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Teoria Geral da

Investigação e Perícia
NOÇÕES BÁSICAS SOBRE INVESTIGAÇÃO

A origem da palavra “investigação” é do latim, investigatione


(in + vestígios + ato), que significa, ação dirigida de ir atrás de
um vestígio e que levou a tradução de ato de pesquisar,
indagar, investigar.
A palavra “investigação” surgiu no século XV, pouco antes da
revolução científica que deu origem à ciência moderna.

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Investigar não é apenas procurar à toa, e sim perseguir uma
hipótese, que é implicitamente aceita, e procurar saber se ela
está ou não correta.
O verdadeiro sentido de “investigar” consiste em alcançar
conclusões que são novidades não apenas para ele, mas para
muitos outros.
A investigação criminal é um conceito mais histórico do que científico,
pois é da história, que se obtém acesso às suas questões intelectuais
iniciais, sobretudo aquelas que dizem respeito à verdade acerca de
fatos passados. Assim, qualquer ciência que se pretenda a partir dela
não pode ignorar as questões sobre a possibilidade de uma ciência da
história.
A compreensão das normas jurídicas da investigação, em diálogo tanto
com o discurso da história quanto com o da ciência, permite-nos, não
apenas esboçar o estatuto disciplinar do domínio de saber
investigativo-criminal, mas também evidenciar a perspectiva
epistemológica dessas normas para além da função garantista que
cumprem no âmbito do direito.
Diferença entre investigação cientifica e
criminal
Existem diferenças básicas entre a investigação científica e a investigação
criminal. Um crime usualmente é investigado por poucas pessoas, enquanto
na ciência, o “crime” é a própria natureza e muitos se questionam ao mesmo
tempo sobre o tema, em várias grandes equipes, “competindo” pela mesma
resposta e, normalmente, divulgando os resultados uns para os outros.
Na investigação criminal, quem, afinal, atribui a culpabilidade não é o
investigador, mas sim um juiz. Na investigação científica, quem anuncia uma
determinada conclusão termina sendo a comunidade científica da área
estudada, que trabalha como um tipo de conjunto de juízes, quando
finalmente se entendem sobre fato a ser divulgado.
Outra diferença pode ser notada quanto aos erros, que apesar
de serem possíveis quando se tratam de investigações
criminais, podem culminar com o crime resolvido e a
investigação pode ser dada por encerrada.
Na investigação científica, as conclusões obtidas só são aceitas
temporariamente, até que novos estudos permitam rever as
decisões feitas anteriormente e consigam que outras
conclusões de alguma forma compreendam as antigas.
A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

