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HUMANIZAÇÃO DAS
PENAS E DAS PRISÕES
Conteudista associado: Karol Oliveira De Amorim Silva
MINAS GERAIS
2023
SUMÁRIO
EMENTA................................................................................................................................... 4
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 75
EMENTA: O processo de constituição dos Direitos Humanos. História social e conceitual dos
Direitos Humanos. Documentos fundadores como resultados socio-históricos. Os Direitos
Humanos como projeto de sociedade. O Estado e a proteção dos Direitos Humanos. O conceito
de humanização da pena como integrante do projeto dos Direitos Humanos. Documentos,
tratados e legislações nacionais e internacionais que regem a política penal no escopo da
garantia dos Direitos Humanos. A sociedade brasileira, prisões e Direitos Humanos.
Reconhecimento do ser humano como titular de direitos, reflexão sobre o servir e proteger em
se tratando de Segurança Pública e orientação da prática de Polícia Penal enquanto uma
responsabilidade social.
TÓPICOS DA AULA:
• Conceito e Origem.
• Declaração Universal dos Direitos Humanos: Contexto histórico e legal.
• Direitos Humanos e a Constituição Federal.
PARA PENSAR!
“Mas, e em relação aos Direitos Humanos? Insisto que dificilmente um tema já venha
carregado de tanta ambiguidade, por um lado, e deturpação voluntária, de outro.
Provavelmente vocês já ouviram muitas vezes referência aos Direitos Humanos no
sentido pejorativo ou excludente, no sentido de identificá-los com direitos dos
bandidos. Quantas vezes vocês já ouviram - principalmente depois do noticiário sobre
crimes de extrema violência: Ah! E os defensores dos Direitos Humanos, onde é que
estão?” (Maria Victoria Benevides)1
1
BENEVIDES, Maria Victoria. Cidadania e Direitos Humanos. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados da
Universidade de São Paulo. Disponível em:
http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/benevidescidadaniaedireitoshumanos.pdf/view Acesso em: 27 nov.
2022.
5
Se for feita uma pesquisa, muitas pessoas não saberão responder sobre seus Direitos
Humanos, talvez citarão um ou outro que seja significativo para elas. Mas eles são amplos,
justamente por abranger todas as demandas de um sujeito humano. Trata-se de opção e
oportunidade. Significam liberdade: de ir e vir, de se obter um emprego, de se seguir uma
carreira, de escolher um parceiro e criar os filhos. Incluem o direito de trabalho remunerado,
sem abuso, assédio ou ameaça de demissão de modo arbitrário. Abrangem também o direito de
viajar livremente e de ter acesso ao lazer.
Em épocas passadas, não havia o entendimento de Direitos Humanos. Com o tempo,
emergiu a ideia de que as pessoas deveriam ter determinadas liberdades e certas garantias que
lhes dessem dignidade de manutenção de suas vidas. Essa ideia, discutida ao longo de muitos
anos, em diferentes contextos e momentos históricos, ao fim da Segunda Guerra Mundial,
finalmente deu origem ao documento denominado Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH), constituído pelos trinta direitos que possuem todos os seres humanos.
Mas, você deve estar se perguntando: “Qual, exatamente, a origem da ideia de Direitos
Humanos?”
6
Figura 1 - Ciro, o Grande – 1º rei da Pérsia
SAIBA MAIS!
O Cilindro de Ciro data do século IV a.C., foi descoberto nas ruínas da Mesopotâmia
(atual Iraque) em 1879 e se encontra, atualmente, no Museu Britânico, em Londres. Ele narra a
trajetória política de Ciro (somente seus bons feitos).
2
Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/c/ciro_02_grande.htm Acesso em: 27
nov. 2022.
3
Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/cilindro/index.htm Acesso em: 27 nov. 2022.
7
seguir certas leis não escritas no curso de suas vidas. Pode-se afirmar que esse conceito é a base
para o direito racional que rege a vida em sociedade.
A partir de então, surgem documentos nas mais diversas civilizações e sociedades que
defendem os direitos individuais, tais como:
Assinada pelo rei da Inglaterra em 1215, a Magna Carta foi um ponto decisivo para os
Direitos Humanos, uma vez que foi a influência mais significativa no vasto processo histórico
que direcionou ao que se entende por direito de defesa atualmente. Teve como principal
objetivo limitar o poder do rei pela lei e proteger os privilégios dos nobres. Algumas de suas
definições:
• Todas as pessoas tinham o direito de acesso à justiça;
• Nenhum homem livre poderia ser aprisionado ou punido sem antes passar por
um julgamento.
É reconhecida como um dos documentos mais importantes no desenvolvimento da
democracia moderna, firmando-se como um ponto crucial na busca pelo estabelecimento da
liberdade humana.
4
Disponível em: https://www.canallondres.tv/carta-magna-importancia-e-o-que-significa/ Acesso em: 27 nov.
2022.
8
Petição de Direito (1628)
Figura 4 - Petição de Direito
5
Disponível em: https://www.jurisway.org.br/v2/cursoonline.asp?id_curso=1224&id_titulo=14930&pagina=12
Acesso em: 27 nov. 2022.
9
Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776), Constituição dos Estados Unidos
(1787) e a Declaração de Direitos (1791)
6
Disponível em: https://editorials.voa.gov/a/democracias-liberais-protegem-melhor-os-direitos-humanos-
/5612232.html Acesso em: 27 nov. 2022.
7
Disponível em: https://www.history.com/topics/us-presidents/thomas-jefferson Acesso em: 27 nov. 2022.
10
direito de petição. Proíbe busca e apreensão injustificada, punição cruel e abusiva e
autoincriminação forçada, bem como proíbe o governo federal de privar qualquer pessoa de sua
própria vida, liberdade ou propriedade sem o devido processo legal. Apresenta garantias no
campo dos processos penais federais, exigindo acusação por um grande júri para qualquer crime
capital ou crime de infâmia, um julgamento público rápido com um júri imparcial, no distrito
onde o crime tenha acontecido, e proíbe a dupla penalização.
Com a Revolução Francesa, que tinha como lema ‘liberdade, igualdade, fraternidade’,
em 1789 o povo francês promoveu a abolição da monarquia absoluta, abrindo caminho para a
instituição da primeira República Francesa.
Após semanas da Tomada da Bastilha e da abolição do feudalismo, esse documento foi
adotado pela Assembleia Nacional Constituinte como o marco inicial para a criação de uma
Constituição para a República da França. Os franceses conseguiram, em um único documento:
aglutinar as proteções legais dos direitos individuais; declarar os direitos individuais e civis (do
ser humano) e os direitos de participação política (do cidadão).
A Constituição ampliou o campo de aplicação de direitos, garantindo liberdade e
igualdade de nascença, direitos de propriedade, segurança e resistência à opressão, liberdade de
8
Disponível em: https://www.upf.br/noticia/declaracao-dos-direitos-do-homem-e-do-cidadao-completa-231-
anos Acesso em: 27 nov. 2022.
11
pensamento, de expressão e culto, proteção contra acusações, prisões e punições arbitrárias,
além de estabelecer limites à liberdade individual em respeito à liberdade do próximo.
ATENÇÃO!
Você percebeu que toda a concepção de Direitos Humanos, luta e defesa, nasce a partir
de violações à dignidade da vida dos seres humanos? E os maiores violadores de direitos
encontram-se na gestão de uma nação, estado, comunidade, sociedade? A partir disso reflita,
em sua posição enquanto cidadão e servidor público, sobre o seu papel de detentor e garantidor
de direitos.
9
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Conven%C3%A7%C3%B5es_de_Genebra Acesso em: 27 nov.
2022.
12
Declaração Universal dos Direitos Humanos: Contexto histórico e legal
PARA PENSAR!
Agora que você já sabe os antecedentes da atual concepção de Direitos Humanos,
consegue perceber que ela foi sendo moldada ao longo de variados e determinados períodos
históricos, com base em diversas ideias e pensamentos de diferentes povos, construída por
distintas civilizações, mas que possui em comum, basicamente, duas necessidades:
- Proteção frente a abuso de poder de instituições governantes (Estado).
- Garantia da guarda e respeito à dignidade humana.
Figura 9 - Símbolo da Organização das Nações Figura 10 - Convenção das Nações Unidas em
Unidas 1945
10
Disponível em: https://www.colab.re/conteudo/papel-da-onu Acesso em: 27 nov. 2022.
11
Disponível em: https://ladiscussione.com/61182/societa/a-72-anni-dalla-dichiarazione-universale-dei-diritti-
umani-la-necessita-di-trovarne-il-perche/ Acesso em: 27 nov. 2022.
12
OAS. Carta das Nações Unidas. São Francisco, 1945. Disponível em:
https://www.oas.org/dil/port/1945%20Carta%20das%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas.pdf. Acesso em:
13
determinados a salvar as gerações futuras do flagelo da guerra, que por duas vezes em nossas
vidas trouxe dor indescritível para a humanidade.” (ONU, 1945). Esse documento passou a
vigorar em 24 de outubro de 1945, ficando estipulada como data para comemoração do Dia das
Nações Unidas.
SAIBA MAIS!
Assista ao vídeo Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto em que o
Secretário-Geral da ONU, António Guterres, declara que “O Holocausto definiu as Nações
Unidas”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Ll_ZxkXHDug
27/11/2022.
13
Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/91601-declaracao-universal-dos-direitos-humanos Acesso em: 27
nov. 2022.
14
A Carta contém 30 artigos de Direitos Humanos que, pela primeira vez na história, estão
reunidos e agrupados em um mesmo documento e formam a base para uma sociedade
democrática. A referida Carta subsidiou a construção das constituições de muitas nações
democráticas, principalmente a partir das características dos Direitos Humanos descritas a
seguir:
Quadro 1 – Características dos Direitos Humanos
Características Definições
A validade dos direitos é universal, independentemente de qualquer tempo,
Universalidade
espaço e cultura.
Objetividade A definição de direitos depende de critérios objetivos e não subjetivos.
Os direitos não podem ser renunciados e vendidos pelo sujeito que os
Inalienabilidade
possui.
Inviolabilidade Os direitos não podem ser violados por terceiros.
Imprescritibilidade Os direitos não possuem prazo de validade.
Complementaridade Os direitos são complementares uns aos outros.
Fonte: Enap - EV.G, 2022. 14
VOCÊ SABIA?
De acordo com o livro dos Recordes, o Guinness, a Declaração dos Direitos Humanos
é o documento mais traduzido no mundo. Considerando a relevância desse documento, indica-
se a leitura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, especialmente os
artigos 5°, 8°, 9° e 10 que tratam dos direitos das pessoas sujeitas à justiça criminal e
penitenciária. O material pode ser acessado pelo link: https://www.humanrights.com/what-are-
human-rights/universal-declaration-of-human-rights/preamble.html
PARA EXAMINAR!
