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LEGISLAÇÃO CIVIL E PENAL E IMPLICAÇÕES

FORENSES

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SUMÁRIO

1 LEGISLAÇÃO CIVIL E PENAL E IMPLICAÇÕES FORENSES ASPECTOS


INTRODUTÓRIOS ..................................................................................................... 3

1.1 GENERALIDADES HISTÓRIA DO CONCEITO ..................................... 7


1.2 CLASSIFICAÇÃO ............................................................................... 10
2 ASPECTOS JURÍDICOS ELEMENTOS DO CRIME .................................. 15

2.1. CONCEITO DE RESPONSABILIDADE PENAL ................................. 16


2.2. CONCEITO DE IMPUTABILIDADE PENAL ........................................ 17
2.3 ASPECTOS DA PSICOPATOLOGIA FORENSE CONDUTA
CRIMINOSA DOS PSICOPATAS ......................................................................... 18
3. PERTUBAÇÃO DA SAÚDE MENTAL: CAPACIDADE DE IMPUTAÇÃO DO
PSICOPATA ............................................................................................................. 20

3.1. PENA E MEDIDA DE SEGURANÇA PENA ........................................ 22


3.2 PRESSUPOSTOS PARA A APLICAÇÃO, IMPOSIÇÃO E ESPÉCIES DA
MEDIDA DE SEGURANÇA. ................................................................................. 23
3.3 PSICOPATAS: QUAL A SANÇÃO IDEAL? .......................................... 24
4 CRIMINOSOS EM SÉRIE........................................................................... 25

4.1 – DECISÕES JUDICIAIS VERSUS LAUDOS MÉDICOS .................... 25


REFERÊNCIAS ............................................................................................. 27

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1 LEGISLAÇÃO CIVIL E PENAL E IMPLICAÇÕES FORENSES
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

A ideia de que as pessoas que perdessem a razão deveriam ter um tratamento


legal diferente das demais é bem antiga na história de humanidade. Antes dos gregos,
há inúmeras referências às doenças mentais e aos enfermos da mente, mas tais
fontes não se referem à sua responsabilidade penal ou à capacidade civil. O Código
de Hamurabi e as Leis de Manu falam de doentes e de médicos, mas não versam
sobre temas de psiquiatria forense.

FONTE: Google imagens – acesso em 04/11/2020

De maneira geral, esse tipo de paciente não era visto como doente, mas como
possuído por entidades malignas. Assim, não poderia ser objeto de cuidados legais.
Os gregos – de Hipócrates em diante – dissertaram sobre doenças mentais, mas se
omitiram em relação aos assuntos legais que pudessem vir a suscitar. Os fatos
ocorreram de maneira diferente em Roma. Diferentemente dos gregos, os romanos
foram um povo legalista que deixou um monumento legal, o direito romano. Os
doentes mentais, divididos em furiosos, alienados e mentecaptos, passaram a ter
tratamento jurídico, tanto penal quanto civil.

Os médicos romanos – como Celso, Areteu e Galeno, os quais deixaram obras


que traduziam o pensamento científico da época – dissertaram sobre doenças
mentais, mas não trataram dos aspectos jurídicos envolvidos no comportamento dos

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enfermos. Ainda que as leis de Justiniano tratassem desse tema no Corpus juris
civilis, na Pandectas e nas Instituta, e que tenham sido elaboradas algumas normas
legais (principalmente civis), a influência crescente do Cristianismo acabou
eclipsando a ideia de que os que perderam a razão eram doentes.

A demonologia cristã predominou, e os doentes mentais passaram a ser


considerados energúmenos (endemoniados) e, por isso, sem qualquer direito ou
reconhecimento legal. A história mostrou o que sucedeu a bruxas, feiticeiras e
possuídas pelo demônio. Podemos considerar que houve um interregno, durante a
Idade Média, nas ideias místicas que dominaram a medicina, sobretudo pela atividade
de médicos árabes e judeus durante o domínio islâmico na Espanha, no norte da
África e no Oriente Médio. Entretanto, Avicena, Averróis e Maimônides, apesar das
excelentes descrições de doenças, não cuidaram dos aspectos jurídicos por elas
suscitados.8 Assim, até o fim do século XVIII, não se pode falar em medicina forense
e, muito menos, em psiquiatria forense.

O advento do Iluminismo, tanto o francês quanto o alemão, do Racionalismo


e dos ideais que foram consubstanciados na Revolução Francesa e na Revolução
Industrial não poderia deixar de atingir a medicina e particularmente a psiquiatria. Ao
longo do século XVIII se dá o reconhecimento de que os doentes mentais não eram
endemoniados – as últimas feiticeiras foram queimadas em 1715 –, sem, contudo,
passarem a ter o status de doentes, ainda que da razão.

Passaram a ser considerados marginais (à margem da sociedade), já que não


produziam nem criavam riquezas. Eram assemelhados aos bandidos e às prostitutas.
O máximo que por eles se fazia era recolhê-los em grandes instituições com os
demais.

As questões legais que suscitavam eram resolvidas pelos procuradores de


justiça e pelos juízes, sem qualquer interferência médica. Quando foram libertados
das prisões (na verdade, grandes casas de recolhimento dos marginais sociais) e
enviados para hospitais, ainda não havia o reconhecimento de questões como
capacidade civil e responsabilidade penal.

A partir daí, aos poucos, foi se erguendo o edifício da psiquiatria forense, em


particular na França e na Itália, mas também na Inglaterra e na Alemanha. Na
atualidade, por meio do exame pericial psiquiátrico, a psiquiatria forense, a partir de

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psiquiatras forenses, é convocada a intervir em um sem-número de casos na interface
entre psiquiatria e direito, desde temas penais (como responsabilidade penal,
superveniência de doença mental e periculosidade), passando por questões cíveis
(capacidade civil em geral e disputas em direito de família), chegando a discussões
nos âmbitos administrativo, trabalhista e previdenciário, sempre que a saúde mental
de uma das partes envolvidas for de interesse para a solução da causa.

Alguns pressupostos básicos da psiquiatria forense Pelo menos três conceitos


filosóficos e legais são indispensáveis para o exercício da psiquiatria forense:
entendimento, determinação e discernimento.