Dois nomes, com certeza, merecem destaque quando falamos


em investigação científica analisada do ponto de vista
filosófico, são eles, René Descartes e Francis Bacon. Estes
pensadores dispensaram parte de suas obras para a pesquisa
acerca das direções da investigação dentro da Ciência.
Descartes, em Regras para a direção do espírito, elaborou
vinte e uma regras onde delineou seu sistema filosófico e
científico.
O filósofo inicia suas regras explicando que a maneira mais
provável de incentivar um afastamento do caminho em busca
da verdade científica é orientando os estudos de acordo com
fins pessoais. Isso por que é fundamental que os atos
investigativos estejam fundamentados pelo preceito da
imparcialidade.
Para este pensador, a investigação científica tem como foco a
busca pelo o que ele chama de verdade real, e não formal.
Descartes (1990) também dedica um tempo para observar a
diferenciar a intuição intelectual da simples dedução.
Na dedução ocorre o firmamento de uma ideia através da
conclusão definitiva de ideias já concebidas, enquanto na
intuição intelectual ocorre a criação de conceitos
diferenciados de qualquer ideia anteriormente concebida, não
restando dúvidas quanto à certeza dessa compreensão.
Para o filósofo, as duas figuras elaboram juntas a maneira
mais confiável de se fazer ciência.
Uma vez que a intuição intelectual leva o cientista a
concretizar os princípios primordiais para persecução de seu
objetivo enquanto a dedução o auxilia a enxergar as
conclusões mais distantes, aquelas que cercam o objeto de
estudo e são igualmente importantes para sua percepção
O filósofo acredita que regras certas e fáceis constroem o
método e, com ele, é possível que o cientista não incorra em
erro. É através do método que se alcança o verdadeiro
conhecimento, portanto, “o método é necessário para a
procura da verdade”.
Outro nome importante na filosofia para o estudo da
investigação científica é o do filósofo Francis Bacon. Este
pensador, também dedicou uma parte de sua obra para
procurar um método que conduzisse à verdade científica, ele
fez isso em sua obra intitulada Novum Organum.
A ideia de Bacon (2002) está fundamentalmente ligada ao que
chamamos de indução. Isto é, a técnica pela qual se obtém
uma contemplação de validade dos fatos através de analogia.
A investigação científica é parte fundamental e característica
da ciência, pois sem método científico, não há ciência. Trata-
se do conjunto de etapas e processos a serem adotados na
procura da verdade sobre os fenômenos e fatos investigados.
Entende-se que um método é um caminho escolhido para se
alcançar um objetivo, ou seja, o conjunto de procedimentos
que serão feitos até que construa o resultado.
A busca da verdade baseia-se em pressuposições que avaliam
a razão, experimentação e observação da investigação de
fenômenos e fatos que nos levam a análises de raciocínio
distintos.
Ainda que existam muitas variações conceituais e técnicas a
respeito do método científico e, também, que haja um certo
desacordo sobre como deve ser utilizado, as etapas básicas
são fáceis de entender. A visão tradicional do método
científico consiste nas seguintes etapas:
• Observação.
• Investigação sobre o tema.
• Formulação de uma hipótese.
• Experimentação.
• Analise de resultados e conclusão.
Um aspecto extraordinário da ciência é que os conhecimentos
científicos se modificam sempre e com base no método
científico novas teorias são formuladas, muitas vezes
substituindo outras previamente aceitas. Uma teoria pode ser
alterada frente a novas encontradas.
A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
A investigação criminal é o aparelho pelo qual se completa a
apuração de fatos supostamente delituosos e sua apropriada
autoria a partir da ocorrência ou notícia, com o intuito de
esclarecer se se harmonizam ou não com alguma norma penal
tipificada.
O objeto da investigação criminal é a isenta apuração da
materialidade e autoria de um suposto crime, ou
contravenção penal, mediante busca da sua verdade fática e
jurídica com embasamento em um juízo de probabilidade
indiciária.
A verdade processual fática, para o referido jurista, incide em
um tipo particular de verdade histórica, relativa a conjecturas
que discorrem de representações passadas que não estão
abertamente compreensíveis como por exemplo, a
experiência.
Enquanto isso, a verdade processual jurídica é uma verdade
que pode se chamar de classificatória, ao referir-se à
classificação ou qualificação dos acontecimentos históricos
evidenciados segundo as categorias pelo léxico jurídico e
elaboradas mediante a interpretação da linguagem legal.
Deste modo, enquanto veículo da busca pela verdade
processual (formal), decorrem da investigação criminal três
funções basilares:
• resguardar a imparcialidade;
• resguardar a economicidade;
• resguardar a eficiência da Justiça Criminal.
Despontando da soma destas três funções o principal bem
jurídico tutelado pela investigação criminal, qual seja, a defesa
da ordem jurídica.
O “filtro processual se faz inteiramente concretizada quando
levarmos em consideração três fatores:
• o custo do processo judicial;
• o sofrimento que causa para o sujeito passivo;
• a estigmatização social e jurídica geral.
A investigação criminal, além da compreensão reducionista
visivelmente pacificada na doutrina jurídica do nosso país,
deve ser desempenhada pretendendo a imparcialidade na
busca da verdade formal.
Não existe no inquérito policial uma sucessão de atos que
implique uma correlação na qual o antecedente
acondicionaria o consequente.
Portanto, a lei confia uma espaçosa margem de
discricionariedade para que a autoridade de polícia judiciária
contemple as diversas aberturas a perseguir. Para isso, a
autoridade policial necessita buscar de todas as maneiras
possíveis o sucesso da investigação, ou seja, buscar pela maior
aproximação possível da verdade.
A investigação criminal ou ainda investigação policial, já que
de acordo com a tradição, no Brasil, a investigação criminal é
realizada pela polícia, é a forma de indicar a procura, ou busca
dos vestígios pertinentes a um crime.
No momento em que ocorre um suposto crime e essa notícia
chega até a polícia, o sistema penal é empregado a fim de
esclarecê-lo para que se possa ter a justa aplicação da lei
penal. A partir disso são destacados investigadores para
trabalhar no caso.
A investigação criminal é o instrumento com o qual se realiza
a apuração do ocorrido com a avaliação de acontecimentos
supostamente delituosos e da correspondente autoria a partir
da sua ocorrência ou notícia, com o objetivo de descobrir se
há ou não alguma infração penal.
Quando o crime exige uma perícia de local de crime, os
peritos criminais se deslocam para realizar os exames periciais
e quando se trata de um crime que não necessita de perícia
no local, a investigação continua a busca por informações até
que possa ser determinada uma perícia posterior.
O ordenamento jurídico brasileiro se utiliza do inquérito
policial (art. 4 ao 23 do Código de Processo Penal) para
fornecer elementos informativos que sejam juridicamente
admissíveis e que possam colaborar com o objetivo de
desvendar o caso sobre o qual há um interesse jurídico-
criminal para, com isso, ajudar o titular da ação penal (art. 24
ao 62 do Código de Processo Penal) a formar convicção sobre
o ocorrido.
HISTÓRICO DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

A utilização dos conhecimentos científicos para a análise de


provas de crimes iniciou-se desde o surgimento da civilização,
em decorrência da necessidade de esclarecimento de um fato
delituoso, através de uma sistemática norteada por
padronizações e regras cientificas e jurídicas.
Antigamente, os métodos utilizados eram baseados em
violência e tortura em busca de autorias baseadas em
confissões, que podem ter pouca credibilidade.
Desde meados de 1870, na França, eram utilizadas fotografias
nas fichas criminais. O objetivo era que elas servissem como
um meio de reconhecimento, como um banco de dados para
identificação.
Após alguns anos de tentativa, Alphonse Bertillon (Paris, 1853-
1914), famoso criminologista francês, emplaca um método
científico de reconhecimento dos indivíduos e classificação de
suas fichas baseado em mensurações antropológicas.
Esse método foi adotado internacionalmente e utilizado até
1970. Nesse movimento, ferramentas como o retrato falado,
as fotografias e, mais à frente, a datiloscopia tornam-se
procedimentos complementares.
No Brasil, a origem da criminalística se confunde com o
surgimento da medicina legal, que recebeu forte influência da
experiência francesa.
Para evidenciar os métodos científicos para resolução de
crimes, surgem os chamados Institutos de Criminalística,
conhecidos também como polícia técnico-científica, que tem
como objetivo a criação dos laboratórios criminalísticos, para
que seja possível suprir as necessidades de aplicação dos
métodos científicos no esclarecimento dos crimes.
A polícia técnica é um órgão da Administração Pública subordinado à
Secretaria de Segurança Pública na maior parte dos estados nacionais
e tem como objetivo coletar e analisar as provas periciais.
A função dos Institutos de Criminalística é contribuir com o exercício
das perícias criminais, oferecendo, aos peritos, materiais e
ferramentas que possam ser importantes na descoberta do
responsável e na elaboração do laudo pericial.
Entre suas diversas áreas, cada uma especializada em um diferente
tipo de perícia, pode-se contar, por exemplo, com áreas de acidente
de trânsito, crimes contábeis, informática, áreas de exames, análise e
pesquisas – instrumental, balística, biológica, bioquímica, física e
química, entre inúmeras outras.
De acordo com o Código de Processo Penal Brasileiro, é
mandatório o exercício do exame de corpo de delito para os
crimes que deixarem vestígios. Isso entrega ao juiz meios
materiais para a resolução do apurado fato delituoso, pois se
trata de uma prova importante, científica e isenta,
considerando a materialidade.
Desde a Constituição Federal de 1988, são confirmados os
direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, a fim de evitar
tratamentos injustos ou degradantes que precedam a decisão
do juiz, Essa é a presunção de inocência, preceituada no art. 5,
inciso LVII.
No mesmo Art. 5, inciso LV, também é previsto o princípio do
contraditório, observando o direito à prova para assegurar às
partes os recursos suficientes a defesa do acusado
OS FUNDAMENTOS DA INVESTIGAÇÃO
CRIMINAL
Ao surgir a notícia da prática de um ilícito penal, faz-se
necessário que, por meio dos órgãos competentes, aplique-se
a persecução criminal ou penal, que é a mesma coisa que
perseguir, no sentido de ir atrás da apuração do fato, a fim de
confirmá-la, ou não, e, consequentemente, se for o caso,
iniciar uma ação penal.
Isso é feito, no Brasil, pela polícia judiciária nas fases de
averiguação e pelo Ministério Público, que por fim pode
oferecer denúncia ao juiz, dando início à ação penal pública.
A persecução criminal é, portanto, o dever do Estado de
promover o processo penal acusatório, e a própria
investigação que o precede, quando for cabível.
Pode-se definir a investigação criminal, brevemente, como
uma atividade preliminar que antecede o processo, visando à
produção e obtenção de elementos de convicção (evidências)
acerca da materialidade e da responsabilidade de uma
ocorrência criminosa.
No que se refere à esfera criminal, a atividade investigativa é mais
marcante. São determinadas pela Constituição Federal, as autoridades
responsáveis pela apuração das infrações penais:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,
é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, estruturado em
carreira, destina-se a:
I- apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de
bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual
ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares (BRASIL, 1988, s.p.).
Complementarmente, o artigo 4º do CPP revela que:
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de
suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da
sua autoria. (Redação dada pela Lei nº 9.043, de 9.5.1995)
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função (BRASIL, 1941b,
s.p.).
O Código de Processo Penal regulamentou, com muito mais
precisão, as normas sobre a investigação, tanto sobre o
inquérito policial, quanto por leis exclusivas sobre os métodos
de investigação.
Sabe-se que isso ocorre, pois fazem parte do julgamento de
processo criminal vários assuntos sensíveis: direitos como a
liberdade, honra, intimidade, segurança individual e pública.
O procedimento de investigação alcançado por meio desse
sistema é de caráter administrativo, e, apesar do nome, a
polícia judiciária não está ligada ao poder judiciário e não é
dotada de poder judicial. É um órgão da administração
pública, da estrutura do poder executivo.
A polícia judiciária atua de forma autônoma em sua forma de
conduzir a investigação. Não se subordina, funcionalmente,
nem ao ministério público e nem ao poder judiciário.
OS FINS DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

A investigação criminal é pesquisa orientada a estabelecer a


verdade fática acerca de uma lesão penalmente relevante a
um bem jurídico decorrente de conduta humana. É pesquisa
que se faz a partir de uma hipótese típico-legal (direito penal)
e segundo formas delimitadas juridicamente (direito
processual penal).
O escopo da investigação criminal, nesse sentido, é a solução
de problemas por meios menos gravosos a direitos
fundamentais. Assim, se podemos conceber caminhos a uma
maior eficácia da investigação:
• pelo aumento do poder com uma, cada vez maior, restrição
de direitos;
• pelo aumento do saber com uma, cada vez menor, restrição
de direitos.
Apenas este último pode ser o sentido de um
aperfeiçoamento da investigação como ciência, nas
sociedades políticas que têm a forma de Estado de direito.
O fim de uma investigação criminal, ao contrário do que
muitos pensam, não é a obtenção e produção de elementos
que provem a prática de um ilícito.
A investigação preliminar deve alimentar a ação penal,
colhendo elementos para que não se faça necessário
prosseguir com uma ação sem fundamento ou fadada ao
fracasso.
É notado, como consequência, que o direcionamento dado
preliminarmente, pela investigação, tem como função abrir
caminho para uma possível ação penal de forma responsável,
seja ela iniciada por um particular ou pelo Estado. Assim,
afirma-se que a investigação criminal, seja ela qual for, tem
como função oferecer elementos que alimentem a acusação e
a tornem legítima.
A INVESTIGAÇÃO COMO PESQUISA

