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O estatuto do conhecimento

O conhecimentocientífico.
científico.Ciência e semnso comum
Ciência e construção – validade e verificabilidade das hipóteses.

O
estatuto
do
conhecimento
científico.
Estatuto do conhecimento científico. A reflexão filosófica sobre a ciência

CIÊNCIA

Trouxe, ao longo dos tempos, inúmeras


vantagens, comodidades e confortos.

A ciência alcançou um estatuto superior ao de


outras formas de conhecimento.

A maioria das pessoas valoriza a ciência e o conhecimento


científico sob a crença de que são fiáveis e seguros, considerando
que só neles existe rigor cognitivo.

Mas o desenvolvimento da investigação científica e da tecnologia


também trouxe a debate inúmeras questões que nos obrigam a refletir
sobre o valor, os riscos e os limites da própria ciência.
FILOSOFIA DA CIÊNCIA

Área da filosofia que se ocupa do estudo das questões relativas à


prática e ao conhecimento científicos.

«O estudo crítico dos


princípios, das hipóteses «O estudo sistemático da
e dos resultados das «A investigação de
natureza da ciência,
diversas ciências, problemas que surgem
especialmente dos seus
destinado a determinar a da reflexão sobre a
métodos, conceitos e
sua origem lógica (não ciência e a prática
pressuposições.»
psicológica), o seu valor e científica.» (Simon
(Dagobert D. Runes)
a sua importância Blackburn)
objetiva.» (André
Lalande)

• O que é a ciência?
• O que distingue uma boa teoria científica de uma má teoria? Algumas questões
• Qual deve ser o método a adotar em ciência? epistemológicas
• Como progride a ciência?
• Será que o conhecimento científico é objetivo?
• O contexto cultural e social tem alguma influência sobre a atividade científica?
Uma realidade, dois tipos de conhecimento.

Realidade

Pode ser explorada e compreendida de


diferentes modos.

Diferentes níveis de conhecimento acerca da


realidade.

Senso comum
ou Conhecimento
conhecimento científico
vulgar
Caraterísticas do senso comum (conhecimento vulgar)

SENSO COMUM
(CONHECIMENTO VULGAR)

Conhecimento essencialmente prático. Orienta a vida quotidiana.

Resulta da apreensão sensorial espontânea e imediata da realidade.

É não disciplinar e ametódico (ao invés do conhecimento científico).

É um tipo de conhecimento superficial e pouco ou nada aprofundado.

Conjunto de crenças e opiniões subjetivas, suposições, pressentimentos, preconceitos e ideias


feitas que se traduzem num conhecimento superficial e, por vezes, erróneo da realidade.

Serve de alavanca à construção de tipos de conhecimento mais elaborados, como é o científico.


Caraterísticas do conhecimento científico.

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Resulta de uma leitura dos fenómenos diferente da do conhecimento vulgar e de uma atitude
crítica e objetiva face ao real.

É um nível de conhecimento de forte pendor explicativo e sistemático.

Baseia-se em pesquisas e em procedimentos coerentes e consistentes (metódico) relativamente


a um conjunto de pressupostos teóricos.

Faz-se acompanhar de instrumentos de medida

Construção de conceitos e teorias sujeitas a Recurso a uma linguagem específica e rigorosa,


revisões geralmente de carácter matemático (quantitativo)

Procura descrever, explicar e prever os fenómenos e as suas relações, apontando as leis que
presidem a tais fenómenos.
Diferenças entre o senso comum e o conhecimento científico.

Conhecimento vulgar Conhecimento científico


- Confia nos sentidos; - Desconfia dos sentidos;
   
- É predominantemente empírico; - É problematizador e racional;
   
- Manifesta-se numa atitude - Manifesta-se numa atitude crítica;
dogmática;  
  - É explicativo;
- É prático;  
  - É metódico e sistemático;
- É ametódico e assistemático;
- Utiliza uma linguagem rigorosa.
- Utiliza uma linguagem imprecisa.
Tipo de conhecimento superficial, não Tipo de conhecimento aprofundado e
especializado em qualquer domínio, especializado em diferentes domínios,
mas que apresenta respostas construindo explicações dos
imediatas e funcionais, visando a fenómenos e tendo por base uma
resolução dos problemas do dia a dia. organização teórica e um método.
Caraterísticas do conhecimento científico.

