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Investigação em Educação

Investigação
Investigar é procurar descobrir.

⚫ O termo "investigação" deriva da palavra latina


"investigatio" (in + vestigium). "In" significando uma ação
de entrar e "vestigium" correspondendo a vestígio, marca,
sinal.

⚫ "Vestigium é a pegada, a marca do pé, o vestígio de


alguma coisa que aconteceu num certo lugar e num certo
tempo e aí deixou marcas e sinal de si" (Rosa, 1994).

⚫ Investigar refere-se, em termos etimológicos, em entrar


nos vestígios, em procurar nos sinais o conhecimento
daquilo que os provocou.
⚫ “A investigação é, assim, uma demanda
daquilo que não se conhece. O investigador
vai do que sabe, os vestígios, para o que não
sabe, o que os vestígios indicam. Nem se
pode dizer que vai para aquilo que procura,
pois, em verdadeira e radical investigação,
não é sequer possível saber o que é que se
procura. O termo da investigação, da
demanda, é uma descoberta" (Rosa, 1994)
⚫ A investigação científica possui três caraterísticas
particulares que a distinguem de outros modos de
procura do conhecimento (Kerlinger, 1973):
1 - Enquanto que a experiência prática lida com eventos que
ocorrem aleatoriamente, a investigação é sistematizada e
controlada, baseando os seus procedimentos no modelo
dedutivo-indutivo.
2 - A investigação é empírica. O investigador procede à
validação da experiência. Há uma posição subjetiva que é
verificada em condições de realidade objetiva.
3 - A investigação é autocorretora, na medida em que as
metodologias empregues possuem mecanismos para as
protegerem dos erros humanos que sempre são possíveis de
ocorrer.
“A investigação é um processo de
pesquisa em que se procura
cuidadosamente colocar uma questão e
proceder sistematicamente para recolher,
analisar, interpretar e comunicar a
informação necessária para responder à
questão"
(Graziano e Raulin, 1989)
“A racionalidade da investigação consiste, por
conseguinte, na humildade de não saber, na docilidade
em aceitar a manifestação dos vestígios, na honestidade
intelectual de enfrentar essa manifestação sem a
perverter, na constância e na diligência em prosseguir,
de vestígio em vestígio, mesmo quando não se
vislumbra um sentido final do percurso ... A investigação
requer, por conseguinte, uma grande maturidade interior
do ser humano. Exige paciência, constância,
autoconfiança, humildade, capacidade para enfrentar os
próprios erros e corrigi-los tanto quanto para enfrentar a
eventual incompreensão dos outros. A somar a isto tudo,
não é despiciendo um bom capital de esperança"
(Rosa, 1994)
CARATERÍSTICAS DO
CONHECIMENTO
⚫ Ideias Básicas sobre o Senso Comum:
1. Saber Imediato. Nível mais elementar do conhecimento
baseado em observações ingénuas da realidade. Está
frequentemente ligado a resolução de problemas práticos do
quotidiano.
2. Saber Subjetivo. Construído com base em experiências
subjetivas.
3. Saber heterogéneo. Resulta de sucessivas acumulações
de dados provenientes da experiência, sem qualquer
seletividade, coerência ou método. Trata-se de uma forma de
saber ligado ao processo de socialização dos indivíduos,
sendo muito evidente a influência das tradições e ideias feitas
transmitidas de geração em geração.
4. Saber Não Crítico. Conhecimento pouco generalizador.
CARATERÍSTICAS DO
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Alguns autores apontam o conhecimento teórico, a explicação dos fenómenos
naturais, como o objectivo da ciência (Kerlinger, 1985). Outros definem como
objectivos da ciência a formulação de hipóteses, definições terminológicas,
descobrir leis, estabelecer generalizações, etc. Esta é a corrente positivista,
com uma concepção nomotética, ou seja, objectivada para o estabelecimento
das leis gerais.

Segundo Bisquerra (1989), a funções principais deste tipo de ciência são:

1 - Descrever: descrição dos fenómenos, conhecimento claro dos seus elementos e do seu
funcionamento.

2 - Explicar: indicar o porquê de um comportamento, o que permitirá a sua generalização e a


procura das relações entre os diferentes fenómenos.

3 - Controlar: manipular as condições de produção do fenómeno para observar o seu


aparecimento.

4 - Predizer: indicando as condições sob as quais se produzirão acontecimentos futuros, com


um certo grau de probabilidade.
⚫ As perspetivas humanistas opõem-se às positivistas,
ideográfica, enfatizando a compreensão dos fenómenos e o
estudo do individual e particular, sem pretender chegar a leis
gerais.