As capacidades de entendimento e de determinação decompõem-se em um


número considerável de faculdades, tanto intelectivas quanto volitivas. Tais
faculdades encontram-se de tal maneira entrelaçadas no espírito humano que seria
bastante artificial apontar com rigidez quais são pertencentes à intelecção e quais são
à conação. Assim, é preferível estudar de maneira exaustiva e abrangente um elenco
dessas faculdades, sem discriminar as pertencentes a uma ou a outra das categorias
citadas. A posse, plena ou limitada, da capacidade de entendimento ou de
determinação por parte de alguém só pode ser corretamente avaliada após detido
exame de uma série de atributos cognitivos, volitivos e valorativos que, em seu
conjunto, formam aquelas capacidades.

Considerando-se a vastidão e a incomensurabilidade da mente humana, não


é necessário que todas as qualificações sejam pesquisadas. A complexidade de uma
ação cometida – seja uma infração penal, seja o exercício pessoal de atos da vida
civil –, suas circunstâncias, seus antecedentes, seus concomitantes e consequentes
é que ditarão o número razoável de faculdades a serem investigadas. Essa análise
consistirá em determinar se cada uma dessas propriedades está indene (normal),
prejudicada (diminuída ou reduzida) ou, até mesmo, suprimida. Percebe -se, assim,
a existência de uma gradação, e a apreciação quantitativa só se torna possível diante
de um caso particular.

Portanto, entre outras, devem ser perquiridas noções de: bem ou interesse
juridicamente tutelado; antijuridicidade, dano efetivo ou lesão a bem ou interesse
juridicamente tutelado; dano potencial ou perigo de lesão a um bem ou interesse
juridicamente tutelado; violação do dever jurídico; violação de norma jurídica;

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condições de superveniência de um efeito lesivo; tipicidade penal; culpabilidade;
imputabilidade; responsabilidade; exigibilidade de conduta; natureza delituosa de
uma ação; imoralidade da conduta; perturbação da vida social; ataque às condições
fundamentais da vida social; nocividade da ação ou omissão; associabilidade; quais
ações ou omissões produzem resultados; disciplina social; causalidade; ato voluntário
como causa; relação; nexo causal entre conduta e evento; eficácia ou eficiência da
ação.

Devem-se investigar também: capacidade de juízo valorativo em geral;


capacidade de juízo valorativo de culpabilidade; consciência de ilicitude da conduta;
consciência de proibição da conduta; consciência de ilegitimidade da ação; presença
de sentimentos de piedade; presença de sentimentos de probidade; consciência do
desvalor social da ação; presença de vivência de censura; presença de sentimento
de rebeldia; capacidade de distinção entre utilidade e prejuízo; presença de escala de
valores; percepção da influência dos valores na experiência pessoal; capacidade de
incorporação e desfazimento de valores; presença de valores espirituais; presença
de sentimentos de comunidade, cooperação e coexistência; presença de sentimentos
de independência social; presença de sentimento de solidariedade; percepção de
reprovação social; vivência de relação de causalidade entre ação ou omissão e
resultado; capacidade de previsibilidade do resultado da ação; capacidade de
avaliação do ato a ser praticado; nível de inteligência; previsão da consequência dos
atos; percepção da correspondência entre previsão e resultado; percepção da
coerência entre os elementos componentes do ato; concordância entre antecedentes
e consequentes do ato; presença de proporcionalidade; estado da volição; presença
de intenção e animus; presença de deliberação; disposição de praticar todos os
elementos componentes do ato; capacidade, imediata ou remota, de evitação de dor,
desgosto ou sofrimento; capacidade de adequação e conveniência na busca do
prazer; presença de sentimentos de liberdade e de autonomia; capacidade de opção
e escolha; capacidade de adaptação; capacidade de advertência e prevenção.

A integridade, ou não, do momento intelectivo (entendimento) e do momento


volitivo (determinação) de uma ação humana é o objetivo da maioria dos exames
periciais psiquiátricos. O discernimento vem a ser a conjugação das duas faculdades
para o exercício de ato específico.

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1.1 GENERALIDADES HISTÓRIA DO CONCEITO

A evolução dos conceitos sobre a personalidade psicopática transcorreu,


durante mais de um século, oscilando entre a bipolaridade orgânica psicológica,
passando à transitar também sobre as tendências sociais e parece ter aportado
finalmente, numa ideia bio-psico-social que, senão a mais verdadeira, ao menos a
mais sensata. Conceituar a personalidade psicopática, ou tão somente psicopata, é
algo que vem preocupando tanto a Psiquiatria como o Direito, evidentemente essa
preocupação contínua e perene existe porque sempre houve personalidades
anormais como parte da população geral. O que houve primeiro foi a definição para
a relação entre o crime e o criminoso e aquelas pessoas que se entendiam pré
dispostas para o crime, os delinquentes.

O estudo da evolução da Criminalidade realizado por Lombroso, permite fixar


o fio condutor desta ciência e as suas diretrizes atuais, além de estabelecer as bases
para novos progressos. Lombroso ao efetuar estudos sobre o homem delinquente,
estabeleceu um tipo particular de indivíduo, definido pelos seus caracteres físicos e
psíquicos e pela prática no crime, denominado: “Criminoso Nato”.

A obra de Lombroso foi continuada pela chamada “Escola de Antropologia


Criminal de Roma”, a qual remodelou o conceito do “Criminoso Personalidade
Psicopática definindo assim, a “Constituição Delinquencial”, grupo biológico, com a
característica fundamental da predisposição ao delito, essência esta, de uma
personalidade, alcançando assim, o conceito comparável aos das personalidades
psicopáticas.

A “Escola de Graz” salienta a importância de dois fatores, determinantes da


vida psíquica de cada indivíduo: o terreno (constituição biológica individual) e o
ambiente. Admite uma tendência criminógena, transmissível por hereditariedade, com
disposições instintivas que levam determinado indivíduo, mais facilmente do que
outros, a entrar em conflitos com as leis penais. A concepção do “Criminoso Nato” de
Lombroso e da “Constituição Delinquencial” da Escola de Antropologia Criminal de
Roma refere-se a um tipo peculiar de indivíduos, com características próprias,
predispostas especificamente para o crime.

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Entre essa peculiaridade de indivíduos criminosos está a personalidade
psicopática. São “indivíduos fronteiriços” que se separam do grosso da população em
termos de comportamento, conduta moral e ética. Girolano Cardamo, professor de
Medicina da Universidade de Pavia, retratou uma das primeiras descrições
registradas pela Medicina sobre algum comportamento que pudesse se identificar à
ideia de personalidade psicopática. Neste relato, Cardamo falou em “Improbidade”,
quadro que não alcançava a insanidade total, porque as pessoas que padeciam dessa
“Improbidade” mantinham a aptidão para dirigir sua vontade.