Conhecimento científico
Procura ser objetivo. Tem em atenção o facto, excluindo as apreciações subjetivas.

Resulta de um método Tal método apoia-se, no caso das ciências empíricas, na verificação e no controlo
específico (metódico). experimentais – método experimental.
 
Resulta da formulação de
Elas procuram ordenar a diversidade empírica.
hipóteses.
É constituído por um As teorias são hipóteses já estabelecidas e comprovadas.
conjunto de teorias.
Procura leis. As leis exprimem a invariância e a repetibilidade dos factos; muitas vezes, este
conhecimento exprime os factos em termos estatísticos ou probabilísticos.
É preditivo. Prevê a ocorrência de novos fenómenos.

É revisível. Encontra-se sujeito permanentemente a correções e a alterações .

É provisório. Mantém-se como aceitável até surgir outra teoria mais eficaz e mais próxima da
verdade.

A ciência sempre procurou constituir-se como um conjunto de conhecimentos e


procedimentos sistematizados e organizados, tendo em vista a produção de leis e
teorias capazes de descrever, explicar e prever os fenómenos.
Ciência e construção – validade e verificabilidade das hipóteses.
O método científico

Especificidade metodológica
da ciência
MÉTODO
Conjunto de procedimentos, orientados por um conjunto de regras, que estabelecem a
ordem das operações a realizar com vista a atingir um determinado resultado.

A escolha de um método está dependente do objeto de estudo.

O método permite distinguir aquilo que é Problema da


ciência daquilo que é pseudociência. demarcação

• Quais são os procedimentos metodológicos que o cientista deve Procura do


adotar para obter resultados científicos? critério de
• Como podemos reconhecer uma teoria científica? cientificidade
• Qual o critério a adotar na validação das teorias científicas?
• Será que o método é suficiente para garantir a cientificidade do
conhecimento?
A conceção indutivista do método científico

INDUTIVISMO

Perspetiva epistemológica que salienta a importância da indução para a ciência, quer


ao nível das descobertas científicas, quer ao nível da justificação das teorias.

Francis Bacon O conhecimento científico deve fundar-se na indução e na


(1561-1626) experimentação e não na metafísica e na especulação.

A atividade científica obedece à seguinte lógica de procedimentos:

2.Formulação
1.Observação 3.Experimentação 4.Lei
de hipóteses
Operações fundamentais do método científico - indutivismo

Contexto de descoberta
(diz respeito à maneira como ocorreu a descoberta)

O cientista observa os factos ou fenómenos e


regista-os de forma sistematizada para Exemplo:
1. Observação dos procurar encontrar as suas causas. A
Observo que as folhas das
fenómenos observação é neutra, isenta, rigorosa, plantas a, b, c, d, e, f e g são
objetiva e imparcial, devendo ser repetida verdes.
várias vezes. A observação precede a teoria.

Por meio da comparação e classificação dos


casos observados, o investigador procura
aproximar os factos para descobrir a relação Exemplo:
existente entre eles. Assim, recorrendo à
2. Formulação da
indução, ele parte para a formulação da Existe uma substância em todas
hipótese as folhas verdes das plantas que
hipótese, explicação geral acerca dos
fenómenos e das suas relações. Procura-se lhes confere essa cor.
inferir um enunciado geral a partir de
enunciados particulares ou singulares.
Operações fundamentais do método científico - indutivismo

Contexto de justificação
(refere-se ao modo como se justificam os resultados obtidos na descoberta)

A experimentação é o processo de confirmação da hipótese explicativa enunciada.


Esta terá de ser testada e, confirmando-se o que ela propõe, pode passar a lei
3.
científica.
Experimentação /
A experimentação é fundamental para que se possa verificar ou confirmar se as
verificação
relações estabelecidas são aplicáveis a todo o tipo de fenómenos semelhantes (isto
experimental é, nas mesmas condições e da mesma natureza), mesmo sem que tenham sido
observados um por um.