⚫ A discussão entre o positivismo e a anti-positivismo, as


ciências nomotéticas e as ideográficas, bem como as
metodologias quantitativas e qualitativas de investigação,
originaram durante o século XX extensos debates e
posicionamentos quase radicais para se chegar a uma posição
eclética, muito modesta mas honesta, em que se deverá
procurar o melhor caminho para investigar em função do que
se pretende investigar, independentemente de posições
escolásticas e tendências metodológicas. Nada impede que se
cruzem ou façam convergir metodologias diferentes numa
investigação se com tal procedimento se conseguir maior
eficácia e validade
⚫ No campo da Educação, o que constitui
o seu objetivo como ciência é, segundo
Bisquerra (1985):
a)A descoberta das leis e princípios
concretos dos processos educativos;
b)O estabelecimento de bases científicas
de um plano geral de educação;
c) A constante melhoria da qualidade da
educação.
CARATERÍSTICAS DAS CIÊNCIAS
FACTUAIS
1 - O conhecimento científico é de origem empírica: tem o seu
ponto de partida na observação. Embora se baseie nos factos,
não se fica na sua análise, ultrapassando-os. “Faz-se ciência
com os factos, tal como uma casa se faz com tijolos; mas uma
acumulação de factos não é uma ciência, tal como um monte de
tijolos não é uma casa" (Poincaré, ref. por Bisquerra, 1985).
2 - O conhecimento científico é racional, sendo constituído por
conceitos, juízos e raciocínios, permitindo que as ideias que o
compõem se associem em sequências lógicas que possam levar
a inferências dedutivas, procurando abstrair-se de emoções,
sentimentos e subjetividades.
3 - O conhecimento científico e efetuado em profundidade: o
aprofundar é o que leva ao "porquê" e a um conhecimento mais
profundo do que o vulgar, preocupando-se com as causas, os
efeitos e a explicação dos fenómenos.
4 - O conhecimento científico é objetivo, procurando
alcançar a verdade factual através de meios de
observação, de experimentação e de investigação,
analisando a concordância com o seu objeto e a
adequação das hipóteses com os factos constatados.
A objetividade exige um acordo inter e intra-
observadores, implicando a fiabilidade e constância
das observações e a contrastabilidade intersubjetiva.
5 - O conhecimento científico é factual, partindo
sempre de factos e voltando a eles, considerando
como fundamentais os "dados empíricos" factuais.
6 - O conhecimento científico é rigoroso: o rigor na
utilização do método científico confere a validade e
garantia dos seus resultados.
7 - O conhecimento científico é transcendente aos factos, quando
produz novos factos e os explica; quando seleciona, controla e
reproduz os factos; quando, para além da simples descrição
experimental, a sintetiza e compara com o que se conhece de
outros factos; quando ultrapassa os factos conhecidos e
observados para inferir novos factos.
8 - O conhecimento científico é analítico, quando decompõe o
todo nas suas partes para estudar cada uma em particular,
voltando à reconstrução das partes através da síntese, depois de
descobrir o mecanismo que une as partes num todo.
9 - O conhecimento científico é claro e preciso. Ao contrário do
conhecimento vulgar ou popular, o conhecimento científico
procura ao máximo ser exato, preciso e formulado com clareza,
evitando quaisquer ambiguidades.
10 - O conhecimento científico baseia-se em factos
mensuráveis: desenvolvendo técnicas particulares de
medição e registo dos fenómenos.
11 - O conhecimento científico é imparcial: não sendo
influenciado por ideias, pressupostos, tendências ou
subjetividades.
12 - O conhecimento científico é comunicável, sendo
formulado em termos que permitem uma fácil
transmissão e receção dos seus conteúdos. Possui
um caráter eminentemente informativo (e não de
sedução ou de imposição).
13 - O conhecimento científico é universal, sendo
considerado não como propriedade particular mas de
toda a humanidade, uma vez que é o elemento
propulsor de todo o progresso.
14 - O conhecimento científico é verificável, sendo por
isso formulado de modo a que outros investigadores
possam repetir a investigação, verificando os dados e
as conclusões a que se chegou.
15 - O conhecimento científico mantém a dúvida
metódica: duvidando metodologicamente sempre, até
que seja obtida uma evidência empírica.
16 - O conhecimento científico depende da
investigação metódica, baseada no conhecimento
anterior, planeada e efetuada de modo sistemático,
procurando confirmar hipóteses baseadas em
princípios já estabelecidos, utilizando metodologia
adequada e analisando rigorosamente os dados
obtidos.
17 - O conhecimento científico é probabilístico: a
validação das hipóteses faz-se com um nível de
probabilidade, nunca com a certeza absoluta.
18 - O conhecimento científico é auto-corretivo: sendo
capaz de descobrir as suas próprias deficiências e de
corrigir os seus erros.
19 - O conhecimento científico é sistémico, sendo
constituído por um sistema de ideias inter-relacionadas,
contendo sistemas referenciais, convergência de
informações e quadros teóricos ecléticos que explicam as
redes relacionais.
20 - O conhecimento cientifico é progressivo e evolutivo,
ou seja, é consequência de um contínuo selecionar de
novos conhecimentos que vêm substituir os antigos,
quando estes se revelam ultrapassados ou inadequados.
21 - O conhecimento científico é falível, nunca sendo
considerado como totalmente certo, absoluto, definitivo,
final ou perene. A perfeição é inatingível e toda a ciência
evolui, de modo que o que hoje se considera como certo
amanhã verifica-se estar errado e ultrapassado por novos
conhecimentos.
22 - O conhecimento científico é geral, na medida em
que procura descobrir leis ou princípios gerais que
permitam chegar-se a uma certa unicidade,
uniformidade e generalização.
23 - O conhecimento científico é explicativo, inquirindo
o como se processam as coisas e procurando saber o
porquê desse processamento.
24 - O conhecimento científico é preditivo,
procurando, através da indução probabilística, prever
ocorrências, calculando inclusivamente a margem de
erro em que o fenómeno pode ocorrer.
25 - O conhecimento científico é aberto, dado que não
coloca barreiras que limitem o conhecimento, quer em
relação ao seu campo, quer em relação aos métodos
que utiliza, não se subordinando a quaisquer
restrições doutrinárias ou conceções paradigmáticas.
26 – O conhecimento científico é útil, dado que ao
contribuir para o aumento do conhecimento da ciência
está a contribuir para o emprego desta para
impulsionar o progresso, promover a melhoria das
condições de vida e aumentar o bem-estar da
humanidade.
Bibliografia
Kerlinger, F. N. (1973). Fundations of behavioral research. New York: Holt, Rinehart
and Winston.
Rosa, J. C. (1994). Investigação em Educação. Lisboa: E.S.E. João de Deus

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