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DIREITOS HUMANOS

@dicasexconcurseira 1
MÓDULO I

Aula Introdutória.............................................................................................................................................................................05

Aula 01 – Teoria geral dos direitos humanos: conceito, terminologia, estrutura normativa e fundamentação dos direitos
humanos...........................................................................................................................................................................................05

Aula 02 - Teoria geral dos direitos humanos: fontes, classificação, princípios de interpretação dos tratados de direitos humanos
e características dos direitos humanos no Direito Internacional......................................................................................................08

Aula 03 - Teoria geral dos direitos humanos: evolução histórica dos direitos humanos, antecedentes do Direito Internacional dos
Direitos Humanos e os três eixos da proteção internacional dos direitos humanos........................................................................13

Aula 04 - Introdução aos sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos.....................................................................19

Aula 05 - A evolução histórica, arquitetura normativa e estrutura da Organização das Nações Unidas (ONU)...............................22

Aula 06: Sistema global de proteção dos direitos humanos: mecanismos convencionais e extraconvencionais de proteção dos
direitos humanos...............................................................................................................................................................................27

Aula 07: Principais aspectos da Declaração Universal dos Direitos Humanos..................................................................................35

Aula 08: Principais aspectos do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e seus dois protocolos facultativos................41

Aula 09: Principais aspectos do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu protocolo facultativo..46

Aula 10: Principais aspectos dos tratados temáticos/especiais do sistema global (discriminação racial, mulheres, tortura,
crianças, etc) ....................................................................................................................................................................................49

Aula 11: Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos: evolução história e surgimento dos subsistemas da OEA e
da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH) .............................................................................................................56

Aula 12: Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos..............60

Aula 13: A Corte Interamericana de Direitos Humanos....................................................................................................................68

Aula 14: Jurisdição consultiva da Corte Interamericana de Direitos Humanos................................................................................75

Aula 15: Jurisdição contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos.............................................................................83

Aula 16: O processo de apuração de responsabilidade internacional do Estado na Comissão Interamericana de Direitos
Humanos...........................................................................................................................................................................................86

Aula 17: Medidas de urgência no sistema interamericano...............................................................................................................93

Aula 18: Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos: Direitos humanos e acesso à justiça, 100 Regras de Brasília,
valorização da Defensoria Pública pela OEA e Defensoria Pública Interamericana..........................................................................97

Aula 19: Sistema europeu de proteção dos direitos humanos.......................................................................................................104

Aula 20: Sistema africano de proteção dos direitos humanos e a proteção dos direitos humanos na Ásia e nos países árabes...107

Aula 21: Tribunal Penal Internacional (TPI) ....................................................................................................................................109

Aula 22: Controle de Convencioanlidade........................................................................................................................................125

Aula 23: Direitos humanos na CF/88: federalização de crimes contra os direitos humanos, processo de incorporação dos tratados
internacionais de direitos humanos e hierarquia normativa desses tratados................................................................................128

Aula 24: Política Nacional de Direitos Humanos, Programas Nacionais de Direitos Humanos, Conselho Nacional de Direitos
Humanos e Instituição Nacional de Direitos Humanos de acordo com os Princípios de Paris........................................................136
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Aula 25: Formas de reparação e execução de decisões oriundas de tribunais internacionais de direitos humanos no Brasil......140

Aula 26: Direitos humanos dos grupos vulneráveis........................................................................................................................146

MÓDULO II

Aula 01: Casos contra o Brasil no sistema interamericano e no sistema global de proteção de direitos humanos......................158

Aula 02: Opiniões Consultivas mais importantes da Corte Interamericana de Direitos Humanos................................................166

Aula 03: Casos mais importantes da Corte Interamericana de Direitos Humanos........................................................................198

Aula 04: Decisões do Tribunal Penal Internacional........................................................................................................................204

EXTRAS

Revisão Final DPE/SP

Aula 01: Teoria geral dos direitos humanos. Fontes, classificação, princípios e características do DIDH. Interpretação das normas
de direitos humanos. Suspensão e restrição de direitos humanos e suas limitações pelo DIDH...................................................206

Aula 02: Direitos humanos em espécie. Declarações, tratados/convenções e seus protocolos relativos a direitos humanos da
ONU (sistema global) e da OEA (sistema interamericano. Processo internacional de direitos humanos.......................................211

Aula 03: Direitos humanos e desenvolvimento. Metas de desenvolvimento do Milênio. Agenda 2030 da ONU e objetivos de
desenvolvimento sustentável. Investimentos internacionais de direitos humanos. Informe da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos sobre Pobreza e Direitos Humanos nas Américas.............................................................................................216

Direitos humanos e empresas. Vinculação de particulares a normas e standards internacionais de direitos humanos. Princípios
Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos das Nações Unidas (Princípios Ruggie). Obrigações de proteger, respeitar e
reparar.

Direito Internacional dos Refugiados. Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados. Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados

Aula 04: Direitos Humanos e ordenamento jurídico brasileiro. Incorporação de tratados internacionais de proteção dos direitos
humanos ao Direito brasileiro. Posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos humanos no Direito interno e teorias
subjacentes. Execução de decisões oriundas de órgãos internacionais de direitos humanos no Brasil. Diálogo das Cortes.
Controle de convencionalidade. Direitos humanos e acesso à justiça............................................................................................220

Revisão Final DPE/MG

Aula 01: Os fundamentos filosóficos dos direitos humanos + A evolução histórica dos direitos humanos + Classificação +
Princípios ou características............................................................................................................................................................223

Aula 02: Princípios de interpretação dos tratados + Sistema global de proteção dos direitos humanos.......................................225

Aula 03: Sistema global de proteção dos direitos humanos...........................................................................................................226

Aula 04: Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos + Incorporação dos tratados internacionais de proteção dos
direitos humanos ao direito brasileiro + Posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos humanos + A execução das
decisões oriundas de tribunais internacionais de direitos humanos no Brasil + Controle de convencionalidade..........................230

Aula 05: Direitos humanos e acesso à justiça: Defensoria Pública Interamericana........................................................................234

Aula 06: Revisão de jurisprudência internacional de Direitos Humanos: 20 dicas.........................................................................238

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Revisão Final DP/DF

Aula 01: Os fundamentos filosóficos dos direitos humanos; A evolução histórica dos direitos humanos; Classificação; Princípios
ou características.............................................................................................................................................................................241

Aula 02: Federalização dos crimes contra os direitos humanos; A incorporação dos tratados internacionais de proteção de
direitos humanos ao direito brasileiro; A posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos humanos em face da CF;
Formação e estrutura do sistema global.........................................................................................................................................243

Aula 03: Declaração Universal de Direitos Humanos; Aspectos relevantes de tratados do sistema global; Formação e estrutura do
sistema interamericano; Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH); Corte Interamericana de Direitos Humanos...245

Aula 04: Defensores Interamericanos; Tratados do sistema interamericano mencionados no edital; O controle de
convencionalidade; A execução de decisões oriundas de tribunais internacionais de direitos humanos no Brasil.......................250

Pessoal, este material foi feito com base no Curso de Direitos Humanos do Prof. Caio Paiva, do curso CEI, do ano de 2019. Foi
copiado integralmente o material de aula que o professor disponibilizou aos alunos e acrescentados alguns comentários
pessoais, tabelinhas e esqueminhas. As partes que eu colori são as mais importantes!

Na parte “EXTRAS” (Revisão DPE/SP, Revisão DPE/MG e Revisão DP/DF), foi apenas copiado e colado o material que o professor
disponibilizou na plataforma do aluno.

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MÓDULO I

Aula Introdutória

Bibliografia

1. Trilogia do Prof. André Carvalho Ramos – são os livros: Teoria Geral dos Direitos Humanos na ordem jurídica internacional;
Curso de Direitos Humanos; e Processo Internacional de Direitos Humanos.

2. Curso de Direitos Humanos, de Aline Albuquerque e Alessia Barroso.

3. Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos, do Prof. Caio Paiva.

Aula 01
Teoria Geral dos Direitos Humanos: conceito, terminologia, estrutura normativa e fundamentação dos direitos humanos

Conceito

O professor Caio Paiva identifica duas técnicas para conceituar os “direitos humanos”.
A primeira técnica é generalista, a qual não diferencia os “direitos humanos” dos “direitos fundamentais”. Para a
técnica generalista, os direitos humanos seriam o conjunto de normas essenciais para consecução de uma vida digna,
independentemente de qualquer condição.
Para a técnica específica – adotada pelo prof. Caio Paiva -, deve-se diferenciar os “direitos humanos” dos “direitos
fundamentais”, seja porque os mecanismos de proteção são diferentes, seja porque o direito internacional dos direitos
humanos é um ramo autônomo frente ao direito constitucional. Para a técnica específica, portanto, os direitos humanos seriam
apenas aqueles direitos também essenciais para a consecução de uma vida digna, porém previstos em documentos
internacionais de proteção.

Conceito de direitos humanos adotado pelo prof. Caio Paiva: direitos humanos são o conjunto de direitos previstos em
instrumentos internacionais* que proporcionam a todos os seres, independentemente de qualquer condição*, a base essencial*
para que tenham uma vida digna e para que se protejam contra violações praticadas ou toleradas pelo Estado*.

Destrinchando o conceito do prof. Caio Paiva:


* filiação à técnica específica;
* os direitos humanos são incondicionais: independem de raça, etnia, gênero;
* “a base essencial”: nem todo direito que é essencial para a pessoa é um direito humano; mas apenas a base essencial, o
mínimo. Por isso, veremos que há uma diferença entre a expansão dos direitos fundamentais e dos direitos humanos.
PERGUNTA DE PROVA – Qual é a proteção mais ampla: a dos direitos humanos ou dos direitos fundamentais? Veremos isso
daqui a pouco.
* Quando um cidadão pratica um crime de homicídio contra outrem, nós não temos uma violação de direitos humanos. Haverá
violação a direitos humanos se, nesse mesmo exemplo, um agente do Estado mata um civil.

Terminologias

É comum, nesta parte introdutória, os livros fazerem uma comparação entre a expressão “direitos humanos” e outras
expressões que apareceram na história da proteção dos direitos mais essenciais à vida humana.
A expressão “direitos fundamentais” surgiu no contexto da proteção nacional dos direitos humanos (enquanto “direitos
humanos” se refere à proteção internacional).
A expressão “direitos do homem”, que constava em algumas declarações, como a Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão da França de 1889, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem de Bogotá de 1948 e ainda consta na
Convenção Europeia de Direitos do Homem de 1950. Após a Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH), que será objeto
de aula específica, a expressão “direitos do homem” foi evitada, pois ela revelaria uma feição sexista ou de violação de gênero,
que excluía os direitos das mulheres.
As expressões “liberdades públicas” e “liberdades fundamentais” são mais utilizadas pela doutrina francesa, que
prioriza os direitos de primeira geração.
A expressão “direitos humanos fundamentais” segue a técnica generalista de conceituação dos “direitos humanos”.

A doutrina e a jurisprudência não obedecem a um rigor metodológico ao se referir aos “direitos humanos”. É
perfeitamente possível encontrar as expressões “direitos fundamentais” e “direitos humanos fundamentais” em tratados
internacionais de direitos humanos. Assim como também às vezes usamos a expressão “direitos humanos” para nos referir à
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proteção nacional dos direitos fundamentais. Não há, na estrutura nacional de proteção dos direitos humanos, um “Ministério
dos Direitos Fundamentais”, mas sim um “Ministério de Direitos Humanos”. Não há, no Congresso Nacional, uma Comissão de
Estudos dos Direitos Fundamentais, mas sim uma Comissão Temática de Direitos Humanos.
Aqui, como estamos em curso, é necessário fazer essa diferenciação.

Bem, mas retomando àquela pergunta... Qual proteção é a mais ampla: a dos direitos humanos ou dos direitos
fundamentais? Caio Paiva recomenda a busca, no google, de um texto do prof. Ingo Sarlet onde o autor diferencia os direitos
humanos dos direitos fundamentais e aborda justamente essa questão da amplitude da proteção. Se nós analisarmos essa
pergunta sob o ponto de vista territorial, não há a menor dúvida de que a proteção mais ampla é a dos direitos humanos. No
entanto, no caráter material, a proteção dos direitos fundamentais é mais ampla que a dos direitos humanos, especialmente no
Brasil, porque temos uma Constituição prolixa.

Fundamentação dos direitos humanos

Quando nós falamos em “fundamentação”, estamos buscando uma fonte legitimadora dos direitos humanos. Há
diversas teorias que tentam fundamentar a existência dos direitos humanos – muitas delas com vários sub-ramos. Para os fins
deste curso, iremos focas nas principais teorias, que são 3: negacionista, jusnaturalista e positivista.

1. Teoria negacionista: nega qualquer possibilidade de se encontrar um fundamento para os direitos humanos. Prega que é
impossível encontrar um fundamento único ou absoluto para os direitos humanos, e isso basicamente em razão de 3 motivos:
i. vagueza da expressão “direitos humanos” (pois não há um consenso do que são efetivamente os direitos humanos);
ii. variação do conteúdo/catálogo dos direitos humanos; e
iii. heterogeneidade (cada região do globo terrestre prestigia um determinado bloco de direitos humanos). O principal
defensor dessa teoria é o jusfilósofo Noberto Bobbio, que disse “o problema mais grave do nosso tempo com relação
aos direitos humanos não é mais o de fundamentá-los e, sim, o de protegê-los”.

2. Teoria jusnaturalista: para esta teoria, o ser humano possui direitos naturais, anteriores e superiores ao Estado. Divide-se em
duas vertentes:
i. Escola de Direito Natural de Razão Divina: os direitos humanos vêm de Deus;
ii. Escola de Direito Natural Moderno: os direitos humanos são inerentes à condição do ser humano (OBS: quando a
Declaração Universal diz que o ser humano nasce portando direitos e deve ser livre e ter dignidade, ela está se valendo da Escola
de Direito Natural Moderno).
Há alguns pontos frágeis da teoria jusnaturalista:
i. impossibilidade de comprovação empírica ou teórica dos direitos naturais, pois é absolutamente impossível
comprovar o que diz qualquer uma dessas Escolas supracitadas.
ii. dificuldade em explicar a imutabilidade dos direitos naturais em razão da constante alteração do conteúdo dos
direitos essenciais ao indivíduo no decorrer dos séculos.

3. Teoria positivista: a fundamentação dos direitos humanos somente pode ser encontrada nos documentos internacionais de
proteção (tratados, convenções, declarações, normas de natureza soft law, etc).
Há algumas críticas à teoria positivista, dentre elas a dificuldade de promover a observância da proteção dos direitos
humanos em Estados que tenham se recusado a assinar, ratificar e incorporar à ordem jurídica interna os tratados que os
preveem.

QUESTÕES

Sobre o conceito de direitos humanos, julgue os dois itens a seguir:

1. Conforme o entendimento majoritário na doutrina, as expressões direitos humanos e direitos fundamentais devem ser
consideradas sinônimas.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. Para Paulo Bonavides, os direitos decorrentes da globalização política (democracia, informação, pluralismo etc.) são de quarta
geração.

( ) CERTO ( ) ERRADO

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3. Karel Vasak é considerado o principal expoente da teoria negacionista, segundo a qual é impossível encontrar um
fundamento único ou absoluto para os direitos humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Critica-se a teoria jusnaturalista pela sua dificuldade em explicar a imutabilidade dos direitos naturais em razão da constante
alteração do conteúdo dos direitos essenciais ao indivíduo ao longo dos séculos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 ERRADO
3 ERRADO
4 CERTO

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Aula 02
Teoria geral dos direitos humanos: fontes, classificação, princípios de interpretação dos tratados de direitos humanos e
características dos direitos humanos no Direito Internacional

Fontes

É um assunto mais próximo do direito internacional público do que especificamente dos direitos humanos. Nossa
abordagem, aqui, será muito objetiva, pois não vale a pena o aprofundamento.
Quando falamos em “fontes dos direitos humanos”, estamos perguntando “de onde os direitos humanos vêm?” ou
“como nascem os direitos humanos?”.
O estudo a respeito das fontes dos direitos humanos é encontrado no Estatuto da Corte Internacional de Justiça. As
fontes dos direitos humanos são as mesmas fontes do direito internacional público.

Estatuto da Corte Internacional de Justiça


Artigo 38
A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará:
a. as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados
litigantes;
b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito;
c. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;
d. sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes
nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito.

Neste artigo 38, encontramos:


1. Fontes primárias: convenções internacionais, costume internacional e os princípios gerais do direito;
2. Fontes secundárias: decisões judiciais (jurisprudência internacional) e doutrina.

OBS: não há hierarquia entre as fontes.

a. Convenções/tratados internacionais: é a fonte mais segura do direito internacional.

Vejamos o conceito de “tratado” trazido pela Convenção de Viena:

Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados


Artigo 2
Expressões Empregadas
1. Para os fins da presente Convenção:
a)“tratado” significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste
de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica*;

* Pois o nome “tratado” não é a única expressão utilizada para designar um instrumento internacional de natureza vinculante.
Também se utilizada, além de “tratado”, o termo “convenção”. Em outras ocasiões, também se utiliza a expressão “protocolo”,
que também designa um tratado internacional de natureza vinculante. No entanto, o termo “protocolo” tem sido utilizado para
expressar um documento adiciona, ou seja, um tratado anexo a um tratado. Outra expressão que também designa um tratado de
natureza vinculante é “pacto”. Assim, são termos equivalentes a “tratados” e que também possuem natureza vinculante:
convenção, protocolo e pacto.

OBS: o termo “declaração” tem sido utilizado para designar um documento internacional SEM força vinculante (documento soft
law). Exs: a Declaração Universal e a Declaração dos Direitos e Deveres do Homem.

PERGUNTA DE PROVA: O que significa o regime objetivo dos tratados internacionais de direitos humanos? Significa que os tratados
internacionais de direitos humanos não contam com um caráter sinalagmático dos tratados ordinários do direito internacional,
ou seja, não há um acordo de vontades entre os Estados contratantes. O país/Estado quando adere a um tratado internacional de
direitos humanos, contrai algumas obrigações, mas não passa a ter nenhum benefício subjetivo, por isso não há um caráter
subjetivo nos tratados internacionais de direitos humanos (TIDH), mas, sim, um regime objetivo.

b. Costume internacional: prática generalizada dos Estados aceita como sendo de direito (artigo 38 do Estatuto da Corte
Internacional de Justiça).

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A partir deste conceito, podemos dividi-lo em dois elementos:
1º - Elemento objetivo: “prática generalizada”
2º - Elemento subjetivo: crença de essa prática é obrigatória.

OBS: o costume internacional não precisa ser internalizado através de um rito formal (como ocorre com os tratados).

PERGUNTA DE PROVA: Existe a possibilidade de o Estado não obedecer a um costume internacional? Em regra, sim. Há um
conceito no direito internacional e no direito internacional dos direitos humanos que diz que o objetor persistente (o Estado, na
ordem jurídica internacional, quando se opõe explicitamente e reiteradamente no processo de formação daquele costume
internacional) pode – segundo a doutrina majoritária e a jurisprudência internacional majoritária -, no futuro, descumprir aquele
costume internacional, porque ele foi um Estado objeto persistente.
Porém, é indutivo que há um núcleo intangível do costume internacional que o Estado, enquanto objetor persistente,
não pode desobedecer – e que diz respeito justamente às normas de jus cogens. As normas de jus cogens são consideradas uma
subcategoria do direito consuetudinário. Explicando: existem as normas do costume internacional (também chamadas de
normas consuetudinárias) e dentro dessas normas (que já são muito relevantes), há uma categoria com um núcleo ainda mais
poderoso, que são as chamadas normas de jus cogens, normas imperativas. Quanto a essas normas, nenhum Estado pode
desobedecer. Não existe um catálogo explícito de quais sejam as normas de jus cogens. Estas são resultado de decisões judiciais
constantes. Exemplo de norma de jus cogens: o direito de não ser torturado. A Corte Interamericana já chegou a reconhecer,
inclusive, o acesso à justiça pelos necessitados como uma norma de jus cogens. Há uma crítica por parte da doutrina, que afirma
que esse rol de normas jus cogens deveria ser melhor especificado.

c. Princípio gerais de Direito: são as normas de caráter mais genérico e abstrato que incorporam as concepções
fundamentais da maioria dos sistemas jurídicos mundiais, sendo exemplos pertinentes ao Direito Internacional dos
Direitos Humanos a proteção da dignidade da pessoa humana, o pacta sunt servanda, a boa-fé, o devido processo legal
etc.

d. Decisões judiciais e doutrina dos publicistas: decisões judiciais são as sentenças, resoluções, recomendações,
comentários gerais, entre outros provimentos emanados de órgãos judiciais ou quase-judiciais internacionais, podendo
compreender também a jurisprudência nacional. A doutrina dos publicistas mais qualificados, naturalmente, não é
qualquer doutrina, mas somente aquela com vocação e reconhecimento internacional, escrita por autor experiente e
academicamente inserido nos mais diversos foros de discussão. No Brasil, pode-se citar a doutrina de Antônio Augusto
Cançado Trindade.

Classificações

Há, basicamente, duas principais classificações em matéria de direito internacional de direitos humanos, quais sejam:

1. A classificação dos direitos humanos em gerações/dimensões: proposta, incialmente, por um jurista


internacionalmente conhecida – Karel Vasak, em Conferência proferia no Instituto Internacional de Direitos Humanos
de Estrasburgo, Francça, em 1979. Nessa Conferência, Karel Vasak, inspirado nos ideiais da revolução francesa,
classificou os direitos humanos em 3 gerações:
1ª Geração: direitos de liberdade. Exigem uma prestação negativa por parte do Estado. Ex: direito à vida;
2 Geração: direitos de igualdade. São os direitos econômicos e sociais de um modo geral.
3ª Geração: direito de fraternidade/solidariedade.

Essa doutrina foi, depois, incorporada por, ao menos, mais duas outras gerações. Para Paulo Bonavides, existiriam a 4ª e 5ª
gerações. Segundo o autor, os direitos de 4ª geração decorreriam da globalização política (exemplo: direito à democracia) e os
direitos de 5ª geração decorreriam do direito à paz (que, na classificação de Vasak, integra a terceira geração).
A classificação dos direitos humanos em gerações recebe diversas críticas da doutrina, sendo essas as principais:
i. transmite a ideia de que uma geração substitui a anterior;
ii. transmite uma ideia equivocada de historicidade das gerações (no Direito Internacional dos Direitos Humanos, por
exemplo, os direitos de segunda geração foram positivados antes dos direitos de primeira geração, nas Convenções
da OIT);
iii. favorece a fragmentação dos direitos humanos, em ofensa à indivisibilidade;
iv. ignora novas interpretações sobre o conteúdo dos direitos (exemplo: os direitos de primeira geração também
exigem prestações positivas dos Estados, não se podendo falar em direito à vida – digna – sem saúde, moradia,
educação etc.).

2. A classificação conforme o Direito internacional de Direitos Humanos: no Direito Internacional dos Direitos Humanos,
principalmente em decorrência do conflito ideológico no contexto da Guerra Fria entre os blocos capitalista e socialista,
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não foi possível a elaboração de um tratado (logo, com natureza vinculante) que protegesse todas as espécies de
direitos humanos. Por isso, os direitos humanos foram classificados – e separados – em dois blocos: de um lado, os
direitos civis e políticos, e de outro, os direitos econômicos, sociais e culturais.

Princípios de interpretação dos tratados de direitos humanos

A Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados (CVDT) apresenta uma regra geral de interpretação dos tratados,
prevendo em seu art. 31.1 que todo tratado deve ser interpretado:
a) de boa-fé;
b) conforme o sentido comum atribuível aos seus termos (interpretação gramatical ou semântica);
c) levando-se em conta o seu contexto (interpretação sistemática); e
d) à luz do seu objetivo e da sua finalidade (interpretação teleológica).
O art. 32 da CVDT ainda prevê meios suplementares de interpretação dos tratados, a fim de confirmar o sentido de suas
disposições, como, por exemplo, o recurso aos trabalhos preparatórios e às circunstâncias de sua conclusão.
A partir da regra geral prevista na CVDT, a doutrina e a jurisprudência (internacional) desenvolveram princípios ou
métodos específicos para interpretação dos tratados de direitos humanos, entre os quais destaco os seguintes:

1. Princípio pro homine ou pro persona. O princípio pro homine ou pro persona – como preferem alguns autores, para
evitar uma distinção de gênero – decorre do regime objetivo ou uniliteral dos tratados de direitos humanos, em que não vigora a
lógica da reciprocidade entre Estados, mas sim a proteção dos direitos da pessoa humana. Por isso, o princípio pro persona
indica que a interpretação dos tratados de direitos humanos deve sempre ter como objetivo a proteção da pessoa.

ATENÇÃO! Como consequência do princípio pro persona, tem-se o subprincípio da primazia da norma mais favorável, seja ela
um produto do direito nacional ou do direito internacional. Outro subprincípio do princípio pro persona é o da máxima
efetividade (também conhecido por effet utile), segundo o qual, deparando-se com duas ou mais interpretações a respeito de
norma prevista em tratado de direitos humanos, o intérprete deve preferir a que mais proteja e efetive os direitos humanos.

2. Princípio da eficácia direta ou da autoexecutoriedade. Os tratados de direitos humanos são autoexecutáveis, de


modo que os Estados não podem alegar a ausência de regulamentação interna para descumpri-los. No Brasil, cito como
exemplo a discussão envolvendo a audiência de custódia, em que um setor expressivo da doutrina e da jurisprudência defendia
que o art. 7.5 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, ao prever que toda pessoa presa deve ser conduzida sem
demora à presença de uma autoridade judicial, para ser aplicado no Brasil, precisaria de regulamentação interna. Essa
interpretação ofende o princípio da eficácia direta ou da autoexecutoriedade dos tratados e felizmente não foi acolhida pelo
STF.

3. Princípio da interpretação autônoma. Os tratados de direitos humanos são produzidos levando-se em conta
distintas realidades nacionais, o que pode fazer com o que o resultado normativo alcance um sentido próprio, nem sempre em
conformidade com o direito interno de determinado país. Por isso, os termos constantes de tratados de direitos humanos
devem ser interpretados de forma autônoma, e não conforme o direito interno.
Ex: a expressão “comprovação legal da culpa”, presente da Convenção Americana – enquanto na CF/88, para se
comprovar definitivamente a culpa, deve-se aguardar o trânsito em julgado, nos tratados internacionais não vemos essa
exigência de se aguardar o trânsito em julgado. Será que o Estado brasileiro pode se aproveitar dessa expressão “comprovação
legal da culpa” para dizer que, no direito brasileiro, ela equivale ao trânsito em julgado? Para Caio Paiva, não. Se o Brasil fizesse
isso, ele não estaria cumprindo o princípio da interpretação autônoma. Quando a Convenção Americana prevê “comprovação
legal da culpa”, houve uma construção de sentido, a partir de todos os Estados que participaram da confecção da Convenção
Americana, de modo que “comprovação legal da culpa” não se confunde com trânsito em julgado, mas sim o respeito ao duplo
grau de jurisdição.
Porém, pode-se ainda afirmar que a necessidade de aguardar o trânsito em julgado é uma norma jurídica mais
favorável à pessoa (princípio pro persona). Ocorre que o princípio pro persona assume uma acepção dinâmica, de modo que, às
vezes, ele pode beneficiar a vítima da violação ao direito humano (ex: a vítima de um crime), mas, em outros momentos, este
princípio pode beneficiar a pessoa acusada de um crime. Caio Paiva entende que este é um tema interessantíssimo: quem é a
persona do princípio pro persona no caso do contexto do processo criminal? É o réu ou é a vítima do crime? Não há uma
resposta 100% clara. E também é um assunto que ainda não foi enfrentado devidamente pela doutrina nem pela jurisprudência
internacional.

4. Princípio da interpretação evolutiva ou dinâmica. Pelo princípio da interpretação evolutiva ou dinâmica, os tratados
de direitos humanos devem ser interpretados de acordo com a realidade e com o sistema jurídico no momento de sua aplicação
(e não, portanto, segundo o que vigorava no momento de sua aprovação). A partir desse princípio, os tribunais internacionais
têm decidido que os tratados de direitos humanos são “instrumentos vivos”.

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5. Teoria da margem de apreciação. Conforme a lição de André de Carvalho Ramos, “Essa tese [da teoria da margem de
apreciação] é baseada na subsidiariedade da jurisdição internacional e prega que determinadas questões polêmicas
relacionadas com as restrições estatais a direitos protegidos devem ser discutidas e dirimidas pelas comunidades nacionais, não
podendo o juiz internacional apreciá-las. Assim, caberia, a princípio, ao próprio Estado estabelecer os limites e as restrições ao
gozo de direitos em face do interesse público” (Teoria Geral..., p. 73). Trata-se de um princípio de interpretação utilizado com
frequência pela Corte Europeia de Direitos Humanos e mais excepcionalmente pela Corte Interamericana.

Características

As características dos direitos humanos não nasceram todas de uma só vez, tendo sido resultado de um processo
histórico – ainda em curso, de afirmação e consolidação dos direitos humanos nos mais diversos ambientes, como, por exemplo,
nas grandes conferências (regionais ou mundiais), na positivação em tratados, na construção doutrinária e jurisprudencial etc.

1. Universalidade. A universalidade dos direitos humanos foi ressaltada na aprovação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948) e posteriormente ratificada nas Conferências Mundiais de Direitos Humanos de Teerã (1968) e de Viena (1993).
A característica da universalidade indica que os direitos humanos constituem uma categoria comum a todas as culturas. O
universalismo recebe a crítica dos adeptos do relativismo cultural, teoria que defende que a concepção de direitos humanos
adotada na Declaração Universal seria ocidental e desconsideraria as diferentes culturas existentes no mundo. Para superar
esse – suposto – embate entre universalismo e relativismo cultural, surgiram algumas propostas filosóficas como a de
Boaventura de Souza Santos (a hermenêutica diatópica) e a de Herrera Flores (o universalismo de chegada ou de confluência).
Boaventura parte da ideia do multiculturalismo e dos valores que devem ser respeitados de cada cultura. Herrera Flores não
nega que os direitos humanos possam alcançar a universalidade, mas afirma que esse universalismo não pode ser de partida, e
sim de chegada, devendo ser construído democraticamente a partir de diálogos construtivos entre as diferentes culturas.

2. Unidade, indivisibilidade e interdependência. Todos os direitos humanos possuem a mesma hierarquia e a dignidade
humana somente é respeitada quando todos os direitos humanos são protegidos. Essas características conjuntas da unidade,
indivisibilidade e interdependência foram ressaltadas nas Conferências Mundiais de Direitos Humanos da ONU em Teerã (1958)
e em Viena (1993).

3. Indisponibilidade ou irrenunciabilidade. O titular não pode dispor do núcleo essencial ou mínimo dos seus direitos humanos.

4. Inalienabilidade. Os direitos humanos não são objetos de comércio.

5. Limitabilidade ou relatividade. A maioria dos direitos humanos pode ser relativizado, como a liberdade de expressão, a
liberdade de locomoção, os direitos políticos etc., havendo, porém, alguns direitos absolutos, como o de não ser torturado ou
escravizado.

6. Abertura ou não tipicidade ou inexauribilidade. Há sempre a possibilidade de surgirem novos direitos humanos, não
havendo, portanto, um catálogo taxativo. Nesse sentido, prevê a Convenção Americana que “Nenhuma disposição desta
Convenção pode ser interpretada no sentido de excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou que
decorrem da forma democrática representativa de governo” (art. 29.c), e a CF, igualmente, dispõe que “Os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte” (art. 5º, §2º).

7. Historicidade. Os direitos humanos resultam de um processo histórico em que, gradativamente, por meio de lutas, foram
sendo conquistados. Essa característica colide com a tese do jusnaturalismo.

8. Imprescritibilidade. A pretensão de respeito aos direitos humanos é imprescritível, mas a pretensão de reparação econômica
do dano pode não ser. Já se consolidou na jurisprudência da Corte Interamericana que quando se tratar de crimes que violam
gravemente os direitos humanos - como crimes de racismo, desaparecimento forçado de pessoas, tortura, contra a dignidade
sexual, etc –, o Estado não pode alegar nenhum obstáculo processual do direito interno para deixar de investigar, processar e, se
for o caso, punir os autores das violações aos direitos humanos.

9. Vedação do retrocesso. Os direitos humanos não admitem o regresso, no sentido da diminuição do seu catálogo ou dos
meios de proteção.

@dicasexconcurseira 11
QUESTÕES

1. O costume não é considerado fonte de criação de direitos humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. Para Paulo Bonavides, os direitos decorrentes da globalização política (democracia, informação, pluralismo etc.) são de quarta
geração.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. Uma das críticas dirigidas à teoria das gerações dos direitos humanos diz respeito ao seu equívoco de posteridade das
gerações, e isso porque, no Direito Internacional dos Direitos Humanos, a positivação dos direitos de segunda geração ocorreu
antes da positivação dos direitos de primeira geração.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Os tratados internacionais de direitos humanos devem ser interpretados sempre de acordo com a intenção dos seus
redatores e não de acordo com o momento da sua aplicação no caso concreto.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. A Corte Interamericana de Direitos Humanos adota excepcionalmente a teoria da margem de apreciação.

( ) CERTO ( ) ERRADO

6. A característica da historicidade dos direitos humanos colide com a teoria jusnaturalista de fundamentação destes direitos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 CERTO
4 ERRADO
5 CERTO
6 CERTO

@dicasexconcurseira 12
Aula 03
Teoria geral dos direitos humanos: evolução histórica dos direitos humanos, antecedentes do Direito Internacional dos Direitos
Humanos e os três eixos da proteção internacional dos direitos humanos

Evolução histórica dos direitos humanos

A história dos direitos humanos se confunde com a história da humanidade, o que dificulta – senão inviabiliza – que ela
seja contada de forma integral, compreendendo todos os processos de luta até que, em 1948, fosse adotada a Declaração
Universal dos Direitos Humanos e estabelecido que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”
(art. 1º). É por isso que, para facilitar o estudo, a doutrina costuma dividir a evolução histórica dos direitos humanos em fases ou
etapas, destacando os seus principais eventos que contribuíram para a afirmação dos direitos humanos.
Por considerar a exposição deste tema muito didática, o professor Caio Paiva incluiu no material de aula os quadros
sinóticos do livro Curso de Direitos Humanos, do André de Carvalho Ramos. Alerta o prof. que não devemos decorar todas as
informações históricas sobre este assunto. Uma leitura repetida desses quadros sinóticos, principalmente antes de uma prova
objetiva, pode contribuir bastante para o seu desempenho. Ao invés de decorar tudo sobre cada fase, esforcem-se para
compreender a contribuição de cada uma.

@dicasexconcurseira 13
@dicasexconcurseira 14
@dicasexconcurseira 15
Precedentes históricos do Direito Internacional dos Direitos Humanos

Entre os fatores que propiciaram a internacionalização dos direitos humanos, destacam-se:


a) a superação do conceito tradicional e do alcance ilimitado da soberania estatal; e
b) a redefinição do status do indivíduo como sujeito de Direito Internacional.
Se o Estado é absolutamente soberano e o indivíduo não é considerando sujeito de Direito Internacional, não há
condições para se criar um sistema internacional de proteção dos direitos humanos.
Alguns precedentes históricos contribuíram decisivamente para que esses fatores surgissem e que, com isso, se
edificasse o que conheceríamos após a Segunda Guerra Mundial como Direito Internacional dos Direitos Humanos.
Mais remotamente, indica-se a Paz de Westfália como um precedente histórico do DIDH, e isso porque, consistindo
numa série de tratados assinados em 1648, encerrou a Guerra dos Trinta Anos (série de guerras que diversas nações europeias
travaram entre si a partir de 1618 por vários motivos, como rivalidades religiosas, dinásticas, territoriais e comerciais, com mais
de oito milhões de mortos), inaugurando um moderno sistema internacional que tinha como preceitos a soberania, a igualdade
jurídica entre os Estados, a territorialidade e a não intervenção.
No entanto, são considerados como os precedentes históricos mais importantes para a formação do DIDH: o Direito
Humanitário (DH), a Liga das Nações (LN) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Vejamos cada um desses
precedentes históricos.
O DIREITO HUMANITÁRIO (ou “Direito Internacional Humanitário”) representa o conjunto de princípios e regras que
limitam o recurso à violência em período de conflito armado, possuindo os seguintes objetivos:
a) proteger as pessoas que não participam diretamente das hostilidades ou que já deixaram de participar, como os combatentes
feridos, os náufragos, os prisioneiros de guerra e os civis; e
b) limitar os efeitos da violência nos combates destinados a atingir os objetivos do conflito.

A doutrina também o conceitua como sendo “o elemento de direitos humanos do Direito da guerra”, consistindo,
portanto, no ramo do DIDH aplicável a conflitos armados internacionais e, em alguns casos, a conflitos armados internos.

@dicasexconcurseira 16
O Direito Humanitário possui como fontes o “Direito de Genebra”, que compreende as Convenções e Protocolos
internacionais elaborados sob a supervisão do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e que diz respeito essencialmente
à proteção das vítimas de conflitos; o “Direito da Haia”, que diz respeito às convenções adotadas durante as Conferências de Paz
realizadas em Haia (Holanda), tendo como preocupação os meios e métodos de guerra autorizados; e o “Direito de Nova
Iorque”, que compreende a atuação da ONU com vista a assegurar o respeito pelos direitos humanos em caso de conflito
armado e a limitar o recurso a certas armas.
Tratando-se do Direito Humanitário, merece destaque o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, organização
independente e neutra criada em 1863, que, tendo como base as Convenções de Genebra e os seus Protocolos Adicionais,
promove o respeito ao Direito Internacional Humanitário e a sua implementação na legislação nacional dos países.
Finalmente, no que diz respeito à sua importância como precedente histórico do DIDH, Flávia Piovesan ressalta que “o
Direito Humanitário foi a primeira expressão de que, no plano internacional, há limites à liberdade e à autonomia dos Estados,
ainda que na hipótese de conflito armado”. Acrescente-se também que o Direito Humanitário contribuiu para a condição do
indivíduo como sujeito de Direito internacional, ainda que sem lhe conferir a possibilidade de acessar um sistema internacional
para buscar a proteção dos seus direitos humanos ou a reparação pela violação destes.

Outro precedente histórico do DIDH foi a LIGA DAS NAÇÕES, a qual, segundo lição de Flávia Piovesan:
“A Liga das Nações, por sua vez, veio a reforçar essa mesma concepção, apontando para a necessidade de relativizar a soberania
dos Estados. Criada após a Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações tinha como finalidade promover a cooperação, paz e
segurança internacional, condenando agressões externas contra a integridade territorial e a independência política dos seus
membros. A Convenção da Liga das Nações, de 1920, continha previsões genéricas relativas aos direitos humanos, destacando-
se as voltadas ao mandate system of the League, ao sistema das minorias e aos parâmetros internacionais do direito ao trabalho
– pelo qual os Estados se comprometiam a assegurar condições justas e dignas de trabalho para homens, mulheres e crianças.
Esses dispositivos representavam um limite à concepção de soberania estatal absoluta, na medida em que a Convenção da Liga
estabelecia sanções econômicas e militares a serem impostas pela comunidade internacional contra os Estados que violassem
suas obrigações. Redefinia-se, desse modo, a noção de soberania absoluta do Estado, que passava a incorporar em seu conceito
compromissos e obrigações de alcance internacional no que diz respeito aos direitos humanos”.
A história mostra que a Liga das Nações falhou em seus propósitos, tanto que não conseguiu evitar a Segunda Guerra
Mundial. Entre os motivos para o seu insucesso, destacam-se:
a) a ausência da nova potência mundial (EUA) entre os seus Estados membros;
b) a falta de vontade política entre os países membros;
c) o colonialismo ainda existente em várias partes do mundo; e
d) a mudança na política alemã, com a ascensão de Hitler e de sua política de violação de direitos humanos em 1933.
No entanto, a doutrina considera que a Liga das Nações serviu como uma espécie de “laboratório” para a
constituição da Organização das Nações Unidas (ONU).

Finalmente, temos a ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT), criada com o fim da Primeira Guerra
Mundial, com o objetivo de estabelecer parâmetros mínimos para a proteção do trabalhador, disciplinando a sua condição no
plano internacional por meio de diversas convenções.

Esses três precedentes, cada qual ao seu modo, contribuíram para a formação do DIDH, colocando fim, segundo
Piovesan, a uma época em que o Direito Internacional era, salvo raras exceções, confinado a regular relações entre Estados, no
âmbito estritamente governamental. E Piovesan prossegue:
“Por meio desses institutos, não mais se visava proteger arranjos e concessões recíprocas entre os Estados; visava-se,
sim, o alcance de obrigações internacionais a serem garantidas ou implementadas coletivamente, que, por sua natureza,
transcendiam os interesses exclusivos dos Estados contratantes. Essas obrigações internacionais voltavam-se à salvaguarda
dos direitos do ser humano e não das prerrogativas dos Estados. Tais institutos rompem, assim, com o conceito tradicional que
situava o Direito Internacional apenas como a lei da comunidade internacional dos Estados e que sustentava ser o Estado o
único sujeito de Direito Internacional. Rompem ainda com a noção de soberania nacional absoluta, na medida em que admitem
intervenções no plano nacional, em prol da proteção dos direitos humanos.
Prenuncia-se o fim da era em que a forma pela qual o Estado tratava seus nacionais era concebida como um problema
de jurisdição doméstica, restrito ao domínio reservado do Estado, decorrência de sua soberania, autonomia e liberdade. Aos
poucos, emerge a ideia de que o indivíduo é não apenas objeto, mas também sujeito de Direito Internacional. A partir dessa
perspectiva, começa a consolidar a capacidade processual internacional dos indivíduos, bem como a concepção de que os
direitos humanos não mais se limitam à exclusiva jurisdição doméstica, mas constituem matéria de legítimo interesse
internacional. Nesse cenário, os primeiros delineamentos do Direito Internacional dos Direitos Humanos começavam a se
revelar”.

ATENÇÃO! O assunto que é mais cobrado em prova, quando se trata da história dos direitos humanos, é justamente ter
conhecimento dos 3 precedentes históricos: DIREITO HUMANITÁRIO, LIGA DAS NAÇÕES e ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO
TRABALHO.

@dicasexconcurseira 17
Os 3 eixos de proteção internacional dos direitos humanos

A proteção internacional dos direitos humanos organiza-se em três eixos ou vertentes, quais sejam, o Direito
Internacional dos Direitos Humanos (DIDH), o Direito Internacional Humanitário (DIH) e o Direito Internacional dos Refugiados
(DIR).
Esses eixos ou vertentes não devem ser vistos nem aplicados de forma compartimentada, mas sim integrados e
interagidos, buscando, todos eles, um objetivo comum: a proteção do ser humano.
O DIDH é o eixo mais amplo ou geral, tendo como objetivo proteger o ser humano em todos os aspectos.
O DIH, por sua vez, tem como objetivo uma proteção especial, dirigida às pessoas que se encontram em meio a
conflitos armados internacionais e internos.
Finalmente, o DIR centra-se na proteção do refugiado, cuidando de assuntos como concessão de refúgio, acolhimento
etc. Trataremos do DIR durante a aula sobre grupos vulneráveis, quando estudaremos os principais pontos da matéria.

QUESTÕES

1. As revoluções liberais inglesa (1628 e 1689), americana (1776) e francesa (1789), com suas respectivas declarações de
direitos, marcaram a primeira clara afirmação histórica dos direitos humanos, proclamando tanto direitos civis e políticos
quanto direitos econômicos, sociais e culturais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. As Constituições do México de 1917, da Alemanha de 1919 e do Brasil de 1934 situam-se no contexto da fase do
constitucionalismo social, tendo contribuído para a história dos direitos humanos por questionarem os fundamentos liberais que
regeram as declarações de direitos decorrentes das revoluções liberais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. O Direito Humanitário é o eixo ou a vertente da proteção internacional dos direitos humanos que tem como objetivo
assegurar a assistência humanitária para vítimas de desastres naturais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. A Liga das Nações, em que pese o seu fracasso, é considerada um “laboratório” para a constituição da Organização das
Nações Unidas.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) não pode ser apontada como um precedente histórico da internacionalização
dos direitos humanos, pois foi criada após a Segunda Guerra Mundial.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 ERRADO
4 CERTO
5 ERRADO
@dicasexconcurseira 18
Aula 04
Introdução aos sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos

Na aula anterior vimos que a evolução histórica dos direitos humanos somente atingiu um patamar de
institucionalização após a Segunda Guerra Mundial, quando os direitos humanos deixaram de ser um assunto exclusivo da
jurisdição doméstica dos Estados. Para que essa institucionalização fosse realmente efetiva, fez-se necessária a criação dos
sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos, que se caracterizam por apresentar 3 elementos: normas, órgãos e
mecanismos. Para Aline Albuquerque e Aléssia Barroso:
“As normas são o conjunto de tratados, declarações, princípios e outras normativas de direitos humanos que integram
os Sistemas Internacionais de DH. Os órgãos são as instâncias instituídas para monitorar o cumprimento dos tratados pelos
Estados e aplicá-los nos casos específicos ou em situações de graves e maciças violações de direitos humanos. Os mecanismos
são os meios pelos quais os órgãos realizam esse monitoramento e essa aplicação”.
No que diz respeito aos órgãos para monitoramento do respeito aos direitos humanos, eles podem ser classificados
como POLÍTICO, QUASE JUDICIAL ou JUDICIAL. Conforme a lição de Albuquerque e Barroso:
“Um órgão se caracteriza como político quando não recebe comunicação ou petição individual e, em consequência, não
profere decisão acerca de casos específicos cujo conteúdo versa sobre a responsabilidade do Estado por violação de direitos
humanos. Um órgão é quase judicial quando processa petições e comunicações individuais e desse processamento resulta uma
decisão que consubstancia em recomendações, as quais pressupõem a responsabilização internacional do Estado. E, por fim, os
órgãos judiciais detêm o poder jurisdicional, logo, proferem sentenças”.
Como exemplo de cada um desses órgãos, cite-se o Conselho de Direitos Humanos da ONU como órgão político, a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos ou o Comitê de Direitos Humanos da ONU como órgão quase judicial e a Corte
Interamericana de Direitos Humanos ou a Corte Europeia de Direitos Humanos como órgão judicial. Estudaremos esses e outros
órgãos no momento oportuno.

ATENÇÃO! Não existe um tribunal mundial/internacional de direitos humanos vinculado ao sistema ONU/universal de direitos
humanos. CUIDADO! A Corte Internacional de Justiça somente julga demandas entre Estados; a pessoa não tem condições de
levar à Corte Internacional de Justiça uma demanda em que o Estado tenha violado o direito humano de uma pessoa em
particular. Muito embora no decorrer de sua jurisprudência, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) julgue temas que
indiretamente afetem temas da proteção internacional de direitos humanos.

No que diz respeito aos mecanismos, estudaremos cada um eles também no momento oportuno.

Atualmente, há 4 sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos, sendo um de abrangência global ou
universal, que é o sistema da ONU, e 3 de abrangência regional, sendo eles o interamericano, o europeu e o africano.

SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS


SISTEMA GLOBAL/UNIVERSAL ONU
SISTEMA REGIONAL INTERAMERICANO
SISTEMA REGIONAL EUROPEU
SISTEMA REGIONAL AFRICANO

Conforme advertem Albuquerque e Barroso, “As experiências de outras regiões do planeta, como a da Liga Árabe ou na
Ásia não podem ser categorizadas como um Sistema, na medida em que não contam com os três elementos necessários para se
configurar um Sistema de Direitos Humanos (...)”.
Estudaremos os quatro sistemas internacionais e também como se dá a proteção dos direitos humanos na Ásia e nos
países árabes nas próximas aulas.

Agora, passaremos ao estudo dos PRINCÍPIOS QUE REGEM OS SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS.
O primeiro princípio é o da COEXISTÊNCIA DOS SISTEMAS INTERNACIONAIS. Sobre esse princípio, vejamos a lição de
Cançado Trindade:
“Os instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos operam, de modo complementar, nos planos global
e regional, desviam assim, compreensivelmente, o foco da atenção da questão, tão estudada na doutrina clássica, da
delimitação de competências, para a da garantia de uma salvaguarda cada vez mais eficaz dos direitos humanos. Isto já era de
esperar, em um domínio do direito marcado pela prevalência de interesses comuns superiores, considerações de order public
[tradução: ordem pública] e pela noção de garantia coletiva dos direitos protegidos. Sob este prisma, resulta claro não haver
lugar para pretensões ou insinuações de supostos antagonismos entre soluções nos planos universal ou regional, porquanto a
multiplicidade de instrumentos – universais e regionais, gerais ou especializados – sobre direitos humanos tem tido o propósito
e acarretado a consequência de ampliar o âmbito da proteção devida às supostas vítimas”.

@dicasexconcurseira 19
No mesmo sentido, vejamos a lição de Flávia Piovesan:
“Os sistemas global e regional não são dicotômicos, mas complementares. Inspirados pelos valores e princípios da
Declaração Universal, compõem o universo instrumental de proteção dos direitos humanos no plano internacional. Nessa ótica,
os diversos sistemas de proteção de direitos humanos interagem em benefício dos indivíduos protegidos. Ao adotar o valor da
primazia da pessoa humana, tais sistemas se complementam, somando-se ao sistema nacional de proteção, a fim de
proporcionar a maior efetividade possível na tutela e promoção de direitos fundamentais. Essa é, aliás, a lógica e a principiologia
próprias do Direito dos Direitos Humanos”.
Como decorrência do princípio da coexistência, temos o PRINCÍPIO DA LIVRE ESCOLHA, segundo o qual a vítima pode
escolher em qual sistema internacional denunciará o Estado pela violação de direitos humanos que sofreu. Nesse sentido,
explicam Albuquerque e Barroso:
“Outro princípio a ser destacado é o princípio da livre escolha, que aponta para a faculdade da vítima de escolher para
qual Sistema Internacional de DH deseja levar o seu caso, após os mecanismos internos não terem funcionado. De certo que a
escolha da vítima ou do peticionário se vincula ao fato do Estado alegadamente violador estar juridicamente submetido àquele
Sistema. Por exemplo, a vítima de violação de direitos humanos no Brasil não pode apresentar uma petição contra o Estado
perante a Corte Europeia de Direitos Humanos, pois o Estado brasileiro não se submete à sua jurisdição”.
Outro princípio que caracteriza os sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos é o da SUBSIDIARIEDADE
OU COMPLEMENTARIDADE, segundo o qual os Estados somente podem ser demandados e responsabilizados
internacionalmente após terem tido a oportunidade de reparar os danos causados pela violação que ele praticou ou tolerou.
Nesse sentido, prevê o preâmbulo da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH): “Reconhecendo que os direitos
essenciais do homem não derivam do fato de ser ele nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento
os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma proteção internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou
complementar da que oferece o direito interno dos Estados americanos”.
Do princípio da subsidiariedade decorre a regra do esgotamento dos recursos internos – presente em todos os
sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos e condição para peticionamento perante órgão internacional – e
também a denominada “Fórmula da 4ª instância”, segundo a qual os órgãos internacionais não têm competência para
analisar, genericamente, a justiça ou a injustiça de determinada decisão proferida pelo Poder Judiciário nacional nem se a
prova foi valorada correta ou incorretamente, mas apenas se houver ou não uma violação de direitos humanos.
Os sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos também se norteiam pelo PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO.
Sobre esse princípio, vejamos a lição de Albuquerque e Barroso:
“Com efeito, cabe ao Estado envidar o máximo de esforços no sentido de cumprir seus compromissos internacionais e,
pois, à luz da Convenção de Viena sobre os Direitos dos Tratados, todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido
por elas de boa-fé, o que implica conferir efeito razoável e útil à norma internacional ao qual se vinculou voluntariamente. Desse
modo, tendo em conta a adesão de um Estado a determinado Sistema Internacional de DH, o mesmo detém a obrigação
internacional de respeito aos direitos humanos reconhecidos no tratado, convenção ou em qualquer ato normativo ao qual se
vinculou. Nessa linha, o princípio da cooperação e do diálogo aponta para a atuação do Estado e dos órgãos de direitos
humanos, ou seja, ambos devem atuar de modo harmônico e amigável em prol da efetivação dos direitos humanos,
conseguintemente, posturas beligerantes e contenciosas não são bem recepcionadas na esfera dos Sistemas Internacionais de
DH”.
Albuquerque e Barroso ainda elencam outros dois princípios dos sistemas internacionais de proteção dos direitos
humanos, sendo eles o PRINCÍPIO DO ESTOPPEL (proibição de comportamento contraditório no processo internacional) e o
princípio da IMPOSSIBILIDADE DO ESTADO ALEGAR DISPOSIÇÕES DO SEU DIREITO INTERNO PARA SE EXIMIR DO
DESCUMPRIMENTO DOS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS. No entanto, o prof. Caio paiva entende que esses dois princípios
mais se relacionam, respectivamente, com o direito processual internacional e com a interpretação dos tratados de direitos
humanos do que, especificamente, com a conformação principiológica geral dos sistemas internacionais.

QUESTÕES

1. Atualmente, há um sistema internacional de proteção dos direitos humanos de natureza global (o sistema ONU) e dois
sistemas de abrangência regional (o interamericano e o europeu).

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. São elementos que caracterizam os sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos: as normas, os órgãos e os
mecanismos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

@dicasexconcurseira 20
3. Um cidadão europeu, em trânsito pelo Brasil, considerando que um direito humano seu foi violado pelo Estado brasileiro,
pode denunciar o país perante o sistema europeu de proteção dos direitos humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. A regra do esgotamento dos recursos internos decorre do princípio da subsidiariedade ou complementariedade dos sistemas
internacionais de proteção dos direitos humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 ERRADO
4 CERTO

@dicasexconcurseira 21
Aula 05
A evolução histórica, arquitetura normativa e estrutura da Organização das Nações Unidas (ONU)

Evolução histórica do sistema global de proteção dos direitos humanos

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a comunidade internacional sentiu a necessidade de criar um sistema de
proteção internacional dos direitos humanos, dotado de instrumentos e mecanismos para processar e eventualmente declarar a
responsabilidade internacional dos Estados.
O sistema GLOBAL – também conhecido por sistema UNIVERSAL ou sistema ONUSIANO – começa com a adoção, em
junho de 1945, em São Francisco (EUA), da Carta das Nações Unidas/Carta da ONU/Carta de São Franciso, que constitui a
organização internacional chamada de Organização das Nações Unidas, a ONU.
Embora a expressão direitos humanos apareça seis vezes na Carta das Nações Unidas, NÃO se encontra na Carta uma
definição nem tampouco um catálogo de direitos humanos, mas apenas que o respeito e a promoção desses direitos seriam
prioridade da ONU e dever dos Estados-Membros. Conforme registram Buergenthal, Grossman e Nikken, durante a Conferência
de São Francisco foram apresentadas diversas propostas para incorporar à Carta da ONU um capítulo reconhecendo os direitos
essenciais do ser humano, não tendo estas, porém, sido acolhidas pela Assembleia-Geral das Nações Unidas (AGNU).

OBS: o principal objetivo da Carta das Nações Unidas foi a criação da ONU, e não um catálogo dos direitos humanos.

Ainda que a Carta da ONU não tenha estabelecido um catálogo de direitos humanos, foi ela que iniciou o processo de
internacionalização dos direitos humanos, projetando a mensagem de que a violação desses direitos não mais constituiria um
assunto exclusivo da jurisdição doméstica dos Estados. Nesse sentido, conforme ressalta Hans-Joachim Heintze:
“A inclusão da obrigação de se respeitarem os direitos humanos na Carta da ONU foi um marco histórico no Direito
Internacional Público, pois pela primeira vez os Estados comprometiam- se perante outros Estados a adotar um comportamento
determinado ante os não sujeitos do direito internacional, ou seja, seus habitantes desprovidos de direitos”.
A próxima etapa da evolução histórica do sistema global consistiu na sua codificação geral, tarefa que foi incumbida à
Comissão de Direitos Humanos (CDH), órgão subsidiário do Conselho Econômico e Social (ECOSOC, na sua sigla em inglês),
criado nos termos do art. 68 da Carta das Nações Unidas. Assim, a CDH recebeu a incumbência de elaborar uma Carta
Internacional de Direitos Humanos, que consistiria, segundo o plano original, num único documento de direitos humanos, com
natureza de tratado – logo, vinculante –, abrangendo tanto o catálogo de direitos humanos quanto os mecanismos de
proteção.
O processo de construção da Carta Internacional de Direitos Humanos não seguiu o plano original da CDH, e isso porque
logo no início dos trabalhos da Comissão surgiram discussões muito polêmicas como, por exemplo: A Carta teria ou não força
vinculante? Qual deveria ser a natureza dos direitos protegidos? Quais seriam os mecanismos adequados para assegurar a
proteção desses direitos? Por isso, a CDH resolveu primeiro elaborar um projeto de DECLARAÇÃO, SEM FORÇA VINCULANTE,
que estabeleceria apenas um catálogo de direitos humanos – preenchendo, assim, a lacuna da Carta das Nações Unidas –, e,
posteriormente, apresentaria um projeto de tratado de direitos humanos, este com força vinculante, desenvolvendo em mais
detalhes o conteúdo da declaração, assim como estabelecendo mecanismos internacionais de proteção.
Em 1947, a CDH submeteu à AGNU o projeto de Declaração Universal dos Direitos Humanos, tendo este sido aprovado
no ano seguinte, em 10.12.1948.
Após a aprovação da DUDH, a CDH deu seguimento à elaboração da Carta Internacional de Direitos Humanos, não
conseguindo, porém, aprovar um tratado internacional único para legalizar ou juridicizar os direitos humanos proclamados na
DUDH, e isso principalmente porque os blocos socialista e capitalista não chegaram a um consenso sobre a aplicação dos
direitos econômicos, sociais e culturais, isto é, se desfrutariam de aplicabilidade imediata ou se a sua aplicação seria progressiva
(os países socialistas defenderam a adoção de um tratado único). Diante desse impasse, a AGNU pediu ao ECOSOC que
orientasse a CDH a elaborar dois Pactos, um contendo os direitos civis e políticos, e o outro contendo os direitos econômicos,
sociais e culturais.
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais (PIDESC) foram aprovados pela AGNU no mesmo dia, em 16.12.1966, tendo entrado em vigor também no mesmo ano,
em 1976, após o depósito do 35º instrumento de ratificação. A principal diferença entre os Pactos de 1966 consiste justamente
naquilo que ensejou a adoção de dois documentos distintos, prevista nos respectivos artigos 2º. Enquanto o PIDCP assegura a
aplicação imediata dos direitos civis e políticos, o PIDESC prevê a aplicação progressiva dos direitos econômicos, sociais e
culturais.
Finalmente, a última etapa da Carta Internacional de Direitos Humanos foi concluída com a criação dos mecanismos de
proteção dos direitos humanos: em 1966, com o Protocolo Facultativo ao PIDCP, e em 2008, com o Protocolo Facultativo ao
PIDESC, atribuindo aos respectivos Comitês competências de monitoramento dos direitos humanos.
Assim, pode-se dizer que a Carta Internacional dos Direitos Humanos compõe-se da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, dos Pactos de 1966 e seus respectivos protocolos facultativos. à MAIORIA DA DOUTRINA.
A evolução histórica do sistema global de proteção dos direitos humanos não se esgota na elaboração da Carta
Internacional de Direitos Humanos, tendo prosseguido com a adoção de diversos tratados temáticos, documentos soft law e

@dicasexconcurseira 22
outros mecanismos – convencionais e extraconvencionais – de proteção dos direitos humanos, os quais veremos nas próximas
aulas.

Adoção da Carta das


Fim da 2ª Guerra Criação de uma
Nações Unidas (São
Mundial (maio/1945) SPIDHs
Francisco, EUA,
junho/1945)

CARTA INTERNACIONAL
DE DIREITOS HUMANOS

Protocolos facultativos
Aprovação dos Aprovação da DUDH
sobre mecanismos de
Pactos de 1966 (dezembro/1948)
proteção – PIDCP (1966)
e PIDESC (2008)

Arquitetura normativa

• Carta Internacional de Direitos Humanos: Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), PIDCP (1966), Protocolo
Facultativo ao PIDCP (1966), Segundo Protocolo Facultativo ao PIDCP (1989), PIDESC (1966) e Protocolo Facultativo ao
PIDESC (2008).

• Tratados temáticos ou específicos: Racial, Mulher, Tortura, Criança, Refugiados, Pessoas com Deficiência etc.

• Documentos soft law: Declarações, Princípios Básicos, Regras Mínimas, Diretrizes etc.

Estrutura da ONU

A ONU foi criada pela Conferência de São Francisco, em 1945, quando foi adotada a Carta das Nações Unidas. O Brasil
ratificou a Carta e a incorporou no direito interno por meio do Decreto nº 19.841/1945. Os propósitos da ONU foram previstos
no art. 1º da Carta, sendo eles os seguintes:

1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz
e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os
princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma
perturbação da paz;

2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de
autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;

3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou
humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem
distinção de raça, sexo, língua ou religião; e

4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns.

Para a realização desses propósitos, o art. 2º da Carta estabelece os princípios que devem nortear as atividades da ONU e
de seus membros:

1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros.

2. Todos os Membros, a fim de asseguraram para todos em geral os direitos e vantagens resultantes de sua qualidade de
Membros, deverão cumprir de boa fé as obrigações por eles assumidas de acordo com a presente Carta.

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3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam
ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais.

4. Todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial
ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.
5. Todos os membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que elas recorrerem de acordo com a presente Carta
e se absterão de dar auxílio a qual Estado contra o qual as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo.

6. A Organização fará com que os Estados que não são Membros das Nações Unidas ajam de acordo com esses Princípios em
tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais.

7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente
da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os Membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente
Carta; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do Capítulo VII [a serem adotadas
pelo Conselho de Segurança em casos de ameaças à paz, de ruptura da paz e de atos agressão].

São Membros da ONU os Estados que tenham assinado e ratificado a Carta de São Francisco (art. 3º). A admissão como
Membro das Nações Unidas é efetuada por decisão da Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança
(art. 4.2). Os artigos 5º e 6º da Carta preveem tanto a possibilidade da suspensão quanto de expulsão de um Estado-Membro
das Nações Unidas, sempre mediante recomendação do Conselho de Segurança, nos casos, respectivamente, de ação
preventiva ou coercitiva do CS e de violação persistente dos princípios contidos na Carta.

A Carta das Nações Unidas estabelece como sendo os órgãos principais da ONU (art. 7.1):

i. a Assembleia Geral;
ii. o Conselho de Segurança;
iii. o Conselho Econômico e Social;
iv. o Conselho de Tutela (não está mais em funcionamento);
v. a Corte Internacional de Justiça;
vi. o Secretariado.

Além desses órgãos principais, outros de natureza subsidiária podem ser criados de acordo com a Carta (art. 7.2), sendo
exemplos importantes no âmbito da matéria de direitos humanos: o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos
Humanos (ACNUDH) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Vejamos abaixo um organograma sobre o Sistema das Nações Unidas e seus órgãos principais e subsidiários (documento
extraído do site da ONU Brasil):

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QUESTÕES

1. Entende-se por Carta Internacional de Direitos Humanos o conjunto de documentos que estruturam os sistemas global e
regionais de proteção dos direitos humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. Para “juridicizar” a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Assembleia-Geral das Nações Unidas adotou o Pacto
Internacional de Direitos Humanos, abrangendo tanto direitos civis e políticos quanto direitos econômicos, sociais e culturais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 ERRADO

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Aula 06
Sistema global de proteção dos direitos humanos: mecanismos convencionais e extraconvencionais de proteção dos direitos
humanos

Introdução

O sistema global de proteção dos direitos humanos se divide em duas áreas.


A primeira área é composta pelos mecanismos convencionais, que são assim denominados porque encontram a sua
base normativa em TRATADOS OU CONVENÇÕES INTERNACIONAIS. Os mecanismos convencionais têm como órgãos de
monitoramento os respectivos Comitês vinculados a cada tratado. Como exemplos de mecanismos convencionais, cito o sistema
de relatórios periódicos e de petições individuais previstos no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, monitorados
pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU.
A segunda área é composta pelos mecanismos extraconvencionais (ou não convencionais), sendo assim denominados
porque não decorrem diretamente de um tratado ou convenção, mas sim de RESOLUÇÕES de órgãos políticos da ONU ou deles
derivados, adotadas a partir de interpretação dos dispositivos da Carta das Nações Unidas relativos à proteção dos direitos
humanos. Como exemplo de mecanismo extraconvencional, cito a Revisão Periódica Universal (RPU), monitorada pelo
Conselho de Direitos Humanos.

Na história do sistema global de proteção dos direitos humanos, o surgimento dos mecanismos extraconvencionais, a
partir da década de 60 do século passado, justificou-se em grande parte devido às condicionantes dos mecanismos
convencionais, cujo funcionamento dependia de atos como a elaboração de tratados, a criação de órgãos de monitoramento e
de procedimentos quase-contenciosos, a ratificação pelos Estados etc. Basta pensarmos que, mesmo já formada a Carta
Internacional de Direitos Humanos, com a Declaração Universal, os Pactos de 1966 e o Protocolo Facultativo ao PIDCP, o
funcionamento do primeiro mecanismo convencional – e ainda assim, com uma quantidade inexpressiva de Estados Partes (35)
– veio a ocorrer somente em 1976, com a entrada em vigor do PIDCP e do seu Protocolo Facultativo, habilitando o Comitê de
Direitos Humanos a exercer suas funções de órgão de monitoramento.
Assim, para superar ou pelo menos atenuar a ineficácia dos mecanismos convencionais diante das grandes expectativas
e esperanças que a criação da ONU gerou, conforme veremos na sequência, iniciou- se, no âmbito da Comissão de Direitos
Humanos (CDH), a criação dos mecanismos extraconvencionais, que, livres das condicionantes anteriormente mencionadas,
poderiam agir diante da violação de qualquer direito humano praticada por qualquer Estado Membro da ONU.

Antes de passarmos ao estudo dos principais mecanismos convencionais e extraconvencionais, vejamos no quadro a
seguir as principais diferenças entre eles:

DIFERENÇAS ENTRE OS MECANISMOS CONVENCIONAIS E OS MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS


MECANISMOS CONVENCIONAIS MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS
1. São criados a partir de resoluções de órgãos políticos da
1. São criados por tratados internacionais específicos.
ONU.
2. A apresentação de petições individuais perante os comitês 2. A apresentação de denúncias por indivíduos ou grupos de
internacionais depende da ratificação do tratado respectivo indivíduos não depende da ratificação de convenções
pelo Estado denunciado. específicas.
3. Usualmente, a apresentação de petições depende, ainda, de
uma declaração de reconhecimento da vigência de uma 3. Não depende, tampouco, de declaração relativa a cláusulas
cláusula facultativa do tratado ou da ratificação de um facultativas ou de ratificação de protocolo adicional.
protocolo adicional.
4. As petições individuais podem versar apenas sobre os 4. A apresentação de denúncias pode versar sobre quaisquer
direitos previstos no tratado específico. direitos humanos.

2. Mecanismos convencionais

Conforme afirmado anteriormente, os mecanismos convencionais são assim denominados porque a sua base normativa
encontra-se prevista em tratados ou convenções internacionais. Importante compreender que os tratados não apenas
estabelecem os mecanismos convencionais, mas também criam os órgãos de monitoramento responsáveis por avaliar a
observância dos direitos humanos pelos Estados Partes.
Esses órgãos são chamados de Comitês, estando cada um deles vinculado ao tratado que o criou. Os comitês são
compostos por especialistas independentes (e não por representantes dos Estados), com reconhecida competência na matéria
de direitos humanos, eleitos por voto secreto dos Estados Partes das respectivas convenções e têm em comum 4 funções:

@dicasexconcurseira 27
i. Receber, examinar e emitir pareceres (concluding observation) sobre os relatórios (reports) dos Estados-Partes
acerca dos mecanismos implementados em seus territórios para aplicação dos tratados internacionais. (...)
ii. Elaborar Comentários Gerais (general comments) para auxiliar os Estados-Partes a aplicar os tratados
internacionais, determinando suas obrigações.
iii. Decidir acerca de denúncias de descumprimento dos tratados internacionais apresentadas por um Estado-Parte
contra outro; e
iv. Emitir decisões (views) sobre as denúncias de descumprimento dos tratados internacionais constantes das petições
ou comunicações individuais (communication) a eles apresentadas.

Atualmente, existem 10 órgãos de tratados no âmbito do sistema global de proteção dos direitos humanos, que se
reúnem em Genebra, na Suíça, contando todos eles com o apoio da Divisão de Tratados do Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). Vejamos no quadro abaixo os tratados internacionais de direitos humanos do
sistema global, seus respectivos comitês e, ainda, quais mecanismos convencionais de proteção cada um deles adota:

Tratados internacionais de direitos humanos do sistema global e seus respectivos comitês


Tratado internacional de direitos
Órgão de monitoramento/Comitês Mecanismos convencionais de proteção
humanos
1. Pacto Internacional de Direitos Civis
1. Relatórios, petição individual e petição
e Políticos e seus protocolos 1. Comitê de Direitos Humanos
interestatal.
facultativos
2. Pacto Internacional de Direitos 2. Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e 2. Relatórios, inquérito, petição individual
Econômicos, Sociais e Culturais Culturais e petição interestatal.
3. Convenção Internacional sobre a
3. Comitê para a Eliminação da 3. Relatórios, petição individual e petição
eliminação de todas as formas de
Discriminação Racial interestatal.
discriminação racial
4. Convenção sobre a eliminação de
todas as formas de discriminação 4. Comitê para a Eliminação da 4. Relatórios, inquérito e petição
contra a mulher e seu protocolo Discriminação contra a Mulher individual.
facultativo
5. Convenção contra a tortura e outros
5. Relatórios, inquérito, petição individual
tratamentos ou penas crueis, 5. Comitê contra a Tortura
e petição interestatal.
desumanos ou degradantes
6. Convenção sobre os direitos da
criança e seus protocolos facultativos
7. Convenção internacional sobre a
7. Comitê para a Proteção dos Direitos de
proteção dos direitos de todos os 7. Relatórios, petição individual e petição
todos os Trabalhadores Migrantes e seus
trabalhadores migrantes e de suas interestatal.
Familiares
famílias
8. Convenção internacional sobre os 8. Comitê dos Direitos das Pessoas com 8. Relatórios, inquérito e petição
direitos das pessoas com deficiência Deficiência individual.
9. Convenção internacional para a
9. Comitê contra os Desaparecimentos 9. Relatórios, inquérito, ações urgentes,
proteção de todas as pessoas contra os
Forçados petição individual e petição interestatal.
desaparecimentos forçados
10. Visitas e recomendações; e
10. Subcomitê para a Prevenção da Tortura
10. Protocolo Facultativo da aconselhamentos, recomendações e
ou outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Convenção contra a Tortura cooperação em relação aos Mecanismos
Desumanos ou Degradantes
Preventivos Nacionais.

Os mecanismos convencionais podem ser classificados como não contenciosos, quase-contenciosos e contenciosos.
Como exemplo do primeiro, temos o sistema de relatórios periódicos; do segundo, as petições individuais e interestatais; e do
terceiro, o processo de apuração de responsabilidade internacional do Estado no âmbito da Corte Internacional de Justiça.
Estudaremos a seguir os principais mecanismos convencionais não contenciosos e quase-contenciosos, deixando de
abordar o mecanismo contencioso, pois a Corte Internacional de Justiça tem a sua competência limitada a julgar demandas
interestatais, decidindo sobre temas de direitos humanos muito excepcionalmente. Lembre-se que a CIJ não é um tribunal
internacional.

@dicasexconcurseira 28
No estudo a seguir, veremos apenas a configuração geral dos principais mecanismos convencionais não contenciosos e
quase-contenciosos, sem adentrar em peculiaridades do sistema de proteção de cada um dos tratados e na relação do Brasil
com esses mecanismos, e isso porque esses assuntos serão explorados nas aulas 8, 9 e 10.

2.1. Mecanismos convencionais não contenciosos

O principal mecanismo convencional não contencioso é o sistema de relatórios periódicos, assim chamado – de “não
contencioso” – devido à sua NATUREZA NÃO COERCITIVA, dependendo, para funcionar, da cooperação internacional
espontânea dos Estados. Pelo sistema de relatórios, os Estados, ao ratificarem os tratados internacionais de direitos humanos
produzidos no âmbito da ONU, obrigam-se a enviar relatórios aos Comitês, periodicamente (nos prazos informados em cada
tratado), informando medidas – legislativas, judiciais, administrativas ou de outra natureza – realizadas para respeitar e garantir
os direitos protegidos por estes tratados.
Em razão da sua natureza absolutamente não contenciosa, o sistema de relatórios é inserido nos tratados de direitos
humanos da ONU como uma CLÁUSULA OBRIGATÓRIA, não dependendo da manifestação de vontade do Estado acerca da
sua aceitação. Observem, ainda, que o sistema de relatórios tem uma FINALIDADE PREVENTIVA, e não repressiva, destinando-
se a funcionar numa dimensão pré-violatória de direitos humanos, de modo a que os comitês possam, a partir dos relatórios
periódicos submetidos pelos Estados, orientarem e advertirem estes sobre a proteção dos direitos humanos previstos no
respectivo tratado.
No que diz respeito ao procedimento do sistema de relatórios, ainda que existam algumas diferenças nos
procedimentos adotados por cada comitê, ele funciona basicamente assim:

a) O Estado apresenta o relatório ao Secretário-Geral da ONU, que o encaminha, para exame, ao respectivo Comitê;
b) o Comitê, antes do período de sessões no qual examinará oficialmente o relatório, elabora, por meio de um relator nomeado
entre seus membros, uma “lista de questões” que é enviada ao Estado, por meio da qual pode pedir informações adicionais;
c) O Estado responde à “lista de questões”;
d) o Comitê busca outras fontes de informação sobre a situação dos direitos humanos no país inspecionado, como aquelas
oriundas de órgãos das Nações Unidas, organizações intergovernamentais, instituições nacionais de direitos humanos, ONGs
internacionais e nacionais, grupos de professores e instituições acadêmicas etc. Admite-se, também, que organizações não
governamentais e indivíduos possam apresentar comentários sobre os relatórios dos Estados, e até mesmo apresentar um
“relatório alternativo” (também denominado de relatório sombra ou shadow report);
e) A fase seguinte é a do exame oficial do relatório apresentado pelo Estado, o que é feito mediante um “diálogo construtivo”
entre o Comitê e o Estado Parte, que pode enviar uma delegação para acompanhar o período de sessões; e
f) Depois, são elaboradas e aprovadas as observações finais do Comitê, por meio das quais avalia a situação dos direitos
humanos no Estado Parte, reconhece as medidas positivas adotadas e recomenda, se for o caso, medidas concretas para
solucionar os problemas identificados.

E se o Estado não apresenta os relatórios periódicos? Nesse caso, os comitês adotam o “procedimento de exame”, por
meio do qual avaliam a situação dos direitos humanos no Estado Parte sem a colaboração do Estado, valendo-se, para tanto, de
informações prestadas por outros órgãos da ONU, de organismos internacionais, de ONGs, de indivíduos etc.

Outro mecanismo convencional não contencioso importante é o sistema de inquérito, por meio do qual os comitês
podem, a partir do recebimento de informações confiáveis sobre violação importante, grave ou sistemática de direitos humanos
pelo Estado Parte, iniciar uma investigação para apurar os fatos. Esse procedimento, que é automático em alguns tratados e
depende de aceitação do Estado em outros, tem natureza confidencial e funciona mediante convite ao Estado Parte para
apresentar as informações que considera necessárias. A partir destas informações, o comitê delibera sobre designar um
membro para conduzir um inquérito, dando seguimento ao procedimento se for o caso, concluindo, ao final, com observações e
recomendações ao Estado Parte.

2.2. Mecanismos convencionais quase-contenciosos

Os principais mecanismos convencionais quase-contenciosos são as petições interestatais e individuais.


Por meio das petições INTERESTATRAIS, um Estado pode apresentar contra outro Estado uma denúncia perante os comitês,
acusando-o da violação de direitos humanos. Esse mecanismo, que, salvo no caso da Convenção Internacional sobre a
Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, é FACULTATIVO para os Estados Partes, NUNCA FOI UTILIZADO, em
razão do risco de gerar o chamado “efeito boomerang” (ex: se o Brasil acusa os EUA perante o Comitê de Direitos Humanos da
ONU, pode ser que, depois, os EUA denuncie o Brasil; e os Estados não querem ser constrangidos publicamente diante da
comunidade política internacional).
O procedimento do mecanismo convencional quase-contencioso das petições interestatais desenvolve-se no âmbito de
uma Comissão Especial criada para buscar a conciliação entre os Estados Partes denunciante e denunciado. Essa Comissão, ao
final do procedimento, apresenta um relatório final com recomendações sobre a solução do litígio, sem que possa “impor” uma
solução concreta aos Estados.
@dicasexconcurseira 29
Pelo mecanismo convencional quase-contencioso das petições INDIVIDUAIS, a vítima assume a condição de sujeito de
direito perante o Direito Internacional dos Direitos Humanos e pode – ela própria ou seus representantes – apresentar uma
denúncia contra o Estado Parte junto aos comitês dos tratados. Trata-se de um mecanismo FACULTATIVO para os Estados
Partes, que podem aceitá-lo, a depender do tratado, mediante declaração especial ou ratificando um protocolo facultativo.
Embora os requisitos de admissibilidade variem um pouco conforme as disposições de cada tratado – o que veremos
nas aulas seguintes –, de um modo geral, para que uma petição individual seja processada pelo comitê, são exigidos os
seguintes requisitos:

a) ausência de litispendência internacional (que vale somente entre órgãos convencionais);


b) esgotamento dos recursos internos;
c) nexo causal (a denúncia deve ter como objeto uma violação de direito humanos protegido pelo tratado que criou o respectivo
comitê); e
d) o fato deve ter ocorrido posteriormente ao reconhecimento da competência do comitê.

O procedimento de análise da petição individual desenvolve-se em contraditório e tem basicamente 3 fases, sendo a
primeira de admissibilidade, a segunda de mérito e a terceira, se procedente a denúncia, de acompanhamento da decisão. No
caso de procedência da denúncia, vejamos a explicação de Carla Dantas:
“Concluído o exame do mérito, o comitê em questão profere uma decisão pelo voto da maioria dos membros. Embora
esforços sejam empenhados no sentido de alcançar votação unânime, eventuais votos dissidentes podem ser proferidos em
separado.
As decisões dos comitês que declaram a violação do tratado costumam determinar um prazo para que o Estado-Parte
em questão encaminhe ao comitê uma resposta, explicando quais providências foram tomadas para solucioná-las. Por vezes, as
decisões dos comitês sugerem medidas a serem adotadas pelos Estados-Partes.
As partes são, então, informadas da decisão, e ela é publicada (...). Em seguida, é designado um relator especial para
acompanhar a implementação da decisão pelo Estado denunciado.
Toda vez que um comitê decide que certos direitos humanos foram violados, o Estado- Parte é convidado a prestar
esclarecimentos sobre as medidas que tomou para dar efeito àquela decisão ou para cessar ou recompensar o dano causado
por tal violação. Em seguida, a vítima é convidada a se manifestar sobre o comentário apresentado pelo Estado. Dá-se início,
então, à fase de acompanhamento da decisão, durante a qual cabe ao relator especial de acompanhamento de casos solicitar
esclarecimentos sobre a execução das decisões dos comitês. As conclusões do relator especial são incluídas no relatório anual
dos comitês submetidos à AGNU, bem como nos comunicados distribuídos à imprensa”.
Conforme veremos no segundo módulo desse curso, o Brasil já foi responsabilizado uma vez no mecanismo
convencional quase-contencioso das petições individuais (Caso Alyne Pimentel, Comitê sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação contra a Mulher) e responde, atualmente, a uma denúncia formulada pelo ex-presidente Lula junto ao Comitê
de Direitos Humanos da ONU.

3. Mecanismos extraconvencionais

Conforme explicado anteriormente, os mecanismos extraconvencionais se diferenciam dos mecanismos convencionais


por não decorrerem diretamente de um tratado ou convenção internacional, mas sim de RESOLUÇÕES de órgãos políticos da
ONU ou deles derivados, adotadas a partir de interpretação dos dispositivos da Carta das Nações Unidas relativos à proteção
dos direitos humanos.
Existem mecanismos extraconvencionais criados pelos mais diversos órgãos das Nações Unidas (como a Assembleia-
Geral e o Conselho de Segurança), assim como pelos organismos especializados da ONU (como a OIT e a UNESCO). No entanto,
os instrumentos extraconvencionais adotados por esses órgãos ou organismos não chegam a constituir um “sistema” em
matéria de direitos humanos como aquele desenvolvido pela Comissão de Direitos Humanos e, depois, pelo Conselho de
Direitos Humanos, de modo que a nossa abordagem, aqui no curso, semelhante ao que se encontra em livros/manuais de
Direitos Humanos, se limitará aos mecanismos extraconvencionais adotados no âmbito da Comissão de Direitos Humanos, que,
conforme já veremos, foi substituída em 2006 pelo Conselho de Direitos Humanos.
Para entendermos o papel e a importância dos mecanismos extraconvencionais, é fundamental sabermos como eles
surgiram na evolução histórica do sistema global de proteção dos direitos humanos.
Os mecanismos extraconvencionais surgem no contexto de ineficácia dos mecanismos convencionais – que funcionam,
conforme vimos anteriormente, a partir de várias condicionantes, além de sujeitarem-se a diversas limitações, tanto temáticas
quanto geográficas –, tendo sido criados no período intervencionista da Comissão de Direitos Humanos.
A Comissão foi criada em 1947 mediante resolução do Conselho Econômico e Social (ECOSOC, na sigla em inglês), nos
termos do art. 68 da Carta das Nações Unidas, sendo-lhe atribuído o encargo inicial de submeter propostas para:
a) uma carta internacional de direitos;
b) declarações ou convenções internacionais sobre liberdades civis, o status da mulher, liberdade de informação e assuntos
relacionados;
c) a proteção das minorias; e
d) a prevenção da discriminação com base em raça, gênero, língua e religião.
@dicasexconcurseira 30
Sobre as fases da história da Comissão, vejamos a lição de Lindgren Alves:

“Na literatura existente sobre a Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas (CHD), a evolução de seus
trabalhos costuma ser dividida em 3 fases: a de redação de normas gerais, de 1947 a 1954; a de ‘promoção’ dos valores (através
de seminários, cursos, publicações etc.), de 1955 a 1966; a de iniciativas para a proteção dos direitos, a partir de 1967. As duas
primeiras correspondem ao extenso período ‘abstencionista’; a terceira, que prossegue no presente, constitui, em
contraposição aos vinte primeiros anos, o período ‘intervencionista’. Foi, contudo, apenas a partir de meados da década de 70
que a CDH passou a utilizar os mecanismos de controle com possibilidades de incidir mais diretamente no mundo real”.

E prossegue o autor:
“O período ‘intervencionista’ da CDH começa, pois, em 1967, por impulsão dos países do Terceiro Mundo de
independência recente, mobilizados pela luta contra o apartheid e o colonialismo, e será estendido, em 1969, ao caso dos
territórios árabes ocupados por Israel, e romperá a auto-restrição da CDH a respeito de sua competência para atuar a propósito
das comunicações recebidas sobre violações de direitos humanos em qualquer parte do mundo, com a adoção, pelo ECOSOC,
das Resoluções 1235, de 1967, e 1503, de 1970. O precedente criado em 1967 com o estabelecimento de um grupo especial de
peritos com o mandato de investigar torturas e maus tratos infligidos aos prisioneiros e pessoas detidas na África do Sul
propiciará, ainda, o amplo desenvolvimento dos mecanismos de controle verificado, sobretudo, a partir de 1975, em função do
caso chileno”.

Assim, o início da institucionalização dos procedimentos extraconvencionais ocorre na fase intervencionista da


Comissão de Direitos Humanos, por meio de 2 procedimentos, criados por resolução do Conselho Econômico e Social, para
estabelecer um sistema de controle das violações de direitos humanos praticadas por Estados membros da ONU.
O primeiro procedimento foi estabelecido pela Resolução nº 1235, de 1967, por meio da qual o ECOSOC autorizou a
Comissão de Direitos Humanos a debater publicamente, a partir de diversas fontes, inclusive de comunicações individuais,
casos de violações notórias e sistemáticas de direitos humanos. Esse procedimento, inicialmente limitado a uma situação
específica de violação de direitos humanos – discriminação racial e apartheid –, depois se expandiu, especialmente a partir do
precedente chileno (golpe de Estado do general Pinochet), para qualquer situação de violação notória e sistemática de direitos
humanos.
Também conhecido como PROCEDIMENTO PÚBLICO ou ESPECIAL, esse procedimento se desenvolve com a indicação
de grupos especiais (natureza coletiva) ou de relatores especiais (natureza unipessoal) para determinados temas (natureza
temática) ou área geográfica (natureza geográfica). Esses órgãos recebem a incumbência de investigar as notícias de violações
de direitos humanos, com a posterior elaboração de relatórios finais contendo as recomendações para os Estados.
O segundo procedimento foi estabelecido pela Resolução nº 1503, de 1970, por meio da qual o ECOSOC autorizou a
Comissão de Direitos Humanos a receber e processar petições ou queixas individuais. O objetivo desse procedimento, de
natureza confidencial, conforme a lição de André de Carvalho Ramos:
“(...) era identificar as comunicações que indiquem a existência de um quadro persistente de violações manifestas de
direitos humanos e das liberdades fundamentais. A violação manifesta consiste em uma situação que afete um grande número
de pessoas por um período dilatado de tempo.
Assim sendo, o procedimento 1503 não se preocupava com a situação individual para dar uma possível satisfação às
vítimas, dentro da sistemática tradicional da responsabilidade internacional do Estado por violações de direitos humanos. Ao
contrário, as petições individuais eram utilizadas somente para caracterizar uma situação de violação flagrante e maciça de
direitos humanos em um país ou região. Contudo, o procedimento era finalizado com recomendações de ações aos Estados, o
que beneficiava as vítimas”.
Em 2006, a Comissão de Direitos Humanos foi extinta, tendo sido criado, em seu lugar, o Conselho de Direitos
Humanos. Entre as razões para a extinção da Comissão, destaca-se a que diz respeito à sua politização, causada pela
participação entre os seus membros de Estados acusados de violações sistemáticas de direitos humanos e pela inexistência de
um mecanismo que verificasse o cumprimento dos direitos humanos no mundo inteiro, o que favorecia uma atuação
direcionada a somente alguns Estados específicos.

O Conselho se diferenciou da Comissão nos seguintes aspectos:

1) No que diz respeito à sua estrutura, o Conselho passou a ser um órgão subsidiário da Assembleia Geral e não mais do
Conselho Econômico e Social, como era o caso da sua antecessora. Essa modificação está diretamente relacionada à
reivindicação de um Conselho de Direitos Humanos como órgão principal da ONU;

2) O Conselho começou a gozar de uma natureza semipermanente, no sentido de que o período de sessões ordinárias do órgão
foi dividido, para que o Conselho se reunisse várias vezes ao ano e não só uma vez, como era o costume no órgão antigo. Assim,
o Conselho conta com três períodos de sessões ordinárias por ano, com uma duração total não inferior a dez semanas, e
também está dotado de um mecanismo flexível para organizar sessões fora dos períodos de encontro regular. Essa medida está
relacionada à reivindicação de um órgão que ofereça respostas mais ágeis às situações de violação dos direitos humanos.

@dicasexconcurseira 31
3) O novo órgão também sofreu uma ligeira modificação no número de membros que o compõe e nos critérios de seleção de
seus membros. O número de membros do Conselho foi reduzido: passou dos 53 que existiam na época da Comissão aos atuais
47. Da mesma forma, estabeleceu-se um sistema de eleição direta, individual e secreta para selecionar ditos membros;
modificou-se o número de cadeiras no grupo regional; restringiu-se o número de reeleições, evitando a existência de membros
permanentes de fato como era comum na época da Comissão; estimulou-se a apresentação de promessas e compromissos
voluntários de campanha para os Estados candidatos; estipulou-se a obrigação do membro do Conselho de apresentar-se em
caráter prioritário à Revisão Periódica Universal; e introduziu-se a possibilidade de suspender um Estado membro no caso de
grave conduta violadora de direitos humanos;

4) Os órgãos subsidiários que existiam na época da Comissão foram extintos ou renovados, com destaque para a extinção do
principal órgão de assessoria técnica da Comissão de Direitos Humanos: a Subcomissão para a Promoção e Proteção dos Direitos
Humanos;

5) No âmbito dos mecanismos não convencionais, a Resolução da Assembleia Geral 60/251, que criou o Conselho, previu a
revisão e o aperfeiçoamento do sistema de Procedimentos Especiais e do Procedimento nº 1503 (ou procedimento de
denúncia);

6) Com relação às funções do Conselho, este mantém basicamente o mesmo mandato da Comissão, que consistia em atividades
de redação, promoção e proteção, com o diferencial da Revisão Periódica Universal;

7) Finalmente, instaurou-se um mecanismo denominado Revisão Periódica Universal, para fazer um exame da situação de
direitos humanos na totalidade dos Estados membros da ONU. Tal exame universal foi realizado num período de quatro anos no
primeiro ciclo e, a partir do segundo ciclo, a previsão é a de que finalize ao cabo de quatro anos e meio. O objetivo da revisão é
permitir um tratamento igualitário dos Estados e evitar a parcialidade na hora de decidir quais países terão sua situação de
direitos humanos avaliada pelo Conselho, questão diretamente relacionada com o debate sobre o combate à politização”.

Atualmente, o Conselho de Direitos Humanos trabalha com 3 modalidades de procedimentos extraconvencionais:

a) procedimentos especiais;
b) procedimento de queixa; e
c) revisão periódica universal.

3.1. Procedimentos especiais

O Conselho de Direitos Humanos manteve os procedimentos especiais ou públicos conforme foram previstos
inicialmente na Resolução nº 1235, tendo havido apenas alterações na forma de trabalhar.
Conforme consta no site do Conselho de Direitos Humanos:
“Os procedimentos especiais consistem em uma pessoa (denominada ‘relator especial’ ou ‘especialista independente’)
ou em uma equipe de trabalho composta de 5 membros, um por cada grupo regional das Nações Unidas: África, Ásia, América
Latina e Caribe, Europa Oriental e o grupo Ocidental. Os relatores especiais, especialistas independentes e membros dos grupos
de trabalho são nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos e prestam serviço a título pessoal. Estas pessoas se
comprometem a executar seu trabalho com independência, eficiência, competência, integridade, probidade, imparcialidade,
honestidade e boa-fé. Os titulares nomeados não são membros do pessoal das Nações Unidas e não recebem nenhuma
remuneração. A independência dos titulares de mandatos é fundamental para que possam exercer suas funções com toda
imparcialidade. O tempo de serviço de um titular de mandato numa função determinada, tanto no caso de um mandato
temático como de um mandato por país, está limitado a um máximo de 6 anos.
Com o apoio da Oficina do ACNUDH, os titulares de procedimentos especiais realizam visitas aos países, atuam sobre
casos e situações individuais de natureza mais ampla e estrutural mediante o envio de comunicações aos Estados e a outros
interessados, nas quais chamam a atenção sobre denúncias de violações ou abusos; conduzem estudos temáticos e organizam
consultas a especialistas, contribuem com a elaboração de normativas internacionais sobre direitos humanos, participam em
tarefas de promoção, sensibilizam a população e assessoram em matéria de cooperação técnica. Os titulares de procedimentos
especiais apresentam relatórios anuais ao Conselho de Direitos Humanos; na maioria dos mandatos, também apresentam
relatórios à Assembleia Geral. Suas tarefas são definidas nas resoluções em virtude das quais são criados ou prorrogados os
mandatos”.
Atualmente existem 13 mandatos geográficos e 47 mandatos temáticos.

@dicasexconcurseira 32
3.2. Procedimentos de queixa

O Conselho de Direitos Humanos manteve o procedimento de queixa, mas alterou a forma de trabalho como estava
prevista na Resolução nº 1503, visando assegurar que o processamento da denúncia seja imparcial, objetivo e eficiente
(Resolução 5/1, de 2007). O Conselho aponta como vantagens do uso do seu procedimento de queixa:

a) pode-se apresentar uma denúncia contra qualquer país membro da ONU, independentemente de que este tenha ratificado
algum tratado;
b) a denúncia pode ser examinada no nível mais alto do mecanismo de direitos humanos das Nações Unidas; e
c) o fato de o procedimento ser confidencial potencializa a cooperação dos Estados.

Para otimizar o procedimento de queixa, o Conselho de Direitos Humanos criou dois grupos de trabalho: o Grupo de
Trabalho sobre Comunicações, que realiza uma triagem no recebimento das queixas, examinando o preenchimento dos
requisitos de admissibilidade; e o Grupo de Trabalho sobre Situações, que analisa as queixas e as respostas dos Estados, bem
como eventuais recomendações do Grupo de Comunicações, apresentando ao final um relatório ao Conselho de Direitos
Humanos, que irá deliberar sobre a queixa.

3.3. Revisão periódica universal à MECANISMO MAIS IMPORTANTE PARA PROVA DE CONCURSO!

A Revisão Periódica Universal (RPU) foi criada através da Resolução 60/251 da Assembleia-Geral das Nações Unidas,
que estabeleceu o Conselho de Direitos Humanos (CDH). Esta resolução conferiu ao CDH o mandato para “organizar uma revisão
periódica universal, baseada em informação objetiva e confiável, para o cumprimento das obrigações e compromissos de
direitos humanos de cada Estado de modo a que se assegure a universalidade de abrangência e o tratamento igual no que diz
respeito a todos os Estados”. Posteriormente, o CDH adotou uma resolução própria disciplinando o procedimento da RPU.
A RPU consiste em um mecanismo extraconvencional de proteção dos direitos humanos que se baseia no conceito de
“REVISÃO PELOS PARES” (peer review), ou seja, os Estados se auto-avaliam mutuamente quanto a situação dos direitos
humanos em seus respectivos territórios, gerando, ao final, um conjunto de recomendações. Observem, portanto, que a RPU
não tem como objetivo assentar a responsabilidade internacional dos Estados, mas apenas gerar recomendações mediante um
“diálogo construtivo”, ressaltando daí a sua natureza essencialmente POLÍTICA.

O procedimento da RPU funciona basicamente assim:


1) O Estado examinado apresenta relatório nacional sobre a situação dos direitos humanos em seu território;
2) Após, é juntado ao procedimento uma compilação de todas as informações referentes ao Estado examinado constante dos
procedimentos extraconvencionais;
3) Na sequência, ONGs e outros atores interessados também podem apresentar seus informes e outros documentos relevantes;
4) Depois, é realizada uma sessão de “diálogo construtivo” entre o Estado e os demais Estados membros da ONU (membros ou
não do Conselho);
5) Na sequência, são nomeados pelo Conselho 3 Estados (escolhidos entre os diversos grupos regionais, por sorteio), conhecidos
como “troika”, que atuam como verdadeiros relatores da RPU do Estado examinado;
6) Após, a “troika” resume as discussões e elabora o Relatório de Resultado ou Relatório Final, compilando toda a discussão,
observações e sugestões aos Estados, bem como as respostas;
7) Finalmente, o relatório é aprovado pelo CDH.

Como vantagem da RPU, aponta-se a sua abrangência, que se estende a todos os países membros da ONU, no que se
diferencia dos procedimentos anteriormente adotados pela Comissão de Direitos Humanos, aos quais se atribuía a característica
da seletividade, fazendo com que países reconhecidamente violadores de direitos humanos ficassem de fora do monitoramento.
Como desvantagem da RPU, aponta- se o seu caráter essencialmente político, e isso porque esse procedimento
extraconvencional aposta em algo que contradiz a história da evolução dos sistemas internacionais de proteção dos direitos
humanos, que diz respeito ao julgamento dos Estados por eles mesmos, e não por órgãos ou tribunais compostos por
especialistas independentes.

QUESTÕES

1. Como exemplo de mecanismo convencional de proteção dos direitos humanos, pode-se citar a revisão periódica universal.

( ) CERTO ( ) ERRADO

@dicasexconcurseira 33
2. Como exemplo de mecanismo extraconvencional de proteção dos direitos humanos, pode-se citar o sistema de petições
individuais para os comitês dos tratados da ONU.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. Não se admite a prática do relatório sombra ou shadow report no sistema de relatórios dos tratados de direitos da ONU.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Para que um Estado possa ser demandado perante mecanismos extraconvencionais de proteção de direitos humanos, basta
ser membro da ONU, não se exigindo que tenha ratificado o tratado que protege o direito humano supostamente violado nem
que tenha aceitado a competência dos órgãos extraconvencionais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 ERRADO
3 ERRADO
4 CERTO

@dicasexconcurseira 34
Aula 07
Principais aspectos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Introdução, natureza e valor jurídico da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH)

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi aprovada em 10.12.1948 pela Assembleia-Geral da ONU. Dos
58 países membros da ONU naquele momento: 48 votaram à favor, nenhum votou contra, 8 se abstiveram (África do Sul, Arábia
Saudita, Bielo-Rússia, Iugoslávia, Polônia, Tchecoslováquia, Ucrânia e União Soviética) e 2 países (Honduras e Iêmen) não
participaram da votação. A DUDH, além de ser o GRANDE MARCO DA UNIVERSALIDADE e INERÊNCIA dos direitos humanos,
representa o PRIMEIRO INSTRUMENTO INTERNACIONAL QUE PROTEGE TANTO DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS, QUANTO
DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS, servindo de modelo ou paradigma para a proteção dos direitos fundamentais
nas Constituições e leis dos países.
No que diz respeito à NATUREZA JURÍDICA da Declaração Universal, ela foi adotada como uma RESOLUÇÃO DA
ASSEMBLEIA-GERAL DA ONU, NÃO POSSUINDO, portanto, A NATUREZA DE TRATADO, daí decorrendo a conhecida discussão
sobre o seu VALOR JURÍDICO. Não há dúvida de que a grande maioria dos Estados Membros da ONU, ao votarem à favor da
DUDH, assim o fizeram levando em consideração que não estavam aderindo a um texto de natureza vinculante. Além disso,
sendo a primeira etapa da Carta Internacional dos Direitos Humanos, a Declaração Universal não foi redigida para ser um
instrumento vinculante, papel que seria desempenhado, depois, pelos Pactos de 1966.
NO ENTANTO, conforme a lição de Buergenthal, Grossman e Nikken:

“ATUALMENTE a DOUTRINA sustenta QUASE UNANIMIMENTE que a Declaração é um instrumento normativo que
CRIA OBRIGAÇÕES LEGAIS para os Estados membros da ONU. A disputa sobre seu caráter legal, no caso de existir, não se
refere à sua falta de força obrigatória. O DESACORDO SE REDUZ A SABER SE TODOS OS DIREITOS PROCLAMADOS TÊM FORÇA
OBRIGATÓRIA E EM QUAIS CIRCUNSTÂNCIAS.
(...) O valor legal atribuído à Declaração encontra basicamente dois fundamentos na teoria jurídica. Para alguns, a
contínua utilização pela ONU da Declaração Universal permite concluir que esta foi aceita como INTERPRETAÇÃO LEGÍTIMA DAS
NORMAS RELEVANTES DA CARTA DA ORGANIZAÇÃO, especialmente das disposições da Carta relativas às obrigações dos
Estados de promover o respeito universal pela observância dos direitos humanos.
Outra escola de pensamento sustenta que a utilização constante da Declaração Universal pelos governos e
organizações intergovernamentais constitui uma prática que, efetuada com a convicção de responder a uma obrigação jurídica,
reúne os requisitos para ser considerada como uma NORMA CONSUETUDINÁRIA. Porém, deve-se reconhecer que uma análise
cuidadosa da prática dos Estados sugere que nem todos os direitos proclamados pela Declaração adquiriram o status de norma
consuetudinária”.