Recorrendo, uma vez mais, à indução, o Exemplo:


4. cientista generaliza a relação encontrada entre
Estabelecimento os factos semelhantes, traduzindo-a numa lei Todas as folhas verdes possuem
da lei geral que expressa as relações constantes entre uma substância – a clorofila –
esses factos. que lhes confere essa cor.
Operações fundamentais do método científico - indutivismo

EXPERIMENTAÇÃO

É fundamental para que se possa verificar e confirmar se as relações


estabelecidas são aplicáveis a fenómenos semelhantes.

Enunciados do indutivismo

Princípio da Princípio de
Princípio da indução
acumulação confirmação

O conhecimento
científico é o resultado Articula a plausibilidade
Há uma forma de, a
de factos bem das leis com o número de
partir da acumulação de
estabelecidos, a que instâncias a que o
factos singulares, inferir
progressivamente se fenómeno a que se refere
enunciados universais.
acrescentaram outros a lei foi submetido.
sem alteração daqueles.
O critério de verificabilidade
O critério de verificabilidade

Verificação da hipótese

Passo necessário para assegurar os resultados da investigação.

Será que é suficiente para garantir que determinada hipótese é de


facto de uma (boa) hipótese ou teoria científica?

Problema da Qual o critério que permite demarcar o conhecimento


demarcação científico de outros tipos de conhecimento?

Filósofos Uma teoria é científica apenas se consistir em


neopositivistas afirmações que sejam empiricamente verificáveis, ou
seja, apenas se for possível verificar empiricamente
(através da experiência) aquilo que ela propõe.

Critério da
verificabilidade
O critério de verificabilidade

Proposição empiricamente
verificável

Proposição cujo valor de verdade pode ser estabelecido


através da observação e da experiência.

“Neptuno possui 14 satélites “Há um anjo negro à entrada


naturais.” da sétima dimensão.”

O que aqui se afirma pode ser Não se pode verificar


verificado pela observação empiricamente o que aqui se
empírica. afirma.
O critério de verificabilidade

Mas será que as teorias e as leis propostas pelos


cientistas podem ser realmente verificadas?

“Há corvos negros.” “Todos os corvos são negros.”

Aquilo que nesta proposição se


Esta proposição é verificável: afirma não pode ser estritamente
podemos verificar aquilo que ela verificado de forma universal, pois
afirma de cada vez que se vê um é impossível saber a cor de todos
corvo. Se o corvo for negro, a os corvos que existiram no
proposição é verdadeira.. passado, que existem e que
existirão no futuro.

Problema da indução
O critério de confirmabilidade

Alguns filósofos neopositivistas afirmam,


porém, que basta que os enunciados sejam
empiricamente confirmáveis

Critério da
confirmabilidade

Não exige uma verificação conclusiva, ajustando-se assim às


generalizações próprias das leis científicas e permitindo, mediante
uma verificação empírica parcial, estabelecer "graus de
confirmação" numa base probabilística.

confirmação da teoria

Este processo é também inconclusivo: pode sempre aparecer uma


observação que ponha em causa a hipótese geral.
Críticas à conceção indutivista do método científico

3.O método indutivista, ligado à


1.Em muitas situações a observação não verificação experimental, assenta num
é o ponto de partida da investigação argumento falacioso: se uma teoria é
científica. Muitas vezes, o ponto de verdadeira, então verifica-se o que ela
partida são os problemas surgidos do prevê; ora, verifica-se o que ela prevê;
confronto entre uma observação e as logo, essa teoria é verdadeira. Estamos
expectativas ou teorias já existentes. perante a falácia da afirmação do
consequente.

2.Ainda que o cientista recorra à


observação, ela não é totalmente
4.O raciocínio indutivo não confere o
neutra, imparcial e isenta de
rigor lógico necessário às teorias
pressupostos teóricos, de expectativas
científicas. É o já referido problema da
face à investigação ou de preconceitos,
indução, levantado por Hume.
ocorrendo sempre num determinado
contexto.
Problema da indução

Problema da indução
(levantado por David Hume)

Baseamo-nos na observação de um conjunto finito de casos particulares para concluir


que todos são assim (generalização) ou que o próximo a ser observado também assim
será (previsão). Há um salto do conhecido para o desconhecido.