Pablo Zacchias, considerado por alguns como fundador da Psiquiatria Médico


Legal, descreve, em Questões Médico Legais, as mais notáveis concepções, as quais
logo resultariam significado às “Psicopatias” e aos “Transtornos de Personalidade”.
Em 1801, Philippe Pinel publica seu Tratado Médico Filosófico sobre a Alienação
Mental e descreve que os loucos em nenhum momento, sofrem de um prejuízo de
seu entendimento, e que estavam sempre dominados por uma espécie de furor
instintivo, como se o único dano fosse em suas faculdades instintivas. Prichard, em
1835, designou a expressão “Insanidade Moral”, para caracterizar a conduta anti-
social e a falta do senso ético de certos criminosos e afirmava que existiam
insanidades sem o comprometimento intelectual, mas possivelmente com prejuízo
afetivo e volitivo (da vontade); esta denominação igualou-se ao atual conceito de
psicopatia.

Em 1888, é definida pela primeira vez uma insanidade como inferioridade


psicopática, mas foi em 1896 que surgiu o termo “Personalidade Psicopática”, esta
designada por Kraepelin, o qual, trouxe átona o debate científico, relacionando assim,
anomalias ou transtornos psíquicos com o cometimento do crime. No ano de 1923,
Kurt Schneider, em sua obra Personalidades Psicopáticas define:1 “Personalidades
psicopáticas são as anormais, que sofrem por sua anormalidade ou fazem sofrer a
sociedade”. 1 Kurt Schneider, Personalidades Psicopáticas, 1923

Frase esta criticada por José Alves Garcia, em sua obra Psicopatologia
Forense, onde qualificou a definição de Kurt Schneider como irrelevante. Pode-se
destacar nelas certas características e propriedades que as definem de maneira nada
comparável aos sintomas de outras doenças. A concepção de Schneider traz um
certo determinismo, porque define o psicopata, portador de uma personalidade
estranha, separada de seu meio.

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A psicopatia, portanto não é exógena, sua essência é constitucional e inata.
Schneider englobou no conceito de personalidade psicopática todos os desvios da
normalidade, não suficientes para serem considerados doenças mentais francas,
incluindo nesses tipos, também aquele que hoje se entende por sociopata
(psicopatia). Muito mais tarde Mira y López conceitua a Personalidade psicopática:

“Personalidade mal estruturada, predisposta à desarmonia


intrapsíquica, que tem menos capacidade que a maioria dos
membros de sua idade, sexo e cultura para adaptar-se às
exigências da vida social”.

Em 1941, Cleckley escreveu um livro chamado “A Máscara da Saúde”, o qual


se referia a este tipo de criminosos. Em 1964 descreveu as características mais
frequentes do que hoje é chamado de psicopata. Na década de 60, Karpmam
afirmou:3 2 Mira y López 3 Karpmam, 1961

“Dentro dos psicopatas há dois grandes grupos; os depredadores e os


parasitas”. Os depredadores são aqueles que tomam as coisas pela força e os
parasitas tomam-nas através da astúcia . Outros autores, mais precisamente nas
décadas de 60 e 70, foram também definindo os traços característicos da psicopatia
com termos tais como; perturbações afetivas, perturbações do instinto, deficiência
superegóica, tendência a viver somente o presente, baixa tolerância e frustrações.
Alguns classificam esse transtorno como anomalias do caráter e da personalidade,
ressaltando sempre a impulsividade e a propensão para condutas anti-sociais.

Conceito atual

As divergências, ainda hoje, existem, entre os que defendem a origem desses


desvios em certa predisposição constitucional, os que sustentam encontrar a causa
nas deficiências funcionais do cérebro e aqueles que admitem que os desvios se
originam em possíveis rejeições sofridas pela criança nos primeiros anos de vida. A
personalidade está sujeita, entretanto, a transtornos em seu desenvolvimento e em
sua continuidade, quando se evidenciam as hipóteses dos seus desdobramentos ,
como na identidade; quando ocorrem transtornos da relação da pessoa com o mundo
exterior; transtornos da percepção, como os estados depressivos e obsessivos, enfim
uma infinidade existente de desvios de personalidade, com profundos reflexos em

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todo o comportamento do indivíduo e, evidentemente, com suas consequências na
esfera do mundo jurídico. O renomado Nélson Hungria define os psicopatas como:

“Portadores de psicopatias a escala de transição entre


psiquismo normal e as psicoses funcionais.

Seus portadores são uma mistura de caracteres normais e caracteres


patológicos. São os inferiorizados ou degenerados psíquicos. Não se trata
propriamente de doentes, mas de indivíduos cuja constituição é “ab initio”, formada
de modo diverso da que corresponde ao “homo medius”. No entanto, em meio a tantas
definições, a discussão atualmente não reflete só a preocupação de conceituar, mas
sim a tentativa de buscar correlação entre a criminalidade e esse tipo de transtorno
de personalidade. 4 Nélson Hungria, Conferência realizada na Sociedade Brasileira
de Criminologia, em 29/09/1942 (apud Heitor Piedade Júnior.

A Psicopatologia pesquisa sobre as doenças mentais, sua etiologia e sua


classificação. Segundo Gerardo Vasconcelos5 , as causas mais frequentes dos
distúrbios mentais são: doenças em geral, endo-intoxicações, exo-intoxicações,
infecções, herança psíquica, crenças e superstições, causas psíquicas, causas
mecânicas, disposições individuais e fisiológicas. Os psicopatas estariam dentro das
causas psíquicas, que são traumas, principalmente de causas emotivas, que em
determinado momento desencadeiam um quadro patológico grave; e também das
disposições individuais, que é a constituição, temperamento e caráter do indivíduo.
Ou seja, como já foi falado, os psicopatas teriam defeitos de base constitucional e
que ao longo de sua vida, fatores, como a impotência sexual, potencializariam esses
defeitos. Lembrando que são incapazes de aprender por qualquer experiência vivida.

1.2 CLASSIFICAÇÃO
Adotaremos a classificação dada por Flamínio Favero que seguindo os
dispositivos legais, classificou os distúrbios psíquicos em: psicoses, insuficiências
mentais ou oligofrenias, personalidades psicopáticas e neuroses. 5 Ob. cit. 6 Apud
Gerardo Vasconcelos, ob. cit. Personalidade Psicopática – implicações forenses e
médico-legais.

