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ANAIS
IX Encontro Regional da ANPAE Sudeste e
XIII Encontro Estadual da ANPAE-SP
Organizadoras
Angela Maria Martins
Margaréte May Berkenbrock Rosito
Sandra Lúcia Ferreira
Realização
ANPAE - Regional Sudeste
ANPAE - São Paulo
ANPAE - Nacional
Universidade Cidade de São Paulo - UNICID
Produção Editorial
Natália Tripoloni Tangerino Silva
Viviane Lorena Buttros
Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-65238-38-0 (e-book)
CDD371.1
Comissão Organizadora
Apoio e Parcerias
FAPESP
PUCCAMP
UNICAMP – Faculdade de Educação
UNINOVE - PPGE
UNISANTOS – PPGE
USP-Rp – PPGE
Coordenadoras Comitê Científico
Profa. Dra.Theresa Maria de Freitas Adrião – Unicamp
Profa. Dra. Sandra Lúcia Ferreira – Unicid
Profa. Dra. Angela Maria Martins – Unicid/FCC
Comitê Científico
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................... 26
Mariana Pfister
Angélica Kuhn
Sanny S. da Rosa
Carolina Martin
Cileda Perrella
Elizabete Bassani
O ensino fundamental paulistano: para o povo, mas não do Povo ........................ 289
Cristiane Machado
A língua inglesa nas Escolas de Tempo Integral: diretrizes e práticas de ensino . 355
A educação de jovens e adultos e sua dimensão política: o caso de campinas, sp. 366
Egeslaine de Nez
Elides Assumpção
Miguel H. Russo
Gabriela Moriconi
Nelson Gimenes
Roberto Gimenez
Isis S. Longo
Jeanny Silva
Silene Kuin
Yone de Carvalho
12
Sobre políticas públicas e gestão voltadas à educação profissional no Brasil ....... 705
Ligia Elliot
Implantação das diretrizes nacionais para educação nas prisões no estado de São
Paulo ............................................................................................................................ 927
Michele Pazolini
15
Os conselhos escolares e a gestão das escolas públicas entre os anos de 1997 e 2007
...................................................................................................................................... 961
Nilza M. Macario
Luci Hildenbrand
Angela M. da S. Campos
Selma O. Alfonsi
Vera M. N. S. Placco
Roque Lucio
Sandra A.Riscal
José R. Riscal
Steve Ramos
Suely Ferreira
Roberto Gimenez
Wagner Pagliato
Narrativas de crianças de seis anos que estão entrando no primeiro ano do ensino
fundamental .............................................................................................................. 1257
Ayéres Brandão
Cláudia Terra
Cristina Munhaes
Fabio Perboni
A carreira docente no estado de São Paulo à luz da literatura e das fontes legais:
um breve panorama.................................................................................................. 1435
Isabela Ventreschi
Jefferson Riule
Jocinete Figueiredo
Marcela Alvares
Margaret Jann
Formação inicial de pedagogas (os) para a concepção e gestão do currículo ..... 1635
APRESENTAÇÃO
Comissão Organizadora
27
Introdução
Este artigo discute o estado da questão sobre rankings na educação superior
brasileira. Os trabalhos denominados como “estado da questão” (Nóbrega-Therrien &
Therrien 2004, p. 7) procuram “levar o pesquisador a registrar, a partir de um rigoroso
28
Considerações finais
O levantamento do estado da questão acerca dos rankings na educação brasileira
evidencia uma trajetória interessante em relação às tendências a partir das quais o
fenômeno tem sido estudado.
Além da diversidade de matiz teórico conceitual tomada como ponto de partida
das análises dos diversos autores, constata-se que, após um período em que a temática
dos rankings era discutida a partir de parâmetros estabelecidos com base na evolução da
política de avaliação da educação superior implementada pelo Estado brasileiro (como
decorrência, em boa parte, da implementação inicialmente do ENC e, posteriormente,
da sistemática de avaliação do SINAES), os estudos mais recentes tem remetido a
discussão acerca dos rankings para uma dimensão global, internacional, uma vez que
eles vem sendo apontados como elementos diretamente relacionados à emergência da
chamada universidade de classe mundial.
36
Referências bibliográficas
LIMA, Licínio C.; AZEVEDO, Mário Luiz Neves de; CATANI, Afrânio Mendes. O
processo de Bolonha, a avaliação da educação superior e algumas considerações sobre a
Universidade Nova. Avaliação (Campinas), Sorocaba , v. 13, n. 1, mar. 2008.
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
40772008000100002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 30 jul. 2014.
LIMANA, Amir. Desfazendo mitos: o que estão fazendo com o SINAES? Avaliação
(Campinas), Sorocaba, v. 13, n. 3, nov. 2008. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
40772008000300018&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 30 jul. 2014.
MENEGHEL, Stela M.; ROBL, Fabiane; SILVA, Tattiana T. Freitas da. A relação entre
avaliação e regulação na educação superior: elementos para o debate. Educ.
rev., Curitiba, n. 28, dez. 2006. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
40602006000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 30 jul. 2014.
SOUZA, Sandra Zákia Lian de; OLIVEIRA, Romualdo Portela de. Políticas de
avaliação da educação e quase mercado no Brasil. Educ. Soc., Campinas, v. 24, n.
84, set. 2003. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
73302003000300007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 30 jul. 2014.
Comunicação
Resumo: Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que investigou a presença
da Educação a Distância nos processos de formação de professores e tendo como
objetivo principal entender como o estado brasileiro vem utilizando essa modalidade de
ensino na formação dos professores que atuam ou que virão a atuar na educação básica.
Para desenvolvimento da pesquisa foi escolhida a abordagem qualitativa e os dados
foram produzidos por meio de análise bibliográfica e documental a partir da literatura
sobre o tema e de leis e normas que vem organizando essa modalidade no sistema
educacional brasileiro. Os dados revelam que a Educação a Distância vem sendo
assumida como inovação tecnológica importante para o campo da educação. Assim é
cada vez mais utilizada nos processos formativos, tanto pelas instituições privadas
quanto pelo próprio ministério da educação que criou importantes programas de
formação utilizando essa modalidade de ensino.
Palavra chave: Educação a Distância, Formação de Professores, Inovação Tecnológica
e Políticas Públicas.
Introdução
Este trabalho tem como objetivo apresentar os dados de uma pesquisa que buscou
estudar a Educação a Distância no Brasil, buscando entender a presença desta
modalidade de ensino na formação de professores. A ideia de estudar esse tema surgiu
da minha experiência como professor e sociólogo que, no trabalho cotidiano busca
entender o contexto em que está inserido. Assim entender a presença dessa modalidade
1. Mestre em Educação pela Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), Especialista na área de
Política Internacional pela Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais de São Paulo (EPG/FESPSP).
Graduado em Sociologia e Ciência Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo
(FESPSP), Professor de Sociologia e Filosofia para Ensino Médio. ailtonpietri@ig.com.br
2. Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da USP, Supervisor Escolar da Rede Pública
Municipal de São Paulo e Professor do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de
São Paulo.
40
nos contextos formativos emergiu como uma necessidade relacionada com minha
prática enquanto educador preocupado em desenvolver meu trabalho considerando o
contexto social e tecnológico e os recursos que deles fazem parte.
O estudo revela que a educação a distância é cada vez mais presente nos cursos
de formação de professores tanto na formação inicial quanto na formação continuada.
Essa presença é evidenciada não apenas pela quantidade de cursos e programas que
utilizam a educação à distância como ferramenta, mas também como esforço do
Governo Federal no sentido de ampliar o acesso à escolarização e melhorar a formação
de professores já formados utilizando-se deste recurso. Neste sentido destaca-se no
estudo três programas que integram a política de formação de professores que vem
sendo implementada no Brasil. São eles: Universidade Aberta do Brasil (UAB),
Proformação e Pró-Licenciatura.
Para desenvolvimento da pesquisa optei pela abordagem qualitativa e os dados
foram produzidos por meio da análise bibliográfica e documental feita a partir do estudo
da literatura da área e de documentos oficiais por meio do qual o governo brasileiro vem
buscando normatizar essa modalidade de ensino no nosso sistema educacional. A opção
por esse procedimento decorre da constatação que ele é adequado ao objeto de estudo e
aos objetivos da pesquisa. Estudar a questão pareceu bastante relevante, pois ao
examinar a literatura pertinente facilmente constata-se que apesar do vasto material
produzido sobre esse assunto, muitas dúvidas pairaram no ar em relação a essa
modalidade a começar pela falta de consenso na definição do conceito educação à
distância. A definição deste conceito é controversa e, embora na Lei 9.394 seja
empregada a expressão Educação a Distância, há autores como Chaves (1999) que
consideram esse termo impróprio.
Hoje, através da internet, das tecnologias, dos livros, filmes, programas
educativos, de televisão, etc é possível ensinar a distância a todo tempo e a todo o
momento, onde quer que o indivíduo se encontre. Percebe-se a superação de muitas
barreiras geográficas antes impossíveis de ser transpostas sem os recursos tecnológicos
hoje disponíveis. Neste sentido vale atentar para Chaves (1999) quando afirma que
ensinar a distância é algo perfeitamente normal e possível graças a essas facilidades que
têm contribuído para isso, pois com esforço, empenho e dedicação é possível aprender.
Segundo Chaves (1999),
Ensinar a distância, porém, é perfeitamente possível e, hoje em dia,
ocorre o tempo todo -- como, por exemplo, quando aprendemos
através de um livro que foi escrito para nos ensinar alguma coisa, ou
41
Federal. O sistema de Universidade Aberta (UAB)2 foi instituído pelo Decreto 5.800, de
8 de junho de 2006.
O sistema se volta prioritariamente para a formação de professores tanto no que
se refere à modalidade inicial quanto à continuada. Essa opção revela o entendimento de
que o poder público acredita que melhorar a formação dos professores constitui passo
importante no processo de melhoria da qualidade da educação.
O Decreto estabelece também o regime de colaboração entre os entes
federativos como metodologia adotada para que o sistema cumpra suas finalidades e
objetivos, “mediante a oferta de cursos e programas de educação superior a distância
por instituições públicas de ensino superior, em articulação com polos de apoio
presencial” (Art. 2º).
Além disso, é também estabelecido pelo referido decreto os critérios para
organização do sistema, a necessidade de garantia de padrão de infraestrutura e recursos
humanos adequados e a fonte de recursos necessários ao seu desenvolvimento.
2- Proformação
Outro programa governamental que merece destaque quando se refere às
políticas públicas de formação de professores é o Proformação3. Este programa tem
como foco a formação, a capacitação de professores que se encontram no exercício da
docência sem a titulação mínima legalmente exigida, os chamados professores leigos.
Foi criado como estratégia para aprimorar o desempenho do sistema de Educação
Fundamental em todas as regiões do país.
Para desenvolvimento do programa é utilizada a educação a distância e conta
com material impresso, videográficos e encontros presenciais. As atividades do
programa são concentradas nos períodos de férias e aos sábados e também utiliza no
processo de formação atividades de práticas pedagógicas desenvolvidas nas escolas
onde os professores atuam. Oferece aos participantes, habilitação para o magistério na
modalidade normal.
Sua criação teve início em 1997, a partir da articulação entre a Secretaria de
Educação a Distância do Ministério da Educação e Cultura – SEED/MEC, e o Fundo de
Fortalecimento da Educação – FUNDESCOLA e, além desses órgãos, envolve também
os Estados e Municípios, onde sugeriram, por meio de celebração de parcerias, o
desenvolvimento deste programa. Tendo iniciado nas regiões Norte, Nordeste e Centro-
Oeste do país. A implantação das primeiras turmas – o chamado Grupo I – aconteceu
em 1999, como um Projeto Piloto, nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
capacitando em junho de 2001, cerca de 1.323 professores.
Já no ano de 2000, foi implantado o Grupo II, abrangendo outros Estados como
Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí,
Rondônia, Sergipe e Tocantins, onde mais de 22.056 professores foram habilitados.
Este programa foi financiado pelo Fundescola que administra recursos
provenientes do Banco Mundial. Desde o lançamento do Proformação, o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), tem sido parceiro da Secretaria de
Educação a Distância (SEED), na sua execução.
Para concretização deste programa foi muito importante à utilização das novas
tecnologias que permitiram que o programa fosse concretizado por meio da Educação a
Distância. O desafio que hoje se coloca para o MEC é consolidar o programa e expandi-
lo, transpondo as barreiras regionais encontradas na área educacional em nosso país.
No proformação4, o funcionamento ocorre pela modalidade de Educação a Distância,
utilizando materiais de autoinstrução (vídeo e impresso), produzidos especialmente para
o curso com atividades individuais e coletivas, além de um serviço de apoio ao
aprendizado realizado pela equipe de professores formadores e por tutores.
3- Pró-Lincenciatura
Finalmente destaco outro programa criado pelo Ministério de Educação e
Cultura (MEC), e que também exemplifica a utilização da educação a distância como
ferramenta de formação pelo estado brasileiro que é o Pró-Licenciatura. Esse programa
foi criado em 2005, com objetivo de oferecer formação inicial à distância a professores
em exercício nos anos/séries finais do ensino fundamental ou ensino médio dos sistemas
públicos de ensino, que não possuíssem habilitação legal, ou seja, licenciatura para o
exercício da função.
Por meio deste programa o governo procura implementar uma política pública
de formação inicial em parceria com as instituições de Ensino superior com objetivo de
superar as deficiências da formação dos professores que atuam nos sistemas públicos de
ensino.
4
Disponível em <http://proformacao.proinfo.mec.gov.br/estrutura.asp> acesso em 17 de julho de 2014.
44
Considerações Finais
Embora seja um tema hoje muito estudado, a educação à distância ainda desperta
muita polêmica, pois reforça as discussões sobre inovação em um campo marcado pelo
tradicionalismo. A ideia de inovação associada à utilização de novas tecnologias nos
processos educativos tem sido um dos princípios organizadores das propostas de
educação a distância. A pesquisa fez emergir uma questão importante que me fez
refletir: É possível o oferecimento de Educação de qualidade na modalidade à distância?
Os dados da pesquisa revelam que podemos sim, ter a oferta de uma educação à
distância com qualidade, muito embora essa modalidade seja vista com certa
desconfiança.
A pesquisa revela ainda que a educação a distância vem se consolidando no
campo da formação acadêmica e profissional. Hoje, aquele que atua em qualquer área
dificilmente poderá exercer sua profissão sem recorrer às novas tecnologias e à
possibilidade de receber e transmitir informações a distância. Essa situação vem
forçando professores a se aperfeiçoarem cada vez mais, inclusive para utilização desse
recurso no exercício da profissão.
Com relação à presença do ensino a distância na formação de professores
criação dos programas é possível perceber que o estado brasileiro por meio do
Ministério da Educação e das Secretarias Estaduais e Municipais de educação vem
investindo nesta modalidade por meio do incentivo ao surgimento de cursos que a
utilizem e também por meio da criação de programas que utilizam as tecnologias para
proporcionar o ensino a distância, como acontece com os programas Universidade
Aberta do Brasil (UAB), Proformação e Pró-Licenciatura.
A criação e a implantação desses programas na área educacional têm
demonstrado amadurecimento e coragem dos governos nas políticas de formação e
aperfeiçoamento dos nossos professores, em todo o país. Há que ressaltar o empenho e a
disposição deles nessa luta, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Referências Bibliográficas
BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. Campinas. SP: Autores Associados,
1999.
Comunicação
Introdução
Desde a década de 1960, o tema das necessidades formativas dos profissionais da
educação vem ganhando relevo, sobretudo devido à divulgação das necessidades dos
educandos, tanto crianças e jovens quanto adultos, assim como em função da
multiplicidade de reformas educacionais realizadas nos diferentes países. A principal
área de desenvolvimento de estudos e ações sobre as necessidades formativas, sobretudo
nas décadas de 1980 e 1990, tem sido a da formação de professores no conjunto
denominado de educação continuada (RODRIGUES e ESTEVES, 1993) e, mais
48
1
Trata-se do texto de Howey, K. Six major functions of staff development: an expanded imperative.
Journal of Teacher Education, vol. 36, n. 1, p. 58-64, 1985.
51
educacional com foco nos processos de ensino, gestão e inovação, o curso teve sua
primeira turma constituída no início de 2014, quando foram aprovados vinte e cinco
candidatos para tais vagas ofertadas. Até o momento (julho de 2014) cursaram duas
disciplinas obrigatórias, uma das quais se dedica ao estudo de algumas bases para
elaboração dos projetos de pesquisas.
No decorrer do semestre, em diversas situações instalou-se, deliberadamente, o
debate com os alunos sobre as angústias, preocupações e necessidades de enfrentar
problemas vigentes no dia a dia de suas funções, oportunidades preciosas para a coleta
das informações de acordo com os princípios apresentados no item anterior para
possibilitar o atendimento às necessidades formativas de modo a que se garanta o
esforço pedagógico próprio para a solução.
2.3. Resultados
A primeira análise realizada permitiu a constituição de oito grupos com atuação
profissional similar. Tais grupos estão caracterizados no Quadro 1 em relação à
frequência de incidência e tempo de exercício. As demais informações estão articuladas
nas análises gerais com as inquietações manifestas.
2
Um aluno desenvolve ações relacionadas a atividades esportivas e outro aluno atua como orientador
educacional na mediação entre escola e instituições que abrigam alunos infratores.
54
Algumas considerações
Um estudo caracterizado como exploratório não exige considerações finais de
encerramento. Sua natureza é a de explorar, como o próprio nome está esclarecendo.
Neste caso considerou-se que poderia ser uma forma de adquirir maior familiaridade
com o tema básico num curso novo que focaliza o ensino e a gestão na relação com a
inovação, ou seja, no combate aos problemas enfrentados pelas escolas. Desse modo,
percebeu-se o potencial das ações para tal finalidade, qual seja, a de descobrir idéias e
discernimentos para o desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa. Como se verificou na
síntese apresentada, o teor das manifestações esteve o tempo todo voltado para o
aspecto pedagógico seja para o desenvolvimento profissional deles próprios seja para
que possam desempenhar suas funções voltadas para o desenvolvimento profissional de
profissionais aos quais eles precisam ajudar no desempenho de suas funções de ensino e
gestão.
Assim, os que procuram os cursos constituem parte fundamental no conjunto, pois
o princípio de que as questões deles compõem o núcleo acadêmico profissional do curso
é representativo das reais dificuldades enfrentadas pela educação brasileira mediante as
quais se buscam fundamentos para a reflexão e proposição de soluções e de auxílios.
Com tais ações de formação e envolvimento, se apropriam do processo de produção de
seu próprio trabalho desenvolvendo tecnologia por seu próprio esforço no
enfrentamento de suas tarefas.
Além disso, a análise das necessidades formativas submetidas à reflexão pode
permitir a constituição de um inventário de problemas, de dificuldades e suas soluções a
partir de dentro das instituições, na esteira das expectativas presentes na portaria
anteriormente citada permitindo identificar que há concordância com os objetivos da
mesma. A partir da continuidade das ações previstas para o curso de mestrado
profissional em educação, e com base nessa primeira coleta de informações, várias
hipóteses e estudos podem ser desencadeados como os que investiguem razões pelas
quais gestores educacionais ou assessores pedagógicos – que têm como uma de suas
principais atribuições a formação em serviço dos profissionais sob sua responsabilidade
56
– manifestam limitações para tal apesar de longa experiência ou, porque a maioria dos
alunos afirmam ter conhecimento limitado da políticas educacionais ou ações centrais
em seu cotidiano.
Referências
BRASIL. Lei 9394/1996 que Institui as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Brasília, 1996.
Comunicação
1 INTRODUÇÃO
Este texto tem por objetivo analisar a prática do planejamento educacional, o qual inclui
formas de participação de diversos atores sociais na ação de planejar a educação, no
início do século XXI. Considera, para tanto, em linhas gerais, o período de 1930 a 1985
tendo em vista a trajetória de construção do Plano Nacional de Educação. Reconhece
que tal movimento de formulação das políticas públicas não se dá de maneira unívoca
de/para, mas se coaduna às lutas, às resistências e às formas de produção objetiva da
existência humana.
Como já fora sinalizado, trata-se de parte de uma pesquisa bibliográfica e documental
mais ampla realizada em função do Mestrado em Educação apoiada em fontes
58
secundárias e primárias. Para análise das fontes, apoiou-se nas contribuições de Kosik
(1976) de que para investigar a “coisa em si” e compreendê-la é necessário considerar a
lógica da totalidade. Tal procedimento articulou-se, dentre outros critérios, à perspectiva
de análise das políticas educativas de Barroso (2004); Delvaux (2009); Maroy (2011);
perspectiva esta que salienta a emergência de novos marcos regulatórios.
Sendo assim, o ponto de partida para a análise aqui empreendida assenta-se no conjunto
de reformas implantadas na educação brasileira nos anos 1990 e 2000, período em que
ocorrem transformações importantes no campo político, econômico, social e
educacional que sinalizam, de alguma forma, modificações estruturais no processo
produtivo da sociedade. Estas transformações, por seu turno, incidiram sobre o
planejamento educacional tendo em vista a inserção do Brasil no projeto econômico
capitalista global.
Sob esta lógica, tornou-se mais acentuado a presença de discursos pautados na
eficiência e na produtividade como forma de modernizar o Estado brasileiro
combinados com políticas de cunho democráticas, como a expansão da oferta escolar,
sobretudo do ensino fundamental; a celebração da diversidade em suas diferentes
clivagens1 (étnicas, sexistas, culturais e etc.); as conquistas no que diz respeito à
participação da sociedade civil na experiência de elaborar um Plano Nacional de
Educação por meio de fóruns e conferências. Ao mesmo tempo, observa-se o fomento
de políticas que buscam a inserção do país no contexto da globalização, sob o apelo de
modernizar a gestão pública e privada para atender à nova reestruturação do capital.
Nessa configuração, Ferreira e Oliveira (2009) advogam que a expansão do ensino
fundamental sofreu um processo de massificação, pois, imputou-se à escola, dentre
outras incumbências, a responsabilidade de gerenciar a pobreza e garantir às famílias
pobres acesso aos programas de assistência à pobreza via matrícula e outros
condicionantes.
1
As discussões sobre essas clivagens, obviamente, são importantes; todavia, acredita-se que tais aspectos
devam ser analisados sob a lógica da totalidade e da justiça na perspectiva radical, considerando a
prioridade ontológica do trabalho e, portanto, do humano. Parte-se do pressuposto de que é impossível ao
ser humano exercer seus direitos políticos e civis, de modo pleno, se antes não lhe estiverem assegurados
os direitos econômicos (ESTÊVÃO, 2004).
59
sobre a qual o ser humano se apoia para produzir e tecer todas as suas relações. Sobre
esta base situa-se uma dimensão superestrutural, sob a qual se fixam dois grandes
planos como destaca o pensador italiano Gramsci (1982): a sociedade civil (forjada por
um conjunto de organismos denominados “privados”) e a sociedade política ou Estado
(marcada por sua função “hegemônica” em que o grupo dominante exerce sobre toda a
sociedade). Enquanto instância política que expressa as ambiguidades e os conflitos das
relações sociais desiguais e de exploração, o Estado ajusta as relações buscando
minimizar os desequilíbrios que emergem das relações sociais, fundamentalmente,
desiguais.
A constatação da emergência de um novo contexto regulatório se assenta nessa
perspectiva. Desse modo, no cenário contemporâneo, enquanto se contempla o
surgimento de grandes grupos econômicos, de nações e de pessoas tentando exercerem
o domínio uns sobre as outros, celebra-se, em certa medida, a diversidade, haja vista um
intenso processo de migração e de circulação de pessoas pelo mundo. Não obstante, a
globalização do capital, a fragmentação e a focalização vividas pela sociedade desde o
último quartel do século XX, culminaram em um contexto de profundas incertezas
decorrentes do estranhamento do homem em relação aquilo que o constitui: o trabalho.
Diante das mudanças estruturais ocorridas especialmente nos últimos 20 anos no que
concerne à relação entre Estado e sociedade civil, os conceitos de regulação2 e ação
pública ganham destaque face o caráter complexo e flexível decorrente da
multiplicidade de atores em torno de processos decisórios. Na ação pública são
consideradas, simultaneamente, as ações das instituições públicas e as de uma
multiplicidade de atores, públicos e privados, provenientes tanto da sociedade civil
quanto da esfera estatal agindo conjuntamente, em ritmo de múltiplas interdependências
em nível local, nacional e global a fim de produzirem formas de regulação das
atividades coletivas (MAROY, 2011; DELVAUX, 2009).
Gohn (2003) evidencia esta assertiva. Para autora, ao final dos anos 1990 emergem
vários movimentos sociais no país: movimentos dos caminhoneiros, dos homossexuais,
dos afro-brasileiros, dos indígenas, dos ecologistas, dos moradores de rua, movimento
2
O conceito de regulação é imprescindível à categoria ação pública, salienta Maroy (2011). Oriundo da
biologia, o termo regulação ganhou precisão conceitual nos anos 1970 sob a influência do pensamento
estrutural-marxista na Escola Francesa. A sociedade é vista como um corpo autorregulável. Nessa lógica,
a ideia não precede às interações e produções humanas, a sociedade também não segue a mesma dinâmica
do corpo biológico, mas existe uma dinâmica conflituosa na produção das regras do jogo social.
60
3
Segundo Gohn (2003) uma das características marcantes dos movimentos sociais anti-globalização
ocorridos entre 1998 e 2002 foi a heterogeneidade. Destacam-se, dentre as entidades que participaram das
manifestações: organizações religiosas, organizações ambientalistas, movimentos anarquistas,
movimentos pelos direitos humanos, ONGs, movimentos rurais, sindicatos, organização de empresários e
movimentos estudantis.
61
curto espaço de tempo, de 1946 a 1964, com a ressalva de que analfabetos não votavam
e de que o país vivenciara média de três séculos de escravidão (CUNHA, 1991;
MARTINS, 2011).
Endossando a perspectiva dos autores supracitados, Ferreira (2013), Trigueiro (1976),
Horta (1982) destacam a preponderância de uma estrutura tecnocrática na organização
pública nos anos 1930 e especialmente no período da ditadura militar. A estrutura
tecnocrática era composta de um corpo de especialista, cuja função principal era
analisar, planificar e controlar o trabalho dos outros elementos da organização pública a
fim de contribuir para acumulação do capital.
Face à profunda fragmentação vivenciada nos dias atuais, este Fórum é composto por 35
segmentos da sociedade civil, entre eles: a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT); a Associação Brasileira das
Universidades Comunitárias (ABRUC); a Comissão Assessora de Diversidade para
Assuntos Relacionados aos Afrodescendentes (CADARA); a Comissão Nacional de
Educação Escolar Indígena (CNEEI); a Confederação Nacional da Indústria (CNI); a
4
Dentre os segmentos que participaram da CONAE, destacam-se: as Centrais Sindicais dos
Trabalhadores, a Confederação dos Empresários e do Sistema “S”, o Movimentos de Afirmação da
Diversidade, a Entidades de Estudos e Pesquisa em Educação, a Representação Social do Campo e
Órgãos e Secretaria do governo.
64
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No período compreendido entre as décadas de 1930 a 1980, durante o regime de
acumulação mais rígido do capital, com predomínio de um Estado centralizador,
evidenciou-se a permanência de uma regulação burocrático-profissional com restritos
espaços de participação social.
A partir dos anos 1990 é possível observar a emergência de uma regulação pós-
burocrática haja vista o caráter compósito, fragmentário e complexo na elaboração das
políticas educativas. A CONAE e o Fórum Nacional de Educação, enquanto espaços
democráticos de discussão e proposições, confirmam tal caráter. Nesse sentido, a
relativização do impacto nos momentos decisórios apresenta uma feição de não ser
conduzida somente pelo Estado unificado, mas sob uma multiplicidade de atores que
apresentam interesses díspares, atores oriundos tanto da esfera pública quanto da esfera
privada. Trata-se de uma ação que se desenvolve, simultaneamente, em cenas
interdependentes, entre atores públicos e não públicos, em cenário local, nacional e
global.
Se por um lado, verifica-se os mecanismos em voga como elementos que tendem a
mascarar as relações de classe, por outro, considerando os períodos selecionados para
análise, certifica-se que no processo de elaboração das políticas educativas, o
66
4 REFERÊNCIAS
DELLA FONTE. S. S. Amor e paixão como facetas da educação: a relação entre escola
e apropriação do saber. Botucatu. São Paulo, v. 11, n. 22, 2007. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832007000200012>.
Acesso em: 07 mai. 2014.
Comunicação
Resumo: Em meio a muitos casos de conflito e violência que tomou conto do cotidiano
escolar a Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo (SEE/SP) lança, por
meio da Resolução SE 19/10, o Sistema de Proteção Escolar, inserindo nas escolas
públicas estaduais o Professor Mediador Escolar e Comunitário (PMEC) com função de
resolver pacificamente os conflitos e desenvolver ações preventivas com foco na
educação para a paz. Foram também formulados documentos impressos para auxiliar na
implantação do sistema, bem como disponibilizado um sistema on-line de registro de
ocorrências escolares. Com base em experiência profissional, enquanto gestora do
projeto na Diretoria de Ensino de Itaquaquecetuba, observação do trabalho realizado
pela equipe de PMECs, conteúdo programático do Curso de Mediação Escolar, revisão
bibliográfica e de legislação pretendo aqui fazer uma ponderação entre teoria e prática e
demonstrar as fragilidades do Sistema de Proteção Escolar.
Palavras-chave: mediação, professor mediador, proteção escolar.
INTRODUÇÃO
Vivemos em uma sociedade dilacerada pela violência que vem fazendo parte de
nossas vidas cotidianas. Desde uma palavra ofensiva até uma agressão física que causa
não só um trauma físico, mas também psicológico, convivemos diariamente com uma
diversidade de formas de violência. Passamos a viver na insegurança, o medo tem nos
levado ao isolamento, pois confiamos cada vez menos no próximo e isso tem minado as
relações humanas.
A violência se tornou algo comum e, para Tavares dos Santos (2009, p.25), “... a
sociedade parece aceitar a violência, ou resignar-se, incorporando-a como prática social
e política normal e coletiva...”.
A sociedade atual tem vivido uma violência generalizada onde as crianças e
jovens são facilmente atraídos para o mundo do crime, encantados por uma vida fácil.
São crianças e jovens normalmente de lares socialmente vulneráveis e convivem com as
69
Com a implantação do projeto pode-se afirmar que a SEE/SP enfim admitiu que o
conflito e a violência imperam nos espaços escolares e que eles afetam diretamente os
processos de ensino e aprendizagem. Desse modo,
[...] Reconhecer a conflitualidade e a agressividade como elementos
dinâmicos do espaço escolar significa propor intervenções sobre os atos de
violência, as quais podem se dar pela satisfação da necessidade das crianças e
jovens, criando um ambiente cooperativo e humanista, induzindo
relacionamentos positivos e duradouros [...] (TAVARES DOS SANTOS,
2009, p. 49).
(manhã, tarde e noite), desconsiderando que poucas escolas atendem tal perfil e que
muitas concentram quantidades maiores de turmas nos períodos manhã e tarde,
ultrapassando inclusive as 30 turmas previstas, porém, com distribuição desigual nos
três turnos. E por qual motivo a SEE/SP faria tal limitação? Não seria mais justo que a
limitação se baseasse apenas no número total de turmas sem contar os turnos?
Com relação à seleção dos PMECs, de acordo com o parágrafo 1º do artigo 7º da
Resolução SE 19/2010 (SÃO PAULO, 2010a), estes devem ser selecionados entre os
professores da rede estadual de ensino por meio de análise do perfil mais adequado à
função. Todavia, a mesma resolução impôs uma ordem que priorizava os titulares de
cargo adidos1 e os docentes readaptados2, com isso, a SEE/SP demonstrou estar mais
preocupada em promover uma ocupação para os professores que, por algum motivo
estavam sem aulas, considerando que tais professores receberiam seus proventos
normalmente, do que propriamente em selecionar candidatos com perfil adequado ao
desempenho da função de PMEC, pois ainda que os professores passassem por todo
processo de avaliação de perfil, ao serem classificados de acordo com a prioridade
prevista na resolução não era garantia de que o professor adido ou readaptado teria
perfil mais adequado que os demais.
Além disso, a citada resolução, limitando a escolha entre os professores da rede,
sem possibilidade de participação de outros profissionais no projeto, acabou levando os
Gestores Regionais e Diretores de Escola à escolha de professores que até pouco tempo
estavam envolvidos nos conflitos da sala de aula, que relatavam não estar mais
suportando ter que lidar com alunos, sem experiência ou conhecimento acerca dos
processos de mediação de conflitos e sem perfil para desenvolver uma função tão
complexa.
Percebendo talvez a necessidade de diminuir as limitações de escolha e melhorar
o perfil dos PMECs, a SEE/SP apontou na Resolução SE 01/2011 (SÃO PAULO,
2011a), em seu artigo 3º, uma nova ordem de prioridade, acrescentando em primeiro
lugar o titular de cargo docente da disciplina de Psicologia que se encontre na condição
de adido. Contudo, tal medida continua caracterizada como uma forma de alocar
aqueles professores que estão sem aulas, considerando não haver na grade curricular do
Estado de São Paulo a disciplina de Psicologia e, por isso, a existência de alguns
(poucos) professores desta disciplina adidos. Tal mudança não parece ter alcançado
1
De acordo com Decreto Estadual nº 42.966/98 (SÃO PAULO, 1998).
2
De acordo com Lei 10.261/68 (SÃO PAULO, 1968).
74
mas na prática esta se coloca mais como um órgão regulador do que formador. Como
formador, a supervisão central tem promovido anualmente, desde 2012, o Seminários de
Proteção Escolar, onde são realizadas palestras e discussões diversas acerca de conflito
e violência escolar e, em 2013, em parceria com a Secretaria de Segurança Pública,
ofereceu o curso de Justiça Restaurativa aos PMECs, no entanto, apenas um número
limitado pode participar, pois não havia vaga para todos, o que gerou certa indisposição
entre os PMECs e Gestores Regionais, os responsáveis pela escolha dos participantes.
Ora, se todos desempenham a mesma função e têm as mesmas necessidades de
desenvolvimento de competências próprias ao bom desempenho das funções, porque a
SEE/SP, em mais uma clara demonstração de total descaso para com o projeto, não
estendeu o curso a todos os profissionais atuantes, inclusive aos gestores do programa?
Vale salientar que os gestores foram impedidos de participar do curso, apesar de toda
sua carga de responsabilidade em relação à formação dos PMECs.
A despeito de toda problemática envolvida na questão da seleção de PMECs com
perfil adequado, a falta de conhecimentos específicos e necessários ao bom desempenho
da função e a formação deficitária oferecida, a SEE/SP resolve, por meio da Resolução
SEE 54/2013 (SÃO PAULO, 2013b), reduzir o número de encontros para orientações
técnicas descentralizadas, que antes eram dois encontros quinzenais de quatro horas ou
um encontro mensal de oito horas, para no máximo oito encontros anuais com carga
horária de seis a oito horas, denotando mais uma vez descaso para com a questão da
formação e para com o Sistema como um todo.
Manuais de apoio:
As Normas Gerais de Conduta Escolar (SÃO PAULO, 2010c) estão contidas em
uma cartilha impressa e foi distribuída às escolas da rede a partir de 2010. O documento
apresenta os direitos, deveres e responsabilidades dos alunos, bem como a conduta em
ambiente escolar.
Já na introdução do documento, à página 05, uma afirmação da SEE/SP chama
atenção:
Esta busca do pleno desenvolvimento é um processo dinâmico, ao longo do
qual, com frequência, eclodem conflitos complexos que podem causar
perplexidade e insegurança aos jovens, uma vez que ainda não
desenvolveram plenamente as habilidades sociais indispensáveis para
enfrentar tais situações. Não raro, surgem insatisfações e frustrações
decorrentes dessas experiências negativas, o que pode deflagrar
comportamentos indesejáveis – ou até mesmo inadmissíveis – em um
ambiente escolar apropriado para a construção de suas personalidades.
3
Tem por objetivo promover práticas inovadoras que aprimorem a qualidade dos serviços públicos.
78
Tal afirmação leva a crer que os jovens recebem uma formação para o
desenvolvimento de competências e habilidades necessárias ao enfrentamento dos
conflitos, contudo, essa não é a realidade das escolas públicas da rede estadual de
ensino, não havendo no currículo oficial do estado de São Paulo a previsão do estudo de
tal assunto, “... a violência e o conflito são temas banidos do universo escolar ou mesmo
do universo social...” (CRHISPINO E CHRISPINO, 2011, p. 32). “... Parece-nos
importante que as escolas incorporem progressivamente os conceitos e as habilidades de
resolução de conflitos no currículo...” (VINYAMATA, 2005, p. 52).
Além disso, a própria formação dos professores é deficitária tanto com relação
ao desenvolvimento das competências e habilidades em seus alunos quanto ao próprio
enfrentamento das questões de conflito e violência aos quais estão diariamente expostos,
de forma que Jarez (2001, p. 59) questionou “como é possível que, na formação inicial e
continua dos professores, esta situação (a natureza conflituosa da escola) não seja objeto
de análise nem eles sejam formados na perspectiva de um contexto de conflito...?”.
O que causou mais polêmica à época do lançamento do documento foi o
apontamento das medidas disciplinares de suspensão por cinco dias letivos e suspensão
por seis a dez dias letivos, à página 13 do referido documento. Ora, se o aluno tem
pleno direito à educação, conforme previsto no artigo 205 da Constituição Federal de
1988 (BRASIL, 1988), e artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei
8069/90 (BRASIL, 1990), ao aplicar tais penalidades não estariam os gestores
incorrendo no direito do aluno? Além disso, o Parecer CEE 67/98 (SÃO PAULO, 1998)
foi bastante claro com relação a essa questão, ao apontar, no parágrafo único do artigo
25, que “A escola não poderá fazer solicitações que impeçam a frequência de alunos às
atividades escolares...”.
Assim é que o documento lançado pela SEE/SP, contrariando suas orientações e
a própria legislação, causou grande impacto entre os gestores, sendo que para uns trouxe
alívio, pois encontraram respaldo em um documento oficial para uma ação costumeira,
para outros trouxe problemas, pois sendo contra a aplicação de tal medida disciplinar, se
viram coagidos pelo grupo docente que exigiam a aplicação da medida a qualquer
tempo e por qualquer motivo. Diante da polêmica gerada a Gestão Central do SPEC
informou que o documento seria revisado e uma nova edição lançada, no entanto, tal
documento continua circulando e sendo utilizado livremente nas escolas como
parâmetro legal para aplicação de medidas disciplinares, ainda que tal documento não
possa sobrepujar a lei.
79
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Sistema de Proteção Escolar se mostra como mais um programa paliativo da
SEE/SP que parece ter sido criado para dois propósitos: dar uma resposta aos anseios da
sociedade sobre a questão da violência escolar que só vem avançando e alocar os
professores adidos. Contudo, parece estar tendo mais êxitos com relação a este do que
àquele.
Para que a resposta à sociedade não seja apenas floreada, como parece estar
acontecendo, há que se considerar as reais necessidades da escola e prover um programa
expressivo de resolução pacífica dos conflitos e combate à violência, com uma seleção
que verdadeiramente contemple os perfis adequados dos candidatos, com abertura à
participação de outros profissionais, com quantidade de profissionais e carga horária de
trabalho mais condizente às necessidades da escola, com possibilidade de afastamento
do professor das aulas regulares para se dedicar exclusivamente ao projeto,
considerando sua complexidade e peculiaridades, com oferecimento de treinamento e
formação adequadas à função e estendida a todos os envolvidos com o projeto.
Já está se completando o quinto ano da implantação do projeto na rede estadual
de ensino. Como os PMECs estão garantindo a solução pacífica dos conflitos e a
diminuição dos índices de violência na escola? Aliás, isso está de fato ocorrendo? A
SEE/SP tem feito a avaliação dos resultados do projeto? Com base em que? Estaria a
SEE/SP acreditando ingenuamente nos dados do ROE ou os sub-registros lhe são
convenientes? Tais inquietações motivam esta pesquisadora a continuar com a pesquisa
da qual faz parte este artigo.
80
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
GRAEFF, B.P.; ANGELI, F.M. Sistema de Proteção Escolar. In Prêmio Mario Covas
2011. Disponível em
<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:S6O40phVm
10J:www.premiomariocovas.sp.gov.br/2012/arquivos_m8/GE_494.doc+&cd=1&hl=pt-
BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em 22/06/2014.
______. Governo do Estado. Lei nº 10.261, de 28/10/1968. Dispõe sobre o Estatuto dos
Funcionários Públicos Civis do Estado. Disponível em:
<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1968/lei-10261-28.10.1968.html>.
Acesso em 20/06/2014.
Comunicação
1. Introdução
1
Importante destacar a extinção da Secretaria de Educação a Distância (SEED). Ação que implicou
na vinculação dos programas e ações oferecidos pela SEED à Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão - SECADI, conforme informações vinculadas ao site do MEC.
85
apresentado por Souza e Teixeira (2010) em uma pesquisa que analisou se os objetivos
da formação foram realmente alcançados.
O contexto da organização e da oferta do Programa em parceria com a
Universidade Federal do Acre (UFAC), será apresentado por Damasceno, Melo e Souza
(2013), pesquisa que analisou a efetividade da especialização e seu papel de formação.
Já o contexto da realidade do Programa Nacional Escola de Gestores em parceria
com a Universidade de Goiás (UFG), será apresentado por Elias e Alves (2010),
pesquisa que se preocupou com avaliação dos títulos dos trabalhos de conclusão de
curso dos cursistas/gestores.
A primeira evidencia que emerge nesse diálogo é apontada por Souza e Teixeira
(2010) e Damasceno, Melo e Souza (2013), autores que apresentam o perfil dos
cursistas/gestores do estado do Paraná e do estado do Acre de maneira a refletirmos
sobre o Programa Nacional Escola de gestores.
No estado do Paraná, 21,5% dos profissionais que participaram da formação
possuíam entre 10 e 15 anos de experiência atuando na educação e 51,6% mais de 20
anos.
Com base nos dados do SAEB 2007, Souza e Gouveia (2010) apresentam
informações do Programa Escola de Gestores no Paraná:
[...] 63,5% dos diretores de escola no Brasil já possuem uma especialização.
Entre os cursistas da Escola de Gestores um percentual alto (45%) já possuía
formação. Curioso é que no caso da rede estadual, 63% dos cursistas
possuíam especialização, contra apenas 25% dos cursistas das redes
municipais (SOUZA E GOVEIA, 2010, p.182).
2
FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Perfil dos diretores de escola da rede pública. Apresenta vários
estudos voltados à area educacional. Disponível em: http://www.fvc.org.br/pdf/diretores.pdf. Acesso em
18 de março de 2014.
87
3
FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA. Estudos e pesquisas educacionais. Perfil dos diretores de escola da
rede pública. Apresenta estudos voltados para a área educacional. Disponível em:
http://www.fvc.org.br/pdf/Apresentacao_Diretores.pdf. Acesso em 18 de março de 2014.
89
Quantidade Temática
14 Gestão Democrática
13 (In)Disciplina
11 Evasão Escolar
10 Avaliação Escolar
08 Relação Escola-Família
07 Conselho Escolar
05 Dificuldades de Aprendizagem
Diretor Escolar
Participação
04 Violência
03 Educação e Ambiente
Projeto Político Pedagógico
Fracasso Escolar
02 Aluno
Relações Humanas e Afetividade
Educação Especial
Leitura
Qualidade
01 Pedagogo
Jogos
Grêmio Estudantil
Formação Continuada
Associação de Pais e Mestres
Fonte: Souza e Teixeira, 2010, p.8, adaptado pela autora.
Para Elias e Alves (2010) o que chama a atenção em primeira instância é a escolha
de temas muito pedagógicos, que na análise das autoras dificilmente são trabalhados
pela gestão da escola: “[...] dificuldade de aprendizagem, processo de ensino-
aprendizagem, leitura e escrita, dificuldade em matemática [...]”. Para essa análise as
autoras evidenciam três hipóteses
No transcorrer do curso, houve eleições para os cargos executivos, tanto na
esfera estadual como na municipal. Como, em muitos municípios de Goiás, a
escolha dos gestores escolares ainda se dá por meio de indicação política,
muitos cursistas que ocupavam esses cargos retornaram às suas práticas
docentes, o que pode ter mobilizado um conjunto de problemáticas de caráter
mais pedagógico. Outra hipótese é a de que a dimensão pedagógica tenha
sido considerada pelos gestores-alunos uma problemática premente nas
instituições escolares exigindo uma intervenção rápida e adequada. Ainda é
possível considerar uma terceira hipótese, que não descarta a anterior, de que
os alunos do curso, ainda que ocupando cargos de gestão, entendessem que
suas funções na escola estivessem relacionadas, também, às práticas
pedagógicas ali desenvolvidas e, nesse sentido, considerariam ter uma
contribuição a dar à instituição escolar em que atuam em relação a estas
questões [...] (ELIAS; ALVES, 2010, p. 328).
Esta é uma forma de pensar a formação dos educadores escolares que não
toma o pedagógico como objeto de estudo da administração, e com isso deixa
o processo incompleto, alijando o pensamento administrativo escolar de uma
de suas partes mais importantes, porque não pensa a atividade-fim, o
processo pedagógico, como realmente é, como atividade adequada a
objetivos que precisam ser racionalmente mediados (PARO, 2009, p. 465).
4
O Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE Escola) previa o planejamento estratégico para organizar
as ações das escolas brasileiras. O programa até o ano de 2005 atendia exclusivamente "Zonas de
Atendimento Prioritário" (ZAPs) das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, áreas com baixos Índices
de Desenvolvimento Humano (IDH). Após a publicação no ano de 2005, dos primeiros resultados do
IDEB, o MEC identificou a necessidade de criar estratégias para envolver as escolas com baixo IDEB a
melhorarem seus índices. Momento que opta pela adoção do PDE Escola, visando ampliar o
financiamento, por meio do Fundescola, com objetivos de melhorar a gestão escolar, a qualidade do
ensino e a permanência dos alunos na escola. Disponível em: http://pdeescola.mec.gov.br/index.php/o-
que-e-pde-escola. Acesso em 04 de abril de 2014.
92
4. Considerações
5. Referências
a-de-gestores-da-educacao-basica-apresentacao&catid=300:escola-de-gestores-da-
educacao-basica&Itemid=693. Acesso em 20 de novembro de 2013.
ELIAS, Carime Rossi. ALVES, Miriam Fábia. Formação continuada em EaD: sobre o
que escrevem os gestores de escolas públicas de Goiás. Inter-Ação, Goiânia, v. 35, n. 2,
p. 323-340, jul./dez. 2010.
GIL.Antônio Carlos. Como elabora projetos de pesquisa. 4. Ed. São Paulo: Atlas,
2002.
GOMES, Alfredo Macedo. SANTOS. Ana Lúcia Felix dos. MELO, Darci Barbosa Lira
de. Escola de gestores: política de formação em gestão escolar. RBPAE – v.25, n.2, p.
263-281, mai./ago. 2009.
Comunicação
INTRODUÇÃO
1
Importante mencionar que o governador Mário Covas Júnior, faleceu no dia 6 de março de 2001. Com a
sua morte assumiu o governo do estado, o então vice-governador Geraldo Alckmin, passando a pasta da
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, a partir de 2002, aos cuidados do professor Dr. Gabriel
Chalita.
2
O Fundef foi instituído pela Emenda Constitucional n.º 14, de setembro de 1996, e regulamentado pela
Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano e pelo Decreto nº 2.264, de junho de 1997. Foi
implantado, nacionalmente, em 1º de janeiro de 1998, quando passou a vigorar a nova sistemática de
redistribuição dos recursos destinados ao Ensino Fundamental. A maior inovação do Fundef consiste na
mudança da estrutura de financiamento do Ensino Fundamental no país (1ª a 8ª séries do antigo 1º grau),
ao subvincular a esse nível de ensino uma parcela dos recursos constitucionalmente destinados à
Educação. A Constituição de 1988 vincula 25% das receitas dos Estados e Municípios à Educação. Com a
Emenda Constitucional nº 14/96, 60% desses recursos (o que representa 15% da arrecadação global de
Estados e Municípios) ficam reservados ao Ensino Fundamental. Além disso, introduz novos critérios de
distribuição e utilização de 15% dos principais impostos de Estados e Municípios, promovendo a sua
partilha de recursos entre o Governo Estadual e seus municípios, de acordo com o número de alunos
atendidos em cada rede de ensino. Genericamente, um fundo pode ser definido como o produto de
receitas específicas que, por lei, vincula-se à realização de determinados objetivos. O Fundef é
caracterizado como um fundo de natureza contábil, com tratamento idêntico ao Fundo de Participação dos
Estados (FPE) e ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM), dada a automaticidade nos repasses de
seus recursos aos Estados e Municípios, de acordo com coeficientes de distribuição estabelecidos e
publicados previamente. As receitas e despesas, por sua vez, deverão estar previstas no orçamento, e a
execução contabilizada de forma específica (BRASIL. MEC, sítio eletrônico).
3
O Fundeb foi criado pela Emenda Constitucional nº 53/2006 e regulamentado pela Lei nº 11.494/2007 e
pelo Decreto nº 6.253/2007, em substituição ao Fundef, que vigorou de 1998 a 2006. É um fundo
especial, de natureza contábil e de âmbito estadual (um fundo por estado e Distrito Federal, num total de
vinte e sete fundos), formado, na quase totalidade, por recursos provenientes dos impostos e
transferências dos estados, Distrito Federal e municípios, vinculados à educação por força do disposto no
art. 212 da Constituição Federal. Além desses recursos, ainda compõe o Fundeb, a título de
complementação, uma parcela de recursos federais, sempre que, no âmbito de cada Estado, seu valor por
aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmente. Independentemente da origem, todo o recurso
gerado é redistribuído para aplicação exclusiva na educação básica. Com vigência estabelecida para o
período 2007-2020, sua implantação começou em 1º de janeiro de 2007, sendo plenamente concluída em
97
2009, quando o total de alunos matriculados na rede pública foi considerado na distribuição dos recursos
e o percentual de contribuição dos estados, Distrito Federal e municípios para a formação do Fundo
atingiu o patamar de 20%. O aporte de recursos do governo federal ao Fundeb, de R$ 2 bilhões em 2007,
aumentou para R$ 3,2 bilhões em 2008, R$ 5,1 bilhões em 2009 e, a partir de 2010, passou a ser no valor
correspondente a 10% da contribuição total dos estados e municípios de todo o país (BRASIL. FNDE,
sítio eletrônico).
98
Tabela 1
Exercício Valor Total geral BG* Educação % **
1995 2.737.160.245,92 19.640.204.403,00 13,9365%
1996 3.551.628.966,00 31.588.879.776,42 11,2433%
1997 3.701.335.092,00 90.135.744.095,72 4,1064%
1998 5.676.613.846,00 40.661.383.578,67 13,9607%
1999 6.116.616.193,00 42.321.644.125,33 14,4527%
2000 6.913.458.119,00 45.421.278.152,00 15,2207%
2001 7.620.700.297,00 48.738.834.884,31 15,6358%
2002 8.349.898.473,00 54.206.996.666,00 15,4037%
2003 9.156.780.984,00 59.561.447.000,00 15,3737%
2004 9.872.987.984,00 68.357.582.883,50 14,4431%
2005 10.926.946.592,00 77.751.538.936,00 14,0537%
2006 12.422.047.245,00 88.111.182.566,00 14,0982%
2007 13.183.969.201,00 98.859.243.136,00 13,3361%
2008 15.595.523.466,00 123.900.581.935,90 12,5871%
2009 16.293.683.651,00 136.135.828.130,00 11,9687%
2010 19.072.896.811,00 155.085.671.393,00 12,2983%
Fonte: Secretaria da Fazendo (sítio eletrônico) - Dados coletados em: 02/01/2012.
* Total Geral BG (Total Geral do Balanço Geral do Estado de São Paulo).
** Participação percentual da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo no Balanço Geral
do Estado de São Paulo.
É importante dizer que nos gastos apresentados na tabela acima, com relação aos
gastos dos órgãos da SEESP, no período de 1995 a 2010, é possível verificar uma
tendência de aumento gradativo de aplicação de recursos em Administração Superior
Secretaria e Sede, Conselho Estadual de Educação, Departamento de Suprimento
Escolar, Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande de São Paulo,
99
esta que corrobora com o estabelecido na constituição do estado de São Paulo no artigo
255. O artigo define que o Estado aplicará, anualmente, na manutenção e no
desenvolvimento do ensino público, no mínimo, 30% (trinta por cento) da receita
resultante de impostos, incluindo recursos provenientes de transferências, sendo que
para a consecução do previsto na constituição estadual paulista, no tocante aos 30% por
cento das receitas resultantes de impostos, deve ser considerado os gastos com a
SEESP, Secretaria de Ciência e Tecnologia e as Universidades Estaduais Paulistas
(USP, UNESP e UNICAMP), e todas as outras áreas/despesas que envolvam gastos
com a função orçamentária da educação.
No segundo governo Mário Covas, após sua reeleição em 1998, e continuidade da
professora Teresa Roserley Neubauer da Silva como principal gestora da Secretaria
Estadual de Educação, evidencia-se gastos da SEESP no balanço orçamentário de 1999
a 2002, no Balanço Geral do Estado (BGE) e a participação percentual da referida
secretaria. Nos mencionados balanços verifica-se que nos gastos gerais da SEESP não
existiram variações significativas durante o período de 1999 a 2002, com percentuais de
14,4527% em 1999 para, 15,2207% em 2000, 15,6358%, em 2001 e com 15,4037% em
2002. Todavia, em termos de valores monetário-financeiros, houve aumentos
significativos perfazendo os seguintes números: 1999 (R$ 6.116.616.193,00); 2000 (R$
6.913.458.119,00); 2001 (R$ 7.620.700.297,00); e 2002 (R$ 8.349.898.473,00).
No ano de 1999, segundo ano de vigência efetiva do Fundef, confirmou-se e
reiterou-se o parâmetro de redistribuição dos recursos monetário-financeiros para a
educação pública, com volume de recursos superiores aos verificados nos anos de 1995
a 1998, em especial a este último. Em termos percentuais foram aplicados 14,4527% do
total de recursos do Balanço Geral do Estado de São Paulo.
No ano de 2000, terceiro ano de efetiva implantação do Fundef, houve a aplicação
de gastos na SEESP no valor de R$ 6.913.458.119,00, perfazendo 15,2207%, com
substancial aumento de valores monetário-financeiros e percentuais quando comparados
ao ano de 1999. Nos anos de 2001 e 2002, constatou-se que os gastos com a SEESP
somaram R$ 7.620.700.297,00 e R$ 8.349.898.473,00, respectivamente, com variação
percentual de 15,6358% em 2001, para o gasto geral do Balanço Geral do Estado de São
Paulo de R$ 48.738.834.884,31 e 15,4037% em 2002, de um total de R$
54.206.996.666,00.
Os dados analisados permitem dizer que durante o governo Mário Covas/Geraldo
Alckmin (1999 a 2002) a aplicação média foi de 15,1750%, no âmbito da SEESP, o que
101
Considerações Finais
maior acompanhamento e controle social, por parte dos recursos financeiros relativos à
educação paulista.
Conclui-se da análise dos dados dos balanços orçamentários da SEESP, no
contexto do Balanço Geral do Estado de São Paulo, que ocorreu aumento nominal dos
valores monetário-financeiros, no período de 1995 a 2010, durante os governos do
PSDB, no comando do poder executivo paulista.
Ocorreu o cumprimento dos percentuais constitucionais previstos, nas
constituições federal e paulista, 25% e 30%, respectivamente, em manutenção e
desenvolvimento do ensino, tanto que as contas do poder executivo estadual paulista e
dentre essas, as relativas a SEESP foram aprovadas pelo Tribunal de Contas e a
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
O fato de ocorrer aumento quantitativo dos recursos financeiros investidos na
SEESP, no período de 1995 a 2010, durante os governos do PSDB, na chefia do poder
executivo paulista e o consequente atendimento do previsto nas constituições federal e
estadual paulista, não resultou necessariamente na melhoria da qualidade de ensino, da
carreira do magistério oficial paulista e das condições estruturais e de funcionamento
das escolas estaduais paulistas.
Em suma, o estabelecimento de mínimos constitucionais para aplicação em
manutenção e desenvolvimento do ensino não assegura, de forma efetiva a garantia de
uma educação pública, gratuita e de qualidade social.
Estudos como o de Santos (2013), corroboram a necessidade de ampliar o escopo
de pesquisa e análise a respeito do financiamento da educação no Brasil para além da
vinculação constitucional para manutenção e desenvolvimento do ensino, do Fundef e
do Fundeb e temas congêneres e correlatos.
Existe uma diversidade de assuntos e temáticas que interferem no processo de
financiamento da educação no Brasil, contudo não são contemplados nos livros, artigos
e nos periódicos acadêmico-científicos da área de educação.
REFERÊNCIAS
Comunicação
Introdução
Tabela I
Escolaridade dos Professores da Educação Básica – Brasil - 2007
Professores de Educação Básica
Escolaridade
Ensino Médio Superior
Total
Fundamental Normal/ Ensino
Com Licenciatura Sem Licenciatura
Magistério Médio
1.882.961 15.982 474.950 103.341 1.160.811 127.877
Fonte: INEP (BRASIL, 2009d).
Plano para a frequência às aulas presenciais e para se dedicar ao estudo no caso dos
cursos a distância. Esse é um grande desafio dos Fóruns, cuja criação é condição para a
participação das Unidades Federadas no referido Plano.
Os 26 Fóruns Estaduais Permanentes de Apoio à Formação Docente estão
encarregados, segundo o decreto, das funções de: elaborar e acompanhar a execução de
um plano estratégico; definir prioridades e metas do programa em cada estado;
coordenar as ações de formação de professores e de propor ações específicas para
garantia de permanência e rendimento satisfatório dos professores da educação básica.
A pesquisa aborda justamente como se dá os encaminhamentos nos Fóruns para
o cumprimento da função de coordenar as ações de formação de professores e garantir
ou não da permanência e rendimento dos mesmos. Para isso, a metodologia se pautará a
análise das atas das reuniões dos fóruns e dos relatórios produzidos pela CAPES.
Esses Fóruns, compostos por representantes de diversos segmentos envolvidos
na execução do Plano, serão responsáveis pela elaboração de Planos Estratégicos, e
sendo uma das imputações à definição de ações a serem desenvolvidas para o
atendimento das necessidades de formação inicial e continuada, nos diferentes níveis e
modalidades de ensino, e também, a definição das responsabilidades de cada partícipe,
com especificação dos compromissos assumidos, inclusive financeiros. (BRASIL,
2009c).
O plano estratégico de cada Estado está circunscrito pelo decreto nº 6.755, de 29
de janeiro de 2009, que em seu Art. 5º aponta o que deve ser observado:
I - diagnóstico e identificação das necessidades de formação de
profissionais do magistério e da capacidade de atendimento das
instituições públicas de educação superior envolvidas; II - definição de
ações a serem desenvolvidas para o atendimento das necessidades de
formação inicial e continuada, nos diferentes níveis e modalidades de
ensino; e III - atribuições e responsabilidades de cada partícipe, com
especificação dos compromissos assumidos, inclusive financeiros.
Nos fóruns percebe-se que houve o esclarecimento do papel dos mesmos, e a ata a
seguir representa bem os registros existentes nos vários fóruns:
Aspectos formais do Plano Nacional de Formação de Profissionais do
Ministério da Educação Básica, destacando suas etapas: a primeira etapa
inclui diagnóstico da situação dos professores e planejamento; a segunda
etapa inclui inscrição e validação na Plataforma Paulo Freire, e a terceira
etapa seria a construção do sistema de formação com o respectivo
acompanhamento e avaliação. (Ata da Reunião de Implementação do Fórum
de Apoio a Formação Docente – Acre, 23/02/2010)
Aparentemente, as sínteses das reuniões dos fóruns estão muito mais canalizadas
para discorrer ou ratificar sobre assuntos operacionais, do que propriamente amadurecer
consensos sobre as intencionalidades dos planos estratégicos a partir de sua elaboração e
acompanhamento até sua execução. Não há menção sistemática sobre uma preocupação
entorno das assertivas das políticas curriculares. O foco se reflete muito dentro do
fragmento:
Passou-se à definição dos critérios que nortearão a construção do documento,
ficando, portanto, para a segunda licenciatura: a) Que o professor/candidato
esteja atuando fora da sua área de formação; b) Que tenha no mínimo dois
anos de docência e, c) Pertencer, preferencialmente, ao quadro efetivo,
podendo ser atendidos (Ata da reunião ordinária do Fórum Permanente de
Apoio à Formação Docente do Estado do Amazonas, 04/05/2010).
Considerações Finais
Referências
Comunicação
Introdução
O texto que se apresenta integra-se ao projeto de pesquisa em rede, intitulado
“Indicadores de Qualidade e Gestão Democrática”1 cuja problemática é discutir a
qualidade da escola básica referente aos indicadores de desempenho, gestão
democrática e avaliação em larga escala. Os estudos que integram o projeto têm a
finalidade de investigar a avaliação institucional e da aprendizagem, os indicadores de
desempenho dos sistemas de ensino e determinantes da qualidade do ensino das escolas
públicas.
Nesse contexto, os objetivos desta pesquisa são desenhados a partir da
seguinte questão: quais as representações sociais de diferentes membros da escola
1
Projeto Observatório da CAPES – Edital n.038/2010.
119
utilização de meios, então, pode-se afirmar, com Russo (2005), que a gestão é mediação
entre os recursos (meios) e os resultados (fins).
A especificidade da administração escolar ocorre justamente porque a
administração enquanto mediação não é um fim em si mesma, seus objetivos são os
objetivos do que é administrado e, no caso, a administração deve organizar-se em torno
de suas finalidades, os objetivos da escola. Nas palavras de Russo (2005, p. 37), a
educação, como prática humana de formação de sujeitos históricos, “exige formas de
organização do trabalho que priorizem as relações solidárias e cooperativas, fundadas
nos princípios do diálogo e da persuasão, isto é, de relações entre iguais”.
Ora se a gestão é mediação, vale destacar quais são os meios e os fins da
educação. Caminhando nessa perspectiva, Paro (1986) reserva à educação dois papéis
fundamentais: transmitir o saber historicamente acumulado e desenvolver uma
consciência crítica da realidade. É importante assinalar que, assim como Paro (1986),
Saviani (2008), ressalvadas suas especificidades, enfatiza a necessidade de transmitir o
saber historicamente acumulado na escola. Reconhecer a existência de um
conhecimento que precisa ser socializado não anula a atividade do aluno e a importância
da construção de novos saberes além do que fora historicamente produzido.
Vale ressaltar que, dessa forma, a qualidade da educação não está diretamente
relacionada a uma medida que pode ser verificada externamente ou a metas
estabelecidas de cima para baixo. A qualidade relaciona-se a uma formação que está
além de conhecimentos quantificáveis, que envolve valores e atitudes, relações
pedagógicas humanas e democráticas. Nesse ponto, cabe ressalvar a importância da
avaliação externa para o sistema de ensino, para avaliar, para conhecer e servir de
parâmetro para reorganizar o ensino, embora sejam reconhecidas suas limitações em
qualificar o que não pode ser quantificado.
Nesse ponto, é preciso introduzir algumas considerações referentes ao
procedimento de avaliação em larga escala. Diferentes autores abordam a avaliação
externa, seus resultados e/ou efeitos para as escolas e questionam certos aspectos. Sobre
os problemas atrelados à avaliação externa, Martins (2002, p.163) destaca que
É inegável que realizar a avaliação em larga escala sobre os resultados
obtidos pela escola constitui um importante indicador para que os gestores do
sistema de ensino possam corrigir os problemas do fluxo escolar e reorientar
as decisões e medidas legais. No entanto, esses mecanismos podem limitar
sobremaneira as possibilidades para a ampliação do exercício da autonomia
da escola, caso continuem desconsiderando o incentivo à auto-avaliação, bem
como a possibilidade de gestão de seus recursos.
122
Essa mesma autora enfatiza ainda que a avaliação tal como é realizada “não
parece captar a complexidade da dinâmica intra-muros escolares e tampouco suas
características qualitativas, isto é, sua cultura, seus valores, a interação e os conflitos
entre os pares e entre estes e a comunidade” (MARTINS, 2002, p. 136).
Tendo em vista que os resultados obtidos são indicadores do desempenho dos
alunos, é preciso compreender que a avaliação em larga escala não é ruim ou prejudicial
em si mesma. Em outra pesquisa (GARCIA, 2010) foi apontado que as críticas
relacionadas a essa avaliação residem na utilização equivocada desses parâmetros, tanto
pela escola como pelo Estado, o que provoca a disputa no interior e entre as escolas via
criação de rankings educacionais e incentivos financeiros. O que poderia se constituir
em um referencial para melhorar e aglutinar esforços visando à melhoria da qualidade
termina por responsabilizar, culpando ou punindo quando metas não são atingidas.
No que se refere às políticas de avaliação da educação e sua apropriação pelas
escolas, Sousa e Oliveira (2003, p.883) acrescentam que
Não se pretende, com as considerações aqui esboçadas, desprezar o valor da
avaliação externa, onde se situa a apreciação do trabalho escolar pelas
instâncias administrativas do sistema, a qual, no entanto, não deve se traduzir
na aplicação de testes de rendimento escolar. Potencializar a dimensão
educativa/formativa da avaliação certamente supõe a promoção da autonomia
pedagógica e didática da escola e não a sua conformação, que se realiza
quando se delimita que conhecimento deverá ser legitimado pela escola, cujo
cumprimento é condição para sua premiação.
2
Os dados do IDESP utilizados como referência foram os de 2011, ano de início da realização desta
pesquisa.
123
Com relação à gestão escolar, nota-se que há uma divisão das funções nas
escolas, uma separação hierárquica, na qual o diretor, assume o topo da hierarquia e
aparece como responsável pela gestão escolar: “[...] É tudo bem separadinho. [...] A
gente tem uma diretriz, mas eu como vice, sou diferente da diretora e da coordenadora.
Eu acho assim, que no fim, elas são as chefes entre parênteses.” (Vice, Escola A, 2013);
“Ela (a diretora) direciona, é como se fosse a nossa luz [...] porque tudo tem uma
hierarquia também” (Professora, Escola A, 2013).
Na Escola B, a vice diretora do Programa Escola da Família que atua como
coordenadora durante a semana mencionou sobre o diretor que “a parte burocrática ele
que vai atrás” (Coordenadora, Escola B, 2013).
Já na fala da vice diretora de Itu, a equipe gestora, composta pela diretora, vice
e coordenadora, assume essa função de direção: “A gente toma as decisões juntas. As
três.” (Vice, Escola C, 2013).
Apesar de as falas indicarem o diretor ou a equipe gestora como responsáveis
por tomar as decisões na escola, é comum falas que defendem que a gestão escolar é
democrática. A palavra democrática foi mencionada por todos os entrevistados das
Escolas B e C quando indagados sobre a gestão escolar ou a organização do trabalho:
“Eu procuro sempre assim... tomar as decisões democraticamente, tanto na parte
financeira, dos recursos financeiros que a gente recebe da Secretaria da Educação e do
MEC, vejo com os colegiados, a APM [...]” (Diretora, Escola C, 2013). E, na Escola B,
a coordenadora enfatizou que: “Nós temos uma gestão bem democrática,
participativa...”. Quando questionada sobre o que seria essa gestão democrática,
mencionou que ocorre “porque o diretor é uma pessoa muito transparente, ele dá
espaço” (Coordenadora, Escola B, 2013).
Cumpre assinalar nessa fala que a gestão dita democrática depende de uma
concessão do diretor. Nas palavras de Paro (2008, p.18-19) “se a participação depende
de alguém que dá abertura ou que permite sua manifestação, então a prática em que tem
lugar essa participação não pode ser considerada democrática, pois democracia não se
concede, se realiza: não pode existir ‘ditador democrático’”.
Cabe ressaltar que, na Escola A, com maior IDESP, nenhum entrevistado
mencionou a palavra democrática quando questionado sobre a organização do trabalho,
a gestão escolar ou a função do diretor na escola.
Por meio das entrevistas, buscou-se uma relação entre a gestão e a qualidade do
ensino com a finalidade de investigar de que forma a organização do trabalho escolar
125
3
Lei Estadual Nº 7.030, de 30 de julho de 2007
126
Lógico que a gente fica numa super ansiedade! Mas a gente está trabalhando
desde o início do ano. A gente trabalha diariamente. Isso está na nossa cabeça
diariamente e, fora isso, fora as avaliações semanais, tem as avaliações que a
gente troca os professores na escola. (Professora, Escola A, 2013)
Ah, a gente faz vários simulados, a gente vem preparando os alunos.
(Coordenadora, Escola B, 2013)
Merece destaque, além das ações como preparar os alunos para a avaliação
externa por meio de simulados, uma cultura de avaliação que foi construída na Escola
A. Semanalmente, todos os alunos da escola são avaliados nos moldes da avaliação
externa. Os professores, com o auxílio da coordenadora da escola, tabulam os
resultados, quantificando os alunos que atingiram ou não as competências que serão
avaliadas pelo SARESP com o objetivo de direcionar e, quando necessário, replanejar, o
trabalho pedagógico da escola.
A seguir, são tecidas algumas considerações acerca da temática e das
entrevistas realizadas nas escolas.
4
A esse respeito ver a Resolução – 74, de 6-11-2008, a qual institui o Programa de Qualidade da Escola
(PQE) e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDESP).
127
Considerações Finais
REFERÊNCIAS:
NÓVOA, A. Para uma análise das instituições escolares. In: NÓVOA, A. (org). As
organizações escolares em análise. Lisboa, Portugal: Publicações Dom Quixote 1995.
________. Gestão democrática da escola pública. 3ª ed. São Paulo: Ática, 2008.
SOUSA, Sandra Zákia Lian de; OLIVEIRA, Romualdo Portela de. Políticas de
avaliação da educação e quasemercado no Brasil. Educ. Soc. 2003, vol.24, n.84, p. 873-
895.
130
Relato de experiência
INTRODUÇÃO
1
Acadêmica do 6º período do Curso de Geografia Universidade do Estado do Amazonas – UEA/CES-
Parintins e bolsista do PIBID/CAPES.
2
Professor do Curso de Geografia da Universidade do Estado do Amazonas – UEA/CES-Parintins e
Coordenador do subprojeto PIBIB/CAPES.
131
3. METODOLOGIA
discentes não podem levar seu material didático para casa, ou seja, os livros são
utilizados apenas em sala, assim nos perguntamos se isso tem coerência, nos foi
explicado que os alunos por adentrarem às 7 da manhã e saírem as 16horas da tarde de
segunda a sexta, deveriam desenvolver todas as atividades no recinto da escola, o que
nos indignou por sabermos que a educação, o conhecimento e o estudo é uma extensão
da escola e deve ser uma prática continua e diária principalmente nesta fase de
construção de saberes intelectuais e sociais na formação dos indivíduos.
Reinventar o profissional foi importante para achegar-nos ao alunato e dar uma
nova cara ao ensino de geografia, visto que há anos atrás a geografia ensinada não atraía
os alunos; não havia uma consciência da importância dos conteúdos ensinados por essa
matéria, o saber por ela veiculado era inútil e sem significado para os alunos
(CAVALCANTE, 2008). Foi na tentativa de refrear essa visão maçante e ultrapassada
do ensino que ousamos a dizer que fizemos a diferença no ensino de uma geografia para
a vida, a cada encontro os alunos eram incentivados a trazer notícias e relacioná-las com
a realidade e a geografia.
Em cada atividade proposta em sala de aula os discentes abordavam diferentes
contextos sociais, em que comentavam as notícias, localizando o lugar onde ocorria o
fato, o continente entre outros aspectos que nos permitiu incentivá-los a geografar fora
dos muros da escola relendo seu mundo e buscando opiniões próprias dos fatos sociais.
A atividade no primeiro dia foi cumprida mediante indicação de quem teria o
compromisso de trazer a notícia nas aulas, subsequentes eles (os alunos),
desempenharam de forma autônoma o solicitado tendo uma aprendizagem significativa,
pois, nas palavras de Ausubel (1982), para que o aprendizado seja significativo são
necessárias duas condições a primeira o aluno precisa ter disposição para aprender e em
segundo, o conteúdo deve ser significativo, cada indivíduo faz uma filtragem do que
tem importância para si próprio, o que nos levou a compreender que o aprendizado
ocorre pela forma que o discente se sinta atraído, ou seja, deve-se estimulá-lo a gostar
do que se propõe a ele.
Cada momento na prática de ensino foi revelador e marcante, em uma exposição
sobre o conteúdo relevo o qual foi divido em três etapas, no primeiro dia ao final da aula
propusemos no término do conteúdo construir exemplos de relevo em maquete, grande
foi à surpresa na segunda aula, os discentes trouxeram o material para fazer suas
maquetes, mesmo estes sabendo que a atividade era para o encerramento do conteúdo.
135
O material visual foi um dos recursos utilizados nos encontros com os alunos, o
uso de filmes, slides, maquetes, jornais e jogos fomentaram a socialização
aluno/professor, munidos da proposta do subprojeto Formação de professor: Priorizando
o ensino de Geografia. Assim foram elaboradas as dinâmicas envolvendo a coletividade
discente, o estudo de grupo para os jogos de perguntas e respostas dos conteúdos de
geografia o que resultou no comprometimento dos alunos com a disciplina
exteriorizando a aprendizagem.
Estas atividades possibilitaram um olhar especial em relação ao ensino e quão
importante é conscientizarmo-nos durante a formação acadêmica da necessidade do
ensino/aprendizagem, sermos críticos e reflexivos não apenas no ensino de geografia,
mas como um todo.
136
A Figura (03) mostra através do jogo de tabuleiro a cada jogada do dado uma
pergunta era feita e diante da resposta certa se avançava a quantidade de casas
referenciada no dado, está dinâmica envolveu o grupo docente e promoveu um destaque
especial para o Ensino de Geografia.
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
HAIDT, Regina C. Cazaux. Curso de Didática Geral. São Paulo, Ática, 2003.
Comunicação
Resumo: O presente texto faz uma análise da expansão da rede de Educação Infantil
durante a vigência do Plano Nacional de Educação 2001-2010. Analisa o atendimento
dessa etapa da educação básica nas creches e pré-escolas no Brasil e sua expansão
durante os anos de 2001 a 2010. Após essa análise relaciona essas tendências as “novas”
metas do Plano Nacional de Educação 2014 e traz um exercício de quantidade de vagas
a serem criadas e custo dessas novas vagas caso as metas sejam atingidas.
Palavras-chave: Atendimento a demanda; Educação Infantil; Plano Nacional de
Educação.
Introdução
O presente trabalho1 traz dados sobre a oferta de vagas para as crianças de 0 a 5
anos de idade em creches e pré-escolas nos anos 2000 a 2010 e faz uma relação dessa
situação com as metas de atendimento da Lei nº 13.005 de 26 de junho de 2014 que
aprova o Plano Nacional de Educação que vigorará pelos próximos dez anos. A análise
dos dados de oferta dessa etapa da Educação Básica nos possibilita uma discussão dos
novos esforços que deverão ser realizados pelos governos para garantir que todas as
crianças, das quais suas famílias assim desejem, frequente uma educação infantil de
qualidade.
A análise será apresentada faz uma separação didática no que se refere o
atendimento em creches – de crianças de 0 a 3 anos de idade – e em pré-escolas – de
crianças de 4 e 5 anos de idade – visto que cada uma dessa instituições tiveram no
Brasil percursos históricos distintos. Faz-se importante ressaltar que as creches
brasileiras sempre atenderão as crianças de 0 a 6 anos de idade e só recentemente essa
1
Esse trabalho articula parte da dissertação de mestrado apresentada pela autora no programa de pós-
graduação da Universidade de São Paulo no ano de 2012 com as propostas do Plano Nacional de
Educação publicado em junho de 2014.
140
2
Existe uma discussão na área de educação infantil a respeito dessa divisão e alguns municípios discutem
a possibilidade de existir apenas uma instituição para atender toda a educação infantil.
141
Nessa projeção pode-se observar que até o ano de 2030 a taxa líquida de
atendimento não alcança a meta do PNE 2001–2010. Na projeção realizada com a taxa
bruta, esses valores seriam atingidos após 2020 (45,9%). Essas projeções permitem
constatar que será necessário um esforço político e financeiro muito maior do que o que
se tem realizado até agora para atingir a taxa de atendimento desejável em curto prazo.
Apesar dessa projeção pouco animadora, não se pode ignorar os avanços
ocorridos na década de 2000 a 2010 no que se refere ao atendimento dessa faixa etária.
Analisando os dados desse período pode-se constatar um aumento de 88,8%
nessas matrículas. As matrículas em creche, que em 2001 eram de cerca de 1,09 milhão,
atingiram em 2010 mais de 2 milhões. Analisando o comportamento das redes públicas
juntas e da rede privada, percebe-se uma contínua expansão desde 2001, com apenas
uma diminuição de 4,6% na rede privada no ano de 2006, que não causa impacto
negativo no total das matrículas nessa etapa, visto que a rede municipal – a maior nessa
etapa do ensino – continuou crescendo no período.
O gráfico 01 demonstra o comportamento das matrículas nas redes pública e
privada em creches, por dependência administrativa, no período de 2001 a 2010,
possibilitando perceber a trajetória dessa etapa da educação infantil.
3
Os dados de matrículas na etapa e na creche referente ao ano de 2000 foram considerados os mesmos,
como se a totalidade das matrículas estivesse ocupadas com crianças de 0 a 3 anos de idade.
142
2.500.000
2.000.000
1.500.000
1.000.000
500.000
0
20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
01 02 03 0 4 05 06 07 08 09 1 0
Essa meta significa que o país fará um esforço coletivo para que em 2 (dois) anos
todas as crianças de 4 e 5 anos estejam matriculadas em pré-escolas e em 10 (dez) anos
50% das crianças estejam matriculadas em creches.
Atingir essa meta significa matricular até 2024 cerca de 10,7 milhões de crianças
de 0 a 5 anos de idade, segundo dados do IBGE4. Em 2013 tínhamos matriculadas 2,7
milhões de crianças de 0 a 3 anos de idade e 4,8 milhões de 4 e 5 anos de idade,
totalizando 7,6 milhões de matriculas na Educação Infantil.
Para atingir a meta em 2016 de 100% de matrículas de crianças de 4 e 5 anos de
idade precisamos matricular 1,1 milhão de crianças na pré-escola e para atingir 50% de
matriculas até 2024, mais 2,5 milhões de crianças nas creches. A tabela abaixo sintetiza
esses dados e faz uma previsão de quanto o Brasil necessita investir na educação infantil
para atingir as metas do Plano.
Tabela 02: Dados de população de 2016 e 2024, Matrícula de 2013, diferenças para atingir as
metas do PNE 2014 e estimativa de valores gastos para atingir a meta com valores de gastos por
aluno de 20115.
0 a 3 anos – 4 e 5 anos – Pré- 0 a 5 anos – Educ.
Creche escola Infantil
Matriculas em 2013 2.730.119 4.860.481 7.590.600
4
Dados de população retirados das projeções populacionais realizadas pelo IBGE.
5
Foi utilizado os valores de 2011 pois são os mais recentes divulgados pelo INEP.
147
Fonte: Construído pela autora com dados da Sinopse Estatística – Censo 2014, Projeções do IBGE e
dados do INEP sobre gasto per capita.
6
Utilizou-se a Calculadora do Cidadão, disponível em http://www.bcb.gov.br/?CALCULADORA com
índices de atualização do INPC - 06/2014.
7
Dado retirado da tabela “Histórico da Estimativa do Investimento Público Direto em Educação por
estudante, por Nível de Ensino - Valores Nominais - Brasil 2000 – 2011” disponível no site
http://portal.inep.gov.br/indicadores-financeiros-educacionais. Acessado em 02/08/2014.
148
Bibliografia
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
BRASIL. LEI n. 11.114 de 16 de março de 2005. Altera os arts. 6o, 30, 32 e 87 da Lei
no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do
ensino fundamental aos seis anos de idade. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17
mar. 2005.
BRASIL. LEI n. 11.274, de 06 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30,
32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino
fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 7 fev. 2006.
Sites Consultados
www.inep.gov.br
http://economia.terra.com.br/pib-brasileiro-cresce-23-em-2013-e-chega-a-r-48-
trilhoes,9629af8624274410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html
150
Comunicação
Introdução
O solo pedagógico é um espaço de interação de histórias vividas por educadores,
estudantes e por todos que participam, direta e indiretamente, do processo escolar. A
escola, palco da educação, assume uma relação dialógica com a comunidade; ela
reproduz a sociedade e a cultura e, ao mesmo tempo em que a questiona e a transforma.
E essas transformações decorrem da conjugação de vários fatores e acontecimentos
cujos efeitos refletem, diretamente, no reduto educacional. A movimentação vista na
política, economia, cultura e na sociedade traduz a rapidez com que a mudança se
manifesta nessas áreas. A tecnologia, assim como as redes sociais de comunicação,
representa uma ameaça e um benefício constante na construção dos conhecimentos. A
escola, muitas vezes, atordoada em meio a tantas transformações, sofre as
consequências por não compreender e não conseguir acompanhar o processo acelerado
das mudanças e se adaptar aos novos padrões de vida e con (vivência).
151
ambiente escolar e suas rotinas. A escola, liderada pelo gestor escolar, administra
ambientes de tensão e conflitos de geração. Para lidar com a complexidade
contemporânea, o gestor necessita resignificar seus conceitos e sua prática, diariamente.
Além de processar as informações, interpretar dados e administrar a dimensão
pedagógica da escola espera-se que a sua administração seja sustentável, atinja os
primeiros lugares nos rankings educacionais, motive seu corpo discente e docente com
base no Projeto Político Pedagógico institucional. É visto a necessidade da incorporação
de múltiplos saberes, de novas habilidades e novas competências amparadas pelo
contexto social e cultura. Consignar as expectativas do aluno que adentra a escola às
expectativas do corpo docente requer um esforço incontestável para os gestores. Nessa
perspectiva, considera-se importante explorar como os gestores de escolas de ensino
médio estão se movimentando no solo pedagógico contemporâneo.
Objetivos da Pesquisa
O principal objetivo desta pesquisa é:
Investigar os novos desafios enfrentados pelos gestores de ensino médio ao
exercer sua função e os recursos que estão eles estão disponibilizando para
enfrentá-los;
Como objetivos específicos, a pesquisa se propõe a:
Estabelecer um diálogo teórico com os autores que investigam o papel do
gestor escolar na sociedade contemporânea;
Realizar entrevistas narrativas com diretores de escola de Ensino Médio, da
região da Zona Leste;
Metodologia
Para alcançar os objetivos propostos a pesquisa pautar-se-á na abordagem
qualitativa, o procedimento de coleta de dados será a entrevista narrativa. Essa técnica
deriva da palavra latina narrare que significa relatar, contar uma história. A EN
(entrevista narrativa) é considerada uma forma de entrevista não estruturada, de
profundidade, com características específicas. (Bauer, 2013, p. 95). É uma técnica que
recolhe histórias. Contar histórias implica estados intencionais que aliviam, ou ao
menos tornam familiares, acontecimentos e sentimentos que confrontam a vida
cotidiana normal. (Bauer, 2013).
Ao contar a sua história os atores sociais põem em forma os seus “pedaços” de
vida semeados e dispersos ao longo dos anos (Pineau, 1987), as rupturas e
continuidades e a própria construção dessa história. Assim sendo, o professor dá sentido
154
Referências
BAUER, M.W. GASKELL, G. (orgs) Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som:
Um manual prático. 11ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
155
Comunicação
1
O presente trabalho é desdobramento da pesquisa “Políticas Educacionais na Região Metropolitana de
Campinas: regime de colaboração”, desenvolvida pelo Laboratório de Gestão Educacional (LAGE) da
Faculdade de Educação/UNICAMP, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP), no período de outubro de 2012 a outubro de 2014, coordenada pelo Prof. Dr. Pedro
Ganzeli.
157
No Capítulo III da Lei Maior, que trata da educação, o regime de colaboração foi
contemplado no Artigo 211 possibilitando à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios a organização dos seus sistemas de ensino. Da mesma forma, o
parágrafo 4º deste Artigo reafirma a necessidade de colaboração dos entes federados “de
modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório”.
A partir do ordenamento legal, mas carecendo de uma regulamentação própria, o
regime de colaboração entre os entes federados “passou a ser defendido como um
mecanismo de apoio/cooperação entre a União, estados e municípios na definição e
implementação das políticas educativas voltadas para o efetivo usufruto da educação
com qualidade” (AZEVEDO, SANTOS, 2012, p. 564).
No entanto, há que se ressaltar, conforme afirmam Luce e Farenzena, que:
informação pelo fato de estes três municípios terem sido criados somente no ano de
1991.
Podemos constatar que em todas as legislações foram encontradas emendas à
redação original. No que diz respeito à educação, foram detectadas emendas nas leis dos
seguintes municípios: Campinas, Cosmópolis, Holambra, Hortolândia, Jaguariúna,
Santo Antonio de Posse e Vinhedo.
dos entes federados; da mesma forma, a ‘cooperação técnica e financeira’ foi tratada no
inciso IV do mesmo artigo, assim:
Artigo 5º – É da competência administrativa do Município, como também da
União e do Estado, observadas as legislações Federal e Estadual, o exercício
das seguintes medidas, entre outras:
(...)
IV – manter programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental,
inclusive alfabetização de adultos, com a cooperação técnica e financeira da
União e do Estado.
Na LOM de Jaguariúna encontramos a preocupação do legislador em garantir o
regime de colaboração entre os entes federados no atendimento à educação no
município. Embora a expressão regime de colaboração não esteja presente de forma
explícita na Lei, foram encontrados artigos que remetem ao entendimento da mesma,
assim:
Artigo 11 – Ao Município compete privativamente:
(...)
II – manter cooperação técnica e financeira com a União e Estado em
programas de educação pré-escolar, de ensino fundamental, de saúde, de
assistência social e segurança.
Da mesma forma, os Artigos 232, 235 e 236 remetem à consecução do regime
de colaboração na área educacional.
Art. 232 - É da competência comum da União, do Estado e do Município
proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência.
(...)
Art. 235 - O Município manterá com a União e o Estado, convênios que
visem à erradicação do analfabetismo em seu território.
(...)
Art. 236 - O Município, considerando-se as necessidades locais e regionais
do mercado de trabalho, implantará política de educação profissionalizante e
semi-profissionalizante, permitindo-se, para consecução desse fim, a
celebração de convênios com os governos federal e estadual e empresas
particulares.
No município de Monte Mor, tanto o termo “colaboração”, quanto expressões
como “suplementar a legislação federal e estadual no que couber”, “cooperação técnica
e financeira”, “formas de colaboração”, sugerem a materialização do regime de
colaboração.
Também no caso de Nova Odessa, os artigos da LOM que se referem à
educação, fazem referência ao regime de colaboração, porém sem utilizar o termo
propriamente dito, amplificando a tendência observada nos demais municípios:
Art. 193. O Município promoverá a educação infantil e o ensino fundamental,
ambos gratuitos, com a colaboração da sociedade e a cooperação técnica e
financeira da União e do Estado, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
162
Desse modo, foi verificado na pesquisa desta Lei Orgânica que houve
preocupação do legislador em garantir o regime de colaboração entre o município e o
estado, indicando a necessidade de trabalho em conjunto para a elaboração do Plano
Municipal de Educação.
163
3. Considerações finais
De modo geral, as Leis Orgânicas municipais analisadas não se referem
diretamente à expressão “regime de colaboração”. Os termos mais utilizados que
remetem à temática, são: conjunto, cooperação, cooperação técnica e financeira,
convênios, consórcios, transferências.
No campo educacional, a referência à colaboração se vislumbra quando da
necessidade de assegurar o ensino público, laico e de igualdade, acessível a todos. Ou
seja, as diversas Leis Orgânicas analisadas observam a Lei Maior, Constituição Federal
de 1988, não apresentando ainda o aprofundamento do tema regime de colaboração.
Em vários municípios, não foram encontrados artigos específicos que se
referissem ao regime de colaboração. Vários destes artigos expressam termos que
podem indiretamente transmitir a ideia de que possa existir colaboração entre os entes
federados. A sistematização dessa colaboração é superficialmente mencionada, não
havendo detalhamento de algumas das ações propostas. Em alguns artigos analisados,
há referência ao percentual de gastos devidos a cada ente federativo, apenas
reproduzindo as prescrições da Constituição Federal.
Termos como colaboração, suplementar à legislação federal no que couber,
cooperação técnica e financeira, formas de colaboração, denotam regime de colaboração
neste nível de aprofundamento próprios dos termos em si mesmos, uma vez que, uma
vez mais, não há referência específica ao termo “regime de colaboração”.
Os municípios, por meio das Leis Orgânicas promulgadas, contemplam diversas
áreas da administração em que há referências ao trabalho em colaboração, como obras
públicas, sistemas municipais de saúde, etc, sempre enfatizando a possibilidade de
celebração de convênios e sistemas de consórcio entre os entes federados.
Notadamente há uma tendência nas diversas leis orgânicas municipais analisadas
de tangenciar a questão do regime de colaboração, em que se compreende e menciona a
necessidade de trabalho em conjunto entre os entes federados.
4. Referências
AMERICANA (Município). Prefeitura Municipal. Disponível em:
<http://www.americana.sp.gov.br/americanaV5/americanaEsmv5_Index.php>. Acesso
em: 03 jun. 2013.
Comunicação
INTRODUÇÃO
Os Planos de Educação são documentos, com força de lei, que estabelecem metas para
que a garantia do direito à educação de qualidade avance em um município, estado ou
país, portanto, partimos do suposto de que estes devem se constituir no principal
instrumento da política pública educacional.
Todavia, a história nos mostra que este é um desafio ainda por se alcançar,
principalmente no âmbito dos estados. Impõe-se ainda como parte deste desafio, a
instituição de um Sistema Nacional de Educação (SNE). Consoante a isto temos que no
Brasil, mais de 60% dos estados ainda não possuem planos de educação, já em relação
169
aos municípios, este dado apresenta-se um pouco melhor, apenas 30%. Contudo, muitos
dos que possuem, não o utilizam para planejar suas políticas, mantendo-os
desconhecidos da população1.
Sem nos atermos aos processos que envolveram as tentativas, tanto de formulação
quanto de implementação dos planos de educação ao longo da história da educação
brasileira2, cumpre assinalar que do ponto de vista legal, somente teremos um PNE a
partir do disposto na Constituição Federal (CF) de 1988 que resultou na Lei nº. 10.172
de nove de janeiro de 20013. Na definição desta Lei, estiveram em disputa duas
propostas: a da sociedade brasileira, encaminhada pelo Deputado Federal Ivan Valente
(PT/SP) sob o nº. 4.155/1998 e a do Executivo nacional, de nº. 4.173/1998 sob a
relatoria do Deputado Federal Nelson Marchezan (PSDB/RS). Sendo o seu resultado
uma síntese dos dois projetos, mas contendo, segundo Aguiar (2010) quarenta e sete
vetos do Presidente Fernando Henrique Cardoso relacionados às questões de
financiamento.
Neste sentido, pode-se afirmar que o plano se transmutou em instrumento de introdução
da racionalidade financeira (SAVIANI, 2011), corroborando os limites assinalados por
meio da EC 14/1996, antes da conclusão da própria LDBEN 9.394/96, em estabelecer o
direito universal à educação. Priorizando dessa forma, a escolarização obrigatória
restrita à faixa etária de 7 a 14 anos, sendo esta colocada sob a responsabilidade dos
municípios, com baixa participação do poder central. A cooperação federativa ganhou,
portanto, limites estritos da escolarização obrigatória.
Conforme avaliação do Congresso Nacional da Educação Básica (CONEB) em 20084, a
aprovação do PNE, em 2001, não se fez acompanhar de planos estaduais e municipais,
em todo o País, que dessem consequência às metas e prioridades nele estabelecidas,
tampouco considerado no planejamento e nas ações educacionais em curso. Prova disso,
é que ainda no período de sua vigência (2001-2010), em 2007, foi lançado o Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE) por meio do Decreto Presidencial nº 6.094 de
20075, pelo então Secretário de Educação Fernando Haddad.
Quando ressaltamos a importância do estabelecimento de Leis no âmbito das políticas
de educação, estamos reforçando o papel das políticas de Estado em detrimento das
políticas de governo6. Conforme é sabido, durante este período em que os estados não
aprovaram seus planos de educação, outros planos7, projetos e ações foram
implementados com vistas à consecução das políticas de governos que por eles
passaram.
6
Compreende-se por políticas de governo, aquelas de iniciativa do Executivo que têm a marca da gestão,
são pontuais e, em geral, envolvem pouca discussão, com muita possibilidade de descontinuidade. Já as
políticas de Estado são resultantes de processos que envolvem interlocutores diversos, são portadoras de
propostas mais amplas e que vão além do período de gestão, resultando em mudanças de outras normas
ou disposições pré-existentes, com incidência em setores mais amplos da sociedade (OLIVEIRA, 2011, p.
329).
7
No estado do ES, por exemplo, foi instituído no período de 2003 a 2010, um plano de governo baseado
na metodologia do planejamento estratégico, como parte das ações do “Plano de Desenvolvimento
Espírito Santo 2025”, para a educação, denominado “Ensinando e Aprendendo: Oito Anos da Nova
Escola no Espírito Santo – 2003-2010” (GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, 2010). O
estado do ES até os dias atuais não conta com PEE.
171
imperativo. Por isso, a necessária inclusão desta estratégia nos planos estaduais e
municipais de educação (artigo 8º, inciso IV8).
Em suma, o atual projeto de instituição do SNE parece propor que a organização
sistêmica da educação dependa da articulação entre os entes da federação, que devem
dispor de um órgão próprio para a sua gestão, de instrumentos de planejamento das
políticas e de instâncias participativas. Este movimento expressa, portanto, a
importância de coordenação da União, na indução de reformas que abrangem todo o
território nacional no que diz respeito às políticas educacionais.
A partir do movimento atual de aprovação do PNE e instituição do SNE em atenção ao
disposto na Constituição Federal em seu artigo 214, em que o plano nacional de
educação tem como objetivo articular o sistema nacional de educação em regime de
colaboração, levantamos o seguinte questionamento: qual o papel dos estados neste
processo junto aos seus municípios constituintes? Como os estados vêm se articulando
junto aos seus municípios com vistas ao estabelecimento da cooperação na
implementação de seus planos?
Partimos do suposto de que além do movimento ensejado pelo governo federal com
vistas à articulação nacional, faz-se necessária também uma articulação regional entre
os entes subnacionais.
8
Art. 8o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão elaborar seus correspondentes planos de
educação, ou adequar os planos já aprovados em lei, em consonância com as diretrizes, metas e
estratégias previstas neste PNE, no prazo de 1 (um) ano contado da publicação desta Lei. IV - promovam
a articulação interfederativa na implementação das políticas educacionais.
9
Conforme informa a pesquisa Perfil de Informações Básicas Municipais (BRASIL, IBGE, 2010), até o
ano de 2009, em apenas 20,1% das cidades brasileiras não foram criados CMES. Sendo que destes, 79,
172
7% correspondem a pequenos municípios com até 20 mil habitantes. A mesma pesquisa informa que
50,1% dos municípios brasileiros constituíram sistemas municipais de ensino próprios.
173
SUDESTE SIM
RJ Sistema Estadual Integrado de Ensino
Lei nº 3.155/1998
Lei 1735/1962 e LC nº
ES Sistemas estadual e municipais NÃO
401/2007
TOTAL 27 9
Fonte: Constituições Estaduais e Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação (FNCE).
Elaboração da autora.
Dos vinte e seis estados da federação, sete previram em suas Constituições que os
Sistemas Estaduais de Educação seriam regulamentados por meio de lei específica.
Destes sete, apenas cinco o fizeram, sendo que a maioria das legislações foi editada a
174
partir de meados da década de 1990, ou seja, pós LBDEN 9.394/96. Os estados do Acre,
do Amazonas e do Pará, apesar de não previrem em suas Constituições, possuem
legislações específicas que dispõem sobre a organização de seus sistemas de ensino. No
Acre e no Pará, os sistemas municipais são integrados aos sistemas estaduais de ensino.
As informações concernentes à lei de criação dos Conselhos Estaduais de Educação
(CEE) foram obtidas por meio da pesquisa realizada pelo FNCE10. Nesta pesquisa, foi
solicitado aos CEE que indicassem as legislações relativas à sua instituição e também a
do Sistema. A maioria respondeu indicando a Lei de criação do próprio Conselho. Os
CEE estabelecem, pois uma relação entre o marco legal de sua criação, e a instituição
do SEE. Assim, conforme pode ser observado no quadro acima, a maioria dos CEE foi
criada pós 1961, ou seja, por indicação da LDB 4.024/61. Ocorre que as leis editadas
para a instituição dos CEE têm seus conteúdos limitados as suas composições,
atribuições e funcionamentos, não abrangendo as normas gerais sobre a organização do
SEE. Além disso, as resoluções e pareceres dos CEE, em geral, versam sobre matérias
muito específicas, não contemplando também as normas que orientam a organização do
SEE.
A partir do exposto, poderíamos nos perguntar: existem sistemas estaduais de ensino?
Como eles estão organizados? Como os seus CEE estão situados neste sistema? A
pesquisa aponta para a existência de leis específicas sobre os CEE e em alguns estados
há também legislação que dispõe sobre a Gestão Democrática do ensino, conforme
disposto no texto da Constituição em seu artigo 206, inciso VI: “gestão democrática do
ensino público, na forma da lei”. E ainda na LDBEN, artigo 3º, inciso VIII, “gestão
democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de
ensino”. O que nos leva a crer que a maioria dos estados se comportou, considerando as
disposições legais explicitadas nestas legislações.
O mesmo pode ser verificado em relação à elaboração e aprovação de seus planos de
educação por meio de Leis que, conforme aponta Saviani (2011, p. 6), as “exigências de
intencionalidade e coerência implicam que o sistema se organize e opere segundo um
plano”, envolvendo uma estreita relação entre sistema de educação e plano de educação.
A ausência de planos estaduais de educação reforça o vácuo de atuação do estado
enquanto ente coordenador e articulador da política educacional junto aos seus
municípios bem como a impossibilidade dos sistemas serem organizados em regime de
10
Disponível na página do FNCE – www.fnce/informações/CEEs.
175
11
Ver livro “Mapa dos Conselhos Municipais de Educação no Brasil” organizado por Donaldo Belo de
Souza, São Paulo, Edições Loyola, 2012.
176
compartimentalização. Avaliam que este padrão tende a ser alterado para um padrão de
cooperação, corroborando a tese do federalismo cooperativo.
Na análise de Franzese (2010, p. 193), a política educacional carece de fóruns de
negociação intergovernamentais, pois sua ausência compromete a interação entre as
esferas de governo e faz com que eles se reúnam apenas para discutir questões ligadas
ao compartilhamento de recursos, por força da existência do FUNDEB. Para a autora,
nesse caso, a constituição de um sistema na área talvez ajude os atores a enfrentar a
necessidade de “operacionalização do tão citado regime de colaboração, que pode, por
sua vez, auxiliar na consolidação de uma visão sobre como deve ser a educação no
país”.
Observa-se na citação acima, que o regime de colaboração para esta autora deve ser
operacionalizado, requerendo, dessa forma, a criação de estratégias e ações por meio
das quais sua concretização se tornará possível. Conforme elucidamos anteriormente,
para outros autores (ARAUJO, 2010; DOURADO, 2013; OLIVEIRA e GANZELI,
2013), o regime de colaboração é um instituto que deve ser regulamentado, haja vista
que não pode ser apenas concebido como um instrumento que possibilita a pactuação
entre os entes para a oferta da educação, mas como “instituto delineador da atuação
conjunta para a consecução da competência educacional comum”. Isto significa que ele
deve ser conduzido pela “compulsoriedade”, determinada pelos organismos de
deliberação conjunta, tais como os conselhos (CASSINI, 2011, p. 127).
Os mecanismos de cooperação são responsáveis por promover a articulação entre os
agentes/atores, as políticas, sua implementação e, consequentemente, seus resultados.
Sendo assim, a articulação é um pressuposto da organização sistêmica (SAVIANI,
2011). Ocorre que esta articulação é um movimento que se dá de forma intencional,
sendo promovido pelos atores por meio das instituições que compõem o Sistema. Dessa
forma, o que confere materialidade ao instituto da cooperação são os atores, as arenas e
as instituições que o conformam. Isto coloca, portanto em questão, as regras que
delimitam o campo de atuação dos grupos posicionados na disputa pela sua definição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cenário descrito neste trabalho apontou que, a despeito de o governo federal
desprender um esforço visando estabelecer cooperação técnica junto aos estados e
municípios na elaboração de seus Planos de educação, a maioria dos estados não conta
com lei aprovando os seus Planos Estaduais de Educação, tampouco dispondo sobre os
178
seus SEE. Na nossa avaliação esse quadro ilustra a fragilidade institucional dos SEE,
denotando o atual padrão de relações intergovernamentais vigente no País, assinalado
pela indefinição do papel dos estados, pela relação direta da União com os municípios e
pela ausência de arenas de pactuação entre os entes federados. Expõe, portanto, as
dificuldades de construção de um federalismo cooperativo em educação que, conforme
procuramos demonstrar neste trabalho, além dos motivos expostos, padece pela
ausência da regulamentação do regime de colaboração.
E, por fim, lançando expectativas futuras, o movimento ensejado nacionalmente com a
recente aprovação do PNE e previsão de instituição do SNE no contexto de ampla
participação por meio das conferências e fóruns de educação, parece indicar que este
cenário tende a ser alterado. Ou seja, em pouco tempo todos os estados e municípios
brasileiros formularão e aprovarão seus planos de educação. Não restam dúvidas de que
esses instrumentos representam um avanço necessário à efetivação do direito à
educação. Porém, há muito que se construir para que estes sejam efetivamente
apropriados por todos os cidadãos como instrumento que darão materialidade a uma
educação de qualidade social.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Gilda Cardos de. Constituição, federação e propostas para o novo Plano
Nacional de Educação: análise das propostas de organização nacional da Educação
brasileira a partir do regime de colaboração. Educação e Sociedade, Campinas, v. 31,
n. 112, p. 749-768, jul/set. 2010.
Comunicação
1Angélica Kuhn
USP
Introdução
Qual o papel do Projeto Político Pedagógico (PPP) na instituição escolar? Qual
sua relevância e função? Qual a sua importância para a gestão escolar? Quanto a isso
não há dúvida, o mesmo busca dar a ela direção e uma melhor organização interior.
Contudo, este direcionamento não está isento de opções teóricas e metodológicas. Em
razão disso, todo o projeto pedagógico da escola é também um projeto político.
Os componentes teóricos, metodológicos e administrativos direcionam as ações
da escola e não podem ser vistas de forma isolada. São partes de um mesmo processo.
Estas ideias ganham força a partir dos movimentos educacionais da década de sessenta,
1
Doutoranda pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Educação: História, Política, Sociedade,
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora da Faculdade Sumaré e da Pós-graduação
em Gestão Escolar da Unicid. Pesquisa educação e movimentos sociais.
181
particularmente das ideias de Paulo Freire, de que todo ato educativo é também um ato
político.
De acordo com Vale “na verdade, a ação educativa enquanto ação política não
pode prescindir de uma visão de mundo, de um compromisso de classe que
condicionará, inclusive, a escolha dos conteúdos a serem transmitidos. (Vale, 2001, pg.
71)
O PPP ganha mais sentido quando inserido em práticas democráticas, onde todos
vivem, avaliam e propõe novos caminhos para a proposta, da qual se sentem parte
integrante, pois colaboram desde a sua construção.
Educação do Campo
A Escola 25 de Maio insere-se em um movimento mais amplo, encampado pelos
movimentos sociais do campo, particularmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), a partir do final da década de 70, e sua consequentes conquistas no
âmbito das políticas públicas para a educação do campo, a partir da década de 90.
Um importante aceno das mudanças na histórica exclusão dos trabalhadores do
campo dos direitos, protagonizadas pelos movimentos sociais, já é dado pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394\96 e fortalecida com a aprovação das
“Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo” (Parecer no
36/2001 e Resolução 1/2002 do Conselho Nacional de Educação). Esse instrumento de
luta, junto às ações de diversos movimentos sociais e sindicais do campo vem
pressionando sua inclusão na agenda de governos municipais, estaduais e também na
esfera federal.
Após a aprovação das Diretrizes Operacionais para Educação Básica nas escolas
do campo, vem se desencadeando um processo de mobilização e envolvimento social,
na busca de fortalecimento da construção de políticas públicas que garantam o acesso e
permanência à educação de qualidade para os povos do campo.
Anísio Teixeira, um dos Pioneiros da Educação Nova denunciara nas décadas de
60 e 70, a dualidade da educação brasileira, uma escola para os mais favorecidos e outra
para as camadas populares (ou mesmo a negação da escola pública para estas), e a
necessidade de pensar-se a educação sob a ótica do direito e não do privilégio.
De acordo com o autor “a educação sempre se apresentou como a alternativa
para a revolução e a catástrofe, mas, para isto, é necessário que não se faça ela própria
um caminho para o privilégio ou para a manutenção de privilégios.” (Teixeira, 1976, pg.
182
107)
Nesse sentido, o movimento Por uma educação do campo, busca garantir o
direito à educação pública e de qualidade aos trabalhadores do campo, historicamente
excluídos desse e de outros direitos, entre eles o acesso a terra.
A referência educação do campo pressupõe uma mudança de postura frente à
antiga educação rural ou para o meio rural, a qual historicamente privilegiou as elites
latifundiárias do país e privou os trabalhadores do acesso a este direito inalienável, que
é a educação.
O batismo desta nova referência se concretizou em 1998, quando da 1ª
Conferência Nacional por Uma Educação Básica do Campo, consequência de debates
realizados a partir da luta concreta dos movimentos sociais organizados no campo
naquele contexto.
Passou-se a utilizar esta expressão, e não mais a usual, meio rural, com o
objetivo de incluir no processo de reflexão o sentido atual do trabalho no campo e das
lutas sociais dos grupos que hoje tentam sobreviver deste trabalho: camponeses,
indígenas, comunidades quilombolas, agricultores familiares etc.
No Brasil, há diversas denominações para as pessoas que trabalham no campo,
de acordo com a diversidade de cada região, como caipora, corumbá, tabaréu, colono,
caboclo, trabalhador rural, camponês etc.
De acordo com Caldart (1998), esses termos, nos dicionários, trazem tanto um
conteúdo valorativo, quanto depreciativo. As expressões são carregadas de sentidos
pejorativos, que classificam esses sujeitos como atrasados, preguiçosos, ingênuos e
incapazes. Ao mesmo tempo, definem-nos como matutos, como aqueles que refletem,
que são prudentes, que desconfiam, que são espertos.
O que é certo é que seus significados jamais são confundidos com fazendeiros,
latifundiários, coronéis, empresas transnacionais presentes no campo. As palavras
exprimem as diferentes classes sociais, possuem significados históricos e políticos que
perpassam as principais lutas de resistência no campo.
práxis dos sujeitos envolvidos no projeto, propõe uma nova forma de pensar a educação,
para além dos limites da sala de aula.
Nesse sentido, essa forma de organização possibilita outro princípio pedagógico
da Escola que é o desenvolvimento de habilidades de pesquisa. Ao compreender que “o
processo educativo incentivará a pesquisa no sentido de investigar e analisar a realidade
para poder executar proposições mais adequadas a uma intervenção nela.” (PPP da
Escola de Educação Básica 25 de Maio)
As concepções de educação, formação humana entre outros, se evidencia nos
demais princípios filosóficos e pedagógicos que fundamentam o Projeto Político
Pedagógico são: Educação para a transformação social; Educação para o trabalho e a
cooperação; Educação voltada para as várias dimensões da pessoa humana; Educação
como um processo permanente de formação e transformação humana; A realidade como
base da produção do conhecimento; Conteúdos formativos socialmente úteis; Educação
para o trabalho e pelo trabalho; Vínculo orgânico entre processos educativos e processos
políticos; Vínculo orgânico entre processos educativos e processos econômicos;
Vínculo orgânico entre educação e cultura; Gestão democrática; Auto-organização dos
educandos; Criação de coletivos pedagógicos e formação permanente dos
educadores/das educadoras; Habilidades de pesquisa; Combinação entre processos
pedagógicos; coletivos e individuais; Educação voltada à Agroecologia. (Projeto
Político Pedagógico da Escola 25 de Maio).
Ao analisar tais princípios evidencia-se que a escola aproxima-se da teoria
marxista da relação entre educação e trabalho. O trabalho pressupõe uma relação com a
natureza e com o outro. Marx, nos Manuscritos Econômicos e nos Grundrisse, deixa
claro que o trabalho é a essência da natureza histórica do homem. O homem transforma
o mundo por meio do trabalho. Trabalho visto em duas dimensões, em relação ao valor
de uso e de troca.
O trabalho como princípio educativo ganha nas escolas a feição de princípio
pedagógico, que se realiza em uma dupla direção. Sob as necessidades do
capital de formação da mão de obra para as empresas, o trabalho educa para a
disciplina, para a adaptação às suas formas de exploração. Sob a contingência
das necessidades dos trabalhadores, o trabalho deve não somente preparar
para o exercício das atividades laborais, mas também para a compreensão dos
processos técnicos, científicos e histórico-sociais que lhe são subjacentes e
que sustentam a introdução das tecnologias e da organização do trabalho.
(Frigotto, 2011, pg. 750)
Parece que essa concepção de trabalho a partir de um olhar mais amplo para as
relações do mundo do trabalho estão presentes no PPP, ao definir que “a escola deve
185
Considerações Finais
De acordo com a análise realizada percebe-se que o Projeto Político Pedagógico
é o elemento articulador da gestão democrática. Observa-se que ele é tido como um guia
e indicador que dá firmeza e segurança à escola. Os seus princípios filosóficos e
pedagógicos estão muito bem delineados, com clara opção pela gestão democrática.
188
Bibliografia
PEREIRA, LUIZ. A escola numa área metropolitana . São Paulo, Pioneira, 2 Ed.,
1976, p.11-18;45-48;101-105;106-120;121-141;152-154
SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. 41ª Ed. São Paulo: Autores Associados.
2009.
SILVA, Tomaz Tadeu da. O que produz e o que reproduz em educação. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1992, p.75-93.
SPOSITO, Marília Pontes. O povo vai à escola: a luta popular pela expansão do
ensino público em São Paulo. São Paulo, Loyola, 1992, p.209-241
TEIXEIRA, Anísio. A educação no Brasil. São Paulo, Editora Nacional; Brasília, INL,
2ª Ed., 1976.
VALE, A. M. Educação popular na escola pública. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2001.
189
Comunicação
Introdução
Educação se faz com interação entre pessoas e gestão escola se faz com
democracia. Considerando que Educação é um todo integrado: setor administrativo,
pedagógico, financeiro e de pessoas, percebe-se que o gestor deve estar atento a todos
os efeitos de sua gestão, portanto o relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho
é fator decisivo no desenvolvimento de todos os envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem. A satisfação na realização da tarefa deve ser acompanhada da satisfação
do relacionamento com outro.
Sabendo – se que a escola é um ambiente de formação de pessoas e por esta
razão deve ser vista para além dos prédios e sua estrutura física, é que esse estudo
propõe debruçar sobre a problemática de uma escola a fim de analisar as causas e
1
Artigo extraído da Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão do curso de Especialização em
Gestão Escolar na UFOP. Ouro Preto - MG , março 2014.
190
O estudo desenvolvido busca revelar qual é o espaço que a escola pesquisada está
construindo nas relações pessoais com os professores e alunos.
Segundo Lück (2009, p. 25) “A gestão escolar constitui-se em uma estratégia de
intervenção organizadora e mobilizadora, de caráter abrangente, orientada para
promover mudanças e desenvolvimento dos processos educacionais.” Para que esse
processo se efetive, a gestão escolar perpassa por todos os setores da instituição, uma
vez que o objetivo da escola é a formação dos alunos e desenvolvimento da equipe para
obter bons resultados. A autora acrescenta que “Como tal, ela envolve áreas e
dimensões que, em conjunto, tornam possível a realização desses objetivos.” Assim,
Lück (2009) descreve 10 dimensões, e as agrupam em duas áreas, de acordo com sua
natureza: organização e implementação:
As dimensões de organização se apresentam em quatro dimensões: 1.
Fundamentos e princípios da educação e da gestão escolar; 2. Planejamento e
organização do trabalho escolar; 3. Monitoramento de processos e avaliação
institucional; 4. Gestão de resultados educacionais. As dimensões de
implementação são aquelas mais diretamente vinculadas à produção de
resultados: 5. gestão democrática e participativa; 6.gestão de pessoas;
7.gestão pedagógica; 8.gestão administrativa; 9.gestões da cultura escolar;
10. Gestão do cotidiano escolar. (LÜCK, 2009, p. 27).
A escola é um lugar bonito, um lugar cheio de vida, seja ela uma escola com
todas as condições de trabalho, seja ela uma escola onde falta tudo. Mesmo
faltando tudo, nela existe o essencial: gente. Professores e alunos,
funcionários, diretores. Todos tentando fazer o que lhes parece melhor. Nem
sempre eles têm êxito, mas estão sempre tentando. (...) A escola é um espaço
de relações. Neste sentido, cada escola é única, fruto de sua história
particular, de seu projeto e de seus agentes. Como lugar de pessoas e de
relações, é também um lugar de representações sociais. Como instituição
social ela tem contribuído tanto para a manutenção quanto para a
transformação social. Numa visão transformadora ela tem um papel
essencialmente crítico e criativo. (GADOTTI, 2007, p. 11).
Neto (2005) diz ainda que para compreender como o conflito surgiu é preciso
compreender também o comportamento das pessoas e o que leva tal pessoa a comportar
dessa ou de outra maneira. Para o autor, o comportamento de uma pessoa é o resultado
de vários fatores que se juntam: os medos que ela possui, as emoções vivenciadas, suas
experiências adquiridas no dia-a-dia, suas crenças, as preocupações que a afligem; sua
auto-estima, entre outros.
controvérsia?
N Penso que o conflito em reuniões é necessário? 08 17 02
É possível observar que no grupo, a maioria das pessoas respondeu que ouve os
pontos de vista dos demais com a mente aberta, assim como mais da metade das pessoas
desse grupo se diz dirigir ao outro diplomaticamente para discutir as questões do dia a
2
A reflexão proposta faz parte do instrumento de pesquisa do Guia de Resolução de Conflito Interno da
Empresa de treinamento de pessoas Dale Carneguie, disponível no endereço:
http://www.dalecarnegie.pt/assets/240/7/ConflictResolution_pr.pdf
196
dia. Quanto a expressar as ideias com tato, há um equilíbrio entre as respostas muitas
vezes e às vezes, o que não se torna negativo, pois um número muito pequeno revela
que raramente tem esse tato ao expressar suas ideias. Já a questão que envolve
comprometimento com o outro demonstra certa preocupação, pois um número muito
grande apresenta resistência quanto a esse comportamento.
Gráfico 2 – Comportamentos Negativos
Considerações finais
A partir da análise das entrevistas, a escola pesquisada apresentou um
considerável número de pessoas com o comportamento assertivo e um equilíbrio entre
comportamento passivo e agressivo. A presença desses dois últimos comportamentos
revela impasses no desenvolvimento do grupo, uma vez que foi possível perceber que
na escola pesquisada há dificuldades de ouvir pontos de vista diferentes. O
comportamento passivo revelou a presença de pessoas que não expressam suas idéias no
grupo e o comportamento agressivo revelou presença de pessoas que se alteram ao
expor seus pontos de vista e que ignoram o ponto de vista do outro. Embora o número
de pessoas com comportamento assertivo seja maior, há que se preocupar com a
quantidade de comportamentos agressivos e passivos, pois são esses que geram o clima
negativo no ambiente de trabalho.
Partindo da concepção de gestão escolar democrática e de liderança na escola foi
possível entender que a dinâmica escolar é resultado da gestão que é realizada na
instituição. Entende-se que o gestor escolar precisa ser dinâmico e que seu trabalho deve
abranger as dimensões da gestão escolar que são: gestão de resultados, gestão
participativa, gestão pedagógica, gestão administrativa e também gestão de pessoas e
gestão de clima e cultura escolar. Nessa perspectiva o gestor busca o desenvolvimento
da escola assim como da comunidade local.
A proposta de intervenção sugerida visa melhorar o relacionamento entre as
pessoas da instituição pesquisada, mas é preciso muito mais do que trabalho técnico. As
relações pessoais são fruto de ações do cotidiano. Nesse sentido como é possível fazer o
dia a dia para obter um clima organizacional que contribua para o crescimento do
grupo? Esse é o constante desafio da comunidade escolar.
Referências bibliográficas
NETO, Álvaro Francisco Fernandes. Gestão de Conflitos. THESIS, São Paulo, ano II,
v.4, p. 1-16, 2º Semestre, 2005.
201
Relato de Experiência
Resumo: Muitos estudos demonstram que a educação básica pública é atingida por
diversos fatores que prejudicam o desenvolvimento cognitivo e social dos alunos.
Desta forma, esse relato de experiência descreve o Projeto Tutoria, uma experiência
elaborada, implantada e implementada pelos próprios autores escolares em uma escola
pública da rede paulista de ensino e sua inteligação com a série Conversas do Elpídio,
fundamentada na teoria social cognitiva. Desta forma, procura-se demonstrar que essa
inteligação é um elemento potencializador do processo formativo docente, considerando
a escola como um locus privilegiado para construção do processo de ensino-
aprendizagem do educando e do educador. Nessa perspectiva, o trabalho de formação
contínua, com a junção do Projeto Tutoria e Conversas do Elpídio, visa pensar e
repensar a prática docente com o intuito de diminuir índices de evasão e retenção dos
educandos, promovendo o acesso ao direito de uma educação pública de qualidade.
Palavras-chave: Tutoria, Formação de Professores e Teoria Social Cognitiva.
INTRODUÇÃO
No ano de 2009, após análise dos dados de desempenho e frequência escolar dos
alunos matriculados nos 9º anos do Ensino Fundamental – Anos Finais, a equipe
gestora e os professores da unidade escolar depararam-se com um elevando índice de
retenção. Antes de buscar ações paliativas, o grupo escola retomou o Projeto Político
Pedagógico para constatar o perfil dos alunos atendidos. Nesse momento, averiguou-se
que a escola continha um grande número de alunos oriundos de famílias, em sua
maioria, enquadradas no conceito contemporâneo de família tentacular. Assim, em
primeiro lugar, os responsáveis são avós e avôs, havendo casos de jovens que são
criados por outros familiares, como: tios, tias e irmãos. Em segundo, são os casos de
mães que acumulam a tríplice funções (pai, mãe e chefe de família), bem como
situações de longas jornadas de trabalho.
202
Percebe-se nesse ponto que as qualidades inerentes ao perfil do tutor devem ser
concatenadas com as concepções de educação ao longo da vida, baseada em quatros
pilares: 1. Aprender a conhecer, 2. Aprender a fazer, 3. Aprender a viver junto e 4.
Aprender a ser. (DELORS, 2003)
Nessa perspectiva que os docentes no ano de 2013 ao avaliar o desenvolvimento
do projeto, perceberam e indicaram que este necessitava de mudanças para alcançar e
ampliar os objetivos propostos em sua elaboração no ano de 2009.
principalmente nas 8ª série/9º ano e 1º ano do Ensino Médio. Tal dado comprova
estudos que apontam essas séries como um “gargalo” educacional, por caracterizarem-
se como o fechamento e a abertura, respectivamente, de ciclos distintos de ensino e
aprendizagem. Além desse fator, destaca-se um aumento percentual no IFE nos 7º anos
do Ensino Fundamental – Anos Finais, fato que despertou o interesse, na perspectiva da
promoção de ações preventivas nos 6º anos.
Os desafios
Nessa altura, era preciso pensar, estudar e reformular o Projeto Tutoria com vistas
a continuar promovendo o apoio e acompanhamento que o educando necessita, porém
com ampliação das ações de tutoria, com formação de todos os professores da unidade
escolar e com um material teórico e prático adequado. Assim, encontrou-se no material
do projeto Conversas do Elpídio e a Teoria Social Cognitiva.
Nessa fase do Projeto Tutoria era preciso pesquisar como superar os desafios
apresentados. Assim, deparou-se com o projeto Conversas do Elpídio. É uma série de
livros que faz parte de um projeto desenvolvido para o Ensino Médio pelo Núcleo de
206
O processo
Era preciso mudar, assim no ano letivo de 2014, o Projeto Tutoria foi
reorganizado, conforme o quadro a seguir:
Quadro 2 - Projeto Tutoria – Metodologia de trabalho
Ação ações específicas e Alunos retidos, Leitura do Livro “ Conversas do Elpídio sobre o
reparatória transformadoras de promovidos pelo estudar”
(Grupo I) hábitos junto aos conselho e com Ações com alunos
alunos retidos e com dificuldades - uso de caderno de tutoria (do aluno) – cada terá um
dificuldades extremas expressas caderno no qual fixará as atividades direcionadas
extremas de após avaliação daquela semana;
aprendizagem; diagnóstica; - pasta de tutoria (do professor tutor) identificação e
relatos sobre a participação do aluno;
Ação de formação Professores-tutores; - a leitura do livro será realizada nas aulas de tutoria;
dos professores - as cópias prévias das fichas serão providenciadas pela
tutores; Coordenação Pedagógica;
- Discussão sobre as notas e a freqüência bimestrais.
Ação ações introdutórias e Todos os alunos do Leitura adaptada do Livro “ Conversas do Elpídio
preventiva formadoras de 6º ano do ensino sobre o estudar”
( Grupo II) hábitos junto aos fundamental; Ações com alunos
alunos do sexto ano - Trabalho introdutório pelo Coordenação sobre como
do ensino estudar
fundamental II; - A leitura deverá ser adaptada
(com trechos pré selecionados pela coordenação) com
Todos os uso de dicionários e estratégias diversificadas.
Ação de formação professores da -Separar uma matéria no Caderno – Orientação aos
geral sobre estudar ; unidade escolar nas estudos;
reuniões de ATPC - uso de fichas adaptadas para formação do hábito dos
estudos.
- Discussão sobre as notas e a frequência bimestrais.
Imagem 2 : Síntese no quadro negro das informações discutidas nos grupos em relação as
experiências de estudos dos docentes
Figura 1 Figura 2
Fonte: Figura construída pela pesquisadora Bianca dos Santos Torres, Fonte: Figura construída pela pesquisadora Bianca dos Santos
com base nos referenciais teóricos e nas análises do Projeto Tutoria. Torres para esse artigo.
TORRES, 2012, p.81
Considerações Finais
Desta forma, percebe-se nesse relato de experiência o processo formativo
implantado e implementado em uma escola da rede pública paulista. Sendo possível
ressaltar a escola como locus privilegiado para a formação contínua docente, bem como
a necessidade de ressignificar o processo formativo desse profissional, por meio de
discussões sobre projetos da própria realidade escolar. Isto posto, conclui-se que o
Projeto Tutoria e Conversas do Elpídio, e as teorias que subjazem essa série, são
elementos capazes de potencializar o processo de ensino-aprendizagem do aluno, bem
como do docente ampliando a perspectiva de formação contínua dentro do espaço
escolar.
211
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DELORS, Jacques; Educação: um tesouro a descobrir. 8a. Ed. Brasília. DF: MEC:
UNESCO, 2003.
Comunicação
Resumo: Este texto apresenta e discute resultados obtidos em estudos recentes (2010-
2012) desenvolvidos no âmbito de um projeto de pesquisa no Programa de Pós-
graduação em Educação: Currículo da PUC-SP sobre políticas curriculares
empreendidas pelo Estado brasileiro (especialmente na esfera estadual de São Paulo)
para a educação básica. Considerando que a preocupação comum a todos os trabalhos
colocou no centro do debate o lugar ocupado pelos sujeitos nos processos de
formulação, gestão e execução das políticas por meio de suas práticas educativas, este
texto visa, particularmente, colocar em relevo elementos que contribuam para ampliar e
atualizar a discussão sobre o papel dos educadores como intelectuais, na perspectiva
gramsciana, no contexto das atuais políticas educacionais, orientadas pelos princípios
neoliberais em esfera global Os resultados das pesquisas locais, ao apontarem para
posições ambivalentes assumidas pelos educadores em relação às prescrições que
restringem o seu espaço de autonomia, exigem uma reinterpretação sobre o papel das
diferentes posições ocupadas pelos sujeitos como intelectuais orgânicos desse processo.
Palavras-chave: políticas curriculares – trabalho docente - intelectuais orgânicos–
espaço escolar
Introdução
As pesquisas vinculadas ao projeto “Políticas curriculares para a educação básica
propostas pelo Estado e sua ressonância na prática pedagógica” (PUC-SP, 2010-2012)
permitem afirmar que, no que se refere às políticas de currículo, os sistemas de ensino
têm empreendido iniciativas por meio de duas modalidades básicas: a primeira, por
1
Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação: Currículo (PUC-SP)
2
Pesquisadora integrante do Grupo de Pesquisa Políticas de Educação: Currículo (PEC-PUC-SP)
213
Neste outro trecho da mesma palestra, porém, evidencia-se, com mais precisão o
lugar efetivamente atribuído ao professor na execução da “proposta”:
[...] o nosso foco, até mesmo o foco das sequências didáticas, é o
desenvolvimento de competências e habilidades que estão claramente
indicadas em cada Caderno do Professor. Então, vejam. Suponhamos que o
professor diga pra vocês que ele não quer usar o Caderno do Professor; ora,
ele não tem liberdade para fazer o que ele quer, ele pode trabalhar com suas
fontes, com seus recursos, o seu material, desde que ele garanta que os alunos
desenvolverão aquelas competências e habilidades previstas no currículo [...]
(Ibid., grifos nossos.)
Ou seja, fica claro que as sequências didáticas não são exatamente meras
“sugestões”, mas modelos a serem seguidos, sob o olhar atento do “gestor”. No
segmento seguinte do mesmo discurso, captado, com perspicácia, por Tavares (2012),
evidencia-se, então o lugar e o papel do professor-coordenador na arquitetura da
“proposta”:
[…] é claro que ele [o PC] não vai fiscalizar as aulas, embora seja super
recomendado que ele assista algumas, e ele poderá monitorar o trabalho do
professor para saber o que é que está acontecendo, o que está sendo ensinado,
como se dão as relações sociais dentro da sala de aula […]. É este
monitoramento, esta é a essência da função estratégica de mediação. (SÃO
PAULO, 2009 apud TAVARES, 2012).
Programa Ler e Escrever na rede estadual paulista, observa a função esperada desse
ator colocado no centro de uma lógica supostamente “perfeita”: a de ser os “olhos
visíveis” do sistema, cuja eficácia depende, de um lado, do exercício controlador de um
poder disciplinar, nos termos propostos por Foucault (2002) e, de outro, da sua atuação
como representante de um discurso que, enfatizando a importância da “autonomia” e da
“criatividade” dos educadores, apazigua possíveis espíritos “rebeldes” em relação às
políticas oficiais. A mesma fórmula discursiva, ambígua e contraditória, se aplica,
portanto, ao PC, desde que não transgrida o que é preconizado pelo sistema. Conclui-
se, assim, como também observou Freitas (2011) que a Proposta Curricular do Estado
de São Paulo apresenta uma reorganização social do trabalho pedagógico pautada na
adesão, no qual o papel do PC é o de “articulador de consensos” entre os formuladores
e os executores da “proposta”.
Em trabalho anterior (ROSA, 2010), onde analisamos o Programa Ler e Escrever
implantado no município de São Paulo, chamamos a atenção para a contradição
“epistemológica” existente entre o referencial das orientações didáticas do programa e
seus objetivos políticos. Observamos que a mesma teoria (a psicogênese da língua
escrita) havia sido utilizada no início da década de 1980 para fundamentar uma
experiência pioneira na rede estadual paulista: a do Ciclo Básico, que estendia o tempo
destinado à alfabetização a fim de respeitar o ritmo de aprendizagem de alunos
provenientes das classes populares. O mesmo referencial é usado, agora, no Ler e
Escrever para “acelerar” resultados.
A consequência desse conflito pesa sobre as costas das professoras, cujas práticas,
apontam para “soluções” pouco ortodoxas como o uso, por uma professora, de dois
cadernos: um oficial e outro extraoficial. O caderno oficial (construtivista) é trabalhado
em classe de modo a “satisfazer” a coordenadora (e as prescrições do Guia do
Programa); mas é com o extraoficial (com o be-a-bá das cartilhas, trabalhado “só em
casa”) que ela consegue os “resultados”. De acordo com a professora, “essa foi a
maneira com que sempre trabalhei”(ROSA, 2010, p.10). O exemplo ilustra como, no
contexto institucional, o exercício da autonomia é vivido como “transgressão”.
Em outra etapa do mesmo estudo, identificamos que 40% das professoras
entrevistadas, de um total de 30, representantes de 7 Coordenadorias de Ensino do
município de São Paulo, preocuparam-se em demonstrar sua “adesão” ao discurso
oficial. Alguns depoimentos são ilustrativos: “existe um perfeito entrosamento entre
professores e coordenação ; “[...] só existem aspectos positivos [no programa], tornando
217
O papel dos educadores a partir dos lugares que ocupam nas políticas curriculares
É possível afirmar que, na cena da educação contemporânea, o binômio avaliações
de larga escala e políticas curriculares padronizadas assumiram centralidade na
regulação do processo educativo que se passa no âmbito da instituição escolar. Esses
novos elementos participam da criação de uma nova cultura institucional que
transcende os limites da escola e, seguramente, tende a definir os papéis assumidos por
professores e gestores, tendo em vista também uma outra concepção de “qualidade” da
educação. Esta tem sido reduzida aos “ranqueamentos”, que se multiplicam e geram
uma disputa cega por melhores colocações num pódio que ignora o trabalho
efetivamente realizado na escola. Essa corrida se tornou a obsessão educacional do
nosso tempo e o impacto desse processo sobre as práticas dos educadores tem sido
devastador.
Assim, se quisermos avançar na discussão sobre o papel dos professores é
preciso considerar os lugares efetivamente ocupados pelos professores neste novo
cenário, o que pressupõe questionar, inclusive, se os lugares que lhes são atribuídos (nos
discursos e intenções dos programas oficiais) correspondem àqueles que de fato ocupam
no interior das instituições escolares. Daí a importância de olharmos atentamente para o
que dizem as pesquisas já realizadas e também de considerar este ponto específico em
novos estudos.
As pesquisas realizadas no âmbito do projeto analisado neste texto indicam que,
no contexto das políticas curriculares empreendidas pelo Estado brasileiro – tanto em
sistemas estaduais como municipais de ensino –, é possível classificar o papel
desempenhado pelos educadores em categorias distintas, em função do grau de
“organicidade” de suas atribuições. Ao fazermos tal afirmação, tomamos a noção
gramsciana de “intelectual orgânico”, para nortear as reflexões atinentes ao lugar e ao
papel desempenhado pelos diferentes agentes nos processos de formulação, gestão e
execução das propostas curriculares em curso.
219
Vale ressaltar que, para Gramsci, “não existe atividade humana da qual se possa
excluir toda intervenção intelectual, não se pode separar o homo faber do homo sapiens”
(1968, p.7). Nessa passagem dos seus Quaderni del carcere, o que o autor nos ensina é
que a vulgar separação entre trabalho físico e intelectual utilizada como critério para
distinguir os intelectuais dos não-intelectuais diz respeito a um erro metodológico que
precisa ser superado:
O erro metodológico mais difundido, ao que me parece, consiste em se ter
buscado este critério de distinção no que é intrínseco às atividades
intelectuais, ao invés de buscá-lo no conjunto do sistema de relações no qual
estas atividades (e, portanto, os grupos que as personificam) se encontram, no
conjunto geral das relações sociais. (Ibid., p. 7, grifos nossos)
É preciso enfatizar, porém, que esta função orgânica não se restringe aos grandes
intelectuais, mas se distribui, hierarquicamente, entre diferentes categorias de acordo
com o lugar que ocupam na superestrutura e “segundo o valor qualitativo de sua função,
do grande intelectual ao intelectual subalterno: na cúpula, os criadores da nova
concepção de mundo (...); no escalão inferior, aqueles que estão encarregados de
administrar ou divulgar essa ideologia” (Ibid., p.97). Em seu conjunto, porém, cumprem
a função primordial do conjunto das superestruturas das quais são funcionários porque
com suas ações buscam “assegurar a hegemonia ideológica e cultural da classe
fundamental sobre o conjunto da sociedade.” (GRAMSCI, 1968, p.10)
Essas ferramentas conceituais oferecem pistas valiosas para refletir sobre a
temática que estamos discutindo. Do topo para a base, é possível identificar os
“intelectuais criadores” das políticas curriculares prescritas pelo Estado. No caso
brasileiro, não raro, tais intelectuais têm nome e sobrenome e ocupam posições de
destaque no interior das melhores universidades do país, ou são representantes da
220
sociedade civil, organizada em ONGs, muitas das quais subsidiadas pelo setor privado
(com declarado “interesse público”!). Um mapeamento cuidadoso dos autores dos
materiais de referência aos docentes permitiria reconhecer, com clareza, a relação de
“organicidade” desses intelectuais com os sistemas de ensino oficiais, com o que é
também possível identificar as rotas ideológicas, materializadas em guias e manuais,
dirigidos às escolas. Da perspectiva do produto desse trabalho intelectual, professores e
gestores são, respectivamente, “executores” e “articuladores” no cumprimento das
políticas.