Confiamos na indução porque partimos do:


princípio da uniformidade da natureza segundo o qual os fenómenos se repetem e
são previsíveis (ou de que o futuro se assemelha ao passado).

não constitui uma verdade necessária não pode ser provado empiricamente: ele
(a priori), pois não pode ser justificado decorre da experiência anterior e do
pelo pensamento. hábito, sendo igualmente estabelecido
por generalização (isto significa que
recorremos à indução para justificar a
confiança na própria indução).
Princípio da uniformidade da natureza

Princípio da uniformidade da natureza

Decorre do hábito.

Nenhum raciocínio que se baseie em tal princípio pode


garantir rigorosamente a verdade da sua conclusão.

Exemplo

A couve portuguesa é rica em cálcio.


Os brócolos são ricos em cálcio.
A couve lombarda é rica em cálcio.
Logo, todos os legumes são ricos em cálcio.

Esta generalização indutiva não invalida a hipótese de


alguns legumes não serem ricos em cálcio.

Não é possível justificar, com rigor, aquilo que é proposto numa teoria ou lei científica que decorra da
generalização indutiva. O rigor e a verdade do conhecimento científico ficam comprometidos.
Anti-indutivismo de Hume e Popper

David Hume

sublinha o carácter ilusório do indutivismo

Apesar de admitir que o conhecimento científico se constrói por


indução, reconhece que ela não serve para justificar esse
conhecimento, pois não é racionalmente justificável.

Como podemos então garantir a


cientificidade do conhecimento?

Karl Popper

Dissolve o problema
Propõe outro método Propõe outro critério
da indução: ela não
– conjeturas e de cientificidade –
tem o peso que Hume
refutações. falsificabilidade.
lhe atribuiu.
O método das conjeturas e refutações

Karl Popper

Rejeita o critério da
Considera que a especificidade verificabilidade e da confirmação
metodológica da ciência não pode das hipóteses e teorias científicas
assentar na indução. tal como proposto pelo
positivismo lógico.

A construção do conhecimento
O critério de cientificidade das
científico faz-se através de
teorias é o da falsificabilidade.
conjeturas e refutações.
O método das conjeturas e refutações

CIÊNCIA

Faz-se por um processo de construção criativa de


hipóteses– conjeturas – para responder a problemas.

Ao contrário do indutivismo, Popper entende que a


observação não é o ponto de partida do cientista, nem
as teorias resultam de inferências indutivas.

A ciência parte de problemas (ou factos-problemas) e as


teorias começam por ser hipóteses explicativas e
criativas (conjeturas) que terão de ser submetidas a
testes rigorosos, tendo em vista a sua refutação.

2.Hipótese 3.Testes
1.Problema
(conjetura)) (refutação)
O método das conjeturas e refutações

O método de conjeturas e refutações (método hipotético-dedutivo)

“Facto-problema” 1 – Formulação da hipótese ou conjetura a


Exemplo: partir de um facto-problema.
Constata-se que algumas crianças,
mesmo quando bem alimentadas e O ponto de partida da investigação científica são os
sem problema de foro genético problemas ou factos-problemas. Um facto-problema surge,
diagnosticado, revelam um em geral, de conflitos decorrentes das nossas expectativas
crescimento abaixo da média. ou das teorias já existentes. Para o resolver, o cientista terá
Procura-se explicar a razão pela de propor uma explicação provisória – hipótese (ou
qual estas crianças revelam um conjetura): momento criativo da atividade científica,
baixo crescimento. associado à intuição, à imaginação e não à indução.

1 – Formulação da Hipótese
hipótese ou conjetura

Explicação provisória de um dado fenómeno que


Exemplo: exige comprovação; suposição que se expressa
Hipótese 1 – A presença em excesso da num enunciado antecipado sobre a natureza das
hormona X no organismo impede o relações entre dois ou mais fenómenos.
crescimento.
O método das conjeturas e refutações

2 – Dedução das
consequências

Exemplo: Depois de a hipótese ter sido formulada, são deduzidas


Dedução das consequências da as suas principais consequências. Ou seja, na prática o
hipótese 1 – Se a hipótese 1 for cientista procura prever o que pode acontecer se a sua
verdadeira, a redução ou a inibição hipótese ou conjetura for verdadeira.
da produção da hormona X
promoverá o crescimento.
O método das conjeturas e refutações