As psicoses envolvem os distúrbios qualitativos, orgânicos (psicoses


endógenas e exógenas) e alguns psíquicos (desenvolvimentos delirantes); enquanto

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as demais referem-se aos distúrbios quantitativos. Os distúrbios qualitativos
caracterizam-se pela alteração da qualidade, com surgimento de “algo novo” na vida
psíquica do paciente, como por exemplo, vozes, pensamentos delirantes, visões. Os
distúrbios quantitativos caracterizam-se pelo aumento ou diminuição de coisas
consideradas normais até então; o que muda é a quantidade, como por exemplo as
reações de um psicopata de personalidade explosiva, que bate na mulher porque esta
não colocou o lixo para fora (há uma extrema desproporcionalidade entre o estímulo
e a reação), ou o oligofrênico que não consegue ler, por pouca inteligência.

2.1 OS PSICOPATAS: CARACTERÍSTICAS

FONTE: Google imagens – acesso em 05/11/2020

A personalidade traduz-se, na visão psicopatológica, na somatória das


tendências somatopsíquicas da constituição do indivíduo e do meio ambiente com o
qual interage. Daí cada um ter uma personalidade diferente. Quanto às
personalidades psicopáticas, estas são marcadas por desajustamento social,
tendências de reação às normas, sem acomodação ao grupo, dificuldades de
adaptação ao meio e de relações com os demais.

São, desta forma, parte integrante do indivíduo, precocemente reveladas, e


constantes em toda a sua existência. Caracterizada por perturbações constitucionais,
transtornos da afetividade, dos instintos, do temperamento e do caráter, vão se
intensificando com o desenvolvimento do indivíduo, tornando-se cada vez mais
marcadas.

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Revela-se, assim, num distúrbio da conduta. Mas para um melhor
entendimento desses indivíduos estão elencados abaixo os traços e características
mais significantes: Encanto Superficial e Manipulação: nem todos os psicopatas são
encantadores, mas é expressivo o grupo deles que utilizam o encanto pessoal e,
consequentemente capacidade de manipulação das pessoas, como meio de
sobrevivência social. O encanto, a sedução e a manipulação são fenômenos que se
sucedem no psicopata, partindo do princípio que somente será possível manipular
alguém se esse alguém foi antes seduzido; Mentiras Sistemáticas e Comportamento
Fantasioso: o psicopata utiliza a mentira como uma “ferramenta de trabalho”.

O psicopata não mente circunstancialmente ou esporadicamente para


conseguir safar-se de alguma situação. É comum que o psicopata priorize algumas
fantasias sobre circunstâncias reais. Esse indivíduo pode converter-se no
personagem que sua imaginação cria como adequada para atuar no meio com
sucesso, propondo a todos a sensação de que estão, de fato, em frente a um
personagem verdadeiro; Ausência de Sentimentos Afetuosos: o criminoso psicopático
não manifesta nenhuma inclinação ou sensibilidade por laços sentimentais habituais
entre familiares. Além disso, eles têm grande dificuldade para entender os
sentimentos das outras pessoas. Na realidade são pessoas extremamente frias, do
ponto de vista emocional; Amoralidade: os psicopatas são portadores de grande
insensibilidade moral, faltando-lhes totalmente juízo e consciência morais, bem como
noção de

Impulsividade: a ausência de sentimentos éticos e altruístas, unidos à falta de


sentimentos morais, impulsiona o psicopata a cometer brutalidades, crueldades e
crimes. Essa impulsividade reflete também um baixo limiar de tolerância às
frustrações, refletindo-se na desproporção entre estímulos e as respostas, ou seja,
respondendo de forma exagerada diante de estímulos mínimos e triviais, contudo,
demonstra uma absoluta falta de reação frente a estímulos importantes;
Incorregibilidade: dificilmente ou nunca aceita os benefícios da reeducação, da
advertência e da correção; Falta de Adaptação Social: desde os primeiros contatos,
como por exemplo, na escola, na família, no trabalho, é manifestada uma tendência
egocêntrica, logo, essa tendência se torna responsável pelas dificuldades de
sociabilidade;

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A média da população de psicopata é de 1 a 4% em maior ou menor escala. A
maioria das pessoas com distúrbios da personalidade antisocial não é criminosa e é
capaz de se controlar dentro dos limites da tolerabilidade social.

Eles são considerados somente como "socialmente perniciosos", ou têm


personalidade odiosas. Observação muito bem feita pelo neurologista Henrique Del
Nero:

“Sofrer desse distúrbio não significa necessariamente que a


pessoa seja ou se torne assassino.”

Dentre as várias classificações de psicopatias, a de Kurt Schneider inaugurou


uma posição original, clássica e revolucionária na caracterização do problema, estas
classificações serão apresentadas a seguir:

1. Psicopatas Hipertímicos: indivíduos alegres, loquazes, despreocupados,


otimistas, superficiais em seu trabalho e inclinados a escândalos e às desavenças
conjugais. Propensos a cometerem crimes como brigas, disputas, estelionatos, entre
outros. Possuem sexualidade exaltada.

2. Psicopatas Depressivos: indivíduos tranquilos, melancólicos,


permanentemente deprimidos e eternamente descontentes e ressentidos, ligados a
uma consideração pessimista da vida, iniciada, às vezes, na juventude.

3. Psicopatas Anancásticos: inseguros, com ideação especial dominada por


uma ação coativa ou fóbica que surge de improviso por estímulos desencadeantes
insignificantes, às vezes, acompanhada por manifestações subjetivas de exaltação,
produtora de intenso sofrimento ao indivíduo, como por exemplo, a possibilidade de
matar o próprio filho. Alguns são sensitivos ou escrupulosos morais.

4. Psicopatas Fanáticos: indivíduos dominados pelo elemento expansivo e


criativo que se aproximam da personalidade do paranóico. Possuem um elevado
sentimento de si mesmo, luta sempre por uma finalidade qualquer e suas ideias são
sempre prevalecentes ou supervaloradas. Querem impor sua verdade ao mundo. Não
procuram ajuda médica de forma alguma

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5. Psicopatas Lábeis de Estado de ânimo: irritáveis com extrema facilidade,
seu estado de ânimo sofre oscilações imotivadas e desproporcionais. São sempre
impulsivos e cometem crimes tais como roubo e abandono de trabalho.

