial, o mundo se viu obrigado a sentar e discutir novos modelos de direitos
humanos. O esforço resultou na emissão da Declaração Universal dos Direitos
humanos pela Organização das Nações Unidas no ano de 1948. Desde então temos um
documento internacional e universal que demanda atitudes relacionadas ao devido
processo legal.

Artigo 8° Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais
competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe
sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo 9° Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10° Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e
pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir seus
direitos e deveres ou fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo 11° Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser
presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a
lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias
necessárias à sua defesa.

11.1. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no
momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também
não será imposta pena mais forte de que aquela que, no momento da prática, era
aplicável ao ato delituoso.

Artigo 12° Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua
família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação.

3
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou
ataques. O objetivo do instrumento é garantir que qualquer pessoa no mundo, uma vez
sendo acusada de algum delito, tenha direito ao devido processo legal.

A Constituição da República Federativa do Brasil teve o mesmo objetivo quando


emitiu diversos incisos no Art. 5° que objetivam garantir aqueles direitos. A
localização espacial do artigo é determinante para que se compreenda qual foi o
propósito uma vez que se encontra no título que trata os direitos e garantias
fundamentais e no capítulo que apresenta os direitos individuais e coletivos. Assim, a
carta magna brasileira dispôs sobre o devido processo legal para direcionar todo o
ordenamento brasileiro naquele sentido. Abaixo segue uma sequência lógica de incisos
que inserem o devido processo legal no Brasil:

Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a


direito;

LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa


da intimidade ou o interesse social o exigirem;

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; LIII - ninguém será


processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a


razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em


geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

A Constituição brasileira possui uma quantidade considerável de institutos que


dão maior ênfase ainda ao devido processo legal, no entanto, nosso objetivo aqui é
esclarecer e não esgotar o tema. Dessa forma, o que foi apresentado já daria o insumo
para o aprofundamento deste tema. Responsabilidades do perito nesse ponto você já
4
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

deve ter percebido que atuar como perito possui muitas vantagens do ponto de vista
profissional. Contudo, os elementos que impõem responsabilidades em sua atuação são
igualmente relevantes.

Justamente a relevância dessas responsabilidades fez com que o legislador se


preocupasse em regulamentar, ainda que de maneira básica, as responsabilidades do
perito enquanto atuando naquela condição. O CPC traz elementos que vinculam o
perito a uma atuação objetiva, honesta e imparcial. Ele poderá sofrer sanções cíveis,
administrativas e penais caso venha a desobedecer ao que está previsto em lei para sua
atuação. Inicialmente o Código se preocupa com o cumprimento de prazos. Não
podemos esquecer que a atuação do perito se dá apenas em 1a instância e, assim, o
tempo é um obstáculo a ser vencido para melhor serviço da justiça.

Vamos ver o que dispõe o Art. 157:

Art. 157. O perito tem o dever de cumprir o ofício no prazo que lhe designar o
juiz, empregando toda sua diligência, podendo escusar-se do encargo alegando motivo
legítimo.

Art. 158 que o CPC nos apresenta um rol mínimo de responsabilidades cíveis e
administrativas às quais o perito está sujeito em caso de conduta dolosa ou culposa em
qualquer procedimento para o qual seja contratado. O perito que, por dolo ou culpa,
prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e ficará
inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos,
independentemente das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o
fato ao respectivo órgão de classe para adoção das medidas que entender cabíveis.

Lendo o artigo acima, podemos inferir que a justiça não procura pessoas sem
compromisso para auxiliá-la na condição de perito. Afinal, não apenas quando comete
erros voluntários como àqueles involuntários o perito eventualmente será sancionado.
Ainda preocupado com o tempo do processo o legislador inseriu uma possibilidade de
que o magistrado atue caso o perito venha a cometer falhas que resultem em atraso.

Note que a falha será relatada ao Conselho do profissional conforme Art. 468:

Art. 468. O perito pode ser substituído quando:

II - sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi
assinado.

1° No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará a ocorrência à corporação


profissional respectiva, podendo, ainda, impor multa ao perito, fixada tendo em vista o

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

valor da causa e o possível prejuízo decorrente do atraso no processo. Até aqui já


ficaram claras as responsabilidades do ponto de vista civil e administrativo.

Ocorre que não para por aí.

Veja que o Art. 158 traz a seguinte frase:

[...] das demais sanções previstas em lei.

[...] Aqui está o precedente legal para que o perito seja sancionado do ponto de
vista criminal também.

O Decreto-Lei no 2.848, de 07 de dezembro de 1940, ou Código Pena, determina


em seu Art. 342 as seguintes sanções:

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei no 10.268, de
28.8.2001) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada pela
Lei no 12.850, de 2013).

1° As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado


mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito
em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração
pública direta ou indireta. (Redação dada pela Lei no 10.268, de 28.8.2001)

2° O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu
o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. (Redação dada pela Lei no 10.268,
de 28.8.2001) Os doutrinadores das disciplinas de direito penal não consideram que o
previsto no Art. 342 do Código Penal seja aplicável a quem cometeu delito culposo.
Isso quer dizer que para aqueles estudiosos se o perito cometer um erro não intencional
não estaria sujeito àquelas penalidades.

Considerando as sanções cíveis, observando o texto do Art. 158 notamos que lá


há a previsão de indenização. Isso porque o perito é vinculado a responder por
eventuais prejuízos que seu trabalho venha causar.

Por fim, e não menos importante, a conjunção do entendimento dos Arts. 158 e
468 do CPC nos dá a compreensão de que o perito poderá ficar impedido de atuar por
até 05 anos em tribunais. Note que isso não considera outras penalidades que o órgão
responsável por fiscalizar sua profissão venha a aplicar.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Bibliografia

ARAÚJO. S. Conceito e características do processo penal. Revista Duc In Altum –


Caderno de Direito, vol. 5, no 8, jul-dez. 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.


Disponível em: . Acesso em: 20/1/2017.

Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: .


Acesso em: 30/1/2017

Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho.


Disponível em: . Acesso em: 24/1/2017.

Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da


Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 19/1/2017.

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: Acesso em:
26/1/2017.

Lei no 12.008, de 29 de julho de 2009.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL no 1.949/2007. Institui a Lei Geral da Polícia Civil


e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 23/1/2017.

CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Manual de perícia do


administrador.

CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA. Consolidação da regulamentação


profissional do economista.

MORAIS, A. C. S. Perícia judicial e extrajudicial. 2. ed. Brasília: Qualidade, 2004.

ONU. Resolução no 217 A III, de 10 de dezembro de 1948. Declaração Universal dos


Direitos Humanos.

SÁ, A. L. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 9)

No decorrer das nossas aulas nós aprendemos diversos conceitos sobre perito
judicial, extrajudicial, sua formação e área de atuação. Não nos limitamos meramente
a descobrir elementos simples, mas tivemos a oportunidade de verificar informações
relevantes para construir o conhecimento que nos permitirá de fato saber como se dá a
atuação pericial.

Considerando o que faz um perito judicial, qual deve ser seu nível de
compreensão da ação judicial? O perito precisa de uma formação específica? Por quê?

Faça uma dissertação respondendo os quesitos acima e poste na plataforma para


correção, lembrando que deverá colocar a fonte de pesquisa e o capricho é levado em
consideração na hora da correção. Boa atividade.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

AULA 10 - MODELOS DE LAUDOS E PETIÇÕES

Olá aluno e aluna, na aula de hoje vamos falar um pouco a respeito dos modelos
de laudos e petições. Bons estudos.

Laudo pericial de qualidade

Vamos iniciar esse subtítulo discutindo o objeto principal do trabalho de um


perito, ou seja, o laudo pericial.

Trata-se de uma peça de alta complexidade que será utilizada em conjunto com
outras provas para apoiar as decisões do magistrado e dirimir as dúvidas que suscitaram
sua nomeação. De antemão já temos a convicção de que a opinião de um perito não é
absoluta. Seu trabalho é se apropriar de dúvidas constantes em controvérsias e utilizar
de seu conhecimento técnico para saná-las.

As conclusões de um perito sempre são postas à análise do juiz e poderão ser


contestadas pela parte que tiver tido seu entendimento contrariado. São as demandas
mencionadas que tornam necessário que a qualidade do laudo tenha um nível elevado.

O objetivo é que o documento por si só consiga evitar questionamentos em torno


de suas alegações.

Temos muito material acadêmico que estuda as “diferenças” entre um parecer e


um laudo pericial. Na verdade, são documentos desenvolvidos sob a mesma égide, ou
seja, especialidade técnica e precisão. O laudo dará auxílio à justiça enquanto que o
parecer esclarecerá pontos levantados e outros que a ele sejam relacionados.

Desta forma, nem o laudo nem o parecer irão vincular as pessoas que o
demandaram às informações e definições presentes neles. Isso permite que o
magistrado entenda de maneira diferente ao laudo, ainda que sob o risco de eventuais
recursos em instâncias superiores.

Mesmo que consideremos todos os pontos de limitação à discricionariedade que


envolve a produção de um laudo pericial, não há impedimento algum para que ele seja
o mais técnico, objetivo e claro possível. Para conseguir atingir esse nível de
maturidade, o documento precisa de alguns elementos em sua estrutura.

1
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Vejamos:

• Apresentação do conflito: esta parte do documento demonstrará o número do


processo, quando foi protocolizado, quem está em conflito, a jurisdição
competente.

• Identificação do perito: é necessário que o profissional destacado para realizar a


perícia se identifique formalmente aos interessados.

• Dados do demandante: a perícia se inicia por solicitação do juiz ou das partes e


isso deve ficar evidenciado, ou seja, para quem está sendo produzido o laudo.

• Metodologia: é necessário que o profissional detalhe cada passo realizado


durante seus trabalhos, isso irá favorecer a compreensão por parte dos
interessados de que o perito realizou a demanda seguindo princípios técnicos e
científicos.

• Discriminação dos elementos em análise: como sabemos a perícia só pode ser


realizada sobre os elementos que resultaram na nomeação ou contratação do
perito. Assim, é necessário que eles fiquem descritos no laudo objetivando
facilitar a conferência de que não houve excessos.

• Argumentação dos elementos em análise: o profissional deve disponibilizar no


corpo do documento sua análise técnica a respeito de cada ponto periciado.

• Dados secundários: eventualmente o estudo poderá requerer informações que


ampliem a facilidade de compreensão dos argumentos do perito e, nesse caso,
esses dados devem ser anexados ao laudo.

• Considerações finais: o perito deve registrar a data na qual concluiu a peça e


assiná-la para dar-lhe validade. Já discutimos que dependendo da profissão
poderemos encontrar diversas peculiaridades. No entanto, essa estrutura
apresentada atende tranquilamente qualquer tipo de perícia. Não obstante, caso
você tenha a intenção de atuar como perito é interessante que desde já busque
elementos específicos da sua profissão. Ainda assim, a partir de agora já é
possível imaginar o que viria a ser um laudo.

Modelos de laudo Falar de modelo no plural como está no título deste tópico é
complexo porque, se formos procurar na rede mundial de computadores,
encontraremos uma infinidade de modelos interessantes.

Desta forma, considerando tudo o que já discutimos neste material, vamos


apresentar um modelo apenas para ilustrar o que já discutimos.
2
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

LAUDO PERICIAL Nº <<Caso>>.13.****.13


1. HISTÓRICO
2. DO LOCAL/OBJETO
2.1 Do deslocamento para o local
2.2 Do local/objeto imediato dos exames
3. DAS CONSTATAÇÕES
4. DO MATERIAL COLETADO
5. DOS ESCLARECIMENTOS
5.1 Do isolamento e preservação do local
5.2 DA EQUIPE DO INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA
5.3 Do levantamento fotográfico e topográfico
6. DAS CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
7. DINÂMICA E CONCLUSÃO

Modelos de petição

No caso das petições, também temos uma quantidade considerável de modelos.


Você facilmente encontrará vários disponíveis em manuais diversos. Apenas para
ilustrar três situações distintas, vamos apresentar um modelo.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Contestação na perícia judicial e extrajudicial

Estamos quase concluindo as ponderações deste assunto e, portanto,


ocasionalmente acabamos discutindo os três últimos tópicos em algum momento das
nossas aulas.

Quando falamos sobre o devido processo legal, dissemos que a pessoa tem
direito total à defesa. A CF chama isso de ampla defesa. Inerente a isso, a CF dá à
pessoa o direito de contradizer o que a ele é imputado.

Os artigos 334 a 342 disciplinam o direito de contestar por parte do litigante e


ensinam o momento e como a pessoa poderá se defender das imputações que lhe são
submetidas em juízo. Destarte, a contestação de uma perícia se dá no momento em que
uma das partes opta por solicitar a participação de um assistente técnico ou perito
assistente.

Nós já falamos como se dá a atuação deste ator, então não vamos adentrar muito
na discussão. Apenas para ampliar o conhecimento, veja que no Art. 361 do CPC o
assistente poderá ser ouvido na condição de produtor de prova oral:

Art. 361. As provas orais serão produzidas em audiência, ouvindo-se nesta


ordem, preferencialmente:

I - o perito e os assistentes técnicos, que responderão aos quesitos de


esclarecimentos requeridos no prazo e na forma do art. 477, caso não respondido
anteriormente por escrito; Outra questão que já estudamos é que o juiz nomeará o perito
por sua indicação ou das partes certo?

Veja que o Art. 465 do CPC autoriza na sequência as partes a indicarem um


assistente e que o Art. 466 autoriza que as partes escolham qualquer assistente de sua
confiança: Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará
de imediato o prazo para a entrega do laudo.

1° Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do


despacho de nomeação do perito:

II - indicar assistente técnico; Art. 466. O perito cumprirá escrupulosamente o


encargo que lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso.

1o Os assistentes técnicos são de confiança da parte e não estão sujeitos a


impedimento ou suspeição. Assim, conclui-se que a contestação contra um laudo
pericial (que é o objeto de qualquer perícia) se dará por meio do parecer pericial emitido
pelo assistente técnico conforme já tivemos a oportunidade de aprender neste material.
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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Início e conclusão dos trabalhos Este tópico tem a mesma peculiaridade do


anterior dado que, em decorrência de nossas discussões até esse ponto do material, já
abordamos os pontos de início e conclusão dos trabalhos de um perito.

Contudo, até para servir como uma síntese veja abaixo um breve roteiro:

• O marco zero é quando um conflito (extrajudicial) ou um litígio (judicial)


chegam a um momento de impasse entre as partes e o juiz ou alguém que haja
como conciliador.

• Uma vez ocorrido o impasse de entendimento que demande conhecimento


técnico, o juiz ou as partes poderão nomear (juiz) ou contratar (partes no
procedimento extrajudicial) um perito para dirimir a dúvida e/ou criar prova.

• Ciente da nomeação ou contratação, o perito analisará o contexto para decidir se


aceita a incumbência ou de desiste.

• Caso haja a aceitação ele se apropriará de todos os conteúdos disponíveis e,


então, sua atuação tem início.

• Concluídas as análises, o perito produzirá o laudo pericial, momento em que ele


pode ser acatado ou ser contestado. Ao entregar o laudo, o perito requererá seus
honorários.

• Sendo contestado, terá que aguardar a emissão do parecer técnico de um


assistente pericial.

• Concluso o parecer técnico e debatidos os elementos pelo juiz, não restando mais
esclarecimentos a atuação do perito, se encerra as atividades deste Como
mencionado, esse roteiro demonstra o momento em que a atividade do perito
tem início e o momento em que ele se iniciar.

Vale reforçar a importância do contexto do trabalho, que não se limitará apenas aos
passos apresentados.

Aceitação e desistência de perícias

Chegamos ao último ponto de nosso conteúdo queremos lhe dizer o seguinte:

Com a dedicação correta e o perfil adequado, apesar de tantas complexidades e


responsabilidades, pode valer muito a pena se dedicar à carreira de perito!
Evidentemente que não são apenas responsabilidades que norteiam a atividade.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

O perito tem uma série de direitos previstos em lei. Sobre um deles nós já
debatemos quando falamos sobre os honorários. Afinal, não se trabalha de graça em
processos complexos. Um dos outros direitos que o perito tem nós vamos discutir
agora.

Já falamos em algumas passagens a respeito, mas vamos detalhar um pouco mais


nesse tópico.

Aceitação de perícias

Vamos ser bem sintéticos aqui porque já tratamos o assunto, inclusive no tópico
anterior e seu entendimento é simples: uma vez nomeado pelo juiz (judicial) ou
contratado pelas partes (extrajudicial), o perito analisará a demanda e decidirá por sua
aceitação.

Nos tribunais, a aceitação será formalizada com a apresentação de uma petição


ao magistrado nos moldes que apresentamos quando falamos de modelos. No caso de
perícia extrajudicial, o perito firmará contrato com as partes para estabelecer como se
dará o procedimento.

Desistência de perícias

Direito de escusa de perícia judicial:

Uma vez o perito tendo se disponibilizado para atuar na condição de auxiliar da


justiça, qualquer juiz poderá requerer seus serviços a qualquer momento. A questão é
que o CPC prevê a possibilidade de o profissional escusar-se de aceitar as atribuições,
desde que possua uma justificativa que seja válida.

Apesar de já termos visto esse dispositivo, vamos relembrar o que nos diz o Art.
157 e o Art. 467:

Art. 157. O perito tem o dever de cumprir o ofício no prazo que lhe designar o
juiz, empregando toda sua diligência, podendo escusar-se do encargo alegando motivo
legítimo.

1o A escusa será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação,


da suspeição ou do impedimento supervenientes, sob pena de renúncia ao direito a
alegá-la.

Art. 467. O perito pode escusar-se ou ser recusado por impedimento ou


suspeição. Parágrafo único. O juiz, ao aceitar a escusa ou ao julgar procedente a
impugnação, nomeará novo perito. Como é possível inferir da leitura do parágrafo 1°
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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

do Art. 157, a escusa poderá se dar em função de o profissional entender que há


conexão íntima de sua pessoa com o procedimento, porque está com excesso de
demandas, porque não se sente confortável com a causa, por impedimentos, e outras
previsões legais.

Já vimos neste material como o perito deve se dirigir ao juízo que lhe nomeou
no sentido de requerer a escusa de participar no procedimento pericial. Os moldes são
aqueles, sendo que o que poderá ser modificado é o motivo.

Renúncia ao exercício da atividade

Separamos o tópico apenas por uma questão de acompanhamento lógico por sua
parte. Em procedimentos extrajudiciais, o perito poderá desistir de realizar um
procedimento tal qual em processos judiciais.

A diferença básica é a terminologia. Como estamos falando de um procedimento


que não obedece aos ritos processuais do Poder Judiciário, o profissional que entender-
se impedido por qualquer uma das razões que mencionamos no tópico anterior, poderá
renunciar à incumbência.

Veja que, via de regra, não é necessário formalizar uma renúncia e do ponto de
vista contratual ela poderia ocorrer antes de iniciar os trabalhos ou durante eles, uma
vez previstos no contrato.

Evidente que em contrato constará as formas aceitáveis de renúncia para que os


contratantes não fiquem no prejuízo mediante uma cláusula de renúncia, cabendo assim
bom senso e ética na atuação e contratação deste profissional.

No decorrer desse módulo você não apenas teve contato com conceitos
importantes relativos à atuação do perito judicial e extrajudicial como, também, teve a
oportunidade de internalizar mais exatamente o que vem a ser um profissional dessa
área. Em sua opinião, o aspecto ético na atuação de um perito é mais fortemente
vinculado à qual momento da atividade? Por quê? Como deve ser tratado o
contraditório por um profissional perito?

Faça um artigo sobre o tema abordando as perguntas acima e poste na plataforma


para correção.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Bibliografia

ARAÚJO. S. Conceito e características do processo penal. Revista Duc In Altum –


Caderno de Direito, vol. 5, no 8, jul-dez. 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.


Disponível em: . Acesso em: 20/1/2017.

Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: .


Acesso em: 30/1/2017

Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho.


Disponível em: . Acesso em: 24/1/2017.

Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da


Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 19/1/2017.

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: Acesso em:
26/1/2017.

Lei no 12.008, de 29 de julho de 2009.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL no 1.949/2007. Institui a Lei Geral da Polícia Civil


e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 23/1/2017.

CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Manual de perícia do


administrador.

CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA. Consolidação da regulamentação


profissional do economista.

MORAIS, A. C. S. Perícia judicial e extrajudicial. 2. ed. Brasília: Qualidade, 2004.

ONU. Resolução no 217 A III, de 10 de dezembro de 1948. Declaração Universal dos


Direitos Humanos.

SÁ, A. L. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

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ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL

Atividade Complementar (Aula 10)

Em sua opinião, o aspecto ético na atuação de um perito é mais fortemente


vinculado a qual momento da atividade? Por que? Como deve ser tratado o
contraditório por um profissional perito?

Faça um RESUMO sobre o tema abordando as perguntas acima e poste na


plataforma para correção.

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PERÍCIA CRIMINAL

Aula 1 - PERÍCIA CRIMINAL - Parte 1

Sistema judicial brasileiro na área criminal

Quando se fala em sistema judicial criminal, incluem-se órgãos dos Poderes


Executivo e Judiciário em todos os níveis da Federação, sendo dividido em três
principais frentes de atuação: segurança pública, justiça criminal e execução penal, as
quais são compostas pelas organizações (FERREIRA; FONTOURA, 2008).

De acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Título


IV, Capítulo II, Do Poder Executivo, Seção I, Do Presidente e Do Vice-Presidente da
República, (art. 76 a 83):

Art. 76. O poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado


pelos Ministros do Estado. No Capítulo III, Do Poder Judiciário, Seção I, Das
Disposições Gerais, art. 92, temos que:

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:

• I - O Supremo Tribunal Federal;


• II- Ao Conselho Nacional de Justiça;
• III - O Supremo Tribunal da Justiça;
• IV- Ao Tribunal Superior do Trabalho;
• V - Os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;

1
PERÍCIA CRIMINAL

• VI - Os Tribunais do Trabalho;
• VII- Os Tribunais e Juízes Eleitorais;
• VIII - Os Tribunais e Juízes Militares;
• IX - Os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

A Organização Judiciária estabelece normas para que os órgãos encarregados


possam exercer a jurisdição. A definição da estrutura judiciária brasileira é
basicamente realizada pela Constituição. O Capítulo III (art. 92 a 126) do Título IV,
Da Organização dos Poderes, é o texto básico para entendimento do tema. Para
conhecer a estrutura do Poder Judiciário é necessário conhecer a Constituição Federal.
É importante ressaltar que no Brasil existe o princípio do dualismo judiciário, o que
significa que no sistema há um Poder Judiciário organizado pela União (Federal) e
outro organizado por cada Estado-membro da Federação (JATAHY, 2016).

É de responsabilidade da União organizar e manter as Justiças Especializadas do


Trabalho, Eleitoral e Militar da União; além da Justiça Comum Federal, da Justiça
Comum do Distrito Federal e Territórios, do Supremo Tribunal Federal e do Superior
Tribunal de Justiça. Já os Estados-membros da Federação organizam o Poder
Judiciário local (art.125 da Constituição Federal), incluindo a Justiça Comum
Estadual e a Justiça Militar Estadual, de acordo com sua própria Constituição.

Nessa estrutura, deve-se lembrar de ainda do princípio do duplo grau de


jurisdição, ou seja, toda causa que ingressa no sistema judiciário está sujeita ao duplo
exame, isto é, o julgamento inicial e o julgamento revisional, que é realizado por outro
juiz e prevalece como decisão final. O duplo grau de jurisdição é fundamentado em
princípios como:

Satisfazer o inconformismo do vencido, ou seja, dar uma segunda oportunidade


de decisão judicial à pessoa julgada (um segundo julgamento); coibir o arbítrio do juiz
e melhorar a qualidade das decisões. Portanto, os órgãos de primeiro grau realizam
juízos (órgão inferior) e os órgãos de segundo grau, isto é, os tribunais, realizam o
julgamento na forma colegiada (órgão superior) (JATAHY, 2016).

Em países como Estados Unidos e Canadá existe uma organização federal


responsável por coletar e organizar informações a respeito do processamento dos
delitos. No Brasil não há esse sistema, assim, cada uma das organizações do sistema
de justiça criminal produz uma informação (RIBEIRO; SILVA, 2010).

2
PERÍCIA CRIMINAL

Órgãos federais de segurança pública

As atribuições do governo federal a respeito da segurança pública são de


competência do Ministério da Justiça, com os seguintes órgãos vinculados: Secretaria
Nacional de Segurança Pública (Senasp), Departamento de Polícia Federal e
Departamento de Polícia Rodoviária Federal. Há ainda os conselhos ligados a esses
órgãos, tais como o Conselho Nacional de Segurança Pública.

A Senasp atua nas seguintes ações: promovendo a integração dos órgãos de


segurança pública, acompanhando e avaliando as ações do governo federal,
estimulando e propondo aos órgãos estaduais e municipais a elaboração conjunta de
planos de segurança, implementando e mantendo o Sistema Nacional de Informações
de Justiça e Segurança Pública (Infoseg), etc.

O Sistema Único de Segurança Pública (Susp) é um programa gerenciado pela


Senasp e tem por objetivo realizar a articulação das ações federais, estaduais e
municipais no que diz respeito à segurança pública e à justiça criminal. Sua integração
acontece quando um protocolo de intenções entre governo do estado e Ministério da
Justiça é assinado, instituindo um Gabinete de Gestão Integrada, composto por
representantes do Poder Executivo Estadual, polícias e guardas municipais, Polícia
Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além da cooperação do Ministério
Público (MP) e do Poder Judiciário. Esse Gabinete tem o dever de definir as ações
que devem ser implementadas, bem como repassá-las para o Comitê Gestor Nacional.

A Constituição Federal (art. 144, §1, 2, 3 e 4 incisos I a IV) diz que:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

• I - Polícia federal;
• II - Polícia rodoviária federal;
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PERÍCIA CRIMINAL

• III - Polícia ferroviária federal;


• IV - Polícias civis;
• V - Polícias militares e corpos de bombeiros militares.

§1° A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, estruturado em
carreira, destina-se a:

I - Apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em


detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

II - Prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o


contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos
públicos nas respectivas áreas de competência;

III - exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras;

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

§ 2° A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela


União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das rodovias federais.

§ 3°A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela


União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das ferrovias federais.

§ 4° Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem


ressalvadas a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares. E, finalmente, a Força Nacional de Segurança
Pública (criada em 2004 pelo Decreto n° 5.289), que segue o princípio de
solidariedade federativa, promove orientações sobre o desenvolvimento de atividades
do Susp para realizar atividades de policiamento ostensivo quando solicitado por um
governador de estado. O emprego da Força Nacional é determinado pelo Ministro da
Justiça após solicitação de um governador de estado (FERREIRA, FONTOURA,
2008).

4
PERÍCIA CRIMINAL

Órgãos estaduais de segurança pública

Os órgãos estaduais de segurança pública, isto é, as Polícias Civil e Militar, têm


papeis bem definidos. De acordo com a Constituição Federal, art. 144, Título V, Da
Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, Capítulo III, Da Segurança Pública:

§5° Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem


pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei,
incumbe a execução de atividades de defesa civil.

§ 6° As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e


reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

Ou seja, a Polícia Militar tem como dever a realização do policiamento


ostensivo, assim como garantir a preservação da ordem pública. A Polícia Civil, por
outro lado, é responsável por investigar crimes, cumprindo a função de polícia
judiciária, que deve apurar infrações penais (exceto as militares). Tanto as Polícias
Civil e Militar e o corpo de bombeiros quanto os órgãos de Perícia são vinculados ao
Poder Executivo Estadual, sendo organizados pelo princípio da norma constitucional,
seguindo a legislação local (apresentam diferenças de estado para estado).

As Secretarias Estaduais e de Segurança Pública são compostas por: Polícia


Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Técnico-Científica (quando esta
não está unida à Polícia Civil), Departamento de Trânsito, Conselhos Comunitários,
Instituto de Identificação, Corregedoria e Ouvidoria de Polícia (FERREIRA;
FONTOURA, 2008).

Órgãos municipais de segurança pública

Ainda de acordo com a Constituição Federal, no artigo 144, Título V, Da Defesa


do Estado e das Instituições Democráticas, Capítulo III, Da Segurança Pública:

5
PERÍCIA CRIMINAL

§ 8° Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção


de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. As guardas municipais
são encarregadas de zelar pelo patrimônio público, de cuidar da segurança coletiva
em eventos públicos, além de atuar em rondas e assistência em escolas, atividades de
defesa civil, mediação de conflitos etc. Outro papel importante das guardas municipais
é a prevenção da violência e da criminalidade por meio de projetos sociais e
comunitários (FERREIRA; FONTOURA, 2008).

É determinado pela legislação federal que apenas integrantes das guardas


municipais das capitais e de municípios com mais de 500 mil habitantes podem ter
porte de arma. Em municípios contendo entre 50 e 500 mil habitantes e municípios de
regiões metropolitanas, o uso de arma de fogo só é permitido para guardas municipais
que estejam em serviço. Por esse motivo, há mecanismos de fiscalização e controle
interno nas instituições e, ainda, estabelecimentos de ensino para preparar os
integrantes para atividades policiais (FERREIRA; FONTOURA, 2008). Além das
responsabilidades referentes à segurança pública, outra frente de atuação dos Poderes
Executivo e Judicial é a Justiça Criminal, que também tem suas atribuições divididas
por área, conforme será apresentado na próxima aula.

6
PERÍCIA CRIMINAL

Aula 2 - PERÍCIA CRIMINAL – Parte 2

Polícia legislativa federal e estadual

A Secretaria de Polícia Federal do Senado (SPOL) é responsável pela segurança


de senadores e senadores, bem como de autoridades brasileiras e estrangeiras, nas
dependências oficiais sob sua responsabilidade. Se for decidido pelo Presidente do
Bundesrat, a polícia legislativa é responsável pela segurança dos membros do
Congresso e dos funcionários públicos em qualquer local do país e no exterior.
Também são atividades da competência da Polícia Legislativa Federal Atualmente, o
Ministério do Trabalho reconhece o papel da polícia legislativa como profissão.

De acordo com o reconhecimento, o Policial Legislativo tem como atribuições a


investigação, a repressão e a prevenção de infrações penais contra o interesse da Nação
e das Casas Legislativas. O artigo 27 da Constituição Federal diz que o número de
Deputados à Assembleia Legislativa corresponde ao triplo da representação do Estado
na Câmara dos Deputados e, atingindo 36, terá um acréscimo superior a doze, no
número de Deputados Federais.

O parágrafo 3° desse mesmo artigo menciona ainda a competência das


Assembleias Legislativas em dispor sobre seu regimento interno, polícia e serviços
administrativos, além de prover os respectivos cargos. Por fim, o inciso 4°apresenta a
necessidade de a lei dispor sobre a iniciativa popular no processo legislativo estadual.
Ou seja, a atuação Policial Legislativa também deverá acontecer no âmbito estadual.

1
PERÍCIA CRIMINAL

Existem cerca de 70 policiais legislativos atuando na Assembleia Legislativa de


Goiás (Alego) desde 2010, segundo Clayton Barros (Presidente da União Nacional de
Polícias Legislativas do Brasil e responsável pela Polícia Legislativa do Estado de
Goiás). O exemplo desse trabalho no âmbito estadual (em Goiás), conforme a
Resolução n° 1.314 de agosto de 2010, da Alego, a intercessão de policiais legislativos
acontece sob o prisma da proatividade e mediação de conflitos, com o objetivo
principal de manter a ordem, sem a necessidade de obstruir o direito a manifestação.

O Policial Legislativo trabalha no exercício de diferentes funções das várias


Polícias, por exemplo, o policiamento ostensivo (como faz a Polícia Militar), trabalho
investigativo e de inquéritos (como faz a Polícia Civil), proteção de autoridades (como
faz a Polícia Federal). Esses policiais buscam garantir uma Assembleia Legislativa
aberta e com funcionamento pleno, sem interferências deletérias, externas ou internas.

Justiça criminal

Do mesmo modo que há uma divisão federal, estadual e municipal para os


cuidados da segurança pública, há a divisão para os aspectos jurídicos, que será
apresentada a seguir para melhor compreensão de seu funcionamento.

Órgãos federais de justiça criminal

O Poder Judiciário é composto por justiças especializadas (Justiça do Trabalho,


Eleitoral e Militar) e justiça comum (Juízes Federais e Tribunais Regionais Federais).
A Justiça comum federal possui atribuições específicas, essa divisão é baseada na
Constituição Federal (artigos 108 e 109). Nesse sentido, os deveres da Justiça Comum
e da Justiça Federal são divididos e atribuídos para órgãos específicos, de acordo com
a natureza da infração, de modo a facilitar o seu funcionamento. Por exemplo, a Justiça
Federal é organizada em varas especializadas e não especializadas, tribunais regionais
federais e juizados especiais federais. Cada uma dessas instituições julga infrações
específicas.

2
PERÍCIA CRIMINAL

Os juizados especiais federais julgam infrações de competência da justiça federal


que possuem menor potencial ofensivo. A atuação, nesse caso, é pautada em princípios
de oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, conforme
a Lei n° 10.259/2001 (FERREIRA; FONTOURA, 2008).

Órgãos estaduais de justiça criminal

Os órgãos que compõem a Justiça Estadual são as varas criminais, juizados


estaduais criminais e tribunais de júri. Cada órgão desses atende a determinados tipos
de infrações, dependendo do crime ocorrido. A distinção é realizada primeiramente
quanto ao tipo de ação penal: se esta é pública ou privada. Quando essa identificação é
feita, a autoridade policial, ministério público e outras instituições do Poder Judiciário
determinam o tipo de procedimento que será realizado. É necessário passar por esse
procedimento porque o tipo de crime e pena definem os métodos a serem seguidos pelo
Poder Judiciário para poder ouvir testemunhas, acusados e proferir a sentença
(FERREIRA; FONTOURA, 2008).

3
PERÍCIA CRIMINAL

Da ocorrência do crime até o julgamento

Crime é por definição toda ação ou omissão, típica e antijurídica. Ação ou


omissão acontece em crimes praticados por meio de uma conduta positiva (ação) e de
forma negativa (omissão), respectivamente. Quando se fala em ação típica, trata-se de
uma ação ou omissão tipificada praticada pelo criminoso, definida em lei como delito.
Quanto à antijurídica, trata-se da conduta positiva ou negativa, contrária ao direito, ou
seja, é uma conduta que não possui causa para justificá-la.

E, finalmente, há o crime culpável, que é aquele em que se analisa o que se passa


na mente do criminoso que praticou o delito. Pode ser: desejada pelo criminoso (ação
com dolo de direito), pode ser proveniente do criminoso se arriscar resultando no crime
(ação com dolo eventual), ou, ainda, quando o indivíduo não tem a intenção de realizar
tal ação, mas esta acontece por imprudência, negligência ou imperícia (ação culposa).
Para um crime ser assim considerado, faz-se necessário percorrer uma rota de
evidências, apreciação e análise das características que o delito apresenta, e, só então,
chega-se a alguma conclusão (COSTA, 2008).

A Constituição possui diretrizes relativas à pena para o transgressor das leis. A


pena é individual e pode ser tanto de privação quanto de restrição de liberdade, perda
de bens, multa, prestação de serviço social alternativo ou suspensão/interdição de
direitos (FERREIRA; FONTOURA, 2008).