O limitado espaço destinado aos educadores se revela, como vimos, nos vãos e
deslizes dos discursos oficiais e nos “pacotes curriculares” carregados de prescrições
didático-pedagógicas, prazos e metas, travestidos de “propostas”. A viabilização desse
projeto depende em grande parte, como vimos, dos “gestores”, agentes (intelectuais)
intermediários encarregados de administrar e divulgar a ideologia dos grupos
hegemônicos, a partir de uma fórmula supostamente “perfeita”, como observou Tavares
(2012). Convictos do poder de “persuasão” (mediação, no discurso oficial) do gestor,
aposta-se nesse “herói cultural” do novo paradigma do serviço publico (BALL, 2008, p.
47) como responsável (accountable) pela vigilância e controle de novas relações
institucionais dentro da escola, como evidenciam as pesquisas de Freitas (2011) e
Tavares (2012) sobre o papel desempenhado pelo PC nos programas curriculares da
rede estadual paulista.
Quanto aos professores, nossas pesquisas indicam que, incomodados ou não, eles
têm assumido, no chão da fábrica das escolas, a função de executores de um projeto
educativo de cuja elaboração não participam e que, não raro, pouco compreendem.
Paradoxalmente, porém, limitados por uma formação muitas vezes insuficiente, que não
lhes permite uma leitura mais profunda das políticas, os professores nem sempre
executam “ao pé da letra” o que lhes é prescrito, participando, sem saber, de uma
“resistência” involuntária ao sistema. Essa ambivalência em relação às políticas oficiais,
de um lado, e, de outro a insistência do próprio modelo em apostar em “propostas”
curriculares “à prova de professor” deixa em aberto a discussão sobre se, em tais
condições, os docentes cumprem, ou não, o papel de “intelectuais orgânicos” do projeto
ideológico neoliberal em curso.
221
Considerações finais
Frente a algumas evidências proporcionadas por nossas pesquisas até então, quer
nos parecer que há, no espaço de tensões resultante das contradições do próprio modelo,
possibilidades a serem exploradas na direção da autonomia dos professores e de seu
papel como intelectuais “orgânicos” de um projeto contra-hegemônico. Pois, como
lembra Contreras (2002, p.128), são eles que “em última instância, decidem a forma
com que planejam suas aulas, por meio das quais as tentativas de influência externa são
transformadas em práticas que nem sempre têm muito a ver com a essência das
mudanças pretendidas” Em nosso entendimento, ao fazer uso de “dois cadernos” (o
oficial e o extraoficial) aquela professora não estava apenas preocupada em garantir sua
“sobrevivência institucional”, mas (mesmo que clandestinamente) em fazer valer os
saberes de sua profissão na condução de seu próprio trabalho, o que nos parece um
indício importante tanto da capacidade de “resistência” (política) dos educadores, como
de uma disposição (criativa) para o exercício da dimensão intelectual do seu trabalho.
Não há dúvida de que necessitamos de profissionais da educação que saibam
fazer leituras profundas das políticas públicas e que, coletivamente, como parte de sua
formação continuada na escola, discutam as suas intencionalidades de modo a
participar efetivamente do processo educativo. Este é o caminho para fazer com que os
profissionais da educação se apropriem efetivamente de seu processo de trabalho que,
fragmentado como está, os desorienta. A questão problemática é: como? Uma vez mais
a ponderação de Contreras contribui para dar continuidade a esse projeto:
Não poderemos compreender as possibilidades que a reflexão tem em si
mesma para detectar os interesses de dominação da prática escolar, e para
transcender os limites que esta impõe à emancipação, se não tivermos em
conta a forma em que professores e professoras, no contexto da instituição
escolar, constroem o seu papel. (CONTRERAS, 2002, p.149, grifos nossos).
Referências
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política educacional: expressão de simbiose? Educ. Soc., Campinas , v. 33, n.
119, Jun. 2012 Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
73302012000200011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 27 abr. 2014.
BALL, Stephen J. The Education Debate. Bristol: The Policy Press, University of
Briston, 2008.
BALL, Stephen J.; MAGUIRE, Meg; BRAUN, Annete. How Schools do Policy. Policy
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CONTRERAS, José. A autonomia dos professores. São Paulo: Cortez Editora, 2002.
223
PONCE, Branca Jurema; LEITE, Eliana Albarrans. O Trajeto percorrido por uma
política pública de Educação: da Secretaria Educação (Gestão 2007-2010) ao chão de
uma escola. Revista e-curriculum, São Paulo, v.8 n.1, abr. 2012. Disponível em:
<http://revistas.pucsp.br/index.php/curriculum/article/viewFile/9043/6641 > Acesso
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ROSA, Sanny S. da. A relação dos professores com o saber em uma proposta curricular
padronizada de Alfabetização: reflexões sobre o “Programa Ler e Escrever”. Revista e-
curriculum, São Paulo, v. 5, n. 2, julho 2010. Disponível em:
<http://revistas.pucsp.br/index.php/curriculum/article/view/3349 > Acesso em: 10 abr.
2014.
ZOCCAL, Sirlei Ivo Leite. A relação dos professores alfabetizadores com o saber no
contexto do "Programa Ler e escrever". Dissertação (Mestrado em Educação). 2011,
189fls. Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Católica de Santos,
Santos, 2011.
225
Comunicação
Resumo: A produção deste texto advém de uma parte da pesquisa de doutorado sobre a
Cultura do Ouvir em salas de aula do ensino médio realizada na Universidade Nove de
Julho. Tendo em conta que vivemos um momento da história em que a polifonia e o
excesso de ruídos invadem os diversos ambientes da cidade (inclusive a escola) e, por
outro lado, evidenciando que alguns sujeitos são mais sensíveis aos sons do que outros,
discorremos neste artigo sobre a necessidade de (re) pensarmos o espaço da escola para
que alunos e professores possam se ouvir e tirarem benefícios dessa escuta.
Uma famosa atriz americana, nos últimos anos da sua vida, comentou certa vez numa
entrevista que gostava de sair para jantar e conversar com suas amigas em alguns
restaurantes. Ela se recusava, no entanto, frequentar aqueles que tocassem piano ou
qualquer outro tipo de música. Se fosse para ouvir música ela preferia ficar em casa, já
que seu intuito maior em sair era para conversar com suas amigas, precisando para isso,
ouvi-las. O depoimento da atriz pode soar estranho ou até mesmo extremo para nossos
ouvidos bastante habituados aos ruídos das grandes cidades. Um fato, porém, requer
uma análise mais cautelosa em relação a essa fala.
Muitos idosos apreciam conversas. Gostam de contar e ouvir vastas histórias, relembrar
os fatos que marcaram suas vidas e, acima de tudo, apreciam muito quem os ouça
atentamente. Ironicamente, para grande parte dos idosos, a audição é muitas vezes
comprometida em função dos problemas do próprio envelhecimento. Mesmo assim, eles
não deixam de apreciar o diálogo. Assim, ouvir está relacionado nem sempre com
escutar bem, mas em compreender o mundo, as pessoas, seus dilemas e situações, por
meio das próprias experiências.
226
Uma escuta com admiração é o que preza grande parte desses idosos. Gostam de ouvir e
serem ouvidos com atenção e admiração. É o que Plutarco1 (2003, p.18-22) aconselha
em seus escritos:
Por isso é mister que, quem pelo gosto de ouvir, em prol do desejo de se
valorizar, escute com benevolência e indulgência aquele que fala como se
fosse admitido em um banquete sagrado ou nas primícias dum sacrifício. A
admiração, certamente, se opõe ao desdém e é própria das naturezas mais
generosas e sem dúvida também das mais brandas.
Outro dado sobre esses ouvintes é que a passividade que requer ouvir, nesse caso – para
compreender – condiz com uma energia menor ou mais reduzida que a própria idade
lhes reservou. O homo consumans queimou muito dessa energia em décadas anteriores,
correu riscos, aventurou-se e brindou demasiadamente. O homo faber, por sua vez,
plantou, colheu, produziu e contribuiu para a sociedade e para a espécie. Como
consequência disso, o depósito de energia agora é seletivo, pela própria natureza.
Ansiedade e passividade, dessa forma, não acordam. Diz a composição de Renato
Teixeira: Ando devagar porque já tive pressa.
Pensando no piano que a atriz se recusava a ouvir enquanto estivesse com sua amiga
nos jantares, convém conceituarmos o ruído. Para o canadense Murray Schafer (1991, p.
68-9), pesquisador da área sonora e um dos principais compositores do seu país:
[...] Ruído é o som indesejável. Ruído é a estática no telefone ou o
desembrulhar balas do celofane durante Beethoven. Não há outro meio para
defini-lo. Às vezes, a dissonância é chamada de ruído; e para os ouvidos
tímidos até pode ser isso. [...] Ruído é qualquer som que interfere. É o
destruidor do que queremos ouvir. [grifos meus]
1
Plutarco escreveu no ano 100 d.C, para os aprendizes da filosofia, uma breve dissertação sobre o modo
de ouvir. Para ele, ao ouvir, aprendemos mais a pensar do que a falar, pois essa audição é feita da própria
substância das palavras, tendo a retórica, por assim dizer, apenas uma função reguladora e exterior. À
retórica autorizada do orador profissional, Plutarco opõe a confusão adolescente e a mania compulsiva
que dela deriva. Mas não se deve pensar que os costumes em voga nas sociedades de consumo do
Ocidente sejam tão estranhos ao mundo helenístico (MARÉCHAUX, p.IX). Plutarco descreve os diversos
ouvintes, do desconfiado ao malévolo, do tímido ao mais falante, do invejoso ao cuidadoso, na relação da
escuta.
227
Para se ter uma ideia dos resultados causados pelos altos índices de estresse causados
em função disso, em maio de 2013, um homem de 62 anos, empresário e morador de
um condomínio de luxo no bairro de Alphaville, em São Paulo, matou um casal – de 40
e 37 anos – e em seguida se matou após discutirem diversas vezes por causa dos ruídos
que tinham origem no apartamento do casal. Essa é uma entre tantas ocorrências
causadas pelo excessivo ambiente de ruído aos ouvidos humanos.
Os ruídos excessivos coincidem, deste modo, com o período pós-moderno. Nesse
sentido, Schafer também exemplifica, por meio de uma tabela, como os sons se
transformaram com o passar do tempo. Acreditamos que o autor tenha levantado os
dados para sua análise sobre o Canadá até a década de 1960, época em que foi
publicado seu livro. Assim, podemos pensar que os sons de utensílios e tecnologia em
mais de cinco décadas após sua análise tenham aumentado de forma desproporcional
com a crescente aceleração do desenvolvimento urbano.
Tabela 2 – Correlação entre sons e as épocas
Sons Sons Humanos Os Sons de Utensílios e
Naturais Tecnologia
Culturas Primitivas 69% 26% 5%
Culturas Medieval,
Renascentista e Pré- 34% 53% 14%
Industrial
Culturas Pós- 9% 25% 66%
Industriais
Década de 1960 6% 26% 68%
E, brilhantemente continua:
Até mesmo no coração das cidades havia reservatórios de quietude. As
igrejas eram esses santuários, e também as bibliotecas. Na sala de concerto,
ainda hoje o silêncio toma conta da plateia quando a música está para
começar, para que esta possa ser carinhosamente depositada num
receptáculo de silêncio. [grifos meus]
separar a biblioteca de outros ambientes, como salas de aula, corredores e até pátios
internos.
Embora estejamos falando do silêncio como algo positivo e necessário numa cultura do
ouvir2, um mundo absolutamente silencioso, além de ser impossível,3 não é agradável.
Sobre isso, comenta Schafer (1991, p. 130):
Mas, contemplar um silêncio absoluto, isso é negativo e aterrorizante. Assim,
quando o telescópio de Galileu sugeriu a infinidade do espaço pela primeira
vez, o filósofo Pascal ficou profundamente assustado com a perspectiva de
um silêncio infinito e eterno. [...] Quando se entra numa câmara anecóica –
isto é uma sala completamente à prova de som – sente-se um pouco mesmo
de terror. Fala-se e o som parece despencar dos lábios para o chão. Os
ouvidos se apuram para colher evidências de que há vida no mundo.
2
Cultura do ouvir foi o tema de uma palestra proferida por Norval Baitello Junior no seminário A Arte da
Escuta, em 1997, na ECO/UFRJ, Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(Zaremba; Bentes,1999). A palestra, revisada e atualizada, foi publicada em A Era da Iconofagia
(BAITELLO JUNIOR, 2005).
3
Tampe seus ouvidos e o mínimo que você ouvirá será sua respiração.
4
Para Wulf (2007) essa predominância se estende, inclusive, para as áreas científicas e acadêmicas. A
hierarquia dos sentidos com a dominação e a hipertrofia da vista é um resultado do processo de
civilização. As condições na origem desse desenvolvimento encontram-se na passagem do oral para a
escrita, no tempo de Platão, na extensão da escrita, seguida da invenção da imprensa e na invenção e
extensão das novas mídias. A predominância da vista encontra-se igualmente confirmada nos esforços
231
Baitello Junior (2005, p. 99) também nos faz pensar sobre essa valorização:
[...] Se fizermos uma avaliação sobre o que vale mais hoje: a palavra ou o
documento? O que custa mais caro, a televisão ou o rádio? O que tem maior
valor, o que se fala ou o que se publica? – em todas as esferas da atividade e
da cultura contemporâneas detecta-se um predomínio do visual sobre o
auditivo. [...] Os sistemas de avaliação são todos fundados sobre a escrita,
que pertence ao reino da visualidade, a mesma escrita que nasceu das formas
mais arcaicas de conservação da informação.
Embora a natureza tenha concedido à grande parte da população mundial dois ouvidos e
a extraordinária capacidade de audição, torna-se oportuno aqui pensar sobre uma
questão feita pelo autor: “[...] não estamos nos tornando surdos intencionais? Surdos
que ouvem. Surdos que têm a capacidade de ouvir, mas que não querem ouvir, não têm
tempo ou então não dão atenção ao que ouvem? Literalmente não dão ouvidos ao que de
fato ouvem?” (op. cit.) Em relação às escolas, essa situação também não foge à regra.
Ouvir no ambiente escolar pode se tornar parte fundamental de uma relação de
aproximação ou distanciamento entre as partes que ali estão. Segundo Menezes (2010,
p. 24):
O estudo da cultura do ouvir nos desafia a compreendermos alguns elementos
dos processos de abstração. Tais processos permitem uma aproximação do
homem com as coisas e com os outros homens, ou melhor, permitem a
própria constituição do homem como um animal simbólico, histórico, capaz
tanto de tomar distância como de vincular-se às coisas e os outros. [grifos
meus]
Sabemos que as salas de aula de muitas escolas são repletas de alunos, locadas
geralmente em ambientes altamente ruidosos que misturam os sons da própria sala de
aula com outros ruídos externos, como o corredor da escola, as falas, gritos lúdicos dos
alunos, as campainhas, o trânsito das ruas da região, entre outros. Alguns professores
(não raramente já apresentando algum problema vocal em impor diariamente sua voz na
tentativa de ser ouvido), imersos nesse ambiente altamente polifônico, iniciam sua aula
muitas vezes despejando o conteúdo da disciplina como uma espécie de vômito
incontido sobre seus alunos. As questões que aportam, primeiramente são: o professor –
de fato – ouviu os alunos? Os alunos – de fato – ouviram o professor?
[...] Para ouvir sons, basta que sejamos passivamente receptivos –
aprendemos a ser passivos. Já para a recepção da imagem, somos obrigados
a ser ativos, a direcionar o nosso olhar para algum objeto. [...] Temos que
considerar ainda outra coisa deste par ativo/passivo. Passivo vem de passion,
passione, que significa paixão e que está associado à sensação e sentimento.
Está associado a sentir. Ativo vem de ação e está associado a agir, a fazer.
Temos aí dois grandes universos que evidentemente se complementam, que
interagem e que são ambos importantes. Mas quando houver o desequilíbrio
entre os dois universos, o ativo e o passivo, será nossa percepção e nossa
relação com o mundo que estará vivendo em desequilíbrio.
Idealmente, espera-se que o som que preencherá o silêncio deve ser um som mais
seletivo e menos ruidoso. Dessa forma, um processo de ensino/aprendizagem obteria
mais êxito se repensássemos o próprio ambiente escolar (em sua estrutura física) nesse
quesito.
Há décadas o vídeo entrou em salas de aula como um importantíssimo recurso de
tecnologia educacional, substituindo outros antigos, como a cartolina, o slide ou o filme
de oito milímetros. Ampliavam-se, também, a quantidade e a qualidade de outros
suportes que chegavam às escolas, como os aparelhos de televisão, telões, aparelhos de
data-show, microcomputadores, notebooks, lousas digitais interativas etc. Salas e
laboratórios de vídeo foram pensados, planejados e construídos nas escolas como
espaços estratégicos para uso do professor em suas aulas. Embora há de se considerar a
valiosíssima contribuição em todos os níveis e áreas do ensino, todos esses recursos são
audiovisuais, que privilegiaram muito mais o ver do que o ouvir na educação.
A cultura do ouvir ao ser pensada no espaço educacional passa pela necessidade de
olharmos para os ruídos externos, para a sensibilidade do ouvir inteligente dos nossos
alunos, mas também, e inclusive, para a estrutura física das salas de aula. Numa cultura
do ouvir, a prioridade deve ser o diálogo, a voz dos alunos e a voz dos professores, a
fim de que vínculos possam existir nesses espaços e de que os conteúdos educativos
234
possam ser melhores absorvidos. Os ruidosos das britadeiras, entre outros inúmeros
aparatos das construções civis, juntamente com o trânsito perturbador ao redor dessas
escolas, em muito atrapalham nesse processo.
Embora seja conhecida as dificuldades – em muitos casos, quase a impossibilidade – de
remanejamento de salas de aula para que o professor possa experimentar (ou degustar)
do silêncio preenchido sabiamente apenas pela voz dos seus alunos, a sugestão é
também um apelo à melhor forma de respeitar a audição dos mais sensíveis e propor aos
insensíveis uma nova forma de ouvir e ser ouvido. Nesse sentido e diante do fato de que
as escolas também se articularam nas últimas décadas em detrimento do visual, o
planejamento e a construção de um espaço do ouvir nas escolas seria o idealizado para a
sensibilização de uma cultura do ouvir. Não se trata de um estúdio ou de um laboratório
de áudio, mas de uma sala com uma acústica apropriada para o ouvir. Como sugestão,
uma sala simples com paredes preparadas acusticamente e um aparelho de som onde o
professor possa trabalhar com peças de áudio, por exemplo. Em muitos casos, os níveis
de dispersão diminuem significativamente em aulas que são ministradas em espaços
pensados para a escuta de todos os presentes. O isolamento do ambiente externo
favorece não apenas uma maior sensibilidade, percepção e imersão no que está sendo
tratado, mas possibilita uma seleção (bem) menos “arenosa” acerca dos sons que, dessa
forma, passam a ser ouvidos livremente.
Além dos próprios diálogos entre alunos e professores sobre a unidade didática
ministrada nesse local, um aparelho de som e peças sonoras como áudio livro,
radiojornalismo ou documentários radiofônicos são excelentes oportunidades de
trabalhar o sentido auditivo e a importância de uma cultura do ouvir numa era arraigada
apenas ao visual e que tem demonstrado frequentemente os efeitos dessa crise na pós-
modernidade.
Embora não entramos aqui nos méritos dos investimentos para a construção dessas
“salas do ouvir”, sabemos que tanto a forração acústica das paredes de uma sala como
um aparelho de som em muitos casos têm custos bastante inferiores à grande parte de
outros recursos audiovisuais, o que também justificaria o experimento e o benefício para
a escola.
235
Referências
PLUTARCO. Como ouvir. Prefácio e notas Pierre Maréchaux. Trad. (grego e francês)
João Carlos Cabral Mendonça. Revisão da tradução Henrique F. Cairus, Tatiana
Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
WULF, Christoph. O Ouvido. In: Revista GHREBH. São Paulo: 2007, n.9. Disponível
em: <http://www.cisc.org.br/revista/ghrebh9/artigo.php?dir=artigos&id=WulfPort>.
Acesso em 09 out. 2013.
236
Comunicação
Carolina Martin
UNIMEP/CNPq
Introdução
A presente comunicação se baseia em uma pesquisa acerca do Movimento
Cidades Educadoras, o qual visa, a partir de políticas públicas locais, proporcionar uma
melhora da qualidade de vida nos espaços urbanos, por meio de ações com cunho
pedagógico. As premissas e princípios do Movimento estão voltados à implantação de
um conjunto de iniciativas educacionais formais, não-formais e informais, com o intuito
de alcançar uma educação ao longo da vida tanto para os habitantes em geral, quanto
para grupos específicos. A intenção é que governos locais, habitantes e instituições se
envolvam no planejamento e desenvolvimento de planos e projetos, os quais trabalhem
sob diferentes frentes as desigualdades e exclusões urbanas1.
1
Carta das Cidades Educadoras. Disponível em <http://www.cm-
evora.pt/NR/rdonlyres/00004ead/awtuvhezgywlwffaxvjxllxizxmcnmct/Cartadascidadeseducadoras.pdf>
Acesso em 20 jul. 2008.
237
como iniciativas que têm como objetivo, a melhoria das condições de vida dos
habitantes e o desenvolvimento e exercício da cidadania.
A identificação de escasso conjunto literário acerca das Cidades Educadoras, da
falta de consenso sobre a temática no decorrer da revisão de literatura e da importância
da relação entre educação e os espaços sociais e territoriais das cidades, no que tange ao
desenvolvimento integral dos cidadãos, suscitou a relevância do estudo desse
Movimento internacional. Dessa forma, espera-se que essa comunicação, considerando
seus limites, contribua para discussões referentes às reflexões e ações, que agregue
elementos os quais possam colaborar para uma concepção plural a respeito de
transformações no plano local.
Cidades Educadoras
O Movimento Cidades Educadoras se consolidou no fim do século XX com
pressupostos calcados em uma visão de educação, que entremeia as modalidades
formais (escolares e universitárias), não-formais (com cunho pedagógico, mas sem
regras, conteúdos e condutas rígidas) e informais (educação cotidiana, baseada na
relação entre os habitantes e suas culturas e normas vigentes). A ideia central é
desenvolver um modelo democrático de educação ao longo da vida nos espaços
urbanos, por meio de um maior envolvimento possível dos habitantes e instituições nas
políticas públicas.
As primeiras noções e ideias que culminaram no Movimento Cidades
Educadoras, surgiram de forma organizada no relatório da UNESCO "Aprender a Ser: a
educação do futuro" (1973). Este documento traça a trajetória da história da educação,
até os tempos modernos e propõe que por meio da democracia, os problemas sociais
sejam trabalhados a partir de ações educativas diversas, traçadas por políticas e
estratégias que gerem reformas, inovações e buscas de alternativas, as quais respeitem
as particularidades nacionais e locais, ao fazer uso principalmente da solidariedade e
cooperação.
De acordo com Canário (2006), o relatório inicia um "[...] movimento da
educação permanente, reorganizador de todo processo educativo" (p.18) e estabelece
um marco de mudanças no pensamento, onde a educação passa a ser vista como
presente em todas as etapas da vida. O cerne está em quem aprende, baseado na
diversidade e globalidade de cada pessoa, dentro de uma "[...] dimensão cívica,
239
locais passou a ocorrer quando houve a constatação por parte das administrações
nacionais de que estavam diante de um acúmulo de responsabilidades com as quais não
eram capazes de lidar sozinhas.
Segundo Tocqueville (FREY, 2000), as pequenas comunidades políticas têm
maior probabilidade de propiciar ações solidárias necessárias a estimular o civismo e
preservar a liberdade política dos habitantes. O contexto no qual as sociedades
modernas se inserem representa para os governos locais uma complexidade de
contraposições na tarefa de integrar os habitantes, entre as diversidades e necessidades
sociais. Pressupõe-se assim, que para vencer as adversidades caberia ao governo
democrático de uma dada localidade, agir como educador e envolver os habitantes nas
questões públicas.
Para que as Cidades Educadoras possam viabilizar todos os pressupostos e
princípios, seus membros, educadores e teóricos, elaboraram diretrizes e estratégias com
a intenção de orientar as atuações dos governos locais. Dentre elas está a formação de
um sistema administrativo de múltiplas esferas, o qual coordene informações sobre o
que precisa ser executado, por meio de medições quantitativas, geradoras de discussões
públicas e conclusões qualitativas (RECE, 2010).
De Acordo com o site4 da AICE, na página que define as Cidades Educadoras,
devido à abrangência da proposta, as relações e as estruturas de trabalho entre os que
constituem a equipe de governo, devem ocorrer de forma que os planos e ações sejam
desenvolvidos sob uma visão conjunta e geral. Para os pressupostos serem colocados
em prática, um dos fatores necessários é a organização e intencionalidade política.
Todavia, ainda há muitos casos, onde o executivo local continua deixando a organização
da cidade como educadora à cargo do órgão responsável pela educação formal. Segundo
a AICE, seria adequado haver um departamento ou secretaria que organizasse as ações
da cidade como educadora, o qual estabelecesse contato com os outros órgãos locais,
regionais, nacionais e internacionais, além da sociedade civil, para possibilitar que as
iniciativas alcancem as metas propostas pelo Movimento.
Dessa forma, ao gestor oficial da cidade cabe a tarefa de promover estudos,
avaliações, discussões e colocar a cargo do gerenciamento das ações, uma equipe que
tenha contato ao mesmo tempo, com todas as áreas administrativas e representantes de
instituições e grupos sociais, a partir de uma visão global do que ocorre na cidade.
4
Disponível em <http://www.bcn.cat/edcities/aice/estatiques/espanyol/sec_educating.html> Acesso em 20
jan. 2013.
242
Quadro nº1: Parcerias nas ações das Cidades Educadoras no estado de São Paulo - ano
de 2012.
Município Ação – Descrição
Santo André Programa "Pé no Parque" - FEFISA (Faculdades Integradas de Santo André) - orientação nas atividades
físicas + Secretaria de Esporte
Santo André Curso de Promotoras Legais Populares - organizações da sociedade civil: Feminina, Negra Sim, PROLEG
(Promotoras Legais de Santo André) e Associação Viva Melhor + Secretaria de Assuntos Jurídicos
Santo André Trabalho Educativo com Crianças em Situação de Vulnerabilidade Social - Rede de proteção social do
menor do município + entidades que trabalham em temas de proteção social do menor + demais órgãos
implicados nos temas de garantia de direitos da infância e juventude.
Santos Projeto Vou Volto / Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmo - Secretaria de Educação (Equipe
Interdisciplinar) + Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo
Santos Projeto Integrar Arte e Vida - Parceiros: ANE – Associação Nacional de Esportes + Secretaria de Educação
+ UNIMED + NET + Translitoral + SESC - Patrocínio: COMGÁS – Companhia de Gás de São Paulo +
Carrefour + Lorenzetti
Santos Projeto Bom de Bola, Bom na Escola - ANE - Associação Nacional de Esportes + Secretaria de Educação
Santos Campanha da Boa Visão - Lar das Moças Cegas + Secretaria de Educação
Santos Projeto De Olho no Óleo - MARIM Resíduos + Secretaria de Educação
Santos Projeto Ecoviver - Concessionária ECOVIAS + Secretaria de Educação
Santos Educação Patrimonial - CONDEPASA + CONDEPHAAT + IPHAN + Secretaria de Educação
Santos Projeto Entre na Roda - Fundação Volkswagen + CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação
Cultura e Ação Comunitária) + Secretaria de Educação
Santos Projeto Esporte Para Todos - Viação Piracicabana + SEMES + Secretaria de Educação
Santos Projeto Horta - Secretaria de Educação + Jardim Botânico + Casa da Agricultura
Santos Projeto Jornal Escola - Secretaria de Educação + Jornal A Tribuna
Santos Programa de Leitura da Petrobrás - Petróleo Brasileiro S.A. + ONG Leia Brasil + Secretaria de Educação
Santos Olimpíada de Matemática - Diretoria de Ensino + Escolas particulares (Carmo, UNIVERSITAS e São José)
+ Secretaria de Educação
São Carlos Escola de Vida e Trabalho - SENAI + Prefeitura
São Carlos Programa de Inclusão Digital - prefeitura (diferentes secretarias) + fundações + entidades + empresas
São Carlos A Gestão Democrática de Escola Pública e o Conselho da Escola - Secretaria de Educação e Cultura +
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
São Carlos São Carlos de Todos Nós: educação para preservação de bens materiais e imateriais do Município -
Secretaria de Educação e Cultura + Fundação Pró-Memória
São Paulo Ruas de lazer - Secretaria de Bem Estar Social + SESC
São Paulo Programa Ação Família / viver em comunidade - 12 Secretarias + 47 organizações não governamentais
São Paulo Selo Diversidade Cidade de São Paulo - Secretaria do Trabalho + Comissão Interdepartamental para a
Monitoração e Gestão de Gênero e Raça + organizações empresariais + sindicatos + terceiro setor
São Paulo Pedagogia Hospitalar em São Paulo - Hospital do Câncer A. C. Camargo + Secretaria de Educação
São Paulo Semana da Criança e do Adolescente: por uma Cidade Educadora - 10 instituições e organizações de caráter
público (escolas, universidades, serviços de promoção de saúde) + nãogovernamentais + Universidade de
São Paulo +Instituto Ayrton Senna + prefeitura
São Paulo Oldnet - Associação Cidade Escola Aprendiz + prefeitura
São Paulo Escola / Restaurante - Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social + Secretaria de Trabalho + ONGs
São Paulo Oficinas do Prosedis - Prosedis (OSCIP) + empresários + profissionais + Secretaria da Educação
Sorocaba Projeto Novo Tempo / Reinserção de egressos e familiares do sistema prisional - prefeitura + Fundação
Professor Manuel Pedro Pimentel (FUNAP)
Sorocaba Universidade do Trabalhador Empreendedor / Capacitação Cidadã - Secretaria da Educação + SENAI +
SESI + SEST-SENAT + Universidades + sindicatos + empresas privadas+ Fundo Social de Solidariedade +
Oficina de Emprego + Associações de Artesania
Fonte: Quadro elaborado pela autora a partir de dados disponíveis em
<http://w10.bcn.es/APPS/edubidce/pubExperienciesAc.do?accio=avansada&pubididi=2> Acesso em 10
abr. 2013.; e <http://www.portal.santos.sp.gov.br/seduc/page.php?> Acesso em 01 nov. 2013.
Considerações Finais
As Cidades Educadoras constituem um movimento internacional educativo,
político, social e cultural, que propõe o desenvolvimento dos potenciais educacionais no
espaço urbano, com o intuito de alcançar um modelo de educação ao longo da vida.
Seus princípios básicos estão calcados na democracia, por meio de ações as quais
representem alternativas que abarquem as especificidades próprias de cada sociedade. O
Movimento sugere, que a partir de uma política pública de caráter pedagógico,
embasada em distintas modalidades educacionais - formais, informais e não-formais -
diferentes questões sejam trabalhadas em iniciativas, nas quais a sociedade participe da
elaboração e execução e que sejam voltadas tanto para os habitantes em geral, quanto
para grupos populacionais específicos.
Diante das propostas do Movimento, entendo que em algumas sociedades a
implantação das premissas será mais demorada e complicada, pois em muitas culturas,
apesar do governo ser eleito democraticamente, não há o costume dos habitantes e
instituições tomarem parte na definição da pauta de políticas públicas. Sob essa
perspectiva, os governos locais devem ir além dos serviços públicos básicos, a partir de
estudos e pesquisas, ampliar as ações educativas por meio de planos e medidas, os quais
atentem às demandas peculiares dos habitantes.
Como o governo local está no cerne do Movimento entendo que ainda cabe
considerar a complexidade e porte de suas responsabilidades e o fato da troca periódica
de governantes, os quais dificultam o alcance dos objetivos. Quanto a isso, considero
que o estabelecimento do Movimento como política de estado e não de governo é a base
da continuidade de sua existência por mais de duas décadas.
Em relação à participação de habitantes e instituições na elaboração e execução
de políticas públicas, concordo com as diretrizes das Cidades Educadoras, nas quais os
contextos próprios de cada localidade fazem com que não haja possibilidade de modelos
universais. Pois, a meu ver na implantação de ações educativas de ampla abrangência,
como as propostas pelo Movimento, a escala de representatividade e participação está
vinculada às peculiaridades de cada sociedade. No que diz respeito às parcerias de
instituições no desenvolvimento das ações educativas, considero que deve haver o
cuidado para as sem fins lucrativos, principalmente as de cunho educativo e social,
tenham prioridade em relação às com fins lucrativos, quanto a essas últimas entendo,
que é preciso atenção para que não utilizem suas contribuições para as ações, sejam elas
246
Referências Bibliográficas
BELLOT, Pilar Figueiras. Ciudades Educadoras, una apuesta de futuro. In: AICE -
Associação Internacional das Cidades Educadoras (Org.). Educación y Vida Urbana:
20 años de Ciudades Educadoras. Madri: Santillana, 2008. p. 19-24. Disponível em
<http://www.redbcm.com.br/arquivos/cidadescriativas/cidades%20educadoras.pdf>
Acesso em 22 jul. 2012.
CANÁRIO, Rui. A Escola tem Futuro? Das Promessas às Incertezas. Porto Alegre:
Artmed, 2006.
Relato de Experiência
Introdução
Após as décadas de 1970 e 1980, marcadas pela ditadura militar e também pela
atuação dos movimentos sociais e populares, entre eles o da educação, tivemos
conquistas legais voltadas à democratização da gestão escolar, como a criação de
conselhos escolares com caráter deliberativo. No entanto, a inscrição legal não bastou
para que a ocupação desse espaço democrático garantisse o direito constitucional da
participação ativa da comunidade nas tomadas de decisões da escola.
Alguns municípios vêm desenvolvendo processos formativos de conselheiros de
249
eleitos para a gestão 2014, ocorrida em abril, o sábado foi o dia escolhido pelos
conselheiros para a participação no curso.
A SME orientou para que cada escola de educação infantil e do ensino
fundamental tivesse para a primeira turma do curso de cada polo pelo menos um
representante de cada segmento, a saber: um da equipe gestora, um docente, um
funcionário do quadro de apoio, um representante familiar3.
Foi criado um e-mail específico para a realização das inscrições e um estagiário
da SME foi designado para fazer esse acompanhamento. Outra preocupação quando da
elaboração da proposta foi consultar os interessados se estariam ou não com crianças,
filhos. Entende-se que as crianças não podem constituir entrave para a participação por
não ter com quem ficar, enquanto o responsável estivesse em curso. Nesse sentido, após
ampla conversa com integrantes da SME, foi providenciado o atendimento lúdico e
pedagógico às crianças presentes em cada polo, a partir de educadoras estagiárias que
deveriam atuar com as crianças enquanto os responsáveis fizessem o curso.
Outra preocupação foi com a alimentação a ser oferecida aos participantes.
Optou-se por, proporcionar um coffe break oferecido pela SME para a aula inaugural,
com a indicação de construção coletiva dos participantes para os demais dias do curso.
Para as crianças, alimentação garantida pela SME para todos os dias que estivessem
presentes.
A SME realizou reunião prévia com os gestores das escolas polos para definição
dos encaminhamentos necessários para a realização da ação.
Quanto às pessoas formadoras que deveriam atuar em cada polo, a prioridade foi
compor um quadro de pessoas que tinham como destaque de afinidades, a defesa pela
escola pública e pela gestão democrática da escola. Trata-se de pessoas atuantes direta
ou indiretamente na defesa da escola pública, com experiência em movimentos sociais,
com interesse na pesquisa acadêmica da área educacional, maioria com experiência em
propostas formativas dessa natureza, não escolarizadas, em que o diálogo, a escuta, o
humano são fundamentais. Mas como iniciar uma proposta dessa natureza? De onde
partir? Quais os conteúdos a serem priorizados?
3
Para os alunos participantes do CE, a formação é oferecida junto com a formação dos Grêmios
Estudantis.
253
4
A Escola de Tempo Integral vem sendo debatida e gradativamente ampliada como uma ação de governo
que visa a educação pensada também com base na territorialidade a partir da intersetorialidade.
5
A Escola Interativa é uma proposta da política educacional de investir no uso da tecnologia em todas as
escolas, fazendo parte das ações a entrega de tablets para todos os alunos e a lousa interativa.
256
2 Considerações finais
Entende-se que não basta a criação de espaços democráticos de participação
política, como os CE, para que a democratização da gestão da escola se efetive e todos
se percebam fortalecidos nesse processo. Fortalecer os conselhos de escola e a própria
escola exige considerar que, além da relevância da articulação da proposta formativa
com diferentes fatores, como a preocupação com a forma de ocupação de cargos dos
dirigentes de escola, a organização didática, os diferentes mecanismos coletivos de
participação na escola que envolva alunos, pais, professores, pessoal técnico
operacional e de gestão da escola (Paro, 2011), também se faz necessário um processo
formativo construído com e para a comunidade escolar e local que leve em conta suas
demandas, suas especificidades da unidade e locais. Essa articulação exige a
participação presencial.
A histórica distância dessas comunidades dos processos participativos e
formativos que visam partilha de poder na escola requer sua presença direta de todos
nessa construção. Nesse sentido, defende-se que a preocupação prioritária deve ser com
o fortalecimento daqueles que historicamente estiveram e continuam distante dos
processos decisórios, particularmente familiares, alunos e comunidade local, devendo
ter suas demandas ouvidas pelos elaboradores de políticas educacionais.
Nesse cenário, torna-se relevante a forma como as propostas formativas são
elaboradas e organizadas. Entende-se que a participação direta, presencial em propostas
formativas é altamente relevante para a explicitação de conflitos e construção de
consensos. Destaca-se a importância de se ter como preocupação da política educacional
os elementos considerados facilitadores ou dificultadores à participação dos
conselheiros, explicitados por eles próprios, tanto nesses processos formativos quanto
na sua atuação direta na proposta de democratização da gestão da escola.
Envolver a comunidade escolar e local em discussões que são de seus interesses
diretos, na elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola, exige do poder público
posicionamento e enfrentamento às questões conjunturais locais, transparência nos
encaminhamentos adotados, revisão à elaboração de políticas centralizadas que
desconsideram as especificidades dos sistemas e das escolas.
Ao fortalecimento do conselho de escola, faz-se necessário ressaltar seu
importante papel político nas tomadas de decisões da escola, no processo de
democratização de sua gestão. Rechaça-se o papel burocratizado e mecanizado do
257
Referências Bibliográficas
HARDT, Michael & NEGRI, Antonio. Declaração: Isto não é um manifesto. São
Paulo: N-1 edições. 2014
MARTINS, Ângela Maria (Org.). Estado da Arte: gestão, autonomia escolar e órgãos
colegiados (2000-2008). Brasília, DF: Anpae, 2011.
Sites:
www.mec.gov.br
www.prefeitura.sjc.sp.gov.br
258
Comunicação
1 INTRODUÇÃO
A pesquisa tem por objetivo propor ações que dinamizem a participação da comunidade
escolar no âmbito dos recursos financeiros. Estudaremos a luz dos recursos financeiros,
a gestão democrática, tomando em pesquisa os recursos destinados a Escola Municipal
de Ensino Fundamental Martim Lutero. No contexto deste trabalho, a reflexão será
conduzida em três aspectos específicos, a saber, o financiamento, a descentralização dos
recursos recebidos pela escola e ações democráticas que colaboram com os mecanismos
de prestação de conta.
259
A Escola Martim Lutero, localizada no bairro Flexal II, em Cariacica, tem sua história
demarcada pela luta dos moradores que residiam naquele bairro desde sua ocupação na
década dos anos oitenta, o bairro não havia nenhum equipamento de lazer, escolas e
outros. E a partir da necessidade dos moradores que foi construída escola. A escola
pertencia à rede estadual no ano de 2006 ela foi municipalizada.
O Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) foi criado para prestar assistência
financeira, em caráter suplementar, às escolas públicas da educação básica das redes
estaduais, municipais e do Distrito Federal e às escolas privadas. O recurso é repassado
uma vez por ano e seu valor é calculado com base no número de alunos matriculados na
escola segundo o Censo Escolar. O dinheiro destina-se à aquisição de material
permanente, manutenção, conservação e pequenos reparos da unidade escolar, aquisição
de material de consumo necessário ao funcionamento da escola; avaliação de
aprendizagem, implementação de projeto pedagógico e desenvolvimento das atividades
educacionais.
As escolas públicas de educação básica devem criar unidades executoras para receber
diretamente recursos do PDDE. Nas escolas com até 50 alunos, é facultada a criação de
unidade executora. Caso ela não seja formada, a escola pode receber o recurso por meio
da entidade executora a que esteja vinculada. No caso das escolas privadas da educação
especial, os depósitos são realizados nas contas de suas entidades mantenedoras. Os
repasses dos recursos são feitos em parcela única anual, por meio de depósito nas contas
bancárias abertas pelo FNDE, em banco e agência com os quais a autarquia mantém
parceria.
As unidades de ensino recebem o programa de dinheiro direto na escola federal (PDDE
Federal) com fins na utilização de materiais permanente, consumo e merenda federal.
Também são repassados os recursos oriundos do programa de dinheiro direto na escola
municipal (PDDE Municipal), onde são redefinidos em materiais permanente, material
de consumo e merenda municipal.
262
As despesas com recursos destinados pelo Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE)
obedecem às categorias econômicas de custeio e capital e segue a classificação definida
pela Portaria 448, da Secretaria do Tesouro Nacional, não devendo, dessa forma, seguir
outra legislação, pois se trata de recursos federais. Portanto, o processo de
descentralização acontece quando o município repassa o valor para unidade executora o
Caixa Escolar, onde segundo o gráfico acima representado indica o valor total recebido
no primeiro semestre, doze mil quinhentos e cinquenta e sete reais e trinta centavos.
GRÁFICO 01
VE R B A S P .D .D .E F E D E R A L
R $ 40.000,00
R $ 34.578,60
R $ 35.000,00
R $ 30.000,00
R $ 27.276,03
R $ 25.000,00
R $ 20.000,00
R $ 15.000,00
R $ 12.557,50
R $ 10.000,00
R $ 5.254,93
R $ 5.000,00
R $ 789,32
R$ -
S A L D O A NT E R IO R V A L O R R E C E B ID O R E ND IME NT O D A V AL O R G A S T O S AL D O AT UA L E M
AP L IC A Ç Ã O 01/07/2011
O Programa Mais Educação foi instituído pela Portaria Interministerial n.º 17/2007 com
o objetivo de integrar ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), mais
uma estratégia do Governo Federal para melhorar o resultado do IDEB e também
induzir a ampliação da jornada escolar. O Programa Mais Educação é assessorado pela
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), em parceria
com a Secretaria de Educação Básica (SEB).
GRÁFICO 02
VE R B A S P .D .D .E F E D E R A L
MA IS E D UC A Ç Ã O
R $ 35.000,00
R $ 32.021,31
R $ 30.000,00
R $ 25.000,00
R $ 22.198,79
R $ 20.000,00
R $ 15.000,00
R $ 9.822,52
R $ 10.000,00
R $ 5.000,00
R $ 1.022,07
R$ -
R$ -
S A L D O A NT E R IO R V A L O R R E C E B ID O R E ND IME NT O V AL O R G A S T O S AL D O AT UA L E M
D A AP L IC A Ç Ã O 01/07/2011
GRÁFICO 03
VE R B A P .D.E .E F E DE R A L
E S C OL A A B E R T A
R $ 18.000,00
R $ 16.366,11
R $ 16.000,00
R $ 14.000,00
R $ 12.448,47
R $ 12.000,00
R $ 10.000,00
R $ 8.000,00
R $ 6.000,00
R $ 3.917,64
R $ 4.000,00
R $ 2.000,00
R$ - R $ 231,74
R$ -
S AL DO ANT E R IO R V AL O R R E C E B IDO R E NDIME NT O DA V AL O R G AS T O S AL DO AT UAL E M
AP L IC AÇ ÃO 01/07/2011
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este relato de experiência aponta os hiatos que colaboram com a baixa participação da
comunidade escolar nos conselhos fiscais das unidades executoras, se dão devido à falta
de conhecimento nos próprios processos de prestação de conta dos conselheiros das
265
escolas. A própria escola necessita de realizar o exercício dos gastos públicos com a
educação. Por exemplo nas notas fiscais e questões técnicas contábeis, certidões
negativas, entre outros aspectos burocráticos que fazem parte do financiamento e
prestação de conta escolar. As baixas participações nas convocações para as reuniões
nos processos decisórios de aquisição de bens de consumo, capital, entre outros.
O conselho fiscal tem como base as assembleias constituídas pelos segmentos onde as
discursões apontarão os caminhos bem como aspectos de cunho financeiro e educativo
ligado à comunidade escolar, porém não há participação dos profissionais do
magistério, devido a jornada de trabalho da categoria o que torna a participação do
professor escassa por falta de tempo no movimento político. No que se refere membros
da comunidade, há grande falta de interesse pelo zelo dos recursos públicos, pois
reuniões são realizadas para informar à comunidade a importância de acompanhamento
dos recursos da escola, porém, a baixa participação e pouco interesse ser for discutido
com a comunidade questões da gestão dos recursos financeiros.
A comunidade escolar trata como responsabilidade do gestor, se isentando dos
processos de gestão, dos processos consultivos e/ou deliberativos em torno do
financiamento educacional. Aparece nos discursos dos membros da comunidade
escolar, há necessidade de um incentivo financeiro para a participação nos conselhos
escolares. Seja conselho de escola ou fiscal.
Com base no estudo feito percebe se a complexidade que representa o processo da
gestão democrática no âmbito do financiamento escolar e a participação dos conselhos
escolares em no âmbito da gestão financeira. O orçamento de uma escola representa os
objetivos e as diretrizes do sistema local em termos financeiros. Por muito tempo os
recursos financeiros escolares eram centralizados, o Governo Federal por meio do
Ministério de Educação - MEC determinava as prioridades e as despesas das unidades
de ensino, assim asseguravam os serviços e as demandas escolares em todo País sem a
participação das comunidades escolares. O material permanente, móveis, equipamentos
em geral, construções e ampliações eram realizadas pela administração local.
Eram enviadas dentre outros materiais para os Estados, o material de consumo, tais
como material escolar do aluno, cadernos, lápis, canetas, canecas, pratos e livros. O
material de limpeza, alimentação dentre outros serviços eram redistribuídos pelos
Estados para os Municípios, por meio das secretárias de Educação. Com a
democratização e a descentralização, as unidades de ensino passaram a receber os
recursos por meio dos conselhos escolares e demais entidades fiscais executoras de cada
266
5 REFERÊNCIAS
Comunicação
INTRODUÇÃO
Discutir os efeitos das políticas públicas de inclusão social sobre o trabalho docente no
ensino superior brasileiro nos dias de hoje, nos leva, obrigatoriamente, a refletir sobre as
estruturas globais atuais. Para isso, consideramos ser fundamental ir à raiz do amplo
projeto de reestruturação da produção, da reorganização da economia, da política
educacional, da reforma do estado e da mudança social/cultural. Nesse cenário, nosso
269
trabalho tem como objetivo analisar os efeitos das políticas de ações afirmativas, em
particular a de reserva de vagas/cotas sobre o trabalho docente na Universidade Federal
do Espírito Santo. Trata-se de uma pesquisa qualitatica, caracterizada como estudo de
caso. Tivemos com técnica de coleta de dados a análise documental e a entrevsita com
professores dos cursos de Medicina e de Artes Visuais. Nosso críterio de escola dos
sujeitos de pesquisa, se deu pelo fato do curso de Medicina ser o mais concorrido e o
curso de Artes Visuais ser o menos concorrido no processo seletivo de 20013. Nesse
movimento de investigação, entendemos que tal política pública de ação afirmativa, por
um lado, apresenta um discurso amplamente difundido de “democratização do ensino
superior”, por outro, desconsidera as contradições que atingem os pilares fundamentais
do exercício do papel universitário, ou seja, a autonomia, a capacidade crítica/criativa e
a busca de atender as reais necessidades sociais. É importante destacar que essa política
se apresenta como resposta ao problema das desigualdades sociais, discriminação
(étnicas, raciais, religiosas ou de gênero) e exclusão de diferentes grupos sociais.
Nesse espaço/tempo, procuramos inicialmente entender a crise que aflige a educação
superior brasileira. Essa crise vem sendo revelada em inúmeras pesquisas realizadas nos
últimos anos, onde podemos perceber que a universidade pública brasileira vive em
constante ameaça de se tornar obsoleta em nome da “modernização”. Trata-se de uma
crise constituída desde suas raízes. A universidade brasileira nasce fora de nossa
realidade e por isso foi (e ainda é) julgada retardatária e atrofiada em muitas de suas
funções. Isso porque nasce ligada às experiências de outros países, como os Estados
Unidos, a Inglaterra e a França, com seu modelo napoleônico. Ou seja, nossa
universidade “foi pensada para ser resposta a problemas de outras regiões que possuíam
uma realidade própria e peculiar” (CASSIMIRO; GONÇALVES, 1986, p. 81). Aliado a
essas raízes, atualmente encontramos diversas políticas neoliberais sob o discurso de
modernização e racionalização, objetivando a superação das mazelas do mundo
contemporâneo e de adaptação às novas demandas do processo de reestruturação
produtiva em curso. Nesse sentido, buscaremos no movimento de nossa pesquisa,
discutir a constituição das políticas de Ação Afirmativa no Brasil.
270
Nesse movimento da história, adentramos na década de 1990, com a Marcha Zumbi dos
Palmares, a qual se torna um marco quando os movimentos negros entregam ao governo
um Programa de Superação do Racismo e da Desigualdade Racial, cujo foco era o
trabalho. No referido programa, destacavam-se a implantação de incentivos fiscais às
empresas que adotassem programas de promoção de igualdade racial. Nessa ocasião, o
Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (o mesmo governo que
potencializou a ideologia neoliberal em prol da reforma da educação superior
brasileira), institui por decreto o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), composto
por membros do governo e por representantes de movimentos sociais, com o objetivo de
desenvolver políticas de valorização da população afro-brasileira. Esse grupo realizou
“[...] dois seminários, em Salvador e Vitória, o que resultou na elaboração de 46
propostas de ações afirmativas em áreas como educação, trabalho, comunicação e
saúde” (MOEHLECKE, 2004, p. 206). Mas o que é a política de ação afirmativa?
Na Idade Média, o trabalho dividiu a sociedade estamental (clero, nobres e servos) entre
exploradores e explorados. Dessa forma, o trabalhador não era considerado propriedade
do senhor feudal, o que o obrigava retirar parte de sua produção para ajudar os outros
estamentos. Com o crescimento da circulação monetária e com as trocas, a economia de
subsistência dos feudos foi substituída pelo artesanato e pelo comércio. Assim sendo, é
possível considerar que, na passagem do feudalismo para o capitalismo, o capital passou
a predominar sobre a propriedade das terras e a produção passou a se organizar em
manufaturas, fortalecendo a burguesia com o modelo mercantil e empreendedor. Nesse
espaço/tempo, os homens viviam no campo e do campo. Ou seja, viviam da atividade
agrícola e sua forma de trabalho não era mais escravo e sim servil. De onde pode se
aferir que, o trabalho, enquanto processo educativo produziu a existência dos servos e
de seus senhores, caracterizando-se não mais como sofrimento e subordinação e sim
como forma do homem com sua própria ação, regular e controlar seu intercâmbio
material a natureza.
Nessa perspectiva, Marx em (“O capital” tomo I), nos remete ao trabalho como uma
atividade essencialmente humana em que, através da ação do seu corpo e da sua mente o
homem se apropria da natureza de forma útil para a sua existência e a partir daí, ao atuar
sobre a natureza o homem a modifica, modificando também a si próprio. Nesse
movimento, é importante destacar que Marx ao mesmo tempo em que trata a categoria
trabalho de forma historicizada nos chama atenção para o fato de que o trabalho
independe da forma social. Atenta a essas questões, Aranha e Dias nos ajudam a olhar o
trabalho sob duas dimensões:
do seu meio. [...] outra dimensão alienante, opressora” (ARANHA & DIAS,
2009, p. 116).
A partir do olhar das autoras, entendemos ser necessário focar o trabalho sob as
perspectivas abstrata e concreta, tendo em vista que, se por um lado, focarmos somente
a dimensão abstrata do trabalho correremos o risco de enxergá-lo, somente como
produto de mercadorias. Por outro lado, se focarmos o trabalho somente no sentido
concreto, correremos o risco de não visualizarmos as possibilidades de superação de sua
forma alienada. Diante disso, buscamos uma terceira dimensão, isto é, a dimensão do
trabalho enquanto princípio educativo, ligado a um processo de socialização de caráter
solidário, fundamental no processo de superação capitalista e da ideologia das
sociedades de classe que cindem o gênero humano. Portanto, pautados na terceira
dimensão, é possível compreender o trabalho docente como uma atividade orientada
para um fim, que segue uma ordem social/legal que regula organicamente a vida
recíproca humana, “[...] ordem que deve ser respeitada por conversão espontânea e não
apenas por imposição externa, por necessidade reconhecida e proposta pelos próprios
homens como liberdade e não por simples coação” (GRAMSCI, 1991, p. 130).
Muitas foram das discussões realizadas por meio de reuniões, pesquisas e audiências
públicas para se chegar a um consenso final sobre como promover um processo seletivo
mais inclusivo e ao mesmo tempo condizente às especificidades locais. Nesse
movimento, em outubro de 2012, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE)
da UFES aprovou a reserva de, no mínimo, 50% das vagas para estudantes que tenham
cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, por meio da Resolução nº.
35/2012. Com relação aos efeitos dessa política sobre o trabalho docente, buscamos nas
falas de dois professores (um do curso de Medicina e outro do curso de Artes Visuais),
responder a seguinte questão: você percebeu alguma mudança em seu trabalho
acadêmico depois da chegada dos alunos cotista no espaço da UFES?
Desde que entrei na UFES, a cada semestre, tenho modificado minha conduta
acadêmica repensando e modificando as metodologias de ensino, no sentido
de auxiliar os alunos a aprender a estudar. Aumentei o número de atividades
avaliativas na tentativa dos tópicos a serem estudados ficarem menores e
mais fáceis de serem sedimentados, diminuindo o conteúdo para cada
atividade avaliativa adotada. Não atribuo essas mudanças exclusivamente aos
cotistas, que para ser bem sincera, nem procuro saber quem são e, nem
tampouco diferenciá-los e, sim por causa do nível de conhecimento de todos
os ingressantes na disciplina que ministro (PROFESSORA DO CURSO DE
MEDICINA).
A fala da professora (1) nos revela que não mudou o perfil dos alunos que ingressam na
UFES e que é necessário mudar suas práticas acadêmicas, tendo em vista as
dificuldades apresentadas pelos alunos. O que nos leva pensar que o problema está na
“qualidade” da educação básica, confirmando dados achados de pesquisa anterior
(BASSANI, 2012). Ou seja, o nível dos alunos que chegam à universidade é reflexo da
precária educação básica no Brasil, inclusive a oferecida pela rede particular. Outro
aspecto que podemos destacar na fala da professora é seu entendimento sobre sua
prática docente. Dito de outra forma, a referida professora, ao falar de seu trabalho, o
entende exclusivamente como prática de ensino, desconsiderando a simetria entre
ensino, pesquisa e extensão, defendida na Constituição Federal de 1988. Nessa mesma
linha de pensamento, temos a fala da professora (2) , quando perguntada se percebeu
alguma mudança em seu trabalho acadêmico depois da chegada dos alunos cotista no
espaço da UFES, assim responde:
Não. De um semestre para outro costumo fazer alguns ajustes em meu plano
de ensino. Mas, essa prática, não tem nada a ver com os alunos cotistas.
276
A fala da professora (2) nos apresenta um dado diferente da fala da professora (1). Isto
é, nos permite perceber que o público alvo dos cursos de Licenciatura é formado por
pessoas menos favorecidas social e economicamente. O que corrobora com
(FIGUEIREDO, 2008, pág. 49) ao dizer que “[...] o processo em curso de destruição do
modelo universitário, tenta articular ensino-pesquisa-extensão no Brasil e dá acesso às
camadas mais pobres da população à educação superior por via dos cursos de
Licenciaturas”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARANHA, Antônia Vitória. Soares; DIAS, Deise Soares. Trabalho como princípio
educativo na sociabilidade do capital. In: MENEZES NETO, Antônio Júlio; CUNHA,
Daisy. Moreira (Org.); Trabalho, política e formação humana: interlocuções com Marx
e Gramsci. São Paulo: Xamã, 2009. p. 115-127.
Comunicação
Introdução
1
Mestre em Desenvolvimento Local (UCDB) e Doutoranda em Educação (UCDB). Professora da
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e Pesquisadora do GEPPES-UCDB. E-mail:
claudia@ucdb.br.
279
desse material, o trabalho foi formatado em duas partes: A primeira aborda o setor
privado mercantil até a formação de oligopólios da educação superior, focando a análise
do empresariamento da educação e sua mercantilização, iniciados em 2000 com a
liberalização e desregulamentação do setor privado, após a aprovação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), marco para a mercantilização da
educação superior. Os novos contornos, após 2007, quando empresas do setor
educacional abriram seu capital na bolsa de valores consolidando sua mercantilização
por meio de aquisições/fusões de IES brasileiras.
A segunda parte descreve a mega fusão2 entre a Kroton-Anhanguera que, apesar
de recente, comprova o momento ímpar em que vive o Brasil na história da educação
superior. Esta negociação comprova o início de uma nova fase que, do ponto de vista
econômico, fez surgir uma das maiores empresas de educação superior do mundo,
abocanhando 15% de todos os alunos do Brasil e classificada como a 17ª maior
companhia da Bovespa em valor de mercado, com R$ 14,48 bilhões (GUTIERRES,
2014).
As abordagens aqui realizadas sugerem uma reflexão sobre a transformação do
aluno em consumidor, sobre os fatores que influenciam a decisão de compra,
contextualizando estes conceitos dentro do segmento da educação superior privada.
Conhecer os estímulos que influenciam o consumidor é fundamental ainda para
entender como o aluno é visto, hoje, como um consumidor potencial dos serviços
ofertados pelos grandes oligopólios da educação superior privada mercantil.
2
Termo utilizado por Braga (2011), Presidente da Hoper Consultoria em educação superior.
3
Segundo Frèmeaux (2001) o setor privado observa a abertura de um mercado potencialmente colossal,
quando sabemos que o numero de estudantes passou, ao nível mundial, de 6,5 milhões em 1950 para 51
280
4
O faturamento da New Oriental é da ordem de US$2,9 bilhões.
5
De acordo com o site www.cade.org.br, esse órgão é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da
Justiça, com sede e foro no Distrito Federal, que exerce, em todo o Território nacional, as atribuições
dadas pela Lei nº 12.529/2011. Tem como missão zelar pela livre concorrência no mercado, sendo a
entidade responsável, no âmbito do Poder Executivo, não só por investigar e decidir, em última instância,
sobre a matéria concorrencial, como também fomentar e disseminar a cultura da livre concorrência.
282
O mercado reagiu positivamente à fusão, uma vez que as ações das duas
empresas valorizaram-se. A consolidação da Kroton (KROT3) e Anhanguera (AEDU3)
confirma a criação, da maior empresa brasileira educacional do mundo, atingindo mais
de 1,1 milhão de alunos nas modalidades presencial e a distância.
Com esta fusão o segmento das instituições privadas mercantis segue as
demandas do mercado e tem, no ensino, sua fonte de lucro. Sobre o assunto Bittar
(2002, p. 55) comenta que “é nítida a imagem da educação superior associada à ideia de
produto, consumo, ou seja, é preciso influenciar, atrair, envolver os consumidores na
aquisição do produto denominado educação”.
6
De 2003 até 2008, mais de 24 milhões de pessoas no Brasil saíram da pobreza, estas geraram um
aumento da proporção da classe baixa e da classe média de 43% em 2003 para 53,6% em 2009.
Disponível em: <http://www.controlrisks.com/webcasts/studio/foco/foco_issue_10/portuguese/article_3.
html>. Acesso em: 15 jun. 2013.
284
[...] trabalhador jovem que estuda à noite. É evidente que temos cursos de
medicina, farmácia, veterinária, direito e administração, diurnos, mas 85%
dos nossos estudantes estudam de noite e trabalham de dia. Com esse foco,
conseguimos ampliar as matrículas, em dez anos, numa média de 100% ao
ano. É um número absurdo, mas é real. Se contarmos os 14 anos de
existência da Anhanguera, podemos falar numa média de 65% de
crescimento ao ano no número de matrículas.
7
Entrevista concedida para o Prof. Jose Dorneles em 17.10.2011. Video youtube. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=SP6ThzLM32k>. Acesso em: 7 jan. 2013
8
Ricardo Scavazza além de diretor de relações com investidores da Anhanguera é também sócio do Pátria
Investimentos, gestora de recursos que, por meio de um de seus fundos, associou-se à rede em 2003 e,
logo depois, assumiu seu controle (MAUTONE, 2007) e segundo o relatório Bovespa (2009, p. 202)
Ricardo Leonel Scavazza: é Diretor Vice-Presidente Operacional e graduou-se em Administração pela
Universidade do Texas e pela Fundação Getulio Vargas. Foi Diretor Financeiro da operação do Rio de
Janeiro da Diagnósticos da América S.A. em 2001, responsável pela área de fusões,aquisições e
desenvolvimento de novos negócios. Ingressou como sócio do Pátria Investimentos S.A., em 2005.
286
Considerações finais
Referências
BRAGA, Ryon. Ensino superior: perspectivas para 2011. Linha direta: inovação,
educação, gestão, nº 155, ano 14, p. 12-16, Belo Horizonte, fev., 2011.
GUTIERREZ, Marcelle. Após fusão, kroton e Anhanguera passar a ser 17ª maior
companhia da Bosa. Estadão Economia Negócios. Matéria veiculada em: 04/072014.
Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,apos-fusao-kroton-e-
anhanguera-passam-a-ser-a-17-maior-companhia-da-bolsa,1523573>. Acesso em: 7 jul.
2014.
MÉSZARÓS, István. A educação para além do capital. 2ed. São Paulo: Boitempo,
2005.
SAMPAIO, Helena Maria Sant’Ana. O ensino superior no Brasil: o setor privado. São
Paulo: Hucitec, FAPESP, 2000.
288
Comunicação
Resumo: Este estudo qualitativo buscou verificar a presença ou não dos compromissos
da Educação Popular do Secretário de Educação Paulo Freire (1989 a 1991) em uma
escola da Rede Municipal de São Paulo; quais dos compromissos, do 1° ao 6°, de
maneira razoavelmente explícita, estava sendo mediado para algumas crianças pelos
professores e pelas professoras em uma escola da rede pública paulistana em 2012, em
período de transição do Ensino Fundamental de 8 para 9 anos. Foram examinadas as
produções de textos espontâneos de 17 crianças. Foram envolvidas as três 4as séries
(turmas regulares do Ensino Fundamental de 8 anos) e os três 3°s anos (do Ensino de 9
anos), dos quais uma turma se tornou a referência devido uma regência de sala/turma
declaradamente freiriana. Verificou-se diminuta presença dos compromissos da
Educação Popular nas produções de textos das crianças, com a indicação da necessidade
de intensificar e ampliar a defesa dos princípios da Educação Popular.
Introdução
Já há anos do período em que a equipe do Secretário de Educação do Município
de São Paulo Paulo Freire (1989 a 1991) pôde experimentar disposição para o diálogo, e
tentar “Mudar a cara da escola”, numa perspectiva democrática e participativa, que
viabilizasse projetos políticos pedagógicos para chamar o povo à escola, para participar
coletivamente da construção de um saber que considerasse as suas necessidades e
transformasse esses projetos em instrumentos de luta, dando ao povo possibilidade de
transformar-se em sujeito de sua própria história. Paulo Freire queria a participação
popular na criação da cultura e da educação para romper com a tradição de que só a elite
tem a competência e os saberes de quais são as necessidades e interesses de toda a
sociedade, com uma escola centro irradiador da cultura popular, à disposição da
comunidade, criando e recriando esta cultura; portanto, a escola, também, como um
espaço de organização política das classes populares, no qual o espaço de ensino-
aprendizagem passasse a ser centros de debates de ideias, soluções, reflexões, no qual a
290
organização popular iria sistematizando sua própria experiência, e assim: "O filho do
trabalhador deve encontrar nessa escola os meios de auto-emancipação intelectual
independentemente dos valores da classe dominante (...)" (FREIRE, 1991, p.16). Mas o
que aconteceu com essa construção da educação pública popular e democrática ? O que
aconteceu com os pressupostos da educação popular? A Educação Popular que era
definida por Paulo Freire
[...] a educação popular cuja posta em prática, em termos amplos, profundos
e radicais numa sociedade de classe, se constitui como um nadar contra a
correnteza é exatamente a que, substantivamente democrática, jamais separa
do ensino dos conteúdos o desvelamento da realidade. É a que estimula a
presença organizada das classes sociais populares na luta em favor da
transformação democrática da sociedade, no sentido da superação das
injustiças sociais. É a que respeita os educandos, não importa qual seja sua
posição de classe e, por isso mesmo, leva em consideração, seriamente, o seu
saber de experiência feito, a partir do qual trabalha o conhecimento com rigor
de aproximação aos objetos. É a que trabalha [...] a boa qualidade do ensino,
a que se esforça em intensificar os índices de aprovação através de rigoroso
trabalho docente e não com frouxidão assistencialista, é a que capacita suas
professoras cientificamente à luz dos recentes achados em torno da aquisição
da linguagem, do ensino da escrita e da leitura.
[...] É a que, em lugar de negar a importância da presença dos pais, da
comunidade, dos movimentos populares na escola, se aproxima dessas forças
com as quais aprende para a elas poder ensinar também. [...] É a que supera
os preconceitos de raça, de classe, de sexo e se radicaliza na defesa da
substantividade democrática. [...] É a que não considera suficiente mudar
apenas as relações entre educadora e educandos, amaciando essas relações,
mas, ao criticar e tentar ir além das tradições autoritárias da escola velha [...]
(FREIRE,1993, p.101,102 e103).
Uma Educação Popular que é uma opção política por uma educação crítica, na
qual há o plano de educação segue o compromisso com: 1. princípios de solidariedade e
justiça social; 2. o estímulo à gestão democrática da educação; 3. a luta pela qualidade
social da educação; 4. a abertura da escola à comunidade; 5. a construção do currículo
participativo, autônomo e coletivo; 6. o respeito ao saber e competência dos educandos;
7. e uma formação dos educadores condizente com os 6 compromissos anteriores. Este
estudo procurou responder: o que restou, ficou, na Rede Municipal de São Paulo do
plano de educação, da proposta de educação popular de Paulo Freire e seus
colaboradores? Mas, foi necessário um recorte: o que desses compromissos ainda é
mediado para as crianças pelos professores e pelas professoras na rede pública
paulistana? E, assim, outro recorte se fez necessário dada as dimensões qualitativas e
exploratórias desse estudo: quais desses compromissos, de maneira razoavelmente
explícita, do 1° ao 6°, estava sendo mediado em 2012 para algumas crianças pelos
professores e pelas professoras em uma escola da rede pública paulistana?
291
(2012), textos que caracterizassem uma escrita colada a modelos estipulados e a pouca
precisão no traçado, ou textos previamente apoiados em modelos, seja na forma de
moldura ou pela reprodução de outras propostas do cotidiano escolar. Esta opção foi
uma tentativa de minimizar grandes estragos na percepção dos compromissos nas
produções de textos.
As opções deste estudo para a percepção dos compromissos nas produções de texto
Cláudia Riolfi (e grupo) trabalha com estudos e pesquisas preocupados, entre
várias responsabilidades e curiosidades científicas, em responder como formar novas
gerações para que possam se servir do conhecimento universal para escrever textos que
coloquem no mundo a invenção de sua singularidade (RIOLFI, 2012, p. 10). Como é
esperado que os compromissos apresentem uma relação com a singularidade e que a
escrita traduz a escolaridade mais que a fala, preferi analisar textos que entrevistas, pois,
em tempos de programas "ler e escrever", parece bastante interessante ver o que o
"escrever" pode oferecer dos compromissos freireanos.
Título ESPORTE
1 O BRAIL EO PAIS QUE REVELO MAIS
2 ESTRELA NO FUTEBOL NO VOLEI NA
3 NATASÃO NA CORIDA NA FORMULA 1
4 NO ATLETISMO O BRASIL TEM O MELHOR
5 JOGADO DE FUTEBOL DO PLANETA QUE É
6 O PELÉ MAS A ARGENTINA TEM O LIONEL
7 MESSI E O PORTUGAU TEM O C. RONALDO
8 O NEYMAR TEM O ESTILO JOGO BONITO
9 MARO JOGADO DA INGLATERRA O RONEY
10 OTIME BRRASILEIROS OS MELHORES SÃO
11 NEYMAR P.H.GANSO L. FABIANO LUCAS R.CENI
12 D. SOUZA BERNAR.
295
Eu e o Matheus
8 3°R samos melhores - - - -
amigos
Eu preferia que eu em
trasse na escola com 7
anos pré agente brinca
9 3°R - - - - -
mais nóis dor me la e
muito
Tema da amizade
10 3°R ao longo do texto - - - - -
Eu ajudo minha
11 3°R mãe a arruma a - - - - -
casa
Tema da amizade
13 4a X ao longo do texto - - - - -
Considerações finais
Esta diminuta presença dos compromissos nas produções de textos das crianças,
tanto pode ter origem sistêmica com o não trabalho destes pelas secretarias que
assumiram depois da equipe de Paulo Freire, uma opção política, quanto como a falta de
persistência e resistência daqueles professores e professoras que tinham apoiado as
transformações freireanas. Teríamos, então, uma pergunta a responder: aconteceu uma
desmobilização política? Sabendo que a realidade escolar apresenta-se bastante
assemelhada em toda a rede municipal, que é no "escrever" que aparece a escola que
está sendo feita, este estudo parece indicar a nós que acreditamos na Educação Popular
(como um plano de educação competindo politicamente com outras opções), a
necessidade de não parar, intensificar e ampliar a defesa dos princípios de solidariedade
e justiça social; bem como estabelecer o estímulo à gestão democrática da educação;
insistir na luta pela qualidade social da educação; assegurar a abertura da escola à
300
Referências
Comunicação
1
Graduanda do curso de Pedagogia das Faculdades Integradas de Aracruz – FAACZ; Bolsista de
Iniciação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo – FAPES;
crislozer@hotmail.com
2
Graduanda do curso de Pedagogia das Faculdades Integradas de Aracruz – FAACZ; Bolsista de
Iniciação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo – FAPES;
wsfachetti@hotmail.com
3
Professora do curso de Pedagogia das Faculdades Integradas de Aracruz – FAACZ; Doutoranda do
curso de estudos pós-graduados em Educação: Psicologia da Educação, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo - PUCSP; rdecassia@hotmail.com
302
Introdução
coordenado pelo MEC que visa garantir a qualidade do ensino da leitura e da escrita. O
PNAIC, como explicado no site oficial6 “é um compromisso formal assumido pelos
governos federal, do Distrito Federal, dos estados e municípios de assegurar que todas
as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino
fundamental.” As ações propostas pelo pacto apoiam-se em quatro grandes eixos:
formação continuada; material; avaliação e gestão.
Para os formuladores do PNAIC, as ações voltadas para a formação continuada devem
embasar-se no pressuposto de que o professor alfabetizador precisa ter clareza sobre
qual concepção de alfabetização está subjacente a sua prática. Dessa forma, o professor
não deve ser visto como um mero reprodutor de métodos de alfabetização, mas de
alguém que tenha clareza sobre o que ensina e como ensina.
Ou seja, para se ter clareza sobre o que ensinar e como ensinar, o professor precisa ter
clareza das necessidades que essa tarefa impõe. Essas necessidades surgem, portanto, de
uma situação objetiva, considerada a partir do trabalho do professor, tendo em conta
suas concepções, valores, bem como suas expectativas em relação à prática cotidiana.
Porém, conhecemos esses professores alfabetizadores? O que sabemos sobre os desafios
e as expectativas que enfrentam em seu cotidiano? Que necessidades formativas
apresentam em relação ao ensino da leitura e da escrita?
Esses questionamentos nortearam o Projeto de Iniciação Científica desenvolvido com
alunas do curso de graduação em Pedagogia das Faculdades Integradas de Aracruz –
FAACZ e levaram-nos a pensar em um estudo que possibilitasse conhecer melhor quem
são os alfabetizadores do município onde atuamos (Aracruz/ES). Um estudo que
permitisse uma caracterização desses profissionais, o conhecimento sobre suas
condições de trabalho e processo de formação, e um mapeamento das necessidades
formativas relacionadas ao processo de ensino da leitura e da escrita apontadas por esses
sujeitos.
Nesta comunicação, apresentaremos os resultados de uma das etapas deste projeto.
Método
Nesta etapa do projeto, foi aplicado um questionário aos professores que atuam em
turmas do Ciclo de Alfabetização das escolas públicas da rede municipal de ensino de
Aracruz. A elaboração deste questionário teve como base a pesquisa realizada por
6
Disponível em http://pacto.mec.gov.br Acesso em 10 jul. 2013.
304
Resultados e discussão
feminino. Possuem uma experiência de mais de cinco anos no magistério, sendo que
16% dessas professoras já poderiam requerer a aposentadoria por possuírem mais de 25
anos de atividade na carreira docente e 43% delas declararam estar atuando na docência
por um período entre 11 a 20 anos, tendo a grande maioria (90%) iniciado sua carreira
na rede pública de ensino. A idade média das professoras respondentes ao questionário é
de 41 anos. Esses dados sugerem um quadro de docentes com experiência.
Ao compararmos os dados de escolarização das professores, com os dados de
escolarização de seus pais, percebemos uma mobilidade intergeracional educacional
bastante acentuada. Enquanto 58% dos pais e 55% das mães concluíram apenas os anos
iniciais do Ensino Fundamental, 96% das professoras concluíram o ensino superior.
Questionadas quanto à classe social, 73% declarou-se pertencer à classe média, com
uma renda média familiar em torno de R$ 4.294,00. Apenas 6% afirmou exercer outra
atividade remunerada, além do magistério.
Em relação à situação conjugal, mais da metade das professoras (68%) declarou-se
casada; 6% em uma relação estável; 12% separada e 4% viúva. Apenas 6% das
professoras declararam-se solteiras.
Em relação à leitura, as professoras apontaram o jornal (61%) como o suporte lido com
maior frequência, seguido por revistas (55%) e livros de ficção (12%).
Entre as mídias eletrônicas, o computador foi a mídia mais citada pelas professoras em
relação à frequência de uso, sendo que 75% das professoras o usam para acessar e-mails
e 57% das professoras para navegarem na internet ou utilizarem algum software de
entretenimento. A Televisão aparece em segundo lugar, apontada por 35% das
professoras e o rádio em terceiro, com 16% das professores afirmando que o ouvem
com muita frequência.
A atividade física não faz parte da rotina da maior parte destas professoras, com apenas
24% afirmando praticar algum tipo de esporte ou ginástica com frequência.
Condições de trabalho
Processos de formação
Quando questionadas sobre que tipo de formação já haviam participado nos últimos
cinco anos, as professoras mencionaram, além da formação atual do PNAIC, oferecida
pela secretaria municipal de educação em parceria com o MEC, dois outros programas
de formação específicos na área do ensino da leitura e da escrita, também realizados em
parceria com o MEC: Pró Letramento8, com participação de 17 professoras e PROFA9,
com participação de 07 professoras.
De um modo geral, as professoras avaliam positivamente os cursos de formação
continuada que já realizaram. Quando questionadas sobre os benefícios proporcionados
por esses cursos, apontam a troca de experiências, o aperfeiçoamento da prática e a
aquisição de novos conhecimentos como as contribuições mais relevantes dessas
experiências.
7
Dados do Censo Escolar – ver referências bibliográficas
8
O Pró-Letramento - Mobilização pela Qualidade da Educação - é um programa de formação continuada
de professores para a melhoria da qualidade de aprendizagem da leitura/escrita e matemática nos
anos/séries iniciais do ensino fundamental.
9
O Programa de Formação de Professores Alfabetizadores é um curso de aprofundamento, destinado a
professores e formadores, que se orienta pelo objetivo de desenvolver as competências profissionais
necessárias a todo professor que ensina a ler e escrever.
308
Perguntadas sobre se sentem preparadas para o ensino da leitura e da escrita, 96% das
professoras declararam que sim, 4% não se manifestou. Porém, quando questionadas
sobre os objetivos e conteúdos relacionados ao ensino da leitura e da escrita que
apresentam maior dificuldade em trabalhar, as respostas das professoras apontaram,
com maior frequência, objetivos e conteúdos relacionados à dimensão da produção de
textos escritos e do ensino de estratégias leitoras.
Essas dificuldades apontadas pelas professoras refletem-se no trabalho desenvolvido nas
turmas do Ciclo de Alfabetização, pois, quando perguntadas mais especificamente sobre
quais objetivos norteiam o planejamento das atividades desenvolvidas em sala,
relacionadas ao ensino da leitura e da escrita, percebe-se que um trabalho mais
sistematizado envolvendo a produção de textos escritos aparece com menos frequência
nas respostas das professoras, bem como objetivos relacionados ao desenvolvimento de
estratégias que possibilitem ao aluno o desenvolvimento de uma maior proficiência
leitora.
Considerações finais
à diversidade de ritmos de aprendizagem dos alunos em uma mesma turma, bem como,
o domínio de conhecimentos e estratégias de ensino em relação à leitura e à produção de
textos escritos.
Partindo do princípio que é na fase da alfabetização que um indivíduo se apropria de
conhecimentos que lhe serão necessários para toda sua vida escolar, é necessário que os
órgãos responsáveis pela Educação enxerguem que a formação de alfabetizadores é uma
das principais ferramentas para se adquirir uma educação de qualidade, isto é, uma
educação que garanta o direito das crianças a uma condição de indivíduos leitores, de
fato.
Os resultados desta pesquisa revelam fragilidades concernentes às práticas docentes das
alfabetizadoras do município de Aracruz-ES que participaram deste estudo, fragilidades
estas que se transformam em necessidades formativas. Esperamos que estes resultados
possam potencializar a elaboração das políticas de formação continuada do município,
para que, em um futuro próximo possamos obter resultados de pesquisas mais
satisfatórios e motivadores em relação ao domínio da leitura e da escrita pelas crianças.
REFERÊNCIAS
BRASIL. CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL. As
desigualdades na escolarização no Brasil: relatório de observação n° 5. Brasília:
Presidência da República, Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES,
2014. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/observatoriodaequidade/> Acesso em:
24 Jun. 2014.
Comunicação
Cristiane Machado
Univás - Gepaq
Ocimar Munhoz Alavarse
Feusp - Gepave
Apresentação
Há muito tempo o debate sobre a qualidade do ensino no país ocupa as agendas
educacionais, mas foi, sem dúvida, com a ampliação das iniciativas de avaliação
externa, principalmente desde início da década de 1990, e a divulgação de seus
resultados que o tema adquiriu ganhou maior dimensão e popularidade.
Em 2007, a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb),
apresentado pelo governo federal como indicador da qualidade da educação, amplificou
e respaldou esse debate. O Ideb combina os resultados de desempenho dos alunos na
313
Prova Brasil com taxas de aprovação e sintetiza, a cada dois anos, esses resultados em
um só indicador.
A Prova Brasil, além de estimar as proficiências dos alunos, também
denominadas de desempenho, por meio de provas padronizadas com itens de múltipla
escolha nas áreas de língua portuguesa (foco em leitura) e matemática (foco em
resolução de problemas), coleta outros dados sobre a educação nacional por meio de
quatro “questionários contextuais”. O objetivo desse levantamento é o de possibilitar “o
desenvolvimento de estudos dos fatores associados ao desempenho dos alunos”
(BRASIL, 2013). São reunidas informações em questionários individualizados a
respeito dos alunos, professores, diretores e escolas, sendo que os dados obtidos com os
três últimos questionários referentes à Prova Brasil 2011 estão disponibilizados no sítio
do Inep. São questionários com itens de múltipla escolha que tentam captar as
condições das escolas e a percepção dos profissionais da educação sobre diversas
dimensões que compõem o cotidiano escolar e educacional. O questionário da escola
possui 61 itens; o do professor 152 e o do diretor 212.
O objetivo deste estudo é explorar as contribuições da Prova Brasil, especialmente
dos resultados de proficiências e do questionário do professor, para o exercício da
reflexão sobre possíveis relações entre qualidade do ensino e trabalho docente.
São tomados como ponto de partida os resultados dos anos iniciais do ensino
fundamental da Rede Municipal de Ensino de São Paulo (RME-SP) na Prova Brasil e as
respostas dadas pelos professores do 5° ano do ensino fundamental no questionário
contextual do ano de 2011.
Concordamos com Dourado (2007, p. 09) que qualidade da educação é “um
fenômeno complexo, abrangente e que envolve múltiplas dimensões”, portanto, os
resultados das avaliações externas não podem ser vistos como a única expressão da
qualidade da escola. No entanto, os indicadores que compõe o Ideb, aprovação e
desempenho dos alunos em provas padronizadas, não são alheios ao ensino que se
pretenda de qualidade. Em Alavarse (2013) e Machado (2012) encontramos aportes que
procuram atenuar o peso excessivo atribuído aos resultados de avaliações externas como
fonte exclusiva de indicação da qualidade e, ao mesmo tempo, indicativos da
necessidade de ampliar no âmbito das escolas o movimento, necessário e incontornável,
de busca de entendimento e uso desses resultados.
314
Uma primeira análise revela que, de 2005 a 2011, o aumento do Ideb, de 0,7 ou
17,1%, foi contínuo, embora a RME-SP tenha chegado em 2011 com 4,8 pontos, sem
atingir a meta estipulada pelo governo federal de 4,9. Para esse incremento, verificado
na série histórica das aferições, contribuíram os acréscimos em leitura e resolução de
problemas, que chegaram a compensar oscilações nas taxas de aprovação,
principalmente de 2005 a 2007 quando a aprovação caiu 2,3 pontos percentuais (pp).
Os professores dos anos iniciais do ensino fundamental da RME-SP, em 2011,
totalizavam 10.091 profissionais, destes, 3.438 eram professores do 5° ano do ensino
fundamental e 2.083 responderam corretamente os questionários. O fato da Prova Brasil
ser aplicada em salas com no mínimo 20 alunos pode explicar a diferença entre o
315
Tabela 1 –Ideb, Rendimento e Nota Padronizada na Prova Brasil das Escolas. 2005-2011
Ideb R N Ideb R N Ideb R N Ideb R N
Escola
2005 2005 2005 2007 2007 2007 2009 2009 2009 2011 2011 2011
A 5,9 0,99 5,97 5,1 0,91 5,55 5,8 0,97 6,03 5,8 0,96 5,99
B 5,4 1,00 5,37 5,2 0,92 5,63 5,0 0,94 5,33 5,3 0,97 5,52
C 5,4 1,00 5,40 5,1 0,96 5,29 5,3 0,95 5,61 5,3 0,97 5,44
D 3,0 0,84 3,54 4,6 0,92 5,03 4,9 0,97 5,02 5,0 0,98 5,07
E 2,9 0,83 3,46 3,3 0,86 3,76 3,7 0,93 4,01 4,1 0,98 4,16
F 2,8 0,79 3,59 3,2 0,82 3,91 4,0 0,92 4,32 3,9 0,89 4,38
Fonte: MEC/Inep
diferenças ou não nas respostas que pudessem sinalizar eventuais fatores associados.
Longe de buscar generalizações, esse exercício objetivou perceber contrastes
significativos, até porque o número de professores é bem pequeno perto do universo da
RME-SP, conforme Tabela 2.
Tabela 2 – Escolas e número de professores 2011
Questionários
Escola Professores de 5° ano
respondidos
A 3 2
B 3 2
C 5 5
D 3 3
E 8 4
F 8 5
Fonte: QEdu e MEC/Inep
Nesse sentido, cabe destacar que todos os professores da escola D disseram não
utilizar máquina copiadora porque a escola não tem esse recurso. A prática pedagógica
de “copiar textos do livro didático ou do quadro negro ou lousa” é o recurso utilizado
semanalmente por 1 professor da escola D, 1 da escola E e 3 da Escola F; das escolas
com mais altas pontuações em 2005, apenas na escola C 2 professores disseram usar
esse recurso toda semana.
A essas informações agregamos o debate sobre a relação entre desempenho
escolar e nível socioeconômico (NSE). Tema este muito importante nas pesquisas
educacionais, especialmente a partir da década de 1960, após o clássico relatório de
Colleman et al. (1966) que identificou uma forte correlação positiva entre os fatores
extraescolares e o desempenho das escolas, evidenciando o impacto das desigualdades
sociais nas escolares.
Para este estudo, consideramos o indicador de NSE das escolas de educação
básica do país criado por Alves e Soares (2012) e disponibilizados no QEdu (2013),
como referência para as análises das escolas da RME-SP com os maiores e menores
Ideb. Conforme os autores (Op. cit., p. 5) o NSE “é um construto teórico que sintetiza as
características dos indivíduos em relação à sua renda, ocupação e escolaridade,
permitindo a criação de estratos ou classes de indivíduos semelhantes em relação a estas
características”. A sua construção se deu a partir dos dados das avaliações em larga
escola realizadas pelo Inep nos últimos anos (Saeb 2001 a 2005, da Prova Brasil 2005 a
2009 e Enem 2007 a 2009), que englobam testes padronizados e questionários
contextuais sobre os atributos sociodemográficos dos alunos e seus familiares.
318
Ancorado neste banco de dados, os autores afirmam que “o índice de NSE produzido
reflete uma ordenação que descreve de forma fidedigna a realidade socioeconômica das
escolas incluídas na base de dados” (Op. cit., p. 28).
No trabalho de Alves, Xavier e Soares (2013), a escala de –3 a +3, expressa em
desvios padrão, foi convertida para outra que varia de 0 a 10. Não obstante, é preciso
advertir, que o escore 0 em tal escala não corresponde ao grupo cujo NSE é nomeado
como Mais baixo, pois, como ressalvam os autores, é improvável que as escolas tenham
seu NSE médio situados nos extremos da escala, visto que tal situação só seria possível
se todos os alunos tivessem os valores máximos ou os mínimos dos itens pesquisados,
que tratam de bens de consumo, renda familiar, escolaridade e ocupação dos pais.
Para ampliar as possibilidades de análises e comparações, ao considerar o nível
socioeconômico médio (NSE) de cada uma das escolas, temos na Tabela 3 a seguinte
relação entre as escolas e NSE.
Tabela 3 – NSE médio, Ideb, Rendimento e Nota
Padronizada na Prova Brasil das Escolas
Ideb
Escola NSE R 2011 N 2011
2011
A Alto (6,3) 5,8 0,96 5,99
B Médio-Alto (6,2) 5,3 0,97 5,52
C Médio-Alto (6,0) 5,3 0,97 5,44
D Médio (5,1) 5,0 0,98 5,07
E Médio (4,9) 4,1 0,98 4,16
F Médio (5,0) 3,9 0,89 4,38
Fonte: QEdu e MEC/Inep
fornecidos pelo Inep bem como uma imersão nas escolas para buscar explicações in
loco deste fenômeno.
Ainda assim, vale destacar a importância dos sistemas, redes de ensino e escolas
se debruçarem sobre os dados e informações produzidos pelas avaliações externas para
conhecer melhor o contexto no qual a aprendizagem, e consequentemente a qualidade
do ensino, se efetivam. A reflexão, de forma associada, sobre os dados e resultados
produzidos e disponibilizados pelo Inep pode potencializar análises e explicações sobre
o trabalho das escolas contribuindo, assim, com a construção de uma escola pública que
busca viabilizar o sucesso de todos os alunos.
Notas finais
Estudos exploratórios e analíticos sobre os resultados das redes e das escolas
com base nos dados disponibilizados pelo Ideb, principalmente quando observados nas
suas séries históricas longitudinais, podem fazer a diferença para a escola cumprir seu
papel de ensinar com qualidade todos os seus alunos.
As apreciações dos dados da RME-SP aqui examinadas apontam, de um lado, a
evidência da drástica diferença de aproveitamento escolar dos alunos de uma mesma
rede e, por outro, a possibilidade de, a partir do conhecimento e estudo das informações
da Prova Brasil e dos resultados do Ideb em todas as aferições já elaboradas,
desencadear um enfrentamento político pela efetiva eliminação de um processo de
escolarização seletivo e excludente.
Mesmo considerando as restrições dos itens do questionário do professor da
Prova Brasil utilizados neste estudo, podemos assinalar algumas problematizações a
partir da análise empreendida. A primeira delas é que mais de 90% dos professores do
5º ano indicam, em 2011, a utilização de diversificados recursos pedagógicos e
didáticos, sendo que 73% apontam a biblioteca como um lócus de aprendizagem. No
entanto, o crescimento das proficiências não parece corresponder a tal disseminação de
recursos. Uma hipótese para esse crescimento relativamente pequeno estaria assentada
na constatação de que menos da metade dos professores afirmam terem cumprido mais
de 80% do conteúdo que haviam programado para ser desenvolvido com seus alunos
durante o ano e 40% sustentam que ficaram no patamar entre 60 e 80% do previsto.
Evidentemente, as proficiências medidas no final de 2011 são produto de 5 anos de
ensino fundamental e não apenas do desenvolvido no ano de aplicação da Prova Brasil;
contudo, não menos importante é o que se pode apreender do processo curricular do
320
último ano dos anos iniciais do ensino fundamental. Há, também, que se aventar a
hipótese de que esse nível de consecução das atividades previstas, abaixo do esperado
para o ano, pode estar acontecendo nos anos anteriores, o que, se confirmada, colocaria
o conjunto dos anos iniciais com um déficit curricular acumulado de grandes
proporções.
Na busca de fatores que possam estar associados ao desempenho dos alunos da
RME-SP, outro dado que chama a atenção é a prática pedagógica de lançar mão de
cópia da lousa, a qual foi indicada por 60% dos professores, considerando sua
frequência semanal ou algumas vezes no mês. De certa forma, corroborando as
preocupações alinhavadas por Nunes (2008), essa prática parece não dialogar com as
evidências de estudos que apontam a ineficiência deste recurso pedagógico como fator
de motivação dos alunos e menos ainda como fonte de aprendizagem e conhecimento.
Aprofundando a investigação de elementos que possam elucidar a trajetória de
desempenho dos alunos, avulta a posição dos professores para as causas da mesma,
pois, praticamente, para 76% deles os problemas de aprendizagem são decorrentes do
meio em que o aluno vive e ocorrem devido ao desinteresse e falta de esforço do aluno.
Se, por um lado, isso é coerente com pesquisas que procuram correlacionar desempenho
dos alunos com NSE das suas famílias, por outro, pode significar um tipo de
descompromisso de ensinar todos ou uma resignação diante das condições que os
alunos apresentam, como se à escola restasse “consagrar” as diferenças que são
delineadas fora dela.
No entanto, a título de demarcar as limitações de resultados de avaliações
externas, apesar de todas suas potencialidades, encontramos em Alavarse, Machado e
Oliveira (2013) ponderações sobre as ilusões da divulgação e ênfase nas médias de
proficiências de escolas, pois isso pode eclipsar a variabilidade de aprendizagem no
interior das mesmas, ou seja, dos alunos.
Nesta análise, um obstáculo emergiu quando procedemos à investigação desses
fatores por escola, pois ficou patente que não havia nem a reverberação do quadro
esboçado pelo conjunto das escolas da rede, nem uma coerência entre a posição das
escolas quanto aos seus NSE. O estudo indica que a disponibilização de dados pelo Inep
pode apontar alguns fatores explicativos para a Rede, mas que esses não se reproduzem
por escola, restringindo as análises dos possíveis fatores que podem ser associados aos
resultados dos alunos por escola.
321
Referências
Comunicação
Introdução
Embora a Pedagogia Hospitalar seja uma modalidade de atendimento
educacional reconhecida por lei como um direito da criança e adolescente
hospitalizados e, portanto distantes da escola, o Brasil ainda conta com poucos hospitais
que desenvolvem esse tipo de atendimento e em sua maioria prestado por profissionais
que não possuem formação especifica para esse fim.
A classe hospitalar constitui uma necessidade para o hospital e um direito
adquirido pelas crianças que estão internadas e impossibilitadas de frequentar a escola
regular. A criação de classes hospitalares é uma questão social e deve ser vista com
seriedade e engajamento pelas políticas públicas brasileiras.
A infância, cerceada de possibilidades de desenvolvimento cognitivo social e
emocional, durante o período de internação hospitalar, pode romper a identidade de ser
324
criança em sua amplitude. Para Fontes (2007, p. 277), “a identidade de ser criança é
muitas vezes diluída numa situação de internação hospitalar, na qual ela se vê imersa
numa realidade diferente de sua vida cotidiana”. A hospitalização distancia as crianças
de suas atividades diárias, dos amigos e parentes. O sentimento de impotência diante da
enfermidade, a ausência ou e/ou falta de estímulos maternos podem provocar na criança
o que Spitz1 (1965) denominou hospitalismo, Nessa direção, a vulnerabilidade dos
parentes, a falta de perspectiva e o medo do desconhecido afetam sua autoestima,
dificultando muitas vezes sua recuperação.
Além das mudanças físicas e emocionais decorrentes das patologias, crianças e
adolescentes internados sofrem também pelo distanciamento do ambiente familiar, dos
amigos e do ambiente social. Em casos de doenças graves, nas quais a internação
acontece por longo tempo, existe uma ruptura no processo de aprendizagem curricular.
A classe hospitalar consiste em uma tentativa de recuperar a socialização da criança e
do adolescente e de dar continuidade à escolarização com a valorização do processo de
aprendizagem de cada um.
Com base em revisão de literatura, pode-se constatar que existem poucos trabalhos
publicados que discutem o preparo do pedagogo, profissional habilitado para o
atendimento necessário à educação de crianças e adolescentes hospitalizados, entre eles
destacam-se: Matos (2003); Schilke (2008), Medeiros da Silva (2010/2011).
Autores como Ceccim (1997), Paula e Marcon (2001) e Wolf (2007) abordam a
necessidade da análise mais criteriosa das atividades desenvolvidas no âmbito hospitalar
e suas repercussões para as, crianças e adolescentes enfermos que são encaminhados a
instituições hospitalares.
Foram encontradas, também, algumas publicações como: Fontes (2005) e
Schilke (2007) que evidenciam a historia da Pedagogia Hospitalar definindo-a como um
novo campo de atuação do pedagogo. Segundo Fonseca (2012), o número de classes
hospitalares no Brasil é ainda pequeno, atualmente, oficialmente, há 141 hospitais, que
oferecem a oportunidade de crianças e jovens prosseguirem com seus estudos se
considerarmos a imensidão do país.
1
Renne Spitz (1965) observando crianças em hospitais de caridade denominou de hospitalismo o
conjunto dos fenômenos apresentados por elas. Observou que nas crianças pequenas, a ausência e/ou falta
de estímulos maternos são causadores de perturbações emocionais. Tais perturbações podem se
manifestar por intermédio de três reações: a primeira, de protesto violento, choro intenso e agitação; a
segunda, de desespero, revelado pelo silencio e aparente tranquilidade da criança; e a terceira, de
resignação melancólica, resultado de uma adaptação patológica.
325
O traçado da pesquisa
Para alcançar o objetivo proposto, a pesquisa pautou-se na abordagem
qualitativa, considerando que tal delineamento é recomendado quando se deseja
conhecer os fatores que afetam o comportamento humano, tais como: atitudes, crenças,
sensações, imagens e motivos (NOHARA e ACEVEDO, 2007, p. 52).
Os sujeitos de pesquisa foram 07 professores que atuam na classe hospitalar na
Escola Schwester Heine. Os professores participaram de dois grupos focais. Ambos os
grupos foram compostos de professores que participaram de formação específica para
atuar em classe hospitalar e de professores que não participaram de formação específica
para atuar na classe hospitalar.
Segundo Gatti (2005):
O grupo focal é uma técnica empregada há muito tempo, no qual se privilegia
a seleção dos participantes segundo alguns critérios – conforme o problema
em estudo -, desde que eles possuam algumas características em comum que
327
formação como você vai entrar no hospital, como vai conseguir trabalhar com
essas crianças? Prof.ª Paula.
A continuidade da formação
As participantes da pesquisa são unânimes ao dizer que a formação continuada,
também, cumpre um papel fundamental, pois o exercício da docência nas classes
hospitalares faz com surjam perguntas e dúvidas que demandam dos professores novos
estudos e reflexões.
329
Refletindo sobre a formação, as professoras salientam que essa não se reduz aos
cursos frequentados, mas pode se dar de diferentes maneiras.
[...] Na minha concepção a formação está também num grupo de estudo, na
academia, na quantidade de leituras individuais, o que não aguento é o
professor que não faz nada, não lê, acha que só o movimento dele de ação já
basta. Prof.ª Eduarda
Levando em conta que cada aluno é único e se encontra enfermo, situação que o
singulariza ainda mais, é necessário, também, que pedagogo hospitalar desenvolva um
olhar diferenciado e uma escuta sensível capaz de acolher e lidar com as especificidades
e o momento de cada aluno e isso só se torna possível por meio da formação.
[...] Cada dia é uma surpresa, a gente planeja uma atividade e no mesmo dia
pode acontecer alguma coisa que impeça a criança de continuar as atividades.
Um planejamento de lição agendada às vezes não dá certo. Prof.ª Soraia
[...] Na classe hospitalar todo dia é um novo dia. Logo cedo a gente verifica
quem esta internado, quem teve alta, quem faltou e porque. Ai sim a gente vai
ver o que pode ser trabalhado com cada criança. Não da para ser muito
rigoroso com o conteúdo. Prof.ª Paula
Considerações em aberto
Com base na pesquisa realizada, pode-se dizer então, que os desafios
enfrentados pelo pedagogo no ambiente hospitalar são inúmeros e de diferentes ordens.
Fica claro que esse processo para muitos é intenso, exigindo inúmeras superações, o que
requer que o professor esteja em constante processo de formação.
Para atuar em Classes Hospitalares, o estudo ressaltou a importância de uma
formação anterior específica para atuar nesse contexto, No entanto, a formação anterior
não foi considerada suficiente, as participantes da pesquisa enfatizam que a rotina a qual
estão submetidos as desloca constantemente de sua zona de conforto demandando que
busquem novos conhecimentos e nessa perspectiva a formação continuada assume um
papel importante. Cumpre salientar, no entanto, que a formação continuada, para eles,
desdobra-se em inúmeras possibilidades. Ela pode se dar por meio de cursos de
especialização, bem como a partir de leituras. Enfatizam que a reflexão cumpre um
papel fundamental nesse processo por parecer ser o elemento que articula as
experiências vivenciadas às teorias propostas nos contextos de formação. Destacam
também a importância dos grupos de formação compostos por pares, bem como aqueles
331
Referências
ARROYO, M.G. Oficio de Mestre: Imagens e Auto- Imagens. Petrópolis (RJ): Vozes,
2000.
CECCIM, R.B; FONSECA, E.S. Classes Hospitalares: Onde, quantas e por quê? In:
FONSECA, Eneida S. Atendimento Escolar Hospitalar. O trabalho pedagógico no
ambiente hospitalar: a criança doente também estuda e aprende. Rio de Janeiro: Ed. da
UERJ, 2001.
Comunicação
Resumo: Este artigo é parte integrante de pesquisa maior que investigou a participação
de diretores escolares da rede estadual de ensino, em ações de formação continuada
implementada pelo Plano de Formação Continuada de Professores e Gestores, com foco
na opinião desses atores sobre possíveis desdobramentos do Plano no âmbito escolar.
Neste texto discutem-se os pressupostos que norteiam o documento oficial, assim como
a política educacional da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, no que se
refere à formação continuada de gestores.
Palavras- chaves: Formação Continuada, Gestores. Participação, Pesquisa-ação
Introdução
1
Para Oliveira e Araújo (2005, p. 18), “as políticas de avaliação mediante testes padronizados, como o
Saeb, constituindo indicadores de sucesso/fracasso escolar, se, por um lado, aferem competências e
habilidades requeridas para um ensino de qualidade, por outro não possuem efetividade, visto que pouca
ou nenhuma medida política ou administrativa é tomada a partir dos seus resultados, ou seja, não possuem
validade consequencial. Dessa forma, os testes padronizados são instrumentos necessários, mas
insuficientes para a melhoria da qualidade de ensino”.
337
2
Resolução SE 62/2005: Dispõe sobre procedimentos para implementação das ações de formação
continuada, nas modalidades Curso e Orientação Técnica.
3
Portaria Conjunta Cenp/DRHU, de 27 de setembro de 2005: Dispõe sobre a uniformização da
implementação de Cursos e de Orientações Técnicas, desenvolvidas por órgãos da Secretaria da Educação
e/ou com sua aprovação.
338
O Plano não especifica qual perspectiva deve ser adotada. Aponta que o
trabalho de formação dos GRs, nos Núcleos de Formação, deve partir da pesquisa-ação,
de forma colaborativa. Para Pimenta (2005, p. 523),
A pesquisa-ação torna-se colaborativa na medida em que proporciona a
criação, nas Diretorias e nas escolas, de uma “cultura de análise e reflexão
das práticas que são realizadas, a fim de possibilitar que os seus professores
(...) transformem suas ações e as práticas institucionais”.
4
Disponível em: <http://drhu.edunet.sp.gov.br/a_principal/index.asp.>. Acesso em: 28 set. 2013.
5
São consideradas prioritárias, pela Seesp, as escolas que, no Saresp, apresentam percentual acima do
definido para o nível básico de aprendizagem nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática.
340
6
No período da pesquisa, mais precisamente em agosto de 2013, foi publicada a Resolução Conjunta SE-
SGP 2, de 3 de agosto de 2013, que regulamenta a Lei complementar 1.192/2012, Gratificação de
Atividade Pedagógica, regulariza a situação dos integrantes do quadro do magistério afastados nos órgãos
centrais.
7
Decreto 57.141/2011. Dispõe sobre a reorganização da Secretaria de Estado da Educação e dá outras
providências.
343
REFERÊNCIAS
LIMA, Licínio C. A escola como organização educativa. 4. ed., São Paulo: Cortez,
2011.
______. Autonomia da escola: a (ex)tensão do tema nas políticas públicas. São Paulo:
Cortez, 2002.
______. Autonomia e gestão da escola pública: aportes para uma discussão. In:
OLIVEIRA, D. A.; ROSAR, M. F. (Orgs). Política e gestão da educação. Belo
Horizonte: Autêntica, 2002.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação. Resolução n. 74, 8 nov. 2013.
Dispõe sobre a reorganização do Ensino Fundamental em Regime de Progressão
Continuada, oferecidos pelas escolas públicas estaduais e dá outras providências.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
Comunicação
Resumo: Este estudo teve como objetivo identificar as razões que levavam gestores
escolares a concordarem, ou não, com a política de avaliação da Secretaria de Educação
Estadual contemplada pelo Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo
(IDESP). Participaram 45 gestores escolares, advindos de 17 escolas públicas da rede
paulista de ensino. Destes, 14 gestores escolares declararam concordar com a política
contemplada pelo IDESP e 27 declararam não concordar. Dentre as razões explicitadas,
pôde-se verificar que alguns acreditavam no potencial diagnóstico e norteador conferido
àquele índice. Já a maioria revelava não concordar com a política meritocrática
associada ao IDESP, bem como à desconsideração do contexto escolar. Outros
atribuíram o insucesso da escola aos estudantes que supostamente não valorizavam as
avaliações externas. Essas percepções assemelham-se ao que tem sido apresentado na
literatura sobre o tema, a qual subsidia a discussão aqui apresentada.
Palavras-chave: avaliação externa, diretores escolares, coordenadores pedagógicos
Introdução
considerando-se, também, o fluxo escolar relativo à cada escola, cujos dados integrados
dão origem ao Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo
(IDESP). A partir desse índice, cada unidade escolar recebe metas de desempenho a
serem cumpridas na próxima edição, as quais visam estabelecer padrões de
desenvolvimento ao longo de um ano letivo, bem como guiar a evolução das escolas, de
modo que estas possam atingir nota 5,0 no IDESP em 2030. O cumprimento das metas
anuais possibilita que gestores escolares e professores recebam um bônus financeiro,
como reconhecimento do êxito alcançado no decorrer do ano letivo. Ciente das muitas
controvérsias relativas ao referido programa, este estudo1 teve como objetivo identificar
as razões que levavam os gestores escolares à concordarem, ou não, com a política de
avaliação da Secretaria de Educação Estadual contemplada pelo Índice de
Desenvolvimento da Educação de São Paulo (IDESP).
Por um lado, alguns pesquisadores destacam como aspectos positivos associados
ao IDESP, o caráter diagnóstico que tal índice pode desempenhar, auxiliando a
promover melhorias nas práticas escolares e a conduzir as políticas educacionais
(SOUSA e OLIVEIRA, 2010). Os resultados divulgados por níveis de proficiência
constituem-se como um dos elementos que podem fundamentar intervenções
pedagógicas, objetivando-se, inclusive, evitar a exclusão de alunos com dificuldades
(SOARES, 2009). Ainda por meio dos possíveis diagnósticos, advindos dos resultados
do IDESP, pode-se reestruturar os processos internos das unidades escolares e as
práticas de ensino, bem como subsidiar programas de formação continuada (ALVES,
2014; SOUSA e OLIVEIRA, 2010).
Por outro lado, os aspectos negativos associados ao IDESP aparecem com maior
frequência, não pelo índice em si, mas pelo modo como tal índice tem sido utilizado
(FREITAS, 2007; PARO, 2011; SOUSA e OLIVEIRA, 2010). Aparentemente, ao invés
de se utilizar as possibilidades diagnósticas para orientar novas práticas pedagógicas
que possam enriquecer a formação e o processo de aprender dos estudantes, o IDESP
tem provocado uma mudança no modo de ensinar, visando apenas instrumentalizar os
estudantes a responderem testes, os quais deixam de ser meios para se tornarem fim.
(NETO, 2014; PARO, 2011; RAVITCH, 2011; SOUSA e OLIVEIRA, 2010)
1
Este estudo integra a pesquisa Crenças de Eficácia de Gestores Escolares e de Docentes no Ensino
Médio paulista, realizada com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo,
processo nº 2010/51657-1.
347
A pesquisa
Os participantes
Resultados
Algumas considerações
Referências
RAVITCH, D. The death and life of the great american school system: how testing
and choice are undermining education. New York: Basic Books, 2011.
Comunicação
RESUMO: O objetivo deste trabalho foi identificar como vem sendo desenvolvido o
ensino de língua estrangeira nas oficinas das Escolas de Tempo Integral, entender as
políticas públicas e diretrizes que orientam este ensino, discutir as possibilidades de
inclusão do ensino de língua estrangeira na matriz curricular dos anos iniciais do ensino
fundamental I e verificar quais são as condições necessárias para que o ensino de língua
estrangeira se torne um instrumento de promoção da equidade social. Para atingir o
objetivo, busquei apoio em dois corpos teóricos. No primeiro, busquei a partir de uma
análise documental e da leitura dos estudos de autores como Leffa (1998/ 1999), Coelho
(2005) e Oliveira (1999), entender brevemente a história do ensino de língua estrangeira
no Brasil, em seguida, realizei um estudo dos documentos, leis e resoluções que
regulamentam o ensino de língua estrangeira com foco nas diretrizes de ensino das
Escolas de Tempo Integral. No segundo, trouxe as vozes de autores como Cameron
(2002), Figueira (2002), Rocha (2006, 2010), Santos (2005, 2009), Scaffaro (2006),
Tonelli (2005), entre outros que tratam especificamente de metodologias aplicadas ao
ensino de língua estrangeira para crianças, denominada (LEC). No terceiro, discuti
como o ensino da língua inglesa tem se dado nas escolas estaduais a partir de uma
descrição pormenorizada sobre estas práticas, construído a partir das entrevistas com os
professores e da observação participante. Foi adotada a abordagem qualitativa, e como
procedimento de coleta de dados, estudo documental e revisão bibliográfica
complementado por entrevista semiestruturada com três professoras responsáveis pelas
oficinas de língua inglesa de três escolas distintas pertencentes à Diretoria de Ensino
1
Este artigo é um recorte da minha dissertação de mestrado, defendida em março de 2014, sob orientação
do Prof. Dr. Júlio Gomes Almeida. Aproveito para agradecer a SEE (Secretaria de Educação do Estado de
São Paulo) pelo apoio financeiro e a CAPES que possibilitou o aprimoramento dos meus estudos no
Insitute of Education in London.
2
Mestre em Educação pela Universidade Cidade de São Paulo. Possui aperfeiçoamento em Metodologia
para o ensino de Língua Inglesa pelo I.O.E - Institute of Education in London. Pesquisadora dos grupos
de pesquisa "Ensino de Língua Estrangeira, Formação Cidadã e Tecnologia" pela UNICAMP e "Grupos,
Práticas e Formação" pela UNICID. Professora titular de língua inglesa na rede estadual de ensino de São
Paulo. Professora de língua inglesa para fins específicos.
356
Leste 5. Os resultados indicam que muitas das práticas realizadas pelas professoras
estão presentes nos estudos dos autores abordados neste trabalho. A aprendizagem de
uma segunda língua é fator importante na construção da equidade, mas o ensino no
sistema estadual ainda precisa evoluir muito neste sentido. As diretrizes para as oficinas
de língua inglesa não estão condizentes com o que preconiza o Currículo do Estado de
São Paulo, possibilitando uma diferenciação, tanto nas orientações metodológicas,
como na oferta do ensino.
Palavras-chave: aprendizagem, ensino, escola pública, língua estrangeira, professores,
formação.
Introdução
Os objetivos deste estudo foram: entender como vem sendo desenvolvido o ensino
de língua estrangeira nas oficinas das Escolas de Tempo Integral; entender as políticas
públicas e diretrizes que orientam este ensino; discutir as possibilidades de inclusão do
ensino de língua estrangeira na matriz curricular dos anos iniciais do ensino
fundamental (ciclo I); verificar quais são as condições necessárias para que o ensino de
língua estrangeira se torne um instrumento de promoção da equidade social.
A relevância pessoal desta pesquisa foi a de que ela possibilitou um
entendimento mais específico sobre as diretrizes e metodologias para o ensino-
aprendizagem de língua inglesa nos anos iniciais, além de revelar algumas dificuldades
e desafios enfrentados pelas professoras que atuam neste segmento. Com isso, pude
refletir melhor sobre a minha prática como professora de língua inglesa do ensino
fundamental (ciclo II e médio), e também colaborar com o processo de aprendizado de
língua estrangeira dos alunos em anos posteriores.
Trata-se de um trabalho que considero haver relevância social na medida em que
disponibiliza para os professores de língua inglesa um estudo sobre as diretrizes para as
Escolas de Tempo Integral, e do Currículo do Estado de São Paulo, no que diz respeito
ao ensino de língua inglesa, bem como, apresenta estudos que tratam do ensino-
aprendizagem de língua estrangeira para crianças.
Na rede estadual de ensino de São Paulo, até o presente momento, as línguas
estrangeiras não integram oficialmente a matriz curricular dos anos iniciais. O Estado
vem possibilitando acesso dos alunos à língua estrangeira nos primeiros anos dessa
etapa da Educação Básica, apenas nas Escolas de Tempo Integral. Com essa proposta,
357
atende-se apenas a uma pequena parte dos alunos que frequentam o Ensino
Fundamental (ciclo I) na rede estadual, excluindo a maioria dos alunos do ensino
público.
Ao discutir a questão do ensino de língua estrangeira na escola pública, Rocha
(2009) salienta que o ensino da língua inglesa nos anos iniciais do ensino fundamental
das redes públicas brasileiras é socialmente relevante à luta por maior equidade, à
promoção do protagonismo social, bem como, à construção da cidadania crítica e de
bases multiculturais.
Ao considerar a importância da abordagem do ensino de língua estrangeira com
crianças que iniciam os estudos curriculares obrigatórios, agiu bem a Secretaria de
Educação do Estado de São Paulo ao observar nos princípios da Proposta Curricular do
Estado de São Paulo (2009), na qual se lê: “Na sociedade de hoje, são indesejáveis,
tanto a exclusão pela falta de acesso a bens materiais, quanto à exclusão pela falta de
acesso ao conhecimento e aos bens culturais”. Contudo, a própria secretaria não vem
garantindo a todos os alunos esse direito de inclusão, por ela própria preconizada.
Na prática, não se verifica a inclusão acima mencionada, como no caso da língua
inglesa no Ciclo I, que é restrita, apenas, aos alunos das Escolas de Tempo Integral.
3
Idem.
359
2- Das Diretrizes e Normas das Escolas de Tempo Integral do Estado de São Paulo
O projeto Escola de Tempo Integral desenvolvido no Estado de São Paulo foi
instituído em dezembro de 2005, com aplicação imediata nas escolas de ensino
fundamental I que aderiram ao projeto.
Nas considerações da resolução que trata dos pormenores da aplicação do
projeto levou-se em conta a necessidade da educação, que desempenha papel relevante
na dinâmica da sociedade, em especial, no dia a dia de crianças e jovens.
A resolução ainda considera e exalta a importância em se oferecer aos estudantes
do ensino fundamental a oportunidade de se estender o tempo de exposição às
atividades que propiciem o aprendizado, o que veio atender aos anseios da sociedade e
materializar um importante instrumento de política de inclusão.
O programa previa também a organização de um currículo voltado a atender e
orientar os alunos nas matérias básicas curriculares, desenvolver atividades artísticas e
culturais no ambiente escolar, o fomento de atividades esportivas e de integração social
além de outras atividades complementares de enriquecimento curricular, dentre estas, as
oficinas curriculares de língua inglesa.
Contradizendo o currículo atual do Estado de São Paulo (2011), que possui uma
orientação baseada no letramento, propondo uma articulação entre o saber e o fazer, as
Diretrizes da Escola Tempo Integral trazem orientações práticas, como sugestões para o
desenvolvimento das aulas, divididas em que confirmam o modelo Apresentação,
Prática e Produção/Consolidação, característico de abordagens funcionais e
comunicativas.
Podemos verificar as diferenças de abordagem na atividade abaixo, proposta
para alunos do 6º ano (antiga 7ª série) do ensino fundamental.
4- A metodologia da pesquisa
Considerações Finais
Nesta pesquisa foi constatado um distanciamento das orientações metodológicas
para o ensino de língua estrangeira (ciclo I) contidos nas Diretrizes de Ensino das
Escolas de Tempo Integral, e as orientações presentes no Currículo do Estado de São
Paulo – ensino fundamental (ciclo II) e ensino médio. As diferenças evidenciadas não
corroboram com a visão de linguagem apresentadas nos estudos desta pesquisa, nem
com a visão preconizada pelo Currículo do Estado de São Paulo, que destaca a ênfase
nos letramentos múltiplos.
Foi possível também apresentar nesta pesquisa alguns estudos que tratam
especificamente do ensino de língua estrangeira para crianças, e com isso, pude associar
estes estudos com os depoimentos das professoras entrevistadas sobre as práticas
vivenciadas em sala de aula.
As entrevistas com as professoras indicaram que o ensino língua inglesa desperta
grande interesse nas crianças dos anos iniciais, que em sua maioria, possuem grande
motivação para o aprendizado. Outro fator mencionado pelas docentes é o grau de
desinibição destes alunos, uma característica preponderante das crianças que colabora
no aprendizado de línguas. Também foi possível compreender que as atividades lúdicas,
que envolvam jogos e músicas, facilitam o ensino e possibilitando uma aprendizagem
significativa.
Não obstante, a pesquisa mostrou alguns fatores que não contribuem para que o
ensino de línguas seja efetivo nas Escolas de Tempo Integral da rede estadual: a falta de
363
Referências Bibliográficas
BRANSFORD, J. et al. (Eds). How People Learn: Brain, Mind, Experience and School.
Washington D.C.: National Academy Press, 2003.
COPE, B.; KALANTZIS, M. (Eds.). Multiliteracies: Literacy Learning and the Design
of Social Futures. London: Routledge, 2000.
364
DONALDSON, M. Children’s minds. New York: W.W. Norton & Company, 1979.
____________ Crenças acerca da inclusão da língua inglesa nas séries iniciais: quanto
antes melhor? Cuiabá, MT. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Mato
Grosso, 2005.
YULE, G. The study of language. 2ed. United States: Cambridge University Press,
1997.
366
Comunicação
contexto econômico e produtivo, como bem destacou o Relatório Delors (2004, p. 72),
ao se referir ao objetivo educacional, a ser alcançado, por diversos países, incluindo o
Brasil.
Esse objetivo educacional expresso em um Relatório Internacional, que contou
com o apoio da UNESCO, foi difundido mundialmente, ao final dos anos de 1990,
tendo como base fundamental a aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning).
Desloca-se, portanto, o centro das atenções da qualidade da educação dos processos
educativos, condições de infra-estrutura e recursos humanos, para os resultados
educacionais, com destaque para a aprendizagem que deverá, segundo Macedo (2002,
p.142), valorizar as competências pessoais e favorecer, de acordo com Delors (2004, p.
90):
[...] aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da compreensão;
aprender a fazer para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver
juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades
humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três
precedentes (Delors, 2004, p. 90).
municipal que apresentam maior representatividade. Por isso, optou-se pela análise
documental da legislação, a fim de nortear o entendimento sobre esse aspecto.
Assim, no que se refere à legislação que embasa a rede estadual de ensino e a
qualidade da educação de jovens e adultos.
[...] entendida como o melhor que uma comunidade escolar pode conseguir
frente às suas reais condições, com o objetivo de servir a população naquilo
que é específico da educação: formação e instrução. (...) A qualidade não é
optativa no serviço público. É uma obrigação. Deve incluir os processos que
conduzem à emancipação humana e ao desenvolvimento de uma sociedade
mais justa (SME, 2007, p. 76).
Referência Bibliográfica
375
___. Estudo de caso em Pesquisa e Avaliação Educacional. Brasília: Liver Livro, 2005.
BRUNEL, C. Jovens cada vez mais jovens na educação de jovens e adultos. Porto
Alegre: Mediação, 2004.
DEMO, P. Avaliação Qualitativa. 7 ed. rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2002.
Comunicação
Introdução
Este trabalho faz parte da pesquisa que desenvolvo com vistas a obter o título de
mestre no Programa de Mestrado da Universidade da Cidade de São Paulo – UNICID,
tendo os seguintes objetivos: (1) descrever e distinguir formas de comunicação de
gestores escolares da rede pública estadual de São Paulo; (2) identificar os desafios do
gestor escolar para a Educação do Século XXI considerando as proposições da
legislação da rede estadual de educação de São Paulo no que tange ao desenvolvimento
da cultura de paz na escola (3) identificar limites e possibilidades das técnicas da
Comunicação Não Violenta (CNV) para a gestão escolar na mediação de conflitos.
Este artigo, especificamente, tem por objetivo discutir a importância da
comunicação na gestão de pessoas na escola à luz de referências. O interesse pela
temática surgiu dos questionamentos sobre o papel do diretor escolar frente aos desafios
1
Psicóloga e pedagoga, diretora de escola pública na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo,
especialista em Psicodrama, Gestão Escolar e Cultura de Paz, mestranda em Educação pela Universidade
Cidade de São Paulo – UNICID, 2014, deboradiogo@ig.com.br
379
entre a cultura experenciada que acontece na vida cotidiana e a cultural formal que é o
domínio dos conhecimentos e das habilidades de pensamento (LIBÂNEO, 2013, p.49).
Acrescentamos ser a escola, também, um espaço de aprendizado com normas de
convivência social, possibilitando o desenvolvimento das competências comunicativas e
relacionais entre os educandos e todos os demais envolvidos no processo educativo.
Destacando o crescente interesse sobre a revalorização da escola como
organização educativa, Lima (2003) lança novo olhar, apresentando-a como objeto de
estudo da sociologia das organizações:
Apoiado pela emergência de uma sociologia das organizações educativas e
procurando estabelecer pontes com a análise das políticas educacionais, com
modelos, imagens e metáforas para a interpretação das organizações sociais
formais, e com a crítica às ideologias organizacionais e administrativas,
tradicionalmente de extração empresarial, o estudo da escola vem ganhando
centralidade. Trata-se de um processo complexo, mas também muito
estimulante, de construção de um objeto de estudo que, no passado, foi
frequentemente apagado, ou colocado entre a ‘espada e a parede’, isto é, entre
olhares macro analíticos que desprezaram as dimensões organizacionais dos
fenômenos educativos e pedagógicos, e olhares micro analíticos,
exclusivamente centrados no estudo da sala de aula e das práticas
pedagógicos-didáticas. (LIMA, 2013, p.7)
Assim, como toda organização social, a escola, com tarefas éticas e educativas
peculiares, para atingir seus objetivos sociopolíticos, necessita de meios operacionais
para desenvolver uma estrutura e cultura organizacionais (setores, cargos, atribuições,
normas), uma tecnologia, processos de gestão e tomada de decisões, bem como a análise
dos resultados que contribuem para o processo formativo e para o aperfeiçoamento da
gestão (LIBÂNEO, 2013, p.16). Para Libâneo (2013) é necessário se instituir formas de
gestão e organização da escola que venham a atender às necessidades da instituição
escolar, uma vez que cada instituição possui uma cultura própria e meios para atingir o
fim socioeducativo que, para o autor, é formar os educandos para adquirirem uma
compreensão teórica das matérias e usar os conceitos para analisar as próprias condições
de vida e suas próprias expectativas de futuro na vida social, cultural e profissional. O
autor reconhece que há correspondência entre as ações dos envolvidos no processo
educativo (alunos, professores, funcionários etc) com o desempenho dos educandos em
sala de aula, sendo a estrutura funcional da escola e o funcionamento da mesma de
responsabilidades de todos, orquestrados pelo gestor escolar.
Bravo (2011) classificou em cinco disciplinas as condições de aprendizagem
organizacional. Destacamos duas delas, incluindo-as ao cenário da organização escolar
381
educativa em razão do tema desta pesquisa, tendo como foco a atuação do gestor
escolar:
1. Aprendizagem em grupo: começa com o ‘diálogo’, que é a
capacidade de os membros de um grupo levantarem ideias preconcebidas e
participar de um ‘raciocínio em grupo’. Torna-se vital porque a unidade
fundamental de aprendizagem nas organizações modernas é o grupo, porém,
não se deixa de privilegiar as ações individuais. O fato é que a organização só
terá capacidade de aprender, se os grupos forem capazes disso. Esse
procedimento é utilizado para que as pessoas possam enxergar o mundo além
dos limites das suas perspectivas pessoais.
2. Valores: [...] Os valores constituem uma disciplina que permite uma
visão de conjunto, da estrutura das inter-relações dos padrões de mudança em
lugar de “instantâneos” estáticos. Os valores estão sempre nos mostrando que
o todo pode ser maior que a soma das partes. (BRAVO, 2011, p. 62)
2
Gestão Pedagógica, Gestão de Pessoas, Gestão de Recursos Didáticos, Materiais, Físicos e Financeiros e
Gestão dos Resultados Educacionais do Ensino e Aprendizagem.
3
Grifos das autoras.
385
4
A Secretaria de Estadual da Educação de São Paulo considera o diretor escolar como um dos educadores
que compõem a comunidade escolar, conforme Resolução SE nº 52/2013, Artigo 2º, Inciso I, Anexo A.
388
Conclusão
Qualificando a escola como uma organização educativa, a partir das análises
referentes à literatura citada, infere-se ser importante a comunicação na gestão de
pessoas na escola, servindo de instrumento não apenas para a melhoria dos
relacionamentos interpessoais que se dão na escola, mas principalmente para, a partir da
convivência baseada em uma comunicação mais clara e objetiva, favorecer o diálogo, de
modo que o objetivo da escola em realizar a formação dos alunos bem como de todos os
profissionais envolvidos no processo, seja potencializado.
Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação. 8ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola, teoria e prática. 6ª ed. São
Paulo: Heccus Editora, 2013.
389
NUNES, Antônio Ozório. Como restaurar a paz nas escolas, um guia para
educadores. São Paulo: Contexto, 2011.
TRIGO, João Ribeiro; COSTA, Jorge Adelino. Liderança nas organizações educativas:
a direção por valores. Revista Ensaio: avaliação políticas públicas em educação. Rio
de Janeiro, v. 6, n. 61, p. 561-582, out/dez. 2008.
390
Comunicação
Egeslaine de Nez
Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat)
Grupo de Estudos sobre Universidade (GEU/Unemat)
Antonio Bosco de Lima
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Resumo: Este artigo tem como objetivo identificar se o Espaço Europeu do Ensino
Superior (EEES), intitulado inicialmente como Processo de Bolonha, é reconhecido
como um movimento regulatório que influencia a gestão de universidades no Brasil. O
procedimento metodológico parte de um estado da arte/estado de conhecimento dos
documentos que compõem o Processo, assim como sobre o tema da regulação e
contempla a análise de conteúdo. A abordagem analítica dos dados é qualitativa. A
relevância científica desta investigação relaciona-se diretamente com o fato de apesar da
existência de vários estudos dedicados ao EEES, poucos destes são no âmbito desta
discussão que tem como um dos principais focos descritivos a regulação transnacional.
Considera-se finalmente, que se verifica uma complexa relação de entrelaçamento entre
a regulação transnacional e as políticas públicas educacionais contemporâneas que se
articulam dinamicamente e servem como aporte para algumas ações das instituições
brasileiras.
Palavras-chave: Educação Superior, Gestão, Regulação.
Introdução
As políticas sociais não estão isentas da intervenção do estado capitalista. Aliás,
essas são produtos deste Estado. Servem aos interesses do capital, ou como sugere
Vieira (1992, p. 30) “parte da estratégia da classe dominante, mais adequadamente da
burguesia”. Isto que parece ser óbvio, mas no imaginário popular não é assim tão
simples assim. Afinal, as políticas públicas são moedas de troca, que parecem
solucionar questões da miserabilidade (cultural, social, educacional, da segurança,
dentre outras), mas apenas amenizam o teor de tais problemas.
391
1
Decreto nº 6.096/2007 que institui o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais (REUNI) (BRASIL, 2007).
2
Lei nº 10.260/2001 que descreve sobre o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) (BRASIL, 2009).
3
Lei nº 11.096/2005 que constitui o Programa Universidade para Todos (ProUni) (BRASIL, 2008).
392
4
Lei nº 13.005/2014 que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, 2014b).
393
Vale destacar que esse tipo de regulação tem sua origem em países centrais e faz
parte do sistema de dependência em que se encontram os países periféricos, num quadro
394
sua força e impacto. A dimensão que ocupa hoje a Declaração de Bolonha está
visceralmente relacionada ao contexto no qual esse acordo ganha existência” (p. 222).
É, destarte, uma das transformações mais importante na história das universidades
européias desde o início do século XIX.
Para Bastos (2008) essa renovação foi relevante para inserir a Europa novamente
num contexto desenvolvimentista no que diz respeito à qualificação de seus
profissionais e à competitividade. Todavia, o EEES se reporta e se relaciona diretamente
com algumas tendências, tais como: a globalização da economia acompanhada de um
fluxo transnacional de capitais e o estabelecimento de acordos comerciais, resultando na
internacionalização do comércio, além da reestruturação do mercado de trabalho.
O EEES se constituiu inicialmente a partir da Carta Magna (1988) que
considerava que o futuro da humanidade dependia em larga medida do desenvolvimento
cultural, científico e técnico das universidades. Dez anos depois, a Declaração de
Sorbonne (1998) lançou a proposta de harmonizar a arquitetura do Sistema Europeu do
Ensino Superior e, em, 1999 foi sistematizado o documento oficial designado de
Declaração Conjunta que marcou a formalização da ideia da transformação do ensino
superior na Europa (FRANÇA, 2013).
A partir de então, foram publicados seis comunicados (Praga/2001, Berlim/2003,
Bergen/2005, Londres/2007, Leuven/Louvain-la-Neuve/2009 e Bucareste/2012) e uma
nova declaração (Budapeste-Viena/2010). Todos esses documentos desvelam os
avanços da constituição do EEES e a análise do Processo de Bolonha 2020. Além disso,
dispõem as ações a saber: os ciclos acadêmicos, a concentração e transferência de
créditos curriculares, a mobilidade dos envolvidos e a unificação e colaboração dos
países-membros na expansão do ensino superior (Disponível em:
<http://europa.eu/legislation_summaries/education_training_youth/lifelong_learning/c1
1088_pt.htm>. Acesso em: 03 jan. 2013).
Seu grande objetivo era a convergência dos sistemas baseados em três ciclos
(licenciatura, mestrado e doutorado), também buscava introduzir um sistema de graus
acadêmicos, promovendo a mobilidade dos estudantes, dos professores e dos
pesquisadores. Ao longo do processo foram acrescentados outros elementos, tais como:
aprendizagem ao longo da vida, competitividade econômica, atratividade aos
estudantes, professores e pesquisadores, acreditação, cooperação, avaliação, qualidade,
entre outros (Disponível em: <http://europa.eu/legislation_summaries/
397
[...] até 101 mil bolsas em quatro anos para promover intercâmbio, de forma
que alunos de graduação e pós-graduação façam estágio no exterior com a
finalidade de manter contato com sistemas educacionais competitivos em
relação à tecnologia e inovação. Além disso, busca atrair pesquisadores do
exterior que queiram se fixar no Brasil ou estabelecer parcerias com os
pesquisadores brasileiros nas áreas prioritárias definidas no Programa, bem
como criar oportunidade para que pesquisadores de empresas recebam
treinamento especializado no exterior (CIÊNCIA, 2013, p. 01).
5
Decreto n º 7.642/2011 que cria o Programa Ciência sem Fronteiras (BRASIL, 2013).
6
Edital nº 4/97 que convoca as IES a apresentar propostas para as novas diretrizes curriculares dos cursos
superiores (BRASIL, 2014a).
399
Considerações finais
O objetivo central deste trabalho foi o de realizar uma explanação sobre o
modelo europeu para a Educação Superior e a sua influência no Brasil. Foram discutidas
brevemente as concepções do mundo do capital, por meio de seus instrumentos de
internacionalização, globalização, mundialização e como repercute nas experiências
nacionais. Isso foi identificado na política educacional implementada nas últimas
décadas (final do século XX e início do século XXI), desde o Edital nº 4/97, passando
pelo PNE de 2014, pelas mudanças de diretrizes curriculares, pelas adaptações de
financiamento referenciadas, além de discussões pertinentes em vasta literatura da área
(LIMA, 2014) que tem privilegiado o primado do privado.
A partir da análise de conteúdo dos documentos que compõem o EEES, é
possível enfatizar que a cada encontro, os comunicados têm maior refinamento de idéias
e aprofundamento teórico. Ao longo do processo foi perceptível a ênfase no contexto
mundial com base da internacionalização da Educação Superior e na sociedade do
conhecimento organizada em rede, além da sistematização de um possível alinhamento
mundial.
Destaca-se, desta forma, a correlação de forças para o incremento de políticas
públicas para o EEES, bem como predomínio da referência à pesquisa, como um forte
aliado na construção de um espaço hegemônico de apropriação e socialização do
conhecimento produzido.
Isso se mostra aparente nas atividades realizadas pelo Processo que estão
articuladas e inscrevem-se nos objetivos do programa Educação e Formação 2020 e
400
Europa 2020, como uma política pública para a Educação Superior nesses países.
Assim, a adoção de um sistema de dois ciclos, em particular, já alterou a arquitetura do
sistema de ensino superior europeu de uma forma inédita e profunda e de forma
definitiva demarca ações noutros países.
É imprescindível aqui nesse momento conclusivo das reflexões sobre o EEES
compreender que pode ser aclamado como uma regulação do tipo transnacional.
Ratifica-se que é categorizado como uma regulação burocrática e administrativa, sujeita
a uma rede complexa de normativas (diretrizes e metas propostas nos comunicados e
nas declarações) que reforçam a intervenção direta do Estado (através dos Ministros
seus representantes legais), que teve como função reconfigurar a oferta da Educação
Superior europeia.
Cada contexto de ação (transnacional, nacional, local) é fonte e palco da
regulação institucional e situacional. Isto porque a ação política das sociedades ocorre
sempre condicionada por regras e recursos protagonizados e disponibilizados por atores
no quadro de relações sociais com certo grau de institucionalização.
Salienta-se, também, que coexistem algumas diferenças nas três formas
regulatórias exercidas nos diversos espaços (global, nacional e local), mas todas
igualmente servem como uma possibilidade de organização das ações, políticas e
práticas da Educação Superior brasileira.
Referências
DALE, R. The State and the governance of education: an analysis of the restructuring of
the State-Education relationship. HALSEY, A. H.; LAUDER, H.; BROWN, P;
NEZ, E. Estado da arte dos planos nacionais da pós-graduação brasileira (1975 a 2011).
Seminário de Educação SEMIEDU. Cuiabá: UFMT, 2013.