6. Psicopatas Necessitados de Valorização: personalidade em que a


ideação se ressente da exaltação da fantasia que, junto com o relaxamento de crítica,
conduz à pseudologia fanática. Cometem agressões e estelionatos.

7. Psicopatas Explosivos: irritáveis e coléricos, podem cometer homicídios e


lesões corporais pelo menor estímulo externo. São acometidos por amnésia no
momento da contenda. Cometem atos de violência e crimes passionais.

8. Psicopatas Abúlicos: caracterizam-se pelo enfraquecimento da volição, da


vontade. Por não possuírem vontade própria, são facilmente influenciáveis,
absorvendo os bons e os maus exemplos de seu meio. Normalmente, envolvem-se
com o crime através de jogos, roubos.

9. Psicopatas Astênicos: sensitivos, assustadiços, dominados pelo


sentimento de incapacidade e de inferioridade que, junto a qualquer deficiência
orgânica são acometidos de difuso sentimento de estranheza comparável a alguns
estados dissociativos. São os únicos que possuem aspectos físico-corporais.
Procuram com frequência, ajuda médica. São cometedores de suicídios
reiteradamente.

10. Psicopatas Desalmados: sem sensibilidade ética, e em geral, com


embotamento afetivo, sem compaixão ou culpa, defeituosos morais, inimigos da
sociedade, com tendência à delinquência.

Segundo o jurista e criminólogo, Jason Albergaria, os psicopatas que


interessam à Criminologia são os tipos fundamentais, como por exemplo, os
Hipertímicos, que tendem à difamação, à indolência e à fraude; os Fanáticos praticam
o delito político; os Explosivos, os delitos contra a pessoa e os Abúlicos cometem
furtos, fraudes e apropriações indébitas.

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2 ASPECTOS JURÍDICOS ELEMENTOS DO CRIME

Para uma ação humana ser considerada criminosa precisa corresponder


objetivamente à conduta descrita pela lei, contrariando a ordem jurídica e incorrendo
seu autor no juízo de censura ou reprovação social. Nesse sentido que Noronha diz:

“Considera-se delito como um ação típica, antijurídica e


culpável.”

Isto quer dizer que para a norma penal os elementos do crime são a Tipicidade,
a Ilicitude e a Culpabilidade. Tipicidade – O tipo é a descrição abstrata da ação
proibida ou da ação permitida. A ação, também chamada conduta, compreende o
comportamento humano, que pode ser comissivo ou omissivo. Exprime elementos
essenciais da ação descrita, como por exemplo, se a ação é dolosa ou culposa.
Abrange a ação com seus elementos objetivos e subjetivos, o resultado e até o objeto,
quando for o caso. Ilicitude – Para que haja crime, exige-se que o fato material
causado seja lesivo de interesses protegidos. É protegido todo fato que a lei penal
manda fazer ou deixar de fazer sob pena de uma sanção. Uma ação pode ser típica,
mas não ser ilícita, logo, não é criminosa por falta de um de seus elementos.

“A reprovação pela prática de um fato lesivo a um interesse penalmente


tutelado, que o agente quis ou a que deu causa por negligência, imprudência ou
imperícia...” Já para Fragoso culpabilidade consiste reprovabilidade da conduta ilícita
(típica e antijurídica) de quem tem capacidade genérica de entender e querer
(imputabilidade) e podia, nas circunstâncias em que o fato ocorre, conhecer a sua
ilicitude, sendo-lhe exigível comportamento que se ajuste ao direito...” Ou seja, é o
nexo subjetivo que liga o crime ao seu autor, revestindo, no Direito Penal, as formas
de dolo e culpa.

Dentro da culpabilidade existem os seguintes elementos: Imputabilidade,


Possibilidade de Consciência do Injusto e Exigibilidade de Conduta conforme o
Direito. Para o estudo em questão merece especial atenção a Imputabilidade,
estudada no item a seguir. A culpabilidade possui a finalidade de aferir a capacidade
de delinqüir do agente, então se faz necessário o exame da intensidade do dolo e o
grau de culpa. A razão pela qual a vontade se determina é um outro requisito

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importante para determinar a periculosidade individual. Lembrando que tudo isso
deverá ser muito bem analisado no momento da aplicação da sanção.

Responsabilidade e imputabilidade são dois termos que não se desagregam,


e a proximidade de sentido é tamanha que pode ser observada até mesmo no Código
Penal, na denominação do seu Título III, da Parte Geral. O Código atual, após a
reforma de 1984, trata da imputabilidade nos artigos 26 a 28, enquanto no Código
anterior à reforma tratava da responsabilidade nos artigos 22 a 24. Nas opiniões de
dois juristas conhecidos há divergências, para Magalhães Noronha, responsabilidade
e a imputabilidade são sinônimos, no entanto para Damásio11 : “...imputabilidade e
responsabilidade não se confundem...” Mas, como dito acima, esses dois termos
caminham juntos, sendo a imputabilidade um pressuposto, e a responsabilidade uma
conseqüência, enfim, podemos dizer que a imputabilidade é a capacidade de poder
ser responsabilizado pelo ato.

2.1. CONCEITO DE RESPONSABILIDADE PENAL

A responsabilidade diz respeito à possibilidade jurídica, portanto será


decretada ou não pela justiça e deverá ser analisada cada caso. Segundo Magalhães
Noronha, em seu livro Direito Penal, parte geral, a responsabilidade seria um dever
de prestar contas, responsabilidade penal é a obrigação que alguém tem de arcar
com as consequências jurídicas do crime. É o dever que tem a pessoa de prestar
contas de seu ato. Ela depende da imputabilidade do indivíduo, pois não pode sofrer
as consequências do fato criminoso (ser responsabilizado) senão o que tem a
consciência de sua antijuridicidade e quer executá-lo...

A responsabilidade penal implica, então em atribuir certo ato considerado como


crime a um indivíduo, que somente sofrerá a punição adequada a sua ação se tiver
capacidade ( condições psíquicas, intelectovolitivas) de entender o caráter ilícito do
ato praticado.

16
2.2. CONCEITO DE IMPUTABILIDADE PENAL

O termo imputar vem do latim “imputare”, que significa atribuir a alguém


responsabilidade de algo. No Código Penal não há um definição do que é
imputabilidade, mas, prevê no artigo 26 as condições em que são possíveis o seu
reconhecimento.

Para Magalhães Noronha a imputabilidade é como

“...o conjunto de requisitos pessoais que conferem ao indivíduo


capacidade, para que, juridicamente, lhe possa ser atribuído um
fato delituoso...”