O processo judicial tem início a partir do momento em que a promotoria


apresenta a denúncia de acusação pública. Posteriormente, o juiz interroga o réu e
4
PERÍCIA CRIMINAL

normalmente, nesse primeiro interrogatório, tanto a defesa quanto a acusação não


participam ou participam apenas como assistentes. Essa é a etapa de autojustificativa
do réu (defesa).

Nesse momento, uma confissão atenua a pena, uma vez que revela
arrependimento. Em virtude disso, o juiz deve advertir preliminarmente de que o
“silêncio do réu poderá resultar em prejuízo de sua própria defesa”, contudo, o réu
possui o direito de manter-se em silêncio para “não se incriminar” (AMORIM;
BURGOS; de LIMA, 2001).

Todas as testemunhas prestam depoimento na polícia, com assistência oficial e


legal da defesa e acusação. É importante ressaltar que a assistência advocatícia varia
de acordo com as posições do acusado, refletindo no comparecimento qualificado ou
na ausência das testemunhas, que pode acontecer por inúmeras razões, como, mudança
de residência, dificuldade de locomoção, doenças, mortes etc. Em muitos casos, réus
mais pobres não conseguem levar suas testemunhas ao tribunal. Durante o processo
judicial, o réu pode estar preso ou em liberdade.

No Brasil existe o sistema de “prisão especial” que separa, por exemplo, pessoas
portadoras de instrução superior de “presos comuns” (AMORIM; BURGOS; de LIMA,
2001).

A legislação brasileira, de modo geral, prevê dois tipos de infrações penais:


crimes (ou delitos) e contravenções, que são infrações penais de menor impacto e que
são tipificadas na Lei de Contravenções Penais (Lei n° 3.688 de outubro de 1941). De
acordo com o Código Penal, apenas crimes ou delitos cometidos por ação ou omissão,
podem ser dolosos ou culposos tendo sido consumados ou caracterizarem-se como
tentativa. Os tipos de pena são: privativas de liberdade, restritivas de direitos e multa.

No caso das penas privativas de liberdade, estas podem ser de reclusão ou


detenção. O cumprimento da pena nos diferentes casos citados (FERREIRA;
FONTOURA, 2008).

5
PERÍCIA CRIMINAL

DIREITO PENAL – PENAS EM ESPÉCIE

Os regimes para as penas privativas de liberdade têm as seguintes características:

• Regime fechado: por lei deve ser cumprido em celas individuais. Durante o dia
o prisioneiro deve trabalhar e durante a noite deve ficar em isolamento.

• Regime semiaberto: cumprido em colônia agrícola, industrial ou semelhante,


alojamento coletivo, com possíveis atividades externas sem vigilância, caso o
juiz permita.

• Regime aberto: o preso deve trabalhar sem vigilância e recolhe-se à casa de


albergado para dormir e para passar os dias de folga.

Caso a pena seja superior a oito anos, seu cumprimento inicia-se em regime
fechado. Penas maiores de quatro anos e inferiores a oito anos, iniciam-se em regime
aberto, e penas menores de quatro anos, iniciam-se em regime aberto (no caso de réu
primário). O cumprimento da pena deve ser progressivo, o que significa que o juiz da
6
PERÍCIA CRIMINAL

execução define a pena inicial e sua progressão acontece com o tempo e de acordo com
o comportamento do preso, dependendo de pareceres internos que avaliam
comportamento e recuperação do preso. A pena muda de um regime para outro quando
cumprido pelo menos um sexto da pena no regime anterior.

Para passar para o regime aberto, é necessário comprovação de trabalho ou


promessa de emprego. Em casos de desobediência das exigências da execução ou nova
condenação, o regime penitenciário pode regredir (FERREIRA; FONTOURA, 2008).

Atualmente, o sistema penitenciário brasileiro passa por diversas dificuldades,


considerando que o país vive um abandono do sistema prisional. O que devia ser objeto
de ressocialização, em certos casos, torna-se escola do crime devido ao modo como é
tratado pelo estado e pela sociedade, além disso, existem diferentes problemas quanto
ao desenrolar da etapa de inquérito até o processamento, o que costuma ser
demasiadamente demorado (DULLIUS; HARTMANN, 2011).

Como exemplo, temos o estudo de Ribeiro e Silva (2010), no qual os autores


afirmam que desde 1967 o sistema judiciário vem passando por um efeito funil, em
que apenas aproximadamente 16% dos inquéritos policiais e 35% dos implicados em
processos por contravenção chegaram a ser sentenciados a penas privativas de
liberdade,

7
PERÍCIA CRIMINAL

Aula 3 - A PERÍCIA CRIMINAL NA LEGISLAÇÃO


VIGENTE – Parte 1

A perícia criminal na legislação vigente

O termo perícia vem do latim, e seu significado é destreza, competência e


habilidade (COSTA, 2008). A perícia criminal está presente nos dias atuais e vem
sendo utilizada desde o império de César, na Roma antiga, quando ele aplicou o método
de “exame local”. Acredita-se que César, após receber a notícia de que um de seus
servidores jogou a esposa de uma janela, compareceu ao local para examinar o quarto
e encontrou sinais de violência. Atualmente, o método usado por ele é algo comum,
visto que em cenas de crime os peritos examinam o local e realizam diferentes
procedimentos adequados para a coleta de provas (VARGAS; KRIEGER, 2014).

Havendo infrações penais de cunho suspeito, que deixem vestígios, a presença


do perito criminal é solicitada. É necessário realizar o isolamento do ambiente para sua
preservação. Assim, o perito é capaz de coletar provas e descrever precisamente todas
as informações possíveis, uma vez que a cena de crime fala por si só. O perito tem
também a responsabilidade de caracterizar o tipo de ocorrência e quais os meios
utilizados para sua realização. Deve criar hipóteses a partir das informações obtidas na
cena do crime, investigar por meio de análises laboratoriais e exames suplementares e,
finalmente, alcançar o esclarecimento dos fatos (BARBAIS, 2018).

No âmbito penal, é indispensável a existência de provas para instruir o processo


e julgá-lo. Para tanto, a prova pericial é fundamental. Visto que é tida como ciência
forense, passa por verificações, análises e comprovação. Por consequência, esse tipo
de prova possui uma margem de erro muito pequena, o que evita prejudicar pessoas
inocentes ou inocentar um culpado. Cabe à criminalística e a toda sua organização
interna respaldar os órgãos judiciários nas decisões, por meio de laudos que apresentem
clareza e concisão, reduzindo tanto quanto possível a margem de dúvidas, bem como
questionamentos. A respeito de perícias, é necessário não somente buscar informações,
hipóteses ou resultados, é essencial priorizar o esclarecimento da verdade (BARBAIS,
2018).

A perícia é fundamental para o conhecimento de todos os aspectos que envolvem


a materialidade do delito e, para isso, são realizadas análises nos instrumentos usados
no crime, nas pessoas envolvidas, no local, nos documentos e nos cadáveres (SENNA,
2014).

1
PERÍCIA CRIMINAL

Diversas são as atribuições do perito, uma delas é a de auxiliar o juiz. De acordo


com a Lei n° 13.105 (Código de Processo Civil), de 16 março de 2015, Título IV,
Capítulo III, Dos Auxiliares da Justiça:

Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam
determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria,
o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o
mediador, o conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador
de avarias.

Na seção II deste mesmo capítulo, Lei (art. 156 a 158) é apresentada os aspectos
legais específicos do perito, profissional que presta assistência ao juiz nos casos em
que a prova depende de conhecimento técnico ou científico. Esse profissional deve
cumprir seu ofício fazendo uso de toda sua diligência, durante o prazo designado pelo
juiz. Tal dever somente pode ser escusado com apresentação de motivo legítimo.
Quando por dolo ou culpa, o perito prestar informações inverídicas, responderá pelos
prejuízos causados, além de ficar inabilitado para realizar outras perícias no período de
2 (dois) a 5 (cinco) anos, independentemente das sanções previstas na lei.

O juiz, nesse caso, tem o dever de comunicar os fatos ao respectivo órgão de


classe, que deve tomar as medidas cabíveis. O perito é um profissional altamente
capacitado e atualizado, que tem a habilidade de atuar em ações jurídicas fazendo uso
de meios científicos, técnicos ou artísticos, com o objetivo de chegar à verdade do fato
em questão, por meio da elaboração do laudo técnico pericial, após analisar todas as
evidências. Esse laudo passa a ser uma das provas que compõem um processo judicial
(COSTA, 2008).

De acordo com o CPC, no mesmo Capítulo, Seção IV, Do Intérprete e do


Tradutor, art. 163, não poderá ser intérprete ou tradutor aquele que não possui livre
administração de seus bens, for arrolado como testemunha ou atuar como perito no
caso, e ainda, aquele que estiver inabilitado para exercer a profissão por sentença penal
condenatória (válido enquanto durarem os efeitos da sentença).

Quanto às audiências de instrução e julgamento, Capítulo XI, art. 361, parágrafo


único, enquanto o perito, assistentes técnicos, testemunhas e as partes estiverem
depondo, os advogados e o Ministério Público não poderão intervir ou apartear sem
autorização do juiz. Já com relação aos prazos de entrega de laudos:

Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de


imediato o prazo para a entrega do laudo. Nesse caso, dentro de 15 (quinze) dias da
nomeação do perito, as partes devem nomear o perito, podendo arguir seu impedimento
ou suspeição quando necessário, indicar assistente técnico e apresentar quesitos.

2
PERÍCIA CRIMINAL

Quando o perito tiver ciência de sua nomeação, deverá apresentar em 5 (cinco)


dias a proposta de honorários, currículo, comprovação de especialização e contato
profissional. A partir disso, as partes serão intimadas da proposta de honorários para
manifestação (também com prazo de cinco dias).

Pode o juiz autorizar o pagamento de até cinquenta por cento dos honorários
arbitrados a favor do perito no início dos trabalhos, no entanto, o valor remanescente
somente será pago após entrega de laudo e prestação de todos os esclarecimentos
necessários. Ainda neste artigo, nos parágrafos 5° e 6°, sobre perícias inconclusivas e
realização por cartas:

§ 5° Quando a perícia for inconclusiva ou deficiente, o juiz poderá reduzir a


remuneração inicialmente arbitrada para o trabalho.

§ 6° Quando tiver de realizar-se por carta, poder-se-á proceder à nomeação de


perito e à indicação de assistentes técnicos no juízo ao qual se requisitar a perícia. O
perito deve ainda, de acordo com o art. 466, cumprir escrupulosamente os encargos
que lhe foram cometidos, independentemente de termo de compromisso, devendo
assegurar aos assistentes das partes o acesso e o acompanhamento dos procedimentos,
comunicando com antecedência mínima de 5 (cinco) dias. Conforme já mencionado
anteriormente, o perito pode escusar-se (diante de apresentação de documento
legítimo) ou pode ser recusado por motivos de impedimento ou suspeição (art. 467).

Quanto à substituição: Art. 468. O perito pode ser substituído quando:

• I - Faltar-lhe conhecimento técnico ou científico;


• II - Sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi
assinado.

Nos parágrafos 1°, 2°e 3°deste artigo são esclarecidos os procedimentos para
substituição pericial. No caso do inciso II, ao juiz cabe comunicar a ocorrência à
corporação profissional respectiva, impor multa ao perito (considerando o valor da
causa e possíveis prejuízos causados pelo atraso no processo). O perito substituído
deverá restituir os valores recebidos pelo trabalho não realizado (no prazo de 15 dias),
sob pena de ficar impedido de atuar como perito judicial por cinco anos.

E, de acordo com o parágrafo 3°, não havendo restituição voluntária, a parte que
tiver realizado o adiantamento dos honorários poderá realizar execução contra o perito,
fundamentada na decisão que determinar a devolução do valor.

3
PERÍCIA CRIMINAL

Aula 4 - A PERÍCIA CRIMINAL NA LEGISLAÇÃO


VIGENTE – Parte 2

O artigo 469 acrescenta a possibilidade de as partes apresentarem quesitos


suplementares durante a diligência, podendo ser previamente respondidos pelo perito
ou respondidos na audiência de instrução e julgamento, sendo que o escrivão dará à
parte contrária o conhecimento da juntada dos quesitos aos autos. Nesse sentido:

Art. 470. Incumbe ao juiz:

• I - Indeferir quesitos impertinentes;

• II - Formular os quesitos que entender necessários ao esclarecimento da causa.

As partes poderão (de comum acordo), conforme art. 471, escolher o perito,
realizando a indicação mediante requerimento, desde que sejam capazes e seja possível
resolver a causa por autocomposição. Nos parágrafos deste artigo são apresentados os
procedimentos para continuidade do processo com perícia consensual:

§ 1° As partes, ao escolher o perito, já devem indicar os respectivos assistentes


técnicos para acompanhar a realização da perícia, que se realizará em data e local
previamente anunciados.

§ 2° O perito e os assistentes técnicos devem entregar, respectivamente, laudo e


pareceres em prazo fixado pelo juiz.

§ 3° A perícia consensual substitui, para todos os efeitos, a que seria realizada por
perito nomeado pelo juiz.
1
PERÍCIA CRIMINAL

De acordo com o artigo 472 ao juiz existe a possibilidade de dispensar prova pericial
quando as partes apresentarem pareceres técnicos ou documentos que possibilitem a
elucidação.

E conforme o artigo 473, o laudo deve conter:

• I - A exposição do objeto da perícia;

• II - A análise técnica ou científica realizada pelo perito;

• III - A indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser


predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual
se originou;

• IV - Resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes


e pelo órgão do Ministério Público.

Isto é, o perito apresentará sua fundamentação (em linguagem simples) de modo


coerente e lógico, destacando como alcançou suas conclusões. O perito não poderá
ultrapassar os limites de sua designação, o que significa que não poderá emitir opiniões
pessoais, pois estas excedem o exame técnico ou científico do objeto da perícia.

Para o desempenho de suas funções, os peritos e assistentes técnicos podem


utilizar todos os meios necessários, como ouvir depoimentos de testemunhas, solicitar
documentos de propriedade de terceiros, terceiros ou funcionários públicos, utilizando
formulários eletrônicos, mapas, plantas, desenhos para indicar laudos, fotos e
esclarecimentos. Elementos do assunto de especialização. Ainda em progresso:

Art. 474. As partes terão ciência da data e do local designados pelo juiz ou
indicados pelo perito para ter início a produção da prova.

Art. 475. Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de
conhecimento especializado, o juiz poderá nomear mais de um perito, e a parte, indicar
mais de um assistente técnico.

Art. 476. Se o perito, por motivo justificado, não puder apresentar o laudo dentro
do prazo, o juiz poderá conceder-lhe, por uma vez, prorrogação pela metade do prazo
originalmente fixado.

Conforme o artigo 477, o perito deverá protocolar o laudo em juízo (no prazo
fixado pelo juiz), com uma antecedência de pelo menos 20 (vinte) dias da audiência de
instrução e julgamento. As partes serão intimadas, para caso tenham a intenção,
manifestar-se a respeito do laudo do perito, no prazo de quinze dias, e o assistente
2
PERÍCIA CRIMINAL

técnico das partes deverá apresentar seu parecer dentro do mesmo prazo. O perito terá
o dever de esclarecer, dentro do prazo de quinze dias: possíveis divergências ou
dúvidas que as partes, o juiz ou o Ministério Público apresentarem e divergências
existentes no parecer do assistente técnico da parte.

Quando ainda persiste a necessidade de esclarecimentos, a parte deverá requerer


ao juiz que intime o perito ou assistente técnico a comparecer à audiência e deverá
formular suas perguntas sob forma de quesitos. O perito ou assistente técnico será
intimado por meio eletrônico com no mínimo 10 (dez) dias de antecedência da
audiência.

Quanto aos casos de avaliação de autenticidade e falsidade documental ou


natureza médico-legal, o artigo 478 diz que o perito será escolhido, preferencialmente,
entre os técnicos de estabelecimentos oficiais especializados.

O juiz autorizará a remessa dos autos e do material sujeito a exame aos diretores.
Havendo a hipótese de gratuidade de justiça, os prazos deverão ser cumpridos de
acordo com a determinação judicial.

A prorrogação de tais prazos, poderá ser requerida motivadamente. Quando se


tratar de exame de autenticidade da letra e firma, poderá o perito requisitar documentos
de repartições públicas ou, caso estes não existam, poderá requerer ao juiz que o autor
do documento lance em folha de papel diferentes dizeres (para efeito de comparação).

Posteriormente, conforme o artigo 479, o juiz apreciará a prova pericial (de


acordo com o art. 371), e indicará em sua sentença os motivos de considerar ou não as
conclusões do laudo (tendo em vista o método empregado pelo perito).

Em casos de necessidade de novas perícias:

Art. 480. O juiz determinará de ofício ou a requerimento da parte, a realização


de nova perícia quando a matéria não estiver suficientemente esclarecida.

§ 1°A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre os quais recaiu a
primeira e destina-se a corrigir eventual omissão ou inexatidão dos resultados a que
esta conduziu.

§ 2° A segunda perícia rege-se pelas disposições estabelecidas para a primeira.

§ 3° A segunda perícia não substitui a primeira, cabendo ao juiz apreciar o valor


de uma e de outra.

3
PERÍCIA CRIMINAL

Já na seção XI, Da Inspeção Judicial, o art. 482 diz que o juiz pode ser assistido
por um ou mais peritos quando realizar a inspeção. E no Capítulo XIV, da Liquidação
de Sentença,

No art. 510, é exposta a ação do juiz necessária quanto à apresentação de


pareceres ou documentos elucidativos pelas partes neste momento processual. Não
podendo o juiz realizar tal ação, poderá nomear perito para realizar o procedimento de
prova pericial.

FLUXOGRAMA DO CPC

4
PERÍCIA CRIMINAL

Conforme o exposto há diversas leis a respeito da atuação do perito. Aqui,


somente foram expostas as leis vigentes específicas para perícia criminal. Vale ressaltar
que a perícia criminal possui diferentes áreas de atuação ligadas à polícia. As atividades
de perícias criminais são subdivididas em várias categorias, tais como: exames periciais
em locais de crime contra a vida; contra o patrimônio; de revelação de impressões
papilares; de identificação de veículos automotores; balística forense;
documentoscopia forense; informática forense; fonética forense etc. (VARGAS;
KRIEGGER, 2014).

A situação da perícia criminal no Brasil vem sofrendo algumas modificações. A


SENASP/MJ, em 2012, apontou 16 estados independentes. Como pode ser observado,
há atualmente 18 estados em que os órgãos periciais já não são vinculados à estrutura
da Polícia Civil: Alagoas, Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do
Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins. Contudo, a constituição
atual ainda não prevê a existência de órgãos periciais autônomos.

A desvinculação das Perícias Criminais com a Polícia Civil possui diferentes


formas, por exemplo, em alguns estados acontece por meio da vinculação à Secretaria
de Segurança ou diretamente ao governo estadual.

5
PERÍCIA CRIMINAL

Aula 5 - FONÉTICA FORENSE

A linguística quando aliada à sociologia é capaz de explicar variações e


mudanças na língua (sociolinguística). Pesquisadores do discurso buscam noções sobre
a constituição do sujeito e a produção dos sentidos na psicanálise e no marxismo
(análise do discurso). Diferentes áreas da linguística têm sido utilizadas em união com
outras áreas, como a ciência forense, que busca estudar as particularidades da fala para
diversos fins. Na Fonética Forense realiza-se a verificação de locutor, comparando
duas falas: uma gravação de voz suspeita e um padrão de voz coletado (do possível
autor da voz suspeita).

A fala é avaliada como um sinal biológico eletronicamente processado e, desse


modo, os estudos não devem se restringir à produção da fala e, sim, se expandir ao
processamento do sinal. Para isso, são utilizados principalmente os seguintes métodos
de avaliação: análise perceptiva, acústica, combinação entre perceptiva e acústica e
análise automática de reconhecimento de locutor (GOMES, CARNEIRO, DRESCH,
2016).

Tais perícias são inspiradas na metodologia do American Board of Recorded


Evidence (ABRE) e do Association of Forensic Phonetics and Acoustics (IAFPA), por
meio da qual as conclusões são definidas em escala qualitativa divididas em sete níveis.

Esses níveis são classificados de acordo com critérios previamente definidos.


Para que sejam alcançados níveis máximos da escala, ou seja, de identificação ou de
eliminação, é necessário satisfazer um conjunto de condições que, com os
procedimentos de análise tradicionais, é difícil realizarem.

Tal problema demonstra a necessidade de novos parâmetros de análise de voz,


capazes de alcançar maior exatidão de conclusões periciais (MARTINS et al. 2014).

1
PERÍCIA CRIMINAL

A análise perceptiva é aplicada para definir a qualidade vocal, pois esta é, por
natureza, perceptual. Por esses motivos, as áreas clínicas valorizam as medidas
perceptivas mais que as instrumentais. A avaliação forense da qualidade vocal deve
necessariamente priorizar a análise perceptivo-auditiva.

Quando há dúvidas, devem-se buscar fenômenos que ancorem ou refutar os


achados por meio da avaliação acústica. Em casos de disfarce de voz existem
parâmetros importantes a se considerar, como as condições fisiologicamente distintas.
Se uma pessoa realiza um disfarce com voz soprosa, a comparação de sua voz normal
com a disfarçada deve exibir quais medidas foram alteradas e como. Para reconhecer
uma voz disfarçada é preciso que se conheça a voz natural do falante, pois sem isso
não é possível afirmar quais características são diferentes (GOMES; CARNEIRO;
DRESCH, 2016).

Em casos de natureza judicial é imprescindível a realização de análises das


provas. Nesse sentido, o perito de fonética forense, quando se trata de análises de
fonética acústica, atua avaliando principalmente gravações de escutas telefônicas, que
são ainda o meio de prova mais moderno na legislação processual penal, afinal atende
à facilidade de uso de novas tecnologias de informação e comunicação que são capazes
de encobrir atividades ilícitas.

Entretanto, as escutas telefônicas somente podem ser utilizadas para a obtenção


de provas quando estão devidamente autorizadas, para evitar que constituam ameaça
ou violação da intimidade e para reserva da vida privada das pessoas. Ressalta-se ainda
que o perito não possui função testemunhal, pois a testemunha narra os fatos e o perito
tem a função de avaliá-lo. O perito também analisa as provas de acordo com um
parâmetro conhecido como duração do pré-vozeamento, devido à necessidade de
proceder ao estudo de novos parâmetros de análise forense da voz para a obtenção de
provas e resultados mais objetivos. Até o momento, as perícias de fonética forense são
inspiradas na metodologia da American Board of Recorded Evidence(ABRE) e da
International Association of Forensic Phonetics and Acoustics (IAFPA) (já
mencionada anteriormente).

Assim, atualmente as atividades periciais ainda são definidas por meio de


conclusões acerca de uma escala de base qualitativa, e muitas vezes as evidências
encontradas não apresentam valor judicial semelhante ao de respostas obtidas em
estudos quantitativos estatisticamente significativos (MARTINS et al., 2014). De
acordo com Martins et al. (2014), problemas como esses influem drasticamente na
solução de casos judiciais e, nesse sentido, novos parâmetros de análise devem ser
buscados, visando apresentar grau de robustez mais elevado. Devem ser reunidas as
condições apresentadas a seguir (quanto ao pré-vozeamento):

• Devem ser detectáveis nas frequências presentes na banda telefônica.


2
PERÍCIA CRIMINAL

• Devem ser pouco influenciáveis por ruídos externos.

• Devem estar presentes em situações de disfarce.

• Devem estar ausentes em imitações.

• Não devem ser afetados por intervalos de tempo prolongados entre as gravações.

De acordo com o Instituto Geral de Perícias (IGP), o SEPAI (Setor de Perícias


em Áudio e Imagem) examina registros de áudio e imagem, empregando as seguintes
análises:

• Conteúdo de registros de áudio e imagem.

• Verificação de edição em áudio e imagem.

• Comparação de locutores por meio de áudio.

• Comparação facial por imagem.

• Comparação de padrão por imagem.

• Fotogrametria (estimativa de altura e distância em imagens).

• Estimativa de Velocidade Veicular (em imagem).

• Análise de conteúdo audiovisual e verificação de possível edição.

Somente órgãos oficiais solicitam as análises e é necessário apresentar o material


questionado, na forma física, explicando na requisição:

• Tipo de exame a ser realizado.

• Descrição e identificação do material.

• Histórico da ocorrência.

• Trecho da gravação (de áudio ou vídeo) que será examinado, indicando o


indivíduo ou objeto-alvo.

3
PERÍCIA CRIMINAL

Trabalho e carreira

A Linguística Forense tem uma atuação diretamente pericial nas áreas de


fonética forense (identificação de falantes);

Análise de conteúdo de sentenças e textos questionados nos tribunais, como


rótulos, bulas de remédio e advertências, tradução forense, perfilamento linguístico de
suspeitos em caso de investigações criminais;

Os Tribunais de Justiça têm um quadro de peritos cadastrados. Nessa seara


podem atuar como perito do juízo (perito judicial nomeado pelo juiz) nas varas de
família, cível, trabalhista, empresarial e criminal além de trabalhar como tradutores
públicos e intérpretes comerciais, juramentados;

Nas Instituições Policiais podem atuar com orientação, treinamento e


capacitação de investigadores e negociadores;

No Ministério Público desenvolvem trabalho de assessoria à Promotoria de


Justiça: peritos particulares são solicitados como assistentes técnicos por escritórios de
advocacia particulares, podendo atuar como assistente técnico;

Como profissional autônomo, pode desempenhar trabalho de consultor linguista.


A Linguística Forense é a área da linguística aplicada que se dedica ao estudo da
linguagem na esfera forense inserida num contexto interdisciplinar, utilizando
conhecimentos de análise de linguagem escrita e falada, na sua relação com o Direito,
com a Criminologia e com o Processo Judicial.

Dessa forma, o conteúdo programático do curso é constituído por módulos de


Direito e de Linguagem e Direito, bem como por módulos de Análise Linguística como
investigação e como prova nos diversos contextos forenses combinando disciplinas dos
ramos de Ciências da Linguagem e de Ciências Jurídicas.

A Linguística Forense está estruturada em várias áreas, que vão desde a


linguística como auxílio à investigação policial até à linguagem da lei, passando pela
linguagem dos tribunais, pela linguagem utilizada em contextos policiais, pelo
multilinguismo e pelos direitos linguísticos, não esquecendo a linguagem como prova.
4
PERÍCIA CRIMINAL

Aula 6 - PAPILOSCOPIA FORENSE - PARTE 1

Papiloscopia forense

A papiloscopia é a ciência responsável pela investigação humana a partir das


papilas dérmicas presentes na palma das mãos e na sola dos pés, ou seja, o estudo das
Impressões Digitais. Esta ciência forense é considerada a mais antiga e é usada para
estabelecer a identidade das pessoas.

Com a criação do Sistema Automático de Impressões Digitais, isto é, o software


AFIS (do inglês: Automated Fingerprint Identification System), houve uma melhoria
substancial na realização desse tipo de investigação, possibilitando a realização de
pesquisas de fragmentos minúsculos coletados em locais de crime e facilitando a
identificação do autor do delito investigado (SENNA, 2014).

O processo de identificação humana pelas impressões digitais é definido como


datiloscopia e seus postulados são: perenidade, imutabilidade e variabilidade. A
perenidade diz que no 6°mês de vida-uterina já existem impressões digitais e estas se
conservam até a putrefação cadavérica. A imutabilidade diz que os desenhos digitais
jamais se alteram, ou seja, são os mesmos até a putrefação pós-morte.

É possível que ocorram danificações temporárias em virtude de doenças como


lepra, dermatoses, queimaduras, entre outras, contudo, os desenhos voltam a sua forma
inicial após a recuperação. E a variabilidade diz que não existem duas impressões
digitais idênticas, o que significa que há variações de pessoa para pessoa e de dedo para
dedo de uma mesma pessoa (ISSBENER, 2013).

1
PERÍCIA CRIMINAL

As particularidades dos desenhos papilares existentes nos dedos, palmas das


mãos e planta dos pés, foram estudadas desde o século XVIII até ser possível criar um
sistema de classificação datiloscópico. É na parte mais externa da pele que se encontra
o desenho digital.

Nele é possível observar os sistemas de linha marginal, nuclear e basilar. As


linhas dos sistemas basilar e marginal comumente são paralelas, abauladas e
apresentam direção contínua, enquanto as linhas do sistema nuclear possuem diversas
formas (SENNA, 2014).

O sistema nuclear é formado por linhas centrais e é envolvido pelas linhas do


sistema marginal e basilar. O sistema marginal se encontra na parte superior da
impressão e o sistema basilar, na parte inferior (limitado com a prega interfalangiana
do dedo).

Na representação de uma impressão digital existem quatro elementos


representativos importantes: linhas pretas, linhas brancas, pontos brancos sobre as
linhas pretas e as linhas datiloscópicas.

As linhas pretas retratam as cristas papilares e as linhas brancas representam os


sulcos interpapilares. Os pontos brancos sobre as linhas pretas representam os poros
sudoríparos que existem nas cristas papilares, enquanto as linhas datiloscópicas são
linhas brancas que causam interrupções das cristas em vários sentidos e não
acompanham as linhas pretas das cristas papilares (ISSBENER, 2013).

Outro importante elemento da impressão digital é o Delta, que é formado pela


confluência dos sistemas de linha marginal, basilar e nuclear. A posição do delta é
determinante para a definição do tipo e do subtipo de impressão digital.

2
PERÍCIA CRIMINAL

O método de classificação utilizado atualmente foi desenvolvido por Juan


Vucetich, que definiu 4 (quatro) principais tipos de impressões digitais

• Arco (normalmente não possui delta).


• Presilha interna (delta à direita do observador).
• Presilha externa (delta à esquerda do observador).
• Verticilo (possui um delta à esquerda e um à direita)

3
PERÍCIA CRIMINAL

Quando esses quatro tipos de impressão digital são classificados para o dedo
polegar, utilizam-se as letras A, I, E, e V, respectivamente. Já para os demais dedos
utilizam-se os números de 1 a 4. A classificação alfanumérica é empregada para
facilitar o arquivamento e pesquisa de arquivos datiloscópicos (SENNA, 2014).

A extração de características de impressões digitais possui algumas


complicações, apesar de haver grande variedade de técnicas disponíveis que tentam
solucioná-la. Apenas um pequeno número de características extraídas das impressões
digitais é realmente usado. Em geral, quase todas as técnicas baseiam-se nas seguintes
características:

• Imagem de orientação.
• Linhas de fluxo de crista.
• Pontos singulares.
• Análise dos filtros de Gabor.

A imagem de orientação é uma matriz discreta de elementos representativos da


orientação média local das cristas da impressão digital. Ela consegue resumir de
maneira eficaz a informação contida no padrão da impressão digital, podendo ser
facilmente calculada a partir de imagens ruidosas.

Além do mais, é possível restaurar orientações locais de zonas ruidosas


utilizando processos de regularização. Por esse motivo, a maior parte das técnicas de
classificação faz uso da imagem de orientação como característica.

4
PERÍCIA CRIMINAL

No que diz respeito às linhas de fluxo de crista, as cristas são características


discriminatórias de grande importância, mesmo não sendo fácil extraí-las de imagens
ruidosas.

Apesar disso, estas são mais robustas se comparadas aos pontos singulares.
Geralmente são representadas como conjunto de curvas paralelas sobre as linhas de
crista, e estas curvas nem sempre são coincidentes com as cristas e vales das impressões
digitais, contudo, exibem a mesma orientação local.

As linhas de fluxo de crista são tipicamente extraídas da imagem de orientação


ou pela binarização da imagem e operação de afinamento das cristas binarizadas. É
comum a realização de melhorias na imagem por aplicação de técnicas de filtragem,
antes da extração das linhas de fluxo de cristas.

Em alguns casos, após detecção das linhas de crista, são feitas análises de suas
formas e extração de uma ou mais curvas representativas, que não necessariamente
correspondem a uma linha de crista. Essas são nomeadas pseudocristas ou trações de
fluxo de linhas.

Referente aos pontos singulares existe grande complexidade em encontrar os


pontos singulares core e delta numa impressão digital, principalmente em imagens de
baixa qualidade. A maior parte das técnicas empregadas para detecção de tais
singularidades baseia-se no índice de Poincaré, que é calculado sobre uma curva.

Os filtros de Gabor são usados em trabalhos de melhoria de imagens de


impressões digitais, principalmente por possuírem propriedades seletivas de frequência
e orientação.

Existe também a representação das impressões digitais baseada na resposta dos


filtros de Gabor conhecida como Finger code que faz analogia ao Iris code, e pode ser
5
PERÍCIA CRIMINAL

aplicada tanto em tarefas classificatórias quanto de coincidência de impressões digitais.


Ressalta-se que a maioria das técnicas de classificação existentes utiliza a imagem de
orientação.

Se o cálculo das características é feito com exatidão e detalhes suficientes, todas


as informações necessárias para a classificação estarão inclusas.

O estudo das impressões digitais é tão amplo e complexo que diversos


pesquisadores propõem técnicas específicas para o melhoramento de imagem de
orientação, visando permitir o aumento e a exatidão da classificação. A maioria das
técnicas de classificação existentes está presente em uma das seguintes categorias
(SAMATELO, 2007):

• Técnicas baseadas em regras;


• Sintáticas;
• Estruturais;
• Baseadas em redes neurais;
• De múltiplos classificadores.

Existem anomalias que fazem com que o datilograma não se enquadre na


classificação dos tipos fundamentais de impressões digitais, por exemplo, a má
formação congênita das cristas papilares. São elas: a ectrodactilia, sindactilia,
adactilia, macrodactilia, e a polidactilia.

6
PERÍCIA CRIMINAL

A ectrodactilia é uma anomalia congênita do desenvolvimento embriológico


fetal que atinge cerca de 1 (um) a cada 90-150 mil nascidos vivos. Isso acontece devido
à herança autossômica dominante possuindo penetrância variável (GROSSI et al.,
2017).

A ectrodactilia pode apresentar-se isoladamente (forma não sindrômica), ou


associar-se a outras malformações (forma sindrômica) como fenda palatina, displasia
ectodérmica, envolvimento de pododáctilos, anomalias craniofaciais, aplasia tibial e
associação com surdez neurossensorial, além de outras 40 associações já descritas em
literatura. A síndrome mais descrita é a caracterizada por ectrodactilia, displasia
ectodérmica e fenda palatina/labial Além dos formatos da fenda (em V ou em U),
outras alterações descritas na literatura buscam distinguir as formas típicas e atípicas.

De modo geral, sindactilia, lábio leporino associado, acometimento de pés,


herança familiar, brotos digitais ausentes e bilateralidade são mais característicos do
subtipo típico.

7
PERÍCIA CRIMINAL

Aula 7 - PAPILOSCOPIA FORENSE - PARTE 2

A Sindactilia é uma anomalia congênita que acontece devido à falha da apoptose


no tecido mesenquimal interdigital entre a sétima e oitava semana de gestação. Essa
deformidade é uma das mais frequentes, atingindo 1 (um) a cada 2000 nascidos vivos,
e pode ser definida também como uma fusão entre dedos.