Comunicação
RESUMO: Este texto integra uma pesquisa em andamento, cujo objetivo é analisar as
concepções e práticas dos coordenadores pedagógicos da rede pública de Santarém –
PA, no que se refere à atuação no processo de gestão da escola. Insere-se na abordagem
qualitativa e utiliza como metodologia a análise documental e estudo bibliográfico. Os
resultados preliminares apontam que o contexto histórico da gestão escolar apresenta
uma forte associação ao controle do processo educativo e que, o perfil de
gestor/coordenador tem sido cada vez mais exigente frente a realidade globalizada.
Compreende-se que o coordenador pedagógico exerce uma função primordial no
cotidiano da escola e que a gestão da escola não deve se centralizar na figura do diretor
Palavras – chave: Gestão escolar. Coordenação Pedagógica. Gestão democrática.
INTRODUÇÃO
O presente artigo apresenta reflexões preliminares de uma pesquisa que está
sendo desenvolvida no Mestrado em Educação do Programa de Pós-Graduação em
Educação na Universidade Federal do Oeste do Pará. A pesquisa aborda o processo de
gestão na educação, especificamente, a gestão da escola no que se refere à coordenação
pedagógica e tem como objetivo, analisar as concepções e práticas dos coordenadores
pedagógicos1 da rede pública de Santarém, egressos do curso de formação continuada
de especialização em coordenação pedagógica, no que se refere à atuação da
coordenação pedagógica no processo de gestão da escola, tendo como recortes teóricos
as abordagens sobre gestão democrática.
1
Na rede estadual de ensino do Estado do Pará, a função de coordenação pedagógica é exercida por
pedagogos, denominada Técnico em Educação. Na rede municipal de Santarém-PA, também é exercida
por pedagogos, sendo denominados coordenadores pedagógicos. Neste artigo, as nomenclaturas
supervisão pedagógica/escolar/educacional e coordenação pedagógica são equivalentes e sempre se
referirão ao trabalho exercido pelo pedagogo.
404
Não há como falar em gestão democrática sem considerar que a mesma traz
determinantes históricos, políticos e econômicos. No campo das políticas em educação é
indiscutível a necessidade de se resgatar reformas educativas que iniciaram no fim da
década de 1980, fortaleceram-se na década de 1990 e perduram até os dias atuais. A
seleção deste período não se dá aleatoriamente e despropositadamente, pelo contrário,
destaca-se, por se considerar um marco histórico no desenvolvimento da sociedade, pois
mundialmente, uma revolução econômica e tecnológica sem precedentes históricos,
caracterizada como a era da informática, da internet, do capital e do conhecimento
estava se consolidando.
A década de 90 foi marcada por ações que buscavam ajustar a sociedade a
reestruturação do capitalismo e para isto o papel do Estado foi redefinido. Sobre isso
acrescenta Sousa e Faria
Nos anos 90, no contexto das relações internacionais [...] formou-se a ideia
hegemônica de que o Estado – sobretudo nos países periféricos – deveria
focar sua atuação nas relações exteriores e na regulamentação financeira, com
base em critérios negociados diretamente com os organismos internacionais.
A reforma nas suas estruturas e aparato de funcionamento consolidou-se no
anos 90, por meio de um processo de desregulamentação na economia, da
privatização das empresas produtivas estatais, da abertura de mercados, da
reforma dos sistemas de previdência social, saúde e educação,
405
Os autores expõem com clareza as bases das reformas que foram implantadas
pelo Estado. E assim, acresce-se que no Brasil, “[...] a Reforma educacional da década
de 1990 ocorreu concomitantemente às mudanças no âmbito [...] político que
radicalizaram a implantação de medidas neoliberais iniciada na ditadura militar dos
anos de 1970 que institucionalizaram o Estado mínimo (KRAWCZYK, 2010, p.12)
Neste cenário, com o aprofundamento das políticas neoliberais, a educação
ganhou importância estratégica para a realização das reformas educativas. Para a
implementação das mesmas e alcance dos objetivos propostos, a influência de
organismos internacionais foi decisiva, pois estes organismos emplacaram o discurso da
necessidade das reformas e impuseram diretrizes e ajustes nas políticas dos países,
defendendo a bandeira da educação como instrumento para a prosperidade e
desenvolvimento dos países periféricos. Com isso, o ideário do projeto neoliberal estava
se solidificando e as reformas educativas expressaram conteúdos e métodos que
buscavam cumprir esse objetivo.
Krawczyk (2010) informa que visando reverter o precário atendimento do ensino
fundamental e médio e as altas taxas de reprovação e evasão escolar a reforma no Brasil
iniciou-se na segunda metade da década de 1990, consolidando uma nova forma de
gestão da educação e da escola. A reestruturação da gestão da educação aparece como
estratégia de superação da crise estabelecida, pois os problemas são vistos com questões
de natureza econômica, de ordem administrativa, ou seja, as redes públicas são
ineficientes, pois não conseguem administrar suas instituições com os recursos que
possuem (OLIVEIRA, 2006).
Frente a isso, a alternativa defendida era a adaptação das teorias e práticas
administrativas dos setores empresariais ao contexto educacional e assim, a gestão das
instituições escolares, por meio de diversas medidas, passaram a viver um conjunto de
ações baseadas em estratégias e metas, na qual a melhoria da educação equivaleria a
melhoria dos índices de evasão e repetência.
Shiroma e Campos chamam a atenção para um aspecto importante no âmbito das
reformas:
Essa situação também é levantada por Oliveira (2006), pois segundo a autora, o
Estado brasileiro foi pressionado pelos movimentos populares a democratizar a
educação, abrangendo não só a questão do acesso ao ensino mas a qualidade do mesmo.
Contudo, o Estado atendeu de forma contraditória essa demanda, pois ao mesmo tempo
que implanta medidas, buscando dar respostas ao pleito das pressões populares,
também, implementa políticas de contenção de gastos publicados, permanecendo ainda
no controle do processo de mudanças.
Esses aspectos levantados por Shiroma e Campos e por Oliveira, faz-nos
compreender que a história da democratização da gestão da educação, arraigada de
determinantes políticos, econômicos e sociais, não se consolidou de forma indiferente.
Há de se considerar a importância das manifestações populares que lutavam não
somente pela democratização do ensino mas pela própria democratização da sociedade
brasileira. Mas também, não se pode acreditar de forma ingênua que a gestão
democrática propalada nos discursos das políticas não traz em seu bojo elementos de
uma ordem política que visa assegurar a subordinação da educação ao ideário
econômico.
Diante disso, “[...] o novo sentido da gestão democrática da educação é o de
humanizar a formação nesta cultura globalizada, dirigida virtualmente, pelo capitalismo
[...]” (FERREIRA, 2004, p. 1242) e ainda, “[...] mais do que nunca se faz necessário
ressignificar a gestão da educação a partir de outra base ética, que permita fazer frente
aos desafios constantes da cultura globalizada [...]” ( FERREIRA, 2004, p.1231).
Para que de fato a proposta da gestão democrática seja implementada na escola é
primordial a participação dos integrantes da escola no planejamento e nas decisões da
escola, pois como afirma Ferreira, “a gestão da educação acontece e se desenvolve em
todos os âmbitos da escola, inclusive e fundamentalmente na sala de aula”. (2001.
p.309)
Neste sentido, a gestão democrática
CONCLUSÕES PRELIMINARES
REFERÊNCIAS
KRAWCZYK, Nora Rut A reforma educacional na América Latina nos anos 90: Uma
perspectiva histórico-sociológica. Revista Latinoamericana de educação comparada.
Año 1,nº 1 , 2010.
SOUSA, Donaldo Bello de, FARIA, Lia Ciomar Macedo de. Reforma do Estado,
Descentralização e Municipalização do Ensino no Brasil: A Gestão Política dos
Sistemas Públicos de Ensino Pós-LDB 9.394/96. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de
Janeiro, v.12, n.45, p. 925-944, out./dez. 2004.
Comunicação
Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar uma análise sobre o Plano Nacional de
Formação dos Professores da Educação Básica (PARFOR) no Estado do Pará referente
ao seu modo de funcionamento, intencionalidades e à sua abrangência diante da
demanda por formação em relação aos aspectos quantitativos. Utilizou-se como
recursos metodológicos a produção bibliográfica e documental e as informações
disponíveis no site eletrônico que gerencia o processo de inscrição e seleção ao
PARFOR. Os resultados demonstram que entre os 144 municípios que compõem o
Estado do Pará, o PARFOR está presente em 71 municípios com a implantação de 571
turmas e ofertando 29 cursos em áreas diversas, capacitando, um número expressivo de
docentes que atuam na educação básica.
Palavras-Chave: Formação Docente. Políticas Organizacionais. PARFOR.
INTRODUÇÃO
1
Mestranda em Educação – PPGE/UFOPA
2
Doutor em Educação, docente do PPGE/UFOPA.
415
4
Hoje o Estado do Pará conta com 144 municípios após a criação do Município de Mojuí dos Campos, o
qual compõe a URE do município de Santarém.
5
Levantamento de dados educacionais realizado no Brasil pelo Ministério da Educação.
419
compreender melhor sobre sua aplicação prática, seu alcance e suas possíveis
contribuições para a melhoria da qualidade da educação no estado do Pará.
Ao analisar a dinâmica do PARFOR, em sua modalidade presencial,
entendeu-se que o mesmo possui caráter emergencial, o qual foi instituído para atender
o disposto no artigo 11, do Decreto nº 6.755, de 29 de Janeiro de 2009, que em seu
inciso III, estabelece:
O Decreto estabelecido por este Plano, em seu artigo 2º, inciso I, institui:
“A formação docente para todas as etapas da educação básica [...], buscando assegurar
o direito das crianças, jovens e adultos à educação de qualidade”. E ainda seu artigo 3º,
inciso I, estabelece o objetivo de: “promover a melhoria da qualidade da educação
básica pública”.Cabendo à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), através do FNDE, o financiamento deste Plano e a
operacionalização do processo através da Plataforma Freire6, na qual os professores se
inscrevem, tendo como parâmetro os dados do Educacenso e validação realizada pelas
Secretarias Estaduais e Municipais de Educação.
Entende-se, portanto, que este plano está disposto com o objetivo principal
de induzir e fomentar a oferta de educação superior, gratuita e de qualidade, para
professores em exercício na rede pública, na intenção de que estes profissionais possam
contribuir para a melhoria da qualidade da educação básica no Brasil.
No entanto, apesar dos objetivos anunciados, ao observamos tal política de
formação de professores em sua totalidade, percebe-se que a mesma está impregnada de
valores que revelam uma educação marcada pelo utilitarismo pragmático requisitado
pelo mercado capitalista na busca de uma produtividade lucrativa, uma vez que esses
profissionais encontram-se em serviço, sendo necessário estudar durante seu período de
recesso e de férias.
Levando em consideração, tal condição dos profissionais que compõem este
Programa, os quais encontram-se em pleno exercício de sua profissão sendo
formados/capacitados para atuarem em escolas diversas, Arroyo (2008, p. 12), defende
6
Sistema eletrônico criado em 2009 pelo Ministério da Educação, com a finalidade de realizar a gestão e
acompanhamento do Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica – PARFOR.
420
que “parte-se sempre da ideia de organizar um currículo que os capacite para lecionar
em qualquer escola, seja da cidade ou do campo, das periferias urbanas, seja para
indígenas ou jovens e adultos”.
Apesar dos indicativos expostos acima por Arroyo (2008), percebe-se
através da análise desta política para a formação docente que a mesma configura-se
essencialmente pela oferta de cursos emergenciais descontextualizados da realidade dos
docentes, pois apesar deste Plano contemplar professores que estão atuando em sala de
aula o Decreto que o fundamenta não apresenta objetivos que estejam vinculados com
os saberes, experiências e com o contexto de trabalho dos mesmos.
No entanto, importa-nos demonstrar aqui não somente a fragilidade deste
Plano, mas principalmente sua abrangência no que se refere à formação de professores
em caráter quantitativo. A Região Norte, onde se localiza o estado do Pará, até o ano de
2012 já apresentava o maior número de professores frequentes e atendidos pelo
PARFOR, como mostra o gráfico abaixo:
Gráfico 01: Número de professores contemplados pelo PARFOR por região até o ano de
2012.
28073
20781
3422
1847
753
a organização e implantação de 571 turmas e 29 cursos em áreas distintas, o que por sua
vez, justifica também o elevado número de professores formados/capacitados por este
Plano na região Norte do país, onde está localizado o estado do Pará.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Comunicação
1. Introdução
o currículo proposto na nova norma tem alguma aproximação com o que consta nos
Projetos Políticos Pedagógicos das instituições formadoras que têm sido avaliadas como
de excelência nos diferentes sistemas avaliativos aos quais se submetem atualmente os
Cursos Superiores? 4) passados mais de 150 anos dos primeiros cursos de formação de
professores para a Escola Primária em São Paulo, a evolução do conhecimento da área
de Educação e as várias reformas educativas, que análise podemos fazer da atual
proposta?
Para tentar responder a essas questões, realizamos uma revisão bibliográfica do
conhecimento já produzido na área, bem como, procedemos uma análise documental na
busca de dados que referendassem as respostas encontradas. Procuramos, dessa forma,
estabelecer relação entre as demandas de professores e alunos dos cursos de Pedagogia
das universidades estaduais paulistas, as concepções de formação docente e organização
curricular explícitadas nos documentos legais que são objeto desse estudo (Deliberação
CEE nº 111/2012 e Portaria CEE/GP nº 441/2012) e as possibilidades que podem advir
desse contexto desafiador e complexo.
Para encaminhar a pesquisa, também selecionamos documentos que estruturam
o Curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP/Marília - o
Projeto Político Pedagógico, os relatórios dos sistemas avaliativos internos e externos
(ENADE, Guia do estudante e Comissão Permanente de Avaliação – CPA) - e os
analisamos numa perspectiva problematizadora e reflexiva, a fim de compreender suas
determinações históricas e contextuais, na tentativa de desvelar as concepções e
direcionamentos para a educação e a formação de professores.
Outro levantamento feito para ampliar a consistência de nossas conclusões foi a
de buscar a relação existente entre o desempeho no IDESP – Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica - das instituições de ensino da região de Marília,
e o número de alunos egressos do Curso de pedagogia da FFC/Marília que atuam como
educadores nas escolas com alto desempenho.
Os temas de estudo que escolhemos para ampliar o nosso olhar sobre esse objeto
de conhecimento foram os seguintes: 1) Formação de professores - com destaque para
as contribuições resultantes da investigação do contexto da realidade concreta,
articulando-a com as determinações mais amplas (SAVIANI, 1996; TARDIF, 2002); 2)
Reforma Curricular – entendendo que diferentes currículos formam diferentes pessoas e
que isso implica enxergá-lo como um processo social constituído de conflitos e lutas
entre diferentes tradições e concepções sociais, como afirma Ivor F.Goodson (2012); 3)
428
1
Localizados nas Unidades de Araraquara, Bauru, Marília, Presidente Prudente, Rio Claro e São José do
Rio Preto
429
2
LDB - nº 9394/96; Parecer nº 009/2001 do CNE; Resolução do Conselho Nacional de Educação/Câmara
de Educação Básica - CNE/CEB nº 02/2001 e a Resolução do Conselho Nacional de Educação/Conselho
Pleno - CNE/CP nº 01/2002
430
Ao analisar a forma como esse texto legal foi redigido fica evidenciado que o
Conselho Estadual de Educação desconsiderou os exaustivos estudos feitos, em
diferentes momentos e espaços acadêmicos, para estudo e análise da referida
Deliberação. Ao admitirem pretender ‘promover uma melhor compreensão da
Deliberação CEE nº 111/2012, apresentando as concepções de formação de
professores que a fundamentaram’, os legisladores confirmaram o fato de que essas
diretrizes foram elaboradas sem nenhuma participação efetiva daqueles que realmente
deveriam fazê-lo, ou seja, a comunidade acadêmica envolvida com a pesquisa e a
prática de formação de educadores. Se tivesse ocorrido essa participação, tão oportuna
quanto necessária, não haveria a necessidade, declarada na Portaria CEE/GP nº 441, de
‘promover uma maior compreensão’ e apresentar as ‘concepções de formação [...] que
a fundamentaram’, já que os que participaram da elaboração do referido documento
devem compreendê-lo, bem como, devem conhecer as concepções de formação que o
embasam.
O inciso II da Portaria CEE/GP nº 441, ao destacar que a Comissão Especial foi
designada também com a intenção de traçar um painel das principais tendências e
iniciativas [...] tendo em vista identificar resultados ou conclusões que poderiam
informar uma política de formação de professores para o Estado de São Paulo, indica
que esses estudos não foram realizados antes da elaboração da Del. CEE 111/12. Se a
coleta desses dados é importante para informar uma política de formação de
professores, como está afirmado, entendemos que esse procedimento deveria, entre
outros, ter antecedido a formulação das novas diretrizes curriculares publicadas pelo
Conselho Estadual de Educação.
Ao destacar a importância da identificação de resultados para informar uma
política de formação de professores, o legislador nos instigou a pesquisar os resultados
alcançados pelo curso de Pedagogia da FFC/UNESP, na tentativa de tentar explicitar se,
e como, esses dados poderiam subsidiar as tomadas de decisão para uma política de
formação de professores.
433
podem, ou seja, são indicadores, nem sempre confiáveis ou consistentes, que podem ser
utilizados em diferentes perspectivas e intenções, e não representam, quando registram
resultados positivos, a garantia de um processo educacional plural e justo.
Nessa perspectiva, apesar de conscientes do fato de o curso de Pedagogia da
FFC/UNESP-Marília ter obtido conceito 5 no ENADE, 5 estrelas no Guia do Estudante
e conceito A na avaliação institucional realizada pela Comissão Permanente de
Avaliação, não significa, por si só, a garantia da qualidade necessária e desejável para a
formação dos futuros educadores, não podemos deixar de entender que esses dados
deveriam ser considerados pela instituição responsável pela normatização das diretrizes
curriculares para essa licenciatura, quando fosse proceder a identificação de resultados
para informar uma política de formação de professores.Uma reforma curricular que
desconsidere a historicidade de currículos existentes, como é o caso da FFC/Marília, vai
na direção do que denuncia Carlos Skliar (2010) de que sujeitamo-nos a transformar a
transformação esquecendo – ou melhor, negando – todo ponto de partida (p. 196-197)
Ao fazer a denuncia da inconsistência da mudança sem origem, esse autor nos
ajuda a compreender a razão de ter havido uma rejeição explícita ao que os legisladores
propuseram no texto da Deliberação 111/12. Ao impor uma mudança profunda no
currículo dos cursos de formação de professores o texto legal desconsiderou os fatores
históricos e contextuais que têm sido construídos ao longo dos mais de 150 anos de
história dos cursos de formação de professores primários. Isso aconteceu porque não
foram ouvidos aqueles que fazem parte desse contexto e dessa história, ou seja, alunos e
professores dos cursos de licenciatura das universidades paulistas.
Ao ignorar a perspectiva histórica e contextual dos cursos de formação de
professores nas Universidades Paulistas, o Conselho Estadual de Educação elabora
diretrizes que, se implementadas, desmontariam os Projetos Políticos Pedagógicos
existentes que foram elaborados atendendo às demandas e as especificidades de cada
local de formação. Para exemplificar trazemos o que consta no PPP do curso de
Pedagogia da UNESP/Marília que organiza o seu currículo em 3360 horas (inclusive as
405 de Estágio Supervisionado), sendo, 2955 horas relativas ao ensino do núcleo de
estudos básicos, destinado aos fundamentos da educação; três núcleos de
aprofundamentos dedicados à Educação Infantil, à Educação Especial e à Gestão
Educacional; e o núcleo de estudos integradores, constituído por projetos e programas
de estudos.Já no estabelecido na Deliberação 111/12, a carga horária destinada a essa
formação seria reduzida para 2000 horas, porque determina que 800 horas sejam
435
por outro, projetos que privilegiam os fundamentos e os fins da educação com ênfase na
pesquisa, na investigação e na formação multidisciplinar sólida.
Referências
AFONSO, Almerindo Janela. Avaliação educacional: regulação e emancipação: para
uma sociologia das políticas avaliativas contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2000.
BRZEZINSKI, Iria (Org.). LDB dez anos depois: reinterpretação sob diversos olhares.
São Paulo: Cortez, 2008.
Comunicação
Introdução:
O elemento propulsor da construção do texto constitui-se, por si, um duplo
desafio. Por um lado, evidencia a complexidade emanada das relações históricas entre
os avanços teóricos da área e os cotidianos das escolas públicas e, por outro, indica-nos
as reais e talvez novas possibilidades de estabelecimento de uma práxis educacional
baseada, sobretudo, no pensar coletivo da “lógica científica” e da “lógica da prática
cotidiana”.
Quando dizemos “lógica científica”, consideramos, com Canário (1996), que a
cientificidade precisa reconhecer algumas idéias para que possam se inserir em um novo
438
consultiva, com atuação voltada para defesa dos interesses dos educandos objetivando o
fortalecimento e consolidação de políticas públicas para a área educacional”.
Atualmente, estas escolas atendem a educação básica (infantil e fundamental),
incluindo educação de jovens e adultos, educação especial e, devido a isso, foram
percebidas as dificuldades que estas vinham encontrando para continuar exercendo suas
atividades reportando-se aos documentos citados, pois os mesmos não correspondiam
mais a realidade que vivenciavam.
Conforme também citado no artigo acima descrito, a natureza do Conselho de
Escola era de ordem consultiva, característica esta que impedia decisões autônomas
deste colegiado e sua efetiva participação, visto que no processo democrático há uma
diferença primordial entre simplesmente opinar e efetivamente decidir.
No histórico de formação dos Conselhos Escolares das escolas municipais dos
anos anteriores e durante o processo de formação continuada, diagnosticamos que
algumas escolas nem mesmo reconheciam a importância e valor deste órgão para
auxiliar suas propostas pedagógicas. Muitas delas não constituíam seus Conselhos;
outras o faziam simplesmente para atender uma burocracia vigente; outras tinham
práticas que buscavam sua devida constituição e efetiva atuação, no entanto,
apresentando diversas dificuldades.
Estas dificuldades foram vivenciadas pela maioria das gestoras, sendo as mais
destacadas: o próprio processo de formação do conselho, visto que os pais
representantes, na maioria das vezes, foram convidados a participar e não eleitos; a
baixa freqüência nas reuniões previamente organizadas; medo e apatia dos pais no
envolvimento dos assuntos discutidos; a falta de tempo da escola em organizar
momentos de formação aos pais, funcionários, professores e alunos. Além destas, a
escassez de uma formação reflexiva e consciente das próprias gestoras, bem como sua
busca desorientada em realizar ações com a participação democrática de toda
comunidade escolar sem embasamento teórico-prático, marcou um período de
frustrações e, muitas vezes, descrédito neste colegiado.
O repensar a natureza do Conselho gerou discussões e reflexões valiosas entre as
gestoras municipais.
A ideia que se tinha em relação à formação dos profissionais do âmbito escolar,
de ser algo pronto, definido por outros e que posteriormente deveria ser aplicado e
cumprido, tomou novas formas. A substituição desta ideia deu-se gradualmente pela
vivência do grupo nos encontros realizados, tendo como principio ligações e relações
443
Pelo que já foi descrito até aqui, fica evidente que ao propormos esse processo
formativo tínhamos a intenção de caminhar em sentido contrário aos programas de
formação continuada organizados por órgãos ou instituições, ao menos aparentemente,
externos às escolas. Essa intencionalidade se justificava porque buscávamos evitar o
distanciamento do dia-a-dia das unidades escolares que, na nossa concepção, resulta
sempre em cursos ou orientações técnicas com conteúdo abstrato e desligado da
realidade.
Para indicarmos os avanços conquistados em termos do que denominamos de
ressignificações de conceitos e práticas pelos sujeitos desse processo formativo, e
também para explicitarmos como o pensar coletivo da “lógica científica” e da “lógica da
prática cotidiana” esteve presente no processo de formação por nós vivenciado,
escolhemos socializar partes do objeto que se constituiu na materialização do processo,
ou seja, a Minuta de Lei Municipal que dispõe sobre o Conselho de Escola, elaborada
de forma conjunta pelos gestores municipais de educação e docentes e alunos da
universidade. Lembramos que essa proposta de normatização do Conselho de Escola só
foi concretizada após o estudo de textos de referência na área e de ampla reflexão sobre
as experiências já vivenciadas pelos gestores e as atuais demandas das unidades
escolares
No processo de construção desse espaço de formação continuada, foram
privilegiados procedimentos que garantiram aos sujeitos envolvidos a possibilidade de
consubstanciar, em um texto normativo, os princípios e as orientações teóricas de
educadores que pesquisam sobre o papel do Conselho Escolar para a democratização, o
fortalecimento da autonomia e a consequente elevação da qualidade de ensino oferecido
à população escolar (ANTUNES, 2008; PARO, 1999; LUCE e MEDEIROS,2006).
Com a clareza que essa legislação não será um instrumento que por si só pode
mudar os rumos da ação educativa no município, mas conscientes que pelo fato de
resultar de proposições feitas pelos agentes educacionais que terão a responsabilidade
de implementá-la, ela pode ser sim um dos elementos importantes na revisão da política
educacional que define esse momento histórico das comunidades envolvidas, nós,
pesquisadores, participantes da construção desse texto normativo, estamos
ressignificando a nossa função nos espaços de formação, aprendendo que quando somos
chamados a contribuir para a construção de uma escola pública mais condizente com
445
Considerações finais
447
Nesses espaços de interlocução com os sujeitos que atuam em cada uma das
cinco escolas envolvidas no projeto de extensão e a constatação das singularidades que
identificam esses sujeitos e suas escolas, aprendemos o quanto são significativas as
contribuições de Certeau, ao declarar que. [...] “O cotidiano é aquilo que nos prende
intimamente, a partir do interior”. [...] e que “o que interessa ao historiador do cotidiano
é o Invisível...” (CERTEAU, 1996, p. 31). Constituindo-se objeto de reflexão dos
educadores/pesquisadores, as ações cotidianas representam as diferentes formas da
comunidade escolar se ajustar a qualquer nova proposição de natureza política ou
técnica. Ao serem confrontadas com a proposição da constituição de um Conselho de
Escola a partir de uma perspectiva de gestão democrática, cada escola respondeu de
forma única, reorganizando o seu cotidiano de maneira particular e às vezes ‘invisível’
para um olhar menos atento, no sentido de acolher ou rejeitar essa proposta. Foi
possível, por exemplo, constatar em uma escola, sem que isso fosse explicitado de
forma integral, que alguns membros da equipe escolar colocavam sob suspeita, o fato de
que pais e alunos pudessem participar do Conselho de Escola de forma paritária. Para
dificultar que isso acontecesse, argumentaram que eles mesmos não se interessavam por
participar da constituição desse novo Conselho de Escola. Essas invenções e
articulações do/no cotidiano vão produzindo uma cultura da escola, que se constitui na
concretude do cotidiano escolar e que define, por isso, as potencialidades e limites de
cada unidade escolar em realizar o seu projeto de constituir e formar personalidades
democráticas.
Por tudo que registramos nesse texto e, principalmente pelas experiências
oportunizadas no diálogo com os educadores que fazem parte desse projeto, é possível
afirmar que esse processo indica as reais e talvez novas possibilidades de
estabelecimento de uma práxis educacional baseada, sobretudo, no pensar coletivo da
“lógica científica” e da “lógica da prática cotidiana”.
Referências
ABDIAN, G. Z. Escola e avaliação em larga escala: (contra) proposições. In: WERLE,
F. O. C. Avaliação em larga escala: foco na escola. Porto Alegre: Editora Oikos, 2010.
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? 7.ed. RJ: Paz e Terra, 1983. (O Mundo, Hoje,
v.24).
Comunicação
Elides Assumpção
SEESP
Patricia Aparecida Bioto-Cavalcanti
UNINOVE
Resumo: O texto apresenta resultados de pesquisa que teve como objetivo investigar o
que as Escolas Prioritárias, aquelas consideradas pela Secretaria da Educação do Estado
de São Paulo (SEE-SP) como unidades de vulnerabilidade educacional, têm realizado na
tentativa de oferecer oportunidades de recuperação aos alunos com defasagem de
aprendizagem e de obter melhor desempenho no Sistema de Avaliação de Rendimento
Escolar do Estado de São Paulo (SARESP). Para atender a este propósito, optou-se pela
abordagem qualitativa e por metodologias de coleta de dados, observação e entrevistas
estruturadas. Apresenta, ainda, considerações acerca de uma ação de formação que teve
como público alvo o corpo docente e o Coordenador Pedagógico de duas Escolas
Prioritárias, uma vez que os dados obtidos na pesquisa permitiram, também, identificar
demandas de formação dos profissionais que atuam nessas escolas.
Palavras-chave: avaliação educacional; gestão escolar; formação de professores e de
gestores escolares.
Introdução
Compreender a atuação das equipes escolares (gestores e professores) frente ao
desafio de garantir a concretização das aprendizagens do corpo discente e, em
decorrência disto, obter melhora nos índices de desempenho da escola nos sistemas de
avaliação externa foi o que motivou a realização de pesquisa junto às Escolas
Prioritárias. O estudo contemplou as movimentações da equipe escolar de duas Escolas
Prioritárias da capital paulista, desde o momento em que toma conhecimento dos
resultados educacionais da Unidade Escolar (UE), por meio do Boletim da Escola1, até a
proposição e avaliação de ações para recuperação das aprendizagens.
1
O Boletim da Escola apresenta informações sobre o índice que avalia a qualidade das escolas estaduais
paulistas (IDESP). Disponível em: <idesp.edunet.sp.gov.br>. Acesso em 17/11/2012.
450
Em 2011, eram 1086 Escolas Prioritárias em todo Estado de São Paulo. No ano
seguinte, esse número passou para 1208 escolas. Dessas, 667 permaneceram na mesma
situação (remanescentes) e outras 421 apareceram pela primeira vez na lista, totalizando
1088 Escolas Prioritárias em 2013.
2
Escala de Proficiência do SARESP: é usada para medir resultados de forma ordenada e a escolha dos
números que definem seus pontos é arbitrária e construída com os resultados da aplicação do método
estatístico de análise denominado Teoria de Resposta ao Item (TRI). Fonte: Relatório Pedagógico – 2012
– SARESP.
3
Comunicado Conjunto CGEB/CIMA, de 22 de Junho de 2012.
4
Escala de Proficiência do SARESP: é usada para medir resultados de forma ordenada e a escolha dos
números que definem seus pontos é arbitrária e construída com os resultados da aplicação do método
estatístico de análise denominado Teoria de Resposta ao Item (TRI). Fonte: Relatório Pedagógico – 2012
– SARESP.
451
voltadas ao atendimento dessas escolas, ainda que sem detalhamentos suficientes para a
compreensão total dos princípios fundantes e dos desdobramentos dessas ações nas
Unidades Escolares.
O fato de trabalhar como Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico
(PCNP) em uma Diretoria de Ensino (DE) possibilitou acesso a materiais de circulação
interna, disponibilizados pela Coordenadoria de Gestão da Educação Básica (CGEB).
Trata-se de planilhas, denominadas “Prioritárias – Consolidado das Diretorias”,
contendo o número de Escolas Prioritárias de todas as Diretorias de Ensino do Estado.
Em 2011 o número de Escolas Prioritárias em todo o Estado era de 1086, o
equivalente a 21,5% de um total de 5.052 Unidades Escolares. Das noventa e uma DE
do Estado, somente duas delas não tinham Escolas Prioritárias sob sua jurisdição. A
porcentagem de Escolas Prioritárias em cada DE variou bastante, chegando a 51,7% em
uma delas. Em apenas vinte e duas DE (24%) o percentual de Escolas Prioritárias foi
inferior a 10%. E desse “seleto” grupo, somente dois escolas pertencem à capital.
Fizemos um recorte das treze DE da capital paulista, região onde se localiza a
DE pesquisada (em destaque no quadro):
Porcentagem de Escolas Prioritárias nas Diretorias de Ensino da capital paulista
Diretoria de Ensino % de Escolas Prioritárias em 2011
1 42,86
2 41,11
3 36,96
4 34,29
5 32,11
6 31,17
7 30,34
8 21,84
9 20,59
10 16,13
11 12,33
12 8
13 6,58
Fonte: Planilha “Escolas Prioritárias – Consolidado das Diretorias”. Material de circulação interna.
5
O Boletim da Escola apresenta informações sobre o índice que avalia a qualidade das escolas estaduais
paulistas (IDESP). Disponível em: <idesp.edunet.sp.gov.br>. Acesso em 17/11/2012.
454
também, desalinhamento entre diretrizes das ações propostas pela SEE-SP e seus
desdobramentos nas escolas.
Em relação ao sentimento gerado na equipe escolar de uma UE configurada
como Escola Prioritária, Julio Gomes Almeida (2013), ao apresentar resultados parciais
do estudo com um grupo de Escolas Prioritárias do município de São Paulo, apontou
que o fato de uma escola obter baixo desempenho em avaliações externas gera um
sentimento negativo nos profissionais que nela atuam:
As escolas incluídas neste grupo recebiam uma formação especial,
uma espécie de recuperação paralela, que lhe permitiria ser novamente
incluída no grupo de escolas que vinham desenvolvendo um trabalho
adequado. O sentimento dos gestores participantes, no entanto, foi
bem parecido com o dos alunos que vão para as salas de recuperação:
constrangimento! Tentaram definir o grupo de outra forma: escolas
vulneráveis, a reação foi ainda pior e então passaram a chamar, ainda
que discretamente, de escolas prioritárias. Com essa situação
pretendeu-se enfatizar que o projeto surgiu da insatisfação da equipe
gestora com a classificação da escola entre as piores da rede
(ALMEIDA, 2013, p. 5).
Embora sejam claras as atribuições dos membros da DE, estudo realizado por
Adriana Bauer, sobre o trabalho das DE em articulação com os resultados do SARESP,
aponta que:
[…] o alcance das metas declaradas nos documentos do sistema de
avaliação no que tange às políticas de formação parece muito mais
estar relacionado às experiências dos profissionais das diretorias e ao
seu esforço pessoal em utilizar os resultados da avaliação enquanto
indicador de caminhos para seu trabalho do que conquista geral,
relacionada às diretrizes e ações propostas pela Secretaria. (BAUER,
2006, p. 159).
de aprendizagem de cada aluno, ainda que com alguns limites6, apresenta sugestões de
atividades e materiais para subsidiar o planejamento de aulas. Temos, assim,
contempladas as etapas de um planejamento satisfatório, como Miguel Henrique Russo
advoga:
[...] o planejamento é uma atividade de grande complexidade que
requer a realização de diagnósticos para o conhecimento das
condições concretas e dos recursos disponíveis, a escolha dos meios
mais adequados aos fins pretendidos e das estratégias possíveis para a
ação, e a definição de critérios e mecanismos para a avaliação dos
resultados, com vistas a possíveis correções de rumo. (RUSSO, 2007,
p. 92)
6
Diferentemente dos instrumentos de avaliação do SARESP, a Avaliação da Aprendizagem em Processo
não é elaborada a partir da metodologia da Teoria de Resposta ao Item (TRI). Sendo assim, não é possível
obter a medida apropriada da proficiência de cada aluno e o acerto ao acaso é uma realidade a ser
considerada.
458
Referências
AZZI, Roberta Gurgel; RUSSO, Miguel Henrique. Gestão da escola e crenças docente
de eficácia pessoal e coletiva. Texto apresentado no Congresso Ibero Luso-
brasileiro. ANPAE, 2010.
459
BAUER, Adriana. Usos dos resultados do SARESP: o papel da avaliação no uso das
políticas de formação docente. São Paulo: USP, 2006.
Documentos Oficiais
Comunicação
educação contínua em serviço pode ser entendida como processo permanente (FREIRE,
2001) no qual, educadores escolares questionam e refletem sobre o arcabouço teórico,
metodológico, sobre a Pedagogia e as Ciências da Educação, relacionando com sua
“leitura de mundo” (FREIRE, 2005) e sua prática educativa. Considera-se, assim, que o
desenvolvimento pessoal e profissional é contínuo, como também é contínuo o
aprimoramento da pessoa como ser humano e cidadão diante dos desafios colocados
pelo trabalho e pela conjuntura mundial.
Por outro lado, a educação contínua de docentes que ocorre dentro ou fora da
escola, ainda que importante, não tem o poder de superar todos os problemas da
educação escolar. As escolas estão inseridas num tempo/espaço histórico e, portanto,
sofrem influências dos aspectos políticos, econômicos, sociais, que exigem ações e
mudanças em diferentes âmbitos. Compreender essa realidade é condição para que não
se assuma a formação de professores como redentora e a falsa expectativa de que poderá
resolver os históricos problemas da educação escolar brasileira.
Mas, não podendo tudo, as equipes docentes têm espaços de ação e participação
podendo construir outras formas de ensinar e aprender, vinculando a construção de
conhecimentos à compreensão e intervenção no mundo, como propõe Freire:
[...] ensinar já não pode ser este esforço de transmissão do chamado saber
acumulado, que faz uma geração à outra, e aprender não é a pura recepção do
objeto ou do conteúdo transferido. Pelo contrário, girando em torno da
compreensão do mundo, dos objetos, da criação, da boniteza, da exatidão
científica, do senso comum, ensinar e aprender giram também em torno da
produção daquela compreensão, tão social quanto à produção da linguagem,
que é também conhecimento (FREIRE, 2007, p.6)
O desenvolvimento da pesquisa
No início da pesquisa, considerando os princípios dos Círculos de Cultura,
elaborei um mapeamento das cinco escolas onde as Professoras Coordenadoras
atuavam, dialogando com elas acerca de alguns desses dados. As Professoras
Coordenadoras responderam a um questionário referente à sua atuação profissional nas
unidades escolares e, em seguida, iniciamos os encontros coletivos para debater sobre os
dados iniciais, levantando novos dados, que foram sistematicamente registrados. Os
diálogos foram gravados e registrados, sendo que tais registros foram lidos por todas
para eventuais reformulações ou acréscimos. Os debates e as discussões sistematizadas
contribuíram para que o grupo pudesse destacar aspectos relevantes acerca de sua
atuação.
Outros dados emergiram na conjunção de diferentes instrumentos: registros de
observações no decorrer da pesquisa referentes às minhas idas às cinco escolas onde
atuavam as Professoras Coordenadoras, registros de relatos, depoimentos e diálogos
com as equipes escolares, dados coletados nos documentos das escolas, registros
elaborados pelas próprias Professoras Coordenadoras, além das respostas ao
questionário. Todos esses dados foram analisados e discutidos coletivamente durante as
reuniões nos Círculos de Debates, nas quais emergiram novos dados, imprimindo maior
riqueza aos debates, promovendo outras possibilidades de ação, num processo contínuo
de ir e vir.
Em se tratando de pesquisa-ação, os dados não estão restritos aos instrumentos em
si, posto que emergem nos processos dialógicos em diferentes momentos, e pressupõem
diferentes formas e possibilidades de análises por meio das vozes dos sujeitos que
compõem o grupo. É o processo crítico e reflexivo que permeia a dinâmica produtora de
dados analisados e validados no próprio grupo, que leva à construção de possíveis
mudanças. Para Franco:
A pesquisa-ação crítica considera a voz do sujeito, sua perspectiva, seu
sentido, mas não apenas para registro e posterior interpretação do
pesquisador: a voz do sujeito fará parte da tessitura da metodologia da
investigação. Nesse caso, a metodologia não se faz por meio das etapas de
um método, mas se organiza pelas situações relevantes que emergem do
processo. Daí a ênfase no caráter formativo dessa modalidade de pesquisa,
pois o sujeito deve tomar consciência das transformações que vão ocorrendo
em si próprio e no processo. É também por isso que tal metodologia assume o
caráter emancipatório, os sujeitos da pesquisa passam a ter oportunidade de
se libertar de mitos e preconceitos que organizam suas defesas à mudança e
reorganizam a sua autoconcepção de sujeitos históricos. (FRANCO, 2005, p.
486-487)
467
posições, retomar ideias e produzir novos conhecimentos e novos relatórios sobre o seu
saber-fazer. Não foi nossa intenção, nesta pesquisa, elaborar uma proposta para o
trabalho de coordenação pedagógica a ser recomendada. Antes, a intenção foi construir
coletivamente os conhecimentos relativos ao tema, vivenciando uma forma de trabalho
coletivo. O saber democrático, para Freire (1979), jamais se incorpora autoritariamente,
uma vez que só tem sentido como conquista comum do trabalho do educador e do
educando. Os saberes construídos e o uso que cada Professora Coordenadora fez ou fará
dos relatórios produzidos durante o processo é diferenciado, assim como o nível de
reflexão crítica e os conhecimentos construídos a partir de novas análises de tais
relatórios, que podem continuar provocando mudanças em seu saber-fazer na dimensão
profissional e pessoal.
apenas por decreto e precisa ser construído de forma coletiva e contínua. O trabalho
coletivo é fundamental para a elaboração e implementação do Projeto Político-
Pedagógico, que implica em conhecer o local onde a escola se situa, os equipamentos
disponíveis no bairro, as possíveis parcerias no desenvolvimento do currículo,
realizando um amplo diagnóstico sobre a escola para intensificar os pontos fortes e
investir nas mudanças necessárias elaborando um planejamento coletivo.
Esses são apenas alguns destaques sobre a construção de saberes que emergiram
nos diálogos com o grupo de Professoras Coordenadoras que participaram da pesquisa.
Tais saberes se imbricam, se constroem e se reconstroem nas múltiplas relações que as
471
Referências Bibliográficas
FREIRE, P. (1979) Educação como prática da liberdade. 9ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra.
_____ (2005) Pedagogia do oprimido. 46ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Comunicação
INTRODUÇÃO
O presente texto apresenta os resultados parciais da pesquisa de doutorado
desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Educação: Currículo, da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) na linha de pesquisa Formação
de Educadores. A pesquisa se desenvolve partindo da análise da formação inicial de
professores da Educação Básica no Brasil, tendo como lócus as Instituições de Ensino
Superior (IES), considerando o impacto das políticas de formação de professores a
474
CONTEXTUALIZANDO O OBJETO
A CAPES, criada em 11 de julho de 1951, pelo Decreto nº 29.741, fundação do
Ministério da Educação (MEC), atua na coordenação e avaliação dos programas de pós-
graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os estados do Brasil, com
mecanismos de controle de qualidade. A partir de 2007, passou a atuar junto à formação
de professores da educação básica e dentre suas atividades desenvolve programas de
indução e fomento da formação inicial e continuada de professores para a educação
básica nos formatos presencial e a distância. Tal atribuição é consolidada no Decreto nº
6.755, de 29 de janeiro de 2009, que instituiu a Política Nacional de Formação de
Profissionais do Magistério da Educação Básica.
A partir deste decreto, cria duas diretorias, uma de Educação Básica Presencial
(DEB) e outra de Educação a Distância (DED). As ações de ambas culminaram com o
lançamento do Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica, em 28
de maio de 2009. Com este plano foram implementados programas para contribuir com
o aprimoramento da qualidade da educação básica e estimular experiências inovadoras e
o uso de recursos e tecnologias de comunicação e informação nas modalidades de
educação presencial e a distância.
Um destes programas é o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência- PIBID, institucionalizado pelo Decreto nº 7.219, de 24 de Junho de 2010. O
PIBID é um programa de formação de professores para a educação básica, que concede
bolsas a alunos de licenciatura participantes de projetos de iniciação à docência,
desenvolvidos por IES em parceria com escolas de educação básica da rede pública de
ensino. Os projetos de iniciação à docência das IES buscam inserir os estudantes no
contexto das escolas públicas desde o início da sua formação acadêmica para que
475
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A temática que envolve a formação inicial de professores é sempre relevante, pois
nela se encontra a possibilidade de aperfeiçoamento do ensino brasileiro, especialmente
da rede pública de ensino. Atualmente são várias as ações e políticas no âmbito nacional
e estadual que buscam a melhoria da qualidade do ensino, pois as análises e estudos
sobre o tema demonstram a necessidade premente de se transformar tal situação.
Para Feldmann (2003) a questão nuclear em um processo de desenvolvimento de
políticas educacionais está em considerar a complexidade, ambiguidade e diversidade,
presentes na relação entre educação e contemporaneidade.
Nos estudos sobre a função social da escola, Nadal (2009) afirma que não se tem
conseguido reverter o quadro da educação, principalmente a pública, inclusive esta em
alguns sentidos se agrava com o matiz neoliberal, universalização e verticalização do
sistema capitalista de produção que intensifica a diferença entre ricos e pobres, e com
isso cria a dificuldade de se estabelecer um projeto educativo coerente e transformador
da sociedade atual.
Corrobora com isso a necessidade de ampliarmos o debate sobre a formação
inicial de professores e neste sentindo podemos considerar que tais programas de
indução e fomento da formação inicial e continuada de professores para a educação
básica, como é o caso do PIBID, são políticas em desenvolvimento que culminam com
a construção de uma concepção de trabalho docente no Brasil.
Nesta linha de compreensão, evidenciamos a relação educação e mundo do
trabalho como um recorte da contemporaneidade e considerando que a construção da
existência humana passa pelo mundo do trabalho, passamos a explicitar as concepções
de trabalho.
A concepção de trabalho
Feldmann (2003) apresenta a concepção de trabalho em diferentes momentos
históricos. Inicialmente no mundo greco-romano, o trabalho era considerado atividade
menor, própria dos escravos, sendo que a cultura grega nega a relação entre atividade
teórica e atividade prática, de forma que o homem era compreendido como um ser
teórico por excelência, e essa cultura tinha atitude depreciativa com relação à práxis
material produtiva. Já no renascimento, o homem passa a ser entendido como um ser
além de teórico, criador e criativo, capaz de interferir na natureza e no mundo,
resultando na redução da distancia entre atividade física e intelectual. Do século X ao
477
XV, Feldmann (2003) destaca a ausência da ideia de lucro, sendo a vida econômica e
social considerada a mesma coisa, e o trabalho um fim em si mesmo.
No advento da idade média o trabalho e o capital não existiam como agentes
básicos da produção, a terra não possuía o sentido moderno de propriedade vendável,
fonte de renda, compra e venda. No sistema feudal, segundo Feldmann (2003) a terra
passou a ser usada como medida das riquezas do homem e com o comércio
desenvolveu-se um novo tipo de riqueza: o dinheiro. No mundo pré-capitalista, capital e
trabalho tiveram uma concepção bastante diferente, não havia a noção de mercado de
trabalho, e o desenvolvimento do comércio foi a principal causa da desintegração da
sociedade medieval.
Feldmann (2003) destaca que, no século XVIII ocorre um processo de
valorização do trabalho como atividade humana, e no início do século XIX, o
liberalismo clássico proporcionou as bases filosóficas do sistema capitalista industrial.
Esse breve relato histórico nos leva a refletir sobre
Qual o lugar da docência entre essas transformações? Lembremo-nos que a
docência é uma das mais antigas ocupações modernas, tão antiga quanto a
medicina e o direito. Ora, quando a situamos dentro da organização
socioeconômica do trabalho, ela representa atualmente um setor nevrálgico sob
todos os pontos de vista. (TARDIF, LESSARD, 2012 p. 21)
Para o autor, o conflito entre culturas revela muitas vezes uma oposição entre
marginalizados e marginalizadores. “A globalização não pode ficar limitada a uma
ligação entre ‘os de cima’, deixando de fora ‘os de fora’”. (p.19)
O comércio aproximou povos e culturas, mas em uma perspectiva neoliberal, ao
não distribuir riqueza, não aproxima ou integra, mas provoca desigualdades, exclusão de
países inteiros. Independentemente de como os indivíduos participam da sociedade e da
cultura o mercado liga produtores e consumidores, ao mesmo tempo em que desfaz
laços sociais de cooperação e o sentimento de pertença.
[...] a racionalidade científico-tecnológica, a tentativa de dominar e governar o
mundo físico, a aplicação da lógica econômica não podem por si só governar o
mundo, dar sentido a nossas vidas, sustentar relações harmoniosas e preencher
nossas aspirações de conhecer e de ser. Uma simples arma branca manejada
por uma ideia e alguns valores pode derrotar toda a parafernália tecnocientífica
em que se apoia nossa forma de ser e viver ocidentais. (GIMENO
SACRISTÁN, 2007, p. 20)
Neste sentido, a formação dos professores se torna fundamental, tendo como foco
o “um olhar global sobre um mundo em rede” (p.26) de forma a surgir um novo
currículo. O fato é que, a educação neste contexto ainda é complexa, uma vez que é
fruto e trabalha em prol de uma ideologia e dinâmica globalizante, como também para
uma resistência a ela.
Destaca ainda que o primeiro efeito da globalização sobre os processos
educativos, se refere ao direito e dever de oferta de condições mínimas de igualdade de
educação. Entretanto, isso foi apoiado por políticas neoliberais que aumentaram as
desigualdades, e a política de Estado passou para decisões privadas, deixando de lado
políticas integradoras.
Outro aspecto fundamental se refere às relações entre condições sociais, educação
e trabalho. Inicialmente a precariedade familiar, pais que não conseguem dedicar um
tempo de qualidade aos seus filhos, assim como no que se refere ao emprego, que
480
devido a tantas mudanças rápidas, falta identidade e realização das pessoas no que
fazem. Sugere que o desafio da educação é “preparar não se sabe muito bem para que”
(p.30) e com isso a educação tem que se adequar as necessidades sociais, as exigências
da produtividade, da competitividade, do mercado, mas que não existem referências
para tal, devido a mudanças muito rápidas.
Um significativo efeito da globalização na educação incide sobre as pessoas, os
conteúdos do currículo e as formas de aprender, e isto afeta diretamente as fórmulas
básicas de transmissão dos saberes, o que pode até deslocar a função do docente, mas
não simplesmente substituí-lo por tecnologias, como parecer prever a globalização.
Considerando a cultura como um processo dinâmico, a globalização permite
acelerar os processos, principalmente de comunicação entre as culturas, mas para esta
análise se faz necessário compreender o que entendemos como cultura.
No sentido clássico, cultura é a “tradição codificada por meio da escrita”
(GIMENO SACRISTÁN, 2007, p. 32) acumulada, estruturada e ordenada em campos
de saber, de saber fazer e de formas de expressão. Denominada pelo autor como
“cultura culta” constitui um legado anônimo global, positivo e conservado, não tem a
característica de território geográfico ou social. Nesta encontramos de acordo com o
autor, o conceito de multiculturalidade, que não se refere ao conceito de cultura culta,
pois não existe uma regra, mas múltiplas, onde através do conhecimento do outro, nos
apropriamos de suas contribuições, misturamos com o outro sem perder as
singularidades locais.
Outro sentido de cultura, de origem alemã, se refere ao
[...] conjunto da experiência, tradições, modos de vida, de expressão, de saber
fazer e formas de ser de um povo ou comunidade com as quais se identifica de
fora e com as que os indivíduos se identificam como seres que lhes unam a
outros e são da mesma cultura. Esta acepção é a que levou a falar de culturas
nacionais e depois em seu significado étnico ou antropológico, por trás de
expressões como “cultura alemã”, “cultura basca”, “cultura guarani”, “cultura
rural”, “cultura cristã”, etc. (GIMENO SACRISTÁN, 2007, p. 34).
OBJETIVOS DA PESQUISA
O objetivo geral desta pesquisa é identificar as contribuições do PIBID na
formação inicial de professores em uma IES comunitária. Como objetivos específicos,
pretendemos explicitar conceitos, objetivos e organização do PIBID; descrever/discutir
políticas de formação inicial de professores no Brasil pós LDB 9.394/96; pesquisar as
contribuições do PIBID para os bolsistas de uma IES Comunitária; analisar/apresentar
ações realizadas por bolsistas do PIBID de uma IES Comunitária por outros envolvidos
– coordenadores de curso, equipe gestora e professores das escolas.
482
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa privilegia uma abordagem qualitativa de caráter reflexivo, com
finalidade descritiva e explicativa. Os meios de investigação serão desenvolvidos a
partir da pesquisa de campo, utilizando-se de procedimentos/instrumentos como
entrevistas e questionários semiestruturados, além da pesquisa documental e
bibliográfica.
Optou-se pelo questionário, devido às suas vantagens, dentre elas destaca-se:
[...] economia de tempo; [...] maior liberdade nas respostas em razão do
anonimato; mais segurança pelo fato de as respostas não serem identificadas;
menos risco de distorção pela não influência do pesquisador; há mais tempo
para responder e em hora mais favorável; há mais uniformidade na avaliação,
em virtude da natureza impessoal do instrumento e obtém respostas que
materialmente seriam inacessíveis. (LAKATOS; MARCONI, 1991, p.202-203)
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Como a pesquisa encontra-se em desenvolvimento, os resultados são parciais. É
possível considerar inicialmente que o PIBID enquanto política de formação inicial de
professores vem tomando espaço nas IES, especialmente nas comunitárias. Com o edital
483
REFERÊNCIAS
Comunicação
1
Embora o ensino médio não seja objeto de discussão deste texto, é importante fazer uma observação: a
obrigatoriedade refere-se à faixa etária e não ao nível de escolarização. Nesse sentido, as pessoas entre
quatro e 17 anos estarão obrigadas a frequentar instituições escolares, o que não significa que, no final
dos 17 anos, o indivíduo tenha concluído o ensino médio. No entanto, o ingresso aos quatro anos de idade
deve ocorrer na pré-escola.
487
Há uma série de políticas para a educação básica que afetam a educação infantil,
ainda que não se destinem a ela. De acordo com Campos (2010), é possível identificar
algumas medidas, nesse sentido, como o ensino fundamental de nove anos e a educação
obrigatória dos quatro aos dezessete anos, que não só promoveram uma reconfiguração
da organização da educação básica, mas mobilizaram questões históricas, ainda não
resolvidas na educação brasileira, como a cisão entre a creche e a pré-escola e as
dificuldades de alfabetização das crianças nos primeiros anos do ensino fundamental.
Essas questões dizem respeito ao direito à educação infantil e afetam a qualidade das
instituições de educação infantil e também dos anos iniciais do ensino fundamental.
Com a reforma administrativa do Estado, nos anos de 1990, foram alteradas as
bases de autoridade dos governos locais pela ampliação da parcela dos tributos federais,
488
2
A descrição dos programas e das ações mencionadas pode ser obtida na página do Ministério da
Educação, disponível no endereço: http://portal.mec.gov.br.
490
Além disso, o autor discorre sobre a necessidade de avaliação das condições reais
de funcionamento das instituições, de modo que os problemas sejam identificados,
assim como os acertos e avanços. Para o autor, “são esses elementos que irão compor
uma base para a proposta pedagógica, ao lado dos objetivos e das formas de
organização do trabalho com as crianças” (p. 141).
As reflexões mostram como é fecunda a discussão sobre a gestão das unidades de
educação infantil. No entanto, ainda que se compreenda que a gestão da educação
infantil inspire-se nos modelos de gestão que, inicialmente, foram pensados para os
outros níveis da educação básica, não se pode perder de vista que o trabalho nas
instituições de educação infantil envolve, necessariamente, a articulação entre o cuidado
e a creche.
Algumas considerações
Referências:
Comunicação
1. Introdução
Este texto se pauta em uma pesquisa que visa analisar a formulação de uma
política pública para a juventude implementada pelo governo federal. Trata-se do
ProJovem (Programa Nacional de Inclusão de Jovens), instituído com o objetivo de
atuar nas áreas de escolarização, qualificação profissional e ações de cidadania. Para
abordar o programa em questão, analisamos documentos, como algumas produções
bibliográficas, documentos governamentais descritivos do programa e principalmente a
legislação que o instituiu ano de 2005 e outras que promoveram alterações em seu
formato, recortando o período 20041-2011.
1
O recorte a partir do ano de 2004, baseia-se no fato de que neste ano se iniciou a formulação do
programa, o qual foi instituído no ano de 2005.
498
Nota-se que o ProJovem, ao menos do ponto de vista etário, foca uma parte da
população atendida pela EJA, pois o seu público-alvo era formado inicialmente por
jovens na faixa etária entre 18-24 anos e, posteriormente, 15-29 anos de idade2. De
acordo com a Resolução CNE/CEB n.º 3 de 15 de junho de 2010 que instituiu Diretrizes
Operacionais para a EJA quanto à duração dos cursos e idade mínima para ingresso nos
cursos e exames, quanto à certificação nos exames de EJA e à Educação de Jovens e
Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância, a idade mínima para ingresso
em cursos em nível de Ensino Fundamental na modalidade EJA e de 15 anos.
Embora os documentos do ProJovem o enfatizem como uma política de
juventude, a sua implementação suscitou debates no campo da EJA questionando a
dualidade na oferta na modalidade educacional, a qual poderia levar a perda de
educandos na EJA. O ProJovem, por sua vez, sempre se apresentou como uma política
de juventude, assim, não seria apenas uma política educacional. O programa enfatizava
o fato de possuir uma organização distinta de outros programas existentes no cenário
nacional. Além disso, considerando o público focalizado na faixa etária de 18-24 anos,
identificou-se um contingente de mais de um milhão de jovens e adultos3/ com as
características requeridas (BRASIL, 2008a).
Este programa foi lançado como experimental se propondo trazer à escola
aqueles que por motivações diversas não concluíram os seus estudos, ofertando uma
possibilidade de elevação da “escolaridade visando a conclusão do Ensino Fundamental,
qualificação profissional visando a estimular a inserção produtiva cidadã e o
desenvolvimento de ações comunitárias com práticas de solidariedade, exercício da
cidadania e intervenção na realidade local” (BRASIL, 2008a).
2
Conforme a Lei nº. 11.129/2005 o programa se destinava para o público focalizado entre 18-24 anos de
idade. A Lei n.º 11.692/2008 ampliou a faixa etária a ser atendida para jovens entre 15-29 anos de idade.
3
Com base em número do Censo Demográfico IBGE (2000).
499
4
O período aborda o ano do início da formulação do programa até o momento em que ele foi transferido
da Secretaria-Geral da Presidência da República para o Ministério de Educação.
5
Medida Provisória n. 238 de 1º de fevereiro de 2005 - Institui, no âmbito da Secretaria-Geral da
Presidência da República, o Programa Nacional de Inclusão de Jovens - ProJovem, cria o Conselho
Nacional de Juventude - CNJ e cargos em comissão, e dá outras providências.
501
6
Lei 11.129 de 30 de junho de 2005 - Institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem;
cria o Conselho Nacional da Juventude – CNJ e a Secretaria Nacional de Juventude; altera as Leis nos
10.683, de 28 de maio de 2003, e 10.429, de 24 de abril de 2002; e dá outras providências.
502
7
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 411, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2007.Dispõe sobre o Programa Nacional
de Inclusão de Jovens - ProJovem, instituído pela Lei no 11.129, de 30 de junho de 2005, altera a Lei no
10.836, de 9 de janeiro de 2004, e dá outras providências.
503
8
O programa Agente Jovem de Desenvolvimento Humano e Social foi uma ação de assistência social
destinada a jovens entre 15-17 anos que tenham participado de outros programas sociais, que fossem
considerados em vulnerabilidade e risco pessoal e social, em medida socioeducativa, oriundos de
Programa de Atendimento à Exploração Sexual de menores. O programa previa atividades
socioeducativas junto à comunidade com o objetivo de promover o protagonismo juvenil, fortalecendo os
vínculos familiares e comunitários. O programa foi criado no governo do presidente Fernando Henrique
Cardoso e foi sendo modificado durante o governo do Presidente Lula. Com o ProJovem Integrado, o
Agente Jovem foi integrado pelo ProJovem Adolescente.
9
.Lei 11.692/2008 – Dispõe sobre o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem, instituído pela
Lei no 11.129, de 30 de junho de 2005; altera a Lei no 10.836, de 9 de janeiro de 2004; revoga dispositivos
das Leis nos 9.608, de 18 de fevereiro de 1998, 10.748, de 22 de outubro de 2003, 10.940, de 27 de agosto
de 2004, 11.129, de 30 de junho de 2005, e 11.180, de 23 de setembro de 2005; e dá outras providências.
504
10
Estabelece os critérios e as normas de transferência automática de recursos financeiros ao Distrito
Federal, aos estados e a municípios com cem mil ou mais habitantes, para o desenvolvimento de ações do
Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem Urbano, para entrada de estudantes a partir de
2012.
11
Disponível em: http://www.ptpe.org.br/artigo.php?id=9. Acesso em: 05 de novembro de 2013.
505
4. Algumas considerações
5. Referências Bibliográficas
ANDRADE, Eliane Ribeiro; ESTEVES, Luiz Carlos Gil; OLIVEIRA, Edna Castro de.
Composição social e percursos dos sujeitos do PROJOVEM: novos/velhos desafios para
o campo da educação de jovens e adultos. Brasília: Em Aberto, v.22, n. 82, p. 73-89,
Nov. 2009.
13 de junho de 2014.
SHIROMA, E.; CAMPOS, R.F.; GARCIA, R.M.C. Decifrar textos para compreender a
política: subsídios teórico-metodológicos para análise de documentos. Perspectiva, v.
23, p. 427-446, junh.-dez. 2005.
509
Comunicação
1
Docente e Assessora Jurídica-Educacional da Educatio – Assessoria e Consultoria Educacional. Mestre
em Educação pela UNICID. Especialista em Gestão e Direito Educacional. Graduada em Direito pela
Universidade São Francisco.
2
Docente e pesquisadora do Programa de Mestrado em Educação da UNICID. Doutora em Educação –
Currículo pela PUC-SP, Mestre em Educação – História, Política, Sociedade – pela PUC-SP e Graduada
em Pedagogia pela Fundação Faculdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí.
510
INTRODUÇÃO
Frente a importante processo de expansão do sistema de educação superior
privado brasileiro, saltando, em 1991, de 671 e 4.908 cursos de graduação, para 2.013
instituições de educação superior e 18.644 cursos de graduação em 2004 e após algumas
tentativas de avaliações isoladas (PARU, GERES, PAIUB, ENC, ACO, ACE),3 a
criação de um sistema nacional de avaliação presente em âmbito internacional e nas
discussões nacionais é justificado (BARREYRO; ROTHEN, 2008). Em resposta a tal
demanda foi instituída a Lei Federal nº. 10.861, de 14 de abril de 2004 que criou o
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), que tinha o objetivo
de implantar um sistema nacional e articulado de avaliação que previsse a avaliação das
instituições de educação superior, dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico
de seus estudantes.
A partir do SINAES, a avaliação passa a ser concebida como instrumento
dinâmico e processual, superando a fase estática característica do Provão. O SINAES
vem em substituição a um conjunto não articulado de instrumentos de avaliação e com a
ideia de instalação de um ciclo de avaliação que seria referencial para a regulação das
instituições (ROTHEN; BARREYRO, 2011).
O SINAES se encontra no seu terceiro ciclo avaliativo (2013-2015) e as
instituições procuram acompanhar as diversas mudanças desde a sua implantação.
Considerando que os coordenadores de curso são os profissionais que
respondem pelo curso sob sua responsabilidade, no tocante às exigências que esse
sistema de avaliação faz sobre o controle de qualidade, e, ainda, considerando que os
instrumentos de avaliação podem servir de indicadores para a gestão acadêmica, foi
desenvolvida a pesquisa “Os Instrumentos de Avaliação do SINAES: Gestão e
Qualidade na Perspectiva dos Coordenadores de Curso” com a proposta de conhecer a
opinião destes no que se refere à possibilidade de o instrumento de avaliação do
SINAES aferir o nível de qualidade de um curso de graduação e deste instrumento
servir como instrumento de gestão acadêmica do curso.
O trabalho ora apresentado é um recorte dos resultados encontrados na referida
pesquisa.
3
Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU); Grupo Executivo para Reformulação da
Educação Superior (GERES); Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras
(PAIUB); Exame Nacional de Cursos (ENC); Análise de Condições de Oferta (ACO); Avaliação das
Condições de Ensino (ACE).
511
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que desde a implantação do SINAES o componente mais pesquisado
foi o da Avaliação Institucional, que liderou o número de pesquisas, chegando a 47% do
total. O componente da Avaliação de Desempenho dos Alunos – ENADE se mostra
pouco expressivo, com pesquisas a partir de 2008 e o componente de Avaliação de
Curso, por sua vez, é ainda mais inexpressivo, sendo encontradas apenas: a pesquisa de
Andrade (2011), sob o título “As contribuições da avaliação de cursos de graduação
para a melhoria da qualidade da educação superior” e a pesquisa da De Paula (2009)
sobre a vivência dos Coordenadores de Curso em relação ao SINAES.
Neste sentido, foi possível identificar que a pesquisa proposta pode contribuir
com mais uma investigação relacionada ao componente avaliação de cursos, além de
promover a discussão sobre a atuação e a opinião do coordenador de curso neste
processo, a possibilidade de utilização dos instrumentos de avaliação de curso como
instrumentos de gestão e a promoção da melhoria da qualidade por meio da avaliação.
O levantamento feito sugere a necessidade de explorar o assunto e de buscar o
impacto deste componente do SINAES nas instituições de educação superior e no
âmbito dos cursos.
A autora que mais contribuiu para a pesquisa foi a De Paula, (2009), pois
discutiu em seu estudo a “A vivência dos coordenadores de curso de enfermagem em
relação ao Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior”, apresentando sua
experiência como coordenadora de curso. A pesquisadora relata que ao utilizar os
instrumentos de avaliação do SINAES, percebeu que poderiam contribuir para o
processo de gerenciamento do curso, na avaliação das ações e, consequentemente, na
construção de indicadores de qualidade. De Paula (2009) constata na pesquisa que “as
vivências dos coordenadores, em relação ao SINAES, demonstraram sua participação
direta nos processos avaliativos, o que lhes permitiu analisar e identificar juntamente
com os atores envolvidos os problemas acadêmicos e administrativos do curso, para,
posteriormente, planejarem e realizarem mudanças”. Para estes coordenadores, o
SINAES foi considerado um “elemento direcionador”, que, por fornecer informações
“confiáveis e reais”, é importante na gestão do curso e amplia a visão da universidade.
517
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Federal nº. 10.861, de 14 de abril de 2004. Institui o Sistema Nacional
de Avaliação da Educação Superior – SINAES e dá outras providências. Brasília, DF:
Congresso Nacional, 2004a. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.861.htm>.
Acesso em 18 nov. 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Qualidade da Educação Superior. 2010.
Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=4
316.>. Acesso em: 18 dez. 2012.
519
BARREYRO, Gladys Beatriz; ROTHEN, José Carlos . Para uma história da avaliação
da educação superior brasileira: análise dos documentos do PARU, CNRES, GERES e
PAIUB. Avaliação, Campinas; Sorocaba, v.13, n.1, mar. 2008.
APÊNDICE
ARAÚJO, Carla Busato Zandavalli Maluf de. SINAES em Mato Grosso do Sul e a
Regulação do Estado Brasileiro: Os Limites do Estado-Nação. 309 f. Tese
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2009.
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521
http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=200640640003019007P0
LARA, Bráulio Alves Silva. Quadro de horários acadêmico: uma abordagem com
foco na avaliação institucional e na gestão de custos de instituições privadas de Ensino
Superior. 144 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Computação) - Universidade
Federal de Minas Gerais, 2006.
http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=20061032001010004P6
http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=20091240015017003P0
OLIVEIRA, Elísio Correa de. Governança corporativa nas IES brasileiras: uma
proposta para o setor de educação no Brasil e os impactos do SINAES (Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Superior). 73 f. Dissertação (Mestrado
Profissionalizante em Administração ) - Faculdade de Economia e Finanças do IBMEC,
2006.
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PIMENTA, Patrícia Saiter. A farmácia escola e suas relações com a sociedade: uma
representação do caso da FAU/UFF. 90 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) -
Centro Federal de Educação Tecn. Celso Suckow da Fonseca, 2010.
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REIS, Carla de Borja. O uso dos resultados do exame nacional de desempenho dos
estudantes nos cursos de física da Universidade de Brasília e da Universidade
Católica de Brasília (2005). 171 f. Dissertação (Mestrado em Educação) -
Universidade de Brasília, 2009.
529
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http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=20076422001018001P9
http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=20072142005019001P0
Comunicação
1 Introdução
Nos últimos anos pesquisadores têm investigado as condições e consequências
do processo de intensificação e precarização do trabalho docente nas universidades
públicas brasileiras1. Por sua vez, movimentos associativos e sindicais de professores
universitários denunciam e lutam contra o congelamento salarial2, o produtivismo
acadêmico3 e o adoecimento, sofrimento e assédio moral no trabalho4.
1
Para uma síntese desta problemática, ver Sguissardi e Silva Júnior (2009).
2
Ver notícias e artigos da grande mídia paulista (jornais Folha de S. Paulo e Estadão) e informes e
boletins da Associação de Docentes da USP (ADUSP), Associação de Docentes da Unicamp
(ADUNICAMP) e Associação de Docentes da UNESP (ADUNESP) sobre a atual (jul. 2014) greve dos
professores universitários das universidades estaduais paulistas.
3
Ver números especiais das revistas (i) Universidade e Sociedade, Brasília, ano XIX, n. 45, jan. 2011
(Reforma da Educação e Trabalho Docente) do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de
Ensino Superior (ANDES-SN), (ii) Revista ADUSP, São Paulo, n. 48, set. 2010 (Produtivismo
535
acadêmico, estresse laboral & distúrbios afins) da ADUSP e (iii) Movimento em Debate, Campinas, ano
2, n. 3, mai. 2009 (Produtivismo e avaliação docente) da ADUNICAMP.
4
Ver conjunto de reportagens (Assédio moral no serviço público, Condições de trabalho na universidade
e assédio moral na universidade) do II Seminário da ADUFPR-SSind sobre Assédio Moral no Trabalho
realizado em Curitiba pela Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR-
SSind) em 2014. Disponível em: <http://www.apufpr.org.br/8/19/reportagens>. Acesso em: 10 jun. 2014.
5
Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior.
6
Para uma síntese sobre o assunto, de perspectiva crítica, ver Bianchetti e Sguissardi (2009).
536
7
Além da publicação desta lista nominal, subdivida por unidades e com uma tabela-resumo, a notícia
acompanhava quatro matérias assinadas (Ana Fromer, Pesquisa da USP mostra que ¼ dos docentes nada
produz; Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Produção norteia avaliação do mundo desenvolvido; Paulo
Francis, Nos EUA, acadêmico que não publica está morto; Roseli Forganes, Na França, o relatório final
é divulgado), duas tabelas (uma salarial dos docentes das universidades públicas paulistas e outra
subdividida por regime de trabalho) e dois artigos de professores da própria USP (José Goldember,
Avaliação visa melhor formação de pessoal qualificado; Paul Singer, Todo funcionário público deve
estar sujeito à avaliação). Para detalhes ver Folha de S. Paulo (1988).
537
atingiu seu ápice, pois no debate público travado entre jornalistas e professores no
jornal Folha de S. Paulo o centro da questão tornou-se a avaliação do trabalho
acadêmico. Vale notar, conforme Schmidt (2011, p. 317), que a “atmosfera singular,
marcada pelo impacto da publicação da lista e pelo dinamismo comum aos jornais”,
produziu uma situação que “constrange os autores à tomada de posição imediata e, ao
mesmo tempo, dá oportunidade à aparição do vasto campo de implicações conceituais,
ideológicas, éticas e políticas que a avaliação suscita”.
Do ponto de vista do jornal “a quantidade de publicação constitui-se num
indicador confiável para a atividade intelectual e a produção científica docente”, tal
como atesta sua denominação atribuída ao episódio: “lista dos improdutivos da USP”.
Nas reportagens dos jornalistas da Folha de S. Paulo9 observa-se uma posição comum,
a da identidade entre publicação e produtividade, o que demonstra um claro “elogio ao
modelo norte-americano de avaliação” (CATINI; GUTIERREZ; FERRER, 1999, p. 78).
Por sua vez os professores em seus artigos10 manifestam-se “contra a elaboração
e divulgação da lista”, responsabilizando “a incompetência administrativa da Reitoria, a
mentalidade empresarial de setores da universidade, a mediocridade da burocracia e o
sensacionalismo da Folha pela geração do lamentável acontecimento” (SCHMIDT,
2011, p. 317). As críticas dirigiam-se ao viés quantitativo, homogêneo e classificatório
da avaliação, enfatizando sua característica burocrática, pois ao privilegiar unicamente a
produção científica desconsiderava outras dimensões do trabalho dos professores
universitários (ensino e extensão, por exemplo). Neste sentido, defendem uma avaliação
qualitativa, democrática e transparente, que seja interna a própria universidade
(CATANI; GUTIERREZ; FERRER, 1999; SCHMIDT, 2011).
Sendo assim, a avaliação da produção científica docente na USP, explicitada no
episódio da “lista dos improdutivos da USP”, caracteriza-se como “uma avaliação
produtivista e quantitativa baseada sobretudo no número de publicações dos docentes
[que] não leva necessariamente a uma maior eficiência do sistema universitário como
um todo” (PAULA, 2000, p. 195). Isto porque,
Em 1987, uma fração de até 20% do orçamento de custeio e capital das
unidades de ensino e pesquisa [da USP] foi alocada com base no número de
publicações técnico-científicas e no número de teses de mestrado e doutorado
9
Paulo Francis (Nos EUA, acadêmica que não pública está morto, 21/02/1988) e Carlos Eduardo Lins da
Silva (Publicações e desempenho didático contam pontos nos EUA, 33/02/1988).
10
Exceção é o artigo de José Goldemberg (A avaliação visa melhor formação do pessoal qualificado,
21/02/1988) que faz “um longo elogio ao processo de avaliação na USP, onde destaca os objetivos da
universidade, a sua função de transparência e prestação de contas e defende que o mesmo seja utilizado
como critério para a distribuição de verbas” (CATANI; GUTIERREZ; FERRER, 1999, p. 80-81).
539
11
O PID apresentava “a finalidade de estimular e valorizar o envolvimento de docentes com o ensino,
especialmente com a modernização e transformação do ensino de graduação” (art. 6), sendo aberta apenas
a participação de “docentes do quadro efetivo em regime de trabalho em dedicação exclusiva ou quarenta
horas semanais, [...] que não recebam proventos de aposentadoria de qualquer órgão público e não sejam
beneficiários de bolsas de formação” (§ 1°, art. 6), e permitida sua manutenção com outros tipos de bolsa
(produtividade e pesquisa) (§ 2°, art. 6°) (BRASIL, 1998a).
540
Imposta aos professores das IFES, por meio da Lei n° 9.678, de 3 de julho de
1998 (BRASIL, 1998b), a GED foi apresentada pelo governo como um “instrumento de
reposição salarial e de avaliação docente” (PINTO, 1999, p. 12), no qual condicionava-
se o valor da gratificação à avaliação de atividades docentes, privilegiando-se o ensino
em detrimento da pesquisa, extensão e administração.
A Gratificação consistia em um sistema de atribuição de pontos às atividades
realizadas pelos professores, de acordo com o regime de trabalho e a sua
titulação. Para receber a gratificação integralmente, o docente teria que
perfazer uma determinada quantidade de pontos aferidos por comissões
instituídas nas unidades acadêmicas. Cada professor deveria atingir pelo
menos 140 pontos, destes, 120 poderiam resultar de suas atividades de
ensino. A atividade de ensino recebia, portanto, maior pontuação, 10 pontos
por hora/aula. Os demais pontos seriam atribuídos às suas atividades de
pesquisa e de extensão. (SILVA, 2010, s. p.)
Ainda de acordo com Silva (2010, s. p.), “Como o nome indicava, a GED
estimularia os docentes, faria com que se voltassem às atividades de sala de aula, de
ensino, já que estas seriam mais valorizadas.” Para Catani e Oliveira (1999, p. 65) “A
GED também objetiva valorizar a titulação acadêmica e os professores da ativa, bem
como acabar com os reajustes isonômicos de salários mediante gratificação baseada no
desempenho”. Vale lembrarmos que estavam excluídos da GED os professores das
IFES sem titulação e os de 1° e 2° graus, enquanto que professores aposentados, com
licença maternidade, médica, para capacitação ou em férias prêmio e pensionistas
recebiam apenas 60% do seu valor total.
Mais do que um “sistema de avaliação do desempenho docente” (BRASIL,
1998b, art. 1°, § 6°) a GED apresenta como característica principal a associação de duas
dimensões; constitui-se num (i) “procedimento para atribuição de gratificação
pecuniária por atividade realizada”, no qual há a “associação entre resultados de
avaliação de desempenho e recursos financeiros, especificamente salários para todos os
integrantes do sistema, atribuídos de forma diferenciada” (BELLONI, p. 105-106,
itálicos da autora) e, simultaneamente, numa (ii) estratégia governamental que introduz
no interior da universidade pública os mecanismos competitivos da empresa privada
(SILVA, 2010; CATANI; OLIVEIRA, 1999).
Há convergências entre os analistas de considerar a GED responsável por
alterações significativas na organização de trabalho dos professores das IFES. Isto
porque, a GED, ao valorizar a premiação individual segundo o desempenho docente,
acabou por estimular a competição e reforçou o individualismo entre os professores.
Neste cenário explicitam-se
541
A GED também delineou “um novo ethos acadêmico” (SILVA, 2010, s. p.) no
trabalho dos professores das IFES ao produzir uma “mudança da mentalidade nas
relações de produção acadêmica” (CATANI; OLIVEIRA, p. 71).
Os professores universitários não desenvolvem mais atividades como
integrantes de um projeto de produção de conhecimento – com ramificações
para o ensino, a pesquisa e a extensão – gerando elaborações, como
produções escritas, debates, que reafirma a identidade do trabalho docente. O
que ocorre é que as definições das atividades passam a ser orientadas a partir
das exigências da GED, que impõem prioridades, acabando por delinear o
perfil dos cursos. Isto se agrava numa situação de crise onde o achatamento
salarial é brutal e a ameaça do desemprego um fato. O trabalho do professor
universitário alterou-se ao mesclar-se com esta dura realidade. (PINTO,
1999, p. 23).
Por fim parece claro que “o trabalho docente assalariado está se tornando mais
flexível, embora controlado em seus movimentos e finalidades”, até porque com a GED
“o aumento da produtividade e dos vencimentos passam a depender, em grande parte,
do esforço do próprio docente, sob certas condições objetivas.” (CATANI; OLIVEIRA,
1999, p. 72, itálicos dos autores).
542
4 À guisa de conclusão
O estudo de casos recentes de políticas de avaliação do trabalho de professores
universitários (“lista dos improdutivos da USP” e GED) permitiu identificarmos como a
avaliação tem sido utilizada como técnica de mensuração quantitativa da produtividade
no trabalho docente. Fundamentada em critérios de eficiência e desempenho, próprios
da lógica do capital (financeiro), e produzindo indicadores de produção segundo a
“qualidade” do trabalho realizado (número de publicações e pontuação das atividades
docentes), a avaliação, ao se vincular ao financiamento/remuneração, altera a
544
Referências
FOLHA DE S. PAULO. São Paulo, ano 68, n. 21.508, 21 fev. 1988, 116 p. Disponível
em: <http://acervo.folha.com.br/fsp/1988/02/21/2/>. Acesso em: 10 jun. 2014.
ROSSETI, F. Greve atinge 31 federais. Folha de S. Paulo, São Paulo, 19 mar. 1998, p.
10.
Comunicação
546
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como escopo a questão da criação e atuação do Fórum Estadual
Permanente de Apoio à Formação Docente, nos termos do Decreto nº 6.755, de 29 de
janeiro de 2009 que, em seu § 1º do art. 4º e art. 5º, estabelece a necessidade de cada
Estado elaborar o seu plano estratégico de formação, assim como seu acompanhamento
e revisão periódica. Esta exigência regulatória institui a política de formação de
professores, conforme a especificidade regional demandada pela comunidade educativa
local, que deve compor os colegiados previstos na lei, bem como assegurar a formação
gratuita e de qualidade exigida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -
547
1
Os Fóruns Estaduais são órgãos colegiados criados para dar cumprimento aos objetivos da Política
Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica.
2
Universidade Federal do Amazonas-UFAM e Instituto Federal do Piaui-IFPI
548
especiais do Parfor3, em 397 municípios do País” (BRASIL, 2013). Tais números não
foram suficientes para estimular estudos e pesquisas sobre as ações gestionarias dos
Fóruns Estaduais, criados para dar cumprimento aos objetivos daquela política.
O objetivo deste estudo é a identificação das ações em desenvolvimento nos
Fóruns Permanentes de Apoio à Formação Docente dos Estados do Amazonas e Piauí
com vistas à realização de reflexão crítica sobre o atendimento às suas funções de apoio
à formação docente.
Este estudo, com base na análise dos documentos4 gerados pelos setores
responsáveis pelo PARFOR no âmbito do MEC, da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior - CAPES e Secretarias de Educação dos Estados do
Amazonas e Piauí, contribui para a compreensão do processo gestionário de um
programa de governo implantado para melhorar a formação dos professores e,
consequentemente, melhorar a qualidade do ensino.
Em essência, o que justifica este estudo é o fato de que a implantação e a
implementação dos Fóruns Estaduais de Apoio à Formação Docente dos Estados –
FORPROF - no PARFOR, nas instituições UFAM e IFPI, podem contribuir para a
melhoria do programa e, por consequência, da qualidade do ensino, como consta do
primeiro objetivo para criação do PARFOR: “promover a melhoria da qualidade da
educação” (BRASIL, 2009a). Além disso, acredita-se que o estudo sobre a atuação do
FORPROF pode ser útil para o surgimento de outros estudos e pesquisas das ações dos
Fóruns Estaduais de outras instituições de ensino superior localizadas em outros Estados
do país.
Neste sentido é que se destaca que política pública envolve mais do que uma
decisão e requer diversas ações realizadas de forma estratégica para implementar
decisões tomadas. Dessa forma, as políticas públicas representam os instrumentos de
ação dos governos que influenciam a vida de um conjunto de cidadãos. Sobre a análise
do papel dos governos que decidem implementar políticas públicas Souza (2006, p.14)
destaca que “implicam responder à questão sobre que espaço cabe aos governos ou
outras instituições na sua definição e implementação”
De acordo com registro na literatura do campo educacional, a partir da década de
1990, com a aprovação da LDB, Lei nº 9394/96, que estabeleceu as diretrizes e bases da
educação nacional, a formação de professores da educação básica passou a merecer
maior atenção e reflexão.
Segundo a LDB, no seu Artigo 62, “a formação de docentes para atuar na
educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação
plena, em universidades e institutos superiores de educação [...]” (BRASIL, 1996),
admite, entretanto, a formação mínima de nível médio, na modalidade Normal, para o
exercício do magistério na educação infantil e no primeiro segmento do ensino
fundamental, tendo estipulado ainda um prazo de dez anos para o alcance da meta, que
não foi cumprida, até o término daquele prazo, em 2006.
O Educacenso5 2007 trouxe, entre suas estatísticas, que quase um terço dos
professores da educação básica das redes pública e particular do Brasil não tem
formação adequada. De um total de 1.977 milhões de docentes, 636,8 mil (32,19%)
atuam em sala de aula sem a devida qualificação universitária (INEP, 2008).
O Educacenso de 2009 revela dados que mostram um quadro crítico das regiões
consideradas mais pobres do país, pois dos cerca de 600 mil professores do Nordeste,
metade não tem curso superior. Nos Estados do Norte, os docentes que tem apenas
ensino médio e fundamental atingem 76,3 mil, número que representa 45,98% do total
(INEP, 2010).
Nos documentos oficiais, a melhoria da educação está atrelada à formação de
professores, e assim foram envidados esforços para a implantação de uma Política
Nacional de Formação de Profissionais do Magistério (PARFOR). A Portaria
Normativa n°. 9 de 30 de junho de 2009, estabelece um conjunto de ações entre
5
O Educacenso é um sistema on-line que visa coletar, organizar, transmitir e disseminar os dados
censitários. Os dados coletados são fundamentais para a elaboração de diagnósticos sobre a. educação
brasileira, os quais colaboram para a implementação de políticas públicas na área da educação.
551
atender à demanda inicial de 1119 (um mil, cento e dezenove) vagas para professores,
no exercício da docência, das redes estadual e municipais de ensino. A UFAM, no
período de 2010 a 2014, conforme o edital publicado em seu Portal eletrônico procedeu
à oferta que abrange aproximadamente 10 mil vagas distribuídas nas diferentes áreas
nos campi da instituição. Em 2012 e 2013 mais de mil alunos das unidades acadêmicas
da capital, dos campi do interior e do PARFOR receberam o grau de licenciados.
A UFAM realizou no período de 17 a 19 de setembro de 2013, cinco anos após
seu início, o primeiro Seminário de Avaliação do Programa cujos objetivos, segundo o
folder do evento, foi “avaliar o funcionamento do PARFOR e traçar diretrizes de
trabalho para aprimoramento de ações no Estado do Amazonas”. Nessa primeira ação,
com a participação dos órgãos envolvidos no acordo, nos dois dias programados para o
evento, constaram grupos de trabalho e “Relatos de experiência”, não há indicação da
apresentação de estudos e relatórios de pesquisa de avaliação do Programa em
articulação com a Secretaria de Estado de Educação, e, das ações que foram
implementadas, decorrentes da avaliação periódica da execução dos cursos.
No âmbito do IFPI, a instituição aderiu ao PARFOR no ano de 2010, ofertando
60 vagas, em duas turmas para o curso de 2ª Licenciatura em Matemática para o campus
Teresina Central, com início das atividades no segundo período daquele ano. O
FORPROF no Piauí foi implantado no dia 22 de dezembro de 2009, na Secretaria de
Estado da Educação - SEDUC. Entre as suas primeiras ações foi solicitar a
homologação de quatorze novos pólos de funcionamento da Universidade Aberta no
Piauí, em vários municípios, tendo sido votada e aprovada, atendendo ao que consta o
inciso III, artigo 2º da Portaria Normativa n° 883, de 16 de setembro de 2009 do MEC
As informações documentais coletadas sobre os Fóruns Estaduais de Educação
no Amazonas e Piauí, considerando a periodicidade das reuniões, pautas específicas
para o PARFOR, observamos que o FORPROF/AM e FORPROF/PI publicaram no site
da CAPES – é uma exigência que consta no Manual Operativo do PARFOR- atas das
reuniões, que revelam a recorrência, como pontos de pauta, de assuntos sobre: regulação
de criação e composição dos membros do fórum; regimento; organização da agenda de
trabalho; deliberação sobre a oferta de vagas para formação de professores. Nas duas
últimas reuniões, conforme atas datadas de 05/03/12 e 26/10/12, respectivamente do
FORPROF/AM e FORPROF/PI, de modo geral, mantém o foco de pauta sobre as
demandas quantitativas dos cursos do PARFOR.
555
COMENTÁRIOS FINAIS
Compreende-se que a função social e política do Fórum Permanente de Apoio à
Formação Docente- FORPROF, se efetiva pela participação dos profissionais da
educação nos eventos que discutem e deliberam sobre a própria profissionalização. Este
entendimento redimensiona os desafios lançados aos professores que buscam na escola
um espaço de formação. Assim sendo, a atenção do Fórum como órgão deliberativo,
consultivo e de assessoramento, não pode perder de vista que “a formação e a
valorização profissional são faces indissociáveis da política de profissionalização”
(AGUIAR, 2011, p.272).
Sendo o PARFOR uma política educacional de caráter permanente, que envolve
a utilização de recursos públicos, cremos serem, ainda, insuficientes os resultados de
avaliação do Programa. É necessária a produção de análises quantitativas e qualitativas
que indiquem o atendimento das demandas identificadas em cada situação específica,
como reconhece a própria existência dos Fóruns Estaduais, para oferecer à sociedade
respostas mais concretas dos resultados do programa executado pelas instituições
envolvidas no ACT. A gestão de tal Programa necessita desenvolver ações de
acompanhamento e avaliação sistemáticos, sob pena, de não o realizando, transformar
556
REFERÊNCIAS
Relato de Experiência
Introdução
A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEE/SP), implementou no ano
de 2008 o Programa de Qualidade da Escola (PQE), conclamando o objetivo de
“promover a melhoria da qualidade e a equidade do sistema de ensino na rede estadual
paulista” (Nota Técnica, SÃO PAULO, 2014a).
Em 06 de novembro de 2008 a SEE/SP publicou no Diário Oficial do Estado a
Resolução SE – 74/2008 (SÃO PAULO, 2008a), que instituiu o PQE e criou o Índice de
Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (IDESP) com a justificativa da
“necessidade de disponibilizar à unidade escolar diferentes indicadores de natureza
559
Gráfico I. Alunos atendidos na recuperação paralela. Elaboração nossa com dados da unidade escolar.
1
Instituída pela Resolução SEE/SP 40/2008, garantia atendimento de alunos com defasagem fora de
período regular de aulas. Esta resolução foi revogada no ano de 2012.
2
Realizada durante as aulas regulares pelos professores regentes das turmas.
562
5º ANO EF
ID; 2011; 5,93
Desempenho / Fluxo ID; 2012; 4,87
ID; 2010; 4,71
3
Ferramenta de Análise: planilha eletrônica para inserção dos dados referentes aos anos subsequentes a
2008, que gera gráficos para análise da série histórica de cada escola, com o objetivo de subsidiar a gestão
de resultados pelas unidades escolares.
564
A análise crítica de tais resultados é fundamental para a escola pois há uma clara
tendência de responsabilização pelos resultados que atinge única e exclusivamente os
atores locais, de forma que a SEE/SP, ao divulgar resultados por escola, exime-se de
qualquer responsabilidade, como se as condições dadas em todas as escolas fossem as
ideais e o desempenho de cada unidade dependesse apenas das ações desenvolvidas no
interior das escolas.
3- Considerações finais
O acompanhamento e as orientações da Supervisão de Ensino realizadas no período
objetivaram promover a prática de refletir sobre os resultados da escola por parte dos
envolvidos no processo, englobando gestores (Diretores e Coordenadores Pedagógicos),
professores, pais e alunos. Mas cabe ressaltar que os resultados IDESP abrangem
apenas duas dimensões dentro da realidade das escolas: o rendimento (aferido pelo
SARESP) e o fluxo. Quais as implicações e limitações deste fato?
Em primeiro lugar os resultados do desempenho dos alunos são aferidos no 5º ano
do Ensino Fundamental, no 9º ano do Ensino Fundamental e na 3ª série do Ensino
Médio nas avalições que ocorrem uma vez a cada ano letivo. Desta forma, o resultado
obtido em um determinado ano é utilizado para definir as metas do ano seguinte, mas as
avaliações serão aplicadas à outros alunos, ou seja, não é realizado um
acompanhamento ou uma comparação das mesmas turmas o que gera uma série de
distorções. Cabe salientar também que as avaliações se restringem a um currículo
centralmente definido para todo o Estado, que desconsideram as diferentes realidades
sociais dos alunos.
Segundo, o fluxo escolar, que é calculado para compor o IDESP com base na média
sintética da razão entre o número de alunos aprovados e número de alunos matriculados
para cada série no ano da avaliação, gera distorções que penalizam mais as escolas que
atendem as comunidades mais vulneráveis. Os alunos residentes nas áreas mais
vulneráveis são os mais expostos a fatores que levam a evasão escolar e por conseguinte
as escolas são penalizadas como se fossem as responsáveis por esta evasão. Não há
mecanismo de compensação para estas escolas e a SEE/SP não admite a influência de
tais fenômenos na aprendizagem dos alunos. E não se pode dizer que esta falta de
percepção da realidade é por falta de tempo para conhecer o sistema, já que a SEE/SP
faz parte da continuidade do mesmo partido político no poder ao longo dos últimos 20
anos no Estado de São Paulo.
565
Referências
Comunicação
Gabriela Moriconi
Nelson Gimenes
Lisandra Marisa Príncepe
Fundação Carlos Chagas
Introdução
Revisão de literatura
A única publicação com dados em nível nacional encontrada sobre as condições de
organização do trabalho docente no Brasil foi o “Estudo Exploratório sobre o professor
brasileiro com base no Censo Escolar da educação básica, 2007”, publicado pelo INEP
em 2009. Nela são encontrados, entre outros, dados sobre a quantidade de turmas nas
quais os professores lecionavam. No entanto, o estudo trouxe apenas uma breve visão
das possibilidades de exploração do tema que a atual estrutura dos dados do Censo
Escolar da Educação Básica oferece.
Na literatura sobre as condições de organização do trabalho docente no Brasil,
predominou a discussão de um trabalho docente precarizado, especialmente, sob a ótica
da intensificação das demandas profissionais promovidas em alguns casos pelas
reformas educacionais ou transformações sociais. O volume de trabalho dos professores
não foi o centro das investigações, mas emergiu nos resultados das pesquisas sobre as
condições de trabalho.
568
dos microdados de professores disponíveis no Censo Escolar 2013 foi construída uma
base de dados considerando os aspectos a seguir.
No que tange a função exercida na escola foram consideradas apenas o registro
denominado “docente”, excluindo os outros possíveis (“Auxiliar de educação infantil”,
“Profissional/ Monitor de atividades complementares” e “Tradutor Intérprete de
Libras”).
O conjunto de docentes da base de dados utilizada contém apenas aqueles que lecionam
em pelo menos uma turma no ensino fundamental II e que atuam exclusivamente no
ensino regular, não exercendo a docência nas modalidades “Educação Especial –
Modalidade substitutiva” e/ou “Educação de Jovens e Adultos”. Por conta desse recorte,
este estudo abrange 80,8% dos docentes do ensino fundamental II, uma vez que os
demais 19,2% atuam também em outras modalidades de ensino.
Ressalta-se também que, embora o foco seja os professores EFII, os totais de turmas e
de alunos não se referem apenas aos dados específicos do ensino fundamental II.
Considera também as informações deste conjunto de docentes relativas aos demais
níveis de ensino, caso lecione na Educação Infantil e/ou Ensino Fundamental I e/ou
ensino Médio. Esta decisão baseia-se no fato de que o estudo tem como eixo temático a
organização e volume de trabalho do professor, e por isso supõe prudente a inclusão
destas informações.
Diante do exposto, a seguir são analisados os resultados das tabulações feitas quanto aos
números médios de turmas e de matrículas por professor e alunos por turma.
atuam no EFII e EM, 10,9% no EFII e EFI e 10,5% no EFII e outros1. Uma das
possíveis explicações para a existência de um percentual elevado de professores que
trabalham no EFII e EM deriva da própria organização disciplinar dos currículos destes
dois níveis de ensino, uma vez que eles contam com estruturas curriculares semelhantes.
Quanto ao número de escolas em que os docentes trabalham, verifica-se que pouco mais
de 1/3 deles lecionam em duas ou mais escolas. Já em relação ao número de municípios,
nota-se que 8,7% trabalham como docente em mais de uma cidade.
No que se refere à categoria administrativa das instituições que estes professores
exercem a docência, destaca-se que a maior parte deles atua exclusivamente em escolas
de redes estaduais de ensino, correspondendo a 37,2% do total; outros 29,8% em redes
municipais e 16,5% no setor privado. Ressalta-se ainda que 15,7% destes docentes
atuam em mais de uma rede de ensino (Estadual e Municipal ou Estadual e Privada ou
Municipal e Privada).
N %
Só EFII 275.402 46,8
EFII+EFI apenas 63.942 10,9
ETAPA
EFII+EM apenas 187.669 31,9
EFII+outros 61.627 10,5
N de Um município 537.533 91,3
Municípios Dois ou mais municípios 51.107 8,7
Uma escola 389.916 66,2
N de escolas
Duas ou mais escolas 198.724 33,8
Estadual 219.266 37,2
Municipal 175.495 29,8
Categoria
Em duas redes 92.226 15,7
Administrativa
Privada 97.288 16,5
Outros 4.365 0,7
Tal diversificação na organização do trabalho pelos professores relaciona-se também
com as condições de trabalho exposta aos docentes. A partir dos dados a serem
apresentados a seguir, verifica-se que há diferenças expressivas entre o número de
turmas e de alunos para cada docente a depender do arranjo no qual o professor está
associado.
1
A categoria “outros” refere-se ao grupo de professores que leciona em mais de dois níveis de ensino (por
exemplo: EI, EFI e EFII ou EFII e nas etapas relativas à educação profissional ou no ensino fundamental
multi etapa ou ensino fundamental de 9 anos – correção de fluxo).
572
Dentre os professores das redes estaduais e das escolas privadas, embora possuam
médias relativamente semelhantes de número de turmas (8,0 e 8,6, respectivamente),
destaca-se que a diferença entre eles se dá notadamente quando observados os números
médios de alunos por turma, tendo os professores das escolas privadas em média, uma
situação comparativamente melhor, já que possuem menores médias de alunos (213,9
no setor privado e 237,5 em redes estaduais) e de alunos por turma (23,9 no setor
privado e 29,4 em redes estaduais).
As maiores médias de total de alunos (alunos por turma e número de turmas por
professor) se apresentam para os docentes que atuam em mais de uma rede.
Comparativamente aos docentes que trabalham apenas em redes municipais, este grupo
tem praticamente o dobro de turmas e de alunos. Quando cruzadas as informações sobre
a categoria administrativa das escolas e a etapa de ensino, nota-se que a situação mais
preocupante é a do professor que atua, ao mesmo tempo, em mais de uma rede e no
EFII e EM. Este grupo de professores em média possui 12,6 turmas, leciona para um
total médio de 375,3 alunos e tem em cada sala de aula uma média de 29,4 alunos.
Outro aspecto relevante para a análise das condições de trabalho docente diz respeito ao
número de escolas em que atuam. A Tabela 3 apresenta estatísticas dos números médios
de turmas, de matrículas e de alunos por turma, segundo o agrupamento de categoria
administrativa das escolas e número de unidades que os docentes lecionam. A
comparação entre os grupos de professores que trabalham em apenas uma escola e dos
que lecionam em mais de uma unidade permite observar que o segundo grupo possui
médias de turmas (11,4) e de matrículas (315,5) bem superiores ao dos professores que
atuam em apenas uma escola (6,7 e 184,6, respectivamente).
Em relação ao agrupamento de categoria administrativa, verifica-se melhor situação no
grupo de professores de escolas de redes municipais e que leciona em apenas uma
escola, com médias de 5,6 turmas por professor e 147,5 matrículas. O grupo de
professores de escolas do setor privado e que leciona em apenas uma escola, embora
tenha se registrado médias de turmas por professor muito semelhantes à encontrada
dentre o grupo de docentes de redes estaduais (7,1 e 7,3, respectivamente), a média de
alunos por turma (23,3 no setor privado e 29,6 em redes estaduais) e a média de
matrículas (172,9 no setor privado e 219,7 em redes estaduais) são bem inferiores.
Dos professores que lecionam em mais de uma escola, verifica-se melhor situação
daqueles que atuam apenas em redes municipais. Por outro lado, dentre os professores
que atuam em mais de uma escola na rede privada as médias de turmas (13,4) e de
574
alunos matriculados (346,2) são mais elevadas quando comparadas às demais categorias
de análise, até mesmo, daqueles docentes que lecionam em mais de uma rede de ensino.
Nota-se que em todos os agrupamentos de categoria administrativa analisados, os
professores que lecionam em mais de uma escola tendem a ter maiores médias de
número de turmas e de matrículas, quando comparados com os que atuam em apenas
uma escola.
Tabela 3. Médias de turmas, de matrículas e de alunos por turma dos
docentes que lecionam no EFII, segundo o agrupamento decategoria
administrativa das escolas e número de unidades que leciona.
Duas ou mais
Uma escola Total
escolas
Turmas 7,3 10,6 8,0
Estadual Matrículas 219,7 306,2 237,5
Alunos por turma 29,6 28,8 29,4
Turmas 5,6 9,2 6,4
Municipal Matrículas 147,5 233,7 164,8
Alunos por turma 25,1 25,0 25,1
Turmas 12,0 12,0
Em duas
Matrículas 339,5 339,5
redes
Alunos por turma 28,0 28,0
Turmas 7,1 13,4 8,6
Privada Matrículas 172,9 346,2 213,9
Alunos por turma 23,3 25,7 23,9
Turmas 5,6 15,4 12,5
Outros Matrículas 162,5 440,7 358,3
Alunos por turma 29,2 28,7 28,8
Turmas 6,7 11,4 8,3
Total Matrículas 184,6 315,5 228,8
Alunos por turma 26,8 27,4 27,0
Por conta disso, a seguir apresentamos algumas estatísticas dos números médios de
turmas e de matrículas dos docentes que lecionam no EFII, segundo os agrupamentos de
disciplinas lecionadas e etapa de ensino [Tabela 4]2.
De modo geral pode-se distinguir três grandes grupos de disciplinas de acordo com as
distribuições médias de turmas e de alunos por professor. O primeiro diz respeito ao
grupo de professores que lecionam Língua Portuguesa e Matemática, o segundo aos
docentes de Ciências, Biologia, Química e Física e História e Geografia e o terceiro
grupo dos profissionais de Línguas Estrangeiras e Artes ou Educação Física.
Como já indicado anteriormente, verifica-se que os professores que lecionam Língua
Portuguesa ou Matemática tendem a ter menores números de turmas e de matrículas,
quando comparados aos professores das demais disciplinas. Enquanto que para os
professores de Português e Matemática os números médios de turmas são de 6,4 e 6,1,
respectivamente, para os que lecionam Artes, Educação Física ou Línguas Estrangeiras
tais médias são superiores ou iguais a 9,2.
Tabela 4. Números médios de turmas e de matrículas dos docentes que lecionam no EFII, segundo os
agrupamentos de disciplinas lecionadas e etapa de ensino.
Biologia, Línguas
Artes e
Língua Ciência, História e Estrangeiras
Matemática Educação
Portuguesa Química e Geografia e Língua
Física
Física Indígena
Turmas 4,9 4,7 5,6 6,3 6,7 6,6
Só EFII
Matrículas 134,5 129,2 154,1 174,0 184,6 180,9
EFII+EFI Turmas 5,8 5,3 5,4 5,6 9,2 8,2
apenas Matrículas 140,5 127,8 129,5 133,4 212,1 200,5
EFII+EM Turmas 8,8 8,5 10,2 11,3 11,7 12,0
apenas Matrículas 258,1 249,1 298,5 333,3 343,5 354,2
EFII+ Turmas 7,8 7,0 7,5 7,7 12,5 12,1
outros Matrículas 187,3 168,7 178,0 184,7 295,8 290,0
Turmas 6,4 6,1 7,2 7,8 9,6 9,2
Total
Matrículas 173,3 164,8 194,4 214,4 258,5 244,8
2
Para o processamento das estatísticas de cada um dos grupos de disciplinas, foram consideradas além
das informações dos professores que lecionam apenas a(s) disciplina(s) do agrupamento, os dados
referentes ao número de turmas e de matrículas das demais disciplinas ministradas, caso isso ocorra. Ou
seja, as informações do professor que leciona Matemática e Física, por exemplo, foi computada tanto no
grupo de professores de Matemática como no grupo que compreende as disciplinas de Biologia, Física,
Ciências e Química.
576
Referências
INEP. Estudo exploratório sobre o professor brasileiro com base nos dados do
Censo Escolar da Educação Básica 2007. Brasília: INEP, 2009.
Comunicação
INTRODUÇÃO
REFERENCIAL TEÓRICO
OBJETIVOS
METODOLOGIA
DESENVOLVIMENTO
Estes profissionais necessitam dar mais atenção aos valores éticos, de dignidade
considerando o processo de humanização como possibilidade de desenvolver um novo
olhar, uma nova forma de atuar.
Nesta perspectiva, é essencial incorporar a ótica da dimensão da Educação
Estética na formação de futuros profissionais da área da saúde com objetivo de trilhar
novos caminhos na educação e na saúde. Estes profissionais necessitam dar mais
atenção aos valores éticos, de dignidade considerando o processo de humanização como
possibilidade de desenvolver um novo olhar, uma nova forma de atuar.
Questões como esta estão presentes, segundo Adorno, na estética da
massificação da indústria cultural, que pode levar a uma desnutrição filosófica pela
perda da criticidade, da desumanização dos sujeitos, de valores subjetivos que se
perderam com o avanço científico. Não é o caso de abandoná-las, mas de agregar
valores humanos no trato das instituições de educação e saúde ligadas a princípios
éticos, com respeito e valorização dos seres humanos.
Mas compreendemos que pelo histórico da profissão de fisioterapia, a
naturalidade deste processo, enquanto proposta da mudança do perfil do profissional e
fisioterapeuta, desenrola-se lentamente, pois as novas vivências acadêmico-profissionais
que buscam uma consciência moral mais sensível e critica ainda estão em processo de
construção.
A dignidade humana articula os valores estéticos, éticos, bioéticos e de
biossegurança e confere o sentido da formação do profissional e docente na área da
saúde. A dignidade humana nasce com o conceito de pessoa humana, sempre ligada ao
homem e sua posição no mundo — logo, é uma qualidade de ser humano. Com efeito, a
586
Sarlet (2009) lembrando que nenhum ser humano vive isoladamente e sempre
está inserido num contexto social e histórico, apresenta o conceito de dignidade no
contexto da antiguidade clássica:
E aí, nesse contexto, sua dignidade ganha – ou, como veremos, tem o direito
de ganhar – um acréscimo de dignidade. Ele nasce com integridade física e
psíquica, mas chega um momento se seu desenvolvimento que seu
pensamento tem de ser respeitado, suas ações e seu comportamento – isto é,
sua liberdade -, sua imagem, sua intimidade, sua consciência –religiosa,
cientifica, espiritual – etc., tudo compõe sua dignidade. (NUNES, 2002, p.
49).
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAIS
Comunicação
Resumo: O presente artigo visa analisar a formação dos gestores e a relação do PI nesse
processo, com ênfase na disciplina PV e a gestão democrática. Para tanto foram
analisados os artigos resultados dos PI desenvolvidos pelos cursistas no curso de
Especialização em Gestão Escolar da UFOPA. Buscando preservar a identidade dos
autores dos artigos pesquisados e das escolas, utilizam-se as iniciais dos temas
recorrentes e números indicativos da sequencia de ocorrência e quando o título do artigo
engloba mais de um desses termos eles são especificados como por exemplo FE e PPP.
Nos artigos a gestão democrática é vista como fruto das lutas sociais, com
fundamentação nas leis, que exige participação e transparência, tendo o PPP como
mecanismo para execução da gestão nessa perspectiva. O curso viabilizou mudança de
concepção e engajamento para atividades de cunho democrático, tendo a ciência de que
o PPP por si só não é sinônimo de Gestão democrática, que muitos desafios perpassam
essa ação.
Palavras- chave: Formação de gestor. Projeto de Intervenção. Projeto Político
Pedagógico
Introdução
Essa modalidade de pesquisa tem como base a ideia de uma relação dialética
entre pesquisa e ação, supondo ainda que a pesquisa deve ter como função a
transformação da realidade e como enfatiza Toledo (2013) “Na pesquisa-ação as
intervenções e a produção do conhecimento se inter-relacionam”.
A pesquisa-ação é bastante enfatizada no campo educacional, devido a
relevância de seu caráter pedagógico: os sujeitos, ao pesquisarem sua própria
prática, produzem novos conhecimentos e, ao fazê-lo, apropriam-se e
ressignificam sua prática, produzindo novos compromissos, de cunho crítico,
com a realidade em que atuam. “a pesquisa-ação exerce também uma função
política, oferecendo subsídios para [...] a transformação de representações e
mobilizar os sujeitos para ações praticas”. (TOLEDO, 2013, p. 158)
Gestão democrática juntos em um mesmo título. Sendo que dos 337, 209 utilizam um
dos termos acima citados o soma 62% do total.
A terminologia PPP se evidencia, pois surge separada ou acompanhada do
termo gestão democrática. O termo PPP é citado nos títulos de 77 artigos o que significa
23%do total e 37% dos temas recorrentes. Já o termo gestão democrática aparece em 44
dos produzidos no término do curso, totalizando 215 dos temas recorrentes.
O termo PPP juntamente com a gestão democrática também se evidenciam em
32 trabalhos, totalizando 15% dos temas recorrentes. Nos temas recorrentes prevalecem
quatro termos: PPP, Família escola, conselho escolar e Gestão democrática.
Dos 111 artigos considerados PI, 31 trazem o termo PPP o que totaliza
46% dos PI. É um percentual considerável que pode ser justificado pelo foco dado no
curso na formulação ou reformulação desse documento na escola. Os termos que se
relacionam com o temas recorrentes são 35 que citam o termo PPP 38 termo Gestão
democrática relacionado aos termos dos temas recorrentes, sendo que o termo conselho
escolar não se apresenta nos títulos dos artigos juntamente com o termo PPP, já com
relação à categoria Gestão democrática é evidenciado em 11 artigos o que mostra que os
cursistas percebem estreita relação entre o conselho escolar e a efetivação da gestão
democrática.
decisão seja efetivamente coletiva, fazendo-se ouvir os pais presentes, fazendo que
exerçam sua influência e contribuam para a dinâmica do processo educacional como
bem descreve. Dessa forma a gestão democrática se caracteriza como ação de forma
descentralizada, participativa e transparente, visando sempre à integração de todos
é fácil, conviver com pessoas que pensam e agem de modos diferentes, respeitar suas
opiniões e crenças.
Para tanto, como o curso discute a questão da gestão escolar, o papel do gestor
ganha destaque para os aspectos discutidos no âmbito da efetivação da gestão
democrática, pois o gestor precisa saber trabalhar os conflitos e desencontros; deve ter
competência para buscar alternativas que atendam os interesses da comunidade
escolar, compreendendo que a qualidade da escola depende da participação ativa de
todos os membros, respeitando a individualidade de cada um e buscando, nos
conhecimentos individuais, fontes de enriquecer o trabalho coletivo, tendo
conhecimento de que “na perspectiva neoliberal, a autonomia da escola não contempla
uma efetiva distribuição do poder , mas implica delegação de tarefas e atribuições”
(Rosário & Araújo, 2011, p.60), pois
Há artigos que chegam de certa forma a colocá-lo como total responsável pela
qualidade e pela efetivação do processo quando enfatizam que
estabelecer um processo democrático dentro da escola não é só compromisso
de todos que fazem parte da comunidade escolar, mas principalmente do
diretor e especialmente se traduz em um desafio já que precisa estabelecer o
consenso entre os ordenamentos do estado e das demandas e necessidades da
escola requerida pelos seus segmentos representados.( artigo GD)
Considerações finais
A gestão democrática exige novas formas de organização e efetivação das
ações, estabelecendo laços de comprometimento de todos os envolvidos no dia a dia
escolar, primando por uma convivência harmoniosa. A escola proporciona o bem
comum e incentiva a construção de um processo ativo, em que se respeitem normas de
condutas, limites individuais e coletivos. Nesse contexto uma gestão democrática
599
REFERÊNCIAS
PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. 3ª ed. – São Paulo: Ática, 2002.
Comunicação
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo discutir as representações sociais que
permeiam o componente curricular Educação Física e, em consequência, os
professores de Educação Física. Além disso, são levantadas implicações dessas
representações para o processo de aprendizagem dos alunos e apresentadas
alternativas de intervenção por parte dos professores de Educação Física no contexto
escolar. Finalmente, é apresentada e discutida uma proposta de intervenção
direcionada ao referido componente curricular.
Palavras-Chave: Educação Física, docente, representações sociais
INTRODUÇÃO
Diferente dos outros seres vivos cuja herança genética parece dar conta
daquilo que é necessário em suas vidas e que, ao nascerem, já demonstram certa
autonomia ao lidar com o ambiente em que vivem, o ser humano nasce totalmente
indefeso e totalmente dependente de seus progenitores. Neste sentido, pode-se dizer
que o homem nasce incompleto, ou seja, o aprender é uma condição fundamental
para ele, visto que vive em um ambiente cultural. É aprendendo que a espécie
humana consegue se adaptar às demandas que este mundo cultural em constante
mudança oferece. Neste caso, pode-se dizer que, diferente das outras espécies do
planeta, não é o instinto que guia o homem e sim a busca pelo conhecimento. Busca
esta que, desde cedo, provoca-lhe inquietude em explorar o ambiente que o cerca e
1
UNICID/Licenciando em Educação Física - Bolsista PIBIC CNPq /Grupo de Estudos sobre o
Comportamento Motor e Intervenção Motora (GECOM)
2
Docente do Programa de Mestrado em Educação/Coordenador do Curso de Educação Física da UNICID
e líder do Grupo de Estudos sobre o Comportamento Motor e Intervenção Motora (UNICID)
603
ânsia pelo desenvolvimento de seu ser (FREIRE & SCAGLIA, 2010). Um processo
que só termina no fim da vida.
Sobre tal processo Vygotsky explica o seguinte:
Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades
adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social e,
sendo dirigidas a objetivos definidos, são refratadas através do prisma do
ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto
passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto
de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações
entre história individual e história social. (Vygotsky, 1984, p.33)
na forma como o docente tem sido representado socialmente pelo discente, o que
permitiria uma ação em relação à transformação destas representações, visto que
elas têm influencia no comportamento dos alunos (MAZZOTTI, 2008) e, por
consequência no processo de ensino/aprendizagem.
Considerando mais especificamente o âmbito da Educação Física, apesar de não
enfocarem propriamente a formação de representações, há alguns estudos que revelam
dados interessantes acerca delas no espaço escolar. Por exemplo, Betti (2003) por meio
de um estudo com alunos de quinta à oitava série do Ensino Fundamental constatou que
o componente curricular Educação Física era a disciplina que elas mais gostavam, uma
vez que lhes proporcionava prazer e satisfação. Entretanto, este componente não estava
entre os mais importantes para elas, lugar ocupado pelas disciplinas Língua Portuguesa
e Matemática. Corroborando estes dados, uma investigação de Darido (2004) com
alunos de diferentes séries do Ensino Fundamental e Médio, também constatou a
Educação Física como disciplina favorita, mas novamente considerada menos
importante para eles. Além disso, percebeu-se que, no decorrer dos anos de escola
formal, os alunos vão perdendo o interesse por essas aulas chegando ao Ensino Médio
com alto número de dispensa do referido componente curricular. Tal fato, também é
constatado por Chicati (2000) quando destaca que no Ensino Médio a falta de
diversificação nos conteúdos diminuiria gradualmente o interesse dos discentes pelas
aulas.
No que diz respeito ao professor, percebe-se que nos primeiros anos do Ensino
Fundamental, os alunos parecem ter uma boa visão do docente de Educação Física, algo
que, assim como na representação da disciplina vai perdendo-se com o tempo. Talvez,
seja possível inferir que devido ao conteúdo mais voltado ao esporte e sem muita
diversificação, os discentes atribuiriam ao professor de Educação Física a figura de
“técnico”. Com base nesta representação, ele corresponderia a um exímio praticante de
todos os esportes que ensina. Esta situação agrava-se no Ensino Médio, onde os
conteúdos da Educação Física acabam por repetir o que já foi visto no Ensino
Fundamental (DARIDO, 2004). Por fim, os alunos acabam por atribuir maior valor ao
que é ensinado por professores de outras áreas, acreditando que estas são mais
importantes na preparação para a vida profissional ou ao vestibular, temas de muito
interesse aos alunos nesta fase.
Diante do exposto acima, torna-se importante pensar sobre quais as mudanças na
prática docente seriam necessárias para a superação da realidade apresentada. Neste
605
caso, faz-se necessário uma revisão sobre o que são as representações sociais, como elas
se formam e como podem ser transformadas em benefício do processo
ensino/aprendizagem.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Para intervir na prática docente usando como base o paradigma da
representação social, é primeiramente interessante conhecer algumas
particularidades deste conceito, por exemplo, como se deu o surgimento de tal
teoria, o que são as representações sociais e como se estudam estas representações.
Pode-se dizer que a teoria das representações sociais foi introduzida pelo
psicólogo social Serge Moscovici em sua obra “La psycanallise son image et son
public”, publicada no início da década de 1960, no qual ele aborda as representações
sociais que se formaram a respeito da psicanálise (VILLAS BÔAS, 2004).
Segundo Mazzotti (2008), Moscovici recusou-se a apresentar uma formatação
estrita da teoria explicando que não poderia determinar a forma como tal ideia iria
evoluir. Desta forma, coube a outros pesquisadores expandir o campo de investigação e
aprofundar o estudo. Dentre estes, destacam-se Denise Jodelet e Jean-Claude Abric, que
acabaram por sistematizar o conceito de representação social.
Para definir o conceito de representações sociais, é possível recorrer-se a
diferentes autores. Moscovici (1978, p. 51), que embora tenha se recusado a formular
uma teoria estrita, afirma em seu trabalho que estas representações não seriam “opiniões
de” ou “imagens de”, mas teorias coletivamente construídas sobre o real e que
“determinam o campo das comunicações possíveis, dos valores ou das ideias
compartilhadas pelo grupo e regem, subsequentemente as condutas desejáveis ou
admitidas”. Desta forma, é interessante destacar que, ao formar a representação, o
sujeito não aceitaria passivamente o que se mostra como real, mas, ao internalizar o
objeto representado, o reconstruiria tendo por base seus próprios conhecimentos e seu
universo social (MAZZOTTI, 2008).
Denise Jodelet (1994, p. 36), define as representações sociais como “uma forma
de conhecimento, socialmente elaborado e compartilhado, que tem um objetivo prático
e concorre para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Para
Mazzotti (2008, p. 21) as representações sociais são “teorias do senso comum,
construções esquemáticas que visam dar conta da complexidade do objeto, facilitar a
comunicação e orientar condutas”. Por último, Abric (1994, p. 188) define tais
606
aluno, fazendo com que este mude sua representação social e, em decorrência disso,
sua conduta e comportamento em relação às aulas.
Quando se fala em mudança de uma representação social, torna-se necessário
recorrer a um dos aprofundamentos desta concepção, no caso, a teoria do núcleo
central, proposta por Abric (2000). Esta teoria apresenta a hipótese de que toda
representação social possui um núcleo central e elementos periféricos. O núcleo de
uma representação surge do confronto entre a natureza do objeto representado com o
sistema de valores e normas sociais do grupo, definindo a homogeneidade deste. Ele
gera o significado básico da representação e determina sua organização. Além disso,
é bastante estável, resistente às mudanças e pouco sensível ao contexto imediato. O
núcleo reflete as condições sócio-históricas e os valores do grupo. Já o sistema
periférico é constituído pelos demais elementos da representação que giram em
torno do núcleo central, tendo a função de adaptar a realidade concreta ao núcleo,
servindo então, como defesa para este. Este sistema é mais flexível, tolerando as
contradições apresentadas entre o objeto representado e os valores nucleares, sendo
desta forma, sensível ao contexto imediato (SÁ, 1996; ABRIC, 2000; ANDRADE et
al., 2011).
Gracia (1988) explica que uma intervenção que pretenda mudar uma
representação social deve ser dirigida prioritariamente ao núcleo desta.
Corroborando isso, Villas Bôas (2004) afirma que se põe termo a uma
representação, apenas com uma ação direta em seu núcleo, e Abric (2000) explica
que é necessário um “ataque” ao núcleo central para transformar uma representação.
Visto que o núcleo central é formado pelos valores de um grupo, a ação deve
acontecer visando questionar estes valores.
Esquematizando como a mudança na representação social ocorre, Flament
(1994, p. 49) teoriza a seguinte sequência: “modificação das circunstâncias externas;
modificação das práticas sociais; modificação dos prescritores condicionais
(elementos periféricos); modificação dos prescritores absolutos (núcleo central)”.
Neste caso, mudanças ambientais e nas práticas sociais, darão boas razões para uma
mudança de comportamento do indivíduo sob novas circunstâncias. Se estas novas
condições e práticas persistirem, podem ser percebidas como irreversíveis e gerar
uma mudança no núcleo, o que levaria à mudança na representação social.
Aplicando estes conceitos às aulas de Educação Física na escola, tendo como
alvo transformar a representação atual que os alunos têm deste componente, deve-se
609
começar, segundo Flament (1994), por uma mudança no ambiente e nas práticas
sociais envolvidas nesta representação. Uma mudança nas práticas docentes, de
modo “justificar” este componente curricular aos alunos demonstrando sua
importância seria uma alternativa. Modificando-se as circunstâncias, supõe-se ser
possível uma mudança de comportamento por parte dos alunos, sendo que, a
permanência desta situação, possibilitaria a modificação do núcleo central, surgindo
uma nova representação social dos discentes em relação à disciplina. Quanto a uma
prática docente nas aulas de Educação Física que torne possível a necessária
mudança na representação social desta disciplina, pode-se dizer que ela não está
distante daquilo que Betti (1992, p. 285) destacou como função deste componente
curricular no contexto escolar, a saber:
introduzir o aluno de 1º e 2º graus no mundo a cultura física, formando o
cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as
formas culturais da atividade física (o jogo, o esporte, a dança, a
ginástica...).
Para atingir tais fins, alguns autores sugerem que os conteúdos relativos à
Educação Física escolar sejam tratados em suas dimensões procedimentais,
atitudinais e conceituais (COOL, 2000). Estas dimensões de conteúdo citadas acima
devem ser trabalhadas aproveitando o grande leque dado pela Cultura Corporal de
Movimento, que abrange formas de atividades expressivas corporais tais quais o
jogo, o esporte, a dança, a ginástica (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Deve-se
proporcionar aos alunos uma diversificação dos conteúdos, proporcionando
vivências práticas que variem nos aspectos temporais e espaciais. Numa variação em
nível temporal, pode-se proporcionar aos alunos a riqueza cultural de jogos
praticados por povos do passado, ou ressignificar e tratar pedagogicamente
(BRACHT, 2000) práticas que a mídia traz no presente, ou ainda, pensar na criação
de jogos como forma de construir uma cultura futura. Já, em nível espacial, pode-se
pensar em práticas de outros países, de regiões diferentes ou mesmo práticas tidas
como fora da realidade social de tais alunos. Desta forma, as aulas são tiradas da
“mesmice” gerada pela prática tradicional e descontextualizada de esportes como o
futebol, o handebol, o basquete e o vôlei, relativamente comuns na realidade das
aulas de Educação Física (BETTI, 1999) e que refletem uma carência de conteúdos
que, segundo Chicati (2000), provocam o afastamento dos alunos das aulas.
Além disso, Tani et al (1988) destacam que se deve observar as
características que as crianças apresentam durante o processo de desenvolvimento e
610
aprendizagem motora e orientá-las de acordo com tais, pois, não considerar estes
fatores causaria o estabelecimento de conteúdos de ensino inapropriados
dificultando a participação dos alunos nas aulas e prejudicando a representação
social destes a respeito da Educação Física.
Em concomitâncias às vivências, a prática docente em Educação Física deve
estar voltada, também, para o desenvolvimento das ações motoras referentes a estas,
pois além de tratar de uma diversidade de práticas corporais, deve-se pensar em
instrumentalizar o aluno para elas. A mera vivência não é capaz de suprir todas as
dimensões de conteúdo (procedimental, conceitual e atitudinal) no processo de
ensino/aprendizagem.
Desse modo, é fundamental que as práticas corporais propostas sejam
acompanhadas de uma problematização. Na verdade, o aluno não aprenderia pela
repetição dos movimentos, prática relativamente comum em algumas aulas, mas
pela necessidade de ter que encontrar soluções motoras para os problemas
apresentados pelos professores de Educação Física nos diferentes contextos de
aprendizagem.
A premissa da presente proposta de intervenção é a de que exista a
necessidade de reformular concepções, espaços e práticas pedagógicas para que o
componente curricular Educação Física cumpra sua função, proporcionando o
ambiente e a prática social que vão chegar a envolver o núcleo da representação
social atual demonstrada pelos discentes, o que contribuirá para o surgimento de
uma nova representação social a médio e longo prazo.
BIBLIOGRAFIA
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo, Martins Fontes, 1984.
613
Comunicação
14 vagas para veículos de professores e funcionários. A entrada dos alunos é feita pelo
portão principal e possui dois lances de escadas, o que aparentemente dificulta a
acessibilidade a deficientes físicos e portadores de outras necessidades especiais. A
entrada para atendimento à comunidade é feita por outro acesso.
A escola atende, hoje, cerca de 1000 alunos, distribuídos em 24 turmas sendo:
no turno da manhã, 1 turma da 7ª série, 4 turmas de 8ª série, 2 do 1º Ensino Médio e 1
do 2º ano do Ensino Médio; no turno da tarde, 2 turmas de 5ª série, 3 turmas de 6ª série
e 3 turmas de 7ª série; o período noturno atende 2 salas do 1º ano do Ensino Médio, 4
salas do 2º ano do Ensino Médio e 2 salas do 3º ano do Ensino Médio.
Por fim, foi visitada a escola localizada no bairro Vila Nogueira. Segundo relato
de um dos vice-diretores, a escola atende hoje cerca de 1520 alunos, sendo 480
matriculados na 7ª ou 8ª séries, no período da manhã; 460 nas 5ª ou 6ª séries, no período
da tarde; e, aproximadamente, 580 alunos, cursando o Ensino Médio, no período
noturno. A escola dispõe de uma ampla variedade de espaços físicos e de equipamentos.
Atualmente, conta com 15 salas de aula, pintadas e conservadas pelos alunos, e
uma sala de recursos, a qual atende alunos portadores de necessidades especiais,
particularmente cadeirantes e deficientes intelectuais, nos períodos da manhã e da tarde.
Há, na escola, uma sala disponibilizada para o Acessa Escola, a qual utiliza o
“Intragov”, um provedor do Estado para acesso à internet. Ainda possui uma sala de
vídeo, com moderno equipamento de áudio e vídeo. Possui também uma quadra
poliesportiva e um pátio, ambos cobertos, uma cantina mantida pela APM, um refeitório
com serviços de merenda (serviços terceirizados, como também o são os de limpeza),
um espaço organizado como biblioteca para pesquisas e para estudos e dois banheiros
adaptados. A escola possui agradável área de circulação, com corredores descobertos,
jardins bem cuidados e rampas de acesso a todos os pavimentos. Para atendimento da
comunidade, disponibiliza uma janela de acesso à secretaria, a qual se liga ao
estacionamento dos funcionários. Nesta pesquisa, essa escola será chamada de “Vila
Nogueira”.
Os dados foram obtidos por meio de reuniões com características de grupo focal
(GATTI,,2005) com os jovens, entrevistas com funcionários das escolas e observações
das rotinas em ambas as instituições e analisados a partir das contribuições teóricas
sobre a concepção de juventude de Dayrell (2005), Abramo (2005) e Pais (2003), ainda
com as contribuições sobre a função ideológica da escola de Apple (1982, 1997, 2002) e
de Apple & Beane (2001) e por fim, ideias de como construir uma escola com foco nas
616
necessidades dos alunos visto como sujeito social de Gimeno Sacritán (2001, 2005,
2008) e sistematicamente organizados e analisados de acordo com as seguintes
categorias:
Categorias Indicadores
Diálogo Disponibilidade da escola para acolhida da
pesquisa da direção, ou dos coordenadores da escola
e/ou da instituição não escolar para ouvir as
reivindicações dos alunos; predisposição dos
professores para esclarecimentos de dúvidas e troca
de ideias. Apoio na escola para a construção de
colegiados de alunos, tais como grêmio escolar.
tem um discurso democrático, porém uma atuação ainda autoritária, isto foi observado
nas escolas Jardim Canhema II e Vila Nogueira.. Em conformidade com as ideias de
Apple (1982), estabelecer rotinas em busca de práticas verdadeiramente democráticas,
portanto, necessita de uma mudança na concepção de educação existente, em especial
mudanças nas relações de poder exercidas dentro da escola.
Analisando as condutas jovens, nas instituições pesquisadas, outro aspecto
merece destaque: após visitas em outras escolas públicas do município, anteriores à
realização desta investigação, foi possível observar um número grande de alunos que
praticava atitudes de resistência às atividades e regulamentos escolares. A pesquisa,
então, partiu da hipótese de que, enquanto na escola, os jovens apresentavam condutas
de resistência, em ambientes mais próximos de suas origens sociais, onde suas
manifestações culturais são aceitas e, muitas vezes valorizadas, a conduta desses
mesmos jovens se apresenta de forma muito distinta.
No início das atividades de pesquisa, foi novamente percebido, nas escolas de
educação básica do município de Diadema, condutas resistentes e transgressoras,
partindo de alguns estudantes. Diante disto, foi pressuposto que alunos que frequentam
a casa do Hip Hop faziam parte deste grupo de alunos e que essas condutas eram
respostas a uma tentativa de inculcação de uma cultura que em nada se aproximava da
origem pessoal destes alunos.
Ao conhecê-los melhor, porém, com as conversas por meio dos encontros de
grupo focal, foi percebido que esses jovens não faziam parte do grupo de alunos
observados em outras ocasiões nas escolas. Ao retornar as escolas, agora com um olhar
mais seletivo, foi constatado que eles, realmente, não eram conhecidos por condutas
transgressoras. Foi percebido que, em sua maioria, eles constituíam um grupo de alunos
que, muitas vezes, passavam despercebidos aos olhares dos adultos, ou seja, não
compactuavam das atitudes de violação ao regimento e normas escolares, tampouco se
destacavam por excelência e desempenho acima da média.
Entretanto, a observação desses mesmos jovens, durante a realização das
atividades, na instituição socioeducativa, apresentou-se de forma muito diferenciada – o
que confirmou, em parte, a hipótese inicial, ou seja, neste local, participam das
atividades com empenho, colaboram como as funções organizativas e zelam pelos
equipamentos e espaços institucionais.
Qualquer um pode falar, o microfone fica aberto para todo mundo. (C –
Homem, 16 anos).
619
O fator mais intrigante dessas observações diz respeito à indiferença que estes
jovens mostram em relação à escola. Não incitam a “bagunça”, não desrespeitam
professores ou outras autoridades escolares, tão pouco se esforçam para obter qualquer
destaque, como obtenção de notas altas ou participação de eventos externos. Essa
inquietude intensifica-se ao saber que, na instituição socioeducativa, são incentivados a
desenvolverem sua criticidade, através de grupos de discussões sobre questão racial,
econômica, política e social e a aparente aceitação com as normas escolares não
condiziam com as discussões estabelecidas nessas discussões.
Na instituição sócio educativa todos facilitam a aprendizagem, não apenas o
professor. Assistindo aos treinos de dança, indagando sobre como ocorriam e as
modalidades, responderam os jovens estudantes:
Existem algumas modalidades: POP, ROCK, LOCK. (C – Homem 16 anos).
Quanto tempo vocês levam para aprender a dançar?
Depende da vontade, tem gente que frequenta, mas não gosta tanto, demora
mais, mais tem gente que não sossega enquanto não consegue fazer um
movimento. Aí tem um amigo que tem mais facilidade e ele ensina. (C –
Homem 16 anos).
Mas quem ensina?
Tem os professores, mas se você chegar em alguém e pedir me ensina tal
coisa ele ensina. A informação vai sendo passada, tem a aula também, mas
eu aprendo mais é com o pessoal. (C – Homem 16 anos).
Aqui é muito legal porque ninguém nega informação, todos querem ver você
aprender, acham legal você conseguir aprender. (L – Homem 17 anos).
E aqui não tem idade nem menor, nem maior. (C – Homem 16 anos).
Não. É para todas as idades. Qualquer um que chegar tem sua vez. (C –
Homem 16 anos).
Na oficina tem criança de até seis anos. (K – Homem 16 anos).
Tem uma certa organização nas oficinas, mas quando não tem oficina,
quando o professor falta, ou é feriado, ou alguém teve de viajar, o pessoal
vem, vai treinar, fica de boa, um ajuda o outro. É bem flexível. (L – Homem
17 anos).
620
Considerações finais.
Reiterando, este estudo não teve como objetivo analisar e comparar instituições
sabidamente de natureza distintas, o foco voltou-se ao jovem, protagonista de sua ação
e identidade social. Contudo, mesmo tão diferentes, as instituições partilham de ideais
comuns – a formação da juventude diademense, o que justifica a utilização de autores
621
que discutem conceitos sobre a escola, mas também conceituam diálogos sobre a
Educação, como um processo mais amplo da escolarização.
Sem a pretensão de responder a todos os questionamentos levantados no
decorrer da pesquisa e de apresentar soluções para problemas enfrentados pela escola,
este estudo tentou apontar que pequenas iniciativas podem melhorar o ambiente
educativo e que estes jovens não estão motivados a participarem apenas de atividades
desenvolvidas em instituições que não suas escolas. No decorrer da investigação foi se
tornando fundamentais as ideias de Gimeno Sacristán (2005)
Ensinar ou educar, e quem faz isso? Podemos optar por considerar que o
aluno deve aprender alguns conteúdos de caráter sobretudo intelectual e
adquirir as habilidades que tradicionalmente vêm sendo objeto do ensino nas
escolas. Podemos nos justificar na regra de que qualquer outro tipo de
formação (o que distinguimos por educação, como algo mais amplo que o
ensinar e aprender conteúdos: educação afetiva, social, religiosa, sexual,
artística, profissional, do cidadão, da personalidade, psicomotricidade, etc.),
sem deixar de valorizá-la, é competência de outros agentes e instituições não-
escolares – família, igreja, empresas, iniciativas privadas e instituições de
caráter público, meios de comunicação – ou, simplesmente, responsabilidade
de cada indivíduo. Entre essa opção de opção de especializar ou diferenciar
as funções dos agentes educacionais, e seu oposto –a de que todos devemos
nos dedicar a tudo - , existem muitas possibilidades e situações
intermediárias, nas quais as tarefas que diferentes agentes devem realizar se
combinam e também se cruzam, competindo, colaborando ou se enfrentando
entre si. (GIMENO SACRISTÁN, 2005, p. 199).