Desta forma, a imputabilidade diz respeito à capacidade do indivíduo ter um


juízo de reprovação em relação a conduta criminosa, que possa entender a ilicitude
do ato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, em linhas gerais é a
capacidade de ter consciência se seu ato foi bom ou mau.

Critérios de avaliação

Existem três critérios de avaliação da capacidade penal do indivíduo, o método


biológico, o método psicológico, e o método biopsicológico. O critério adotado pela
Legislação Brasileira é o critério que une os dois primeiros: o biopsicológico. –

Método biológico: sem levar em consideração investigações minuciosas, o


agente que possui uma enfermidade mental ou desenvolvimento mental deficiente, e
ainda, perturbação transitória da mente, ser sempre considerado inimputável.

Método psicológico: neste leva-se em consideração apenas as condições


psíquicas do agente no momento do fato, sem se preocupar com existência de
doença mental ou qualquer distúrbio psíquico.

Método biopsicológico: é a união dos métodos acima mencionados,


primeiramente verifica-se se o agente é doente mental ou tem desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, e se no momento da ação era incapaz de
entendimento ou autodeterminação, ou seja, é necessário uma relação de causa
consequência.

17
De qualquer forma, deve o agente ser submetido ao exame de sanidade
mental. No que se refere aos portadores de personalidade psicopática, que são os
fronteiriços.

2.3 ASPECTOS DA PSICOPATOLOGIA FORENSE CONDUTA


CRIMINOSA DOS PSICOPATAS

A psicopatia é reconhecida precocemente em um indivíduo: ela começa na


infância ou adolescência e continua na vida adulta (o diagnóstico é possível em torno
de 15 a 16 anos). Crianças psicopatas manifestam tendências e comportamentos que
são altamente indicativos de seu distúrbio. Por exemplo, eles são aparentemente
imunes a punição dos pais, e não são afetados pela dor. Nada funciona para alterar
seu comportamento indesejável, e consequentemente os pais geralmente desistem,
o que faz a situação piorar. Os mais violentos mostram uma história de torturar
pequenos animais quando eles eram crianças e também vandalismo, mentiras
sistemáticas, roubo, agressão aos colegas da escola e desafio à autoridade dos pais
e professores.

No entanto, como já foi dito anteriormente apenas uma pequena fração dos
psicopatas se desenvolve em criminosos violentos, como estupradores e assassinos
.

Os criminosos psicopatas praticam crimes , via de regra, por impulsos


irresistíveis. São comuns nesses indivíduos, os atos incendiários, a perversão sexual,
a mitomania, o cinismo, o homicídio, etc. No momento da ação ele se encontra
desprovido de emoção, e mesmo depois não sente culpa, não há angústia ou conflito
interno. A história registra casos de psicopatas que se tornaram celebridades. Um
psicopata clássico foi Donatien-Alphonse-François de Sade (1740-1814), um nobre
francês cujas preferências sexuais perversas e novelas (tais como Justine) originaram
o termo sadismo; outro foi o do pintor italiano Michelangelo Merisi, o Caravaggio
(1571-1610). Ele morreu, aos 39 anos, após uma atribulada vida de desajustes e
crimes – além, clara, de uma da Personalidade Psicopática – implicações forenses e

18
médico-legais – Sabrina Veríssimo Pinheiro Nunes _mais importantes obras legadas
à história da arte.

No livro Loucos Egrégios, o médico Juan Antonio Vallejo-Nágera apontou


vários indícios de que a obra de Caravaggio teria sido influenciada por seu
comportamento anti-social. Ele chamou a atenção para alguns detalhes macabros da
obra de Caravaggio. No quadro O Sacrifício de Isaac, observa a expressão fria do
ancião enquanto este se prepara para sacrificar o próprio filho. Na opinião do
pesquisador canadense Robert Hare, os criminosos psicopatas:15 “...são predadores
intra-espécie que usam charme, manipulação, intimidação e violência para controlar
os outros e para satisfazer suas próprias necessidades. Em sua falta de consciência
e de sentimento pelos outros, eles tomam friamente aquilo que querem, violando as
normas sociais sem o menor senso de culpa ou arrependimento.

Os crimes cometidos por criminosos psicopatas mais violentos apresentam,


pelo menos: multiplicidade de golpes, ausência de motivos plausíveis, ferocidade na
execução, ausência de premeditação, instantaneidade na ação, falta de remorso.
Entretanto, já é consenso entre os autores que o psicopata pode entrar em estado de
estreitamento de consciência e, nesse estado, praticar os mais cruéis delitos, cujos
atos, às vezes bem ordenados, podem até ser premeditados, mas é uma
premeditação mórbida, doentia.

E esses casos acabam causando polêmicas jurídicas, mormente quando, em


vez da explosão momentânea, há premeditação e, posteriormente ao crime, condutas
dissimuladoras, com ocultação do cadáver e fuga do criminoso, o que muitas vezes
confunde autoridades, podendo parecer uma pessoa mentalmente normal. Exemplo
disso são os assassinos em série, que premeditam, matam e despistam as
autoridades. Aliás, o exemplo citado cima, o assassino em série ou serial (Serial Killer)
é um tipo especial de portador de personalidade psicopática, de extrema
periculosidade e incorrigível.

Relação direito e psicopatologia

Após falarmos sobre as duas áreas de conhecimento podemos agora traçar


um paralelo entre ambas, considerando diferenças e semelhanças que apresentam
ao tratarem do doente mental; sobre aquilo que a Psicopatologia entende por doente
mental e como o Código Penal o utiliza.

19
Os distúrbios psíquicos se dividem em orgânicos: - causa conhecida : psicoses
exógenas ou sintomáticas, por exemplo, infecção que causa alteração cerebral,
diabetes, medicamentos, etc. - causa desconhecida: psicoses endógenas (são
geneticamente determinadas e não têm cura); por exemplo, esquizofrenia, PMD,
psicose epiléptica, etc.

b) psíquicos – para a Psicopatologia estes são distúrbios psíquicos e como tais


necessitam de especial atenção e tratamento adequado, pois enquanto distúrbios
traduzem-se em anormalidade.

O Código Penal, por sua vez, embora se apoiando na Psicopatologia, adotou


critérios rígidos na consideração dos distúrbios psíquicos para a aplicação da pena.
Procurou dividi-los em 4 (quatro) aspectos distintos: “doença mental”,
desenvolvimento mental incompleto”, “desenvolvimento mental retardado” e
“perturbação da saúde mental”.

3. PERTUBAÇÃO DA SAÚDE MENTAL: CAPACIDADE DE


IMPUTAÇÃO DO PSICOPATA
Como já foi dito anteriormente, a lei reputa, para os efeitos da responsabilidade
penal e da capacidade civil, que o indivíduo possua saúde mental e maturidade
psíquica; isto para que tenha discernimento do certo e do errado no tocante de suas
ações e omissões, que vem a ser imputabilidade. A norma que trata da imposição da
imputabilidade se faz presente no artigo 26 da parte geral do Código Penal, o caput
torna inimputáveis determinados casos patológicos e o parágrafo único traz outros
casos que são semi-imputáveis.

“É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo
da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento”. Parágrafo único.
A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente em
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.”.

De suma importância é a análise do parágrafo único, pois contém uma causa


especial de diminuição da pena, em face da diminuição da responsabilidade, embora

20
persista a culpabilidade. Conforme o artigo terá reduzida a pena dos agentes que no
momento da ação ou omissão não eram inteiramente capazes de entender a ilicitude
do ato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, mas somente nos
casos de desenvolvimento mental incompleto ou retardardo, e de perturbações da
saúde mental. Desses somente nos interessa as perturbações da saúde mental, que
é o termo jurídico que abriga os indivíduos que estão entre o campo da doença mental
e da normalidade, os chamados fronteiriços ou border-line. São eles: a personalidade
psicopática (objeto de estudo), o débil mental leve, o desenvolvimento simples e
alguns casos o neurótico e o início e fim de psicoses (mais raro).

Assim, os portadores de personalidades psicopáticas são considerados semi-


imputáveis, pois apesar de entenderem o caráter ilícito da ação, não são capazes de
controlar seus atos. No entanto, não se pode esquecer que o julgamento dos termos
da responsabilidade compete à ação do juiz, que tendo dúvidas quanto ao
desenvolvimento mental do acusado deve nomear um perito (o delegado, o Ministério
Público, os familiares ou representante do acusado também podem requerer a
instauração do incidente de insanidade mental) que atestará de forma clara esse
aspecto, pois a existência da incapacidade de imputação é uma circunstância
preliminar e imprescindível para a melhor e mais correta interpretação causal dos
fatos, e posteriormente na aplicação das penas.

Como foi visto, verificou-se que os criminosos psicopatas estão dispostos no


artigo 26, parágrafo único, do Código Penal, pois estão enquadrados no termo
“Perturbação Mental”, isto é, possuem capacidade de entendimento em relação ao
cometimento da ação criminosa, entretanto, têm uma perturbação de conduta que
lhes tiram o controle, não ocorre a chamada, excludente de culpabilidade, todavia a
responsabilidade é reconhecida de forma diminuída, no tocante à sua intensidade.

Sendo assim, o juiz proferirá uma sentença condenatória, prevista nos termos
do Artigo 387 do Código de Processo Penal. E terá a opção de aplicar 16 Artigo 387.
O juiz, ao proferir sentença condenatória:

I – mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes


definidas no Código Penal, e cuja existência reconhecer;
II – mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais
que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo
com o disposto nos arts. 42 e 43 do Código Penal;
Personalidade Psicopática.

21
Pena reduzida de um a dois terços. Segundo o artigo a atenuação é facultativa,
mas há decisões também no sentido de ser obrigatória, como para Paulo José da
Costa Júnior:17 “...preferimos, entretanto, sustentar que o poder, referido na norma,
significa dever. A faculdade do magistrado está em dosara redução...” Ou
necessitando o condenado de especial tratamento essa pena poderá ser substituída
por internação ou tratamento ambulatorial, regra prevista no artigo 98 do Código
Penal: “ Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o
condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser
substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um)
a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º.”

Essa alternativa imposta no artigo 98 demonstra a reforma penal de 1994, a


qual trouxe a substituição da aplicação aos semi-imputáveis e imputáveis do “sistema
vicariante” e não mais do duplo binário (pena + medida de segurança), em que se
pode aplicar somente pena ou medida de segurança para os semi-imputáveis e
unicamente a pena para os imputáveis. III – aplicará as penas, de acordo com essas
conclusões, fixando a quantidade das principais e, se for o caso, a duração das
acessórias; IV – declarará, se presente, a periculosidade real e imporá as medidas de
segurança que no caso couberem; V – atenderá quanto à aplicação provisória de
interdições de direitos e medidas de segurança, ao disposto no Título XI deste Livro;
VI – determinará se a sentença deverá ser publicada na íntegra ou em resumo e
designará o jornal em que será feita a publicação (art. 73, § 1º, do Código Penal).

3.1. PENA E MEDIDA DE SEGURANÇA PENA

É a consequência jurídica decorrente de uma violação do tipo penal,


considerada assim como sanção penal, e a medida de segurança?

Segundo Damásio: “...enquanto a pena é retributiva-preventiva, tendendo a


readaptar socialmente o delinquente, a medida de segurança possui natureza
essencialmente preventiva, visto que evita que um sujeito que praticou um crime e se
mostra perigoso venha cometer novas infrações penais.” Além disso, diz que as

22
penas são proporcionais à gravidade da infração, enquanto a proporcionalidade das
medidas de segurança é estabelecida de acordo com a periculosidade do sujeito e
que a imposição das penas pressupõe prática de um crime, enquanto as medidas de
segurança podem ser aplicadas aos autores de quase-crimes ( não é o entendimento
que vigora em nossa legislação). Já para Noronha19 “...na pena prevalece o cunho
repressivo, ao passo que na medida de segurança predomina o fim preventivo;
porém, como já fez sentir, a prevenção também não é estranha à pena.

” Ao contrário do que leciona Damásio, para Noronha, Mirabete, entre outros


ambas pressupõem a prática de ato ilícito e manifestam o “jus puniendi” colimando
que o indivíduo que delinquiu e se revelou perigoso não torne a delinquir.

Conforme Grispigni, tanto a medida de segurança quanto a pena são espécies


de sanções penais que apresentam traços comuns : 20 “ambas importam diminuição
de bens jurídicos; baseiam-se as duas na existência de um crime; servem para
intimidação em massa como para readaptação do delinquente e ambas são aplicadas
jurisdicionalmente.”

3.2 PRESSUPOSTOS PARA A APLICAÇÃO, IMPOSIÇÃO E


ESPÉCIES DA MEDIDA DE SEGURANÇA.

Código Penal adota a medida de segurança pós delitual, ou seja é necessário


que tenha havido um fato criminoso. Além disto, é também necessário que haja
periculosidade do autor. Periculosidade é 21 : “...a potência, a capacidade, a aptidão
ou a idoneidade que um homem tem para converter-se em causa de ações danosas.”
O prazo para cumprimento da medida de segurança é indeterminado, enquanto a
perícia médica não constatar a cessação da periculosidade (§ 1º do artigo 97 do
Código Penal). Para isso, necessário se faz a realização de um exame após o prazo
mínimo de três anos (artigo 97, §§ 1º e 2º, CP).

Para desinternarão a extinção da medida de segurança só ocorrerá, após um


ano (prazo indicativo das condições para o livramento condicional; se não praticar

23
fato indicativo de persistência de sua periculosidade (C.P., art. 97, § 3º). Se solto, a
medida de segurança se extingue com a extinção da punibilidade. Quanto as espécies
de medidas de segurança são a detentiva e a restritiva. A primeira consiste na
internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, enquanto a segunda
resulta de tratamento ambulatorial.

3.3 PSICOPATAS: QUAL A SANÇÃO IDEAL?

O criminoso portador de personalidade psicopática, além do alto grau de


periculosidade, é de difícil corrigibilidade, portanto o tratamento ambulatorial é
praticamente nulo, primeiramente, porque não possui uma patologia e em segundo
lugar, esses criminosos não possuem a mínima possibilidade de ressocialização.
Sendo assim, é recomendável a análise profunda da personalidade do agente, por
parte do perito, para no momento do julgamento o juiz aproveitá-la, pois a pena está
totalmente descartada pelo seu caráter inadequado em relação à punição e
prevenção desses criminosos. A prisão poderá resultar em um fato evasivo, e,
posteriormente, eclodir em fugas lideradas pelo mesmo. No caso, do portador de
personalidade psicopática o ideal é o cumprimento de medida de segurança, mesmo
sendo, computada em um prazo de um a três anos, porque é difícil ou praticamente
impossível, a cessação de periculosidade ser extinta, ao ser realizada pelo perito.
Personalidade Psicopática

Nestes casos substituição da pena pela medida de segurança, esta será


cumprida no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, como dispõe o artigo 99
da Lei 7210, de 11 de Julho de 1984: “O Hospital de Custódia e Tratamento
Psiquiátrico destina-se aos inimputáveis e semi-imputáveis referidos no art. 26 e seu
parágrafo único do Código Penal. Personalidade Psicopática

24
4 CRIMINOSOS EM SÉRIE

Os criminosos em série, também conhecidos por seu nome em inglês, serial


killer´s, geralmente são psicopatas muito violentos, há casos também de doentes
mentais, mas são raros. E como o próprio nome diz, são criminosos que matam em
sequência, quase sempre da mesma forma e que escolhem determinadas vítimas de
acordo com sua fantasia. Algumas características são próprias dos criminosos em
série, como o grande prazer de demonstrarem que possuem poder sobre os outros.
Donos de um enorme sadismo, sentem prazer em assistir o sofrimento alheio, e não
sentem remorso por isso. Grande parte deles não assume seus crimes, confessando,
somente, através de pequenos deslizes movidos pela vontade de reviver o momento
do crime, pois são muito dissimulados. Tendem a cometer crimes de natureza sexual.
Há também uma curiosidade em relação a esses criminosos, existe uma incidência
muito pequena de assassinas mulheres e negros, mas não existe explicações do
porquê isto ocorre. São eles, os criminosos em série, que tem grande exposição na
mídia e acabam ficando na história.

Aqui no Brasil tivemos, o caso do “Chico Picadinho”, do “Bandido da Luz


Vermelha”, do “Maníaco do Parque”, entre outros. Estatísticas feitas por
investigadores norte-americanos:22 82 % dos serial killer´s sofreram abusos na
infância.

4.1 – DECISÕES JUDICIAIS VERSUS LAUDOS MÉDICOS

Existe no Brasil um descaso dos juízes com relação aos laudos elaborados
pelos médicos-peritos, no momento de sua decisão. Fala-se que os médicos resolvem
as questões, os juízes decidem as soluções, entretanto, não é que temos visto, como
por exemplo, no caso do “Chico Picadinho” e do Maníaco do Parque, em que os
médicos deram o diagnóstico, mas a Justiça não o aceitou, em sua decisão. Vejamos
por exemplo a opinião de Fragoso com relação a Psiquiatria23: “É um ramo da
medicina muito subjetivo, onde tudo são hipóteses, conjecturas, inferências sem base
na realidade, falsificações para o encalço de fantasias, deixando apenas de manifesto

25
a persistente indemonstrabilidade das pretendidas causas genéticas do crime.” No
entanto verificamos que a Psiquiatria possui critérios de avaliação que o juiz não
levaria em conta no julgamento do criminoso, verificando a ocorrência de alterações
de comportamento consideradas anormais, mas que para o juiz seriam normais.

O que ocorre na realidade é que ao mesmo tempo em que a lei possibilita que
a justiça chame um perito para elaborar um laudo sobre as funções psíquicas do
acusado, com o fim específico de atribuir-lhe ou não capacidade de imputação acerca
do crime praticado, a mesma lei também permite que o juiz decida a causa sem que
esteja adstrito ao laudo apresentado pelo perito.

E esse juiz influenciado pela sociedade, que infelizmente é aguçada pelos


meios de comunicação, não leva em conta o laudo médico e aplica a pena privativa
de liberdade; principalmente nos casos de psicopatas violentos, que tem uma grande
exposição na mídia. Dificilmente a sociedade aceitaria a decisão de um juiz que
absolveu um psicopata que estuprou e matou brutalmente suas vítimas, pois como
sabemos, para a aplicação da Medida de Segurança é necessário primeiro a
absolvição perante o Tribunal do Júri.

Para a sociedade o psicopata estaria ficando impune. Em suma, é evidente


que o juiz não deverá sempre aceitar o laudos apresentados pelos peritos, tendo em
vista que a prática também tem nos mostrado a existência de médicos que atestam
uma disfunção psíquica que não existe para que o criminoso seja considerado
inimputável ou semi-imputável pelo Poder Judiciário. Todavia, deve existir um meio
termo na conduta do juiz que infelizmente, nos dias atuais, tem se mostrado bastante
radical ao desconsiderar laudos bem elaborados e adstritos a ética profissional.

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