A Sindactilia é um termo utilizado para descrever uma situação, muito comum,


que acontece quando um ou mais dedos, das mãos ou dos pés, nascem grudados. Esta
alteração pode ser provocada por alterações genéticas e hereditárias, que ocorrem
durante o desenvolvimento do bebê na gravidez e, muitas vezes, está associada ao
aparecimento de síndromes.

O diagnóstico pode ser feito através de ultrassom no período da gestação ou


pode ser identificado apenas após o bebê nascer. Caso seja feito o diagnóstico na
gravidez, o médico obstetra poderá recomendar a realização de testes genéticos para
analisar se o bebê tem alguma síndrome.

1
PERÍCIA CRIMINAL

A classificação da sindactilia é feita de acordo com a quantidade de dedos


grudados, a posição da junção dos dedos e se tem ossos ou apenas partes moles entre
os dedos envolvidos. O tratamento mais indicado é a cirurgia, que é definida de acordo
com esta classificação e conforme a idade da criança.

A Adactilia é uma amputação congênita dos dedos de uma ou ambas as mãos


(BISNETO, 2012).

A macrodictilia é o caso de gigantismo ou lipofibromatose digital (BATISTA et


al., 2008).

A macrodactilia, ou gigantismo digital, é uma anomalia congênita rara,


caracterizada por alargamento ou crescimento desproporcional dos dedos das mãos e
pés, podendo acometer todo o membro. Está presente no nascimento, ou é reconhecida

2
PERÍCIA CRIMINAL

no início da infância, tendendo a ser progressiva durante o período normal de


maturação esquelética.

Essa entidade foi primariamente descrita por Klein em 1821. Essa afecção pode
também ser conhecida com os nomes de megalodactilia, gigantismo localizado,
macrodistrofia lipomatosa, macrodactilia fibrolipomatosa.

Comumente, a macrodactilia é associada à hiperplasia ou hipertrofia dos nervos


mediano e/ou cubital, seguindo distribuição sensorial desses nervos.

Raramente, observamos o envolvimento do território dos dois nervos.


Histologicamente, o que observamos é hiperplasia ou hipertrofia caracterizada por
infiltração interfascicular de tecido gorduroso e por tecido fibroso ou, em outras
instâncias, por neurofibromas plexiformes bem delineados.

Na macrodactilia, todas as estruturas do dedo estão alargadas. A forma


verdadeira deve ser distinguida das outras patologias que podem cursar com
alargamento digital, tais como tumores e outras más-formações como hemangiomas,
linfedema congênito, fístulas arteriovenosas, lipomas, doença de Ollier
encondromatose múltipla, síndrome de Maffuci encondromatose com
hemangiomatose, síndrome de Klippel-Trenaunay-Weber, osteoma osteóide e
melorheosto- Segundo a maioria dos autores, duas formas de macrodactilia podem ser
descritas:

Forma estática - Consiste no sobrecrescimento proporcional de um dedo


presente desde o nascimento e que mantém sua dimensão proporcionalmente estática
em relação à dos demais dedos durante o período de maturação esquelética.

Forma progressiva - O dedo afetado pode não estar tão alargado durante o
nascimento e vir a deformar-se com o crescimento. Nesses casos o sobrecrescimento
leva a desvios angulares do dedo afetado clinodactilia.

3
PERÍCIA CRIMINAL

A forma progressiva é a mais comum. Existem outras formas de classificação,


mas adotaremos essa, por ser mais simples e abrangente descrita por Barsky.

Kelikian descreveu uma variante hiperostótica, na qual os ossos curtos da mão


apresentam desproporcionalidade grosseira e sem comprometimento nervoso. Em
relação ao sexo, a maioria dos autores acusa pequeno predomínio dos homens em
relação às mulheres. A manifestação unilateral é a mais frequente e são poucos os casos
descritos bilateralmente O acometimento digital é o mais frequente, embora a
deformidade possa estender-se à palma da mão e/ou antebraço em 7% e 4% dos casos,
respectivamente.

Kelikian utilizou a denominação de NTOM (nerve territory oriented


macrodactyly) para os casos típicos de macrodactilia em que se observou o
acometimento das áreas inervadas por um nervo específico, geralmente o mediano.

No que se refere ao acometimento digital, é raro atingir todos os dedos numa


mesma mão; os dedos mais afetados são o polegar, o indicador e o médio.

Essa afecção é de etiologia desconhecida, não havendo transmissão hereditária


comprovada. A associação com outras anomalias congênitas sistêmicas é rara. A
sindactilia ocorre em 10% dos casos.

As hipóteses mais prováveis para o sobrecrescimento na macrodactilia, descrito


por Englis, são:

1. suprimento nervoso anormal;


2. suprimento sanguíneo anormal;
3. mecanismo hormonal anormal.

Dessas, a mais aceita é a existência de algum controle nervoso sobre o


crescimento tissular. Alguns trabalhos sugerem a possibilidade de que a macrodactilia
ocorra por falha embrionária localizada no broto apendicular formador dos membros
superiores, alterando o tecido ectodérmico indutor do crescimento. Outros trabalhos
levantaram a hipótese de que a macrodactilia é uma forma frustrante de
neurofibromatose.

Do ponto de vista anatomopatológico, é consenso que, na macroscopia, os dedos


atingidos apresentam aumento de todas as estruturas. Os tendões flexores têm o
aspecto normal, com espessamento da bainha peritendínea. Os nervos digitais são
engrossados e tortuosos.

4
PERÍCIA CRIMINAL

O tratamento da macrodactilia é distinto para cada caso. Devem levar-se em


consideração vários aspectos, tais como:

O tipo de macrodactilia, a velocidade de progressão da doença, os dedos


envolvidos e a idade do paciente.

Em casos de aberrações e deformidades com grandes comprometimentos


estéticos e funcionais, a amputação é a melhor indicação.

Como bloqueio de crescimento, a epifisiodese das falanges, em pacientes jovens,


é um bom recurso e tem sido indicada por vários autores. A dermolipectomia, associada
à ressecção parcial ou total da falange distal, ou à artrodese com ressecção da
articulação interfalângica distal, é recurso que tem como objetivo diminuir o tamanho
do dedo em comprimento e espessura. Alguns autores, como Tsuge, recomendam a
neurectomia dos colaterais digitais como forma de inibir o crescimento ósseo e de
partes moles. Esse procedimento é baseado na teoria da proximidade do crescimento
anormal dos dedos em função de um suprimento nervoso anormal. Kelikian também
defende essa teoria.

A Polidactilia consiste na alteração anormal dos dedos das mãos (quirodáctilos)


ou pés (pododáctilos), ou seja, a pessoa afetada por esta anomalia tem mais de cinco
dedos em cada mão ou pé(ABC MED, 2014).

5
PERÍCIA CRIMINAL

A polidactilia é uma deformidade que acontece quando nasce um ou mais dedos


extras na mão ou no pé e pode ser causada por modificações genéticas hereditárias, ou
seja, os genes responsáveis por essa alteração podem ser transmitidos de pais para
filhos.

Esta alteração pode ser de vários tipos, como a polidactilia sindrômica que
acontece em pessoas com determinadas síndromes genéticas, e a polidactilia isolada
que é quando ocorre alteração genética relacionada apenas ao surgimento de dedos
extras. A polidactilia isolada pode ser classificada como pré-axial, central ou pós-axial.

Pode ser descoberta já na gravidez, através de ultrassom e testes genéticos, por


isso durante a gestação é importante a realização do pré-natal e acompanhamento com
médico obstetra, sendo que o tratamento depende da localização da polidactilia e,
alguns casos, é indicada a cirurgia para retirada do dedo extra.

6
PERÍCIA CRIMINAL

Aula 8 - PAPILOSCOPIA FORENSE - PARTE 3

A perícia papiloscópica se baseia na apuração de um conjunto de técnicas


utilizadas na coleta e na análise de impressões digitais, visando identificar a identidade
da pessoa responsável pela ação, por meio da avaliação dos vestígios e inserção destes
na cena do crime. Essa perícia é dividida em duas etapas: a primeira consiste no
levantamento de impressões digitais, palmares e plantares na cena delituosa e a
segunda consiste no confronto das impressões.

Esse confronto é a comparação das impressões encontradas na cena do crime


com impressões padrões de prováveis suspeitos (SENNA, 2014).

1
PERÍCIA CRIMINAL

Para o Instituto de Criminalística, as atividades da papiloscopia forense são:

Coletar e revelar impressões papilares de materiais obtidos em locais de crime,


contra o patrimônio ou a vida, ou de objetos envolvidos em delitos com uso de
reagentes químicos e softwares para tratamento de imagens, com o intuito de torná-las
aptas para confronto.

Confrontar impressões digitais de documentos oficiais com impressões digitais


enviadas por autoridade policial/judiciária, com prontuários arquivados nos órgãos
emissores de suspeitos envolvidos em delitos (indicados pela autoridade
policial/judiciária) e com indivíduos sugeridos pelo sistema AFIS.

Incluir no banco de dados do Sistema AFIS criminal as impressões digitais


coletadas nos locais de crime para pesquisa. De acordo com Senna (2014), a
aplicação da perícia papiloscópica é classificada em:

Material– técnicas e procedimentos feitos nos mais diversos materiais, com o


objetivo de localizar e revelar impressões digitais;

Veículo– técnicas aplicadas em veículos com o mesmo intuito da perícia


papiloscópica em material;

Local– procedimentos realizados em cenas de crimes para a identificação de


pessoas que estiveram no local;

Cadáveres– da mesma forma que no caso anterior, busca-se a identificação da


pessoa morta a partir de sua digital.
2
PERÍCIA CRIMINAL

Macedo e Campos (2013) afirmam que, quando se trata de impressões digitais


latentes, o papiloscopista deve ter conhecimento dos tipos de desenhos digitais, bem
como a composição de elementos excretados pela pele humana, pois, a partir disso, se
define o agente a ser empregado na revelação.

De acordo com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, existem


procedimentos operacionais padrão (POP) que devem ser seguidos para as análises
papiloscópicas, os quais serão apresentados a seguir.

Os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) necessários são:

➢ Jaleco.

➢ Luva de látex ou outra semelhante.

➢ Máscara.

➢ Para o entintamento e coleta de material, deve-se utilizar:

➢ Caneta preta ou azul.

3
PERÍCIA CRIMINAL

➢ Planilhas datiloscópicas.

➢ Placas de entintamento.

➢ Prancheta acanalada.

➢ Prancheta plana.

➢ Rolo de borracha ou outro semelhante.

➢ Tinta especial para a realização de coleta de impressões digitais.

4
PERÍCIA CRIMINAL

Para a limpeza do material:

➢ Estopa ou algodão;

➢ Solvente compatível com a tinta utilizada.

5
PERÍCIA CRIMINAL

➢ Papel toalha.

Para limpeza das mãos do identificador:

➢ Álcool 70%.

➢ Água corrente.

➢ Sabão ou detergente líquido.

➢ Toalhas descartáveis.

6
PERÍCIA CRIMINAL

O papiloscopista deve utilizar os EPIs necessários, de acordo com o tipo de


caso. Posteriormente, preencher a planilha datiloscópica manualmente, incluindo seu
nome e outros dados pessoais necessários.

Realizar o procedimento de lavagem e secagem das mãos para evitar


contaminações e prejuízos na qualidade das impressões coletadas. Examinar as
falanges e desenhos digitais e, caso haja lesões que possam comprometer a obtenção
de datilogramas de qualidade, o profissional deve interromper o procedimento.

Caso haja dúvidas a respeito do que o procedimento de coleta pode causar ao


identificando, o papiloscopista deve solicitar avaliação médica para verificação da
possibilidade de comprometimento da saúde ou se haverá possibilidade de agravar
lesões existentes.

É necessário ainda considerar a viabilidade de postergar a coleta para outro


momento que seja mais adequado e, por fim, proceder à retirada de curativos ou faixas
(se os desenhos digitais estiverem nítidos) quando há lesões superficiais.

Quando a coleta de impressões acontece em local onde um crime tenha acabado


de acontecer, é necessário que a cena do crime permaneça intacta, isto é, não se pode
realizar nenhuma modificação para garantir a integridade das evidências. Nesse
sentido, para a coleta papiloscópica, os seguintes procedimentos devem ser realizados
(COSTA, 2008):

O papiloscopista deve fotografar as impressões latentes antes de realizar


qualquer tratamento.

Deve examinar toda evidência visual com luz laser ou outra fonte luminosa antes
de fazer uso de qualquer outro procedimento de identificação latente.

Quando fizer uso de processos para obtenção de impressões latentes, deve


consultar instruções do fabricante, bem como as fichas de segurança.

Utilizar os EPI necessários.

Os reveladores de impressões latentes empregados em cenas de crimes podem


ser compostos por várias substâncias químicas puras ou por misturas. Esses materiais
atuam como ferramentas que possibilitam a obtenção de provas e são utilizados nos
procedimentos para garantir a integridade da evidência a fim de que ela seja aceita em
tribunal (COSTA, 2008).

7
PERÍCIA CRIMINAL

Quanto ao preparo da plaqueta, coloca-se uma pequena quantidade de tinta sobre


ela, espalhando-a gradativamente com o auxílio de um rolo, até que toda a superfície
esteja coberta. Deve-se verificar se a quantidade de tinta utilizada foi suficiente. Já no
que diz respeito à coleta de material, existem dois procedimentos muito empregados.

O método rolado é realizado da seguinte maneira: inicia-se o estiramento


apoiando as falanges do identificando na placa, rolando de uma extremidade à outra
para que a tinta cubra completamente a falange distal.

A tinta deve atingir a área inferior à prega interfalangiana, uma vez que, assim,
obtém-se maior campo digital e melhores possibilidades de confrontos futuros. O
segundo método faz uso de um sistema eletrônico de geração de dados, que transforma
os aspectos físicos extraídos em um molde (Template), ou seja, transforma em um
conjunto de características. Esse método é muito mais eficiente que o anterior
(COSTA, 2001).

Método rolado para coleta de impressões digitais.

Leitores biométricos para coleta de impressões digitais.


8
PERÍCIA CRIMINAL

Lesões na ponta dos dedos não atrapalham a identificação biométrica

Desde 25 de fevereiro deste ano, a Justiça Eleitoral do Distrito Federal vem


cadastrando os seus eleitores em um novo sistema de identificação utilizando as
impressões digitais.

Como em toda mudança de procedimento, é natural que a população tenha


algumas dúvidas relacionadas a situações imprevisíveis que possam comprometer a
utilização da nova sistemática no momento de se identificar no dia das eleições gerais
de 2014.
Uma delas é a lesão nas pontas dos dedos. O eleitor pode questionar: caso a pessoa
sofra um corte no dedo antes do momento da votação, sua identificação será
comprometida? A resposta é negativa.

Exceto em casos graves (que deixam cicatrizes), a impressão digital se recupera


normalmente dos cortes, voltando ao mesmo desenho anterior. E, mesmo que no
momento da votação haja cortes e até cicatrizes, a impressão digital será reconhecida
normalmente.

O sistema de identificação biométrica pelas digitais funciona com o


reconhecimento de 13 pontos na impressão, enquanto a digital tem em média 50
pontos, o que é mais que suficiente para a realização do procedimento.Todavia, para
assegurar ainda mais a eficiência do procedimento, apesar de apenas uma digital ser
suficiente para a identificação, todos os dedos do eleitor são escaneados. Assim, se
houver problemas com a primeira digital (polegar), as outras poderão ser utilizadas.
(Fonte monografias Brasil escola).

9
PERÍCIA CRIMINAL

Recapitulando o contexto de papiloscopia

Como vimos, a papiloscopia é a ciência que trata da identificação humana


através das papilas dérmicas. O especialista em impressões papilares utiliza diversas
técnicas e procedimentos, baseados no rigor técnico e na objetividade do conhecimento
adquirido ao longo da sua carreira, na aplicação do método papiloscópico na
individualização de seres humanos.

Os fragmentos de impressões papilares levantados e revelados nos locais de


crimes são evidências fundamentais para desvendar a autoria de um crime com base
nos princípios da ciência papiloscópica, Perenidade, Imutabilidade e Variabilidade.
Para isso, os especialistas utilizam de reveladores de impressões papilares que são
produtos químicos desenvolvidos especificamente para reagirem com as substâncias
expelidas pelas glândulas sudoríparas e sebáceas presentes nas mãos e dedos das
pessoas.

A cadeia de custódia é essencial para preservar as evidências papilares, como


também, para assegurar a legalidade da prova material dentro do processo penal.

O confronto das impressões coletadas nos locais de crimes com as ficha de


identificação nos arquivos datiloscópicos dos Institutos de Identificação, o perito
pode ter a confirmação se o suspeito é ou não o autor de determinado crime, com base
nas minúcias ou pontos característicos extraídos do papilograma das peças examinadas.

O laudo papiloscópico é a prova objetiva da infração penal e tem como objetivo


oferecer às autoridades que atuam na persecução criminal os subsídios técnicos e
científicos necessários à elucidação do delito e sua autoria e, consequentemente, a
aplicação da sentença condenatória ao réu.

10
PERÍCIA CRIMINAL

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 8)

Caro aluno e aluna, sabemos que a papiloscopia é a ciência forense que trata da
identificação humana por meio das papilas dérmicas. Porém temos algumas síndromes
que dificultam esse procedimento. Citem e expliquem pelo menos duas síndromes
que impossibilitem ou dificultem a identificação humana pela papiloscopia.

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PERÍCIA CRIMINAL

Aula 9 - PERÍCIAS DE CONTABILIDADE

A ocorrência de fraudes é um problema que cada vez mais tem gerado


discussões, pois se trata de uma prática ilícita realizada em ambientes corporativos, que
pode acarretar grandes problemas quanto à continuidade das empresas. Em alguns
casos, a fraude se dá pelo enriquecimento de um grupo ou de um indivíduo, em outros,
o objetivo é a sonegação de tributos ou mascaramento da situação financeira da
empresa (CARNEIRO et al., 2016).

Nesse sentido, a Contabilidade Forense atua buscando averiguar a veracidade


das informações contábeis presentes em diversos documentos, como os apresentados
por grandes corporações. No Brasil, os serviços de Contabilidade Forense são
prestados por grandes empresas de auditoria, as quais oferecem serviços de prevenção,
investigação de fraudes, entre outros.

Nos últimos três anos, o segmento de perícias contra fraudes contábeis


apresentou crescimento exponencial, impulsionado pela Lei Anticorrupção, Operação
Lava-Jato (fraude sem precedentes) e o Escândalo do Petrolão, demonstrando ser
uma área de grande relevância (AQUINO; IMONIANA, 2017).

1
PERÍCIA CRIMINAL

Além desses casos brasileiros de fraude de repercussão mundial, outro exemplo


de fraude bilionária e histórica que ficou famosa em todo o mundo foi o caso da Xerox,
que aconteceu em 2002, nos Estados Unidos da América. Nesse país, esse tipo de
situação já vem sendo tratada e, inclusive, a Contabilidade Forense já é reconhecida
como um serviço investigativo e de demanda pessoal, isto é, processual.

O serviço acontece por meio do American Institute of Certified Public


Accountants (AICPA), que é o Instituto de Contadores Públicos Certificados.
Contrariamente, no Brasil, a Contabilidade Forense ainda possui problemas quanto ao
seu uso para auxiliar investigações de erros e fraudes documentais, afinal, ainda existe
a dificuldade de qualificação e mensuração das fraudes (CARNEIRO et al., 2016).

A Contabilidade Forense e a Perícia Contábil são áreas que apresentam


grandes semelhanças, contudo, é importante que estejam claras as peculiaridades de
cada uma. A Perícia Contábil tem por base a aplicação dos conhecimentos científicos
da Contabilidade. É aplicada em casos de conflitos entre organizações, os quais
normalmente são provenientes de disputas que envolvem questões patrimoniais,
fazendo-se necessária a apuração da verdade sobre os fatos discutidos (AQUINO;
IMONIANA, 2017).

A Contabilidade Forense, por outro lado, é definida como atividade de


investigação de fraudes, por meio de métodos e técnicas de procedimentos de auditoria
aplicados a problemas de ordem legal (CARNEIRO et al., 2016).

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PERÍCIA CRIMINAL

Seu principal objetivo é obter as provas necessárias para comprovação da


existência de uma fraude, atividade que envolve o Direito Empresarial Cível/Brasileiro
(CARNEIRO et al., 2016).

De acordo com Cardoso (2008):

Os procedimentos de perícia contábil (exame, vistoria, indagação, investigação,


arbitramento, mensuração, avaliação e certificação) visam respostas às conclusões
registradas no laudo pericial contábil ou parecer pericial contábil, a saber:

O exame é a análise de livros, registros, registros das transações e documentos.

A vistoria é a diligência que objetiva a verificação e a constatação da situação,


coisa ou fato, de forma circunstancial;

A indagação é a busca de informações;

A investigação é a pesquisa que busca trazer ao laudo pericial contábil ou


parecer pericial contábil o que está oculto por quaisquer circunstâncias;

O arbitramento é a determinação de valores ou soluções de controvérsia por


critério técnico;

A mensuração é ato de quantificação física de coisas;

A avaliação é ato de estabelecer o valor das coisas, bens, direitos e obrigações,


despesas e receitas;

A certificação é o ato de atestar a informação trazida ao laudo pericial contábil


pelo perito contador. (CARDOSO, 2008, p.36).

Para Wells (2005), a fraude pode ser compreendida pela expressão “Árvore da
Fraude” ou “Triângulo da Fraude”, que é dividido em três áreas:

1. Corrupção;

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PERÍCIA CRIMINAL

2. Apropriação indébita de ativos (fraudes em corporações privadas);

3. Declarações fraudulentas (simulação, como no caso de sonegações fiscais);

Quando uma fraude é investigada em um processo, a defesa dos fraudadores


costuma concentrar-se em situações de forte apelo emocional, com o intuito de
justificar o ato. Entretanto, há casos em que o apelo emocional não confere uma
justificativa para a fraude, que passa a ser justificada com base na explicação da
“fraqueza humana” como motivo da ação ilegal (WELLS, 2005). Desse modo, é
possível abranger outros aspectos do “Triângulo da Fraude” que envolvem ambientes
e comportamentos que favorecem a atitude.

4
PERÍCIA CRIMINAL

Aula 10 - PERÍCIAS DA SAÚDE E DA MENTE

Com o crescimento global da violência, surgiu a necessidade de preparar


profissionais da saúde para a prevenção de violência interpessoal e detecção de sinais
de vitimização. Nesse sentido, a enfermagem forense tem ganhado espaço, pois tem
grande desempenho no cuidado individual e coletivo.

Em países como Estados Unidos, Canadá, China, Itália e Inglaterra, a


enfermagem forense vem sendo praticada de modo rotineiro. O enfermeiro examina,
coleta evidências e presta cuidados a vítimas de violência por meio de observações
clínicas contínuas a respeito do estado biopsicossocial dos indivíduos (SILVA; SILVA,
2009).

Em 1992, nos EUA foi criada a International Association of Forensic Nursing -


IAFN, que foi fundada por 72 enfermeiras norte-americanas que se dedicavam a
exames periciais em vítimas de abuso sexual e estupro. Nesse mesmo país, a cada ano,
mais de 200 mil homens e mulheres com mais de 13 anos de idade são vítimas de
violência sexual.

1
PERÍCIA CRIMINAL

Há registros que mostram que uma entre quatro meninas e um entre seis meninos
serão vítimas de abuso sexual ou estupro antes dos 18 anos de idade. Na média, a cada
10 casos, em pelo menos 7 o agressor é conhecido da vítima. Cerca de 61% dos casos
de estupro não são denunciados à polícia, e dentre os 39% reportados, somente em
16,3% dos casos existe a chance de o agressor confessar o crime.

Enfermeiros forenses executam perícias nesses casos e em casos de violência


doméstica. Para isso, é necessário que este profissional possua no mínimo dois anos de
experiência na prática assistencial, além de submeter-se a 40 horas de treinamento
técnico de coleta de evidências e fotografias forenses, revisão de leis locais, literatura
e prática supervisionada em mulheres voluntárias. No caso de adultos, requer-se pelo
menos a execução de 10 exames ginecológicos supervisionados por instrutor que
possua qualificação (SILVA; SILVA, 2009).

Destaca-se que a prática da perícia de enfermagem não se trata somente de casos


de abuso sexual e estupro, mas atende também casos de exame post mortem ou in vivo.
No caso de exames post mortem, o enfermeiro deve examinar o corpo e o local do
crime, buscando determinar a causa e o mecanismo da morte.

Outras áreas de atuação do enfermeiro forense que podem ser destacadas são:
educação preventiva, educação de reabilitação em serviços de emergência, unidade de
terapia intensiva pediátricas, escolas, saúde comunitária, psiquiatria, penitenciárias,
manicômios judiciários etc. Mas para atuar nessas áreas é necessário passar por
treinamentos específicos (SILVA; SILVA, 2009).

A enfermagem forense trata da aplicação do conhecimento científico e técnico


da enfermagem, em situações clínicas consideradas forenses. Essa área combina os
conceitos gerais da enfermagem com os princípios forenses tradicionais. Nesse caso,
A enfermagem se une à medicina legal e ao direito, não podendo o enfermeiro ficar
indiferente aos desafios desse tipo de inovação profissional (LIBÓRIO, 2012).

2
PERÍCIA CRIMINAL

No Brasil, de acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), na


deliberação do Plenário (na 492° Reunião Ordinária, de 15 de agosto de 2017),
resolveu:

Art. 1° É Enfermeiro Forense o bacharel em enfermagem, portador do título de


especialização lato ou stricto sensu em enfermagem forense emitido por Instituição de
Ensino Superior (IES) reconhecida pelo MEC, ou concedido por Sociedades,
Associações ou Colégios de Especialistas, registrado no âmbito do Sistema
Cofen/Conselhos Regionais, de acordo com a Resolução Cofen n° 389/2011;

Art. 2° As atividades de que trata esta resolução são privativas do Enfermeiro,


no âmbito da enfermagem.

Art. 3° Aprovar as áreas de atuação e as competências técnicas do Enfermeiro


Forense, na conformidade do anexo a esta resolução que pode ser consultado no site:
www.cofen.gov.br.

Art. 4°A presente Resolução entra em vigor na data de sua assinatura e


publicação no Diário Oficial da União.

O enfermeiro atua diante de aspectos ético-legais que envolvem a qualidade


ao prestar assistência – particularmente no processo da medicação e suas implicações,
3
PERÍCIA CRIMINAL

a qual é importante tanto na conscientização quanto na garantia de maior segurança na


assistência e direitos do paciente.

Uma atuação errônea do enfermeiro ou outro profissional de enfermagem, seja


por ação ou omissão, pode gerar prejuízos de natureza física ou moral do paciente.
Nesse sentido, a responsabilidade ética do enfermeiro deve estar intrínseca em qualquer
que seja a atividade de enfermagem que realizará, tendo a obrigação de prestar
assistência livre de danos ao paciente (CORTEZ et al., 2010).

Embora a enfermagem forense já seja uma atividade bastante conhecida em


outros países, no Brasil ainda é pouco conhecida e a atuação está em processo de
desenvolvimento.

Muitos profissionais trabalham com vítimas de violência, no entanto, ainda não


existem programas específicos e adequados nessa área. Algumas universidades têm
divulgado essa especialidade com o intuito de gerar repercussão e encorajar
profissionais na busca por essa especialidade (SILVA; SILVA, 2009).

A atual perspectiva de mudança no sistema médico-legal e forense nacional pode


constituir mais um avanço para seu aperfeiçoamento e consolidação. A enfermagem é
vinculada à medicina legal e, em muitos casos, o enfermeiro é o primeiro profissional
a prestar assistência às vítimas. Nesse caso, existe grande importância na atuação do
enfermeiro baseada em princípios forenses, integrando uma atuação consciente da
enfermagem de urgência.

Nas situações em que a necessidade ultrapassa a atuação do enfermeiro, este


deve assumir o papel de orientar a pessoa para que procure outro profissional mais
adequado para o caso em questão.

Outro aspecto importante quanto à enfermagem forense, no âmbito de programas


de intervenção na violência, é que se faz necessário estabelecer relações de colaboração

4
PERÍCIA CRIMINAL

com outros profissionais de saúde, serviços de proteção, agentes da autoridade e


judiciais, para que o procedimento seja bem-sucedido.

Portanto, o profissional de saúde constantemente se encontra com o confronto


de desafios e oportunidades que têm necessariamente o dever de buscar a proteção legal
de vítimas, a proteção civil e dos direitos humanos e a prevenção de situações de
violência interpessoal. Partindo desta perspectiva, o enfermeiro tem o dever de estar
bem preparado para prestar atendimentos e cuidados à vítima, bem como apoiar na
investigação criminal, fomentando a salvaguarda dos direitos da vítima (LIBÓRIO,
2012).

Em contrapartida, os sistemas de saúde também devem necessariamente


compreender seus próprios papéis nesta área, para reivindicar seu legado forense e
fomentar sua participação plena e multifuncional. A Ordem dos Enfermeiros (OE), por
exemplo, leva em conta as orientações de boas práticas de cuidados de enfermagem,
com embasamento científico de evidências e/ou na opinião de peritos, para melhorar a
qualidade do exercício profissional do enfermeiro, apesar de as práticas de enfermagem
forense (PEF) não serem ainda pronunciadas oficialmente.

A prática de proteção e apoio às vítimas deve ser realizada da seguinte forma:

A vítima deverá ser entrevistada sozinha para não acontecer nenhum empecilho.

Se algum acompanhante da vítima tentar atrapalhar sua privacidade durante a


entrevista, o enfermeiro deverá interceder defendendo os interesses da vítima.

O enfermeiro deve também informar o indivíduo sobre os recursos disponíveis


e os modos de obtê-los.

O enfermeiro garantirá os cuidados necessários, identificará lesões, registrará a


história referenciando a situação e apoiando a vítima quanto à sua segurança,
conhecimento de alternativas e recursos para mudança.

5
PERÍCIA CRIMINAL

Outras perícias

O enfermeiro assume papel de educador para prevenir a violência e promover


um ambiente familiar seguro e saudável.

O enfermeiro se preocupa com a vítima e seu tratamento, mas também tomará


cuidados necessários com todo o contexto em que ela se encontra.

A abordagem da vítima deverá ser integral e humanizada.

Psicologia forense

O início da Psicologia Forense é geralmente vinculado a Hugo Munsterberg, um


dos primeiros psicólogos a empregar os princípios da psicologia ao direito, em seu livro
On the Witness Stand, em 1908. Em 1900, a prática clínica da psicologia foi vinculada
ao sistema legal. Ela foi iniciada com Lightner Witmer e William Healy, que
começaram lecionando em cursos de psicologia do crime no início dos anos 1900 e
fundando o Instituto Psicopático Juvenil de Chicago, em 1909 (HUSS, 2011).

Durante o século XX na América do Norte, psicólogos foram chamados para


aplicar seus conhecimentos no sistema legal, como testemunhas peritas. Nesse
momento, a psicologia forense clínica começou a se desenvolver (HUSS, 2011). Já no
Brasil, relata-se que o início da atuação de psicólogos no âmbito judicial tenha ocorrido
na década de 1960, de forma gradual e lenta (ARTON; TONI, 2014). No quadro 9, são
apresentados alguns eventos importantes para o desenvolvimento da psicologia
forense.

As principais áreas de atuação da psicologia forense são divididas em aspectos


criminais e civis, de acordo com a separação legal entre direito criminal e civil. O
direito criminal, que é responsabilidade do governo (por meio de oficiais da lei e
promotores), é focado nos atos contra a sociedade, punição de infratores e prevenção
de crimes (HUSS, 2011).

Dentro do direito criminal, existem algumas questões legais de grande


importância para a prática da psicologia forense, por exemplo, mente culpada que é um
6
PERÍCIA CRIMINAL

princípio de responsabilidade criminal que tem relação com o estado mental de uma
pessoa, ou seja, quando um indivíduo comete um crime ou ato ilegal com intenção de
realizá-lo (HUSS, 2011).

O psicólogo forense atua também em outras áreas, como em casos de criminosos


psicopatas. Esse trabalho é bastante complexo porque os psicopatas são manipuladores,
e isso pode levar a alterações nos resultados obtidos em entrevistas. Outro grande
problema é a falta de instrumentos adequados para realizar a avaliação (ANTON,
TONY, 2014).

Nessa área, existe uma escala muito conhecida, chamada de PCL-R, do


psicólogo Robert Hare, que possui experiência na área de psicopatia há mais de trinta
anos. O PCL-R é uma escala de pontuação para avaliar psicopatia em populações
forenses masculinas. É utilizado em diversos países e considerado o instrumento mais
fidedigno na identificação de criminosos psicopatas.

A escala possui manual com critérios para a pontuação de psicopatia, roteiro para
entrevistas e informações e protocolo de pontuação. A relevância desse instrumento
vai ao encontro das expectativas referentes à administração penitenciária. Em São
Paulo, por exemplo, a Secretaria de Administração Penitenciária emprega-o como
instrumento para separação de condenados por tipo de delito e, com isso, possibilita a
retirada de psicopatas do convívio com outros criminosos.

No Brasil, a tradução da PCL-R é recente, tendo sido realizada em dezembro de


2005. Profissionais da área relatam que o uso da PCL-R auxilia não somente na
descoberta de níveis de psicopatia, mas também na descoberta de características
pessoais como estereótipos e preconceitos referentes ao crime e ao próprio criminoso
(YAMADA, 2009).

Ainda sobre as responsabilidades do psicólogo forense, existem alguns casos


raros em que o profissional realiza práticas clínicas de emergência e, para isso, em
alguns fóruns existem serviços de apoio psicológicos para disputas judiciais
problemáticas. O propósito primordial deste profissional é fornecer avaliações
utilizáveis por cortes, advogados e até instituições de detenção.

Além disso, essas avaliações são propícias para diferenciar traumas ou síncopes
psicológicas verdadeiras das simuladas, pois as verdadeiras desordens mentais graves
podem levar o indivíduo a cometer involuntariamente algum delito grave. Por essa
razão é importante que o psicólogo tenha conhecimento a respeito da vida do acusado
(FREITAS, 2011)

Na elaboração de pareceres sobre exploração sexual e maus-tratos, o psicólogo


forense também é um profissional de grande utilidade. Em situações diferentes dessas,
7
PERÍCIA CRIMINAL

o psicólogo forense contribui para a descoberta de situações como: uma pessoa


psiquicamente enferma ela se auto acuda ou se auto incrimina despercebidamente é um
delito grave é realizado por outra pessoa. Ressalta-se que, de maneira geral, de acordo
com Freitas (2011), a Psicologia Forense tem por objetivo chegar à verdade dos fatos
(segue o princípio da “veracidade”) e, para isso, o ato de testemunhar depende de cinco
aspectos:

1. A forma de percepção da testemunha sobre os acontecimentos.


2. A maneira com que os fatos foram preservados em sua memória.
3. O modo como a pessoa pensa sobre os fatos.
4. A maneira como ela tem intenção de exprimir os fatos.
5. Como esta testemunha consegue expressar o acontecimento por meio da
linguagem.

