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Fernando Barcellos de Almeida

E professor de Direito Constitucional, por


concurso piiblico, na TJNISINOS - Universidade
do Vale do Rio dos Sinos, localizada no munici-
pio de São Leopoldo, Estado do Rio Grande do
Sul, na qual lecionou tambrn Direito Internaci-
onal PiIblico.
Foi Procurador da Fazenda Nacional, concur-
sado, cargo onde se aposentou.
Conseiho SüiöYdbJnstitu-
to dos Advogados do Rio Grande do Sul (IARGS),
de onde foi também Vice-presidente, Diretor Te-
soureiro e Diretor Secretrio. E membro efetivo
do Instituto dos Advogados Brasileiros.
Foi Presidente da Associação Americana de
Juristas, Secão do Rio Grande do Sul (AAJ/RS).
--E—Consu-1-tor Juridico da Associação dos
Previdenci.rios e Servidores Piiblicos
(APRESUL), s6cio fundador da Associação dos
TEORIA GERAL
Advogados Trabalhistas (AGETRA), do Sindica-
to dos Advogados do Rio Grande do Sul e Dire-
DOS
tor do Centro de Estudos Juridicos e Sociais.
Exerceu as funçôes de Conseiheiro da
DIREITOS HUMANOS
Seccional do. Rio Grande do Sul da Ordern dos
Advogados do Brasil (OAB/RS), onde ocupou as
- - func6esde Corregedor, Presidente de Comissão
de Seleão--e -Prerrogativas, residente de -Cornis-
são de Etica e Disciplina, Presidente de Comissão I FESP-
de Dfesa e Assistência e Presidente da 2 Cma-
ra.
Presidiu as comissôes organizaddras do X Con-
gresso F.stadual de Advogados, do Congresso Pon-
tes de Miranda e do 10 Congresso Brasileiro de
Direito ?rocessual Civil.
E autor de "Questôes Bsicas da Reforma
Agr.ria e Constituinte", publi6àcã6 döIARGS,
corn .ieedicão, e de uma traducãd do original in-
glês para o portugues comentada, do documento
ingles de 1953 denorninado Instrumento de Go
verno alem de muitos artigosem jornais e revis
tas.

I
Fernando Barcellos de Almeida
Professor na UNISINOS de Direito
Constitucional e Internacional Piib1ico

TEORJAGERAL
DOS
DIREITOS HUMANOS

Sergio Antonio Fabris Editor


Porto Alegre, 1996
© Fernando Barcellos de Almeida

DEDICATORIA
Dtzgramacao:
PENA - Composicâo e Arte
A ORLANDO

Foi urn lutador por uma hurna-nidade mais solidaria e -consequentemen-


te foi defensor dos Direitos Humanos e das garantias e liberdades fundamen-
tais.
Devido a essa denodada luta sofreu torturas, discriminaçôes, injusticas e
yeses foi considerado criminoso sob acusaçôes poilticas.
Mas n3o foi processado nem condenado pelos crimes comuns que come-
teu, corno o de falsificaçâo de documentos de identidade para -perseguidos-
polIticos e de falsidade ideoldgica e documental. Nern pelos crimes de con-
fecçâo e impresso em mime6grafos de jornais, como "0 Povo", e panfletos
considerados ilegais pela legislaco da 6poca e muitos mais.
Sofreu três prisôes polIticas, a prirneira em 1964, ap6s o golpe de Estado
de 10 de abril (dia dos bobos), quando sofreu torturas, pelo antigo DOT'S
(Departarnento de Ordem PolItica e Social), por rneios artesanais, como bo-
fetadas e tortura chinesa (ficar de pé sern dormir durante toda uma gélida
noite e madrugada); a segunda em fins de 1965 pelo Serviço Secreto do Exér-
cito diante de uma farsa da insurreiçâo montada pelo governo corn a denomi-
Reservados todos os direitos de publicacâo, total ou parcial, a nação de "Operaco Pintassilgo", sofrendo tortura apenas psicol6gica e
SERGIO ANTONIO FABRIS EDITOR intimidat6ria; a terceira, em marco de 1975, pelo DOl-CODI (Departamen-
Rua Miguel Couto, 745 to de Operacôes e Investigacão), quando sofreu torturas fisicas e-psicol6gicas,
CEP 90850-050 j a ento por meios "cientlficos", aprendidos dos técnicos norte-americanos da
Caixa Postal 4001 CIA, como Dan Mitrione (que -dava aulas praticas, ao vivo) e aplicadas por
GET' 9063 1-970 militares dos 6rgaos de repressão federais, que prenderam, naquele dia 18-3-
Fone: (051) 233-2681 75, centenas de gaiichos e milhares de brasileiros sob a incrIvel acusação de
Porto Alegre - RS exercerem o direito de manifestaçâo do pensamento.
SUMARIO

Esciarecimentos Prefaciais . 11

P Parte
Por uma Teoria Geral dos Direitos Humanos ......................................... 13
1 Introduco ........................................................................................... 13
.

2. Direitos Humanos, Poder e Estado ..................................................... 17


2.1. Poder e Estado ............................................................................. 17
2.2. Conceito de Estado em face dos Direitos Humanos ..................... 18
3. Conceito Geral de Direitos Humanos ................................................. 19
3.1. Direitos Humanos, Ideologia e Dia1tica ...................................... 20
3.2. Visâo Ideol6gica dos Direitos Humanos. ...................................... 23
4. Direitos Humanos, Liberdades, Garantias .......................................... 24
4.1. Conceito de Liberdade.................................................................. 26
4.2. Liberdade no Capitalismo ............................................................. 27
4.3. Liberdade e Soviet ismo ................................................................ 30
4.4. Garantias ...................................................................................... 32
4.5. Privilgios ..................................................................................... 34
4.6. Prerrogativas ................................................................................. 34
D. Restriçôes i.s Liberdades ....................................................................... 35
5.1. As Restriçôes das Restriçôes as Liberdades ................................... 37
5.2. PrincIpio da Proporcionalidade .................................................. 38
5.3. PrincIpio da Razoabilidade .......................................................... 42
6. Evoluçâo Histórica dos Direitos Humanos .42 2 Parte
7. Fundamentos dos Direitos Humanos .................................................. 47 TEORIA GERAL DAS VIOLAçOES DOS DIREITOS HUMANOS
7.1. Direitos Humanos na Guerra ...................................................... 49
7.2. AsRazôesdoLobo ..................................................................... 50 -. .14. Umà Teoria Geral das Violaçôes .................................................
8. Divergências e Convergncias .............................................................. 50 _-_----1-5..- Violaçâo e Poder ...............................................................
9. Os Direitos Humanos em Espcie ....................................................... 53 Grupos Exciuldos ........................................................................... 117
a
9.1. Direito Vida .............................................................................. 54 16.1. Mulheres .................................................................................. 117
16.2. Infância e Juventude .................................................................. 117
9.1.1. Direito Vida no Direito Constitucional Brasileiro ............. 55
9.1.2. Direito Vida no Direito Internacional ............................... 56 16.3. Indigenas ................................................................................... 119
9.1.3. Vida e Morte ........................................................................ 57 1-7:As Violaçôes no Mundo de Hoje ..................................................... 120
9.1.4. Vida e Morte no Direito Constitucional Português .............. 58 18. A Insidiosa Fundamentação das Violaçôes ...................................... 121
9.1.5. Direico Vida, Somente Humana ...................................... 60
.
18.1. Tortura na FormadaLei... ........................................................ ...... 121
9.1.6. Direito de Matar................................................................... 63 18.2. A Tese dos Dois Demnios ...................................................... 122
9.2. Direito Seguranca e Liberdade do Temor.................................. 63 18.3. A Teoria da Obediência Devida ................................................ 123
9.3. Direito a Privacidade ................................................................... 63 18.4. A Teoria do PontiFi?jilT .......................................................... 124
9.4. Liberdade de Expresso ......................... ....................................... 64 19. A Tcnica Mundial da Tortura ........................................................ 125
9.5. Direitos Processuais ...................................................................... 65 19.1. Instrumentos...de.To.rtiru.ma ExposicãeMa-ndial4tinrante.A.27..
9.6. Direito de Locomoço .................................................................. 68 19.2. Modernizaç.o da Tortura ........................................................ 129
9.7. Direito a Nacionalidade ................................................................ 69 20. Penas e Tratamentos Cruis, Desumanos e Degradantes .................. 130
9,8. Direito a Moradia ........................................................................ 71 21. Assassinatos, Chacinas, Impunidade ................................................. 131
9.9. Direitos de Terceira Geracão ........................................................ 76 Misria e Fome .................................................................................... 135
9.10. Direito ao Trabaiho....................................................................... 78 Teoria da Violaçâo Competente ....................................................... .136
9.10.1. Direito do Trabalho .......................................................... 82 23.1. Antidemocracia no Itamar-ati ................
9.10.2. Protecâo internacional ao Trabaiho .................................... 90 23.2. Documentos Escondidos........................................................... 145
9.10.3. Origem do Direito ao Trabaiho ........................................ 92 Conclusôes ....................................................................................... 148
9.10.4. Proteç.o contra Despedida Injusta e a Convenção 158
daOIT................................................................................. 95 ANEXO I
9.11. Direito a Preguica ....................................................................... 97 Declaração Universal dos Direitos Humanos .......................................151
9.12. Direito aPobreza ........................................................................ 99 ANEXO II
9.13. Direito de Rebelio ................................................................... 101 Declaração de Viena...............................................................................159
9.14. Direitos AtIpicos ...................................................................... 102
10. Direitos Humanos no Liberalismo e no Socialismo ........................ 103 Bibliografia............................................................................................201
11. As Naçôes Unidas e os Direitos Humanos ....................................... 10
12. A DeclaracSo Universal dos Direitos Humanos ............................... 108
13. Proteçâo Internacional dos Direitos Humanosi ............................... 112
ESCLARECIMENTOS PREFACIAlS

Ao Se desenvolver qualquer exposicão escrita, ainda mais quando envo-


ye questôes poilticas, filos5ficas e juridicas, ha uma forte tendncia de Se usar
e abusar de paiavras e expressöes •s6 con-hecidas pelos iniciados. Considera-
mos isso muito ruim para o leitor, mesmo para o nâo leigo e conhecedor da
matria tratada, e muito mais para os estudantes e osçpique começam a
trilhar o caminho sem fim da busca e critica do conhecimento.
Assim, tivernos uma preocupacão constante e dificil de usar, dentro do
possIvel, uma linguagem acessIvel a todos, mesmo aos meramente curiosos
e diletantes, isto 6, aos amadores desse apaixonante terna dos Direitos Hu-
manos, felizmente em niimero cada vez major.
Entretanto, as vezes essa preocupacão levou a urna menor precisão
terminologica, embora em outras vezes ocorreu diferenternente e o desejo de
precisão exigiu urn palavreado mais tacnico.
Como em todo ensaio, são feitas iniimeras citaçôes, ora entre aspas, ora
em tipo itálico ou por abertura de parágrafo de dialogo iniciado por traves-
são.
0 uso constarite de citaçôes tern van-as explicacôes. Urna delas decorre
de urn-a certa ousadia de afirmacão que, então, precisa ganha-r credibilidade
através do apoio de autores consagrados. Em outras ocasies, a citacão é feira
coma ilustração, em outras pam afastar dividas ou incentive-las.
A fonte dessas citaçôes 6 feita junto a elas. Evitaram-se as notas de rodap
tanto para a referncia das fontes como para observaçôes sobre o texto. Se a
ausência de notas de rodap6 6 positiva ou ngo, dir o leitor.
Nas questôes jurIdicas, e mais ainda nas questôes ora em apreciaco, exis-
te uma sria dificuldade de significado de palavras e expressöes e de uso de
umas por outras, de definiçöes imprecisas, de traduçes traidoras.
Neste trabaiho a expressào Direitos Humanos 6 usada largamente , a
começar pelo tItulo principal, porque entendemos que 6 a meihor para
designar a area de protecão dos individuos e das comunidades contra o des-
respeito a sua dignidade como pessoa humana ou coletiva. ia PARTE
Grafamos Direitos "Humanos" e ngo "do Hornem" porque essa 6 a tra-
ducâo mais precisa para a expressâo inglesa "Human Rights" e porque "do
POR UMA TEORIA GERAL
Homem" poderia ser entendido como excluidor das mulheres. Na Revolu-
çâo Francesa a Declaraco dos Direitos do Homern e do Cidadgo exciula DOS DIREITOS HUMANOS
efetivamente as mulheres, porque na 6poca era inconcebIvel dar direitos polI-
ticos s muiheres. Na Assemblia dos Estados Gerais, corn 600 integrantes,
e depois transformada em Assemblia Nacional e em Convençâo Nacional,
não havia urna inica mulher.
Alm disso, no final do governo do presidente Jose Sarney, no Brasil, 1. INTR0DucA0
várias entidades femininas solicitaram-lhe e ele atendeu que, pelo menos nos
documentos oficiais, a traduçâo fosse sempre "Direitos Humanos". A terntica dos Direitos Humanos admite urn tratamento de teoria ge-
ral, isto 6, urn tratamento que exponha e sistematize os seus grandes princIpi-
os universais, que examine os enfoques particulares e comuns do tema em
todos os tempos e em todos os espacos, que tome poss{vel o encontro de
convergências nas suas variadas concepcôes, que denuncie as violaçöes aos
Direitos Humanos em qualquerlugar do mundo cotho. atentado a toda a
humanidade, que mostre a universalização do terna e a proteco nacional,
regional e internacional dos Direitos Hurnanos.
Para se atingir esse objeuvo, um aspecto preliminar a examinar refere-se
ao significado de teoria e de teoria geral. Segundo dicionaristas, teoria urn
conjunto de principios fundamentais, numa visão especulativa, de leis, prin-
cIpios e hip6teses, sistematicamente organizados, corn vistas, atravs de sua
verificaçâo, confirmacão e correçâo, a tentar explicar urna realidade determi-
nada.
A palavra teoria vem do grego "theoreo", que significa contemplar, exami-
nar, estudar. Por isso, em geral, d-se ênfase ao caráter contemplativo,
especulativo, abstrato das teorlas, não se devendo, porrn, afastá-las das suas
importantes repercussôes prticas.

12 13
Sob uma visão mais cientIfica, teoria tarnbrn pode ser encarada como No ambito do .espaco, os Direitos Hurnanos so encarados de maneira
urn conjunto de leis que procuram explicar, sob uma certa dtica, a realidade, peculiar e diferenciada, segundo as concepçôes prevalentes em cada comuni-
os fatos concretos, e lei nesse contexto significa a relação necessria entre dad-c, em cada grupo religioso, em cada ideologia, em cada facção politica, em
coisas, fenmenos e processos, relação essa ernanada de sua natureza interna, cada situação de paz ou de violência, mas sem que isso elimine os pontos -
unsentresi. -
da sua essência. A lei não 6 inventada mas 6 descoberta, quando o ser huma-
no verifica a repeticão necessria de urn fenmeno. Corno exemplo temos a Essa evolução no tempo e diferenciaçoes no espaco vão ter cod conse-
lei da major mortalidade infantil entre os pobres, porque se nota repetida- qüncia urn estreitamento ou alargamento na definição tedrica e na aplicacão
mente que, quanto major a pobreza, major 6 o Indjce de mortes entre crian- prática dos Direitos Hurnanos.
H- setores dos Direitos Hurnanos onde tern havido urn rnaior alarga-
ças.
mento das suas concepcôes e portanto não poderiam ser ignorados nurn estu-
Isso ) A era dito hA três sculos por Montesquieu: As leis são as re1acâes-te-
cessárias decorrentes da natureza clas coisas (Do espirito clas leis, Ed.Edjouro, do de teoria geral dos Dire itos Humanos. Eles são, por exemplo, os seguin-
Rio, pig. 41). Urn conjunto de leis vaj constituir urna teoria e urn conjunto tes-: - - - . ---
de teorias que tentarn explicar a realidade, vai constituir urna ciência. a
direito liberdade das pessoas;
Corno lembra o padre Pedrinho Guareschj, em sua Sociologia Crftica a
direito igualdacle entre as pessoas;
(Edicôes Mundo Jovern, 1992, 29 edicão, página 12), a gente bebe teorias, direitos coletivos, isto é, das pessoas socialrnente agrupadas, e dire itos
respira teorias, come teorias, a gente corneça a marnar teorias corn 0 leite difusos que protegern simultanearnente o indivIduo e a sua cornunidade;
materno ( ... ) e sd é realmente livre aquele que conhece suas teorias. Ele diz direitos das rnulher,dosnão-b.rancos, das- ci.a-nca-s-d-as-i-n-orias
tambérn que é preciso ter cuidado corn as teorias e ver o "vazio" que elas atnicas e religiosas e de outro grupos tradicionalmente discriminados;
deixam para trs. Esse vazio, s vezes, não pode ser mesrno preenchido. Al- direito paz e seguranca internacionais e ao desenvolvimento;
gumas vezes ele pode ser preenchido, rnas 6 dejxado incompleto de propdsi- I) direito a urn rneio ambiente sadio;
to. Isto 6, h interesses em se deixar urna coisa mal explicada, pois do contra- direitos dos grupos excluIdos socialrnente;
rio ela poder nos prejudicar. direito a urna protecão internacional contra a violação dos Direitos
Esse vazio pode ocorrer tarnbrn corn urna teoria geral. E o que nos Humanos, inclusive contra o genocIdio, o apartheid, o desalojarnento de pes-
interessa neste trabaiho é a Teoria Geral dos Direitos Hurnanos, onde hurn soas.
enorrne vazio. Para ser geral, a teoria tern de ser ap116vel a todos espacos e Esses são Direitos Humanos do presente, alguns também do passado,
a todos os tempos, rnas h. urna larnentável e geral quase unanimidade no rn-as todos des principairnente do.futuro, face ao acelerado processo de sua
sentido de ignorar a existncia de uma Teoria Geral dos Direitos Hurnanos, .progressiva aceitação e acatarnento.
isto 6, ha uma tendência de se cons iderar que os Direitos Hurnanos são estri- M palses que estão mais adiantados na teoria e na pratica da efetividade
tamente peculiares a cada povo, a cada grupo social, a cada classe, a cada de tais direitos. Por isso, o jurista aiernão Robert Alexy fez urn aprofundado
ideologia, a cada credo religioso, corn o que não concordamos, pois entende- estudo de urna Teoria Geral dos Direitos Hurnanos, rnas restrita Repdblica
rnos haver pontos e denorninadores cornuns que embasam a existência plena a
Federal da Alernanha e sua Lei Fundamental. Portanto, se tal estudo é
e insofismavel dessa Teoria Geral. lirnitado territorialmente , sua generalidade não 6 a generalidade universal
No arnbito do tempo, a questão dos Direitos Hurnanos teve uma evolu- visada pelo nosso trabalho.
ção constante, desde a Antiguidade segundo alguns ou desde as revoluçôes Afirma Alexy a folhas 34 e 35 da sua obra (traducão espanhola intitulada
inglesa e frances-a segundo outros, e ainda continua nos dias de hoje tal evolu- Teoria c/c los Derechos Fundamentales, ediçao do Centro de Estudios
ção, sd que agora de maneira mais acelerada e urn pouco mais prdxirno da Constitucionales, Madri, 1993):
eficácia real. Uma teoria geral c/os dzreztosfunclan-zenrazs cia Lei Fundamental (Consti-
tuiçSo da Alernanha) é ama teoria em que Se consideram as problemnas que se

1.4 15
delineiam em todos Os direitosfundarnentazs ou em todos os direitos de liberdacle, 2. DIREITOS HUMANOS, PODER E ESTADO
de igualclade ou cle prestacôes. Sua con trapartza'a é uma teoria particular, que
trata os pro blemas especiais dos direi tos funda men ta is singulares. Essa distinção A questão dos Direitos Humanos vern se tornando nos dias atuais, espe
aponta o alcance da teoria. 0 alcance de urna teoria urn assunto de grau. cialmente a partir do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). e majs
Assim, uma teoria centrada nos pro blemas comuns a todos os direitos de liberdade ainda apds o término da Guerra Fria, o tema mais importante e .polrnico.do
certamente, uma teoria geralporém é menos geral que uma teoria na qual 0 que Direito e da realidade social.
se trata são questöes que afetam todos os direitosfundamentais. F dificil distin- Celso A. Mello chega ao ponto de afirmar que quando tratainos dos Di-
guir entre teoria geral e particular no caso de dire itos fundarnentais que têm reitos Huinanos, tern os a convicção de que todo o resto do Direito passa a ser
caráter de direitosfundamentais gerais, isto é, no caso do dire ito geral de liberda- secunda'rzo (Direitos Humanos na America Latina, artigo da coletnea Cr1-
de e do direito geral de iguald.ade. Nestes casos, já o objeto mesmo possui genera- tica do Direito e do E.stado, Editora Graa, Rio, 1984, pig. 153).
lidade. Porém também aqui sepode distinguir entre uma teoria geral desses direi- Mas ele ressalta que cada urn de nds tern sua visão pr6pria dos Direitos
tos enquanto direitosfundamentais de urn deterrnznado tipo e uma teoriaparti- Hurnanos, temos a nossa ideologia, ou a nossa religiâo, ou nossas influências.
cular que se ocupa de uma interpretacão desses dire itos referida a pro blemas singu- E, por isso, nSo se pode fazer urn "traje de confecço", que assente em todos.
lares. Porém, ha coisas em comurn em qualquer acepço dos Direitos Huma-
Essa, portanto, 6 outra dtica de uma teoria geral, ou seja, uma anlise nos e urna delas é que falar em Direitos Humanos é falar simultanearnente
integrativa que abranja os enunciados mais gerais dos direitos fundamentais nos que detêm o poder e nos que n5o o detm.
num determinado pals.
Mas Robert Alexy enxerga os direitos fundamentais pelo cristal da Lei
Fundamental da Alemanha atual e nâo muito atual pois ele no examina o 2.1. PODER FESTADO
que houve, no assunto, no âmbito da ex-Repdblica Democrática da Alema-
nha (RDA) e em Berlim de trs do muro, agora anexadas Repdblica Federal 0 poder polItico é organizado na figura do Estado. Surge-nos, ento, a
da Alemanha (RFA), mas ainda carregando no seu bojo cultural conceitos obrigacao de encontrar urna definiço de Estado que abranja todas as situa-
diferenciados. côes, isto é, urna definiço geral de Estado que mencione:
Tanto é assim que Alexy considera "mais influente" o resumo de cinco os detentores do poder (governantes) e a Iirnitaçâo desse poder;
teorias dos direitos fundamentais, apresentadas por E.W.Bockenförde, quais e também os não detentores do poder (os governados) e seus direitos
sejam: em relação aos donos do poder.
a teoria liberal ou do Estado de direito burguês; Nas aulas e livros de Teoria Geral do Estado, a definiçao mais apresenta-
a teoria institucional dos direitos fundamentais; da é erroneamente atribulda a Johan Kaspar Bluntschli e assim expressa
a teoria axiol6gica dos direitos fundamentais; repetitivamente: "Estado é a naço politicarnente organizada".
a teoria democr.tico-funcional; e Mas Bluntschli, o professor alemâo da Universidade de Heidelberg, nunca
a teoria do Estado social dos direitos fundamentais. escreveu essa frase como estC enunciada acima. Em 1868 publicou uma obra
Não aparece uma teoria que normalmente se despreza, mas que existe intituada, na traducSo francesa, Droit public général basésur l'histoire (Direito
concretamente embora ainda sem muita precisão cientifica, que merece ser pblico geral baseado na histdria). Depois, em 1875, dividiu-a em tres obras
esmiuçada num estudo de teoria geral dos direitos fundarnentais, a qual seria: e a primeira intitulou de Teoria Geral do Estado, expressâo usada pela pri-
a teoria socialista dos direitos fundamentais, corn suas nuances, defor- meira vez no mundo, apesar de se atribuir tal prirnazia a outro professor da
maçôes e avanços e recuos, que também se apresentam em qualquer das ou- Universidade de Heidelberg, George Jellinek, por obra publicada em 1900.
tras cinco teorias relacioriadas por Bockenfbrde. Segundo Bluntschli, são caracterIsticas comuns do Estado:

16 17
urn certo niirnero de seres humanos; • CONCEITO DE ESTADO: Estado C a pessoa coletiva de djrejto pb1i-
urna relação perrnanente entre uma nação e urn determinado co que ocupa ou pleiteia justificadarnente urn territCrio definido, formada
territ5riO; por urn povo mais ou menos hornogêneo constituldo em naçâo, dotada de
urna cornunhão de interesses; -soberania e em conseqüencia desta, poradora de urn podercoercitivo,-.exer.
uma oposicâo entre governantes e governados, ou seja, entre autori- cido por urn grupo social dorninante, representante de uma rninoria privile-
dade e sujeitos; giada ou de urna maioria, o qual dirige todo urn complexo de atividades pra
constituir urn ser vivo e orgânico. ticas e te6ricas atuantes na sociedade civil e politica e corn as quais justifica e
E Bluntschli assim resume: Estado é urn conjunto de IJomens compondo rnantCrn seu dornInio e obtCrn o consenso ativo dos governados atravCs de
unia pessoa orgânica e moral, sobre urn determinado terrzto'rlo, na forma de violências ou atravCs de concessôes rnaiores ou rnenores no mbito especial-
governantes e governados. Faltou falar apenas na soberania. friente dos direitos humanos civis ou sociais.
Esse conceito peca pela sua extensâo, mas, se tentarmos resurni-lo, per-
2.2. CONCEITO DEESTADO EM FACE DOS derernos caracteristicas essenciais 'Ele deixa claro que o poder C exercidopór
DIR EITOS HUMANOS urn grupo social dominante e o dornInio C consensual, sempre corn alguma
ou rnuita limitaçâo do poder atravCs da concessâo Direitos Humanos..
Corno o fez Bluntschli no século XIX, o conceito geral de Estado tern, Para se chegar a urn outro conceito, mais condensado e rnais genCrico,
além dos seus três elementos constitutivos - povo (ou nacão), territ6rio e poderiarnos afirrnar o seguinte:
governo (corn soberania) - levar ern consideraço tarnbérn a confrontaçâo Eso é a organ zzação -pol-C ieazatonal, soberana, e
entre governantes e governados, a 1imitaço relativa, major ou menor, dos apareihos zdeoldgzcos pi-/blicos e privados, dirigida e dominada por urn grupo
poderes dos governantes, e a outorga de direitos aos governados. social, que mante'm e justifica sua domznaçao e obte'm o consenso imposto a toda
Não é urn conceito completo de Estado o sugerido por Leon Duguit: a naçâo atrave's daforca bruta ou por mew da concessão lirnitada de direitos e
Estado é urn complexo cle governantes e governados, pois esse conceito cabe ate liberdades fundamentais.
em urn clube de futebol, mas ele tern a virtude de realçar exatamente aquilo
que deve rnais ser realcado, ou seja, a oposição entre governantes e governa-
dos. 3. CONCEITO GERAL DE DIREITOS HUMANOS
Tarnbém cabe lembrar o conceito sugerido por Max Weber: OEstacto é
n uma relacao de hornens dominando homens, relacao manticlapor mew c/a violén Os Direitos Humanos estão inseridos no contexto de Estado nacional,
cia legitirna, isto é consideracla corno legitirna. Porérn, tambérn é incornpleta, embora aos poucos venham se tornando internacionais. Por isso eles tendern
pois se adaptaria tanto a uma prisão como a urn quartel, rnas ele dA relevo a estar expressamente inseridos nas Constituiçöes nacionais e nos grandes
categoria dominaco e a de violência considerada legItirna, claro que contra docurnentos internacionajs.
os governados. Torna-se necessirio, então, dar uma definiçao universal, a rnais precisa
0 conceito apresentado por Anthnio Gramsci, rios Cadernos do Ca'rcere possivel, do que sejam Direitos Hurnanos. Isso enfrenta algumais dificul.da-
C do seguinte teor: Estado C todo urn complexo de ativzdades prdticas e teóricas des tais como:
corn as quals a cla.sse thrigente naoso Justifica e man tCrn seu domInw, corno tam- a) porque as pessoas estão viciadas a definir palavras e expresshes possui-
bern /0gm obter o consenso ativo dos governados. doras de algum contesido politico de acordo corn seu ideário, sua filiaço
Urn conceito completo e geral de Estado seria obtido corn a ampliacâo partidCria, suas preferCncias ou de acordo corn as influCncias ideol6gicas que
do conceito de Grarnsci, mediante o acrCscirno dos trCs elernentos constitutivos sofrem, portanto corn a visão geral do rnundo adotada, sugerida ou imposta
do Estado e de urna referCncia aos Direitos Hurnanos, ou seja: e, dessa maneira, Se usado urn certo parcialismo tornar-se-ia mais fácil dar a

18 19

5,
definicão de termos e expressôes, o que, porm, vai contra nosso desejo de Mas essa conceituaç5o cofltrapôe-se possibilidade da existêncja de uma ideo-
encontrar uma definico tao imparcial quanto possivel; logia da classe operaria, num sistema de Estado socialista. 0 que ocorreu no
b) porque muitos negam que o conceito de Direitos Humanos seja urn Estado soviético merece ser repensado. Após mais de 70 anos de Estado
.

conceito universal e qbe ele seria urn conceito apenas ocidental, como defen- akgadamente dominado pela classe proletria, em que toda a parafernália
de, por exemplo, Raimundo Panikkar, te6rico indu, mas ressaltando que o . estatal e partidária procurava inculcar uma nova ideologia, em-verdade essa
mundo não deve renunciar a proclarnar ou a colocar em prtica os Direitos nova-ideologia era vazia no seu interior e prevalecia a ideologia burguesa do
Humanos (no artigo E a Nocãodos Dire itos do Hornem urn Conceito Ociden- individualismo acima de tudo, do fortalecimento do Estado, ao invs de seu
..
tal ?, publicado em traduçâo portuguesa na revista D16genes, da Universidade fenecimento. As leis da dia1tica, tao importantes para entender as ideologias
de Brasilia, no 5, 1983, p.ginas 5 a 28). e suas repercussôes na vida social, foram colocadas de pernas para o ar e pas-
Panikkar e os demais contestadores do conceito universal dos Direitos —sar-arn--ater-efeitos perversos que culminaram corn a queda do Muro de Berlim
Humanos não negarn que exista efetivamente uma natureza hurnana an iver- - --- e corn a implosão da União Sovitica.
sal, embora essa natureza do ser humano não seja totalmente especIfica T e eo.ricamente, a dialética a cincia das leis gerais do movimento e do
distinta da natureza dos demais seres vivos e principalmente dos outros seres desenvolvimento da natureza, da sociedade humana e do pensamento. Todo
vivos animals. o Universo, inclusive os seus integrantes humanos, estão sujeitos s leis ge-
Ao lado e talvez acima dos Direitos Humanos, existe a categoria dos rais da dialtica, mas 0 movimento próprio da dialética tern algumas maneiras
Direitos Csmicos, direitos ainda mais universais dos quais o ser humano 6 0 peculiares de se manifestar. Existem trs formas fundamentais de dialética,
centro mas limitado este pela vedacão de urn apartheid, vedação essa que se relacionadas entre si e que são: ........................-_____________
concretiza concretarnente nos dias de hoje pelos movimentos ecol6gicos, em a dialética cia flattireza, que cuida das forrnas de movimento material
defesa de espcies arneaçadas de extinção, pela proclamacão dos direitos dos dos seres, coisas e objetos da realidade. A realidade está em constante proces-
animals, contra as experincias e armas nucleares, contra o lixo atbmico so de rnutação e esta se produz em todos as sentidos, inclusive mediante
ocenicO e c6smico e tantos outros similares. inter-relaçao, iSto é, relação de uns sobre outros, entre o reino inorgnico e o
reino org2nico, entre o reino vegetal e 0 reino animal, entre Os animais irra-
cionais e os seres humanos e assirn por diante ;
3.1. DIREITOS HUMANOS, IDEOLOGIA E DIALETICA a dialética sóczo-hzstórzca, que trata das mutaçôes hist6ricas da socieda-
de humana, e especialmente das passagens de uma formação social para outra,
Quanto primeira dificuidade, exposta na letra "a" supra, a visão geral onde surge a importncia da consciência humana ;
do mundo decorre de uma ideologia adotada ou imposta consciente ou in- a dzaléttca corno rnétodo depensarnento e de investigacão, onde as leis da
conscientemente, por urna pessoa humana ou por grupo de pessoas, e implica diaitica vão influenciar a abstração humana sobre a movimentação na natu-
em diferentes concepçes sabre as mais variadas questöes. reza e na hist6ria, corn urn procedimento pr6prio de investigacão do real,
A ideologia, numa definição sucinta, 6 a maneira de pensar que caracte- corn alguns traços distintivos pr6prios, relacionados por George Lukacs, que
riza urn indivIduo ou urn grupo social. Mas as pessoas, em geral, são ele chamou de "determinaçoes decisivas da dialtica"
impregnadas de ideologias extranhas ao seu grupo social, que lhe são trazidas ação reciproca do sujeito e do objeto;
e impostas pelos chamados apareihos ideol6gicos do Estado. Por isso, Karl unidade da teoria e da prxis;
a consciência
Marx, em sua obra A Ideologia Alernã, escreve que a ideologia modificação histórica do substrato das categorias como fundarnento
da realidade na qua-i os homens e as circunstânclas aparecern de cabeça pars da sua modificação no pensamento.
baixo, tal coma numa cmara escura de fotografia, ou seja, as ideoiogias sao As lets cia dialética são poucas mas fundamentais para o rnétodo dlétjco.
formas de consciência faisa, são sistemas de idias distorcidas e enganadoras. Aiguns citarn trs leis, que seriam: 1) lei da transição da mudança quantitativa

20 21
para a qualitativa; 2) lei da unidade e luta dos contrrios; 3) lei da negacão da nascer do Sol. A claridade matutina surge aos poucos e de repente nce o Sal
negacão, conforme V. Podosetnik e OXakhot, em Pequeno Manruil do Mate- corn toda a sua luminosidade. Isso se repete, ao contrario, no ocaso do Sol.
rialismo Dialético, Editora Argumentos, São Paulo, SP, 1967.
Essas leis da dialética são aplicaveis em qualquer setor do conhecirnento
e portanto também nos Direitos Humanos, tanto no seu surgimento, como
0 francs Jean-Marie Brohm, em 0 Que Dza1étzca (Editora Antidoto )
no seu reconhecimento através das declaraçôes, como na sua aplicacâo e na
Lisboa, 1979), refere-se a cinco leis da diaitica: a) lei da mudanca, do movi-
mento e da transformacão universal; 2) lei da conexão universal e da suaviolação.
lei da negacão da
interdependência recIproca, 3) lei da contradicão; 4)
negacão; 5) lei da passagem da quantidade qualidade.
Essas mesmIssimas leis podern ser desdobradas e agrupadas de maneira 3.2. VISA 0 IDEOLGICA DOS DIR EITOS HUMA NOS
diferente e se tornarn quatro leis: 1) lei da rnudanca dialtica; 2) Iei da ação
A dtica liberal ou capitalista, de natureza essencialmente individualista,
rec{proca; 3) lei da contradicão; 4) lei da transformacão da quantidade em
qualidade ou lei do progresso por saltos, segundo Georges Politzer, Przncz enfrenta questôes corno, por exemplo (apenas como exernplo), a liberdade
pios Elementares de Filosofia, Editora Prelo, Lisboa,
9' edição, 1979, em que a sexual, de uma maneira cada vez mais permissivista, dentro do ponto de vista
2' lei abrange a 2a e 31 de Jean-Marie Brohm. Vejarnos, resurnidarnente, de que é um direito fundamental de cada indivIduo e sd a este cabe resolver,
que significa cada uma delas. corn minimas restriçôes de ordern social.
Lei da rnudanca, do movimento e da transformacão universal. Nada JA sob a dtica socialista, encara-se a mesma questão corn muita restrição
fica onde está; nada permanece a que 6. •Nada escapa.do movimento, mu- - de ordem social, coletivistae—at-é---nie-smo -estatal, impondo-s-e--ao—i-nd-ivkiuo
dança, s transforrnacôes da histdria. Nada ha de definitivo, de absoluto. E uma conduta incoerentemente conservadora.
inevitâvei a caducidade, palavra que deriva de caduco (que cai). Uma coisa Na dtica religiosa islârnica, ha urn enfrentamento da mesma questão de
caduca 6 a que enveihece e deve desaparecer. maneira mais conservadora ainda e corn muitas restriçôes de ordem sagrada,
Lei da ação reciproca. Tudo influi sobre tudo. HA urn encadeamento especialmente quanta ao papel da muiher no contexto social, chegando ao
de açôes dentro de urn processo e entre diferentes processos. 0 movirnento ponto de proibir a muiher de mostrar o rosto em pdblico e permitir a poliga-
diaitico contm em si o processo, o autodinamisrno, que ihe 6 essencial. mia do macho.
Processo vem do latim e significa ato de progredir, de ir em frente, de avan- Mas, nas três visôes acirna, meramente exernplificativas, são grandes as
car. a
divergências em relação questão tratada, coma são grandes as contradiçôes
Lei da contradicão. As coisas transformarn-se na sua contrãria. As internas e externas em reiação questão dos Direitos Humanos.
coisas não sd se transformarn umas nas outras, mas, ainda, uma coisa não Clara está que a conservadorismo dos religiosos preshiterianos é dife-
apenas ela prdpria, rnas tambm outra que 6 a sua contraria, porque cada rente do conservadorjsmo dos budistas, coma diverso é a conservadorismo
coisa contm a sua contrária. Toda coisa 6, ao rnesmo tempo, cia prdpria e a dos liberais do século XVIII em cornparação corn os liberais do final do sécu-
sua contrâria. HA uma unidade dos contrârios. No processo, existe afirma- lo XX.
ção, negacão e negacão da negacão. Em outras palavras, ha tese, antItese e Urn exemplo recente desse processo contraditdrio esta no grave conflito
sintese. interno ocorrido nos Estados Unidos, a partir de novembro de 1995, a res-
Lei da transformacão da quantidade em qualidade. E a lei do progres- peito do deficit do Tesouro Nacional, corn a oposicão parlamentar majorita-
so por saltos. As transformacöes quantitativas são lentas e vai formando na do Partido Republicano impondo carte nos direitos sociais concedidos
urna acumulação, at6 que, num certo momento dessa acumulação, da-se brus- pelo Estado e aumento das despesas rnilitares, enquanto as situacionistas do
camente uma transforrnacão qualitativa. 0 exemplo mais luminoso 6 o do a
Partido Democrata, corn o presidente Bill Clinton frente, defendern uma
redução mais gradual do deficit fiscal para não prejudicar as rubricas orça-

22 23
H
mentrias de direitos sociais, - reflete duas concepcöes parcialmente diferen- abusos do poder. E a que preferirnos usar corn mais freqflncia neste traba-
tes sobre o papel do Estado nos direitos sociais e sobre a organizacão da iho e sempre corn iniciais rnaidsculas para rnelhor acentuar sua importncia.
sociedade, embora, no fundo, republicanos e democratas tenham posicöes Mas, h outras expressôes correlatas, rnuito prdximas da expressão Di-
serneihantes na maioria dos subternas dos Direitos Humanos, mesmo nos reitos Humanos e seguidamente confundidas corn esta.
direitos sociais. - -- José Joaquim Gomes Canotilho, o conceituado constituciona-hista con-
Essa concepcão diversificada do papel do Estado e da organizacão da tehiporâneo português, dA as seguintes conceituaçöes:
sociedade influi decisivamente na questão da definicão dos Direitos Huma- threztos 5O os interesses juridicamente previstos e inerentes ao ho-

c)
nos. mem como indivIduo ou como participante na vida polItica;
Em conseqüncia, repetimos, isso dificulta dar uma definicão consensual libera'acle é o campo de atuação do indivIduo imune intervenção do
dos Direitos Humanos, que sirva a republicanos e democratas, a liberais e Estado (como a liberdade de manifestar o pensamento, etc.);
socialistas, a pentecostais e islamistas, isto 6, uma définicão que sirva a todas garantia é o meio processual (judicial ou administrativo ou rnesrno
as diversificadas visôes gerais do mundo. • material) adequado para a defesa dos direitos (corno, por exemplo, a legItirna
Mas a definição consensual, embora difIcil, é possivel e a que daremos a defesa, o habeas corpus, etc.); e
seguir, busca esse objetivo generalizante, embora sempre possa haver pessoas clever é a conduta, comissiva ou ornissiva, exigida pela ordem juridi-

t
corn entendimento contrrio a ela. ca.
DEFINIAO DE DIREITOS HUMANOS: Direitos Humanos são as Outra classificação, lembrada por Vicente Greco Filho, na obra Tutela
ressalvas e restriçôes ao poder politico ou as imposicôes a este, expressas em Const-ztucional das Liberdades—(-Ed-it-or-a Saraiva, São -Paulo; 198-9–pági-na--39),
declaraçôes, dispositivos legais e mecanismos privados e piiblicos, destinados seria:
a fazer respeitar e concretizar as condiçöes de vida que possibilitern a todo ser threitos matertais, que são aqueles diretamente ourtorgados pelo tex-
humano manter e desenvolver suas qualidades peculiares de inteligncia, to constitucional, o qual define, tambérn, o seu conteiido, exigindo s vezes
dignidade e consciência, e permitir a satisfação de suas necessidades materiais regulamentaç5o por lei ordinária ou cornplementar; sendo exemplos o direi-
e espirituais. to da hiberdade de consciência, o do sigilo de correspondência, o da hivre
0 carter genrico dessa definição seria aceitável at6 pelos adeptos do rnanifestação do pensamento, o do livre exercIcio de qualquer trabaiho e ou-
islamismo fundamentalista ou pelos ciganos. Mas, deve haver urn esforco, tros;
mesmo desses e outros grupos mais radicais a fim de eliminar a palavra "pecu- garantiasforinais, que são aquelas que, sem definir o conteddo do
hares" da expressão "qualidades peculiares" e de acrescentar a palavra "igual" direito, asseguram a ordem jurIdica, os principlos da juridicidade, evitando o
antes da palavra "satisfacão". Corn isso passariam a ser mais efetivos os vrios arbItrio, bahizando a distribuição dos direitos em geral; das quais Vicente
documentos internacionais de rejeicão das discriminaçöes ainda existentes no Greco cita como exemplos o princIpio da legahidade (Ninguém ser obriga-
mundo, como as praticadas contra as muiheres ou por motivos religiosos, do a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei), o da
tnicos e outras mais. isonomia ou igualdade (Todos são iguais perante a lei);
garantlas instrumentals ou processuals, que são as disposicôes que vi-
sam assegurar a efetividade dos direitos materiais e das garantias normais,
cercando, por sua vez, sua aphicacão de garantias; sendo exemplos as garan-
4. DIREITOS HUMANOS, LIBERDADES, GARANTIAS tias do processo, como o da ampla defesa, a instrução contraditdria, etc.
Vicente Greco classifica tarnbém como garantias instrumentais ou pro-
A expressão Direitos Humanos 6 a que tern mais se generalizado para cessua is:
abranger as declaraçôes e mecanismos de protecão do ser humano contra os

24 25

I!
- as garantias da magistratura e as disposicbes que dão eficcia s deci- como agenteS de alguma autoridade supra-individual), em lugares especIfi-
sbes judiciais, corno as que corninam pena de intervenção no Estado ou Mu- cos, em momentos especIficos ou durante atividades especificas. Para além de
nicpio pelo descumprirnento de norma constitucional; certos limites, pode transformar-se em solidão, e proporcionar assim urn sa-
- os prcprios meios de provocacão da atividade judicial: habeas corpus, bor a alguns dos horrores da liberdade "completa" irnaginria. - -
habeas data, mandado de seguranca, mandado de injuncão, etc. 0 horror a repressão, diz Bauman, é contrabalançado pelo-medo da
Vicente Greco salienta a dificuldade de distinguir-se o direito das garan- -solidão. A necessidade de liberdade e a necessidade de iñtèraçâc social -
tias e, dentro destas, as que sejam urn direito em si mesmas e as que são instru- inseparaveis, embora por vezes em desacordo uma corn a outra - parecem ser
mentos para sua efetivação, enfatizando que hoje devem estar uma faceta permanente da condição humana.
indissociavelmente juntos os direitos, os meios de sua instrumentalizacão e as
garantias de eficiência desses meios.
Nas Naçôes Unidas encontra-se em estudo proposta de declaracao uni-
versal dos direitos processuais do ser humano, a firn de que, concretamente, Se- 4.2. LIBERDADE NO CAPITALISMO
jam instrumentalizados os meios de efetivacão dos direitos individuais. Mas
esse documento internacional ser de aprovacão dificultosa e mais ainda sua A solução para resolver a contradiçâo entre a liberdade e a opressâo,
ratificação e eficcia nacional, devido s peculiaridades processuais dos dife- estaria, extranhamente, na liberdade de consumo, profundamente inserida
rentes palses e ate mesmo de unidades federadas, como os Estados dos Esta- nas regras capitalistas.
dos Unidos da America, o que exigiria que o pretendido documento interna- A aqu.isição livre de bens-e-se-rviços, num rnercado-cons-t-rtrIdo-e-d-esen
cional precisasse ser muito genérico e vagO. volvido exatamente para isso, é o que vai trazer seguranca a todos e, em
conseqüência, a felicidade. Essa felicidade trazida pela liberdade de consumo,
integraria a vida boa, isto é, a vida "corn alegria franca e sensual da cornida
4.1. CONCEITO DE LIBERDADE saborosa, dos cheiros agradaveis, de bebidas reconfortantes, do automobilis-
mo relaxante, do prazer de estar rodeado de coisas belas, cintilantes,
A expressão liberdade 6 outra difIcil de conceituar e talvez por isso são consoladoras para a vista".
encontrveis muitas e muitas definicôes, diferentes entre si. Abraão Lincoln, Através do mundo do consurno livre, acentua Zygrnunt Baurnan, o ca-
que tanto lutou pela liberdade, entendia que o homem nunca encontrou uma pitalismo livra-se da praga da competição eliminatria e do monop6lio. To-
definicao para a palavra lzberdade. dos consornem, inclusive o empresário produtor de bens consumIveis, o mer-
j os6 Cretella Jiinior, em seu livro Curso de Liberciades Pblzcas, Editora cado é livre para todos. 0 livre mercado sobrepôe-se livre competicão.
Forense, Rio, 1986, cita vrios conceitos de liberdade, acentuando, porém Em conseqüéncia, o liberalismo e o capitalisrno passarn a integrar urn s6
que essa conceituação caberia mais ao fil6sofo que ao jurista. A este interes- corpo, urn corpo corn duas almas, e ambas calcadas no amplo consumo.
saria o sentido material ou externo da liberdade, o maximum de opcbes dei- No entretanto, h urn grave 6bice para essas conclusöes delirantes dos
xadas ao indivIduo. liberais, que, por não poderem resolver, ignoram-no : é o fato real de que ha,
A conceituação de liberdade admite conclusôes paradoxais e extranhas no rnundo, urn grande niimero de pessoas humanas, mais de urn bilhão (40
por certas correntes de pensamento. mi1hes no Brasil) que estão alijados do mundo do consumo, isto é, que pra-
Assim, por exemplo, o professor de Sociologia Zygmunt Bauman, em ticamente nada consomem, a não ser as pr6prias reservas, numa extranha e
seu livro A Liberdade, depois de longas consideracbes sobre a contradicão "misteriosa" autofagia.
entre liberdade e opressão, chega a urn conceito de privacidade que, para ele, Mas, para alguns, a liberdade 4 uma prerrogativa inerente a natureza
o direito de recusar a intromissão de outras pessoas (corno indivMuos ou humana.

26 LI
Para Jean Rivero liberdade 6 o poder de agir ou não agir, poder de - Disso se deduz que liberdade humana a faculdade de agir corn urn
determinacão, em virtude do qual o homem escoihe, por si, sua conduta pes- rnInimo de restriçôes, devendo estas serem razoaveis, não abusivas e
1973, estabelecidas por lei.
soal (CoursdeLibertésPubliques, 1969, pgina 8; Les Liberts Publiques,
• •Dessa forma, o conceito de liberdade está intimamente vinculado ap
volume I, pgina 14).
Ou, como diz Jacques Robert (Libertés Pub! iques, 1971, pag. 13): Liber- princIpio da legalidade que propugna que ninguém sera obrigado a fazer
dade é a qualidade daquilo que não est sujeito a nenhum tipo de constrangi- tleixar de fazer algurna coisa senão em virtude de lei (Constituicão brasileira
mento fisico, intelectual, psicoh5gico ou moral. E urna qualidade negativa, j de 1988, art. 50, inciso II). Ou, em outras palavras, tudo quanto não for
que reSulta precisamente da ausncia de qualquer constrangimento. proibido pela lei nâo pode ser impedido e ninguérn pode ser constrangido a
Ou, segundo Rene Capitant (Cours cle Principes de Droit Public, 1956-57, • - - fazer o que ela não ordena (Declaracão dos Direitos do Homem e do Cida-
dão, 26-8-1789, art. 5).
polIgrafo, pig. 32): Liberdade de um ser 6 a autodeterminacâo deste ser.
Georges Burdeau considera que a liberdade pode ser interpretada de dois - --- Essa mesrna Declaracão de 1789 afirmava, no seu artigo 4, que a liberda-
-- de consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique a outrem:
modos diferentes. Sob urn primeiro aspecto, liberdade é a ausncia de todo e
qualquer constrangimento. "Fisica ou espiritual, traduz-se a liberdade, nesse A Declaração Universal dos Direitos Hurnanos, de 1948, usa quinze ye-
caso, como o sentimento de independência. Para a datilógrafa que pensa no zes a palavra liberdade, mas não lhe dá uma definicão.
aproveitamento do domingo 'livre', ou para o her6i que escolhe morrer por Cretella lembra também a classificação de liberdade em liberdade pdbli-
uma causa, liberdade é disponibilidade. Trata-se da liberdade-autonomia, ca, quando é oponivel verticalmente ao Estado e outorgada a todos sem dis-
porque é a faculdade mediante a qual o homem pode dispor de si mesmo. E ti-nçâo, de tal modo que, e-xercen.dQ=a )-o-tit-ular- não fira o di-r-eiio-de--out-re-ao
a partir desse tipo de liberdade que se organiza o cathlogo dos direitos indivi- exercicio da mesma liberdade; e em liberdade privada, quando oponivel hori-
duais cl.ssicos. A liberdade pode ainda ser compreendida como a faculdade zontalmente por urn particular a outro particular, como o direito de pro-
a
de participar da elaboração das normas necess.rias manutençâo da ordem priedade.
social. 0 homem 6 livre, então, na medida em que o Poder não lhe possa Os constitucionalistas portugueses J.J. Gomes Canotilho e Vital Moreira,
impor atitude para a qual no deu consentimento, direto ou indireto." (Les em sua obra Constituicão da Repdblica Portuguesa, 10 volume, página 118,
Libertés Publiques, 4a edicão, 1972, pgina 10). a
referern-se trilogia direitos, liberdades e garantias, e procuram dar o signi-
Entretanto, entendemos que não existe uma liberdade como as expressas ficado de cada urn.
nas definiçôes acima, como faculdade de agir sern nenhum constrangimento, A distinção entre direitos e liberdades - afirrnarn eles - faz-se tradicional-
a
pois a convivncia social, obrigatéria para os homens, exige restriçôes con- mente corn base na posicão jurIdica do cidadão em relação ao Estado.
duta individual. As liberdades estariam ligadas ao "status negativus" e, através delas, visa-
Para a militante socialista alemã Rosa Luxemburgo, assassinada em 1919 se defender a esfera juridica dos cidadãos perante a intervenção ou agressão
por seus opositores, a liberdade 6 sempre a liberdade daquele que discorda de dos poderes pdblicos.
n6s (frase citada na revista Scala, de 10-11-9 1, pagina 12, no artigo Reflexöes E por isso que se Ihes charna tarnbém direitos da liberdade, liberdades-
sobre a liberdade). autonomia, liberdades-resistência, direitos negativos, direitos civis, liberda-
Ate mesmo entre os animais selvagens essas restriçôes são aceitas pelo des individuais.
individuo e pelo agrupamento. 0 lobo, corn o urinar em cIrculo, delimita Estão quase todas consagradas neste tItulo (eles referem-se ao Titulo II
seu territdrio e limita sua liberdade, e os demais lobos vão respeitar o cfrculo da Parte I da Coristituição Portuguesa) : direito vida a , a-integridade pessoal,
restritivo. a a a a
liberd-ade e seguranca, identidade, ao born nome e intimidade, inviola- a
Ao se falar em liberdade, portanto, tern de se considerar as restriçôes bilidade do domicIlio e da correspondencia, liberdade de expressão e infor-
que preservern a individualidade de cada urn mas também a dos demais seres.