A investigação, então, é desde a pesquisa até o exercício do


saber, e isso pode ocorrer tanto por simples curiosidade como
para o desenvolvimento do intelecto.
a investigação se posiciona como preceito indispensável do
sistema de justiça criminal, visto que ela se propaga sobre
inevitabilidade de observação da verdade real e da capacidade
de poder provar essa verdade em juízo, para que assim seja
possibilitado o correto aproveitamento da lei penal.
Inicialmente, cabe estruturarmos a concepção de investigação
criminal do aspecto prático.
Pode-se dizer que, nesse aspecto, a investigação é elaborada
como um aglomerado de atividades previamente
estabelecidas e devidamente formalizadas que, dentro das
fronteiras permitidas pela lei, se propõem a aperfeiçoar a
essência, materialidade, conjunturas e autoria de uma
determinada infração penal, angariando provas e elementos
de informações que poderão ser utilizadas na persecução
penal.
Já no âmbito jurídico, a investigação criminal poderá ser
conceituada como uma atividade estatal proposta ao
esclarecimento de fatos supostamente criminosos. Neste
aspecto, a investigação criminal apresentará uma tríplice
funcionalidade, ou seja, possuirá três funções, quais sejam
• evitar imputações infundadas (função garantidora);
• conservar a prova e os meios de sua aquisição (função
preservadora);
• propiciar justa causa para a ação penal ou impedir sua
inauguração (função preparatória ou inibidora do processo
criminal).
Com o intuito de comprovar ou não um delito, existe a
instrução processual propriamente dita, com todos os
princípios essenciais a ela, especialmente o contraditório e a
ampla defesa.
A busca da verdade real (art. 156 do CPP) visa a reconstrução
histórica da situação, sob juízo, com igualdade das partes no
que diz respeito a produção das provas, que é o contraditório
e a ampla defesa, a fim de que o convencimento judicial da
sentença seja adequadamente motivado, como prega o
princípio do livre convencimento motivado ou princípio da
persuasão racional (art. 157 do CPP).
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
I– ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas
urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
II– determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para
dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim
entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. (Redação dada pela Lei nº
11.690, de 2008)
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o
nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma
fonte independente das primeiras. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 2º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe,
próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
(Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada
por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. (Incluído pela Lei nº 11.690, de
2008) (BRASIL, 1941b, s.p.).
Para que o procedimento de investigação criminal se efetive
adequadamente, é necessário que o Estado observe os
preceitos constitucionais de direitos individuais.
O GARANTISMO PENAL
A teoria do garantismo penal, pensada pelo jurista italiano
Luigi Frajola, em sua obra Direito e razão, é o conjunto de
teorias penais e processuais que consiste basicamente em
garantir ou proteger os direitos fundamentais (vida,
liberdades civis e políticas, expectativas sociais de subsistência
dos direitos individuais e coletivos).
O termo garantismo ingressou no vocabulário jurídico pelos
italianos dos anos de 1970, mais especificamente no campo
do Direito Penal, ainda que possa ser ampliada a todo o
sistema de garantias dos direitos fundamentais.
O sistema de garantismo penal se apoia em alguns princípios
básicos (axiomas) que devem servir para limitar o abuso da
punição e garantir direitos e credibilidade jurídica. De acordo
com a clássica obra de Luigi Ferrajoli, Direito e razão (2014),
são eles:
• Nulla poena sine crimine (não há pena sem crime): princípio
da retributividade ou da consequencialidade da pena em
relação ao delito.
• Nullum crimen sine lege (não há crime sem lei): princípio da
legalidade, tanto no sentido lato quanto no sentido estrito.
• Nulla lex (poenalis) sine necessitate (não há lei penal sem
necessidade): princípio da necessidade ou da economia do
direito penal.
• Nulla necessitas sine injusria (não há necessidade sem
ofensa ao bem jurídico): princípio da lesividade ou
ofensividade do evento.
• Nulla injuria sine actione (não há ofensa ao bem jurídico sem
ação): princípio da materialidade ou da exterioridade da ação.
• Nulla actio sine culpa (não há ação sem culpa): princípio da
culpabilidade ou da responsabilidade pessoal.
• Nulla culpa sine judicio (não há culpa sem juízo): princípio da
jurisdicionalidade no sentido lato ou estrito.
• Nulla judicium sine accustone (não há juízo sem acusação):
princípio acusatório ou da separação ente o juiz e a acusação.
• Nulla accusatio sine probatione (não há acusação sem
prova): princípio do ônus da prova ou da verificação.
• Nulla probatio sine defensione (não há prova sem defesa):
princípio do contraditório ou da defesa ou da falseabilidade.
Primeiramente, cabe falarmos sobre a fundamentação das
decisões judiciais, que visam proporcionar para as partes
envolvidas no processo pena a garantia de que existiu, por
parte do magistrado, o devido cumprimento das normas e o
respeito aos direitos e garantias do acusado. E, também, a
demonstração da existência de provas satisfatórias para o
abatimento do princípio da presunção da inocência de tal
modo que se efetue uma condenação adequada.
Deste modo, é possível efetuar uma avaliação sobre a
investigação criminal observando se a figura do “poder”
predominou sobre a “racionalidade” da decisão judicial.
Princípios

Já, quando se fala no princípio da jurisdicionalidade estamos


tratando de manter unicamente, a cargo do Poder Judiciário, a
imposição da pena por meio do processo como um percurso
imprescindível.
O princípio acusatório trata da separação das atividades de
julgar e acusar com o objetivo de promover a imparcialidade
do juiz e conter sua atuação à prévia provocação através de
ação penal. O juiz deve ser um espectador e não um ator.
O princípio da presunção de inocência. Este princípio
determina que o imputado deverá ser respeitado como
inocente até o momento do trânsito em julgado de sentença
condenatória que o julgue culpado.
Esse princípio também insinua que o ônus da comprovação de
provas é incumbência da parte acusadora, e que se encontra
na obrigatoriedade dentro um processo penal apropriado,
com o cumprimento da totalidade dos direitos e garantias do
acusado (devido processo legal, ampla defesa, contraditório
etc.) além também da observância do julgamento, ao final,
por sentença.
Por fim, o princípio do contraditório, que incide no
enfrentamento entre as hipóteses levantadas pela acusação e
pela defesa, constituindo assim uma uniformidade de
armações (igualdade processual) entre os dois lados. Assim,
fazendo valer também o princípio da equidade entre as
partes, pressuposto maior de Justiça.

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