8
PERÍCIA CRIMINAL

Conteúdo extra

Perícia em engenharia

A Engenharia Legal é composta fundamentalmente da Engenharia de


Avaliações e da Engenharia Diagnóstica, esta última compreende as patologias das
construções. Essas patologias decorrem do surgimento de anomalias nas edificações,
podendo ser provenientes de problemas de fundação, estrutura e acabamento, como
também podem ser advindas dos materiais utilizados (PRESOTTO et al., 2017).

De modo geral, o engenheiro só pode realizar atividades periciais quando possui


registro no Crea, passa por treinamento frequente e, possuindo experiência, obtém a
habilitação profissional (PRESOTTO et al., 2017).

De acordo com o Instituto de Criminalística do Paraná, a Engenharia Legal é


a seção de logística acionada para periciar a complexidade das análises que exigem
competência técnico-científica de diferentes áreas, ou seja, áreas múltiplas do
conhecimento. Essa área da atuação pericial é responsável por
diversas atividades.

Após a análise e a constatação das diversas situações apresentadas, o engenheiro


legal elabora laudos e pareceres a respeito do que foi observado, ou seja, fornece provas
técnico-científicas para que os operadores da justiça possam tomar as devidas decisões
relacionadas aos delitos e crimes cometidos nessas áreas. Em se tratando das perícias
de engenharia em edifícios, são apresentados alguns dos critérios e tipos de trabalhos
que o perito deve realizar.

Conforme a secretaria de segurança pública do ceara os peritos criminais das


engenharias exercem a função técnico-científica para constatação da materialidade de
um fato investigado. Esses profissionais realizam exames “in loco” e em laboratórios,
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PERÍCIA CRIMINAL

assim como proceder a diligências necessárias para a complementação dos respectivos


exames e consequente elaboração dos laudos periciais.

Presentes no edital com quatro formações distintas, para o ingresso nessa carreira
específica é necessário diploma, devidamente registrado, de conclusão de curso de
graduação de nível superior em uma dessas áreas: Engenharia Civil, Engenharia
Mecânica, Engenharia Elétrica ou Engenharia Eletrônica, fornecido por instituição de
ensino superior reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC), e registro
profissional equivalente ativo.

Engenharia civil

É o ramo da engenharia que planeja, projeta, executa e gerencia obras e


empreendimentos. A engenharia civil transforma e adapta a natureza, com o objetivo
de otimizar a qualidade de vida das pessoas.

Portanto, o campo está comprometido com a construção de edifícios, pontes,


túneis, usinas de energia, indústrias e inúmeros outros tipos de estruturas, usando
ciência, matemática, instrumentos, tecnologia e várias tecnologias, experiência
passada, capital normativo e práticas locais, e ao mesmo tempo considere o contexto
social, econômico e ambiental.

Desde a história, os humanos começaram a usar os elementos naturais


circundantes para construir seus próprios abrigos. Posteriormente, essas estruturas
adquiriram características cada vez mais complexas, refletindo o desenvolvimento da
tecnologia. Em seguida, use o conhecimento científico da área para estimar o tamanho,
a força e outros atributos de um determinado trabalho.

10
PERÍCIA CRIMINAL

Novos materiais passaram a ser utilizados, sobretudo ferro e cimento, que


possibilitaram o surgimento das grandes estruturas que hoje compõem o cenário do
mundo moderno.

Desta forma, a formação de um engenheiro civil é fortemente ligada às ciências


exatas. Contudo, um bom profissional deve conter muitos outros atributos,
principalmente habilidades em comunicação e de análise racional dos fatos, além de
seguir um código de ética, visto que suas obras influenciam significativamente em
todos os segmentos da sociedade.

Engenharia mecânica

É um ramo da engenharia que aplica os princípios da engenharia, física e ciência


dos materiais ao projeto, análise, fabricação e manutenção de sistemas mecânicos, que
envolve a concepção, produção e operação de máquinas e ferramentas.

É uma das disciplinas de engenharia mais antigas e extensas, engenheiros


mecânicos projetam e fabricam motores, usinas de energia, etc. O campo da engenharia
precisa entender os conceitos básicos, incluindo tecnologia mecânica, cinemática,
termodinâmica, dinâmica mecânica, teoria do mecanismo, ciência dos materiais,
análise estrutural, mecânica dos fluidos, formação mecânica, vibração mecânica,
potência, motor de combustão interna, turbina, motor de reação, processo de soldagem
e eletricidade.

11
PERÍCIA CRIMINAL

Os engenheiros mecânicos usam esses princípios e ferramentas básicos, como


engenharia auxiliada por computador e gerenciamento do ciclo de vida do produto para
projetar e analisar fábricas, equipamentos mecânicos, sistemas de aquecimento e
resfriamento, sistemas de transporte, aviões, automóveis, navios, robôs, equipamentos
médicos, armas e outros

Engenharia elétrica ou engenharia eletrônica

É um ramo da engenharia que se dedica à pesquisa e aplicação de energia


elétrica, eletromagnética e eletrônica. Este setor surgiu em meados do século XIX, com
a comercialização, distribuição e uso de energia elétrica.

Nos Estados Unidos, a engenharia elétrica é considerada a responsável por lidar


com problemas relacionados a sistemas de energia e sistemas eletrônicos. Ela trabalha
com instituições líderes como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o Instituto
de Tecnologia da Califórnia, a Universidade de Stanford e a Universidade de Michigan
para solucionar problemas elétricos e eletrônicos, microeletrônicos ou sistemas de
comunicação e engenharia elétrica combinados.

Em outros países dos Estados Unidos, a situação não é exceção. Por exemplo,
no Brasil, a eletrônica em determinados cursos corresponde à maior parte do conteúdo
abordado no curso de engenharia elétrica. Portanto, não há diferença entre engenharia
elétrica e engenharia eletrônica e são consideradas um curso comum.

12
PERÍCIA CRIMINAL

Perícias externas

Grande parte dos peritos criminais engenheiros ficam lotados no Núcleo de


Perícia Externa (Nupex), realizando atendimento de ocorrências de crimes contra a
vida, ocorrências de trânsito e contra o patrimônio. Dentro dessas três categorias de
ocorrências, os peritos criminais engenheiros se deparam com inúmeros tipos de casos:
homicídios, atropelamentos, desabamentos, acidentes de trabalho, dentre outros, em
que os conhecimentos físicos, matemáticos e normativos das engenharias são
essenciais para as respostas e elucidação que as investigações buscam.

Nos casos de crime contra a vida, os peritos criminais objetivam materializar o


fato, constatar o tipo de ocorrência e coletar o máximo de vestígios possíveis, material
que vai subsidiar as investigações sobre o delito.

Em casos de ocorrências contra o patrimônio, os peritos atuam de modo a


esclarecer circunstâncias envolvendo depredação, arrombamento, danos ao imóvel,
automóvel ou algum outro patrimônio público ou privado.

No atendimento das ocorrências de trânsito, os peritos criminais avaliam toda a


dinâmica e o comportamento físico do fato e, baseado nos vestígios e sinalizações
normativas do trânsito, os peritos detectaram como se deu a circunstância do sinistro e
a contribuição dos condutores dos veículos.

13
PERÍCIA CRIMINAL

Aporte da engenharia

No atendimento das perícias externas, peritos criminais e engenheiros mecânicos


atuam em ocorrências de diversas naturezas e são essenciais, por exemplo, em
ocorrências automobilísticas e perícias em equipamentos mecânicos que sejam alvo de
questionamentos em uma investigação.

Conhecimentos físicos e matemáticos, compreensão de documentos específicos,


de montagem, inspeção, fabricação e utilização de equipamentos para verificar se estão
de acordo com as normas técnicas de segurança são algumas das expertises do perito
criminal engenheiro mecânico.

Já os peritos criminais engenheiros civis, além da atuação ampla nas


ocorrências externas, no levantamento de dados, coleta de vestígios para compor laudo
pericial, dispõem do conhecimento técnico fundamental para metodologia de estudo
do local, ocorrências de rupturas de estruturas, desabamentos, incêndios entre outros
fenômenos estruturais e ambientais.

No âmbito da engenharia elétrica, os peritos criminais também atuam nas três


modalidades de ocorrências: vida, trânsito e patrimônio, e contribuem de forma
substancial em ocorrências de incêndios, furto de energia, em perícia em dispositivos
eletroeletrônicos e circunstâncias que envolvam incidência de eletricidade, bem como
analisar dispositivos que tenham ocasionado uma morte por descarga elétrica, por
exemplo.

Ligada à atuação de engenharias, a Pefoce conta também com Núcleo de Perícia


e Engenharia Legal e Meio Ambiente (Nupem). O setor especializado analisa casos de
acidentes de trabalho, desabamentos, análise de sistemas eletrônicos, incêndios,
máquinas e diversos tipos de perícias ambientais. Os peritos engenheiros do Nupem
utilizam equipamentos, técnicas e cálculos que constatam como se deu determinado
‘sinistro’.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Aula 1- INTRODUÇÃO A QUÍMICA FORENSE

Caro aluno e aluna, nesta aula iremos abordar um pouco sobre a introdução da
química forense e os tipos de cenários. Bons estudos.

Introdução

As ciências forenses correspondem aos ramos das várias áreas do conhecimento


científico dedicadas à geração de evidências para a solução de investigações. Muito
embora os crimes costumem ser o foco principal de atuação, os peritos forenses,
aqueles responsáveis pela análise em suas respectivas áreas, também atuam em
acidentes, fraudes ou qualquer outra situação que exija comprovação material para fins
judiciais. Logo, é uma área de atuação profissional com grande relevância, e com forte
vínculo à área da segurança pública, em todas as suas esferas.

A área forense constitui, então, campo de trabalho multiprofissional. Exige


muitas vezes o trabalho conjunto de profissionais de duas ou mais áreas do
conhecimento, exibindo caráter plenamente multidisciplinar.

Assim, dependendo do tipo de material a ser examinado, médicos, odontólogos,


farmacêuticos, engenheiros, químicos, físicos, geólogos, administradores, contadores,
especialistas em TI e antropólogos, dentre outras profissões, podem ser necessários
para a análise de diversos tipos de materiais.

É importante salientar que, muito embora existam órgãos periciais


governamentais ligados aos entes de segurança pública, a perícia independente também
constitui importante campo de trabalho na área forense.

Muitos exemplos atuais poderiam ser citados de casos onde peritos


independentes são contratados, normalmente na contestação de laudos periciais
emitidos pelas agências governamentais. Na esfera da gestão pública, as duas
instâncias que mantém departamentos de perícias criminais são: estadual e a federal.

Na esfera estadual, os Institutos de Perícias ou Institutos Médicos Legais estão


comumente vinculados à polícia investigativa (Polícia Civil) e às Secretarias de
Segurança Pública (como o Instituto Geral de Perícias – IGP, no Estado do Rio Grande
do Sul). No âmbito nacional, os peritos criminais federais estão vinculados à Polícia
Federal por meio do Instituto Nacional de Criminalística (INC), subordinado à
Diretoria Técnico-Científica (DITEC). Com relação às perícias químicas e físicas, mais
especificadamente, são áreas bastante desafiadoras. Dependem da capacidade e

1
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

habilidade de coletar os mais variados tipos de evidências (pós, líquidos, tecidos,


pelos), muitas vezes presentes em quantidades ínfimas.

Quem nunca despendeu algum tempo estimulando seu imaginário em séries de


televisão como CSI (Crime Scene Investigation), em suas várias edições, por exemplo.
E claro e óbvio que a realidade muitas vezes é distante do que os seriados no mostram.
No mundo real muitas limitações são impostas e, não obstante, crimes deixam de ser
elucidados por falta de evidências.

A capacidade que a área forense tem de solucionar problemas está fortemente


vinculada à disponibilidade de recursos materiais e tecnologias avançadas, bem como
de pessoal treinado. À despeito da tecnologia, também é de extrema importância
destacar que na era da globalização, tecnologia e informação estão amplamente
difundidas em todos os meios.

Da mesma forma que um perito criminal tem ao seu dispor ferramentas


tecnológicas avançadas e métodos extremamente sensíveis para a avaliação de
materiais, os criminosos conhecem estas ferramentas e métodos e, por sua vez, as
formas eliminar qualquer tipo de evidência rastreável.

Estes aspectos têm exigido avanços exponenciais nas tecnologias forenses, a fim
de subjugar a capacidade dos criminosos de eliminarem pistas. Este volume tem a
pretensão de apresentar ao leitor algumas das técnicas disponíveis nas áreas da física
e, principalmente, da química forense. Deseja-se que ao final da leitura você possa
compreender um pouco sobre a coleta e preservação de amostras, bem como os tipos
de análises aplicáveis, limitações e os resultados que podem ser obtidos.

É claro que em uma edição compacta como esta, apenas uma pequena introdução
pode ser realizada. Mas esperamos que possa servir de estímulo para a continuidade
nos estudos desta tão relevante área de atuação profissional.

Aspectos gerais da química e da física forenses

Os tipos de cenários a cena de um crime correspondem ao ambiente no qual este


foi executado, e contém as evidências físicas remanescentes deste. É o ambiente de
trabalho inicial dos peritos, e dele depende a continuidade e sucesso de uma
investigação. Um acidente de trânsito, uma apreensão de drogas, um homicídio ou
feminicídio, um atentado, um roubo, um incêndio.

Cada tipo de evento a ser estudado trará elementos peculiares (e dificuldades


também), que tornam cada investigação única. Dificilmente existirão dois eventos onde
o conjunto de evidências será exatamente igual. O fato de que as pessoas envolvidas

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

(executor e/ou vítimas) mudam se reflete na cena a ser estudada. Em alguns casos a
cena pode ser menos complexa. Em outros, muito complexa.

Em algumas situações as evidências são notórias e em grande quantidade, fáceis


de serem coletadas e identificadas. Já em outras, as evidências podem ser muito sutis e
de difícil coleta. Não é incomum que este tipo de avaliação preliminar já possa dar
indicativos sobre a natureza do crime. Eventos acidentais ou não premeditados tendem
a ofertar cenas com maior quantidade de evidências, ao passo que nos crimes
premeditados as evidências são mais escassas. A complexidade da cena vai determinar
a quantidade de trabalho que a equipe de peritos terá em perscrutar todo o ambiente em
busca das evidências.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Como já foi dito, algumas evidências são absolutamente visíveis (sangue, arma
do crime, drogas, veículos acidentados). Contudo, particularmente em crimes
premeditados, muitas evidências são sutis ou apenas residuais (resíduos de explosivos,
solventes e combustíveis voláteis, resíduos de sangue, pele, fios de cabelo e pelos e
fibras têxteis), decorrentes de uma tentativa de eliminação de provas. Estes casos
exigem um trabalho muito mais minucioso e uma visão mais atenciosa por parte do
perito.

Os pequenos detalhes costumam fazer a diferença nestes casos. É claro que um


perito com larga experiência de campo terá maior vantagem. Por vezes é algo quase
místico, como um ‘sexto sentido’.Outro aspecto que é de suma importância e pode
determinar o sucesso ou não de uma investigação é o ambiente onde ocorre o evento.

O tipo de ambiente é inerente ao próprio evento, e pode ser do tipo indoor


(ambientes fechados) ou outdoor (ambientes abertos), conforme segue. O predomínio
de cada um destes tipos de cenários é difícil de ser estabelecido. A ocorrência é
influenciada pelo tipo (incêndio, acidente veicular, assassinato, roubo), por questões
geográficas (áreas rurais, áreas urbanas) e, muitas vezes, por características
psicológicas do autor do crime.

Cenários indoor (ambientes fechados)

Os ambientes de cena que tendem a ser mais favoráveis à preservação e coleta


de evidência para análises são aqueles de ambientes fechados (indoor) (DUTELLE,
2017). Os cenários de ambientes fechados incluem residências, apartamentos, lojas,
galpões, garagens e depósitos, entre outros.

Por ofertarem trânsito e exposição às intempéries limitadas, possibilitam maior


preservação das condições originais do evento, bem como menores taxas de diluição
por ação da chuva e vento, e deterioração de amostras orgânicas. Também é muito mais
simples para os agentes de segurança pública isolar a área e limitarem o acesso. São
ambientes muito comuns em áreas urbanas, comerciais e industriais, não de forma
incomum, também ocorrem em áreas rurais.

Cenário outdoor (ambientes abertos)

Os ambientes de cena abertos (outdoor) são aqueles mais expostos a vários


fatores externos, como circulação de pessoas e animais, ação da chuva e do vento.
Nestes, a preservação das evidências pode ser rapidamente comprometida. Tempo é
um fator crucial.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Eventualmente, também pode ser difícil para os agentes de segurança estabelecer


o isolamento do local, até porque muitas vezes a própria definição exata dos limites da
cena é complexa. Vários fatores influenciarão a extensão da cena, tais como:
quantidade de vítimas, natureza do evento (catástrofe natural, incêndio, explosão,
atentado terrorista, colisão veicular), ambiente geográfico (ambiente urbano, ambiente
rural, florestas, montanhas, rios, lagos).

A integridade da cena do evento como já mencionado anteriormente, a


manutenção da integridade da cena de um crime ou acidente é de extrema importância
para que as evidências se mantenham íntegras. Muitas evidências são extremamente
sutis e podem ser perdidas com o menor contato de pessoas externas ao evento.

Ou ainda, a inserção de elementos externos ao evento pode confundir a coleta,


tornando a investigação ainda mais complexa. Imagine que em uma cena de um
assassinato em um ambiente fechado (indoor) muitas pessoas transitem pelo mesmo.
Não é difícil compreender que muitos sinais que podem ser empregados como
evidências poderão ser distorcidos, apagados ou até mesmo inseridos, como fios de
cabelo, fibras têxteis, resíduos de terra e impressões digitais, dentre outros.

Para que se tenha a real noção da importância da preservação da cena de um


crime ou acidente, citamos a situação onde há uma ou mais vítimas. Os agentes de
segurança pública (polícias, forças de segurança, guardas municipais) são
desaconselhados pela maioria das agências a adentrarem na cena, inclusive para
verificação de sinais vitais. Apenas os respondedores dos serviços de atendimento a
urgências e emergências (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU)
acessam as vítimas que possam ainda estar vivas. Ainda assim com o máximo de
cuidado para não alterar quaisquer evidências. Em casos de ferimentos notoriamente
incompatíveis com a vida, sequer os agentes de saúde entram em contato com o
cadáver, devendo ser acionados os agentes periciais. Mas é claro que a grande maioria
dos eventos criminosos ou acidentais tende a ofertar cenas tumultuadas.

A presença de muitos atores pode dificultar o isolamento e preservação desta


cena. Agentes de segurança pública, respondedores de serviços de urgência e
emergência, parentes, curiosos e a própria mídia configuram algumas possibilidades
de partícipes. Imaginemos, nestes casos, um perito tentando coletar marcas de pegadas,
resíduos de tecidos, fios de cabelo e outras amostras.

Quantas destas serão dos envolvidos no crime e quantas serão aqueles não
envolvidos no fato. Nestas situações, a investigação pode se tornar absurdamente
complexa e, eventualmente, as evidências geradas poderão ser contestadas em função
da contaminação das amostras. E estamos apenas considerando a contaminação ou
alteração não intencional da cena.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Mas há ainda a possibilidade de intervenção intencional, ou seja, um ou mais


envolvidos podem estar presentes na cena promovendo alterações deliberadas a fim de
encobrir o fato. Fraudes, incêndios criminosos, assassinatos, tráfico e outros tipos de
crimes podem ter suas investigações comprometidas desta forma. Para que se
compreenda a relevância do tema no meio jurídico, ampla matéria legal existe sobre
responsabilidades e atribuições.

Lembremos que, no campo judicial, extensas batalhas são travadas e qualquer


falha na geração de evidências pode comprometer o andamento do um processo.
Muitas vezes os culpados são absolvidos por falta de provas ou problemas relativos à
abordagem de cena e das evidências coletadas na fase de perícia. Para ilustrar um pouco
deste universo, citamos alguns aspectos legais relacionados à cena de um crime, sua
preservação e a coleta das amostras.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Aula 2 - QUÍMICA FORENSE - Parte 1

Caro aluno e aluna, nesta aula vamos falar de alguns pontos relevantes na
química forense, vamos dividir esse tema em algumas aulas. Bons estudos

O papel da autoridade policial

Os agentes de segurança pública, das mais variadas agências (Polícia Militar,


Polícia Civil, Polícias Rodoviárias Estaduais e Federais, Corpo de Bombeiros, Guardas
Municipais, Polícia Federal), costumam ser aqueles que realizam a abordagem inicial
da cena de um crime ou acidente. Desta forma, desempenham um papel de suma
importância no isolamento e preservação da mesma. Em algumas destas agências o
treinamento da corporação inclui a sistemática e os protocolos para estes eventos.
Algumas acabam por negligenciar o tema, o que muitas vezes culmina em modificação
do cenário original e comprometimento da investigação. É claro que, infelizmente,
muitas vezes a negligência nos procedimentos ocorre por parte do próprio agente, de
forma deliberada ou não.

O Código de Processo Penal (CPP), instituído pelo Decreto-Lei n° 3.689, de 3


de outubro de 1941 (BRASIL, 1941), em seu 6° artigo, inciso I, cuja redação foi
alterada pela Lei n° 8.862, de 28 de março de 1994, diz que compete à autoridade
policial, assim que tiver conhecimento da prática da infração penal, “dirigir-se ao local,
providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a
chegada dos peritos criminais” (BRASIL, 1994). Destaca-se, desta forma, o papel legal
do agente de segurança na manutenção da integridade da cena. Claro que ficam
excetuadas aquelas situações na qual exista risco iminente à sua integridade física ou
de terceiros, como nos casos de incêndios, confrontos, risco de explosão,
desmoronamentos ou outros.

Outro aspecto importante a ser considerado, é o de que a autoridade policial é a


responsável pela requisição de procedimento pericial. Destaca-se o fato de que a perícia
é obrigatória em qualquer cena de crime ou suspeita de crime que tenham sido deixados
vestígios. A não realização da perícia por quaisquer razões deve ser relatada e
justificada nos autos do inquérito.

Alterações na cena do fato como vimos no tópico anterior, cabe às forças


policiais a manutenção da integridade da cena do fato, a fim de preservar os vestígios
e, com isto, gerar as evidências necessárias ao inquérito. Também já relatamos que as
alterações realizadas na cena, de forma deliberada ou não, podem comprometer de
forma definitiva o andamento de uma investigação criminal, culminando com o
arquivamento do inquérito por falta ou até mesmo ausência de evidências. A alteração
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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

da cena de um crime pode ser enquadrada como fraude processual, descrita no art. 347
do Código Penal, instituído pelo Decreto-Lei n°2.848, de 7 de dezembro de 1940, que
dita: “Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito”.

A pena para este crime é de detenção de três meses a dois anos, e multa. O
parágrafo único deste mesmo artigo descreve o seguinte agravante: “Se a inovação se
destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-
se em dobro” (BRASIL, 1940).

Salienta-se, desta forma, a gravidade da alteração da cena do crime.

Com o foco na investigação da cena por parte dos peritos, independente da área
de atuação, os protocolos indicam a necessidade de registro, por parte do perito, da
constatação de qualquer evidência de alteração na cena do fato, bem como sua
avaliação do impacto que estas alterações podem ter sobre o conteúdo amostral e a
investigação. No documento contendo os procedimentos operacionais padrão para as
perícias criminais federais, Procedimento Operacional Padrão (POP) 4.1 – Local de
Crime, item 5.1 Preservação e isolamento do local, indica-se que todas as alterações
realizadas no local do crime entre o momento da execução deste e o início da perícia,
deve ser relatados aos peritos para inclusão no laudo pericial (BRASIL, 2013). Ainda,
no CPP (BRASIL, 1941), em seu art. 169, alterado pela Lei n°5.970, de 11 de dezembro
de 1973, parágrafo único, incluído pela Lei n°8.862, de 28 de março de 1994, lê-se:

“Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão,


no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos”.

Algumas situações exigem, como já dito anteriormente, de forma excepcional,


que se promovam incursões e alterações na cena. Casos que existam vítimas ainda com
vida e que necessitem resgate ou socorro médico se sobrepõem à necessidade de
preservação da integridade da cena. Contudo, como relatado acima, todas as alterações
devem ser comunicadas aos peritos, que farão os devidos registros.

Ocultação de provas

A alteração, intencional ou não, da cena do crime compromete de forma


significativa a investigação e as conclusões de um inquérito. Pode, como vimos, vir a
configurar crime. Contudo, igualmente grave é a ocultação de provas, sejam
documentos, arquivos, vídeos, armas, drogas ou o próprio corpo de uma vítima.

Tanto a ocultação de provas materiais quanto do corpo de uma vítima (cadáver),


constituem crimes previstos no Código Penal.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

O art. 211 do Código Penal versa sobre a destruição, subtração ou ocultação de


cadáver. Nele consta: “Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele: Pena -
reclusão, de um a três anos, e multa”.Já o art. 305 do Código Penal é aquele utilizado
para enquadrar os crimes de ocultação de provas.

Neste artigo, lê-se o seguinte:

“Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em


prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor:
Pena – reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de
um a cinco anos, e multa, se o documento é particular”.

Coleta, preservação de amostras e laudo pericial.

Os vestígios deixados em cenas de crimes, acidentes e incêndios nem sempre


são abundantes e visíveis facilmente. Particularmente nas situações que há a
premeditação do ilícito, a tentativa de eliminar ou acobertar os vestígios torna o
trabalho dos peritos árduo. A busca por evidências nestas situações exige uma busca
minuciosa. Fios de cabelo, fibras têxteis, pequenas porções de solo, partes de
impressões digitais, resíduos de pele. Até mesmo materiais que tiveram contato com
sangue e foram lavados podem ser identificados. Claro que em qualquer dos casos,
com muitas e óbvias evidências ou que elas são escassas, o cuidado com a
contaminação da cena deve ser extremo, como já relatado. Sob a ótica pericial, a
identificação, coleta e preservação das amostras correspondem efetivamente ao início
do processo.

Neste momento, os peritos adentram a cena vestindo trajes apropriados e o


equipamento de proteção individual (EPI) indicado. Por exemplo, em seu
Procedimento Operacional Padrão – Perícia Criminal, POP n°4.1 – Local de Crime
(BRASIL, 2013), a Polícia Federal institui os EPIs e materiais necessários para o
levantamento de vestígios em uma cena de crime. Uma vez identificados os vestígios
pelos peritos criminais, é necessário realizar registro fotográfico de todos estes, antes
da efetiva coleta.

Todas as perícias são acompanhadas por um fotógrafo legista (fotógrafo


criminal, fotógrafo forense, fotógrafo pericial), cujo trabalho de registro fotográfico é
de suma importância para a contextualização das evidências.

São fotografados todos os vestígios possíveis na cena, sob orientação dos demais
peritos. O registro fotográfico é incorporado aos respectivos lados forenses,
dependendo do ramo ao qual a amostra é destinada (medicina, antropologia,
odontologia, balística, química, física).

3
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Alguns testes precisam ser realizados no próprio local (in loco), devido às
condições de ensaio ou características da amostra. Um exemplo é a identificação de
resíduos não coletáveis de sangue (após uma tentativa de limpeza, por exemplo).
Materiais como tecidos, madeira e alvenarias ficam impregnados com resíduos de
sangue, mesmo após lavagem. Nestes casos, emprega-se o teste com luminol na própria
cena do crime.

O resultado é comprovado por registro fotográfico, como será descrito mais


adiante. Outros testes podem ser realizados de forma preliminar em campo, a fim de
ofertar um indicativo, passível de confirmação em laboratório. Um exemplo são os
testes de campo para cocaína, que também serão descritos oportunamente.

Excluídas algumas situações já exemplificadas no parágrafo anterior, a maioria


dos vestígios deve ser coletado e remetido para o laboratório pericial da respectiva área.
A conservação de cada tipo de amostra depende do grau de perecibilidade de cada uma.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Aula 3 - QUÍMICA FORENSE - Parte 2

Caro aluno e aluna, nesta aula vamos dar continuidade ao tema a falar a respeito
de mais alguns pontos relevantes na química forense. Bons estudos

Coleta de vestígios

Uma vez que os vestígios tenham sido identificados e fotografados, o perito


passa a recolhê-los a fim de se tornarem evidências. Existem várias formas de coletar
estes vestígios, de acordo com as características de cada um. Cada agência pode definir
o seu padrão de coleta de amostras, mas existe forte tendência à adoção de
procedimentos padronizados. Tais procedimentos têm sido submetidos aos processos
de validação, oferecendo maior confiabilidade aos métodos, inserindo menos erros e
contaminações e, desta forma, tornando menos provável o questionamento jurídico dos
resultados encontrados.

Um ótimo exemplo desta padronização é a publicação dos Procedimentos


Operacionais Padrão – Perícia Criminal (BRASIL, 2013), pelo Ministério de
Segurança Pública para os peritos criminais federais (Polícia Federal).

A ideia de coletar os vestígios em recipientes apropriados está de acordo com as


boas práticas no manuseio de amostras. Devemos respeitar as características e
quantidades de amostra, sempre no intuito de: não contaminar a amostra; não promover
alterações nas propriedades da amostra (como a volatilização de um solvente, por
exemplo); não dispersar ou diluir a amostra; facilitar o manuseio em laboratório.

Assim sendo, três tipos de formas de coletas são mais comuns: sacos, tubos e
swab. Os sacos para amostras são destinados a amostras sólidas e de tamanhos maiores.
Podem ser de papel ou plástico, sendo os de plástico os mais indicados pela maior
estabilidade.

Deve conter um espaço apropriado para a identificação correta da amostra,


escrita com caneta indelével (de escrita permanente), a fim de dificultar a perda ou
alteração, acidental ou proposital, desta identificação.

Já para uma ampla gama de amostras, os tubos plásticos (ou de vidro em caso de
materiais que interajam com o plástico, como solventes) são a alternativa mais segura.
Podem ser de vários tipos e formas, mas de maneira geral devem possibilitar boa
selagem, a fim de evitar perdas por evaporação e derramamento de amostras líquidas.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Além disto, para as aplicações que porventura possam exigir, existe a


possibilidade de que sejam esterilizados, impedindo a contaminação microbiológica
das amostras. Novamente, a questão do tamanho do recipiente, muito embora não seja
o fator preponderante, deve ser considerada.

Amostras muito pequenas podem se dispersar em um frasco muito grande. Para


amostras líquidas ou que contenham alguma quantidade de líquido, como solventes,
um frasco de tamanho exagerado pode levar à evaporação demasiada alterando, assim,
algumas características da amostra. Imaginemos, por exemplo, um solo com resquícios
de solvente que foi utilizado para um incêndio criminoso.

A presença do solvente constitui a evidência do crime. Se for evaporado, a


evidência pode vir a ser perdida. Por fim, o método de SWAB. O SWAB é uma haste
com ponta de algodão, ideal para absorver ou aderir resíduos de amostras cuja coleta
pelos demais métodos é inviável. Gotas de sangue, saliva, resíduos de esperma,
resíduos de pólvora, explosivos, solventes, drogas.

Enfim, vários tipos de amostras que, uma vez aderidas ao algodão, são
armazenadas e enviadas ao laboratório para análise. O método em si é bastante simples,
e consiste em esfregar o algodão sobre a superfície contendo o vestígio. Para evitar o
contato do algodão com outros materiais durante o transporte e armazenamento, deve
ser colocado em um recipiente comumente denominado ‘porta SWAB’. Um SWAB,
com e sem porta SWAB, é um exemplo de procedimento de coleta com o mesmo.

Todas as amostras coletadas na cena de um crime são de extrema importância,


ainda que de forma potencial, para a elucidação do fato. Contudo, é importante destacar
que é necessário um cuidado extremo na coleta das amostras para as áreas da física e
da química forenses.

Nestas duas áreas os peritos trabalham com marcas e concentrações muito


pequenas, e qualquer erro no momento da coleta pode comprometer a integridade desta
amostra, como será discutido ao longo do texto.

Por exemplo, a inserção de pequenas ranhuras no instante da coleta de um estojo


ou projéteis de munição pode imprimir feições que levarão a conclusões equivocadas
em uma análise balística. Já no campo da química, a contaminação de uma amostra ou
perda de materiais voláteis, por exemplo, poderão comprometer igualmente o curso de
uma investigação.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Preservação das amostras

A maioria das amostras recolhidas das cenas de crimes e acidentes não requer
um cuidado extremo para que se mantenha preservada. O que determina se uma
amostra exigirá maior ou menor cuidado com a preservação é a sua degradabilidade.

Neste sentido, amostras orgânicas, particularmente as de origem biológica


(tecido, fluidos) necessitam de maior cuidado, pois podem apodrecer e perder as
valiosas informações nelas contidas. Para as amostras não perecíveis, de maneira geral,
costuma-se requerer um espaço ventilado, ao abrigo da luz direta e com baixa umidade.

Mesmo sendo não perecíveis, processos oxidativos podem comprometer a


integridade das amostras, como armamento, por exemplo. Lembremos que muitos
processos judiciais se estendem por muitos anos (até décadas), o que exige a
conservação das evidências coletadas na cena. Além disto, o que é óbvio, mas não custa
salientar, é desejável um alto grau de organização do arranjo físico e dos registros das
evidências depositadas, a fim de facilitar eventuais buscas e evitar perdas ou trocas de
materiais. Já as evidências que são passíveis de degradação ou volatilização devem ser
armazenadas em ambientes refrigerados.

Muito embora seja muito comum que sejam armazenadas em refrigeradores


comerciais, que são de custo menos elevado, o ideal é que a guarda destas evidências
seja feita em câmaras frias ou arquivos refrigerados que permitam maior organização
e controle do manuseio das mesmas. As razões são idênticas àquelas apresentadas para
a guarda das amostras não perecíveis.

Os cadáveres devem ser armazenados nas câmaras refrigeradas, até a finalização


dos procedimentos de necropsia e liberação.

A necropsia em si não é o foco deste volume, pois se trata de campo de atuação


do médico legista ou perito médico. Contudo, cabe salientar que algumas amostras e
resultados da necropsia são de interesse da química e da física forense.

Para a física forense, o relato dos tipos de traumas sofridos pelas vítimas pode
auxiliar na compreensão da cinemática de um acidente automobilístico ou de uma
queda. Já para a química forense, amostras de conteúdo gastrointestinais e fluidos
(como sangue e urina, por exemplo) são extraídos na etapa de necropsia e
encaminhados ao laboratório de química para realização de análises toxicológicas

Laudo pericial

O laudo pericial é o documento formal que reúne as conclusões acerca dos testes
realizados nas amostras coletadas na cena ou durante a necropsia. Deve ser emitido por
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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

órgão acreditado publicamente, como os departamentos ou institutos de perícias


regionais ou federais. Peritos independentes, como já citados anteriormente, podem ser
contratados para a execução de um estudo, normalmente com intuito de questionar
resultados apresentados pelos órgãos governamentais.

Contudo, tanto o perito quanto os laboratórios que realizarão as análises devem


ser credenciados para este fim. Lembremos que as amostras que são testadas
constituem evidências de crimes e, por esta razão, têm acesso extremamente restrito.
Sua liberação a terceiros só é possível mediante autorização judicial.

Cada área das ciências forenses apresenta suas peculiaridades, o que se reflete
na estrutura e conteúdo do laudo emitido. Particularmente nos casos da física e da
química forenses, o fato de que muitos instrumentos e metodologias analíticas são
aplicados exige um relato bastante completo.