3 – Experimentação

Agora será necessário descobrir se as previsões que o


cientista fez estão ou não corretas: a hipótese será
Exemplo:
Experiências realizadas com testada, confrontada com a experiência. Os resultados
ratinhos revelam que, nos grupos podem, então, mostrar o “sucesso” ou o fracasso da
em que a hormona X foi conjetura proposta.
administrada em doses
sucessivamente superiores, os • Se uma hipótese for validada pela experiência, é
ratinhos apresentaram um considerada credível e passará a ser reconhecida na
crescimento mais ou menos lento e
comunidade científica – teoria corroborada.
pouco significativo, mesmo quando
bem alimentados; já nos grupos de Mesmo assim, deverá continuar-se a submeter essa
ratinhos que não sofreram essa teoria a testes, cada vez mais severos, de falsificação.
administração, o seu crescimento
foi normal. Este resultado validou a • Se não for validada, temos de a abandonar ou de a
hipótese. Caso não tivesse validado reformular – teoria refutada.
a hipótese, teríamos de a
reformular ou apresentar uma
nova hipótese.
O método das conjeturas e refutações

Validade das hipóteses ou conjeturas

Condições exigidas para a garantir:

É preciso criticá-las, tentar refutá-las, procurar os seus


pontos fracos, submetê-las a testes rigorosos, proceder a
várias tentativas de falsificação..

Só assim é possível o desenvolvimento


do conhecimento científico.

O crescimento do conhecimento avança de velhos para novos


problemas mediante conjeturas e refutações (K. P.).
O método das conjeturas e refutações

O cientista deverá ser crítico em relação às suas teorias.

Este método não se baseia no raciocínio indutivo, mas sim no raciocínio dedutivo.

Os testes experimentais, orientados para a tentativa de falsificação,


obedecem a uma forma de inferência válida, o modus tollens:

P→Q Se a teoria P é verdadeira, então o que ela prevê (Q) ocorre.


Q O que ela prevê (Q) não ocorre.
P Logo a teoria P não é verdadeira.

O método indutivista, visando a verificação das teorias, assenta num argumento falacioso,
cometendo a falácia da afirmação do consequente

P→Q Se a teoria P é verdadeira, então o que ela prevê (Q) ocorre.


Q O que ela prevê (Q) ocorre.
P Logo a teoria P é verdadeira.
O critério de falsificabilidade

POPPER

rejeita o critério da verificabilidade

Segundo Popper, as teorias científicas não são


empiricamente verificáveis.

Para que uma hipótese venha a ser considerada credível,


é preciso procurar refutá-la ou falsificá-la.

Critério da
falsificabilidade

Uma hipótese ou teoria será científica apenas se


for empiricamente falsificável.

Uma teoria é empiricamente falsificável se, e apenas se, for incompatível


com algumas observações possíveis.
O critério de falsificabilidade

Confrontação da hipótese com a experiência

Não visa confirmar a hipótese, mas permitir testar a


resistência que ela tem face às tentativas empreendidas
para a enfraquecer, refutar ou falsificar.

O teste experimental é visto como a procura de


fenómenos que possam infirmar (negar) a hipótese.

Se se encontrar Uma teoria científica é válida enquanto for resistindo à


tentativa de a falsificar empiricamente e é tanto mais A atitude do
um cisne de outra
forte quanto mais resistir. cientista deve ser
cor, teremos de
a de procurar
abandonar e/ou
cisnes de outra
reformular o
O enunciado «Todos os cisnes são brancos» é científico, cor (para
enunciado: este
porque é empiricamente falsificável – para o falsificar, falsificar) e não a
não resistiu à
basta encontrar um cisne de outra cor. de procurar cisnes
falsificação e foi,
brancos (para
efetivamente,
confirmar).
falsificado.
O critério de falsificabilidade

Enunciados

“Surgirá no Céu uma bola de “O cometa Halley aparecerá


fogo.” no ano de 1986.”

Enunciado não falsificável. Enunciado falsificável.