Esta pesquisa pôde mostrar que nas escolas, quando a gestão estimula que todos
os educadores que ali trabalham incorporem uma postura, na qual esteja presente a
disponibilidade para ouvir e tentar compreender as peculiaridades dos alunos poderão
desenvolver práticas de respeito, solidariedade mútua contribuindo para um ambiente
escolar verdadeiramente propício ao processo ensino aprendizagem e ao
desenvolvimento daquelas virtudes que devem ser trabalhadas para atrair, a atenção de
seus jovens.
Sites consultados
Comunicação
Resumo: Este artigo tem por objetivo estudar a imigração temporária de jovens
estrangeiros que vêm para o Brasil com a finalidade de realizar sua formação superior
na Escola Naval. Os jovens passam por um processo seletivo em seus países e, antes de
ingressarem oficialmente no ensino regular, realizam o “Estágio de Qualificação para
Adaptação Acadêmica de Alunos Estrangeiros”, que foi implementado em 2010 e
consiste no aprendizado de Língua Portuguesa e o nivelamento em Matemática e Física.
A metodologia é de cunho qualitativa, com pesquisa documental, tendo como
instrumentos de coleta: questionário aos sujeitos do estudo e entrevistas com as
professoras de Língua Portuguesa e Matemática. O escopo é traçar também o perfil dos
alunos do estágio, ressaltando suas principais características, os obstáculos encontrados
nesse primeiro momento e suas expectativas para o futuro. Por fim, são tecidas
considerações sobre a relevância desse nivelamento, bem como possíveis soluções para
sua melhoria.
Palavras-chave: Educação Superior. Estágio de Qualificação. Gestão educacional.
Introdução
Nesta relação entre mundo globalizado e juventude, deparamo-nos com o que
Gusmão (2007 apud FARIA, 2009, p.61) chama de "trajetória nômade estudantil", isto
é, um mundo de fronteiras difusas, com o rompimento das barreiras físicas, geográficas
e culturais pelos alunos, os quais procuram em universidades estrangeiras o espaço que
acreditam ser ímpar para seu futuro.
Assim, jovens brasileiros migram para universidades americanas e europeias, na
maioria das vezes. Por outro lado, nós recebemos em nossas Instituições de Ensino
Superior (IES) jovens estrangeiros que entendem que aqui encontrarão uma
possibilidade de melhoria da sua condição social e de vida familiar. Buscam também o
reconhecimento do seu país no fortalecimento das estruturas de elites existentes, tanto
624
Profissional Marítimo, disponíveis para consulta no sítio do MRE, e que são cursos, em
sua maioria, de curta duração e estão previstos no Programa Anual de Cursos de Curta
Duração para Aquaviários Estrangeiros e são realizados em centros de instrução no Rio
de Janeiro e em Belém. Tais cursos são destinados ao Órgão da Administração
Governamental responsável pela formação de pessoal da Marinha Mercante nos países
membros da Organização Marítima Internacional, com os quais o Brasil mantém
acordos culturais. A relação dos cursos é divulgada anualmente através de documentos
acessíveis no sítio da Marinha do Brasil na internet.
Os cursos de longa duração, incluindo-se o de formação de Oficiais na EN, foco
deste artigo, são acordados entre o governo brasileiro e os Adidos de Defesa
estrangeiros dos países que têm representações no Brasil, e com os quais nosso país
possui estreita relação de cooperação. As vagas de interesse de suas respectivas
Marinhas, cuja análise deve ser submetida à Marinha do Brasil, deverão ser solicitadas
até 15 de julho do ano que antecede ao da realização dos cursos em questão. As
solicitações dos Estados que não possuem estes representantes no Brasil são realizadas
pelos nossos Adidos brasileiros no exterior em virtude das necessidades
apresentadas pelas correspondentes Marinhas amigas.
Deve-se destacar que a seleção dos estrangeiros que virão realizar os diversos
cursos no Brasil não é de responsabilidade da Força Singular brasileira, mas dos países
de origem, o que, a nosso ver, por vezes acarreta a escolha de um aluno sem uma base
propedêutica mínima para o acompanhamento dos cursos.
Os sujeitos do estudo
A nossa lei maior da educação, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), no 9.394/96, apregoa, em seu art. no 83, que "O ensino militar é
regulado em lei específica, admitida a equivalência de estudos, de acordo com as
normas fixadas pelos sistemas de ensino" (BRASIL, 1996, não paginado). No caso da
Marinha, tais normas podem ser encontradas na Lei no 12.704, de 8 de agosto de 2012.
Seu sistema de ensino é separado da educação superior acadêmica, mas a titulação
conferida ao Aspirante é reconhecida pelo MEC como de "Bacharel em Ciências
Navais" (BRASIL, 2012).
Atualmente, a instituição em questão conta com um quantitativo aproximado de
850 Aspirantes. Deste total, 30 jovens são estrangeiros, com idade média de 22 anos,
naturais da Angola, Bolívia, Cabo Verde, Líbano, Moçambique, Namíbia, Nigéria,
Senegal e Venezuela.
Este trabalho está pautado a partir dos dados obtidos sobre os jovens
estrangeiros integrantes do Estágio de Nivelamento nos anos de 2013 e 2014, num total
de 18 estagiários, considerados os sujeitos da pesquisa. Esses jovens tiveram uma
imigração diferenciada, visto que estão representando, antes de mais nada, os seus
países em uma formação superior especial: a militar. Por características próprias,
inerentes à caserna, como aquartelamento ou internato, necessitam de uma atenção a
mais por parte de todos da instituição, desde os professores, do Serviço de Orientação
Educacional e Pedagógica (SOEP), até a administração de sua alimentação, pois alguns
são muçulmanos e, por exemplo, não podem fazer o consumo de carne de porco.
629
professora, por ser mulher, muitas vezes ela se depara com uma barreira cultural, já que,
como os alunos descrevem: "dificilmente os homens seriam ensinados por mulheres".
Quanto ao ensino de matemática, inicialmente, como explica a docente, buscou-
se obter informações sobre as diferenças entre a formação acadêmica brasileira e a dos
países de origem dos alunos estrangeiros. Em seguida, para compreender em que nível,
dentro do currículo brasileiro, poderia encaixar seus alunos estrangeiros, ela preparou
um bloco de exercícios com questões dos três anos do nosso ensino médio com vistas a
averiguar o conteúdo conhecido e, assim, poder preparar um programa para o
desenvolvimento da disciplina. Com os resultados, ela pôde verificar uma discrepância
no que tange à formação dos alunos, visto que uma parcela estava nivelada no que seria
o nosso ensino fundamental e outra já poderia acompanhar o conteúdo programático do
primeiro ano acadêmico da Escola Naval.
Considerações finais
O Estágio de Qualificação se torna importante quando os imigrantes temporários
chegam para um curso acadêmico sem a base do idioma numa qualidade desejada, o que
poderá prejudicar sobremaneira o seu desempenho como aluno, inclusive acarretando
desmotivação e até cancelamento ou trancamento dos seus estudos.
O ensino de língua portuguesa é fundamental no ano de nivelamento, em
especial quando ele é tecnicamente direcionado para facilitar a apresentação de hábitos
culturais, nos quais estes jovens ficarão inseridos por mais de cinco anos.
Fundamentamos que a capacidade de expressão e compreensão da língua portuguesa é
instrumento de integração. A matemática é, provavelmente, a linguagem comum entre
os alunos estrangeiros, que diferem quanto a etnias e a conhecimentos linguísticos. Faz-
se, porém, necessário compreender, através de nivelamento, as diferenças curriculares
entre os países de origem de nossos alunos estrangeiros e o que é exigido como pré-
requisito para cursar a Escola Naval.
Antes de 2001, não havia o Estágio de Qualificação, que foi regulado
internamente na EN em 2010. Os alunos eram indicados por seus países, por intermédio
de concurso local, e eram matriculados imediatamente no primeiro ano. Foi a partir
dessa experiência que se verificou a necessidade de se pensar em uma forma de nivelar
as diferenças curriculares existentes. Não se pode ignorar que cada país tem suas
prioridades curriculares. A partir de 2014, também os alunos lusófonos passaram a
realizar o estágio, sendo o foco principal o nivelamento básico de matemática e física ao
nosso Ensino Médio.
A partir do relato das duas docentes, pode-se avaliar que existe uma relação
inicial sendo construída entre os alunos, independentemente de origem e cultura pré-
formada. Foi verificado que eles sentem e reconhecem a dificuldade da barreira do
idioma, quando ingressam no curso de graduação superior regular da EN.
Pontua-se que a equipe pedagógica da Instituição estuda a possibilidade de fazer
uso das regras de aceite do aluno estrangeiro como previsto no Programa de Estudantes-
Convênio de Graduação (PEC-G) do MEC, como a obrigatoriedade de apresentação de
certificação de proficiência em português, o que seria atestado pela aplicação do teste
634
REFERÊNCIAS
Relato de experiência
Isis S. Longo
EMEF Pres. Campos Salles/ USCS
Resumo: O relato sobre a EMEF Pres. Campos Salles aborda a trajetória de sua
constituição enquanto escola pública e popular, com práticas pedagógicas críticas,
mentalidade emancipadora e gestão escolar comprometida com a ação social. A
realidade da maioria das escolas públicas apresenta problemas recorrentes como:
precariedade dos prédios escolares, rotatividade de docentes e gestores, baixo IDEB,
alta taxa de evasão, falência da relação professor-aluno, etc. Neste cenário, há a
resistência de sujeitos históricos que atuam organicamente na adversidade e vivenciam
potencialidades em uma gestão democrática singular, que compartilha o exercício do
poder, no aprendizado político-pedagógico da auto-organização em espaços coletivos
(comissões mediadoras, república estudantil, conselho de escola, assembleias).
Palavras-chave: Escolas Públicas – Gestão Democrática – Intelectuais Orgânicos
que encontrassem vagas em outras escolas, mesmo que mais distantes. Pelos relatos de
docentes da época, evidencia-se que: “Era muito difícil formar uma 8ª série. Eles
tinham vergonha de tirar o diploma aqui” (Idem, p.13).
Com a chegada de uma nova direção, em 1995, por concurso público, a
configuração das práticas socioculturais da escola começa a ser alterada, há uma
desestabilização do processo de reprodução do fracasso educacional e o caminhar para o
empoderamento da comunidade na gestão da escola.
Foram desenvolvidas ações com o intuito de identificar e convidar lideranças,
de cada segmento, para a construção de um projeto coletivo para integrar a
escola e a comunidade. Uma ação que muito contribuiu para o avanço da
construção do projeto foi um curso para pais e lideranças comunitárias,
denominado – Educação e Cidadania – que tinha como objetivo levar os
participantes a perceberem que não se faz educação de qualidade sem a
participação da comunidade na vida da escola. Neste curso a escola era
mostrada por dentro com todas as suas contradições. Discutiam-se as
seguintes questões: participação, linhas pedagógicas, verbas, direitos dos
professores, direitos da comunidade, direitos dos alunos, etc. (Idem, p.15)
Considerações Finais
A trajetória da participação ativa dos intelectuais orgânicos da classe
trabalhadora (conselheiros(as) de escola, militantes dos movimentos sociais (UNAS),
estudantes, profissionais da educação) na gestão escolar e na implantação do projeto
político pedagógico da EMEF Campos Salles implica-nos à reflexão sobre elementos
significativos quanto às diferentes formas de atuação dos segmentos sociais organizados
na defesa da educação pública de qualidade, que imprimem maior ou menor grau de
fortalecimento ao protagonistmo infanto-juvenil.
643
dúvida é um dos nossos desafios na EMEF Campos Salles, para a realização de uma
educação de fato emancipadora.
Referências
LIBÂNEO, J.C. Pedagogia e Pedagogos, Para quê? São Paulo: Cortez, 2002.
Comunicação
Jeanny Silva1
EFAP
Silene Kuin2
EFAP
Resumo: Este estudo tem como objetivo investigar como professores de Língua
Portuguesa, participantes de um curso do Programa Melhor Gestão, Melhor Ensino
(MGME) promovido pela Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores –
EFAP da Secretária de Educação do Estado de São Paulo fizeram uso do blog com
auxílio do curso, bem como investigar o uso pedagógico do blog em sala de aula. A
metodologia adotada é de natureza quantitativa e qualitativa e os dados foram coletados
por meio de questionário estruturado disponível no ambiente virtual do curso. Após a
análise das respostas de 7.832 professores cursistas, constatamos que esses obtiveram
avanços no uso instrumental e pedagógico do blog, no entanto, há necessidade de mais
formação para que os professores possam se apropriar tanto tecnologicamente desta
ferramenta quanto do seu potencial pedagógico.
Palavras chave: blog, AVA, formação de professores.
Introdução
Estudos (GUTIERRES, 2005; VALENTE, 2003) sobre o uso de blogs na
educação revelam que essa ferramenta está se consolidando como ambiente de
construção colaborativa de conhecimentos e que suas potencialidades podem ampliar os
espaços e tempos de aprendizagem. Os blogs estão sendo explorados por alunos e
professores e a cada dia surgem formas diferentes de utilizá-lo. Segundo Gomes e Lopes
1
Mestre em Letras – Mackenzie –SP, gestora de projetos CEFOP (Centro de Formação Professores) da
Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores do Estado de São Paulo Paulo Renato Costa
Souza - EFAP.
2
Doutora em Currículo - PUC-SP, diretora do DETED (Departamento Educação e Tecnologia) da Escola
de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores do Estado de São Paulo Paulo Renato Costa Souza-
EFAP.
647
(2007, p. 121) podem ser utilizados como um recurso pedagógico ou como uma
estratégia pedagógica.
Para atender essas novas possibilidades, no entanto, o professor precisa possuir
domínio instrumental e pedagógico no uso das tecnologias digitais. Nos últimos tempos,
esforços vêm sendo realizados para atender essa necessidade por meio de várias
iniciativas de formação dos professores.
Neste estudo veremos como professores dos anos finais do Ensino Fundamental
se apropriaram e utilizaram o blog como ferramenta de ensino-aprendizagem com
auxílio do curso “Formação de Professores de Língua Portuguesa” da ação formativa
“Melhor Gestão, Melhor Ensino” promovido pela Escola de Formação de Professores –
EFAP da Secretária de Educação do Estado de São Paulo. O estudo está estruturado da
seguinte forma: primeiramente, apresentamos um panorama geral sobre a ação “Melhor
Gestão Melhor Ensino”, seguido de uma discussão sobre o uso de blogs na educação;
apresentação da metodologia adotada para coleta e geração de dados, os resultados
provindos da análise de dados e, por último, as considerações finais.
5
Palavra composta por web, que significa página na internet, e log, que significa diário de bordo.
650
e permitiram que qualquer pessoa pudesse ser um blogueiro, como é conhecido o autor
de um blog (GUTIERREZ, 2005).
Nos últimos anos o blog tem ocupado um lugar de destaque no contexto
educacional, esse fato pode ser comprovado pelos diversos tipos de blogs com fins
pedagógicos. Barbosa e Granado (2004, p.69) afirmam que no campo educacional o
blog é “utilizado como ferramenta de comunicação e de troca de experiências com
excelentes resultados”. Silva e Albuquerque (2009) realizaram uma pesquisa sobre os
tipos de blogs educacionais e concluíram que é possível agrupá-los em cinco categorias:
blog de professores, blogs de alunos, blogs de instituições educativas, blogs de projetos
educativos e blogs de grupos de pesquisa.
Há inúmeras possibilidades de utilização do blog em contexto educacional,
dentre elas Silva e Albuquerque (2009, p. 97) consideram as possibilidades de interação
por meio da escrita coletiva e mencionam: “[...] com o blog estaríamos diante da
possibilidade de escrita de um hipertexto cooperativo, da construção de uma mensagem
não-linear e hipermídia, composta por símbolos gráficos diversos.” A utilização desta
ferramenta em sala de aula também possibilita ao professor inserir-se de forma ativa na
Web, implementando ou iniciando sua cultura de uso de recursos disponíveis da Rede.
Contudo, apesar de todas essas potencialidades, ainda há poucos estudos sobre o
uso do blog na sala de aula, sobretudo no que se refere à utilização que os professores
fazem desta ferramenta para fins pedagógicos. O presente estudo investigou de que
forma os professores participantes do Curso Melhor Gestão Melhor Ensino se
apropriaram do blog, como recurso e estratégia pedagógica. No próximo tópico
detalhamos a metodologia utilizada no estudo.
18%(620)
42%(3.281)
Gráfico 1 – Análise da Questão: Entre as atividades propostas no curso, qual você considerou mais relevante
para seu processo de aprendizagem?
[...] cada sujeito na sua diferença pode expressar e produzir saberes, contribuindo e
construindo a comunicação e o conhecimento coletivamente”.
A segunda questão analisada “Para você, qual das atividades do curso
apresentou maior dificuldade de realização?” Da mesma forma, os mesmos cursistas
deveriam escolher uma das seguintes alternativas: fórum, blog, questão dissertativa,
questão objetiva.
3%(221) 8%(596)
7%(570)
82%(6.445)
Gráfico 2 – Análise da Questão: Para você, qual das atividades do curso apresentou maior dificuldade de
realização?
Análise Qualitativa
O cruzamento dos dados coletados quantitativa e qualitativamente não são
divergentes, pois, conforme considera Santos (2001) os métodos quantitativos e
qualitativos, na verdade, se complementam, e a escolha de uma ou outra abordagem está
associada diretamente aos objetivos e finalidades de cada pesquisa. Fazendo uso do
caráter exploratório da pesquisa qualitativa, nossa análise buscou investigar e tentar
compreender o porquê tantos professores (82%) manifestaram ter dificuldades na
realização da atividade blog dentro do curso.
As respostas dos cursitas à questão “Que medidas você tomou para superar essa
dificuldade?” evidenciaram certo padrão e foram agrupadas em categorias. Sobretudo, é
interessante observar que um ponto em comum em todas as respostas é que, apesar das
654
Por meio desses comentários percebemos que um fator decisivo para que os
professores cusistas pudessem construir o blog coletivo foi a interação com os demais
colegas no AVA. De fato, os ambientes virtuais de aprendizagem priorizam a interação
social, a aprendizagem colaborativa e o trabalho cooperativo. Conforme Lévy (1996, p.
96) “por intermédio de ambientes virtuais, podemos não só trocar informações, mas
verdadeiramente pensar juntos, pôr em comum nossas memórias e projetos para
produzir um cérebro cooperativo”. O autor também considera que, nesta perspectiva, a
própria comunidade se legitima, por constituir-se a partir de afinidades de interesses, de
conhecimentos, de projetos mútuos e valores de troca, estabelecida no processo de
cooperação.
A interação ocorreu também fora do ambiente virtual. Percebemos nos
depoimentos coletados que muitos buscaram ajuda de alunos, parentes, etc. Conforme
os depoimentos abaixo:
655
“Procurei pessoas que também participam do curso e pedi ajuda. Mas confesso que ainda
tenho dificuldades a superar”.
“Para superar essa dificuldade tive buscar orientações com colegas que conheciam a respeito
do assunto. Tive, também, que pesquisar, junto ao google, e nas tentativas de erros e acertos
consegui postar minha situação de aprendizagem e foto”.
“Procurei ajuda aos mais jovens, pois, quando se trata de tecnologia, eles são bem mais
alfabetizados que nós”.
“Fiz algumas pesquisas, conversei com vários alunos que possuem blog e obtive algumas dicas,
porém minha dificuldade foi muito grande”.
“Fui solicitando ajuda de várias pessoas, até meu filho de 9 anos me ajudou”.
“Para mim, por ser uma atividade nova, diferente, não sabia como proceder, mas fui procurar
orientação e estudar, consegui montar o blog, adorei a experiência e montei um blog particular
para compartilhar atividades com meus alunos e amigos”.
Considerações Finais
O efetivo emprego do blog como recurso de ensino e aprendizagem no âmbito
escolar depende de alguns fatores que foram identificados durante esta investigação.
Primeiramente, constatamos que, no universo pesquisado, 7.832 professores de língua
portuguesa, 82% declararam ter dificuldades na realização da atividade de construção de
um blog coletivo. É possível inferir que para o blog ser utilizado adequadamente pelos
professores é necessário que conheçam suas potencialidades educativas e vivenciem
momentos de apropriação tecnológica.
Em relação ao trabalho coletivo, ainda foi possível observar que, ao mesmo
tempo em que exige um empenho grande no ambiente virtual, talvez mais que no
presencial, também representa a alternativa para resolver questões conflituosas em
relação à tecnologia. Negociar os encaminhamentos para o desenvolvimento do trabalho
coletivo ainda é um desafio, ao mesmo tempo em que representa um avanço na
superação da falta de familiaridade dos cursistas em relação à tecnologia digital de
informação e comunicação.
Por meio dos relatos ficou claro que para muitos professores faltam habilidades
e conhecimento no manuseio do computador, o que acaba se tornando um dos
obstáculos para utilização do blog e outras ferramentas tecnológicas. Percebemos
também, que vários professores conhecem o que é um blog, mas que muitos ainda
desconhecem as possibilidades de seu uso como estratégia pedagógica. Além da falta de
657
Referências
KUIN, S. et al. (orgs.). Seminário Centralizado Melhor Gestão, Melhor Ensino. São
Paulo: Fundação Padre Anchieta, 2014.
Comunicação
Resumo: O objetivo deste estudo foi apresentar breve revisão de pesquisas sobre
efetividade escolar e condicionantes do desempenho de alunos na escola. Até os anos
setenta, foram realizadas pesquisas macrossociais fundamentadas em abordagem
positivista ou marxista para oferecer explicações sobre o desempenho escolar dos
alunos e as injustiças do sistema educacional do país reproduzidas na escola. A partir
dos anos setenta, a introdução da pesquisa qualitativa no estudo dos problemas
concretos da escola levou ao progressivo entendimento e explanação dos fatores
internos relacionados ao desempenho escolar dos alunos. A partir dos anos oitenta, nova
confiança no poder da educação e renovado reconhecimento da importância das
pesquisas quantitativas no contexto meso da escola, a fim de determinar seu efeito,
readquiriram novo vigor. Desde os anos noventa aumentou o interesse pelo estudo da
escola que, com relativa autonomia, exerce influência na sociedade e na vida e no
desempenho de seus alunos.
Palavras-chave: Desempenho escolar; desempenho do aluno; condicionantes do
desempenho escolar; escola eficaz; efetividade escolar.
Figura 1: Estágios na evolução da pesquisa sobre efetividade escolar nos Estados Unidos
Baseado em Reynolds et al. (2000).
661
argumentos de suas teses socialistas. A pesquisa quantitativa tem sua fase necessária de
análise qualitativa e interpretativa, sem a qual seus dados são irrelevantes e sem
significado.
Certamente, entre os fatores concorrentes para a manutenção do continuo
insucesso das escolas do país estão o despreparo do professor, a não adequação do
projeto pedagógico da escola às reais necessidades de seus alunos, a distância entre a
escola, a sociedade e a cultura, condicionantes decisivos da ineficácia escolar
(BROOKE; SOARES, 2008). Como revela a literatura especializada, não aprendemos
apenas pelo repertório de habilidades, pelo potencial intelectual ou pela
disponibilidade das estruturas cognitivas, mas também pela influência de nossas
concepções, desejos, valores e ações. Em função disso, torna-se relevante pesquisar
como a escola tem lidado com tais questões que se tornam cada vez mais cruciais para
o bom desempenho escolar dos alunos.
A abordagem da problemática do desempenho escolar dos alunos é tarefa
complexa que implica o conhecimento do funcionamento real da escola, do sistema
educativo, dos fatores intervenientes no processo escolar. No contexto interno à
escola, os professores atuam como agentes de mudança tendo em conta sua formação,
comprometimento, percepção e atuação na escola (SAMMONS, 2008;
TORRECILLA, 2008; ALVES; FRANCO, 2008).
Weiner (1985) reconhece a possibilidade de uma lista infinita de causas
concebíveis para as experiências de sucesso e de insucesso escolar além das geralmente
atribuídas a fatores como inteligência, esforço, sorte, nível econômico da família do
aluno, influência do professor, influência dos alunos e de outras pessoas, temperamento,
cansaço, humor, saúde. O autor classifica esses fatores como causas internas ou externas
(denominando-as de internalidade), como causas estáveis ou instáveis (estabilidade) e
causas controláveis ou incontroláveis (controlabilidade).
Como exemplo dessas causas, podemos dizer com Weiner (1985), que a
capacidade, o esforço, o humor e a saúde, são considerados como causas internas ao
sujeito, ao passo que a influência do professor e da família são causas externas. No
entanto, a influência da família pode ser tida como estável ou instável, dependendo de
esta ser contínua ou descontínua, enquanto o esforço e a atenção seriam causas instáveis
do próprio sujeito. Quanto à controlabilidade, a influência do professor é por ele
considerada uma causa incontrolável quando vista da perspectiva do aluno, mas seu
esforço e humor são considerados causas controláveis pelo sujeito. Assim o modo
664
econômico e social no qual está inserida e sofre influência direta das políticas
educacionais e m s u a s práticas e d u c a t i v a s e d e formação de professores. Cabe
destacar aqui a influência determinante do background socioeconômico, educacional e
cultural dos pais dos alunos, como Björklund e Salvanes (2011) enfatizam em seus
estudos recentes sobre o tema.
No terceiro estágio, a partir do final dos anos 70 até meados dos anos 80, às
variáveis anteriores acrescentaram-se a ênfase na equidade e estudos sobre o
aprimoramento das escolas. Estudos pioneiros deste período foram os de Edmonds
(1978; 1979a; 1979b), Lezotte and Bancroft (1985) e Weber (1971). Para Edmonds e
seus colegas não era suficiente apenas descrever as escolas efetivas. Era necessário criar
escolas efetivas especialmente nas áreas pobres da cidade. Essa orientação para a
equidade levou à emergência dos estudos para o aprimoramento das escolas. As
pesquisas sobre escolas efetivas geraram um modelo de cinco fatores do desempenho
dos alunos: forte liderança instrucional do diretor, foco instrucional amplamente
compreendido, ambiente ou “clima” de aprendizagem escolar seguro e ordenado, alta
expectativa quanto ao desempenho de todos os alunos, e uso dos dados dos testes de
desempenho dos alunos para avaliar o sucesso do programa e da escola.
A avaliação de escolas, mediante exames nacionais, tem provocado discussões
acaloradas e diversificadas no ambiente acadêmico, havendo posicionamentos tanto
favoráveis como desfavoráveis a essa prática. Reconhecendo que avaliações
externas e internas às escolas são fundamentais para o estímulo e a melhoria dos
padrões de rendimento dos alunos e do desempenho das escolas e p ara a
i mp l an t ação d e ações para o alcance destes propósitos, entendemos que a
política de avaliação externa é um dos elementos mais significativos para o diagnóstico
e planejamento que garantam a melhoria da qualidade escolar. Podemos dizer, com
base na literatura que analisa os dados do PISA, que nenhuma outra medida tem tido
eficácia tão positiva para estimular a excelência do ensino.
Entendemos que o suposto básico dos processos avaliativos é o de que só
pode haver verdadeiro sucesso escolar se os al u n o s terminarem cada ano letivo
com um razoável g a n h o c o g n i t i v o em todas as áreas curriculares. Por outro
lado, entendemos que o insucesso escolar tem, entre outras razões causais, a
666
alunos. Houve uma mudança de valores do ideal de equidade para o ideal de eficiência
que acompanhou esses novos estudos do contexto. Avanços metodológicos ocorreram
nessa etapa com o acréscimo de variáveis nos modelos de input-produto, input-
processo-produto e aprimoramento das escolas. No entanto, o avanço metodológico
mais importante nas pesquisas sobre efetividade escolar neste período, tanto nos
Estados Unidos como em outros países, foi o desenvolvimento de modelos matemáticos
multi-níveis para avaliar de modo mais acurado os efeitos de todas as unidades de
análise associadas à escola.
Tanto as teorias e pesquisas clássicas sobre a influência de fatores externos sobre
a qualidade da escola e o desempenho dos alunos como as pesquisas mais recentes
sobre a influência de fatores internos sobre a atuação da escola e o desempenho dos
alunos e sobre o contexto onde está situada a escola merecem ser levadas em conta na
definição de uma política de melhoria da qualidade da escola e elevação do desempenho
dos alunos. A complexidade do problema requer que sejam tomadas medidas em várias
frentes para que tenham maior eficácia. A competência e o comprometimento do
professor são essenciais, mas também é imprescindível a colaboração da escola, dos
pais dos alunos e dos próprios alunos. Nessa tarefa também é insubstituível a liderança
indutora do Estado e o suporte comprometido da sociedade civil.
À guisa de conclusão
Referências
EDMONDS, R. R. Some schools work and more can. Social Policy, 9(2), pp.28-32,
1979b.
LEZOTTE, L. W.; BANCROFT, B. Growing use of effective schools model for school
improvement. Educational Leadership, 42(3), pp. 23-7, 1985.
LIMA, L. C. A escola como organização educativa. São Paulo: Cortez Editora, 2001.
NÓVOA, A. Para uma análise das instituições escolares. In: NÓVOA, A. (coord.), As
organizações escolares em análise. Lisboa: Publicações Dom Quixote, pp. 15-43,
1992.
SOARES, J. F. et al. Escola Eficaz: um estudo de caso em três escolas da rede pública
de ensino do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte (MG): Faculdade de Educação da
UFMG, (Relatório de pesquisa), 2002.
WEBER, G. Inner city children can be taught to read: Four successful schools.
Washington, DC: Council for Basic Education, 1971.
671
Comunicação
Resumo: Este trabalho teve o objetivo de verificar a relação existente entre o Exame
Nacional do Ensino Médio – ENEM e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio – PCNEM, para o ensino de História. Para a coleta de informações
utilizou-se dois procedimentos: análise documental, utilizando textos políticos
relacionados tanto com currículo como com avaliação; e questões do ENEM no período
de 2009 a 2012, em que o conhecimento histórico era indispensável para a resolução do
item. A análise dos dados foi organizada pela distribuição das questões em
competências/habilidades e em conteúdos clássicos e a comparação com as orientações
curriculares para o ensino de História no ensino médio. Os resultados indicaram que
houve a priorização de algumas competências/habilidades e de alguns temas. Com isto,
o ENEM tem sido direcionador do currículo escolar, ou seja, ele é que tem orientado o
currículo das escolas de ensino médio, e não os PCNEM.
Palavras-chave: Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Exame
Nacional do Ensino Médio. História.
APRESENTAÇÃO
Por muito tempo, o ensino médio foi caracterizado como um nível de educação
propedêutico ou como treinamento prático-profissional. A nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação – LDB 9394/1996 trouxe ao ensino médio o caráter de formação
geral e complementação do ensino, ao ser considerado como a última etapa da educação
básica (BRASIL, 1996, art. 35), tirando seu estigma de preparação para o trabalho ou de
pré-vestibular.
673
MÉTODO
O caminho metodológico que foi percorrido para este estudo implicou: pesquisa
documental, num primeiro momento, das políticas públicas educacionais brasileiras,
principalmente no período que vai do final dos anos 1980 e anos iniciais de 2000. E,
num segundo momento, a pesquisa foi direcionada para os cadernos do ENEM
(BRASIL, 2013), através da leitura e quantificação das questões da área de Ciências
Humanas e suas Tecnologias, “[...] nas quais o conhecimento histórico — informações
ou conceitos — é requerido indispensável ou acessoriamente para a resolução do
enunciado” (CERRI, 2004, 222). A seleção do período foi de 2009 a 2012. Isto porque
as provas foram estruturadas por área de conhecimento somente a partir de 2009. Os
cadernos utilizados foram: 2009 – azul; 2010 – azul; 2011 – azul; 2012 – branco.
674
Por isso, não é de se admirar que o ENEM seja, muitas vezes, utilizado como
organizador curricular do ensino médio e, como afirma Cerri (2004), é o exame que
elenca os conteúdos que devem ser ensinados. Isto porque, como relata Zanchet (2007),
a preocupação da escola e do professor é com os resultados, ou seja, ensinar para
preparar o aluno para o exame. Isto não chega a ser uma novidade na educação
brasileira, pois antes do ENEM, o organizador do currículo do ensino médio eram os
exames vestibulares. E, ainda, é “[...] preciso considerar que o fato de o ENEM
participar, parcial ou integralmente, dos processos seletivos para o ensino superior deve
repercutir significativamente nas atividades cotidianas do ensino médio” (MINHOTO,
2009, p.35).
Como principal aproximação, pode-se citar o ensino baseado no
desenvolvimento de competências e habilidades, a preocupação com a
contextualização do ensino e com a interdisciplinaridade, que possibilitam um ensino
não limitado à memorização de conteúdos, mas voltado à capacitar o aluno na
675
Graf. 1 – Frequência geral das questões de História por tema, de 2009 a 2012:
678
Como se pode notar, com relação à História Geral, apenas duas questões de
Idade Antiga foram exigidas, contra dezenove da Idade Contemporânea. E, com relação
à História do Brasil, o período do Império é três vezes menos exigido em comparação
ao período República. E, ainda, não parece haver prevalência dos conteúdos de História
do Brasil (57%) com relação aos de História Geral (43%), como é preconizado nos
PCNEM.
De acordo com as informações coletadas, os temas relacionados à História do
Brasil – República e História Geral – Idade Contemporânea são os mais utilizados na
elaboração dos itens, ao passo que História do Brasil – Império e História Geral –
Idades Antiga e Média, pouco aparecem, além disso, História do Brasil – Pré-Colonial
e História Geral – Pré-História não apareceram em nenhuma das avaliações analisadas.
Isto configurou a utilização da disciplina História como instrumento de compreensão do
presente, ignorando temas relacionados com a evolução e as transformações da
sociedade ao longo de toda a história das ações humanas. De acordo com Cerri (2004, p.
224),
[...] coloca em xeque a própria motivação de trabalhar com a História e fazer
referência ao passado da experiência humana, uma vez que, quanto mais
distante no tempo, menos o período é considerado significativo para a
compreensão da contemporaneidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com relação à construção das duas políticas (PCNEM e ENEM), foi possível
notar um descompasso em sua criação, visto que a primeira deveria subsidiar a segunda,
mas, o que ocorreu foi o contrário, pois a primeira avaliação do ENEM ocorreu em
1998, antes mesmo da criação dos PCNEM (que foi em 1999) e sem tempo hábil para
sua divulgação e utilização da organização curricular da escola, para que os alunos
fossem, posteriormente, avaliados pelo exame. Isto ocorreu novamente quando da
estruturação do Novo ENEM, em 2009, que destacou entre seus objetivos a
reorganização curricular do ensino médio.
Somado a isto, a falta de compreensão dos conceitos presentes neste modelo de
ensino, baseado no desenvolvimento de competências/habilidades, da
interdisciplinaridade e da contextualização, tanto por parte da escola como dos
professores e a falta de clareza na apresentação desta proposta, além da não
679
REFERÊNCIAS
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882004000200010>.
Acesso: 04 mai. 2013.
Comunicação
assumidas pelos docentes nem sempre são acompanhadas por uma clareza por parte
desses sujeitos quanto ao seu real significado, gerando inúmeras controvérsias, que
podem ter seus efeitos na aprendizagem dos alunos no Ensino Fundamental.
Podemos depreender que o processo educativo deve ser sustentado por ações
políticas pedagógicas que confiram ao educando, criança ou jovem, o direito de se
apropriarem do conhecimento acumulado historicamente. Os responsáveis pelo bom
encaminhamento destas ações, educadores de todas as esferas, devem apropriar-se do
modo de pensar, de proceder, descritos pelos filósofos, psicólogos, biólogos, linguistas,
sociólogos que estudam e disponibilizam suas descobertas para melhorar a ciência
pedagógica para, consequentemente, cumprirem sua função de favorecer a todos uma
educação de qualidade.
A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEESP) desde 1983 vem
implementando várias ações com vistas à melhoria na qualidade do ensino: reorganizou
a estrutura curricular em um ciclo de alfabetização; a incorporação da teoria
construtivista como base para as opções didático-pedagógicas; o regime da progressão
continuada, que prevê o respeito pelo ritmo de aprendizagem de cada aluno ao longo de
um ciclo plurianual escolar eliminando, deste modo, a retenção e a provável evasão
escolar; implementação do Programa Ler e Escrever enquanto orientador do currículo
dos anos iniciais do Ensino Fundamental e um novo currículo para todas as séries e
disciplinas dos anos finais do Ensino Fundamental e Médio.
O currículo oficial de Língua Portuguesa – Ensino Fundamental e Médio prevê a
classificação em gêneros do discurso, literários e não literários. Ressaltamos que esta
proposta de gêneros do discurso faz parte do Currículo dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, e que sem esta acepção, a progressão do desenvolvimento das habilidades
requeridas para o encaminhamento da proficiência leitora e escritora seria improvável.
Aliada à compreensão da progressão do desenvolvimento das competências que
permitam os alunos encaminharem-se para a proficiência leitora e escritora, entender a
transição de um segmento a outro é ponto facilitador para que a aprendizagem dos
alunos. Estudos apontam para que
A pesquisa apontou que doze dos professores ministraram aulas para a referida
série/ano por escolha própria. Saliente-se que a atribuição de aulas ocorre de forma
descentralizada (na própria escola) ou centralizada (na Diretoria de ensino), dependendo
da situação funcional do professor, de sua posição em listas de classificação e da
disponibilidade de aulas por ano/série.
A respeito do que motivou suas escolhas, destacaram três aspectos principais: a)
conteúdo ministrado no ano/série; b) a idade dos alunos e c) a junção dos dois fatores,
conteúdo e idade.
Nenhum dos sujeitos demonstrou ter escolhido esse ano para lecionar levando
em conta sua formação e os saberes necessários para lecionar nessa etapa, os quais
implicam, além do conhecimento das exigências expressas no Currículo oficial quanto
ao ensino da Língua Portuguesa para o segmento, também a continuidade do processo
de alfabetização e letramento, como se lê na apresentação do referido Currículo, que,
em linhas gerais, define a formação dos alunos na língua materna apontando para a
superação de atividades voltadas apenas para informação, posto que devemos formar
sujeitos para o mundo do conhecimento por meio da linguagem. (SÃO PAULO, 2012)
No que tange ao conhecimento do Currículo dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, desenvolvido por meio do Programa Ler e Escrever, as respostas indicam
que os docentes consultados: conhecem, conhecem pouco ou não conhecem.
Tanto os que afirmam conhecer o Currículo oficial dos Anos Iniciais quanto os
que responderam que o conhecem pouco, mostram desconhecer a teoria construtivista
desenvolvida por Piaget e adaptada para a alfabetização pelas pesquisadoras Emília
Ferreiro e Ana Teberosky: concepção que embasa o ensino dos alunos deste segmento
nas escolas da rede pública do estado de São Paulo.
Conhecer o Currículo oficial desenvolvido nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, bem como a proposta metodológica para esta etapa do ensino, a qual
enfatiza a dimensão didática (escolha dos melhores recursos + boas
instruções/orientações) que favorece a construção do conhecimento por parte dos
alunos, parece ser uma condição necessária para que o processo de alfabetização se
desenvolva com sucesso e sem solução de continuidade no 6º ano.
As respostas evidenciaram, também, o desconhecimento e a incompreensão, não
somente do Currículo oficial do Estado de São Paulo, como também do documento que
embasa sua elaboração: os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL - PCNs, 1997),
que descrevem os objetivos gerais do ensino da Língua Portuguesa para o Ensino
687
Além das já constatadas altas expectativas em torno das capacidades dos alunos
que iniciam a segunda etapa do Ensino Fundamental (ex.: exigências de coesão e
coerência textual, transposição de linguagens, regras gramaticais, ler, compreender,
interpretar e escrever com propriedade etc.), as respostas dos professores que dizem
conhecer o processo de alfabetização, quando questionados sobre as dificuldades dos
alunos, apontam o desejo de que o conhecimento sobre as práticas de leitura e escrita
esteja totalmente desenvolvido ao final do 5º ano, como se a aprendizagem da língua
escrita ocorresse “(...) termo a termo entre parcelas de saber e parcela de tempo”
(LERNER, 2002, p. 20).
690
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERREIRO, E. – Com todas as letras. São Paulo: Cortez, 12ª ed., 2004.
FERREIRO, E. – Reflexões Sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez, 25ª ed., 2010.
692
Comunicação
Introdução
A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo - SEE/SP, ao implantar o
Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (IDESP)1, acentuou
em sua política a lógica da eficiência padronizada, caracterizada pela criação de
mecanismo de aferição de desempenho individual motivado, guiado e medido por
1
Índice calculado com base no Indicador de Desempenho (ID) e Indicador de Fluxo (IF). O primeiro é
uma média dos resultados dos alunos no Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São
Paulo (SARESP). O segundo considera os índices de aprovação nas diferentes séries de cada segmento
(Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio) para compor uma média percentual
(SÃO PAULO/SEE, 2014a).
694
padrões externos que dizem respeito a tarefas e funções predeterminadas para atender
demandas objetivas do aparato e metas centralmente estabelecidas2. (MARCUSE, 1999,
p.78)
Com esta lógica, a SEE/SP deslocou o centro do debate educacional fazendo-o
migrar do campo da política para o da técnica ou tecnologia de gestão (MARCUSE,
1999). Esta operação, fundamental para a sustentação da atual política educacional,
colocou o IDESP e suas variáveis na condição de ferramenta exclusiva de aferição de
qualidade da educação e permitiu o silenciamento de outros fatores e processos que
incidem diretamente no processo de construção e apropriação do conhecimento escolar,
dentre eles os efeitos de lugar (BOURDIEU, 2011).
Neste trabalho, propomos um olhar reflexivo sobre os mecanismos de
mensuração da qualidade utilizados pela SEE/SP de modo a demonstrar como estas
ferramentas, ao desconsiderar os efeitos de lugar nas relações de poder, fornecem leitura
enviesada e reducionista dos processos de distribuição e aquisição de capital escolar
socialmente valorizado.
Com base em dados retirados dos Boletins IDESP e da Fundação SEADE e
utilizando como variáveis o nível socioeconômico, território e desempenho,
comparamos os resultados do IDESP em diferentes regiões, diretorias de ensino,
municípios e escolas, para demonstrar que este instrumento pode ser uma ferramenta
importante para revelar exatamente o que pretende omitir: os efeitos de lugar, as
limitações as quais os indivíduos estão sujeitos diante do território que ocupam e das
relações de poder neles constituídos que impactam nos índices de desempenho escolar3.
Nossa hipótese é que as discrepâncias e construções veladas que o instrumento
(IDESP) carrega tem como função social central, ao transpor para o campo da
tecnologia de gestão questões do campo da política, responsabilizar os moradores das
periferias, sejam professores, diretores, pais ou alunos, pelos péssimos resultados da
escola pública paulista e, o que é mais grave, silenciar e naturalizar o estado de barbárie,
socialmente construído, a qual estão submetidos os moradores das regiões periféricas da
Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) que, além da precariedade de serviços de
saúde, transporte público e segurança, estão agora obrigados a frequentar escolas
2
Para uma discussão aprofundada do IDESP a serviço da materialização da racionalidade tecnológica ver
Gesqui (2012).
3
Para um mapeamento das discussões sobre território-desempenho escolar ver Ernica (2012) e Padilha
(2013).
695
dominadas, ou sob forte ameaça, pela violência endêmica. Este é o legado não declarado
da atual política em São Paulo.
4
As Diretorias Regionais de Ensino são órgãos intermediários entre a SEE/SP e as mais de cinco mil
escolas estaduais, com atribuições definidas pelo Decreto nº 57.141, de 18 de julho de 2011.
697
5
Entre os 66.096 setores censitários do Censo Demográfico 2010, o IPVS classifica 59.773 em um dos
sete grupos de vulnerabilidade social: Grupo 1: Baixíssima vulnerabilidade; Grupo 2: Vulnerabilidade
muito baixa; Grupo 3: Vulnerabilidade baixa; Grupo 4: Vulnerabilidade média; Grupo 5: Vulnerabilidade
alta (urbanos); Grupo 6: Vulnerabilidade muito alta (aglomerados subnormais) e Grupo 7:
Vulnerabilidade alta (rurais). Entre esses setores, 56.773 estão localizados em áreas urbanas e 3.224 em
áreas rurais e, segundo o Censo Demográfico 2010, abrangem população de 40.545.968 habitantes. Todos
os 59.773 setores possuem pelo menos 50 domicílios particulares permanentes. (SÃO PAULO/SPDR,
2010).
699
A afirmação perversa de que o lugar ocupado não tem grande importância omite
que os sujeitos “... são constituídos como tais em e pela relação com um espaço
social...” (BOURDIEU, 2011, p.160) e que
[...] os que não possuem capital são mantidos à distância, seja física, seja
simbolicamente, dos bens socialmente mais raros e condenados a estar ao
lado das pessoas ou dos bens mais indesejáveis e menos raros. A falta de
capital intensifica a experiência da finitude: ela prende a um lugar
(BOURDIEU, 2011, p.164).
6 6,48
5,57
5,02
4,11
Considerações finais
O uso de um indicador numérico como indicador de qualidade permitiu
dissimular as diferenças sociais no arcabouço das médias. Um olhar mais aproximado
das realidades dos territórios nos quais as escolas estão inseridas fornece elementos para
desmitificar o uso deste indicador único para referenciar a qualidade da educação.
A simetria entre os baixos resultados no IDESP e os baixos níveis
socioeconômicos reforça a ideia de que o IDESP:
a) Reduz a ação educativa das escolas à inculcação de um currículo que
desconsidera os efeitos de lugar sobre relações de ensino-aprendizagem;
b) Dissimula os mecanismos de distribuição e apropriação de um capital
cultural específico ao exigir uma herança cultural a não herdeiros;
c) Desterritorializa as instituições escolares com o intuito de responsabilizar os
alunos mais pobres e os profissionais que ali trabalham pelos baixos
desempenhos.
Estes são alguns dos efeitos do IDESP cotidianamente sonegados aos pais,
alunos e profissionais da rede paulista de ensino.
704
Referências Bibliográficas
______. Secretaria de Estado da Educação. Boletins IDESP. São Paulo, mar. 2014b
Disponível em <http://idesp.edunet.sp.gov.br/>. Acesso em 09/06/2014.
Comunicação
Resumo: Esta comunicação tem como objetivo expor e comentar, ainda que de forma
breve, a atual política pública para a educação profissional e tecnológica em vigor no
Brasil. Parte-se da hipótese de que o atual governo federal busca responder à questão
que relaciona o mundo do trabalho à educação, especialmente partindo-se do
pressuposto de que essa modalidade de ensino tem a incumbência de vislumbrar tanto à
formação intelectual do educando quanto à sua formação para o exercício pleno de uma
profissão, respondendo às demandas socioeconômicas atuais e, também, aquelas ligadas
à cidadania e ao bem-estar dos indivíduos. É a partir deste panorama que são tecidos os
comentários aqui expostos, realizados após a leitura de documentos oficiais
disponibilizados pelo governo federal.
Palavras-chave: Educação; políticas públicas; educação profissional; gestão da
educação profissional.
Introdução
Para Bash (2012, p. 659), citando Tessarin e Wannan (2004, p. 13), o ensino
profissionalizante pode ser definido como “[...] todas as atividades mais ou menos
organizadas ou estruturadas que visam proporcionar às pessoas as habilidades, as
competências e os conhecimentos necessários para a execução de uma tarefa ou um
conjunto de tarefas, que conduzam ou não a uma qualificação formal”.
O Brasil tem a necessidade premente de mão de obra qualificada para atender às
mais diversas áreas da economia (LUCHESI, 2013). Tal qualificação necessita estar
sintonizada com a complexidade tecnológica e superespecializada da economia global,
pois os setores produtivos nacionais possivelmente conseguirão crescer, caso consigam
elevar seus ganhos de escala e produtividade e, assim, se tornarem competitivos como
as economias maduras da Europa, Estados Unidos, países industrializados da Ásia e
706
membros do BRICS1 mais bem sucedidos – Índia e China –, que vêm conseguindo
avanços não apenas no âmbito econômico, mas também no educacional e em outras
áreas centrais para o desenvolvimento socioeconômico e sociocultural das nações,
partindo-se do paradigma desenvolvimentista das sociedades atuais. Caso contrário, a
indústria nacional será, como já vem sendo, engolida pela competição em nível global
com esses países (KUNTZ, 2014). Destaca-se que algumas áreas, ou nichos
tecnológicos, já foram ocupados pela produção de outros países (novamente Índia e
China), que saíram e continuam à frente. Desta forma, o Brasil
1
Grupo formado pelos cinco maiores países em desenvolvimento no mundo – Brasil, Rússia, China, Índia
e África do Sul.
707
diversas fases, algumas delas ainda na agenda, principalmente, aquelas instauradas após
o projeto de lei do Plano Nacional de Educação (PNE) para o decênio 2011-2020 e
outras já avaliadas pelo governo, pelo menos em dados quantitativos. Portanto, este
estudo visa contribuir para o pensamento e conhecimento dessas políticas públicas.
Como metodologia para a constatação das preposições supracitadas, foram
analisados alguns documentos do Governo Federal, especialmente aqueles publicados
após a divulgação das propostas em discussão para políticas públicas para a educação
profissional tecnológica, no ano de 2004.
2
Esta Lei já havia sido amplificada anteriormente pelo Decreto 2208, de 17 de abril de 1997.
709
documento, já estavam sendo discutidas na década de 2000, não que tal preocupação
tivesse surgido nessa década, pois já podia ser observada desde a publicação do
Manifesto dos Pioneiros da Educação em 19323.
Voltando-se à Proposta em Discussão para Políticas Públicas para a Educação
Profissional e Tecnologia, publicada pelo Ministério da Educação, essa apresenta as
metas e ações a serem traçadas visando ao fortalecimento dessa modalidade de ensino e
expõe um discurso mais atual e preocupado com a cidadania e o bem-estar do
trabalhador, em equilíbrio com as mudanças tecnológicas e necessidades do país. De
modo que o “técnico não é simplesmente um fazedor de ações, cumpridor de ordens que
acaba não raciocinando. Ele exerce a função tomando decisões, relacionando-se com
seu superior, com seu colega e com seu subordinado, na execução de suas tarefas”
(MEC, 2004, p.8). Adiante, o documento explicita: “trata-se de um ser reflexivo e
crítico que possui funções instrumentais e intelectuais, dependendo da ação a ser
tomada” (MEC, 2004, p.8), pactuando tais proposições com o atual momento, pois “os
valores humanos, hoje mais do que nunca, estão sendo proclamados, necessários e
desdobrados num sentido ético, de modo a levar este homem, que vivencia e processa a
tecnologia de seu tempo, a ter uma visão maior desse contexto” (GRINSPUN, 2001,
p.28).
Considerando tal posicionamento do governo, alguns princípios foram
enunciados pelo mencionado documento, de forma que a educação profissional deve:
comprometer-se com a redução das desigualdades sociais, assumir que o
desenvolvimento econômico é fundamental, incorporar a educação básica (fundamental
e média) como um direito garantido e empenhar-se para uma escola pública de
qualidade (MEC, 2004). Doravante, o documento enumera os pressupostos específicos
que deverão fundamentar os programas e ações da educação profissional: articular a
educação profissional e tecnológica com a educação básica; integrar a educação
profissional e tecnológica ao mundo do trabalho, requerer a interação da educação
profissional e tecnológica com outras políticas públicas (educacionais ou não),
recuperar o poder normativo da LDB (art. 22, 35, 36 e 39 a 42), proceder à
reestruturação do sistema público de ensino médio e técnico e da educação profissional
3
Cf. AZEVEDO, Fernando de et al. Manifesto dos pioneiros da educação nova (1932) e dos educadores
(1959). Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010.
710
4
Para Perez (2010, p. 1183), “a avaliação de políticas, programas e projetos sociais educacionais foi
incorporada de fato a agenda governamental brasileira no início dos anos de 1990”.
711
Diante de tais apontamentos, ao ler esse documento, deparou-se com uma forma
de pensar a educação profissional atenta às mudanças sociais e também aos novos
parâmetros de comportamento tanto empresarial quanto da sociedade, um pensamento
mais voltado ao bem-estar das pessoas e à prática da cidadania, tendo como pano de
fundo a questão da inclusão social e o respeito à diversidade.
Feitas essas considerações, atualmente, observa-se, de acordo com sítio do
MEC5, que a educação profissional (básica, média e superior) é dividida, no Brasil, em
eixos tecnológicos que organizam e sistematizam os cursos profissionalizantes,
alocados dentro de suas respectivas áreas do conhecimento e natureza das profissões.
Sob esse panorama, atualmente, no Brasil, a educação profissional e tecnológica
deve estar travestida de elemento estratégico para a construção da cidadania e para uma
melhor inserção de jovens e trabalhadores na sociedade atual, marcada por avanços
tecnológicos muitas vezes determinantes para as nações, sem descartar a sua
contribuição às estratégias desenvolvimentistas do país.
A mudança do ângulo de visão para essa modalidade de ensino pode ser
compreendida, também, a partir do momento em que o discurso ganha novas formas.
Essa modalidade não deve mais ser vista apenas como um meio de treinar as pessoas
para ocupar postos de trabalho instrumentais; ela ganha mais amplitude quando deixa de
ser vista de modo reducionista e passa a ser compreendida como um processo de
construção social do trabalhador, qualificando-o e educando-o em “bases científicas,
bem como ético-políticas, para compreender a tecnologia como produção do ser social,
que estabelece relações sócio-históricas e culturais de poder” (MEC, 2004, p. 7).
Portanto, ao todo, são oito programas e ações em funcionamento, mantidos pela
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação
(SETEC), que visam promover as mudanças com as quais o governo se comprometeu
em relação a essa modalidade de ensino. Conforme o sítio do MEC (2013), são elas:
Programa Mulheres Mil; Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
(Pronatec); a Rede Certific, que se trata de um programa de certificação de saberes
adquiridos ao longo da vida durante o exercício profissional; Programa de Expansão da
Rede Federal; Programa Brasil Profissionalizado Rede e-Tec Brasil; Programa Nacional
de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica de Jovens e Adultos
5
www.mec.gov.br
712
O que se aspira é uma formação que permita mudança de vida por parte do
aluno; a compreensão das relações que se estabelecem no mundo do qual ele
faz parte; a ampliação de sua leitura de mundo e a participação efetiva nos
processos sociais. Enfim, uma formação plena. Para tanto, o caminho
escolhido é o da formação profissional aliada à escolarização, tendo como
princípio norteador a formação integral (MEC, 2007).
Conclusão
Desconsiderando-se o caráter fortemente propagandista do atual governo,
contido nos documentos analisados, todos os programas expostos têm como pilar
central o discurso que: alia cidadania, direitos sociais e educação à consequente inserção
do aluno trabalhador no mercado de trabalho, visando melhorar a renda dos cidadãos
gerando recursos e desvinculando-os de programas de transferência de renda, assim
como atender às exigências capitais atuais, ou seja, às demandas por profissionais em
diversas áreas, no sentido de incrementar o desenvolvimento social e econômico do
país. Portanto, o Governo Federal preparou-se para encarar e ao mesmo tempo que
713
Referências
LOPES, Eliana M. Teixeira; FARIA FILHO, Luciano M.; VEIGA, Cynthia G. (orgs.)
500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
MANFREDI, Silvia Maria. Educação profissional no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002.
PEREZ, José Roberto Ruz. Por que pesquisar implementação de políticas educacionais
atualmente. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1179 – 1193, out./nov. 2010.
Disponível em: <www.cedes.unicamp.com.br>. Acesso em: 25 de fev. de 1014.
716
Comunicação
Resumo: Este trabalho tem como objetivo discorrer sobre o processo de avaliação no
contexto atual que garante a formação de profissionais qualificados para o desempenho
da docência. Para tanto, o referencial teórico baseia-se em bibliografias que apontam a
importância da avaliação na prática pedagógica, buscando analisar criticamente as
questões que permeiam esta prática dentro da instituição de Ensino Superior. Na
maioria das instituições ainda prevalece a avaliação classificatória, seletiva, excludente
e autoritária, que dificulta o processo de aprendizagem e, consequentemente, forma
profissionais desqualificados. A partir do presente estudo, aponta-se a avaliação
formativa como prática avaliativa que é compreendida como reguladora da
aprendizagem tanto por professores, como por alunos em formação, levando em
consideração os propósitos estabelecidos e propondo novos desafios para aquisição dos
conhecimentos. Com isso, entende-se que o processo avaliativo desenvolvido de forma
responsável, coerente, dinâmico, participativo e reflexivo, gera a produção de
conhecimentos significativos que serão essenciais na formação de professores e na
produção de profissionais capacitados para atuar no âmbito educacional.
Palavras-chave: avaliação, formação, aprendizagem, prática pedagógica.
Os professores não são “culpados” pelos resultados obtidos pelos alunos, mas
são, sim, responsáveis. Serão, entretanto, culpados se não forem
comprometidos no sentido de buscarem o seu aperfeiçoamento e se não
preservarem a sensibilidade ao lidar com a complexidade do processo.
objetivos que a avaliação tem, são aspectos que devem ser reconhecidos como parte
deste processo. A avaliação deve ser encarada sempre como um processo e nunca como
um fim. Desta forma, o professor é capaz de analisar ao longo do processo de ensino-
aprendizagem e construir valores subjetivos de acordo com os critérios escolhidos.
É necessário que o professor trace critérios para a forma de avaliar com um
olhar crítico, rígido, absoluto e justo, estando em consonância e coerente com a
metodologia utilizada e com os objetivos propostos. No processo de construção do
conhecimento pelo aluno, deve levar-se em consideração as condições do meio em que
está inserido, o momento sócio-político-econômico, a bagagem cultural já adquirida
pelo aluno e o próprio desempenho do professor, que ao mesmo tempo foi o mediador
desses conhecimentos, é o avaliador de todo o processo de construção.
Para Hoffman (1998, p.37):
Referências Bibliográficas:
___. Avaliar para promover – As setas do caminho. 7ª ed. Porto Alegre: Editora
Mediação, 2005.
___. Pontos e Contrapontos – Do pensar ao agir em avaliação. 10ª ed. Porto Alegre:
Editora Mediação, 1998.
Comunicação
Histórico
Carapicuíba é um município da Região Metropolitana de São Paulo, um dos doze
povoados fundado pelo Pe. José de Anchieta por volta de 1580, no início do processo da
colonização portuguesa na América. Até meados da década de 1950, manteve-se como
pequeno núcleo urbano até 1965, com a expansão de um modelo de desenvolvimento
econômico pautado na indústria e no transporte rodoviário, o território foi
desmembrado, passando por um rápido processo de ocupação. Na década de 1970
paralelamente ao período de expansão econômica, recebeu um grande número de
migrantes, atraídos principalmente pela oferta de empregos nas indústrias da capital
paulista.
No início de séc. XXI, face à universalização do acesso à educação e à grande
diversidade populacional do município, surgiram outros desafios, como a expansão do
ensino de qualidade para todas as faixas etárias. Conforme o censo populacional de
2010, o município contava com 377.622 habitantes, dos quais 88.625 matriculados em
todos os níveis de ensino: 13.743 na Educação Infantil (creche e pré-escola), 52.350 no
Ensino Fundamental (anos iniciais e anos finais) e 3.446 na Educação de Jovens e
Adultos.
Assim, o município tem investido na ampliação e reforma de sua rede física de escolas,
garantindo o direito de acesso e permanência, valorização dos profissionais de educação
(Plano de Carreira, piso salarial nacional e jornada de trabalho, Currículo e formação
continuada de professores). É deste último tópico que trataremos no presente.
728
científica sobre o ensino (ZEICHNER, 1993). É nesse espaço que o GEC atuará: visitas
às escolas para observação e registro das práticas subsidiam a análise e reflexão sobre as
práticas comuns nas escolas e que se tornem processos investigativos efetivos.
Para tanto, é preciso garantir certas condições no ambiente de trabalho escolar e nas
relações entre o grupo de formadores de educadores e de professores, além de
contemplar perspectivas que envolvam: a pesquisa na formação de professores; a
formação continuada baseada em princípios e diretrizes norteadores de um Currículo
que contribua para a superação das desigualdades, do fracasso escolar e possibilite
educação de qualidade para todos; valorização de grupos de estudos (mediação,
acompanhamento e reflexão das práticas pedagógica); fortalecimento das ações
conjuntas, projetos coletivos) capazes de modificar os contextos escolares, criando uma
“comunidade crítica de professores”, alimentados por saberes acadêmicos ou
profissionais compartilhados.
Pesquisas recentes situadas no final do século XX situam os estudos sobre currículo na
perspectiva cultural e resgatam a importância das investigações inerentes às práticas
pedagógicas, isto é, o educador age e busca respostas, ao mesmo tempo em que
investiga as razões da boa aula ou do fracasso, experimenta as hipóteses que levanta
entre uma aula e outra. Na necessidade de dar respostas imediatas aos problemas e
velocidade e sobrecarga cotidiana do seu trabalho, mal consegue repensar suas ações,
registrar e sistematizá-las para refletir sobre as hipóteses e as mudanças que introduziu
no seu plano de aula.
São aspectos importantes, pois constituem saberes singulares que nascem de
experiências semelhantes e resultam em experiências plurais. Compreendê-los significa
avançar no processo das investigações didáticas e contribuir para melhorar as práticas
pedagógicas fundadas em teorias respondam aos desafios colocados para o 3º milênio à
sobrevivência e desenvolvimento da condição humana.
O conhecimento da forma tradicional passou a ser questionado e o seu lugar repensado
a partir das novas pesquisas – quais são os saberes que a criança já traz? Quais são os
saberes necessários e ou importantes para serem ensinados na escola? Quais são os
referenciais e os critérios que definirão o que é importante?
Assim, como já colocado, para a discussão e elaboração do documento Curricular
preliminar retomaremos as ações desenvolvidas no Programa de Formação Continuada
de Professores da Rede Municipal de Ensino de Carapicuiba/SP no decorrer de 2009 a
2014. As experiências decorrentes das discussões, estudos e pesquisas desenvolvidos
730
Considerações
Em 2013, o Grupo de Estudo Curricular (GEC), formado especialistas das diversas
áreas do conhecimento, gestores e professores da Rede de Ensino de Carapicuíba, se
reuniu mensalmente, por áreas do conhecimento/disciplinas para aprofundar os estudos
sobre os fundamentos do Currículo e das disciplinas escolares, metodologias e formas
de avaliação.
Em janeiro de 2014 o Documento Curricular Preliminar foi apresentado à Rede,
publicado o no Portal “Olhar Educador” e discutido nas escolas na semana do
planejamento. Prosseguindo, durante todo o primeiro semestre, os coordenadores do
GEC visitaram escolas, observaram as práticas pedagógicas, elaboraram relatórios com
acompanhamento dos Assessores, culminando com a realização do 6º EnFoCo
(Encontro de Formação Continuada). Realizada entre 14 a 17 de julho as oficinas e
relatos de experiências foram todas protagonizadas pelos professores da Rede
Municipal, compartilhando as práticas pedagógicas e as reflexões realizadas nas escolas
da Rede Municipal, revelando que é possível viabilizar as propostas contidas no
Documento Curricular.
As reflexões ora apresentadas são fruto do trabalho desses grupos e da equipe
pedagógica que assessora o projeto de construção do Currículo do município e nesse e
processo, a formação continuada dos sujeitos que dele participam.
734
Notas:
1
Dados de 2013 - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), disponível em http://portal.inep.gov.br/basica-censo-escolar-matricula,
acesso em 25.11.2013.
2
O Ensino Médio e Profissionalizante não são de responsabilidade do Município, sendo
atendidos por outras redes de ensino.
3
Entrevista disponível em <
http://www.dn.senai.br/competencia/src/contextualizacao/celia%20-
%20avaliacao%20Jussara%20Hoffmam.pdf>, acesso em 02.11.2013.
REFERÊNCIAS
MOREIRA, A.F.; SILVA, T.T. Currículo, Cultura e Sociedade. 4ª edição São Paulo:
Cortez, 2000.
NÓVOA, A.(org.) Os professores e sua formação. Lisboa: Ed. Dom Quixote, 1992.
Comunicação
1
Graduanda do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal-UFU, membro do
Grupo de Estudos e Pesquisa em Avaliação Educacional (GEPAE) e bolsista no PIBIC. Endereço
eletrônico: keila_fernanda2010@hotmail.com
2
Professora do Curso de Pedagogia da FACIP/UFU, doutora em educação pelo LOED-Unicamp,
especificidade avaliação, membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Avaliação Educacional (GEPAE).
Endereço eletrônico: msimonefp@pontal.ufu.br
737
3
Os nomes da escola e das pessoas utilizados nesse trabalho são fictícios para preservar a identidade da
instituição e das profissionais
739
A nossa pesquisa nos levou a perceber que essa política de avaliação tem papel
central dentro da escola, e que a qualidade tem girado em torno das proficiências
obtidas em Língua Portuguesa e Matemática. Para saber a proficiência das escolas os
resultados são apresentados como recomendável, intermediário e baixo desempenho.
Para as provas do PROEB as médias para cada proficiência são: acima de 225 é
considerado recomendável, até 225 é intermediário e até 175 é considerado baixo
desempenho. Já para o PROALFA as notas devem ser: acima de 500 é recomendável,
até 500 é considerado intermediário e até 450 é baixo desempenho. A escola para ser
considerada com boa qualidade tem que atingir o recomendável nas duas áreas do
conhecimento. A escola pesquisada até ano de 2013 atingiu os seguintes resultados:
Quadro VI - Resultados do PROEB da escola Constelação.
PORTUGUÊS MATEMÁTICA
2013->178,3 (Intermediário) 2013->198,0 (Intermediário)
2012-> 184,0 (Intermediário) 2012-> 206,8 (Intermediário)
2011-> 193,7 (Intermediário) 2011-> 206,6 (Intermediário)
2010-> 190,7 (Intermediário) 2010-> 205,4 (Intermediário)
2009-> 199,6 (Intermediário) 2009-> 212,6 (Intermediário)
2008-> 181,8 (Intermediário) 2008-> 192,2 (Intermediário)
2007-> 182,2 (Intermediário) 2007-> 175,4 (Intermediário)
Fonte: Tabela organizada pela equipe de Ituiutaba-MG como parte da pesquisa "A PRODUÇÃO DA
QUALIDADE A PARTIR DA POLÍTICA DE AVALIAÇÃO SISTÊMICA MINEIRA NAS REDES MUNICIPAIS
DE UBERLÂNDIA E ITUIUTABA", com base nos resultados retirados do site http://www.simave.caedufjf.net/ em
2014.
Você acha que isso faz uma educação de qualidade? Não, não faz. Pra ter
uma educação de qualidade deveria repensar a escola, jogar tudo fora e fazer
tudo de novo.
(Jacinto, analista de sistema da SRE. Registro em diário de bordo, 29 de
outubro de 2013)
Ela é muito cansativa, também não concordo, mas nem posso falar nada, meu
trabalho é ligada a elas.
(Jacinto, analista de sistema da SRE, Registro no diário de bordo, 30 de
outubro de 2013).
Vocês foram escolhidos, pois melhoraram este ano, por isso vão fazer a
prova.
Quem quer ganhar surpresa? Mas pra ganhar surpresa tem que fazer tudo
direitinho.
(Camélia - supervisora da escola Constelação, Registro, diário de bordo, 30
de outubro de 2014)
Percebemos que para alcançar bons resultados, a escola adota na realização das
avaliações externas a metodologia da troca, se o aluno fizer uma boa avaliação ele terá
uma recompensa. Isso, em nossa opinião evidencia o que Costa (2012) sinaliza como o
distanciamento da avaliação como um momento de aprendizagem e, o reforço da
mesma como momento de recompensa entre as partes, pois a escola precisa obter um
bom resultado e para isso, usa de todos os artifícios para que os alunos possam
consegui-lo, já que depende do desempenho deles.
No fim das avaliações, os professores apresentaram estar aliviados. A profª.
Dália desabafou com a seguinte fala "Mais uma etapa vencida" (Registro, diário de
bordo, 30 de outubro de 2013).
742
Frente à observação da maneira como a escola organiza seu trabalho nos dias
das provas do SIMAVE, constatamos que a escola cada vez mais tem conduzido o
ensino como algo mecânico, o professor dá o comando e os alunos executam, e nas
avaliações externas o que ganha centralidade antes da aplicação da mesma é o
treinamento.
As professoras do 3º( Dália) 5º ( Amarílis) afirmaram isso com as seguintes
falas,
É um treinamento mesmo, para que eles consigam realizar as provas
( Registro no Diário de bordo, Amarílis, 19 de setembro2013).
Fica explicito nas falas das professoras que a escola treina os alunos para que os
mesmos consigam realizar as avaliações. Diante disso, podemos considerar que o
espaço e o cotidiano da escola tem sido como ressalta Muniz (2006) um espaço
fragmentado, hierarquizado e homogeneizado. Frente a concepção que os resultados das
avalições têm servido apenas para expor os “fracassos” ou “sucessos” da escola,
Hoffmann (2004, apud MUNIZ, 2006, p.68) afirma que,
As notas e as provas funcionam como redes de segurança em termos do
controle exercido pelos professores sobre seus alunos, das escolas e dos pais
sobre os professores, do sistema sobre suas escolas. Controle esse que parece
não garantir o ensino de qualidade que pretendemos, pois as estatísticas são
cruéis em relação à realidade das nossas escolas.
Se você me perguntar para que serve essas avaliações vou te dizer que apenas
para obter resultado, é quantidade, número que o governo deseja.
Essas avaliações são fora da realidade dos alunos.
(Jacinto, analista de sistema da SER. Registro em diário de bordo, 29 de
outubro de 2013).
Foi possível constatar que as aplicadoras andavam pela sala o tempo todo
pedindo silêncio e observando os alunos e quando um aluno queria ir ao banheiro só
pode ir com a professora ou inspetora da escola, frente a isso a supervisora afirmou:
Essas avaliações são mais tranquilas, as outras são mais cobradas, mas
mesmo assim elas ficam na sala monitorando para não haver cola.
(Camélia, supervisora da escola. Registro em diário de bordo, 22 de
novembro de 2013).
No entanto, nesta avaliação a diretora da escola precisou preencher um relatório,
após o término das mesmas, que foi junto com as provas. Antes mesmo de terminar as
provas a diretora disse "no relatório coloco tudo bom, que deu tudo certo, até já fiz, não
gosto de prejudicar ninguém".
Essas provas têm duração de 2hs e 30 min, porém a sala que terminava antes
podia sai e ir para o recreio. Percebemos que mesmo a ênfase no treinamento na SRE
sendo dada no Ideb a aplicação da Prova Brasil, que contribui para o cálculo do Ideb,
não foi tão tensa como no dia do PROALFA e do PROEB. Aparentemente o SIMAVE,
altera mais a organização de trabalho pedagógico da escola.
A tensão é maior nas avaliações do SIMAVE, no entanto, toda a escola também
se prepara a realização das outras avaliações, com isso, a rotina também é mudada assim
como nas avaliações do SIMAVE, e os professores também tem que continuar treinando
os alunos para a realização das mesmas.
De acordo com o Boletim pedagógico (2009, p.9) o PROALFA tem caráter
investigador dos “níveis de alfabetização alcançados pelos alunos da rede pública” para
então indicar as intervenções necessárias para trabalhar as dificuldades encontradas.
Essas intervenções, de acordo com o período que permanecemos na escola, não
tem tido caráter tão qualitativo, mas tem se voltado para o aspecto quantitativo pois, por
meio do treinamento e da presença no dia das provas, espera-se que o maior número de
alunos consiga ter bons resultados. Constamos que a preocupação muitas vezes não é se
o ensino tem tido significado para a realidade destes alunos, mas se eles estão bem
treinados para responder o que será medido pelo governo.
A partir disso, podemos considerar que o SIMAVE, por meio do PROEB e do
PROALFA se preocupa em verificar se as intervenções têm sido realizadas e se tem
sido quantitativamente positivas, pois, as provas deste sistema têm intuito de “verificar
745
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As avaliações externas têm tido papel central dentro da escola e tem sido fator
primeiro para a organização do trabalho pedagógico dos professores. Dentro desta
perspectiva, a avaliação externa, no discurso oficial, tem o objetivo de melhorar o
sistema educacional a partir dos seus resultados, no entanto, foi possível perceber que
há uma fragilidade muito grande dentro da escola quando nos referimos a melhoria por
meio da avaliação externa.
746
Referências
Comunicação
Resumo: Este artigo tem como objetivo discutir a utilização de sistemas informatizados
como ferramenta de trabalho pelas organizações e instituições, as quais tornam-se
imprescindível nas dinâmicas atuais, neste caso na Universidade do Estado da Bahia
(UNEB). Assim, faz-se premente demonstrar os desafios e as principais etapas no
desenvolvimento e implantação do Sistema Integrado de Planejamento (SIP) e, os
resultados obtidos nos últimos anos, provocando reflexões e ações que despertem para a
importância do desenvolvimento de sistemas tecnológicos de suporte à gestão
institucional. O SIP foi concebido a partir das demandas da UNEB, integrando
importantes plataformas e bases de dados, respeitando as especificidades e
singularidades dessa Instituição Multicampi.
Palavras chave: Universidade, Gestão, Sistemas.
Hoje, trinta anos após a sua criação, em face da multicampia1, “a Universidade, com
seus 29 (vinte e nove) Departamentos, está presente geograficamente em 24 (vinte e
quatro) municípios do estado da Bahia, atingindo 14 (quatorze) regiões econômicas e 18
(dezoito) dos 26 (vinte e seis) Territórios de Identidade do estado, o que a coloca como
instituição de destaque e referência no modelo de gestão multicampi brasileiro” (UNEB,
PE, 2007, p. 27).
A UNEB oferta, atualmente, à comunidade baiana, “mais de 150 (cento e cinquenta)
opções de cursos e habilitações nas modalidades presencial e à distância (EaD), nos
níveis de graduação e pós-graduação (lato e stricto sensu) e está presente, mesmo que
virtualmente, na quase totalidade dos 417 (quatrocentos e dezessete) municípios do
Estado2, por intermédio de programas e ações extensionistas em convênio com
organizações públicas ou privadas, que beneficiam milhões de cidadãos baianos”
(UNEB, 2014).
Seu quadro funcional possui cerca de 4.000 (quatro mil) servidores efetivos entre
docentes, técnicos e estagiários3, alocados nos 29 (vinte e nove) Departamentos e na
Administração Central da Universidade, localizada em Salvador. Uma Instituição de tal
porte, com especificidades e regionalidades, cujo desafio é aproximar sua estrutura
acadêmica e administrativa, independentemente da posição geográfica, busca o
fortalecimento da sua natureza multicampi, a qual é potencializada pelos benefícios
trazidos pelas redes digitais, inaugurando e estabelecendo processos de
desenvolvimento e inovação tecnológica. Assim, se faz urgente a necessidade de
atualização e informatização dos seus processos, apoiados em políticas institucionais
1
Multicampia: Uma instituição multicampi está estruturada em vários espaços, usualmente, na capital e
no interior do estado. As políticas para o ensino, para a pesquisa e para a extensão adotadas não podem
ser dissociadas e devem ser respeitadas e reconhecidas as singularidades de cada espaço, oportunizando
se pensar a instituição como um todo, considerando as potencialidades e as vocações locais.
2
Dados do IBGE consultados em 18.07.2014;
3
Informações obtidas através de relatório gerado no Sistema Integrado de Gestão Pessoas (SIGP) em
julho de 2014.
750
4
A nanotecnologia estuda a modificação da matéria para a construção de novas estruturas e materiais a
partir dos átomos. Integra diversos campos do conhecimento como a medicina, a ciência da computação,
física etc. É uma tecnologia recém criada no Japão e que busca resultados inovadores para melhoria da
qualidade de vida do ser humano.
751
gerar valor para a organização podemos dizer que se trata de uma dinâmica de inovação,
caso contrário, será uma dinâmica meramente inventiva.
Há uma relação entre universidade (unidade gestora) e seus servidores (capital
intelectual), agentes mobilizadores da Missão de Instituição de Ensino Superior, elos
entre sociedade e suas atividades fins, que desempenham papeis fundamentais nas
estratégias de gestão e na geração de iniciativas inovadoras, não meramente inventivas,
virtuais, mas concretas, aplicáveis e necessárias. A UNEB é o grande laboratório, com
recursos humanos e tecnológicos especializados, ávidos por respostas para os grandes
insights desta caminhada, se considerarmos seu dever social e educacional quanto sua
busca pela autonomia tecnológica e de gestão.
O potencial criativo da instituição vem sendo explorado, atualmente, na busca desta
autonomia e da automatização dos seus processos, como filamentos de uma política
institucional que investe, no desenvolvimento tecnológico, como um catalisador
estratégico para decisões de qualidade e excelência na gestão universitária. O grande
exemplo é o Programa 128, Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação5, cujo
objetivo é incentivar e difundir ações científicas, tecnológicas e de inovação, divulgar os
experimentos educacionais, inclusive com a implantação de projetos em comunidades,
grupos sociais e empresas, visando à geração e difusão de novas tecnologias
desenvolvidas no âmbito da UNEB (UNEB, RA, 2012, p. 73).
O grande desafio para a UNEB no século XXI está explícito na relação entre
Tecnologia e Gestão, na qual há uma dicotomia fraterna, mas dependente e
indissociável quando se trata de grandes espaços institucionais e de geração,
sistematização, armazenamento, consolidação e registro de dados e informações sobre
sujeitos e processos nela desencadeados.
5
Programa previsto no Relatório de atividades da Universidade do Estado da Bahia, Ação 1805, sob a
responsabilidade da Pró-Reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-Graduação – PPG.
6
Software com patente registrada pelo pesquisador no INPI sob o nº 14162-3;Sexto colocado no prêmio
Boas Práticas de Trabalho no Serviço Público (SAEB) em 2011.
752
medida que ocorre o desenvolvimento das ações, a integração com o FIPLAN7 possa
associar os empenhos e as portarias de descentralização de recursos financeiros para as
respectivas unidades gestoras, conduzindo a um controle do gasto planejado versus
gasto real, metas previstas versus metas alcançadas.
A partir das constatações dos usuários e dos gestores envolvidos, o primeiro passo
foi encaminhar à GERINF a demanda da criação de um software institucional, cuja
proposta era substituir o software em uso, a fim de superar as dificuldades do POA-
WEB e fomentar maior potencial de eficiência em um novo modelo, além do desafio de
torná-lo funcional e atraente aos seus usuários.
Para a construção do novo sistema, desconsiderando a análise dos requisitos
funcionais (funcionalidades propriamente ditas), um passo de extrema relevância na
concepção foi o levantamento dos requisitos não funcionais (tempo de resposta,
acessibilidade, usabilidade, plataforma de desenvolvimento, etc.) pelos seguintes fatores
inerentes à instituição:
a) Distancia física: grande parte dos usuários se encontra localizada,
fisicamente, distante da região metropolitana de Salvador, dificultando o
treinamento e o acompanhamento no uso dos sistemas;
b) Público alvo: mais de 58% dos funcionários da Universidade tem mais de
40 anos de idade e constituem uma parcela significativa dos denominados
“não nativos digitais”;
c) Recursos Tecnológicos: em vários departamentos, a qualidade da internet e
a velocidade da internet comprometem as atividades, a qual quando
compartilhada não alcança 1(um) Mbps;
d) Recursos Humanos: falta de formação adequada para uma parcela
significativa dos funcionários à realização das rotinas de trabalho, utilizando a
internet e softwares não institucionais como simples ferramenta.
7
Sistema Integrado de Planejamento, Contabilidade e Finanças do Estado da Bahia (FIPLAN), banco de
dados contendo todas as informações orçamentárias e financeiras de todas as secretarias e órgãos do
Estado da Bahia.
755
um software a procura do que precisam ou de uma indicação rápida do que fazer, assim
como fazemos ao andarmos por uma rua, pois observamos coisas e ações que nos
atraem, ignorando grande parte de outros elementos.
Assim, como terceiro passo, foi elaborado o projeto de design da interface do SIP,
no qual foram considerados alguns aspectos limitadores da instituição:
• Estações de trabalho antigas, baixa memória e baixa resolução gráfica;
• A grande maioria dos departamentos não possui uma banda larga para uso
da internet, compatível com as demandas dos usuários;
• Os sujeitos usuários possuem conhecimento básicos no uso da internet
como ferramenta de trabalho.
Fonte:www.sip.uneb.br
Conclusão
Assim, entendemos que o desenvolvimento de softwares institucionais concretiza os
objetivos previstos no Plano Estratégico da UNEB, no contexto do novo modelo de
gestão eficiente assumido pela instituição, se tornando um dos grandes desafios para a
modernização dos seus processos e da sua insfraestrutura física e lógica. Tais iniciativas
auxiliarão no alcance das metas desejadas, respondendo às demandas da rotina setorial
interna, no controle sobre a execução e otimização das atividades, além do
aperfeiçoamento do quadro funcional na operacionalização de ferramentas tecnológicas
facilitadoras da sua atuação na instituição.
Referências Bibliográficas
Comunicação
INTRODUÇÃO
Há um consenso, não só na literatura brasileira, como também na internacional,
sobre a importância da formação de qualidade para o professor, tanto inicial como
continuada. Igual importância é dada à coordenação pedagógica para a formação de
professores, mesmo quando não é desenvolvida por um profissional em cada escola.
Exemplificando, os sistemas educacionais da França, Canadá, Moçambique e Chile
(Placco, Almeida, Souza, 2011) registram, em seu quadro de pessoal, um profissional
para articular a formação na escola e, em alguns casos, responsabilizar-se por ela. Da
761
1
http://www.fvc.org.br/estudos-e-pesquisas/livro-2-2011.shtml
762
1 – O PRESCRITO
a) Nas teses e dissertações
A consulta à Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações do Ministério
da Ciência e Tecnologia e ao Banco de Teses e Dissertações CAPES-MEC revelou que
teses e dissertações sobre coordenação pedagógica, no período de 1981 a 2010, foram
defendidas em 35 universidades, e que o maior crescimento se deu a partir de 2003.
Esse incremento significativo nos anos recentes revela certo consenso sobre a
importância desse profissional nas escolas e, em consequência, a necessidade de adensar
o conhecimento sobre suas atribuições e práticas.
b) Na literatura pedagógica
Uma coletânea especialmente dedicada ao coordenador pedagógico apresenta
seu 1° volume em 1998 (Edições Loyola), e hoje está com seu 10° volume no prelo.
Nos textos nela apresentados são discutidas inúmeras questões referentes ao
coordenador pedagógico, quanto ao papel, à identidade, aos saberes, às habilidades de
relacionamento interpessoal, às relações de poder dentro da escola, às dificuldades de
763
...é preciso que o projeto da escola seja um espelho que reflita cada um de
seus participantes, com suas marcas e características específicas, que
contribuem, a seu modo, para o trabalho da escola. Mas esse espelho, a um só
tempo, reflete também a escola, como coletivo, com objetivos e finalidades
que visem à formação do aluno e dos professores.
c) Na legislação
A consulta aos documentos legais, parte integrante da pesquisa já referida,
evidencia que todas as regiões do Brasil instituem a figura do coordenador pedagógico,
em se tratando das redes municipal e estadual, embora com denominações diversas:
pedagogo, supervisor, professor coordenador, coordenador pedagógico, em algumas
redes como cargo, em outras como função.
Porque a opção por focalizar a legislação: porque entendemos (na pesquisa e
nesta comunicação) que o coordenador pedagógico, como sujeito histórico, é
determinado por diferentes configurações da função que exerce, e estas decorrem:
• da estrutura oficial: do que chega ao coordenador, do instituído legal, e como
isso é absorvido por ele;
• da estrutura da escola: como a organização da escola interfere no trabalho da
coordenação;
• do sentido que o coordenador confere, tanto ao instituído legal, como à
organização da escola; entra aí sua subjetividade.
Na última década, em todos os estados pesquisados, a coordenação pedagógica
foi instituída para a escola como um todo, e não para projetos especiais, como se fazia
anteriormente em algumas redes. O que significa que é possível ter um coordenador
para uma escola pequena, ou para uma de grande porte, o que, neste caso, o
sobrecarrega. Com poucas exceções, é isto que revela a pesquisa. Mesmo porque, como
profissional da escola, no âmbito da rede estadual e municipal, as atribuições dadas a
esses profissionais são muitas, envolvendo desde a liderança do PPP (projeto político
pedagógico), a funções administrativas de assessoramento da direção, mas, sobretudo,
atividades relativas ao funcionamento pedagógico da escola e de apoio aos professores.
Assim, uma análise da legislação das cinco regiões do país revela que estão previstas,
como função do coordenador, atividades como avaliação dos resultados dos alunos da
escola, diagnóstico da situação de ensino e aprendizagem, supervisão e organização das
ações pedagógicas cotidianas (frequência de alunos e professores, andamento do
planejamento de aulas (conteúdos ensinados), planejamento das avaliações, organização
765
2
As quatro primeiras atribuições foram retiradas da resolução SEE nº. 88/2007 e as duas últimas, do
edital de concurso realizado na Rede Municipal, publicado no Diário Oficial em julho de 2009.
766
REFERÊNCIAS
Relato de Experiência
Resumo: A leitura de imagens é uma das práticas fundamentais no ensino das Artes
Visuais, pois prepara o aluno para uma leitura mais compreensiva do seu entorno.
Assim, a vivência estética de alunos do Ensino Fundamental II no conhecimento do
patrimônio artístico/histórico da cidade de Santos é o tema deste trabalho, que buscou
investigar a percepção dos estudantes em relação à observação do espaço. O estudo, de
natureza qualitativa, além dos elementos observados, propiciou aos estudantes a
elaboração de desenhos, de depoimentos escritos e da construção de uma caixa de
madeira utilizando a técnica barroca de folheação a ouro. A análise dos resultados finais
apresentados demonstra aspectos positivos em relação ao desenvolvimento da leitura
visual dos alunos, assim como a sua percepção estética e em seu envolvimento com a
escrita e a produção de objetos artísticos.
Palavras-chave: arte, educação estética, leitura do espaço.
Introdução
Compreender melhor as consequências das mudanças educacionais e a
contribuição da arte na formação humana coloca-se como um desafio ao professor, que
deve acompanhar o quadro de mudanças e as normativas propostas nos documentos
governamentais.
No caso da Arte, qual a finalidade a que se propõe? Colli (1993) traz a questão
do reconhecimento do valor estético das obras de arte como um pressuposto da
educação artística para que o indivíduo desenvolva, em sua personalidade, uma visão
mais sensível, ampla e comprometida do seu papel como agente de mudanças na
sociedade.
772
[...] algo que, por óbvio, muitos esquecem: que não só potencia uma
habilidade manual, desenvolve um dos sentidos (a audição, a visão, o tato) ou
expande sua mente, mas, também, e, sobretudo, delineia e fortalece sua
identidade em relação às capacidades de discernir, valorizar, interpretar,
comprender, imaginar, etc., o que lhe cerca e também a si mesmo
(HERNÁNDEZ, 2000, p. 42).
Fundamentação teórica
A arte, assim como a leitura, está presente em toda trajetória das atividades
humanas e sua influência na Educação se dá ao longo de toda vida. Partindo desse
774
“Eu me senti muito bem. Foi como se eu tivesse naquele tempo antigo imaginando
como seria tudo aquilo. Eu achei uma maravilha por que fiquei sabendo de coisas que
nem imaginava que aconteceram” (Aluno “B”).
“Senti tristeza quando conheci o Pantheon dos Andradas, e quando vi o lugar onde os
escravos dormiam, no chão duro, frio e no escuro” (Aluno “C”).
777
“Eu me senti surpreso, não sabia que esses lugares eram tão importantes. Confesso que
pensei que fosse chato, mas fui descobrindo como apreciar aquilo, que faz parte da
nossa cidade. O que era para ser um passeio a fim de descobrir a arte que habita a nossa
cidade, virou um passeio histórico e divertido, e o que posso dizer é que faria esse
passeio outra vez” (Aluno “F”).
“Eu senti que estava adquirindo mais conhecimento, não tinha noção que todas aquelas
casas, monumentos, igrejas antigas, tinham tanta cultura para nos oferecer. Mas depois
do passeio adquiri mais conhecimento do que aqueles patrimônios históricos, não são
apenas coisas antigas, sem importância, mas, sim, aprendemos mais sobre o nosso
passado, a importância daqueles patrimônios, e que para vivermos o nosso presente e
futuro com mais cultura, precisamos estudar o passado para vivermos o agora. Gostei
muito de ter feito o passeio, pois enriqueceu mais meu conhecimento” (Aluna “G”).
Considerações finais
O que mata um jardim,
não é
Abandono...
O que mata um jardim é esse olhar
Vazio,
De quem por ele passa indiferente
Mário Quintana
Referências Bibliográficas
DUARTE JR, J.F. A Arte na Educação: cinco temas para reflexão. In: BONIN, I.;
TRAVERSINI, C.; EGGERT, E.; PERES, E. (Orgs.). Trajetórias e processos de
ensinar e aprender: políticas e tecnologias. RS: EdiPUC, 2008.
Comunicação
Ligia Elliot
Fundação Cesgranrio
Patricia Regina Santos
SME-RJ
1 Lei Municipal 2619, de 6 de janeiro de 1998 dispõe sobre a estrutura organizacional, pedagógica e
administrativa da rede pública municipal de educação.
781
A avaliação realizada para este estudo fez parte de um processo que pode refletir
na forma e na continuidade do próprio curso. Realizada ao final de dois cursos para os
Coordenadores Pedagógicos, consecutivamente em 2010 e 2011, foi classificada como
somativa a posteriori.
A seguinte questão avaliativa norteou o desenvolvimento do estudo. Até que
ponto o curso de Coordenadores Pedagógicos 2011 da 2ª CRE atendeu às expectativas
da formação continuada, explicitadas pelos participantes por ocasião da capacitação
realizada em 2010?
Os instrumentos de coleta de dados utilizados inicialmente foram elaborados
pela SME-RJ e 2ª CRE e aplicados durante e ao final da realização dos cursos. Foram
utilizadas informações coletadas nos seguintes instrumentos: a entrevista, realizada com
os Coordenadores Pedagógicos no Curso de 2010, os instrumentos avaliativos de cada
encontro do curso de 2010 sendo este um instrumento padrão da SME-RJ para todas as
suas ações formativas e o instrumento de avaliação final do Curso de Coordenadores
Pedagógicos 2011, elaborado pela equipe da GED/2ª CRE.
A entrevista utilizada aconteceu no primeiro encontro de 2010 como parte de
uma dinâmica de apresentação e entrosamento entre os pares. Esta era composta das
questões sobre a identificação do coordenador, da escola pertencente e perfil de
atendimento da mesma, formação acadêmica do coordenador, tempo de função,
experiência em turma de alfabetização e expectativa para esta capacitação.
A análise dos dados coletados pelos instrumentos que foram aplicados aos
Coordenadores Pedagógicos, participantes da formação continuada, cursos 2010 e 2011,
foi então realizada pela autora do estudo.
Os dados relativos à expectativa da formação do Coordenador Pedagógico
passaram por uma análise de conteúdo, observando-se as falas dos próprios
Coordenadores que serviram para a construção do Quadro para Coleta de Evidências.
785
paralela dos dois cursos analisados para melhor identificar os critérios avaliativos
atendidos.
Conforme explica Elliot (2012, p.17), a lista de verificação consiste em
RESULTADOS
Foram analisadas as respostas dos instrumentos com enfoque qualitativo,
considerando o teor das mesmas para compor as evidências relacionadas aos
indicadores do Quadro 2. O objetivo da análise foi mapear as percepções dos
Coordenadores Pedagógicos envolvidos sobre as ações de formação continuada
desenvolvida pela 2ª CRE, com ênfase no Curso de Coordenadores Pedagógicos 2011 e
em sua aplicabilidade nas abordagens pedagógicas na escola.
A Expectativa do Coordenador Pedagógico para o Curso
A disposição da análise dos dados da entrevista na questão aberta referente à
ação formativa foi representada no esquema (Figura 2) que contém as três categorias
identificadas para a variável expectativa do Coordenador Pedagógico: formação de
Coordenador Pedagógico, suporte ao professor e aplicabilidade na escola.
As categorias e indicadores surgiram mediante a análise do conteúdo das
respostas dos coordenadores participantes.
787
Para uma melhor análise dos resultados quanto ao atendimento das expectativas
dos Coordenadores Pedagógicos, foi utilizada uma Lista de Verificação (Quadro 3)
como instrumento avaliativo.
Este instrumento foi construído a partir da coleta de evidências, compondo um
quadro que foi organizado com as mesmas categorias e indicadores, identificados por
meio das falas representativas dos Coordenadores Pedagógicos. A partir dos dois
789
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A questão avaliativa tinha a intenção de identificar o atendimento das
expectativas do Coordenador Pedagógico sobre a formação continuada oferecida no
curso de 2011.
Na opinião dos participantes, o atendimento aos aspectos da formação
continuada do Coordenador Pedagógico obteve maior incidência de respostas positivas
com relação aos aspectos contemplados nesta categoria. O aspecto incentivo à
permanência na função foi o aspecto que recebeu menor número de respostas positivas
nesta categoria. Desta forma, entende-se que as expectativas da categoria formação do
Coordenador Pedagógico foram atendidas. A categoria suporte ao professor apresentou
o atendimento pleno, sendo contemplados todos os aspectos. Já na categoria
aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos na escola durante o curso, não foi
constatado seu atendimento pleno. Nesse sentido, apenas os aspectos incentivo ao
sucesso escolar e melhoria de desempenho não alcançaram o atendimento pleno pelo
curso de 2011, requerendo aprimorá-los.
Com o propósito de compor o cenário conclusivo deste estudo, foi elaborada a
matriz do Curso de Coordenador Pedagógico 2011 da 2ª CRE, a partir das percepções
dos participantes, utilizando o modelo da matriz SWOT2.
2
WORTHEN, SANDERS, FITZPATRICK (2004).
791
Rotatividade da função;
entre outros; Falta de Coordenadores em algumas unidades;
Conscientização dos diretores para importância
da participação do Coordenador Pedagógico;
Destacar a relevância da Função do Coordenador
Pedagógico no desenvolvimento escolar;
Seleção de Coordenadores que atendam a mais
critérios para função;
REFERÊNCIAS
Comunicação
1. INTRODUÇÃO
1
Nome fictício para resguardar o anonimato da instituição.
796
Esse movimento teve seu marco inicial na proposição da CDJA de estender aos
CES a realização da Semana EJA, evento corrente nas demais escolas de EJA,
recomendando a realização de atividades diversificadas e coletivas, oficinas, palestras
etc. A determinação provocou intensos debates, havendo poucos com consciência de ser
este um movimento que expressava outras convicções que possibilitariam, ao longo do
tempo, mudanças mais profundas de concepções e não apenas de oferta de atividades
diversificadas.
A 1ª Semana EJA no CES Bairro B foi realizada no segundo semestre de 2002.
Organizada precariamente, devido à falta de espaço e material, aconteceu com oferta de
oficinas de artes, exibição de filmes, palestras, aulas práticas, seminários, apresentação
de grupo de teatro formado por alunos do CES.
Era a primeira vez, em 11 anos, que se via um movimento como este na escola.
Marcava o início da oferta de outras atividades, para além do empréstimo de módulos e
da realização de avaliações. O primeiro desafio vencido, que levou a meditar sobre as
contribuições de tais atividades no cotidiano, fazendo germinar a ideia de se
incorporarem atividades da Semana EJA de forma permanente aos modos de
atendimento do CES. Para alguns, constituíam apenas meio de auxiliar e otimizar a
conclusão do curso; para outros, o reconhecimento da existência de diversos saberes
válidos e de diferenciadas formas de aprender.
Ao mesmo tempo, foram criados pelo CES, programas de aceleração de estudos,
que buscavam atender alunos com urgência de conclusão, reconhecendo os muitos
sujeitos privados da escolarização formal que desenvolveram potencialidades e
2
Nome fictício, guardando o anonimato da instituição.
3
Centro Integrado de Educação Pública, “famosos” Brizolões, implantados no Governo de Leonel
Brizola.
798
insumos recebidos, imbricam-se com a qualidade dos profissionais da escola que, por
sua vez, integram processos mais complexos que definem qualidade da educação.
Qualidade da educação está, assim, intrinsecamente ligada à práxis humana, à condição
de “sujeitos criativos, imaginativos, produtores de sentidos, significados e símbolos,
capazes de fazer perguntas que vão além do estritamente físico, racional ou sentimental”
(MORAES, NAVAS, 2009, p. 14-15), seres em permanente construção, o que coincide
com o pensamento freireano.
Em se tratando do CES, pensar qualidade de ensino implica considerá-la
processo de muitas dimensões, na acepção polissêmica do termo, cuja busca pressupõe
permanente adaptação de seus modos de atendimento, alterando práticas cotidianas, de
forma a melhor responder a especificidades de seu público. Este, o desafio que
impulsionou esta pesquisa.
Reformar a escola por meio da transformação de suas práticas, não vem sendo
tarefa fácil, nem de curto prazo. Práticas mudam a partir do diálogo, utilizado como
mediador de processos de reflexão e de desenvolvimento.
6. Concluindo...
Considerando o embate entre práticas instituídas e instituintes no CES e sua
relação com o conceito de qualidade de ensino por mim definido — ligado à ação
humana, a capacidade humana de intervir e transformar — é possível concluir que tais
práticas evidenciam tentativas de melhoria da qualidade de ensino e que a ação da
equipe gestora ao lidar com essas tensões tem contribuído para a melhoria do ensino
ofertado nesse espaço.
A diversificação de modos de atendimento parece revelar-se um caminho para a
melhoria da qualidade de ensino nesse espaço, qualidade entendida como fruto da ação
humana, que respeita a diversidade dos sujeitos e seus percursos de formação,
possibilitando o aproveitamento de estudos realizados, assim como o reconhecimento de
saberes válidos, constituindo-se um indicativo de que o CES pode, também, ser um
espaço pleno de possibilidades ainda não desenvolvidas ou subutilizadas, à medida que
atende necessidades, interesses e expectativas dos sujeitos.
É possível afirmar que tais processos têm contribuído para a melhoria da
qualidade de ensino, ao legitimar práticas humanas, fugindo à padronização. Para
804
REFERÊNCIAS
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Artes de fazer. Rio de Janeiro: Vozes,
2011.
GADOTTI, Moacir. Educação de Adultos como direito humano. São Paulo: Instituto
Paulo Freire, 2009. (Cadernos de Formação, 4).
SOUZA, Graça Helena Silva de. Centros de Estudos Supletivos - CES/RJ: tensões
entre o instituído e o instituinte em uma escola semipresencial para jovens e adultos.
Disponível em http://www.anped.org.br. Acesso em 14 ago. 2004.
Comunicação
RESUMO: Este trabalho apresenta uma pesquisa realizada em uma escola municipal de
Serra-ES, tendo como foco o Programa Educação em Valores Humanos,
posteriormente denominado Projeto Escola Sustentável. Experiência que revela os
limites e as potencialidades do trabalho desenvolvido nos espaços escolares e, ainda, a
urgência de superar propostas educacionais distantes de um posicionamento crítico, ao
se colocarem como estratégicas no enfrentamento dos dilemas sociais. A metodologia
considerada foi o estudo de caso. Análise documental, observação participante e
entrevistas semi-estruturadas foram as técnicas utilizadas para a coleta dos dados.
Palavras-chave: Programa Educação em Valores Humanos. Projeto Escola
Sustentável. Sentidos da Escola.
APRESENTAÇÃO
Apresento reflexões da pesquisa realizada por ocasião do Mestrado em Educação, na
qual busquei, dentre outros objetivos, compreender o significado do desenvolvimento
do Programa Educação em Valores Humanos (PEVH), posteriormente denominado
Projeto Escola Sustentável (PES), em uma escola da rede municipal de Serra-ES. Nesse
sentido, evidenciar a relação dessa experiência às questões e desafios atuais do
desenvolvimento do trabalho educativo nas escolas. A metodologia considerada para
realização da pesquisa privilegiou o estudo de caso, e as técnicas utilizadas para a coleta
de dados foram análise documental de fontes relacionadas ao programa e ao projeto
destacados, observação participante e entrevistas semi-estruturadas aos profissionais da
instituição educativa selecionada para sediar a pesquisa. Portanto, o objetivo deste
trabalho é perquirir a argumentação de que o desenvolvimento do PEVH e do PES nas
escolas, embora tenha despertado atenção a questões atuais relevantes, negaram um
debate mais amplo e profundo acerca dos sentidos da escola na atualidade. Distanciam-
807
Tal iniciativa foi amplamente divulgada junto à sociedade (folder’s, jornal institucional
da empresa que apoiou e patrocinou a proposta, materiais disponibilizados às escolas
pela prefeitura de Serra-ES, sites, outdoor’s, propagandas televisivas) sendo aclamada
como novidade no âmbito da educação e, portanto, perspectiva inovadora e eficaz frente
aos problemas sociais desdobrados no contexto escolar.
violência nas unidades de ensino municipais. Tal programa chegou ao município por
intermédio do Instituto Educação em Valores Humanos (IEVH), uma organização não-
governamental (ONG), cuja “missão” se volta à regeneração espiritual da humanidade
por meio dos princípios da verdade, retidão, paz e amor. No que tange à educação, a
centralidade de sua implementação voltou-se ao desenvolvimento de “valores
humanos”. Portanto, na escola, o objetivo do PEVH era desenvolver não só os aspectos
cognitivos, mas também, de acordo com o material orientador da proposta, “[...] os
conceitos da inteligência emocional e espiritual” (EDUCAÇÃO, 2011, p. 10),
sinalizando preocupação em promover um novo sentido à escola, dada a atual
configuração da sociedade.
A proposta voltou-se, destarte, a formar cidadãos não apenas por meio do ensino de
conhecimentos científicos, mas potencializar os valores “inerentes à alma humana”
(EDUCAÇÃO, 2011, p. 13). O PEVH favoreceria, então, a mudança do sistema de
ensino atual rumo a uma educação voltada para a vida, para o ser integral.
Para despertar os verdadeiros valores é necessário mudar o sistema de ensino
com a adoção do Programa. [...] um trabalho que requer experiência e
envolvimento, pois não é uma mera transmissão intelectual de conhecimento.
É vivência transformadora (EDUCAÇÃO, 2011, p. 13).
Como então mudar esse contexto? Basta, segundo a proposta em análise, romper com as
formas destrutivas de pensamento e fazer com que os valores essenciais e inerentes à
alma humana irradiem. Para tanto, o autoconhecimento é fundamental, pois estar de
bem consigo mesmo favorece a convivência harmoniosa, afinal, “É geralmente uma
pessoa agressiva que enxerga o mundo sempre cinzento e perigoso” (EDUCAÇÃO,
2011, p. 14). Portanto, a aplicabilidade do PEVH nas escolas foi proposta em torno da
prática de “valores humanos”. Nessa direção, a metodologia apresentada propôs aulas
809
Por ter se aclamado como maneira de solucionar muitos dos problemas vivenciados
pelas escolas na atualidade, desconsiderando as condições de constituição de nossa
sociedade e os debates em pauta a respeito dos desafios e conquistas educacionais,
veiculou-se a ideia de que mudanças substantivas são possíveis e acontecem desde que
o sujeito (no caso, os alunos, os professores, as famílias) sejam motivados
primeiramente a amar a si mesmos para, posteriormente amar o mundo e, portanto,
alcançar a felicidade.
1
Lei que estabelece a criação do Programa Educação em Valores Humanos no âmbito da Secretaria de
Educação do município de Serra-ES, tendo como objetivos a redução da evasão escolar; a melhoria da
disciplina; a permanência e o sucesso dos alunos na escola; a consideração no currículo escolar dos
temas: amor, verdade, paz, não violência e boa conduta, além da importância da conservação do
patrimônio público e do fortalecimento das relações interpessoais. Reitera a ideia de uma educação
voltada ao ser humano integral e para a vida, sem, no entanto, tender a qualquer religião. A lei garante
ainda que o PEVH deve ser implementado nas escolas por adesão, após apresentação pela Secretaria de
Educação e discussão ampla com a comunidade. Considera também que, para seu desenvolvimento
poderão ser estabelecidas parcerias (com empresas, entidades e outros órgãos).
810
O PES seria, portanto,uma proposta em parceria com uma empresa privada (a mesma à
época do PEVH) a ser desenvolvida nas escolas, tendo como abordagem conceitual e
metodológica a sustentabilidade e os valores humanos. Esclareceu que a maneira de
desenvolvimento do Projeto seria por meio de vários outros projetos mais específicos,
estes formulados pelas escolas, tendo como parâmetro as orientações do documento
divulgado a todas as unidades de ensino. Este documento previa o tema geral Escola
Sustentável e os subtemas Sustentabilidade e Relações Humanas; Sustentabilidade e
Relações com o Meio; Cidadania, Sustentabilidade e Valores Humanos; Consumo
sustentável.
Percebe-se, portanto, uma continuidade em favor dos valores humanos, mas expande
essas considerações teoricamente, pois considera o conceito sustentabilidade de forma
ampla, destacando relações entre as dimensões social, ambiental e econômica, referidas
superficialmente no PEVH.
811
Foi possível perceber que tais experiências adentram as escolas de modo natural, sendo
vistas muitas vezes como algo positivo:
Chegou pra escola a necessidade, porque, assim, o tema meio que entrou em
pauta agora... realmente se fala da questão da sustentabilidade (DIRETORA
- informação verbal)
Em função das condições atuais dos alunos, a escola tem sido sufocada por
outras coisas e o ensino dos conteúdos fica prejudicado. Igual... houve
mudança no comportamento dos meus alunos do começo do ano pra cá, mas
o problema é a aprendizagem (PROFESSORA P - informação verbal)
Aprendizagem dos “conteúdos” por si só, no sentido técnico, no sentido utilitário, não é
o sentido que se defende aqui; mas também não é possível afirmar que apenas a
consideração harmoniosa das relações humanas a partir da verdade, da ação correta, da
paz, do amor e da não violência será capaz de modificar o sentido da escola atual. O
acesso aos conhecimentos históricos é condição para o desenvolvimento de relações
humanas distintas da que hoje colocamos em evidência, na medida em que favorece um
olhar àquilo que o homem foi e é capaz de construir. Ao mesmo tempo em que o
contexto atual coloca em evidência o conhecimento superficial, destaca a autonomia das
pessoas frente à vida. Seria esse o contraponto. Ir à contramão disso é afirmar políticas
públicas, portanto, políticas que reconheçam os dilemas enfrentados cotidianamente
pelos professores no ato de ensinar e fazer aprender, e também pelos alunos no acesso
aos conhecimentos e a outros bens. Políticas que de fato se assentem junto a
perspectivas em torno do bem comum. A consideração da justiça social seria um
começo.
São, pois, argumentos que desconsideram as tensões históricas em torno das quais
vislumbramos a ampliação da garantia do acesso à educação, atendendo exigências
legítimas da sociedade pelo acesso ao conhecimento e, também, a demanda do mundo
do trabalho, voltando-se ao aprender a fazer em detrimento de sua consubstancial
dimensão política. Argumentos que desconsideram a função de assistência social que a
escola também tem assumido, dada às tensões desiguais, fruto da lógica produtivista,
configurando um terreno de disputas entre as demandas da sociedade civil por uma
educação como bem público e as premissas hegemônicas.
Deste modo, a escola tem sido desafiada a propor a formação integral do homem, ou
seja, conforme João Oliveira (2009), uma formação que potencialize o desenvolvimento
físico, político, social, cultural, filosófico, profissional, afetivo; que conceba o homem
em sua totalidade. Portanto, a função legítima da escola de transmitir o conhecimento
científico, artístico, filosófico, tecnológico e uma consciência crítica a seu respeito pode
ser questionada. E, para compreender melhor os sentidos assumidos pela escola
contemporânea é preciso pensar a respeito da natureza do Estado dentro da lógica
capitalista revelada pelas políticas educacionais.
Fanfani (2007, tradução nossa), afirma que a escola parece ter perdido o rumo; vive uma
crise de sentido. Pois, apesar de se passar anos na escola sendo certificado por isso, este
espaço não tem necessariamente ensinado coisas importantes para a vida, como
conhecimentos básicos de matemática e de línguas e nem critérios éticos e estéticos. No
que pese as inúmeras conquistas já registradas em torno do direito à educação, o que se
tem mostrado é o esvaziamento da escola de formas de pensar novos modos de
existência, haja vista a crise social que a atravessa. Entretanto, mesmo submetida a
circunstâncias que dificultam uma educação em seu sentido pleno, não se pode deixar
de reconhecer sua potência positiva. É nesse sentido que se torna urgente afirmar a
função da escola como espaço de formação humana. Espaço que conceba os
conhecimentos como produtos humanos e que possibilite novas formas de instituir um
mundo comum. Um sistema educativo verdadeiramente democrático deve ser capaz de
propiciar o acesso ao conhecimento conquistado historicamente e de desenvolver novas
formas de se pensar a sociedade a partir de um posicionamento crítico e responsável,
815
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda que essas propostas tenham também considerado o atual contexto que nos
impõem uma lógica competitiva e individualista ao afirmar que a orientação dada aos
816
Essa configuração permite perceber o caminho porque passa a constituição das políticas
educacionais. Não um caminho linear, mas um caminho de idas, vindas e distinções; um
processo de muitos movimentos que revelam a correlação de forças e interesses
distintos subjacentes a esse processo, não só no âmbito da formulação, mas também no
âmbito da implementação dessas políticas, sejam elas municipais, estaduais ou federais.
Movimento esse contraditório que, ao mesmo tempo em que estabelece limites, aponta
algumas possibilidades. Trata-se, como propõe Telles (1999), da possibilidade de
formular perguntas às urgências que se colocam; é a problematização dos dramas da
existência na exigência de equidade e justiça.
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, Dalila Andrade. Gestão das políticas públicas educacionais: ação pública,
governance e regulação. In: DOURADO, Luiz Fernandes (Org.). Políticas e gestão da
educação no Brasil: novos marcos regulatórios. São Paulo: Xamã, 2009b. p.15-29.
OLIVEIRA, João Ferreira de. A função social da educação e da escola pública: tensões,
desafios e perspectivas. In: FERREIRA, Eliza Bartolozzi; OLIVEIRA, Dalila Andrade.
(Orgs.). Crise da escola e políticas educativas. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2009. p. 237-252.
Comunicação
Resumo:Este presente artigo tem como objetivo analisar os desafios sobre a formação
do professor, a partir dos desdobramentos da sociedade contemporânea e das políticas
educacionais. Tomou-se como base o pensamento de vários autores (FREITAS, 2002,
2007; HÖFLING, 2001; MIZUKAMI, 2002; OLIVEIRA, 2012; SAVIANI, 2009) que
discutem a respeito do tema e oferecem importantes contribuições ao debate. O advento
do século XXI e os avanços vivenciados no campo tecnológico, na comunicação e na
informação, por meio do processo de restruturação do capitalismo, trouxe repercussões
para a educação, influenciando diretamente, as políticas educacionais em vários
aspectos. Analisou-se que a promoção de uma formação de professores mais consistente
deve considerar a participação dos professores e/ou suas entidades representativas na
elaboração de políticas educacionais de formação, repensar as atuais políticas
educacionais e apropriar-se dos conhecimentos produzidos pelas universidades para
fazer o enfrentamento dos problemas educacionais.
Palavras-chave: Formação do professor, Concepções, Perfil docente.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como tema a formação do professor e visa discutir a
formação do professor na sociedade contemporânea, destacando o cenário atual, o perfil
exigido e as políticas desenvolvidas para este fim.
A temática formação de professores possui um extenso número de estudos e
pesquisas e com o intuito de contribuir para o debate, o artigo apresenta no primeiro
momento o cenário atual da formação do professor, destacando as concepções e
1
Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do
Oeste do Pará- UFOPA
2
Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do
Oeste do Pará- UFOPA
819
características exigidas para o novo perfil deste profissional. Em seguida, reflete sobre
formação do professor no âmbito das políticas públicas, abordando o panorama político
neoliberal e os desafios necessários para a instituição de uma política global de
formação docente.
Este nuevo tiempo despunta con raíces que se originan básicamente a partir
de tres procesos históricos: la revolución tecnológica de la informática, la
crisis y reestructuración del capitalismo y del estatismo y el florecimiento de
movimentos culturales transnacionales como el ambientalismo, el feminismo
y los derechos humanos. La interacción de estos procesos generó una nueva
sociedad estructurada en redes - network society - una economía global
informatizada y una cultura de la realidad virtual en un mundo cada vez más
interdependiente. (BRASILEIRO, 2000, p. 2-3)
Essas competências [...] são elaboradas sem a crítica necessária sobre o que
está por trás delas e de seu pretendido reconhecimento universal, uma vez
que se limitam a descrever as características desejadas, sem promover
elementos que ajudem a definir como se constroem essas características em
situações concretas. (TORRES apud MIZUKAMI, 2002, p. 30).
Esta observação é importante, pois, se poderia imaginar que a culpa por não
desenvolver esta ou aquela característica recai única e, exclusivamente, sobre a pessoa
do professor. Aqui reside um perigo, pois, o foco volta-se para a pessoa do profissional
da educação, e não se leva em consideração as condições sociais. Zeichner (2008)
chama isso de “viés individualista” onde os professores deixam de questionar,
confrontar e transformar os aspectos estruturais de seu trabalho, e acabam introjetando
uma culpa, resultando inclusive no ‘esgotamento docente’.
A partir desses esclarecimentos, questiona-se se existiria ou não a necessidade
de se estabelecer um perfil para o professor. A resposta é sim. Cada escola, cada
821
instituição de ensino deve forjar esse perfil do professor desejado. E aqui surge um
desafio: ao instigar cada instituição de ensino, quer seja ela uma escola ou universidade,
sobre o perfil do professor desejado, os sujeitos que participam desse processo devem se
sentir provocados a definir e se envolver na construção desse perfil do professor ou da
escola desejada. Implica em dizer que quem vai orientar os traços desse perfil, não é
mais alguém ou alguma entidade de fora, mas os próprios sujeitos das instituições de
ensino que assumem essa responsabilidade.
Não podemos dissociar essa discussão do perfil do professor dos tempos atuais,
sem fazer referência a sua formação. De fato, este tema apresenta alguns pontos
nevrálgicos que precisam ser analisados. Mizukami (2002) destaca dois modelos da
formação do professor, sendo um baseado na racionalidade técnica e outro na
racionalidade prática.
No modelo da racionalidade técnica da formação do professor, existe uma
espécie de hierarquia de saberes, onde se colocam em primeiro lugar os conhecimentos
teóricos, o domínio dos conteúdos das disciplinas e as técnicas para transmissão dos
saberes em detrimento dos conhecimentos de natureza pedagógica. A racionalidade
técnica concebe o professor como um técnico especialista, um detentor das regras do
conhecimento e um conhecedor das estratégias de ensino voltadas para proporcionar a
transmissão do saber.
Porém, essa concepção deixa de considerar a realidade que se apresenta nas
escolas ou nas salas de aula. A formação do professor, neste modelo, deixar de ver a
realidade em suas múltiplas situações divergentes que vai além dos referenciais teóricos
e técnicos. A racionalidade técnica por não considerar esta realidade, não apresenta
solução para os problemas educativos.
A formação inicial e a formação continuada na perspectiva da racionalidade
técnica têm papéis distintos na formação de professores. Na formação inicial, por
exemplo, há uma maior ênfase no conhecimento advindo das teorias e das técnicas da
ciência básica e aplicada. As habilidades para o manuseio das teorias e das técnicas
deverão vir posteriormente, quando o estudante de licenciatura tiver aprendido a ciência
relevante (MIZUKAMI, 2002, p.19). Por sua vez, a formação continuada tem como
característica a oferta de cursos de rápida duração para os professores, com o objetivo
de instrumentalizá-los, uma vez que já estão no exercício da profissão, para aplicação de
técnicas e métodos de ensino. A formação continuada, quando analisada no contexto da
822
É uma aprendizagem que deve se dar por meio de situações práticas que
sejam efetivamente problemáticas, o que exige o desenvolvimento de uma
prática reflexiva competente. Exige ainda que, além de conhecimentos, sejam
trabalhadas atitudes, as quais são consideradas tão importantes quantos os
conhecimentos. (MIZUKAMI, 2002, p. 12).
f) A formação continuada tem sido realizada por meio de cursos de curta duração,
meramente instrumentais e em serviço e desconectada da formação inicial.
(TORRES 1999 apud MIZUKAMI, 2002, p. 36)
3. À GUISA DE CONCLUSÃO
Ao final deste trabalho, não podemos, contudo, deixar de fazer referência ao
pensamento de Saviani (2009), onde coloca que o cerne de todo o cenário que perpassa
a formação o professor é a questão das condições de trabalho do docente e, nos faz
compreender que qualquer política instituída que não contemple essa questão, será uma
política inócua, cujas consequências interferirá em todas as outras dimensões
associadas.
828
REFERÊNCIAS
Comunicação
Introdução
A incursão no tema organização do trabalho nos espaços educacionais remete, de
imediato, a algumas delimitações para melhor compreensão do texto a seguir. Entende-
se, nesta comunicação, por espaço educacional o cotidiano da escola pública paulista de
ensino regular e por organização do trabalho o conjunto de ações desenvolvidas pelos
gestores escolares para que se realizem as aulas previstas legalmente, uma vez que, o
elevado índice de absenteísmo docente tem sido relatado por muitos profissionais e
especialistas da educação como problema reincidente.
Isto posto, o texto está organizado de modo a situar o problema do absenteísmo
docente na organização do trabalho educacional em uma escola pública paulista de
831
1
O especialista no componente curricular e cujas aulas foram atribuídas antes do início do ano letivo.
2
Professor substituto que, em muitas oportunidades, ainda é estudante na graduação.
832
Balizamento teórico
Vincent, Lahire e Thin (2001) afirmam ser um erro acreditarmos que a escola e
sua forma, como hoje a conhecemos, são o resultado de uma sequência lógica de
eventos imunes a conflitos políticos, econômicos e de interesses. Porém, poderíamos
partir de um período anterior ao século XVII, em que, exceto aos filhos dos nobres, a
transmissão de saberes condicionava-se ao ver e fazer no âmbito familiar, baseada na
cultura oral, que demandava uma grande quantidade de tempo, mas um processo pouco
sistematizado ou padronizado.
A evolução e consequente divulgação da escrita no ocidente determinaram novos
rumos para a humanidade, sobretudo nas relações de manufatura, convivência social e
aquisição de saberes, instalando definitivamente a cultura da escrita. Com o advento do
processo de urbanização da Europa, a partir da revolução industrial, as situações de
ociosidade de um grande número de crianças pobres chamam a atenção de J. B. de La
Salle que, ao agrupá-las para, ao menos, ensiná-las a ler, escrever e contar percebe a
necessidade de sistematizar as atividades a elas oferecidas, adequando-as também ao
tempo disponível, visto que sua relação com as crianças não tinha vínculos familiares
nem profissionais. Começa, assim, a caracterização dos atuais moldes de forma escolar,
833
tornando-se impossível, a partir daí, falarmos de escola ou forma escolar sem a presença
de um espaço físico, saberes, práticas e tempo específico. O uso e o controle do tempo
na escola estão definitivamente instituídos.
Ao descrever a situação da cidade de Manchester quando de sua industrialização,
Engels (1989) também relata uma situação de ociosidade acentuada por um grande
número de crianças, aproximando-as da marginalidade, do alcoolismo e de outras
situações de degradação humana. Um equipamento social eficaz foi necessário para
transformar esse quadro, pelo menos até as crianças alcançarem idade ou
comportamentos aceitáveis e serem absorvidas pela industrialização. Caso este
equipamento social eficaz seguisse o modelo industrial vigente, tanto melhor seria.
O equipamento social existe: é a escola reorganizada por Lancaster e Bell no
século XIX o qual, atendendo também o modelo industrial vigente, oferecia o ensino
mútuo. Com baixos investimentos e utilizando um professor por turma, era possível
educar elevado número de crianças ao mesmo tempo valendo-se, para tanto, da
consagração dos elementos presentes na forma escolar. Isto é, em um espaço específico
eram oferecidos os saberes necessários para que crianças alcançassem, no mínimo, o ler,
o escrever e o contar. Contudo, eram indiretamente moldadas a atender as exigências da
indústria como o cumprimento de regras e comportamentos. O controle do tempo por
meio do relógio, do sinal ou do apito tornou-se fundamental nessa etapa de
escolarização das crianças, tanto que Narodowski (1999) cita a escola, nesses moldes,
como instituição de sequestro da infância.
O século XX depara-se com dois grandes questionamentos no campo educacional.
Primeiro que já não existem mais dúvidas quanto à necessidade de democratização da
educação, visto que a cultura escrita atingiu seu status de imprescindível ao mundo
moderno, e a indústria, em franca ascensão, requer mão-de-obra cada vez mais
qualificada. A princípio, oferecer esta qualificação compete à escola; porém, sua
organização e seu currículo não atendem a essas necessidades.
Nesse contexto, o século XX finda com o tema educação entregue à competência
de organizações mundiais, haja vista a mesma assumir proporções, valores e custos
financeiros impensáveis há cem (100) anos. Encerrada a segunda grande guerra
mundial, países que se firmaram econômica e politicamente criaram instituições como o
Banco Mundial que, entre suas funções, determina o que e como ensinar, a quem e por
quanto tempo ensinar, quem e com qual formação ensinar e, o principal, com que custo
financeiro.
834
25% das atividades desenvolvidas por sua turma. Poderemos chegar a uma situação
hipotética em que professor e aluno fazem uso da maioria dos recursos legais que
justificam seu afastamento da sala de aula e as datas dos mesmos não coincidam,
resultando na questão: a quanto tempo estará reduzida a possibilidade de uma situação
de ensino e aprendizagem favorável para ambos dentro do ambiente escolar?
Questões Metodológicas
Alguns resultados
3
Obtidas também na pesquisa referência desta comunicação.
837
que descrevem bimestralmente esta situação torna possível inferir que a mesma não foi
solucionada em nenhum dos bimestres, ao contrário, se agravou, haja vista a redução na
participação do professor titular, ampliação da participação do professor eventual, das
aulas vagas e das situações diversas. Vejamos alguns números e informações adicionais
obtidas também na pesquisa referência desta comunicação.
• apenas 64,42% ou 8.664 das 13.448 aulas previstas para as doze turmas foram
ministradas pelo professor titular da disciplina (o especialista). Os professores
titulares valeram-se de dezoito (18) diferentes tipos de afastamento sendo a
maioria sem perda ou redução de vencimentos;
• 15,37% ou 2.067 das 13.448 aulas previstas para as doze turmas foram
ministradas por quinze (15) diferentes professores eventuais, alguns ainda
estudantes e a grande maioria sem nenhuma experiência no Magistério;
• 5,96% ou 801 das 13.448 aulas previstas para as doze (12) turmas ficaram
vagas, isto é, os alunos não tiveram contato com o professor titular da disciplina
nem com o professor eventual e por não serem dispensados permaneceram em
situação de ociosidade, uma vez que não se registrou (e nem foi observada) a
realização de nenhuma atividade pedagógica com estes alunos;
• 14,25% ou 1.916 das 13.448 aulas previstas para as doze turmas foram utilizadas
em situações diversas como entrega de kit escolar ou utilizar quatro (04) dias
letivos para realização de Conselhos de Classe e Série quando oficialmente está
previsto apenas um (01) dia letivo, dispensar o aluno para limpeza da escola ou
os famosos pré-conselhos. O professor estava presente, mas o aluno foi
convidado a permanecer em casa ou foi dispensado mais cedo. Ocorreram
dezessete (17) diferentes situações ao longo do ano;
• O número de aulas vagas e situações diversas aumentaram a cada bimestre;
• O professor eventual é o único recurso utilizado pela escola para suprir a falta do
professor titular da disciplina;
• Os indicadores de frequência dos alunos, face às várias ocorrências observadas
ao longo do ano, não são confiáveis;
• Pouco tempo é destinado ao processo de ensino e aprendizagem, muito tempo é
destinado a produção de relatórios.
838
4
De um total de 424 alunos 93,87% (398 alunos) apresentou frequência igual ou superior a 75% do total
de aulas dadas.
839
Considerações finais
O quadro que se apresenta das condições em que foi desenvolvido este ano letivo,
permite inferir que foi muito difícil, para qualquer um dos professores que atuou nesta
escola, desenvolver um trabalho com um mínimo de continuidade, considerando que,
quando a interrupção não era fruto de sua ausência, a escola encarregava-se desta
interrupção. Esse contexto permite, da mesma forma, inferir que, mesmo com a entrada
de um professor eventual, a continuidade não se deu por motivos já citados
anteriormente, e penso que este mínimo de continuidade seja um item indispensável na
busca de um trabalho de qualidade, o que, decerto, permitirá registros mais confiáveis e
avaliações mais eficientes.
A maneira como a escola foi priorizando a construção de relatórios e documentos
expressos principalmente na ocorrência das situações diversas, em detrimento do ensino
e aprendizagem, sugerem outro questionamento: não seriam os registros de frequência
dos alunos somente mais um destes documentos?
Esses dados, aqui reunidos, permitem identificar que a escola usa os mecanismos
disponíveis e oficiais para enfrentar as questões de falta dos professores. Porém cria
outras situações que interferem no fluxo do processo educativo. As faltas, de
professores, mudam de caráter, pois de um direito passam quase a ser um dever de uso e
as redes de ensino precisam atentar para soluções de outra natureza diante dessa
realidade.
Faz-se necessário destacar também que muitas das decisões tomadas no âmbito da
escola solucionam uma situação pontual, momentânea, todavia produzem
desdobramentos negativos no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem, à
formação da sociedade e à prática docente, entre outras, contudo, transfere para a equipe
gestora da escola e para os profissionais da educação que ali atuam a responsabilidade
direta por estes desdobramentos, visto que os registros oficiais enviados aos órgãos
centrais – por esta mesma equipe gestora - dão conta de que a questão do absenteísmo
docente não precisa ser revista, pois os professores eventuais são suficientes em
quantidade e qualidade; não ocorrem aulas vagas nem situações diversas e a frequência
dos alunos não está prejudicada.
Tão importante quanto garantir que as aulas legalmente previstas ocorram é o fato
de garantir que todas as informações referentes a este esforço cheguem de modo
840
fidedigno, aos órgãos centrais. Ocultá-las depõem contra uma escola pública de
qualidade.
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Alegre: Artes Médicas. 2000.
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VINCENT, Guy, LAHIRE, Bernard, THIN, Daniel. Sobre a história e a teoria da forma
escolar. Educação em revista. Belo Horizonte, nº 33, 2001. pp. 7-47.
Comunicação
Ofício de aluno
Utilizamos o termo “ofício de aluno” conforme descreve Perrenoud (1995), como o
ofício desempenhado pela criança e pelo adolescente, em muitos anos de suas vidas, não
remunerado e obrigatório. Destacamos a naturalização deste ofício, na medida em que
não se concebe a ideia de uma criança ou adolescente fora da escola. O autor destaca
que nesse ofício, o aluno não tem liberdade de escolha, depende do adulto, é controlado
quanto ao tempo, modalidade e exercício, sendo constantemente avaliado. Controle que
pode ser burlado quando o aluno resiste ao ofício, traçando estratégias de sobrevivência,
ainda que estas estratégias transformem as relações educacionais em relações
meramente utilitaristas.
Para o autor, a escola, vista como preparação para a vida e para o futuro, justifica
currículos e pedagogias focados na função de preparar sujeitos produtivos e aptos ao
mercado de trabalho. Porém alerta que centrar a escola somente em currículos,
aprendizagem de conteúdos, avaliação e métodos, pode ofuscar o cotidiano da escola
em suas microrealidades: os sentimentos dos alunos, as relações traçadas em torno de
liderança e popularidade, a necessidade de ser amado, de falar de si. Se o ofício de
aluno formata o adolescente ao cobrar seu desempenho de ofício de aluno, provoca
também escapes, fugas deste ofício imposto. O autor aponta que na escola há vida e que
não devemos reduzir as crianças e adolescentes ao papel de alunos.
Para Sarmento (2011), o ofício de aluno se relaciona ao ofício de criança, configurando
comportamentos esperados das crianças de acordo com o seu papel social na escola
pública. O autor fala de uma normatividade que se constitui a partir de uma ideia do que
é “ser criança”, produção de uma normatividade que exclui qualquer diferença que
escape ao padrão.
Segundo o autor, o padrão de normatividade, constituído a partir dos saberes
institucionalizados sobre a criança, notadamente a Psicologia do Desenvolvimento,
produz a “não-criança”, aquela que não se enquadra aos padrões. Entendemos que os
saberes sobre a adolescência e as práticas sociais podem produzir os “não-
adolescentes”, que seriam os que não se encaixam nos padrões de normatividade
prescrita a estes sujeitos.
O adolescente em liberdade assistida nem sempre é visto como apto ao ofício de aluno,
pois às vezes assume-se sua incapacidade de desempenhar tal ofício. Muitas vezes ele
não aceita este ofício, resiste ao que pode não mais fazer sentido ao seu cotidiano.
Inserido em atos infracionais, comumente encontra-se evadido da escola.
845
O desafio de pensar a escola para este adolescente emerge em toda sua intensidade:
como pensar em práticas institucionais e educativas que façam sentido para este sujeito?
Entendemos, a partir de Perrenoud (1995), que se há um ofício de aluno,
necessariamente, há um ofício de professor. Sentido dado na relação entre ambos,
relação intrínseca entre sujeitos que ocupam lugares diferenciados, mas que atuam
concomitantemente no mesmo espaço – a escola. Pensar num aluno que recusa “seu”
ofício implica em pensar novas formas de lidar com este sujeito, novas práticas de
ensino, fundação de novas práticas de trabalho.
De acordo com a autora, se a criança não for considerada como sujeito, respeitada em
suas culturas, em sua forma de ser e agir no mundo, diferenciada do adulto, não há
educação inclusiva, de fato. De forma paralela, a mera inserção compulsória não garante
a inclusão do adolescente em liberdade assistida se ele não for aceito em suas diferenças
e singularidades, reconhecido em sua condição de ser adolescente e sujeito de direito, se
não gerar o sentimento de pertencimento a esta escola, provocando linhas de fuga às
condutas violentas como forma de resistir ao não-pertencimento.
O desafio deve aqui se converter em esperança, não uma espera em algo utópico, mas
em algo absolutamente concreto: se a criança e o jovem configuram o milagre, que é a
capacidade de refundar e recriar o mundo - gerar pertencimento e potencializar estes
sujeitos talvez seja um caminho possível para um mundo no qual possamos nos sentir
partícipes/ativos em sua criação. Falamos de milagre conforme Arendt (2007), para
quem o que pode salvar o mundo de sua ruína é o fato do nascimento, “em outras
palavras, é o nascimento de novos seres humanos e o novo começo, a ação de que são
capazes em virtude de terem nascido” (p. 259).
Considerações finais
À indagação do título Adolescentes em liberdade assistida e escola: um encontro
possível?, produzimos mais indagações que respostas, cientes que o encontro, a relação
entre docentes, gestores e adolescentes podem gerar novos processos de trabalho, novas
formas de pensar a instituição de ensino, suas práticas e seus cotidianos. Desnudamos
uma educação pautada em desafios, apostando numa ética que potencialize direitos, na
busca da efetividade dos direitos da juventude, na constituição de sujeitos de direitos.
A continuidade da pesquisa se ancora na aposta de que as mudanças históricas acerca do
direito da juventude não se percam diante de práticas naturalizadas e
despotencializadoras, atualizadas na contemporaneidade. Propomos pensar em práticas
que apostem na vida e nos encontros, em caminhos abertos para a construção de uma
escola como espaço de criação e invenção, conforme Scheinvar (2009), num espaço
possível, tecido na relação entre a escola e os alunos que cumprem liberdade assistida.
Referências bibliográficas
PATTO, Maria Helena Souza. “Escolas cheias, cadeias vazias”: nota sobre as raízes
ideológicas do pensamento educacional brasileiro. Estudos Avançados, v. 21, p. 243-
266, 2007.
Comunicação
1
Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Viçosa
2
Professora Assistente na Universidade Federal de Viçosa
3
Professora Adjunta na Universidade Federal de Viçosa
851
1. Introdução
4
Triviños (1992) conceitua entrevistas semi-estruturadas como aquela que parte de certos
questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida,
oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se
recebem as respostas do informante.
854
5
Mais informações em
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=210&Itemid=324>.Acesso
em: 17. Jul. 2014.
855
preenchendo-o á lápis porque na notificação dos resultados feita pela comissão essa nota
é revista.
Sem dúvida, a Notificação dos Resultados é o momento mais importante da
ADI, pois é onde o professor é chamado para a entrevista e auto avaliação. A Comissão,
depois de analisar o PGDI do professor e também seu Termo de Avaliação vai
questionar com o docente se ele merece a nota que se deu. Este é considerado um
momento muito rico pra ambas as partes. Para o professor por ter a oportunidade, entre
outras coisas, de rever a sua prática e também de expor angústias e necessidades quanto
á sua condição de trabalho; para o gestor e a comissão por poder ajudar esse professor a
se encontrar na sua prática ou até mesmo encaminhá-lo para um curso de capacitação,
entre outras providências.