A descrição completa da metodologia empregada, os instrumentos, calibração,


padrões, limites de detecção e erros devem estar bem explicitados, sob pena de ter seus
resultados questionados judicialmente. É claro que diferentes órgãos e laboratórios têm
estruturas de laudos próprios, mas não devem diferir significativamente em conteúdo
(KHAN; KENNEDY; CHRISTIAN Jr., 2012).

As informações contidas no laudo pericial devem responder de forma clara e


objetiva às questões formuladas na coleta das evidências. O texto deve ser
absolutamente técnico e imparcial. Segundo Farias (2008), o laudo pericial da área
química deve conter alguns elementos estruturais mínimos.

• Ementa: contendo informações básicas como data e local, órgão pericial, tipo de
laudo, tipo de amostra e nomes dos responsáveis, dentre outros.

• Histórico: contendo um pequeno relato do fato que originou o processo.

• Material Recebido: contendo um relato detalhado do tipo de amostra recebida,


natureza e quantidade, dentre outros.

• Exames e Resultados: contendo a descrição completa dos métodos empregados,


equipamentos, calibrações, incertezas, limitações e a interpretação dos
resultados obtidos.

• Conclusão: contendo a(s) resposta(s) objetiva(s) e clara(s) às questões


levantadas pela investigação. Por exemplo, é ou não é a substância que se
suspeitava (cocaína, heroína, anfetaminas, por exemplo).

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

• Anexos: contendo o registro fotográfico, gráficos e diagramas, dentre Outros No


roteiro indicado para os peritos criminais federais na publicação Procedimento
Operacional Padrão – Perícia Criminal (BRASIL, 2013), é colocado o seguinte
roteiro básico para a elaboração dos laudos de análises químicas:

• Identificação e descrição da amostra: incluindo a natureza e quantidade de


material recebido, número de lacre, documentação e natureza da solicitação.

• Exames realizados: descrevendo a metodologia empregada, equipamento,


calibrações e incertezas das determinações.

• Resultados obtidos: apresentação técnica dos resultados.

• Conclusão: indicação positiva ou negativa com relação ao exame solicitado.

• Anexos: opcional para inclusão de fotos, gráficos e diagramas.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Aula 4 - Acidentes com Materiais Radioativos

Olá aluno e aluna na aula de hoje vamos ver alguns tipos de acidentes com
materiais radioativos. Bons estudos.

Introdução

As radiações estão presentes no nosso dia a dia. De uma forma ampla, sob a
visão da física, radiação eletromagnética é um termo que se refere aos fótons (partículas
semelhantes aos elétrons) se propagando no meio segundo uma função de onda. Em
uma visão mais simples, as radiações eletromagnéticas são diferentes tipos de luz.
Algumas visíveis e outras não.

De fato, quando nos referimos às radiações eletromagnéticas estamos falando de


energia, que pode ser empregada para transportar informações (ondas de rádio e micro-
ondas), aquecer materiais (micro-ondas e infravermelho), iluminar (luz visível), ativar
reações químicas (ultravioleta), observar estruturas internas do corpo humano e avaliar
estruturas metálicas (raios X) e controladores industriais (raios gama), dentre inúmeras
outras aplicações.

Por meio do estudo da física quântica, aprendemos a relacionar o conteúdo


energético de uma radiação com a sua frequência de vibração. Como já foi dito, os
fótons (partículas de radiação) se propagam no meio segundo uma função de onda. O
conteúdo energético da radiação é diretamente proporcional à sua frequência de
vibração (ν), que é a quantidade de ciclos que a função descreve por unidade de tempo.

Traduzindo, é quantas vezes a função descreve um comprimento de onda (λ) por


unidade de tempo. Desta forma, a unidade de frequência no Sistema Internacional (SI)
é o s1 ou Hz (Hertz).

Quanto maior a frequência de vibração, maior o conteúdo energético da radiação.


Por esta razão, radiações com frequências de vibração superiores às da luz visível
passam a ser nocivas para a saúde humana.

Estas radiações são comumente referidas como radiações ionizantes, pois podem
induzir a formação de radicais livres ou ionizar efetivamente materiais.

Particularmente, as moléculas biológicas são muito suscetíveis a estes processos,


especialmente as de DNA. Resumindo, radiações muito energéticas podem
literalmente provocar queimaduras, pela transferência direta de energia, ou induzir
alterações genéticas pela modificação do DNA. Estas alterações podem se refletir em
1
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

tumores ou mutação, dependendo do tipo de célula atingida. Daí decorre a extrema


preocupação para com a exposição de organismos vivos, em especial humanos, a estas
radiações.

Pois bem, se existem radiações que podem causar danos significativos aos seres
vivos, torna-se relevante monitorá-las e averiguar acidentes que ocorram com as
mesmas. Contudo, precisamos ainda compreender um pouco sobre as fontes de tais
radiações. As radiações ultravioletas podem ser encontradas com alguma abundância
na luz do sol, razão pela qual devemos evitar a exposição nos horários em que está
muito abundante. Mas isto não chega a ser um caso para a física forense. Além desta
fonte, as demais são lâmpadas, como aquelas das câmaras de bronzeamento artificial.
Isto quer dizer que a exposição pode ser controlada, mas em doses muito elevadas pode
levar queimaduras sérias e que pode até mesmo à morte.

Existem relatos de mortes por exposição prolongada em câmaras de


bronzeamento artificial, uma das razões pelas quais a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) caçou todos os alvarás deste tipo de procedimento. Além disso,
alguns tipos de solda, como a solda de eletrodos, podem emitir grandes quantidades de
radiação ultravioleta.Já as radiações do tipo raios X, muito mais perigosas que as
ultravioleta, tem fontes ainda mais limitadas.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

As maiores possibilidades de exposição são ocupacionais, nas áreas de raios X


para imagem clínica e industrial. Acidentes com este tipo de radiação são muito
improváveis. Dentre as radiações citadas, a radiação do tipo gama (γ) sem dúvidas é
aquela que oferta o maior risco à saúde e probabilidades de acidentes ou
contaminações. A radiação gama é emitida por núcleos instáveis, com ou sem
decaimento nuclear ou fissão nuclear.

Existem muitos tipos de radionuclídeos (elementos radioativos). Suas aplicações


vão desde controladores industriais (controladores de vazão, controladores de nível de
tanques) e reatores nucleares (usinas termonucleares) e bombas. Há enorme
fiscalização e controle na comercialização de fontes radioativas, pois ao contrário das
outras radiações, que só são emitidas com as fontes ligadas, à radiação gama é
constantemente emitida a partir do radionuclídeo.

Tal fato exige medidas extremas de contenção, como os recipientes de chumbo,


por exemplo. Lembremos-nos do caso do césio 137 (Cs137) no município de Goiânia,
estado de Goiás, no ano de 1987. Naquele evento, um dono de um ferro-velho abriu a
cápsula contendo a fonte radioativa, contendo cloreto de césio, extraída ilegalmente de
um aparelho de uma clínica abandonada.

Centenas de pessoas foram expostas a elevados níveis de radiação. Houve quatro


vítimas diretas em função da exposição. Contudo, estima-se que pelo menos 104
pessoas morreram em decorrência do evento e mais de 1600 tenham desenvolvido
algum tipo de problema de saúde.

Todas as fontes radioativas devem ser devidamente identificadas e ter registro


junto ao CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) com um físico nuclear ou um
engenheiro nuclear responsável técnico. Também é importante salientar que materiais
que tenham contato com fontes radioativas acabam se tornando radioativos (radiação
secundária), por um período que depende do tipo de material, tipo de fonte radioativa
e tempo de exposição.

Logo, todos os cuidados destinados às fontes radioativas também devem ser


dispensados aos materiais que entraram em contato com a radiação (Resíduo
radioativo). Estes levam a mesma identificação.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Aula 5 - ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS

Olá aluno e aluna na aula de hoje vamos ver alguns tipos de acidentes
automobilísticos de interesse para perícia criminal. Bons estudos.

A sociedade moderna adotou os veículos automotores como modal principal no


transporte cotidiano de pessoas e cargas. Com isto, a frota automobilística tem crescido
ano após ano e, paralelamente, o número de acidentes de trânsito.

O crescimento da frota está atrelado a distintos fatores em diferentes países e


regiões do planeta. A baixa disponibilidade de sistemas eficientes de transporte
coletivo, falta de investimentos em hidrovias e ferrovias, a extrema agitação do dia a
dia, a falta de segurança e até mesmo o individualismo promovido pela era digital são
alguns dos principais fatores que contribuem para este crescimento. Infelizmente, junto
com o aumento da frota também cresce o número de acidentes e, como consequência,
o número de vítimas.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-


Americana da Saúde (OPAS), atualizados em 2016, cerca de 1,25 milhão de pessoas
perdem a vida anualmente em acidentes de trânsito. Além dos óbitos, entre 20 e 50
milhões de pessoas sofrem lesões não fatais com incapacitação temporária ou
permanente. O custo estimado destes eventos é de cerca de U$ 1,85 trilhão por ano.
Trata-se de um custo extremamente elevado, como as cifras demonstram. Alguns
outros dados importantes que estas Organizações nos trazem são (ORGANIZAÇÃO
PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2018):

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Os acidentes de trânsito correspondem à principal causa de morte entre jovens


de 15 a 29 anos;

Os países de baixa e média renda, que detém apenas a metade da frota veicular
mundial, concentram em torno de 90% dos óbitos decorrentes de acidentes de trânsito;

No mundo todo, metade das vítimas fatais de acidentes de trânsito são pedestres,
ciclistas e motociclistas;

Com as taxas de crescimento atuais, os óbitos decorrentes de acidentes de


trânsito corresponderão à 7ª causa de mortes em 2030 a OMS, empregando dados de
2010, aponta o Brasil como o quinto.

O país com o maior número de vítimas fatais decorrentes de acidentes de trânsito


em números absolutos. Fica atrás apenas da Índia, China, Estados Unidos e Rússia.
Juntamente com Irã, México, Indonésia, África do Sul e Egito, são os dez países onde
ocorrem mais mortes no trânsito anualmente. Aproximadamente 60% dos 1,25 milhão
de óbitos estão concentrados nestes 10 países (AGÊNCIA BRASIL, 2018).

Segundo dados apresentados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) para o ano de
2016, dentre as principais causas de acidentes de trânsito com óbitos estão (METRO,
2017):

• Falta de atenção (30,8%);

• Velocidade incompatível (21,9%);

• Ingestão de álcool (21,6%);

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

• Desobediência à sinalização (10%);

• Ultrapassagens indevidas (9,3%);

• Sono (6,7%).

Estes mesmos dados apresentam mais informações relevantes. Por exemplo, do


total de vítimas, 29% foram em colisões frontais, 18,2% em atropelamentos de
pedestres, 17,8% foram condutores ou passageiros de motocicletas e 4,1% ciclistas.
Além disto, 75% ocorreram em pista seca, em retas (mais de 70%), à noite (53,8%),
pista simples (61,7%) e regiões rurais (68,9%). Os homens (79,3%) da faixa etária dos
20 aos 24 anos (14,2%) representam a maioria das vítimas fatais (METRO, 2017).

Os dados sobre a violência no trânsito são extensos e, além destes já


apresentados, poderíamos citar as taxas de ocupação de leitos hospitalares, salas de
cirurgia, custos com próteses, reabilitação, perda de produtividade, custos com
benefícios previdenciários, seguros e tantos outros.

Todos estes aspectos justificam a necessidade de investigar os aspectos


relacionados às causas dos acidentes, a fim de construir argumentos estatísticos que
sirvam de base para os programas de educação no trânsito. Além disto, devemos
considerar o imenso número de processos judiciais desencadeados pelos acidentes de
trânsito, que exigem laudos periciais.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Infelizmente, a disponibilidade de recursos periciais no Brasil é mínima, o que


determina que muitos dos acidentes de trânsito não passem por perícia. Nestes casos,
as causas são mais circunstanciais do que científicas.

De qualquer maneira, a física forense pode ofertar, a partir da análise da cena do


acidente, determinar as reais circunstâncias do ocorrido e ofertar dados como as
posições relativas dos veículos, velocidades, trajetos e outras. Procederemos, agora, o
relato de alguns cálculos que podem ser executados.

Dependendo das circunstâncias em que o acidente ocorreu, particularmente nos


casos que há óbitos, é necessário investigar a ocorrência a fim de determinar os fatores
que o desencadearam. Empregando-se cálculos de física mecânica, é possível
determinar alguns parâmetros, como forças de impacto, velocidades de impacto e
velocidades antes de frenagens.

Contudo, segundo Viana (2009), a velocidade é um dos fatores agravantes ou


determinantes dos acidentes de trânsito, mas outros fatores devem ser avaliados:

• A geometria do terreno (plano ou inclinado);

• A trajetória (retilínea ou curvilínea);

• A eficiência da frenagem (bem distribuída ou não);

• O veículo trafega até sua total imobilização ou não (colide com outros obstáculos
ou não).

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Todos estes fatores complicam o estudo da cinemática de um acidente


automobilístico.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Aula 6 - LABORATÓRIOS E MÉTODOS DE


ANÁLISES QUÍMICAS

Olá aluno e aluna na aula de hoje vamos começar a falar sobre os laboratórios e
métodos de análises químicas. Bons estudos.

Um laboratório químico, de maneira geral, já deve ser um local extremamente


limpo e organizado. Produtos químicos (mais perigosos), vidrarias, equipamentos.
Tudo isto junto com os técnicos, no mesmo ambiente de trabalho. Rapidamente as
coisas podem se tornar caóticas. Nos laboratórios de análises químicas, o grau de
organização e limpeza deve ser ainda maior, pois nessas situações amostras de
materiais podem ser contaminadas, perdidas ou trocadas, comprometendo a rotina de
trabalho.

Mas quando falamos de um laboratório de análises químicas forenses, tudo é


potencializado. Além de se tratarem de amostras muito diversas e em quantidades
geralmente muito pequenas, cada uma está atrelada a uma investigação criminal. São
amostras únicas e que se forem desperdiçadas ou contaminadas, podem comprometer
o andamento da investigação.

Por fim, há toda a questão do sigilo para com os resultados, para que a
investigação não seja comprometida. Dada a diferença no nível de responsabilidade no
trato com as amostras e a grande variedade de amostras a serem identificadas, o
laboratório de química forense não é diferente de um outro laboratório analítico.

A possibilidade de que muitas amostras com características distintas possam vir


a ser recebidas por um laboratório forense, exige que este disponha de muitos
equipamentos que possam contemplar toda a gama de ensaios necessários. Não
abordaremos as questões de custos neste volume, mas garantimos que alguns
equipamentos para análises químicas são extremamente caros (podendo, em alguns
casos, atingir a casa de R $1.000.000,00 – em valores de 2019).

Isto sem falar no custo operacional, ou seja, manter um químico com capacitação
para operar tal equipamento e o custo para manter o equipamento operando (insumos,
manutenção, gases, reagentes, solventes). Todos estes são fatores que limitam de forma
real os institutos forenses, geralmente com disponibilidade de verbas muito limitada.
Quando o perito conclui que uma determinada metodologia instrumental será
necessária, mas não está disponível em seu laboratório, laboratórios de outros estados
ou da Polícia Federal poderão ser consultados e vir a prestar o serviço.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Eventualmente, laboratórios de universidades são utilizados e, com menor


frequência, laboratórios particulares. Dada a imensa quantidade de métodos diferentes
disponíveis para a solução de problemas analíticos forenses, apresentaremos de forma
sucinta aqueles que são mais comuns de serem utilizados.

Luminol

Na área forense a presença de sangue é um vestígio importante na investigação


de um crime. Normalmente o sangue não é detectado a olho nu devido a várias
circunstâncias, incluindo a tentativa do autor em limpar a cena do crime. Nesses casos,
o uso de testes presuntivos pode ser necessário para localizar manchas latentes. Para a
sorte dos peritos, as manchas de sangue são difíceis de serem completamente
eliminadas quando comparado com outros testes presuntivos, o luminol é o mais
sensível, efetivo e seletivo para detecção de manchas de sangue.

É de fácil manipulação e uso através de spray, principalmente quando a


aplicação. Pode ser reaplicado sem degradação do sangue e não requer equipamento
adicional para visualização, a não ser o equipamento de proteção individual.
Entretanto, necessita de um ambiente escuro, possui potencial para toxicidade (assim
como os componentes químicos da solução), além de possível efeito negativo na
tipagem do DNA.

A emissão da luz (quimiluminescência) é observada quando uma solução


contendo o luminol e o peróxido de hidrogênio entra em contato com o sangue,
utilizando o ferro presente no grupo ‘heme’ da hemoglobina como agente catalisador
causando uma reação de quimiluminescência.

Vamos ver um caso mostrando a eficácia ou não do luminol na detecção de


sangue após a pintura das paredes em um local onde ocorreu um homicídio.

Relato de caso

Em abril de 2011 um corpo do sexo masculino com ferimentos por projétil de


arma de fogo foi encontrado em uma lagoa no Estado de Minas Gerais, Brasil. Segundo
as investigações, o marido teria assassinado o amante da esposa e com a ajuda dela
desovaram o corpo em uma lagoa a fim de ocultar o cadáver. A suspeita era de que o
crime tivesse ocorrido na casa do autor, já que a vítima tinha um caso amoroso com a
mulher do assassino.

Dias após o corpo ter sido encontrado, os peritos então se dirigiram à residência
do suspeito e observaram que o quarto localizado na porção anterior direita do imóvel
tinha sido recentemente pintado com tinta vermelha. Primeiramente foi realizada uma
varredura no quarto utilizando luz forense, sendo detectadas algumas manchas nas
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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

paredes do quarto. Nestes locais foram removidas partes da tinta e aplicado o luminol
16A misturado na ocasião dos exames ao Luminol B seguindo a proporção determinada
pelo fabricante.

O produto foi aplicado em forma de spray e foram então evidenciadas manchas


de sangue no tapete, piso e colchão, entretanto nenhuma evidência foi vista na parede.

Então, os peritos com o uso de uma espátula metálica rasparam algumas áreas
da parede retirando a camada de tinta vermelha e deixando exposta a tinta antiga de
cor branca.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Toda a pintura retirada era coletada em um recipiente próprio. Após nova


aplicação do luminol observou-se a mancha branco-azulada, intensa e de duração típica
de sangue latente. Neste ponto novas amostras da tinta foram coletadas. Os locais de
reação do luminol foram fotografados com luz natural e no escuro com uma câmera
digital Canon. Não houve qualquer tipo de edição das fotografias, os fragmentos de
tinta e revestimento retirados da parede foram identificados e enviados para o
laboratório de DNA do Instituto de Criminalística de Minas Gerais que confirmou
tratar-se do perfil genético da vítima.

Primeiramente deve-se considerar a natureza do substrato onde a mancha se


encontra.

Os substratos podem ser divididos em dois grupos:

Materiais absorventes e não absorventes.

Os absorventes são aqueles que possuem ranhuras ou fendas na superfície como


madeira, tecido, carpete e paredes. Essas superfícies são mais fáceis de analisar porque
retém maiores quantidades de sangue, mantendo-o relativamente não degradado por
muitos anos. A parede é uma superfície absorvente, assim, mesmo quando os autores
do crime tentaram esconder as manchas ao pintar as paredes, foi possível a sua
visualização com o uso do luminol. O luminol reage com muitas substâncias.
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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Analisaram 250 substâncias (frutas, vegetais, cigarros, tintas, produtos de


limpeza, higiene pessoal, superfícies automotivas, etc) e observaram que a grande
maioria não produz quimiluminescência suficientemente intensa com o luminol. Das
substâncias analisadas, algumas como o nabo, hipoclorito, cobre, lustra-móveis e tintas
esmaltadas produzem uma quimiluminescência parecida com o luminol quando na
presença da hemoglobina, entretanto, tem rápido aparecimento, brilho e duração.

A tinta esmaltada e a tinta spray podem dar falso positivo, mas não foi esse tipo
de tinta usada para pintar o quarto. Apesar de o caso analisado estar envolvido com
tinta, não ocorreu um falso-positivo, pois como se pode observar, não foi toda a parede
que mostrou a quimiluminescência, mas apenas em uma região específica.

A área onde foi aplicado o luminol serviu como um controle pois não ocorreu
reação onde não havia mancha de sangue. Se houvesse interferência haveria um padrão
de distribuição espacial de emissão por toda a parede, fato que não aconteceu.

Enquanto a preparação e aplicação do luminol são relativamente simples, a


interpretação dos resultados é mais dificultosa. Um perito experiente pode distinguir
uma verdadeira reação quimiluminescente do sangue de outras substâncias avaliando
parâmetros observados a olho nu como intensidade, cor, duração e distribuição espacial
da emissão.

A cor branca azulada quando reage com sangue permanece evidente por um
maior período, intensidade e mantém um brilho constante, além disso, deve-se observar
o formato da mancha de sangue que normalmente aparece na forma de respingos, gotas,
arrastamento ou impressões de sapatos. Pode ocorrer má interpretação devido a
avaliação subjetiva, informal e não quantitativa.

Entretanto, qualquer dúvida pode ser resolvida empregando uma observação


inteligente e outros testes. O sangue retirado da parede foi confirmado pelo Laboratório
de DNA ser da vítima encontrada na lagoa.

A análise do padrão das manchas de sangue como a distribuição, forma, contorno


e tamanho pode substancialmente contribuir na reconstrução de eventos em cenas do
crime. O luminol se mostrou eficiente mesmo quando a quantidade de sangue é
diminuta como no caso da parede analisada, a detecção de manchas de sangue sob
superfícies pintadas não é uma tarefa comum para os peritos.

Não é um método de fácil localização de sangue, além de ser limitado para


identificar padrões da mancha ou para determinar uma sequência de eventos,
entretanto, pode ser muito eficaz. Por isso, os experts devem ficar atentos em cenas de
crime onde se suspeita que os autores tenham pintado a parede a fim de ocultar as
evidências.
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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Não está claro como certas variáveis, como tipo de pintura, limpeza, padrão da
mancha, textura da parede e o tempo podem afetar o sucesso desta técnica. Portanto,
novas pesquisas na área são importantes no caso analisado o sangue só foi identificado
após a retirada da tinta, sugerindo que o luminol não consegue penetrar uma
camada de tinta.

A aplicação dessa técnica no caso em questão encontrando manchas de sangue


sob a pintura ajudou a perícia a traçar a dinâmica do evento, ficando mais clara a
posição da vítima quando foi alvejada pelo seu agressor, além de ligar a vítima àquele
local.
Resumindo...

O teste com o luminol é um teste de campo para a identificação de vestígios de


sangue, mesmo em locais onde tenha havido tentativa de lavar os objetos com os quais
o sangue tenha tido contato. Superfícies relativamente porosas como tapetes, carpetes,
couro, roupas, tecidos em geral, madeira, alvenarias e outras, conservam resíduos de
sangue mesmo após tentativas de eliminar os vestígios. Já o vinil, azulejos, vidros e
metais não conservam os vestígios (VASCONCELLOS; PAULA, 2017).

O teste consiste em borrifar no local que se estima haver resíduos de sangue


(visíveis ou não) com uma solução de luminol em presença de água oxigenada em meio
básico.

Na presença de resíduos de sangue, o ferro da hemoglobina atua como


catalisador na reação de oxidação do luminol, produzindo quimioluminescência. O
produto da reação permanece por um período em alto estado de energia, liberando luz
de coloração azul. Esta coloração é potencializada em ambientes escuros ou na
presença de luz ultravioleta.

A aplicação do luminol sobre os resíduos não impede a coleta do material para


posterior identificação de ADN (Ácido desoxirribonucleico ou da sigla em inglês
DNA). Contudo, Vasconcellos e Paula (2017) destacam o fato de que a reação não é
seletiva para sangue humano, além de ser um teste presuntivo, que não descarta a
necessidade de confirmação laboratorial.

Teste do ETILÔMETRO (BAFÔMETRO)

Como já apresentado anteriormente, os acidentes de trânsito figuram entre as


principais causas de morte no Brasil e no mundo. Além do elevado custo humano e
social, destaca-se também o elevado custo para o estado. Obviamente, muitos são os
fatores que podem levar ao acidente de trânsito, mas uma das causas que costuma levar
aos acidentes mais violentos é a embriaguez ao volante. Nos últimos anos houve forte

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

atuação do estado no sentido de conscientizar, coibir e criminalizar a direção sob efeito


do álcool.

Esta iniciativa tem origem no ano de 1997, com alterações no Código de Trânsito
Brasileiro, seguida pela instituição da Lei Seca (Lei n° 11.705/2008) em 2008,
atualizada pela Lei n°12.760 de 2012, pela Lei n°13.281 de 2016 e, mais recentemente,
pela Lei n°13.546, de 19 de dezembro de 2017, que passou a vigorar a partir 19 de
dezembro de 2018 (BRASIL, 2017). Nesta última revisão da chamada ‘Lei Seca’, não
há tolerância para a presença de álcool na corrente sanguínea.

Mas, para que todo este aparato legal seja factível, bons equipamentos de
detecção em campo devem estar disponíveis, visto que o teor alcoólico no sangue
diminui em função do tempo. Então, o teste de teor alcoólico deve ser realizado ainda
em campo a fim de determinar este parâmetro no momento da abordagem. O álcool,
uma vez ingerido, incorporado à corrente sanguínea que imprime seus efeitos sobre o
sistema nervoso central. Contudo, é gradualmente excretado por três vias principais:
metabolização, principalmente pelo fígado; excreção pelo sistema urinário, e
eliminação nos pulmões pelo ar alveolar (BRAATHEN, 1997).

Obviamente, a forma mais confiável de determinar o teor de álcool no sangue é


por meio da coleta de uma amostra de sangue. Contudo, o tempo, os recursos e os
aspectos legais relativos a estas coletas acabariam por inviabilizar testes rápidos de
dosagem em campo. Desta forma, a eliminação do álcool pelo ar alveolar representa
uma forma segura, rápida e confiável de executar esta avaliação.

Existem vários tipos de etilômetros, com distintos princípios de medição e


homologados pelo Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO). Contudo, os mais
modernos e confiáveis são aqueles baseados em células eletroquímicas, o álcool
contido no ar soprado é reagido, gera um sinal eletroquímico e é mensurado.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Aula 7 - INTRODUÇÃO À BALÍSTICA FORENSE

Olá aluno e aluna na aula de hoje vamos começar a falar sobre a balística forense,
abordando seus pontos principais. Bons estudos.

Introdução à balística

A balística corresponde à uma área das ciências forenses que estuda as armas de
fogo, as munições, o comportamento e os efeitos de um projétil em alvos, sempre que
um crime tenha sido cometido com disparos desse tipo de armas.

Buscam comprovar a utilização da arma, correlacionar uma arma em particular


ao evento, as condições em que os disparos foram realizados, identificar um suposto
atirador e os impactos sobre materiais e vítimas.

É uma área de extremo interesse nas ciências forenses, visto que principalmente
os grupos criminosos organizados têm se armado com cada vez maior capacidade de
fogo, tornando as cenas de crimes por eles praticados cenários perfeitos para estudos
balísticos.

O conhecimento balístico tem sido amplamente empregado na distinção da


origem de um disparo em confrontos das forças de segurança com os grupos
criminosos, onde vítimas civis acabam por se tornarem vítimas. Contudo, os
conhecimentos da balística são extremamente amplos e abrangentes, merecendo
publicações exclusivas para o tema. Neste capítulo serão apresentados apenas alguns
elementos fundamentais para a compreensão dos fenômenos balísticos básicos, bem
como da importância desta ciência na investigação das cenas de crimes onde armas de
fogo tenham sido empregadas.

Armas de fogo e energia dos projéteis

Existem vários tipos de armas, com calibres, mecanismos de carregamento e


disparo, canos e munições distintas. Com base nestas diferenças, muitas classificações
podem ser ofertadas pela bibliografia, inclusive de tipos já obsoletos. Pela razão óbvia
de limitação de espaço, neste volume traremos apenas algumas definições e
classificações mais básicas e focadas naqueles tipos de armamentos e munições mais
comumente encontrados no contexto forense. Iniciemos pela definição de arma de
fogo.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Segundo o inciso XIII do art. 3° do Regulamento para Fiscalização de Produtos


Controlados (R-105), instituído pelo Decreto n°3.665, de 20 de novembro de 2000
(BRASIL, 2000), arma de fogo é:

“Arma que arremessa projéteis empregando a força expansiva dos gases gerados
pela combustão de um propelente confinado em uma câmara que, normalmente, está
solidária a um cano que tem a função de propiciar continuidade à combustão do
propelente, além de direção e estabilidade ao projétil’.

As armas de fogo podem ser de cano longo (espingardas, carabinas, rifles, fuzis)
ou de cano curto (pistolas, revólveres). Além disto, com relação ao mecanismo de
disparo, podem ser por ação de ferrolho, semiautomáticas e automáticas. Ainda, uma
classificação importante para o âmbito forense, o cano pode ser de alma lisa ou raiada.

A ranhura do cano, que pode ser dextrógira ou sinistrógira, existe no sentido de


promover a rotação do projétil em torno do próprio eixo, reduzindo o arrasto
aerodinâmico, o que promove maior alcance e estabilidade na trajetória. Desta forma,
os disparos com armas de canos raiados tendem a ofertar maior exatidão e precisão nos
disparos.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Contudo, ao contrário das armas com canos lisos, as de cano raiado imprimem
no projétil as marcas da ranhura, que poderão ser empregadas na identificação da arma
responsável por um disparo.

É importante salientar que, muito embora a ranhura de uma arma seja uma
característica de produção, em função das condições de uso, conservação, manutenção
e tipo de munição, estas marcas tendem a se tornar únicas. É como se fosse uma
‘impressão digital’ dos disparos daquela arma, este é um exame muito empregado na
identificação de uma arma responsável por um disparo, como mostraremos mais
adiante.

Ainda com relação ao mecanismo de funcionamento das armas de fogo, a


alimentação das armas modernas ocorre por retrocarga, ou seja, a munição é inserida
na câmara de disparo pela parte anterior do cano. Uma vez inserida, com a arma
engatilhada, aciona-se o gatilho e o percussor irá deflagrar o iniciador (espoleta) na
parte anterior do cartucho. Esta, por sua vez, irá inflamar a carga principal cujos gases
de explosão irão impulsionar o projétil.
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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

As munições devem ser de calibre compatível com o da arma, ou seja, cada arma
tem a munição para a qual foi concebida. Existem diferentes formas de definir o calibre
de uma arma, mas três são as principais. Numa destas formas o diâmetro externo do
projétil, que determina o calibre, é expresso em milímetros (mm) (9 mm; 7,62mm;
5,56mm). Em uma segunda maneira, o calibre é expresso em frações de polegadas
(0,38 polegadas; 0,40 polegadas; 0,50 polegadas). Estas duas formas são as mais
comuns de se expressar os calibres de armas de canos raiados. Na terceira forma, o
calibre é expresso em fração de massa de chumbo equivalente a uma libra (453,6
gramas).

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Originalmente, esta massa de uma libra de chumbo foi dividida em distintas


frações, e uma destas frações foi convertida em uma esfera. O tamanho da esfera
determina o calibre da arma. Por exemplo, numa arma calibre 12, a massa de uma libra
foi dividida em 12 partes iguais e com uma delas se fez uma esfera que determinava o
calibre. Sempre com base em uma esfera de chumbo.

Cada tipo de munição ofertará ao projétil uma quantidade de energia que


dependerá de diversos fatores, tais como: calibre, massa do projétil, geometria do
projétil, comprimento e ranhura do cano, tipo e quantidade de explosivo da carga
principal, munição nova ou recarregada e o próprio estado de conservação da arma,
dentre outros. É claro que além dos fatores relacionados à própria arma e munição,
eventualmente alguns fatores ambientais também podem imprimir modificações na
energia entregue por um projétil.

É de fácil compreensão o fato de que quanto maior for à energia do projétil maior
serão os danos causados em um alvo. Como já informado anteriormente, outros fatores
também determinarão a extensão dos danos, e devem ser levados em consideração no
momento da avaliação pericial.

Perícia em estojos e projéteis

Uma vez executado o disparo da arma de fogo, muitos registros serão impressos
por esta tanto no estojo quanto no projétil. Quando o projétil atinge o alvo ou alguma
superfície no entorno ele é recolhido para avaliação pericial. Contudo, é de extrema
importância que se tenha cuidado no momento da remoção deste projétil do material
no qual está inserido. Se for de cadáver, o médico legista deverá executar a remoção e
limpeza cuidadosa com posterior embalagem e envio para o exame balístico. Se for
5
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

alguma outra superfície (alvenaria, madeira, solo, metal) procede-se a extração do


projétil desta, buscando causar o mínimo de danos ao mesmo. Se houver fragmentação
do projétil no impacto, os fragmentos deverão ser recolhidos com os mesmos cuidados
e na maior quantidade possível.

Os estojos deflagrados de munições também são vestígios muito importantes e


podem conter informações úteis sobre a arma de um crime. A maioria das armas
semiautomáticas e automáticas ejetam os cartuchos imediatamente após a execução de
um disparo e, muito raramente, o atirador se preocupa com o recolhimento destas
evidências. Infelizmente, em muitas cenas de crimes a importância dos estojos é
sonegada e não raramente se tornam suvenires nas mãos dos curiosos. Lembrando que
em uma cena de disparo de armas de fogo o número de estojos pode dar um indicativo
da quantidade de disparos realizados por um ou mais atiradores, visto que nem sempre
todos os projéteis são recuperados.

Mas antes de criarmos a falsa ideia de que o fato de se haver encontrado projéteis
e/ou estojos de munições empregadas em ações criminosas por si só solucionar um
caso, é importante destacar que todos os testes balísticos com estes vestígios são
comparativos. Quer dizer que é necessário dispor da arma suspeita de ter realizado os
disparos.

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QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

De posse desta e com o uso de munição semelhante, realizam-se disparos e os


projéteis e estojos resultantes destes disparos são comparados com aqueles encontrados
na cena do crime. Os testes com os projéteis buscam comparar os padrões de ranhuras
criadas pelas raias do cano. Como já foi dito, muito embora o padrão de raias seja o
mesmo para um determinado tipo de arma, o conjunto arma-munição-conservação
determina sutis diferenças no padrão impresso no projétil.

As amostras da cena do crime e dos disparos realizados pelos peritos são


detalhadamente examinadas em microscópios ou lupas e um amplo registro fotográfico
é mantido. Lembremos que, por se tratar de peças metálicas, os projéteis podem sofrer
oxidação e ter parte das ranhuras apagadas. No laudo, o perito indicará se existe
semelhança ou não, relatando a possibilidade de que a arma em questão pode ter
efetuado os disparos na cena, ou a descartando.

Quando um projétil é estilhaçado, a identificação é mais complexa, pois muitas


marcas das raias do cano são perdidas. Mas ainda assim todos os fragmentos possíveis
são recolhidos a fim de buscar algum vestígio que possa levar à identificação da arma
que efetuou o disparo. Casos clássicos da necessidade de identificação de armas têm
sido os dos confrontos entre policiais e traficantes, nos quais civis são alvejados.