Quanto mais uma teoria é


falsificável, mais
Uma teoria que não é
possibilidades o cientista tem
falsificável nada diz de
de descobrir falhas na sua
significativo sobre os factos.
investigação e de propor
uma nova explicação.

Mais possibilidades de a ciência


progredir.
Graus de falsificabilidade

Quanto mais conteúdo empírico tiver uma teoria,


isto é, quanto mais informação nos der sobre o
mundo, maior é o seu grau de falsificabilidade.

Exemplo:

A afirmação “Todos os corpos são compostos por


átomos” tem mais conteúdo empírico e maior domínio
de aplicação (e, por isso, maior grau de falsificabilidade)
do que a afirmação “O meu corpo é composto por
átomos”.
O critério de falsificabilidade

Critério da falsificabilidade

Permite a Popper responder ao problema da


demarcação.

As teorias científicas são diferentes das não-


científicas (ou das pseudocientíficas), na
medida em que são falsificáveis.

“Deus existe.” “Todos os cisnes são brancos.”

Não pode ser falsificado. Pode ser falsificado.

Não constitui um enunciado Constitui um enunciado de


de carácter científico. carácter científico.
Críticas a Popper

O processo de refutação ou falsificação não é o


procedimento mais comum entre os cientistas. Isto significa que a teoria de
Geralmente, eles procuram confirmar o que as Popper não é descritiva (não diz
teorias científicas propõem; ainda que dada como os cientistas procedem),
observação implique rejeitar uma previsão, tal não mas sim normativa (diz como os
os demove de investigar no mesmo sentido. cientistas deviam proceder).

Considerando a história da ciência, não parece que ela possa evoluir por meio de
conjeturas e refutações: Copérnico, Galileu ou Newton, por exemplo, não abandonaram
Críticas as suas teorias na presença de factos que aparentemente as poderiam falsificar.
a
Popper Popper, com o critério falsificacionista, subestima o valor, para o progresso da ciência,
das previsões bem-sucedidas. É expectável que o cientista se concentre mais nas
previsões bem-sucedidas do que naquelas que são um fracasso. Estas previsões são
fundamentais para o progresso da ciência.

A perspetiva de Popper não parece valorizar o conhecimento científico associado a


resultados positivos. Se há avanços tecnológicos e práticos, temos razões para acreditar
que as teorias científicas que os possibilitaram são verdadeiras e não se reduzem a meras
conjeturas falsificáveis.
A racionalidade científica e a questão da objetividade

História da ciência

Mostra-nos um conjunto de leis, teorias e modelos científicos


sucessivamente revistos ou rejeitados e substituídos por outros mais
eficazes, mais aptos a explicar os fenómenos.

O facto de quase todas as teorias surgidas na história da ciência terem


sido substituídas constituirá um indício de que as que atualmente
vigoram serão também um dia dadas como falsas ou inadequadas?

Karl Popper Thomas Kuhn

Destaca o papel que a


Defende o valor da ciência
história, a sociedade e o
enquanto conhecimento que
modo de ver e de fazer
resulta de um processo
ciência segundo determinado
progressivo de construção de
contexto têm sobre a própria
conjeturas e refutações.
atividade científica.
A evolução da ciência

Karl Popper VERDADE

Correspondência das proposições


científicas à realidade dos factos.

Meta para a qual a ciência avança.

O progresso científico deve ser entendido


como o desenvolvimento da ciência em
direção a um fim que, podendo não ser
alcançável, não deixa de ser pressuposto.

O critério da
falsificabilidade pressupõe Nenhuma teoria, mesmo
que a todo o momento as aquela que é corroborada,
teorias possam ser é completamente definitiva
refutadas. e verdadeira.
Popper - A evolução da ciência

A ciência avança por meio de tentativas e erros

Parte de problemas. P1

Propõe hipóteses ou conjeturas, ou novas teorias-tentativas (TT) de


explicação do mundo, que são provisórias. TT

Vai eliminando os erros (EE), submetendo as teorias à refutação. EE

Conduz, neste processo, à descoberta de novos problemas (P2), e


assim por diante. P2…
Popper - A evolução da ciência

Evolução da ciência: é comparável à evolução das espécies.