28
macSo, de imprensa, de consciência, religiSo e culto, de deslocaçSo e de emi- -levantecontinuou e o lema dos revolucionários a partir de urn certo momen-
gracSo, de reuniSo e de associaçSo, etc. to passou a ser Todo poder aos sovietes, o que foi conquistado em fins de
Sob a designacSo de direitos incluem-se, quer os tradicionais direitos outubro.
naturais, inerentes ao homem (direito vida, integridade pessoal), quer os Mas o que era o soviete, na 6poca?
direitos ligados ao "status activus" do indivIduo, ou seja, os que visam o mdi- 0 prirneiro soviete surgiu em 1905, numa pequena cidade a 300 qu•ilb-
vIduo como participante ativo na vida politica . Por isso se designam estes I: :. mtros de Moscou, no decorrer de uma greve geral dos trabalhadores , qu
iltimos como direitos polIticos, liberdades-participacSo, direitos do cidadSo paralisou a cidade. 0 prefeito e demais autoridades locais, assustados corn o
Sc por garantias se entendem quer o direito dos cidadSos a exigir dos movimente, fugiram para Moscou e a cidade ficou corn todos os seus serviços
poderes polIticos a protecSo dos seus direitos quer o reconhecimento dos piIblicos paralisados, sem quem as administrasse.
meios processuais adequados a essa finalidade, verifica-se, a tltulo de exem- Nurna grande assernblia dos trabaihadores e de seus sindicatos, foi re-
so lvi-do criar urn conseiho popular (soviet), integrado por 150 rnernbros, que
plo, que, logo no TItulo I da ConstituiçSo Portuguesa, referente aos "princI-
pios gerais", se encontram algumas garantias: ficariam encarregados de adrninistrar a cidade em todos os seus setores. E
- o direito de acesso aos tribunais para defesa dos direitos, assim ocorreu. Durante três meses a administraçSo municipal foi razoavel-
- a obrigacSo de mndenizaçSo por danos resultantes de atos ou omissôes mente dirigida por operrios sern major experincia mas corn muita vontade
dos titulares de 6rgSos dos poderes piiblicos, de funcionrios e agentes, de resolver os problemas que iam surgindo, urn grupo encarregado de reco-
- direito de queixa ao Provedor de Justica. lher o lixo, outro de arrecadar impostos, outro de cuidar da rede eltrica,
Como garantias incluldas no Titulo II (tambm da Parte I da Constitui- outro da rede hidrulica, enfim_detodos as setores de-i-nte-r-esse—p-4b-livo.
çSo Portuguesa), sSo de mencionar, entre outras: Posteriormente a experiência dos conselhos populares spalhou-se e sur-
- a exigncia de sentença jurisdicional condenat5ria para poder ser priva- girarn centenas deles em rnuitas cidades da Riissia.
do da liberdade, Durante a insurreicSo de outubro, ou seja, durante a perIodo que o jor-
- a consagrac3io dos princlpios "nullurn crimen sine lege" e "nulla poena nalista John Reed charnou de Os Dez Dias que Aba1arim o Mundo, tItulode
sine crimen", seu livro famoso, a poder polItico da capital, SSo Petersburgo (Leningrado) e
- o princlpio "non bis in idem", a seguir de todo o pals foi entregue aos conseihos sovietes), que realizararn
- a inexistência de pena de morte e de prisSo perptua, em plena efervescência revolucion.ria o Congresso dos Sovietes de Todas as
- a intransmissibilidade das penas, Riissias, que aprovou importantes medidas radicais e.depois, em 1918, apro-
- o direito de habeas-corpus, you o documento denorninado Declaracso dos Direitos do Povo Trabalha-
- as garantias do processo criminal. dor e Explorado e, após, a primeira ConstituiçSo da entSo UniSo das Repii-
A distinçSo entre cada uma das categorias que compöem a trilogia dos blicas Socialistas Soviticas.
"direitos, liberdades e garantias" 6, a1m de pouco precisa, verdadeiramente Mas, logo depois, a palavra russa soviet, que significa sirnplcsmente con-
irrelevante, visto que qualquer que seja a categoria a que pertencam, todos os selho, passou a ter seu sentido modificado, a ponto de se deturpar tanto que
direitos fundamentais que a integram, gozam do mesmo regime jurIdico. • passou at6 a designar uma nacionalidade (!)
Os conseihos (sovictes), quc cram organizacôcs populares
multipartidUias, passaram a ser urn apndice do Partido Comunista da UniSo
4.3. LIBER DADE £ SO VIE TJSMO Sovitica e totalmente controlados por este.
Corn a idia estalinista do monolitismo, ou sc)a, a idia de que as organi-
No ano de 1917, em marco, foi derrubado, par urn levante popular e zaçáes populares e socialistas deveriam ter urna unidade tao forte quanto urn
militar, o monarca russo, o tsar Alexandre. De marco a outubro de 1917, o bloco de granito, qualqucr tentativa de arranhSo no monolito recebia quali-

IN 31
ficaçöes infamantes, corno traição ao povo, traição pâtria, mentalidade pe- As garantias são prescricôes que vedam determinadas açôes do poder
queno-burguesa, alienacão, submissão ao inimigo de classe, adocão da ideolo- piiblico. São formalidades prescritas pelas normas constitucionais para abri-
gia burguesa e outras de igual quilate. garern os individuos dos abusos do poder e das violaçôes. São o reconheci-
Corn isso, a liberdade individual sofreu mais ainda, pois o monolitismo mento constitucional dos direitos fundamentais. São o compromisso de res-
não podia sequer sofrer arneaças em pensamento. Essa teoria do monolitismo peitar a existência e o exercIcio dos direitos fundamentais. São a -proteçrt
não atingia apenas as organizacôes poilticas, mas todas as entidades e todos i.tica da liberdade levada ao rn.ximo de sua efid.cia. São os meios para
agrupamentos e indivIduos. Eram propugnadas trs unidades: unidade de assegurar a observncia e, portanto, a conservação de urn determinado
ação, unidade orgnica, unidade te6rica. Era obrigat6rio agir unitariamente, ordenamento constitucional.
organizar-se unitariamente e pensar unitariamente. Os Estados tern a obrigacão de reconhecer e respeitar os direitos e liber-
0 princIpio das três unidades implicava na negacão da liberdade tarn- dades da pessoa humana, e tarnbm tern o dever de proteger e assegurar seu
bm em três campos respectivos. Não havia liberdade de agir, pois a ação exercIcio atravs das respectivas garantias, ou seja, atravs de meios idneos
seria sernpre coletiva. Nâo havia liberdade individual dentro das organiza- para que os direitos e liberdades sej am efetivos em qualquer circunstncia.
çôes, pois estas deveriarn funcionar corn urna unidade granItica. Não havia Portanto, as garantias servem para proteger, assegurar ou fazer valer a
liberdade para pensar, pois a doutrina admitida era a do pensarnento dos titularidade ou o exercIcio de urn direito ou liberdade da pessoa humana.
tericos cl.ssicos, Marx, Engels, Lenin, Stlin, sem qualquer possibilidade de O conceito de direitos e liberdades e, por consequencia, o de suas garan-
atualização perante o desenvolvimento da realidade social. As "leis" desco- tias, e inseparável do sistema de valores e princIpios que o inspira. Para que
bertas por aqueles te6ricos tinharn urn carter sagrado e intocâvel, imutáveis urna sociedade possa ser consi-derada--dernocrtica, eiadeversitirn
e indiscutcveis. Divergir delas ou mesmo tentar adapt-las a uma modificacão trip, constituIdo de:
da realidade social era considerado pecado capital punido corn advertências, direitos e liberdades da pessoa humana;
rebaixamentos, degredo, expulsão e s vezes corn a rnorte. garantias da efetividade desses direitos e liberdades;
configuracão de urn Estado de Direito.
Esses três alicerces da dernocracia completam-se urn aos outros e s5 tern
sentido na sua existencia simultnea.
4.4. GAR.ANTIAS As garantias podem ser garantias gerais, destinadas a assegurar a existên-
cia e a efetividade ou eficcia social daqueles direitos referentesa organização
0 jurista brasileiro Rui Barbosa distinguia as garantias da seguinte ma- da sociedade poiltica, e cujo conjunto vai forrnar a estrutura social; e podem
neira: Existern nos textos constitucionais disposicöes declarat6rias, assim ser garantias constitucionais, que consistem nas instituiçöes, determinaçoes e
consicleradas as que imprimam existência legal aos direitos, e disposicöes procedimentos, mediante os quais a pr6pria Constituição tutela a observn-
assecurat6rias que visern a defesa dos direitos, limitando o poder. Aquelas cia ou a reintegracão dos direitos fundamentais.
instituem os direitos; estas, as garantlas. Tarnbm se pode classificar as garantias em:
Em outro trabaiho diz Rui Barbosa: "Urna coisa são garantias constitu- garantias jurisdicionais (direito de acão);
cionais, outra coisa os direitos de que essas garantias traduzem, em parte, a garantias criminais preventivas lega1idade da prisâo, cornunicabilidade
condicão de seguranca, pohtica ou judicial. Os direitos são aspectos, manifes- da prisão, anterioridade da lei penal, habeas corpicc);
taçôes da personalidade humana em sua existência subjetiva, ou nas situaçôes garantias processuais (contradit6rio, ampla defesa, juiz natural, devi-
de relaçôes corn a sociedade, ou os indivIduos que a compôem As garantlas do processo legal, presunção de inocencia);
constitucionais stricto sensu são as solenidades tutelares, de que a lei circunda garantias tributrias (legalidade, anualidade, anterioridade, igualdade,
alguns desses direitos contra os abusos do poder" (apud Enciclopédia Mirador, uniformidade, capacidade contributiva);
verbete Cidadania II, pgina 2396).

32
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garantias civis (mandado de seguranca, ação popular); centuriôes, e dal evoluiu para prirneira escoiha e depois para presunçao favo-
garantias polIticas (participatividade, sufr.gio universal, voto secreto, r.vel, progndstico, indIcio. A palavra latina era formada pelo prefixo prae
direto e igual, referendum, iniciativa legislativa, autogestâo); (anterior) e rogatzo (pergunta).
garantias institucionais (jiiri corn sigilo das votaçôes e soberania dos Hoje, prerrogativa significa urn privilegio mais prdprio de uma funçao
vereditos). ou de uma situação, que, por motivos pdblicos ou sociais, e concedido a um
Conforme afirma Maurice Hauriou, nâo basta que urn direito seja reco- tdivIduo bu uma corporacâo.
nhecido e declarado, é necessrio garanti-lo, pois podem surgir situaçôes em Assim, existem prerrogativas de funçao, que sao regalias que a Consti-
que seja discutido ou ate mesmo violado. tui-ção ou a lei concede:
aos exercentes de funcöes dos poderes do Estado: presidente da Repd-
biica;depntados, senadores, magistrados;
4.5. PRIVILEGIOS aos exercentes de determinadas funçôes, especialmente.s charnadas
funçôes de Estado, como as relativas a nIveis hierrquicos superiores do go-
Na liberdade privada existe rnonopdlio e privilegio. No exemplo da verno, ou seja, ministros, membros do Ministério Pdblico, procuradores,
propriedade, o propriet.rio tern o jus utena'z, fruendi et abutencli - direito de fiscais, delegados de poilcia;
usar, fruir e abusar (ou dispor) sobre o que lhe pertence , oponivel contra a certas entidades especiais, especialmente sindicatos e outras organi-
todos (erga omnes). Em alguns palses, corno o Brasil, a propriedade privada zaç6es representativas ;
das terras rurais e to concentrada nas mãos de relativarnente tao poucas pes- a uma classe de profiss-ieiai-s-os•-•advogados, e sua enti -d-adproftsj
soas, que o direito de propriedade se torna urn monopdlio e este vai irnplicar onal, a Ordem dos Advogados, que, na maioria dos palses dernocráticos, goza
em privilegios. de prerrogativas especialIssimas exatarnente devido ao seu papel de urn corpo
Privilégio é a vantagern concedida somente a alguns individuos corn ex- tecnico de profissionais especializados na defesa dos direitos, garantias e liber-
clusâo dos demais. Ele pode ferir a lei (contra legem) e portanto ser invalidável; dades fundamentais;
pode ser nao previsto em lei rnas nao contra seu teor (extra legem) em geral a outras pessoas e entidades sernpre tendo em vistas os interesses
derivando do costume e tradiçöes, mas pode também ser previsto em lei de pdblicos e sociais.
maneira legItima ou não. 0 privilégio legal e legtimo é aceitvel pelo direito
e pela moral. E o caso dos privilegios das crianças, dos deficientes, das
pessoas de poucos recursos ou mesmo do Estado corno ocorre com o privile- 5. AS RESTRIçOES As LIBERDADE
gio fiscal.
A palavra privilegio tern origem do latim przvilegzum, que designava na Não existe liberdade sem restriçSo. A liberdade absoluta de urn indivI-
antiga Roma a medida tomada em favor de urn particular ou a lei excepcio- duo sempre, inevitavelmente, prejudicaria a liberdade dos demais individuos.
nal, pois a palavra era forrnada pelo termo privus (particular, especial) e legio Por isso a liberdade deve admitir restriçôes e constrangimentos, desde que
(escoiha) ou lex, legis (ei, regra). razoCveis, não abusivos e. previstos em lei.
Mesmo o indivIduo isolado em uma ilha, como o personagem Robinson
a
Crusoe, sofre restriçôes sua liberdade, pois haveria constrangimentos de
4.6. PRERROGA TIVAS ordern climatica, fisioldgica, sanitária, etc., e ate de si mesmo, pois o seu eu
futuro e sua experiencia passada limitariam sua conduta presente.
A palavra prerrogativa origina-se do termo latino praerogatlo que, na a
0 que deve ser repelido são as limitaçôes liberdade de caráter abusivo e
antiga Roma , designava a açao de votar em primeiro lugar, concedida aos irrazoável e sem previsSo em lei.

34 35
Examinada a questâo de urn ponto de vista amplo e geral, essas restriçöes outra concepcâo infeliz que era a do monolitisrno. Criavase urn engodo a
vão ser abusivas ou não, irrazoveis ou não segundo o papel que a liberdade respeito de democracia. Pelo centralismo democrático, as questôes podiarn
tern no contexto politico geral da sociedade em apreciacão e segundo seja ser debatidas e sobre elas serern emitidas opiriiôes, mas somente enquanto os
prevalente a liberdade individual ou a liberdade social. brgâos hierarquicamente superiores o perrnitissem. As prdprias regras do
A liberdade individual do lucro mxirno 6 postulado fundamental num debate, discussão e votaçâo erarn estabelecidas pelas instncias superiores, as
sistema econmico-politico fundado no liberalismo individualista e por isso sirn como a abertura e encerramento do debate. Tornadá uma decisão por
no admite restriçôes, a no ser excepcionalmente e corn vistas garantia do organismo superior, os organismos inferiores e todos os individuos deviarn
prdprio lucro mximo. Assim, certos ordenamentos juridicos do liberal- a
aceit-la corno se fosse a sua prdpria opinião e leva-la prática scm titubear.
individualismo admitem que o juro, que o lucro do dinheiro emprestado, A liberdade de falar era deturpada (ou ainda o 6 ? ), e substituida pela
tenha limites ou tabelamentos, a fim de no estrangular a possibilidade de de falar mas dentro da linha fixada, a chamada linha justa. Em
lucro mximo dos que necessitam de financiamentos para desenvolver seus qualquer reunio, de organisrno partidario ou organizaçâo social, todos os
negdcios. presentes cram constrangidos a falan Por isso as reufllôes dürävañi hoiás óü
Porm, para as sociedades socialistas, o juro considerado espoliacão e dias, mesmo que no se tivesse nada a acrescentar ao debate e apenas urn
por isso não h. liberdade para o individuo exigi-lo, isto é, usar o dinheiro repetia o que os dernais já haviam dito.
corno se fosse uma mercadoria como outra qualquer. Mas, se o Estado Q uando o socialismo libertou-se das regras estalinistas, o que ocorreu
socialista recorrer a urn financiamento externo ou internacional, para, diga- somente apds a morte de Stalin, a liberdade individual passou por urna crise
mos, construir uma usina hidroel&rica, ele se arnoldar. ao esquema vigente. interna, at hoje scm solucâo-a-t-d-porrt-o-que a LniâoSovitica -s-e--e-sjrj'rj
Nos antigos Estados socialistas do Leste europeu, a corneçar pela extinta e corn ela as chamadas "democracias populares" do Leste europeu, que conti-
Unio Sovitica, a liberdade de estabelecer moradia n.o era dada ao indivi- nuaram sem saber o significado de liberdade individual e quais as restriçôes
duo, que dependia de urn drgão estatal para fixar ou alterar sua residência. não abusivas nem irrazo.vejs.
a
Isso 6 abuso do poder, uma restrição irrazovel liberdade, porque demons-
tra urna desconfianca generalizada contra o cidadão, urna presuncâo de que
este 6 urn inirnigo e nâo pode ficar longe dos olhos estatais e isso nurn sistema
politico baseado na confiança geral do povo. 5.1. AS RESTRIçOEs DAS RESTRIçOEs AS LIBERDADES
Essa falta de confiança no individuo, nos Estados do denominado SOREX
(Socialismo Realmente Existente), denorninação dada pelo alernão Rudolph No artigo 49 da nova Constituição da Rumania, adotada pela Assem-
Bahro aos Estados socialistas do Leste europeu, provocou a destruição de urn blia Constituinte em 21 de novembro de 1991 e em vigor apds sua aprova-
dos mais importantes principios doutrin.rios socialistas, que 6 o principio da ção no referendum nacional de 8 de dezembro de 1991, a questão das restri-
autogestão, o princIpio dá administraco gerida pelos prdprios integrantes çes as liberdades esta assim prescrito:
de cada coletivo. Art. 49. (1) 0 exercIcio de alguns direitos ou liberdades sornente pode
Não havia confianca no indivIduo porque se dizia que, enquanto hou- ser restringido pela lei e somente se isso se impôe, cotiforme o caso, para:
vesse urn t'inico Estado burguês na face da Terra, a ideologia burguesa conta- defender a seguranca nacional, a ordem, a saide ou a moralidade pdblica, os
minaria a sociedade e o indivIduo, e o egoismo predominaria no comporta- direitos e as liberdades dos cidadlos; realizar a instruçâo penal; prevenir as
mento individual. consequências de urna calamidade natural ou de urn sinistro sumamente gra-
Em consequncia, a desconfianca formava uma cadeia imensurvel e em ve.
escalôes nacionais e internacionais. (2) A restriçâo devera ser proporcional a situação que ihe haja determi-
0 ditador Jdsef Stalin desenvolveu urna das mais desastrosas teorias nado e não pode prejudicar a existncia do direito e da liberdade.
polIticas, que era a do centralismo democrático, calcado, por sua vez, em

W.l 37
I-
0 artigo 148 (2) dessa Constituicão rornena proibe qualquer revisão de E de se ressaltar que a Constituição portuguesa possui urn dispositivo, o
seu texto se ela tern corno objeto a supressão dos direitos e liberdades funda- artigo 18°, no 2, pel9 qual a lei sd pode restringir os direitos, liberdades e
rnentais dos cidadãos ou de suas garantias. garantias, nos casos expressarnente previstos na Constituição.
Porrn, o texto constitucional português raramente prevê restriçôes re- -
lativamente a cada direito fundarnental.
5.2. PRINCIPIO DA PR OPOR CIONA LIDA DE Para evitar conclusôes absurdas de vedação de restriçôes a grande maio-
na dos direitos, liberdades e garantias, foi necessaria a inteenção do Tribu-
A Convencão Arnericana sobre Direitos Humanos, conhecida como na l Constitucional para obviar essa relativa falta de preceitos constitucionais
Pacto de São Jose da Costa Rica, aprovada em 22 de novembro de 1969, e então ele traçou algumas diretrizes, muito judiciosas e que podern servir as
lamentaveirnente ainda não ratificada pelo Brasil, dispöe, no artigo 30, a interpretacöes constituclonais.
respeito do alcance das restriçôes as liberdades: As restriçôes permitidas, de Urn dos caminhos apontados foi o do recurso ao artigo 29 0 da Declara-
acordo corn esta Convenção, ao gozo e exercI(.io dos direitos e liberdades nela ção Universal dos Direitos Humanos, declaração essa que o artigo 1.6 1 , -item
reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordo corn leis que forern 2, da Constituição de Portugal, inteligentemente considerou como fonte de
promulgadas por rnotivo de interesse geral e corn o propsito para o qual interpretacão e integracão harrnnica, o qual dispôe: Art. 16, item 2 0 - Os
houverem sido estabelecidas. E a aplicacão do princ{pio da legalidade, pelo preceitos constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais devem
qual ningum sera obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em ser interpretados e integrados de harmonia corn a Declaração Universal dos
virtude de lei, rnas tambm, na sua parte final, a aplicacão do princIpio da - Direitos do Homem.
proporcionalidade. Esse artigo 29 da D.U.D.H. proclarna que no exercIcio de seus direitos
No Tribunal Constitucional da Repiblica Portuguesa, a matria ern e liberdades, todo homern está sujeito apenas as lirnitaçôes determinadas pela
que ele tern sido rnais charnado a pronunciar-se 6 a das restriçöes aos direitos lei, exclusivamente corn o firn de assegurar o devido reconhecimento e respei-
fundamentais, para efeito de estabelecer algumas linhas rnais s6lidas de orien- to dos direitos e liberdades de outrérn e de satisfazer as justas exigências da
tação nurn assunto tao controvertido e polmico (ver OsDireztosFundamefltias moral, da ordem piblica e do bem-estar de urna sociedade dernocratica.
najurisprudéncia. do Tribun1 Constitucionat, Jose Cabalta Nabais, separata A proporcão adequada se torna, ern conseqüncia,..condição da legalida-
do volume LXV, 1989, do Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de. Quando a rnedida 6 excessiva ou injustificável, ela sai da proporcionalidade
de Coimbra, p.ginas 19 e seguintes). e por isso 6 inconstitucional.
0 Tribunal Constitucional português tern-se confrontado corn duas Assim, ao se fazer controle da constitucionalidade de uma lei, deve-se
espcies de exigncias impostas pela Constituição de Portugal para as restri- fazer tambm o controle da proporcionalidade, especialrnente quando a ques-
çes de direitos. tao envolve Direitos Humanos.
As restriçöes externas ou formais referem-se 0 princIplo da proporcionalidade não esti explicito na Constituição
ao requisito da expressa autorização constituclonal da restrição;. brasileira nem em outros textos constituclonais, porque ele é uma garantia
ao requisito de a lei restritiva ser uma lei ou urn decreto-lei autorizador, fundamental, urn direito que protege a liberdade, urn princIpio geral de direi-
lembrando-se que o siterna portuguOs serniparlamentarista prev a ernissão de to . como afirrna Robert Alexy, entre outros:
decretos-leis. t "0 princIpio de proporcionalidade corn seus trs principios parciais de
As rostriçôes iriternas ou materiais referern-se: pertinncia, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito, logicamente
exigncia de proporcionalidade da restrição; resulta da sua natureza de princIpio geral, ou seja, deste se deduz".
a salvaguarda do conteiido essencial do preceito constitucional Esses trs princIpios parciais ou subprincIpios do princIpio de
consagrador do direito fundamental. proporcionalidade assim se explicam:

38 WI

H
pertinência, ou aptidâo, corn o qual se examina a adequacâo, a confor- No prefácio a essa obra, o professor Almiro do Couto e Silva dá urn
midade ou a validade do firn, e que se confunde s vezers corn o da vedaco do elucidativo enunciado do princIpio de proporcionalidade: "as providncias
arbitrio; adotadas pelos particulares ou pelo Estado corn relação aos interesses das de-
necessidade, pelo qual a medida nâo ha de exceder os limites indispen- mais pessoas ou dos administrados, devern ser adequadas a esses mesmos inte-
saveis conservaçio do fim legItimo que se almeja, ou seja, urna medida para resses, proibindo-se medidas excessivas".
ser admissivel deve ser necessária; e esse subprincIpio se confunde corn o da Entre os poucos constitucionalistas que abordam o princIpio de
escoiha do rneio mais suave; proporcionalidade, 6 o professor Paulo Bonavides (Curso de Direito Consti-
proporcionalidade em sentido estrito, em que a escolha recai sobre o tucional, Malheiros Editores, Y edicâo, 1994, capitulo 12) quem meihor o
rneio OU os meios que, no caso especIfico, levarem rnais em conta o conjunto desenvolve e explica.
de interesses em jogo. -- Bonavides ressalta inicialmente a grande dificuldade de definiço do prin-
Q uando se aplica o princIpio da proporcionalidade, enfrenta-se simulta- cfpio de proporcionalidade.
neamente uma obrigacâo de fazer uso de meios adequados e uma interdiçâo Em sentido amplo, citando Pierre Muller, ele diz que o princIpio de
quanto ao uso de meios desproporcionados. proporcionalidade é a regra fundamental a que devem obedecer tanto os que
E no Direito Constitucional e na sua declaracão de direitos que o princI- exercern quanto os que padecem o poder. Em sentido mais restrito, o referi-
pio da proporcionalidade meihor se manifesta, assumindo o prestIgio de grande do princIpio se caracteriza pelo fato de presumir a existncia de relação ade-
protetor das liberdades e de grande inimigo do arbItrio.
o princIpio da proporcionalidade d ao administrador democrata a dire-
triz de sua ação e da limitaço de seu poder legitimo, e, ao mesmo tempo, no
outro lado da moeda, estabelece limitacöes liberdade individual.
4 quada entre urn ou vários fins e os meios corn que so levados a cabo. Nesta
iiltima acepcão, h. violaçâo do.pñac1piade proporciona1idadecmcjr n
cia de arbitrio, toda vez que os meios destinados a realizar urn fim nâo sâo
por si rnesmos apropriados e ou quando a desproporçao entre meios e fins
o princIpio da proporcionalidade, reafirma o constitucionalista portu- particularmente evidente, ou sej a, manifesta.
gus J.J.Gomes Canotilho, implica na proibicão do excesso. Assim, qualquer Ha vocábulos e expressôes usadas, de maneira diversificada, para desig-
limitaci.o feita por lei ou corn base na lei, no ambito dos direitos fundamen- nar o princIpio da proporcionalidade, tais corno princIpio da vedaço de arbI-
tais, deve ser adequada (apropriada), necessaria (exigivel) e proporcional (com trio, princIpio de avaliaçâo de bens jurIdicos, .princIpio de avaliaço de inte-
justa medida). resses, princIpio de justica e, como preferem autores alemães, princIpio da
A Constituiçâo portuguesa, artigo 18, 2 e 3, exige que qualquer restriçlo vedaçSo do excesso. E 6 na Alemanha onde o princIpio tern mais sido anali-
imposta a um direito fundamental, deve limitar-se ao necessârio para salva- sado e desenvolvjdo e, onde sua import2ncia 6 mais considerada.
guardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos. E all Apesar de ser princIpio da atualidade, convém lembrar que, em 1791,
está a positivac3io do principio de proporcionalidade no direito português. Suarez (segundo Walter Jellinek) formulou assim o princIpio fundamental do
Tambm ele aparece no artigo 29 da Declaração Universal dos Direitos Hu- Direito Piiblico: "0 Estado somente pode lirnitar corn legitimidade a liberda-
manos, de 1948, que "permite que o legislador estabeleca limites aos direitos a
de do indivfduo na medida em que isso for necessario liberdade e seguran-
fundamentais para assegurar o reconhecimento ou o respeito dos valores a1 ça de todos".
enunciados". Paulo Bonavides ressalta que a proporcionalidade 6 conceito em plena e
Em sua obra Principio cte Proporcionalidade no Direito Constitucional espetacular evoluçSo e, pelo dinamismo intrinseco corn que opera, esta fada-
Bra.sileiro, Editora Livraria do Advogado, Porto Alegre, 1995, a professora do a expandir-se e a deixar cada vez mais o espaço tradicional, porm estrito,
Raquel Denize Stumm localiza a fonte do princIplo de proporcionalidade no do Direito Administrativo, onde floresceu, desde aquela mixima classica de
princIpio do Estado de Direito, ou no prInciplo dos Direitos Fundarnentais J ellinek: "no Se abatern pardais disparando canhes", - at6 chegar ao Direito
ou, ainda, no princIpio do Devido Processo Legal pagina 97). Constitucional, cuja doutrina e jurisprudncia ji o consagraram.

40 41
5.3. PRINCIPIO DA RA ZOA BILIDADE Para alguns essa nova fase começou no ano de 1215, corn a outorga da
Magna Carta pelo rei ingls João Scm Terra. Para outros, sd na Revolução
Os principios da razoabilidade e da proporcionalidade s vezes são Francesa, e sd no ano de 1789, houve o surgimento efetivo dos Direitos Hu-
apresentados corno uma coisa sd, como sinnimo urn do outro. manos proclamados e assegurados.
Entretanto eles são diferentes, apesar de terern muitos pontos em co- Mas, então, 6 de se perguntar o que fez o rei Harnurbi, ha cerca de 3.800
mum. anos,.ao mandar redigir e fazer gravar, em urn bloco de diorito, urn cddigo
• principio da razoabilidade 6 mais amplo que o da proporcionalidade. de leis. o Cddigo de Harnurabi, composto de 282 parágrafos? A pedra, urna
• constitucionalista de Brasilia, Gilmar Ferreira Mendes, no preGcio ao estela redonda de basalto negro de 2,25 metros de alturapor 1,90 rn de
livro de Suzana de Toledo Barros 0 Principw c/a Proporcionalic/ade e o Con- largura, sobreviveu at6 nossos dias para atestar urna autolimitação do poder
trole de Constituciona/iclade c/as Led Restritivas ice Direitos Fundamentais, pgi- por urn monarca absoluto, que se considerava o dnico representante de Deus
na 18, fala no "desenvolvirnento do principio da proporcionalidade ou da na terra. Os impostos, por exemplo, eram cobrados em norne da divindade.
razoabilidade como postulado constitucional autdnomo". Mas, logo a Se- Hamur.bi foi rei da Bahildnia, de 1792 a 1750 A.C..
guir, acena corn as diferenças entre os drns institutos, ao referir-se Conquistou e unificou a Mesopotarnia. Sexto rei amorita da prirneira
"razoabilidade em sentido estrito, que seria a falta de proporcionalidade entre dinastia, todos reis absolutos, Harnurabi tudo podia, sern necessidade de
o objetivo perseguido e o anus imposto ao atingido, e que seria uma das dar satisfação de seus atos a ninguém. Mas ele preferiu lirnitar, pela lei, os
vij-ias razöes de declaracSo de inconstitucionalidade da lei, ao lado da seus prdprios poderes e os poderes de seus esperados descendentes ou sucesso-
dispensabilidade e da inadequacSo". res.
O princIpio da razoabilidade 6 urn principlo plurivalente, porque se aplica Nas disposiçôes finais do Cddigo de Hamurábi, ele se autoelogia, o que
a vârias cincias sociais e, nas cincias juridicas, a vrias de suas diferentes é muito comum entre governantes de ontern e de hoje. Mas diz tarnbrn que
reas. Mas 6 tarnbrn urn principlo rnonovalente quando se apilca ao direito deu bern-estar aos seus siiditos, que lhes deu moradia, justica, habitação ade-
pdblico ou a cada rarno do direito pdblico, especialrnente no Direito Admi- quada, seguranca contra os perturbadores, sadde e paz
nistrativo e no Direito Constitucional - Que o oprirnido - proclama Hamurabi - que tenha urn litIgio, venha
No Direito Adrninistrativo, o princIplo da razoabilidade exige urna ante minha imagern de Rei do Direito e leia as inscriçôes de rneu cddigo, que
rnotivação de qualquer ato adrninistrativo e essa rnotivaçâo tern de ser de
acordo corn o born senso e o sent irnento do justo. 0 administrador, quando
a
ouça minhas preciosas palavras e que rneu cddigo Se aplique sua causa.
E depois continua:
age dentro do direito-dever da discricionariedade, dentro dos critrios de con- - No futuro, para todo o sempre, que todo rei deste pals guarde as
venincia e oportunidade, não tern sua atividade controlada pelo PoderJudi- sentenças de justica que gravel em rneu cddigo, que não modifique a lei que
ciário, a não ser quando fere tao sornente a cornpetancia e a razoabilidade. dei ao pals e as decisôes que formulei, que não se afaste de rneu cddigo Se
este princIpe for sibio e queira manter a ordem no pals, que observe as
vontades que gravel em rneu cadigo, que estas disposiçôes ihe ensine o carni-
6. EvoLuçAo HISTORICA DOS DIREITOS HUMANOS nho, a norma, a lei que dei ao pals, as sentenças que produzi, que dirija assim
seus sdditos, lhes administre justica, elimine as diferencas, expulse do pals o
Descrever a historicidade dos Direitos Hurnanos exige, prelirninarmen- mao e o perverso e procure a felicidade de seus sdditos. (...) Se este principe se
te, estabelecer se os seres hurnanos sempre tiveram, ou não, direitos declara- ajustar aos desIgnios que gravei sobre esta pedra, que não abandone minha lei,
dos e assegurados ou se, sd a partir de determinada fase da histdria da hurnani- que não viole minhas vontades, que nâo altere rneu textb.
dade, isso passou a existir e, neste dltirno caso, torna-se necessrio fixar o Dessas palavras do Rei Harnurabi, monarca da antiga Babildnia, cidade
inIcio dessa fase histdrica. de esplendor situada a uns 80 quildrnetros -ao sol da atual Bagda, depreende-

42 43
se que, alm e acima do clero e da aristocracia, ele colocava a lei, a lei máxi- mentos. 0 mandamento referente a santificação do sabado, depois, no livro
ma, que deveria ser pétrea como a pedra de diorito negro em que foi insculpida, biblico Deuteronômio, é acrescentado corn a regra de que o descanso sera
a que alguns autores deram urn carter constitucional tarito em sentido for- também para os servos e servas.
mal como em sua estrutura, numa "concepcão tridimensional de norma, con- A evoluçâo dos Direitos Humanos pode ser resumida em algumas fases
duta e valoracão ética", na expressão do professor argentino Jorge Luis Cassani básicas pelas quais passou: -
no pr6logo da obra de Horacio Dassen e Carlos S.nchez contendo coment- Na primeira fase des seriam essencialmente concessöes espontneas
rios e a traducão para o espanhol do C5digo de Hamurbi. de urn monarca corn poderes absolutos, mas justo e inteligente, corno o rei
0 que incentivou o Rei Hamurbi a autolimitar seus poderes foi a pers- Hamurabi, da Babi1nia, h cerca de 3.700 anos; o irnperador Claudius
picácia, a inteligncia de perceber que ele cumpriria meihor suas funçôes Tiberius, de Roma, que reinou do ano 41 a 54; e Frederico II, da Suabia,
divinas e terrenas, se agisse dentro de regras conhecidas e respeitadas. imperador das Duas Sicilias e do Sacro Império Romano, na primeira metade
Conclui-se dal qüe todo governante inteligente deveria colaborar para do século XIII;
criar boas regras de Direito e de Direitos Hurnanos, respeit-las e fazer Na segunda fase, os direitos e liberdades -seriam co-nquistas de elites,
respeitá-las, mantê-las estveis scm constantes alteracôes. Lamentavelmente do alto clero ou da aristocracia, contra o rnonarca, corno foi o caso do rei
ainda nos dias atuais sobram governantes que pensam o contrrio, que consi- João Scm Terra que outorgou aos seus siiditos, mas essencialmente, aos ba-
deram o Direito e os Direitos Humanos urn ernpecilho, urn estorvo a probi- roes, que o pressionaram, a Magna Carta, em 1215, na Inglaterra;
dade, . eficincia e boa administracão. Então, em nome das charnadas mo- Na terceira fase, já corn a denorninaçao de Direitos do Homern
dernização e governabilidade, tentam de varias maneiras revogar direitos e (muiheres, fora), des são urn
liberdades, adotarn medidas de claro desrespeito, inventam argumentos falsa- do poder econrnico e que Se torna dona também do poder politico, como
mente juridicos para justificar a ilicitude de sua ação. Tentam impor a altera- ocorreu mais significativamente corn a classe burguesa, na Revolução France-
çâo das normas constitucionais e legais, ate mesmo das cláusulas pétreas sa de 1789;
constitucionais, que embora pétreas figuradamente e não insculpidas em Na quarta fase, os Direitos Humanos, ja em segunda geracâo, são
pedra como o C6digo de Hamurabi, não poderiam ser abolidas, como esses conquistas de classes dominadas, que não tern o poder politico mas lutam
governantes contemporâneos o querem fazer, não por ignorncia, rnas por por dc, pressionarn os donos do poder e obtém direitos sociais, econôrnicos
razöes conscientemente antidernocr.ticas sob o manto perverso da tecnocracia, e culturais ;
corn argumentos mais perversos ainda de modernizacão, governabilidade e Na quinta fase, os Direitos Hurnanos, em terceira geracão, se inter-
globalizacão. nacionalizarn, recebem uma proteção supranacional e alguns desses direitos
Mas outros C6digos, mais antigos ainda, foram também gravados em são impostos pela comunidade internacional, como na repressão é escravatu-
pedra, corn quase os mesmos objetivos de lirnitar o poder, corno os de Lipit- ra, ao genocidio, a tortura, as discriminaçoes, e rnais recentemente em defesa
Istar, de Bilalama ede Ur-Namur. das práticas democrat jcas, da paz, do meio ambiente, do desarmamento, do
Mais antigas e também impressionantes são as Leis de Eshnuna, de qua- desenvolvjrnento
se 4.000anos atras, que lirnitava os juros de dividas no seu item 18; que fixava Essas etapas não tern urna separação rIgida entre si. As vezes se mistu-
o salário minimo de certas categorias de trabalhadores nos itens 7, 8 e 11; que ram ou evoluern de maneira cronol6gica invertida ou se antecipam ou se
regulamentava precos; que protegia a esposa que tivesse gerado filho, contra pospOem. NSo podernos esquecer que, no mundo de hoje e provavelmente
as arbitrariedades do marido. Embora aceitando a escravatura, protegia em avançando sobre o século XXI, ha paises que estSo governados como se esti-
algurna coisa ate o escravo contra seu senhor. vessem em épocas anteriores ao século XII, como é o caso especifico do Rei-
Depois, as leis mosaicas tentam também limitar o poder. 0 grande legis- no da Arabia Saudita, que nunca teve parlarnento nem Constituição nern
lador que foi Moisés, estabelece as grandes regras contidas nos Dez Manda- justiça independente nern partidos polIticos, apesar de ser membro das Na-

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sua conformidade ao senso moral e razão do homem", opinião emitida que se quiser nos textos de qualquer urn. Afirma Derrida que "hi apenas o
quando Secret.rio de Estado, em 28 de abril de 1793, e constante de "The life trabalho da intervenção permanente, o esforço em mostrar que em todo tex-
and selecting Writings of Thomas Jefferson", edicão Koch & Peden, 1944, to o seu contrário pode estar sendo dito e que talvez a razão e a verdade sejam
p.g. 319; apud Sidney Hook, Osparacloxosdaliberciade, Zahar Editores, Rio, urn mito ocidental, ou vários rnitos, na verdade por vezes discursos do po-
1964, pig. 12. • der". Trata-se de uma especie de lei dia1tica da coexistência dos cont-rrios,
Tal afirmacão de Jefferson serve em parte corno denominador cornum onvenientemente deturpada. - -
entre duas grandes correntes de fundamentação dos Direitos Humanos, a do Por outro lado, temos de considerar que as rnais difundidas correntes de
direito natural e a racional e faz um nexo corn a corrente histórica e esta • pensamento que intentararn justificar racionalamente - ou fundamentar - os
acaba conduzindo vertente da corrente consensualista. Direitos Humanos, não alcançaram cabalmente seu objetivo; que, pelo con-
Para isso, precisamos por em diivida o pensamento de que os homens tr.rio, propuserarn fundarnentos racionais débeis ou inconsequentes. Por
nascem livres e iguais em dignidade e direitos, constante do prdprio artigo isso, a tarefa de cirnentar racionairnente esses direitos deve começar pela aná-
prirneiro da Declaracão Universal dos Direitos Hurnanos, de 1948. use critica dessas propostas falidas e ilusdrias. Sd apartir deste alisamento do
Temos de aceitar teoricamente essa afirmacão pelo seu conteddo de caminho far-se-h. possivel urn trabalho de fundamentação estrita e forte dos
justica e humanitarismo. Mas temos tambrn de reconhecer que, lamentavel- direitos naturais do homern. Esta 6 a opinião de Carlos Massini Correas, em
mente, ainda nos dias de hoje, na prtica, os homens não nascern livres e Los derechos humanos en -i el pensamiento actual, no prdlogo da 2a edição, edi-
iguais. Prevalece na realidade social a lei da antinomia por nascimento, pela tora Abeledo-Perrot, Buenos Aires, 1994, páginas 9 e 10.
qual todo ser humano nasce desigual, de acordo corn o padrâo econbmico, Pelo lado da htica polI-tica--os—D-i-rei-tos 1-u-rn-a-nos--ser-i-a-rn--u-rn-a--das--s-u-as
social, psicoldgico, linguistico, juridico, profissional, sanit.rio, educacional e pilastras, juntamente corn a dernocracia, seu corolrio.
material vigente no ambiente de seunascimento, e tende a manter esse padrão Negar ou restringir os Direitos Humanos seria ferir a ética politica nas
pelo resto de sua vida, como o afirma Jaime Maria Mahieu,em El estado comu- suas raIzes.
nita'rio, F.diciones La Bastilla, Buenos Aires, 2 a edicão, 1973, p.g. 8.
Os direitos, inclusive os Direitos Hurnanos, não nascem automatica-
mente corn o nascer de cada indivIduo, mas, em geral, são conquistados, no
curso da histdria, pelas parcelas mais conscientes do povo, denominadas "van- 7.1. DIREITOS HUMANOS NA GUERRA
guardas". -
As parcelas do povo mais dominadas, mais submissas, mais conforrnadas Na guerra, paradoxalmente, mais claramente se manifesta a fundarnenta-
corn sua dominacão e exploracão, não tern força nem ânirno nem vontade ção cornurn dos Direitos Hurnanos.
para lutar e conquistar direitos, o que sd acontece corn a ajuda e lideranca Numa situação de guerra, os Direitos Hurnanos são parcialmente sufo-
daqueles rnernbros rnais conscientes e bataihadores. cados, porque a guerra 6 em geral urn antidireito e urna antitica. A verdade
Dal surge a TEORIA DO DISSENSO: não 6 do consenso que surge a Se distorce e deixa de ser dialhtica. Mesmo na guerra htica, a guerra da legiti-
democracia, mas do dissenso. Os inconformados 6 que vão rnanifestar o ma defesa contra agressão injusta, por exemplo a guerra dos vietcongues se-
dissenso, lutar e conquistar direitos e vão esciarecer e contagiar os conforrna- gundo seus protagonistas, os Direitos Humanos se distorcern e seus funda-
dos que, corn maior ou menor facilidade, vão se dando conta de sua domina- mentos passam a residir em urn autoparcialismo inevithvel.
ção e da possibilidade de se libertar dela. Mas a1 a fundamentacão cornum dos Direitos Humanos tern como base
Para se chegar aos fundarnentos dos Direitos Humanos e portanto s leis comuns, como as leis internacionais, os chamados Direito de Genebra e
suas ra{zes, alguns transitarn pelo carninho lodoso e de mato espinhoso da Direito de Haia, as grandes forrnulaches internacionais tendentes a arnainar
desconstruçao, que, segundo Jaques Derrida, 6 o rntodo que permite ler o os horrores blicos.

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çôes Unidas, ter na sua Assemblia Geral e em outras reuniôes urn voto igual generalizacão dos Direitos do Homem a todos os individuos, e apare-
ao de palses dernocráticos. cirnento dos direitos de participacão (direitos de reunião, de acesso ao poder,
Uma outra tentativa de racionalizar a evolução dos Direitos Humanos - etc.);
apresentada pelo jurista espanhol Rafael de AsIs Roig, professor do Instituto expansão dos Direitos do Homem, corn o aparecimento de novas
de Direitos Hurnanos da Universidade Complutense de Madri, em sua obra exigências ticas: direitos econhmicos, sociais e culturais. -
Las Parcidojas de los Derechos Fundamen tales como Limites al Poder. Corn a generalizacão, surgem inovaçôes, como:
Urna história de tensôes entre o iridivIduo e o Estado - afirma Roig - rnas generalizacão dos direitos de participacão;
nâo são Os urncos polos de tensão, tarnbm se projetam sobre a sociedade função prornocional do Direito, corn atuação positiva do Estado;
civil, exigindo intervenção do Estado ou exigindo determinado comporta- desenvolvimento dos direitos econhmicos, sociais e culturais, em dois
mento passivo dos outros indivduos. sentidos:
Ele cita trs processos hist6ricos nos Direitos Hurnanos: positivacão, em sentido objetivo: funcão do Estado equilibradora e moderadora
generaliZacão e internacionaliZacao. das desigualdades sociais;
I) Positivação: Sern a positivacão os direitos não se completam, s5 são em sentido subjetivo: faculdade dos individuos e grupos de participar
ideais rnorais, valores que não o são plenamente ate que enraizern na realida- dos beneficios da vida social; traduzindo-se em direitos e participacöes diretas
de. ou indiretas de parte dos poderes piiblicos.
No processo de positivacão, surgern trs problemas, a saber: III. Internacionalização: Nesse processo "Se toma consciência da insu-
a) problerna das tolerncias, em que ele considera prevalente a influncia ficiência de uma protecão a nIve•l-est-at-a que sempre pode encont-rar-seu--l-irni--
religiosa nos Direitos Humanos e suas restriçôes , apresentando, por sua vez, k te na razão de Estado". As gararitias internas concedidas aos direitos funda-
três solucôes jurIdico-positivas: mentais se tornam insuficientes e as vezes ate iniiteis, j a que são os prprios
a do princIpio territorial, em que as diferentes confissöes religiosas se • Estados os que, na aplicacão dos Direitos Humanos, produzern sua
delimitam em unidades regionais; desvirtualização. Por isso, torna-se necess.ria uma ação supranacional e seus
a do reconhecimento de outra confissão religiosa minoritiria; primeiros sinais estão na luta contra a escravidão realizada em duas etapas,
a do reconhecimento puro e simples das distintas confissôes religio- • primeiro exigindo a abolição do ttifico de escravos eiogo ap6s abolição da
sas, desde que cristãs; pr6pria escravidâo e suas seqüelas.
b) problerna do tipo de liberalismo predorninante, corn outros trs ca- Esse processo de internacionalização é realizado de maneira integrada
rninhos: corn os outros dois processos, os processos de positivação e generalizacão.
o ingls, que 6 produto de urna evolução, se apoia na histria e carece
de construçöes racionais abstratas;
o norte-americano, que passa de urna concepcão hist6rica dos Direi- 7. FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS
tos Humanos para uma de Indole racionalista;
o francs, que reflete a tensão entre jusnaturalismo e voluntarisrno; Ao se defender a existncia de uma Teoria Geral dos Direitos Hurna-
c) problema do porno culminante dessa fase do processo, que Roig con- nos, 6 preciso que, tambem na area de sua fundamentação, se encontre uma
sidera estar situado no ano de 1789 corn a Declaração dos Direitos do Ho- formulação suficientemente ampla e o mais exata possIvel, que embase uni-
rnem e do Cidadão. - formemente as diferentes e variadas concepçôes dos Direitos Humanos e de
II. Generalização: E a arnpliacão da titularidade dos Direitos e outros sua efetividade.
setores da populacão, corn uma realização juridica, não abstrata mas concre- Thomas Jefferson, o sexto presidente dos Estados Unidos, constituinte
ta, e que irnplica em: de 1787, afirmou que "as questöes de direito natural podem ser julgadas pela

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0 descumprimento desses direitos, numa situação de guerra externa ou se estabelecem entre pessoas de diferentes posicionamentos sociais, de dife-
interna, passa a ser problema de 6rbita internacional e corn urn fundamento rentes crenças, de diferentes posicöes quanto aos meios de producão, de dife-
comurn, alegadas similarmente por ambas as partes degladiantes. rentes religiöes e por vrios outros fatores diferenciadores.
Entâo, exatamente nessa situação de exceção, configura-se corn major Essas dificuldades de entrosamento dão-se no campo da doutrina e- da
clareza a exjstência de uma Teoria Geral dos Direitos Humanos e de uma pr.tica.
fundarnentaço cornum. Mas "as dificuldades propriarnente doutrinais, embora reais, não são-in-
A guerra constitui a vjo1ncia em grau mximo. Mas a vio1ncia é pr6- superáveis. As divergncias entre dois sistemas, radicais que sejam, não exclu-
pria do Direito, pois este e essencialmente vio1.ve1, a tal ponto que, se e em a possibilidade de convergncias ideais e profundas, suscetiveis de funda-
quando não houver possibilidade de violncia, não haverá necessidade do meritar urn prograrna de ação comum". Essa opinião é de Giulio Girardi,
Direito. professor de filosofia especulativa no Pontiflcio Ateneu Salesiano de Roma
consultor do Secretariado para os não-crentes, escrita no.pice da guerra fria
e constante de uma obra eclética, corn colet.nea de artigos de vrios autores
7.2. ASRAZOESDOLOBO de diferentes posicôes, intitulada As várias faces c/a liberdacle (Edicão Paz e
Terra, Rio, 1969, traducão do italiano Ildialogo in camnizno).
Abraão Lincoln, décimo sexto presidente dos Estados Unidos, Girardi defende a instauração de urna ordem nova, med iante a ação soli-
proclamador da abolicão da escravatura em seu pals, ilder vitorioso do Norte d/aia dos homens em escala mundial e propugna uma revolução integral,
contra o Sul escravagista, pronunciou discurso em 1864, em plena guerra revoluçSo que, para ele, consitè em
civil, em que dizia: vontade de poder e na servidão a uma sociedade fundada no amor e na liber-
"Quando o pastor arranca o lobo do pescoco da sua oveiha, esta agrade- dade. Enfatiza ele a tendência atual realizacão de uma nova humanidade e
ce ao pastor, como seu libertador, enquanto o lobo o denuncia, por esse afirma que as transformacôes que ela implica, devem ser ao mesmo tempo
rnesmo ato, como destruidor de liberdades. E' evidente que a oveiha e a lobo objetivas e subjetivas e ela, a revolução, traz consigo uma conversão interior,
não estão de acordo sobre uma definicâo da palavra liberdade; e é precisamen- - .- uma nova perspectiva ideal, uma nova atitude para corn os homens, centrada
te a mesma diferença que hoje prevalece entre criaturas humanas, mesmo no no arnor e na liberdade.
Norte, e todas elas professando o amor liberdade." Não são muito diferentes as enunciados do Papa Paulo VI, ao falar nas
0 norteamericano Sidney Hook, assim comenta essa passagem: "Mas a carncias morais dos que estSo mutilados pelo egoismo e nas estruturas opres-
oveiha, o lobo e o pastor não diferem sobre a significado de liberdade - sivas quer provenharn dos abusos da posse ou do poder, da exploracSo dos
diferem apenas quanta s liberdades especificas que devem triunfar das de- trabalhadores ou da injustica das transaçôes (Enciclica Populorum Pro gressio,
rnais e em beneflcio de quem. 0 significado de liberdade, comum a todos, no 21).
o poder de efetuar as próprios desejos sem resistência on obstrucao por parte 0 desenvolvirnento, escreve Paulo VI, exige transforrnacôes audazes,
dos outros". profundamente inovadoras. Devem empreender-se, sem demora, reformas
urgentes (Populorum Progressio, no 32).
NSo se trata aperias de vencer a fome, continua, nem tampouco de afas-
tar a pobreza. 0 combate a miséria, embora urgente e necessário, não é
8. DIVERGENCIAS E CONVERGE.NCIAS suficiente. Trata-se de construir urn mundo em que todos as homens, scm
exceçSo de r-aça, religiSo on nacionalidade, possarn viver urna vida plenarnen-
No mundo de hoje, pelo menos em nosso mundo ocidental, as posicôes te humana, livre de servidàes que lhes vêm dos homens e de uma natureza
conti-aditórjas, eli-i torno dos grandes temas sobre o indivlduo e a sociedade, mal dornada; urn mundo en-i que a liberdade não seja uma palavra vã e em

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que o pobre L.zaro possa sentar-sea mesa do rico (Populorum Pro gresslo, infelizmente sO conhecem as mais rigidas e as mais estreitas. Na nossa opi-
nO 47). niâo, o islamismo é urna religiâo que 6 direitos ao povo. Espero que corn o
Na concluso de seu trabalho, o professor Giulio Girardi acentua que tempo possamos passar essa mensagern. Porque é uma mensagem de
os marxistas pedem aos cristos para afastar-se, não so em teoria mas tarnbm fraternidade, e não de selvageria. E' tambérn urna parte de nossa cultura e de
na prtica, do sistema capitalista. Os cristos pedem aos marxistas para nossa tradiçâo.
dissociar, não sO em teoria mas tambm na prtica, o socialismo dos métodos As divergencias declaradas, confessadas e reconhecidas no devem ficar
ditatoriais. 0 debate atual enfoca a prOpria possibilidade dessas duas passa- fora da Teoria Geral dos Direitos Humanos ou dentro dela corno urn novo
gens que se assemeiham muito, uma e outra, a revoluçôes. Muro de Berlirn. Devem, sim, permanecer em um cornpartirnento de ques-
E terminaperguntando: Mas o ideal não é talvez o que em nOs existe de tes momentaneamente de dificil soluçâo.
mais real ? N5.o est ele na origern de nossas realizacôes ? E essa união no Uina identidade contraditOria existente entre as duas grandes correntes
ideal, uma vez redescoberta, nâo se deveria traduzir, cedo ou tarde, nurna do pensamento econbmico moderno, a do capitalisrno e a do socialismo,
ação cornum para a transformaç.o do mundo? reside no fato de que ambas se dizern dotias eclusivas da verdade democrática
o teOlogo protestante Jurgen Moltmann, professor na Universidade de e uma assaca contra a outra a pecha de antidemocratica, e fundamentam sua
Tiibingen, deixa claro que o ideal da liberdade nâo é jarnais realizado plena- afirmação no mesmo argumento de falsidade das posicôes da corrente contr.-
mente e, apOs esciarecer os v.rios conceitos de liberdade, insiste no dilogo na ern rnatéria de dernocracia e Direitos Humanos.
entre as diversas concepcôes (artigo 0 cristiariisrno como movimento de Jacques Maritain, pensador catOlico entende que homens mutuamente
liberdade, constante da obra citada As vdrzas faces cia liberciade, pig. 160). opostos em suas concepcôes teOricas-podem chegar a urn acordo-meram-ente-
Moltmann ressalta que das posicôes do cristianismo e do rnarxismo, que pratico corn relação a urna lista de direitos hurnanos (em 0 Homem e o Esta-
mutuamente se limitam, surgiram nesse interim, através da autocrItica sobre a!o, Editora Agir, Rio, 3 edicâo, 1969, traduçâo de Alceu Amoroso Lirna,
a nâo-produzida liberdade e corn o olhar dirigido para o objetivo major da página 91).
liberdade, caminhos que podem completar-se reciprocamente.
Que h em comurn ? - pergunta. Em primeiro lugar o sofrirnento pela
real miséria do hornem. E ao mesmo tempo a esperanca numa 1ibertaco
geral do homem. 9. Os DIREITOS HUMANOS EM ESPECIE
E' tempo de os diversos movimentos de liberdade cooperarern urn corn
o outro. Porque nenhum dos movirnentos suscitados j conseguiu trazer o Existe urn grande nOmero de espécies de Direitos Humanos e a cada ano
reino da liberdade e a emancipaco humana do homem; todos, porérn, abri- vâo surgindo novas espécies.
ram novas frentes de luta pela liberdade Existem varias classificaçôes dos Direitos Hurnanos. Urna dessas classi-
Em urna entrevista publicada na revista Elle de janeiro de 1989, pgina ficacôes é feita sob o ponto de vista histOrico de seu surgimento, consideran-
59, uma jornalista dirigiu-se a então primeira ministra do Paquist5o, Benazir do três geracôes de direitos, a saber:
Bhutto, nestes termos: a) de 1 a Geraçao, os direitos civis e politicos, direitos clássicos, negativos
- Voc dirige urna repOblica islrnica. No Ocidente, este adjetivo causa pois exigem urna abstençâo de parte do Estado (o Estado nao pode prender,
medo. nao pode processar, não pode tributar, etc.), os quais foram universalizados
Respondeu Benazir: pela Revolução Francesa do fim do século XVIII, e explicitados, atualmente,
- 0 Islâ nâo é compreendido no Ocidente, que o ye através das ditaduras no Pacto Internacional dos Direitos Civis e PolIticos, aprovado pela XXI
e dos fanaticos. Mas, se voce estudar a teologia muçulmana, vera que h Assembiéia Geral da ONU, em 16 de dezembro de 1966 e em vigor interna-
muitas escolas corn interpretacôes diferentes. Devido ao terrorismo, vocês cional a partir de 23 de marco de 1976;

52 53
• :'--.-•

de 2" Geracão, os direitos econrnicos, sociais e culturais, surgidos a o direito do nascituro, isto 6, do ser humano concebido, corn a
partir de meados do sculo XIX, corn a revolucâo industrial e o surgimento formacâo do zigoto, que 6 a clula reprodutora resultante da fusâo de dois
de grandes massas de operrios e outros trabaihadores trabaihando sob o - gametas de sexo oposto, ou, segundo alguns bidlogos, apds o 14 0 dia da
mesmo teto fabril ou comercial, em constante convivência; e consubstanciados concepco, que seria o momento de a concepcâo tornar-se estavel;
hoje no Pacto Internacional de Direitos F.conômicos, Sociais e Culturais, a
o direito do morto em relacão sua imagem formada enquanto vivo,
aprovado pela XXI Assemblia Geral da ONU, em 16 de dezembro de 1966 reconhecida mesmo que ele não tenha deixado parentes, cônjuge ou herdei-
e em vigor internacional a partir de 3 de janeiro de 1976; ros, portanto no sendo urn direito s6 destes mas também do prdprio ser
de 3(1 Geração, os direitos de solidariedade internacional, nos quais • falecido;
os beneficirios sao, não sd os indivIduos, mas tambm os povos; surgidos o direito funerario, ou seja, o direito de respeito ao cadaver do ser
durante e apds a Segunda Guerra Mundial; e consubstanciados na Carta das hurnano morto e da propriedade desse cada.ver, tema que vem sendo desen-
Naçôes Unidas, de 1945 e em muitas convençöes internacionais, Os quais • volvido por Justino Adriano Farias da Silva, professor de Direito Civil da
abrangern os novos direitos, sobre os quais discorremos mais adiante. - UNISINOS e Procurador do Estado do Rio Grande do Sul.
Devido enorme amplitude dos Direitos Hurnanos em espcie, vamos
abordar, nas linhas a seguir, apenas alguns deles, escoihidos pela sua impor-
tância, pelo seu carter inusitado, pela omissão contumaz da literatura jurl- A
9.1.1. DIREITO VIDA NO DIREITO
dica ou por terern acoihido recentes conquistas. CONSTITUCIONAL BRASILEIRO