Ao observar o cotidiano da escola, percebemos que há um mal estar muito
grande em relação á ADI na escola. Muitos professores, conversando entre si nos
intervalos das aulas, questionavam e criticavam essa avaliação. Em um trecho da
entrevista com um professor ele diz: “a ADI pra mim sempre foi um processo tranquilo
dentro do cotidiano escolar. Mais uma exigência do estado que devemos cumprir.
Quanto à relação entre avaliador e avaliado, no geral, na escola, percebo que é tensa,
para mim normal” (professora A). O mesmo professor comentou que apesar de todos os
docentes saberem que essa é uma exigência do Estado, ainda assim ela interfere no
relacionamento entre os colegas de trabalho deixando o clima tenso.
Neste sentido Foucault (1984) apud Bertoldo (2012) diz que as formas de
poder exercidas sobre a vida cotidiana imediata, classificam os indivíduos em
categorias, os designa pela sua individualidade própria, liga-os a sua identidade, impõe-
lhes uma lei de verdade que é necessário reconhecer e que os outros devem reconhecer
neles. É uma forma de poder que transforma os indivíduos em sujeitos.
É interessante perceber como também os próprios professores acabam se
contradizendo, é como se não tivessem uma opinião sólida formada a respeito da ADI,
pois, a mesma professora que a principio diz não se importar com a avaliação,
posteriormente comentou: “Sobre essa relação de poder, percebo uma vontade de
aparecer (no caso dos membros da comissão da ADI) acho que o objetivo é mostrar
que tem a vida profissional dos colegas nas mãos...bobagem..., mas esta é a minha
visão... porém nunca me preocupei com notas e tal, levo numa boa”(professora A).
Há professores que consideram a ADI como um ponto positivo no ambiente
escolar e acreditam que com ela a escola só tem a ganhar. Em relação à Avaliação de
858
Ainda segundo Alves (2006) ao avaliar essa política, pode-se destacar como
ponto positivo o fato de não ser apenas um sistema de bonificação, mas de progressão
funcional. Todavia, como indica a mesma autora, esse sistema pode prejudicar direitos
adquiridos pelos servidores, ao ser substituído o tempo de serviço pelo desempenho
individual para o cálculo dos adicionais. A autora ressalta ainda que a avaliação por
pares tem fragilidades, tais como: interferências pessoais e de amizade.
E ainda, segundo a gestora, o processo de avaliação de desempenho se bem
conduzido se torna um motivador. “Penso que deveríamos ter maior tempo para sentar
com o avaliado, conversar com ele sobre suas ações, expor as ideias da Comissão e
associar seu trabalho aos resultados das avaliações internas e externas dos alunos”.
Assim, a gestora e a comissão teriam melhores resultados com relação à avaliação. Mas,
como os prazos são curtos e o trabalho de avaliar, preencher os formulários, reunir
comissão, transcrever para o computador, gerar os dados, enfim, como os prazos de
tanta ação (muitas vezes burocráticas) são bastante curtos e se acumulam ao trabalho já
realizado, não conseguem cumprir com o verdadeiro papel de avaliar para melhorar.
Isso porque não há nenhum bônus salarial à comissão de avaliação, para que ela realize
esse trabalho, mas sim, ela se torna mais um serviço realizado gratuitamente ao Estado,
e que se acumula a tudo o mais que cada um dos profissionais envolvidos já faz em seu
dia a dia.
A gestora, ao ser questionada sobre sua percepção ou crença na influência da
ADI no cotidiano escolar afirmou que, devido ao zelo que grande parte dos colegas de
trabalho tem com suas carreiras, não querem ter uma nota ruim nem ser oscilante no
desenvolvimento dos trabalhos. Para ela, se bem direcionada, a avaliação mesmo que
polêmica algumas vezes, pode gerar bons frutos para a comunidade escolar e vir a se
tornar um instrumento motivador, pois os profissionais da educação já enfrentam
problemas demais no seu dia a dia e não precisam que esse meio que o Estado cria para
vigiar os trabalhadores, se concretize como mais um monstro “Temos é que nos
informarmos e não nos deixarmos abater, nem nos desunirmos”(gestora).
860
5. Considerações Finais
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Comunicação
INTRODUÇÃO
1
Os desafios da gestão de um curso de Pedagogia na modalidade à distância, no I Seminário nacional de
Política e gestão da Educação do Grupo de Pesquisa em Avaliação, Política, gestão e Organização da
Educação (APOGEU), da Universidade federal de Itabaiana – Sergipe, 2011. Publicado com a professora
Elaine de Oliveira Carvalho Moral Queiroz.
864
2
Site da ABED (associação Brasileira de Educação à Distância), Congressos da ABED, Simpósio
Internacional de Educação a Distância. ENPED – Encontro de pesquisadores em Educação à distância.
Universidade Federal de São Carlos UFSCar (2012). Repositório da UFSJ. Colóquio Internacional sobre
Gestón Universitaria em América del Sur. Mar del Plata (2010). Entre outros.
865
0
2º Sem 1º Sem 2º Sem 1º Sem 2º Sem 1º Sem
2011/3 2012/8 2012/15 2013/30 2013/45 2014/54
turmas turmas turmas turmas turmas turmas
(gráfico 1)
100
90
80
70
2º Sem 2011/professores
60 1º Sem 2012/professores
50 2º Sem 2012/professores
87 1º Sem 2013/professores
40
71 2º Sem 2013/proessores
30
1º Sem 2014/professores
20 43
34
10 20
9
0
Pedagogia 100% EAD
(gráfico 2)
A PESQUISA
promover
fóruns de
mediação debate
21% 17%
estimular/
motivar o
aluno
17%
(gráfico 3)
A análise do campo pedagógico nos permite afirmar que os desafios estão bem
distribuídos entre as possibilidades de intervenção mediação, preocupação com a
motivação do aluno para a participação em fóruns e o pensar metodológico do
professor.
Já no campo da comunicação e da linguagem além de identificarmos que existe
uma concentração no desafio do diálogo com o aluno, podemos indicar que as duas
outras respostas indicadas clareza e a linguagem quando superadas também auxiliarão
na superação do desafio do diálogo. A partir dessa constatação.
A ação gestora foi da proposição de um curso sobre aprendizagem colaborativa
que visou a realização da construção de trabalhos coletivos que visavam a afinação da
fala, da escuta e da interação. Em nova pesquisa certamente esses dados estarão
alterados.
870
diálogo com o
aluno
50%
(gráfico 4)
Assim, como no campo da comunicação e da linguagem, o campo metodológico
apresenta forte destaque para o desafio da organização do tempo com 41% das
respostas. Podemos afirmar que esse também foi um desafio bastante citado pelos
alunos, cujos dados foram apresentados em outro estudo3.
O oferecimento de um novo cronograma, como sugestão de organização das
atividades e ações poderá facilitar e amenizar esse índice.
Quanto aos demais desafios indicados podemos inferir que o item maior
exigência na elaboração das atividades, demonstra um processo de reflexão dos
professores sobre suas ações e práticas, possibilitando o despertar de mudanças
significativas em vista da melhoria da qualidade do curso nas questões metodológicas.
3
Estudo Individual – um desafio aos alunos do curso de Pedagogia na modalidade EaD, apresentando no
IX Colóquio de Pesquisa Sobre Instituições Escolares, 2013. Publicado em Anais com as professoras
Andreza Gessi Trova, Andreia Cristina Leite e Elaine de Oliveira Carvalho Moral Queiroz.
871
campo metodológico
autodisciplina
frequencia/ 13%
acompanhamento
das atividades
6%
maior exigência na
elaboração de encontro virtual
atividades 31%
6%
quantidade de
fóruns propor discussões
25% 19%
(gráfico 5)
campo técnico
uso da
cronograma ferramenta
32% 32%
organização do
tempo
36%
(gráfico 6)
No quadro abaixo identificamos as respostas dadas pelos professores, no tocante
à superação de alguns desses desafios indicados nas respostas à segunda pergunta:
Quanto à terceira pergunta, ressaltamos que não foram todos os professores que
responderam à pergunta, os que o fizeram apresentam respostas bem variadas e que
caracterizam uma preocupação relacionada à metodologia e desenvolvimento das aulas,
tais como: plágios nas produções dos alunos; falta de etiqueta no EAD – NETIQUETA
873
FINALIZANDO.....
REFERÊNCIAS:
ABED, Censo EAD Brasil: Relatório da Aprendizagem a Distância no Brasil, 2012.
ABED – Associação Brasileia de Educação a Distância, Curitiba: Ibpex, 2013.
MILL, BRITO, SILVA & ALMEIDA. Gestão da educação a distância (EaD): Noções
sobre planejamento, organização, direção e controle da EaD. Em
htt//www.ufsj.edu.br/portale-repositório.
Comunicação
Introdução
A gestão democrática figura desde 1988 como um princípio de nossa educação
nacional, expresso na Constituição Brasileira. Alicerçada pelos princípios da
descentralização, autonomia e participação, a gestão democrática possibilita aos sujeitos
envolvidos diretamente na educação definir os rumos do projeto político pedagógico e
das políticas públicas educacionais, de modo a garantir transparência e exercer o
controle social sobre o Estado. Nesse sentido, os conselhos de escola surgem e
legitimam-se legalmente como um instrumento potencial para esse processo de
democratização.
Sobre os conselhos de escola, Cileda Perrella (2012, p. 103) considera:
1
Como já assinalamos no resumo esse texto trata de um excerto da pesquisa de doutorado “Gestão
Democrática na Educação infantil: o compartilhamento da educação da criança pequena” realizado no
CEI Anália Franco no município de São Paulo. Para a realização da pesquisa foram entrevistados 11
professoras, um professor, três coordenadoras pedagógicas, uma diretora, dois auxiliares técnicos de
Educação, um agente escolar, uma auxiliar de limpeza, uma auxiliar de cozinha, uma supervisora de
ensino e 18 famílias – sendo 17 mães e um pai, num total de 40 sujeitos. Os nomes do CEI e dos sujeitos
entrevistados são fictícios.
877
cotidiana e a visão negativa dos profissionais a respeito das famílias são elementos que
refletem na constituição dos conselhos e reforçam uma perspectiva pouco democrática.
Apesar da boa vontade da diretora Maria Vitória em não concentrar a
coordenação do conselho sob sua responsabilidade, contribuindo para que a presidência
fosse ocupada por outros membros, na prática o conselho ainda é espaço cujo
funcionamento e organização são conduzidos e determinados pelos profissionais do
CEI.
O caráter burocrático dos conselhos já é visualizado desde sua formação, na
eleição de seus representantes no início do ano letivo. Em 2010, a diretora promoveu
uma reunião geral no auditório do CEU e informou aos pais a necessidade da
colaboração das famílias para a composição do conselho de CEI e da APM2. Ao término
de sua fala, pediu que os pais que desejassem participar desses órgãos se manifestassem.
Os pais interessados inscreveram-se e, como o número de voluntários não excedeu ao
número de vagas desse segmento, os pais foram eleitos naquele momento.
No ano de 2011 mudou-se a estratégia, mas permaneceu o caráter normativo. Ao
realizar as primeiras reuniões de pais, as professoras recolheram os nomes dos pais que
desejavam participar desses órgãos e depois realizaram a primeira reunião do conselho
com os pais que se ofereceram a participar.
A eleição do segmento dos professores e da secretaria é interna, também sem a
realização de assembleias ou debates.
Muitas mães dizem não conhecer o conselho e lembram apenas quando tiveram
de participar do processo de referendo da diretora substituta, ou quando foram
informadas sobre a prestação de contas das festas. Ao se referirem ao papel do conselho,
atrelam-no à importância de realizar melhorias no CEI.
Pode-se inferir que tal visão é fruto das intervenções da diretora e das
professoras, que explicitam com muita ênfase a dimensão “instrumental” da
participação das famílias, ou seja, sua importância para resolver os problemas
estruturais e materiais do CEI, tais como: comprar ventilador para as salas, fazer
reparos, decidir sobre a proposta de compra de objetos necessários para a unidade.
O caráter instrumental e sua dissociação do trabalho com as crianças e seu papel
político também é perceptível no depoimento de Rosenilda, mãe de Otto e Enrico. Ela e
2
No CEI Anália Franco existe a Associação de Pais e Mestres (APM), mas, em função de seu caráter
meramente burocrático, só consegui observar uma reunião que foi dedicada a prestação de contas e
assinatura de documentos. Por esse motivo, muitas vezes as reuniões da APM nem ocorriam, as
assinaturas eram colhidas nos momentos de entrada ou saída das crianças.
878
o marido, José, são muito atuantes no CEI, participam das reuniões, comunicam-se
constantemente com as professoras e acompanham cotidianamente o desenvolvimento
dos filhos. Contudo, na entrevista, Rosenilda afirmou que é importante a participação
dos pais no CEI, mas, ao falar do conselho, informa que não participa nem conhece.
Reconhece que não se interessa por esse tema e, apesar de considerá-lo importante,
acaba por participar apenas das questões que se relacionam diretamente aos seus filhos:
“Tenho interesse pelo meu filho, não pelo conselho.”
O desconhecimento das famílias sobre o papel do conselho enfraquece seu
potencial de contribuir para a garantia do compartilhamento da educação da criança
pequena no âmbito coletivo, delineando novas formas de conceber a infância.
Enfraquece também o caráter de instrumento de pressão para o Estado assumir e
efetivar um atendimento de qualidade.
Outro dado importante é que, das 18 famílias entrevistadas, 6 eram ou já foram
membros do conselho. Cassiana, mãe de Ramon, relata que entrou no conselho em 2010
e participou de algumas reuniões, mas afirma que não sabe nada sobre ele, e diz: “Fico
de olho fechado com a direção da Maria Vitória, confio.” Ela acha que o conselho é
importante para a melhoria do CEI e para participar só é válido se o pai “tiver a mesma
mente que a Maria Vitória”. Denise, mãe de Gabriele, informa que é do conselho, mas
nunca participou das reuniões.
O depoimento dessas duas mães evidencia uma percepção de que o conselho é
da diretora e as famílias entram para colaborar, mesmo que seja apenas com o nome,
como no caso de Denise. Isso pode ser reflexo da forma como é encaminhada a eleição,
que, desprovida de reflexão, não possibilita visualizar o significado do conselho e sua
importância para a educação das crianças. Tanto as professoras quanto a equipe de
gestão abordam a temática da participação das famílias no conselho como algo
necessário, uma obrigação das famílias, e não atentam para o caráter processual da
participação, que requer tempo e aprendizagens, onde se aprende a participar,
participando.
Rosail, Gilberto, Nilva e Verena são familiares que participam ativamente das
reuniões do conselho e, ao serem indagados sobre as aprendizagens dessa participação,
Verena diz que aprendeu que os pais também podem decidir sobre questões do CEI, não
apenas a diretora, relatando que sua visão sobre esse espaço de participação foi sendo
construída ao longo de sua vivência nas reuniões; Gilberto, presidente do conselho,
entende que a participação nesse órgão deliberativo é importante, pois possibilita saber
879
o que está acontecendo no CEI. Sua experiência ao longo de 2011 permitiu constatar a
ocorrência de vários problemas internos, entre professoras e equipe de gestão, que não
imaginava existirem. Segundo sua visão, é fundamental que haja um trabalho coletivo
para garantir a qualidade do atendimento. Acrescenta que sua participação trouxe-lhe
também aprendizagens que repercutiram em sua família, pois “você acaba aprendendo
com o que as professoras falam, o que falam da gestão, de valores, do cronograma
deles, então às vezes você tenta levar pra casa.”
Gilberto relatou que ele e Rosail, sua esposa – que participou do conselho e
atualmente é da APM −, tinham dificuldades para organizar e controlar o orçamento
doméstico, não sabiam quais contas já haviam sido pagas ou não durante o mês e, por
isso, na maioria das vezes gastavam mais do que ganhavam. Ver as planilhas de gasto
apresentadas pela diretora Maria Vitória nas reuniões despertou-lhes o interesse e sua
esposa fez um curso sobre finanças online, oferecido pela Fundação Bradesco. Isso
contribuiu para que fizessem o orçamento familiar e, nos dois últimos meses do ano, já
conseguissem organizar as finanças da família.
Esse depoimento comprova o caráter formativo da participação, ainda que
restrito a experiências individuais: mesmo com a intenção de apenas prestar contas dos
gastos da unidade, na interação, a experiência de analisar as planilhas propiciou a
Gilberto e Rosail estabelecer relação com a realidade familiar e modificá-la.
Rosail diz que aprendeu muito quando participou do conselho e destaca que o
grande diferencial de participar é poder tirar as dúvidas e conhecer mais os
profissionais. Mas alerta que também é difícil, pois, ao participar da eleição da
coordenadora pedagógica como representante do segmento de pais, envolveu-se demais
com a situação e “sofria muito”, pois “foi difícil essa parte de votar, de ter a
responsabilidade [...] todo mundo tem direito de votar, mas assim, seu voto tem um
peso, ainda mais como pai.”
Diante do desconhecimento das famílias com relação ao papel político do
conselho e de dificuldades próprias do processo democrático ao ter de escolher,
posicionar-se diante de situações conflituosas, faz-se necessária a promoção de fóruns
que fortaleçam as possibilidades das famílias de constituírem uma visão mais ampla
sobre o caráter do conselho, a fim de qualificar suas aprendizagens individuais e
coletivas.
Entretanto, não foi possível constatar ações para a potencialização da
participação das famílias, apesar de as professoras entrevistadas destacarem a
880
Talvez a família seja perigosa para a comunidade escolar porque podem ser
tomadas decisões que os professores não concordam [...] não só aqui como
em diversos lugares que eu passei, como a escola particular [...] Por que às
vezes nós pensamos que algumas coisas são boas para a escola ou para...
mim... individualmente como pessoa ou como professora... E talvez os pais
não entendam dessa forma, talvez nem é tão bom pra criança, e o pai corre o
risco de votar numa outra questão, sei lá, decidir uma outra questão e o que é
interessante para o professor, pra mim individualmente como professor, ou
3
Para maiores detalhes a respeito dos conflitos internos no CEI consultar a tese: Gestão Democrática na
educação infantil: o compartilhamento da educação da criança pequena - capítulo 5 “Relações entre os
adultos no Cei Anália franco: tensões e contradições”.
881
Porém, tais questões não são responsabilidade apenas dos profissionais das
unidades, mas devem ser parte da política pública de Educação. De acordo com a
supervisora Melânia, o conselho de escola não tem sido uma questão priorizada pela
administração municipal, diferentemente de outros períodos em que os representantes
da administração, alinhados ao campo democrático e aos interesses da população,
investiram no fortalecimento desses órgãos. Em sua análise, há atualmente um
esvaziamento desta instância de participação e os professores participam devido à
pontuação para a evolução funcional, mas para as famílias não há vantagem nessa
participação.
Nos trechos das reuniões que apresentarei a seguir, busco mostrar como a
relação de dominação das professoras para com as famílias se expressa no cotidiano do
conselho.
O fato é que tanto o professor Jovino quanto Maria Vitória, que sempre foram
muito cuidadosos com relação ao respeito à participação das famílias, naquele momento
atuaram de forma muito coercitiva. Na entrevista, questionei o professor a respeito
desse fato e ele reconheceu que foi uma alternativa que desconsiderou as famílias, pois
o regimento foi discutido internamente desde o mês de julho e, por falta de
planejamento e organização, teve de ser encaminhado às pressas junto àquele segmento.
A diretora Maria Vitória diz que as famílias foram chamadas para discutir o regimento,
mas que houve pouca participação.
De qualquer modo, essa situação demonstra como o conselho serve para o
cumprimento de ações burocráticas, pois, devido às exigências da SME, os assuntos
debatidos na reunião devem ser deliberados pelo conselho; entretanto, a participação é
pró-forma, na medida em que as famílias pouco ou nada sabem sobre os assuntos
deliberados.
A aceitação do caráter burocrático do conselho pode chancelar o que já foi
assinalado por Paulo Freire quanto à nossa “inexperiência democrática”, e à falta de
885
Ficou na questão social, naquilo que a gente tava conversando, a criança com
piolho, ela vem, continua frequentando, é justo que venha, eu não acho certo
afastar uma criança por piolho, mas também não acho justo que o pai veja lá
e não limpe a cabeça da criança. Também não acho justo que outra criança
que a mãe limpe, pegue piolho, então eu acho que essa questão devia ser
tratada no conselho, o que vai fazer numa hora dessa? Você sabe que você
tem ali pai, você tem ali professores, você tem ali a gestão, então a decisão
dos três tem que ser tomada [...] a criança continua vindo, continua
incomodando o pai que limpa, continua incomodando, a cabeça da criança
está suja, o pai que não toma nenhuma providência, continua do mesmo jeito
[...].
Perguntei à professora Valentina se ela sabia qual o motivo pelo qual uma
família não se dispunha a tirar os piolhos das crianças e ela disse acreditar ser
“desleixo” e até “caso de maus tratos”, e defendeu a ideia de que é preciso chamar o pai
e falar:
[...] ou você trata o seu filho ou a gente encaminha ele para o conselho
tutelar, porque se está assim a cabeça, como será que está a casa? Se o
conselho delibera esse assunto e decide que vai acionar o conselho tutelar,
acionando o conselho tutelar dá um susto. [...] Eu tenho [a mãe] que dar pelo
menos um banho no meu filho, tenho que pelo menos passar um pente fino
886
na cabeça dele. De repente o conselho tutelar acha até outras coisas, que a
gente [professoras] às vezes não está indo atrás, a gente está sendo negligente
(Valentina, professora).
conselho serem ampliadas para instâncias em nível regional e municipal, para garantir a
interlocução entre as políticas públicas e as práticas cotidianas.
Referências
ADRIÃO, T. e PERONI, V. Implicações do Programa Dinheiro Direto na Escola,
Campinas, Educação & Sociedade, vol. 28, n. 98, p. 253-267, jan./abr. 2007.
CAMARGO, Rubens Barbosa de. Gestão democrática e nova qualidade do ensino: o
Conselho de Escola e o projeto da interdisciplinaridade nas escolas municipais da
cidade de São Paulo (1989-1992). 1997. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de
Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.
MARTINS, Ângela Maria; SILVA, Vandré Gomes da. Gestão escolar, autonomia
escolar e órgãos colegiados: a produção de teses e dissertações (2000 – 2008). Revista
Brasileira de Política e Administração da Educação, Brasília, DF, v. 26, n. 3, p. 421-
440, set./dez. 2010.
PARO, Vitor Henrique. Por dentro da escola pública. 3. ed. São Paulo: Xamã, 1995.
Comunicação
Introdução
O presente trabalho integra-se ao projeto de pesquisa em rede, financiado pela
CAPES/INEP (Edital n. 38/2010), intitulado “Indicadores de qualidade e gestão
democrática” cuja problemática é discutir a qualidade da escola básica referente aos
indicadores de desempenho, gestão democrática e avaliação em larga escala. O
889
“sociedade” sobre o aprendizado dos alunos por meio das chamadas avaliações
externas.
Outra solução apresentada é o sucessivo aumento de recursos para a educação
escolar. Apesar de ser possível identificar algumas conquistas com relação a esta
solução, como a aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) seguida da aprovação do
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Escola Básica (FUNDEB), Bencini e
Minami (2006) consideram que ainda há muito a ser feito neste campo.
A valorização dos profissionais da educação, por meio da qualificação
profissional e do aumento de salários, é outro ponto que aparece com certa frequência
como quesito necessário ao alcance de uma educação escolar de qualidade. No que se
refere à atuação dos diretores de escola, aponta-se a necessidade de uma formação de
caráter gerencial-empresarial, em que se desenvolva a capacidade de mediação dos
interesses advindos de todas as partes.
Diante do que foi exposto até o momento, observamos uma forte contradição,
uma vez que consideramos difícil, se não impossível, estabelecer objetivos educacionais
coletivos em uma escola cuja gestão é impulsionada pelas avaliações externas e, a partir
delas, tenta estabelecer ações pontuais nos moldes da gestão empresarial, em que
prevalecem as relações verticais e o diretor é considerado o maior responsável pela
posição que a escola ocupa no ranking nacional.
Na mesma perspectiva são realizadas as propagandas televisivas do IDEB (2007,
2009), em que uma delas é encerrada com um recado para os diretores dizendo que a
recuperação de um aluno com dificuldades de aprendizagem é um direito e está previsto
na lei, para isso, todas as escolas públicas receberiam um material para orientar sobre a
Prova Brasil. Novamente, a propaganda é encerrada afirmando que, “buscar mais
qualidade na educação é compromisso de todos”.
Já a propaganda de 2011 começa dizendo que nos últimos dez anos as avaliações
internacionais colocaram o Brasil entre os três países que mais evoluíram na educação e
afirma que a qualidade melhorou em todos os níveis. Depois, apresenta a evolução do
IDEB brasileiro desde 2003 e acrescenta que a meta é chegar em 2022 com a nota 6,0
dos países desenvolvidos. Encerra apresentando o material que será distribuído nas
escolas e alerta os professores para se mobilizarem e mobilizarem suas escolas, pois, “a
educação brasileira está no caminho certo”. Resta-nos saber aonde este caminho irá nos
levar!
893
1
O endereço do portal do MEC é http://portal.mec.gov.br e o do INEP é http://portal.inep.gov.br
2
Antes disso, porém, a avaliação nacional da educação básica já vinha se configurando na prática com
uma institucionalização incipiente e um fundamento legal provisório. De acordo com Freitas (2004), entre
1987 e 1990, os processos avaliativos eram realizados na forma de programa do Ministério da Educação
(MEC) denominado Sistema de Avaliação do Ensino Público de 1º Grau (SAEP) e, a partir de 1992, com
algumas alterações, o referido programa deu origem ao Sistema de Avaliação da Educação Básica
(SAEB), cuja primeira regulamentação legal ocorreu com a edição da Medida Provisória nº 661/1994.
894
Na sequência, o PNE elenca como objetivos centrais para os dez anos seguintes
à sua publicação3: elevar o nível de escolaridade da população, melhorar a qualidade do
ensino em todos os níveis, reduzir as desigualdades sociais e regionais de acesso e
permanência na escola pública; e democratizar a gestão do ensino público. Para tanto,
estabelece algumas prioridades dentre as quais está a de “desenvolvimento de sistemas
de informação e de avaliação em todos os níveis e modalidades de ensino”. Os dados
coletados por meio desses sistemas, segundo o documento, constituem “instrumentos
indispensáveis para a gestão do sistema educacional e melhoria do ensino.” Observa-se,
assim, a tentativa de intensificar a regulação central pela via da avaliação e dos sistemas
de informação.
Com relação à qualidade do ensino, é importante registrar que ela é definida
tendo como referência as experiências internacionais de modo que o desafio expresso no
PNE é “oferecer uma educação compatível na extensão e na qualidade à dos países
desenvolvidos”.
No que se refere à educação básica, foco deste estudo, o documento apresenta o
diagnóstico, as diretrizes e os objetivos e metas para cada nível de ensino. No tópico
que trata dos objetivos e metas, a avaliação em larga escala aparece sempre como
ferramenta para operar o monitoramento do trabalho desenvolvido pelas escolas e
sistemas de ensino.
Outro aspecto que chama a atenção é a associação da ideia de qualidade de
ensino à melhoria do desempenho dos alunos nos processos avaliativos realizados pelas
diferentes instâncias de governo.
O último instrumento normativo analisado foi o Decreto nº 6.094/2007 que
dispõe sobre a implantação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação. Tal
Plano, conforme o artigo 1º, corresponde a “conjugação dos esforços da União, Estados,
Distrito Federal e Municípios, atuando em regime de colaboração, das famílias e da
comunidade, em proveito da melhoria da qualidade da educação básica” (BRASIL,
2007).
No artigo seguinte do referido documento é estabelecida uma série de diretrizes
a ser implementada pelos Municípios, Distrito Federal, Estados e respectivos sistemas
de ensino. Dentre elas, destacam-se a de “estabelecer como foco a aprendizagem,
3
A proposta de um novo Plano Nacional da Educação (PNE) que deveria vigorar de 2011 a 2020 foi
aprovada pela Câmara dos Deputados e pela Comissão da Constituição de Justiça somente em outubro de
2012 e está sendo analisada pelo Senado para, em seguida, ser encaminhada para a sanção presidencial.
895
4As escolas 1 e 2 apresentaram notas altas no SARESP e as escolas 3 e 4 apresentaram notas baixas no
SARESP.
896
são muito apegados ao professor, temos alunos que quando sabem que a
professora vai faltar, nem vem na escola. É um trabalho muito intenso muito
897
duro para os alunos virem no SARESP. A prova é aquela coisa, não pode
falar, não pode ir ao banheiro quando quer, não tem liberdade. É muito
diferente do dia a dia (D1, 2011).
Para esta diretora, as punições às escolas que não alcançam as metas culminam
com os cortes de verba porque o fato de não receberem bônus é uma das formas de
punição. Além disso, o SARESP gera conflitos, competição, favoritismo.
A D2 não apresenta tantos pontos críticos à avaliação externa em larga escala e
diz que em sua escola há o preparo do aluno o ano todo, “o ano todo trabalhando em
cima dos conteúdos, dos professores, das crianças, colocando as questões da prova.”
Com relação às punições, esta diretora, ao ser questionada a respeito dos resultados (se
eles refletem a escola com qualidade), diz que, quando atinge altos índices, a escola é
boa, mas entra em contradição com a D2 ao afirmar que governo investe nas escolas que
não atingem as metas.
Apesar das diferenças indicadas, quando questionadas a respeito dos objetivos
da escola e da função da gestão, as profissionais são claras e suas respostas
complementares: “a meta do governo é aumentar o índice, a nossa também é” (D1,
2011) e a função da gestão é “construir espaços para atender às orientações do
governo.” (D2, 2011).
As entrevistas com os D3 e D4 seguiram outros caminhos a partir de um mesmo
roteiro prévio.
Nas duas escolas, segundo os entrevistados, há trabalho bastante rigoroso,
disciplinado e disciplinar com a família e com os professores da escola, principalmente
na E3. Para o diretor desta escola, faz-se necessário que os alunos com dificuldade de
aprendizagem participem de
5
Inclusive, o D3 diz que quando chegou à escola, havia uma confusão de tarefas e, para solucionar o
problema, disse à coordenadora: “você vai controlar os projetos pedagógicos da escola, aqueles projetos
898
que estão declarados no começo do ano quando a gente faz um planejamento você tem que garantir a
eficácia e a eficiência deles.”.
899
escolares. De modo geral, as escolas têm buscado direcionar suas ações no sentido da
busca por alcance de resultados externos, o que contradiz fortemente os estudos que há
anos vêm sendo desenvolvidos no âmbito acadêmico, cujos resultados nos levam a
defender uma gestão mais democrática em que os objetivos educacionais sejam
delineados coletivamente de acordo com as necessidades e os anseios da comunidade
escolar.
REFERÊNCIAS
BENCINI, R.; MINAMI, T. O desafio da qualidade. Revista Nova Escola. São Paulo,
n.196, p.40-45,out. 2006.
Comunicação
Introdução
Esta comunicação visa analisar, de modo exploratório, relatos de livros de ocorrências
de uma escola pública situada em um território vulnerável2 da periferia do município de
1
Este estudo integra a pesquisa, Relações de Interdependência Competitiva entre Escolas e Qualidade
das Oportunidades Educacionais, em andamento, sob a coordenação do Centro de Estudos e Pesquisas
em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
2
Território é definido, como proposto por Santos (1999), como espaço humano e habitado, que não
abrange simplesmente um conjunto de formas naturais, mas sistemas naturais e artificiais, socialmente
902
São Paulo, com base nas contribuições e proposições de pesquisas sobre violência
escolar e indisciplina. Há um conjunto significativo de problemáticas socioeducacionais
que afeta escolas situadas em territórios de alta vulnerabilidade social. A violência, a
indisciplina e situações que conturbam o ambiente escolar representam uma parcela
desse conjunto e são temáticas relevantes para compreender o que se passa nessas
instituições em relação às matrículas, ao acolhimento e às transferências de certos
alunos. Alguns estudos sobre seleção e evitamento de alunos e processos de remoção de
profissionais da educação3 mostram que as representações desses profissionais sobre o
comportamento desses alunos interferem na possibilidade de acessarem certas escolas,
de permanecerem ou serem transferidos, e, também, nas suas decisões sobre remoção.
Relacionados a essas dinâmicas, há, ainda, estudos que afirmam que escolas de
territórios vulneráveis encontram dificuldade para desenvolver estratégias capazes de
lhes inserir de forma mais favorável no mercado de escolhas de profissionais e de
famílias preocupadas com a escolarização de seus filhos, o que termina por reforçar seus
problemas. De acordo com tal perspectiva, isso ocorre porque essas escolas vivenciam
ambientes muito conturbados (VAN ZANTEN, 2005).
Para este estudo, coletou-se uma série histórica de livros de ocorrência, de 2007 a 2013.
Trata-se de um documento escolar que faz parte do conjunto de livros oficiais das
escolas municipais de São Paulo, instituído pela Portaria SME 1358/2007, que dispõe
sobre esses documentos no âmbito das unidades educacionais desta rede de ensino.
Pressupomos que, por se tratar de um instrumento da gestão escolar, permite apreender
o que, na visão das equipes e profissionais da escola, conturba o ambiente, bem como
identificar os demais atores envolvidos nessas situações.
A análise compreende as ocorrências registradas de 2007 a 2011 e 2013 e, de modo
parcial, as de 20124. Embora, em sua finalidade, os relatos possam abarcar uma gama
variada de fatos do cotidiano escolar, focalizamos aqueles que dizem respeito à
disciplina e à violência escolar. Os estudos sobre esses temas asseveram sobre a
originados, junto com pessoas, instituições sociais e empresas, agindo em fluxo permanente e em relação
de interdependência. Desse modo, territórios vulneráveis seriam aqueles nos quais agentes e instituições
encontram-se sujeitos a riscos de diversas naturezas e que "não dominam um conjunto amplo de recursos
socialmente produzidos que lhes permitam fazer frente às forças e circunstâncias da sociedade que
determinam suas vidas; aproveitar as estruturas de oportunidade criadas pelo mercado, Estado e pela
sociedade; tomar decisões voluntárias para satisfazer suas necessidades, desenvolver suas potencialidades
e realizar seus projetos." (ÉRNICA; BATISTA, 2011, p. 26)
3
Cf. Alves e Batista (2012); Alves et. al (2103), Torres et. al. (2008).
4
Neste estudo, não tivemos acesso a totalidade das ocorrências do ano de 2012, posteriormente, a unidade
escolar cedeu-nos o livro.
903
[A] violência dos alunos, num primeiro momento, poderia ser considerada ou
como uma resistência à opressão sofrida – legítima (na perspectiva
“civilizadora” durkheimiana) ou não –, ou, ao contrário, como uma violência
integrante, papel deixado ao irracional num sistema que toma a desordem
para fazer a ordem.
Nesses termos, autores puderam afirmar que a universalização do acesso à escola não
necessariamente resultou em sua democratização, uma vez que as condutas de
convivência social próprias de uma determinada moral, tornariam mais difícil a
integração de novos públicos. Em decorrência, o desrespeito à norma se tornaria
progressivamente menos tolerado e mais suscetível a punições. Tal fenômeno, se
compreendido em conjunto, seria nomeado então, através dos escritos de Bourdieu e
Passeron (1975, p. 19), como violência simbólica, pois, ao impor ao conjunto de alunos
"significações consideradas legítimas por determinados grupos sociais, dominantes,
dissimulando as relações de força que estão na base de sua força, acrescenta sua própria
força, isto é, propriamente simbólica, a essas relações de força".
Ao mostrar a complexidade da violência simbólica no processo de reprodução das
desigualdades sociais na qual a escola teria papel importante, Bourdieu e Passeron
(1975) propiciaram novas formas de compreensão do fenômeno da violência e também
da disciplina na escola. Observe-se que o fenômeno refere-se ao tratamento de relações
904
entre indivíduos que não se dão no vácuo, mas no âmbito de relações sociais anteriores
aos próprios indivíduos, com as quais eles se deparam ao viver em sociedades nas quais
o conflito e a desigualdade social lhes são constituintes.
À luz dos estudos sobre a violência simbólica, Crubellier (1979) considerou que a
violência dos alunos seria uma resistência às normas dominantes. As reações de
afrontamento e oposição teriam a intenção de “frear” a ação da escola em relação à
cultural juvenil. Dessa maneira, a violência escolar estaria compreendida como uma
violência da escola, na qual a instituição seria uma mera reprodutora das normas e
regras sociais propícias aos grupos dominantes, e a violência dos alunos compreendida
como uma reação legítima a essa violência institucional.
A mudança de paradigma frente à legitimação da violência juvenil transformando-a em
delinquência juvenil passível de prevenção estaria, para Debarbieux (2002),vinculada à
opinião pública, quando esta, manipulada pela mídia e pelos poderes políticos, projeta
um “olhar reparador”, a partir do qual a escola teria um papel a desempenhar. Nesse
contexto de inquietude social e política da década de 1980, são produzidos os primeiros
relatórios sobre a crescente violência na escola tanto nos países europeus, quanto no
Brasil, fixando-se compreensões sobre suas repercussões tanto para a instituição escolar
como para a sociedade.
Especificamente, relacionado ao contexto brasileiro, Sposito (2001, p.90), em balanço
da produção sobre violência escolar no Brasil, argumenta ter sido após o início da
implementação de políticas educacionais voltadas à universalização da educação escolar
que eclodiram no país, por parte das escolas públicas, demandas no sentido de serem
"protegidas, no seu cotidiano, de elementos estranhos, os moradores dos bairros
periféricos, atribuindo a eles a condição de marginais ou delinquentes." Estudos
posteriores indicaram que, para além dessa violência externa aos muros das escolas,
produzia-se no país, a violência própria da instituição5.
5
Guimarães (1984; 1990) utilizou-se de aproximações qualitativas, enfocando a violência dentro de
unidades escolares. Costa (1993), Rodrigues (1994), Paim (1997) e Guimarães (1995) apresentam
pesquisas relacionadas à influência do tráfico de drogas e da disputa pelos territórios nos morros na
violência escolar do Rio de Janeiro. Cardia (1997) apresenta investigações sobre os efeitos da percepção
da violência nos bairros e seus possíveis efeitos sobre a vida escolar. Castro (1998) discute, em seu
mestrado, as representações de crianças e adolescentes a respeito da violência. Candau (1999) estudou o
tema da violência escolar no universo dos professores da rede pública. Laterman (2000) foi responsável
por uma investigação em duas escolas marcadas pela sensação de caos e de deterioração do clima diário
das interações. Camacho (2000) examina o tema da violência escolar na cidade de Vitória, capital do
Espírito Santo.
905
Apesar de um termo polissêmico, Sposito (1998, p.61) define violência como “todo ato
que implica ruptura de um nexo social pelo uso da força” e, nesse sentido, completa que
Cabe destacar que as reações dos alunos à produção da desigualdade escolar, discutidas
por Dubet (2001), poderiam ser incluídas na categoria violência à escola. Já a ação da
escola nessa produção da desigualdade poderia ser incluída na categoria violência da
escola. Sposito (1998) e, posteriormente, Camacho (2001) ponderam que os diversos
usos e significados da palavra violência, principalmente, quando utilizados ao lado de
termos correlatos como indisciplina, permitem alterações nos significados correntes
sobre as ações escolares, tornando aquelas, antes aceitas e corriqueiras, como violentas
ou vice-versa. Atos de violência se confundem, se interpenetram e se inter-relacionam
com a agressão de modo geral e com a indisciplina, trazendo, assim, a necessidade de
diferenciá-los Para fins deste artigo, será utilizado o conceito de indisciplina proposto
por Silva Neto (2011), que a define como desrespeito às regras, incivilidades, rebeldia,
insurreição, entre outros, mas que não envolve situações de agressão física e moral e
depredação do patrimônio.
Indisciplina e violência na escola encontram-se associadas nos estudos aqui
mencionados porque ambas tratam das relações de indivíduos no espaço de uma
instituição social constituída por representações e relações sociais mais amplas. Frente
às situações, normas ou regras sociais os indivíduos se comportam, muitas vezes,
assimilando-as, quebrando-as ou mesmo efetivando bruscas rupturas que podem
inclusive ensejar impossibilidade do diálogo e da convivência, casos em que se chega a
situações de agressão. Esses fenômenos, na literatura, podem ser compreendidos de
diversos modos: como reação à tentativa legítima, por parte da instituição, de introjetar
valores e regras voltadas à convivência social; como reação legítima de grupos sociais
dominados à tentativa de imposição de regras que favorecem grupos dominantes; como
reação à conversão das desigualdades sociais em desigualdades escolares, dinâmica
sobre a qual os alunos não têm governabilidade. Pode-se dizer ainda que para os estudos
mencionados é relevante diferenciar violência escolar e indisciplina para que se possa
melhor compreender o que se passa nessa instituição em relação às normas e regras.
907
Análise e resultados
A complexidade das situações cotidianas de violência e indisciplina enfrentadas nesta
escola evidencia-se por meio dos registros contidos nesses livros, abrindo um leque
infindável de leituras, problematizações e compreensões. Foram inventariadas 2550
ocorrências, transcritas de modo sumarizado para fins de análise. Nesta etapa, nos
propusemos a classificá-las e analisá-las à luz do quadro teórico ao qual nos filiamos,
criando um modelo (quadro 01) e observando variações e permanências sobre o que
conturba o ambiente escolar, na visão daqueles que produzem esses registros. Tal
modelo conta com cinco grandes categorias (de nível 1) e três subcategorias a elas
relacionadas (de nível 2).
Quadro 01: Categorias de análise
Categoria de nível 1 Subcategorias de nível 2
1. Violência na escola: quando uma ocorrência se deu dentro da Patrimonial
instituição, mas poderia, por sua característica, ter ocorrido em qualquer Física
outro espaço. Moral ou simbólica
Patrimonial
2. Violência à escola: quando uma ocorrência diz respeito a reações ao
Física
que representa a instituição escolar.
Moral ou simbólica
3. Violência da escola: quando uma ocorrência expressa uma violência Física
institucional e simbólica daqueles que representam a instituição. Moral ou simbólica
4. Indisciplina: ocorrências causadas por comportamentos que se insurgem contra regras, mas que não
implicam em agressão física, ao patrimônio ou agressão moral. Não contém categorias de nível 2.
5. Outros: situações que não puderam ser abarcadas pelas anteriores e cujo conteúdo foge ao objeto de
estudo. Não contém categorias de nível 2.
Todas as ocorrências foram classificadas de acordo com as categorias estabelecidas e
quantificadas. À medida que nos apropriávamos de seus conteúdos, observarmos
detidamente suas características e as comparamos. Cabe observar que situações de
quebra de rotina escolar foram classificadas na categoria Outros porque abarcam relatos
de atrasos, dispensas de alunos, problemas no cumprimento de projetos ou programas
sociais (por exemplo, a entrega do leite), dentre outras semelhantes. Durante a análise,
subcategorias de nível 3 foram criadas de modo a contemplar a diversidade de
ocorrências registradas nesses livros, totalizando 46 formas de classificação. Além
disso, a partir de certos indícios, inventaríamos questões que merecem ser pesquisadas a
partir de um maior conhecimento do contexto da escola e da escuta de atores
envolvidos.
Inicialmente, apresentamos a quantificação e categorização dos eventos, na tabela 2.
Posteriormente, discutimos conteúdos e vislumbramos questões que nos orientarão na
908
geração de novos dados para compreender as dinâmicas desta escola e suas relações
com o território no qual se encontra.
Tabela 01: Ocorrências classificadas segundo as categorias (em n.)
* É importante assinalar que a categoria de nível 3, ameaças seguidas de agressão física, pertence tanto à categoria
de nível 2, violência física, quanto à categoria de nível 2, violência moral ou simbólica, sendo portanto computada
nos dois campos.
6
Embora a maior parte das ocorrências esteja classificada na categoria outros, a análise estará focada nas
demais, tendo em vista os objetivos desse artigo.
7
A escola de ensino fundamental abarca também a modalidade Educação de Jovens e Adultos, portanto é
esperado que alunos adultos também estejam citados nas ocorrências.
909
Considerações finais
Dentre os tipos de ocorrências são os casos de violência na escola e de indisciplina
aqueles que, quantitativamente, mais conturbam o ambiente da escola-participante
segundo a análise. Os casos que envolvem agressão física ou moral aparecem em
número bem menor tanto quando implica em violência à escola por parte de alunos ou
familiares, como quando expressa a violência da escola em direção àqueles para os
quais o seu serviço público é direcionado. Como próximo passo da pesquisa, será
interessante verificar se esse dado coincide com a visão de gestores, professores e
alunos.
Considerando que a violência na escola, a maior parte das ocorrências, se dá em
espaços menos controlados e, ainda, conta-se com a forte presença dos familiares como
estratégia para resolução dessas situações, algumas questões se abrem para a
continuidade dessa pesquisa. Dentre elas, destacam-se: Qual o papel do livro e de seus
registros na tomada de decisão pela equipe de gestão sobre estratégias necessárias para
criar um ambiente escolar favorável? Como os representantes da escola lidam com seu
papel de mediadores de conflitos, de co-produtores de regras e de introjeção de valores
necessários à convivência social?
A análise de dados nos leva ainda a novas perguntas. Estaria a representação social dos
representantes da escola e dos relatores dos livros sobre alunos e suas famílias
interferindo na seleção do que é registrado e no modo como se registra as ocorrências?
Os casos de violência e indisciplina desta escola têm relação com a produção da
desigualdade escolar? Decorrentes destas questões, outra demanda se coloca para novas
explorações dos dados: a compreensão da relação entre a violência da escola, a
indisciplina e a produção da desigualdade escolar, à luz do que já foi objeto de estudo
de Bourdieu e Passeron (1975) e Dubet (2001). Para tanto, seria importante verificar o
911
perfil socioeconômico dos alunos sobre os quais recaem ações de violência moral e
daqueles que tomam parte de situações de indisciplina, bem como analisar, de forma
qualitativa, cada uma das situações classificadas nessas categorias, buscando identificar
similaridades e distinções.
A partir dos dados de pesquisas que tratam da relação entre vulnerabilidade social e a
dificuldade da escola em reter profissionais para uma boa qualidade do ensino
(TORRES et., 2008) ou em adotar estratégias que tornariam tais escolas mais atrativas
(VAN ZANTEN, 2005) e seguras (BATISTA; CARVALHO-SILVA, 2013), caberia
ainda uma observação. Reitera-se a importância do apoio de órgãos administrativos da
Secretaria Municipal de Educação no sentido de oferecer condições para que escolas
localizadas nesses territórios consigam fazer face àquilo que considera ser objeto de
conturbação de seu ambiente, seja para solucionar problemas, seja para mudar suas
representações sobre violência escolar ou indisciplina, seja para favorecer a constituição
de ambientes voltados para o processo de ensino e aprendizagem.
Referências
ABRAMOVAY, Miriam (Coord.). Cotidiano das escolas: entre violências. Brasília:
UNESCO/Observatório de Violências nas Escolas/ Ministério da Educação, 2006.
ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das Graças. (Coords.). Violências nas escolas.
Brasília: UNESCO, Instituto Ayrton Senna. UNAIDS. Banco Mundial. USAID.
Fundação Ford/ CONSED/ UNDIME, 2004.
CAMACHO, Luiza Mitiko Yshiguro. As sutilezas das faces da violência nas práticas
escolares adolescentes. Educ. Pesqui., v. 27, n.1. p. 123-140, jan./jun., 2001
DUBET, François. Plus d’école et aprés? Enfances & Psy, Paris, n. 16, 2001. p. 21-26.
RODRIGUES, Anita Schumann. Aqui não há violência: A escola silenciada (Um estudo
etnográfico). 1994. 91p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação
da PUC do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 1994.
TORRES, Haroldo da Gama et al. Educação na periferia de São Paulo: como pensar as
desigualdades educacionais? In: RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz; KAZTMAN,
Ruben. A cidade contra a escola?: segregação urbana e desigualdades educacionais
em grandes cidades da América Latina. Rio de Janeiro: Letra Capital, FAPERJ;
Montevidéu: IPPES, 2008. p. 59-90.
Comunicação
RESUMO: O presente artigo apresenta resultados de uma pesquisa que teve como
objetivo analisar e compreender as ações e os efeitos da Avaliação de Desempenho
Individual – ADI no trabalho docente. Deste modo, visou-se compreender as
concepções de avaliação de desempenho docente na atualidade; analisar as diretrizes
para a avaliação de desempenho docente no Estado de MG; apreender como se efetiva a
organização do processo de avaliação do desempenho docente e identificar os efeitos da
avaliação de desempenho no trabalho docente. Trata-se de uma pesquisa qualitativa,
com a realização da revisão bibliográfica, análise documental e aplicação de
questionários para os professores por meio da ferramenta formulário do Google drive.
Nessa perspectiva, o texto discute inicialmente a Avaliação de Desempenho:
concepções e práticas; na sequência princípios e aplicabilidade e por fim materialização
e efeitos no trabalho docente.
Palavras-chave: Avaliação de Desempenho Docente; Trabalho Docente; Política
Mineira.
INTRODUÇÃO
O presente texto objetiva analisar e compreender as ações e os efeitos da
Avaliação de Desempenho Individual – ADI no trabalho docente. Para tal buscou-se
compreender as concepções de avaliação de desempenho docente na atualidade; analisar
as diretrizes para a avaliação de desempenho docente no Estado de MG; apreender
como se efetiva a organização do processo de avaliação do desempenho docente e
identificar os efeitos da avaliação de desempenho no trabalho docente.
915
1
O Estado Avaliador consiste em realizar o controle e a regulação por meio da aplicação de avaliação, e
utiliza os resultados para distribuir financiamento e responsabilidades aos diversos campos da sociedade e
principalmente na educação. A finalidade disto é obter eficiência e eficácia na administração dos
recursos.
919
A próxima seção apresenta a análise e reflexões a partir dos dados coletados por
meio dos questionários aplicados, com a utilização da ferramenta formulário do Google
Drive.
a avaliação docente (76%). Talvez seja porque acreditam em uma possível mudança na
perspectiva e lógica com que esta política vem sendo utilizada.
No tocante aos fatores preponderantes para um trabalho docente de qualidade, a
grande maioria, ou seja, 35% enfatizam que é preciso o domínio do conteúdo e das
metodologias de ensino. 29% acreditam que é a valorização profissional - plano de
carreira. Observa-se que os professores enfatizam mais o domínio do conteúdo (35%)
do que a própria valorização profissional, um plano de carreira que poderia garantir
melhores condições salariais e de trabalho.
Ao questionar se a ADI deveria estar atrelada a fatores inerentes à escola, 88%
disseram que sim e ainda 29% desses consideram que devem ser as condições de
trabalho, porém fatores como a avaliação institucional que se faz importante para
repensar as políticas demandadas para escola e a própria política de avaliação de
desempenho não foi considerada como necessária.
Freitas (2013) aponta que a avaliação institucional precisa ser um ponto de
mediação entre o poder público e a escola e seus profissionais por meio de um processo
de negociação em que as responsabilidades de um e de outro sejam devidamente
especificadas. E, foi possível observar que os professores não consideraram importante
tal fator.
Ao indagar os docentes sobre que elementos que acreditam que devem ser
levados em consideração para uma avaliação do desempenho docente, os três fatores
apontados pela grande maioria foi a qualidade na execução do trabalho (14%),
capacidade de trabalho em equipe (11%) e administração do tempo, com relação ao
cumprimento de trabalhos dentro dos prazos (10%). Outro ponto é que fatores como
tempo de atuação do professor não foram considerados como necessários. Essa visão
representou apenas 5% das respostas.
No que se refere aos efeitos no trabalho docente, foi feita esta pergunta para os
professores e foi possível destacar quatro categorias de análises, sendo elas: condições
de trabalho, mecanismos de controle, efeitos negativos ou nulos da avaliação de
desempenho e efeitos positivos da avaliação de desempenho.
No que se refere às condições de trabalho os autores estudados apontam para a
necessidade que estas estejam adequadas e contribuam para bom desempenho da sua
função; sobre os mecanismos de controle, avaliam que atualmente há vários
mecanismos para assegurar o controle e a regulação e a avaliação é um desses
mecanismos.
923
2
Sujeito participante da pesquisa e para resguardar a identidade será utilizado tal letras e número.
924
Considerações finais
REFERÊNCIAS
http://www.portal.fae.ufmg.br/seer/index.php/trabedu/article/viewFile/1177/928.
Acesso em 28 de Janeiro de 2014
Comunicação
Implantação das diretrizes nacionais para educação nas prisões no estado de São
Paulo
Introdução
Nesta comunicação, apresenta-se resultado de pesquisa1 sobre o tema das
políticas públicas educacionais para a oferta de educação escolar para jovens e adultos
em situação de privação de liberdade, com foco específico no estado de São Paulo. O
objetivo é mapear as ações de implantação das Diretrizes para a educação prisional
1
Trata-se de pesquisa de Iniciação Científica que contou com financiamento da instituição das
pesquisadoras.
928
neste estado, a fim de verificar as estratégias adotadas pelo poder público para atingir os
objetivos nela propostos.
Com relação a esse tema, inicialmente, é necessário que a educação escolar para
sujeitos em situação de privação de liberdade seja compreendida como direito, previsto
pela Lei de Execução Penal Brasileira - Lei n. 7210, de 11/7/84 (BRASIL, 1984), e
sintetizado na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). A publicação das
Diretrizes Nacionais para a oferta de Educação para Jovens e Adultos em situação de
privação de liberdade nos estabelecimentos penais evidencia necessidade de se
estimular e aperfeiçoar as oportunidades de educação àqueles que se encontram nessa
condição.
Um dos aspectos normatizados nas Diretrizes refere-se ao fato de as Secretarias
de Estado da Educação passarem a ter a responsabilidade pela educação escolar nas
prisões, em parceria com os órgãos que até então possuíam tal responsabilidade
(BRASIL, 2010). Em São Paulo, até o começo dos anos de 1980, a educação nas prisões
era realizada por meio de um comissionamento de professores da rede pública estadual,
no qual “cada presídio era vinculado a uma escola pública estadual, constituindo-se a
educação de presos em uma extensão das atividades educacionais do estabelecimento
escolar” (MOREIRA, 2008, p. 39). No final dos anos de 1970, a Secretaria Estadual da
Educação (SEE) ausenta-se de atuar na educação dentro das prisões. Neste contexto,
cria-se a Fundação Professor Manoel Pedro Pimentel (FUNAP), atualmente vinculada à
Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). A fundação foi criada em 1976, tendo
por objetivo promover a recuperação social de homens e mulheres presos e a melhoria
de suas condições de vida por meio do trabalho e da educação, além da promoção de
projetos que visem à reinserção social do egresso (PENNA, 2003).
Até 2010 a FUNAP coordenava um programa de educação que era responsável
pelas atividades escolares desenvolvidas nos estabelecimentos penais do estado de São
Paulo. Segundo dados fornecidos por pesquisa realizada pela instituição (SÃO PAULO,
s/ data), 68% da população carcerária paulista possuía menos de oito anos de estudo, ou
seja, não possui o Ensino Fundamental completo. O quadro de educadores da FUNAP
era composto por monitores orientadores, que tinham por função orientar e acompanhar
o trabalho pedagógico nas escolas situadas nos estabelecimentos prisionais, bem como
por educadores presos, contratados para ministrar aulas nas escolas.
Dessa forma, por mais de vinte anos tal instituição foi responsável pela educação
escolar nos estabelecimentos penais em São Paulo, realizada por meio de acordos e
929
parcerias com outras instituições. Agora, a partir de 2010, a SEE, de acordo com o
disposto nas Diretrizes, deve novamente assumir a responsabilidade pela educação nas
prisões em São Paulo, e é justamente essa passagem da responsabilidade de uma
secretaria para outra que temos por finalidade discutir nessa comunicação.
O método utilizado para desenvolver esta pesquisa envolveu a análise de
documentos referentes às ações efetivadas no estado de São Paulo e dispostas nos
seguintes documentos: pareceres, decretos e resoluções produzidos pelos órgãos
oficiais; e documentos de circulação interna, tais como: comunicados internos,
relatórios, informativos e termos de cooperação. No total, foram analisados 17
documentos relativos ao estado de São Paulo.
Para auxiliar na compreensão da relação existente entre as reformas educacionais
e o que ocorre nas escolas foram utilizadas discussões formulados por Vinão-Frago
(2000), que contribuiu para tal discussão e forneceram bases teóricas ao longo da
pesquisa. Ao analisar os processos de implantação de reformas na atualidade, o autor
apontou para o afastamento entre os reformadores e os atores envolvidos nas ações
cotidianas, destacando que as práticas e tradições muitas vezes são ignoradas,
conferindo caráter a-histórico a tais reformas. Para o autor, as mudanças são processos
lentos e, quando ocorrem de forma rápida, estabelecem vínculos com interesses
corporativos, mais que com necessidades advindas da realidade cotidiana (VINÃO-
FRAGO, 2000).
Na primeira parte do trabalho faremos breve discussão sobre as políticas públicas
educativas na atualidade a fim de se compreendê-las no contexto das políticas
econômicas neoliberais. Em seguida, será discutida a educação escolar na prisão, seus
valores e significados. Para finalizar, serão apresentadas as análises feitas sobre os
documentos.
2
O conceito autorreflexão crítica foi retirado das formulações de Theodor Adorno (2011) em “Educação
após Auschwitz”, no qual, o autor defende que a “a educação tem sentido unicamente como educação
dirigida a uma autorreflexão crítica” (p. 121).
932
Ainda segundo Leme (2007, p. 147) “a cela de aula não esconde seu lado
grotesco, disciplinador; ela não disfarça suas grades [...] Sendo a cela de aula um lugar
de aprendizagem para alguns, para outros não passará de um refúgio”.
A escola é marcada pela tensão existente no ambiente prisional, mas, apesar
disso, é valorizada pelos detentos como um local diferenciado, onde coisas boas
acontecem, separado do restante da cadeia, onde é possível “ser melhor” (PENNA,
2003, p.49). Assim, apesar do ambiente de opressão que caracteriza a instituição penal,
a escola na prisão se apresenta como uma possibilidade, obviamente que carregando as
marcas dessa instituição.
Ou seja, além de ser um direito dos sujeitos privados de liberdade o acesso aos
estudos, pesquisas indicam o valor que a escola assume neste ambiente de opressão,
destacando a relevância de se investir na educação escolar nas prisões.
É nesse ambiente marcado por contradições que a escola necessita ser garantida a
todos, posto ser direito assegurado constitucionalmente. Refletir sobre a contribuição
que a educação escolar pode ter na vida de um preso é fundamental para a construção de
uma sociedade mais justa e democrática.
No entanto, o fato de a escola ser marcada pelo ambiente prisional necessita ser
considerado quando da elaboração de políticas de formação de professores para atuarem
nesse contexto, a fim de melhor prepará-los para enfrentar tal situação.
3
Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação; Conectas Direitos Humanos; Instituto de Defesa do
Direito de Defesa; Instituto Praxis de Direitos Humanos; Instituto Pro Bono; Instituto Terra, Trabalho e
Cidadania; Pastoral Carcerária; Relatoria Nacional para o Direito Humano à Educação (Plataforma
DHESCA Brasil); PET – Educação Popular da UNIFESP/BS
4
Órgão administrativo da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, que organiza as escolas por
regiões.
935
unidades prisionais será contratado para esse projeto específico. Nada foram
encontradas informações que se referissem à necessidade de formação específica para
esses profissionais.
Para finalizar
A análise dos documentos referentes à implantação das Diretrizes para a
educação nas prisões no estado de São Paulo evidenciou distância existente entre o
Grupo de Trabalho e os educadores que estavam atuando nas escolas (coordenadores e
educadores presos), bem como em relação à sociedade civil que vinha debatendo tais
questões, explicitando distância entre o universo dos reformadores e daqueles
envolvidos com as ações práticas (VINÃO-FRAGO, 2000).
O fato de o Grupo de Trabalho não ter se reunido com os educadores presos, até
então responsáveis pela educação escolar nas prisões paulistas, evidencia a imposição
de novas regras e maneiras de atuação, desconsiderando-se todo um saber acumulado
por anos de experiência.
Ademais, foi possível evidenciar processo truncado, com idas e vindas, no que
diz respeito às proposições feitas e, nos documentos finais, ficou evidente a dificuldade
de diálogo entre a SEE e a SAP, ou seja, a SEE não está considerando a experiência
acumulada da FUNAP, instituição que possui mais de duas décadas de experiência com
a educação nas prisões em São Paulo. Disso resulta a imposição de modelo escolar
estabelecido para contextos diversos daqueles da instituição prisional.
Ao analisarem a escola na prisão, Hora e Gomes (2007) atentam para o fato
dessa instituição se ver condicionada a dispositivos disciplinares específicos, que dizem
respeito à manutenção da ordem na instituição penitenciária. Por isso, entendem que as
práticas pedagógicas desenvolvidas necessitam se amparar em procedimentos
diferenciados, que levem em conta os tempos e espaços prisionais. Nesse sentido Paiva
(2007) ressalta questões relacionadas à duração das aulas, à negociação dos horários, e
especialmente a necessidade de se atentar às características dos alunos, quais sejam,
jovens e adultos presos, duplamente discriminados, por não terem concluído a
escolarização no tempo adequado, e por sua condição de privação de liberdade. Um
aspecto que se destaca, como já afirmado, é a alta rotatividade dos alunos, do que
decorre a necessidade de se pensar o currículo em blocos. Também, a necessidade de se
levar em consideração algumas facetas, como: facilitar acesso dos detentos à escola;
garantir a participação dos detentos na elaboração dos programas educativos para que
936
respondam aos seus anseios e necessidades; facilitar a ação dos professores e dos outros
agentes educativos que atuam nas prisões (TEIXEIRA, 2007).
Evidenciou-se que em São Paulo a Secretaria Estadual de Educação é a atual
responsável pela educação prisional, vinculada à modalidade da Educação de Jovens a
Adultos, tal como previsto nas Diretrizes. Resta saber como será enfrentada a
especificidade do contexto prisional. Ainda, se o direito à educação será assegurado a
todos os que se encontram na situação de detentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AÇÃO EDUCATIVA, et. al. Manifestação Pública sobre proposta elaborada pelo
Grupo de Trabalho Educação no Sistema Prisional do Estado de São Paulo, do Governo
Estadual. Ação Educativa, 2011. Disponível em: <http://forumeja.org.br/sp/node/238>.
Acesso em: 30 jan. 2013.
LEME, J. A. G. A cela de aula: Tirando a pena com letras. Uma reflexão sobre o sentido
da educação nos presídios. In: ONOFRE, E. M. C. (org.) Educação escolar entre as
grades. São Carlos: EdufsCar, 2007, p. 111 – 160.
SÃO PAULO (Estado), Resolução SAP - 74, de 05 de Abril de 2012. Diário Oficial
[do] Estado de São Paulo, Poder Executivo, São Paulo, 05 abril. 2012a, seção 1, p. 1.
Comunicação
Michele Pazolini
UFES
Eduardo Augusto Moscon Oliveira
UFES
INTRODUÇÃO
Souza (2008) destaca que era destinada ao grupo social abastado, apresentando seus
estudos desinteressados, expressando a distinção cultural de uma elite, bem como
preparar estes jovens para o ingresso nos cursos superiores.
Dentre essas reformas, merece destaque a Reforma Francisco Campos pois foi a partir
deste momento que o ensino secundário adquiriu organicidade. O currículo tornou-se
seriado e a frequência obrigatória: “[...]com dois ciclos, um fundamental e outro
complementar. A habilitação no ensino secundário tornou-se exigência para o ingresso
no ensino superior”, destaca Ramos ( 2011, p.230).
Neste contexto não apenas a seletividade foi alvo de discussões, mas a dualidade entre
ensino propedêutico e ensino profissional. Somente na década de 1930 esta disputa se
consolidou pois o processo de industrialização do Brasil, passou a demandar por mão
de obra qualificada. Assim, a educação propedêutica, que já era insuficiente tornou-se
ainda mais escassa e inacessível para as classes socialmente desfavorecidas.
A Reforma Capanema em 1942, com as leis orgânicas, iniciou uma nova configuração
do ensino secundário. O ensino profissional, passou a ser ofertado voltado para a área
industrial, do comércio, agrícola e normal. O Normal, embora profissionalizante, era
considerado como ensino secundário, voltado para o prosseguimento de estudos em
nível superior.
A estrutura da educação básica no Brasil teve sua alteração anunciada na LDB 4024/61
e modificada com a lei nº 5.692/71 que fundiu o primário ao ginásio, constituindo o
1º grau (hoje ensino fundamental) com duração de 08 anos de duração e transformando
o secundário em 2º grau, hoje ensino médio, com três anos de extensão. Com a lei
5692/71, houve a implantação do ensino médio integrado (integração forçada/tecnicista)
que teve consequências significativas no conjunto da educação básica brasileira. Neste
período histórico, houve a criação do ensino de 2º grau, que, foi orientado a ser
implantado com profissionalizante, com vistas a contribuir, por um lado, para o
desenvolvimento econômico e por outro para garantir a ordem pública.
Salm (1980) destaca que as empresas, no curto prazo, não precisam das escolas: elas
mesmas podem treinar o seu pessoal e com isso aumentar sua produtividade. Porém,
Frigotto (1984), afirma que a escola é uma mediação que interfere de modo não direto
na relação entre investimento e desenvolvimento. A mediação (em questão) dá-se pelo
fornecimento de um saber geral que se articula com o específico e o prático, um saber
que se desenvolve no interior do processo produtivo.
943
Para tentar reparar os efeitos da Lei 5.692/71, foi publicado a Lei Federal nº 7.044/82,
tornou facultativa a profissionalização no ensino de “segundo grau”. Se por um lado o
ensino médio ficou livre das “amarras” da profissionalização, por outro ela restringiu o
ensino profissional às instituições especializadas nessa modalidade de ensino. Dessa
forma as mudanças ocorridas contribuíram para a falta de identidade do ensino médio
no Brasil e levando também a falsas expectativas quanto à educação profissional.
A Constituição Federal de 1988 (CF/88), no art. 205 garante o direito à educação, como
direito de todos. No art. 208 o ensino fundamental obrigatório era de oito anos, somente
para crianças de 06 e 14 anos. A educação básica apesar de Direito, o fato de ter a
obrigatoriedade vinculada a somente uma etapa da educação básica acabou por
restringir a prioridade a efetivação apenas para o ensino fundamental (HORTA,
1998).
Na reforma educacional dos anos 1990, tanto a educação infantil como o ensino médio e
educação infantil não eram prioridades, pouco se fez pela sua efetivação. O Fundo de
944
Sendo assim, a obrigatoriedade da educação básica não abrange de fato o ensino médio
em sua plenitude. Além disso, a sua implementação progressiva, com a obrigatoriedade
somente a partir de 2016, mostra a ausência, por parte do Estado, de estrutura para
implementação constitucional imediata do direito anunciado pela emenda
constitucional 59/2009.
945
A situação do estado do Espírito Santo não é muito diferente do que e ocorre no Brasil.
As poucas ações realizadas por parte da esfera Estadual desde o ano de 2010, com o
proposito do atendimento a última etapa da educação básica, não foram satisfatórias.
De acordo com os dados do IBGE do ano de 2010, o estado do Espírito Santo possuía
uma população estimada em 3.514.952 habitantes, destes 800.318 eram crianças,
adolescentes e jovens que estavam em idade escolar, de 04 a 17 anos. Do total das
crianças e jovens, 181.921 corresponde a população residente de jovens entre 15 e 17
anos. Dados levantados pela Secretaria de Educação do Espírito Santo (SEDU), de
2010, 12.893 não frequentaram à escola (LIMA; SILVA, 2013).
Outro dado que merece destaque, se refere à distorção idade-série de alunos que
freqüentaram o ensino médio no estado do Espírito Santo. No ano de 2010, dados do
INEP assinalam que 25,1% dos alunos apresentaram defasagem quanto à sua idade e a
idade recomendada para a série que o mesmo deveria cursar. Observa-se, ainda, que o
pico da distorção idade-série no ensino médio, acontece, principalmente, na 1ª série,
chegando esse índice a 29,1% no ano em questão. No contexto do estado do Espírito
Santo, diferentes situações, concorrem para excluir de forma maciça os jovens da escola
( BRASIL, 2012).
existiam, no ano de 2012, mais de 46 mil professores em sala de aula, sem apresentar
uma formação específica. Soma-se a essa situação, que 69% dos professores do Espírito
Santo estão contratados em designação temporária.
CONCLUSÃO
O Espírito Santo, no contexto brasileiro, não foge à regra, uma vez que a realidade
observada é preocupante. Com uma oferta que pouco se amplia por parte da governo
estadual, números elevados de evasão e distorção idade série, evidenciam que o
planejamento para incluir os jovens de 15 a 17 anos no ensino médio em escola
947
públicas estaduais em 2016 é insuficiente. Da forma como está, acaba por reforçar
o mecanismo perverso de exclusão do jovem.
REFERÊNCIAS
CURY, Carlos Roberto Jamil & FERREIRA, Luiz Antonio Miguel. Obrigatoriedade da
educação das crianças e adolescentes: uma questão de oferta ou de efetivo atendimento?
Nuances: estudos sobre Educação. Ano XVII, v. 17, n. 18, p. 124-145, jan./dez. 2010.
ESPIRITO SANTO. Instituto Jones dos Santos Neves. Síntese dos indicadores sociais
do Espírito Santo: Educação. Vitória, 2011.
HORTA, José Silverio Baia. Direito à educação e obrigatoriedade escolar. Cad. Pesq.
N.104. p.5-34, jul.1998.
LIMA, Marcelo; SILVA, Itamar Mendes da. Ensino Médio integrado no espírito santo:
perspectivas do debate acerca qualidade a partir dos resultados do desempenho de
948
Comunicação
1 INTRODUÇÃO
Quando se pensa no sistema educacional brasileiro é consensual a ideia de que
o Ensino Médio, nível de ensino que por décadas não foi prioridade das políticas
públicas educacionais brasileiras, pois as atenções estavam voltadas para o Ensino
Fundamental e Superior, gera os mais variados e controversos debates, seja quando se
trata dos problemas do acesso e da permanência, seja pela qualidade da educação
oferecida, ou ainda, pela discussão sobre sua finalidade.
950
instituições que tivessem optado por áreas não contempladas nas cinco opções
oferecidas teriam que escolher outra área de empregabilidade dentre as da lista.
Sendo assim, por meio de uma reunião realizada junto a pais, professores e
alunos, optou-se por substituir os Estudos Avançados de Ciência por Meio Ambiente e
Recursos Naturais, isto por terem chegado à conclusão de que estas áreas eram bem
similares e o que havia sido trabalhado até o momento pelos professores podia ser
reaproveitado.
Dessa forma, a escola optou pelas áreas de Turismo, Comunicação Aplicada e
Meio Ambiente e Recursos Naturais. Do total de alunos matriculados no Ensino Médio,
300 por estarem no primeiro ano deste nível de ensino fizeram parte do Projeto
Reinventando em 2013, distribuídos em 8 turmas, todas no período diurno. A escola
contava ainda com 11 docentes trabalhando no projeto.
A escola localizada em Ponte Nova optou pelas áreas de empregabilidade de
Comunicação Aplicada, Meio ambiente e Recursos Naturais e Tecnologia da
Informação. Em 2013 a escola possuía 9 docentes e 320 alunos participando do projeto,
distribuídos em 8 turmas, destas seis funcionavam no período diurno e duas no noturno.
Segundo informações da coordenadora do projeto na escola de Ponte Nova,
para que pudessem começar as aulas referentes às áreas de empregabilidade, ela
juntamente com os professores desenvolveu a ementa de cada área adequando ao nível
acadêmico de seus alunos e à realidade da escola.
Para ela, uma dificuldade encontrada foi convencer professores a trabalharem
no projeto, pois o valor pago por hora/aula é baixo e acaba desestimulando-os. Além do
mais, para a coordenadora, para atuar neste projeto é preciso ser professor pesquisador,
pois ele terá de estar sempre buscando conteúdos para trabalhar com os alunos. Outro
desafio tem sido lidar com os alunos do período noturno, onde as atividades referentes à
empregabilidade são realizadas sob a forma de projetos e como a essas atividades não
são dadas notas e sim conceitos, que não levam a nenhum tipo de reprovação, o aluno as
desenvolverá se for do seu interesse e o docente não tem como controlar isso.
Quando a coordenadora fala da questão do professor pesquisador, é porque no
início a SEE/MG planejou capacitar os professores interessados em trabalhar no projeto,
por meio do Magistra, Escola de Formação e Desenvolvimento Profissional de
Educadores de Minas Gerais, criada no ano de 2011 para desenvolver cursos a distância,
ou enquanto escuta das demandas de formação provenientes das escolas. Porém,
segundo as coordenadoras, o esquema montado não funcionou por isso a formação ficou
958
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos, por meio dessa pesquisa, que mesmo tendo passado por
transformações ao longo de sua história, nenhuma delas foi capaz de definir para o
Ensino Médio uma finalidade intrínseca e que no cotidiano das escolas pesquisadas a
implantação do Reinventando tem engendrado alguns desafios a serem enfrentados pela
959
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. 2. ed. rev. e atual. São
Paulo: Moderna, 1996.
_____ (Org.). Ensino Médio: construindo uma proposta para os que vivem do trabalho.
São Paulo: Cortez, 2009.
Comunicação
Os conselhos escolares e a gestão das escolas públicas entre os anos de 1997 e 2007
INTRODUÇÃO
Neste trabalho faz-se uma análise dos dados referentes a presença, atuação e
composição dos conselhos escolares nas escolas públicas brasileiras de ensino
fundamental entre os anos de 1997 e 2007 a luz das políticas de reestruturação da gestão
educacional que tiveram início na década de 1990. Este recorte faz parte de um estudo
mais amplo desenvolvido ao longo do mestrado1 sobre o perfil dos gestores e da gestão
escolar à luz da Reforma do Estado de 1995. O estudo utilizou os bancos de dados
referentes aos questionários aplicados aos dirigentes escolares através SAEB nos anos
de 1997 e 2003 e da Prova Brasil no ano de 20072.
1
Realizado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná, sob
orientação do prof. Dr. Ângelo Ricardo de Souza, que resultou na dissertação que tem como título: “As
mudanças na concepção da gestão pública e sua influência no perfil do gestor e da gestão escolar no
Brasil”.
2
Os microdados do Saeb e Prova Brasil utilizados no trabalho estão disponíveis no sitio do Inep na
internet http://portal.inep.gov.br/basica-levantamentos-acessar. A leitura dos dados foi realizada através
do software estatístico SPSS
962
dos pais de interferir na escola e os filhos sofrerem represálias dos professores e diretor,
percepção do papel do diretor (CAMARGO, 1997, p. 303).
2007 esse percentual era de 16,7%. As regiões Norte e Sul em 1997 apresentavam os
maiores percentuais de escolas sem conselho escolar. Em 2007, embora o percentual
tenha diminuído, as duas regiões continuaram apresentando os maiores percentuais de
escolas sem conselho escolar no Brasil.
Além da exigência presente na legislação, o aumento de escolas que possuem
conselhos escolares pode ser uma consequência do processo de descentralização
especialmente em relação aos recursos destinados às escolas que, para a sua
viabilização, de acordo com o PNE “foi induzida a formação de Associações de Pais e
Mestres ou de Conselhos escolares” (BRASIL, 2001, p. 168). Contudo, o aumento no
percentual de escolas que passaram a ter conselho escolar nestes dez anos pode indicar a
expansão, mesmo que parcial da gestão democrática.
Região
N NE SE S CO Total
A escola contou Sim N 278 343 182 79 150 1032
com a colaboração % Região 71,1% 78,7% 81,6% 68,1% 78,1% 76,0%
do conselho de Não N 113 93 41 37 42 326
escola neste ano?
% Região 28,9% 21,3% 18,4% 31,9% 21,9% 24,0%
Total N 391 436 223 116 192 1358
% Região 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: Microdados SAEB 1997, MEC/INEP, 1997.
Região
N NE SE S CO Total
Sim, existe conselho N 409 1008 526 488 413 2844
na escola % 78,2% 88,8% 90,2%
82,4% 90,0% 86,4%
Região
Não existe Conselho N 114 127 57 104 46 448
Escolar % 21,8% 11,2% 9,8% 17,6% 10,0% 13,6%
Região
Total N 523 1135 583 592 459 3292
% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Região
Fonte: Microdados SAEB 2003, MEC/INEP, 2003.
3
O dado referente à existência de conselhos escolares nos questionários de 2003 e 2007 foi obtido através
da recodificação da variável “Quantas vezes o conselho da escola se reuniu?” Uma vez que uma das
alternativas de resposta era “Não existe Conselho de Escola” e as demais alternativas supunham a
existência de um conselho escolar.
965
TABELA 03: PROVA BRASIL 2007 - EXISTÊNCIA DO CONSELHO ESCOLAR POR REGIÃO
Região
Centro-
Norte Nordeste Sudeste Sul oeste Total
Sim, existe Conselho N 3703 14385 20939 9391 4308 52726
de Escola % Região 74,5% 88,1% 93,1% 83,3% 92,2% 88,3%
Não existe Conselho N 1265 1944 1553 1887 366 7015
de Escola % Região 25,5% 11,9% 6,9% 16,7% 7,8% 11,7%
Total N 4968 16329 22492 11278 4674 59741
% Região 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: Microdados PROVA BRASIL 2007, MEC/INEP, 2007.
TABELA 04: SAEB 1997 - NÚMERO DE VEZES QUE O CONSELHO DA ESCOLA SE REUNIU
POR REGIÃO
Região
Centro-
Norte Nordeste Sudeste Sul Oeste Total
Quantas Uma vez por N 84 142 66 39 58 389
vezes o mês % Região 29,1% 38,9% 35,3% 47,0% 38,9% 36,3%
Conselho Uma vez por N 140 143 98 38 73 492
de Escola bimestre % Região 48,4% 39,2% 52,4% 45,8% 49,0% 45,9%
se reuniu
este ano? Uma vez por N 49 47 16 1 15 128
semestre % Região 17,0% 12,9% 8,6% 1,2% 10,1% 11,9%
Apenas uma vez N 14 24 6 3 2 49
% Região 4,8% 6,6% 3,2% 3,6% 1,3% 4,6%
Nenhuma vez N 2 9 1 2 1 15
% Região ,7% 2,5% ,5% 2,4% ,7% 1,4%
Total N 289 365 187 83 149 1073
% Região 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: Microdados SAEB 1997, MEC/INEP, 1997.
TABELA 05: SAEB 2003 – NÚMERO DE VEZES QUE O CONSELHO DA ESCOLA SE REUNIU
POR REGIÃO 4
Região
Centro-
Norte Nordeste Sudeste Sul Oeste Total
Neste ano, Nenhuma vez N 21 36 12 18 7 94
quantas % Região 4,2% 3,5% 2,2% 3,6% 1,6% 3,3%
vezes o Uma vez N 36 78 19 15 13 161
Conselho
% Região 7,3% 7,7% 3,6% 3,0% 3,1% 5,6%
de escola se
reuniu? Duas vezes N 89 163 66 53 41 412
% Região 18,1% 16,1% 12,5% 10,8% 9,9% 14,4%
Três vezes ou N 263 731 429 402 352 2177
mais % Região 53,6% 72,5% 81,5% 82,3% 85,2% 76,5%
Total N 490 1008 526 488 413 2844
% Região 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: Microdados SAEB 2003, MEC/INEP, 2003.
4
Foi retirado desta questão em 2003 e 2007 a alternativa “Não existe conselho de escola” e o percentual
de respostas nas demais alternativas foi recalculado. Dessa forma foi possível alcançar um maior grau de
comparabilidade com os dados de 1997.
967
TABELA 06: PROVA BRASIL 2007 - NÚMERO DE VEZES QUE O CONSELHO DA ESCOLA SE
REUNIU POR REGIÃO
Região
Centro-
Norte Nordeste Sudeste Sul oeste Total
Neste ano, Nenhuma vez N 118 403 244 209 59 1033
quantas % Região 3,1% 2,8% 1,1% 2,2% 1,3% 1,9%
vezes o Uma vez N 219 1179 615 382 139 2534
conselho
% Região 5,9% 8,1% 2,9% 4,0% 3,2% 4,8%
desta escola
se reuniu? Duas vezes N 701 3328 2374 986 511 7900
% Região 18,9% 23,1% 11,3% 10,4% 11,8% 14,9%
Três ou mais N 2665 9475 17706 7814 3599 41259
vezes % Região 71,9% 65,8% 84,5% 83,2% 83,5% 78,2%
Total N 3703 14385 20939 9391 4308 52726
% Região 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: Microdados PROVA BRASIL 2007, MEC/INEP, 2007.
QUADRO 01: NÚMERO DE VEZES QUE O CONSELHO DE ESCOLA SE REUNIU EM 1997, 2003
E 2007.
Região
N NE SE S CO Total
Qual é a Direção e represent. N 20 9 7 4 4 44
composição dos professores % Região 7,0% 2,5% 3,7% 4,7% 2,7% 4,1%
do Direção, professores N 46 42 27 14 22 151
Conselho e pais. % Região 16,0% 11,5% 14,4% 16,5% 14,8% 14,1%
Escolar?
Direção, professores, N 208 310 150 62 121 851
pais e alunos. % Região 72,5% 84,7% 80,2% 72,9% 81,2% 79,2%
Direção, professores N 13 5 3 5 2 28
e alunos. % Região 4,5% 1,4% 1,6% 5,9% 1,3% 2,6%
Total N 287 366 187 85 149 1074
% Região 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: Microdados SAEB 1997, MEC/INEP, 1997.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ADRIÃO, T; CAMARGO, R. B. Princípios e processos da gestão democrática do
ensino: implicações para os Conselhos Escolares. Chão de Escola, Curitiba:
SISMMAC, v. 2, p. 28-33, outubro de 2003.
SOUZA, A. R. De. Perfil da Gestão Escolar no Brasil. 2007. 302 p. Tese (Doutorado
em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. São Paulo. 2007.
973
Comunicação
Livro digital acessível
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem sua justificativa nos pressupostos da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, que em seus Art. 205, 206 e 208 descreve o
direito do pleno acesso ao livro às pessoas com deficiência visual, assegurando o direito
de todos a educação, a igualdade de condições de acesso, permanência na escola e a
continuidade nos níveis mais elevados de ensino.
Sendo assim, o principal norte do referido estudo é oferecer às pessoas com
deficiência visual condições de convivência com pessoas de diferentes perfis no
ambiente escolar e, consequentemente, em sua vida cotidiana e acessibilidade nos
Programas do Livro, o objetivo dos programas do livro é prover as escolas das redes
federal, estadual e municipal e as entidades parceiras do programa Brasil Alfabetizado
com obras didáticas e paradidáticas de qualidade e por meio do programa do livro
didático em Braille, os estudantes cegos ou com deficiência visual, os alunos das
escolas de educação especial públicas e das instituições privadas definidas pelo censo
escolar como comunitárias e filantrópicas. O Programa Nacional do Livro Didático em
Braille atende alunos cegos que cursam o ensino fundamental em escolas publicas de
ensino regular e escolas especializadas sem fins lucrativos. Garantindo ainda o direito a
974
DESENVOLVIMENTO
METODOLOGIA
CONCLUSÃO
Pretendo concluir que há um movimento claro de intervenção estatal na
política educacional no que se refere à educação especial. Registra-se que a implantação
de Salas de Recursos Multifuncionais representa a criação de novos espaços públicos
que se associam à estrutura existente na rede estaduaL. Apresento resultados parciais de
pesquisa que tem por objetivo avaliar a implantação e funcionamento do programa
Mecdaisy nas salas de recursos multifuncionais tipo II na cidade de São Paulo;as salas
de recursos existem para apoiar a organização e a oferta do Atendimento Educacional
Especializado – AEE, prestado de forma complementar ou suplementar aos estudantes
com deficiência. Em todo território nacional há 1.416 salas de recursos multifuncionais
tipo II - com recursos adicionais para alunos cegos, 169 estaduais e na cidade de São
Paulo são 4 salas.
Para tanto, é necessário ainda pesquisar a formulação de políticas públicas de
orientação, popularização do uso e das ferramentas de socialização que podem ser
frentes de ações: a proficiência tecnológica, uso das tecnologias da informação e
comunicação,da tecnologia assistiva e o programa Mecdaisy, pois esses recursos podem
981
REFERÊNCIAS
MARTINS, Ângela Maria & WERLE Flávia Obino Corrêa (Orgs.) Políticas
Educacionais: elementos para reflexão. Porto Alegre: Redes Editora, 2010.
P. 21-48.
Comunicação
1. Introdução
O presente artigo é decorrente de desenvolvimento de pesquisa realizada na
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP (FFC, Marília) e faz
parte de um projeto integrado desenvolvido junto ao Centro de Estudos e Pesquisas em
Administração da Educação (CEPAE), cujo objetivo geral é analisar os aspectos
históricos e atuais relativos à formação, à função e ao provimento do cargo de
administrador escolar, problematizando e estabelecendo relações com a qualidade do
ensino e com a produção do conhecimento na área.
984
Após a instituição das Diretrizes, houve fortes críticas à formação comum para o
desempenho de diversos cargos e, se tratando da gestão, autores apontam para uma
formação simplificada e não consistente, questionando o seu espaço. Para alguns deles
(LIBÂNEO, 2006; SAVIAINI, 2007), a gestão foi posta em segundo plano. A partir
destas premissas, questiona-se: qual é a concepção e o espaço da gestão escolar
presentes no curso de formação inicial em Pedagogia? Ou seja, considerando a extinção
das habilitações que formavam o especialista, como a universidade pública concebeu a
gestão na formação do Pedagogo? Se ela não forma mais o gestor (ou diretor de escola
na habilitação em administração escolar), qual é o espaço e a formação em gestão
destinados ao pedagogo?
Para responder às questões norteadoras da pesquisa, estão sendo analisadas as
matrizes curriculares de dois cursos de Pedagogia de universidades públicas estaduais,
sendo uma de São Paulo e outra do Paraná, e estão sendo feitas entrevistas com
professores que ministram disciplinas relacionadas à gestão, bem como, com alunos dos
985
últimos anos dos cursos. A escolha por estes estados se justifica por serem pertencentes
a contextos que indicam diretrizes políticas educacionais diferentes para a forma de
provimento do cargo do gestor e a sua função. Ou seja, pretende-se relacionar as
questões da formação inicial, função e forma de provimento do cargo, tensionando as
diretrizes da política educacional e o desenvolvimento teórico da área.
Nesta comunicação, especificamente, temos como objetivo apresentar resultados
da pesquisa no que diz respeito ao percurso teórico da Administração escolar e suas
relações com a formação do Pedagogo. Trabalhamos esse objetivo em duas partes,
seguidas de algumas considerações: apresentamos análise da construção teórica da
Administração escolar, em seguida, alguns aspectos da constituição histórica do curso
de Pedagogia e suas relações com a gestão escolar.
No que tange ao contexto política e social dos anos 1980, é preciso destacar o
movimento de democratização da sociedade e da educação e a publicação da
987
Constituição Federal de 1988 que, pela primeira vez na história do país, traz a gestão
democrática como princípio educacional.
Nos anos 1990, presenciamos, no âmbito dos estudos acadêmicos, a
construção da escola como objeto de estudo, marcada pela forte influência da produção
portuguesa (NÓVOA, 1995; LIMA, 1998). Estes estudos privilegiam um nível meso de
abordagem e identificam que “[...] apesar de conterem visões parcelares da realidade, é
evidente que tanto as teorias macroscópicas como os estudos microscópicos produziram
um conhecimento útil e pertinente do ponto de vista do pensamento e da acção
pedagógica” (NÓVOA, 1995, p.20).
Os pesquisadores adotam uma perspectiva centrada na organização escolar,
preocupam-se em olhar para as organizações escolares, analisar, explicar, compreender
o que elas fazem em seu cotidiano, como constroem o processo educacional. Maia
(2004), em pesquisa realizada sobre as publicações da ANPAE, identificou o percurso
semelhante que culminou com a mudança de abordagem em Administração escolar na
Revista Brasileira de Política e Administração da Educação (RBPAE).
Os autores citados anteriormente acabam por rever alguns pressupostos
defendidos pelos teóricos crítico-reprodutivistas da década de 1970 (BOURDIEU;
PASSERRON, 1975; BAUDELOT; ESTABLET, 1971) principalmente o de que as
instituições educativas são lócus de reprodução da sociedade. Para eles, as instituições
executam as normas estabelecidas em âmbito central e se constituem como aparelho do
Estado. Portanto, juntamente com a mudança teórica dos anos 1980, há uma mudança
metodológica, as pesquisas passam a construir seus apontamentos a partir da realidade
das escolas, com a realização de estudos de caso, pesquisas participantes e pesquisas-
ação. Na literatura da área, praticamente desaparecem os livros de autores únicos e
crescem, significativamente, as coletâneas com relatos de pesquisa realizadas a partir
das diferentes realidades escolares brasileiras (LUCE; MEDEIROS, 2006).
A construção teórica em administração escolar vem sendo consolidada
juntamente com fatores políticos que norteiam esta prática nas instituições de ensino,
principalmente as diretrizes da política educacional que, assim como o desenvolvimento
teórico da área, vem focalizando a escola. No entanto, as diretrizes da política,
diferentemente da área, colocam a gestão como sendo um dos fatores mais importantes
para a melhoria da qualidade de ensino, esta entendida como a garantia dos índices
colocados externamente pelo governo federal. Os aspectos teóricos e sociais destacados
construíram novo pensamento na administração escolar, trazendo, sobretudo, aspectos
988
área realiza um diagnóstico negativo do que havia sido produzido até o momento e
indicam a possibilidade de a administração escolar contribuir com a transformação da
sociedade. No bojo de um contexto marcadamente neoliberal dos anos 1990, as
pesquisas, na contramão das diretrizes políticas, passam a estudar a escola, seus limites
e possibilidades de contribuição para a emancipação social a partir da vivência da
gestão democrática. No entanto, a área não apresenta mais a consistência teórica
anterior, em que estavam presentes autores únicos de livros considerados clássicos, uma
vez que estão presentes, basicamente, coletâneas com predominância de relatos de
experiências e estudos de caso. Portanto, podemos dizer que há um arrefecimento da
área da administração escolar no que diz respeito à construção de um corpo teórico
próprio (SILVA JR, 2002).
4 Considerações finais
A pesquisa que originou esse trabalho tem como objetivo analisar o espaço da
gestão na formação do pedagogo em duas universidades públicas estaduais, sendo uma
paulista e outra paranaense. Integrando tal objetivo, apresentamos resultados da
pesquisa no que tange à construção teórica da área e à constituição histórica do curso de
Pedagogia, com foco na formação do gestor.
Cotejando as duas partes do texto, podemos fazer uma análise que nos permite
indicar questionamentos que podem se constituir como objeto de estudo de pesquisas
posteriores. Inicialmente, os elementos trazidos explicitam preocupações, por um lado,
que dizem respeito à construção teórica da área da administração escolar no sentido de
se ter um conteúdo para formar os futuros diretores de escola e, por outro lado e de
forma coincidente, à formação do especialista em administração escolar (habilitado para
ocupar o cargo de diretor de escola). Nesse sentido, por um longo período (entre os anos
1960 e final dos anos 1980), parece coincidir a construção teórica da área com as
diretrizes para a formação do diretor de escola: este profissional é um especialista
formado no curso de Pedagogia com conhecimentos específicos da administração
escolar (baseados na administração empresarial) para dirigir a escola.
992
Referencias
ABDIAN, G. Z.; HOJAS, V. F.; OLIVEIRA, M. E. N. Formação e função e formas de
provimento do cargo do gestor escolar: as diretrizes da política educacional e o
desenvolvimento teórico da administração escolar. Educação Temática Digital,
Campinas, v. 14, n. 1, p. 399-419, 2012.
Comunicação
Nilza M. Macario
Associação Educacional Dom Bosco (AEDB)
Luci Hildenbrand
Fundação Cesgranrio
Angela M. da S. Campos
Associação Educacional Dom Bosco (AEDB)
1 INTRODUÇÃO
1.1 Associação Educacional Dom Bosco
Fundada em 21 de dezembro de 1964, como instituição privada, de natureza
filantrópica, a Associação Educacional Dom Bosco, ao comemorar seu cinquentenário,
apresenta-se como mantenedora da Faculdade de Engenharia de Resende, das
Faculdades de Ciências Econômicas e Administrativas e da Computação, e da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco, perfazendo áreas de Educação,
996
cursos e ações em nível de pós-graduação e de extensão, a medida que assume que todas
concorra para a formação do elo integrador entre os ensinos fundamental, médio e
superior, mantidos pela Associação Educacional Dom Bosco.
Ao longo dos anos, o CPGE vem aprimorando suas estratégias de atuação tendo
em vista contribuir para que a Associação Educacional Dom Bosco firme a sua
determinação em garantir a produção do conhecimento, a partir da mobilização e do
incentivo aos esforços empreendidos por toda a sua comunidade acadêmica. Neste
intento, criou, em 2003, a primeira Semana de Atividades Científicas - SEAC, evento
que passou a acontecer anualmente.
A expectativa em fazer circular a informação científica, produzida pela
comunidade, no seu próprio espaço institucional, foi proposta considerando três
modalidades de comunicação recorrentes em eventos de pequeno, médio ou grande
porte, a saber: comunicação científica, comunicação de trabalhos de conclusão de
cursos de graduação e apresentação de pôster.
Com isto, além de promover a divulgação do conhecimento produzido
internamente junto às nove graduações, a SEAC, ainda, abriu espaço para que a
comunidade, como um todo, começasse a perceber-se produtora de conhecimento. O
Quadro 1, apresentado na sequência, mostra a participação da comunidade acadêmica
nos eventos SEAC, realizados no interstício dos anos 2005 a 2010.
Quadro 1. Inventário dos Trabalhos apresentados por Cursos e Modalidades, na SEAC 2005
a 2010.
05 06 07 08 09 10 05 06 07 08 09 10 05 06 07 08 09 10
MODALIDADE
LETRAS 04 02 05 08 04 02 02 - 04 03 10 08 01 - - - - 02
PEDAGOGIA 05 - 01 05 - 19 - - 01 03 05 - 06 14 27 06 05 05
ENGENHARIA
ELÉTRICA/ - 01 01 03 04 04 - 02 - - - 02 05 01 - 04 05 05
ELETRÔNICA
ENGENHARIA DE
PRODUÇÃO - 02 03 - 02 - - - - 08 04 04 - - 01 01 05
AUTOMOTIVA
ADMINISTRAÇÃO 01 - 07 10 07 08 08 - 12 06 11 21 - - 02 - 08 -
ECONOMIA - 01 04 07 01 05 - 09 10 02 - 05 02 01 01 02 05 02
SISTEMA DE
- 08 13 05 05 11 - 05 - - 06 02 10 - 17 07 - 01
INFORMAÇÃO
Legenda: 05= 2005 06= 2006 07=2007 08=2008 09=2009 10= 2010
Fonte: ANAIS da SEAC (2005 a 2009).
998
11 12 13 14 11 12 13 14 11 12 13 14
MODALIDADE
LETRAS 02 01 02 03 16 11 11 09 01 - - 02
PEDAGOGIA 04 02 03 01 01 01 01 02 08 - - -
BIOLOGIA - 01 02 01 - 01 11 01 10 10 10 18
ENGENHARIA ELÉTRICA/
02 05 05 09 01 - 01 02 04 13 13 09
ELETRÔNICA
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
09 22 22 23 04 10 10 06 01 10 10 02
AUTOMOTIVA
ENGENHARIA CIVIL - 11 11 07 - - - - - 03 03
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO - - - - - - - -
- 06 06 03
METALÚRGICA
ENGENHARIA MECÂNICA - - - - - - - - - - - -
ADMINISTRAÇÃO 03 23 23 18 08 14 14 19 01 01 01 -
ECONOMIA 02 13 13 11 - - - 01 01 05 05 -
CIÊNCIAS CONTÁBEIS - - - - - - - - - - - -
COMUNICAÇÃO SOCIAL - 09 03 08 - - 01 01 - 12 12 16
SISTEMA DE INFORMAÇÃO 02 04 04 01 06 01 01 01 - - - 06
TECNOLOGIA EM LOGÍSTICA 06 - - - - - - - - - - -
TECNOLOGIA EM - - - - - - -
- 12 01 01 05
AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL
TECNOLOGIA EM GESTÃO DE
04 13 13 10 - - - 02 - - - 02
RH
TECNOLOGIA EM GESTÃO - - - - - - -
01 - 03 03 -
PÚBLICA
TECNOLOGIA EM GESTÃO - - - - - - - - - - - -
INDUSTRIAL
2 METODOLOGIA DO ESTUDO
O aporte metodológico deste estudo fundamenta-se na pesquisa qualitativa
quando procura a relevância do funcionamento organizacional de um trabalho meritório
que congrega valores na busca da consolidação de linhas de pesquisa.
Seguindo as proposições da pesquisa qualitativa (STRAUSS; CORBIN, 2008),
dos procedimentos de métodos mistos e da estratégia sequencial exploratória
(CRESWELL, 2007), mas ainda os grupos de conceitos delineados por conjuntos de
produções acadêmicas, o estudo empenhou-se em estabelecer categorias (áreas de
concentração) e subcategorias (áreas temáticas) geradoras de possíveis linhas de
pesquisa institucional, que tenham nascido no decorrer dos 10 anos de SEAC,
Quanto a seus fins, o estudo classifica-se como pesquisa descritiva (GIL, 1994),
preocupando-se claramente com uma atuação prática, ou seja, com a organização,
funcionalidade e relevância da Semana de Atividades Científicas da AEDB.
A pesquisa fez uso de instrumentos para levantamento longitudinal de dados (10 anos) e
também incorporou consultoria externa de especialista para ratificar a distribuição dos
trabalhos acadêmicos nas subcategorias, ou seja, nas áreas temáticas.
Como meio, procedeu a análise do conteúdo dos Anais da SEAC, ao longo do
intervalo de tempo 2003 – 2014, e ainda considerou os registros de avaliação do evento
dos últimos cinco anos (2010 e 2014) e o levantamento bibliográfico necessário a
referendar os tipos de pesquisa que marcaram o estudo.
CONTROLE AMBIENTAL 21
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA 34
ROBÓTICA 26
FORMAÇÃO TECNOLÓGICA 21
INCLUSÃO SOCIAL 1
Por meio do Quadro 3, ainda, pode-se observar que áreas temáticas, a exemplo
de Controle Industrial, despontam, no intervalo de 10 anos, com uma média anual
bastante elevada de trabalhos publicados/ano, consubstanciando uma linha de pesquisa
em consolidação, o que reforça as áreas de concentração.
No estudo, a distribuição dos trabalhos computados por áreas temáticas
(subcategorias) foi ratificada por consultor externo1, denotando a importância e o mérito
da SEAC como incentivadora da produção científica e como espaço educacional
relevante da AEDB.
1
Tadeu Luiz Pacheco da Silva. Engenheiro de Produção, Especialidade Mecânica, com experiência em
produção industrial e manutenção preventiva e corretiva em empresas de médio e grande porte.
(CREA/RJ).
1003
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho aqui elaborado confirma a importância da relação estrutura e
processo, principalmente quando se trata de uma construção educativa como a Semana
de Atividades Científicas - SEAC da AEDB.
A utilização do método misto, possibilitando o estudo longitudinal do desenvolvimento
dos trabalhos, apresentados ao longo dos últimos dez anos de funcionamento da SEAC
(2005-2014), corroborou para o melhor entendimento do processo de criação de linhas
de pesquisa em uma instituição de Ensino Superior, como prerrogativa de, ao mesmo
tempo, estar construindo um espaço educacional que congregue valores, pessoas e
Instituição.
O mérito e a organização do espaço educacional constroem-se no tempo,
gradativamente, passo a passo, envolvendo o individual e o coletivo, onde todos os
interessados estejam irmanados pelo mesmo espírito investigativo que busca a
consolidação de novos conhecimentos e novas atitudes frente ao ensino, à pesquisa e à
extensão.
Este é o legado deixado pelo estudo apresentado por este trabalho, desenvolvido
com base no percurso e evolução da Semana de Atividades Científicas da AEDB –
SEAC.
REFERÊNCIA
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1994.
1004
Comunicação
INTRODUÇÃO
A pesquisa que se apresenta é o recorte de um estudo desenvolvido com
discentes do curso de Letras, na último ano da sua formação inicial. Esta produção foi
elaborada pelo Grupo de Pesquisa Movimentos Identitários do Adulto Professor,
coordenado pela professora Dra. Vera Placco PUC-SP. Este grupo está ligado ao Centro
Internacional de Estudos em Representações Sociais e Subjetividade – Educação
(CIERS-Ed), criado na Fundação Carlos Chagas (FCC), no Brasil, em parceria com a
Fondation Maison des Sciences de l'Homme, em 2006, e é formado por vários grupos de
diferentes países (França, Portugal, Argentina e Brasil).
O grupo coordenador pela profa. Vera iniciou essa pesquisa no ano de 2009,
buscando elementos do processo de constituição identitária na formação inicial da
carreira docente. Como forma de criar espaços de aprendizagem e possibilitar o diálogo
entre pessoas participantes do grupo, e que falam de diferentes lugares (alunos de
1006
1
Este trabalho foi desenvolvido na Disciplina Projeto: Movimentos Identitários de Professores II,
ministrada pela Profa. Dra. Vera Maria Nigro de Souza Placco, no Programa de Estudos Pós-Graduados
em Educação: Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, durante o
primeiro semestre de 2011
1007
REFERENCIAL TEÓRICO
A profissão docente, assim como qualquer outra, tem especificidades e
características próprias e faz-se necessário definir a quais aspectos dar relevo, quando se
procura compreender como professoras em formação se constituem docentes, como elas
percebem suas condições de trabalho, caso já estejam atuando, e quais concepções e
intenções revelam em relação à docência. Visando aprofundar essas questões, que
envolvem o aluno em formação na Licenciatura, buscamos, nos estudos de Marcelo
(2010) e Placco (2008), subsídios para analisar as entrevistas dessas alunas que estavam
nesse período de transição, universidade - escola.
Como o foco desta pesquisa centrou-se na questão dos movimentos identitários
do futuro professor, recorremos aos estudos de Dubar (2005, 2009), para compreender
como o sujeito negocia suas expectativas, necessidades e desejos com aquilo que lhe é
atribuído e/ou imposto pelo contexto de formação.
O professor em formação traz consigo uma experiência da época em que era
aluno na educação básica, sobre o que é a docência, experiência essa à qual muitas
vezes ele atribui pouca importância. No entanto, como afirma Marcelo (2010), o
professor aprende sua profissão mesmo antes de estar atuando, pois passa pela
experiência da observação do que é ser professor ainda enquanto aluno, desde a
educação básica.
A identidade docente vai, assim, se configurando de forma paulatina e pouco
reflexiva, por meio do que poderíamos denominar aprendizagem informal, mediante a
qual os futuros docentes vão recebendo modelos com os quais vão se identificando
pouco a pouco, e em cuja construção influem mais os aspectos emocionais do que os
racionais. (MARCELO, 2010)
Fora o fato de que o docente é o profissional que possui mais tempo imerso na
profissão e de que os cursos de formação inicial nem sempre possuem clareza no que
diz respeito à formação na e para a prática, faz-se necessário identificar quais são os
aspectos que influenciam a constituição identitária do professor, antes dele se graduar,
ao sair de uma licenciatura e ao iniciar sua atuação numa instituição escolar.
Considerando que os estudos teóricos possibilitam orientar a prática,
encontramos em Tardif (2005, 2009, 2010, 2013) elementos sobre a relação entre os
1008
2
Para Dubar, estas transações “podem assumir duas formas: ou de transações “externas” entre o
indivíduo e os outros significativos, visando a tentar acomodar a identidade para si à identidade para o
outro (transação denominada objetiva), ou a de transações “internas” ao indivíduo entre a necessidade de
salvaguardar uma parte de suas identificações anteriores (identidades herdadas) e o desejo de construir
para si novas identidades no futuro (identidades visadas), com vistas a tentar assimilar a identidade-para-
o-outro à identidade-para-si. Essa transação, denominada subjetiva, constitui um processo de socialização
concebido como produtor de identidades sociais.” (2005, p.140)
3
No que se refere a identificação Dubar (2005, p. 137) afirma que “cada um é identificado por outrem,
mas pode recusar essa identificação e se definir de outra forma. […] Ele denomina “atos de atribuição os
que visam a definir ‘que tipo de homem (ou de mulher) você é’, […] identidade para o outro; atos de
pertencimento os que exprimem ‘que tipo de homem (ou de mulher) você quer ser, […] para o si.”
(Grifos do autor)
1009
METODOLOGIA
Para coletar os dados que viessem responder como essas discentes estão fazendo
a transição para a docência e como negociam suas expectativas com aquelas que
percebem serem atribuídas à profissão, foi elaborado um questionário dividido em duas
partes: a primeira, com questões objetivas tais como: faixa etária; se era a primeira
graduação; se a aluna tinha cursado o magistério; se já trabalhavam como docente, se
sim, há quanto tempo e, se não, qual era a ocupação naquele momento; e com o que
pretendiam trabalhar depois de formadas.
A outra parte do instrumento era um roteiro para a entrevista. Ali as questões
abordavam os seguintes temas: Escolha profissional e expectativas sobre o curso;
Saberes docentes; Trajetória de formação; e Identidade/Alteridade/ Subjetividade.
As questões objetivas foram transcritas em uma tabela e nos permitiram
conhecer o perfil das alunas participantes da pesquisa que concluíam o curso de letras
naquela instituição. As entrevistas foram transcritas e analisadas, e as categorias
utilizadas para análise dos dados seguiram os temas propostos no roteiro da entrevista.
Para este texto, procuraremos indicar os pontos mais relevantes que perpassam
as categorias Escolha profissional e Expectativas sobre o curso e Saberes docentes.
1010
Tardif (2009) indica que o futuro professor traz para a sua formação inicial e
para a profissão marcas de sua própria cultura, história pessoal e de uma educação
fragilizada. Esse problema apresentado pela aluna Linda nos mostra que os cursos de
formação de professores devem prezar pela qualidade dos conteúdos que são oferecidos
e que os docentes, fora o domínio do conteúdo da disciplina ministrada, devem atentar
para as dificuldades que os alunos apresentam e que podem ser frutos de uma má
formação escolar.
Todas as alunas participantes desta pesquisa cursavam Letras, e elas apontaram
que a escolha por este curso está ligada à sua história de vida. A motivação por esta
licenciatura, entre outros fatores, se deu pela lembrança de uma boa professora, a quem
creditam a responsabilidade pela sua escolha.
Ainda para Tardif (2010), o ensino apresenta uma evolução de forma desigual e
muito diferenciada, tendo-se em conta que a docência e o fazer docente não evoluem no
mesmo ritmo por toda parte e formas antigas convivem com formas contemporâneas.
Percebemos refletido nas falas das alunas, quando retratam seus professores no curso de
1011
licenciatura, que o ensino continua a ser conteudista e o que faz diferença para cada
aluno é a maneira como seus professores lidam com o fator humano-interacional:
existem pessoas que sabem, de repente, te puxar e falar: “-Não, vem que você
pode continuar, que você pode ir além. Você tem capacidade.” Mas existem
professores que não, que te derrubam e você acaba até sendo desmotivada.
(Heloisa)
[...] ela tem um jeito de ensinar que faz você querer ensinar também! Faz
você querer aprender com ela e querer ensinar... e isso é muito gostoso!
(Carolina)
Essas alunas, por mais que tenham tido pouco tempo para refletir sobre a sua
graduação, indicam um problema que precisa ser melhor estudado, que é a questão do
estágio. Elas reconhecem a necessidade de um bom relacionamento com os professores
e com os seus futuros alunos, valorizam o conhecimento adquirido na universidade e
indicam que apenas o conteúdo não garante a aprendizagem dos alunos. Como forma de
complementar a formação inicial, elas apontam a necessidade, senão urgência, da
articulação da universidade com a escola, tendo como foco principal a aprendizagem na
prática, mesmo que seja uma prática simulada.
Quando elas indicam que o estágio poderia ser feito na própria universidade, elas
evocam aquilo que o pesquisador norte-americano Zeichner (2010) denomina de
terceiro espaço. Este espaço serviria para promover a interação entre professores da
Educação Básica e do Ensino Superior, buscando a troca de conhecimentos que cada um
destes indivíduos possui. Ao avaliarem o curso, elas afirmam que:
[...] nenhum curso de Pedagogia ou Licenciatura pode ‘dar conta’ de preparar
completamente para o trabalho docente, mas ficou a consciência da
1014
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Embora outros dados da pesquisa pudessem ser aqui acrescentados e analisados,
consideramos estes breves exemplos significativos para compreendermos os
movimentos identitários gerados nas relações estabelecidas entre professores e alunos,
nos cursos de licenciatura. Pudemos verificar quão significativas foram suas relações
com os professores de graduação, e a importância desse professor na continuidade dos
estudos das discentes.
Outro ponto que merece atenção é o formato curricular dos cursos de
licenciatura que carecem de melhores espaços os quais possibilitem que seus alunos
vivenciem e discutam o cotidiano de uma sala de aula. O momento em que podem ter
um pouco dessa experiência é no estágio e mesmo assim, elas indicam a necessidade de
que hajam professores no ensino superior que orientem a vivência nesses espaços.
Percebemos no discurso das alunas a pouca articulação entre a universidade e a
escola visando a formação dos novos professores. No entanto, verificamos a
importância do olhar do outro, os seus professores formadores, na valorização e
reconhecimento das potencialidades dos sujeitos em formação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São
Paulo: Martins Fontes, 2005.
Comunicação
Introdução
O presente estudo apresenta resultado parcial de pesquisa em andamento que se
propõe analisar a construção do campo científico brasileiro da avaliação durante os anos
1980. Neste trabalho, particularmente, sistematizamos as contribuições de textos que
compõem coletânea publicada no mesmo período.
A década de 1980 é simbólica para diversos setores da sociedade brasileira, e
isso se deve em grande parte pelo contexto pelo qual passava o país, evidenciado nas
lutas pela redemocratização, momento em que se discutia, inclusive, uma nova
1017
1
Rothen (2004, p.109) nomeia de Epistemologia Política, os procedimentos metodológicos que elabora
para estudar o exercício do poder do Conselho Federal de Educação, no período de 1962 a 1968. Este
conceito é baseado na proposta metodológica de Thomas Popkewitz para a pesquisa da influência do
currículo escolar na elaboração da maneira de ver e de formar o mundo. A Epistemologia Política,
“proporciona o contexto dentro do qual devem ser considerados as regras, os modelos” e as concepções
de Estado – “através dos quais o mundo é formado”, isto é, através dos quais são construídas “as
distinções e categorizações que organizam as percepções...”, as propostas de políticas públicas e “as
formas de responder ao mundo” –, além de direcionarem a formulação de políticas públicas.
1019
Considerações finais
A construção do conhecimento sobre avaliação educacional no Brasil foi
analisada neste trabalho a partir de textos que compõem a obra “Avaliação de
Programas: vicissitudes, controvérsias e desafios”.
Nos textos os autores discutem quatro grandes questões. A primeira diz respeito
à definição conceitual da avaliação. A segunda trata da incorporação das dimensões
subjetiva e política no processo avaliativo. A terceira procura apontar métodos para a
avaliação. A quarta enfoca aspectos da prática profissional da avaliação educacional.
Para cada questão os autores propõem os seguintes princípios: 1º) Avaliação
consiste em determinar o valor de algo para fins de tomada de decisão, ela possibilita
julgar se os resultados desejados foram ou podem ser alcançados; 2º) A avaliação situa-
se num contexto político, e como tal revela o posicionamento político do avaliador. Os
avaliadores, por sua vez, influenciam relações de poder, pois produzem informações que
funcionam para satisfazer determinados interesses. As influências políticas do avaliador
moldam a própria concepção do estudo-avaliativo, assim como influenciam nas
escolhas das técnicas utilizadas para a coleta e análise das informações. Ressalta-se que
as pressões políticas pela qual passa o avaliador podem alterar e prejudicar o estudo
avaliativo, mas nem por isso ele deve obscurecer a validade dos resultados obtidos; 3º)
O método através do qual se obtém informação é ponto central na avaliação, mas não
existe um método único para a avaliação que convenha a todas as situações, pois o ato
avaliativo é essencialmente subjetivo; 4º) O avaliador deve, no processo avaliativo, ter
um plano que indique o que pretende avaliar; deve julgar se o programa é eficiente ou
ineficiente, válido ou não, mas não impor seus resultados ao administrador; e deve
adotar estilos diferentes para comunicar os resultados obtidos, para que atinja diferentes
grupos.
É possível encontrar nos textos outros princípios que são anunciados, mas não
são problematizados, é o caso da discussão em torno de questões relacionadas às
funções “formativa e somativa” da avaliação, ao “estudo de caso” como forma de
avaliação qualitativa, do papel da “informalidade” no processo avaliativo, do
“aprimoramento” de práticas avaliativas, do fortalecimento da “avaliação interna”, do
problema do “qualitativo e quantitativo” em avaliação, da “divulgação e utilização” dos
resultados da avaliação, e de como “adaptar a teoria e a prática” avaliativa norte-
americana a outras realidades.
1027
Referências
ABRAMOWICZ, M. Avaliação, tomada de decisões e políticas: subsídios para um
repensar. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, v. 10, p.81-101, 1994.
Comunicação
Introdução
quais isso seria feito, assim como pelas ações possivelmente desencadeadas pelos
participantes em suas escolas.
4. Metodologia de pesquisa
Esta investigação teve como ponto de partida a leitura do Plano (SÃO PAULO,
2011) que resultou na elaboração da seguinte questão de pesquisa: Como uma formação
destinada a equipes gestoras de escolas da rede estadual paulista se reflete nas práticas
gestoras de uma de suas participantes, diretora de uma unidade escolar?
Ao decidirmos realizar esta pesquisa não tínhamos uma hipótese elaborada em
relação a essa questão. A premissa que orientou seu início era a de que, possivelmente,
as articulações entre a formação da qual os gestores estavam participando e suas
práticas de gestão em suas escolas eram bastante tênues, o que é comum a muitos de
processos de formação de educadores. Entretanto, acreditávamos que os efeitos da
formação vivenciada por eles, ainda que tímidos, poderiam ser verificados. Também
suspeitávamos, no sentido inverso, que as práticas gestoras desses sujeitos, poderiam
estar, de alguma forma, influenciando o próprio processo formativo pelo qual estavam
passando.
Assim consideramos que seria apropriado que esta pesquisa fosse desenvolvida
de acordo com os princípios metodológicos da pesquisa qualitativa e exploratória em
educação (LÜDKE; ANDRÉ, 1986; BODGAN; BIKLEN, 1994), tendo como
instrumentos/procedimentos: análise documental dos documentos oficiais sobre o GR e
dos relatos dos encontros formativos; um questionário aberto, respondido por oito
diretores participantes do GR foco da investigação; observações de reuniões
pedagógicas e de colegiados na escola dirigida pela gestora sujeito principal da pesquisa
e entrevistas semiestruturadas realizadas com os seguintes membros da comunidade
escolar: a diretora; um aluno do ensino médio; uma mãe de aluno/a; uma funcionária;
uma professora; um coordenador pedagógico e a professora mediadora comunitária
escolar.
Devido à necessidade de selecionar uma parte dos resultados desta pesquisa para
esta comunicação, nos basearemos nas entrevistas semiestruturadas para caracterizar a
1036
decisões no calor dos acontecimentos, às vezes é instada a agir dessa forma por pressão
dos próprios membros da equipe e comunidade escolar: “(...) eu acabei tomando uma
decisão precipitada, um pouco pressionada pelo grupo... Eu estou me sentindo muito
mal porque eu estou muito dividida com o que está acontecendo, eu estou enxergando
um lado e o outro lado. Então o que eu faço, eu tento consultar o máximo possível as
pessoas...”.
Percebemos nessa fala a tendência da diretora de rejeitar tomadas de decisões
solitárias e irrefletidas, ao contrário, considera fundamental consultar os envolvidos e
ter clareza das possíveis consequências. Em outro ponto de sua entrevista explicou que
uma gestão democrática deve ter como princípio ouvir o outro, saber de suas
necessidades e suas perspectivas em relação ao ensino e aprendizagem. Já a autonomia
para ela não é plena, pois sempre há a necessidade de seguir algumas regras, da escola,
do sistema, da sociedade. Portanto, não há liberdade plena para fazer ou opinar de
acordo apenas com as próprias convicções. Ela explicou também que é preciso ter ética
profissional e pensar nos interesses de todos que participam da comunidade escolar,
tanto quanto possível. Para ela, ser autônomo não é ser autossuficiente, pois sempre se
depende do outro para tomar decisões.
Essa caraterística de ouvir o outro, de incentivar a participação faz com que a
diretora tenha bastante dificuldade em exercer o papel que o sistema educacional e até a
própria comunidade exigem, isto é, de constituir-se como autoridade escolar, o que é
demonstrado pela sua fala: “(...) tenho muita dificuldade em dar ordens. Para
conversar com um funcionário e corrigir algo errado, fico uma semana sem dormir,
pensando as melhores falas, o melhor caminho para conduzir o problema. Sofro muito
com isso”. Notamos que sua preocupação com o outro, com suas reações, com as
consequências de suas decisões a fazem refletir muito, ficando dividida entre o que se
espera dela formalmente e suas concepções de gestão, predominantemente
democráticas.
As falas de uma funcionária e da professora mediadora parecem refletir que essa
abordagem democrática de gestão prevalece nas práticas da diretora. A funcionária,
que trabalha há alguns anos na secretaria da escola explica: “(...) ela divide o nosso
trabalho e essa divisão é uma sugestão nossa, (...) a diretora sempre falou que a
prioridade é o aluno, é o atendimento, e o resto é consequência, a gente está ali pra
trabalhar mesmo, para servir mesmo e qualquer problema relacionado ao aluno tem
que ser atendido antes de qualquer papel, antes de qualquer relatório que você tenha
1038
que se apresentar, antes de qualquer coisa que você tenha prazo para fazer para o
sistema. (...) um trabalho dividido onde todo mundo aprende, onde todo mundo sabe
fazer um pouco de cada coisa. A gente só procura passar para ela o que a gente sabe
fazer melhor, e ela mesma já identifica isso, ela tem um conhecimento assim da pessoa,
às vezes ela não sabe seu nome, mas ela sabe do que cada um é capaz”. Além de
perceber o outro, a diretora (re) constrói suas práticas gestoras juntamente com sua
equipe. Surge também na fala da funcionária outro pressuposto fundamental da gestão
democrática da escola que é o foco nos estudantes e nas suas famílias. O sistema até
pode ser atendido em suas demandas, mas os alunos são sua prioridade. Ela consegue
ainda enxergar as subjetividades, isto é, a escola não é apenas um coletivo, mas
composta de indivíduos socialmente constituídos. Percebe-se ainda na fala da
funcionária uma admiração pelo trabalho da gestora, uma variável afetiva que deve
contribuir para um clima organizacional produtivo na escola.
Também observamos alguns desses aspectos na fala da professora mediadora, que
tem como responsabilidade auxiliar na resolução de problemas, principalmente
interpessoais e de disciplina, de quase setecentos e cinquenta alunos. “Ela é ótima, ela é
a verdadeira líder. Ela sabe muito bem a diferença entre autoritarismo e liderança. Ela
é a liderança pura, assim eu acredito que ela consegue trazer os funcionários para ela
por meio do diálogo, por isso eles são muito envolvidos, empenhados no trabalho por
meio dela. Ela tem essa liderança, ela tem um jeito de articular, de falar com os
funcionários, fazer com que eles façam do jeito dela, mas sem impor isso”. Parece claro
que nessa fala a professora mediadora explica seu conceito de liderança no contexto da
gestão democrática escolar, que ela considera uma das marcas das práticas gestoras da
diretora.
No que se refere à gestão democrática, a professora mediadora enfatiza que a
diretora é: “(...) envolvida com todos, busca a participação de todos, todos têm
abertura não só para opinar, como para dar sugestões, principalmente do conselho, um
caminho da gestão democrática, não é mesmo? O conselho de escola tem que funcionar
de fato, com pais, professores participando realmente, e também alunos, é por meio
dele que nós conseguimos traçar os demais objetivos da escola”.
Portanto, para ambas as entrevistadas, a diretora pratica alguns princípios básicos
da gestão democrática, exercendo sua autonomia e promovendo a participação,
organizando a escola e dando a todos oportunidades de conciliar horários e funções,
priorizando estudantes e suas famílias, procurando envolver a equipe e a comunidade
1039
nas decisões a serem tomadas. Isso tem resultado em uma relação de estima e respeito
muito positiva entre a diretora, a escola e a comunidade.
No que se refere especificamente às articulações entre formação e práticas
gestoras, a diretora afirmou que a formação pelo GR a ajudou a mudar sua visão em
relação ao ensino e aprendizagem, além de valorizar ainda mais o trabalho de uma
gestão participativa, construída coletivamente. O GR teve ainda, segundo ela, um papel
importante na organização das reuniões pedagógicas, dos colegiados e do próprio
cotidiano da escola, sempre com foco no desenvolvimento de relações horizontais entre
os membros da equipe e comunidade escolar: “(...) também passei por um processo de
amadurecimento em relação à importância de buscar a teoria para compreender o dia-
a-dia da escola e trabalhar com a reflexão da própria comunidade escolar na busca de
soluções para os problemas que encontramos em nossa atuação”.
Considerações finais
Como suspeitávamos no início desta investigação, parece não haver uma relação
unívoca entre programas de formação em serviço, como o GR, e práticas gestoras. O
que é perceptível é que processos formativos com foco na gestão democrática e que
fomentem a autonomia e a participação são promissores no desenvolvimento de práticas
gestoras baseadas nesses princípios. Como teoria e prática andam juntas, cremos ser
importante continuar investindo nesse tipo de formação, tendo clareza que cada
participante vai aprender e eventualmente, ter suas práticas subsidiadas pelos estudos
realizados, de acordo com sua trajetória de vida e de constituição de sua
profissionalidade.
Intuímos assim que possa ter havido algumas possíveis articulações entre a
formação pelo GR e as práticas gestoras da diretora foco do nosso estudo.
Consideramos, finalmente, que essas articulações devem ter sido moderadas pelos
limites estabelecidos pelo próprio sistema ensino, ofertante da formação, e também
pelas próprias culturas organizacionais de cada escola.
1040
Referências
Relato de experiência
Resumo: Este relato tem como objetivo discutir o papel do professor coordenador
pedagógico (PCP) na formação de professores em contextos escolares. Ele é resultado
de ações desenvolvidas em uma escola pública estadual do município de Osasco-SP, na
qual o autor exerce o cargo de diretor de escola. A revisão de literatura apontou-nos
várias temáticas relacionadas ao trabalho do PCP, das quais nos interessou a formação
de professores em contextos escolares por ele mediadas. O estudo fundamenta-se na
pesquisa qualitativa e apóia-se principalmente nas contribuições bakhtinianas. A análise
dos resultados está pautada em categorias sobre a percepção de seu papel e sua atuação
profissional. Acessados por meio das discursividades, os resultados revelam entraves a
serem por eles e por nós superados.
Palavras-chave: formação de professores, professor coordenador pedagógico, contexto
escolar.
1. Introdução
1
O sujeito desta pesquisa designado por professor coordenador pedagógico (PCP) aparece em outros
estudos com o mesmo nome ou outros, tais como: professor coordenador, coordenador pedagógico ou
simplesmente coordenador.
1042
2
Ricardo Alexandre Marangoni é diretor de escola da SEE-SP. Doutorando em Educação pela UMESP.
Bolsista da SEE-SP. Contato: ramarangoni@hotmail.com
3
A coletânea intitulada “O Coordenador Pedagógico” reúne nove livros com pesquisas sobre várias
temáticas relacionadas ao PCP.
4
Na primeira fase da pesquisa (2010) realizou-se um levantamento quantitativo, envolvendo 400 PCP de
13 estados brasileiros. O relatório completo pode ser acessado em http://www.fvc.org.br/estudos-e-
pesquisas/2010/perfil-coordenadores-pedagogicos-605038.shtml. Na segunda fase (2011) ocorreu um
aprofundamento desse estudo.
1043
2. Objetivo
3. Metodologia
5
Relato de experiência elaborado a partir do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “O professor
coordenador pedagógico e a formação de professores na escola pública”, realizado em 2012, no Curso de
Especialização em Gestão da Escola para Diretores pela USP, em parceria com o Programa REDEFOR
da SEE-SP.
1044
4. Marco Teórico
O estudo das práticas escolares cotidianas revela as formas particulares com que
cada sujeito interpreta a realidade e atribuem significados. Uma das maneiras de
apreender o cotidiano escolar é por meio da linguagem, levando-se em conta o contexto
em que são produzidas. Conhecer e interpretar a escola, através das interações verbais,
significa colocar uma lente de aumento na dinâmica das relações e interações,
compreendendo o papel e a atuação de cada sujeito nos modos de organização do
trabalho pedagógico.
Ao longo da história, a formação dos professores foi marcada por diferentes
abordagens. Nóvoa (1995), Tardif (2002) e outros destacam que as pesquisas recentes
enfatizam a necessidade de dar voz ao professor e reconhecer os saberes por eles
desenvolvidos. Daí a necessidade de se investigar a formação docente nos contextos
escolares, mediada pelos PCP. Para isso, definimos uma perspectiva teórica que nos
ajudasse a capturar esse dinamismo e que orientasse nossa análise e interpretação.
Utilizamos o discurso dos PCP para o entendimento da formação docente, numa
perspectiva bakhtiniana. Portanto, a discursividade é compreendida por nós como um
processo que explicita, em seu caráter sócio-histórico-cultural e ideológico, a dinâmica
de produção de sentidos para contemplar as práticas enunciativas.
Para Brait (apud CASTRO, 2009, p. 26), o conjunto das obras do Círculo de
Bakhtin motivou o aparecimento de uma análise dialógica do discurso que “contribui
para o reconhecimento do constitutivo papel da linguagem nas atividades humanas e,
portanto, nas diferentes ciências que têm o sujeito e sua alteridade como objeto de
estudos”.
Cabe destacar que há outras vozes do discurso, mas neste momento interessa-nos
investigar o problema a partir desses sujeitos (PCP). Também acrescentamos que o
discurso é aqui entendido, não sob o aspecto da fala individual, mas do entrelaçamento
de discursos que, veiculados socialmente, realizam-se nas e pelas interações dos
indivíduos.
Os PCP, ao enunciarem, inscrevem-se em uma posição enunciativa. Os discursos
nos quais inscrevem seus dizeres coexistem com outros discursos que provêm de outras
posições-sujeito, de outros lugares discursivos, de outras formações discursivas. Nessa
perspectiva, nos vemos atrelados e entrelaçados a discursos, nos quais ocorrem as
1045
A coleta dos dados teve como eixo norteador investigar os sentidos explicitados
pelos dois PCP quanto às questões mencionadas no subitem três. Uma vez eleitas as três
categorias passou-se a transcrição das entrevistas e análise dos resultados. As categorias
analisadas foram: (1) percepção sobre o papel da coordenação pedagógica; (2)
percepção sobre sua atuação profissional; (3) percepção sobre mudanças necessárias.
1046
6
ATPC significa Atividade de Trabalho Pedagógica Coletiva e, substitui a nomenclatura HTPC (Horas de
Trabalho Pedagógica Coletiva).
1047
Matemática e não permitem o exercício do diálogo entre os pares, ficando muitas vezes
subentendido a relação daqueles que sabem sobre aqueles que precisam incorporar os
conhecimentos e simplesmente exercitá-los.
Também salientamos que a PCP do ensino fundamental incentiva os professores
a buscar uma formação além do ambiente escolar. Acreditamos ser importante essa
ação, porém, o discurso por ela proferido preocupa-nos, porque também devemos
reforçar a ideia de que a escola apresenta-se como lócus de formação permanente do
professor e, o PCP tem como atribuição a mediação desses processos. Aqui, observamos
um entrave – os professores, muitas vezes não valorizam as ATPC como espaço de
formação e também não reconhecem o PCP como mediador desses processos.
O PCP do ensino médio destaca as ações de orientação individual e coletiva. Ele
demonstra uma preocupação com a reflexão sobre a prática pedagógica e o
relacionamento interpessoal. Ele deseja “cutucar” (expressão utilizada pelo pesquisado)
os professores para que os últimos reflitam sobre suas práticas.
6. Considerações Finais
formação dos professores na escola pública. Enfim, essa experiência expressa apenas
um começo para que, efetivamente, essas transformações ocorram no contexto escolar.
7. Referências Bibliográficas
Comunicação
Roque Lucio
Faculdade Euclides da Cunha
São José do Rio Pardo
Antônio Carlos Will Ludwig
Faculdade de Administração Pública da Academia da Força Aérea
Pirassununga
Agência financiadora: FAPESP
Regime de Colaboração
Considerações Finais
A análise das leis que criaram os Conselhos Municipais de Educação dos 19
municípios da RMC em relação à contribuição para a materialização do Regime de
Colaboração nos revelaram o seguinte:
1058
1- Não foi encontrada nenhuma relação entre as Leis de Criação dos Conselhos
Municipais de Educação e a materialização do Regime de Colaboração em 6 (seis)
municípios: ( Campinas, Engenheiro Coelho, Itatiba, Paulínia, Sumaré e Valinhos), o
que representa 31,57% ( trinta e um inteiros e cinquenta e sete centésimos por cento) do
total de municípios pesquisados.
2 – Pudemos inferir da análise das leis dos 13 municípios restantes, que o
conteúdo destas leis de Criação dos Conselhos Municipais de Educação facilitavam a
materialização do Regime de Colaboração, o que representa 68,43% ( sessenta e oito
inteiros e quarenta e três centésimos por cento) do total de municípios pesquisados.
Ficou bem caracterizado na pesquisa, que o Conselho Municipal de Educação
pode ser um importante instrumento para a materialização do Regime de Colaboração.
Em relação ao Regime de Colaboração, o alento é que o PNE/2014 ( Lei 13.005,
de 25 de junho de 2014) estabeleceu em sua Meta 20 a Estratégia 20.9 que afirma:
Regulamentar o parágrafo único do art. 23 e o art. 211 da Constituição
Federal, no prazo de 2 (dois) anos, por lei complementar, de forma a
estabelecer as normas de cooperação entre a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, em matéria educacional, e a articulação do sistema
nacional de educação em regime de colaboração, com equilíbrio na repartição
das responsabilidades e dos recursos e efetivo cumprimento das funções
redistributiva e supletiva da União no combate às desigualdades educacionais
regionais, com especial atenção às regiões Norte e Nordeste (BRASIL, 2014)
O que esperamos é que está estratégia não se configure como apenas uma carta
de intenção. Ainda sobre o PNE/2014 estranhamos a inserção do §7º do artigo 7.º que
afirma: “O fortalecimento do regime de colaboração entre os Municípios dar-se-á ,
inclusive, mediante a adoção de arranjos de desenvolvimento da educação”, instrumento
que pode possibilitar as assessorias privadas nos sistemas municipais, em larga escala,
desvirtuando o lema “recursos públicos para escola pública”.
O fato de que na maioria dos municípios estudados os conselhos de educação
apresentam-se como órgãos importantes para a concretização do regime de colaboração
apoia a tese do afloramento desse regime mesmo inexistindo um entendimento
consensual entre educadores a seu respeito e uma legislação específica que o
regulamente.
REFÊRENCIAS
BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16 De Julho
de 1934.disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil-03/constiuicao34htm>.
1059
BRASIL. Senado Federal: Lei Federal n.º 4.024/61, Fixa as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. De 20 de dezembro de 1961, publicada no Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 21 de dezembro de 1961.
BRASIL. Senado Federal. Lei Federal n.º 5.692, de 11 de agosto de 1971, publicada no
Diário Oficial da União, Brasília, DF. de 12 de agosto de 1971.
BRASIL. Lei 9.131, de 24 de novembro de 1995. Altera dispositivos da Lei nº 4.024,
de 20 de dezembro de 1961, e dá outras providências. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9131.htm. Último acesso em 21 de julho de
2014.
SÃO PAULO (Estado). Lei Complementar n.º 815, de 30 de julho de 1996. Cria a
Região Metropolitana da Baixada Santista e autoriza o Poder Executivo a instituir
entidade autárquica, a constituir o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano da Região
de Campinas, e dá providências correlatas. São Paulo: Assembleia Legislativa do Estado
de São Paulo. 1996.
Comunicação
INTRODUÇÃO
O Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa começou a ser idealizada em
2012 e posto em prática em 2013 nos municípios, o mesmo é um acordo firmado pelo
Governo Federal, com Estados e Municípios, visando formar professores dos
anos/séries iniciais do I Ciclo de Alfabetização para que os alunos quando estiverem no
final do I ciclo estejam alfabetizados.
Tem-se como objetivo geral compreender como ocorre o processo de formação
continuada de professores que participam do Pacto Nacional de Alfabetização na Idade
Certa (PNAIC) e as contribuições destes estudos para a prática pedagógica. O olhar para
1063
As ações de formação continuada no Brasil têm seu início em meados dos anos
60 e início da década de 70, onde houve a primeira sistematização dos órgãos públicos
voltados para o aperfeiçoamento dos docentes. Segundo Alferes (apud et all ANDALÓ
1995) “as experiências mais antigas de que se tem notícias datam do início dos anos
60”. Foi nessa época que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (INEP) promoveu um estudo em colaboração com os Cursos de
Aperfeiçoamento do Instituto do Rio de Janeiro.