Executa-se a perícia nas armas dos policiais que participaram do confronto, a


fim de determinar a origem do disparo. Claro que, para tal, deve haver coincidência no
calibre. Já quando os estojos (cápsulas) podem ser recuperados, outros tipos de marcas
podem ser identificados. São tão ou mais valiosas e conclusivas do que aquelas
encontradas nos projéteis no sentido de identificar uma determinada arma. Contudo,
em caso de óbito decorrente de projétil, o teste comparativo entre projéteis, conforme
descrito acima, é imprescindível.

7
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Nos estojos, buscamos marcas deixadas pela câmara, pelo extrator e,


principalmente, pela ação do percussor sobre a espoleta (iniciadora). Este conjunto de
marcas tende a ser característico de uma determinada arma, pelas razões já
apresentadas anteriormente.

Igualmente aos relatos nos laudos sobre as impressões deixadas sobre os


projéteis, às marcas impressas pela arma sobre os estojos geram evidência pela
semelhança, ou seja, devem ser realizados disparos com a arma suspeita, com o mesmo
tipo de munição. Neste caso, os estojos produzidos nestes disparos são comparados
com aqueles encontrados na cena do crime. As análises são realizadas em microscópios
ou lupas, e amplo registro fotográfico é realizado.

JAMAIS ESQUEÇA ISSO

“NÃO IMPORTA quantos erros você cometa ou quão devagar é seu


progresso, VOCÊ AINDA ESTARÁ À FRENTE daqueles que não
estão tentando.”

8
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 7)

Caro aluno e aluna, vamos fazer uma atividade. Faça uma pesquisa, pode ser na
internet. Analise a imagem abaixo e em seguida preencha com o nome correto as linhas
que estão marcadas.

(A)_________________________________________________________________
(B)_________________________________________________________________
(C) _________________________________________________________________
(D) _________________________________________________________________
(E) _________________________________________________________________
(F) _________________________________________________________________
(G) _________________________________________________________________

9
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Aula 8 – MICROSCOPIA – Parte 1

Os métodos de microscopia têm por finalidade essencial a ampliação da imagem


do material (amostra), a fim de que se possam observar detalhes de sua microestrutura.
Muito embora sejam amplamente empregados nas ciências forenses para várias
finalidades, aqueles crimes que pequenos vestígios são deixados é que melhor se valem
destas ferramentas. Pós, fibras, fios, tecidos, cabelos, pelos, projéteis e estojos de
munição estão entre as amostras mais avaliadas por estes equipamentos.

Existem três grupos principais de ferramentas de amplificação de amostras:


estereomicroscópios ou lupas, microscópios ópticos, microscópios eletrônicos.

Os estereomicroscópios ou lupas são aparatos de ampliação de imagens por meio


de luz incidente (luz sobre a amostra) ou luz transmitida (luz por amostra), com lentes
que permitem ampliações tipicamente até 50 a 80 vezes. Isto quer dizer que têm
capacidade limitada de ampliação e só podem ser utilizadas para objetos relativamente
grandes. Por sua vez, apresentam custo bastante reduzido, constituindo ferramentas
ótimas para a observação de marcas em projéteis e estojos de munição.

Já os microscópios ópticos, muito embora com o mesmo princípio de


funcionamento dos estereomicroscópios, operam com maior capacidade de ampliação,
podendo chegar a 1000 vezes. Além dos microscópios convencionais, uma ampla gama
de variações e acessórios pode ocorrer: sistemas de captação de imagens digitais, luz
polarizada, microscópio metalográfico, de imunofluorescência e outros. São muito
úteis em laboratórios forenses, inclusive na análise de pelos e fios de cabelo, fibras,
fios, vidros e tecidos, dentre outros.

Por fim, os microscópios eletrônicos. Estes têm um princípio de funcionamento


muito distinto dos microscópios ópticos. Nos ópticos, o mecanismo de ampliação é por
meio de lentes, que simplesmente ampliam a imagem que está no suporte de amostra.
Isto quer dizer que a imagem é uma imagem real. Nos eletrônicos, por sua vez, a
imagem é construída a partir da interação de um feixe de elétrons com a amostra.

Depois, os elétrons retornam até um detector que, com base na diferença de


energia dos elétrons, constrói uma imagem virtual da amostra. No seu interior existem
lentes, porém são lentes eletromagnéticas que têm por finalidade ajustar o tamanho e
posição do feixe de elétrons. São empregados quando ampliações extremas são
necessárias, podendo chegar até 100.000 vezes.

1
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Existem dois tipos de microscópios eletrônicos, os de varredura (MEV –


microscópio eletrônico de varredura) e os de transmissão (MET – microscópio
eletrônico de transmissão), sendo os do tipo MEV os mais comuns no meio forense.

São equipamentos muito caros e de custo operacional muito elevado, o que torna
as análises bastante caras. Contudo, quando detalhes muito sutis da amostra necessitam
ser observados, estes são os microscópios indicados. Ainda, por produzirem imagens a
partir de feixes de elétrons de alta energia (15keV ou mais), as amostras precisam ser
condutoras de eletricidade ou serem metalizadas a fim de conduzirem.

Análise de pós e testes rápidos para drogas

Quando um pó é encontrado na cena de um crime, deve-se ter o cuidado de não


causar seu espalhamento acidental (ou proposital como já mencionado anteriormente).
Muito embora vários métodos citados anteriormente possam ser executados com
quantidade muito pequenas de amostra, para uma análise mais completa e segura o
bom é que se disponha de maiores quantidades. Sendo assim, logo que realizado o
levantamento fotográfico e registro da cena do crime é bom realizar a coleta deste tipo
de material.

A melhor opção de coleta é em tubos com tampa, a fim de evitar dispersão,


contaminação e alteração de características por umidificação, desumidificação e perda
de componentes voláteis. Estas alterações podem comprometer as conclusões acerca
do material.

Uma vez no laboratório, dependendo das quantidades recuperadas do pó inicia-


se pela descrição das características físicas deste: cor, odor, aspecto, tamanho de
partícula. Depois, pode ser realizado um teste de ignição. Normalmente pós de natureza
orgânica sofrerão ignição quando em contato com uma chama, já os inorgânicos não.
Se há suspeita de que o pó seja de um explosivo ou iniciador, o teste deverá ser
realizado com quantidades mínimas e com maior segurança.

Além do teste de ignição, ao final do qual já se pode inferir sobre a natureza


orgânica ou inorgânica do pó, um teste de solubilidade em vários solventes orgânicos
e inorgânicos, inclusive água, pode ser executado. Eventualmente uma avaliação em
lupa ou microscópio poderá ser feita, a fim de observar com maior minúcia as
características do pó.

A partir deste ponto, o perito deverá escolher o método analítico que considera
mais apropriado para a caracterização deste pó, dentre o rol de opções apresentadas no
capítulo anterior. Quando se cogita a possibilidade de que o pó se trate de substância
ilícita (droga), alguns testes podem ser realizados ainda em campo ou no laboratório,
conforme segue.
2
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Teste colorimétrico para identificação de maconha

Para a identificação de uma amostra da qual se suspeita ser maconha ou que


contenha traços de maconha, é possível empregar o teste colorimétrico de Beam 69 ou
reação de Beam.

Neste teste, uma pequena quantidade de amostra (em torno de 10 mg) é colocada
em placa ou tubo e tratada com 1 ml de solução etanólica de hidróxido de sódio a 5 %.
Na presença de canabidiol, uma coloração vermelho-violácea será observada.

Outra reação possível para esta identificação é em meio ácido. Para tal, reage-se
a igual quantidade de amostra com 1 ml de solução etanólica de ácido clorídrico a 5.
Neste caso, a coloração observada é vermelha.

Este teste é presuntivo, e a amostra precisa passar por análise em metodologia


apropriada em laboratório. Contudo, é um método bastante utilizado em campo de
forma exploratória devido à rapidez e baixo custo. Além disso, os reagentes são simples
e fáceis de serem encontrados.

Teste colorimétrico para identificação de cocaína e crack

A cocaína refinada é um pó fino e branco com baixa solubilidade em água, mas


solúvel em etanol, éter e clorofórmio. Sua solubilidade em etanol é eventualmente
aproveitada pelos traficantes para transportá-la dissolvida em bebidas alcoólicas de
elevado teor de etanol, como whisky e vodca.

O teste que será apresentado pode ser realizado com amostras de cocaína e crack.
No caso de amostras solubilizadas em bebidas alcoólicas, evaporar uma quantidade do
líquido para concentrar o pó. Para a identificação colorimétrica de cocaína e crack
emprega-se o teste ou reação de Reichard. Nesta reação, adiciona-se uma mistura
previamente preparada de 2 mg de b-naftol com 0,5 mL de hidróxido de sódio 40 %
sobre uma pequena quantidade de amostra (em torno de 10 mg), depositada em placa
ou tubo. No caso de se tratar de uma amostra de cocaína ou crack, ou conter estas
substâncias, uma coloração azul intensa ocorrerá, indicando resultado positivo.
Igualmente ao teste para maconha, trata-se de um teste presuntivo que deve ser
confirmado por metodologia apropriada em laboratório.

Teste colorimétrico para identificação de heroína

A heroína é um pó de aspecto branco cristalino que é muito solúvel em água e


clorofórmio, solúvel em etanol e praticamente insolúvel em éter.

3
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

A solubilidade em água, além de facilitar a incorporação em vários produtos


como via de tráfego, também facilita o preparo para a administração intravenosa IV).
Para amostras líquidas que se suspeita conter heroína, concentração por aquecimento
brando é empregada para posterior teste. Para a identificação colorimétrica de heroína
emprega-se o teste ou reação de Wachsmuth.

Nesta reação, coloca-se um volume de 1 ml de amostra concentrada ou uma


pequena massa de pó (em torno de 10 mg) em placa ou tubo. Sobre esta, são
adicionados 1 ml de solução de cloridrato de hidroxilamina a 3%(m/v) e 1 ml de
hidróxido de amônio concentrado.

Após, adiciona-se algumas gotas de ácido clorídrico, até a neutralização da


solução, seguida de duas gotas de solução de cloreto férrico a 5 %(m/v). Caso a amostra
seja de heroína ou contenha esta droga, uma coloração rosa-violácea será observada.
Muito embora este teste seja específico para heroína podendo, inclusive, distingui-la
de outros alcaloides naturais, como o ópio e a morfina, também se trata de um teste
presuntivo, necessitando confirmação em laboratório.

Teste colorimétrico para identificação de morfina

A morfina é um anestésico amplamente utilizado pela medicina, mas também


muito consumido como droga de abuso. É um alcaloide derivado do ópio, da mesma
família da heroína. Pode ser comercializado na forma sólida em solução. É solúvel em
água, etanol, éter e clorofórmio.

Causa forte dependência química, assim como a heroína e a cocaína. Para


determinar a presença de morfina em uma amostra, emprega-se o texto ou reação de
Marquis. Neste teste, uma quantidade de 1 ml ou 10 mg de amostra são colocados em
placa ou tubo. Sobre esta, adiciona-se 1 ml do reagente de Marquis recentemente
preparado [o reagente de Marquis é composto por 1 ml de formaldeído (formol) a 40
%(m/v) e 20 ml de ácido sulfúrico concentrado].

Em se tratando de ou contendo morfina, a coloração da mistura será vermelho


alaranjada, passando a violeta e chegando ao azul (em torno de 60 s). Além de se tratar
de um teste presuntivo, exigindo confirmação, o teste de Marquis não é específico e
pode dar resultado positivo para várias substâncias, variando a coloração.

4
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Aula 9 – MICROSCOPIA - Parte 2

Teste colorimétrico para identificação de LSD

O LSD ou dietilamida do ácido lisérgico figura entre as substâncias alucinógenas


mais potentes. É um sólido cristalino geralmente aplicado sobre superfícies de papel
para ser colocado na boca para absorção via oral. Solúvel em éter, acetona, clorofórmio
e metanol. Para identificar o produto ou amostra contendo o produto, emprega-se o
teste ou reação de Ehrlich.

Para executar o teste, coloca-se uma pequena quantidade de amostra (em torno
de 10 mg) em uma placa ou tubo, e adiciona-se 2 gotas do reagente de Ehrlich. O
resultado positivo no teste de Ehrlich é indicado pelo surgimento de coloração violeta.

Teste colorimétrico para identificação de MDMA (ECSTASY)

O MDMA, comercializado como ecstasy, é um pó de coloração branca a bege,


e na forma pura é um líquido oleoso insolúvel em água e solúvel em clorofórmio, éter
e metanol. Na forma de cloridrato, é ligeiramente solúvel em clorofórmio, metanol e
água. É identificado pela reação ou teste de Simons, que segue a seguinte sequência:
coloca-se uma pequena quantidade de amostra (em torno de 10 mg) em placa ou tubo;
adiciona-se uma gota de solução aquosa de acetaldeído a 10 %; adiciona-se uma gota
de solução aquosa de nitroprussiato de sódio a 10 %; adiciona-se duas gotas de solução
aquosa de carbonato de sódio a 2 %. A presença do MDMA é confirmada pelo
surgimento de coloração azul.

Alternativamente, é possível empregar o teste de Marquis na identificação do


MDMA. Para tal, adiciona-se duas gotas de solução de formaldeído em ácido acético
(preparada pela dissolução de 8 a 10 gotas de formaldeído a 40 % em 10 mL de ácido
acético glacial sobre uma pequena quantidade de amostra, em placa ou tubo. Na
presença do MDMA, a mistura passará a apresentar coloração preta.

Teste colorimétrico para identificação de chumbo

A presença de chumbo e bário em resíduos de disparos de armas de fogo é


devida, principalmente, aos componentes da espoleta iniciadora. Alguns compostos
empregados na sua composição são os nitratos de bário, o estifinato de chumbo e o
trissulfeto de antimônio. Em uma cena de crime, quando se suspeita haver este tipo de
resíduo sobre qualquer tipo de superfície, inclusive nas mãos do suposto atirador,
procede-se à coleta de esfregaço com papel filtro ou SWAB. Após, borrifa-se o

1
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

substrato contendo a amostra com solução aquosa de rodizonato de sódio a 0,1 % recém
preparada. O surgimento de manchas rosadas indica a presença de chumbo.

Já a presença de manchas alaranjadas é indicativa da presença de bário. Sobre as


manchas rosadas se borrifar uma solução de ácido clorídrico a 5 %. A alteração da cor
das manchas de rosa para azul confirma a presença de chumbo.

Teste colorimétrico para identificação de cianeto de potássio

O cianeto de potássio é um sal inorgânico cristalino branco muito solúvel em


água. Figura entre as substâncias mais tóxicas para o organismo humano. Atua sobre o
mecanismo de transporte de oxigênio e síntese de ATP da cadeia respiratória. Desta
forma, pode provocar a morte dos tecidos e levar à morte em poucos minutos. Foi muito
utilizado na Segunda Guerra Mundial e durante a guerra fria para provocar o suicídio
em caso de captura. Existem alguns antídotos, mas a administração deve ser muito
rápida para que tenha efeito.

Quando um perito suspeita de envenenamento ou suicídio por cianeto, coleta-se


o pó e procede-se o teste da seguinte maneira:

Trata-se uma pequena quantidade da amostra (em torno de 10 mg) com 1 mL de


solução aquosa de hidróxido de sódio a 5 %; em seguida, adiciona-se 1 mL de uma
solução de sulfato ferroso a 5 %; ferve-se a mistura por 15 segundo e, após o
resfriamento, adiciona-se 3 a 4 gotas de ácido clorídrico a 20 %; por fim, adiciona-se
0,5 mL de solução de cloreto férrico a 1 %. Se a solução assumir coloração azul intensa
como azul da Prússia confirma-se a presença do cianeto de potássio.

Análise de vidros, plásticos, fibras, resíduos de explosivos e resíduos de incêndios

Quem de nós nunca quebrou ou presenciou algum tipo de vidro sendo quebrado?

Dependendo do tipo de vidro e da força e condições de impacto, fragmentos são


espalhados muitas vezes por longas distâncias. Ainda, fragmentos muito pequenos
podem ficar aderidos na pele, cabelos, roupas, calçados, tapetes, carpetes e uma série
de outros substratos.

Mesmo que uma cena de crime tenha sido alterada a fim de eliminar vestígios,
estes pequenos fragmentos podem dar indicativos de que objetos de vidro foram
quebrados durante a execução do crime, como luta corporal, golpes com objetos de
vidro. Mas para entender os mecanismos de identificação de diferentes tipos de vidros,
precisamos relembrar um pouco sobre sua composição.

2
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

O vidro é uma solução sólida amorfa sem estrutura cristalina e que apresenta
elevada dureza. Normalmente é um material muito frágil, quebrando-se por impacto
ou flexão. Os principais componentes são a sílica que é o óxido de silício, a alumina
chamada de óxido de alumínio, a soda barrilha chamada de carbonato de sódio e
carbonato de cálcio.

Outros componentes podem ser agregados em algumas formulações, a fim de


conferir propriedade diferenciada: chumbo para melhorar a transparência e absorção
de radiação ultravioleta; ácido bórico para melhorar resistência ao calor e choques
térmicos como vidro borossilicato para vidrarias de laboratório; agentes de
processamento, como os óxidos de fósforo, de sódio, de magnésio e de zinco;
pigmentos inorgânicos para conferir cor, como o selênio, óxidos de ferro, manganês,
cobalto e cobre, dentre outros.

Além da composição química, o tipo de processo produtivo também determina


algumas propriedades, como a diferença entre os vidros planos comuns e os
temperados. Os vidros temperados 75 recebem tratamento térmico são aquecidos entre
700 e 750°C e recebem choque térmico com ar ou nitrogênio a fim de adquirirem maior
dureza e resistência mecânica incremento de quase 90% nas propriedades mecânicas.
Os distintos tipos de vidros exibem, também, distintos padrões de fragmentação
quando quebrados.

A análise forense de fragmentos de vidro é bastante importante, já que não é


incomum que cenas de crimes apresentem este tipo de material. Pequenos fragmentos
podem ser coletados dos substratos anteriormente citados e, em algumas circunstâncias
podem, inclusive, auxiliar a conectar um suspeito à cena de um crime. Um pequeno
fragmento de vidro pode apresentar características semelhantes às encontradas na cena
do crime.

Muitas avaliações podem ser executadas nos fragmentos de vidro, como


determinação de índice de refração, de massa específica que chamamos de densidade
e, principalmente, avaliações em microscópios e padrões de fragmentação. As
avaliações microscópicas buscam propriedades ópticas e padrões morfológicos e
estriações causadas por esforços.

Além da análise de pequenos fragmentos, através da observação dos padrões de


trinca em um painel de vidro é possível estabelecer uma sequência de impactos

Análise de plásticos

Assim como os fragmentos de vidros, os plásticos podem ser amplamente


empregados como vestígios em ciências forenses. A análise de fragmentos de plásticos
pode auxiliar a determinar sua proveniência ou, por comparação, a semelhança com
3
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

fragmentos encontrados na cena de um crime como sacos plásticos utilizados para


embalar objetos ou um cadáver e os encontrados em poder de um suspeito, por
exemplo.

Um detalhe importante que os peritos químicos levarão em consideração é o de


que, muito embora o tipo de plástico em si seja o mesmo, pequenas variações nos tipos
e concentrações de aditivos e agentes de processamento podem ser verificadas. Além
disso, as análises tradicionais de massa específica, espessura, resistência e outros
também são realizados.

A caracterização química pode empregar métodos analíticos mais elaborados,


como a calorimetria diferencial de varredura (DSC), a termogravimetria (TGA) e a
análise térmica diferencial (DTA).

Além destas, a espectrofotometria de infravermelho com transformada de


Fourier (FTIR) e a ressonância magnética nuclear (RMN) podem ser empregadas,
preferencialmente de forma comparativa por exemplo com fragmento da cena contra
fragmentos encontrados com o suspeito.

A termogravimetria (TGA) de duas amostras de plástico do tipo PVC,


empregado na produção de filmes para embalagem de alimentos, por exemplo. Na sua
produção é empregado, dentre outros aditivos, um grupo de plastificantes denominados
ftalatos.

Dependendo do fabricante ou da aplicação do filme, diferentes ftalatos podem


ser adicionados. O termograma evidencia distintos padrões de degradação térmica das
amostras, evidenciando se tratar de materiais de diferentes origens.

Análise de fibras

As fibras são elementos muito importantes na cena de um crime costumam


constituir vestígios com elevado potencial de elucidação. Contudo, alguns aspectos
importantes devem ser considerados. Inicialmente, as fibras são classificadas como
naturais ou sintéticas.

Dentre as fibras naturais podem ser destacadas: lã, algodão, sisal, pelos, cabelos,
celulose e fibras minerais. Já as sintéticas incluem todos os tipos de fibras derivadas de
polímeros e as fibras de vidro. Nas ciências forenses as fibras têxteis têm destacado
interesse, visto que fragmentos de fibras das roupas de um suspeito são comumente
encontradas nas cenas de crimes.

4
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

E neste sentido, além das técnicas já citadas anteriormente para a análise de


plásticos, como FTIR, TGA e DTA, por exemplo, são extremamente úteis visto que a
maioria das fibras têxteis é de natureza polimérica.

Mas é importante destacar que estas mesmas técnicas podem ser aplicadas a
fibras de origem natural, obtendo-se resultados igualmente satisfatórios. Contudo,
segundo Farias (2008), as técnicas de microscopia são de fundamental importância na
avaliação e comparação de amostras de fibras.

De acordo com Bell (2006), a avaliação microscópica de fibras deve levar em


consideração vários aspectos, como: cor, intensidade e desgaste de corante e
pigmentos; morfologia de fios e tramas; textura e aspecto da superfície; penetração de
tingimento e; composição química da fibra.

Análise de resíduos de explosivos

Em um país que não se encontra oficialmente em conflito bélico oficial, como o


Brasil, não se esperaria a necessidade expressiva de peritagem em cenário de explosões
decorrentes do uso de artefatos explosivos, que não aquelas decorrentes de acidentes
ocupacionais como fábricas de explosivos e iniciadores, minas, construção civil,
demolições.

Quando muito, a análise de resíduos de disparos de armas de fogo, limitando o


campo exploratório. Contudo, a violência crescente e o aprimoramento das técnicas
utilizadas pelos criminosos têm inserido cada vez mais os artefatos explosivos nas
cenas de crime e, desta forma, exigindo de maneira mais frequente a perícia de resíduos
de explosões envolvendo artefatos explosivos.

Contudo, antes de explanarmos a coleta e análise de vestígios destes eventos,


precisamos conhecer um pouco sobre os explosivos. Os explosivos são substâncias
puras ou misturas que sofrem decomposição química violenta quando submetidos a
estímulos mecânicos como impacto, térmicos como calor, chama ou elétricos como
descargas elétricas.

Esta decomposição gera a expansão em alta velocidade de grandes volumes de


gases, geralmente em altas temperaturas e pressões, o que gera significativas ondas de
choque. Estas características distinguem a explosão de combustão, deflagração e
detonação.

Os explosivos podem ser sólidos, líquidos ou gasosos, sendo os sólidos muito


mais comuns pelas facilidades logísticas e de manuseio, bem como pelo fato de serem,
geralmente, mais estáveis. A identificação de traços de explosivos é realizada
preferencialmente em fragmentos do artefato, remanescentes após a explosão. Nestes
5
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

fragmentos é muito comum que se consigam boas amostras, que podem ser
transportadas nos próprios fragmentos até o laboratório.

Esta é a melhor alternativa, pois oferece menores riscos de perda ou


contaminação de material.

Obviamente, não são transportadas amostras com grandes quantidades de


explosivos não detonados, pela razão do risco iminente de nova explosão. Nestes casos
se coleta cuidadosamente uma porção do material, evitando atritos, impactos,
exposição ao calor e outras fontes de ignição.

Quando os fragmentos são difíceis de serem encontrados, amostras podem ser


obtidas a partir do terreno ou objetos que estavam próximos do ponto central da
explosão. Inclusive de cadáveres podem ser obtidas amostras de resíduos de
explosivos.

Até mesmo os pulmões das vítimas podem conter fumos e gases decorrentes da
explosão, contendo traços dos explosivos ou de seus produtos de decomposição.

O centro de uma explosão normalmente não é difícil de ser encontrado, pois é


comumente evidenciado por uma cratera (dependendo do tamanho e posição do
artefato) e pelo alinhamento de objetos e corpos segundo a direção de propagação da
onda de choque.

Nos casos que os resíduos estão disseminados pela cena do crime, os peritos
identificam aqueles pontos, objetos ou cadáveres que há maior probabilidade de
encontrar estes resíduos. Realizada a avaliação e levantamento fotográfico, passam a
coletar os vestígios pelo método do esfregaço, utilizando papel filtro, algodão ou
SWABS, ou ainda com a utilização de fitas adesivas isentas do material que será
avaliado (chumbo, bário, arsênio, mercúrio, nitrocelulose).

As amostras são cuidadosamente conservadas em sacos plásticos ou tubos e


encaminhadas ao laboratório para a análise com os métodos apropriados.

6
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Aula 10 – MICROSCOPIA - PARTE 3

Análise de resíduos de incêndios

Os incêndios também constituem importante campo de trabalhos para as ciências


forenses, particularmente aqueles de grandes extensões em ambientes urbanos, em
ambientes industriais e, com maior foco, naqueles onde se vislumbram a possibilidade
de ato criminoso. Também é necessário considerar a possibilidade de incêndio com
foco em ressarcimento de seguradora o que, obviamente, configura incêndio
intencional.

Existem vários indícios que podem ser empregados para determinar a origem,
presença de iniciadores e temperaturas atingidas em cada ponto do evento, exigindo do
perito grande capacidade de observação e treinamento, a fim de adaptar protocolos para
cada tipo de cenário. Embora as análises das evidências coletadas na cena do incêndio
sejam de atribuição do perito químico, a perícia do evento de incêndio propriamente
dito tem sido desenvolvida por profissionais bombeiros (geralmente militares)
devidamente treinados e habilitados para tal. Outro aspecto importante de salientar na
perícia de incêndios, é o mecanismo comumente empregado no controle e extinção dos
mesmos, o uso de grandes quantidades de água.

A água, além de promover o abafamento das chamas, retira o calor do incêndio


debelando os focos. Os materiais, ainda que inflamáveis, depois de se tornarem úmidos
dificilmente entrarão em combustão novamente. O problema é que, de maneira geral,
grandes quantidades de água necessitam ser utilizadas no controle das chamas, o que
pode impactar de forma significativa as evidências dos mecanismos de iniciação e
propagação das mesmas.

Tal fato pode dificultar ou até mesmo inviabilizar os trabalhos de perícia, já que
marcas podem ser apagadas e resíduos de produtos químicos podem ser arrastados pela
água. A própria operação de rescaldo, com objetivo de promover um resfriamento final
e controle de focos, pode impactar negativamente a cena em termos de evidências.

Outros aspectos a serem considerados em um evento de incêndio dizem respeito


ao tempo e à intensidade das chamas. Incêndios com tempos de durações longas e com
grande intensidade nas chamas podem levar à combustão completa dos materiais
sólidos e líquidos, apagando parcialmente ou totalmente os registros de evidências na
cena.

Tal fato atrapalha em demasia os trabalhos de peritagem, podendo torná-la


inconclusiva. Ainda, quando o incêndio acaba por causar o colapso da estrutura
1
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

(desabamento), os trabalhos de perícia também se tornam mais complexos, visto que


geralmente incêndios de grandes proporções provocam tal evento. Isto quer dizer que
provavelmente as chamas foram intensas, por longo período de tempo e que grandes
volumes de água foram empregados na extinção. Aliado a todos estes fatos, ainda
temos que consideram que as evidências estão soterradas e que suas posições originais
foram alteradas. Durante a remoção dos escombros os peritos deverão examinar
atentamente a cena em busca de evidências, tentando recriar o ambiente antes do
desabamento.

Segundo o Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (2017), existem várias ações


que o perito deve desenvolver na cena do incêndio, dentre elas: coleta de informações
e amostras para análise; inspeção de instalações elétricas; escavação de escombros;
registro fotográfico e elaboração de croquis; inspeção visual de áreas atingidas e de
entorno; Identificação dos possíveis focos. Muito embora várias ações possam ser
necessárias para uma determinada cena de incêndio, é possível estabelecer aquelas que
são comuns à maioria dos casos.

É bastante importante que o perito registre um croqui da cena, indicando as


posições de aberturas (portas, janelas) em cada parede, anotando para cada uma as
evidências deixadas pelo fogo, como: manchas de fumaça; marcas de carbonização e
de deposição de fuligem; pontos sem conexão que indiquem sinais de incêndio; o ponto
menos elevado que se registram indícios de incêndio (estruturas com mais de um andar,
por exemplo), e; pontos que as chamas se propagaram de áreas internas para externas
e vice-versa.

É necessário verificar o estado de portas e janelas (quebradas, carbonizadas e


arrombadas) identificando, preferencialmente, com testemunhas a movimentação de
pessoas no interior da cena. Verificar no interior da cena e presença de objetos
estranhos à esta, realizando registro fotográfico e recolhendo a evidência.

Avaliar o estado dos vidros de portas e janelas (quebrados, derretidos, retorcidos,


manchas de fumaça ou fuligem) indicando o sentido de projeção de fragmentos (de
dentro para fora ou de fora para dentro) quando estes estiverem presentes. Verificar se
há indícios de arrombamento. Indicar posição e estado dos sistemas de extinção de
incêndio (mangueiras, válvulas, sinalizações, escadas, portas corta-fogo). Indicar
posição e estado de medidores de gás e eletricidade.

Realizar amplo levantamento de indícios nas paredes, pisos e teto, realizando


registro fotográfico e em croqui. Condições climáticas gerais e força e direção dos
ventos no momento da ocorrência devem ser levantados e registrados. É de extrema
importância destacar que os mecanismos de combate e extinção de incêndio,
principalmente a água, podem alterar alguns registros e evidências.

2
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Esta possibilidade sempre deve ser considerada e, em casos extremos, pode levar
à não conclusão das circunstâncias do fato. Sempre que possível, é importante realizar
entrevistas com testemunhas, vítimas e com os próprios bombeiros que atenderam a
ocorrência. Muitas informações que são difíceis de serem coletadas diretamente a partir
da cena podem ser obtidas desta forma. É claro que o confronto entre as informações
coletadas nas entrevistas e as fornecidas pelas evidências da cena deve ocorrer, a fim
de detectar eventuais incoerências. Com relação à ocorrência de óbito em um evento
de incêndio, os peritos médicos buscarão: identificar a vítima; estabelecer a provável
causa da morte; busca estabelecer a cronologia da morte (morte em função das
queimaduras, morte por asfixia e depois queima do cadáver, morte por fatores não
vinculados ao incêndio).

Uma forma comum de estabelecer a cronologia da morte é avaliar, quando


possível, uma amostra de sangue da vítima. Quando um indivíduo ainda vivo é atingido
por um incêndio, a hemoglobina do sangue tende a se converter em metahemoglobina,
em função da inalação de dióxido de carbono (CO2).

Ainda, a inalação de monóxido de carbono (CO) promove a formação de


carboxihemoglobina. Esta espécie só será encontrada nas amostras de sangue se a
vítima morreu por asfixia, antes de ser queimada. Se a morte foi decorrente das
queimaduras ou ocorreu previamente ao incêndio (assassinato ou acidente seguido de
incêndio), estas espécies não estarão presentes.

Com relação ao foco do incêndio, a teoria é semelhante à da propagação de uma


onda de choque de uma explosão, guardadas as diferenças de proporções e velocidades,
é claro. A grande maioria dos incêndios acidentais inicia como pequenos focos,
aumentados gradualmente em função da presença de materiais combustíveis e
comumente direcionados em função de ventos ou correntes de ar. Conhecendo-se a
direção do vento ou correntes de ar, é possível estabelecer o ponto de início do incêndio
e, desta forma, pesquisar suas causas (fontes de calor, equipamentos elétricos,
combustíveis).

As temperaturas que foram atingidas em distintos pontos de um incêndio podem


ser estimadas pela fusão de alguns materiais presentes. Conhecendo-se as temperaturas
de fusão, determinam-se as temperaturas mínimas atingidas naquele ponto, pois para
ocorrer a fusão deve ter havido pelo menos uma temperatura igual à temperatura de
fusão.

A decomposição de alguns materiais inorgânicos também pode ser empregada.


Por exemplo, mármores e calcários se decompõem em temperaturas superiores a
900°C. Se em uma cena de incêndio forem encontrados vestígios destes materiais
decompostos, inferem-se temperaturas desta ordem ou maiores.

3
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

Já quando um incêndio não aparenta ter um foco localizado, pode-se suspeitar


de incêndio criminoso. Neste tipo de evento, não é incomum a utilização de um
combustível que é espalhado pela cena com o intuito de acelerar a propagação das
chamas, causando maior destruição. Nestes cenários é como se as chamas tivessem se
iniciado quase que simultaneamente em vários pontos. Também é comum a combustão
superficial e rápida, causada apenas na superfície de um material pouco combustível,
decorrente da combustão quase exclusiva do combustível utilizado como iniciador. A
coleta de vestígios em cenas de incêndios é um trabalho bastante complicado e que
requer experiência e paciência.

Nos casos dos incêndios criminosos, busca-se evidenciar o local e mecanismo


de iniciação. Uma vez coletados os vestígios, estes são levados ao laboratório para que
sejam submetidos aos métodos analíticos apropriados. Para estes casos, geralmente o
método de cromatografia gasosa com amostragem pela técnica de headspace
(headspace/GC ou headspace/GC/MS) é a mais indicada.

Também pode ser empregado o método de termogravimetria (TGA/DTA).


Nestes métodos é possível identificar traços de combustíveis empregados como
iniciadores ou acelerantes, bem como traços de eventuais artefatos explosivos que
tenham sido deflagrados com o intuito de causar o incêndio.

Os laudos deverão indicar a presença ou não de agentes iniciadores, como


combustíveis ou solventes.

Referências

ACORDO. Patu: O acidente na BR-226 deixou duas pessoas gravemente feridas. 2011.

ACRÍTICA. Corpo com mãos amarradas é encontrado em área de mata da praia Ponta
Negra. 2017.

ADVANCED MICROSCOPY TECHNIQUES. Asbestos. 2019.

AGÊNCIA BRASIL. Brasil reduz mortes no trânsito, mas está longe da meta para
2020. 2018.

ASSL STORE. Collection & storage tubes. 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 13434-2:


Sinalização de segurança contra incêndio e pânico. Parte 2: Símbolos e suas formas,
dimensões e cores. Rio de Janeiro, 2004.

4
QUÍMICA E FÍSICA FORENSE

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 9491:


Vidros de segurança para veículos rodoviários - requisitos. Rio de Janeiro, 2015.

AZO MATERIALS. Analyzing PVC of differing phthalate content using TG/MS and
TG-GC/MS. 2015.

BELL, S. Forensic chemistry. New Jersey: Pearson – Prentice Hall, 2006.

BICCHIERI, M. et al. Inside the parchment. 9th International Conference on NDT of


Art. Jerusalem, Israel, 25-30 mayo 2008.

BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848 - Código Penal. Brasília, DF, 7 dez. 1940.

BRASIL. Decreto-Lei no3.689 – Código de Processo Penal - CPP. Brasília, DF, 3 out.
1941.