Conceção darwinista da Processo de construção da


evolução das espécies ciência

As espécies que melhor


respondem aos desafios que o
ambiente e a natureza As hipóteses
propõem são as que mais sofrem uma espécie de
probabilidades têm de processo de “seleção natural”.
sobreviver.

As teorias mais fortes – as que


As teorias menos aptas – as que
resistem às várias tentativas de
não resistem aos testes
refutação – são as melhores, isto
experimentais – são eliminadas e
é, as que oferecem uma (boa)
dadas como erros.
explicação dos factos.
Popper - A evolução da ciência - a verosimilhança

ERROS

Obrigam o cientista a procurar novas


explicações dos factos ou problemas.

Importância da crítica: critério racional de


progresso científico.

A crítica permitirá a eliminação dos erros e,


consequentemente, o avanço da ciência em
direção à verdade..

O cientista encontra falhas ou erros nas teorias


já existentes e empenha-se na procura de novas
respostas.

Isso impede que a ciência estagne ou se fixe a


qualquer tipo de dogma.
Popper - A evolução da ciência - a verosimilhança

Atitude crítica

Sendo contrária à atitude dogmática, ela


permite ao cientista avançar.

O objetivo do cientista é encontrar a verdade, ainda que essa


tarefa corresponda apenas a uma aproximação à verdade por
intermédio de teorias cada vez melhores.

As teorias científicas nunca são categóricas, mas conjeturais.

A ciência nunca pode afirmar-se como detentora da VEROSIMILHANÇA


verdade: as teorias são sempre falsificáveis.

Mesmo no caso das teorias corroboradas, há sempre a


hipótese de virem a ser refutadas no futuro..

Grau com que uma


Podemos mostrar apenas que dada teoria é verosímil. teoria capta a verdade.
Críticas à perspetiva de Popper

Crítica à perspetiva de Popper

1.Ao considerar a ciência como conjetural e as teorias científicas como


falsificáveis ou refutáveis, o falsificacionismo acaba por abalar a
confiança nessas teorias e nos resultados a elas associados.

2.Sendo falsificáveis e não propriamente verdadeiras, as teorias científicas, em


rigor, não se encontram racionalmente justificadas.
Atividades

Assinale com F as proposições FALSAS e com V as proposições VERDADEIRAS

1. De acordo com a perspetiva indutivista do método científico, os cientistas têm como ponto
de partida problemas, expectativas, hipóteses ou teorias. ______
2. Segundo a conceção indutivista, os cientistas começam por observar a realidade de forma
neutra, imparcial e absolutamente rigorosa. ______
3. De acordo com a perspetiva indutivista, a hipótese é uma generalização construída a partir
de alguns enunciados observacionais. ______
4. A perspetiva indutivista do método científico (muitas vezes também chamada método
experimental) considera que a experimentação tem como papel testar a hipótese, no sentido
de a confirmar. ______
5. Segundo o indutivismo, usa-se a indução quando se parte da observação para a hipótese e
quando se diz que uma dada hipótese está confirmada pela experimentação. ______
6. Para os defensores do indutivismo, o conhecimento científico permite provar enunciados e
acumular verdades sobre o mundo em que vivemos. ______
7. O critério da falsificabilidade é o critério de demarcação sugerido pela conceção indutivista
do método científico. ______
8. O problema da indução levantado pela teoria empirista de David Hume constitui uma
objeção à conceção indutivista da ciência. ______
9. Segundo o critério de demarcação enunciado por Popper, uma teoria é científica se, e só se,
for constituída por enunciados empiricamente verificáveis. ______
Atividades

Assinale com F as proposições FALSAS e com V as proposições VERDADEIRAS

10. A afirmação «Todos os corvos são negros e utilizam o voo para se deslocarem» é um
enunciado empiricamente verificável. ______
11. A afirmação «Alguns corvos são negros e utilizam o voo para se deslocarem» é um
enunciado empiricamente verificável. ______
12.A afirmação «Todos os corvos são negros e utilizam o voo para se deslocarem» é um
enunciado empiricamente falsificável. ______
13. A afirmação «Alguns corvos são negros e utilizam o voo para se deslocarem» é um
enunciado empiricamente falsificável. ______
14.Para Popper, a observação não é o ponto de partida da ciência, uma vez que as ideias e
expectativas que o cientista possui condicionam a sua interpretação dos fenómenos. ______
15.Ao contrário da estratégia indutivista que assenta no critério da verificabilidade, Popper
defende um método hipotético-dedutivo assente na falsificabilidade das hipóteses. ______
16.Na opinião de Popper, a verificabilidade, e não a falsificabilidade, é o critério de
demarcação entre teorias científicas e não científicas. ______
17. Ao contrário de Hume, Popper defende que o problema da indução tem solução, sendo
para este filósofo logicamente possível verificar uma teoria. ______
18. Segundo Popper, as teorias científicas são enunciados universais que não podemos
verificar, pois isso exigiria a observação dos casos possíveis de um dado fenómeno. ______
Atividades

Assinale com F as proposições FALSAS e com V as proposições VERDADEIRAS

19. Segundo Popper, um enunciado universal nunca é logicamente derivável de um enunciado


singular, mas pode ser contraditado por enunciados singulares. ______
20. Para Popper, uma teoria científica tem de ser testável, o que significa, na sua perspetiva,
que tem de ser empiricamente falsificável. ______
21. De acordo com o falsificacionismo de Popper, as teorias científicas que resistem aos testes
deixam de ser suposições ou conjeturas. ______
22. Para Popper, se uma dada teoria resistir aos testes de falsificação, então existem boas
razões para a aceitar e continuar a trabalhar com ela. ______
23. Para Popper, afirmar que um dado enunciado é falsificável significa dizer que o seu
conteúdo é falso ou parcialmente falso. ______
24. Para Popper, afirmar que um dado enunciado é falsificável significa dizer que o seu
conteúdo é verdadeiro ou provisoriamente verdadeiro. ______
25.Quando uma teoria científica é parcial ou completamente refutada, isto é, declarada falsa
ou parcialmente falsa, deve ser corrigida ou substituída por outra melhor. ______
26. No método sugerido por Popper, o método das conjeturas e refutações, defende-se que
existem teorias científicas irrefutáveis. ______
Atividades

Assinale com F as proposições FALSAS e com V as proposições VERDADEIRAS

27. Para Popper, o que garante cientificidade às Leis de Newton é a sua refutabilidade, isto é,
a sua
falsificabilidade. ______
28.Afirmar, por exemplo, que as Leis de Newton estão corroboradas pelos testes significa
defender a sua verdade. _____
29.Popper considera que uma teoria que sobrevive aos testes científicos é uma teoria refutada
ou teoria falsificada.______
30.Apesar de as teorias científicas nunca abandonarem o seu caráter conjetural, Popper
considerava que a ciência pode ser objetiva. ______
31.Para Popper, o conhecimento científico é objetivo, na medida em que uma teoria científica
só se mantém se resistir a testes rigorosos. ______
32.Para Popper, o conhecimento científico é objetivo, dada a forma rigorosa como construímos
as explicações possíveis para o problema e chegamos às hipóteses. ______
33.Não podemos saber objetivamente como é a realidade, mas, de cada vez que eliminamos
um erro, aprendemos como objetivamente não é a realidade. ______
34.Na perspetiva de Popper, a ciência progride ou avança por meio de um processo racional e
crítico de eliminação de erros. ______
Atividades

Assinale com F as proposições FALSAS e com V as proposições VERDADEIRAS

35.Na perspetiva de Popper, de cada vez que corrigimos ou substituímos uma teoria, a ciência
progride ou avança em direção à verdade. ______
36.Se olharmos para a ciência na perspetiva de Popper, podemos afirmar que nada nos
garante que as teorias astronómicas atuais estejam mais próximas da verdade do que as da
Idade Média. ______
37.Quanto maior for o número de falsidades de uma teoria, maior será o seu grau de
corroboração e maior a sua força. ______
38.Uma das grandes vantagens do método de Popper é o facto de este corresponder ao que
realmente se passa na prática científica. ______
39.O método crítico das conjeturas e refutações proposto por Popper valoriza os resultados
positivos do trabalho dos cientistas. ______
40.A ideia de que não temos razões para afirmar que uma teoria científica é verdadeira desafia
as nossas convicções mais elementares sobre ciência. ______
Atividades

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