Nesse estudo, constatou-se que os professores estavam pouco satisfeito com os
cursos de aperfeiçoamento, pois estes não atendiam as necessidades da escola. Do
resultado da pesquisa realizada, verificou-se que 80% dos docentes queriam uma
reforma na forma dos assuntos práticos do professor primário; 69% sugeriram que as
aulas fossem a partir das necessidades da escola; 42% opinaram que o aperfeiçoamento
deveria ser planejado levando em conta a opinião dos docentes; 43% sugeriram mais
ênfase nas questões práticas.
Em relação às três últimas décadas, podemos elucidar três fatos importantes no
cenário político do país, a ditatura militar, o movimento pela democratização do Brasil e
a globalização da economia e da cultura. A partir da década de 70, o modelo de
educação era a educação tecnicista. Segundo Aranha (2006), “a educação tecnicista
encontrava-se imbuída dos ideais de racionalidade, organização, objetividade, eficiência
e produtividade”. E de acordo com a autora, o professor é um técnico que, assessorados
por outros técnicos, transmitiam conhecimentos técnicos e objetivos. E nesse contexto,
na década de 70, Pedroso (1998) evidencia que a formação continuada ganha uma
significativa expansão devido ao advento da modernização social, o que exigiu recursos
1064
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
RESULTADO E DISCUSSÕES
.
A primeira questão levantada às professoras foi referente ao curso de formação
inicial e obtenção do título. As respostas foram sintetizadas na seguinte tabela.
1068
TABELA 1- Formação/Graduação.
GRADUAÇÃO ANO
PA-Licenciatura em Artes Visuais 2006
PB-Licenciatura em Geografia 2010
PC-Licenciatura em Geografia 2010
PD-Cursando Licenciatura em Pedagogia 2014
PE-Cursando Licenciatura em Pedagogia 2014
Fonte: Questionário
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de [et all]. Educação Escolar:
políticas, estrutura e organização. 6. São Paulo: Cortez, 2008.
Relato de experiência
I- Introdução
1
CUNHA, Antonio Geraldo Cunha. Definição encontrada no Dicionário Etimológico Nova Fronteira da
Língua Portuguesa 2ª Edição, 1986.
1077
Severino nos diz que há íntima relação entre educação e sociedade. Para o autor
a ciência humana ao longo da história promoveu práticas informais de educação para
atender às demandas sociais. Com o advento da formalização da educação esta continua
mantendo a idéia de vínculo estabelecido com à humanidade para o fortalecimento da
sociedade. (SEVERINO, 2012, p.71).
Nesta perspectiva de pensamento é demonstrada a importância do processo
educacional, mas pautado no ideário da pedagogia histórico-crítica. Esta pedagogia
pressupõe estimulo à participação e ao compartilhamento de responsabilidades;
coexistindo os sujeitos do território escolar de forma interativa buscando significado à
vida humana. Saviani, no que se refere à pedagogia histórico-crítica nos diz:
A educação é entendida como um ato de produzir, direta e intencionalmente,
em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida e coletivamente
pelo conjunto de homens. Em outros termos isso significa que a educação é
entendida como mediação no seio da prática social global. A prática social
põe-se, portanto, como o ponto de partida e o ponto de chegada da prática
educativa. Daí decorre um método pedagógico que parte da prática social em
que o professor e o aluno se encontram igualmente inseridos, ocupando,
porém, posições distintas, condição para que travem uma relação fecunda na
compreensão e no encaminhamento da solução de problemas postos pela
prática social. (SAVIANI. 2011, p. 421 e 422)
V- Passos e procedimentos
Meu foco, porém, nessa explanação, não está nas ações de observação de sala de
aula, que são importantes ações realizadas no contexto escolar e, certamente, ao
processo ensino-aprendizagem, mote maior de cada escola. O foco aqui está no que
mobilizou a ação pedagógica significativa; diante do descrito entendemos que a prática
educativa foi tecida no exercício de sociabilidade. Como disse Severino: “(...) a atuação
2
Tematizar a prática é um dos jargões mais comuns nas atividades de formação continuada. Segundo
Telma Weisz, doutora em Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento e formadora de
professores, isso nada mais é do que a "análise que parte da prática documentada para explicitar as
hipóteses didáticas subjacentes ao trabalho do professor". Ou seja, refletir sobre o dia-a-dia dentro da sala
de aula. Trecho do artigo de Gustavo Heidrich, publicado em Setembro de 2008 na revista Nova Escola
no endereço http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/tematizacao-pratica-
428225.shtml
1082
VII- Conclusão
3
Idealizada por Albert Humphrey . Em Administração de Empresas, a Análise SWOT é um importante
instrumento utilizado para planejamento estratégico que consiste em recolher dados importantes que
caracterizam o ambiente interno (forças e fraquezas) e externo (oportunidades e ameaças) da empresa.
A Análise SWOT é uma ferramenta utilizada para fazer análise ambiental, sendo a base da gestão e do
planejamento estratégico numa empresa ou instituição. http://www.significados.com.br/swot/
1084
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARENDT, Hannah . O que é política? Ed. Ursula Ludz – Rio de Janeiro , 2003.
TORRES, Rosa Maria (org.). Educação popular: um encontro com Paulo Freire. São
Paulo. Edições Loyola, 1987.
SEVERINO, Antônio J. Educação, sujeito e história. São Paulo. Olho d’Água, 2011.
WEISZ, Telma. Diálogo entre ensino e aprendizagem. São Paulo. Ática, 2000.
1086
Comunicação
1 APRESENTAÇÃO
Para Anísio Teixeira, a organização da LDB criava a expectativa de traçar as bases para
a educação nacional e a possibilidade de colocar em prática a descentralização,
assegurando a autonomia num processo de coesão ou integração nacional.
Assim, os argumentos de Anísio Teixeira pela defesa da LDB se constituem a partir do
olhar com que analisou a realidade educacional do País, afirmando:
Fomos, até ontem, algo de inautêntico, de fictício, confundindo a nação com
sua burocracia e as suas leis exequíveis, algumas, e impeditivas do progresso,
outras. A tradição colonial do Estado fiscal e do Estado Cartório continuou
pela Monarquia a dentro e pela República, dividindo em duas a nação real e a
nação legal ou oficial […]. Tenhamos, agora, a coragem de lançar as bases de
1088
Cabe ressaltar que esse percurso foi mais longo do que talvez tenha imaginado o próprio
Anísio Teixeira, pois essa carta foi escrita em 1951, dez anos antes da promulgação do
texto final da sonhada LDB. Em sete de julho de 1952, Anísio Teixeira participou da
sessão da Comissão de Educação e Cultura da Câmara que debatia o projeto da LDB,
Essa era mais uma oportunidade para demarcar suas posições e colocar em pauta a
defesa da educação pública.
Esse debate foi publicado nas obras: A educação e a crise brasileira, de 1956, e em
Educação no Brasil, de 1969, indicando a relevância da discussão, reafirmando o
espaço de luta pelo qual Anísio Teixeira manteve total empenho e envolvimento. Em
suas análises, buscou pontuar as lacunas do nosso processo educacional, criticou o
formalismo burocrático, a uniformidade do ensino que apresentou como consequência
uma educação limitada e de qualidade comprometida.
pois tanto pode significar sistema de ideias, quanto conjunto de escolas ou instituições
educativas” (TEIXEIRA, 2005, p. 270).
De acordo com Saviani (2008), entre os argumentos produzidos por Anísio Teixeira, é
interessante ressaltar as considerações apresentadas. Quando questionado sobre a
definição de sistema de educação, identificou o sentindo da palavra como “equívoco”,
deixando a questão em aberto.
Teria sido essa uma estratégia de Anísio Teixeira em frente ao conjunto de interesses e
em meio às questões que se colocavam em disputa entre o público e o privado, uma vez
que, estando numa arena política e com uma variedade de posições, era necessário criar
um espaço de escuta para suas análises sobre as contradições identificadas no projeto?
Desse modo, não caberia, naquela sessão, aprofundar a questão do Sistema. Questão que
foi por ele elucidada anos mais tarde, em entrevista concedida ao jornal A Última Hora,
em março de 1959, publicada em seu livro Educação no Brasil, quando abordou o
conceito da LDB, afirmando a intervenção do Estado na educação e a LDB como base
do sistema de educação que se constituiria na busca de uma unidade na diversidade.
Vale destacar que a defesa da escola pública por Anísio Teixeira provocou reações
desencadeadas pela polêmica conferência realizada em Ribeirão Preto, em 1956,
incitando posições conservadoras que buscaram a retirada de Anísio Teixeira da
atividade pública.
De acordo com Hemes Lima (1977, p. 178):
Em 1957, o clamor pela Lei de Diretrizes e Bases repercutiu e o projeto
andou mais depressa. Em 1958, o Deputado Carlos Lacerda encaminhou o
substitutivo provocador nos meios educacionais de intensa discussão […].
Respirava-se no substitutivo contundente vocação privatista e confessional.
Nesse bojo, Anísio Teixeira (2011, p. 249-250) expressou sua crítica ao substitutivo
Lacerda que pretendia o fortalecimento da iniciativa privada, coibindo a ação do
Estado, criando o fantasma do monopólio estatal, deixando a cargo das instituições
particulares a tarefa de instalar as escolas, com a subvenção do Estado e sem
fiscalização por parte dele. Para Anísio Teixeira, “[...] nunca o laissez-faire educacional
foi tão completo”.
Cumpre observar que o contexto que abrigou as formulações da LDB foi construído por
um longo caminho de esperas e disputas de interesses políticos, recebendo várias
emendas e substitutivos. Assim, a correlação de forças entre as diferentes frentes
partidárias criou vários impasses até sua aprovação final, em que, segundo Saviani
(1999, p. 45), “[...] o texto convertido em Lei representou uma 'solução de
compromissos' entre as principais correntes em disputas. Prevaleceu portanto, a
estratégia de conciliação”.
Cabe considerar que a “estratégia de conciliação” em destaque por Saviani (1999) não
se reduz a uma mera convenção de acordos, mas representa a correlação de forças do
jogo político, uma disputa na defesa de um projeto de educação com perspectivas e
interesses distintos. Podemos dizer que, nas análises de Anísio Teixeira, essa visão se
colocava com total clareza.
Em suas análises, Anísio Teixeira identificava a importância da lei, mas ressaltava as
lacunas deixadas nesse processo, quando afirmava que:
O debate, que levou afinal a uma nova Lei de educação- a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação – constitui um singular esforço da sociedade brasileira de
introspecção e de busca da própria identidade. Não se pode dizer que o
1092
esforço tenha sido coroado com êxito. Projeta-se na Lei o estado de divisão
da sociedade. Deixa-se aberta a porta da expansão anárquica de escolas por
iniciativa particular e fazem-se modestas reformas de organização e conteúdo
(TEIXEIRA, 2011, p. 345).
Com a aprovação, Anísio Teixeira (2011, p. 256-257) considerou a LDB uma “[...] meia
vitória mas uma vitória”, embora não tenha conseguido acompanhar a evolução do País
haja vista o tempo que durou a sua tramitação. Constituiu um marco importante na
legislação educacional brasileira, como uma lei de abrangência nacional.
Segundo Saviani (2008, p. 24-25), o Projeto das Diretrizes e Bases apresentou várias
indefinições provocadas pela superposição de concepções políticas, interesses da Igreja
durante o processo, com destaque para discussão sobre a liberdade de ensino, acordos
alinhados aos interesses econômicos e uma variedade de interpretações do termo
Sistema.
Com relação aos aspectos definidos na lei e que poderiam identificar o Sistema,
observamos que não houve uma clareza quanto à sua definição. No Título V que trata
“Dos Sistemas de Ensino”, disposto principalmente nos artigos 11,12,13,14,15 e 16,
predominou a orientação de aspectos administrativos, voltados para a organização dos
sistemas de ensino. Não houve elementos de articulação para a sistematização da
educação na sua totalidade.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, podemos dizer que “[...] o Sistema Nacional de Educação integra e articula
todos os níveis e modalidades de educação com todos os recursos e serviços que lhes
correspondem, organizados e geridos, em regime de colaboração, por todos os entes
1094
Com isso, podemos destacar que os diálogos e interlocuções de Anísio Teixeira com
relação à organização nacional da educação marcaram uma posição de análise da
realidade educacional. Em um trecho do seu discurso Autonomia para a Educação,
publicado no livro Educação é um direito, de 1968, Anísio Teixeira faz uma abordagem
sobre a situação da educação no País, tomando-a como base para a fundamentação do
Capítulo de Educação e Cultura da Constituição baiana de 1947. Em suas
considerações, enfatizou a fragilidade democrática do Brasil e a dificuldade em tomar a
educação como função suprema do Estado. Assim, questionou: “[...] que fizemos nós no
Brasil, até hoje, para que essa suprema função do Estado a educação se exercesse?”
(TEIXEIRA, 2009, p. 108).
Desse modo, cabe, então, a indagação: o que fizemos nós diante da tradição educacional
brasileira de tantos recomeços em meio aos impasses de uma história da educação que
foi constituída a partir de diferentes conjunturas políticas e transformações na
configuração do Estado brasileiro? Dessa maneira, em que medida é possível afirmar:
Anísio voltava-se para o futuro em busca de uma democracia até então
inexistente na sociedade brasileira. Esse movimento que se projeta em
sentidos contrários tem seu ponto de intersecção na conciliação entre o antigo
e o novo, representada pela categoria de reconstrução, entendida justamente
como revisão da experiência anterior em qualquer campo (seja ele filosófico,
religioso, político, pedagógico), colocada a serviço de novos ideais. Esse foco
cognoscitivo é também afetivo. Seu grau de abrangência permite não só uma
reordenação da biografia, mas também a redefinição da história das
instituições de que o sujeito participa projetando, nelas, outros significados
(NUNES, 2010, p. 45-46).
Esse exercício constitui nosso maior desafio de tomar a educação brasileira como causa
pública para que possa consolidar um Sistema de Educação democrático e de qualidade,
reconhecendo a dinâmica e as especificidades federativas, num processo articulado de
mediação entre as esferas governamentais, que possam vincular responsabilidades
integradas a uma colaboração efetiva, reduzindo as desigualdades sociais e políticas de
nossa organização educacional.
1095
4 REFERÊNCIAS
NUNES, Zilda Clarice Rosa. Anísio Teixeira: a poesia da ação. São Paulo: Edusf,
2000.
RIBEIRO, Darcy. Anísio Teixeira, pensador e homem da ação. Rio de Janeiro, 1960.
______. Educação é um direito. NUNES, Clarice (Org.). Rio de Janeiro: UFRJ, 2009.
1096
______. Educação no Brasil. 4. ed. NUNES, Clarice (Org.). Rio de Janeiro: UFRJ,
2011.
TELLES, Vera da Silva. Direitos sociais afinal do que se trata? Belo Horizonte: Ed.
UFMG,1999.
Comunicação
Lula da Silva, foram criadas duas novas avaliações, baseadas nas experiências
anteriores. O INEP, Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
órgão do Ministério da Educação que desde o período de Souza vinha elaborando as
propostas de avaliação, implantou em 2005 a Prova Brasil, que mantinha a avaliação
amostral do Saeb, e que passou a ser denominada de Avaliação Nacional da Educação
Básica (ANEB) e posteriormente Avaliação Nacional do Rendimento Escolar
(ANRESC). As novas avaliações, mais detalhadas que as anteriores, udaram o foco para
a unidade escolar. Atingindo todas as escolas, as avaliações apresentam informações
cada vez mais precisas sobre a educação escolar brasileira. Foi incorporado ao sistema
um questionário socioeconômico, onde os estudantes fornecem informações sobre
fatores que influenciam o seu desempenho.
Em 2007 é criado o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançado
concomitantemente ao Decreto nº 6.094/2007, que instituiu o "Plano de Metas
Compromisso Todos pela Educação". O “Plano de Metas” estabelece 28 ações que
abrangem todos os níveis e modalidades de ensino. A partir de 2011 é implantada a
“Provinha Brasil”, destinada a avaliar o desempenho em leitura e escrita das crianças de
6 a 8 anos de idade da rede pública e voltada para a alfabetização e letramento. Dentro
do espirito do PDE é criado do IDEB,
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado pelo Inep
em 2007 e representa a iniciativa pioneira de reunir num só indicador dois
conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar
e médias de desempenho nas avaliações. Ele agrega ao enfoque pedagógico
dos resultados das avaliações em larga escala do Inep a possibilidade de
resultados sintéticos, facilmente assimiláveis, e que permitem traçar metas de
qualidade educacional para os sistemas. O indicador é calculado a partir dos
dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de
desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb – para as unidades da federação e
para o país, e a Prova Brasil – para os municípios.(BRASIL, MEC, 2007)
50.972.619 alunos matriculados dos quais 43.053.942 estão na rede pública e 7.918.677
na rede privada.
Os dados utilizados foram obtidos na base do INEP de questionários dos diretores
- TS_QUEST_DIRETOR.csv; Os dados de divulgação do Ideb foram obtidos na base
de dados do IDEB 2011 - divulgacao-anos-finais-escolas-2011.xls e divulgacao-anos-
iniciais-escolas-2011.xls. A partir destes arquivos foi gerada uma base de dados única,
incluindo o IDEB 2011 para as séries iniciais e finais e variáveis relacionadas ao perfil
do diretor e à gestão escolar de todas as escolas das redes estadual e municipal que
responderam integralmente a Prova Brasil 2011.
O número de escolas avaliadas neste trabalho se encontra na Tabela 1:
TABELA 1
Depêndenci Séries Séries
a Iniciais Finais
Estadual 10.020 16.943
Municipal 30.343 13.867
Total 40.363 30.810
Formação
Formação 6%
6% Localização Localização
40% Processo de 40%
Processo de gestão
gestão 8%
7%
Experiência Experiência
do diretor do diretor
14% 16%
Ocorrência Ocorrência
de problemas de problemas
18% 17%
Dependência Dependência
Administrativa Administrativa
Localização 2% 6%
Localização
11%
5%
UF
87% UF
89%
GRÁFICO 3
1103
Rural
Séries iniciais
Estadual
Séries finais
Municipal
Quantidade de
vezes que o Séries iniciais Séries finais
Quantidade de
conselho vezes que o
escolar se conselho
reuniu no ano escolar se
do reuniu no ano
levantamento do
15% levantamento
24%
Forma de
elaboração do
Apoio da projeto
comunidade à pedagógico da
gestão escola
22% Forma de 48%
elaboração do
projeto
pedagógico da
escola Apoio da
63% comunidade à
gestão
28%
Séries iniciais
Nenhuma vez.
Séries finais
Não
Possui outra
Carga horária atividade fonte
de trabalho Forma como de renda
6% assumiu a 5%
Idade
direção da Idade
8% Forma como 7%
escola Tempo de
21% assumiu a
experiência na
direção da
Possui outra área de
escola
atividade fonte educação
9%
de renda 41%
10%
Tempo de
Tempo de experiência
Salário bruto experiência na como diretor da
mensal como área de escola atual
diretor educação 15%
16% 20%
Tempo de
experiência Salário bruto
como diretor da mensal como
escola atual diretor
19% 23%
Eleição apenas.
Seleção.
Seleção e eleição.
Indicação
Séries iniciais
Seleção e eleição.
Séries finais
Eleição apenas.
Outra forma.
Seleção.
Municipal)
Um dos aspectos que chama a atenção em termos de importância na determinação
do IDEB é o tempo de experiência do diretor na área de educação. Os dados indicam
que é altamente significativa a diferença entre um profissional no início de carreira e
aquele com mais de 20 anos de magistério. Além disso, parece ser diretamente
proporcional a quantidade de anos de experiência do diretor em relação ao IDEB
alcançado pela escola.
GRÁFICO 13 – TEMPO DE EXPERIÊNCIA NA ÁREA DE EDUCAÇÃO
IDEB 2011
Há menos de um ano.
De 1 a 2 anos.
De 2 a 5 anos. Séries iniciais
De 5 a 7 anos. Séries finais
De 7 a 10 anos
De 10 a 15 anos.
De 15 a 20 anos.
Há mais de 20 anos
Outro aspecto importante é apontado pelo Gráfico 14, que representa o papel do
tempo de experiência do diretor na sua escola atual. As faixas de 10 a 15 e com mais de
20 anos na direção da escola atual aparecem como determinantes na elevação do IDEB
da escola.
1108
IDEB 2011
Há menos de um ano.
De 1 a 2 anos.
De 2 a 5 anos.
Séries iniciais
De 5 a 7 anos. Séries finais
De 7 a 10 anos
De 10 a 15 anos.
De 15 a 20 anos.
Há mais de 20 anos
Séries iniciais
Até 30 horas semanais.
Séries finais
ATUAL
Considerações finais
escola o que pode ser demonstrado pelos resultados do Ideb. Juntamente com a
elaboração coletiva do Projeto Político Pedagógico da escola, a participação da
comunidade e o apoio desta comunidade ao diretor constituem os aspectos mais
importantes, relativamente, para a elevação do IDEB. Além destas, questões como o
tempo de experiência do diretor e sua fixação na unidade escolar permitem que se
compreenda que uma maior relação com comunidade escolar conjugada com um
diretor ativo e que se dedique apenas a uma escola, propiciam uma melhoria na
qualidade do ensino, segundo os critérios do IDEB.
Nenhuma dessas questões é nova. O importante aqui é que estes dados podem ser
utilizados como fundamento para a tomada de decisões na área de política educacional.
Questões como as relações políticas de natureza patrimonialista, que ainda persistem na
esfera escolar, podem ser agora consideradas a partir dos resultados negativos que
apresentam para as escolas cujos diretores são escolhidos por indicação ou por sistemas
que não fixam os diretores nas escolas, mudando-os ao sabor da política eleitoral.
REFERÊNCIAS
Comunicação
Resumo: Esse texto busca compreender o novo Plano Nacional de Educação (PNE) no
tocante às metas que estão diretamente relacionadas ao público que atualmente se
encontra na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Este estudo
configurou-se através de uma pesquisa qualitativa, utilizando fontes documentais tais
como: documentos nacionais, legislações e informativos referentes à modalidade
Educação de Jovens e Adultos (EJA) e os debates delineados na elaboração do novo
Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024). O estudo não tem a pretensão de
esgotar o assunto, mas pretende ensejar a discussão sobre o que se esperar para a
modalidade EJA no novo PNE.
Palavras-chave: Plano Nacional de Educação, Educação de Jovens e Adultos.
Introdução
O Novo Plano Nacional de Educação – PNE – Lei n.º 13.005/2014 (BRASIL,
2014b), recentemente aprovado e esperado desde 2011, tem sua origem quando o
Projeto de Lei do Plano Nacional de Educação foi encaminhado pelo Governo Federal
ao Congresso Nacional em 15 de dezembro de 2010 (BRASIL, 2014d). Este novo PNE
apresenta dez diretrizes e vinte metas, seguidas das estratégias específicas para sua
concretização. Há estratégias específicas para a inclusão de minorias, como alunos com
deficiências, indígenas, quilombolas, estudantes do campo e alunos em regime de
liberdade assistida. Estabelece ainda estratégias para alcançar a universalização do
ensino de quatro a dezessete anos, prevista na Emenda Constitucional n.º 59, de 2009
(BRASIL, 2014b). Prevê a correção de fluxo e o combate à defasagem idade-série.
Estabelece metas para o aumento da taxa de alfabetização e da escolaridade média da
população. A nova lei obriga o Governo a investir 10% do Produto Interno Bruto (PIB)
em um prazo de dez anos.
1111
O objetivo deste texto é analisar o que este novo PNE propõe para a modalidade
EJA e o que se pode esperar para seu período de vigência (2014 a 2024).
O novo Plano Nacional de Educação foi sancionado pela Presidenta Dilma
Rousseff em junho de 2014, em meio ao clima de Copa do Mundo e às vésperas do
início da corrida eleitoral. Pode-se considerar uma vitória a sanção do PNE, visto que se
temia a sua votação não entrar na agenda legislativa em um ano eleitoral. Neste sentido,
destaca-se o papel desempenhado pelas mídias sociais ao disseminar, alertar e cobrar a
aprovação do PNE que já tramitava por quatro anos. Ainda, a discussão do novo PNE
ganhou espaço nas manifestações que brotaram pelo país nos meses anteriores a sua
aprovação1. Cartazes expondo os problemas da educação estavam presentes nos
protestos. Destacava-se a questão do aumento do investimento para a educação.
Em Mensagem postada no Blog do Planalto em 26 de junho de 2014, sob o
título: Presidenta Dilma sanciona sem vetos novo Plano Nacional de Educação,
encontramos o seguinte relato da mesma,
1
Uma retrospectiva daquele momento pode ser consultada em < http://www.jb.com.br/retrospectiva-
2013/noticias/2013/12/17/retrospectiva-manifestacoes-de-junho-agitaram-todo-o-pais/>. Acesso em
30/06/2014.
1112
Apesar da meta 3 não estar diretamente voltada para a modalidade EJA, ela pode
impactar de forma extremamente positiva se conseguir garantir para o jovem de quinze
a dezessete anos a continuidade dos estudos e o seu acesso ao ensino médio, como é seu
direito. Atualmente, a modalidade EJA recebe inúmeros jovens que acabam buscando
na EJA a possibilidade de continuidade dos seus estudos. Neste sentido, dentro das
estratégias da meta 3 estão ações que podem sanar a evasão dos jovens de quinze a
dezessete anos, buscar os que estão fora da escola e atender aos que estão encontrando
dificuldades em sua trajetória escolar. Estas ações podem garantir uma qualidade no
processo de escolarização, embora exijam da escola pública uma infraestrutura mais
adequada e condições de trabalho e de formação para os profissionais da educação em
especial para os professores. O grande desafio será ver tais ações realmente
implementadas.
A meta 7, “fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e
modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem...” (BRASIL, 2014c),
tem potencial de um impacto significativo para a modalidade EJA.
Ainda que a meta 7 não possua estratégias voltadas diretamente para a
modalidade EJA, pode-se inferir que a as estratégias de correção de fluxo, respeito aos
diferentes ritmos de aprendizagem, respeito ao perfil do aluno e a realidade da escola
sejam muito adequadas para o perfil dos alunos que atualmente estão na EJA, onde
grande parte deles são frutos do fracasso escolar e que evadiram.
Como um potencial risco, esta meta tem como objetivo seguir as médias
nacionais como o IDEB. Se não for analisado criteriosamente, pode-se transformar o
processo de aprendizagem das escolas em um único objetivo de fazer provas e
conseguir médias altas em determinadas disciplinas, em detrimento do aprendizado. O
conteúdo da sala de aula é a próxima avaliação e segue para a próxima avaliação,
1118
Tem como foco o perfil do jovem trabalhador e suas estratégias são voltadas para
resgatar um grupo significativo da força de trabalho que poderia ser mais bem
qualificado se tivesse garantido o seu direito a educação. Para tanto propõe a correção
de fluxo, o acompanhamento pedagógico individualizado, a prioridade aos estudantes
com rendimento escolar defasado, a continuidade dos estudos após a alfabetização e a
oferta gratuita de educação profissional e técnica. É totalmente voltada para o
atendimento à força ativa de trabalho do país.
Uma critica para essa meta é o corte etário dos dezoito aos vinte e nove anos,
pois a qualidade da educação, o acompanhamento satisfatório e o desenvolvimento do
aluno é prioridade em todas as faixas etárias. Mas observa-se o foco no aluno
trabalhador e na formação para o trabalho.
A meta 9 propõe,
Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15 (quinze) anos ou
mais para 93,5% (noventa e três inteiros e cinco décimos por cento) até 2015
e, até o final da vigência deste PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e
reduzir em 50% (cinqüenta por cento) a taxa de analfabetismo funcional
(BRASIL, 2014c).
Esta meta é voltada exclusivamente para o público da EJA. Ela ainda propõe a
oferta gratuita da EJA, a realização de diagnóstico dos jovens e adultos com ensino
fundamental e médio incompletos, para através desse diagnóstico identificar a demanda
ativa por vagas na EJA, a oferta de alfabetização com garantia de continuidade dos
estudos, a garantia de escolarização básica, a realização de chamadas públicas para o
levantamento da demanda da modalidade. Propõe também realizar a avaliação, através
de exames específicos, visando aferir o grau de alfabetização de jovens e adultos com
mais de quinze anos, estabelecer mecanismos e incentivos que integrem os segmentos.
Não se percebe nas metas um destaque nas ações voltadas para os idosos. A
modalidade EJA tem em seu público uma parcela de idosos que não vem encontrando
1119
espaço e muito menos condições para retornar a escola e não recebem uma proposta
educacional voltada para as suas características e necessidades.
Olhando para as políticas públicas implementadas para a modalidade EJA,
percebe-se a prioridade para o jovem e para o adulto trabalhador. Mesmo assim, tais
ações voltadas para a oferta da educação profissional, visando a formação para o
trabalho, a prestação de exames ou obtenção de certificados. A EJA necessita de uma
política pública diferenciada para o atendimento ao idoso e essa política precisa pensar
uma proposta de escolarização diferenciada, que respeite ritmos, estratégias e objetivos
que são diferentes e próprios de quem sobreviveu a inúmeras dificuldades na vida, mas
ainda sim mantém o desejo de aprender. Para esse público, a educação em si tem outro
significado. Representa um resgate de vida, de algo que não foi possível na época
adequada.
O aumento da expectativa de vida do brasileiro e o envelhecimento da população
(IBGE, 2014) anunciam que a educação não pode ficar fora desse debate e precisa
pensar uma proposta educacional diferenciada para o público idoso, não se limitando
apenas na oferta de alfabetização. Nessa linha, a estratégia 9.12 da meta número 9
aponta,
9.12) considerar, nas políticas públicas de jovens e adultos, as necessidades
dos idosos, com vistas à promoção de políticas de erradicação do
analfabetismo, ao acesso a tecnologias educacionais e atividades recreativas,
culturais e esportivas, à implementação de programas de valorização e
compartilhamento dos conhecimentos e experiência dos idosos e à inclusão
dos temas do envelhecimento e da velhice nas escolas (BRASIL, 2014c).
As estratégias para essa meta não são novidades. Elas vislumbram o que já vem
sendo implementado: a manutenção de oferta de programas de EJA voltados para a
conclusão do ensino fundamental aliado a formação profissional inicial e a conclusão do
ensino médio aliado a formação técnica. Embora venha sendo uma prática já
implementada, essa articulação acaba não acontecendo plenamente, sendo ainda uma
questão que merece atenção.
1120
Considerações Finais
O Novo Plano Nacional de Educação se propõe a garantir a universalização com
qualidade da Educação Básica, através de ações que vão da inclusão de todos no
processo educativo, a garantia de acesso, a permanência na escola com conclusão de
estudos e com bom desempenho, promovendo a igualdade de direitos.
O novo PNE tem condições de alterar o quadro de desigualdades da educação
brasileira, pois consegue tocar nos pontos frágeis da educação brasileira, mas será
necessário muito trabalho conjunto e de diálogo, principalmente entre União, o Distrito
Federal, os Estados e os Municípios, sincronizando prazos de implementação e
estimulando sinergias entre os seus respectivos planos.
Constata-se a importância de se manter atento à implementação do novo PNE
para a educação brasileira. Assegurar ações concretas que visem garantir ao Novo Plano
Nacional de Educação instrumentos de acompanhamento e avaliação. Além disso,
divulgar o conhecimento do mesmo para a sociedade, a compreensão de sua
importância e as ações educacionais concretas que serão implementadas.
Para a modalidade EJA, o plano é bastante tímido e mantém, na maior parte dos
casos, o que já vem sendo feito. As estratégias são vagas e a ênfase é no atendimento ao
jovem e ao adulto e com vistas ao mercado de trabalho. O PNE traz algumas estratégias
com potencial de auxiliar a EJA, de forma direta e indireta, prevendo ações importantes
para a modalidade.
A EJA precisa de políticas públicas que compreendam a sua importância, que
garantam uma oferta plena, satisfatória que considere todas as especificidades da
modalidade. Nela estão diversos públicos e cada um deles precisa ser atendido e não
deveria acontecer a priorização de demanda para um público específico. Tem o mérito
de estimular a formação profissional, mas deveria reconhecer igualmente os que já
doaram sua força de trabalho ao país, mesmo tendo sido a eles negado o direito a
educação no tempo adequado.
Bibliografia
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de
outubro de 1988. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/legislacao/ const/
con1988/CON1988_13.07.2010/art_214_.shtm >. Acesso em: 29/06/2014a.
1121
_______. Presidenta Dilma sanciona sem vetos novo Plano Nacional de Educação.
Disponível em: <http://blog.planalto.gov.br/index.php?s=Presidenta+Dilma+sanciona
+sem+vetos+novo+Plano+nacional+de+Educa%C3%A7%C3%A3o+>. Acesso em:
29/06/2014d.
IBGE. Em 2012, esperança de vida ao nascer era de 74,6 anos. Disponível em:
<http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=2
528>. Acesso em: 29/04/2014.
PITA, Marina. O Setor exige investimento mínimo de 10% do PIB. In.: Caros Amigos
Especial, ano XV, n.º53, Casa Amarela Ltda. São Paulo (SP), junho de 2011.
1122
Comunicação
Bernardo do Campo contribuiu para a atuação desse profissional. Essa investigação teve
como período temporal os anos de 2011 e 2012.
Para sua realização três temáticas foram abordadas por se entrecruzarem: a
formação continuada, por ser o âmbito de atuação dos coordenadores; a educação
infantil, por se constituir na área de atuação dos coordenadores; e a coordenação
pedagógica, que por ser função que está se constituindo, possui especificidades
necessárias de discussão.
Para escrever o texto optou-se por dividi-lo em quatro capítulos. No primeiro
foram apresentados os aspectos físicos e estruturais do Município e uma síntese de
como se deu a constituição da rede de ensino e os diferentes atendimentos que ela
proporcionou ao longo dos anos.
No capítulo II, abordou-se o entrelaçamento dos focos de pesquisa citados
acima, trazendo alguns aspectos referentes ao histórico da forma como a educação
infantil, a formação continuada e a coordenação pedagógica se constituíram, e como
estão delineadas na atualidade no cenário da educação. Esses aspectos foram
subdivididos em partes: num primeiro momento explicitando algumas concepções e
históricos sobre cada um deles apoiando-nos na literatura concernente à temática; na
sequência situando as bases em que essas temáticas se constituíram historicamente
também no município de São Bernardo do Campo, uma vez que era este o local de
atuação dos sujeitos da pesquisa. Assim, o texto foi composto intercalando os históricos
e concepções de cada uma das temáticas com o que apuramos no histórico da educação
do município de São Bernardo do Campo.
Para a composição do referencial teórico que pautou cada uma das temáticas
fizemos algumas escolhas. Barbosa (2000), Oliveira (2002), Carvalho (2002), Pinazza
(2007), Elias e Sanches (2007) e Postman (2011), foram alguns dos autores convocados
para compor o cenário da educação infantil no âmbito brasileiro.
A temática da formação continuada foi abordada considerando as discussões
propostas por autores como Nóvoa (1992), Day (2001), Oliveira-Formosinho (2002),
Thurler (2002), Arroyo (2003), Brzezinsky (2006) e Gadotti (2008) e, nos textos
produzidos pelo Ministério da Educação que diziam respeito à importância dessa
modalidade de formação para o aprimoramento do profissional da educação.
Para a abordagem do histórico da composição da coordenação pedagógica e seus
aspectos referentes à profissionalidade dos coordenadores, o texto foi referenciado em
1124
Garcia (2002), Horta (2007), Vasconcellos (2008) e Placco (2010), dentre outros, e,
ainda na legislação brasileira.
No capítulo III procurou-se esclarecer a metodologia utilizada e apresentar os
instrumentos de coleta de dados bem como as expectativas formuladas pelos
coordenadores que foram expressas nesses instrumentos. Nesse capítulo, encontram-se
presentes uma breve interpretação dos dados agrupados em categorias; foi realizada a
apresentação de cada um dos coordenadores pedagógicos entrevistados e, também, um
quadro destacando, dos planos de ação dos orientadores pedagógicos da Secretaria de
Educação, os objetivos, conteúdos e estratégias que eles elaboraram para a formação
continuada que realizaram com os coordenadores nos anos de 2011 e 2012.
O capítulo IV apresenta a análise desses dados coletados em todos os
instrumentos utilizados resgatando as categorias elaboradas a partir das expectativas, e
trazendo, para compor o cenário de análise, as falas dos coordenadores e, ainda, os
dados presentes nos planos de ação dos CP. A literatura produzida em torno das
temáticas da pesquisa foi chamada para compor o texto.
Apresenta-se por fim, o entendimento da pesquisadora sobre o que foi estudado
ao longo do trabalho. As considerações finais da pesquisa estarão presentes neste texto
posto que explicitam as análises e apresentam algumas questões que abrem
possibilidades a novas discussões sobre temas que tangenciaram o estudo.
Assim, entende-se que a pesquisa apresentou, conforme citado em Freitas e
Kuhlmann Jr. (2002), apenas uma possibilidade de trabalho diante de tantas outras que
seriam igualmente possíveis.
Para compor o texto deste trabalho, apresento a síntese da metodologia, a
primeira etapa do levantamento de dados e as considerações finais da pesquisa.
A metodologia
A pesquisa realizada se caracteriza como um estudo empírico de cunho
qualitativo que parte de questões elaboradas em instrumentos escritos aplicados aos
coordenadores pedagógicos (CP) em dois momentos distintos e por meio de entrevistas,
que permitiram a investigação sobre o objetivo posto.
Para fundamentar tal análise foi realizada a revisão bibliográfica sobre os focos
de trabalho, bem como o cotejamento entre as expectativas levantadas pelos CP para a
formação – por meio dos instrumentos de coleta de dados – e o que estava descrito nos
1125
planos de ação dos orientadores pedagógicos1– que são documentos que norteiam as
ações formativas.
Entendeu-se por bem, questionar os orientadores pedagógicos sobre o que eles
compreendem ser a coordenação pedagógica, acreditando que a sua compreensão pode
ser determinante para as ações que eles implementam com seu grupo.
O levantamento de dados
Do universo de aproximadamente 65 escolas da educação infantil que atendem a
faixa etária de 3 a 5 anos, foram distribuídos na primeira fase 37 questionários. O
primeiro contato com os coordenadores foi realizado no ano de 2011 – um ano após eles
terem assumido seus cargos no município que, no final do ano de 2009 realizou o
primeiro concurso público para esse cargo.
O primeiro instrumento elaborado para o levantamento das expectativas dos
coordenadores, além de dados gerais como nome, escola de atuação, tempo de
experiência, data do concurso, continha uma única questão direta: quais são as suas
expectativas em relação à formação que está se iniciando?
As respostas obtidas a partir dessa questão foram organizadas em três categorias
nas quais foram citadas e quantificadas as expectativas descritas pelos coordenadores.
As expectativas propriamente ditas, tal e qual aparecem escritas nos instrumentos
preenchidos pelos CP, foram nomeadas de sub-categorias.
Ainda que a ideia inicial não fosse a de trabalhar apenas com dados
quantitativos, optou-se por relacioná-los para talvez identificar alguma correspondência
entre a quantidade de CP com experiência anterior ao concurso e alguma expectativa
específica relativa ao fazer do coordenador pedagógico. Esse poderia assim ser o início
de uma análise.
Ocorre que as correspondências foram evidenciadas em outros níveis. Não foi
possível afirmar que a qualidade das expectativas dos coordenadores tivesse qualquer
relação com o tempo de experiência na coordenação pedagógica. Os CP com mais de 08
anos de atuação, da mesma forma que os CP com 05 anos de atuação como professores
no município e aqueles recém chegados na coordenação pedagógica e na SE,
relacionaram expectativas semelhantes. Assim, sem desprezar o aspecto quantitativo,
1
O orientador pedagógico é o profissional que atua na Secretaria de Educação com funções semelhantes
ao que é denominado como supervisor de ensino em outras redes de ensino. Ele é pedagogo, concursado e
tem habilitação específica em supervisão escolar, além de ter período comprovado em docência na
educação básica.
1126
posto que ele revelasse a intensidade dos interesses, a atenção se voltou às outras
correspondências possíveis.
O quadro abaixo além de listar as categorias, apresenta os quantitativos
referentes às indicações de determinada expectativa.
Quantidade de
Categorias Sub-categorias indicações
uma breve leitura das expectativas citadas na categoria denominada acima de atuação
do CP, identificar correspondência entre o que ensejava a SE e o que esperavam os
coordenadores.
Outra correspondência possível se situou na categoria denominada formação2e
PPP. Novamente a avaliação realizada pela SE indicava a necessidade de que a
configuração da atuação do coordenador pedagógico do município se pautasse na ideia
de coordenador como formador de professores, ou seja, aquele que realiza intervenções
ao mesmo tempo em que provoca reflexões e estabelece parcerias de trabalho.
A terceira categoria que se formou a partir das expectativas foi denominada
Educação Infantil. Ainda que tenham sido poucos os CP que indicaram temáticas
referentes a ela, em virtude de esta ser a modalidade de atuação dos coordenadores
pedagógicos, num primeiro momento, e em virtude disso mesmo surgiu uma
preocupação: sendo essa a área de atuação dos CP – alguns deles sem experiência- não
seria importante que os conteúdos referentes à infância figurassem de forma expressiva
nas suas expectativas?
No entanto, no contexto em que se deu a formulação das expectativas para a
formação ocorria no município uma assessoria específica para as equipes gestoras e
orientadores pedagógicos da educação infantil que discutia, sob a ótica da teoria
histórico-cultural, os aspectos relativos ao desenvolvimento infantil, perpassando
também temas relativos ao desenvolvimento profissional de professores. Assim,
podemos inferir que as temáticas da infância não figuraram as expectativas visto que os
conteúdos de interesse dos CP já estavam sendo tratados pela assessoria.
As expectativas elaboradas pelos coordenadores apresentadas no quadro acima,
forneceram alguns elementos passíveis de uma análise que será, conforme se explicitou
acima, trazida conforme descrito na dissertação elaborada.
As concepções delineadas e os pontos de contato entre o histórico geral e o local
A pesquisa desenvolvida tomou como base algumas concepções:
a escola de Educação Infantil é local privilegiado para o desenvolvimento e
aquisição de aprendizagens pela criança, assim como se constitui em espaço de
interações. Compactuando com Nunes, Corsino e Didonet (2011), a criança que
2
O termo formação faz referência aqui à formação de professores, mais especificamente ao que habilita,
capacita ou confere ao CP condições de realizar intervenções no trabalho dos professores, seja por via
direta – nos planejamentos, planos de aulas, propostas de projetos didáticos e atividades – seja de forma
mais indireta – por meio do Projeto Político Pedagógico da unidade escolar. Convém reafirmar o nosso
entendimento de que toda ação formativa traçada pelo CP compõe o PPP.
1128
atualmente frequenta as escolas de educação infantil são sujeitos de direitos e por isso
mesmo, o espaço escolar deve primar por uma atuação que coloque a criança como
centro do processo educativo. A escola de educação infantil deve assim, estar
estruturada de forma tal que à criança seja possibilitada a interação com objetos e com
outros sujeitos e vivencie ali, diferentes experiências que lhe coloque em contato com a
cultura;
a formação continuada é um campo necessário para que os profissionais entrem em
contato com a reflexão sobre o seu fazer e, assim, possam aprimorar a sua atuação. Ela
pode ser concebida, conforme nos remete Gadotti (2008), como espaço de trocas,
reflexão, experimentação, de forma que nela, o profissional da educação encontre
terreno propício para o debate da sua constituição profissional e sobre o que é específico
da sua área de atuação.
o coordenador pedagógico é o profissional que atua no contexto escolar e tem como
seu foco de intervenção a formação continuada de professores e a elaboração do Projeto
Político-Pedagógico. Assim, adotou-se o entendimento de Almeida, Placco e Souza
(2011) segundo as quais ao coordenador pedagógico cabe articular, formar e
transformar o contexto escolar, por meio da atuação desenvolvida no coletivo escolar, e,
na mesma medida, na especificidade e individualidade da atuação docente. A adoção
dessa concepção implica a coordenação pedagógica numa prática que abarca a
complexidade.
Procurou-se também tecer um panorama da constituição desses três focos do
trabalho no município destacado, para que se pudesse identificar pontos de contato entre
a concepção geral, as discussões, debates e estudos no âmbito brasileiro e a forma de
interpretação local, em um determinado período histórico.
Desde os anos de 1960 quando a Educação Infantil começa a ser oficialmente
organizada em São Bernardo do Campo, a administração pública reúne esforços no
sentido de direcionar a prática dos professores, intentando alinhá-la inclusive às
legislações, conforme observou-se na Proposta Curricular do município mais recente
datada de 2004, que retrata os marcos legais aos quais o município se encontra
submetido.
Ao delinear uma síntese das concepções que permearam o entendimento sobre
criança, infância e educação infantil no âmbito geral e local, pode-se verificar os
seguintes pontos de contato:
1129
natureza do seu trabalho; necessidade de articulação com a equipe gestora da qual faz
parte; acompanhamento individual e específico ao grupo de educadores (intervenções
nos registros, planejamentos e relatórios elaborados pelos professores); elaboração e
implementação dos projetos político-pedagógicos;
se constituiu como momento de reconhecimento da complexidade da sua atuação e
ainda, do coordenador pedagógico como pertencente a um grupo – extra-escolar – cujos
integrantes possuem as mesmas dúvidas, angústias, questionamentos. Dessa forma, o
sentimento de pertença necessário para imprimir maior segurança ao seu fazer
pedagógico, foi vivenciado. Em alguns grupos foi também um momento de expressar as
dificuldades do cotidiano escolar em relação aos mandos da direção e a falta de
aceitação às contribuições, aos novos olhares que os CP trouxeram para as antigas
práticas, o que provocou a discussão cotidiana de possibilidades de utilização de
estratégias para evidenciar essas contribuições;
possibilitou a troca de experiências entre os pares no que se referia à: atuação no
acompanhamento à prática pedagógica dos professores; estratégias de condução do
trabalho coletivo; compreensão de seu papel como formador de professores; ampliação
do referencial teórico acerca da educação infantil, formação de professores e
profissionalidade do formador; complexidade e especificidade do trabalho com a
infância;
evidenciou a necessidade da construção coletiva considerando as contribuições,
necessidades e dificuldades individuais no que diz respeito à construção e
implementação de um projeto político-pedagógico que prime pela participação ativa de
todos os atores (profissionais, famílias, comunidade).
No entanto, é sabido que a transformação dessas reflexões ocorridas, das
discussões, dos confrontos entre teoria e prática em uma prática consciente e renovada
pode levar algum tempo, visto que os encontros formativos são recentes e que
demandam algumas outras ações, inclusive na estruturação da política pública do
município.
Assim, identificou-se também alguns problemas na formação oferecida, ainda
que reconhecendo que ela ocorreu em forma de encontros pontuais e espaçados no
tempo cronológico, sendo essa questão inclusive apontada pelos coordenadores
pedagógicos que, mesmo avaliando bem a formação indicaram que a quantidade de
encontros foi insuficiente para a necessidade que se colocava.
Dessa forma, destacaram-se como problemáticas a serem enfrentadas/superadas:
1132
Referências
ALMEIDA, Laurinda Ramalho. PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza. SOUZA, Vera
Lucia Trevisan. O coordenador pedagógico e a formação de professores: intenções,
tensões e contradições. Fundação Vitor Civita, 2011. Disponível em
http://www.fvc.org.br/estudos-e-pesquisas/2010/perfil-coordenadores-pedagogicos-
605038.shtml. Acesso: Jan. 2012.
Comunicação
na capital federal, onde a renda já é bastante alta em comparação com o resto do país,
existem tantas famílias que chegam ao nível de remuneração dos parlamentares.
São 7.783 famílias vivendo com renda domiciliar entre 40 e 50 salários
mínimos, o que corresponde a 1% dos lares brasilienses. Na Região Metropolitana de
Belo Horizonte, 90% dos trabalhadores ganham menos de R$ 2,5 mil, ou seja, recebem
menos de um décimo do que ganham os parlamentares, se formos para a chamada
periferia do Brasil, vamos observar que essa disparidade cresce assustadoramente,
considerando, por exemplo cidades do interior nordestino ou mesmo do norte do Brasil
(ONG Brasil, 2014).
O professor da rede pública de qualquer Estado da Federação tem
dificuldade de assistência médica, no entanto, um deputado federal tem assistência
médica ilimitada, sem considerar a maioria dos cidadãos que morrem a mingua na porta
dos hospitais. Outro aspecto a ser considerado é que deputados podem pedir reembolso
de despesas médicas e hospitalares realizadas em qualquer local do país.
É muito comum a Câmara pagar cirurgias, exames e tratamentos
realizados na clínica ou hospital de preferência do parlamentar. Segundo a Câmara, esse
serviço de reembolso é mais vantajoso para os cofres públicos. Isso porque o custo de
pagar um plano de saúde para deputados seria alto, já que a maioria tem mais de 50
anos, recentemente o Presidente do Senador escandalizou a sociedade brasileira ao
utilizar avião pago pelo senado para implante de cabelos, mas isso é apenas um gasto,
considerado irrisório se realmente for divulgado os gastos dos políticos de Brasília.
Outras vantagens absurdas dos parlamentares vão desde tanque cheio em carros de
luxo até direito a reembolso dos recursos gastos com uma série de produtos ou serviços
e o limite mensal varia de R$ 23 mil a R$ 34,2 mil, dependendo do estado do
parlamentar. Com esse dinheiro, é possível comprar passagens aéreas; pagar telefone e
serviços postais; manter escritório de apoio à atividade parlamentar; acertar conta de
restaurantes e de hotéis; alugar ou fretar aeronaves, embarcações ou carros; encher o
tanque de combustível; contratar segurança particular ou serviços de consultoria (ONG
Brasil 2014).
Em contrapartida, estoura movimentos de greve dos professores, na Bahia, São
Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e por aí vai, e não tem dinheiro para
melhorar o salário minguado de quem faz educação nesse país, surgem os comentários e
1136
Vejamos os altos salários dos 513 deputados federais, segundo dados da ONG
Transparência Brasil:
Cada um dos 513 deputados federais possui a chamada verba de gabinete, esta
verba mensal é para gastar com material de escritório e pagar até 25 assessores
parlamentares. Os deputados federais brasileiros estão entre os que podem contratar
mais gente.
A verba indenizatória , outro absurdo pago aos deputados, essa verba é utilizada
para gastos com gasolina, comida, hospedagem, aluguel de escritório, além dos auxílio
que eles já recebem no Congresso, e consultorias, essas consultorias podem ser
qualquer coisa que os deputados decidirem chamar de consultoria.
1138
Outras vantagens:
Auxílio moradia
A ajuda no aluguel vale até para deputados do Distrito Federal. A alternativa
seriam apartamentos funcionais, que acabam repassados a assessores e parentes.
Passagens
Deputados ganham viagem ida e volta de Brasília para o estado que
representam. São R$ 9 mil por mês que não precisam de justificativa - pode ser
convenção partidária ou festa junina.
Assistência Médica
Cada deputado e sua família podem pedir reembolso ilimitado de gastos com
saúde. Em 2009, a Câmara gastou R$ 50 milhões com médicos e dentistas: deu R$ 8 mil
para cada (transparência Brasil).
1141
Agora vamos comparar com um professor de uma IFES .Um professor com
mestrado na rede federal de ensino: acompanhando os itens dos proventos do deputado
federal:
ainda porque no caso dos políticos, é muito comum nos noticiários da mídia em geral,
sempre conseguem uma maneira de aumentar mais ainda os seus salários e vantagens.
Essa é a realidade do professor, mas se comparar com os professores de
municípios do norte e nordeste, a situação é bem pior, professores que ganham salários
minguados em condições de trabalho precárias, em cidades como São Paulo, que tem os
melhores centro de excelência do país, é o caso por exemplo, da USP e da UNICAMP, e
em contrapartida, os professores que atuam na Educação Básica são completamente
abandonados, um Estado rico que poderia fazer mais, no entanto a insatisfação é geral.
Os professores que atual em Instituições de ensino superior públicas,
conseguem, não como regra geral, a liberação para cursar mestrado e doutorado, e
poucas bolsas são disponibilizadas para estes profissionais, e no caso dos professores
que atuam na Educação Básica, esses nem sequer conseguem liberação, com raras
exceções.
Quando se trata do financiamento e a destinação de mais recursos para o setor
educacional, tal qual a prática administrativa implementada pelo Estado Português em
sua medida de “desresponsabilização” pela educação pública da colônia”
(MONLEVADE, 2001, p.67). A Educação a Distância, de certa forma, é resultado dessa
preocupação, é uma política de formação mais barata e massificada, é uma herança
histórica o descaso com a educação, por outro lado, ouvimos falar constantemente de
livro didático que não chega, de uniforme que não é entregue para os alunos já no meio
do ano letivo (muito comum no caso de São Paulo), greves por todo Brasil por
melhorias de salário e melhores condições de trabalho.
Isso tudo, por assim dizer, reflete a lógica da “racionalidade financeira”,
recomendada por organismos internacionais de financiamento (Banco Mundial),
totalmente acatada e implementada, principalmente pelo governo Fernando Henrique
Cardoso, conforme evidenciado pela política educacional e de financiamento executadas
durante sua gestão nos anos 90 e início dos anos 2000, seguida a risca pelo governo que
o sucedeu, como bem podemos observar depois de mais de uma década do início dessas
políticas.
Esse é o contexto do professor no Brasil inteiro e essa pálida comparação
demonstra o cuidado que se tem com um grupo de pessoas que pouco ou nada se
importam com os problemas da maioria da população brasileira, propiciando tantas
1144
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
SAVIANI, D. Da Nova LDB ao novo Plano Nacional de Educação: Por uma outra
Política Educacional . 3ª edição rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2000 (Coleção
educação contemporânea).
Siapenet.org.br. 2014
Comunicação
APRESENTAÇÃO
Este trabalho buscou analisar o alcance de um documento que foi elaborado pelo
Ministério da Educação e Cultura – MEC para orientar a escola e o professor na busca
da qualidade na educação infantil. A intenção foi analisar o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil – RCNEI (BRASIL, 1998), um documento não
mandatório, que, de acordo com as pesquisas de Cerisara (2002) e Wiggers (2009) está
presente em grande parte das escolas brasileira. Para Wiggers (2009), o RCNEI é
conhecido e supostamente o mais utilizado no embasamento dos projetos pedagógicos,
por causa das estratégias de divulgação e implementação utilizadas pelo MEC.
1147
Com relação a isto, pesquisa realizada pelo próprio MEC com a colaboração da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, em 2009, concluiu que 52,08%
das instituições de ensino de todo o Brasil utilizavam o RCNEI na elaboração de suas
propostas pedagógicas.
Partindo destas considerações, o interesse inicial deste estudo surgiu do
questionamento de quais as diretrizes presentes no RCNEI persistiram como orientações
para a prática docente do professor de educação infantil – EI. Para isto, analisou-se o
documento e, ao mesmo tempo, a compreensão de como e quais as orientações estavam
sendo vivenciadas na prática desses profissionais, atuando com crianças na faixa etária
de quatro a seis anos1.
No entanto, para melhor compreensão desta dinâmica e na intenção de delimitar
o trabalho, focou-se em uma área de conhecimento específica: a matemática. A escolha
desta área de conhecimento se justifica pela crescente preocupação do Brasil com seu
ensino nas escolas, devido aos resultados apontados pelas avaliações nacionais (SAEB e
Prova Brasil), em que foi demonstrado baixo desempenho dos alunos.
Diante disso, o problema desta pesquisa ficou assim delineado: quais as
diretrizes presentes no RCNEI referente ao ensino de matemática persistiram
como orientações da prática docente do professor de EI?
Considerando que as diretrizes apresentadas no RCNEI resumem políticas
educacionais em relação à EI, procurou-se o apoio de autores que desenvolveram
instrumental teórico-metodológico que permite uma análise mais ampla, articulada dos
processos, documentos e práticas políticas. Neste sentido, os estudos de Stephen Ball e
Richard Bowe formulados em 1992, contribuíram efetivamente para organização das
análises do presente estudo. Para os autores, a análise dos documentos que definem uma
política, se constitui em um momento importante para compreender os conflitos e
transformações que operam na prática. Para isso, o estudo das orientações curriculares
pode ser observado em cinco contextos: o contexto de influências, o contexto da
produção de texto, o contexto da prática, o contexto dos resultados/efeitos e o contexto
da estratégia política. No entanto, Ball (1994) e, também, Mainardes (2006),
descreveram mais profundamente os três primeiros contextos citados.
1
Embora a pesquisa tenha utilizado somente a faixa etária de quatro a cinco anos, pois as crianças de seis
anos não pertencem mais à EI e, sim, ao Ensino Fundamental, como estabelecido a partir da Lei
11.274/2006, onde se lê, no art. 32, que “O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove)
anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade [...]” (BRASIL, 2006).
1148
Para estes autores, os contextos devem ser compreendidos como processos que
se articulam, identificados como Ciclo de Políticas. Sua teoria-metodológica foi
denominada Abordagem do Ciclo de Políticas – ACP, que parte da concepção de
política como um processo em movimento, não linear, onde os contextos, mesmo tendo
sua abrangência e características próprias, se influenciam mutuamente, significa dizer
que cada ciclo não pode ser analisado isoladamente.
Este alerta foi considerado no presente estudo que, mesmo tendo analisado
apenas dois ciclos (contextos de produção de texto e da prática), teve o cuidado de
compreendê-los no contexto de uma política mais ampla, que envolveria todos os ciclos.
Neste sentido, ao analisar o espaço político em que o documento foi gestado, no
contexto de produção de texto, buscou-se rastros dos grupos que influenciaram a
construção do documento, sem se deter nas características destes, por não ser objetivo
desta pesquisa. Para a compreensão do contexto da prática, foram ouvidos os
professores e coordenadores pedagógicos, para identificar como estes descrevem a
prática e as orientações políticas no trabalho junto à criança pequena.
MÉTODO
Nesta etapa, o que importava era descobrir como o documento foi recebido e
utilizado, quais as resistências foram criadas, quais as concessões foram permitidas e
quais as transformações foram praticadas. Esta decisão se deve ao fato de que, segundo
Ball,
[...] a pessoa que põe em prática as políticas tem que converter/transformar
essas duas modalidades, entre a modalidade da palavra escrita e a da ação, e
isto é algo difícil e desafiador de se fazer (MAINARDES; MARCONDES,
2009, p.305).
Esta técnica possibilita que o entrevistado possa se expressar, sem que tenha que
ser dirigido, o que pode ajudar o pesquisador a observar o grau de frequência com que o
assunto-alvo aparece livremente no discurso do participante. Além disso, por trazer
mais naturalidade, possibilita, também, o aparecimento de contradições em sua fala.
Para organização dos dados, foi utilizado o software francês ALCESTE. No
entanto, a análise da primeira etapa – análise do contexto da produção de texto –
envolveu, ainda, uma análise documental descritiva.
estudiosos e com tempo escasso) e de envio para as escolas, levou menos de um ano.
Percebeu-se um documento cheio de remendos e de contribuições variadas, que o
tornou confuso e, por vezes, contraditório.
Quando se analisou o resultado do processamento do trecho referente ao eixo de
trabalho de matemática no software ALCESTE, embora a separação dos três
componentes curriculares tenha sido encontrada nas classes que dividiram o material
textual, conforme demonstra a figura 1, não foi encontrada integração entre elas, como o
documento propõe. Os objetivos, que abarcaram a maior parte dos discursos, indicaram
uma forma de ensino menos sistemática, voltada para vivência de experiências e
aproximações com noções matemática, através da utilização de situações-problema. A
extensa lista de conteúdos apresentados na classe: conteúdo indicou a sistematização do
ensino, com planejamento centrado no currículo. As orientações didáticas descritas na
classe com menor porcentagem, com função de orientar o professor na avaliação do
desenvolvimento da criança, citaram quase que exclusivamente o bloco de conteúdos:
números e sistema de numeração, conduzindo o professor a identificar este bloco como
o mais importante a ser trabalhado.
e de bíblia apontaram para diretrizes de conduta que deveriam ser seguidas. No entanto,
a dificuldade de interpretação e a resistência ao novo modelo de EI, faz com que ele não
modifique sua forma anterior de ensinar e conceber este nível de educação.
reflexão do professor sobre a área. O que se observou no discurso dos profissionais foi
que mantiveram suas práticas anteriores e que os componentes curriculares tão
trabalhados no RCNEI (objetivo, conteúdo e orientações didáticas) apareceram de
forma imprecisa em seus discursos, sendo relatadas somente as estratégias utilizadas
para o ensino da matemática.
No discurso dos coordenadores pedagógicos, pareceu haver uma tentativa de
minimizar esses conflitos buscando cursos de formação que possibilitem novas
estratégias, mas parecem também focados no trabalho prático e não no domínio e
compreensão dos conteúdos que devem ser ensinados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
disso, por apresentar um texto prescritivo, não conduz o professor para uma prática
reflexiva e não o orienta para a elaboração de seu próprio planejamento.
Quanto à matemática presente no documento, pode-se observar uma
incongruência entre o que se quer alcançar, como fazer e como avaliar os resultados, ele
não orienta o trabalho do professor. Embora os objetivos apontem para uma educação
menos sistemática e mais voltada para oportunizar experiências e vivências para a
criança pequena, esta ideia se confunde com uma listagem complexa e extensa de
conteúdos que devem ser trabalhados, com ênfase na pré-escolarização, cujo interesse
parece se direcionar para o desempenho da criança, como nos outros níveis de educação
(KUHLMANN JR, 2005; CERISARA, 2002).
Outra questão que deve ser observada é que o documento, embora se afirme
orientador e não obrigatório, apresenta um discurso normativo, com orientações num
tom prescritivo, direcionando o trabalho do professor e desconsiderando as
especificidades da criança e do contexto local da escola.
No contexto da prática, a caracterização do RCNEI como documento orientador
político surgiu na análise do discurso dos profissionais. Para eles, este documento foi
considerado importante, pois criou parâmetros que deveriam ser observados pelas
escolas a fim de proporcionar uma educação de qualidade.
Quando se dirigiu para o trabalho específico da matemática, a unanimidade do
discurso dos profissionais deixou de existir. O que se percebeu foi uma separação dos
participantes em dois grupos, de acordo com sua função: de um lado os professores que
se limitaram a relatar suas estratégias de ensino, que remetiam aos modelos tradicionais
de ensino, com foco no professor e em atividades repetitivas, de memorização do
número e da noção de quantidade, deixando pouco espaço para os outros conteúdos
listados no RCNEI, além de apresentar uma preocupação com a escrita e compreensão
do número pela criança. De outro lado, o grupo dos coordenadores pedagógicos,
preocupado em alterar esta concepção de educação preparatória incutida no professor,
na intenção de fazê-lo assimilar uma nova concepção de educação integral, mas, ao
mesmo tempo, encontrando dificuldade em trabalhar com áreas como a matemática,
que, também, era um problema para eles.
Em relação à divulgação do RCNEI, é interessante notar que, embora as
pesquisas realizadas pelo MEC e UFRGS (2009), por Wiggers (2009) e por Francisco
(2010) indiquem que o documento é o mais utilizado nas escolas de EI de todo o país,
foi possível constatar, no contexto da prática, que o documento é apontado somente
1154
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32
e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o Ensino
Fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Brasília,
2006.
Comunicação
1. Introdução
2. Resultados
1000
800
600
400
200 2000
0
2013
Nesse sentido houve, por parte da universidade, uma expansão na oferta dos
cursos de formação de professores, ainda que essa expansão seja inferior à 10% das
vagas no período inicial, durante um período de 14 anos.
Em seguida, coletamos dados relacionados aos vestibulandos. Confirmamos
que o número de candidatos, em sua totalidade, nesses cursos vem diminuindo
1158
progressivamente desde 2006, como apontado na figura 2. Entre 2000 e 2006 o número
de pleiteantes se alternou entre 19 mil e 24 mil, contudo, desde 2006 os números de
estudantes vêm caindo progressivamente chegando a 10.332 candidatos em 2012, o
mais baixo nos treze anos analisados e menos da metade do número de vestibulandos, se
comparado ao período de 2004 a 2006. Desde 2010 o número médio gira em torno de
dez mil candidatos.
vagas concluintes
3. Análises
de 2005, por exemplo, apenas 5% dos interessados no magistério estavam entre os 20%
que obtiveram melhor desempenho no Enem, e 16% dos candidatos se encontravam
entre os 20% com pior desempenho. Em relação aos perfis socioeconômicos, os
estudantes de Licenciatura, em sua grande maioria, são oriundos de escolas públicas,
com renda familiar inferior a três salários mínimos, além de trabalharem ao mesmo
tempo em que estudam. Podemos discorrer que, em sua maioria, são os estudantes com
baixo rendimento acadêmico e, nesse sentido, questionamo-nos em relação ao domínio
dos conteúdos escolares básicos. No que se refere ao domínio da escrita e da leitura,
Marin e Giovanni (2007) ressaltam o despreparo dos estudantes em relação a esses
conteúdos, pois em sua pesquisa muitos problemas estruturais na expressão escrita e na
interpretação de textos são evidenciados. Há, portanto, uma preocupação em relação ao
profissional formado e ao processo ensino aprendizagem, uma vez que parte dos
problemas detectados são conteúdos que devem ser transmitidos aos futuros estudantes.
Por conseguinte, se menos estudantes buscam o magistério, há a possibilidade de
escassez de profissionais. E, se os que buscam possuem rendimentos acadêmicos
inferiores, os cursos de formação superior talvez não estejam preparados para sanar
essas dificuldades. Portanto serão profissionais menos capacitados que lecionarão os
conteúdos precariamente, impedindo que se desenvolva uma sociedade do
conhecimento, que resultaria numa emergência adequada para o país.
Nossa pesquisa confirma que o magistério tem deixado, ao longo dos anos, de
ser uma opção profissional recorrente entre os estudantes de Ensino Médio. Entre os
fatores que incidem sobre a escolha profissional estão o renda, plano de carreira,
empregabilidade, status, vocação entre outros. De acordo com Gatti (2009), estudantes
de Ensino Médio, de todas as regiões do Brasil, apontam que a docência é uma
profissão complexa que envolve tanto aspectos negativos quanto positivos, por um lado
há pouco reconhecimento social, além dos baixos salários, e por outro é um trabalho
bonito e nobre.
Percebemos que o discurso dos estudantes são respostas individuais a partir de
suas interações sociais, em que o individual e o coletivo estão intrinsecamente
relacionados, pois são socialmente construídos. Observamos os mesmos argumentos em
pesquisas com profissionais já estabelecidos e estabilizados na profissão. Vianna (1998)
conclui, em sua pesquisa com professores da Educação Básica nos anos 90, que dois
aspectos se destacaram acerca do magistério, por um lado o desencanto e por outro, a
paixão. Essas características antagônicas entre si permeiam, na maioria das vezes, a
1162
realidade dos docentes, alternando-se em maior ou menor grau para os dois lados da
balança. Essa interpretação subjetiva da profissão é, ao mesmo tempo, social e coletiva,
construindo historicamente uma representação socialmente negativa que incide sobre o
status da profissão. O aspecto mais recorrente na pesquisa foram as condições de
trabalho, que se resultam precárias, alterando as relações no interior e no exterior da
escola e com todos os atores da comunidade escolar. Vianna também aponta o contínuo
processo de arrocho salarial, que pode resultar significativamente no desprestigio
financeiro da profissão na atualidade. Nesse sentido, diante de um imaginário social de
desvalorização, cada vez menos os jovens se interessam pela docência, tendendo a
seguirem em outras profissões socialmente mais respeitadas.
Todos os artigos pesquisados em algum momento evidenciam a questão salarial,
como um ponto importante a ser discutido. Alves e Pinto (2011) comparam o salário
médio de profissionais que possuem o mesmo número de anos em sua formação
acadêmica para o exercício de sua profissão. Enquanto 82,8% dos médicos ganham
mais de 5 salários mínimos, 89,3% dos professores da Educação Básica ganham até 5
salários mínimos. Segundo os autores, o salário do docente da escola pública é
normalmente 36% mais baixo se comparado ao de outras profissões que exigem a
mesma qualificação no Ensino Superior. Nesse sentido, o desencanto com a profissão e
o desprestígio social e financeiro está enraizado no imaginário coletivo da sociedade
brasileira, e resulta na pouca atratividade do magistério para a geração atual.
4. Conclusões
REFERÊNCIAS
LOUZANO, Paula. Quem quer ser professor? Atratividade, seleção e formação docente
no Brasil. Estudos em Avaliação Educacional v. 21, n. 47, p. 543-568, set/ dez 2010.
Comunicação
Steve Ramos
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Mestrando em Ciências Sociais pela PUC-SP,
membro do núcleo de estudos da complexidade –
Complexus , Bolsista do CNPq e Professor de
sociologia da rede pública estadual de São Paulo.
Resumo: Este estudo de caso, realizado com 50 pessoas, matriculadas no curso noturno
da EJA da rede pública do Estado de São Paulo, tem como objetivo relatar a aplicação
de uma prática de ensino e aprendizagem sob a perspectiva transdisciplinar. Para tanto,
parte-se da análise bibliográfica sobre os temas Paradigma, Avaliação e Exame,
Transdisciplinaridade e Currículo Integrado. Como método de análise, optou-se pelo
pensamento complexo segundo Edgar Morin. Os dados levantados nos questionários
durante as intervenções pedagógicas apontaram para uma mudança de percepção do
alunado diante das situações-problemas constituídas de questões e temas transversais
propostos, apresentados nos projetos e nas atividades solicitadas em sala de aula,
recorrendo para a busca da resolução a articulação e a interação dos saberes oficiais da
escola e os próprios saberes informais do alunado. Após o período das intervenções
pedagógicas, percebeu-se que o senso crítico, a disciplina, autoestima, a interação, o
hábito da pesquisa, a expressividade, o respeito e a tolerância melhoraram
consideravelmente. Além disso, os dados revelaram uma melhora significativa na
aprendizagem construída durante a trajetória da realização das intervenções
pedagógicas.
Palavras-chave: Pensamento complexo; Transdisciplinaridade; Currículo Integrado e
Exame.
INTRODUÇÃO
No decorrer do tempo, ocorreu uma mudança de perfil do público referente à
procura de oferta de vagas na modalidade de EJA. Outrora a procura por vagas nesse
curso era constituída na sua maioria por adultos e idosos e poucos jovens entre 15 e 17
anos. Entre as principais razões apontadas pelos especialistas a despeito da dimensão do
tamanho do problema destaca-se que seis a cada dez estudantes de 16 anos concluíram o
9º ano ou a 8ª série em 2009; segundo o movimento todos pela educação, os jovens
ingressados na EJA estavam matriculados na escola regular e ela por sua vez não
conseguiu assegurar a permanência deles na escola e, mais do que isso, não garantiu a
eles o direito ao ensino público.
Por outro lado, houve uma queda na demanda principalmente nas etapas finais
do ensino fundamental e médio da EJA por conta dos adultos. Um dos motivos seria
que alguns setores de serviços não exigem para candidatura à vaga do posto de trabalho
o certificado de conclusão do curso. Os mais jovens consideram quesitos como
praticidade, facilidade e rapidez oferecidos pela EJA para obter a certificação de
conclusão de curso.
Em 2007, o Conselho Nacional de Educação (CNE) discutiu a possibilidade de
elevar para 18 anos a idade mínima para o ingresso no Ensino Fundamental da EJA, que
atualmente exige mínima de 15 anos. A medida tinha como propósito conter o ingresso
desmedido de adolescente na EJA. Apesar de todos os esforços, a medida não foi
aprovada pelo MEC.
Apesar das turmas de EJA serem constituídas de jovens, adultos e idosos, a
convivência torna-se possível, mesmo levando em consideração essa diversidade em
idade, além das origens sociais tão dispares. Desde que a gestão funcione, os
professores sejam bem formados e o currículo venha de encontro à pluralidade de
idades. A dificuldade de convivência surge por conta de problemas de adaptação dos
mais jovens, pois estes quando se sentem mais sozinhos procuram se relacionar com
pessoas de mesma idade. Geralmente, os problemas decorrem na sua maioria da falta de
diálogo nos conflitos de opinião quando se trata de gerações diferentes.
No tocante à gestão do sistema, os governos das esferas municipal, estadual e
federal necessitam atuar em conjunto com as Secretarias de Educação para conter os
problemas relacionados à vulnerabilidade, à gravidez precoce na adolescência e ao
ingresso antecipado no mercado de trabalho. Cabe às secretarias junto às escolas atuar
em conjunto para reduzir o tamanho das turmas com vistas a atender de modo
1167
conteúdo escolar, à reprovação, à evasão escolar e à procura por parte do alunado pela
EJA.
A amostra neste estudo constitui-se de um grupo de 50 alunos oriundos da
periferia do sul de São Paulo, matriculados no curso da EJA em uma escola estadual da
rede pública de ensino do estado de São Paulo.
A finalidade do estudo foi investigar as repercussões da aplicação de uma prática
de ensino e aprendizagem transdisciplinar junto a uma classe de EJA com vistas a
estimular no alunado da EJA a criatividade científica, o hábito da pesquisa, o exercício
da cidadania, e a contextualização e interação entre os saberes formais e informais.
Partindo das análises das bibliografias sobre os temas como reducionismo,
globalidade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e currículo integrado foram
elaboradas situações-problemas com ênfase na proposta do projeto visando estimular
nos alunos o raciocínio e a prática transdisciplinar.
Os tópicos a seguir apontaram aspectos relevantes dos temas referentes ao
reducionismo, globalidade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e currículo
integrado com os quais serviram de referência para as intervenções pedagógicas. A
seguir, apresenta-se o percurso metodológico dessa investigação, o método baseado no
pensamento complexo segundo Edgar Morin.
PARADIGMA DA MODERNIDADE
AVALIAÇÃO E EXAME
CURRÍCULO INTEGRADO
Esse tema foi reservado para debate sobre os marcos e limites a despeito da
transdisciplinaridade como referência para a organização de um currículo integrado. De
forma breve discutirá sobre a educação escolar bem como seus conhecimentos
vinculados às disciplinas acadêmicas em seus campos fechados, dentro da organização
do currículo acadêmico fragmentado, descontextualizado da dinâmica da vida social,
das mudanças nos saberes disciplinares e nas vidas dos alunos, sobretudo dos
adolescentes.
Um aspecto apontado por Edgar Morin (2012) quando diz que a
hiperespecialização do ensino impossibilita de ver o global, bem como o essencial. Uma
vez que os problemas essenciais são passíveis de ser parceláveis e os problemas globais
tornam-se cada vez mais essenciais. Além do mais, os problemas locais só fazem
sentido se situados em seus contextos e os problemas desses contextos situados nas
dimensões planetárias.
Alguns dos problemas apontados com os quais se encontra a educação decorrem
da persistência de uma minoria em defesa da manutenção da organização do currículo
por disciplinas como resposta diante dos problemas e necessidades educativas.
Diante desse cenário, surgem duas correntes contrapostas. Por um lado, os
partidários em manter o currículo por matérias disciplinares, baseados em conteúdos
conceituais disciplinares e procedimentais, como única via legítima ao acesso do
conhecimento socialmente aceito como basilares da cultura científica abordada nas
disciplinas. A outra tendência decorre da formação da subjetividade dos estudantes, na
mobilização de estratégias para dialogar e interpretar informações que possibilitem
construir elos entre diversos problemas e fenômenos, visando o estímulo ao hábito da
pesquisa, levando a uma atitude de aprendizagem aberta e inconclusa ao longo da vida.
Para isso, faz-se necessário nesse sentido repensar a educação referente à sua
forma de pensar o presente, na organização dos saberes e na função da escola. Frente à
proposta educativa capaz de dialogar e dar respostas adequadas às situações de mudança
na sociedade, no conhecimento e nas disciplinas no sentido de seleção e
estabelecimento de critérios de avaliação, decidir o que, o como e para que aprender.
1173
BIBLIOGRAFIA
MORIN, Edgar. Os desafios. In: A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o
pensamento. Tradução Eloá Jacobina. 20. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. p.
13-20.
______. A cabeça bem feita. In: A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o
pensamento. Tradução Eloá Jacobina. 20. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. p.
21-33.
Comunicação
Suely Ferreira
UFG
Luís Gustavo Alexandre da Silva
UFG
Agência financiadora: CNPq1
Resumo: O trabalho tem como objetivo discutir quais são os impactos do processo de
institucionalização dos Sistemas Municipais de Educação (SME), selecionados no
estado de Goiás, no contexto das políticas educacionais induzidas pela União, a partir da
década de 1980 que vem pressionando os municípios a assumirem maiores
responsabilidades no campo da organização e da gestão da educação. O contexto atual
demonstra que a não efetivação do regime de colaboração entre os entes federados e a
sobrecarga de atribuições sob responsabilidade municipal vem permitindo a manutenção
das significativas desigualdades na oferta da educação.
Palavras-chave: Sistemas Municipais de Educação, regime de colaboração, qualidade.
1
Este trabalho integra a pesquisa “Organização e gestão dos sistemas municipais de educação em Goiás”,
coordenado pelos autores da comunicação.
2
IBGE. (2013). Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2013
Acesso em: 20 abr. 2014
1178
3
Os municípios informam ao Ministério da Educação (MEC), via Plano de Ações Articuladas (PAR), a
existência dos documentos legais existentes. As informações coletadas são relativas ao ano de 2013. A
informação dos documentos foi considerada fundamental na pesquisa para considerar o processo de
institucionalização do SME.
1179
Quadro I
Caracterização dos municípios estudados
Municípios Data de criação do município IDHM4 2010 Área da unidade População estimada 2013
territorial
km²
Aparecida do Rio Lei Estadual nº 11.402, de 16 0,693 602,133 2.501
Doce de janeiro de 1991, Médio
Apesar desse esforço, cabe ressaltar que a efetivação do SNE5 passa pela
discussão da articulação entre autonomia, direito e responsabilidade entre os entes
federados, bem como pela relação entre autonomia e diversidade, uma vez que
se inscreve a liberdade de agir dos entes federativos, garantindo, de um lado,
os direitos da diversidade e, de outro, os direitos da unidade. Faz-se
necessário, para tanto, esforço integrado e colaborativo, a fim de consolidar
novas bases na relação entre todos os entes, visando a garantir o direito à
escola pública unitária para todos (GRACINDO, 2010, p. 59).
5
Conforme o Documento Final da CONAE (2010) “O SNE é entendido como mecanismo articulador do
regime de colaboração no pacto federativo, que preconiza a unidade nacional, respeitando a autonomia
dos entes federados” (BRASIL. MEC. CONAE, 2010, p. 15). A CONAE recomenda ainda que esse
sistema deva prever a participação de movimentos sociais e demais segmentos da sociedade civil e da
sociedade política por meio de instâncias colegiadas. Acessar os documentos da CONAE em:
http://fne.mec.gov.br/index.php. Acesso em: 15/08/2013.
1183
Quadro II
IDEB observado e IDEB projetado
Município IDEB Meta Meta Meta Desempenho
5º ano projetada projetada projetada
2011 pelo INEP pelo INEP pelo INEP
alcançado 2011 2013 2021
Rubiataba 6,6 5,6 5,8 6,8 Próximo de atingir a meta de 2021
Itaguari 6,2 4,8 5,1 6,1 Atingiu de 2021
Palmelo 5,6 xxx 5,8 6,7 Próximo de meta de 2013
Ouro Verde 5,3 5,4 5,7 6,7 Abaixo da meta
Vicentinópolis 5,2 4,2 4,4 5,6 Próximo de atingir a meta de 2021
Aparecida do Rio 5,1 3,6 3,9 5,1 Atingiu de 2021
Doce
Panamá 5,1 5,4 5,6 6,6 Abaixo da meta
Goianápolis 5,0 4,5 4,8 5,9 Acima da meta de 2013
Israelândia 4,6 4,8 5,1 6,2 Abaixo da meta
Morro Agudo de 4,4 5,0 5,3 6,3 Abaixo da meta
Goiás
Turvelândia 4,2 3,9 4,2 5,4 Atingiu a meta de 2013
Flores de Goiás 4,2 3,9 4,1 5,0 Acima da meta de 2013
Fonte: INEP - http://portal.inep.gov.br/web/portal-ideb(2012)
Dois municípios da amostra já atingiram a meta projetada para 2021, são eles:
Itaguari e Aparecida do Rio Doce. Outros dois municípios estão próximos de atingir a
meta de 2021, Rubiataba e Vicentinópolis. Os municípios de Goianápolis, Turvelândia e
1186
6
Taxa de rendimento 2011 atualizado em 25/07/2012.
7
EFAI – Ensino Fundamental Anos Iniciais
1187
Enquanto que Turvelândia que está acima da média projetada possui o menor índice de
aprovação (91,5%) e a maior média de alunos/turma 27,4. Chama a atenção o elevado
índice de distorção idade/série dos municípios de Flores de Goiás (27,7%) e
Vicentinópolis (21,7%) e ambos estão acima da meta projetadado IDEB. Israelândia,
Ouro Verde e Goianápolis possuem IDHM considerado alto, porém Israelândia está
abaixo da média do IDEB e com um considerável patamar de distorção idade/série
7,8%. Ouro Verde também está abaixo do IDEB com a aprovação de quase 100% e com
um percentual de professores com formação superior em 88,9%. Já Goianápolis atingiu
a meta projetada, porém segue com problemas em relação à distorção idade/série (15%),
possui somente 76,7% de professores com formação superior e média considerável de
alunos/turma em 26,1%.
Os dois municípios de Itaguari e Aparecida do Rio Doce já atingiram a meta do
IDEB para 2021. Porém, apresentam desafios a serem superados, em Itaguari somente
90,5% dos professores tem formação superior e uma distorção idade/série de 6,1%.
Aparecida do Rio Doce tem um elevado número de alunos com distorção idade/série em
15,4%. Esses dois municípios também não souberam informar sobre a existência do
Plano Municipal de Educação. Já Vicentinópolis que está próximo de atingir a média de
2021 possui a expressiva distorção idade/série em 21,7% e taxa de aprovação no
patamar de 88,3%. Portanto, reduzir a compreensão da elevação da qualidade da
educação somente ao cumprimento do IDEB e com a ênfase nos resultados das
avaliações não permite compreender a realidade e os desafios da oferta da educação
pública e gratuita pelos municípios.
Referências
INEP. MEC. Portal IDEB. Ideb 2011: Brasil continua a avançar. S/A. Disponível em:
http://portal.inep.gov.br/web/portal-ideb. Acesso em: 08 maio 2013.
Comunicação
Introdução
Em l980, prestei vestibular para o curso de Pedagogia na Universidade de Mogi
das Cruzes, concluindo-o com especialização em Administração Escolar. Em 1981,
iniciei meu trabalho como professora eventual em uma escola estadual, lecionando
matérias específicas para o extinto Magistério, aproveitando o pouco tempo livre para
frequentar diversos cursos extensivos. Um pouco mais experiente, assumi a direção de
uma escola de educação infantil, onde trabalhei por doze anos, abandonando essa
função após a perda de um irmão mais novo, em um acidente trágico, período difícil que
me levou a abandonar o magistério. Trabalhei em diversas áreas, mas o coração
remetia-me à sala de aula e, assim, o fiz.
Voltei a lecionar, agora, para alunos do Ensino Fundamental I. Anos passaram-
se e fui convidada a trabalhar como Coordenadora Pedagógica em uma escola de
educação infantil, onde permaneci por seis anos. Mais experiente, profissionalmente,
comecei a interessar-me e passei a observar o processo de desenvolvimento da criança,
do picar papel com as mãos aos primeiros rabiscos, consequentemente, encantei-me
com a alfabetização, por acreditar que partindo da educação infantil e, posteriormente,
educação básica, os seres humanos teriam possibilidades de uma formação intelectual
mais adequada.
Em minha concepção, os educadores não podem perder de vista a
responsabilidade que lhes cabe de formar cidadãos conscientes e responsáveis, que
pensam, analisam e discutem questões sociais com a possibilidade de gerar um desejo
para se construir um mundo melhor.
Em 2007, ingressei no curso de Especialização em Administração Escolar e
Coordenação Pedagógica. Os debates trazidos para a sala de aula pelos colegas
enriqueciam os temas discutidos, considerando a visão de importância do contexto
social em que a criança está inserida. Ao concluir o curso de pós-graduação, passei a
atuar em uma escola particular na zona Sul do município de São Paulo, onde o poder
aquisitivo e cultural de alunos e professores era de alto nível. Organizavam-se palestras,
reuniões e mesas redondas com autores de livros didáticos e os docentes tinham
consciência dos objetivos a serem atingidos em relação à proposta de alfabetização aos
alunos do 1º. ao 5º. ano do Ensino Fundamental I. Os livros didáticos eram manuseados
de acordo com debates e discussões pedagógicas, sequencialmente, série por série, ou
seja, havia uma continuidade de conteúdos necessários ao desenvolvimento cognitivo
1192
Resoluções (SE) a seguir: Resolução SE nº. 68, de 19 de junho de 2012, que dispõe
sobre as ações de acompanhamento realizadas pelos Professores Coordenadores nos
Núcleos Pedagógicos (CNPq) em unidades escolares; Resolução SE nº. 88, de 19 de
dezembro de 2007, que traz orientações sobre a função gratificada do Professor
Coordenador; e a Resolução SE nº. 89, de 19 de dezembro de 2007, que regra a função
gratificada do Professor Coordenador das quatro séries iniciais do ensino fundamental I,
em escolas da rede estadual de ensino. Vale ressaltar que os documentos estão à
disposição da população, em outros termos os documentos são de domínio público.
qualquer que fosse o problema, assim como assumir as emergências e urgências que
aconteciam no cotidiano escolar.
De acordo com a Resolução SE nº 88/2007, artigo 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI
e VII, os Professores Coordenadores Pedagógicos dentro da escola têm suas funções e
atribuições determinadas pela legislação que estabelece regras para os órgãos públicos
da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Cabe ao Professor Coordenador
avaliar o desempenho dos alunos por meio da verificação do processo do ensino e da
aprendizagem, acompanhando e avaliando resultados e tendo como objetivo principal, o
desempenho no ensino e na aprendizagem dos alunos. Os resultados podem ser
avaliados por meio do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São
Paulo (SARESP), que avalia em especial o rendimento no ensino e na aprendizagem do
alunado, conforme a Resolução SE nº 68/2012, Artigo 5º, inciso I e II. O instrumento de
avaliação, a partir da análise de resultados, tem como objetivo desenvolver novos
currículos, buscando orientar os docentes e acompanhar os resultados, caso o
desempenho dos alunos tenha sido satisfatório ou não, de acordo com a proposta
pedagógica de cada unidade escolar.
Ao Professor Coordenador, cabe, também, acompanhar as práticas e ações dos
docentes com o objetivo de tornar os espaços coletivos em oportunidades de reflexão
sobre as práticas e ações pedagógicas dentro da sala de aula, para que possa se
desenvolver uma construção contínua de conhecimentos.
Segundo Domingues (2009, p. 65) “como fruto de um processo reflexivo dos
próprios educadores que, por conhecerem as demandas escolares, tornam-se capazes de
propor e organizar sua própria formação”. Isto posto, o Coordenador Pedagógico passa
a ser responsável pela identidade de formação do processo de reflexão pedagógico da
escola na qual é o mediador. É fundamental que o Coordenador Pedagógico desenvolva
ações e práticas com os demais profissionais, pensando nos desafios atuais que serão
enfrentados em um novo modelo de escola. Há necessidade de uma reflexão sobre a
formação do profissional que trabalhará como mediador das práticas e do processo do
ensino e da aprendizagem, ou seja, o Coordenador Pedagógico.
Conforme a Resolução SE nº 68/2012, em seu artigo 1º, os Professores
Coordenadores dos Núcleos Pedagógicos têm como objetivo principal oferecer
orientações técnicas quanto às propostas pedagógicas das unidades escolares, visando
reconduzir o desenvolvimento das atividades que se fazem indispensáveis para a
1197
Considerações
Este artigo buscou apresentar as possibilidades e limites enfrentados pelos
Coordenadores Pedagógicos na rede estadual de ensino do estado de São Paulo,
mediante funções estabelecidas nas Resoluções da Secretaria Estadual da Educação do
Estado de São Paulo (Seesp).
As Resoluções foram confrontadas com estudos literários dos seguintes teóricos:
Celso dos Santos Vasconcellos, Izaneide Domingues, Laurinda Ramalho de Almeida,
Maria José da Silva Fernandes, Vera Lucia Trevisan Souza, Vera Maria Nigro de Souza
Placco. Registram-se as dificuldades, os erros e acertos que este profissional enfrenta
nas rotinas e atividades pedagógicas no âmbito escolar.
Ao levar em consideração os estudos expostos, os Coordenadores Pedagógicos
da rede estadual de ensino assumem uma sobrecarga nas funções exercidas, colocando
em risco a própria estrutura física e emocional, em consequência do excesso de
trabalho, prejudicando a qualidade de ensino e a organização na escola.
É importante salientar a importância deste profissional como mediador e
articulador das práticas e ações pedagógicas, porém a excessiva jornada e as funções
1199
que não lhe cabem assumir, desorganizam atividades pedagógicas, tiram o foco da
qualidade do ensino e da aprendizagem na rede estadual, e principalmente, às vezes,
aumentam a distância entre os docentes e o Coordenador Pedagógico, sendo ele
responsável pela formação dos professores na unidade escolar.
Neste contexto, o Coordenador Pedagógico ao assumir o papel no espaço
escolar, deve refletir e organizar suas atividades pedagógicas, assim como priorizar
práticas e ações pedagógicas, junto à equipe de docentes, para efetivamente desenvolver
o ensino e aprendizagem eficiente ao alunado.
Referências bibliográficas
DOMINGUES, Izaneide. O coordenador pedagógico e o desafio da formação
contínua do docente na escola. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade de São
Paulo - USP, São Paulo, 2009. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-18012010-133619/pt-br.php>.
Acesso em: 05 jan. 2014.
PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza; SOUZA, Vera Lucia Trevisan de; ALMEIDA,
Laurinda Ramalho de. O coordenador pedagógico: aportes à proposição de políticas
públicas. Scielo - Caderno de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n.147, dez. 2012. Disponível
em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742012000300006>. Acesso em: 14 fev. 2014.
Comunicação
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo identificar e analisar, por meio de um estudo
exploratório qualitativo, as experiências realizadas em diferentes cidades do Estado do
Espírito Santo e as múltiplas justificativas de ampliação do tempo de permanência das
crianças em creches e/ou pré-escolas localizadas na área rural e urbana, visando
compreender as concepções e motivações em torno do atendimento da educação infantil
em tempo integral. Os resultados da primeira fase da pesquisa apontam que a oferta da
educação infantil em tempo integral já é uma realidade nos diferentes municípios
capixabas, contudo essa experiência tem apresentado cenários ora contrastantes ora
complementares ao reconhecimento da educação infantil como primeira etapa da
educação básica.
Palavras-chave: Educação infantil em tempo integral. Educação integral. Políticas de
educação infantil.
1202
INTRODUÇÃO
Um grande desafio vem sendo colocado à nossa histórica tradição escolar brasileira de
turnos parciais e períodos de quatro horas letiva. Trata-se da ampliação da jornada
escolar que vem se constituindo como uma política educativa nos diferentes níveis de
ensino em estados e municípios brasileiros. Na história da educação brasileira,
diferentes manifestações ideológicas e políticas surgiram em torno da “educação
integral” ou da “escola integral”, sem que isso implicasse, necessariamente, na
reconfiguração do tempo de permanência dos alunos na escola.
Quando os debates se presentificam em torno da idéia da “educação em tempo integral”
ou “escola em tempo integral” temos aí uma dupla provocação ao fenômeno
educacional: uma pela via da redefinição dos conteúdos e atividades escolares no turno
e contraturno e da reconfiguração da estrutura administrativa escolar (universalização x
critérios de matrículas, organização do tempo, financiamento, carga horária de trabalho,
contratação de profissionais e seleção de alunos) e outra, tão desafiadora quanto a
primeira, pelo critério motivador que justifica a necessidade de ampliação da jornada
escolar nas unidades de ensino.
Ainda que muitas dessas experiências não tenham conseguido sobreviver com o tempo
em função de vários fatores, o que vem ocorrendo no Brasil é um crescimento
vertiginoso da ampliação do tempo escolar e de iniciativas voltadas à educação em
tempo integral, nas escolas de educação básica (CAVALIERE, 2002), sobretudo no
ensino fundamental. Como forma de incentivar a ampliação da educação integral, o
governo federal criou, em 2008, o Programa Mais Educação destinado às escolas que
atendessem a maioria de alunos cadastrados no Programa Bolsa Família e com menos
de 3.5 pontos no Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica1.
Instituído pela Portaria Normativa Interministerial nº. 17/2007, que tem por objetivo
fomentar a educação integral de crianças, adolescentes e jovens, por meio de atividades
sócio-educativas no contraturno escolar, articuladas ao projeto de ensino desenvolvido
pela escola e dos processos escolares com outras políticas sócio-culturais, o Programa
Mais Educação é uma das metas do Plano de Desenvolvimento da Educação.
Atualmente 32 mil unidades de ensino fazem parte do Programa (MEC, 2012).
1
Índice de qualidade da educação básica instituído pelo Ministério da Educação no ano de 2007. Esse
índice é obtido a partir do cruzamento de duas variáveis: taxa de aprovação dos alunos e desempenho na
Prova Brasil, e seus resultados são apresentados numa escala de zero a dez.
1203
orientado as práticas pedagógicas destinadas às crianças pequenas das creches e das pré-
escolas, só para citar algumas dessas constatações.
A hipótese de que a experiência da educação integral na educação infantil se mantém
principalmente sob a égide da ampliação do tempo de permanência da criança na
instituição é um anúncio do quão se fazem necessários estudos e pesquisas que nos
permitam compreender os diferentes desafios e motivações que têm se constituído em
torno da demanda de ampliação do tempo integral ou da educação em tempo integral na
educação infantil. Portanto, uma análise mais apurada dos diferentes processos que vem
ocorrendo em torno da organização e implementação dessas propostas é um caminho
importante para subsidiar as políticas de educação infantil.
Com o intuito de compreender as concepções, motivações e estratégias que se
configuram em torno do atendimento da educação infantil em tempo integral, esta
pesquisa teve como objetivo identificar e analisar, por meio de um estudo exploratório,
as experiências existentes em diferentes cidades do Estado do Espírito Santo, cujos
contextos diversos (creches e pré-escolas públicas localizadas no campo e nos centros
urbanos), tem feito emergir formas institucionalizadas e justificações múltiplas de
ampliação do tempo de permanência das crianças em creches e/ou pré-escolas.
A expansão das creches e pré-escolas continua a ser um tema inquietante, sobretudo se
considerarmos os efeitos da afirmação de direitos consagrados pela Constituição de
1988, as mobilizações sociais em torno dos direitos da criança pequena, as
reivindicações do movimento de mulheres, as novas responsabilidades públicas e
obrigações dos municípios com a educação infantil (CAMPOS, ROSEMBERG,
FERREIRA, 1995). Contudo, num contexto onde as lutas pela universalização da
educação infantil reatualizam debates e colocam em xeque a capacidade do Estado de
promover novas interlocuções públicas em torno da educação infantil como primeira
etapa da educação básica, o que percebemos é um quadro eivado de disparidades onde a
negação de direitos expõe as evidências de uma cidadania inconclusa e demiurga.
Se a universalização da educação infantil ainda constitui-se uma luta inacabada,
sobretudo se considerarmos a histórica invisibilização das crianças de zero a três anos
de idade na sociedade brasileira, quando os olhares se voltam para a expansão da
educação em tempo integral em creches e pré-escolas, novas interpelações por políticas
públicas surgem no horizonte da reivindicação e da ampliação de direitos. É justamente
a possibilidade problematizadora dessas questões que nos permitiu adentrar com maior
profundidade no terreno conflituoso que cerca a demanda por ampliação do tempo de
1205
permanência das crianças nas unidades de educação infantil, traduzida como política
pública.
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Com o objetivo de analisar as concepções, motivações e estratégias que se configuram
em torno dos processos de organização e implementação do atendimento do tempo
integral nas creches e nas pré-escolas como subsídios às políticas de educação infantil,
esta pesquisa2 teve como objetivos principais: a) identificar os fatores de natureza
econômica, administrativa, educacional, social e política que motivam a organização e
implementação da educação infantil em tempo integral nas creches e pré-escolas; b)
investigar os efeitos/consequências da educação infantil em tempo integral na vida das
crianças e de suas famílias, na organização e administração escolar e nas práticas
pedagógicas; c) compreender os significados atribuídos pelas crianças, famílias,
professores, gestores escolares e secretarias de educação à experiência da creche e pré-
escola em tempo integral.
Considerando a diversidade dos contextos investigados, foram consideradas duas etapas
para a recolha dos dados. A primeira etapa do estudo exploratório constituiu-se da
aplicação de um questionário a todos os municípios capixabas, numa tentativa de extrair
alguns elementos que subsidiariam as etapas seguintes da pesquisa. A sistematização
das questões encaminhadas por 94% dos municípios respondentes contribuiu para
caracterizar melhor os contextos e identificar o quantitativo de atendimento da educação
infantil em termos de matrícula inicial e número de instituições (campo e centro urbano,
tempo parcial e integral, creche e pré-escola). A partir destes dados, foram estabelecidos
critérios mais rigorosos para a escolha dos municípios a serem investigados in loco, de
acordo com os objetivos propostos.
Para a seleção dos municípios considerados na segunda fase da pesquisa, foram
utilizadas as referências aplicadas pelo Governo do Estado do Espírito Santo na
definição das Microrregiões e Macrorregiões do Estado.3 Na tentativa de contemplar um
município em cada microrregião, os critérios para a escolha dos dez municípios
selecionados foram adotados de acordo com os quesitos previstos em uma escala de
2
“Educação em Tempo Integral na Educação Infantil: um estudo das concepções e práticas no Estado do
Espírito Santo”. Pesquisa em andamento por meio de um Termo de Cooperação Técnica entre o
MEC/COEDI e a UFES (2013/2014).
3
A divisão dos municípios capixabas em Microrregiões e Macrorregiões está prevista na Lei Estadual nº
9.768/11.
1206
um debate pedagógico acerca dessa experiência tem produzido novas cisões entre o
cuidar e o educar, despotencializado o sentido da avaliação e do planejamento, além de
secundarizar as questões que dizem respeito às condições de trabalho com qualidade e à
formação dos profissionais para atuarem no tempo integral. Outra questão levantada foi
a necessidade de considerar as realidades distintas de atendimento, já que o tempo
integral é uma experiência presente em contextos rurais e urbanos.
Quanto ao aspecto orçamentário-financeiro, os sujeitos entrevistados (gestores, família e
professores) destacam a necessidade de maior autonomia financeira da instituição para
atender a especificidade do tempo integral, bem como, a garantia de repasse de recursos
diferenciados para atender as demandas do “tempo parcial” e “tempo integral” e das
instituições localizadas em contextos urbanos e rurais. Além disso, apontam a
necessidade de contratação de profissionais para atuarem no tempo integral da educação
infantil em articulação com o professor.
Do que pudemos apreender a partir de alguns dados preliminares, a experiência do
tempo integral na educação infantil, na maioria dos municípios investigados, ainda
constitui-se como reflexo de uma matriz cultural assistencialista, reforçando assim, a
ausência de redes de proteção e políticas públicas articuladas em torno da infância, já
que há uma predominância no critério de matrícula crianças em situação de
“vulnerabilidade e risco social”. Um outro fator está na constatação de que a maioria
das atividades com as crianças ocorrem em salas de aula, apontando, assim, uma
precariedade de alternativas de trabalho além do espaço escolar. Esta situação é
ressaltada, sobretudo, pelas crianças quando afirmam que se pudessem escolher
estariam em casa brincando e não no tempo integral.
Apesar da configuração de “política pública”, a maioria das propostas do tempo integral
na educação infantil não tem nenhum tipo de sistematização, ficando fragilizada a
eventuais mudanças na administração municipal. Na maioria das vezes, ela não nasce de
uma demanda pedagógica e sim de um apelo “popular” e/ou “judicial”. Tudo isso nos
desafia a pensar em que medida a oferta do tempo integral tem se constituído como uma
política da educação infantil e como um reconhecimento da criança como sujeito de
direitos.
São algumas dessas evidências que nos desafiam a questionar a complexidade da
educação infantil em tempo integral na contemporaneidade e como esta experiência tem
se colocado no interior mesmo da educação infantil como um direito sobretudo da
criança.
1209
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diferentes experiências que se configuram em torno da ampliação do “tempo
integral” ou da “educação em tempo integral na educação infantil”, as polarizações em
torno das finalidades expressas da educação infantil e do ensino fundamental, as
disparidades de investimento público na educação infantil, os desafios em torno da
universalização da educação infantil, a obrigatoriedade da matrícula na pré-escola, as
exigências da vida contemporânea culminando com a inserção crescente da mulher no
mercado de trabalho, as responsabilidades públicas em torno do combate à pobreza, a
ampliação e reconhecimento das crianças como sujeitos de direitos, são algumas das
evidências do quanto a educação infantil em tempo integral precisa ser analisada com o
objetivo de aprimorar as políticas públicas destinadas às crianças pequenas. Ainda que a
ampliação do tempo de permanência das crianças na educação infantil não seja um tema
atual, os desdobramentos de natureza política, pedagógica, econômica e social que
emergem dessa experiência nos provocam a compreender melhor os nexos de uma
realidade que continua a alojar os paradoxos e os desafios de nossa educação e de nossa
sociedade.
Assim, de um lado, temos algumas contradições que precisam ser superadas na
afirmação do tempo integral como uma experiência “da educação infantil”, e de um
outro lado, a possibilidade de aprender com o tempo integral e o que ele nos desafia a
pensar a própria educação infantil.
Não podemos deixar de considerar que a implementação do tempo integral na educação
infantil tem “provocado” outras lógicas discursivas e práticas nas instituições de
educação infantil, sobretudo, quando seu trabalho tem apontado para uma configuração
pedagógica diferenciada e demandado a participação das crianças em outros espaços
sócio-culturais da cidade. Se tudo isso tem produzido novas tensões em torno da
afirmação da educação infantil como primeira etapa da educação básica, tem também
demandado novas responsabilidades públicas e obrigações com a educação infantil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Portaria Normativa Interministerial nº17, de 24 de abril de 2007. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 26 de abr. 2007.
1210
CAVALIERE, Ana Maria Villela. Educação integral: uma nova identidade para a escola
brasileira? In: Educação e Sociedade, Campinas, vol.23, n.81, p.247-270, dez.2002.
Comunicação
RESUMO: Este trabalho faz parte da pesquisa “Parcerias entre sistemas públicos e
instituições do terceiro setor: Brasil, Argentina, Portugal e Inglaterra implicações para a
democratização da educação” realizada pelo Grupo de Pesquisa “Relações entre o
Público e o Privado na Educação” do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nesta etapa da pesquisa, o grupo enfoca o
conteúdo da proposta, isto é, como a lógica privada mercantil está sendo inserida no
sistema público e também como se dá a influência das redes nacionais e globais na
política educacional brasileira de educação básica, sob a perspectiva de Thompson
(1981) de que são sujeitos e relações com objetivos de classe. Assim, neste texto,
daremos prioridade para estes dois aspectos - sujeitos e conteúdo da proposta - na
análise do Projeto Jovem de Futuro do Instituto Unibanco.
Palavras -chave: Público - privado; parcerias;educação;Unibanco.
Introdução
Este texto é parte de uma pesquisa que analisa a materialização das relações
entre o público e o privado nas etapas e modalidades da educação básica no Brasil,
realizada por um grupo de pesquisa da UFRGS que investiga o tema há uma década. O
enfoque teórico-metodológico do grupo é que o Estado, assim como o capital, deve ser
visto como relação ou processo1. Entendemos que ele é parte importante do movimento
de correlação de forças de sujeitos2 situados em um contexto histórico e geográfico3.
Portanto, Estado e sociedade civil são perpassados por correlações de forças de classes
1
Relação ou processo na concepção de Thompson (1981)
2 Sujeitos na concepção de Thompson (1981)
3 Contexto histórico e geográfico na concepção de Harvey (2005)
1212
O Instituto Unibanco
O Instituto Unibanco4 foi criado em 1982, inicialmente para promover as ações e
os investimentos sociais do Unibanco – que em 2008 formou o conglomerado Itaú
Unibanco. Segundo o próprio Instituto Unibanco, a instituição se dedicou durante anos
ao apoio a projetos de terceiros, de diferentes áreas. Buscando obter maior impacto
social, em 2002, redirecionou sua atuação para a educação, desenvolvendo projetos
próprios.
Em 2007, o Instituto concebeu e implantou o Projeto Jovem de Futuro, de forma
experimental, em três escolas paulistanas. No ano seguinte, aplicou o projeto piloto em
20 instituições de ensino de Minas Gerais e 25 do Rio Grande do Sul. Já em 2009, o
projeto se expandiu para mais 41 escolas do estado de São Paulo. Em 2011, as unidades
4
Sobre este assunto ver Monteiro (2013)
1213
Os sujeitos
O Conselho de governança do IU – Instituto Unibanco - é composto pelo
presidente Pedro Moreira Salles, vice-presidente Pedro Sampaio Malan,
superintendência executiva Ricardo Henriques. Além disso, é formado pelos
conselheiros Antonio Matias, Cláudio de Moura Castro, Cláudio Luiz da Silva Haddad,
Marcos de Barros Lisboa, Ricardo Paes de Barros, Tomas Tomislav Antonin Zinner,
Thomaz Souto Corrêa Netto e Wanda Engel.
A figura que segue visualiza quem são os sujeitos que participam do Conselho
de Governança, bem como onde atuam ou atuaram. Destacamos com cores distintas a
própria instituição financeira Itaú/Unibanco, governo, instituições privadas
educacionais, do terceiro setor, organizações internacionais e outras instituições
financeiras para analisarmos as suas experiências, no sentido dado por Thompson, isto
é, de onde falam e como se relacionam ou não com a educação. Os sujeitos que
participam do Conselho de Governança são sujeitos históricos em relação a outros
sujeitos, que defendem interesses individuais ou coletivos, por isso é necessário estudá-
los nas relações que estabelecem com indivíduos ou grupos.
1214
larga escala com a adesão voluntária das Secretarias de Educação do Ceará, Goiás,
Mato Grosso do Sul, Pará e Piauí, integrando suas respectivas políticas públicas
educacionais. A parceria foi assinada pelo ministro Aloisio Mercadante em 14 de
fevereiro de 2012 através de um termo de cooperação técnica entre o MEC e o IU.
(UNIBANCO, 2012, p.21).
O Projeto Jovem de Futuro (ProEMI) incentiva o redesenho curricular das
escolas, com orientação da política educacional e aporte financeiro direcionados pelo
MEC, através do Guia de Tecnologias Educacionais (que habilita o PJF enquanto
tecnologia educacional na categoria gestão). O arcabouço legal da destinação dos
recursos ao PJF se encontra nos convênios firmados entre Secretarias Estaduais de
Educação e o MEC para implantação do Programa Ensino Médio Inovador e convênio
firmado entre Secretaria do Estado da Educação e o Instituto Unibanco para a
implantação do PJF. Ainda o convênio entre o Instituto Unibanco e o MEC garante
financiamento do ciclo do PJF que é de três anos5.
O Projeto busca fortalecer a gestão escolar, com foco na melhoria da aprendizagem
dos estudantes. Nesse contexto, o Instituto Unibanco oferece formação para gestores e
supervisores, apoio técnico, acompanhando e monitorando os resultados por meio de
instrumentos pedagógicos e gerenciais. Os Estados são os responsáveis por toda
implementação do ProEMI/JF em suas respectivas redes, com infraestrutura e equipe
necessárias, inclusive disponibilizando equipes de técnicos para a supervisão e o
monitoramento das escolas. A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência (SAE)
realiza as avaliações de impacto do ProEMI/JF.
Atualmente, o Programa Ensino Médio Inovador/Jovem de Futuro (ProEMI/JF)
reflete uma parceria público privada entre o Ministério da Educação (MEC), cinco
Secretarias Estaduais de Educação e o Instituto Unibanco. O Instituto permitirá, até
2016, universalizar o programa nas escolas públicas de Ensino Médio do Ceará, Goiás,
Mato Grosso do Sul, Pará e Piauí, atendendo cerca de 2.500 unidades de ensino e mais
de dois milhões de alunos. (UNIBANCO, 2012, p. 21).
Destacamos que o ProEMI/JF se apresenta como política pública nacional que
propõe o redesenho curricular do Ensino Médio, focado em um currículo dinâmico,
flexível e compatível com as exigências da sociedade contemporânea. A ação
5
Informações retiradas do site www.dejau.com.br/admin/.../040420121PPT_vc_PROEMI_PJF.ppt que
traz informações sobre financiamento para execução do Projeto Jovem de Futuro. Acesso em: 4 de abril
de 2014.
1218
Para o Jovem de Futuro, uma gestão eficiente, participativa e com foco nos
resultados positivos de aprendizagem pode influenciar de maneira decisiva a qualidade
da educação oferecida pela escola. O projeto Jovem de Futuro utiliza o conceito de
Gestão Escolar para Resultados (GEpR), e a ideia básica parte do pressuposto de que
não existe organização, sobretudo uma instituição, voltada para o interesse público, sem
uma qualificação técnica e social da gestão. Nesse sentido, busca apresentar para os
gestores escolares estratégias e instrumentos que tornam seu trabalho mais eficiente,
criativo e produtivo, sendo que seus princípios orientam para um trabalho com foco nos
resultados positivos de ensino e de aprendizagem.
Tal proposta sugere a integração de diferentes processos e ferramentas de gestão
escolar, bem como a mobilização de recursos humanos, a articulação de recursos
técnicos, materiais e financeiros, a divisão de responsabilidades, a adoção de sistemas
de informação voltados para o monitoramento, controle e avaliação e a utilização de
programas de comunicação para garantir ampla adesão da comunidade às ações da
escola, sempre tendo em vista a conquista de melhores resultados na aprendizagem dos
alunos(http://www.portalinstitutounibanco.org.br/index.php?option=com_content&view
=article&id=10&Itemid=8.Acesso em 21 de maio de 2014.). Esse processo inicia-se na
Formação em Gestão Escolar para Resultados. É nesse momento que os profissionais
que integram o projeto têm o primeiro contato com o conceito, com os objetivos do
projeto e com os instrumentos que orientam as ações do Jovem de Futuro.
6
Ver relatório da pesquisa nacional. Peroni e Adrião(2012).
1219
Considerações Finais
Em nossas pesquisas, analisamos as várias formas de relação entre o público e o
privado na educação básica. Neste artigo, buscamos analisar mais especificamente como
o privado interfere no público através de uma parceria, em que a propriedade permanece
pública, mas a instituição privada interfere no conteúdo da educação, através da gestão
por resultados, trazendo uma lógica individualista e competitiva empresarial, com foco
nos resultados em detrimento da construção de uma proposta garantida como princípio
constitucional de gestão democrática que tem princípios coletivistas e focados no
processo de construção de valores democráticos. Para que a proposta se efetive, a
1221
Referências
HARVEY, David. O neoliberalismo história e implicações. São Paulo: Loyola, 2005.
Comunicação
Introdução
Entende-se que o conhecimento da escrita compreende desde a habilidade de
simplesmente transcrever sons até a capacidade de comunicar-se adequadamente com
um leitor potencial. Desse modo, a capacidade para comunicar-se por meio de um
desenho pode ser entendida como a capacidade para escrever (MARR, WINDSOR &
CERMAK, 2001).
1
UNICID/Bolsistas PIBIC CNPq /Grupo de Estudos sobre o Comportamento Motor e Intervenção
Motora (GECOM)
2
Bacharel em Educação Física/Grupo de Estudos sobre o Comportamento Motor e Intervenção Motora
(GECOM)
3
UNICID/Bolsistas PIBIC CNPq /Grupo de Estudos sobre o Comportamento Motor e Intervenção
Motora (GECOM
4
Docente do Programa de Mestrado em Educação/Coordenador do Curso de Educação Física da UNICID
e líder do Grupo de Estudos sobre o Comportamento Motor e Intervenção Motora (UNICID)
1223
Material e Método
Tomaram parte do estudo dois grupos de crianças: GC1 – Grupo de crianças
com mobiliário escolar fixo; GC2 – Grupo de crianças com mobiliário escolar
regulável. Ambos os grupos apresentavam média de idade de 6 anos e desvio padrão de
0.7 anos. A escolha pela faixa etária se deve ao fato de representar o período de
aquisição da escrita na escola. No GC2 o mobiliário escolar foi adaptado às dimensões
corporais das crianças, conforme as recomendações para o processo de execução de
padrões gráficos previstos em SHIMELL, CANDLER & NEVILLE-SMITH (2009).
Essas adaptações levam em consideração o apoio dos pés, costas e cotovelo.
Os parâmetros utilizados para a categorização do mobiliário escolar foram
definidos com base nos protocolos utilizados por CASSAROTO (1993) e confrontados
com o mobiliário mais prevalente em Colégios da Rede Pública e Privada, conforme
consulta dos pesquisadores.
As crianças reproduziram um desenho de uma coroa (Figura 1) por vinte e cinco
tentativas, utilizando-se de uma caneta sem fio sensitiva a pressão. Esta figura foi
definida a partir de um estudo piloto desenvolvido pelo grupo e teve como base a
escolha de um padrão gráfico com registros identificáveis e com significado para a
criança em situação de aprendizagem. Ela foi apresentada aos sujeitos por meio de uma
folha de papel com dimensões de 10 cm X 10 cm.
Durante as orientações, ao apresentar a figura às crianças, o experimentador
indagava se ela já conhecia a mesma, e o que ela lembrava. Noventa por cento das
crianças participantes afirmavam se tratar de uma coroa. Em seguida, o experimentador
contava às crianças que o rei havia perdido a coroa e que havia a necessidade de fazer
outras para ele. Segundo o experimentador, os desenhos das coroas deveriam ser feitos
1226
sobre a mesa. Após esta fase de contato inicial, as crianças tinham a oportunidade de
deslocar a caneta sensitiva sobre a mesa digitalizadora como forma de ambientação.
As orientações proporcionadas às crianças participantes foram: “Faça nesta mesa
um desenho o mais parecido possível com esta coroa”. Antes da execução da tarefa, o
experimentador alertava à criança para o fato de que a figura apresentava três pontas e
base arredondada e fechada. Nesta ocasião, o experimentador também chamava a
atenção para a possibilidade da criança observar o seu registro gráfico na tela do
computador.
Todas as crianças executaram a tarefa com a mão de preferência após a
aplicação do inventário de Edimburgo para a dominância lateral e dispuseram de
feedback visual online somente durante as tentativas.
A reprodução do padrão gráfico foi realizada sobre uma mesa digitalizadora,
marca Aiptec 8000 U. Os dados coletados foram armazenados na memória de um
notebook marca HP modelo Pavilion e receberam tratamento por meio do programa
MovAlyzer versão 6.1. Esse programa foi desenvolvido pelo Grupo Neuroscript e já foi
utilizado em trabalhos, em várias partes do mundo, para análise de registros gráficos.
As variáveis analisadas no estudo foram: Legibilidade do padrão gráfico; tempo
de execução e erro espacial linear.
O presente estudo leva em consideração que uma das características principais
da escrita habilidosa é a legibilidade e que uma figura só pode ser considerada legível a
partir da possibilidade de identificação de todos os componentes da ação. Assim, no
caso da figura da coroa, elegeu-se que esses componentes seriam (as três pontas e a base
arredondada e fechada). Desse modo, o padrão gráfico registrado foi avaliado por dois
avaliadores que, tomando como base a figura critério (coroa), apontado se em cada
tentativa executada foi, ou não, apresentado o padrão proposto. O reconhecimento de
cada componente isoladamente e a forma pela qual esses componentes se ordenam é
que assegura o reconhecimento da escrita. Nesse sentido, é possível considerar que a
escrita é legível quando ela permite esse reconhecimento (MARR, WINDSOR &
CERMAK, 2001). Para minimizar o grau de subjetividade dos avaliadores foi
calculado um índice de concordância inter-avaliadores proposto por THOMAS,
NELSON & SILVERMAN (2011) para o qual foi encontrado um valor de 0.77.
1227
Resultados e Discussão
A análise dos dados da legibilidade não identificou diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos em relação ao tipo de mobiliário. Também não foram
identificadas diferenças intra-grupo ao longo dos blocos de tentativas, ou seja, os grupos
não demonstraram apresentar desempenho melhor com a prática na legibilidade.
Conforme pode ser percebido por meio da análise da Figura 2, o número de
acertos foi consideravelmente baixo ao longo de todos os blocos de tentativas. Esse
comportamento foi identificado de forma similar nos dois grupos avaliados. É possível
inferir que se o número de tentativas fosse maior, ambos os grupos poderiam apresentar
1228
3,5
2,5
Média (acertos)
2 Gc 1
1,5 Gc 2
0,5
0
1 2 3 4 5
Blocos
Além disso, uma quantidade de prática maior talvez pudesse contribuir para a
identificação de diferenças entre os grupos em decorrência do mobiliário escolar. Esta
constatação corrobora os resultados de estudos desenvolvidos por
HAMMERSCHMIDT, & SUDSAWAD (2004) que sugerem a necessidade de grande
quantidade de prática associada a padrões gráficos para crianças em fase inicial de
aprendizagem da escrita.
Convém destacar que é possível que a ausência de feedback visual após cada
tentativa tenha contribuído para aumentar o tempo para a estabilização do padrão
gráfico, uma vez que a informação visual corresponde a uma variável notadamente
importante durante a fase inicial de aprendizagem de padrões gráficos (VAN GALEN,
SMYTH, MUELENBROEK, HYLKEMA, 1989; VAN GALEN; MUELENBROEK,
1990).
Também não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre
os grupos em relação ao tipo de mobiliário no que diz respeito à velocidade de execução
como mostra a Figura 3.
1229
8
7
6
5
Média (s)
Gc 1
4
Gc 2
3
2
1
0
1 2 3 4 5
Blocos
Além disso, também não foram encontradas diferenças intra-grupo ao longo dos
blocos de tentativas. De forma similar, ao que aconteceu com a variável legibilidade, é
possível que o período de prática não tenha sido suficiente para a identificação de
diferenças entre os grupos. Vale ressaltar que o ganho de velocidade de execução
dependeria fundamentalmente da estabilidade do padrão gráfico (CLOUGH, 1999;
GRAHAM, STRUCK, SANTORO, BERNINGER, 2006).
Finalmente, foram identificadas diferenças na variável erro espacial linear em
todos os blocos de tentativas [Anova 2, 27) = 8.74, p=0,001]. Essas diferenças não
aconteceram intra-grupo ao longo dos blocos de tentativas.
12,0
10,0
8,0
Erro (cm)
Gc 1
6,0
Gc 2
4,0
2,0
0,0
1 2 3 4 5
Blocos
Conclusão
Os dados encontrados no presente estudo permitem inferências quanto à
interação que se estabelece entre o indivíduo, a tarefa e o ambiente durante o processo
de aquisição de um padrão gráfico, configurando um sistema de ação para a realização
de tarefas motoras.
O mobiliário não impactou de forma estatisticamente significativa na
legibilidade do padrão gráfico, bem como, também não impactou de forma
estatisticamente significativa em parâmetros temporais da execução do padrão gráfico.
O mobiliário influenciou de forma estatisticamente significativa nos parâmetros
espaciais do padrão gráfico.
Futuros estudos devem investigar o problema a partir da testagem da
estabilidade do padrão adquirido, caracterizar parâmetros qualitativos da execução, bem
como, controlar parâmetros do sujeito e da tarefa.
Os estabelecimentos escolares devem atentar de forma mais rigorosa para os
mobiliários e layouts dos espaços, uma vez que eles podem minimizar ou maximizar o
processo de aprendizagem dos alunos. Além disso, políticas públicas associadas aos
projetos pedagógicos das escolas devem levar em consideração também as variáveis
físicas que compõem os estabelecimentos escolares.
Referências
BERNINGER, V., VAUGHAN, K., ABBOTT, R., ABBOTT, S., BROOKS, A.,
ROGAN, L. Treatment of handwriting fluency problems in beginning writing: Transfer
from handwriting to composition. Journal of Educational Psychology, v.89, p.652–
666, 1997.
GRAHAM, S., BERNINGER, V., ABBOTT, R., ABBOTT, S., & WHITAKER, D. The
role of mechanics in composing of elementary school students: A new methodological
approach. Journal of Educational Psychology, v.89, p.170–182, 1997.
MARR, D.; WINDSOR, M.M. & CERMAK, S. Handwriting readiness: locatives and
visuomotor skills in the kindergarten year. Early Childhood Research and Practice,
v.3, p.1-16, 2001.
VAN GALEN GP, SMYTH MM, MUELENBROEK RGJ, HYLKEMA H: The role of
short term memory and the motor buffer in handwriting under visual and non-visual
guidance. In: PLAMONDON, R. & SUEN C.Y.; SIMNER, M. L. (orgs). Computer
recognition and human production of handwriting. Singapore: World Scientific;
1989. p. 253-257.
1234
Comunicação
Wagner Pagliato1
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo investigar qual a visão de alunos de Ensino
Técnico sobre a gestão de finanças na sociedade de consumo. Para desenvolvimento da
pesquisa será adotada abordagem quanti-qualitativa e como procedimento de coleta de
dados será adotada análise documental completada por questionário proposto aos alunos
de uma escola técnica pertencente à rede publica estadual paulista. Espera-se com a
pesquisa encontrar elementos que permitam analisar de que forma os alunos vêem no
cenário contemporâneo, os valores sociais baseados no consumo de bens e produtos.
Palavras chave: Educação, finanças pessoais, consumo, consumismo
JUSTIFICATIVA
A escola é um local privilegiado para se descobrir, conhecer, criticar e
transformar a sociedade de consumo.
Assim, a educação do consumidor se baseia na relação entre consumo e
qualidade de vida, entendendo-se esta última como o desenvolvimento pleno, criativo,
solidário e livre do ser humano. O presente estudo pretende investigar como os alunos
de uma escola de ensino médio percebem a relação entre consumo e realização pessoal.
De acordo com SILVA (2004), no Brasil as pessoas não foram educadas para
administrar suas finanças , dessa forma, a maior parte da população gasta aleatoriamente
sem refletir sobre seu contexto financeiro e os impactos futuros.
A pesquisa surge da necessidade de se compreender a importância da administração das
finanças pessoais, assim como os valores que embasam o comportamento do
consumidor e de sua realização pessoal. Desta forma pretende-se estimular práticas
educativas que motivem o foco na racionalidade do uso do dinheiro.
Desta forma, trata-se de um tema que tem relevância social, tendo em vista que
a população brasileira, em sua grande maioria, conforme relata MACEDO JR. (2007),
1
Aluno do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo
1235
têm dificuldades para administrar suas dívidas, dificuldades para adquirir bens e
despreparo para enfrentar momentos de desemprego.
A abundância dos bens de consumo, continuamente produzidos pelo sistema
industrial, é considerada, frequentemente, um símbolo do sucesso pessoal nas
sociedades capitalistas modernas, levando muitas pessoas a se endividarem para
adquirirem coisas das quais não precisam. No entanto, esse tipo de comportamento,
passou a ser objeto de críticas que consideram o consumismo um dos principais
problemas das sociedades industriais modernas.
Os bens, em todas as culturas, funcionam como manifestação concreta dos
valores e da posição social de seus usuários. Na atividade de consumo se desenvolvem
as identidades sociais e sentimos que pertencemos a um grupo e que fazemos parte de
redes sociais. O consumo envolve também coesão social, produção e reprodução de
valores. Desta forma, não é uma atividade neutra, individual e despolitizada.
Ao contrário, trata-se de uma atividade que envolve a tomada de decisões
políticas e morais praticamente todos os dias. Quando consumimos, de certa forma
manifestamos a forma como vemos o mundo. Há, portanto, uma conexão entre valores
éticos, escolhas políticas, visões sobre a natureza e comportamentos relacionados às
atividades de consumo.
Com a expansão da sociedade de consumo no Brasil, amplamente influenciada
pelo estilo de vida norte-americano, o consumo se transformou em uma compulsão e
um vício, estimulados pelas forças do mercado, da moda e da propaganda. Conforme o
Manual de Educação para o Consumo Sustentável “A sociedade de consumo produz
carências e desejos (materiais e simbólicos) incessantemente”. Os indivíduos passam a
ser reconhecidos, avaliados e julgados por aquilo que consomem aquilo que vestem ou
calçam, pelo carro e pelo telefone celular que exibem em público.
O próprio indivíduo passa a se auto avaliar pelo que tem e pelo que consome.
Assim é muito difícil estabelecer o limite entre consumo e consumismo, pois a
definição de necessidades básicas e supérfluas está intimamente ligada às características
culturais da sociedade e do grupo a que pertencemos. O que é básico para uns, pode ser
supérfluo para outros e vice-versa.
Para entender o comportamento do consumidor é preciso compreender alguns
conceitos básicos sobre o consumo. Limeira (2008) define o conceito de necessidade,
como um estado de carência, privação ou sensação de falta de algo essencial para a
pessoa. As necessidades são de dois tipos: inata ou adquiridas. Para esse autor as
1236
necessidades inatas são entendidas como aquelas ligadas à vida humana, como as
necessidades fisiológicas e de sobrevivência, e as necessidades adquiridas são aquelas
originadas pelo contexto cultural e convívio social.
Ainda segundo Limeira (2008; p.5) existem outras maneiras de classificar as
necessidades: “biogênicas [decorrentes de fatores fisiológicos], psicogênicas [de origem
psicológica, como poder, status, reconhecimento, auto realização] e hedônicas
[necessidade de prazer, emoção e fantasia]”.
O autor conclui que o consumo é definido como ato ou efeito de consumir, ou
seja, o comportamento de escolha compra uso e descarte de produtos e serviços para a
satisfação de necessidades e desejos humanos.
Campbel (2001) aponta que o nascimento do consumismo começou desde o
século XVIII, pois podia-se identificar a produção e o consumo de produtos que
poderiam ser considerados supérfluos. O autor afirma, que a ética romântica e a
sensibilidade auxiliavam os gastos, fazendo o capitalismo girar e funcionar,
proporcionando a dinâmica necessária ao consumismo moderno. Esse homem sensível e
romântico tinha como característica a busca pelo prazer e a felicidade na aquisição de
bens.
A felicidade e a qualidade de vida têm sido cada vez mais associadas e reduzidas
às conquistas materiais. Isto acaba levando a um ciclo vicioso, em que o indivíduo
trabalha para manter e ostentar um nível de consumo, reduzindo o tempo dedicado ao
lazer e a outras atividades e relações sociais.
Até mesmo o tempo livre e a felicidade se tornam mercadorias que alimentam
este ciclo. Vale refletir sobre as palavras de Bauman (2002. P183):
As necessidades individuais de autonomia pessoal, auto definição, vida
autêntica ou perfeição pessoal são todas traduzidas na necessidade de possuir
e consumir bens oferecidos no mercado. Essa tradução, no entanto, faz parte
da aparência de valor de uso de tais bens, e não do próprio valor de uso;
como tal, é intrinsecamente inadequada e em última análise conduz à
autoderrota, levando ao alívio momentâneo dos desejos e à frustração
duradoura das necessidades… O abismo entre as necessidades humanas e os
desejos individuais é produzido pela dominação do mercado, o abismo é, ao
mesmo tempo, uma condição de sua reprodução. O mercado se nutre da
infelicidade que gera – os medos, ansiedades e sofrimentos da inadequação
pessoal que induz liberam o comportamento consumidor indispensável à sua
continuidade.
reduzido ao papel de consumidor, sendo cobrado por uma espécie de “obrigação moral e
cívica de consumir”.
As nossas identidades se definem também pelo consumo. Poderíamos vincular o
exercício da cidadania e a participação política às atividades de consumo, já que é
nestas atividades que sentimos que pertencemos e fazemos parte de redes sociais.
O consumo é o lugar onde desigualdade entre as classes, originados pela falta de
equidade na estrutura produtiva, ganham continuidade, através da distribuição injusta da
produção social, cultural e econômica e apropriação dos bens. Assim, consumir é
participar de um cenário de disputas pelo que a sociedade produz e pelos modos de usá-
lo. Sob certas condições, a busca pela possibilidade de consumir pode se tornar motivo
de conflitos que se traduzem em situação de violência, assumindo um caráter político.
A maneira como vemos as relações de consumo presentes em nosso cotidiano
determinam e refletem em grande parte os nossos valores, as nossas preocupações com
a sociedade em que vivemos e com o meio ambiente, embora nem sempre nos
apercebamos disso.
O desenvolvimento do mercado de consumo, a necessidade crescente de ampliar
as ofertas de produtos e serviços, alimentando assim o sistema, levou o mercado a
organizar seu funcionamento com base na oferta constante e crescente de novas
necessidades, interferindo direta ou indiretamente nos hábitos e nas decisões do
consumidor e criando, assim, novos valores e necessidades através de campanhas
publicitárias entre outros.
O consumidor, inconscientemente, passou a definir seus valores e necessidades
pelo que lhe é "oferecido", e não pelas suas reais aspirações e necessidades. Isso se dá
não só em termos de produtos, mas também como referência de modo de vida, de
sucesso, de felicidade, de qualidade de vida.
A educação para o consumo se propõe a trabalhar com estes elementos. O seu objetivo é
capacitar os alunos/consumidores para que saibam discernir, escolher com fundamento
e propriedade os bens e serviços que vão utilizar e que tenham consciência de seus
direitos e responsabilidades.
Neste contexto parece importante investigar como os alunos do ensino técnico
percebem a relação entre consumo e valores sociais.
1238
PROBLEMA DE PESQUISA
OBJETIVOS GERAIS
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
METODOLOGIA
Para desenvolvimento da pesquisa será adotada abordagem quanti-qualitativa e
como procedimento de coleta de dados será adotada análise documental completada por
questionário proposto aos alunos de uma escola técnica pertencente à rede publica
estadual paulista. Serão propostos questionários aos alunos matriculados nos diferentes
cursos e realização de entrevistas semiestruturadas com alunos selecionados entre os
que responderem o questionário. Será proposto o mesmo questionário para todos os
alunos, mas para a análise dos dados serão agrupados por curso. Com isso, pretende-se
verificar a influencia da formação na visão dos alunos sobre a relação ente consumo e
realização pessoal. O critério de inclusão dos alunos na pesquisa é estar matriculado na
escola pesquisada e manifestar concordância em participar mediante assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. No caso dos alunos menores, a sua
inclusão na pesquisa se dará mediante anuência dos responsáveis manifesta pela
assinatura do mesmo documento.
O questionário será aplicada da seguinte forma: Curso Técnico em Contabilidade - 3
turmas com 40 alunos, a 5 alunos de cada turma, total 15, curso Técnico Comunicação
1239
Visual - 2 turmas com 40 alunos a 5 alunos de cada turma, em total 10, ao curso
Integrado - 3 turmas com 40 alunos a 5 alunos de cada turma, em total 15. Desta forma,
aplicaremos o questionário a um total de 40 alunos dos diversos cursos.
A entrevista semiestruturada será aplicada a 10% dos alunos que responderam ao
questionário e aceitarem participar. Caso a quantidade de alunos que manifestarem
interesse optando pelo sim, ultrapasse os 10%, utilizaremos como critério sorteio dos
nomes incluindo somente os que aceitaram participar da mesma.
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. São Paulo: Atlas, 1999.
BUFFET, Mary; CLARK, David. O TAO de Warren Buffet. São Paulo: Sextante,
2007.
CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto da. Metodologia
Científica. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
CORTINA, Adela. Por una Ética del Consumo. Montevideo: Univ. Católica; Taurus,
2003.
FARO, Clóvis de. Previdência Social: cidadania e provisão. Rio de Janeiro: Fund.
Getúlio Vargas, 1993.
KIYOSAKI, Robert T.; LECHTER, Sharon. Filho Rico Filho Vencedor: Como
preparar seu filho para ganhar dinheiro. São Paulo: Campus, 2001.
MACEDO JR., Jurandir Sell. A árvore do dinheiro: Guia para cultivar sua
independência financeira. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
ANEXO
Pesquisa sobre Educação Financeira: a percepção dos alunos do Ensino
Médio sobre a relação entre gestão das finanças pessoais e vida financeira
saudável.
Obrigado pela sua participação nesta pesquisa que objetiva descobrir a
percepção dos alunos do Ensino Médio sobre a relação entre gestão das finanças
pessoais e vida financeira saudável. Trata-se de uma dissertação do Programa de
Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo. O preenchimento das
informações é opcional, mas gostaria de sua colaboração para a pesquisa. Todos os
dados coletados serão utilizados única e exclusivamente para a pesquisa em questão.
1) Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino
2) Idade ________ anos
3) Qual melhor alternativa descreve a renda mensal de sua família:
( ) R$ 465,00 ou menos ( ) R$ 465,00 a R$ 1.395,00 ( ) R$ 1.395,00 a R$ 2.325,00
( ) R$ 2.325,00 a R$ 4.650,00 ( ) R$ 4.650,00 a R$ 9.300,00 ( ) mais que R$ 9.300,00
4) Você recebe mesada?