BRASIL. Decreto n° 3.665 – Dá nova redação ao Regulamento para a Fiscalização de


Produtos Controlados (R-105). Brasília, DF, 20 nov. 2000.

BRASIL. Lei no13.546 – Altera dispositivos da Lei n° 9.503, de 23 de setembro de


1997 (Código de Trânsito Brasileiro), para dispor sobre crimes cometidos na direção
de veículos automotores. Brasília, DF, 19 dez. 2017.

BRASIL. Lei n° 5.970 -- Exclui da aplicação do disposto nos artigos 6o, inciso I, 64 e
169, do Código de Processo Penal, os casos de acidente de trânsito, e dá outras
providências. Brasília, DF, 11 dez.1973.

BRASIL. Lei no8.862– Dá nova redação aos artigos 6o, incisos I e II; 159, caput e §
1o; 160, caput e parágrafo único; 164, caput; 169; e 181 caput, do Decreto-Lei no3.689,
de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal. Brasília, DF, 28 mar.1994.

BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública.


Procedimento Operacional Padrão– Perícia Criminal. Brasília, DF, 2013.

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE GOIÁS. Manual Operacional de Bombeiros


– Perícia de incêndios. Corpo de Bombeiros Militar de Goiás, Goiânia, GO, 2017.

FORENSIC SCIENCE SIMPLIFIED. A Simplified guide to crime scene investigation.


2013.

FREE PRESS. Maharashtra forensic laboratory to make beef test kits. 2017.

5
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Aula 1 - Avaliação de Cena de Local de Crime – Parte 1

O perito e o papel da perícia na avaliação da cena do crime

Quando ocorre um crime é necessário que todos os elementos possam ser


apurados para que se descubra quem o cometeu, de que forma e o porquê.

A confissão do crime não é necessariamente a verdade dos fatos, vários foram


os crimes em que alguém se apresentou confessando ser o autor e mais tarde houve o
desmentido. Diversas são as razões pelas quais alguém queira ou se disponha a assumir
um crime que de fato não cometeu. Pode ser pela vontade de proteger um parente ou
amigo, ou mesmo como pagamento de dívidas, por dinheiro, dentre muitas outras
opções.

É comum em presídios, que crimes sejam assumidos por pessoas que estão em
dívida com facções criminosas ou ainda porque já estão condenadas a muitos anos de
detenção e independente do novo crime cometido, não fará diferença na soltura do
preso depois de cumpridos trinta anos de reclusão, prazo máximo previsto em nossa
legislação.
1
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Nesse sentido, assim dispõe o Código de Processo Penal:

“Art. 158. Quando a infração deixar vestígios será indispensável o exame de


corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.”

Assim, é fundamental que sejam apuradas as chamadas evidências do crime,


como veremos mais à frente, bem como a reconstituição e a busca por todos os indícios
que possam levar a acusação bem embasada.

No Brasil, quando um crime ocorre, a autoridade policial, dentro de sua


jurisdição e competência, procede ao local em que o delito foi realizado e,
imediatamente, dá início à apuração dos fatos.

Em nosso país, temos diferentes órgãos policiais atuando tanto em nível


estadual, como federal, a Polícia Civil de cada estado é a polícia judiciária, enquanto
compete às Polícias Militares ser a polícia ostensiva. Não temos dessa forma em nível
estadual, o chamado ciclo completo de polícia sendo realizado. Esta não é uma relação
fácil, institucionalmente falando, e vemos com frequência, policiais militares atuando
como polícia judiciária e policiais civis atuando de forma ostensiva.

Na área federal, temos a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia


Ferroviária Federal, a Polícia Legislativa Federal (tanto da Câmara dos Deputados
como do Senado Federal) bem como as unidades de polícia das Forças Armadas
(Polícia do Exército, Polícia da Aeronáutica e as Companhias de Polícia dos Fuzileiros
Navais). Cada qual com sua competência legal definida na Constituição Federal
vigente.
2
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio, por meio dos seguintes órgãos:

I - Polícia federal;
II - Polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - Polícias civis;
V - Polícias militares e corpos de bombeiros militares.

§ 1o A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido
pela União e estruturado em carreira, destina-se a:

I - Apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de


bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

II - Prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o


contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos
públicos nas respectivas áreas de competência;

III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;

3
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

IV - Exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

§ 2° A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela


União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das rodovias federais.

§ 3° A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela


União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das ferrovias federais.

§ 4°- às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,


ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares.

Lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

§ 6°- As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e


reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

§ 7°- A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis


pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

§ 8°- Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção


de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.

§ 9° A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados


neste artigo será fixada na forma do § 4o do art. 39. “

Com relação às Forças Armadas:

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base
na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa
de qualquer destes, da lei e da ordem.

4
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

§ 1° - Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na


organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas.

As polícias das Forças Armadas são unidades especializadas de infantaria de


cada Força, voltadas para a atuação como polícia de ciclo completo (prevenção,
investigação e repressão) nas áreas de sua jurisdição.

As polícias da Câmara dos Deputados e do Senado Federal tem a previsão


constitucional prevista no artigo 51, inciso IV e artigo 52, inciso XIII respectivamente:
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:

IV - Dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação,


transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a
iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros
estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação,


transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a
iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros
estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias O perito é, antes de tudo, um
especialista em sua área de atuação. Cada vez mais os órgãos periciais buscam experts
em determinada área, pois há questões que são muito particulares e precisam de alguém
com conhecimento e experiência para esclarecê-las.

5
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

No Brasil, cada estado possui autonomia para definir o modelo a ser utilizado
em seu órgão pericial criminal. Assim, há estados em que a perícia é chamada de
Criminalística e outros em que recebe o nome de Polícia Científica.

Em nosso curso, trataremos especificamente de procedimentos utilizados na


perícia criminal, mas devemos ter em mente que há peritos em diversas outras áreas,
como cível, trabalhista, dentre outros.

O Código de Processo Penal assim dispõe sobre a perícia e o perito:

“Art. 159. Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão em regra feitos
por peritos oficiais.

§ 1o Não havendo peritos oficiais, o exame será feito por duas pessoas idôneas,
escolhidas de preferência as que tiverem habilitação técnica.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
oficial, portador de diploma de curso superior.

§ 1°Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas
idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica,
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

§ 2° Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente


desempenhar o encargo.

6
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Podemos perceber pelo acima disposto, que o perito é sempre alguém com
conhecimento especializado e na ausência do perito oficial, a preferência recai para os
que possuem habilidade técnica, definindo também que o perito deve ser portador de
diploma de curso superior.

Com relação à preservação do local do crime, o CPP assim dispõe:

“Art. 169 Para o efeito de exame do local em que houver sido praticada a
infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das
coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias,
desenhos ou esquemas elucidativos.

Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das


coisas e discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos
fatos.”

E o que vem a ser o chamado corpo de delito? O corpo de delito é a comprovação


da existência do crime, é o fato criminoso em si. Não confundir com o corpo da vítima,
que é completamente diferente. O exame do corpo de delito pode ser direto, quando
feito diretamente no vestígio ou indireto, quando realizado por outros meios
(fotografia, imagens etc.).

A perícia, portanto, possui grande importância na elucidação de um crime e cabe


aos peritos a correta avaliação da cena do crime e uma postura sempre independente e
neutra ao analisar o que foi encontrado, de tal forma a ajudar os investigadores a chegar
à autoria do crime.

A televisão, o cinema e as revistas especializadas têm dado cada vez mais


destaque para o uso da tecnologia a favor da criminalística. Muita coisa é ficção, mas
outras não.
A questão, no entanto, deve ser vista por dois ângulos. É verdade que a tecnologia é
extremamente importante como instrumento complementar da perícia. O mais
importante é a conduta e os procedimentos adotados pelo perito. Os exames são sempre
complementares e se a amostra colhida não for boa, o resultado não pode ser diferente.
De nada adianta um centro altamente especializado em criminalística se ele for operado
por pessoas despreparadas. Por isso, o foco deve estar prioritariamente na formação e
capacitação de recursos humanos, associado a uma política que preveja a adequada
infraestrutura para a análise complementar. Por analogia podemos exemplificar com a
área médica.

Exames de rádio imagem ou de laboratório são sempre complementares e são


solicitados para ajudar no diagnóstico, mas se não forem devidamente solicitados, a

7
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

técnica bem empregada e os resultados analisados por especialistas, os resultados


podem ser nulos ou mal interpretados conduzidos a conclusões catastróficas.

Nesta disciplina utilizaremos, na ausência de uma doutrina nacional brasileira,


os métodos e procedimentos comumente utilizados nos Estados Unidos e no Reino
Unido que possuem grande expertise no assunto e tradição em criminalística.

Nos Estados Unidos, as unidades especializadas na análise do local de crimes,


são chamadas de CSI. Naquele país, a polícia pode ser da cidade, do condado (um
conceito que não existe por aqui, mas seria uma área que reúne diversas cidades), do
estado ou federal.

A polícia militar é restrita às Forças Armadas e todos órgãos policiais realizam


o ciclo completo de polícia. Não há, portanto, polícias nem bombeiros militares nos
Estados Unidos e nem no Reino Unido, em modelos semelhantes aos do Brasil. Cada
órgão policial possui seus investigadores e à exceção de pequenas cidades, em que há
apenas o escritório do Sheriff com poucos policiais, cada agência possui sua unidade
de investigação criminal e a atuação depende da jurisprudência de cada órgão.

A Polícia Militar (MP) nos Estados Unidos possui investigadores e unidades


especializadas voltadas para investigação de assuntos e crimes relacionados ao
Exército americano e suas áreas de competência. No entanto, os policiais são treinados
para atuar inicialmente no local do crime, sob o ponto de vista de preservação de
vestígios até a chegada da equipe especializada.
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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Aula 2 - Avaliação de Cena de Local de Crime - Parte 2

Evidências físicas

O que é uma evidência?

É o conjunto de elementos que se destinam a comprovar a veracidade de um fato.


Na área criminal, podemos dizer que é o conjunto formado por provas testemunhais,
periciais e documentais que irão fazer parte de um processo de tal forma a permitir a
tomada de decisões ou convicção por parte da autoridade judicial encarregada de julgar
o caso.

A evidência física é o conjunto de elementos que foram devidamente


identificados, coletados, preservados e analisados com vistas a estabelecer a conexão
entre o que foi encontrado, com o suspeito, com a vítima, com armas empregadas e
com outras evidências físicas.

Não necessariamente estas evidências precisam ser obtidas do local do crime.


Podem ter sido coletadas na casa do suspeito, por exemplo, para serem posteriormente
conectadas com o crime realizado.

Quando a polícia obtém um mandado de busca e apreensão, está atrás de


evidências físicas. A casa da vítima também pode ser um local em que evidências
físicas serão obtidas.

As evidências físicas permitem e tem por objetivo estabelecer as seguintes


situações (Basel, 2011):

1
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

estabelecer conexões, como dito anteriormente, entre o suspeito, a vítima, o local do


crime, a arma e outras evidências;

Fornecer informações necessárias sobre os fatos que envolvem o caso – corpo


de delito; revelar a forma como o crime foi cometido – Modus Operandi (MO).

Aqui vale um alerta.

O perito não deve fazer juízo de valor quanto ao Modus Operandi encontrado
para incluir ou descartar determinado criminoso ou grupo. Esta é uma tarefa que será
posteriormente analisada pelos detetives. Naturalmente é muito importante que os
peritos e investigadores possam trocar informações e impressões com frequência, mas
este é um cuidado extremamente valioso.

Criminosos e grupos terroristas, por exemplo, mudam com frequência o Modus


operandi O, que não deve ser confundido com a chamada assinatura. Alguns
criminosos e grupos terroristas cometem seus crimes de tal forma a deixar claro que
foram eles que cometeram o ato, mas o Modus Operandi pode variar na medida em que
os criminosos encontrem formas mais fáceis ou mais disponíveis ou ainda com maior
poder letal que as utilizadas até então.

O serial killer John Wayne Gacy, conhecido como o “palhaço assassino”, tinha
como assinatura, amordaçar suas vítimas com as próprias cuecas e manteve seu MO
para praticamente todas as mais de 30 vítimas, consistindo em morte por torniquete e
a busca por suas vítimas durante o dia quando oferecia empregos ou sexo em troca de
dinheiro.

Levava as vítimas para a própria casa (todos eram homens) onde eram
amordaçados e torturados. O que ele fazia com as vítimas e a forma como fazia (muitas
vezes se vestindo de palhaço e lendo trechos da Bíblia) é o que seria chamado de ritual.

2
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Como exemplo de mudanças, contudo no MO, temos diversos grupos terroristas,


incluindo a AL-Qaeda que utilizou aeronaves civis em 11/09/2001 contra os Estados
Unidos, mas em Madri em 2004, utilizou bombas.

confirmar ou afastar o depoimento de testemunhas, vítimas e acusados

• Identificar suspeitos (DNA etc.);


• Fazer a reconstituição do crime;

As evidências podem ser analisadas quanto à classe a que pertencem ou de forma


individual. Em outras palavras, como exemplo de classe, uma fibra de poliéster pode
ser encontrada em na cena de um crime e, ao ser comparada com roupas de um suspeito,
pode apresentar características que digam que aquela roupa possui fibras iguais ao que
foi encontrado, mas não é possível afirmar que aquela fibra veio daquela roupa.

É diferente da característica individual na qual não há a possibilidade daquela


evidência vir de outra pessoa. Por exemplo, DNA e impressões digitais. Contudo, a
simples presença do DNA e das impressões digitais de uma pessoa no local do crime,
não é o bastante para condená-la. Há que se ter em mente, que cabelos e até mesmo
impressões digitais podem ser “plantadas” para incriminar pessoas inocentes.

É por esta razão que os investigadores devem atuar em conjunto, de tal forma a
fazer esta conexão. Recentemente a imprensa noticiou o caso de servidores públicos
que utilizavam “dedos de silicone” com a impressão digital de outros servidores, com
o objetivo de fraudar o registro de frequência no órgão em que trabalhavam.

3
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

CONSIDERAÇÕES LEGAIS SOBRE EVIDÊNCIAS EM LOCAIS DE CRIME

Há diversas considerações que precisam ser levadas em consideração quando


estamos tratando de evidências. Pela legislação brasileira:

Ninguém pode ser obrigado a produzir provas contra si mesmo.

Esta tem sido a alegação de muitos quando são abordados em barreiras policiais
e se recusam a realizar o teste do “bafômetro” para verificar se o condutor do veículo
está dirigindo sob o efeito de álcool.

Mais recentemente, a legislação foi alterada de forma a aceitar outros meios de


provas, como testemunho de policiais, imagens de vídeo etc.

Nenhuma prova pode ser obtida de forma ilegal (escutas clandestinas, torturas,
chantagem etc.).

Assim as provas podem ser admitidas por meio da:

• Confissão;
• Por meio de depoimento de testemunhas;
• Por documentos;
• Por presunção;
• Por perícia.

Todos os elementos acima são passíveis de contestação e não necessariamente


são inquestionáveis. Nem mesmo a confissão, como já dito anteriormente, é necessária
para a convicção de jurados e do juiz.

4
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

CONSIDERAÇÕES CIENTÍFICAS SOBRE EVIDÊNCIAS

Vez por outra, somos informados de investigações criminais nas quais são
empregados métodos pouco convencionais e sem qualquer embasamento científico.
São videntes, pessoas que dizem ter tido um sonho e apontam acusados, bem como
métodos que pretendem ser apresentados como científicos, mas que não possuem esta
sustentação. É vital que as conclusões periciais estejam apoiadas em argumentos
técnicos e com respaldo científico.

Ao ser julgado um caso criminal, a perícia será confrontada tanto pela


promotoria e assistentes de acusação, como pelos advogados de defesa, pelo juiz e, nos
casos de Tribunal de Júri, pelos jurados. Se não houver uma argumentação muito bem
realizada e plenamente respaldada pela Ciência, dificilmente o relatório pericial será
considerado, além de se afetar, de forma importante, a credibilidade do perito.

Os chamados detectores de mentira, por exemplo, não são aceitos em nosso país,
embora os polígrafos sejam utilizados amplamente nos Estados Unidos.

Naquele país, foram elaboradas as “Normas Federais de Evidências” a serem


utilizadas em todos os tribunais e que estabelecem as condições para que as evidências
possam ser aceitas ou não nos tribunais.

A história está repleta de casos nos quais a perícia foi desacreditada por peritos
que posteriormente apresentaram falhas grotescas ou conclusões absurdas. Muitas são
as causas que podem levar a uma perícia ser considerada frágil ou pouco crível, entre
elas:

5
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Falta de conhecimento especializado do perito.

Não basta ser médico, por exemplo, para realizar qualquer perícia em medicina.
Há que se ter o conhecimento específico da matéria a ser estudada. Naturalmente que
nem sempre isto é possível e nem estamos propondo que a Criminalística possua
especialistas em todas as áreas.

No entanto, é fundamental que o perito tenha o conhecimento necessário para


procederá adequada análise do local do crime, inventariando tudo que lá estiver e em
um momento oportuno possa se necessário, complementar seu parecer a partir da
avaliação técnica de outros especialistas;

Contaminação do local do crime.

Aqui há duas questões a serem consideradas. O local do crime deve ser


conservado o mais “estéril” possível. Ou seja, uma vez que o crime tenha ocorrido,
apenas as medidas realmente necessárias devem ser realizadas (socorro de vítimas,
procura de suspeitos no local), mantendo-se o local o mais íntegro e próximo da
realidade de quando o crime foi cometido. Por outro lado, mesmo tendo sido
contaminado, temos visto com alguma frequência, recusas de perícia no local que se
utilizam desse argumento para não realizarem seus trabalhos.

Em primeiro lugar, é praticamente impossível que o local esteja completamente


livre de contaminação. Vejamos, por exemplo, as explosões ocorridas na Maratona de
Boston. Havia uma necessidade urgente de socorrer feridos, tirar pessoas, afastar a
possibilidade de novas bombas e buscar suspeitos. Feito isso, o local foi completamente
isolado e apenas os peritos puderam trabalhar na área, o que permitiu que encontrassem
fragmentos dos artefatos explosivos e em trabalho conjunto com os investigadores,
chegar até os suspeitos que foram encontrados e neutralizados (um foi preso e o outro
morto em confronto com a polícia).

Se uma residência é arrombada, mesmo que outras pessoas possam ter entrado
no local, se a janela que foi arrombada não foi manuseada por outras pessoas, por que
não ter colhidas as impressões digitais? Reforço novamente que todos os esforços
devem ser realizados no sentido de manter o local totalmente isolado e o mais “estéril”
possível, mas não tendo havido esta possibilidade, a perícia não pode deixar de realizar
o seu trabalho da melhor forma;

Falta de evidências

Por vezes, o perito forma uma convicção da dinâmica do crime e acredita ter
compreendido o que houve e é capaz até de apontar culpados, mas isso de nada vale se

6
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

não puder ser devidamente provado com evidências. Os exames complementares


servem justamente para isso;

Falta de neutralidade ou de imparcialidade do perito

Outro erro comum. O perito desenvolve uma linha de raciocínio e quer provar
que ela está certa. É o contrário. São as evidências que devem guiar o raciocínio do
perito. Um exame complementar da mesma forma não é suficiente para provar nada,
embora possa ser altamente sugestivo em alguns casos.

Por vezes, quando o perito chega ao local do crime, os policiais que lá estão,
como também a imprensa e os curiosos, acabam por influenciar o trabalho do perito se
ele não estiver devidamente focado em realizar o seu trabalho.

Nenhum tipo de pressão é aceitável e ele deve ter toda a tranquilidade para fazer
a avaliação do local do crime. De preferência não deve ser informado da existência dos
suspeitos em um primeiro momento, para que não perca o foco e não se deixe levar por
linhas de raciocínio antes de avaliar o local.

Muitas vezes, ao se ter um suspeito, busca-se incriminá-lo com as evidências, o


correto seria confrontá-lo com as evidências, mas em um segundo momento, que pode
ocorrer até minutos ou horas depois, mas a prioridade é a avaliação neutra e imparcial
do local do crime.

Outra situação é se o perito está, de alguma forma, emocionalmente envolvido


com o fato. Seja porque conhece as vítimas ou porque conhece os suspeitos. Nesses
casos, ele deve se julgar impedido ou ser afastado, a partir do momento em que percebe
este envolvimento.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Aula 3 - Avaliação de Cena de Local de Crime - Parte 3

Raciocínio mal elaborado e conclusões indevidas

Por vezes, as evidências estão presentes e é possível fazer um trabalho bem


minucioso e bem elaborado. No entanto, por razões diversas, o trabalho é mal redigido,
mal conduzido e leva a conclusões até mesmo absurdas e facilmente “derrubadas” pela
defesa do acusado.

Resposta inicial

“A luz acha que viaja mais rápido do que qualquer coisa, mas não é verdade. Não
importa o quão rápido ela viaja, ela encontra sempre a escuridão, que chegou lá em
primeiro lugar e está esperando por ela.”

Terry Pratchett

Primeiras medidas

Quem são as primeiras pessoas a chegar a um local de crime? Certamente não


são os peritos.

1
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

O mais provável é que sejam pessoas que estejam próximas e corram para ajudar
a vítima, para tentar capturar o criminoso ou para ver o que está acontecendo. Em
muitos casos, contudo, o crime é descoberto pelo achado de um corpo ou de locais com
sinais de arrombamento, de incêndio ou outras situações que sugerem que algo errado
ou estranho está acontecendo.

Não há como sabermos o que estas pessoas farão na cena do crime. Não existe a
cultura de preservação do local do crime em nosso país. Algumas pessoas contaminam
a cena, removem objetos do local, podem até mesmo furtar documentos da vítima ou
aproveitar que uma residência está aberta e subtrair objetos, o que caracterizaria um
furto, dentre outras possíveis ações. O mais improvável, embora correto, seria que a
primeira pessoa a chegar ao local, providenciasse o isolamento até a chegada da polícia,
sempre garantindo a sua segurança em primeiro lugar.

É incontestável a necessidade de preservação do local do crime, mas há algumas


situações em que é razoável e necessário que haja a entrada de pessoas na cena ou
modificação do local do crime, como:

• Para socorrer feridos;


• Para capturar suspeitos;
• Para controlar eventos críticos em andamento (foco de incêndio, vazamento de
gás, verificação de existência de artefatos explosivos, outros);
• Remoção de corpos que estejam impedindo o acesso aos eventos acima
descritos;

2
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

• Remoção de corpos e evidências que podem ser destruídos por fogo, por
exemplo, (sempre com segurança para quem assim procede).

O número de pessoas a ingressarem na cena, deve ser o mínimo necessário para


lidar com o problema e sempre com segurança. Pessoas não legalmente autorizadas e
devidamente capacitadas não devem se “aventurar” em situações em que podem acabar
por se tornarem vítimas também. Muitas vezes, na vontade de ajudar, voluntários se
propõem a realizar tarefas extremamente complexas e especializadas como resgate de
feridos e extinção de incêndios. Os heróis, embora representem um sentimento da mais
alta nobreza, só existem porque o sistema que deveria protegê-los foi incompetente.

Todos nós assistimos com muita angústia e tristeza, as imagens de jovens


voluntários tentando socorrer amigos em um incêndio ocorrido em uma boate na cidade
de Santa Maria-RS, que resultou em mais de 240 mortos e uma centena de feridos. As
autoridades nada fizeram para impedir a ação desses jovens e em alguns casos foi
documentado que teriam até mesmo facilitado o reingresso deles na cena do incêndio,
o que resultou em várias mortes.

3
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Em segurança, um conceito que precisa ser claramente compreendido é o das


zonas de risco, conhecidos como “quente”, “morno” e “frio”.

Estes termos não têm nenhuma relação com a temperatura do ambiente, mas com
o risco a que estão expostas as pessoas que lá se encontram. Por ocasião da explosão
de uma indústria de fertilizantes no norte do Texas, nos Estados Unidos, em 2013, em
que houve várias vítimas, inclusive fatais, um repórter de um importante canal de
notícias brasileiro, informava que as vítimas estavam saindo da zona quente, uma vez
que este local era assim denominado por causa das chamas da explosão.

Totalmente equivocada e perigosa a “informação” dele. Perigosa, porque pode


dar a impressão à população que a zona só é quente se houver calor, o que não é
verdade.

A “zona quente” é a área onde um evento crítico está ocorrendo e por esta razão,
as pessoas naquele local estão em risco aumentado de morte ou sério agravo à saúde.
Por esta razão, neste local só podem permanecer os profissionais designados para lidar
diretamente com a situação em questão. Assim, em um tiroteio ou uma situação com
reféns, por exemplo, na zona quente devem permanecer apenas os policiais diretamente
envolvidos na operação.

Nem os negociadores devem estar na zona quente, onde jamais um Posto de


Comando deve ser estabelecido. As vítimas tampouco devem ser atendidas em zona
quente, mas imediatamente removidas para a zona morna na qual serão estabilizadas
para então serem atendidas na zona fria.
4
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Quem estabelece a delimitação dessas zonas?

O primeiro profissional que chega ao local, deve estabelecer um Posto de


Comando e definir inicialmente as áreas de isolamento e, portanto, as zonas.

Posteriormente, estas áreas podem ser alargadas ou diminuídas, conforme a


dinâmica do evento ou com o parecer de especialistas. Na ausência de um local para
funcionamento do Posto de Comando, a simples colocação de um cone de sinalização
em cima de uma viatura, é um indicativo internacional de que ali foi estabelecido um
Posto de Comando.

Lembre-se de que as zonas quente, morna e fria, podem modificar-se


subitamente conforme a dinâmica do evento. Um sequestro, por exemplo, em que o
criminoso esteja em fuga, fará com que a zona quente acompanhe os passos do tomador
de reféns. Nos ataques ao World Trade Center, em 2001, com a queda das torres,
assistimos, pelas emissoras de notícias, a pessoas correndo pelas ruas, para abrigarem-
se nos escombros, o que mostra que a zona quente era bem maior do que inicialmente
prevista.

A zona morna é o local onde é feita a descontaminação de vítimas de


emergências químicas e/ou radioativas e o local onde deve ser realizado o primeiro
atendimento aos feridos.

Também não é o local para o Posto de Comando que deve estar localizado na
zona fria.

A chegada de profissionais de segurança pública (polícia, bombeiros) ou de


saúde (SAMU) deveria seguir os seguintes passos:

5
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

1. Não se tornar uma vítima. Tomar todos cuidados e precauções diante da cena do
incidente;

2. Isolamento do local (ninguém não autorizado entrar);

3. Contenção do local (não permitir que a crise seja transferida para outro local.
Exemplo: ônibus sequestrado);

4. A polícia verifica a presença de suspeitos na cena (área quente) e ao mesmo


tempo promove a remoção de feridos para a área morna (onde serão
estabilizados) e então para a área fria (onde serão atendidos). Se há suspeita de
emprego de substâncias químicas, biológicas e/ou radioativas, protocolos
específicos devem ser acionados;

5. Uma vez que a área esteja segura, os que lá se encontram devem se retirar,
proceder o isolamento do local (nada e ninguém mais entra, sem autorização) e
sua contenção (nada e ninguém, sai sem autorização) até a chegada dos peritos.
A área a ser isolada varia conforme a situação.

6. Um primeiro levantamento de testemunhas pode ser feito até a chegada dos


investigadores;

7. perícia inicia análise. Suspeitos e vítimas não devem tomar banhos, nem trocar
de roupas até que possam ser avaliados pela perícia, na medida do possível;

8. sobretudo em casos de violência sexual e crimes contra a vida, há muitos


vestígios que podem estar presentes, como pelos pubianos do agressor, fluidos e
secreções (esperma, saliva, suor, sangue), células sob as unhas (comuns em
ataques violentos), resíduos de pólvora nas mãos (nos casos de uso de arma de
fogo), dentre outras.

No Brasil, ao contrário de outros países, como nos Estados Unidos, não é comum
a presença do médico legista no local do crime;

• Nem equipes dos bombeiros e nem do SAMU podem entrar em cenas que não
estejam seguras. Nenhum objeto deve ser retirado do local e nenhum material
pode ser deixado no local.

6
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

É comum que equipes de reanimação utilize luvas descartáveis, equipos de soro,


agulhas, seringas e acabam deixando este material no local, o que é inadmissível, seja
pela contaminação do local, seja por tratar-se de lixo hospitalar que deve ser
devidamente acondicionado para descarte. Nenhum objeto ou local deve ser tocado
sem o uso de luvas.

Há diferentes possibilidades de avaliação do local do crime, conforme a estrutura


do órgão que realiza a investigação. Não há serviço de perícia especializada em todos
os municípios brasileiros, a realidade é justamente ao contrário. A grande maioria das
cidades, em nosso país, não dispõe de unidades especializadas em perícia. Assim,
muitas vezes a avaliação do local do crime e os levantamentos periciais são realizados
pelos policiais que atenderam a ocorrência.

Nós já vimos o conceito de zonas quentes, mornas e frias, que estão diretamente
relacionadas à dinâmica de um evento ainda em curso. Não há que se falar em perícia
enquanto há uma zona quente presente. No entanto, assim que a situação esteja sob
controle, todas as zonas tornam-se frias e então surge a necessidade de estabelecimento
de zonas de segurança para que o trabalho pericial possa ser realizado, conforme o
modelo proposto por James e Nordby (2012).

Nessa proposta, onde era zona vermelha, passa a ser área de alta segurança e
com acesso totalmente restrito às equipes de perícia. O que era zona amarela ficava
restrita aos demais policiais e ao centro de comando; já que era equivalente à zona fria,
temos o local onde o público e a imprensa podem ficar.

Não é admissível, prática comum em nosso país, permitir que a imprensa possa
acessar a cena de um crime que não tenha sido liberada pela perícia. É muito frequente
assistirmos poucos minutos ou poucas horas após a ocorrência de um crime,
7
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

transmissões de televisão feitas dentro de um local ainda não periciado, o que é um


absurdo. Da mesma forma, vemos policiais pegando objetos e até armas encontradas
no local, para mostrar o calibre e tipo, para as mais diversas razões, menos a de
preservar o local do crime, além de acrescentar algumas impressões digitais a mais nas
evidências.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Aula 4 - Avaliação de Cena de Local de Crime - Parte 4

Preservação do local do crime

É nítida a necessidade do estabelecimento de protocolos para atendimento de


cenas de crime e como proceder em situações especiais, tais como:

• Incêndios;
• Atentados terroristas e/ou explosões;
• Crimes envolvendo uso de substâncias químicas, biológicas e radioativas;
• Crimes eletrônicos, de informática e de comunicações.

A preservação, como já dito anteriormente, exige que apenas as pessoas


essenciais ingressam no local do crime e com vistas a atender os seguintes objetivos:
socorrer vítimas, prender suspeitos, impedir a destruição de evidências ou neutralizar
riscos (vazamento de gás, bombas etc.).

Assim, tão logo a situação tenha sido controlada, as pessoas devem sair do local,
que deve ser completamente isolado, com faixas ou fitas de segurança, deixando claro
que a entrada está proibida, e mantido o perímetro controlado pela polícia até a chegada
dos peritos.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Avaliação e conduta na cena do crime

“Existem certas pistas na cena do crime que, por sua própria natureza, não se
permitem ser coletadas ou examinadas. Como coletar amor, raiva, ódio, medo...? Essas
são coisas que somos treinados a procurar.”
James Reese

Primeiro policial a chegar ao local

O checklist abaixo apresenta as medidas e recomendações a serem seguidas pelo


primeiro policial a acessar a cena do crime. Observem que estas medidas não são para
peritos, mas para policiais que chegam à cena primeiro.

• Assegure-se de que há segurança no local do crime (prenda os suspeitos, se


houver).
• Providencie e garanta o acesso ao atendimento de feridos.
• Mantenha um log cronológico e de localização.
• Identifique quem chegou primeiro ao local do crime para estabelecer uma linha
de tempo.
• Separe, entreviste e guarde depoimentos de testemunhas.
• Informe à Central de Polícia (cada estado brasileiro recebe um nome diferente)
da necessidade de perícia no local.
• Faça o registro para acompanhamento de evidências que possam estar em
objetos pessoais ou outros locais fora da cena do crime.
• Evidências que possam se perder devem ser fotografadas e então recolhidas, de
forma adequada.
2
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

• Algumas cenas de crime estão em locais públicos, então é importante que sejam
rapidamente isolados, protegidos e as evidências coletadas pelos peritos.
• Evidências na área externa podem ser danificadas por fenômenos
meteorológicos (chuva, por exemplo). Assim, as evidências devem ser
fotografadas até a chegada dos peritos.
• Tenha um kit de coleta de evidências na viatura.
• Faça a coleta improvisada apenas se absolutamente necessária.
• Faça a avaliação do local juntamente com o perito e garanta a segurança dele.
• Conduza os primeiros interrogatórios ainda no local.

O processo dos 12 passos do FBI

O FBI elaborou um processo a ser desencadeado em cenas de crime, de tal forma


a estabelecer todas as condutas a serem tomadas pela equipe de resposta, chamado de
“FBI’s 12 Steps Process e assim descrito:

Preparação - uma vez acionado, para que uma cena de crime, obtenha todas as
informações preliminares necessárias, de tal forma a levar o material e os equipamentos
necessários para o trabalho pericial. É inadmissível descobrir no local da cena do crime,
que não há pilhas na lanterna ou na câmera fotográfica, dentre outros. Se for o caso,
checar se há um mandado de busca e apreensão emitido. Conversar com a equipe
policial e os demais envolvidos de tal forma a trabalhar em equipe.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Abordagem da cena - ao chegar ao local, tudo deve ser observado. Desde a


presença das pessoas ao redor, o tipo de isolamento realizado, a luminosidade, as
características do local, do terreno, a vizinhança e os sinais de risco que possam estar
presentes, uma vez que o perito não pode expor sua vida. O perito deve acessar o local
devidamente vestido com roupa especial, que cobre todo o corpo, a cabeça e é
complementado por luvas e botas. O objetivo é de não produzir contaminação do local
pelo perito, identificá-lo a distância, padronizar a equipe, bem como proteger o perito,
visto tratar-se de material resistente. Infelizmente, esta não é uma prática comum na
maioria dos serviços de perícia em nosso país, em que, com frequência, vemos peritos
usando roupas comuns, sapatos, sandálias e nenhuma proteção para evitar a queda de
pelos e suor. Em alguns casos, serão necessárias medidas adicionais como roupas de
proteção para eventos químicos, uso de capacetes, de respirador e outros.