A Constituiçâo brasileira de 1988, no capit do artigo 5 1 garante aos


,

9.1. DIREITO A VIDA brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pals a inviolabilidade do direitoa
vida, e, devido a essa redacão capenga, poder-se-ia concluir que essa
a
O direito vida 6 urn dos mais importantes ou talvez o mais importante a
inviolabilidade do direito vida nâo 6 garantida, no Brasil, aos turistas e ou-
dos Direitos Humanos, e o que recebe dos governantes mais proteco na paz tros estrangeiros não residentes mas de passagem pelo territdrio brasileiro.
pelo rnenos para as elites, e mais desprezo na guerra. A maioria dos comentaristas da Constituic.o de 1988, ao referir-se a esse
E urn dos direitos fundamentais, ao lado da liberdade, da igualdade e da a
dispositivo, passam ao largo do direito vida, talvez devido . sua complexida-
seguranca. de para uns ou sua simplicidade para outros. Nos Comentarios . Consti-
Vida, em sentido geral, 6 o conjunto de propriedades e qualidades gracas tuição Brasileira, o consagrado constitucionalista pernambucano Luls Pinto
asquais anirnais e plantas, ao contrrio de organismos mortos ou da matria Ferreira, em sete volume de mais de 600 páginas cada urn, nio dedica urn sd
bruta, se mantêm em contInua atividade, manifestada em funçôes orgnicas a
cornentario sobre o direito vida. Tampouco Celso Ribeiro Bastos e Ives
tais corno o metabolismo, o crescirnento, a reação a estImulos, a adaptaco ao a
Gandra da Silva Martins, nos seus Cornentários Constituicâo do Brasil,
meio e a reproducão. ainda incompletos, mas já corn muitos volume, tambm não ha sequer uma
Porm, o objeto jurIdico do direito vida essencialmente a vida da a
palavra sobre o direito vida. Seriam contrarios a ele ?
pessoa humana, considerada corno tal a existência da pessoa natural ou flsica, Jose Cretella Jdnior, na sua obra de nove volumes corn mais de 500
desde o nascimento corn vida (artigo 40 do Cddigo Civil Brasileiro) at6 o págrnas cada urn, intitulada Comentários a Constituiçâo de 1988, comenta
exato momento de sua rnorte cerebral embora alguns a extendam at6 a a
em dezenove linhas o direito vida, criticando a redaçâo do texto constitu-
finalizaco das dernais funçes vitais. cional que, segundo c, deveria referir-se "a inviolabilidade dos direitos
a
No entanto, como objeto jurIdico complementar, o direito vida inclui a a
concernentes vida". Cretella entende que a expressâo direito vida tern,
tarnbm: no mmnimo, dois sentidos: (a) o "direito de continuar vivo, ernbora se esteja

54 55
sem saiide" e (b) "o direito de subsistência"; o primeiro, ligado seguranca Outro documento internacional, lamentavelmente ainda não ratificado
fisica da pessoa hurnana, quanto a agentes humanos ou nâo, que possam a
pelo Brasil, dispôe tambm a respeito do direito vida, nos seguintes termos
a
ameacar-lhe a existência; o segundo, ligado ao "direito de prover prdpria constantes do artigo 4 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos,
existncia, mediante trabaiho honesto". E, depois, afasta-se do assunto: "o conhecido como "Pacto de San José de Costa Rica":
trabaiho, como rneio de subsistência, 6 poder-dever do Estado, que deve Toda pessoa tern o direito de que se respeite sua vida. Esse direito
proteg-lo, assegurando-ihe condiçôes necessrias para concretizar-se". deve ser protegido pela lei e, em geral, desdé o momento da concepcão. Nm-
guérn pode ser privado da vida arbitrariamente.
Nos palses que não houverern abolido a pena de morte, esta sd pode-
9.1.2. DIREITO A VIDA NO DIREITO INTERNACIONAL r ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprirnento de sentença final
de tribunal competente e em conformidade corn lei que estabeleça tal pena,
A singeleza da mençâo ao direito vida de nossa Constituicâo hoje prornulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se estender
complernentada por norma internacional que ingressou no direito nacional sua aplicacâo a delitos aos quais não se aplique atualmente. - -
aps a ratificacâo, em 1992, do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e No se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajarn
PolIticos, cujo artigo 6 0 dispöe sobre o mesmo, na forma seguinte: abolido.
a
0 direito vida inerente pessoa hurnana. Este direito dever ser Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos poli-
protegido pela lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida. ticos nem por delitos comuns conexos corn delitos polIticos.
Nos paIses em que a pena de morte no tenha sido abolida, esta Não se deve impor a pena--de--morte- a pessoa--que, ro -rnorn-eTn-ro-da
poder. ser imposta apenas nos casos de crimes mais grave, em conformidade perpetraco do delito, for menor de dezoito anos, ou major de setenta, nem
corn legislacão vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja aplicá-la a rnulher em estado de gravidez.
em conflito corn as disposicôes do presente Pacto, nern corn a Convençâo Toda pessoa condenada 1. morte tern direito a sol icitar anistia, indulto
sobre a Prevenc3.o e a Punicâo do Crime de GenocIdio. Poder-se-. aplicar ou cornutaço da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos.
essa pena apenas em decorrncia de urna sentença transitada em julgado e Nâo se pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de
proferida por tribunal competente. decisâo ante a autoridade competente.
Quando a privac5.o da vida constituir crime de genocIdio, entende-se
que nenhuma disposico do presente artigo autorizar. qualquer Estado Parte
do presente Pacto a eximir-se, de modo algum, do cumprimento de quaisquer
das obrigacôes que tenham assumido em virtude das disposicôes da Conven- 9.1.3. VIDA E MORTE
ção sobre a Prevenção e a Punicâo do Crime de GenocIdio.
a
Qualquer condenado morte terA o direito de pedir indulto ou co- a
Nota-se, pela redaçâo desses dispositivos sobre dire ito vida, a Intima
rnutação da pena. A anistia, o indulto ou a comutaçin da pena poderão ser relaçSo desse direito corn a proteco contra a rnorte. Ha uma definiçào
concedidos em todos os casos. negativa de vida, referida no verbete respectivo no Dicionário de Filosofia de
A pena de morte não dever ser imposta em casos de crimes cometi- Gerard Legran (Edicôes 70, Lisboa, 1986, traduçâo do original frances), que a
dos por pessoas menores de 18 anos nem aplicada a muiheres em estado de atribui a Bichat, do seguinte teor: "vida é o conjunto de forças que resistem a
gravidez. rnorte". Vida e morte, portanto, se contrapem, mas estâo num mesmo
No se poderá invocar disposicão alguma do presente artigo para plano.
retardar ou impedir a abolicão da pena de morte por urn Estado Parte do Essa proxirnidade dos dois extrernos, vida e rnorte, também esta expres-
presente Pacto. sa no artigo 2 da Convençâo de Salvaguarda dos Direitos Hurnanos e das

56 57
Liberdades Fundamentais aprovada em Roma, em 4 de novembro de 1950, a proibiço da pena de morte ( n o 2) e a punição do homicidjo (C.Pen.,
arts.
pelo Conseiho da Europa (hoje Uniâo Europia), nos seguintes termos: 131 0 e segs). Conexo corn este componente essencial do direito a vida, esta,
0 direito de toda pessoa a vida 6 protegido pela lei. A morte nâo pode a
instrurrientalmente, o direito proteçâo e ao auxIlio contra a arneaça ou o
ser infligida intencionalmente a ningum, salvo em execução de uma senten- perigo de morte.
ça de pena capital pronunciada por urn tribunal na hipdtese de o delito estar a
Em qualquer destes aspectos o direito vida imp.ôe-se contra -todos, pe-
penalizado corn essa pena por lei. rante o Estado e perante os outros indivIduos.. No que respeito ao Estado (e
A morte no se considera infligida corn infracSo do presente artigo aos poderes piiblicos em geral), ele implica : (a) nâo poder dispor da vida dos
quando se produzir em consequência de urn recurso força que seja absoluta- cidadâos, a qualquer tItulo que seja; (b) a obrigaço de proteger a vida dos
rnente necesal.rio cidadâos contra os ataques ou ameaças de terceiros ; ( c ) dever de abster-se de
para assegurar a defesa de qualquer pessoa contra a violência ilegal; açôes ou da utilizaçao de meios que criem perigo desnecessário ou despropor-
para efetuar uma detenção legal ou para impedir a fuga de urna pessoa cionado para a vida dos cidados (v.g., utilização de armas de fogo contra
detida legairnente; manifestacôes). No qu espet .aosutros indivduos,cdjyejto ì vida, alérn
b) para reprimir, de conformidade corn a lei, uma revolta ou uma insur- de proibir qualquer atentado contra a vida de outrem, pode em cenas cir-
reiço. cunstncias legitimar urn dever de socorro ou de auxIlio a quem se encontrar
em perigo de vida (cfr.C6d.Penal ; art. 219 1). -

9.1.4. VIDA E MORTE NO DIREITO IV. A Constituiçao nâo garante apenasodireitoavjdaeflqut.gdjrei


CONSTITUCIONAL PORTUGUES to fundamental das pessoas. Protege igualmente a prdpria vida humana, in-
dependentemente dos seus titulares, como valor ou bern objetivo - é nesse
Tarnbm a atual Constituicão da Repdblica Portuguesa une vida e mor- sentido que aponta a redaço do no 1. Enquanto bern ou valor constitucio-
te em urn mesmo artigo, o de no 24°, que afirma: 1. A vida humana nalmente protegido, o conceito constitucional de vida humana parece abran-
inviolavel. 2. Em caso algurn havera pena de morte. ger, no apenas a vida das pessoas, mas também a vida pré-natal, ainda nâo
Os juristas portugueses de CoimbraJ.J.Gomes Canotilho e Vital Moreira,
investida numa pessoa, a vida intra-uterina (independentemente do mornen-
em sua obra Constituição da Repb1zca Portuguesa Anotada, 1° volume, co- to em que se entenda que esta tern inIclo). E seguro, porém, que : (a) o
mentam aquele artigo 24° da seguinte rnaneira: regime de proteçâo da vida humana, enquanto simples bern constitucional-
0 direito a vida 6 o prirneiro dos direitos fundamentais constitucio-
mente protegido, nâo é o mesmo que o do direito a vida, enquanto direito
nalmente enunciados. E, logicarnente, urn direito prioritario, pois 6 condi- fundamental das pessoas, no que respeita a colisão corn outros direitos ou
ção de todos os outros direitos das pessoas. Ao conferir-ihes urna proteco
interesses constitucionairnente protegidos (v.g., vida, sadde, dignidade, liber-
absoluta, nâo admitindo qualquer exceção, a Constituicão erigiu o direito a dade da mulher); (b) a proteção da vida intra-uterina não tern que ser idéntica
vida em direito fundamental qualificado. em todas as fases do seu desenvolvjrnento, desde a formaço do zigoto ate ao
a
O valor do direito vida e a natureza absoluta da proteco constitucio- nascirnento ; (c) os meios de proteçâo do direito a vida - designadarnente os
nal traduz-se no prdprio fato de se impor mesmo perante a suspensâo cons-
instrumentos penais - podem mostrar-se inadequados ou excessivos quando
titucional dos direitos fundamentais, em caso de estado de sItio ou estado de
se trate da proteç3o da vida intra-uterjna. Nâo existindo, portanto, urna
emergência (art. 19°) e na proibicâo de extradição de estrangeiros em risco de
proibiç3o absoluta do abono, parece, todavia, nSo existir também o reconhe-
serem condenados a pena de morte (art. 33°-3). cimento constitucjonal de urn direito ao aborto.
a
0 direito vida significa, primeiro e acima de tudo, direito de nâo ser V. A proteç3o da vida humana enquanto valor em si, independenternen
morto, de não ser privado da vida. Expressöes deste direito s5o, tipicamente,
te da sua subjetivizaçao pessoal, levanta ainda o problerna de saber se o dever

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59
de a proteger se impöe ao pn5prio indivIduo (:dever de viver), negando assim Essa Declaração foi aprovada em Bruxelas, em 27 de janeiro de 1978, em
urn direito ao suicldio (note-se que o C6digo Penal apenas pune o auxIlio ao uma Conferéncia da UNESCO-Organizacão das Nacôes Unidas para a Edu-
suicIdio). cação, Ciência e Cultura, e tern o texto a seguir transcrito.
Nesse contexto surge tambrn o problema da licitude da alimentacão Prembulo: Considerando que cada animal tern direitos; considerando
forçada, sobretudo nos casos de "greve de fome" por parte de presos. que o desconhecimento e o desprezo destes direitos levararn e continuam a
VI. 0 direito vida significa também direito . sobrevivncia, ou seja, levar o homem a cometer crimes contra a natureza e contra os animáis; con
direito a viver. Neste sentido o direito vida traduz-se no direito a dispor das siderando que o reconhecimento por parte da espécie humana do direito a
condiçôes de subsisténcia minimas, integrando designadamente o direito ao existéncia das outras espécies animais, constitui o fundamento da coexistén-
trabaiho (ou ao subsIdio de desemprego, na falta daquele), protecão da sa ii- cia das espécies no mundo; considerando que os genocidios são perpetrados
de, habitação, implicando o direito a reclamar do Estado as prestacôes exi s- pelo homem e que outrbs ainda podem ocorrer; considerando que o respeito
tenciais indispens.veis a uma vida minimamente digna. Por esta via, o direito pelos animais por parte do homern esta ligado ao respeito dos homens entre
vida revela-se como matriz originria dos principais direitos sociais si; considerando que a educação deve ensinar infncia a observar, corn-
preender e respeitar os animais;
Proclama-se:
9.1.5. DIREITO A VIDA, SOMENTE HUMANA? Art. 10 - Todos os animais nascem iguais diante da vida e tern o mesmo
a
direito existência.
Como se trata de urn direito estritarnente humano, o direito vida ex- Art. 2° - a) Cada animal-tern--di-reito ao-respeitO;---------
clui Os outros animaiS, Os não racionaiS, especialrnente: 0 hornem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito
a
os espécimes vivos cujos cad.veres são destinados alimentação hu- de exterrninar os outros animais ou explorá-los, violando este direito. Ele
mana, como gado bovino, suino e ovino, os peixes e ayes; mortos aos milhôes tern o dever de colocar sua consciência a serviços dos animais.
a cada dia, em todos os palses do mundo; Cada animal tern o direito ii. consideração, a cura e . protecão do
os destinados a usos cientificos, como os láparos (filhotinhos de urn hornem.
dia de coelhos, para fabricacão de vacina), os ratos, carnondongos e rãs (para Art. 3° - a) Nenhurn animal devera ser submetido a maltrato e atos
experirnentos), os cães e gatos (para estudos veterinãrios) e outros; cruéis.
os que constituern pragas de lavouras, corno lagartas, gafanhotos, b) Se a morte de urn animal é necessaria, deve ser instantnea, sem dor
caturritas, lebres, etc. nem anglIstia.
os nocivos . saiide hurnana, corno baratas, moscas, piolhos, ratos e Art. 4 0 - a) Cada animal que pertence a uma espécie selvagem tern o
outrOs; direito de viver livre no seu ambiente natural terrestre, aéreo ou aquatico e
os necessfrios para a alirnentacão de outros animais de circos e zool6- tern direito a reproduzir-se.
gicos; b) A privação da liberdade, ainda que para fins educativos, é contrária a
os nocivos aos animais de criação, como carrapatos e vermes. este direito.
Em todo o mundo existem associaçáes protetoras de animais, porém Art. 5° - a) Cada animal pertencente a urna espécie, que vive habitual-
oem todos os seus membros são vegetarianos mas se alimentam de cadaveres mente no ambiente do hornem, tern o direito de viver e crescer segundo o
de animais abatidos para servirem de comida para os humanos. ritmo e as condices de vida e de liberdade, que são prprias de sua espécie.
Mas é de se ressaltar que existe uma Declaracão dos Direitos dos Ani- b) roda modificaçao deste ritmo e destas condicôes irnpostas pelo ho-
mais, em que certos dispositivos, se aplicados aos seres humanos, dariam a mern para fins mercantis é contr.ria a esse direito.
estes condiçöes melhores do que as vigentes no mundo de hoje.

61
Art. 61 - a) Cada animal que o homem escoiher para companheiro tern 9.1.6. DIREITO DE MATAR
o direito a uma duração de vida, conforme a sua natural longevidade.
b) 0 abandono de urn animal 6 urn ato cruel e degradante. Porm, ao lado do direito a vida, existe o direito e o dever de matar. 0
Art. 7° - Cada animal que trabalha tern o direito a urna razoãvel limita- direito de matar ocorre nos casos de legitima defesa ou dc aplicação de-pena
ção do tempo de trabalho e de sua intensidade, a uma alirnentação adequada de rnorte. 0 dever de matar ocorre de modo especial quando ha guerra eo
e ao repouSO. indivlduo se torna soldado e assume a obrigacão de matar o inimigo, sob
Art. 8 1 - a) A experimentacão animal, que implica em urn sofrimento pena de ser penalizado, a5 vezes at6 mesmo corn a pena de rnorte, pelo chama-
flsico e pslquico, é incompativel corn os direitos do animal, quer seja uma do crime de traiçSo a pátria ou de covardia diante do inimigo.
experiência mdica, cientlfica, comercial ou qualquer outra.
b) As tcnicas substitutivas devem ser utilizadas e desenvoividas.
Art. 9 0 - No caso de o animal ser criado para servir de alimentaçâo, deve 9.2. DIR El TO A SEGURANA E LIBER DADE DO TEMOR
ser nutrido, alojado, transportado e morto sem que para ele resulte ansiedade
ou dot. Uma das 4 Liberdades de Roosevelt, preconizadas por este em 1941,
Art. 100 - a) Nenhum animal deve set usado para divertirnento do ho- alm da liberdade de expressão, da liberdade de credo e da liberdade das neces-
mem. sidades materiais, 6 a liberdade do medo.
b) A exibição de anirnais e os espetáculos que utilizam animais são in- Em 1941, ocorria na Europa uma das mais cruentas guerras, a chamada
compativeis corn a dignidade animal. Segunda Guerra Mundial, que matou- muits-rni-l-h-öes-d-e - jove-ns-so-Fd-a--do-s--al-m
Art. 11° - 0 ato que leva a morte sem necessidade urn biocldio , ou de outros muitos milh6es de membros da populacSo civil. Os indivlduos,
seja, urn delito contra a vida. mesmo os residentes longe dos locais de batalhas e bombardeios, viviam em
12° - a) Cada ato que leva morte de urn grande niirnero de animais verdadeiro pavor
selvagens 6 urn genocldio, ou seja, urn delito contra a espcie. Mas o medo, a que se referia o presidente norte-americano Franklin
b) 0 aniquilamento e a destruicão do ambiente natural levam ao Roosevelt, não era apenas o das bataihas e bombardeios areos e de suas
genocldio. consequãncias diretas. Era o ternor também do desemprego,das persegui-
b) As cenas de violncia de que os animals são vltimas devern set proibi- çôes, do racismo, das discriminaçoes, da instabilidade, da perda da dignidade.
das no cinema e na televisão, a menos que tenham como fim mostrar urn
atentado aos direitos do animal.
Art. 14° - a) As associaçôes de protecSo e de salvaguarda dos animais 9.3. DIR EL TO A PRI VA CIDADE
devem ser representadas a nlvel de governo.
b) Os direitos do animal devern ser defendidos por leis, corno os direitos 0 direito a privacidade é urn direito contraditdrio, pois se o homem é
do homem. urn ser social e precisa da convivéncia corn outros seres humanos, surge a
No Brasil, o Decreto no 24.645, de 10 de julho de 1934, que tern forca de privacidade como uma exceçSo a regra.
lei porque na 6poca o presidente da Repiiblica legislava discricionariamente, Mas, se tomarmos o significado de direito a privacidade como urn direi-
estabelece medidas de protecão aos ammais, e começa dizendo no artigo 1° to a vida mntima, a questSo fica rnelhor entendida. Vida Intirna é algo inseparável
que "todos os animais existentes no Pals são tutelados do Estado", e depois e inevitãvel dos seres vivos racionais e ate rnesrno dos irracionais superiores.
estabelece em minuciosos 31 incisos do artigo 3° as vãrias condutas conside- Na ConstituiçSo brasileira de 1988, dispôe o inciso X do artigo 5° que
radas maus tratos e passlveis de multa e prisSo. 0 artigo 17 esciarece que a são invioliveis a intimidade, a vida privada, a honra e a irnagern das pessoas,
palavra animal compreende todo set irracional, quadripede ou bipede, do-
mestico ou selvagem, exceto os daninhos.

.62 63
assegurado o direito a indenizacão pelo dano material ou moral decorrente de pensão de uma lei que proibe a veiculação de material "indecente" na Internet.
sua violacâo. AR, Os trs juIzes norte-americanos que examinaram o assunto por quatro meses,
0 artigo 26 0 da ConstituicSo da Repiiblica Portuguesa reconhece a to- dede a promulgacão da lei, em 8 de fevereiro de 1996, decidiram que a Internet
a
dos o direito reserva da intirnidade da vida privada e familiar. desfruta, pelo menos, das mesmas garantias dadas pela Constituição de 1787 e
A Constituiçâo da Espanha dispöe, no artigo 18-1, que se garante o direi- .4 sua Emenda no 1.
a a
to honra, intimidade pessoal e familiar e pr6pria imagem. - Por ser a forma de comunicaçSo de massa mais participativa que existe,
Pinto Ferreira, nos seus Comentárzos Constituicao Brasileira(10 volu- a Internet merece a mais alta protecâopossIvel contra intrusôes do Estado, -

me, página 79), relata a celebracâo, em Estocolmo, em maio de 1967, da "Con- proclamaram os juIzes no acórdâo, com 175 paginas.
a
ferência N6rd1ca sobre o Direito Intimidade", quando foi aprovada docu- Representantes das 57 entidades que contestam a lei, comemoraram, na
a
mento que alinha cinco ofensas ao direito intimidade: prpria rede Internet, a decisão, at corn imagens de fogos de artifIcio cob-
penetracSo no retraimento da solidão da pessoa, incluindo-se no caso cadas nos chamados "sites" das entidades, junto da expressão "Free Speech"
o espreitd-la pelo seguimento, pela espionagern ou pelo chaniamento cons- (liberdade de expressão), e prornel.eram redobra•r-esforços -ate- o pronuncia-
tante ao telefone; mento da Suprema Corte, para onde o governo do presidente forte-america-
gravacão de conversas e tomadas de cenas fotogr.ficas e cinematográ- no Bill Clinton pretende recorrer. A União Americana das Liberdades Civis
ficas das pessoas em seu circulo privado ou em circunstncias Intimas ou pe- a
(ACLU, na sigla em inglês), urnã das que levou o cäso Justiça, divulgou, na
a
nosas sua moral; - - prpria Internet, uma cronologia do caso e a Integra da decisão
audiçao de conversaçôes privadas por interferências mecãnicas de tele- O governo argumenta queexistern.leisproiin.doporngrafi.a_infant4
fone ou microfilmadoras dissimulados deliberadamente; e que a Internet, por usar linhas de telecomunicação, pode ser sujeitada, como
exploracão de nome, identidade ou semelhança da pessoa sem seu os meios de radiodifusão, a algum tipo de controle estatal.
consentimento, utilização de falsas declaraçôes, revelaçâo de fatos Intimos ou Os juizes disserarn que os termos "indecente" e "patenternente ofensi-
crItica da vida das pessoas; vos" são "inconstitucionalmente vagos" e que a lei limita o acesso de adultos
utilizaçao em publicacôes ou em outros meios de informação, de a Internet.
foto-grafia ou gravaçôes obtidas subrepticiamente nas formas precedentes. Fornecedores de serviços on line argumentam que a lei poderia gerar
diividas sobre informação médica, literatura, obras de arte e afetar ate mesmo
as noticias transmitidas pela Internet.
A composicão ideol6gica da Suprema Corte forte-americana é equili-
9.4. LIBERDADE DE EXPRESSAO brada e permite prever uma votação apertada sobre a lei, que terá o apoio
seguro de pelo menos dois juizes, Clarence Thomas e Antonin Scalia, que
Nessa questão do direito a liberdade de manifestaçao, surgiu, nos compôem a extrema direita da Corte, composta por nove pessoas.
ultirnIssimos anos, algo novo, inesperado, que causa at6 perplexidade, e que
a rede internacional de informatica denominada Internet, pela qual qual-
quer pessoa do planeta tem acesso, de maneira quase instantnea, a informa-
côes amplamente diversificadas. 9.5. DIREJTOS PROCESSUALS
Os poderes piiblicos ainda não sabem como proceder e nem mesmo se
possivel uma regulamentacão da Internet.
Em junho de 1996, uma corte federal de recursos de Filadlfia, capital do Nas relaçáes humanas é natural que haja atritos e conflitos entre pessoas
Estado da Pensilvânia, na costa leste dos Estados Unidos, determinou a sus- ou entre pessoas e Estado.

64
1 65
Para dar solução justa a esses conflitos, o Estado deve dar s pessoas o
Cornarca ou Junta ou Tribunal. For mais inepta que seja a peticão, o juiz
que se chama prestacâo jurisdicional, isto , o Estado deve "dizer o direito",
terá de exarnin-la, devido a outro princIpio, o princIpio do amplo acesso
deve aplicar a norma juridica respectiva da maneira mais justa.
justica, conforrne a Constituiço brasileira, artigo 50, inciso XXXV (a lei não
0 processo é o ambiente onde se resolve a pendência e a forma como
excluirá da apreciacão do Poder Judici.rio lesão ou arneaça a direito).
cia é dirimida.
Recebida a peticão, sera já iniciaimente obedecido o princIpiodocon-
Processo não é o arnarrado de folhas de papel em trmite numa reparti-
tradit5rio, ou seja, será dada oportunidade outra parte, ao requerido, o
ção ou nurn cart6rio. Isso sâo os autos do processo. Processo 6 o encadea-
direito de se pronunciar sobre a mesma questâo e dar a sua verso dos fatos.
mento l6gico de atos desenvolvidos por iniciativa de pessoas interessadas, em
A todas as partes será oportunizado o princIpio da ampla defesa, podendo
que 6 pedida a uma autoridade administrativa ou judiciária uma declaraçâo
cada urna apresentar documentos, requerer perIcia, requerer sejarn ouvidas
ou urna providncia a respeito de fato juridico controverso.
testernunhas e usar de todos os meios de prova possiveis, mas obedecido o
Urn dos prirneiros principios processuais constitucionais é o do devido
princIpio da vedaç3n da prova iiIcita, pois no serâo adrnitidos dentro do
processo legal (due process of law), pelo qual a questâo a ser resolvida pelo
processo qualquer tipo de prova obtida por rneios ilicitos, por exemplo carta
Estado deve ser apreciada através de urn encadeamento lógico de atos (pro-
de uma parte interceptada pela outra, em obediéncia ao princIpio da
cesso), próprio para o caso (devido) e previarnente estipulado em lei (legal).
invioiabihdade do sigiio da correspondncia e das comunicaçôes telegr.ficas,
Quern vai resolver a questâo não pode ser quaiquer urn nem pessoa
de dados (scm quaiquer excecâo) e das comunicaçôes teleftnicas, salvo neste
escolhida a dedo, mas por uma autoridade cornpetente segundo o caso e esco-
iiitimo caso, por ordern judicial, nas hip6teses e na forma que lei recente
lhida aleatoriarnente. Esse é oprincIpio do julgador natural, natural porque
brasileira estabeiece e exclusivrttrepara finsditiçatttrthtahu
sua escoiha ser feita de acordo corn a cornpetncia atribulda expressamente
instrução processual penal.
por lei anterior e, quando houver mais de urn julgador de mesrna competên-
Todo esse processo estari sujeito ao princIpio da publicidade e s6 em
cia, a escolha ser. feita por sorteio.
casos excepcionais, quando o exigir o interesse social ou a salvaguarda do
Quando a pessoa individual ou coletiva tiver urn problema a ser resolvi-
princpio da inviolabilidade da intirnidade, da vida privada, da honra e da
do pelo Estado, ela procurar urn advogado, que é o profissional técnico
titular da prerrogativa dc dar fOffia éë.nico-jüfIdicä aö éñcáminharnento da imagemdas pessoas, rnas mesrno assim não será admitida a sessâo secreta de
pretensão exposta. instruçâo ou juigamento, pois sempre estaro presentes pelo menos os advo-
gados das partes (Constituicâo brasileira, artigo 93, inciso IX),
Relatada a questâo pela pessoa ao advogado, este enfrentará e terá de
resolver o seu prirneiro e grande dilema, para poder escrever a prirneira linha A sentença ou qualquer decisão do julgador estar sujeita ao princIpio
do seu pedido. Ele ter de icr ou relernbrar o que diz a Constituiço federal a da fundamentação, devendo ser claramente enunciados os fatos e o direito
respeito da cornpetncia dos juIzes e tribunais federais. Se sua diivida não em que baseia a deciso, sob pena de nulidade (CF, art. 93, IX).
ficar esciarecida, deverá lernbrar-se de que o Brasil é uma federação, e toda Se a questão discutida for uma acusação contra alguém, de fundo penal
competncia que n3o estiver atribulda a urn 6rgo federal ou municipal (nes- ou adrninistrativa, vigorar o princIpio da presuncão de inocência (CF, art.
50, inciso LVII) e dc
te caso, s6 em inst.ncia administrativa), a competncia pertencer a urn 5rgâo s6 serA considerado culpado após o trnsito em julgado
de Estado-membro e a Constituiçâo deste dever esciarecer ou, corn mais da sentença condenatdria. No direito penal português forarn elirninadas ate
especificidade, o C6digo de Organizacâo Judiciária do Estado (COJE). as expressôes réu e acusado, que foram substituldas por arguido, de conteiido
Resolvida a questão prirneira, o advogado escreve a primeira linha da bern menos injurioso.
peticão: Exmo. (o tratarnento de "excelência" é obrigat6rio, pelo menos Outros principlos constitucionais e legais asseguram urna longa série de
segundo o C0E-C6digo de Organizacâo Judiciria do Rio Grande do Sul, direitos processuals, cuja desobediência poderá acarretar a nulidade do pro-
pouco importando as qualificacôes do rnagistrado) Sr. Juiz de Tal Vara de Tal cesso.

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Na questão cia publicidade, cabe lembrar uma reiterada violação do prin- - na de 1988, artigo 5°, inciso LXVIII: Conceder-se-s. habeas-corpus sem-
clpio da publicidade e da proibicão de julgamentos secretos. Nos Tribunais pre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em
de Jiiri, é cornum o juiz presidente determinar aos jurados que se dirijam a sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
sala secreta para deliberar, em clara afronta ao dispositivo constitucional, pois Corno se constata, a redacâo sempre foi, praticamente, a mesma, inclusi-
o que o inciso XXXVIII do artigo 50 da Constituicão Federal brasileira exige ve nos perlodos ditatoriais. No regime fascista do Estado Novo, a Constitui-
o sigilo das votaçôes, corno o faz, por exemplo, a Dra. Ana Cristina, juiza ção de 1937, no seu próprio corpo, no artigo 186, declarou em todo o pals o
presidente do Tribunal do Jiiri da comarca de São Leopoldo, RS, que conduz estado de ernergência, que implicava no arbltrio total.
todo o julgamento de maneira pi.Iblica s6 resguardando o sigilo das votaçôes No regime fascista implantado a partir de 10 de abril de 1964, o arbltrio,
dos jurados, que depositam publicamente seu voto secreto em urna. a truculência e o desprezo pelos Direitos Humanos, tornaram o habeas-corpus
instituto de contei'ido vazio, e apesar de muitos juIzes eiribunais inferiores
concederern a medida, o Supremo Tribunal Federal sempre ratificava as vio-
9.6 DIREITO DE LOCOMO cÁO lências sob o argurnento vil de que o golpe-de-Estado havia se investido de
todos os poderes, legitimando-se por si mesmo, que podia editar normas sem
o direito de locomoção 6 o direito de ir e vir, ou, como preferem os ser limitada pela normatividade anterior e que o governo militar ditatorial
penalistas, o direito de ir, vir, ficar e permanecer. podia fazer o que bern entendesse e o Suprerno Tribunal tinha que
Sua protecão h das mais antigas e seu instrumento processual, o habeas- e aceitar o arbltrio.
corpus, tern muitos shculos de existncia. Na Magna Carta, da Inglaterra, de
1215, ele j estava esbocado.
o habeas-corpus consta em todas as Constituicôes brasileiras republica- 9.7. DIREITO A NA CJONALIDADE
nas:
- na de 1891, artigo 72, paragrafo 22: Dar-se-a o habeas-corpus sempre
Dispôe o artigo 15 da Declaracão Universal dos Direitos Humanos que
que o indivlduo sofrer ou se achar em iminente perigo de sofrer violhncia, ou toda pessoa tern direito a uma nacionalidade e que ninguém sera privado
coação, por ilegalidade, ou abuso de poder;
arbitrariamente de sua nacionalidade nem do direito de trocar de nacionalida-
- na de 1934, artigo 113, no 23: Dar-se-. habeas-corpus sempre que al-
de.
guhrn sofrer, ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liber-
Nacionalidade é o laco jurldico que vincula a pessoa a um determinado
dade, por ilegalidade ou abuso de poder. Nas transgressôes disciplinares não
Estado, segundo lição de Luls Pinto Ferreira, em Comentárzos a Constituicão
cabe o habeas-corpus.
Brasileira, Editora Saraiva, São Paulo, 1989, 1° volume, pagina 278. Todos os
- na de 1937, apesar de fascista e descumprida, artigo 122, no 16: Dar-
autores usarn a palavra vinculo, alguns falarn em vInculo jurldico e politico.
se-a habeas-corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminncia de so-
Pode-se também afirmar que a nacionalidade não é propriamente urn vInculo
frer violncia ou coação ilegal, na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de
mas urna condição ou qualidade decorrente de urn vinculo jurIdico e polItico
punicão disciplinar;
entreum indivlduo e urn Estado.
- na de 1946, artigo 141, parágrafo 23: Dar-se-á habeas-corpus sempre que
E de se ressaltar que a palavra nacionalidade deriva da palavra nação,
alguém sofrer ou se achar ameacado de sofrer violncia ou coação em sua
mas o vInculo da nacionalidade se da mais corn urn Estado do que corn uma
liberdade de locornoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Nas transgres-
nação. Os russos, após sua revoluçao de 1917, acharam que deviam criar
söes disciplinares, não cabe o habeas-corpus.
uma nacionalidade nova para distinguir qualquer pessoa nascida em urna das
- na de 1967, artigo 150, parágrafo 20, e na Emenda Constitucjonal no 1,
mais de 180 nacionalidades e etnias abrangidas pelo novo Estado. Para isso
artigo 153, paragrafo 20: a mesma redação de 1946;
deturpararn a palavra russa "soviet", que quer dizer conseiho, deram a ela urn

68
69
outro significado e criaram a esquisita nacionalidade "sovitica" (conseihista). T novo territdrio receberão a nacionalidade local. 0 zus sanguinis (direito
Corn isso amalgamararn, corn argamassa fraca, uma união fiticia que sossobrou vinculado ao sangue, ascendncia) considera a nacionalidade segundoa
a urn sopro mais forte, tal como na histdria dos três porquinhos. filiação, ou seja, Os descendentes conservam a nacionalidade dos pais, e era
Nos dias de hoje, existern 185 Estados soberanos membros das Nacôes peculiar dos palses europeus de emigracão, que tinham excesso de trabaihado-
Unidas, e mais alguns que não são membros, como a Suica. As Nacôes Urn- res em meados do sculo passado e inlcio deste, precisavam mandar uma-par- - -
das, apesar de seu nome, em verdade não 6 formada por naçôes mas por te deles para os palses corn falta de trabaihadores especializados, porrndese- -
Estados. 0 conceito de nação 6 socioldgico e o de Estado 6 juridico. Existem javam manter algurn vinculo corn os seus ernigrantes e corn seus descenden-
Estados constituldos de uma iinica naçãO, mas existem Estados abrangendo tes. Hoje a situação mudou, rnas as leis dos Estados de ernigracão continuam
vrias naçöes, como o Canad (angldfilos, francdfilos e indigenas), ou urna a beneficiar os descendentes dos seus ernigrantes.'
nação pertencendo a vãrios Estada -s;cotho a Arrnênia (artOna Turquia, 0 direito fundamental de toda pessoa humana 6 de que ela tenha uma
parte no Ira e parte como Repdblica independente). nacionalidade, e .s vezes rnais de urna.
0 direito especifico que rege as relaçôes entre Estados chama-se Direito A nacionalidade, a aqüisicão de nacionalidade, a aceitação ou proibicão
Internacional e não Direito Interestatal. Por que ? Alguns enraizam a expli- da dupla ou miiltipla nacionalidade, a rnudança de nacionalidade, que a
cação num erro de tradução. Os ingleses foram os primeiros a estudar a naturalização, a perda de nacionalidade, tudo issoé assunto da ordern jur{di-
questão e chamararn-na de "law of nations", mas "nation" em inglês não ca interna de cada pals, da Constituicão ou das leis ordinrias, que, entretan-
corresponde exatarnente ao termo francs "nation". Os franceses traduziram to, serão regras de validade restrita e não invalidarão regras diferentes adotadas
a expressão literalmente: Droit--Itn wna4- quse espra-ioi-p-e10--r-esto-do pelos outros Estds kssti?ç se Etdoroioequeo sion-ahenh
mundo. Outros, explicarn de maneira diferente, fundamentando-a na teoria dupla nacionalidade, essa disposicão não terã validade no Estado que dispuser
das nacionalidades, desenvolvida por Pascoal Mancini, em 1850, na Univer- diferenternente e resolver conceder , por exernplo, direito de voto a quem j
sidade de Turim, na Itália. 0 primeiro princIpio dessa teoria preconizava que possui urna outra nacionalidade. Alérn disso, a situação do estrangeiro e do
toda nação deve constituir urn Estado, e somente urn. Calcado nessa doutri- apátrida é regulado e protegido tambérn pelo Direito Internacional.
na, Giusepe Garibaldi e os dernais lutadores italianos, conquistararn, pela for- A Constituição brasileira de 1988 rnanteve a filiacão predomina-nte ao
ça das armas aliada força daquela idéia, a reunificacão da nação italiana, que, ius so/i, mas aceitou tambérn alguns casos em que prevalece a ascendncia
at6 1870 estava dividida em v.rios pequenos Estados. para definir a nacionalidade do indivlduo, corno é o caso do nascido no tern-
Em face de o rnundo atual ser composto de compartimentos estanques, • ., tdrio estrangeiro, mas filho de pai brasileiro ou mae brasileira, desde que
chamados Estados, cada urn corn sua soberania, corn seu territ6rio delimita- qualquer deles esteja a serviçO da Repdblica Federativa do Brasil (jessoal das
do rigidamente por fronteiras, corn urna ordern jurldica prdpria, corn gover- embaixadas, por exemplo), ou desde que seja registrado em reparticão brasi-
no prdprio, corn urn povo definido, cada membro desse povo tern e precisa leira competente (consulados), ou venha a residir no Brasil antes da maiorida-
ter urna nacionalidade. No territdrio soberano de cada Estado, vivem os de e, alcancada esta, opte em qualquer tempo pela nacionalidade brasileira
que tarn a respectiva nacionalidade. Fora esses, existem os estrangeiros, ou (Constituicão, artigo 12, inciso I),
seja,.os que possuem nacionalidade de outro Estado e alguns raros apátridas
que são os que não possuern nenhuma nacionalidade.
Existem dois critr1os para estabelecer a nacionalidade de urn indivlduo
9.8. DJREJTO A MOD1A
ao nascer ou posteriormente. 0 ius so/i (direito vinculado ao solo, ao territi-
rio) considera a nacionalidade segundo o local do nascimento e prevalece No inlcio de junho de 1996, realizou-se em Istambul, capital da Turquia,
mais nos Estados subdesenvolvidos, Estados de irnigracão, que recebem em a Segunda Conferncia das Nacôes Unidas sobre Assentarnentos Humanos,
seu territdrio pessoas vindas de outros palses, mas cuos filhos nascidos no cognominada de Habitat-2 ou de Ciipula das Cidades, e realizada vinte anos

70 •1 71
ap5s a Primeira Conferência realizada em 1976 na cidade de Vancouver, no diplomata brasileira, a conselheira do Itarnarati Marcela Nicodemos e trouxe
Canada. Tomaram parte 5.000 representantes governarnentais de 185 paises desalento aos representantes das ONG, que perceberam que a meihor manei-
e cerca de 20.000 representantes de Organizacôes Não Governamentais (ONG), ra de negar urn direito, 6 conce&lo s6 na aparencia, s6 na literatura, pois o
sob a cobertura de quase 2.000 jornalistas. Foram apresentadas milhares de "progressivamente" vai protelar indefinidarnente a solucão do problema da
cornunicaçôes e propostas. rnoradia popular.
Os encontros de Istambul tiveram como objetivos principais: Durante a Conferência fabou-se muito em "gestão social do habitat", que
moradia para todos; compreende a producão social de moradia, a construção do habitat e tudo o
assentarnentos humanos sustentaveis, nurn mundo urbanizado, corn que tern a ver corn a gestão dernocratica do habitat que inclui aspectos desde
essa sustentabilidade estimulada a apresentar espacos de gestão democratica. o controle de projetos habitacionais por parte das pr6prias organizacôes ate
Após muita discussão, foi aprovado o ponto mais polmico da Agenda aspectos de controle de espacos urbanos e de gestão democrâtica do bairro ou
Habitat-2, cujo artigo 13 ficou assirn redigido: do conjunto habitacional.
"Reafirmamos que sornos guiados pelos objetivos e priricipios da Carta -- -- -- A producão social da rnoradia tern urna importncia particular ante a
das Naçôes Unidas e reafirmarnos nosso compromisso em assegurar a plena crise de rnoradia em todo o rnundo, especialmente na America Latina e ou-
implementacão dos Direitos Humanos estabelecidos em instrumentos inter- tros paises subdesenvolvidos, onde o mercado não pode atender demanda,
a
nacionais, incluindo o direito moradia como esta na Declaração Universal nern a maioria da populacão pode comprar uma moradia no mercado.
dos Direitos Humanos, na Convenção Internacional dos Direitos Econmi- A falta de moradias e as subabitaçôes, junto corn a agua contarninada e as
cos, Sociais e Culturais, na Convenção Internacional pela Elirninação de To- mas condiçôes sanitarias, saovespunsaveis peiamortede1-0rniFh6esdepesso-
das as Formas de Discriminação contra Muiher e na Convenção dos Direitos as por ano. As populacôes que vivern nessas condiçôes são tambem as princi-
da Criança, levando em conta que o direito moradia adequada, na forma pais vitimas das catastrofes naturais, embora previsIveis, como as enchentes e
como está incluldo nos instrumentos internacionais mencionados acirna, deve os deslizarnentos de encostas e morros, segundo as Naces Unidas.
ser implementado progressivamente. Reafirmamos que todos os Direitos As 110 Organizacôes Não Governarnentais (ONGs) latino-americanas
Humanos - civis, culturais, econrnicos, politicos e sociais - são universais, que estiverarn em Istambul, tiverarn reuniôes durante os dois anos anteriores,
indivisIveis, interdependentes e inter-relacionados." afirn de levarern urn pensarnento uniforme sobre a questão da habitacão e
Os Estados Unidos forarn os que mais resistiram aprovação do direito outras questôes de assentarnentos humanos. No final chegou-se a urn consen-
a moradia, pois temem que a sua simples inclusão, sem ressalvas, poderia SO em torno de cinco pontos:
abrir a possibilidade de esse direito ser reivindicado por sem-teto na justica. a
Reconhecirnento e implementacão do direito moradia, corn base
Os Estados Unidos e outros paises, inclusive o Brasil, consideram a moradia no fato de que a implernentacão dos direitos hurnanos converge para os assen-
como urn bern vinculado ao nIvel dos rendimentos, negando que a privação tamentos humanos.
de urn teto signifique violação dos Direitos Hurnanos. Por isso s6 concorda- Necessidade de urn papel ativo mas descentralizado do Estado na
ram em aprova-lo depois que os demais paises concordararn em esclarecer implernentacão do direito rnoradia. A descentralização do Estado deve ser
restritivamente que ele deve ser irnplementado progressivarnente, o que cons- acompanhada do reconhecimento de suas obrigacôes e responsabilidades fun-
tituiu urna sria derrota para os sern-teto de todo o mundo, inclusive para os damentais.
do Brasil, cuja Constituição, no longo artigo 50 de declaraçSo de direitos, não São necessarios governos democraticos para alcançar o equilIbrio. F.
a
inclui entre estes o direito rnoradia indispensavel o direito de participacão de todas as muiheres e homens no
A inclusão daquela simples palavra (progressivamente) foi cornandada pianejamento de suas moradias.
pela delegacao governamental brasileira, que comemorou sua aprOvação. A a
E necessario o reconhecimento e apoio producão cornunitaria de
dernorada negociacão preliminar, na cornissão respectiva, foi dirigida por urna casas.

72 -- I 73
5) Deve haver acesso a todos de recursos materiais adequados. Todos GraduaçSo e Pesquisa em Urbanismo, o crescirnento exagerado das cidades
tern direito a uma habitaçSo adequada, independenternente de seus recursos medias do Norte e Centro-Oeste fez corn que elas se tornassem "amontoados
ou renda. de gente, sern urbanização". Segundo ela, mesmo nas cidades medias do Sul,
0 Secretirio Executivo da Coalizão Internacional para o Habitat (HIC), onde o crescimento tern acontecido em ritmo menor, ja aparecern os proble-
Enrique Ortiz, acentua que muitos governos s6 consideram eficiente a opera- mas tmpicos da urbanização acelerada, corno surgimento de favelas e aumento
a
ção do mercado, o que significa que o direito moradia restringe-se a quem da violencia (jornal Foiha de São Paulo, 2-6-1996, p.gina 3-3).
tern possibilidade de pagá-la. Os que não a podern pagar são encurralados nos Para o Secretário-Geral da Conferência de Istarnbul, Wally N'Dow, da
chamados "programas compensatc5rios de al{vio . pobreza" ou nos fundos Repiiblica de Gambia, a falta de habitaçöes e as péssirnas condicôes de vida
cornpensat6rios de solidariedade, os quais obviamente não alcançam seus nas favelas estão na raiz dos problemas ambientais, econrnicos e sociais das
objetivos porque cada vez ha mais pobres. Oitiz propôe que o Estado se zonas urbanas mundiais.
descentralize mas não deixe de assurnir certas atividades que tinha na produ- a
- 0 major paradoxo, diz N'Dow, que as cidades tern os recursos neces-
ção do habitat, devendo a descentralização ser não apenas para o setor priva- sarios para resolver os problemas de escassez de rnoradias. Alern disso, e em
do mas tambrn para as organizacôes sociais epa.ra a toda a sociedade. Ele ades continuarão sendo o motor do
que pese seu conti'nuo crescimento, as cid
lamenta que, para a Conferência de Istarnbul, não tenham sido convidados os desenvolvirnento social e econrnico.
verdadeiros entendidos na construção de cidades, que são os pobres, os pe- N'Dow lamenta, no entanto, que a ma gestão pelos governos dos recur-
dreiros, os trabaihadores em construção e os membros de cooperativas sos prejudique os esforcos destinados a rnelhorar as condicôes de vida nas
habitacionais. metr6poles .
Em Istarnbul, os 185 governos dos palses participantes da Conferência Na Conferencia de Istambul, urna das questôes polemicas foi a inclusão
assinararn urn documento chamado Agenda Habitat, em que se comprorne- a
ou não da expressão direito rnoradia na carta de intençôes da reunião oficial.
tern a colocar em prática o que foi definido durante a reunião e a levar para A representacão brasileira e as de outros palses, inicialmente, opuserarn resis-
discussôes internas urn piano de ação sobre medidas para meihorar a quaiida- a
tencia inclusão desse direito, corn rnedo de que a popuiacão o cobrasse do
de de vida em suas cidades. - governo nos crgãos judiciarios. No encontro preparat6rio de Nova Torque,
A questão principal, que é a rnoradia, revela urn deficit mundial de 117 em fevereiro de 1996, o Brasil e os demais palses concordaram corn a propos-
milhôes de unidades, que 6 o niimero de pessoas no rnundo que não possuem ta corn o acrescimo de uma palavra perversa e proclamou-se o direito pro-
nenhurna habitação, corn outras 500 milhôes de pessoas sern moradias ade- gressivo C moradia, sob o argurnento de que "nenhurn governo tern condi-
quadas. A cada 60 segundos, nascem no rnundo 47 crianças em 'ares defamI- çôes de elirninar o deficit habitacional de urna hora para outra. Entretanto,
has corn renda anual inferior a 370 d6iares americanos, engrossando a cada dos 185 paIses presentes, os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul, depois
rninuto o bataihão de urn bilhão e quinhentos milhôes de pessoas que vivem de inicialrnentre aprovarem, acabararn não aceitando a proposta nern mesmo
em condiçôes miseraveis nos quase 200 Estados independentes do mundo. corn o acrescimo de "progressivo".
Dois terços deles morarn nas areas rurais, mas isso muda aceleradament e pois a
Mas o tema rnais poiernico da Conferência não foi o direito rnoradia,
nas cidades esta nascendo urn miserCvel por segundo, ou 86.400 por dia, e esse mas a cooperacão internacional no assunto. Os palses pobres queriam a
crescimento tern sido mais intenso nas cidades de porte rnedio, que são as de criação de novos recursos financeiros para a resolução dos problemas urba-
populacão entre cern mil e novecentas mil pessoas. No Brasil essas cidades nos rnas as naçôes ricas recusaram-se a Se comprometer corn esses novos re-
rnedias, em 1970, abrigavarn 13,7 % da popuiacão brasileira e em 1991, cursos e recomendararn a relocacão dos recursos jC existentes para as areas
16,7% . Em consequCncia cresce nSo só o deficit de moradias como tarnbern rnais carentes.
faltam os serviços piThlicos basicos (água potavei, esgoto, luz, pavirnentacSo a
Urna importante recornendacSo da Conferência a que condena o des-
etc.). Para a urbarnsta Ermmnia Maricato, da Associaçao Nacional de P6s- a,
pejo forçado, isto que sC seja feita a retirada de famIlias invasoras de rnora-

74 75
dias e terrenos se houver consenso ou condordância e quando houver outra i. direito de autodeterminaco dos povos;
area para que as farnilias sejarn relocadas. a
2. direito paz mundial;
Quase simultaneamente corn a Conferência das Nacôes Unidas, foi rea- 3. direito ao desarmamento mundial;
lizado em Istambul o Forum da Solidariedade Humana, corn a participacão 4. direito internacional humanitario, ou seja, o Direito de Haia e o Di-
de várias centenas de ONGs (Organizacoes No Governamentais), que so reito de Genebra, que visam, respectivarnente, amenizar as açôes degtierr
entidades privadas de defesa dos interesses populares e que rnantêrn urn (proibicão de uso de armas quIrnicas, bateriol6gicas, nucleares, etc.) e a prote
a
credenciarnento junto ONU como entidades consultivas corn direito voz a çSo dos prisioneiros, populacöes civis, rnonumentos hist6ricos e similares, e
nas reuniôes oficiais. Entre os assuntos debatidos, constaram: t5. novos pois forarn estipulados a partir do firn do sculo XIX, corn a
rnelhorar a participacão da populacâo na gestâo dos assuntos piiblicos; criaço da Cruz Vermeiha Internacional, e acrescidos constanternente de no-
encontrar formas de satisfazer as necessidades de moradia e vas disposicôes de protecSo;
infraestrutura das cidades; -' 5. djreito ao desenvolvimento sustentável, que, segundo o professor
meihorar a economia urbana, reduzir a pobreza e criar emprego; Etiene Mbaya, diz respeito tanto a Estados corno a indivIduos, e relativa-
minimizar o efeito de desastres e emergências causados pelo a a
mente a estes ele se traduz numa pretensão ao trabaiho, saide e alimenta-
adensarnento populacional nas cidades; çâo adequada (apud Paulo Bonavides, Curso de Direito Constitucional,
criar urn banco de dados corn cern práticas urbanas bern sucedidas Maiheiros Editores, Sâo Paulo, 5' edicão, 1994, pagina 523);
para a soluço de problernas urbanos. 1 6. direito a urn meio ambiente sadio e livre de poluico;
Na Constituiçâo Federal brasileira de 1988, o artigo 50 faz urna longa direito ao uso pac1fic-e-enenocivo-dopat-r-iOm-14a-hma
declaraço de Direitos Humanos, corn 77 incisos, rnas nenhurn deles dedica- nidade, corno oceanos, espacos c6srnicos, continente antartico e outros;
a
do ao direito rnoradia. Quando surge urn problerna rnais grave, o juiz que direitos contra os crimes de guerra, passIveis de punico por tribunal
considerar injusta a desocupaco de propriedade alheia, precisa fundamentar 1 internacional, corno está acontecendo agora corn o Tribunal Internacional de
sua decisâo a favor do ocupante no artigo 10 que estabelece a dignidade da Haia, que esta julgando os acusados srvios da guerra da B6snia e e outros
pessoa hurnana como urn dos fundarnentos da Repi'blica, e tarnbrn no arti- acusados de outras guerras locais;
go 5° da Lei de Introduco ao Cdigo Civil Brasileiro (Decreto-lei n° 4.657, a
direito do povo democracia e ao respeito aos Direitos Humanos,- a
de 4 de seternbro de 1942), pelo qual na aplicacâo da lei, o juiz atenderá aos ponto de se aceitar a intervenção das Naçôes Unidas para garantir a pratica
as
fins sociais a que ela se dirige e exignc1as do bern cornurn. dernocratica, e do qual s6 existe at6 agora urn exernplo, na pequena e atrasada
Repiiblica do Haiti, que sofreu a intervençâo da ONU e da OEA para resta-
- belecer na presidncia da Repiiblica o padre Jean Baptiste Aristide, eleito,
9.9. DIREITOSDE TERCEIRA GERAçA0 empossado e derrubado por urn golpe militar;

Nas 61timas dcadas, especialmente durante e ap6s a Segunda Guerra


Mundial, que durou de 1939 a 1945, surgirarn novos direitos, chamados "de
.I direito de o indivIduo e os povos serern reconhecidos como sujeitos
de direito internacional, inclusive corn legitirnidade ativa para reclarnar con-
tra violaçôes de Direitos Humanos nos 5rgãos internacionais.
terceira geracão" porque des se acrescentaram aos de 1a e 2' geracão. Karel Vasak, diretor da Divisão de Direitos Hurnanos e da Paz, da
Os Direitos de 3a Gerzcão são os direitos de solidariedade internacio- UNESCO, prefere falar em djreitos da fraternidade, em vez de direitos da
nal, nos quais os beneficiarios são, nSo s6 os indivIduos, mas tambm os j solidariedade.
povos; surgidos durante e ap6s a Segunda Guerra Mundial ; e consubstancjados Etiene Mbaya admite que a descoberta e a formulação de novos direitos
j
na Carta das Naçôes Unidas, de 1945, e em muitas convençôes internacjo- e e será sempre urn processo sem firn, de tal rnodo que, quando urn sisterna de
nais, os quais abrangem os seguintes novos direitos

76 :1 77
direitos se faz conhecido e reconhecido, abrem-se novas regiôes da liberdade ofIcio, promocão atraves do trabalho e a urna remuneraço suficiente para
que devem ser exploradas. satisfazer suas necessidades e as de sua familia, sern que em nenhum caso
Para o professor Mbaya, o principio da solidariedade, no atual estágio de possa fazer-se discriminação por razo de sexo.
desenvolvimento do Direito, exprime-se de tres maneiras: A Constituicão da Repiiblica Francesa, de 1958, tern algumas peculia.ri-
0 dever de todo Estado particular de levar em conta, nos seus atos, os dades. Ela tern urn pequeno preâmbulo de poucas linhas, onde confirma-a
interesses de outros Estados (ou de seus sditos); Declaraco de 1789, rnas completada pelo prembulo da Constituicâo dë 1946.
Ajuda recIproca (bilateral ou multilateral), de car.ter financeiro ou Os Direitos Hurnanos, portanto, esto fora de seu texto orgnico. No pre-
de outra natureza, para a superacâo das dificuldades econrnicas, inclusive ârnbulo confirmado da Constituicâo de 1946, proclama tambem, como par-
corn auxilio tcnico aos palses subdesenvolvidos e estabelecimento de prefe- ticularmente necess.rios no nosso tempo, os princIpios politicos, econbmi-
rncias de comrcio em favor desses paises ; afim de liquidardficits; e cos e sociais seguintes: (...) Todos tern o dever de trabalhar e o direito de
Uma coordenação sistem.tica de polItica econmica. obter urn emprego. Ninguem pode ser prejudicado no trabalho ou no em-
prego pelas suas origens, oprniôes ou crenças.
A Constituico da Repiiblica Popular da China, de 1982, tern urn longo
9.10. DIREITO A 0 TRABALHO artigo 42, que prescreve: Os cidadâos da Repi.'iblica Popular da China tern o
direito e o dever de trabalhar. Servindo-se de va.rios meios, o Estado cria as
0 artigo 23 da Declaracâo Universal dos Direitos Humanos proclama condiçôes propIcias ao emprego, reforça a protecâO no trabalho, meihora as
que toda pessoa tern direito ao trabalho,...liyre escoiha de seu trabaiho, a condicôes de trabalho e, basanose -nocrescimento-daproducâoTatrrnenta -- -
condiçoes equitativas e satisfatrias de trabalho e . protecão contra o desem- as remuneraçôes do trabalho e os beneficios sociais. 0 trabalho urn dever
prego. de que se pode orguihar todo o cidadão capaz. Todos os trabalhadores das
Na sua 24 AssernbleIa Geral, em 1986, a CNBB-Conferncia Nacional empresas do Estado e das unidades econbmicas coletivas rurais e urbanas de-
dos Bispos do Brasil, no documento Por uma Nova Ordern Constitucional - vern cumprir as suas tarefas em consonncia corn a sua condicão de senhores
Declaração Pastoral, no item 105, reafirmou que toda pessoa tern o direito e
do Pals. 0 Estado prornove a ernulacão socialista no trabalho e enaltece -e
o dever de contribuir para o bern comum.átravs de seu trâbalho. Cabe a toda
recornpensa os trabaihadores modelares e mais avançados. 0 Estado encora-
a sociedade e, especialmente, aos poderes piiblicos, a obrigac5o de empenhar-
ja os cidad3os a participar em trabalhos voluntarios. 0 Estado proporciona
se para conseguir o pleno emprego.
aos cidados a formacão vocacional necessria antes do emprego.
Essa diretiva cat5lica teve como base as palavras do Papa João Paulo II
Constituicão da Repiiblica da Guine-Bissau, de 1984, artigo 36: 1. 0
na enciclica Laborem Exercens (n. 3): 0 trabalho humano 6 uma chave,
trabalho 6 urn direito e urn dever de todo cidad5o. 2. 0 Estado cria gradual-
provavelmente a chave essencial de toda a questão social, se n6s procurarmos
mente condicôes para o pleno emprego dos cidad3os em idade de trabalhar.
ye-la verdadeirarnente sob o ponto de vista do bem do homem.
3. 0 Estado reconhece e garante a todo cidadâo o direito de escolher a sua
Muitas Constituiçôes contemporneas inserirarn explicitarnente o direi-
profissão ou genero de trabalho, de acordo corn as necessidades e irnperativos
to ao trabalho entre os direitos fundarnentais. Algurnas delas inserirarn, ao
fundamentais da Reconstrucâo Nacional. 4. 0 princlpio da remuneração de
lado do direito ao trabalho, o dever de trabalhar. Vejamos alguns exemplos:
acordo corn a quantidade e qualidade do trabalho deve ser aplicado em con-
Constituiçâo da Rept'iblica Portuguesa, de 1976 (revisada em 1981 e 1989),
formidade corn as possibilidades da economia nacional.
artigo 530 (Seguranca no emprego): E garantida aos trabaihadores a seguran-
Constituição da Repiblica da Itália, de 1947, artigo 35: A Repi.'iblica
ça no ernprego, sendo proibidos os despedimentos sem justa causa ou por
protege o trabalho em todas as suas formas e aplicacôes. Empenha-se na
motivos polIticos ou ideoldgicos.
formação e elevacâo profissional dos trabalhadores. Prornove e favorece os
Constituiçâo Espanhola, de 1978, artigo 35: Todos os espanhSis tern o
acordos e as organizaçôes internacionais destinadas a fortalecer e regulamen-
dever de trabalhar e o direito ao trabalho, a livre escoiha de profisso ou

78 79
tar os direitos do trabaiho. Reconhece a liberdade de emigracão, corn ressal- peito, a não ser, no artigo 83, a disposicão da continuidade em vigor das leis
va dos deveres estabelecidos pela lei no interesse geral, e defende o trabaiho do antigo regime. Seria natural que a nova Constituição proibisse qualquer
italiarlo no estrangeiro. forma de servidão ou escravidão, devido proxirnidade de sua abolicão.
A provecta Constituicâo dos Estados Unidos Mexicanos, de 31 de ja- Mas nao h tal referência nem na Constituicão de 1824 nem na de 1891,
neiro de 1917, possui urn longo artigo 123, corn mais de 40 incisos também rnas na de 1934,o item 34 do artigo 113 dispôe que atodos-cabe-o d-ir.eito-de
longos, a respeito do trabaiho e da previdência social, numa época em que prover a própria subsistência e a da sua farnIlia,rnediante trabalho honesto, e
tais assuntos eram tabus, detaihando vrias protecôes ao trabaihador. No inciso o artigo 121 estabelece regras das condiçôes do trabalho, de protecão social
XXII da ailnea "A", trata da despedida do trabaihador sern justa causa ou por do trabalhador e de indenização ao trabalhador dispensado sern justa causa.
ter se filiado numa associação ou sindicato ou por haver tornado pane numa Na Constituicão fascista de 1937, imposta ao Brasil pelo ditador Getiilio
greve licita, e determina que o patrão seráobfigado ou a cumprir o contrato Vargas, o artigo 136 , depois de afirmar que o trabalho é urn dever social, diz
ou a indenizá-lo corn a importncia de trs meses de salrio opcão do traba- que a todos é garantido o direito de subsistir mediante o seu trabalho honesto
ihador. E de se encarecer que essa disposicão é de 1917, anterior ate rnesmo e este, como meio de subsistência do indivIduo, consti.ui urn bern que é dever
revolução russa. do Estado proteger, assegurando-ihe condiçôes favorveise meios de defesa.
A Constituição da Repi'iblica da Venezuela, no artigo 84, é bern expilcita
na protecão ao trabalho: Todos tern direito ao trabalho. 0 Estado procura- 0 governo presidido por Vargas dissolve o Congresso Nacional e passa
rá que toda pessoa apta possa obter colocação que lhe proporcione urna sub- a ernitir autoritariamente decretos-leis e urn deles, em 1943, aprova a Conso-
sistencia digna e decente. A liberd-ade de-tr.aba.iho não•estar. su-jeita a outras lidacão das Leis do Trabalhoq -er-ia—o-ins-titu-t-o-d e-st-a-bil-ida-do-t-r-abal.ha--
...

restriçôes senão âquelas que a lei estabelecer. 0 artigo 85 dispôe: 0 trabalho dor no emprego, após dez anos de contrato continuado, quando então o
ser objeto de protecão especial. A lei estabelecer. as providencias adequadas empregado sc poderia ser demitido por justa causa comprovada em processo
. meihoria das condicôes materiais, morais e intelectuais dos trabalhadores. judicial.
São irrenunci.veis pelo trabaihador as disposicöes que a lei estabelece para o Corn a reconstitucionalização do Brasil, em 1946 é prornulgada nova
favorecer ou proteger. Constituição, cujo artigo 145 preconiza que a todos é assegurado trabalho
No Brasil, as Constituiçôes parecem-ser redigidas sob-o plio da escrava- que possibilite existencia digna e que o trabalho é obrigacão social.
tura, embora envergonhada, como se as relacôes de trabaiho fossem anterio- Vem o golpe ditatorial de 10 de abril de 1964, corn seus Atos Institucionais
res sua abolição. Na Constituicao do Imperzo do Brazil, de 1824, irnposta nefandos. Urn deles, o de nilmero dois termina corn a estabilidade no empre-
pelo cidadâo português Pedro de Orleans e Braganca, a continuidade da es- go e perrnite que urn decreto-lei de 1966 crie o Fundo de Garantia do Tempo
cravatura é escarnoteada, no artigo 6, aorestringiracidadania bi -asileira aos de Serviço que, enganosamente, substitui a estabilidade, corn flagrantes pre-
que no Brasil tivessem nascido, "quer sejarn ingênuos, ou libertos". Ingenuo juIzos aos trabalhadores. Mas o fim da estabilidade no emprego estava sendo
era o filho de escrava nascido ernancipado e liberto era o ex-escravo que corn- exigida pelas ernpresas multinacionais que viarn nela o grande empecilho para
prava ou ganhava sua liberdade. Mas urn e outro passavam a cidadão rnas de infiltrar-se no setor empresarial.
segunda classe, pois sequer tinham o direito de voto: Por isso, quando o Em 1967, urna nova Constituição confirma, no artigo158, inciso XIII, o
artigo 179 declara os direitos, usa em geral a palavra "cidadão" para excluir os fim da estabilidade, corn indenização ao trabaihador despedido, ou fundo de
ingenuos e libertos e, claro, os escravos. No entanto, mesmo quando usa as garantia equivalente, texto que é repetido na Constituicão fascista de 1969,
expressôes "ninguérn" ou "todos", o entendirnento era de que os milhôes de denominada Emenda Constitucional no i.
escravos estavarn excluIdos. Depois da derrocada da ditadura dos generais, aps muito sangue e rnui-
Ern 13 de rnaio de 1888, uma lei ordinria determina a abohcão da escra- ta violacão aos Direitos Humanos, surge, em 1988, a Constituição de 5 de
vatura no Brasil, mas a Constituição de três anos apos, 1891, nada fala a res- outubro, cujo artigo 7 1' estabelece:

80 81
Art. 7° So direitos dos trabaihadores urbanos e rurais, alm de outros Terceiro: que não obstante as aspiracôes dos homens e dos povos por
que visem a melhoria de sua condição social: I - relaço de emprego protegida
suprimir as formas diversas de exploracão do trabaiho, existem todavia con-
contra despedida arbitriria ou sem justa causa, nos termos de lei complernen- dicöes que no satisfazem as necessidades dos trabalhadores nem correspondem
tar, que preveri indenização cornpensatiria, dentre outros direitos; II - segu- a dignidade humana. -
ro-desemprego, em caso de desemprego involuntirio; III - fundo de garantia Quarto: que a paz social não poderi alcançar-se oem assegurar-seonde
do tempo de serviço; ( ... ) existam seres humanos que vivam em uma situaçâo de miséria que no lhes
Pela primeira vez, entra no Direito Constitucional positivo brasileiro o permita satisfazer suas necessidades materiais, espirituais, educativas e sociais.
direito ao pleno emprego, mas somente formalmente, por falta, talvez perpé- Quinto: que a riqueza de cada povo deve ter como finalidade fundamen-
tua, da mencionada lei complementar
tal satisfazer decentemente as necessidades de todos os homens.
Sexto: que a igualdade e a liberdade, fonte dos direitos individuais e
sociais da pessoa humana, reconhecidos e proclamados em numerosas consti-
tuiçôes e declaracôes nacionais e internacionais, devem adequar-se aos princi-
9.10.1. DIREITO DO TRABALHO
pios da justica social.
Sétirno: que a conscincia universal reconhece atualmente o dever da
Como conseqüência e corolirio do direito ao trabaiho e da sua protecao
sociedade e do Estado de assegurar aos homens que entregarn sua energia de
nacional e internacional, surgiu, no mundo, hi poucas décadas, urn novo
trabalho a sociedade e a economia, condicôes de vida que lhes permitam de-
ramo do Direito, o Direito do Trabaiho, e.a estedepoisfoi agregado o Direi-
senvolver integralmente suaa tfdô 6 factil dmateriais e espiriniai e
to da Seguridade Social, abrangendo a saide, a assistência social e a previdên-
cumprir livre e dignamente sua função social e o destino que eles mesmos
cia social, e como esta iltima é a mais importante, surgiu o chamado Direito
forj em.
Previdenciirio.
Oitavo: que a inseguranca entre as naçöes, que se tern manifestado repe-
Entre os muitos documentos universais surgidos em torno dos temas
tidamente corn extraordiniria crueldade e falta de sentido hurnano em nosso
referidos, urn dos mais completos e exaustivos é a Declaração dos Principios
século, e a incerteza no presente e mais ainda no futuro do homem que vive
Fundamentais de Direito do Trabaiho e da Seguridade -Social, aprovada pelo
de seu trabalho, unidas as carências econimicas para fazer frente i adversida-
V Congresso Iberoarnericano de Direito do Trabalho e da Seguridade Social,
de, deram nascimento idéia da seguridade social, cuja essência consiste no
realizado na cidade mexicana de Queretaro, em setembro de 1974, mas que
dever da sociedade e da econornia, fundado no princIpio da solidariedade dos
conservou, apis mais de duas décadas toda a fragrincia de coisa atual, e por
hornens e dos povos, de satisfazer a necessidade humana desde a concepcão
isso ele é a seguir reproduzido a partir de urn texto publicado em espanhol na
do ser ate sua morte, proporcionando os recursos adequados para seu nasci-
revista Estudos Juri'dicos, da UNISJINOS, n° 11, volume III, piginas 73 a 78,
mento, sua subsistência, sua educacão e sua capacitacâo para o trabalho e uma
e traduzido pelo autor destas linhas.
renda que lhe permita conduzir a uma existência decente.
0 documento apresenta inicialmente os seus considerandos, assim ex-
Nono: que o direito do trabaiho e da seguridade social nasceram para
pressos:
dar satisfacão as aspiracöes de justica social dos homens e dos povos.
Primeiro: que o trabaiho humano é a atividade criadora e impulsora do
Dicimo: que a justica social internacional é urn pressuposto necessirio
progresso social, da civilizaço e da cultura dos povos e da humanidade.
para a efetividade daustiça social em cada povo. Nenhum Estado tern direi-
Segundo: que em todas as naçôes iberoamericanas Se escuta um clamor
to de explorar os demais. Tampouco tern esse direito as empresas nacionais
insistente em favor da equitativa distribuico da renda nacional e de uma
ou multinacionais.
autntica justiça social.
Undécimo: que os estudiosos do direito do trabaiho e da seguridade
social das naçöes iberoamericanas não são nem podem ser indiferentes aos

82
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imperativos da justica, pelo que sua rnissão não deve constranger-se ao estudo corno rneta a justica social, cuja essencia consiste na garantia da sade, da vida,
e ensino do direito positivo, mas devern ter o dever de mostrar juventude, da igualdade, da liberdade e da dignidade hurnanas e na asseguramento de
sociedade, aos governos e aos agentes da producão, os principios, normas e condiçöes e prestacöes que capacitem os hornens a desenvolver integralmente
instituiçôes que devern servir de base . reforma e superacão constantes das suas aptidôes e faculdades e cornpartir os beneficios do progresso econmico
legislacôes nacionais, a firn de que estas realizern os postulados da justica soci- da civilizacão e da cultura. -
al. 0 direito do trabalho e o da seguridade social, para cumprir sua
Duodcimo: que as universidades e demais instituiçôes de cultura e en- função a serviço da justica, devem adequar-se ao progresso social em benefi-
sino, trn o dever de incorporar em seus pianos de estudos, programas relaci- cio dos trabalhadores.
onados corn o valor do trabaiho hurnano para a manutenção e progresso 0 trabalho humano, como funcão social, engendra o dever da socie-
material e cultural da sociedade, nos quais se realce que 6 urn dever social dade de assegurar a quem cumpre seu dever de trabaihar, uma existencia de-
outorgar-ihe urn tratamento adequados suas necessidades, aspiracôes e dig- cente no presente e no futuro.
nidade; tern, alérn disso, o dever de organizar urn serviço social prestado por A empresa, piThlica ou privada, como unidade econcmica do produ-
professores e estudantes em defesa e assessorarnento dos trabaihadores. ção de bens e serviços, deve curnprir urna função social, para cujo fim são
Embasado nos considerandos acirna, o V Congresso Iberoamericano de indispensaveis a participacão do trabaiho em sua administracão ou gestão, ou
Direito do Trabalho e da Seguridade Social, realizado na cidade de Queretaro, a autogestão dos trabalhadores e a participacão dos trabalhadores em suas
Mexico, proclamou sua Declaracão dos Principios Fundarnentais do Direito utilidades ou beneficios.
do Trabalho e da Seguridade Social do teor a seguir transcrito. Os principios, noTmse-instituic&esdodiTeitodo -trabai-ho -e da-
seguridade social, se aplicarão a todos os trabaihadores que residam no tern-
I. Principios gerais trio de cada nação, sem que possa estabelecer-se nenhuma limitacâo por
0 direito do trabalho e o da seguridade social reconhecern Os nOVOS motivo de raça, cor, nacionalidade, sexo, idade, idiorna, condição social, dou-
direitos sociais do homem corn a mesma hierarquia dos reconhecidos nas trina politica ou de qualquer outra Indole.
declaraçôes dos direitos individuais. Aplicar-se-ão sern distinção alguma aos trabaihadores do campo e da ci-
Os direitos sociais reconhecidos nas declaraçôes nacionais e interna- dade. Dever. evitar-se a exploracão do trabaiho dos indJgenas, qualquer que
cionais, nos tratados e nas leis de cada nação, constituern os rnInimos que seja sua forrna.
devern desfrutar os hornens pela prestacão de seu trabaiho, e por isso nos A trabalho igual devera corresponder igualdade de condicôes e de
-n contratos ou convençôes coletivas, por costurne ou por qualquer outro pro- prestacöes.
cedimento an1ogo, podem reconhecer-se novos direitos. Não se podera irnpor aos trabalhadores nenhurna sanção que não
Os direitos do hornem reconhecidos internacionalmente e nas decla- esteja prevista expressarnente nas leis, nos contratos ou convençôes coletivas,
raçôes nacionais de direitos, não poderão lirnitar-se nern rnenosprezar-se por ou em regulamentos ou pactos aprovados por trabalhadores e ernpresarios,
rnotivo do trabalho que se desempenhe. dentro dos lirnites perrnitidos pelas leis.
Os direitos reconhecidos aos trabaihadores e as prestacöes rnerecidas
por seu trabalho, são direito irnperativo, motivo por que sua regulacao, II. Direito individual do trabalho
qualquer seja a forma que lhe dê, não produzir nenhum efeito nem irnpedir Todo homern tern direito a escolher e trocar livrernente sua profissão
seu gozo e exercIcio. ou atividade.
0 direito do trabalho e o da seguridade social tern como base o Todo hornem tern direito de receber educacão e inforrnação quo o
princIpio de que o trabaiho não 6 urna mercadoria, mas a atividade material e capacite para o desempenho de urn trabaiho socialmente stil e para rnelhorar
intelectual do hornern dirigida a criaçSo de toda classe de bens e valores, e constantemente seus conhecirnentos.

84 85
Todo homern tern direito a uma oportunidade efetiva de trabaihar. forneçam a precos reduzidos os bens de consumo, de .instituiçôes de credito
A admissSo de urn trabaihador em urna empresa cria os direitos de de juros reduzidos, de centros de assistência e restaurantes populares e, em
estabilidade, salvo justa causa prevista expressamente nas leis; de antiguidade geral, das instituiçöes que contribuarn para assegurar o poder aquisitivo do
para efeitos de aumento do sa1.rio por anos de trabaiho e determinaçâo das salirio.
indenizaçöes que devarn ihe ser pagas; e de prornocSo, de conformidade corn Os trabaihadores tern direito a urna gratificacão de fim deano, pro-
sua antiguidade e capacitacão. A reniincia ao emprego dever formalizar-se porcional ao nimero de dias trabaihados.
de modo que assegure a autêntica e espontnea vontade do trabaihador.
A jornada de trabaiho não poder exceder oito horas di.rias e de III. Direito coletivo do trabaiho
quarenta e quatro por semana, e dever reduzir-se nos trabalhos noturnos, As liberdades de sindicalização, negociacão e contratação coletivas e
insalubres ou perigosos, nos que requerem urn esforço ffsico ou mental con- de greve, são elementos constitutivos da democracia.
siderável, durante a rnaternidade e para os menores. Os trabaihadores não Os trabaihadores, sern necessidade de nenhuma autorização prévia,
estarão obrigados a prestar trabaiho extraordinrio, salvo nos casos de perigo tern direii.o de ingressar no sindicato dé sua escoiha, de constituir novos
iminente para as pessoas ou bens. 0 que for fixado convencionalmente por sindicatos e de desligar-se a qualquer tempo daquele de que tome parte.
circunstâncias extraordinrias, não poder exceder dez horas por semana, e Os sindicatos de trabaihadores, sern necessidade de autorizaçâo pré-
será retribuIdt) corn uma gratificacão adicional. via, podem livremente redigir seus estatutos e regulamentos, formular seu
Os trabaihadores tern direito a urn descanso ininterrupto de trinta e programa de ação, eleger seus representantes, organizar sua administracão e
seis horas por semana, pelo menos, e ao pagamento do salrio corresponden- suas atividades, e comparecrdindquaFquerautoridadeem -cFefesadeseus -
te. direitos e dos de seus membros.
Os trabaihadores tern direito a urn perlodo anual de ferias pagas, As autoridades e os empresarios devem abster-se de toda intervenção
suficiente para repor sua energia de trabaiho e para desfrutar de diversôes que desconheça ou lirnite os direitos e liberdades dos sindicatos ou dificulte
familiares, sociais e culturais, que aumentar progressivamente depois do pri- sua atividade. Os dirigentes sindicais s6 poderão ser demitidos de seu traba-
meiro ano de serviço, em funcão de sua antiguidade, e terão, alem disso, a iho mediante prévia sentença judicial condenatória.
urna gratificaçâo sobre o salário do perlodo de ferias. Tanto o salário como a Os sindicatos tern direito de que se reconheca sua personalidade jur-
gratificação deverão ser pagos previamente. dica e de que o reconhecirnento não esteja sujeito a condicôes que limitem
S. Os salários rnnimos, gerais e profissionais, constituem a retribuição seus direitos e liberdades.
rnInima para os trabaihadores de menor categoria, serão fixados periodica- Os sindicatos nSo estSo sujeitos a dissolucão, suspensão ou desconhe-
mente, deverão ser suficientes para satisfazer as necessidades materiais, sociais cimento de sua personalidade ou da legitimidade de suas direçôes, por via
e culturais e para prover a educacão dos filhos, e não serão suscetiveis de administrativa.
descontos, salvo nos casos de obrigacôes familiares. Os sindicatos dos trabalhadores, sem necessidade de autorização pré-
Os salários devern ser proporcionais a quantidade e qualidade do via, tern direito a negociacSo e contratação coletiva a firn de estabelecer as
trabaiho, a5 necessidades rnateriais, sociais e culturais da pessoa humana, sa- condiçôes gerais de trabalho e fixar as relaçöes corn os empresarios.
tisfazer os principios e ideais da justica social e adequar-se aos aurnentos do S. As leis reconhecerão o direito de greve para obter o respeito do direi-
custo de vida, especialmente nos perlodos inflacionarios. to sindical, a celebracão, modificacSo e cumprimento dos contratos e conven-
A proteção do salario deve ter natureza jurIdica, mediante normas çôes coletivas, e cumprirnento coletivo das normas de trabalho, e de uma
que assegurem sua percepcão efetiva e integral diante do empresário, dos cre- maneira geral, a satisfacão dos direitos do trabalho corno o elemento prima-
dores piiblicos e privados do mesrno empresario e dos credores do trabaiha- rio da vida econrnica. Os sindicatos de trabaihadores tern direito de partici-
dor; e natureza econmica, mediante a criação de estabelecirnentos onde se par na elaboração e aplicacSo dos prograrnas de poiltica social.

86 :1 87
IV. A seguridade social 1 seu emprego na empresa em que presta seus serviços e a que se proporcione a
1. Todos os seres humanos tm direito seguridade social em condicôes seu filho uma atenção adequada..
de igualdade, liberdade e dignidade. ii. As leis determinar3.o os bens que possarn constituir o patrimnio de
2. A seguridade social deve ser uma solucão integral do problema da farnIlia, e o protegerão contra qualquer medida suscetivel de afeth-lo.
necessidade. Deverá contribuir,ademais, para uma distribuicâo efetiva da 12. 0 Estado deve desenvolver uma polfticahabitacionalernbenefIcio-
renda nacional. da populaco. Os trabaihadores tern direito a que se ihes proporcionë habita-
3. A seguridade social tern como fins imediatos e fundamentais evitar a çôes adequadas s suas necessidades, nos lugares onde prestem seus serviços e
miseria, para cujo termino desenvolver urn programa de pleno emprego e de
justa retribuição, e promover o bem-estar material e cultural de todos os -
f a que se Ihes outorgue credito de juro reduzido para sua aquisic3.o.
A seguridade social organizar. creches infantis para os filhos das
seres humanos. mães que trabalhem por conta pr6pria ou alheia.
4. A economia de cada povo e a cooperaco das naçôes iberoamericanas
- A instalação e funcionamento dos centros de trabalho devem sub-
devern aportar os recursos necessrios ecriar os sistemas financeiros adequa- - meter-se s normas tecnicas de segurancaë higiene; -

dos para cobrir os gastos que dernandè o cumprimento dos fins da seguridade
social. V. Vigilncia e cumprimento do Direito do Trabalho
5. As crianças em estdo de neceid4e tm direito a urn auxIlio ou 1. Devem organizar-se sisternas de inspeco do traiho corn interven-
penso de orfandade ou familiaique. Ths pexmita uma existência decente e -
çâo das associaçôes sindicais, cujas funcôes principais serâo: velar pelo cum-
prover sua educaco, e a assist&niamicapermanente. - primento das normas dtTb-aFho7assessorar -ostrabafhad0Te8-e0Sempre5
6. Os jovens em estado de necessidade tern direito a que se lhes propor os quanto maneira mais efetiva de cumpri-las, cooperar de forma conciliat6-
cione capacitaco técnica e profissional gratuita em escolas ou institutos pt. -- na na soiuç3o dos conflitos de trabalho, e informar as autoridades sobre as
blicos ou privados ou mediante sistemas promovidos pela seguridade social, e deficiências e vioiaçôes que observem.
a que, se demonstrarem sua aptido para.o estudo, possam contlnua-lo em 2. Devem, a1m disso, serem organizados sistemas gratuitos para a defe-
universidades ou escolas técnicas -SUpiQ_.----- -- sa e assessorarnento dos trabalhadores.
7. A seguridade social temo ddçsro - pnecionar urn nvel decente de - -

vida as pessoas em estado de necessidade, para cuja finalidade promovera se VI. A justica do trabalho e da seguridade social
guros de maternidade, enfermidade, invalidez, veihice, morte do chefe de fa 0 pessoal da jurisdicâo do trabaiho e da seguridade social deve ser
milia, desemprego involunthrio, gastos extraordinarios, danos causados pelo especializado, distinto do que integre as jurisdicöes civil, mercantil, penal e
trabaiho, auxilios ou pensôes farn-il-ia-res--e--de-o-rfandade e outros semelhantes. administrativa, designado mediante sistemas que garantam sua independên-
Organizará, alem disso, - sistemas de reabiiitaço para os trabaihadores afeta cia, idoneidade e preparacão juridica e desfrutara de inamovilidade.
dos em sua capacidade de trabalho. Os procedirnentos ante a jurisdico do trabaiho estaro isentos de
8. As pensôes e as prestacôes em especie devero ser iguais, qualquer que formalismos desnecessarios, cornpreenderâo uma fase previa de conciliaco,
seja a natureza que cause o dano, e adequarse periodicamente ao custo de procurarâo a brevidade do processo e facilitarâo a busca da verdade.
vida. -. 3. Em caso de diivida na interpretacão das normas de trabaiho, sera
9. Os pensionistas desfrutarâo das prestacôes e serviços da seguridade aplicada a mais favorável ao trabaihador.
social e ficarão incluldos nos pianos habitacionais. : 4. Os organismos e sistemas para a conciliacão dos conflitos coletivos de
10. A maternidade deve ser objeto de assistencia medica antes, durante e trabalho respeitaro os direitos e liberdades sindical, de negociaco e
depois do parto, tendo a mae direito ao pagarnento do saiario integral duran contratação coietiva e de greve.
te todo o tempo em que esteja incapacitada para o trabalho, a que se conserve

88. - 89
9.10.2. PR0TEcA0 INTERNACIONAL AO TRABALHO Os fins e objetivos da Organizacão, além dos constantes dos considerandos
do Prembulo, são os adotados em Filadélfia, na Conferência de 10 de maio
No ambito internacional, o mais importante organismo dedicado pro-a de 1944, que reafirmou os seguintes principios fundarnentais:
teção do trabaiho 6 a Organizacao Internacional do Trabaiho (0111), criada a) o trabaiho não é urna mercadoria;
pelo Tratado de Versaihes, de 11 de abril de 1919, que foi o documento de b) a liberdade de expressão e de associação é uma condicão indispeiis.yel
paz ap6s o tarmino da Primeira Guerra Mundial. Na época, os 1deres mun- a um progresso ininterrupto;
diais consideraram necessario tomar medidas em favor dos direitos sociais. c) a pen6ria, seja onde for, constitui urn perigo para a prosperidade
A OIT está sediada na Suica, na cidade de Genebra, e tern seu funcionarnento geral;
regido por uma Constituição adotada em 1919 e cuja ijltima emenda geral d) a luta contra a carência, em qualquer nação, deve ser conduzida corn
foi aprovada na Conferência da OIT de Montreal (Canad), a 9 de outubro de infatigavel energia, e por urn esforco internacional cont{nuo e conjugado, no
1946 corn novas emendas parciais em 1953, 1962, 1972, todas em vigor e qual os representantes dos empregadores e dos empregados discutam, em igual-
ratificadas pelo Brasil, portanto valendo corno direito interno. dade, corn os do governo, e tomem corn des decisoes-decarater-dernocratico,
ff111
No prembulo do texto emendado 6 proclamado: visando o bern comum.
- que a paz para ser universal e duradoura deve assentar sobre a justiça A alinea "d" supra trouxe muita polêmica em relação aos Estados socia-
social; listas onde o empregador em geral é o próprio Estadb,f athbém nos Esta-
- que existem condiçôes de trabaiho que implicam, para grande nilimero dos de econornia capitalista pela dificuldade de se tomar decisOes dernocrati-
de indivIduos, miséria e privaçôes, e que o descontentamento que dal decorre
camente ern
poe em perigo a paz e a harmonia universais; empregadores donos do poder politico e governantes muito mais subordi-
- que é urgente meihorar essas condicOes no que Se refere, por exemplo, nados aos empregadores que aos empregados.
a regulamentação das horas de trabalho, a fixaçâo de uma duraçâo maxima do A Conferência de Filadélfia reafirmou que a paz, para ser duradoura,
a
dia e da semana de trabaiho, ao recrutamento da mão-de-obra, luta contra o deve assentar sobre a justiça social, e concluiu em consequência que:
a
desemprego, garantia de urn salário que assegure condiçOes de existência todos os seres humanos de qualquer raça, crença ou sexo, tern o direi-
convenientes, a proteção dos trabaihadores contra as moléstias graves ou to de assegurar o bem-estar material e o desenvolvimento espiritual dentro da
profissionais e os acidentes do trabaiho, a proteção das crianças, dos adoles- liberdade e da dignidade, da tranquilidade econrnica e corn as mesrnas possi-
centes e das muiheres, as a
pensOes de veihice e de invalidez, clefesa dos inte-
bilidades;
a
resses dos trabalhadores empregados no estrangeiro, afirmação do princIpio a realizacão de condiçOes que permitarn o exercIcio de tal direito deve
"para igual trabaiho, mesmo salário", a afirmação do princIpio da liberdade constituir o principal objetivo de qualquer politica nacional ou internacioanal;
sindical, a organização do ensino profissional e técnico, e outras medidas c) quaisquer pianos ou rnedidas, no terreno nacional ou internacioanai,
analogas; 4
maxime os de carater econmico e financeiro, devern ser considerados sob
- que a não adoção por qualquer nação de urn regime de trabaiho real- esse ponto de vista e somente aceitos quando favorecerern, e não entravarem,
mente hurnano cria obstáculos aos esforços das outras naçOes desejosas de a realização desse objetivo principal;
melhorar a sorte dos trabaihadores nos seus préprios territ6rios.
A OIT tern corno 6rgao mais importante urna Conferência Geral que se
a
d) compete Organizacão Internacional do Trabaiho apreciar, no domi-
nio internacional, tendo em vista tal objetivo, todos os programas de ação e
realiza pelo menos urna vez por ano, em geral em Genebra, sempre corn a
medidas de carâter econm1co e financeiro;
presenca da delegacão brasileira, que poderia ser composta de apenas quatro e) no desempenho das funçOes que lhe são confiadas, a Organizacão In-
membros, dois do governo e outros dois representando empregados e empre- ternacional do Trabaiho tem capacidade para inciuir em suas decisOes e reco-
gadores, mas em geral a delegação brasileira é das mais numerosas, salientan- mendaçOes quaisquer disposicOes que julgar convenientes, ap6s levar em con-
do-se, se não pela qualidade, pelo menos pela quantidade.
ta todos os fatores econOmicos e financeiros de interesse.

90
•I 91
Depois o documento de Filad1fia proclama solenemente que a OIT 0 trabaiho corn desprazer, o trabaiho como mera obrigacão é urna con-
tern a obrigacâo de auxiliar as Nacôes do Mundo na execuçâo de prograrnas - tingncia injusta, absurda e desumana, que foi imposta . maioria dos seres
que visem: humanos para que uma minoria pudesse exercer o monopdlio do prazer ma-
proporcionar emprego integral para todos e elevar os niveis de vida; ximo.
dar a cada trabaihador uma ocupacâo na qual ele tenha a satisfaçâo de Algumas religiôes consideram o trabaiho uma maldico d-ivina.--'Go.ihe--
utilizar, plenarnente, sua habilidade e seus conhecimentos e de contribuir ras o teu alimento corn o suor do teu rosto", teria determinado a divindade
para o bern geral; ao ser humano como maneira de castiga-lo. "Quem nâo trabaiha nâo come",
favorecer, para atingir o fim mencionado no pargrafo precedente, as outros teriam afirmado.
possibilidades de forrnação profissional e facilitar as transferências e migra- No mundo inteiro, e no Brasil de modo especial, as multidôes jogarn
çôes de trabaihadores e de colonos, dando as devidas garantias a todos os desenfreadamente, a cada dia, nos dados, nas loterias, nos cavalos, nos bingos,
interessados ; todos corn urn sO objetivo: deixar de trabalhar apOs abiscoitar o grande prê-
adotar normas referentes aos salários e as remuneraçôes,ao hocário e rnio. 0 sonho sempre o de poder ir viver numa praia ensolarada e-paradisiaea,
a5 outras condiçôes de trabaiho, a fim de permitir que todos usufruam do sentado nurna cadeira confortavel, corn urn copo de boa bebida em uma das
progreso e, tambérn, que todos os assalariados, que ainda no o tenham, per- mãos e a outra acariciando urn ser hurnano em geral do sexo contrario e urn
cebarn, no minimo, urn salario vital; automdvel conversIvel de Oltimo tipo a espera no estacionamento.
assegurar o direito de ajustes coletivos, incentivar a cooperação entre No entanto, na maior pane do mundo, a organizacão social impOs re-
empregadores e trabaihadores para meihoria contInua da organizaço da pro- gras baseadas no prirnado-do--t-rathchumnEao-eem-Ffla-1ae-i-ra-dese-
duçâo e a colaboracâo de uns e outros na elaboração e na aplicaç3o da politica libertar como modo de se escravizar.
social e econmica; 0 sonho acalentado passa a ser o de trabaihar, mas trabaihar o menos
ampliar as medidas de seguranca social, a fim de assegurar tanto uma possIvel obtendo o major ganho imagin.vel. Para alguns isso se torna possi-
renda minima e essencial a todos a quem tal protecão 6 necessária, como vel atravs da propriedade privada dos rneios de producão (fabricas, terras,
assistncia mdica cornpleta; bancos, etc.) junto corn a apropriacâo da propriedade alheia e especialmente
assegurar uma proteçâo adequada da vida e da saiIde dos trabaihado- de uma certa propriedade alheia chamada "trabaiho". 0 trabaiho 6 de muita
res em todas as ocupaçôes; gente mas o fruto maior desse trabaiho de alguns poucos. Quem trabaiha
garantir a proteço da infncia e da maternidade ; pesado produz urn pouquinho para si e para os seus familiares, e produz
obter urn nivel adequado de alimentação, de alojamento, de recreaço muito para a acumulação de quem é dono das ferramentas, das rnaquinas e do
e de cultura ;
dinheiro.
assegurar as mesmas oportunidades para todos em matria educativa e Essa grande maioria dos que produzem muito e recebem pouco, preci-
profissional.
sam trabaihar para que não morram de forne ele e seus familiares.
Surge, então, a busca pelo trabaiho como sendo a busca do bern mais
precioso da terra E todos ebogiarn essa busca pelo trabalho e larnentam quan-
9.10.3. ORIGEM DO DIREITO AO TRABALHO do a oferta de trabaiho 6 menor que a demanda. Os que oferecem trabaiho
tambarm choram quando precisam diminuir a oferta e despedir alguns dos
Ha quem diga que o ser humano no possul em sua natureza a Indole que trabaiham, mesmo quando esses "alguns" são dezenas, rnilhares ou rni-
ou a vocaçâo ou a inevitabilidade para o trabaiho.
lhôes.
Pelo contrário, a Indole, a vocação e o inevitavel é o prazer e o trabaiho No mundo inteiro, dizem as estatIsticas internacionais, hI. oitocentos
so se justificaria plenamente quando aliado ao prazer. milhôes de desempregados integrais, isto 6, oitocentos milhöes de pessoas

92
H 93
que não conseguem nenhurn trabaiho. Como a apego vida obriga-ihes a funcionario p iiico
bl ou de dona-de-casa, ela começa a se sentir em pane reali -
buscar qualquer sustento, vão busc-10 corno o fazem os animais, procuran- zada mas em parte ternerosa de perder a seu lugar.
do-o no lixo, nos monturos, nas raizes, na caça a ratos, cobras ou ayes, ou A maioria dos que trabalham fazern-no sob a forma jurIdica e econmi-
mesmo na disputa ferrenha pelo alirnento em poder de seus semeihantes ou ca de urn emprego e consequentemente tern urn patrão palavra que tern a
por bens ou dinheiro alheios (e a1 s6 as humanos a fazem) que permitam mesrna raiz de pai. -
cornpr.-1o. O dana do ernprego não é a empregado, mas a ernpregador, o pai;pa-
Esses oitocentos milhöes de gente sern trabaiho, poderiam t&lo se cada nSa, que é a dana da fabrica, da laja, do escritrio ou da residencia.
urn dos que tern trabaiho, trabaihasse urn pouco menos para sobrar trabaiho o ernpregado deveria sempre adivinhar a pensamento do patrSo e traba-
para todos. Mas as renunciantes a urn pedaco de seu trabaiho teriarn de lhar exatarnente coma este desejaria que a fizesse. Se nSa conseguir adivi-
renunciar também a urn pedaco de seus ganhos e isso não é possivel pelo nhar a pensarnento do patrSo ou nSo trabaihar da forma imposta por ele,
rnenos enquanto não houver urn rnaior espirito de efetiva solidariedade entre julga-se no direito de julgar e julga a ernpregado e começa a julgar que ele é
os seres hurnanos. Essa solidariedade existe na cabeça de todos os homcns, urn rnau empregado.
pais eles são seres sociais, que precisarn da convivência corn seus serneihantes. Mesmo que isso nSa aconteça, que a julgamento do pai-patrSo nSa seja
Porém a solidariedade que existe nos homens, existe juntarnente e simulta- desfavar.vel ao empregado, pesa sabre a cabeca deste, a todo rninuto, a espa-
nearnente corn a egocentrisrno, pois cada homem , antes de ser urn ser social, da do desemprego, suspensa par urn fio.
é acirna de tudo urn indivIduo internamente solitário, que quer sobreviver Isso traz intranquilidade e inseguranca. Par issa, as sindicatos e outras
da meihor maneira e a rnixirno de tempo poss-ivel, que quer a prazer pr6prio organizacôes dos ernpregados—ltrtarn-pela es-t-ab4idade—n-o—em-prego---qu-e--os-
rnesmo quando luta renhidamente pelo prazer tambérn de seus filhos, de sua patröes e as governos considerarn nociva aos interesses gerais da naçSo. Quan-
muiher, de seus amigos e das demais pessoas que a circundam em cIrculos do uma categoria social obtém a garantia no emprego, através de urn instituto
rnuito restritos ou mais arnplos ou de enorme arnplidão. Mas sempre a cir- jurIdico charnado estabilidade, as governos e as patrôes fazem uma aladsa,
cundarn e coma clrculos que são, haverá sempre urn centro e esse centra é dizem que a1 reside a causa de todos os males e movem urna cruzada sagrada
ocupado pelo ser hurnano em questão, porque no Intimo de sua consciencia para acabar cam aquela rnedida, sob pena de a pals ficar ingovernável e a crise
nãa cabe rnais ninguérn, pois ela é interna e fechada. (que ern verdade é permanente) vira destruir tudo;
Q uando não ha trabaiho para todos ou ha colocaçöes rnelhores e piores, Assirn, as governos e os patrôes defensores do liberalismo individualista
as vagas são ocupados através de seleção de varios tipos. Quern escoihe afir- afirrnarn que é preciso, para defender as interesses dos trabaihadores, que
rna sempre que escolhe a rnais apto, mesrno que a escolhido seja seu filho ou estes aceitern a desernprego coma mal menar.
herdeiro. Quern é escolhido concorda que dc 6 a rnais apto e quern é preteri- Mas issa é outra histdria.
do discordará e continuará lutando para que venha a ser escolhido. Essa luta
dc poderá fazer individualmente ou coletivarnente, neste 1iltirno caso unin-
do-se a outros preteridos em grupas rnais organizados ou menas organizados. 9.10.4. PROTEcA0 CONTRA DESPEDIDA INJUSTA E
Os não escolhidos para as meihores colocaçôes poderão tambérn desajustar-se coNvENçAo 158 DA OIT
e marginalizar-se, au seja, poderão passar a agir rnargern das regras vigentes
de born carnportarnento e escolher outras forrnas de luta, corn açôes de via- A Conferéncia Geral da OrganizacSo Internacional do Trabalho, reali-
léncia, rnas salvaguardando a licitude e as principlos de solidariedade social zada em Genebra ern 2 de junha de 1982, adotou a CanvençSo no 158 sabre
ou mesmo não as resguardando e tentando buscar na ação tida carno crirni- a térrnina da relaçSa de trabalho par iniciativa do ernpregador, corn impar-
nasa a solução para as seus problemas individuais. tantes dispositivos contra a despedida arbitraria au scm justa causa do empre-
Quanda a pessoa consegue urna colocacão, que pode ser a de arrecada gado.
dor de jogo-do-bicho. de gerente de banco, de dono de rnultinacional, de

94
- 95
No âmbito internacional essa Convenço está em vigor desde 23 de cidade ou seu comportamento ou baseada nas necessidades de funcionamento
novembro de 1985.
da empresa, estabelecimento ou serviço.
No Brasil, a tradicional resistência em dar efetividade .s normas interna- Segundo o professor Antonio Alvares da Silva (em A Convenção 158 da
cionais e a oposicão dos empregadores, provocou urna protelacâo de muitos
OIT, Editora RTM, 1996, pa.gina 60) esse 6 o cerne da questão. E acrescenta
anos, at6 que foi enviada ao Congresso Nacional, que aprovou a Convenço
que o tolhimento da liberdade de dispensar significa, sem divida ;-protecã&-ao
atravs do Decreto Legislativo no 68, de 16 de setembro de 1992 A sistem.-
empregado e consiste em sua maior cönquista ate hoje obtida na relacaô de
tica nacional exigia que, depois disso, o Presidente da Repiiblica lavrasse urn
trabalho. Garante-lhe, pelo menos ate urn certo ponto, a permanência no
Decreto de ratificaçâo, o que s6 foi feito em 10 de abril de 1996 (Dirio Ofi-
emprego e conseqüentemente o sustento de sua famIlia, o ganho certo, a pos-
cial de 11), pelo Decreto no 1.855, que determinou que a Convenç5o no 158
sibilidade de poder assumir compromissos sociais e econOmicos, enfim, uma
da OTT seja executada e cumprida, no Brasil, tao inteirarnente como nela se
correta e estável planificacao de vida - este mInimo de seguranca e bern-estar,
contm. Entretanto, urn diplomata brasileiro, por inadvertncia, por igno-
indispensa.vela vida normal de qualquer trabalhador.
rância ou bern intencionado, entregou na Secretaria Geral da OIT, em 4 de
janeiro de 1995, o Decreto Legislativo 68, que foi considerado como depsi-
to para fins de produzir efeitos no Brasil ap5s urn ano, como dispöe o artigo
16.3 da própria Convenção.
9.11. DIR EITO A PREGUIA
A aplicabilidade efetiva da Convenção JA foi reconhecida pelo Tribunal
Os sindicatos ingleses do seculo XIX propugnavarn, como bandeira de
Regional do Trabalho (TRT) de Sâo Paulo, durante julgamento de greve em
lutas, a conquista dosquat-ro-oi-tos:- --- -
----- ------ --------

empresa metaliirgica da regiâo do ABC paulista. A seção de dissidios coleti-


- eight hours to work (oito horas para trabaihar);
vos do TRT acolheu, por quatro votos a dois, a argumentacao do juiz Floriano
- eight hours to play (oito horas para o lazer);
a
Corrêa Vaz da Silva, de que a Convenção 158 foi incorporada legislacão
- eight hours to sleep (oito horas para dormir);
brasileira e tern o poder de revogar normas anteriores. Corn base nesse ac6rdao,
- eight pences a day (oito moedas por dia, ou seja, urn salario minirno).
114 demitidos numa empresa metalt'lrgica de Diadema, deverao ser reintegra-
Aquelas oito horas para o descanso era difIcil de concretizar porque a
dos nos ernpregos dos quais forarn dernitidos devido greve.
jornada di.ria de trabalho, naquela epoca, andava pelas doze, -treze e ate
Está forrnado, assirn, urn precedente para que ajustica passe a considerar
quatorze horas, afora o tempo de percurso da casa ao trabalho.
ilegais dernissöes em rnassa, sem prvia negociacao corn sindicatos de traba-
O Dia do Trabalho, 10 de maio, comemorado na maioria dos palses do
ihadores e cornprovaçao pela empresa de que havia necessidade de corte de
mundo, teve sua origem nos movirnentos de trabalhadores, no século passa-
pessoal.
do, pela jornad-a de oito horas de trabalho. Numa dessas rnanifestaçôes,
O juiz Floriano Silva, ao argumentar ern favor da Convençao 158, refu-
chamada Jornadas de Chicago, que durou v.rios dias, a polIcia assassinou
tou as teses de alguns juristas de que o texto fere a Constituiçao brasileira de
varios manifestantes e prendeu muitos outros, e o massacre passou a ser lern-
1988. Disse ele, em declaraçoes publicadas no Jornal do Comrcio, de Porto
Alegre, de 14-6-96: brado internacionalrnente como dia do trabalhador. -
As oito horas de trabalho por dia, que perrnitiriarn sobrar tempo para o
- A Convençao esta em vigor e tern plena eficacia, porque a pr6pria
lazer, vigora em muitos palses do mundo, mas ainda nâo no Brasil, onde
Constituiçao Federal de 1988 prev, no artigo 5 0 par.grafo 2°, que os direi-
,
teoricarnente esse limite da jornada existe e é constitucional, pois o inciso
tos individuais e coletivos definidos não excluern outros decorrentes de trata-
XIII do artigo 7° da Constituiçâo prevê jornada do trabalho normal não
dos internacionais em que o Brasil seja parte.
superior a oito horas diarias e quarenta e quatro semanais, facultada a corn-
O principal dispositivo da Convenção 158 prescreve:
pensacâo de horarios( ... ) Como nao interessa ao setor industrial e de servi-
a
Artigo 40 - NSo se dará trrnino relação de trabalho de urn trabalhador
ços trabaihar nos sabados, é imposta a compensacâo, passando a jornada nos
a menos que exista para isso uma causa justificada relacionada corn sua capa-

96
97
demais dias da semana para 8 horas e 48 minutos, que 6 a duracão de trabaiho
mem não trabaihara mais de 30 horas por semana, 40 semanas por ano, 35
da grande maioria de trabaihadores urbanos, enquanto que para os trabaiha-
anos durante toda a sua vida. Partindo dessa perspectiva revoluciona.ria, Jean
dores rurais e domsticos a Constituicão e a lei são ignoradas e o trabaiho é de
Fourasti6 analisa as alteraçôes prodigiosas que facilitarão a vida dos homens,
sol a sol, ou at6 mesmo, no caso das empregadas domsticas que moram na
e tambm as novas dificuldades que deverão superar.
residncia do patrão, nem o so1 fixa o inlcio ou o trmino da jornada. Para
Sigmund Fr eud, o vienense criador das cincias da mente, ressaltava iiie
os que trabaiham as 44 horas em 5 dias na semana, em geral gastam eles mais
a grande tragdia do ser humano era representada pela eterna luta do princl
uma, duas ou três ou quatro horas de locomocão por 6nibus, metre ou trem
pio do prazer contra o princlpio da realidade. Afirrnava que os hornens
no deslocarnento entre residncia e trabaiho. E ainda existe esse grupo cada
"não gostam espontaneamente do trabaiho e sb o aceitam por coação das
vez mais numeroso no Brasil dos que se deslocam a p, para poupar o dinhei-
normas sociais vigentes".
rinho do transporte. Quanto tempo sobra para o lazer?
A diminuição da jornada de trabaiho 6 uma questão internacional e cada
pals, inclusive os desenvolvidos, tratam de diminul-la.
Na Franca discute-se uma possIvel jornada mxima semanal, das 39 ho- 1 9.12. DIREITO A POBREZA
ras atuais para 33 horas de trabaiho por semana. 0 presidente da Repdblica
Direito 'a pobreza contrapôe-se viscerairnente ao viver na--misria.
Francesa Jacques Chirac, no seu pronunciamento nas cornemoraçôes da que-
Trata-se do direito de ser pobre, não acumular niqueza, mas ter vida
da da Bastilha, em 14 de juiho de 1996, afirmou que considera isso "meio
digna, corn acesso relativamente facil a ahmentacão, lazer, saude, educação,
importante na luta contra o desemprego". Para ele, reduzir a jo-rnada- de -. -
trabaiho significar, a1rn de diminuicão do desemprego, meihoria da compe- cultura. -- -
0 ideal de ser rico, inculcado na mente da maioria das pessoas, tern sua
tividade das empresas. Note-se que se trata de uma pessoa de direita conserva-
origem na ideologia burguesa, onde a felicidade confunde-se corn a reunião
dora.
do major ndmero possIvel de bens voluptua.rios. Os pais e mães fazem qual-
Estatlsticas do governo dos Estados Unidos apontarn que 34% das maio-
quer sacriflcio para proporcionar uma vida de bcio eterno aos filhos ou pelo
res empresas do pals aderirarn compressed workweek (semana comprimida
de trabaiho), expressão que j. passa a figurar no glossrio empresarial para rnenos sem os sacriflcios materiais que eles, pais, enfrentaram.
9 E.ssa perspectiva de vida baseada no consumismo 6 juigada necessa.ria
designar a semana de trabaiho reduzida. Os empregados cumprem 12 horas
pelo comrcio e inddstria, cuja propaganda, materialmente de alta qualidade,
consecutivas durante três ou quatro dias da semana e folgam os quatro ou trs
dias restantes. Isso, sirn, flexibilização da econornia, como acentua o jornal induz a todos a perseguir a felicidade através de bens materiais.
A "lei de Gerson" - preciso tjrar vantagern - predomina nas cabecas de
Zero Hora, de 13-6-96, pgina 3.
todos. 0 governo e os particulares aproveitam-se disso para transformar a
No ano de 1880, o militante socialista Paul Lafargue publicou urn pan-
nação em urn grande cassino, corn a possibilidade de riqueza fa.cil atravs de
fleto corn o tltulo 0 Dzrezto à Preguica (edicão brasileira da Kair6s Livraria e
sortejos, rifas, senas, lotos, "raspadinhas", loterias, bingos.
Editora, São Paulo, 1980, tradução de J.Teixeira Coelho Neto), que foi urna
A pobreza, ainda que digna, 6 vilipendiada, como sinhnirno de fracasso
das publicacôes mais traduzida e lida no movimento operrio de todo o mun-
na vida, pois s6 as pessoas ricas mereceriam respeito. Esse pensamento não é
do, incorporando-se concretamente a tradicão de lutas operarias pela con-
s6 dos ricos mas tambm dos pobres e rnais ainda dos remediados, que lutam
quista da jornada de 8 horas. Lafargue abordava, em tom polmico e satIn-
ardorosarnente pelo seu ascenso social para a classe dos ricos e muitos, para
co, a questão do lazer e do modo de vida operánio.
Mais recentemente, na dcada de 1960, o soci6logo francs Jean Fourastié, atingir esse falso ideal, são capazes de qualquer coisa, inclusive de atos indig-
divuigou sua obra As 40.000Horas . Para Onde Caininha o Traba/ho Humano nos, de traiçôes, de graves omissöes, de se aproveitar da desgraca alheia.
(Editora Forense, Rio, 1967), onde prevê que, num futuro pr6ximo, o ho- A pobreza 6 tin estigmatizada que urn dos rnaiores especialistas brasilei-
ros em Direito Penal, Edmundo de Oliveira, doutorado pela Universidade

98 99
Poucos meses antes, os revolucionários haviam prendido, processado e, reitos fundamentais que não constam da respectiva tipologia, sendo assim
em janeiro de 1993, executado na guilhotina a pessoa tida como sagrada do rei constitucionalmente relevantes sem recurso a urn método tipológico na sua
Luls XVI. Os demais monarcas europeus se horrorizaram contra a grave forrnulação" (pgina 40).
"heresia". Se os monarcas, diziarn, tarn urn poder de origem divina, nenhum No Direito Constitucional positivo brasileiro, o parágrafo 2 0 do aigo
indivIduo ou grupo de individuos pode tirar-ihe esse poder. Era o princIpio 5 0 da Constituição de 1988, fez urn registro vago, geral mas suficiente da
da legitirnidade dinstica, resurnido pelo rei Luls XIV, o Rei Sol, na frase "o possibilidade de outros direitos, os atipicos, além dos elencados nos77 incisos
Estado sou eu (L'état c 'est mot). Acrescentava Luls XIV que o poder ihe do artigo 5° nem nos 34 do artigo 7° nern em outros dispositivos, apenas
fora dado por Deus e somente a este devia contas, atravs de suas oraçöes. 0 2: declarando que "os direitos e garantias expressos nesta Constituicão nao excluem
princIpio da legitirnidade dinástica não aceitava restriçôes ao poder soberano •
outros decorrentes do regime e dos princIpios por ela adotados, ou dos trata-
do monarca. Os direitos dos cidadSos eram meras concessöes, favores do rei. dos internacionais em que a Repdblica Federativa do Brasil seja parte".
Os revolucionrios franceses precisavam, então, de urn documerito que Exemplos, ern nosso entender, são o direito de moradia, não constante
legitimasse o processo e execução de Luls XVI, e esse documento foi a Decla- de nenhum artigo, mas reconhecidos pela magistratura nacional; e o direito a
ração dos Direitos do Homem e do Cidadão, devidamente reformulada e protecão contra a despedida imotivada ou injusta do empregado, prevista na
acrescentada dos direitos de resistência e rebelião, desenvolvidos no século Constituicão, no artigo 7 0 inciso I, sob a hmitacão de nos termos de lei
XVII pelo inglês John Locke. complementar" (ainda inexistente), mas tornada efetiva pela Convencão 158
Mas, depois que o documento serviu aos interesses burgueses e o poder da Organizacão Internacional do Trabalho (OTT), ratificada pelo Brasil e tor-
polItico consolidou-se nas rnãos destes, cuidaram de escondê-lo. Por isso só é nada direito nacional. -. ______________
divulgada a prirneira Declaração dos Direitos do Hornem e do Cidadão, de
1789, e a segunda Declaração, a que previa a resistncia contra os opressores,
não mais constou dos livros e não mais foi estudada e citada.
Os burgueses, ao conquistar o poder na Franca do fim do século XVIII, 10. DIREITOS HUMANOS NO LIBERALISMO E
sabiam que na liberdade est. o poder, inclusive o poder de subverter e depois NO SOCIALISMO
de subverter a subversão. Ap6s vitoriosa a revolução contra a opressão, a -.
liberdade decorrente gera a derrota da prpria revoluçao se o novo poder A dificuldade maior na concepcão cornum e geral dos Direitos Huma-
dominante não obtém o consenso da populacão interessada e se os novos nos concentra-se principalmente na confrontacão entre o liberalisrno indivi-
dorninados se aperceberem da nova opressão.
dualista e o socialismo coletivista.
0 liberalismo tern sua raiz, fonte e razão na liberdade, tanto na liberda-
de em geral, corno especifica e principalrnente na liberdade de iniciativa indi-
vidual, liberdade de livre concorrncia, liberdade de/e no mercado e liberda-
9.14. DIREITOS ATfPICOS
de do lucro.
No liberalismo, a liberdade é individual, o Estado existe para proteger
São denominados direitos fundamentais atIpicos as declaraçôes e instru- o indivIduo isolado ou em sociedade corn outros, como nas empresas, para
mentos de proteção da pessoa, que não estão especificados, elencados, assegurar-lhe a ordem pdblica e a seguranca externa, deixando todos os de-
registrados nas normas de direito positivo constitucional. mais problemas de relacôes entre os indivIduos para serem resolvidos por
Jorge Bacelar Gouveira, Mestre em Direito pela Universidade de Lisboa, estes corn o mInimo de intervenção do Estado.
erm seu livro Os Direztos Fundamentais Atipicos (Editorial Noticias, Lisboa,
No liberalisrno, a igualdade é forrnal, igualdade apenas perante a lei e
1995), entende que "os direitos fundamentais atIpicos correspondem aos di- não perante a realidade social. 0 privilégio individual ou de classe também é

102 1
A. 1 103
de Paris, ex-presidente do Conseiho Nacional de Poiltica Penitenci.ria do 9.13. DIREITO DE REBELIAO
governo Itarnar Franco, defende a aplicaco da "pena de pobreza" contra os
condenados por crimes de corrupcão e outros dos chamados "crimes de cola- Entre os direitos fundamentais sempre esteve presente o direito de rebe-
rinho branco", a qual seria aplicada contra o patrirnnio do condenado, liâo ou direito de resisténcia contra os opressores, que documentos históri-
conforme entrevista publicada no jornal Foiha de Sâo Paulo de 6-5-96, pgina cos consideram também urn dever.
1-8. A Declaração de Independencia dos Estados Unidos da America, de 4 de
- 0 que mais ddi para urn criminoso rico, é torn.-10 pobre - afirma o julho de 1776, proclamava o direito e dever de rebeliâo, nos seguintes ter-
jurista Edmundo Oliveira, deixando clara sua concepco, que 6 a da maioria mos:
da populacâo, de que pobreza é urn castigo. (...) Que a fith de assegurar esses direitos, governos so instituIdosèntre
No entanto, para muitos, essa concepc3o est. errada, pois, afastado o os hornens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governado;
consumismo e o preconceito, a pobreza sem rnisria pode trazer felicidade ao que, sempre que qualquer forrna de governo se tome destrutiva de tais fins,
ser humano. Além disso, a pena de pobreza violaria os principios da cabe ao povo o direito de altera la ou aboli la e instituir novo governo,
pessoalidade e da individualizaçao da pena. Nenhurna pena, diz o artigo 50, baseando-o em tais principios e organizando-lhe os poderes pela forma que
inciso XLV, da Constituição brasileira, passar da pessoa do condenado. Mas ihe pareca mais conveniente para realizar-ihe a seguranca e a felicidade.
a pena sugerida atingiria a farnIlia do sentenciado. E verdade que a Constitui- (...) Quando uma longa série de abusos e usurpacôes persegue invaria-
ço e a lei penal permitern que a obrigacâo de reparar o dano e a decretaçâo veirnente o mesmo objeto, indica o designio de reduzi-los ao despotismo ab-
do perdimento de bens seja estendida aos sucessores e contra eles executadas, soluto, assistern-lhesodire-i-t rn
mas ate o limite do patrimnio herdado ou transferido. instituir novos Guardas para sua futura seguranca.
Em sei livro Meu Lzvro de Cordel, publicado quando tinha mais de 75 Na revolução francesa, nS.o houve apenas urna Declaraço dos Direitos
anos de idade, a grande poetisa da cidade de Gois Cora Coralina diz o Se- do Homem e do Cidad.o. A primeira foi aprovada pela Assernbléia Nacio-
guinte em uma página denominada Humildade, num lirico elogio pobreza nal da Franca em 26 de agosto de 1789, contendo 17 artigos.
corn dignidade: Mas, em 23 de junho de 1793 a Convençâo Nacional da Franca aprovou
Senhor, fazei corn que eu aceite urna outra declaracâo corn a mesrnadenominaco de Declaraço -dosDirei-
rninha pobreza tal corno sempre foi. tos do Hornem e do Cidad5.o, que foi publicada no dia seguinte, encabeçando
Q ue eu possa agradecer a vds a segunda Constituico
minha cama estreita, Ela tern 35 artigos e a diferença mais gritante corn a declaraço de 1789
minhas coisinhas pobres, reside nos seus artigos finais, nos seguintes termos
minha casa de châo, Art. 31. Os delitos dos rnandat.rios do povo e de seus agentes não de-
pedras e t.buas remontadas. vern nunca ficar sern castigo. Ninguérn tern o direito de se julgar mais inviol.ve1
E ter sempre urn feixe de lenha que os outros cidadãos
debaixo do meu fogâo de taipa, Art. 33. A resistncia a opressâo é a conseqUência dos outros direitos do
e acender, eu rnesrna, homern.
o fogo alegre da minha casa Art. 34. H. opressâo contra o corpo social quando urn so de seus mem-
na manhâ de urn novo dia que corneçou. bros é oprimido. Ha opressão contra cada rnernbro quando o corpo social
oprimido.
41,
Art. 35. Quando urn governo violenta os direitos do povo, a insurrei-
çâo é para o povo e para cada parte do povo o mais sagrado dos direitos e o
mais indispensavel dos deveres.

100
101
a
urn direito protegido pelo Estado. A necessidade contrapôe-se igualdade e propriedade estatal, que 6 outra e bern diferente. As relacôes de producão
a liberdade, porque a necessidade 6 urn problema individual e deve ser resolvi- forarn alteradas , mas o cidadSo comurn perdeu o pouco de liberdade indivi-
do dentro do egoismo de cada urn. dual que tinha, e at6 para mudar de residência, passou a precisar da autoriza-
No socialismo, a liberdade individual 6 menosprezada e está sernpre ção do Estado. Repeliram o sistema de democracia representativa, pr6pria
dependente do interesse da coletividade. Vigora, no socialismo, o axioma de do liberalismo individualista-capitalista, mas não conseguiram urn outro t -ipo
que o livre desenvolvimento da coletividade é a condição do livre desenvolvi- de efetiva participacão popular nos interesses piiblicos. Criaram formas cha-
rnento de cada urn, apesar de muitos colocarem esses termos de forma inver- madas de "representacão popular", porm corn o mesmo formalisrno e mes-
sa, isto 6, o livre desenvolvirnento de cada urn 6 a condiçâo do livre desenvol- ma falta de autenticidade e excesso de manipulacão do sisterna representativo.
vimento de todos, implicando ern urna certa diferença n3:o tao sutil. A pr5pria expressão "socialismo estatista" é uma grave incongruência,
No socialismo, a igualdade material, h urn nivelarnento por baixo. 0 •-- pois o Estado significa sempre uma forma de dominacão, portanto uma agres-
privilgio 6 considerado urn abuso. A necessidade tende a se harmonizar são constante aos Direitos Humanos, e o socialismo teria como meta princi-
corn a liberdade e corn a igualdade, porque a necessidade passa a ser urn pro- - I.. pal a libertacão do homern de qualquer dominação eprocurariao fenecirn -ento -
blerna coletivo que deve ser resolvido coletivamente. do Estado e não o seu fortalecirnento, como ocorreu.
Segundo os doutrinadores socialistas, a necessidade existe na natureza 0 ponto comum e ao mesmo tempo diferenciador nos sistemas do libe-
sob a forma de leis objetivas. No inIcio da sua hist6ria, o hornem, incapaz de ralismo individualista e no socialismo solidarista reside em que a liberdade
penetrar nos segredos da natureza, pelo rnenos mais incapaz do que atual- requer não intromlssão do Estado na vida do individuo , o que se obtern
mente, ele era escravo da necessidade nâo conhecida, por isso não era livre. facilrnente no liberalismo-ecorn-di{iultade-nooeiim
As leis não conhecidas manifestavarn-se como "necessidade cega". Quanto igualdade requer intromissão do Estado nas relaçôes entre indivlduos, o que
mais profundamente o hornem foi conhecendo as leis objetivas tanto rnais se obtm facilmente no socialismo e corn dificuldade no liberalismo.
conscientes e livre se tornou sua atividade. Surge a1 a questão do mercado. 0 capitalismo endeusa o mercado, que
Mas os governos do chamado socialismo realmente existente (SOREX) para ele deve ser livre e tudo deve ser parte do mercado e portanto deve ser
avançararn excessivamente sobre o indivIduo para controlar a inforrnação nas -. ..- . considerado mercadoria, inclusive alimentos, sa'de, cultura, educacão e to-
sociedades, desprezando que a liberdade é essencial para a criatividade e para dos os demais bens materiais ou espirituais. 0 socialismo repelia o rnercado
o progresso do indivIduo e da sociedade, como afirrnou o 14° Dalai Larna, do de rnaneira absoluta, mas convivia corn ele nas relacöes internacionais e nas
Tib, Tenzir Gyatso, Prêmio Nobel em 1989, lIder espiritualista budista, no relacöes subterr.neas, sob a falsa capa da inexistência de mercado.
exIlio por mais de vinte anos no none da India, em entrevista que concedeu Esse erro-foi ressaltado por urn deputado socialista dajamaica, que disse
ao jornal Foiha de São Paulo, de 19 de novembro de 1995. Ele acrescenta: o seguinte: "Aceitamos urna economia de mercado, mas nunca urna socieda-
Não é suficiente, como os regimes socialistas afirmararn, prover as pessoas de de mercado".
apenas corn comida, abrigo e roupas. Urn alto diplomata da Repiiblica Popular da China explicou a visitantes
Mas os adeptos do liberalismo individualista não podern deixar de reco- de outros palses que o livre-mercado não 6 patrirnnio do capitalismo, mas
nhecer, e o proclamam seguidamente, que, ap5s scu1os de seu predomInio, de toda a humanidade, conforme informacão contida em urn artigo do jorna-
ap6s a derrubada dos privilégios da nobreza aristocratica, continuam os pal- lista Otávio Frias Filho, publicado no jornal Foiha de São Paulo, de 13 de
ses capitalistas sem resolver os problemas de comida, abrigo e roupas de mui- junho de 1996, pagina 1-2.
tos milhes de pessoas, mesmo nos paIses desenvolvidos, onde liberdade e
igualdade são para muitoss efetivas utopias tecricas.
Por outro lado o "socialismo realmente existente", o SOREX, do antigo
Leste europeu resolveu entender propriedade social, que 6 urna coisa, corno

104 105
11. AS NAcOES UNIDASE Os DIREITOS HUMANOS a liberdade contra o medo;
a liberdade contra as necessidades materiais.
Nenhum documento surgido no mundo 6 mais caracterIstico do carter Essas Quatro Liberdades foram o alicerce comum na redacão da Carta
geral e amplo dos direitos fundamentais do que a Declaração Universal dos das Naçes Unidas, prornulgada em 1945, e na posterior Declaracão Univer-
Direitos Humanos, proclamada em 1948, no dia 10 de dezembro, data tao sal dos Direitos Hurnanos, de 1948.
importante que passou a ser o Dia Internacional dos Direitos Humanos, co- Na Carta das Nacôes Unidas são feitas v.rlas refetncias aos Direitos
memorado a cada ano em todos os palses. Humanos.
Tanto na evoluçâo hist6rica de sua elaboraçâo como no seu texto, como No Pre2mbulo, reafirmada "a fé nos direitos fundamentais do ho-
na sua prática, como na pormulgacão de outros documentos subsequentes e mem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direitos dos
decorrentes, a Declaração Universal se impregna do caráter universalista e homens e das muiheres, assim como das naçôes grandes e pequenas".
generalizante.
Durante a Segunda Guerra Mundial, iniciada em 10 de setembro de 1939
:1 No item 3 do artigo 1 0 , é dito que urn dos propósitos das Nacôes Unidas
é "conseguir urna cooperacão internacional( ­.:) paraprornover e estirnu-lar o-
e terminada na Europa em 8 de maio de 1945, duas tendências se antago- respeito aos direitos humanos e .s liberdades fundamentais para todos, sern
nizararn. distincão de raça, sexo, linguaoureligião".
H
Urna das tendências, a dos fascistas da It.lia do ditador Benito Mussolini No item 1 do art. 13, consta que a AssembléiaGeraldasNacôesUnidas
a dos nazistas da Alemanha do Fuhrer Adolph Hitler, propugnava pela iniciara estudos e fara recomendaçöes, destinados a ( ) favorecer o pleno
limitação dos Direitos Humanos, colocando o Estado totalitário acirna dos gozo dos direitos
individuos. No dizer do ditador Mussolini: "nada fora do Estado, nada os povos sem distincão de raça sexo lingua ou rehgião
contra o Estado, nada acima do Estado". A igualdade era combatida, pois O artigo 55 dispöe que, "corn o fim de criar condicôes de estabilidade e
defendiam a existncia de raças superiores, especialmente a ariana. Favore- bem-estar necessárias s relaçôes pacIficas e amistosas entre as naçôes, basea-
ciam-se as discriminaçoes contra negros, judeus, ciganos, árabes e contra os das no respeito ao principio da igualdade de direitos e da autodeterminação
inconformados polIticos. dos povos, as Nacôes Unidas favorecerão (...) o respeito universal e efetivo
Do outro lado, estavam as Naçôes Aliadas, designacao que depois foi dos direitos hurnanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distin-
sendo substituida por Nacôes Unidas, lideradas pelos chamados Três Gran- ção de raça, sexo, lingua ou religião".
des, os Estados Unidos da Amrica, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlan- -' 0 artigo 62, item 2, diz que o Conseiho Econmico e Social poder.
da do Norte e a União das Repiiblicas Socialistas Sovi&ticas, aos quais depois "fazer recomendacôes destinadas a prornover o respeito e a observncia dos
vieram se juntar a Repiiblica Francesa e a RepiIblica Popular da China. Cada direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos".
qual a seu modo, eles defendiam as liberdades, propugnavam pela igualdade O artigo 71 afirma que o Conseiho Econmico e Social das Nacöes Unidas
de todos Os seres humanos e combatiam as discriminaçoes por motivo de "poderá entrar nos entendimentos convenientes para a consulta corn Organi-
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras. zaçöes Não Governamentais, encarregadas de questôes que estiverem dentro
Em 1941, em mensagern ao Congresso dos Estados Unidos, o seu presi- da sua pr6pria cornpetência. Tais entidades, hoje rnuito conhecidas pela sigla
dente Franklin Delano Roosevelt lançou seu programa das Quatro Liberda- ONG, proliferaram, multiplicaram-se e hoje, em questôes de Direitos Hu-
des, que inteligentemente unia as diferenças dos Aliados, liberdades essas que manos, tern tido urna função de surna importncia.
erarn: HC ainda a referir o artigo 68: "0 Conselho Econrn-ico e Social criar
a liberdade de expressão; comissôes para os assuntos econmicos e sociais e a protecão dos direitos
a liberdade de credo;
humanos( ... )"

106 107
12. A DECLARAçAO UNIVERSAL DOS de Kant, elaborou urn questionario e enviou-o a urn grande niimero de pensa-
DIREITOS HUMANOS dores e escritores de todo o rnundo, aos quais pediu que oferecessem contri-
buiçöes. No docurnento que encaminhou o questionario, foram expostas as
Em funcão do artigo 68 da Carta das Naçôes Unidas, a Comissâo Prepa- linhas gerais seguidas pela Comisso e os diferentes entendimentos sobre ii-
ratória das Naçôes Unidas, reuniu-se logo ap5s o encerramento da Conferên- berdades e Direitos Humanos, enfatizando-se as questôes -relativas . 6t-ica
por palses de sistemas econmicos diferdñciados e at antagnicos, como era
cia de So Francisco, que criou as Nacôes Unidas, e recomendou que o Con-
seiho Ecdn'rnico e Social, em seu primeiro periodo de sessôes, estabelecesse o caso do capitalismo e socialismo. Acentuava que o documento a ser elabo-
urna comissâo para a promoçâo dos direitos humanos, que foi formada no rado deveria conciliar de alguma maneira as diversas declaraçôes divergentes e
inicio de 1946. opostas que existiarn ate ent5o, rnas ao mesmo tempo deveria ser suficiente-
Em janeiro de 1946, a Assemblia Geral das Naçôes Unidas examinou mente preciso para "ter urn verdadeiro significado de inspiração que deveria
urn projeto de declaraço sobre os direitos e liberdades fundamentais e o a
ser levado pratica, porérn tarnbém suficientemente geral e flexivel para ser
aplicável a todos os homens, e poder ser modificado a fim de se ajustar aos
remeteu ao Conselho Econmico e Social, que, por sua vez, transmitiu-o a povos que se encontrem ern diferentes fases de desenvolvimento social e poll-
Comisso de Direitos Humanos e esta recebeu-o como subsIdio a uma carta -- 1
internacional de Direitos Hurnanos. Em 1947, a Comisso autorizou os mem- tico, sem deixar, nSo obstante, de ter significacâo para eles e para suas aspira-
bros de sua Mesa Diretora a formular urn projeto preliminar, tarefa essa que çôes".
depois foi assumida por urn Comlt& de Redaço, integrado por rnembros da No perlodo entre 25 de janeiro e 10 de fevereiro de 1947, poanto du-
Cornissâo, que representavam oito Estados e que foram escolhidos em fun- rante apenas dezessete diasfora -recoihidos-pTenianeiamefftes-valiesos r ex____
ço de urna equnirne distribuiço geogr.fica. pressando pensarnentos dos mais destacados intelectuais do universo.
At6 a aprovaço do documento, muitos percalcos tiverarn de ser venci- Entre eles, destacamos pequenos trechos de alguns desses pronunciamen-
dos, muitos degraus forarn enfrentados. Era imprescindivel urn grande espIri- tos, pincados por Altavila:
to de cooperaço e entendimento para reunir, em nico docurnento, concep- Mahatma Ga.ndi, llder da 1ibertaco da India do colonialismo britanico:
côes que nâo ferissem nenhum dos iniImeros grupos a serem abrangidos por a
"S6 somos credores do direito vida quando curnprimos o dever de cidadâos
ele. A Guerra Fria já havia corneçado, mas era preciso que se estabelecesse do rnundo";
urna poiltica internacional de largo espectro, que se tornasse uma politica de Luc Sornrnerhausen, i lder socialista belga, sugeriu urna nivelaço plena
toda a hurnanidade, ou, como disse Bluntschli: "A politica internacional no mundo: "0 meihor seria proclamar direitos iguais e, ao mesmo tempo,
a
pode ser considerada corno urn primeiro degrau que conduz polItica hurna- * determinar os rneios de faze-los respeitar";
na" (A Polz'tica, Librairie Guillaurnin, Paris, 1883). Arnold J. Lien, constitucionalista norteamericano, fez indicacôes de
Ha quase dois séculos, Emmanuel Kant (A Paz Perpétua, Ed.Coeditora caráter pedag6gico e cultural:"A imnica chave que pode libertar, na nova era,
Brasileira, Rio, 1939) ofereceu dois paradigmas para urn entendirnento uni- essas energias criadoras do indivlduo, é a educaco";
versal: Salvador de Madariaga apresentou urna longa consideracão de aspecto
contribuição de todos para a realizaçâo de urn estado de direito pibli- constitucional e legalista, resurnindo que "o problema gira em tomb da ques-
co universal; tao da soberania nacional";
consulta prvia aos filósofos, a fim de que livre e publicamente se Harold Laski, entâo lIder do Partido Trabalhista britnico, ofereceu uma
manifestern sobre as maximas gerais da guerra e da paz. sugestâo técnica e econrnica e afirrnou que "a declaraçao deve ser, portanto,
Pois em 1947 a Comissão encarregada da elaboração dos Direitos Huma- urn prograrna e nao urn serrnão " ;
nos, segundo relata Jayme de Altavila (Origem aosDireitosdosPovos, Edicôes Benedetto Croce, da hália, exarou urna sugestao cautelosamente filosfi-
Meihoramentos, So Paulo, 1963, pág. 186 e seguintes) , seguindo o conseiho ca e concitou a elaboraçâo criteriosa de urn cornpromisso que não resulte
vazio ou arbitrario;

108 109
Teiihard de Chardin, cientista frances, emitiu urn parecer metafisico: qual o significado que se deveria dar aos direitos individuais-pessoais,
"Toda a dificuldade estriba, unicamente, em regulamentar o fenrneno" ; por urn lado, e aos direitos econmicos-sociais por outro;
Sergius Hessen, historiador poionês, fez urna longa crItica socialista e se os Direitos Humanos seriam outorgados pelo Estado, pela socieda-
asseverou que a unidade do mundo depende em grande pane de saber se de ou pelas Naçôes Unidas, ou ser considerados inatos ao ser -hurnano.
possivel elaborar urn acervo comum de idias e princIpios; A primeira questo foi respondida pelo artigo 30 da Declaraç-ão: r --- -- --
Boris Tchechko apresentou urn histdrico do regime socialista e aduziu a An. 30. Nenhurna disposicâo da presente Declaraçâo pode ser interpre-
sugestão de ser indispensvei infundir aos direitos humanos a subst2ncia ma- tada corno o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito
terial que ihes faltou no transcurso dos séculos; de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado. destruicão
Levi Carneiro, jurista brasileiro de projecâo internacional, cooperou corn de qualquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
sugestôes objetivas, afirmando que todos esses direitos exigern e supôem o -
A segunda questâo foi esclarecida no an. 22:
direito justiça e o direito de resistencia contra a opresso; An. 22. Todo homern, corno mernbro da sociedade, tern direitoa previ-
Chung-Shu Lo, chines, pensou na figuraçâo de principios biológicos e
a
epicuristas, afirmando que o direito vida, o direito de expressâo e o direito
a
dência social e reaIizac3.oplo esforço nacional,pelacooperacâo internacio-
nal e de acordo corn a organizaco e recursos de cada Estado, dos direitos
ao prazer podern abarcar todos os direitos fundarnentais ; a
econômicos, sociais e culturais indispensa.veis sua dignidade e ao livre desen-
Aidous Huxley expressou-se corn base na econornia e em dados estatisti- volvimento de sua personalidade. -
cos, acentuando que, ate então, a ciencia aplicada, em grande pane, esteve a Finalmente, a terceira questo teve resposta no Preârnbulo da Declara-
serviço do monopdlio, da oligarquia e do nacionalismo ;
ção, em que a
R.W.Gerard tendeu para urna declaraço bioldgica e restritiva. "Os di- na os direitos universais, mas simplesmente os proclarna.
reitos rn{njmos sero universais ; os demais serâo validos em culturas muito
No rnomento da votaço concretizou-se urn acordo de cavalheiros que
especiais" ;
permitisse a aprovaco sern voto contrario. Assirn, quarenta e oito delega-
W.A.Noyes apostoiou urn pacifismo sern restriçôes. "De import2ncia çöes votararn a favor e se abstiveram de votar os representantes da Unio
vital para o futuro do mundo é que se reprimarn as grandes animosidades e os Soviética, Ucr2nia, Bielo-Rdssia, Tchecoslovaquia, Polônia, lugosiavia, estes
ddios" ;
por restriçôes especialmente quanto ao direito de propriedade; mais a ento
Leonard J. Barnes afirmou uma convicção anticolonialista: "Os movi- a
União Sul-Africana, por objecôes proibicão do racismo; e a Arabia Saudita
mentos progressistas entre os povos coioniais tendem a assumir urn carater
nacionalista e de liberação" ;
a
por restriçôes igualdade entre homens e rnulheres.
Prornulgada a Declaraço Universal, a hurnanidade passou a ter em suas
Margery Ery redigiu sugestôes lernbrando que o problema das garantias mãos urn documento de luta que ingressou na cabeca de todos os seres huma-
é panicularmente dificil no casos dos reclusos;
nos politicarnente conscientes, unânirnes na defesa de seus princ{pios, inde-
J.Haesaert aconselhou urna declaração equânirne e realista, pois os juris-
pendentemente dos pontos de vista contraditdrios.
tas sabem perfeitarnente que a lei nada pode sern o costume.
Na sua Assernbléia Geral de 1973, a ConferenciaNacional dos Bispos do
0 relator, na Comisso, do projeto de Declaraçao Universal foi o Dou- Brasil (CNBB) aprovou diretivas (Proposicöes 3 /4 sobre Direitos Huma-
tor Charles Malik, representante da Repblica Libanesa, cuja exposiçâo foi
nos), proclarnando:
serena e juridica, sern o que não teria sido apreciada num piano de respeito ao A Declaracâo Universal dos Direitos Humanos propiciou urn avanço
seu trabalho de seleção.
no sentido de major liberdade da pessoa humana, enquanto despertou urna
Tres questôes foram ressaltadas por Malik, ainda segundo Altavila: consciencia rnais clara desses direitos e major disposicão para defende-los (...)
a) ate onde a Deciaraço deveria reconhecer explicitamente os direitos as legislacôes de muitos palses, per-
dos Estados; e, na rnedida em que forarn incorporados
mitiu caracterizar como criminosa sua violação.

110
111
2a PARTE

TEORIA GERAL DAS vIoLAcOEs DOS


DIREITOS HUMANOS

wn
14. UMA TEORIA GERAL DAS vIoLAcOEs
j
Assim como 6 possvel hoje falar-se em uma Teoria Geral dos Direitos
Humanos, tambm 6 possivel desenvolver, ao lado daquela ou sua mar-
gem, uma Teoria Geral das Violaçôes aos Direitos Humanos.
0 Direito 6 essencialmente vio1vel. Ele existe em função da violação
das regras. Quando cada indivIduo respeitar os demais de maneira total, as
regras jurdicas deixarâo de ser necessrias.
E a liçSo de Giorgio Del Vecchio professor da Universidade de Roma
(Licöes de Filosofia do Dire ito, traducão do italiano edição de Armênio Amado
Editor, Coimbra, sa ediço, 1979): Sâo interdependentes e complementares
as noçôes de Direito e de Torto. For muito que pareca extraordinário, o
Direito 6 essencialmente violvel - e existe por graca da sua violabilidade. Se
fosse impossIvel o torto, desnecessrio seria o Direito. 0 sentido desta
violabilidade assenta precisamente na necessidade de distinguir entre as açôes
justas e as injustas; de contrrio seria dispensve1 a norma do operar.
(...) Mas o afirmado vale igualmente em sentido inverso : sem o Direito,
inconcebivel 6 o torto. Se é verdade que o Direito nega o torto, nab
menos que este nega aquele. Mas a antitese implica uma coordenaçao. Ne-

115
nhum esforço de dialética poder superar esta necessidade 16gica que nos im- 16. OSGRUPOSEXCLUIDOS
pede de antepor a noçâo do torto noçâo do Direito; pois, se assirn nâo
fosse, terlamos de ficar corn o absurdo, que consiste na violaçâo de urn Direi- 16.1. MULHERES
to inexistente. Sem ddvida, a perturbacâo de certa situaçâo de fato poder
atuar como estirnulo para quem nela se encontrava e, sacudido pela dor ou A busca da efetividade dos direitos das muiheres tern tido nos ultimos
pelo dano, adquirir subitamente a consciência de urn direito ainda no reco- anos, urn incrernento ontñté. As dicrithiñaôes contra s rnu1hereainda
nhecido. No entanto, para que serneihante perturbaço mereça ser considera- persistem mas aos poucos vão sendo dirninuldas.
da torto, no sentido juridico da palavra, é preciso que Se verifique o reconhe- Na Conferncia Mundial de Direitos Humanos, realizada ern junho de
cimento citado. E pois absurdo falar de precedncias corn relação a noçôes 1993 na capital da Austria, o assunto rnereceu grande atençâo e foi abordado
que so por própria natureza correlativas. Na realidade, a determinaço do na Declaraç3o e Programa de Acão de Viena. Nos considerandos, reafirma-
tot-to e do Direito so concomitantes, pois constituem, logicamente, uma s6 Se a fé na igualdade de direitos de homens e muiheres.
e a rnesrna coisa. 0 mesmo juizo, a rnesma linha l6gica levam-nos, pois, a No corpo da Declaraç.o, no titulo II, parteB; os iteris 36- a-44-tratam--da
- -I
distinguir o Direito do tot-to e a contrap-los entre Si. -: igualdade de condiçào e dos direitos hurnanos da rnulher. Inicialmente, a
As proclamaçôes dos Direitos Humanos, a estipulação de garantias da Conferncia pede encarecidamente que se conceda rnulher o pleno desfrute
efetividade dos Direitos Humanos e os instrurnentos para concretizar essas em condiçôes de igualdade de todos os direitos humanos e que isso seja uma
garantias, existem como seu reconhecirnento e protecâo contra a violaçâo dos prioridade para os governos e para as Nacôes Unidas.
Direitos Hurnanos e desrespeito s liberdades fundamentais. 0 documento cita-os-eserneea-nismes—q-ue--kitam-pe-l@s-diitos-da-----
-T mulher e contra as discrirninaçôes contra elas, tais como a Comiss5o sobre a
Condiço Juridica e Social da Mulher, o Comit para Elirninacâo da Discri-
•- minação contra a Mulher, o Fundo das Nacôes Unidas de Desenvolvirnento
15. VIOLAçA0 E PODER pat-a a Mulher e a Divisâo pat-a o Progresso da Mulher.
Depois, em 1995, na capital da RepIblica Popular da China, Beijing
(Pequim), realizou-se a Conferéncia Mundial sobre a Muiher, que aprovou
o grande violador dos direitos e liberdades é em geral o titular do poder. novos e importantes documentos em favor dos direitos da mulher.
Q uern tern o poder, e especialmente o poder polItico, enfrenta uma forte
tendncia de abusar do poder que conquistou através do voto ou da forca.
Por isso a luta pela defesa dos Direitos Humanos é em geral uma luta 16.2. INFANCIA EJUVENTUDE
contra o poder e contra os seus detentores.
- Mas hoje é rnais dificil lutar contra o poder porque ele Se exerce de Em 1995, de 27 de marco a 4 de abril, realizou-se nas cidades italianas de
forma muito mais sutil - enfatiza Pierre Bourdieu, escritor francs, em entre- Trento, Macerata e Npoles, rnais urna sesso do Tribunal Permanente dos
vista ao jornal 0 Globo, do Rio de Janeiro, em 27-10-1995, Segundo Cader- Povos, urn rgo judicial no oficial, que julga simbolicamente os crimes
no, página 5, que lembra haver hoje uma verdadeira internacionalização dos praticados contra a humanidade. Nessa ocasião a questão objeto de investiga--
direitos, devido ao fortalecirnento de grandes instituiçôes juri'dicas ço e julgamento foi "A Violaçâo dos Direitbs Fundarnentais da Infncia e
multinacionais, dal decorrendo uma revalorizaço do conceito de dos Menores" ao redor do mundo.
internacionalismo. Como juizes, testemunhas e especialistas, participaram pessoas de 20 paIses
de quatro continentes, envolvendo instituiçôes locais, universidades, Organi-
zaçôes Não Governamentais (ONG's) e agências das Naçôes Unidas, todas

116
-1 117
voltadas para os problemas da infncia e da juventude. Do jt'iri fizeram Condena as gavernos que concedem impunidade de fato aos autores
parte, dentre outros, a Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel, da de violência contra as menores.
Argentina, o deputado federal brasileiro Hélio Bicudo e o magistrado e sena- Condena as governos de palses que, par omissão deliberada, faltaram
dor da Itália Salvatore Senese e como presidente atuou o professor de Direito ao dever de procurar as autores de infraçôes graves cometidas contra meno-
Internacional da Blgica, François Rigaux. A convite da Fundação Lélio Basso, res no territ6ria de sua cornpetência, especialmente nos casos deadoção,-de.
participou como depoente a ex-prefeita de São Paulo e ex-ministra-chefe da trabaiho, de prostituicão, de pedo-pornografia, de narcotrafico, de trafico de
Secretaria de Administração Federal, Luiza Erundina de Sousa, que, em arti- crgãos, assim coma aqueles que recrutaram menores para operacôes armadas.
go publicado no jornal Folha de São Paulo de 27 de abril de 1995, forneceu 1) Denuncia que a maiaria dos paises que aderiram . Convenção das
preciosas informaçôes sobre a encontro que aqui transcrevemos. Naçôes Unidas sabre os Direitos da Infncia - inclusive as cinco membros
A socióloga Luiza Erundina começa afirmando que a quadro apresenta- permanentes do Conseiho de Seguranca - encaminharam apenas parcialmente
do foi estarrecedor, ficando demonstrado que a violação dos direitos funda- as medidas necessa.rias a efetiva implantacão da ref erida convenção.
mentais das crianças e adolescentes ocorre em todo a mundo, mas nos palses 0 jiri conclui corn uma série de recomendac8esa-tu10-de-c-ontr-ibU
subdesenvolvidos a situação atinge niveis de indecência e monstruosidade. ção, para que as situaçôes de opressão e de violência dos direitos fundamen-
Em palses da America Latina, crianças são raptadas e introduzidas nos tais de crianças e adolescentes em toda a mundo sejam definitivamente elirni-
cIrculos da prostituição e da producão e difusão de material pornográfico. nadas. - -
Orgãos de crianças pobres são extirpados e vendidos a clInicas de transplantes Não basta julgar e condenar crimes tao hediondos e lesivos a humanida-
do Primeiro Mundo. Crianças e adolescentes são submetidos a trabaihos em de. E insuficiente
regime de escravidão. Adocöes internacionais de crianças se fazem de forma criem instrumentas de pressão politica sobre as organismos internacianais e
indiscriminada, constituindo-se num comercio altamente lucrativo. sobre as governos, para que se cumpra a Convencão Internacianal sabre os
E de se acrescentar a tudo isso as milhares, de meninos de rua frequente e Direitos da Inf.ncia, da ONU, e se eliminepronta e definitivamente tais
impunemente vitimados pela violência de traficantes, justiceiros e policiais. crimes, punindo corn rigor as criminasos.
Nos Estados Unidos, cresce a ni'imero de menores abandonados e sub- E necessaria ainda que se divulguern amplamente as conclusöes do tribu-
metidos a pena de morte. nal coma forma de acordar a conscincia de tados as cidadãos do-mundo,
Diante desses fatos , o tribunal proferiu sua sentença, - em si'ntese com para que ninguém fique omissa e para que se dê urn basta a tanta perversidade
O seguinte tear: e a tamanha violacão dos Direitos Humanos de crianças e adolescentes indefe-
Confirma as condenaçôes j pronunciadas em Berlim, em 1988, e em sos.
Madri, em 1994, sabre as praticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e
do Banco Mundial, especialmente em relacão as suas dramáticas conseqün-
cias sobre as condiçôes de vida das crianças dos palses submetidos a progra- 16.3. INDIGENAS
mas de ajustes estruturais, que beneficiam exclusivamente as credores do pais.
Estende idêntica condenação aos governos dos sete palses mais indus- A Organizacãa dos Estados Arnericanos (OEA), devido a gravidade cada
trializados (G-7), que, no mbito das instituiçôes financeiras internacianais, vez major da questão dos indigenas nos paises americanos, resolveu elaborar
têm majoritariamente o poder de decisão. uma Declaração Interamericana sabre as Direitos dos Povos Indigenas das
Condena, tambem, as governos dos paises que, pela pressãa que lhes Americas, cujo texta fai preparado pela Comissão de Direitos Humanos
e imposta em virtude da sua dIvida externa, sujeitaram-se as exigências das (CIDH) da 0EA.
instituiçöes financeiras internacionais, implernentando poilticas de ajuste es- A regra vigente é a de escarnotear ou simplesmente negar Direitos Hu-
trutural que violam irremediavelmente as direitos fundamentais de suas pa- manos aos indigenas em todo a nassa cantinente, tanta as culturais, econ-
pulacôes. micos, sociais, civis e politicos.

118 119
13. A PROTEçAO INTERNACIONAL DOS Tribunal Criminal Internacional Permanente, corn a finalidade de terminar
DIREITOS HIJMANOS corn a impunidade dos autores das violacöes graves dos direitos humanos.
Para implementar rnais efetivamente os Direitos Humanos em todo o
Nas 61timas dcadas, especialmente durante e após a Segunda Guerra mundo, a Organizacão das Naçöes Unidas (ONU) programou a realizacão
Mundial, vai-se corporificando urn fenmeno novo nas relaçôes entre Esta- de seis grandes Conferências Internacionais, todas 'A realizadas, e das quais
dos, entre indivIduos e entre uns e outros. emergiram importantes docurnentos e consequentes compromissos dos Esta-
Esse fenmeno é a internacionalizaço crescente da proteco internacio- dos participantes em respeitar, fazer respeitar e tomar medidas concretas para
nal dos Direitos Humanos. sua efetivaçâo. Essas grandes Conferências das Naçôes Unidas foram:
Isso se 6 de maneira mais acentuada em alguns setores especificos, tais em 1992, no Rio de Janeiro, Conferência sobre Meio Ambiente e
como: Desenvolvimento (Rio-92);
condenação internacional de certas infraçôes consideradas crimes contra em 1993, em Viena, sobre Direitos Humanos;
a humanidade, entre elas o genocIdio; a escravidâo e o tr.fico de escravos; a em 1994, no Cairo, sobre Populacâo;
tortura e penas e tratamentos cruis, desumanos e degradantes; em 1995, em Copenhague, sobre Desenvolvimento Social;
defesa de certos direitos dos estrangeiros isto é, dos nacionais de urn
,
em 1995, em Pequim sobre Muiheres;
Estado quando de passagem ou radicados em outro Estado, especialmente em 1996, em Istambul, sobre Assentamentos Humanos (Habitat 2).
dos imigrantes; Esse ciclo de importantes conferências internacionais foi conclu{do
defesa dos direitos e prerrogativas dos agentes diplomticos e consula- exitosamente, mas provavelmente outrasmais sero realizadas.
res, corn equiparaçâo a eles dos mernbros das organizacôes internacionais; Alguns dos eventos citados ainda estão sendo complementados, median-
defesa dos direitos das minorias inclusive tnicas e religiosas; 41
.
te a elaboracâo, discusso e posterior aprovaco de documentos adicionais.
reconhecimento do indivIduo como sujeito de direito internacional; Dispöe a Constituicâo da Rumania de 1991, no seu artigo 20, que as
desenvolvimento dos rneios de proteco internacional contra viola- disposicôes constitucionais relativas aos direitos es liberdades dos cidados
çôes dos Direitos Humanos nos territ6rios soberanos dos Estados, corn a 4 se interpretarão e aplicarâo de conformidade corn a Dec1araco Universal dos
aceitaçâo da ingerência dos 6rgâos internacionais ; Direitos Humanos, as convençôes e os demais tratados dos quais a Rumania
reconhecimento crescente da atuação das ONG-Organizaçôes Nâo seja pane.
Governamentais, inclusive estrangeiras e internacionais, como drgâos de pro- A Constituição brasileira de 1988 dispôe, no parágrafo 2° do artigo 5 0 ,
teç3o dos Direitos Humanos, corn o seu credenciamento pelas Naçôes Uni- que os direitos e garantias expressos nesta Constituico nâo excluem outros
das como drgâos consultivos e opinativos; decorrentes do regime e dos princIpios por ela adotados, ou dos tratados
incorporaçao, como Direito Humano, do direito ao desenvolvi- internacionais em que a Repiiblica Federativa do Brasil seja pane.
mento dos povos subdesenvolvidos ;
reafirmaçao, como Direito Humano, do direito de autodeterrninaço
dos povos;
inclusão, na categoria de Direito Hurnano, da paz entre os Estados,
do desarmamento mundial e da coexistncia paci'fica entre palses de diferente H
organizaçâo econmica;
adoção de sistema, j em fase de irnplantaçao pelas Naçôes Unidas,
atravs dos Tribunais de Haia sobre Crimes de Guerra na Bdsnia Herzegovina
e na Ruanda e designacao de de urn Comitê Preparatdrio para Criaço de urn

112 113
Urn dos maiores genocidios ocorridos no mundo teve como vitirnas os 36 sequestros de pessoas que se tornaram refens de grupos de oposlcão
indigenas das Americas. armada.
No Brasil, por exemplo, alguns antr6pologos afirmam que havia, na Devido a linha de cautela neutrahdade e isenção da Anistia Internacio
epoca do descobrimento, cerca de cinco milhôes de indigenas, e outros che- nal, os casos citados são apenas os constatados , comprovados e corn reclama-
gam as cifras maiores, de dez e ate de quinze milhôes. Hoje, neste fim de çöes forrnalizadas.
seculo XX, eles são, no Brasil, apenas cerca de 250.000. De maneira constan-
te e perversamerite competente, Os demais foram exterminados, de maneira
dieta por assassinatos individuais e coletivos, ou de maneira indireta através
de doenças trazidas pelos colonizadores, desconhecidas pelas populacôes 18. A INSIDIOSA FUNDAMENTAçAO DAS vIoLAcOEs
aut6cnes e que as atingiam brutalmente. Gripes, doencas venéreas, tubercu-
lose e muitas outras, quando seus bacilos e virus atingiarn os indigenas, dizi- Em matéria de violaçöes dos Direitos Humanos, é necessrio ressaltar
mavam-nos rapidamente. as perversas tentaçôes inseridas em cada urn de ri6spata aceitar exceç6es que
justificariam a aplicacão de tortura e outros agravos aos nossos semeihantes,
em pane calcadas no axioma do "faca 0 que digo mas não o quefaco".

17. AS vIoLAçOEs NO MUNDO DE HOJE


18.1.
A Anistia Internacional (Amnesty International) é uma das mais concei-
tuadas Organizaçöes Não Governamentais (ONG), e é credenciada pelas Urn exemplo gritante dessa atitude reside na legalizacão da tortura pelo
Naçôes Unidas corno 6rgâo consultivo. Tern sede principal em Londres e governo do Estado de Israel desde que contra terroristas presos.
sucursais em muitos palses e regiôes, algumas delas no Brasil. Emite relat6- Entrevistado pelo jornal Zero Hora, edição de 24/3/96, pagina 30, de
rios a cada ano, chamados Informer, sobre seu trabalho no ano anterior e Porto Alegre, onde esteve proferindo palestra, o rabino Levi Keirnan, de 42
sobre as questôes que a preocuparam em todo o mundo, pals por pals. anos, casado, pai de trs filhos, fundador em Israel, onde mora, da congrega-
Nesses relat5rios anuais constata-se que a totalidade dos governos do ção Kol Haneshma (Todas as Almas, em hebraico), defendeu a aplicacão da
mundo cometem algum tipo de violação dos Direitos Humanos. A ausência tortura, nos seguintes termos:
de urn pals no relat6rio de urn deterrninado ano - esclarece a entidade - não Zero Hora- Os israelenses tarnbém perpetrararn atos de violência con-
significa que não tenha havido nele violaçôes de Direitos Hurnanos. Tampouco tra os palestinos, não é verdade ?
o niimero de paginas dedicadas a urn pals não deve ser considerado indicativo Kelrnan - Correto, mas a diferença é que o governo de Israel combate
do grau de preocupação da Anistia Internacional corn ele. esta minoria radical. No casos dos terroristas muçulmanos, existe o apoio
No relatório de 1995, por exernplo, é citada e explicitada a seguinte esta- e
oficial de urn pals, o Ira. o radicalismo árabe mais perigoso, porque é mais
tistica dos casos mais graves de violaçöes: popular. E apenas uma questão de ni'irnero. Na Faixa de Gaza, existem seres
70 prisôes por motivos politicos; hurnanos vivendo em péssirnas condiçöes. Mesmo antes de Arafat assumir a
29 "desaparecimentos" de opositores e mortes de presos politicos sob adrninistracão do local, não se podia culpar os israelenses pela situação. Não
torturas;. fornos n5s que a criarnos.
33 aplicac6es de penas de morte a presos comuns; Zero Hora - Uma violação dos direitos hurnanos justifica a outra? Se
54 execuçôes extrajudiciais de opositores e/ou de integrantes de mino- urn 6nibus explode em Tel Aviv, isto dá ao exército de Israel o direito de
rias étnicas; prender e torturar os palestinos?

120
-I 121
Kelman - Existe a1 urn dilema. E justo torturar uma pessoa se ela sabe pendncia dos Estados Unidos, os revo1ucionrios franceses de 1789 bern
onde est uma bomba que pode matar 40 seres humanos? como Tiradentes e os demais inconfidentes mineiros.
ZH - 0 senhor esth escapando da resposta Essa identidade entre torturadores golpistas e inconformados torturados
Kelman - Não estou. Quando se fala nos filhos dos outros, talvez a res- procurava criar a figura de dois demnios, ambos objetos de repressâo, mas
posta seja rnais fcil. Mas se o meu filho estivesse entre os que podem morrer, procurando dar a entender que o "terrorismo estatal"-seria-poster-ior-ao "ter-
eu seria o prirneiro a torturar. Minha opiniâo pode parecer estranha para urn rorisrno subversivo", tanto que o Decreto 157, da repress.o aostorturados;é
rabino. Mas acho que qualquer ser humano normal agiria da mesma forma. imediatamente anterior ao Decreto 158 relativo aos torturadores, tentando-
Lembre-se que quem fala assim é urn sacerdote religioso, corn curso se inculcar na mente das pessoas que urn dos demnios seria pior e anterior
superior pela Universidade de Wisconsin (EUA) . Sua perversa justificacão da que o outro, tanto assim que o tratamento e punicâo foi rnuito mais favorf-
tortura não 6 diferente da que era exposta pelos membros do Tribunal de ye1 aos militares processados.
Inquisicão de tantos scuios atrás ou pelos rnilitares brasileiros do vintênio de
terrorisrno estatal de 1964/84.
18.3. A TEORIA DA OBEDJENCIA DE VIDA

18.2. A TESE DOS DOIS DEMONIOS

Durante a ditadura rnilitar argentina, de 1976 a 1979, milhares de pesso-


as foram privadas ilegairnente de sua liberdade torturadas e assassinadas, em
geral em quartis das forcas armadas "regulares", como resultado da aplicacâo
da infeliz doutrina da seguranca nacional, nascida na Franca, desenvolvida
nos Estados Unidos e espaihada por quase toda a Amrica Latina e por mui-
tas outras partes do mundo.
Os ni'imeros sâo ainda imprecisos, mas atinge mais de 30.000 os atingi-
4 Uma das tentativas de justificar a tortura e absblvr os tor±uradoies,fbi
a teoria da obediência devida. Para justificar, os crimes cometidos pelos
militares de postos
serviço, em obedincia a ordens superiores, argumento que tinha sido alega-
do mas no aceito pelo Tribunal de Nuremberg, que julgou e condenou os
generais e dirigentes nazistas, logo ap6s o término da 2' Guerra Mundial, em
1945.
Mesmo depois, em 1952, o Supremo Tribunal Alemâo, ao julgar ex-
oficiais das SS (tropas militares especiais do nazismo), acusadosde assassinar
quatro civis indefesos, em curnprimento a uma ordem superior, rechaçou as
dos pela tortura, desaparecimento e morte, na RepiThlica Argentina nos pou-
cos anos de ditadura militar. T excusas dos indiciados, que alegavam haver atuado sob a excludente da obedi-
ncia devida. Disse a sentença:
Após a derrota e queda dos generais ditadores argentinos, sobrevém urn 0 direito penal no conhece uma causa exciudente baseada na cega obe-
sistema democrtico. Em 1983, é presidente eleito da Argentina urn advoga-
dincia e não a pode reconhecer, J a que, se assim fizesse, renunciaria aos fun-
do, o doutor Raul Alfonsin, e é ele, e nâo os generais golpistas, quem cria a damentos da responsabilidade do ser humano como pessoa. Mesmo o jura-
tese dos dois dernnios, expressa em dois Decretos, baixados no mesrno dia, mento nazi bandeira, que obrigava os soldados a uma obediência incondici-
13-12-1983, que mandam processar torturadores e torturados, ou seja, os onal em relacão a Hitler, não eliminou a exceçâo obrigat6ria do par.grafo 47
integrantes das três primeiras Juntas Militares, que rasgaram a Constituição do Cidigo Penal Militar (...) Mesmo que o juramento da SS e o fato de per-
argentina e implantaram uma ditadura cruel e sanguinria (Decreto 158) e os tencer a ela estabelecessem a obediência cega, isso seria juridicarnente
dirigentes dos grupos que lutararn contra os ditadores (Decreto 157). irrelevante. Quem se submete voluntariamente a uma vontade alheia, segue
So colocados nurn mesmo piano os respons.veis pelo "terrorismo de sendo penalmente responsvel. Os cddigos penais militares de quase todos os
Estado" e pelo denominado "terrorisrno subversivo", expresso esta que, em Estados rnostram que as condices militares nào justificam urna eIiminaço,
conseqüência, poderia passar a qualificar os que lutaram em 1776 pela inde- mas apenas uma restrição da responsabilidade do subordinado. 0 parágrafo

122 123
47 do Cddigo Penal Militar alemo aplicava ao subordinado a pena de parti- Amrica Latina, o novo regime dernocr.tico trouxe discussão temas corno
cipante quando ele executava uma ordem do superior, que reconhecidarnente a punicão dos golpistas, em geral generais, a revogacão arbitr.ria de Consti-
estivesse dirigida prtica de urn crime ou delito. No ambito do direito tuiçes, a truculência, a aplicacão de torturas e penas e tratamentos cruMs,
anglo-saxo, ultimarnente, so exime de culpa o fato de nâo bayer podido reco- desumanos e degradantes e outras graves violacôes.
nhecer a antijuridicidade (...) Os acusados se remetem assirn em vâo a urn Em regra geral, a democratizacão trouxe leis de anistia ampla e recipro-
suposto direito especial das tropas SS. Para eles, sO seria de aplicaco o park- ca, "perdoando" as condenacôes e àtos injustose ao mesmotempoos que os
grafo 52 do COdigo Penal e de nenhurna maneira o pargrafo 47 do COdigo perpetraram. 0 argumento era de que a redernocratizacâo devia trazer urna
Penal Militar. Na melhor das hipOteses, a ordem poderia ter alguma re1evn- paz entre repressores e reprirnidos, que passariam a conviver no mesmo novo
cia desde que ela contivesse uma ameaça que envolvesse urn perigo mortal ou ambiente politico, embora odiado pelos antigos repressores.
corporal. IDe acordo corn reiterado entendimento do juizo a ordem nâo per- F. ateoria del punto final, aplicado em vrios paises, inclusive no Brasil e
tencia a essa categoria. Os acusados não se encontravam, assirn, em estado de no Uruguai, mas que, na vizinha Argentina, muitos juizes democratas consi-
necessidade, de acordo corn a convicçâo do tribunal de primeiro grau. Tal derararn-na injuridica, inconstitucionale violadorade -pr-inc-ipios-funda-men-
como este comprovou, os acusados nâo tinham que terner urn perigo de morte tais, e por isso desobedeceram-na e condenaram muitos generais e oficiais,
ou corporal se se recusassem a curnprir a ordern. Tal ternor nâo foi expressa- inclusive alguns ex-presidentes da RepOblica. -
do entre eles e tampouco a terceiros e a participacâo nâo foi prestada corno
consequncia daquele temor, rnas eles executaram a ordern reconhecida como
-

antijuri'dica devido a que a considerararn vinculante corn sua condiçâo de


-

integrantes das SS e de nazis convictos. Isso no constitui urn estado de 19. A TECNICA MUNDIAL DA TORTUKA
necessidade, mas urna açâo responsável motivada em uma cega obediência
voluntria por propria responsabilidade (AAJ, Juicios a los Militares, pgina No decorrer da Conferência das Naçôes Unidas sobre Direitos Huma-
238). nos, realizada em Viena, de 14 a 25 de junho de 1993, o Centro de Informacâo
Essa teoria da obedincia devida, injuridica e antidernocrtica, afirma da Organizaco das Naçôes Unidas, corn a colaboraco da Anistia Internaci-
que os servidores pOblicos militares devem obediência passiva a seus superio- onal, Seçâo Portuguesa, apresentou uma grande exposic.o sobre violaçôes
res e não devem julgar nem ver senão corn os olhos de seus chefes e sO estes dos Direitos Humanos, mostrando os casos mais clarnorosos, instrumentos
so responsáveis por uma ordem ilegal. 4 de tortura, mtodos cruis de tratamento e coisas desse gênero, e que se
Entretanto, ninguérn deve obedecer ordern manifestamente ilegal, mes- constituiu em urn dos eventos mais visitados e polêmicos.
mo partindo de urn seu superior hierrquico, sob pena de co-responsabilida- Essa exposicâo, denorninada "Instrumentos de Tortura" (Torture
de. 4 Instruments) e, itinerante e vern sendo apresentada em v.rios paises, desde
A Constituiçâo brasileira de 1988, no artigo 50, inciso XLIII, dispôe que 1983, quando foi inaugurada em Florenca, na Itlia, e continuara percorren-
"a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetIveis de graca ou anistia a do o mundo ate o ano 2.000.
prática de tortura (...) por eles responiendo os mandantes, os executores e os Ela foi organizada pelo mencionado Centro de Inforrnaco das Naçöes
que, podendo evit-los, se ornitirern". Unidas, cujo Diretor Carlos dos Santos assim se expressou por ocasio da sua
exibiç5o em Florença:
No momento em que esta Exposico Itinerante "Instrumentos de Tor-
18.4. A TEORIA DO PONTO FINAL tura" começa a percorrer diversas capitais, 6 tempo de reflexo. Banido o
-
veiho conceito pelo Artigo V da Declaraco Universal dos Direitos Huma-
Nos muitos paIses em que houve ditaduras violadoras dos Direitos Hu- nos, pensvarnos todos que poderiamos dizer NUNCA MA IS.
manos e mais recentemente democratizados, como ocorreu em quase toda a

124 125
Infelizmente, estes intrumentos voltararn, e muito mais sofisticados. irnpossIvel dizer que não se recebe liçöes de ninguém." Esta Exposicão
Hoje, as pessoas são torturadas aos milhares e de uma maneira tao sofisticada urna das demonstracöes da afirmaçâo.
que quase não nos apercebemos de que Se trata efetivarnente de tortura. Mas Eis urna descricão do mal. Eis a maldade feita objetos. Eis o hornern na
tortura é tortura, seja qual for a roupagern de que se revista. 1T - expressão dos seus horrores. 0 homern contra o hornem. A condicão hurna-
Pensvarnos que, nos nossos dias, não podiarn acontecer coisas tao terrI- na reduzida reptilizacão
. .

veis. Infelizrnente, estávamos enganados. Na viragern do sculo XX, vimos, T T Através desta rnostia se deservolze, enbora launarrnente, o que 0 Po-
na Europa, Africa, Asia e Americas, milhares e milhares de pessoas fugirem, der (qualquer que ele se)a religioso, econmico ou politico) faz, prornove
para não serern fuziladas. Outras vezes, abandonam os seus entes mais queri- - ou estirnula para se manter e perpetuar. E' urna longa e terrivel cârnara de
dos, que o cansaço, a fome e a doença obrigarn a ficar para trs, para que a horrores, onde o engenho do hornem, a formidvel irnaginacão do homern se
familia possa sobreviver. E os que ficam para trs tornarn-se presas fáceis nas exprime e expressa em rn.quinas e instrurnentos medonhos, repulsivos, e por
mãos dos torturadores. igual trgicos.
E neste contexto que apoiarnos e convidarnos todos a visitar esta Expo- As técnicas de iterrogatrio elevadas ao mais abjeto dos requint-es. -

sição Itinerante "Instrurnentos de Tortura", que incita a refletir sobre os efei- 0 mundo cão erguido pelo hornem .s alturas da barb.rie.
tos nefastos da guerra, da discriminaçao, da fome e do analfabetismo como 0 despotismo, a tirania, 0 totalitarismo que não conhecem fronteiras e
outras formas de tortura. que, frequenternente, em nome da felicidade dohornern tth corn objetivo a
Diz o Artigo III da Declaração Universal dos Direitos Hurnanos: Todo destruicão do hornem.
homern tern direito vida, liberdade e seguranca pessoal". Se não formos
.
--- - - - Esta exposicão
capazes de o aplicar ou de erguermos as nossas vozes, para que este pensamen- tncia Aviso mern6ria Advertncia para que as coisas se não repitam.
. .

to Se tome realidade, não poderemos dizer NUNCJ4 MAIS. -


Na medida do possivel e na esperanca de que o hornem se reencontre
live a oportunidade, eu e rnais 36 professores da Universidade do Vale corn a sua humanidade
do Rio dos Sinos (UNISfNOS), de assistir a rnencionada Exposição, ern feve-
reiro de 1996, na cidade de Coimbra, ern Portugal, e obtive urn exernplar do -

seu Guia Bilingue, ern inglês e ponuguês, editado em Florença.


Numa apresentação sob o titulo sugestivo de "A Internacional da Tortu- 1 19.1. INSTR UMENTOS DE TOR TURA,
ra", o portugus João Soares, Vereador do Pelouro da Cultura da Camara UMA ExposlçAo ITINERANTE
Municipal de Lisboa, assim se expressou :

A tonura é a histdria natural da infmia. E não se torna invulgar que o - Vamos descrever a seguir alguns dos instrumentos de tortura exibidos
torturado de ontem seja o torturador de hoje. Desde a antiguidade que as na exposicão das Nacôes Unidas, e usados largamente:
coisas tern sido assim, e talvez se tivessem acentuado corn as sinistros proces- DONZELA DE FERRO DE NUREMBERG - Trata-se de urn
SOS da Inquisição ate ao requinte das confissôes obtidas através das mais bru- sarcdf ago corn a forma de urn corpo humano e corn duas portas, corn pregos
tais violências corn os rnais sofisticados métodos, afiados no seu interior, que penetravam, ao fechar, no corpo da vitima, que
0 mal e a bern estâo no homem, porque o homem é formado de caracteres -' all ficava horas ou dias ate morrer.
binários. Quando o irracional do homem emerge, ernergern todas as selvajarias GAIOLA SUSPENSA A vitima nua ou quase nua era fechada na
-

que esse irracional desencadeia . A Histria da Hurnanidade é urn longo gaiola e morria de sede, fame, do mau tempo e frio no inverno, de queimadu-
percurso de tragédias, e a tortura urn trágico percurso planetário. Corno ras e calor no verão e era as vezes torturada e mutilada par outros meios. As
acentuou Claude Roy, em Les Rencontres des fours, sobre a que designa de gaiolas erarn suspensas no exterior de edificios municipais, palacios de justica,
"internacional da tortura", essa internacional "é urn domInio onde se torna catedrais e rnuralhas das cidades ou em postes ao longo das estradas.

126 127
AFOGAMENTO - Afogavam-se os suspeitos em rios, lagos, tanques, 192 MODERNIZA cÁO DA TORTURA
barns e ate em panelas e cacarolas.
CAVALO DE MADEIRA - Constitula em urna mesa corn cabrestante Nos dias de hoje, em pleno limiar do século XXI, a tonura continua
para estiramento ou desmembramento da vitima, por meio de tensôes exercidas sendo usada nas suas formas barbaras e primitivas ou nas suas formas sofisti
longitudinalmente. 0 objetivo era deslocar e distorcer cada articulação dos cadas corn tecnologia apurada As sessôes de tortura eram ou são acompa
braços e pernas, desmembramento da coluna vertebral, destruição dos mi'is- nhadas por medico, pará apürar o limite dèrèsistncla dotorturado, evitar as
cubs da extremidade do tórax e abdomen. Logo no inIcio, corn o rompimen- marcas de tortura ou a rnorte, fazer aplicacöes para extirpar rnarcas ou para
to de mtlsculos, a dor 6 intensa. diminuir a possivel coragem do torturado.
ESMAGA POLEGARES (ou dedos) - Erarn instrumentos, de ferro A tortura psicologica e aplicada pelo aniquilamento da dignidade e da
ou madeira, simples e muito eficazes. 0 esmagamento de n6s e falanges dos vontade do torturado, que e sémpre desnudado cornpletamente, porque s5 a
dedos e o arrancamento de unhas estão entre as torturas mais antigas, pois nudez ja ihe e massacrante Enquanto espera para ser torturado, aparelhos de
exigiam pouco esforço dos torturadores e infligiam dores terrIveis. altofalantes ihe levam c gemidos esnsdos ueo-estãosendo -ou gravacöes
PENDULO - Consiste em uma polia corn uma corda onde a vItima dos que o foram anteriormen te. Sons estnidentes ou escuridão total na cela
era presa em geral corn os braços para tr.s. Produzia o deslocamento dos tambem visam desorganizar a rnente.
ornbros pelo rnovirnento de içar. Os iimeros se desarticulam, juno corn os - 0 afogamento recebe os apelidos de caldo o bahho apikaio
omoplatas e claviculas, produzindo, alem de dores enorrnes, horriveis e tambem por tubos de borracha introduzido na boca.
irreversiveis deforrnaçôes.
0
PERA ORAL, RETAL E VAGINAL - Erarn objetos de metal corn punhos amarrados e a dobra do joelho, sendo as extremidades da barra cob-
duas partes que se abriarn por meio de urn eixo rosqueado,.s vezes corn cadas sobre duas mesas, ficando o corpo pendurado a cerca de tninta centirne-
pontas afiadas. A pera oral aplicava-se mais aos predicadores hereges. A pera tros do chão, e e acompanhado por choques eletricos, afogamentos e outros
vaginal, as muiheres culpadas de relaçôes corn o demnio. A pera retal, aos
complernentos.
homossexuais passivos. 0 choque eletnico e aplicado por dois fios ligados a uma tomada elétni-
-
GARRA DE GATO ou PROVOCADOR DE COCEGAS ESPA- ca e encostados no corpo do torturado ou, quando rnais sofisticado, por uma
NHOL - Assernelhavam-se a quatro dedos humanos. De metal, montadas maquineta denominada "pimentinha" ou "maricota" , capaz de produzir, atra-
nurn cabo, erarn usadas para reduzir a tiras a came da vitima e separ.-la dos - - yes de urn magneto, eletricidade de baixa voltagern e abta amperagem, produ-
ossos, em qualquer parte do corpo: cara, abdomen, costas, extremidades, zindo choques dolorosos, destroçadores da mente, mas sern rnuito perigo de
seios.
matar.
TOURO DE FALARIS - Era urna caldeira oca de ferro ou bronze, A geladeira é urn ambiente de temperatura baixissirna e dimensôes redu-
corn a forma de touro, que era aquecida lentarnente corn a vitirna no seu zidas, onde o torturado é colocado nu durante a rnaior parte do dia.
interior, cujos gritos sairn pela boca do touro, parecendo ser este que mugia. A cadeira do dragão é uma cadeira pesada, cujo assento é de zinco ou
INSTRUMENTOS DE QUEIMAR - Tenazes, pincas, tesouras em alumInio ligado a urna corrente elétrica, acionada manualmente, e a cada vez
brasa eram aplicadas ao nariz, dedos, rnamilos e outras partes do corpo. os pés são empurrados pebo espasmo elétrico para tid.s, batendo nurna traves-
A exposição de instrumentos de tortura, organizada pelas Naçôes Uni- sa de rnadeira.
das, apresenta mais de setenta instrurnentos diferentes, originais ou recons- Produtos qulmicos tarnbérn são usados, como o Pentanol que produz
tituldos.
uma sonolêricia e leva a pessoa a falar semiconscienternente.
Insetos e animais são introduzidos na cela do torturado, corno cobras,
jacarés, cães, baratas.

128 129
0 telefone consiste em tapas dados simultanearnente nos dois ouvidos, Cabe aos juIzes das varas criminais, em todo o Brasil, a- fiscalizaç-âo
de maneira inesperada. per15dica dos presidios e locais de prisâo. Nos foros sernpre deve haver juizes
A palmatória é uma borracha grossa corn urn cabo de madeira, corn a incumbidos das Execuçôes Crirninais e juizes de Corregedoria de PresIdios.
qual se do golpes nas palmas das mâos, Os sentenciados ficam sempre 1. disposicâo do juizado das Execuçôes
Criminais. 0 curnprimento da pena ser sernpre fiscalizado pelo Poderjudi-
cal.rio', cujos titulares, inclusive os pxesidentes de tribuñais superiores in
relação aos seus sentenciados, devem apresentar relat6rio mensal da situaço
20. PENAS E TRATAMENTOS CRUEIS, dos presos e presidios, rnas desidiosamente em geral nâo o fazern.
DESUMANOS E DEGRADANTES Portanto é rnuito extranho que alguém que chefia urn Poder, apenas
lance palavras larnentosas sbré tema dé sua especifica competência, confesse
No Brasil, o pr6prio presidente do Suprerno Tribunal Federal, o minis- violaçöes flagrantes - aos Direitos Humanos, reconheça o descumprimento
tro José Paulo Sepiulveda Pertence, ex-vice-presidente da Ordem dos Advoga-
das leis e tratados intérnai ipert -nënteS e continUe apenas-falandoboni----- -
dos do Brasil, é quem afirma que não pode haver mais diividas de que o to enquanto o problerna se agrava a cada dia.
sisterna penitencirio rigorosarnente est falido. Alérn de inijtil como solu- no entanto, esse cidado tern a ousadia de afirmar, na mesma rnatéria
ção para os problernas da crirninalidade, nele h. urn desrespeito sistemtico jornal{stica citada, que as mudanças necestirias dependernmdio ouco dos
aos direitos hurnanos garantidos pela Constituiçâo, inclusive aos condena-
magistrados.
dos. (Revista Istoé n° 1386, de 24-4-96, p.gina 110).
- Mas ainda bern
Mas ele continua comarca de Porto Alegre, cujos juizes de Execuçôes Crirninais seguidamente
- A faléncia do sistema penitenci.rio é uma realidade inevitável ate por- 21, tomarn algumas medidas contra o descalabro das penitencirias locais e exi-
que é a expressâo do fracasso de urn outro sistema igualrnente ultrapassado, gem providéncias dos omissos governos estadual e federal
o da insistência nas penas de prisão corno resposta ilnica 1 criminalidade.
Diante das lamentiveis condiçôes das penitenctirias, o discurso que prega a
reclusão corno forma de ressocializaçâo de criminosos ultrapassa as raias da
21. ASSASSINATOS, CHACINAS E IMPUNIDADE
hipocrisia intolerável.
E muito surpreendentemente pitoresco que o chefe rnaior do Poder Ju- No Brasil no Estado do Para na localidade de Eldorado de Carajas a
dici.rio brasileiro faca tais declaraçôes lamentosas, sern qualquer mea culpa, 650 quilmetros de Belém, no dia 17 de abril de 1996, foram assassinados pela
como se ele fosse urn mero espectador, sem maiores e especIficas responsabi-
polIcia militar estadual do Pars 19 trabalhadores rurais sem-terra, integrantes
lidades corn o problerna. de urn grupo de 1.500. Eles pretendiam caminhar ate a capital Belérn para
Ora, o sisterna penitencalrio, no Brasil, é administrado pelo Poder Exe- manifestar seu protesto e exigir desapropriacôes no Sul do Estado. Ate 8 de
cutivo, mas corn total ingerência do Poder Judiciário, que rege a fase das abril estavam acampados na Fazenda Macaxeira, no municIpio paraense de
execuçôes das sentenças condenatórias. Curion6polis. Levavam roupa em sacos plsticos, lonas para abrigos notur-
o Supremo Tribunal Federal tern como competéncia precIpua a guarda nos e pouca comida. Batizada de "Marcha para Belém", a caminhada era mais
da Constituiço. Se a Constituiço está sendo desrespeitada, corn "hipocrisia uma daquelas passeatas em que o importante no é a chegada, mas o trajeto,
intolerável", em relaçâo a Direitos Humanos constitucionais, como por exern- na expresso dos jornalistas Mnica Bergamo e Gerson Camarotti, na longa
plo a execuçâo de penas cruéis, vedadas pelo artigo 50, inciso XLVII, ailnea reportagem que publicaram na revista Veja, de 24 de abril de 1996. Passaram
o que faz de concreto o Supremo Tribunal Federal, além de palavn5rio fome e privacôes. Na noite do dia 15, sete dias e 40 quilmetros ap6s a parti-
lamentoso ? da, os sem-terra resolveram montar acampamento no local que, 48 horas de-

130 131
pois, seria o cenrio da tragdia. Cansados de caminhar corn as lonas e perten- A Procradoria da Justica do Pars, cuja Procurador Geral é pessoade
ces nas costas, e andando apenas de noite, penalizados corn o cansaço das confianca e de norneaçao do governador, urna sernana depois da chacina anun-
rnuitas crianças, resolveram obstruir a estrada corno forma de conseguir do - ciava a intençâo de denunciar por hornicIdio 05 155 soldados e oficiais que
governo O^nIbus ou caminhôes para o deslocarnento nos 650 quikmetros ate participararn da denorninada operacão de desobstrucao da rodovia PA450,
Capital paraense. Urn major da polIcia militar, compreensivo corn a situaçâo, que resultou no massacre dos sern-terra em Eldorado de Carajs -em-17496
prontificou-se a tentar obter 50 ônibus e 10 toneladas de alimentos necessri- Mas a prdpria Procuradoria, na rnesma data diviilgava thanobras dedbffü-
os para o sustento durante urna sernana daquela rnultidâo de pessoas. Os sem- ção da Policia Militar, inclusive quanta a ocultacâo e troca de armas relativas
terra desbloqueararn a estrada PA-150 e rnontaram acarnpamento fora da
• ao massacre.
rnesma. Mas no dia seguinte o governo resolveu endurecer. Urn tenente in- A triste verdade foi proclarnada pelo presidente do Ndcleo de Estudos
formou aos trabaihadores que a acordo estava desfeito e nada seria fornecido, da Violência da Universidade de Sao Paulo, professor Paulo Sérgio Pinheiro,
nem nibus nem carninhôes nern alirnentos. Os sern-terra voltaram a ocupar quando asseverou que a impunidade dos responsveis pela chacina esth sendo
a estrada. As quinze horas daquela quarta-feira, dia 17, o que chegou foram preparada, o que é usual no Brasil, pelo rnenos juãhdo as vItimssaotraba-
nibus corn tropas, prirneiro corn 68 policiais militares, armados inclusive ihadores ou outras pessoas integrantes da maioria pobre da naçao. E Pinhei-
corn metraihadoras e arrnas de uso exciusivo do Exército. Urna hora e rneia ro acrescenta: 0 Park nao pune homicidios. Em 200 casos, nos dltimos anos,

depois chegararn rnais três nibus e urna carninhonete, saidos da cidade de
Marab, corn mais 200 soldados rnilitares sob a chefia do coronel M.rio Go-
so houve condenacâo em dois. Essa impunidade construida é uma das vergo-
- nhas nacianais no imenso panorama das violaç6es aos Direitos Hurnanos.
lares Pantoja, comandante do 40 Batalhäo da Policia Militar do Pars , arrna-
-- Missao
dos de rewSlveres e metralhadoras e que "haviam arrancado do bolso da cami- M.rio Pantoja saudou a tropa da Policia Militar de Marab que tinha acabado

sa a tira de pano costurada sobre velcro que os identifica, isto é, estavarn corn de corneter o massacre dos scm-terra em Eldorado de Carajs.
=
licença para rnatar scm que pudessern ser reconhecidos mais tarde", como 0 motorista do Onibus usado pela policia para chegar ao local da chaci-
• •. .
acentua a mencionada revista.
na, em depoimento dado ao prornotor de Curiondpolis, Marco Aurélio Nas-
O presidente da Repiiblica, Fernando Henrique Cardos, ex-professor - - cimento, afirmou que a clima entre as policiais era de euforia apOs o massa-
de Sociologia ("esquecarn a que ensinei"), declarou, todo engravatado e sole- cre. Ele disse tarnbém que em seu Onibus transportou dais colonos sem-
ne, ern entrevista coletiva nurn palkio, a Palcio do Planalto, em Brasilia: E terra, presos e algemados, que teriarn sido deixados no quartel e depois desa-
inaceitável que tenha havido o massacre, quaisquer que sejarn as razôes. Nada pareceram, a que traz a suspeita de que existem rnais assassinatos que as dos
justifica que policiais atirern contra pessoas que estão manifestando suas api-
19 nominados.
niôes. Mas Fernando Henrique Cardoso, naquele momenta, já conhecia as Em outro depoimento, a soldado responsvel pelo controle do arrna-
palavras pronunciadas pelo governador do Estado do Pará, Almir Gabriel, rnento confirmou que a requisicâo das armas foi feita scm a registro obrigatd-
membro do seu partido, denorninado contraditoriarnente de Partido da So- rio para identificacao dos seus portadores, corn o que serb. dificil saber quem
cial Democracia Brasileira. 0 governador Almir disse ao cornandante da --
atirau nos scm-terra.
operaco policial Coronel M.rio Pantoja: Outro ilustre membro da escola filosdfica do "esquece-o-que-eu-disse-

- Pantoja, quem você pensa que é? Quern dá ordens aqui sou eu. Quero como-professor" é a ministra da Justica, Nelson Jobim, ex-professor de Di-
a retirada (dos trabalhadores manifestantes), e j.
reita Canstitucional na cidade gadcha de Santa Maria (nem a cidade nem a
A pessoa que pronunciou tais palavras e deu ordens tao incisivas, não Universidade tern responsabilidade pela que diz e faz atualmente a seu cx-
seria tao assassina quanta as policlais que obedecerarn e puxaram as gatilhos professor e, segundo dizem, futuro ministro do Supremo Tribunal Federal,
das metraihadoras contra os scm-terra
assim que a ministra José Francisco Rezek for nomeado juiz do Tribunal
Internacional de Haia). Jobim esteve no local do massacre, em Eldorado de

132 133
Carajás e na cidade prdxima de Marab., e admite que houve chacina. Suas Humanos, e porque ele se desenrolou no Estado do Pars., o mais descumpridor
palavras a imprensa: das liberdades fundamentais.
- A chacina 6 uma prova do que é o Brasil. o advogado paraense Rovela Barata, ex-Superintendente Regional do
Mas, apés voltar a Brasilia, continuou corn seu rotundo corpanzil senta- Instituto Nacional de Colonizacão e Reforma Agraria, publicou urn grosso
do na cadeira ministerial, como se o Brasil das chacinas fosse algo secundario volume sob o titulo Crime e Impunidacte no Campo Paraense (Editora CEJUP,
e desimportante, embora declarando algo que esquecerá breve, de que essa Be1m, 1995) e, no prembu10 afirma que a obra urn duro - porrn -verda-
violência possa levar o pals a se tornar uma imensa Baixada Fluminense, deiro - paine1 sobre a vio1ncia no Para que, nos anos 80, guardou consigo
zona do Estado do Rio de Janeiro que convive corn muita violência, apenas triste recorde de carnpeão nacional de violência no campo . Ele narra casos
comentada pelo seu rninistrio (que inclui como drgão subordinado a pode- em que o homem foi submetido a situaçôes de tal forma degradante, que
rosa PolIcia Federal), sem nada fazer de maneira concreta e definitiva, por- acabou por perder o sentido do fundamental da vida, que 6 a prdpria essência
que "esse 6 o Brasil". do ser humano.
Urn subordinado do Ministro da Justica é o secretario-geral do Conse- - E uma situação que não poderia-nemter eorneçado, mas que, em exis-
iho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), Humberto EspInola, tindo, sd faz consolidar a lamentavel presenca do Brasil entre palses onde o
que foi dia 16 de abril ao local dos assassinatos acompanhando o ministro. homern considerado personagem secundario da vida - afirma Paulo Ldcio
Preparou relatdrio sobre a questâo, e relat5rio, corno se sabe, 6 a maneira de Nogueira, no livro Instrumentos de Tutela e Direitos Constitucionais, Editora
fingir que algo esth sendo feito. Saraiva, 1994.
Humberto Espinola tambm foi enviado pelo seu ministro, em agosto Rilmulo Barata sugerej _s €x-aust-ivot-r-aba1ho1 - pncda a u ma
de 1995, a Corumbiara, em Rondilnia, onde urn confronto entre policiais e leitura mais abrangente do conceito de violência, pois muita coisa se faz no
posseiros resultou em 11 morros e 53 feridos.. Apresentou, então, urn relató- gnero sob a protecão da lei e das autoridades, que as vezes permitem sejam
rio. Relatdrio apresentado, o assunto ficou agonizando das gavetas do minis- espezinhados direitos fundamentais não claramente protegidos no sisterna
tério, porque relatdrio é para isso mesmo. Ele reconheceu que h indlcios constitucional brasileiro, como o direito de trabalhar e o direito de morar.
de que houve execuçôes fora do combate que foi travado em Eldorado de
Carajas.
- Exigimos que o presidente demita os ministros da Justica e da Agricul- 22. MISERIA E FOME
tura, que são incompetentes, - exclamou o presidente do Movimento dos
Trabalhadores Sern-Terra, João Pedro Stdi1e, que usou a palavra errada Se os Direitos Humanos exigern que seja respeitada a dignidade do ser
pois h. pessoas que são muito competentes para fazer aquilo que nossas ilu- humano, é necessario que se ihe assegure urna moradia, porm não qualquer
sôes esperavam que não fosse feito. moradia mas urna moradia aceitavel.
o advogado do Movimento dos Sem-Terra Luls Eduardo Greenhaig, Durante a 2' Conferncia das Naçöes Unidas sobre Assentarnentos Ut-
afirmou, perante correspondentes de jornais de todo o rnundo: banos, realizada em Istambul, em junho de 1996, o seu secretario Geral Wally
- Uma sucessâo de episddios nos permite afirmar que a chacina pode N'Dow, da Repdblica do Gambia, no oeste africano, lembrou:
ficar impune, como aconteceu corn as mortes em Corumbiara, em Rond6nia. - Sei que h pessoas invadindo timulos de ricos nos cemitrios do Cairo
Greenhaig criticou a encenação do envio de militares federais apds o e fazendo deles sua moradia. Hoje, os habitantes da Cidade dos Mortos estâo
massacre. 0 trabalho que o Exrcito fez foi sd de marketing, concluiu. exigindo que lhes deem o direito de propriedade sobre esses tdrnulos. E h
Relatamos acima o episddio da chacina ocorrida em abril de 1996 por- advogados brigando por eles. NSo sei se se pode falar em progresso social
que ele é bern caracteristico da situação brasileira em relacão aos Direitos nessas condiçiles. Para permitir o progresso humano, poucas coisas são mais
importantes do que o abrigo. Moradia aceitivel significa espaco, antes de mais

34 135
nada, e higiene, serviços, gua limpa, solidariedade, sern a qual nossas socieda- da roda de poder, onde a troca de favores 6 a regrageral. Seus advogados são
des continuariam a se fragrnentar e a paz social seria rompida. Esse a nIvel as rnaiores conhecedores dos meandros do Direito forense e nSa forense.
mais bsico da luta pela sobrevivncia. Esse o lado sornbrio da questão. Seus lobistas são as rnais cativadores de simpatia. Suas estatIsticas são feitas
Quem assistiu ao fume document.rio de cineastas de Porto Alegre, corn nl1rneras coloridos e enfeitados. Seus relatórios enfatizam os fatos posi-
intitulado "Ilha das Flares", viu pessoas humanas catando alimentos num tivos e escondem as fatores negativos. .......--.
....

grande lixão, mas sua presenca au s6 6 permitida ap5s a retirada de comida Quando nSa ha rnais argumentos tcnicos para defender determinada
para os porcos criados no local. Primeiro as porcos, depois as humanos. medida, falam em modernizacSo, em governabilidade, em globalizacSo e at
mesmo em Deus, Pátria e Famclia.
HA juristas, segundo depoirnento de Dalmo de Abreu Dalari (palestra
na UNISINOS, em 1989, gravada em fita de video existente na videoteca dc
23. TEORIA DA VIOLAçA0 COMPETENTE seu Centro de CinciasJurIdicas), que afirmam que a ConstituiçSo 6 toda ek
apenas urn prograrna aser adotadoquandoe se inzeressar.
p 0 Direito 6 essencialmente viol.vel - e existe par graca de sua violabilidade. 0 princIpio da autoaplicabilidade dos direitos fundamentais, apesar d
Se fosse impossIvel a torto, desnecessrio seria a Direito. Essas são palavras inserida no para.grafo prirneiro do artigo 50 da ConstituiçSo brasileira de 1988
do italiano Giorgio Del Vecchjo em suas Licôes de Filosofia do Direito, pági- e le prdprio nSa seria autoaplicSvel, segundo a enteridiitoddalgunsfOo
na 353 (Arrnnio Arnado Editor, Coimbra, 1979, Y edicão). No entanto,
sos e teimosos inimigos dos Direitos Humanos.
alguns parágrafos adiante Del Vecchio traça paralelos entre Direito e Moral, 0 pr6prio
concluindo que a campo do Direito é a coordenaçâo tica objetiva e que deve 30 dc
limitaçSo dos juras em doze par cento ao ano, prescrita no paragrafo
haver relaçôes constantes e coerncia entre Moral e Direito. artigo 192 da ConstituiçSo Federal brasileira, nSo tern eficacia enquanto nS(
Qual a moral dos Direitos Hurnanos ? Parece-nos que a melhor resposta promulgada a lei complementar exigida pelo capiit do referido artigo. A Le
serA a da dignidade do ser hurnano, que 6 a finalidade principal do respeito aos de Usura (Decreto 22.626, de 22-6-1926, emitido corn status de lei ordinaria)
Direitos Humanos. que exatamente proibe a juro anual superior a doze par cento, nSo sen
Quando, porérn, se processa, condena e prende urn violador dos Direi- aplicavel porque nSa é lei complementar. Mas, para as bancos e demais insti
tos Humanos, estar sendo violada a dignidade de ser humano do condena- tuiçöes financeiras vale a Lei 4.595, de 31-12-1964, permissiva de juro
do? Não, se ele houver tido oponunidade de ampla defesa, de urn julgamen- extorsivos, que nSo tambarn nSa 6 lei complernentar, aplicando-se a critérh
to justo sern abuso de poder, corn obediencia aos ditarnes da lei e as demais de dais pesos e duas medidas.
protecôes constitucionais. As restriçôes s liberdades e aos Direitos Huma- 0 princIpia da legalidade do artigo So, inciso II, da ConstituicSo (nir
nos são admissIveis quando previstas ern lei e nSa abusivas mas razoáveis, isto guém sera obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senSo em virtud
corn respeito aos principios da legalidade, da razoabilidade, da propor- de Lei) nSa tern valor para as bancos, financeiras e seguradoras, porque ela
cionalidade e da lirnitaçSo do poder. encontrararn urn jeita de eternizar a malfadado e incrivel artigo 25 do At
F 0 individualisrno, a egocentrismo das pessoas, nurna sociedade corno a das Diiposicôes Constitucionais Transitdrias . Este dispositivo deterrninav
brasileira, reforça urna tendncia poderosa no sentido de dar impartncia a a revogacSa, a partir de cento e aitenta dias da promulgacSo da Constitu
sua dignidade pr6pria coma ser hurnano e a menosprezar a dos autros. Quan- çSa, sujeito este prazo a prorrogacSo par lei, todbs as dispositivos legais qu
do as interesses em jogo são muito grandes, corno ocorre corn as interesses atribuam ou deleguem a drgSo do Fader Executiva competência assinalad
dos banqueiros, dos grandes ernpresarios, dos milionários, estes precisarn da pela ConstituicSo ao Congresso Nacional, especialmente no que tange a (..
ajuda tacnica de seus assessores de caneira de trabalho assinada ou dos outros açSa narmativa." 0 praza terminaria, portanta, em 5 de abril de 1989, rn
asseSu1
-.....:...i....J.....
L1L1C pUU O PUU! ULU OU econornlLu, houve vSrias prarragacôes par leis, e a dltirna dessas prarrogacöes protelou

136 . 1 13
prazo ate a promulgacâo da lei complementar citada no caput do referido existencia de uma hierarquia de cores no Brasil e quanto mais escuro se
artigo 192 da Constituiço, lei complernentar essa que regulará o Sistema major e o obstculo na ascençâo social. Foram denunciadas em Genebra
Financeiro Nacional. Como 6 provve1 que tal lei jamais surja, porque não v.rias outras vioiaçöes do governo brasileiro aos Direitos Humanos, como as
interessa aos bancos, financeiras e seguradoras, ficou prorrogado talvez inde- praticadas contra os Indios, contra os trabaihadores rurais, contra os ilderes
finidarnente a competncia para ação normativa, portanto para legislar adoi- sindicais, contra as crianças obrigadas a trabaihar em tenra idade ou ase pros-
dados, limitada essa competncia, porem, a apenas dois órgâos, o Conseiho tituir nas ruas e vrias outras.
Monetário Nacional (CMN) e o Conseiho Nacional de Seguros Privados Sabedor antecipadamente do que ia acontecer em Genebra, o governo
(CNSP), exatamente os incumbidos dos assuntos econmicos mais brasileiro mandou seu ministro da Justica, Nelson Jobim, acompanhdo de
transcendentais do pals. Quern faz parte do Conseiho Monetrio Nacional ? uma cornitiva numerosa e cara, adotando ele como ttica de defesa a confis-
Apenas três cidados, o Ministro da Fazenda, o Ministro do Planejamento e o sao, o reconhecimento das vioiaçöes, contrabalancado por muitas promessas
Presidente do Banco Central. Reunem-se "por telefone" ou aos sbado de de repressao as vioiaçôes atraves de urn enganoso Piano Nacional dos Direi
madrugada para assustar a naço corn medidas que cuidam mais dos interesses tos Humanos muito bern elaborado no papel n'as corn minima
dos bancos, financeiras, exportadores, importadores, multinacionais e outros executoriedade, passados rneses de sua retumbante apresentacâo. 0 Piano
donos do poder econmico do pals. inclui promessa de medidas in6cuas na prtica como a elaboracão de mapas
0 princlpio da legalidade é urn dos mais vinculados aos Direitos Huma- dos conflitos de terra e da vioiência urbana; transferênciaparaa justiçafede-
nos. A seguranca econmica dos trabaihadores tern poucas garantias, mas rai do julgamento dos crimes contra os Direitos Humanos, Justica essa que e
uma delas deveria residir na proibicão de edico de resoluçôes de conseihinhos tao dernorada e in.eficie e_qnan.to.aJu..sflca dos Estados-mernbrosi
como os citados, corn poderes ditatoriais para fazer modificaçôes de urna de prograrna de protecao s vltimas e testernunhas de crimes, e seus farniha-
hora para outra ern materia cambial, precos, crédito, financiamentos de bens, res; restriçöes sobre a posse e uso de arrnas, restringindo a concessao de porte
poupanca, seguros e outros assuntos que direta ou indiretamente vão influir --- de arma (quando se sabe que os latifundirios cada vez mais se armarn corn
no custo de vida, no acesso a bens de consumo, na qualidade de vida princi- armas pesadas e h fotografias acintosas publicadas em jornais e revistas, sern
pairnente das populacôes pobres. qualquer prov idncia das autoridades); retirada da justica rnihtar da compe-
Pesa sobre a cabeca dos cidadâos também a constante ediç3io de Medidas tncia para juigamento dos crimes praticados por policiais mihtarsesta
Provisdrias adotadas pela vontade unilateral, e s vezes caolha, de urn iinico duais.
cidado, o presidente da Repdblica, permitidas pelo artigo 62 da Constitui- Corn o candente discurso que fez em Genebra, o ministro Nelson Jobin
--
çio, em casos de relevância e urgncia. Como a relevncia e urgncia não sd deixou clara sua cornpetência para o engodo e para a promessa GciI. N
tm definiçâo em lei, e relevante e urgente tudo que a vontade autoritária do ques tão indlgena, sua promessa de regularizar a situação territorial dessa
presidente da Repdblica assim o julgar. Note-se que exatamente o ministro da populacöes contrapfle-se asua pratica recente de dificultar a regularizacao
Justiça, Nelson Jobim, quando deputado federal, apresentou projeto-de-lei 0 tal Piano Nacional de Direitos Humanos fala tambem da criaçao de un
regulando o assunto, que agora, no governo, ele prprio repudia. serviço civil voluntario, formado por "agentes da cidadania", que divuiga
Em Genebra, na Suiça, funciona a Comissão de Direitos Humanos das riam os Direitos Humanos. Na prica diana, porem, o mesmo ministr
Naçôes Unidas, da qual o Brasil faz parte como membro e como asslduo hostiliza as Organizacôes Nâo Governamentais nacionais e internacionai
acusado de violaçôes. Na sua dltima reunio anual, em marco de 1996, sabia- protetoras dos Direitos Humanos e protela as reunifles do Conseiho d
se que o Brasil voltaria ao banco dos reus . Urn informe produzido por Defesa dos Direitos da Pessoa Humano, criado pela Lei 4.319, de 16 de marc
Organizaçôes Não Governamentais (ONG) definia o Brasil como urn pals de 1964, portanto duas sernanas antes da triste data de 1 0 de abnil de 1964, di
onde o racismo e a discrirninaçao se escondern atrás da mesticagem bioldgica em que os generais apiicararn contra o povo urn golpe de Estado cniminosc
e cultural, a ponto de se tornarern quase invisIveis. 0 documento afirmava a atentatdrio aos Direitos Humanos, Conseiho esse que tern corno president
o ministro da Justica.

138 13
E..
- i

No piano internacional, a vioiação competente dos Direitos Humanos "no Ministrio da Justica e Negdcios Interiores", pela Lei n° 4.319, de 16 de
tern meios e argumentos sirnilares. A guerra sernpre a maxima violação dos marco de 1964.
direitos fundarnentais, rnas as grandes potncias insuflam as charnadas guer- Pois exatamente urn membro desse Conseiho "de defesa dos Direitos",
ras localizadas e fazern bons negdcios corn a venda de armas e rnuniçôes para nele representando o Ministrio das Relaçôes Exteriores, alinhou as "razôes"
arnbos os bandos beligerantes. que, na epoca, desaconseihavam o Brasil a aderir Convenção de São Jose e
Os golpes de Estado e suas tentativas, como o de Fujimori, presidente da esse documento 6 urn exernplo claro de cornpetência perversa, alinhando
Repdblica do Peru, são apresentados corno exigências dos Direitos Humanos bonitos mas safados argumentos em favor da injuridicidade e do desprezo
e necessarios democracia. Fujirnori fechou o Congresso Nacional peruano, pela dignidade do ser humano.
dernitiu os juizes da Suprema Corte e norneou amigos para substituI-ios, Em uma publicacão do Senado Federal, intitulada Direitos Humanos
irnplantou uma das maiores taxas de desemprego, fez aumentar a misria no (Subsecretaria de Ediçôes Tcnicas do Senado, Brasilia, 1990, paginas 380 a
pals, e fez tudo isso sempre falando em democracia, liberdades e direitos fun- 393), sob o titulo de Razôes do Itamarati Contrarias aAdeso do Brasil
Convencão Americana sobre ar.a. dp
damentais.
parecer emitido por aquele equivocado e mal intencionado Chefe do Depar
tamento de Organismos Internacionais do Ministrio das Relaçôes Exterio-
res e, por incrIvel que pareca, tarnbm na 6poca Conseiheiro do-Conselho de
23.1. ANTIDEMOCRA CIA NO ITA MA RA TI Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Marcos Castrioto de Azambuja, do
teor abaixo-tr-anscr-ito.----
Urn gritante exemplo de vioiação competente dos Direitos Humanos Tenho a honra de comunicar a Vossa Excelência algumas considera-
ocorreu durante os longos anos em que o Ministrio das Relacôes Exteriores çöes a respeito do Processo no 9.75 8/80, proposto pela Ordern dos Advoga-
do Brasil irnpediu que nosso pals manifestasse adesão e ratificasse a Conven- dos do Brasil, o qual me coube relatar.
ção Americana sobre Direitos Hurnanos, conhecida como Pacto de São Jose Por oflcio de 26 de fevereiro de 1981, o Presidente da Seção do Estado
da Costa Rica, tal como fez tarnbm com outros documentos internacionais, do Rio de janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil cornunicou que aquela
como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Politicos e o Pacto Interna- Secão aprovara, por unanimidade, moção no sentido deque fossern reiteradas
cional dos Direitos Econrnicos, Sociais e Cuiturais, que ficararn por cerca de ao Governo Federal gestóes para que o Brasil adira Convenção Americana
urn quarto de século no limbo dos documentos ratificados por urn grande sobre Direitos Hurnanos (Pacto de São José). Posteriormente o assunto foi
niimero de paises do mundo, mas não pelo Brasil. objeto de solicitaçôes semeihantes. da Seção do Para da OAB e do represen-
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos foi assinada na capi- tante da Ordern no Conseiho de Defesa dos Direitos da Pessoa Hurnana, o
tal da RepiThlica de Costa Rica em 22 de novembro de 1969, e entrou em que revela especial empenho dessa entidade em levar o Governo a aderir a
vigor internacionalmente em 18 de junho de 1978, quando se atingiu a quan- Convencão.
tidade de 11 Estados americanos que depositaram os respectivos instrumen- Corn efeito, em 1980, o Conseiho Federal da OAB aprovara parecer
tos de ratificação ou de adesão. \Tergonhosamente, no Brasil ela at6 agora encarecendo ao Governo Federal assinar e ratificar, entre outros instrumen-
não entrou em vigor, porque o governo brasileiro sd h pouco tempo, em tos juridicos, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
1995, aderiu a ela e remeteu seu texto para aprovação pelo Congresso Nacio- Ate a presente data, persistern dificuldades para que alguns palses da
nal. região se tornem partes da Convenção Americana, corno os Estados Unidos
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), apds alguns anos de espera da America que, embora a tenha assinado em 1978, ate hoje não completararn
reclamou a demora na ratificação. Seu presidente representava a entidade pe- seu processo de ratificação, pendente de aprovacão do Senado. No caso dos
rante o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, que foi criado EUA, o prdprio Executivo, ao submeter o assunto ao Congresso, assinalou a

140 141
necessidade de se fazerem reservas a numerosos dispositivos do Pacto, sob a "acerca da compatibilidade entre qualquer de suas leis internas (do Estado
alegacão de colidirem corn a legislacão americana. Tais reservas, por sua na- interessado) e os mencionados instrumentos internacionais" (no caso, a Con-
tureza e alcance, desfigurarn a finalidade da Convenção, ao exirnirern os EUA venção e outros tratados concernentes protecão dos direitos humanos nos
.

da observncia de muitos dos deveres nela prescritos. Estados americanos); nessa hipótese, embora o pedido deva ser feito pelo
Desde 1969, época da negociacão do Pacto de São José, o Governo Estado interessado, é evidente que o dispositivo estimula pressöes externase
brasileiro vem considerando inconveniente sua adesão ao instrumento, entre internas para sua utilização. Ressalte-se que --sendo orgãojudiciario --a Corte
outros motivos por considerar nociva a proliferacão de Convênios dessa na- não relata, nem propóe, nem recomenda, mas profere sentenças, que a Con-
tureza, que não oferecern garantia mais eficaz de respeito aos direitos huma- venção define como "definitivas e inapelaveis" (art. 67); e us "Estados se
nos, mas, ao contr.rio, podem estimular conflitos de competncia e de prio- comprornetem a cumprir a decisão da Corte em todos os casos em que sejam
ridades suscetiveis de conduzir ao desvirtuamento de seus objetivos princi- partes (ait. 68). Tais citaçôes são suficientes -para - comprovar o carater de
pais. A matéria, entende o Governo brasileiro, deve ter tratamento não- supranacionalidade acima ref erido.
polêmlco e universalmente aceito, como foi o caso, por exemplo, da Declara- 0 Estatuto da- Corte-a-prov-ado -corn- a- abstencão--.do Brasil,p.elaI-X
ção Universal dos Direitos do Homern (ONU) e da Declaração Americana Assernbléia-Geral da OE.A (La Paz, outubro de 1979), procura, em idêntica
dos Direitos e Deveres Humanos (OEA), adotadas em 1948, corn o apoio linha da Convencão, comprometer os Estados corn formas jurldicas que im-
brasileiro. Outrossim, o Brasil votou a favor da Resolução da OEA que, em plicam abdicacão de prerrogdtiva§ da soberãniâ nacional; taistomo a-de-reco-
1959, criou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, cuja principal nhecer a capacidade da Corte para prolatar sentenças de carater irrecorrivel.
funcão é a promocão do respeito e da defesa dos direitos do indivlduo no ---10 . Recentem dasgestheda0rdern dos Advogadosdo
continente americano. Brasil, voltou o hamaraty a examinar detidamente o assunto, concluindo
Dessa forma, tern nosso pals participado constanternente das aspira- pela inaceitabilidade dos mecanismos de controle estabelecidos na Conven-
çôes da comunidade internacional no sentido da protecão dos direitos da ção, por ponder.veis razôes juridicas e poilticas.
pessoa humana, campo em que procura prestar colaboraç3:o positiva, sern A posicão brasileira tern sido sempre a de resolver as pendncias
admitir, contudo, a interferncia, quer de 6rgãos internacionais, quer de ou- externas por meios diplom.ticos, ou, a vista da impropriedade destes, por
tros palses, nas relaçhes entre o Estado brasileiro e as pessoas sobre as quais arbitragem, decidida em compromisso ad hoc. Coerente corn tal postura, o
tern jurisdicão. Brasil não aderiu, por exemplo, a clâusula facultativa de jurisdicão obrigató-
Irnporta ressaltar, a propósito, que o Pacto de São José criou uma na contemplada no artigo 36, paragrafo 2, do Estatuto da Cone Internacio-
"Corte Interamericana de Direitos Humanos", corn atribuiçhes de caráter nal de Justica. -
supranacional, fato que contraria a posicão tradicional do Governo brasileiro Na verdade, a Convencão, ao definir os "deveres dos Estados e
na matéria; entre outras razôes pelo risco de submissão incontrolvel a tercei- direitos protegidos", apresenta incompatibilidades mInimas, e super.veis por
ros de assuntos senslveis no campo da soberania nacional. alguma reserva, corn o direito interno brasileiro; sua pane processual, po-
Menciono a seguir alguns dos dispositivos da Convenção dos quais rem, estabelece mecanismos inaceitaveis em face da tradição juridica do pals e
transparecem nitidamente atribuiçôes supranacionais. Assim, em matéria de dos pr6prios dispositivos constitucionais brasileiros, além de não assegurar,
competncia e funçôes, a Convenção prevê, em seu art. 63, que a Cone "dis- na pratica, qualquer beneflcio adicional, em termos de protecão dos direitos
porá a reparacão das conseqüéncias da medida ou da situação que configura- humanos.
rem a vulneração desses direitos e o pagamento de uma justa indenização a No caso em tela, uma barreira constitucional antepôe-se a aceitação
pane lesada". Determina, a seguir, no mesmo artigo, que a Corte, em casos pelo Brasil dos mecanismos de controle do Pacto de São José. Os direitos por
de extrema gravidade e urgncia, "podera tornar medidas provis6rias que con- ele protegidos o são também, e de forma ampla, pelaConstituicão e pelas leis
sidere pertinentes". Poder. ainda a Corte (art. 64, paragrafo 2) emitir opinião da Repiablica, fato que carrega consigo urn corolario elementar: a mesma

142 143
ordern jurIdica disciplina o sistema de garantias desses direitos, fazendo re- Cabe acrescentar que, sobre o mesmo processo, houve pedido de
pousar no Poder Judicirio nacional a cornpetncia para proporcionar-ihes, informação feito pelo Conseiheiro Barbosa Lima Sobrinho, respondido pelo
em foro clvel, criminal ou trabaihista, o seu amparo, e para coibir e punir, a oficio DNU/DEA/DJ/DA1/S /150/610.5 (040) de 9 de marco de 1981.
todo momento, o seu ultraje. Desta forma, o PoderJudici.rio brasileiro, que Corno se nota, trata-se de razáes expostas de maneira competente, mas
é impedido pela Constituição Federal de delegar atribuiçôes ate mesmo a seus perversas antidemocraticas mentirosas e hipocritas pois deve se levar em
homólogos internos, nSo poderia delegá-las - ou ye-las delegadas - a entidades rnuita consideracão que os dispositivos constitucionals brasileiros citados no
TTL
externas, como a Cone Interamericana de Direitos Humanos. parecer pertencem a malfadada e repudiada "Emenda Constitucional no i",
A vista do exposto, deve manter-se a posicSo oficial de evitar, por outorgada por três generais inimigos da democracia, que nSo tiverarn sequer
inconveniente e inoportuna, a vinculação do Brasil Convenção Americana coragem de chamar o emendão de Constituicão, pois estavarn conscientes de
sobre Direitos Hurnanos. que o ato de força que praticararn não tinha verdadeiro cunho constitucional
Uma hip6tese alternativa seria a de aderir a Convenção corn amplas mas apenas urna tentativa frustrada de legitimar uma ditadura militar
reservas, entre as quais as relativas competência da Cone e possivelmente a repudiadora dos mais comezinhos Humanos.
algumas das atribuiçôes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos Tanto é verdade a critica que, quando o Ministério das Relaçöes Exte-
(sensivelmente reforçadas nos terrnos da ConvencSo), alm dos pontos espe- riores, livrou-se do seu ministro Azevedo Sodré, os ministros posteriores,
cificos que fossem identificados em minucioso estudo por pane dos 5rgãos especialmente José Francisco --Rezeke Celso--Lafer -(e-ste,-autordo.iivro A
competentes (norneadamente o Ministério da Justica). Nesse caso, porrn, Reconstrucao dos Direttos Humanos), apressaram a ratificaçâo e vigencia no
nossas reservas seriarn de tal magnitude que desv-irtuariam os objetivos essen - -= Brasil de outros imponantes documentos internaclonais de Direitos Huma
ciais da Convenção, o que importaria praticamente em anular sua aplicabilidade nos, como o Pacto dos Direitos Civis e PolIticos, o Pacto dos Direitos Eö
ao Estado brasileiro. n6micos, Sociais e Culturais e a Convencão contra a Tonura e outras Penas e
Acresce que tais reservas dificilmente seriarn aceitaveis, pois o pr6- Tratamentos Cruéis, Desurnanos e Degradantes, hoje vigentes no Brasil, e
prio Pacto de São José, em conformidade corn a ConvençSo de Viena sobre o encaminharam ao Congresso, que lamentavelmente ainda não a aprovou, a
Direito dos Tratados, estabelece (anigo 75) que as reservas não podem ser -
citada Convencão Americana sobre Direitos Humanos.
-

incompatIveis corn o objeto e a finalidade do instrumento internacional.


Ainda que fosse factIvel forrnular as necessarias reservas, seria in-
conveniente viesse o Brasil a aderir i. Convenção de São José em tais condi- 23.2. DOCUMENTOSESCONDIDOS
çôes. Creio mesmo que uma eventual adesão nessas circunstncias seria urn
gesto pouco autentico, incompatIvel corn a tradição do Brasil que, ao firmar Na técnica de descumprir os Direitos Hurnanos, urn estratagema impor -
e ratificar tratados e convençôes, sernpre se pautou pela boa-fe e pelo props- tante 6 o de esconder documentos , ou seja, dificultar o conhecirnento popu-
sito de cumpri-los devidamente. Corn efeito, em época alguma esteve o Bra- lar das declaraçôes de Direitos Humanos e de atos que facilitern sua
sil rnovido pelas aparéncias ao assumir comprornissos juridicos internacio- implementacao.
nais; ao contrario, o faz estritamente na medida em que atendarn aos interes- • Isso vem de longe. A Magna Carta, assinada pelo rei inglês João Sem
ses do pals e a sua capacidade de cumpri-los. E, no caso presente, a adesão a Terra por imposicão dos barôes, no anode 1215, outorgou direitos atodos os
Convenção da Costa Rica não parece servir aqueles interesses, muito embora • ingleses iivres, mas o documento foi redigido em latim, lIngua que, na época,
- cumpre frisar - a legislacao e a pratica juridica do Brasil no tocante a nume- 1 era do conhecimento de poucos, dos monges e dos nobres. Quando algum
rosos aspectos dos direitos hurnanos sejarn mais liberais do que aqueles vigen- nobre era analfabeto, o que era muito comum, ele tinha urn cornpetente se-
tes em várias naçöes democráticas. cretario para traduzir e ler em voz alta o documento desejado. Era proibido
tradu7lr para o ingles o teto latino da Magna Carta o que so foii feito segun

144 145
rn

do Celso Melo, duzentos anos apds, e segundo outros quatrocentos anos de-
foi publicado na revista EstnclosJurIthcos, do Centro de Ciências Juridicos da
pois. -

UNISINOS-Universidade do Vale do Rio dos Sinos, ndmero 57, janeiro/


Na Revoluçâo Francesa, houve duas Declaraçôes dos Direitos do Ho-
abril de 1990, pginas 5 a 18
mem e do Cidadão, uma, corn 17 artigos, proclamada em 26 de agosto de
No Brasil, quando aprovada em 5 de outubro de 1988, uma nova Cons-
1789, e a outra, corn 35 artigos, em 24 de junho de 1793. Na segunda declara-
tituição, os constituintes aprovaram urn dispositivo, o artigo 64 do Ato das
ç3o, os artigos finais defendiam o direito de resistncia a opress5o, a puniçâo Disposicôes Constitucionais Transitdrias, mandando que a Imprensa Nacio-
dos delitos dos governantes, a insurreição corno o mais sagrado dos direitos e nal e demais graficas da Uniio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
o mais indispensavel dos deveres sempre que o governo violasse os direitos cipios, da adrninistraçâo direta ou indireta, inclusive fundaçôes piiblicas, pro-
do povo, corn a afirrnaçao de que ningurn tern o direito de se pretender mais mover edico popular do texto integral da Constituicâo, que seria posta a
inviolável que os outros cidadâos. Essa segunda declaraçao convalidou o pro- disposico das escolas e dos cartdrios, dos sindicatos, dos quartéis, das igrejas
cesso e o guilhotinamento do rei Lufs XVI, da rainha Maria Antonieta e de
e de outras instituiçôes representativas da cornunidade, gratuitamente, de
cerca de dezesseis mil aristocratas e rnais uns dez mil nâo nobres. Depois a
' -- modo que cada cidado brasileiro possa receber do Estado Ufil exmplar da
segunda Declaraço passou a ser urn perigo para os novos donos do poder
Constituicâo do Brasil. Claro que tal dispositivo nâo foi obedecido porque
polItico e por isso ela foi condenada ao esquecimento e, na Constituiçâo de não interessa aos donos do poder ampliar o conhecimento doscidadãos em
13 de dezembro de 1799, a do ano VIII da Revoluçâo, quando Napoleão
tomb de seus direitos e liberdades. Nem mesmo os estudantes de Direito
Bonaparte assume o cargo de 10 Consul, o seu artigo 92 previa a suspens5o
receberam do Estado, corn raras exceçfies, urn exemplar gratuito da Consti-
dos direitos e da prdpria Constituiço "em caso de revolta armada ou de cntade escon-dr-doturnenrqnontor
tuiçâo. Por que? Por cars
perturbacôes que ameacern a seguranca do Estado".
guern direitos aos cidados.
Na atual Constituiçâo da RepiIblica Francesa, de 1958, no preârnbulo, Urn menosprezo brasileiro pelos Direitos Humanos reside em ignorar
ela "proclama solenernente o seu apego aos Direitos Hurnanos e aos princi-
us grandes docurnentos a respeito. Se se cornpulsar obras corn a legislac.o
pios da soberania nacional tal como forarn definidos pela Declaração de 1789, brasileira civil, penal, processual, constitucional, etc. vamos encontrar obras
confirrnada e completada pelo prembulo da ConstituiçSo de 1946". Nada,
corn 1.000 ou 1.500 paginas, corn o Cddigo Civil acrescido de centenas de leis
portanto, sobre os direitos insurrrecionais da Declaraç5o de 1793. e normas do Direito Civil, mas no encontrarernos a Declaraço Universal
Outro docurnento escondido da histdria 6 o Instrronento de Governo, Em
dos Direitos Humanos nem o Pacto de Direitos Civis e Politicos .

urna quase Constituiçâo da Repdblica Inglsa, aprovada pelo parlamento em qualquer volume do Cddigo Penal ou Processual Penal nâo se encontrará a
1653, no tempo de Oliver Cromwell. Urn pouco antes, em 1649, havia sido
Convencâo contra a Tortura e Penas e Tratamentos Cruis, Desumanos ou
decapitado a machado (o que era uma prerrogativa dos nobres, pois a cruel Degradantes nem as varias Convencfles contra discriminaçöes, de flagrante
morte na forca sd era aplicada aos nSo nobres) o rei Carlos Stuart, apds pro-
vinculacSo corn o Direito Penal e Processual Penal. Nos manuais corn a
cessado e condenado pelo Parlamento ingls. Executar urn rei, cujos direitos
Consolidaco das Leis do Trabalho, nab ha o texto do Facto dos Direitos
dinasticos eram tidos como de origem divina, foi considerada urna grave vio-
Sociais, Econmicos e Culturais nem mesmo a Convençâo no 158 da Organi-
laço aos direitos monárquicos. Irnplantada a repiiblica durante cerca de dez
zaçao Internacional do Trabalho (OIT) que protege o trabaihador contra a
anos, esta foi derrubada em 1660, quando foi restaurada a monarquia e tudo o
despedida arbitraria e sern justa causa, apesar de alguns juizes trabaihistas
que houvera antes foi levado ao oprdbio e ao esquecimento. For isso esse
reconhecerem que ela ja está em vigor no Brasil desde inIcio de 1995. Por
importante docurnento, o Instrurnento de Governo, aparece em raros livros
que? Porque tais documentos incomodarn os donos do poder.
e, nas obras de histdria, em geral nern sequer é mencionado. Como não havia Outro documento legal repudiado e escondido, no Brasil, é a charnada
nenhuma traduçâo em portugus nern em espanhol desse docurnento, eu o
Lei da Usura, consubstanciada no Decreto no 22,626. de 7 de janeiro de 1933
traduzi para o português, apc5s urna dificultosa busca de seu texto inglês, e ele
(nessa poca decreto valia comb lei). Ela dispôe sobre a lirnitacão dos juros e

146
147
considera como juros legais os de ate seis por cento ao ano, podendo estipula- He urn constante alargamento em vários setores dos Direitos Huma-
ces escritas e1ev-1os no mximo ate doze por cento ao ano. Acima disso, nos e ha urna longa lista de Direitos Humanos consensuais, validos em todo o
pratica-se crime de usura, corretamente definido na lei corn a devida cominação universo.
de pena. Entretanto, apesar de nunca revogada essa lei, os tribunais superio- Deve haver uma luta constante contra as discriminaçöes por motivo
res negam sua validade como ato de regularnentacâo do artigo 192, parágrafo de raça, cor, sexo idioma religião, opinião politica ou de outra natureza e
em favor das minorias e grupos exciuldos dos Direitos Humanos. --
terceiro, da Constituição Federal brasileira de 1988, sob o fundamento de que
o caput do artigo 192 exige regularnentação por lei complernentar e a Lei da Apesar de algumas tendências abusivas, o poder polItico dos Estados
Usura seria urna lei ordin.ria. No entanto, nas demais questöes abordadas se torna, nos dias de hoje, cada vez menos absolutista e aumentarn as limita-
pelo artigo 192 da Constituição (bancos, financeiras, cons6rcios, seguros e çôes dos detentores do poder e diminuem, em favor dos governados, as restri-
outros) , a regulamentaçSo pré-existente esté configurada em decretos-leis e • çáes dos direitos e liberdades fundamentais.
não leis complementares, mas a1 ninguém se atreve a negar-lhes aplicabilidade. • 6) 0 Estado, sua definição e sua Constituicão devem considerar a
Por outro lado, as violaçöes dos Direitos Hurnanos, quando ocorrern, • . confrontacão entre governantes e governados como realidade pol1ica e
são ocultadas, mediante uma conspiracão de silncio, corn atitudes social própria e inevitavel, e deve ser aceita a outorga aos governados de
corporativistas dos agentes responsáveis pelas violaçôes, corn a complacncia direitos fundamentais.
dos superiores, corn a ornissão dos encarregados de promover as puniçôes. 0 conceito de Direitos Humanos deve ser amplo e geral ; -mas de
Segundo a Anistia Internacional, num relat6rio lançado em Londres em modo a respeitar algumas peculiaridades nacionais, crenças e opiniôes das
diferentes correntes -de _contrarias ou
maio de 1996, denorninado "Receita para Mudança - Profissionais de Saide e
Exposicão a Abusos de Direitos Humanos", nos iIltimos cinco anos, em exageradarnente restritivas dos Direitos Hurnanos e liberdades fundamentais..
vérios palses do mundo, inclusive ainda no Brasil, os medicos dos institutos A fundarnentacão da Teoria Geral dos Direitos Humanos reside prin-
médico-legais são forçados a violar a ética médica e obrigados a assinar ates- cipalmente no consenso universal, na convivncia pacIfica de diferentes siste-
tados de 6bito ocultando evidências de tortura ou de execução suméria. 0 mas e na busca de urn equillbrio entre liberdade, igualdade e necessidade.
relat6rio afirma que, apesar de o medico legista ter que dar detalhes sobre a As divergncias entre diferentes correntes de pensamento devem ser
morte do paciente, em vãrios casos a causa-mortis é apresentada apenas de consideradas e respeitadas, rnas não devern obstaculizar a convergncia em
forma técnica (jornal Foiha de São Paulo, de 24-5-96). torno de pontos comuns centrados na liberdade, na igualdade e no atendi-
mento das necessidades de todos os seres humanos.
0 consenso em matéria de Direitos Humanos deve admitir o dissenso
-- como forrna de confrontação democratica e de progresso social.
24. CONCLUSOES • 11) As Quatro Liberdades, expressas em 1941 por Franklin Roosevelt -
liberdade de expressão, de credo, do medo e das necessidades materiais - am-
Atualrnente é possivel considerar corno existente uma Teoria Geral da são o objetivo principal dos Direitos Hurnanos.
dos Direitos Humanos, corn princIpios pn5prios aplicveis a todas as naçöes 12) A diferenca principal dos Direitos Humanos entre palses capitalistas
e em evolução no decorrer dos tempos. e socialistas reside no fato de existir nos palses capitalistas uma liberdade
Deve ser objeto de estudo e apreciação também uma Teoria Geral das potencialmente ampla e individual mas ha urn menosprezo pela igualdade,
Violaçes dos Direitos Humanos, corn vistas a desmascarar e combater seus que é meramente formal, perante a lei e restrita, enquanto que nos palses
falsos princIpios e perversas fundamentaçoes e convencer a sociedade civil do socialistas ocorre o contrário e a igualdade é ampla e material, enquanto que
perigo de aceitação ingénua dessas violaçôes especialmente quanto a pena de a liberdade é formal, restrita e não individual.
rnorte, esquadrôes de extermInio e aplicaçSo de maus tratos e torturas.

148
-I 149
- -4

No 6 possivel a liberdade absoluta, porque esta prejudicaria a liber


dade dos outros. Em conseqüência a liberdade pode ter restriçôes, desde que
razo.veis, nâo abusivas e previstas em lei, portanto com obediência aos prin-
cipios da legalidade, da razoabilidade e da proporcionalidade.
0 direito igualdade deve ser incrementado e deve ser erradicada a
pobreza absoluta nos pal'ses capitalistas e especialmente nos subdesenvolvi-
dos e especificarnente no Brasil e nos paIses de qualquer sisterna econrnico
devem ser eliminados os privilgios abusivos de classes e camadas sociais.
a
0 direito liberdade deve ser incrementado nos palses socialistas,
inclusive do ponto de vista individual e deve ser incentivada a autogestâo e a
confiança na sociedade e nos cidadâos. --

Devem ser eliminadas as discriminaçôes existentes contra as mulhe- ANEXOI


res inclusive nas diferentes correntes religiosas.
A Dec1araço Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 10
de dezembro de 1948, constitui a diretriz básica dos direitos fundarnentais no DECLARAcAO UNIVERSAL DOS DIKEITOS HUMANOS °
mundo e deve ser implementada cada vez mais pela ratificaço, vigência e
eficácia dos Pactos e demais documentos internacionais existentes e pela cele- As Naçöes Unid. ofieiais
braçâo de outros novos documentos. o russo, o chines, o espanhol e mais recentemente o £rabe. A lingua
A Declaraço e Programa de Açâo de Viena, aprovada em 1993 na portuguesa, portanto, nâo est. incluida e por isso, do ponto de vista estrita-
Conferência Mundial de Direitos Humanos deve ser uma das principais dire- mente formal, os documentos da ONU em português no gozam de valida-
trizes para a efetivaçao dos Direitos Hurnanos e liberdades fundamentais. de jurIdica. Dessa maneira, as traduçôes para o português da Declaraço
As declaraçôes, pactos, normas e outros documentos nacionais e Universal dos Direitos Humanos, corno de outros documentos internacio-
a
internacionais relativos proteço de Direitos Hurnanos e liberdades funda- nais, valem apenas corno meio de divulgac3.o e de estudo dos textos.
mentais devem ser amplamente divulgados, devendo os poderes pdblicos pu- A Declaraço Universal dos Direitos Humanos foi aprovada no ano de
blicarem-nos para distribuiçâo gratuita a todo o povo. 1948, no dia 10 de dezembro, que por isso tornou-se o Dia Internacional dos
As lutas contra as violaçôes dos Direitos Humanos devern ser Direitos Hurnanos. A aprovac3n foi por unanirnidade no sentido de que no
encaradas corno meio principal da efetividade dos direitos e liberdades funda- houve nenhum voto contrario, mas houve oito abstençôes na Assembléia
mentais.
Geral das Naçôes Unidas realizada em Paris.
No ambito internacional, as organizaçôes internacionais e nacio- Eis seu texto integral, em traduco feita corn base nos textos oficiais em
nais, governamentais e não governamentais, devem estimular os Estados sob espanhol e ingles, publicados pelas Naçôes Unidas, e corn auxilio das tradu-
regimes tidos como ditatoriais a se democratizarem, a dirninuirem e acaba- çôes oficializadas pelo governo brasileiro (publicada no Dirio Oficial da
rem corn as restriçôes e a alargarem os grupos beneficiados pelos Direitos Uniâo) e pelo governo portugues, mas sern valor jurIdico porque a lingua
Humanos, corn respeito, porérn , ao princIpio da n3o-intervençâo e sern se portuguesa no é admitida corno lingua oficial em nenhum 6rgão ou litigio
tomar medidas que prejudiquem mais os seus povos do que os seus governantes. nas Naçes Unidas. A palavra inglesa "everyone", repetida dezenas de vezes
a
As Organizaçôes Nâo Governamentais (ONG) dedicadas protecâo na Declaração, foi traduzida no Brasil por "todo homem", o que implica em
dos Direitos Humanos devem ser incentivadas nacional e internacionalmen-
te.
- Em traduço do autor desta obra.

150 151
discriminação contra as muiheres, e em Portugal por "toda a pessoa", que no Considerando que os Estados Membros se comprometeram a assegurar,
Brasil significa "a pessoa inteira". Por isso, preferimos a traduço literal em cooperacao corn as Naçôes Unidas, o respeito universal e efetivo aos
espanhola de "toda persona", ou seja, "toda pessoa" A expressão "human direitos e liberdades fundamentais do homem e a observncia desses direitos
rights" traduzimos por "Direitos Hurnanos" e não por "Direitos do Ho- e liberdades;
mern", sendo aquela a traducao obrigatiria em documentos oficiais, em aten- Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberda-
dimento de reivindicaçöes de organizacôes femininas brasileiras. No artigo des 6 da mais alta importncia para o pleno cumprimePto desse cornpromis-
29, item 1, a traduço governarnental brasileira sempre omitiu o advrbio so;
"somente" (alone em inglês, solo em espanhol), corn evidente alteraco do Agora, consequentemente,
sentido da frase. Como se constata, um texto tao simples enfrenta grandes A Assembleia Geral
pequenos problemas na sua publicacâo e , provavelmente, o teor que ora Proclarna a presente Declaracao Universal dos Direitos Humanos como
oferecemos ainda deve apresentar defeitos. ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as naçôes, a fim de que
cada indivlduo e cada crgâO da sociedade, tendo sempreemmenteestaDe
claração, se esforcern, atraves do ensino e da educaçâo, por promover o res-
Declaraçao Universal dos Direitos Humanos peito a esses direitos e liberdades, e, pela adoçao de medidas progressivas de
(Aprovada por Resoluçâo da III sessâo ordinria da Assemblia Geral caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconli iBiéñi6"e asua
das Naçôes Unidas, realizada em Paris em 10 de dezembro de 1948). observncia universais e efetivos, tanto entre os povos dos pr6prios Estados
Mémbros
PREAMBULO
Considerando que a liberdade, a justica e a paz no mundo tern por base Artigo 10
o reconhecimento da dignidade intrinseca e dos direitos iguais e inalien.veis Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
de todos os membros da famllia humana; Sao dotados de razâo e consciência, e devem agir uns corn os outros corn
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos huma- espirito de fraternidade.
nos originaram atos de barbrie ultrajantes para a consciencia da humanida- Artigo 2°
de; e que Se proclamou, como a mais alta aspiracão do homem, o advento de Toda pessoa possui todos os direitos e liberdades proclamados nesta
urn mundo em que os seres humanos, livres do temor e da misria, desfrutem Declaracão, sern distincäo alguma de raça, cor, sexo, idioma, religiâo,
da liberdade de palavra e da liberdade de crenças; opiniao poiltica ou de outra natureza, origem nacional ou social, posi-
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos ção econmica, nascimento ou qualquer outra condicão.
por urn regime de Direito, a fim de que o homem nâo se veja compelido ao Alern disso, nao ser. feita nenhuma distinção fundada na condicâo
supremo recurso da rebelião contra a tirania e a opressâo; poiltica, jurIdica ou internacional do pals ou territ6rio a que pertenca
Considerando ser tambem essencial promover o desenvolvimento de uma pessoa, quer se trate de urn territ6rio independente, sob tutela, sern
relaçôes amistosas entre as naçôes; governo prdprio, quer sujeito a qualquer outra limitacao de soberania.
Considerando que os povos das Nacöes Unidas reafirmaram na Carta Artigo 30
sua f6 nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pes- Toda pessoa tern direito vida, liberdade e seguranca pessoal.
soa humana e na igualdade de direitos de homens e muiheres; e se declarararn Artigo 40
decididos a promover o progresso social e a elevar o nIvel de vida dentro de Ninguem serA mantido em escravidão ou servidao; a escravidao e o
urn conceito mais arnplo da liberdade; trfico de escravos serão proibidos em todas suas formas.

152 153
il
Artigo 50 Artigo 13
Ningurn será submetido a torturas nern a tratarnentos ou penas cruis, Toda pessoa tern direito liberdade de locomocão e residência den-
desumanos ou degradantes. tro das fronteiras de cada Estado.
Artigo 6° Toda pessoa tern direito de deixar qualquer pals, inclusive o pro-
Todo ser humano tern direito ao reconhecirnento, ern todos os lugares, prio, e a regressar ao seu pals.
de sua personalidade perante a lei. Artigo 14
Artigo 70 Toda pessoa, vitima de perseguicão, tern direito de buscar asilo, e a
Todos são iguais perante a lei e tm direito, sern qualquer discriminação, desfrutar dele em outros palses.
a igual proteção da lei. Todos tern direito a igual protecão contra qual- Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguicão legitima-
quer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer rnente motivada por crimes não politicos ou por atos con••trrios aos
incitamento a tal discriminaçao. propOsitos e principios das Naçôes Unidas.
Artigo 8° Artigol5
Toda pessoa tern direito a receber dos tribunais nacionais competentes Toda pessoa tern direito a uma nacionalidade. -
rernédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais reco- Ningum sera arbitrariamente privado de sua nacionalidade nem do
nhecidos pela constituição ou pela lei. direito de mudar de nacionalidade. -
Artigo 9° Artigo 16
Ningum ser. arbitrariamente preso, detido ou exilado. Hornens -e
Artigo 10 motivo de raça, nacionalidade ou religião, tern direito de contrair matri-
Toda pessoa tern direito, em plena igualdade, a que sua causa seja apreci- mônio e constituir familia. Gozam de iguais direitos em relacão ao
ada publicamente e de maneira justa por urn tribunal independente e casamento, durante o casamento e na sua dissolução.
imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou sobre as razôes de 0 casamento sO podera ser contraido corn o livre e pleno consenti-
qualquer acusação criminal contra ela. mento dos nubentes.
Artigo 11 A famllia é o rnicleo natural e fundamental da sociedade e tern direito
Toda pessoa acusada de urn ato delituoso tern direito de ser presumi- a protecão da sociedade e do Estado.
do inocente at6 que sua culpabilidade seja provada de acordo corn a lei, Artigo 17
ern processo piiblico no qual ihe tenharn sido asseguradas todas as ga- Toda pessoa tern direito propriedade, de maneira individual ou
rantias necessrias a sua defesa. coletivarnente.
Ninguérn sera condenado por qualquer ato ou omissão que, no mo- Ningurn sera privado arbitrariarnente de sua propriedade.
mento em que foram cornetidos, não constituarn delito perante o Direi- Artigo 18
to nacional ou internacional. Tampouco não sera irnposta pena mais Toda pessoa tern direito a liberdade depensarnento, de consciencia e de
grave do que que a aplicavel no mornento em que o ato delituoso foi religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou convic-
cometido. ção, e a liberdade de manifestar sua religião ou convicção, sozinho ou
Artigo 12 em conjunto corn outros, em pOblico ou em particular, pelo ensino,
Ningum sofrerá intromissôes arbitrárias na sua vida privada, na sua pratica, culto ou observ.ncia.
famflia, no seu dornic{lio ou na sua correspondencia. Toda pessoa tern Artigo 19
direito a proteção da lei contra tais intromissôes ou ataques. Toda pessoa tern direito a liberdade de opinião e expressão; esse direito
inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniôes e procurar, receber

154 155
e difundir inforrnaçôes e idias por qualquer meio, sern lirnitaçâo de Artigo 25
fronteiras. Toda pessoa tern direito a urn padro de vida adequado, que ihe
Artigo 20 assegure a si e a sua farnllia saiide e bem-estar, inclusive alimentaço,
Toda pessoa tern direito a liberdade de reuniâo e de associaçâo vestuario, habitaç3n, assistência mdica e os serviços sociais necessarios, - -
paclficas e direito a seguranca em caso de desemprego doença, invalidez, viuvez
Ningum poderá ser obrigado a fazer parte de urna associaço. velhice ou em outros casos de perda dos meios de subsist-nc-ia--po.r.-ci-r------------
Artigo 21 cunstncias independentes de sua vontade.
Toda pessoa tern direito de tomar pane no governo de seu pals, A rnaternidade e a infncia tern direito a cuidados e assistência espe-
diretamente ou por intermadio de representantes livrernente escolhi- ciais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimnio, tern
dos. ii direito a igual protecão social.
Toda pessoa tern igual direito de acesso as funcöes piiblicas de seu Artigo 26
pals. Toda pessoa tern di-reito a educaç.o.- 0 ensino deve ser gratuito,
A vontade do povo ser. a base da autoridade do governo; essa pelo menos nos graus elementares e fundamentais. 0 ensino elementar
vontade sera expressa mediante eleicôes peri5dicas e legitimas, por su- seri. obrigat6rio. 0 ensino tecnico e profissional sera acesslvel a todos, e
frágio universal e igual e por voto secreto ou outro procedimento equi- o ensino superior sera igualmente acesslvel a todos em funcão do men-
valente que assegure a liberdade de voto. to.
Artigo 22 0 ensino sera€ir dno_sentidodop1eno_desenvolvimento
Toda pessoa, como mernbro da sociedade, tern direito a seguranca social personalidade humana e do fortalecimento do respeito aos direitos hu-
e a obtenção, mediante o esforço nacional e cooperaço internacional e manos e as liberdades fundamentais. A educaco prornovera a compre-
de acordo corn a organizaçâo e recursos de cada Estado, da satisfaço dos ensão, a toler.ncia e a amizade entre todas as naçôes e grupos raciais ou
direitos econmicos, sociais e culturais, indispensáveis a sua dignidade e religiosos, e promover. o desenvolvirnento das atividades das Naçôes
ao livre desenvolvirnento da sua personalidade. Unidas em prol da rnanutenço da paz
Artigo 23 Os pais tern prioridade de direito na escolha do tipo de educaco que
Toda pessoa tern direito ao trabaiho, a livre escoiha de emprego, a sera rninistrada a seus filhos.
condiçôes justas e favoraveis de trabalho e a proteço contra o desempre- Artigo 27
go. Toda pessoa tern direito de participar livrernente da vida cultural da
Toda pessoa, sem qualquer discrirninaçâo, tern direito a igual salario comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso cientIfico e de
por trabaiho igual. seus beneficios.
Toda pessoa que trabaiha, tern direito a urna remuneração justa e Toda pessoa tern direito a protecão dos interesses morais e materiais
satisfat5ria, que ihe assegure e a sua farnulia uma existncia compativel decorrentes de qualquer produc3.o cientlfica, literaria ou artlstica de
corn a dignidade humana e suplernentada, se necessario, por outros mei- que se)a autor.
os de proteção social. Artigo 28
Toda pessoa tern direito a fundar sindicatos e a sindicalizar-se para a Toda pessoa tern direito a urna ordern social e internacional em que os
protecao de seus interesses. direitos e liberdades proclarnados nesta Declaracão possam ser plena-
Artigo 24 mente realizados. .
Toda pessoa tern direito a repouso e lazer, e inclusive a uma limitação Artigo 29
razoável das horas de trabaiho e a frias rernuneradas per16dicas. 1. Toda pessoa tern deveres para corn a cornunidade, sornente na qual
a possIvel o livre e pleno desenvolvirnento de sua personalidade.
156 157
I

No exercicio de seus direitos e liberdades, toda pessoa estar sujeita


p
apenas as limitacoes determinadas pela lei e exciusivamente corn o fim
de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberda-
des dos demais, e de satisfazer as justas exigncias da moral, da ordem
pdblica e do bem-estar de uma sociedade democratica.
Estes direitos e liberdades no poderâo, em hip6tese alguma, ser
exercidos contrariamente aos prop6sitos e principios das Naç6es Uni-
das.
Artigo 30
ANEXO II
Nenhuma disposico da presente Declaraçâo pode ser interpretada como
o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa do direito de exer-
cer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado a destruiçâo
de quaisquer dos direitos e liberdades proclamadas nesta Declaraçâo. DECLARAçAO E PROGRAMAçAO DE VIENA*

0 texto a seguir reproduzido uma traducão dos textos em espanhol e


em in gls,-publicados-peias---Nacôes-_U.nidas.,._trath.tco essa feita pelo autor
desta obra, corn as dificuldades inerentes a tal tarefa e em face de não ser
conhecida uma traducâo em lingua portuguesa.
Trata-se do mais importante documento internacional sobre Direitos
Humanos depois da Declaraç3n Universal dos Direitos Humanos, do Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Politicos e do Pacto dos Direitos Econ-
micos, Sociais e Culturais, estes dois aprovados em 1966. Devido a essa im-
port.ncia a ausência de urna versão em português e a sua pequena divulgacão,
concluimos que ele deveria estar presente neste trabaiho, inclusive porque Se
insere, de rnaneira cabal, dentro da temática de uma Teoria Geral dos Direi-
tos Hurnanos.

Declaração e Programa de Açâo de Viena Aprovada pela


Conferência Mundial de Direitos Humanos
1: em 25 de junho de 1993

A Conferncia Mundial de Direitos Hurnanos,


Considerando que a promocão e protecão dos direitos hurnanos 6 urna
questSo prioritaria para a comunidade internacional e que a Conferência
Em traduço do autor desta obra.

158 159

I
• constitui uma oportunidade iinica de efetuar urna análise exaustiva do siste- bons vizinhos e de empregar urn mecanismo internacional paraprornover o - -
ma internacional de direitos humanos e dos mecanismos de proteco dos progresso econmico e social de todos os povos,
direitos humanos, a firn de potenciar e promover urna observncia mais cabal
desses direitos, de forma justa e equilibrada, Destacando que a Declaracão Universal dos Direitos Humanos, que-cons-. -
titui uma meta comurn para todos as povos e para todas as naçôes-, é -fonterde-.- -
Reconhecendo e afirmando que todos os direitos humanos tern sua on- inspiracão e foi a base em que se fundaram as Nacôes Unidás para fi3fII
gem na dignidade e no valor da pessoa humana, e que esta 6 a sujeito central norrnas contidas nos instrumentos internacionais de direitos hurnanos, em
dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, motivo pelo qual deve particular o Pacto Internacional de Direitos Civis e Politicos e o Pacto Inter-
ser a principal beneficiária desses direitos e liberdades e deve participar ativa- nacianal de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais.
mente na sua realizacâo,
Considerando as modificacôes fundamentais que se produziram no ce-
Reafirmando sua adeso aos prop6sitos e princIpios enunciados na Car- n.rio internacional e a aspifacâo de todos ospcvos a uma ordern intetrracio-
ta das Naçôes Unidas e na Declaracâo Universal dos Direitos Humanos, nal baseada nos princIpios consagrados na Carta das Nacôes Unidas, em par-
ticular a promocâo e a fomento dos direitos humanos e das liberdadesfunda- --
Reafirmando o compromisso assumido no Artigo 56 da Carta das Na- mentais de todos e a respeita do pnincipio da igualdade de direitos e da livre
çôes Unidas de tomar medidas, em conjunto ou separadamente, insistindo deterrninaco dos povos, em condicôes de paz, democracia, justica, igualda-
particu-lar-men-te no desenvolvimen-t-o-de-u-m-a cooperacão intern-ac-ion-al- efica-z •de;
para a realizaco dos prop6sitos consignados no Artigo 55, incluidos a respei- e solidariedade,
to universal e a observncia dos direitos humanos e das liberdades fundamen-
tais de todos, Profundamente preocupada pelas diversas formas de discriminaçâo e
violência a que continuam expostas as muiheres em todo o mundo,
Sublinhando a responsabilidade de todos as Estados, de conformidade
corn a Carta das Nacôes Unidas, de fomentar e prapiciar o respeito dos direi- Reconhecendo que as atividades das Nacôes Unidas na esfera dos dinei-
tos humanos e das liberdades fundamentais cle todos, sem fazer distincão al- tos hurnanos se devem nacionalizar e melhorar para reforçar o mecanismo
gurna par motivos de raça, sexo, idioma ou religiäo. das Nacôes Unidas nessa esfera e propician os objetivos de respeito universal
e observância das normas internacionais de dineitos hurnanos,
Recordando o Prembulo da Carta das Naçôes Unidas, em particular a
determinaçâo de reafirmar a f6 nos direitos fundamentais do homem, na dig- Tendo em conta as Declaracôes aprovadas nas três reuniôes regionais
nidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos de homens e celebradas em Tunis, So Jose e Bangcoc e as contribuicôes dos governos, e
mulheres e das naçôes grandes e pequenas, tenda presentes as sugestôes formuladas pelas organizacôes intengover-
namentais e no governamentais, assim como as estudos preparados par pen-
Recordando ademais a determinaçio expressa no Prembulo da Carta tos independentes durante o processo preparat6rio da Conferncia Mundial
das Naçôes Unidas de preservar as geracôes vindouras do flagelo da guerra, de de Direitos Hurnanos,
criar condiçöes sob as quais possam manter-se a justiça e a respeito das obri-
gacôes emanadas dos tratados e outras fontes do direito internacional, de pro- Acoihendo corn apnavaca a celebraco em 1993 do Ano Internacional
mover o progresso social e de elevar a nivel de vida dentro de urn conceito das Populacôes Indigenas do Mundo coma reafirmacào do compramisso da
mais amplo da liberd-ade, de praticar a tolerncia e de conviver em paz coma cornunidade internacional de velar pelo desfrute de todos as dineitos hurna-

160 161
nos e das liberdades fundamentais dessas populacôes e de respeitar o valor e a 2. Todos os povos tm o direito de livre determinação. Em virtüde désse
diversidade de suas culturas e identidades, direito, determinam livremente sua condição polItica e perseguem livremen-
te seu desenvolvimento econmico, social e cultural.
Reconhecendo tambm que a comunidade internacional deve conceber Tendo em conta a situação particular dos povos submetidos a db.rniña-.
os meios de eliminar os obstáculos existentes e de resolver os problemas que ção colonial ou a outras formas de dominação ou ocupacão estraigeiiras a -
impedem a plena realização de todos os direitos humanos e fazem corn que se Conferência Mundial de Direitos Hurnanos reconhece o direito dospovos de
sigam violando os direitos humanos em todo o mundo, adotar qualquer rnedida legItirna, de conformidade corn a Carta das Naçôes
Unidas, destinada a reahzar seu direito inalienvel a livre determinação. A
Imbulda do espIrito de nosso tempo e da realidade atual que exigem que Conferência considera que a denegacão do direitoa livre deterrninação cons-
todos os povos do mundo e todos os Estados Membros das Naçôes Unidas titui uma violação dos direitos hiiimanos e sublinha a importncia da rali-
empreendam corn renovado impulso a tarefa global de promover e proteger zação efetiva desse direito.
todos os direitos humanos e iiberdades fundarnentais para garantir o desfrute De acordo corn a Declaração sobre os principios de direito internacional
pleno e universal desses direitos, - relerentes as relaçOes tie amizade e a cooperacao entre os Fstados de contor-
midade corn a Carta das Naçôes Unidas, nada do anterior se entender no
Resolvida a seguir o caminho tracado pela comunidade internacional • sentido de que autoriza ou fomenta qualquer ação destinada a dirninuir ou
para alcancar grandes progressos em matéria de direitos humanos mediante - . menosprezar, total ou parcialmente, a integridade territorial ou a unidade
renovados e sustentados esforcos em prol da cooperacão e da solidariedade polItica de Estdobbefanos e
internacionais,
dade corn o princIpio da igualdade de direitos e da livre determinação dos
• povos e estejam, portanto, dotados de urn governo que represente a totalida-
Aprova solenernente a de do povo pertencente ao território, sern distincão alguma.

Declaraçao e Prograrna de Ação de Viena.


3.Devem ser adotadas medidas internacionais eficazes para garantir e
vigiar a aplicacão das normas de direitos humanos em relação aos povos sub-
I rnetidos a ocupacão estrangeira, e deve ser proporcionada uma protecão jurI-
dica eficaz contra a violação de seus direitos humanos, de conformidade corn
1. A Conferncia Mundial de Direitos Hurnanos reafirma o solene corn-
as normas de direitos humanos do direito internacional, em particular a Con-
promisso de todos os Estados de cumprir suas obrigacôes de promover o venção de Genebra relativa a protecão das populacoes civis em tempo de
respeito universal, assim como a observncia e protecão de todos os direitos
guerra, de 12 de agosto de 1949, e outras norrnas aplicaveis do direito huma-
humanos e das liberdades fundamentais de todos de conformidade corn a nitirio.
Carta das Nacôes Unidas, de outros instrumentos relativos aos direitos hu-
manos e ao direito internacional. 0 caráter universal desses direitos e ii-
4. A promocão e protecão de todos os direitos humanos e liberdades
berdades não admite di.ividas.
fundarnentais devem ser consideradas como urn objetivo prioritario das Na-
Neste contexto, o fortalecimento da cooperacão internacional na esfera
çöes Unidas, de conformidade corn seus prop6sitos e principios, em particu-
dos direitos humanos é essencial para a plena realização dos prop6sitos das
Nacôes Unidas. F lar o propcisito da cooperacão internacional. No marco desses prop6sitos e
princIpios, a promocão e protecão de todos os direitos humanos é umapro -
Os direitos hurnanos e as liberdades fundamentais são patrimnio inato
cupacão legitima da cornunidade internacional. Os órgãos e organismos
cle todos os seres humanos; sua promocão e proteção é responsabilidade pri-
especializados relacionados corn os direitos humanos devem, em conseqüên-
mordial dos governos.

162
163
.I

cia, reforçar a coordenacão de suas atividades tomando corno base a apiicacâo processo dedemocratizaco e reforrna econrnica, rnuitos dos quais encon-
consequente e objetiva dos instrurnentos internacionais de direitos hurnanos. tram-se na Africa, a fim de que realizem corn êxito sua transiço para a demo-

5. Todos os direitos humanos sâo universais, indivisIveis e interdepen- 9 -- craCia e para o desenvolvirnento

dentes e estâo relacionados entre si. A cornunidade internacional deve tratar A Conferência Mundial de Direitos Humanos reafirrna o di-reito-.de--r-
os direitos humanos de forma global e de maneira justa e equitativa, em pé de desenvolvimento, segundo é proclamado na Declaraco sobre o DireitQ ao .....................
igualdade e dando a todos o mesmo peso. Deve ter-se em conta a importn- - IDesenvolvimento, como direito universal e inalien.vei e como pane inte-
cia das particularidades nacionais e regionais, assim corno dos diversos patri- grante dos direitos humanos fundamentais. Corno se diz na Declaraço sobre
mônios históricos, culturais e religiosos, porém os Estados tern o dever, Se- - .. o Direito ao Desenvolvimento, a pessoa hurnana é o sujeito central do desen-
jam quais forem seus sisternas polIticos, econ6rnicos e culturais, de prornover volvirnento.
e proteger todos os direitos humanos e liberdades fundarnentais. 0 desenvolvimento propicia o desfrute de todos os direitos humanos,
porém a falta de desenvoivimento nâo pode ser invcicada como justificacâo
6 Os esforcos do sistema das Naçôes Unidas para conseguir o respeito para lirnitar os direitos humanos internacionairnente reconhecidos.
universal e a observncia dos direitos humanos e das liberdades fundarnentais - - Os Estados devem cooperar rnutuamente para conquistar o desenvolvi-
de todos, contribuern para a estabilidade e bem-estar necessrios para que mento e eliminar os obst.culos ao desenvolvimento. A cornunidade interna-
haja relacôes de paz e amizade entre as naçôes e para que melhorern as condi- cional deve propiciar uma cooperacão internacional eficaz para a realizaco
çôes para a paz e a seguranca, assirn corno para o desenvolvimento econrni- - --- do direito ao
CO e social, de conformidade corn a Carta das Nacôes Unidas. volvirnento.
0 progresso duradouro corn vistas . aplicacão do direito ao desenvoivi-
7.Os processos de promoco e protecâo dos direitos humanos devem mento requer polIticas eficazes de desenvolvirnento no piano nacional, assim
desenvolver-se de conformidade corn os Propdsitos e Principios da Carta das como reiaçôes econmicas equitativas e urn retorno econmico favorável no
Naçôes Unidas e corn o direito internacional. lano internacional.

8.A democracia, o desenvolvirnento e o respeito dos direitos hurnanos e 0 direito ao desenvolvimento deve realizar-se de maneira que satisfa-
das liberdades fundamentais s3io conceitos interdependentes que se reforçarn • .- - a equitativamente as necessidades em matéria de desenvolvirnento e meio
mutuarnente. A democracia se baseia na vontade do povo, livrernente ex- ambiente das geracôes atuais e futuras. A Conferência Mundiai de Direitos
pressada, para determinar seu prdprio regime poiltico, econmico, social Humanos reconhece que o despejo ilicito-de substncias e resIduos tóxicos e
cultural, e em sua plena participacão em todos os aspectos da vida. Neste erigosos pode constituir urna arneaça grave para o direito de todos vida e
contexto, a prornoco e proteco dos direitos humanos e das liberdades fun- saiide.
darnentais nos pianos nacionai e internacional devem ser universais e devern Por conseguinte, a Conferéncia Mundical de Direitos Hurnanos faz urn
ser levados a cabo de modo incondicional. A comunidade internacional deve hamarnento a todos os Estados para que aprovern e apliquern rigorosamente
apoiar o fortalecimento e a promoço da democracia, o desenvoivirnento e o as convençôes existentes em matéria de despejo de produtos e resIduos tdxi-
respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais no mundo intei- cos e perigosos e cooperern na prevenc5o do despejo ilIcito.
ro. Todos tern direito a desfrutar do progresso cientIfico e de suas aplica-
çes. A Conferencia Mundial de Direitos Humanos constata que certos avan-
9. A Conferéncia Mundial de Direitos Humanos reitera que a comunida- ços, especiaimente na esfera das ciências biornédicas e biol6gicas, assirn como
de internacional deve apoiar os palses menos adiantados que optaram pelo tia esfera da informtica, podem ter consequências adversas para a integrida-

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de, a dignidade e os direitos humanos do indivlduo e pede a cooperacão inter- .
17. Os atos, mtodos e práticas terroristas em todas as suas forrnas.e-.
nacional para velar pelo pleno respeito dos direitos humanos e pela dignidade . . .
rnanifestaces, assim como os vinculos existentes em alguns palses corn o
da pessoa nessa esfera de interesse universal. .... tr.fico de drogas, são atividades orientadas para a destruicão dos direitos
humanos, das liberdades fundarnentais e da dernocracia, arneaçam a integrida
12. A Conferência Mundial de Direitos Humanos exorta a comunidade . --- I de territorial e a seguranca dos Estados e desestabilizam governos legitirna-
internacional no sentido de que faça quanto possa para aliviar a carga da dlvi- mente constituldos. A comunidade internacional deve tornar as medidas opor-.........
da externa dos palses em desenvolvimento afim de complementar os esforços tunas para reforçar sua cooperacão a firn de prevenir e combater o terroris-
dos governos desses palses para realizar plenarnente os direitos econrnicos, - mo.
sociais e culturais de seus povos.
18. Os direitos humanos da muiher e da menina são parteinalienvel,
E indispensvel que os Estados e as organizacôes internacionais, em . I integrante e indivisivel dos direitos humanos universais. A plena participa-
cooperacão corn as organizacôes não governamentais, criem condicöes favo- ção, em condiçôes de igualdade, da mulher na vidapolitica,civil, econmica,-
rveis, nos planos nacional, regional e internacional, para o desfrute pleno e I social e cultural nos pianos nacional, regional e internacional e a erradicação
efetivo dos direitos humanos. Os Estados devem eliminar todas as vioiaçôes -
de todas as formas de discriminacão baseadas no sexo são objetivos prioritrios
dos direitos humanos e suas causas, assim como os obstáculos que se opo- . -. da comunidade internacional.
nham a realização desses direitos. - IT A violência e todas as formas de assédio e exploracão sexuais, em parti-
-
cular as derivadas -de
A generalizacão da pobreza extrema inibe o pleno e eficaz desfrute . soas, são incompativeis corn a dignidade e o valor da pessoa humana e devem
dos direitos humanos; a cornunidade internacional deve seguir dando urn ser eliminadas. Isto pode ser obtido corn rnedidas legislativas e corn ativida-
alto grau de prioridade sua irnediata amenização e ao seu ulterior elirnina- -
des nacionais e corn cooperacão internacional em esferas tais corno o desen-
ção. volvimento econ6rnico e social, a educação, a atenção corn a rnaternidade e
corn a saide e o apoio social.
0 respeito aos direitos humanos e as liberdades fundamentais sem -
-- A questão dos direitos humanos da muiher deve forrnar parte integrante
distincão nenhurna 6 uma regra fundamental das normas internacionais de .. das atividades de direitos humanos das Naçôes Unidas, em particular a pro-
direitos humanos. A pronta e ampla eliminacSo de todas as forrnas de racis- moção de todos os instrurnentos de direitos humanos relacionados corn a
mo e discrirninação racial, da xenofobia e de outras manifestaçôes conexas de mulher.
intolerãncia 6 uma tarefa prioritaria da comunidade internacional. Os gover- -- A Conferência Mundial de Direitos Humanos insta aos governos, as
nos devern adotar medidas eficazes para preveni-las e cornbat-las. Os gru- instituiçôes intergovernamentais e as organizacôes não governamentais a que
pos, instituiçôes, organizacôes intergovernamentais e não governarnentais, intensifiquem seus esforcos em favor da protecão e prornocão dos direitos
assim como Os particulares, devem intensificar seus esforcos para cooperar I hurnanos da mulher e da menina.
entre si e coordenar suas atividades contra esses males.
It
19. Consideratido a importância das atividades de promocão e protecão
16. A Conferência Mundial de Direitos Humanos sai.ida os progressos dos direitos das pessoas pertencentes a minorias e a contribuicão dessas ativi-
realizados no desmantelamento do aprthezcte pede a comunidade internacio- I dades para a estabilidade poiltica e social dos Estados em que vivem essas
nal e ao sisterna das Nacôes Unidas que prestem ajuda nesse processo. ]
pessoas.
A Conferncia Mundial de Direitos Humanos deplora, por outra parte, I A Conferncia Mundial de Direitos Humanos reafirrna a obrigacão dos
Os persistentes atos de violência destinados a frustrar o desmantelarnento do Estados de velar para que as pessoas pertencentes a minorias possam exercer
apartheicipor rneios pacificos.

166
4 167
plena e eficazmente todos os direitos humanos e liberdades fundamentais sem mas nacionais e internacionais de defesa e protecão das crianças, em particu-.-.--
discriminação alguma e em condiçoes de total igualdade ante a lei, de confor- lar as meninas, as crianças abandonadas, as crianças de rua e as criancasexplo-.
midade corn a Declaração das Nacôes Unidas sobre os direitos das pessoas radas economica e sexualmente, inclusive os utilizados na pornografia e na
pertencentes a minorias nacionais ou knicas, religiosas e linguisticas. prostitulcâo infantil ou na venda de orgãos as crianças vitimas de enfermida
As pessoas pertencentes a minorias tm direito a sua prpria cultura, a des, em particular da sindrome de imunodeficiência adquirida, . as-.crianças-
professar e praticar sua religião e a empregar seu pr6prio idioma em piiIblico refugiadas e deslocadas, as crianças detidas, as crianças em situaçôesdecnfli
e em particular, corn toda a liberdade e sem ingerência nem discriminacão to armado e as crianças vItirnas da fome e da seca ou de outras calamidades.
alguma. -- Devem ser fomentadas a cooperacão e a solidariedade internacionais no apoio
- da aplicacão da Convenção, e os direitos da criança devem ser prioritrios em
A Conferência Mundial de Direitos Humanos reconhece a dignidade toda atividadé do sistema das Nacôes Unidas em matéria de direitos huma-
intrinseca e a incomparve1 contribuicão das populacöes indigenas para o nos.
desenvolvimento e pluralismo da sociedade e reitera firmemente a determina- A ConlErência Mundial de Direitos Humanos -ressalta tambm que o
ção da comunidade internacional de garantir-ihes o bem-estar econmico, pleno e har -monioso desenvolvimento da personalidade da criança exige que
social e cultural e o desfrute dos beneficios de urn desenvolvimento sustenth- - -- esta cresça 6m urn ambiente familiar, que merece, portanto, uma maior pro-
vel. Os Estados devem garantir a total e livre participacão das populacôes teç3.o.
indigenas em todos os aspectos da sociedade, em particular nas questôes que
lhes concernem. Considerando a importncia das atividades de promocão e E mister prestar
protecão dos direitos das populacôes indigenas e a contribuicão dessas ativi- igualdade de condiçôes, por parte dos deficientes, de todos os direitos huma-
dades para a estabilidade polItica e social dos Estados em que vivem esses nos e liberdades fundamentais, incluIda sua participacâo ativa em todos os
povos, os Estados devem tornar rnedidas positivas ajustadas, conforme o - aspectos da sociedade.
direito internacional, a firn de garantir o respeito de todos os direitos huma-
nos e liberdades fundamentais das populacôes indigenas, sobre a base da igual- A Conferência Mundial de Direitos Humanos reafirma que toda
dade e da não discriminacão, e reconhecer o valor e a diversidade de suas pessoa, sem distinção alguma, tern direito, em caso de perseguicão, a buscar
diferentes identidades, culturas e sistemas de organizacão social. asilo e a desfrutar dele em outros paIses, assim como a regressar a seu pr6prio
pals. A esse respeito, destaca a importância da Declaração Universal de Direi-
A Conferência Mundial de Direitos Humanos, saudando a pronta tos Humanos, da Convencão de 1951 sobre o Estatuto dos Refugiados, seu
ratificação da Convenção sobre os Direitos da Criança por urn grande ndme- Protocolo de 1967 e os instrurnentos regionais. Expressa seu reconhecimen-
ro de Estados e reparando que na Declaracão Mundial sobre a Sobrevivncia, to aos Estados que continuarn adrnitindo e acoihendo em seus territórios urn
Proteção e Desenvolvimento da Criança e no Plano de Acão adotados pela grande ndrnero de refugiados e ao Escritdrio do Alto Comissariado das Na-
Cdpula Mundial em favor da Infância são reconhecidos os direitos hurnanos çôes Unidas para os Refugiados pela dedicacão que dernonstra na realização
da criança, encarece a ratificação universal da Convenção para 1995 e sua de sua tarefa. Tarnbrn expressa seu reconhecimento ao Organismo de Obras
efetiva aplicacão pelos Estados Partes mediante adocão de todas as medidas Piiblicas e Socorro das Naçöes Unidas para os Refugiados da Palestina no
legislativas, administrativas ou de outro tipo necessárias, e a dotação do m.xi- Oriente Próxirno.
mo possivel de recursos disponiveis. A não discriminacão e o interesse A Conferncia Mundial de Direitos Humanos reconhece que as viola-
superior da criança devern ser consideraçöes primordiais em todas as ativida- çôes manifestas dos direitos humanos, em particular as cornetidas nos confli-
des que digam respeito infância, levando devidamente em conta a opinião tos armados, são urn dos mdltiplos e complexos fatores que conduzem ao
dos prdprios interessados. Devem ser reforcados os mecanismos e progra- deslocarnento das pessoas

168 - 169
A Conferncia Mundial de Direitos Hurnanos reconhece que, em vista • 25. A Conferéncia Mundial de Direitos Humanos afirma queapobreza..--
da complexidade da crise mundial de refugiados, é necess.rio que, de acordo extrema e a exciusSo social constituem urn atentado contra a dignidade hu-..
corn a Carta das Naçôes Unidas, corn os instrumentos internacionais perti- • - :• mana e que urge tomar medidas para compreender rnelhor a pobreza extrerna
nentes e corn a solidariedade internacional, e a fim de repartir a carga, a co- suas causas, em particular as relacionadas corn o problema do desenvoh4- -
munidade internacional adote urn planejarnento global em coordenaçâo e rnento, a firn de promover os direitos humanos dos rnais pobres,prJ-in.-.--.-----
cooperação corn os palses interessados e as organizacôes cornpetentes, tendo pobreza extrema e exclusão social e favorecer o gozo dos frutos do progrs
presente o mandato do Alto Comissariado das Naçôes Unidas para os Re- 1. • so social. E indispensvel que os Estados favoreçarn a participacão dos rnais
fugiados. Dito planejamento deve compreender a forrnulação de estratégias pobres nas decisôes adotadas pela comunidade em que vivem, a promocão
para abordar as causas profundas e os efeitos dos movimentos de refugiados e dos direitos humanos e a luta contra a pobreza extrerna.
de outras pessoas deslocadas, a rnelhora da preparaço para situaçôes de erner-
gência e dos rnecanisrnos de resposta, a concessâo de urna protecâo e assistén- • 26. A Conferência Mundial de Direitos Humanos sada o progresso
cia eficazes, tendo presentes as necessidades das rnulheres e crianças, assirn alcançado na codificacão dos instrurnentos de direitos humanos, que consti--
corno a obtenço de solucôes duradouras, preferente-mente mediante a repa- tu i urn processo dinârnico e evolutivo, e apela para a ratificação universal dos
triaç5o voluntria em condiçôes de seguranca e dignidade, inciuldas soluçôes tratados de direitos humanos. Pede-se encarecidarnente a todos os Estados
como as adotadas pelas conferências internacionais sobre refugiados. A Con- - que manifestem adesão a esses instrumentos internacionais; exorfa-se a todos
ferência ressalta a responsabilidade dos Estados, particularmente no que se os Estados que, dentro do possIvel, se abstenham de forrnular reservas.
refereaos palses de origem.
A luz do planejamento global, a Conferéncia Mundial de Direitos Hu- 27. Cada Estado deve prever urn sisterna de recursos eficazes para repa-
manos repisa a import.ncia de que se preste atençâo especial, em particular TEl.. rar as infracôes ou violacôes dos direitos humanos. A administracão de justi-
através das organizaçôes intergovernarnentais e hurnanitárias, e se deem solu- ça, em particular os organismos encarregados de fazer curnprir a lei e do
çôes duradouras s questôes relacionadas corn as pessoas deslocadas dentro de • ajuIzamento, assim como urn poder judicial e uma advocacia independentes,
seu pals, inclusive o regresso voluntrio em condiçôes de seguranca e reabili- em plena conformidade corn as norrnas contidas nos instrurnentos interna-
tação. cionais de direitos humanos, são de irnportância decisiva para a cabal realiza-
De conformidade corn a Carta das Nacôes Unidas e os princlpios de ção dos direitos humanos sem nenhurna discrirninação e resultam indispens-
direito humanitário, a Conferéncia Mundial de Direitos Hurnanos destaca veis nos processos de democratizacão e desenvolvimento sustentável. Nesse
também a importncia e a necessidade da assisténcia humanitária s vltirnas - contexto, as institulçöes que se ocupam da administração de justica devem
de todos os desastres, naturais ou pro-duzidoss pelo homern. { estar adequadamente providas de recursos financeiros, e a comunidade inter-
nacional deve prever urn nIvel mais elevado de assistência técnica e financei-
24. Deve dar-se grande importância . prornocão e proteção dos direitos f ra. Incumbe s Naçöes Unidas estabelecer corn car.ter prioritrio prograrnas
humanos das pessoas pertencentes a grupos que passaram a ser vulnerveis, especiais de serviços de assessorarnento para conquistar assim urna adrninis-
em particular os trabalhadores migrantes, eiiminaçao de todas as forrnas de tração de justica forte e independente.
discriminaçao contra eles e ao fortalecirnento e aplicacão rnais eficaz dos ins-
trurnentos de direitos humanos. Os Estados tern a obrigacão de adotar e 28. A Conferéncia Mundial de Direitos Humanos expressa sua conster-
manter medidas adequadas no piano nacional, em particular em matéria de nação ante as violaçôes massivas dos direitos hurnanos, especialmente o
educaçSo, sadde e apoio social, para promover e proteger os direitos dos seto- genocldio. a "limpeza étnica" e a violaçSo sistemtica de rnulheres em situa-
res vulneráveis de sua população e assegurar a participacão das pessoas perten- çôes de guerra, o que d lugar ao éxodo em rnassa de refugiados e pessoas
centes a esses setores na busca de uma solução para seus problemas.. deslocadas. Condena firmernente essas práucas odiosas e reitera seu chama-

170 171
mento para que se castigue Os autores desses crimes e se ponha fim ime- entre os Estados e impecam a realizaco plena dos direitos enunciados.-na-.
diatamente a essas prticas. Declaração Universal de Direitos Humanos e nos instrumentos internacio-
nais de direitos humanos em particular o direito de toda pessoa a urn nivel de
A Conferncia Mundial de Direitos Humanos manifesta sua grave vida adequado para sua saiide e bem-estar, incluldas a alirnentaçâoe aatenço
preocupacão ante as persistentes violaçôes dos direitos humanos em todas as da saiide, da moradia e dos serviços sociais necessarios. A Conferêncifirrpa--
regiôes do mundo, em contravençâo s normas dos instrumentos internacio- que a alimentação ño deve utilizar-se como instrumento depressopoivica
nais de direitos humanos e do direito hurnanithrio internacional, e ante a falta
de recursos eficazes para as vItimas. A Conferncia Mundial de Direitos Humanos reafirma a import.n-
A Conferência Mundial de Direitos Humanos esth profundarnente cia de garantir a universalidade, objetividade e n3o seletividade do exame das
preocupada pelas violaçôes dos direitos hurnanos durante os conflitos arma- questôes de direitos humanos. -- -
dos, que afetam a populacâo civil, em particular as muiheres, crianças, anciâos
e deficientes. Por conseguinte, a Conferncia exorta os Estados e todas as A Conferncia Mundial de Direitos Hu-manos reitera o dever--dos
partes nos conflitos armados para que observem estritamente o direito huma- Estados, explicitado na Declaraco Universal de Direitos Humanos, no Pac-
nithrio internacional, estabelecido nas Convencôes de Genebra em 1949 e em to Internacional de Direitos Econhmicos, Sociais e Culturais e em outros
outras regras e principios do direito internacional, assirn como as normas instrumentos internacionais de direitos humanos, de direcióñar a eduac.ö
minimas de protecâo dos direitos humanos em convençôes internacionais. de maneira que se fortaleça o respeito dos direitos hu-manos e das liberdades
A Confernica Mundial de Direitos Humanos reafirma o direito das fundainentais. A-
vItimas de serem assistidas pelas organizacôes humanitrias, estabelecido nas dos direitos humanos nos programas de educacão e pede aos Estados que
Convençôes de Genebra de 1949 e em outros instrumentos pertinentes de atuem nesse sentido. A educaçâo deve fomentar a compreensão, a tolerncia, -
direito humanitrio internacional, e pede que se tenha acesso a essa assistên- a paz e as relaçöes de amizade entre as naç6es e entre os grupos raciais ou
cia corn rapidez e seguranca. religiosos e apoiar o desenvolvirnento das atividades das Nacôes Unidas dèsti-
nadas conquista desses objetivos. Em conseqüência, a educacâo em matéria
A Conferncia Mundial de Direitos Humanos manifesta tarnbm de direitos humanos e a difus.o de informação adequada, seja de car.ter teri-
sua consternação e sua condenaçâo porque em várias regiôes do mundo con- co ou pratico, desempenham urn papel importante na promoco e no respei-
tinuarn sendo cometidas violaçôes manifestas e sistemáticas dos direitos hu- to dos direitos humanos de todas as pessoas sem nenhuma distinco por mo-
manos e continuam ocorrendo situaçôes que obstaculizam seriamente o ple- tivos de raça, sexo, idiorna ou religio e deve integrar-se nas politicas educaci-
no gozo de todos os direitos humanos. Essas violaçôes e obstáculos, além da onais nos nIveis nacional e internacional. A Conferncia observa que a falta
tortura e dos tratamentos ou penas cruéis, desurnanos e degradantes, incluern de recursos e as inadequacôes institucionais pedem impedir a imediata con
as execuçôes sumrias e arbitrárias, os desaparecimentos, as detençôes arbitr- quista desses objetivos.
rias, o racismo em todas as suas formas, a discriminacâo racial e o apartheid, a
ocupaco e dorninaçâo estrangeiras, a xenofobia, a pobreza, a fome e outras Devem ser empregados maiores esforcos para ajudar os palses que os
denegacôes dos direitos econbmicos, sociais e culturais, a intolerncia religio- solicitern para criar condiçôes em virtude das quais cada pessoa possa desfru-
sa, o terrorismo, a discriminaçâo contra a mulher e o atropelo das normas tar dos direitos hurnanos e das liberdades fundamentais universais. Apela-se
jurIdicas. aos governos, ao sisterna das Naçôes Unidas e a outras organizacôes multila-
terais que aurnentem consideravelmente os recursos concedidos a programas
A Conferência Mundial de Direitos Humanos pede aos Estados que destinados ao estabelecimento e fortalecimento da legislaco, das instituçôes
se abstenham de adotar medidas unilaterais contrárias ao direito internacio-
nal e a Carta das Naçâes Unidas que criem obstáculos as relaçôes cornerciais

172 173
e das infraestruturas nacionais que defendam o império da lei e a democracia, A Conferencia Mundial de Direitos Humanos reitera a necessidadede -
propiciern a participacâo eleitoral, promovam a capacitacâo, o ensino e a estudar a possibilidade de estabelecer, onde ainda nâo existam, acordos regio-
educac3o em matéria de direitos humanos, incrementem a participaco popu- nais ou sub-regionais para a promoco e protecão dos direitos humanos.
lar e fortalecam a sociedade civil.
Devern ser fortalecidos e faze-los mais eficientes e transparentes os pro- A Conferência Mundial de Direitos Humanos reconhece aimpor-.
gramas de serviços de assessoramento e cooperac3o técnica do Centro de Di- tante função que exercern as organizacôes no governamentais na proc&s
reitos Humanos como rneio de contribuir para maior respeito aos direitos de todos os direitos humanos e nas atividades humanitarias a n{vel nacional,
humanos. Pede-se aos Estados que aumentem suas contribuiçôes para esses regional e internacional. A Conferencia valoriza a contribuico dessas orga-
programas, tanto mediante a promoco de dotaçôes maiores como quotas ao nizaçôes na tarefa de incrementar o interesse piblico nas questôes de direitos
orçamento ordin.rio das Nacôes Unidas como por meio de contribuiçôes humanos, nas atividades de ensino, capacitacão e investigaco nesse campo e
voluntrias. na promoc3.o e protecâo dos direitos humanos e liberdades fundamentais. Ao
mesmo tempo que reconhece que a responsabilidadeprimordial no que res-
A plena e efetiva execução das atividades de promocâo e protecâo peita adoçâo de normas corresponde aos Estados, a Conferência também
dos direitos humanos das Nacôes Unidas deve refletir a grande importância aprecia a contribuicão que essas organizacôes nâo governamentais trazem para
que se atribui aos direitos humanos na Carta das Naçôes Unidas, na forma do esse processo. A esse respeito, a Conferencia ressalta a impdnnciadè qué
mandato conferido pelos Estados Membros. Para isso deve-se proporcionar prossigarn o dal.logo e a cooperacâo entre governos e organizacôes nS.o gover-
as Naçôes Unidas mais recursos para suas atividades de direitos humanos. namentais. As organizç& s-n o-gevernrnefttals -e--Os-seuS membros-que-t-m-
uma genuina participaco na esfera dos direitos- humanos, devem desfrutar
A Conferencia Mundial de Direitos Hurnanos reafirma o importan- dos direitos e liberdades reconhecidos na Declaracão Universal de Direitos
te e construtivo papel que desempenham as instituiçôes nacionais de promo- •
:
Hurnanos, e da proteco das leis nacionais. Esses direitos e liberdades n3.o
ço e protecão dos direitos humanos, em particular no que respeita sua podem ser exercidos de forma contraria aos propsitos e principios das Na-
capacidade para assessorar as autoridades competentes e o seu papel na repa- -. .L .
çöes Unidas. As organizacöes não governarnentais devem ser livres de reali-
raçâo das violaçôes dos direitos humanos, na divulgaco de informaç3o sobre -, zar suas atividades de direitos humanos sem ingerências, de conformidade

esses direitos e na educação em matéria de direitos humanos. com a legislaco nacional a Declaraçào Universal de Direitos Humanos.
A Conferência Mundial de Direitos Humanos pede que se criem o se
reforcem instituiçôes nacionais, tendo em conta os "Principios relativos ao A Conferencia Mundial de Direitos Humanos, encarecendo a im-
estatuto das instituiçôes nacionais" e reconhecendo que cada Estado tem di- portância de dispor de inforrnação objetiva, responsavel e imparcial sobre
reito de eleger o sistema que melhor se adapte a suas necessidades nacionais questôes humanitarias e de direitos humanos, pede uma maior participaco
especIficas. dos meios de inforrnacâo, aos quais a legislac.o nacional deve garantir liber-
dade e proteco.
Os acordos regionais desempenham urn papel fundamental na pro-
rnoçâo e protecâo dos direitos humanos e devem reforçar as normas univer-
sais de direitos humanos contidas nos instrumentos internacionais e sua pro-
teção. A Conferencia Mundial de Direitos Humanos apoia os esforços que se
levam a cabo para fortalecer esses acordos e incrementar sua eficácia, ao mes-
mo tempo que ressalta a importancia que tern a cooperaçâo corn as Nacôes
Unidas em suas atividades de direitos humanos.

74 .1• . 175
II belecidos em virtude de tratados, o Secretario Geral deve estudar a possibili-
dade de iniciar urn dialogo corn os Estados que nâo tenham aderido a esses
A. Aumento da coordenação na esfera dos direitos humanos tratados de direitos hurnanos, a firn de deterrninar os obstaculos que se opo-
dentro do sistema das Naçôes Unidas nham a isso e buscar os rneios para super.-1os.

l.A Conferncja Mundial de Direitos Humanos recornenda o aumento 5. A Conferência Mundial de Direitos Humanos encarece aos E stados
da coordenaçâo em apoio dos direitos hurnanos e liberdades fundamentais :1 que considerem a possibilidade de limitar o alcance de qualquer reserva que
dentro do sisterna das Nacôes Unidas. Corn essa finalidade, a Conferência façarn a qualquer instrurnento internacional de direitos humanos, que formu-
apela a todos os órgOs e organisrnos das Naçôes Unidas e aos organismos 1cm tais reservas corn a major precisâO e lirnitacão possiveis, que procurern
especializados cujas atividades guardem relaço corn os direitos humanos no que nenhurna reserva seja incompatIvel corn o objeto e propósito do tratado
sentido de que cooperem corn vistas a fortalecer, racionalizar e simplificar correspondente e que reconsiderem regularrnente qualquer reserva que ha-
suas atividades, tendo ern conta a necessidade de evitar toda duplicidade des- jam feito, corn vistas a retira-la.
necessria. A Conferência recornenda também ao Secretrio Geral que em
suas reuniôes anuais os altos funcion.rios dos órgâos e Organismos • 6. A Conferência Mundial de Direitos Humanos, reconhecendo a neces-
especializados pertinentes das Naçôes Unidas, alrrtde coordenar suas ativi- sidade de rnanter uma coerência normativa em conson.ncia corn a elevada
dades, apreciem os efeitos de suas estratgias e poilticas sobre o gozo de todos qualidade das normas internacionais vigentes e de evitar a proliferacâo de
os direitos humanos.
- --- instrumentos
ço de novos instrurnentos internacionais que figuram na resolucão 41/120
2.A16rn disso, a Conferência Mundial de Direitos Humanos pedes or- da Assemblia Geral, de 4 de dezembro de 1986, e pede aos 6rgãos de direitos
ganizaçôes regionais e s principais instituiçôes financeiras e de desenvolvi- humanos das Naçôes Unidas que, quando considerarern a possibilidade de
mento internacionais e regionais que apreciern tambérn os efeitos de suas elaborar novas normas internacionais, tomem em conta ditas diretrizes, con-
pol.Iticas e programas sobre o desfrute dos direitos hurnanos. sultem os drgãos de direitos hurnanos criados em virtude de tratados acerca
da necessidade de elaborar novas norrnas e pecam Secretaria que faca- urn
3.A Conferência Mundial de Direitos Humanos reconhece que os orga- exame t&nico dos novos instrumentos propostos.
nismos especializados e os órgâos e instituiçöes pertinentes do sistema das
Naçôes Unidas, assim como outras organizaçôes intergovernamentais cujas 7. A Conferência Mundial de Direitos Humanos recomenda que, se for
atividades guardam relaçao corn os direitos humanos, desempenham urn pa- necessario, designem funcionarios de direitos hurnanos para os escritdrios
pel essencial na formulaço, promoção e ap1icaco de normas de direitos hu- regionais das Naçôes Unidas, corn o propdsito de difundir informaco e ofe-
rnanos, dentro de seus respectivos mandatos, e que esses organismos, órgãos e recer treinamento e alguma outra assistncia tcnica na esfera dos direitos
instituiçôes devem ter em conta os resultados da Conferncia Mundial de humanos por solicitacâo dos Estados Mernbros interessados. Devem ser or-
Direitos Hurnanos em suas respectivas areas de competncia. ganizados cursos de treinarnento sobre direitos humanos destinados aos fun-
cionarios internacionais aos quais se encornendem tarefas relacionadas corn
4. A Conferêncja Mundial de Direitos Humanos recomenda vivamente esses direitos.
que se faca urn esforço harmnico para alentar e facilitar a ratificaçâo dos
tratados e protocolos de direitos humanos adotados no imbito do sistema das 8.A Conferncia Mundial de Direitos Humanos acoihe corn simpatia,
Naces Unidas, e a adesâo a des, ou a sucessSo nos mesmos, corn o prop6sito -- corno uma iniciativa positiva, a celebracão de perlodos extraordinarios de
de conseguir sua aceitação universal. Mediante consulta corn os c5rgSos esta- - sessôes da Comissão de Direitos Humanos e apela aos 6rg5os pertinentes do

176
177
sistema das Naçôes Unidas que considerem outros meios de resposta a situa- A Conferência solicita ao Secretario Geral que considere se sera necessaric---
çôes crIticas de direitos humanos. ou iitil modificar os procedirnentos do ciclo orçamentário a fim de assegurar
a realizaço oportuna e eficaz das atividades de direitos hurnanos na forma do
RECURSOS mandato conferido pelos Estados Membros.

A Conferência Mundial de Direitos Hurnanos, preocupada corn a cres- CENTRO DE DIREITOS HUMANOS
cente disparidade entre as atividades do Centro de Direitos Humanos C OS
recursos humanos, financeiros e de outras Indoles de que dispôe para levá-las A Conferncia Mundial de Direitos Humanos ressalta a importncia
a efeito, e levando em conta os recursos de que necessitam para outros pro- de fortalecer o Centro de Direitos Humanos das Naçôes Unidas.
grarnas importantes das Nacôes Unidas, pede ao Secretrio Geral e . Assem-
biia Geral que adotem de imediato medidas para aumentar substancialmente 0 Centro de Direitos Humanos deve desempenhar uma importante
os recursos alocados ao programa de direitos humanos corn base nos orça- funcão coordenando o trabdho de todo o sistema em matéria de direitos
mentos ordin.rios das Naçôes Unidas para o perlodo atual e perlodos futu- humanos. A meihor forma de conseguir que o Centro desempenhe sua fun-
ros, e adotem corn urgência rnedidas para obter mais recursos de car.ter ção de coordenacâo consistira em deixar que coopere plenamente corn outros
extraorçamenthrio. 6rgos e organismos das Naçôes Unidas. A func5o de coordenaco do Cen-
-

tro de Direitos Humanos requer também que se fortaleca seu escrit6rio em


Corn esse objetivo, dever. ser destinada diretarnente ao Centro de
Direitos Hurnanos uma major proporcão de recursos do orçamento ordin.- IM Nova Iorque

rio para cobrir seus custos e todos os demais custos que suporta, incluidos os Devem ser proporcionados ao Centro de Direitos Humanos meios
que correspondern aos organismos de direitos humanos das Nacôes Unidas. suficientes para o sistema de relatores temáticos e por palses, peritos, grupos
Esse incremento do orçarnento deverá ser complementado mediante contri- de trabaiho e 6rgãos criados em virtude de tratados. 0 exame da aplicaco
buiçôes voluniirias para financiar as atividades de cooperaçio técnica do Cen- das recomendaçöesdeve converter-se em uma questão prioritaria para a Co-
tro; a Conferêncja Mundjal de Direitos Hurnanos pede que se facarn con- 45 de Direitos Humanos.
tribuicoes generosas aos fundos fiduci.rios j existentes.
0 Centro de Direitos Hurnanos deve assumir urn papel mais impor-
A Conferêncja Mundial de Direitos Humanos pede ao Secretário tante na promocão dos direitos humanos. Pode-se dar configuracâo a esse
Geral e a Assernblia Geral que proporcionem suficientes recursos hurnanos, pape l mediante a cooperacão corn os Estados Membros e a ampliacâo dos
financeiros e de outras esécies ao Centro de Direitos Humanos para que prograrnas de serviços de assessoramento e assistência técnica. Os fundos
possa realizar suas atividades de forma eficaz, eficiente e rpida. voluritários existentes deverão ser incrernentados de maneira consideravel
para alcancar esses fins e ser administrados de forma mais eficiente e coorde-
A Conferêncja Mundial de Dire itos Humanos, observando a necessi- nada. Todas as atividades devem realizar-se de acordo corn normas estritas e
-

dade de que se disponha de recursos hurnanos e fmanceiros para levar a cabo transparentes de gestSo de projetos, e deverão ser realizadas avaliacôes pen6-
as atividades de direitos hurnanos, de acordo corn o mandato conferido pelos dicas dos diversos programas e projetos. Corn essa final idade, deverão ser
6rgãos intergovernamentais, apela ao Secretário Geral, de acordo corn o Ar- apresentados corn regularidade os resultados dessas avaliaçôes e demais infor -
tigo 101 da Carta das Naçôes Unidas, e aos Estados Mernbros que adotem rnaçôes pertinentes. Em particular, o Centro deve organizar ao menos urna
critrios coerentes corn a finalidade de conseguir que Se aloque Secreta- vez por ano reunies de informacão abertas a participacSo de todos os Esta-
na urn volume de recursos que corresponda ampliacSo de seus inandatos. dos Membros e de todas as organizacôes que participem diretamente nesses
pro)etoS e programas.

178
179
Adaptacao efortalecirnento dos mecanismos das Nacöes Unidsis na es/era dos 20. A Conferência Mundial de Direitos Humanos exorta todos os. gover
direitos humanos, inclulda a questao da crlaçâo de urn cargo deAlto Cornissário -
nos no sentido de que adotem medidas imediatas e elaborem poilticas firmes
-

das Nacâes Unidaspara os Direitos Hurnanos para prevenir e combater todas as formas de racismo, xenofobia ou manifes-
taçôes analogas de intolerância, se necessário mediante a promulgacâo.deleis -

17. A Conferência Mundial de Direitos Humanos reconhece a necessida- •


apropriadas, inclusive medidas penais, e atravs da criaçào de instituiçôesna_
de de adaptar constanternente os mecanismos das Nacôes Unidas na esfera cionais para combater tais fenomenos
dos direitos humanos s rpecessidades atuais e futuras de prornocâo e protecâo
dos direitos hurnanos, corno se reflete na presente Declaração, corn vistas a 21. A Conferência Mundial de Direitos Humanos sadda a decisao da
urn desenvolvimento equilibrado e shrio para todos. Ern particular, os 6r- Comissão de Direitos Humanos de designar urn relator especial que examine
gãos de direitos humanos das Nacôes Unidas devern meihorar sua coordena- a questão das formas contemporâneas de racismo, discriminacâo racial,-xeno-.
çâo, eficincia e eficácia. fobia e manifestacöes analogas de intolerância. A Conferncia faz tambm
urn charnamento a todos os Estados Partes da -Convenção I.nternac-ional--so-. -.
18. A Conferência Mundial de Direitos Humanos recomenda a Assern- bre a Eliminaco de Todas as Formas de Discriminacão Racial para que con-
bléia Geral que, ao examinar o informe da Conferncia em seu quadraghsimo siderem a possibilidade de fazer a declaraç3o prevista no artigo 14 da Conven-
oitavo perlodo de sessôes, estude corn carater prioritario a questâo da criaço ção.
de urn cargo de Alto Comissario para os Direitos Hurnanos, com vistas a
prornoco e proteco de todos as direitos humanos. -- 22. A
nos que, em cumprimento de suas obrigacôes internacionais e levando em
devida conta seus respectivos sistemas juridicos, adotern as medidas apropria-
B. IGUALDADE, DIGNIDADE E TOLERANCIA das para fazer frente a intoler2ncia e a outras formas analogas de violbncia
fundadas na religio ou nas convicçöes, em particular as prâticas de discrimi-
1. Racismo, discriminação racial, xenofobia naç3.o contra a mulher e a profanacâo de lugares religiosos, reconhecendo que
e outras formas de intolerncia todo individuo tern direito a liberdade de pensamento, de conscincia, de
expressão e de religião. A Conferência solicita alhm disso a todos as Estados
19. A Conferência Mundial de Direitos Humanos considera que a elimi- que ponharn em pratica as disposicôes da Declaracâo sobre a eliminaço de
naçâo do racismo e da discriminaço racial, ern particular em suas formas todas as formas de intolerância e discriminacâo fundadas na religio ou nas
institucionalizadas como a apartheid ou as resultantes de doutrinas de superi- convicçôes.
oridade ou exciusividade racial ou as formas e manifestaçöes contemporâneas
de racismo, h um objetivo primordial da comunidade internacional e urn : 23. A Conferencia Mundial de Direitos Humanos ressalta que todas as
programa mundial de promoçâo dos direitos humanos. Os 6rgaos e organis- pessoas que cometam ou autorizem atos delituosos relacionados com a "lim-
mos das Naçôes Unidas devem redobrar seus esforços para aplicar urn progra- peza étnica" so responsáveis a titulo pessoal por essas violaçôes dos direitos
ma de ação relativo ao Terceiro Decnio da Luta contra o Racismo e a Discri- humanos, e que a comunidade internacional deve fazer todo a passIve1 para
minaçâo Racial e cumprir as novas tarefas que se lhes sejam recomendadas entregar a )ustiça as que sejam juridicarnente responsáveis das mesmas.
corn essa finalidade. A Conferncia pede encarecidamente comunidade in-
ternacional que contribua corn generosidade ao Fundo Fiduciario do Progra- 24. A Conferéncia Mundial de Direitos Hurnanos pede a todos as Esta-
ma para o Decnio da Luta contra o Racismo e a Discriminacâo Racial. dos que, individual e coletivarnente, adotem medidas imediatas para lutar
contra a "limpeza étnica" e acabar corn ela sern demora. As vitimas da aborni-

180 4 181
nve1 prtica da "limpeza tnica" tern direito de exigir medidas apropriadas e A Conferência Mundial de Direitos Humanos recomenda queaCo
efetivas missão de Direitos Humanos examine a possibilidade de renovar e atualizar o
màndato do Grupo de Trabaiho sobre Populacöes Indigenas, uma vez corn-
pletado o projeto de declaraçâo sobre os direitos das populacôes indlgenas::
2. Pessoas pertencentes a minorias nacionais
ou knicas, religiosas e lingulsticas A Conferência Mundial de Direitos Humanos recomenda tambéhiTT
que os programas de serviços de assessoramento e assistOncia técnica do siste-
A Conferência Mundial de Direitos Humanos pede Comissào de ma das Naçôes Unidas respondam positivamente as peticôes de assistência
Direitos Humanos que examine os meios de promover e proteger eficazmen- dos Estados que redundem em beneflcio direto das populacöes indigenas. A
te os direitos das pessoas pertencentes a minorias enunciadas na Declaraço Conferência recornenda alem disso que sejam postas 1. disposicão do Centro
das Naçôes Unidas sobre os Direitos das Pessoas Pertencentes a Minorias de Direitos Humanos recursos de pessoal e financeiros suficientes como par-
Nacionais ou Etnicas Religiosas e Lingu{sticas. Nesse contexto, a Conferên- te do fortalecimento das atividades do Centro cohforfne prevfsto tfopi-serite
cia pede ao Centro de Direitos Humanos que, corno parte de seu programa documento.
de serviços de assessoramento e assistência técnica, proporcione aos governos
que os solicitem serviços de peritos em questöes relativas.s minorias e aos A Conferencia Mundial de Direitos Humanos apela aos Estados que -
direitos humanos, assim como a prevenco e soluçâo de controversias; para velem pela plena e livre participacão das populacoes indlgenas em todos os
ajud.-los a resolver as situaçôes relativass minorias que existarn ou que p05- asectos da socidadernparLiLularma-squest&esque+hes-interessem. -
sam surgir.
A Conferência Mundial de Direitos Humanos recomenda a Assem-
A Conferência Mundial de Direitos Humanos solicita aos Estados e bléia Geral que proclame urn decênio internacional das populacôes indIgenas
1. comunidade internacional promover e proteger os direitos das pessoas per- do rnundo que comece em janeiro de 1994 e compreenda programas orienta-
tencentes a minorias nacionais ou &tnicas, religiosas e linguIsticas de confor- dos para a ação definidos de comum acordo corn as populacôes indigenas.
midade corn a Declaração das Naçôes Unidas sobre os direitos das pessoas Deve ser estabelecido corn essa finalidade urn fundo fiduciário voluntario.
pertencentes a minorias nacionais ou 6trucas, religiosas e lingüisticas. Durante o dito decênio, deveri considerar-se a criação de urn foro permanen-
te para as populacôes indIgenas no sistema das Naçôes Unidas.
As medidas que devem ser adotadas abarcarão, quando necessário,
facilidades para a plena participacâo dessas minorias em todos os aspectos da Trabalhadores migrantes
vida politica, econrnica, social, religiosa e cultural da sociedade e no progres-
so e desenvolvirnento econrnico de seu pals. A Conferência Mundial de Direitos Humanos apela a todos os Esta-
dos que garantarn a protecâo dos direitos hurnanos de todos os trabaihadores
Populacöes indIgenas migrantes e de seus familiares.

A Conferencia Mundial de Direitos Humanos pede ao Grupo de A Conferencia Mundial de Direitos Hurnanos atribui particular im-
Trabaiho sobre Populacôes Indigenas da Subcomissão de Prevencão de Dis- portância a criação de condicôes que prornovam uma major harmonia e tole-
criminaçôes e Proteção as Minorias que, em seu 110 perIodo de sessöes, com- rOncia entre os trabaihadores migrantes e o resto da sociedade do Estado em
plete o projeto de declaraçâo sobre os direitos das populacöes indlgenas. que residam.

182 183
A Conferência Mundial de Direitos Humanos solicita aos Estados -ilis ou costumes, de preconceitos culturais e do extremismo religioso. A
que considerem a possibilidade de firmar e ratificar quanto antes a Conven- Conferência pede 1. Assembléia Geral que aprove o projeto de dec1aracâo.-
çâo internacional sobre a protecâo dos direitos de todos os trabaihadores - sobre a eliminaço da violncia contra a muiher e apela aos Estados que corn-
migrantes e de seus familiares. batam a violncia contra a mulher de conformidade corn as disposic6es da.
_
declaraçSo. As violaçöes dos direitos hurnanos da muiher emsituaçöes de
3. A igualdade de condicâo e os direitos da muiher conflito armado constituem violacôes dos princ{pios fundamentais dciidiieiL
-( - tos humanos e do direito humanitario internacional. Todos os delitos desse
A Conferncia Mundial de Direitos Humanos pede encarecidamente tipo, em particular os assassinatos, as violaçôes sisternaticas, a escravido se-
a
que se conceda muiher o pleno desfrute em condicôes de igualdade de todos
- -
- xual e as gravidezes forçadas, requerern uma resposta especialmente eficaz.
os direitos humanos e que essa seja urna prioridade para os governos e para as
Nacôes Unidas. A Conferncia ressalta tambm a importncia da integracâo - A Conferência Mundial de Direitos Humanos apela em favor da
- -
e da plena participacâO da muiher, como agente e beneficiaria, no processo de I
eliminaçSo de todas as formas dé diicrimiñaçâo contra a muiher, ëhcobeftas
desenvolvimento, e reitera os objetivos fixados sobre a adocâo de medidas ou patentes. As Naçôes Unidas devem promover o objetivo de conquistar
globais em favor da muiher corn vistas a conseguir o desenvolvimento susten- ate o ano 2000 a ratificaç3.o universal por todos os Estados da Convencão
tável e equitativo previsto na Dec1araco do Rio sobre o Meio Ambiente e o sobre a Elirninaç3o de Todas as Formas de Discriminaco Contra a Mulher.
Desenvolvimento e no capitulo 24 do Programa 21 aprovado pela Conferên- - Deve ser incentivada a busca de solucöes levando em conta o niimero parti-
cia das Naçôes Unidas sobcre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. - cu1arment&grandedeservas Convençontreutras -coio€om+t
para a Eliminaço da Discriminação contra a Mulher deve continuar exami-
A igualdade de condicâo da muiher e seus direitos humanos devem • a
nando as reservas Convenc3o. Apela-se aos Estados que retirem todas as
integrar-se nas principais atividades de todo o sisterna das Nacôes Unidas. a
reservas que sejam contrarias ao objeto e finalidade da Convençâo ou in-
Todos os órgos e mecanismos pertinentes das Nacôes Unidas devem tratar compatIveis corn o direito internacional convencional.
essas questôes de forma per16dica e sistematica. Em particular, devem ser
adotadas medidas para incrementar a cooperacâo entre a Comissâo sobre a Os 6rgâos de vigilância criados em virtude de tratados devem difun-
Condiço Juridica e Social da Muiher, a Comissâo de Direitos Humanos, o dir a informaç.o necessaria para que as muiheres possarn fazer urn uso rnais
Comit para a E1iminaço da Discriminação contra a Mulher, o Fundo das eficaz dos procedimentos de execuçâo existentes em seus esforcos para conse-
Nacôes Unidas de Desenvolvimento para a Muiher, o Programa das Nacôes guir a nào discriminaco e a plena igualdade no desfrute dos direitos hurna-
Unidas para o Desenvolvirnento e outros organismos das Nacôes Unidas e nos. Devem tambern adotar-se novos procedimentos para reforçar o cumpri-
para prornover urna major integracâo de seus objetivos e finalidades. Nesse mento dos cornprornissos em favor da igualdade e dos direitos humanos da
contexto, devem ser fortalecidas a cooperacão e a coordenação entre o Cen- muiher. A Comisso da Condic3o Juridica e Social da Mulher e o Comitê
tro de Direitos Hurnanos e a Divisâo para o Progresso da Muiher. para a Elirninaco da Discrirninacâo contra a Muiher devem examinar rapida-
mente a possibilidade de introduzir o direito de petic3.o, elaborando urn pro-
A Conferncia Mundial de Direitos Humanos ressalta em especial a tocolo facultativo da Convenção sobre a Elirninaco de Todas as Formas de
irnportncia do trabaiho destjnado a eliminar a violência contra a mulher na Discriminacâo contra a Muiher. A Conferência Mundial de Direitos Huma-
vida piib1ica e privada, a eliminar todas as formas de assdio sexual, a explora- nos acoihe corn satisfaco a deciso da Comissão de Direitos Hurnanos de
ço e o tráfico de muiheres, a eliminar os preconceitos sexistas na administra- considerar em seu 50 0 perodo de sessfles a designacin de urn relator especial
çâo da justiça e a erradicar quaisquer conflitos que possam surgir entre os sobre a violência contra a mulher.
direitos da muiher e as conseqüências prejudiciais de certas práticas tradicio-

185
.184 1
A Conferncia Mundial de Direitos Humanos reconhece a impor- das Naçôes Unidas que garantam a participacão da muiher em
tncia do desfrute pela muiher do mais alto nivel de saiide fIsica e mental igualdade.
durante toda a sua vida. No contexto da Conferência Mundial sobre a Mu-
iher e da Convençio sobre a Eliminacâo de Todas as Formas de Discrirnina- A Conferência Mundial de Direitos Humanos acoihe corn satisfaço
ço contra a Muiher, assirn como da Proclamaço de Teheran de 1968, a a Conferéncia Mundial sobre a Muiher que vai celebrar-se em Beijing : ern=---
Conferência reafirma, corn base na igualdade entre homens e muiheres, o 1995, e solicita que os direitos humanos da muiher ocupem urn lugari i3FT T
direito da muiher de ter acesso a uma atenço de saiide adequada e a
mais tante em suas deiiberacôes, de conformidade com os temas priorithrios da
ampla gama de serviços de planificacão familiar, assirn como a igualdade de Conferência Mundial sobre a Muiher igualdade, desenvolvirnento e paz.
a
acesso educação em todos os nIveis.

Os órgâos de fiscalização criados em virtude de tratados devem in- 4. Direitos da criança


cluir a questio da condiçâo da rnulher e dos direitos humanos da muiher em
suas deliberaçoes e conclusôes, utilizando dados concretos especificados por A Conferência Mundial de Direitos Humanos reitera o princIpio de
sexo. Deve advertir-se os Estados que em seus informes aos 6rgãos de fiscal i- as crianças antes de tudo" e, a esse respeito, sublinha a irnportnciadeque
zaçâo criados em virtude de tratados forneçam informação sobre a situação se intensifiquern os esforcos nacionais e internacionais, especialmente os do
dejure e de fato das muiheres. A Conferência Mundial de Direitos Humanos Fundo das Naçöes Unidas para a Infncia (UNICEF), corn a final idade de
observa corn satisfaçâo que em seu 490 perIodo de sessôes a Comissâo de IV

Direitos Humanos adotou a resolução 1993/46, de 8 de marco de 1993, na desenvolvimento e a participac5o.


qual declarava que deviam ser incentivados também a faz-10 os relatores
especiais e os grupos de trabaiho na esfera dos direitos humanos. A Diviso Devem ser adotadas rnedidas a firn de conseguir a ratificacão univer-
para o Progresso da Muiher deve também tomar medidas em cooperaçâo sal da Convencâo sobre os Direitos da Criança para 1995 e a assinatura uni-
corn outros órgãos das Naçôes Unidas, concretamente o Centro de Direitos versal da Declaracão Mundial sobre a Sobrevivncia, Proteç.o e Desenvolvi-
Humanos, para assegurar-se de que nas atividades de direitos humanos das mento da Criança e o Piano de Açâo aprovados na Ciipula Mundial emFavor
Nacôes Unidas sejam tratadas periodicamente as violaçôes dos direitos hurna- da Infância, assirn corno medidas para sua eficaz aplicaco. A Conferncia
nos da muiher, em particular os abusos concretos motivados por sua condi- Mundial de Direitos Hurnanos solicita aos Estados que retirern as reservas a
ç3o feminina. Deve ser incentivado o treinamento de pessoal das Naçôes Convenção sobre os Direitos da Criança que sejam contrarias ao objeto e a
Unidas especializado em direitos humanos e em ajuda humanitária, corn o finalidade da Convençâo ou incompativel corn o direito internacional dos
objetivo de ajudar a reconhecer e fazer frente aos abusos de direitos humanos tratados.
de que é vitima a muiher e a levar a cabo seu trabaiho sem preconceitos
sexistas. 47. A Conferéncia Mundial de Direitos Humanos sohcita a todos os
F
palses que, corn o apoio da cooperaco internacional, ponham em pratica, no
A Conferncia Mundial de Direitos Humanos solicita aos governos grau maximo permitido pelos recursos de que disponham, rnedidas para al-
e Organizaçôes regionais e internacionais que facilitem o acesso da muiher a F
cançar Os objetivos estabelecidos no Piano de Ac3.o aprovado na Ciipula
postos de direçâo e ihe permitarn urna major participacâo na adoço de deci- Mundial. A Conferéncia pede aos Estados que integrem a Convenção sobre
sôes. A Conferência solicita que se adotem novas medidas na Secretaria das os Direitos da Criança em seus pianos nacionais de aç3o. Nesses pianos
Nacôes Unidas para nomear e promover funcionarias, de conformidade corn nacionais de ação e nos esforços internacionais deve conceder-se particular
a Carta das Naçôes Unidas, e solicita a outros 6rgâos principais e subsidiarios prioridade para a reduçâo dos Indices de mortaiidade infantii e rnortaiidade

186 187
derivada da maternidade, para reduzir a subnutrição e os indices de analfabe- sejarn periodicamente exarninadas e supervisionadas por todos-os-órgãos--e----
a
tismo e para garantir o acesso Agua potável e ao ensino basico. Em todos os mecanismos competentes do sistema das Nacôes Unidas e pelos 6rgaos_de-
casos em que seja necessário, devem ser elaborados pianos de ação nacionais supervisão dos organismos especiaiizados, de conformidade corn seus respec-
para fazer frente a emergências devastadoras resultantes de desastres naturais - - -

tivos mandatos.
ou de conflitos armados e ao problema igualmente grave das crianças subme-
a
tidas extrema pobreza. A Conferência Mundial de Direitos Humanos reconhece oiöT
tante papel desempenhado pelas organizacöes não governarnentais na aphca-
A Conferência Mundial de Direitos Humanos solicita a todos os ção efetiva de todos os instrurnentos de direitos humanos e, em particular, da
Estados que, corn o apoio da cooperacão internacional, ocupern-se do grave Convenção sobre os Direitos da Crianca.
problerna das crianças que enfrentem circunstâncias especialmente dificeis.
Devern ser cornbatidos ativamente a exploracão e o abuso das crianças, resol- A Conferência Mundial de Direitos Hurnanos recomenda que corn a
vendo suas causas. São necessarias medidas eficazes contra o infanticidio assistência do Centro de Direitos Humanosseja d5tadb oCornitêdsDirei
feminino, o ernprego de crianças em trabaihos perigosos, a venda de crianças tos da Criança dos meios necessarios para que possa curnprir rapida e eficaz-
e de 6rgãos, a prostituicão infantil, a pornografia infantii e outros tipos de mente seu mandato, especialmente em vista do volume sern precedentes de
abuso sexual. ratificaçôes e da ulterior apresentacão de informes nacionais.

A Conferência Mundial de Direitos Humanos apoia todas as medi-


das das Nacôes Unidas e de seus organismos especializados para assegurar a 5. Direito a não ser submetido a torturas
protecão e promoção eficazes dos direitos humanos das meninas. A Confe-
rência insiste junto aos Estados que derroguem leis e regulamentos em vigor A Conferência Mundial de Direitos Humanos sarida a ratificacão da
e que eliminern costumes e praticas que sejam discriminat6rias e prejudiciais Convencão contra a Tortura e Outros Tratarnentos ou Penas Cruis, Desu-
para as meninas. manos ou Degradantes por muitos Estados Membros das Naçôes Unidas e
apela aos demais Estados Mernbros que a ratifiquern rapidarnente., -
A Conferência Mundial de Direitos Hurnanos apoia firrnemente a
proposta de que o Secretario Geral inicie urn estudo dos meios para meihorar A Corrferência Mundial de Direitos Humanos ressalta que uma das
a protecão da criança nos conflitos arrnados. Devern ser postas em pratica violaçôes mais atrozes da dignidade humana 6 o ato de tortura, que destri
normas hurnanitarias e adotadas medidas para proteger e facilitar a assistência essa dignidade das vItirnas e rnenospreza a capacidade das vitimas para reiniciar
i.s crianças nas zonas de guerra. As medidas devem incluir a protecão da sua vjda e suas atividades.
criança contra o ernprego indiscriminado de todo tipo de arrna bélica, especi-
almente de minas antipessoas. A necessidade de atenção ulterior e a reabilita- A Conferência Mundial de Direitos Humanos reafirma que, de con-
ção das crianças traurnatizadas pela guerra devem ser examinadas como ques- formidade corn as normas de direitos humanos e direito hurnanitario, o direi-
tao de urgência. A Conferncia pede ao Comitê dos Direitos da Criança que to a nâo ser subrnetido a torturas 6 urn direito que deve ser protegido em
estude a questão de elevar para 18 anos a idade minima de ingresso nas forças quaiquer circunstncia, inclusive em situaçöes de disn'irbio ou conflito arma-
armadas. do interno ou internacional.

51. A Conferncia Mundial de Direitos Humanos recomenda que as 57. A Conferência Mundial de Direitos Hurnanos apela, pois, a todos os
questôes relacionadas corn os direitos humanos e corn a situação das crianças a
Estados para que ponham fim irnediatamente pratica da tortura e erradiquem

188 ! 189
para sempre esse mal mediante a plena aplicaco da Declaraçâo Universal de pedir os desaparecirnentos forçados, acabar corn des e castigá-los. ACOnfe;
Direitos Humanos e das convençôes pertinentes e, se necessrio, fortalecen- rncia reafirma que e obnigacão de todos os Estados, em qualquer circunstn-
do os mecanismos existentes. A Conferência pede a todos os Estados que cia, empreender uma investigacãO sempre que haja motivos para crer que se
cooperern plenamente corn o Relator Especial sobre a questão da tortura no produziu urn desaparecimento forçado em urn ternit6rio sujeito a
desempenho de seu rnandato. ção e, se se confirmarn as deniincias, processar os autores do fato

Deve prestar-se especial atenção conquista do respeito universal e


aplicacão efetiva dos "PrincIpios de Etica Mdica Aplicveis Funçâo do Pes- 6. Os direitos das pessoas deficientes
soal de Saiide, Especialmente os Medicos, na Proteção de Pessoas Presas e
Detidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Crueis, Desuma- 63. A Conferência Mundial de Direitos Humanos reafirma quetod6so
nos ou Degradantes", aprovados pela Assembléia Geral das Naçôes Unidas. direitos hurnanos e liberdades fundamentais são universais, e por isso corn-
preendern sem reservas as pessoas corn deficiênëis. TOdas as pessoa lisëiñ
A Conferência Mundial de Direitos Hurnanos ressalta a importância iguais e tern o rnesmo direito . vida e ao bem-estar, a educacão e ao trabalho,
de adotar outras medidas concretas no imbito das Nac6es Unidas a fim de a viver independentemente e a participacão ativa em todos os aspectos da
prestar assistência as vitirnas da tortura e garantir recursos rnais eficazes para sociedade. Portanto, qualquer discriminação direta ou outro tratamento
sua reabilitação fisica, psicOl6gica e social. Deve ser concedida grande priori- discriminat6rio negativo de uma pessoa deficiente e urna violação de seus
dade a destinação dos recursos necessarios para essa finalidade, em particular direitos. AConfer&nciadaosgoVeYIIOqUqTraTdtflCeSSdT1Dateh1T
mediante verbas adicionais ao Fundo de Contribuiçôes Volunt.rias para as leis ou modifiquern sua legislacão para garantir o acesso a estes e a outros
Vi'timas da Tortura. direitos das pessoas deficientes.

Os governos devem revogar a legislacao que favoreça a impunidade 0 lugar das pessoas deficientes esta em todas as partes. As pessoas
dos responsáveis por violaçôes graves dos direitos hurnanos, como a tortura, corn deficiencias devem ser garantidas a igualdade de oportunidades mediante
e castigar essas violaçôes, consolidando assirn as bases para o irnperio da lei. a supressão de todos os obstaculos deterrninados socialmente, sejam fisicos,
econrnicos, sociais ou psicoidgicos, que excluam ou restrinjam sua plena
A Conferência Mundial de Direitos Humanos reafirma que os esfor- participacão na sociedade.
ços para erradicar a tortura devem concentrar-se acirna de tudo na prevencSo
e pede, portanto, que se adote rapidamente urn protocolo facultativo da Con- A Conferencia Mundial de Direitos Humanos, recordando o Progra-
vençSo contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ma de AçSo Mundial para os Deficientes, aprovado pela Assernbleia GeraJ em
ou Degradantes destinado a estabelecer urn sisterna preventivo de visitas pen- seu 370 perIodo de sessáes, pede a Assembleia Geral e ao Conselho Econrni-
5dicas aos lugares de detençao. co e Social que ern suas reuniôes de 1993 adotern o projeto de normas unifor-
mes sobre a igualdade de oportunidades para os deficientes.

Desaparecimentos forçados C. cooPERAçAo, DESENVOLVIMENTO E


FORTALECIMF.NTO DOS DIREITOS HUMANOS
A Conferncja Mundial de Direitos Humanos, acolhendo corn satis-
façao a aprovação da Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra A Conferência Mundial de Direitos Humanos recomenda que se de
os Desaparecimentos Forcados, pede a todos os Estados que adotern eficazes prioridade a adoçSo de medidas nacionais e internacionais corn o firn de pro-
medidas legislativas, administrativas, judiciais e de outras naturezas para im- mover a democracia, o desenvolvirnento e os direitos humanos.

190 191

I
67. Deve insistir-se especialmente nas medidas para ajudar a estabelecer e 70. A Conferéncia Mundial de Direitos Hurnanos pede ao Secret.rio............
fortalecer as instituiçôes que se ocupem de direitos hurnanos, consolidar urna Geral das Naçöes Unidas que apresente Assernbléia Geral das Naçes Uni-.
-
sociedade civil pluralista e proteger os grupos que passaram a ser vulnerveis. das propostas que definam as opcöes para o estabelecirnento, estrutura, mo-
Nesse contexto, reveste particular irnportncia a assistência, prestada a pedi- •
dalidades operacionais e financiarnento do programa proposto. -
do dos governos, para celebrar eieiçôes livres e corn garantias, incluIda a assis-
tência em relac3o corn os aspectos dos direitos humanos das eleiçôes e a infor- WNW0 A Conferência Mundial de Direitos Humanos recomendaque cada
maçâo acerca delas. Igualmente irnportante é a assistncia que deve ser pres-
tada para a consolidacâo do império da lei, a administração de justica e a
prornoço da liberdade de expressâo, assim como para obter a participaco
M I1
Estado considere a possibilidade de elaborar urn piano de açâo nacional no
qual se deterrninern as medi das necess.rias para que esse Estado meihore a
promocão e protecâo dos direitos humanos.
real e efetiva da populacâo nos processos de adoçâo de decisôes.
A Conferência Mundial de Direitos Humanos reafirma que o direito
68. A Conferêncja Mundial de Direitos Humanos ressalta a necessidade universal e ina1ienvel ao desenvolvimento; conforme estabelecido na-Decla--
de reforçar os serviços de assessoramento e assistncia técnica que presta o raçâo sobre o Direito ao Desenvolvimento, deve ser realidade e ser levado i.
Centro de Direitos Hurnanos. 0 Centro deve pr disposiçâo dos Estados prtica. Nesse contexto, a Conferência regozija-se pelo fato de a Comisso de
que a solicitem, assistncia sobre questôes concretas de direitos humanos, Direitos Humanos haja constituldo urn grupo de trabaiho tertiE6sZh?é6
inclusive a preparacão de inforrnes de conformidade corn os tratados de direi- direito ao desenvolvimento e encarece ao Grupo de Trabaiho que, em con-
tos humanos e a apiicaco de pianos coerentes e integrais de ação para-a pro- sulta e cooperacâo comtros
moçâo e proteção dos direitos hurnanos. Serâo elementos desses programas o Unidas, formule sem dernora, para que as examine prontamente a Assern-
fortalecimento das instituiçôes de defesa dos direitos hurnanos e da dernocra- bléia Geral das Naçöes Unidas, medidas gerais e eficazes corn finalidade de
cia, a proteco jurIdica dos direitos humanos, o treinarnento de funcionrios elirninar os obst.culos que se oponham a aplicacão e colocacão em pratica da
e outras pessoas e uma ampla educaço e informaç.o corn a finalidade de Deciaraco sobre o Direito ao Desenvolvimento e recomende rneios para que
promover o respeito aos direitos humanos. todos os Estados desfrutern desse direito.

69. A Conferência Mundial de Direitos Hurnanos recomenda 73. A Conferncia Mundial de Direitos Humanos recomenda que se
-
encarecidamente que se estabeleça urn prograrna global no ârnbito das Na- permita as organizacôes n.o governarnentais e a outras organizacöes de base
çôes Unidas a firn de ajudar os Estados na tarefa de elaborar e reforçar estru- - que atuem na esfera do desenvolvirnento ou dos direitos hurnanos, que de-
turas nacionais adequadas que tenham urn impacto direto na observncia ge- sempenhern urn papel importante a nIvel naciorial e internacional no debate
ral dos direitos humanos e no irnprio da lei. Esse programa, que deve ser e nas atividades que guardem relação corn o direito ao desenvolvimento e sua
coordenado pelo Centro de Direitos Humanos, deverá proporcionar, medi- realizacão e, em colaboracão corn os governos, em todos os aspectos perti-
ante prévia solicitaçâo do governo interessado, a assistncia técnica e finan- nentes da cooperaco para o desenvolvimento.
ceira necessária para projetos nacionais sobre reforma das instituiçôes penais
e correcionajs, formaço e treinamento de advogados, juzes e pessoal das 74. A Conferéncia Mundial de Direitos Humanos encarece aos governos
forças de segurança em matéria de direitos humanos e qualquer outro tipo de e aos organismos e instituiçôes competentes para que aurnentem considera-
atividade que guarde re1aço corn o irnpério da lei. Como pane desse progra- velmente os recursos destinados a fortalecer o ordenarnento jurIdico para a
ma tambérn deverá ser facilitada aos Estados a assisténcia necessária para a protecão dos direitos hurnanos, assim como os recursos destinados its insti-
execuço de pianos de ação destinados a prornover e proteger os direitos hu- tuiçöes nacionais que trabaiham nessa Area. Os que participem na coopera-
manos. ção para o desenvolvimento devern ter presentes as relaçôes mutuarnente corn-

192 193
plementares entre o desenvolvimento, a democracia e os direitos humanos.
sas entre as comunidades e para fomentar a compreensãO mdtua, a tolerancia -.
A cooperacâo deve basear-se no diálogo e na transparência. A Conferncia
e a paz.
pede também que se estabeleçam programas amplos, inclusive bancos de da-
dos e pessoal especializado, para o fonalecimento do império da lei e das 79. Os Estados devem tratar de eliminar o analfabetismo e devem ri
-
lnstituiçôes democrticas. -.
tar educaço para o pleno desenvolvimento da personalidade hurnana.epara.
a
-
o fortalecimento do respeito dos direitos humãnos e liberdades fundamen
A Conferncja Mundial de Direitos Humanos incentiva a Comissão
tais. A Conferncia Mundial de Direitos Hurnanos pede a todos os Estados e
de Direitos Humanos para que, em colaboraçâo corn o Comité de Direitos instituiçôes que incluam os direitos humanos, a direito humanithrio, a demo-
Econdmjcos, Sociais e Culturais, continue examinando protocolos facultati-
cracia e a império da lei como temas dos prograrnas de estudo de todas as
vos do Pacto Internacional de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais.
instituiçôes de ensino acadmicO e no acadêmico.

A Conferncia Mundial de Direitos Hunianos recomenda que se - 80. A educaço em matéria de direitos humanos deve abranger a--pa-z,-a
-
proporcionem mais recusos para estabelecer ou fonalecer acordos regionais democracia, o desenvolvimento e a justica social, tal como se dispöe nos ins-
de promoção e proteção dos direitos humanos como pane dos programas de
trurnentos jnternacionais e regionais de direitos hurnanos, a fim de conquis-
seiços de assessoramento e assistência técnica do Centro de Direitos Hurna-
tar a cornpreenso e a sensibilidade de todos acerca dos direitos huthnöóth
nos. Deve-se incentivar as Estados no sentido de que solicitem assistncja
para atividades de nIvel regional e sub-regional tais corno mesas-redondas, a finalidade de consolidar a vontade de obter sua aplicacão a n{vel universal.
- -

sem1nrios e intercmbio de informaço destinados a reforçar os acordos regio- 81. Levando em conta a Plano de Açâo Mundial para a Educaçâo Volta-
nais de promoçâo e proteço dos direitos humanos, de conforrnidade corn as
-
da para as direitos humanos e dernocracia, adotado em marco de 1993 pelo
normas universais de direitos humanos contidas nos instrurnentos internaci- Congresso Internacional sobre a Educaçâo .para as Direitos Humanos e a
onais de direitos humanos.
Democracia Organizacâo
da das Naçöes Unidas para a Educaco, Ciência e
Cultura (UNESCO), e outras instrumentos de direitos humanos, a Confe-
77. A Conferência Mundial de Direitos Hurnanos apoia todas as medi- ______ rncia Mundial de Direitos Humanos recornenda que as Estados elaborem
das adotadas pelas Nacôes Unidas e seus organismos especializados compe- programas e estratégias especificos para ampliar ao maxima o nivel de educa-
tentes para garantir a proteção e promoçâo efetivas dos direitos sindicais, tal
ço e difusão de informaco piib1ica em matéria de direitos hurnanos, tendo
como se estipula no Pacto Internacional de Direitos Econmicos, Sociais e - panicularmente em consideraco as direitos humanos da muiher.
-
Culturais e em outros instrumentos internacionais. A Conferéncia pede a
todos os Estados que cumpram cabalmente as obrigacoes que ihes imponham 82. Os governos, corn a assisténcia de organizacôes jnternacjonais, inSti-
a esse respeito as instrumentos internacionais.
tuiçes nacionais e organizacôes não governamentais, devem fornentar uma
rnaior compreens.o dos direitos hurnanos e da tolerancia mtua. A Confe-

D. EDUCAçAO EM MATEMA DE DIITOS HUMANOS

78. A Conferéncia Mundial de Direitos Humanos considera que a edu-


J réncia Mundial de Direitos Humanos destaca a importância de intensificar a
Campanha Mundial de Jnformaco Pdblica realizada pelas Nacôes Unidas.
Os governos devem empreender e apaiar atividades de educacão em matéria
de direitos humanos e difundir efetivamente informação pdblica sabre essa
questâo. Os pragramas de seiços de assessoramenta e assistêflcia tecnica do
caçâo, a treinamento e a informaço pb1ica em matéria de direitos humanos sisterna dos Estados relacionados cam as Naçöes Unidas devem poder aten-
são indispensavejs para estabelecer e promaver relaçôes estaveis e harmonjo-
der irnediatamente as solicitaçôes de atjvidades educacionais e de forrnação no

194 - 195
ME

campo dos direitos humanos assim como de educaçao especial no que respei- tes desses 6rgos e as reuniöes dos Estados Partes que
ta as medidas para coordenar as mi'iltiplas normas e diretrizes aplic.veis para a
normas contidas nos instrumentos internacjonajs de direitos humanos e
de direito humanitárjo, e ainda a sua aplicaçâo, destinada a grupos especiais, preparaco dos informes que os Estados devem apresentar em virtude das
como forças militares, forças da ordem, policia e pessoal de saiide. Deve respectivas convençöes de direitos humanos, e estudem a sugesto de que se
considerar-se a possibilidade de proclamar urn decênio das Naçôes Unidas apresente urn informe global sobre as obrigacôes assumidas por cada Estdo
para a educacao em matria de direitos humanos corn a finalidade de promo- Parte em urn tratado, o que faria corn queesses procedirnentos fossen -mais- 1
ver, incentivar e orientar essas atividades educacionajs.. eficazes e aurnentaria sua repercussâo.

A Conferncia Mundial de Direitos Hurnanos recornenda que os


E. APL]ICAcAO E METODOS DE INSPEcAO Estados Partes em instrurnentos internacionais de direitos hurnanos, aAs-
sembléia Geral e o Conselho Econmico e Social considerem a possibilidade
A Conferncja Mundial de Direitos Hum-anos insiste junto aos go- de analisar os organismos criados em -virtude de tratados de direitoshtmanc.
vernos que incorporem em sua legislaçao nacional as normas contidas nos e os diversos mecanismos e procedimentos tematicos corn vistas a promover
instrumentos internacjonajs de direitos humanos e que reforcem os drgãos da urna major eficacia med jante uma melhor coordenação dos diversos drg.os,
sociedade, as estruturas e as instituiçôes nacionais que desempenhem uma mecanisrnos e procedimentos, tendo em conta a necessidadede evitar--a
funco na promoço e salvaguarda dos direitos humanos. duplicidade e superposico de seus mandatos e tarefas.

A Conferncja Mundial de Direitos Humanos recomenda que se A Conferência Mundial de Direitos Humanos recomenda que se
reforcem as atividades e os programas das Naçôes Unidas destinados a aten- leve a cabo urn trabaiho continuo de meihora do funcionamento, inclusive
der as solicitaçôes de assistência de parte dos Estados que desejem criar ou das tarefas de supervisão, dos drgOs criados em virtude de tratados, tendo em
fortalecer suas prdprias instituiçôes nacionais de promoção e proteçâo dos conta as mdltiplas propostas forrnuladas a esse respeito, em particular, as
direitos hurnanos. desses drgãos e as das reuniôes de seus presidentes. Também deve-se incenti-
var os 6rgos criados em virtude de tratados para que facam seu o amplo
A Conferncja Mundjal de Direitos Humanos incentiva além disso enfoque nacional adotado pelo Comitê dos Direitos da Criança.
que se intensifique a cooperacao entre as instituiçôes nacionais de promocâo
e proteçâo dos direitos hurnanos, em particular através do intercmbjo de 90 A Conferencia Mundial de Direitos Humanos recomenda que os
informacao e de experincias, assirn corno a cooperaco corn as organizaçôes Estados Partes nos tratados de direitos humanos estudem a possibilidade de
regionais e corn as Naçôes Unidas. aceitar todos os procedirnentos facultativos para a apresentacâo e exame de
cOrnunicaçOeS.
A Conferncja Mundjal de Dire itos Humanos recornenda
encarecidamente a esse respeito que os representantes das instituiçôes nacio- A Conferência Mundial de Direitos Humanos ve^ corn preocupacâo a
nais de promoçâo e proteção dos direitos hurnanos convoquern reuniôes pe- questão da irnpunidade dos autores de violaçöes dos direitos hurnanos e apoia
riddicas auspiciadas pelo Centro de Direitos Hurnanos a fim de exarninar os os esforcos da Cornisso de Direitos Hurnanos e da Subcomissâo de Preven-
meios de meihorar seus rnecanisrnos e compartilhar experincias. ção de Discriminacôes e Protecâo das Minorias para examinar todos os aspec-
tos da questão.
A Conferncja Mundial de Direitos Humanos recornenda aos drgâos
criados em virtude de tratados de direitos humanos, as A Conferéncia Mundial de Direitos Hurnanos recornenda que a Go-
reuniôes de presiden-
missâo de Direitos Humanos examine a possibilidade de urna rnelhor aplica-

196 197
ção a nIvel regional e internacional dos instrurnentos de direitos humanos e dos mecanismos de direitos humanos, de conformidade corn a Carta das
existentes, e incentiva a Cornissão de Direito Internacional a continuar seus Naçôes Unidas.
trabalhos relativos a urn tribunal penal internacional.
98 Para fortalecer o desfrute dos direitos econornicos, sociais e cultu
A Conferência Mundial de Direitos Humanos faz urn chamamento rais deveriam ser examinados outros metodos como urn sistema de indiâ
aos Estados que ainda nâo o tenharn feito para que manifestem adesão as dores para medir os progressos para a concretiz-acão dos direitos.enuncidos-_J
Convençôes de Genebra de 12 de agosto de 1949 e seus Protocolos e adotem no Pacto Internacional de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais. Dve -
todas as medidas apropriadas ern nIvel interno, incluldas rnedidas legislativas, ser feito urn esforco consensual para garantir o reconhecimento dos diretos
para obter sua plena aplicaço. ecOnmicOS, sociais e culturais em five1 nacional, regional e internaciOflal.

A Conferncia Mundial de Direitos Humanos recomenda a rpida


finalizaçâo e aprovaço do projeto de declaração sobre o direito e o dever dos 4' F. ATIVIDADES COMPLEMENTARES ......

indivIduos, dos grupos e das instituiçôes de prornover e proteger os direitos DA CONFERENCIA MUNDIAL
humanos e liberdades fundarnentajs universalmente reconhecjdos.
A Conferência Mundial de Direitos Humanos recornendaquea-As-------
A Conferncia Mundial de Direitos Hurnanos ressalta a importncia sernblia Geral, a Cornissão de Direitos Hurnanos e outros drgãos e agncias
de preservar e fortalecer o sistema de procedirnentos especiais, relatores, re- dos direitos humanos estudem
do
presentantes, peritos e grupos de trabaiho da Comissâo de Direitos Huma- os rneios de obter a plena aplicacão, scm protelacôes, das recomendacôes con-
nos, assim como da Subcomjsso de Prevençâo de Discriminaçoes e Proteçâo tidas na presente Dec1araç.o, em particular a possibilidade de proclamar urn
das Minorias, a fim de que possarn cumprir seus mandatos ern todos os paIses decênio das Naçöes Unidas para os direitos hurnanos. A Conferncia reco-
do rnundo, proporcionando4hes os recursos humanos e financeiros que se- menda alm disso que a Cornissgo de Direitos Humanos examine a cada ano
jam necessrios. Esses procedirnentos e mecanismos deveriam poder harmo- os progressos verificados.
nizar e racionalizar seu trabaiho por meio de reuniôes peri6dicas. Pede-se a
todos os Estados que cooperern plenamente corn esses procedimentos e me- A Conferncia Mundial de Direitos Hurnanos pede ao Secretrio
canismos. Geral das Naçöes Unidas que, por ocasiâO do 50 0 aniversrio da Declaracão
Universal de Direitos Humanos, convide todos os Estados e todos os órgãos
A Conferência Mundial de Direitos Humanos recomenda que as e organisrnos do sistema das Naçöes Unidas que se ocupern dos direitos hu-
Naçôes Unidas assurnarn urn papel rnais ativo na promoçâo e proteçâo dos manos, que ihe inforrnern sobre os progressos verificados na aplicaco da
direitos hurnanos para assegurar o pleno respeito do direito humanitrio in- presente Declaracão e que, atravs da Cornisso de Direitos Humanos e do
ternacional em todas as situaçôes de conflito armado, de conformidade corn Conseiho Econmico e Social, apresentem urn relat6rio a Assemblia Geral
os propdsitos e principios da Carta das Naçôes Unidas. em seu qüinqüagsimo terceiro periodo de sessôes. Outrossirn, as institui-
çôes regionais e, quando for o caso, as instituiçôes nacionais de direitos hu-
A Conferêncja Mundial de Direitos Humanos, reconhecendo a irn- manos, bern como as organizacôes no governamentais, poderão apresentar
portante funçao que cumprem os ativistas de direitos humanos de determina- ao Secretario Geral das Naçáes Unidas suas opinies acerca dos progressos
dos acordos relativos a Operaçôes das Naçöes Unidas de rnanutenção da paz, verificados na aplicacão da presente Declaração. Deve ser prestada especial
recornenda que o Secretirio Geral tome em consideração a apresentação de atençào avaliacSo dos progressos obtidos pra alcançar a meta da ratificaco
informes, a experiência e os conhecimentos do Centro de Direitos Hurnanos universal dos tratados e protocolos internacionais de direitos humanos apro-
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198 199
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SOLER, Sebastian (Jurists e Penalista argentino) ; Temas Anuhberales -Marxzstasy Diccusion traducao do russo parp
Autoritarios; Editora Sur, Buenos Aires, 1977; 182 pãginas ; 182 pginas; 176 pagmas.
--::
SOUZA, An Herculano; OsDireitosHusnanos; coleção Visão do Mundo para estu-
dantes de 1 0 e2° graus, Editora do Braid, São Paulo, 1989;
SPENCER, Herbert (tednico ingles do século XIX); Ellndividuo contra elEstado;
original inglés de 1884. traduçho para o espanhol, Ediciones Jucar, Madri, 1977;
128 páginas;
*
STUMM, Raquel Denize (Professora de Direito Constitucional e Internacional Pu-
blico na UNISINOS de São Leopoldo, RS); Princi'pio da Proporcionalidade no
Direito Constitucional Brasileiro; Editors Livraria do Advogado, Porto Alegre,
1995; 184 phg.;
SWINARSKI, Christophe (Jurista suiço, membro do Comité Internacional da Cruz
Vernielha, Doutor em Direito; Professor no Instituto Interamericano de Direitos
Humanos); Direito Internacional Husnanita'rio cosno Sisteina de Proteçao Interna-

211
210
PERJODICOS REFERENCIADOS

Correzo do Povo, jornal diãrio, editado pela Empresa Caldas Jr., em Porto Alegre,
RS;
* Diogenes, Revista Internacional de Cincias Hurnanas, da Fundacão Universidade
de Brasilia;
EstudosJurIdzcos, revista quatrimestral do Centro de Cincias Juridicas da Universi-
dade do Vale do Rio dos Sinos, Editora Unisinos, São Leopoldo, RS;
° Folha de São Paulo, jornal diârio, editado em São Paulo, Capital;
° IIDH, revista publicada semestrairnente em espanhol pelo Instituto Interarnericano
de Derechos 1-Jumanos, em São Joal da Costa Rica;
"Isto E, revista semanal, editada pela Editora Trãs, em São Paulo, Capital;
°Journal, hrgão da APT-Association pour Ia Prvention de la Torture, publicado em
inglês, espanhol e franuls, em Genebra, Suiça;
° Lua Nova, revista quadrimestral de cultura e politica do Centro de Estudos de
Cultura Contempornea-CEDEC, corn apoio do CNPq; São Paulo, SP;
Veja, revista semanal, editada pela Editora Abril, em São Paulo, Capital;
Zero Hora, jornal diãrio editado pelo Grupo RBS, em Porto Alegre, RS.

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OUTROS LIVROS DE NOSSA EDIcA0

Alcantara Nogueira (Prof. da Univers. do Ceará)


Podere 1-lumanismo (Humanismo em Espinoza, em Feuerbach. em K. Marx)
Vandyck NObrega de AraOjo (Prof. daUnivers. Federal de PE)
Fundamentos Aristotélicos do Direito Natural
André-Jean Arnaud(Diretor do International Institut for the Sociology of Law)
0 Direito Traido pela Filosofia
Plauto Faraco de Azevedo (Prof. da L1nivers. Federal do RS)
Justiça Distributiva e Aplicaço do Direito
Nilson Borges F°(Prof. daUF.SC) Org.
Direito, Estado, PolItica e Sociedade em Transformação
Raulino J. Bruning (Prof. da Univers. Regional de Blumenau)
o Controle dos Atos Administrativos pelo Ministério PUblico
LuIs Fernando Coelho (Prof. da Univers. Federal do PR)
Teoria CrItica do Direito
Oscar Correas (Prof. da UNAM-México)
Critica da Ideologia Ju rIdica
José Eduardo Faria (Prof. da Univers. de SP)
A Crise Constitucional e a Restauração da Legitimidade
Tarso Genro (Advogado)
lntrodução Critica ao Direito
Clóvis Souto Goulart(Prof. da UFSC)
Formas e Sistemas de Governo
H. L.A. Hart (Prof. da Univers. deOxford)
Direito,Liberdade, Moralidade
J. B. Herkenhoff(Prof. da Univers. Federal do Espirito Santo)
o Direito dos COd igos e o Direito da Vida
Francisco Muller (Prof. da Univers. de Heidelberg)
Direito, Linguagem, Violéncia - Elernentos para urna teoria constitucional
Gizlene Neder (Prof' da Unviers. Federal Fluminense)
Violência & Cidadania ISBN 85-88278.89-8
Jul iana Santill i (Advogada, Assessora do NDI), Org.
Os Direitos lndIgenas e a Constituição
Cláudio Souto (Prof. da Univers. Federal de PE)
Ciência e Etica no Direito - Uma Alternativa de Modernidade
9 1
1 8

Antonio A. Cancado Trindade (Prof. Titular da Univers. de Brasilia)

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