( ) Sim. Valor: R$ ____________ ( ) Não
5) Possui alguma fonte de renda independente da de seus responsáveis? (Ex. Trabalho,
estágio)
( ) Sim. Valor: R$ ____________ ( ) Não
Entende-se Educação Financeira Pessoal como o conjunto de conhecimentos que auxilia
a pessoa a gerenciar melhor sua disponibilidade financeira. São informações que
educam você a administrar corretamente o seu dinheiro, a gastar e utilizar créditos
disponíveis, poupar e investir, de modo que você tenha uma vida financeiramente
saudável.
6) Em sua opinião, obter informações voltadas à educação financeira pessoal é:
( ) muito importante ( ) importante ( ) pouco importante ( ) sem importância
7) Dos itens abaixo, escolha 5 que você tem interesse em obter mais informações e
enumere-os de 1 a 5, sendo 1 o item que você tem mais interesse e 5 o item que você
tem menos interesse:
( ) Uso do cartão de crédito ( ) Empréstimos pessoais ( ) Poupança
( ) Financiamentos ( ) Consumo planejado ( ) Bolsa de Valores
( ) Juros ( ) Gerenciamento de gastos ( ) Aposentadoria
1242
m) Não tem limite de gastos mensais, compra tudo o que quer e quando quer
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Nome da Escola: ____________________________________________
Entende-se Educação Financeira Pessoal como o conjunto de conhecimentos que auxilia
a pessoa a gerenciar melhor sua disponibilidade financeira. São informações que
educam você a administrar corretamente o seu dinheiro, a gastar e utilizar créditos
disponíveis, poupar e investir, de modo que você tenha uma vida financeiramente
saudável.
1. Você considera relevante o ensino da educação financeira pessoal para a formação do
cidadão brasileiro? Comente.
2. Em sua opinião, quem deveria ser o responsável por promover e atuar diretamente na
educação financeira da população?
3. Você percebe alguma ação de educação financeira hoje na sociedade?
4. Você acha que a escola poderia fomentar a difusão de informações de educação
financeira pessoal para a formação de adultos mais preparados para tomar decisões
financeiras?
5. O Ensino Médio seria o momento adequado para o ensino de educação financeira
pessoal?
6. Dos assuntos abaixo, quais você considera mais relevantes para a formação de um
adulto capaz de administrar sua vida financeira de forma saudável? Enumere em ordem
de importância de 1 a 5, sendo 1 o mais relevante e 5 o menos relevante.
( ) Uso do cartão de crédito ( ) Empréstimos pessoais ( ) Poupança
( ) Financiamentos ( ) Consumo planejado ( ) Bolsa de Valores
( ) Juros ( ) Gerenciamento de gastos ( ) Aposentadoria
( ) Outros assuntos. Qual (is)? __________________ ( ) Não tenho nenhum interesse
1244
Pôsteres
Objetivo Geral
Justificativa
Trajetória Metodológica
Este estudo recorrerá à técnica dos grupos focais para compreender quais as
representações sociais dos sujeitos afetados pela proposta do ensino médio integrado,
conforme Decreto nº 5.154/04. Pretende-se realizar dois grupos focais em uma Escola
Técnica Estadual localizada na Zona Leste da Cidade de São Paulo.
Ao se reportar ao Grupo Focal como técnica para coleta de dados, faz-se menção
de que ele é utilizado quando se querem compreender diferenças e divergências,
contraposições e contradições (GATTI, 2005) , considera-se tal metodologia uma
estratégia de coleta privilegiada no estudo das representações sociais uma vez que
permite ao pesquisador a observação e o registro da comunicação entre os componentes
de um grupo social. Após transcrição do registro sonoro, o estudo procederá à análise
por meio da elaboração de categorias temáticas que, combinadas aos registros nos
diários de campo, poderão contribuir para a compreensão das representações dos
1250
Referências Bibliográficas
Pôster
INTRODUÇÃO
1
Accountability é um termo da língua inglesa, sem tradução exata para o português, Outro termo usado
numa possível versão portuguesa é responsabilização.
1254
Por outro lado, o docente é extremamente demandado em seu trabalho, oscilando entre a
responsabilização em relação aos resultados de seus alunos (OLIVEIRA, 2006) e o
desconhecimento de uma cultura juvenil que lhe parece tão diferente daquela em que
viveu (DAYRELL, 2007).
O convívio dos adultos com a nova condição juvenil se caracteriza por um antagonismo
constante árduo, contudo, sendo difícil, não é impossível que possa ser estabelecido
(FORACCHI, 1965). A possibilidade de uma experiência compartilhada precisa
subverter a ideia de que o adulto pode impor e ao jovem cabe, somente, obedecer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Odílio Alves. Filosofia, Política e Ética em Hannah Arendt. Porto Alegre:
Editora UNIJUÍ, 2009.
Pôster
Narrativas de crianças de seis anos que estão entrando no primeiro ano do ensino
fundamental
1
Aline de Souza Medeiros
UNICID
Resumo: Este estudo tem como tema as narrativas das crianças de seis anos que estão
entrando no primeiro ano do ensino fundamental. Levaremos em consideração as vozes
das crianças enquanto sujeitos ativos e capazes de narrar suas próprias experiências. A
partir do olhar das crianças buscaremos conhecer o que pensam e sentem saindo da
educação infantil e entrando no ensino fundamental aos seis anos, e não aos sete, como
ocorria anteriormente. Baseado em estudo exploratório, estamos realizando uma revisão
de literatura com dezenove trabalhos publicados que abordam a obrigatoriedade do
ensino fundamental de nove anos com a perspectiva de professores, gestores, poder
público, mas nenhum destes visando a expectativa da criança em torno desta nova
proposta. São pressupostos para este estudo os documentos oficiais que norteiam e
fundamenta a proposta de ensino de nove anos, referencial histórico-cultural do
desenvolvimento humano elaborado a partir dos autores Bakhtin e Vygotsky para uma
possível análise das narrativas das crianças participantes.
Palavras-Chave: Ensino Fundamental de Nove Anos. Narrativas de Crianças. Crianças
de Seis Anos.
INTRODUÇÃO
1
Mestranda do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo. Orientadora:
Professora Dra. Ecleide Cunico Furlanetto
1258
Traçado metodológico
2
As rodas de conversa serão utilizadas enquanto dispositivos de mediação para a produção de dados, em
que as crianças poderão ficar sentadas no chão em círculo e com a mediação do professor, o diálogo irá se
efetivando de maneira intencional ou não.
1260
Uma vez que anteriormente elas entravam aos sete anos e tendo em vista que
antes da Lei nº 11274/20063, tais crianças estariam matriculadas na educação infantil.
Kramer (2006, p.20) afirma que a “educação infantil e ensino fundamental são
indissociáveis: ambos envolvem conhecimentos e afetos; saberes e valores; cuidados e
atenção; seriedade e riso”. Neste contexto, é de grande relevância que as crianças de
seis anos que estão passando por esta transição entre a educação infantil e o ensino
fundamental, possam ser vistas como sujeitos assistidos como atores sociais, pois estão
implicados e sofrendo o impacto de tais mudanças que ocorrem na atual estrutura
educacional brasileira. Sendo assim, a escolha do tema desta pesquisa, que tem como
objeto, as narrativas de crianças, surgiu durante minha trajetória pessoal e profissional e
pela necessidade de aprofundar estudos e pesquisas, que busco desde a formação na
Pedagogia.
A “roda de conversa” será utilizada enquanto dispositivo de mediação para a
produção dos dados, visto como uma prática educativa essencial no desenvolvimento
das crianças , tem sua importância como um momento privilegiado para a promoção da
socialização, do desenvolvimento de afetividades, de construção de vínculos e de
constituição de sujeitos críticos (autonomia e pensamento divergente) e criativos
(ressignificações). De acordo com Freinet (1991), a livre expressão traz como
fundamento o respeito e a valorização da maneira como cada criança pronuncia o
mundo, seja por meio da fala ou de outras linguagens que compõem suas relações
sociais e culturais (desenho, pintura, escrita, música). Enfatiza o diálogo, considerando a
voz dos alunos e suas necessidades para as ações educativas. Dos princípios de Freinet
(1991, 1998), é interessante mencionar o conceito de livre expressão, pois orienta as
práticas da “roda de conversa”. Minha intenção não é discutir a proposta frenetiana em
sua totalidade, pretende-se a partir de suas ideias, apresentar somente as bases que
compõem a conversação, ou seja, a “roda de conversa” no contexto educativo.
Considerações em aberto
Trata-se de uma pesquisa qualitativa em que os dados serão coletados por meio
de narrativas quando serão utilizadas “rodas de conversa” como dispositivo de
mediação para a produção dos dados. A pesquisa encontra-se em andamento,
3
Lei nº 11274/2006 – Institui o ensino fundamental de nove anos de duração e a inclusão das crianças de
seis anos de idade.
1261
Referências
BRASIL. Lei n. 11274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32
e 87 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino
fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário
Oficial [da] União, Brasília, DF, 7 fev. 2006.
________. Pedagogia do Bom Senso. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Pôster
1- INTRODUÇÃO
O desejo de realizar esta pesquisa é resultado das minhas andanças, e nisto inclui as
vivências fora e dentro da academia. No meu tempo de criança a literatura era parte do
meu cotidiano. Nessas minhas vivências, a apreciação pelas obras se tornou cada vez
mais intenso e ao entrar na graduação pude perceber que a Geografia se fazia presente
nas histórias e que seria uma possibilidade para ensinar questões que envolviam o
espaço geográfico.
A Geografia, graças ao interesse crescente pela dimensão cultural do espaço
desenvolvido e sistematizado pela Geografia Cultural, repensou vários de seus conceitos
redefinindo o espaço geográfico. A literatura não ficou indiferente às novas perguntas e
respostas formuladas pela Geografia Cultural e se abriu à revisão do espaço literário.
1263
Morte e Vida Severina tem como subtítulo “ Auto de Natal pernambucano” e remonta à
transposição do nascimento de Cristo para os manguezais do Recife, atualizado o
gênero e dando ao auto uma nova dimensão estética que se prende ao social e ao
político, denunciando as mazelas do povo.
João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade do Recife, estado do Pernambuco, no dia 9
de Janeiro de 1920, ele publica em 1956, dentro de seus textos, um dos poemas mais
geográficos da literatura brasileira, intitulado Morte e Vida Severina.
Nessa obra, o autor descreve a jornada de Severino, que sai do interior do Sertão
brasileiro, passando pelo Agreste, até chegar á zona da Mata. Depara-se com as mais
variadas paisagens e as demonstra pelo caminho, na fala dos personagens. O autor
denuncia a grilagem e o abuso dos grandes nas tomadas das terras.
O poema Morte e Vida Severina, o autor descreve, uma geografia literária, retrata a
vegetação, a hidrografia e o solo do espaço geográfico nordestino.
Para a Geografia, o sertão no Brasil corresponde à vastíssima zona interiorana, podemos
especificar qual o sertão a que se refere, como o sertão nordestino que compõe uma das
grandes áreas de semiaridez da América do Sul.
Muitas perspectivas de análise têm sido propostas para compreender as intensas
transformações do espaço geográfico, entre elas, uma perspectiva baseada na Geografia
Cultural. Destaca-se, nessa abordagem o interesse pela investigação de uma pluralidade
de temas relacionados à literatura e poesia. A geografia Cultural definiu como espaço
geográfico resultante da ação da cultura, ao longo do tempo, sobre a paisagem natural.
O espaço geográfico passou a ser visto como resultado das formas como os homens
organizam sua vida e suas formas de produção. A Geografia concebe a relação entre
natureza e sociedade sob o ponto de vista da apropriação, ou seja, a natureza como
recurso.
O espaço é a categoria central para a Geografia que será desvendado na trama Morte e
Vida Severina, quando este se transforma em espaço literário, ou seja, pano de fundo da
trama.
4-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CLAVAL, P. A geografia cultural: o estado da arte. In: CORRÊA, R.L. et al. (org.).
Manifestações da Cultura no Espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999
DANTAS, Eugênia Maria. Caminhos de uma Geografia Complexa. In. SILVA, Aldo
A. Dantas da; GALENO, Alex (Org.). Geografia: ciência do complexus: ensaios
interdisciplinares. Porto Alegre: Sulina, 2004.
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
Pôster
Apresentação
O que motivou esta pesquisa, ainda em andamento, foi a constatação de que uma
das críticas ao mau desempenho escolar dos alunos brasileiros se relaciona à precária
formação docente, tanto a inicial quanto a continuada. De um lado, os cursos de
pedagogia ofereceriam uma formação aligeirada e pouco profunda. De outro, as equipes
gestoras das escolas não se empenhariam o suficiente na formação dos professores em
seu lócus de trabalho. Dessa crítica surgiu nossa indagação: A formação docente inicial
tem repercussões na prática gestora de formação continuada em serviço dos
professores? Essa indagação levou-nos à formulação das seguintes hipóteses:
1ª. Em função de pressões dos sistemas, as equipes gestoras das escolas buscam
investir na formação docente em serviço, mas isso é insuficiente alcançar os resultados
ditados pelos sistemas;
2ª. Mudanças nas práticas docentes ocorrem, mas elas respondem mais à cultura
da escola do que a propostas das políticas educacionais.
Objetivos
Roteiro de organização
Percurso metodológico
Referencial teórico
Resultados esperados
Ações já desenvolvidas
Resultados preliminares
Considerações finais
Referências
Pôster
1. INTRODUÇÃO
1
Este trabalho faz parte da pesquisa da dissertação de mestrado em andamento.
1280
Todas as interações humanas, sejam elas entre duas pessoas ou entre dois
grupos, pressupõem representações (MOSCOVICI, 2005) e conhecer como os
professores da educação básica estão produzindo representações sociais (ALMEIDA E
NAIFF, 2011) acerca da inclusão reforça a necessidade de aprender com esses discursos
os possíveis entraves e também os caminhos propostos em prol de uma proposta
verdadeiramente inclusiva.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS...
14.150 (2%) no ensino médio, 58.420 (8,3%) na educação de jovens e adultos, 46.949
(6,7%) na educação profissional (básico) e 1.962 (0,28%) na educação profissional
(técnico).
Foi realizado o contato com a Secretaria Municipal de Educação de Rio Claro -
SP, onde disponibilizou - se para a pesquisadora a lista de escolas do Ensino
Fundamental - Etapa I da rede, com a quantidade de alunos sem NEE e a quantidade dos
alunos com NEE. De acordo com o censo escolar de 2014, há 10.103 alunos
matriculados do 1° ao 5° ano. Destes, 308 alunos possuem uma necessidade educacional
especial.
Diante disso, consideramos de extrema importância sabermos quais são as
concepções e representações dos professores da rede municipal de Rio Claro - SP que
vivenciam o cotidiano da escola acerca da inclusão escolar e se essas orientam sua
prática docente, visto que o número de matrículas de alunos com NEE (necessidades
educacionais especiais) é cada vez maior nas Instituições públicas de ensino e no ensino
fundamental.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MANTOAN. Maria Teresa Eglér. Todas as crianças são bem-vindas à escola. Revista
Profissão Docente, Uberaba, v.1, n.2, p. 1 -19, mai/ago. 2001.
Pôster
INTRODUÇÃO:
não acontecia apenas nas escolas particulares e que ao pensar a escola democrática não
fazia sentido polarizar o estudo entre rede pública e rede privada de ensino, afinal de
contas estávamos falando da escola e da Gestão Escolar em um sentido mais amplo,
pensávamos a Gestão Escolar Democrática a partir da sua normatização iniciada na
Constituição de 1988 e reafirmada na LDB de 1996.
A partir dessas duas balizas normativas achei que seria possível estudar a
construção da ideia de Gestão Escolar Democrática tendo como base: o final do Regime
Militar (1964/1985), o processo de Abertura Política iniciado no governo do Geisel
(1974/1979) e continuado no governo Figueiredo (1979/1985), os debates da Comissão
de Educação na Assembleia Constitucional (1987/1988) e as discussões sobre o tema
realizado para a composição da LDB 1996.
Com o aprofundamento dos estudos percebi a complexidade do tema e também a
impossibilidade de realizar um estudo a partir de um recorte temporal tão extenso. Era
preciso “ajustar o foco” e foi nesse pensar e repensar que percebi que a Constituição no
que tange a educação norteou os princípios legais posteriormente estabelecidos pela
LDB de 1996.
O objetivo dessa pesquisa é identificar quais princípios e concepções de Gestão Escolar
Democrática estão contidos na LDB e de que forma esses aparecem no processo de
elaboração e na escrita da lei.
JUSTIFICATIVA:
ensino, ainda segundo ela essas mudanças tem como objetivo a promoção da melhoria
do ensino brasileiro já com relação ao termo gestão a autora diz:
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS:
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA:
PINO, Ivany Rodrigues. A trama da LDB na realidade política nacional. Educação &
Sociedade,ano XIII,nº 41. Campinas: Papirus,1992
Periódicos:
Revista Nova Escola Gestão Escolar n.1 a n. 6. Fundação Victor Civita. Editora Abril.
2009.
Sites:
(http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2012/03/13/cresce-n-de-
alunos-em-escola-particular-em-sp.htm - acesso ás 9h43min do dia 15/11/2013 )
(http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/AnonimoSistema/BannerTexto.aspx?MenuBanner
ID=22 – acesso às 10h23min do dia 15/11/2013)
1292
Pôster
I. Introdução
O trabalho em tela debruça-se sobre os normativos legais produzidos pelo
governo estadual durante a última década (2004-2013), objetivando apreender e
compreender qual o viés da política educacional gestada nesse período. Argumenta-se
que os sucessivos governos, pertencentes a um mesmo partido político, veem colocando
em ação, de forma concomitante, um excessivo número de programas e projetos, sem
que estes resultem numa efetiva melhoria da educação; ao contrário, comportam um
caráter de responsabilização.
Ao recorrermos à pesquisa documental não podemos deixar de considerar o
cenário de produção dos mesmos, ou seja, entendemos que estes “não são apenas uma
fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e
fornecem informações sobre esse mesmo contexto” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p.39).
1293
Numa primeira análise, que não se atém ao conteúdo das normativas, temos uma
quantidade, de certa forma, surpreendente. Dessa forma, podemos inferir a dificuldade
dos diretores escolares e demais dirigentes dos níveis intermediários da hierarquia
educacional em acompanhar tamanha profusão de documentos que, em princípio,
organizam e determinam a forma de funcionamento das escolas e do sistema de ensino.
A partir da totalidade dos documentos temos uma média de quase um por dia
durante os dez anos analisados. Considerando que temos 200 dias letivos ou cerca de
250 dias úteis durante no ano, chegamos a uma marca mais impressionante, em 2008
com 475 novas determinações, perfazendo praticamente duas a cada dia de trabalho das
escolas. Levando em consideração que resoluções, decretos e pareceres são de menor
importância no ordenamento jurídico e que as leis são mais estruturantes, temos ainda
um número significativo. Enquanto no ano de 2010 teve-se um número menor de
aprovação de novas leis, representando 15 novas leis ao ano sendo 08 leis
1299
Referências
BORGES, Z. P. Política e Educação: análise de uma perspectiva partidária. Campinas,
SP: Graf. FE, 2002.
Pôster
Ayéres Brandão
INTRODUÇÃO
Pude vivenciar experiências significativas com essas famílias e seus filhos. Convivi ali
com dois tipos de mãe: aquela que punha os alimentos no prato do filho e o induzia a
comer e aquela que levava a criança frente aos alimentos e ia dizendo qual era ele. Só
depois é que perguntava o que o filho queria comer. Essa autonomia proporcionada pela
mãe (que presumo se estendia para outras dimensões) fazia diferenças significativas na
vida daquelas crianças. Isso me mostrou que a deficiência existe, as dificuldades
relacionadas às deficiências são reais, mas poderão deixar de ser interpretadas como
impeditivas do desenvolvimento e da participação dos alunos nas práticas escolares, os
alunos poderão ultrapassar limites, surpreender-nos, enunciar novos mistérios, apontar
novas opções.
A DIFERENÇA E A INCLUSÃO
A diferença sempre esteve entre nós, mas ganhou o mundo, no final do século XX.
Nos dias de hoje, esse realce se daria para ser reconhecida, respeitada ou para ser
apagada e contida?
Pensamos a diferença em relação a algo, nunca a diferença pela diferença, ou a
diferença por si mesma e nesta perspectiva a diferença não é de fato diferença, mas
simples variação que confirma a norma. A sociedade tende a defender-se das diferenças,
controlá-as em um padrão de normalidade para que possam ser administradas,
governadas e que não fujam ao controle. Vamos encontrar então as tentativas de
normalização dessas diferenças e a Inclusão Escolar é uma dessas formas.
A Educação Inclusiva, embora parta de uma construção teórica, não pode sustentar-se
absolutamente como ideia. Formatos, práticas e condutas têm de sustentá-la. Ela não é
uma ideia, tem de ser uma prática. Como prática é um avanço para que a sociedade
possa ser mais justa.
Atribuindo à educação o caráter corretivo às diferenças, ela reforça o processo de
normalização que a escola moderna se propõe. Aparece como o grande foco da escola,
uma vez que as Políticas Educativas, presente neste espaço abordam a questão do
diferente sob o olhar da normalidade, reduzindo a diferença à diversidade ou à
deficiência.
Tem sido extremamente positiva a discussão sobre si mesma que a política de inclusão
vem suscitando dentro das escolas, sobretudo, públicas. Tenho sido testemunha desse
processo. A presença das pessoas com deficiência na escola questiona-a profundamente,
1302
e traz à baila questões fundamentais, até mesmo, sobre o sentido e a função social que
lhe é atribuída.
Embora, ainda, de maneira muito conflituosa e centrada na inclusão de pessoas com
deficiência, a Inclusão nas escolas brasileiras é um fato e vai ganhando legitimidade. O
número de matrículas de alunos com deficiência em salas de aula regulares vem
aumentando, da mesma forma que cai significativamente nas classes e escolas especiais.
(censo escolar da Educação Básica de 2012)
No momento, na prática, vivemos as imensas dificuldades inerentes à transição da
mudança de paradigma educacional de um modelo autoritário de ensino centrado no
professor para outro, mais democrático, centrado na aprendizagem dos alunos. Neste
contexto, muitas vezes, ainda não ocorrem diálogos, mas contendas. Todavia,
juntamente com os outros, os alunos com deficiência estão lá e todos precisam e têm
direito ao acesso à construção do conhecimento em boas condições. Isso é um fato
irreversível! E a escola, apesar dela mesma e da cultura, majoritariamente
discriminatória na qual está incluída, é obrigada a fazer frente aos novos desafios e a
brigar dialogando. E, pelo menos, algo está abalando e desconstruindo suas velhas e
arcaicas estruturas.
A exclusão escolar no Brasil foi sendo gestada, nutrida e naturalizada em um cotidiano
perverso, sendo legitimada no interior do sistema de ensino. O modelo médico-
psicológico contribuiu para que a tarefa da educação dessas crianças estivesse a serviço
de um sistema educacional de organização seriada, elitista e classificatória, produtos de
exclusão da escola por meio de um trabalho pedagógico com base na homogeneidade
criando estruturas responsáveis pelo diagnóstico de deficiência, dificuldades de
aprendizagem e fracasso escolar (Patto, 1993).
Para estudiosos atuais que se debruçam sobre a inclusão (Baum, 2012; Mantoan, 2010;
Boaventura, 2008; Beyer, 2003; Baptista, 2004 etc.) ela vai se definindo como um
movimento mais amplo que a inclusão das pessoas com deficiência; arrebanha todas as
minorias que habitam nosso planeta. A política inclusiva faz referência a todos os
excluídos por diferenças individuais, de classe, etnia, gênero, idade, entre outras.
educação escolar como uma plataforma para reconstrução congruente com os desafios
de novos tempos de educação.
No Brasil, a associação entre pobreza e fracasso, afastamento e exclusão escolar foi
documentada por Patto em 1993. Sua pesquisa mostrou que não há acaso no fracasso de
alunos pobres, assim como há relatos de racialização da educação especial. A
cumplicidade das escolas na produção da desigualdade e exclusão é de longa data, como
afirma a pesquisadora:
“A educação não é [ ... ] um reflexo de desigualdades sociais
ou culturais. Esta é uma imagem demasiadamente sem movimento. Os
sistemas de ensino são instituições ativas. Eles estão vibrantemente
envolvidos na produção de hierarquias sociais. Eles selecionam e excluem
seus próprios clientes; eles expandem mercados de trabalho credenciados;
eles produzem e disseminam tipos particulares de conhecimento a usuários
específicos” (Patto, 1993)
Como citado acima, as escolas não são agentes passivos no mercado educacional:
existe uma reciprocidade perversa, um malabarismo de desvantagem e vantagem
posicional. Eles refletem e refratam desigualdades sociais. Os movimentos de avaliação,
classificação, interagem com a intervenção de interesses empresariais e as divisões de
escola, para formar uma hierarquia de escolas.
A Educação Especial na perspectiva da Inclusão conquistou posições importantes do
ponto de vista legal e educacional na educação brasileira e esses marcos estão
fundamentados na Constituição de 1988 e na Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência/ONU, 2006, ratificada e assimilada ao texto constitucional pelo
Decreto no. 6.949/2009. A prática da inclusão nas escolas é, no entanto, ainda tímida,
salas especiais segregadas continuam convivendo à parte nas escolas regulares. O
discurso, porém se mostra avançado. Acredita-se no discurso inclusivo, mas
desconfiança em sua prática.
Há uma tensão entre e dentro da Educação Inclusiva, mas a maior tensão se dá mesmo
entre a legislação sobre a Inclusão e a sua prática nas nossas escolas, nos investimentos
públicos e privados.
Essa tensão citada se fundamenta em justificativas contrárias à Inclusão, há
argumentos de caráter político: “a inclusão é um artifício pseudo-humanístico
promovido pelo Estado neoliberal com o intuito de retirar verbas da educação especial”,
mas há também o de caráter técnico-clínico que ressalta que alguns tipos de deficiências
precisam de atendimento multidisciplinar especializado e que as crianças, ao serem
deslocadas para o ensino comum regular nas escolas, correm o risco de não terem
1304
com os alunos com deficiência. Fica claro que o grande entrave entre a lei e a sua
implementação nas escolas é que há ainda discriminações, preconceitos; o acolhimento
não é de todos os educadores; nem todas as escolas contam com acessibilidade e
formação para os profissionais em todas as deficiências.
Há uma concordância geral de que as crianças com deficiência se desenvolvem melhor
em escola comum do que em unidades especiais, ganham quando convivem com as
crianças sem deficiência e vice-versa. Quanto à questão aprendizagem escola, ainda é
difícil investigar o que cada criança concreta, com deficiência, ali observada, teria de
melhor preservado, entre as suas facilidades e dificuldades. O que a padroniza e o que é
possível de encontrar nela de particular? Uma professora de AEE conta a história de
Josefa, sua aluna, que como tinha a mão direita paralisada não conseguia escrever,
entretanto já lia e ela, a professora, nem tinha se dado conta de perceber isso, tão presa
à padrões e estereótipos (Brandão, 2013) .
Diante da questão o que seria uma escola inclusiva ideal, alguns professores não tiveram
dúvida de colocar que seria esta escola onde todos estariam em sala de aula e o
professor regente trabalharia com todos naturalmente, respeitando suas necessidades
específicas. Os recursos, apoios, professor auxiliar seria provisórios para situação que
seria natural. A inclusão já estaria internalizada, fazendo parte do seu ser. A escola não
mais seria adjetivada de “inclusiva”, uma vez que sem inclusão não seria escola.
No conto ”O livro de Areia” (1999), Borges fala de um livro que comprou de um
desconhecido que lhe bate à porta. Ao abri-lo surpreende-se: é um livro misterioso, sem
início, sem final, sem sequência, sem mensagens, mas a cada olhar, abre um belíssimo
texto. Talvez a transformação da escola de que fala Oliveira (2003), seja o
desenvolvimento desse olhar que não está pronto, que provoca o novo, naquilo que já se
viu mais de uma vez. Que uma sociedade e uma escola em transformação observem as
diferenças em seus alunos e ofereçam educação para todos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BORGES, J. L. O conto da Areia. In: Obras completas de Jorge Luis Borges. São
Paulo: Globo, 1999. V. 3
Pôster
Introdução
Figura 2. Número de matrículas por modalidade de ensino e grau acadêmico - Brasil 2010.
Fonte: INEP, 2011.
Por sua especificidade, a EaD pressupõe uma ação sistemática e conjunta dos
diversos agentes envolvidos no processo educativo (equipes multidisciplinares e
multifuncionais, tutores, professores, coordenadores e alunos), todos articulados por
recursos midiáticos e pedagógicos que possibilitem a aprendizagem eficiente e efetiva,
marcada pela autonomia e pela responsabilidade.
Como conceito inicial e introdutório, defini-se EaD, segundo as Competências
para educação a distância da ABED, assim:
passado e abrir espaço para novas conquistas, o que só será possível dentro
de um novo paradigma educacional. (ABED, 2012, p. 63)
Justificativas
Procedimentos metodológicos
caso que, sobre a sua caracterização conceitual, Stake (1995, p. 236) enfatiza que este
não é um método específico, mas um tipo de conhecimento: estudo de caso não é apenas
uma escolha metodológica, mas uma escolha do objeto a ser estudado. Uma questão
fundamental, segundo ele é o conhecimento derivado do caso, ou melhor, o que se
aprende ao estudar o caso.
O estudo de caso em educação e ensino acontece quando os pesquisadores se
preocupam não com a teoria social ou com julgamento de avaliação, mas sim com o
entendimento da ação educativa, enriquecendo o pensamento e discurso dos educadores
seja pelo desenvolvimento de alguma teoria da educação, seja pela análise sistematizada
de documentos e reflexão de suas evidências (ANDRÉ, 2008, p. 21-22).
O trabalho de análise dos dados coletados no AVA seguirá por duas linhas. Uma
de descrição e avaliação de recursos educacionais e objetos de aprendizagem (OA´s) e
outra de análise discursiva, por meio das produções dos alunos do curso e do processo
de dialogismo e interatividade. Posteriormente à coleta e análise, os dados obtidos serão
comparados e observados se cumprem os referenciais de qualidade e se respeitam os
instrumentos de políticas educacionais, instituídos pelo Ministério da Educação.
Na sequência, haverá análise de conteúdos elaborados pelos alunos participantes
do curso de formação continuada, por meio da ferramenta interativa Fórum de
Discussões e das produções acadêmicas, ou seja, atividades e textos elaborados pelos
alunos.
Esta pesquisa adota os estudos propostos por Bardin (1977), sobre Análise de
Conteúdo, que seguirá as três etapas sugeridas pela autora: pré-análise, exploração do
material e análise dos dados, por meio do estudo dos gêneros discursivos (BAKHTIN,
2006; FIORIN, 2008; MACHADO, 2008).
Este processo teórico-metodológico dos estudos em análise de conteúdo,
proposto por Bardin (1977), mais detidamente em processos de categorização,
caracterizam-se na pré-análise e na análise flutuante e serão aplicados às análises dos
textos que serão selecionados pelo pesquisador. Após essa etapa a pesquisa adentra na
análise discursiva/dialógica propriamente dita, ou seja, na organização, no mapeamento
e no tratamento dos resultados obtidos, chegando à interpretação do que foi pesquisado
e suas devidas aplicações. Neste caso, ocorrerá um estudo de análise de conteúdos,
observando a interatividade, de atividades, apontamentos, discussões do fórum,
enquanto ferramenta assíncrona do AVA.
1313
Considerações finais
Referências
ABED. Associação Brasileira de Educação a Distância. Disponível em:
<http://www.abed.org.br> Acesso em: 06 out. 2013.
Pôster
Referencias
ALMEIDA, Julio Gomes & NHOQUE, Janete Ribeiro. Entrevista com Ladislau
Dowbor, in: Revista @mbienteeducação, v.3, n.1, p.166-173, jan./jun. 2010.
FREITAS, Luis Carlos. Avaliação: construindo o conceito. Ciência & Ensino. n.3,
1997. 16-19. Disponível em
http://www.ige.unicamp.br/ojs/index.php/cienciaeensino/article/view/24/31.
THRULER, Mônica Gother. A eficácia das escolas não se mede: ela se constrói,
negocia-se, pratica-se e se vive. Disponível na Internet:
http://www.educacion.es/cide/espanol/investigacion/rieme/documentos/files/varios/gath
er1998.pdf Acessado em: 20/02/14.
1320
Pôster
1
O Decreto n.º 7.566, de 1909 cria as Escolas de Aprendizes Artífices nas capitais dos Estados, voltadas
ao ensino profissional gratuito, formando, assim, a rede federal de ensino profissional.
2
Dados do Censo da Educação Básica de 2013, disponível em http://portal.inep.gov.br/basica-censo-
1322
[...] os Cefets não atuavam com EJA, nunca atuaram. [...] O mais parecido
que tinha, era lá em tempos passados, o antigo complementar, [...] para
pessoas que já [...] tinham feito o EJA antigo e depois queriam o diploma de
técnico. Então vinham para cá [IFSP] fazer só o complementar. Ou pessoas
que tinham feito o supletivo. Veio muita gente do supletivo. [...]. Isso acabou,
a partir de 98 [...] porque aí veio o modelo novo, o modelo Cefet e nesse
novo modelo a gente não estava oferecendo nada parecido.
O fato é que em 2013, o IFSP tinha 30 câmpus, dos quais apenas três ofereciam
cursos de Proeja - Sertãozinho, 2 cursos; São Paulo e Cubatão, 1 curso cada, câmpus
esses que já funcionavam à época da criação do programa. E três ou quatro oferecem
cursos de Proeja-Fic, em parceria com prefeituras.
Total
Campus Prefeitura Modalidade Curso
alunos
Cubatão Proeja Informática básica 42
2007 e os dias de hoje, não contemplou a oferta de 10% das vagas para cursos Proeja,
previstas no Decreto n.º 5.840, apesar do programa estar previsto no Plano de
Desenvolvimento Institucional 2009-2013.
Considerações finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALL, Stephen J.. Sociologia das políticas educacionais e pesquisa crítico-social: uma
revisão pessoal das políticas educacionais e da pesquisa em política educacional. In:
BALL, Stephen J.; MAINARDES, Jefferson (Org.). Políticas educacionais: questões e
dilemas. São Paulo: Cortez, 2011. Cap. 1. p. 21-53.
Site:
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo. Disponível em:
<http://www.ifsp.edu.br/index.php/cursos/Proeja.html>. Acesso em: 02 nov. 2013.
1327
Pôster
Cláudia Terra
Mestranda UNICID
Adelina de Oliveira Novaes
FCC/ UNICID
Diante dessa nova condição, as salas de aula passaram a ser compostas por uma
grande diversidade de perfis: na mesma turma é possível encontrar alunos já titulados
em outros cursos e com bom nível de formação acadêmica e outros mal alfabetizados.
Tal diversidade passou a ser o grande desafio dos professores que atuam nessas
instituições de ensino. Por um lado, as direções e coordenações, buscando atender as
exigências do MEC, cobram que seus professores escrevam artigos científicos,
desenvolvam projetos de iniciação científica com os alunos, organizem provas
semelhantes ao modelo proposto no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
(ENADE).
Por outro lado, as carências básicas de instrução, às vezes de nível
fundamental, fazem com que os docentes tenham que planejar aulas que abordem
conhecimentos e façam uso de recursos metodológicos cada vez mais básicos.
Qual é a prioridade? Atender às exigências de produção docente do MEC, a
excelência na docência, haja vista os referenciais teóricos e metodológicos que devem
ser apresentados ao discente, o desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e
extensão ou adequar à aula o repertório escolar do alunado, cliente essencial ao
funcionamento da instituição?
Esse novo aluno provavelmente terá dificuldades também com as leituras
teóricas e o espaço da sala de aula será essencial para suprir as lacunas deixadas pelos
textos lidos.
Esse conflito tem gerado desestímulo em muitos professores, que não sabem
como agir entre as expectativas do MEC e as demandas e repertório do alunado.
Acredita-se, portanto, que o conceito da profecia auto-realizadora de Rosenthal (1981)
possa auxiliar a avaliação da dinâmica da relação do professor em relação à
“popularização” do ensino superior.
Assim, esta pesquisa buscará entender a representação social que os
professores universitários constroem sobre a “popularização” do alunado de nível
superior, com vistas a obter elementos para a reflexão das práticas educativas no
contexto dos cursos superiores, bem como obter informações que contribuam para a
proposição de estratégias de formação docente.
Paulo por meio de questionário que inclui, além das questões de perfil socioeconômico,
questões projetivas elaboradas de modo a apresentar situações comuns ao cotidiano da
relação professor-aluno em sala de aula. As técnicas projetivas de coleta contribuem
para a obtenção de informações que possam escapar ao discurso “socialmente-
aceitável”, por favorecerem a expressão de elementos das representações pela reação a
estímulos não convencionais. Nesse sentido, para a elaboração do questionário,
pretende-se recorrer a imagens e narrativas de dilemas que abordem o fenômeno da
popularização do ensino superior.
A escolha da faculdade deu-se devido a uma particularidade: mais da metade
do alunado da instituição é beneficiada por programas sociais que contribuem para seu
ingresso e permanência no ensino superior.
Após a coleta e sistematização dos dados, procederá a análise de conteúdo dos
discursos dos professores. Pretende-se ter indícios de suas representações sociais, de
modo a ter elementos para a reflexão das práticas educativas no contexto dos referidos
cursos bem como obter informações que contribuam para a proposição de estratégias de
formação docente.
Referências citadas:
Referências consultadas:
FRANCO, Maria Laura Puglisi Barbosa. Análise de conteúdo. 4ª. ed. Brasília : Liber
Livro : 2012.
Pôster
Introdução
A Avaliação Institucional é entendida como um processo, inserido nas escolas públicas
ou privadas, com a finalidade de avaliar as instituições, visando uma reflexão coletiva
que possibilite uma gestão democrática e comprometida com a transformação social, e
leve os educadores a unir esforços no sentido da efetivação da melhoria da qualidade do
ensino.
1
No período de 2012 a 2013 foi desenvolvido na EMEF Coelho Neto o projeto “Auto avaliação
Institucional: a construção de indicadores que dialoguem com as avaliações externas” por meio de
parceria interinstitucional envolvendo essa escola e a Universidade Cidade de São Paulo - UNICID, com
apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP. Nesta pesquisa fui uma das
responsáveis pela coleta e análise dos dados junto aos funcionários da escola.
1333
Justificativa
Entender as formas de participação dos funcionários nos processos
avaliativos da escola tem para mim grande importância, uma vez que grande parte do
meu percurso profissional tem sido trabalhando diretamente com esse segmento. Por
outro lado a pesquisa tem também relevância em termos sociais porque será uma
oportunidade de sistematizar conhecimento sobre a participação a partir da voz de um
segmento que é pouco valorizado na dinâmica escolar embora, pelo que observo, exerça
papel importante na formação global dos alunos, pois geralmente fazem de modo
1334
informal, a mediação entre estes e os professores e bem como na gestão escolar, que
frequentemente fazem a mediação entre a escola e as famílias.
Nesse sentido o envolvimento dos funcionários nos processos avaliativos que se
desenvolvem na escola não pode constituir-se em cumprimento formal das exigências
legais quando consideramos um processo de avaliação institucional entendido nos
termos seguintes:
A avaliação institucional é um processo de apropriação da escola pelos seus
atores, não na visão liberal da “responsabilização” pelos resultados da escola
como contraponto da desresponsabilização do estado pela escola, mas no
sentido de que seus atores têm um projeto e um compromisso social junto às
classes populares e, portanto, necessitam além de seu compromisso do estado
em relação à educação.(FREITAS e outros,2012,p.36).
Objetivo Geral
Identificar as formas de participação dos funcionários nos processos de avaliação da
instituição escolar
Objetivos Específicos
1 – Compreender quais são os elementos que dificultam a participação dos funcionários
nas decisões da escola.
1336
Referências
FREITAS, Luis Carlos de, e outros. Avaliação Educacional: caminhando pela
contramão: 4ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
SOUSA, S. Z. Avaliação escolar e democratização: o direito de errar. In: Aquino, J. G.
O. Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summuns,
1997. p.125-137.
Pôster
Cristina Munhaes
Adelina de Oliveira Novaes
Introdução
E se a escola precisa estar apta para receber a nova clientela, é preciso que os
profissionais estejam preparados, o que sugere a revisão de sua prática e um olhar
criterioso para esse atendimento.
objetivo a ser alcançado para ser o “[...] caminho para a aprendizagem” (CARVALHO,
1996, p.132).
Para Passos (1996) indisciplina não é indicação de privação de disciplina,
mas a considera “[...] como um fogo que atravessa a calmaria e faz novos movimentos,
diversas invertidas” (PASSOS, 1996, p.118). Nesta perspectiva, “[...] o problema da
disciplina escolar desloca-se do âmbito e da perspectiva moral e comportamental para
situar-se no âmbito da apropriação de práticas e linguagens [...]” (CARVALHO, 1996,
p. 133).
Neste caso, Passos (1996) e Carvalho (1996) defendem que se adotem
práticas educativas que valorizem o universo cultural dos alunos, sem desconsiderar os
conhecimentos e saberes necessários ao processo ensino-aprendizagem.
O que se coloca diante dos profissionais da educação é a necessidade de
buscar um olhar diferenciado sobre a representação que possuem sobre a indisciplina
em sala de aula, visto que muitos ainda buscam
Trajetória metodológica
Algumas considerações
tais desafios, por meio do diálogo e respeito, possibilitando uma constante reflexão-
ação-reflexão sobre a sua própria prática educativa, na busca por estratégias e
metodologias que contribuam para a inclusão dos alunos no processo educativo,
considerando os conhecimentos prévios que os alunos possuem, e ambicionar uma
relação de interação entre educadores e alunos, por meio de um olhar mais humanizado.
Referências
APPLE, Michael W. Ideologia e currículo; trad. Vinicius Figueira. 3 ed. Porto Alegre:
Artmed, 2006.
ARAÚJO, Lean A.F. de, MENESES, J.G. de (orientador). A educação no contexto das
políticas públicas. Collatio 11. abr-jun 2012. CEMOrOc – Feusp/IJI. Universidade do
Porto. Disponível em: <www.hottopos.com/collat11/89-4JGual.pdf>. Acesso em: 06
jun. 2013.
DIAS, Adelaide Alves. Da educação como direito humano aos direitos humanos
como princípio educativo. In: ZENAIDE, M.N.T. Educação em direitos humanos:
fundamentos teórico-metodológicos. João Pessoa: Universitária, 2007.
FERREIRA, Windyz B. Educação Inclusiva: Será que sou a favor ou contra uma
escola de qualidade para todos? In: INCLUSÃO – Revista da Educação Especial,
Brasília, v. 1, n. 1, p. 40-46, out. 2005. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/revistainclusao1.pdf>. Acesso em: 11 set.
2011.
SILVA, Jair Militão da. Trabalho docente no ensino básico: novas demandas, novas
competências. Revista Renascença de Ensino e Pesquisa. Centro de Pós-graduação.
São Paulo: Plêiade, n. 1: p. 67-72, 1999.
Pôster
Introdução
Este trabalho analisa em que medida a implantação do Plano de Desenvolvimento da
Escola (PDE Escola) impactou a gestão da escola pública no município da Serra (ES)
procurando evidenciar perspectivas e limites desse programa nos anos de 2008 a 2013.
1345
1
O PDE escola é concebido como um processo de planejamento estratégico desenvolvido pela escola para
a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Advoga que a escola deve, de maneira
disciplinada, conjugar esforços para produzir decisões e ações fundamentais que moldam e guiam o que
ela é, o que faz e por que assim o faz, co
m um foco no futuro. Dentro deste modelo, a escola deve preparar um Plano de Ação apontando os
objetivos e metas a serem alcançadas. Trata-se de um projeto importado no final dos anos de 1990,
pautado em orientações do Banco Mundial (BM) quando do estabelecimento de parcerias com
organismos internacionais para, dentre outros objetivos, realizar empréstimos e, como contrapartida, fazer
concessões político ideológicas, além das econômicas (OLIVEIRA, FONSECA e TOSCHI, 2005).
2
O IDEB foi criado em 2007 para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino. O indicador
é calculado com base no desempenho do estudante em avaliações do INEP e em taxas de aprovação.
Assim, para que o IDEB de uma escola ou rede cresça é preciso que o aluno aprenda, não repita o ano e
frequente a sala de aula. O índice é medido a cada dois anos e o objetivo é que o país, a partir do alcance
das metas municipais e estaduais, tenha nota 6 em 2022 – correspondente à qualidade do ensino em países
desenvolvidos.
3
O PDE foi lançado em 2007, por meio do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, instituído
pelo Decreto 6.094 de 24 de abril de 2007. Trata-se, segundo consta neste documento, de um
compromisso fundado em 28 diretrizes e consubstanciado em um plano de metas concretas, efetivas, que
compartilha competências políticas, técnicas e financeiras para a execução de programas de manutenção e
desenvolvimento da educação básica (BRASIL, MEC, 2014).
4
Escolas cujo IDEB, estava abaixo da média nacional estabelecida para aquele ano.
1346
Conclusão
REFERÊNCIAS
VIEIRA, Sofia Lerche. Poder local e educação no Brasil: dimensões e tensões. Revista
Brasileira de Política e Administração da Educação (RBPAE), v. 27, p. 123-133, 2011.
1350
Pôster
Considerações iniciais
A educação no Brasil, a cada ano que passa, tem ganhado com a formação
continuada dos profissionais do ensino através da pós-graduação, em especial stricto-
sensu. Os cursos de Mestrado em Educação, especificamente, são exemplos disso,
inserindo os sujeitos na produção científica que, além de construírem conhecimentos
específicos em sua área de atuação, contribuem com os processos educativos, sejam
formais, informais e não formais de crianças, adolescentes e adultos.
1351
Sendo assim, a ideia desse estudo nasce de uma inquietação que envolve três
elementos centrais: a fundamentação epistemológica das pesquisas em Educação
Sociocomunitária, do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), do Centro
Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL); a consolidação da formação do
professor pesquisador a partir do ingresso na Pós-Graduação Stricto-Sensu; e o docente
da Educação Básica que se submete a essa formação e produz cientificamente.
Dessa maneira, temos o problema de pesquisa: quais são os enfoques teórico-
metodológicos das dissertações de Mestrado em Educação do UNISAL no período de
2005 a 2012 e qual a relação com a formação do professor pesquisador que produziu
cientificamente?
Esse estudo se justifica pelo fato de verificar em que medida a inserção no
PPGE/UNISAL está fazendo a diferença na formação e desenvolvimento docente dos
sujeitos sob dois aspectos: na concepção da Educação Sociocomunitária, considerando a
filosofia Institucional: educar para a autonomia, para a emancipação e para a
transformação social; e, no segundo aspecto, no que se refere à produção científica do
professor pesquisador no que concerne à fundamentação epistemológica das suas
dissertações.
Esse segundo aspecto, ao analisar os enfoques teórico-metodológicos que há nas
dissertações do UNISAL, é uma forma de organizar, sistematicamente, o conjunto de
dados das pesquisas e sedimentar os estudos no campo da Educação Sociocomunitária e
da capacitação de professores pesquisadores da Educação Básica, como também
estabelecer paradigmas de pesquisa dentro desse contexto de investigação.
Para tanto, os objetivos da investigação são: proceder à análise dos enfoques
teórico-metodológicos das dissertações dos professores pesquisadores da Educação
Básica que foram alunos do PPGE/UNISAL no período de 2005 a 2012, com base nos
estudos de Gamboa (1996; 2009); e, verificar a relação dessa produção científica para a
formação de professores pesquisadores.
Desenho da investigação
o educador, na maioria dos casos, era apenas objeto das pesquisas. A falta de
formação em pesquisa e a ausência de uma linguagem pedagógica própria
conduziram-no ao isolamento da sala de aula, isolamento esse agravado pelo
desprestígio da carreira e falta de tempo para reflexão e estudo.
Além de esse dado ser essencial para o campo da formação de educadores, esse
estudo tem importância também pela nossa preocupação em torno da qualidade dessa
constituição do professor como pesquisador durante a realização do Curso de Mestrado.
Partimos do pressuposto que é necessário que todo profissional em educação tenha o
mínimo de clareza em relação à base teórica e metodológica de seu trabalho científico.
Nesse sentido, fazer pesquisa requer trabalho mental árduo, discussão teórica e
epistemológica, e é isso que diferencia e identifica o pesquisador dos demais sujeitos.
Para Japiassú (1995, p.86) “O intelectual define-se e afirma-se pelo caráter diferenciado
do seu trabalho. Enfim, ele afirma-se como alguém que tem direito ao pensamento e à
paixão por esse pensamento (esta paixão se denomina “filosofia”).”
Sendo assim, nossa construção da pesquisa perpassa também pela discussão
acerca das tendências filosóficas mais estudadas e citadas na literatura científica,
considerando que estas contemplem os diferentes olhares que envolvem as produções
em pesquisa educacional.
Dentre as correntes de pensamento contemporâneo, na nossa perspectiva,
elencamos: o Positivismo, a Fenomenologia, o Marxismo, e a Teoria da Complexidade.
Torna-se relevante, de maneira breve, destacar algumas características dessas tendências
filosóficas.
O Positivismo é uma das concepções filosóficas e predominou no século XIX,
tendo como fundador Augusto Comte. De acordo com os paradigmas de pesquisa
(CHIZZOTTI, 1998) de estudo dos fatos sociais, o positivismo foi o primeiro a surgir.
Nesse paradigma, tem importância a observação fiel dos fatos (externos ao
sujeito) e que, a partir desses dados particulares, é possível conceder significado geral e
universal. Comte (1876) em seu trabalho revela essa concepção quando expõe que todos
os fenômenos estão sujeitos a leis naturais invariáveis.
1354
Alguns apontamentos
Referências
JAPIASSÚ, Hilton. A crise das ciências humanas. In: FAZENDA, Ivani (Org.). A
pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. Campinas: Papirus,
1995. 6 ed.
RIBEIRO JUNIOR, João. O que é positivismo. São Paulo: Brasiliense, 1991. 10 ed.
1358
RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas,
1999.
Pôster
Uma proposta
Trata-se de pesquisa em fase inicial inserida em projeto Obeduc/Capes intitulado
Políticas de Formação de Professores: implicações, desafios e perspectivas para a
constituição da identidade profissional e para as práticas pedagógicas, centrado na
implantação do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica –
Parfor. O projeto é desenvolvido em uma universidade confessional que oferece curso
de Pedagogia presencial subsidiado pelo Parfor, iniciado no segundo semestre de 2010.
O Parfor é um plano emergencial, gerenciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes) que visa a assegurar a formação exigida na Lei de
1360
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) para todos os professores que atuam
na rede pública de educação básica, oferecendo, gratuitamente, cursos superiores de
qualidade (BRASIL, 2009).
A pesquisa objetiva compreender a constituição das identidades profissionais em
formação a partir de um programa emergencial de formação como o Parfor, analisando
as implicações, os desafios e as perspectivas para as IES, para as escolas e seus
professores.
Esta investigação situa-se na terceira fase do projeto maior, momento que focaliza os
estudantes que cursam ou concluíram o curso de Pedagogia patrocinado pelo Parfor e as
escolas em que atuam. Resultados de estudos realizados nas fases anteriores com
professores-estudantes do Parfor em uma universidade confessional mostraram que
mais de 70% desses estudantes atuam em escolas de educação infantil públicas, com
crianças de zero a três anos, como funcionários não incluídos no quadro do magistério
que lutam por essa inclusão.
Desempenham funções similares (monitores, atendentes de educação, auxiliares de
classe, de creche, de desenvolvimento infantil), são mulheres com 31 anos ou mais ,
casadas e que declaram ter podido cursar a licenciatura dada a oportunidade oferecida
pela Capes, uma vez que a região geográfica em que vivem e trabalham não dispõe de
universidade pública, apesar de contar com cursos isolados oferecidos por elas.
As pesquisas anteriores realizadas no âmbito do curso apontam a gratidão dessas
professoras-estudantes ao programa e à instituição de educação superior que as acolheu,
especialmente ao curso de Pedagogia e seus professores e seu ganho em autoestima,
autoconfiança pessoal e profissional e conhecimento.
A primeira fase da pesquisa cuidou da identificação e da inserção sócio-profissional do
grupo, a segunda das relações com o curso e com a profissão de professor. A terceira
prevê observação nas escolas em que atuam e a análise das relações com os gestores e
demais professores.
As pesquisas que integrarão esta terceira fase do projeto Obeduc/Capes orientam-se por
uma questão de fundo: a identidade profissional que está sendo forjada no curso de
Pedagogia subsidiado pelo Parfor, apontada nas pesquisas anteriores com o grupo de
professores-estudantes, tem condição de manter-se e reforçar-se nas práticas cotidianas
das escolas em que esses professores atuam?
Este estudo, iniciado no corrente ano, pode ser considerado como voltado aos contextos
da prática e dos efeitos de uma política tal como propostos por Ball (1994), citado por
1361
As primeiras referências
No Dicionário de Língua Portuguesa Houaiss (2009), qualidade é substantivo feminino,
e, dentre outras, trata-se da propriedade que determina a essência ou natureza de um ser
ou coisa; e conjunto de traços psicológicos e/ou morais de um indivíduo e característica
comum que serve para agrupar (seres ou objetos).Verifica-se que qualidade não é
unidimensional. Quer dizer, as pessoas não avaliam um produto ou serviço tendo em
conta apenas uma das suas características, mas várias, daí talvez a necessidade de
considerar a qualidade como sendo um conjunto de requisitos para qualificar um objeto.
Quando se trata de qualidade na educação escolar, a LDBEN 9.394/1996 dispõe, no
artigo 4° - item 9, que é dever do Estado garantir os padrões mínimos de qualidade de
ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos
1363
Campos e outros (2011) em pesquisa ampla sobre qualidade da educação infantil que
envolveu seis capitais brasileiras ratificam resultados de outras pesquisas sobre esse
nível da educação básica e, apesar das desigualdades regionais e locais das escolas
estudadas, revelam que os resultados da pesquisa reforçam a urgência de políticas
educacionais que possibilitem avanços tanto nas creches como nas pré-escolas, isto é, na
educação infantil como um todo: infraestrutura adequada, melhor orientação, formação
continuada de pessoal tanto em nível das escolas como das redes (equipes técnicas das
secretarias). Trata-se enfim de saber se as condições oferecidas nas escolas permitem às
crianças exercer seu direito à educação de qualidade. Recomendam que as pesquisas
aprofundem o conhecimento a respeito das condições de funcionamento das escolas e
redes e que avancem no sentido apontar caminhos para alterar tais condições.
Os caminhos a percorrer
Neste primeiro momento, a pesquisa em andamento está sendo pautada por referências
de qualidade que incluem os documentos legais e oficiais citados. O trabalho de campo
de natureza qualitativa, enfatizará os sujeitos, suas posturas e ações, em seus locais de
trabalho, em seu ambiente natural.
No desenvolvimento da pesquisa estão previstos os seguintes momentos que poderão
ocorrer de forma interdependente: 1) elaboração do referencial teórico precedido e
acompanhado por levantamento bibliográfico sobre o tema-problema; 2) análise e
consideração dos requisitos de qualidade na educação escolar e da educação infantil
infantil 3) análise dos dados colhidos nas fases anteriores da pesquisa em busca de
dados de qualidade; 4) elaboração de roteiro de observação na escola, complementação
de questionário de caracterização das escolas nos moldes do adotado pela pesquisa
maior; estudo de projeto pedagógico, regimento e outros documentos ligados à atuação
dos gestores e professores das unidades escolares estudadas; aplicação de questionário e
realização de entrevistas com gestores e professores-estudantes Parfor nas escolas; 5)
análise dos dados à vista dos objetivos da pesquisa maior e desta pesquisa, assim como
de seu referencial; 6) indicação de ganhos e de possíveis aprofundamentos necessários à
pesquisa a respeito da repercussão de uma política de formações de professores no que
respeita à qualidade da educação infantil.
1365
Considerações iniciais
Numa volta ao objetivo geral do projeto Obeduc/Capes que consiste em "compreender a
constituição das identidades profissionais em formação a partir de um programa
emergencial de formação como o Parfor, analisando as implicações, os desafios e as
perspectivas para as IES, para as escolas e seus professores" e ao objetivo geral desta
pesquisa " buscar convergências e divergências no entendimento e nas ações ligadas à
qualidade da educação infantil por professores-estudantes Parfor e gestores das escolas
em que atuam" coloca-se a questão de fundo orientadora da terceira fase do projeto: a
identidade profissional que está sendo forjada no curso de Pedagogia subsidiado pelo
Parfor apontada nas pesquisas anteriores com o grupo de professores-estudantes tem
condição de manter-se e reforçar-se nas práticas cotidianas das escolas em que esses
professores atuam?
Em outros termos: os contextos da prática e dos efeitos do Parfor nas escolas ou sua
repercussão no cotidiano escolar sinalizam para a possibilidade de fortalecimento da
identidade profissional dos professores-estudantes participantes desta pesquisa?
O caminho que está sendo proposto neste estudo para procurar pistas para respondê-la
consiste em introduzir um tema de interesse comum - qualidade na educação infantil- e
buscar convergências de divergências em torno dele nas práticas escolares, no cotidiano
das escolas, onde se inclui o posicionamento dos sujeitos sobre o tema, de modo a
reunir informações, registrar e analisar a inserção, as possibilidades de ação e de
desenvolvimento profissional de professores-estudantes Parfor nas escolas.
1366
REFERÊNCIAS
Pôster
Introdução
os docentes relatam dificuldades encontradas para a realização dos cursos sendo as mais
frequentes relacionadas à falta de tempo, ao fato de que os cursos não respondem suas
expectativas iniciais e que, muitas vezes, não se referem à temática apresentada nos
instrumentos de divulgação.
Desse modo, percebi a necessidade de estudar, a visão dos professores sobre as
capacitações realizadas por uma instituição de Ensino Técnico, buscando identificar
como esses docentes relacionam os conteúdos dos cursos com seu desenvolvimento
profissional.
A discussão presente nesta comunicação é parte importante da dissertação de
mestrado que se encontra em andamento no programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Cidade de São Paulo.
Justificativa
Embora tenha havido nos últimos anos várias iniciativas no país voltadas para o
fortalecimento da formação continuada, a literatura indica que ainda são muitos os
desafios para que se chegue a uma aformação de tipo significativa, que garanta ao
professor momentos reflexivos que lhe permita relacionar a teoria à sua prática. Na área
de ensino técnico, especialistas avaliam que aa formação continuada deve considerar as
exigências do mercado de trabalho e focalizar os conteúdos pelos quais são
responsáveis. E que precisa ainda a fazer parte de um conjunto de ações sistemáticas
voltadas para o desenvolvimento profissional dos professores, e não estar baseada em
ações pontuais e aleatórias. Minha experiência com professora de um centro de ensino
profissionalizante mostra que várias das iniciativas dessa instituição não são acessadas
pelos professores e que muitos criticam o conteúdo. Desse modo, cabe se perguntar
sobre abrangência dessas opiniões, observando de forma sistemática a visão desses
profissionais sobre a formação continuada oferecida.
O problema da pesquisa
Objetivo geral
Objetivos específicos:
Discussão de Literatura
reira. Essa oferta de formação continuada seria, para ela, um passo importante para que
o iniciante não desanime diante das dificuldades e possa buscar os instrumentos e
apoios necessários, sejam eles colegas mais experientes, ex-professores da universidade,
ações ofere¬cidas na escola ou em outros espaços formativos.
Mas essas iniciativas não podem depender da vontade pessoal nem se limitar ao
âmbito individual. Caberia, nessa perspectiva, aos órgãos gestores da educação inserir
alguns programas de apoio à docência num plano mais amplo de desenvolvimento
profissional para que as ações formativas tenham continuidade após o período
probatório.
Metodologia
Referências
ARANHA, Maria Lucia. Filosofia da Educação. São Paulo: ed. Moderna, 2006.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: ed. Cortez, 1992.
1373
Pôster
Resumo: A ideia de desenvolver essa pesquisa surgiu da minha atuação como docente,
há onze anos, no curso de Pedagogia, e da minha trajetória acadêmica nos cursos de
licenciatura em Ciências Biológicas e Pedagogia. Pude perceber na formação de
professores uma carência em relação à formação em ciências e, em particular, a
educação ambiental (EA). Os conhecimentos em EA são tratados geralmente de forma
superficial; há carências por parte dos graduandos em relação a vários conteúdos,
dificultando o processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, a formação e
atuação desses estudantes. Partindo dos argumentos referentes à desejada formação de
professores para que possam atuar efetivamente em EA e, também, considerando o
papel do professor e a influência que este exerce nos processos de ensino-aprendizagem,
é que surge a necessidade de contribuir adequadamente para a formação de futuros
professores de um curso de pedagogia e para que os mesmos venham atuar como
educadores ambientais.
Palavras-chave: Educação; Educação Ambiental; Formação de Professores.
INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA
Uma das principais preocupações da sociedade moderna é com a questão
ambiental, desencadeando assim uma série de iniciativas tanto no âmbito de políticas
públicas quanto no contexto educacional (CASTRO et al, 2000). Essas iniciativas
surgem com o propósito de reverter a situação atual, de consequências decorrentes da
degradação ambiental, face ao desenvolvimento e à produção intrinsecamente ligados
ao sistema capitalista vigente (MORGADO, 2006).
De acordo com Leff (2003, p.15-16):
1
Doutoranda em Educação para a Ciência, UNESP-Bauru.
2
Docente do Depto. de Biologia e no Programa de Pós Graduação em Educação para a Ciência,
Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru/SP.
1375
METODOLOGIA
A pesquisa em educação, especificamente em EA, tem se pautado na metodologia
da pesquisa qualitativa. Os métodos qualitativos são apropriados quando o fenômeno
em estudo é complexo, de natureza social e não tende à quantificação. Normalmente,
são usados quando o entendimento do contexto social e cultural é um elemento
importante para a pesquisa. Para aprender métodos qualitativos é preciso aprender a
observar, registrar e analisar interações reais entre pessoas, e entre pessoas e sistemas
(LIEBSCHER, 1998). Para Kaplan e Duchon (1988), as principais características dos
métodos qualitativos são: a imersão do pesquisador no contexto e a perspectiva
interpretativa de condução da pesquisa.
Sob a ótica teórico-metodológica, Tozoni-Reis (2007) aponta que a pesquisa
qualitativa é uma referência para a EA vista como estratégia de intervenção social,
levando em conta, a necessidade de organizar-se de acordo com as exigências da
sustentabilidade, da participação, da interdisciplinaridade, da conscientização, da
continuidade, da autonomia, da transformação e da coletividade.
Baseando-se nessas considerações, esta pesquisa se caracteriza qualitativa com
análise documental.
melhoria da qualidade do ensino (VEIGA, 1998). Assim, o PPP deve ser percebido
como um instrumento que norteia as ações presentes e futuras no âmbito educacional,
ou seja, ele deve orientar e direcionar as ideias dos processos pedagógicos com base nas
reflexões dos gestores, do corpo docente e dos recursos humanos que compõem o
ambiente escolar.
O curso de Pedagogia tem como modalidade descrita em seu PPP a seguinte
descrição para a formação do pedagogo: o licenciado em Pedagogia, formado pela
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ibitinga (FAIBI), tem como campos de
atuação profissional: as funções de docente na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio (na modalidade Normal), na
Educação de Jovens e Adultos e na Educação Profissional (na área de serviços e apoio
escolar); gestão educacional (Direção de Escola, Vice-Direção e Coordenação
Pedagógica); e em outros campos de atuação profissional não escolares em que a
pluralidade dos conhecimentos pedagógicos seja relevante.
A estrutura curricular do curso de Pedagogia foi elaborada conforme os Pareceres
CNE/CP 5/2005 e 3/2006, a Resolução CNE/CP 01/2006 e a Deliberação CEE nº
78/2008. O currículo do curso de Pedagogia está organizado por Núcleos de
Conhecimento, em consonância com a Resolução CNE/CP nº 01, de 15/05/2006.
I- Núcleos de Conhecimento
1- Núcleo de Estudos Básicos (por meio do estudo de literatura específica, da
reflexão e de ações críticas sobre realidades educacionais).
2- Núcleo de Aprofundamento e Diversificação de Estudos (este núcleo
volta-se para áreas de atuação profissional priorizadas pelo projeto
pedagógico).
3- Núcleo de Estudos Integradores (este núcleo, por meio de atividades
complementares, proporcionará o enriquecimento curricular e compreende a
participação dos discentes).
II- Estágio Supervisionado.
III- Residência Escolar (objetivo principal fazer com que o graduando em
Pedagogia possa conhecer, na prática, o cotidiano de sua futura profissão) .
IV- Disciplinas Eletivas.
V- O Núcleo de Estudos Integradores.
com 2.820 horas, estágio supervisionado com 400 horas, atividades complementares
com 100 horas e a residência escolar com 320 horas.
O futuro pedagogo deverá atuar sob os princípios de caráter transversal para
atender a uma abordagem pluralista da educação, e ainda parte da interdisciplinaridade
para se alcançar esses princípios no processo educativo. Entre estes princípios tem-se:
Nesse sentido, é preciso que fique claro para o conjunto dos educadores
ambientais que nos compomos não somente em sujeitos pedagógicos (no
sentido estrito da palavra) ecológicos, mas igual mente em sujeitos políticos,
e de modo unitário nessas três dimensões (LOUREIRO, 2006, p. 106).
Podemos observar ainda outras disciplinas que podem vir a tratar de EA, como é
o caso das disciplinas Filosofia da Educação I e II, Sociologia da Educação,
Fundamentos da Ação Educativa em Espaços Não Escolares e Conteúdos e
Metodologia de Geografia, que apresentaram em seu plano de ementas características
que remetessem ao estudo das questões ambientais. Essa prática interdisciplinar e
transversal objetiva superar a fragmentação do conhecimento.
Observamos que apesar de tantas disciplinas oferecidas no curso de Pedagogia,
apenas algumas trazem em seu planejamento a discussão acerca dos aspectos
ambientais, bem como a transversalidade proposta pelos PCNs, incluindo assim, os
temas transversais em seus programas.
A ausência da EA nas demais ementas das disciplinas dispostas no PPP, de
forma transversal e contextualizada com quaisquer que seja a área de conhecimento,
denuncia o que Guimarães (1995) denomina de falta de integração entre diferentes
saberes científicos, dificultando a melhor compreensão da realidade, que é integrada,
formando uma totalidade.
Ao analisar o PPP do curso de Pedagogia, pode-se observar de forma sutil a
inserção da temática ambiental em suas ideologias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O curso de Pedagogia deve preparar o professor para a formação de um sujeito
que compreenda a relação existente entre homem, natureza e sociedade, bem como a
sua influência no planeta e como pode agir politicamente, cientificamente,
cotidianamente, para preservar o meio ambiente.
A formação de educadores ambientais para a Educação Básica deve ser garantida
durante a formação superior, constituindo nos futuros professores uma consciência
ambiental crítica, que os capacite a compreender que os problemas ambientais que
enfrentamos atualmente estão relacionados ao crescimento tecnológico e populacional,
1381
REFERÊNCIAS
CASTRO, R.S.; SPAZZIANI, M.L; SANTOS, E.P. Universidade, meio ambiente e
parâmetros curriculares nacionais. In: LOUREIRO, C.F.B. et al. (Orgs.). Sociedade e
meio ambiente: a educação ambiente em debate. São Paulo: Cortez, 2000. p.157-179.
Pôster
Introdução
É cena comum, a quem trabalha com educação, ouvir Coordenadores
Pedagógicos (neste texto tratados como CP ou CPs) comentando em tom de desabafo
que, ao iniciar na nova função, se percebem tendo dormido professores e acordado
coordenadores. Essa fala retrata o sentimento de despreparo para a nova função,
envolvendo a construção da nova identidade profissional e o desenvolvimento de
estratégias de trabalho no enfrentamento dos desafios cotidianos que a escola impõe.
A formação mínima exigida para exercer a coordenação pedagógica no
município de São Paulo é o curso de Pedagogia e, no mínimo três anos de experiência
1384
Referencial Teórico
A formação profissional do professor em contexto escolar é claramente
defendida por Canário (1998), que considera a necessidade em valorizar a experiência e
o contexto de trabalho dos docentes. O autor destaca que, valorizando a experiência
profissional, atribui-se o papel central ao professor, não ao formador, por considerar a
aprendizagem como um processo interno do sujeito, a partir da reflexão crítica
simultaneamente à reflexão.
Canário (1998) e Imbernón (2010) concordam que é o momento de abandonar a
“capacitação” individual para dar lugar ao trabalho colaborativo, pois consideram que as
situações profissionais são complexas e exigem romper com o isolamento e a autonomia
exagerada, partindo do respeito e do reconhecimento dos saberes dos professores,
adquiridos pela experiência profissional e que podem auxiliar na reflexão e resolução de
problemas concretos de um contexto conhecido por todos.
A diversidade de professores, no que diz respeito às práticas educativas e as
características específicas das turmas e faixas etárias dos alunos com que atuam, se
configuram em elementos que podem ser facilitadores na formação ou em obstáculos
para ela. Imbernón (2010) sugere uma substituição progressiva da “formação
padronizadora e solucionadora de problemas genéricos, (...) dirigidas por especialistas
acadêmicos que dão soluções a tudo, por uma formação que se aproxime das situações
problemáticas em seu próprio contexto, isto é, da prática das instituições educacionais.
Uma formação que, partindo das complexas situações problemáticas educacionais,
ajude a criar alternativas de mudanças no contexto em que se produz a educação” (2010,
p. 55).
Os autores citados consideram o professor com um profissional capaz de
solucionar problemas além das respostas comuns a situações previsíveis, inclusive
questionando criticamente processos de formação baseados nesta concepção de ensino,
que consideram apenas situações específicas que se supõem comuns aos professores.
Sendo assim, a formação baseada em situações problemáticas na própria escola parte do
pressuposto de que a escola é o sujeito e objeto da mudança através do processo ação-
reflexão-ação. Partindo das necessidades reais, a formação passa a proporcionar a
participação ativa dos docentes, implicando em questões éticas, de valores, ideologias e
1386
concepções que permitirá compreender os outros, analisar suas posições e suas visões
de mundo.
Ao coordenador pedagógico cabe enfrentar o desafio de conhecer as melhores
estratégias que favoreçam a participação e comprometimento dos professores em seu
processo formativo.
Ao participar de um processo de formação o docente, geralmente, está em busca
de respostas a angustias, dúvidas ou do desejo em ampliar seu conhecimento um
determinado assunto. E durante o processo, ao estabelecer relações entre o tema
abordado e sua prática pedagógica, surgem dúvidas e questionamentos insistentes sobre
como relacionar o estudo teórico com a prática e, inclusive, pedidos de “modelos” para
colocar em prática o que está sendo discutido. São comuns frases como: “O que eu faço
se o aluno...”, “qual é a intervenção mais adequada diante de determinado erro?”,
“Como faço para que se interessem por...”. Parafraseando Brousseau (1994), Delia
Lerner insiste que “quando muitos professores apresentam os mesmos problemas, o
mínimo que tem que fazer o capacitador é se perguntar por que os apresentam e tentar
entender quais são e em que consistem os problemas que estão enfrentando” (LERNER,
2002 p. 104). Isto não significa oferecer receitas de ações didáticas ou desconsiderar os
saberes dos docentes, mas compreender que alguns saberes didáticos possuem
conceitualização específica.
Lerner (2002) propõe, nas formações, o estudo sobre o saber didático. O que, a
princípio, parece se distanciar da concepção defendida por Canário e Imbernón (de uma
formação contextualizada para uma formação prática), na verdade se revela como uma
alternativa concreta em atender às demandas dos professores sobre algumas dificuldades
de aprendizagem ou baixo rendimento dos alunos. Da mesma forma que os dois autores
acima citados, Lerner acredita que os problemas que os professores enfrentam estão
vinculados ao ensino ou à aprendizagem, portanto, este tema se coloca como prioridade
e deve ser foco de discussão, reflexão e enfrentamento nos horários coletivos de
formação. A contribuição da autora pode nos mostrar um novo caminho a fim de ocupar
as lacunas existentes em algumas propostas formativas dos coordenadores pedagógicos.
A formação de professores em contexto escolar como proposta por Canário e
Imbernón considera os problemas reais vivenciados na escola, porém na pesquisa
realizada pela Fundação Carlos Chagas, já referida, os CPs responderam que o foco da
formação de professores é 71% sobre problemas de aprendizagem e desempenho dos
alunos e 63% conhecimentos didáticos, enquanto que 58% do foco das formações é
1387
Procedimentos Metodológicos
A técnica utilizada para esta pesquisa é a entrevista. Foi entrevistada uma
coordenadora pedagógica de escola pública e, posteriormente, serão realizadas
entrevistas com três a cinco professores que participam do horário coletivo de formação
desta mesma escola.
A fim de atingir o objetivo de pesquisar situações de formação de professores em
contexto escolar que demonstrem-se efetivas sob o aspecto de refletir nas práticas
pedagógicas dos professores e, consequentemente, promover a melhoria da
aprendizagem dos alunos, utilizamos alguns critérios para escolha da escola, sendo o
primeiro deles que o grupo de formação fosse composto por professores de diferentes
níveis e áreas do conhecimento, apresentando um desafio desde o planejamento da
pauta até os encaminhamentos durante a formação. O Coordenador Pedagógico (neste
caso, coordenadora pedagógica) deveria ter, no mínimo quatro anos de experiência no
1388
Primeiros resultados
A entrevista já realizada com a coordenadora pedagógica permitiu observar
alguns pontos:
• Da mesma forma como defende Imbernón, ao afirmar que a formação de professores
deve partir dos problemas reais da escola, a CP relata que planeja sua pauta de formação
conforme as demandas observadas e relatadas pelos docentes no dia-a-dia da escola.
• Sobre as demandas diárias dos professores e suas angústias, estão questões relacionadas
à avaliação, a baixa frequência de alguns alunos, ao baixo rendimento e aproveitamento
das aulas e, no Ensino Fundamental II, a indisciplina também incomoda e é um tema
recorrente.
• Uma situação formativa marcante para esta CP ocorreu no ano de 2013, quando
realizou um trabalho amplo sobre avaliação. Após aplicar as avaliações aos alunos e
realizar a correção, sob orientação da CP, os professores analisaram as habilidades que
os alunos demonstravam maior dificuldade. A partir dos resultados, os docentes das
diferentes áreas do conhecimento, planejavam atividades a fim de desenvolver tais
habilidades nos alunos em suas aulas. Para atingir seu objetivo, a CP trabalhava com o
grupo o significado de cada habilidade, mostrava exemplos concretos, retirados de
outras avaliações, e propunha repensar coletivamente como cada área poderia trabalhá-
las em suas aulas. Na próxima avaliação era verificado por todo o grupo a melhoria do
aprendizado nos alunos nas habilidades trabalhadas. A entrevistada conta que os
resultados eram satisfatórios, animando a todos os docentes. Ela também relata que
1389
Referências:
CANARIO, Rui. A escola: o lugar onde os professores aprendem. Psicologia da
educação, São Paulo, 6, 1º sem. 1998, p. 9-27.
Pôster
Introdução
O objetivo da pesquisa em andamento é identificar e discutir os impactos
causados na formação e atuação dos Pedagogos após a reestruturação do curso de
Pedagogia decorrente da promulgação das DCNP (2006). Assim, o que se pretende é
empreender uma reflexão acerca dos reflexos dessa alteração legal no currículo dos
cursos de Pedagogia e das possíveis mudanças na identidade dos pedagogos decorrentes
dessas alterações.
Quando se busca a produção sobre as mudanças decorrentes das DCNP,
encontram-se críticas à reestruturação dos cursos, com destaque para os seguintes
aspectos: imprecisão do lugar da produção do conhecimento, que quando mencionada
aparece subordinada à prática, traduzindo uma abordagem instrumentalista do
conhecimento (EVANGELISTA, 2008), a limitação à base docente em detrimento do
1392
Levantamento bibliográfico
Com base no levantamento bibliográfico realizado (Tabela 1), é possível
perceber que no período de busca por estratégias para a adequação dos cursos em
função das DCNP, houve uma preocupação maior em analisar a formação docente,
principalmente no que diz respeito à forma pela qual as reformulações curriculares
interfeririam na formação do professor: a maioria dos trabalhos estão relacionados à
formação docente e à configuração do currículo para dar conta da formação do
pedagogo para atuar dentro e fora da escola.
Começamos a apresentar essa produção destacando os trabalhos voltados para a
questão da formação no curso de Pedagogia e das suas implicações curriculares. Várias
dissertações e algumas teses analisaram especificamente como tem se caracterizado a
formação do Pedagogo em determinadas Instituições de Ensino Superior (IES) após as
DCNP. Ao todo foram encontradas 34 dissertações, seis teses, sete artigos em
1393
periódicos e 11 livros e/ou capítulos de livro que focalizam estes dois temas, totalizando
58 trabalhos. Embora cada pesquisa tenha voltado o olhar para uma particularidade da
formação do Pedagogo, no geral, observa-se a preocupação maior com as implicações
para a formação oriundas de uma nova configuração do curso, que passa a abranger uma
série de conhecimentos específicos para atuação em campos diversos.
Almeida (2008), por exemplo, faz uma análise da origem e extinção da função
de pedagogo especialista, verificando como as DCNP contribuíram para o processo de
formação do pedagogo conforme os ditames governamentais de construção de um
profissional com habilidades e competências para uma função polivalente. Conclui que
as orientações advindas das DCNP não contemplam os futuros pedagogos com uma
proposta de formação omnilateral, posto que retomaram os princípios tecnicistas,
atendendo as atuais exigências postas pelo mercado de trabalho.
Ainda sobre essas mesmas temáticas, da formação no curso de Pedagogia e do
currículo dos cursos, encontramos sete artigos em periódicos e 11 livros e/ou capítulos
de livro, neste mesmo período. A preocupação central nessas produções é semelhante às
encontradas em teses e dissertações: verificar como as mudanças curriculares a partir
das DCNP têm contemplado a formação do pedagogo diante de uma diversidade de
campos de atuação. Por exemplo, Cruz (2012) discute a complexa relação entre teoria e
prática no curso de pedagogia a partir da visão de “pedagogos primordiais”. O trabalho
apresenta uma análise parcial desses dados, abordando especificamente o histórico
embate entre a teoria e a prática no curso em seus tempos iniciais e na atualidade,
mediante as diretrizes curriculares de 2006. As análises apresentadas evidenciam que os
fundamentos teóricos, em comparação com a experiência prática, obtiveram maior peso
na estrutura e na prática curricular do curso. E a partir das DCNP, permitiu ver que o
problema entre a teoria e a prática permanece em pauta, ainda que com outras nuances.
E conclui que a multiplicidade de saberes que constituem a pedagogia correrá o risco de
dispersar-se ainda mais, enfraquecendo a formação teórico-prática em face da
diversidade de enfoques formativos que passou a vigorar no curso.
Por conta do período focalizado (2006-2013), foi pequeno o número de
produções que tinham como foco a discussão central desenvolvida na elaboração das
DCNP, mais abordada em período anterior. Já a questão da identidade do pedagogo,
quando é discutida aparece em segundo plano na maioria das pesquisas, sem maiores
1394
Algumas considerações
Após analisar a produção acadêmica sobre as DCNP e suas implicações para a
formação do Pedagogo, na reconfiguração dos currículos do curso de Pedagogia e
consequentemente na identidade profissional do pedagogo, é possível verificar uma
considerável lacuna nas pesquisas acerca da identidade desse profissional. O que
justifica a necessidade e a relevância de maior aprofundamento dos aspectos da
formação e atuação do pedagogo para identificar que identidades estão sendo
fomentadas pelos currículos dos cursos de Pedagogia alguns anos depois da
implementação das DCNP.
1395
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Ana Luiza Melo de. Pedagogo Especialista em Educação - Origem e
Extinção na Política Educacional Brasileira. Dissertação de Mestrado em Educação da
Universidade Federal de Sergipe. Disponível em:
http://bdtd.ufs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=141. Acesso em 2/5/2014
Tabelas
Tabela 1. Levantamento bibliográfico*
Descritor Dissertações Teses Artigos de Capítulo de Total
periódico livro /Livro
Formação Docente no curso de Pedagogia 20 5 3 9 37
DCN para o curso de Pedagogia 2 0 5 0 7
Currículo do curso de Pedagogia 14 1 4 2 21
Identidade do Pedagogo 7 2 0 0 9
Total 43 8 12 11 74
* Levantamento do período de 2006 a 2013
1396
Pôster
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, temos como proposta refletir, ainda que brevemente, sobre a
importância de estratégias pedagógicas nos centros e museus de ciências que
oportunizem um diálogo com as culturas da infância.
Segundo reflexões de SANTOS (2013), na atualidade, a ciência foi utilizada pelo
mercado como um dos vetores fundamentais da globalização, uma vez que seu ideário,
indispensável para a produção capitalista, apresentou-se como uma única solução. Para
este autor, a ciência santificou ideologias e legitimou ações, que promoveram a exclusão
de grupos sociais o que implicou em dificuldades no convívio social e no exercício da
democracia.
Conforme TOURAINE (1992), na sociedade moderna houve a difusão dos produtos da
1397
espaço de diálogo com as culturas infantis. Segundo SARMENTO (2005, p. 21), “as
crianças não recebem, apenas, uma cultura constituída que lhes atribui um lugar e
papéis sociais, mas operam transformações nessa cultura, seja sob a forma como a
interpretam e integram, seja nos efeitos que nela produzem, a partir das suas próprias
práticas.”
No que se refere aos centros e museus de ciências, acreditamos que os canais de diálogo
podem se constituir por meio da inserção de elementos estéticos que oportunizem a
sensibilidade, criatividade, ludicidade e a liberdade de expressão nas diferentes
manifestações artísticas e culturais. Assim, é necessário a ampliar e diversificar os
modos e estilos de racionalidades utilizadas nas ações pedagógicas desenvolvidas no
atendimento destas instituições, como estratégia de recolha de opiniões das crianças.
Para SARMENTO (2007, 2008), ouvir a voz das crianças no interior das instituições
não constitui apenas um princípio metodológico da ação adulta, mas uma condição
política, por meio do qual se estabelece um diálogo intergeracional de partilha de
poderes.
Nesse sentido, compreender como os centros e museus de ciências se constituem como
espaços de diálogo com as culturas infantis, de maneira a permitir a participação das
crianças nas (re)configurações das ações desenvolvidas destas instituições, além do
mais identificar os significados que os estagiários, coordenadores pedagógicos e
gestores dos centros de ciências atribuem à participação das crianças e analisar, a partir
dos processos pedagógicos desenvolvidos nos centros de ciências, em que medida à
participação da criança interfere nas propostas de atendimento ao público apresenta-se
como possibilidade para tornar audível a voz destes sujeitos na constituição das
instituições públicas educacionais.
METODOLOGIA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPOS, Maria Malta. Por que é importante ouvir a criança? A participação das
crianças pequenas na pesquisa científica. In: CRUZ, Sílvia Helena Vieia. A criança fala:
a escuta de crianças em pesquisas. São Paulo:: Cortez, 2008. Pág. 35-42.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e cultura política: impactos sobre o
associativismo do terceiro setor. 5ª edição. São Paulo: Cortez, 2011.
1401
Pôster
I. Introdução
O cenário atual é palco de um debate público marcado por forte carga ideológica
“[...] que coloca em lós mercados toda la pureza, toda la bondad, toda la eficiência, toda
la creatividad de la vida econômica, y que coloca em lós Estado todos lós elementos
irracionales, ineficentes incompetentes y corruptos” (BORON, 2003, p. 40).
Boron (2003) identifica um período de reformas que se centram em torno de três
eixos: o desmantelamento do setor público; um segundo, marcado pelo crescente grau
de “debilidade estatal”, definido pela dificuldade cada vez maior das instituições
disciplinarem empresas e mercados e, por último, a deterioração da noção de
“responsabilidade estatal” em áreas ligadas ao bem estar geral, ao desenvolvimento
econômico, a seguridade e a busca por justiça.
Se há concordância em torno da ideia de que as reformas ocorreram sob
inspiração neoliberal, não há consenso sobre em que medida um poder monolítico tem a
responsabilidade exclusiva pelas políticas nacionais de educação. Nesse sentido, torna-
1403
Por outro lado, Bobbio (2011) contesta esses posicionamentos, defendendo que a
díade direita/esquerda continua válida porque a distinção entre os termos continua a ser
utilizada na prática cotidiana da política e também serve ao estudo da ciência política.
Contesta as posições de vários autores tais como de Fukuyama (1992) que defendeu o
“fim da história” e de Giddens que propôs a superação dessa dicotomia.
Bobbio (2011) destaca, ainda, que uma vez considerada a distinção válida é
importante definir o que diferencia a esquerda da direita, pois dependendo do ponto de
referencia utilizado a mesma realmente perde o sentido. Argumenta o autor, que se para
Giddens a direita defendia a tradição e a esquerda a mudança, no final do século XX e
início do século XXI esses papéis se inverteram com a esquerda defendendo a
manutenção (do welfare state, por exemplo) e a direita a mudança com as reformas
neoliberais. Entretanto, para Bobbio (2011) não são essas as características que marcam
a atuação desses grupos políticos. Está claro, para o autor, que as pessoas que
participam da política não têm dificuldades em utilizar esses termos, mesmo quando
dizemos que um partido dito de esquerda está fazendo uma política de direita ou vice
versa, estamos validando esses conceitos. O autor chama a atenção para outro aspecto,
quer seja, os conceitos de direita e de esquerda são imbuídos de certo significado
emotivo onde “a esquerda é boa e a direita é má, ou vice-versa” (BOBBIO, 2011, p. 15).
Além das objeções sobre a essência da distinção existem outras que a
consideram válida, porém não mais aplicável à realidade. Ao mapearmos a presença dos
sistemas de avaliação nos diversos estados e DF, localizamos políticas e práticas
semelhantes, embora propostas por partidos de concepções políticas assumidas como
díspares. Conforme Bobbio:
[...] ainda que a distinção seja sempre análise em abstrato, constata-se que a
ação política daquela que há um tempo era a esquerda já não é mais muito
1405
Na próxima seção, buscamos nos dados empíricos indícios que apontem para a
relação entre o partido no poder e a adoção de medidas identificadas como práticas
neoliberais de partidos de direita, como as avaliações externas em larga escala.
da educação básica por meio de sistema próprio. Em relação aos partidos que ocupam o
poder, denota-se que não existe indicação clara de posicionamento partidário, havendo
um estado sem sistema próprio governado pelo PT e outro pelo PSDB, sendo que os
mesmos partidos governam estados com sistema próprio de avaliação da educação
básica.
Na Região Sudeste, temos um quadro que compreende 100% dos estados que
aplicam as provas para avaliar a educação básica, sendo que dois estados são
governados pelo PSDB e dois pelo PMDB e PSB.
QUADRO 05 – REGIÃO NORDESTE
Período Estados com Sistemas de Partidos no Governo
avaliação
SIM NÃO SIM NÃO
2003-2006 AL-CE-SE BA-MA-PE-PB- PFL(3) / PSDB PFL / PMDB / PSDB
PI-RN / PT / PSB
2007-2010 CE-PE AL-BA-MA-PB- PSB(2) / PDT PSDB (2) / PT(3) /
PI-SE-RN PSB
2011- 2014 AL-CE-PE BA-MA-PB-PI- PSDB / PSB(2) PT(2) / PMDB /
SE-RN PSB(2) / DEM
Fonte: pesquisa realizada, 2014.
A Região Nordeste expressa uma maioria de estados que não possuem sistema
próprio de avaliação. Outro aspecto relevante está na tendência a descontinuidades na
aplicação das provas. Podemos considerar que apenas CE e PE mantiveram um sistema
com avaliações anuais por dois mandatos consecutivos, com governos do PSB no
período de 2007 a 2014. Enquanto que Alagoas possuía um sistema próprio em 2003
sob governo do PSB e o mesmo foi descontinuado em 2007 pelo PSDB e retomado em
2011 pelo mesmo partido, o PSDB.
Sintetizando as informações por partido político e período de governo,
elaboramos o Quadro 06, que indica a baixa relação entre a orientação política do
partido que ocupa o governo e a existência ou não de sistemas próprios de avaliação da
educação básica. Uma hipótese para explicar esse fato é que não existe uma clara
orientação partidária sobre a temática, abordada como um mecanismo “técnico” voltado
para a melhoria da educação e despido, portanto, de fundamentação política por parte
dos governantes.
QUADRO 06 – Síntese - Partido político do governador e a existência de sistemas
de avaliação externa
PARTIDOS SIM % NÃO %
PSDB 11 55 09 45
PMDB 07 41 10 59
PT 03 21 11 79
PSB 07 54 06 46
PFL/DEM 02 29 05 71
PPS - -- 04 100
PDT - -- 03 100
PP - -- 01 100
PSL - -- 01 100
PMN 01 100 - --
Fonte: pesquisa realizada, 2014.
1408
classificá-lo como uma continuidade do modelo anterior, mas uma ruptura com o
mesmo.
Concluímos que os sistemas de avaliação da educação se tornaram, no tempo
presente, um fenômeno comum em diferentes países e também nas diferentes regiões
brasileiras que, de certa forma, reproduzem diretrizes gerais do BM para o setor
educacional, porém, diante da diversidade de possibilidades de avaliação, com
diferentes ferramentas utilizadas e variados mecanismos de responsabilização e/ou
envolvimentos dos atores no processo a simples existência desses sistemas não permite
rotular uma política educacional e compreender seu significado.
Podemos, portanto, afirmar que não existe relação direta entre o partido político
no poder e a existência ou não de um sistema próprio de avaliação externa. Entretanto,
antes de aprofundarmos as consequências teóricas dessa constatação empírica cabe
perguntarmos se a existência de um sistema próprio de avaliação da educação básica
constitui um elemento suficiente para apontarmos uma política educacional como
claramente inclinada aos princípios da direita neoliberal.
REFERÊNCIAS
AFONSO, A. J. Avaliação Educacional. Regulação e emancipação. 4ªed. São Paulo:
Cortez, 2009.
Pôster
1.0 INTRODUÇÃO
[...] É possível referir que esses indicativos constituem mostra de uma tensão
entre meios (e quiçá opções) internos às escolas e expectativas externas a elas
no tocante à produção de um ensino de qualidade, mesmo com certa
permeabilidade das políticas recentes à abordagem da qualidade social da
educação.
2. PROBLEMÁTICA DA PESQUISA
3.0 JUSTIFICATIVA
Cumpre lembrar que uma educação pública com qualidade e inclusão social
exige políticas públicas que contemplem em suas ações dimensões como: infraestrutura
e recursos pedagógicos, planejamento e financiamento da educação, gestão
participativa, formação inicial e continuada de professores e práticas pedagógicas nos
processos de ensino e aprendizagem. Estes elementos induzem políticas públicas que
consolidam a qualidade da educação pública da educação básica, como se expressa
Dourado, Oliveira, Santos, 2009:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SANT’ANNA, Ilza Martins. Por que Avaliar? Como Avaliar? 8. ed. Petrópolis:
Editora Vozes, 2002.
1418
Chizzotti, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 8. ed. São Paulo : Cortez,
2006.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed .São Paulo:
Atlas,2002
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. Recife: Bagaço, 2005.
1419
Pôster
Resumo: A pesquisa pretende uma análise para o contexto educacional, das políticas
públicas de acesso a educação de qualidade e as ações do Governo balizadas em um
sistema avaliativo, com intuito de contribuir para melhoria na oferta do ensino.
Centralizaremos nosso debate no Estado do Espírito Santo, marcado por desigualdades
advindas do modelo federalista brasileiro, e o que isso implicaria na oferta educacional
dos municípios capixabas. Pretendemos, por meio de análise bibliográfica, resgatar o
processo histórico na perspectiva de provocar mais reflexões em torno da temática, com
objetivo de aprimorar os conhecimentos teóricos em políticas públicas educacionais.
Consideramos o debate oportuno, tendo em vista o panorama recente de aprovação do
Plano Nacional de Educação e as implicações para o planejamento educacional da
próxima década.
Palavras chave: Políticas educacionais, Avaliação, Qualidade.
INTRODUÇÃO
qualidade desde a década de 19901, por meio de avaliação por desempenho definidas a
partir de metas que deveriam ser alcançadas.
Desde o ano de 2007, com a criação do IDEB, o governo estabeleceu metas bienais de
qualidade educacional a serem atingidas pelas escolas existentes em todas as Unidades
da Federação (estados e municípios). Esse índice é calculado com base nos dados sobre
a aprovação dos alunos, obtidos no Censo Escolar e nas médias de desempenho após
aplicação dos testes que compõem Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
(SAEB)2. A meta a ser alcançada pelo governo visa contribuição para melhora na oferta
da educação brasileira com fins de atingir o patamar educacional da média dos países da
OCDE3.
Para atenuar a complexidade do debate proposto em nossa pesquisa, no caso da
República Federativa Brasileira, ainda temos a pontuar questões tais como a não
descentralização conforme proposto em Carta Política de 1988. Estando assim
organizados os estados e municípios, limitadamente autônomos e devendo submeter-se
a Constituição Federal, diferentes em seus contextos regionais e avaliados em alguns
momentos como iguais. Dessa forma, em consonância com Araújo (2005), nosso
trabalho também tencionará a urgência na formulação de políticas educacionais
pensando em um sistema articulado considerando os aspectos que o federalismo
acarretou para o Brasil.
1
Na referida década o Estado Brasileiro sofreu reforma administrativa, e as atenções do país estavam
totalmente voltadas para o mercado. De acordo com Pereira (2005), após essa reconstrução/reforma o
Brasil assume uma perspectiva de administração de governo de modo gerencial.
2
O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), realizado pelo Ministério da Educação
(MEC) por meio do Instituto Nacional Anísio Teixeira (INEP), tem como principal objetivo avaliar a
Educação Básica brasileira e contribuir para a melhoria de sua qualidade e para a universalização do
acesso à escola.
3
Organização para o Comércio e Desenvolvimento Econômico.Organização internacional composta por
34 países membros que aceitam democracia representativa e da economia de livre mercado2 , que procura
fornecer uma plataforma para comparar políticas econômicas, solucionar problemas comuns e coordenar
políticas domésticas e internacionais. A maioria dos membros da OCDE são economias com um
elevado PIB per capita e Índice de Desenvolvimento Humano e são considerados países desenvolvidos.
1421
questão do federalismo brasileiro e a educação têm ocupado cada vez mais espaço nas
discussões e que o nosso debate perpassará necessariamente pela distribuição de
recursos para o financiamento da educação em uma federação recortada e marcada por
desigualdades.
indicadores para medição da qualidade exige para além de técnica, que no caso seria a
aplicação das avaliações em larga escala, mas ações políticas a fim de definir insumos e
parâmetros para um ensino de qualidade que requer uma análise de custos, uma análise
para o contexto local e as expectativas.
Neste ano, o gasto médio com educação por aluno apresentou um crescimento
acentuado em relação a 2011, de 11,4%, passando de R$ 4.514,24 para R$ 5.029,28.
Dentre os municípios com os maiores gastos com educação por aluno, destacam-se:
Anchieta (R$ 12.569,52), Presidente Kennedy (R$ 10.321,51), Governador Lindemberg
(R$ 8.108,45), Brejetuba (R$ 7.568,72) e São Domingos do Norte (R$ 7.549,62). Em
contrapartida, Pedro Canário (R$ 4.071,56), Sooretama (R$ 3.996,92), Cariacica (R$
3.928,01), Viana (R$ 3.744,89) e Guarapari (R$ 3.696,87), ocuparam os últimos lugares
no ranking (FINANÇAS DOS MUNICÍPIOS CAPIXABAS, 2013).
De acordo com o site do INEP e os resultados divulgados para o IDEB 2011, nenhum
dos municípios acima citados entre os que tiveram maiores gastos com educação por
aluno, estão entre aqueles que obtiveram as maiores notas considerando os alunos
matriculados nas redes municipais e estadual de 1º ao 5º ano conforme consta na tabela
1, tampouco entre os alunos matriculados nas redes municipais e estadual do 6º ao 9º
ano, conforme tabela 2.
1423
Destaca-se ainda, após a análise das tabelas 1 e 2, que a maioria dos municípios que
obtiveram as melhores notas melhores notas desse Índice, não fazem parte da Região
Metropolitana da Grande Vitória (RMGV)4, contrariando uma expectativa natural tendo
em vista que a região é responsável por 63% do PIB total estadual, considerando-se os
valores de 2005, e responde por 65% de arrecadação de ICMS (imposto sobre operações
4
A Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) ocupa apenas 5% do território capixaba e é
composta pelos municípios de Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Vitória e Vila Velha.
1424
A RMGV divide com a região Litorânea Sul e a região Pólo Cachoeiro a condição de
maior atratividade para investimentos no Estado. Contudo e apesar dessa vantagem
econômica, a região apresenta acentuado quadro de desigualdades sociais, que se
manifestam a partir de sua estrutura territorial, com áreas de alto nível de renda e
desenvolvimento humano e outras com condições urbanas ainda precárias. Esse cenário
de contradições parece uma marca do desenvolvimento brasileiro, com industrialização
tardia e concentrada (INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES, 2008).
O IDEB foi criado em 2007 pelo INEP e possui uma escala de zero a dez. Esse índice
sintetiza dois conceitos considerados importantes, de acordo com a análise feita pelo
governo, a fim de mensurar a qualidade na educação. Um deles é a aprovação e média
de desempenho dos estudantes em língua portuguesa e o outro nos conhecimentos em
matemática. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos
no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb e a Prova
Brasil.
O nosso esforço com fins de análise para o contexto educacional, das políticas públicas
de acesso à educação de qualidade e as ações do Governo balizadas em um sistema
avaliativo visando contribuir para melhoria na oferta do ensino e o recorte para o Estado
do Espírito Santo propõe uma reflexão imediata. A aplicação de testes em larga escala,
com intuito de aferir as competências e habilidades para a oferta de um ensino de
qualidade, apresenta-se até o presente momento apenas como mais uma política de
avaliação de educação por parte do governo, de acordo com Oliveira e Araújo (2005,
p.18) “pouca ou nenhuma medida política administrativa é tomada a partir de seus
resultados”.
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, Romualdo Portela de, ARAUJO, Gilda Cardoso de. Qualidade do ensino:
uma nova dimensão da luta pelo direito à educação. Revista Brasileira de
1426
Educação. Rio de Janeiro, núm.28, pp.5-23, abr. 2005. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n28/a02n28.pdf>. Acesso em 02 de julho de 2014.
VILLELA, Tania Mara Cursino (org.). Finanças dos Municípios Capixabas. Vitória,
v.19, jul. 2013. Disponível em: <http//www.financasdosmunicipios.com.br>. Acesso em
19 de abril de 2013.
1427
Pôster
Resumo: Este texto integra pesquisa maior intitulada “USOS DOS CADERNOS
CURRICULARES E REPERCUSSÕES NA ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA DAS
ESCOLAS DE ENSINO MÉDIO: O QUE DIZEM DIRETORES DE ESCOLAS
PÚBLICAS ESTADUAIS PAULISTA”. No estudo original buscou-se apresentar uma
discussão a respeito do Currículo Oficial das escolas estaduais paulista proporcionando
uma visão de conjunto, tanto da teorização relativa ao currículo escolar, quanto de
aspectos da organização pedagógica das escolas. Neste texto discuto os pressupostos
políticos e pedagógicos que orientam o Currículo Oficial. Para isso apresento elementos
teóricos e práticos do processo de implementação curricular. Debater o currículo oficial
paulista significa, também, apontar aspectos importantes do processo de disseminação
do conhecimento no interior da escola. Esta é uma discussão constantemente pautada no
campo educacional, em particular no campo do currículo, que, nos dias atuais, tem se
tornando objeto de inúmeras tensões no ambiente da escola.
Palavras-chave: Proposta Curricular - Currículo Oficial – Organização Pedagógica das
escolas.
Introdução
A partir dos resultados do SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica
(Prova Brasil), do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – e de outras avaliações
realizadas em 2007, o Governo do Estado de São Paulo elaborou 10 metas para a
educação paulista, a serem conquistadas até 2010. Para isso, a SEE-SP propôs uma ação
integrada e articulada, cujo objetivo era organizar melhor o sistema educacional de São
Paulo. Neste cenário, com alegações de querer melhorar o quadro de desempenho dos
alunos da Educação Básica do estado de São Paulo, a SEE-SP envolveu-se em tarefas,
1428
Discussão metodológica
O presente estudo emprega metodologia qualitativa para examinar o campo do
currículo relacionado à organização pedagógica das escolas públicas paulistas, com
vistas à análise da aplicação dos Cadernos Curriculares. Os dados foram obtidos
mediante contato direto com diretores de escolas públicas estaduais e gestores da SEE-
SP, o que possibilita entender os problemas que envolvem a implementação, segundo a
perspectiva dos entrevistados. Assim, na tentativa de responder ao problema de pesquisa
proposto, as informações foram coletadas por meio de entrevistas pessoais, com
aplicação de questionário contendo questões abertas e fechadas. Foram entrevistados 30
gestores escolares (diretores de escolas públicas estaduais paulistas da cidade de
Guarulhos-SP). Além disso, foram examinados os seguintes documentos oficiais:
Proposta Curricular do Estado de São Paulo; Caderno do gestor 2009: gestão do
currículo na escola; Cadernos do Professor: gestão do currículo na escola; Edição
Especial da Proposta Curricular. Jornal do Aluno; Resolução SE nº 76/2008.
de afirmar que uma única teoria ou tendência pode sozinha, esgotar toda compreensão
sobre este artefato cultural complexo que é o currículo.
Diante do exposto, conforme parte da literatura, é possível observar que com
relação à concepção de Currículo, o vocabulário pedagógico é: extenso, multivariado,
multifacetado, dinâmico, sucessivo e simultâneo, desde um ponto de vista histórico,
inclusive contraditório em si mesmo e, determinado por um contexto político, científico,
filosófico e cultural. Currículo modifica-se historicamente atendendo a realidades
sociais distintas, tempos e espaços específicos e, em consequência disso, precisa ser
compreendido no contexto social em que está inserido.
O campo do currículo, em particular, no Brasil, vem adquirindo cada vez mais
consistência e visibilidade, constituindo-se como eixo das políticas públicas de
educação do MEC – Ministério da Educação – e, também das Secretarias Estaduais e
Municipais de Educação, tornando-se alvo privilegiado da atenção de autoridades,
políticos, pesquisadores, professores e especialistas. Sua centralidade no panorama
educacional nacional pode ser atestada pelas constantes reformulações dos currículos
dos diversos níveis de ensino, bem como pelo incremento da produção teórica na área.
É neste cenário de valorização do campo curricular que esta investigação se
insere buscando, sobretudo, fortalecer as práticas educativas democráticas tanto nos
Sistemas de Ensino como nas escolas públicas estaduais paulistas de Educação Básica.
Algumas considerações
Este texto – parte de investigação em andamento - apresentou uma breve
discussão acerca de concepções de currículo e uma apresentação do atual Currículo
Oficial implantado no estado de São Paulo.
Em termos de políticas públicas educacionais, a Proposta Curricular da SEE-
SP/2008, apresenta-se como elemento fundamental, porém, apesar dessa iniciativa,
muito ainda deve ser feito do ponto de vista de adequação da proposta de modo a
envolver a comunidade escolar, principalmente os profissionais das escolas. Existem
muitas questões a serem examinadas quanto à aplicação dos cadernos curriculares que
compõem o Currículo Oficial do Estado de São Paulo.
Nesse contexto, considera-se que dizer aos profissionais o que eles deveriam
pensar ou fazer, sem envolvê-los anteriormente em discussões e atividades motivadoras,
parece algo sem sentido.
Este estudo buscou discutir criticamente conceitos, ideias e abordagens sobre o
currículo oficial paulista. Esses elementos podem possibilitar a geração de novas ideias
e proposições sobre possibilidades e limites de participação dos profissionais da
educação – neste caso, diretores de escolas – na renovação de práticas pedagógicas no
interior de escolas públicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PENIN, Sônia Teresinha de Sousa. Políticas para a melhoria na Qualidade de Ensino
e Proposta Curricular da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo –
SEESP. Apostila REDEFOR/USP do Curso de Gestão da Rede Pública para
Supervisores – Disciplina 1 / Módulo 1. São Paulo, 2010.
SARNO, Maria Cecília Mello. Proposta Curricular do Estado de São Paulo: uma
análise Crítica. Documento da APASE - Sindicato dos Supervisores do Magistério no
Estado de São Paulo; da APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do
Estado de São Paulo; do CPP – Centro do Professorado Paulista. São Paulo, 2009.
1434
Pôster
A carreira docente no estado de São Paulo à luz da literatura e das fontes legais:
um breve panorama
Introdução:
Todos estes fatores não têm atraído novos professores e não têm mantido os
jovens professores recém-formados, de acordo com dados demonstrados na pesquisa
realizada por Souto e Paiva (2013) com alunos de Licenciatura em Matemática da
UFSJ. O estudo constatou que um número expressivo de alunos manifestou desejo de
não exercer a docência, bem como os egressos que já exerciam a docência buscavam
meios de atuar profissionalmente em outras áreas ou estavam investindo em formação
complementar para que a docência fosse uma segunda ocupação.
1438
Referências:
GATTI, Bernadete Angelina; BARRETO, Elba Siqueira de Sá; ANDRÉ, Marli Eliza
Dalmazo de Afonso. Políticas docentes no Brasil: um estado da arte. Brasília:
UNESCO, 2011.
SOUTO, Romélia Mara Alves; PAIVA, Paulo Henrique A.A. de. A pouca atratividade
da carreira docente: um estudo sobre o exercício da profissão entre egressos de uma
1442
Pôster
INTRODUÇÃO
Professores intelectuais
função docente como um trabalho intelectual, além do seu papel como legitimador de
interesses políticos, econômicos e sociais que variam de acordo com as pedagogias por
eles endossadas e utilizadas. Essa é uma percepção que os próprios professores
precisam reconhecer e assumir. Muitos ainda não se reconhecem enquanto intelectuais
muito menos legitimadores e multiplicadores da hegemonia dominante, alienando-os do
seu papel político enquanto agente transformador.
É importante entender que nenhuma atividade por mais mecânica e rotinizada que seja,
pode ser abstraída do funcionamento da mente em algum nível. Nessa perspectiva,
Paulo Freire contribui em nossa reflexão ao passo que, assim como Gramsci argumenta
que todos os homens e mulheres são intelectuais uma vez que “independente de sua
função social e econômica, todos os seres humanos atuam como intelectuais ao
constantemente interpretar e dar significado a seu mundo e ao participar de uma
concepção de mundo particular” (Giroux, 1997 p. 154). Ao passo que consideramos o
uso da mente como uma parte essencial da atividade humana referenda-se a capacidade
humana de integrar o pensamento e a prática, e assim destacamos a essência do que
significa encarar os professores como profissionais reflexivos. Desse modo, os
professores não podem ser vistos como meros executores de programas, mas sim
percebidos e aceitos como homens e mulheres livres, com uma dedicação especial aos
valores do intelecto e ao fomento da capacidade crítica dos jovens.
John Dewey argumenta que os cursos de formação docente que enfatizam somente o
professor enquanto executores de programa, que prioriza o conhecimento técnico em
detrimento da reflexão prestam “um desserviço tanto à natureza do ensino quanto a seus
estudantes” (Giroux, 1997, pág. 159). Segundo o autor “em vez de aprenderem a refletir
sobre os princípios que estruturam a vida e a prática de sala de aula, os futuros
professores aprendem metodologias que parecem negar a própria necessidade do
pensamento crítico”. O que condiciona os futuros docentes a manterem uma prática
pedagógica tecnicista, baseada na transmissão do conhecimento assim como se
apresenta nos programas oficiais ou livros didáticos. Os professores não são
estimulados a refletirem sobre questões acerca dos princípios que subjazem os
diferentes métodos didáticos, técnicas de pesquisa e teorias da educação. Os alunos não
são preparados para analisarem a natureza subjacente por trás dos problemas escolares,
em contra partida, aprendem o “como fazer”, “o que funciona” ou o domínio da melhor
técnica para ensinar um dado conhecimento.
1445
salas de aula sem ter a menor ideia do que será trabalhado aquele dia, sem objetivos
didáticos claros, que se apoiam em livros didáticos e simplesmente transmitem o
conhecimento sem estabelecer uma relação com o aluno, com suas vivências e
experiências. Ainda encontramos docentes que reproduz em sala de aula a mesma
didática com a qual foram ensinados como se nada houvesse mudado. Como se as
nossas crianças fossem as mesmas de um passado um tanto quanto distante. Como se as
novas tecnologias, a globalização fosse um fato qualquer que não trouxesse nenhuma
interferência para o ato de ensinar. Professores que simplesmente passa a matéria.
Avalia. Atribui nota. E ainda acreditam que estão formando cidadãos críticos e atuantes.
Grande parte dos professores desconhece as palavras básicas do repertório educacional,
não se considera um intelectual, desconsidera as características de classe social, ou
melhor, as condições econômicas, sociais e culturais de seus alunos no momento de
selecionar, aplicar e avaliar conteúdos de ensino. Assume uma didática de reprodução
de conteúdos baseado no reflexo do seu próprio ensino que recebeu enquanto aluno de
educação básica bem como em suas próprias concepções que, conscientemente ou não,
determinam o seu trabalho.
O conhecimento profissional ou o conhecimento sobre a prática docente tem sido cada
vez mais deixado de lado talvez pela distância que existe entre teoria e prática,
universidade e escola, pensamento e ação. A influência da concepção de que “na prática
é uma coisa e na teoria é outra” tem alargado a lacuna entre conhecimento teórico e
conhecimento prático que encontra raízes e gera conflitos a partir das visões da ciência e
de profissão presentes na “racionalidade técnica derivada do positivismo, com base na
qual o conhecimento prático passa a profissional quando se fundamenta em resultados
de pesquisa científica”(Moreira, 1995, p, 16). Nesta perspectiva, o professor longe de
ser um intelectual autônomo, é considerado um técnico especialista que aplica com rigor
as regras que derivam do conhecimento científico.
A partir do questionamento a esta perspectiva tecnicista, este trabalho tem como
objetivo pensar como os Seminários de Boas Práticas Pedagógicas dos Anos Iniciais da
Rede Estadual de São Paulo, que constitui em encontros que possibilitam a troca de
experiências com o trabalho em leitura e escrita bem como alfabetização matemática,
constitui-se em um espaço de formação e integração entre as 91 Diretorias de Ensino no
estado de São Paulo otimizando um espaço de formação potencializador da
intelectualidade docente.
1447
Meu desejo é que meu trabalho contribua para a reflexão do professor acerca da sua
própria prática bem como a certeza de suas possibilidades de se constituir, sim, um
professor intelectual, reflexivo e autônomo na arte do ensinar.
Objeto da pesquisa
Os Seminários de Boas Práticas da Rede estadual de SP como lócus privilegiado de
formação, espaço de reflexão e contribuição para a constituição do professor enquanto
intelectual.
Problematização
• Como os Seminários de Boas Práticas da Rede Estadual de São Paulo, enquanto
espaço de formação, contribui para a constituição do professor enquanto
intelectual?
• Quais os limites e possibilidade da intelectualidade docente tendo em vista as
influências de políticas educacionais?
Hipótese
Os Seminários de Boas Práticas, pensados pela SEE, enquanto um espaço de formação
não só com trocas de experiências a partir do trabalho em leitura e escrita entre
educadores dos Anos Inicias, mas também durante todo o processo de planejamento e
desenvolvimento das boas práticas na unidade escolar, possibilita aos professores a
apropriação de autonomia intelectual o que permite ao docente uma atuação reflexiva e
fundamentada bem como a negação à concepção da função docente como puramente
instrumental e técnica.
1448
Objetivos:
Geral
Compreender como os Seminários de Boas Práticas da Rede Estadual de São Paulo,
como lócus de formação contínua, contribui para a constituição do professor enquanto
intelectual.
Específicos
• Discutir a concepção de professores como intelectuais;
• Discutir a formação do professor como alternativa ao paradigma dominante da
racionalidade técnica – Proletarização docente;
• Identificar os limites e possibilidade da intelectualidade docente tendo em vista
influências de políticas educacionais.
Referencial Teórico
O atual apelo por mudança educacional apresenta aos professores tanto uma ameaça
quanto um desafio que parecem sem precedentes na história da nossa nação (Giroux,
1997). Para o autor a ameaça se dá através de uma série de mudanças que demonstram
pouca confiança na capacidade dos professores de escola pública de oferecerem uma
liderança intelectual sólida aos jovens do nosso país. Tal fato pode ser percebido na
“sugestão de reformas que ignoram a inteligência, julgamento e experiência que os
professores poderiam oferecer em tal debate”. Por outro lado, quando os professores
entram no debate é para serem objetos de reformas educacionais que os reduzem ao
status de técnicos de alto nível cumprindo ditames e programas pensados por
especialistas distantes da realidade escolar concreta.
Nesse sentido a pesquisa será referenciada e iluminada a partir dos estudos de Gramsci
(1987) e Giroux (1997) partindo do pressuposto do entendimento do professor enquanto
intelectual; o tema Formação de Professores será traTado à luz das contribuições de
Nóvoa (1995) e a questão da autonomia dos professores abordada por Contreras (2002).
Tais autores serão o aporte teórico a partir do qual nos ajudará a pensar questões de
intelectualidade docente, formação contínua bem como a autonomia docente enquanto
ser pessoal e político que é o professor.
Tentarei discorrer sobre os impactos nas políticas educacionais durante o trabalho
trazendo as influências do Banco Mundial e OMC tratados por Sérigio Haddad (2008).
1449
Procedimentos metodológicos
Propor-se-á na investigação uma abordagem qualitativa que, de acordo com André
(1995, p.17), baseia-se em princípios como a valorização da “maneira própria de
entendimento da realidade pelo indivíduo”, não aceitando que a realidade seja algo
externo ao sujeito.
Minayo (2001) esclarece que na pesquisa qualitativa a definição de amostragem de
sujeito baseia-se numa preocupação menor com a generalização, ou melhor, o mais
importante é a compreensão do fenômeno. O critério quantitativo não é o mais
significativo, mas a incursão social, ou ainda a capacidade do pesquisador de identificar
e analisar dados não mensuráveis, como percepções, pensamento, opiniões, significados
etc. de determinados sujeitos em relação a um determinado problema. Os sujeitos da
pesquisa serão cinco professores e um PCNP dos Anos Iniciais da DER Leste I que
apresentaram trabalhos no Seminário de Boas Práticas Pedagógicas da rede Estadual de
São Paulo em 2013. Serão empregadas fontes orais e a técnica de pesquisa de dados se
dará através de entrevistas semi-estruturadas, considerada por Tourtier-Bonazzi (1996)
uma técnica intermediária entre um monólogo de uma testemunha e um interrogatório
direto, permitindo ao entrevistador abordar assuntos diferentes ou complementares às
temáticas enfocadas.
Uma vez que “os fatos, os dados não se revelam por gratuita e diretamente aos olhos do
pesquisador” (Ludke; Andrè, 1986, p.4), a análise consistir-se-á num processo contínuo
durante a investigação, procurando identificar as relações e os significados, sendo que a
interpretação e o foco da análise serão ajustados mutuamente no decorrer do estudo
(Alves, 1991). Atentando-se para explicações de Santos (2005, p. 6,)
A leitura de uma entrevista, de uma história de vida, ou de um conjunto de
depoimentos não é tarefa simples. O ponto de partida é, necessariamente, a
precisa delimitação de um problema de pesquisa. No caso de trabalharmos
com um conjunto de depoimentos, é interessante perceber que cada um
contribui com a pesquisa, isolando acontecimentos ou indivíduos,
complementando informações e, mais importante, oferecendo os elementos
necessários para a construção do contexto social ao qual a pesquisa se refere.
Referências
ANDRÉ, Marli Eliza D. A. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus,
2003.
HADDAD Sérgio (org). Banco Mundial, OMC e FMI: Impacto nas políticas
educacionais. Cortez, 2008.
Pôster
Resumo: Este trabalho põe em foco o PARFOR/baixada santista/SP, tendo como objetivo
desvelar as representações sociais dos diretores escolares sobre o programa. Pergunta-se qual
o lugar das professoras nas escolas? Como os diretores podem contribuir para os objetivos do
programa? Pretende-se fazer uma aproximação com a teoria das representações sociais de
Moscovici, com autores que escrevem sobre a profissionalidade docente e sobre a escola
enquanto lugar de formação. Utiliza-se análise documental, abordagem qualitativa e técnica
de análise de conteúdo. Esta pesquisa está em fase inicial e encontra-se inserida em projeto
maior financiado pela Capes. As pesquisas anteriores focalizaram as representações das
professoras no que tange à formação no curso e sua caracterização (inserção social e
profissional). Tais estudos indicam, entre outros que a identidade profissional docente resulta,
sobretudo, da socialização profissional, consideradas as condições de exercício da prática
profissional.
Palavras-chaves: Políticas Públicas Educacionais, Gestão Escolar, Formação de Professores.
I – Introdução
O tema dessa pesquisa refere-se à gestão escolar pública na educação infantil, tendo
como sujeitos, diretores/gestores escolares e como objeto, Políticas Públicas e Gestão das
escolas do Programa PARFOR (Baixada Santista/SP). Busca-se a compreensão dos gestores
sobre políticas de formação do Parfor e sua contribuição na atuação docente e no cotidiano da
organização.
A escolha deste tema de pesquisa ocorreu pela minha trajetória profissional e
acadêmica, desde a faculdade de Letras na Universidade de São Paulo (USP) até os cargos de
1452
macro, passando pelo nível meso ou institucional, em que sofrem mudanças e concretizam-se
na escola, em nível micro, por meio de seus agentes, entre os quais, gestores e professores.
Este ciclo das políticas (MAINARDES, 2006), desde o contexto de produção normativo até o
contexto das práticas, sofre influências que podem indicar tensões e rupturas no processo de
gestão e que podem ser pistas para um estudo mais aprofundado.
O objeto deste projeto de pesquisa é o estudo das Políticas Públicas e da Gestão das
escolas do Programa/Parfor na Baixada Santista, em São Paulo, tendo como problema central
a compreensão dos gestores sobre tais políticas de formação de professores e a contribuição
deste programa na formação docente e na atuação gestora no cotidiano da organização.
O objetivo geral da pesquisa busca compreender as implicações entre políticas
educacionais de governo e gestão escolar e seus efeitos na organização e na atuação docente.
Especificamente, questiona-se como a gestão apropria-se das políticas e qual o seu papel e sua
contribuição no sucesso desses programas para atingir a finalidade a que este programa se
propõe. Objetiva-se investigar os efeitos do programa de governo como o Parfor na gestão
escolar e qual a visão dos gestores sobre o lugar das professoras-estudantes na escola.
Trata-se de estudo em fase inicial que recorre à teoria das representações sociais
(Moscovici, 2013; Jodelet, 2001) como referência para uma aproximação às informações,
atitudes e o campo de representação dos gestores quanto ao Parfor. Quanto à identidade
profissional e desenvolvimento profissional, até o momento, foi consultado Gimeno Sacristán
(1995) Para esta investigação, utiliza-se análise documental (legislação, diretrizes,
depoimentos) e abordagem qualitativa Bogdan & Biklen (1994). O estudo prevê observação
em escolas com estudantes PARFOR na Baixada Santista, um questionário de caracterização
das escolas e entrevistas com seus diretores. A análise de dados será feita com utilização da
técnica de análise de conteúdo (Bardin, 2011; Franco 2007.
Esta pesquisa encontra-se inserida em projeto maior (Obeduc) desta mesma instituição
financiado pela Capes. Focaliza as escolas em que os estudantes Parfor atuam e por encontrar-
se em fase inicial não traz resultados próprios. As fases anteriores da pesquisa maior
focalizaram as representações do estudantes Parfor no que tange à formação no curso e sua
caracterização (inserção social e profissional). Tais estudos indicam, entre outros, os
elementos constituintes das representações sociais dos estudantes sobre sua práticas .
Ratificam que a identidade profissional docente resulta sobretudo da socialização profissional
consideradas as condições de exercício da prática profissional.
1454
MEC
(SEC Ead/ PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO - PDE
SECADI/ SEB)
CAPES
desde 2007 e PLANO NACIONAL DA EDUCAÇÃO 2010
(DEaD/DEB)
CTC/EB
Gestar II
2004 Política Nac de Form.de Profissionais
UAB
do Magistérfio de Educ. Básica (2009)
Pró-Letramento
IPES/ IES 2005
Secretarias
(Fed/Est/Mun) PAR (2008) PARFOR (2009) PBID (2010)
Especialização
PLAT. FREIRE Infantil 2010
FÓRUNS Estaduais
Bibliografia
BARDIN, L... Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
LIMA, Licínio C. A escola como organização educativa: Uma abordagem sociológica. 4ª.
Ed. – São Paulo: Cortez, 2011.
SOUZA, Angelo Ricardo de. Os Caminhos da Produção Científica sobre Gestão Escolar no
Brasil. RBPAE – v.22, n.1, p. 13-39, jan./jun. 2006
VIEIRA, Silva Lerche. Educação Básica: política e gestão da escola. Brasília : Líber Livro,
2009.
1456
Pôster
Isabela Ventreschi
Graduação em Pedagogia/Universidade Cidade de São Paulo
Introdução
A música é arte, logo está relacionada ao belo, pois a arte sempre está associada
a beleza. A música é um universo imensurável, ainda mais quando relacionado ao
âmbito infantil, é parte indissociável na vida de todos e está sempre presente em nosso
cotidiano, seja nas cantigas de ninar (ao nascer), nas brincadeiras vivenciadas com
outras crianças, nas ruas, ou até mesmo nos meios de comunicação.
A Educação Estética, efetivada através da música, proporciona uma educação
profunda e total da formação humana, uma vez que a musicalização promove o
desenvolvimento infantil, visando a sua autonomia.
Neste estudo, focalizamos a reflexão sobre a formação do educador de Ensino
Musical Infantil, na perspectiva da Estética Freiriana, o autor preocupa-se com a
1457
Objetivo
Metodologia
Desenvolvimento
por meio do contato com a música a criança aprende a conviver melhor com
outras crianças, estabelecendo um diálogo mais harmonioso, o que contribui
1462
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
______. À sombra desta mangueira. 3. ed. São Paulo: Olho d’água, 2000.
Pôster
Resumo: O professor face às mudanças na Educação necessita estar e ter uma formação
permanente que possibilite a apropriação de conhecimentos para se tornar um
profissional intelectual à frente desta cultura docente. Diante desta perspectiva esta
pesquisa tem por objetivo estudar o papel do professor, suas aflições, mediações,
possível mudança e as apropriações dos conteúdos pelos professores perante o
PROGRAMA LER E ESCREVER. A metodologia de pesquisa de cunho qualitativo
será produzida com as obras dos autores: Assmann (2007), Bourdieu (1999), Esteve
(1999) e Giroux (1997) que norteiam as concepções do perfil professoral em seu amplo
aspecto.
Palavras-chave: Apropriações, Programa Ler e Escrever, Professor.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho de pesquisa que estuda o papel do professor, suas aflições, mediações,
possível mudança e as apropriações dos conteúdos pelos professores perante o
PROGRAMA LER E ESCREVER.
O PROGRAMA LER E ESCREVER como parte integrante do currículo das escolas do
Estado se destaca diante da perspectiva do ensino na educação do ciclo I.
Segundo o FDE – FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO–
Mais do que um programa de formação, o PROGRAMA LER E ESCREVER é um
conjunto de linhas de ação articuladas que inclui formação, acompanhamento,
elaboração e distribuição de materiais pedagógicos e outros subsídios, constituindo-se
dessa forma como uma política pública para o Ciclo I, que busca promover a melhoria
do ensino em toda a rede estadual. Sua meta é ver plenamente alfabetizadas, até 2010,
todas as crianças com até oito anos de idade (2ª série/3º ano) matriculadas na rede
estadual de ensino, bem como garantir recuperação da aprendizagem de leitura e escrita
aos alunos das demais séries/anos do Ciclo I do Ensino Fundamental.
1466
Objeto de pesquisa
Estudar o papel do professor, suas aflições e mediações, possíveis mudanças e como os
docentes estão sendo instruídos na formação continuada no PROGRAMA LER E
ESCREVER.
1467
Universo da pesquisa
O universo de pesquisa será realizado no horário de formação continuada em serviço
(Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo - ATPC) com 1 hora de duração em duas
escolas da Diretoria de ensino- NORTE 1. Os sujeitos de pesquisa: duas professoras de
cada escola.
Assim sendo, a formação que o professor recebe facilita o trabalho dele em sala de aula
ou não? Como o professor se apropria da formação do PROGRAMA LER E
ESCREVER?
Por meio de cursos direcionados ao público docente busca-se a emancipação de
informações que possam servir de caminho para que o professor se habitue a decodificar
e aplicar o conteúdo do PROGRAMA LER E ESCREVER na sala de aula.
Os cursos de formação continuada direcionados aos docentes visam à melhoria da
aplicação do PROGRAMA LER E ESCREVER e para que eles saibam diagnosticar
onde permanecem as dúvidas ou a falta de estruturação em geral. Visto que o baixo
índice de aprendizado acarretará futuramente nas notas dos alunos em tempo de provas
do SARESP- Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo.
É fato que enquanto o professor bem informado que busca aprender e reaprender se
sobressai melhor na atuação com o PROGRAMA LER E ESCREVER, ao contrário, se
lamenta o tempo todo achando “perca de tempo” ter que seguir as orientações tanto
contidas no livro do professor quanto as norteadas no curso de formação continuada
oferecida pela SEE (Secretaria Estadual de Educação).
Os professores diante das reformas na educação passam por fases distintas de aceitação
e ameaça, ou seja, partem para um novo desafio em sua carreira docente. Para os que
veem a situação por fora, o professore é visto como incompetente e ignorado em seu
papel principal, como líder intelectual experiente.
Nesta parte que fala sobre a postura do professor, cita-se Henry Giroux em Professores
como intelectuais transformadores (1997, p.157).
Na atualidade, professor está sendo avaliado em sua postura dentro da sala de aula e não
mais em seu valor crítico profissional e político, pois os cursos e metodologias se
preocupam em passar qual postura este docente necessita ter e como fazer, e não mais o
quanto se faz importante o próprio ponto de vista e autocrítica.
Em sua trajetória jamais esquecer que deve e pode assumir o papel de intelectual
transformador.
Um aspecto imprescindível ao professor durante sua vida acadêmica, bem como a de
todo profissional, é que tenha a consciência de que vivemos em um período de
aceleradas mudanças que o atropelam e o empurram na busca do conhecimento visando
o seu aperfeiçoamento tanto no profissional como no pessoal.
Parte-se daqui para as motivações, apropriações e inquietudes dentro da proposta deste
trabalho de pesquisa que pretende estudar a ação do professor em seu campo
gravitacional, a escola, que ao mesmo tempo lhe fixa ao chão também transforma a sua
vida num turbilhão de emoções, reações, conhecimentos e atritos em sua trajetória
acadêmica.
Embora não exista uma fórmula fechada e imbatível para solucionar os problemas
herdados e criados nos ambientes escolares. O que se pretende com esta pesquisa é a
possível busca sob uma forma de se repensar os métodos de ensinamentos em um local
determinado ao aprendizado do aluno, visto que, o docente pode ser este eterno aluno do
aprender, o professor intelectual.
O interesse deste repasse de informações aqui citados nesta pesquisa o não é diminuir
ou julgar professores e a gestão escolar de cada escola, e sim o que pode ser modificado
ou repensado na estrutura de formação continuada para que os professores se sintam
profissionais importantes e muito além de serem somente integrantes do sistema
educacional.
Estes fatos contribuem para que se analise a necessidade de formação contínua entre as
partes, gestão e professores nas escolas, e, além disto, as melhorias oferecidas na rede
na busca em avanços para a classe docente.
JUSTIFICATIVA
O texto oferecido neste projeto tem por finalidade estudar o papel do professor, suas
aflições e mediações, possíveis mudanças e como os docentes estão sendo instruídos na
formação continuada no PROGRAMA LER E ESCREVER.
1469
REFERENCIAL TEÓRICO
O campo de pesquisa envolve de forma qualitativa enriquecer a pesquisa de por meio de
relatos, situações do cotidiano, sala dos professores e ATPC (Atividades de Trabalho
Pedagógico Coletivo) na escola A e B na periferia do estado de São Paulo.
No referencial teórico serão utilizados os textos de autores que tanto contribuem, como:
Pierre Bourdieu e Maria de Sá entre outros citados ao decorrer da pesquisa neste
trabalho no qual se pretende analisar os fundamentos da pesquisa.
Na concepção de Pierre Bourdieu, em juízo professoral, o autor retrata a questão que se
refere diretamente à dinâmica de funcionamento da estrutura escolar, especialmente às
relações professor-aluno e às relações entre os próprios professores. Norteia os
mecanismos sociais de construção das categorias de juízo dos professores a respeito de
si mesmo e de seus alunos. Nesta concepção, Bourdieu (1999) constata que:
Assmann (2007,) retrata a importância do renovar do saber docente em sua árdua prática
diária sem o conformismo da profissão ou sem a flexibilidade adaptativa das mudanças.
O docente não se forma um profissional inseguro, pois não se ensina ou se adquire este
conceito em sua formação acadêmica enquanto aluno na universidade. O professor se
torna inseguro ao logo do tempo na sua jornada na qual prefere lamentar-se, sentir-se
culpado o tempo todo ao invés de se doutrinar em prol de si mesmo, ao saber relacionar
os desafios e barreiras, transformando os fracassos em fronteiras a serem exploradas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade pendente. Petrópolis/
RJ: ed. Vozes, 2007.
EARP, Maria de Lourdes Sá. O juízo professoral: um estudo em uma escola pública da
cidade do rio de janeiro. Fundação Cesgranrio. XVI ENDIPE - Encontro Nacional de
Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas – 2012.
ESTEVE, José Manuel. O mal- estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores.
Trad: Durley de Carvalho Cavicchia. Bauru, SP: EDUSC, 1999.
Pôster
Jefferson Riule
UNICID
INTRODUÇÃO
Senac São Paulo para 19 unidades em até 250km de distância da capital. O papel das
GOs está diretamente relacionado ao processo de planejamento estratégico da oferta e
ao seu acompanhamento na rede sendo um suporte direto para as unidades alinharem
suas ações cotidianas com as macroestratégias e diretrizes definidas pela organização.
Há 3 anos componho uma frente de trabalho chamada “Frente Oferta”, em que
seu trabalho consiste no acompanhamento das metas corporativas, orientações sobre a
operação do Programa Aprendizagem, composição dos percentuais de alunos do
Programa Senac de Gratuidade (PSG) em sala de aula e apoio às atividades das equipes
de Assistentes Sociais. Um dos principais objetivos desta Frente é a gestão do Programa
Senac de Gratuidade (PSG), que promove o acesso à educação profissional de qualidade
por meio da Política Senac de Concessão de Bolsas de Estudo, ação que foi ampliada
em 2009 e que proporciona bolsas parciais ou integrais em cursos livres de curta
duração, com mais de 160 horas como capacitações e técnicos, as bolsas são integrais,
(exceto ensino superior).
O Programa Aprendizagem, hoje é o carro chefe e prioridade na composição da
oferta de todas as unidades educacionais, totalizando 45.062 mil vagas em 2014 e
representando 24% da meta total PSG. É regulamentado pelo Decreto nº 5.598, de 1º de
dezembro de 2005, e com as diretrizes curriculares estabelecidas na Portaria MTE nº
615, de 13 de dezembro de 2007.
O Programa proporciona a qualificação social e profissional às demandas
considerando a diversidade dos adolescentes, em sua condição peculiar, de jovens, em
período de inserção no mundo do trabalho considerando às dimensões ética, cognitiva,
social e cultural do aprendiz.
Permite a formação técnico-profissional de adolescentes e jovens, amplia as
possibilidades de inserção no mercado de trabalho e torna mais promissor o futuro da
nova geração. O empresário, por sua vez, além de cumprir sua função social, contribui
para a formação de um profissional mais capacitado para as atuais exigências do
mercado de trabalho e com autonomia, senso crítico, empreendedor e com visão mais
ampla da própria sociedade.
Trabalhar em uma gerência corporativa e sobretudo na coordenação operacional
do Programa Aprendizagem me possibilita vivenciar a gestão de outras Unidades do
Senac, ter contato direto com alunos e com professores e a construir um conceito do que
é uma comunidade escolar e entender como se dá o processo educacional na ponta. No
entanto, apesar da proposta procurar garantir condições de ensino e aprendizagem
1474
mesmos vivem seu trabalho e tomam esta compreensão para mudar o que não
gostam no seu trabalho e na sua atuação profissional. ” (RABELO, 2011, p.
185).
Traçado metodológico
A pesquisa se apoiará na abordagem qualitativa, tendo como procedimento de
coleta de dados a entrevista narrativa. Triangulando com análise documental e
observação, possibilitando inferências, interpretações e analises.