A Corte Internacional de Justiça já decidiu pelo caráter de NORMA COSTUMEIRA da DUDH, considerando-a como
elemento de interpretação do conceito de direitos humanos previsto na Carta da ONU (Caso Pessoal Diplomático e Consular
norte-americano em Teerã, 1980). A Corte Interamericana também já decidiu pelo valor jurídico e vinculante da Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, que consiste, no seu entendimento, na interpretação autêntica das obrigações
dos Estados previstas na Carta da OEA sobre os direitos humanos (Opinião Consultiva 10/1989), entendimento que pode ser
perfeitamente adaptado para a relação existente entre a DUDH e a Carta das Nações Unidas.

NATUREZA JURÍDICA VALOR JURÍDICO


Resolução da Assembleia-Geral da ONU (NÃO É TRATADO). Doutrina majoritária e jurisprudência internacional: natureza
vinculante (NÃO é mais norma de soft law).

Estrutura e direitos protegidos pela DUDH

A DUDH é composta de um preâmbulo e 30 artigos. Recomendo uma leitura atenta do seu texto, que reproduzo a
seguir:

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e
inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência
da humanidade e que o advento de um mundo em que mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da
liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum,

@dicasexconcurseira 35
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja
compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,

Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do ser humano, na
dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher e que decidiram promover o
progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Países-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito
universal aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano e a observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento
desse compromisso,

Agora portanto a Assembléia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser
atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre
em mente esta Declaração, esforce-se, por meio do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades,
e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua
observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Países-Membros quanto entre os povos dos territórios sob
sua jurisdição.

Artigo 1

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos (INFLUÊNCIA JUSNATURALISTA, DA ESCOLA
NATURALISTA DE DIREITO NATURAL). São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito
de fraternidade.

Artigo 2

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de
qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social,
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que
pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer
outra limitação de soberania.

Artigo 3

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo 5

Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo 6

Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.

Artigo 7

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção
contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

@dicasexconcurseira 36
Artigo 8

Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos
fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo 9

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10

Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e
imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo 11

1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha
sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à
sua defesa.

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito
nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte de que aquela que, no momento da prática, era aplicável
ao ato delituoso.

Artigo 12

Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à
sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo 13

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse regressar.

Artigo 14

1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos
contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 15

1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo 16

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair
matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. Q1

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Artigo 17

1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

@dicasexconcurseira 37
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo 18

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de
religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em
particular.

Artigo 19

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter
opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo 20

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21

1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes
livremente escolhidos.

2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; essa vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por
sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo 22

Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela
cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais
indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo 23

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à
proteção contra o desemprego.

2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe assegure, assim como à sua família,
uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.

Artigo 24

Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas
periódicas.

Artigo 25

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive
alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de
desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu
controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do
matrimônio, gozarão da mesma proteção social.
@dicasexconcurseira 38
Artigo 26

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A
instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico- profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior,
esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito
pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade
entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da
paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo 27

1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do
progresso científico e de seus benefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica
literária ou artística da qual seja autor.

Artigo 28

Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente
Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo 29

1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é
possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei,
exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer
as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das
Nações Unidas.

Artigo 30

Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou
pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e
liberdades aqui estabelecidos.

Sobre a compreensão de costumes incluída na DUDH, parece oportuna a observação de Weis:

“Na realidade, apesar de seu reconhecimento quase universal, a Declaração reflete o conteúdo da dignidade humana
auferido no pós-guerra, o qual vem sofrendo a ação da História – o que, aliás, confere aos direitos humanos contemporâneos
outra de suas características: a historicidade.
Assim, ao dizer que ‘a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade’ (art. XVI, 3), que ‘todas as crianças,
nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social’ (art. XXV, 2), ou, ainda, que o casamento se dá entre
homens e mulheres (art. XVI, 1), a Declaração ignora a realidade de milhares de pessoas que vivem em situações outras que as
por ela imaginadas, sendo evidente que há outras formas de relacionamento humano que não o matrimonial, nem por isso mais
ou menos ‘naturais’. Até porque manifestações culturais dos seres humanos não devem ser qualificadas por adjetivos relativos a
fatos ou atos instintivos ou biológicos.
(...) Tais críticas, porém, não retiram o caráter simbólico da Declaração Universal, e sua quase total atualidade
demonstra a inconveniência política de se alterar seu consagrado texto, até porque a atualização do catálogo dos direitos
humanos tem se realizado constantemente, por meio de novos tratados, declarações e programas de ações (...). A vitalidade do
Sistema Universal dos Direitos Humanos, portanto, o mantém em constante afinidade com os valores que traduzem a dignidade
fundamental do ser humano”.
@dicasexconcurseira 39
QUESTÕES

1) A DUDH foi aprovada por apertada maioria em votação realizada pelos países membros da ONU.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2) Embora a DUDH não tenha a natureza jurídica de tratado, a doutrina majoritária reconhece o seu efeito vinculante.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3) A DUDH, tal como as declarações resultantes das revoluções liberais, prevê apenas direitos civis e políticos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4) Considerada avançada para o tempo em que foi adotada (1948), a DUDH prevê, por exemplo, o direito ao casamento entre
pessoas do mesmo sexo.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5) Fruto da vitória neste ponto dos países alinhados ao bloco socialista, a DUDH não prevê o direito de propriedade.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 ERRADO
4 ERRADO
5 ERRADO

@dicasexconcurseira 40
Aula 08
Principais aspectos do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e seus dois protocolos facultativos

Introdução e estrutura do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e seus dois protocolos facultativos

O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP) foi adotado pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em
16.12.1966, tendo entrado em vigor somente em 1976, quando foi depositado o 35º instrumento de ratificação, requisito
exigido pelo seu art. 49.1:
“O presente Pacto entrará em vigor 3 meses após a data do depósito, junto ao Secretário-Geral da Organização das
Nações Unidas, do trigésimo-quinto instrumento de ratificação ou adesão”.
O PIDCP teve como objetivo conferir uma natureza jurídica VINCULANTE aos direitos CIVIS e POLÍTICOS – ou direitos
humanos liberais – previstos na DUDH, assim como CRIAR MECANISMOS DE MONITORAMENTO INTERNACIONAL DE
IMPLEMENTAÇÃO DESSES DIREITOS PELOS ESTADOS PARTES.

FIQUE LIGADO! O PIDCP, portanto, JURISDICIZOU a DUDH!

O PIDCP divide-se em 6 partes, sendo elas as seguintes:

à Parte I (art. 1º): prevê o direito de todos os povos de dispor livremente de suas riquezas e de seus recursos naturais e à
autodeterminação.

à Parte II (artigos 2º a 5º): estabelece as condições gerais de aplicação do Pacto (obrigações dos Estados, suspensão de direitos
etc).

à Parte III (artigos 6º a 27): apresenta os direitos protegidos pelo Pacto.

à Parte IV (artigos 28 a 45): cuida dos mecanismos de proteção, especialmente com a criação do Comitê de Direitos Humanos.

à Parte V (artigos 46 e 47): prevê a proteção a respeito da soberania dos recursos naturais e a relação entre as obrigações
dispostas no PIDCP e as previstas na Carta das Nações Unidas.

à Parte VI (artigos 48 a 53): estabelece normas referentes à assinatura, ratificação e entrada em vigor do Pacto.

Direitos protegidos PIDCP


Vejamos na tabela abaixo os direitos protegidos pelo PIDCP:

Artigo Tema
Artigo 6º Direito à vida, proibição da privação arbitrária da liberdade e limitação da pena de morte
Artigo 7º Integridade física e proibição de experimento médico ou científico sem o livre consentimento
Artigo 8º Proibição de trabalho forçado ou obrigatório
Artigo 9º Liberdade e segurança pessoais, proibição de prisão perpétua e habeas corpus
Artigo 10 Dignidade no tratamento nas prisões
Artigo 11 Proibição da prisão por dívidas
Artigo 12 Livre trânsito
Artigo 13 Proibição de expulsão arbitrária do território de um Estado
Artigo 14 Devido processo
Artigo 15 Irretroativadade da lei penal
Artigo 16 Reconhecimento da personalidade jurídica
Artigo 17 Vida privada
Artigo 18 Liberdade de pensamento, consciência e religião
Artigo 19 Liberdade de expressão
Artigo 20 Proibição da propaganda de guerra e apologia do ódio racial
Artigo 21 Liberdade de reunião
Artigo 22 Liberdade de associação
Artigo 23 Família e liberdade de casamento
Artigo 24 Direito das crianças
Artigo 25 Direitos políticos
Artigo 26 Igualdade perante a lei
Artigo 27 Proteção das minorias
@dicasexconcurseira 41
Protocolos facultativos

A ideia de se criar um protocolo facultativo é conquistar um maior número possível de adesões ao Pacto principal.
Então, o Protocolo Facultativo ele sempre vai veicular uma matéria mais polêmica e que desperta maiores discussões entre os
Estados. Se não houvesse os Protocolos Facultativos e toda a matéria tratada neles fosse transportada para o texto ordinário do
Pacto, dificilmente se conseguiria tantas adesões.
O PIDCP conta com 2 protocolos facultativos.
O primeiro Protocolo Facultativo foi adotado na mesma ocasião em que o Pacto foi adotado, em 16.12.1966, tendo a
finalidade de atribuir ao Comitê de Direitos Humanos competência para receber e examinar comunicações provenientes de
INDIVÍDUOS que aleguem ser vítimas de uma violação.
Esse Protocolo Facultativo está em vigor desde 23.03.1976, quando foi depositado o 10º instrumento de ratificação ou
de adesão, nos termos do seu art. 9.1: “Sob ressalva da entrada em vigor do Pacto, o presente Protocolo entrará em vigor 3
meses após a data do depósito junto ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas do décimo instrumento de
ratificação ou de adesão”.
O Segundo Protocolo Facultativo foi adotado pela Assembleia-Geral da ONU em 15.12.1989, tendo como finalidade a
abolição da pena de morte.

ATENÇÃO! Enquanto o PIDCP somente admite a aplicação da pena de morte – nos países em que não tenha sido abolida – nos
casos de “crimes mais graves”, o Segundo Protocolo avança no sentido de estabelecer uma restrição ainda maior, admitindo a
aplicação da pena de morte apenas no caso de “condenação por infração penal de natureza militar de gravidade extrema
cometida em tempo de guerra”, desde que o Estado faça uma reserva nesse sentido (art. 2º).

OBS: Nos países em que a pena de morte tenha sido abolida, não pode haver a sua restauração.

Mecanismos de proteção

O órgão incumbido monitorar o cumprimento dos direitos previstos no PIDCP é o Comitê de Direitos Humanos, criado
nos termos do art. 28 e seguintes do Pacto. Vejamos no quadro abaixo as principais características e informações sobre o
Comitê:

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E INFORMAÇÕES SOBRE O COMITÊ DE DIREITOS HUMANOS


Criação Criado pelo PIDCP (art.28.1)
Composição Composto de 18 membros, que exercem suas funções a TÍTULO PESSOAL, e não como representante dos
Estados (arts.28.1 e 28.3). O Comitê NÃO pode ter mais de um nacional de um mesmo Estado (art.31.1)
Requisitos Elevada reputação moral e reconhecida competência em matéria de direitos humanos, não se exigindo,
para integrar portanto, formação jurídica, embora se considere útil a participação de algumas pessoas com experiência
o Comitê jurídica (art.28.3)
Cada Estado-parte do PIDCP pode indicar 2 nacionais para concorrer à vaga no Comitê (art.29.3). A mesma
pessoa pode ser indicada mais de uma vez (art.29.3). O Secretário-Geral da ONU organiza o processo
Processo de eleitoral (art. 30.3). A eleição é realizada na sede da ONU, exigindo-se o quórum de 2/3 dos Estados-partes
eleição do PIDCP (art.30.4). Os membros do Comitê são eleitos em votação secreta (art.29.1) pelos Estados-partes
do PIDCP (art.30.4). Nas eleições do Comitê, devem ser levadas em conta uma distribuição geográfica
equitativa e uma representação das diversas formas de civilização, bem como dos sistemas jurídicos
(art.31.2).
Mandato 4 anos, admitindo-se reeleição (art.32.1)
Remuneração Honorários provenientes de recursos da ONU (art.35)
Regras de O próprio Comitê estabelece seu regulamento (art.39.1)
procedimento

Os mecanismos de proteção previstos no PIDCP são os seguintes:

MECANISMOS DE PROTEÇÃO PREVISTOS NO PIDCP


Os Estados comprometem-se a submeter relatórios sobre as medidas adotadas para tornar efetivos os
direitos reconhecidos no Pacto e sobre o progresso alcançado no gozo desses direitos:
a) dentro do prazo de 1 ano, a contar do início da vigência do PIDCP no Estado Parte; e
b) a partir de então, sempre que o Comitê solicitar (art. 40.1).
Relatórios
O Comitê estuda os relatórios apresentados pelos Estados Partes e transmite a esses seu próprio relatório,
bem como os comentários gerais que julgar oportuno, podendo, ainda, transmitir seus relatórios ao

@dicasexconcurseira 42
Conselho Econômico e Social (art. 40.4). Os Estados Partes podem submeter ao Comitê as observações que
desejam formular relativamente aos comentários feitos pelo próprio Comitê (art. 40.5).
Depende de declaração expressa do Estado (art. 41.1). O BRASIL NÃO FEZ. O procedimento se inicia com
Comunicação uma comunicação do Estado denunciante encaminhada diretamente ao Estado denunciado (art. 41.1.a).
interestatal Não resolvida a questão “extrajudicialmente”, qualquer dos Estados interessados podem submetê-la ao
Comitê (art. 41.1.b). Exige-se o esgotamento dos recursos internos (art. 41.1.c). O Comitê funciona, nesse
procedimento de comunicação interestatal, como mediador do conflito entre os Estados-Partes, não
possuindo competência para impor uma solução concreta para os Estados.

Exige ratificação do Protocolo Facultativo: “O Comitê não receberá nenhuma comunicação relativa a um
Estado Parte no Pacto que não seja no presente Protocolo” (art. 1º do Protocolo).
Petições ou Exige-se o prévio esgotamento dos recursos internos (art. 2º).
comunicações Além disso, a mesma questão não pode estar sendo examinada por outra instância internacional –
individuais litispendência internacional (art. 5.2.a) NÃO são admitidas petições que sejam ANÔNIMAS ou cuja
apresentação constitua abuso de direito ou, ainda, seja incompatível com as disposições do PIDCP (art. 3º).

O procedimento no Comitê se desenvolve em 4 fases:


1) admissibilidade;
2) instrução probatória;
3) deliberação sobre o mérito; e
4) publicação e execução da decisão.

A execução das decisões do Comitê pode se dar por meio de solicitação de relatórios ao Estado.
Em 1990, conforme registra André de Carvalho Ramos, o Comitê, em sua 39ª Sessão, ampliou esse controle
de execução ao estabelecer um procedimento próprio de verificação da implementação das conclusões
aprovadas pelo Comitê em face de um Estado violador de direitos humanos, consistente na criação do cargo
de relator especial de acompanhamento de casos.

O Comitê pode expedir MEDIDA PROVISÓRIA (Regulamento, art. 92).

O Brasil e o PIDCP

A situação do Brasil quanto ao PIDCP é a seguinte:

a) promulgou o Pacto por meio do Decreto nº 592/1992;


b) NÃO fez a declaração do art. 41 do Pacto no sentido de reconhecer a competência do Comitê para receber e examinar
comunicações interestatais;
c) ratificou o Primeiro Protocolo Facultativo em 25.09.2009, sem ter, ainda, procedido com a sua internalização por meio do
decreto de promulgação;
d) ratificou o Segundo Protocolo Facultativo em 25.09.2009 (sem ter, igualmente, procedido com a sua promulgação), com
expressa RESERVA ao art. 2º, se reservando, portanto, no direito de aplicar a pena de morte no caso de guerra declarada (CF,
art. 5º, XLVII, a).

O caso Lula

Finalmente, lembro a vocês que o Brasil recentemente foi demandado perante o Comitê de Direitos Humanos pelo ex-
presidente Lula, que obteve do Comitê uma medida provisória, contra o Estado brasileiro, para que fosse viabilizado o registro
da sua candidatura para concorrer às eleições de 2018. Não nos interessa, nesta aula pelo menos, uma incursão no mérito do
Caso Lula, que ainda é “provisório”, pois o Comitê de Direitos Humanos da ONU ainda ouvirá o Brasil e ao final decidirá sobre a
denúncia. O importante, nesse momento, é analisarmos a seguinte questão: o Brasil precisa cumprir a decisão de medida
provisória do Comitê?

Vejamos o que decidiu o TSE:

7. (...) Em atenção aos compromissos assumidos pelo Brasil na ordem internacional, a manifestação do Comitê merece
ser levada em conta, com o devido respeito e consideração. NÃO tem ela, todavia, CARÁTER VINCULANTE e, no presente caso,
não pode prevalecer, por diversos fundamentos formais e materiais.

@dicasexconcurseira 43
7.1. Do ponto de vista formal, (i) o Comitê de Direitos Humanos é órgão administrativo, sem competência jurisdicional,
de modo que suas recomendações não têm caráter vinculante; (ii) o Primeiro Protocolo Facultativo ao PIDCP, que legitimaria a
atuação do Comitê, não está em vigor na ordem interna brasileira”.

(TSE, Registro de candidatura no 0600903-50.2018.6.00.0000, rel. Min. Roberto Barroso, j. 01.09.2018).


Percebam, então, que o TSE – vencido apenas o ministro Fachin – se valeu de dois argumentos para não cumprir a
decisão do Comitê, sendo eles:
a) o caráter não vinculante da decisão do Comitê; e
b) a ausência de internalização na ordem jurídica brasileira do protocolo facultativo que conferiu ao Comitê a competência para
receber e processar petições individuais.

Sobre o primeiro argumento, vejamos a exposição de André de Carvalho Ramos:

“O caráter não judicial das instâncias internacionais de averiguação das pretensas violações e a ausência de disposições
expressas nos tratados sobre a obrigatoriedade dos mesmos acarretam dúvidas sobre a força vinculante destas deliberações.
Percebe-se a existência de duas correntes. De um lado, os defensores do caráter não vinculante destas deliberações enfatizam a
ausência de disposição expressa nos tratados internacionais. Apontam, também, o estágio atual do Direito Internacional dos
Direitos Humanos, que exigiria a cooperação dos Estados para o cumprimento de suas normas. Essa cooperação seria mais
facilmente obtida através da ausência de coerção e da prevalência do convencimento.
É significativa a postura de vários Estados em explicitar relutância em reconhecer mesmo as deliberações dos órgãos
convencionais baseados em tratados (treaty bodies) como decisões vinculantes. Esta postura traduz-se em enfatizar, por
exemplo, a natureza puramente voluntária ou ex gratia do pagamento de indenizações à vítima de violações de direitos
humanos.
(...) A segunda corrente, por seu turno, indica que a interpretação sistemática e finalística dos tratados de direitos
humanos deve ser feita em prol do aumento da carga protetiva, já que os mesmos foram celebrados justamente para proteger o
indivíduo e não para dar vantagens materiais aos contratantes.
Além disso, o poder de apreciar as petições pelos Comitês foi conferido, em geral, graças à adesão à cláusula
facultativa. Logo, o Estado pode aderir ao tratado sem concordar com tais cláusulas, ficando imune ao sistema de petições. Mas
se expressamente aceita tal sistema seria ilógico considerar as deliberações finais dos mesmos como meros conselhos ou
recomendações.
Para dirimir qualquer dúvida, foi apresentada, na Conferência Mundial de Viena de 1993, sugestão de inserção de um
parágrafo ao artigo 5º do Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, pelo qual os Estados
contratantes comprometer-se- iam a implementar as decisões do Comitê de Direitos Humanos.
De fato, é insensato negociar novos Protocolos facultativos (...) e novos procedimentos de controle quase judiciais, caso
se continue a negar ou duvidar do caráter vinculante das decisões prolatadas por esses mesmos órgãos. Essa proposta não foi
aprovada pelos Estados, o que demonstra o acerto da opção por acordos regionais como a criação de Cortes como o caminho
mais curto para assegurar a obrigatoriedade das deliberações internacionais geradas de processos de responsabilidade
internacional do Estado por violação de direitos humanos”.

E ainda, a lição de Aline Albuquerque e Alessia Barroso:

“(...) os Estados devem cumprir as sentenças proferidas pelos órgãos judiciais, assim como as recomendações dos
relatórios oriundos dos órgãos quase judiciais, isso porque ambos derivam da ratificação de tratados, a despeito da distinção do
fundamento da obrigatoriedade da sua observância. Com efeito, a sentença deve ser cumprida em virtude de estar expressa nos
tratados a força vinculante de tal tipo de decisão. Por outro lado, as recomendações devem ser cumpridas pelo Estado em
decorrência do princípio pacta sunt servanda e do princípio da boa-fé, que significa a aceitação da força vinculante das normas
internacionais e a efetiva realização dos fins nelas prescritos, ou seja, os Estados que aderem aos tratados têm o dever de
adimplir suas obrigações e, conseguintemente, executar espontaneamente os preceitos contidos na sentença e nos relatórios
dos órgãos quase judiciais” (Albuquerque e Barroso, p. 152-153).

Na opinião do prof. Caio Paiva, as decisões dos comitês dos tratados de direitos humanos da ONU são vinculantes para
os Estados, seja pelo princípio da boa-fé, que deve nortear todo o regime jurídico objetivo dos tratados de direitos humanos,
seja pela necessidade de se conferir aos mecanismos convencionais a efetividade necessária para o funcionamento do sistema
global. O professor considera incoerente aderir ao protocolo facultativo que habilita o comitê a receber e processar petições
individuais para depois se recusar a cumprir as decisões emitidas pelo comitê.

ATENÇÃO! Se o tema for cobrado em provas de concursos (em discursiva ou oral; obs: em objetiva fica complicado diante da
controvérsia apontada), Caio Paiva orienta a ressaltar a divergência na doutrina, mas a defender a corrente pela
VINCULAÇÃO, que tem sido sustentada, recentemente, pelos próprios comitês dos tratados de direitos humanos.

@dicasexconcurseira 44
Quanto ao segundo argumento, de fato, conforme veremos na Aula 23, o STF entende que, para um tratado – de
direitos humanos ou não – possuir efeito na ordem jurídica interna, ele precisa passar por 4 fases:
a) assinatura;
b) aprovação pelo Congresso Nacional;
c) ratificação; e
d) decreto de promulgação.
O Brasil não cumpriu a última fase quanto ao Protocolo Facultativo que conferiu competência ao Comitê de Direitos
Humanos da ONU para receber e processar petições individuais. No entanto, Caio Paiva entende ser perfeitamente possível
realizar uma espécie de distinguishing nesta matéria para estabelecer o seguinte:

1) tratados que CRIAM OBRIGAÇÕES de respeitar e proteger direitos humanos, para entrarem em vigor na ordem jurídica
nacional, precisam passar também pela fase do decreto de promulgação;

2) enquanto que tratados que apenas ESTABELECEM MECANISMOS DE PROTEÇÃO, sem criar novas obrigações de respeitar e
proteger direitos humanos, entram em vigor, internacional e nacionalmente, com a sua ratificação, sendo desnecessário o
decreto de promulgação.

Sobre o tema, vejamos ainda a lição de Carla Dantas:

“O depósito da declaração internacional aceitando a competência do comitê ou, conforme o caso, o depósito da
ratificação do protocolo facultativo que implique na aceitação da competência do comitê, são atos internacionais que obrigam
internacionalmente os Estados, conforme certos termos e condições estabelecidos na própria declaração ou no tratado
internacional.
Do ponto de vista do direito interno, no caso do Brasil, é a promulgação pelo Presidente da República que confere
validade e executabilidade a esses atos no ordenamento brasileiro. Ressalte-se que, sendo tal promulgação um ato de direito
interno, sua ocorrência não se confunde, e por isso não se condiciona, ao início da competência internacional dos comitês em
avaliar as petições endereçadas pelos jurisdicionados brasileiros, o que se dá, no plano do Direito Internacional, pelo depósito
da declaração perante o Secretariado da ONU ou pela ratificação do protocolo facultativo, conforme as regras formais
estabelecidas pelo próprio tratado”.

Reflexão do professor: pensem o quanto é estranho um tratado vigorar na ordem jurídica internacional e não vigorar na
ordem jurídica interna... Falaremos mais sobre isso na Aula 12.

QUESTÕES

1. O PIDCP conta com apenas um mecanismo de proteção, que é o sistema de relatórios.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. O Brasil não pode ser demandado perante o Comitê de Direitos Humanos da ONU, pois não ratificou o primeiro Protocolo
Facultativo ao PIDCP.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. O segundo Protocolo Facultativo ao PIDCP trata da abolição da pena de morte, não a admitindo em nenhuma hipótese.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 ERRADO
3 ERRADO

@dicasexconcurseira 45
Aula 09
Principais aspectos do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu protocolo facultativo

Introdução e estrutura do PIDESC

O PIDESC foi adotado pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em 16.12.1966, tendo entrado em vigor somente em
1976, quando foi depositado o 35º instrumento de ratificação, requisito exigido pelo seu art. 27.1: “O presente Pacto entrará em
vigor 3 meses após a data do depósito, junto ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, do trigésimo-quinto
instrumento de ratificação ou adesão”.
O PIDESC teve como objetivo conferir uma natureza jurídica VINCULANTE aos direitos ECONÔMICOS, SOCIAIS e
CULTURAIS – ou direitos humanos sociais ou de igualdade – previstos na DUDH, assim como CRIAR MECANISMOS DE
MONITORAMENTO INTERNACIONAL DA IMPLEMENTRAÇÃO DESSES DIREITOS PELOS ESTADOS PARTES.

O PIDESC divide-se em 5 partes, sendo elas as seguintes:

à Parte I (art. 1º): prevê o direito de todos os povos de dispor livremente de suas riquezas e de seus recursos naturais e à
autodeterminação.

à Parte II (artigos 2º a 5º): estabelece as condições gerais de aplicação do Pacto (obrigações dos Estados, suspensão de direitos
etc.).

à Parte III (artigos 6º a 15): apresenta os direitos protegidos pelo Pacto.

à Parte IV (artigos 16 a 25): cuida dos mecanismos de proteção.

à Parte V (artigos 26 e 31): estabelece normas referentes à assinatura, ratificação e entrada em vigor do Pacto.

Direitos protegidos pelo PIDESC

Vejamos na tabela abaixo os direitos protegidos pelo PIDESC:

Artigo Tema
Artigo 6º Trabalho
Artigo 7º Condições de trabalho justas e favoráveis
Artigo 8º Liberdade sindical
Artigo 9º Previdência social
Artigo 10 Proteção social da família
Artigo 11 Padrão adequado de vida (alimentação, vestimenta e moradia adequadas, etc)
Artigo 12 Mais elevado níve de saúde física e mental
Artigo 13 Educação
Artigo 14 Educação primária
Artigo 15 ParticipaçÃo da vida cultural, desfrute do progresso científico e benefício da proteção dos interesses morais e
materiais decorrentes de toda produção científica, literária ou artística.

MUITA ATENÇÃO! O art. 2º prevê a forma de implementação PROGRESSIVA dos direitos econômicos, sociais e culturais:

ARTIGO 2º

1. Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio como pela assistência e
cooperação internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que
visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente
Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas.
2. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a garantir que os direitos nele enunciados e exercerão sem
discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação.
3. Os países em desenvolvimento, levando devidamente em consideração os direitos humanos e a situação econômica nacional,
poderão determinar em que garantirão os direitos econômicos reconhecidos no presente Pacto àqueles que não sejam seus

@dicasexconcurseira 46
nacionais. à OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO, NA IMPLEMENTAÇÃO PROGRESSIVA, PODEM PRIORIZAR OS SEUS NACIONAIS
NO QUE TANGE AOS DIREITOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS (DIFERENCIAÇÃO ENTRE NACIONAIS E ESTRANGEIROS)

Protocolos facultativos

O PIDESC conta com apenas 1 protocolo facultativo. O Protocolo Facultativo ao PIDESC foi adotado em 10.12.2008
pela Assembleia-Geral da ONU, tendo entrado em vigor em 2013, nos termos do seu art. 18.1: “O presente Protocolo entrará
em vigor 3 meses depois da data do depósito junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas do décimo instrumento de ratificação
ou de adesão”.
O objetivo do PF-PIDESC foi atribuir competência ao Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais para receber e
analisar PETIÇÕES INDIVIDUAIS de indivíduos que aleguem serem vítimas de violação de quaisquer dos direitos protegidos
pelo PIDESC.

Mecanismos de proteção

Diferentemente do PIDCP, o PIDESC NÃO CRIOU O SEU COMITÊ, atribuindo ao Conselho Econômico e Social (ECOSOC)
a competência para monitorar o respeito aos direitos econômicos, sociais e culturais. No entanto, em 1985, o ECOSOC
resolveu criar o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais por meio da sua Resolução 1985/17, prevendo o seu
objetivo, a sua composição, o mecanismo de eleição dos seus membros e os procedimentos de trabalho que deve observar.

Os mecanismos de proteção previstos no PIDESC e no seu Protocolo Facultativo são os seguintes:

MECANISMOS DE PROTEÇÃO PREVISTOS NO PIDESC


Relatórios Os Estados comprometem-se a submeter relatórios sobre as medidas que tenham tomado e sobre o
progresso realizado com o objetivo de assegurar a observância dos direitos reconhecidos no Pacto (art.16.1)

Exige ratificação do Protocolo Facultativo: “O Comitê não deverá receber nenhuma comunicação
Petições ou respeitante a um Estado Parte no Pacto que não seja parte no presente Protocolo” (art.1.2 do Protocolo).
comunicações Exige-se o prévio esgotamento dos recursos internos (Protocolo Facultativo – PF, art.3.1).
individuais Além disso, o Comitê deve declarar uma petição inadmissível quando (art. 3.2):
a) não for submetida no prazo de 1 ano após o esgotamento das vias de recurso internas, exceto nos casos
em que o autor possa demonstrar que não foi possível submeter a comunicação dentro desse prazo;
b) os fatos que constituam o objeto da comunicação tenham ocorrido antes da entrada em vigor do
Protocolo para o Estado Parte em causa, salvo se tais fatos persistiram após tal data;
c) a mesma questão já tenha sido apreciada pelo Comitê ou tenha sido ou esteja sendo examinada no
âmbito de outro processo internacional de investigação ou de resolução de litígios;
d) a comunicação for incompatível com as disposições do Pacto;
e) a comunicação seja manifestamente infundada, insuficientemente fundamentada ou exclusivamente
baseada em notícias divulgadas por meios de comunicação;
f) a comunicação constitua um abuso do direito de submeter uma comunicação; e
g) a comunicação seja anônima ou não seja apresentada por escrito.

Finalmente, o Comitê pode adotar PROVIDÊNCIAS CAUTELARES (art. 5º).

Comunicação Exige ratificação do Protocolo e declaração especial (art.10º)


interestatal
Exige ratificação do Protocolo e declaração especial (art. 11). Conforme dispõe o art. 11.2 do PF: “Se o
Inquérito Comitê receber uma informação fidedigna indicando violações graves ou sistemáticas, por um Estado Parte,
de qualquer um dos direitos econômicos, sociais e culturais consagrados no Pacto, deverá convidar esse
Estado Parte a cooperar no exame da informação e, para esse fim, a submeter observações sobre a
informação em questão”.

O Comitê pode designar um ou mais dos seus membros para conduzir um inquérito, o que pode incluir uma
visita ao território do Estado (art. 20.3).

O inquérito deve ser conduzido de forma confidencial (art. 20.4).

@dicasexconcurseira 47
O Brasil e o PIDESC

A situação do Brasil quanto ao PIDESC é a seguinte:

a) promulgou o Pacto por meio do Decreto nº 591/1992;


b) ainda sequer assinou o Protocolo Facultativo.

QUESTÕES

1. Assim como os direitos civis e políticos, os direitos econômicos, sociais e culturais devem ser implementados imediatamente,
e não de forma progressiva.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, assim como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos, criou o seu comitê para monitoramento dos direitos humanos nele consagrados.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. O Brasil aderiu ao Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, mas ainda sequer assinou o seu protocolo
facultativo que habilita o comitê a receber e processar petições individuais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 ERRADO
3 CORRETO

@dicasexconcurseira 48
Aula 10
Principais aspectos dos tratados temáticos/especiais do sistema global (discriminação racial, mulheres, tortura, crianças, etc)

Introdução

As CONVENÇÕES TEMÁTICAS (também chamadas de SETORIAIS ou ESPECIAIS) acompanham o PROCESSO DE


ESPECIALIZAÇÃO na proteção internacional dos direitos humanos, seja para proteger grupos vulneráveis específicos, seja para
proteger com mais ênfase direitos humanos específicos (direito de não ser torturado, por exemplo).
Não conseguiríamos analisar num curso como esse todos os tratados temáticos do sistema global de proteção dos
direitos humanos, nem aprofundar sobre um estudo de todos os dispositivos das convenções mais importantes. Conforme
conversamos na aula introdutória, o aluno deve ler com muita atenção todos os tratados internacionais de direitos humanos e
destacar os trechos principais.
Estudaremos nessa aula os tratados do sistema global de proteção dos direitos humanos relacionados a discriminação
racial, violência contra mulheres, tortura, direitos das crianças, trabalhadores migrantes, pessoas com deficiência e
desaparecimento forçado.
A abordagem irá priorizar questões processuais – isto é, órgãos de monitoramento e mecanismos de proteção, assim
como a relação com o Brasil – sobre os tratados, deixando o estudo da parte material mais para a aula que teremos sobre
grupos vulneráveis.

1. Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial

A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial foi adotada em 07.03.1966
pela Assembleia-Geral das Nações Unidas (AGNU). O Brasil ratificou este tratado e o internalizou por meio do Decreto nº
65.810/1969, pelo Presidente Médici (ou seja, em plena ditadura militar).

O objetivo desta Convenção, conforme consta do seu preâmbulo, é promover e encorajar os Estados a adotarem todas
as medidas para eliminar rapidamente a discriminação racial em todas as suas formas e manifestações, e a prevenir e combater
doutrinas e práticas raciais com o objetivo de promover o entendimento entre as raças e construir uma comunidade
internacional livre de todas as formas de separação racial e discriminação racial.

De acordo com o art. 1.1 da Convenção, DISCRIMINAÇÃO RACIAL significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou
preferência baseadas em RAÇA, COR, DESCENDÊNCIA ou ORIGEM NACIONAL ou ÉTNICA que tenha por objetivo ou efeito
anular ou restringir o reconhecimento, gozo, exercício num mesmo plano (em igualdade de condição), de direitos humanos e
liberdades fundamentais no domínio político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de sua vida.

O art. 1.4 da Convenção estabelece que AÇÕES AFIRMATIVAS SÃO CONVENCIONAIS: “Não serão consideradas
discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar progresso adequado de certos grupos
raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou
indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contando que, tais medidas não conduzam,
em consequência, à manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sidos
alcançados os seus objetivos (AS AÇÕES AFIRMATIVAS TEM NATUREZA TEMPORÁRIA)”.

O art. 4.1 da Convenção prevê um MANDADO INTERNACIONAL DE CRIMINALIZAÇÃO: “os Estados se comprometem a
declarar delitos puníveis por lei qualquer difusão de ideias baseadas na superioridade ou no ódio raciais, qualquer incitamento à
discriminação racial, assim como quaisquer atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos contra qualquer raça ou
qualquer grupo de pessoas ou de outra cor ou de outra origem étnica, como também qualquer assistência prestada a
atividades racistas, inclusive seu financiamento”.

O órgão de monitoramento da Convenção é o COMITÊ PARA A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL, criado pelo
seu art. 8º, composto por 18 especialistas independentes. Um brasileiro - José Lindgren Alves - já integrou este comitê.

A Convenção prevê como mecanismos de proteção:

1) os relatórios periódicos;
2) as petições interestatais;
3) as petições individuais.

O mecanismo das petições interestatais, diferentemente do previsto nos demais tratados do sistema global, NÃO
depende de aceitação do Estado. O mecanismo das petições individuais, assim como previsto nos demais tratados do sistema
global, dependem de aceitação do Estado.

@dicasexconcurseira 49
O Brasil RECONHECEU e ACEITOU a competência do Comitê para receber e analisar petições INDIVIDUAIS por meio do
Decreto nº 4.738/2003.
Finalmente, o art. 14.2 da Convenção veicula um comando muito interessante: “Qualquer Estado parte que fizer uma
declaração de conformidade com o parágrafo do presente artigo, poderá criar ou designar um ÓRGÃO dentro de sua ordem
jurídica NACIONAL, que terá competência para receber e examinar as petições de pessoas ou grupos de pessoas sob sua
jurisdição que alegarem ser vítimas de uma violação de qualquer um dos direitos enunciados na presente Convenção e que
esgotarem os outros recursos locais disponíveis”. O Brasil ainda não criou ou designou este órgão dentro da sua ordem jurídica
nacional.

FIQUE LIGADO! Este artigo 14.2 potencializa o princípio da subsidiariedade dos sistemas internacionais de direitos humanos.
Isto porque, após esgotados os recursos internos mas antes de o indivíduo se socorrer à proteção internacional, ela poderá ter
mais uma instância interna de proteção.

2. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres

A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres foi adotada pela AGNU em
18.12.1979. O Brasil inicialmente assinou a Convenção em 1981 COM RESERVAS, o que foi aprovado pelo Congresso Nacional
por meio do Decreto Legislativo no 93/1983, sendo depois objeto de ratificação. As reservas diziam respeito aos artigos 15.4
(“Os Estados-Partes concederão ao homem e à mulher os mesmos direitos no que respeita à legislação relativa ao direito das
pessoas à liberdade de movimento e à liberdade de escolha de residência e domicílio”); e 16.1.a.c.g.h (medidas para eliminar a
discriminação contra a mulher em assuntos relativos ao casamento e às relações familiares, especialmente com base na
igualdade entre homens e mulheres).
O Brasil RETIROU ESTAS RESERVAS em 1994, tendo sido a Convenção finalmente promulgada em 13.09.2002 pelo
Decreto nº 4.337.

O art. 1º da Convenção traz o conceito de DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER: toda a distinção, exclusão ou restrição
baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher,
independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades
fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo.

O art. 2.a da Convenção estabelece o compromisso dos Estados de consagrarem, se ainda não o tiverem feito, em suas
constituições nacionais ou em outra legislação apropriada, o princípio da igualdade do homem e da mulher e assegurar por lei
outros meios apropriados à realização prática desse princípio.

O art. 4º da Convenção, assim como outros tratados do sistema global, estabelece que ação afirmativa não consiste em
discriminação.

O órgão de monitoramento da Convenção é o COMITÊ SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE


DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER, por ela criado em seu art. 17.

A Convenção prevê apenas os relatórios periódicos como mecanismos de proteção. O protocolo facultativo à
Convenção aperfeiçoou o sistema de monitoramento e previu o mecanismo das petições individuais e o procedimento de
inquérito (este segundo, de natureza confidencial, baseado em informações fidedignas, podendo, ainda, ser objeto de reserva).

O Brasil ACEITOU a competência do Comitê para receber e processar petições INDIVIDUAIS por meio do Decreto nº
4.316/2002, já tendo, inclusive, sido responsabilizado perante este órgão no Caso Alyne Pimentel, que estudaremos no segundo
módulo deste curso.

3. Convenção contra a Tortura ou Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos e Degradantes

A Convenção contra a Tortura ou Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes foi adotada pela
AGNU em 10.12.1984. O Brasil aderiu à Convenção e a internalizou por meio do Decreto nº 40/1991.

O art. 1.1 da Convenção traz um conceito de TORTURA, estabelecendo que esta designa qualquer ato pelo qual dores
ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma
terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja
suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em
discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um FUNCIONÁRIO PÚBLICO ou OUTRA
PESSOA NO EXERCÍCIO DE FUNÇÕES PÚBLICAS, ou POR SUA SITUAÇÃO, ou COM O SEU CONSENTIMENTO ou AQUIESCTÊNCIA.
@dicasexconcurseira 50
Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequências de sanções legítimas, ou que
sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.

ATENÇÃO! Para a Convenção da ONU contra a Tortura, o SUEJITO ATIVO do crime de tortura SOMENTE pode ser um
FUNCIONÁRIO PÚBLICO ou a PESSOA QUE TEMPORARIAMENTE EXERCE FUNÇÕES PÚBLICAS.
Diferentemente, a lei brasileira (Lei nº 9.455/97) admite tanto o FUNCIONÁRIO PÚBLICO quanto o PARTICULAR como
sujeitos ativos do crime de tortura.
A lei brasileira seria, portanto, inconvencional? A resposta é NÃO, e isso porque a Convenção prevê em seu art. 1.2 que
“O presente artigo não será interpretado de maneira a restringir qualquer instrumento internacional ou legislação nacional que
contenha ou possa conter dispositivos de alcance mais amplo”.

O art. 2.2 da Convenção prevê que O DIREITO DE NÃO SER TORTURA É ABSOLUTO, não admitindo nenhuma exceção:
“Em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias excepcionais tais como ameaça ou estado de guerra, instabilidade política
interna ou qualquer outra emergência pública como justificação para tortura”.

O art. 3.1 prevê o INSTITUTO DO NON REFOULEMENT, mais conhecido pela sua aplicação na proteção dos refugiados:
“Nenhum Estado procederá à expulsão, devolução ou extradição de uma pessoa para outro Estado quando houver razões
substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali ser submetida a TORTURA”.

O art. 4.2 prevê um MANDADO INTERNACIONAL DE CRIMINALIZAÇÃO: “Cada Estado Parte assegurará que todos os
atos de tortura sejam considerados crimes segundo a sua legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à tentativa de tortura e a todo
ato de qualquer pessoa que constitua cumplicidade ou participação na tortura”.

A Convenção afirma que o crime de tortura é extraditável. A extradição depende, em regra, de um tratado bilateral ou
multilaterial entre Estados. Imaginando uma situação em que esteja, no Brasil, um sujeito que foi, no seu país de origem,
condenado por crime de tortura, mas que não exista tratado entre o Brasil e o país deste sujeito para viabilizar a sua extradição.
Neste caso, o Brasil não pode recusar a extradição deste sujeito invocando a ausência de tratado. Isso porque poderá a
Convenção sobre a Tortura servir como base legal para a extradição.

O órgão de monitoramento da Convenção é o COMITÊ CONTRA A TORTURA.

Os mecanismos de proteção da Convenção são os seguintes:

a) relatórios periódicos;
b) procedimento de inquérito (depende de aceitação do Estado);
c) petições interestatais (depende de aceitação do Estado); e
d) petições individuais (depende de aceitação do Estado).

Em 2006, o Brasil aceitou a competência do Comitê para receber e analisar petições INDIVIDUAIS, não tendo havido
ainda, porém, o decreto de promulgação.

Em 2002, a AGNU adotou um PROTOCOLO FACULTATIVO à Convenção contra a Tortura, que teve como objetivo
“estabelecer um SISTEMA DE VISITAS REGULARES efetuadas por órgãos nacionais e internacionais independentes a lugares
onde pessoas são privadas de sua liberdade, com a intenção de prevenir a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes” (art. 1º). O Brasil aderiu a esse protocolo e o internalizou mediante o Decreto nº 6.085/2007.
Esse protocolo facultativo ainda criou um outro órgão de monitoramento da Convenção contra a Tortura, que é o
SUBCOMITÊ DE PREVENÇÃO DA TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANAS OU DEGRADANTES,
com a finalidade de VISITAR OS LUGARES de privação de liberdade e colaborar com os Estados Partes na criação, manutenção
e fortalecimento dos mecanismos preventivos nacionais.
O protocolo facultativo também obriga os Estados Partes a criarem um ou mais mecanismos preventivos nacionais
independentes para a prevenção da tortura em NÍVEL DOMÉSTICO (art. 17). O Brasil cumpriu com essa obrigação e instituiu,
com a Lei 12.847/2013, o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (SNPCT), regulamentado pelo Decreto nº
8.154/2013.

4. Convenção sobre os Direitos da Criança

A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada pela AGNU em 20.11.1969. O Brasil aderiu à Convenção, tendo a
internalizado por meio do Decreto nº 99.710, de 21.11.1990.

@dicasexconcurseira 51
Para a Convenção, considera-se CRIANÇA todo ser humano com MENOS DE 18 anos de idade, a não ser que, em
conformidade com a lei aplicável, a maioridade seja alcançada antes (art. 1º).

O órgão de monitoramento da Convenção é o COMITÊ PARA OS DIREITOS DA CRIANÇA, por ela criado (art. 43).

A Convenção prevê apenas o sistema de relatórios periódicos como mecanismo de proteção. Por meio de um
protocolo facultativo, criou-se também o mecanismo das petições individuais.
O Brasil já assinou esse protocolo facultativo, mas ainda não ratificou, de modo que o Comitê para os Direitos da
Criança ainda não pode receber e analisar petições individuais envolvendo denúncias contra o Estado brasileiro.

A Convenção ainda conta com outros 2 protocolos facultativos, sendo um relativo ao envolvimento de crianças em
conflitos armados, adotado pela ONU em 23.05.2000 e promulgado no Brasil pelo Decreto 5.006 de 08.03.2004, e outro
referente à venda de crianças, à prostituição infantil e à pornografia infantil, adotado pela ONU em 25.05.2000 e promulgado
no Brasil pelo Decreto 5.007 de 08.03.2007.

5. Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas
Famílias

Esta Convenção foi adotada pela AGNU em 18.12.1990. O Brasil assinou e enviou o texto para o Congresso Nacional em
2010, ainda não tendo ocorrido a deliberação pelo Poder Legislativo. Como esta Convenção ainda não está em vigor, portanto,
para o Brasil, não iremos analisá-la neste curso. De qualquer forma, recomendo uma leitura do seu texto.

6. Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi adotada pela AGNU em 30.03.2007. Tanto
a CONVENÇÃO quanto o SEU PROTOCOLO FACULTATIVO foram internalizados no Brasil por meio do procedimento do art. 5º,
§ 3º, da CF/88, tendo, portanto, STATUS NORMATIVO EQUIVALENTE AO DE EMENDA CONSTITUCIONAL (Decreto nº
6.949/2009).

OBS 1: O “Protocolo” também é um tratado.


OBS 2: O Tratado de Marraqueche também possui status de emenda constitucional!

Segue uma tabelinha do Dizer o Direito J

TRATADOS INTERNACIONAIS EQUIVALENTES A EMENDA CONSTITUCIONAL


CONVENÇÃO DE NOVA YORK
TRATADO DE MARRAQUECHE
(E SEU PROTOCOLO FACULTATIVO)
Tratado firmado com o objetivo de facilitar o acesso a
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com obras publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual
Deficiência e seu Protocolo Facultativo. ou com outras dificuldades para ter acesso ao texto
impresso.
Assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Assinado em Marraqueche, em 27 de junho de 2013.
Aprovado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Aprovado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto
legislativo nº 186/2008 Legislativo nº 261/2015.
Promulgado pelo Presidente da República por meio do Promulgado pelo Presidente da República por meio do
Decreto nº 6.949/2009. Decreto nº 9.522/2018.

De acordo com a Convenção, seu objetivo é “promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade
inerente” (art. 1º).

A Convenção define PESSOA COM DEFICIÊNCIA como sendo aquelas que “têm impedimentos de LONGO PRAZO de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas BARREIRAS, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas” (art. 1º).

@dicasexconcurseira 52
Ainda entre as definições constantes da Convenção, temos o conceito de “discriminação por motivo de deficiência”,
que significa qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o propósito ou efeito de impedir ou
impossibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos político, econômico, social, cultural, civil ou qualquer outro. Abrange
todas as formas de discriminação, inclusive a RECUSA DE ADAPTAÇÃO RAZOÁVEL (art. 2º).

A Convenção ainda traz o importante conceito de “ADAPTAÇÃO RAZOÁVEL”, que significa as modificações e os ajustes
necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional ou indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de
assegurar que as pessoas com deficiência possam gozar ou exercer, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas,
todos os direitos humanos e liberdades fundamentais” (art. 2º).

O órgão de monitoramento da Convenção é o COMITÊ SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.

Seus mecanismos de proteção são os relatórios periódicos e as petições individuais.

7. Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados

Esta Convenção foi adotada pela AGNU em 06.02.2007. O Brasil a promulgou no direito interno pelo Decreto
8.767/2016.

O art. 2º da Convenção traz o conceito de DESAPARECIMENTO FORÇADO: “entende-se por desaparecimento forçado a
prisão, a detenção, o sequestro ou qualquer outra forma de privação de liberdade que seja perpetrada por AGENTES DO
ESTADO ou por pessoas ou grupos de pessoas agindo com a AUTORIZAÇÃO, APOIO ou AQUIESCÊNCIA DO ESTADO, e a
subsequente recusa em admitir a privação de liberdade ou a ocultação do destino ou do paradeiro da pessoa desaparecida,
privando-a assim da proteção da lei”.

O art. 1.2 prevê o DIREITO ABSOLUTO de não ser vítima de desaparecimento forçado: “Nenhuma circunstância
excepcional, seja estado de guerra ou ameaça de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública,
poderá ser invocada como justificativa para o desaparecimento forçado” (art. 1.2).

O art. 4º prevê um MANDADO INTERNACIONAL DE CRIMINALIZAÇÃO QUE O BRASIL AINDA NÃO CUMPRIU: “Cada
Estado Parte tomará as medidas necessárias para assegurar que o desaparecimento forçado constitua crime em conformidade
com o seu direito penal” (art. 4º).

O art. 8º prevê que o Estado que aplicar um regime de prescrição deve tomar as medidas para assegurar que o prazo
prescricional seja de LONGA DURAÇÃO e inicie no momento em que cessar o desaparecimento forçado.
Logo, ATENÇÃO! A Convenção NÃO obriga os Estados a considerarem o crime de desaparecimento forçado IMPRESCRITÍVEL.

O órgão de monitoramento da Convenção é o COMITÊ CONTRA DESAPARECIMENTOS FORÇADOS (art. 26).

Os mecanismos de proteção da Convenção são os seguintes:

1) relatórios periódicos;
2) ação urgente de pedido de busca e localização de uma pessoa desaparecida (art. 30);
3) petições individuais (depende de aceitação do Estado);
4) petições interestatais (depende de aceitação do Estado); e
5) visita ao Estado Parte com a autorização deste.

O Brasil ainda NÃO aceitou a competência do Comitê para processar petições individuais e interestatais.

Finalmente, a partir da doutrina e da jurisprudência internacional de direitos humanos, construiu- se o entendimento


de que o crime de desaparecimento forçado atinge 3 níveis:

1º nível: a vítima propriamente dita;


2º nível: familiares da vítima;
3º nível: direito da sociedade de conhecer a verdade sobre os fatos.

@dicasexconcurseira 53
QUESTÕES

1. Entre os mecanismos de proteção da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Racial, há o sistema de petições individuais, que depende, para funcionar, de aceitação do Estado. O Brasil, embora tenha
aderido à Convenção, não fez a declaração expressa no sentido de aceitar a competência do Comitê para a Eliminação da
Discriminação Racial para receber e analisar petições individuais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. O Brasil já foi responsabilizado pelo Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher no Caso Maria da Penha.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. A recusa de adaptação razoável, segundo a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, consiste
em discriminação por motivo de deficiência.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Segundo dispõe a Convenção contra a Tortura ou outras Penas ou Tratamentos Crueis, Desumanos ou Degradantes, o sujeito
ativo da tortura somente pode ser um funcionário público ou alguém no exercício de funções públicas.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. O Brasil é Estado parte da Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos
Membros de suas Famílias.

( ) CERTO ( ) ERRADO

6. A Convenção da ONU contra a Tortura permite, em caso de emergência pública ou de instabilidade política interna, o uso
excepcional da tortura.

( ) CERTO ( ) ERRADO

7. De acordo com o protocolo facultativo à Convenção da ONU contra a Tortura, os Estados devem criar “mecanismos
preventivos nacionais” independentes para a prevenção da tortura. O Brasil aderiu ao referido protocolo e já criou os
mecanismos preventivos nacionais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

8. O Brasil não aceitou a competência do Comitê contra a Tortura para receber e processar petições individuais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

9. A Convenção sobre os Direitos da Criança conta com três protocolos facultativos, tendo o Brasil aderido a todos eles.

( ) CERTO ( ) ERRADO

10. A Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados estabelece que os
Estados devem obrigatoriamente considerar o crime de desaparecimento forçado como imprescritível.

( ) CERTO ( ) ERRADO

@dicasexconcurseira 54
GABARITO
1 ERRADO
2 ERRADO
3 CORRETO
4 CORRETO
5 ERRADO
6 ERRADO
7 CORRETO
8 ERRADO
9 ERRADO
10 ERRADO

@dicasexconcurseira 55
Aula 11
Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos: evolução história e surgimento dos subsistemas da OEA e da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH)

1. Evolução história do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos à ASSUNTO QUE CAI POCUO EM PROVA!

A história do sistema interamericano se desenvolve, no início, de forma paralela ao princípio da solidariedade pan-
americana, remontando ao Congresso do Panamá, realizado em 1826, que, por sua vez, teve raízes na Carta da Jamaica (1815),
que apresentava a ideia original de Simón Bolívar, e na Doutrina Monroe, anunciada pelo então presidente dos Estados Unidos,
James Monroe, em 1823. Tanto Bolívar quanto Monroe, cada um a seu modo, o primeiro pelo sul, e o segundo pelo norte,
lutaram pela independência dos Estados americanos contra a ameaça de recolonização por parte de potências europeias, em
especial as que integravam a Santa Aliança, uma coligação das monarquias do Império Russo, do Império Austríaco e do Reino
da Prússia.

Com isso, a evolução histórica do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos divide-se em 5 etapas:

a) antecedentes da criação (1826-1948);


b) inauguração e formação do sistema (1948-1959);
c) início do período de monitoramento (1959-1969);
d) institucionalização convencional do sistema (1969- 1978); e
e) consolidação e aperfeiçoamento do sistema (1978-dias de hoje).

1.1. Etapas antecedentes da criação (1826-1948)

A etapa dos antecedentes da criação do sistema interamericano pode ser dividida em 3 fases.
A primeira fase inicia-se com a realização do Congresso do Panamá, em 1826, que foi o primeiro de uma série de
encontros regionais para se discutir formas de cooperação entre os Estados americanos, ocasião em que foi aprovado o Tratado
de União Perpétua, Liga e Confederação, que uniria a Grande Colômbia (formada por Colômbia, Equador, Panamá e Venezuela),
México, América Central e Peru.
No texto desse tratado, destacavam-se os seguintes pontos:
a) a criação de uma confederação dos Estados americanos para a consolidação da paz e da defesa solidária dos direitos desses
países;
b) a defesa da independência política e integridade territorial dos Estados americanos;
c) o princípio da democracia representativa como condição sine qua non para pertencer à União;
d) a codificação do direito internacional, o princípio da cidadania continental que estabelecia a igualdade jurídica entre os
nacionais e os estrangeiros de um Estado; e
e) o compromisso das altas partes contratantes de cooperarem na abolição da escravatura.

OBS: Embora esse tratado não tenha entrado em vigor, pois foi ratificado somente pela Grande Colômbia, ele é apontado como
o grande antecedente do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos.

Outros congressos regionais foram realizados no decorrer do século XIX, a maioria deles para responder a problemas
mais específicos, até que, em 1889, inicia-se a segunda fase da evolução histórica do sistema interamericano, caracterizada por
um ciclo de conferências internacionais americanas realizadas a cada 4 anos, em diferentes capitais do continente. Essas
conferências, que, de forma gradual, foram construindo o que viria a ser o sistema interamericano de proteção dos direitos
humanos, ocorreram regularmente até 1938, tendo sido interrompidas somente pela Primeira Guerra Mundial (de 1914 a 1918).
Além das conferências ordinárias programadas, em virtude da Segunda Guerra Mundial (de 1939 a 1945), os Estados
americanos reuniram-se em 6 ocasiões durante o período de 1936 a 1947 para examinar problemas sobre guerra, paz e
segurança. A primeira dessas conferências especializadas foi a Conferência Interamericana para a Manutenção da Paz, realizada
em Buenos Aires, em 1936, quando se estabeleceu um novo mecanismo ou procedimento, chamado de “consulta”, para
responder a situações imprevistas e urgentes. Conforme ressalta Nieto, “Quase como se os Estados americanos houvessem
previsto o futuro, quando estoura o conflito mundial já estava estabelecido o mecanismo de consulta e se realizaram três
reuniões durante o período da guerra: a primeira no Panamá em 1939, a segunda em Havana em 1940 e a terceira no Rio de
Janeiro em 1942”.

Antes de passarmos para a terceira fase da evolução histórica do sistema interamericano, que tem início com o fim da
Segunda Guerra Mundial, convém registrar que a proteção dos direitos humanos no continente americano não foi um
fenômeno exclusivo do pós-Guerra, havendo aspectos importantes tanto no antecedente mais remoto do sistema, que foi o
Congresso do Panamá (1826), quando se reconheceu o princípio da igualdade jurídica entre nacionais e estrangeiros, como em
convenções internacionais adotadas desde 1902 sobre questões envolvendo estrangeiros, asilo e nacionalidade, paz e direitos
da mulher.
@dicasexconcurseira 56
Voltando ao percurso histórico do sistema interamericano, a terceira fase da sua evolução começa com a Conferência
Interamericana de Chapultepec, realizada na Cidade do México, em 1945 (após o fim da Segunda Guerra Mundial), para
discutir os “Problemas da Guerra e da Paz”, quando tem início o PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO JURÍDICA do sistema da
OEA tal como se conhece hoje. Durante essa conferência, foram aprovadas diversas resoluções, algumas delas sobre a matéria
da proteção internacional dos direitos humanos, como a que tratava da reorganização, consolidação e fortalecimento do
sistema interamericano, fornecendo, portanto, as bases concretas para que fosse criada uma organização de Estados
americanos.

Em 1947, no Rio de Janeiro, em conferência especializada sobre segurança coletiva, os Estados americanos aprovaram
o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), formalizando e detalhando o mecanismo de consulta que havia sido
discutido e implementado na Conferência de Buenos Aires (1936).

Finalmente, em 1948, na Nona Conferência Internacional Americana, realizada em Bogotá, É INAUGURADO O SISTEMA
INTERAMERCIANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS PROPRIAMENTE DITO, com a aprovação de diversos documentos,
mas principalmente da Carta da Organização dos Estados Americanos (Carta da OEA) e da Declaração Americana dos Direitos
e Deveres do Homem (DADDH). A Carta da OEA entrou em vigor em 13.12.1951, tendo sido, posteriormente, objeto de quatro
importantes reformas introduzidas pelo Protocolo de Buenos Aires (1967), pelo Protocolo de Cartagena das Índias (1985), pelo
Protocolo de Washington (1992) e pelo Protocolo de Manágua (1993).

1.2. Etapa da inauguração e formação do sistema (1948-1959)

A Carta da OEA, assim como a Carta da ONU, possuía poucas disposições relativas aos direitos humanos, limitando-se
mais a criar e a estruturar a Organização dos Estados Americanos. A referência mais importante – apesar de muito vaga – aos
direitos humanos encontra-se no art. 3.l da Carta, por meio do qual “Os Estados americanos proclamam os direitos
fundamentais da pessoa humana, sem fazer distinção de raça, nacionalidade, credo ou sexo”. A Carta da OEA, no entanto, não
definiu quais eram esses direitos nem estabeleceu um mecanismo para promovê-los ou protegê-los.

E a DADDH, embora tenha tido – e ainda tenha, conforme veremos mais à frente – uma grande importância para o
sistema interamericano, sendo a base central da matéria no período que antecede a adoção da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos em 1969, além de não ter estabelecido um mecanismo de proteção dos direitos humanos, não foi adotada
na forma de tratado, mas sim por meio de RESOLUÇÃO, o que atenuou a sua força jurídica e prejudicou o seu caráter
obrigatório para os Estados membros da OEA. Conforme explicam Quiroga e Rojas:
“O muito incipiente estado de desenvolvimento do direito internacional dos direitos humanos impediu que os Estados
que integravam a Organização dos Estados Americanos adotassem uma convenção internacional que produzisse obrigações
para os Estados partes e que estabelecesse um mecanismo internacional para o controle do cumprimento destas obrigações. A
maioria dos Estados se inclinou por adotar somente uma declaração, isto é, um documento que conteria um conjunto de
princípios para guiar a conduta dos Estados no âmbito dos direitos humanos, mas que não estabeleceria obrigações vinculantes
para os assinantes. Isto determinou, naturalmente, a decisão de não criar um mecanismo internacional para a proteção dos
direitos nela incorporados”.
Assim, inaugurado e formado o sistema interamericano, inclusive com a adoção de outros tratados relativos aos
direitos humanos no continente, ele só foi entrar em EFETIVO FUNCIONAMENTO em 1959, data em que se produziu um fato
que deu real começo ao sistema: A CRIAÇÃO DA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CIDH), mediante a
Resolução VIII da Quinta Reunião de Consulta de Ministros das Relações Exteriores.

1.3 Etapa do início do período de monitoramento (1959-1969)

O período de monitoramento efetivo dos direitos humanos tem início com a criação da CIDH, em 1959, conforme
apontado anteriormente, por meio de resolução da Quinta Reunião de Consulta de Ministros das Relações Exteriores.

A Comissão Interamericana nasce sem BASE CONVENCIONAL e com poderes limitados à “promoção dos direitos
humanos”, o que compreendia, segundo a interpretação da própria Comissão, a formulação de RECOMENDAÇÕES GERAIS para
os Estados membros da OEA, a preparação de RELATÓRIOS GEOGRÁFICOS e até mesmo, COM A ANUÊNCIA DO RESPECTIVO
GOVERNO, as VISITAS IN LOCO.

No entanto, em sua primeira sessão, realizada em 1960, a CIDH manifestou o entendimento de que o seu Estatuto não
lhe conferia competência para apreciar petições individuais, ainda que pudesse levá-las em conta e utilizá-las como fonte de
informação ao preparar os informes sobre países.
As atribuições da CIDH foram ampliadas em 1965 mediante uma resolução da Segunda Conferência Interamericana
Extraordinária, a qual lhe conferiu competência para receber petições ou comunicações sobre violações de direitos humanos.
Conforme explica Cançado Trindade:

@dicasexconcurseira 57
“Assim, os poderes da Comissão passaram a compreender, a par do sistema de relatórios (de tipos distintos, como
relatórios de sessões, relatórios anuais e relatórios sobre determinados países), o exame de comunicações, visitas a Estados
(com sua aquiescência), e preparo de estudos e seminários. Seus poderes, originalmente limitados, expandiram-se mediante um
processo de interpretação liberal e extensiva; o fato de que seus membros atuavam em sua capacidade pessoal – e não como
representantes dos respectivos Estados – certamente favoreceu a interpretação liberal e ampla do Estatuto e do Regulamento
da Comissão”.
OBS: mais informações sobre a CIDH serão estudadas na próxima aula (12).

1.4. Etapa da institucionalização convencional do sistema (1969-1978)

O próximo passo da evolução histórica do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos ocorre com a sua
INSTITUCIONALIZAÇÃO CONVENCIONAL, quando é adotada, em 1969, na Conferência Especializada Interamericana sobre
Direitos Humanos, realizada em San José, na Costa Rica, A CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS (CADH),
também conhecida, em reconhecimento à hospitalidade do país anfitrião, como Pacto de San José da Costa Rica.

Desde o início da etapa de formação do sistema interamericano, com as sucessivas conferências internacionais
realizadas no continente, já se pretendia adotar um instrumento normativo de caráter vinculante para estabelecer o catálogo de
direitos humanos e os meios de proteção destes direitos. Esse processo histórico foi acelerado a partir de 1959, quando a
Quinta Reunião de Ministros das Relações Exteriores, realizada em Santiago, no Chile, adotou a decisão de impulsionar a
preparação de uma convenção sobre direitos humanos. O projeto elaborado pelo Conselho Interamericano de Jurisconsultos foi
apresentado na Segunda Conferência Interamericana Extraordinária, realizada no Rio de Janeiro, em 1965, ocasião em que,
junto de outras propostas, foi encaminhado ao Conselho da OEA e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos para que
fosse estudado e submetido também aos Estados membros da Organização. Uma nova Conferência Especializada
Interamericana foi realizada em 1969, em San José, na Costa Rica, quando, sobre a base dos projetos do Conselho
Interamericano de Jurisconsultos e da CIDH, e levando em conta, ainda, as proposições e observações apresentadas pelos
Estados, em 21 de novembro, foi aprovado o texto da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

Essa etapa de institucionalização do sistema interamericano SE ENCERRA EM 1978, quando a CADH ENTRA EM VIGOR,
após o depósito do 11º instrumento de ratificação na Secretaria-Geral da OEA.

1.5. Etapa da consolidação e do aperfeiçoamento do sistema (1978-dias de hoje)

A última etapa da evolução histórica do sistema interamericano é a da sua CONSOLIDAÇÃO, que vai de 1978, data em
que a CADH entra em vigor, até os dias de hoje. Essa etapa é marcada pelo início da CONSTRUÇÃO JURISPRUCENDIAL –
contenciosa e consultiva – da Corte IDH, pela AMPLIAÇÃO DO CORPUS NORMATIVO do sistema interamericano e pela
proposta ou implementação de medidas para aperfeiçoar o sistema.

2. A divisão do sistema interamericano em dois sistemas

Como resultado dessa evolução histórica, o sistema interamericano acabou se dividindo em 2 subsistemas, sendo um
mais GERAL, chamado de subsistema da OEA, que se baseia na Carta da OEA, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres
do Homem e no Estatuto da CIDH, tendo a CIDH como órgão de proteção e aplicando-se a todos os Estados membros da OEA; e
outro mais EXIGENTE, chamado de subsistema da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que se baseia nesta e se
aplica somente para os Estados que a tenham ratificado, tendo como órgãos de proteção a CIDH e a Corte IDH.
Conforme veremos na próxima aula, a CIDH participa de ambos os subsistemas como órgão de monitoramento dos
direitos humanos no continente americano, daí decorrendo o seu papel dúplice.

SUBSISTEMA Base normativa: Carta da OEA, Declaração Americana dos Direitos e Deveres
GERAL do Homem e Estatuto da Comissão Interamericana de Dir. Humanos (CIDH).
(SUBSISTEMA Órgão de proteção: CIDH.
DA OEA) Aplicação: TODOS os Estados membros da OEA.
SISTEMA
INTERAMERICANO

SUBSISTEMA
EXIGENTE Base normativa: Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(SUBSISTEMA DA Órgão de proteção: CIDH e a Corte Interamericana de Direitos
CONVENÇÃO Humanos
AMERICANA SOBRE Aplicação: APENAS aos Estados que tenham ratificado a
DIR. HUMANOS) Convenção Americana sobre Direitos Humanos
@dicasexconcurseira 58
QUESTÕES

1. O sistema interamericano de proteção dos direitos humanos somente começou a funcionar efetivamente a partir de 1959,
com a criação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH) foi adotada em 1945, juntamente com a Carta da OEA.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 CERTO
2 ERRADO

@dicasexconcurseira 59
Aula 12
Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos

1. O que é?

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) é um dos órgãos – junto com a Corte Interamericana de
Direitos Humanos (CorteIDH) – de monitoramento, proteção e promoção dos direitos humanos no continente americano.
Diferentemente da Corte IDH, que integra exclusivamente a Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), a Comissão
pertence tanto à Organização dos Estados Americanos (OEA) – é o seu principal órgão – quanto à CADH, sendo que essa dupla
integração orgânica possui repercussões práticas muito relevantes, conforme veremos mais a frente.

A CIDH tem sede em Washington (EUA), podendo também reunir-se em qualquer Estado americano quando o decidir
por maioria absoluta de votos e com a anuência ou a convite do respectivo Governo.

COMISSÃO Integra a Organização dos Estados Americanos (OEA – é o seu principal órgão) e a
INTERAMERICANA DE Convenção Americana de Direitos Humanos à DUPLA INTEGRAÇÃO ORGÂNICA
DIREITOS HUMANOS
(CIDH)
Órgãos de monitoramento, proteção e promoção dos
direitos humanos no continente americano
CORTE
INTERAMERICANA DE
DIREITOS HUMANOS
(Corte IDH) Integra exclusivamente a Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH)

2. Como surgiu

A CIDH foi criada em agosto de 1959 – ou seja, 10 anos antes da adoção da Convenção Americana –, em Santiago, Chile,
durante a V Reunião de Consulta de Ministros de Relações Exteriores (Resolução no VIII). Conforme registram Buergenthal,
Grossman e Nikken, “Essa decisão foi objetada por alguns governos que consideraram duvidoso que uma instituição como a
Comissão pudesse ser criada no marco de uma Reunião de Consulta, sem recorrer a uma reforma da Carta [da OEA] ou à adoção
de um tratado especial”.

Assim, por NÃO TER BASE CONVENCIONAL (sem previsão em tratado) – previsão expressa na Carta da OEA –, a CIDH
era considerada uma UNIDADE AUTÔNOMA da Organização dos Estados Americanos.

O primeiro período de sessões da Comissão ocorreu em outubro de 1960, em Washington DC, EUA, após a aprovação
do seu primeiro Estatuto pelo Conselho da OEA, que também elegeu os primeiros membros da CIDH. A partir de 1961, a
Comissão deu início à prática das visitas in loco para observar a situação geral dos direitos humanos num país ou para investigar
um caso em particular, publicando posteriormente informes especiais com suas observações.
A CIDH teve os seus poderes aumentados progressivamente, conquistando a competência para receber petições ou
comunicações individuais sobre violações de direitos humanos em 1965, quando, na Segunda Conferência Interamericana
Extraordinária, realizada no Rio de Janeiro, Brasil, seu Estatuto foi modificado para ampliar e fortalecer seu papel no sistema
interamericano. Antes disso, uma recomendação ao Conselho da OEA para que as atribuições da CIDH fossem aumentadas já
havia sido feita em 1962, em Punta del Este, Uruguai, por resolução adotada na VIII Reunião de Consulta de Ministros das
Relações Exteriores. Importante considerar que nessa época a Convenção Americana ainda não havia sido adotada, de modo
que o instrumento de trabalho da CIDH era exclusivamente o texto da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem.

Posteriormente, em 1967, durante a Terceira Conferência Interamericana Extraordinária, realizada em Buenos Aires,
Argentina, foi aprovado um Protocolo de Reformas à Carta da OEA (Protocolo de Buenos Aires), incluindo a CIDH entre os
órgãos permanentes da Organização dos Estados Americanos, CONFERINDO-LHE, PORTANTO, A BASE CONVENCIONAL que lhe
foi cobrada por alguns governos quando da sua criação.
Com o Protocolo de Buenos Aires, o status jurídico da Comissão fortaleceu-se, pondo fim, segundo a lição de Cançado
Trindade, a eventuais objeções a sua competência: “(...) a Comissão passava assim a ser dotada, finalmente, de base
convencional, com um mandato não mais apenas de promoção, mas também de controle e supervisão da proteção de direitos
humanos”. Assim, o art. 106 da Carta da OEA passou a prever que “Haverá uma Comissão Interamericana de Direitos Humanos
que terá por principal função promover o respeito e a defesa dos direitos humanos e servir como órgão consultivo da
Organização em tal matéria. Uma convenção interamericana sobre direitos humanos estabelecerá a estrutura, a competência e
as normas de funcionamento da referida Comissão, bem como as dos outros órgãos encarregados de tal matéria”.
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O processo de institucionalização da CIDH SE COMPLETA COM A ADOÇÃO DA CADH (Convenção Americana de
Direitos Humanos) em 1969 e com a sua entrada em vigor em 1978, que a previu como órgão competente – junto com a Corte
– para conhecer de assuntos relacionados com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-partes da
Convenção (art. 33.a), estabelecendo sua organização, suas funções, sua competência e também diretrizes procedimentais para
processar uma petição ou comunicação na qual se alegue uma violação de direitos humanos consagrados na CADH (artigos 34 a
50).
Conforme sintetiza Hanashiro, “A Comissão, aos poucos, foi se fortalecendo e deixando de ser apenas um órgão de
promoção internacional para ser também um órgão de proteção internacional”.

3. Regime jurídico

A CIDH, além de estar inserida na Carta da OEA como um órgão da Organização (art. 106), é regida juridicamente pela
CADH (artigos 34 a 50), assim como pelo seu Estatuto, elaborado pela Comissão e aprovado pela Assembleia Geral da OEA em
1979 – logo após a entrada em vigor da CADH (1978), sendo que o seu primeiro Estatuto era do ano de 1960 –, e pelo seu
Regulamento, expedido por ela própria em 1980, modificado posteriormente diversas vezes, sendo a última em 2013, entrando
em vigor, com as alterações, em agosto de 2013. Sobre o tema, dispõe o art. 39 da CADH: “A Comissão elaborará seu estatuto e
submetê- lo-á à aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu próprio Regulamento”.

4. Funções: introdução

Inicialmente, muito por conta do seu regime jurídico não lhe colocar num plano convencional, o que dificultava a sua
atuação, a função da Comissão Interamericana se limitava mais à uma atividade de promoção dos direitos humanos por meio da
preparação de estudos, de relatórios e de recomendações aos Estados. Com o passar dos tempos, conforme vimos
anteriormente, a Comissão foi alcançando mais poderes, tornando-se, p. ex., o órgão do sistema interamericano competente
para receber e processar as petições individuais sobre violação de direitos humanos.

Atualmente, as funções da CIDH estão previstas no art. 41 da CADH e nos artigos 18, 19 e 20 do seu Estatuto, sendo que
no Estatuto estão divididas segundo o papel dúplice desempenhado pela Comissão: como órgão da OEA e da CADH.

A repercussão prática mais relevante desse PAPEL DÚPLICE ou dessa DUALIDADE DE REGIME JURÍDICO DA CIDH
consiste na POSSIBILIDADE DE A COMISSÃO ATUAR TANTO EM FACE DE Estados que tenham aderido à Convenção Americana,
quando seu instrumento de trabalho será, então, o texto da CADH, quanto em face de Estados membros da OEA que não
tenham aderido à Convenção, contra os quais utilizará o texto da Carta da OEA e da Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem.

Nesse sentido, dispõe o Regulamento da CIDH que “A Comissão receberá e examinará a petição que contenha denúncia
sobre presumidas violações dos direitos humanos consagrados na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem com
relação aos Estados membros da Organização que não sejam partes na Convenção Americana sobre Direitos Humanos” (art. 51).

O papel dúplice da CIDH também determinará a CONSEQUÊNCIA PROCESSUAL nos casos em que a APRECIAÇÃO DE
MÉRITO for no sentido do estabelecimento da violação de direitos humanos pelo Estado demandado:

i. tratando-se de Estado que tenha aderido à CADH (e aceitado a jurisdição contenciosa da CorteIDH), a Comissão
poderá ajuizar uma AÇÃO DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL contra o respectivo Estado na CORTE
Interamericana; à Aqui, a CIDH funciona como uma espécie de “Ministério Público” no âmbito internacional.

ii. tratando-se de Estado que NÃO tenha aderido à CADH ou, tendo aderido, NÃO tenha aceitado a jurisdição
contenciosa da CorteIDH, a Comissão poderá apenas aplicar ao Estado uma MEDIDA DE CARÁTER NÃO
DECISÓRIA que traz consigo apenas um CONSTRANGIMENTO POLÍTICO INTERNACIONAL, consistente na
publicação de relatório e na inclusão deste no Relatório Anual à Assembleia-Geral da OEA ou em qualquer meio
que considerar adequado.

5. Funções específicas

As funções da CIDH podem ser classificadas em 3 categorias principais:

i. consideração de petições individuais denunciando a violação de algum dos direitos protegidos;


ii. preparação e publicação de informes sobre a situação dos direitos humanos num determinado país; e

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iii. outras atividades orientadas à promoção dos direitos humanos, tais como os trabalhos de assessoria que pode
oferecer aos Estados ou a preparação de projetos de tratados que permitam oferecer uma maior proteção aos
direitos humanos.

Assim, de acordo com o Estatuto da CIDH, em relação aos Estados membros da OEA que NÃO aderiram à CADH, a
Comissão tem as seguintes atribuições:

i. estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;


ii. formular recomendações aos Governos dos Estados no sentido de que adotem medidas progressivas em prol dos
direitos humanos, no âmbito de sua legislação, de seus preceitos constitucionais e de seus compromissos
internacionais, bem como disposições apropriadas para promover o respeito a esses direitos;
iii. preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para o desempenho de suas funções;
iv. solicitar aos Governos dos Estados que lhe proporcionem informações sobre as medidas que adotarem em matéria
de direitos humanos;
v. atender às consultas que, por meio da Secretaria- Geral da Organização, lhe formularem os Estados membros
sobre questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar assessoramento
que eles lhe solicitarem;
vi. apresentar um relatório anual à Assembléia Geral da Organização no qual se levará na devida conta o regime
jurídico aplicável aos Estados Partes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e aos Estados que não o
são;
vii. fazer observações in loco em um Estado, com a anuência ou a convite do Governo respectivo;
viii. apresentar ao Secretário-Geral o orçamento-programa da Comissão, para que o submeta à Assembléia Geral;
ix. dispensar especial atenção à tarefa da observância dos direitos humanos mencionados nos artigos I, II, III, IV, XVIII,
XXV e XXVI da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem;
x. examinar as comunicações que lhe forem dirigidas e qualquer informação disponível; dirigir-se ao Governo de
qualquer dos Estados membros não Partes da Convenção a fim de obter as informações que considerar
pertinentes; e formular-lhes recomendações, quando julgar apropriado, a fim de tornar mais efetiva a observância
dos direitos humanos fundamentais; e
xi. verificar, como medida prévia ao exercício da atribuição indicada no item anterior, anterior, se os processos e
recursos internos de cada Estado membro não Parte da Convenção foram devidamente aplicados e esgotados.

Já com relação aos Estados que ADERIRAM à CADH, nos termos do Estatuto da CIDH, além das atribuições
anteriormente elencadas, a Comissão ainda terá as seguintes:

i. atuar com respeito às petições e outras comunicações de conformidade com os artigos 44 a 51 da Convenção;
ii. comparecer perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos nos casos previstos na Convenção;
iii. solicitar à Corte Interamericana de Direitos Humanos que tome as MEDIDAS PROVISÓRIAS que considerar
pertinente sobre assuntos graves e urgentes que ainda não tenham sido submetidos a seu conhecimento, quando
se tornar necessário a fim de evitar danos irreparáveis às pessoas;
iv. CONSULTAR A CORTE a respeito da interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos ou de outros
tratados concernentes à proteção dos direitos humanos dos Estados americanos;
v. submeter à Assembléia Geral projetos de protocolos adicionais à Convenção Americana sobre Direitos Humanos,
com a finalidade de incluir progressivamente no regime de proteção da referida Convenção outros direitos e
liberdades; e
vi. submeter à Assembléia Geral para o que considerar conveniente, por intermédio do Secretário-Geral, propostas de
emenda à Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

7. Composição

A CIDH compõe-se de 7 membros – chamados de COMISSÁRIOS ou COMISSIONADOS –, que devem ser pessoas de alta
autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos (CADH, art. 34; Estatuto da CIDH, art. 2.1; e
Regulamento da CIDH, art. 1.3).
Importante destacar que, ao contrário do que se exige para ser juiz da Corte Interamericana (ser jurista), para integrar a
Comissão Interamericana NÃO se exige sequer formação jurídica, o que me parece estar em conformidade com a dimensão
também política da atuação exercida pela CIDH. Como exemplo de comissário sem formação jurídica da atual composição da
CIDH, cito o brasileiro Paulo Vannuchi, cuja formação se deu na área de jornalismo, com mestrado em ciência política.
Ainda sobre a composição da CIDH, NÃO pode fazer parte dela mais de um nacional do mesmo país (CADH, art. 37.2;
Estatuto, art. 7º), o que contribui para uma maior representatividade geográfica na Comissão.

@dicasexconcurseira 62
8. Processo de escolha dos membros

O processo de escolha dos membros da CIDH, que são eleitos A TÍTULO PESSOAL – e não como representantes dos seus
Estados de origem –, se encontra disciplinado na CADH (art. 36) e no Estatuto da Comissão (artigos 3º a 5º), funcionando da
seguinte forma:
i. 6 meses antes da realização do período ordinário de sessões da Assembleia Geral da OEA, antes da expiração do
mandato para o qual houverem sido eleitos os membros da Comissão, o Secretário-Geral da OEA pedirá, por
escrito, a cada Estado membro da Organização que apresente, dentro do prazo de 90 dias, seus candidatos;
ii. Cada Estado-membro da OEA pode propor até 3 candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer
Estado-membro da OEA, sendo que quando for proposta uma lista de 3 candidatos, pelo menos 1 deles deverá ser
nacional de Estado diferente do proponente. Perceba-se, portanto, que, ao contrário da exigência feita ao Estado
que pretenda se qualificar para propor candidato ao cargo de juiz da CorteIDH, para INDICAR CANDIDATO ao
cargo de membro da CIDH, o Estado NÃO precisa ter aderido aos termos da Convenção Americana.
iii. O Secretário Geral preparará uma lista em ordem alfabética dos candidatos que forem apresentados e a
encaminhará aos Estados membros da Organização, pelo menos 30 dias antes da Assembléia Geral seguinte;
iv. A eleição dos membros da Comissão será feita dentre os candidatos que figurem na lista, pela Assembléia Geral,
em votação secreta, e serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem maior número de votos e a maioria
absoluta dos votos dos Estados membros. Se, para eleger todos os membros da Comissão for necessário efetuar
vários escrutínios, serão eliminados sucessivamente, na forma que a Assembleia Geral determinar, os candidatos
que receberam menor número de votos. Aqui também é importante perceber que, diferentemente do que ocorre
na eleição dos juízes da CorteIDH, em que somente Estados-partes da CADH podem votar, TODOS os Estados-
membros da OEA possuem DIREITO DE VOTO na escolha dos membros da CIDH.

Essa diferença no processo eleitoral dos membros da CorteIDH e da CIDH se justifica no fato de que enquanto a
segunda é um órgão da OEA – e também da CADH, daí decorrendo sua competência dúplice –, a primeira é uma instituição
judicial autônoma vinculada à Convenção.

8.1. Eleição de membro para ocupar vaga não decorrente de expiração normal do mandato

Ocorrendo vaga na CIDH que não seja decorrente de expiração normal do mandato (renúncia e morte de um comissário
p. ex.), o preenchimento desta deve obedecer ao que preveem a CADH (art. 38) e o Estatuto da Comissão (art. 11), funcionando
da seguinte forma:

i. Ao se verificar uma vaga que não decorre de expiração normal de mandato, o Presidente da Comissão notificará
imediatamente ao Secretário-Geral da OEA, que, por sua vez, levará a ocorrência ao conhecimento dos Estados
membros da Organização;
ii. Para preencher as vagas, cada Governo poderá apresentar 1 candidato, dentro do prazo de 30 dias, a contar da
data de recebimento da comunicação do Secretário-Geral na qual informe da ocorrência de vaga;
iii. O Secretário-Geral preparará uma lista, em ordem alfabética, dos candidatos e a encaminhará ao Conselho
Permanente da Organização, o qual preencherá a vaga.

Finalmente, prevê o art. 11.4 do Estatuto da CIDH que “Quando o mandato expirar dentro dos seis meses seguintes à data
em que ocorrer uma vaga, esta não será preenchida”.

9. Mandato

Os membros da CIDH são eleitos para um mandato de 4 anos e somente podem ser reeleitos UMA VEZ (CADH, art.
37.1; Estatuto, art. 6º; Regulamento, art. 2.1).

O mandato dos comissários é contado a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao da eleição (Estatuto, art. 6º).

Conforme estabelece o Regulamento da CIDH, “No caso de não haverem sido eleitos os novos membros da Comissão
para substituir os membros cujos mandatos expiram, estes últimos continuarão no exercício de suas funções até que se efetue a
eleição dos novos membros” (art. 2.2).

Interessante observar que a CADH (art. 37.1), da mesma forma que outros tratados disciplinam a organização de
tribunais e órgãos internacionais de proteção dos direitos humanos, se precaveu do risco à continuidade dos trabalhos que seria
uma substituição total da composição da CIDH a cada eleição e adotou o mecanismo da renovação parcial, estabelecendo que
o mandato de 3 dos comissários eleitos para a primeira composição expiraria após 2 anos, garantindo assim, sucessivamente,
que novos membros sempre trabalhem por um período com membros escolhidos na eleição anterior.

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10. Regime de incompatibilidades

O regime de incompatibilidades do cargo de comissário da CIDH está previsto no Regulamento (art. 4º) e no Estatuto da
Comissão (art. 8º), segundo os quais “A condição de membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos é incompatível
com o exercício de atividades que possam afetar sua independência e sua imparcialidade, ou a dignidade ou o prestígio do seu
cargo na Comissão”.
O procedimento para verificação da incompatibilidade também está previsto no Regulamento (artigos 4.2, 4.3, 4.4 e
4.5) e no Estatuto (art. 8.2) da CIDH, funcionando assim:

i. A Comissão, com o voto afirmativo de pelo menos 5 de seus membros, determinará se existe uma situação de
incompatibilidade;
ii. A Comissão, antes de tomar uma decisão, ouvirá o membro ao qual se atribui a incompatibilidade;
iii. A decisão sobre incompatibilidade, com todos os seus antecedentes, será enviada por intermédio do Secretário-
Geral à Assembleia-Geral da Organização, que decidirá a respeito; e
iv. A declaração de incompatibilidade pela Assembleia-Geral será adotada pela maioria de 2/3 dos Estados membros
da Organização e resultará na imediata separação do cargo de membro da Comissão SEM invalidar, porém, as
atuações de que este membro houver participado.

A respeito de quais atividades podem afetar o exercício do cargo de comissário da CIDH, eis a lição de Ledesma: “Sem
dúvida, um ministro de Estado, um funcionário público, um juiz (qualquer que seja sua categoria), ou um membro de uma
assembleia legislativa (nacional ou provincial), não podem ser membros da Comissão sem que, previamente, renunciem a
qualquer das condições antes mencionadas. Esta incompatibilidade pode apresentar-se de forma superveniente, obrigando o
comissário a obter entre um e outro cargo; mas não pode exercer ambos”.
Interessante observar que embora não conste no regime jurídico da CIDH quais cargos ou atividades são incompatíveis
com o exercício do mandato de comissário, implicitamente o Regulamento da Comissão admite a compatibilidade das funções
de diplomata com o cargo de membro da CIDH quando proíbe o comissário de participar na discussão, investigação,
deliberação ou decisão de assunto submetido à Comissão relacionado ao Estado no qual está acreditado ou cumprindo missão
especial como diplomata (art. 17.2.a).
Ainda sobre o tema, a renúncia a que se refere Ledesma deve se aplicar apenas ao exercício de cargo político (de
ministro ou secretário de Estado p. ex.), sendo que, tratando-se do exercício de cargo conquistado por concurso público (de
procurador de Estado, p. ex.), permitindo a legislação interna de regência, pode haver apenas o licenciamento.

Para ilustrar esse tópico, cite-se o caso de Flávia Piovesan, eleita para integrar a CIDH a partir de janeiro de 2018, que
recentemente foi exonerada pelo presidente da República Michel Temer do cargo de secretária de direitos humanos que
ocupava no governo, sem renunciar, porém, seu cargo de procuradora do Estado de São Paulo, do qual está apenas licenciada.

Finalmente, importante se atentar ao Regulamento da CIDH que prevê que “No momento de assumir suas funções os
membros se comprometerão a não representar a vítima ou seus familiares nem Estados em medidas cautelares, petições e casos
individuais perante a CIDH, por um prazo de 2 anos, contados a partir da expiração de seu mandato como membros da
Comissão” (art. 4.1). à “QUARENTENA”

11. Impedimentos

De acordo com o que prevê o art. 17.2, letras a e b, do Regulamento da CIDH, seus membros NÃO podem participar na
discussão, investigação, deliberação ou decisão de assunto submetido à consideração da Comissão nos seguintes casos:
i. se forem cidadãos do Estado objeto da consideração geral ou específica da Comissão, ou se estiverem acreditados
ou cumprindo missão especial como diplomatas perante esse Estado; e
ii. se houverem participado previamente, a qualquer título, de alguma decisão sobre os mesmos fatos em que se
fundamenta o assunto ou se houverem atuado como conselheiros ou representantes de uma das partes
interessadas na decisão.
iii. Outra hipótese de impedimento é encontrada no art. 54 do Regulamento, segundo o qual “O membro da Comissão
que for nacional ou que residir no território do Estado em que se deva realizar uma observação in loco estará
impedido de nela participar”.

Considerando que os membros da CIDH são eleitos a título pessoal, e não como representantes dos Estados que os
propuseram, o Prof. Caio Paiva entende que essa previsão regulamentar como equivocada e incompatível com a CADH. No
mesmo sentido, vejamos a lição de Ledesma: “No que concerne às disposições antes referidas, que excluem os comissários de
participarem nos assuntos de seus próprios países, há que observar que elas não correspondem nem ao espírito nem à letra da
Convenção, que ressalta que os comissários são eleitos a título pessoal e não representando a um Estado; ademais de não serem
sinceras, elas são totalmente inúteis, pois não impedem que essa pessoa possa dialogar com seus colegas e trocar impressões
sobre o caso. Por conseguinte, resultaria mais saudável o abandono dessas regras, o que estaria em sintonia com o art. 55 da
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Convenção, aplicável aos juízes da Corte, que não impede o juiz da nacionalidade de algum dos Estados partes no caso de seguir
conhecendo do mesmo. Obviamente, isso supõe um mecanismo de seleção que assegure plenamente a independência dos
membros da Comissão”.

Ainda nos termos do Regulamento da CIDH, a Comissão pode decidir sobre o impedimento tanto a partir de
comunicação voluntária do comissário que se considera impedido (art. 17.3), quanto mediante pedido fundamentado por outro
membro (art. 17.4).

12. Funcionamento

O funcionamento da CIDH está regulado em seu Estatuto e em seu Regulamento – principalmente neste segundo –,
além de alguns aspectos mais gerais previstos na CADH. Vejamos como funciona a Comissão Interamericana.

12.1. Organização interna

De acordo com o art. 6º do Regulamento da CIDH, a Comissão possui uma Diretoria que compõe-se de 1 Presidente, 1
Primeiro Vice-Presidente e 1 Segundo Vice-Presidente, os quais cumprem mandato de 1 ano, podendo serem reeleitos para
seus respectivos cargos apenas uma vez em cada 4 anos (Regulamento, art. 8.1).

O art. 7º do Regulamento dispõe sobre o processo eleitoral dos cargos da Diretoria. O art. 10 do Regulamento elenca as
atribuições do Presidente da CIDH.

A organização interna da Comissão Interamericana conta ainda com uma Secretaria Executiva, composta por 1
Secretário Executivo, por pelo menos 1 Secretário Executivo Adjunto e pelo pessoal profissional, técnico e administrativo
necessário para o desempenho de suas atividades (Regulamento, art. 11.1).
Conforme estabelece o art. 13 do Regulamento, “A Secretaria Executiva preparará os projetos de relatórios, resoluções,
estudos e outros trabalhos de que seja encarregada pela Comissão ou o Presidente. Ademais, receberá e fará tramitar a
correspondência e as petições e comunicações dirigidas à Comissão. A Secretaria Executiva também poderá solicitar às partes
interessadas a informação que considere pertinente, de acordo com o disposto no presente Regulamento”.
O Secretário Executivo deve ser uma pessoa com independência e alta autoridade moral, com experiência e trajetória
reconhecida na área de direitos humanos (Regulamento, art. 11.2).
Conforme adverte Ledesma, “(...) o Secretário Executivo não é um funcionário de confiança dos Estados membros da
OEA, e ele não atua em nome próprio, sendo que sua função é, primordialmente, executar as decisões da Comissão ou do seu
Presidente”.
O processo de escolha do Secretário Executivo funciona assim (Regulamento, art. 11.3):

i. A CIDH abre um concurso público para preenchimento da vaga e publica os critérios e as qualificações para o cargo,
bem como a descrição das tarefas a serem desempenhadas;
ii. A CIDH examina as inscrições recebidas e seleciona de 3 a 5 finalistas, os quais são entrevistados para o cargo;
iii. Os currículos dos finalistas são publicados, inclusive no endereço eletrônico da Comissão, um mês antes da seleção
final, para que sejam recebidos comentários sobre os candidatos;
iv. A CIDH determina o candidato mais qualificado, levando em conta os comentários, por maioria absoluta dos seus
membros;
v. Após, o Secretário-Geral da OEA procede com a nomeação do Secretário Executivo da CIDH, que exerce um
mandato de 4 anos, podendo ser renovado uma vez.

Nos termos do art. 11.4 do Regulamento, antes de assumir o cargo e durante o mandato, o Secretário Executivo e o
Secretário Executivo Adjunto devem revelar à CIDH todo interesse que possa estar em conflito com o exercício de suas funções.
O art. 12 do Regulamento elenca as atribuições do Secretário Executivo, que, de um modo geral, consistem em assessorar o
Presidente e os membros da Comissão Interamericana no desempenho de suas funções.

Atualmente, o Secretário Executivo da CIDH é o brasileiro Paulo Abrão.

12.2. Período de sessões

A CIDH deve realizar pelo menos 2 períodos ordinários de sessões por ano, no período que tenha determinado
anteriormente, assim como tantas sessões extraordinárias quantas considere necessárias, sendo que deve determinar, antes do
término do período de sessões, a data e o lugar do período de sessões seguinte (Regulamento, art. 14.1).
As sessões da CIDH são realizadas em sua sede, em Washington DC, EUA, mas por voto da maioria absoluta dos seus
membros, pode reunir-se em outro lugar, com a anuência ou a convite do respectivo Estado (Regulamento, art. 14.2).

@dicasexconcurseira 65
Cada período compõe-se de quantas sessões sejam necessárias para o desenvolvimento dos trabalhos da Comissão, as
quais são realizadas de forma privativa, a menos que a CIDH determine o contrário (Regulamento, art. 14.3).
Conforme estabelece o art. 14.4 do Regulamento, “O membro que, por doença ou por qualquer motivo grave, se vir
impedido de assistir, no todo ou em parte, a qualquer período de sessões ou reunião da Comissão, ou de desempenhar qualquer
outra função, deverá notificá-lo, com a brevidade possível, ao Secretário Executivo, que informará o Presidente e fará constar
essa notificação em ata”.

12.3. Relatorias e grupos de trabalho

Para acompanhar o processo natural do direito internacional dos direitos humanos de reconhecer as especificidades, os
desafios e as demandas de cada grupo de vulneráveis, a Comissão Interamericana passou a criar, a partir de 1990, relatorias
temáticas para fortalecer, impulsionar e sistematizar o trabalho da própria CIDH. Atualmente, esse procedimento está
detalhado no art. 15 do Regulamento. Conforme consta no site da Comissão, a primeira relatoria temática foi criada em 1990 e
diz respeito aos direitos dos povos indígenas, a qual foi seguida, posteriormente, pelas relatorias temáticas sobre os direitos das
mulheres (1994), dos migrantes (1996), para a liberdade de expressão (1997), sobre os direitos da criança (1998), sobre
defensoras e defensores de direitos humanos (2001), sobre os direitos das pessoas privadas de liberdade (2004), das pessoas
afrodescendentes e contra a discriminação racial (2005), dos direitos da população LGBTI (2011) e sobre direitos econômicos,
sociais e culturais (2012).
No mesmo sentido da especificação temática, a CIDH também adota a técnica de distribuir entre seus comissários
relatorias geográficas, o que pode contribuir para a organização e monitoramento sobre os direitos humanos em cada país
membro da OEA (Regulamento, art. 15.2).
De acordo com o Regulamento da CIDH, as relatorias temáticas podem ser distribuídas também para pessoas que não
integram a Comissão, mediante edital para interessados concorrerem.

12.3. Quórum para sessões e para decidir

Nos termos do art. 16 do Regulamento, “Para constituir quorum será necessária a presença da maioria absoluta dos
membros da Comissão”, o que significa 4 comissários. Também pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, a CIDH
decidirá a respeito dos seguintes assuntos (Regulamento, art. 18.1):

i. eleição dos membros da Diretoria da Comissão;


ii. interpretação do presente Regulamento;
iii. aprovação de relatório sobre a situação dos direitos humanos em determinado Estado; e
iv. quando essa maioria estiver prevista na CADH, no Estatuto ou no Regulamento.

Para os demais assuntos, será suficiente o voto da maioria dos membros presentes na sessão (Regulamento, art. 18.2).

QUORUM DE INSTALAÇÃO à maioria absoluta dos membros da Comissão;


QUORUM DE DELIBERAÇÃO à para as matérias descritas no art.18.1 do Regulamento: maioria absoluta dos membros da CIDH;
para as demais matérias: maioria simples dos membros presentes.

13. Idiomas de trabalho

Prevê o art. 22.1 do Regulamento, os idiomas oficiais da CIDH são o espanhol, o francês, o inglês e o português, nada
impedindo, porém, que a Comissão determine outro idioma de trabalho conforme os idiomas falados por seus membros.

QUESTÕES

1. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) possui uma dupla integração orgânica, fazendo parte tanto da OEA
quanto da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. A CIDH foi criada em 1969, com a adoção da Convenção Americana.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. A CIDH somente pode atuar contra países que tenham ratificado a Convenção Americana.

( ) CERTO ( ) ERRADO
@dicasexconcurseira 66
4. Não se exige formação jurídica do candidato ao cargo de integrante da CIDH.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. O membro da CIDH que for nacional do Estado objeto de consideração geral ou específica da Comissão fica impedido de
participar na discussão, investigação, deliberação ou decisão do assunto.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 CERTO
2 ERRADO
3 ERRADO
4 CERTO
5 CERTO

@dicasexconcurseira 67
Aula 13
A Corte Interamericana de Direitos Humanos

1. O que é?

Sede da Corte Interamericana de Direitos Humanos, em San José, na Costa Rica

A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) é uma instituição JUDICIAL autônoma do sistema
interamericano que tem como objetivo aplicar e interpretar a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH),
podendo também, no exercício da sua COMPETÊNCIA CONSULTIVA, expandir a ATIVIDADE INTERPRETATIVA para OUTROS
TRATADOS concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos.

A natureza jurídica de instituição judicial autônoma da Corte IDH, reconhecida em seu Estatuto (art. 1º) e em sua
jurisprudência (Opinião Consultiva no 1/1982, § 19), a coloca como órgão da própria Convenção Americana, NÃO integrando –
diferentemente da Comissão Interamericana – a estrutura da Organização dos Estados Americanos (OEA).
No entanto, duas advertências importantes devem ser feitas sobre a autonomia da Corte em relação à OEA.
A primeira delas é que autonomia não significa completa ausência de controle e de participação da OEA nos trabalhos
da Corte. Para exemplificar a relatividade dessa autonomia, tenhamos em conta que, nos termos da CADH, a OEA:

i. escolhe os juízes da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 53.1);


ii. determina o lugar da sede da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 58.1);
iii. dirige – no que não for incompatível com a independência da Corte – a Secretaria da Corte por meio do seu Secretário-Geral
(art. 59);
iv. aprova o Estatuto da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 60);
v. auxilia na supervisão do cumprimento das decisões da Corte, devendo esta submeter à Assembleia-Geral, em cada período
ordinário de sessões, um relatório sobre as suas atividades do ano anterior (art. 65);
vi. aprova o orçamento da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 72); e
vii. exerce poder disciplinar e sancionatório sobre os juízes da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 73).

A segunda advertência diz respeito ao fato de que a integração orgânica de um tribunal à estrutura de uma organização
internacional – o que não ocorre com a CorteIDH, repita-se –, por si só, não implica em prejuízo para a independência daquele.
Para exemplificar essa afirmação, basta lembrarmos da Corte Internacional de Justiça, criada e estabelecida como o principal
órgão judiciário da Organização das Nações Unidas (Carta da ONU, art. 7.1), integrando a estrutura desta sem mitigar sua
autonomia decisória e a independência dos seus juízes.

2. Como surgiu

Diferentemente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que foi criada por meio de resolução de
Reunião de Consulta de Ministros de Relações Exteriores, vindo a integrar formalmente a estrutura de um tratado – a Carta da
OEA – somente anos mais tarde, com o Protocolo de Buenos Aires (1967), A CORTE IDH JÁ NASCEU COM BASE CONVENCIONAL,
POIS FOI CRIADA PELA CONVENÇÃO AMERICANA (1969). Porém, antes de saber onde, quando e como ocorreu o início dos

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trabalhos da Corte, é importante compreender os antecedentes históricos da sua criação, o que apresentarei aqui de forma
objetiva.
Conforme a metodologia adotada por Zovatto, a história da criação da Corte Interamericana pode ser dividida em 4
etapas:

(1) Etapa de adoção – durante as diversas Conferências Internacionais Americanas – de resoluções a respeito da necessidade de
criar uma Corte Interamericana sobre Direitos Humanos, que vai de 1948 a 1959;
(2) Etapa de elaboração dos diversos projetos sobre uma Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que vai de 1959 a
1969;
(3) Etapa da adoção da CADH até sua entrada em vigência, que vai de 1969 a 1978; e
(4) Etapa da instalação da Corte Interamericana, concretizada em 1979.

Pois bem. Embora tenha havido uma proposta da Costa Rica durante a V Conferência Pan-americana, em 1923, para
que fosse criado um tribunal internacional de direitos humanos no continente, essa iniciativa não foi acolhida, de modo que se
aponta como primeiro antecedente histórico exitoso da criação da Corte Interamericana a Nona Conferência Internacional
Americana, realizada em 1948 na cidade de Bogotá, Colômbia. Durante esta Conferência, foram aprovados 3 documentos muito
importantes: a Carta da OEA, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e a Resolução XXXI – Corte
Interamericana para proteger os Direitos Humanos.
Interessa-nos aqui nesse momento a Resolução XXXI, que foi resultado de uma proposta apresentada pelo Brasil (que -
pasmem - vivia sua época ditatorial), por meio da qual se considerava que não há direito devidamente garantido sem a proteção
de um tribunal, de modo que se incumbiu ao Comitê Jurídico Interamericano a elaboração de um projeto de estatuto para a
criação e o funcionamento de uma Corte Interamericana.

No ano seguinte (1949), o Comitê Jurídico Interamericano apresentou um informe ressaltando que considerava
prematura a elaboração de um projeto de estatuto de uma Corte Interamericana, e isso principalmente porque faltava um
direito positivo sobre matéria, que viria a ser, 20 anos depois (1969), o texto da Convenção Americana, responsável por dispor
sobre a organização da Corte.

Cinco anos depois (1954), a questão volta a ser debatida durante a Décima Conferência Internacional Americana,
realizada em Caracas, Venezuela, quando, além de outras importantes resoluções na matéria de direitos humanos, aprovou-se a
Resolução XXIX sobre a Criação de uma Corte Interamericana de Direitos Humanos, incumbindo ao Conselho da OEA a
continuação dos estudos sobre a proteção jurisdicional dos direitos humanos no continente americano.

A próxima vez em que o tema foi enfrentado ocorreu na Quinta Reunião de Consulta de Ministros de Relações
Exteriores (1959), em Santiago, Chile, quando se considerou a preocupação do Comitê Jurídico Interamericano feita 10 anos
antes (1949) no sentido de que faltava um direito positivo para subsidiar a criação da Corte Interamericana, razão pela qual se
deveria dar preferência à elaboração de um projeto de Convenção Americana sobre Direitos Humanos. E assim, durante a
Quinta Reunião de Consulta foi aprovada a Resolução VIII sobre direitos humanos, que, além de ter CRIADO a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, ENCOMENDOU ao Conselho Interamericano de Jurisconsultos a elaboração de dois
projetos de convenção: sendo um sobre direitos humanos e outro sobre a criação de uma Corte Interamericana.

No mesmo ano (1959), o Conselho Interamericano de Jurisconsultos, tendo como base um texto apresentado pela
delegação do Uruguai, elaborou o projeto de Convenção Americana sobre Direitos Humanos durante sua Quarta Reunião,
realizada em Santiago, Chile, entre 24 de agosto a 9 de setembro. Na sequência, o projeto de Convenção Americana sobre
Direitos Humanos elaborado pelo Conselho Interamericano de Jurisconsultos, que deveria ser submetido à deliberação na
Décima Primeira Conferência Internacional Americana, considerando que esta não chegou a ocorrer por questões políticas do
momento, acabou sendo objeto de discussão na Segunda Conferência Interamericana Extraordinária realizada em 1965, no Rio
de Janeiro, Brasil, oportunidade em que também foram examinados projetos de Convenção apresentados pelo Chile e pelo
Uruguai. Encerrada a Conferência Interamericana do Rio de Janeiro, aprovou-se a Resolução XXIV, por meio da qual se decidiu
enviar os projetos de Convenção Americana do Conselho Interamericano de Jurisconsultos, do Chile e do Uruguai, assim como
as atas dos debates sobre a matéria ocorridos na Conferência, ao Conselho da OEA, para que este, ouvindo a Comissão
Interamericana e outros órgãos que considerasse pertinente, introduzisse no projeto do Conselho Interamericano de
Jurisconsultos as emendas que julgasse necessárias para atualizá-lo e complementá-lo.

O Conselho da OEA deu cumprimento à Resolução XXIV e encomendou à sua Comissão de Assuntos Jurídicos-Políticos
um estudo sobre os projetos de Convenção já referidos, resolvendo também, em 1966, solicitar da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos sua opinião e eventuais recomendações sobre aqueles projetos. A CIDH deu cumprimento à solicitação do
Conselho da OEA, entregando a este, entre 1966 e 1967, seus estudos com comentários e emendas aos projetos de Convenção
que lhe foram submetidos.

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O texto consolidado pela CIDH, que partiu dos três projetos apresentados já referidos anteriormente, neles fazendo
emendas e modificações, foi aprovado em novembro de 1969, em San José, Costa Rica, na Conferência Especializada
Interamericana sobre Direitos Humanos, que havia sido convocada justamente para que os Estados membros da OEA
deliberassem sobre o texto da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
A CADH entrou em vigor somente em 1978, quando, satisfeito o requisito previsto em seu texto (art. 74.2), foi
depositado o 11º instrumento de ratificação. Com isso, deu-se início ao PROCESSO DE INSTALAÇÃO DA CORTE
INTERAMERICANA.

No ano seguinte (1979), os Estados partes da Convenção Americana elegeram, durante o 17º Período Extraordinário de
Sessões da Assembleia-Geral da OEA, os primeiros juízes que comporiam a CorteIDH, sendo eles: Thomas Buergenthal (nacional
de Estados Unidos, proposto pela Costa Rica), Máximo Cisneros (do Perú), Huntley Eugene Munroe (da Jamaica), César Ordóñez
(da Colômbia), Rodolfo Piza Escalante (da Costa Rica), Carlos Roberto Reina (de Honduras) e Rafael Urquía (de El Salvador),
tendo esse último renunciado ao cargo de juiz da Corte antes de prestar seu juramento, apresentando como justificativa a
incompatibilidade de membro da Corte Interamericana com a sua atividade de diplomata permanente de El Salvador junto à
Organização das Nações Unidas (ONU), razão pela qual foi realizada nova eleição para preenchimento da sua vaga em outubro
do mesmo ano (1979), quando foi escolhido Pedro Nikken (da Venezuela).

A primeira reunião da Corte foi celebrada em 29 e 30 de junho de 1979, na sede da OEA em Washington D.C. O objetivo
dessa reunião, conforme registrado no Primeiro Relatório Anual da Corte (1980), foi fazer com que os juízes recém eleitos se
conhecessem e dessem os primeiros passos para a organização da Corte. Nessa reunião, os juízes Piza Escalante e Cisneros
Sánchez foram escolhidos Presidente e Vice-presidente do tribunal. A Corte encerrou a reunião convocando o seu primeiro
período ordinário de sessões para setembro do mesmo ano (1979), a se realizar em San José, Costa Rica.

A escolha de San José pela Corte Interamericana decorreu da oferta do governo da Costa Rica para que a Corte tivesse a
sua sede no país, o que foi aprovado entre julho e novembro de 1978 pela Assembleia-Geral da OEA e pelos Estados partes da
Convenção, nos termos do art. 58 da CADH. E assim, portanto, a CorteIDH foi instalada em San José, Costa Rica, em cerimônia
realizada no dia 3 de setembro de 1979, no Teatro Nacional de San José, lugar em que 10 anos antes havia sido adotada a
Convenção Americana.

Em 1981, a Corte Interamericana celebrou com a Costa Rica um Acordo de Sede, estabelecendo o regime de
imunidades e prerrogativas da Corte, dos seus juízes e do pessoal necessário para o desenvolvimento das atividades do tribunal.
Em novembro de 1993, a Corte IDH recebeu da Costa Rica uma casa, que até hoje é a sede da Corte. Um fato histórico
interessante: a Costa Rica já havia sido sede, de 1908 a 1918, de outro tribunal internacional - o primeiro do mundo com
competência em matéria de direitos humanos –, que foi a Corte de Justiça Centroamericana.

Conforme estabelece o Estatuto da Corte, ela tem sua sede em San José, mas pode celebrar sessões em qualquer
Estado membro da OEA, mediante decisão da maioria dos seus membros e prévio convite do respectivo Estado (art. 3.1). A
CorteIDH tem considerado essa previsão estatutária uma oportunidade para estreitar as relações institucionais com os Estados e
para divulgar a sua jurisprudência e importância no continente americano, já tendo realizado sessões, p. ex., na Argentina
(1984), na Colômbia (2013), no Brasil (2013) e no Paraguai (2014). Ainda de acordo com o Estatuto, a sede Corte pode ser
alterada pelo voto de 2/3 dos Estados partes da Convenção na Assembleia-Geral da OEA (art. 3.2).

O primeiro período ordinário de sessões da Corte, conforme convocação feita em sua primeira reunião, ocorreu na sua
sede em San José, entre os dias 3 a 14 de setembro de 1979, tendo como principais pautas redigir seu Estatuto e preparar seu
orçamento para o biênio 1980-81.

O segundo período ordinário de sessões da Corte Interamericana ocorreu entre os dias 10 e 25 de janeiro de 1980,
quando grande parte do tempo foi dedicada à elaborar o seu Regulamento, tendo contado com o auxílio de uma delegação da
Corte Europeia de Direitos Humanos, tribunal que já contava, na época, com a experiência de 20 anos de funcionamento. A
Corte ainda precisou de mais dois períodos de sessões – um período extraordinário, de 16 a 18 de junho de 1980, e um período
ordinário, 30 de junho a 9 de agosto de 1980 – para concluir e aprovar o seu Regulamento, cujo inteiro teor integrou seu
Primeiro Informe Anual à Assembleia-Geral da OEA. Conforme veremos mais a frente, a Corte IDH substituiu por diversas vezes
o seu Regulamento, tendo o atual sido aprovado em novembro de 2009.

Ainda que devidamente instalada e com o seu regime jurídico em vigor – CADH, Estatuto e Regulamento –, a Corte
levou alguns anos para exercer a sua função contenciosa, vindo a proferir a primeira sentença de mérito somente em julho de
1988, quando julgou o Caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras – apresentado na Corte pela Comissão Interamericana em 1986,
juntamente com os outros dois casos hondurenhos (Caso Fairén Garbi e Solís Corrales e Caso Godínez Cruz vs. Honduras) – no
qual já havia outorgado medidas provisórias em janeiro do mesmo ano.
Isso se deve, predominantemente, a dois fatores, sendo o primeiro deles relacionado à inércia da Comissão
Interamericana para submeter casos à Corte e o segundo ao lento processo de aceitação da competência contenciosa da Corte
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pelos Estados, sendo que até 1988 apenas 10 países haviam feito esse reconhecimento: Costa Rica (1980), Equador (1980),
Venezuela (1981), Peru (1981), Honduras (1981), Argentina (1984), Colômbia (1985), Uruguai (1985), Suriname (1987),
Guatemala (1987) e Suriname (1987).
Assim, os primeiros anos da Corte IDH foram marcados pelo exercício exclusivo da competência consultiva, tendo
emitido nove delas até o ano em que proferiu a primeira sentença de mérito (1988).

3. Regime jurídico

A Corte Interamericana é regida juridicamente pela CADH (artigos 52 a 69), assim como pelo seu Estatuto, elaborado
por ela e aprovado pela Assembleia-Geral da OEA em 1979, e pelo seu Regulamento, expedido por ela própria, datando o
primeiro de 1980, seguido e substituído depois, sucessivamente, pelos Regulamentos de 1991, 1996, 2000, 2003 e 2009.
A diferença entre o estatuto e o regulamento, conforme muito bem sintetiza García Ramírez, consiste em que o
primeiro veicula disposições essencialmente orgânica, que desenvolvem e complementam a Convenção Americana, enquanto
que o regulamento trata predominantemente de questões processuais – assunto em que a CADH não aprofunda muito –,
contendo também algumas disposições de caráter orgânico.

4. Composição e requisitos para o cargo

A composição da Corte IDH e os requisitos para ocupar o cargo estão detalhados no art. 52 da CADH e no art. 4º do seu
Estatuto, segundo os quais a Corte Interamericana se compõe de 7 juízes, deles sendo exigidos os seguintes requisitos:

i. Ter independência. Ao estabelecer que os juízes da CorteIDH SÃO ELEITOS A TÍTULO PESSOAL, a CADH quis
ressaltar que os juízes não representam os Estados do qual são nacionais ou os Estados que os propuseram como
candidatos. Conforme muito bem adverte Ledesma, “(...) na realidade, o requisito mais importante para chegar à
condição de magistrado da Corte Interamericana de Direitos Humanos é estar em capacidade de oferecer garantias
de independência fora de toda suspeita”.

ii. Ser nacional de algum dos Estados-membros da OEA. Não se exige que o Estado do qual o candidato é nacional
tenha ratificado a CADH e aceitado a jurisdição contenciosa da Corte.

iii. Ter a mais alta autoridade moral. Tem-se aqui um requisito muito genérico e de difícil definição. Interessante
observar que a Convenção parece exigir uma autoridade moral dos juízes da CorteIDH ainda mais elevada do que
aquela requerida dos membros da CIDH, tanto que a reforça com a expressão “mais”. A dificuldade de se
conceituar mais alta autoridade moral, porém, não impede que se estabeleça algumas condições essenciais para
que alguém dispute a vaga de juiz da Corte Interamericana, entre as quais podemos destacar:
a) ter reconhecimento público pela atuação pessoal e profissional na defesa dos direitos humanos;
b) apoiar uma agenda progressista no campo da proteção de grupos vulneráveis; e
c) não ter participado de violações de direitos humanos nem ter assumido posições ideológicas incompatíveis
com a dignidade humana e com a proteção dos direitos humanos.

iv. SER JURISTA, que reúna as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo
com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos. Aqui se observa,
portanto, que se exige a FORMAÇÃO JURÍDICA para integrar a CorteIDH, diferentemente da exigência que se faz
para integrar a CIDH, que, conforme vimos anteriormente, basta o reconhecido saber em matéria de direitos
humanos. Sobre esse requisito, pode-se afirmar que embora a CADH não estabeleça idade mínima nem máxima
para integrar a Corte, ao exigir que o candidato reúna as condições que lhe habilitam, de acordo com a lei do
Estado do qual seja nacional ou do Estado que o tenha proposto, a exercer as mais elevadas funções judiciais, a
condição etária eventualmente pode aparecer como requisito, como é o caso do Brasil, cuja Constituição Federal
somente permite que integre o Supremo Tribunal Federal pessoas com mais de 35 e menos de 65 anos de idade
(art. 101, caput).

v. Ter reconhecida competência em matéria de direitos humanos. Não basta ser jurista para integrar a Corte
Interamericana. Exige-se um conhecimento especializado na matéria de direitos humanos. É importante ressaltar
que essa competência não está necessariamente ligada à formação acadêmica ou à produção doutrinária, podendo
decorrer também da atuação profissional da pessoa. Assim, p. ex., tanto estará habilitado a concorrer ao cargo de
juiz da Corte um acadêmico que se dedique à pesquisa na matéria de direitos humanos, quanto alguém que na sua
atividade profissional demonstre habilidade intelectual e articulação política para promover a implementação de
direitos humanos.

@dicasexconcurseira 71
Uma situação interessante diz respeito à possibilidade de um juiz da Corte deixar de satisfazer supervenientemente
algum ou alguns dos requisitos que lhe foram exigidos para candidatar-se ao cargo, como, por exemplo, se envolver num fato
que macule a sua mais alta autoridade moral ou, por algum motivo, perder a condição de nacional de algum dos Estados-
membros da OEA. Ledesma enfrenta esse problema na sua magnífica obra sobre o sistema interamericano, ressaltando que a
solução pode ser encontrada no art. 20 do Estatuto da Corte Interamericana, que assim estabelece:

Artigo 20. Responsabilidade e competência disciplinar

1. Os juízes e o pessoal da Corte deverão manter, no exercício de suas funções e fora delas, uma conduta acorde com a
investidura dos que participam da função jurisdicional internacional da Corte. Responderão perante a Corte por essa conduta,
bem como por qualquer falta de cumprimento, negligência ou omissão no exercício de suas funções.
2. A competência disciplinar com respeito aos juízes caberá à Assembleia Geral da OEA, somente por solicitação justificada da
Corte, constituída para esse efeito pelos demais juízes.
3. A competência disciplinar com respeito ao Secretário cabe à Corte, e com respeito ao resto do pessoal, ao Secretário, com a
aprovação do Presidente.
4. O regime disciplinar será regulamentado pela Corte, sem prejuízo das normas administrativas da Secretaria-Geral da OEA, na
medida em que forem aplicáveis à Corte em conformidade com o artigo 59 da Convenção.

Assim, ocorrendo a perda superveniente de algum ou alguns dos requisitos para ser juiz da Corte Interamericana, o
processo de responsabilidade disciplinar ocorrerá perante a Assembleia-Geral da OEA mediante provocação justificada da Corte.
Embora o Estatuto da Corte não detalhe as consequências deste julgamento do membro pela Assembleia-Geral da OEA, a perda
do mandato parece ser uma sanção possível. Esta solução do sistema interamericano pode ser considerada coerente com o
processo de eleição dos membros da Corte, pois atribui ao mesmo órgão deliberativo responsável por escolher os juízes da
Corte – a Assembleia- Geral da OEA – a competência para destituí-los em caso de perda superveniente de requisito
indispensável ao cargo. Por outro lado, esta solução pode ser criticada, pois de alguma forma agride a autonomia da Corte
Interamericana, que, conforme vimos anteriormente, não é um órgão da OEA, e sim uma instituição judicial autônoma da
Convenção Americana.

Ainda a respeito da composição da Corte Interamericana e dos requisitos exigidos para concorrer ao cargo de juiz desse
tribunal internacional, considero importante destacar que cresce cada vez mais o discurso por uma representatividade
equitativa de gênero na Corte, que, em sua história, até o momento, contou com apenas 5 juízas: Cecilia Medina (Chile), Sonia
Picado (Costa Rica), Margarette May Macaulay (Jamaica), Rhadys Abreu Blondet (República Dominicana) e Elizabeth Odio Bento
(Costa Rica), esta última com mandato de 2016 a 2021.
O Comitê da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) já se
posicionou no sentido de que “(...) a máxima participação da mulher em todas as esferas, em igualdade de condições com o
homem, é indispensável para o pleno desenvolvimento do país, ao bem-estar do mundo e à causa da paz”.
O Prof. Caio Paiva está de acordo com o ideal de uma representatividade equitativa de gênero na Corte Interamericana,
modelo já adotado no sistema africano de proteção dos direitos humanos e também no âmbito do Tribunal Penal Internacional,
embora neste segundo o Estatuto de Roma não imponha uma composição equitativa de gênero, mas apenas ressalta que os
Estados-partes deverão ponderar sobre uma representação justa de juízes do sexo feminino e do sexo masculino (ER, art.
36.8.a.iii).
Recentemente, por meio da Resolução 2.887/2016 – Promoção e Proteção de Direitos Humanos, a Assembleia-Geral da
OEA resolveu “Alertar os Estados para que nos processos de seleção de juízes da Corte Interamericana de Direitos Humanos e de
Comissionados da CDIH, nominem e elejam pessoas que permitam assegurar uma integração regional de gênero, com
representação das diferentes regiões, grupos populacionais e sistemas jurídicos do Hemisfério, garantindo que cumpram com os
requisitos de independência, imparcialidade e reconhecida competência em matéria da direitos humanos”.
Para o fim de se buscar uma representatividade de gênero na composição da Corte Interamericana, importante a
seguinte advertência feita no documento elaborado pelo CEJIL:
“De outra parte, o Sistema Interamericano deve rechaçar a prática utilizada pelos Estados em numerosas ocasiões para
justificar o descumprimento com a representação de gênero e não postular mulheres como candidatas, de afirmar que não
encontraram mulheres que cumpram com os requisitos exigidos. Esta afirmação carece de sustentação fática e evidencia a falta
de transparência e imparcialidade na eleição”.

Para encerrar esse tópico, é importante lembrar também que a Convenção Americana (art. 52.2) e o Estatuto da Corte
(art. 4.2) proíbem que dois juízes da mesma nacionalidade integrem – simultaneamente – a Corte Interamericana, o que deve
ser compreendido como um mecanismo de prevenção de parcialidade, pois, conforme afirmado anteriormente, os juízes são
eleitos a título pessoal e não como representantes dos Estados. Na verdade, esta disposição da CADH segue uma tendência dos
tribunais internacionais de buscar uma maior representatividade geográfica, permitindo que a Corte Interamericana seja
integrada por juízes de diversas nacionalidades.

@dicasexconcurseira 72
5. Processo de escolha dos membros

O processo de escolha dos juízes da Corte Interamericana está previsto no art. 53 da CADH e nos artigos 6º a 9º do seu
Estatuto, funcionando de acordo com as seguintes disposições:

i. Quem propõe os candidatos? Os candidatos ao cargo de juiz da CorteIDH são propostos pelos Estados-partes da
Convenção. Para se qualificar como Estado proponente de candidato, NÃO há a exigência de que tenha aceitado a
jurisdição contenciosa da Corte, mas apenas que tenha aderido à Convenção. Assim, o Estado que não aderiu ao
texto da CADH, como é o caso, p. ex., de Canadá e dos EUA, não podem propor candidatos.

ii. Quantos candidatos cada Estado pode propor? Cada Estado pode propor até 3 candidatos, que devem ser seus
nacionais ou de outro Estado-membro da OEA. Quando o Estado propuser uma lista de 3 candidatos, prevê a
Convenção que pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente. Assim, p. ex., se o
Brasil pretende apresentar uma lista com três candidatos ao cargo de juiz da Corte, um deles deverá ser nacional
de outro Estado-membro da OEA. Aqui, portanto, convém relembrar que embora os candidatos a juízes da Corte
Interamericana possam ser nacionais de Estados-membros da OEA que não tenham ratificado a CADH, eles
necessariamente devem ser propostos por Estados que tenham aderido à Convenção.

iii. Onde e como ocorre a eleição? A eleição ocorre na Assembleia-Geral da OEA, sediada em Washington, D.C., em
votação secreta e pelo voto da maioria absoluta dos Estados-partes da CADH.

Podem propor candidatos à Estados que tenham aderido à Convenção


Podem ser votados à Jurista de Estado que aderiu a CADH ou que seja membro da OEA
Participam da votação à Estados que tenham aderido à Convenção

Embora não se questione a eleição de nenhum candidato em particular – tanto da CIDH quanto da CorteIDH –, tem sido
cada vez mais frequente o discurso por um processo eleitoral mais transparente e participativo no âmbito do sistema
interamericano, não apenas no momento internacional de avaliação do preenchimento dos requisitos pelo candidato, mas
também no momento nacional de escolha dos nomes que irão disputar os cargos.

6. Mandato

O mandato dos juízes da CorteIDH está disciplinado na CADH (art. 54), no Estatuto (art. 5º) e no Regulamento da Corte (art.
17), obedecendo as seguintes disposições:

i. Duração e reeleição. Os juízes da Corte Interamericana são eleitos para um mandato de 6 anos, que é contado, de
acordo com o Estatuto da Corte (art. 5.2), a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao da eleição, encerrando-se
em 31 de dezembro do ano de sua conclusão.
Interessante observar que a CADH, da mesma forma que outros tratados que disciplinam sobre a organização de
tribunais internacionais, se precaveu do risco à continuidade dos trabalhos que seria uma substituição total da
composição da Corte a cada eleição e estabeleceu o mecanismo da renovação parcial, assentando que “O
mandato de 3 dos juízes designados na primeira eleição expirará ao cabo de 3 anos. Imediatamente depois da
referida eleição, determinar-se-ão por sorteio, na Assembleia-Geral, os nomes desses 3 juízes” (art. 54.1).

ii. Prorrogação do mandato. O princípio ou a garantia do juiz natural recebe um tratamento mais amplo na
normativa dos tratados que dispõe sobre o funcionamento de tribunais internacionais, projetando um vínculo do
julgador com o caso que pode superar o término do mandato.
Nesse sentido, prevê a CADH que “Os juízes permanecerão em suas funções até o término dos seus mandatos.
Entretanto, continuarão funcionando nos casos de que já houverem tomado conhecimento e que se encontrem
em fase de sentença e, para tais efeitos, não serão substituídos pelos novos juízes eleitos” (art. 54.3).
Esta normativa se repete no Estatuto e no Regulamento da Corte.

7. Juízes ad hoc

Art. 55 da CADH
1. O juiz que for nacional de algum dos Estados Partes no caso submetido à Corte, CONSERVARÁ O SEU DIREITO DE CONHECER
DO MESMO.
2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de nacionalidade de um dos Estados Partes, outro Estado Parte no caso
poderá designar uma pessoa de sua escolha para fazer parte da Corte na qualidade de JUIZ AD HOC.

@dicasexconcurseira 73
3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, nenhum for de nacionalidade dos Estados Partes, cada um destes poderá
designar um juiz ad hoc.
4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52.
5. Se vários Estados Partes na Convenção tiverem o mesmo interesse no caso, serão considerados como uma só Parte, para os
fins das disposições anteriores. Em caso de dúvida, a Corte decidirá.

Temos neste dispositivo a figura do juiz ad hoc, bastante criticada pela doutrina.
ATENÇÃO! A Corte IDH interpretou o art. 55 da CADH em sua Opinião Consultiva nº 20/2009, assentando que a figura do juiz
ad hoc SOMENTE deve ser admitida nas demandas originadas por COMUNICAÇÕES INTERESTATAIS; logo, nas demandas
iniciadas pela Comissão Interamericana, o Estado demandado não possui o direito de indicar juiz nacional ad hoc. Além disso, na
mesma opinião consultiva, a Corte IDH restringiu a possibilidade de o juiz que possuir a mesma nacionalidade do Estado réu
atuar no caso, somente a admitindo nas DEMANDAS INTERESTATAIS.

QUESTÕES

1. A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) foi criada pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(CADH).

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. O início das atividades da Corte IDH se deu mediante o exercício da competência contenciosa.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. Entre os requisitos exigidos para concorrer ao cargo de juiz da Corte IDH, há a necessidade de o candidato ser nacional de
Estado-Parte da CADH.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Para que um Estado possa propor candidatos ao cargo de juiz da Corte IDH, ele não precisa ter aceitado a competência
contenciosa da Corte.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. O Estado demandado perante a Corte IDH somente pode designar juiz nacional ad hoc nas demandas interestatais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 CERTO
2 ERRADO
3 ERRADO
4 CERTO
5 CERTO

@dicasexconcurseira 74
Aula 14
Jurisdição consultiva da Corte Interamericana de Direitos Humanos

1. Previsão normativa, finalidade e alcance das opiniões consultivas

A competência da Corte IDH para emitir opiniões consultivas (ou pareceres consultivos) está prevista nos artigos 64 e
65 da CADH e nos artigos 70 a 75 do seu Regulamento. A COMPETÊNCIA CONSULTIVA pode ser considerada um serviço que a
Corte presta a todos os Estados-membros da OEA com o objetivo de coadjuvar o cumprimento de seus compromissos
internacionais sobre direitos humanos. Assim, conforme já afirmou a própria Corte IDH, o propósito central da função
consultiva é obter uma INTERPRETAÇÃO JUDICIAL sobre uma ou várias disposições da CADH ou de OUTROS TRATADOS
concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos, cumprindo as opiniões consultivas, portanto, a função
própria de um CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE PREVENTIVO (processo de se comparar uma norma nacional – seja da CF
ou não - com uma norma de direito internacional dos direitos humanos)

Em outra ocasião, a Corte IDH ressaltou que a CADH, ao permitir aos Estados-membros e aos órgãos da OEA solicitar
opiniões consultivas, cria um sistema paralelo ao do art. 62 e oferece um método judicial alternativo de caráter consultivo,
destinado a ajudar os Estados e órgãos a cumprir e aplicar os tratados em matéria de direitos humanos, sem submetê-los ao
formalismo e ao sistema de sanções que caracteriza o processo contencioso.

Conforme a Corte IDH afirmou já em sua primeira opinião consultiva, a CADH conferiu à Corte a MAIS AMPLA FUNÇÃO
CONSULTIVA já confiada a um tribunal internacional, seja pela quantidade de LEGITIMADOS para solicitar a consulta, seja pelo
alcance dos tratados que podem ser OBJETO da consulta. No âmbito da Corte Internacional de Justiça, por exemplo, os
Estados-membros da ONU não possuem legitimidade para solicitar uma opinião consultiva. Mais restrita ainda é a competência
consultiva do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, que somente pode ser ativada a pedido do Comitê de Ministros; além
disso, os assuntos que podem ser discutidos são muito limitados.

A amplitude da competência consultiva da Corte IDH não se confunde, porém, com uma ausência de limites. Nesse
sentido, a Corte já teve a oportunidade de assentar que o pedido de opinião consultiva:

a) não pode ter como objetivo determinar o alcance dos compromissos internacionais assumidos por Estados que não sejam
membros do sistema interamericano;
b) não pode buscar a interpretação das normas que regulam a estrutura ou o funcionamento de órgãos ou organismos
internacionais alheios ao sistema interamericano;
c) não deve disfarçar um caso contencioso ou pretender de forma prematura um pronunciamento sobre um tema ou assunto
que poderá eventualmente ser submetido à Corte através de um caso contencioso; - ex: o caso Dilma.
d) não deve ser utilizada como um mecanismo para obter um pronunciamento indireto sobre um assunto em litígio ou em
controvérsia a nível interno;
e) não deve ser utilizada como um instrumento de um debate político interno;
f) não deve abranger, exclusivamente, temas sobre os quais a Corte já tenha se pronunciado em sua jurisprudência;
g) não deve procurar a resolução de questões de fato, mas sim buscar o sentido, o propósito e a razão das normas
internacionais sobre direitos humanos e, sobretudo, coadjuvar os Estados membros e os órgãos da OEA para que cumpram de
maneira efetiva suas obrigações internacionais; e
h) não deve partir de especulações abstratas, sem uma previsível aplicação a situações concretas que justifiquem o interesse de
que seja emitida uma opinião consultiva. Sobre essa questão, a Corte IDH já esclareceu, porém, que o mero fato de que existam
casos contenciosos relacionados com o tema da consulta ou petições ante a CIDH não basta para que se inviabilize o pedido de
opinião consultiva.

Segundo a Corte IDH, esses critérios não formam uma lista exaustiva nem tampouco constituem limites infranqueáveis,
competindo à Corte avaliar em cada caso concreto a pertinência em exercer sua função consultiva.

Desde a sua instalação, em 1979, a Corte IDH rejeitou apenas 5 pedidos de opinião consultiva, sendo que entre eles
destaco a solicitação apresentada pelo Secretário-Geral da OEA, por meio da qual pediu à Corte que indicasse os critérios
limitadores dos juízos políticos, referindo-se especificamente – para demandar mais urgência na apreciação – ao caso do
impeachment da então presidente Dilma Rousseff. A Corte IDH rejeitou o pedido nos seguintes termos:

“(...) a Corte estima que a emissão da opinião consultiva solicitada poderia constituir um pronunciamento prematuro
sobre o tema ou assunto em questão, que poderá ser submetido posteriormente no marco de um caso contencioso.
Adicionalmente, considera que uma resposta à consulta apresentada poderá implicar pronunciar-se sobre um assunto que ainda
não foi resolvido a nível interno. Assim, a Corte também tem presente que a solicitação de consulta em exame apresenta uma
daquelas situações nas quais se desvirtuaria o propósito e o conteúdo da função consultiva com que foi investida este Tribunal
pelo artigo 64.1 da Convenção Americana”.
@dicasexconcurseira 75
2. Características do procedimento consultivo

O procedimento consultivo tem características e lógicas próprias, distintas das que vigoram no procedimento
contencioso, e isso porque:

a) trata-se de uma competência OBRIGATÓRIA, ativada AUTOMATICAMENTE com a RATIFICAÇÃO pelo Estado nos termos da
CADH; à IMPORTANTE!
b) não há partes (demandante e demandado), sentença nem tampouco sanções e reparações, mas apenas a emissão de uma
opinião consultiva, possuindo, então, o caráter multilateral e não litigioso.

3. Objeto da consulta

O pedido de opinião consultiva à Corte IDH pode ter como objetos:

i. a INTERPRETAÇÃO da Convenção Americana ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos


humanos nos Estados americanos, o que o Prof. Caio Paiva denomina de opinião consultiva de interpretação.

ii. o exame de COMPATIBILIDADE entre qualquer lei interna e os mencionados instrumentos internacionais, o que o
Prof. Caio Paiva denomina de opinião consultiva de compatibilidade.

3.1. Opinião consultiva de interpretação

A opinião consultiva de interpretação está prevista no art. 64.1 da CADH, que assim dispõe:

“Os Estados membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros
tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes
compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de
Buenos Aires”.
Assim, são legitimados para solicitar uma opinião consultiva de interpretação os ESTADOS MEMBROS da OEA
(independentemente de terem ratificado a CADH) e os ÓRGÃOS previstos no art. 53 da Carta da OEA, que são os seguintes:

a) a Assembleia-Geral;
b) a Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores;
c) os Conselhos;
d) a Comissão Jurídica Interamericana;
e) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos;
f) a Secretaria-Geral;
g) as Conferências Especializadas; e
h) os Organismos Especializados.

Conforme se pode notar, os INDIVÍDUOS NÃO POSSUEM LEGITIMIDADE para solicitar uma opinião consultiva de
interpretação à Corte IDH.

A respeito da legitimidade dos Estados membros da OEA, apenas o Chefe do Poder Executivo nacional ou quem ele
designar – o Ministro das Relações Exteriores, por exemplo – pode exercê-la, não havendo que se falar em legitimidade de
representantes do Poder Legislativo nem do Poder Judiciário. Ainda sobre o assunto, a Corte IDH já se manifestou no sentido de
que os ESTADOS MEMBROS DA OEA possuem um DIREITO ABSOLUTO de pedir opiniões consultivas, deles não se exigindo a
comprovação de um legítimo interesse institucional.

Por outro lado, segundo a interpretação da Corte IDH acerca do art. 64.1 da Convenção, o direito dos ÓRGÃOS DA OEA
de pedir uma opinião consultiva de interpretação NÃO É ABSOLUTO e se restringe aos assuntos nos quais tais órgãos tenham
um LEGÍTIMO INTERESSE INSTITUCIONAL. Esse entendimento da Corte passou a constar do seu Regulamento. No entanto, a
Corte IDH ressalva a situação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que, em razão dos amplos poderes que
o art. 112 da Carta da OEA lhe confere em relação à promoção e observância dos direitos humanos, possui – assim como os
Estados membros da OEA – um DIREITO ABSOLUTO de pedir opiniões consultivas de intepretação.

OBS: Ainda no tocante à opinião consultiva de interpretação, se o tratado a que se pretende obter da Corte IDH uma opinião
consultiva for a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (“Convenção de Belém
do Pará”), além dos Estados-membros e dos órgãos da OEA, mostra- se como legitimada também a Comissão Interamericana de
Mulheres (Convenção de Belém do Pará, art. 11), organismo especializado interamericano, de caráter permanente, criado de
acordo com a Carta da OEA.
@dicasexconcurseira 76
Analisemos agora quais tratados podem ser submetidos à opinião consultiva de interpretação.

Segundo o art. 64.1 da CADH, podem ser objeto de uma opinião consultiva de interpretação a própria Convenção
Americana e qualquer outro tratado concernente à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos.
Sobre a Convenção, a Corte IDH já afirmou que tem competência para emitir opinião consultiva sobre TODAS DAS
SUAS DISPOSIÇÕES, inclusive aquelas relativas à sua entrada em vigor.
Já no que diz respeito aos tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos, esse foi o
tema da primeira opinião consultiva solicitada à Corte IDH, ocasião em que o Peru formulou as seguintes indagações: “Como
deve ser interpretada a frase: ‘ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados Americanos’?
Esta frase se refere e compreende:
a) Somente os tratados adotados dentro do marco ou sob os auspícios do Sistema Interamericano?; ou
b) Os tratados concluídos unicamente entre Estados Americanos, ou seja, que a referência está limitada aos tratados em que
são partes exclusivamente Estados Americanos?; ou
c) Todos os tratados nos quais um ou mais Estados Americanos sejam partes?”.

Após algumas considerações introdutórias, a Corte IDH inicia a abordagem do mérito da consulta formulada pelo Peru
ressaltando que a amplitude dos termos do art. 64 da CADH não pode se confundir com a ausência de limites à função
consultiva, pois a Corte se apresenta no contexto da proteção internacional de direitos humanos como uma instituição judicial
do sistema interamericano, e não como um tribunal de alcance universal. Com isso, a Corte prossegue esclarecendo que embora
não exista uma limitação geográfica no que diz respeito a quais tratados podem ser submetidos à sua jurisdição consultiva –
bastando que eles repercutam no continente americano –, há certamente uma limitação de conteúdo, não podendo a Corte
IDH opinar sobre o alcance de compromissos internacionais assumidos por Estados que não sejam membros do sistema
interamericano ou interpretar normas que regulam a estrutura ou o funcionamento de órgãos internacionais alheios à ele.
Assim, a Corte não poderia, por exemplo, emitir opinião consultiva acerca da Convenção Europeia sobre Direitos Humanos nem a
respeito do funcionamento do Comitê de Direitos Humanos da ONU.
Em resumo, a Corte aceitou a amplitude do art. 64 da CADH e não excluiu nenhum tratado da sua jurisdição consultiva,
tendo apenas se reservado no direito de – fundamentadamente – abster-se de responder a um pedido de opinião consultiva que
ela considere contrário aos fins da CADH. Vejamos como a Corte IDH concluiu a sua primeira opinião consultiva:
“(...) que a competência consultiva da Corte pode ser exercida, em geral, sobre toda disposição, concernente à
proteção dos direitos humanos, de qualquer tratado internacional aplicável nos Estados americanos, independentemente de
que seja bilateral ou multilateral, de qual seja seu objeto principal ou de quem sejam ou possam ser partes do mesmo Estados
alheios ao sistema interamericano.
(...) que, por razões determinantes que expressará em decisão motivada, a Corte poderá abster-se de responder uma
consulta se aprecia que, nas circunstâncias do caso, a petição excede dos limites de sua função consultiva, seja porque o assunto
apresentado concerne principalmente a compromissos internacionais contraídos por um Estado não americano ou à estrutura
ou funcionamento de órgãos ou organismos internacionais alheios ao sistema interamericano, seja porque o trâmite da
solicitação possa conduzir a alterar ou a debilitar, em prejuízo do ser humano, o regime previsto pela Convenção; seja por outra
razão análoga”.

Em seu repertório jurisprudencial consultivo, a Corte IDH já emitiu interpretação sobre tratados internacionais
produzidos fora do sistema interamericano, como a Convenção de Viena sobre Relações Consulares; a Convenção da ONU sobre
Direitos da Criança; o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou
Penas Crueis, Desumanos ou Degradantes; e a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados.

Quando a Corte IDH emite opinião consultiva sobre tratados de direitos humanos adotados em sistema internacional
de proteção diverso do interamericano, a sua competência consultiva naturalmente não atinge as obrigações de proteção de
direitos humanos que correspondam a Estados alheios ao sistema interamericano, ainda quando sejam partes do tratado
objeto de interpretação.

ATENÇÃO! Ainda sobre a amplitude do objeto da opinião consultiva de interpretação, a Corte IDH também já reconheceu a sua
competência para interpretar a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, que, mesmo não tendo a natureza
jurídica de um tratado, contém e define aqueles direitos humanos referidos na Carta da OEA, podendo a Declaração, portanto,
ser objeto de opinião quando isso seja necessário para que a Corte interprete disposições da CADH ou da Carta da OEA.

3.2. Opinião consultiva de compatibilidade

A opinião consultiva de compatibilidade está prevista no art. 64.2 da CADH, que assim dispõe:
“A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre
qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais”.

@dicasexconcurseira 77
Assim, SOMENTE OS ESTADOS MEMBROS da OEA podem solicitar uma opinião consultiva de compatibilidade,
tratando-se, pois, de um rol de legitimados mais restrito do que aquele estabelecido para a opinião consultiva de interpretação.
No que diz respeito ao objeto da opinião consultiva de compatibilidade, a Corte IDH interpreta a expressão “leis
internas” no seu sentido mais amplo, entendendo que ela abrange toda legislação nacional e todas as normas jurídicas de
qualquer natureza, incluindo disposições constitucionais. Ainda sobre o objeto da opinião consultiva de compatibilidade, a Corte
IDH entende que pode ser consultada também sobre a compatibilidade de projetos de lei ou de emenda constitucional, sob
pena de obrigar os Estados a primeiro aprovarem uma lei possivelmente contrária a tratados internacionais concernentes à
proteção dos direitos humanos nos Estados americanos para, somente depois, solicitarem a opinião consultiva.
E a Corte IDH esclarece, ainda, que a sua conclusão não deve ser entendida no sentido de que está obrigada a exercer a
competência consultiva para examinar qualquer projeto legislativo, mas sim que o mero fato de tratar-se de um projeto
legislativo não basta para interditar o exercício dessa competência.
Finalmente, de acordo com o art. 64.2 da CADH, o parâmetro da opinião consultiva de compatibilidade, isto é, a norma
com a qual será analisada a compatibilidade da lei interna, pode ser tanto a Convenção como qualquer tratado concernente à
proteção dos direitos humanos nos Estados americanos.

4. Requisitos que devem ser observados na apresentação do pedido de opinião consultiva à POUCO RELEVANTE PARA
CONCURSOS

O pedido de opinião consultiva deve obedecer aos requisitos formais previstos no Regulamento da Corte.
Assim, tratando-se de opinião consultiva de interpretação de termos da CADH, o solicitante deve, de acordo com o art.
70 do Regulamento:
a) formular com precisão as perguntas;
b) especificar as disposições que devem ser interpretadas;
c) indicar as considerações que a originaram; e
d) informar o nome e endereço do Agente ou dos Delegados que comparecerão no procedimento perante a Corte.

Se o pedido de opinião consultiva é apresentado por outro órgão da OEA diverso da Comissão Interamericana, há,
conforme já vimos anteriormente, um requisito adicional: indicar de que maneira a consulta se refere à sua esfera de
competência (o denominado legítimo interesse institucional). Por outro lado, tratando-se de opinião consultiva de interpretação
de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos, o solicitante ainda deve, nos termos
do art. 71 do Regulamento, cumprir com um requisito adicional, consistente na identificação do tratado e suas respectivas
partes que serão objeto da interpretação.

Finalmente, cuidando-se de opinião consultiva de compatibilidade, o solicitante deve, de acordo com o art. 72 do
Regulamento da Corte IDH, além de instruir o pedido de cópia das disposições internas a que se refere a consulta, indicar:
a) as disposições de direito interno, bem como as da Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos
humanos que são objeto da consulta;
b) as perguntas específicas sobre as quais se pretende obter o parecer da Corte; e
c) o nome e endereço do Agente do solicitante.

Sobre o requisito formular as perguntas com precisão, a Corte IDH entende que não está adstrita aos termos literais
empregados pelo solicitante, podendo esclarecer e em alguns casos até mesmo reformular as perguntas apresentadas com o
objetivo de determinar com clareza o objeto substancial de seu trabalho consultivo.

5. Procedimento para emissão da opinião consultiva

O procedimento para emissão da opinião consultiva está previsto no art. 73 do Regulamento da Corte IDH,
desenvolvendo-se em 5 fases, quais sejam:

a) admissibilidade;
b) notificação da consulta;
c) observações escritas;
d) audiência pública; e
e) pronunciamento da Corte.

A fase de admissibilidade não consta expressamente do art. 73 do Regulamento da Corte IDH, mas integra o
procedimento, podendo a Corte, de forma fundamentada, decidir – a qualquer momento – por não dar trâmite ao pedido de
opinião consultiva.
A segunda fase, da notificação da consulta, está prevista no art. 73.1 do Regulamento da Corte, que assim estabelece:
“Uma vez recebido um pedido de parecer consultivo, o Secretário enviará cópia deste a todos os Estados membros, à Comissão,

@dicasexconcurseira 78
ao Conselho Permanente por intermédio da sua Presidência, ao Secretário Geral e aos órgãos da OEA a cuja esfera de
competência se refira o tema da consulta, se for pertinente”.
A terceira fase consiste nas observações escritas dos interessados, que podem ser tanto os Estados membros e os
órgãos da OEA, quanto entidades, organizações não governamentais, associações internacionais, organismos estatais e até
mesmo pessoas que, mediante convite ou autorização da Presidência da Corte IDH, atuam no procedimento consultivo como
amicus curiae. Nesse sentido, prevê o art. 73.3 do Regulamento que “A Presidência poderá convidar ou autorizar qualquer
pessoa interessada para que apresente sua opinião por escrito sobre os itens submetidos a consulta”.
Como exemplo relacionado ao Brasil, cito a OC-24/2017, sobre o tema Identidade de gênero, igualdade e não
discriminação a casais do mesmo sexo, em que atuaram como amicus curiae as Defensorias Públicas da União e do Estado do
Rio de Janeiro, assim como o jurista Pablo Stolze, que compareceu perante a Corte IDH na condição de professor da
Universidade Federal da Bahia. O prazo para que os interessados enviem suas observações escritas é fixado pela Presidência da
Corte IDH (Regulamento, art. 73.2).
Concluído o procedimento escrito, passa-se para a quarta fase, que diz respeito à audiência pública. De acordo com o
art. 73.4 do Regulamento, a Corte IDH decide sobre a conveniência ou não de realizar o procedimento oral e designar a
audiência pública, no que o procedimento consultivo se distingue do procedimento contencioso, já que neste a fase oral é
obrigatória.
Ainda nos termos do mesmo dispositivo do Regulamento, tratando-se de opinião consultiva de compatibilidade, antes de decidir
sobre a realização do procedimento oral, a Corte IDH deve ouvir o Agente do Estado solicitante.
A última fase do procedimento consultivo ocorre com a emissão da opinião, que deve obedecer aos preceitos dos
artigos 67 e 75 do Regulamento da Corte IDH. A sessão deliberativa para discutir e aprovar a opinião consultiva ocorre em
privado. Os juízes que tenham participado da emissão da opinião consultiva podem, de forma fundamentada, apresentar voto
concordante ou dissidente.
Conforme dispõe o art. 75.2 do Regulamento da Corte IDH, a opinião consultiva deve conter:

a) o nome de quem presidir a Corte e dos demais juízes que o tiverem emitido, do Secretário e do Secretário Adjunto;
b) os assuntos submetidos à Corte;
c) uma relação dos atos do procedimento;
d) os fundamentos do direito;
e) o parecer da Corte; e
f) a indicação de qual é a versão autêntica do parecer.

Finalmente, uma última questão procedimental: se o solicitante da opinião consultiva decide retirá-la, a Corte IDH fica
impedida de exercer a sua competência consultiva? Esse incidente ocorreu no processamento da OC-15/1997, em que o Estado
solicitante (Chile) decidiu retirá-la. A Corte IDH, no entanto, entendeu que o solicitante da opinião consultiva não é o único
titular de um interesse legítimo no resultado do procedimento, assentando, então, que a desistência ou retirada manifestada
pelo solicitante NÃO a impede de exercer a sua competência consultiva.

6. Efeito jurídico das opiniões consultivas

O efeito jurídico das opiniões consultivas ainda gera intensa discussão doutrinária.
Para a Corte IDH, embora as suas opiniões consultivas não tenham o mesmo efeito vinculante reconhecido para suas
sentenças em matéria contenciosa, elas possuem efeitos jurídicos inegáveis à PARA A CORTE IDH E MAIORIA DA DOUTRINA,
AS OPINIÕES CONSULTIVAS NÃO POSSUEM EFEITO VINCULANTE, MAS SIM “EFEITOS JURÍDICOS INEGÁVEIS”. Essa força das
opiniões consultivas decorre, segundo o entendimento da doutrina, da autoridade científica e moral da Corte.

Para o Prof. Caio Paiva, o entendimento da Corte IDH sobre o efeito jurídico da sua competência consultiva não parece
adequado, e isso porque não há nenhum dispositivo na CADH que autorize essa conclusão. Para o Prof. Caio Paiva, a Corte IDH,
como soberana e última intérprete da Convenção, e como instituição judicial a quem também foi incumbida a função de
interpretar os tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos, emite opiniões consultivas
COM EFEITO VINCULANTE para os Estados-partes da Convenção, independentemente de estes terem solicitado ou
participado do procedimento consultivo; para os Estados- membros da OEA que não ratificaram a Convenção, a opinião
consultiva terá o denominado EFEITO JURÍDICO INEGÁVEL, mas para o prof. parece difícil sustentar o seu efeito vinculante, já
que a Corte IDH é um órgão da CADH, ainda que possa emitir opinião consultiva a pedido de Estados-membros e órgãos da OEA.

Se quem formula a petição é um Estado parte na Convenção, esta opinião será vinculante para esse Estado, pois, em
virtude do art. 33 da Convenção, este terá aceitado a competência da Corte para velar pelo cumprimento dos compromissos
contraídos na Convenção e para definir o alcance destes mediante sua interpretação autorizada;
Em segundo lugar, se a opinião é requerida por um Estado membro da OEA que ainda não tenha ratificado a
Convenção, em virtude do mesmo princípio anterior e do disposto no artigo 2º da Convenção, no momento em que o Estado
decidir ratificar a Convenção estará obrigado a ajustar sua legislação interna aos termos da opinião emitida previamente pela
Corte.
@dicasexconcurseira 79
Por fim, oportuno esclarecer que o caráter vinculante das opiniões consultivas não as tornam executáveis, e isso
porque, conforme vimos anteriormente, no procedimento consultivo não há partes nem litígio.

7. Opiniões consultivas já emitidas pela Corte IDH

A Corte IDH já emitiu 25 opiniões consultivas. Vejamos a seguir o tema de cada uma destas opiniões.

Opinião A instituição do asilo e seu reconhecimento como direito humano no Sistema Interamericano de Proteção
Consultiva OC- (interpretação e alcance dos artigos 5, 22.7 e 22.8, em relação ao artigo 1.1 da Convenção Americana sobre
25/2018 Direitos Humanos).
Identidade de gênero, igualdade e não discriminação a casais do mesmo sexo. Obrigações estatais em relação
Opinião
à mudança de nome, à identidade de gênero e aos direitos derivados de um vínculo entre casais do mesmo
Consultiva OC-
sexo (interpretação e alcance dos artigos 1.1, 3º, 7º, 11.2, 13, 17, 18 e 24, em relação ao artigo 1º da
24/2017
Convenção Americana sobre Direitos Humanos).
Opinião Meio ambiente e direitos humanos (obrigações estatais em relação ao meio ambiente no marco da proteção e
Consultiva OC- garantia dos direitos à vida e à integridade pessoal – interpretação dos artigos 4.1 e 5.1, em relação aos artigos
23/2017 1.1 e º2 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos).
Opinião Titularidade de direitos das pessoas jurídicas no Sistema Interamericano de Direitos Humanos (interpretação e
Consultiva OC- alcance do artigo 1.2, em relação aos artigos 1.1, 8º, 11.2, 13, 16, 21, 24, 25, 29, 30, 44, 46 e 62.3 da
22/2016 Convenção Americana sobre Direitos Humanos, assim como do artigo 8.1 A e B do Protocolo de San Salvador).
Opinião
Consultiva OC- Direitos e garantias de crianças no contexto da migração e/ou em necessidade de proteção internacional.
21/2014
Opinião
Consultiva OC- Artigo 55 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
20/2009
Opinião
Controle de legalidade no exercício das atribuições da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (arts. 41
Consultiva OC-
e 44 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos).
19/2005
Opinião
Consultiva OC- Condição jurídica e direitos dos migrantes indocumentados.
18/2003
Opinião
Consultiva OC- Condição jurídica e direitos humanos da criança.
17/2002
Opinião
Consultiva OC- O direito à informação sobre a assistência consular no marco das garantias do devido processo legal.
16/1999
Opinião
Informes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (art. 51 da Convenção Americana sobre Direitos
Consultiva OC-
Humanos).
15/1997
Opinião
Responsabilidade internacional por expedição e aplicação de leis violatórias da Convenção (arts. 1º e 2º da
Consultiva OC-
Convenção Americana sobre Direitos Humanos).
14/1994
Opinião
Certas atribuições da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (arts. 41, 42, 44, 46, 47, 50 e 51 da
Consultiva OC-
Convenção Americana sobre Direitos Humanos).
13/1993
Opinião
Consultiva OC- Compatibilidade de um projeto de lei com o artigo 8.2.h da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
12/1991
Opinião
Exceções ao esgotamento dos recursos internos (arts. 46.1, 46.2.a e 46.2.b, Convenção Americana sobre
Consultiva OC-
Direitos Humanos).
11/1990
Opinião
Interpretação da Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem no marco do artigo 64 da Convenção
Consultiva OC-
Americana sobre Direitos Humanos.
10/1989

@dicasexconcurseira 80
Opinião
Garantias judiciais em estados de emergência (arts. 27.2, 25 e 8º da Convenção Americana sobre Direitos
Consultiva OC-
Humanos).
9/1987
Opinião
O habeas corpus sob suspensão de garantias (arts. 27.2, 25.1 e 7.6 da Convenção Americana sobre Direitos
Consultiva OC-
Humanos).
8/1987
Opinião
Exigibilidade do direito de retificação ou resposta (arts. 14.1, 1.1 e 2º da Convenção Americana sobre Direitos
Consultiva OC-
Humanos).
7/1986
Opinião
Consultiva OC- A expressão “leis” no artigo 30 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
6/1986
Opinião
O registro profissional obrigatório de jornalistas (arts. 13 e 29 da Convenção Americana sobre Direitos
Consultiva OC-
Humanos).
5/1985
Opinião
Consultiva OC- Proposta de modificação da Constituição da Costa Rica relacionada com a naturalização.
4/1984
Opinião
Consultiva OC- Restrições à pena de morte (arts. 4.2 e 4.4 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos).
3/1983
Opinião
Consultiva OC- O efeito das reservas sobre a entrada em vigor da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
2/1982
Opinião
“Outros tratados” objeto da função consultiva da Corte (art. 64 da Convenção Americana sobre Direitos
Consultiva OC-
Humanos).
1/1982

QUESTÕES

1. A jurisdição consultiva da Corte IDH se revela mais restritiva do que a confiada a outros tribunais internacionais de direitos
humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. A Corte IDH, a pedido do Secretário-Geral da OEA, expediu opinião consultiva sobre julgamentos políticos, fazendo expressa
menção ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. Os indivíduos não podem apresentar pedido de opinião consultiva à Corte IDH.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Com a exceção da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), os demais órgãos da OEA, ao apresentarem um
pedido de opinião consultiva à Corte IDH, devem comprovar seus respectivos interesses institucionais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. A Corte IDH não pode emitir opinião consultiva sobre tratados adotados no âmbito do sistema global de proteção dos direitos
humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

6. A Corte IDH pode emitir opinião consultiva sobre disposições constantes da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Homem.

( ) CERTO ( ) ERRADO

@dicasexconcurseira 81
7. A Corte IDH pode emitir opinião consultiva sobre a compatibilidade de norma constitucional com a Convenção Americana
sobre Direitos Humanos (CADH).

( ) CERTO ( ) ERRADO

8. A Corte IDH já se manifestou no sentido de que não pode emitir opinião consultiva sobre projeto de lei.

( ) CERTO ( ) ERRADO

9. Não se admite a participação de instituições ou de pessoas como amicus curiae no processo consultivo.

( ) CERTO ( ) ERRADO

10. A Corte IDH já decidiu que a retirada de um pedido de opinião consultiva pelo solicitante não a impede de prosseguir e
emitir a opinião.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 ERRADO
3 CERTO
4 CERTO
5 ERRADO
6 CERTO
7 CERTO
8 ERRADO
9 ERRADO
10 CERTO

@dicasexconcurseira 82
Aula 15
Jurisdição contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos

1. Introdução

Leiam com atenção o art. 62 da CADH:

1. Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou
em qualquer momento posterior, declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem convenção especial*, a
competência da Corte em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação desta Convenção.

2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou sob condição de reciprocidade (SÓ SE APLICA PARA DEMANDAS
INTERESTATAIS), por prazo determinado ou para casos específicos. Deverá ser apresentada ao Secretário-Geral da Organização,
que encaminhará cópias da mesma aos outros Estados membros da Organização e ao Secretário da Corte.

3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso relativo à interpretação e aplicação desta Convenção que lhe seja
submetido, desde que os Estados Partes no caso tenham reconhecido ou reconheçam a referida competência, seja por
declaração especial, como preveem os incisos anteriores, seja por convenção especial.

Percebam, portanto, que, diferentemente da competência consultiva, A COMPETÊNCIA CONTENCIOSA CONSISTE EM


CLÁUSULA FACULTATIVA, podendo os Estados a aceitarem ou não. Se decidirem aceitar a competência contenciosa da Corte
IDH, os Estados assim podem proceder tanto no momento do depósito de ratificação quanto em qualquer momento posterior.

Competência CONSULTIVA da Corte IDH Competência CONTENCIOSA da Corte IDH


Cláusula OBRIGATÓRIA Cláusula FACULTATIVA

* Quando a CADH estabelece que não se exige “convenção especial” para se declarar a aceitação da competência
contenciosa da Corte IDH, ela quer dizer que não exige a celebração de um novo tratado – como ocorre, por exemplo, no
sistema global, por meio dos protocolos facultativos –, mas apenas a manifestação formal do Estado.
No Brasil, o Congresso Nacional tem participado da formação da vontade do Estado brasileiro de aceitar a competência
contenciosa de órgãos judiciais ou quase-judiciais. Trata-se, na opinião do prof. Caio Paiva, de uma interpretação ampliativa do
art. 49, I, da CF, segundo o qual é da competência exclusiva do Congresso Nacional “resolver definitivamente sobre tratados,
acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional”.

A aceitação da competência da Corte IDH, de acordo com o art. 62.2, pode ser feita:

a) incondicionalmente;
b) sob condição de reciprocidade (só vale para casos ou demandas interestatais);
c) por prazo determinado; e
d) para casos específicos.

Segundo jurisprudência da Corte IDH, esse rol do art. 62.2 da CADH é TAXATIVO. A Corte IDH, no julgamento do Caso
Hilaire, Constantine e outros vs. Trinidad e Tobago, rejeitou a exceção preliminar arguida por Trinidad e Tobago no sentido de
que a aceitação da competência contenciosa da Corte por este Estado teria sido feita ressalvando atos ou práticas em
conformidade com a Constituição nacional.

2. Possibilidade de “retirar” a aceitação da competência contenciosa

O Estado que tenha aceitado a competência contenciosa da Corte IDH pode “retirar” essa declaração posteriormente?
Isso ocorreu no Caso Ivcher Bronstein vs. Peru. Durante o processamento do caso, o Peru comunicou à Corte IDH que estava
revogando a sua aceitação da cláusula facultativa de submissão à jurisdição contenciosa da Corte.
A Corte não aceitou e disse:

1) a aceitação da competência contenciosa constitui uma cláusula pétrea que não admite limitações que não estejam
expressamente contidas no art. 62 da CADH;
b) a única via de que dispõe o Estado para desvincular-se da competência contenciosa da Corte IDH é a denúncia da CADH como
um todo; e
c) ainda, se isso ocorrer, a denúncia somente produz efeitos conforme o art. 78 da CADH, que exige aviso prévio de 1 ano,
continuando o Estado obrigado aos termos da Convenção até a data na qual a denúncia passe a produzir efeito.

@dicasexconcurseira 83
3. Competência ratione personae (em razão da pessoa)

A Corte IDH SOMENTE tem competência para processar e julgar casos INICIADOS PELA COMISSÃO INTERAMERICANA
(CIDH) ou pelos ESTADOS-PARTES DA CADH (legitimados ativos) contra Estados que tenham aceitado a sua competência
contenciosa (legitimados passivos).

Competência ratione personae (em razão da pessoa)


LEGITIMIADOS ATIVOS LEGITIMADOS PASSIVOS
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) Estados que tenha aceitado a competência contenciosa da
Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH)
Estados-partes da Convenção Americana de Direitos
Humanos (CADH)

4. Competência ratione materiae (em razão da matéria)

A Corte IDH não possui competência apenas para decidir sobre violação às normas da Convenção Americana, mas
também sobre:

a) documentos indicados em normas de reenvio (exemplo: o art. 75 da CADH invoca a Convenção de Viena sobre Direito dos
Tratados para tratar das reservas; o art. 29 da CADH afirma que a interpretação da Convenção não pode excluir nem limitar
direito previsto na Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem);
b) tratados que expressamente lhe concedam competência (exemplos: Protocolo de Sal Salvador, art. 19.6; Convenção
Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado, art. 13); e
c) outros documentos, como a Convenção Interamericana contra a Tortura, que prevê que o caso, esgotados os recursos
internos, pode ser submetido a “instâncias internacionais” (art. 8º), e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher, cujo art. 7º, embora se refira somente à CIDH, indica que esta considerará as normas e os
requisitos de procedimento previstos na CADH, sem excluir, portanto, a competência da Corte.

5. Competência ratione temporis

A Corte aplica o PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE, afirmando que só tem competência para decidir sobre violações de
direitos humanos que tenham ocorrido posteriormente à entrada em vigor da CADH para o Estado (momento da ratificação,
art. 74.2) e da aceitação da competência contenciosa. EXCEÇÃO: atos violatórios que persistem no tempo ou violação contínua
(na jurisprudência da Corte IDH, tem sido aplicado principalmente aos casos desaparecimentos forçados).

6. Competência ratione loci

A Corte IDH somente tem competência para conhecer de violações de direitos humanos que afetem pessoas sob a
jurisdição do Estado supostamente responsável por aquelas. Não se exige que as pessoas sejam nacionais do Estado, mas
apenas que se encontrem sob a sua jurisdição.

QUESTÕES

1. O Estado somente tem a possibilidade de aceitar a competência contenciosa da Corte IDH no momento da ratificação da
CADH.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. Se o Estado decide retirar a aceitação da competência contenciosa da Corte IDH, ele deve, obrigatoriamente, denunciar a
CADH por inteiro.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. A Corte IDH somente tem competência para decidir sobre violações à CADH e ao Protocolo de San Salvador.

( ) CERTO ( ) ERRADO

@dicasexconcurseira 84
4. O princípio da irretroatividade, segundo o qual a Corte IDH somente tem competência para decidir sobre violações de direitos
humanos ocorridas posteriormente à entrada em vigor da CADH para o Estado e após a aceitação da competência contenciosa,
encontra exceção nas denominadas violações contínuas ou persistentes.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 ERRADO
4 CERTO

@dicasexconcurseira 85
Aula 16
O processo de apuração de responsabilidade internacional do Estado na Comissão Interamericana de Direitos Humanos

1. Introdução

O procedimento de apuração da responsabilidade internacional do Estado no sistema interamericano de proteção dos


direitos humanos se desenvolve em 2 fases – por isso, denominado de PROCEDIMENTO BIFÁSICO –, sendo a primeira realizada
na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e a segunda perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos
(Corte IDH).
DÁ-SE NA COMISSÃO INTERAMERICANA
1ª FASE DE DIREITOS HUMANOS (CIDH)
PROCEDIMENTO DE
APURAÇÃO DA
PROCEDIMENTO
RESPONSABILIDADE
BIFÁSICO
INTERNACIONAL NO
SISTEMA DÁ-SE NA CORTE INTERAMERICANA DE
2ª FASE DIREITOS HUMANOS (CorteIDH)
INTERAMERCICANO

Vamos tratar nesta aula apenas do procedimento iniciado pela vítima junto à Comissão e pela Comissão junto à Corte
Interamericana, ficando fora da abordagem, portanto, as demandas interestatais, e isso porque ainda não há registro de
demandas interestatais admitidas e processadas no sistema interamericano.

OBS: a normativa aplicável a este procedimento bifásico é a CADH e os regulamentos, tanto da Comissão quanto da Corte.

2. Procedimento perante a CIDH à 1ª FASE

OBS1: Na penúltima linha do quadro cinza do slide acima, lado direto, onde se lê “decidir”, leia-se “desistir”.

OBS2: Há autores que dividem o procedimento bifásico em 3 ou 4 fases. O prof. Caio Paiva entendeu por bem especificar
melhor o procedimento como um todo e, por isso, dividiu em mais fases.

ATENÇÃO! Este é um tema muito importante para concurso!

@dicasexconcurseira 86
OBS1: na 3ª fase, não se preocupe em decorar este prazo de 4 meses.

OBS2: na 3ª fase, onde se lê “decidir”, coloque “DESISTIR”.

OBS3: “Solução amistosa” significa um acordo perante um processo internacional de apuração de responsabilidade do Estado. O
primeiro caso brasileiro em que houve um acordo de solução amistosa ocorreu foi o dos meninos Emasculados do Maranhão.

OBS4: na 4ª fase, e se o Estado não cumprir as recomendações? Abrem-se duas possibilidades:


i. o caso é submetido à jurisdição contenciosa da CorteIDH à REGRA; ATENÇÃO! A exceção é não enviar o caso
à CorteIDH, o que é decidido pela maioria absoluta dos membros da CIDH. Se os membros decidirem não
encaminhar o caso à CorteIDH, o caso segue para a 5ª fase.
ATENÇÃO! Antes dessa decisão de enviar ou não o caso à CorteIDH, a CIDH deve NOTIFICAR o peticionário
(vítima e seus representantes) para que eles apresentem, no prazo de 1 mês, a sua posição acerca do envio do
caso à CorteIDH.
ou
ii. a CIDH passa para a 5ª fase, que é a fase do relatório definitivo.

OBS1: Existem duas possibilidades para que NÃO ocorra a 5ª fase:


1. Quando o caso é encaminhado à CorteIDH;
2. Quando o Estado, em seu relatório preliminar, faz recomendações ao Estado e este as cumpre.

OBS2: PERGUNTA DE CONCURSO (prova oral do MPF): Os relatórios da CIDH (preliminar e definitivo) vinculam o Estado
demandado? A CorteIDH já enfrentou este tema e, principalmente a partir do Caso Loayza Tamayo, assentou o seguinte
entendimento: o relatório premilimar NÃO vincula os Estados; enquanto que o relatório definitivo VINCULA, mas NÃO TEM

@dicasexconcurseira 87
EFEITO COERCITIVO (a CIDH e a CorteIDH não dispõem de meios de – elas próprias – obrigarem os Estados a cumprir as
recomendações e decisões, respectivamente).

OBS3: Há autores que dão outras nomenclaturas a estes relatórios, chamando o “relatório preliminar” de “1º informe” e o
“relatório definitivo” de “2º informe”.

OBS1: O prévio esgotamento dos recursos internos está relacionado ao princípio da subsidiariedade.

OBS2: A exceção à regra do esgotamento dos recursos internos mais utilizada pelas vítimas é a demora injustificada na decisão
sobre os recursos internos.

OBS3: A quarta exceção foi adotada pela CorteIDH na Opinião Consultiva 11/1990. É o caso de os defensores temerem defender
a vítima perante o Estado (isso é raro de ocorrer; por ex: Estados que vivam situações de crise, guerra).

OBS4: PERGUNTA DE CONCURSO (DP/SC): Recursos de natureza extraordinária devem ser esgotados? Para o prof. Caio Paiva,
eles só devem ser esgotados quando efetivamente puderem contribuir para a violação dos direitos humanos. Ex: supondo que
aqui no Brasil ainda não houvesse sido normatizada a possibilidade do casamento homoafetivo. O casal homoafetivo vai ao
cartório e este se nega a celebrar o casamento. Vai à justiça e o juiz de 1ª instância, bem como o Tribunal julgam o pedido
improcedente. Neste caso, o recurso extraordinário possui claramente a aptidão de reparar a violação de direito humano à
igualdade e não discriminação do casal. OBS5: na maioria dos casos, os recursos extraordinários não possuem aptidão para
reparar violação a direitos humanos.

OBS6: Tema pacífico à as ações de controle de constitucionalidade não devem ser esgotadas para possibilitar o ajuizamento de
petição em ação de responsabilidade internacional por violação de direitos humanos. Lembre-se que, no Brasil, a vítima sequer
tem legitimidade para ajuizar as ações de controle de constitucionalidade.

@dicasexconcurseira 88
OBS1: O Estado tem que demonstrar quais recursos internos a vítima deixou de esgotar, até mesmo para que a CIDH seja
convencido de que esses recursos existiam na legislação interna do Estado demandado.

OBS2: Para que a CorteIDH aprecie a preliminar de esgotamento dos recursos internos (e isso se aplica a qualquer outra
preliminar), o Estado deve ter sustentado essa preliminar no primeiro momento em que teve para falar no procedimento, que é
justamente na 2ª fase (PROCEDIMENTO DE ADMISSIBILIDADE PERANTE A CIDH; lembre-se que, neste momento, o Estado é
notificado para se manifestar). Depois, o Estado deve reiterar essa exceção preliminar no procedimento perante a CorteIDH,
também na primeira oportunidade que ele tem para falar nos autos.

OBS3: Princípio do estoppel à segundo a CorteIDH e Tribunal Europeu de Direitos Humanos, o princípio do estoppel diz que se
o Estado não argui a exceção preliminar de esgotamento dos recursos internos na primeira oportunidade que tiver para falar
perante a CIDH, terá havido preclusão, daí decorrendo, também, uma renúncia tácita.

OBS1: Ausência de litispendência/coisa julgada/vedação à duplicação de processos à O que quis dizer o Regulamento da CIDH
ao afirmar “o procedimento seguido perante o outro organismo se limitar ao exame geral dos direitos humanos no Estado
aludido e não existir uma decisão sobre os fatos específicos que forem objeto da petição ou não conduzir à sua efetiva solução”?
“Exames geral dos direitos humanos” refere-se aos procedimento extraconvencionais de proteção dos direitos
humanos. Então, vamos supor que a mesma matéria sobre a qual a vítima tenha processado o Estado brasileiro perante a
CorteIDH também tenha sido avaliada por um dos órgãos do Conselho de Direitos Humanos (ex: matéria tenha sido submetida à
revisão periódica universal). Assim, se uma mesma matéria estiver, ao mesmo tempo, em uma revisão periódica universal (RPU)
a respeito do Brasil perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU e também for submetida à jurisdição da CIDH, o Estado

@dicasexconcurseira 89
brasileiro NÃO pode sustentar, como exceção preliminar, a existência de litispendência, pois o processo que corre perante a RPU
tem natureza extraconvencional e se limita ao exame geral do direitos humanos.
O que gera litispendência e coisa julgada internacional é quando existem dois processos monitorados por órgãos
judiciais ou quase-judiciais (CIDH, Comitês da ONU).
Ainda sobre os requisitos, vejamos dois pontos relevantes:

a) De acordo com o entendimento da Corte IDH, o acesso ao indivíduo ao sistema interamericano de proteção de direitos
humanos NÃO pode ser restringido com base na exigência de contar com representante legal ou advogado (Caso Yatama vs.
Nicarágua, 2006).

b) Pessoas jurídicas podem ser vítimas de violações de direitos humanos e apresentarem denúncias perante a Comissão
Interamericana? Em sua Opinião Consultiva no 22/2016, a Corte decidiu, a partir do art. 1.2 da CADH (“pessoa é todo ser
humano”), que PESSOAS JURÍDICAS NÃO SÃO TITULARES DE DIREITOS HUMANOS, logo, não podem ser consideradas vítimas
para apresentar denúncias perante a CIDH. No entanto, a Corte IDH estabeleceu as seguintes EXCEÇÕES: COMUNIDADES
INDÍGENAS e TRIBAIS, assim como, nos termos do art. 8.1 do Protocolo de San Salvador, as ORGANIZAÇÕES SINDICAIS, AS
FEDERAÇÕES E AS CONFEDERAÇÕES DE TRABALHORES.
E ainda: segundo a Corte, em determinadas situações, a vítima pessoa física pode exercer seus direitos humanos
através da pessoa jurídica, podendo, inclusive, esgotar os recursos internos por meio da pessoa jurídica. Cito como exemplo
um veículo de comunicação (rádio, jornal ou canal de TV) que tenha a sua liberdade de expressão violada. O veículo, enquanto
pessoa jurídica, não poderá peticionar junto ao sistema interamericano. Porém, seus representantes legais (o diretor, por
exemplo) poderão esgotar os recursos internos por meio da pessoa jurídica e, depois, sendo o caso, peticionarem como pessoas
físicas no sistema interamericano.

3. Procedimento perante a Corte IDH à 2ª FASE

@dicasexconcurseira 90
OBS1: “DPI” = defensor público interamericano.

OBS2: O Secretário deve notificar todos os outros Estados Partes da CADH, pois – lembre-se – a decisão da CorteIDH não tem
apenas eficácia erga omnes e orienta toda a jurisdição dos Estados Partes da CADH que tenham aceitado a jurisdicição
contenciosa da CorteIDH.

OBS1: Antes, a CIDH era uma representante da vítima no sistema da CorteIDH, apresentando uma petição inicial a esta. Com a
alteração realizada em 2009, a CIDH enviar apenas o relatório preliminar. A CorteIDH notifica a vítima/seus representantes, que
deverá apresentar a petição inicial.

OBS1: 1 5ª fase é como se fosse uma fase de saneamento do processo.

OBS2: A apresentação de amicus curiae é muito comum no processo de responsabilização internacional.

@dicasexconcurseira 91
OBS1: Mesmo sendo um tribunal internacional de direitos humanos, a Corte IDH não confere publicidade ao seu procedimento
decisório.

OBS2: A SENTENÇA É DEFINITIVA E INAPELÁVEL! No entanto, admite-se uma espécie de EMBARGOS DECLARATÓRIOS contra a
decisão da CorteIDH, o que vai gerar uma “sentença de interpretação” (decisão tomada pela CorteIDH após a oposição dos
embargos de declaração).

OBS3: “Espaços de desistência e consenso”

QUESTÕES

1. O procedimento de apuração da responsabilidade internacional do Estado perante o sistema interamericano de proteção dos
direitos humanos, tal como o procedimento realizado no sistema europeu, desenvolve-se em apenas uma fase perante a Corte
Interamericana.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. A Corte IDH entende que o segundo informe – ou relatório definitivo – da Comissão Interamericana de Direitos Humanos tem
efeito vinculante.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. De acordo com o entendimento da Corte IDH, ações do controle concentrado de constitucionalidade não consistem em
recursos internos que devem ser esgotados pela vítima antes de denunciar a violação de direitos humanos à Comissão
Interamericana.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. As exceções preliminares no processo de apuração da responsabilidade internacional do Estado perante o sistema


interamericano de proteção dos direitos humanos, por se constituírem em matérias de ordem pública, não estão sujeitas à
preclusão.

( ) CERTO ( ) ERRADO
5. Se a vítima e o Estado demandado celebram um acordo de solução amistosa no procedimento perante a Corte IDH, a Corte
não fica vinculada aos termos do acordo e pode, se assim entender, decidir por prosseguir na análise do caso.

( ) CERTO ( ) ERRADO
GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 CERTO
4 ERRADO
5 CERTO
@dicasexconcurseira 92
Aula 17
Medidas de urgência no sistema interamericano

1. Introdução

Assim como o direito processual nacional, também o direito processual internacional conta com MEDIDAS DE
URGÊNCIA para que danos irreparáveis às pessoas possam ser EVITADOS. Temos, assim, o Direito Internacional dos Direitos
Humanos atuando numa dimensão pré-violatória.

No âmbito do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos, tanto a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH) quanto a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) podem expedir medidas de urgência,
havendo, porém, algumas diferenças que devem ser ressaltadas.

2. Diferenças entre as medidas de urgência da CIDH e da Corte IDH

MEDIDAS DE URGÊNCIA DA CIDH MEDIDAS DE URGÊNCIA DA CorteIDH


Nomenclatura Medidas CAUTELARES Medidas PROVISÓRIAS
Status Sua base normativa é o Regulamento da CIDH, Sua base normativa é a CADH, possuindo, pois,
normativo NÃO TENDO, pois, BASE CONVENCIONAL NATUREZA CONVENCIONAL
Efeito jurídico NÃO possuem efeito vinculante Possuem efeito vinculante
Abrangência A CIDH pode adotar medidas cautelares contra A CorteIDH somente pode ordenar medidas provisórias
qualquer Estado membro da OEA, ainda que em desfavor de Estados que tenham aderido à CADH e
este Estado não tenha aderido à CADH. aceitado a jurisdição contenciosa da CorteIDH.

Sobre a última diferença, há uma posição minoritária na doutrina, segundo a qual a Corte IDH pode expedir medidas
provisórias em desfavor de qualquer Estado que tenha ratificado a CADH, independentemente de ter aceitado a jurisdição
contenciosa da Corte, sendo este o entendimento, por exemplo, de Héctor Faúndez Ledesma. Para Ledesma, a competência da
Corte IDH para determinar medidas provisórias não está abrangida pela competência contenciosa da Corte. No entanto,
ressalte-se que este é um entendimento muito minoritário. A própria Corte IDH entende que somente pode determinar
medidas provisórias contra Estados que aceitaram a sua competência contenciosa.

3. Medidas cautelares da CIDH

Leiam com atenção o art. 25 do Regulamento da CIDH, a seguir transcrito, que cuida da competência da CIDH para
determinas medidas cautelares:

Artigo 25. Medidas cautelares

1. Em situações de gravidade e urgência a Comissão poderá, por INICIATIVA PRÓPRIA ou A PEDIDO DA PARTE, SOLICITAR que
um Estado adote medidas cautelares para PREVENIR danos irreparáveis às PESSOAS ou ao OBJETO do processo relativo a uma
PETIÇÃO ou CASO PENDENTE.

2. Em situações de gravidade e urgência a Comissão poderá, por iniciativa própria ou a pedido da parte, solicitar que um Estado
adote medidas cautelares para prevenir danos irreparáveis a PESSOAS que se encontrem sob sua jurisdição,
independentemente de qualquer petição ou caso pendente*.

* OU SEJA, INDEPENDENTEMENTE DE ESTAR TRAMITANDO NA CIDH UMA AÇÃO DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL POR
VIOLAÇÃO AOS DIREITOS HUMANO, é possível que a CIDH, de ofício ou a pedido da parte, solicite ao Estado a adoção de medida
cautelar.

3. As medidas às quais se referem os incisos 1 e 2 anteriores poderão ser de natureza coletiva a fim de prevenir um dano
irreparável às pessoas em virtude do seu vínculo com uma organização, grupo ou comunidade de pessoas determinadas ou
determináveis. à EX: CASOS PRISIONAIS.

4. A Comissão considerará a gravidade e urgência da situação, seu contexto, e a iminência do dano em questão ao decidir sobre
se corresponde solicitar a um Estado a adoção de medidas cautelares. A Comissão também levará em conta:
a. se a situação de risco foi denunciada perante as autoridades competentes ou os motivos pelos quais isto não pode ser feito;

@dicasexconcurseira 93
b. a identificação individual dos potenciais beneficiários das medidas cautelares ou a determinação do grupo ao qual
pertencem; e
c. a explícita concordância dos potenciais beneficiários quando o pedido for apresentado à Comissão por terceiros, exceto em
situações nas quais a ausência do consentimento esteja justificada.

5. Antes de solicitar medidas cautelares, a Comissão pedirá ao respectivo Estado informações relevantes, a menos que a
urgência da situação justifique o outorgamento imediato das medidas. à AS MEDIDAS CAUTELARES PODEM SER DEFERIDAS,
COM OU SEM A OITIVA PRÉVIA DO ESTADO VIOLADOR DE DIREITOS HUMANOS.

6. A Comissão avaliará periodicamente a pertinência de manter a vigência das medidas cautelares outorgadas.

7. Em qualquer momento, o ESTADO poderá apresentar um PEDIDO devidamente fundamentado a fim de que a Comissão faça
CESSAR OS EFEITOS do pedido de adoção de medidas cautelares. A Comissão solicitará OBSERVAÇÕES aos beneficiários ou aos
seus representantes ANTES de decidir sobre o pedido do Estado. A apresentação de tal pedido NÃO SUSPENDERÁ a vigência
das medidas cautelares outorgadas.

8. A Comissão poderá requerer às partes interessadas informações relevantes sobre qualquer assunto relativo ao outorgamento,
cumprimento e vigência das medidas cautelares. O descumprimento substancial dos beneficiários ou de seus representantes com
estes requerimentos poderá ser considerado como causa para que a Comissão faça cessar o efeito do pedido ao Estado para
adotar medidas cautelares. No que diz respeito às medidas cautelares de natureza coletiva, a Comissão poderá estabelecer
outros mecanismos apropriados para seu seguimento e revisão periódica.

9. O outorgamento destas medidas e sua adoção pelo Estado não constituirá pré-julgamento sobre a violação dos direitos
protegidos pela Convenção Americana e outros instrumentos aplicáveis.

Percebam, então, que a CIDH pode expedir medidas cautelares de ofício ou a pedido da parte, havendo ou não caso
em tramitação na Comissão. As medidas podem ser de NATUREZA INDIVIDUAL ou COLETIVA, sendo que, no segundo caso, deve
ser evidenciado o vínculo entre as pessoas e uma organização, grupo ou comunidade de pessoas determinadas ou
determináveis.

Para decidir se expede ou não medidas cautelares, a CIDH:

a) considera os requisitos da gravidade e da urgência;


b) a iminência do dano;
c) se a situação foi denunciada perante as autoridades competentes ou os motivos pelos quais isto não pode ser feito;
d) a identificação individual dos potenciais beneficiários das medidas cautelares ou a determinação do grupo ao qual
pertencem; e
e) a explícita concordância dos potenciais beneficiários quando o pedido for apresentado à CIDH por terceiros, exceto em
situações nas quais a ausência do consentimento esteja justificada (exemplo: o desaparecimento forçado de pessoas).

Antes de solicitar ao Estado as medidas cautelares, a CIDH deve pedir ao Estado demandado informações relevantes
sobre a denúncia, exceto se a urgência da situação justifique a concessão imediata das medidas.

A CIDH deve analisar periodicamente a pertinência de manter vigente as medidas cautelares, sendo que em qualquer
momento o Estado pode requerer a cessação daquelas, caso em que a Comissão deve ouvir os beneficiários ou seus
representantes antes de decidir sobre o pedido do Estado.

Ainda sobre esse tema, a CIDH pode pedir às partes interessadas informações relevantes sobre qualquer assunto
relativo ao cumprimento e vigência das medidas cautelares, sendo que se a parte beneficiária descumpre esse chamado a CIDH
pode fazer cessar os efeitos das medidas.

Importante compreender, também, que a concessão de medidas cautelares não constitui pré-julgamento do mérito.

Finalmente, uma questão muito importante: quando o regulamento da CIDH prevê como requisito para a concessão
das medidas cautelares que a situação de risco tenha sido denunciada perante as autoridades competentes ou os motivos pelos
quais isto não pôde ser feito, ele – o Regulamento – está exigindo o esgotamento dos recursos internos?

ATENÇÃO! Entende-se que, NO ÂMBITO DAS MEDIDAS DE URGÊNCIA, A VÍTIMA NÃO PREVISA ESGOTAR OS RECURSOS
INTERNOS. Para o sistema de casos, a CADH prevê expressamente que a vítima deve esgotar os recursos internos. Para o
@dicasexconcurseira 94
sistema de medidas cautelares, a vítima deve apenas ter denunciado a situação de risco perante as autoridades ou dizer à CIDH
porque assim não o fez, não se exigindo o esgotamento, o que, aliás, seria incompatível com a natureza urgente das medidas
cautelares.

4. Medidas provisórias da Corte IDH

Vamos ler com atenção o art. 63.2 da CADH:

Em casos de EXTREMA gravidade e urgência, e quando se fizer necessário EVITAR danos irreparáveis às PESSOAS, a Corte, nos
assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias que considerar pertinentes (DE OFÍCIO, A PEDIDO
DAS VÍTIMAS/SEUS REPRESENTANTES ou DA CIDH). Se se tratar de assuntos que ainda NÃO estiverem submetidos ao seu
conhecimento, poderá atuar A PEDIDO DA COMISSÃO.

Devemos ler também o art. 27 do Regulamento da Corte IDH:

Artigo 27. Medidas provisórias

1. Em qualquer fase do processo, sempre que se tratar de casos de extrema gravidade e urgência e quando for necessário para
evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, ex officio, poderá ORDENAR as medidas provisórias que considerar pertinentes,
nos termos do artigo 63.2 da Convenção.

2. Tratando-se de assuntos ainda NÃO submetidos à sua consideração, a Corte poderá atuar POR SOLICITAÇÃO DA
COMISSÃO.

3. Nos casos contenciosos que se encontrem em conhecimento da Corte, as vítimas ou as supostas vítimas, ou seus
representantes, poderão apresentar diretamente àquela uma PETIÇÃO de medidas provisórias, as quais deverão ter relação
com o objeto do caso.

4. A solicitação pode ser apresentada à Presidência, a qualquer um dos Juízes ou à Secretaria, por qualquer meio de
comunicação. De qualquer forma, quem houver recebido a solicitação deverá levá-la de imediato ao conhecimento da
Presidência.

5. A Corte ou, se esta não estiver reunida, a Presidência poderá requerer ao Estado, à Comissão ou aos representantes dos
beneficiários, quando considerar possível e indispensável, a apresentação de informação sobre um pedido de medidas
provisórias ANTES de resolver sobre a medida solicitada.

6. Se a Corte não estiver reunida, a Presidência, em consulta com a Comissão Permanente e, se for possível, com os demais
Juízes, requererá do Estado interessado que tome as providências urgentes necessárias a fim de assegurar a eficácia das medidas
provisórias que a Corte venha a adotar depois, em seu próximo período de sessões.

7. A supervisão das medidas urgentes ou provisórias ordenadas realizar-se-á mediante a apresentação de relatórios estatais e
das observações correspondentes aos referidos relatórios por parte dos beneficiários de tais medidas ou seus representantes. A
Comissão deverá apresentar observações ao relatório do Estado e às observações dos beneficiários das medidas ou de seus
representantes.

8. Nas circunstâncias que estimar pertinentes, a Corte poderá requerer a outras fontes de informação dados relevantes sobre o
assunto, que permitam apreciar a gravidade e a urgência da situação e a eficácia das medidas. Para os mesmos efeitos, poderá
também requerer as perícias e relatórios que considerar oportunos.

9. A Corte ou, se esta não estiver reunida, a Presidência poderá convocar a Comissão, os beneficiários das medidas ou seus
representantes e o Estado a uma audiência pública ou privada sobre as medidas provisórias.

10. A Corte incluirá́ em seu relatório anual à Assembleia Geral uma relação das medidas provisórias que tenha ORDENADO
durante o período do relatório e, quando tais medidas NÃO tenham sido devidamente executadas, formulará as
RECOMENDAÇÕES que considere pertinentes.

Assim, para que uma medida provisória possa ser solicitada à Corte IDH, o caso deve ser de EXTREMA gravidade e
urgência, quando a medida provisória cumprirá com a finalidade de evitar danos irreparáveis às pessoas.

@dicasexconcurseira 95
Se o caso ainda não houver sido submetido à Corte IDH, esta somente pode determinar medidas provisórias à pedido
da CIDH. Se, no entanto, o caso já se encontrar em tramitação na Corte IDH, esta pode expedir medidas provisórias de ofício, a
pedido das vítimas ou seus representantes e também à pedido da CIDH.
O mecanismo de que dispõe a Corte IDH para supervisionar o cumprimento de suas medidas provisórias pelos Estados é
o SISTEMA DE RELATÓRIOS PERIÓDICOS, podendo haver também a realização de audiência pública ou privada sobre esta
questão.
Finalmente, a partir destas considerações sobre o procedimento, surge a seguinte dúvida: se o caso ainda não estiver
em tramitação na Corte IDH, a CIDH, para pedir medidas provisórias, deve ter, antes, emitido medidas cautelares e estas terem
se revelado infrutíferas? ATENÇÃO! A Corte IDH entende que a CIDH PODE PEDIR DIRETAMENTE medidas provisórias, sem ter
expedido, antes, medidas cautelares.

QUESTÕES

1. As medidas de urgência da Comissão Interamericana e da Corte Interamericana de Direitos Humanos contam com base
normativa expressa na Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. A Corte IDH somente pode determinar medidas provisórias em desfavor de Estados que tenham ratificado a CADH e aceitado
a jurisdição contenciosa da Corte.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. Prevalece o entendimento de que, para a vítima pedir medidas cautelares à Comissão Interamericana, ela deve, antes,
esgotar os recursos internos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. A vítima ou os seus representantes podem pedir diretamente à Corte IDH a concessão de medidas provisórias, desde que o
caso já esteja em tramitação perante a Corte.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 ERRADO
4 CERTO
@dicasexconcurseira 96
Aula 18
Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos: Direitos humanos e acesso à justiça, 100 Regras de Brasília,
valorização da Defensoria Pública pela OEA e Defensoria Pública Interamericana

1. Direitos humanos e acesso à justiça

O acesso à justiça é considerado um direito humano previsto em diversos tratados internacionais de direitos humanos,
a exemplo do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 14.1) e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(art. 8.1).
Para que o acesso à justiça seja efetivo ou real – e não meramente formal –, é preciso que se elimine a barreira com a
qual o cidadão necessitado se depara ao bater às portas dos tribunais: a assistência jurídica integral e gratuita (#sangueverde).
Nesse sentido, a Corte IDH ressaltou no julgamento do Caso Ruano Torres vs. El Salvador que a defesa técnica prestada pela
Defensoria Pública não deve ser concebida como uma mera formalidade processual, exigindo-se, ao contrário, que o defensor
público atue de forma diligente com o objetivo de proteger as garantias processuais do acusado e evitar que seus direitos
sejam violados.

2. 100 Regras de Brasília

As 100 Regras de Brasília foram aprovadas na XIV Conferência da Cúpula Judicial Iberoamericana, na capital do Brasil,
Brasília, em março de 2008. A Cúpula Judicial Iberoamericana é uma organização que visa a cooperação, o planejamento e o
intercâmbio de experiências entre os Poderes Judiciais dos 23 países da Comunidade Iberoamericana de Nações.
A aprovação das 100 Regras de Brasília contou com a participação de Cortes Superiores de Justiça dos Países
Iberoamericanos, da Associação Iberoamericana de Ministérios Públicos, da Associação Interamericana de Defensorias Públicas
(AIDEF), da Federação Iberoamericana de Ombudsman (FIO) e da União Iberoamericana de Colégios de Advogados.

De acordo com o documento aprovado, a FINALIDADE das Regras de Brasília consiste em “(...) GARANTIR AS
CONDIÇÕES DE ACESSO EFETIVO À JUSTIÇA DAS PESSOAS EM CONDIÇÕES DE VULNERABILIDADE, sem discriminação alguma,
englobando o conjunto de políticas, medidas, facilidades e meios que permitam que as referidas pessoas usufruam do pleno
gozo dos serviços do sistema judicial” (item 1).

No que diz respeito à NATUREZA JURÍDICA das Regras de Brasília, o Prof. Caio Paiva entende que elas devem ser
consideradas MERAS DIRETRIZES INTERNACIONAIS, SEM FORÇA VINCULANTE. Como o documento não foi acordado entre
Estados nem produzidos no âmbito de uma organização internacional, as Regras de Brasília sequer podem ser consideradas,
para o Porf. Caio Paiva, uma norma internacional, ainda que de soft law.

O Prof. recomenda uma leitura atenta das Regras de Brasília, em especial dos itens 3 e 4 (conceito de pessoas em
situação de vulnerabilidade), 10, 11 e 12 (conceito de vítima e vitimização), 14 (deslocado interno com vulnerável) e 29
(incentivo da política pública de assistência jurídica por meio da Defensoria Pública).

100 REGRAS DE BRASÍLIA


1.- Conceito das pessoas em situação de vulnerabilidade
(3) Consideram-se em condição de vulnerabilidade aquelas pessoas que, por razão da sua idade, gênero, estado físico ou
mental, ou por circunstâncias sociais, económicas, étnicas e/ou culturais, encontram especiais dificuldades em exercitar com
plenitude perante o sistema de justiça os direitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico.
(4) Poderão constituir causas de vulnerabilidade, entre outras, as seguintes: a idade, a incapacidade, a pertença a comunidades
indígenas ou a minorias, a vitimização, a migração e o deslocamento interno, a pobreza, o gênero e a privação de liberdade. A
concreta determinação das pessoas em condição de vulnerabilidade em cada país dependerá das suas características
específicas, ou inclusive do seu nível de desenvolvimento social e económico.

5.- Vitimização
(10) Para efeitos das presentes Regras, considera-se vítima toda a pessoa FÍSICA que tenha sofrido um dano ocasionado por
uma INFRAÇÃO PENAL, incluída tanto a lesão física ou psíquica, como o sofrimento moral e o prejuízo econômico. O termo
vítima também poderá incluir, se for o caso, a família imediata ou as pessoas que estão a cargo da vítima direta.
(11) Considera-se em condição de vulnerabilidade aquela vítima do delito que tenha uma relevante limitação para evitar ou
mitigar os danos e prejuízos derivados da infração penal ou do seu contato com o sistema de justiça, ou para enfrentar os
riscos de sofrer uma nova vitimização. A vulnerabilidade pode proceder das suas próprias características pessoais ou das
circunstâncias da infração penal. Destacam para estes efeitos, entre outras vítimas, as pessoas menores de idade, as vítimas de
violência doméstica ou intrafamiliar, as vítimas de delitos sexuais, os adultos maiores, assim como os familiares de vítimas de
morte violenta.

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(12) Estimular-se-á a adoção daquelas medidas que sejam adequadas para mitigar os efeitos negativos do delito (vitimização
primária). Assim procurar-se-á que o dano sofrido pela vítima do delito não seja incrementado como consequência do seu
contato com o sistema de justiça (vitimização secundária). E procurar-se-á garantir, em todas as fases de um procedimento
penal, a proteção da integridade física e psicológica das vítimas, sobretudo a favor daquelas que corram risco de intimidação, de
represálias ou de vitimização reiterada ou repetida (uma mesma pessoa é vítima de mais do que uma infração penal durante um
período de tempo). Também poderá ser necessário outorgar uma proteção particular àquelas vítimas que vão prestar
testemunho no processo judicial. Prestar-se-á uma especial atenção nos casos de violência intrafamiliar, assim como nos
momentos em que seja colocada em liberdade a pessoa à qual se atribui a ordem do delito.

1.- Promoção da assistência técnica jurídica à pessoa em condição de vulnerabilidade


(29) Destaca-se a conveniência de promover a política pública destinada a garantir a assistência técnico-jurídica da pessoa
vulnerável para a defesa dos seus direitos em todas as ordens jurisdicionais: quer seja através da ampliação de funções do
Defensor Público, não somente na ordem penal mas também noutras ordens jurisdicionais; quer seja através da criação de
mecanismos de assistência letrada: consultorias jurídicas com a participação das universidades, casas de justiça, intervenção de
colégios ou barras de advogados…

OBS: Recentemente, em fevereiro de 2019, segundo noticiado pela ANADEP (Associação Nacional das Defensoras e Defensores
Públicos), as 100 Regras de Brasília foram revisadas. O Prof. consultou o documento (em espanhol, ainda sem tradução para o
português) e não percebeu nenhuma mudança significativa ou digna de destaque:
https://www.anadep.org.br/wtksite/cms/conteudo/40002/100_regras_atualizadas.pdf

3. Valorização da Defensoria Pública pela OEA

A OEA – Organização dos Estados Americanos - já emitiu algumas resoluções valorizando o trabalho da Defensoria
Pública e incentivando os Estados a adotarem o MODELO PÚBLICO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA POR MEIO DA CRIAÇÃO E DO
FORTALECIMENTO DA DEFENSORIA PÚBICA. A OEA também tem incentivado os Estados a assegurarem AUTONOMIA às
Defensorias Públicas.

4. Defensoria Pública Interamericana

Em 2009, o Regulamento da Corte Interamericana foi reformado e mexeu com o papel da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos no procedimento perante a Corte, RETIRANDO DA COMISSÃO A POSIÇÃO DUAL QUE OCUPAVA NO SISTEMA
INTERAMERICANO, MANTENDO-A UNICAMENTE COMO ÓRGÃO DO SISTEMA, E NÃO MAIS COMO REPRESENTANTE
PROCESSUAL DAS VÍTIMAS.
Essa alteração do Regulamento da Corte surgiu no contexto de AMPLIAR A CAPACIDADE PROCESSUAL DAS VÍTIMAS,
ELEVANDO-AS À CONDIÇÃO DE PARTES NO PROCESSUAL JUDICIAL PERANTE A CORTE, podendo apresentar memoriais,
requerimento de provas, formular pedidos, participar de audiências com manifestação oral etc.
Assim, com o objetivo de evitar que dificuldades financeiras ou de outra natureza impeçam as vítimas de contarem com
a devida representação legal (defesa técnica) no procedimento perante a Corte, surge, então, com o Regulamento reformado
em 2009, a figura do DEFENSOR PÚBLICO INTERAMERICANO (DPI).
Nesse sentido, conforme consta da “Exposição de Motivos da Reforma Regulamentar”: “Desta maneira, garante-se que
toda presumida vítima tenha um advogado que faça valer seus interesses perante a Corte e se evita que razões econômicas
impeçam as vítimas de contar com representação legal. Por outro lado, evita-se que a Comissão tenha uma posição dual ante a
Corte, de representante das vítimas e de órgão do sistema”.

De acordo com o Regulamento da CorteIDH, “a expressão ‘defensor interamericano’ significa a pessoa que a Corte
designa para assumir a representação legal de uma suposta vítima que não tenha designado um defensor por si mesma” (art.
2.11).
O Regulamento da CorteIDH ainda prevê que “Em casos de supostas vítimas sem representação legal devidamente
credenciada, o Tribunal poderá designar um Defensor Interamericano de ofício que as represente durante a tramitação do caso”.

ATENÇÃO! Pode-se afirmar que a previsão normativa da atuação do defensor público interamericano é apenas
REGULAMENTAR – prevista no Regulamento da CorteIDH –, e NÃO CONVENCIONAL, pois não consta na Convenção Americana
sobre Direitos Humanos (CADH).

Existem diferentes modelos de oferecimento de assistência jurídica gratuita no âmbito de tribunais internacionais,
entre os quais podemos destacardois:

1) o primeiro deles, que o Prof. denomina de SISTEMA CONCENTRADO, prevê órgão de defesa pública dentro da estrutura do
próprio tribunal, como ocorre, por exemplo, com o Tribunal Penal Internacional (TPI), que possui alguns escritórios
semiautônomos, tais como o Escritório de Defensoria Pública para as Vítimas e o Escritório de Advocacia Pública para a Defesa;
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2) o segundo deles, que o Prof. denomina de SISTEMA INDEPENDENTE, “terceiriza” a organização da prestação e da
designação específica do defensor a uma entidade independente, como ocorre no sistema adotado pela Corte Interamericana
– com características inéditas no âmbito universal –, em que, mediante convênio celebrado entre a CorteIDH e a Associação
Interamericana de Defensorias Públicas (AIDEF), concedeu-se a esta a atribuição para organizar o serviço da assistência jurídica
gratuita no processo judicial interamericano.

OBS: Embora o Regulamento da CorteIDH não mencione a expressão “público” quando se refere ao defensor interamericano, o
modelo de uma defesa pública interamericana restou acolhido pela Corte antes mesmo da adoção do seu novo Regulamento,
aprovado em 24.11.2009, quando da celebração de um convênio com a AIDEF, em 25.09.2009. Importante considerar que o
termo defensor público interamericano logo foi acolhido pela Corte Interamericana, conforme se lê no seu Relatório Anual dos
Trabalhos da Corte Interamericana de Direitos Humanos – 2010, em que foi inserida a indicação de um defensor público
interamericano no contexto da ampliação dos horizontes da jurisdição americana.

MODELOS DE OFERECIMENTO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA NO ÂMBITO DE TRIBUNAIS INTERNACIONAIS


Sistema concentrado Sistema independente
Prevê órgão de defesa pública dentro da estrutura do próprio “Terceiriza” a organização da prestação e da designação
tribunal. específica do defensor a uma entidade independente.
Ex: Tribunal Penal Internacional. Ex: CorteIDH.

Para formalizar a prestação do serviço da assistência jurídica gratuita para vítimas junto ao processamento do caso
perante a Corte Interamericana, foi celebrado um Acordo de Entendimento entre a CorteIDH e a AIDEF em 25.09.2009, em San
José, Costa Rica, por meio do qual se estabeleceu, por exemplo, que a incumbência de designar o defensor público
interamericano é da AIDEF mediante comunicação da Corte para a Coordenação Geral da Associação Interamericana de
Defensorias Públicas. Posteriormente, em 08.03.2013, em Washington DC, EUA, outro Acordo de Entendimento, agora celebrado
entre a Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos, através da Secretaria Executiva da Comissão Interamericana
de Direitos Humanos, e a AIDEF, ampliou a atribuição da Defensoria Pública Interamericana para atuar em favor da vítima que
não possua representação legal também no procedimento perante a Comissão Interamericana. Finalmente, em 07.06.2013, em
Antigua, Guatemala, foi aprovado o Regulamento Unificado para a atuação da AIDEF ante a Comissão e a Corte de Direitos
Humanos, que consolida as diretrizes para escolha e atuação dos defensores públicos interamericanos.

JÁ CAIU EM PROVA! Até o ano de 2018, a Defensoria Pública Interamericana atuava exclusivamente em procedimentos perante
a CorteIDH. A partir de 2013, a AIDEF celebra um convênio também com a CIDH, viabilizando a atuação de defensores
interamericanos perante o procedimento inicial na Comissão.

O Regulamento Unificado disciplina em seu art. 6º o processo de escolha ou de conformação do corpo de defensores
públicos interamericanos, que funciona assim:

1) Cada país integrante da AIDEF propõe 2 defensores públicos, que devem ter formação comprovada em direitos humanos.
Internamente, cada Defensoria Pública nacional decide como realiza essa propositura, sendo oportuno registrar aqui a
dimensão democrática do processo de escolha no âmbito das Defensorias dos Estados, presidido em conjunto pela Associação
Nacional dos Defensores Públicos (ANADEP) e pelo CONDEGE (Colégio Nacional de Defensores Públicos-Gerais), em que há
divulgação de edital para que interessados concorram às vagas, procedimento este ainda inexistente no âmbito da Defensoria
Pública da União, que na sua primeira propositura de nome para o cargo de defensor público federal preferiu proceder
mediante ato discricionário do Defensor Público- Geral Federal;
2) A formalização da candidatura dos defensores públicos deve ser firmada por escrito pela autoridade máxima institucional ou
associativa da respectiva Defensoria Pública nacional; e
3) No prazo máximo de 30 dias, o Comitê Executivo da AIDEF avaliará as informações de cada candidato e elaborará uma lista
que não deverá possuir mais do que 21 integrantes, sendo que os excedentes formarão uma lista de elegíveis para substituir
eventuais vacâncias que possam surgir no período.

Conforme prevê o Regulamento Unificado, os defensores públicos são eleitos para um período de 3 anos, podendo ser
reeleitos para somente um período consecutivo (art. 6.5).
O art. 17 do Regulamento Unificado prevê 3 hipóteses em que o mandato dos defensores públicos interamericanos se
estenderá:
1) Nos casos em trâmite na Comissão Interamericana, até que seja emitido o informe final previsto no art. 51 da CADH, no caso
de não ser remitido à CorteIDH;
2) Se o caso for submetido à CorteIDH, ou se a assistência do defensor público interamericano se iniciar somente no
procedimento perante a Corte, até que seja emitida a sentença final; e

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3) Durante o tempo que se estenda a execução da sentença de mérito, reparações e custas da CorteIDH.

Vejamos algumas questões específica sobre a DPI (Defensoria Pública Interamericana).

4.1. A O defensor público eleito para ocupar o cargo de defensor público interamericano fica afastado de suas atividades na
respectiva Defensoria Pública nacional de origem?

De acordo com o Regulamento Unificado, os defensores públicos interamericanos somente devem ser AFASTADOS ou
LICENCIADOS de suas atividades na respectiva Defensoria Pública NACIONAL de origem para atuarem nos casos para os quais
forem designados, não sofrendo, nesse período, nenhuma diminuição nem perda de sua remuneração (art. 8.1). Esse
afastamento não precisa necessariamente ter um caráter permanente para durar enquanto tramitar o caso em que o defensor
interamericano estiver atuando, podendo se dar em períodos delimitados, como, por exemplo, 15 dias para participar de
audiência pública na Corte Interamericana ou 30 dias para apresentar memoriais no caso, compreendendo-se nesses períodos o
necessário tempo para estudo.

4.2. Critérios para designar defensores públicos interamericanos para atuar num caso perante a Comissão Interamericana ou
a Corte Interamericana

Conforme prevê o Regulamento Unificado, para cada caso em particular serão designados 3 defensores públicos
interamericanos, sendo 2 titulares e 1 suplente (art. 12). Na escolha dos defensores públicos interamericanos, segundo dispõe
o art. 13 do Regulamento Unificado, a Secretaria Geral da AIDEF observará, na medida do possível, um sistema de designação
baseado em critérios objetivos e subjetivos.

São critérios objetivos:

1) Que um defensor público interamericano não pertença ao Estado denunciado; e


2) Que os demais defensores públicos interamericanos – dois, portanto – pertençam ao Estado denunciado, SALVO se, por
disposições internas, não estiverem autorizados para demandar contra seu próprio Estado, ou que não exista dentro da lista de
defensores públicos interamericanos um nacional do Estado denunciado.

São critérios subjetivos:

1) A índole dos direitos violados;


2) As circunstâncias do caso;
3) A formação curricular e acadêmica do defensor público interamericano; e
4) A experiência do defensor público interamericano em intervenções ou litígios que guardem relação com a índole dos direitos
violados e as circunstâncias do caso.

4.3. Procedimento para a designação dos defensores públicos interamericanos que atuarão em determinado caso à POUCA
RELEVÂNCIA! ASSUNTO MUITO TÉCNICO, QUE NÃO DEVE SER COBRADO EM PROVA. OS ITENS 4.4, 4.5, 4.6 E 4.7 NÃO FORAM
ABORDADOS NA AULA.

De acordo com o que prevê o art. 14 do Regulamento Unificado, o procedimento para designação dos defensores
públicos interamericanos funciona assim:

1) A partir do momento em que a AIDEF tenha aceitado a representação da(s) presumida(s) vítima(s) ante a Comissão ou ante a
Corte Interamericana, a Secretaria Geral submeterá à consideração da Coordenação Geral, no prazo de 24 horas, a proposta de
dois defensores públicos interamericanos titulares e de um suplente para intervir no caso;
2) Ato seguinte, a Coordenação Geral deverá comunicar dita proposta ao Comitê Executivo no prazo máximo de um dia, cujos
integrantes têm um prazo de dois dias para aceitar ou rechaçar por simples maioria de votos;
3) No caso de não contestar no prazo estipulado, dito silêncio se interpretará como uma aceitação tácita da proposta formulada
pela Coordenação Geral; e
4) Uma vez confirmada a proposta, esta será comunicada formalmente à Comissão ou à CorteIDH, segundo corresponda,
fazendo saber a decisão sobre a aceitação do caso e os nomes dos defensores públicos interamericanos designados.

4.4. Proibição de substituição unilateral dos defensores públicos interamericanos

Conforme estabelece o art. 16 do Regulamento Unificado, a designação dos defensores públicos interamericanos é uma
atribuição exclusiva do Comitê Executivo da AIDEF, não possuindo as delegações institucionais ou associativas integrantes da
AIDEF – leia-se, as Defensorias Públicas nacionais ou as entidades associativas que representam seus membros – a competência
para substituir unilateralmente os defensores públicos interamericanos que elas propuseram, devendo apenas se limitarem a
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comunicar ao Comitê Executivo as causas da renúncia ou exclusão previstas no Regulamento Unificado, caso em que o Comitê
analisará a situação concreta e decidirá sobre a procedência da solicitação e sua eventual substituição.

4.5. Renúncia ao cargo de defensor público interamericano

Prevê o art. 18 do Regulamento Unificado que “Se por questões de força maior devidamente fundadas, o defensor
público interamericano não puder continuar integrando o corpo de defensores públicos interamericanos, deverá informar de
imediato por escrito e juntar a documentação que sustente as causas alegadas. Dita comunicação deverá ser endereçada ao
representante da instituição ou associação de Defensoria Pública que o tenha proposto ante a AIDEF, que por sua vez estará
obrigada a comunicar o fato dentro de 24 horas à Coordenação Geral e à Secretaria Geral da AIDEF a fim de que se exponha a
situação ao Comitê Executivo”. O art. 18 ainda estabelece que, por decisão da maioria, o Comitê Executivo poderá:
1) Rechaçar as razões invocadas pelo defensor público interamericano e obrigá-lo a continuar no desempenho de seu cargo; ou
2) Aceitar a renúncia do defensor público interamericano e eventualmente incorporar um novo defensor público interamericano
se considerar necessário, podendo ter em conta a lista dos defensores públicos excedentes que não foram selecionados para
integrar o corpo de defensores públicos interamericanos.

4.6. Renúncia de um defensor público interamericano à designação para atuar num caso perante a Comissão ou a Corte
Interamericana

O art. 19 do Regulamento Unificado trata da renúncia de um defensor público interamericano à designação para atuar
num caso ante a CIDH ou a CorteIDH, prevendo que “Se por razões de força maior devidamente fundadas, o defensor público
interamericano não puder continuar atuando num caso para o qual tiver sido designado, deverá informar imediatamente esta
situação seguindo o procedimento descrito no artigo 18 deste Regulamento [visto no tópico anterior]. Isso não implicará,
necessariamente, a renúncia para continuar no corpo de defensores públicos interamericanos“.
O art. 19 ainda estabelece que “No caso de aceitar a renúncia, o Comitê Executivo decidirá se deve assumir em
substituição o defensor público interamericano suplente ou, de acordo com as circunstâncias particulares do caso, se deve
designar outro defensor público interamericano seguindo o procedimento disposto no artigo 14. Esta substituição nunca será
automática, requerendo pronunciamento expresso do Comitê Executivo, conforme o trâmite geral estabelecido no presente
Regulamento. No caso de aceitar que o defensor público interamericano suplente passe a atuar como titular, o Comitê Executivo,
sob proposta do Coordenador Geral, oportunamente procederá com a designação de outro defensor público interamericano na
qualidade de suplente”.

4.7. Exclusão de um defensor público interamericano de um caso particular

O art. 20 do Regulamento Unificado prevê três hipóteses em que o Comitê Executivo poderá excluir o defensor público
interamericano da atuação em um caso, designando outro:
1) Situação de conflito insuperável de interesses entre o defensor público interamericano e seu assistido ou entre o defensor
público interamericano com o Estado demandado;
2) Comprometimento da integridade física ou psíquica do defensor público interamericano, de forma que impeça o exercício de
uma defesa técnica eficaz; ou
3) O representado/assistido rechaçar o defensor público interamericano por alguma causa devidamente justificada.

4.8. O defensor público interamericano “natural” e a atuação continuada em favor da vítima na Comissão e na Corte
Interamericana

Vimos anteriormente que o mandato do defensor público interamericano acompanha a tramitação do caso no qual ele
estiver atuando, podendo permanecer no cargo além do limite ordinário de tempo na situação, por exemplo, em que tenha sido
designado para atuar em favor da vítima no procedimento perante a Comissão Interamericana e o caso, após 6 anos – período
de dois mandatos consecutivos do defensor público interamericano –, ainda esteja em tramitação na Corte Interamericana.
Esse expediente prestigia a ideia de um defensor público interamericano natural, o que é reforçado pelo art. 24 do
Regulamento Unificado, segundo o qual os defensores públicos interamericanos que tenham representado a(s) vítima(s) no
procedimento perante a CIDH continuarão atuando na etapa jurisdicional do processo perante a CorteIDH.

4.9. A AIDEF pode recusar a solicitação da Comissão Interamericana ou da Corte Interamericana para designar defensores
públicos interamericanos?

O Prof. Caio Paiva que sim e essa conclusão é extraída dos artigos 1.2, 14.1 e 22.1 do Regulamento Unificado, que
expressamente fazem menção à “aceitação” da AIDEF para que defensores públicos interamericanos sejam designados para
atuar ante a CIDH ou a CorteIDH. No mesmo sentido, o Acordo de Entendimento entre a AIDEF e a Secretaria Executiva da
Comissão Interamericana (cláusula 3.1.1) O prof. considera esse entendimento o mais acertado porque prestigia a autonomia
funcional da Defensoria Pública, já reconhecida pela Assembleia-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA).
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4.10. Requisitos para atuação de defensor público interamericano na Comissão e na Corte Interamericana

Os requisitos para atuação de defensor público interamericano em favor da(s) presumida(s) vítima(s) perante a
Comissão e a CorteIDH estão previstos nos Acordos de Entendimento com esses órgãos do sistema interamericano de direitos
humanos.
Nos termos do Acordo de Entendimento entre a AIDEF e a CorteIDH, para que seja designado defensor público
interamericano para atuar no processamento do caso perante a Corte, a vítima deve carecer de recursos econômicos ou de
representação legal (primeira cláusula), de modo que pode haver a atuação de defensor público interamericano para vítima que
possua recursos econômicos, mas esteja sem representação legal. Essa previsão contida no Acordo de Entendimento entre a
AIDEF e a CorteIDH pode ser considerada em conformidade com um conceito moderno e mais amplo de vulnerabilidade ou de
necessitado, que não se limita às condições econômicas.
Diferentemente, nos termos do Acordo de Entendimento entre a AIDEF e a Secretaria Executiva da Comissão
Interamericana, para que a vítima seja assistida por defensor público interamericano no processo em trâmite perante a
Comissão, deve haver ausência de representação legal e carência de recursos econômicos (primeira cláusula).
Possivelmente prevendo uma demanda incompatível com a estrutura de pessoal da Defensoria Pública Interamericana,
tanto o Regulamento Unificado (art. 22.2) quanto o Acordo de Entendimento entre a AIDEF e a Secretaria Executiva da CIDH
(quarta cláusula) preveem critérios para que a defesa de vítimas seja realizada por defensores públicos interamericanos no
processamento do caso perante a Comissão. São eles:
1) Que o caso tenha certa complexidade para a presumida vítima, seja em seus aspectos fáticos ou jurídicos, ou que se refira a
matérias novas para a proteção dos direitos humanos na região;
2) Que o caso envolva possíveis violações a direitos humanos de especial interesse para a AIDEF, tais como os direitos à vida, à
integridade pessoal, à liberdade pessoal, às garantias e proteção judiciais, entre outras; e
3) Que o caso envolva uma ou mais presumidas vítimas que pertençam a um grupo em situação de vulnerabilidade, tais como
pessoas privadas de liberdade, vítimas de violência institucional, vítimas de violência de gênero, crianças e adolescentes, povos
originários, pessoas com deficiência, migrantes e/ou refugiados, entre outros.

Requisitos para atuação de defensor público interamericano


Na Corte A vítima deve carecer de recursos econômicos OU de representação legal, de modo que pode haver a
Interamericana de atuação de defensor público interamericano para vítima que possua recursos econômicos, mas esteja sem
Direitos Humanos: representação legal.
A vítima deve carecer de recursos econômicos E de representação legal.
Além disso:
1) O caso deve ter certa complexidade para a vítima, seja em seus aspectos fáticos ou jurídicos, ou que se
refira a matérias novas para a proteção dos direitos humanos na região;
Na Comissão 2) O caso deve envolver possíveis violações a direitos humanos de especial interesse para a AIDEF, tais
Interamericana de como os direitos à vida, à integridade pessoal, à liberdade pessoal, às garantias e proteção judiciais, entre
Direitos Humanos: outras; e
3) O caso deve envolver uma ou mais vítimas que pertençam a um grupo em situação de vulnerabilidade

OBS: a exigência desses dois requisitos se deve ao fato de que existem muitos mais processos perante a
CIDH do que perante a CorteIDH. Então, serve como uma forma de “filtrar” mais.

4.11. A vítima pode recusar a designação de defensor público interamericano?

O Prof. Caio Paiva entende que sim. Nesse sentido, aliás, o Acordo de Entendimento entre a AIDEF e a Secretaria
Executiva da Comissão Interamericana dispõe que a Comissão deve obter da vítima seu consentimento expresso para que seja
representada por defensor público interamericano (cláusula 2.1.2).
No âmbito da Corte Interamericana, já no primeiro caso em que se procedeu com a designação de defensor público
interamericano (Caso Furlán e familiares vs. Argentina), a Corte esclareceu à vítima que não era obrigatória a aceitação e que
ela poderia, inclusive, abster-se de nomear um advogado, exercendo sua própria representação.

4.12. É cabível a atuação concorrente de defensor público interamericano nos processos em que a representação legal da
vítima estiver a cargo de defensor público nacional?

O Prof. Caio Paiva entende que não, e isso porque os regulamentos que tratam do defensor público interamericano são
muito claros ao condicionar sua atuação à ausência de representação legal da vítima.

@dicasexconcurseira 102
4.13. O surgimento da Defensoria Pública Interamericana prejudicou a legitimidade das Defensorias Públicas nacionais para
atuarem de forma autônoma e independente no sistema interamericano de proteção dos direitos humanos?

A resposta do tópico anterior conduz à conclusão deste: a atuação da Defensoria Pública Interamericana é
SUBSIDIÁRIA à atuação das Defensorias Públicas nacionais, tanto que somente será designado defensor público
interamericano se a vítima não contar com representação legal.
Nesse sentido, a sexta cláusula do Acordo de Entendimento entre a Corte Interamericana e a AIDEF ressalta que “Este
convênio não impede a Associação Interamericana de Defensorias Públicas nem a seus associados de levarem por si mesmos
casos ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos”.

4.14. O defensor público interamericano tem legitimidade para atuar no âmbito interno, propondo, por exemplo, a execução
das decisões da Corte Interamericana diretamente na jurisdição do Estado-parte?

O Prof. Caio Paiva entende que não. Quando o Regulamento Unificado estende o mandato do defensor público
interamericano para atuar enquanto tramitar a execução da sentença de mérito, reparações e custas da Corte Interamericana
(art. 17.3), assim o faz pensando na etapa de execução internacional que tramita perante a Corte, e não no processo interno de
execuções de sentença internacional na jurisdição do Estado-parte. Embora esses processos de execução – internacional e
interno – possam coexistir, a legitimidade conferida ao defensor público interamericano, de acordo com o prof., consiste em
peticionar em favor da vítima junto à CorteIDH para cobrar do Estado as informações sobre o cumprimento da sentença, e não
para ajuizar demandas na jurisdição interna do Estado-parte.

QUESTÕES

1. As 100 Regras de Brasília possuem a natureza de tratado.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. A OEA tem apoiado a valorização da Defensoria Pública, sem se comprometer, porém, com o incentivo à autonomia da
instituição.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. A Defensoria Pública Interamericana conta com previsão expressa no Regulamento da Corte Interamericana.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Para que um defensor público interamericano seja designado para atuar junto ao processo perante a Comissão
Interamericana, a vítima deve carecer de recursos econômicos e de representação legal.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. A vítima não pode recusar a designação de defensor público interamericano.

( ) CERTO ( ) ERRADO

6. O surgimento da Defensoria Pública Interamericana não prejudicou a legitimidade das Defensorias Públicas nacionais de
atuarem junto ao sistema interamericano de proteção dos direitos humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 ERRADO
3 CERTO
4 CERTO
5 ERRADO
6 CERTO

@dicasexconcurseira 103
Aula 19
Sistema europeu de proteção dos direitos humanos

ATENÇÃO! É um assunto que cai pouco em prova, em razão do sistema europeu não vincular o Brasil. Mas o assunto que mais
cai em prova são as diferenças mais notáveis entre o sistema europeu e o interamericano; e entre o sistema europeu e o
sistema global de proteção dos direitos humanos.

Introdução

O sistema europeu de proteção dos direitos humanos também nasceu no pós-Segunda Guerra Mundial, em 1949,
com a criação do Conselho da Europa, por meio do Tratado de Londres. O Conselho da Europa, com sede em Estrasburgo, na
França, é uma organização internacional que tem como propósitos a defesa dos direitos humanos, a democracia e o Estado de
Direito.

O Conselho da Europa possui diversos órgãos na sua estrutura. Vejamos alguns deles: à INFORMAÇÃO NÃO
RELEVANTE PARA PROVAS DE CONCURSO!

A) Secretário-Geral: eleito pela Assembleia Parlamentar para liderar a Organização, é responsável pelo planejamento
estratégico, pela orientação do programa de atividades e pelo orçamento do Conselho da Europa. O Secretário-Geral dirige e
representa a Organização.

B) Comitê de Ministros: órgão de decisão do Conselho, sendo composto pelos Ministros das Relações Exteriores de cada Estado-
membro ou pelos seus representantes diplomáticos permanentes em Estrasburgo. O Comitê de Ministros determina a política
do Conselho da Europa e aprova o seu orçamento e programa de atividades.

C) Assembleia Parlamentar: reúne 324 parlamentares dos 47 Estados-membros. A Assembleia elege o Secretário-Geral, o
Comissário dos Direitos Humanos e os juízes do TEDH. Além disso, oferece um fórum democrático para debates e observa as
eleições.

D) Congresso dos Poderes Locais e Regionais: é responsável por reforçar a democracia local e regional. É composto por 648
membros eleitos que representam mais de 200.000 autoridades locais e regionais.

E) Tribunal Europeu dos Direitos Humanos: órgão judiciário permanente que garante os direitos consagrados na Convenção
Europeia de Direitos Humanos e demais documentos do sistema europeu de proteção dos direitos humanos.

F) Comissário para os Direitos Humanos: instituição não-judicial independente e imparcial, estabelecido em 1999 pelo Conselho
da Europa para promover a conscientização e o respeito pelos direitos humanos nos 47 Estados membros do Conselho. Sendo
uma instituição não-judicial, não pode agir sobre queixas individuais, mas pode tirar conclusões e tomar iniciativas mais amplas,
com base em informações confiáveis sobre violações dos direitos humanos sofridas por indivíduos. A atividade deste órgão se
concentra em ter̂s áreas principais:
1) visitas aos países e diálogo com as autoridades nacionais e da sociedade civil;
2) relatórios temáticos e aconselhamento sobre direitos humanos para a sua implementação sistemática; e
3) atividades de sensibilização.

G) Conferência de ONGIs: composta por aproximadamente 400 ONGIs, a Conferência cria um elo vital entre os representantes
políticos e os cidadãos e faz ouvir a voz da sociedade civil no Conselho.

H) Comitê Europeu para a Prevenção da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis: visitas estabelecimentos de privação de
liberdade / não processa petições individuais.

I) Comitê Europeu dos Direitos Sociais: relatórios periódicos da Carta Social Europeia e queixas coletivas.

Como o Estatuto do Conselho da Europa continha apenas referências vagas sobre o tema dos direitos humanos, foi
adotada, em 1950, no âmbito do Conselho da Europa, a CONVENÇÃO EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS (CEDH), como é mais
conhecida, pois o seu nome oficial é Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais.

A CEDH entrou em vigor em 1953, após 10 ratificações, já tendo sido objeto de diversos protocolos facultativos. A
RATIFICAÇÃO DA CEDH É UM PRÉ-REQUISITO PARA O ESTADO INTEGRAR O CONSELHO DA EUROPA, havendo aqui, portanto,
uma DIFERENÇA COM O SISTEMA INTERAMERICANO, em que, para integrar a OEA, não se exige a ratificação da CADH.

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Percebam, assim, que o sistema europeu é o sistema internacional de proteção dos direitos humanos que PRIMEIRO
ENTROU EM FUNCIONAMENTO, já que a CIDH viria a ser criada somente em 1958, a CADH viria a ser adotada somente em 1969
e, no âmbito global, os tratados gerais da ONU – PIDCP e PIDESC – viriam a ser adotados somente em 1966.
Assim, é correto afirmar que o sistema europeu de direitos humanos influenciou o sistema interamericano e também
o sistema global!

Quadro normativo

O sistema europeu de proteção dos direitos humanos possui o seguinte quadro normativo:

a) CEDH; à protege, essencialmente, direitos civis e políticos


b) Carta Social Europeia; à complementa a CEDH, para proteger também os direitos econômicos, sociais e culturais
c) Convenções temáticas adotadas pelo Conselho da Europa. à Ex: Convenção Europeia para a Proteção das Minorias
Nacionais.

Perceba que, assim como ocorreu no sistema interamericano, no sistema europeu também não se conseguiu adotar
um tratado único versando sobre os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. É a CEDH que trata dos direitos
civis e político, enquanto a Carta Social Europeia trata dos direitos econômicos, sociais e culturais.

Órgãos de monitoramento

A disposição orgânica de monitoramento do sistema europeu de proteção dos direitos humanos se divide em 3
vertentes, sendo elas:

i. a proteção dos direitos humanos, que tem como órgãos de monitoramento o Tribunal Europeu de Direitos
Humanos (TEDH) e o Comitê Europeu para a Prevenção da Tortura;

ii. a promoção dos direitos humanos, que tem como órgãos de monitoramento o Comissário para os Direitos
Humanos, a Comissão Europeia contra o Racismo, entre outros;

iii. a garantia dos direitos sociais, monitorada pelo Comitê Europeu dos Direitos Sociais.

Além disso, existem diversos órgãos vinculados ao Conselho da Europa que, conforme já vimos anteriormente, também
trabalham na proteção e principalmente na promoção dos direitos humanos.

Durante muito tempo o sistema europeu de proteção dos direitos humanos contou com um importante órgão de
monitoramento, que foi a Comissão Europeia de Direitos Humanos, com competência e atuação muito similares a da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos. A Comissão Europeia podia analisar petições interestatais e individuais. Em 1998, por
meio do Protocolo Facultativo nº 11 à Convenção Europeia de Direitos Humanos, A COMISSÃO EUROPEIA FOI EXTINTA E AS
SUAS FUNÇÕES FORAM FUNDIDAS COM A DO TEDH, passando o sistema europeu a funcionar com apenas UM ÓRGÃO
JURISDICIONAL DE NATUREZA PERMANENTE – O TRIBUNAL EUROPEU DE DIREITOS HUMANOS (TEDH), eliminando-se, então,
o procedimento bifásico (que ainda existe no sistema interamericano).

OBS: Observe que o sistema europeu começa a funcionar com dois órgãos de monitoramento (como ainda hoje funciona o
sistema interamericano): a Comissão Europeia e Tribunal Europeu. Mas, no ano de 1998, o Protocolo Facultativo nº 11 extingue
a Comissão Europeia e dá as suas atribuições ao Tribunal Europeu (TEDH). O TEDH passa a ser um órgão de natureza
permanente – ou seja, que reúne durante o ano todo, diferentemente da CorteIDH que se reúne mediante agendamentos de
reuniões ordinária e extraordinárias.

A partir do Protocolo Facultativo nº 11/1998, o indivíduo passou a ter DIRETO de acesso direto ao TEDH (JUS STANDI).

ATENÇÃO! No sistema interamericano, existe apenas o LOCUS STANDI, que é a atuação da vítima quando o procedimento já
está estabelecido perante a CorteIDH.

Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH)

O TEDH foi instituído em 1959, sendo a ele incumbido as funções de interpretar e aplicar as normas de direitos
humanos do sistema europeu. Com sede em Estrasburgo, na França, o TEDH possui competências contenciosa e consultiva,
sendo integrado por 47 juízes (um para cada Estado Parte do Conselho da Europa e da Convenção Europeia de Direitos
Humanos), que exercem suas funções à título pessoal. Os juízes do TEDH são eleitos pela Assembleia Parlamentar, órgão do
Conselho da Europa, para um mandato de 9 anos, vedada a reeleição.
@dicasexconcurseira 105
OBS: A CorteIDH possui apenas 7 juízes.

Com o Protocolo Facultativo nº 11/1998, que extinguiu a Comissão Europeia, o TEDH tornou-se órgão permanente e a
sua jurisdição contenciosa passou a ser OBRIGATÓRIA* (antes, era facultativa).

* Aqui, temos mais uma diferença com o sistema interamericano, onde a competência contenciosa da CorteIDH é facultativa.

Podem acessar diretamente o TEDH (LEGITIMADOS ATIVOS) qualquer PESSOA FÍSICA, ONG ou GRUPO DE PESSOAS
que se considere vítima de violação dos direitos previstos na CEDH e nos seus protocolos, cometida por qualquer Estado- Parte.
Os ESTADOS-PARTES também podem submeter ao TEDH qualquer denúncia de violação praticada por outro Estado-Parte.

QUESTÕES

1. O sistema europeu de proteção dos direitos humanos foi o último sistema internacional a ser criado e a entrar em efetivo
funcionamento.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. Diferentemente da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, a Convenção Europeia sobre Direitos Humanos protege
tanto direitos civis e políticos quanto direitos econômicos, sociais e culturais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. A Comissão Europeia de Direitos Humanos foi extinta em 1998, tendo suas funções sido transferidas para o Tribunal Europeu
de Direitos Humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. A vítima possui acesso direto ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. O Tribunal Europeu de Direitos Humanos é composto por sete juízes.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 ERRADO
3 CERTO
4 CERTO
5 ERRADO

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Aula 20
Sistema africano de proteção dos direitos humanos e a proteção dos direitos humanos na Ásia e nos países árabes

ATENÇÃO! Tema de menor importância em provas de concurso.

1. Sistema africano de proteção dos direitos humanos

O sistema africano de proteção dos direitos humanos é o sistema mais recente – e incipiente – quando comparado
com os demais sistemas internacionais, estando ainda em processo de consolidação e construção.

Assim como os demais sistemas internacionais, o sistema africano também nasceu no âmbito de uma órgão
internacional, a Organização da Unidade Africana, criada em 1963 e substituída em 2001 pela atual UNIÃO AFRICANA.

O principal instrumento normativo deste sistema é a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, adotada em
1981, em Banjul, na Gâmbia, tendo entrado em vigor em 1986.

A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos SE DIFERENCIA dos demais tratados “centrais” dos outros
sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos – como a CADH, a CEDH e os Pactos de 1966 –, e isso por pelo
menos 3 aspectos:

a) a atenção conferida às TRADIÇÕES HISTÓRICAS e aos “DIREITOS DOS POVOS”, adotando, então, uma PERSPECTIVA
COLETIVISTA;

b) a proteção não apenas de direitos civis e políticos, mas também de direitos econômicos, sociais e culturais (EM UM
MESMO TRATADO!), constando do seu preâmbulo que “[convencidos de que] os direitos civis e políticos são indissociáveis dos
direitos econômicos, sociais e culturais, tanto na sua concepção como na sua universalidade, e que a satisfação dos direitos
econômicos, sociais e culturais garante o gozo dos direitos civis e políticos”; e

c) prevê não apenas direitos, mas também DEVERES.

Além da Carta Africana do Direitos Humanos e dos Povos, o sistema africano de proteção dos direitos humanos
também se compõe de outros documentos, tais como:
a) Convenção da União Africana sobre a Proteção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente na África (2009);
b) do Protocolo à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre os Direitos das Mulheres na África (2003);
c) do Protocolo à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre o Estabelecimento do Tribunal Africano dos Direitos
Humanos e dos Povos (1998);
d) da Carta Africana dos Direitos e Bem-Estar da Criança (1990); e
e) da Convenção da União Africana que regula Aspectos Específicos dos Problemas dos Refugiados na África (1969).

O sistema africano de proteção dos direitos humanos conta com 2 órgãos de monitoramento, sendo eles a COMISSÃO
Africana dos Direitos Humanos e a CORTE Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.

A Comissão Africana foi criada pela Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos com competência para promover
os direitos humanos e assegurar sua respectiva proteção na África. A Comissão Africana, que tem sede em Gâmbia e está em
exercício desde 1987, é um órgão político ou quase-judicial, tal como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, tendo
ambas – a Comissão Africana e a CIDH – competências muito parecidas: relatorias temáticas, estudos e pesquisas, relatórios dos
Estados, petições individuais e interestatais etc.

No que diz respeito à Corte Africana, diferentemente da CEDH e da CADH, a Carta Africana não estabeleceu
inicialmente uma Corte Africana, mas apenas a Comissão Africana. A Corte Africana veio a ser criada somente em 1998, por
meio de um Protocolo à Carta Africana, adotado em Addis Abeba, na Etiópia. Este Protocolo entrou em vigor somente em
janeiro de 2004, com o depósito do 15º instrumento de ratificação. Em 2006, a Assembleia dos Estados da União Africana
elegeu os juízes da Corte Africana. A Corte é sediada na Tanzânia, em Arusha.

Ainda sobre a Corte Africana, ela é composta por 11 membros e possui competências contenciosa e consultiva.
Quanto à competência contenciosa, a Corte Africana pode decidir sobre casos submetidos pela Comissão Africana, por Estados
ou por organizações intergovernamentais (LEGITIMADOS ATIVOS). Indivíduos e ONGs podem submeter denúncias
diretamente à Corte Africana, sem passar pela Comissão, se houver declaração do Estado nesse sentido.

@dicasexconcurseira 107
O órgão responsável pelo monitoramento da execução das sentenças da Corte Africana pelos Estados é o Conselho de
Ministros da União Africana.

2. Proteção dos direitos humanos na Ásia e nos países árabes

Conforme vimos na aula 4, são requisitos para a existência de um sistema internacional de proteção dos direitos
humanos:
a) as normas;
b) os mecanismos de proteção; e
c) os órgãos de monitoramento.

Por faltar um ou mais destes requisitos, não há um sistema internacional de proteção dos direitos humanos na Ásia e
nos países árabes, mas apenas iniciativas e discursos que tentam caminhar para a institucionalização de um sistema
internacional.

O argumento que mais prejudica e criação e o funcionamento de um sistema internacional nestas regiões é certamente
a contestação da universalidade dos direitos humanos mediante a afirmação de que o conceito de direitos humanos contido na
Declaração Universal seria um conceito “ocidental”, oposto às perspectivas asiática e árabe de direitos humanos (ideia
denominada de relativismo cultural).

No que diz respeito ao continente asiático, podemos destacar a proposta de criação de um sistema regional asiático
inserida na Carta Asiática de Direitos Humanos, de 1997, adotada sob a forma de uma declaração feita por diversas ONGs. Esta
Carta ressalta os princípios da universalidade e da indivisibilidade dos direitos humanos, bem como o direito à democracia e à
paz.
Importante mencionar, ainda, a criação, em 2008, da Associação de Nações do Sudeste Asiático, que em 2009 instituiu
uma Comissão Intergovernamental sobre Direitos Humanos com diversos objetivos ligados à proteção dos direitos humanos.
Em 2012, a Associação de Nações do Sudeste Asiático adotou uma Declaração de Direitos Humanos, que foi elaborada
pela Comissão Intergovernamental. Ainda existem outras normas de natureza soft law como a Declaração sobre Fortalecimento
da Proteção Social (2013) e a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher e a Eliminação contra a Criança (2015).
Finalmente, no contexto árabe, destaca-se a criação, em 1945, da Liga dos Estados Árabes, uma organização
internacional. Em 1968, a Liga instituiu a Comissão Árabe Permanente de Direitos Humanos, com competências semelhantes às
da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, embora não possua a função quase-judicial de receber e analisar petições
individuais e interestatais.
Em 1981, foi adotada a Declaração Universal Islâmica dos Direitos Humanos.
Em 1994, os Estados da Liga adotaram a Carta Árabe de Direitos Humanos, que foi revisada em 2004. A Carta Árabe
criou o Comitê Especialista sobre Direitos Humanos para monitorar a sua implementação. Esse Comitê, que depois veio a ser
chamado de Comitê Árabe de Direitos Humanos, foi estabelecido em 2009, sendo composto por especialistas independentes – e
não representantes dos Estados –, com competência para analisar relatórios dos Estados-Partes. A Carta Árabe não estabeleceu
uma Corte Árabe de Direitos Humanos.

QUESTÕES

1. Pode-se dizer que há, atualmente, um sistema internacional de proteção dos direitos humanos no continente asiático.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos protege tanto direitos civis e políticos quanto direitos econômicos, sociais
e culturais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO

@dicasexconcurseira 108
Aula 21
Tribunal Penal Internacional (TPI)

1. Uma breve introdução ao Direito Internacional Penal

Como resultado de um longo processo construído a partir de bases costumeiras, lições doutrinárias e tratados esparsos
chegou-se ao que se convencionou denominar de Direito Internacional Penal, um ramo do Direito Internacional Público que
tem como objetivos:
a) estabelecer os crimes internacionais;
b) impor aos Estados a obrigação de punir os autores destes crimes; e
c) criar a jurisdição penal internacional para atuar diante da EVENTUAL INEFICIÊNCIA DA JURISDIÇÃO PENAL INTERNA.

Assim, o Direito Internacional Penal, segundo o entendimento majoritário, diferencia-se do Direito Penal Internacional,
já que este tem como objeto a) a aplicação da lei penal no espaço, b) a cooperação penal internacional e c) a eficácia da
sentença penal estrangeira. Alguns temas, em razão da sua dupla normatização – na lei interna e nos tratados internacionais –,
como a extradição por exemplo, são objeto tanto do Direito Internacional Penal quanto do Direito Penal Internacional.

O Direito Internacional Penal, diferentemente do Direito Internacional dos Direitos Humanos – que trata da
responsabilidade internacional dos Estados –, baseia-se na RESPONSABILIDADE PENAL INTERNACIONAL DOS INDIVÍDUOS e
traz consigo a SUPERAÇÃO DE DOIS DOGMAS:
a) o abandono do mito do monopólio das jurisdições nacionais em matéria penal; e
b) o rompimento da barreira de que apenas os Estados é que poderiam ser responsabilizados na arena internacional.

A ideia que fundamenta e alimenta o Direito Internacional Penal é a de que certos crimes, em razão da sua gravidade,
constituem uma ameaça à paz, à segurança e ao bem-estar da humanidade, afetando a comunidade internacional no seu
conjunto, de modo que, conforme consta no preâmbulo do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI), não devem
ficar impunes e a sua repressão deve ser efetivamente assegurada através da adoção de medidas em nível nacional e do reforço
da cooperação internacional.

Atualmente, o Direito Internacional Penal encontra no TPI o seu órgão de monitoramento.

2. Antecedentes históricos do TPI

Vejamos quais foram os antecedentes históricos do TPI:

a) Tratado de Versailles (1919): tratado de paz que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial. O art. 227 do Tratado
previa a criação de um “tribunal especial”, composto por juízes das potências vencedoras, para julgar o Kaiser (Imperador)
Guilherme da Alemanha vencida. Como o Kaiser Guilherme havia obtido asilo na Holanda, por não ter sido extraditado, acabou
não sendo julgado. Ainda assim, encontra-se no art. 227 e seguintes do Tratado de Versailles o embrião do moderno Direito
Internacional Penal, que permite a responsabilização do indivíduo por crimes graves, superando a ideia de blindagem absoluta
da proteção estatal (até então, o julgamento penal de indivíduos era de atribuição exclusiva dos Estados).

b) Tribunal Internacional Militar de Nuremberg (1945 – Tribunal de Nuremberg): estabelecimento do 1º tribunal internacional
com competência penal, tendo como partes originais as potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial (Reino Unido, EUA,
União Soviética e França) e mais 19 Estados aderentes. Com sede em Berlim, tinha competência para julgar crimes contra a paz,
crimes de guerra e crimes contra a humanidade praticados por oficiais do regime nazista.

c) Tribunal Militar Internacional para o Extremo-Oriente (1946 – Tribunal de Tóquio): estabelecimento do 2º tribunal
internacional com competência penal, criado por ato unilateral dos EUA, com competência para julgar integrantes do núcleo
militar e civil do governo japonês por crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

d) Princípios de Nuremberg (ONU, 1946): no final de 1946, a Assembleia-Geral da ONU consagrou os princípios de Direito
Internacional acolhidos pelos Estatutos dos Tribunais de Nuremberg e Tóquio, ficando conhecidos como Princípios de
Nuremberg, sendo eles os seguintes:
1) todo aquele que comete ato que consiste em crime internacional é passível de punição;
2) lei nacional que não considera o ato crime é irrelevante;
3) as imunidades locais são irrelevantes;
4) a obediência às ordens superiores não são eximentes;
5) todos os acusados têm direito ao devido processo legal;
6) são crimes internacionais os julgados em Nuremberg; e
7) conluio para cometer tais atos é crime.
@dicasexconcurseira 109
e) Convenção para a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio (1948): a ONU passou a codificar normas de direito
internacional penal e de direito humanitário, sendo exemplos a Convenção para a Prevenção e a Punição do Crime de
Genocídio, de 1948, e as quatro convenções de Genebra, de 1949.

f ) Resoluções nº 827/1993 e 955/1994 do Conselho de Segurança da ONU criando, respectivamente, o TPI para os crimes
contra o Direito Humanitário cometidos na ex-Iugoslávia e o TPI para os crimes ocorridos em Ruanda: o primeiro com sede em
Haia, na Holanda, e o segundo com sede em Arusha, na Tanzânia, tendo ambos contribuído para a consolidação normativa e
para a criação jurisprudencial do Direito Internacional Penal.

g) Adoção do Estatuto do TPI (1998, em Roma): foi criado o TPI, uma instituição PERMANENTE e INDEPENDENTE (NÃO é parte
da estrutura da ONU, mas mantém com ela uma relação de cooperação).

A partir deste itinerário histórico, a doutrina passou a indicar algumas gerações de tribunais penais internacionais,
sendo elas as seguintes: à JÁ CAIU EM PROVA (PROVA ORAL DO MPF!)

1ª geração (tribunais precursores, com natureza militar): Tribunal de Nuremberg e Tribunal de Tóquio.

2ª geração (tribunais criados pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas): TPI para a Ex- Iugoslávia e TPI para Ruanda.

3ª geração (tribunal permanente): o TPI, conforme o Estatuto de Roma.

4ª geração (tribunais penais internacionalizados ou híbridos): tribunais internacionais híbridos são aqueles cuja formação é
solicitada pelo governo do Estado onde os crimes foram cometidos. Cite-se como exemplo – dentre outros que existiram – o
Tribunal Especial para Serra Leoa, que foi criado após a realização de um acordo entre o governo local e a ONU. Nestes tribunais,
há juízes do Estado requerente e também juízes internacionais, aplicando-se tanto o direito interno quanto o direito
internacional, daí decorrendo a sua natureza híbrida.

3. Estrutura e funcionamento do TPI

De acordo com o ER (Estatuto de Roma), o TPI se organiza a partir de 3 órgãos, sendo eles a Assembleia dos Estados
Partes, o Tribunal Penal Internacional propriamente dito e o Fundo Fiduciário para Vítimas. Além disso, ainda integram a
estrutura do TPI, embora sejam independentes, o Gabinete do Procurador e o Gabinete do Conselho Público de Defesa.
Vejamos nos próximos tópicos as informações mais relevantes sobre estes órgãos.

Órgão normativo e de supervisão da


ASSEMBLEIA DOS ESTADOS PARTES (AEP)
administração do TPI

TRIBUNAL PENAL Composto pela:


INTERNACIONAL TPI PROPRIAMENTE DITO - PRESIDÊNCIA
(TPI) - 3 Divisões Judiciais: seção de
instrução; seção de julgamento em
1ª instância e seção de recurso.
- Gabinete do Procurador (é o MP
perante o TPI)
- Secretaria

FUNDO FIDUCIÁRIO PARA VÍTIMAS


Finalidades:
i. implementar reparações
ordenadas pelo TPI; e
ii. fornecer apoio físico, psicológico e
material às vítimas e suas famílias

4.1. Assembleia dos Estados Partes à OBS: o prof.Caio Paiva, em aula, não explicou os pontos 4.1 a 4.3 deste material. Afirmou
que é um assunto que não tem muita pertinência para as provas de concurso. Os concursos cobram assuntos mais gerais do TPI.

A Assembleia dos Estados Partes (AEP) é o órgão legislativo e de supervisão da administração do TPI, sendo composta
por representantes dos Estados que ratificaram o ER. A AEP se reúne na sede do TPI em Haia ou na sede das Nações Unidas em
Nova York uma vez por ano e, quando as circunstâncias o exigirem, poderá realizar sessões especiais.

@dicasexconcurseira 110
Cada Estado-Parte do ER tem um representante na AEP, que pode ser acompanhado por substitutos e assessores (art.
112.1). O ER prevê que cada Estado-Parte tem direito a um voto, embora devam ser envidados todos os esforços para chegar a
decisões por consenso (art. 112.7). O Presidente do TPI, o Procurador e o Secretário ou os seus respectivos representantes
poderão participar, sempre que julguem oportuno, nas reuniões da Assembleia e da Mesa (art. 112.5).
A AEP possui competências de natureza administrativa e normativa.
Quanto à primeira, de acordo com o art. 112 do ER, a Assembleia está encarregada de fornecer supervisão
administrativa à Presidência, ao Procurador e ao Secretário sobre a administração do Tribunal. A AEP também é encarregada da
eleição e da destituição, entre outros, dos juízes, do Procurador e dos Promotores adjuntos. Em suas sessões anuais, a
Assembleia ainda considera uma série de questões, incluindo o orçamento do Tribunal, o status das contribuições e os relatórios
de autoria.
No que diz respeito à competência normativa, a AEP adota as Regras de Procedimento e Prova (art. 51) e os Elementos
do Crime (art. 9º), além de ser o órgão responsável por analisar e implementar alterações no ER (art. 121).

A disciplina específica sobre a AEP consta no art. 112 do ER:

Artigo 112
Assembleia dos Estados Partes
1. É constituída, pelo presente instrumento, uma Assembleia dos Estados Partes. Cada um dos Estados Partes nela disporá de um
representante, que poderá ser coadjuvado por substitutos e assessores. Outros Estados signatários do Estatuto ou da Ata Final
poderão participar nos trabalhos da Assembleia na qualidade de observadores.
2. A Assembleia:
a) Examinará e adotará, se adequado, as recomendações da Comissão Preparatória;
b) Promoverá junto à Presidência, ao Procurador e ao Secretário as linhas orientadoras gerais no que toca à administração do
Tribunal;
c) Examinará os relatórios e as atividades da Mesa estabelecido nos termos do parágrafo 3° e tomará as medidas apropriadas;
d) Examinará e aprovará o orçamento do Tribunal;
e) Decidirá, se for caso disso, alterar o número de juízes nos termos do artigo 36;
f) Examinará, em harmonia com os parágrafos 5 e 7 do artigo 87, qualquer questão relativa à não cooperação dos Estados;
g) Desempenhará qualquer outra função compatível com as disposições do presente Estatuto ou do Regulamento Processual;
3. a) A Assembleia será dotada de uma Mesa composta por um presidente, dois vice-presidentes e 18 membros por ela eleitos
por períodos de três anos;
b) A Mesa terá um caráter representativo, atendendo nomeadamente ao princípio da distribuição geográfica equitativa e à
necessidade de assegurar uma representação adequada dos principais sistemas jurídicos do mundo;
c) A Mesa reunir-se-á as vezes que forem necessárias, mas, pelo menos, uma vez por ano. Assistirá a Assembleia no desempenho
das suas funções.
4. A Assembleia poderá criar outros órgãos subsidiários que julgue necessários, nomeadamente um mecanismo de controle
independente que proceda a inspeções, avaliações e inquéritos em ordem a melhorar a eficiência e economia da administração
do Tribunal.
5. O Presidente do Tribunal, o Procurador e o Secretário ou os respectivos representantes poderão participar, sempre que
julguem oportuno, nas reuniões da Assembleia e da Mesa.
6. A Assembleia reunir-se-á na sede do Tribunal ou na sede da Organização das Nações Unidas uma vez por ano e, sempre que as
circunstâncias o exigirem, reunir-se-á em sessão extraordinária. A menos que o presente Estatuto estabeleça em contrário, as
sessões extraordinárias são convocadas pela Mesa, de ofício ou a pedido de um terço dos Estados Partes.
7. Cada um dos Estados Partes disporá de um voto. Todos os esforços deverão ser envidados para que as decisões da Assembleia
e da Mesa sejam adotadas por consenso. Se tal não for possível, e a menos que o Estatuto estabeleça em contrário:
a) As decisões sobre as questões de fundo serão tomadas por maioria de dois terços dos membros presentes e votantes, sob a
condição que a maioria absoluta dos Estados Partes constitua quórum para o escrutínio;
b) As decisões sobre as questões de procedimento serão tomadas por maioria simples dos Estados Partes presentes e votantes.
8. O Estado Parte em atraso no pagamento da sua contribuição financeira para as despesas do Tribunal não poderá votar nem
na Assembleia nem na Mesa se o total das suas contribuições em atraso igualar ou exceder a soma das contribuições
correspondentes aos dois anos anteriores completos por ele devidos. A Assembleia Geral poderá, no entanto, autorizar o Estado
em causa a votar na Assembleia ou na Mesa se ficar provado que a falta de pagamento é devida a circunstâncias alheias ao
controle do Estado Parte.
9. A Assembleia adotará o seu próprio Regimento.
10. As línguas oficiais e de trabalho da Assembleia dos Estados Partes serão as línguas oficiais e de trabalho da Assembleia Geral
da Organização das Nações Unidas”.

@dicasexconcurseira 111
Imagem de sessão da Assembleia dos Estados Partes do Estatuto de Roma.

4.2. Estrutura orgânica do Tribunal Penal Internacional propriamente dito

De acordo com o art. 34 do ER, o TPI é composto pelos seguintes órgãos:


a) A Presidência;
b) Três Divisões Judiciais, sendo uma Seção de Instrução, uma Seção de Julgamento em Primeira Instância e uma Seção de
Recursos;
c) O Gabinete do Procurador; e
d) A Secretaria.

4.2.1. A Presidência

A Presidência é um dos quatro órgãos do Tribunal. É composto pelo Presidente e pelo Primeiro e Segundo Vice-
Presidentes, todos eleitos pela maioria absoluta dos juízes do Tribunal por um período de três anos ou até o término do seu
mandato como juiz, conforme o que expirar em primeiro lugar, podendo ser reeleitos uma única vez (ER, art. 38.1).

A Presidência tem três áreas principais de responsabilidade: a) funções judiciais, b) administração e c) relações
externas. No exercício de suas funções judiciais, a Presidência constitui e atribui casos às Câmaras, realiza a revisão judicial de
determinadas decisões do Secretário e conclui acordos de cooperação com os Estados. Com a exceção do Gabinete do
Procurador, a Presidência é responsável pela boa administração do Tribunal. Entre as responsabilidades da Presidência no
domínio das relações externas está a manutenção de relações com os Estados e outras entidades e a promoção da
conscientização e compreensão pública do TPI.

4.2.2. Divisões Judiciais

O TPI possui três Divisões Judiciais, que trabalham em diferentes fases do processo: instrução ou investigação (ou,
ainda, pré-julgamento), julgamento e recursos. O ER trata da composição das Divisões Judiciais em seu art. 39:

Artigo 39
Juízos
1. Após a eleição dos juízes e logo que possível, o Tribunal deverá organizar-se nas seções referidas no artigo 34 b). A Seção de
Recursos será composta pelo Presidente e quatro juízes, a Seção de Julgamento em Primeira Instância por, pelo menos, seis
juízes e a Seção de Instrução por, pelo menos, seis juízes. Os juízes serão adstritos às Seções de acordo com a natureza das
funções que corresponderem a cada um e com as respectivas qualificações e experiência, por forma a que cada Seção disponha
de um conjunto adequado de especialistas em direito penal e processual penal e em direito internacional. A Seção de Julgamento
em Primeira Instância e a Seção de Instrução serão predominantemente compostas por juízes com experiência em processo
penal.
2. a) As funções judiciais do Tribunal serão desempenhadas em cada Seção pelos juízos. b) i) O Juízo de Recursos será composto
por todos os juízes da Seção de Recursos;
ii) As funções do Juízo de Julgamento em Primeira Instância serão desempenhadas por três juízes da Seção de Julgamento em
Primeira Instância;

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iii) As funções do Juízo de Instrução serão desempenhadas por três juízes da Seção de Instrução ou por um só juiz da referida
Seção, em conformidade com o presente Estatuto e com o Regulamento Processual;
c) Nada no presente número obstará a que se constituam simultaneamente mais de um Juízo de Julgamento em Primeira
Instância ou Juízo de Instrução, sempre que a gestão eficiente do trabalho do Tribunal assim o exigir.
3. a) Os juízes adstritos às Seções de Julgamento em Primeira Instância e de Instrução desempenharão o cargo nessas Seções por
um período de três anos ou, decorrido esse período, até à conclusão dos casos que lhes tenham sido cometidos pela respectiva
Seção;
b) Os juízes adstritos à Seção de Recursos desempenharão o cargo nessa Seção durante todo o seu mandato.
4. Os juízes adstritos à Seção de Recursos desempenharão o cargo unicamente nessa Seção. Nada no presente artigo obstará a
que sejam adstritos temporariamente juízes da Seção de Julgamento em Primeira Instância à Seção de Instrução, ou
inversamente, se a Presidência entender que a gestão eficiente do trabalho do Tribunal assim o exige; porém, o juiz que tenha
participado na fase instrutória não poderá, em caso algum, fazer parte do Juízo de Julgamento em Primeira Instância
encarregado do caso.

Conforme consta nas informações encontradas no site do TPI, são competências dos juízes de instrução ou de pré-
julgamento:
a) decidir se há evidências suficientes para que um caso seja julgado e, em caso afirmativo, confirmar as acusações e submeter o
caso a julgamento;
b) emitir mandados de prisão ou intimações para apelar;
c) preservar evidências, proteger suspeitos e informações que afetam a segurança nacional;
d) garantir os direitos de todas as pessoas durante a fase de investigação, incluindo suspeitos, vítimas e testemunhas;
e) conceder medidas de proteção às vítimas e testemunhas;
f) nomear advogado ou outro suporte para a defesa;
g) garantir que uma pessoa não seja detida por um período não razoável antes do julgamento devido a atrasos indesculpáveis do
Procurador e decidir sobre os pedidos de liberdade provisória nesta fase;
h) autorizar o Procurador a abrir investigação de ofício ou continuar uma investigação quando um Estado solicitar que o Tribunal
adie as investigações, ou tomar medidas em uma investigação sem cooperação estatal;
i) rever a decisão do Procurador de não investigar; e i) decidir sobre uma contestação à jurisdição ou à admissibilidade de um
caso.

Ainda de acordo com informações colhidas no site do TPI, são competências dos juízes de julgamento:
a) realizar julgamentos justos;
b) decidir se há evidências suficientes para provar, além de uma dúvida razoável, que o acusado é culpado;
c) julgar e pronunciar publicamente a sentença; e
d) proceder com a reparação às vítimas, incluindo restituição, compensação e reabilitação.

Finalmente, são competências dos juízes de recurso:


a) julgar os recursos apresentados pelas partes;
b) confirmar, reverter ou alterar uma decisão sobre culpa ou inocência ou sobre a sentença e, se necessário, ordenar um novo
julgamento perante uma Câmara de Julgamento diferente;
c) assegurar que a condenação não foi materialmente afetada por erros ou por injustiça do processo;
d) garantir que as penas impostas na sentença sejam proporcionais aos crimes;
e) confirmar, reverter ou alterar um pedido de reparações;
f) revisar o julgamento final da condenação quando, por exemplo, novas evidências forem encontradas posteriormente; e
g) julgar apelações sobre os mais diversos temas.

4.2.3. Gabinete do Procurador

O Gabinete do Procurador (GdP) é um órgão independente do TPI, responsável por examinar situações sob a jurisdição
do Tribunal onde o genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e agressão parecem ter sido cometidos, e realizar
investigações e mover processos contra os indivíduos que são supostamente responsáveis por esses crimes. Pela primeira vez na
história, um procurador internacional recebeu o mandato, por um número cada vez maior de Estados, de selecionar e isolar,
independentemente, situações de investigação em que crimes são cometidos em seus territórios ou por seus nacionais.

Assim como os juízes do TPI, o Procurador e o Procurador Adjunto são eleitos pela Assembleia dos Estados Partes para
um mandado não renovável de nove anos.

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O GdP é composto por três divisões principais:
a) a Divisão de Jurisdição, Complementaridade e Cooperação, responsável por realizar exames preliminares, prestar assessoria
em questões de jurisdição, admissibilidade e cooperação, coordenando, ainda, a cooperação judiciária e as relações externas do
Gabinete;
b) a Divisão de Investigação, encarregada de fornecer perícia e apoio de investigação, coordenando o desdobramento de campo
do pessoal e planos de segurança e políticas de proteção, fornecendo, ainda, análise de crime, de informações e de evidências; e
c) a Divisão de Promotoria, que prepara as estratégias de litígio e conduz os processos, inclusive por meio de apresentações
escritas e orais aos juízes.

As principais disposições sobre o GdP estão no art. 42 do ER:

Artigo 42
O Gabinete do Procurador
1. O Gabinete do Procurador atuará de forma independente, enquanto órgão autônomo do Tribunal. Competir-lhe-á recolher
comunicações e qualquer outro tipo de informação, devidamente fundamentada, sobre crimes da competência do Tribunal, a fim
de os examinar e investigar e de exercer a ação penal junto ao Tribunal. Os membros do Gabinete do Procurador não solicitarão
nem cumprirão ordens de fontes externas ao Tribunal.
2. O Gabinete do Procurador será presidido pelo Procurador, que terá plena autoridade para dirigir e administrar o Gabinete do
Procurador, incluindo o pessoal, as instalações e outros recursos. O Procurador será coadjuvado por um ou mais Procuradores-
Adjuntos, que poderão desempenhar qualquer uma das funções que incumbam àquele, em conformidade com o disposto no
presente Estatuto. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos terão nacionalidades diferentes e desempenharão o respectivo
cargo em regime de exclusividade.
3. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos deverão ter elevada idoneidade moral, elevado nível de competência e vasta
experiência prática em matéria de processo penal. Deverão possuir um excelente conhecimento e serem fluentes em, pelo
menos, uma das línguas de trabalho do Tribunal.
4. O Procurador será eleito por escrutínio secreto e por maioria absoluta de votos dos membros da Assembleia dos Estados
Partes. Os Procuradores-Adjuntos serão eleitos da mesma forma, de entre uma lista de candidatos apresentada pelo Procurador.
O Procurador proporá três candidatos para cada cargo de Procurador-Adjunto a prover. A menos que, ao tempo da eleição, seja
fixado um período mais curto, o Procurador e os Procuradores-Adjuntos exercerão os respectivos cargos por um período de nove
anos e não poderão ser reeleitos.
5. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos não deverão desenvolver qualquer atividade que possa interferir com o exercício das
suas funções ou afetar a confiança na sua independência e não poderão desempenhar qualquer outra função de caráter
profissional.
6. A Presidência poderá, a pedido do Procurador ou de um Procurador-Adjunto, escusá-lo de intervir num determinado caso.
7. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos não poderão participar em qualquer processo em que, por qualquer motivo, a sua
imparcialidade possa ser posta em causa. Serão recusados, em conformidade com o disposto no presente número, entre outras
razões, se tiverem intervindo anteriormente, a qualquer título, num caso submetido ao Tribunal ou num procedimento crime
conexo em nível nacional, que envolva a pessoa objeto de inquérito ou procedimento criminal.
8. As questões relativas à recusa do Procurador ou de um Procurador-Adjunto serão decididas pelo Juízo de Recursos.
a) A pessoa objeto de inquérito ou procedimento criminal poderá solicitar, a todo o momento, a recusa do Procurador ou de um
Procurador-Adjunto, pelos motivos previstos no presente artigo;
b) O Procurador ou o Procurador-Adjunto, segundo o caso, poderão pronunciar-se sobre a questão.
9. O Procurador nomeará assessores jurídicos especializados em determinadas áreas incluindo, entre outras, as da violência
sexual ou violência por motivos relacionados com a pertença a um determinado gênero e da violência contra as crianças.

4.2.4. A Secretaria

A Secretaria está disciplinada no art. 43 do ER: Artigo 43

A Secretaria
1. A Secretaria será responsável pelos aspectos não judiciais da administração e do funcionamento do Tribunal, sem prejuízo das
funções e atribuições do Procurador definidas no artigo 42.
2. A Secretaria será dirigida pelo Secretário, principal responsável administrativo do Tribunal. O Secretário exercerá as suas
funções na dependência do Presidente do Tribunal.
3. O Secretário e o Secretário-Adjunto deverão ser pessoas de elevada idoneidade moral e possuir um elevado nível de
competência e um excelente conhecimento e domínio de, pelo menos, uma das línguas de trabalho do Tribunal.
4. Os juízes elegerão o Secretário em escrutínio secreto, por maioria absoluta, tendo em consideração as recomendações da
Assembleia dos Estados Partes. Se necessário, elegerão um Secretário-Adjunto, por recomendação do Secretário e pela mesma
forma.

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5. O Secretário será eleito por um período de cinco anos para exercer funções em regime de exclusividade e só poderá ser reeleito
uma vez. O Secretário-Adjunto será eleito por um período de cinco anos, ou por um período mais curto se assim o decidirem os
juízes por deliberação tomada por maioria absoluta, e exercerá as suas funções de acordo com as exigências de serviço.
6. O Secretário criará, no âmbito da Secretaria, uma Unidade de Apoio às Vítimas e Testemunhas. Esta Unidade, em conjunto
com o Gabinete do Procurador, adotará medidas de proteção e dispositivos de segurança e prestará assessoria e outro tipo de
assistência às testemunhas e vítimas que compareçam perante o Tribunal e a outras pessoas ameaçadas em virtude do
testemunho prestado por aquelas. A Unidade incluirá pessoal especializado para atender as vítimas de traumas, nomeadamente
os relacionados com crimes de violência sexual.

4.3. Fundo Fiduciário para Vítimas

Embora o Fundo Fiduciário para Vítimas (FFV) seja separado do TPI, ele foi criado em 2004 pela Assembleia dos Estados
Partes, de acordo com o art. 79.1 do ER: “Por decisão da Assembleia dos Estados Partes, será criado um Fundo a favor das
vítimas de crimes da competência do Tribunal, bem como das respectivas famílias”.

A missão do Fundo é apoiar e implementar programas que tratem de danos resultantes de genocídio, crimes contra a
humanidade, crimes de guerra e de agressão. Para alcançar essa missão, o FFV tem um mandato duplo:
a) implementar reparações ordenadas pelo TPI; e
b) fornecer apoio físico, psicológico e material às vítimas e suas famílias.

Ao ajudar as vítimas a retornarem a uma vida digna e contributiva dentro de suas comunidades, o FFV contribui para a
realização de uma paz sustentável e duradoura, promovendo a justiça restaurativa e a reconciliação.

5. Composição, candidatura e eleição dos juízes

De acordo com o ER, o TPI é composto por 18 juízes (art. 36.1), NÃO podendo ter mais de um juiz nacional do mesmo
Estado-Parte (art. 36.7).
Na seleção dos juízes, os Estados-Partes devem ponderar sobre a necessidade de assegurar que a composição do
Tribunal inclua:
a) a representação dos principais sistemas jurídicos do mundo;
b) uma representação geográfica equitativa; e
c) uma representação justa de juízes do sexo feminino e do sexo masculino (art. 36.8.a).

Além disso, os Estados-Partes devem levar igualmente em consideração a necessidade de assegurar a presença de
juízes especializados em determinadas matérias, incluindo, entre outras, a violência contra mulheres e crianças (art. 36.8.b).
Vejamos na imagem a seguir a grandeza deste art. 36.8.a do ER, responsável por gerar uma composição do TPI (a atual)
como esta:

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Os candidatos a juízes do TPI devem possuir os seguintes requisitos (art. 36.4):
a) elevada idoneidade moral;
b) imparcialidade e integridade;
c) reconhecida competência em Direito Penal e Direito Processual Penal e a necessária experiência penais na qualidade de juiz,
procurador, advogado ou outra função semelhante, ou, ainda, reconhecida competência em matérias relevantes de Direito
Internacional, tais como o Direito Internacional Humanitário e os Direitos Humanos, assim como vasta experiência em profissões
jurídicas com relevância para a função judicial do Tribunal;
d) excelente conhecimento e serem fluentes em, pelo menos, uma das línguas de trabalho do Tribunal; e
e) reunirem as condições para o exercício das mais altas funções judiciais nos seus respectivos países.

O processo de eleição dos juízes do TPI funciona basicamente da seguinte forma (ER, art. 36.4 e seguintes):
a) os Estados-Partes do ER, querendo, apresentam seus candidatos, que devem ser seus nacionais ou de outros Estados-Partes;
b) são estabelecidas duas listas com os nomes dos candidatos, separando-os entre as especialidades Direito Penal e Direito
Processual Penal de um lado e, do outro, matérias relevantes para o Direito Internacional, assegurando-se uma proporção
equivalente na composição do Tribunal;
c) os juízes são eleitos por votação secreta em sessão da Assembleia dos Estados Partes.

Uma brasileira já integrou o TPI como juíza: Silvia Steiner.

Os juízes do TPI são eleitos para um mandato NÃO renovável de 9 anos (art. 36.9.a). No entanto, de acordo com o art.
38.10 do ER, um juiz afeto a um Juízo de Julgamento em Primeira Instância ou de Recurso permanecerá no exercício de suas
funções até a conclusão do julgamento ou do recurso dos casos que tiver a seu cargo.

5. Crimes de competência do TPI à ASSUNTO QUE CAI MUITO EM PROVA DE CONCURSO!

O ER estabelece que a competência do TPI se restringe aos CRIMES MAIS GRAVES, que afetam a comunidade
internacional no seu conjunto, sendo eles os CRIMES DE GENOCÍDIO, CONTRA A HUMANIDADE, DE GUERRA e DE AGRESSÃO
(art. 5.1). Vejamos o que dispõe o ER sobre os crimes de genocídio, contra a humanidade e de guerra:

Artigo 6º
Crime de Genocídio
Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por “genocídio”, qualquer um dos atos que a seguir se enumeram, praticado
com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal:
a) Homicídio de membros do grupo;
b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição física, total ou parcial;
d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo;
e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.

Artigo 7º
Crimes contra a Humanidade
1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por “crime contra a humanidade”, qualquer um dos atos seguintes, quando
cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento
desse ataque:
a) Homicídio;
b) Extermínio;
c) Escravidão;
d) Deportação ou transferência forçada de uma população;
e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional;
f) Tortura;
g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de
violência no campo sexual de gravidade comparável;
h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais,
religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3º, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como
inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da
competência do Tribunal;
i) Desaparecimento forçado de pessoas;
j) Crime de apartheid;
k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a
integridade física ou a saúde física ou mental.
2. Para efeitos do parágrafo 1º:
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a) Por “ataque contra uma população civil” entende-se qualquer conduta que envolva a prática múltipla de atos referidos no
parágrafo 1º contra uma população civil, de acordo com a política de um Estado ou de uma organização de praticar esses atos
ou tendo em vista a prossecução dessa política;
b) O “extermínio” compreende a sujeição intencional a condições de vida, tais como a privação do acesso a alimentos ou
medicamentos, com vista a causar a destruição de uma parte da população;
c) Por “escravidão” entende-se o exercício, relativamente a uma pessoa, de um poder ou de um conjunto de poderes que
traduzam um direito de propriedade sobre uma pessoa, incluindo o exercício desse poder no âmbito do tráfico de pessoas, em
particular mulheres e crianças;
d) Por “deportação ou transferência à força de uma população” entende-se o deslocamento forçado de pessoas, através da
expulsão ou outro ato coercivo, da zona em que se encontram legalmente, sem qualquer motivo reconhecido no direito
internacional;
e) Por “tortura” entende-se o ato por meio do qual uma dor ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são intencionalmente
causados a uma pessoa que esteja sob a custódia ou o controle do acusado; este termo não compreende a dor ou os sofrimentos
resultantes unicamente de sanções legais, inerentes a essas sanções ou por elas ocasionadas;
f) Por “gravidez à força” entende-se a privação ilegal de liberdade de uma mulher que foi engravidada à força, com o propósito
de alterar a composição étnica de uma população ou de cometer outras violações graves do direito internacional. Esta definição
não pode, de modo algum, ser interpretada como afetando as disposições de direito interno relativas à gravidez;
g) Por “perseguição’’ entende-se a privação intencional e grave de direitos fundamentais em violação do direito internacional,
por motivos relacionados com a identidade do grupo ou da coletividade em causa;
h) Por “crime de apartheid” entende-se qualquer ato desumano análogo aos referidos no parágrafo 1°, praticado no contexto
de um regime institucionalizado de opressão e domínio sistemático de um grupo racial sobre um ou outros grupos nacionais e
com a intenção de manter esse regime;
i) Por “desaparecimento forçado de pessoas” entende-se a detenção, a prisão ou o seqüestro de pessoas por um Estado ou uma
organização política ou com a autorização, o apoio ou a concordância destes, seguidos de recusa a reconhecer tal estado de
privação de liberdade ou a prestar qualquer informação sobre a situação ou localização dessas pessoas, com o propósito de
lhes negar a proteção da lei por um prolongado período de tempo.
3. Para efeitos do presente Estatuto, entende-se que o termo “gênero” abrange os sexos masculino e feminino, dentro do
contexto da sociedade, não lhe devendo ser atribuído qualquer outro significado.

Artigo 8º
Crimes de Guerra
1. O Tribunal terá competência para julgar os crimes de guerra, em particular quando cometidos como parte integrante de um
plano ou de uma política ou como parte de uma prática em larga escala desse tipo de crimes.
2. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por “crimes de guerra”:
a) As violações graves às Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a saber, qualquer um dos seguintes atos, dirigidos
contra pessoas ou bens protegidos nos termos da Convenção de Genebra que for pertinente:
i) Homicídio doloso;
ii) Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências biológicas;
iii) O ato de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves à integridade física ou à saúde;
iv) Destruição ou a apropriação de bens em larga escala, quando não justificadas por quaisquer necessidades militares e
executadas de forma ilegal e arbitrária;
v) O ato de compelir um prisioneiro de guerra ou outra pessoa sob proteção a servir nas forças armadas de uma potência
inimiga;
vi) Privação intencional de um prisioneiro de guerra ou de outra pessoa sob proteção do seu direito a um julgamento justo e
imparcial;
vii) Deportação ou transferência ilegais, ou a privação ilegal de liberdade;
viii) Tomada de reféns;
b) Outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos armados internacionais no âmbito do direito
internacional, a saber, qualquer um dos seguintes atos:
i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que não participem diretamente nas hostilidades;
ii) Dirigir intencionalmente ataques a bens civis, ou seja, bens que não sejam objetivos militares;
iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que participem numa missão de
manutenção da paz ou de assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que estes tenham direito
à proteção conferida aos civis ou aos bens civis pelo direito internacional aplicável aos conflitos armados;
iv) Lançar intencionalmente um ataque, sabendo que o mesmo causará perdas acidentais de vidas humanas ou ferimentos na
população civil, danos em bens de caráter civil ou prejuízos extensos, duradouros e graves no meio ambiente que se revelem
claramente excessivos em relação à vantagem militar global concreta e direta que se previa;
v) Atacar ou bombardear, por qualquer meio, cidades, vilarejos, habitações ou edifícios que não estejam defendidos e que não
sejam objetivos militares;
vi) Matar ou ferir um combatente que tenha deposto armas ou que, não tendo mais meios para se defender, se tenha
incondicionalmente rendido;
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vii) Utilizar indevidamente uma bandeira de trégua, a bandeira nacional, as insígnias militares ou o uniforme do inimigo ou das
Nações Unidas, assim como os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, causando deste modo a morte ou ferimentos
graves;
viii) A transferência, direta ou indireta, por uma potência ocupante de parte da sua população civil para o território que ocupa ou
a deportação ou transferência da totalidade ou de parte da população do território ocupado, dentro ou para fora desse
território;
ix) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou à
beneficência, monumentos históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de
objetivos militares;
x) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de uma parte beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de
experiências médicas ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospitalar, nem sejam
efetuadas no interesse dessas pessoas, e que causem a morte ou coloquem seriamente em perigo a sua saúde;
xi) Matar ou ferir à traição pessoas pertencentes à nação ou ao exército inimigo;
xii) Declarar que não será dado quartel;
xiii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que tais destruições ou apreensões sejam imperativamente determinadas
pelas necessidades da guerra;
xiv) Declarar abolidos, suspensos ou não admissíveis em tribunal os direitos e ações dos nacionais da parte inimiga;
xv) Obrigar os nacionais da parte inimiga a participar em operações bélicas dirigidas contra o seu próprio país, ainda que eles
tenham estado ao serviço daquela parte beligerante antes do início da guerra;
xvi) Saquear uma cidade ou uma localidade, mesmo quando tomada de assalto;
xvii) Utilizar veneno ou armas envenenadas;
xviii) Utilizar gases asfixiantes, tóxicos ou outros gases ou qualquer líquido, material ou dispositivo análogo;
xix) Utilizar balas que se expandem ou achatam facilmente no interior do corpo humano, tais como balas de revestimento duro
que não cobre totalmente o interior ou possui incisões;
xx) Utilizar armas, projéteis; materiais e métodos de combate que, pela sua própria natureza, causem ferimentos supérfluos ou
sofrimentos desnecessários ou que surtam efeitos indiscriminados, em violação do direito internacional aplicável aos conflitos
armados, na medida em que tais armas, projéteis, materiais e métodos de combate sejam objeto de uma proibição geral e
estejam incluídos em um anexo ao presente Estatuto, em virtude de uma alteração aprovada em conformidade com o disposto
nos artigos 121 e 123;
xxi) Ultrajar a dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos humilhantes e degradantes;
xxii) Cometer atos de violação, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez à força, tal como definida na alínea f) do
parágrafo 2º do artigo 7º, esterilização à força e qualquer outra forma de violência sexual que constitua também um desrespeito
grave às Convenções de Genebra;
xxiii) Utilizar a presença de civis ou de outras pessoas protegidas para evitar que determinados pontos, zonas ou forças militares
sejam alvo de operações militares;
xxiv) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e veículos sanitários, assim como o pessoal que esteja
usando os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, em conformidade com o direito internacional;
xxv) Provocar deliberadamente a inanição da população civil como método de guerra, privando-a dos bens indispensáveis à sua
sobrevivência, impedindo, inclusive, o envio de socorros, tal como previsto nas Convenções de Genebra;
xxvi) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou utilizá-los para participar ativamente nas
hostilidades;
c) Em caso de conflito armado que não seja de índole internacional, as violações graves do artigo 3º comum às quatro
Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949, a saber, qualquer um dos atos que a seguir se indicam, cometidos contra
pessoas que não participem diretamente nas hostilidades, incluindo os membros das forças armadas que tenham deposto armas
e os que tenham ficado impedidos de continuar a combater devido a doença, lesões, prisão ou qualquer outro motivo:
i) Atos de violência contra a vida e contra a pessoa, em particular o homicídio sob todas as suas formas, as mutilações, os
tratamentos cruéis e a tortura;
ii) Ultrajes à dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos humilhantes e degradantes;
iii) A tomada de reféns;
iv) As condenações proferidas e as execuções efetuadas sem julgamento prévio por um tribunal regularmente constituído e que
ofereça todas as garantias judiciais geralmente reconhecidas como indispensáveis.
d) A alínea c) do parágrafo 2º do presente artigo aplica-se aos conflitos armados que não tenham caráter internacional e, por
conseguinte, não se aplica a situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins, atos de violência esporádicos ou
isolados ou outros de caráter semelhante;
e) As outras violações graves das leis e costumes aplicáveis aos conflitos armados que não têm caráter internacional, no quadro
do direito internacional, a saber qualquer um dos seguintes atos:
i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que não participem diretamente nas hostilidades;
ii) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e veículos sanitários, bem como ao pessoal que esteja usando
os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, em conformidade com o direito internacional;

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iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que participem numa missão de
manutenção da paz ou de assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas, sempre que estes tenham direito
à proteção conferida pelo direito internacional dos conflitos armados aos civis e aos bens civis;
iv) Atacar intencionalmente edifícios consagrados ao culto religioso, à educação, às artes, às ciências ou à beneficência,
monumentos históricos, hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se trate de objetivos militares;
v) Saquear um aglomerado populacional ou um local, mesmo quando tomado de assalto;
vi) Cometer atos de agressão sexual, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez à força, tal como definida na alínea f do
parágrafo 2º do artigo 7º; esterilização à força ou qualquer outra forma de violência sexual que constitua uma violação grave do
artigo 3o comum às quatro Convenções de Genebra;
vii) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou em grupos, ou utilizá-los para participar ativamente
nas hostilidades;
viii) Ordenar a deslocação da população civil por razões relacionadas com o conflito, salvo se assim o exigirem a segurança dos
civis em questão ou razões militares imperiosas;
ix) Matar ou ferir à traição um combatente de uma parte beligerante;
x) Declarar que não será dado quartel;
xi) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de outra parte beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de
experiências médicas ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário ou hospitalar nem sejam
efetuadas no interesse dessa pessoa, e que causem a morte ou ponham seriamente a sua saúde em perigo;
xii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que as necessidades da guerra assim o exijam;
f) A alínea e) do parágrafo 2º do presente artigo aplicar-se-á aos conflitos armados que não tenham caráter internacional e, por
conseguinte, não se aplicará a situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins, atos de violência esporádicos ou
isolados ou outros de caráter semelhante; aplicar-se-á, ainda, a conflitos armados que tenham lugar no território de um Estado,
quando exista um conflito armado prolongado entre as autoridades governamentais e grupos armados organizados ou entre
estes grupos.
3. O disposto nas alíneas c) e e) do parágrafo 2º, em nada afetará a responsabilidade que incumbe a todo o Governo de manter e
de restabelecer a ordem pública no Estado, e de defender a unidade e a integridade territorial do Estado por qualquer meio
legítimo.

Sobre o crime de agressão, o ER prevê que “O Tribunal poderá exercer a sua competência em relação ao crime de
agressão desde que, nos termos dos artigos 121 e 123, seja aprovada uma disposição em que se defina o crime e se enunciem
as condições em que o Tribunal terá competência relativamente a este crime” (art. 5.2). à O ER, em sua redação original, não
detalhou os crimes de agressão. Foi necessária, depois, a aprovação de uma disposição (no caso, o Acordo de Kampala, que tem
natureza de tratado) definindo os crimes de agressão e as condições em que o TPI tem competência para julgá-los.

O art. 121 do ER estabelece o procedimento para proposição e aprovação de reformas ao ER, enquanto que o art. 123.1
prevê que “Sete anos após a entrada em vigor do presente Estatuto, o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas
convocará uma Conferência de Revisão para examinar qualquer alteração ao presente Estatuto. A revisão poderá incidir
nomeadamente, mas não exclusivamente, sobre a lista de crimes que figura no art. 5º. A Conferência estará aberta aos
participantes na Assembleia dos Estados Partes, nas mesmas condições”.

Esta Conferência de Revisão do Estatuto de Roma foi realizada em Kampala, Uganda, no período de 31.05 a 11.06 de
2010, quando foram adotadas, por meio da Resolução nº 6, as emendas sobre o crime de agressão. De acordo com a Res. nº 6, o
TPI somente pode exercer a sua competência a respeito de crimes de agressão cometidos 1 ano após a ratificação ou
aceitação das emendas por trinta Estados-Partes (art. 15.1). Além disso, o art. 15.2 da Res. nº 6, o exercício da competência do
TPI ainda ficou condicionado a uma decisão a ser tomada a partir de 01.01.2017 pela mesma maioria de Estados-Partes exigida
para a aprovação de uma emenda ao ER (2/3, nos termos do art. 121.3 do ER).

Em 29.06.2016, o Estado da Palestina foi o 30º Estado-Parte do ER a depositar o instrumento de ratificação do acordo
de emenda celebrado em Kampala. Em junho de 2017, portanto, o Acordo de Kampala estava em vigor, mas ainda faltava a
decisão exigida pelo art. 15.2 da Res. nº 6, o que veio a ocorrer entre os dias 4 e 15.12.2017, na 16ª Assembleia dos Estados
Partes, quando se decidiu ativar a competência do TPI para julgar o crime de agressão a partir de 17.07.2018.

O Brasil ainda NÃO ratificou o Acordo de Kampala, de modo que crime de agressão ocorrido no território brasileiro
não pode ser submetido a julgamento pelo TPI, e isso porque o ER condiciona a entrada em vigor de alterações no seu texto a
aceitação pelos Estados-Partes quando se tratar de ampliação do rol de crimes de sua competência (art. 121.5). A exceção à esta
regra ocorre se o julgamento do crime for adjudicado ao TPI pelo Conselho de Segurança da ONU.

Vejamos a seguir, nos termos do Acordo de Kampala, o conceito e o alcance do crime de agressão:

Artigo 8º bis
Crime de agressão
@dicasexconcurseira 119
1. Para os fins do presente Estatuto, uma pessoa comete um crime de agressão quando, estando em condições de controlar ou
dirigir efetivamente a ação política ou militar de um Estado, esta pessoa planeja, prepara, inicia ou realiza um ato de agressão
que, por suas características, gravidade e escala constitua uma violação manifesta da Carta das Nações Unidas.
2. Para os fins do parágrafo 1º, por “ato de agressão” se entenderá o uso da força armada por um Estado contra a soberania, a
integridade territorial ou a independência política de outro Estado, ou em qualquer outra forma incompatível com a Carta das
Nações Unidas. Em conformidade com a resolução 3314 (XXIX) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 14 de dezembro de
1974, qualquer dos seguintes atos, independentemente de que haja ou não declaração de guerra, serão caracterizados como ato
de agressão:
a) A invasão ou o ataque pelas forças armadas de um Estado do território de outro Estado, ou toda ocupação militar, ainda que
temporária, que resulte desta invasão ou ataque, ou toda anexação, mediante o uso de força, do território de outro Estado ou de
parte dele;
b) O bombardeio, pelas forças armadas de um Estado, do território de outro Estado, ou o emprego de quaisquer armas por um
Estado contra o território de outro Estado;
c) O bloqueio dos portos ou das costas de um Estado pelas forças armadas de outro Estado;
d) O ataque pelas forças armadas de um Estado contra as forças armadas terrestres, navais ou aéreas de outro Estado, ou
contra sua frota marcante ou aérea;
e) A utilização de forças armadas de um Estado, que se encontrem no território de outro Estado com a aceitação do Estado
receptor, em violação das condições estabelecidas no acordo ou toda prolongação de sua presença no referido território depois
de determinado o acordo;
f) A ação de um Estado que permite que seu território, colocado à disposição de outro Estado, seja utilizado por este outro
Estado para perpetrar um ato de agressão contra um terceiro Estado;
g) O envio por um Estado, ou em seu nome, de bandos armados, grupos irregulares ou mercenários que pratiquem atos de força
armada contra outro Estado de tal gravidade que sejam equiparáveis aos atos antes enumerados, ou a sua substancial
participação nestes atos.

Para auxiliar o TPI na interpretação e aplicação dos artigos 6-8 do ER – assim como do Acordo de Kampala –, que
estabelecem os crimes da jurisdição do Tribunal, a Assembleia dos Estados Partes, autorizada pelo ER (art. 9º), no exercício de
sua competência normativa, redigiu o documento Elementos de Crimes, fixando os elementos que devem estar presentes para
que uma pessoa seja considerada criminalmente responsável pela prática daqueles crimes.

6. Condições para o exercício da competência pelo TPI à CAI BASTANTE EM PROVA DE CONCURESO!

De acordo com o ER, são estas as condições para o exercício da jurisdição pelo TPI:

a) AS INSTÂNCIAS JUDICIAIS INTERNAS TEREM FALHADO NA PERSECUÇÃO PENAL DO CASO – característica da


COMPLEMENTARIDADE ou da SUBSIDIARIEDADE do TPI.

b) Os crimes devem ter ocorrido após a entrada em vigor do Estatuto de Roma (ER), que ocorreu em 1º de julho de 2002.

c) Os crimes devem ter sido cometidos no território de um Estado Parte (art. 12.2.a) ou por um nacional de um Estado Parte
(art. 12.2.b), podendo, ainda, esta aderência se dar mediante declaração específica por Estado não contratante caso o crime
tenha ocorrido em seu território ou for cometido por seu nacional (art. 11.2), ou ainda, ter o CSNU adotado resolução vinculante
adjudicando o caso ao TPI, independentemente de o Estado onde ocorreu o crime ou do qual o autor é nacional ter ratificado
o ER (art. 13.b), competência esta exercida de acordo com o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, referente à “ação relativa
a ameaças à paz, ruptura da paz e atos de agressão.

Importante a leitura do art. 20 do ER, que trata da garantia do ne bis in idem e da chamada coisa julgada fraudulenta:

Artigo 20
Ne bis in idem
1. Salvo disposição contrária do presente Estatuto, nenhuma pessoa poderá ser julgada pelo Tribunal por atos constitutivos de
crimes pelos quais este já a tenha condenado ou absolvido.
2. Nenhuma pessoa poderá ser julgada por outro tribunal por um crime mencionado no artigo 5°, relativamente ao qual já
tenha sido condenada ou absolvida pelo Tribunal.
3. O Tribunal não poderá julgar uma pessoa que já tenha sido julgada por outro tribunal, por atos também punidos pelos artigos
6º, 7º ou 8º, a menos que o processo nesse outro tribunal:
a) Tenha tido por objetivo subtrair o acusado à sua responsabilidade criminal por crimes da competência do Tribunal; OU
b) Não tenha sido conduzido de forma independente ou imparcial, em conformidade com as garantias de um processo equitativo
reconhecidas pelo direito internacional, OU tenha sido conduzido de uma maneira que, no caso concreto, se revele incompatível
com a intenção de submeter a pessoa à ação da justiça. à RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA, INCLUSIVE EM MATÉRIA PENAL
b) o crime ou os crimes devem ter sido cometidos após a entrada em vigor do Estatuto, o que ocorreu em 01.07.2002 (art. 11.1);
@dicasexconcurseira 120
c) o crime ou os crimes devem ter sido cometidos no território de um Estado Parte (art. 12.2.a) ou por um nacional de um Estado
Parte (art. 12.2.b), podendo, ainda, esta aderência se dar mediante declaração específica por Estado não contratante caso o
crime tenha ocorrido em seu território ou for cometido por seu nacional (art. 11.2), ou ainda, ter o CSNU adotado resolução
vinculante adjudicando o caso ao TPI, independentemente de o Estado onde ocorreu o crime ou do qual o autor é nacional ter
ratificado o ER (art. 13.b), competência esta exercida de acordo com o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, referente à
“ação relativa a ameaças à paz, ruptura da paz e atos de agressão”.

A ativação da competência do TPI pode se dar mediante:


a) denúncia por um Estado Parte ao Procurador;
b) denúncia pelo CSNU (Conselho de Segurança das Nações Unidas) ao Procurador; e
c) de ofício pelo Procurador (ER, art. 13).

7. Disposições penais aplicáveis ao julgamento pelo TPI

O Capítulo III do ER trata dos princípios gerais de Direito Penal aplicáveis ao TPI. Vejamos brevemente cada um deles.

1) Nullum crimen sine lege (não há crime sem lei). De acordo com o ER, “Nenhuma pessoa será considerada criminalmente
responsável, nos termos do presente Estatuto, a menos que a sua conduta constitua, no momento em que tiver lugar, um crime
da competência do Tribunal” (art. 22.1), prevendo ainda que “A previsão de um crime será estabelecida de forma precisa e não
será permitido o recurso à analogia. Em caso de ambiguidade, será interpretada a favor da pessoa objeto de inquérito, acusada
ou condenada”.

2) Nulla poena sine lege (não há pena sem lei). Prevê o ER que “Qualquer pessoa condenada pelo Tribunal só poderá ser punida
em conformidade com as disposições do presente Estatuto” (art. 23).

3) Não retroatividade para prejudicar. De acordo com o ER, “Nenhuma pessoa será considerada criminalmente responsável, de
acordo com o presente Estatuto, por uma conduta anterior à entrada em vigor do presente Estatuto” (art. 24.1), prevendo ainda
que “Se o direito aplicável a um caso for modificado antes de proferida sentença definitiva, aplicar-se-á o direito mais favorável
à pessoa objeto de inquérito, acusada ou condenada”.

4) Responsabilidade penal INDIVIDUAL. De acordo com o ER, o TPI é competente para julgar apenas pessoas FÍSICAS (art. 25.1)
– TPI NÃO JULGA ESTADOS! Prevê o ER que será considerado criminalmente responsável quem:
a) cometer o crime individualmente ou em conjunto ou por intermédio de outrem, quer essa pessoa seja, ou não, criminalmente
responsável;
b) ordenar, solicitar ou instigar à prática desse crime, sob a forma consumada ou sob a forma de tentativa;
c) com o propósito de facilitar a prática desse crime, for cúmplice ou encobridor, ou colaborar de algum modo na prática ou na
tentativa de prática do crime, nomeadamente pelo fornecimento dos meios par a sua prática;
d) contribuir de alguma forma para prática ou tentativa de prática do crime por um grupo de pessoas que tenha um objetivo
comum. Esta contribuição deverá ser intencional e ocorrer, conforme o caso, com o propósito de levar a cabo a atividade ou o
objetivo criminal do grupo, quando um ou outro impliquem a prática de um crime da competência do Tribunal, ou com o
conhecimento da intenção do grupo de cometer o crime;
e) no caso de crime de genocídio, incitar, direta e publicamente, a sua prática; e
f) Tentar cometer o crime mediante atos que contribuam substancialmente para a sua execução, ainda que não se venha a
consumar devido a circunstâncias alheias à sua vontade. Porém, quem desistir da prática do crime, ou impedir de outra forma
que este se consuma, não poderá ser punido em conformidade com o presente Estatuto pela tentativa, se renunciar total e
voluntariamente ao propósito delituoso.

5) Exclusão da jurisdição relativamente a menores de 18 anos. De acordo com o ER, o TPI somente possui jurisdição sobre
pessoas que, na data da prática do crime, tenham completado 18 anos de idade (art. 26).

6) Irrelevância da qualidade oficial. O ER prevê que as suas normas são aplicadas de forma igual a todas as pessoas sem
distinção alguma baseada na qualidade oficial, de modo que em nada influencia imunidades ou normas especiais de
procedimento previstas no Direito interno ou no Direito Internacional (art. 27).

7) Responsabilidade dos Chefes Militares e outros superiores hierárquicos. Ver art. 28.

8) Imprescritibilidade. Prevê o ER que os crimes da competência do TPI NÃO PRESCREVEM (art. 29).

9) Elementos psicológicos. De acordo com o ER, “Salvo disposição em contrário, nenhuma pessoa poderá ser criminalmente
responsável e punida por um crime da competência do Tribunal, a menos que atue com vontade de o cometer e conhecimento
dos seus elementos materiais” (art. 30) - DOLO.
@dicasexconcurseira 121
10) Causas de exclusão da responsabilidade criminal. Ver art. 31.

11) Erro de fato ou erro de direito. Ver art. 32.

12) Decisão hierárquica e disposições legais. Ver art. 33. à Somente podem ser invocadas essas excludentes nos casos em que
o agente estiver obrigado por lei a obedecer decisões emanadas do governo ou de superior hierárquico; e, ainda, não tiver
conhecimento de que a decisão era ilegal; e, ainda, a decisão não deve ser manifestamente ilegal.

Ainda sobre o assunto, o Capítulo VII do ER trata das penas no âmbito do TPI. De acordo com o art. 77 do ER, o TPI pode
impor à pessoa condenada as seguintes PENAS:
a) PENA DE PRISÃO por um número determinado de anos, até ao limite máximo de 30 anos; ou
b) PENA DE PRISÃO PERPÉTUA, se o elevado grau de ilicitude do fato e as condições pessoais do condenado o justificarem;
c) PENA DE MULTA; e
d) PERDA DE BENS.

à O TPI NÃO ADMITE A PENA DE MORTE! A PENA MÁXIMA QUE O TPI ADMITE É A PRISÃO PERPÉTUA!

O art. 78 do ER trata dos critérios da determinar a pena:

Artigo 78
Determinação da pena
1. Na determinação da pena, o Tribunal atenderá, em harmonia com o Regulamento Processual, a fatores tais como a gravidade
do crime e as condições pessoais do condenado.
2. O Tribunal descontará, na pena de prisão que vier a aplicar, o período durante o qual o acusado esteve sob detenção por
ordem daquele. O Tribunal poderá ainda descontar qualquer outro período de detenção que tenha sido cumprido em razão de
uma conduta constitutiva do crime. à DETRAÇÃO
3. Se uma pessoa for condenada pela prática de vários crimes, o Tribunal aplicará penas de prisão parcelares relativamente a
cada um dos crimes e uma pena única, na qual será especificada a duração total da pena de prisão. Esta duração não poderá ser
inferior à da pena parcelar mais elevada e não poderá ser superior a 30 anos de prisão ou ir além da pena de prisão perpétua
prevista no artigo 77, parágrafo 1º, alínea b).

8. Procedimento de investigação, instrução, julgamento e execução da pena

O procedimento no TPI se assemelha ao procedimento brasileiro para persecução penal dos crimes de competência do
TRIBUNAL DO JÚRI, pois se desenvolve a partir de um inquérito e depois passa, se o Procurador oferecer a acusação, por uma
etapa judicial dividida em duas fases, sendo uma de pré-julgamento, onde são analisados os requisitos para o julgamento
(equivalente à “pronúncia” no Júri), e uma segunda fase do julgamento propriamente dito, em que se analisa o mérito.
Até a primeira fase, atua a Seção de Instrução. A segunda fase tramita perante a Seção de Julgamento em Primeira
Instância, que profere a sentença, que, sendo de procedência, é acompanhada da fixação da pena e de medidas de reparação às
vítimas.
Tantos as decisões interlocutórias quanto as decisões finais podem ser objeto de recurso para a Seção de Recursos.
Sobre a execução da pena no âmbito do TPI, o prof. recomenda a leitura dos artigos 103 a 111 do ER.

9. A relação do Brasil com o TPI à IMPORTANTE!

O Brasil aderiu ao ER e o internalizou em 25.09.2002 por meio do Decreto nº 4.388. Em 2004, a EC 45, para eliminar
ou pelo menos atenuar as incompatibilidades – que já veremos – entre o ER e a CF/88, inseriu no art. 5º da Constituição o novo
§4º, que dispõe que “O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado
adesão”.

As incompatibilidades entre o ER e a CF/88 são as seguintes:

1) Entrega de brasileiro nato. O ER prevê que os Estados-partes devem entregar a pessoa investigada ou condenada pelo TPI ao
Tribunal para cumprir prisão preventiva ou pena definitiva, assim como para comparecer a atos que exijam a sua presença física.
O 102 do ER faz a distinção entre entrega – Estado è Tribunal – e extradição – Estado è Estado. A CF veda a extradição de
brasileiro nato (art. 5º, LI).

OBS: EXTRADIÇÃO é mecanismo de cooperação internacional HORIZONTAL (Estado soberano x Estado soberano); enquanto que
a ENTREGA é um mecanismo de cooperação internacional VERTICAL (Estado soberano x Tribunal Penal Internacional).

@dicasexconcurseira 122
A CF/88 veda apenas a EXTRADIÇÃO do brasileiro nato; nada se referindo a respeito da ENTREGA de brasileiro nato. De
forma que é entendimento amplamente majoritário o de que é possível a entrega de brasileiro nato para ser julgado perante o
TPI.
2) Coisa julgada pro reo. O ER, conforme vimos anteriormente, não aceita a coisa julgada “fraudulenta” e a supera, inclusive
contra o réu.

3) Imunidades materiais e formais previstas na CF/88, para congressistas por exemplo.

4) Imprescritibilidade. A CF contém rol TAXATIVO – art. 5º, incisos XLII e XLIV (racismo, ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático de Direito). O ER GENERALIZA a imprescritibilidade.

5) Pena de caráter perpétuo. A CF veda (art. 5º, XLVII, b).

PREVALECE o entendimento de que todas estas incompatibilidades devem ser resolvidas EM FAVOR DO ESTATUTO
DE ROMA, e isso porque o Direito Internacional dos Direitos Humanos está fundado na premissa de que o Estado, depois de
aderir ao texto de um tratado, NÃO PODE INVOCAR DISPOSIÇÕES DE DIREITO INTERNO PARA DESCUMPRIR OS TERMOS
DAQUELE.
Além disso, O ER NÃO ADMITE RESERVAS, de modo que, quando o Estado adere ao seu texto, está concordando com a
sua integralidade (art. 120).

Ainda sobre a relação do Brasil com o TPI, o prof. Caio Paiva considera importante relembrar o Caso Al-Bashir, em que
um pedido de cooperação internacional vertical remetido pelo TPI ao Estado brasileiro foi encaminhado ao STF, instaurando-se
uma discussão a respeito do órgão competente para processar um pedido de cooperação internacional vertical originado de
tribunal internacional como o TPI.

Sobre a cooperação internacional vertical – que não se confunde com a horizontal, praticada entre Estados, e não entre
Estado x tribunal internacional –, importante a leitura de dois dispositivos do ER:

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL VERTICAL à Dá-se entre ESTADO e TRIBUNAL INTERNACIONAL.

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL HORIZONTAL à Dá-se entre ESTADOS.

ER, art. 86 (obrigação geral de cooperar): “Os Estados Partes deverão, em conformidade com o disposto no presente Estatuto,
cooperar plenamente com o Tribunal no inquérito e no procedimento contra crimes de competência deste”.
ER, art. 89.1 (entrega de pessoas ao TPI): “O Tribunal poderá dirigir um pedido de detenção e entrega de uma pessoa, instruído
com os documentos comprovativos referidos no artigo 91, a qualquer Estado em cujo território essa pessoa se possa encontrar, e
solicitar a cooperação desse Estado na detenção e entrega da pessoa em causa. Os Estados Partes darão satisfação aos pedidos
de detenção e de entrega em conformidade com o presente Capítulo e com os procedimentos previstos nos respectivos direitos
internos”.

No Caso Al-Bashir, o TPI solicitou ao Estado brasileiro a detenção e a posterior entrega do então ditador do Sudão, Al-
Bashir, que, segundo informações obtidas pelo TPI, se encontrava em território brasileiro. Recebido o pedido de cooperação do
TPI, o Poder Executivo o encaminhou para o STF, como se tratasse de um pedido de extradição. O min. Celso de Mello,
substituindo a Presidência do Supremo, fez um amplo estudo sobre o TPI e as suas eventuais incompatibilidades com o
Direito interno, mas postergou a decisão, que ainda não foi proferida (Pet 4.625).

Como a entrega é um ato de cooperação vertical entre TPI e Estado, e não uma cooperação horizontal que se dá, por
exemplo, na extradição, a doutrina majoritária entende que o STF não teria competência para processar e julgar o pedido de
cooperação. Trata-se, portanto, de uma competência da JUSTIÇA FEDERAL DE 1º GRAU, que, nos termos do art. 109, III, da CF,
possui competência para processar e julgar as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou
organismo internacional.

QUESTÕES

1. Os Tribunais de Nuremberg e Tóquio, com competência para julgar crimes cometidos no contexto da Segunda Guerra
Mundial, foram criados por meio de resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

( ) CERTO ( ) ERRADO

@dicasexconcurseira 123
2. O Tribunal Penal Internacional, estabelecido pelo Estatuto de Roma, é considerado um tribunal penal internacional de terceira
geração.

( ) CERTO ( ) ERRADO
3. Na seleção dos juízes do TPI, os Estados-Partes são obrigados a assegurar uma representação justa de juízes do sexo feminino
e do sexo masculino.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Os juízes do TPI são eleitos para um mandado de nove anos, não renovável.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. Se um crime de competência do TPI é praticado em território de Estado-Parte do Estatuto de Roma, é possível que seja
ativada a competência do TPI para julgar o crime, ainda que o autor do fato seja nacional de Estado que não aderiu ao Estatuto
de Roma.

( ) CERTO ( ) ERRADO

6. O Estatuto de Roma admite a aplicação da pena de morte pelo TPI.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 ERRADO
4 CERTO
5 CERTO
6 ERRADO

@dicasexconcurseira 124
Aula 22
Controle de Convencionalidade

1. Conceito e categorias

O controle de convencionalidade consiste no PROCESSO DE VERIFICAÇÃO DA COMPATIBILIDADE de uma NORMA OU


PRÁTICA INTERNA em face de NORMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, sendo a expressão
“normas” empregada aqui num sentido mais amplo, abrangendo não apenas os tratados, mas também a jurisprudência
internacional e em alguns casos até mesmo outras fontes do Direito Internacional dos Direitos Humanos, como o costume
internacional e as normas soft law.
Embora todos os órgãos judiciais ou quase-judiciais de proteção internacional dos direitos humanos pratiquem, em
menor ou maior grau, o controle de convencionalidade, trata-se de uma teoria ou de uma doutrina que foi CONCEBIDA
PRINCIPALMENTE no âmbito da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH).

NORMA/PRÁTICA INTERNA
CONTROLE DE PROCESSO DE VERIFICAÇÃO DA
CONVENCIONALIDADE COMPATIBILDIADE ENTRE
NORMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO AOS
DIR. HUMANOS

De acordo com André de Carvalho Ramos, o controle de convencionalidade pode ser classificado em duas categorias:

a) Controle de convencionalidade de MATRIZ INTERNACIONAL, também denominado de controle de convencionalidade


AUTÊNTICO ou DEFINITIVO: atribuído a ÓRGÃOS INTERNACIONAIS compostos por julgadores independentes, criados por
TRATADOS INTERNACIONAIS, para evitar que os próprios Estados sejam, ao mesmo tempo, fiscais e fiscalizados. Exemplos:
Corte IDH, Tribunal Europeu de Direitos Humanos, Comitês da ONU etc.

b) Controle de convencionalidade de MATRIZ NACIONAL, também denominado PROVISÓRIO: exame de compatibilidade do


ordenamento jurídico interno diante das normas internacionais incorporadas, realizados pelos próprios JUÍZES INTERNOS. E
ainda, conforme veremos mais a frente, não apenas os juízes devem realizar o controle, mas TODOS OS FUNCIONÁRIOS
PÚBLICOS.
O controle de convencionalidade interno ainda se divide em duas subcategorias:
b.1. o DIFUSO: exercido por qualquer juízo ou tribunal nacional; e
b.2. o CONCENTRADO: exercido pelo STF (tendo como parâmetro apenas os tratados incorporados pelo procedimento
especial do art. 5º, § 3º, da CF). Sobre o controle difuso, ATENÇÃO: entende-se que não se aplica a cláusula de reserva de
plenário, havendo, neste sentido, pronunciamento do STJ (voto do ministro Ribeiro Dantas no HC 1.640.084, 5a Turma). Assim,
se um órgão fracionário de 2ª instância ou do STJ decide por efetuar o controle de convencionalidade difuso de uma norma
interna, não é necessário o respeito à cláusula de reserva de plenário.

2. Fundamento normativo

O fundamento normativo do controle de convencionalidade se encontra principalmente nos artigos 1.1, 2º e 29 da


CADH, assim como nos artigos 26 e 27 da CVDT.
Dos artigos 1.1 e 2º da CADH decorre a obrigação dos Estados de desenvolverem práticas dirigidas à observância efetiva
dos direitos consagrados na Convenção, de modo que é necessário que a interpretação das leis domésticas seja ajustada a
cumprir com a obrigação de respeito e garantia.
Do art. 29 da CADH decorre a obrigação das autoridades de permitirem o mais amplo possível gozo e exercício dos
direitos estabelecidos na Convenção ou em outros instrumentos nacionais ou internacionais.
Finalmente, os princípios da boa-fé, efeito útil e pacta sunt servanda, assim como a proibição de invocar o direito
interno como justificativa para o descumprimento dos tratados, em conformidade com os artigos 26 e 27 da CVDT,
complementam o dever das autoridades estatais de garantirem o cumprimento das obrigações do Estado conforme a
Convenção Americana.
Estes elementos, juntos, fundamentam a existência do controle de convencionalidade.

@dicasexconcurseira 125
3. Principais objetivos do controle de convencionalidade

De acordo com a doutrina, estes são os principais objetivos do controle de convencionalidade:

a) Prevenir a aplicação de normas nacionais que sejam manifestamente incompatíveis com os tratados e a sua respectiva
interpretação pelos tribunais internacionais de direitos humanos. à FINALIDADE PREVENTIVA

b) Servir como uma instituição que permita a todas as autoridades do Estado cumprir adequadamente com sua obrigação de
respeito e garantia dos direitos humanos. à CULTURA DE RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS

c) Servir como um meio ou ponte para permitir o DIÁLOGO, especialmente o diálogo jurisprudencial em matéria de direitos
humanos, ENTRE OS TRIBUNAIS NACIONAIS E A CORTE IDH, constituindo um elemento essencial na formação e integração de
um Direito Constitucional comum.

4. Desenvolvimento do conteúdo e do alcance do controle de convencionalidade

A doutrina ou teoria do controle de convencionalidade foi e continua sendo desenvolvida pela Corte IDH ao longo de
anos e dezenas de casos contenciosos e opiniões consultivas. É possível dividir o processo de evolução desta doutrina ou teoria
em 3 etapas:

Primeira etapa: as primeiras APROXIMAÇÕES ao controle de convencionalidade nos votos do juiz Sérgio García Ramírez, da
Corte IDH. Votos nos casos Myrna Mack Chang vs. Guatemala (2003), Tibi vs. Equador (2004) e López Álvarez vs. Honduras
(2006).

Segunda etapa: aparecimento EXPRESSO do termo “controle de convencionalidade” em julgamento da Corte IDH. Em 2006,
ao julgar o Caso Almonacid Arellano e outros vs. Chile, a Corte IDH citou pela primeira vez, de forma expressa, o termo
“controle de convencionalidade” para apontar a falha do Poder Legislativo de suprimir leis contrárias à CADH, frente à qual o
Poder Judiciário permanece vinculado ao dever de garantia, devendo se abster de aplicar qualquer normativa contrária à
Convenção.

OBS: O prof. Valério Mazuolli não foi responsável por cunhar o termo “controle de convencionalidade”. Foi ele o grande
responsável pela sistematização deste assunto, mas não cunhou a expressão. Quem cunhou a expressão e desenvolveu a
doutrina foi o ex-juiz Sérgio Garcia Ramirez.

Terceira etapa: DEFINIÇÃO DO ALCANCE do controle de convencionalidade. O Caso Almonacid Arellano foi o ponto de partida.
Posteriormente, em outros casos, a Corte IDH definiu mais precisamente o conteúdo e o alcance do controle de
convencionalidade.

5. Elementos ou características do controle de convencionalidade conforme a jurisprudência da Corte IDH


5.1. Deve ser exercido DE OFÍCIO e NO MARCO DE COMPETÊNCIAS E REGULAÇÕES PROCESSUAIS CORRESPONDENTES

No julgamento do Caso Trabalhadores Demitidos do Congresso vs. Peru (2006), a Corte IDH ressaltou que “(...) os
órgãos do Poder Judiciário devem exercer não somente um controle de constitucionalidade, mas também de
convencionalidade DE OFÍCIO entre as normas internas e a Convenção Americana, evidentemente no marco de suas
respectivas competências e das regulações processuais correspondentes*”.

O que a Corte IDH quis explicitar com este trecho é que, por exemplo, *nos países em que os juízes podem fazer
controle difuso de constitucionalidade, também será possível fazer o controle difuso de convencionalidade e, se for o caso,
afastar a aplicação da norma. Porém, nos países em que não seja permitido aos juízes fazer o controle difuso de
constitucionalidade, também não será possível fazer o controle difuso de convencionalidade. O que deverá ser feito, ao menos,
é uma interpretação da norma interna conforme as disposições do tratado internacional.

5.2. O controle de convencionalidade é uma obrigação de TODA AUTORIDADE PÚBLICA

No julgamento do Caso Gelman vs. Uruguai (2011), a Corte IDH decidiu que “Quando um Estado é parte de um tratado
internacional como a Convenção Americana, todos seus órgãos, incluindo seus juízes, estão submetidos àquele, que lhes
obriga a velar para que os efeitos das disposições da Convenção não se vejam menosprezados pela aplicação de normas
contrárias a seu objeto e fim, pelo que os juízes e órgãos vinculados à administração de justiça em todos os níveis estão na
obrigação de exercer de ofício um controle de convencionalidade (...), evidentemente no marco de suas respectivas
competências e regulações processuais competentes”.

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ATENÇÃO, portanto, para essa informação, que tem sido cobrada em vários concursos: não apenas os juízes devem
exercer o controle de convencionalidade, mas TODOS OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS LIGADOS À ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA,
como delegados, membros da Defensoria Pública e do Ministério Público etc.

5.3. Parâmetro do controle de convencionalidade

No julgamento do Caso Gudiel Álvarez e outros vs. Guatemala (2012), a Corte IDH decidiu que o parâmetro do controle
de convencionalidade NÃO se limita à CADH, abrangendo também OUTROS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS QUE O
ESTADO TENHA ADERIDO. Em outros casos, a Corte IDH tem ressaltado que a SUA JURISPRUDÊNCIA também deve servir como
parâmetro do controle de convencionalidade. E não apenas a jurisprudência CONTENCIOSA, mas também a advinda do
exercício da competência CONSULTIVA (nesse sentido, OC 21/2014).

OBS1: Quanto às normas de soft law e demais fontes das normas de direitos humanos (costumes, princípios gerais do direito),
há discussão se elas são ou não consideradas parâmetro de controle do convencionalidade.

OBS2: O prof. André de Carvalho Ramos – autor que os concurseiros podem seguir com segurança, uma vez que possui muita
influência em bancas de concurso para defensorias e para MPF – entende que todas as fontes do direito internacional de
direitos humanos (tratados, convenções, costumes, princípios gerais de direito) podem ser parâmetro do controle de
convencionalidade. O prof. Caio Paiva acrescenta, ainda, as normas de soft law.

5.4. Objeto do controle de convencionalidade

TODAS as normas e práticas estatais devem ser objeto do controle de convencionalidade, INCLUSIVE NORMAS
CONSTITUCIONAIS.

5.5. Princípio da atipicidade dos meios do controle de convencionalidade

No julgamento do Caso Liakat Ali Alibux vs. Suriname, a Corte IDH decidiu que “(...) em relação aos argumentos da
Comissão sobre a violação do direito à proteção judicial decorrente da ausência de um Tribunal Constitucional, embora a Corte
reconheça a importância destes órgãos como protetores dos mandatos constitucionais e dos direitos fundamentais, a
Convenção Americana não impõe um modelo específico para realizar o controle de constitucionalidade e convencionalidade.
Neste sentido, a Corte recorda que a obrigação de exercer um controle de convencionalidade entre as normas internas e a
CADH compete a todos os órgãos do Estado”. A partir deste trecho, pode-se ressaltar o princípio da atipicidade dos meios do
controle de convencionalidade.

QUESTÕES

1. A expressão “controle de convencionalidade” apareceu pela primeira vez no corpo de uma decisão da Corte IDH no
julgamento do Caso Ximenes Lopes vs. Brasil.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. De acordo com o entendimento da Corte IDH, todos os juízes e funcionários ligados à administração da justiça devem exercer,
de ofício, o controle de convencionalidade, no marco de suas respectivas competências.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. A jurisprudência advinda do exercício da competência consultiva pela Corte IDH pode servir de parâmetro para o controle de
convencionalidade.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Com a exceção das normas constitucionais originárias, todas as demais podem ser objeto do controle de convencionalidade.

( ) CERTO ( ) ERRADO
GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 CERTO
4 ERRADO

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Aula 23
Sistema Nacional de Direitos Humanos/ Direitos humanos na CF/88: federalização de crimes contra os direitos humanos,
processo de incorporação dos tratados internacionais de direitos humanos e hierarquia normativa desses tratados

1. Incidente de deslocamento de competência

Estabelece a Constituição Federal, por meu do seu art. 109, §5º, que “Nas hipóteses de GRAVE violação de direitos
humanos, o Procurador-Geral da República (PGR), com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de
Justiça (STJ), em qualquer fase do inquérito ou processo, INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA
FEDERAL”.

Vejamos um histórico deste dispositivo da CF:

§ 1994: o então Deputado Federal Nelson Jobim sugeriu a inclusão na PEC 96/1992, apresentada pelo então Deputado Federal
Hélio Bicudo e conhecida como “PEC da Reforma do Poder Judiciário”, da possibilidade de que graves violações de direitos
humanos fossem julgadas pela Justiça Federal.

§ 1996: o então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso apresenta o PNDH-1 (Decreto nº 1.904/96), prevendo
como proposta de ação governamental contra a impunidade conferir à Justiça Federal competência para julgar crimes graves
contra os direitos humanos. No mesmo ano, FHC apresentou a PEC 368, para atribuir à Justiça Federal competência para julgar
graves violações de direitos humanos.

§ 1997: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos recomenda ao Brasil a atribuição à Justiça Federal para julgar crimes
que envolvam violações aos direitos humanos.

§ 2002: o PNDH-2 (Decreto nº 4.229) prevê o apoio à proposta de garantir à Justiça Federal a competência para julgar graves
crimes contra os direitos humanos.

§ 2004: promulgação da PEC 45/2004, que fez incluir no art. 109 da CF o inciso V-A e o §5º.

1.1. Objetivos do IDC

Podemos destacar os seguintes objetivos do IDC:


a) combate à impunidade; e
b) EVITAR a responsabilidade internacional do Estado perante instâncias internacionais de proteção dos direitos humanos à
isso porque, caso haja violação de direitos humanos em determinado Estado-membro, é a União quem irá figurar no polo
passivo do processo de responsabilização internacional.

1.2. Objeto do IDC

De acordo com o art. 109, V-A e §5º, o objeto do IDC são as “causas relativas a direitos humanos”, NÃO se limitando,
portanto, a crimes ou à matéria criminal.

1.3. Requisitos para cabimento do IDC

O STJ estabeleceu os requisitos para cabimento do IDC no primeiro incidente de deslocamento julgado, sendo eles os
seguintes:
a) GRAVE violação a direitos humanos;
b) assegurar o cumprimento, pelo Brasil, de obrigações decorrentes de tratados internacionais; e
c) incapacidade – oriunda de inércia, negligência, falta de vontade política, de condições pessoais, materiais etc. – de o Estado-
membro, por suas instituições e autoridades, levar a cabo, em toda a sua extensão, a persecução criminal à CRIAÇÃO DO STJ

Os dois primeiros requisitos constam expressamente no texto constitucional e o terceiro requisito dele decorre
implicitamente.

1.4. Legitimado para ajuizar o IDC

De acordo com a CF, apenas o Procurador-Geral da República pode ajuizar o IDC. Há algumas PECs tramitando no
Congresso Nacional que pretendem ampliar esta legitimidade, estendendo-a, por exemplo, ao Defensor Público-Geral Federal.

@dicasexconcurseira 128
1.5. Competência para julgar o IDC

A CF atribuiu ao STJ a competência para julgar o IDC. E o STJ, por sua vez, mediante a Resolução nº 6, conferiu esta
competência à sua 3ª Seção.

1.6. Momento em que o IDC pode ser ajuizado

O IDC pode ser ajuizado em qualquer momento, mesmo se o fato ainda estiver sob investigação (penal ou cível).

1.7. Críticas ao IDC

Há duas ADIs propostas contra a alteração promovida pela EC 45/2004, que fez inserir o IDC no texto da Constituição
Federal, sendo elas a ADI 3486, ajuizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), e a ADI 3493, ajuizada pela
Associação Nacional dos Magistrados Estaduais (ANAMAGES).

Os principais argumentos ou críticas ao IDC, sustentados nas ADIs mencionadas, são os seguintes:
a) violação do pacto federativo;
b) afronta aos princípios do juiz natural e do promotor natural;
c) violação da legalidade e do devido processo legal; e
d) enfraquecimento das instâncias estaduais de proteção dos direitos humanos.

As ADIs mencionadas ainda estão pendente de julgamento pelo STJ.

1.8. Relação de IDCs

§ IDC 1: morte da missionária Dorothy Stang no Pará. Julgado improcedente sob o argumento de que as autoridades estaduais
não estavam negligentes na apuração do crime.

§ IDC 2: morte do vereador e advogado Manoel Mattos na Paraíba. Primeiro IDC julgado procedente pelo STJ, tendo a
competência sido deslocada para a Justiça Federal do Estado da Paraíba.

§ IDC 3: relacionado a grupos de extermínio em Goiás. Julgado parcialmente procedente pelo STJ, com a determinação de
deslocamento de apenas alguns dos processos.

§ IDC 4: ajuizado por Ministro do TCE/PE, relativo a atos do TCE que culminaram com a sua aposentadoria. Negado
conhecimento em razão da ilegitimidade ativa.

§ IDC 5: morte do promotor de justiça Thiago Farias Soares em Pernambuco. Julgado procedente pelo STJ, com o deslocamento
da competência para a Justiça Federal de PE.

§ IDC 9: envolve a investigação da participação de agentes públicos em homicídios que teriam sido praticados no contexto de
ações do PCC em São Paulo em maio de 2016, sendo que uma das chacinas investigadas foi praticada no Parque Bristol.
Pendente de julgamento.

§ IDC 10: envolve apuração de excessos praticados por policiais militares em operação realizada no ano de 2015, no bairro do
Cabula, em Salvador/BA, da qual resultou a morte de 12 jovens. Fato conhecido como “CHACINA DO CABULA”. Julgado
improcedente pelo STJ sob o argumento de que as autoridades estaduais estavam trabalhando de forma adequada. A PGR
interpôs recurso extraordinário contra a decisão.

§ IDC 11: negado seguimento por ilegitimidade ativa.

§ IDC 14: envolve a apuração das consequências da greve da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo em fevereiro de 2017.
Pendente de julgamento.

§ IDC 15: ainda em tramitação no STJ, sem informações do que se trata.

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2. Processo de incorporação dos tratados internacionais de direitos humanos

A doutrina considera que as interações entre o Direito Internacional dos Direitos Humanos e o Direito Constitucional,
principalmente no que diz respeito ao processo de incorporação dos tratados internacionais de direitos humanos na ordem
jurídica interna, gera espaço para um novo ramo do Direito para realizar o estudo desta problemática, o qual tem sido
denominado de Direito Constitucional dos Direitos Humanos ou Direito Constitucional Internacional.

2.1. Poderes envolvidos no processo de incorporação do tratado na ordem jurídica interna

Com a exceção da Constituição do Império, de 1824, que atribuía ao Imperador, como regra, o poder absoluto de
celebrar tratados, devendo apenas dar ciência à Assembleia Geral (art. 142, X), todas as Constituições brasileiras seguintes, a
partir da primeira republicana, de 1891, adotaram um pressuposto constitucional que é comum em países democráticos para a
incorporação do tratado na ordem jurídica interna: a autorização prévia do Poder Legislativo. A doutrina considera essa fórmula
o maior avanço constitucional no processo de formação dos tratados pelo Brasil.

É assim, portanto, que a Constituição Federal de 1988, ao mesmo tempo em que dispõe competir privativamente ao
PRESIDENTE DA REPÚBLICA CELEBRAR tratados, convenções e atos internacionais (art. 84, VIII), também afirma ser da
competência exclusiva do CONGRESSO NACIONAL “RESOLVER DEFINITIVAMENTE sobre tratados, acordos ou atos
internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional” (art. 49, I à de acordo com
doutrina unânime, este dispositivo se aplica à incorporação de qualquer tratado internacional).

Tem-se, então, dois poderes envolvidos – Executivo e Legislativo –, sendo que a negativa de qualquer um deles impede
a incorporação do tratado na ordem jurídica interna. Noutros termos, conforme sintetiza Resek: “A vontade individualizada de
cada um deles [dos Poderes] é necessária, porém não suficiente”. Essa participação de dois poderes na formação da vontade do
Estado brasileiro em celebrar tratados consagrou o que a doutrina denomina de TEORIA DA JUNÇÃO DE VONTADES ou TEORIA
DOS ATOS COMPLEXOS.

2.2. FASES DO PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

O processo de incorporação do tratado na ordem jurídica interna compõe-se de 4 FASES, sendo que aqui analisaremos
apenas os seus aspectos centrais e externos, sem abordar minúcias procedimentais secundárias e internas dentro, por exemplo,
de órgãos do Poder Executivo, de Comissões do Poder Legislativo etc.

2.2.1. FASE DA ASSINATURA

A primeira fase compreende o processo que vai DA NEGOCIAÇÃO DOS TERMOS DO TRATADO – quando ainda aberta –
ATÉ A ASSINATURA DO SEU TEXTO PELO ESTADO. Essa fase é protagonizada pelo PRESIDENTE DA REPÚBLICA, que pode atuar
diretamente, como Chefe de Estado, ou por representantes considerados capazes para assinar tratados pela Convenção de
Viena sobre Direito dos Tratados (art. 7º), como, por exemplo, o Ministro das Relações Exteriores.
Assinado o tratado, o Estado ainda não se compromete internacional nem nacionalmente, mas deve, pautado pelo
princípio da boa-fé, ABSTER-SE DA PRÁTICA DE ATOS QUE POSSAM FRUSTRASR O OBJETO E A FINALIDADE DO TRATADO
(Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, art. 18).
Com a assinatura, o Ministro das Relações Exteriores prepara uma Exposição de Motivos, na qual explica as razões que
conduziram à assinatura do tratado e solicita ao Presidente da República, por meio de uma Mensagem, que o envie ao
Congresso Nacional.
Importante observar, no entanto, que a remessa do tratado ao Poder Legislativo NÃO É OBRIGATÓRIA NEM
AUTOMÁTICA, não havendo, ainda, previsão legal de prazo para que o Presidente da República assim proceda.

Entende-se que o ato de submeter o texto do tratado ao Congresso Nacional é DISCRICIONÁRIO, podendo o Presidente
da República efetuar um juízo de conveniência e oportunidade sobre se e quando assim o fará.
UMA EXCEÇÃO à essa regra é encontrada na Constituição da Organização Internacional do Trabalho, que obriga o
Chefe de Estado a submeter o texto da convenção internacional do trabalho ao órgão competente - no caso do Brasil, o
Congresso Nacional - no prazo máximo de 1 ano após o encerramento da sessão da Conferência em que tiver sido celebrada
(art. 19.5.b).

2.2.2. FASE DA APRECIAÇÃO LEGISLATIVA ou FASE CONGRESSUAL

A segunda fase compreende a apreciação legislativa ou congressual do texto do tratado e tem INÍCIO DA CÂMARA
DOS DEPUTADOS, observado por analogia o art. 64, caput, da CF.
Se aprovada a matéria na Câmara e no Senado Federal, O PRESIDENTE DO SENADO PROMULGA E FAZ PUBLICAR O
DECRETO LEGISLATIVO, acompanhado do texto do tratado, no Diário Oficial da União.
@dicasexconcurseira 130
Rejeitada a matéria, em quaisquer das Casas Legislativas, não tem cabimento exprimir essa rejeição em decreto
legislativo, mas apenas comunicar o Presidente da República mediante mensagem.

A doutrina discute se seria possível o Congresso Nacional retratar-se da aprovação do tratado internacional,
prevalecendo o entendimento no sentido de que essa possibilidade somente existe enquanto o tratado ainda não tiver sido
ratificado no plano internacional, ato que exprime o consentimento definitivo do Estado.

Assim como na fase anterior – da assinatura –, também nessa fase NÃO HÁ PRAZO para o Poder Legislativo iniciar ou
completar a apreciação do texto do tratado.

Discute-se na doutrina, em razão de nenhuma das Constituições brasileiras ter enfrentado a questão, se o Congresso
Nacional teria competência para realizar alterações por meio de emendas ao texto do tratado ou se, diferentemente, o seu
papel consistiria apenas em aprovar ou rejeitar o ato internacional na íntegra.
Embora seja expressivo o entendimento pela impossibilidade, sob o argumento de que com isso o Congresso Nacional
estaria invadindo uma esfera de competência do Poder Executivo e fazendo com que o processo de incorporação do tratado
retrocedesse para a fase anterior – da negociação e assinatura –, o prof. entende que reduzir a fase da apreciação congressual à
um contexto decisório de tudo ou nada não é a melhor interpretação do art. 49, I, da Constituição, de modo que ele concebe a
expressão “resolver definitivamente” como uma autorização para o Poder Legislativo efetivamente apreciar o texto do tratado,
podendo aprová-lo parcial ou integralmente, assim como propor emendas, que devem assumir a forma de “ressalvas” .

Assim, conforme a síntese apresentada por Ramos, as alterações do texto do tratado podem ser impostas pelo
Congresso Nacional da seguinte forma:

“i) Basta que não sejam aprovados determinados dispositivos, que ficam ressalvados no texto do Decreto Legislativo: sem a
aprovação do Congresso, o Presidente não terá outra escolha a não ser impor reservas desses dispositivos no momento da
ratificação (a reserva é ato unilateral pelo qual o Estado, no momento da celebração final, manifesta seu desejo de excluir ou
modificar o texto do tratado).

ii) Além disso, a emenda pode exigir a modificação de parte do texto do tratado, cuja nova redação também consta do Decreto
Legislativo, que também será comunicada pelo Presidente aos demais parceiros internacionais sob a forma de reservas.

iii) Caso o Presidente não concorde com tais reservas, sua única opção é não ratificar o tratado”.

Até o advento da EC 45/2004, a fase de apreciação legislativa ou congressual dos tratados internacionais de direitos
humanos seguia o mesmo procedimento da deliberação sobre os demais tratados. A inserção do §3º ao art. 5º pelo constituinte
reformador, no entanto, fazendo constar que “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em 2 turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais”, trouxe algumas discussões procedimentais relevantes, tais como:

O Congresso Nacional deve sempre observar o procedimento legislativo do art. 5º, § 3º, ou tem a liberdade para decidir entre
ele e o processo de aprovação por maioria simples?

Um tratado internacional de direitos aprovados aprovado por maioria simples antes da EC 45/2004 pode ser submetido
novamente à apreciação do Congresso Nacional, desta vez sob o rito do art. 5º, § 3º, para adquirir o status de norma
formalmente constitucional?

Respondendo às perguntas apresentadas:

1) PREVALECE o entendimento segundo o qual o Congresso Nacional NÃO é obrigado a submeter o texto do tratado ao
procedimento do art. 5º, § 3º, da CF, podendo aprová-lo, se assim o quiser, pelo procedimento “comum”;

2) SIM, é possível que o Congresso Nacional, tendo aprovado inicialmente o tratado pela maioria simples, decida
posteriormente por submetê-lo ao procedimento qualificado do art. 5º, §3º, a fim de lhe conferir o status de norma equivalente
à emenda constitucional. Neste sentido, vejamos a lição de Mazzuoli:

“(...) O que o parágrafo [3º do art. 5º] faz é tão somente autorizar o Congresso Nacional a dar, quando lhe convier, a
seu alvedrio e a seu talante, a ‘equivalência de emenda’ aos tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil. Isso significa
que tais instrumentos internacionais poderão continuar sendo aprovados por maioria simples no Congresso Nacional (segundo a
regra do art. 49, I, da Constituição), deixando-se para um momento futuro (depois da ratificação) a decisão do povo brasileiro
em atribuir a equivalência de emenda a tais tratados internacionais. Sequer de passagem a Constituição obriga o Parlamento a

@dicasexconcurseira 131
dar cabo ao procedimento referendatório pela maioria qualificada estabelecida no art. 5º, §3º, sendo discricionariedade do
Poder Legislativo a aprovação do tratado com ou sem este quorum especial”.

Finalmente, em qualquer caso, observado ou não o procedimento do art. 5º, §3º, da CF, aprovado o texto do tratado
pelo Congresso Nacional, ainda não há que se falar na sua vigência, nacional ou internacional, mas apenas numa
AUTORIZAÇÃO PARA QUE O PRESIDENTE DA REPÚBLICA O RATIFIQUE.
Assim, muito cuidado deve ser tomado com a interpretação do art. 49, I, da CF, pois a expressão “resolver
definitivamente” é tecnicamente imprecisa, já que o Congresso Nacional somente resolve definitivamente sobre o tratado
quando o rejeita, caso em que o Presidente da República ficará impedido de o ratificar perante a comunidade internacional.
Logo, adiante-se desde já que a RATIFICAÇÃO – assunto da fase seguinte – consiste em ATO DISCRICIONÁRIO do
Presidente da República.

2.2.3. FASE DA RATIFICAÇÃO

A terceira fase compreende a ratificação pelo Presidente da República, ato por meio do qual, segundo a Convenção de
Viena sobre Direito dos Tratados (art. 14.1), o Estado consente em obrigar-se aos termos do ato internacional. Com a
ratificação, o tratado ENTRA EM VIGOR NO PLANO INTERNACIONAL PARA O ESTADO, EXCETO se no texto contiver outra
exigência para que isso ocorra, como, por exemplo, número mínimo de ratificações ou fixação de data.

Considerando que não há prazo para o encerramento da fase anterior, pode-se imaginar, por exemplo, que um
Presidente da República submeta um tratado à apreciação congressual e, ante a demora do Congresso Nacional para aprová-lo,
se e quando isso ocorrer, as condições que ensejaram a sua assinatura tenham desaparecido ou mesmo que tenha havido nova
eleição, assumindo um Presidente da República que tenha posição contrária aos termos do tratado. Nesse caso, o Presidente da
República terá liberdade para ratificar ou não o tratado, já que, conforme afirmado anteriormente, a ratificação consiste em ato
discricionário.

No momento da ratificação, o Presidente da República pode OPOR RESERVAS ao texto do tratado – se este assim o
permitir, naturalmente –, entendendo-se como reservas “(...) as declarações unilaterais apresentadas pelo Estado com o intuito
de afastar ou modificar o efeito jurídico de determinada disposição de tratado”.
As reservas apresentadas pelo Presidente da República não precisam ser submetidas à apreciação do Congresso
Nacional para que possam ser apresentadas perante o organismo internacional responsável pela gestão dos atos de celebração
do tratado. Na verdade, tanto o Poder Legislativo quanto o Poder Executivo podem apresentar reservas ao tratado, sendo que,
no primeiro caso, a decisão parlamentar vincula o Presidente da República, obrigando-o a reiterar as reservas se resolver
ratificar o tratado.

2.2.4. FASE DA PROMULGAÇÃO

A quarta – e última – fase do processo de INCORPORAÇÃO do tratado NA ORDEM JURÍDICA INTERNA é a da


promulgação, considerada, segundo a lição de Fraga, como “(...) o atestado de que foram cumpridas todas as formalidades
necessárias para a formação do ato internacional. É a notícia que se dá a todos de que existe mais uma norma em vigor e que
ela deve ser cumprida e observada por todos”.
A promulgação, portanto, que se exterioriza mediante a publicação de DECRETO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no
entendimento da doutrina mais tradicional, seria o que faz culminar a inserção dos tratados no direito brasileiro, já que o
tratado não pode ser considerado uma fonte de direito interno. Sem o decreto de promulgação do Presidente da República, o
tratado internacional não teria vigor no plano interno. Esse é o entendimento do STF:

“A Constituição brasileira não consagrou, em tema de convenções internacionais ou de tratados de integração, nem o
princípio do efeito direto, nem o postulado da aplicabilidade imediata. Isso significa, de jure constituto, que, enquanto não se
concluir o ciclo de sua transposição, para o direito interno, os tratados internacionais e os acordos de integração, além de não
poderem ser invocados, desde logo, pelos particulares, no que se refere aos direitos e obrigações neles fundados (princípio do
efeito direto), também não poderão ser aplicados, imediatamente, no âmbito doméstico do Estado brasileiro (postulado da
aplicabilidade imediata). O princípio do efeito direto (aptidão de a norma internacional repercutir, desde logo, em matéria de
direitos e obrigações, na esfera jurídica dos particulares) e o postulado da aplicabilidade imediata (que diz respeito à vigência
automática da norma internacional na ordem jurídica interna) traduzem diretrizes que não se acham consagradas e nem
positivadas no texto da Constituição da República, motivo pelo qual tais princípios não podem ser invocados para legitimar a
incidência, no plano do ordenamento doméstico brasileiro, de qualquer convenção internacional (...)” (CR 8.279 AgR, rel. min.
Celso de Mello, Plenário, j. 17.06.1998).

“É na Constituição da República – e não na controvérsia doutrinária que antagoniza monistas e dualistas – que se deve
buscar a solução normativa para a questão da incorporação dos atos internacionais ao sistema de direito positivo interno
brasileiro. O exame da vigente Constituição Federal permite constatar que a execução dos tratados internacionais e a sua
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incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo Brasil, de um ATO SUBJETIVAMENTE COMPLEXO,
resultante da conjugação de duas vontades homogêneas: a do Congresso Nacional, que resolve, definitivamente, mediante
decreto legislativo, sobre tratados, acordos ou atos internacionais (CF, art. 49, I) e a do Presidente da República, que, além de
poder celebrar esses atos de direito internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe – enquanto Chefe de Estado que é – da
competência para promulgá-los mediante decreto. O iter procedimental de incorporação dos tratados internacionais –
superadas as fases prévias da celebração da convenção internacional, de sua aprovação congressional e da ratificação pelo
Chefe de Estado – conclui-se com a expedição, pelo Presidente da República, de decreto, de cuja edição derivam três efeitos
básicos que lhe são inerentes: (a) a promulgação do tratado internacional; (b) a publicação oficial de seu texto; e (c) a
executoriedade do ato internacional, que passa, então, e somente então, a vincular e a obrigar no plano do direito positivo
interno” (ADI 1.480 MC, rel. min. Celso de Mello, Plenário, j. 04.09.1997).

A discussão em torno da necessidade ou não de promulgação do tratado internacional por meio de decreto do
Presidente da República, para que o ato possa ter validade na ordem jurídica interna, decorre da clássica questão envolvendo o
embate DUALISMO versus MONISMO a respeito da relação entre os ordenamentos jurídicos interno e internacional.

Pela POSIÇÃO DUALISTA – acolhida pelo STF e pela doutrina mais tradicional –, os ordenamentos jurídicos interno e
internacional são dois sistemas separados, de modo que para a norma internacional ter validade no ordenamento interno é
necessário um ato de transformação legislativa, isto é, um ato normativo que reproduza o conteúdo da norma internacional.
Já para a POSIÇÃO MONISTA – acolhida por uma parcela expressiva da doutrina mais moderna –, ambos os
ordenamentos jurídicos, o interno e o internacional, constituem um sistema normativo único, segundo o qual os tratados
internacionais SÃO INCORPORADOS AUTOMATICAMENTE LOGO APÓS A RATIFICAÇÃO e devem ser imediatamente aplicados.
Assim, a doutrina indica que a recepção dos tratados pela ordem jurídica interna pode se dar mediante duas técnicas, a
depender da adoção do dualismo ou do monismo, que são, respectivamente, a da incorporação legislativa e a da incorporação
automática.

A posição monista – embora não seja aplicada na prática constitucional-legislativa brasileira nem acolhida pela
jurisprudência do STF – conta com um fundamento normativo muito consistente, que é o §1º do art. 5º da CF, segundo o qual
“As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Como esse dispositivo regula apenas
normas definidoras de direitos e garantias fundamentais, a aplicabilidade imediata se aplicaria somente aos tratados
internacionais de direitos humanos, exigindo-se a incorporação legislativa por meio de decreto de promulgação para os demais
tratados, surgindo daqui, portanto, um sistema jurídico misto.

O entendimento adotado no Brasil – na prática constitucional-legislativa e na jurisprudência do STF –, no sentido de


exigir o decreto de promulgação do Presidente da República para que o tratado possa ter vigência na ordem jurídica interna,
aumenta o risco de responsabilidade internacional do Estado brasileiro por uma questão de natureza formal totalmente
desnecessária, e isso porque a missão de conferir publicidade ao tratado que é atribuída ao decreto de promulgação poderia
perfeitamente ser cumprida mediante publicação de mero aviso – de caráter declaratório – de ratificação e de entrada em vigor
para o Brasil.
Considerando que com a ratificação do tratado – fase anterior à da promulgação –, este já passa a vigorar na ordem
internacional, o seu descumprimento pelo Brasil pode acarretar, a depender do conteúdo do tratado e da forma adotada para
monitorar os direitos nele protegidos, em responsabilidade internacional do país, e isso, advirta-se, sem que as autoridades
internas competentes tenham tido condições de prevenir ou reprimir a violação de direitos humanos pela aplicação imediata do
tratado ratificado que ainda não tenha sido promulgado por decreto do Presidente da República. Teríamos nesse cenário uma
ativação precoce, porém legítima, da jurisdição internacional, em superação ao princípio da subsidiariedade ou
complementariedade desta, já que, repita-se, as autoridades nacionais competentes estariam impossibilitadas de aplicar o texto
do tratado. Nesse sentido, a lição de Ramos:

“Nossa posição é pela desnecessidade do Decreto de Promulgação, para todo e qualquer tratado. A publicidade da
ratificação e entrada em vigor internacional deve ser apenas atestada (efeito meramente declaratório) nos registros públicos
dos atos do Ministério das Relações Exteriores (Diário Oficial da União). (...) Esse aviso, de caráter declaratório, em nada afetaria
o disposto no art. 84, VIII, e ainda asseguraria publicidade – desejável em nome da segurança jurídica – e sintonia entre a
validade internacional e nacional interna dos tratados.

Para que essa seja a nova praxe na observância dos tratados, não é necessária nenhuma alteração constitucional: como
já mencionado, a Constituição é cumprida pela observância das fases de formação de um tratado; a incorporação pelo Decreto
Executivo é reprodução de um costume analogicamente criado, sem apoio no texto constitucional.

A nova interpretação que se oferece aqui tem a vantagem de evitar a responsabilização internacional do Brasil e ainda
impedir que a desídia do eventual responsável pelo setor de publicação dos avisos de ratificação reste impune (há a sua
responsabilidade funcional de atestar a ratificação e entrada em vigor).

@dicasexconcurseira 133
(...) Assim, a exigência Decreto de Promulgação é supérflua e perigosa, podendo ser eliminada”.

2.3. Conclusão

Para facilitar o estudo e a compreensão, podemos encerrar resumindo as principais informações no seguinte quadro:

Processo de incorporação dos tratados internacionais de direitos humanos na ordem jurídica interna
As interações entre o Direito Internacional dos Direitos Humanos e o Direito Constitucional gera espaço para um novo ramo do
Direito que tem sido chamado de Direito Constitucional dos Direitos Humanos ou Direito Constitucional Internacional.
Como há a participação de dois poderes – Executivo e Legislativo – no processo de formação da vontade do Estado em celebrar
e incorporar tratados internacionais na ordem jurídica interna, afirma-se que o Brasil adotou a denominada teoria da junção de
vontades ou teoria dos atos complexos.

O processo de incorporação do tratado na ordem jurídica interna compõe-se de 4 fases.

Denominada de FASE DA ASSINATURA, compreende o processo que vai da negociação dos termos do tratado – quando

ainda aberta – até a assinatura do seu texto pelo Estado. É protagonizada pelo Presidente da República ou por
fase
representantes considerados capazes para assinar tratados.
2ª Denominada de FASE DA APROVAÇÃO CONGRESSUAL, compreende a apreciação legislativa do texto do tratado pelo
fase Congresso Nacional.
Denominada de FASE DA RATIFICAÇÃO, compreende a ratificação pelo Presidente da República, ato por meio do qual o
3ª Estado consente em obrigar-se aos termos do ato internacional. É com a conclusão dessa fase que o tratado entra em
fase vigor no plano INTERNACIONAL para o Estado, exceto se no texto contiver outra exigência para que isso ocorra, como,
por exemplo, número mínimo de ratificações ou fixação de data.
Denominada de FASE DA PROMULGAÇÃO, compreende a incorporação legislativa do tratado na ordem jurídica INTERNA
por meio de um DECRETO DE PROMULGAÇÃO do PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Embora criticada por um setor expressivo

da doutrina, que vê no art. 5º, § 1º, da CF, uma imposição para que os tratados de direitos humanos sejam
fase
automaticamente incorporados e imediatamente aplicados, trata-se de uma fase exigida pelo STF e praticada na atividade
legislativa-constitucional brasileira, sem a qual o tratado não tem vigor na ordem jurídica interna.

3. HIERARQUIA NORMATIVA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS à IMPORTANTE!

Podemos resumir assim as diversas correntes doutrinárias ou jurisprudenciais a respeito da hierarquia normativa dos
tratados de direitos humanos:

§ Natureza SUPRACONSTITUCIONAL: tese sustentada, dentre outros, por Celso Albuquerque Mello, tendo como fundamento a
origem internacional dos tratados e a necessidade de se dar cumprimento a eles.

§ Natureza CONSTITUCIONAL: tese sustentada, dentre outros, por Antônio Augusto Cançado Trindade, tendo como fundamento
no art. 5º, §2º, da CF, por ele idealizado durante a constituinte, segundo o qual “Os direitos e garantias expressos nesta
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte”.

§ Natureza de LEI ORDINÁRIA FEDERAL: jurisprudência do STF até 2008.


Fundamento: a CF admite RE contra decisão que declara a inconstitucionalidade de tratado.

§ PELO MENOS MATERIALMENTE CONSTITUCIONAIS: tese sustentada, dentre outros, por Flávia Piovesan e Mazzuoli, segundo a
qual o art. 5º, § 3º, confere apenas a constitucionalidade formal aos tratados de direitos humanos.

§ NATUREZA SUPRALEGAL: entendimento atual do STF, adotado desde o julgamento do RE 466.343, em 2008, segundo o qual
os tratados de direitos humanos – que NÃO forem aprovados nos termos do art. 5º, § 3º, da CF, ESTÃO ABAIXO DA
CONSTITUIÇÃO, PORÉM ACIMA DA LEGISLAÇÃO FEDERAL. Daí decorre, então, a TEORIA DO DUPLO ESTATUTO, podendo haver
tanto tratados com hierarquia normativa equivalente à emenda constitucional quanto tratados com hierarquia normativa de
supralegais.

TEORIA DO DUPLO ESTATUTO


Tratados internacionais de direitos humanos (TIDH) que NÃO NATUREZA SUPRALEGAL
foram aprovados nos termos do art.5º, §3º, da CF
TIDH aprovados nos termos do art.5º, §3º, da CF EQUIVALENTE À EMENDA CONSTITUCIONAL

@dicasexconcurseira 134
Atualmente, os tratados aprovados pelo procedimento do art. 5º, §3º, da CF, são os seguintes: à IMPORTANTE!

a) Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo (Decreto nº 6.949/2009)
à CUIDADO! A CONVENÇÃO É UM TRATRADO e o PROTOCOLO FACULTATIVO É OUTRO TRATADO, muito embora eles tenham
sido aprovados conjuntamente e promulgados pelo mesmo decreto – Decreto nº 6.949/2009!

b) Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas à Pessoas Cegas, com Deficiência Visual ou com outras
Dificuldades para ter Acesso ao Texto Impresso, concluído no âmbito da Organização Mundial da Propriedade Intelectual –
OMPI (Decreto nº 9.522/2018).

Consequências da aprovação do tratado de direitos humanos pelo procedimento especial do art. 5º, §3º, da CF:

§ Eles passam a reformar a Constituição, incorporando-se formalmente ao seu texto e revogando aquilo que lhes for
contrário;

§ Eles passam a ser paradigma do controle concentrado de convencionalidade;

§ Eles NÃO PODEM SER DENUNCIADOS, nem mesmo com o aval do Congresso Nacional, podendo o Presidente da República ser
responsabilizado em caso de descumprimento dessa regra.
Fundamento: o tratado passa a integrar o bloco das cláusulas pétreas da CF.

OBS: denúncia é um ato pelo meio do qual um Estado retira a sua adesão a determinado tratado.

ATENÇÃO!
• Até agora, admite-se que o Presidente da República denuncie, unilateralmente, QUALQUER tratado.
• Está pendente de julgamento no STF a ADI 1.625 que discute se o Presidente precisa do prévio aval do Congresso
Nacional para denunciar tratados internacionais.
• Ainda não está sob discussão se os tratados internacionais de direitos humanos que passaram pelo rito do art.5º,
§3º, da CF, podem ou não ser denunciados.
• Já há votos favoráveis à tese que exige o prévio aval do Congresso Nacional.

QUESTÕES

1. De acordo com o texto constitucional, o IDC somente pode ser suscitado em matéria criminal.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. De acordo com o texto constitucional, o Procurador-Geral da República é o único legitimado para ajuizar o IDC.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar o IDC.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Segundo a jurisprudência do STF, o tratado internacional de direitos humanos entra em vigor na ordem jurídica interna com a
ratificação pelo Estado.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. De acordo com a jurisprudência do STF, predomina no direito brasileiro a teoria do duplo estatuto a respeito da posição
normativa dos tratados de direitos humanos.
( ) CERTO ( ) ERRADO
GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 ERRADO
4 ERRADO
5 CERTO

@dicasexconcurseira 135
Aula 24
Política Nacional de Direitos Humanos, Programas Nacionais de Direitos Humanos, Conselho Nacional de Direitos Humanos e
Instituição Nacional de Direitos Humanos de acordo com os Princípios de Paris

1. Introdução

Podemos compreender política nacional de direitos humanos como a forma em que o Estado planeja e executa a
proteção nacional dos direitos humanos. O principal órgão incumbido de criar e implementar uma agenda de política nacional
de direitos humanos é o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Esse órgão já recebeu outros
nomes, como Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Secretaria Especial de Direitos Humanos, Ministério
dos Direitos Humanos e, atualmente, a partir de 2019, Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Vários outros órgãos, como secretarias e conselhos, integram a estrutura do MMFDH. Vejamos o seguinte organograma
extraído do site do MMFDH:

2. Programas Nacionais de Direitos Humanos

Para se projetar uma política nacional de direitos humanos, a Declaração e Programa de Ação de Viena, aprovada na
Conferência Mundial sobre os Direitos Humanos em 1993 (organizada pela ONU), recomendou aos Estados que ponderassem
sobre a elaboração de um plano nacional de ação que identificasse os passos através dos quais os Estados poderiam melhorar a
promoção e a proteção dos direitos humanos.

Conforme a lição de André de Carvalho Ramos, “a missão do Programa Nacional de Direitos Humanos é dar visibilidade
aos problemas referentes aos direitos humanos no Brasil e, simultaneamente, estipular e coordenar os esforços para a
superação das dificuldades e implementação dos direitos. Assim, há uma dupla lógica: a LÓGICA DA IDENTIFICAÇÃO dos
principais obstáculos à promoção e defesa dos direitos humanos no Brasil, bem como a LÓGICA DA EXECUÇÃO, a curto, médio
e longo prazos, de medidas de promoção e defesa desses direitos”.

@dicasexconcurseira 136
O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) NÃO POSSUI FORÇA VINCULANTE EM SI, pois é MERO DECRETO
PRESIDENCIAL editado de acordo com o art. 84, IV, da CF, com o objetivo de promover a fiel execução das leis e normas
constitucionais.

Até agora, já tivemos 3 PNDHs no Brasil, sendo:

a) o PNDH-1, de 1996, que voltou-se mais à proteção dos DIREITOS CIVIS, com especial foco no combate à impunidade e à
violência policial, adotando como meta, ainda, a adesão do Brasil a tratados de direitos humanos. Além disso, o PNDH-1
inaugurou um processo de consulta e prévio debate com a sociedade civil sobre direitos humanos;

b) o PNDH-2, de 2002, que revogou o PNDH-1, mantendo, no mais, a sua diretriz, mas agregando os DIREITOS SOCIAIS EM
SENTIDO AMPLO. Em seus considerandos, foram identificados os avanços alcançados com o PNDH-1, entre eles a transferência
da competência da Justiça Militar para a Justiça Comum para julgar crimes dolosos contra a vida praticados por policiais
militares (Lei 9.299/96), a tipificação do crime de tortura (Lei 9.455/97) e a inserção da federalização dos crimes contra os
direitos humanos na PEC sobre a reforma do Poder Judiciário; e

c) finalmente, o PNDH- 3, de 2009, ainda em vigor, que revogou o PNDH-2. Entre as diferenças com seus antecessores, o PNDH-
3 se destaca pela adoção de eixos orientadores e diretrizes, colocando de forma detalhada como deveria se dar a
implementação.

O PNDH-3 foi considerado muito progressista por setores conservadores pelas suas diretrizes a respeito da
descriminalização do aborto, laicização do Estado, repressão política da ditadura militar etc. O Governo (Lula) respondeu
editando o Decreto nº 7.177/2010, suavizando e neutralizando algumas das diretrizes.

Finalmente, importante lembrar que também há programas estaduais de direitos humanos, sendo que o primeiro
deles foi adotado em SP, em 1997.

3. Conselho Nacional dos Direitos Humanos

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) é um órgão colegiado de composição paritária que tem por
finalidade a promoção e a defesa dos direitos humanos no Brasil através de ações preventivas, protetivas, reparadoras e
sancionadoras das condutas e situações de ameaça ou violação desses direitos, previstos na CF e em tratados e atos
internacionais ratificados pelo Brasil

Instituído inicialmente pela Lei 4.319/1964, que criou o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), o
colegiado foi transformado em Conselho Nacional dos Direitos Humanos pela Lei 12.986/2014.

O art. 3º da Lei 12.986 trata da composição do CNDH, que se divide em representantes de órgãos públicos e
representantes da sociedade civil. A Defensoria Pública é representada no CNDH por um membro da Defensoria Pública da
União.

O art. 4º da Lei 12.986 elenca as incumbências do CNDH, entre as quais destaco as seguintes:
a) Fiscalizar a política nacional de direitos humanos;

b) Expedir recomendações a entidades públicas e privadas envolvidas com a proteção dos direitos humanos, fixando prazo
razoável para o seu atendimento;

c) Recomendar a inclusão da matéria específica de direitos humanos nos currículos escolares, especialmente nos cursos de
formação das polícias e dos órgãos de defesa do Estado e das instituições democráticas;

d) Pronunciar-se, por deliberação expressa da maioria absoluta de seus conselheiros, sobre crimes que devam ser considerados,
por suas características e repercussão, como violações a direitos humanos de excepcional gravidade, para fins de
acompanhamento das providências necessárias a sua apuração, processo e julgamento.

e) Realizar procedimentos apuratórios de condutas e situações contrárias aos direitos humanos e aplicar sanções de sua
competência.

O art. 6º dispõe sobre as sanções que o CNDH pode aplicar:


a) Advertência;
b) Censura pública;
c) Recomendação de afastamento de cargo, função ou emprego na Administração Pública;
@dicasexconcurseira 137
d) Recomendação de que não sejam concedidos verbas, auxílios ou subvenções a entidades comprovadamente responsáveis por
condutas ou situações contrárias aos direitos humanos.

Finalmente, os artigos 7º a 10 da Lei 12.986 tratam da estrutura organizacional do CNDH. E o art. 13 da Lei 12.986
afirma que o exercício da função de conselheiro do CNDH não será remunerado a qualquer título, constituindo serviço de
relevante interesse público.

4. Instituição Nacional de Direitos Humanos de acordo com os Princípios de Paris

Instituições Nacionais de Direitos Humanos (INDH) são ORGANISMOS ESTATAIS INDEPENDENTES criados por um
mandato constitucional ou legislativo para promover e proteger os direitos humanos. Para se qualificar ou se certificar como
uma INDH, o órgão deve observar as diretrizes constantes do documento PRINCÍPIOS RELATIVOS AO ESTATUTO DAS
INSTITUIÇÕES NACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS (Princípios de Paris), aprovado pela Assembleia-Geral da ONU pela
Resolução nº 48/134, de 20.12.1993.

Vejamos as principais diretrizes que constam dos Princípios de Paris sobre as INDH:
a) A instituição deve ser NACIONAL e ter por atribuições a promoção e a proteção dos direitos humanos;

b) Devem receber um mandato amplo consagrado no texto constitucional ou legislativo;

c) Devem ter, entre outras, as seguintes competências:


1) apresentar ao Governo, Parlamento ou outro órgão competente, em caráter consultivo, opiniões, recomendações, propostas
e relatórios;
2) promover e assegurar a harmonização entre preceitos nacionais e internacionais de direitos humanos, e sua efetiva
implementação;
3) encorajar a ratificação de instrumentos internacionais de direitos humanos e assegurar sua implementação;
4) contribuir para os relatórios que os Estados têm de elaborar de acordo com os tratados de direitos humanos;
5) cooperar com a ONU e seus órgãos, bem assim com instituições regionais e nacionais, com atuação em direitos humanos;
6) prestar assistência na elaboração de programas de ensino e investigação no domínio dos direitos humanos e participar na
respectiva execução nas escolas, universidades e círculos profissionais; e
7) divulgar os direitos humanos e os esforços para combater a discriminação em todas as suas formas, nomeadamente a
discriminação racial, promovendo a sensibilização do público, em especial através da informação e educação e da utilização de
todos os órgãos de imprensa.

d) A respeito da composição: quer por eleição, quer por outros meios, deve conter uma representação pluralista das forças
sociais (da sociedade civil) que participam na promoção e proteção dos direitos humanos, como por exemplo ONGs, correntes
de pensamento filosóficas ou religiosas, universidades e peritos qualificados, parlamento e departamentos governamentais
(atenção: caso sejam incluídos, estes representantes deverão participar nas deliberações apenas a título consultivo).

e) Uma INDH pode ser autorizada a receber e examinar queixas e petições relativas a situações individuais, podendo, ao final,
se for o caso, formular recomendações às autoridades competentes.

Cumprindo estas diretrizes, a instituição nacional pode requerer o seu credenciamento como INDH junto à ONU, sendo
que o órgão responsável pela certificação é o Comitê Internacional de Coordenação das Instituições Nacionais de Direitos
Humanos. Essa certificação permite participar e ter voz no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

O CNDH pode ser considerado uma INDH? A meu ver, não, pois o CNDH abriga em sua composição diversos
representantes do Governo (Secretário Especial de Direitos Humanos, Deputados Federais, Senadores, Ministro das Relações
Exteriores e Ministro da Justiça) com direito à voto. De acordo com os Princípios de Paris, o Governo deve ser mero observador
da atuação independente e imparcial da INDH, com direito à voz apenas.

E a Defensoria Pública da União, pode ser considerada uma INDH? Há quem entenda que sim, considerando a forte
representatividade social da instituição. No entanto, entendo que a DPU não pode ser considerada uma INDH, e isso porque a
sua administração superior não contempla uma representação pluralista das forças sociais, propiciando a estas o direito de
votar sobre o planejamento da instituição.

@dicasexconcurseira 138
QUESTÕES

1. Os programas nacionais de direitos humanos possuem a natureza de lei e, portanto, são vinculantes.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. O PNDH-1 priorizou temas relacionados aos direitos de primeira geração, dando destaque especial ao combate à impunidade
e à violência policial.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. A Defensoria Pública é representada no Conselho Nacional de Direitos Humanos por um membro da Defensoria Pública da
União.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. O Conselho Nacional de Direitos Humanos pode ser considerado uma Instituição Nacional de Direitos Humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 CERTO
4 ERRADO

@dicasexconcurseira 139
Aula 25
Formas de reparação e execução de decisões oriundas de tribunais internacionais de direitos humanos no Brasil

1. Noção introdutória sobre a responsabilidade internacional do Estado

Ainda que exista, no âmbito do Tribunal Penal Internacional (TPI), a responsabilidade penal individual da pessoa ou
do particular e que haja movimentos principalmente na Organização das Nações Unidas (ONU) para avançar rumo à
responsabilidade internacional das pessoas jurídicas, até o momento, no âmbito do Direito Internacional dos Direitos
Humanos, de forma juridicamente estabelecida, SOMENTE OS ESTADOS PODEM SER RESPONSABILIZADOS
INTERNACIONALMENTE. à IMPORTANTE!

A responsabilidade internacional do Estado pode se dar tanto mediante condutas ativas de seus agentes ou
funcionários quanto através da omissão destes diante de violações de direitos humanos praticadas por particulares. Neste
sentido, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) possui o entendimento de que:

“É suficiente a demonstração de que houve apoio ou tolerância do poder público na violação dos direitos reconhecidos
na Convenção [Americana]. Além disso, também há responsabilidade internacional do Estado quando este não realiza as
atividades necessárias, de acordo com seu direito interno, para identificar e, se for o caso, punir os autores das violações” (Caso
Paniagua Morales e outros vs. Guatemala, §91)”.

Conforme a síntese elaborada por Rojas, as hipóteses de atribuição de responsabilidade no sistema interamericano de
direitos humanos são as seguintes:

“i) O Estado pode ser responsabilizado pela adoção de DISPOSIÇÕES LEGISLATIVAS incompatíveis com as obrigações
internacionais. Isto é, se for editada uma lei que seja incompatível com as obrigações que o Estado contraiu através dos
tratados de direitos humanos, o Legislativo estará fazendo com que o Estado incorra em responsabilidade internacional e,
portanto, o coloca em situação de ser sujeito passivo no sistema internacional, assim como objeto de um processo internacional
e ser, eventualmente, objeto de uma condenação internacional. Também pode o Poder Legislativo comprometer a
responsabilidade do Estado quando não adota disposições legislativas necessárias para deixar a sua normativa interna
compatível com as obrigações internacionais. Quando os Estados ratificam um tratado, tornam este parte de sua legislação,
logo, comprometem-se também a adequar toda a sua legislação interna de acordo com os parâmetros do tratado internacional.
(...)

ii) O PODER EXECUTIVO, através de todos seus funcionários, por ações ou omissões que sejam incompatíveis com as
obrigações internacionais, também pode fazer com que o Estado seja responsável internacionalmente. Esta é a visão clássica
que temos do descumprimento de uma obrigação internacional de direitos humanos: a de um funcionário público que não
cumpre com aquilo que está obrigado a respeitar e a garantir (isto compreende também a obrigação de prevenir e reprimir
ações ilícitas de particulares); (...)

iii) Também o PODER JUDICIAL pode fazer com que o Estado incorra em responsabilidade internacional. Esta responsabilidade
poderá estar baseada na denegação de justiça, infrações ao devido processo, aplicação de normas incompatíveis ou
interpretação incompatível com as obrigações internacionais do Estado”.

Assim, como decorrência da responsabilidade internacional do Estado – seja por ato/omissão do Poder Legislativo,
Executivo ou Judiciário - surge a obrigação de reparar a violação de direitos humanos.

ATENÇÃO! Daqui em diante o estudo será feito – principalmente – a partir das reparações que podem ser determinadas pela
Corte IDH, e isso não apenas por ser o tribunal que mais de perto e com maior intensidade vincula o Brasil, mas também porque
a competência da Corte para determinar medidas de reparação tem se mostrado mais ampla do que a confiada ou assumida por
outros órgãos e tribunais internacionais de direitos humanos.

Antes de prosseguir, façamos, então, uma leitura atenta do art. 63.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(CADH):
“Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade protegidos nesta Convenção, a Corte determinará que se
assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade violados. Determinará também, se isso for procedente, que sejam
REPARADAS as consequências da medida ou situação que haja configurado a violação desses direitos, bem como o PAGAMENTO
DE INDENIZAÇÃO JUSTA à parte lesada”.

@dicasexconcurseira 140
2. Modalidades ou formas de reparação por violações de direitos humanos

Para a Corte IDH, o art. 63.1 da CADH exige, sempre que for possível, a PLENA RESTITUIÇÃO (restitutio in integrum) da
vítima à situação anterior à violação dos direitos humanos, sendo que, diante da impossibilidade, outras medidas de reparação
devem ser adotadas.

De acordo com o Regulamento da Corte IDH, a decisão sobre as reparações pode ocorrer tanto no momento da
prolação da SENTENÇA DE MÉRITO quanto numa OPORTUNIDADE POSTERIOR (art. 66.1).

No âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), há um documento muito elucidativo, com natureza de norma soft
law, adotado pela Assembleia-Geral por meio da Resolução 60/147, de 16.12.2005, que são os Princípios e Diretrizes Básicas
sobre o Direito a Recursos e Reparação para Vítimas de Violações Flagrantes das Normas Internacionais de Direitos Humanos e
de Violações Graves do Direito Internacional Humanitário. De acordo com o art. 18 deste documento:

“Em conformidade com o direito interno e o direito internacional, e tendo em conta as circunstâncias concretas de cada
caso, as vítimas de violações flagrantes das normas internacionais de direitos humanos e de violações graves do direito
internacional humanitário devem, conforme apropriado e de forma proporcional à gravidade da violação e às circunstâncias de
cada caso, obter uma reparação plena e efetiva, conforme estipulado nos princípios 19 a 23, nomeadamente sob as seguintes
formas: RESTITUIÇÃO, INDENIZAÇÃO, REABILITAÇÃO, SATISFAÇÃO e GARANTIAS DE NÃO REPETIÇÃO”.

Pela clareza e didática, vale transcrever, ainda, o conceito e a extensão de cada uma dessas modalidades ou formas de
reparação conforme dispõem os Princípios:

“19. A RESTITUIÇÃO deve, sempre que possível, restaurar a situação original em que a vítima se encontrava antes da ocorrência
das violações flagrantes das normas internacionais de direitos humanos ou das violações graves de direito internacional
humanitário. A restituição compreende, conforme apropriado: restabelecimento da liberdade, gozo dos direitos humanos,
identidade, vida familiar e cidadania, regresso ao respectivo local de residência, reintegração no emprego e devolução de bens.

20. A INDENIZAÇÃO deve ser garantida, de forma apropriada e proporcional à gravidade da violação e às circunstâncias de cada
caso, para qualquer dano economicamente avaliável resultante de violações flagrantes das normas internacionais de direitos
humanos e de violações graves do direito internacional humanitário, nomeadamente:
a) danos físicos ou mentais;
b) oportunidades perdidas, incluindo nos domínios do emprego, da educação e dos benefícios sociais;
c) prejuízos materiais e lucros cessantes, incluindo potenciais lucros cessantes;
d) danos morais;
e) despesas necessárias para efeitos de assistência jurídica ou especializada, medicamentos e serviços médicos, e serviços
psicológicos e sociais.

21. A REABILITAÇÃO deve compreender a assistência médica e psicológica, bem como os serviços jurídicos e sociais.

22. A SATISFAÇÃO deve compreender, sendo caso disso, todas ou algumas das seguintes medidas:
a) medidas eficazes com vista à cessação de violações contínuas;
b) verificação dos fatos e revelação pública da verdade na medida em que tal revelação não cause danos adicionais nem ameace
a segurança e os interesses da vítima, dos familiares da vítima, de testemunhas ou de pessoas que tenham tido alguma
intervenção para auxiliar a vítima ou impedir a ocorrência de novas violações;
c) busca do paradeiro de pessoas desaparecidas, da identidade de crianças raptadas e do corpo de pessoas assassinadas, e
assistência na recuperação, identificação e reinumação dos cadáveres em conformidade com os desejos expressos ou presumidos
das vítimas, ou as práticas culturais das suas famílias e comunidades;
d) declaração oficial ou decisão judicial que restabeleça a dignidade, a reputação e os direitos da vítima e de pessoas
estreitamente ligadas à vítima;
e) desculpa pública, incluindo o reconhecimento dos fatos e a aceitação de responsabilidades;
f) sanções judiciais e administrativas contra as pessoas responsáveis pelas violações;
g) comemorações e homenagens às vítimas;
h) inclusão de informações exatas sobre as violações ocorridas na formação incidente sobre as normas internacionais de direitos
humanos e direito internacional humanitário e nos materiais didáticos para todos os níveis de ensino.

23. AS GARANTIAS DE NÃO REPETIÇÃO devem incluir, sendo caso disso, todas ou algumas das seguintes medidas, as quais
contribuirão também para a prevenção:
a) garantia de um controle efetivo das forças militares e de segurança pelas autoridades civis;
b) garantia de que todos os procedimentos civis e militares observam as normas internacionais relativas às garantias
processuais, à equidade e à imparcialidade;
@dicasexconcurseira 141
c) reforço da independência do poder judicial;
d) proteção dos profissionais das áreas da justiça, da medicina e dos serviços de saúde, dos profissionais da comunicação
social e outras profissões conexas, e dos defensores de direitos humanos;
e) prestação, à título prioritário e de forma continuada, de educação em matéria de direitos humanos e direito internacional
humanitário a todos os setores da sociedade e de formação nessas áreas aos funcionários responsáveis pela aplicação da lei,
bem como às forças militares e de segurança;
f) promoção da observância de códigos de conduta e normas éticas, em particular normas internacionais, por parte dos
funcionários públicos, incluindo funcionários responsáveis pela aplicação da lei e pessoal da administração penitenciária, meios
de comunicação social, serviços médicos, psicológicos e sociais e pessoal militar, bem como por parte das empresas comerciais;
g) promoção de mecanismos para a prevenção e monitoração de conflitos sociais e sua resolução;
h) revisão e alteração de leis que favoreçam ou permitam violações flagrantes das normas internacionais de direitos humanos e
violações graves do direito internacional humanitário”.

O prof. Caio Paiva considera oportuno abordarmos de forma separada, ainda que brevemente, o denominado DANO
AO PROJETO DE VIDA.

Foi no julgamento do Caso Loayza Tamayo vs. Peru em que a Corte IDH reconheceu, pela primeira vez, a existência e a
autonomia conceitual do dano ao projeto de vida. Vejamos o pronunciamento da Corte sobre o conceito e o alcance do dano ao
projeto de vida:

“147. No que diz respeito à reclamação do dano ao ‘projeto de vida’, convém ressaltar que este conceito tem sido objeto de
análises por parte da doutrina e da jurisprudência recentes. Trata-se de uma noção distinta do ‘dano emergente’ e do ‘lucro
cessante’. Certamente não corresponde à afetação patrimonial derivada imediata e diretamente dos fatos, como ocorre no
‘dano emergente’. Quanto ao ‘lucro cessante’, deve-se destacar que enquanto este se refere de forma exclusiva à perda de
proveitos econômicos futuros, que é possível quantificar a partir de certos indicadores mensuráveis e objetivos, o denominado
‘projeto de vida’ atende à realização integral da pessoa afetada, considerando sua vocação, aptidões, circunstâncias,
potencialidades e aspirações, que lhe permitem estabelecer razoavelmente determinadas expectativas e alcançá-las.

148. O ‘projeto de vida associa-se ao conceito de realização pessoal, que por sua vez se sustenta nas opções que o sujeito pode
ter para conduzir sua vida e alcançar o destino que se propõe. A rigor, as opções são a expressão e garantia da liberdade. (...)
Essas opções possuem, em si mesmas, um alto valor existencial. Portanto, sua violação ou desprezo implicam a redução objetiva
da liberdade e a perda de um valor que não pode ser alheio à observação desta Corte”.

No entanto, ainda na determinação das reparações do Caso Loayza Tamayo, a Corte IDH não apenas se absteve de
quantificar o dano ao projeto de vida, como também afirmou que, em alguma medida, as demais indenizações fixadas na
sentença – por danos materiais e morais – compensariam a vítima, ainda que dificilmente lhe devolvessem ou
proporcionassem as opções de realização pessoal das quais se viu privada. Vejamos o trecho correspondente da decisão da
Corte:

“153. A Corte reconhece a existência de um grave dano ao ‘projeto de vida’ de Maria Elena Loayza Tamayo, derivado da violação
de seus direitos humanos. Porém, A EVOLUÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA E DA DOUTRINA ATÉ A DATA NÃO PERMITE TRADUZIR
ESTE RECONHECIMENTO EM TERMOS ECONÔMICOS E, POR ISSO, O TRIBUNAL SE ABSTÉM DE QUANTIFICÁ-LO. Adverte, não
obstante, que o acesso da vítima à jurisdição internacional e a emissão da correspondente sentença implicam, por si sós, um
princípio de satisfação nesta ordem de considerações.

154. A condenação que se faz em outros pontos da presente sentença acerca dos danos materiais e morais contribui para
compensar a vítima, em alguma medida, pelas afetações sofridas por causa dos direitos violados, ainda que dificilmente
poderia lhe devolver ou proporcionar as opções de realização pessoal das quais se viu injustamente privada”.

Para fins didáticos, podemos conceituar o dano ao projeto de vida como sendo aquele que, em razão da sua
gravidade para os direitos humanos da vítima, impede esta de executar os projetos de vida que havia pensado para si. Como
exemplo, podemos citar uma prisão ilegal prolongada por anos, em condições degradantes, que tenha interrompido ou
prejudicado gravemente a pessoa na consecução do seu projeto de vida, retirando-a do mercado de trabalho, de estudos
universitários e/ou de perto da criação dos seus filhos. Outro exemplo, agora de conduta omissiva do Estado, poderia ocorrer na
inatividade do Estado diante de crianças que sobrevivem em situação de rua, sem acesso aos direitos básicos de moradia,
alimentação e educação, cenário que projeta um grau de vulnerabilidade capaz de impedir a realização de projetos de vida, que
com frequência existem – para a surpresa dos Estados violadores de direitos humanos – pelas ruas dos grandes centros urbanos.
Mais um exemplo, para finalizar, podemos pensar na violência contra uma mulher praticada ou tolerada pelo Estado, que vem a
causar posteriormente a sua infertilidade, frustrando o seu projeto de vida de ter filhos biológicos.

@dicasexconcurseira 142
Conforme se pode observar, a reparação para esses danos raramente converge com uma simples indenização,
reclamando, ao contrário, uma INTERVENÇÃO para que o Estado propicie ou restaure os meios para que a pessoa execute seu
projeto de vida, o que pode se concretizar na garantia de uma moradia, de uma bolsa de estudos, do custeio de tratamentos
para recuperar a fertilidade etc.

Como exemplo de precedente em que a Corte IDH QUANTIFICOU – pela primeira vez, aliás – o DANO AO PROJETO DE
VIDA, cito o Caso Cantoral Benavides vs. Peru:

“80. (...) a via mais idônea para restabelecer o projeto de vida de Luis Alberto Cantoral Benavides consiste em que o Estado lhe
proporcione uma bolsa de estudos superiores ou universitários, com o fim de cobrir os custos da carreira profissional que a
vítima escolher – assim como os gastos de manutenção desta última durante o período de tais estudos – num centro de
reconhecida qualidade acadêmica escolhido de comum acordo entre a vítima e o Estado”.

Para encerrarmos esse breve comentário ao dano ao projeto de vida, o prof. Caio Paiva admite que tem dificuldade
para notar uma utilidade na sua existência autônoma, parecendo-lhe que a sua quantificação acaba por distribuí- lo, no caso
concreto, entre outras formas de reparação já admitidas, como a indenização, a restituição e as medidas de não repetição.

3. Destinatários das reparações

Tratando-se da REPARAÇÃO PECUNIÁRIA, a CADH estabelece em seu art. 63.1 que a Corte deverá estabelecer o
montante da indenização a ser paga “à PARTE LESADA”. A Convenção não define este conceito, mas entende- se – tanto na
doutrina quanto na jurisprudência internacional – que o Estado pode ser responsabilizado e condenado a reparar tanto pela
violação de direitos humanos das VÍTIMAS DIRETAS quanto das VÍTIMAS INDIRETAS.

As vítimas diretas são as pessoas que sofrem diretamente a violação de direitos humanos, como no caso, por exemplo,
da pessoa que é mantida presa de forma ilegal ou que é objeto de desaparecimento forçado. As vítimas indiretas, por sua vez,
são os familiares das vítimas diretas, que podem sofrer danos psíquicos ou emocionais decorrentes da violação dos direitos
humanos daquelas.

3. Execução de decisões oriundas de tribunais internacionais de direitos humanos no Brasil

A Corte IDH, assim como outros órgãos e tribunais internacionais de proteção dos direitos humanos e diferentemente
das autoridades judiciais nacionais, NÃO POSSUI MEIOS COERCITIVOS PARA FAZER COM QUE O ESTADO CUMPRA AS SUAS
DECISÕES, podendo, no máximo, gerar um CONSTRANGIMENTO POLÍTICO para o Estado, mediante a inclusão do seu nome
em parte especial do seu relatório anual à Assembleia-Geral da OEA. Neste sentido, o art. 65 da CADH:

“A Corte submeterá à consideração da Assembleia Geral da Organização, em cada período ordinário de sessões, um
relatório sobre suas atividades no ano anterior. De maneira especial, e com as recomendações pertinentes, INDICARÁ OS CASOS
EM QUE UM ESTADO NÃO TENHA DADO CUMPRIMENTO A SUAS SENTENÇAS”.

Assim, não havendo o cumprimento espontâneo da decisão pelo Estado, como executar as medidas de reparação
determinadas pela Corte IDH? Vejamos o que dispõe o art. 68 da CADH:

“1. Os Estados Partes na Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem partes.
2. A parte da sentença que determinar indenização compensatória PODERÁ SER EXECUTADA NO PAÍS RESPECTIVO PELO
PROCESSO INTERNO VIGENTE PARA A EXECUÇÃO DE SENTENÇAS CONTRA O ESTADO”. à IMPORTANTE!

CUIDADO! Não confundam SENTENÇA ESTRANGEIRA com SENTENÇA INTERNACIONAL!

SENTENÇA ESTRANGEIRA SENTENÇA INTERNACIONAL


Para ser cumprida no Brasil, precisa passar por PROCESSO NÃO precisa passar pelo processo de homologação porque o
DE HOMOLOGAÇÃO NO STJ, nos termos do art. 105, I, i, da seu conteúdo já é presumidamente compatível com a ordem
CF, que analisará se a sentença ofende ou não a ordem jurídica interna a partir do momento em que o Estado aderiu
pública brasileira. ao respectivo tratado.

@dicasexconcurseira 143
Vejamos um quadro-resumo sobre as diferenças entre sentença internacional e sentença estrangeira:

Prosseguindo, devemos compreender mais uma premissa: se as MEDIDAS DE REPARAÇÃO consistem em obrigações
de fazer ou não fazer, como, por exemplo, a revogação ou edição de uma lei, a soltura de uma pessoa ou a determinação para
investigar e punir outra pessoa, a construção de monumento em homenagem à vítima etc., NÃO HÁ UM PROCEDIMENTO
ESPECÍFICO PARA EXECUTÁ-LAS, havendo diversas formas possíveis, como, p. ex., o ajuizamento de ação penal pelo Ministério
Público para buscar a punição do violador de direitos humanos e a execução de obrigação de fazer contra o Estado para erguer
um monumento em homenagem à vítima. Outras medidas, porém, são mais complexas de serem executadas, como, por
exemplo, a edição ou revogação de uma lei (nesse caso, a implementação dessa obrigação dependerá de articulação política,
entre entidades de proteção de direitos humanos e outras instituições, como MP, DP e OAB).
No que diz respeito às medidas de reparação de natureza pecuniária (indenização no geral), até o momento, O BRASIL
TEM CUMPRIDO ESPONTANEAMENTE AS DECISÕES INTERNACIONAIS.

Num primeiro momento, o Brasil optou pela aprovação de lei pelo Congresso Nacional para autorizar o pagamento da
indenização à vítima. Neste sentido, confiram o teor da Lei nº 10.706/2003, que “Autoriza a União a conceder indenização a José
Pereira Ferreira”, decorrente do acordo de solução amistosa celebrado entre o Brasil e a vítima na CIDH.

Num segundo momento, percebendo que a tramitação de uma lei poderia ser lenta e dificultar o cumprimento da
decisão internacional, o Brasil passou, a partir de 2004, a prever uma destinação específica em sua Lei Orçamentária Anual para
“Pagamento de indenização a vítimas de violação das obrigações contraídas pela União por meio da adesão a tratados
internacionais dos direitos humanos”. A Lei Orçamentária de 2009 (Lei 13.808/2019), por exemplo, destina R$ 5.000.00,00
(cinco milhões de reais) para esse fim.

Quanto às medidas de reparação de natureza pecuniária, não havendo o cumprimento espontâneo pelo Estado, por se
tratar a decisão internacional de um título executivo judicial, esta poderá ser executada de acordo com os artigos 534 e 535 do
CPC e com o art. 100 da CF, que estabelecem o procedimento de execução da obrigação de pagar quantia certa pela Fazenda
Pública.

A doutrina discute se a execução forçada da sentença internacional acarreta a submissão do crédito à ordem de
precatório, não havendo, ainda, um consenso sobre isso. André de Carvalho Ramos, por exemplo, defende que, considerada a
conhecida demora no pagamento pela ordem dos precatórios, a sentença internacional deveria ser equiparada com a obrigação
alimentar prevista no art. 110, §1º, da CF, e, com isso, submeter-se a uma ordem própria e mais célere. Valério Mazzuoli,
porém, não admite essa equiparação sem previsão constitucional ou legal.

Por isso, o ideal seria o Brasil alcançar a experiência já colocada em prática por outros países e adotar uma lei que
discipline detalhadamente o procedimento de cumprimento das sentenças internacionais. Já tramitaram alguns projetos de lei
neste sentido no Congresso Nacional. O mais recente é o PL 220/2016, de autoria do Senador Randolfe Rodrigues, que, em
2017, recebeu um substitutivo do Senador Antônio Anastasia, que lhe altera apenas para não limitá-lo ao sistema
interamericano.

O PL 220 adota o entendimento da não exigência do precatório, autorizando o juiz a determinar o sequestro da quantia
suficiente se o Estado não pagar em 90 dias.

@dicasexconcurseira 144
QUESTÕES

1. De acordo com a normativa e com a estrutura do Direito Internacional dos Direitos Humanos estabelecidas, as pessoas
jurídicas podem ser responsabilizadas internacionalmente pela violação de direitos humanos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. No âmbito do Direito Internacional dos Direitos Humanos, os órgãos e tribunais internacionais somente podem fixar medidas
de reparação de natureza pecuniária.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. A Corte IDH reconheceu a existência do denominado dano ao projeto de vida, pela primeira vez, no julgamento do Caso
Loayza Tamayo vs. Peru.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. As sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos não precisam passar pelo processo de homologação perante o STJ
para serem cumpridas no Brasil.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 ERRADO
3 CERTO
4 CERTO

@dicasexconcurseira 145
Aula 26
Direitos humanos dos grupos vulneráveis

1. Introdução

Segundo o prof. Caio Paiva, é muito difícil preparar uma aula sobre os direitos humanos dos grupos vulneráveis, e isso
porque tanto a bibliografia disponível é esparsa – e não concentrada – quanto cada grupo vulnerável exige uma especialização
de conhecimento.

Nas provas de concursos, o conhecimento exigido da matéria – direitos humanos dos grupos vulneráveis – tem sido
mais básico ou elementar, limitando-se aos destaques da normativa internacional central e da jurisprudência internacional de
direitos Humanos.

2. MULHERES

A normativa internacional central da proteção dos direitos humanos das mulheres é a seguinte: no sistema global, a
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (ONU, 1979; internalizada no Brasil pelo
Decreto nº 4.377/2002) e o seu protocolo facultativo (ONU, 1999; internalizada no Brasil pelo Decreto nº 4.316/2002); e no
sistema interamericano, a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (OEA, 1994),
também conhecida como Convenção de Belém do Pará em razão de ter sido adotada neste local.

Os órgãos de proteção internacional dos direitos humanos das mulheres são os seguintes: no sistema global, o Comitê
para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher; e no sistema interamericano, a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH), a Corte IDH e também a Comissão Interamericana de Mulheres (organismo especializado e permanente da
OEA, com finalidade de promover e proteger os direitos da mulher, bem como apoiar os Estados membros em seus esforços
para assegurar pleno acesso aos direitos das mulheres). A Comissão Interamericana de Mulheres (CIM) é destinatária dos
relatórios periódicos dos Estados e possui competência para requerer opinião consultiva à Corte IDH sobre a Convenção (art.
11).

SISTEMA GLOBAL SISTEMA INTERAMERICANO


Normativa Convenção sobre a Eliminação de Todas as Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Formas de Discriminação contra a Mulher e seu Erradicar a Violência contra a Mulher (ou “Convenção de
Protocolo Facultativo Belém do Pará”)
Órgãos de Comitê para a Eliminação da Discriminação - Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)
proteção contra a Mulher. - Corte IDH
- Comissão Interamericana de Mulheres (CIM)

Para conhecer o Estatuto da CIM: https://www.oas.org/xxxvga/portuguese/doc_referencia/Estatuto_ CIM.pdf

Sobre a normativa internacional central dos direitos humanos das mulheres, destaque-se 2 pontos:
a) não restringe a proteção à violência doméstica, diferente, portanto, da Lei Maria da Penha; e
b) a Convenção da ONU prevê expressamente e de forma mais específica o direito à igual remuneração e igualdade de
tratamento com os homens no trabalho tratando-se de trabalho de igual valor (art. 11.1.d).

Finalmente, vejamos os destaques da jurisprudência internacional de direitos humanos sobre este grupo vulnerável:
• O Brasil foi condenado pelo Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher no Caso Alyne Pimentel,
tendo como assunto a MORTALIDADE MATERNA. Este precedente será analisado no segundo módulo do nosso curso,
mais especificamente na aula sobre o Brasil na jurisprudência do sistema global.

• A primeira vez que a Corte IDH aplicou a Convenção de Belém do Pará foi no julgamento do Caso do Presídio Miguel
Castro Castro vs. Peru (2006).

• A primeira vez que a Corte IDH analisou um caso envolvendo situação de VIOLÊNCIA ESTRUTURAL DE GÊNERO
ocorreu no julgamento do Caso González e outras (“Campo Algodoeiro”) vs. México (2009). Este precedente também se
destaca por se tratar da primeira vez em que um tribunal internacional reconheceu a figura do FEMINICÍDIO.

• Conforme estudamos na aula sobre a jurisprudência contenciosa da Corte IDH, a Corte tem competência para apreciar
violação não apenas ao texto da CADH, mas também a outros tratados do sistema interamericano que lhe conferem

@dicasexconcurseira 146
competência, sendo este o caso da Convenção de Belém do Pará, que, ao fazer menção à CIDH em seu art. 12, sem
excluir – expressamente – a Corte, habilita, no entendimento da própria Corte, a sua competência contenciosa.

RESUMINDO: A CORTE IDH TEM COMPETÊNCIA PARA APRECIAR CASOS DE VIOLAÇÃO À CONVENÇÃO DE BELÉM DO
PARÁ (entendimento da própria Corte).

• No julgamento do Caso Artavia Murillo e outros (“fecundação in vitro”) vs. Costa Rica, a Corte IDH tratou de um direito
humano muito relevante para as mulheres, que diz respeito à AUTONOMIA REPRODUTIVA, que também está previsto
no art. 16.e da Convenção de Belém do Pará, segundo o qual as mulheres gozam do direito de “decidir livre e
responsavelmente sobre o número de filhos e sobre o intervalo entre os nascimentos e a ter acesso à informação, à
educação e aos meios que lhes permitam exercer esses direitos”. Para a Corte IDH, “este direito é violado quando se
obstaculizam os meios através dos quais uma mulher poder exercer o direito a controlar sua fecundidade”, reiterando,
então, que, “(...) a proteção à vida privada inclui o respeito das decisões tanto de converter-se em mãe ou pai,
incluindo a decisão do casal de se converterem em pais genéticos”.

• No julgamento do Caso Velásquez Paiz e outros vs. Guatemala (2015), a Corte IDH decidiu que quando se tratar de
mulher que tenha sofrido uma violência contra a sua liberdade pessoal, AS AUTORIDADES ESTATAIS DEVEM INCLUIR
NA INVESTIGAÇÃO UMA PERSPECTIVA DE GÊNERO, investigando as possíveis conotações discriminatórias por razão de
gênero num ato de violência praticado contra uma mulher, especialmente quando existam indícios concretos de
violência sexual.

• No julgamento do Caso Favela Nova Brasília vs. Brasil, a Corte IDH decidiu que A VIOLÊNCIA SEXUAL É UMA FORMA DE
TORTURA e, portanto, não deveria se submeter às regras de prescrição.

3. PESSOAS NEGRAS

A normativa internacional central da proteção dos direitos humanos das pessoas negras é a seguinte: no sistema global,
a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial (ONU, 1966; internalizada no Brasil
pelo Decreto nº 65.810/1969); e no sistema interamericano, a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação
Racial e Formas Conexas de Intolerância (OEA, 2013, tendo o Brasil apenas assinado).

Os órgãos de proteção internacional dos direitos humanos das pessoas negras: no sistema global, o Comitê para a
Eliminação da Discriminação Racial; e no sistema interamericano, a CIDH e a Corte IDH e também o Comitê Interamericano para
a Prevenção e Eliminação do Racismo, da Discriminação Racial e Todas as Formas de Discriminação e Intolerância, um foro para
intercâmbio de ideias e experiências, assim como para examinar o progresso realizado pelos Estados Partes na aplicação da
Convenção).

ATENÇÃO! A Convenção Interamericana contra o Racismo define DISCRIMINAÇÃO RACIAL INDIRETA como “a que se produz,
na esfera pública ou privada, quando uma disposição, um critério ou uma prática, aparentemente neutro, é suscetível de
implicar uma desvantagem particular para as pessoas que pertencem a um grupo específico, a menos que esta disposição,
critério ou prática tenha um objetivo ou justificação razoável e legítimo à luz do direito internacional dos direitos humanos”.

SISTEMA GLOBAL SISTEMA INTERAMERICANO


Normativa Convenção Internacional sobre a Eliminação Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação
de todas as Formas de Discriminação Racial e Formas Conexas de Intolerância (ainda não está em vigor no
Brasil)
Órgãos de Comitê para a Eliminação da Discriminação - Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)
proteção da Discriminação Racial - Corte IDH
- Comitê Interamericano para a Prevenção e Elimiação do
Racismo, da Discriminação Racial e Todas as Formas de
Discriminação e Intolerância

Na jurisprudência internacional, além dos comentários gerais do Comitê da ONU que veremos no segundo módulo,
destaco, neste momento, apenas o Caso Simone André Diniz, no qual o Brasil foi responsabilizado na CIDH pela prática do
RACISMO. Comentaremos o Caso Simone André Diniz também no segundo módulo.

@dicasexconcurseira 147
4. Criança e adolescente

A normativa internacional central da proteção dos direitos humanos das crianças é a seguinte: no sistema global, a
Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU, 1989; internalizada no Brasil pelo Decreto nº 99.710/90 – mesmo ano em que
entrou em vigor o ECA, fortemente influenciado por esta Convenção) e os seus três protocolos (um sobre envolvimento de
criança em conflitos armados, outro sobre venda de crianças, prostituição infantil e pornografia infantil, e o último relativo a um
procedimento de comunicação), sendo que os dois primeiros já foram internalizados e o último já ratificado, pendendo ainda o
decreto interno de promulgação. No âmbito global, ainda há a Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de
Crianças (1980; internalizada no Brasil pelo Decreto nº 3.413/2000); e no sistema interamericano, a Convenção Interamericana
sobre Tráfico Internacional de Menores (OEA, 1994; internalizada no Brasil pelo Decreto nº 2.470/98).

Os órgãos de proteção internacional dos direitos humanos das crianças e adolescentes são os seguintes: no sistema
global, o Comitê para os Direitos da Criança; e no sistema interamericano, a CIDH e a Corte IDH.

SISTEMA GLOBAL SISTEMA INTERAMERICANO


Normativa - Convenção sobre os Direitos da Criança e Convenção Interamericana sobre Tráfico de Menores
seus 3 Protocolos Facultativos
1º - envolvimento de criança em conflito
armado;
2º - venda de crianças, prostituição infantil
e pornografia infantil;
3º - procedimento de comunicação

- Convenção sobre os Aspectos Civis do


Sequestro Internacional de Crianças
Órgãos de Comitê para os Direitos da Criança - CIDH
proteção - Corte IDH

Sobre a normativa internacional central dos direitos humanos das mulheres, o prof. recomenda uma leitura atenta
principalmente da Convenção da ONU sobre os Direitos das Crianças.

Finalmente, vejamos os destaques da jurisprudência internacional de direitos humanos sobre este grupo vulnerável:

§ Medidas a serem adotadas pelo Estado em relação à CRIANÇA VÍTIMA DE CRIME: “A obrigação de proteger o interesse
superior das crianças durante qualquer procedimento no qual estejam envolvidos pode implicar o seguinte:
i) subministrar a informação e implementar os procedimentos adequados, adaptando-os às suas necessidades particulares,
garantindo que contêm com assistência letrada e de outra índole em todo momento, de acordo com suas necessidades;
ii) assegurar - especialmente em casos nos quais crianças tenham sido vítimas de delitos como abusos sexuais ou outras formas
de maltrato - que seu DIREITO A SEREM ESCUTADAS seja exercido garantindo-se sua plena proteção, vigilando para que o
pessoal esteja capacitado para lhes atender e que as salas de entrevistas representem um entorno seguro e não intimidatório,
hostil, insensível ou inadequado; e
iii) procurar que as crianças NÃO SEJAM INTERROGADAS EM MAIS OCASIÕES QUE AS NECESSÁRIAS para evitar, na medida do
possível, a reivitimização ou um impacto traumático na criança” (Corte IDH, Caso Rosendo Cantú e outra vs. México).

§ Direitos e garantias do adolescente PRIVADO DE LIBERDADE: “Quando o Estado se encontra na presença de crianças privadas
de liberdade, tem, além das obrigações assinaladas para toda pessoa, uma obrigação adicional estabelecida no art. 19 da
Convenção Americana. Por uma parte, deve assumir sua posição especial de garante com maior cuidado e responsabilidade, e
deve tomar medidas especiais orientadas no princípio do interesse superior da criança. Por outra, a proteção da vida da criança
requer que o Estado se preocupe particularmente das circunstâncias de vida que levará enquanto se mantenha privado de
liberdade, pois esse direito não se extingue nem se restringe por sua situação de detenção ou de prisão” (Corte IDH, Caso
Instituto de Reeducação do Menor vs. Paraguai).

§ PRISÃO OU DETENÇÃO PREVENTIVA de adolescentes: “No caso de privação de liberdade de crianças, a regra da prisão
preventiva deve ser aplicada com maior rigor, já que o normal deve ser a aplicação de medidas substitutivas da prisão
preventiva. Estas medidas podem ser, p. ex., a supervisão estrita, a custódia permanente, o envio a uma família, o envio para
um lar ou uma instituição educativa, assim como o cuidado, as ordens de orientação e supervisão, o assessoramento, a
liberdade vigiada, os programas de ensinamento e formação profissional, e outras possibilidades alternativas à internação em
instituições. A aplicação destas medidas substitutivas tem a finalidade de assegurar que as crianças sejam tratadas de maneira
adequada e proporcional às suas circunstâncias e à infração. Ademais, quando se estime que a prisão preventiva é procedente

@dicasexconcurseira 148
no caso de crianças, esta deve ser aplicada sempre durante o prazo mais breve possível, tal como estabelece o art. 37.b da
Convenção sobre os Direitos da Criança” (Corte IDH, Caso Instituto de Reeducação do Menor vs. Paraguai).

§ PRISÃO OU DETENÇÃO PREVENTIVA de adolescentes: “No que diz respeito particularmente a medidas ou penas privativas de
liberdade das crianças, aplicam-se especialmente os seguintes princípios:
1) da ultima ratio e de máxima brevidade;
2) de delimitação temporal desde o momento de sua imposição, pois se a privação da liberdade deve ser excepcional e o mais
breve possível, isso implica que as penas privativas de liberdade cuja duração seja indeterminada ou que impliquem na privação
deste direito de forma absoluta não devem ser aplicadas a crianças; e
3) a revisão periódica das medidas de privação de liberdade das crianças” (Corte IDH, Caso Mendoza e outros vs. Argentina).

§ AUDIÊNCIA DE CUSTÓRIA para adolescentes: “Esta Corte constatou que desde o momento da detenção de Eduardo Landaeta
às 17h do dia 29 de dezembro de 1996, até o segundo traslado aonde perdeu sua vida, sendo às 8h do dia 31 de dezembro,
esteve detido aproximadamente durante 38h sem ter sido apresentado ante um juiz ou autoridade competente de menores
de idade, o que, a critério da Corte, EXCEDE O PARÂMETRO de ser colocado à disposição da autoridade competente SEM
DEMORA aplicável a menores de idade, o que evidencia uma violação ao disposto no art. 7.5 da Convenção Americana” (Corte
IDH, Caso Irmãos Landaeta Mejias e outros vs. Venezuela).

ATENÇÃO! De acordo com o ECA, quando o adolescente é apreendido em flagrante, ele deve ser encaminhado ao membro do
MP que fará sua oitiva informal. Ao passo que, quando o adolescente é apreendido em razão de mandado judicial, se for o caso,
ele pode ser conduzido a presença do juiz (há uma espécie de discricionariedade). AMBOS OS DISPOSITIVOS DO ECA SÃO
INCONVENCIONAIS, por incompatibilidade com o artigo 7.5 da CADH e com a jurisprudência internacional de direitos humanos.
De acordo com o artigo 7.5 da CADH, TODA pessoa presa deve ser apresentada sem demora à autoridade judicial (e não apenas
o “adulto”).

§ GARANTIAS DO DEVIDO PROCESSO para crianças no PROCESSO MIGRATÓRIO: “As garantias do devido processo que,
conforme o direito internacional dos direitos humanos, devem vigorar em todo processo migratório, seja administrativo ou
judicial, que envolve as crianças, são as seguintes:
- o direito a ser notificado da existência de um procedimento e da decisão que seja adotada no âmbito do processo migratório;
- o direito a que os processos migratórios sejam conduzidos por um funcionário ou um juiz especializado;
- o direito a participar nas diferentes etapas processuais;
- o direito a ser assistido gratuitamente por um tradutor e/ou intérprete;
- o acesso efetivo à comunicação e assistência consular;
- o direito a ser assistido por um representante legal e a comunicar-se livremente com este representante;
- o dever de designar um curador no caso de crianças desacompanhas ou separadas;
- o direito a que a decisão que seja adotada avalie o interesse superior da criança e seja devidamente fundamentada;
- o direito a recorrer da decisão ante a um juiz ou tribunal superior COM EFEITOS SUPENSIVOS; e
- o prazo razoável de duração do processo”
(Corte IDH, OC 21/2014 – Direitos e garantias de crianças no contexto da migração e/ou necessidade de proteção internacional).

§ Direito à CONVIVÊNCIA FAMILIAR: “A CARÊNCIA DE RECURSOS MATERIAIS não pode ser o ÚNICO fundamento para uma
decisão judicial ou administrativa que determine a SEPARAÇÃO DA CRIANÇA DE SUA FAMÍLIA” (OC 17/2002 – Condição
jurídica e direitos humanos da criança).

§ TRABALHO INFANTIL: “A Corte destaca que as obrigações que o Estado deve adotar para eliminar as piores formas de trabalho
infantil têm caráter prioritário e incluem, entre outras, elaborar e colocar em prática programas de ação para assegurar o
exercício e o desfrute pleno de seus direitos. Concretamente, o Estado tem a obrigação de:
a) impedir a ocupação de crianças nas piores formas de trabalho infantil;
b) prestar a assistência DIRETA necessária e adequada para livrar crianças das piores formas de trabalho infantil e assegurar sua
reabilitação e inserção social;
c) assegurar a todas as crianças que tenham sido libertadas das piores formas de trabalho infantil o acesso ao ensino básico
gratuito e, quando seja possível e adequado, a formação profissional;
d) identificar as crianças que estão particularmente expostas a riscos e entrar em contato direto com elas; e
e) ter em conta a situação particular das meninas”
(Corte IDH, Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil).

§ Direito à IDENTIDADE DE GÊNERO: “As considerações relacionadas com o direito à identidade de gênero que foram
desenvolvidas anteriormente também são aplicáveis às crianças que desejem apresentar solicitações para que se reconheça
nos documentos e registros sua identidade de gênero autopercebida. Este direito deve ser entendido conforme as medidas de
proteção especial que existam a nível interno em conformidade com o art. 19 da Convenção, as quais devem estar
necessariamente em concordância com os princípios do interesse superior da criança, da autonomia progressiva, a ser
@dicasexconcurseira 149
escutado e a que se leve em conta sua opinião em todo procedimento que o afete, em respeito ao direito à vida, à
sobrevivência e ao desenvolvimento, assim como ao princípio de não discriminação. Por último, resulta importante ressaltar que
qualquer restrição que se imponha ao exercício pleno desse direito através de disposições que tenham como finalidade a
proteção das crianças, somente poderá se justificar conforme a esses princípios e ela não deverá resultar desproporcional”
(Corte IDH, OC 24/2017).

5. Pessoas Idosas

A normativa internacional central da proteção dos direitos humanos das pessoas idosas é a seguinte: no sistema global,
apenas normas soft law, como os Princípios das Nações Unidas em Favor das Pessoas Idosas; e no sistema interamericano, a
Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das Pessoas Idosas (OEA, 2015; o Brasil somente assinou).

Os órgãos de proteção internacional dos direitos humanos das pessoas idosas: no sistema global, nenhum específico; e
no sistema interamericano, a CIDH, a Corte IDH, além do Comitê de Especialistas da Convenção Interamericana sobre a Proteção
dos Direitos Humanos das Pessoas Idosas.

SISTEMA GLOBAL SISTEMA INTERAMERICANO


Normativa APENAS NORMAS SOFT LAW, como os Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos
Princípios das Nações Unidas em Favor das Humanos das Pessoas Idosas.
Pessoas Idosas.
Órgãos de NENHUM ESPECÍFICO. - CIDH
proteção - Corte IDH
- Comitê de Especialistas da Convenção Interamericana sobre a
Proteção dos Direitos Humanos das Pessoas Idosas.

Como o Brasil ainda não ratificou e internalizou o texto da Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos
Humanos das Pessoas Idosas, a importância deste texto no estudo para os concursos é pequena.

O prof. não identificou nenhum precedente da jurisprudência internacional de direitos humanos digno de destaque.

6. Pessoas com deficiência

A normativa internacional central da proteção dos direitos humanos das pessoas com deficiência é a seguinte: no
sistema global, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu protocolo facultativo (ONU, 2007;
internalizados no Brasil pelo Decreto nº 6.949/2009 pelo procedimento do art. 5º, §3º, da CF/88); e no sistema interamericano,
a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência
(OEA, 1999; internalizada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001).

Os órgãos de proteção internacional dos direitos humanos das pessoas com deficiência: no sistema global, o Comitê
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência; e no sistema interamericano, a CIDH e a Corte IDH, além da Comissão para a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, prevista na Convenção
Interamericana, com competência para analisar os relatórios e avaliar o progresso na aplicação da Convenção pelos Estados.

SISTEMA GLOBAL SISTEMA INTERAMERICANO


Normativa Convenção Internacional sobre os Direitos Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de
Facultativo (internalizado no Brasil pelo Deficiência.
procedimento do art.5º, §3º, da CF)
Órgãos de Comitê sobre os Direitos das Pessoas com - CIDH
proteção Deficiência - Corte IDH
- Comisssão para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência

@dicasexconcurseira 150
Sobre a normativa internacional central dos direitos humanos das mulheres, destaca-se os seguintes pontos:

§ Conceito de “DISCRIMINAÇÃO POR MOTIVO DE DEFICIÊNCIA” na Convenção da ONU: significa qualquer diferenciação,
exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o
desfrute ou o exercício, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais nos âmbitos político, econômico, social, cultural, civil ou qualquer outro. Abrange todas as formas de
discriminação, INCLUSIVE A RECUSA DE ADAPTAÇÃO RAZOÁVEL.

§ Conceito de “ADAPTAÇÃO RAZOÁVEL” na Convenção da ONU: significa as modificações e os ajustes necessários e adequados
que não acarretem ônus desproporcional ou indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que as pessoas
com deficiência possam gozar ou exercer, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais.

§ MUDANÇA DE PARADIGMA: com a Convenção da ONU, superou-se o modelo médico de deficiência, que era aquele que
considerava a pessoa com deficiência como uma pessoa “doente” e “defeituosa”, e passou-se a adotar o modelo de direitos
humanos, pautado no direito à adaptação razoável e em critérios de acessibilidade universal e de igualdade.

à SUBSTITUIÇÃO DO MODELO MÉDICO DE DEFICIÊNCIA PARA O MODELO SOCIAL DE DEFICIÊNCIA (ou MODELO DE DIREITOS
HUMANOS).

§ Conceito de “DESENHO UNIVERSAL” na Convenção da ONU: significa a concepção de produtos, ambientes, programas e
serviços a serem usados, na maior medida possível, por TODAS AS PESSOAS, sem necessidade de adaptação ou projeto
específico. O desenho universal não excluirá as ajudas técnicas para grupos específicos de pessoas com deficiência, quando
necessárias.

§ O art. 3º da Convenção veicula alguns princípios. Recomend-se a leitura.

Na jurisprudência internacional, vale os seguintes destaques:

§ Pessoas com deficiência PRIVADAS DE LIBERDADE, Convenção da ONU, art. 14.2: “Os Estados Partes assegurarão que, se
pessoas com deficiência forem privadas de liberdade mediante algum processo, elas, em igualdade de oportunidades com as
demais pessoas, façam jus a garantias de acordo com o direito internacional dos direitos humanos e sejam tratadas em
conformidade com os objetivos e princípios da presente Convenção, inclusive mediante a provisão de adaptação razoável”.

§ Caso Ximenes Lopes vs. Brasil: primeiro precedente da Corte IDH sobre violação de direitos humanos de pessoa com
DEFICIÊNCIA MENTAL, o que levou a Corte a estabelecer deveres para o BR a respeito da elaboração de uma POLÍTICA
ANTIMANICOMIAL.

§ POSSIBILIDADE DE EQUIPARAR UMA PESSOA PORTADORA DO VÍRUS HIV À CONDIÇÃO DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA nos
termos da Convenção da ONU sobre Pessoa com Deficiência: no julgamento do Caso Gonzales Lluy vs. Equador, a Corte IDH
reconheceu a existência de uma discriminação histórica contra as pessoas portadoras de HIV em razão das diferentes crenças
sociais e culturais que têm criado um estigma em torno da doença. Para a Corte, “a vida com HIV/AIDS, ou mesmo a suposição
de que uma pessoa tem, pode criar barreiras sociais e comportamentais para acessá- lo em condições de igualdade a todos seus
direitos”. Assim, como o conceito de deficiência não se define unicamente pela presença de uma deficiência física, mental,
intelectual ou sensorial, mas interage com diferentes barreiras ou limitações sociais, a Corte advertiu que o fato de portar HIV
não é, por si só, situação geradora de deficiência, mas pode, sim, em algumas circunstâncias, consideradas as barreiras
ATITUDINAIS que enfrenta a pessoa com HIV, configurar aquela situação. Corte: “a determinação de se alguém pode ser
considerado uma pessoa com deficiência depende de sua relação com o ambiente em que vive, e não apenas a uma lista de
diagnósticos”.

§ Pessoas com deficiência PRIVDAS DE LIBERDADE: tema apreciado pela Corte IDH no julgamento do Caso Chichilla Sandoval vs.
Guatemala - direito de ACESSIBILIDADE das pessoas com deficiência privadas de liberdade. Os Estados têm o dever de ajustar
um ambiente no qual o sujeito com qualquer limitação possa gozar da maior independência possível, para que participe
plenamente em todos os aspectos da vida em igualdade de condições com as demais.

@dicasexconcurseira 151
7. Pessoas em situação de rua

Não há um tratado específico sobre esse grupo vulnerável.

No DIREITO INTERNO, destaca-se o Decreto nº 7.053/2009, que Institui a Política Nacional para a População em
Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras providências.

CUIDADO! É incorreto falar em “pessoa moradora de rua”. A expressão correta é “pessoa em situação de rua”.

Os órgãos de proteção no direito internacional dos direitos humanos são os gerais, como os comitês, a CIDH e a Corte
IDH, a depender do direito humano que se alegue violado.

Não há um precedente da jurisprudência internacional digno de destaque. O prof. encontrou apenas algumas
considerações gerais sobre a vulnerabilidade das crianças em situação de rua no Caso dos Meninos de Rua (Villagrán Morales e
outros) vs. Guatemala).

Além de uma leitura atenta do Decreto nº 7.053/2009, o prof. recomenda que se leia também este Relatório da
Relatora Especial da ONU sobre moradia adequada como componente do direito a um padrão de vida adequado e sobre o
direito a não discriminação neste contexto, que traz conceitos interessantes, como o das 3 dimensões da situação de rua:
https://terradedireitos.org.br/wp-content/uploads/2016/11/Relatório_ População-em-situação-de-rua.pdf

Vejamos, aqui, apenas o conceito de “população em situação de rua”, descrito no parágrafo único do art.1º do Decreto
nº 7.053/2009:

Decreto nº 7.053/2009, Art.1º, Parágrafo único. Para fins deste Decreto, considera-se população em situação de rua o grupo
populacional HETEROGÊNO que possui em comum a POBREZA EXTREMA, os VÍNCULOS FAMILIARES INTERROMPIDOS OU
FRAGILIZADOS e a INEXISTÊNCIA DE MORADIA CONVENCIONAL REGULAR, e que utiliza os LOGRADOUROS PÚBLICOS e as ÁREAS
DEGRADADAS como espaço de moradia e de sustento, de forma TEMPORÁRIA ou PERMANENTE, bem como as UNIDADES DE
ACOLHIMENTO para pernoite temporário ou como moradia provisória.

8. Povos indígenas

Não há um tratado que contemple todos os direitos dos povos indígenas, mas apenas NORMAS SOFT LAW no âmbito
da ONU (2006) e da OEA (2016).
Há, ainda, a Convenção nº 169 da OIT, que trata de alguns direitos deste grupo vulnerável, internalizada no Brasil pelo
Decreto nº 5.051/2004.
Internamente, a matéria é tratada no Estatuto do Índio (Lei 6.001/1973).
Os órgãos de proteção internacional dos direitos humanos dos povos indígenas são os gerais – CIDH, Corte IDH e
Comitês da ONU –, a depender do direito humano violado.

Sobre a normativa internacional central, destaca-se:

§ TRANSIÇÃO DO PARADIGMA no direito dos povos indígenas – DO INTEGRACIONISMO ao INTERCULTURALISMO: de acordo


com o art. 1º do Estatuto do Índio, “esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com
o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional”.
O legislador concebeu, portanto, a condição de indígena como algo PASSAGEIRO e TRANSITÓRIO (concebeu o indígena
como algo transitório, quase que como “com defeito”, que deve ser passageiro e, assim que possível, “transferido” à sociedade).
Com a CF/88 e com a ratificação da Convenção 169 da OIT, passa-se para o interculturalismo: ser membro de uma
comunidade indígena é uma questão de identidade cultural, que deve ser fomentada, PRESERVADA e desenvolvida por todos.

§ Direito ao AUTORRECONHECIMETNO: a partir do art. 2.1 da Convenção 169, extrai-se por interpretação o direito ao
autorreconhecimento, segundo o qual cabe à própria comunidade indígena decidir quem é ou não indígena, e não à sociedade
dominante, exterior àquela cultura.

§ Direito à AUTODETERMINAÇÃO: previsto no preâmbulo da Declaração das Nações Unidas sobre os povos indígenas, o direito
à autodeterminação consiste na competência do próprio povo indígena de decidir seu modo de ser, viver e organizar-se
política, social e culturalmente.

@dicasexconcurseira 152
§ Direito à CONSULTA (IMPORTANTE!): previsto no art. 6º da Convenção 169 da OIT, consiste no DIREITO DE CONSULTA E
PARTICIPAÇÃO DAS COMUNIDADESS INDÍGENAS ANTES DA IMPOSIÇÃO DE QUALQUER TIPO DE POLÍTICA PÚBLICA QUE AS
AFETAR.
Sobre o direito de consulta, há uma divergência entre o STF e a Corte IDH.
Para o STF, “o direito de prévia consulta às comunidades deve CEDER diante de questões estratégicas, como a defesa
nacional, soberania ou a proteção ambiental, que podem prescindir de prévia comunicação a quem quer que seja, incluídas as
comunidades indígenas” (ED na Pet 3.388, j. 23.10.2013).
Já para a Corte IDH, a consulta é OBRIGATÓRIA e deve ser PRÉVIA, LIVRE e INFORMADA.

Sobre a jurisprudência internacional de direitos humanos, destaca-se:

§ No julgamento do Caso Awas Tingni vs. Nicarágua, a Corte IDH, ao analisar o direito de propriedade previsto no art. 21 da
CADH, conferiu interpretação evolutiva ao dispositivo, reconhecendo que, além do direito à propriedade privada, o texto da
Convenção também abrange a proteção da propriedade comunal dos povos indígenas em suas peculiaridades. Assim, decidiu a
Corte que “Através de uma interpretação evolutiva dos instrumentos internacionais de proteção de direitos humanos, levando
em consideração as normas de interpretação aplicáveis e, conforme o art. 29.b da Convenção – que proíbe uma interpretação
restritiva dos direitos –, esta Corte considera que o art. 21 da Convenção protege o direito à propriedade num sentido que
compreende, entre outros, os direitos dos membros das comunidades indígenas no contexto da propriedade comunal (...)”.

§ No julgamento do Caso López Álvarez vs. Honduras, a Corte IDH se pronunciou sobre a violação do direito de se expressar no
próprio idioma. Estabelece a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas que “Os povos indígenas têm
o direito de revitalizar, utilizar, desenvolver e transmitir às gerações futuras suas histórias, idiomas, tradições orais, filosofias,
sistemas de escrita e literaturas, e de atribuir nomes às suas comunidades, lugares e pessoas e de mantê-los” (art. 13). No
mesmo sentido, dispõe a Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas. No Caso López Álvarez, o Estado de
Honduras havia proibido os indígenas privados de liberdade de se expressarem em seu idioma materno. Para a Corte IDH, os
Estados devem levar em consideração os dados que diferenciam os membros de povos indígenas da população em geral,
advertindo que “A língua é um dos importantes elementos de identidade de um povo, precisamente porque garante a
expressão, difusão e transmissão de sua cultura”. A Corte IDH também ressaltou que “(...) um dos pilares da liberdade de
expressão é precisamente o direito a falar e que este implica necessariamente no direito das pessoas a utilizarem o idioma de
sua eleição na expressão de seu pensamento”, concluindo que “a expressão e a difusão de pensamentos e ideias são indivisíveis,
de modo que uma restrição das possibilidades de divulgação representa diretamente, e na mesma medida, um limite ao direito
de se expressar livremente”.

§ No julgamento do Caso Povos Kaliña e Lokono vs. Suriname, a Corte IDH tratou do tema referente à DUPLA AFETAÇÃO das
terras indígenas, que consiste em compatibilizar a proteção, em uma mesma propriedade, de interesses e direitos ambientais e
direitos das comunidades tradicionais. No julgamento do caso referido, a Corte decidiu que “Em princípio, existe uma
compatibilidade entre áreas ambientais protegidas e o direito dos povos indígenas e tribais na proteção dos recursos naturais
em seus territórios, notando que os povos indígenas e tribais, por sua interação com a natureza e os modos de vida, podem dar
um importante contributo para essa conservação”. Para viabilizar o fenômeno da dupla afetação das terras indígenas, a Corte
IDH fixou alguns parâmetros, sendo eles: a) a participação efetiva; b) o acesso e o uso dos territórios tradicionais; e c) o
reconhecimento de benefícios resultantes da conservação.

§ O Brasil foi condenado pela Corte IDH no julgamento do Caso Povo Indígena Xucuru, precedente que iremos estudar no
segundo módulo deste curso.

§ Em sua Opinião Consultiva nº 22/2016, a Corte IDH estabeleceu que pessoas jurídicas não podem acessar o sistema
interamericano, pois este foi criado e concebido para a proteção dos direitos humanos de pessoas físicas. No entanto, a Corte
IDH excepcionou – para o que nos interessa nesta ocasião – as COMUNIDADES INDÍGENAS, permitindo que elas litiguem
perante o sistema interamericano para defender os direitos humanos da coletividade indígena.

9. LGBTI

Além de algumas normas soft law tanto no sistema global (como os Princípios de Yogyakarta) quanto no sistema
interamericano, há neste segundo um tratado mais genérico sobre discriminação, que é a Convenção Interamericana contra
Toda Forma de Discriminação e Intolerância (2013), o qual o Brasil apenas assinou.

Indica-se a leitura dos Princípios de Yogyakarta:


http://www.clam.org.br/uploads/conteudo/principios_de_yogyakarta.pdf

@dicasexconcurseira 153
Os órgãos de proteção internacional da população LGBT são os órgãos gerais (CIDH, Corte IDH e Comitês da ONU), a
depender do direito humano que se alegue violado.

SISTEMA GLOBAL SISTEMA INTERAMERICANO


Normativa APENAS NORMAS SOFT LAW, como os Convenção Interamericana contra Toda Forma de
Princípios de Yogyakarta. Discriminação e Intolerância (tratado mais genérico).
Órgãos de NENHUM ESPECÍFICO. - CIDH
proteção - Comitês da ONU. - Corte IDH

Sobre a jurisprudência internacional de direitos humanos, faço os seguintes destaques:

§ A orientação sexual dos pais da criança não pode ser invocada para decidir processo judicial de GUARDA (Corte IDH, Caso
Atala Riffo e crianças vs. Chile).

§ A CADH não acolheu um conceito fechado ou tradicional de família (Corte IDH, Caso Atala Riffo).

§ A orientação sexual não pode ser entendida como fator determinante para impedir a obtenção do BENEFÍCIO DE PENSÃO
POR MORTE (Corte IDH, Caso Duque vs. Colômbia).

§ A orientação sexual não deve ser fator determinante para selecionar quem deve ou não ser MEMBRO DAS FORÇAS
ARMADAS (Corte IDH, Caso Flor Freire vs. Equador).

§ A mudança de nome, a adequação da imagem, assim como a retificação à menção ao sexo ou gênero, nos registros e
documentos de identidade, para que estes estejam de acordo com a identidade de gênero autopercebida, é um direito
protegido pela CADH (Corte IDH, OC 24/2017).

10. Quilombolas

Não há um tratado específico sobre os quilombolas, mas algumas disposições da Convenção no 169 da OIT podem ser
aproveitadas para este grupo vulnerável.
Internamente, também não há uma lei específica, mas apenas a proteção de direitos dos quilombolas por dispositivos
esparsos. Cite-se, por exemplo, o Decreto nº 4.887/2013, que Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento,
delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art.
68 do ADCT.

Importante uma leitura do Decreto nº 4.887/2013, que traz, inclusive, a definição de povos quilombolas: “Consideram-
se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os étnico-raciais, segundo critérios de
AUTOATRIBUIÇÃO, com trajetória própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra
relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida” (art. 2º, caput).

Destaca-se, por fim, a diferença existente no REGIME JURÍDICO da relação dos quilombolas com as terras que ocupam
quando comparados com os povos indígenas. à MUITO IMPORTANTE SABER ESSA DIFERENÇA DO REGIME JURÍDICO!
De acordo com o art. 68 do ADCT, “Aos REMANESCENTES DAS COMUNIDADES DOS QUILOMBOLAS que estejam
ocupando suas terras é reconhecida a PROPRIEDADE DEFINITIVA, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”.
Diferente, portanto, dos POVOS INDÍGENAS, que, nos termos da CF (art. 231, § 2º), possuem apenas a POSSE DAS
TERRAS, sendo estas de propriedade da União.

11. Refugiados

Há diversas normas soft law tanto no sistema global quanto no sistema interamericano relativas à proteção
internacional dos direitos humanos dos refugiados, mas o documento internacional central, com natureza de tratado – e por
isso, vinculante –, é a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, adotada pela ONU em 1951.

A redação originária desta Convenção continha DUAS LIMITAÇÕES, sendo uma de NATUREZA TEMPORÁRIA (vigorando
apenas para fatos ocorridos antes de 1951) e outra de NATUREZA GEOGRÁFICA (apenas para o continente europeu).

Um protocolo adotado em 1967 quebrou este paradigma eurocêntrico e superou as limitações referidas.

@dicasexconcurseira 154
O Brasil ratificou e internalizou tanto a Convenção quanto o seu protocolo facultativo. Internamente, a matéria é
tratada na Lei 9.474/97.
Os órgãos de proteção internacional dos direitos humanos dos refugiados são os gerais (CIDH, Corte IDH e Comitês da
ONU), a depender do direito humano que se alegue violado.
No sistema global, destaca- se, ainda, o ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, uma
agência especializada da ONU. Sobre o ACNUR, recomenda-se que leia esta nota informativa extraída do site da ONU: https://
nacoesunidas.org/agencia/acnur/

Sobre os destaques da normativa internacional central, vamos ler, primeiro, o conceito de pessoa refugiada encontrado
na Convenção da ONU a respeito dos refugiados:

[considera-se refugiada a pessoa que] “TEMENDO SER PERSEGUIDA por motivos de RAÇA, RELIGIÃO, NACIONALIDADE, GRUPO
SOCIAL ou OPINIÕES POLÍTICAS, se encontre FORA do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor,
não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua
residência habitual, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele”.

Importante lembrar que a NORMATIVA NACIONAL (Lei nº 9.474/97) ainda adota um CONCEITO MAIS AMPLO DE
REFÚGIO, nele incluindo a pessoa que, em razão de GRAVE E GENERALIZADA VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS, é obrigada a
deixar seu país de nacionalidade para buscar proteção em outro.

Mais um destaque da normativa internacional está no art. 31.1 da Convenção, segundo o qual “Os Estados
Contratantes não aplicarão sanções penais em virtude da sua entrada ou permanência irregulares, aos refugiados que,
chegando diretamente no território no qual sua vida ou sua liberdade estava ameaçada no sentido previsto no art. 1º, cheguem
ou se encontrem no seu território sem autorização, contanto que se apresentem sem demora às autoridades e lhes
exponham razões aceitáveis para a sua entrada ou presença irregulares”.

A Lei nº 9.474 também prevê algo neste sentido: “A solicitação [de refúgio], apresentada nas condições previstas nos
artigos anteriores, suspenderá qualquer procedimento administrativo ou criminal pela entrada irregular, instaurado contra o
peticionário e pessoas de seu grupo familiar que o acompanhem” (art. 10, caput).

à OU SEJA: OS CRIMES RELACIONADOS À INGRESSO IRREGULAR NO PAÍS (ex: uso de documentação falsa) SÃO SUPERADOS
PELA CONDIÇÃO DE SOLICITANTE DE REFÚGIO.

Outro destaque da normativa internacional está no art. 33 da Convenção, que trata do PRINCÍPIO DA NÃO
DEVOLUÇÃO, DA PROIBIÇÃO DO RECHAÇO ou do NON REFOULEMENT: à IMPORTANTE!

1. NENHUM DOS ESTADOS CONTRATANTES EXPULSARÁ OU RECHAÇARÁ, DE MANEIRA ALGUMA, UM REFUGIADO para as
fronteiras dos territórios em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaçada em virtude da sua raça, da sua religião, da sua
nacionalidade, do grupo social a que pertence ou das opiniões políticas.

2. O benefício da presente disposição NÃO PODERÁ, todavia, SER INVOCADO por um refugiado que por motivos SÉRIOS seja
considerado um PERIGO PARA SEGURANÇA DO PAÍS no qual ele se encontre ou que, tendo sido CONDENADO
DEFINITIVAMENTE POR CRIME ou DELIDO PRATICAMENTE GRAVE, constitui AMEAÇA para a comunidade do referido país.

ATENÇÃO! A Lei nº 9.474/97 também trata da matéria no seu art. 37 e, diferentemente da normativa internacional, NÃO
ADMITE EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DO NON REFOULEMENT: “A expulsão de refugiado do território nacional não resultará em
sua retirada para país onde sua vida, liberdade ou integridade física possam estar em risco, e apenas será efetivada quando da
certeza de sua admissão em país onde não haja riscos de perseguição”.

Sobre a jurisprudência internacional a respeito dos direitos humanos dos refugiados, destaca-se:

§ A primeira vez que a Corte IDH apreciou um caso envolvendo a aplicação do princípio do non refoulement ocorreu no
julgamento do Caso Família Pacheco Tineo vs. Bolívia.

§ A Convenção da ONU a respeito do refúgio NÃO PROTEGE os DESLOCADOS INTERNOS nem os REFUGIADOS AMBIENTAIS.
DESLOCADOS INTERNOS são aqueles indivíduos obrigados a sair do local de residência, mas que não chegam a cruzar
as fronteiras do país, não recebem a proteção da Convenção de 1951, embora o ACNUR também tenha mandato para lhes
oferecer proteção. Há, ainda, uma norma soft law sobre a matéria, que são os Princípios Norteadores sobre Deslocamento
Forçado, adotado pela ONU em 1988.

@dicasexconcurseira 155
DESLOCADOS/REFUGIADOS AMBIENTAIS são aqueles indivíduos que migram de forma forçada, temporária ou
permanentemente, por razões ambientais. Não são protegidos pela Convenção de 1951 porque a ONU adota um conceito de
refúgio associado à figura de um agente perseguidor, inexistente na migração decorrente de questões ambientais.

§ O Brasil ainda NÃO RECONHECE A MISÉRIA como grave violação de direitos humanos para fins de concessão de refúgio.
Não há nenhuma previsão na Lei 9.474/97 sobre essa especificidade. Assim, NÃO são verdadeiras as informações
costumeiramente propagadas pela imprensa no sentido de que todos os haitianos que chegaram ao Brasil estariam na condição
de refugiados. É evidente que um ou outro caso pode ser tratado como refúgio se preenchidos os requisitos elencados pela Lei
9.474 e pela normativa internacional. No entanto, a grande maioria dos haitianos que estão no Brasil em busca de uma melhor
qualidade de vida recebeu do Estado brasileiro um VISTO HUMANITÁRIO ou um VISTO PROVISÓRIO DE TRABALHO (situações
que não podem ser confundidas com o instituto do refúgio).

§ Embora no Direito Internacional dos Direitos Humanos asilo e refúgio integrem uma categoria única e maior chamada de
“asilo em sentido amplo” ou “direito ao acolhimento”, ainda prevalece, principalmente na doutrina nacional, que ambos os
institutos não se confundem, sendo as principais diferenças as seguintes:

ASILO EM SENTIDO AMPLO/DIRIETO AO ACOLHIIMENTO


ASILO REFÚGIO
Ato constitutivo e discricionário Ato vinculado e declaratório
Busca acolher perseguido político Contempla vários tipos de perseguição
Não conta com uma organização internacional de supervisão É supervisionado pelo ACNUR
Exige atualidade e uma situação de urgência Exige apenas o fundado temor
Não há direito subjetivo de ingresso no território nacional Há direito subjetivo de ingresso no território nacional
É regido precipuamente pelo costume internacional É regido precipuamente por tratados internacionais

QUESTÕES

1. Os tratados internacionais de direitos humanos das mulheres, dos sistemas global e interamericano, diferentemente da Lei
11.340/2006 (Lei Maria da Penha), não limitam a proteção contra a violência no ambiente doméstico.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. De acordo com o entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, quando se tratar de mulher que tenha sido
assassinada ou agredida em sua liberdade pessoal, as autoridades estatais devem empreender uma investigação absolutamente
isenta, sem introduzir na investigação, portanto, uma perspectiva de gênero.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. De acordo com o entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o art. 7.5 da CADH, que prevê a garantia da
audiência de custódia, não se aplica a adolescentes em conflitos com a lei.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. De acordo com o entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, pessoas menores de 18 anos também
possuem o direito à identidade de gênero autopercebida e, a partir daí, requerer a alteração nos seus documentos de
identidade para ajustá-los àquela.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. De acordo com o entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a depender das circunstâncias do caso
concreto, uma pessoa portadora do vírus HIV/AIDS pode ser equiparada à pessoa com deficiência.

( ) CERTO ( ) ERRADO

6. Embora se trate de um grupo extremamente vulnerável, a população em situação de rua não conta com qualquer proteção
normativa específica no ordenamento jurídico brasileiro para dispor, por exemplo, sobre uma política nacional de proteção.

( ) CERTO ( ) ERRADO

@dicasexconcurseira 156
7. De acordo com o que estabelece a Convenção no 169 da OIT, os povos indígenas devem ser consultados, através de seus
representantes, cada vez que estejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente.

( ) CERTO ( ) ERRADO
8. De acordo com o entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a decisão sobre admitir homossexuais nas
forças armadas deve ficar sujeita à margem de apreciação de cada país.

( ) CERTO ( ) ERRADO

9. Conforme estabelece o ADCT da CF/88, os quilombolas possuem apenas a posse das terras que estejam ocupando, mas não a
propriedade, que fica com a União.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 CERTO
2 ERRADO
3 ERRADO
4 CERTO
5 CERTO
6 ERRADO
7 CERTO
8 ERRADO
9 ERRADO

@dicasexconcurseira 157
MÓDULO II

Aula 01
Casos contra o Brasil no sistema interamericano e no sistema global de proteção de direitos humanos

1. Como se manter atualizado no estudo da jurisprudência internacional

Conforme ressaltado pelo prof. na aula, ele sempre procura orientar os alunos a alcançarem um estudo autônomo e
independente do professor/autor. Para nos mantermos atualizados no estudo da jurisprudência internacional de direitos
humanos, além da leitura do livro do prof. com o Thim e de acompanhá-lo nas redes sociais (@caiocpaiva no instagram), o prof.
recomenda que a gente se inscreva no sistema push da Corte IDH e da CIDH para que a gente possa receber no nosso email as
atualizações sobre as mais diversas atividades do sistema interamericano.

Para se cadastrar no sistema push da Corte IDH, acessem este endereço: http://www.corteidh.or.cr/ index.php/es/al-
dia/servicios-de-informacion
E para se cadastrar no sistema push da CIDH: http://www.oas. org/es/cidh/prensa/suscribir.asp

Acompanhar a jurisprudência do sistema global é mais difícil. Além disso, a incidência em provas de concursos é bem
menor do que o conhecimento da jurisprudência do sistema interamericano. Por isso, o prof, recomenda que, sendo de
interesse, devemos acompanhar pelo menos as atividades dos Comitês na divulgação dos comentários gerais:
https://www.ohchr.org/en/hrbodies/pages/tbgeneralcomments.aspx
O conhecimento dos comentários gerais acaba por fazer com que também conheçamos uma parte expressiva da
jurisprudência em casos individuais dos Comitês, pois é frequente a menção aos casos na formação dos comentários.

2. Casos contra o Brasil na jurisdição contenciosa da Corte IDH

Vejamos no quadro abaixo quais casos já foram julgados contra o Brasil, qual ainda está pendente de julgamento e
também em quais casos o Brasil recebeu medidas provisórias da Corte IDH:

2.1. CASOS JÁ JULGADOS

Caso Ximenes Lopes vs. Brasil (2006): este caso teve como assunto os MAUS TRATOS E A MORTE da vítima numa CLÍNICA
PRIVADA de SAÚDE MENTAL VINCULADA AO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS.

Destaca-se como pontos importantes:


1) primeira CONDENAÇÃO do Brasil na Corte;
2) primeiro caso na Corte envolvendo violação de direitos humanos de pessoa com DIFICIÊNCIA MENTAL; e
3) responsabilidade do Estado derivada de ATOS COMETIDOS POR PARTICULARES.

Sobre este terceiro ponto, transcreve-se o seguinte trecho do livro Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos:

“34.2.2. Responsabilidade do Estado derivada de atos cometidos por PARTICULARES. Outro importante do Caso Ximenes Lopes
se encontra no fato de a Corte IDH ter declarado a responsabilidade internacional do Estado por atos cometidos por
particulares, no caso, uma clínica privada de saúde. Afirmou a Corte IDH que ‘(...) a responsabilidade estatal também pode
gerar-se por atos de particulares em princípio não atribuíveis ao Estado’, avançando para dizer que ‘As obrigações erga omnes
que têm os Estado de respeitar e garantir as normas de proteção, e de assegurar a efetividade dos direitos, projetam seus
efeitos para além da relação entre seus agentes e as pessoas submetidas à sua jurisdição, pois se manifestam na obrigação
positiva do Estado de adotar as medidas necessárias para assegurar a efetiva proteção dos direitos humanos nas relações
interindividuais’ (...). Relacionando este entendimento com o caso concreto, a Corte IDH afirmou que ‘(...) a ação de toda
entidade, pública ou privada, que está autorizada a atuar com capacidade estatal, se enquadra no compromisso de
responsabilidade por fatos diretamente imputáveis ao Estado, tal como ocorre quando se prestam serviços em nome do
Estado’, e também que ‘(...) considera que os Estados têm o dever de regular e fiscalizar toda a assistência de saúde prestada às
pessoas sob sua jurisdição, como dever especial de proteção à vida e à integridade pessoal, independentemente de se a
entidade que presta tais serviços é de caráter público ou privado’”.

@dicasexconcurseira 158
Caso Nogueira de Carvalho e outro vs. Brasil (2006): este caso teve como assunto a FALHA DO ESTADO NA INVESTIGAÇÃO E
PUNIÇÃO DE AUTORES DO ASSASSINATO DE Gilson Nogueira de Carvalho, um ADVOGADO ATIVISTRA DOS DIREITOS
HUMANOS.

Destaca-se como pontos importantes:


1) primeira – e única – ABSOLVIÇÃO do Brasil na Corte;
2) há LIMITES na atuação da Corte para determinar que o Estado investigue, processe e puna os responsáveis por violação de
direitos humanos (no caso, a punição não foi possível porque os suspeitos foram ABSOLVIDOS PELO TRIBUNAL DO JÚRI); e
3) primeiro caso na Corte sobre o tema da violação de direitos humanos contra DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS.

Sobre o segundo ponto, lembrar que a obrigação de investigar e punir é de meio, e não de resultado. Ainda sobre este
ponto, um trecho do livro:

“38.2.1. Limites da atuação da Corte IDH para determinar que o Estado investigue, processe e puna os responsáveis. A Corte
IDH afirmou no julgamento do Caso Nogueira de Carvalho e outro que compete à jurisdição interna de cada Estado o exame dos
fatos e das provas apresentadas pelas partes, de modo que a ela – à Corte IDH – não compete substituir a jurisdição interna
para estabelecer ‘(...) as medidas específicas de investigação e julgamento num caso concreto para obter um resultado melhor
ou mais eficaz, mas sim constatar se nos passos efetivamente dados no âmbito interno foram ou não violadas obrigações
internacionais do Estado decorrentes dos artigos 8º e 25 da Convenção Americana”. Considerando que os supostos responsáveis
pela morte de Nogueira de Carvalho foram absolvidos pelo Tribunal do Júri, realmente seria inusitado que a Corte IDH
condenasse o Estado brasileiro pela impunidade, pois teríamos aqui uma responsabilização estatal por ato praticado por
particular – ainda que exercendo uma função pública – em que não seria possível exigir do Estado uma intervenção direta ou
indireta para que fosse obtido outro resultado’.

Caso Escher e outros vs. Brasil (2009): este caso envolveu o assunto da INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA DE INTEGRANTES DE
ORGANIZAÇÕES COMUNITÁRIAS QUE MANTINHAM RELAÇÃO COM O MST, sob o argumento de que ESTAVAM ASSOCIADOS
PARA A PRÁTICA DE CRIMES.

Destaca-se como pontos importantes:


1) a proteção do sigilo das comunicações telefônicas pela CADH;
2) a proibição de divulgação das conversas telefônicas interceptadas; e
3) a violação também do direito à liberdade de associação.

Sobre os dois primeiros pontos:

“44.2.1. A proteção do sigilo das comunicações telefônicas pela CADH. A CADH estabelece que ‘Ninguém pode ser objeto de
ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de
ofensas ilegais à sua honra ou reputação’ (art. 11.2). No julgamento do Caso Escher, a Corte IDH afirmou que, embora as
conversas telefônicas não se encontrem expressamente previstas neste dispositivo da Convenção, trata-se de uma forma de
comunicação que também é protegida pelo direito à vida privada. Consideramos acertado o entendimento da Corte
Interamericana, pois não teria sentido outorgar proteção, por exemplo, à comunicação por correspondência e deixar
desprotegida a comunicação telefônica. Apesar de a Corte IDH não ter invocado expressamente este argumento, nos parece que
temos aqui um exemplo de interpretação evolutiva da CADH, já que, quando da sua adoção, em 1969, a tecnologia para
interceptar comunicações telefônicas era muito pouco utilizada ou difundida, o que pode explicar a ausência desse tipo de
comunicação no art. 11.2 da Convenção Americana”.

44.2.3. Divulgação das conversas telefônicas interceptadas. A Corte IDH se deparou com uma questão importante no
julgamento do Caso Escher, que tem (...) uma conexão muito atual com o Direito brasileiro, dizendo respeito à possibilidade de
se levantar o sigilo da interceptação e proceder com a divulgação da conversa dos interlocutores sem que estes autorizem. Para
a Corte Interamericana, esse expediente implica em ingerência arbitrária e ilegal na vida privada, na honra e na reputação dos
indivíduos, e isso porque, no seu entendimento, ‘(...) guardar segredo das conversas telefônicas interceptadas durante uma
investigação penal é um dever estatal: a) necessário para proteger a vida privada das pessoas sujeitas a uma medida de tal
natureza; b) pertinente para os objetivos da própria investigação; e c) fundamental para a adequada administração da justiça.
No presente caso, se tratava de informação que devia permanecer sob o conhecimento apenas de um reduzido número de
funcionários policiais e judiciais, e o Estado falhou em sua obrigação de mantê-la com o resguardo devido’. Em seu voto
apresentado no julgamento do Caso Escher, o juiz García Ramírez foi preciso ao ressaltar que ‘A finalidade da justiça que
pudesse justificar a interceptação [telefônica] – ou a ingerência, em geral, em espaços da vida privada – cessa quando sobrevém
a difusão ilícita de informação que devia ficar apenas sob conhecimento e proteção da autoridade’, afirmando, ainda, ser falsa a
antinomia segurança pública x direitos fundamentais para justificar tamanha ingerência na vida privada das pessoas. Estamos de
acordo com o entendimento da Corte IDH, pois o sigilo sobre o conteúdo da interceptação telefônica – sobretudo antes de
@dicasexconcurseira 159
transitar em julgado eventual condenação – propicia um julgamento mais justo, em que garantias como privacidade, presunção
de inocência e imparcialidade se encontram mais protegidas”.

Caso Garibaldi vs. Brasil (2009): este caso envolveu a FALHA DO ESTADO NA INVESTIGAÇÃO E PUNIÇÃO DOS RESPONSÁVEIS
PELA MORTE DE Sétimo Garibaldi, ASSASSINADO EM CONTEXTO DE UM DESPEJO EXTRAJUDICIAL realizado em fazenda
situada no Estado do Pará.

Como ponto importante, destaque-se que o Brasil ainda NÃO deu cumprimento à decisão da Corte.

Recomenda-se a leitura do inteiro teor do REsp 1.351.177, julgado em 15.03.2016:


https:// ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1448761&num_
registro=201202255153&data=20160418&formato=PDF

Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil (2010): este caso envolveu o assunto da responsabilidade do
Estado brasileiro pela DETENÇÃO ARBITRÁRIA, TORTURA E DESAPARECIMENTO FORÇADO de aproximadamente 70 PESSOAS,
dentre eles INTEGRANTES DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO E CAMPONESES DA REGIÃO DO ARAGUAIA, situada em
Tocantins.

A IMPUNIDADE dos violadores de direitos humanos decorreu da APLICAÇÃO DA LEI DA ANISTIA (Lei 6.683/79).

Hoje, é elementar e óbvio, na jurisprudência internacional de direitos humanos, que leis de anistia, para a Corte IDH,
são uma espécie de “nada jurídico”, não possuem valor algum e são, por si sós, graves violações de direitos humanos, porque
elas toleram e ratificam e, de certa forma, naturalizam as violações aos direitos humanos.
O Caso Gomes Lund e Outros vs. Brasil está diretamente associado à expressão “JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO”, que é aquela
que configura um ritual de passagem do período ditatorial para a restauração da democracia. A doutrina e jurisprudência
internacionais afirmam que a Justiça de Transição se apresenta em 4 dimensões:
i. direito à memória;
ii. direito à reparação das vítimas e seus familiares;
iii. adequado tratamento jurídico aos crimes cometidos no passado;
iv. reforma das instituições para a democracia.

Como ponto mais importante deste caso, destaca-se a DIVERGÊNCIA ENTRE A CORTE IDH e o STF. Enquanto a Corte IDH
entende que leis de anistia são INVÁLIDAS, o STF entende que a Lei de Anistia brasileira é CONSTITUCIONAL.

Sobre este ponto, um trecho do livro do prof. Caio Paiva:

“49.3.3. CRITÉRIOS PARA SOLUCIONAR ESTA DIVERGÊNCIA: DIÁLOGO DAS CORTES e TEORIA DO DUPLO CONTROLE.
Diante da celeuma instalada em razão da divergência entre o Supremo Tribunal Federal e a Corte Interamericana de
Direitos Humanos, a doutrina propõe dois critérios para que se tente uma harmonização entre os entendimentos colocados em
questão.
O primeiro critério, considerado de NATUREZA PREVENTIVA, é o do DIÁLOGO DAS CORTES. Embora não haja um
verdadeiro conflito entre uma decisão do STF e uma decisão da Corte IDH, é necessário que os tribunais domésticos e
internacionais andem lado a lado para que a proteção internacional dos direitos humanos se perfectibilize da melhor maneira
possível. Com a adoção do diálogo das Cortes, haveria uma maior interação entre os tribunais nacionais e internacionais e,
consequentemente, menos ações de responsabilização por violações de direitos humanos, dado que os entendimentos dos
tribunais nacionais estariam, muito provavelmente, alinhados com a jurisprudência das Cortes internacionais.
No atual estágio da proteção internacional dos direitos humanos, o critério do diálogo das Cortes é, na maioria das
vezes, insuficiente. No Brasil, próprio STF tem postura lamentável ao ignorar, na grande maioria dos casos, os precedentes da
Corte IDH, fazendo-lhes menção apenas quando determinado entendimento da Corte corrobora o entendimento que o STF
pretende que prevaleça.
O segundo critério é o da TEORIA DO DUPLO CONTROLE (ou do DUPLO CRIVO) de direitos humanos. Caracterizada a
insuficiência do diálogo das Cortes, a doutrina criou a teoria do duplo controle de direitos humanos para tentar solucionar a
divergência entre a jurisprudência nacional e a internacional. Segundo essa teoria, os direitos humanos possuem no Brasil uma
DUPLA GARANTIA: CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE, exercido pelo STF, e CONTROLE DE
CONVENCIONALIDADE AUTÊNTICO, exercido pela Corte IDH.
Assim, com base na teoria do duplo controle de direitos humanos seria possível dirimir uma eventual controvérsia
aparente entre uma decisão do STF e uma decisão da Corte IDH; seria necessário para tanto que o entendimento esposado por
ambas as Cortes respeitasse ao mesmo tempo o crivo da constitucionalidade e o crivo da convencionalidade”.

@dicasexconcurseira 160
Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil (2016): este caso teve como assunto a FALHA DO ESTADO BRASILEIRO
EM INVESTIGAR E PUNIR OS RESPONSÁVEIS PELA PRÁTICA DO CRIME DE REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVOS
em fazendas situadas no Estado do Pará.

Destaca-se como pontos importantes:


1) primeiro precedente da Corte IDH sobre TRABALHO ESCRAVO; e
2) o entendimento da Corte sobre a IMPRESCRITIBILIDADE DO CRIME DE ESCRAVIDÃO no contexto de grave violação de
direitos humanos. à difícil é saber quando o crime de submissão à condição análoga a de escravo não implicará em grave
violação dos direitos humanos.

A respeito deste segundo ponto, um trecho do nosso livro:

“76.2.5. A imprescritibilidade do crime de escravidão cometido no contexto de violação de direitos humanos. No julgamento
do Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde, a Corte IDH se manifestou no sentido de que a prescrição ‘(...) é incompatível
com a obrigação do Estado brasileiro de adaptar sua normativa interna de acordo aos padrões internacionais’ e que a perda do
jus puniendi do Estado em razão do decurso do lapso temporal não pode ser invocada diante de normas de jus cogens, como,
por exemplo, o próprio delito de escravidão. Assim, a Corte IDH concluiu que ‘(...) a aplicação da figura da prescrição no
presente caso representou uma violação ao artigo 2º da Convenção Americana, pois foi um elemento decisivo para manter a
impunidade dos fatos constatados em 1997’. Além de reconhecer a existência dos crimes de tráfico de pessoas e trabalho
escravo na Fazenda Brasil Verde, a Corte Interamericana reconheceu a imprescritibilidade da escravidão contemporânea, que,
no Brasil, corresponde ao crime de redução à condição análoga à de escravo, conduta tipificada no art. 149 do Código Penal,
cuja pena do tipo básico é de 2 a 8 anos de reclusão, e multa. No entanto, ISSO NÃO SIGNIFICA que o art. 149 do Código Penal
passou a ser um crime imprescritível no ordenamento jurídico interno, uma vez que a sentença da Corte IDH se limitou a
estabelecer que formas de escravidão contemporânea ou delitos análogos (tráfico de pessoas, servidão e trabalho forçado), no
contexto de grave violação a direitos humanos, são crimes de direito internacional e, por tal razão, abrangidos pelo manto da
imprescritibilidade, uma vez que integram o domínio do jus cogens. Nesse sentido, concluiu a Corte IDH: “A Corte considera
que a alegada amplitude do tipo penal previsto no artigo 149 do Código Penal brasileiro não modifica a conclusão anterior como
pretende o Estado. Nesse caso, a Corte não declara imprescritível, de maneira geral, um delito previsto no ordenamento jurídico
brasileiro (o citado artigo 149), mas unicamente condutas que constituam escravidão ou uma de suas formas análogas, em
conformidade com o disposto nesta sentença. A decisão da Corte possui, obviamente, o efeito de declarar que a escravidão e
suas formas análogas são imprescritíveis, independentemente de estas corresponderem a um ou mais tipos penais de acordo
com o ordenamento interno brasileiro. Portanto, cabe a este Tribunal ordenar ao Estado que, dentro de um prazo razoável a
partir da notificação da presente sentença, adote as medidas legislativas necessárias para garantir que a prescrição não seja
aplicada à redução de pessoas à escravidão e suas formas análogas (...)’. Desse modo, no julgamento do Caso Trabalhadores
da Fazenda Brasil Verde, a Corte IDH também se dirige ao Poder Legislativo, uma vez que exarou um mandato internacional
implícito de ajustamento para que o Estado brasileiro torne imprescritível os crimes de escravidão, servidão, trabalho forçado
e o tráfico de pessoas quando cometidos num grave contexto de crimes contra a humanidade”.

Caso Favela Nova Brasília vs. Brasil (2017): este caso teve como assunto a responsabilidade do Estado por EXECUÇÕES
EXTRAJUDICIAIS PRATICADAS POR AGENTES DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, entre 1994 e 1995, no
contexto de operações na Favela Nova Brasília, situada no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. As mortes foram apuradas
como se tratando, todas, de RESISTÊNCIA À PRISÃO (“AUTO DE RESISTÊNCIA À PRISÃO”).

Pontos de destaque a respeito desse caso:

• Neste caso, atuaram como amicus curiae a DPE/SP e a DPU.

• De acordo com o art.268 do CPP, o assistente de acusação somente pode intervir na fase processual. A vítima,
portanto, não tem participação na investigação. A Corte IDH, no entanto, entende que a vítima DEVE PARTICIPAR
DESDE A FASE DA INVESTIGAÇÃO. Logo, podemos estabelecer que, a partir desse precedente da Corte no Caso Favela
Nova Brasília, O ART.268 DO CPP É INCONVENCIONAL!

• INCONVENCIONALIDADE DA PRESCRIÇÃO EM CRIMES QUE ATENTAM CONTRA OS DIREITOS HUMANOS. Novamente,


a Corte IDH foi muito genérica e imprecisa, pois, afinal de contas, quais são os crimes que atentam contra os direitos
humanos? Veremos, na nossa aula sobre a jurisprudência mais relevante da Corte IDH, que esse entendimento, em
alguns casos, foi um pouco mais explicado e problematizado. Esse avançar da Corte IDH rumo ao entendimento de
praticamente anular o instituto da prescrição está sendo denominado, por um setor mais crítico da doutrina, de
NEOPUNITIVISMO DA CORTE INTERAMERICANA.

@dicasexconcurseira 161
Sobre o Caso Favela Nova Brasília, o prof. faz remissão a um resumo que publicou no blog dele:
https://temasdedireitoshumanos.com/2019/01/17/caso- favela-nova-brasilia-vs-brasil-resumo-e-pontos-mais-importantes/

Caso Povo Indígena Xucuru vs. Brasil (2018): este caso teve como assunto a DEMORA NO PROCESSO DE RECONHECIMENTO,
TITULAÇÃO E DEMARCAÇÃO DO TERRITÓRIO DO POVO INDÍGENA XUCURU.
Destaca-se como ponto importante ter sido a primeira condenação do Brasil na Corte IDH por violação de direitos dos
POVOS INDÍGENAS.
O Brasil tem, após a decisão deste caso em 2018, 18 meses para proceder ao processo de demarcação, que iniciou em
1989.

Caso Herzog e outros vs. Brasil (2018): este caso teve como assunto a responsabilidade do Brasil pela FALTA DE INVESTIGAÇÃO,
JULGAMENTO E PUNIÇÃO DOS RESPONSÁVEIS PELA TORTURA E PELA MORTE DE VLADIMIR HERZOG – PRATICADAS NUM
CONTEXTO SISTEMÁTICO E GENERALIZADO DE ATAQUES À POPULAÇÃO CIVIL -, ASSIM COMO PELA APLICAÇÃO DA LEI DE
ANISTIA nº 6.683/79 e DE OUTRAS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE PROIBIDAS PELO DIREITO INTERNACIONAL, em
casos de crimes contra a humanidade.
Destaca-se como ponto importante o entendimento da Corte IDH de que o Estado NÃO pode invocar a PRESCRIÇÃO, o
PRINCÍPIO DO BIS IN IDEM, as LEIS DE ANISTIA nem qualquer outra disposição análoga para descumprir seu dever de
investigar e punir os responsáveis por violações de direitos humanos.

2.2. CASO PENDENTE DE JULGAMENTO

Caso Empregados da Fábrica de Fogos em Santo Antônio de Jesus e outros vs. Brasil

Resumo extraído do site da Corte IDH: o caso se relaciona com a presumida responsabilidade internacional do Estado brasileiro
pela alegada VIOLAÇÃO DO DIREITO À VIDA DE 64 PESSOAS E À INTEGRIDADE PESSOAL DE 6 INDIVÍDUOS, COMO
CONSEQUÊNCIA DA EXPLOSÃO DE UMA FÁBRICA DE FOGOS em 11.12.1998, das quais 22 eram crianças.
Segundo a CIDH, o Estado sabia que na fábrica se realizavam atividades industriais perigosas e, por isso, devia inspecionar e
fiscalizar e que, portanto, devia conhecer que na fábrica existia presumidamente uma das piores formas de trabalho infantil e
que presumidamente se estava cometendo graves irregularidades que implicavam um alto risco e iminente perigo para a vida,
integridade pessoal e saúde de todos os trabalhadores. Igualmente, o caso se relaciona com a alegada violação dos direitos ao
trabalho e ao princípio de igualdade e não discriminação, levando em conta que presumidamente a fabricação de fogos
artificiais era para o momento dos fatos a principal, e inclusive aparentemente a única opção de trabalho para os habitantes do
município, quem se presume que considerada sua situação de pobreza, não tinham outra alternativa senão aceitar um
trabalho de alto risco, com baixa remuneração e sem medidas de segurança adequadas. De igual maneira, relaciona-se com a
alegada violação dos direitos às garantias judiciais e proteção judicial, levando em conta que através dos processos cíveis,
penais e laborais o Estado aparentemente não havia garantido o acesso à justiça, a determinação da verdade dos fatos, a
investigação e punição dos responsáveis, nem a reparação das consequências.

2.3. MEDIDAS PROVISÓRIAS

Com a exceção do Caso Gomes Lund, que tratou de MEDIDAS PROVISÓRIAS – INDEFERIDAS – envolvendo BUSCAS POR
CORPOS DE DESAPARECIDOS, em todas as demais medidas provisórias contra o Brasil o assunto foi a violação de direitos
humanos NO INTERIOR DE ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS, veiculando nas medidas provisórias obrigações como proteger a
vida de internos e de pessoas que circulam pelo estabelecimento prisional, garantir condições adequadas de aprisionamento,
manter cadastro atualizado de pessoas privadas de liberdade, eliminar a presença de armas de qualquer tipo entre os detentos
etc. Por isso, não iremos analisar cada uma das medidas provisórias, já que os temas se repetem.

Destaca-se, porém, uma das medidas provisórias deferidas em maio de 2014 no Caso Complexo Penitenciário de Curado
(Pernambuco), consistente na obrigação de o Estado brasileiro ELIMINAR A PRÁTICA DAS REVISTAS HUMILHANTES OU
VEXATÓRIAS afetem a dignidade dos visitantes de estabelecimentos prisionais.

Além disso, em novembro de 2018, a Corte IDH expediu medidas provisórias no Caso Instituto Penal Plácido de Sá
Carvalho que podem ser consideradas inéditas na sua jurisprudência, e isso porque DETERMINOU UMA ESPÉCIE DE REMIÇÃO
DE PENA POR TEMPO DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE ILÍCITO, calculado a partir da taxa de aprisionamento. A Corte IDH decidiu
que como o IPPSC está com o dobro de pessoas reclusas, a aflição da pena também é dobrada, de modo que o tempo de pena
ou de medida preventiva deve ser contado à razão de 2 dias de pena lícita por cada dia de efetiva privação de liberdade em
@dicasexconcurseira 162
condições degradantes. E ainda, segundo a Corte IDH, esse entendimento NÃO deve ser automaticamente aplicado a
condenados por crimes contra a VIDA, INTEGRIDADE FÍSICA ou de NATUREZA SEXUAL, mas somente em cada CASO
CONCRETO, a partir de EXAME CRIMINOLÓGICO. A Corte deixou ao Estado a decisão sobre a forma do cômputo, quem irá
realizá-lo etc.

Recomenda-se a leitura atenta das medidas provisórias determinadas no Caso Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho:
http://www.corteidh.or.cr/docs/medidas/placido_se_03_por.pdf (em português).

Quadro-resumo:

Casos contra o Brasil na jurisdição contenciosa da Corte IDH


Casos julgados Casos pendentes de julgamento Medidas Provisórias
Caso Empregados da Fábrica de Fogos em Casos envolvendo ESTABELECIMENTOS
Santo Antônio de Jesus e outros: PRISIONAIS:
responsabilidade do Brasil pela violação, a) Presídio do Urso Branco;
dentro outros, dos direitos ao trabalho e à b) Complexo Tatuapé da FEBEM;
não discriminação. c) Penitenciária Dr. Sebatisão Martins
Silveira;
d) Unidade de Internação
Caso Ximenes Lopes (2006) Socioeducativa;
e) Completo Penitenciário de Curado;
f) Complexo Penitenciário de Pedrinhas;
f) Instituto Penal Plácido de Sá
Carvalho.

Envolvendo outra temática: Caso


Gomes Lund.
Caso Nogueira de Carvalho e
outros (2006)
Caso Escher e outros (2009)
Caso Garibaldi (2009)
Caso Gomes Lund e outros
(“Guerrilha do Araguaia) (2010)
Caso Trabalhadores da Fazenda
Brasil Verde (2016)
Caso Favela Nova Brasília (2017)
Caso Povo Indígena Xucuru
(2018)
Caso Herzog e outros (2018)

2.4. CASOS NA COMISSÃO INTERAMERICANA à existem inúmeras condenações contra o Brasil na CIDH, então é difícil
selecionar os casos mais importantes.

Caso José Pereira vs. Brasil

§Compromisso internacional assumido pelo BR para defender a COMPETÊNCIA FEDERAL para julgamento do CRIME DE
REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO.
§Responsabilidade internacional do Estado por atos praticados por PARTICULARES.

DE OLHO NA JURIS! Crime de redução à condição análoga à de escravo: Justiça Federal


De quem é a competência para julgar o crime de redução à condição análoga à de escravo? Justiça Federal. O crime de redução
à condição análoga a de escravo é previsto no art. 149 do Código Penal. Desse modo, tal delito encontra-se encartado no Título
I, que trata sobre os “crimes contra a pessoa” e não no Título IV (“Dos crimes contra a organização do trabalho”). Apesar disso, o
STF entende que a topografia do delito (ou seja, sua posição no Código Penal), por si só, não tem o condão de fixar a
competência da Justiça Federal. Em suma, a competência da Justiça Federal para julgar os crimes de redução à condição
análoga à de escravo, considerando que quaisquer condutas que violem não só o sistema de órgãos e instituições que
preservam, coletivamente, os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também o homem trabalhador, atingindo-o nas esferas
em que a Constituição lhe confere proteção máxima, enquadram-se na categoria dos crimes contra a organização do trabalho,
se praticadas no contexto de relações de trabalho. STF. Plenário. RE 459510/MT, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão
@dicasexconcurseira 163
Min. Dias Toffoli, julgado em 26/11/2015 (Info 809). STJ. 6ª Turma. RHC 25583/MT, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura,
julgado em 09/08/2012.

Caso Comunidades Indígenas da Bacia do Rio Xingu vs. Brasil (“Caso Belo Monte”)

§A CIDH concedeu MEDIDA CAUTELAR para que o BR adotasse diversas medidas para MITIGAR OS EFEITOS causados pela
CONSTRUÇÃO DA USINA DE BELO MONTE. O BR NÃO CUMPRIU INTEGRALMENTE A DECISÃO DA CIDH.

Caso Maria da Penha vs. Brasil

§Primeira vez que a CIDH aplicou a CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ, sendo que, na Corte IDH, o primeiro precedente de
aplicação desta Convenção ocorreu no Caso do Presídio Miguel Castro Castro.
§Entre as recomendações cumpridas pelo BR, destaca-se a CRIAÇÃO DA LEI 11.340/2006.

CUIDADO! O Caso Maria da Penha não chegou à Corte IDH; ficou apenas na Comissão.

Caso Simone André Diniz vs. Brasil

§Primeira vez que um país membro da OEA é responsabilizado na CIDH por RACISMO.
§Tornou-se paradigma do denominado “RACISMO INSTITUCIONAL”: praticado, permitido ou não punido pelo Estado.

Caso Luiza Melinho vs. Brasil

§Contexto: a vítima afirma que o BR violou seus direitos humanos ao lhe haver NEGADO A REALIZAÇÃO DE UMA CIRURGIA DE
AFIRMAÇÃO SEXUAL ATRAVÉS DO SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE e NEGADO A PAGAR-LHE A REALIZAÇÃO DA CIRURGIA EM UM
HOSPITAL PARTICULAR, tendo esse cenário lhe impedido de ter uma vida digna e lhe colocado em risco.
§Alegação do Estado de NÃO ESGOTAMENTO DOS RECURSOS INTERNOS em razão da não interposição de REsp e RE. No
entanto, até o julgamento de apelação pelo TJSP, o caso já tramitava há quase 6 anos.
A CIDH considerou, então, o atraso injustificado na tramitação do processo e aplicou a exceção do art. 46.2.c da CADH
para processar a petição (“atraso injustificado na decisão sobre os mencionados recursos”).

Casos envolvendo violação de direitos humanos de defensores de direitos humanos: Jean Wyllys, Padre Júlio Lancellotti,
Mônica Benício etc.
Como as medidas cautelares determinadas pela CIDH em casos envolvendo defensores de direitos humanos são
parecidas, recomenda-se a leitura pelo menos da decisão no Caso Jean Wyllys:
http://www. oas.org/es/cidh/decisiones/pdf/2018/85-18MC1262-18-BR-pt.pdf (em português).

3. CASOS CONTRA O BRASIL NO SISTEMA GLOBAL

O único caso já julgado contra o Brasil no sistema global é o Caso Alyne da Silva Pimentel, que tramitou perante o
Comitê para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres.

Contexto fático: em 2002, a vendedora Alyne da Silva Pimentel, 27 anos, negra e de baixa renda, então no sexto mês da
gestação de uma menina, se dirigiu até a maternidade onde realizava o pré-natal, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Com
náuseas e fortes dores abdominais, buscou assistência médica, recebeu analgésicos e foi liberada para voltar para casa. Os
sintomas não melhoraram e então ela voltou à maternidade, quando foi constatada a morte do feto.
Após horas de espera, Alyne foi submetida a uma cirurgia para retirada dos restos da placenta. Seu quadro se agravou, sendo
necessário transferi-la para um hospital público. Alyne sofreu hemorragia durante 24h até que sua transferência fosse
liberada. Após dar entrada no hospital público, Alyne ainda passou 8 horas no corredor para ser atendida. O sangramento, uma
hemorragia digestiva resultante do parto do feto morto, ACABOU POR LEVAR ALYNE À ÓBITO.
O caso foi submetido ao Comitê pela mãe da vítima, representada por uma ONG. O Comitê para a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres concluiu que o BR atuou de forma insuficiente na proteção dos direitos humanos
da vítima e também decidiu que o BR falhou ao não garantir acesso efetivo à justiça à família da vítima. O Comitê considerou
que Alyne foi objeto de discriminação, não apenas por SER MULHER, mas também por ser NEGRA e de BAIXA RENDA.

Medidas de reparação: além de recomendar que o BR INDENIZE os familiares da vítima, ainda recomendou diversas MEDIDAS
DE NÃO REPETIÇÃO, como assegurar os direitos da mulher à uma maternidade sem risco, proporcionar capacitação profissional
adequada aos trabalhadores da saúde, assegurar que as instalações e serviços privados de atenção à saúde cumpram as normas
nacionais e internacionais pertinentes em matéria de atenção à saúde reprodutiva, reduzir as mortes maternas etc.

@dicasexconcurseira 164
QUESTÕES

1. O Brasil foi condenado em todos os casos que respondeu perante a Corte IDH.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. A Corte IDH considerou, no julgamento do Caso Escher e outros, que o Brasil violou o direito à liberdade de associação das
vítimas.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. No julgamento do Caso Favela Nova Brasília, a Corte IDH considerou que a vítima deve poder participar ativamente na
persecução penal desde a fase da investigação.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. O único caso pendente de julgamento contra o Brasil, na Corte IDH, é o Caso do Povo Indígena Xucuru.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. Nas medidas provisórias determinadas no Caso Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, a Corte IDH determinou que o Estado
brasileiro coloque imediatamente em liberdade as pessoas privadas de liberdade em condições degradantes de superpopulação
carcerária.

( ) CERTO ( ) ERRAD

6. O Caso Simone André Diniz, que tramitou perante a Comissão Interamericana, tornou-se paradigma do denominado racismo
institucional.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 CERTO
3 CERTO
4 ERRADO
5 ERRADO
6 CERTO

@dicasexconcurseira 165
Aula 02
Opiniões Consultivas mais importantes da Corte Interamericana de Direitos Humanos

ATENÇAO! Pessoal, aqui é @dicasexconcurseira falando! J Este assunto é um plus no seu estudo! Não se preocupe em ler todo
esse material (eu mesma não li e irei apenas marcar os pontos abordados na aula do prof. Caio Paiva). Este é um material
muito valioso e raro de se encontrar para o estudo de uma prova de concurso.

Na aula, o prof. apenas abordará as seguintes opiniões consultivas: OC-1/1982, OC-5/1985, OC-8/97, OC-20/2009, OC-
22/2016 e OC-24/2017. Portanto, aconselho que foque nessas OCs! J

Este material representa um capítulo da 3ª edição do livro do prof. e Thim – Jurisprudência Internacional de Direitos
Humanos.

Nota histórica: a Corte IDH demorou para conseguir adesão de número de Estados suficiente para iniciar a sua
competência contenciosa. Como a competência consultiva é obrigatória e automática àqueles que aderirem à CADH, no início
do funcionamento da Corte, esta apenas atuava emitindo pareceres/opiniões consultivas.
No início do exercício da sua competência consultiva, a Corte emitiu pareceres a fim de moldar a sua própria
competência consultiva, explicando a amplitude, o alcance e a potência de suas opiniões consultivas.

Vejamos as opiniões consultivas!

Opinião Consultiva OC-1/82, de 24.09.1982: “Outros tratados” objeto da função consultiva da Corte (art. 64 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos)
Solicitada pelo PERU

O Governo do Peru pergunta, em relação ao art. 64 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (a seguir
designada “a Convenção”):

Como deve ser interpretada a frase: “ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados
Americanos”?

Em relação ao tema, o Governo peruano solicita que a consulta aborde as seguintes perguntas específicas:
Essa frase se refere e compreende:
a) Somente os tratados adotados dentro do marco ou sob os auspícios do Sistema Interamericano?; ou
b) Os tratados concluídos unicamente entre Estados Americanos, ou seja, que a referência está limitada aos tratados em que
são partes exclusivamente Estados Americanos?; ou
c) Todos os tratados nos quais um ou mais Estados Americanos sejam partes? O art. 64 da Convenção estabelece que:

1. Os Estados Membros da Organização poderão consultar a Corte acerca da interpretação desta Convenção ou de outros
tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados Americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes
compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de
Buenos Aires.

2. A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de
suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais.
Da leitura da consulta formulada se depreende que, na verdade, o Governo do Peru elaborou uma só pergunta com três
possíveis alternativas de resposta. O assunto principal consiste em definir quais são os tratados que podem ser objeto de
interpretação por esta Corte na aplicação das atribuições que lhe confere o art. 64 da Convenção.

A Corte é de opinião, primeiro:

Que a competência consultiva da Corte pode ser exercida, em geral, sobre TODA disposição, concernente à proteção
dos direitos humanos, de QUALQUER tratado internacional aplicável nos Estados Americanos, independentemente de que
seja bilateral ou multilateral, de qual seja seu objeto principal ou de quem sejam ou possam ser partes do mesmo Estados
alheios ao sistema interamericano. à A competência consultiva da Corte IDH é a mais ampla de todo e qualquer tribunal
internacional de direitos humanos.

Segundo:

Que, por razões determinantes que expressará em decisão motivada, a Corte poderá abster-se de responder uma
consulta se entender que, nas circunstâncias do caso, a petição exceda dos limites de sua função consultiva, seja porque o
@dicasexconcurseira 166
assunto apresentado diga respeito principalmente a compromissos internacionais contraídos por um Estado não americano ou a
estrutura ou funcionamento de órgãos ou organismos internacionais alheios ao sistema interamericano; seja porque o trâmite
da solicitação possa conduzir a alterar ou a debilitar, em prejuízo do ser humano, o regime previsto pela Convenção; seja por
outra razão análoga.

Comentários:

Já na sua primeira opinião consultiva a Corte IDH esclareceu, portanto, que o objeto da jurisdição consultiva não se
limita aos tratados elaborados no ambiente do sistema interamericano, abrangendo todo e qualquer tratado que possa ser
aplicado aos Estados americanos. Conforme já vimos anteriormente, a Corte IDH já emitiu interpretação sobre tratados
internacionais produzidos fora do sistema interamericano, como a Convenção de Viena sobre Relações Consulares; a Convenção
da ONU sobre Direitos da Criança; o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; a Convenção contra a Tortura e outros
Tratamentos ou Penas Crueis, Desumanos ou Degradantes; e a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados. Quando a Corte IDH
emite opinião consultiva sobre tratados de direitos humanos adotados em sistema internacional de proteção diverso do
interamericano, a sua competência consultiva naturalmente não atinge as obrigações de proteção de direitos humanos que
correspondam a Estados alheios ao sistema interamericano, ainda quando sejam partes do tratado objeto de interpretação.

Opinião Consultiva OC-2/82, de 24.09.1982: O efeito das reservas sobre a entrada em vigor da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (arts. 74 e 75)
Solicitada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos

A Comissão fez a seguinte pergunta à Corte:

A partir de quando se entende que um Estado é parte da Convenção Americana sobre Direitos Humanos: quando a
ratificou ou aderiu à Convenção com uma ou mais reservas? Desde a data do depósito do instrumento de ratificação ou adesão
ou ao cumprir o termo previsto no art. 20 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados?

Os artigos 74 e 75 da Convenção dispõem:

Artigo 74
1. Esta Convenção fica aberta à assinatura e à ratificação ou adesão de todos os Estados membros da Organização dos Estados
Americanos.
2. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela efetuar-se-á mediante depósito de um instrumento de ratificação ou de
adesão na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos. Esta Convenção entrará em vigor logo que onze Estados
houverem depositado os seus respectivos instrumentos de ratificação ou de adesão. Com referência a qualquer outro Estado que
a ratificar ou que a ela aderir ulteriormente, a Convenção entrará em vigor na data do depósito do seu instrumento de
ratificação ou de adesão.
3. O Secretário-Geral informará todos os Estados membros da Organização sobre a entrada em vigor da Convenção.

Artigo 75
Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em conformidade com as disposições da Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados, assinada em 23 de maio de 1969.
A Corte é de opinião que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos entra em vigor para um Estado que a ratifique ou que
venha a aderir a ela, com ou sem reservas, na data do depósito do instrumento de ratificação ou adesão, sem que se exija,
portanto, a manifestação ou a concordância dos demais Estados Partes da CADH sobre o conteúdo das reservas apresentadas.

Opinião Consultiva OC-3/83, de 08.09.1983: Restrições a pena de morte (arts. 4.2 e 4.4 da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos)
Solicitada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos

A Comissão solicitou à Corte uma opinião consultiva sobre a interpretação do art. 4o da Convenção nos seguintes
termos:
1. Pode um Governo aplicar a pena de morte a delitos para os quais não estava contemplada esta pena em sua legislação
interna no momento em que entrou em vigor para esse Estado a Convenção Americana sobre Direitos Humanos?
2. Pode um Governo, sobre a base de uma reserva feita no momento da ratificação ao art. 4o, inciso 4, da Convenção, legislar
com posterioridade à entrada em vigor da Convenção, impondo a pena de morte a delitos que não tinham essa sanção quando
se efetuou a ratificação?

@dicasexconcurseira 167
O art. 4º da Convenção estabelece o seguinte:
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento
da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.
2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em
cumprimento de sentença final de tribunal competente e em conformidade com lei que estabeleça tal pena, promulgada antes
de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente.
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos, nem por delitos comuns conexos com delitos
políticos.
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou
maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez.
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedidos
em todos os casos. Não se pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade
competente.

Em sua exposição sobre as considerações que originaram a consulta, a Comissão informou à Corte a existência de
certas divergências que têm tido com o Governo da Guatemala a respeito da interpretação da parte final do parágrafo segundo
do art. 4º da Convenção, assim como sobre os efeitos e alcances da reserva formulada pela Guatemala ao parágrafo quarto do
mesmo artigo, que textualmente diz:

O Governo da República da Guatemala ratifica a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, subscrita em São José
da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, fazendo reserva sobre o art. 4º, inciso 4º, da Convenção, já que a Constituição da
República da Guatemala, em seu art. 54, somente exclui da aplicação da pena de morte os delitos políticos, mas não os delitos
comuns conexos com os políticos.

O problema jurídico concreto apresentado pela Comissão é se uma reserva concebida nos termos citados pode ser
invocada por um Estado Parte para impor a pena de morte a delitos que não a tinham prevista na data da ratificação da
Convenção e, especialmente, se é possível alegar, como vem fazendo o Governo da Guatemala ante a Comissão, para
fundamentar a aplicação da pena capital a delitos comuns conexos com os políticos que não a previam anteriormente. A Corte é
de opinião, em resposta à primeira pergunta:

Que a Convenção proíbe absolutamente a extensão da pena de morte e que, consequentemente, não pode o Governo
de um Estado Parte aplicar a pena de morte a delitos para os quais não estava contemplada anteriormente em sua legislação
interna.

E em resposta à segunda pergunta:


Que uma reserva limitada por seu próprio texto ao art. 4.4 da Convenção não permite ao Governo de um Estado Parte
legislar posteriormente para estender a aplicação da pena de morte a delitos para os quais não estava contemplada
anteriormente.

Comentários:

A Corte IDH ressaltou que o art. 4º da Convenção apresenta três grupos de limitação para a pena de morte nos países
que não tenham decidido pela sua abolição:
a) em primeiro lugar, a imposição ou aplicação desta pena está sujeita ao cumprimento de regras processuais cujo respeito deve
ser exigido;
b) em segundo lugar, seu âmbito de aplicação deve ser reduzido aos crimes comuns mais graves, não podendo incidir em crimes
políticos nem em crimes comuns conexos com crimes políticos;
c) e por último, é preciso observar certas considerações próprias da pessoa do acusado, as quais podem excluir a imposição ou
aplicação da pena capital (§55).

Em outro momento de sua opinião consultiva, a Corte explicou a adoção pela CADH de uma orientação rumo à abolição
progressiva da pena de morte:

“(...) Com efeito, segundo o artigo 4.2 [da CADH], ‘tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não seja
aplicada [a pena de morte] atualmente’, e segundo o art. 4.3 [da CADH], ‘não se restabelecerá a pena de morte nos Estados que
a tenham abolido’. Não se trata, aqui, apenas de rodear de condições rigorosas a excepcional imposição ou aplicação da pena de
morte, mas sim de estabelecer um limite definitivo, através de um processo progressivo e irreversível destinado a ser cumprido
tanto nos países que ainda não resolveram aboli-la, como naqueles que já adotaram esta decisão. No primeiro caso, embora a
Convenção não chegue a suprimir a pena de morte, ela proíbe que se estenda seu uso e que seja imposta a respeito de crimes
para os quais não estava prevista anteriormente. Impede-se, assim, qualquer expansão na lista de crimes castigados com esta
@dicasexconcurseira 168
pena. No segundo caso, proíbe de modo absoluto o restabelecimento da pena capital para todo tipo de delito, de tal maneira
que a decisão de um Estado Parte na Convenção, qualquer que seja o tempo que a tenha adotado, no sentido de abolir a pena
de morte, se converte numa resolução definitiva e irrevogável.

Nesta matéria a Convenção expressa uma clara nota de progressividade, consistente em que, sem chegar a decidir pela
abolição da pena de morte, adota as disposições requeridas para limitar definitivamente sua aplicação e seu âmbito, de modo
que este vá se reduzindo até a sua supressão final” (§§ 56 e 57).

Assim, em sua OC-3, o que a Corte IDH fez foi esclarecer que, quando a Guatemala apresentou uma reserva ao art. 4.4
da CADH, se reservando, portanto, no direito de aplicar a pena de morte para crimes políticos e para crimes comuns conexos a
crimes políticos, ela –a Guatemala – não poderia adotar uma interpretação extensiva da sua reserva para aumentar o catálogo
dos crimes punidos com a pena de morte, e isso porque, quando do depósito do seu instrumento de ratificação, não foi
apresentada uma reserva ao art. 4.2 da CADH.

Opinião Consultiva OC-4/84, de 19.01.1984: Proposta de modificação da Constituição Política da Costa Rica relacionada com a
naturalização
Solicitada pela Costa Rica

O Governo formulou a consulta que se transcreve em sua parte pertinente:

II. Disposições que devem ser analisadas na determinação de compatibilidade:


a) Legislação interna:
Texto atual dos artigos 14 e 15 da Constituição Política da Costa Rica:

Artigo 14. São costarriquenses por naturalização:


1) Os que tenham adquirido esta qualidade em virtude de leis anteriores;
2) Os nacionais de outros países da Centro América, de boa conduta e com um ano de
residência na República pelo menos, que manifestem ante ao Registro Civil sua decisão de ser costarriquenses;
3) Os espanhóis ou ibero-americanos por nascimento que obtenham a respectiva carta ante o Registro Civil, sempre que tenham
tido seu domicílio no país durante os dois anos anteriores à solicitação;
4) Os centroamericanos, espanhóis e ibero-americanos que não o sejam por nascimento e os demais estrangeiros que tenham
estado domiciliados em Costa Rica pelo tempo mínimo de cinco anos imediatamente anteriores à solicitação de naturalização, de
acordo com os requisitos indicados pela lei;
5) A mulher estrangeira que ao casar com costarriquense perda sua nacionalidade ou que manifeste seu desejo de ser
costarriquense;
6) Aqueles que recebam a nacionalidade honorífica da Assembleia Legislativa.

Artigo 15. Aquele que requeria a naturalização deve provar previamente sua boa conduta, demonstrar que possui trabalho ou
meio de viver conhecido e prometer que residirá na República de modo regular.
Para os efeitos da naturalização, o domicílio implica residência e vinculação, estáveis e efetivas, à comunidade nacional, de
acordo com a regulamentação que estabeleça ou à lei.

2) REFORMAS PROPOSTAS pela Comissão Especial da Assembleia Legislativa em opinião apresentada em 22.06.1983:

Artigo 14. São costarriquenses por naturalização:


1) Os que tenham adquirido esta qualidade em virtude de leis anteriores;
2) Os nacionais de outros países de Centroamérica, espanhóis e ibero-americanos por
nascimento, com cinco anos de residência oficial no país, e que cumpram com os demais requisitos que a lei fixar;
3) Os centroamericanos, espanhóis e ibero-americanos que não o sejam por nascimento e os demais estrangeiros que tenham
residido oficialmente por um tempo mínimo de sete anos e que cumpram com os demais requisitos que a lei fixar;
4) A mulher estrangeira que ao casar com costarriquense perda sua nacionalidade ou que depois de casada por dois anos com
costarriquense e de residir por esse mesmo período no país, manifeste seu desejo de adquirir nossa nacionalidade; e
5) Aqueles que recebam a nacionalidade honorífica da Assembleia Legislativa.

Artigo 15. Quem solicitar a naturalização deve provar sua boa conduta, demonstrar que tem trabalho ou meio de viver
conhecido, que saber falar, escrever e ler o idioma espanhol. O solicitante será submetido a um exame compreensivo acerca da
história do país e de seus valores, devendo, ainda, prometer que residirá no território nacional de modo regular e jurar que
respeitará a ordem constitucional da República.
Por meio de lei se estabelecerá os requisitos e a forma para tramitar a solicitação de naturalização.

@dicasexconcurseira 169
3) MOÇÃO DE REFORMA ao inciso 4 do artigo 14 da Constituição apresentada pelos deputados:
A pessoa estrangeira que ao se casar com costarriquense perda sua nacionalidade e depois de estar casada por dois anos com
costarriquense e de residir durante esse mesmo período no país, manifeste seus desejo de adquirir a nacionalidade do cônjuge.

b) Artigos da Convenção:
Os textos legais acima mencionados devem ser comparados com os seguintes artigos da Convenção Americana de
Direitos Humanos a fim de determinar sua compatibilidade:

Artigo 17. Proteção da família.


Parágrafo 4º. Os Estados Partes devem tomar medidas apropriadas no sentido de assegurar a igualdade de direitos e a
adequada equivalência de responsabilidades dos cônjuges quanto ao casamento, durante o casamento e em caso de dissolução
do mesmo. Em caso de dissolução, serão adotadas disposições que assegurem a proteção necessária aos filhos, com base
unicamente no interesse e conveniência dos mesmos.

Artigo 20. Direito à nacionalidade.


1. Toda pessoa tem direito à uma nacionalidade.
2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território nascei se não tem direito a outra.
3. Ninguém será privado arbitrariamente de sua nacionalidade nem do direito a mudá-la.

Artigo 24. Igualdade perante a lei.


Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito, sem discriminação, a igual proteção da lei.

III. Perguntas específicas sobre as quais se busca a opinião da Corte:

Em conformidade com a solicitação feita originariamente pela Comissão Especial sobre Reforma aos artigos 14 e 15 da
Constituição Política, o Governo da Costa Rica solicita que a Corte determine:
a) Se existe alguma incompatibilidade entre as reformas propostas e as disposições citadas da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos. Especificamente, dentro do contexto da pergunta anterior, estima que devem ser respondidas as seguintes
perguntas:
b) É afetado de alguma forma o direito de toda pessoa a ter uma nacionalidade previsto no art. 20.1 da Convenção com as
modificações projetadas aos artigos 14 e 15 da Constituição Política?
c) É compatível a reforma proposta ao inciso 4 do art. 14, segundo o texto apresentado na proposta, com o art. 17.4 da
Convenção, quanto à igualdade entre os cônjuges?
d) É compatível o texto da moção aprovada pelos deputados para a reforma desse mesmo inciso com o parágrafo primeiro do
art. 20 da Convenção?

A Corte é de opinião, em relação ao art. 20 da Convenção,


Que o direito à nacionalidade, reconhecido pelo art. 20 da Convenção, não está envolvido no projeto de reforma constitucional,
objeto da presente consulta.

Em relação aos artigos 24 e 17.4 da Convenção,


Que não constitui discriminação contrária à Convenção estipular condições preferenciais para obter a nacionalidade
costarriquense por naturalização em favor de centroamericanos, ibero-americanos e espanhóis, frente aos demais estrangeiros.
Que não constitui discriminação contrária à Convenção limitar essa preferência a centroamericanos, ibero-americanos e
espanhóis por nascimento.
Que não constitui, por si só, discriminação contrária à Convenção, adicionar os requisitos do art. 15 do projeto, para a obtenção
da nacionalidade costarriquense por naturalização.
Que constitui discriminação incompatível com os artigos 17.4 e 24 da Convenção estipular no art. 14.4 do projeto condições
preferenciais para a naturalização por causa de casamento a favor de um só dos cônjuges.

Comentários:

Esta foi a primeira solicitação de opinião consultiva feita com base no art. 64.2 da CADH – opinião consultiva de
compatibilidade –, segundo o qual “A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a
compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais”.

Nas suas considerações sobre a admissibilidade desta OC, a Corte IDH enfrentou duas discussões envolvendo o art. 64.2
da CADH: primeiro, se a expressão “leis internas” inclui normas constitucionais, e segundo, se um projeto de lei pode ser objeto
de consulta. Vejamos qual foi o entendimento da Corte:

@dicasexconcurseira 170
“A resposta à primeira pergunta não admite dúvida: sempre que uma convenção internacional se refira ‘leis internas
sem qualificar de alguma forma esta expressão ou sem que do seu contexto resulte um sentido mais restrito, a referência é para
toda a legislação nacional e para todas as normas jurídicas de qualquer natureza, incluindo disposições constitucionais.
A resposta para a segunda pergunta é menos óbvia. A solicitação não aborda uma consulta sobre uma lei interna vigente.
Refere-se a um projeto de reforma constitucional que ainda não foi aprovado pela Assembleia Legislativa (...).

Qualquer pretensão de entender o significado do artigo 64.2 no sentido de que ele se refere somente a leis vigentes,
isto é, a leis cujo processo de formação tenha sido concluído, teria como consequência que os Estados não poderiam solicitar,
segundo esta disposição, opiniões consultivas da Corte sobre projetos legislativos. Os Estados estariam, assim, obrigados a
cumprir todo o procedimento de direito interno para a formação das leis antes de poder solicitar a opinião da Corte sobre a sua
compatibilidade com a Convenção ou outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos.

(...) Abster-se de atender à solicitação de um Governo porque se trata de ‘projetos de lei’ e não de leis formadas e em
vigor poderia, em alguns casos, equivaler a forçar o Governo à violação da Convenção mediante a adoção formal e
possivelmente a aplicação da medida legislativa para logo depois ir à Corte em busca da opinião. Este critério não ajuda a
‘conferir efeito’ à norma, isto é, não ajuda a proteger os direitos humanos e as liberdades fundamentais dos seres humanos.

(...) Em razão disso, a Corte estima que uma interpretação restritiva do artigo 64.2 que conduzisse a que os Estados
somente pudessem invocá-lo para solicitar opiniões consultivas sobre leis vigentes, limitaria indevidamente o serviço consultivo
da Corte.
A conclusão precedente não deve ser entendida no sentido de que a Corte está obrigada a exercer a sua competência
para examinar qualquer texto preliminar de leis ou projetos legislativos. Somente significa que o mero fato de tratar-se de um
projeto legislativo não basta para privar a Corte da competência para considerar uma consulta sobre ela. (...)” (§ 14 e seguintes).

Opinião Consultiva OC-5/85, de 13.11.1985: O registro profissional obrigatório de jornalistas (artigos 13 e 29 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos)
Solicitada pela COSTA RICA

Em seu pedido, o Governo solicitou à Corte uma opinião consultiva sobre a interpretação dos artigos 13 e 29 da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos em relação ao registro profissional obrigatório de jornalistas e também sobre a
compatibilidade da Lei no 4420, que estabelece o registro profissional obrigatório de seus membros para exercer o jornalismo,
com as disposições dos mencionados artigos. Nos termos desta comunicação:

A consulta que se formula à Corte Interamericana compreende, de forma concreta, requerimento de opinião consultiva
sobre se existe ou não conflito ou contradição entre o registro profissional obrigatório como requisito indispensável para poder
exercer a atividade do jornalista em geral e, em especial, do repórter – segundo os artigos já citados da Lei no 4420 – e as
normas internacionais 13 e 29 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Nesse aspecto, é necessário conhecer o
critério da Corte Interamericana, em relação ao alcance e cobertura do direito de liberdade de expressão do pensamento e de
informação e as únicas limitações permissíveis em conformidade com os artigos 13 e 29 da Convenção Americana, com
indicação, se for o caso, se há ou não congruência entre as normas internas incluídas na Lei Orgânica do Conselho de Jornalistas
já referidas (Lei no 4420), e os artigos 13 e 29 internacionais citados.

É permitido ou compreendido o registro profissional obrigatório do jornalista e do repórter entre as restrições ou


limitações autorizadas nos artigos 13 e 29 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos? Existe ou não compatibilidade,
conflito ou incongruência entre aquelas normas internas e os artigos citados da Convenção Americana?

A Corte é de opinião, primeiro:

Que o registro profissional obrigatório de jornalistas, na medida em que impeça o acesso de qualquer pessoa ao uso
pleno dos meios de comunicação social como veículo para se expressar ou para transmitir informação, é INCOMPATÍVEL com
o artigo 13 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

E segundo:

Que a Lei nº 4420 de 22.09.1969, Lei Orgânica do Conselho de Jornalistas da Costa Rica, objeto da presente consulta, na
medida em que impede certas pessoas de pertencer ao Conselho de Jornalistas e, por conseguinte, o uso pleno dos meios de
comunicação social como veículo para se expressar e transmitir informação, é incompatível com o art. 13 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos.

@dicasexconcurseira 171
Comentários:

O STF chegou à mesma conclusão que a Corte IDH, inclusive fazendo menção à OC-5/85 na ementa da decisão, no
julgamento do RE 511.961, rel. min. Gilmar Mendes, Plenário, j. 17.06.2009:

“(...) A exigência de diploma de curso superior para a prática do jornalismo – o qual, em sua essência, é o
desenvolvimento profissional das liberdades de expressão e de informação – não está autorizada pela ordem constitucional,
pois constitui uma restrição, um impedimento, uma verdadeira supressão do pleno, incondicionado e efetivo exercício da
liberdade jornalística, expressamente proibido pelo art. 220, §1º, da Constituição”.

Para a Corte IDH, o direito à liberdade de pensamento e expressão, protegido pelo art. 13 da CADH, possui uma
dimensão individual e uma dimensão social:
“Em sua dimensão individual, a liberdade de expressão não se esgota no reconhecimento teórico do direito a falar ou
escrever, compreendendo ainda e inseparavelmente o direito a utilizar qualquer meio apropriado para difundir o pensamento e
fazê-lo chegar ao maior número de destinatários. Quando a Convenção proclama que a liberdade de pensamento e expressão
compreende o direito de difundir informações e ideias ‘por qualquer... procedimento’, está ressaltando que a expressão e a
difusão do pensamento e da informação são indivisíveis, de modo que uma restrição das possibilidades de divulgação
representa diretamente, e na mesma medida, um limite ao direito de expressar- se livremente. Daí a importância do regime
legal aplicável à imprensa e ao status de quem se dedica profissionalmente a ela.
Em sua dimensão social a liberdade de expressão é um meio para o intercâmbio de ideias e informações e para a
comunicação massiva entre os seres humanos. Assim como compreende o direito de cada um a tratar de comunicar aos outros
seus próprios pontos de vista, implica também o direito de todos a conhecer opiniões e notícias. Para o cidadão comum tem
tanta importância o conhecimento da opinião alheia ou da informação de que dispõem os outros como o direito a difundir a
própria” (§§ 31 e 32).

E na sequência, a Corte IDH, embora sem aprofundar na abordagem, acabou por se manifestar – já em 1985 – sobre o
que recentemente se denominaria como o combate às fake news (notícias falsas):
“As duas dimensões mencionadas – individual e social – da liberdade de expressão devem ser garantidas
simultaneamente. Não seria lícito invocar o direito da sociedade de estar informada de acordo com a verdade para fundamentar
um regime de censura prévia supostamente destinado a eliminar as informações que seriam falsas a critério do censor. Como
tampouco seria admissível que, sobre a base do direito a difundir informações e ideias, se constituíssem monopólios públicos ou
privados sobre os meios de comunicação para tentar moldar a opinião pública segundo apenas um ponto de vista” (§ 33).
Ainda para a Corte IDH, além do abuso da liberdade de expressão somente se submeter a medidas de controle posterior – e não
preventivo –, também neste caso, para que a responsabilidade possa ser estabelecida de forma válida segundo a Convenção
Americana, é preciso que se reúnam os seguintes requisitos: a) a existência de causas de responsabilidade previamente
estabelecidas; b) a definição expressa e taxativa destas causas pela lei; c) a legitimidade dos fins buscados; e d) que essas causas
de responsabilidade sejam necessárias para assegurar os mencionados fins (§ 39).

Opinião Consultiva OC-6/86, de 09.06.1986: A expressão “leis” no art. 30 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
Solicitada pelo Uruguai

Nas considerações que originaram a consulta, o Governo aponta que:


Cabe perguntar acerca da expressão “leis” utilizada no art. 30 da Convenção, se ela se refere a leis em sentido formal –
norma jurídica emanada do Parlamento e promulgada pelo Poder Executivo, com as formas requeridas pela Constituição – ou
em sentido material, como sinônimo de ordenamento jurídico, prescindindo do procedimento de elaboração e do alcance
normativo que lhe poderia corresponder na escala hierárquica da respectiva ordem jurídica.

A CADH estabelece em seu art. 30:


As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao gozo e exercício dos direitos e liberdades nela
reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordo com leis que forem promulgadas por motivo de interesse geral e com o
propósito para o qual houverem sido estabelecidas.

A Corte é de opinião:
Que a palavra “leis” no artigo 30 da Convenção significa norma jurídica de caráter geral, visando o bem comum,
emanada dos órgãos legislativos constitucionalmente previstos e democraticamente eleitos, e elaborada segundo o
procedimento estabelecido pelas constituições dos Estados Partes para a formação das leis.

@dicasexconcurseira 172
Opinião Consultiva OC-7/86, de 29.08.1986: Exigibilidade do direito de retificação ou resposta (artigos 14.1, 1.1 e 2º da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos)
Solicitada pela Costa Rica

A primeira pergunta afirma o seguinte:


Deve-se considerar que o direito consagrado no art. 14 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos já está
garantido em seu livre e pleno exercício a todas as pessoas que se encontram sob a jurisdição do Estado costarriquenho,
segundo se observa das obrigações, para nosso país, contidas no art. 1a desta Convenção?

A Corte considera que, tal como está redigida, a pergunta compreende duas questões com significado diverso, as quais
se podem distinguir claramente. A primeira se refere à interpretação do art. 14.1 da Convenção em relação ao art. 1.1 da
mesma; e a segunda tem a ver com a aplicação do art. 14.1 no âmbito jurídico interno da Costa Rica. A Corte se limitará a
responder a primeira questão nos termos do art. 64.1 da própria Convenção, que é o aplicável segundo foi expressado
anteriormente. A segunda questão, tal como foi proposta, se situa fora da competência consultiva da Corte
Em consequência, a Corte chega à conclusão de que esta pergunta, no sentido indicado, é admissível já que se dirige à
interpretação da Convenção, e a Corte assim o declara.

A segunda pergunta afirma:

Ao não ser assim, tem o Estado costarriquenho o dever jurídico-constitucional de adotar, em conformidade com seus
procedimentos constitucionais, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para fazer efetivo o direito
de retificação ou resposta previsto no art. 14 da Convenção, segundo as disposições incluídas no art. 2o da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos?

Em virtude da precisão feita na pergunta anterior, o nexo de causalidade estabelecido pela segunda pergunta em
relação à primeira carece de objeto. Portanto, deve-se considerar que o propósito desta pergunta é determinar quais
obrigações, se existirem, estão impostas à Costa Rica pelo art. 2o da Convenção a fim de fazer efetivo o direito reconhecido pelo
art. 14.1. A resposta a ela requer que a Corte interprete a Convenção e, deste modo, é admissível.

A terceira pergunta é a seguinte:


Se fosse decidido que o Estado costarriquenho tem o dever de adotar as medidas legislativas ou de outra natureza que
forem necessárias para fazer efetivo o direito de retificação ou resposta previsto no art. 14 da Convenção Americana, seria
possível então entender que a expressão “lei”, que figura no final do primeiro parágrafo do mencionado art. 14, é usada em
sentido amplo ou lato, o que poderia compreender então disposições de caráter regulamentar emitidas por decreto executivo,
levando em consideração a índole principalmente instrumental de tais disposições legais?
Na medida em que esta pergunta busca a interpretação do significado da palavra “lei”, tal como esta é usada no art.
14.1 da Convenção, é admissível pelas mesmas razões expostas acima.

A Corte é de opinião:
Que o art. 14.1 da Convenção reconhece um direito de retificação ou resposta internacionalmente exigível e que, de acordo com
o art. 1.1, os Estados Partes têm a obrigação de respeitar e garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à
sua jurisdição.
Que quando o direito consagrado no art. 14.1 não se possa fazer efetivo no ordenamento jurídico interno de um Estado Parte,
esse Estado tem a obrigação, em virtude do art. 2o da Convenção, de adotar, em conformidade com seus procedimentos
constitucionais, e as disposições da própria Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias.
Que a palavra “lei”, tal como se utiliza no art. 14.1, está relacionada às obrigações assumidas pelos Estados Partes no art. 2o e,
portanto, as medidas que o Estado Parte deve adotar compreendem todas as disposições internas que sejam adequadas,
segundo o sistema jurídico em questão, para garantir o livre e pleno exercício do direito consagrado no art. 14.1. Porém, quando
tais medidas restrinjam um direito reconhecido na Convenção, será necessária a existência de uma lei formal.

Opinião Consultiva OC-8/87, de 30.01.1987: O habeas corpus sob suspensão de garantias (arts. 27.2, 25.1 e 7.6 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos)
Solicitada pela COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

A Comissão formulou a seguinte consulta à Corte:

O recurso de habeas corpus, cujo fundamento jurídico se encontra nos artigos 7.6 e 25.1 da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos, é uma das garantias judiciais que, de acordo com a parte final do parágrafo 2º do art. 27 da Convenção,
não pode ser suspenso por um Estado Parte da citada Convenção Americana?

@dicasexconcurseira 173
Os artigos 27.1 e 27.2, 25.1 e 7.6 da Convenção dispõem:

Artigo 27. Suspensão de garantias


1. Em caso de guerra, de perigo público ou de outra emergência que ameace a independência ou a segurança do Estado Parte,
este poderá adotar disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, SUSPENDAM as
obrigações contraídas em virtude desta Convenção, sempre que tais disposições não sejam incompatíveis com as demais
obrigações que lhes impõem o direito internacional e não encerrem discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor,
sexo, idioma, religião ou origem social.
2. A disposição precedente NÃO AUTORIZA A SUSPENSÃO dos direitos determinados seguintes artigos: 3 (Direito ao
reconhecimento da personalidade jurídica); 4 (Direito à vida); 5 (Direito à integridade pessoal); 6 (Proibição da escravidão e
servidão); 9 (Princípio da legalidade e da retroatividade); 12 (Liberdade de consciência e de religião); 17 (Proteção da família);
18 (Direito ao nome); 19 (Direitos da criança); 20 (Direito à nacionalidade) e 23 (Direitos políticos), NEM DAS GARANTIAS
INDISPENSÁVEIS PARA A PROTEÇÃO DE TAIS DIREITOS.

Artigo 25. Proteção judicial.


1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais
competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela
presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções
oficiais.

Artigo 7. Direito à liberdade pessoal.


6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem
demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados
Partes cujas leis preveem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz
ou tribunal competente a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, TAL RECURSO NÃO PODE SER RESTRINGIDO
NEM ABOLIDO. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa.

A Corte é de opinião que os procedimentos jurídicos consagrados nos artigos 25.1 e 7.6 da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos NÃO PODEM SER SUSPENSOS conforme o art. 27.2 da mesma, porque constituem GARANTIAS
JUDICIAIS INDISPENSÁVEIS para proteger direitos e liberdades que tampouco podem ser suspensos segundo a mesma
disposição.

Comentários:

Para formular o pedido de consulta à Corte, a CIDH apresentou as seguintes considerações:

“Alguns Estados Partes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos têm entendido que, em situações de
emergência, um dos direitos cujo exercício pode ser suspenso é o da proteção judicial que se exerce mediante o habeas corpus.
Inclusive alguns Estados têm promulgado uma legislação especial ou têm iniciado uma prática segundo a qual é possível,
durante a detenção de uma pessoa, deixá-la incomunicável durante um período prolongado – que em alguns casos pode passar
de 15 dias – no qual se pode privar o detido de todo contato exterior, não sendo possível, portanto, o recurso de habeas corpus
durante estes dias de incomunicabilidade.

No entendimento da Comissão, é precisamente nestas circunstâncias excepcionais em que o recurso de habeas corpus
adquire sua maior importância.

Desde logo, a Comissão admite que em caso de guerra, perigo público ou outra emergência que ameace a
independência ou a segurança do Estado, o direito à liberdade pessoal, conforme o artigo 27 da Convenção Americana, pode
transitoriamente ser suspenso e o Poder Executivo adquire autoridade para prender uma pessoa com base apenas nos
antecedentes de que dispõe para considerá-la um perigo para a independência ou segurança do Estado.

Porém, ao mesmo tempo, a Comissão considera que nem mesmo sob uma situação de emergência o habeas corpus
pode ser suspenso ou não ter efeito. Como já se disse, este recurso tem por finalidade imediata colocar à disposição dos juízes a
pessoa do detido, o que permite àquele verificar se este está vivo e se não foi submetido a torturas ou castigos físicos e
psicológicos, sendo importante ressaltar que o direito à integridade pessoal previsto no artigo 5º da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos é um dos direitos que não pode ser suspenso em nenhuma circunstância.

Ainda a respeito da liberdade pessoal, cuja suspensão temporal é possível em circunstâncias excepcionais, o habeas
corpus permitirá ao juiz comprovar se a ordem de prisão se fundamenta num critério de razoabilidade (...). Sustentar o
contrário, isto é, que o Poder Executivo não se encontraria obrigado a fundamentar uma prisão ou o prolongamento desta
indevidamente durante situações de emergência, sem submeter o detido à autoridade de um juiz que possa conhecer dos
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recursos previstos nos artigos 7.6 e 25.1 da Convenção, importaria, no entendimento da Comissão, atribuir-lhe as funções
específicas do Poder Judiciário, o que resultaria numa violação à separação dos poderes públicos, que é uma das características
básicas do estado de direito e dos sistemas democráticos”.

A Corte IDH concordou com a CIDH, manifestando-se nos seguintes termos:

“A suspensão de garantias constitui também uma situação excepcional, segundo a qual resulta lícito para o governo
aplicar determinadas medidas restritivas aos direitos e liberdades que, em condições normais, estão proibidas ou submetidas a
requisitos mais rigorosos. Isso não significa, porém, que a suspensão de garantias comporte a suspensão temporal do Estado de
Direito ou que autorize aos governantes a afastar sua conduta da legalidade a que todo momento devem observar. (...)
A determinação sobre quais garantias judiciais são ‘indispensáveis’ para a proteção dos direitos que não podem ser
suspensos será distinta conforme a natureza dos direitos afetados. (...)
À luz dos apontamentos anteriores devem ser considerados como indispensáveis, para os fins do artigo 27.2, aqueles
procedimentos judiciais que ordinariamente são idôneos para garantir a plenitude do exercício dos direitos e liberdades a que se
refere o referido artigo e cuja supressão ou limitação poderia colocar em risco esta plenitude.
As garantias devem ser não somente indispensáveis como também judiciais. Esta expressão não pode referir-se senão a
meios judiciais idôneos para a proteção de tais direitos, o que implica a intervenção de um órgão judicial independente e
imparcial, apto para determinar a legalidade das atuações que se cumpram dentro do estado de exceção.
Devemos agora determinar se, apesar de os artigos 25 e 7º não estarem mencionados no artigo 27.2, as garantias
contidas nos artigos 25.1 e 7.6 (...) devem ou não ser consideradas entre aquelas ‘garantias judiciais indispensáveis’ para a
proteção dos direitos não suscetíveis de suspensão.
(...) O habeas corpus, para cumprir com seu objetivo de verificação judicial da legalidade da privação de liberdade, exige
a apresentação pessoal do detido ante o juiz ou tribunal competente (...). Neste sentido, é essencial a função que cumpre o
habeas corpus como meio para controlar o respeito à vida e à integridade da pessoa, para impedir seu desaparecimento ou a
indeterminação do seu lugar de detenção, assim como para protegê-la contra a tortura ou outros tratamentos ou penas crueis,
desumanos ou degradantes.
Esta conclusão se fundamenta na experiência sofrida por várias populações do nosso hemisfério em décadas recentes,
particularmente por desaparecimentos, torturas e assassinatos cometidos ou tolerados por alguns governos. Esta realidade tem
demonstrado que o direito à vida e à integridade pessoal são ameaçados quando o habeas corpus é parcial ou totalmente
suspenso” (§24 e seguintes).

E a Corte IDH avança, depois, para explicar o seu entendimento de que, mesmo o direito à liberdade sendo passível de
suspensão, a garantia do habeas corpus deve ser mantida para coibir excessos:

“Uma pergunta adicional que deve ser feita para além de considerar o habeas corpus como uma garantia judicial que
protege direitos não suscetíveis de suspensão segundo o art. 27.2, é se tal procedimento pode subsistir ao mesmo tempo como
meio de assegurar a liberdade individual, ainda que sob estado de exceção, apesar de o artigo 7º não estar entre aqueles que
não podem ser afetados em situações excepcionais.
Se a suspensão de garantias não deve exceder, como a Corte já ressaltou, a medida do estritamente necessário para
atender à emergência, resulta também ilegal toda atuação dos poderes públicos que ultrapasse aqueles limites que devem estar
precisamente indicados nas disposições usadas para decretar o estado de exceção, ainda que dentro da situação de
excepcionalidade jurídica vigente.
A Corte deve destacar, igualmente, que se a suspensão de garantias não pode ser adotada legitimamente sem respeitar
as condições indicadas no parágrafo anterior, tampouco podem se afastar destes princípios gerais as medidas concretas que
afetem os direitos ou liberdades suspensos, como ocorreria se tais medidas violassem a legalidade excepcional da emergência,
se fossem prolongadas para além dos seus limites temporais, se fossem manifestamente irracionais, desnecessárias ou
desproporcionais, ou se para adotá-las houvesse que incorrer em desvio ou abuso de poder.
(...) dentro de um Estado de Direito, deve haver o exercício do controle de legalidade de tais medidas por parte de um
órgão judicial autônomo e independente, que verifique, por exemplo, se uma detenção, baseada na suspensão da liberdade
pessoal, se adequa aos termos no qual o estado de exceção está autorizado. Aqui o habeas corpus adquire uma nova dimensão
fundamental.
(...) Os argumentos anteriores levam à conclusão de que os procedimentos de habeas corpus e de amparo são garantias
judiciais indispensáveis para a proteção de vários direitos cuja suspensão está vedada pelo artigo 27.2 e servem, ainda, para
preservar a legalidade numa sociedade democrática.
Por outro lado deve se advertir que aqueles ordenamentos constitucionais e legais dos Estados Partes que autorizem,
explícita ou implicitamente, a suspensão dos procedimentos de habeas corpus ou de amparo em situações de emergência,
devem ser considerados incompatíveis com as obrigações internacionais que a estes Estados impõe a Convenção”. (§37 e
seguintes).

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Opinião Consultiva OC-9/87, de 06.10.1987: Garantias judiciais em estados de emergência (arts. 27.2, 25 e 8 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos)
Solicitada pelo Uruguai

O Governo do Uruguai submeteu à Corte Interamericana uma solicitação de opinião consultiva sobre o alcance da
proibição de suspender as garantias judiciais indispensáveis para a proteção dos direitos mencionados no art. 27.2 da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

O Governo solicitou à Corte que se interprete o alcance da proibição, contida na Convenção, de suspender as garantias
judiciais indispensáveis para a proteção de tais direitos. Como nem mesmo em caso de guerra, de perigo público ou de outra
emergência que ameace a independência ou segurança do Estado Parte, não é possível suspender as garantias judiciais
indispensáveis para a proteção dos direitos, o Uruguai deseja, em especial, que a Corte dê sua opinião quanto:
a) a determinação de quais são essas garantias judiciais indispensáveis; e
b) a relação do art. 7.2, no pertinente, com os artigos 25 e 8 da Convenção Americana.

A Corte é de opinião:

Que devem ser consideradas como garantias judiciais indispensáveis não suscetíveis de suspensão, segundo o
estabelecido no art. 27.2 da Convenção, o habeas corpus (art. 7.6), o amparo ou qualquer outro recurso efetivo ante os juízes ou
tribunais competentes (art. 25.1) destinado a assegurar o respeito aos direitos e às liberdades cuja suspensão não está
autorizada pela Convenção.
Também devem ser considerados como garantias judiciais indispensáveis que não podem ser suspensas aqueles
procedimentos judiciais, inerentes à forma democrática representativa de governo (art. 29.c), previstos no direito interno dos
Estados Partes como idôneos para assegurar a plenitude do exercício dos direitos a que se refere o art. 27.2 da Convenção e cuja
supressão ou limitação comporte o desamparo de tais direitos.

Opinião Consultiva OC-10/89, de 14.07.1989: Interpretação da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem no
marco do art. 64 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
Solicitada pela Colômbia

O Governo da Colômbia submeteu à Corte Interamericana uma solicitação de opinião consultiva sobre a interpretação
do art. 64 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos em relação à Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Homem. O Governo deseja uma resposta à seguinte pergunta:

O art. 64 da Corte da Convenção autoriza a Corte Interamericana de Direitos Humanos a emitir opiniões consultivas, a
pedido de um Estado Membro da OEA ou de um dos órgãos da mesma, sobre a interpretação da Declaração Americana dos
Direitos e Deveres do Homem, adotada em Bogotá em 1948 pela Nona Conferência Internacional Americana?

O Governo acrescenta:

O Governo da Colômbia entende, naturalmente, que tal Declaração não é um tratado propriamente dito. Mas esta
conclusão não descarta de antemão a pergunta formulada. É perfeitamente razoável entender que uma interpretação das
disposições sobre direitos humanos contidas na Carta da OEA, tal como foi modificada pelo Protocolo de Buenos Aires, envolve,
em princípio, uma análise dos direitos e deveres do homem que a Declaração proclama; e requer, por conseguinte, a
determinação do status normativo que a Declaração tem no marco legal do sistema interamericano para a proteção dos direitos
humanos.

O Governo solicitante destaca a importância que tem, para o funcionamento adequado do sistema interamericano de
proteção dos direitos humanos, saber qual é o status jurídico da Declaração e se a Corte tem e, caso tenha, até onde chega sua
jurisdição para interpretar a Declaração de acordo com o art. 64 da Convenção.

A Corte é de opinião que o art. 64.1 da Convenção Americana autoriza a Corte para, a pedido de um Estado Membro da
OEA ou, no que lhes compete, de um dos órgãos da mesma, emitir opiniões consultivas sobre a interpretação da Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, no marco e dentro dos limites de sua competência em relação com a Carta e a
Convenção ou outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados Americanos.

Comentários:

Os seguintes parágrafos da OC-10/89 elucidam o entendimento da Corte:


@dicasexconcurseira 176
“Pode ser considerar então que, como uma interpretação autorizada, os Estados Membros têm entendido que a
Declaração contém e define aqueles direitos humanos essenciais aos quais a Carta [da Organização dos Estados Americanos] se
refere, de modo que não se pode interpretar e aplicar a Carta da Organização em matéria de direitos humanos sem integrar as
normas pertinentes a ela com as correspondentes disposições da Declaração [Americana dos Direitos e Deveres do Homem],
como resulta da prática seguida pelos órgãos da OEA.

Tendo em conta que a Carta da Organização e a Convenção Americana são tratados a respeito dos quais a Corte pode
exercer sua competência consultiva em virtude do artigo 64.1, esta pode interpretar a Declaração Americana e emitir sobre ela
uma opinião consultiva no marco e dentro dos limites de sua competência, quando isso seja necessário para interpretar tais
instrumentos.

Para os Estados Membros da Organização, a Declaração é o texto que determina quais são os direitos humanos a que
se refere a Carta. De outra parte, os artigos 1.2.b) e 20 do Estatuto da Comissão definem, igualmente, a competência da mesma
a respeito dos direitos humanos previstos na Declaração. Isto é, para estes Estados a Declaração Americana constitui, no que diz
respeito e em relação com a Carta da Organização, uma fonte de obrigações internacionais.

Para os Estados Partes na Convenção a fonte concreta de suas obrigações, no tocante à proteção dos direitos humanos,
em princípio, é a própria Convenção. Porém, há que se levar em conta que à luz do artigo 29.d), embora o instrumento principal
que rege para os Estados Partes na Convenção seja ela mesma, nem por isso se liberam das obrigações que derivam para eles da
Declaração pelo fato de serem membros da OEA.

A circunstância de que a Declaração não seja um tratado não conduz, então, à conclusão de que careça de efeitos
jurídicos nem de que a Corte esteja impossibilitada para interpretá-la no marco do que foi exposto”. (§43 e seguintes).

Opinião Consultiva OC-11/90, de 10.08.1990: Exceções ao esgotamento dos recursos internos (arts. 46.1, 46.2 e 46.2.b da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos)
Solicitada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos

A Comissão Interamericana submeteu à Corte uma solicitação de opinião consultiva sobre os arts. 46.1.a e 46.2 da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos. A solicitação de opinião consultiva apresenta as seguintes perguntas:

1. O requisito do esgotamento dos recursos jurídicos internos é aplicável a um indigente que, devido a circunstâncias
econômicas, não é capaz de fazer uso dos recursos jurídicos no país?
2. No caso de se eximir os indigentes desse requisito, quais critérios a Comissão deve considerar ao dar sua opinião sobre a
admissibilidade em tais casos?
1. O requisito do esgotamento dos recursos jurídicos internos é aplicável a um reclamante individual que, por não poder obter
representação legal devido a um temor generalizado nos círculos jurídicos, não pode fazer uso dos recursos que lhe oferece a lei
no país?
2. No caso de se eximir tais pessoas deste requisito, quais critérios a Comissão deve considerar ao dar sua opinião sobre a
admissibilidade em tais casos?

A Corte é de opinião:

1. Que, sim, por razões de indigência ou pelo temor generalizado dos advogados para representá-lo legalmente, um reclamante
se ver impedido de utilizar os recursos internos necessários para proteger um direito assegurado pela Convenção, não pode lhe
ser exigido o esgotamento.
2. Que, nas hipóteses apresentadas, se um Estado Parte tenha provado a disponibilidade dos recursos internos, o reclamante
deverá demonstrar que são aplicáveis as exceções do art. 46.2 e que se viu impedido de obter a assistência legal necessária para
a proteção ou garantia de direitos reconhecidos na Convenção.

Opinião Consultiva OC-12/91, de 06.12.1991: Compatibilidade de um projeto de lei com o art. 8.2.h da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos
Solicitada pela Costa Rica

O Governo da Costa Rica submeteu à Corte Interamericana uma solicitação de opinião consultiva acerca da
compatibilidade de um projeto de lei de reforma dos artigos do Código de Procedimentos Penais e de Criação do Tribunal
Superior de Cassação Penal em trâmite na Assembleia Legislativa com o art. 8.2.h da Convenção Americana.

A solicitação de opinião consultiva apresenta as seguintes perguntas:


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1. A criação de um Tribunal de Cassação Penal, como as reformas propostas, se adequam ao disposto pelo art. 8.2.h da
Convenção, respondendo ao conteúdo do “direito de recorrer do julgamento perante um juiz ou tribunal superior”?
2. No mesmo art. 8.2.h da Convenção se faz referência unicamente ao termo “delitos”. Que posição deve ser seguida a respeito
das contravenções?

O Governo acrescenta em sua petição que faz a consulta motivado pela:


Necessidade de adequar o sistema processual penal vigente, fornecer maiores garantias
na Justiça Penal e cumprir com o disposto no art. 8.2.h da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, subscrita em São José
da Costa Rica, em 22.11.1969, que diz:

Artigo 8. Garantias judiciais


(...)
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa.
Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
(...)
h) direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior.

A Corte entende que, como a Costa Rica, segundo informado pela Comissão Interamericana, responde a nove casos de
violação do art. 8.2.h perante a Comissão, uma resposta às perguntas apresentadas poderia trazer como resultado uma solução
de maneira encoberta, pela via da opinião consultiva, de assuntos litigiosos ainda não submetidos à consideração da Corte, sem
que as vítimas tenham oportunidade no processo, distorcendo o sistema da Convenção. O procedimento contencioso é, por
definição, uma oportunidade na qual os assuntos são discutidos e confrontados de uma maneira muito mais direta que no
processo consultivo, do qual não se pode privar os indivíduos que não participam deste. Os indivíduos são representados no
processo contencioso perante a Corte pela Comissão, cujos interesses podem ser de outra natureza no processo consultivo.
Embora, aparentemente, o projeto de lei tenda a corrigir para o futuro os problemas que geraram as petições contra Costa Rica
atualmente perante a Comissão, um pronunciamento da Corte poderia, eventualmente, interferir em casos que deveriam
concluir seu procedimento perante a Comissão nos termos ordenados pela Convenção.

Todo o anterior indica claramente que nos encontramos frente a um daqueles eventos nos quais, pelo risco de
desvirtuar a jurisdição contenciosa e ver-se menoscabados os direitos humanos de quem tenha formulado petições perante a
Comissão, a Corte deve fazer uso de sua faculdade de não responder uma consulta.

A Corte decide não responder a consulta apresentada pelo Governo da Costa Rica.

Opinião Consultiva OC-13/93, de 16.07.1993: Certas atribuições da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (arts. 41,
42, 44, 46, 47, 50 e 51 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos)
Solicitada pelos Governos da Argentina e do Uruguai

Os Governos da Argentina e do Uruguai submeteram à Corte Interamericana uma solicitação de opinião consultiva
dirigida a obter a interpretação dos artigos 41, 42, 44, 46, 47, 50 e 51 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em
relação com a situação e as circunstâncias concretas que apresentam.

A solicitação de opinião consultiva apresenta as seguintes perguntas:

1) Quanto aos artigos 41 e 42, pede-se à Corte que dê a sua opinião quanto à competência da Comissão para qualificar e dar a
sua opinião, como fundamento da sua intervenção, no caso de comunicações que alegam uma violação aos direitos protegidos
pelos artigos 23, 24 e 25 da Convenção, sobre a regularidade jurídica de leis internas, adotadas de acordo com o disposto pela
Constituição, quanto à sua “razoabilidade”, “conveniência” ou “autenticidade”.
2) Quanto aos artigos 46 e 47 da Convenção, pede-se à Corte que dê sua opinião acerca do caso de comunicações apresentadas
com amparo ao disposto no artigo 44 da Convenção que devem tramitar de acordo com o Pacto de San José, é juridicamente
aceitável que a Comissão, depois de ter declarado inadmissível a solicitação, se pronuncie, no mesmo relatório, sobre o mérito.
3) Quanto aos artigos 50 e 51 da Convenção, pede-se à Corte que dê a sua opinião quanto à possibilidade de subsumir em um
relatório os dois determinados pelos artigos 50 e 51 e se a Comissão pode ordenar a publicação do relatório a que se refere o
artigo 50 antes de passado o prazo indicado no artigo 51.

A Corte é de opinião:

1. Que a Comissão é competente, nos termos das atribuições conferidas pelos artigos 41 e 42 da Convenção, para qualificar
qualquer norma do direito interno de um Estado-parte como de violação das obrigações que este assumiu ao ratificar ou aderir
à mesma, porém não é para opinar se contradiz ou não o regulamento jurídico interno do referido Estado. Quanto à
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terminologia que a Comissão pode utilizar para qualificar normas internas, a Corte remete-se ao mencionado no parágrafo 35
desta opinião.
2. Que sem diminuição das outras atribuições outorgadas à Comissão pelo artigo 41 da Convenção, declarada inadmissível uma
petição ou comunicação de caráter individual (art. 41.f em relação aos arts. 44 e 45.1 da Convenção), não cabem
pronunciamentos sobre o mérito.
3. Que os artigos 50 e 51 da Convenção contemplam dois relatórios separados, cujo conteúdo pode ser similar, o primeiro dos
quais não pode ser publicado. O segundo pode ser publicado, após prévia decisão da Comissão, adotada por maioria absoluta de
votos, depois de passado o prazo outorgado ao Estado para tomar as medidas adequadas.
4. Os relatórios dos artigos 50 e 51 da CADH não podem ser publicados num único relatório.

Comentários:

Sobre o terceiro item da opinião consultiva, consideramos oportuno transcrever as seguintes passagens do
pronunciamento da Corte IDH:

“Superada a admissibilidade e sem prejuízo do procedimento prévio contemplado nos artigos 48 e 49, os artigos 50 e
51 da Convenção estabelecem etapas sucessivas. Na primeira, regulada pelo artigo 50, a Comissão, sempre e quando não tenha
sido alcançada uma solução amistosa, pode expor os fatos e suas conclusões num documento dirigido ao Estado interessado e
que tem caráter preliminar. Este ‘relatório’ é transmitido em caráter sigiloso ao Estado para que adote as proposições e
recomendações da Comissão e solucione o problema. O Estado não tem a faculdade de publicá-lo.
Uma correta interpretação do artigo 50, baseada numa ideia de igualdade de partes, implica que a Comissão também não pode
publicar este relatório preliminar, o qual é transmitido, na terminologia da Convenção, apenas ‘aos Estados interessados’.

(...) Uma segunda etapa está regulada pelo artigo 51 e, nela, se no prazo de três meses o assunto não tiver sido
solucionado pelo Estado ao qual se dirigiu o relatório preliminar atendendo às proposições nele formuladas, a Comissão está
autorizada, dentro deste período, a decidir se submete o caso à Corte por meio da respectiva demanda ou se continua com o
conhecimento do assunto.

Esta decisão não é discricionária e deve se apoiar na alternativa que seja mais favorável para a tutela dos direitos
estabelecidos na Convenção.

(...) O artigo 51 faculta à Comissão elaborar um segundo relatório, cuja preparação está submetida à condição de que o
assunto não tenha sido submetido à consideração da Corte, dentro do prazo de três meses (...), o que equivale a dizer que, se o
caso foi submetido à Corte, a Comissão não está autorizada para elaborar este relatório (...).
Em caso contrário, a Comissão possui a atribuição de redigir um relatório definitivo com as opiniões e conclusões que considera
convenientes. Deverá ainda fazer as recomendações pertinentes, dando um prazo adicional ao Estado para que tome as
medidas adequadas dirigidas à cumprir suas obrigações dentro da Convenção.

Trata-se, então, de dois documentos que, de acordo com a conduta assumida pelo Estado ao qual se dirigem, podem ou
não coincidir em suas conclusões e recomendações aos quais a Convenção deu o nome de ‘relatórios’ e que possuem caráter
um preliminar e outro definitivo.

Pode existir uma terceira etapa posteriormente ao relatório definitivo. Assim, vencido o prazo que a Comissão deu ao
Estado para cumprir as recomendações contidas neste último sem que sejam acatadas, a Comissão decidirá o publica ou não,
decisão esta que também deve apoiar-se na alternativa mais favorável para a tutela dos direitos humanos.

Nesta ordem de ideias, a pergunta deve ser respondida no sentido de que não pode ser resumido em um só relatório os
dois relatórios regulados de maneira separada pelos artigos 50 e 51 da Convenção, já que estabelecem duas etapas diversas,
ainda quando o conteúdo destes documentos, de acordo com a conduta assumida pelo Estado afetado, possa ser similar” (§ 48
e seguintes).

Opinião Consultiva OC-14/94, de 09.12.1994: Responsabilidade internacional pela expedição e aplicação de leis violatórias da
Convenção (arts. 1 e 2 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos)
Solicitada pela Comissão Interamericana

A Comissão Interamericana submeteu à Corte uma solicitação de opinião consultiva nos seguintes termos:

1) Quando um Estado parte na Convenção Americana sobre Direitos Humanos dita uma lei que viola manifestamente as
obrigações que o Estado tenha contraído ao ratificar a Convenção, quais seriam, nesse caso, os efeitos jurídicos dessa lei tendo
em vista as obrigações internacionais desse Estado?
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2) Quando um Estado parte na Convenção dita uma lei cujo cumprimento por parte dos agentes ou funcionários desse Estado se
traduz numa violação manifesta da Convenção, quais são as obrigações e responsabilidades destes agentes ou funcionários?

A Corte é de opinião:

1. Que a expedição de uma lei manifestamente contrária às obrigações assumidas por um Estado ao ratificar ou aderir à
Convenção constitui uma violação desta e, no caso de essa violação afetar direitos e liberdades protegidos de indivíduos
determinados, gera a responsabilidade internacional do Estado.

2. Que o cumprimento por parte de agentes ou funcionários do Estado de uma lei manifestamente violatória da Convenção gera
responsabilidade internacional para o Estado. No caso em que o ato de cumprimento constitua per se um crime internacional,
geral também a responsabilidade internacional dos agentes ou funcionários que executaram o ato.

Opinião Consultiva OC-15/97, de 14.09.1997: Relatórios da Comissão Interamericana de Direitos Humanos


Solicitada pelo Chile

A República do Chile submeteu à Corte Interamericana um pedido de opinião consultiva, nos seguintes termos:

a) Pode a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, uma vez que tenha adotado a respeito de um Estado os dois relatórios
a que se referem os artigos 50 e 51 da Convenção e que em relação ao último desses relatórios tenha notificado o Estado de que
se trata de um relatório definitivo, modificar substancialmente esses relatórios e emitir um terceiro relatório?
b) No caso de a Comissão Interamericana, de acordo com a Convenção, não estar autorizada a mudar seu relatório definitivo,
qual dos relatórios deverá ser considerado como válido pelo Estado?

A Corte é de opinião:

1. Que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, no exercício das atribuições conferidas pelo art. 51 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, não está autorizada a modificar as opiniões, conclusões e recomendações transmitidas a
um Estado Membro, salvo em situações excepcionais como cumprimento parcial ou total das recomendações e conclusões
contidas nesse relatório, existência de erros materiais no relatório sobre os fatos do caso ou, também, o descobrimento de fatos
que não foram conhecidos no momento de se emitir o relatório e que tivessem uma influência decisiva no conteúdo dele. A
solicitação de modificação somente pode ser promovida pelas partes interessadas, isto é, os peticionários e o Estado, antes da
publicação do próprio relatório, dentro de um prazo razoável contado a partir de sua notificação. Em tal hipótese se lhes
outorgará às partes interessadas a oportunidade de debater sobre os fatos ou erros materiais que motivaram sua petição, de
acordo com o princípio de equidade processual. Sob nenhuma circunstância a Comissão está autorizada pela Convenção para
emitir um terceiro relatório.
2. Que tendo respondido à primeira pergunta na forma apresentada no parágrafo anterior, é desnecessário responder à
segunda.

Opinião Consultiva OC-16/99, de 01.10.1999: O direito à informação sobre a assistência consular no marco das garantias do
devido processo legal
Solicitada pelo México

O México submeteu à Corte Interamericana um pedido de opinião consultiva sobre diversos tratados relacionados à
proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Segundo as manifestações do Estado requerente, a consulta se
relaciona às garantias judiciais mínimas e ao devido processo no marco da pena de morte, imposta judicialmente a estrangeiros,
a quem o Estado receptor não informou sobre seu direito a comunicar-se e a solicitar a assistência das autoridades consulares
do Estado de sua nacionalidade.

O México acrescentou que a consulta tem como antecedente as gestões bilaterais que realizou a favor de alguns de
seus nacionais que não teriam sido informados oportunamente pelo Estado receptor sobre seu direito a comunicar-se com as
autoridades consulares mexicanas, e teriam sido condenados à morte em dez entidades federativas dos EUA.
De acordo com as manifestações do Estado requerente, a consulta tem os seguintes pressupostos de fato: tanto o Estado que
envia como o Estado receptor são Partes na Convenção de Viena sobre Relações Consulares; ambos são membros da OEA e
assinaram a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem e ainda que o Estado receptor não tenha ratificado a
Convenção Americana, ratificou o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos da ONU.
Partindo destas premissas, o México solicitou o parecer da Corte sobre os seguintes assuntos:

Em relação à Convenção de Viena sobre Relações Consulares:


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1. No marco do art. 64.1 da Convenção Americana, deve-se entender o art. 36 da Convenção de Viena sobre Relações
Consulares no sentido de conter disposições relacionadas à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos?
2. Do ponto de vista do Direito Internacional, a exibilidade dos direitos individuais que o citado art. 36 confere aos estrangeiros,
por parte dos interessados frente ao Estado receptor, está subordinada aos protestos do Estado de sua nacionalidade?
3. Tomando em conta o objeto e fim do art. 36.1.b da Convenção de Viena, deve-se interpretar a expressão “sem tardar”,
contida nesse preceito, no sentido de requerer que as autoridades do Estado receptor informem a todo estrangeiro detido por
delitos puníveis com a pena capital sobre os direitos que lhe confere o próprio art. 36.1.b no momento da prisão e, em todo
caso, antes de que o detido preste qualquer declaração ou confissão perante as autoridades policiais ou judiciais?
4. Do ponto de vista do Direito Internacional e, tratando-se de pessoas estrangeiras, quais deveriam ser as consequências
jurídicas a respeito da imposição e execução da pena de morte diante da falta de notificação a que se refere o art. 36.1.b da
Convenção de Viena?

A respeito do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos:

5. No marco do art. 64.1 da Convenção Americana, deve-se entender os artigos 2, 6, 14 e 50 do Pacto no sentido de conter
disposições relacionadas à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos?
6. No âmbito do art. 14 do Pacto, deve-se entender que o próprio art. 14 deve ser aplicado e interpretado à luz da expressão
“todas as salvaguardas possíveis visando um julgamento justo”, contida no parágrafo 5o das Salvaguardas das Nações Unidas
[que garantem proteção aos direitos das pessoas condenadas à pena de morte] e que, no caso de estrangeiros acusados ou
culpados por delitos puníveis com a pena capital, esta expressão inclui a imediata notificação ao deito ou processado, por parte
do Estado receptor, sobre os direitos que lhe confere o art. 36.1.b da Convenção de Viena?
7. No caso de pessoas estrangeiras acusadas ou denunciadas formalmente por delitos puníveis com a pena capital, a omissão da
notificação exigida pelo art. 36.1.b da Convenção de Viena com respeito aos interessados, por parte do Estado receptor, se
conforma com o direito destas pessoas de dispor dos “meios necessários à preparação de sua defesa” de acordo com o art.
14.3.b do Pacto?
8. No caso de pessoas estrangeiras acusadas ou denunciadas formalmente por delitos puníveis com a pena capital, deve-se
entender que as expressões “pelo menos, as seguintes garantias”, contidas no art. 14.3 do Pacto, e “pelo menos igual”, contida
no parágrafo 5o das respectivas Salvaguardas das Nações Unidas, eximem o Estado receptor do imediato cumprimento das
disposições do art. 36.1.b da Convenção de Viena com respeito ao detido ou processado?
9. No caso de países americanos constituídos como Estados federais que são parte no Pacto de Direitos Civis, e no marco dos
artigos 2, 6, 14 e 50 do Pacto, estes Estados estão obrigados a garantir a notificação oportuna a que se refere o art. 36.1.b da
Convenção de Viena a todo indivíduo de nacionalidade estrangeira do preso, detido ou processado em seu território por delitos
puníveis com a pena capital; e a adotar disposições conforme o seu direito interno para tornar efetiva em tais casos a
notificação oportuna a que se refere esse artigo em todos os seus componentes, se o mesmo direito já não estivesse garantido
por disposições legislativas ou de outra natureza, a fim de dar plena eficácia aos respectivos direitos e garantias consagrados no
Pacto?
10. No marco do Pacto e no caso de pessoas estrangeiras, quais deveriam ser as consequências jurídicas a respeito da imposição
e execução da pena de morte, diante da falta de notificação a que se refere o art. 36.1.b da Convenção de Viena?
A respeito da Carta da OEA e da Declaração Americana:
11. No caso de prisões e detenções de estrangeiros por delitos puníveis com a pena capital e no marco dos artigos 3.1 da Carta e
II da Declaração, a omissão por parte do Estado receptor de notificar o detido ou acusado, sem tardar, sobre os direitos que lhe
confere o art. 36.1.b da Convenção de Viena, se conforma com a proclamação da Carta dos direitos humanos, sem distinção por
motivos de nacionalidade, e com o reconhecimento da Declaração sobre o direito à igualdade perante a lei sem distinção
alguma?
12. No caso de pessoas estrangeiras e no marco do art. 3.1 da Carta da OEA e dos artigos I, II e XXVI da Declaração, quais
deveriam ser as consequências jurídicas a respeito da imposição e da execução da pena de morte, diante da falta de notificação
a que se refere o art. 36.1.b da Convenção de Viena?

A Corte é de opinião:

1. Que o art. 36 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares reconhece ao detido estrangeiro direitos individuais, entre
eles o direito à informação sobre a assistência consular, aos quais correspondem deveres correlativos a cargo do Estado
receptor.
2. Que o art. 36 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares diz respeito à proteção dos direitos do nacional do Estado
que envia e está integrado à normativa internacional dos direitos humanos.
3. Que a expressão “sem tardar” utilizada no art. 36.1.b da Convenção de Viena sobre Relações Consulares significa que o Estado
deve cumprir seu dever de informar o detido sobre os direitos que lhe reconhece este preceito no momento de privá-lo de
liberdade e, em todo caso, antes de prestar sua primeira declaração perante a autoridade.
4. Que a observância dos direitos reconhecidos ao indivíduo pelo art. 36 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares não
está subordinada aos protestos do Estado que envia.

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5. Que os artigos 2, 6, 14 e 50 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos dizem respeito à proteção dos direitos
humanos nos Estados americanos.
6. Que o direito individual à informação estabelecido no art. 36.1.b da Convenção de Viena sobre Relações Consulares permite
que, nos casos concretos, o direito ao devido processo legal consagrado no art. 14 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos adquira eficácia; e que este preceito estabelece garantias mínimas suscetíveis de expansão à luz de outros
instrumentos como a Convenção de Viena sobre Relações Consulares, que ampliam o horizonte da proteção dos acusados.
7. Que a inobservância do direito à informação do detido estrangeiro, reconhecido no art. 36.1.b da Convenção de Viena sobre
Relações Consulares, afeta as garantias do devido processo legal e, nestas circunstâncias, a imposição da pena de morte
constitui uma violação do direito a não ser privado da vida “arbitrariamente”, nos termos das disposições relevantes dos
tratados de direitos humanos (v.g. Convenção Americana sobre Direitos Humanos, art. 4o; Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos, art. 6o), com as consequências jurídicas inerentes a uma violação desta natureza, isto é, as atinentes à
responsabilidade internacional do Estado e ao dever de reparação.
8. Que as disposições internacionais que dizem respeito à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos, inclusive a
consagrada no art. 36.1.b da Convenção de Viena sobre Relações Consulares, devem ser respeitadas pelos Estados americanos
partes das respectivas convenções, independentemente de sua estrutura federal ou unitária.

Opinião Consultiva OC-17/2002, de 28.08.2002: Condição jurídica e direitos da criança Solicitada pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos

A Comissão Interamericana submeteu à Corte uma solicitação de opinião consultiva sobre a interpretação dos artigos
8º e 25 da Convenção Americana, com o propósito de determinar se as medidas especiais estabelecidas no art. 19 da Convenção
constituem limites ao arbítrio ou à discricionariedade dos Estados em relação a crianças, assim como solicitou a formulação de
critérios gerais válidos sobre a matéria dentro do marco da Convenção Americana.

Segundo as manifestações da Comissão, existem certas premissas interpretativas que autoridades estatais aplicam no
momento de ditar medidas especiais de proteção em favor de menores, as quais tendem ao enfraquecimento das garantias
judiciais destes. Estas medidas são as seguintes:

1. Os menores são incapazes de juízo pleno sobre seus atos e por conseguinte sua participação pessoal ou através de seus
representantes se reduz ou anula tanto no civil como no penal.
2. Essa carência de juízo e personalidade é presumida pelo funcionário judicial ou administrativo, que, ao tomar decisões que
entende baseadas no que considera os “melhores interesses da criança”, deixa em segundo plano essas garantias.
3. As condições do entorno familiar da criança (situação econômica e de integração familiar, falta de recursos materiais da
família, situação educacional etc.) passam a ser fatores centrais de decisão a respeito do tratamento quando uma criança ou
adolescente é colocado sob a jurisdição penal ou administrativa para decidir sua responsabilidade e sua situação em relação
com uma presumida infração, ou para a determinação de medidas que afetam direitos como o direito à família, à residência ou
à liberdade.
4. A consideração de que o menor está em situação irregular (abandono, deserção educacional, falta de recursos de sua família
etc.) pode ser usada para tentar justificar a aplicação de medidas normalmente reservadas como sanção para figuras delitivas
aplicáveis somente sob devido processo.

A Comissão incluiu na consulta uma solicitação à Corte para que se pronuncie especificamente sobre a compatibilidade
das seguintes medidas especiais que alguns Estados adotam em relação a menores, com os artigos 8 e 25 da Convenção
Americana:
a) A separação de jovens de seus pais e/ou família por se considerar, ao arbítrio do órgão decisório e sem devido processo legal,
que suas famílias não possuem condições para sua educação e manutenção;
b) A supressão da liberdade através da internação de menores em estabelecimentos de guarda ou custódia, por considerá-los
abandonados ou tendentes a cair em situações de risco ou ilegalidade; causas que não configuram figuras delitivas, mas apenas
condições pessoais ou circunstâncias do menor;
c) A aceitação em sede penal de confissões de menores obtidas sem as devidas garantias.
d) A tramitação de julgamentos ou procedimentos administrativos nos quais se determinam direitos fundamentais do menor
sem a garantia de defesa dele;
e) A determinação em procedimentos administrativos e judiciais de direitos e liberdades sem a garantia ao direito de ser ouvido
pessoalmente e a não consideração da opinião e preferências do menor nessa determinação.

A Corte é de opinião:

1. Que de conformidade com a normativa contemporânea do Direito Internacional dos Direitos Humanos, no qual se insere o
art. 19 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, as crianças são titulares de direitos e não somente objeto de
proteção;
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2. Que a expressão “interesse superior da criança”, consagrada no art. 3o da Convenção sobre os Direitos da Criança, implica
que o desenvolvimento deste e o exercício pleno de seus direitos devem ser considerados como critérios reitores para a
elaboração de normas e para a aplicação destas em todas as ordens relativas à vida da criança.
3. Que o princípio de igualdade previsto no art. 24 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos não impede a adoção de
regras e medidas específicas em relação com as crianças, os quais requerem um tratamento diferente em função de suas
condições especiais. Este tratamento deve ser orientado à proteção dos direitos e interesses das crianças.
4. Que a família constitui o âmbito primordial para o desenvolvimento da criança e o exercício de seus direitos. Por isso, o
Estado deve apoiar e fortalecer a família, através das diversas medidas que esta requer para o melhor cumprimento de sua
função natural nesse campo.
5. Que deve ser preservada e favorecida a permanência da criança em seu núcleo familiar, salvo se existam razões
determinantes para separá-lo de sua família, em função do interesse superior daquele. A separação deve ser excepcional e,
preferencialmente, temporal.
6. Que para a atenção às crianças, o Estado deve se valer de instituições que disponham de pessoal adequado, instalações
suficientes, meios idôneos e experiência provada neste gênero de tarefas.
7. Que o respeito do direito à vida, em relação com as crianças, abrange não somente as proibições, entre elas, a de privação
arbitrária, estabelecidas no art. 4o da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, mas também compreende a obrigação de
adotar as medidas necessárias para que a existência das crianças se desenvolva em condições dignas.
8. Que a verdadeira e plena proteção das crianças significa que estas podem disfrutar amplamente de todos seus direitos, entre
eles os econômicos, sociais e culturais, que lhes atribuem diversos instrumentos internacionais. Os Estados Partes nos tratados
internacionais de direitos humanos têm a obrigação de adotar medidas positivas para assegurar a proteção de todos os direitos
da criança.
9. Que os Estados Partes na Convenção Americana têm o dever, conforme os artigos 19 e 17, em relação com o art. 1.1 da
mesma, de tomar todas as medidas positivas que assegurem a proteção às crianças contra maus tratos, seja em sua relação com
as autoridades públicas, ou nas relações individuais ou com entes não estatais.
10. Que nos procedimentos judiciais ou administrativos em que se resolvam direitos das crianças devem ser observados os
princípios e as normas do devido processo legal. Isso abrange as regras correspondentes a juiz natural – competente,
independente e imparcial –, dupla instância, presunção de inocência, contradição e audiência e defesa, atendendo as
particularidades que derivam da situação específica em que se encontram as crianças e que se projetam razoavelmente, entre
outras matérias, sobre a intervenção pessoal de ditos procedimentos e as medidas de proteção que sejam indispensáveis adotar
no desenvolvimento destes.
11. Que os menores de 18 anos a quem se atribua a prática de uma conduta delituosa devem ser sujeitos a órgãos jurisdicionais
distintos dos correspondentes aos maiores de idade. As características da intervenção que o Estado deve ter no caso dos
menores infratores devem refletir na natureza e no funcionamento desses tribunais, assim como na natureza das medidas que
eles podem adotar.
12. Que a conduta que motive a intervenção do Estado nos casos aos quais se refere o ponto anterior deve estar descrita na lei
penal. Outros casos, como são os de abandono, desamparo, risco ou enfermidade, devem ser atendidos de forma diferente a
que corresponde aos procedimentos aplicáveis a quem incorre em condutas típicas. Porém, nesses casos é preciso observar,
igualmente, os princípios e as normas do devido processo legal, tanto no que corresponde aos menores como no que diz
respeito a quem exerce direitos em relação a eles, derivados do estatuto familiar, atendendo também às condições específicas
nas quais se encontrem as crianças.
13. Que é possível empregar vias alternativas de solução das controvérsias que afetem as crianças, mas é preciso regular com
especial cuidado a aplicação destes meios alternativos para que não sejam alterados ou diminuídos os direitos daqueles.

Opinião Consultiva OC-18/03, de 17/09/2003: A condição jurídica e os direitos dos migrantes indocumentados
Solicitada pelo México

O México submeteu à Corte Interamericana um pedido de opinião consultiva sobre a privação do desfrute e exercício
de certos direitos trabalhistas aos trabalhadores migrantes e sua compatibilidade com a obrigação dos Estados americanos de
garantir os princípios de igualdade jurídica, não discriminação e proteção igualitária e efetiva da lei consagrados em
instrumentos internacionais de proteção aos direitos humanos; bem como a subordinação ou condicionamento da observância
das obrigações impostas pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos, incluídas as oponíveis erga omnes, em contraste com
a consecução de certos objetivos de política interna de um Estado americano. Além disso, a consulta trata sobre o caráter que
os princípios de igualdade jurídica, não discriminação e proteção igualitária e efetiva da lei alcançaram no contexto do
desenvolvimento progressivo do Direito Internacional dos Direitos Humanos e sua codificação.

Além disso, o México expôs as considerações que originaram a consulta e, entre elas, afirmou que:

Os trabalhadores migrantes, bem como o restante das pessoas, devem ter garantido o desfrute e exercício dos direitos
humanos nos Estados onde residem. Entretanto, sua vulnerabilidade os torna alvo fácil de violações a seus direitos humanos,

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em especial baseadas em critérios de discriminação e, em consequência, coloca-os em uma situação de desigualdade perante a
lei quanto ao desfrute e exercício efetivos destes direitos.

No contexto já descrito, preocupa-lhe profundamente o Governo do México a incompatibilidade de interpretações,


práticas e expedição de leis por parte de alguns Estados da região, com o sistema de direitos humanos da OEA. O Governo do
México considera que tais interpretações, práticas ou leis implicam negar, entre outros, direitos trabalhistas com base em
critérios discriminatórios fundamentados na condição migratória dos trabalhadores indocumentados. O anterior poderia alentar
os empregadores a utilizar essas leis ou interpretações para justificar a perda progressiva de outros direitos trabalhistas. Por
exemplo: pagamento de horas extras, antiguidade no emprego, salários atrasados, licença maternidade, abusando assim da
condição de vulnerabilidade em que se encontram os trabalhadores migrantes indocumentados. Nesse contexto, as violações
aos instrumentos internacionais que protegem os direitos humanos dos trabalhadores migrantes na região constituem uma
ameaça real para a vigência dos direitos protegidos por tais instrumentos.

Com base nas disposições anteriores, o México solicitou a opinião da Corte sobre os seguintes assuntos:

No contexto do princípio da igualdade jurídica, consagrado no art. II da Declaração Americana, no art. 24 da Convenção
Americana, no art. 7oda Declaração Universal e no art. 26 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos:
1) Pode um Estado americano, em relação à sua legislação trabalhista, estabelecer um tratamento prejudicial diferenciado para
os trabalhadores migrantes indocumentados quanto ao desfrute de seus direitos trabalhistas em relação aos residentes legais
ou aos cidadãos, no sentido de que esta condição migratória dos trabalhadores impede per se o desfrute de tais direitos?
2) O art. 2o, parágrafo 1o da Declaração Universal e II da Declaração Americana e os artigos 2 e 26 do PIDCP, bem como 1 e 24
da Convenção Americana, devem ser interpretados no sentido de que a permanência legal das pessoas no território de um
Estado americano é condição necessária para que este Estado respeite e garanta os direitos e liberdades reconhecidos nestas
disposições às pessoas sujeitas à sua jurisdição?
3) À luz das disposições citadas na pergunta anterior, é possível considerar que a privação de um ou mais direitos trabalhistas,
tomando como fundamento de tal privação a condição indocumentada de um trabalhador migrante, é compatível com os
deveres de um Estado americano de garantir a não discriminação e a proteção igualitária e efetiva da lei impostas através das
disposições mencionadas?
Com fundamento no art. 2o, parágrafos 1 e 2, e no art. 5o, parágrafo 2o, ambos do PIDCP:
4) Qual seria a validez da interpretação, por parte de um Estado americano, no sentido de subordinar ou condicionar de
qualquer forma a observância dos direitos humanos fundamentais, incluindo o direito à igualdade perante a lei e à igual e
efetiva proteção da mesma sem discriminação, para a consecução de objetivos de política migratória contidos em suas leis,
independentemente da hierarquia que o direito interno atribua a tais leis, diante das obrigações internacionais derivadas do
PIDCP e de outros obrigações do Direito Internacional dos Direitos Humanos oponíveis erga omnes?
Em razão do desenvolvimento progressivo do Direito Internacional dos Direitos Humanos e sua codificação, em especial, através
das disposições mencionadas nos instrumentos mencionados no presente pedido:
5) Atualmente, que caráter tem o princípio de não discriminação e o direito à proteção igualitária e efetiva da lei na hierarquia
normativa que estabelece o Direito Internacional geral, e nesse contexto, podem ser consideradas como a expressão de regras
de jus cogens? Se a resposta a esta pergunta for afirmativa, que efeitos jurídicos se derivam para os Estados membros da OEA,
individual e coletivamente, no contexto da obrigação geral de respeitar e garantir, conforme o art. 2o, parágrafo 1o, do PIDCP, o
cumprimento dos direitos humanos a que se referem o art. 3o, inciso I e o art. 17 da Carta da OEA?

A Corte é de opinião:

1. Que os Estados têm a obrigação geral de respeitar e garantir os direitos fundamentais. Com este propósito, devem adotar
medidas positivas, evitar tomar iniciativas que limitem ou violem um direito fundamental, e eliminar as medidas e práticas que
restrinjam ou violem um direito fundamental.
2. Que o descumprimento pelo Estado, através de qualquer tratamento discriminatório, da obrigação geral de respeitar e
garantir os direitos humanos, gera sua responsabilidade internacional.
3. Que o princípio de igualdade e não discriminação possui um caráter fundamental para a proteção dos direitos humanos tanto
no Direito Internacional como no interno.
4. Que o princípio fundamental de igualdade e não discriminação faz parte do Direito Internacional geral, à medida em que é
aplicável a todos os Estados, independentemente de que seja parte ou não em determinado tratado internacional. Na atual
etapa da evolução do Direito Internacional, o princípio fundamental de igualdade e não discriminação ingressou no domínio do
jus cogens.
5. Que o princípio fundamental de igualdade e não discriminação, revestido de caráter imperativo, acarreta obrigações erga
omnes de proteção que vinculam todos os Estados e geram efeitos com respeito a terceiros, inclusive particulares.
6. Que a obrigação geral de respeitar e garantir os direitos humanos vincula os Estados, independentemente de qualquer
circunstância ou consideração, inclusive o status migratório das pessoas.

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7. Que o direito ao devido processo legal deve ser reconhecido no contexto das garantias mínimas que se devem oferecer a todo
migrante, independentemente de seu status migratório. O amplo alcance da intangibilidade do devido processo compreende
todas as matérias e todas as pessoas, sem discriminação alguma.
8. Que a qualidade migratória de uma pessoa não pode constituir uma justificativa para privá-la do desfrute e do exercício de
seus direitos humanos, entre eles os de caráter trabalhista. O imigrante, ao assumir uma relação de trabalho, adquire direitos
por ser trabalhador, que devem ser reconhecidos e garantidos, independentemente de sua situação regular ou irregular no
Estado receptor. Estes direitos são consequência da relação trabalhista.
9. Que o Estado tem a obrigação de respeitar e garantir os direitos humanos trabalhistas de todos os trabalhadores,
independentemente de sua condição de nacionais ou estrangeiros, e não tolerar situações de discriminação em detrimento
destes nas relações de trabalho que se estabeleçam entre particulares (empregador-trabalhador). O Estado não deve permitir
que os empregadores privados violem os direitos dos trabalhadores, nem que a relação contratual viole os padrões mínimos
internacionais.
10. Que os trabalhadores, ao serem titulares dos direitos trabalhistas, devem contar com todos os meios adequados para
exercê-los. Os trabalhadores migrantes indocumentados possuem os mesmos direitos trabalhistas que correspondem aos
demais trabalhadores do Estado receptor, e este último deve tomar todas as medidas necessárias para que assim se reconheça
e se cumpra na prática.
11. Que os Estados não podem subordinar ou condicionar a observância do princípio de igualdade perante a lei e de não
discriminação à consecução dos objetivos de suas políticas públicas, quaisquer que sejam estas, incluídas as de caráter
migratório.

Opinião Consultiva OC-19/2005, de 28.11.2005: Controle de legalidade no exercício das atribuições da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (arts. 41, 44 e 41 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos)
Solicitada pela Venezuela

A Venezuela submeteu à Corte Interamericana uma solicitação de opinião consultiva sobre se existe um órgão dentro
do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos que disponha das competências necessárias para exercer o
controle de legalidade das atuações da Comissão, perante o qual possam recorrer os Estados partes da Convenção em defesa da
legalidade. No caso de existir tal órgão, o Estado desejaria conhecer qual é e quais são as suas atribuições.

A Corte opina:

1. Que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, como órgão do sistema interamericano de proteção dos direitos
humanos, tem plena autonomia e independência no exercício do seu mandato conforme a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos.
2. Que a Comissão atua dentro do marco legal estabelecido pela Convenção Americana no exercício das funções que lhe
competem no procedimento relativo ao trâmite das petições individuais previsto nos artigos 44 e 51 da Convenção, assim como
no exercício de suas outras atribuições destinadas à promoção e proteção dos direitos humanos, consagradas no art. 41 da
Convenção.
3. Que a Corte Interamericana, no exercício de suas funções, efetua o controle de legalidade das atuações da Comissão no que
se refere ao trâmite dos assuntos que estejam sob o conhecimento da própria Corte, conforme a competência que lhe confere a
Convenção Americana e outros instrumentos interamericanos de proteção dos direitos humanos.

Opinião Consultiva OC-20/09, de 29.09.2009: Art. 55 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
Solicitada pela ARGENTINA

A Argentina submeteu à Corte Interamericana uma solicitação de opinião consultiva sobre a interpretação do art. 55 da
Convenção Americana em relação à figura do juiz ad hoc e sua influência na igualdade de armas no processo perante a Corte no
contexto de um caso originado de uma petição individual, assim como a respeito da nacionalidade dos magistrados da Corte e o
direito à um juiz independente e imparcial.

Nesse sentido, a Argentina perguntou à Corte o seguinte:

1. De acordo com o previsto pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos em seu art. 55.3, a possibilidade de designar
um juiz ad hoc deve se limitar aos casos em que a demanda interposta perante a Corte tenha sido originada em uma denúncia
interestatal?
2. Para aqueles casos originados de uma petição individual, o magistrando nacional do Estado denunciado deve ser impedido de
participar da instrução e decisão do caso para garantir uma decisão despida de parcialidade ou influência?
O texto completo do art. 55 da Convenção Americana dispõe que:
1. O juiz que seja nacional de algum dos Estados Partes no caso submetido à Corte conservará seu direito a conhecer do mesmo.
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2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for da nacionalidade de um dos Estados Partes, outro Estado parte no caso
poderá designar uma pessoa de sua escolha para que integre a Corte na qualidade de juiz ad hoc.
3. Se entre os juízes chamados a conhecer do caso nenhum for da nacionalidade dos Estados Partes, cada um destes poderá
designar um juiz ad hoc.
4. O juiz ad hoc deve reunir as qualidades previstas no art. 52.
5. Se vários Estados Partes na Convenção Americana tiverem o mesmo interesse no caso, serão considerados como uma só
parte para os fins das disposições precedentes. No caso de dúvida, a Corte decidirá.

Importante ler o art.55 da CADH!

A Corte opina que:

1. Que conforme o art. 55.3 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, a possibilidade de os Estados Partes no caso
submetido à Corte Interamericana, de nomear um juiz ad hoc para que integre esse Tribunal quando o mesmo não tiver um
juiz de sua nacionalidade, RESTRINGE-SE AOS CASOS CONTENCIOSOS ORIGINADOS DE COMUNICAÇÕES INTERESTATAIS (art.
45 da Convenção), e que não é possível derivar um direito similar a favor dos Estados Partes em casos originados de petições
individuais (art. 44 da Convenção).
2. Que o juiz nacional do Estado demandado NÃO deve participar do conhecimento de casos contenciosos originados de
PETIÇÕES INDIVIDUAIS.

Comentários:

Conforme observou a Corte IDH em seu pronunciamento consultivo:

“Do sentido corrente das expressões contidas no artigo [55] – ‘algum dos Estados Partes no caso’, ‘um dos Estados
Partes’, ‘outro Estado Parte no caso’ e ‘cada um destes’ –, resulta evidente que as hipóteses ali previstas para a composição da
Corte num caso concreto têm como pressuposto a participação de mais de um Estado Parte no mesmo” (§30).
Sobre as origens de figura do juiz ad hoc, a Corte fez constar o seguinte:

“(...) esta instituição [do juiz ad hoc] foi concebida no direito internacional para a resolução de disputas clássicas entre
Estados. O artigo 31 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça estabelece expressamente esta figura. Em conformidade com
esta disposição, que é quase textualmente reproduzida pelo artigo 55 da Convenção Americana (...), os Estados, que se
constituem nas únicas partes processuais nas disputas travadas naquele tribunal, podem designar um juiz ad hoc se em sua
composição não conta com juízes da nacionalidade daqueles Estados.

Ainda, em conformidade com os trabalhos preparatórios do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, a incorporação
da figura do juiz ad hoc teve em suas origens motivações de índole política e diplomática. Naquela época, segundo as
circunstâncias que imperavam, pensou-se que se os Estados não podiam assegurar sua representação na Corte, seria impossível
obter seu consentimento.

Em razão disso, o Tribunal considera que as diversas disposições do citado artigo 55 (...), semelhante ao artigo 31 da
Corte Internacional de Justiça (...), têm como propósito a preservação do equilíbrio processual das partes constituídas por dois
ou mais Estados soberanos iguais em direito e cujas relações são governadas sob o princípio da reciprocidade. Tanto é assim que
o direito de designar um juiz ad hoc nasce para um Estado somente quando o juiz da nacionalidade da outra parte decide fazer
uso do seu direito de permanecer conhecendo do caso, ou ainda, quando tanto este quanto o outro Estado parte não contem
com um juiz de sua nacionalidade na composição do Tribunal (...).
O Tribunal ressalta que, conforme a Convenção Americana, está chamado a resolver casos contenciosos originados não
apenas de comunicações interestatais, mas também de petições individuais. Neste sentido, a Corte não pode deixar de perceber
que a figura do juiz ad hoc, concebida para manter o equilíbrio processual entre Estados Partes iguais em direito, poderia entrar
em conflito com o caráter especial dos modernos tratados de direitos humanos e com a noção de garantia coletiva. O conflito
em questão fica mais evidente quando os indivíduos e os Estados se apresentam como partes processuais opostas. Por isso, ao
estar expressamente prevista na Convenção Americana, a Corte deve dar à figura do juiz ad hoc uma aplicação restrita em
conformidade com o propósito do artigo 55 da Convenção” (§34 e seguintes).

Sobre a segunda pergunta formulada pela Argentina, ainda considerando que o art. 55 da CADH trata somente de casos
interestatais, a Corte IDH, embora tenha afirmado que o mero fato de ser nacional do Estado demandado, em demanda
originada de petição individual, não deve suscitar, por si só, dúvidas sobre a imparcialidade ou independência do juiz,
registrou que há uma tendência concretizada num crescente consenso no sentido de que os juízes nacionais não devem
participar no conhecimento destes casos.
ATENÇÃO! A Corte IDH prezou pela IMPARCIALIDADE OBJETIVA, ou seja, a Corte IDH (seus juízes, no caso) não deve apenas
ser imparcial, mas parecer imparcial.
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Por isso, a Corte advertiu que:

“(...) a questão da nacionalidade do juiz é um fator que deve ser levado em conta pelo Tribunal para afiançar a
percepção da imparcialidade objetiva do juiz. (...)

Em conclusão, o Tribunal considera que o tema da nacionalidade dos juízes está vinculado à apreciação da justiça que a
Corte transmite no marco de controvérsias que não correspondem mais ao direito internacional clássico e nas quais o ser
humano é o destinatário da proteção oferecida pelo sistema. (...) isso inclui levar em consideração que (...) os Estados já não são
os únicos atores nos processos internacionais (...).

Por todos os argumentos expostos (...), a Corte é da opinião de que o juiz que ostenta a nacionalidade do Estado
demandado num caso contencioso originado de uma petição individual não deve conhecer da controvérsia”. (§84 e seguintes).

Opinião Consultiva OC-21/14, de 19.08.2014: Direitos e garantias das crianças no contexto da migração e/ou necessidade de
proteção internacional
Solicitada pelos seguintes países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai

Os países Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai submeteram à Corte Interamericana uma solicitação de opinião
consultiva sobre criança migrante a fim de que o tribunal determine com maior precisão quais são as obrigações dos Estados
com relação às medidas passíveis de serem adotadas a respeito de crianças, associada à sua condição migratória, ou a de seus
pais.

Os Estados solicitantes apresentaram à Corte as seguintes perguntas específicas:

1. Quais são, à luz dos artigos 1, 2, 5, 7, 8, 19, 22.7 e 25 da Convenção Americana e dos artigos 1, 25 e 27 da Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, os procedimentos que deveriam ser adotados a fim de identificar os diferentes
riscos para os direitos das crianças migrantes; determinar as necessidades de proteção internacional; e adotar, no caso, as
medidas de proteção especial que sejam necessárias?
2. Quais são as garantias do devido processo que devem vigorar nos processos migratórios que envolvam crianças migrantes?
3. Como deve ser interpretado o princípio de última ratio da detenção como medida cautelar no marco dos procedimentos
migratórios quando estão envolvidas crianças que se encontrem junto de seus pais, e quando estão envolvidas crianças não
acompanhadas ou separadas de seus pais?
4. Quais características devem ter as medidas alternativas adequadas de proteção dos direitos da criança que devem constituir a
resposta estatal prioritária para evitar qualquer tipo de restrição à liberdade ambulatória? Quais são as garantias do devido
processo que deveriam ser aplicadas no procedimento de decisão acerca de medidas alternativas à detenção?
5. Quais são as condições básicas que devem cumprir os espaços de alojamento de crianças migrantes e quais são as obrigações
principais que têm os Estados a respeito das crianças (sozinhas ou acompanhadas) que se encontrem sob a custódia estatal por
razões migratórias?
6. Quais são as garantias do devido processo que devem vigorar nos processos migratórios que envolvam crianças, quando
nestes processos sejam aplicadas medidas que restrinjam a liberdade pessoal das crianças?
7. Qual é o alcance e o conteúdo do princípio de não devolução ao serem adotadas medidas que possam implicar o retorno da
criança a um país determinado?
8. Quais características devem ter os procedimentos a serem empregados quando se identifica uma potencial solicitação de
asilo ou de reconhecimento da condição de refugiado de uma criança migrante?
9. Qual é o alcance que deve ser conferido à proteção do direito das crianças a não serem separadas de seus pais nos casos em
que possa ser aplicada uma medida de deportação a um ou ambos os genitores, como consequência migratória?

A Corte opina que:

1. De acordo com o requerido pelos Estados solicitantes, a presente opinião consultiva determina, na sequência, com a maior
precisão possível, as obrigações estatais a respeito de crianças, associadas à sua condição migratória ou a de seus pais e que
devem, em consequência, os Estados considerar ao adotar, implementar e aplicar suas políticas migratórias, incluindo nelas,
segundo corresponda, tanto a adoção ou aplicação das correspondentes normas de direito interno como a assinatura ou
aplicação dos pertinentes tratados e/ou outros instrumentos internacionais.
2. Tendo presente, para esses fins, que criança é toda pessoa menor de 18 anos de idade, os Estados devem priorizar o enfoque
dos direitos humanos desde uma perspectiva que tenha em conta de forma transversal os direitos das crianças e, em particular,
sua proteção e desenvolvimento integral, os quais devem prevalecer sobre qualquer consideração da nacionalidade ou do status
migratório, a fim de assegurar a plena vigência de seus direitos.
3. Os Estados se encontram obrigados a identificar as crianças estrangeiras que requeiram proteção internacional dentro de
suas jurisdições, através de uma avaliação inicial com garantias de segurança e privacidade, com o fim de lhes proporcionar o
@dicasexconcurseira 187
tratamento adequado e individualizado que seja necessário de acordo com a sua condição de criança e, no caso de dúvida sobre
a idade, analisar e determiná-la; determinar se trata-se de menina ou menino não acompanhado ou separado, assim como sua
nacionalidade ou, se for o caso, sua condição de apátrida; obter informação sobre os motivos de sua saída do país de origem, de
sua separação familiar se for o caso, de suas vulnerabilidades e qualquer outro elemento que evidencie ou negue sua
necessidade de algum tipo de proteção internacional; e adotar, caso seja necessário e pertinente de acordo com o interesse
superior da criança, medidas de proteção especial.
4. Com o propósito de assegurar um acesso à justiça em condições de igualdade, um efetivo devido processo e velar para que o
interesse superior da criança seja uma consideração primordial em todas as decisões que sejam adotadas, os Estados devem
garantir que os processos administrativos ou judiciais nos quais se resolva acerca de direitos das crianças migrantes estejam
adaptados a suas necessidades e sejam acessíveis para eles.
5. As garantias do devido processo que, conforme o direito internacional dos direitos humanos, devem reger em todo processo
migratório, seja administrativo ou judicial, que envolva crianças, são as seguintes: o direito a ser notificado da existência de um
procedimento e da decisão que seja adotada no marco do processo migratório; o direito a que os processos migratórios sejam
conduzidos por um funcionário ou juiz especializado; o direito a ser ouvido e a participar nas diferentes etapas processuais; o
direito a ser assistido gratuitamente por um tradutor e/ou intérprete; o acesso efetivo à comunicação e assistência consular; o
direito a ser assistido por um representante legal e a comunicar- se livremente com dito representante; o dever de designar um
tutor no caso de crianças não acompanhadas ou separadas; o direito a que a decisão que seja adotada considere o interesse
superior da criança e seja devidamente fundamentada; o direito a recorrer da decisão perante um juiz ou tribunal superior com
efeito suspensivo; e o prazo razoável de duração do processo.
6. Os Estados não podem recorrer à privação de liberdade de crianças para cautelar os fins de um processo migratório nem
tampouco podem fundamentar tal medida no descumprimento dos requisitos para ingressar e permanecer no país no fato de
que a criança se encontre só ou separada de sua família, ou na finalidade de assegurar a unidade familiar, toda vez que possam
e devam dispor de alternativas menos lesivas e, ao mesmo tempo, proteger de forma prioritária e integral os direitos da criança.
7. Os Estados devem criar e incorporar em seus respectivos ordenamentos internos um conjunto de medidas não privativas de
liberdade a serem aplicadas enquanto se desenvolvem os processos migratórios, que tenham como prioridade a proteção
integral dos direitos da criança, com estrito respeito de seus direitos humanos e ao princípio de legalidade, e as decisões que
sejam ordenadas devem ser adotadas por uma autoridade administrativa ou judicial competente em procedimento que respeite
determinadas garantias mínimas.
8. Os espaços de alojamento devem respeitar o princípio de separação e o direito à unidade familiar, de modo tal que as
crianças não acompanhadas ou separadas sejam alojadas em locais distintos ao que correspondem aos adultos e, tratando-se de
crianças não acompanhadas, alojar-se com seus familiares, salvo se for mais conveniente a separação em aplicação do princípio
do interesse superior da criança e, ademais, assegurar condições materiais e um regime adequado para as crianças num
ambiente não privativo de liberdade.
9. Em situações de restrição de liberdade pessoal que possam constituir ou eventualmente gerar, pelas circunstâncias do caso
concreto, uma medida que materialmente corresponda a uma privação de liberdade, os Estados devem respeitar as garantias
que sejam necessárias diante destas situações.
10. Os Estados são proibidos de devolver, expulsar, deportar, retornar, rechaçar em fronteira ou não admitir, ou de qualquer
maneira transferir ou remover uma criança a um Estado quando sua vida, segurança e/ou liberdade estejam em risco de
violação pela persecução ou ameaça da mesma, violência generalizada ou violações massivas aos direitos humanos, entre
outros, assim como aonde ocorra o risco de ser submetido a tortura ou outros tratamentos crueis, desumanos ou degradantes,
ou a um terceiro Estado no qual possa ser enviado e nele possa correr esses riscos.
11. De acordo com o estabelecido na Convenção sobre os Direitos da Criança e outras normas de proteção dos direitos
humanos, qualquer decisão sobre a devolução da criança ao país de origem ou a um terceiro país seguro somente poderá ser
feita segundo o interesse superior da criança, tendo em conta que o risco de violação de seus direitos humanos pode adquiri
manifestações particulares e específicas em razão da idade.
12. A obrigação estatal de estabelecer e seguir procedimentos justos e eficientes para poder identificar os potenciais solicitantes
de asilo e determinar a condição de refugiado através de uma análise adequada e individualizada das petições com as
correspondentes garantias deve incorporar os componentes específicos desenvolvidos à luz da proteção integral devida a todas
as crianças, aplicando os princípios reitores e, em especial, o referente ao interesse superior da criança e sua participação.
13. Qualquer órgão administrativo ou judicial que deva decidir acerca da separação familiar por expulsão motivada pela
condição migratória de um ou ambos os genitores devem empregar uma análise de ponderação, que contemple as
circunstâncias particulares do caso concreto e garanta uma decisão individual, priorizando em cada caso o interesse superior da
criança. Naqueles casos em que a criança tem direito à nacionalidade do país do qual um ou ambos os genitores possam ser
expulsos, ou cumpre com as condições legais para residir permanentemente ali, os Estados não podem expulsar um ou ambos
os genitores por infrações migratórias de caráter administrativo, pois se sacrifica de forma irrazoável ou desmedida o direito à
vida familiar da criança.
14. Considerando que as obrigações determinadas anteriormente se referem a um tema tão próprio, complexo e instável da
época atual, elas devem ser entendidas como parte do desenvolvimento progressivo do Direito Internacional dos Direitos
Humanos, processo em que, consequentemente, essa opinião consultiva se insere.

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Opinião Consultiva OC-22/16, de 26.02.2016: Titularidade de direitos das pessoas jurídicas no sistema interamericano de
direitos humanos (interpretação e alcance do art. 1.2, em relação com os artigos 1.1, 8, 11.2, 13, 16, 21, 24, 25, 29, 30, 44, 46
e 62.3 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, assim como com o art. 8.1.a e b do Protocolo de San Salvador)
Solicitada pelo PANAMÁ

O Panamá submeteu à Corte Interamericana uma solicitação de opinião consultiva sobre o alcance do art. 1.2 da
Convenção Americana em relação a diversos outros dispositivos desse documento internacional, apresentando as seguintes
perguntas à Corte:

1. O art. 1.2 da CADH restringe a proteção interamericana dos direitos humanos às pessoas físicas e exclui do âmbito de
proteção da Convenção as pessoas jurídicas?
2. O art. 1.2 da CADH pode proteger também os direitos de pessoas jurídicas como cooperativas, sindicatos, associações,
sociedades, enquanto compostos por pessoas físicas associadas a essas entidades?
3. Podem as pessoas jurídicas acessar os procedimentos da jurisdição interna e esgotar os recursos da jurisdição interna em
defesa dos direitos das pessoas físicas titulares dessas pessoas jurídicas?
4. Quais direitos humanos podem ser reconhecidos às pessoas jurídicas ou coletivas (não governamentais) no marco da
Declaração Americana sobre Direitos e Deveres do Homem, da CADH e de seus protocolos ou instrumentos internacionais
complementares?
5. No marco da CADH, além das pessoas físicas, as pessoas jurídicas compostas por seres humanos têm direitos à liberdade de
associação, à intimidade e vida privada, à liberdade de expressão, à propriedade privada, às garantias judiciais, ao devido
processo e à proteção de seus direitos dos artigos 8o e 25, e à igualdade e não discriminacao?
6. Pode uma empresa ou sociedade privada, cooperativa, sociedade civil ou sociedade comercial, um sindicato (pessoa jurídica),
um meio de comunicação (pessoa jurídica), uma organização indígena (pessoa jurídica), em defesa de seus direitos e/ou de seus
membros, esgotar os recursos da jurisdição interna e acessar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos em nome de seus
membros (pessoas físicas associadas ou proprietárias da empresa ou sociedade), ou deve fazê-lo cada membro ou sócio em sua
condição de pessoa física?
7. Se uma pessoa jurídica, em defesa de seus direitos e dos direitos de seus membros (pessoas físicas associadas ou sócios),
acessar a jurisdição interna e esgotar seus procedimentos jurisdicionais, podem seus membros ou associados acessar
diretamente a jurisdição internacional da Comissão Interamericana na defesa de seus direitos como pessoas físicas afetadas?
8. No marco da CADH, as pessoas físicas devem esgotar elas mesmas os recursos da jurisdição interna para acessar a Comissão
Interamericana em defesa de seus direitos humanos ou podem fazê-lo as pessoas jurídicas das quais participam?

A Corte opina que:

1. O art. 1.2 da CADH SOMENTE consagra direitos a favor de PESSOAS FÍSICAS, de modo que as pessoas jurídicas não são
titulares dos direitos consagrados na Convenção.
2. As COMUNIDADES INDÍGENAS e TRIBAIS são titulares dos direitos protegidos na Convenção e, portanto, PODEM ACESSAR O
SISTEMA INTERAMERICANO.
3. O art. 8.1 do Protocolo de San Salvador outorga titularidade de direitos aos SINDICATOS, às FEDERAÇÕES e às
CONFEDERAÇÕES, o que lhes permite apresentarem-se perante o sistema interamericano em defesa de seus próprios direitos
no marco do estabelecido no referido dispositivo.
4. As pessoas físicas em alguns casos podem chegar a exercer seus direitos através de pessoas jurídicas, de modo que nestas
situações poderão acessar o sistema interamericano para apresentar as presumidas violações a seus direitos.
5. As pessoas FÍSICAS, em algumas situações, podem esgotar os recursos INTERNOS mediante recursos interpostos pelas
pessoas JURÍDICAS.

Comentários:

Consideramos oportuno transcrever o entendimento da Corte IDH a respeito das comunidades indígenas e tribunais
como legitimadas para litigarem perante o sistema interamericano para defender direitos das próprias comunidades e não
apenas dos seus membros individualmente considerados:

“Numa primeira etapa, ao declarar violações de direitos humanos nos casos relacionados com comunidades indígenas
ou tribais, a Corte considerava unicamente como sujeitos de direito os membros das comunidades e não estas últimas como tal.
Por isso, eram declaradas como vítimas as pessoas individuais e não a coletividade a que pertenciam.

Em 2012, no Caso Povo Indígena Kichwa de Sarayaku vs. Equador pela primeira vez a Corte reconheceu como titulares
de direitos protegidos na Convenção não somente os membros de uma comunidade indígena mas também esta mesma. Neste
caso, o Tribunal considerou que haviam sido violados os direitos do povo indígena Kichwa de Sarayaku à consulta, à propriedade
comunal indígena, à identidade cultural, às garantias judiciais e à proteção judicial. Além disso, sustentou que o Estado era
responsável por ter colocado gravemente em risco os direitos à vida e à integridade pessoal dos mesmos da comunidade. Neste
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sentido, a Corte manifestou que há alguns direitos que os membros das comunidades indígenas gozam por si mesmos,
enquanto que há outros direitos cujo exercício se faz de forma coletiva através das comunidades” (§73 e seguintes).

Opinião Consultiva OC-23/17, de 15.11.2017: Meio ambiente e direitos humanos (obrigações estatais em relação ao meio
ambiente no marco da proteção e garantia dos direitos à vida e à integridade pessoal – interpretação e alcance dos artigos 4.1 e
5.1 em relação aos artigos 1.1 e 2o da CADH)
Solicitada pela Colômbia

A Colômbia submeteu à Corte Interamericana uma solicitação de opinião consultiva sobre as obrigações dos Estados
em relação com o meio ambiente no marco da proteção e garantia dos direitos à vida e à integridade pessoal para que a Corte
determine de que forma deve ser interpretada a CADH quando exista o risco de que a construção e o uso das novas grandes
obras de infraestrutura afetem de forma grave o meio ambiente marinho na Região do Grande Caribe e, consequentemente, no
habitat humano essencial para o pleno gozo e exercício dos direitos dos habitantes das costas e/ou ilhas de um Estado parte da
Convenção Americana, à luz das normas ambientais consagradas em tratados e no direito internacional consuetudinário
aplicável entre os respectivos Estados.

Além disso, o Estado solicitante busca que a Corte determine como se deve interpretar a CADH em relação a outros
tratados em matéria ambiental que buscam proteger zonas específicas, como é o caso da Convenção para a Proteção e o
Desenvolvimento do Meio Marino na Região do Grande Caribe, com relação à construção de grandes obras de infraestrutura em
Estados partes destes tratados e as respectivas obrigações internacionais em matéria de prevenção, precaução, mitigação do
dano e de cooperação entre os Estados que se possam ver afetados.

Com base nisso, a Colômbia apresentou à Corte as seguintes consultas específicas:

I. De acordo com o previsto no art. 1.1 da CADH, deve ser considerado que uma pessoa, ainda que não se encontre no território
de um Estado parte, está sujeita à jurisdição desse Estado no caso específico em que, de forma acumulativa, cumpra as quatro
condições seguintes?
1. Que a pessoa resida ou se encontre numa zona delimitada e protegida por um regime convencional de proteção do meio
ambiente do qual o referido Estado seja parte.
2. Que esse regime convencional preveja uma área de jurisdição funcional, como por exemplo o previsto na Convenção para a
Proteção e o Desenvolvimento do Meio Marinho na Região do Grande Caribe.
3. Que nessa área de jurisdição funcional os Estados partes tenham a obrigação de prevenir, reduzir e controlar a poluição por
meio de uma série de obrigações gerais e/ou específicas.
4. E que, como consequência de um dano ao meio ambiente ou de um risco de dano ambiental na zona protegida pela
convenção de que se trate, e que seja atribuível a um Estado parte da convenção e da CADH, os direitos humanos da pessoa em
questão tenham sido violados ou se encontrem ameaçados?

II. As medidas e os comportamentos, que por ação ou por omissão, de um dos Estados partes, cujos efeitos sejam suscetíveis de
causar um dano grave ao maio ambiente marinho – o qual consiste em fonte indispensável para o sustento da vida dos
habitantes da cota e/ ou ilhas de outro Estado parte –, são compatíveis com as obrigações formuladas nos artigos 4.1 e 5.1, lidos
em relação com o art. 1.1 da CADH?

III. Devemos interpretar, e em qual medida, as normas que estabeleçam a obrigação de respeitar e de garantir os direitos e
liberdades previstos nos artigos 4.1 e 5.1 da CADH, no sentido de que destas normas decorre a obrigação a cargo dos Estados
membros da CADH de respeitar as normas que advém do direito internacional do meio ambiente e que buscam impedir um
dano ambiental suscetível de limitar ou impossibilitar o gozo efetivo do direito à vida e à integridade pessoal, e que uma das
maneiras de cumprir essa obrigação é através da realização de estudos de impacto ambiental numa zona protegida pelo direito
internacional e da cooperação com os Estados que resultem afetados? Se for aplicável, quais parâmetros gerais deveriam ser
levados em consideração na realização dos estudos de impacto ambiental na Região do Grande Caribe e qual deveria ser o seu
conteúdo mínimo?

A Corte opina que:

1. O conceito de jurisdição do art. 1.1 da CADH abrange toda situação na qual um Estado exerça autoridade ou controle efetivo
sobre as pessoas, seja dentro ou fora de seus território.
2. Para determinar as circunstâncias que revelam o exercício da jurisdição por parte de um Estado, é necessário examinar as
circunstâncias fáticas e jurídicas particulares de cada caso concreto e não basta a localização desta pessoa numa zona geográfica
determinada como a zona de aplicação de um tratado para a proteção ambiental.

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3. De acordo com o art. 1.1 da CADH, entende-se que as pessoas cujos direitos convencionais foram violados por causa de um
dano transfronteiriços se encontram sob a jurisdição do Estado de origem do referido dano, na medida que esse Estado exerce
um controle efetivo sobre as atividades que são conduzidas em seu território ou sob sua jurisdição.
4. Com o propósito de respeitar e garantir os direitos à vida e à integridade das pessoas sob sua jurisdição, os Estados têm a
obrigação de prevenir danos ambientais significativos, dentro ou fora do seu território, devendo regular, supervisionar e
fiscalizar as atividades sob sua jurisdição que possam produzir um dano significativo ao meio ambiente; realizar estudos de
impacto ambiental quando exista risco de dano significativo ao meio ambiente; estabelecer um plano de contingência para o fim
de ter medidas de segurança e procedimentos para minimizar a possibilidade de grandes acidades ambientais, e militar o dano
ambiental significativo que tenha produzido.
5. Os Estados devem atuar conforme o princípio da precaução para o fim de proteger o direito à vida e à integridade pessoal
frente a possíveis danos graves ou irreversíveis ao meio ambiente, mesmo na ausência de certeza científica.
6. Com o propósito de respeitar e garantir os direitos à vida e à integridade das pessoas sob sua jurisdição, os Estados têm a
obrigação de cooperar, de boa fé, para a proteção contra danos transfronteiriços significativos ao meio ambiente. Para o
cumprimento desta obrigação, os Estados devem notificar os Estados potencialmente afetados quando tenham conhecimento
que uma atividade planejada sob sua jurisdição possa gerar um risco de danos significativos transfronteiriços e em casos de
emergências ambientais, assim como consultar e negociar, de boa fé, com os Estados potencialmente afetados por danos
transfronteiriços significativos.
7. Com o propósito de garantir os direitos à vida e à integridade das pessoas sob sua jurisdição, em relação à proteção do meio
ambiente, os Estados têm a obrigação de garantir o direito ao acesso à informação relacionada com possíveis afetações ao meio
ambiente; o direito à participação pública das pessoas sob sua jurisdição na tomada de decisões e políticas que possam afetar o
meio ambiente, assim como o direito de acesso à justiça em relação com as obrigações ambientais estatais.

Comentários:

Recordando que a função consultiva constitui um serviço prestado a todos os integrantes do sistema interamericano,
com o propósito de coadjuvar no cumprimento dos seus compromissos internacionais, a Corte IDH registrou que considera que:
“(...) a partir da interpretação das normas relevantes, sua resposta à consulta apresentada terá uma utilidade concreta para os
países da região na medida em que permitirá precisar, de forma clara e sistemática, as obrigações estatais em relação à
proteção do meio ambiente no marco de suas obrigações de respeitar e garantir os direitos humanos a toda pessoa sob sua
jurisdição. Isto conduzirá à determinação dos princípios e obrigações concretas que os Estados devem cumprir em matéria de
proteção do meio ambiente para respeitar e garantir os direitos humanos das pessoas sob sua jurisdição a fim de adotar as
medidas que sejam adequadas e pertinentes” (§ 23).

Sobre a relação interdependente entre a proteção do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e os direitos
humanos no direito internacional, a Corte IDH anotou que:

“(...) [ela] tem sido afirmada desde a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano (...), na qual se
estabeleceu que ‘o desenvolvimento econômico e social é indispensável para assegurar ao homem um ambiente de vida e
trabalho favorável e criar na Terra as condições necessárias para melhorar a qualidade da vida’, afirmando- se a necessidade de
equilibrar o desenvolvimento com a proteção do meio ambiente’. Posteriormente, na Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente
e o Desenvolvimento (...), os Estados reconheceram que ‘os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas
com o desenvolvimento sustentável’ e, ainda, destacaram que ‘a fim de alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção do
meio ambiente deverá constituir parte integrante do processo de desenvolvimento’. Da mesma forma, na Declaração de
Johanesburgo sobre o Desenvolvimento foram estabelecidos os três pilares do desenvolvimento sustentável: o desenvolvimento
econômico, o desenvolvimento social e a proteção ambiental. (...)

Como consequência da estreita relação entre a proteção do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e os
direitos humanos (...), atualmente (i) múltiplos sistemas de proteção de direitos humanos reconhecem o direito ao meio
ambiente saudável como um direito em si mesmo, particularmente o sistema interamericano de direitos humanos, ao mesmo
tempo que não há dúvida que (ii) outros múltiplos direitos humanos são violados com a degradação do meio ambiente, o que
conduz a uma série de obrigações ambientais dos Estados para cumprir suas obrigações de respeito e garantia destes direitos.
Precisamente, outra consequência da interdependência e indivisibilidade entre os direitos humanos e a proteção do meio
ambiente é que, na determinação destas obrigações estatais, a Corte pode fazer uso dos princípios, direitos e obrigações do
direito ambiental internacional, os quais, como parte do corpus iuris internacional, contribuem de forma decisiva para fixar o
alcance das obrigações decorrentes da Convenção Americana nesta matéria (...)” (§52 e seguintes).

No sistema interamericano, o direito a um meio ambiente saudável está previsto expressamente no art. 11 do
Protocolo de San Salvador, segundo o qual: “1) Toda pessoa tem direito a viver num meio ambiente saudável e a contar com
serviços públicos básicos; e 2) Os Estados Partes promoverão a proteção, a preservação e o melhoramento do meio ambiente”.
Além disso, conforme anotou a Corte (§§ 57 e 58), o direito ao meio ambiente saudável também deve ser considerado como
incluído entre os direitos econômicos, sociais e culturais protegidos pelo art. 26 da CADH, sendo encontrado também, entre
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outros documentos internacionais, na Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas (art. 19), na Carta Africana
de Direitos Humanos e dos Povos (art. 24), na Declaração de Direitos Humanos da Associação de Nações do Sudeste da Ásia (art.
28.f) e na Carta Árabe de Direitos Humanos (art. 38).

Para a Corte, o direito humano a um meio ambiente saudável deve ser entendido como um direito com conotações
tanto individuais quanto coletivas:

“(...) Em sua dimensão coletiva, o direito a um meio ambiente saudável constitui um interesse universal, que se deve
tanto às gerações presentas quanto às futuras. Contudo, o direito ao meio ambiente saudável também tem uma dimensão
individual, na medida em que sua violação pode ter repercussões diretas ou indiretas sobre as pessoas devido à sua conexão
com outros direitos, tais como o direito à saúde, à integridade pessoal ou à vida, entre outros. A degradação do meio ambiente
pode causar danos irreparáveis nos seres humanos, motivo pelo qual um meio ambiente saudável é um direito fundamental
para a existência da humanidade (§ 59).

Na sequência, em interessante passagem da OC-23, a Corte IDH reconheceu o direito ao meio ambiente saudável como
um direito autônomo, advertindo sobre uma tendência de se reconhecer também a personalidade jurídica da natureza, que
também seria titular de direitos:

“Esta Corte considera importante ressaltar que o direito ao meio ambiente saudável como direito autônomo,
diferentemente de outros direitos, protege os componentes do meio ambiente, tais como bosques, rios, mares e outros, como
interesses jurídicos em si mesmos, ainda que na ausência de certeza ou evidência sobre o risco às pessoas individuais. Trata- se
de proteger a natureza e o meio ambiente não somente pela sua conexão com uma utilidade para o ser humano ou pelos
efeitos que sua degradação poderia causar em outros direitos das pessoas, como a saúde, a vida ou a integridade pessoal, mas
sim pela sua importância para os demais organismos vivos com quem se compartilha o planeta, também merecedores de
proteção em si mesmos. Neste sentido, a Corte adverte sobre uma tendência de se reconhecer personalidade jurídica e, por
isso, direitos à natureza não somente em sentenças judiciais, como também em ordenamentos constitucionais” (§ 62).
Para a Corte IDH, conforme já se afirmou anteriormente, os danos ambientais podem afetar todos os direitos humanos. No
entanto, alguns direitos humanos são mais suscetíveis a determinados tipos de dano ambiental. Assim, a Corte ressaltou que os
direitos especialmente vinculados ao meio ambiente podem ser classificados em dois grupos: a) os direitos cujo desfrute é
particularmente vulnerável à degradação do meio ambiente, também identificados como direitos substantivos (por exemplo, os
direitos à vida, à integridade pessoal, à saúde ou à propriedade); e b) os direitos cujo exercício requer uma melhor formulação
de políticas ambientais, também identificados como direitos de procedimento (tais como a liberdade de expressão e associação,
à informação, à participação na tomada de decisões e a um recurso efetivo) (§ 64).

Noutra passagem da OC-23, a Corte IDH abordou a responsabilidade do Estado por danos ao meio ambiente praticados
por particulares, um assunto muito relevante e atual, especialmente no contexto brasileiro de grandes desastres ambientais
causados com o rompimento de barragens de rejeitos:

“A Corte tem advertido que um Estado não pode ser responsável por qualquer violação de direitos humanos cometida
entre particulares dentro de sua jurisdição. O caráter erga omnes das obrigações convencionais de garantia incumbidas aos
Estados não gera uma responsabilidade ilimitada deles frente a qualquer ato ou fato de particulares; e isso porque ainda que um
ato, omissão ou fato de particular tenha como consequência jurídica a violação de determinados direitos humanos de outro
particular, aquele não é automaticamente atribuível ao Estado, devendo-se verificar as circunstâncias particulares do caso e a
concreção destas obrigações de garantia. No marco da proteção do meio ambiente, a responsabilidade internacional do Estado
decorrente da conduta de terceiros pode resultar da falta de regulação, supervisão ou fiscalização das atividades destes
terceiros que causem um dano ao meio ambiente” (§ 119).

Sobre o conteúdo e o alcance da responsabilidade do Estado em relação à proteção do meio ambiente, a Corte IDH
assim se manifestou:

“(...) tendo em conta as dificuldades que implicam a planificação e a adoção de políticas públicas e as escolhas de
caráter operativo que devem ser tomadas em função de prioridades e recursos, as obrigações positivas do Estado devem ser
interpretadas de forma que não se imponha às autoridades um ônus impossível ou desproporcional. Para que surja essa
obrigação positiva, deve ser estabelecido que: (i) no momento dos fatos as autoridades sabiam ou deveriam saber da existência
de uma situação de risco real e imediato para a vida do indivíduo ou grupo de indivíduos determinados, e não adotaram as
medidas necessárias dentro do âmbito de suas atribuições que razoavelmente podiam ser esperadas para prevenir ou evitar
este risco; e (ii) que existe uma relação de causalidade entre a afetação da vida ou da integridade e o dano significativo causado
ao meio ambiente.

Por outro lado, a obrigação de garantir também implica que os Estados adotem medidas positivas que permitam e
ajudem os particulares a exercer seus direitos. Neste sentido, devem ser adotadas medidas para que se difunda informação
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sobre o uso e a proteção da água e das fontes de alimentação adequada (...). Além disso, em casos particulares de pessoas ou
grupos de pessoas que não estejam em condições de acessar por si mesmos a água e uma alimentação adequada, por razoes
alheias à sua vontade, os Estados devem garantir um mínimo essencial de água e alimentação. Se um Estado não tem os
recursos para cumprir com esta obrigação, deve demonstrar que adotou todos os esforços possíveis para utilizar todos os
recursos disponíveis com o fim de cumprir, em caráter prioritário, essas obrigações mínimas (§§ 121 e 122).

No que diz respeito à obrigação de prevenção de danos ambientais, a Corte afirmou que embora não seja possível
indicar de forma detalhada todas as medidas que poderiam ser adotadas para que os Estados cumpram com sua obrigação de
prevenção, pois variam conforme o direito atingido e segundo as condições próprias de cada Estado, pode-se indicar pelo menos
algumas obrigações mínimas que os Estados devem adotar dentro da obrigação geral de tomar as medidas apropriadas para
prevenir violações dos direitos humanos como consequência de danos ambientais. Estas obrigações mínimas, para a Corte IDH,
são as seguintes: a) regular; b) supervisionar e fiscalizar; c) exigir e aprovar estudos de impacto ambiental; d) estabelecer um
plano de contingência; e e) mitigar em casos de ocorrência de dano ambiental (§§ 144 e 145).

Finalmente, encerramos estes comentários sobre a OC-23 chamando a atenção do leitor para o seguinte: após o
julgamento do Caso Lagos del Campo vs. Peru – já resumido e explicado anteriormente –, a judicialização do direito ao meio
ambiente perante o sistema interamericano não mais pode ser feita apenas de forma indireta, mediante a conexão com um
direito civil ou político previsto na CADH (fenômeno conhecido como greening ou esverdeamento dos direitos humanos), mas
sim de forma direta, entendendo-se o direito ao meio ambiente como inserido no catálogo protegido pelo art. 26 da CADH. A
Corte IDH chegou à esta conclusão no § 57 da OC-23, ressaltando que o direito ao meio ambiente pode ser extraído dos artigos
30, 31, 33 e 34 da Carta da OEA, quando fazem menção à obrigação dos Estados de assegurarem o “desenvolvimento integral”
dos povos.

Opinião Consultiva OC-24/17, de 24.11.2017: Identidade de gênero e igualdade e não discriminação a casais do mesmo sexo.
Obrigações estatais em relação à mudança de nome, à identidade de gênero e os direitos derivados de um vínculo entre
casais do mesmo sexo (interpretação e alcance dos artigos 1.1, 3, 7, 11.2, 13, 17, 18 e 24, em relação ao art. 1o da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos MAIS IMPORTANTE!
Solicitada pela Costa Rica

A Costa Rica submeteu à Corte Interamericana uma solicitação de opinião consultiva sobre a interpretação e o alcance
dos artigos 11.2, 18 e 24 da CADH em relação ao art. 1o também da Convenção, apresentando as seguintes perguntas:

1. Levando em conta que a identidade de gênero é uma categoria protegida pelos artigos 1º e 24 da CADH, além do estabelecido
nos artigos 11.2 e 18 da Convenção, esta proteção contempla a obrigação de o Estado reconhecer e facilitar a mudança de nome
das pessoas, de acordo com a identidade de gênero de cada uma?
2. Se a resposta à consulta anterior for positiva, pode-se considerar contrário à CADH que a pessoa interessada em modificar seu
nome somente possa assim proceder mediante processo jurisdicional, e não através de um procedimento administrativo?
3. Pode-se entender que o artigo 54 do Código Civil da Costa Rica deve ser interpretado de acordo com a CADH no sentido de
que as pessoas que desejem mudar seu nome a partir de sua identidade de gênero não estão obrigadas a submeter-se ao
processo jurisdicional ali contemplado, mas sim que o Estado deve prover-lhes um trâmite administrativo gratuito, rápido e
acessível para exercer esse direito humano?
4. Levando em conta que a não discriminação por motivos de orientação sexual é uma categoria protegida pelos artigos 1o e 24
da CADH, além do estabelecido no art. 11.2 da Convenção, essa proteção contempla a obrigação de o Estado reconhecer todos
os direitos patrimoniais que derivem de um vínculo entre pessoas do mesmo sexo?
5. Se a resposta anterior for afirmativa, é necessária a existência de uma figura jurídica que regule os vínculos entre pessoas do
mesmo sexo para que o Estado reconheça todos os direitos patrimoniais que derivam desta relação?

A Corte opina que:

1. A mudança de nome e em geral a adequação dos registros públicos e dos documentos de identidade para que estes sejam
conformes à identidade de gênero autopercebida constitui um DIREITO PROTEGIDO pelos artigos 3º, 7.1, 11.2 e 18 da CADH,
em relação aos artigos 1.1 e 24 da Convenção, de modo que os Estados ESTÃO NA OBRIGAÇÃO de reconhecer, regular e
estabelecer os procedimentos adequados para tais fins.
2. Os Estados devem garantir que as pessoas interessadas na retificação da anotação do gênero ou no caso as menções do sexo,
sem mudar seu nome, adequar sua imagem nos registros e/ou nos documentos de identidade de conformidade com sua
identidade de gênero autopercebida, possam acessar um procedimento ou trâmite:
a) focado na adequação integral da identidade de gênero autopercebida;
b) baseado unicamente no consentimento livre e informado do solicitante sem que sejam exigidos requisitos como
certificações médicas e/ou psicológicas ou outros que possam resultar irrazoáveis ou patologizantes;

@dicasexconcurseira 193
c) deve ser confidencial. Ademais, as mudanças, correções ou adequações nos registros, e os documentos de identidade não
devem refletir as mudanças em conformidade com a identidade de gênero;
d) deve ser rápido e na medida do possível gratuito; e
e) não deve exigir operações cirúrgicas e/ou hormonais. O procedimento que melhor se adequa a esses elementos é o
procedimento ou trâmite materialmente ADMINISTRATIVO ou NOTARIAL. Os Estados podem oferecer paralelamente uma via
administrativa, que possibilite a escolha pela pessoa (= O ESTADO PODE POSSIBILITAR UMA VIA JUDICIAL MATERIALMENTE
ADMINISTRATIVA; O QUE SERIA ISSO? PARA O PROF, SERIA UMA ESPÉCIE DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA”).

3. O art. 54 do Código Civil da Costa Rica, em sua redação atual, seria conforme às disposições da CADH unicamente se ele for
interpretado, seja em sede judicial ou regulamentado administrativamente, no sentido de que o procedimento que essa norma
estabelece possa garantir que as pessoas que desejam mudam seus dados de identidade para que sejam conformes à sua
identidade de gênero autopercebida seja um trâmite materialmente administrativo, que cumpra com os seguintes aspectos:
a) deve priorizar a adequação integral da identidade de gênero autopercebida;
b) deve estar baseado unicamente no consentimento livre e informado do solicitante sem que lhe sejam exigidos requisitos
como certificações médicas e/ou psicológicas ou outros que possam resultar irrazoáveis ou patologizantes;
c) deve ser confidencial. Além das mudanças, correções ou adequações nos registros, os documentos de identidade não devem
mencionar as mudanças em conformidade com a identidade de gênero;
d) deve ser rápido e na medida do possível gratuito; e
e) não deve exigir a comprovação de intervenções cirúrgicas e/ou tratamentos hormonais. Consequentemente, em virtude do
controle de convencionalidade, o art. 54 do Código Civil deve ser interpretado em conformidade com os parágrafos
estabelecidos para que as pessoas que desejam adequar integralmente os registros e/ou os documentos de identidade à sua
identidade de gênero autopercebida possam gozar efetivamente desse direito humano reconhecido nos artigos 3, 7, 11.2, 13 e
18 da CADH.

4. O Estado da Costa Rica, com o propósito de garantir de maneira mais efetiva a proteção dos direitos humanos, poderá expedir
um regulamento mediante o qual incorpore os parâmetros antes mencionados ao procedimento de natureza administrativa o
qual pode oferecer de forma paralela.

5. A CADH, em virtude do direito à proteção da vida privada e familiar, assim como do direito à proteção da família, protege o
vínculo familiar que possa derivar de uma relação de um casal do mesmo sexo.

6. O Estado deve reconhecer e garantir todos os direitos que derivem de um vínculo familiar entre pessoas do mesmo sexo em
conformidade com o estabelecido nos artigos 11.2 e 17.1 da CADH.

7. De acordo com os artigos 1.1, 2, 11.2, 17 e 24 da CADH, é necessário que os Estados garantam o acesso a todas as figuras já
existentes nos ordenamentos jurídicos internos, incluindo o direito ao matrimônio, para assegurar a proteção de todos os
direitos das famílias integradas por casas do mesmo sexo, sem discriminação a respeito das constituídas por casais
heterossexuais.

Comentários:

Consideramos importante destacar o seguinte trecho da OC-24, em que a Corte IDH enfrenta a aplicação do
entendimento adotado para crianças e adolescentes:

“No que diz respeito à regulação dos procedimentos de mudança de nome, adequação da imagem e retificação da
referência ao sexo ou gênero, nos registros e nos documentos de identidade de crianças, esta Corte recorda inicialmente que,
conforme anotado em outros casos, as crianças são titulares dos mesmos direitos que os adultos e todos os direitos
reconhecidos na Convenção Americana, além de contar com as medidas especiais de proteção contempladas no artigo 19 da
Convenção, as quais devem ser definidas segundo as circunstâncias particulares de cada caso concreto. (...)

(...) esta Corte entende que as considerações relacionadas com o direito à identidade de gênero que foram
desenvolvidas anteriormente também são aplicáveis às crianças que desejam apresentar solicitações para que se reconheça nos
documentos e nos registros sua identidade de gênero autopercebida. Este direito deve ser entendido conforme as medidas de
proteção especial disponíveis a nível interno em conformidade com o artigo 19 da Convenção, as quais devem estar de acordo
com os princípios do interesse superior da criança, da autonomia progressiva, de ser escutado e a que se leve em conta sua
opinião em todo procedimento que o afete, em respeito aos direitos à vida, ao desenvolvimento e ao princípio de não
discriminação. Por fim, resulta importante ressaltar que qualquer restrição que se imponha ao exercício pleno deste direito
através de disposições que tenham como finalidade a proteção das crianças, unicamente poderá justificar-se conforme a estes
princípios e não deverá resultar desproporcional. (...)” (§ 149 e seguintes).
Sobre a natureza do procedimento, vejamos as considerações da Corte:

@dicasexconcurseira 194
“Ante o exposto, pode-se sustentar que embora os Estados tenham em princípio uma possibilidade para determinar, de
acordo com a realidade jurídica e social nacional, os procedimentos mais adequados para cumprir com os requisitos para um
procedimento de retificação do nome, e se for o caso, da referência ao sexo/gênero e à imagem fotográfica nos documentos de
identidade e nos registros correspondentes, também é certo que o procedimento que melhor se ajusta aos requisitos
estabelecidos nesta opinião é aquele de natureza materialmente administrativa ou notarial, considerando que o processo de
caráter jurisdicional eventualmente pode incorrer, em alguns Estados, em excessivas formalidades e demoras que existem nos
trâmites desta natureza. (...)

Por outro lado, um trâmite de caráter jurisdicional encaminhado a obter uma autorização para que se possa
materializar efetivamente a expressão de um direito destas características representaria uma limitação excessiva para o
solicitante e não seria adequado porque deve se tratar de um procedimento materialmente administrativo, seja em sede
judicial, seja em sede administrativa. Neste sentido, a autoridade encarregada deste trâmite somente poderia opor-se ao
mencionado requerimento, sem violar a possibilidade de autodeterminar-se e o direito à vida privada do solicitante, se
constatasse algum vício na expressão do consentimento livre e informado do solicitante. Assim, uma decisão relacionada com
uma solicitação de adequação ou retificação com base na identidade de gênero não deveria poder discutir o direito, mas apenas
possuir uma natureza declarativa, pois deve se limitar a verificar se os requisitos foram cumpridos e a analisar a manifestação de
vontade do requerente. (...)” (§§ 159 e 160).

Opinião Consultiva OC-18/18, de 30.05.2018: A instituição do asilo e seu reconhecimento como


direito humano no sistema interamericano de proteção (interpretação e alcance dos artigos 5, 22.7 e 22.8 em relação com o
art. 1.1 da CADH).
Solicitada pelo Equador

O Equador submeteu à Corte Interamericana uma solicitação de opinião consultiva sobre a instituição do asilo em suas
diversas formas e a legalidade de seu reconhecimento como direito humano de todas as pessoas conforme o princípio da
igualdade e não discriminação. O Equador apresentou à Corte as seguintes perguntas:

a) Levando em conta os princípios de igualdade e não discriminação por razões de qualquer condição social previstos nos artigos
2.1, 5o e 26 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o princípio pro homine e a obrigação de respeitar todos os
direitos humanos de todas as pessoas em toda circunstância e sem distinções desfavoráveis, assim como os artigos 31 e 2 da
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados e o artigo 29 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e os artigos 28
e 30 da Declaração Universal de direitos Humanos, é cabível que um Estado, grupo ou indivíduo realize atos ou adote uma
conduta que na prática signifique o desconhecimento das disposições estabelecidas nos instrumentos de direitos humanos
mencionados, incluindo o artigo 5o da Convenção de Genebra sobre o Estatuto dos Refugiados, de maneira que se atribua aos
artigos 22.7 e XXVII da Convenção Americana e da Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem, respectivamente,
um conteúdo restringido quanto à forma ou modalidade do asilo, e quais consequências jurídicas deveriam ser produzidas sobre
os direitos humanos e liberdades fundamentais da pessoa afetada por esta interpretação regressiva?
b) É cabível que um Estado, alheio à determinada convenção sobre asilo, obstaculize, impeça ou limite a ação de outro Estado
que é parte na convenção de forma que não possa cumprir com as obrigações e compromissos contraídos em virtude deste
instrumento, e quais deveriam ser as consequências jurídicas desta conduta para a pessoa que se encontra asilada?
c) É cabível que um Estado, alheio à determinada convenção sobre asilo ou que permaneça num regime jurídico regional distinto
daquele no qual se concedeu o asilo, entregue quem goza do estatuto de asilado ou refugiado ao agente perseguidor, violando o
princípio da não devolução, argumentando que a pessoa asilada perde esta condição por se encontrar num país estranho ao
referido regime jurídico, ao exercer seu direito de libre mobilidade humana, e quais deveriam ser as consequências jurídicas
derivadas desta conduta sobre o direito ao asilo e os direitos humanos da pessoa asilada?
d) É cabível que um Estado adote uma conduta que na prática limite, diminua ou menoscabe qualquer forma de asilo,
argumentando para isso que não confere validade a certos enunciados de valor ético e jurídico como são as leis da humanidade,
os ditados da consciência pública e a moral universal, e quais deveriam ser as consequências jurídicas que decorreriam do
desconhecimento destes enunciados?
e) É cabível que um Estado indefira asilo a uma pessoa que solicita esta proteção numa de suas sedes diplomáticas aduzindo que
outorga-lo seria fazer mal uso dos locais que ocupa a Embaixada, ou que concedê-lo desta forma seria estender indevidamente
as imunidades diplomáticas a uma pessoa sem status diplomático, e quais deveriam ser as consequências jurídicas destes
argumentos sobre os direitos humanos e liberdades fundamentais da pessoa afetada, tendo em conta que poderia se tratar de
uma vítima de persecução política ou de atos de discriminação?
f) É cabível que o Estado asilante denegue uma solicitação de asilo ou refúgio ou revogue o estatuto concedido como
consequência da formulação de denúncias ou do início de um processo legal contra a pessoa, havendo indícios claros de que as
denúncias têm um ensejo político e que sua entrega poderia dar lugar a uma cadeia de fatos que determinaria causando graves
danos ao sujeito, isto é, degradantes, à pessoa reclamada?
g) Considerando que os Estados têm a faculdade de outorgar asilo e refúgio com base em disposições expressas de direito
internacional que reconhecem estes direitos baseados em razões humanitárias e na necessidade de proteger o mais fraco e
@dicasexconcurseira 195
vulnerável quando determinadas circunstâncias alimentam em tais pessoas fundados temores acerca de sua segurança e
liberdade. Tal prerrogativa pode ser exercida pelo Estado em conformidade com o artigo 22.7 da Convenção Americana, o artigo
14.1 da Declaração Universal de Direitos Humanos, de expressas disposições da Convenção de Genebra sobre o Estatuto dos
Refugiados, de 1951, e seu Protocolo de Nova York, de 1967, assim como de Convenções regionais sobre asilo e refúgio, e de
normas pertencentes à ordem interna de tais Estados, disposições que reconhecem o direito de qualificação a favor do Estado
de acolhida, o que inclui avaliação e valoração de todos os elementos e circunstâncias que alimentam os temores do asilado e
fundamentam sua busca de proteção, incluindo os delitos comuns que pretenda atribuir-lhe o agente de perseguição, tal como
este fato se encontra refletido nos artigos 4.4 e 9.c das Convenções Americanas de Extradição e de Assistência Judiciária Mútua
em Matéria Penal, respectivamente.

Portanto, com fundamento nestas premissas e à luz da obrigação de natureza erga omnes de proibição da tortura, tal
como consta na Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Crueis, Desumanos ou Degradantes, de 1984, e dos
artigos 5º, 7º e 8º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 1969 (que estabelecem o direito à integridade pessoal,
o direito à liberdade pessoal e o direito a contar com garantias judiciais, respectivamente), se um mecanismo de proteção dos
direitos humanos pertencente ao Sistema das Nações Unidas chegasse a determinar que a conduta de um Estado pode ser
interpretada como desconhecimento do direito de qualificação exercido pelo Estado que asila, causando com isso a prolongação
indevida do asilo ou refúgio, motivo pelo qual o referido mecanismo provou que o procedimento que tenha incorrido o referido
Estado conduz à violação dos direitos processuais da pessoa refugiada ou asilada, reconhecidos tanto nas cláusulas citadas da
Convenção Americana como nos artigos 7º, 9º, 10 e 14 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (o direito a não ser
submetido a torturas nem a penas ou tratamentos crueis, desumanos ou degradantes; o direito à liberdade e segurança
pessoais de maneira que ninguém pode ser submetido à detenção ou prisão arbitrárias; o direito à dignidade inerente ao ser
humano a que tem toda pessoa privada de liberdade; e o direito à igualdade de todas as pessoas perante os tribunais de justiça,
assim como a outras garantias judiciais, respectivamente), cabe ao Estado que tenha sido objeto da resolução de um mecanismo
multilateral pertencente ao Sistema das Nações Unidas, mediante o qual se lhe atribuiu responsabilidade na violação dos
direitos de uma pessoa asilada ou refugiada consagrados nos artigos 5º, 7º e 8º da CADH, e dos artigos 7º, 9º, 10 e 14 do Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos, solicitar cooperação judicial em matéria penal ao Estado asilante sem ter em conta a
mencionada resolução nem sua responsabilidade na violação dos direitos da pessoa asilada?

A Corte IDH é de opinião que:

1. O direito à buscar e receber asilo no marco do sistema interamericano se encontra configurado como um direito humano a
buscar e receber proteção internacional em território estrangeiro, incluindo com esta expressão o estatuto do refugiado
segundo os instrumentos pertinentes das Nações Unidas ou as correspondentes leis nacionais, e o asilo territorial conforme as
diversas convenções interamericanas sobre a matéria.
2. O asilo diplomático não se encontra protegido pelo art. 22.7 da CADH ou pelo art. XXVII da Declaração Americana dos Direitos
e Deveres do Homem, regendo-se pelas próprias convenções de caráter interestatal que o regulam e pelo disposto nas
legislações internas.
3. O princípio da não devolução é exigível por qualquer pessoa estrangeira, incluídas aquelas em busca de proteção
internacional, sobre a qual o Estado em questão esteja exercendo autoridade ou que se encontre sob seu controle efetivo,
independentemente de se encontrar no território terrestre, fluvial, marítimo ou aéreo do Estado.
4. O princípio da não devolução não somente exige que a pessoa não seja devolvida, mas também impõe obrigações positivas
para os Estados.

Comentários:

Para a Corte IDH, o asilo é uma figura que abrange a totalidade das instituições vinculadas à proteção internacional das
pessoas forçadas a sair de seu país de nacionalidade ou residência habitual, compreendendo diversas modalidades:

“O asilo em sentido estrito ou asilo político é a proteção que um Estado oferece a pessoas que não são seus nacionais
quando sua vida, integridade pessoal, segurança e/ou liberdade se encontram ou poderiam se encontrar em perigo, por motivo
de perseguição por delitos políticos ou comuns conexos com estes, ou por motivos políticos. O asilo em sentido estrito coincide
com a chamada ‘tradição latino-americana do asilo’.

Por sua vez, de acordo com o lugar em que se oferece a proteção, o asilo em sentido estrito pode classificar-se em:

i) Asilo territorial: consiste na proteção que um Estado oferece em seu território às pessoas nacionais ou residentes habituais de
outro Estado no qual são perseguidas por motivos políticos, por suas crenças, opiniões ou filiação política ou por atos que
possam ser considerados como delitos políticos ou comuns conexos. O asilo territorial se encontra intrinsecamente relacionado
com a proibição de extradição por delitos políticos ou comuns cometidos com fins políticos.

@dicasexconcurseira 196
ii) Asilo diplomático: consiste na proteção que um Estado oferece em suas legações, navios de guerra, aeronaves militares e
acampamentos, às pessoas nacionais ou residentes habituais de outro Estado no qual são perseguidas por motivos políticos, por
suas crenças, opiniões ou filiação política ou por atos que possam ser considerados como delitos políticos ou comuns conexos.
O asilo sob o estatuto de refugiado, de acordo com a definição tradicional e com a definição regional ampliada da Declaração de
Cartagena, compreende a proteção daquela pessoa que, devido a fundados temores de ser perseguida por motivos de raça,
religião, nacionalidade, pertencimento a determinado grupo social ou opiniões políticas, se encontre fora do país de sua
nacionalidade e não possa ou, devido a estes temores, não queira abrigar-se na proteção do seu país; ou que carecendo de
nacionalidade e sendo encontrado, como consequência de tais acontecimentos fora do país aonde antes tinha sua residência
habitual, não possa ou, devido a estes temores não queria voltar a ele. O termo ‘refugiado(a)’ é aplicável também àquelas
pessoas que saíram de seus países de origem porque sua vida, segurança ou liberdade foram ameaçadas pela violência
generalizada, agressão estrangeira, conflitos internos, violação massiva dos direitos humanos ou outras circunstâncias que
perturbem gravemente a ordem pública” (§66 e seguintes).

QUESTÕES

1. A Corte IDH não está autorizada a emitir opiniões consultivas sobre tratados de direitos humanos produzidos fora do sistema
interamericano.

( ) CERTO ( ) ERRADO

2. A Corte IDH entende que os Estados Partes da CADH possuem uma margem de apreciação para definir se o exercício da
profissão de jornalista fica condicionado ao registro profissional.

( ) CERTO ( ) ERRADO

3. Para a Corte IDH, a garantia do habeas corpus não pode ser suspensa nem mesmo em períodos de emergência.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. A Corte IDH entende que o juiz nacional do Estado demandado pode participar do conhecimento e julgamento do caso se este
originar de petição interestatal.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. Para a Corte IDH, os sindicatos não podem peticionar perante o sistema interamericano, pois a CADH outorga a titularidade
de direitos humanos apenas às pessoas físicas.

( ) CERTO ( ) ERRADO

6. De acordo com a Corte IDH, pessoas menores de 18 anos também possuem o direito à identidade de gênero e, portanto, ao
procedimento de alteração dos registros de identidade para que se ajustem à identidade de gênero autopercebida. Este direito,
porém, deve ser exercido conforme os princípios do interesse superior, da autonomia progressiva, de ser escutado e à não
discriminação.

( ) CERTO ( ) ERRADO

GABARITO
1 ERRADO
2 ERRADO
3 CERTO
4 CERTO
5 ERRADO
6 CERTO

@dicasexconcurseira 197
Aula 03
Casos mais importantes da Corte Interamericana de Direitos Humanos

1. CASO VIVIANA GALLARDO E OUTRAS VS. COSTA RICA

Contexto fático: em julho de 1981, a Costa Rica se autodenunciou perante a Corte IDH, noticiando à Corte a morte de
Viviana num estabelecimento prisional e as lesões corporais de suas companheiras de cela, causados por um guarda
encarregado da vigilância do estabelecimento.
A Corte IDH iniciou o julgamento afirmando que esta era uma situação inusitada, mas, ao mesmo tempo, enaltecendo a
postura da Costa Rica.
Quando a Costa Rica se autodenunciou, ela renunciou expressamente o requisito do prévio esgotamento dos recursos
internos e também o procedimento perante a Comissão (CIDH).

• O procedimento perante a CIDH não foi concebido no interesse exclusivo do Estado, de modo que este NÃO PODE
renunciá-lo. à ou seja, O ESTADO NÃO PODE RENUNCIAR O PROCEDIMENTO QUE TRAMITA PRIMEIRO PERANTE A
COMISSÃO. Isso porque no procedimento perante a CIDH as partes possuem mais possibilidades de solução amistosa e
porque na CIDH se consegue investigar de forma mais efetiva os fatos. Como já foi dito, a CIDH funciona como o MP no
âmbito internacional e, pois, tem função de investigar.
• Como o requisito do prévio esgotamento dos recursos internos é um meio de defesa do Estado, ele PODE ser
RENUNCIADO, explícita ou implicitamente.

2. CASO LOAYZA TAMAYO VS. PERU

Contexto fático: diversas ilegalidades praticadas na prisão e no processo penal contra a senhora Loayza Tamayo.

• O HABEAS CORPUS NÃO PODE SER SUSPENSO porque constitui uma garantia judicial indispensável para a proteção dos
direitos e liberdades protegidos pela CADH. OBS: Mesmo nos períodos de exceção, o HC pode ser usado para coibir
excessos, inclusive para verificar a adequação da medida (privação da liberdade) ao decreto de suspensão de direitos.
• A proibição do bis in idem encontrada na CADH é mais ampla e mais benéfica ao acusado que a fórmula prevista em
outros tratados internacionais de direitos humanos.
• O art. 8.4 da CADH, ao dispor sobre a proibição do bis in idem, veda que a pessoa absolvida em processo criminal seja
novamente submetida a processo criminal pelos mesmos fatos, não impedindo, porém, que os mesmos fatos gerem
um processo CÍVEL ou ADMINISTRATIVO.
• A Corte IDH mudou de entendimento e passou a considerar que as RECOMENDAÇÕES da CIDH são VINCULANTES para
os ESTADOS, RESSALTANDO, porém, que isso se aplica somente ao RELATÓRIO DE MÉRITO DEFINITIVO.
• Primeira vez que a Corte IDH reconhece o DANO AO PROJETO DE VIDA, sem, contudo, quantificá-lo, o que somente
viria a ocorrer em 2001, no julgamento do Caso Cantoral Benavides vs. Peru.
• O projeto de vida já apareceu algumas vezes na jurisprudência dos tribunais superiores do Brasil, como por exemplo
em decisões do STF e do STJ sobre o reconhecimento e a proteção jurídica das uniões homoafetivas.

3. CASO CASTILLO PETRUZZI E OUTROS VS. PERU à INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR PARA JULGAR CIVIL EM TEMPO DE
PAZ, pois os tribunais militares não possuem os critérios da independência e imparcialidade para julgar civil.

• O crime de TRAIÇÃO À PÁTRIA pode ser praticado por ESTRANGEIRO e esta tipificação NÃO VIOLA O DIREITO À
NACIONALIDADE.
• No Direito brasileiro, o crime de traição à pátria se encontra no Código Penal Militar nas modalidades próprio
(praticado por nacional) e impróprio (praticado por estrangeiro).
• Embora o princípio da máxima taxatividade legal não esteja expressamente previsto no art. 9º da CADH, a Corte IDH
admite sua violação quando a lei penal incriminadora não seja clara e taxativa na descrição do tipo penal.
• Primeiro precedente da Corte IDH sobre o entendimento predominante no sistema interamericano a respeito da
IMPOSSIBILIDADE DE A JUSTIÇA MILITAR JULGAR CIVIS.
• Cançado Trindade utilizou a expressão DESNACIONALIZAÇÃO DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
para explicar que a nacionalidade não é um requisito para demandar internacionalmente contra o Estado, sendo o
bastante que o indivíduo se encontra sob a jurisdição daquele.
• Prevalece na jurisprudência do STF o entendimento pela CONSTITUCIONALIDADE do julgamento de civil em tempo
de paz pela Justiça Militar.
• A Lei 13.774/2018 concretizou uma proposta intermediária: conservou a competência da Justiça Militar da União para
julgar civis, mas a conferiu ao juiz federal auditor em primeira instância, retirando-a, portanto, dos órgãos colegiados
compostos por juízes militares (presididos pelo juiz civil). Esta proposta intermediária também se revela

@dicasexconcurseira 198
INCONVENCIONAL, seja porque o juiz civil auditor atua no contexto da justiça castrense – observando as normas penais
militares –, seja porque, em segunda instância, o civil será julgado pelo STM, composto majoritariamente por militares.

4. CASO DURAND E UGARTE VS. PERU à INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR

Contexto fático: prisão ilegal e posterior desaparecimento forçado das vítimas, bem como uso excessivo de força para
reprimir rebeliões em estabelecimentos prisionais. Este caso tem muita coisa parecida com o caso do Carandiru (Brasil).

• A Justiça Militar é INCOMPETENTE PARA JULGAR MILITAR POR HOMICÍDIO CONTRA CIVIL.
• A JUSTIÇA MILITAR É INCOMPETENTE PARA JUGLAR CRIMES CONTRA VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS. Para a
Corte IDH, a Justiça Militar deve ser concebida como um foro RESTRITIVO, EXCEPCIONAL e FUNCIONAL. Para a Corte
IDH, a Justiça Militar tem competência restritiva aos crimes cometidos por militares da ativa, em relação aos crimes que
atentem contra bens jurídicos próprios da ordem militar.
• A Lei 13.491/2017 alterou o Código Penal Militar e, embora tenha mantido a competência do Tribunal do Júri para
julgar crimes contra a vida praticados contra civil, estabeleceu algumas exceções. O prof. considera essa alteração
INCONVENCIONAL, pois a jurisprudência da Corte IDH é no sentido da delimitação da competência da Justiça Militar
para julgar apenas militares por crimes funcionais (isto é, que atentam contra bens jurídicos próprios da ordem
militar).

5. CASO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL VS. PERU à IMPEACHMENT

• A ACEITAÇÃO DA COMPETÊNCIA CONTENCIOSA DA CORTE IDH é IRREVOGÁVEL, tratando-se, portanto, de uma


cláusula pétrea. Para que o Estado se desvincule da jurisdição contenciosa, deve DENUNCIAR A CADH COMO UM
TODO.
• A Corte IDH enfrentou pela primeira vez a questão relativa ao juízo político exercido pelo Poder Legislativo e a
relação deste com os demais poderes. O processo de responsabilidade política de competência do Poder Legislativo é
denominado de impeachment.
• O art. 8º (devido processo legal) da CADH não se aplica somente aos processos de natureza penal, mas também ao
processo de responsabilidade política. Para a Corte IDH, a pessoa que estiver sujeita a um julgamento pelo Poder
Legislativo conserva o seu direito a ser julgada por um órgão competente, independente e IMPARCIAL. O STF diverge
deste entendimento da Corte IDH e não exige imparcialidade dos congressistas no processo de impeachment.

6. CASO “A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO” (OLMEDO BUSTOS E OUTROS) VS. CHILE

Contexto fático: em novembro de 1988, após uma petição proposta por uma junta de 7 advogados que alegavam agir como
representantes da Igreja Católica e de Jesus Cristo, o Conselho de Qualificação Cinematográfica do Chile proibiu, com
fundamento no art.19, §12, da sua Constituição, a exibição do filme “A última tentação de Cristo”. Segundo os advogados, o
filme atentava contra os princípios da Igreja Católica e de Jesus Cristo.

• Trata-se do principal precedente envolvendo o DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO na jurisprudência da Corte IDH.
• Normas constitucionais ORIGINÁRIAS podem ser objeto de controle de CONVENCIONALIDADE.
• O direito à liberdade de expressão possui uma dupla dimensão, abrangendo não apenas o direito e a liberdade de se
expressar (dimensão INDIVIDUAL), mas também a liberdade de buscar e disseminar informações (dimensão SOCIAL).

7. CASO BULACIO VS. ARGENTINA

Contexto fático: em abril de 1991, a polícia federal da Argentina realizou uma detenção em massa de mais de 80 pessoas
nas imediações de um local onde aconteceria um show de rock, na cidade de Buenos Aires. Dentre os detidos, se encontrava
Bulacio, um jovem de 17 anos. Logo após a prisão, Bulacio foi conduzido à sala de menores de um departamento policial, onde
foi agredido por agentes policiais. A autoridade judicial de menores não foi notificada sobre a prisão e tampouco os familiares
de Bulacio, o qual, após ter passado por alguns hospitais, morreu em razão dos golpes tomados na cabeça. Depois de mais de 10
anos da data dos fatos, em 2002, entre idas e vindas do processo, a Câmara de Apelações da Argentina decidiu que a pretensão
punitiva estaria prescrita.

• Para a Corte IDHH, a conduta processual do ACUSADO tem relevância sobre o PRAZO MÁXIMO DE DURAÇÃO DO
PROCESSO (abuso dos direitos processuais x duração razoável do processo).
• Crimes que implicam em violação de direitos humanos devem ser IMPRESCRITÍVEIS (NEOPUNITIVISMO da Corte IDH).
• O Estado tem o dever de MITIGAR O IMPACTO DA PRISÃO DE MENORES DE IDADE na medida do possível.
• As autoridades não devem apenas notificar o adolescente sobre o direito de estabelecer contato com um familiar, mas
também adotar as providências para que efetivamente se viabilize aquele contato.
@dicasexconcurseira 199
• Menores de idade, quando privados de liberdade, devem ficar SEPARADOS DOS ADULTOS.
• As detenções coletivas de menores de idade para averiguações de identidade e por suspeita de contravenções são
incompatíveis com os direitos humanos à presunção de inocência, à exigência de ordem legal para prender – salvo
hipótese de flagrância – e à obrigação de notificar os encarregados dos menores de idade.

8. CASO TIBI VS. EQUADOR à GARANTIA DA AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA + PRINCÍPIOS LIMITADORES DA PRISÃO PREVENTIVA

Contexto fático: arbitrariedades e ilegalidades na prisão e persecução penal contra o senhor Daniel Tibi.

• A prisão preventiva tem um caráter excepcional e se guia pelos princípios da LEGALIDADE, da PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA, da NECESSIDADE e da PROPORCIONALIDADE.
• No momento da privação de liberdade, antes que o réu dê sua primeira declaração diante da autoridade, ele deve ser
notificado do seu direito de estabelecer contato com uma terceira pessoa, que pode ser um familiar, um advogado
ou um funcionário consular.
• A tortura é absolutamente proibida.
• O juiz García Ramírez denominou de “GUANTANAMIZAÇÃO DO PROCESSO PENAL” o movimento de autoritarismo e
de arbitrariedade que propõe a derrogação ou a suspensão de direitos e garantias no contexto da luta contra crimes
graves. Essa expressão “guantanamização” se refere à prisão de Gauantânamo, onde se relativiza direitos humanos em
prol do combate ao terrorismo. “Guantanamização do processo penal” seria, então, “esquecer dos meios – garantias e
direitos processuais – para se atingir o fim”, que, no caso, seria a punição de crimes graves.
• Uma das violações à CADH reconhecidas pela Corte IDH foi a não realização da audiência de custódia.

9. CASO FERMÍN RAMÍREZ VS. GUATEMALA à PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA ENTRE ACUSAÇÃO E SENTENÇA +
(IN)CONVENCIONALIDADE DO INSTITUTO DA REINCIDÊNCIA

Contexto fático: foi um caso de condenação pelos crimes de estupro e homicídio com a imposição da pena de morte. O MP
havia denunciado apenas pelo crime de estupro qualificado pela morte, que não acarretaria, de acordo com a legislação da
Guatemala, a pena de morte. A sentença penal condenatória foi proferida logo após o debate oral e público, quando se discutiu
tão somente a ocorrência do crime de estupro qualificado pela morte (o qual é sancionado com pena privativa de liberdade de
ate 50 anos). Durante o primeiro dia de debates, porém, o Tribunal advertiu às partes sobre a possibilidade de modificar a
qualificação jurídica do crime, mas sem especificar qual delito poderia surgir dessa mudança. Encerrados os debates, preclusa a
oportunidade do MP da Guatemala requerer a requalificação jurídica da conduta, ainda assim, o MP pediu a imposição da pena
de morte pelo crime de homicídio em sede de alegações finais (e não nos debates). O pedido foi acolhido pelo Tribunal, não
tendo havido qualquer informação à defesa de que a referida requalificação jurídica da conduta poderia desencadear na
condenação por crime sancionado com a pena de morte.

• Primeiro caso da Corte IDH sobre o PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO ou da CONGRUÊNCIA entre a ACUSAÇÃO e a
SENTENÇA.
• O juízo de PERICULOSIDADE resgata a ideia de DIREITO PENAL DO AUTOR, sendo, portanto, INCOMPATÍVEL com a
CADH. A partir deste entendimento, defende-se a INCONVENCIONALIDADE do instituto da REINCIDÊNCIA.
• Pessoa FÍSICA pode atuar como AMICUS CURIAE perante a Corte IDH.
• O STF considera a reincidência CONSTITUCIONAL.

10. CASO PALAMARA IRIBARNE VS. CHILE à (IN)CONVENCIONALIDADE DO CRIME DE DESACATO

Contexto fático: aposentado do cargo de militar, porém trabalhando na condição de empregado civil contratado para
desempenhar função de analista do departamento de inteligência naval com funções administrativas, Palamara escreveu o livro
“Ética e Serviços de Inteligência”, no qual abordava aspectos relacionados à inteligência militar e a necessidade de adequá-las a
certos parâmetros éticos. Com base no ordenamento jurídico chileno, as autoridades estatais lhe proibiram de publicar seu livro,
apreendendo exemplares que estavam em circulação, os originais do texto e também o maquinário utilizado na impressão.
Palamara tentou resistir à arbitrariedade que estava sofrendo e manifestou-se publicamente na impressa de forma contrária
àquele procedimento. Como decorrência disso, Palamara foi denunciada e condenada pelo crime de desacato, tendo utilizado
todos os recursos disponíveis para reverter a situação, sem, contudo, obter êxito.

• Enquanto a CIDH SE OPÕE DE FORMA ABSOLUTA À CRIMINALIZAÇÃO da expressão que ofende, insulta ou ameaça um
funcionário público no exercício de suas atribuições oficiais – seja qual for o tipo penal (desacato, difamação, injúria ou
calúnia) – por consistir uma censura indireta à liberdade de expressão, a Corte IDH não chega – pelo menos ainda – a
estabelecer claramente a inconvencionalidade desta criminalização, compreendendo que ela haverá somente quando
os tipos penais mencionados forem utilizados para cercear a liberdade de expressão da forma como esse direito é
concebido no sistema interamericano, isto é, um direito humano que admite relativização.
@dicasexconcurseira 200
• A jurisprudência atual do STF e do STJ é no sentido da CONSSTITUCIONALIDADE e da CONVENCIONALIDADE do crime
de DESACATO.
• A proteção da propriedade privada pela CADH (art. 21.1) abrange não somente os bens materiais, mas também a
propriedade intelectual.
• A Justiça Militar é incompetente para julgar civis, ainda que estes estejam prestando algum tipo de serviço de caráter
transitório para as Forças Armadas.

11. CASO GONZÁLEZ E OUTRAS (“CAMPO ALGODOEIRO”) VS. MÉXICO

Contexto fático: desaparecimento e morte de mulheres na cidade de Juarez no México, no contexto de violência estrutural
contra mulheres. A investigação pelo Estado foi contaminada pelo preconceito de gênero, causando impunidade dos supostos
autores que violaram os direitos humanos.

• Primeira vez que a Corte IDH analisou um caso envolvendo situação de VIOLÊNCIA ESTRUTURAL DE GÊNERO.
• Primeira vez que um tribunal internacional de direitos humanos reconheceu a existência de “FEMINICÍDIO” como
crime.
• A Corte IDH possui competência para analisar violações de OUTROS TRATADOS que compõem o sistema
interamericano, a exemplo da CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ.
• O DANO AO PROJETO DE VIDA NÃO PODE SER RECONHECIDO QUANDO AS VÍTIMAS NÃO ESTIVEREM VIVAS.

12. CASO BARRETO LEIVA VS. VENEZUELA

Contexto fático: processo de condenação de Barreto Leiva, que detinha foro por prerrogativa de função. Ele foi julgado em
1ª e única instância pela Corte Suprema de Justiça da Venezuela.

• O foro por prerrogativa de função é COMPATÍVEL com a CADH.


• A COMPETÊNCIA POR CONEXÃO, no caso, por exemplo, em que um dos acusados possui foro por prerrogativa de
função, ensejando a que o tribunal exerça um juízo atrativo do corréu sem foro, É COMPATÍVEL COM a CADH.
• A garantia do DUPLO GRAU se aplica também quando o acusado é julgado pela INSTÂNCIA JUDICIAL MÁXIMA do seu
país.

13. CASO MOHAMED VS. ARGENTINA

Contexto fático: o senhor Mohamed foi processado pelo crime de homicídio culposo. Em agosto de 1994, a 1ª instância do
Poder Judiciário argentino absolveu Mohamed. Em fevereiro de 1995, porém, no julgamento de recurso de apelação interposto
pela acusação, a 2ª instância do Poder Judiciário argentino reformou a sentença absolutória e resolveu condenar Mohamed. O
ordenamento jurídico nacional da Argentina não previa nenhum recurso ordinário para recorrer da condenação proferida no
2º grau. O único recurso disponível era o recurso extraordinário, que foi interposto pela defesa de Mohamed, mas foi rechaçado
pelo Judiciário argentino sob o argumento de que o recorrente se referia a questões de fato, de prova e de direito comum, as
quais não poderiam ser debatidas na instância extraordinária; do contrário, esta se transformaria em uma 3ª instância ordinária.

• A garantia do DUPLO GRAU de jurisdição nasce com a prolação de uma sentença DESFAVORÁVEL ao indivíduo. Assim,
se o acusado é absolvido em primeira instância e depois condenado na segunda instância por meio de recurso do
Ministério Público, a ele deve ser garantido um recurso de natureza ordinária para submeter sua condenação a um
duplo grau, com ampla possibilidade de discutir fatos, provas e matéria jurídica.
• A garantia do duplo grau possui a característica da BILATERALIDADE (e não da unilateralidade), destinando-se tanto à
defesa quanto à acusação. A interposição de recurso pelo MP não consiste em bis in idem, já que este somente ocorre
quando há um segundo julgamento após uma sentença absolutória transitada em julgado. Além disso, o julgamento do
recurso da acusação não implica em novo processo, mas apenas numa outra etapa do mesmo processo.

14. CASO GELMAN VS. URUGUAI

Contexto fático: os fatos ocorreram durante o período da ditadura militar, que foi instalada e governou o estado uruguaio
entre os anos de 1973 a 1985, e envolveram a chamada Operação Condor, nome dado à aliança entre as forças de segurança
militares e serviços de inteligência das ditaduras do CONE SUL durante a década de 70. Neste contexto, Maria Cláudia Garcia e
seu marido, Marcelo Gelman, foram presos juntamente com outros amigos e familiares, em agosto de 1976, na cidade de
Buenos AIres (Argentina). A senhora Maria Cláudia estava grávia no momento de sua prisão. Em outubro do mesmo ano, Maria
Cláudia foi transferida para Montevidéu, no Uruguai, e, posteriormente, para um hospital militar na cidade, onde deu à luz a
uma menina. (...) A resolução penal deste caso foi interditada pela aprovação, no Uruguai, de uma Lei de Anistia, que foi

@dicasexconcurseira 201
declarada constitucional pelo Tribunal máximo do Uruguai. A Lei de Anistia também foi aprovada pela população em dois
pebliscitos. O caso chegou até a CIDH, a qual submeteu o caso à Corte IDH.

• A aprovação de PLEBISCITO pela população de determinado Estado NÃO tem o condão de conferir roupagem de
convencionalidade para determinada lei de anistia.
• O controle de convencionalidade é uma obrigação de TODA AUTORIDADE PÚBLICA, e não apenas dos membros do
Poder Judiciário.
• A subtração de uma criança recém-nascida e a alteração da sua identidade caracteriza uma forma peculiar de
DESAPARECIMENTO FORÇADO.

15. CASO ATALA RIFFO E CRIANÇAS VS. CHILE

• Primeiro caso julgado pela Corte IDH sobre proteção do direito à DIVERSIDADE SEXUAL.
• A orientação sexual dos pais da criança não pode ser invocada para decidir processo judicial de guarda.
• A CADH não acolheu um modelo fechado ou tradicional de família.

16. CASO ARTAVIA MURILLO E OUTROS (“FECUNDAÇÃO IN VITRO”) VS. COSTA RICA

Contexto fático: aprovação de um decreto executivo, em fevereiro de 1995, emitido pelo Ministério da Saúde da Costa
Rica, por meio do qual se autorizava a prática da fecundação in vitro para casais e regulava a sua execução. Em abril de 1995, foi
apresentada uma ação de inconstitucionalidade contra este decreto executivo. Em março de 2000, a Corte Suprema da Costa
Rica julgou procedente a ação de inconstitucionalidade e anulou o decreto executivo, afirmando que havia tanto uma
inconstitucionalidade formal – por violação do princípio da reserva legal -, quanto uma inconstitucionalidade material, por
violação do direito à vida. Assim, a fecundação in vitro foi praticada na Costa Rica entre os anos de 1995 e 2000. 9 casais
apresentaram uma petição perante a CIDH devido à essa situação de cessação do procedimento de fecundação in vitro,
informando a respeito das causas de infertilidade dos casais, dos tratamentos aos quais recorreram para combater essa
condição, as razão pelas quais se valeram da fecundação in vitro, os casos que foram interrompidos os tratamentos para realizar
a fecundação in vitro devido à decisão da Corte Suprema e também os casos em que casais viajaram ao exterior para realizar o
procedimento da fecundação in vitro.

• Primeiro precedente da Corte IDH em que a FECUNDAÇÃO IN VITRO (FIV) foi analisada a partir dos direitos humanos.
• A decisão de ser pai ou mãe no sentido GENÉTICO ou BIOLÓGICO está protegida pelo direito à VIDA PRIVADA (CADH,
art. 11.2).
• O direito à maternidade consiste em parte essencial do livre desenvolvimento da personalidade das mulheres.
• Entre os argumentos invocados pela Corte IDH para reprovar a proibição da FIV se encontra o direito a gozar dos
benefícios do progresso científico.
• A “CONCEPÇÃO” a que se refere a CADH (art. 4.1) somente ocorre com a IMPLANTAÇÃO DO ÓVULO FECUNDADO NO
ÚTERO.
• A proibição da FIV ocasiona um impacto DESPROPORCIONAL para um grupo determinado de pessoas (mulheres
inférteis, casais sem condições financeiras para realizar a FIV no exterior etc.), gerando uma discriminação indireta.

17. CASO RUANO TORRES VS. EL SALVADOR à CONCURSO PARA DEFENSORIAS!

Contexto fático: violação do direito à defesa técnica pela atuação deficiente da Defensoria Pública.

• A declaração de corréu colaborador deve ter eficácia probatória limitada e não pode fundamentar, sozinha, uma
condenação.
• A CADH NÃO condiciona o direito à assistência jurídica gratuita no processo penal à HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA,
BASTANDO A INATIVIDADE DO ACUSADO PARA NOMEAR ADVOGADO.
• A defesa técnica prestada pela Defensoria Pública não deve ser concebida apenas como uma formalidade processual,
exigindo-se, ao contrário, que o defensor público atue de forma diligente com o fim de proteger as garantias
processuais do acusado e evite que seus direitos sejam violados.
• O Estado pode ser responsabilizado pela atuação deficiente da Defensoria Pública, desde que as falhas ou omissões
sejam graves o bastante para não serem confundidas com uma mera discrepância de estratégia, sendo que a ausência
de controle pelo Poder Judiciário pode deixar ainda mais evidente a responsabilidade estatal.
• O art. 341, §único, do CPC, segundo o qual “O ônus da impugnação especificada não se aplica ao defensor público, ao
advogado dativo e ao curador especial”, deve ser considerado PARCIALMENTE INCONVENCIONAL por violar o direito
à defesa técnica materialmente eficaz.

@dicasexconcurseira 202
18. CASO CASTAÑEDA GUTMAN VS. MÉXICO

• A Corte IDH concluiu pela CONVENCIONALIDADE do sistema eleitoral que PROÍBE a CANDIDATURA AVULSA ou
INDEPENDENTE.
• A candidatura avulsa ou independente ainda é proibida no Brasil. O tema deve ser enfrentado muito em breve pelo
STF, que admitiu a repercussão geral da matéria.

19. CASO LAGOS DEL CAMPO VS. PERU

Contexto fático: o senhor Lago del Campo, representando uma entidade sindical, foi demitido em razão de exercer o
seu direito à liberdade de expressão.

• Ressaltando que a LIBERDADE DE EXPRESSÃO é uma condição necessária para o exercício das ORGANIZAÇÕES DE
TRABALHADORES, que dela se valem para proteger seus direitos trabalhistas e melhorar suas condições de trabalho, a
Corte IDH estabeleceu que a obrigação de garantir os direitos humanos previstos na CADH pressupõe OBRIGAÇÕES
POSITIVAS para o Estado a fim de protegê-los inclusive na esfera privada.
• Primeira vez que a Corte IDH reconheceu uma violação direta ao art. 26 da CADH (único dispositivo da CADH que
trata dos direitos econômicos, sociais e culturais), superando o seu entendimento a respeito da judicialização
indireta ou mediata dos direitos econômicos, sociais e culturais.

20. CASO CARPIO NICOLLE E OUTROS VS. GUATEMALA

• Segundo a Corte IDH, a COISA JULGADA FRAUDULENTA ou APARENTE ocorre quando um julgamento não observa as
regras do devido processo ou quando o julgador não tenha atuado com independência e imparcialidade.
• A relativização da coisa julgada também está prevista no Estatuto de Roma do TPI (art. 20.3).

@dicasexconcurseira 203
Aula 04
Decisões do Tribunal Penal Internacional

OBS A jurisprudência é muito pouco estudada e divulgada. É difícil encontrar um material que trate essa matéria de forma
aprofundada. Até hoje, o TPI apenas proferiu 6 sentenças. Pela pesquisa do prof. Caio Paiva, a jurisprudência do TPI nunca foi
cobrada em prova de concurso. Na verdade, na prova oral do MPF, o examinador pediu para o candidato falar sobre o caso
Thomas Lubanga Dyilo.

1. Caso Thomas Lubanga Dyilo

• Primeira CONDENAÇÃO proferida pelo TPI.


• A utilização das TESTEMUNHAS DE OUVIR DIZER deve ser EXCEPCIONAL.

DE OLHO NA JURIS! O testemunho por ouvir dizer, produzido somente na fase inquisitorial, não serve como fundamento para
pronúncia
O testemunho por ouvir dizer (hearsayrule), produzido somente na fase inquisitorial, não serve como fundamento exclusivo da
decisão de pronúncia, que submete o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri. STJ. 6ª Turma. REsp 1373356-BA, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 603).

2. Caso Mathieu Ngudjolo Chui

• Primeira ABSOLVIÇÃO proferida pelo TPI.

3. Caso Germain Katanga

• Segunda CONDENAÇÃO proferida pelo TPI.

4. Caso Jean Pierre Bemba

• Utilização pela primeira vez do PRINCÍPIO DO COMANDO ou DA RESPONSABILIDADE SUPERIOR para condenar um
indivíduo por crimes contra praticados por seus subordinados.

• Aplicação do PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA DA QUALIDADE DE OFICIAL.

• Em 2018, em recurso da defesa, o TPI ABSOLVEU Bemba das acusações.

5. Caso Ahamad Al-Faqi Al-Mahdi

• Precedente importante para a comunidade internacional, pois o TPI enfrentou a questão da IMPUNIDADE DA
DESTRUIÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL.

6. Caso Omar Al Bashir “Caso Darfur”

• Primeiro litígio internacional que o Conselho de Segurança da ONU adjudicou e remeteu o caso ao TPI.

Tema extra: Ecocídio

Recentemente, um coletivo de advogados representou à Procuradoria do TPI para que o Presidente Bolsonaro fosse
denunciado pelo crime de ecocídio.
O que significa ecocídio? Em linhas gerais, ECOCÍDIO consiste na conduta, ativa ou omissiva, que causa ou pode causar
uma DESTRUIÇÃO EM LARGA ESCALA DO MEIO AMBIENTE.
O ecocídio pode vitimar, portanto, animais, plantas, solo, subsolo, ar, ecossistemas etc., provocando danos severos
para a vida e saúde dos seres humanos.
A principal discussão doutrinária sobre o tema é a seguinte: a tipificação do ecocídio já está consolidada no Estatuto de
Roma do TPI ou depende de uma emenda ao Estatuto?

@dicasexconcurseira 204
Há duas correntes.

Para aqueles que defendem que a tipificação já está consolidada no Estatuto de Roma, o ecocídio seria considerado um
crime contra a humanidade, nos termos do art. 7.1.k: atos desumanos, cometidos no quadro de um ataque, generalizado ou
sistemático, contra qualquer população civil, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a
integridade física ou a saúde física ou mental.

Importante notar que essa compreensão do ecocídio segundo o art. 7.1.k do Estatuto de Roma é claramente
ANTROPOCÊNTRICA – e não ecocêntrica –, pois somente considera o crime praticado quando atingir diretamente a população,
sem considerar, portanto, o meio ambiente em si.

Para um outro setor da doutrina, o ecocídio NÃO pode ser extraído do art. 7.1.k do Estatuto de Roma, pois isso equivaleria
a se admitir uma analogia in malam partem, proibida pelo próprio Estatuto de Roma (art. 22.2).
Compreensão do prof.: o ecocídio pode, sim, ser tipificado no art. 7.1.k do Estatuto de Roma, desde que observados os seus
elementos objetivos e subjetivos, em especial a existência de um “ataque generalizado ou sistemático” e o dolo.

Neste sentido, o ecocídio ocorreria, por exemplo, na conduta consistente em lançar de forma deliberada um produto tóxico
em um rio que abasteça a população local. Reitero que, nos termos do art. 7.1.k do Estatuto de Roma, o ecocídio está limitado à
visão antropocêntrica.

@dicasexconcurseira 205
EXTRAS

Revisão Final DPE/SP

Aula 01
Fundamentos filosóficos e evolução histórica dos direitos humanos
+
Teoria geral dos direitos humanos. Fontes, classificação, princípios e características do DIDH. Interpretação das normas de
direitos humanos. Suspensão e restrição de direitos humanos e suas limitações pelo DIDH

1. Fundamentos filosóficos e evolução histórica dos direitos humanos

@dicasexconcurseira 206
@dicasexconcurseira 207
2. Teoria geral dos direitos humanos. Fontes, classificação, princípios e características do DIDH. Interpretação das normas de
direitos humanos. Suspensão e restrição de direitos humanos e suas limitações pelo DIDH

@dicasexconcurseira 208
@dicasexconcurseira 209
@dicasexconcurseira 210
Aula 02
Direitos humanos em espécie. Declarações, tratados/convenções e seus protocolos relativos a direitos humanos da ONU
(sistema global) e da OEA (sistema interamericano. Processo internacional de direitos humanos

@dicasexconcurseira 211
@dicasexconcurseira 212
@dicasexconcurseira 213
No que diz respeito ao estado atual de assinatura/ratificação/internalização das principais convenções ou tratados
temáticos do Brasil do sistema ONU, vejamos:

1. Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1966): o Brasil ratificou e
internalizou por meio do Decreto no 65.810/1969. E ainda, o Brasil aceitou a competência do Comitê para Eliminação da
Discriminação Racial para receber e processar petições individuais por meio do Decreto nº 4.738/2003.

2. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979): o Brasil assinou a Convenção
em 1981 com reservas, as quais foram aprovadas pelo Congresso Nacional, dando ensejo, depois, à ratificação. Posteriormente,
o Brasil retirou as reservas e procedeu com a internalização da Convenção pelo Decreto no 4.377/2002. E ainda, o Brasil aceitou
a competência do Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher para receber e processar petições individuais
por meio do Decreto no 4.316/2002.

3. Convenção contra a Tortura ou outras Penais ou Tratamentos Crueis, Desumanos ou Degradantes (1984): o Brasil aderiu à
Convenção e a internalizou por meio do Decreto no 40/1991. Em 2006, o Brasil aceitou a competência do Comitê contra a
Tortura para receber e analisar petições individuais, não tendo havido ainda o decreto de promulgação. E ainda, o Brasil aderiu e
internalizou o Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura, que estabeleceu o Subcomitê de Prevenção da Tortura trata
de outras formas de prevenção da tortura, por meio do Decreto no 6.085/2007.

4. Convenção sobre os Direitos da Criança (1989): o Brasil aderiu e promulgou a Convenção por meio do Decreto no
99.710/1990. A Convenção conta com três protocolos facultativos, tendo o Brasil aderido e internalizo dois deles (um sobre
envolvimento de crianças em conflitos armados, pelo Decreto no 5.006/2004, e outro sobre venda de crianças para a
prostituição ou pornografia infantil, pelo Decreto no 5.007/2007), tendo apenas assinado o outro protocolo facultativo, que
confere competência ao Comitê para os Direitos da Criança para receber e processar petições individuais.

5. Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas Famílias
(1990): o Brasil apenas assinou, não tendo havido ainda a apreciação pelo Congresso Nacional.

6. Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006): o Brasil aderiu e internalizou a Convenção e o
seu protocolo facultativo por meio do Decreto no 6.949/2009).

7. Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados (2006): o Brasil aderiu e
internalizou a Convenção por meio do Decreto no 8.767/2016.

@dicasexconcurseira 214
@dicasexconcurseira 215
Aula 03
Direitos humanos e desenvolvimento. Metas de desenvolvimento do Milênio. Agenda 2030 da ONU e objetivos de
desenvolvimento sustentável. Investimentos internacionais de direitos humanos. Informe da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos sobre Pobreza e Direitos Humanos nas Américas.
+
Direitos humanos e empresas. Vinculação de particulares a normas e standards internacionais de direitos humanos.
Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos das Nações Unidas (Princípios Ruggie). Obrigações de proteger,
respeitar e reparar.
+
Direito Internacional dos Refugiados. Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados. Protocolo sobre o Estatuto dos
Refugiados

Direitos humanos e desenvolvimento. Metas de desenvolvimento do Milênio. Agenda 2030 da ONU e objetivos de
desenvolvimento sustentável. Investimentos internacionais de direitos humanos. Informe da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos sobre Pobreza e Direitos Humanos nas Américas.

De acordo com a Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, adotada pela ONU em 1986 por meio da Resolução
no 41, “O direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável, em virtude do qual toda pessoa e todos os povos estão
habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, para contribuir e dele participar, no qual todos
os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados”.

O direito ao desenvolvimento não deve ser confundido nem limitado ao crescimento econômico, tratando-se de um
conceito multidisciplinar e complexo, abrangente de outros indicadores sociais além do Produto Interno Bruto (PIB). Foi a partir
do direito ao desenvolvimento que surgiu, na ONU, o Índice de Desenvolvimento Humanos (IDH), que trabalha com diversos
indicadores sociais, e não apenas com o PIB.

O direito ao desenvolvimento foi elevado a um dos eixos orientadores do PNDH-3, no qual consta o seguinte:

“São essenciais para o desenvolvimento as liberdades e os direitos básicos como alimentação, saúde e educação. As
privações das liberdades não são apenas resultantes da escassez de recursos, mas também das desigualdades inerentes aos
mecanismos de distribuição, da ausência de serviços públicos e de assistência do Estado para a expansão das escolhas
@dicasexconcurseira 216
individuais. Este conceito de desenvolvimento reconhece o caráter pluralista e a tese de que a expansão das liberdades não
representa somente um fim, mas também o meio para seu alcance. Em consequência, a sociedade deve pactuar as políticas
sociais e os direitos coletivos de acesso e uso dos recursos. A partir daí, a medição de um índice de desenvolvimento humano
veio substituir a medição de aumento do PIB, uma vez que o índice de desenvolvimento humano (IDH) combina a riqueza per
capita pelo PIB aos aspectos de educação e expectativa de vida, permitindo, pela primeira vez, uma avaliação de aspectos
sociais não mensurados pelos padrões econométricos”.

No que diz respeito ao enquadramento teórico ou à natureza jurídica do direito ao desenvolvimento, embora ele
também possua uma perspectiva individual, a doutrina o insere como um direito de terceira dimensão ou geração, por ter ele
como prioridade a solidariedade ou a fraternidade entre os povos, garantindo-se, assim, a participação de todos nos proveitos
econômicos e sociais do país.

Para avançar rumo à concretização do direito ao desenvolvimento, no sentido de se eliminar todas as barreiras que
impedem o seu gozo pelas pessoas, foi adotado na ONU, a partir de uma reunião de líderes mundiais no ano de 2015 – entre
eles, o Brasil –, o documento Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que consiste num plano de ação para erradicar
a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade. A Agenda 2030 contém 17 objetos e
169 metas a eles associadas. Esses são os objetivos da Agenda 2030:

Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares.

Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.

Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.

Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da
vida para todos.

Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.

Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos.

Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos.

Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho
decente para todos.

Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.

Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.

Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.

Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.

Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos.

Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento
sustentável.

Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as
florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.

Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça
para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.

Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.

Finalmente, a respeito do Informe da Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre Pobreza e Direitos Humanos
nas Américas, embora se trate de um documento muito interessante – e importante –, com diversas informações que
contribuem para que os Estados saibam exatamente suas obrigações, para o fim de uma prova objetiva de concursos, destaco
apenas as duas seguintes conclusões da CIDH (que também são muito óbvias):
@dicasexconcurseira 217
a) o impacto diferenciado da pobreza em grupos vulneráveis (mulheres, crianças e adolescentes, povos indígenas, população
afrodescendente, migrantes, pessoas privadas de liberdade, pessoas com deficiência, população LBTI e pessoas idosas);
b) as pessoas que vivem em situação de pobreza extrema enfrentam maiores obstáculos para acessar à justiça e as políticas de
oferecimento de assistência jurídica gratuita compensam as situações de desigualdade na obtenção de uma defesa eficaz dos
próprios interesses.

Direitos humanos e empresas. Vinculação de particulares a normas e standards internacionais de direitos humanos.
Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos das Nações Unidas (Princípios Ruggie). Obrigações de proteger,
respeitar e reparar.

A globalização econômica fez com que surgissem empresas multinacionais cujo faturamento anual excede o PIB de
Estados, cenário que as inseriu – as empresas multinacionais – como um possível novo ator internacional. Diante deste
contexto, questiona-se, por exemplo, quais são as responsabilidades das empresas em matéria de direitos humanos, os limites
da arquitetura protetiva internacional para enfrentar o tema e também acerca da responsabilidade do Estado na relação entre
empresas e direitos humanos.

Tradicionalmente, sabemos que o Direito Internacional dos Direitos Humanos se ocupou – e se ocupa ainda – apenas da
relação entre Estados e indivíduos, somente podendo haver, portanto, a responsabilização dos Estados perante sistemas
internacionais de proteção dos direitos humanos.

Pelo menos desde a década de 1970 a ONU vem tratando da relação entre empresas e direitos humanos. Vejamos:

No que diz respeito aos Princípios de Ruggie:


a) eles consistem no primeiro marco normativo internacional a identificar e esclarecer a responsabilidade das empresas e dos
Estados em matéria de direitos humanos;
b) estão estruturados em três pilares, sendo estes proteger, respeitar e remediar; e c) consistem em normas de soft law.

Assim, ainda não há um tratado (logo, vinculante) sobre a matéria, também não havendo a possibilidade de se
responsabilizar diretamente as empresas perante os sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos, embora a
doutrina já comece a propor a superação do dogma estatocêntrico para avançar neste sentido. O que é possível, atualmente, é a
responsabilização internacional do Estado pela sua atuação omissa diante da conduta das empresas.

Tenho duas indicações para vocês:


• https://www.socioambiental.org/sites/blog.socioambiental.org/files/nsa/arquivos/conectas_
principiosorientadoresruggie_mar20121.pdf
• Palestra da professora Flávia Piovesan com o tema Advocacia, Empresas e Direitos Humanos:
https://www.youtube.com/watch?v=IO6AY0D1bzo

@dicasexconcurseira 218
Direito Internacional dos Refugiados. Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados. Protocolo sobre o Estatuto dos
Refugiados.

@dicasexconcurseira 219
Aula 04
Direitos Humanos e ordenamento jurídico brasileiro. Incorporação de tratados internacionais de proteção dos direitos
humanos ao Direito brasileiro. Posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos humanos no Direito interno e
teorias subjacentes. Execução de decisões oriundas de órgãos internacionais de direitos humanos no Brasil. Diálogo das
Cortes. Controle de convencionalidade. Direitos humanos e acesso à justiça.

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Posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos humanos no Direito Interno e teorias subjacentes
Natureza supraconstitucional Fundamento: origem internacional e necessidade de cumprir
(Celso Albuquerque de Mello) os tratados
Natureza constitucional Fundamento: o art.5º, §2º, da CF (idealizado pelo Cançado
(Cançado Trindade) Trindade)
Natureza de lei ordinária federal Fundamento: a CF admite RE contra decisão que declara a
(STF, até 2008) inconstitucionalidade de tratado
Materialmente constitucionais Fundamento: o §3º do art.5º da CF, incluído pela EC 45/2004
(Piovesan, Mazzuolli, entre outros) confere apenas constitucionalidade formal
Natureza supralegal Fundamento: RE 466.343: TEORIA DO DUPLO ESTATUTO.
(entendimento atual do STF) Somente é constitucional se passa pelo rito do art.5º, §3º, da
CF (cada caso, dois turnos, 3/5 dos votos)

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@dicasexconcurseira 222
Revisão Final DPE/MG

Aula 01
Os fundamentos filosóficos dos direitos humanos; A evolução histórica dos direitos humanos; Classificação; Princípios ou
características

1. Os fundamentos filosóficos dos direitos humanos

2. A evolução histórica dos direitos humanos

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3. Classificação

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4. Princípios ou características

Aula 02
Princípios de interpretação dos tratados

1. Princípios de interpretação dos tratados

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Aula 03
Sistema global de proteção dos direitos humanos

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@dicasexconcurseira 229
Aula 04
Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos

1. Sistema interamericano de proteção dos direitos humanos

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@dicasexconcurseira 231
2. Incorporação dos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos ao direito brasileiro

3. Posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos humanos

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4. A execução das decisões oriundas de tribunais internacionais de direitos humanos no Brasil

5. A proteção internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais

@dicasexconcurseira 233
6. Controle de convencionalidade

Aula 05
Direitos humanos e acesso à justiça: Defensoria Pública Interamericana

Em 2009, o Regulamento da Corte Interamericana foi reformado e mexeu com o papel da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos no procedimento perante a Corte, retirando da Comissão a posição dual que ocupava no sistema
interamericano, mantendo-a unicamente como órgão do sistema, e não mais como representante processual das vítimas. Essa
alteração do Regulamento da Corte surgiu no contexto de ampliar a capa- cidade processual das vítimas, elevando-as à condição
de partes no processo ju- dicial perante a Corte, podendo apresentar memoriais, requerimento de provas, formular pedidos,
participar de audiências com manifestação oral etc. Assim, com o objetivo de evitar que dificuldades financeiras ou de outra
natureza impeçam as vítimas de contarem com a devida representação legal (defesa técnica) no proce- dimento perante a
Corte, surge, então, com o Regulamento reformado em 2009, a figura do defensor público interamericano. Nesse sentido,
conforme consta da “Exposição de Motivos da Reforma Regulamentar”: “Desta maneira, garante-se que toda presumida vítima
tenha um advogado que faça valer seus interesses perante a Corte e se evita que razões econômicas impeçam as vítimas de
contar com representação legal. Por outro lado, evita-se que a Comissão tenha uma posição dual ante a Corte, de representante
das vítimas e de órgão do sistema”.

De acordo com o Regulamento da CorteIDH, “a expressão ‘defensor interame- ricano’ significa a pessoa que a Corte
designa para assumir a representação legal de uma suposta vítima que não tenha designado um defensor por si mesma” (art.
2.11). O Regu- lamento da CorteIDH ainda prevê que “Em casos de supostas vítimas sem representação legal devidamente
credenciada, o Tribunal poderá designar um Defensor Interamericano de ofício que as represente durante a tramitação do caso“.
Com isso, pode-se afirmar que a previsão normativa da atuação do defensor público interamericano é apenas regu- lamentar –
prevista no Regulamento da CorteIDH –, e não convencional, pois não consta na Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(CADH).

Existem diferentes modelos de oferecimento de assistência jurídica gratuita no âmbito de tribunais internacionais,
entre os quais podemos destacar dois:

1) o primeiro deles, que denominaremos de sistema concentrado, prevê órgão de defesa pública dentro da estrutura do próprio
tribunal, como ocorre, por exemplo, com o Tribunal Penal Internacional (TPI), que possui alguns escritórios semiautônomos, tais
como o Escritório de Defensoria Pública para as Vítimas e o Escritório de Advocacia Pública para a Defesa; e

2) o segundo deles, que denominaremos de sistema independente, “terceiriza” a organização da prestação e da designação
espe- cífica do defensor a uma entidade independente, como ocorre no sistema adotado pela Corte Interamericana – com
características inéditas no âmbito universal –, em que, mediante convênio celebrado entre a CorteIDH e a Associação
Interamericana de Defensorias Públicas (AIDEF), concedeu-se a esta a atribuição para organizar o serviço da assistência jurídica
gratuita no processo judicial interamericano. Assim, embora o Regulamento da CorteIDH não mencione a expressão “público”
quando se refere ao defensor interamericano, o modelo de uma defesa pública interamericana restou acolhido pela Corte antes
mesmo da adoção do seu novo Regulamento, aprovado em 24.11.2009, quando da celebração de um convênio com a AIDEF, em
25.09.2009. Importante considerar que o termo defensor público interamericano logo foi acolhido pela Corte Interamericana,
conforme se lê no seu Relatório Anual dos Trabalhos da Corte Interamericana de Direitos Humanos – 2010, em que foi inserida a
indicação de um defensor público interamericano no contexto da ampliação dos horizontes da jurisdição americana.

Para formalizar a prestação do serviço da assistência jurídica gratuita para vítimas junto ao processamento do caso
perante a Corte Interamericana, foi ce- lebrado um Acordo de Entendimento entre a CorteIDH e a AIDEF em 25.09.2009, em San
@dicasexconcurseira 234
José, Costa Rica, por meio do qual se estabeleceu, por exemplo, que a incumbência de designar o defensor público
interamericano é da AIDEF mediante comunicação da Corte para a Coordenação Geral da Associação Interamericana de
Defensorias Públicas. Posteriormente, em 08.03.2013, em Washington DC, EUA, outro Acordo de Entendimento, agora celebrado
entre a Secretaria Geral da Orga- nização dos Estados Americanos, através da Secretaria Executiva da Comissão Interamericana
de Direitos Humanos, e a AIDEF, ampliou a atribuição da De- fensoria Pública Interamericana para atuar em favor da vítima que
não possua representação legal também no procedimento perante a Comissão Interame- ricana. Finalmente, em 07.06.2013,
em Antigua, Guatemala, foi aprovado o Regu- lamento Unificado para a atuação da AIDEF ante a Comissão e a Corte de Direitos
Humanos, que consolida as diretrizes para escolha e atuação dos defensores pú- blicos interamericanos.

O Regulamento Unificado disciplina em seu art. 6o o processo de escolha ou de conformação do corpo de defensores
públicos interamericanos, que funciona assim:

1) Cada país integrante da AIDEF propõe dois defensores públicos, que devem ter formação comprovada em direitos humanos.
Internamente, cada De- fensoria Pública nacional decide como realiza essa propositura, sendo oportuno registrar aqui a
dimensão democrática do processo de escolha no âmbito das Defensorias dos Estados, presidido em conjunto pela Associação
Nacional dos Defensores Públicos (ANADEP) e pelo CONDEGE (Colégio Nacional de De- fensores Públicos-Gerais), em que há
divulgação de edital para que interessados concorram às vagas, procedimento este ainda inexistente no âmbito da Defensoria
Pública da União, que na sua primeira propositura de nome para o cargo de de- fensor público federal preferiu proceder
mediante ato discricionário do Defensor Público-Geral Federal;

2) A formalização da candidatura dos defensores públicos deve ser firmada por escrito pela autoridade máxima institucional ou
associativa da respectiva Defensoria Pública nacional; e

3) No prazo máximo de trinta dias, o Comitê Executivo da AIDEF avaliará as informações de cada candidato e ela- borará uma
lista que não deverá possuir mais do que 21 integrantes, sendo que os excedentes formarão uma lista de elegíveis para
substituir eventuais vacâncias que possam surgir no período.

Conforme prevê o Regulamento Unificado, os defensores públicos são eleitos para um período de três anos, podendo
ser reeleitos para somente um período consecutivo (art. 6.5). O art. 17 do Regulamento Unificado prevê três hipóteses em que o
mandato dos defensores públicos interamericanos se estenderá: 1) Nos casos em trâmite na Comissão Interamericana, até que
seja emitido o informe final previsto no art. 51 da CADH, no caso de não ser remitido à CorteIDH; 2) Se o caso for submetido à
CorteIDH, ou se a assistência do defensor público interame- ricano se iniciar somente no procedimento perante a Corte, até que
seja emitida a sentença final; e 3) Durante o tempo que se estenda a execução da sentença de mérito, reparações e custas da
CorteIDH.

A O defensor público eleito para ocupar o cargo de defensor público in- teramericano fica afastado de suas atividades na
respectiva Defensoria Pública nacional de origem?

De acordo com o Regulamento Unificado, os defensores pú- blicos interamericanos somente devem ser afastados ou
licenciados de suas ati- vidades na respectiva Defensoria Pública nacional de origem para atuarem nos casos para os quais forem
designados, não sofrendo, nesse período, nenhuma di- minuição nem perda de sua remuneração (art. 8.1). Esse afastamento
não precisa necessariamente ter um caráter permanente para durar enquanto tramitar o caso em que o defensor
interamericano estiver atuando, podendo se dar em períodos delimitados, como, por exemplo, quinze dias para participar de
audiência pública na Corte Interamericana ou trinta dias para apresentar memoriais no caso, com- preendendo-se nesses
períodos o necessário tempo para estudo.

Critérios para designar defensores públicos interamericanos para atuar num caso perante a Comissão Interamericana ou a
Corte Interamericana.

Conforme prevê o Regulamento Unificado, para cada caso em particular serão designados três defensores públicos
interamericanos, sendo dois titulares e um suplente (art. 12). Na escolha dos defensores públicos interamericanos, segundo
dispõe o art. 13 do Regulamento Unificado, a Secretaria Geral da AIDEF observará, na medida do possível, um sistema de
designação baseado em critérios objetivos e subjetivos. São critérios objetivos:

1) Que um defensor público interamericano não pertença ao Estado denunciado; e

2) Que os demais defensores públicos inte- ramericanos – dois, portanto – pertençam ao Estado denunciado, salvo se, por dis-
posições internas, não estiverem autorizados para demandar contra seu próprio Estado, ou que não exista dentro da lista de
defensores públicos interamericanos um nacional do Estado denunciado.

São critérios subjetivos:


@dicasexconcurseira 235
1) A índole dos direitos violados;
2) As circunstâncias do caso;
3) A formação curricular e acadêmica do defensor público interamericano; e
4) A experiência do defensor público in- teramericano em intervenções ou litígios que guardem relação com a índole dos direitos
violados e as circunstâncias do caso.

Procedimento para a designação dos defensores públicos interame- ricanos que atuarão em determinado caso. De acordo
com o que prevê o art. 14 do Regulamento Unificado, o procedimento para designação dos defensores públicos interamericanos
funciona assim:
1) A partir do momento em que a AIDEF tenha aceitado a representação da(s) presumida(s) vítima(s) ante a Comissão ou ante a
Corte Interamericana, a Secretaria Geral submeterá à consideração da Coor- denação Geral, no prazo de 24 horas, a proposta de
dois defensores públicos in- teramericanos titulares e de um suplente para intervir no caso;
2) Ato seguinte, a Coordenação Geral deverá comunicar dita proposta ao Comitê Executivo no prazo máximo de um dia, cujos
integrantes têm um prazo de dois dias para aceitar ou rechaçar por simples maioria de votos;
3) No caso de não contestar no prazo estipulado, dito silêncio se interpretará como uma aceitação tácita da proposta formulada
pela Coordenação Geral; e
4) Uma vez confirmada a proposta, esta será comunicada formalmente à Comissão ou à CorteIDH, segundo corresponda,
fazendo saber a decisão sobre a aceitação do caso e os nomes dos defensores pú- blicos interamericanos designados.

Proibição de substituição unilateral dos defensores públicos interamericanos.

Conforme estabelece o art. 16 do Regulamento Unificado, a designação dos defensores públicos interamericanos é uma
atribuição exclusiva do Comitê Executivo da AIDEF, não possuindo as delegações institucionais ou associativas integrantes da
AIDEF – leia-se, as Defensorias Públicas nacionais ou as entidades associativas que representam seus membros – a competência
para substituir unilateralmente os de- fensores públicos interamericanos que elas propuseram, devendo apenas se limitarem a
comunicar ao Comitê Executivo as causas da renúncia ou exclusão previstas no Re- gulamento Unificado, caso em que o Comitê
analisará a situação concreta e decidirá sobre a procedência da solicitação e sua eventual substituição.

Renúncia ao cargo de defensor público interamericano.

Prevê o art. 18 do Regulamento Unificado que “Se por questões de força maior devidamente fundadas, o defensor
público interamericano não puder continuar integrando o corpo de defensores públicos interamericanos, deverá informar de
imediato por escrito e juntar a docu mentação que sustente as causas alegadas. Dita comunicação deverá ser endereçada ao
representante da instituição ou associação de Defensoria Pública que o tenha proposto ante a AIDEF, que por sua vez estará
obrigada a comunicar o fato dentro de 24 horas à Coordenação Geral e à Secretaria Geral da AIDEF a fim de que se exponha a
situação ao Comitê Executivo“. O art. 18 ainda estabelece que, por decisão da maioria, o Comitê Executivo poderá: 1) Rechaçar
as razões invocadas pelo defensor público interamericano e obrigá-lo a continuar no desempenho de seu cargo; ou 2) Aceitar a
renúncia do defensor público interamericano e eventualmente incorporar um novo defensor público interamericano se
considerar necessário, podendo tem em conta a lista dos defensores públicos excedentes que não foram selecionados para
integrar o corpo de defensores públicos interamericanos.

Renúncia de um defensor público interamericano à designação para atuar num caso perante a Comissão ou a Corte
Interamericana.

O art. 19 do Regulamento Unificado trata da renúncia de um defensor público interamericano à designação para atuar
num caso ante a CIDH ou a CorteIDH, prevendo que “Se por razões de força maior devidamente fundadas, o defensor público
interamericano não puder continuar atuando num caso para o qual tiver sido designado, deverá informar imediatamente esta
situação seguindo o procedimento descrito no artigo 18 deste Regulamento [visto no tópico anterior]. Isso não implicará,
necessariamente, a renúncia para continuar no corpo de de- fensores públicos interamericanos“. O art. 19 ainda estabelece que
“No caso de aceitar a renúncia, o Comitê Executivo decidirá se deve assumir em substituição o defensor público interamericano
suplente ou, de acordo com as circunstâncias particulares do caso, se deve de- signar outro defensor público interamericano
seguindo o procedimento disposto no artigo 14. Esta substituição nunca será automática, requerendo pronunciamento expresso
do Comitê Executivo, conforme o trâmite geral estabelecido no presente Regulamento. No caso de aceitar que o defensor público
interamericano suplente passe a atuar como titular, o Comitê Executivo, sob proposta do Coordenador Geral, oportunamente
procederá com a designação de outro defensor público interamericano na qualidade de suplente“.

Exclusão de um defensor público interamericano de um caso particular.

O art. 20 do Regulamento Unificado prevê três hipóteses em que o Comitê Exe- cutivo poderá excluir o defensor
público interamericano da atuação em um caso, designando outro:

@dicasexconcurseira 236
1) Situação de conflito insuperável de interesses entre o de- fensor público interamericano e seu assistido ou entre o defensor
público intera- mericano com o Estado demandado;
2) Comprometimento da integridade física ou psíquica do defensor público interamericano, de forma que impeça o exercício de
uma defesa técnica eficaz; ou 3) O representado/assistido rechaçar o defensor público interamericano por alguma causa
devidamente justificada.

O defensor público interamericano “natural” e a atuação continuada em favor da vítima na Comissão e na Corte
Interamericana.

Vimos anteriormente que o mandato do defensor público interamericano acompanha a tramitação do caso no qual ele
estiver atuando, podendo permanecer no cargo além do limite ordinário de tempo na situação, por exemplo, em que tenha sido
designado para atuar em favor da vítima no procedimento perante a Comissão Interamericana e o caso, após seis anos –
período de dois mandatos consecutivos do defensor público interamericano –, ainda esteja em tramitação na Corte
Interamericana. Esse expediente prestigia a ideia de um defensor público interamericano natural, o que é reforçado pelo art. 24
do Regulamento Unificado, segundo o qual os defensores públicos interamericanos que tenham representado a(s) vítima(s) no
procedimento perante a CIDH conti- nuarão atuando na etapa jurisdicional do processo perante a CorteIDH.

A AIDEF pode recusar a solicitação da Comissão Interamericana ou da Corte Interamericana para designar defensores públicos
interamericanos?

Entendemos que sim e extraímos essa conclusão dos artigos 1.2, 14.1 e 22.1 do Regulamento Unificado, que
expressamente fazem menção à “aceitação” da AIDEF para que defensores públicos interamericanos sejam designados para
atuar ante a CIDH ou a CorteIDH. No mesmo sentido, o Acordo de Entendimento entre a AIDEF e a Secretaria Executiva da
Comissão Interamericana (cláusula 3.1.1) Consideramos esse entendimento o mais acertado porque prestigia a autonomia
funcional da Defensoria Pública, já reconhecida pela Assembleia-Geral da Orga- nização dos Estados Americanos (OEA).

Requisitos para atuação de defensor público interamericano na Comissão e na Corte Interamericana.

Os requisitos para atuação de defensor público intera- mericano em favor da(s) presumida(s) vítima(s) perante a
Comissão e a CorteIDH estão previstos nos Acordos de Entendimento com esses órgãos do sistema inte- ramericano de direitos
humanos. Nos termos do Acordo de Entendimento entre a AIDEF e a CorteIDH, para que seja designado defensor público
interamericano para atuar no processamento do caso perante a Corte, a vítima deve carecer de recursos econômicos ou de
representação legal (primeira cláusula), de modo que pode haver a atuação de defensor público interamericano para vítima que
possua recursos eco- nômicos, mas esteja sem representação legal. Essa previsão contida no Acordo de Entendimento entre a
AIDEF e a CorteIDH pode ser considerada em conformidade com um conceito moderno e mais amplo de vulnerabilidade ou de
necessitado, que não se limita às condições econômicas. Diferentemente, nos termos do Acordo de Entendimento entre a AIDEF
e a Secretaria Executiva da Comissão Interamericana, para que a vítima seja assistida por defensor público interamericano no
processo em trâmite perante a Comissão, deve haver ausência de representação legal e ca- rência de recursos econômicos
(primeira cláusula). Possivelmente prevendo uma demanda incompatível com a estrutura de pessoal da Defensoria Pública
Interame- ricana, tanto o Regulamento Unificado (art. 22.2) quanto o Acordo de Entendimento entre a AIDEF e a Secretaria
Executiva da CIDH (quarta cláusula) preveem critérios para que a defesa de vítimas seja realizada por defensores públicos
interamericanos no processamento do caso perante a Comissão. São eles:

1) Que o caso tenha certa complexidade para a presumida vítima, seja em seus aspectos fáticos ou jurídicos, ou que se refira a
matérias novas para a proteção dos direitos humanos na região;

2) Que o caso envolva possíveis violações a direitos humanos de especial interesse para a AIDEF, tais como os direitos à vida, à
integridade pessoal, à liberdade pessoal, às garantias e proteção judiciais, entre outras; e 3) Que o caso envolva uma ou mais
presumidas vítimas que pertençam a um grupo em situação de vulnerabilidade, tais como pessoas privadas de liberdade, vítimas
de violência institucional, vítimas de violência de gênero, crianças e adolescentes, povos originários, pessoas com de- ficiência,
migrantes e/ou refugiados, entre outros.

Requisitos para atuação de defensor público interamericano


Na Corte A vítima deve carecer de recursos econômicos ou de repre- sentação legal, de modo que pode haver a
Interamericana de atuação de defensor público interamericano para vítima que possua recursos eco- nômicos, mas esteja
Direitos Humanos: sem representação legal.
A vítima deve carecer de recursos econômicos e de representação legal. Além disso: 1) O caso deve ter
Na Comissão
certa complexidade para a vítima, seja em seus aspectos fáticos ou jurídicos, ou que se refira a
Interamericana de
matérias novas para a proteção dos direitos humanos na região; 2) O caso deve envolver possíveis
Direitos Humanos:
violações a direitos humanos de especial interesse para a AIDEF, tais como os direitos à vida, à in-

@dicasexconcurseira 237
tegridade pessoal, à liberdade pessoal, às garantias e proteção ju- diciais, entre outras; e 3) O caso deve
envolver uma ou mais vítimas que pertençam a um grupo em situação de vulnerabilidade

A vítima pode recusar a designação de defensor público interamericano?

Entendemos que sim. Nesse sentido, aliás, o Acordo de Entendimento entre a AIDEF e a Secretaria Executiva da
Comissão Interamericana dispõe que a Comissão deve obter da vítima seu consentimento expresso para que seja representada
por defensor público interamericano (cláusula 2.1.2). No âmbito da Corte Interamericana, já no primeiro caso em que se
procedeu com a designação de defensor público interamericano (Caso Furlán e familiares vs. Argentina), a Corte esclareceu à
vítima que não era obrigatória a aceitação e que ela poderia, inclusive, abster-se de nomear um advogado, exercendo sua
própria representação.

É cabível a atuação concorrente de defensor público interamericano nos processos em que a representação legal da vítima
estiver a cargo de defensor público nacional?

Entendemos que não, e isso porque os regulamentos que tratam do defensor público interamericano são muito claros
ao condicionar sua atuação à ausência de representação legal da vítima.

O surgimento da Defensoria Pública Interamericana prejudicou a legitimidade das Defensorias Públicas nacionais para
atuarem de forma autônoma e independente no sistema interamericano de proteção dos direitos humanos?

A resposta do tópico anterior conduz à conclusão deste: a atuação da Defensoria Pública Interamericana é subsidiária à
atuação das Defensorias Públicas nacionais, tanto que somente será designado defensor público interamericano se a vítima não
contar com representação legal. Nesse sentido, a sexta cláusula do Acordo de Entendimento entre a Corte Interamericana e a
AIDEF ressalta que “Este convênio não impede a Associação Interamericana de Defensorias Públicas nem a seus associados de
levarem por si mesmos casos ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos”.

O defensor público interamericano tem legitimidade para atuar no âmbito interno, propondo, por exemplo, a execução das
decisões da Corte In- teramericana diretamente na jurisdição do Estado-parte?

Entendemos que não. Quando o Regulamento Unificado estende o mandato do defensor público inte- ramericano para
enquanto tramitar a execução da sentença de mérito, reparações e custas da Corte Interamericana (art. 17.3), assim o faz
pensando na etapa de execução internacional que tramita perante a Corte, e não no processo interno de execuções de sentença
internacional na jurisdição do Estado-parte. Embora esses processos de execução – internacional e interno – possam coexistir, a
legitimidade conferida ao defensor público interamericano, a nosso ver, consiste em peticionar em favor da vítima junto à
CorteIDH para cobrar do Estado as informações sobre o cumprimento da sentença, e não para ajuizar demandas na jurisdição
interna do Estado-parte.

Aula 06
Revisão de jurisprudência internacional de Direitos Humanos: 20 dicas

Caro(a)s aluno(a)s, conforme o prometido na proposta deste curso de revisão final para o concurso da Defensoria Pública
do Estado de Minas Gerais, preparei um resumo contendo 20 dicas de jurisprudência internacional de direitos humanos. Meu
objetivo é apresentar um panorama geral de alguns assuntos centrais da jurisprudência contenciosa e consultiva da Corte
Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), assim como também mencionar alguns pontos relevantes da jurisprudência da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e da situação do Brasil no sistema convencional de proteção dos direitos
humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

1. O Caso Ximenes Lopes vs. Brasil, julgado em 2006, representa a primeira condenação do Brasil na Corte IDH, assim
como o primeiro caso envolvendo violação de direitos de pessoa com deficiência mental na jurisprudência da Corte.

2. O Caso Ximenes Lopes vs. Brasil destaca-se pela consideração da responsabilidade internacional do Estado decorrente
de atos cometidos por particulares. O Direito Internacional dos Direitos Humanos movimenta-se a partir de atos
praticados ou tolerados pelo Estado. No Caso Ximenes Lopes, a vítima estava internada numa clínica privada de saúde
mental, o que, num primeiro momento, afastaria a responsabilidade do Estado. No entanto, a clínica, embora privada,
estava associada ou vinculada ao Sistema Único de Saúde (SUS), atraindo assim a responsabilidade do Estado de
supervisionar os serviços por ela prestados.

@dicasexconcurseira 238
3. O Caso Nogueira de Carvalho representa a primeira – e única, até agora – absolvição do Brasil na Corte IDH. Este caso
se destaca por ter inaugurado a jurisdição da Corte a respeito do tema “violação de direitos humanos contra
defensores de direitos humanos”. A absolvição do Estado brasileiro foi motivada principalmente na ausência de
descumprimento do seu dever de investigar e punir os autores do assassinato da vítima, e isso porque houve absolvição
dos investigados pelo Tribunal do Júri.

4. O Caso Escher e outros vs. Brasil teve como tema central a interceptação telefônica imotivada contra integrantes de
organizações comunitárias que mantinham relação com o MST sob o argumento de que estavam associados para a
prática de crimes.

5. O Brasil foi condenado no Caso Garibaldi vs. Brasil a investigar e punir os autores do assassinato de Sétimo Garibaldi no
contexto de um despejo extrajudicial realizado em fazenda situada no Estado do Paraná. No entanto, o Brasil não
cumpriu a decisão, tendo o STJ, inclusive, ratificado o arquivamento do inquérito diante da ausência de novas provas
(REsp 1.351.177, j. 15.03.2016).

6. O Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil tratou do tema da responsabilidade do Estado
brasileiro pela detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de aproximadamente setenta pessoas, dentre
elas integrantes do Partido Comunista Brasileiro e camponeses da região do Araguaia, situada no TO. A impunidade dos
autores dos crimes restou assegurada pelo advento da Lei de Anistia (Lei no 6.683/1979). O Caso Gomes Lund tem
como pano de fundo, portanto, a dinâmica da justiça de transição. O Brasil não cumpriu com a decisão da Corte IDH de
investigar e punir os autores do crime, contando, para isso, com a decisão do STF na ADPF 153 no sentido do
reconhecimento da constitucionalidade da lei de anistia.

7. O Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil consiste no primeiro precedente da Corte IDH sobre trabalho
escravo. No julgamento deste caso, a Corte IDH decidiu que o crime de escravidão, quando envolve graves violações de
direitos humanos, deve ser considerado imprescritível.

8. O Caso Favela Nova Brasília vs. Brasil, julgado em 2017 pela Corte IDH, teve como tema a responsabilidade do Estado
por execuções extrajudiciais praticadas por agentes da Polícia Civil do RJ entre 1994 e 1995 no contexto de operações
na Favela Nova Brasília, situada no Complexo do Alemão. Podemos destacar neste precedente o repúdio da Corte IDH
aos denominados “autos de resistência à prisão ou à atuação policial”.

9. O Caso Povo Indígena Xucuru vs. Brasil tratou do tema da demora no processo de reconhecimento, titulação e
demarcação do território do Povo Indígena Xucuru. Trata-se da primeira condenação do Brasil na Corte IDH envolvendo
a violação de direitos dos povos indígenas.

10. O Caso Herzog e outros vs. Brasil, julgado pela Corte IDH em 2018, tratou da responsabilidade do Brasil pela falta de
investigação, julgamento e punição dos responsáveis pela tortura e morte do jornalista Vladimir Herzog, praticadas
num contexto sistemático e generalizado de ataques à população civil por agentes estatais. Assim como o Caso Gomes
Lund, o Caso Herzog também tem como pano de fundo a justiça de transição e a inconvencionalidade da Lei de Anistia
(Lei no 6.683/1979).

11. Com a exceção de uma medida provisória determinada no contexto do Caso Gomes Lund, todas as outras medidas
provisórias da Corte IDH em desfavor do Brasil referem-se a violações de direitos humanos cometidas no interior de
estabelecimentos prisionais. Entre estas medidas provisórias, devido ao seu conteúdo inovador e por ter sido
determinada recentemente (11/2018), destaco a medida provisória determinada no Caso Instituto Penal Plácido de Sá
Carvalho, em que a Corte IDH assim se manifestou: “Toda pena privativa de liberdade e qualquer privação de liberdade,
ainda que a título preventivo, implica necessariamente uma dose de dor ou aflição inevitável. No entanto, esta se reduz
basicamente às inevitáveis consequências da limitação ambulatória da pessoa, à necessária convivência imposta por
uma instituição total e ao respeito aos regulamentos indispensáveis para a conservação da ordem interna do
estabelecimento. Quando as condições do estabelecimento se deterioram até dar lugar a uma pena degradante como
consequência da superpopulação e dos seus efeitos indicados, o conteúdo aflitivo da pena ou da privação de liberdade
preventiva se incrementa numa medida que torna-se ilícita ou antijurídica”. A partir deste contexto, a Corte IDH indica
que há basicamente duas soluções para enfrentar esse problema: a) liberação direta dos presos, considerando que é
intolerável que um Estado de Direito execute penas degradantes; e 2) diminuição da população carcerária mediante um
cálculo de pena ou de privação de liberdade que abrevie o tempo real, atendendo ao maior conteúdo aflitivo
decorrente da superpopulação carcerária. Para a Corte IDH, “(...) a solução radical (...) que se inclina pela imediata
liberdade dos presos em razão da inadmissibilidade de penas ilícitas num Estado de Direito, embora atenda a princípios
sólidos e seja logicamente quase inobjetável, desconsidera que seria causa de uma enorme comoção social que pode
ser motivo de males ainda maiores”. Com isso, a Corte IDH decidiu que como o estabelecimento prisional situado no RJ
está com o dobro de pessoas reclusas, a aflição da pena também é sobrada, de modo que o tempo de pena ou de
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medida preventiva deve ser contado à razão de dois dias de pena lícita por cada dia de efetiva privação de liberdade
em condições degradantes. E ainda, segundo a Corte IDH, esse entendimento não deve ser automaticamente aplicado
a condenados por crimes contra a vida, integridade física ou de natureza sexual, mas somente em cada caso concreto, a
partir de exame criminológico.

12. A Corte IDH possui uma jurisprudência consolidada no sentido da incompetência da Justiça Militar para julgar civis.
Neste sentido, o Caso Castillo Petruzzi vs. Peru.

13. No julgamento do Caso Tibi vs. Equador, que representa um importante precedente sobre a audiência de custódia, o
então juiz da Corte IDH, Sérgio García Ramírez, utilizou o termo “guantanamização do processo penal” para se referir
ao movimento de autoritarismo e de arbitrariedade que propõe a derrogação ou a suspensão de direitos e garantias no
marco da luta contra crimes graves.

14. No julgamento do Caso Ruano Torres vs. El Salvador, a Corte IDH decidiu que o Estado pode ser internacionalmente
responsável pela atuação deficiente da Defensoria Pública.

15. Na Opinião Consultiva 22/2016, a Corte IDH estabeleceu que:


a) o art. 1.2 da CADH somente consagra direitos a favor de pessoas físicas, de modo que as pessoas jurídicas não são
titulares dos direitos previstos na Convenção Americana;
b) as comunidades indígenas e tribais são titulares de direitos protegidos pela CADH e, portanto, podem acessar o
sistema interamericano de proteção dos direitos humanos;
c) o art. 8.1 do Protocolo de San Salvador confere titularidade de direitos aos sindicatos, às federações e às
confederações de trabalhadores, o que lhes permite apresentarem-se perante o sistema interamericano em defesa de
seus próprios direitos;
d) as pessoas físicas, em alguns casos, podem chegar a exercer seus direitos através de pessoas jurídicas, de modo que
nestas situações poderão acessar o sistema interamericano para apresentar as violações aos seus direitos; e
e) as pessoas físicas, em algumas situações, podem esgotar os recursos internos mediante recursos interpostos pelas
pessoas jurídicas.

16. Na Opinião Consultiva no 24/2017, a Corte IDH estabeleceu que: a) a mudança de nome e em geral a adequação dos
registros públicos e dos documentos de identidade para que estes sejam conformes à identidade de gênero
autopercebida constitui um direito protegido pela CADH, de modo que os Estados estão na obrigação de reconhecer,
regular e estabelecer os procedimentos adequados para tais fins; b) O procedimento para essa alteração ou adequação
deve ter as seguintes características: i) deve focar na adequação integral da identidade de gênero autopercebida; ii)
deve se basear unicamente no consentimento livre e informado do solicitante sem que sejam exigidos requisitos como
certificações médicas e/ou psicológicas ou outros que possam resultar irrazoáveis ou patologizantes; iii) deve ser
confidencial; iiii) deve ser rápido e na medida do possível gratuito; e iiiii) não deve exigir operações cirúrgicas e/ou
hormonais. O procedimento que melhor se adequa a esses elementos é o procedimento materialmente administrativo
ou notarial (atenção: a Corte IDH não impõe que o procedimento seja administrativo, e não judicial). Finalmente: a
Corte IDH ressaltou que o procedimento também deve ser assegurado a menores de 18 anos, de acordo com o seu
melhor interesse e com o seu desenvolvimento progressivo.

17. O Caso Maria da Penha vs. Brasil não chegou à Corte IDH, tendo se encerrado na CIDH, com a responsabilização do
Estado brasileiro, que recebeu diversas recomendações.

18. O Caso Simone André Diniz vs. Brasil, apreciado pela CIDH, representa a primeira vez que um país membro da OEA é
responsabilizado na Comissão Interamericana por racismo. Este caso tornou-se um paradigma do racismo institucional.

19. O Caso Alyne da Silva Pimentel vs. Brasil representa a primeira – e única, até então – condenação do Brasil perante
órgãos convencionais do sistema global de proteção dos direitos humanos. O caso foi julgado pelo Comitê da
Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e tratou do tema da
mortalidade materna.

20. O Brasil está sendo demandado perante o Comitê de Direitos Humanos, órgão convencional do Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos, pelo ex-Presidente Lula. O Comitê já expediu medidas provisórias em favor do ex-Presidente
Lula, as quais, porém, não foram cumpridas pelo Estado brasileiro, tendo o Tribunal Superior Eleitoral (vencido apenas
o min. Edson Fachin) assim decidido sob dois argumentos: a) o Comitê é órgão administrativo, de modo que suas
recomendações não têm efeito vinculante; e b) o protocolo facultativo que confere competência ao Comitê de Direitos
Humanos para receber e processar petições individuais ainda não está em vigor no Brasil em razão da ausência do
decreto de promulgação.

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Revisão Final DP/DF

Aula 01
Os fundamentos filosóficos dos direitos humanos; A evolução histórica dos direitos humanos; Classificação; Princípios ou
características

1. Fundamentos filosóficos dos direitos humanos

2. Afirmação histórica dos direitos humanos

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3. Características dos direitos humanos no direito internacional

4. Interpretação e aplicação dos tratados internacionais de proteção aos direitos humanos

@dicasexconcurseira 242
Aula 02
Federalização dos crimes contra os direitos humanos; A incorporação dos tratados internacionais de proteção de direitos
humanos ao direito brasileiro; A posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos humanos em face da CF;
Formação e estrutura do sistema global

5. Federalização dos crimes contra os direitos humanos

@dicasexconcurseira 243
6. A incorporação dos tratados internacionais de proteção de direitos humanos ao direito brasileiro

7. A posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos humanos em face da CF

8. Formação e estrutura do sistema global

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Aula 03
Declaração Universal de Direitos Humanos; Aspectos relevantes de tratados do sistema global; Formação e estrutura do
sistema interamericano; Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH); Corte Interamericana de Direitos Humanos

9. Declaração Universal de Direitos Humanos

10. Aspectos relevantes de tratados do sistema global

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@dicasexconcurseira 246
11. Formação e estrutura do sistema interamericano

12. Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)

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13. Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH)

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@dicasexconcurseira 249
Aula 04
Defensores Interamericanos; Tratados do sistema interamericano mencionados no edital; O controle de convencionalidade; A
execução de decisões oriundas de tribunais internacionais de direitos humanos no Brasil

14. Defensores Interamericanos

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15. Tratados do sistema interamericano mencionados no edital

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16. O controle de convencionalidade

17. A execução de decisões oriundas de tribunais de direitos humanos no Brasil

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