Leia a reportagem Brasil já registra mais de mil violações de Direitos Humanos em
2022, disponível em https://observatorio3setor.org.br/noticias/brasil-ja-registra-mais-de-870-
mil-violacoes-de-direitos-humanos-em-2022/, e responda: você conhece ou já conheceu
14
ENAP – EV.G. Características dos Direitos Humanos. Disponível em:
https://cdn.evg.gov.br/cursos/607_EVG/modulo01_scorm01/scormcontent/index.html#/lessons/033fGBnys8x
AhmcfBMJm2-cyK5sFoZPK. Acesso em: 31 jan. 2023.
15
alguém que passou por uma situação de violação de direitos na sua região? Você saberia falar
sobre a situação ocorrida?
16
• Crianças (Convenção sobre os Direitos da Criança, 1989).
Além de outros em relação à discriminação racial, à prevenção ao genocídio, aos direitos
políticos de mulheres, à proibição de escravidão e tortura.
A partir da Carta Internacional de Direitos Humanos e suas legislações, algumas regiões,
com maior representatividade de países signatários, buscaram criar seu comitê/tribunal com
fins legislativos e fiscalizatórios também. Há, portanto, instrumentos regulatórios de Direitos
Humanos na Europa, Ásia, África e América. Esse último, que interessa neste estudo, é regido
pela Convenção Americana de Direitos Humanos em vigor desde 1978. A Convenção é regida
pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados
Americanos (OEA) que, juntamente com a Corte Interamericana de Direitos Humanos
(CorteIDH), forma a instituição do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos
(SIDH).
VOCÊ SABIA?
É por meio desses instrumentos que são tornadas públicas informações sobre a
condenação do Brasil pelos órgãos internacionais de Direitos Humanos por violações de
Direitos Humanos.
• Saiba mais em: Organização dos Estados Americanos, acessando
https://www.oas.org/pt/CIDH/jsForm/?File=/pt/cidh/mandato/que.asp
• Acesse o texto integral da Convenção Americana de Direitos Humanos em:
https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm
17
no país. Nela o homem se sobrepõe ao Estado. Logo nos primeiros artigos aparecem as garantias
e os direitos fundamentais do cidadão. O princípio da cidadania, da dignidade da pessoa humana
e os valores sociais do trabalho estão inseridos já no primeiro artigo. Têm-se ainda os direitos
civis, políticos, econômicos, sociais e culturais de todos os cidadãos.
Garantias fundamentais e Direitos Humanos, que compõem a CF, possuem mesma
essência e finalidade: asseguram direitos aos cidadãos e compõem um conjunto de leis inerentes
à dignidade da pessoa humana. Assim, proporcionam aos cidadãos o direito à vida, ao trabalho,
à educação e à liberdade de opinião e expressão. Os Direitos Humanos são considerados
universais, ou seja, válidos para todos os povos e são o resultados de reivindicações produzidas
no âmbito de violações e situações de injustiça, que, de alguma forma, restringiram os direitos
básicos aos seres humanos garantidos em tratados internacionais. Os direitos fundamentais são
os firmados na Constituição Federal. Ambos possuem a mesma relevância, hierarquia e vigor
normativo. Tais direitos sustentam a democracia no país a partir das ideias de igualdade,
liberdade, reconhecimento e justiça.
O período de governo militar colocou em xeque a democracia brasileira e representou
um contexto conturbado de muita violação de direitos. A não observância e o desrespeito a
esses direitos foram elementos que também contribuíram para a inclusão das garantias
individuais e sociais presentes na Constituição Federal de 1988. Os direitos fundamentais,
amparados na Constituição, fazem com que o Brasil esteja no rol dos países com o mais
completo ordenamento jurídico em relação aos Direitos Humanos. Assim, são orientados como
política pública no país, firmados como um compromisso do Governo Federal. Entretanto,
ainda existem inúmeros desafios para realmente efetivá-los.
O relatório Estado de Direitos Humanos no Mundo 2021/202215, organizado pela
Anistia Internacional, aponta que, entre as principais falhas do Brasil em Direitos Humanos,
aparecem problemas como16:
• Alta taxa de homicídios no país, sobretudo de jovens negros;
15
SITE ANISTIA INTERNACIONAL. Informe anual 2021/2022: o estado dos Direitos Humanos no
mundo. Disponível em: https://anistia.org.br/informe-anual/informe-anual-2021-22-o-estado-dos-direitos-
humanos-no-mundo/. Acesso em: 31 jan. 2023.
16
SITE POLITIZE. Direitos Humanos no Brasil. Disponível em: https://www.politize.com.br/direitos-
humanos-no-
brasil/#:~:text=OS%20DIREITOS%20HUMANOS%20S%C3%83O%20GARANTIDOS%20PELA%20NOS
SA%20CONSTITUI%C3%87%C3%83O&text=J%C3%A1%20no%20artigo%205%C2%BA%20%C3%A9,se
jam%20eles%20individuais%20ou%20coletivos Acesso em: 31 jan. 2023.
18
• Abusos policiais e as execuções extrajudiciais, cometidas por policiais em operações
formais ou paralelas, em grupos de extermínio ou milícias;
• Crítica situação do sistema prisional;
• Vulnerabilidade dos defensores de Direitos Humanos, principalmente em questões
ambientais;
• Violência sofrida pela população indígena, sobretudo pelas falhas em políticas de
demarcação de terras;
• Várias formas de violência contra as mulheres;
• Insegurança alimentar; e
• Falta de proteção e assistência social ao público LGBTQIA+.
Desse modo, a Constituição se consagra como um documento de altíssimo nível na
busca pela garantia aos Direitos Humanos. Seu artigo 5º enfatiza os direitos, as liberdades e as
garantias individuais e o 7º dá ênfase aos direitos sociais. Falta, portanto, realmente colocá-los
em prática de forma a atender a todos e todas.
Até mesmo porque, ao se considerar um Estado Democrático de Direito, o Brasil deve
ter como mola propulsora a realização do bem-estar do ser humano e o respeito por sua
dignidade. A avaliação da evolução de uma sociedade perpassa justamente no quanto
efetivamente consegue-se proteger e promover a dignidade humana de seu povo.
SAIBA MAIS!
• Leia mais em Direitos Humanos na Constituição Brasileira de 1988, disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthistbr/redemocratizacao1988/dh_constituicao_88.
htm
• Acesse https://www.justica.pr.gov.br/Pagina/Declaracao-Universal-e-Constituicao-de-
1988 e conheça os correspondentes de cada artigo da Declaração Universal dos Direitos
Humanos na Constituição de 1988.
PARA EXAMINAR!
Acesse o link https://g1.globo.com/jornal-nacional/brasil-em-
constituicao/playlist/brasil-em-constituicao-veja-todos-os-videos-da-serie-especial-do-jornal-
nacional.ghtml, assista à série ‘Brasil em Constituição’ e analise os casos em que cidadãos
tiveram seus direitos, garantidos pela Constituição, violados.
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UNIDADE 2: O PRINCÍPIO DA HUMANIDADE DA PENA
TÓPICOS DA AULA:
PARA PENSAR!
O que você entende sobre o princípio da humanidade da pena se todos e todas que se
encontram em privação de liberdade são seres humanos? Já não seria uma coisa óbvia?
ATENÇÃO!
Ao se pensar no trabalho penitenciário, tendo como orientação sua humanização e a
prática na perspectiva da ética e garantia dos Direitos Humanos, a primeira pergunta que sempre
se deve fazer é: ‘O que estou fazendo é correto?’
Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) e Lei n° 11.404/1994 (Lei Estadual Normas de
Execução Penal): Uma reflexão sobre aspectos históricos e humanizadores
Considerada como uma das legislações penais mais avançadas em relação à observância
da condução da pena nos princípios da humanidade da pessoa reclusa, a Lei de Execução Penal
(LEP) brasileira trata dos direitos e deveres da pessoa presa (condenado e internado), de modo
a gerenciar o seu período de reclusão e prepará-lo para a ‘harmônica integração social’. É
regulada pelos princípios da legalidade, da igualdade, da jurisdicionalidade, do contraditório,
da humanização da pena, da proporcionalidade, da publicidade e da individualização da pena.
Essa lei reconhece a pessoa em privação de liberdade, bem como o egresso, como sujeito
de direitos e se encarrega dos princípios e das regras referentes à execução das penas e das
medidas de segurança no Brasil, conforme se observa já em seu 1º artigo ao estabelecer seu
objetivo: “efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições
para a harmônica integração social do condenado e do internado”. (BRASIL, 1984).
Ao propor essa dimensão de se preocupar com o retorno do recluso ao meio social
externo, a partir da compreensão de sua humanidade, a LEP estabelece uma série de assistências
que devem ser garantidas a fim de se propiciar a manutenção da vida desse sujeito, bem como
assegurar que sua dignidade humana seja resguardada. São elas: material, à saúde, jurídica,
educacional, social e religiosa.
O artigo 41 trata do que são direitos do preso:
22
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a
recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas
anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;
XI - chamamento nominal;
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e
de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes;
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade
da autoridade judiciária competente. (BRASIL, 1984).
Entram em vigor garantias legais que subsidiam uma execução penal definitivamente
humanizada, impelindo o Estado, portanto, a cumprir com a obrigação de ofertar condições
mínimas de existência aos que cumprem suas penas bem como garantir suas vidas.
A conjuntura democrática alimentada pela CF ratificou o discurso dos Direitos
Humanos para as pessoas em privação e restrição de liberdade. Nesse sentido, os legisladores
mineiros foram compelidos a tecer, no texto constitucional do Estado, princípios mínimos de
tratamento do recluso em consonância com a LEP. Tal feito se mostrou nas preocupações
iniciais em suprir o preso com assistências de educação e saúde no interior das unidades
prisionais.
Tal contexto desembocou, no âmbito estadual mineiro, na Lei Estadual Normas de
23
Execução Penal (11.404/94) que apresenta de forma clara seus objetivos em conformidade com
os direitos da pessoa em privação e restrição de liberdade. Os artigos a seguir demonstram essa
orientação:
PARA PENSAR!
Conforme Amaral (2016, p.184):
Uma sociedade e um Estado que ainda não percebem o preso como tal, isto é, que não
o enxergam como ser humano, correm o risco de retroceder a uma época em que a
humanização do direito penitenciário pertencia à categoria de
costumes ou praxes administrativas. A valorização dos direitos dos reclusos é de
algum modo reflexo do movimento geral de defesa dos direitos fundamentais.
ATENÇÃO!
Todo o movimento de humanização do sistema prisional nasce com o reconhecimento
da pessoa privada de liberdade como um sujeito de direitos. Nesse sentido, um documento
propulsor dessa guinada de entendimento é o intitulado Regras Mínimas para tratamento de
reclusos, de 1955, atualizadas no ano de 2015 com o nome Regras de Mandela. Recomendamos
24
que você leia esse documento, pois ele é um importante fundamento que embasa as práticas
prisionais. Acesse-o em https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2019/09/a9426e51735a4d0d8501f06a4ba8b4de.pdf
17
Disponível em: https://www.facebook.com/cnj.oficial/posts/4183278961744832/ Acesso em: 31 jan. 2023.
18
SITE DHNET. Regras Mínimas para Tratamento de Prisioneiros. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/fpena/lex52.htm Acesso em: 07 fev. 2023.
25
e atualização das regras, tendo em vista o atual contexto da sociedade mundial como um todo
e suas novas demandas no campo carcerário, bem como adequações de terminologias e
conceitos condizentes com o avanço dos estudos nessa temática. Nesse sentido, em 2015 foi
aprovado o documento intitulado Regras de Mandela - Regras Mínimas para Tratamento de
Reclusos.19
O nome Regras de Mandela foi escolhido a fim de que as regras sejam conhecidas para
“honrar o legado do ex-presidente da África do Sul, Nelson Rolihlahla Mandela, que passou 27
anos na prisão durante sua luta pelos Direitos Humanos globais, pela igualdade, pela
democracia e pela promoção da cultura de paz.” (BRASIL, 2016a, p.18).
19
CNJ. Regras de Mandela. Brasília, 2016. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2019/09/a9426e51735a4d0d8501f06a4ba8b4de.pdf Acesso em: 07/02/2023.
26
inicial e continuada com indicação dos principais conteúdos que devem constar nas matrizes
curriculares dos cursos; treinamento para trabalho com grupos específicos de reclusos;
orientação para o comportamento e a execução de atividades de forma que exerçam boa
influência sobre os presos, sendo exemplos e que mereçam seu respeito; especificidades para
cargos de direção; uso de armas e uso correto necessário da força. (BRASIL, 2016a).
PARA EXAMINAR!
Como visto, as Regras de Mandela foram uma atualização das regras publicadas em
1955 com o objetivo de torná-las mais condizentes com o que o momento contemporâneo
requer e as demandas de adequação quanto aos conceitos e às terminologias atuais usados no
campo da justiça criminal e política penal.
Leia os dois documentos ‘Regras Mínimas para Tratamento de Prisioneiros’ e ‘Regras de
Mandela’, comparando-os, e busque pelas principais adequações realizadas, conceitos
atualizados e os objetivos dessas mudanças ou acréscimos. Procure relacioná-los com seus
conhecimentos prévios sobre o sistema prisional do Brasil e indique aquilo que você considera
que ainda não é observado pelo Estado brasileiro.
VOCÊ SABIA?
O dia 18 de julho é designado como o Dia Internacional Nelson Mandela e, com a
publicação das Regras de Mandela, foi ampliado seu escopo para também ser reconhecido como
o Dia Mandela de Direitos dos Presos,
27
Princípios e boas práticas para a proteção das pessoas privadas de liberdade nas Américas
(Resolução CIDH 01/08)
No intuito de primar pelos regramentos de atenção às pessoas reclusas com observância
das especificidades no âmbito das Américas, em 13 de março de 2008, por meio da resolução
1/08, foram aprovados os Princípios e Boas Práticas sobre a Proteção das Pessoas Privadas
de Liberdade nas Américas20 pela Relatoria Especial sobre os Direitos das Pessoas Privadas de
Liberdade, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
O documento enfatiza que os Princípios têm como finalidade proteger pessoas (adultas
e menores de idade) contra formas de violência, das mais diversas, por quaisquer que sejam os
motivos. Apresenta princícios gerais e relativos às condições de privação de liberdade, bem
como aqueles relativos aos sistemas de reclusão, destacando, dentre outras, as temáticas:
igualdade e não discriminação, práticas humanizadas, liberdade pessoal, imparcialidade,
legalidade e devido processo legal.
Ao se respaldar em documentos e tratados internacionais e na legislação interamericana
sobre Direitos Humanos, esse documento apresenta um conjunto de direitos e garantias
fundamentais já reconhecidos. Além disso, traz sugestões de boas práticas, ações preventivas e
de proteção às pessoas em situaçao de restrição e privação de liberdade aplicáveis em diversas
conjunturas.
Trata-se de um instrumento mais amplo no entendimento do que seja privação de
liberdade:
20
OAS. Princípios e boas práticas para a proteção das pessoas privadas de liberdade nas américas. 2009.
Disponível em: https://www.cidh.oas.org/pdf%20files/PRINCIPIOS%20PORT.pdf Acesso em: 07 fev. 2023.
28
relacionadas a conflitos com a lei ou por motivos humanitários e de proteção.
Apesar de ser um documento importante em sua integralidade, para o nosso estudo é
relevante enfatizar o caso da excepcionalidade da pena privativa de liberdade, ou seja, a prisão
não deve ser a regra, mas sim exceção. E, para isso, deve-se adotar, em dispositivos legais, uma
série de medidas alternativas ou substitutivas da privação de liberdade, respaldadas em normas
internacionais sobre Direitos Humanos. Esse princípio invoca aos Estados-Membros a
promoção da participação da sociedade e da família na aplicação das medidas.
ATENÇÃO!
Uma ação que exemplifica a aplicação dos príncipios e boas práticas para a proteção de
pessoas privadas de liberdade, conforme o documento acima citado, são as Audiências de
Custódia implementadas em 2015, oficialmente, pelo Judiciário brasileiro, através de termos
de cooperação técnica entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e os tribunais do país.
Constituem-se na apresentação da pessoa presa, em audiência, a um juiz no prazo de até 24h,
com a presença do Ministério Público, Defensoria Pública ou advogado do preso.
Nas audiências, há análise do juiz acerca do aspecto legal e regular da prisão em
flagrante, bem como de sua necessidade e adequação; se caberá aplicação de alguma medida
cautelar e qual seria a mais apropriada; eventual concessão de liberdade, que pode ser
acompanhada de outras medidas cautelares, dentre outros. Além de se avaliar eventuais
episódios de tortura ou maus-tratos, dentre outras irregularidades.
Desde o ano de 2019, as ações acerca das audiências de custódia estão inseridas no
programa Fazendo Justiça, fruto da parceria entre o Conselho Nacional de Justiça e o Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento, com o apoio do Ministério da Justiça e Segurança
Pública e executadas em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.21
21
SITE CNJ. Audiências de Custódia. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario/audiencia-de-
custodia/ Acesso em: 07 fev. 2023.
29
SAIBA MAIS!
Para saber mais sobre essa ação e seus avanços desde a implementação, acesse e leia os
documentos disponíveis em:
• LEI Nº 13.964, DE 24 DE DEZEMBRO DE 2019_Aperfeiçoa a legislação penal e
processual penal_Audiência de Custódia
• Relatório_Audiência de Custódia 6 anos
• Manual de prevenção e combate à tortura e maus-tratos para Audiência de Custódia
• Manual de princípios básicos e práticas promissoras sobre alternativas à prisão
Assista também ao vídeo disponível em Em 06 anos audiência de custódia consegue
reduzir o número de presos provisórios em 10%
Ainda no âmbito de princípios e boas práticas, há que se enfatizar a ideia da Justiça
Restaurativa, que representa uma guinada no entendimento do crime enquanto fenônemo social.
Assim, ofensor, vítima e comunidade se envolvem na resolução de conflitos e responsabilização
do infrator. Leia o Manual sobre Programas de Justiça Restaurativa, acessando o link
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/09/manual-sobre-programas-de-justica-
restaurativa.pdf e para entender como essa abordagem é promissora no que tange à promoção
da cultura de paz no sistema de justiça criminal.
PARA EXAMINAR!
Figura 12 – Campanha da Comissão Interamericana de Direitos Humanos
22
Disponível em: https://twitter.com/cidh_pt Acesso em 07 fev. 2023.
30
Com esse post em sua página do Twitter (datado de 27/06/2018), a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) chamou a atenção para o fato de que, passados
70 anos da Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) e seus avanços no combate e
penalização da tortura e maus-tratos, bem como a implantação de sistemas de prevenção, a
tortura ainda existe, salientando que a impunidade é uma realidade nessa questão.
O post compartilha link para uma matéria23 da página da Organização dos Estados
Americanos (OEA) que, dentre outros pontos, aborda a importância da Convenção das Nações
Unidas contra a tortura de 1984 que, até o ano de 2018, possuía a ratificação de 163 países, ou
seja, esses países se tornaram signatários e implementaram legislações para o devido
cumprimento. Destaca-se, ainda, a importância de se conceber a tortura como crime.
23
Leia a matéria completa em: https://www.oas.org/pt/cidh/prensa/notas/2018/136.asp
31
em 10 de dezembro de 1984.24 (Ratificada, em legislação brasileira, pelo Decreto nº 40,
de 15/02/1991).
Art. 1º. Para os fins desta Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual
uma violenta dor ou sofrimento, físico ou mental, é infligido intencionalmente a uma
pessoa, com o fim de se obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou
confissão; de puni-la por um ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou
seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir ela ou uma terceira pessoa; ou
por qualquer razão baseada em discriminação de qualquer espécie, quando tal dor ou
sofrimento é imposto por um funcionário público ou por outra pessoa atuando no
exercício de funções públicas, ou ainda por instigação dele ou com o seu
consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou
sofrimentos que sejam consequência, inerentes ou decorrentes de sanções legítimas.
(ONU, 1984).
Esse regramento, composto por 33 artigos, estabelece compromissos que devem ser
observados pelos Estados-Membros, principalmente, em se estabelecer a prática de tortura
como crime em suas legislações penais. Possui como premissa garantir que atos de tortura e/ou
maus-tratos não sejam mais utilizados como mecanismos de política de Estado. Principalmente
em se tratando de ditaduras e regimes autoritários estabelecidos após a 2ª Guerra Mundial. Não
se esquivando dos regimes democráticos em que, muitas vezes, os discursos acerca da
segurança descaracterizam a dignidade da pessoa humana enquanto princípio.
Aqui, podem-se destacar três aspectos centrais que caracterizam a tortura:
(1) é qualquer ato que inflige violenta dor ou sofrimento físico ou mental.
(2) há uma intencionalidade na prática do ato, que pode ter por motivação:
- Obtenção de informação ou confissão pela vítima.
- Castigo à vítima que supostamente cometeu algo.
- Intimidação e coerção da vítima.
(3) Discriminação de qualquer tipo:
- é praticado por agente público, ou pessoa em exercício de funções públicas, ou por sua
instigação com seu consentimento.
• Convenção interamericana para prevenir e punir a tortura – adotada pelo XV Período
Ordinário de Sessões da Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos 25.
24
SITE DHNET. Convenção contra a tortura e outro tratamentos ou penas cruéis, desumanos
ou degradantes. 1984. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/tortura/lex221.htm Acesso em:
31 jan. 2023.
25
OEA. Convenção Interamericana para prevenir e punir a tortura. Colômbia, 1985. Disponível em:
https://www.oas.org/pt/cidh/mandato/basicos/tortura.pdf Acesso em: 31 nov. 2022.
32
(Ratificada, em legislação brasileira, pelo Decreto nº 98.386, de 09/12/1989).
Art. 2º. Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato pelo qual
são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais,
com fins de investigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal,
como medida preventiva, como pena ou com qualquer outro fim. Entender-se-á
também como tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a
personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não
causem dor física ou angústia psíquica. (OEA, 1985).
Tal documento, composto de 24 artigos, prevê uma série de medidas a serem tomadas
pelos Estados-Membros, visando a prevenção e o combate à tortura. Nota-se, através do excerto
citado, que há uma ampliação do conceito, em relação ao conceito da Convenção da ONU, ao
se estabelecer como consequência da tortura “penas ou sofrimentos físicos ou mentais”. Há
também a preocupação em garantir as alegações das vítimas sem que seja necessária a
submissão à análise clínica para confirmação.
Indica a finalidade da prática da tortura ao sublinhar o uso pelo aparato de Segurança
Pública e do Sistema de Justiça “com fins de investigação criminal, como meio de intimidação,
como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou com qualquer outro fim.” Nesse
bojo, considera também a coparticição de cúmplices não servidores públicos, sendo esses que,
conforme a Convenção, praticam mais atos de ação e omissão. Em seu artigo 3º, diz: “Os
empregados ou funcionários públicos que, atuando nesse caráter, ordenem sua comissão
[tortura] ou instiguem ou induzam a ela, cometam-no diretamente ou, podendo impedi-lo, não
o façam.”
• Protocolo facultativo à Convenção da ONU contra a tortura (OPCAT)26 – adotado pela
Assembleia Geral em dezembro de 2002, passou a vigorar em junho de 2006.
(Ratificado, em legislação brasileira, pelo Decreto nº 6.085, de 19/04/2007).
A partir de sua adoção, dois novos atores surgiram no campo da prevenção à tortura: o
Subcomitê de Prevenção da Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes (SPT), órgão previsto no tratado estabelecido pelo OPCAT, e os Mecanismos
Preventivos Nacionais (MPN). Para além de definir o conceito de tortura, o Protocolo,
organizado em 37 artigos, estabelece medidas adicionais às que constam da Convenção da
ONU, com foco na prevenção. Define em seu artigo 1º, o objetivo de
26
CIDH. Protocolo Facultativo à Convenção da ONU contra a Tortura - Manual de Implementação. 2010.
Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/tablas/27987.pdf Acesso em: 06 fev. 2023.
33
Estabelecer um sistema de visitas regulares efetuadas por órgãos nacionais e
internacionais independentes a lugares onde pessoas são privadas de sua liberdade,
com a intenção de prevenir a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos
ou degradantes. (CIDH, 2010, p. 44).
PARA PENSAR!
Como você acha que é a situação do Brasil frente a esses mecanismos internacionais,
principalmente os de fiscalização? Alguns casos poderão ajudar você a refletir sobre esse
assunto:
1. Sob o título ONU: impunidade por tortura nas prisões é regra no Brasil, a matéria27
da Revista Exame, realizada em 2017, apresenta uma entrevista com o Representante do Alto
Comissariado da ONU para os Direitos Humanos que, após visitar, juntamente com outros
especialistas da ONU, as unidades prisionais do Brasil concluiu que a falta de investigações
induz o aumento da violência e violações de direitos. A comitiva constatou um cenário
generalizado de tortura, desde o momento da detenção, durante interrogatórios e no
cumprimento da pena privativa de liberdade. Leia a matéria e faça uma relação dos aspectos
que levaram a Comitiva a considerar atos de tortura, quais foram as práticas, as consequências
dessas práticas e se houve a responsabilização das pessoas que cometeram ou não. Caso não
tenha tido a responsabilização, descreva o motivo que você considera para existência da
impunidade.
2. Uma matéria28 no site das Nações Unidas na América do Sul, sob o título Prevenção
27
REVISTA EXAME. ONU: impunidade por tortura nas prisões é regra no Brasil.Disponível em:
https://exame.com/brasil/onu-impunidade-por-tortura-nas-prisoes-e-regra-no-brasil/ Acesso em 31/11/2022.
28
SITE ACNUDH. Prevenção da tortura: especialistas em Direitos Humanos da ONU pedem ao Brasil que
34
da tortura: especialistas em Direitos Humanos da ONU pedem ao Brasil que cumpra as suas
obrigações legais internacionais, relata que tais especialistas estão profundamente preocupados
com o veto, pelo Governador de São Paulo, da lei N ° 1257, que estabelece um mecanismo
antitortura no Estado. Enfatizam que o Brasil, enquanto signatário dos tratados acerca do
combate e da prevenção da tortura, tem a obrigação de cumprir o acordo e que esperam que o
governo de São Paulo reveja tal decisão. Leia a matéria e, em seguida, o que diz a lei citada e
procure saber se houve reversão do veto ou não. Além disso, analise se as observações dos
especialistas da ONU foram ou não pertinentes.
SAIBA MAIS!
A reportagem Em três anos, denúncias de tortura e maus-tratos no sistema prisional do
DF cresceram 3.600%, diz levantamento, disponível em https://g1.globo.com/df/distrito-
federal/noticia/2022/02/03/em-tres-anos-denuncias-de-tortura-e-maus-tratos-no-sistema-
prisional-do-df-cresceram-3600percent-diz-levantamento.ghtml, apresenta um exemplo de
casos de tortura no sistema prisional.
cumpra as suas obrigações legais internacionais. Genebra, 2019. Disponível em: https://acnudh.org/pt-
br/prevencao-da-tortura-especialistas-em-direitos-humanos-da-onu-pedem-ao-brasil-que-cumpra-as-suas-
obrigacoes-legais-internacionais/ Acesso em: 06 dez. 2022.
35
Lei nº 9.455/1997 – define e tipifica o crime de tortura
A partir da CF e demais regramentos internacionais que tratam da tortura enquanto
crime, anteriormente abordados, houve a necessidade de criação da lei específica para essa
questão. Então foi tipificado o crime de tortura na Lei nº 9.455, de 07/04/1997 que apresenta:
ATENÇÃO!
Observe que o estabelecido como tortura nas convenções da ONU e OEA difere da
tipificação do crime de tortura no Brasil, que não reservou a exclusividade da prática a agentes
públicos, ou em função pública. Ou seja, a lei estabelece que a prática de tortura pode ser
cometida por qualquer pessoa. Portanto, no Brasil, a tortura não é realizada somente por agentes
públicos, no entanto à estes é atribuído agravante da pena e perda do cargo, função ou emprego
público e a interdição para seu exercício.
36
Crime de tortura cometido por agentes públicos e pessoas comuns e a aplicabilidade da
lei
O que difere a aplicabilidade da pena em crimes de tortura cometidos por agentes
públicos e pessoas comuns? A diferença está que o agente público terá um agravante, recebendo
um aumento da pena de um sexto até um terço do total estipulado. A lei do crime de tortura
reforça o já constante na CF de que tal crime é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
Importante também diferenciar maus-tratos de tortura. Maus-tratos, de acordo com o
Código Penal artigo 136, é definido como:
Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância,
para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a da alimentação
ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado,
quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de
14 (catorze) anos. (BRASIL, 1940).
PARA FIXAR!
Leia o artigo 1º, inciso II, da Lei nº 9.455/1997 e o artigo 136 do Código Penal. Em
seguida, observe o tipo penal de maus-tratos. Ele se assemelha ao que consta para a tortura.
Complete o quadro a seguir com o que se pede a fim de se estabelecer a comparação:
37
PARA EXAMINAR!
Acesse o link https://www.conectas.org/publicacao/julgando-tortura/ e conheça um
estudo que mostra que há uma tendência do Sistema de Justiça em condenar menos casos em
que agentes públicos estão envolvidos em comparação a casos em que agentes privados estão
envolvidos. Reflita sobre essa questão: há uma baixa responsabilização de agentes públicos.
Consequentemente, impunidade e perpetuação da prática de tortura como regra.
SAIBA MAIS!
Para aprofundar seus conhecimentos, leia a lei n° 12.847 na íntegra, acessando o link
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12847.htm. Essa lei, como já
dito, institui o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura; cria o Comitê Nacional de
Prevenção e Combate à Tortura e o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura; e
dá outras providências.
SAIBA MAIS!
• Amplie seus conhecimentos, acessando o link: https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-
informacao/participacao-social/sistema-nacional-de-prevencao-e-combate-a-tortura-
snpct/mecanismo/PORTARIAN20.pdf o qual dispõe sobre o Regimento Interno do
Mecanismo.
• Acesse também o link https://mnpctbrasil.wordpress.com/relatorios/ e conheça os
relatórios produzidos pelo Mecanismo.
29
SITE GOV.BR. Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura - O Conselho. Disponível em:
https://www.gov.br/participamaisbrasil/o-conselho1 Acesso em: 03 fev. 2023.
30
SITE GOV.BR. Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura – MNPCT. Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/orgaos-colegiados/mnpct/mecanismo-
nacional-de-prevencao-e-combate-a-tortura-mnpct Acesso em: 03 fev. 2023.
39
• Leia a matéria que fala sobre casos de tortura em unidades prisionais mineiras,
acessando o link https://globoplay.globo.com/v/10876644/
• Assista ao vídeo Comissão discute situação prisional no país, disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=ycqTxRgZ4As, e reflita sobre como as autoridades
brasileiras estão pensando esse assunto.
SAIBA MAIS!
A ONU editou o Manual para investigação e documentação eficazes da tortura e outras
penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, conhecido como Protocolo de
Istambul. O documento pretende funcionar como uma referência internacional para a avaliação
da situação das pessoas alegadamente vítimas de tortura e maus-tratos, para a investigação dos
presumíveis casos de tortura e para a comunicação dos fatos apurados ao poder judicial ou
40
outros órgãos com competência no domínio da investigação. A íntegra do protocolo está
disponível em https://www.gov.br/mdh/pt-br/prevencao-e-combate-a-
tortura/1999ProtocoloIstambul.pdf
ATIVIDADE
Considerando o que se estudou até aqui, acesse o link
https://portacurtas.org.br/filme/?name=o_dia_em_que_dorival_encarou_a_guarda e assista ao
documentário O dia que Dorival encarou a guarda. Em seguida, responda: o documentário
apresenta violações aos Direitos Humanos e não cumprimento das legislações CF/88, LEP/84
e Lei Estadual Normas de Execução Penal/94 nos princípios da humanização da pena? Se sim,
quais foram as violações, por que elas ocorreram e quais seriam as atitudes necessárias para que
elas não acontecessem? Se não, como você justifica sua compreensão?
41
UNIDADE 3: SOCIEDADE BRASILEIRA E PRISÕES
TÓPICOS DA AULA
• O problema do encarceramento massivo no Brasil contemporâneo;
• Rotinas e práticas de atenção às pessoas privadas de liberdade;
• Integração entre as principais políticas públicas e programas de humanização das penas
e pessoas privadas de liberdade;
• Direitos Humanos e grupos vulneráveis;
• O papel da sociedade civil na execução da pena;
• Órgãos: ouvidorias, conselhos penitenciários, conselhos da comunidade, defensoria
pública;
• Assistência social ao egresso do sistema prisional;
• Estigmatização social do egresso e suas dificuldades de reinserção;
PARA EXAMINAR!
Em um artigo, disponível no link https://jornal.usp.br/revistausp/revista-usp-119-
dossie-3-sobre-a-pratica-da-tortura-no-brasil/, Paulo Endo apresenta um comparativo entre as
recomendações da ONU, constantes no Relatório sobre a Tortura no Brasil produzido pelo
relator especial sobre a tortura da Comissão de Direitos Humanos da ONU em 2001, com a
situação em 2016 através do Relatório Anual do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate
à Tortura (MNPCT) de 2015-2016.
A seguir, a recomendação acerca da situação de superpopulação carcerária em 2001 e a situação
em 2016:
Recomendação em 2001 (ONU)
Trata-se da constatação do fenômeno de superlotação carcerária no país e a
recomendação da ONU para adoção de medidas que caminhassem para a solução desse
problema.
Recomendação 23
A assustadora situação de superpopulação em alguns estabelecimentos de prisão
provisória e instituições prisionais precisa acabar imediatamente; se necessário,
mediante ação do Executivo, exercendo clemência, por exemplo, com relação a certas
42
categorias de presos, tais como transgressores primários não violentos ou suspeitos de
transgressão. A lei que exige a separação entre categorias de presos deveria ser
implementada. (ENDO, 2018, p. 55).
Parágrafo 122
Não foi raro observar celas com muito mais pessoas do que a sua capacidade. No CDP
de Sorocaba (São Paulo), por exemplo, havia celas com capacidade para nove presos,
mas que abrigavam mais de 50. Na Central de Custódia de Presos de Justiça do
Complexo de Pedrinhas, por exemplo, viviam 12 presos em uma cela destinada a
apenas quatro. Em muitas unidades, os privados de liberdade relataram se revezar para
dormir, sentar ou comer. Essas situações afrontam os artigos 85 e 88 da Lei de
Execução Penal (LEP) cujos conteúdos estabelecem, respectivamente, que a lotação
da unidade deve ser compatível com sua capacidade e os parâmetros mínimos para
uma cela. Adicionalmente, está em desacordo com os artigos 8° e 9° da Resolução
14/94 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), com o
Artigo 10 (1) do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e com as Regras
de Mandela. (ENDO, 2018, p. 55).
Parágrafo 123
O quadro de superlotação nas unidades aumentava o clima de tensão, além de
inviabilizar a garantia de direitos e assistências fundamentais à execução e à
individualização da pena. Isto é, garantir a saúde, a educação, o acesso ao trabalho, à
assistência social, etc. se tornava praticamente impossível nesse contexto. Para além
desse aspecto, formava-se um cenário de forte tensão e de grande restrição de direitos,
altamente propício à prática de tortura e maus-tratos. (ENDO, 2018, p. 55).
Parágrafo 124
Ainda, os efeitos da superlotação podiam ser tão diversos que, no Presídio Central de
Porto Alegre, a direção mencionou a dificuldade em realizar manutenções
infraestruturais na unidade. A superlotação do local impossibilitaria a transferência de
presos de determinada galeria a outra. Portanto, apenas eram realizadas reformas
quando os presos estavam no pátio da unidade, de forma que tais medidas eram
superficiais e insuficientes frente ao quadro de grave degradação da estrutura física
daquela unidade. (ENDO, 2018, p. 55-56).
43
Agora reflita: após 6 anos dessa análise, como você percebe o sistema prisional
brasileiro atualmente no que tange à superlotação? Quais seriam as possíveis ações para
solucionar esse problema?
31
DEPEN. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – janeiro a junho 2022. Disponível em:
https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiNWQ0ODM1OTQtMmQ2Ny00M2IyLTk4YmUtMTdhYzI4N2ExM
WM3IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 Acesso em: 30
nov. 2022.
44
3 vezes em relação aos dados no ano de 2000, 232.755 presos, que saltaram para 661.915 presos
em 2022, o que corresponde a um aumento de 184%. Tal fato coloca o país no 3º lugar no
ranking de países com a maior população carcerária do mundo, ficando atrás de EUA e China.
Tais dados mostram que a pena privativa de liberdade é legitimada pela população brasileira e
interfere nas decisões legislativas, judiciais e governamentais, ou seja, a prisão sendo aplicada
cada vez mais em detrimento de alternativas penais, o que se denomina novo punitivismo
(PRATT et al., 2005 apud AMORIM-SILVA, 2021).
Wacquant (2009, p.3) então explica por que o termo hiperencarceramento é mais
apropriado:
45
Nesse sentido, importante ressaltar o perfil da população carcerária a qual é composta
por maioria de negros (68,42%), de 18 a 29 anos (42,46%) e homens (95,62%).
ATENÇÃO!
Ficou demonstrado que a população carcerária tem cor, classe social, idade, gênero. É
importante refletir sobre esse aspecto, pois é um dos fatores que contribui na construção da
prática enquanto servidores (as) prisionais. Saber o público com o qual se lida é fundamental
para entender toda a dinâmica das unidades prisionais, suas lacunas e demandas. Para ajudar
você no processo reflexivo e de tomada de decisão, leia o texto jornalístico Encarceramento
em massa no Brasil: sintoma de uma sociedade excludente disponível em
https://laboratoriodejo2021.medium.com/encarceramento-em-massa-no-brasil-sintoma-de-
uma-sociedade-excludente-b82f76174ddb
PARA EXAMINAR!
Um exemplo de prática de atenção à pessoa reclusa é o Projeto da Fiocruz que busca
reduzir tuberculose nas prisões. Estratégia apresentada na Semana Uma Só Saúde é voltada para
toda a comunidade carcerária, que tem maior risco de adoecimento pela doença devido às
condições de vida e saúde a que está exposta. Para entender sobre essa ação, acesse o link
https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/projeto-da-fiocruz-busca-reduzir-tuberculose-nas-
prisoes/
SAIBA MAIS!
Assista ao vídeo Nascer nas prisões: gestar, nascer e cuidar, acessando o link:
https://www.youtube.com/watch?v=vmi6r-M-K0U. O documentário é vinculado à pesquisa
Saúde Materno Infantil nas Prisões do Brasil (2016) e aborda a dura realidade da rotina, os
conflitos e os problemas enfrentados pelas mulheres privadas de liberdade em ter um pré-natal
de qualidade, com doenças evitáveis não adequadamente tratadas, discriminação na hora do
parto e dificuldades com o cuidado do recém-nascido, além do impacto social.
Muitas dessas ações fazem parte de políticas públicas voltadas para o sistema prisional,
bem como para a integração com as políticas de assistências e grupos específicos de maneira
geral. É o assunto do próximo tópico.
47
Integração entre as principais políticas públicas e programas de humanização das pessoas
privadas de liberdade
O indivíduo privado de liberdade, como já vimos, mantém seus direitos fundamentais
resguardados, devendo ter acesso a todas as políticas públicas e programas que tenham
extramuros. Dessa forma, citaremos algumas que dizem respeito às assistências.
A Assistência à saúde, executada por meio da Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), instituída pela
Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014, teve como objetivo ampliar as ações de
saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) para a população privada de liberdade, fazendo com
que cada unidade básica de saúde prisional passasse a ser visualizada como ponto de atenção
da Rede de Atenção à Saúde.
Anteriormente havia o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP),
instituído pela Portaria Interministerial nº 1777, de 09 de setembro de 2003. Após avaliação
desse plano, no período de 10 anos, contatou-se seu esgotamento ao serem percebidas lacunas,
principalmente por ele não contemplar, em suas ações, o percurso total do sistema prisional que
começa desde a prisão e reclusão em delegacias até o efetivo cumprimento da pena privativa
de liberdade (após sentença transitado em julgado) em penitenciárias. Além disso, o PNSSP
não incluía as federais.
A PNAISP nasce então, com foco no pensamento de atendimento integral da pessoa
reclusa, desde o primeiro momento de sua prisão. Portanto, há uma ampliação dessa assistência
realmente a todos e a todas. Essa principal mudança, além de outras, é indicada como um avanço
na garantia e na defesa dos Direitos Humanos em relação à saúde no sistema prisional, primando
pela conformidade constitucional e universal de atenção à saúde sob responsabilidade do Estado
que, como visto, deve também abranger pessoas em situação de restrição e privação de
liberdade.
SAIBA MAIS!
Amplie seus conhecimentos sobre esse assunto, acessando o link:
https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/pnaisp#:~:text=Info-
,Pol%C3%ADtica%20Nacional%20de%20Aten%C3%A7%C3%A3o%20Integral%20%C3%
A0%20Sa%C3%BAde%20das%20Pessoas,Liberdade%20no%20Sistema%20Prisional%20(P
NAISP)
48
A Assistência educacional foi instituída pelas resoluções:
• Resolução 03/2009 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária -
dispõe sobre as Diretrizes Nacionais para a Oferta de Educação nos estabelecimentos
penais.
• Resolução 02/2010 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação - dispõe sobre as Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens
e adultos em situação de privação de liberdade nos estabelecimentos penais.
Ambas as resoluções estabelecem que as ações de educação no contexto prisional devem
estar calcadas na legislação educacional vigente no país, na Lei de Execução Penal e nos
tratados internacionais firmados pelo Brasil no âmbito das políticas de Direitos Humanos e
privação de liberdade, devendo atender às especificidades dos diferentes níveis e modalidades
de educação e ensino e são extensivas aos presos provisórios, condenados, egressos do sistema
prisional e àqueles que cumprem medidas de segurança.
Além dessas resoluções, há o Decreto 7.626/2011, que institui o Plano Estratégico de
Educação no âmbito do Sistema Prisional (PEESP). No seu art. 2o, enfatiza que o Plano
contemplará a educação básica na modalidade de educação de jovens e adultos, a educação
profissional e tecnológica e a educação superior. Já o artigo art. 3o o tem como uma de suas
diretrizes: II - integração dos órgãos responsáveis pelo ensino público com os órgãos
responsáveis pela execução penal.
49
mediante um caráter genérico e universal. (SCHIER, 2017).
A igualdade pressupõe que todos devem ser regidos pelas mesmas regras e devem ter
os mesmos direitos e deveres.
A noção de equidade é implantada por meio de políticas e serviços focalizados nas
necessidades de cada indivíduo, mostrando o esforço de corrigir desigualdades sociais e
históricas. É a ideia de tratar desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades.
A incorporação da noção de equidade ajuda no entendimento de que é necessária a
adoção de medidas focalizadas nas necessidades e singularidades de cada grupo social, pois há
uma tendência em nossa sociedade de excluir notoriamente em razão das diferenças e que, por
preconceito e descriminação, produzem-se desigualdades e obstáculos para acesso a serviços e
políticas públicas.
PARA EXAMINAR!
Declaração sobre os direitos das pessoas pertencentes a minorias nacionais ou étnicas,
religiosas e linguísticas – aprovada pela Resolução nº 47/135 da Assembleia Geral da ONU, de
18 de dezembro de 1992.
SAIBA MAIS!
Você sabia que o termo minoria não é um conceito definitivo? Deve-se fazer uma
primeira ressalva sobre o seu uso, a saber: a noção de minoria não quer dizer necessariamente
um grupo social numericamente menor. Em regra, uma minoria está, sim, em menor quantidade,
mas isso nem sempre é verdade. É importante compreender, também, como esses grupos
específicos se colocam e se comportam dentro da sociedade, podendo constituir uma maioria
numérica, mas, ao mesmo tempo, ser politicamente uma minoria em razão da impossibilidade
de participar das instâncias decisórias.
50
É importante reforçar que a defesa dos Direitos Humanos, que fazem parte do direito
internacional do qual o Brasil é signatário e, portanto, também criou instrumentos que observem
a diversidade, pressupõe a sua plena aceitação e a repulsa a qualquer forma de preconceito ou
discriminação.
PARA PENSAR!
Para aprofundar nesse assunto, assista ao vídeo Direitos Humanos, a Exceção e a Regra,
que se encontra disponível no link
https://portacurtas.org.br/filme/?name=direitos_humanos_a_excecao_e_a_regra
Para se atender de forma adequada às pessoas em privação de liberdade de grupos
específicos, assegurando cumprimento dos dispositivos legais nacionais e os pactos
internacionais, é preciso identificar quais são as situações discriminatórias vivenciadas e quais
são as demandas dessas pessoas.
Em 2011, no Brasil, instituiu-se o Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária,
que estabeleceu em sua Medida nº 05 a necessidade de ações objetivando o reconhecimento e
o respeito à diversidade no âmbito do sistema penitenciário brasileiro. O documento indica a
emergência de se promover iniciativas para assegurar direitos de mulheres, público
LGBTQIA+, indígenas e estrangeiros, além de outros. Trata também do direito à livre
manifestação religiosa.
Assim, o documento apresenta recomendações e objetivos a serem alcançados em todas
as unidades prisionais. A seguir, são apresentados alguns pontos a serem alcançados pela
administração dos serviços penitenciários:
SAIBA MAIS!
Acesse o Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária na íntegra no link
http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/3231852/plano-politica-criminal-penitenciaria-
2011.pdf
32
CNJ: Regras de Bangkok: regras das Nações Unidas para o tratamento de mulheres presas e medidas não
privativas de liberdade para mulheres infratoras. Brasília, 2016. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2019/09/cd8bc11ffdcbc397c32eecdc40afbb74.pdf Acesso em: 31 jan. 2023.
33
SITE DIÀRIO DAS LEIS. Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade
e Egressas do Sistema Prisional. Brasília, 2014. Disponível em:
https://www.diariodasleis.com.br/legislacao/federal/226123-politica-nacional-de-atencao-as-mulheres-em-
situacao-de-privacao-de-liberdade-e-egressas-do-sistema-prisional Acesso em: 31 jan. 2023.
52
Voltada também para os funcionários que atuam nos estabelecimentos penitenciários, a
Política também prevê alterações e orientações para as rotinas carcerárias, com atenção às
diversidades e às especificações das mulheres, no que diz respeito à idade, à escolaridade, à
etnia, à maternidade e a outros aspectos, além de condições adequadas de cumprimento de pena,
garantindo o direito à saúde, à educação, à proteção à maternidade e à infância, ao atendimento
psicossocial e aos demais Direitos Humanos.
A Lei de Execução Penal (LEP), desde 1984, garantiu determinados direitos à
presidiária, a saber: que seja recolhida, separadamente, em estabelecimento próprio adequado
a essa condição e que sejam disponibilizadas exclusivamente funcionárias mulheres.
Igualmente, ficou garantido o acompanhamento médico à mulher, especialmente no pré-natal e
no pós-parto, extensivo ao recém-nascido.
SAIBA MAIS!
Veja a seguir alguns documentos da ONU que abordam o tema, consagrando a necessidade
e a urgência para promoção de tratamento digno às mulheres em conflito com a lei:
• Regras de Tóquio: contempla as especificidades de gênero das mulheres que entraram
em contato com o sistema de justiça criminal, recomendando a necessidade de se
aplicarem prioritariamente medidas não privativas de liberdade.
• Resolução 61/143, de 19 de dezembro de 2006: reconhece a urgência dos Estados
assumirem medidas para enfrentar causas estruturais de violência contra mulheres, bem
como práticas e normas sociais discriminatórias, incluindo aquelas voltadas às mulheres
que necessitem de atenção especial, tais como mulheres reclusas em instituições ou
encarceradas.
• Resolução 63/241, de 24 de dezembro de 2008: chama a atenção sobre o impacto da
detenção e o encarceramento de crianças e sugere adoção de boas práticas em relação
às necessidades e ao desenvolvimento físico, emocional, social e psicológico de bebês
e crianças afetadas pela detenção ou encarceramento de pais.
• Declaração de Viena sobre Crime e Justiça: os Estados-membros reconhecem a
importância de implantação de ações políticas baseadas nas necessidades especiais da
mulher, na condição de presa.
PARA PENSAR!
Assista à reportagem Vidas no Cárcere - a realidade da mulher presa no DF produzida
pela equipe de TV da Universidade de Brasília (UnBTV), disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=o-2r9awpQyc
Populações indígenas
A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, aprovada na
107ª Sessão Plenária 13 de setembo de 2007, traz no artigo 2º que “os povos e pessoas indígenas
são livres e iguais a todos os demais povos e indivíduos e têm o direito de não serem submetidos
a nenhuma forma de discriminação no exercício de seus direitos, que esteja fundada, em
particular, em sua origem ou identidade indígena”.(ONU, 2008, p. 6-7).
A Constituição Federal, por sua vez, assevera que a realização de direitos dos povos
indígenas passa pela garantia de sua autodeterminação, o respeito à sua cultura, práticas sociais
e políticas. Os povos indígenas detêm o direito originário e o usufruto exclusivo sobre as terras
que tradicionalmente ocupam.
Além dessas, tem-se uma Resolução específica do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
54
- Resolução nº 287, de 25 de junho de 201934. Esse documento estabelece procedimentos ao
tratamento das pessoas indígenas acusadas, rés, condenadas ou privadas de liberdade, e dá
diretrizes para assegurar os direitos dessa população no âmbito criminal do Poder Judiciário.
34
CNJ. Resolução nº 287, de 25 de junho de 2019. Disponível em:
https://atos.cnj.jus.br/files/resolucao_287_25062019_08072019182402.pdf Acesso em: 31 jan. 2023.
35
SCALÉRCIO, M. Convenção de Viena sobre relações consulares. Disponível em:
https://vlex.com.br/vid/convencao-viena-relacoes-consulares-670884477 Acesso em: 31 jan. 2023.
55
SAIBA MAIS!
No intuito de buscar esclarecimentos e estruturar os serviços de assistências para a
população presa e egressa do sistema prisional, discussões e alguns eventos têm sido realizados.
Tem-se, como exemplo, alguns encaminhamentos sugeridos no debate promovido pelo
Conselho Nacional de Justiça, nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, em 2012:
• Necessidade de criação de um cadastro de tradutores/intérpretes para viabilizar a
comunicação dos presos estrangeiros, bem como a tradução das principais peças processuais.
Deve ser assegurado ao preso estrangeiro o direito constitucional de contatar sua família, além
de seu advogado ou defensor.
• Criação de política pública para moradia ou casas de passagem para presos estrangeiros.
36
BRASIL. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Diretrizes básicas para arquitetura
prisional. Revisão técnica (ortográfica e metodológica): Gisela Maria Bester/Suzann Flávia Cordeiro de Lima.
- Brasília: CNPCP, 2011. Disponível em: https://www.gov.br/depen/pt-
br/composicao/cnpcp/resolucoes/2011/diretrizes-basicas-para-arquitetura-penal.pdf Acesso em: 31 jan. 2023.
56
adequação dos meios de mobilidade nos presídios, através da eliminação de barreiras e da
adaptação arquitetônica para que o deficiente possa ter sua autonomia preservada. É preciso
que se ofereçam aos deficientes, conforme a deficiência, condições para que, sendo possível,
possam, sozinhos e autonomamente, tomar banho, se deslocar, se exercitar, enfim praticar as
ações que todos os demais praticam.
O 3º Plano Nacional de Direitos Humanos37, instituído pelo Decreto nº 7.037, de 21 de
dezembro de 2009, dentre as suas recomendações, propõe:
Público LGBTQIA+
PARA PENSAR!
37
BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos da República. Programa Nacional de Direitos Humanos
(PNDH – 3). Brasília, 2009. Disponível em: https://direito.mppr.mp.br/arquivos/File/PNDH3.pdf Acesso em: 31
jan. 2023.
38
SITE MARIA BERENICE DIAS. A garantia constitucional dos direitos à população LGBTI. Disponível em:
https://berenicedias.com.br/a-garantia-constitucional-dos-direitos-a-populacao-lgbti/. Acesso em: 31 jan. 2023.
39
SITE DHNET. Princípios de Yogyakarta. 2007. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/gays/principios_de_yogyakarta.pdf Acesso em: 31 jan. 2023.
57
por sua vez, diz respeito à experiência interna e pessoal do gênero de cada pessoa, que pode ou
não estar associada ao sexo atribuído no nascimento, em sua aparência, comportamentos e
vestimentas, por exemplo.
As recomendações feitas em diferentes oportunidades buscam:
• assegurar as visitas social e íntima homoafetivas;
• incluir esse segmento populacional em atividades educativas e culturais e de
trabalho;
• aplicar a Política Nacional de Saúde Integral de lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais 40, instituída pela Portaria nº 2.836, de 1° de dezembro de
2011, e pactuada pela Comissão Intergestores Tripartite (CIT), conforme
Resolução n° 2 do dia 6 de dezembro de 2011, que orienta o Plano Operativo de
Saúde Integral LGBTQIA+.
• respeitar a identidade de gênero de travestis e transexuais.
Vale lembrar que os ministros do Supremo Tribunal Federal, em julgamento histórico
em 2011, reconheceram a união estável para casais do mesmo sexo. Essa medida ofereceu
embasamento para harmonização dos procedimentos que autorizam as visitas íntimas
homoafetivas nas unidades prisionais, que apenas vinham sendo liberadas para alguns casais
após decisão judicial.
ATENÇÃO!
A Resolução nº 348 de 13/10/202041, estabelece diretrizes e procedimentos a serem
observados pelo Poder Judiciário, no âmbito criminal, com relação ao tratamento da população
lésbica, gay, bissexual, transexual, travesti ou intersexo que seja custodiada, acusada, ré,
condenada, privada deliberdade, em cumprimento de alternativas penais ou monitorada
eletronicamente. Assim, explicita que
40
Brasil. Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais /
Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão
Participativa. Brasília: 1. ed., 1. reimp. Ministério da Saúde, 2013. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_lesbicas_gays.pdf Acesso em: 31 jan.
2023.
41
SITE CNJ. Resolução Nº 348 de 13/10/2020. Disponível em:
https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3519#:~:text=%C2%A7%203%C2%BA%20A%20aloca%C3%A7%C3%A3
o%20da,pessoas%20custodiadas%20no%20mesmo%20estabelecimento%2C Acesso em 31 jan. 2023.
58
A alocação da pessoa autodeclarada parte da população LGBTI em estabelecimento
prisional, determinada pela autoridade judicial após escuta à pessoa interessada, não
poderá resultar na perda de quaisquer direitos relacionados à execução penal em
relação às demais pessoas custodiadas no mesmo estabelecimento, especialmente
quanto ao acesso a trabalho, estudo, atenção à saúde, alimentação, assistência
material, assistência social, assistência religiosa, condições da cela, banho de sol,
visitação e outras rotinas existentes na unidade. (BRASIL, 2020b).
Importante chamar a atenção no aspecto ‘visitação’, que além da social, também lhe é
garantida a íntima. Nessa mesma resolução Art. 11, inc. V- C, diz que o juiz da execução deve
fiscalizar e fazer garantir o
Para tanto, faz-se necessário que a direção dos estabelecimentos prisionais criem condições
favoráveis para a visitação, e juntamente com o corpo funcional implemente campanhas
institucionais sobre direitos reprodutivos e prevenção à HIV/AIDS e Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST).
Além disso, há também a outra vertente de atuação que se insere no respeito à identidade
de gênero das travestis e transexuais. Não pode haver, por exemplo, a imposição de corte de
cabelos ou a proibição de roupas intimas que correspondam à identidade de gênero declarada,
mediante a condição de reclusão e/ou cumprimento de pena.
Conforme previsto nessa resolução e em outros regulamentos jurídicos, em seu Art. 6 é
estabelecido que “pessoas autodeclaradas parte da população LGBTI submetidas à persecução
penal têm o direito de ser tratadas pelo nome social, de acordo com sua identidade de gênero,
mesmo que distinto do nome que conste de seu registro civil, como previsto na Resolução CNJ
nº 270/2018.” (BRASIL, 2020b). Assim, alguns Estados, por meio de decretos, obrigam o
tratamento nominal de travestis e transexuais pelo nome social, exigindo a adequação dos
bancos de dados para cadastramento dessas pessoas e emissão de documentos para uso nos
atendimentos. Além de estipular unidades ou alas específicas para esse público.
PARA EXAMINAR!!!
Você sabia que em Minas Gerais há uma unidade prisional específica para atender ao
59
público LGBTQIA+? Faça uma pesquisa sobre esse estabelecimento e em quais estados da
federação também existem unidades prisionais destinadas esclusivamente ao público
LGBTQIA+ e quais são os principais desafios enfrentados na implementação das políticas
públicas e garantias de direitos.
42
SITE CNN. Saiba o que significa a sigla LGBTQIA+ e a importância do termo na inclusão social. São
Paulo. 2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/saiba-o-que-significa-a-sigla-lgbtqia-e-a-
importancia-do-termo-na-inclusao-
social/#:~:text=Com%20isso%2C%20LGBTQIA%2B%20se%20tornou,usadas%20pelos%20membros%20des
sa%20comunidade. Acesso em: 24 nov. 2022.
60
articulando os serviços de saúde mental de forma integrada, contínua e preventiva.
A saúde no sistema prisional é um dos temas mais sensíveis. Ainda é corrente uma visão
fortemente centrada nos aspectos relativos à segurança para os quais se destinam grande parte
dos recursos públicos. Uma medida importante foi a criação do Plano Nacional de Saúde do
Sistema Prisional, instituída pela Portaria Interministerial MS/MJ nº 1.777, de 09 de setembro
de 2003, que define prioridades, metas e caracterização das equipes mínimas de promoção e
atendimento em saúde. Em 2014, foi publicada a Portaria Interministerial nº 1/ MS/MJ, que
institui a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade
no Sistema Prisional –PNAISP.
Inicialmente vale olhar para a situação dos pacientes dos Hospitais de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico que, em razão de sua inimputabilidade, cumprem medida de segurança
nesses locais. Um dos maiores desafios observados é promover a aproximação e o
fortalecimento dos vínculos familiares na perspectiva da desinternação como pressuposto da
política de saúde mental a partir da reforma psiquiátrica realizada no Brasil. Esse paradigma é
fundamental para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária retirar, dentre os
itens financiáveis a construção de Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico.
Vê-se, assim, a necessidade de boa articulação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
, vinculada ao Sistema Único de Saúde para acolher a demandas crescentes, e os órgãos que
integram o sistema penal. Nesse aspecto, duas iniciativas revelam-se exitosas: em Minas Gerais,
o Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário portador de Sofrimento Mental (PAI-
PJ), regulamentado pela Resolução nº 633/2010 do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, e, em
Goiás, o Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator (PAI/PJ), que buscam oferecer
assistência humanizada ao louco infrator, incidindo notadamente no preconceito sofrido por
esses indivíduos quando em liberdade.
SAIBA MAIS!
As referências a seguir ajudam a compreender melhor os aspectos relacionados ao tema
em discussão nesta seção:
• Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário Portador de Sofrimento Mental –
PAI-PJ.
Disponível em : https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/hotsites/relatorio-de-gestao-2018-
61
a-2020/programa-pai-pj.htm#.Y47qW3bMLIU
• Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator – PAI-LI.
Disponível em: https://www.saude.go.gov.br/biblioteca/7639-programa-de-
aten%C3%A7%C3%A3o-integral-ao-louco-infrator-paili
• O filme A casa dos mortos.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=noZXWFxdtNI
Trata-se de iniciativa inédita no país, uma vez que, embora prevista na Lei de
Execuções Penais, desde 1984, jamais logrou-se construir uma política de alcance
nacional para o público egresso das prisões. Esta publicação se soma à Resolução CNJ
n. 307, de 2019, compondo o arcabouço conceitual e normativo que permitirá
construir uma política pública nacional. (BRASIL, 2020c, p.4)
43
Brasil. DEPEN. CNJ. Política Nacional de Atenção às Pessoas Egressas do Sistema Prisional. Brasília, 2020.
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/09/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-
Aten%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0s-Pessoas-Egressas-do-Sistema-Prisional_eletronico.pdf Acesso em: 31
jan. 2023.
62
a cada estabelecimento, de patronatos que se ocupem da assistência aos liberados, visitando-os
e ajudando-os a reentrar no convívio social e a tornar a encontrar um lugar entre os cidadãos
honestos”. (ONU, 1955).
Referências internacionais
• Regras Mínimas para Tratamento de Presos foram editadas no Primeiro Congresso das
Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizado em
Genebra em 1955, e aprovadas pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas em 1957.
Recentemente foram modificadas, com nova redação aprovada em novembro de 2015 pelo
Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, e passaram a denominar-se “Regras de
Mandela44”
É na regra nº 90 que a atenção volta-se para os egressos de forma específica, pois se afirma
que o compromisso da sociedade não se esgota com a liberação do preso. Enfatiza-se que
agências públicas ou privadas devem possibilitar às pessoas que saem da prisão um atendimento
capaz de diminuir os prejuízos do encarceramento e buscar sua reabilitação social (ONU, 2015).
Referências nacionais
• O artigo 26 da LEP define egressos como “I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um)
ano a contar da saída do estabelecimento; II - o liberado condicional, durante o período
de prova.” (BRASL, 1984).
Conforme o artigo 25 dessa lei, a assistência a eles prevista consiste “na orientação e
apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade” e na “concessão, se necessário, de alojamento e
alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses”.
No artigo 27, tal período poderá ser prorrogado com a comprovação de seu interesse na
obtenção de emprego, o que deve ocorrer com a colaboração do serviço de assistência social.
Já no artigo 78, são definidos os patronatos públicos ou particulares, como órgãos
44
SITE UNODOC. Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos (Regras de Nelson
Mandela). Disponível em: https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison-
reform/Nelson_Mandela_Rules-P-ebook.pdf Acesso em: 31 jan. 2023.
63
destinados a prestar assistência tanto a albergados como a egressos do sistema prisional, que
possuem as seguintes atribuições, constantes no artigo 79:
Essas ações ficam sob supervisão dos Conselhos Penitenciários, que possuem entre suas
atribuições, conforme o inciso IV do artigo 70, “supervisionar os patronatos, bem como a
assistência aos egressos.” (BRASIL, 1984).
45
BRASIL. Decreto nº 7.177, de 12 de maio de 2010. Brasília, 2010. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Decreto/D7177.htm Acesso em: 27 nov. 2022.
46
BRASIL. CNPCP. Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Brasília, 2015. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/dl/plano-nacional-politica-criminal.pdf Acesso em: 27 nov. 2022.
64
social para garantir apoio ao egresso do sistema prisional em seu retorno à sociedade, apontando
que:
66
Marcadores da condição da pessoa egressa
Já se sabe o perfil das pessoas que são encarceradas no Brasil, perpassadas por diversas
expressões da questão social. Tais condições serão ampliadas pelas consequências sociais e
pessoais que a prisão acarreta nos sujeitos, somando-se, assim, dois processos de exclusão: o
anterior ao cárcere e o agora estigmatizado pelo cárcere.
Conforme depoimentos colhidos pelo DEPEN (BRASIL, 2020c, p.40-42), foi possível
relacionar alguns indicadores da condição da pessoa egressa, que foram comumente
mencionados por seu impacto na saída da prisão e na construção de novos projetos de vida. O
Departamento enfatiza que não se trata de um elenco exaustivo; são aspectos que não se
excluem, mas se somam e se reforçam mutuamente, articulando novas determinações.
SAIBA MAIS!
• Leia um compêndio de artigos que trata do Programa de Inclusão Social de Egressos do
Sistema Prisional – PrEsp – em funcionamento no Estado de Minas Gerais, acessando
o link
http://institutoelo.org.br/site/files/publications/6249f589266779f9bd30d6a403db544f.
pdf
• Acesse mais informações governamentais de Minas Gerais sobre o PrEsp em
https://www.mg.gov.br/servico/participar-do-programa-de-inclusao-social-de-
egressos-do-sistema-prisional-presp
• Assista ao documentário Pelo direito de recomeçar, acessando-o pelo link
https://www.youtube.com/watch?v=YLrwdquiL4Y&t=17s
a) entidades privadas sem fins lucrativos que não distribuam aos seus sócios ou
associados, conselheiros, diretores, empregados, doadores ou terceiros eventuais
resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, isenções
de qualquer natureza.
b) sociedades cooperativas previstas na Lei Nacional n° 9.867/99: as integradas por
pessoas em situação de risco ou vulnerabilidade pessoal ou social; as alcançadas por
programas e ações de combate à pobreza e de geração de trabalho e renda; as voltadas
para fomento, educação e capacitação de trabalhadores rurais ou capacitação de
agentes de assistência técnica e extensão rural; e as capacitadas para execução de
atividades ou de projetos de interesse público e de cunho social;
c) organizações religiosas que se dediquem a projetos de interesse público e de cunho
social distintos das atividades destinadas a fins exclusivamente religiosos.
(DISTRITO FEDERAL, 2018, p.10-11) 47:
PARA EXAMINAR!
O Conselho Nacional de Justiça, para executar o Programa Fazendo Justiça cujos
objetivos são: (a) aperfeiçoar os procedimentos de porta de entrada, (b) garantir a regularidade
no cumprimento da decisão judicial nas medidas penais e socioeducativas e (c) qualificar a
inclusão social na porta de saída conta com a parceria de várias organizações da sociedade civil
na execução das ações propostas no referido programa. Acesse o link
https://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario/fazendo-justica/parceiros-e-apoio/ e saiba mais sobre
47
DISTRITO FEDERAL. Manual de Gestão de parcerias do marco regulatório das Organizações da Sociedade
Civil. Brasília, 2018. Disponível em: https://www.casacivil.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2018/11/Manual-
MROSC-DF-FINAL.pdf Acesso em: 31 jan. 2023.
70
a importância da sociedade civil na política de execução penal.
Ouvidorias
A Ouvidoria do Sistema Prisional foi criada a partir da reestruturação do Departamento
Penitenciário Nacional, do Ministério da Justiça, conforme Decreto n.º 4.991, de 18 de fevereiro
de 2004. Tem por missão zelar pelo cumprimento das normas da execução penal e pelo respeito
à dignidade do indivíduo sob a tutela do Estado brasileiro. Visa estimular e apoiar a criação e o
funcionamento de Ouvidorias do sistema penitenciário dos demais entes da federação. Essa
medida favorece o intercâmbio de informações e maior celeridade na resposta ao cidadão.
48
SITE GOV.BR. Ouvidoria Nacional de Serviços Penais. Disponível em: https://www.gov.br/depen/pt-
br/canais_atendimento/ouvidoria Acesso em: 31 jan. 2023.
71
das áreas de atuação desta Ouvidoria49.
Conselhos penitenciários
O Conselho Penitenciário do Estado de Minas Gerais (COPEN/MG) integra a área de
competência da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública como órgão consultivo e
fiscalizador da execução da pena.
São de competência do Governador do Estado as designações dos membros efetivos e
suplentes, com mandato de 4 (quatro) anos, sendo permitida a recondução. Os membros do
Conselho Penitenciário são compostos por representantes do Ministério Público Federal,
Ministério Público Estadual, Defensoria Pública da União, Defensoria Pública do Estado,
Ordem dos Advogados, bem como professores das ciências penais e correlatas de instituições
de ensino superior.
Para a consecução de seus objetivos, compete ao Conselho Penitenciário do Estado de
Minas Gerais:
Conselhos da comunidade
No artigo 4º da Lei de Execução Penal é disposto que o Estado deverá recorrer à
cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da medida de segurança. Um
49
SITE OUVIDORIA GERAL MG. Ouvidoria do Sistema Penitenciário e Socioeducativo. Disponível em:
https://www.ouvidoriageral.mg.gov.br/ouvidorias-tematicas/ouvidoria-do-sistema-penitenciario Acesso em: 31
jan. 2023.
50
SITE SEJUSP MG. Conselho Penitenciário Estadual (COPEN). Disponível em:
http://www.seguranca.mg.gov.br/sobre/conselhos/conselho-penitenciario-estadual-copen Acesso em: 31 jan.
2023.
72
dos principais suportes oferecidos ao cumpridor de pena ou medida de segurança, senão o
principal, é o Conselho da Comunidade, pois, sendo ele bem constituído e atuante, tornará essa
tarefa árdua um pouco mais branda.
No artigo 80 da mesma lei afirma-se que haverá, em cada Comarca, um Conselho da
Comunidade, composto, no mínimo, por um representante de associação comercial ou
industrial, um advogado indicado pela seção da Ordem dos Advogados do Brasil e um assistente
social escolhido pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional de Assistentes Sociais. Na
falta da representação prevista nesse artigo, ficará a critério do juiz da execução a escolha dos
integrantes do Conselho. Em seu artigo 81, a Lei de Execução Penal apresenta as atribuições
do conselho da comunidade, a saber:
SAIBA MAIS!
Amplie seus conhecimentos sobre a relevância dos Conselhos da Comunidade na
reintegração social, acessando https://www.youtube.com/watch?v=A0H6suNRzMA
Defensoria Pública
Órgão atuante na Execução Penal, que presta assistência jurídica às pessoas condenadas
criminalmente e em cumprimento de pena. Seguem alguns exemplos de atuação:
Velar pela regular execução das penas e das medidas de segurança, em todos os graus
e instâncias, de forma individual e coletiva;
Requerer a unificação de penas, a detração, a remição da pena, saída temporária,
autorização para trabalho externo, progressão de regime, livramento condicional,
pedidos de salvo conduto, levantamento de pecúlio, indulto, comutação, transferência
de presos;
Solucionar questões relativas ao monitoramento eletrônico;
Encaminhamento pessoas drogaditas em cumprimento de pena para internação;
Inspecionar e visitar periodicamente os estabelecimentos penais;
Requerer interdição de estabelecimento penal.51
51
SITE DPMG. Serviço / Criminal - Saiba o que a Defensoria Pública de Minas Gerais pode fazer por você.
Disponível em: https://defensoria.mg.def.br/?servicos=criminal Acesso em: 31 jan. 2023.
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ATENÇÃO!
Todos esses órgãos atuam na execução penal a fim de garantir que os Direitos Humanos
das pessoas privadas de liberdade sejam respeitados. Eles produzem relatórios de inspeção
prisional, os quais são de extrema importância para se construir um retrato correto da realidade
dos estabelecimentos prisionais no país.
74
REFERÊNCIAS
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução de Paulo M. Oliveira. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
BENEVIDES, Maria Victoria. Cidadania e Direitos Humanos. São Paulo: Instituto de Estudos
Avançados da Universidade de São Paulo. Disponível em:
http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/benevidescidadaniaedireitoshumanos.pdf/view
Acesso em: 27 nov. 2022.
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Regras de Mandela - regras mínimas das Nações
Unidas para o tratamento de presos. Série Tratados Internacionais de Direitos Humanos.
Brasília: CNJ, 2016a.
CIDH. Princípios e Boas Práticas sobre a Proteção das Pessoas Privadas de Liberdade
nas Américas. 2008. Disponível em:
https://www.cidh.oas.org/pdf%20files/PRINCIPIOS%20PORT.pdf Acesso em: 07/02/2023.
CNJ: Regras de Bangkok: regras das Nações Unidas para o tratamento de mulheres presas e
medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras. Brasília, 2016. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/09/cd8bc11ffdcbc397c32eecdc40afbb74.pdf
Acesso em: 31 jan. 2023.
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DISTRITO FEDERAL. Manual de gestão de parcerias GDF e organizações da sociedade
civil. 2018. Disponível em: https://www.casacivil.df.gov.br/wp-
conteudo/uploads/2018/11/Manual-MROSC-DF-FINAL.pdf Acesso em: 31 jan. 2023.
ENDO, Paulo. Sobre a prática da tortura no Brasil. Revista USP. São Paulo, n. 119, p. 43-58,
outubro/novembro/dezembro, 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/revistausp/revista-
usp-119-dossie-3-sobre-a-pratica-da-tortura-no-brasil/ Acesso em: 31 nov. 2022.
MINAS GERAIS. Lei Estadual Normas de Execução Penal (11.404/94). Disponível em:
https://leisestaduais.com.br/mg/lei-ordinaria-n-11404-1994-minas-gerais-contem-normas-de-
execucao-penal. Acesso em 27 nov. 2022.
OAS. Carta das Nações Unidas. São Francisco, 1945. Disponível em:
https://www.oas.org/dil/port/1945%20Carta%20das%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas.
pdf. Acesso em: 27 nov. 2022.
OAS. Princípios e boas práticas para a proteção das pessoas privadas de liberdade nas
américas. 2009. Disponível em:
https://www.cidh.oas.org/pdf%20files/PRINCIPIOS%20PORT.pdf Acesso em: 07 fev. 2023.
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assembleia Geral das Nações Unidas
em Paris, 1948. Disponível em https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-
direitos-humanos Acesso em 13 nov. 2022.
ONU. Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Rio de
Janeiro, 2008. Disponivel em:
https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BDL/Declaracao_das_Nacoes_Unid
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SITE UNODOC. Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos
(Regras de Nelson Mandela). Disponível em: https://www.unodc.org/documents/justice-
and-prison-reform/Nelson_Mandela_Rules-P-ebook.pdf Acesso em: 31 jan. 2023.
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