Segurança e proteção da cena - garantir que o local está seguro, que não há a
possibilidade de o suspeito ainda estar na cena do crime, que o ambiente foi
devidamente isolado e protegido e que não há vítimas a serem socorridas.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

4.Iniciar as buscas preliminares- fazer uma busca visual no ambiente tentando


entender o que aconteceu, ver os elementos que chamam mais a atenção, buscar
vestígios que são macroscopicamente identificáveis, tais como:

• Caminhe cuidadosamente pelo local;

• Mantenha controle funcional e emocional;

• Escolha uma técnica de narrativa (vídeo, áudio, escrita);

• Tire fotos preliminares;

• Estabeleça a área de busca e se necessário amplie o perímetro de segurança;

• Organize os métodos e procedimentos;

• Reconheça os problemas existentes;

• Identifique e proteja evidências físicas, de forma transitória, que serão


posteriormente coletadas;

• Determine os equipamentos e pessoal necessários;

• Determine a necessidade da presença de especialistas;

• Desenvolva uma teoria para o que pode ter ocorrido;

• Faça anotações detalhadas de todo o processo.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

5. Avaliar as possibilidades de evidências físicas, como:

• Assegure-se que o material necessário para identificação e coleta das evidências


é adequado;

• Mantenha foco nas evidências que possam ser perdidas (fluidos que podem
escorrer, pegadas que podem ser apagadas pela chuva, etc.);

• Considere todas categorias de evidência possíveis;

• Comece pelas áreas de fácil acesso e não deixe de buscar evidências em locais
em que possam estar escondidas;

• Avalie qualquer evidência que possa ter sido movida inadvertidamente;

• Avalie onde a cena do crime possa ter sido “arranjada” ou modificada.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

6. Preparar a narrativa das descrições - o perito deverá descrever tudo o que


foi visto e encontrado desde a sua chegada ao local. A narrativa deve conter
obrigatoriamente os seguintes elementos:

• Identificação do caso;
• Data, hora e local;
• Condições de iluminação e meteorológicas;
• Identificação dos presentes no local;
• Registro de todos que entraram e saíram do local;
• Condições e posicionamento das evidências quando encontradas;
• Deve ser utilizada uma abordagem sistematizada na narrativa;
• Tudo deve ser registrado se de alguma forma chamou a atenção;
• Durante a narrativa não proceda a coleta de evidências;
• Utilize fotografias e sketches para complementar; não substituir a narrativa.

7. Fotografar o local- diferentes ângulos devem ser obtidos e todas as


evidências devem ser devidamente fotografadas, bem como acessos ao local e outras
características do local e da região. Alguns serviços fotografam também os curiosos
para posterior análise, visto não ser incomum a presença do criminoso dentre os
transeuntes. Por isso:

• O local deve ser fotografado o mais precocemente possível;

• Prepare o registro (log) fotográfico que conterá todas fotos obtidas


acompanhadas de legendas;

• Obtenha as fotos fazendo progressão de distâncias, começando de mais longe e


aproximando até o close-up da evidência;

• Fotografe do nível dos olhos de tal forma a mostrar a vista de quem entra no
local;

• Comece as fotografias a partir dos locais mais passíveis de serem danificados ou


perdidos;

• Fotografe todas evidências antes de serem coletadas;

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

• Todos os itens devem ser primeiramente fotografados tal qual se encontram no


ambiente e então fotografados novamente usando-se réguas e escalas para que
deixam claro o tamanho e posição em que foram encontrados;

• O interior deve ser fotografado de forma sequencial com lentes normais e


posteriormente lentes grande angulares podem ser utilizadas para fotografias
mais amplas;

• Todo o ambiente externo deve ser fotografado, incluindo a paisagem e pontos


que facilitem o reconhecimento do local, além de fotos panorâmicas e que
tenham 360º graus de cobertura. Se possível e necessário, considere fotografias
aéreas;

• As entradas e saídas devem ser fotografadas;

• Se possível, antes de entrar, obtenha fotos anteriores e plantas baixas do local.

8.Preparar diagramas e desenhos do local. Os desenhos (sketch) e diagramas


devem ter os seguintes elementos:

• Identificação do caso;
• Data, hora e local;
• Condições de iluminação e meteorológicas;
• Identificação dos presentes no local;
• Dimensões dos cômodos, móveis, portas e janelas;
• Distâncias entre os objetos, corpos, pessoas, entradas e saídas;
• Medidas de cada objeto encontrado;

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

• Legenda, escala, posicionamento geográfico;


• Os sketches estabelecem o registro de itens, condições, distâncias e a relação
com as suas dimensões;
• Os sketches devem complementar as fotografias.
____________________________________________________________________

9. Conduzir uma busca detalhada do local, incluindo a procura por vestígios


microscópicos ou que requerem equipamentos especiais para que sejam
encontrados.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

10.Coletar e registrar as evidências encontradas, tais como:

• Assegurar-se que todos os objetos foram fotografados antes de serem coletados;


• Assinalar a localização das evidências no sketch;
• Completar o log de evidências registrando todos os itens coletados. Se possível,
uma pessoa deve ser designada para a custódia das evidências;
• Duas pessoas devem observar a evidência no local, a sua coleta, identificação e
o armazenamento;
• Devem ser utilizadas luvas para evitar que impressões digitais sejam deixadas
no local;
• As evidências devem ser manuseadas o mínimo possível;
• Todas evidências devem ser empacotadas e seladas no local do crime.

11. Conduzir uma busca final

12. Deixar o local

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Aula 5 - HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA

A história da fotografia forense começa com a câmara escura e a câmera pinhole.


Embora possa haver um conflito entre os autores quanto a quem é o primeiro a
descrever a câmera obscura, é mais provável que o estudioso árabe Hassan bin al
Haitham tenha escrito sobre esse experimento em 1038.

É do conhecimento comum que as primeiras câmeras pinhole foram usadas pelos


cientistas para observar o Sol e por artistas para fazer esboços. Duas outras pessoas
creditadas por alguns autores como as primeiras a descrever a câmara escura são Roger
Bacon, em 1267, e Leonardo da Vinci, em 1490. (ROBINSON, 2010, p. 4).

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Referindo-se à história inicial da fotografia, há duas razões possíveis para as


diferentes datas de eventos históricos particulares.

Primeiro, cada evento tem quatro datas que podem estar associadas a ele: quando
o estudo começou, quando os resultados foram concluídos, quando os resultados foram
patenteados e quando os resultados foram publicados ou anunciados publicamente pela
primeira vez.

O design da câmera obscura precisava de mais três melhorias para ter todos os
recursos essenciais da primeira câmera fixa.

Em 1550, Girolamo Cardano acrescentou uma lente ao projeto da câmara obscura.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

É relatado que ele usou a palavra “lente” porque a cor da lente de vidro se
assemelhava às lentilhas marrons usadas na sopa italiana. A segunda evolução, a adição
de lentes e espelhos curvos para produzir uma imagem vertical, foi realizada em 1558
por Giovanni Battista Della Porta. No entanto, isto não foi publicado até 1588.

A terceira evolução, a invenção de um diafragma, acredita-se ter sido feita por


Daniele Barbaro, em 1568. Em 1777, Carl Wilhelm Scheele descobriu que o cloreto de
prata havia sido reduzido para prata enegrecida pela exposição à luz e que a amônia
havia dissolvido o cloreto de prata, sem afetar a prata enegrecida. No entanto, não
houve registo de Scheele tentar usar esta descoberta para gravar imagens fotográficas.
A primeira tentativa conhecida de Thomas Wedgwood usar um processo fotográfico
para tirar uma fotografia com uma câmera escura ocorreu em 1795. A tentativa falhou,
devido a uma combinação de subexposição e incapacidade por parte de Wedgwood
para fixar a imagem.

Em 1800, Sir William Herschel fez uma descoberta de grande importância para
os fotógrafos policiais. Herschel descobriu a região invisível do infravermelho através
de um experimento simples.

Ele usou um divisor de feixe para separar a fonte de luz branca em cores
individuais e colocou um termômetro próximo à extremidade vermelha, onde não há
espectro visível. Dessa forma, os pesquisadores descobriram a região infravermelha do
espectro eletromagnético. (Robinson, 2010, p. 6).

Em 1816, Joseph Niépce deu início aos seus experimentos sobre fotografia. Em
1819, enquanto Niépce conduzia seus experimentos, John Herschel descobriu que o
hidrossulfito de sódio dissolveu sais de prata. Este foi o elo perdido necessário para
corrigir uma imagem fotográfica desenvolvida.

No entanto, somente vários anos depois, em 1826, Niépce produziu, com


sucesso, a primeira fotografia conhecida. Por esta razão, a ele foi creditada a invenção
da fotografia.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Data, aproximadamente, deste mesmo período a primeira descoberta relevante


para o desenvolvimento de imagens em movimento e da gravação de vídeos. Em 1824,
Peter Mark Roget escreveu um artigo sobre o fenômeno da persistência retiniana,
essencial para as invenções seguintes que antecederam o cinema e o vídeo: o
taumatrópio de Ayrton, o estroboscópio de Stampfer, a Roda de Faraday, e o flip book
ou “cinema-de-bolso”. (ROBINSON, 2010, p. 5).

Não há registro conhecido sobre a tecnologia de Niépce ter sido comercialmente


bem sucedida. No entanto, em 1829, Louis Daguerre formou uma parceria com Joseph
Niépce e, após a morte deste, com Isidore Niépce. Em 1839, a invenção de Daguerre,
o daguerreótipo, foi anunciada por Arago.

O daguerreótipo usava uma emulsão de nitrato de prata sensível à luz, por meio
da exposição em vapor de mercúrio, e fixada com uma solução salina para produzir
uma imagem fotográfica positiva.

A daguerreotipia tornou-se, assim, o primeiro processo fotográfico bem


sucedido comercialmente. Antes do anúncio do daguerreótipo, em 1835, Fox Talbot
produziu um negativo fotográfico.

Sua descoberta foi seguida, em 1839, pela descoberta do hipossulfito de sódio


para a fixação de imagens fotográficas, por Sir John Frederick William Herschel.

Além disso, Herschel foi também responsável pela criação do termo


“fotografia”. De acordo com Hedgecoe, foi Jean Hallot, que anteriormente havia
utilizado um processo fotográfico para fazer escritos secretos visíveis pela exposição à
luz, quem cunhou a palavra “fotografia”, que significa “escrever com a luz”.
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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Também em 1839, William Henry Fox Talbot inventou a calotipia, que consistia
em um papel revestido de cloreto de prata sensível à luz que, após exposto, era fixado
com solução salina. A calotipia também parece ter sido um processo fotográfico bem-
sucedido comercialmente. O calótipo foi posteriormente patenteado por Talbot, em
1841. De 1839 a 1841, havia três usos significativos de daguerreótipos.

Em 1839, os daguerreótipos cênicos de Noel Lerebors foram copiados por


gravuristas para uso em publicações.

Este uso foi significativo, visto que a indústria jornalística, mais tarde, viria
tornar-se grande consumidora de equipamentos e suprimentos fotográficos. Em 1840,
o primeiro estúdio de retratos foi aberto em Nova York por Wolcott e Johnson.

Foi o primeiro uso profissional de fotografias, em um mercado que era


controlado pelo o que o cliente estava disposto a comprar. Em 1841, o Departamento
de Polícia de Paris foi a primeira agência a utilizar o daguerreótipo para fotografias de
indivíduos presos por alguma atitude ilegal no país (MILLER; SCOTT; apud
ROBINSON, 2010, p. 6).

Outro marco foi alcançado em 1852 por Sir George G. Stokes com a descoberta
da fluorescência ultravioleta e a formulação da Lei de Stokes, a base teórica
fundamental para toda fotografia de fluorescência atualmente usada para fins forenses.
A teoria é simples: o comprimento de onda da fluorescência é sempre maior que o
comprimento de onda da luz que a excita.

5
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Finalmente, há o primeiro exame científico documentado da foto hoax. Trata-se


da afirmação do Rev. Levi Hill de ter desenvolvido um método de obtenção de
daguerreótipos coloridos (ROBINSON, 2010, p. 6).

Embora se possa argumentar que a análise de imagens forenses tenha começado


em 1851, com a análise científica de um daguerreótipo de cor falsa, somente em 1859
a Suprema Corte dos EUA pronunciou-se sobre a admissibilidade de fotografias usadas
como prova. Neste caso, o Tribunal decidiu que as imagens de um documento
devidamente seriam admitidas no lugar do documento original, com a finalidade de
provar que um documento de doação de título de um terreno era uma falsificação
(MILLER; SCOTT; apud ROBINSON, 2010, p. 6).

As primeiras evidências de registros fotográficos de prisioneiros datam da


Bélgica em 1843 e da Dinamarca em 1851. Na década de 1870, a prática se espalhou
por vários países, mas apenas nas grandes cidades, onde fotógrafos profissionais eram
contratados para tirar retratos de criminosos. A partir desse momento, a fotografia foi
usada para outras coisas além da arte.

No início dos anos 1880, o criminologista francês Alphonse Bertillon introduziu


na Força Policial de Paris um método padronizado de documentação de presos, baseado
em uma combinação de medidas físicas coletadas por procedimentos cuidadosamente
prescritos. Consistia em um sistema complexo de identificação humana, apresentando,
além dos assinalamentos antropométrico, descritivo e dos sinais particulares, a
fotografia do identificado de frente e de perfil.

6
AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

A antropometria, também conhecida como Bertillonage em homenagem ao seu


criador, acabaria sendo substituída pelo reconhecimento de impressões digitais na
década de 1910. Até então, porém, representava um grande avanço na ciência forense
e na identificação de crimes na Europa e nos Estados Unidos. Por sua vez, o ato de
filmar cenas de crime remonta a 1867.

O imperativo comercial de usar uma câmera de vídeo para documentar uma cena
de crime é semelhante a muitos dos discursos de vendas usados pela tecnologia de
câmeras digitais hoje. Por exemplo, um anúncio da época dizia que a câmera
substituiria esboços e desenhos técnicos.

Ao mesmo tempo em que a tecnologia avança, a fotografia forense continua


avançando e hoje é capaz de documentar e documentar a variedade de procedimentos
complexos necessários para a perícia criminal.

O uso de luz infravermelha e ultravioleta é usado para registro fotográfico de


impressões digitais, pequenas amostras de sangue e muitas outras evidências. Fotos do
procedimento de autópsia também ajudam a corroborar o laudo pericial.

Isso inclui cicatrizes, tatuagens, feridas, texturas de órgãos, rastros de ferimentos


de bala e quaisquer outras fotos em close que possam ajudar a identificar a vítima ou
determinar a hora e a causa da morte. A tecnologia liderou o campo da fotografia
forense e o colocou onde está hoje, por isso continuará a liderá-lo.

O aspecto do verossímil na fotografia-documento A reflexão acerca da


possibilidade do uso da fotografia como documento neste caso, do uso da fotografia
forense pelo campo da Criminalística, deriva do que Dubois (2009) atesta a respeito da
credibilidade atribuída à fotografia enquanto “espelho do real”, em razão do
“automatismo de sua gênese técnica” (DUBOIS, 2009, p. 25).
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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Nesse sentido, segundo o autor, vê esse caráter de verdade, atribuído à imagem


fotográfica, com cautela. Segundo ele, “o verdadeiro é uma produção mágica. (...)

“a foto é percebida como uma espécie de prova, ao mesmo tempo necessária e


suficiente, que atesta indubitavelmente a existência daquilo que mostra”

A imagem faz apelo à convicção do espectador, como o tribunal o faz à


convicção do juiz. O documento precisa menos de semelhança, ou de exatidão, do que
de convicção.

Ainda segundo Rouillé: A fotografia-documento não coloca frente a frente ao


real e a imagem, em uma relação binária de aderência direta, entre o real e a imagem
sempre se interpõe uma série infinita de outras imagens, invisíveis, porém operantes,
que se constituem em ordem visual, em prescrições icônicas, em esquemas estéticos.
O fotógrafo não está mais próximo do real do que o pintor diante de sua tela. Tanto um
quanto outro estão separados por mediações semelhantes.

A discussão de Dubois (2009) sobre a fotografia como um "traço de verdade"


levou Peirce a pensar sobre a ordem dos ícones, ou seja, representações de semelhança,
representações simbólicas de convenções gerais e representações indexadas de
continuidade física. Logo e a que se refere.

Quanto a este último: este conceito é distintamente diferente dos dois primeiros,
principalmente porque implica que à imagem de prova seja atribuído um valor
completamente singular ou especial, uma vez que é inteiramente determinado pelo seu
referente, e apenas por isso: traçar um verdadeiro.

Quando tratada como documento, a fotografia não “se contenta em ir de um


primeiro a um segundo, de alguém que viu a alguém que não viu, mas ela vai
necessariamente de um segundo a um terceiro, sem que nem um nem outro tenha
visto”. (Gilles Deleuze & Félix Guattari, apud ROUILLÉ, 2009, p. 158).

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Aula 6 - FOTOGRAFIA FORENSE

Fotografia forense

A fotografia forense inclui a documentação de vítimas de crimes e sua cena, bem


como outros elementos necessários para uma condenação. Embora a fotografia seja
amplamente considerada como a maneira mais precisa de descrever e documentar
pessoas e objetos, ela não foi amplamente aceita como método forense até o final do
século XIX. Essa aplicabilidade decorre da fusão entre a modernização do sistema de
justiça criminal e o potencial foto realista da fotografia.

Nos séculos 19 e 20, esses dois desenvolvimentos foram significativos para a


fotografia forense e o trabalho policial em geral, e sua necessidade pode ser atribuída
a um desejo de precisão. Nesse sentido, o sistema de justiça criminal começou a
incorporar a ciência aos processos policiais e judiciais. No entanto, a principal razão
para a aceitação da fotografia no campo policial é a conveniência, além de sua crescente
popularidade, a fotografia carrega a crença de que é um meio realista.

No caso da fotografia de cunho criminalístico, essa dinâmica de olhares se


reconfigura, uma vez que, ao fotógrafo, não compete a posição de segundo olhar, mas
de terceiro, já que o ato fotográfico é orientado pelo olhar do perito este, sim, o segundo
olhar, “alguém que não viu”.

Na fotografia forense, o sujeito do ato de fotografar é a cena do crime, caso em


que a primeira visão, a "pessoa que vê", é a primeira visão da vítima e/ou testemunha.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Aproximar a posição do terceiro olho (do fotógrafo) da posição do segundo olho


(do perito criminal) confirma a legitimidade da fotografia como documento, pois reduz
a carga subjetiva da imagem.

Juntos, especialistas em crime orientam e direcionam o olhar do fotógrafo para


a cena do crime, a fim de priorizar a ordem de indexação das imagens.

A imaginação das pessoas sobre a profissão permeia a série de TV e seus


resultados e reviravoltas inesperadas. No entanto, especialistas do mundo real realizam
suas atividades com métodos rigorosos e técnicas refinadas.

A fotografia forense é um dos meios utilizados pelas equipes forenses para


representar a realidade que encontram quando chegam ao local de um desastre.
Constituirá uma parte importante da base para relatórios de especialistas sobre
quaisquer fatos que tenham deixado vestígios. No entanto, os fotógrafos devem ficar
atentos a alguns aspectos para melhorar o registro da cena.

“O registro fotográfico de uma cena, quer seja de crime ou não, é essencial na


elucidação de como um fato realmente aconteceu."

As fotografias tiradas na cena ou objeto examinado imortalizam o momento de


ver o objeto e não apenas ajudam a determinar os parâmetros da cena ou objeto
examinado, mas também servem de base para conclusões de especialistas.

Para documentar adequadamente o acidente em análise, o fotógrafo forense deve


estar atento a alguns requisitos ao realizar trabalhos fotográficos no local sob inspeção,
a saber:

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Os equipamentos utilizados, iluminação, técnicas adequadas de registro,


armazenamento e segurança dos dados das fotografias, e finalmente imprimi-las
corretamente.

E por fim chegamos nas câmeras atuais:

Uma fotografia de qualidade

Para realização de uma boa fotografia, o perito deve levar em consideração


alguns pontos importantes como:

Equipamento

A qualidade do equipamento utilizado afetará diretamente os resultados da


gravação fotográfica. No entanto, com o desenvolvimento da tecnologia de captura de
imagens, o registro fotográfico adequado pode ser feito usando smartphones e câmeras
em telefones celulares. No entanto, é importante que o equipamento escolhido seja
resistente a ambientes potencialmente agressivos e que tenha um sistema de ampliação
suficiente para capturar os detalhes que os especialistas desejam mostrar ao raciocinar,
analisar e registrar a cena que está sendo examinada.

Iluminação

A iluminação é uma questão importante em qualquer trabalho fotográfico, pois


muitos incêndios e explosões ocorrem em locais mal iluminados, como salas, galpões,
grandes áreas abertas e outras situações em que muitas vezes não há entrada de luz
suficiente para estar disponível sem a intervenção do fotógrafo A cena gravada sob a
câmera está na configuração do equipamento da câmera ou na iluminação ambiente
por fontes de luz artificial.
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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Técnica

Para a gravação ideal de cenas profissionais, os fotógrafos precisam conhecer


pelo menos o básico da fotografia: distância focal, abertura e velocidade. A partir dessa
premissa, o fotógrafo deve ter o conhecimento de como fazer um registro fotográfico
detalhado de uma cena.

Uma cena forense deve basicamente ser gravada da área menos afetada para a
área mais afetada (do geral ao detalhe) e sempre com base na ideia de que mais fotos
são melhores que menos, ou seja, não há problema. Depois de tirar muitas fotos, mas
na direção oposta, houve um problema de gravação insuficiente.

Dependendo do tipo de fatos que exigem perícia, a documentação adequada deve


respeitar um esforço mínimo, que deve seguir uma abordagem rigorosa para verificar
e justificar os laudos periciais.

Armazenamento e segurança dos dados

Um detalhe simples, mas importante, é o formato que as imagens de saída terão


e em qual mídia elas serão armazenadas e qual a segurança utilizada. Em suma, o
formato JPEG de alta resolução é suficiente para o trabalho de especialistas que, em
teoria, não precisam realizar trabalhos de processamento nas imagens gravadas. Em
teoria, na maioria dos casos, a própria câmera atenderá a essas necessidades com base
na habilidade do operador e raramente será necessário o uso de software de edição de
fotos.

Quanto ao armazenamento, essas imagens devem ser armazenadas em local que


o especialista possa acessar posteriormente, devendo ser feito backup das mesmas para
acesso futuro caso seja necessário, incluindo fotos não utilizadas no laudo e como
suporte (se houver). Problemas ou perda de fotos devido a problemas no computador.
Em termos de segurança, a fotografia da cena examinada deve ser coerente com a
informação que a imagem possui para manter os direitos fundamentais da pessoa física
ou jurídica interessada no fato.

Impressão

Por fim, é preciso ressaltar que o material e o equipamento de impressão


utilizados para imprimir a imagem afetarão diretamente a qualidade e a clareza da
imagem para registro da cena. Por exemplo, as impressoras a jato de tinta têm
características diferentes das impressoras a laser.

O papel A4 vem em uma variedade de gramaturas, cada uma permitindo um tipo


e qualidade de impressão. Portanto, os especialistas devem estar cientes de que os
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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

materiais e equipamentos utilizados para imprimir as imagens são fundamentais na


elaboração do laudo pericial.

Embora os aspectos fundamentais apresentados acima devam orientar a


documentação fotográfica adequada, é mais importante que a perícia siga uma
abordagem que estabeleça os fatos o mais próximo possível da verdade, em vez de
fazer declarações baseadas em razões excêntricas ou incoerentes. A documentação
fotográfica é essencial para qualquer especialização, como diz o ditado: "Uma imagem
fala mais que mil palavras".

Fotografia e sketches do local do crime

Muitas vezes fotografias são tiradas e apresentadas sem a devida identificação e


o esclarecimento do que se trata e porque a foto foi tirada. É fundamental que cada foto
seja seguida da devida identificação.

Outro problema está na orientação da foto.

• Onde ela foi tirada?

• Qual o tamanho do objeto fotografado?

• O objeto está de que lado na cena do crime?

A foto deve estar contextualizada e com as informações corretas de tal forma a


permitir claramente a quem a visualize a correta compreensão do que se pretende
mostrar.

O log de fotografias é como se fosse um álbum no qual todas imagens são


devidamente identificadas e orientadas. O horário em que as fotos foram tiradas é
igualmente importante, assim como a informação se mostra à evidência e o local, antes
ou depois dos detetives terem entrado no local.
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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Um copo de café fotografado na cena do crime foi deixado por algum


investigador ou fazia parte da cena do crime?

As primeiras fotos a serem tiradas devem ser as afastadas do local do crime, de


preferência com uma lente grande angular. Se o local do crime não é um ambiente
definido por paredes, imagine a cena como um grande quadrado e tire fotos de cada
canto deste “quadrado” ou em cada canto da sala, de tal forma que as fotos mostram
todo o ambiente. Fotos panorâmicas e de 360º graus também devem ser obtidas.
Fotografe com a luminosidade local e depois com luz artificial se necessário. Não use
lentes do tipo fisheye pela distorção que podem provocar.

Uma segunda rodada de fotografias afastadas deve ser feita após a identificação
e marcação das evidências. As marcações devem ser numeradas de tal forma a serem
identificadas no log de evidências.

As fotos devem ser então aproximadas, mostrando as dimensões corretas das


evidências, a serem comparadas e medidas com réguas colocadas ao lado.

Se você é um policial e acabou de chegar ao local e não possui uma régua para
colocar ao lado de uma evidência, como uma pegada que precisa ser rapidamente
fotografada porque pode ser apagada pela chuva, utilize um objeto para ser colocado
ao lado e então fotografe.

Posteriormente, meça o objeto utilizado e você terá as dimensões da evidência.


É importante, contudo, que o objeto a ser comparado seja maior que a evidência (ou do
mesmo tamanho) e que a medida seja feita no comprimento e na largura. Por fim, faça
fotografias aproximadas (close-up) das evidências com as devidas identificações.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Os sketches são representações gráficas da cena do crime e complementam as


fotografias e demais informações. Devem possuir os seguintes elementos:

• cabeçalho - no qual estão as informações sobre o local, data, hora, o que


aconteceu e o porquê daquele sketch estar sendo criado;

• área de diagrama - é a representação gráfica em si. Devem ser representadas


todas evidências e as devidas medições encontradas. O desenho pode ser
simplificado e só incluir as evidências importantes;

• Legenda - descreve o que cada informação e desenho significa no diagrama;

• Título - aqui devem estar presentes as informações sobre quem preparou o


sketch, a instituição, o número do sketch (pode haver vários) e outros dados que
podem fazer parte do protocolo da organização;

• Escala e orientações - medições e informações sobre a posição geográfica do


desenho apresentado, o que inclui a direção obtida por meio de bússola. Observe
que o norte da bússola pode não coincidir com o norte administrativo da região.
Ou seja, não é porque uma cena de crime ocorreu na zona norte de uma cidade,
que aquele local corresponde ao norte geográfico e nem ao norte da bússola. O
Global Position System - GPS também é um importante instrumento que pode
fornecer a localização exata do local.

Diferentes técnicas podem ser utilizadas para a realização de medições e de


elaboração de sketches.

Geralmente, cada serviço possui sua própria metodologia e os equipamentos a


serem utilizados para esta finalidade.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

ATIVIDADE COMPLEMENTAR (Aula 6)

Sabemos que os sketches são representações gráficas da cena do crime e


complementam as fotografias e demais informações. Sendo assim analise a imagem a
seguir e conforme aprenderam nessa aula faça um sketch dessa cena de crime e um
relatório sobre as observações relevantes, como por exemplo, isolamento do local,
contaminação da cena entre outras. Poste na plataforma para correção.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

Aula 7 - MUNDO DA CRIMINALÍSTICA


Os filmes e seriados não tem o objetivo de informar e nem de capacitar
profissionais, mas são bem interessantes de serem assistidos por duas razões:
divertimento e para mostrar procedimentos que podem ser observados e discutidos por
profissionais de tal forma a perceberem onde está a falha.

Com esse contexto, os seguintes filmes e seriados são sugeridos:

1. CSI - Miami e CSI-New York

São seriados americanos de grande popularidade e que mostram equipes de CSI


atuando nas cidades de Miami, New York e Las Vegas. Se você já assistiu algum
episódio, tente assistir novamente, agora comparando com o procedimento-padrão de
tal forma a observar erros e mitos comumente encontrados. A série foi distribuída pela
rede CBS, tendo sido o primeiro episódio apresentado em 2000 e posteriormente
criados o CSI-Miami, CSI-New York e CSI-Las Vegas. Os peritos criminais na vida
real, contudo, não interrogam pessoas, não prendem suspeitos e não participam das
investigações em si.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

2. O Plano Perfeito. Filme lançado em 2006, sobre um assalto a banco, com


reféns, nesse caso o papel da perícia é essencial.

3. Evidências de um Crime. Filme de 2007, tem como sinopse “Um ex-policial,


especialista em limpar cenas de crimes em Los Angeles, cai em uma cilada: ao limpar
um crime que jamais foi denunciado à polícia, ele se torna cúmplice de um assassinato.

4. Um Crime de Mestre. Filme de 2007, em que apesar de haver um réu


confesso de assassinato, as evidências não são claras e precisam ser provadas.

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

5. O Colecionador de Ossos. Neste excelente filme de 1999, um perito


aposentado por invalidez auxilia na investigação de crimes cometidos por um serial
killer, orientando e monitorando as ações de uma nova perita da unidade CSI.

Todos que gostam de investigação criminal, certamente já leram ou pelo menos


já ouviram falar de Sherlock Holmes. Não se trata de uma pessoa real, já que Sherlock
nunca existiu, mas o criador do famoso personagem, o Dr° Conan Doyle, médico e
escritor, baseou a figura de Sherlock, em um de seus professores de medicina. No curso
de medicina, aprendemos desde cedo, a ciência da observação, da indução, da dedução
e como construirmos as hipóteses clínicas para chegar ao diagnóstico de uma doença.
Um erro de diagnóstico não significa erro médico necessariamente, mas apenas que a
hipótese levantada, apesar de todos os indícios, não se confirmou. Médicos, sobretudo
os clínicos, têm que ser bons “detetives”.

Desta forma, Sherlock Holmes foi criado e no livro “Os quatro signos “ele
explica como chega a determinadas conclusões:

“— Como deduziu, então, que mandei um telegrama?

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

— Ora, evidentemente, eu sabia que não tinha escrito uma carta, uma vez que
passei toda a manhã sentado à sua frente. Vejo, além disso, que há uma folha de selos
na sua escrivaninha e um grosso maço de postais.

Para que iria, então, à agência postal, senão para mandar um telegrama?

Elimine todos os outros fatores, e o que restar deve ser a verdade.

— Nesse caso, não há dúvida de que é assim — repliquei, depois de meditar um


instante— Trata-se, como diz, de uma coisa muito simples.

Seria impertinência minha se submeter às suas teorias a uma prova mais


rigorosa?

— Pelo contrário — respondeu ele. — Isso me impediria de ficar entediado


algum tempo. Terei o maior prazer em examinar qualquer problema que me apresente.

— Já ouvi dizer que é difícil um homem ter consigo um objeto de uso diário sem
deixar nele a marca da sua individualidade, de tal modo que um observador
experimentado é capaz de interpretá-la. Pois tenho aqui um relógio que veio
recentemente parar em minhas mãos.

Quer ter a bondade de me dar a sua opinião sobre o caráter e os hábitos do


último proprietário?

Entreguei-lhe o relógio, não sem uma certa malícia, pois julgava impossível
semelhante prova, e pretendia que isso lhe servisse de lição contra o tom um tanto
dogmático que ele às vezes assumia. Holmes avaliou o peso do relógio com a mão,
olhou atentamente o mostrador, abriu a tampa traseira e examinou o mecanismo,
primeiro a olho nu e depois com uma poderosa lente convexa. Mal pude reprimir um
sorriso diante do seu rosto destroçado quando finalmente o devolveu a mim.

— Quase não há elementos — observou ele. — O relógio foi limpo


recentemente, o que me roubou os fatos mais sugestivos.

— Tem razão — disse eu. — Fizeram uma limpeza geral antes de o enviarem a
mim.

No íntimo, eu acusava o meu companheiro de esconder o seu fracasso sob a mais


comum das desculpas.

Que elementos poderia ele encontrar num relógio sujo?

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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

— Apesar de pouco satisfatória, a minha pesquisa não foi de todo infrutífera


observou ele, fitando o teto com os olhos sonhadores e sem brilho. — Se não me disser
o contrário, julgo que o relógio pertenceu ao seu irmão mais velho, que o herdou de
seu pai.

— Deduziu-o, sem dúvida, do “H. W.’ gravado nas costas?

— Exatamente. O W. sugere o seu nome. A data do relógio é de cinquenta anos


atrás, e as iniciais são quase tão antigas como o relógio: logo, foi usado pela última
geração. As joias geralmente passam para o filho mais velho, e é muito provável que
este tenha o mesmo nome do pai. Seu pai, se bem me lembro, faleceu há muitos anos.
Por conseguinte, o relógio estava nas mãos do seu irmão mais velho.

— Até aqui, tudo certo — disse eu. — Alguma coisa mais?

— Ele era um homem de hábitos desordenados muito desordenados e


descuidados. Iniciou a vida com boas perspectivas, mas desperdiçou as oportunidades,
viveu algum tempo na pobreza, com intervalos ocasionais de prosperidade, e por fim,
entregando-se à bebida, faleceu. Isto é tudo o que posso deduzir.

— Nas casas de penhor da Inglaterra é muito comum gravarem o número da


caução, com um alfinete, na parte interna da tampa. É mais prático do que uma etiqueta,
e não há perigo de que o número seja trocado ou perdido. Há pelo menos quatro desses
números visíveis para a minha lente, no interior dessa tampa. Dedução principal: seu
irmão via-se frequentemente em apuros financeiros.

Dedução secundária: ocasionalmente melhorava de vida, pois, do contrário, não


poderia resgatar o penhor. Finalmente, peço-lhe que olhe para a tampa interna, onde
fica o buraco da chave. Veja os milhares de arranhões em um homem sóbrio nunca
teria feito esses sulcos. Mas podem vê-los sempre no relógio de um bêbado.

Quando lhe dá corda, à noite, tem a mão insegura. Onde está o mistério
disso tudo?”

O detetive faz suas considerações (suposições e deduções) baseadas, sobretudo,


na observação.

Lembram-se quando falamos da importância do perito em desenvolver suas


hipóteses?

Elas devem ser baseadas em observação e análise das evidências encontradas.

Eventualmente ele pode acertar, mas também pode errar.


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AVALIAÇÃO DE CENA DE LOCAL DE CRIME

O fundamental é que não esteja apegado a uma teoria que “tenha que ser provada
a todo custo”.

É importante que “a cabeça esteja aberta para aceitar outras possibilidades” e


sempre que necessário pedir a opinião de outros especialistas.

É importante lembrarmos sempre, que o local a ser periciado não está restrito a
onde o crime foi cometido. Como já dissemos anteriormente, todo e qualquer lugar ou
pessoa que possa estar conectado com o crime, pode ser periciado, se for julgado
pertinente pelos peritos e investigadores. Imaginem uma cena de estupro seguido de
homicídio, em que o criminoso não foi encontrado.

Informações e a investigação conduzem a um suspeito. Com base em um


mandado de busca e apreensão, a polícia vai até a residência dele de tal forma a buscar
evidências a serem periciadas.

Curiosidades

A maleta básica de um perito criminal custa 20 mil reais.

Dentro da mala, há reagentes de diversos tipos, que identificam, por exemplo, o


sangue.

Óculos coloridos para enxergar os tipos de vestígios deixados no local.

O de cor laranja dá para ver unhas, cabelos, sangue, materiais biológicos de


forma geral.

O amarelo é material explosivo, após um tiro de arma de fogo, por exemplo.

Com o vermelho, os agentes conseguem observar combustíveis e cosméticos.

Além destes objetos, há lanternas e trenas eletrônicas para medição.

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