Bauer (2002) nos apresenta que o estudo de narrativas conquistou uma nova
importância nos últimos anos, atrelado com a crescente consciência do papel que o
contar histórias desempenha na conformação de fenômenos sociais, se tornando um
método de pesquisa muito difundido nas ciências sociais.
1476
Considerações em aberto
A investigação narrativa no Brasil vem se destacando no meio cientifico e
acadêmico principalmente nas áreas educacionais, isso fica evidente na pesquisa de
revisão de literatura quando encontramos Maria da Conceição Passeggi (2008), Ecleide
Furlanetto (2008), Elizeu Clementino de Souza (2008), Maria-Christine Josso (2008),
Amanda Oliveira Rabelo (2011), entre outros pesquisadores nacionais com suas
trajetórias e contribuições neste tema.
Portanto, dar continuidade a investigação narrativa no processo educacional
possivelmente nos fará compreender as práticas, motivações e escolhas amplamente
calcadas na experiência humana, logo, ouvir as experiências de docentes que atuam na
formação inicial técnica profissionalizante nos trará os caminhos percorridos,
experiências formativas e especialmente, entender as escolhas pessoais de cada um para
poder compreender mais acerca da escola e da atividade educacional, Rabelo 2011.
Referências Bibliográficas
BAUER, Martin W. GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e
som : uma manual prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
SILVA, Nayane Monteiro da; FREITAS, Vera Lúcia Chalegre de. Narrativas de
formação como ato de reinventar-se: revelações em projetos de extensão, upe
Garanhums – Brasil. In: Revista Metáfora Educacional. Disponível em
www.valdeci.bio.br/revista.html acesso em 16/06/14.
Pôster
Jocinete Figueiredo
PUC/SP
CAPES/CNPQ
GP- PEC/Políticas de Educação e Currículo
Embora não seja foco a discussão sobre a escola de tempo integral, escola de
ciclos, ou o programa Mais educação as duas primeiras serão mencionadas com um
olhar especial, pois são as políticas mais impactantes que resultam em alterações de
tempos e espaços escolares de modo geral. Como a presente tese trata-se dos tempos
escolares, considerou-se pertinente abordar as implicações que tais projetos vêm
provocando enquanto alterações curriculares na escola básica. Tais propostas de
políticas públicas também vêm perseguindo as questões da formação integral
relacionada com o tempo escolar. Além disso, escolheu-se deter nas propostas que tem
repercutido com mais ênfase nos últimos anos, e ao menos no estado de MT, lócus da
pesquisa tem causado mais polemica em sua implementação nas escolas.
Muitas investigações são pontuais, dentro das possibilidades de trabalhos
acadêmicos, e a maioria é concentrada nas regiões mais desenvolvidas, que tomaram a
dianteira das inovações referidas e são também as mais bem documentadas em nosso
país.
De forma crescente, inúmeras políticas publicas e projetos educacionais
apresentam fortes características relacionadas à jornada e ampliação dos tempos
escolares. A experiência de maior repercussão ocorreu na década de 1980, que foram
os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), no Rio de Janeiro. Com a
promulgação da LDB/96, em seu artigo 341, intensifica-se o surgimento, nos sistemas
públicos estaduais e municipais, de projetos que envolvem o aumento do tempo diário
de permanência das crianças e adolescentes nas escolas desse estado.
1
Artigo 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho
efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola. [...]
§ 2º. O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas
de ensino.
1481
A proposta de escolas de tempo integral gerou, nas duas últimas décadas, intensos
debates, posicionando diversos educadores e pesquisadores que ora questionavam o
caráter populista nas propostas políticas de apresentação (PAIVA, 1985) e a
inviabilidade de sua universalização (PARO, 1988), ora, sua consistência como projeto
pedagógico, apontando uma intenção de confinamento, constituindo-se numa instituição
total (Arroyo, 1988).
Ferreira, V. M. R.; Arco-verde, Y. F. S.(2001), Parente (2006), Barbosa (2000),
Santos (2009, 2010) abordam questão dos tempos escolares, enfocando a noção de
tempo e do modo como esta é construída histórica e culturalmente. Em termos gerais,
discutem as diferentes formas pelas quais passou e tem passado o tempo escolar, suas
diferentes configurações e significados, assim como exploram as rotinas pedagógicas
enquanto instrumento de controle e regulação dos comportamentos dos estudantes.
Parente (2010) apresenta algumas heranças dos tempos escolares, mostrando que
estes são construções humanas e, por isso, passíveis de transformações. Faz referência
ao início e à duração da escolarização (tempos de escola); à organização da
escolarização (tempos de escolarização); às construções consolidadas no interior das
instituições escolares (tempos na escola).
Existem muitos estudos sobre a organização por ciclos desde sua implantação,
entre estes se destaca o texto produzido por Gomes (2004), Mainardes(2006), Fernandes
(2003); Barreto et al (1999) e trazem um balanço dos ciclos no ensino fundamental, e
destacam as perspectivas para a pesquisa nos últimos 15 anos em nosso país. Gomes
(2004), Mainardes (2006), se constituem referencias em termos de revisão de
bibliografia sobre o tema, além de apresentarem experiências de modo geral e suas
repercussões no contexto educacional brasileiro.
Miranda (2005) analisa os ciclos enfocando os pressupostos subjacentes à
racionalidade dessa política enquanto reforma educacional em curso no Brasil.
Segundo revisão bibliográfica realizada por Mainardes (2006), de 1987 a 2004,
foram produzidos 147 textos sobre a organização de ciclos de formação no Brasil, sendo
37 teses e dissertações, 10 livros, 38 capítulos de livros e 62 artigos. A maioria desses
textos foi escrito em Língua Portuguesa (143) e apenas quatro em Língua Inglesa
(Gandin, 2002; Gandin; Apple, 2002a; 2002b; Mainardes, 2004). Os programas mais
abordados foram o Ciclo Básico de Alfabetização no Estado de São Paulo (24 textos) e
em Minas Gerais (13 textos), o Projeto Escola Cidadã (24 textos) e o Projeto Escola
Plural (21 textos).
1482
Moreira (2000) faz uma análise das propostas curriculares desenvolvidas, nas
décadas de 1980 e 1990 em alguns estados e municípios brasileiros, que segundo ele,
buscaram caminhar na contramão do discurso oficial hegemônico, destacando as
conquistas, limitações e os desafios de tais propostas. Entre estas, destaca a preocupação
constante com a formação integral, justificando as organizações por ciclo e a escola de
tempo integral implementadas no país no período analisado.
Como em Mato Grosso, as reorganizações curriculares se baseiam nas principais
legislações de nosso país, quanto a garantir: "a igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola" (art. 206 da Constituição), e ter como objetivo, "assegurar-lhe a
formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer- lhe meios para
progredir no trabalho e em estudos posteriores" (art. 22 da LDB)?
Fernandes (2003) faz uma abordagem exaustiva, no bom sentido, sobre a
questão dos tempos educativos e nos comprova através de analises de artigos e
documentos das décadas de 60, 70 e 80 que as alterações dos tempos escolares têm
intima relação com a avaliação escolar. A partir daí, os termos promoção automática ou
correção de fluxo passaram a dominar os discursos educacionais, na tentativa de
combater os altos índices de evasão e repetência.
Ferreira, V. M. R.; Arco-Verde, Y. F. S.(2001) e a pesquisa que resultou a tese
de doutorado A construção dos tempos escolares: possibilidades e alternativas plurais,
de Parente (2006) constituem importantes contribuições sobre a temática no país. É
sabido que as pesquisas acadêmicas devem supor estudos posteriores, já que cada uma
em particular é continuidade, ou uma peça no quebra cabeça, no nosso caso, o complexo
campo educacional. A partir das sugestões ao final destes estudos em particular, e o de
1483
Conclusão
No panorama geral nas discussões sobre os tempos educativos, seja com relação
aos ciclos, ou escola de tempo integral, percebe-se que estes ainda não podem ser
considerados consolidados como estruturas e praticas inovadora. Alguns pesquisadores
afirmam que em relação aos ciclos de alfabetização parece haver um relativo consenso
de que eles são irreversíveis nas redes em que estão instalados há mais tempo, embora
estejam ainda longe de ter concretizado um modelo verdadeiramente novo de operar
da escola (BARRETO E MITTRULIS, 1999).
Referencias Bibliográficas
ALMEIDA, Elena Roque de Souza. A formação humana como superação da escola
ciclada. 2011.
http://www.seduc.mt.gov.br/conteudo.php?sid=376&cid=11203&parent=376, acessada
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(2009, 2010). Acessado em 04/05/2013.
http://educacaointegral.wordpress.com/category/tempo/
1487
Pôster
Resumo: Este trabalho é parte de uma pesquisa em desenvolvimento que tem como
objetivo analisar o direito à educação no Município da Serra/ES do Estado do Espírito
Santo no período de 1997 até 2013, em relação à oferta, a reprovação e evasão escolar.
A metodologia utilizada é a pesquisa de abordagem qualitativa tendo como parâmetro à
aferição dos dados apresentados de forma crítica com um referencial bibliográfico e
documentos legais enfocando o direito à educação, materializado no programa “Pró-
Escola” na perspectiva de um projeto de Educação Comum. Nos achados da
investigação estão sendo considerados a questão do planejamento que é necessário
envolver toda a sociedade civil, em consonância com a judicialização da educação que
representa a busca de mais e melhor instrumento de defesa de direitos juridicamente
protegidos, partindo do pressuposto que a educação deve ser considerada prioridade
social e política fundamental para a construção de uma sociedade democrática.
Palavras-chave: Direito à Educação - Evasão Escolar - Judicialização da Educação
Ano Índice
2008 2,0%
2009 0,9%
2010 0,6%
2011 0,7%
2012 0,5%
Fonte: Secretaria de Comunicação da Prefeitura Municipal da Serra/ES 2013
A redução da evasão escolar deve-se, principalmente, ao projeto “Pró-Escola”. Este
programa visa o Combate à evasão e reprovação escolar das escolas municipais,
definido por meio do convênio assinado entre o tribunal de justiça do Estado do Espírito
Santo, o Ministério Público Estadual e o Município da Serra. A materialização desse
Projeto está na publicação da Portaria nº 0002/2010, da Prefeitura Municipal da Serra /
Secretaria da Educação, que fixa normas, para ações previstas no Programa de Combate
à Evasão e Reprovação Escolar.
Do levantamento preliminar feito até agora sobre os índices de evasão escolar do
Município da Serra, os índices chegaram a 0,6% em 2013, conforme a Secretaria de
Educação. Fica então, a questão sobre a efetividade do processo de cooperação entre
Munícipio e a justiça estadual.
Outro dado a considerar que interfere diretamente nos índices de evasão e reprovação
escolar foi a aprovação da LDB, em que as esferas da União, Estados, Distrito Federal e
os Municípios iniciaram um processo de reorganização do ensino, dando
responsabilidades em relação à oferta do ensino infantil, fundamental e médio. Assim na
organização da educação nacional, a LDB estabelece:
(...)
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão,
em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.
(...)
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade,
o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino
somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área
de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados
1490
50000
45000
40000
35000
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
1997 2000 2004 2008 2012
Rede Estadual
Rede Municipal
percebemos uma diminuição das taxas de abandono escolar que foram se ampliando no
final da vigência do Fundef. No período de 2009 a 2013, o período foi marcado por uma
certa estabilidade ente 0,9% a 0,5%.
12,00%
10,00%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
Taxas de Abandono
Escolar
Gráfico 2 – Taxas de Abandono Escolar da Rede de Ensino Fundamental da Serra/ES (Período de 1997 a
2013)
Fonte: Dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação (SEDU) 2014
Referências
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de
dezembro de 1996.
Pôster
Introdução
. Este artigo apresenta dados iniciais de uma pesquisa que busca compreender a
formação de professores que atuam na educação de Jovens e Adultos em uma
sociedade marcada por intensa crise de valores e pela velocidade. Embora muito se fale
da formação de professores, muitas vezes relacionando a formação precária com a baixa
qualidade da educação, pouco tem se falado especificamente da formação daqueles que
atuam junto aos jovens e adultos que não tiveram acesso a escola na idade certa. Assim,
o estudo deste tema me parece bastante relevante.
1495
É nessa sociedade moderna líquida que temos que pensar esta formação, a partir
desse lugar é que vamos falar sobre a formação de professores.
Pensar na modernidade líquida é perceber que os sujeitos não possuem mais
padrões de referência, nem códigos sociais e culturais que lhes possibilitassem, ao
mesmo tempo, construir sua vida e se inserir dentro das condições de classe e cidadão
(FRAGOSO, 2011). Para Bauman (2001) estamos vivendo um momento, onde os
indivíduos não possuem mais lugares preestabelecidos, estes indivíduos devem lutar
livremente por sua própria conta e risco para se inserir numa sociedade.
Fragoso (FRAGOSO, 2011; 110 ) explica que :
Referencial Teórico
Na verdade continua arraigada a idéia de que qualquer pessoa que saiba ler e
escrever pode se converter em alfabetizador, assim como a idéia de que
qualquer educador o é automaticamente – pelo fato de sê-lo um educador de
adultos. É típico que se passe a ver o professor da escola como depositário
natural da tarefa de alfabetizar adultos (TORRES,1990, p. 05)
Tardiff nos fala dos diferentes saberes que contemplam a formação de professor,
para este autor não se trata de um saber e sim vários saberes, destacando quatro tipos
diferentes de saberes relacionados a atividade docente: os saberes da formação
profissional (das ciências da educação e da ideologia pedagógica); os saberes
disciplinares; os saberes curriculares e, finalmente, os saberes experienciais. Para o
autor o que forma um professor são conhecimentos de ordem diversa, é esse conjunto
de conhecimentos/saberes que vai formar um professor, na realidade são os
conhecimentos oriundos da universidade aliados as saberes da prática docente.
Para Tardiff o saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a
pessoa e a identidade deles, com a sua experiência de vida e com a sua história
profissional, com as suas relações com os alunos em sala de aula e, com os outros atores
escolares na escola.
Pensar que existem vários e diferentes saberes e mais, que o saber da prática
docente é um saber importante foi de muita contribuição pois agora tem-se o saber do
professor como objeto de estudo
Assim um professor aprende a trabalhar trabalhando, e quanto mais experiência
possuir, mais saberes ele possuirá, pois sua prática anterior, reavaliada e retomada,
configura-se em nova prática dessa vez ponderada a partir dos erros e acertos de
vivências outrora realizada.
Nunes (2001) afirma que as pesquisas sobre formação e profissão docentes
apontam para uma revisão da compreensão da prática pedagógica do professor, que é
tomado como mobilizador de saberes profissionais. Considera-se assim que este, em sua
trajetória, constrói e reconstrói seus conhecimentos conforme a necessidade de sua
utilização, suas experiências, seus percursos formativos e profissionais etc.
O autor nos chama a atenção para:
Essa nova abordagem veio em oposição aos estudos anteriores que acabavam
por reduzir a profissão docente a um conjunto de competências e técnicas,
gerando uma crise de identidade dos professores em decorrência de uma
separação entre o eu profissional e o eu pessoal. Essa virada nas
investigações passou a ter o professor como foco central em estudos e
debates, considerando o quanto o “modo de vida” pessoal acaba por interferir
no profissional. Acrescenta ainda o autor que esse movimento surgiu “num
universo pedagógico, num amálgama de vontades de produzir um outro tipo
de conhecimento, mais próximo das realidades educativas e do quotidiano
dos professores” (p. 19).
velocidade das coisas é o que interessa é o que é necessário. O indivíduo é aquilo que
ele veste o que come, o restaurante que freqüenta as etiquetas e marcas que carregam,
são esses os valores que irão definir a identidade dos indivíduos, mas e enquanto aos
professores? Serão eles também os pensadores que defendem, as concepções
pedagógicas que os norteiam?
Considerações Finais
O artigo teve por intenção apresentar dados parciais de uma pesquisa que busca
refletir sobre a formação de professores na modernidade líquida. Se pensássemos
somente na formação de professores a tarefa já seria difícil, mas falar de uma nova
perspectiva onde o antigo ordenamento já não existe e onde o indivíduo encontra-se
sozinho, ele mesmo em busca de seu eu, então só podemos fazer algumas colocações.
A formação inicial tão importante para os docentes agora é questionada, pois
os conteúdos hoje apresentados serão utilizados quando o educador for para a sua sala
de aula? Se tudo é transitório e passageiro também o conhecimento deveria adequar-se
a este novo ordenamento.
A Educação de Jovens e adultos requer um olhar cuidadoso pois trata-se de
uma modalidade onde os indivíduos foram excluídos em algum momento, e agora
necessitam não só de uma chance mais de um estímulo que os levem a construção e
aplicação de novos conhecimento, para isso a necessidade da formação do professor ser
específica para o atendimento de jovens e adultos
Os saberes docentes advindos da prática pedagógica parecem ser um elemento
de autoformação adequado e pertinente no sentido de que mudarão de acordo com as
necessidades do momento bem ao ritmo e de acordo com a vida líquido moderna.
Referências
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
1501
VAGULA, Edilaine. O professor seus saberes e sua identidade. Rev. Cient. Fac. Lour.
Filho - v.4, n.1, 2005
1502
Pôster
INTRODUÇÃO
pelos alunos, nos espaços escolares, visando à consciência crítica de sua atuação como
cidadão.
Percebe-se que nos espaços escolares a preocupação do professor de Educação
Física permanece focada na transmissão do conteúdo, no cronograma e no resultado da
prática a busca da excelente habilidade motora. Entretanto, o desenvolvimento de
atitudes éticas no aprender a conviver em grupo, em sociedade, passa pelos
componentes da educação estética.
Diante do exposto emergem algumas questões: Qual a visão de educação estética
na concepção dos professores de Educação Física? Qual a percepção dos professores
sobre a importância da dimensão estética no desenvolvimento de autonomia e
emancipação dos alunos? Qual a compreensão dos professores a respeito dos objetivos
dos PCN’s, no que concerne aos valores estéticos na Educação Física no espaço
escolar?
PROBLEMA
OBJETIVO
JUSTIFICATIVA
Nas quatro primeiras décadas do século XX, foi marcante a influência dos
Métodos Ginásticos e da Instituição Militar. Como destaca Bracht (et al, 1992), outra
função foi estabelecida pelo surgimento da educação higienista, que determinava que a
Educação Física prestava-se como meio de construção do homem saudável.
A partir da década de 1970, iniciaram-se vários movimentos críticos na busca de
reavaliar a especificidade da Educação Física no contexto escolar. Nesse sentido, muitos
autores construíram novas abordagens e metodologias de ensino a serem trabalhadas,
especificamente na Educação Física.
Diferentes significados e sentidos atribuídos historicamente à Educação Física,
mostram o processo no qual a disciplina caracteriza-se dentro dos parâmetros da
Educação Bancária. Freire (2003) refere-se a uma concepção bancária de educação, na
qual os alunos são meros receptores de informação, sem qualquer incentivo a
consciência crítica e a autonomia, foram, e ainda são muito importantes que envolvem a
Educação Física no espaço escolar.
A formação de pessoas no espaço escolar envolve respeito às diferentes opiniões
e às regras, negação a qualquer tipo de violência, buscando solucionar problemas,
trabalhar em grupo, discussões, construir a criticidade. Neste contexto, são atribuições
da função do professor de Educação Física, o compromisso ético e estético com o
aprimoramento não apenas de habilidades motoras, mas o desenvolvimento da
autonomia e responsabilidade no aprender a ser sujeito no próprio aprendizado do saber
conviver.
METODOLOGIA
O estudo da narrativa conquista uma nova importância nos últimos anos. Este
renovado interesse tem um tópico antigo: narrativas e narratividade tem suas
origens na Poética de Aristóteles e está relacionada com a consciência do
papel que contar histórias desempenha na conformação de fenômenos sociais.
(JOVCHELOVITCH & BAUER, 2002, p. 90)
REFERÊNCIAS
Pôster
Resumo: Este trabalho é parte de investigação maior que está sendo desenvolvido
no Programa de Mestrado de Educação da Universidade Cidade de São Paulo, sob o
titulo “Formação de Professores para a Educação de Jovens e Adultos (EJA)”. Guia-
se pelo pressuposto de que a EJA, em função da especificidade e complexidade de
seu alunado, requer uma formação docente que diferencie o profissional para
enfrentar os problemas nessa modalidade de ensino. A presente pesquisa apoia-se em
referencial teórico oferecido por autores como: HADDAD (2002), ARROYO
(2006), SOARES (2006), TARDIF (2010), FREIRE (2002), PAIVA (2006) e
emprega uma metodologia de caráter bibliográfico denominado “Estado da Arte” ou
“Estado do Conhecimento”. Resultados de estudos acadêmicos vêm denunciando
práticas na EJA que não correspondem às suas particularidades, e à necessidade de
condições de formação docente correspondentes às exigências dessa modalidade de
ensino. Também revelam a importância do aprofundamento de pesquisas sobre a
constituição de estudos da EJA em cursos de formação de professores em
Pedagogia.
Palavras Chaves: Formação de Professores para EJA, Políticas Públicas, Estado do
Conhecimento.
INTRODUÇÃO
1
Mestrando do PPGE da Unicid k.m.sg@hotmail.com
2
Professora do PPGE da Unicid ange.martins@uol.com
1510
CONCLUSÃO
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 19ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
FULLAN, M. The new meaning of educational change. New York: Teaches College
Press, 2001.
SAVIANI, D. Da nova LDB ao novo plano nacional de educação: por uma outra
política educacional. São Paulo: Autores Associados, 1999.
Pôster
INTRODUÇÃO
A Emenda Constitucional nº59 de 20091 trouxe uma nova configuração em torno da
obrigatoriedade da educação, sendo definida pelo critério de recorte etário, de quatro a
dezessete anos, a ser implementado até 2016. Uma das justificativas para a
universalização dessa faixa etária é de que a obrigatoriedade da pré-escola pode
impactar positivamente no ensino fundamental e ensino médio (BRASIL, 2009). O
Plano Nacional de Educação, recentemente sancionado, Lei Nº. 13.005, de 25 junho de
2014, na meta 01, prevê "universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para
1
A EC Nº. 59/2009 além de definir a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos, também prevê
a ampliação dos programas suplementares para todas as etapas da educação básica, a definição da duração
decenal do Plano Nacional de Educação, a definição de que os entes federados estabeleçam formas de
colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório, o fim da Desvinculação dos
Recursos da União (DRU) e a meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do
Produto Interno Bruto (PIB).
1517
Tais questões, sem dúvida, desafiam reflexões sobre as tensões e como se passam as
políticas processadas nas redes municipais de ensino. Nesse sentido, propomos analisar
a implementação da EC nº59/2009 nas políticas de educação infantil e seus
desdobramentos na articulação com a afirmação da qualidade socialmente referenciada,
bem como refletir os impactos da Emenda no planejamento municipal da educação
infantil e os dilemas entre qualidade e quantidade.
JUSTIFICATIVA
O debate sobre a expansão da obrigatoriedade tem como pano de fundo o projeto de
educação democrática e de massas calcada pelo republicanismo (DUBET, 2008). A
racionalidade antropocêntrica em oposição ao Estado absoluto e às explicações dos
direitos de nascença impôs e desembocou nos séculos XVIII e XIX mais do que a
concepção de educação como um direito e sim como dever do Estado e da família. A
República inaugura a concepção da educação como espaço formador de cidadãos para o
1518
poder público com as formulações do campo da educação infantil, apesar de ainda ser
considerável as políticas implementadas ao largo das formulações sobre a infância.
A década de 90 foi um marco importante para a educação infantil, pois passa a ser
incorporado no campo da educação. Contudo, precisamos considerar a diversidade dos
municípios brasileiros e a falta de um Sistema Nacional de Educação consolidado, e que
ainda existem diversos desafios em torno da implementação dessas políticas (SAVIANI,
2013; CURY, 2013), como a democratização e universalização que considere a
concepção das crianças como sujeitos de direitos e produtoras de cultura
(BAZILIO;KRAMER; 2006). Rosemberg (2003) evidencia que o acesso à educação
infantil não está dissociado de uma oferta de qualidade, com infraestrutura adequada,
em espaços institucionais não domésticos, com profissionais qualificados, mas é
importante afirmar que os problemas pautados nas políticas educacionais não são
apenas de ordem técnica. De que o suposto problema da qualidade da educação não é
uma questão de problemáticas gerencialistas, mas, sobretudo, de como as demandas são
referenciadas socialmente. A qualidade da educação não existe de forma
descontextualizada, sem considerar todas as dimensões do espaço educativo. Como
evidencia Araújo e Spinassé (2012):
da luta social, da política. Pelo contrário, marca e é marcada por essas esferas das
relações humanas.
A Emenda Constitucional nº. 59 de 2009 evidencia as tensões, desafios e demandas já
existentes no campo da educação infantil. Cabe problematizar os impactos, as práticas,
os planejamentos e concepções em torno da educação infantil a partir da implementação
da Emenda. Para isso, propomos como opção metodológica a pesquisa qualitativa, no
primeiro momento de tipo exploratória e depois a análise a partir de estudo de caso de
um município da Grande Vitória a ser selecionado pelo número de matrículas ofertadas
na educação infantil.
A GUISA DE CONCLUSÕES
Esta pesquisa tem como pressuposto que a implementação das legislações referentes à
obrigatoriedade da educação infantil são apropriadas de diversas formas pelas redes
municipais de educação e podem provocar diferentes tensionamentos sobre o sentido da
educação infantil e da infância na contemporaneidade. Com a aprovação da Emenda
Constitucional nº. 59 de 2009 e o Plano Nacional de Educação, Lei nº. 13.005, de 25 de
junho de 2014, pretende-se entrar na interioridade das questões que tratam da expansão
da educação infantil e relacioná-las com a qualidade socialmente referenciada.
REFERÊNCIAS
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socialmente referenciada. Revista Vitória: Prefeitura Municipal de Vitória. n. 2, p. 44-
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1522
Pôster
Marcela Alvares
PUC-Campinas - CAPES
Grupo de Pesquisa: Gestão e Políticas em Educação
Resumo: Este trabalho propõe uma análise sobre o conteúdo das Cartilhas do Programa
Bolsa Família (PBF) que são voltadas aos beneficiários do mesmo no sentido de
observar quais as concepções de educação e pobreza presentes nestes materiais; se há
intenção de formar diretrizes sobre como as famílias devem educar crianças e
adolescentes para que estes superem condições de vulnerabilidade sociais e econômicas
e de que forma as Cartilhas competem para a realização dos objetivos do Programa.
Dessa forma, buscarei analisar os discursos presentes nos materiais pesquisados em
vista de gerar informações relevantes ao estudo das políticas públicas em educação, bem
como do papel destes conteúdos para a formação dos beneficiários como gestores do
bem estar de suas famílias.
Palavras-chave: Educação, pobreza e Programa Bolsa Família
Introdução e Justificativa
O Programa Bolsa Família (PBF) é uma Política de Transferência de Renda
(PTR) atrelada ao sistema de proteção social brasileiro que visa conceder um benefício
condicionado às famílias consideradas pobres ou extremamente pobres. Como toda
política pública compensatória1 o Programa tem a função de minimizar as desigualdades
socioeconômicas geradas pelas transformações socioeconômicas ocorridas nos últimos
trinta anos. (Cohn, 1995)
A transferência de renda do Bolsa Família está vinculada ao cumprimento de
condicionalidades, em que, de acordo com os formuladores do Programa, os
compromissos se justificam por promoverem o acesso a serviços básicos aos
1
Segundo Cohn (1995), as políticas públicas compensatórias visam minimizar as desigualdades oriundas
no mercado. Para a autora esse tipo de política representa o rompimento da lógica de que
desenvolvimento econômico é sinônimo de desenvolvimento social e permite, por parte das parcelas mais
pobres da população, o acesso a benefícios e serviços sociais básicos.
1523
2O Programa Fome Zero criou uma estratégia nacional para implementar e investir recursos financeiros e
humanos em diversos programas e ações que se complementavam no sentido de acabar com a fome e a
extrema pobreza. (Aranha, 2010)
1526
ter sua renda vinculada à comprovação de gastos com alimentos, ficou fragilizado
politicamente. (Soares, 2010 apud Cotta, 2009)
Os objetivos iniciais do PBF eram: unificar o Bolsa Escola, Bolsa Alimentação,
Auxílio Gás, criados na gestão anterior ao Governo Lula, e o Cartão Alimentação,
criado no princípio de sua gestão (COHN, 2010); transferir renda diretamente às
famílias que vivem em situação de pobreza ou de extrema pobreza3; combater a situação
de vulnerabilidade econômica e a desigualdade das famílias beneficiadas através da
inserção das mesmas em outras políticas sociais voltadas principalmente à educação,
saúde e assistência social com a finalidade de quebrar o ciclo intergeracional da
pobreza.
A busca pela interrupção desse ciclo, entre gerações, está presente nas
orientações de organismos internacionais para o combate da situação de vulnerabilidade
das crianças. Em trabalho de Campos e Campos (2008), as autoras apontam que a
educação de crianças e de suas famílias é vista como elemento principal na luta contra a
pobreza. Neste sentido, a família precisa ser educada para ensinar seus filhos e auxiliá-
los a não passar pelas mesmas situações de vulnerabilidade enfrentadas por gerações
anteriores.
No sentido de compreender como o Programa visa atingir suas finalidades,
principalmente aquelas ligadas à educação, torna-se candente uma análise dos materiais
desenvolvidos para os beneficiários desta PTR, pois as Cartilhas se configuram como
um contato direto entre os gestores do Programa e os beneficiários, mostrando a estes o
que é o Bolsa Família, o quanto o mesmo é relevante na luta pelo fim da pobreza, suas
metas e condicionalidades.
Ao afirma elencar as Cartilhas como algo próximo a materiais didáticos
pretendemos apontar que a função das publicações voltadas aos beneficiários está
atrelada a pelo menos três aspectos destacados por Choppin (2004), em que são uma
referência, no sentido de ter seu conteúdo plenamente alinhado às proposições do Bolsa
Família; ser um instrumento se ensinamento das maneiras de como lidar com as
condicionalidades do mesmo e se configurar como documento relevante para a melhor
compreensão do que é o Programa.
3
A definição destes termos foi estipulada a partir das chamadas “linhas de corte” para o ingresso ao
Programa, ou seja, para ser considerado extremamente pobre ou pobre e então receber o benefício era
preciso, no ano de 2004, que a renda per capita familiar fosse de R$ 50,00 e R$ 100, 00 respectivamente.
(Sátyro; Soares, 2009)
1527
Acreditamos que esta pesquisa será relevante para auxiliar a avaliação das
políticas públicas atuais no que tange à educação não apenas de indivíduos em idade
escolar, mas também quanto à formação das famílias como instrumentos no processo de
superação da pobreza.
Objetivos
O objetivo deste trabalho é analisar os conteúdos de seis Cartilhas desenvolvidas
nos anos de 2006 e 2013, para beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF), a fim de
identificar quais as concepções de educação e pobreza presentes nessas publicações. A
razão de utilizar tais materiais como objeto de pesquisa é que as mesmas refletem um
discurso no sentido de orientar a conduta dos beneficiários em relação à educação e
saúde de crianças e adolescentes. Dessa forma, as Cartilhas se mostram um importante
instrumento de compreensão sobre a forma como o Programa enfrenta a questão da
pobreza.
Em pesquisas bibliográficas realizadas para a construção deste Projeto foi possível
elucidar que o PBF está em consonância com algumas orientações que veem na família
o elemento principal de garantia das crianças e adolescentes à escolaridade e saída da
pobreza, em que a responsabilização dispensada a essa instituição é representada e
explicitada pelas condicionalidades e discursos presentes nos materiais desenvolvidos
para os beneficiários. Dessa forma, os objetivos específicos são:
a) Analisar qual o papel da família nos processos de enfrentamento da pobreza;
Material e método
As publicações a serem analisadas neste trabalho são de domínio público e estão
disponíveis no sítio virtual do MDS ou através de solicitação, justificada, à Secretaria
Nacional de Renda e Cidadania (SENARC).
A partir da coleta de materiais desenvolvidos pelo Ministério e Secretaria
responsáveis pelo PBF, durante os meses de março e abril de dois mil e treze, foram
1528
encontrados o total de seis Cartilhas. Destes exemplares, todos são direcionados aos
beneficiários e datam do período de 2006 a 2013.
O trabalho terá caráter qualitativo, na qual será empenhada a análise de discurso
de inspiração da linha francesa, que atrela o aspecto linguístico e de teoria social que
compõe este método. Segundo Fairclough (2001), existe uma dimensão linguística e
outra social da análise de discurso. Dessa forma, o autor destaca que a abordagem
linguística mais comumente utilizada enfatiza a interação entre o falante e o receptor da
mensagem ou entre o escritor e o leitor, ou seja, destaca os processos de produção e
interpretação da fala e da escrita.
Os materiais educativos são objetos culturais com múltiplas funções e informam
valores compartilhados em uma determinada época. Considerando que as Cartilhas são
constituídas por conteúdos educativos esta pesquisa não buscará a mera descrição destes
textos como produtos acabados, mas, sim, observar-se-á o processo de produção e a
interpretação textual, analisando o período em que cada material foi publicado e o
contexto social e político de cada momento, aspectos que são caros à análise de
discurso.
Referências Bibliográficas:
ARANHA, A, V. Fome Zero: um projeto transformado em estratégia de governo. In:
Fome Zero: a experiência brasileira. Brasília: Ministério do Desenvolvimento
Agrário, 2010, s.v, p. 85 – 109.
CHOPPIN, A. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 549 – 566, set/dez 2004.
COHN, A. O PBF e seu potencial como política de estado. In: Bolsa Família 2003-
2010: avanços e desafios. Brasília: IPEA, 2010, v. 2, p. 219-238
CUNHA, M,T, S. Das mãos do autor aos olhos do leitor. Um estudo sobre livros
escolares: a série de leitura graduada Pedrinho de Lourenço Filho (1950/1970). Revista
de História Unesp, Assis/Franca, v. 30, n. 2, p. 81 – 99, 2011.
1529
SPOSATI, A. Bolsa Família: um programa com futuro(s). In: Bolsa Família 2003 –
2010: avanços e desafios. Brasília: IPEA, 2010, v. 2, p. 273-306.
1530
Pôster
Margaret Jann
PPGE/UFES
Grupo de Pesquisa Infância, Educação, Sociedade e Cultura-IESC
Resumo: Este trabalho tem como objetivo investigar uma realidade pouca discutida no
contexto educacional: os processos de acolhimento dos professores e sua entrada na
Instituição de Ensino tendo como inspiração o conceito de Amor Mundi em Hannah
Arendt (2007). O foco central é analisar os sentidos e significados atribuídos aos
processos de acolhimento e compreender as relações e experiências entre professores
contratados e professores efetivos que se configuram numa escola pública de educação.
Assim, essa pesquisa estrutura-se em torno da tensão das relações que têm sido
constituídas no espaço escolar buscando desenvolver uma análise a respeito do acesso e
permanência dos professores na instituição. Para tanto pretende-se realizar um estudo
qualitativo a partir de pesquisa etnográfica.
Palavras-chave: Experiência. Trabalho docente. Modernidade.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo investigar uma realidade pouca discutida no contexto
educacional: os processos de acolhimento dos professores e sua entrada na Instituição
de Ensino, tendo como inspiração o conceito de Amor Mundi em Hannah Arendt
(2007). O foco central é analisar os sentidos e significados atribuídos aos processos de
acolhimento e compreender as relações e experiências entre professores contratados e
professores efetivos que se configuram numa escola pública de educação. Assim essa
pesquisa estrutura-se em torno da tensão das relações que têm sido constituídas no
espaço escolar buscando desenvolver uma análise a respeito do acesso e permanência
dos professores na instituição.
escolar; diante de uma realidade que se mostra em geral com a presença de práticas de
acolhimento aos professores, meramente, burocráticas; diante da constituição da
racionalização na modernidade que provoca novas lógicas organizacionais e relacionais;
diante dos encontros intergeracionais entre os profissionais, observa-se a relevância da
pesquisa em investigar o acesso e a permanência dos professores nas instituições de
educação pública.
Oliveira (2011) ressalta a discussão do trabalho docente se configurando com uma nova
regulação de forças no interior da escola estabelecido pelas atuais políticas educacionais
que têm atribuído a preocupação com a eficiência dos sistemas medida por meio de
resultados escolares, definindo formas de inserção, permanência e progressão na vida
profissional. A autora apresenta, também, o desenvolvimento dos sistemas escolares,
nos dois últimos séculos, a partir do paradigma do ideal de igualdade e oportunidades,
centrando-se no princípio republicano de garantir acesso a todos os cidadãos. Observa-
se a partir daí uma tensão entre os objetivos da educação formal e as demandas de novos
sujeitos sociais que adentram a escola. A tensão se estabelece quando há a perda do
modelo fundador dos sistemas escolares onde havia um saber que se impunha aos
demais. Esse saber foi sendo criticado ao longo das últimas décadas e essas críticas
contribuíram para a crise de legitimidade dos sistemas escolares e da função social da
escola, bem como, para a identidade profissional dos docentes.
METODOLOGIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
.
1535
Pôster
Introdução
Antes de lermos a palavra temos que ler o mundo. (FREIRE,
ano, p. )
suas noções a respeito das representações de sua realidade profissional. Nessa etapa
foram feitas entrevistas, com professores que se encontram próximos da aposentadoria,
buscando entender como o cotidiano escolar interfere na sua formação e como esses
professores, descrevem suas experiências.
O estudo em questão, portanto, faz parte de um trabalho maior, de abordagem
qualitativa, conforme anunciam Lüdke e André (1986) e Bogdan e Biklen (1994), e se
utiliza, também, da análise de conteúdo (BARDIN, 2007; FRANCO, 2012). Este estudo
se fundamenta teórico-metodologicamente, ainda, na Teoria das Representações
Sociais/TRS (MOSCOVICI, 2012).
O texto está dividido em quatro partes. Inicia-se com a discussão a respeito da
importância da disciplina de Geografia e da formação de professores de Geografia
atualmente. Na segunda parte, são abordados os referenciais teóricos e os
procedimentos metodológicos da pesquisa, mostrando a importância da análise de
conteúdo (BARDIN, 2007; FRANCO, 2012) e das representações sociais
(MOSCOVICI, 2012). Na terceira parte será feita a análise dos dados e esclarecidos
alguns dos resultados da pesquisa e, por fim, as considerações finais.
disciplina repetitiva, pouco atrativa, que tem reproduzido o pensamento de uma classe
dominante e que usa como instrumento de ensino basicamente os livros didáticos.
A desvalorização da disciplina está relacionada à desvalorização do magistério, e
este, por sua vez, a dois fatores, como revelam autor Antes de lermos a palavra temos
que ler o mundo. Pontuschka, 2009 e Callai, 2013.
I) A questão da centralização e da descentralização das diretrizes
curriculares do Brasil; a decisão do que ensinar e como ensinar não
cabe mais às escolas e aos professores. Essa decisão foi, aos poucos,
distanciando-se das escolas de e das próprias universidades,
II) O segundo fator está ligado à questão da formação do professor a qual
é ainda mais grave e, por esse motivo, objeto deste artigo, que busca
por denunciar a existência uma política fraca de formação do professor,
inferior à formação de um pesquisador de Geografia.
Os professores foram paulatinamente perdendo a capacidade de interferir na sua
formação inicial e continuada, conforme indica Pontuschka (2009,p.89): “Os
professores, via de regra, são vistos como profissionais despreparados, sem capacidade
de gerir autonomamente os próprios saberes”.
A formação dos docentes não é prioridade nas políticas educacionais do Brasil,
de certa forma, o Estado assume a incapacidade do professor de se formar e de
regulamentar sua profissão. As faculdades de Geografia estão baseadas na organização
curricular, que prevê três anos de bacharelado, em que são contempladas disciplinas
técnico-científicas e um ano de disciplinas da licenciatura, didático-pedagógicas,
conhecido como o modelo 3+1. Os cursos de Geografia das universidades públicas dão
ênfase à formação de pesquisadores, enquanto a formação dos professores é feita
essencialmente em universidades e faculdades particulares. Instituições estas que tinham
a formação inicial em licenciatura curta e foram se adaptando à licenciatura plena, como
anuncia Callai (2013, p. 116):
Em geral, esses cursos passaram por um processo inverso ao daqueles cursos,
caracterizados anteriormente, tendo sua base nas Licenciaturas curtas, para a
formação do professor de Estudos Sociais, em que o professor saía habilitado
em História, Geografia, isto é, em Estudos Sociais, para Primeiro Grau. Da
Licenciatura curta passaram à plena e, em alguns casos, criou-se também o
Bacharelado, mas a ênfase é dada à formação de um professor para professor
de Primeiro e Segundo Graus (atualmente ensino fundamental e médio).
ensinar. Hoje a ideia é de aquele que vai ser professor precisa saber de
Geografia tanto quanto aquele que será técnico ou bacharel, e mais, que afora
saber da Geografia precisa saber do ensinar Geografia. (CALLAI, 2013,
p.16)
4- A formação continuada:
Outro ponto levantado nas entrevistas refere-se à questão da formação
continuada, que ocorreu conforme as oportunidades apareciam, não havendo uma
política oficial de capacitação e de formação continuada.
Os entrevistados foram fazendo “todos os cursos que apareciam”, na Diretoria
de Ensino, pela prefeitura e promovidos pelas escolas particulares, entre outros. Só um
dos entrevistados fez curso de especialização.
É fato que a formação de professores não é suficiente e também não recebe a
devida atenção por parte dos governantes. Como nos diz Saviani (2011, p. 10):
Ao fim e ao cabo, o que se revela permanente é a precariedade das políticas
formativas, cujas sucessivas mudanças não lograram estabelecer um padrão
minimamente consistente de preparação docente para fazer face aos
problemas enfrentados pela educação escolar em nosso país.
1541
Considerações Finais
O ponto em comum das três entrevistas é que os professores percebem que a
formação acadêmica é insuficiente e que na realidade a preparação para dar aulas
acontece na prática. Os professores entrevistados reconhecem, portanto, que a formação
principal aconteceu no ambiente escolar, conforme afirma Abdalla (2006), quando
destaca que a escola é o lugar onde os professores aprendem a dar aulas.
A escola, nesse contexto, adquire um papel fundamental na formação dos
docentes enquanto campo de saber científico, pedagógico, cultural e político-social
(ABDALLA, 2006).
Percebemos, ainda, que todos os professores entrevistados também reconhecem
que a profissão docente envolve muitos desafios, principalmente no início da carreira,
quando eles se sentem menos preparados e mais desafiados. Os docentes entrevistados
relatam essas dificuldades e desafios do início da carreira e do momento atual que
vivem. O primeiro entrevistado, por exemplo, afirma que não faria a carreira docente
novamente. Os outros afirmam que fariam, mas ressaltam que não é uma carreira fácil.
A busca pela formação contínua, por meio de cursos, de trabalhos e de
especialização também é muito importante para todos os entrevistados. Cada um seguiu
um caminho próprio para sua formação, buscando em cursos ou na prática a melhora e
sua atualização.
Apesar da reconhecida importância do professor de Geografia, a formação
inicial e contínua não tem sido realizada de forma efetiva pelas instituições. Por outro
lado, os baixos salários não permitem, também, que os professores busquem se atualizar
e melhorar sua prática.
Referências
Pôster
1
Maria de Belém Brandão Andrade Ferreira
UNICID
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo investigar os sentidos construídos por
crianças do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental de uma Escola da Rede Municipal de
Ensino de Laranjal do Jarí/AP para as experiências vividas na Escola. A pesquisa é de
cunho qualitativo e aborda a narrativa de criança. Para recolha das narrativas serão
utilizadas rodas de conversa com no máximo 05 crianças e no mínimo 03, distribuídas
por faixa etária: Grupo – 1: crianças de seis anos e a sete anos; Grupos – 2: crianças oito
a dez anos.Quanto à forma de desencadear a conversa, serão utilizados
mediadores:bonecos,desenhos,fotografias,historias que estimule as crianças a narrar
suas experiências.As narrativas infantis serão gravadas em áudio e vídeo e
posteriormente transcritas. Para análise dos dados serão mapeados os temas
identificados por meio da leitura das transcrições procurando compreender como eles
evoluem nos dois grupos, levando em consideração questões relativos às narrativas
infantis, o que as crianças pensam sobre a escola.
Palavra Chave: Criança, experiência, narração, investigar, construir, interação.
INTRODUÇÃO
Os interesses que fizeram nascer essa pesquisa e, naturalmente, o tema a ser
estudado enraízam-se em minha trajetória de vida pessoal, profissional e acadêmica.
Segundo (Josso, 2004, p. 24).
1
Aluna bolsista pela CAPES – PROSUP Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de
Ensino Particulares.
1544
Para Dubar (2005) “Somos a história que contamos a nosso respeito” e contar a
minha história se faz necessário nesse momento em que inicio minha dissertação de
mestrado.
Quando penso em minha vida, volto à infância e resgato a escola, sensações de
alegria vêm à tona. Felicidade, alegria invadem minha mente e provocam emoções.
Lembranças de fatos marcantes surgem como flashes a cada segundo. A sensação de ter
vivido sonhos, conhecido pessoas que dirigiram meus passos, apresentaram-me um
novo caminho e fizeram-me acreditar num futuro possível. Constato que a
oportunidade de ter frequentado a escola é um privilégio e uma conquista.
Tive momentos marcantes em minha infância, entre eles a saída da cidade onde
nasci Belém do Pará e a ida para um pequeno lugarejo chamado “Laranjal do Jarí”
localizado ao sul do Estado do Amapá. Essa experiência me remete aos primeiros anos
de ensino, lutava para chegar à escola que simbolizava uma esperança de sobrevivência
para uma pequena criança vinda de uma família de pais semianalfabetos. Atravessava o
rio Jarí de canoa, subia morros, mas, ao final, sabia que encontraria professores
divertidos, livros, histórias contadas pela tia Lú, recreio, merenda, corredores largos
onde corria à solta. Passei minha infância e adolescência nessa escola e quando tive que
optar por uma profissão, influenciada por uma colega, escolhi o Magistério e penso que
essa foi uma das melhores escolhas que fiz na minha vida, até hoje colho os frutos dessa
opção. No antigo ensino regido pela Lei 5.692/71 iniciei o Magistério, destinado à
formação de professores para atuar na antiga 1ª à 4ª série e na pré-escola, assim que
concluir, passei em um concurso Público da Rede Estadual de Educação.
A primeira escola que atuei foi a Escola Estadual Emílio Médici em um bairro
Periférico que atendia uma clientela bem diversificada de crianças, filhos de lavadeiras,
meretrizes, cafetões, donas de casa, comerciantes, barqueiros e filhos dos funcionários
que trabalhavam no Projeto Jarí. A diversidade era uma das marcas da escola, também
influenciada pelas idas e vindas de alunos, quando os operários eram desligados do
Projeto Jari, ficavam por algum tempo na cidade e logo partiam de volta para suas
cidades de origem, levando consigo as crianças, restando apenas a saudade. Até hoje, a
cidade é influenciada por esse transito de pessoas, quando se pensa que as crianças estão
ambientadas na escola, seus pais já estão partindo novamente.
1545
Sentia necessidade de continuar meus estudos, mas sempre deixava para mais
tarde, no entanto quando chegou uma Proposta da Secretaria de Educação do Estado do
Amapá dizendo que todos os professores do quadro efetivo que tivessem apenas o
Magistério teriam que cursar Pedagogia e para isso deveriam prestar vestibular pela
Universidade Federal do Amapá, percebi que não dava mais para esperar.
O curso foi muito interessante, professores, autores, as disciplinas que
compunham o curso, o ambiente favorecia a aprendizagem e mais uma vez acreditei ter
feito a opção certa quando decidi ser professora. Algum tempo depois cursei a pós-
graduação em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica. Fui convidada a assumir um
Cargo Comissionado de Gestora em uma Escola de periferia. Ao assumir, muito me
entristeci ao ver o estado daquela Escola esquecida sem vida, onde as alunos pareciam
não ter sonhos e nem esperanças. Coloquei a mão na massa e meu objetivo passou a se
aproximar essa escola da que tive na infância, queria que a escola que estava dirigindo
abrisse janelas para o futuro dessas crianças, como a minha tinha aberto, por meio de
um trabalho digno por parte de alunos e professores.
O começo não foi nada tranquilo. Os alunos e professores resistiam a um
trabalho fora dos padrões aos quais estava acostumado. Busquei novas parcerias que
incluíssem as famílias, a sociedade local, o Governo do Estado, envolvendo para isso
todos os setores da Escola. Após a realização dessas parcerias, passei há conhecer um
pouco mais as histórias dos membros da escola e teve início uma nova fase: estratégias
pedagógicas foram sendo elaboradas e propostas ao grupo, sem perder de vista aspectos
importantes decorrentes dos relatos de vida aos quais tive acesso.
Ao ingressar no Mestrado fui estimulada a narrar minhas lembranças da escola e
de vida e percebi que, ao fazer isso, fui me apropriando de minhas experiências
articulando-as e construindo sentidos para elas. Lembrei que na ocasião que dirigia a
escola havia solicitado aos alunos que desenhassem e escrevessem cartinhas para a nova
escola e muito me surpreenderam os desenhos e narrativas feitas por eles e percebi que
eles puderam falar das experiências vividas no processo de reconstrução da escola.
Dessa forma, me aproximei de um projeto de pesquisa que integra diversos
projetos: “Narrativas infantis: o que contam as crianças sobre as escola da infância?”
(MCTI/CNPq/MEC/CAPES 07/2011 – coordenado por Maria da Conceição Passeggi,
que articula pesquisadores de diversas regiões e universidades do pais (UFRN,
UNICID, UNIFESP, UFF, UFRS, UFRR). Esse projeto, por sua vez, integra um projeto
internacional, coordenado por Martine Lani-Bayle, na França, cujo objetivo é colocar
1546
Traçado Metodológico
Considerações Finais
natureza, dos pensamentos e dos sentimentos e ao fazerem isso podemos contribuir para
ampliação da compreensão dos processos educativos de o fazerem de modo distinto e de
o usarem para lidarem com tudo o que as rodeia.
Referências
BAUER, M.W. GASKELL, G. (orgs) Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som;
Um manual prático. 11 ed.Petropolis, RJ: Vozes, 2013.
Pôster
INTRODUÇÃO
DELIMITAÇÃO DO TEMA-PROBLEMA
HIPÓTESE
OBJETIVOS
JUSTIFICATIVA
METODOLOGIA
REFERÊNCIAS
Pôster
1
Marli Aparecida Herrera
INTRODUÇÃO
1
Aluna bolsista pela CAPES – PROSUP Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de
Ensino Particulares
1557
para a infância levando em conta a alteridade da criança, legitimando-a como ser capaz
de refletir sobre suas experiências ao narrar suas vivências.
A reflexividade na infância, sobre a qual se baseia a proposta, permeia as
diferentes abordagens realizadas nos últimos anos por pesquisadores preocupados em
conferir à criança o estatuto de sujeito de direito, conforme atestam as publicações mais
recentes nessa área. Alguns trabalhos apontam nessa direção tais como: Chaves (2012);
Oliveira (2011); Serra (2006), além do texto do autor Pereira (2006) entre outros. Esses
autores mostram as mudanças que estão ocorrendo, ou seja, a criança está deixando de
ser considerada um ser incompleto e imperfeito, o que a tornava « invisível », para ser
vista como um sujeito capaz de inserir suas palavras no discurso social. Ao entrar na
escola, a criança é introduzida em um contexto social mais amplo, no qual é
chamada a desempenhar novos papéis. Por meio das narrativas ela conta o que está
vivendo e os sentidos que está construindo para suas novas experiências
Integrar essa pesquisa, além de me aproximar do referencial teórico assumido
pelo projeto e da visão das crianças a respeito das escolas, despertou em mim o
interesse pela pesquisa. Ao terminar a graduação, percebi que seria importante continuar
a trajetória que tinha iniciado como pesquisadora, o que me levou a buscar o mestrado
em Educação da UNICID. Ao entrar no mestrado, continuei frequentando o Grupo de
Pesquisa liderado pela Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto que já tinha me orientado
na pesquisa de iniciação científica e nesse espaço pude constatar que a pesquisa da qual
tinha participado, anteriormente, teria desdobramentos.
Os resultados permitiram problematizar a entrada e permanência da criança na
escola que ao ser introduzida na cultura escolar passa a ser, além de criança, aluno,
papel que vai se impondo à medida que ela avança na escolaridade. Cumpre, no
entanto, indagar o quanto essa apropriação da imagem de si como « aluno », contribui,
ou não, para a construção de processos e subjetivação e socialização da criança como
sujeito de direito, e de valores referentes à cidadania e aos processos de construção em
uma sociedade justa frente à diversidade. Caminhando nessa direção pensou-se em
diversificar os protagonistas dessas histórias, para isso considerou-se importante incluir
crianças de diferentes etnias ; com deficiências ; crianças e crianças que frequentam
classes hospitalares para aprofundar as indagações iniciais. Dessa forma a pesquisa que
pretendo desenvolver no mestrado delineou-se nesse contexto.
Observando a rotina diária da escola, no estágio que fiz no Curso de Pedagogia,
deparei-me com crianças consideradas incluídas, frequentando a sala de aula e também
1559
escola de Ensino Fundamental da Rede Estadual de São Paulo, incluídas nas salas de
aulas regulares e que também frequentam a salas de recursos AEE - Atendimento
Educacional Especializado, mediante suas experiências na escola.
TRAÇADO METODOLÓGICO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
PIRES, José. A Questão Ética Frente as Diferenças: Uma Perspectiva da Pessoa como
Valor. Inclusão: Compartilhando Saberes. Lúcia de Araújo Ramos Martins; José Pires;
Gláucia Nascimento da Luz Pires; Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo
(organizadores). Ed. Vozes. 2ª edição. 2006.
Pôster
Resumo: Este trabalho apresenta os resultados iniciais de uma pesquisa que busca
discutir o desempenho apresentado pelos egressos do Ensino Médio quando ingressam
no Ensino Superior, buscando situar esse desempenho no contexto da Educação Básica
que a eles é oferecida. Nesta fase da pesquisa foi realizada uma revisão bibliográfica e
documental por meio do exame da literatura referente à educação básica, sobretudo no
que diz respeito ao currículo, a avaliação e aos documentos oficiais e artigos veiculados
por meio da imprensa, também foi iniciada a análise das entrevistas realizadas com
professores que atuam no Ensino Superior. Esta análise inicial permite inferir algumas
percepções destes professores sobre as deficiências apresentadas por esses alunos. Os
dados coletados por meio das entrevistas estão em fase inicial de análise, mas a partir
deles já é possível realizar algumas inferências sobre a percepção dos docentes que
atuam no ensino superior com relação à questão da qualidade da educação oferecida aos
jovens na educação básica.
Palavras Chaves: Políticas públicas, Educação Básica, Avaliação e Desempenho dos
Alunos.
Justificativa
Este trabalho apresenta os resultados iniciais de uma pesquisa que busca discutir
o desempenho apresentado pelos egressos do Ensino Médio no Ensino Superior,
buscando situar esse desempenho no contexto da Educação Básica que a eles é
oferecida. Nesta fase da pesquisa foi realizada uma revisão bibliográfica e documental
por meio do exame da literatura referente à educação básica, sobretudo no que diz
respeito ao currículo, a avaliação e aos documentos oficiais e artigos veiculados por
1564
meio da imprensa, foi também iniciada a análise das entrevistas realizadas. Com isso
pretendo discutir esse desempenho para então estudar encaminhamentos possíveis.
Para realização da pesquisa adotei uma abordagem qualitativa e como
procedimento de coleta de dados a análise bibliográfica, documental e entrevistas
semiestruturadas. Os dados coletados por meio do estudo bibliográfico são
completados por outros produzidos a partir de entrevistas semiestruturadas com dez
professores escolhidos aleatoriamente que atuam no Ensino Superior, neste trabalho
para manter o anonimato, o nome dos professores foram trocados por nomes fictícios.
Com isso busco identificar as percepções destes professores sobre as origens das
deficiências e os possíveis encaminhamentos.
No desenvolvimento do trabalho assumi como referencial teórico os trabalhos de
Sousa (2009) que estuda a avaliação e gestão na educação básica, Dowbor (2008) que
discute a relação entre educação e desenvolvimento local, Sordi (2010) que nos mostra
que há uma relação pragmática com a avaliação muito mais centrada na nota do que no
quanto esta possa ser expressão da apropriação do conhecimento, Freitas (2003) que nos
coloca também como uma instituição social que opera em uma sociedade hierarquizada
economicamente e que pede à escola que distribua seletivamente o conhecimento. Isso
implica criar na escola não apenas trilhas diferenciadas de progressão, mas também
alunos diferenciados que possam ocupar posições diferenciadas na estrutura
socioeconômica.
A pesquisa se relaciona com inquietações que emergiram da minha experiência
docente. Quando do meu ingresso na área da educação em 2009, primeiramente como
docente no ensino técnico e posteriormente no ensino superior, minha experiência
profissional resumia-se no trabalho dentro da área industrial de manufatura mecânica,
na qual atuei durante vinte e sete anos. A princípio a ideia de contribuir com a formação
de novos profissionais me motivou muito. Pesquisei sobre o universo do ensino, neste
momento percebi que precisava me preparar melhor, o que me fez procurar uma pós-
graduação voltada a docência no ensino superior. No curso de pós ficou evidente que
muitas das respostas que procurava, não encontraria tão facilmente.
Após muitas situações vivenciadas dentro do ambiente escolar, ficou evidente o
antagonismo entre o desejo de se ter uma educação de excelência no ensino tecnológico
e a realidade da educação básica. Esse antagonismo estava presente nos primeiros
discursos que ouvi assim que ingressei no campo da educação.
1565
A pesquisa parece ter grande relevância pessoal e social. Pessoal à medida que
tento responder a questões de como melhorar a minha prática no ensino superior, e
social porque com este trabalho pretendo sistematizar e disponibilizar conhecimento
sobre o objeto estudado, podendo contribuir também com outros educadores,
pesquisadores ou gestores de unidades e sistemas de ensino. Trata-se de uma questão de
suma importância e de grande complexidade, por isso este trabalho é um pequeno
recorte focado no desempenho dos alunos em matemática e física.
Muito se diz sobre a falta de qualidade da educação básica, os discursos
políticos, pedagógicos e científicos parecem revelar a existência de um consenso no que
diz respeito à necessidade de melhorar a qualidade da educação básica no Brasil. A falta
de qualidade denunciada nos discursos vem sendo confirmada pelos resultados obtidos
pelos egressos da educação básica nas avaliações externas, na utilização social em
habilidades e competências básicas e mesmo nas dificuldades encontradas com relação
à ocupação de vagas no mercado de trabalho e no prosseguimento de estudos.
As justificativas apresentadas para esta falta de qualidade são inúmeras, entre
elas destacam-se a falta de interesse dos alunos, a facilitação do percurso ao longo da
educação básica, jornada de trabalho excessiva dos professores, formação deficiente dos
professores, baixa escolaridade dos pais, gestão inadequada dos tempos e espaços da
escola, etc. Assim são frequentes, nos espaços onde se discute educação, afirmações
como “alunos terminam o ensino médio sem aprender nada”, “não existem pessoas
capacitadas para ocupar vagas no mercado de trabalho”, “a educação piorou depois da
progressão continuada”, entre outras.
No ensino universitário muitos docentes reclamam do baixo nível dos alunos que
atualmente estão ingressando no curso superior, no que diz respeito às habilidades e
competências que se espera dos egressos do ensino médio. A principal reclamação é que
a educação básica não está preparando para a continuidade de estudos, como mostram
os trechos seguintes:
É eles... eles tem o diálogo deles ainda é muito fraco... as.. as formas de
apresentar conclusões de um determinado assunto ainda eles não conseguem
concluir as expressões, a escrita deles é fraca a metodologia de cálculo desde
de resolução também não conseguem... cálculos simples eles se atrapalham, é
a base né, matemática e português ainda fica muito deficiente que atrapalha
na disciplina, são os dois pontos aí que eu chamo de calcanhares. (João,
professor de administração industrial e gestão da produção)
Eles são muito ruins de raciocínio lógico, não tem raciocínio lógico éhhh...
falta de interesse né, não dá pra ensinar isso mas é o que eles trazem, não tem
muito interesse, eu acho o que mais pesa é a falta de raciocínio lógica, eu não
diria nem que na minha matéria é mais raciocínio lógico do que a matemática
em si, então acho é a falta de raciocínio lógico. (Edgar, professor de
hidráulica e pneumática)
O desempenho dos alunos que concluem a educação básica é uma questão que
tem me acompanhado enquanto pai que se preocupa com o futuro dos filhos, como
educador que tem a responsabilidade de formar profissionais capazes de atuar com
competência no mercado de trabalho e agora também como pesquisador.
Uma afirmação recorrente entre os docentes quando iniciei a carreira docente e
que infelizmente ainda não mudou, era a de que “as novas gerações de alunos estão
sempre aquém da anterior”. Mas realmente isto é verdade ou é uma retórica já
incorporada entre os docentes e que agora também encontra aliados na mídia?
Grande parte das estatísticas apontam um aumento na escolarização e uma piora
no desempenho dos alunos quando se analisa a relação entre o que sabem e o que
deveriam saber quando concluem a educação básica. Então o que significa dizer que as
gerações de alunos estão sempre aquém da geração anterior? Emerge então outra
questão importante: quais são os indicadores utilizados para esta comparação. É justo
comparar a defasagem de gerações com relação ao conhecimento disponível, quando a
possibilidade das informações e acesso é infinitamente maior?
Embora os alunos frequentem as aulas e muitos manifestem grande interesse
para com os estudos, ainda ouvimos muitos discursos relacionando a falta de interesse
com o desempenho escolar insatisfatório. Nas entrevistas até aqui analisadas não
aparece referência à falta de significado ou mesmo de clareza sobre o que é ensinado
como justificativa para o baixo rendimento dos alunos. Contudo essa relação não pode
ser desconsiderada sob pena de perdermos a possibilidade de entender o problema em
sua complexidade.
Avaliações como a Prova Brasil/SAEB, o Exame Nacional de Ensino Médio
(ENEM) e o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo
1567
(SARESP) indicam que ao final do ensino médio, esses alunos não apresentam um
desempenho adequado ao que se espera ao final desta etapa.
Os dados iniciais da pesquisa revelam que isto acontece não por problemas de
incapacidade intelectual, mas, entre outros fatores, pelas condições de ensino a que são
submetidos os alunos ao longo da educação básica e pelas condições de trabalho a que
são submetidos os professores que atuam neste nível de ensino. O resultado ao final
dessa equação é um egresso que não apresenta domínio dos conceitos necessários para
ter um desempenho adequado para ocupar uma vaga no mercado de trabalho cada vez
mais competitivo e também para o prosseguimento de seus estudos.
Na atuação como docente no ensino superior, tenho observado que os
professores se deparam com situações adversas, uma situação frequente é que após a
explicação de um conceito novo aos alunos, necessário para realização de uma dada
tarefa, aparentemente os alunos compreendem, porém, na próxima aula eles voltam com
dúvidas, não sobre o conceito novo dado na aula anterior, mas sim sobre um conceito
que supostamente aprenderam em etapas anteriores da escolarização.
A pesquisa revela que por um lado os professores percebem os alunos egressos
da educação básica como despreparados e por outro que eles não parecem preparados
para lidar com os alunos que recebem. Assim, é possível também perguntar se as
instituições de ensino superior estão preparadas para receber os alunos que batem a sua
porta.
A discussão sobre a qualidade do ensino não é recente, porém, após a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394/96, tem-se a impressão que o
ensino de maneira geral tem apresentado maiores deficiências. Os dados da pesquisa
revelam que antes da política de progressão continuada, consolidada na LDB, uma
quantidade muito grande de alunos desistiam no percurso escolar o que pode distorcer a
nossa visão, pois no passado estes desistentes não ingressavam no ensino superior,
assim as dificuldades que temos hoje não podem ser comparadas com as de outros
momentos.
Uma questão apontada na literatura consultada como relevante e que emerge
como causa da baixa qualidade é o sucateamento da escola pública. Com a ampliação
do acesso, sendo a escola pública destinada a todos, a elite passou a valorizar um
modelo de escola que atenda seus interesses e o poder público passou a tratar a escola
pública como meio de assistência e ou contenção social.
1568
Referências
FREITAS, L.C. Ciclos, seriação e avaliação: confronto entre duas lógicas. São Paulo:
Moderna, 2003. (Coleção cotidiano escolar).
Pôster
Resumo: O presente trabalho busca analisar a relação dos gestores escolares com a
interpendência competitiva entre escolas públicas de uma região com altos índices de
vulnerabilidade. A literatura da área aponta que as escolas não agem sozinhas no
território, elas consideram o que fazem e como trabalham as demais escolas que se
encontram na sua vizinhança para tomar decisões. Assim sendo, essas relações podem
influenciar na qualidade das instituições. A literatura sobre gestão escolar afirma ser o
modo como o gestor da escola realiza seu trabalho um fator relevante para que as
escolas ampliem sua qualidade, alcançando maior eficácia. Nosso problema de pesquisa
se reporta a procurar compreender se e como os gestores escolares de uma região
vulnerável influenciam as relações de interdependência competitiva. Para a consecução
dos objetivos de pesquisa serão utilizadas entrevistas, observações e análise de
referências pertinentes.
Palavras-chaves: interdependência, gestores, escolas
Introdução
1
Pesquisa realizada pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
(CENPEC) intitulada: “Interdependência competitiva entre escolas em territórios vulneráveis,
desigualdades socioespaciais e qualidade das oportunidades educacionais”.
(http://ftp.cenpec.org.br/com/portalcenpec/imagens/Planejamento_2014_projeto_Interdepend%C3%AAn
cia_28-02-14-editado.pdf)
1572
são afetadas pelas ações de outras escolas de uma mesma zona ou bairro, razão pela
qual há necessariamente relações de interdependência entre elas, ainda que seus atores
não interajam diretamente. De acordo com a European Comission (2004)
Objetivo Geral
O objetivo geral desta pesquisa é analisar a relação dos gestores escolares com a
interpendência competitiva entre escolas públicas de uma região com altos índices de
vulnerabilidade.
1575
Objetivos Específicos
Metodologia
Etapas:
1 - Análise bibliográfica sobre interdependência competitiva e gestão escolar.
Para o levantamento de referências serão pesquisadas bases como Scielo, Portal Capes,
dentre outras, fazendo uso de palavras-chave como: interdependência competitiva and
escola; concorrência and escola; concorrência entre escolas and segregação, dentre
outras que se verificarem adequadas. Em seguida, as referências centrais serão fichadas,
segundo modelo previamente elaborado, para facilitar a análise dos dados.
2 – Levantamento e análise da legislação que regula matrícula e remoção de
professores
Serão levantadas e estudadas as legislações referentes à matrícula, remoção e alocação
de professores e gestores escolares, bem como sobre distribuição de recursos
financeiros na rede municipal de ensino público de São Paulo.
3 – Observação da ação cotidiana de gestores escolares de suas escolas localizadas
em território de mais alta vulnerabilidade social.
A observação permitirá acompanhar a ação de gestores escolas das duas escolas
pesquisadas durante cinco dias consecutivos.
4 – Entrevistas com gestores escolares.
Serão entrevistados os diretores, assistentes de direção e coordenadores pedagógicos
com base em roteiro pré-estruturado, com questões abertas e fechadas. Lembrando que
as questões não deveram induzir ou confundir os entrevistados, porém é necessário ter
claro o objetivo do estudo (GOLDENBERG, 2004).
1577
Referências
Pôster
1 Introdução
Este trabalho1 tem como objetivo identificar e analisar o crescimento de
matrículas na educação infantil pública e conveniada nos municípios paulistas, no
período de 2008 e 2013, que são anos de vigência do FUNDEB. Para tanto, será feita
uma breve explicação sobre temas que envolvem esse assunto e que levam para ele,
como a legislação da educação infantil e os convênios.
A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/88), a educação
infantil é tida como um dever do Estado e direito de todas as crianças entre 0 e 6 anos.
Ainda na CF/88, no artigo 12, o financiamento do ensino público é assegurado, já que a
1
Este trabalho faz parte da pesquisa da dissertação de mestrado em andamento.
1579
União deverá aplicar pelo menos 18%, e os Estados, Distrito Federal e Municípios 25%
da receita proveniente dos impostos para a educação.
Com a obrigatoriedade do oferecimento de vagas, são feitos documentos legais,
para a garantia de que esse oferecimento de fato aconteça, dentre eles, a LDB2, que em
seu Art. 2º, trata que a educação é “dever da família e do Estado”. Para tanto, o
oferecimento da educação infantil e do ensino fundamental se dará através dos
municípios, como destacado no artigo V.
A Emenda Constitucional n.º 14/96, aprovou a criação do Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF),
que priorizou o financiamento do ensino fundamental, com os recursos subvinculados
para a educação e regulamentado pela LDB. O FUNDEF consiste ainda, na mudança de
financiamento do Ensino Fundamental no País (1ª a 8ª séries), a Constituição de 1988
vincula 25% das receitas dos Estados e Municípios à Educação. Com a Emenda
Constitucional nº 14/96, 60% desses recursos (o que representa 15% da arrecadação
global de Estados e Municípios) ficam reservados ao Ensino Fundamental
(MINISTÉRIO PÚBLICO, s/a).
Como evidencia Romualdo Oliveira (2007), o FUNDEF sendo um fundo de
natureza contábil e com os recursos focados no ensino fundamental, outras etapas da
educação básica sofreram impactos negativos significativos, e com a educação infantil
historicamente reprimida, fez com que se reduzissem os investimentos para esta etapa.
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) – que substitui o FUNDEF -
atende toda a educação básica, da creche ao ensino médio, está em vigor desde janeiro
de 2007 e se estenderá até 2020 (MEC, 2012). O fundo tem o intuito de distribuir verbas
para a educação básica no país.
Diferente do FUNDEF, o novo Fundo inclui toda a educação básica, e possibilita
repasse de verbas para instituições conveniadas - creches e pré-escolas privadas - sem
fins lucrativos. Oliveira e Borghi (2013) trazem que assim como o FUNDEF, o Fundeb
também é um fundo de natureza contábil, e com este novo fundo alcançando toda a
educação básica, novos impostos foram incorporados para sua composição, mas que
novamente não apresenta nenhuma fonte de recursos novos.
2
Lei n.º 9394, de 1996 – Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação
1580
2 Os convênios
Após a implantação da LDB, os municípios tiveram um prazo de 3 anos para se
adaptarem e oferecerem as vagas necessárias para a educação infantil.
O atendimento em creches tem o seu inicio a partir não só de iniciativas do
poder público, mas também das próprias comunidades, principalmente em instituições
comunitárias, filantrópicas e assistenciais. Essas instituições privadas receberam
subsídios públicos, razão pela qual o Estado, ou a ausência deste na oferta dessa
política, aparece, desde sempre, como indutor da proliferação de convênios entre a
esfera pública e a privada. Esse formato de oferta implicava ou na total ausência de
atendimento público à faixa etária ou na coexistência de instituição públicas e privadas
sem fins lucrativos subsidiadas por recursos públicos. Destaca-se ainda a vigência de
creches privadas particulares as quais são financiadas exclusivamente pelas famílias
(ADRIÃO, ARELARO, BORGHI, 2009).
Outra alternativa utilizada desde a década de 1970, é o estabelecimento de
convênios do governo municipal com instituições privadas sem fins lucrativos, que teve
como objetivo oferecer educação infantil gratuita em espaços privados (BORGHI,
ADRIÃO, ARELARO, 2009).Pode-se observar que o repasse de verbas públicas para
instituições privadas é facultativo e de escolha política (OLIVEIRA, 2013).
Como aponta Pinto (2007, p.881):
3
A partir da implantação da Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, que altera a redação dos arts. 29,
30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
1581
3 As matrículas
Os anos considerados para a pesquisa foram os anos de 2008 e 2013, anos de
início efetivo do FUNDEB e ano que constam os últimos dados a respeito da matrícula.
Os dados foram colhidos do site do FNDE, que contém o número de matrículas,
separadas por creches públicas e conveniadas, e pré escolas públicas e conveniadas,
sendo possível fazer um comparativo.
Dos 645 municípios do estado de São Paulo, em 2008, 225 municípios
ofereciam creche ou pré-escola conveniada. Como exemplo, foram pegos 12 municípios
para discussão, sendo 2 para tamanhos4 de municípios designado em muitos pequenos –
Águas da Prata e Américo Brasiliense (até 10 mil habitantes) -, pequenos – Adamantina
e Bastos (de 10 a 50 mil habitantes) -, médios – Andradina e Bebebouro (de 50 mil a
100 mil habitantes) -, grandes – Americana e Botucatu (de 100 mil a 500 mil habitantes)
4
Esta divisão por habitantes foi feita a partir da divisão original do Banco de Dados de Parcerias Públicas
e Privadas, disponível em http://www.fae.unicamp.br/greppe/bd/pesquisas/pesqdados.php. , a partir dos
dados do Censo Demográfico do IBGE de 2010. Os números de matrículas divididos entre público e
conveniado estão disponíveis no site do FNDE <http://www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb/fundeb-
consultas/matr%C3%ADculas-da-educa%C3%A7%C3%A3o-b%C3%A1sica,-estimativa-da-receita-
anual-e-coeficientes-de-distribui%C3%A7%C3%A3o-dos-recursos>
1582
4 Considerações finais
As organizações da sociedade mudaram o conceito e o sentimento da infância
determinado historicamente. No Brasil, a formação das creches também seguiu o forte
caráter assistencialista.
Nos anos 90, deu-se maior ênfase na educação das crianças pequenas. Com o
estabelecimento da LDB, com a obrigatoriedade da educação infantil, é passada a ser
oferecida em creches e pré-escolas. No que se refere ao seu financiamento, o mesmo
documento destina os recursos públicos para atender as escolas públicas, podendo
também ser destinados a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas que
declarem não ter fins lucrativos. Dessa forma, começam a ser possibilitados os
convênios.
Ainda em 1996, é aprovada a criação do FUNDEF, que com a priorização do
ensino fundamental quanto ao seu financiamento, deixa a educação infantil em segundo
plano. Porém em 2007, este Fundo é substituído pelo FUNDEB, que vem com o intuito
da valorização também do ensino infantil, garantindo assim o seu financiamento. No
entanto, esse financiamento também é permitido a creches e pré-escolas privadas sem
fins lucrativos, considerando-se então, que se pode haver a ampliação do atendimento
realizado via convênio.
Assim, experiências de parcerias público-privado se ampliam, subsidiadas pelo
poder público, ficando este responsável por financiar parte ou total deste atendimento,
naturalizando o repasse de recursos públicos as instituições privadas.
Assim, observamos que os convênios, legitimados pela atual legislação e
impulsionados tanto pela esfera pública e/ou privada, estão em expansão, e em alguns
municípios representam a única forma de atender a essa faixa etária, mostrando o
equívoco de muitos municípios de aderir a esse tipo de atendimento municipal, e
repassar as verbas municipais para esses fins, ao invés de investir para a construção e
manutenção de instituições públicas.
1585
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei n.º 11.114, de 16 de maio de 2005. Altera os arts. 6o, 30, 32 e 87 da Lei
no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do
ensino fundamental aos seis anos de idade.. Disponivel em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11114.htm> Acesso
em 15/06/2013.
BRASIL. Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30,
32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino
fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade.. Disponivel
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11274.htm>
Acesso em 15/07/2013.
CORREA, B.; ADRIÃO, T.; Direito à educação de crianças de até 6 anos enfrenta
contradições. Revista Adusp. Setembro/2010.
Pôster
1. INTRODUÇÃO
Os desafios referentes ao Ensino Médio estão presentes na pauta de discussões
dos órgãos governamentais e de instituições públicas e privadas, principalmente após a
década de 80, mas é somente em 1996, com a Lei Federal n° 9.394 (LDB) que o Ensino
Médio é integrado à Educação Básica. Essa Lei vem recebendo sucessivas alterações
sendo que em 2004, a ela foi incorporado o Decreto n° 5.154, que dentre outras
medidas, resgata o Ensino Médio integrado com a educação profissional técnica.
A partir desse Decreto, o Ministério da Educação (MEC) adota uma estratégia para a
ampliação e melhoria do Ensino Médio apoiada em vários eixos, sendo que no início de
2011, com o objetivo de ampliar o acesso à educação profissional dos jovens do Ensino
Médio e dos trabalhadores sem formação, a presidência da República anunciou o
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), instituído pela
Lei n° 12.513/2011.
1588
1
Fonte: Centro Paula Souza, Unidade de Ensino Médio e Técnico – Cetec.
2
Na obra, Inter ou Transdisciplinaridade, Américo Sommerman apresenta a hierarquização nos níveis de
colaboração e integração entre as disciplinas proposta por Piaget, sendo a interdisciplinaridade o segundo
nível de associação entre as disciplinas, em que a cooperação entre as mesmas provoca intercâmbios
reais; isto é, existe verdadeira reciprocidade nos intercâmbios e, consequentemente, enriquecimentos
mútuos. (2006, p. 33).
3
Taxonomia de Bloom é uma estrutura de organização hierárquica de objetivos educacionais. Foi
resultado do trabalho de uma comissão multidisplinar de especialistas de várias universidades dos Estados
Unidos, liderada por Benjamin S. Bloom, na década de 1950.
1589
Mais de 344 mil candidatos se inscreveram no processo seletivo das escolas técnicas
estaduais (Etecs) no final de 2013 para ingresso no primeiro semestre de 2014. Em
relação às dez maiores demandas do estado nos cursos técnicos integrado ao ensino
médio, a modalidade técnico em administração aparece 5 vezes na lista, ou seja o curso
está entre as opções de escolha da maioria dos candidatos que optam pelo ensino técnico
integrado ao ensino médio.4
Ao integrar essas duas modalidades de ensino, ambas com formação curriculares
próprias, percebe-se que a sua aplicação torna-se mais complexa, especialmente na
articulação para promover uma verdadeira integração, por meio da qual a educação
profissional e o ensino regular se complementam, formando uma totalidade.
Para tanto, o decreto n° 5.154/04, na sua exposição de motivos, argumenta que a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em seu artigo 39 apregoa que “a
educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência
e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida
produtiva”. Desse modo, conclui-se que a integração da educação profissional com o
4
Fonte: Centro Paula Souza, relatório de demandas de cursos do Centro Paula Souza 1° semestre de
2014.
1590
Percebe-se que a concepção dessa modalidade de ensino é clara, nos textos oficiais,
porém na prática pedagógica, nota-se a grande dificuldade de trabalho em conjunto das
duas vertentes, ensino propedêutico e ensino profissional. Há muitos reflexos do
processo geral de especialização na sociedade, que gerou um número crescente de
disciplinas e profissões distintas.
Para superar essas dificuldades, se faz imprescindível o preparo do educador para atuar
cultivando habilidades integradoras, tornando-se mediador nesse processo, conduzindo
o educando na construção do conhecimento e na educação profissional, atrelando ao
conhecimento, o mundo real e social do educando. Nesse panorama, Vygotsky (1984)
identifica dois níveis de desenvolvimento, o real e o potencial, sendo que o real se refere
às conquistas já efetivadas pelo educando e partindo da ideia de que cada indivíduo é
uma síntese individualizada e ativa de uma sociedade, uma reapropriação singular do
universo social e histórico que o envolve, o educador deve apropriar-se do repertório
que o aluno traz na bagagem, e assim conduzi-lo no processo de ensino e aprendizagem
efetivando as competências que estão no seu nível de desenvolvimento potencial que,
segundo Vygotsky (1984) se relaciona com as capacidades em vias de serem
construídas. Assim ele afirma que “aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje
será o nível de desenvolvimento real amanhã- ou seja, aquilo que o educando pode fazer
com assistência hoje, ele será capaz de fazer sozinho amanhã.” (VYGOTSKY, 1984,
p.98).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Com o propósito de atingir os objetivos da pesquisa, a proposta é desenvolvê-la sob a
perspectiva da pesquisa exploratória. Sendo assim, os procedimentos metodológicos
utilizados para efetivação da pesquisa serão: levantamento bibliográfico, documental e
grupo focal.
É possível que a Aprendizagem Baseada em Projetos - ABP seja um caminho a ser
traçado como parte do processo de integração nos cursos de ensino médio integrado ao
técnico, pois oferece aos educandos a oportunidade de aprender a trabalhar em grupo e
1591
5. REFERÊNCIAS
5
BIE – Buk Institute for Education: trata-se de uma organização de pesquisa norte americana, que
trabalha com educadores em vários países para tornar escolas e salas de aula mais eficazes por meio do
uso de ABP
1592
Pôster
Introdução
A busca pela qualidade tem se apresentado como um novo paradigma para a
educação brasileira nos últimos anos. Em meio a essa busca, os sistemas de ensino têm
lançado constantemente programas e projetos cujos focos principais quase sempre
permeiam o currículo e a prática pedagógica. Parte-se do suposto que tais propostas
chegam ao cotidiano escolar e encontram uma grande diversidade de contextos, sujeitos
e circunstâncias (SACRISTÁN, 2011).
O interesse desta pesquisa centra-se no atual o programa de reorganização
curricular estabelecido no município de São Paulo, lançado por meio de uma portaria de
reestruturação dos ciclos (SÃO PAULO, 2013b). Apesar da implantação dessa política
1594
ser incipiente, debruçar-se sobre ela pode trazer valiosas reflexões no que diz respeito às
relações entre práticas cotidianas e reformas educacionais. Toda proposta de mudança
ao chegar à escola implica um momento de compreensão, de difusão por parte da
secretaria municipal de educação e, sobretudo, de adaptação dos professores. Ao
realizarem os planejamentos neste ano de 2014 os professores da rede municipal de São
Paulo tiveram que remodelar suas práticas considerando as novas proposições. Num
espaço curto de tempo, vemos no sistema de ensino municipal propostas que – embora
vinculadas a gestões diferentes – se aproximam, ao evidenciaram preocupação por
remodelar o currículo e oferecer orientações didáticas aos professores, nas quais suas
origens e implicações são de ordem micro e macro sociológicas.
Nesta pesquisa, ainda em andamento, pretende-se identificar como tal reforma é
absorvida pela escola, sob a perspectiva dos docentes que atuam no Ciclo
Interdisciplinar, considerando a organização dos tempos, espaços e condições de
trabalho no cotidiano escolar. Para tanto, foi realizada uma primeira análise dos
documentos que orientam as ações de implantação da nova proposta da Secretaria
Municipal de Educação de São Paulo (SME), que apresentamos neste pôster.
1
Projeto Principal de Educação, texto oriundo do encontro realizado em Bogotá no ano de 1987.
1595
nova organização do ensino por ciclos. Ainda, aderiu ao “Programa Mais Educação” 2,
que prevê ampliação da carga horária de Português e Matemática. Com relação aos
ciclos, fica estabelecido que:
O Ensino Fundamental será dividido, a partir de 2014, em três ciclos com três
anos de duração. O primeiro deles será o Ciclo de Alfabetização, seguido do
Ciclo Interdisciplinar e, por fim, do Ciclo Autoral. Já no Ciclo de
Alfabetização haverá acréscimo de uma hora-aula por semana nos
componentes curriculares de língua portuguesa e matemática [...] (SÃO
PAULO, 2013b).
A reorganização dos ciclos está sendo uma das marcas dessa administração,
medida que interfere diretamente na prática pedagógica e na organização curricular.
Além de mudanças na sua estrutura e denominação, a portaria 5930/13, de outubro de
2013 (SÃO PAULO, 2013b), prescreve alterações nas formas de atuar em cada uma
destas etapas de ensino. Neste estudo, importa especificamente compreender as formas
como o Ciclo Interdisciplinar está se organizando nas escolas, uma vez que é inovador,
ao propor trabalho conjunto entre os professores do Ensino Fundamental I e o Ensino
Fundamental II.
O Ciclo Interdisciplinar
De acordo com os materiais consultados, fica estabelecido:
2
Programa implantado pelo MEC pela Portaria Interministerial nº 17/2007 e regulamentado pelo Decreto
7.083/10, constitui-se como estratégia do Ministério da Educação para induzir a ampliação da jornada
escolar e a organização curricular na perspectiva da Educação em tempo Integral.
1598
Para finalizar
O Ciclo Interdisciplinar é, de fato, uma novidade se considerarmos as
experiências anteriores verificadas nas escolas paulistanas sobre a organização por
ciclos. Trata-se de um ciclo qual devem atuar professores habilitados para o trabalho
com o Ensino Fundamental I (professores polivalentes) e professores habilitados para o
trabalho com o Ensino Fundamental II (professores especialistas de disciplinas
variadas). Nesse sentido, supõe-se que os efeitos nas práticas e nos momentos de
planejamento são mais impactantes, uma vez que demandam formas próprias de
socialização entre os docentes. Isso é o que queremos investigar.
No Ciclo Interdisciplinar está prevista uma maior integração entre as áreas do
conhecimento e, portanto, uma maior flexibilização do currículo. Nesse ano de 2014 os
professores tiveram que planejar suas práticas sob as novas orientações vindas da SME,
independente das condições reais que viabilizam ou não tal trabalho. A
interdisciplinaridade, ao buscar transcendência entre as especialidades, pressupõe novas
formas de interação. As escolas possuem uma cultura própria, sedimentada pelo
acúmulo de práticas e interações consolidadas ao longo do tempo. Nesse sentido,
mostra-se relevante investigar como uma recomendação que incide fortemente sobre
formas consolidadas são incorporadas pelos docentes no cotidiano escolar.
Referências Bibliográficas
______. Currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre/RS, Artmed; 2001.
______. Portaria 6328/05. Institui para o ano de 2006 o programa Ler e Escrever:
Prioridade na escola Municipal, mas escolas Municipais de Ensino Fundamental
(EMEF) e nas escolas Municipais de Ensino Médio. (EMEFM). São Paulo: SME/DOT,
2005. Disponível em <
http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_juridicos/cadlem/integra.
asp?alt=15102013P%20059302013SME>. Acesso em 12/06/2013.
INTRODUÇÃO
Em 2007, o Ministério da Educação (MEC), em parceria com a Secretaria de
Educação Superior (SESU) e por meio da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) tornou público através de Edital à convocação das Instituições de
Ensino Superior Federal para apresentar propostas de projetos institucionais de
iniciação à docência no âmbito do Programa de Bolsa Institucional de Iniciação à
1
Professor do Curso de Geografia da Universidade do Estado do Amazonas – UEA/CES-Parintins e
Coordenador de área do subprojeto PIBIB/CAPES.
2
Acadêmica do 6º período do Curso de Geografia Universidade do Estado do Amazonas – UEA/CES-
Parintins e bolsista do PIBID/CAPES.
1602
3. METODOLOGIA
O presente trabalho apresenta uma perspectiva qualitativa, a qual tem como
característica dominante o ambiente natural como fonte de coleta de dados, e o contato
direto com os sujeitos participantes. As informações, os dados coletados são
predominantes descritivos, seja de pessoas, situações e acontecimentos.
A ênfase encontra-se no processo e não no produto, para compreensão dos fatos
educativos é imprescindível considerar o caráter contextual que envolve os sujeitos. A
pesquisa qualitativa, “é uma atividade sistemática orientada à compreensão em
profundidade dos fenômenos educativos sociais, à transformação de práticas e cenários
socioeducativos, a tomada de decisões” (ESTEBAN, 2010).
Para compreensão dos fatos foi necessário à utilização de análise do conteúdo e
observação. Sendo a análise do conteúdo “um conjunto de técnicas destinadas a analisar
a comunicação - oral, visual ou textual” (BARDIN, 1977). Assim foram analisadas as
ações inseridas no subprojeto de Geografia/PIBID.
As observações foram realizadas durante a execução das ações do subprojeto do
PIBID de geografia que foram organizadas e executadas pelos acadêmicos de Geografia
sob a supervisão dos Docentes do CETI.
percepção de uma nova dimensão entre espaço e tempo. Será imperativa a elaboração de
um roteiro onde será definido o tempo de duração, o tema abordado, os locais e hora de
filmagens, os participantes, entre outras questões.
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
Pôster
Introdução
A discussão sobre a necessidade de um plano em âmbito nacional remonta aos
anos de 1930, com os educadores conhecidos como Pioneiros da Educação. Em 1932,
foi publicado o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, redigido por Fernando de
Azevedo, tendo como signatários Anísio Teixeira e Cecília Meirelles, dentre outros.
Conforme os renovadores, um plano nacional contribuiria para superar a histórica
fragmentação que reinava na educação no Brasil (AZEVEDO, 2006).
Apesar de completar mais de 80 anos, o Manifesto de 1932 permanece atual,
porquanto continuamos com a percepção de construções isoladas, desarticuladas, ou
sobrepostas, requerendo novas posturas dos entes da federação. As ideias do Manifesto
tiveram reflexo na Constituição de 1934, visto que esta estabelece, em seu artigo 150,
como competência da União “fixar o Plano Nacional de Educação, compreensivo do
1608
deveria ocorrer no quarto ano após sua aprovação, porém, essa avaliação, com amplo
debate nacional, não ocorreu.
Se cabia à União a função de elaborar o PNE, os estados, municípios e o Distrito
Federal deveriam construir seu próprio plano em harmonia com os objetivos e metas do
PNE, porém considerando o contexto local e as peculiaridades de cada região. No
entanto, a “pouca tradição no Brasil de um planejamento integrado e coerente com as
necessidades das diferentes realidades que compõem o país, capaz de envolver as
diferentes instâncias de governo, deu margem a equívocos” (COSTA; CUNHA;
ARAÚJO, 2010, p. 98). Os entes subnacionais não se percebem com autonomia para
tanto e, muitas vezes, acabam repetindo o que está no plano da União ou do estado ou
contratando consultoria privada para auxiliar ou elaborar o plano.
Embora o PNE (BRASIL, 2001) ainda estivesse vigente, foi lançado pelo MEC,
em 2007, o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) (BRASIL, 2007). Este foi
organizado a partir de quatro eixos norteadores: educação básica, educação superior,
educação profissional e alfabetização. Segundo o MEC, o PDE iria além do PNE, pois
este “em certa medida, apresenta um bom diagnóstico dos problemas educacionais, mas
deixa em aberto a questão das ações a serem tomadas para a melhoria da qualidade da
educação” (HADDAD, 2008, p.6). Para Saviani (2009), entretanto, o PDE não pode ser
considerado um plano, mas um “guarda-chuva” que contempla ações e programas muito
diversificados, sem definição de prazos. Alguns já existiam antes mesmo do lançamento
do PDE, como o Programa “Merenda Escolar”, outros surgiram com a criação do Plano
em 2007 ou ainda em data mais recente. Na análise de Saviani (2009), o PDE foi
estruturado sob a lógica de resultados, alicerçando-se nas avaliações de larga escala, o
que evidencia, portanto, uma política educacional calcada em valores meritocráticos.
No contexto do PDE, o Decreto 6.094, de abril de 2007, instituiu o Plano de
Ações Articuladas (PAR) com o objetivo de melhorar a qualidade da educação. O PAR é
uma das principais ações que compõem o PDE. Segundo Fonseca (2009), o PDE visa
dar organicidade à política de descentralização, possibilitando uma articulação entre os
entes federativos por meio do PAR. No PDE, também, encontramos o embrião dos
Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADEs). Conforme o MEC, o “PDE
pretende responder a esse desafio através de um acoplamento entre as dimensões
educacional e territorial operado pelo conceito de arranjo educativo” (HADDAD, 2008,
p. 6). Segundo Abrucio e Ramos (2012), o PDE nasceu com a percepção de os
municípios trabalharem em rede, de forma articulada com os estados e a União, e, por
1611
1
O município atribui uma pontuação, a partir de critérios dados pelo MEC, a cada um dos cinquenta e
dois indicadores que compõem o Plano de Ações Articuladas (PAR) no quadriênio 2007/2010. A
pontuação 1 indica uma situação crítica, 2 é insuficiente, 3 é tido como situação satisfatória, isto é, com
mais aspectos positivos do que negativos, e 4 indica uma situação positiva. Vale ressaltar que o município
deve, necessariamente, propor ações aos indicadores que obtiverem pontuação 1 ou 2 a fim de reverter o
aspecto que se encontra frágil. O município poderá obter assistência técnica e/ou financeira da União por
conta dos indicadores que foram pontuados negativamente (1 ou 2).
1612
pouca instrumentalização. Em quatro anos (2010 ⁄ 2014), o governo patrocinou três mil
assembleias, com quase 1milhão de pessoas e extraiu um acervo de 14 mil sugestões
sobre como resolver a crise da educação. Entretanto, apesar desta mobilização, como
sinalizou Araújo (2010), a “metodologia pulverizada das conferências preparatórias e a
falta de acúmulo teórico e histórico sobre o instituto jurídico do regime de colaboração
na área de educação podem contribuir para tornar a dinâmica federativa ainda mais
complexa do que se configura na atualidade” (ARAÚJO, 2010, p.751).
Cabe ressaltar que a portaria CNE/CP nº 10, de 06 de agosto de 2009, (BRASIL,
2009a) sinalizara que um dos principais problemas externos à consecução das metas
presentes no PNE (BRASIL, 2001) foi a ausência de normatização do SNE e do regime
de colaboração. A análise de Araújo (2010) reitera a avaliação expressa na portaria
supracitada, ao afirmar que a “ausência de regulamentação é exatamente o “nó górdio”
da Federação brasileira e, talvez o maior empecilho para a consolidação das políticas
educacionais” (ARAÚJO, 2010, p.761).
Nessa perspectiva, o artigo 13 da Lei 13.005/14 (BRASIL, 2014), que determina
que o poder público deverá instituir, em lei específica, o SNE a fim de articular os
sistemas de ensino, apresenta uma deficiência estrutural: a ausência de regulamentação
do regime de colaboração. Ao que tudo indica, a observação feita por Valente (2001) em
relação ao antigo PNE também é pertinente ao novo, já que naquilo que é fundamental à
política educacional do MEC, o PNE apresentou normas autorreguláveis, isto é, de
aplicação imediata, porém em outras questões relevantes, tidas como não prioritárias
para a atual política governamental, recorre-se à redação "genérica", sujeita a uma
regulamentação sempre postergada" (VALENTE, 2001, p. 14).
Considerações finais
Qualquer plano educacional traduz uma dada concepção política e filosófica,
ainda que possa não estar explicitada. Ou seja, elaborar um plano não é uma ação de
cunho meramente técnico. Um plano possui objetivos e metas e este conjunto, por sua
vez, expressa um dado projeto de sociedade. A implantação de um plano requer a
participação dos diferentes entes da federação, o que envolve questões de ordens
distintas, tais como: jurídica, econômica, política, cultural, dentre outras.
A aprovação do novo PNE traz esperança de que o Estado cumpra com a oferta
de uma educação de qualidade, um direito constitucional. As metas apontam a
superação de problemas que deveriam ter sido sanados no século passado. O PNE
1613
Referências
ABRUCIO, F. L.; RAMOS, M.N. Apresentação. In: ABRUCIO, F.L.; RAMOS, M.
N. Regime de colaboração e associativismo territorial: arranjos de desenvolvimento
da educação. São Paulo: Fundação Santillana, 2012.
Pôster
INTRODUÇÃO
O foco principal deste trabalho aborda o impacto das questões sociais vividas
pelo adolescente em conflito com a lei no contexto escolar, que suscita relação tensa
entre professor e aluno; apresenta também a dificuldade de se definir o que é ser
professor e a falta de clareza quanto aos novos papéis que o docente deverá exercer. Um
desses novos papéis diz respeito aos alunos “excluídos”: os pobres, os marginalizados,
os adolescentes que violaram a lei, aqueles que vivem com frequência situações de
desigualdade. O professor nem sempre sabe lidar com estas questões, às vezes até tem
boa vontade, mas desconhece as leis que protegem as crianças e os adolescentes e em
outras situações, a escola reforça comportamento preconceituoso, reproduzindo o que
1
Pedagoga pela UNICSUL, Pós-graduada em Avaliação pela Universidade de Brasília e Mestranda em
Adolescente em Conflito com a Lei pela UNIAN, rosi.msol@gmail.com.
1616
DESENVOLVIMENTO
O que é ser professor? Alguns o definem como mestre, outros, como docente,
também como educador, instrutor, mentor, preceptor, tutor, explicador, orientador. Para
uma leitura senso comum ser professor é aquele que ensina algo; para uma leitura
reflexiva, ser professor é caracterizado pela possibilidade de transformar. As
transformações podem ocorrer, desde que as relações efetuadas entre os diversos atores
que atuam no ambiente escolar possibilitem o exercício da profissão. Por meio dessas
afirmativas percebe-se que não há uma definição clara do que seja ser professor. Para
que não haja confusão sobre o verdadeiro ofício de ser mestre elenca-se algumas
práticas próprias da profissão
Para a prática docente se fazer concreta, o aluno, parceiro do professor, deverá
entrar no palco e também atuar. A relação entre professor e aluno, permeada pelo
diálogo, possibilita a aprendizagem. A necessidade de compreender a essência do
cotidiano escolar, que ora gira em torno do conteúdo, ora em torno do aluno e outras,
em torno do professor, faz compreender as ações do docente. A aproximação entre esse
profissional e o aluno é o que interessa, pois é um dos objetos desse estudo,
especialmente quando o aluno é um adolescente em conflito com a lei.
Percebe-se que, ser professor é algo construído historicamente. Não se sabe com
exatidão porque alguém se torna professor, pode-se supor que inicialmente nasce a
partir do desejo de ser docente e em seguida com a formação acadêmica, a profissão
1617
educar seus filhos. Para os alunos marcados pela precariedade da vida, a proposta é de
uma escola inclusiva.
Abandonar velhos modelos utilizados no espaço escolar propicia uma nova forma
de ver as coisas. O professor sempre será professor, não perde sua autoridade mesmo
quando propõe uma nova maneira de ensinar ou aprender, quando se aproxima mais do
seu aluno ou quando para sua aula e ouve seus aprendizes.
Foucault (1981) estuda os problemas da educação na sociedade disciplinar,
sociedade esta que constitui corpos dóceis e disciplinados. O autor denuncia
[...] instrumentos reais de formação e de acumulação do saber: métodos de
observação, técnicas de registro, procedimentos de inquérito e de pesquisa,
aparelhos de verificação. Tudo isto significa que o poder, para exercer-se
nestes mecanismos sutis, é obrigado a formar, organizar e por em circulação
um saber, ou melhor, aparelhos de saber [...] (FOUCAULT, 1981, p. 186).
CONCLUSÕES
A relação entre o professor e o adolescente em conflito com a lei geralmente é
permeada por tensões: o professor desconhece os direitos e deveres de adolescentes que
cumprem medidas socioeducativas e o adolescente vive o conflito de não pertencer a
nenhum grupo (falta de pertencimento).
É fato que as desigualdades, a violência, a marginalidade e a pobreza têm
impacto significativo na ação docente; ora é carregada de preconceitos, ora é carregada
de incertezas. Uma escola que objetiva controlar utilizando-se de aparelhos de
verificação e mecanismos sutis, gerando ainda mais tensões entre o adolescente e o
professor, pois falta flexibilidade por parte do professor em lidar com os alunos
“diferentes”.
1620
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DUBAR, Claude. Os “ensinamentos” dos enfoques sociológicos da delinquência
juvenil. In: SENTO-SÉ, J. T. e PAIVA, V. Juventude em conflito com a lei. RJ:
Garamond, 2007. p. 157-180.
IANNI, Octavio. A questão social. São Paulo em Perspectiva, 5 (1). Jan./mar., 1991.
1621
Pôster
Introdução
2. Ações Previstas
3. Resultados Pretendidos
metodologia que alcance as necessidades das escolas no que diz respeito ao uso de
tecnologias voltadas para o ensino;
2. Que o trabalho voltado à capacitação e utilização do Linux Educacional
possa promover o aprendizado desejado a alunos e professores envolvidos,
conscientizando-os acerca da importância de explorar ainda mais os mais variados
recursos disponíveis neste sistema operacional;
3. Um aumento considerável, no número de alunos interessados em cursar os
cursos da UNEMAT, mais em específico, os cursos de Licenciatura em Computação,
além da diminuição da evasão de alunos matriculados neste curso;
4. Além de uma possível melhora na qualidade da formação dos licenciados
em computação da UNEMAT, principalmente quanto à articulação entre teoria e
prática, além de um possível aumento na procura de licenciados nos cursos de pós-
graduação em computação;
5. A vivência na elaboração de materiais didáticos, relatórios contendo as
experiências metodológicas desenvolvidas com a aplicação dos bolsistas neste projeto
PIBID, possam constatar que com esta vivencia, foram permanentemente incentivados a
permanecer na carreira docente, mesmo após a conclusão do curso de graduação;
Sobretudo, almeja-se ao final da aplicação deste projeto, em conjunto com as
experiências vivenciadas, que possam contribuir e incentivar ainda mais na formação de
um futuro profissional pesquisador, e não simplesmente apenas um professor
“transferidor” de conceitos e ideias já pré-concebidas, mas que possa de fato, tornar-se
um profissional docente capaz de incentivar-estimular-facilitar o aprendizado de seus
educandos promovendo cada vez mais uma formação de qualidade.
REFERÊNCIAS:
Pôster
Introdução
A Resolução SEº 22/2013 vem validar o Decreto nº 57.571/2011, que tem como
um dos pontos relevantes à melhoria da educação básica, contribuindo para o
aperfeiçoamento do Plano de Formação Continuada de gestores e professores das
diretorias de ensino e escolas, fornecendo subsídios na construção do processo de
fortalecimento do domínio das competências leitora e escritora aos alunos.
Justificativa
Estado de São Paulo (SEE – SP) e a EFAP que visa prover aos professores formação
continuada em serviço no formato EAD com encontros presenciais e um Seminário
Descentralizado.
Problematização
Metodologia
Aportes Teóricos
em como utilizar, no âmbito da escola em que atua o que “aprendeu” nos cursos de
formação.
Por isso se faz necessário uma formação continuada dos temas atuais e
metodologias que não foram abordados na época de sua formação inicial, ou até mesmo
em temas que o professor não se sinta bem preparado para trabalhar em sala de aula,
pois nunca saberemos qual vai ser a dúvida que nosso aluno vai possuir.
Objetivos:
Geral
Específicos
REFERÊNCIAS
Pôster
INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta a pesquisa de doutorado em andamento, desenvolvida
junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, vinculada à linha de pesquisa Formação de
Educadores, e apresenta como foco a formação inicial das(os) pedagogas(os) no que se
refere aos conhecimentos sobre currículo, sua concepção e gestão como aspectos
centrais da formação dessas(es) profissionais.
1636
Estes cursos têm sido ao longo de sua história objeto de acirrados debates quanto
a sua constituição e ainda hoje permanecem no cenário das discussões sobre formação,
com um elemento trazido a mais com a instituição, em 2006, das Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura (DCNs).
Os anseios expostos quanto à formação das(os) pedagogas(os) como
conceptoras(es) e gestoras(es) do currículo mostram-se estar em consonância com as
DCNs da Pedagogia quando estas salientam, como no item III do parágrafo único, que
para a formação do licenciado em Pedagogia é central “a participação na gestão dos
processos educativos e na organização e funcionamento de sistemas e instituições de
ensino” (BRASIL, 2006, p. 2); no Art. 5º (BRASIL, 2006), que trata dos egressos,
declara-se, entre outros aspectos, que estes deverão estar aptos a participar de estudos
curriculares, realizar pesquisas que proporcionem conhecimento sobre propostas
curriculares e sobre organização do trabalho educativo e práticas pedagógicas, além de
aplicar criticamente as diretrizes curriculares e participar da gestão das instituições
contribuindo para a elaboração, implementação, coordenação, acompanhamento e
avaliação do projeto pedagógico.
Diante do exposto, a formação oferecida pelo curso de Pedagogia deve ser
problematizada, como, de maneira sintética, explicita a seguinte questão norteadora da
presente pesquisa: como deve estar organizado o currículo do curso de Pedagogia para
ser capaz de formar pedagogas(os) como conceptoras(es) e gestoras(es) competentes do
currículo?
O objetivo fulcral aqui estabelecido é a promoção da integração entre os
conhecimentos sobre currículo (sua concepção) e sobre gestão, trazendo-os para o
centro do currículo do curso de Pedagogia e, assim, oferecer alternativas à organização
curricular com vistas à formação do conceptor e gestor do currículo.
Dentre todas as instituições de ensino superior (IES) do País que oferecem o
curso de Pedagogia, foram selecionadas três universidades, sendo duas públicas e uma
privada. Entre as públicas escolhidas, uma é federal a outra é estadual. O primeiro
critério de seleção foi o de constar em suas matrizes curriculares a existência de
disciplinas ou unidades temáticas que abordem as temáticas do currículo e da gestão. Os
outros critérios se estabeleceram dadas as particularidades de cada curso que se
mostram relevantes para os objetivos da pesquisa, como se expõe na sequência.
A universidade federal foi selecionada por sua projeção na produção de
pesquisas oferecendo referencial significativo e de relevância reconhecida quanto à
1638
REFERENCIAL TEÓRICO
Os aspectos expostos apresentam um conjunto de desafios e demandas para a
formação de educadores a ser oferecida principalmente pelo curso de Pedagogia, cuja
história, como expõem Brzezinski (2012) e Silva (2006), mostra incongruências e
conflitos desde sua gênese. A existência e significação da Pedagogia são motivo de
debates até hoje. Surgem questões como, por exemplo, esta ser ou não ciência, o tipo de
formação que deve oferecer, quais profissionais devem ser por ela formados (se
somente os docentes, ou se os gestores, supervisores, orientadores educacionais,
coordenadores pedagógicos também devem ser incluídos). Essas reflexões devem ser
abordadas como o fazem Franco (2008), Pimenta (2011) e Libâneo (2011).
Em meio a essas reflexões, destaca-se a de Ferreira (2006, p. 1345), que, ao
analisar as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia,
percebe nelas contidas “a ampla possibilidade de formação e atuação do profissional da
educação, assim como a necessidade de uma sólida formação em gestão da educação”.
A autora continua a expor uma concepção ampla também de gestão que acaba por
englobar o currículo ao explicitar que:
Refere-se à necessária direção do processo educativo que se faz, um só, com
os mesmos princípios, valores, conteúdos humanos e ‘sabedoria’ desde a
construção coletiva inicial do projeto político-pedagógico, que continua
sendo reconstruído a cada momento em que se faz prática, em que a ‘ideia’ se
transforma em ‘ato’ e possibilita um novo ‘pensar’ sobre todo este processo
de formação humana [...](FERREIRA, 2006, p.1348).
Essa concepção amplia as dimensões e implicações do currículo na formação das pessoas que
o vivenciam, bem como a concepção de Masetto (2011, p. 4) referente ao currículo do
ensino superior:
Partimos de uma concepção de currículo no ensino superior como um
conjunto de conhecimentos, saberes, competências, habilidades, experiências,
vivências e valores organizados de forma integrada visando a formação de
profissionais competentes e cidadãos, para uma sociedade contextualizada
num determinado tempo e espaço histórico, político, econômico e social.
da ação coletiva, da busca de diálogo [...] [para] criar condições para que o projeto
[educacional] se concretize” deixando claro que “em se tratando de gestão de
instituições de ensino, não há como separar o pedagógico do administrativo ou o
acadêmico do administrativo” (SILVA, 2000, p.73).
Estas questões podem encontrar acolhida e possibilidade de superação por meio
de elementos curriculares que tragam inovações para os cursos de Pedagogia, o que
implica estabelecer os pressupostos do que seja inovação como os apresentados por
Masetto (2012, p. 16) ao explicar que:
[...] as inovações educacionais nunca se apresentam com a característica da
neutralidade, pelo contrário, sempre surgem como resultado de um contexto
social, de determinada concepção de educação e como resposta a
necessidades emergentes para as quais os paradigmas atuais já não oferecem
encaminhamentos aceitáveis.
METODOLOGIA DA PESQUISA
A pesquisa se realiza por meio da abordagem qualitativa com finalidade
descritiva e explicativa. Faz-se uso da abordagem qualitativa por compreender, como o
faz Chizzotti (2008, p. 28), que essa abordagem “implica uma partilha densa com
pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio
os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível”.
A opção pelo método de estudo de caso coletivo deve-se ao fato de que são
objeto da pesquisa três cursos de Pedagogia, como já dito, oferecidos por três
1641
universidades, uma federal, uma estadual e uma privada localizadas no Estado de São
Paulo.
O método de estudo de caso, conforme explicita Chizzotti (2008, p. 135),
“objetiva reunir os dados relevantes sobre o objeto de estudo e, desse modo, alcançar o
conhecimento mais amplo sobre esse objeto, dissipando dúvidas, esclarecendo questões
pertinentes, e, sobretudo instruindo ações posteriores”, o que oferece a possibilidade de
construir uma pesquisa propositiva como a que se propõem como esse estudo.
Ainda segundo Chizzotti (2008, p. 137), o estudo de caso coletivo “significa
estender o estudo a diversos casos instrumentais para ampliar a compreensão ou
teorização a partir de uma coleção mais ampla de casos conexos”.
Utiliza-se a pesquisa documental, cujas fontes são a legislação em vigor
pertinente ao curso de Pedagogia e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Pedagogia, bem como os Projetos Pedagógicos dos cursos de Pedagogia, suas matrizes
curriculares, as ementas das disciplinas, além da pesquisa bibliográfica.
A coleta de dados da pesquisa de campo se fará por meio de entrevistas
semiestruturadas realizadas com docentes do curso de Pedagogia, principalmente
aqueles cujas áreas de domínio sejam currículo e gestão, gestores dos cursos e alunos.
CONSIDERAÇÕES PARCIAS
A pesquisa em andamento encontra-se em seu início e, portanto, trabalha com
duas perspectivas diferentes de resultados. A primeira refere-se ao cumprimento dos
objetivos propiciado pelos resultados obtidos por meio do estudo de caso coletivo, pelo
qual seriam encontrados os elementos que contemplem a integração entre currículo e
gestão para a formação desejada das(os) pedagogas(os) como conceptoras(es) e
gestoras(es) do currículo. Considerando o fato de que os casos podem não oferecer os
resultados esperados, a segunda perspectiva oferece a possibilidade de alcançar os
objetivos mediante os estudos existentes sobre inovação no ensino superior que podem
oferecer os elementos necessários ao currículo para a formação de conceptoras(es) e
gestoras(es) do currículo.
REFERÊNCIAS
APPLE, M. W. Política cultural e educação. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2001
_______. Educação e Poder. 2 reimp. Porto Alegre: Artemed, 2002.
1642
FRANCO, M. A. S. Pedagogia como ciência da educação. 2 ed. rev. ampl. São Paulo:
Cortez, 2008.
HERNANDES, F. et. alli. Aprendendo com as inovações nas escolas. Trad.: Ernani
Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2000.
Pôster
1 INTRODUÇÃO
Antigamente quando estava em jogo a educação dos filhos, a figura materna era
colocada em evidência e à figura do pai ficava em segundo plano e acreditava-se que
este se limitava a impor ordem, sustento e disciplina da prole.
Hoje apesar de pequena, a participação do pai na educação de seus filhos torna-
se fundamental na construção de uma trajetória escolar de sucesso. É preciso lembrar
que o papel do pai não se resume somente a exercer autoridade e garantir a segurança
financeira familiar. Já se foi o tempo em que a mãe cuidava dos filhos enquanto o pai se
encarregava das questões financeiras e disciplinares, agora a educação dos filhos é
responsabilidade de ambos.
1644
De acordo com Candau (2004) apud Bonilha (2011), o ingresso de alunos negros
no Ensino Superior, não ultrapassa os 0,10% do total de vagas oferecidas pelas
universidades públicas brasileiras, o que pode ser um bom argumento para a discussão
de implementação da Política de Ações Afirmativas de acesso dos negros no ensino
superior.
Conforme Santos (2012), embora a luta pelas políticas de ações afirmativas
seja antiga e os movimentos sociais negro desde longa data defendam sua implantação
nas universidades públicas, foi a partir da III Conferência Mundial de Combate ao
Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlatas em Durban na
África do Sul no ano de 2001, que o Brasil passou a adotar esta política de forma mais
sistêmica.
A Lei de Cotas ou Lei nº 12.711, foi sancionada pela presidenta Dilma Rosseff,
em 29 de agosto de 2012. A Lei reserva 50% das vagas de curso e turno nas 59
universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a
estudantes oriundos de camada popular que cursaram todo o ensino médio em escola
pública, em cursos regulares ou modalidade educação de jovens e adultos.
A distribuição das vagas é feita entre negros, pardos ou indígenas, segundo o
último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estas vagas
1645
deverão ser subdivididas, sendo metade para estudantes de escolas públicas com renda
familiar bruta igual ou inferior a um salário mínimo e meio per capita e metade para
estudantes de escolas públicas com renda familiar superior a um salário mínimo e meio,
Os outros 50% das vagas permanecem para ampla concorrência.
Segundo Guimarães (2009), as cotas são apenas parte dos denominados
Programas de Ação Afirmativa, que são um conjunto de estratégias, iniciativas ou
políticas que visam favorecer grupos ou segmentos sociais que se encontram em piores
condições de competição na sociedade, em razão, muito das vezes, de práticas negativas
de discriminação, sejam elas atuais ou antigas.
Na concepção de Irineu (2005), a cota é um dos instrumentos das ações
afirmativas que é utilizado para reduzir ou eliminar completamente, na medida do
possível, as diferenças sociais brasileiras tais como: as econômicas, as culturais, as
políticas e as educacionais.
cultural não se configura apenas como uma herança familiar, porém compõe-se de um
sistema de predisposições para a ação, formada pela posição que a família ocupa na
sociedade (SILVA, 2007 apud D’ARAUJO, 2003).
As disposições são incorporadas pela criança na forma de habitus, realizado com
a convivência familiar. O habitus pode ser compreendido como um sistema de
disposições duráveis, estruturadas a partir do meio social no qual o sujeito esta inserido.
Tais disposições estariam “predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, isto
é, como princípio gerador e estruturador das práticas e das representações”
(BOURDIEU, 1983, p.61).
Esse capital que é fundamental para o sucesso na vida, especialmente o
profissional, quando os indivíduos o têm em sua forma no estado institucionalizado, isto
é, operacionalizado e/ou comprovado por meio do diploma escolar/universitário.
Isso está perceptível quando um dos sujeitos pesquisados, estudante de Física
disse que seu ingresso no Ensino Superior trouxe muitas mudanças em sua vida pelo
fato de agora ele conseguir enxergar a possibilidade de ser um profissional diplomado
em uma instituição pública mais próxima, algo bastante valorizado no mercado de
trabalho.
Em relação ao trabalho durante os estudos, no meio popular Zago (2010),
ressalta que a participação dos filhos na renda familiar é fundamental, visto que, a
mobilização familiar fica em primeiro lugar, está voltada para a sobrevivência, é o
rendimento coletivo do grupo, decorrente do trabalho dos seus membros, que tenta
assegurar as necessidades básicas da família.
Todos os três estudantes, sujeitos dessa pesquisa conciliaram, o trabalho com
estudos durante o Ensino Médio, e disseram que isso em alguns momentos os fez pensar
em desistir de estudar, devido ao cansaço advindo do trabalho. A mulher trabalhou
como babá e os homens trabalhavam no comércio.
Dados da Síntese de Índices Sociais (SIS) 2013 revelam que as desigualdades
existentes no rendimento mensal familiar per capita também ficaram mais evidente
quando se considerou as categorias de cor ou raça da população brasileira. Essa
informação chama nossa atenção para o fato de que esse não foi um fato isolado, tendo
em vista que historicamente, as populações de pretos e pardos apresentam indicadores
sociais desfavoráveis quando comparados à população de cor branca.
Para Domingues (2005) o Brasil é o país da segregação racial não declarada e,
todos os indicadores sociais ilustram números carregados com a cor do racismo, mas na
1647
maioria das vezes não são levados em consideração pelo poder publico. Por exemplo, a
(SIS) 2013 do IBGE, mostraram que as desigualdades no mercado de trabalho se
manifestam de diversas formas e que quando ela se refere à questão de cor ou raça a
diferença se acentua e a maior proporção de pretos ou pardos se encontrava no momento
da pesquisa em trabalhos informais (49,6%) comparativamente à população de cor
branca (36%).
Henrique (2002) em seus estudos sobre as desigualdades sociais no Brasil,
mostra a diferença existência entre brancos e negros na questão educacional. Com base
nos dados da pesquisa de padrões de vida do IBGE, estima-se que cerca de 5% do
diferencial salarial entre brancos e negros está associado à desigualdade educacional,
sendo uma parte derivada da discriminação gerada no interior do sistema educacional.
Percebe-se por meio dos indicadores que há mecanismos intraescolares que
contribuem para a discriminação que pode excluir ou dificultar o sucesso escolar da
população negra.
A estudante pesquisada, disse ter sofrido preconceito na escola e ainda relatou
uma situação constrangedora que passou durante uma festa que aconteceu na escola,
poucos têm a coragem de revelar e denunciar tais discriminações e conseguir sobreviver
a esta e outras discriminações raciais no ambiente escolar e prosseguir nos estudos.
Percebe-se que este preconceito sofrido na escola deixou cicatrizes profundas.
Muitos não têm essa força demonstrada por ela, alguns preferem silenciar esse
preconceito seja por vergonha ou por não acreditarem que essa realidade um dia possa
ser diferente, desistindo assim dos estudos. Porém, mesmo aqueles que conseguem
superar tal crime, como relembrou a estudante, jamais esquece a humilhação sofrida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Lei de Cotas tem sido uma política muito importante, para o ingresso e a
presença do corpo negro nas universidades públicas, a mesma pode ser uma ferramenta
para a redução do fosso histórico que reafirma a diferença socioeconômica entre negro e
branco na sociedade.
Para os sujeitos pesquisados a lei de Cotas aumentou as chances de o negro
conquistar um diploma universitário. A Lei nº 12.711, apesar de polêmica possibilitou
ainda que pequena, uma maior inserção das minorias na universidade pública, mas
também reconhece que a mesma ainda é um espaço elitizado. É preciso mudar o jeito
1648
de ver essa política, isto é, devemos reformular o nosso olhar sobre a mesma, e vê-la
como uma ação afirmativa positiva, que pode diminuir as desigualdades sociais
existentes entre os ricos e pobres.
Com esse trabalho pude perceber que mesmo diante de situações que
representassem percalços a trajetória destes estudantes que foi marcada por um enorme
esforço, cansaço e dificuldades financeiras, o apoio do pai se apresentou como um fator
indispensável para o ingresso dos estudantes no ensino superior. Enfatizo ainda que não
se trata de colocar a universidade como a “salvadora da humanidade”, mas como um
campo de possibilidades para as minorias de ter um futuro promissor.
REFERÊNCIAS:
BOURDIEU, P. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à
Cultura. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. Escritos de educação. Petrópolis:
Vozes, 2010.
SILVA, Maria Luiza Canedo Queiroz da. Percepção de famílias populares sobre
educação e cultura: uma exploração qualitativa. Dissertações, Mestrado Profissional
em Bens Culturais e Projetos Sociais FGV . Rio de Janeiro, 2007.
Disponível em: <
http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/1758/browse?value=Silva%2C+Mar
ia+Luiza+Canedo+Queiroz+da&type=author >. Acesso em 10 Jun.2014.
Pôster
1. Introdução e Metodologia
2. Resultados
A figura 1 mostra o número de vagas de cada curso, com dois referencias: o ano
inicial (2000) e o ano final (2013).
900
800
700
600
500
400
300 2000
200 2013
100
0
3. Análises
inferiores, os cursos de formação superior talvez não estejam preparados para sanar
essas dificuldades. Portanto serão profissionais menos capacitados que lecionarão os
conteúdos precariamente, impedindo que se desenvolva uma sociedade do
conhecimento, que resultaria numa emergência adequada para o país.
Nossa pesquisa confirma que o magistério tem deixado, ao longo dos anos, de
ser uma opção profissional recorrente entre os estudantes de Ensino Médio. Entre os
fatores que incidem sobre a escolha profissional estão o renda, plano de carreira,
empregabilidade, status, vocação entre outros. De acordo com Gatti (2009), estudantes
de Ensino Médio, de todas as regiões do Brasil, apontam que a docência é uma
profissão complexa que envolve tanto aspectos negativos quanto positivos, por um lado
há pouco reconhecimento social, além dos baixos salários, e por outro é um trabalho
bonito e nobre.
Todos os artigos pesquisados em algum momento evidenciam a questão salarial,
como um ponto importante a ser discutido. Alves e Pinto (2011) comparam o salário
médio de profissionais que possuem o mesmo número de anos em sua formação
acadêmica para o exercício de sua profissão. Enquanto 82,8% dos médicos ganham
mais de 5 salários mínimos, 89,3% dos professores da Educação Básica ganham até 5
salários mínimos. Segundo os autores, o salário do docente da escola pública é
normalmente 36% mais baixo se comparado ao de outras profissões que exigem a
mesma qualificação no Ensino Superior. Nesse sentido, o desencanto com a profissão e
o desprestígio social e financeiro está enraizado no imaginário coletivo da sociedade
brasileira, e resulta na pouca atratividade do magistério para a geração atual.
4. Conclusões
notas nos exames internacionais, está tendo nesta década mais professores iniciando a
carreira que em qualquer outro momento desde 1970. Esse crescimento é decorrente do
processo de valorização do profissional que estes países desenvolveram. O Brasil,
devido aos inúmeros fatores já citados, segue na contramão em relação aos estudantes
que desconsideram a profissão no momento da escolha no fim do Ensino Médio ou ao
longo da graduação.
Diante dos resultados alarmantes em que o número de vestibulandos e
concluintes tem diminuído em todos os cursos de Licenciatura no micro espaço
analisado, ponderamos acerca da necessidade de mais pesquisas sobre o assunto.
Justifica-se, portanto, que nesse momento histórico seja importante pesquisas, como
esta, que inferem diretamente sobre o problema, pesquisas que envolvam outras
universidades, tanto no estado de São Paulo quanto no país inteiro. Visando assim,
diagnosticar os problemas e apontar soluções, uma vez que a diminuição de
profissionais formados possa gerar, num futuro próximo, uma escassez no cenário
educacional brasileiro.
REFERÊNCIAS
LOUZANO, Paula. Quem quer ser professor? Atratividade, seleção e formação docente
no Brasil. Estudos em Avaliação Educacional v. 21, n. 47, p. 543-568, set/ dez 2010.
em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/palestras/palestra_ifets_mapa_04m.pdf.
Acesso em: 10.05.2014
Pôster
INTRODUÇÃO
trabalho e família se faz presente nas agendas de discussões em vários países, porém no
Brasil tal temática historicamente tem fraca legitimidade (CORDEIRO, 2008).
Segundo Cavaliere (2007), nos últimos anos os estudos identificaram quatro concepções
de escola de tempo integral: A visão predominante é de cunho assistencialista, no qual
entende a escola em tempo integral como lugar dos desprivilegiados, devendo suprir
deficiências gerais dos alunos sendo uma escola que substitui a família, o mais relevante
e a ocupação do tempo e a socialização primária; Outra visão é a autoritária, a escola de
tempo integral é tida como uma instituição de prevenção ao crime, ou seja, estar na
escola é melhor do que ficar na rua; Também existe a visão democrática, que acredita
no papel emancipatório do tempo integral, pois proporciona um aprofundamento dos
conhecimentos do ponto de vista cultural; A última concepção é a multissetorial de
educação integral, sendo que o tempo integral não precisa ser centralizado em uma
instituição, assim a educação pode se efetivar fora da escola em diferentes espaços.
Sendo assim, destaca-se a visão predominante assistencialista, por isso é necessário
refletir sobre tais critérios de matrícula e entender de fato como está se dando o tempo
integral na educação infantil. (SANTOS, 2012, p. 12)
Nesse sentido, como se constitui o tempo integral para essas crianças em situação de
vulnerabilidade e risco social? E como possibilitar novas práticas e sentidos no tempo
integral? Os critérios de matrícula devem ser tensionados nos contextos das instituições,
não basta criar determinantes socioeconômicos e deixar o discurso assistencialista
predominar no cotidiano escolar.
A vulnerabilidade social, a desigualdade socioeconômica e a destituição dos direitos
desses sujeitos dificultam os vínculos e provoca muitas vezes a desestruturação familiar.
1662
Deste modo, de acordo com Brayner (2008), quando a família (socialização primária)
não pode cumprir a primeira fase de construção de si, intersubjetiva, tornará cada vez
mais difícil que a escola (socialização secundária) cumpra esse papel, tomando para si
toda a responsabilidade dos processos de socialização.
Essas duas instâncias representam a entrada na esfera pública e a introdução em uma
comunidade de sentido mais ampla, mais aberta, mas complexa, mais concorrencial,
necessitando de cada sujeito, um nível de responsabilidade mais exigente e rigoroso, e
quando tais instâncias começam a não oferecer mais condições para responder e de
também oferecer suas bases, a crise de sentido surge e prejudica, dessa maneira, o nosso
“viver juntos” (BRAYNER, 2008).
Daí a importância do papel da educação, no qual segundo Arendt (1997), é de iniciar
um novo mundo com aqueles que são novos, seja por natureza ou nascimento, a criança
objeto da educação, possui um duplo aspecto, é nova em um mundo estranho e se
encontra em um processo de formação.
Torna-se alguém no mundo é um “vir-a-ser” visível para o outro, contudo a exclusão
elimina tal possibilidade, nesse caso a exclusão segundo Brayner (2008), não é a
econômica e social e sim a exclusão das identidades e com ela intrínseca a nossa
capacidade de enxergar o outro como igual a nós.
Será que as crianças em situação de vulnerabilidade e risco social têm suas identidades
excluídas, expulsas da “comunidade de sentido” e são invisíveis? Ou nós os adultos
também somos excluídos e também não somos visíveis nessa comunidade, pois ainda
almejamos um “novo espaço público” onde possamos nos constituirmos como
homens/mulheres compartilhando um mundo comum e plural, assim, “(...) a ideia de
espaço público reúne a totalidade dos processos de configuração da opinião e da
vontade colectivas” (INNERARITY, 2006, p. 10).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pretende-se com tal pesquisa entender os processos que atravessam o tempo integral na
educação infantil e seus desdobramentos nas práticas educativas das crianças de creche
e pré-escola, a partir dos critérios de matrícula que tem como determinante a
vulnerabilidade e o risco social.
Nesse sentido, buscaremos considerar os modos de subjetivação das crianças no intuito
de dar visibilidade a esses atores sociais que pela condição de vulnerabilidade e risco
1663
social, muitas vezes, são tidos como não sujeitos, sendo assim, segundo Sarmento
(2007), é de suma importância a ciência estar atenta à complexidade das condições de
existência das crianças capaz de combinar os vetores de socialização com os da
subjetivação, o grupo geracional em sua existência histórica concreta, considerando a
criança como autor e ator de sua história particular de vida.
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1997.
Pôster
Resumo: O presente trabalho tem como foco a dimensão estética das narrativas
discentes. Apresenta como objetivos analisar, compreender e interpretar as
possibilidades e limites de desenvolvimento da autonomia e emancipação dos sujeitos
no curso de Pedagogia. Trata-se de uma pesquisa na abordagem qualitativa. Os dados
serão analisados e compreendidos a partir do documento que são as narrativas discentes
produzidas no 5º. e 6º. Semestre do Curso de Pedagogia, em 2013, e os registros diários,
do primeiro semestre de 2014, que relatam a perspectiva dos participantes na Colcha de
Retalhos, um dispositivo formativo desenvolvido por Berkenbrock-Rosito, (2008)
concretizada dentro da abordagem da pesquisa (Auto) Biográfica. Espera-se contribuir
às reflexões sobre os processos formativos do docente.
Palavras-chave: educação estética, pedagogia, processo formativo, autonomia e
emancipação e narrativas.
Introdução
Problema de pesquisa:
Objetivos:
Compreender a dimensão estética no processo formativo no Curso de Pedagogia
a partir das narrativas discentes do 5º semestre e 6º. Semestre, que participaram da
disciplina História da Educação e da Pedagogia, no Curso de Pedagogia da
Universidade Cidade de São Paulo, em 2013, como possibilidade de desenvolvimento
da autonomia e emancipação.
Justificativa:
Justifica-se este estudo pelo fato de que a compreensão dos processos formativos
implica dimensão estética que tem sido pouco estudada no Curso de Pedagogia.
Pretende-se compreender como ocorre a aprendizagem estética e a importância da
Educação Estética nos processos formativos.
Estética é um fenômeno que não se deixa ver, porém, está presente na relação
com o ambiente físico e com as pessoas que convivemos. Emerge de sensações de gosto
e desgosto, prazer e desprazer, que arrebata e tem impacto diretamente nos sujeitos.
Podemos definir como uma experiência estética, uma aprendizagem estética do espaço
educativo que não ocorre via o conteúdo oficial de uma disciplina, mas sim sentido
pelos sujeitos.
Educação Estética consiste, na visão de Schiller, refletir sobre o significado
daquilo que nos afeta causando prazer ou desprazer, gosto ou desgosto. Nesse sentido, a
aprendizagem não é só consequência da transmissão de conhecimentos explícitos no
1667
currículo oficial, mas se dá, principalmente, pelas interações sociais que ocorrem nos
espaços educativos e formativos.
Esse processo de conscientização compreende o desenvolvimento da autonomia
e da emancipação que ocorre através da estética.
Pensar a dimensão estética nos processos formativos significa priorizar a
humanização do indivíduo, que em Freire, contempla a Pedagogia Libertadora uma
oposição à Educação Bancária e visaria ao desenvolvimento de autonomia dos
sujeitos, em Adorno, a emancipação em relação à manipulação estética da indústria
cultural.
Sendo assim, o papel da universidade e do professor com base na intervenção e
na produção de conhecimento com os alunos, visa – não apenas – a reprodução do
conhecimento e a transmissão de informações, uma vez que este tipo de transferência de
saberes pode ocorrer ao serem utilizados livros, enciclopédias e/ou recursos como a
Internet.
A respeito das práticas educativas, Freire diz que:
Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas
para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto
de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de
minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes. (FREIRE, 1997,
p.54 )
Metodologia
Referências:
______. À sombra desta mangueira. 9.ed. São Paulo: Editora Olho D´Água, 2010.
______. Educação como prática da liberdade. 5.ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1975.
Pôster
Introdução
Justificativa
Este estudo trata da avaliação das instituições de ensino e aborda uma das
dimensões contidas no Instrumento de Avaliação Institucional que se refere ao
acompanhamento dos egressos. Desta necessidade de implantação de uma política de
acompanhamento do egresso apontada nos documentos oficiais, é possível identificar
alguns valores presentes nos textos, como “responsabilidade social”, “compromisso
social”, “eficácia institucional e efetividade acadêmica e social” e “construção da
identidade institucional”.
Para a construção da pesquisa foi realizado um levantamento preliminar do
referencial teórico considerando como base a legislação, dissertações e teses presentes
no banco de teses da CAPES, assim como artigos do sistema SCIELO tendo sido feitas
buscas com os descritores: egressos, SINAES, ex-aluno e avaliação institucional, de
forma direta e cruzada.
No que se refere à legislação, foram consultados os textos de Lei, Decretos,
Portarias e demais documentos oficiais, assim como documentos eletrônicos gerados
pelo INEP, disponíveis no próprio site e também divulgados em eventos sobre
Avaliação Institucional e que tem orientado as IES no estabelecimento de suas políticas
e estratégias.
Com base neste estudo preliminar, a reflexão que circunda o tema é que mesmo
após 10 anos da implantação do SINAES, instituído pela Lei n° 10.861, de 14 de abril
de 2004, o cenário apresentado ao INEP por meio dos relatórios das CPAs, conforme
dados apresentados no II Encontro Nacional do Censo da Educação Superior e já citado
acima, aponta que a grande maioria das IES brasileiras não possui ainda uma política de
acompanhamento de egressos definida e implantada.
A partir deste contexto, esta pesquisa, em desenvolvimento, investiga de que
forma os dirigentes de IES se posicionam em relação aos dois indicadores relativos ao
acompanhamento de egressos, presentes no atual instrumento de avaliação institucional.
E como eixos de dimensão de análise aponta-se:
• Práticas vigentes nas IES no que se refere ao indicador “acompanhamento de
egressos” presente no instrumento de avaliação institucional do SINAES.
• Possibilidades e limites encontrados pelas IES no atendimento ao indicador.
Desta forma, este trabalho tem como objetivo geral analisar a opinião dos
dirigentes das IES acerca dos dois indicadores relativos ao acompanhamento de
egressos no processo de avaliação institucional. E como objetivos específicos são
propostos:
1676
Procedimentos metodológicos
Considerações finais
REFERÊNCIAS
Introdução:
A partir dos anos de 1990 houve uma transposição das técnicas empresarias para
o interior das escolas, por isso os conceitos de “produtividade, eficácia, excelência e
eficiência foram importados das teorias administrativas para as teorias pedagógicas”.
Esta busca pela eficiência teve sua origem na crise de legitimidade do Estado iniciada
na década de 1980 e “detectada inicialmente por um descompasso existente entre o
número de vagas nos estabelecimentos públicos de ensino e a população que demandava
escola” (CUNHA, 1999 apud OLIVEIRA, 2006, p.93).
informar dados por “turmas, escolas, redes escolares, municípios, estados e país”
(JEFFREY, 2013; FREITAS, D N, 2013b).
Considerações Finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS