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volume ii
VI SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS
HUMANOS FUNDAMENTAIS
LOCAL:
ORGANIZAÇÃO:
APOIADORES:
A Comissão Executiva será presidida pelos Professores Dra. Célia Barbosa Abreu, Fábio Carvalho
Alex Assis de Mendonça; Alexander Seixas da Costa; Eduardo Langoni de Oliveira Filho; Fabíola
Vianna Morais; Fernanda Franklin Seixas Arakaki; Iara Duque Soares; João Pedro Schuab Stangari
Silva; Joyce Abreu de Lira; Karina Abreu Freire; Laércio Melo Martins; Leonardo Martins Costa;
Natália Costa Polastri Lima; Natália Silveira Alves; Pedro Paulo Carneiro Gasparri, Rafael Bitencourt
Carvalhaes; Rebeca Cordeiro da Rocha Mota; Rinara Coimbra de Morais; Renata Meda; Rosana
Maria de Moraes e Silva Antunes; Tatiana Fernandes; Tauã Lima Verdan Rangel, Thiago Villar
Figueiredo.
SUMÁRIO
Apresentação .............................................................................................................. 10
Célia Barbosa Abreu, Manoel Messias Peixinho & Fábio Carvalho Leite
Cárcere e pandemia: ações e omissões dos Estados e do Governo Federal .... 124
Crislaine Matos Santos, Letícia Rocha Santos & Renata Santos da Cruz
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Elementos para uma crítica dialética do direito do trabalho brasileiro .......... 972
Victor Araújo Presa Rios, Fernando Gabriel Lopes Cavalcante & Victor Bastos
dos Reis Pereira
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
APRESENTAÇÃO
os temas dos grupos de trabalho operantes nos eventos acima destacados, quais
Coordenação Geral
Célia Barbosa Abreu
Manoel Messias Peixinho
Fábio Carvalho Leite
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ÚNICO DE SAÚDE
RESUMO
A pandemia pelo novo coronavírus, iniciada na China, em novembro de 2019, está fazendo o mundo
todo se curvar a um poderoso inimigo invisível, capaz de colocar toda a humanidade em risco de
não continuar mais existindo, gerando uma grave crise humanitária, com reflexos nos direitos
sociais, culturais e em toda a atividade econômica, o que, por si só, já revela a relevância jurídica e
social do tema. A nossa hipótese é a de que o SUS, sendo fortalecido, respeitado e concretizado
conforme as diretrizes constitucionais estabelecidas, é um sistema suficiente e apto para enfrentar
esse problema e outros que no futuro possam vir a acontecer. No Brasil, o direito fundamental à
saúde está fundamentado na cidadania, na democracia e na dignidade da pessoa humana, o que faz
desse direito subjetivo do cidadão um dever fundamental do Estado, conforme explicitamente
previsto no texto da nossa Constituição Cidadã. Este artigo visa discutir o SUS diante de todo esse
quadro de saúde pública atual, apontando suas fragilidades estruturais e a responsabilidade do
Estado no seu fortalecimento, de modo a assegurar a todos o direito universal e integral à saúde e,
consequentemente, à vida – e vida com dignidade. Ao mesmo tempo em que procura apontar a
importância do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) para esse fim. A pesquisa vai se
desenvolver utilizando, especialmente, os métodos exegético, interpretativo e jurídico-doutrinal,
além de uma vasta pesquisa bibliográfica sobre o tema, tendo como marco legal a Constituição
Federal de 1988. A pesquisa tem por objetivo revelar o SUS como um sistema público de saúde
apropriado para o enfrentamento de uma crise humanitária de saúde pública, como a que agora
estamos vivendo, apesar de todas as suas deficiências - todas elas absolutamente possíveis de serem
sanadas a partir de decisões acertadas de políticas públicas de saúde; ou seja, todas elas dependentes
de uma vontade política de fazer acontecer aquilo que é necessário e urgente neste momento crítico
e também após vencermos essa pandemia pelo novo coronavírus.
Palavras-chave: Pandemia pelo novo coronavírus; Sistema Único de Saúde; Cidadania; Dignidade
da Pessoa Humana; Direito à Saúde.
ABSTRACT
The pandemic for the new coronavirus, which started in China in November 2019, is making the
whole world bow to a powerful invisible enemy, capable of putting all of humanity at risk of not
1
Advogado, Médico, Professor da Faculdade de Medicina da UFF, Especialização em Medicina do Trabalho
(UFF) e em Direito Processual Civil (UFF), Mestre em Justiça Administrativa (UFF), Doutor em Direitos,
Instituições e Negócios (UFF), E-mail: wladuff.huap@gmail.com; http://lattes.cnpq.br/6529572400662383
2
Médica, Instituto Nacional do Câncer (INCA – HC1), Hospital Federal do Andaraí, Hospital São Vicente de
Paulo (RJ), E-mail: valdilenecardoso@gmail.com; http://lattes,cnpq.br/2280683499165153
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Advogada, E-mail: marisanguedo@gmail.com; http://lattes.cnpq.br/4514418222978476
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continuing to exist, generating a serious humanitarian crisis, with reflexes in social, cultural rights
and in all economic activity, which, in itself, already reveals the legal and social relevance of the
theme. Our hypothesis is that the SUS, being strengthened, respected and implemented according
to the established constitutional guidelines, is a sufficient and apt system to face this problem and
others that may happen in the future. In Brazil, the fundamental right to health is based on
citizenship, democracy and the dignity of the human person, which makes this subjective right of
the citizen a fundamental duty of the State, as explicitly provided for in the text of our Citizen
Constitution. This article aims to discuss SUS in the face of this current public health situation,
pointing out its structural weaknesses and the State's responsibility in strengthening it, in order to
ensure the universal and integral right to health and, consequently, to life - and life with dignity. At
the same time it seeks to point out the importance of the Economic-Industrial Health Complex (CEIS)
for this purpose. The research will be developed using, especially, exegetical, interpretative and
legal-doctrinal methods, in addition to extensive bibliographic research on the subject, having the
1988 Federal Constitution as a legal framework. The research aims to reveal SUS as an appropriate
public health system to face a humanitarian public health crisis, such as the one we are now
experiencing, despite all its deficiencies - all of which are absolutely possible to be remedied from.
correct decisions of public health policies; that is, all of them dependent on a political will to make
what is necessary and urgent happen at this critical moment and also after we overcome this
pandemic by the new coronavirus.
Key-Words: Pandemic by the new coronavirus; Health Unic System; Citizenship; Dignity of human
person; Right to health.
INTRODUÇÃO
de doença respiratória causada pelo novo coronavírus, tendo como hospedeiro uma
identificado uma nova doença provocada por um novo vírus (Covid-19). No dia
esse vírus.
No dia 11/03/2020, a OMS declarou que estava em curso uma pandemia (uma
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e óbitos (taxa de mortalidade de 3,4%) provocados por essa doença infecciosa viral.
de internações e óbitos.
Para o enfrentamento dessa pandemia, o Brasil conta com o seu Sistema Único
de Saúde (SUS), em todos os seus níveis de assistência, bem como, em muito menor
conta, com a rede privada de saúde; tendo sempre em mente que cerca 25% dos
brasileiros possuem planos privados de saúde, o que revela que cerca de 75% dos
brasileiros só têm o SUS para se socorrer. Todavia, considerando que muitos dos
comparação com outros países no que se refere aos investimentos públicos (e não
de 1970 e 1980, tendo uma natureza jurídica plural. Desse modo, ele é muito mais
Sendo assim, ele se revela no rol das cláusulas pétreas constitucionais (SOARES,
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PRONKO, 2015).
170 da nossa Carta Magna, já que ele se constitui em uma política pública (social e
econômica) posta a serviço do cidadão para contribuir para uma existência digna e
não tem sido fácil. E isto por inúmeras razões: algumas bem-identificadas, outras
afirmava a saúde como um direito social universal, igual e integral para todos,
(artigos. 196 e 197 da CRFB/88). Mais do que isto, a Constituição afirmava que a
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neste conflito, alguns internos e outros externos, de modo que o embate político se
disso, este grupo economicamente mais forte sempre se manteve mais presente no
desastrosamente negligenciada.
a se aprofundar cada vez mais, haja vista que o modelo neoliberal de saúde não se
temporários para o setor; leitos privados contratados pelo SUS foram sendo
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Brasil jamais chegou a alcançar a média do valor aplicado pelos países membros da
ONU (Organização das Nações Unidas), sendo inferior até mesmo com relação a
pública sanitária quanto à gestão e execução das ações e serviços públicos de saúde,
gerando uma fragmentação da sua gestão e da sua execução, que passaram a ser
conduzidas sob uma lógica privada de gastos, e não mais sob uma lógica pública de
cuja lei federal que autorizou a sua criação pelo Poder Executivo encontra-se, hoje,
4895) proposta pela Procuradoria Geral da República. Com isso, por contrato, houve
Públicas Federais para essa empresa (EBSERH), promovendo a perda do seu caráter
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Em 2013, foi criado o Programa Mais Médicos, que trouxe para o país milhares
não somente nos lugares mais distantes do país, mas também nas grandes cidades
e grandes centros urbanos, por critérios muitas vezes políticos, remunerados muito
estaria garantido.
Contudo, esse Programa não foi acompanhado de uma política pública efetiva
atuar, de modo que toda uma infraestrutura de saúde necessária à boa prática da
medicina deixou de ser criada, ficando esses médicos de mãos atadas para resolver
lugares aonde não existiam médicos, o Programa Mais Médicos trouxe alguns
avanços, pelo menos com relação às consultas médicas, que antes não existiam,
do sistema.
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Público de Saúde, a tal ponto que hoje é possível reconhecer uma grave crise no
setor, cuja principal causa é de foro político, já que o caos atualmente estabelecido é
dos seus estudantes; redução do quadro de pessoal; falta de kits de laboratório para
ambulâncias etc.
saúde, como se este fosse o seu maior problema. Pois nem de longe é. Bom para
aqueles empresários que vendem essas máquinas para o governo, e bom para
Esta situação fez com que, entre 2010 e 2018, houvesse uma redução de 34.200
menos por dia – dados esses levantados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)
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em 2018. Como justificar isso se a população cresce dia após dia? No Distrito
Federal, por exemplo, foram desativados, nesse período, 20% dos leitos hospitalares
superlotados de pacientes, nem sempre deitados sobre uma maca de hospital, mas
muitas vezes sentados em cadeiras (às vezes, cadeiras de praia) trazidas por
familiares, quando não estão, em alguns momentos, deitados no chão sobre um fino
Intensiva), morrem sem ter a chance de receber uma assistência médica adequada
Em 2017, estudo feito pelo Conselho Federal de Medicina concluiu que havia
900.000 (novecentos mil) pacientes na fila do SUS, em todo o Brasil, à espera de uma
pandemia pelo novo coronavírus, cirurgias eletivas foram suspensas, de modo que,
ainda maior.
porque não há como regular aquilo que não se tem: número suficiente de leitos
Enquanto houver vida haverá doenças. Enquanto não houver leitos hospitalares
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Nesse cenário de guerra, aumenta cada dia mais o número de ações judiciais
contra o SUS, lutando o cidadão pelo exercício do seu direito fundamental à saúde,
o que gera um gasto público, cada ano mais elevado, com esse fenômeno da
serem realizados no exterior, mas sim com relação àquilo que o SUS tem o dever
etc.
evitaria muitos desvios de verbas públicas causados pela corrupção: uma corrupção
sempre público-privada.
ano para outro, não terão aumento real, passando tão-somente a incorporar a
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Isso está trazendo grave repercussão negativa para a saúde pública brasileira,
da população mais pobre deste nosso país. Isso porque a população brasileira não
acesso da população ao Sistema, fazendo com que o SUS perca a sua identidade de
Mesmo aqueles pacientes que já estão internados não estão salvos dessa
insumos básicos nos hospitais públicos, tais como gazes, esparadrapo, equipo de
quando conseguem o leito, a cirurgia é postergada por falta até mesmo de roupas
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protocolo tem que ser interrompido porque o quimioterápico está em falta; quando
cuidados paliativos. E assim vai sendo cumprida uma triste e dolorosa sina por
dezembro de 2017, às 19h, foi mostrado que no Distrito Federal – ou seja, na capital
do país – os pacientes diagnosticados com câncer chegam a ficar até um ano à espera
sistema em si, mas sim pela forma como o sistema vem sendo negligenciado e
O mesmo acontece com relação aos pacientes que precisam de uma cirurgia
ortopédica para colocação de prótese. Chegam a ficar anos na fila de espera. Muitos
morrem sem conseguir realizar a cirurgia. Mas também com relação a outros
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
pediatras, clínicos gerais etc. Não é raro que em certas unidades de saúde –
médico para atender toda a demanda que chega e rever aqueles pacientes que ali já
valorizado.
sua primeira página, com o seguinte título: “País reduziu em 33% verba para
anos, com surtos epidêmicos de inúmeras doenças transmitidas por insetos, tais
como febre amarela, dengue e outras arboviroses. Mais do que isso, vacinas, as mais
diversas, começaram a faltar nas Unidades Básicas de Saúde. Por isso, em março de
2019, a Organização Mundial de Saúde declarou que o Brasil perdeu o status de país
sempre a população mais pobre quem mais sofre com essas políticas inconsequentes
profissionais de saúde são a face para levar o tapa, enquanto os gestores públicos e
privados dormem tranquilamente e transferem suas culpas (ou seriam dolos) para
aqueles servidores públicos que estão no front dos acontecimentos e que são tão
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vítimas quanto os pacientes. E essas agressões, algumas vezes, são instigadas pelo
próprio Poder Público através de um dos seus agentes com posto de autoridade. E
colonoscopia para esclarecimento diagnóstico, podem levar vários mais meses para
que o exame seja realizado. Se a causa for um tumor maligno (um câncer), a doença
mesmo é possível afirmar com relação a outras doenças infecciosas, tais como, por
digestiva alta de emergência, tanto para diagnóstico quanto para terapêutica, mas o
fazem o exame porque não existe esse aparelho na unidade de saúde aonde eles
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todos os níveis do SUS, inclusive nos antigos Hospitais Universitários – que hoje
Nesse sentido, estudo realizado pela própria Câmara Federal concluiu que o
quatro bilhões de reais). Soma-se a isso o fato de o Governo ter aprovado o aumento
(ANANIAS, 2016).
O que se observou nos últimos anos, como regra geral, foi que a DRU se deu
que até 80% dos 20% autorizados para desvinculação foi retirado deste setor
1988. Esta política equivocada de recursos humanos costuma ser justificada pelos
e o não reconhecimento da carreira dos servidores públicos da saúde (do SUS) como
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aproximada observada nos demais países da América Latina. Por outro lado, nos
países desenvolvidos este percentual costuma ser quase o dobro, com média de
os países da OCDE está em 21%. Em países que adotam o tipo universal de sistema
de saúde, tais como a Dinamarca, Suécia, França e Reino Unido, esses índices
intensiva de 1:10, o que, ao nosso ver, parece mais uma relação baseada mais em
Segundo o CFM, em 2018, o Brasil contava com 21,8 médicos para cada 10.000
sudeste conta com 26 médicos para cada 10.000 habitantes, a região nordeste conta
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93,1% dos médicos estão localizados na capital Manaus. Com relação ao Estado de
Sergipe, 91,8% dos médicos trabalham na capital Aracaju. Isso fere o Princípio
orçamento público brasileiro no que diz respeito aos gastos públicos com saúde,
bem como quando comparamos esses gastos com outros países que também adotam
o sistema público universal de saúde. Enquanto entre todos os países que compõem
a ONU a média de gastos públicos com saúde é de 11,7% do PIB (Produto Interno
Bruto), em 2018, o Brasil, que dispõe de uma saúde pública de caráter universal,
Américas, a média é de 13,6%; na Europa, esse índice está em 13,2%. Na Suíça, essa
Unido gasta 9,9%, mesmo índice da média de gastos dos países africanos no
Distrito Federal e Municípios), enquanto que no Reino Unido e Canadá – países com
público em saúde no Brasil alcançava US$ 334 (trezentos e trinta e quatro dólares)
por pessoa. No Reino Unido, comumente citado pelos gestores brasileiros como
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saúde foi dez vezes o valor aplicado por aqui: US$ 3.500 (três mil e quinhentos
(US$ 3.178); Canadá (US$ 3.315); Espanha (US$ 1.672); e até Argentina (US$ 713)
aplicam mais que o Brasil. Desse modo, é possível reconhecer que esse valor gasto
pelo Brasil, por pessoa, no SUS, tem sido insuficiente para responder às demandas
habitantes, o Brasil conta com 19,5 leitos/10.000 habitantes (CNS, FBH, 2019). Cuba
Saúde), do portal Datasus, dos 5.570 municípios brasileiros, somente 521 destes
municípios contam com leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Desse modo,
5.049 municípios têm que transferir para aqueles 521 municípios todos os seus
O Brasil possui 122 municípios fronteiriços. Destes, 25% deles não dispõem de
habitantes, sendo que o SUS possui 44% desses leitos de UTI, apesar de 75% da
população brasileira contar somente com o SUS para a sua assistência em saúde
(AMIB, 2016).
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atualizados dia após dia, são fundamentais para uma correta análise
Isso faz com que o país caminhe no desconhecido, colocando a população em risco
SUS, atuando no comando da pasta como interino, o que faz do Brasil um dos
de tão grave problema de saúde pública global. Além disso, não há nem mesmo a
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infectados e óbitos pela doença, já que não dispomos, ainda, de uma vacina contra
essa doença. Há, desse modo, uma irresponsabilidade pública deste atual governo
Fundação Getúlio Vargas, revelou que 54% dos médicos, 58% dos enfermeiros e
treinamento para lidar com essa pandemia. Esse mesmo estudo também revelou
que 37% dos médicos, 47% dos enfermeiros e 80% dos agentes de saúde e combate
certeza, é um dos fatores que contribui para que, hoje, o Brasil seja o país com o
Atualmente, existem 770 leitos vazios nos hospitais federais do Rio de Janeiro,
concursos públicos pelo Ministério da Saúde – uma clara violação dos Princípios
covid-19 irão evoluir com formas graves da doença e que até 8% dos pacientes
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
1988, na Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/90) e na Lei nº 8.142/90). E temos o SUS
real: aquele concretizado no mundo da vida, muitas vezes ferindo a sua própria
legalidade.
pelos Ministros do STF, que, muitas vezes, parece ter mais compromissos com o
STF está escrevendo uma nova Constituição, sem ter legitimidade para isto. E isso
domiciliar per capta nominal mensal é de R$ 1.439, 00. No final de 2016, o Brasil
voltou a ocupar lugar no Mapa da Fome da ONU, sendo que a proporção de pessoas
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acumulação de capital.
diminuição das desigualdades sociais, mas também porque ele se revela como um
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que pode, certamente, contribuir para uma melhora do Produto Interno Bruto (PIB)
nacional.
48).
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intervenção do Estado. Além disso, o seu marco teórico destaca o uso do poder de
TEMPORÃO, p. 1896).
O instrumento, em 2008, concebido para esse fim foi o das “Parcerias para o
área, o que mantém a nossa dependência externa para muitos insumos, materiais e
CONSIDERAÇÕES FINAIS
subfinanciamento e dos ataques frequentes que vem sofrendo desde a sua criação,
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imprensa e do Banco Mundial. Tudo isso acaba por fragilizar todo o sistema, a tal
ponto de colocar em risco até mesmo os profissionais da saúde que estão no front
que atuam no sistema, inclusive aqueles das Universidades Públicas com atuação
na área da saúde.
REFERÊNCIAS
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Patrus Ananias. Jornal Leopoldinense, 01/10/2016. Disponível em:
http://leopoldinense.com.br/noticia/9193/sus-vai-perder-r-654-bilhoes-com-
congelamento-de-gastos-diz-patrus-ananias Acesso em: 29/12/2017.
ASENSI, Felipe. Sistema Único de Saúde: Lei 8.080/1990 e Legislação Correlata. Rio de
Janeiro: Aluminus, 2015.
BATISTA, Flávio Roberto; SILVA, Júlia Lenzi (orgs.) A Previdência Social dos
Servidores Públicos. Direito, Política e Orçamento. Curitiba: Kaygangue, 2018.
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http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=27430:2
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2018-07-12-14-05-59&tmpl=component&print=1&layout=default. Acesso em
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CANCIAN, Natália. SUS perde 23 mil leitos hospitalares em 5 anos, diz Conselho
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CORONAVÍRUS
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo abordar a crescente vulnerabilidade dos países
latino-americanos frente à crise global de saúde pública, causada pelo novo coronavírus,
haja vista que nesse contexto, abre-se espaço para graves violações aos direitos
fundamentais, sendo que a pesquisa coloca em foco a discussão das lesões aos direitos de
segunda dimensão. Em razão disso, pretende-se realizar uma análise do cenário enfrentado
pela América Latina, com a intenção de apontar possíveis soluções dentro do ordenamento
jurídico internacional para população mais afetada, apontando medidas, como o empenho
da cooperação internacional, que visem assegurar os direitos fundamentais dos indivíduos
vulneráveis. Para tanto, o presente estudo será desenvolvido a partir da metodologia
indutiva, por meio de uma abordagem qualitativa de bibliografias e revisões documentais,
tendo como premissa que os direitos fundamentais como normas obrigatórias difundidas
em âmbito internacional são resultado de uma evolução histórica, tratando-se do núcleo
duro da proteção da dignidade da pessoa humana, que deve ser assegurada por meio de
direitos sociais e individuais.
ABSTRACT
The present paper aims to analyze the growing vulnerability of Latin American countries
in the face of the global public health crisis, caused by the new coronavirus, given that in
this context, there is room for serious violations of fundamental rights, and the research
4
Mestranda em Direito pela Faculdade Nacional de Direito (UFRJ), integrante do Grupo de Pesquisa de Direito
Internacional da UFRJ. E-mail: rinaracoimbra@ufrj.br. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2506831914115923
5
Graduanda pela Faculdade Nacional de Direito (UFRJ), integrante do Grupo de Pesquisa de Direito
Internacional da UFRJ, integrante do Laboratório de Estudos e Pesquisas Avançadas em Direito Internacional
e Ambiental e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). E-mail:
laysserpa97@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7742598562229628
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
places focus on the discussion of the rules on second dimension rights. As a result, it is
intended to conduct an analysis of the scenario faced by Latin America, with the intention
of pointing out possible solutions within the international legal system for the most affected
population, measures, such as the intended commitment of international cooperation,
aimed at protecting fundamental rights of the vulnerable individuals. To this end, the
present study will be developed from the inductive methodology, through a qualitative
approach of bibliographies and documentary reviews, based on the assumption that
fundamental rights as mandatory norms disseminated at the international level are the
result of a historical evolution, dealing with the axis of protection of the dignity of the
human person, which must be ensured through social and individual rights.
1 INTRODUÇÃO
é usualmente incompreendida:
pobreza e por situações deploráveis, torna-se cada vez mais marginalizado, o que,
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Explicar esta condição não é tarefa fácil, posto que não há definição unívoca
Para este estudo, será considera a definição de Abramovay et al. (2002), que
serviços públicos.”.
sistemas de saúde, no acesso à água potável e segura, no abandono das áreas rurais,
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vulnerabilidade.
mesma nação, à vista da relação de poder que se imprime no dado liame. Nessa
esteira, a pobreza pode ser caracterizada em razão de “salários mais baixos, piores
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populacional à margem, todos os países da região sofrem com esse fator. Podendo
direitos sociais intrínsecos aos indivíduos, chamados positivos, dentre eles o acesso
efetivamente assegurados.
uma com sua peculiaridade. Dessa maneira, a evolução histórica dos direitos
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limitar o poder estatal, afastando assim eventuais abusos de poder, por meio da
Embora o contexto à época pregasse reivindicações políticas, tal como a luta por
6
Também conhecido como Declaração de Direitos de Virgínia, trata-se de carta estadunidense que se insere
na luta pela independência norte-americana. Versa sobre direitos que devem ser considerados enquanto
fundamento e base do governo.
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hoje, tal como “o gozo da vida e da liberdade com os meios (...) de buscar e obter
Independência dos Estados Unidos, de 04/07/1776, carta cuja tônica majoritária foi
seguinte forma:
que se referiu aos Direitos Humanos, assim como qualquer outra garantia
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
(1998, p. 393):
seu texto direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais. O caráter universal
diz respeito à grandeza das garantias fundamentais, “sob a crença de que a condição
À vista disso, pode-se perceber a unidade entre os direitos, bem como seu
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
correta ou que um determinado modo de agir é bom para todos, eles devem tornar
Não obstante exista a “concepção das três (ou quatro, se assim preferirmos)
preservando assim a dignidade da pessoa humana. Por esta razão, Souza (2010, p.
qualidade de vida das pessoas”, não obstante compreenda “os direitos sociais,
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dimensão
Ou seja, a atuação do Estado não é negada, mas pelo contrário, “exige-se dele
para isso, inexiste, “(...) outro caminho senão reconhecer o estado atual de
último cumpra a tarefa igualitária e distributiva, sem a qual não haverá democracia
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vista disso, especial olhar deve ser destinado à população latino-americana: a região
que engloba vinte países é uma das mais desiguais do planeta, sendo amplamente
conhecida pelas degradantes situações em que uma parcela dos indivíduos locais se
encontra inserida.
Nessa esteira, um estudo desenvolvido pelo New York Times (2020) buscou
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de água potável e segura, deficientes sistemas de esgoto, abandono das áreas rurais
19. São eles: a população de “baixa e média renda, idosos, povos indígenas,
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ela. Não obstante, foi possível constatar o compromisso firmado pela Corte
Para bem cumprir com tais obrigações, a Corte externou ser um dever dos
saúde e aos bens e serviços deve ser feito de forma igualitária, com o intuito de
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novo cornavírus não reconhece barreiras, tais como limites fronteiriços, soberanias
o que gerou mudanças abruptas no cenário geopolítico do mundo. Por essa razão,
objetivo.
global em exercer uma ajuda mútua, pode ser um forte aliado na mitigação de
Artigo XXII
Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à
segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela
cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos
de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais
indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua
personalidade. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1948) [grifo
nosso]
passo em que se pauta no “respeito aos direitos humanos e estabelece as bases para
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apesar de se assemelhar com uma dimensão utópica, não deixa de ser pragmática.
orientar as ações dos sujeitos internacionais, visto que se relaciona com promoção
2020, p. 7):
imprescindível:
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Assim, é possível inferir que as medidas de adoção recomendadas pela Corte devem
destinar em sua abordagem especial foco aos Direitos Humanos, seja no âmbito das
“tal como o acesso a água potável, acesso a alimentação nutritiva, acesso a meios de
integração dos serviços públicos de saúde.” (CIDH, 2020, p. 9). Não obstante, é
necessário garantir uma proteção social eficaz, “incluindo, mas não se limitando, à
acentuando, dentre outros índices, a pobreza, fator que ao longo de 2020 deve
3 CONCLUSÃO
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que os efeitos da crise produzem maiores impactos no curto, médio e longo prazo
danos.
das áreas rurais, nas condições de trabalho, na superlotação de favelas e nos níveis
direitos sociais intrínsecos aos indivíduos, chamados positivos, dentre eles o acesso
outros.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
bem como ao sistema global –, enseja ações coletivas, com o propósito de enfrentar
como a cooptação dos dois primeiros ideais, ao passo em que motiva uma postura
não indiferente das nações diante das copiosas e adversas situações que se
alicerces, será possível caminhar rumo à uma sociedade global mais igualitária,
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
REFERÊNCIAS
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BULOS, Uadi Lamnêgo. Curso de direito constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva,
2014.
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SOUZA, Jadir Cirqueira de. Curso de Direito Constitucional. São Paulo. Pillares,
2010.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
A pesquisa possui o objetivo de analisar os institutos jurídicos da renda básica temporária
e do auxílio emergencial, além da sua relação com os trabalhadores ambulantes da cidade
de Niterói. Nessa conjuntura, são levantadas questões acerca da vinculação dos
trabalhadores ambulantes da cidade à Secretaria de Ordem Pública, além do caráter
desigual de tratamento ao microempreendedor individual como comerciante. Os métodos
utilizados são o de pesquisa documental, análise bibliográfica e estudo de caso. As
conclusões apontam que a falta de acesso à informação, burocracia e falhas nos mecanismos
de seleção dos beneficiários se constituíram como verdadeiras barreiras de acesso aos
auxílios municipal e federal.
ABSTRACT
The research aims to analyze the legal institutes of “renda básica temporária” and “auxílio
emergencial”, plus its relationship with street workers in the city of Niterói. At this juncture,
issues are raised about the linkage between street workers in the city and the “Secretaria de
Ordem Pública”, in addition to the unequal nature of treatment of individual micro-
entrepreneurs as merchants. The methods used are documentary research, bibliographic
analysis and case study. The conclusions points that the lack of access to information,
bureaucracy and failures in the mechanisms of selection of beneficiaries constituted real
barriers to access municipal and federal aid.
7
Graduando em Direito na UFF. Email para contato: diogopaiva@id.uff.br – Lattes:
http://lattes.cnpq.br/6741593007501950
8
Mestrando em Sociologia e Direito no PPGSD (Programa de Pós Graduação em Sociologia e Direito) - UFF.
Email para contato: thiagojosesilva@id.uff.br – Lattes: http://lattes.cnpq.br/8321739271668553
9
Bacharel em Segurança Pública na UFF e graduanda em Relações Internacionais na UFF. E-mail para contato:
dudadrumond2013@gmail.com – Lattes: http://lattes.cnpq.br/8321739271668553
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
INTRODUÇÃO
uso de álcool em gel, entre outras medidas. O Município de Niterói está entre eles,
do dia 11 ao 20 de Maio.
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R$600,00 (seiscentos reais) às famílias que se enquadrem nos requisitos da lei, entre
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brasileira.
são assim chamados pois a licença concedida pela da prefeitura prevê que seu local
Por outro lado, os “perde e ganha” são assim chamados pois não possuem
tipo de atividade. Esta licença, concedida pela Prefeitura de Niterói por meio da
site da instituição, sendo que os últimos datam de 2015. Tendo em conta a limitação
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mercadoria apreendida, e com isso, perder a renda esperada com as vendas do dia.
eventos da cidade e falam sobre a hostilidade dos lojistas. Por outro lado, os “perde
e ganha” possuem como principal pleito uma relação mais pacífica com o poder
de pessoas, e, com o isolamento social, se viram sem alternativas para exercer o seu
ofício. Com isso, a principal demanda dos dois grupos foi unificada em uma só voz:
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
DE PANDEMIA
visam assegurar garantias e liberdades básicas para todos os cidadãos. Estes direitos
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consideração de alguns doutrinadores que vão além, como Paulo Bonavides, que
pessoas estão tendo direitos fundamentais como o direito à saúde e o direito à vida
conflito de competência, que acabou sendo resolvido pelo STF na ADI 6343 10 ,
10
Esta ação direta de inconstitucionalidade suspendeu parcialmente as medidas provisórias 926/2020 e
927/2020, decidindo que Estados e Municípios, dentro da sua competência e território, podem adotar medidas
de restrição à locomoção durante o estado de emergência causado pela pandemia. Para mais informações:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=442816
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setores. O declínio de renda dos cidadãos proporcionado por esses fatores coloca
água.
“uma renda paga por uma comunidade política a todos os seus membros
de pressupostos.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
dados oficiais. Ressalta-se que tal número é mais do que a metade da população
forma a apontar o seu recente histórico de aprovação, bem como os requisitos para
a obtenção do benefício.
renda básica temporária foi instituída pela Lei 3.480, de 31 de março de 2020,
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
O Projeto de Lei nº 00044/2020, que regula o auxílio, foi submetido pelo prefeito
tornando na Lei 3480/2020. A renda básica também é regulada pela Lei 3488/2020 e
o Decreto 13541/2020.
população que teve seu sustento diretamente afetado. A renda básica temporária,
inicialmente prevista por 3 (três) meses, será prorrogada até o mês de dezembro,
benefício é único por família, e para recebê-lo, o cidadão tem que fazer parte do
Cadastro Único dos Programas Sociais ou ter ao menos um filho matriculado nas
escolas da rede pública de ensino municipal. O auxílio é dado por meios de cartões
são distribuídos em diversos pontos da cidade, de acordo com critérios como inicial
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
AUXÍLIO EMERGENCIAL
de R$500,00 (quinhentos reais), anunciado pelo relator do projeto, Marcelo Aro (PP-
MG) e pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Após este anúncio, o
governo federal no mesmo dia afirma que aceitaria pagar o valor de R$600,00
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(seiscentos reais) por vale, tentando evitar uma derrota. Com isso o texto foi
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Esta lei é regulamentada pelo Decreto 10.316, de 07/04/2020, que dispõe, entre
13.998/2020, que trouxe algumas alterações na lei, além do Decreto 10.412/2020, que
prorrogou o auxílio por mais dois meses, cobrindo os meses de Julho e Agosto.
Para obter o auxílio emergencial, deve ser feita uma solicitação via aplicativo
indicar uma conta pessoal para depósito, e caso não indique, terá uma conta
poupança social criada em seu nome caso tenha o auxílio aprovado. Caso tenha o
Em determinados casos, em que o sistema acusa que o cidadão não pode receber o
fossem contemplados pelo benefício, vez que estes são vinculadas à SEOP
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Mello (2004) questiona “onde estaria, afinal, o bom senso no meio de tamanha
Drumond (2019)
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
interrompidas e por essa razão teve a promessa da prefeitura que receberia o auxílio
Niterói. Este problema foi identificado pela ação extensionista do UFF nas Ruas, que
imediatamente buscou meios para dar visibilidade ao problema, bem como auxiliar
a categoria no acesso aos seus direitos, cerceados por um mal entendido ocasionado
que posteriormente beneficiou outras categorias que também haviam ficado de fora,
como o caso dos taxistas e outros profissionais, através do programa “Busca Ativa”.
emergencial do governo federal foi marcado, em todo o país, por polêmicas. Seja
pelos indícios de fraude, em que pessoas que não faziam jus ao benefício estariam
recebendo, seja também pela quantidade de pessoas que estariam tendo seu
problemas, estava a grande demora na análise dos pedidos, a recusa indevida e até
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
A maior parte dos problemas pôde ser resolvida com o aconselhamento ou pela
casos, 3 (três) ambulantes tiveram decisão favorável pela concessão do auxílio, por
depositado nas contas por decisão judicial vem sendo dificultado, tendo em conta
outras variantes que possam ter impacto na performance individual. Esse discurso
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
suprimida pela condição do CNPJ e pelo pagamento dos devidos tributos. Desse
modo, o MEI age como um forte aspecto ideológico nessas pessoas, pois a partir
da renda básica temporária cidade de Niterói, pois mesmo esse recurso sendo
outros MEI’s e com os próprios artesãos, são vistos como um problema de ordem
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
teórico para argumentar em favor de si. Uma prática histórica e enraizada, conforme
MEI, uma vez que antes da paralisação das atividades muitos ambulantes
outras atividades econômicas formais. Assim, foi possível que os camelôs não
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
burocracia nas ações dos Governos Municipal e Federal na vida dos ambulantes do
amplamente noticiados.
“instituições parceiras”, uma vez que entre a data do débito em conta até a data do
legais para terem acesso ao benefício não foram contemplados, pois não estavam
estipula não apenas uma concepção política em tratar o comércio ambulante, não
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como uma atividade econômica, mas sim como um problema de ordem pública e
urbana.
nenhum tipo de prazo para acabar, vão se estender além da doença causada. É
dos entes federativos, devem ser debatidas alternativas que permitam a garantia
dos direitos sociais e econômicos de forma integrada, de modo que não seja
REFERÊNCIAS
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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79
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80
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO:
O presente artigo reflete sobre a efetivação do fim constitucional de diminuição da
desigualdade regional (art. 3º, III, Constituição Federal de 1988) no tocante ao direito
fundamental à saúde, com ênfase no acesso a água tratada e ao saneamento básico nas
diferentes regiões do país e nos reflexos da omissão ou insuficiência de tais serviços no
alastramento da pandemia de Coronavírus no Brasil. Visto que um sistema bem
estruturado de saneamento possui relevância de caráter preventivo, tanto econômica
quanto socialmente, a questão sob investigação possui ainda mais significância no atual
contexto de pandemia do COVID-19, porquanto algumas das medidas de prevenção são as
de higiene oriundas do acesso a água tratada e saneamento. Para a presente pesquisa
bibliográfica, com análise quanti-qualitativa, utiliza-se o método documental a fim de
levantar dados secundários pertinentes a todas as regiões do Brasil. Verificou-se que o grau
de acesso e a qualidade dos sistemas de saneamento nas diferentes regiões brasileiras
demonstra de logo uma acachapante desigualdade regional em relação à existência e
qualidade dos serviços, tão essenciais como medida de saúde pública. Ainda, a análise
sobre o Novo Marco do Saneamento, sancionado em junho de 2020, revelou novas
ferramentas a fim de renovar as esperanças a nível nacional para a resolução do déficit
causado pela ineficiência de políticas federais e estaduais anteriores. A conclusão alcançada
é no sentido de que o déficit do saneamento básico e a grande desigualdade regional de
acesso e qualidade impactam negativamente os efeitos da pandemia de COVID-19 no Brasil
e os investimentos e ferramentas do novo Sistema encontram um grande desafio para
prevenir epidemias e pandemias.
11
Mestre em Direito Público pela UFBA. Professor Assistente de Direito na Universidade Estadual de Santa
Cruz – UESC. pganjos@uesc.br. http://lattes.cnpq.br/2632734443526649
12
Graduanda em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz. joy05kly@gmail.com.
http://lattes.cnpq.br/3431441834221914
13
Graduanda em Direito pela Universidade Estadual de Santa Cruz. caessaferreira@gmail.com.
http://lattes.cnpq.br/4767869351331043
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT:
This article reflects on the effectiveness of reducing regional inequality constitutional
objective (art. 3, III, Federal Constitution of 1988) with regard to the healthcare fundamental
right, with an emphasis on access to treated water and basic sanitation in the different Brazil
regions and the reflexes of such services omission (or insufficiency) in the spread of the
Coronavirus pandemic in Brazil. Since a well-structured sanitation system has preventive
relevance, both economically and socially, the issue under investigation is even more
significant in the current pandemic context of COVID-19, as some of the preventive
measures are those of hygiene arising from access treated water and sanitation. For a
bibliographic research, with quantitative and qualitative analysis, the documental method
is used in order to collect secondary data relevant to all regions of Brazil. It was found that
the access’ degree and the quality of the sanitation systems at different Brazilian regions
immediately demonstrates an overwhelming regional inequality in relation to the existence
and quality of services, as essential as a public healthcare measure. Still, the analysis of the
New Sanitation Framework, sanctioned in June 2020, revealed new tools in order to renew
national hopes for the resolution of the deficit caused by the inefficiency of previous federal
and state policies. The conclusion reached is that the deficit in basic sanitation and the great
regional inequality in access and quality negatively impact the effects of the pandemic of
COVID-19 in Brazil and the investments and tools of the new System face a great challenge
to prevent epidemics and pandemics.
INTRODUÇÃO
questionamentos acerca dos deveres estatais para com a prevenção dessa doença.
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quais a saúde mental dos cidadãos está a risco, com tantas restrições à liberdade de
Sabe-se, com HAN (2017, pp. 85-6), que o atual momento em uma sociedade
produtividade domiciliar (com todos os seus limites) é eleita como medida para a
própria sobrevivência (não somente para o sucesso individual), podem ser fatores
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é o caso da saúde.
VIrus Disease) trata-se de uma doença infecciosa causada pelo novo coronavírus,
seca. Em que pese se assemelhar a uma simples gripe, referida doença, até o
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confirmados do COVID-19, com cerca de 6000 óbitos, segundo dados extraídos pela
publicado em 17 de março de 2020 no Decreto nº. 19.529/20, o qual reuniu uma série
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reduzida, além daqueles cujos voos foram totalmente cancelados. No que se refere
Covid-19.
ser superficial nos planos horizontal e vertical (ANJOS; CRUZ, 2020). No plano
ações individuais). No plano vertical, versam sobre “uma dimensão bastante parcial
de todas as ações e serviços de saúde que devem ser prestadas pelo poder público”
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BRASILEIRA
diminuição da desigualdade regional (art. 3º, III), já aplicado pelo STF (2007). E, dando-
lhe maior ênfase, cabe ressaltar a desigualdade percebida quando se analisa o mal
relacionados à saúde. Não é à toa que, segundo dados divulgados em 2014 pela
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brasileiros (53,15%) não possuem acesso à coleta de esgoto e 35 milhões estão sem
Esse cenário amplia a vulnerabilidade diante de novas doenças, como a trazida pela
nos estados brasileiros entre 2001 e 2006, TEIXEIRA et al (2011) observou haver uma
situam-se entre aqueles que apresentam os maiores índices de cobertura por rede
isolamento e distanciamento social, já que tais serviços não podem ser consumidos
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Sudeste, contando com cerca dos 27 milhões de domicílios atendidos, possuía como
resultado de que enquanto as regiões Sul e Sudeste eram cobertas com 65,1% e
últimas, pois, bem abaixo da média nacional que correspondia a 65,3% de cobertura
(ABES, 2017).
ranking nacional no que tange aos domicílios que não possuem nenhuma forma de
domicílios das demais regiões, essa quantidade não ultrapassava a marca de 145.635
(cento e quarenta e cinco mil, seiscentos e trinta e cinco) residências. (ABES, 2017).
nacional, é brutal.
diferenças na existência dessa infraestrutura nos Municípios para além das regiões,
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pois se percebe uma maior existência da rede nos Municípios de maior população.
Em apenas 44% (543) dos Municípios com menos de 5.000 habitantes foi verificada
a existência de uma rede coletora de esgotos, enquanto alcançava 97,6% (41) nos
Tabela 1: Municípios, total e com serviço de esgotamento sanitário por rede coletora de esgoto,
segundo as Grandes Regiões e as classes de tamanho da população dos Municípios - 2017
Por tudo que foi analisado, é possível traçar um paralelo entre os dados
cada 100.000 habitantes na região Nordeste, e na região Norte este número atingia
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cobertura e acesso à rede de saneamento, fato que reflete sobremaneira nas taxas de
internações por doenças oriundas pela falta de saneamento básico. A região tem o
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água. Os dados do SNIS 2016 foram consultados para os cem maiores municípios
Da análise das cem maiores cidades brasileiras, tomaremos os dados das dez
cidades que tiveram as melhores avaliações no Ranking e das dez com as piores
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
T ABELA 2: RANKING DO SANEAMENTO BÁSICO 2018, DEZ MUNICÍPIOS COM OS MELHORES E PIORES ÍNDICES .
são da região Sudeste (Franca, Uberlândia, Limeira, São José dos Campos, Taubaté,
São José do Rio Preto e Uberaba), dois da região Sul (Cascavel e Maringá) e apenas
municípios mais populosos que figuram com as piores pontuações no Ranking, seis
Velho), três da região Sudeste, com destaque para o fato de que todos se localizam
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2017, houve relato de 34,7% dos 5.570 municípios brasileiros relataram casos de
Diarreia e verminoses são duas das doenças citadas com maior frequência
transmitidas pelo Aedes aegypti, cuja reprodução se dá em água parada. Tais doenças
serviço de água, dividindo por regiões. Um grupo de 2.319 Municípios (41,8% dos
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água. Nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas
2020, p. 26).
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falta de tratamento de água e esgoto, sem que lhes seja dada a garantia de
dispõe ser a saúde direito de todos, sendo dever do Estado gerir políticas sociais e
Ocorre ainda que a saúde pública do país, já afligida há muitos anos por
questão que se discute é o fato desse vírus ser ainda extremamente desconhecido e
de 2020, talvez seja o inicio para a resolução do problema, como se verá em seguida.
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Nações Unidas.
décadas não dialogaram com o perfil dos déficits dos serviços, muito pela
(BORJA, 2014).
2.077 e nº 1.842 contra leis estaduais que tentaram regular o tema (GALVÃO
JÚNIOR, 2009). Os marcos estaduais são antigos: São Paulo foi o primeiro a criar
uma política estadual, em 1992; seguido por Minas Gerais (1994), Rio Grande do Sul
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água. Por isso, o Novo Marco Legal do Saneamento Básico, recentemente aprovado
limita à instituição de regras sobre verbas, técnicas e políticas públicas, mas envolve
11.445/2007).
após licitação, nos termos do art. 175 da Constituição Federal, “vedada a sua
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da Lei nº 14.026/2020).
pequenos municípios.
estabelecido pela União nos termos do § 3º do art. 52 e formalmente criado por meio
A Nova Lei assentou que tala atividade regulatória será exercida pela
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), com novo nome, para
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(art. 52), com perspectiva de 20 anos, devendo avaliar anualmente e revisar a cada
quatro anos.
serviços até 2033, a qual pode reduzir em até R$ 1,45 bilhão os custos anuais com
como a de Coronavírus.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
demonstra estrutura bastante deficitária. Ocorre que o Estado, não bastasse sua
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política de saúde pública que vem sendo infelizmente negligenciada pelo governo
diante do parco investimento desde o século passado; que o déficit revela uma forte
Mundial de Saúde (OMS), já que são quase impassíveis de adoção por boa parte da
população do Brasil.
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água superior a 60% da população residente no estado (TEIXEIRA et al, 2011, p. 203;
percentual de 53,2%, 42,9% e 22,6% – nesta ordem –, estando essas últimas, pois,
bem abaixo da média nacional que correspondia a 65,3% de cobertura (ABES, 2017).
nacional no que tange aos domicílios que não possuem nenhuma forma de
esgotamento sanitário.
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é o caso da saúde.
no direito à Saúde.
REFERÊNCIAS
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LOPEZ, Felix Garcia et al. Mapeamento dos profissionais de saúde no Brasil: alguns
apontamentos em vista da crise sanitária da Covid-19. Nota Técnica n. 30/2020
(Diest/Ipea). Disponível em http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/9837.
Acesso em mai 2020.
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STF, Supremo Tribunal Federal. ADI nº. 6341. Relator Min. Marco Aurélio. Rel.
para o acórdão Min. Edson Facchin. DJ 15 abr 2020. DJe nº. 90 em 16 abr 2020.
STF, Supremo Tribunal Federal. ADPF nº. 672. Relator Min. Marco Aurélio. Rel.
para o acórdão Min. Edson Facchin. DJ 15 abr 2020. DJe nº. 90 em 16 abr 2020.
STF, Supremo Tribunal Federal. AI 630.997 AgR, Rel. Min. Eros Grau, j. 24-4-2007,
2ª T. DJ 18-5-2007.
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de não haver contato direto entre professor e aluno, o que poderia comprometer o
alunos acostumados com o dia a dia da sala de aula. A nova dinâmica propõe que
plataforma, postem links para outros vídeos, etc. Por outro lado, o aluno mesmo
14
Professora de Direito do IF Sudeste MG. Bacharela e mestre em Direito, doutora em Extensão Rural,
Marlene.pereira@ifsudestemg.edu.br; http://lattes.cnpq.br/4377280817505517
15
Estudante de Direito do IFSudesteMG, coutinho.ifrp@gmail.com; http://lattes.cnpq.br/0642090291878341.
16
Estudante de Direito do IFSudesteMG, sarasilveirasss4@gmail.com;
http://lattes.cnpq.br/4210246030249641.
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como ao acesso aos recursos, sejam estes equipamentos ou outros como internet de
dilema que se impôs de ter que continuar o ensino, sem agravar a situação de
exclusão.
Outra questão que emerge, nesse cenário, é relativa ao Direito envolvido nesses
tudo, ou não existe direito achado na web? Este artigo pretende refletir a respeito
direitos autorais e direito à voz e imagem das pessoas envolvidas nestas ações,
sejam professores, que estejam elaborando os materiais, mas também outras pessoas
A metodologia adotada para este estudo foi a revisão bibliográfica realizada por
EAD no Brasil.
O artigo está dividido em três partes. Na primeira, será feita uma abordagem a
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sobre o assunto. E, por fim, será proposta uma discussão a respeito da efetividade
no Brasil, é necessário estruturar um panorama histórico que vai da sua origem até
seu desenvolvimento.
(EUA). Dada essa ocasião, iniciasse seu processo de evolução. Cabe ressaltar que,
dentre eles, Alves (1994) que demarca o surgimento na Alemanha, no século XV,
Suécia, Reino Unido e Espanha. No início do século XX, essa concepção se difunde
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Até os anos 50, a EAD era feita via experiências radiofônicas, porém, com o
Na década de 70, ela foi utilizada para capacitação de professores e nos anos
seguintes ela foi se consolidando aos poucos, por meio de vários contextos
evolução.
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exponencialmente na educação.
luta contra o COVID-19. Para tanto, é importante entender como se deu essa
na perspectiva dos muitos cursos livres que foram disponibilizados por instituições
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instituições vêm adotando essa medida como forma de manter o ciclo de ensino dos
alunos e continuar o planejamento educacional. Nesse viés, cada vez mais, o EAD
Não há mais dúvida de que a internet definitivamente não é uma terra sem lei.
Nos últimos tempos, muitas normas foram criadas com a finalidade de proteger os
exclusivamente pela internet, quais são as leis que a regulamentam? Em relação aos
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presencial. O objetivo do Ministério da Educação (MEC) com este último decreto foi
ampliar a oferta de ensino superior no país para atingir a Meta 12 do Plano Nacional
DO MEC, 2017).
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), há no país 1.473 mil cursos
captação e a divulgação da imagem, houve uma gradual ampliação dos bens por ele
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
conteúdos utilizados tenham sido gravados com licenças que admitam o uso de
Aplica-se ainda a regra geral a respeito dos direitos autorais, que possui previsão
tempo, a autoria da obra e de ter seu nome vinculado à obra sempre que utilizada.
O direito patrimonial é o que se refere ao uso econômico da obra. Pode ser objeto
(ABRAMUS, 2020).
uso o qual se faz de sua obra. A lei de direitos autorais dispõe que o autor poderá:
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quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor com terceiros para uso ou
Assim tem-se que: todo conteúdo original produzido pertence ao autor. Autor é
uma pessoa física capaz de manifestar a ideia de alguma forma. Pessoas jurídicas
não podem ser autoras de materiais, mas podem ser detentoras dos direitos
COSTA, 2015).
partir do primeiro dia do ano seguinte ao da morte do autor (Art. 41, Lei 9610/1998)
Mas o autor pode, a qualquer tempo, abrir mão dos direitos patrimoniais da
obra, gravando o material com uma licença “creative commons”, conforme a qual o
material pode ser acessado sem a necessidade de autorização. Existem vários tipos
franqueadas pelo autor do material. Segundo Predevello, Rossi e Costa (2015) trata-
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clara e legal.
Não existe definição legal do que seja um pequeno trecho, mas de acordo com o
contexto familiar ou para fins didáticos, também são admitidas, desde que não
reflete uma defasagem nas previsões da lei de direitos autorais brasileira. Segundo
Vieira, Rodrigues e Barcia (2003, p.4) “um dos grandes desafios das mudanças
ferramentas e alternativas.”
Segundo Campello (2013), conhecer a Lei 9.610/98, Lei dos Direitos Autorais
a percepção de que a lei precisa ser revista. Campello (2013) destaca que deve-se
lutar por uma abertura dos direitos autorais, especificamente quando o uso das
obtenção do lucro. Para Gandelman (1997, p.152), “só a experiência e o tempo é que
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Apesar disso, não se pode pressupor que, por haver defasagens ou inadequações
preocupação com o direito autoral. Blattmann (2001. p.91) afirma que, ao contrário
disso, “o uso educacional de determinada obra intelectual não significa dar respaldo
Como lidar com isto? Os professores de todo país, que estão ministrando aulas via
EAD neste momento de pandemia estão preparados para este desafio, ou deve
VIGOR
sabem se podem usar e o quanto podem usar de tais conteúdos. As mesmas dúvidas
Autorais e este fator é responsável por grande parte do uso indevido, presente em
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Embora este seja um ponto de grande relevância dentro dessa temática, pois em
enquanto receptora das leis, que passam a reger suas vidas, mas que nem sempre
são conhecidas e, na maioria das vezes, foram criadas sem nenhum tipo de
participação social.
seus direitos e deveres, o que neste caso pode se revelar uma verdadeira odisséia.
embora ainda pouco trabalhados de forma efetiva para a sociedade como um todo.
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um novo padrão de ensino, cada vez mais crescente na sociedade, e, nesse contexto,
ouvir os principais grupos envolvidos e fazer com que seus anseios estejam
aspectos para assegurar o direito dos cidadãos de utilizarem as mídias como aliadas
humano.
4 CONCLUSÕES
adaptação da lei de direitos autorais. Assim, para que possa atender a necessidade
diversas mídias interativas. Logo, requer uma maior flexibilidade das normas
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contemporâneas.
procurar ou de fazer certo, dentre outros fatores. Entretanto, acredita-se, que quanto
mais a lei sair da redoma jurídica e chegar aos seus destinatários, mais chances de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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DO GOVERNO FEDERAL
RESUMO
A presente pesquisa tem o objetivo de analisar as ações adotadas pelo Governo Federal e
pelos estados como forma de conter a disseminação da COVID-19. Justifica-se pela
necessidade de observar a forma como o poder público lida com o sistema prisional neste
período de pandemia, considerando que a atenção à saúde das pessoas encarceradas já era
falha antes disto, o que as torna mais suscetíveis a doenças. Para tanto, foi realizada
pesquisa bibliográfica e documental, com análise de relatórios recentes acerca do tema,
disponibilizados pelo Departamento Penitenciário Nacional e pela Pastoral Carcerária
Nacional. O desenvolvimento foi dividido em três tópicos. No primeiro, foi tratada a
situação do sistema prisional brasileiro, a partir de discussões teóricas sobre necropolítica
e encarceramento em massa e também através de dados recentes sobre o assunto. No
segundo tópico, foram identificadas as medidas propostas por cada estado em relação à
pandemia do coronavírus no sistema prisional, incluindo as que não foram efetivadas. Por
fim, no terceiro tópico do desenvolvimento foram identificadas as medidas que foram
efetivadas, observando a situação de cada estado. A partir dos dados analisados e das
reflexões realizadas, concluiu-se que as medidas da OMS são incompatíveis, e impossíveis
de serem aplicadas dentro do cárcere brasileiro.
ABSTRACT
This research aims to analyze the actions taken by the Federal Government and by the states
as a way to contain the spread of COVID-19. It is justified by the need to observe the way
in which the public authorities deal with the prison system in this pandemic period,
considering that the health care of incarcerated people was already flawed before this,
which makes them more susceptible to diseases. To this end, bibliographic and
documentary research was carried out, with analysis of recent reports on the topic, made
available by the National Penitentiary Department and by the National Prison Ministry.
17
Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Sergipe.
18
Mestra em Direitos Humanos pela Universidade Tiradentes. Graduada em Direito pela Universidade
Tiradentes.
19
Graduanda em Direito pela Faculdade Estácio Fase.
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The development was divided into three topics. In the first, the situation of the Brazilian
prison system was dealt with, based on theoretical discussions about necropolitics and
mass incarceration and also through recent data on the subject. In the second topic, the
measures proposed by each state in relation to the coronavirus pandemic in the prison
system were identified, including those that were not implemented. Finally, in the third
development topic, the measures that were implemented were identified, observing the
situation of each state. From the data analyzed and the reflections made, it was concluded
that the measures are incompatible, and impossible to be applied within the Brazilian
prison.
INTRODUÇÃO
margem da sociedade, as vidas dos detentos não são alvo de preocupação social.
mais exposta.
série de medidas para evitar a propagação do vírus em todo o mundo como, por
dos obstáculos físicos, outro fator agrava a situação: as precárias condições dos
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riscos de contaminação - tanto dentro como fora das prisões, levando em conta o
quais as medidas adotadas pelo Governo Federal e pelos estados brasileiros para
inicialmente foi realizada revisão bibliográfica, utilizando teóricos que tratam sobre
efetivadas pelo Estado e, por fim, analisar a possibilidade de aplicação das medidas
carcerário brasileiro.
BRASILEIRO
ponto de partida o conceito proposto por Foucault em Vigiar e Punir, que define
prisão na esfera social como “[...] o local onde o poder de punir, que não ousa mais
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que o Estado não quer lidar, sistemas que têm como objetivo o lucro, frente às vidas
composta por pretos e pardos, ocupando assim a terceira colocação no ranking dos
países que mais encarceram no mundo, de acordo com o INFOPEN (2020). Esse fato
direitos das vidas privadas de liberdade, já que apenas 0,2% dos detentos foram
testados para COVID-19, segundo a Pastoral Carcerária (2020). Tal fato, somado às
2020, pt. 1) e também pela Intercept Brasil (AUDI et al. 2020 p.1), demonstra que as
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Diante do exposto, fica evidente quais são os corpos que compõem a malha
carcerária do Brasil. Essa situação pode também ser observada a partir do conceito
ele explica como os governos escolhem quem vive e quem morre, de acordo com as
políticas adotadas.
poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer”, razão pela
mostrando como o Estado age com a política de morte, escolhendo quais medidas
adotar, deixando claro quais são as vidas que são passíveis de morte.
exemplo do artigo 70, que deixa clara a obrigação de informar ao Conselho Nacional
dos internos, além de fornecer a assistência médica adequada – o que não ocorre
disso é que, segundo o mesmo órgão, no Nordeste, 42,7% das prisões não oferecem
assistência médica internamente. De acordo, também, com o CNMP (2020), 31% dos
cárceres brasileiros não possuem essas instalações médicas necessárias exigidas pela
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prisões provisórias, nos termos do art. 316, do Código de Processo Penal. E o estado
lógica punitivista brasileira – que, ao invés de focar seus esforços para a resolução
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unidades penais que não disponham de unidades médicas ou que estejam com
ocupação superior à capacidade e, por último, as dos que tenham excedido o prazo
pandemia.
o Estado mata, não por negligência, mas sim por ações intencionadas e com objetivo
medidas. Com isso, não é de se surpreender que, mesmo com as subnotificações, até
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o dia 2 de julho, já haviam sido detectados 535 casos confirmados de detentos com
nesse trabalho.
DEPEN não aprovou tal proposta e, com isso, a mesma não foi aprovada.
Para identificar quais medidas foram tomadas pelos estados e pelo governo
brasileira no tópico prisão e Covid-19. A escolha fora feita para explicitar uma visão
mais abrangente do sistema prisional do Brasil, já que para ser uma pessoa que não
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estar na prisão, em regime fechado, podendo estar sob vários tipos de regime como,
por exemplo, de liberdade condicional. Tal destaque foi feito com a finalidade de
do Carandiru: vinte anos sem responsabilização (FERREIRA et al. 2012, p.1), e ler o
oficiais.
de julho de 2020, a população carcerária era formada por 748.009 detentos. O Estado,
no entanto, optou por fazer apenas 27.147 testes. O resultado encontrado foi 4.739
infectados e dos 1.086 suspeitos, sendo que 62 morreram. Na análise desses dados
subnotificação – uma vez que a doença pode não manifestar sintomas ou sintomas
132
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medidas que tinham sido realizadas até a data 11 de julho de 2020. Inicialmente,
segurança.
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verba suficiente para que os presos, tenham seus direitos garantidos como
de confirmados até a data da coleta dos dados (22 de julho de 2020), os óbitos e,
também, os recuperados. Além da data da primeira medida tomada por cada estado
para que fosse possível analisar as diferenças presentes nas regiões no quesito
cárcere.
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espera, muitos detentos amapaenses podem ter sido infectados pela demora de agir
Outro fato a ser observado aqui, é que o número de mortes foi maior na
região sudeste, em detrimento das outras, sobretudo nos estados do Rio de Janeiro
e São Paulo e menor na região Norte, com destaque para o estado do Tocantins com
necessidade de fornecer uma visão mais ampla, integrada e detalhada do que fora
feito por todos os estados do Brasil para a prevenção desse vírus nos cárceres.
Portanto, realizou-se um destaque para todas as medidas que cada região tomou
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de medidas que cada estado tomou até o dia 22 de julho. Com isso, fora criada, para
quantidade de ações feitas por cada estado devido a contabilização – feita neste
com apenas 3 medidas e Ceará com 14. Mesmo que sejam levados em conta outros
fatores, é possível que a diferença nas verbas que cada estado destina às prisões seja
um fator decisivo.
Além disso, de acordo com a legenda das tabelas, foi estabelecida uma
relação entre elas e os estados brasileiros de forma a ilustrar, por meio de símbolos,
quais ações cada estado tomou ou não, sendo ✔ para ação realizada e × para cada
ação não realizada. Isso fora feito com a finalidade de detalhar de forma ainda mais
precisa o que cada estado fez ou não para a prevenção da COVID-19 nas prisões
brasileiras.
optou-se pela adoção de uma legenda, sendo que cada número representa uma
medida, da seguinte forma: (1) Adoção de prisão domiciliar (que se enquadrem nas
hipóteses concessivas legais); (2) Assepsia diária das celas; (3) Aumento do tempo
individual (EPI’S); (5) Distribuição de epi para os servidores lotados nas unidades
(7) Elaboração de Nota Técnica; (8) Higiene das mãos e etiqueta respiratória; (9)
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15; (18) Suspensão de Saídas Temporárias; ( 19) Suspensão de visitas a presos; (20)
ES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2
TA 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3
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As mortes por brigas entre facções ou rebeliões nos presídios são as que
uma causa ainda maior e mais comum de mortes nos presídios, e ela não tem um
rosto definido, não tem arma, não faz barulho e sequer pode ser detida pelo sistema
de justiça criminal, mas pode ter diversos nomes: HIV/AIDS, hepatite, tuberculose,
sarna e agora também: coronavírus. Devido a uma série de fatores combinados, que
de água, e ações médicas insuficientes, o mal que mais aflige as prisões brasileiras
são as doenças!
problemas que estão em todas as regiões do país, de norte a sul, provando que, não
são casos isolados, ou problemas pontuais, e sim, algo estrutural, nas ditas prisões.
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Presidente, afirmou que “O que percebemos é que a omissão por parte dos gestores
que haja esta sensibilização por parte do Executivo para com o trabalho eficiente
alguns detentos descreveram a sarna como “uma sensação de estar sendo comido
(MADEIRO, p.1, 2020). "Celas onde cabem até três presos estão com mais de 18, que
por falta de espaço, estão dormindo no banheiro", diz texto da defensoria. Relatórios
m², com capacidade para três ou quatro pessoas, abrigam até 15 homens, ou até mais
internos e disse que “o Executivo desconhece a principal lei da física: ‘dois corpos
não ocupam o mesmo lugar no espaço’ (OLIVEIRA, p.1, 2020). O caso supracitado
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essas condições sórdidas e intrínsecas as prisões que fazem com que as mesmas
prisões do país.
pessoas presas. Segundo uma entrevista feita pela Folha Uol (FABRINE, 2020 p. 1)
República), “Aquilo que se entende por assistência [nos presídios] é, quando muito,
um médico duas vezes por semana. Não é um pequeno hospital, uma enfermaria”.
dúvida de que uma epidemia sem retaguarda [médica] vai dizimar parte da
carcerário afeta quem está do lado de fora.” Mesmo com todos os presos estando
das prisões, a população carcerária do Brasil sofre com a falta de profissionais para
tratá-la e com uma infraestrutura que não é capaz de fornecer todos os cuidados
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
médica adequada exigidas pela Lei de Execução Penal. A estatística se refere a 1.439
cárceres. Infelizmente, a situação é ainda pior para a região Nordeste que conta com
a pior estatística dentre as regiões brasileiras com 42,7% das prisões sem assistência
médica internamente.
existem 1095 médicos ou 1 para 687 presos, enquanto para a população total, menos
de Medicina). No entanto, mesmo com esses dados, o fato não sensibiliza, tampouco
que isso esteja acontecendo em algumas unidades, não são todos os presos em
grupo de risco que estão sendo liberados e assegura que tal fato pode levar a um
2020, p. 1).
De acordo com a especialista, “Não se trata de ver quem tem que cumprir
pensar não só nos internos, mas também nos agentes penitenciários’’, ainda,
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p.1). No entanto, não é isso que ocorre: a prova disso é que o judiciário negou,
com diagnóstico positivo na Papuda, uma região de segurança máxima onde foram
Federal, levando o título da capital cujos presídios têm mais da metade do total de
infectados, em relação a todas as outras prisões do Brasil, com 608 detentos testando
positivo.
racionamento de água dentro das unidades prisionais sob a alegação de que o gasto
médio de água por preso é 88,7% maior do que a média brasileira, e que o gasto
2019)
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degradante. A medida descabida, impede que o preso tenha efetivo e pleno acesso
à higiene pessoal, ignora que a água é um recurso essencial, e que restringir acesso
Público e da Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, decisão esta que foi
mesmo fato ocorre também em presídios do Rio de Janeiro, onde algumas unidades
tem apenas duas horas de água disponível por dia (STABILE, 2020 p.1). Com isso,
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Com capacidade para 1,7 mil presos, ela aloca atualmente cerca de 4,5 mil detentos
o primeiro preso, contando com os de todo país, testou positivo para a COVID-19
“Não existe pena de morte na nossa constituição. Por mais que as pessoas
complicado quando um Estado falha a ponto de deixar uma pessoa sob sua custódia
morrer, mesmo com avisos, mesmo com peticionamento para que ela seja solta” -
criticou Gelson Fassina, um dos advogados do preso que agora se tornou apenas
Com isso, já era de se esperar que o pior viria. Wanderson Menezes, 26 anos,
detento desse mesmo presídio, morreu infectado com o novo coronavírus. Mesmo
depois de seus advogados tentarem, sem sucesso e por duas vezes, conseguir que o
relatada por ele aos familiares e defensores, além de tosse com sangramento, o que
dinâmica existente nos cárceres relatou: “Como controlar 300 presos em um espaço?
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Teria que ser um policial para cada um dos presos para retirar alguém de lá. No
meu ponto de vista, aquele presídio tinha que ter sido desativado há muito tempo”.
Levando em conta tudo que fora visto até aqui, desde a infraestrutura precária
dos presídios até as medidas propostas e efetivadas pelos estados para a prevenção
novo coronavírus.
e com a Organização Mundial da Saúde (OMS), não são compatíveis com o cenário
histórico decadente dos cárceres brasileiros, dito isto, fica evidente que quando o
cuidar daqueles que estão sob a sua custódia. É importante enfatizar que a situação
nesses ambientes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do que foi exposto, com a análise da literatura específica e dos dados
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Ademais, também é possível perceber que, por mais que não existam tantas ações
os direitos à saúde, à dignidade e à vida sejam garantidos a todos, pois essa é a única
REFERÊNCIAS
AUDI, Amanda; LARA, Bruna de; BRAGA, Nathália; ORTIZ, Juan; FELIZARDO,
Nayara; LISBOA, Sílvia; BIANCHI, Paula. E aí, STF?. The Intercept Brasil, Rio de
Janeiro.2020. Disponível em: https://theintercept.com/2020/05/09/juizes-ignoram-
lei-maes-presas-pandemia/. Acesso em 18 maio 2020.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
http://depen.gov.br/DEPEN/covid-19-painel-de-monitoramento-dos-sistemas-
prisionais . Acesso em 17 maio 2020.
Cruz, Maria Teresa. Sarna é ‘porta de entrada’ para doença que atingiu presos em
Roraima. 2020. Disponível em: <https://ponte.org/sarna-e-porta-de-entrada-para-
doenca-que-atingiu-presos-em-roraima/> Acesso em 13 Setembro 2020.
Stabile, Arthur. Com 12 mortes pela Covid-19, prisões do RJ têm falta de água e de
atendimento médico. 2020. Disponível em: <https://ponte.org/com-12-mortes-pela-
covid-19-prisoes-do-rj-tem-falta-de-agua-e-de-atendimento-medico/> Acesso em
13 Setembro 2020.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
SILVIA, Petra. Artigo | Covid-19 chegou nas prisões e resultado será trágico para
toda sociedade. São Paulo, 2020. Disponível em: http’s://ponte.org/artigo-covid-
19-chegou-nas-prisoes-e-resultado-sera-tragico-para-toda-sociedade/#/. Acesso
em: 25 agosto 2020.
FABRINI, Fábio; FERNANDES, Talita. 31% das unidades prisionais do país não
oferecem assistência médica. São Paulo, 2020. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/31-das-unidades-
prisionais-do-pais-nao-oferecem-assistencia-medica.shtml. Acesso em: 25 agosto
2020.
PORTO ALEGRE, Paula. Cadeia Pública de Porto Alegre tem primeiro caso de
Covid-19 confirmado. Porto Alegre, 2020. Disponível em:
https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/especiais/coronavirus/2020/07/7482
68-cadeia-publica-de-porto-alegre-tem-primeiro-caso-de-covid-19-
confirmado.html. Acesso em: 25 agosto 2020.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ROSA, Vitor. Apenado que morreu com covid-19 no Presídio Central teve dois
pedidos de prisão domiciliar negados. Porto Alegre, 2020. Disponível em:
https://gauchazh.clicrbs.com.br/seguranca/noticia/2020/08/apenado-que-morreu-
com-covid-19-no-presidio-central-teve-dois-pedidos-de-prisao-domiciliar-
negados-ckdkmtgq7000q0147jepf2lb2.html. Acesso em: 25 agosto 2020.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
COVID-19
RESUMO:
O direito à saúde é um direito fundamental, presente na Segunda Dimensão dos Direitos
Fundamentais, posto que está inserido nos direitos sociais. O escopo abordado neste artigo
diz respeito às análises das restrições impostas pelas organizações nacionais e
internacionais, em função da Covid-19, e as contradições geradas no âmbito dos Direitos
Humanos e dos Direitos Fundamentais da gestante/parturiente, no que tange ao direito a
acompanhante, conforme previsto pela Lei Federal nº. 11.108, de 07 de abril de 2005. A
finalidade, portanto, é propor pontos de compatibilização entre as contradições, de forma
que se garanta os direitos da gestante, com a segurança prevista pelas Organizações de
saúde nacionais e internacionais em relação à Covid-19, mas avaliando as restrições de
modo que aponte a existência de violações dos direitos fundamentais. Para alcançar tal
objetivo, o método utilizado foi o dedutivo, com pesquisa de dados bibliográficos, no viés
de uma abordagem qualitativa. A pesquisa realizada teve foco teórico com finalidade
exploratória. Foi analisado, no discorrer do trabalho, o desconhecimento das mulheres de
seus direitos como influência no descumprimento da Lei do Acompanhante; breves
considerações sobre o movimento do parto humanizado no Brasil; a relevância do
acompanhante; e, por fim, os impactos e pontos de discussão da restrição. Logo, ficou
evidenciado que, mesmo diante pandemia, de um ponto de vista jurídico, o direito a
presença de acompanhante não é derrogável, e faz parte do bem estar físico e psíquico da
parturiente e do nascituro. O artigo procurou contribuir com o debate em torno do direito
fundamental à saúde da parturiente em tempos de pandemia.
20
Mestranda no Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Prestação Jurisdicional e Direitos
Humanos (UFT/ESMAT). E-mail: karine.direito@uft.edu.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7064561946604860.
21
Doutor em Educação (UFSCar/2012). Professor no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado
Profissional em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos (UFT/ESMAT). Bolsista FAPTO. E-mail:
psoares@mail.uft.edu.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1365699355771676.
22
Doutor em Direito (UniCEUB/2016). Professor no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado
Profissional em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos (UFT/ESMAT). Bolsista FAPTO. E-mail:
paschoal@mail.uft.edu.br Lattes: http://lattes.cnpq.br/7410990226412683.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT:
The right to health is a fundamental right, present in the Second Dimension of Fundamental
Rights, since it is inserted in social rights. The scope addressed in this article concerns the
analysis of restrictions imposed by national and international organizations, as a result of
Covid-19, and the contradictions generated in the scope of Human Rights and Fundamental
Rights of the pregnant woman / parturient with regard to the right to a companion, as
provided by Federal Law No. 11,108, of April 7, 2005. The purpose, therefore, is to propose
points of compatibility between the contradictions, in order to guarantee the rights of the
pregnant woman, with the security provided by national and international health
organizations. in relation to Covid-19, but evaluating the restrictions in a way that points
to the existence of violations of fundamental rights. To achieve this goal, the method used
was the deductive one, with bibliographic data search, in the bias of a qualitative approach.
The research carried out had a theoretical focus for exploratory purposes. It was analyzed,
in the discourse of the work, the ignorance of women as an influence in the non-compliance
with the Law of the Companion; brief considerations about the humanized birth movement
in Brazil; the relevance of the companion; and, finally, the impacts and discussion points of
the restriction. Therefore, it was evident that, even in the face of a pandemic, from a legal
point of view, the right to the presence of a companion is not derogable, and is part of the
physical and psychological well-being of the parturient and the unborn child. The article
sought to contribute to the debate around the parturient's fundamental right to health in
times of pandemic.
INTRODUÇÃO
De acordo com a Lei Federal nº. 11.108, de 07 de abril de 2005, toda gestante
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recentemente são mais vulneráveis a infecções em geral e, por isso, estão nos grupos
de risco do vírus da gripe, por exemplo. Mas a lei confere direito ao acompanhante
à gestante. Como resolver a contenda, agora, já que não se trata de uma mera gripe?
No Brasil, desde 2005, a Lei n°. 11.108, mais conhecida como Lei do
a Portaria n°. 2.418 do Ministério da Saúde (MS), que passou a autorizar o custeio
2008, que dispôs sobre o Regulamento Técnico para Funcionamento dos Serviços de
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determinações.
acompanhante e o nascituro.
do parto humanizado no Brasil, que surgiu em meados dos anos de 1970, bem como
Por fim, dedicou-se uma seção para esclarecer como tem sido efetivada na
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sendo direito fundamental e inviolável a sua tutela e dever dos hospitais públicos e
direitos com a segurança, no que diz respeito às restrições impostas pelos órgãos de
antes vivenciadas.
saúde como direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas. A Organização Mundial de Saúde (OMS), por sua vez, define a saúde
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como para cuidados básicos. Mas cabe salientar que, após o parto, a mulher entra
significativas modificações tanto físicas quanto emocionais, que não tem um tempo
determinado para terminar. Para fins didáticos, é uma fase que se inicia logo após
o parto e vai até o 10º dia pós-parto; tardio, com início no dia 11º ao 42º dia pós-
parto; e remoto com início 43º dia até um ano pós-parto (BRASIL, 2016).
uma grande preocupação diante de sua rápida propagação e impactos nos sistemas
de máscara e outras.
Tais restrições causaram muitas situações que exigem uma análise das
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de parto.
promoção da saúde.
vários países, organizaram ensaios clínicos para randomizar mulheres com e sem
crianças e nenhum prejuízo conhecido, e que todas as mulheres devem ter apoio
escolhas, baseadas em seus valores e crenças pessoais, o que exige “apenas um grau
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do Rio de Janeiro, foi realizada entre janeiro e julho de 2014 e apresentados através
uma noção do tamanho do desconhecimento por parte das mulheres quanto ao teor
[...] como já sou maior de idade não posso ter mais acompanhante.
[...] somente menor de idade pode ter alguém com você. [...] falaram
isso logo quando eu entrei para ser atendida [...]. não deixaram a
minha mãe entrar comigo [...] e como eu não tenho mais direito se
fosse adolescente até eu brigaria para ter, mas fazer o que? [...] (P18);
[...] falavam que eu não podia ter acompanhante, aqui ninguém tem
o acompanhante [...] e as pessoas falaram que não pode e deveriam
deixar uma pessoa ficar, somente menor de idade [...] (P20).
(RODRIGUES et al., 2017, p. 3).
Os autores mencionam que, embora a Lei n°. 11.108/2005 esteja em vigor há vários
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fazendo com que a mulher seja informada acerca desses direitos legais e possa tomar uma
Sem dúvida, conforme entabula Rodrigues et. al. (2017), no transcorrer do estudo,
[...] eu não tive isso, não deixaram o meu marido participar comigo,
e tentei ver isso, mas esse médico não estava deixando. [...] as outras
meninas, os seus esposos estavam junto, não sei porque ele não
deixou ficar e ver o meu parto, achei uma falta de compreensão! [...]
(P03); [...] na sala de parto foi estranho, não deixaram a minha mãe
entrar. [...] o médico disse que não podia entrar na sala. [...] nesse
momento iria ficar sozinha, somente depois iria me ver [...] (P15).
(RODRIGUES et al., 2017, p. 4).
Outro ponto que merece profunda reflexão é que o direito ao acompanhante ainda
não se tornou uma realidade para a totalidade das mulheres brasileiras, pois muitas não
fato não lhes assegurou o exercício de cidadania e a efetivação. Os depoimentos são claros
a esse respeito:
[...] mas não consegui [...] (P02); [...] eu briguei com todo mundo
aqui. [...] sei que tem uma lei [...]. Tenho um direito de ter o
acompanhante, chamei a polícia e tudo, mas não consegui
atendimento, pois não tinha espaço suficiente para isso [...] (P19).
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
[...] pois, quando eles [profissionais] falam que não pode [ter
acompanhante] acho que é normal, nem questiono, e não falo nada,
pois eles entendem disso [...] (P01); [...] já sei como funciona, achei
normal, porque eles [profissionais] falam que não pode entrar
ninguém, e temos de respeitar e acatar o que falam para a gente [...]
(P10). [...] achei uma indiferença comigo, um tratamento ruim com
que eles [profissionais] me trataram. Não deixaram a minha mãe
entrar no pré-parto. No parto o médico disse que ninguém vai
entrar, e aqui não pude ficar com ninguém. Me sinto sozinha o
tempo todo, sem ninguém da família [...] me tratou igual a um
cavalo [...] uma situação horrível e desumana, ele me tratando mal
e me desrespeitando o tempo todo [...] (P05);
[...] não dá para dialogar com a médica, uma bruta e grossa, uma
insensível, pois deveria ter deixado a minha mãe entrar nesse
momento. [...] um momento que esperamos e ela não deixou, falou
que não podia e não iria deixar. [...] as enfermeiras, e não tinha
condição mesmo [...] (P09). (RODRIGUES, 2017, p. 5).
relação de desigualdade na relação de poder, não lhe restando outra opção senão se
parto e nascimento.
relacionada com a Lei do Acompanhante, pode ser observada nos depoimentos das
160
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diferente no serviço particular”, e essa noção permeia uma condição de apoio que o
Então,
tal violação diz respeito a desigualdade nas relações de poder dos profissionais de
Cita-se, nesse ponto, o estudo apresentado por Brüggemanna et. al., 2015,
161
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cesariana.
Nas ideias centrais, apresentadas no artigo, ficou evidente que o motivo das
desigualdade nas relações de poder dos profissionais de saúde existe uma postura
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acabou sendo a melhor forma de dar à luz, sem medo, risco e dor.
como humanizada, no Rio de Janeiro, em 1994, que recebeu o justo nome de Leila
Diniz.
Outros marcos em termos de políticas públicas foram a criação do
Prêmio Galba Araújo para Maternidades Humanizadas, em 1998, e
a proposição das Casas de Parto. Os critérios para a concessão do
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processo do parto. Isso, por sua vez, se dará quando houver uma efetiva educação sobre
esclarecimento da gestante.
processo parturitivo e de acordo com o contexto assistencial, este pode ser representado por
e mulher leiga .
Ocorre que para Longo et. al. (2010), entretanto, o conceito de acompanhante
165
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culturais de cada mulher, referente a cada parto, orientam quem ela escolherá para
Já foi evidenciado que quando a parturiente tem o direito a sua livre escolha ao
acompanhante respeitado, valendo-se dos critérios volitivos para determinar sua vontade.
Tanto que, via de regra, os acompanhantes são as mães, companheiros, irmãos, amigos
próximos, ou seja, uma figura que a gestante atribua uma sensação de apoio e confiança, e
que possa lhe assistir em qualquer dificuldade. Se a equipe médica converge com as práticas
atrelada a presença de um ente que lhe confere confiança, só tem a beneficiar o processo de
parturição.
apresenta aspectos gerais da assistência ao parto, dentre eles o apoio durante o parto e a
escolha do acompanhante como prática demonstrativa útil que deve ser estimulada.
Embora esse documento tenha sido distribuído a todos os obstetras brasileiros no ano de
2000, a divulgação dessas práticas precisa ser intensificada junto à população, para serem
trabalho de parto e nascimento “foi muito útil” ou “útil”, para ter uma experiência melhor
e mais calma no parto (91,2% das respostas válidas); apenas 2,7% do total da amostra
pensaram que “não era útil” e fez as mulheres mais nervosas. (DINIZ et al., 2014, p. S144).
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presente texto, aparece nas inflexões propostas no resultado do trabalho, qual seja:
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maior na região norte. Esta premissa, por sua vez, só confirma que as desigualdades
tende a mudar de atitude quando o acompanhante está presente, o que pode ser
observado nos estudos que mostram que as mulheres ficam mais satisfeitas com a
Pontua Diniz et. al. (2014) que apesar da evolução legislativa e cultural-
para as mulheres com maior renda e escolaridade, de cor branca, pagando pela
rotinas discriminatórias.
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Covid-19, houve uma grande preocupação diante de uma doença que se espalhou
De acordo com Freitas (2020), não existiam planos estratégicos prontos para
das pandemias.
artigos 2º e 3º.
transmissibilidade.
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presença de pessoas, no geral, uma medida de segurança até mesmo para a gestante
e o concepto.
Gomes Luz, Marcos Nakamura, Renato Sá, que formaram os principais pontos
(grifo nosso):
170
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era de não ter acompanhante. Porém, o próprio Colégio Real Inglês (Royal College of
escolha da mulher estiver sintomático, não é recomendado que ele seja acompanhante no
puerpério:
coronavírus responsável pelo surto de 2019, em seu artigo 3º, § 2º, inciso III, dispõe
que a disciplina para os cuidados com a Covid-19 não deve se afastar dos postulados
171
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Foi justamente com base neste artigo, e diante do descumprimento latente das
que a Defensoria Pública do Estado de São Paulo ajuizou uma Ação Civil Pública, em uma
das Varas da Fazenda Pública de Mogi das Cruzes (SP), para obrigar a Santa Casa de
depois do parto.
O juiz destacou em sua decisão que, a Santa Casa não pode inviabilizar o direito
da mulher: “A Lei 13.979/20, não suspendeu a eficácia da Lei 11.108/05, que alterou a Lei do
(ASCOM/DPE-SP, 2020).
também se manifestou sobre o celeuma, e protocolou o Projeto de Lei 3823/20, que institui
172
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O projeto prevê, nesse espeque, várias medidas, como leitos exclusivos, pré-
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parturientes, de forma segura que caso deseje, uma pessoa de sua confiança lhe
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
previsto na Lei Federal nº. 11.108 e garantir esse direito fundamental da gestante em
de sua livre escolha durante o parto e o nascimento. Além disso, ficou caracterizado
nas relações de poder dos profissionais de saúde, e por estruturas tradicionais das
autoridade e poder institucional para impedir que a mulher faça valer esse direito
legal, o que pode caracterizar uma violação dos direitos sexuais, reprodutivos e
mais inseguro.
175
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
as físicas. O fato de ter uma pessoa de confiança ao lado auxilia no trabalho de parto,
alteração decorrente das primeiras horas pós-parto, bem como no próprio cuidado
altos índices de satisfação materna, custo muito baixo, e é um direito das mulheres
176
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Federal nº. 11.108, de 07 de abril de 2005. Brasília: Câmera dos
Deputados, 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2005/Lei/ L11108.htm. Acesso em: 04/08/2020.
BRASIL. Lei n°. 13.979, de 06 de fevereiro de 2020. Dispõe sobre as medidas para
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/l13979.htm#:~:text=L13979&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20as%20
medidas%20para,Art Acesso em: 10/09/2020.
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CORONAVÍRUS
RESUMO
No Brasil, a trajetória histórica da constitucionalização do direito à saúde, pública e privada,
apresenta-se como tema essencial a ser analisado, especialmente no atual momento, quando
se debate o alcance e a importância do Sistema Único de Saúde e os deveres sociais do
sistema privado de saúde, ante a pandemia pelo novo coronavírus. O legislador
constituinte, decerto sem prever uma crise sanitária como a de hoje vivida, instituiu dois
sistemas de assistência à saúde distintos, a saúde pública, patrocinada pelo Estado através
do Sistema Único de Saúde, e a saúde privada, sujeita à livre iniciativa, porém regulada
pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, que é uma autarquia especial com escopo de
regular e fiscalizar o mercado de saúde. Assim, no presente trabalho, pretende-se analisar
a trajetória histórica constitucional da formação do sistema de assistência à saúde, no Brasil,
com escopo de se entender a democrática opção do legislador constituinte de erigir à
condição de direito fundamenta o direito à saúde, garantido a todos, indistintamente. O
presente trabalho iniciará expondo as terminologias adotadas, delimitando o tema à análise
do direito à saúde configurado no acesso à assistência médica. Posteriormente, traçará a
evolução do direito à saúde, com um estudo comparativo com o direito internacional, e a
consequência do resultado do atual sistema de assistência à saúde ante à pandemia da
COVID-19.
ABSTRACT
In Brazil, the historical trajectory of the constitutionalization of the right to health, public
and private, presents itself as an essential theme to be analyzed, especially at the present
moment, when the scope and importance of the Unified Health System and the social duties
of the system are debated. private health system in the face of a new coronavirus pandemic.
The constituent legislator, certainly without foreseeing a health crisis like the one
experienced today, instituted two distinct health care systems, public health, sponsored by
23
Defensora Pública Federal. Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Federal Fluminense – UFF.
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Direitos, Instituições e Negócios da Universidade Federal
Fluminense. E-mail: fabriziadpu@gmail.com. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8883639952901885
180
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
the State through the Unified Health System, and private health, subject to free initiative,
however regulated by the National Supplementary Health Agency, which is a special
autarchy with the scope of regulating and supervising the health market. Thus, in the
present work, we intend to analyze the constitutional historical trajectory of the formation
of the health care system in Brazil, with the aim of understanding the democratic option of
the constituent legislator to erect the right condition to the right to health, guaranteed to all,
indistinctly. The present work will start exposing the adopted terminologies, delimiting the
theme to the analysis of the right to health configured in the access to medical assistance.
Subsequently, it will trace the evolution of the right to health, with a comparative study
with international law, and the consequence of the result of the current health care system
in the face of the COVID-19 pandemic.
Key-Words: Right to Individual Health; Historical trajectory; Public health; Private Health.
INTRODUÇÃO
1988. A tutela da saúde tal qual prevista no atual sistema constitucional, caracteriza-
já que não traça qualquer distinção para que se tenha acesso ao serviço público de
assistência à saúde.
Organização Pan-Americana de Saúde, tenha sido criada no ano de 1902, foi após a
181
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
políticas, prestar apoio técnico aos países e vigiar as tendências sanitárias mundiais.
saúde como um direito, na década de 40 do século passado (pois, até então, a tutela
estatal), pagos por aqueles que tinham condições de arcar com seus custos, ou das
cidadãos fosse exclusiva daqueles abarcados, em razão de seu ofício, pelas caixas de
182
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
durante a era colonial, a saúde do indivíduo não era obrigação do Estado, qualquer
movimento sanitário que tinha por fito a universalidade da saúde, é que se passou
Constituição.
e gratuita como ônus estatal, o legislador constituinte também dispôs que a saúde
pode ser objeto de exploração, estando sujeita à livre iniciativa. De fato, a assistência
à saúde já era prestada pelo particular, não se tratando de uma novidade em si. A
continente para tomar proporções globais. Mais do que nunca, o Estado é necessário
183
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que os termos saúde pública e saúde privada serão adotados para designar os serviços
Público (por intermédio do Sistema Único de Saúde, doravante SUS 24) ou prestada
pelo particular. Desse modo, estará excluída da análise qualquer conduta estatal
(ASENSI, 2010, p. 15), o que denota que a saúde, como serviço de assistência médica
24
A observação terminológica apontada é importante em razão da distinção existente na doutrina daquilo que
seria “direito à saúde” e “direito sanitário”. Para o presente trabalho será adotado “direito à saúde” entendido
como direito subjetivo do indivíduo de se valer dos serviços públicos prestados – ou os que deveriam ser
prestados – pelo SUS, ou pelo particular de assistência à saúde; entendendo como “direito sanitário” as
políticas públicas voltadas para o controle e prevenção de doenças e epidemias de forma ampla e indistinta,
não voltando-se diretamente para o indivíduo considerado em si mesmo, e sim para a coletividade, como
saneamento básico, a título de exemplo, não sendo este o objeto do presente trabalho, cabendo registrar que
o “direito sanitário” tal qual caracterizado, de uma maneira geral, é mister do Estado, ainda que este se valha,
eventualmente, do serviço particular, através de contratos administrativos firmado entre ambos.
184
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Portanto, mais uma vez se ressalta que o presente trabalho estará restrito
indivíduo.
entre ambos. É possível, assim, acompanhar por meio da história a evolução dos
certo que, numa fase inicial de reconhecimento dos direitos fundamentais na esfera
25
A Magna Carta do Rei João Sem-Terra constitui pacto estabelecido por este e pelos bispos e barões ingleses,
em 1215, servido para garantir aos nobre ingleses privilégios feudais, alijando, a princípio, a população do
acesso aos “direitos” garantidos no pacto, porém servindo de referência para alguns direitos e liberdades civis
clássicos, como o habeas corpus, o devido processo legal e a garantia da propriedade.
185
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
experiência dos governos totalitários, que surgiu forte movimento para elevar ao
âmbito do direito internacional a tutela dos direitos humanos, já que homem, desde
não se admitindo qualquer violação aos seus direitos, garantidos pela sua própria
condição humana.
Ainda que se pense que desde a Declaração dos Direitos do Povo da Virgínia
26
De acordo com SARLET, a ‘Magna Charta’ não foi o único, nem o primeiro, (documento escrito positivando
direitos fundamentais) destacando-se, já nos séculos XII e XIII, as cartas de franquia e os forais outorgados
pelos reis portugueses e espanhóis.
27
Para fins metodológicos, serão adotadas as expressões “gerações” e / ou “dimensões” de direitos
fundamentais, malgrado se conheça a discussão terminológica existente. Em que pese a discussão e sua
importância na esfera teórica, o presente trabalho não só não pretende esgotar ao tema, como também se
propôs somente a fazer um simples apanhado histórico da evolução dos direitos fundamentais até chegar a
proteção à saúde, demonstrando o atraso na tutela do referido bem jurídico, de forma que a discussão acerca
da precisão ou imprecisão do termo “geração”, ou a melhor ou pior utilização do termo “dimensão”, não tem
cabimento neste momento.
186
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estamento ou casta, mas a “todo indivíduo” (LUÑO, 1984) que não fosse escravo –
que somente foi abolida, efetivamente, em 1808 (isto é, após a edição do diploma
indivíduos, mas daqueles que eram livres e, em especial, dos que, além de livres,
eram burgueses.
dignidade humana se assenta sobre o pressuposto de que cada ser humano possui
O Brasil, por sua vez, não acompanhou com sincronia a evolução do direitos
até mesmo por razões históricas, por sua independência tardia, sua cultura colonial
Somente com a Constituição de 1988 pode-se dizer que, pela primeira vez na
187
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Embora a ordem jurídica brasileira tenha sido influenciada, de certa maneira, pelos
nos Estados Unidos da América – ela trilhou seu próprio caminho e muitos direitos
De fato, a saúde pública somente veio a ser tutelada como um direito social
internacional. Diz-se contraditório, registra-se, uma vez que o bem jurídico “saúde”
tem intrínseca relação com a vida e o bem estar do cidadão, de forma que há estreita
ligação com a dignidade humana. Assim, pensar que somente em 1988 a saúde
188
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
anacrônico da proteção.
desde a Constituição do Império, outorgada em 1824, a qual, em seu artigo 79, inciso
XXXI, garante a todo cidadão os socorros públicos28. No entanto, não se pode fugir à
observação de que tal garantia não era voltada a todos os brasileiros, ainda mais
pública era prestada pelo Estado a título de favor, e não como uma obrigação para
com os cidadãos que compõe a unidade política estatal (ASENSI, 2010). Assim, a
28
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a
liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira
seguinte. (...)XXXI. A Constituição tambem garante os soccorros publicos.
189
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sendo prestado àqueles que tinham condições de arcar com os seus custos. No
entanto, não havia qualquer controle estatal na prestação dos serviços privados,
doente.
europeu era protegido, não em razão de sua condição humana (que somente veio a
ser lida como uma forma essencial de proteção dos seres humanos após a Segunda
29
Fonte: http://www.funasa.gov.br/web/guest/cronologia-historica-da-saude-publica, última consulta
realizada em 03/09/2020.
190
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
trabalhador. O artigo 121, §1º, alínea “h”, previa garantia a assistência médica e
contando com a entidades filantrópicas – como a Santa Casa – para se socorrer nos
sociedade foi mantida pelos regimes posteriores, já que todos os que sucederam à
Assim,
30
A Constituição da República de 1937 manteve a estrutura protetiva da saúde do trabalhador existente no
sistema anterior, como se compreende da norma estabelecida no artigo 137, alínea l, que teve sua vigência
suspensa pelo Decreto 10.358/1942, quando se declarou o estado de guerra, no Brasil. A Constituição de 1946
também manteve a proteção da saúde somente em favor do trabalhador, semelhante ao diploma
constitucional anterior, como se depreende da dicção do artigo 157, inciso XIV. Da mesma maneira, a
Constituição de 1967, artigo 158, inciso XI, alterado pela Emenda Constitucional nº 1/1969, que manteve o
mesmo sistema protetivo de saúde instituído pelas Constituições anteriores, como se percebe em seu artigo
165, inciso XV.
191
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autoridade coordenadora das ações sanitárias no sistema das Nações Unidas, sendo
articular opções de políticas, prestar apoio técnico aos países e vigiar as tendências
em favor de todos.
Ata, documento que refirma a saúde como um direito do homem (tal qual já dito no
31
Como já apontado, a tendência de humanização dos direitos veio com a Segunda Guerra Mundial, pois para
impedir que os seres humanos voltassem a ser algoz e refém de atrocidades entre seus pares, o ser humano
passou, então, a ser elevado ao centro dos ordenamentos jurídicos, nacionais e internacionais, não sendo
possível qualquer distinção na proteção de seus direitos, de forma que, qualquer homem, independentemente
de raça, cor, sexo, origem, crença ou qualquer outro fator distintivo, tem garantido direitos mínimos para uma
vida digna. Assim, a dignidade humana – como valor que fundamenta os próprios direitos humanos – se assenta
sobre o pressuposto de que cada ser humano possui um valor intrínseco e desfruta de uma posição especial no
universo (BARROSO, 2013, p. 14).
192
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como um fim a ser perseguido pelos Estados, qualquer que seja a forma de sua
privado. Ademais, tampouco havia distinção entre as pessoas, não importando sua
cidadãos arcar com o pagamento dos serviços privados (que, tampouco, eram
32
Fonte: https://www.camara.leg.br/radio/programas/275168-, consulta em 12/09/2020
193
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1986, em Brasília.
33
Também chamado de Movimento Reformista e Movimento Pró-Reforma, o Movimento Sanitário
Brasileiro originou-se do meio acadêmico, em especial nos Departamentos de Medicina Preventiva,
na década de 1970, período marcado pela repressão ditatorial. É nesse contexto que ele se inicia e
acaba reforçando-se com o apoio estudantil secundário, de profissionais da saúde, centros de estudos
sanitários (destaque para o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde – CEBES, órgão de representação
e difusão do movimento), associações (a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva –
ABRASCO merece relevo), conselhos, sindicatos, parlamentares e outros segmentos da sociedade
(OLIVEIRA, 2005)
194
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de 1988.
não mais uma categoria. Desta forma, o direito à saúde também passou a integrar o
bloco de constitucionalidade que constitui cláusula pétrea, não sendo possível sua
que é, sua interpretação e concepção deve ser a mais ampla e extensa possível.
195
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também garantiu à livre iniciativa a assistência à saúde, o que não era novidade,
controle e na fiscalização realizados por agência especificamente criada para tal fim,
com tal fito, inclusive com edição de legislação dispondo sobre medidas voltadas
privado de saúde, pelo SUS, o que não é, a princípio, uma inovação, já que a Lei
196
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8080/90 também permite a contratação do serviço privado de saúde para fazer frente
obrigação não existiria ou seria mitigada se o direito à saúde não tivesse percorrido
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A acepção de saúde variou ao longo do tempo, sendo certo que seu conceito
197
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como direito de todos e mister do Estado. Dessa forma, a saúde pública tal qual
entendimento de que a saúde sempre foi um bem tutelado pelo Estado – o que não
foi – excluindo da garantia um fator social relevante: o direito à saúde tal qual
possível – ou, ao menos, é difícil – sem que se visualize a trajetória que culminou no
Talvez hoje pareça óbvio que o acesso aos bens e medidas voltadas à saúde
seja um direito de todo o ser humano, mas a verdade é que esta concepção (que
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somente em favor dos trabalhadores formais (ou seja, aqueles que possuíam carteira
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fundamental, impondo um duplo dever do Estado, que deve adotar medidas para
à saúde, sob pena de se ir de encontro àquilo que foi traçada como uma verdadeira
pessoa humana. Mais do que nunca, diante da crise sanitária instaurada pelo novo
coronavírus, o acesso à assistência à saúde é (como sempre deveria ter sido) dever
imperioso do Estado.
sanitária seria ainda mais fatal do vem sendo, uma vez que seriam alijados os
é comum no país como o Brasil, que é pobre e hoje, novamente, volta a experimentar
a miséria de parte de sua população – como também se abriria espaço para o abuso
200
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
de poder do particular que presta serviço de assistência à saúde, o que é coibido por
REFERÊNCIAS
DALLARI, Sueli Gandolfi; JÚNIOR, Vidal Serrano Nunes. Direito Sanitário. São
Paulo: Editora Verbatim, 2010.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX 1914-1991. Trad. Marcos
Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995
201
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
REAFFRAY, Ana Paula Orila. Direito da Saúde de Acordo com a Constituição Federal.
São Paulo: Quartier Latin, 2005.
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais – uma teoria geral dos
direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 11ª edição. Porto Alegre: Editora
Livraria do Advogado, 2012.
202
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CORONAVÍRUS (COVID-19)
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo alinhar e avaliar os desafios presentes no exercício
da jornada de trabalho pelos teletrabalhadores brasileiros, sobretudo com o advento da
pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Esse escopo se justifica na medida que vem à
tona a preocupação com a saúde dos trabalhadores nos aspectos mental e físico no contexto
do teletrabalho, uma vez que esses empregados remotos poderão trabalhar “sem limites”,
escapando do poder diretivo do empregador e em desacordo com os direitos fundamentais
laborais. O método de pesquisa deste estudo é o dedutivo e as técnicas de pesquisa são a
bibliográfico-doutrinária, com a revisão da literatura e da legislação brasileira e
internacional sobre o tema, e também a técnica estatística, a partir da análise de dados
institucionais sobre a realidade do teletrabalho no Brasil. Este estudo é dividido em três
capítulos: “O teletrabalho, a jornada de trabalho e o direito à desconexão: os dilemas
teletrabalhistas à luz dos direitos humanos fundamentais dos trabalhadores”; “As
dificuldades estruturais e psicológicas enfrentadas pelos empregados no teletrabalho”; e
“Os impactos na saúde física e mental das pessoas que trabalham remotamente em tempos
de Covid- 19”. Como conclusões, infere-se que o teletrabalho pode ocorrer de forma a
prejudicar a qualidade de vida daqueles que praticam seu labor de maneira telemática, pois
apresenta uma jornada de trabalho sem limitação horária e, não raro, se associa à alta carga
de trabalho e à pressão da demanda de mercado. Urge, então, conferir prioridade à saúde
mental dos teletrabalhadores nessa fase incerta e garantir que o trabalho seja prestado em
condições benéficas a suas esferas psíquica e emocional.
34
Mestra em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), na área de concentração em Direitos e
Garantias Fundamentais. Graduada em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia. Advogada do
Escritório de Assessoria Jurídica Popular - ESAJUP/UFU. ORCID: http://orcid.org/0000-0002-4013-2070. E-mail:
cicilia_nunes@hotmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7306678828926262.
35
Especialista em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas).
Bacharel em Direito pela Faculdade Pitágoras. E-mail: claudiacostapaniago@gmail.com. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5005508434220006.
36
Especialista em Direito do Trabalho e Previdenciário na Atualidade pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (PUC-MG). Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). E-
mail: tceciliaramos@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4051938812175123.
203
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
The present work aims to align and evaluate the challenges present in the work shift by
Brazilian teleworkers, especially with the advent of the new coronavirus pandemic (Covid-
19). This scope is justified to the extent that the concern with the health of workers in the
mental and physical aspects in the context of teleworking comes to the fore, since these
remote employees will be able to work “without limits”, escaping the directive power of
the employer and in disagreement with fundamental labor rights. The research method of
this study is deductive and the research techniques are bibliographic-doctrinal, with a
review of the literature and brazilian and international legislation about the subject, and
also the statistical technique, based on the analysis of institutional data on the reality of
teleworking in Brazil. This study is divided into three chapters: “Teleworking, the working
day and the right to disconnect: the teleworkers dilemmas in the light of fundamental
human rights of workers ”; "The structural and psychological difficulties faced by
teleworkers"; and "The impacts on the physical and mental health of people who work
remotely in Covid-19 times". As conclusions, it is inferred that teleworking can occur in a
way that affects the quality of life of those who practice their work in a telematic way, as it
presents a working day without time limits and, often, is associated with a high workload
and pressure from market demand. Therefore, there is an urgent need to give priority to
the mental health of teleworkers in this uncertain phase and to ensure that work is provided
in conditions that are beneficial to their psychic and emotional spheres.
INTRODUÇÃO
204
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teletrabalho (artigo 3º, inciso I), para lidar com essa situação atípica.
Exposto esse problema de saúde que afeta o mundo e que ataca a realidade
seu exercício e os desafios para que isso se efetive, esta pesquisa está centrada no
submetido ao regime de duração do trabalho (artigo 62, inciso III). Desta forma, o
CRFB/1988).
preocupação com a saúde dos trabalhadores nos aspectos mental e físico, uma vez
que esses empregados remotos poderão trabalhar “sem limites”. Por conseguinte,
vista que a “teledireção” foi pouco explicitada na CLT com a Lei nº 13.467/2017
37
A MP 927 perdeu a validade em julho de 2020.
205
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fundamentais dos obreiros (artigo 1º, inciso III, combinado com o artigo 7º da
CRFB/1988).
de forma a prejudicar a qualidade de vida daqueles que praticam seu labor total ou
intuito de obter uma definição mais concreta da situação dos trabalhadores no Brasil
teórico.
206
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trabalho não pode ser visto somente como meio de obtenção de renda e
certa carga de subjetividade humana. É com essa perspectiva que se passa para o
preparados para essa realidade, cenário que resulta em complexos desafios para o
mundo do trabalho.
207
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pessoal e profissional, já que muitas vezes sofrem com a alta carga de trabalho e a
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diante deste mundo do trabalho marcado pela evolução tecnológica, pela deificação
razoável que permita ao empregado dispor de seu tempo livre, de forma a preservar
de prestação laboral.
2008, p. 298).
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hierárquicos.
experiência de trabalho remoto pode soar como positiva, uma vez que não
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disposição legal difere da prevista no artigo 75-D da CLT, que nada prevê nesse
salarial.
Rosane Gauriau (2020, p. 227) destaca que o artigo 75-D da CLT estipula
211
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capítulo adiante.
saúde física do trabalhador, por sua vez, a organização do trabalho impacta a saúde
mental do obreiro (DEJOURS, 1992, p. 78). Sendo assim, é fundamental garantir que
pode apresentar riscos à saúde física do indivíduo. A autora Denise Fincato (2009,
212
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a serem fornecidos aos empregados, bem como devem orientar a forma correta de
laborativa, pois este cenário pandêmico, com seus impactos no mundo do trabalho,
viabilizado aos empregados por meio de atendimentos virtuais por psicólogos, bem
213
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
laços humanos criados pela organização do trabalho, relações com a hierarquia, com
CONSIDERAÇÕES FINAIS
214
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pandêmico.
REFERÊNCIAS
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
20as%20medidas%20trabalhistas,)%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%
C3%AAncias.&text=Art.,-1%C2%BA%20Esta%20Medida. Acesso em: 20 ago. 2020.
216
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Karen Artur38
Ligia Barros de Freitas39
INTRODUÇÃO
sua mobilização como direito humano e fundamental. Além disso, o estudo enfatiza
linguagem de direito.
38
Doutora em Ciência Política. Docente de Direito do Trabalho da UFJF. Email: karenartur2014@gmail.com.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6014314141747645 .
39
Doutora em Ciência Política. Docente de Direito do Trabalho da UEMG. Email: ligiadefreitas@ig.com.br.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1456376742053508.
218
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o país de uma agenda de direitos humanos. Isso tem ocorrido por meio da adoção
jurídicos, evidenciam outros pontos que merecem atenção, além dos problemas
219
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humano fundamental, o mais básico de todos, pois é via acesso facilitado à Justiça
argumentos de justiça.
aos desdobramentos das últimas reformas na área trabalhista. Para tanto, após essa
220
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pela qual o Estado não apenas regula os efeitos do mercado, mas, sobretudo,
democraticamente construídos.
Nesse sentido, a única função legitimadora do direito é aquela que traz essa
o corpo do direito deve ser dissolvido nos interesses econômicos das últimas
sobre o acesso Justiça e sua evolução cronológica, que tal como posto por
representação jurídica para direitos difusos e a terceira onda que centra à atenção
de trabalho, defende que os custos individuais do litígio não devem ser menores
222
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puderam ter discutidas questões relativas à sua saúde, as quais são centrais para
40
Trata-se da pesquisa “Direito do Trabalho, mudanças institucionais e desafios impostos pelo mercado:
estratégias de defesa do trabalho digno”, coordenada pela Profa. Dra. Karen Artur, que conta com o trabalho
do bolsista VIC da UFJF, Marcelo Lopes Sobral Júnior.
223
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acesso à Justiça e a construção de uma sociedade mais igualitária, assim como fez o
TRT3.
2019).
de direitos humanos que são fruto de lutas históricas, expressos nos pactos sociais
224
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normativa, de modo que o juiz do trabalho não pode criar obrigações econômicas.
que os esforços devem significar a melhoria das condições sociais dos trabalhadores.
41
Para acesso à programação, ver: MP-GO. http://www.mpgo.mp.br/portal/noticia/evento-esump-ibsejur-
seguranca-juridica#.XrmqEWhKjIU. Para acesso à fala do ministro: ESUMP MPGO. I Congresso Brasileiro de
Segurança Jurídica. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8DcG6wXGHPs&t=6636s. Acesso em
11 de maio de 2020.
225
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Contra a MP, foram foram ajuizadas a ADI 6342, pelo Partido Democrático
Trabalhista, a ADI 6344, pela Rede Sustentabilidade, a ADI 6346, pela Confederação
Brasileiro, a ADI 6349, pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), pelo Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL) e pelo Partido dos Trabalhadores (PT), a ADI 6352,
Trabalhadores da Indústria.
negociação coletiva, trazida com a MP 927 e aceita pelo STF, ainda que sob o
226
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democráticas, ou seja, com ganhos para além das relações privadas, alcançando
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independentemente da forma contratual dos quais fazem parte, justamente por ser
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coronavírus.
Felizmente, por maioria dos votos dos ministros do STF, foram suspensos
entendimentos da Corte para o grave problema e não uma mera disposição para
jornada, como tempo de trabalho, respeito à saúde e à vida social já vinha sendo
OIT sobre o futuro do trabalho. No entanto, apesar desse olhar ter sido prejudicado
pelo atual governo, ele ressurgiu com força na pandemia, especialmente em razão
229
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uso como um processo de fuga da regulação trabalhista, o qual não seria uma
ARTUR, 2020).
qual o ministro Ives Gandra Martins Filho afirmou que o princípio da dignidade
humana não tem densidade normativa, ele afirmou que, ao acionarmos o celular,
230
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regras que visam à coesão social, já que tornam possível a fuga da regulação
por justiça social, a ponto das instituições judiciais unicamente servirem para
CONSIDERAÇÕES FINAIS
COVID-19 não têm sido diferentes dos julgamentos sobre pontos da Reforma
42
Essa decisão suspendeu liminar proferida pela 82ª Vara do Trabalho de São Paulo em sede de ação civil
pública ajuizada pelo MPT contra o Ifood, no processo nº ACP-1000396-28.2020.5.02.0082. A decisão reflete
o ânimo em afirmar a proposta das plataformas de que são meras intermediadoras e que não teriam
responsabilidades, além de haver uma omissão em reconhecer os direitos humanos fundamentais de todos os
trabalhadores.
231
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
para a defesa dos trabalhadores, com a negociação coletiva sobrepondo à leis, ainda
232
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Além disso, a própria atuação do MPT tem se mostrado firme na defesa dos
trabalho, essa instituição também tem atuado fortemente nos temas do meio
trabalhistas.
233
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economização do mundo não feche as possibilidades dessas disputas, que têm sido,
centralmente, desiguais.
REFERÊNCIAS
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
SADEK, Maria Tereza Aina: Acesso à Justiça: um direito e seus obstáculos. Revista
da USP. São Paulo, n. 101, p. 55-66 , 2014.
235
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
TRABALHISTAS
RESUMO
O presente artigo tem como objeto inicial a realização de uma discussão a respeito da
constitucionalização dos direitos trabalhistas sob a ótica da legislação simbólica. A seguir,
procurar-se-á perfazer uma análise acerca das Medidas Provisórias de números 927 e 936
editadas pelo Estado brasileiro em caráter excepcional e temporário para regulamentar as
relações de emprego em meio a pandemia do Covid-19 como um possível mecanismo de
precarização trabalhista. Posteriormente, os movimentos sociais serão indicados enquanto
meio de enfrentamento para tal condição, partindo da conscientização e da força
transformadora histórica que carregam.
ABSTRACT
This article has as its initial object the realization of a discussion about the
constitutionalization of rightshistas from the perspective of symbolic legislation. Next, an
attempt will be made to carry out a labor analysis of Provisional Measures 927 and 936
issued by the brazilian State on an exceptional and temporary basis to regulate employment
43
Mestranda em Trabalho, Democracia e Efetividade no Programa de Pós-graduação em Direito da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais com bolsa de pesquisa do CNPq. Especialista em Direito do Trabalho e
Previdenciário pela mesma instituição. Bacharel em Direito pela Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). E-mail: deboradejesus.barcelos@gmail.com.
http://lattes.cnpq.br/4533856264834711
44
Doutora e Mestre em Direito Material e Processual do Trabalho pela PUC - Minas. Possui graduação em
Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto (2011). Especialista em Direito Privado pela Universidade
Cândido Mendes - RJ e em Direito da Propriedade Intelectual pela Justus Liebig Universitat - Giessen,
Alemanha. Atualmente é professora Adjunto I da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Professora
convidada de cursos preparatórios para concursos e pós-graduações. E-mail: carolinasnovaes@gmail.com.
http://lattes.cnpq.br/2084982453540295
45
Graduanda em Direito pela Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC MINAS). E-mail: caroline2805.cs@gmail.com. http://lattes.cnpq.br/5364274653182608
236
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INTRODUÇÃO
com isso, posto que têm no trabalho o principal, quando não, o único meio de
indiferença Estatal no que se refere a proteção da classe mais fraca, haja vista que
número mesmo após o fim da pandemia, já que reduz os custos dos empregadores.
237
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
adotada por Harold Kindermann e difundida por Marcelo Neves (1994) para definir
termos práticos, percebe-se que os direitos trabalhistas não têm sido vistos, nem
tratados como direitos fundamentais, mas sim como direitos de ‘baixo-escalão’. Ora,
constitui, na realidade, um descaso com o próprio ser humano, o que não pode de
aplicabilidade fática.
hipótese a importância dos movimentos sociais, que, por certo, não se restringem a
disseminação do Covid-19.
238
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
jurídica e social, haja vista que a busca de novas soluções que tenham como objetivo
TRABALHO
sociais que deram vazão à sua criação. Conforme bem observa Maria Cecília
relação recíproca de causa e efeito, como se fossem os dois lados de uma mesma
moeda. Não é sem razão que “o Direito do Trabalho é essencialmente social, pois
sempre foi, é, e sempre será uma movimentação dos atores sociais em busca de
Porém, cumpre frisar, que não se trata de um direito gerado pacificamente, mas sim,
trabalho humano.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
mais tarde, cujo marco inicial em âmbito mundial foi a Constituição do México de
razão de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil, sendo a primeira editada após
contemplados até então, e, com isso, evidenciou a sua maior preocupação com a
240
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
envolvia a soma e a junção dos fatores reais de poder 46 que imperavam em uma
porém, Maria Cecília Máximo Teodoro (2014, p. 03) assevera, que esta veio para
46
Ferdinand Lassalle (1825-1864), que viveu no século XIX, entendia, à sua época, por fatores reais de poder
que imperavam em uma sociedade, a monarquia, a aristocracia, a grande burguesia, os banqueiros, a pequena
burguesia e a classe operária. Adaptando, porém, seus ensinamentos ao nosso tempo, não conseguimos
vislumbrar outros fatores reais de poder além do grande capital, compreendido em seu sentido amplo, e da
grande classe trabalhadora, também em sentido amplo, contemplando as diversas etnias, gêneros e crenças
que a compõem.
241
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vez, vem a ocorrer quando poder legislativo e poder negocial observam os ditames
e coletivas de trabalho.
47
Quanto à conceituação do incógnito termo “justiça social”, partilhamos do entendimento de Cléber Lúcio
de Almeida (2015), para quem, por justiça social entende-se, a garantia da participação de todos nos benefícios
do progresso econômico e social como instrumento de distribuição de riqueza, posto que o trabalho humano
é imprescindível para a sua acumulação, e, portanto, deve a riqueza ser distribuída da forma mais equitativa
possível para todos àqueles que contribuem para a sua formação.
242
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
classe trabalhadora, que então, fica sujeita a brechas para as mais variadas formas
de exploração.
EFETIVO
para se efetivarem.
De acordo com Luís Roberto Barroso (2006, p. 82-83), a efetividade das normas
realidade social”.
Nesse contexto, Marcos André Couto Santos (2004) ensina, que para que a
243
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Constituição torna-se letra morta, não passando daquilo que Marcelo Neves (1994)
(1994), pioneiro da teoria no Brasil, como a “[...] produção de textos cuja referência
não é inicialmente regular direitos e deveres, mas sim, atender a um jogo político.
textualidade apenas.
Teodoro (2014) ainda ensina, que é no plano da vigência social das normas
244
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(1994), adotando a classificação proposta por Harold Kindermann ensina que uma
legislação simbólica pode ter três objetivos, quais sejam: a) confirmar valores sociais;
para os problemas reclamados, ainda que esteja apenas a mascarar a realidade para
dar uma resposta pronta e rápida ao povo, embora não mova uma palha para a
245
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um texto legislativo que é aprovado consensualmente pelas partes, mas cujo objeto
não se funda na solução do empasse, mas sim, na transferência de sua resposta para
plano efetivo.
simbólica importa em um agir estratégico, posto que a atividade legiferante não tem
246
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concretização. Com isso, tanto a criação como a aplicação do direito tornam-se palco
direito se tornar refém de ideais político particulares que variam segundo os grupos
Nesse cenário, observa-se que o texto legal vai perdendo sua força enquanto
Nesse sentido, Carolina de Souza Novaes Gomes Teixeira (2015) nos lembra,
1988 não deve ser necessariamente comemorado. Ora, os direitos sociais ali
247
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toda a sociedade, que se vê despojada daquilo que lhe foi outorgado pela Carta
Máxima.
que grande parte dos direitos trabalhistas ali inseridos são simbólicos, posto que até
p. 05), “eles servem para guiar a pactuação da força de trabalho, mas também para
‘confortar’ os trabalhadores”.
e política simbólica.
despedida arbitrária (art. 7º, I, CF); proteção do mercado de trabalho da mulher (art.
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7º, XX, CF); aviso prévio proporcional ao tempo de serviço (art. 7º, XXI, CF);
por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (art. 7º, XXX, CF); direitos estendidos
à categoria dos trabalhadores domésticos (art. 7º, parágrafo único, CF), adicional de
diferenciação de salários por motivo de sexo, raça ou cor, ficou constatado que as
tempo parcial também são ocupados pelo público feminino. Não obstante, maior
ainda é a discriminação entre pessoas negras, que vêm recebendo cerca de 73,9% a
aviso prévio proporcional, mas sim o limita. Para tanto, argumentam que a norma
pois somente adia o compromisso de impedir, de uma vez por todas, a despedida
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arbitrária, já que apenas três dias de aviso-prévio por cada ano de trabalho não
Trabalhista foi bastante diferente, visto que restava por admitir a permanência de
mulheres grávidas em labor insalubre, recordando mais uma vez o papel simbólico
em julgamento liminar da ADIN 5938, mas não deixa de chamar a atenção para a
Frisa-se, que estes são apenas alguns dos inúmeros exemplos do caráter
1988, não se pode olvidar que há ainda outros direitos, igualmente fundamentais,
Ressalta-se, que vários destes direitos não foram efetivados como deveriam,
não em razão de sua orientação constitucional ou legal, mas sim, porque o país não
250
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Estado acaba por permitir a exclusão social e econômica das camadas menos
09).
subversão é ainda mais gritante. Isto porque, considerando que se tratam de verbas
grave retrocesso na proteção daqueles direitos mais essenciais ao ser humano, posto
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DA PROTEÇÃO TRABALHISTA
e ágil. Porém, as mudanças que têm sido feitas não observam os interesses da classe
precário.
48
Redação constante do art. 75 B da Lei 13.467/2017, bem como do art. 4º, § 1º da Medida Provisória nº 927,
de 22 de março de 2020.
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elencou o teletrabalho como uma das possíveis medidas a serem adotadas para o
renda” (Art. 3º, caput), porém, acaba por tornar esse tipo de trabalho ainda mais
fragilizado, à medida que o rege de forma menos exigente que os próprios moldes
regulamentação formulada pela Lei 13.467/2017 em seu artigo 75-C –, não exige,
avenças que envolvam custos com equipamentos, manutenção, entre outros gastos
Ressalta-se, que tanto a CLT quanto a MP preveem, que tais tratativas devem se dar
por meio de contrato escrito, conforme artigos 75-D e artigo 4º, § 3º,
contrato tais negociações no prazo de até trinta dias após a mudança do regime de
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impostas pelo empregador, o empregado controla sua jornada não mais pelo tempo
marcadores.
confusão entre sua jornada de trabalho e os momentos que deveriam servir ao lazer,
também, o tempo que deveria ser investido no lazer e na convivência familiar. Não
mortes e caos, tais condições se tornam ainda mais graves, o que gera um prejuízo
efeito, sobre ele acaba recaindo um ônus inesperado, tal como, por exemplo, os
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eletrônicos, eventuais gastos com telefonia, etc, tudo contrariando a ideia de que
Para além, outra medida apontada pela MP 927 é a alteração do prazo de aviso
prévio relativo ao gozo de férias, que na CLT é de trinta dias, com a necessidade de
tratarem de aviso prévio, e, em se referindo ao pagamento, que seja até o quinto dia
do mês subsequente. Já o pagamento do terço constitucional, por sua vez, pode ser
feito até a data da quitação do décimo terceiro salário. Como se vê, novamente há
dizer, sempre foi mister para o amparo econômico do trabalhador, quiçá, em tempos
de pandemia.
pois se opera uma ofensa ao princípio da norma mais favorável, dando lugar a
instrumentos antecedentes.
É valido elucidar que a Medida Provisória 927, felizmente, perdeu sua vigência
lei no prazo de sessenta dias, contados de sua edição, conforme previsto nas regras
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trabalho e dos salários em até 70% pelo prazo de até noventa dias e a suspensão
respectivamente.
para que seja realizada por intermédio de simples acordo individual. Convém
observar, no entanto, que tal previsão importa em violação direta ao artigo 7º,
irredutibilidade salarial, uma vez que a Lei Maior determina que a redução
coletivo de trabalho.
476-A regulamenta, que esta deve possuir a duração de dois a cinco meses,
econômicos.
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consequentes efeitos na condição psíquica dos indivíduos tem se tornado solo fértil
da crise gerada pela pandemia. “O home office foi adotado por 80,4% das
noticiou, citando outro estudo da FGV, que após a superação da pandemia por
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das normas sob análise, não é um movimento que emerge do contexto de pandemia,
mas foi por este intensificado, servindo a excepcionalidade como álibi para
caminho a ser trilhado na busca pela efetividade dos direitos trabalhistas, tendo em
vista que a proteção no plano jurídico não tem sido suficiente para barrar a
arbitrariedade?
trabalhista.
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salários. Com o passar do tempo, entretanto, concluíram que o cerne da questão não
Essa breve recapitulação histórica possui o fito único de demonstrar, que desde
Maria da Gloria Gohn (1997) assevera, não haver um conceito rígido e exclusivo
para descrever, o que, de fato, seja tido como um movimento social. Isso porque, o
movimento em si, possui uma intima relação com a realidade social que lhe é
49
Em sua obra, Schmidt destaca os movimentos intitulados de Ludismo, em que diversos operários, que eram
anteriormente artesãos, se agrupavam para destruir máquinas como modo de reivindicação, pois entendiam
que a máquina é que havia destruído os modos de sobrevivência pelo artesanato e também o movimento
chamado de Swing, este liderado por camponeses que também viam nas máquinas as razões de falência de
suas pequenas propriedades. (Schmidt, 2009, p. 312).
259
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não podem ser tomados enquanto paradigmas (GOHN, 1997, p. 13) para a definição
processos sociais” (GOHN, 1997, p. 343), além de serem plurais quanto as razões de
sua existência e também em seu modo atuante, daí porque se pode afirmar ser
grupos sociais, mas sim de uma reunião com um propósito firme. Neste sentido,
260
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poder necessário para não só colocar em pauta, mas também para promover a
que fundamentais sejam, não estão desde sempre postos, mas sim, são históricos,
de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas.” (BOBBIO,
diz respeito ao caráter não definitivo dos direitos, pois, de certa forma, implica dizer
que, embora a Constituição Federal de 1988 seja, com todo o seu arcabouço
importantes vitórias no campo jurídico, sua mera redação não significa o exercício
concreto e definitivo de tais direitos, o que faz surgir a necessidade de se lançar mão
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geralmente pressupõem uma grande mobilização de massas, o que, por sua vez,
muitas vezes, acabam reputando como assertiva a supressão de seus direitos sob o
Com efeito, é preciso que haja conscientização por parte dos trabalhadores no
possam atuar em busca da efetividade daquilo que já lhes foi garantido, tendo em
mente que não basta que o Estado reconheça formalmente os direitos fundamentais
na vida real. Essa efetividade, por sua vez, carece de uma atuação ativa não só dos
poderes executivo, legislativo e judiciário, mas também de uma atuação social que
anseie e reivindique por isso. Conforme já dizia Marx citado por Schmidt (2009, p.
aparente limitador pode ser facilmente superado com a mesma estratégia utilizada
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
da pandemia do novo Covid-19, estes direitos, que deveriam se mostrar ainda mais
sobretudo, a partir de uma omissão proposital por parte do Estado. Neste cenário,
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Isto porque, não raras vezes, percebe-se um atuar estatal baseado meramente
movimentos sociais bem definidos, para que se possa exigir uma postura realmente
protetiva do Estado, isto é, que não se restrinja apenas a esfera legislativa, posto ser
efetividade.
realidade social que os circunda, bem como, a compreensão de que precisa ser
mudada. Portanto, no atual contexto, lutar pela concretude dos direitos trabalhistas
264
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meio à pandemia. Se antes era difícil efetivar direitos, agora, ainda se deve lutar
para que não sejam suprimidos em tempos pandêmicos, tornando a exceção, regra,
uma vez que ciclos capitalistas enxergam na crise oportunidades para seus próprios
fins de exploração, o que não pode de modo algum ser admitido e precisa ser objeto
de luta.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Cléber Lúcio de; ALMEIDA, Wânia Guimarães Rabêllo de. Direito do
Trabalho e Constituição: a constitucionalização do Direito do Trabalho no Brasil.
São Paulo: LTr, 2017.
265
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BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 1 ed. 12. tir. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BOHEM, Camila. Número de empresas com home office deve crescer 30% após
pandemia. 2020. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-04/numero-de-empresas-
adotam-home-office-deve-crescer-30-apos-pandemia. Acesso em: 29 mai. 2020.
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LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 18. ed. São Paulo: Saraiva,
2014.
SCHIMDT, Mario Furley. Nova historia critica: Volume único. 1 ed. São Paulo:
Nova geração, 2005.
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INTRODUÇÃO
Journal of Environmental Research and Public Health” (14 April 2020) afirma que,
até aquele momento, não havia resposta global e padronizada à pandemia. Cada
vítimas do vírus. Como sabemos, não existe, até o momento, um antiviral específico
ou vacina para tratar ou combater a doença respiratória que vem ceifando vidas em
50
Doutora em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Pós-Doutora em Ciência
Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). E-mail:
bia.pbittencourt@gmail.com – Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2595875916200878
51
Doutora em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ). E-mail:
nayaracardoso@uol.com.br – Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2820087891391912.
270
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
atrás das quais essas mulheres têm seus direitos violados, a cooperação
e de proteção às vítimas.
OBJETIVOS
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REFERENCIAL TEÓRICO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
entre outras coisas, limita seu acesso a serviços essenciais. A pandemia tem
fruição dos direitos humanos das mulheres, as quais configuram a maioria das
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REFERÊNCIAS
ALVES, José Augusto Lindgren. Os Direitos Humanos como Tema Global. São Paulo:
Perspectiva, 2003.
NAÇÕES UNIDAS BRASIL. COVID-19: UNODC alerta sobre maiores riscos para
as vítimas de tráfico de pessoas. Disponível em: https://nacoesunidas.org/covid-
19-unodc-alerta-sobre-maiores-riscos-para-as-vitimas-de-trafico-de-pessoas/.
Acesso em 15/04/2020.
UNITED NATIONS. United Nations Office on Drugs and Crime. Global Report on
Trafficking In Persons. 2014. Disponível em:
whttps://www.unodc.org/documents/data-and-
analysis/GLOTIP_2014_full_report.pdf. Acesso: 22/05/2019.
VIJEYARASA, Ramona. Sex, Slavery and the Trafficked Woman: miths and
misconception about trafficking and its victims. Burlington: Ashgate, 2015.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
DE PANDEMIA
RESUMO
O presente estudo tem a finalidade de avaliar a possibilidade do compartilhamento de
dados pessoais como instrumento de combate à Covid-19. Quanto à justificativa, esta
decorre do fato de os dados coletados serem capazes de contribuir com a eficácia do
isolamento social ao apontar os locais de aglomeração entre pessoas infectadas. Sob esse
viés, será realizada uma pesquisa qualitativa, por meio do método investigativo analítico-
descritivo, para a observação de normas, doutrinas, jurisprudências e documentos escritos.
O primeiro tópico abordará o conceito, as características e a classificação doutrinária dos
direitos fundamentais no ordenamento jurídico. Em seguida será analisada a colisão entre
os direitos fundamentais à privacidade e à saúde pública. Para tanto, será levado em
consideração o implemento do Sistema de Monitoramento Inteligente no Estado de São
Paulo, o qual foi alvo de um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça. Por
conseguinte, com base na decisão do Supremo Tribunal Federal, será demonstrada a
influência da Lei Geral de Proteção de Dados – antes de sua vigência – no sistema
constitucional brasileiro. Por fim, conclui-se que, o uso de dados pessoais deve ser
considerado um instrumento de controle da Covid-19, desde que as informações coletadas
estejam em conformidade com as garantias de tratamento adequado e seguro de proteção
de dados.
ABSTRACT
This study aims to evaluate the possibility of sharing personal data as an instrument to
combat Covid-19. As for the justification, this arises from the fact that the data collected are
able to contribute to the effectiveness of social isolation by pointing out the places of
agglomeration among infected people. Under this bias, a qualitative research will be carried
out, through the analytical-descriptive investigative method, for the observation of norms,
52
Mestranda em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Universidade Candido Mendes, unidade
Centro/RJ. E-mail: maryboechatdacosta@gmail.com. Currículo lattes:
https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=4CA78712F748690965BC0F19317F1D5C.
274
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doctrines, jurisprudence and written documents. The first topic will address the concept,
characteristics and doctrinal classification of fundamental rights in the legal system. Then
the collision between the fundamental rights to privacy and public health will be analyzed.
For this purpose, the implementation of the Intelligent Monitoring System in the State of
São Paulo will be taken into account, which was the target of a habeas corpus at the Superior
Court of Justice. Therefore, based on the decision of the Supreme Federal Court, the
influence of the General Data Protection Law will be demonstrated - before its effectiveness
– in the Brazilian constitutional system. Finally, it is concluded that the use of personal data
must be considered an instrument of control of Covid-19, provided that the information
collected is in compliance with the guarantees of adequate and safe data protection
treatment.
Keywords: fundamental rights; privacy right; public health; personal data; pandemic.
INTRODUÇÃO
Brasil, segundo dados do Governo Federal, a taxa de letalidade é de 3,0% dos casos
vez que não possuem estrutura suficiente para suportar uma demanda em alta
escala.
275
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276
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2020, p. 309)
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limitabilidade dos direitos fundamentais, uma vez que estes não podem ser
dos povos e o direito de comunicação. Por sua vez, os direitos de quarta dimensão
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sentido, o art. 5º, caput, dispõe que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção
propriedade”.
um grande avanço normativo em relação as demais, uma vez que proporcionou aos
pacto social. A liberdade não se origina apenas da natureza, mas também resulta de
um contrato social. Nesse sentido, “cada um de nós põe em comum sua pessoa e
todo o seu poder sob a direção suprema da vontade geral e recebemos, enquanto
corpo, cada membro, como parte indivisível do todo”. (ROUSSEAU, 1983, p. 39).
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pessoal. Com o decorrer dos tempos uma nova dimensão foi inserida, abrangendo
tem para fazer ou deixar de fazer tudo aquilo que não prejudique outrem.
indivíduo conduzir a sua própria vida, sem a intromissão de terceiros. Sendo assim,
e da imagem.
que se acha a verdadeira lei da igualdade.” (BARBOSA, 1999, p.8). Para assegurar a
não pela sua generalidade, mas pela busca da igualização das condições
entanto, a incidência desses direitos foi estendida para o âmbito das relações
privadas, uma vez que a opressão e a violência contra os indivíduos não são
280
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pacífica entre as partes. Pode-se dizer que as garantias fundamentais estão previstas
E À SAÚDE PÚBLICA
apenas se torna possível à luz das circunstancias fáticas do caso concreto seguida
do postulado da proporcionalidade.
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essencial. Por este requisito, entende-se que existe um conteúdo essencial dos
direitos e garantias fundamentais que não pode ser violado, nem mesmo nos casos
restritivas.
a segurança jurídica dos cidadãos. Sendo assim, “uma lei nova que estabeleça
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direito deve preponderar no referido caso. Sendo assim, iremos abordar os limites
concreto.
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honra e da imagem. Nesse sentido, o art. 5º, inciso X, dispõe que “São invioláveis a
a vida privada consiste nas relações do indivíduo com o meio social, em que não
houver interesse público na divulgação. Por sua vez, a honra abrange a reputação
direito à privacidade (CF, art. 5º, X) ou pela inviolabilidade de dados (CF, art. 5º,
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como um direito social de segunda dimensão, tendo como destinatário final toda a
53
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 15
jun. 2020.
285
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com o princípio da dignidade da pessoa humana, uma vez que aquele se torna
diretamente ligado ao princípio maior que rege todo o ordenamento jurídico pátrio:
o princípio da dignidade da pessoa humana – razão pela qual tal direito merece
Ocorre que tal medida foi alvo de uma ação popular no Tribunal do Estado
(STJ). Em ambos os casos foram questionadas a falta de transparência, uma vez que
os termos da medida não foram publicados no Diário Oficial (DO), além disso não
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e não hipotética. Além disso, a relatora enfatizou que tanto o governo estadual
individualização dos dados dos usuários, não sendo possível identificar as pessoas
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ou seja, não são passíveis de individualização. Além disso, a medida tem o objetivo
NO PERÍODO DE PANDEMIA
54
Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/2020/decreto-64963-
05.05.2020.html#:~:text=Decreta%3A,entidades%20da%20Administra%C3%A7%C3%A3o%20P%C3%BAblica
%20estadual. Acesso em: 02 set. 2020.
55
Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/planosp/simi/. Acesso em: 5 set. 2020.
288
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Entretanto, esse avanço se tornou, na maioria das vezes, o responsável pela violação
dados como direito fundamental. No que se refere à tutela dos dados pessoais, seu
surgimento ocorreu no ano de 1970. A lei do Land Alemão de Hesse, de 1970; a lei
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Europeia aprovou a diretiva 95/46/CE referente à proteção dos dados das pessoas
legis após a data de sua publicação. Porém o Senado Federal, no dia 3 de abril,
seguida, foi editada a Medida Provisória (MP) n. 959 de 202056 que previa a vigência
Presidente da República.
envolva a utilização de dados pessoais, inclusive, nos meios digitais, por pessoa
localizados os dados. Ou seja, a lei tem por fim garantir direitos aos usuários e
Federal (STF) suspendeu a eficácia da Medida Provisória n. 954, de 202057, que prevê
56
Disponível em: https://www.congressonacional.leg.br/materias/medidas-provisorias/-/mpv/141753.
Acesso em: 05 set. 2020.
57
Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/medida-provisoria-n-954-de-17-de-abril-de-2020-
253004955. Acesso em 09 jul. 2020.
290
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Nesse sentido:
58
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=442823&ori=1. Acesso
em: 03 set. 2020.
291
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combate à pandemia e nem a sua necessidade, uma vez que não foram informados
que a pandemia do novo coronavírus não pode ser considerada um pretexto para a
responsabilidade.
59
Direito do indivíduo de controlar e proteger os próprios dados pessoais, levando em consideração a
tecnologia e o processamento de informação.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
diretamente impactados pela crise sanitária global. Desse modo, discutiu-se sobre a
da Covid-19.
petição inicial, por entender que o HC não era o meio adequado, além disso
enfatizou que não houve a individualização dos dados coletados – ou seja, não
293
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de processamento de dados.
que a pandemia do novo coronavírus não poderia ser considerada um pretexto para
294
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Ruy. Oração aos Moços. Edição Popular anotada por Adriano da Gama
Kury. 5. edição. Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro: 1999.
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos fundamentais. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
SILVA, José Afonso da. Poder Constituinte e Poder Popular. São Paulo: Malheiros,
2007.
296
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
O objetivo do artigo consiste em compreender os contornos da repercussão dos
movimentos grevistas dos trabalhadores por plataformas digitais de entrega durante a
pandemia de Covid-19, com foco para as greves internacionais no âmbito da América
Latina e para as paralisações realizadas no Brasil. A escolha do tema se justifica por sua
atualidade e relevância, uma vez que lida com questões sociais pulsantes. Quanto aos
métodos de pesquisa, conjugam-se a revisão bibliográfica e a pesquisa empírica documental
(a partir das bases materiais atinentes à convocação dos movimentos por parte dos
trabalhadores e à propagação desses atos por veículos de informação). Na introdução, são
expostas as delimitações metodológicas da análise, bem como o enfoque crítico que se
pretende conferir: isto é, busca-se situar os movimentos grevistas no contexto de
explicitação das contradições do modo de produção capitalista (com foco para o conflito
capital-trabalho). Por sua vez, o desenvolvimento é dividido em três eixos de análise: o
primeiro se destina ao mapeamento das três primeiras greves internacionais na América
Latina; o segundo se debruça sobre os movimentos realizados no Brasil; e o terceiro diz
respeito a uma abordagem crítica acerca do fenômeno da uberização. Na conclusão, retoma-
se a hipótese de pesquisa, que consiste na apreensão de que se encontra em curso uma
tendência de internacionalização da articulação coletiva dos entregadores por plataformas
digitais.
60
Mestranda em Direito do Trabalho e Direito Previdenciário (PPGD/UERJ; bolsista CAPES). Pós-graduada em
Direito Processual e do Trabalho pela CBEPJUR. Graduada em Direito pela Faculdade Nacional de Direito da
UFRJ. Integrante do grupo de pesquisa Trabalho no Século XXI (UFRJ). E-mail: anabeatrizbuenoadv@gmail.com.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4954660805246043.
61
Doutoranda em Teoria e Filosofia do Direito pelo PPGD/UERJ e em Sociologia pelo Instituto de Estudos
Sociais e Políticos (IESP/UERJ, bolsista CNPq). Mestra e graduada em Direito pela UERJ. Integrante do
Laboratório de Estudos Interdisciplinares Crítica e Capitalismo (LEICC/UERJ). E-mail:
brunapmcoelho@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1876206005014598.
62
Graduada em Direito pela Faculdade Nacional de Direito da UFRJ. E-mail: mariaeugeniapsena@gmail.com.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5514554213595707.
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
The objective of the article is to understand the repercussions of delivery workers’ strikes
during the Covid-19 pandemic, with a focus on international strikes in Latin America and
on the stoppages in Brazil. The choice of the theme is justified by its topicality and
relevance, since it deals with pulsating social issues. As for research methods, the
bibliographical review and empirical documentary research are combined (from the
material bases related to the summoning of movements by workers and the propagation of
these acts by means of information). In the introduction, the methodological delimitations
of the analysis are exposed, as well as the critical approach that is intended to be conferred:
that is, the article aims to understand the strikes in the context of deepening of the
contradictions of the capitalist mode of production (with a focus on the capital-labour
conflict). In turn, development is divided into three axes of analysis: the first axis intends
to map the first three international strikes in Latin America; the second one focuses on the
movements carried out in Brazil; and the third one concerns a critical approach about
uberisation. In conclusion, the research hypothesis is resumed, which consists in the
apprehension that a trend towards internationalisation of the collective articulation of
deliverers by digital platforms is underway.
INTRODUÇÃO
interconectam e geram influxos recíprocos a partir da lógica social ditada pelo modo
298
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
todo o mundo. Nesse sentido, o tema deste artigo diz respeito aos movimentos
de serem formalmente tidos por “autônomos”, ainda assim optamos pela palavra
classe trabalhadora.
63
O termo “plataforma digital” é preferível em relação ao termo “aplicativo”, na medida em que, como
preceituado por Rodrigo Carelli: “Aplicativo é o nome dado ao programa instalado em aparelhos eletrônicos
para acesso à plataforma digital operada por uma empresa. Ora, hoje em dia todas as empresas têm um
aplicativo, obviamente não se confundindo com ele” (CARELLI, 2019).
299
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
exponencialmente, plataformas de entrega como Loggi, Ifood, Rappi, Uber eats e Glovo
são apontadas, pela classe capitalista, como formas de facilitar o cotidiano e gerar
de julho de 2020.
de elaboração do artigo (julho de 2020), sem que com isso se ignore o fato de que já
300
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
trabalhadores, no período de abril a julho de 2020, com foco para a América Latina
seus contornos e seus efeitos na articulação da luta coletiva. Por sua vez, o terceiro
64
Para uma análise de dados estatísticos a respeito das condições de trabalho dos entregadores durante a
pandemia no Brasil, cf. ABÍLIO et al, 2020.
301
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Como recorte metodológico, optamos por abordar, neste tópico, os três primeiros
Glovers Unidos Argentina, ATR, Glovers Unidos España, Glovers Ecuador, Glovers Costa
ser acessada pelo endereço eletrônico da Prensa Obrera (2020). Nas redes sociais,
#22AParoInternacionalDeRepartidores e #22ANoReparto.
302
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
OBRERA, 2020).
do dia 05 de abril de 2020), Costa Rica, Peru e Espanha. Por fim, vale ressaltar que
dos trabalhadores a nível supranacional, uma vez que a degradação das condições
importar a nacionalidade nem o aplicativo [...], temos que nos unir em uma luta
todos os países é o único caminho para conquistar nossos direitos” (cf. PRENSA
maio de 2020, desta vez somada pelo movimento Ni un repartidor menos, contando
que a origem do coletivo Ni un repartidor menos fora motivada, dentre outros fatores,
pela memória de José Manuel Matías, que perdeu a vida em novembro de 2018,
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Brasil, uma vez que, em conjunto com a greve nacional do mesmo dia (que será
analisada no tópico seguinte deste artigo), o país passou a integrar também a lista
Argentina, Glovers Ecuador, Riders Unidos Ya Chile, Org. Repartidorxs Unidxs Costa
precarização, o que fez com que a paralisação fosse aderida por trabalhadores do
a unidade dos trabalhadores de todo o mundo, que enfrenta não só a crise sanitária,
mas também a crise capitalista que os governos e empresas tentam colocar sobre as
das contas), justiça em memória dos trabalhadores que perderam a vida, concessão
pedidos sem ser sancionado por isso, além de medidas de saúde em face da
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
América Latina parece apontar para o sentido de nossa hipótese de pesquisa traçada
capitalista tende a se internacionalizar cada vez mais (e, com ela, o poderio político-
de trabalhadores.
tenha sido 66 a mais expressiva no cenário nacional, ela não foi a primeira
65
Optamos por utilizar o termo greve, muito embora os instrumentos de convocação dos trabalhadores
tenham dado preferência à expressão breque, para reforçar a subordinação contida nesta relação de trabalho.
Vale ressaltar que não ignoramos o fato de que exista uma disputa, mesmo dentro do movimento de
entregadores, a respeito da melhor forma de caracterização das paralisações. Essa disputa se reflete, inclusive,
na escolha dos arranjos discursivos a serem veiculados para o público.
66
Até a data do término da escrita deste artigo (31 de julho de 2020).
305
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
(SINDIMOTO/SP, 2020)
em termos gerais, há, ainda, uma estrutura organizativa limitada, uma vez que esses
cenário nacional. Convocado através de uma cartilha divulgada nas redes sociais e
(SINDIMOTO/SP, 2020).
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
smartphone.
trabalho em constante risco, sem qualquer amparo por parte das plataformas ou do
Estado, por um valor praticamente irrisório. Consoante a Rede Brasil Atual, “só o
IFood recebeu 480 mil novos inscritos, entre março e junho. Já a Rappi diz ter
registrado aumento de 128% em abril, na comparação com igual mês ano passado”
(PEREIRA, 2020c).
minutos por dia. Além disso, 30% pedalam mais de 50 km por dia, e a principal
67
Segundo o site da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, “criada em 2003 e formalizada em 2009, a
Aliança Bike é uma associação que tem como missão fortalecer a economia da bicicleta e o seu uso por
brasileiras e brasileiros, atuando em diversas frentes de trabalho para promover o uso de bicicletas como
transporte, esporte e lazer” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO SETOR DE BICICLETAS - ALIANÇA BIKE, 2020).
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(Unicamp), 68,9% dos entregadores tiveram queda nos ganhos durante a pandemia.
salário mínimo (R$ 1.045), caindo para 26,7% a proporção dos que afirmavam
308
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ATUAL, 2020).
o país, com maior engajamento em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,
68
Nesse sentido, de acordo com o The Intercept Brasil: “Vender a ideia de independência dos profissionais é
uma estratégia para se distanciar deles e das obrigações que teriam que assumir caso admitissem o que se vê
na prática: que funcionam com base em hierarquias rígidas e criam relações de poder em que os entregadores
são o lado mais frágil” (LARA; BRAGA; RIBEIRO, 2020).
309
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embora os números apontem que o movimento do dia 25 de julho contou com mais
adesão de apoiadores do que de entregadores, isso não é uma perda, pois essa
(DO.TRABALHADOR, 2020a).
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
dados coletados pelo jornal O Globo, a partir do site Appbot, que faz o
acompanhamento das notas atribuídas às aplicações nas lojas virtuais Google Play
Por fim, conclui-se que, embora a luta dos entregadores de aplicativos seja
DIGITAIS DE ENTREGA
das relações de trabalho que lhe é inerente acaba por estimulá-los, uma vez que os
condições de trabalho.
311
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
falsa aparência de liberdade, como preceituado por Han (2018, p. 14). As atividades
69
Conforme OLIVEIRA, CASTRO e SANTOS (2017, p. 100), percebe-se que “a reestruturação produtiva do
capital, baseada na precarização do trabalho e na flexibilização do uso da força de trabalho, está diretamente
ligada a ascensão da razão empreendedora como solução de problemas sociais”
312
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
conformidade com o artigo 8º, caput, da CRFB/88. Afinal, para que um sindicato
não haveria o que se falar de representação sindical. Dentro desse raciocínio, esses
o que não seria a situação ideal, na medida em que, na realidade fática, são
70
Pode-se exemplificar o não reconhecimento do vínculo de emprego na seguinte sentença: A magistrada
entendeu que a plataforma rappi “apenas disponibiliza a sua plataforma para que os possíveis entregadores
se cadastrem, fazendo uma intermediação entre empresa terceira-entregador, possibilitando a entrega dos
produtos aos consumidores”. Ao verificar se havia subordinação, ponderou pela existência de uma autonomia
mitigada, na medida em que “são poucos os trabalhadores celetistas que podem escolher livremente quais
dias trabalhar, sem ingerência de seu empregador”. Dessa forma, afirmou que não há uma “figura jurídica que
esteja entre a relação de emprego e o trabalhador totalmente autônomo”, logo, “ou o trabalhador é
empregado ou não é” e por não verificar os elementos do vínculo de emprego, não o reconheceu (BRASIL.
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Processo nº 1000952-03.2019.5.02.0070, 2019). Já o
reconhecimento do vínculo de emprego pode ser exemplificado na seguinte sentença: Foram encontrados os
elementos caracterizadores do artigo 3º, da CLT: a pessoalidade se configurou por o motoboy ter que “ser
necessariamente cadastrado na ré, isto é, passar pelos critérios definidos pelas reclamadas, não podendo ser
alguém escolhido exclusivamente pelo dono do veículo ou por algum motoboy já cadastrado na ré”; a
onerosidade foi observada pelo “pelo interesse econômico mútuo na relação de trabalho”; a habitualidade foi
observada pela continuidade de serviço realizado para plataforma rappi durante um período específico; a
subordinação foi evidenciada com a negativa do motoboy ser autônomo, bem como foi afirmado que o
“simples fato de autor ter liberdade na escolha dos dias que trabalharia não o aproxima do autônomo, como
regra, e sim da figura do empregado intermitente, categoria de empregado que é autorizada a escolher se
aceita ou não o labor a convite da empregadora”. A magistrada, ainda, afirmou que “o uso de meios
tecnológicos não descaracteriza a subordinação direta”, conforme o artigo 6º, da CLT (BRASIL. Tribunal
Regional do Trabalho da 2ª Região. Processo nº 1000955-39.2019.5.02.0043, 2019).
71
É válido mencionar que “as associações profissionais (coletivas) não sindicais possuem a finalidade precípua
de defender direitos, interesses e prerrogativas apenas de seus associados nos termos das disposições contidas
em seu estatuto” (CABRAL; PAULA, 2020, p. 130).
313
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Reparto Argentina (ATR); Glovers Unidos Argentina; Glovers Unidos España; Glovers
trabalhadores para que possam resistir frente à expansão do capitalismo e lutar por
Nesse mesmo sentido, Virgínia Fontes pontua que “quanto mais se expande
Essa figura demonstra ser uma estratégia dos “Estados capitalistas” – assim
2018).
314
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plataforma realiza o denominado “bloqueio branco” como punição: “Você vai para
a manifestação e no dia seguinte tá ali no bloqueio branco (...) você não é bloqueado
oficialmente, para não ter problema judicial, mas você para de receber os pedidos”
Ludmila Abílio: “o dia que eu participo de manifestação, eu não ganho nada, mas
no dia que não participo, ganho mais, porque cai a oferta de motofretistas”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
financeiro, dependendo das diárias e gorjetas para o sustento das suas famílias.
resgatar nosso problema de pesquisa e nossa hipótese, que haviam sido lançados na
introdução: de fato, a pandemia parece ter sido o motor social para a potencialização
316
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acumulação capitalista.
REFERÊNCIAS
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CABRAL, Angelo Antonio; PAULA, Guilherme Lima Juvino de. Sujeitos coletivos
de trabalho e o trabalho no século XXI: organização coletiva dos trabalhadores de
plataformas digitais. In: Revista do Tribunal Superior do Trabalho, vol. 86, n. 1.
(jan../mar. 2020). p. 119-135. Disponível em:
<https://hdl.handle.net/20.500.12178/175710> Acesso em: 27 jul. 2020.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho, 17. ed. rev. e ampl.
São Paulo: LTr, 2018.
DO.TRABALHADOR. Balanço dos breques dos apps. 2020. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=hE9sVUhGyQ4> Acesso em: 31 jul. 2020
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
<https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2020/06/greve-aplicativos-
entregadores/> Acesso em: 31 jul. 2020.
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RESUMO
A partir do estudo do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no assentamento
Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Osvaldo de Oliveira – no município de
Macaé –, foi possível perceber que estudar o MST é não se ater apenas em sua construção e
luta pois, tema complexo, tangencia inúmeras áreas do direito. O objetivo é compreender a
invisibilidade campesina, sobretudo em tempos de pandemia e como sua atuação em
direitos humanos ao mesmo tempo em que os demanda. Outrossim, objetiva-se falar um
pouco do papel da mulher no contexto do movimento, justificando-se a importância dos
direitos fundamentais à luz do sistema de garantias, no qual estamos inseridos. A
metodologia utilizada é a pesquisa-ação e revisão da literatura. Importa dizer que em razão
da pandemia, foi preciso adaptar a metodologia, de modo que a colheita de dados ocorreu
de forma virtual para fins de conclusão desse. No desenvolvimento serão abordados dois
capítulo. O primeiro capítulo discorrerá a respeito da (in)visibilidade do movimento em
contraponto a rede solidária estabelecida pelo assentamento e direitos que embora
positivados, carecem de efetivação. Já o segundo capítulo, tratará do trabalho e gênero no
campo, e como se dão essas relações. Podendo-se, nas considerações finais, concluir que o
modelo de produção desenvolvida no movimento, se apresenta como resistência e anuncia
direitos e garantias fundamentais, e alternativas face a problemas sociais e econômicos.
Tem-se os processos agroecológicos como emancipatório, e reconstrutor de relações
socioeconômicas e ambientais. Evidenciando-se como demandante e precursor de políticas
públicas, empreendendo esforços para obtenção e promoção de saúde, alimentação,
educação e emancipação de gênero.
72
Doutora pelo PPGSD/UFF. Professora Adjunta no Curso de Direito da UFF/ICM/MDI. Pesquisadora e líder do
Grupo no Diretório do CNPq “Observatório de Estudos e Pesquisa do Interior: Território, Populações
Tradicionais e Políticas Públicas”. Pesquisadora FAPERJ. andrezaafc@hotmail.com. http://lattes.cnpq.br/52318
24758786824.
73
Bacharelanda em Direito pela UFF. Bolsista FAPERJ. larissacz@id.uff.br.
http://lattes.cnpq.br/3751194523132 930.
321
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
From the study of the Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) at the Projeto de
Desenvolvimento Sustentável (PDS) settlement - in the municipality of Macaé - it was
possible to realize that studying the MST is not just sticking to its construction and struggle
because, a complex theme, touches numerous areas of law. The objective is to understand
the peasant's invisibility, especially in times of pandemic, and its role in promoting human
rights at the same time that it demands them. Furthermore, it aims talking a bit about the
role of women in the context of the movement, justifying the importance of fundamental
rights in the light of the guarantee system, in which we are inserted. The methodology used
was action research and literature review. It is important saying that due to the pandemic
it was necessary to adapt the methodology so that data collection took place in a virtual
way, for the purpose of concluding this article. In the development, two chapters will be
approached. The first one will talk about the (in)visibility of the movement in contrast to
the solidarity network established by the settlement and rights that, although positive, need
to be implemented. The second chapter, on the other hand, will deal with labor and gender
in the field, and how these relations take place. It can be concluded, in the final
considerations, that the production model developed in the movement presents itself as
resistance and announces fundamental rights and guarantees, and alternatives in the face
of socioeconomic problems. Taking the agroecological processes as emancipatory, and
reconstructor of socioeconomic and environmental relations; showing itself as a plaintiff
and precursor of public policies, making efforts to obtain and promote health, food,
education and gender emancipation.
INTRODUÇÃO
“Quem você pensa que eu sou, aquele que você viu na TV?
O que te faz pensar que sou tão diferente de você?
Pois tenho família e filhos pra criar
E sou eu que estou aqui, lutando pelo que é meu por direito
Devo ocupar, Devo produzir, Devo resistir”
(MST – Dead Fish)
O presente trabalho tem início com o projeto de iniciação científica desde 2018, a
partir do estudo de gênero no contexto do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST),
322
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desenvolvimento de pesquisa e extensão foi possível observar que estudar o MST é ir além
fundamentais.
questão social a ser enfrentada e superada e, em que pese os movimentos sociais tenham,
em certa medida, conseguido alguma democratização dos espaços, isso não é recorrente e
é constante a luta para afirmação de suas culturas e políticas de inclusão: contra a exclusão,
imposto ao movimento que, mesmo com suas demandas e lutas por políticas públicas,
pleno gozo por assentadas e assentados – conseguem promover ações enquanto atores
sociais para a promoção de direitos fundamentais como alimentação, saúde, meio ambiente
e educação.
dos direitos de segunda dimensão preconizados, que se esbarram no fato de que quem
deveria dar efetividade a esses direitos, não os promovem, seja pela falta de vontade ou
sempre existente, mas que vem à tona em tempos de pandemia, não somente pelas
323
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Defesa da Reforma Agrária (JURA), assim como a análise e estudo de casos, tudo a partir
movimento e sua atuação enquanto ator social e precursor de políticas públicas em direitos
humanos no combate das desigualdades sociais no campo. Assim como entender suas
para o próprio grupo, mas também aberta aos demais da sociedade, além da importância
pandemia do nível da COVID – 19. Por fim, objetiva-se discorrer um pouco sobre o papel
74
Explica-se que apenas por limitação de espaço e recorte de objeto de pesquisa, a condição de gênero será
tratada a partir das participações e estudos de campo, não tendo sido possível realizar um recorte racial e de
orientação e identificação de gênero, em que pesa seja reconhecida a relevância do estudo.
75 Análise pelo conceito de Achille Mbembeque em que coloca que o Estado dita quem está ‘apto’ a viver e
quem deve morrer, dando espaço a inumanidades. E em que (…) “populações são submetidas a condições de
vida que lhes conferem o status de ‘mortos-vivos’” (MBEMBEQUE, 2016).
324
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partilha de poder, isto é, através da constituição de uma instituição na qual atores estatais
permita a sociedade civil se expressar com liberdade de voz, manifestar seus conflitos
Dentre muitos direitos que devem ser efetivados ao movimento, os direitos sociais
são um grupo de direito que estão assegurados no artigo 6º da Constituição Federal como
seu artigo XXV que “todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz (..)”, dentre
outros, de ter assegurada sua “saúde e bem-estar, principalmente quanto à alimentação, (...)
vontade”. Ao mesmo tempo, a ONU fomentou a criação de órgãos especiais atrelados a sua
para uma vida digna. Frisa-se, seu titular é a coletividade, não admitindo distinção. Todos
esses temas são indissociáveis pois tocam o MST de certa maneira. E em que pese direitos
325
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Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU para 2030, que consiste em um plano de ação
para países e indivíduos de todo o mundo, que reconhece em todas as formas e dimensões
universal com maior liberdade são os maiores desafios global (ONU, 2015). Isso traz à tona
as mazelas da sociedade e o fato de ainda termos atualmente que discutir direitos básicos e
urgentes para uma vida digna; sobre direitos que já eram para estar consolidados. Para
demonstrar tal afirmação, tem-se, por exemplo, que a Constituição Federal acrescentou o
direito social à alimentação em seu artigo 6º apenas em 2010, por meio da Emenda
sustentável, e que também está inserido no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos
Importa dizer que os ODS da ONU para 2030 foram pactuados após o limite da
(Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável). Foi em 2015 que
mais de 150 líderes mundiais se reuniram na sede da ONU em Nova Iorque e passaram a
visar um plano de ação para países e indivíduos para desenvolvimento mundial, baseado
326
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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planeta, bem como para a promoção de paz, de vida digna e principalmente erradicação da
são obrigatórios, mas enquanto países signatários, e aí inclui-se o Brasil, trata-se de uma
que pode ser implementado por políticas públicas, planos e programas a serem
desenvolvidos pelos países, assim como por meio de ações entre governos, empresas,
notadamente divergente.
Em que pese as fragilidades enfrentadas pelo movimento para efetivar tais direitos
– mesmo que positivados –, o que é possível observar é que o MST demonstra atuação
doações em todo o Brasil, calculando-se por meio do site oficial do movimento a entrega de
cerca de 2.800 tonelada de alimentos até 12 de agosto de 2020 (MST, 2020). No PDS Osvaldo
de Oliveira, pode-se destacar que mesmo sob ameaça de despejo, as famílias se organizaram
alicerce “a projeção de trabalho de base nos territórios, distribuindo alimentos nas favelas,
327
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urbanos” (CÂMARA et al., 2020), movimentando-se de invisível para visível, ao menos aos
olhos de quem é ajudado e quem toma conhecimento das medidas. Seguindo, porém, na
pessoas acreditam que o "MST existe por influências subversivas dos partidos de
328
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poderia deixar de ser analisado com amplitude e com olhar para a importância de
pandemia a vida como um todo importa, de saúde a alimentação, como bem estar
e lazer.
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que no momento não podem receber as feiras. Isso ocasiona grande dificuldade para
movimento, embora com tantas dificuldades impostas, nos ensina, não só pelo
trabalho e convivência entre pares, tendo como objetivo tentar resgatar informações
do que é ser mulher, e em que este “ser homem” possui maior status social. Designa
330
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
“ajudantes”, o que gera uma desvalorização do trabalho das mulheres, já que o que
desempenha acaba por não ter valor econômico de renda para a casa (SILVA &
maioria dos espaços, principalmente nas direções, tendo a busca de igualdade, sido um
331
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mostram que para as mulheres tal contexto fez aumentar os índices de violência
doméstica contra elas, que passam mais tempo em casa com seus agressores, o que
2020), demonstrando que o lar nem sempre e não para todos é o local mais seguro
do mundo.
saúde instaurada que foi criada a campanha “Mulheres Sem Terra: contra o vírus e
as violências” (Idem), que foi pensado em três eixos e com o intuito de que seja
acabam por refletir as relações sociais externas, então mesmo com todas as
76
O termo correto para essas discussões seria ordem patriarcal de gênero. Não apenas por se tratar de um
termo mais completo, mas porque pelo que se observa das relações, o problema não está detido apenas no
gênero – termo genérico, mas a uma subordinação das mulheres supostamente devida ao homem e que
culmina nessa desvalorização da mulher, impondo-se mesmo como uma “ordem” do patriarcado ao gênero
mulher (SAFFIOTI, 2011). Tal conceituação não será possível discutir no presente trabalho com tamanha
profundidade que merece, mas vale o registro dessa outra forma de classificação do que queremos abordar,
que é a desigualdade entre homens e mulheres em diferentes esferas da vida pública e particular.
332
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
peculiares, é preciso de programas como esse, pois acaba por haver também
violência no campo.
Assim é que as políticas de equidade são úteis a enfrentar eixos que impõem
AMBIENTE, 2018).
Pois considerar as mulheres apenas como ‘ajudantes” faz com que elas
vontades. Por isso é que “debater a divisão sexual do trabalho, compreendendo que
333
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
direito iguais em gênero, carrega elementos cruciais para promover e manter essa
como esses – que está instituído na saúde –. Isso porque, se a mulher tem acesso
requisito para o alcance da justiça social – que tem o acesso e a participação das
para seu convívio social de forma igualitária, em aspecto cotidiano e nos contextos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
luta-se para que seja priorizado processos de inclusão social de setores e camadas
MST, ganham corpo cada vez mais e que suas ações, por si só, possam ser
334
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
democrática.
gênero.
seu papel como precursores de cidadania, mas que em contrapartida muito precisa
de efetivação de direitos.
335
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
plenas, sujeitas de direitos, sendo estirpado qualquer tipo de violencia contra elas,
poderão se colocar ativamente na luta pela terra e por suas próprias demandas e
vontades. Que viabilize serem sujeitas políticas ou sociais, como queiram, e que
REFERÊNCIAS
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
MST. O que a atual pandemia revela sobre o 13 de maio de 1888? Disponível em:
< https://mst.org.br/2020/05/13/artigo-o-que-a-atual-pandemia-revela-sobre-o-13-
de-maio-de-1888/>. Acesso em: 13 mai. 2020.
337
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
MST. Em território sem terra não pode ter violencia contra mulheres. Disponível
em: <https://mst.org.br/2020/06/03/a-quarentena-o-fascista-e-a-violencia-contra-as-
mulheres/>. Acesso em: 08 set. 2020.
338
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
DIREITO À MORADIA
RESUMO
A Lei n. 14.010/2020 dispõe sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações
jurídicas de Direito Privado no período da pandemia do Coronavírus. O artigo 10 da lei
prevê a suspensão dos prazos de aquisição para a propriedade, nas diversas espécies de
usucapião, o que significa dizer que o prazo suspenso não se contabiliza para fins de
requisito temporal. Justifica-se o presente estudo, uma vez que a suspensão de prazos é
uma medida excepcional no Direito Privado, que pode afetar a situação jurídica do
possuidor direto, o que levou à indagação se tal escolha legislativa se configura como a mais
adequada a tutelar o direito à moradia. Assim, a partir de pesquisa bibliográfica, com uma
abordagem qualitativa, o estudo visa analisar a razão do legislador criar a regra para
suspender o prazo para aquisição de propriedade, nas diversas modalidades de usucapião,
e as repercussões dessa medida para os prazos em curso, sob a perspectiva da efetivação
do direito social à moradia.
ABSTRACT
The Law 14.010/2020 provides on the Emergency and Transitional Legal Regime of Private
Law relations on the period of Coronavirus pandemic. The Article 10 of the law provides
for the suspension of the acquisition periods for ownership, in the various species of
usucaption, which means to say, that suspend period is not counted for the time
requirement. The present study is justified since the suspension of terms is an exceptional
77
Advogado; Bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense; alexandrehamasaki@id.uff.br,
http://lattes.cnpq.br/0514538485850387.
78
Doutora em Direito da Cidade pela UERJ, em co-tutela com a "Università di Roma - La Sapienza", mestrado
em Direito Civil pela UERJ e graduação em Direito pela UERJ; Professora Adjunta de Direito Civil da
Universidade Federal Fluminense (Volta Redonda); psilvacardoso@yahoo.com.br,
http://lattes.cnpq.br/8018781068310809.
340
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
measure in Private Law that can affect the legal situation of the direct possessor, which led
to the question whether such legislative choice is the most appropriate to protect the right
to housing. Therfore, based on bibliographic research, with a qualitative approach, the
study aims to analyze the reason of the legislator to create the rule to suspend the term for
acquisition of ownership, in the diverse modalities of usucaption, and the repercussions of
this measure for the terms in course, under the perspective of the effectiveness of the social
right to housing.
INTRODUÇÃO
da Lei n. 14.010/2020). O que significa dizer que, quando a lei entrou em vigor,
voltará a correr após o dia 30 de outubro de 2020. Durante esse período, não se
341
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
342
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Brasil, além de instituir normas que fossem transitórias para que não afetassem
fundamental para a criação da proposta de lei. Por ser uma situação totalmente
79
Por exemplo, visando preservar relações jurídicas, o Projeto de Lei n. 1.179/2020 previa sobre a resilição,
resolução e revisão dos contratos; para proteção dos vulneráveis, havia previsão sobre Locações de Imóveis
Urbanos e, para as proporcionar adequado equilíbrio de posições em assuntos complexos e de difícil
ponderação entre interesses, foi proposto suspensão de prazos prescricionais, decadenciais e de usucapião.
Muito embora, ao sancionar a Lei n. 14.010/2020, o Presidente da República tenha vetado, dentre outros, os
dispositivos sobre a resilição, resolução e revisão dos contratos e sobre as locações de imóveis, o Congresso
Nacional rejeitou o veto.
343
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
mais que possa demorar, em algum momento irá cessar, ora pela criação de uma
vacina contra o vírus, ora pela diminuição da propagação. Ou seja, por ser uma
2020).
80
Na proposta inicial elaborada pelo Senador Antonio Anastasia, havia a possibilidade de suspensão do
pagamento dos alugueres das locações residenciais em razão de alteração econômico-financeira do locatário,
mas a proposta não logrou êxito e foi retirada do PL n. 1.179/2020. Sobre as locações de imóveis urbanos
entrou em vigor, tão somente, a disposição sobre a impossibilidade de concessão de liminar para desocupação
nas ações de despejo previstos no artigo 59, § 1º, incisos I, II, V, VII, VIII e IX, da Lei do Inquilinato (art. 9º da
Lei n. 14.010/2020).
344
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
da entrada em vigor da Lei até 30 de outubro de 2020. Cumpre discutir, então, qual
usucapião) como, por exemplo, o direito real de servidão (Enunciado 251 da III
Jornada de Direito Civil) e o direito real de laje (Enunciado 627 da VIII Jornada de
Direito Civil).
Filho e Pablo Renteria (2020, p. 118 e 119), não há um consenso doutrinário definido
345
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
direito real. A usucapião deve ser analisada com muito cuidado, pois, de um lado,
real usucapível) que perde o seu direito real em decorrência de sua inércia em não
de seu bem. É poder do proprietário usar, gozar, dispor e reaver o bem de quem
quer que injustamente o possua ou detenha, conforme o artigo 1.228 do Código Civil
(CC/02), mas como o próprio dispositivo preceitua, tais poderes são facultativos ao
proprietário, tanto é que, “confere ao titular o poder de decidir se deve usar a coisa,
p. 104).
Ou seja, nada impede que o proprietário não faça uso da coisa que lhe
pertence, pois o não uso do bem pelo titular do direito real, por si só, não acarreta a
perda da coisa pelo instituto da usucapião. É possível que o proprietário nada faça
com a seu bem e a propriedade continuar sendo de sua titularidade, até porque “a
a sua extinção quando há lesão a seu direito subjetivo levada a cabo pelo possuidor
346
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
titular do direito real, em não se opor à posse direta do usucapiente. Nas palavras
de Gustavo Tepedino, Carlos Edison do Rêgo Monteiro Filho e Pablo Renteria (2020,
p. 124 e 125):
moradia.
347
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
formas, ora o direito à moradia pode ser verificado como uma finalidade da
direito social é um fim; busca-se, por meio da usucapião, dar acesso à propriedade
e garantir o direito social à moradia e é esta efetivação que se busca com a usucapião.
por falta de cumprimento de um requisito sine qua non, não estará configurado
Diante disso, fica claro que: (i) a usucapião com finalidade de efetivar o
e social à moradia.
348
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
tal direito social pode ser observada em qualquer espécie de usucapião, basta que o
A título ilustrativo, basta imaginar uma pessoa que possui como sua área
urbana com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, nela construindo uma
pacífica e ininterrupta.
Código Civil.
349
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
prejudicada, pois é requisito sine qua non para a aquisição da propriedade por aquela
espécie de usucapião.
moradia. Ou, ao menos, o legislador assim presume. Tanto é assim que, quando há
reduz para dez anos o prazo para a usucapião (artigo 1.238, parágrafo único, do
Código Civil), o que significa uma redução de 33,33% (um terço) do prazo exigido
originalmente.
e rural, o prazo mínimo exigido por lei é de cinco anos e, na usucapião familiar, o
350
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
usucapião especial rural, que o imóvel sirva de moradia para o possuidor direto ou
para a sua família, de forma que a usucapião é uma ferramenta para concretizar o
usucapião especial rural, além da moradia, é essencial que a utilização da área rural
a torne produtiva pelo trabalho do usucapiente ou de sua família, por isso tal
Rêgo Monteiro Filho e Pablo Renteria (2020, p. 137) entendem que “a moradia
apresenta como um dos instrumentos de sua realização”. Até por isso exige-se que
o usucapiendo não tenha outro imóvel, reconhecendo uma única vez, ao mesmo
usucapião, desde que seja de outra modalidade. Ou seja, uma vez que se reconheça
351
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
propriedade de outro imóvel por essa modalidade de usucapião, mas é possível que
propriedade pela usucapião especial urbana, pode a mesma pessoa adquirir outra
A usucapião familiar, por sua vez, foi incluída no Código Civil pela Lei n.
12.424/2011, e possui sua previsão no artigo 1.240-A do Código Civil, que assim
dispõe:
usucapião especial urbana. Aliás, os requisitos que se verifica nesta são também
não é tão presente quanto na usucapião especial urbana. Não há dúvida de que a
352
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
efetivar ali a sua moradia. Mas sua finalidade maior é “agilizar a partilha de bens
moradia.
moradia.
DIREITO À MORADIA.
tempo para evitar que o transcurso do tempo produza seus efeitos regulares.
353
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
prazos prescricionais, de forma que somente quando verificada uma das hipóteses
durante o período da pandemia. Com isso, o prazo fica suspenso desde a entrada
em vigor da lei e o restante do prazo, conforme o artigo, só volta a correr após o dia
30 de outubro de 2020.
usucapião que a posse seja mansa e pacífica, o que significa dizer que a posse deve
ser sem oposição do titular do direito real. Ou seja, o proprietário, para evitar a
consumação da usucapião deve reaver o bem, pelo seu poder de sequela, ou, no
oposição à posse para não ver efetivada a usucapião em sua propriedade e, por
354
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Se a oposição não ocorre por fato alheio à vontade do titular do direito real,
não é razoável que o prazo de usucapião corra contra ele. Resta claro que o
usucapião.
para a aquisição fique suspenso, a posse não pode ser interrompida, sob pena de
não cumprir esse requisito da usucapião. Então, verifica-se que o usucapiente deve
mas esse tempo não será contabilizado para fins de usucapião em decorrência da
suspensão.
Dessa forma, se a posse deve ser ininterrupta e a lei exige o prazo mínimo
de cinco anos para usucapião especial urbana, por exemplo, se, factualmente, o
tempo não para e, juridicamente, a contagem do prazo fica suspenso, ocorre que, no
aspecto fático, o prazo para a aquisição fica maior, pois além dos cinco anos exigidos
355
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
período, pois não se contabiliza, para o requisito temporal, os dias que estão
suspensos. Mas, por outro lado, pode ocorrer de o proprietário do imóvel, mesmo
diante das dificuldades e das proibições de locomoção, vir a reaver o seu bem ou a
efetivação da usucapião.
para o titular do direito real manifestar sua oposição à posse em seu bem, em
à posse em sua propriedade durante esse período, ora pela falta de fiscalização, ora
por pequenas medidas de contenção à locomoção adotadas ou, até mesmo, por
da propagação.
usucapião, pode ocorrer de, durante esse prazo suspenso, o proprietário vir a
frustração da usucapião, pois a posse não será mais mansa e pacífica, requisito
Não há dúvida que, quanto maior o prazo exigido pela lei, para o
e maior a segurança para o proprietário. Isso porque o primeiro tem que cumprir
356
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
todos os requisitos legais, durante todo o tempo de posse, para ver configurada a
aquisição do direito real, e o segundo, tem mais tempo para reaver o bem de quem
quer que injustamente o possua ou, ao menos, para manifestar sua oposição à posse
direta do usucapiente.
usucapião. Aquele que acabou de iniciar a posse direta do bem, ainda que
prejudicado, terá vários outros meses que deverá cumprir para a aquisição da
propriedade; aquele que está prestes a completar o prazo legal, contudo, corre o
direito real manifeste sua oposição durante o período em que o prazo se encontra
suspenso.
extraordinária, fica claro que a suspensão do prazo se torna um risco maior para
quem possui mais tempo de posse, do que para o outro possuidor que possui menos
tempo de posse81, uma vez que o primeiro está na iminência de completar o prazo
aquisitivo de propriedade pela usucapião, ao passo que o segundo está muito longe
De igual modo, pode-se pensar nas proporções do que essa suspensão irá
aumentar no tempo fático para cada modalidade de usucapião. Se, por um lado,
81
É de se prestigiar que, um proprietário que fica mais de 14 anos inerte, sem manifestar oposição à posse
direta do usucapiente, muito provavelmente não irá manifestar oposição ou reaver o bem, ainda que haja
suspensão do prazo aquisitivo. Mas, ainda assim, é de identificar o risco, uma vez que o prazo fica suspenso
para a contagem do prazo de aquisição e pode ocorrer a oposição, pelo proprietário, durante a suspensão.
357
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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relevância jurídica.
usucapião e a segunda possui o prazo legal de apenas dois anos. Dessa forma, se o
prazo ficará suspenso por pouco mais de quatro meses82 (se não houver alteração
usucapião extraordinária84.
direito, não sendo, por outro lado, uma medida adequada a tutelar o direito social
82
Pois a lei entrou em vigor na data de sua publicação (publicado no DOU de 12.6.2020) e o termo final previsto
no artigo 10 da Lei n. 14.010/2020 é dia 30 de outubro de 2020.
83
O termo final elaborado pelos legisladores leva em consideração que até 30 de outubro de 2020 haverá uma
melhora na contenção da propagação do Covid-19 e presume que até o termo final já estará normalizado as
situações de locomoção e mobilidade, que foi a ratio legis para a propositura da suspensão de prazos de
usucapião.
84
Na situação fática, tendo em vista que o tempo não para, o aumento desse prazo suspenso na posse
ininterrupta da usucapião familiar corresponde à aproximadamente 17% (4 meses e 19 dias + 24 meses), já
para a usucapião extraordinária, o aumento corresponde à aproximadamente 2,5% (4 meses e 19 dias + 180
meses).
358
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
moradia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
visa trazer efeitos emergenciais e transitórios para solucionar possíveis conflitos que
curso, pois houve a indagação se tal escolha legislativa se configuraria como a mais
adotadas pelo poder estatal (fato do príncipe), não pode, ou possui grandes
limitações para a defesa de seu direito real. A ratio legis para a suspensão do prazo
titular de outro direito real), não é razoável o prazo de usucapião correr em desfavor
dele. Isso significa dizer que o legislador, então, preferiu a proteção e a garantia do
359
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Ocorre que, factualmente, o tempo não para. O que significa dizer que,
da usucapião pelo possuidor direto do bem. Isso porque a posse deve ser
de suspensão não lhe favorece, pois, juridicamente, não se contabiliza esse período
propriedade, e maior a segurança do titular do direito real, uma vez que terá mais
suspensão pelo proprietário, pois, embora o tempo se encontre paralisado para fins
360
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Isso não significa dizer, por óbvio, que a Lei n. 14.010/2020 visou prejudicar
suspensão do prazo de aquisição de propriedade pela usucapião. Mas fica claro que
a escolha legislativa não se configura como a mais adequada a tutelar o direito social
(sobretudo a especial urbana, rural e familiar) se mostra afetada pela medida, tendo
medida não se configura como a mais adequada para a tutela do direito social à
acesso à propriedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
361
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 10. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.
GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21. ed., atualizada por Luiz Edson Fachin. Rio
de Janeiro: Forense, 2012.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: direito das coisas. v.5.
São Paulo: Saraiva, 2018.
MELO, Marco Aurélio Bezerra de. Curso de Direito Civil: Direito das Coisas. v.5.
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PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. v.4. 25. ed.,
atualizada por Carlos Edison do Rêgo Monteiro Filho. Rio de Janeiro: Forense,
2017.
362
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
SALOMÃO, Luis Felipe. Direito Privado: Teoria e Prática. 3. ed. São Paulo:
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SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral
dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional.11. ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2012.
SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. 9. ed. São Paulo:
Malheiros, 2014
363
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
A Pandemia do COVID-19 que fora declarada em 11/03/2020 pela Organização Mundial de
Saúde – OMS, trouxe consigo medidas de restrições de funcionamento de setores do
mercado de trabalho, bem como o isolamento social. Após 6 (seis) meses, o colapso
aconteceu e alguns governos trabalham para a flexibilização das medidas antes
estabelecidas, mesmo que a curva do contágio ainda se encontre em ascensão e não em
declínio. A maioria das empresas optou por reinventar sua forma de trabalho. Aos
trabalhadores que prestam serviços de escritório, a alternativa encontrada fora o home
office, ou seja, o trabalho remoto, podendo ser realizado da casa do funcionário, sem
necessidade de deslocamento. O objetivo é demonstrar que, além do trabalho doméstico
não remunerado, da reprodução social e dos salários inferiores, a mulher, mais uma vez foi
a mais penalizada com a decretação da quarentena em razão da pandemia em nosso país.
Conforme exposto, busca-se demonstrar como as consequências do isolamento social em
virtude do Covid-19 serão sentidas majoritariamente pelos grupos historicamente
marginalizados, ressaltando e potencializando formas discriminatórias machistas e
patriarcais.
ABSTRACT
The COVID-19 pandemic that was declared on 03/11/2020 by the World Health
Organization, brought with it measures to restrict the functioning of sectors of the labor
market, as well as social isolation. After 04 (four) months, the collapse happened and some
governments are working to relax the measures previously established, even though the
contagion curve is still on the rise and not on the decline. Most companies have chosen to
reinvent their way of working. For workers who provide ―office‖ services, the alternative
found outside the ―home office‖, that is, remote work, can be carried out from the
85
Advogada, Mestranda em Direito Constitucional pela Universidade Federal Fluminense.
flaiza.sampaio@gmail.com; http://lattes.cnpq.br/8155863064103422
86
Advogada, Mestranda em Direito e Políticas Públicas pela Unirio. isabela.miguelc@gmail.com ;
http://lattes.cnpq.br/7801638912592469
87
Advogada, Mestranda em Direito Constitucional pela Universidade Federal Fluminense, Pós Graduada em
Direito de Família e Sucessões pela UCAM. izabellepatitucci@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/3329943370732610
364
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
employee's home, without the need to travel. The objective is to demonstrate that, in
addition to unpaid domestic work, social reproduction and lower wages, women, once
again, were the most penalized with the decree of quarantine due to the pandemic in our
country. Demonstrate how the consequences of social isolation due to Covid -19 will be felt
mostly by historically marginalized groups, highlighting and enhancing sexist and
patriarchal forms of discrimination.
INTRODUÇÃO
dos grupos que mais sofre consequências com a política de isolamento social, em
as mulheres, que possuem, além da carga horária de trabalho externo, tiveram que
estão fechadas, sendo elas públicas ou privadas, a mulher, além de enfrentar a sua
carga de jornada maior que seu companheiro, tem que arcar com a educação
domiciliar.
365
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A Covid-19 é uma doença infecciosa causada pelo novo coronavírus, o qual foi
em 26 de fevereiro de 2020.
cinemas, teatros, aulas presenciais, por exemplo, bem como recomendou restrições
366
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para restaurantes, bares, academias, shoppings, entre outras, com base no estado de
O tele trabalho passou a ser regulado em novembro de 2017, por meio da lei
por sua natureza, não se constituam como trabalho externo”. (CLT, art. 75B)
empregado de presencial para o teletrabalho, desde que fossem avisados com pelo
regime é controlada com maior rigor, bem como não existe uma separação do
367
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difícil sua ascensão profissional e a luta sindical por novas conquistas. (PRATA,
flexível, poupa tempo com deslocamentos e passa mais tempo em contato com a
família.
368
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
videoconferência.
que o formato poderá ser adotado em 22,7% das ocupações nacionais, alcançando
potencial de teletrabalho foi identificado no Distrito Federal, sendo que 31,6% dos
empregos podem ser executados de forma remota, seguidos por São Paulo, com
o fim do isolamento.
Por fim, insta registrar que até 14 de agosto de 2020 foram confirmados no
OMS, sendo certo que, no Brasil, foram 3.278.895 milhões de infectados e 106.574
369
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atual, por além da vivência regional da América Latina. Com isso, elas acrescentam
que “para outras feministas, o patriarcado significa uma tomada de poder histórica
por parte dos homens sobre as mulheres cujo agente ocasional foi a ordem biológica,
se bem elevado esta a categoria política e econômica.” (FACIO; FRIES, 1999, p. 45)
371
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Deste modo, tem-se o sexo biológico atrelado para determinar e estabelecer aos
Assim posto, a pandemia do COVID-19 e as crises as quais ela expos, bem como
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
e homeoffice.
carregam galões de até 220 quilos para tingir o tecido que vestimos. (ANTUNES,
2018, p. 26) Ainda neste livro, o autor ressalta que tais condições são um
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
empreendedores”, que irão ampliar a disputa entre si. (DARTOT; LAVAL, 2016, p.
324 e 325).
neogestão, seria o mesmo que dizer que cada trabalhador deve construir sua própria
(...) Ele deve cuidar constantemente para ser o mais eficaz possível,
mostrar-se inteiramente envolvido no trabalho, aperfeiçoar-se por
uma aprendizagem contínua, aceitar a grande flexibilidade exigida
pelas mudanças incessantes impostas pelo mercado. Especialista
em si mesmo, empregador de si mesmo, inventor de si mesmo,
empreendedor de si mesmo: a racionalidade neoliberal impele o eu
a agir sobre si mesmo para fortalecer-se e, assim, sobreviver na
competição. Todas as suas atividades devem assemelhar-se a uma
produção, a um investimento, a um cálculo de custos. A economia
torna-se uma disciplina pessoal. (DARTOT; LAVAL, 2016, p. 325)
374
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todo país tiveram que se estruturar rapidamente para manterem seus empregos e
reprodutivo foram ignorados por muitos autores, inclusive por Marx, o que a faz
375
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
acreditar que ele estava ancorado num visão da revolução tecnológica, em que a
liderados por Mariarosa Dalla Costa, Selma James e Leopoldina Fortunati, que
como segue:
escolar, estimula o seu desempenho, conforme espera o capitalismo, para que cresça
e se torne um adulto produtivo. E afirma ainda que por trás de cada fábrica, escola
possuir uma jornada de trabalho equivalente aos homens e às mulheres sem filhos,
376
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
As mães que contavam com rede de apoio familiar, ou com creches parentais,
se encontraram na mesma situação, uma vez que as avós, na maioria dos casos, são
Uma pesquisa global da Ipsos com a ONU Mulheres revelou que a pandemia
16 países pesquisados. De acordo com ela, 43% das mulheres entrevistadas em maio
(contra 35% dos homens) concordaram com a frase: "Tive que assumir muito mais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
do trabalho do cuidado.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
percebe que mulheres negras e pobres sofrem ainda mais que as mulheres brancas,
mulheres quanto aos seus papéis sociais. A mulher não deve ser atrelada ao trabalho
doméstico, na mesma medida que nem todo homem tem força física para
mais atingidos, visto que não possuem apoio governamental, são peças descartáveis
O Brasil de 2020 possui um governo de extrema direita, que tem por objetivo
véu é posto sobre suas atitudes. A sede é tão grande, que pedaços da nossa
serem mães.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Direitos Sociais, porém, Políticas Públicas não são implementadas pois não há
implementados.
REFERÊNCIAS
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
FRASER, Nancy. New Left Review, n. 56, março-abril de 2009, sob o título
“Feminism, capitalism and the cunning of history”
IBGE <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-
agencia-de-noticias/releases/27877-em-media-mulheres-dedicam-10-4-horas-por-
semana-a-mais-que-os-homens-aos-afazeres-domesticos-ou-ao-cuidado-de-
pessoas> Acesso em 14/08/2020.
IDOETA, Paula Adamo. “'Mães estão no limite': famílias vivem estresse inédito
com crise e quarentena”. São Paulo: Site BBC News, Agosto de 2020. Disponível
em <https://www.bbc.com/portuguese/geral-53644826> Acesso em 14/08/2020.
380
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
381
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
MULHERES
RESUMO
Considerando que o sobre-trabalho marca a vida social das mulheres, em suas variadas
dimensões (trabalho doméstico não remunerado, trabalho doméstico, trabalho
reprodutivo), objetiva-se problematizar os marcadores de gênero e de parentalidade no
contexto da pandemia decorrente da COVID-19. Para tanto, além da releitura da categoria
analítica da divisão sexual do trabalho, também foram apresentados relatos das mulheres,
extraídos de suas redes sociais (Facebook), observados durante o contexto pandêmico, com
o fim de demonstrar que durante o isolamento social, quando o trabalho produtivo passou
a ser realizado sob a forma de home office, a carga mental das mulheres foi acentuada, o que
resulta no necessário resgate do debate que envolve os distintos aspectos que permeiam a
divisão sexual do trabalho (separação de tarefas e de responsabilidades entre homens e
mulheres; dever de cuidado atribuído somente às mulheres e o acúmulo de todas essas
funções com as do trabalho produtivo remunerado).
88
Graduada em Direito, mestre e doutora em Ciências Sociais e Jurídicas, Professora da Faculdade de Direito
e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense. E-mail:
carlauffsdv@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3666357154549659.
89
Graduada em Direito, mestre em Ciências Sociais e Jurídicas pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia
e Direito da Universidade Federal Fluminense. E-mail: mcsoliveira.advrj@yahoo.com.br. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8241924728839333.
90
Graduada em Direito, mestre e doutoranda em Ciências Sociais e Jurídicas pelo Programa de Pós-Graduação
em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense, professora da professora da UCAM Niterói e do
Sistema Kroton Educacional. E-mail: simonebelfort@globo.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5647310946297236.
382
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
INTRODUÇÃO
coronavírus)91 tem imposto inúmeros desafios à sociedade global no que tange aos
doméstico.
acentuado o esgotamento físico e mental das mulheres que estão à frente das tarefas
mundial de computadores, o que tem ocorrido por meio dos relatos dessas
mulheres, em escala global, tem permitido o resgate desse debate e sua necessária
da COVID-19.
91
Fonte: Folha informativa COVID-19 - Escritório da OPAS e da OMS no Brasil. Organização Pan-americana de
saúde e Organização mundial da saúde. Disponível em https://www.paho.org/pt/covid19 Acesso em
24.09.2020.
383
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
trabalho.
relatos de mulheres publicados nas redes sociais (Facebook); e iii) reflexão sobre o
relatos das mulheres nas redes sociais submetidas ao sobre-trabalho e ao home office
Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a divisão sexual do trabalho
PANDEMIA?
Porque a divisão sexual do trabalho faz parte das relações sociais, envolve
reprodutivo.
384
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
reprodutivo. Mas sim, uma construção social, na qual existe uma relação de poder
(KERGOAT, 2009).
385
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
o período colonial até a vigência do atual Código Civil de 2002, que perpassa pela
pesa sobre os ombros das mulheres a responsabilidade, quase que exclusiva, pela
registrar que uma das primeiras ocupações laborais das mulheres no Brasil foi o
maternidade.
386
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Outro dado relevante apontado pelo IPEA (2020b) no mesmo ano de 2015 é
realizado na modalidade home office, sem uma rede de ajuda de outras mulheres,
doméstica.
que as mulheres estão mais vulneráveis e com maiores dificuldades, durante a crise
387
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
pela
então, que não somente “as mãos” do patriarcado ainda alcança e guia as relações
(CLAIRE, 2018). A ideia era compartilhar situações nas quais os maridos não
conseguem fazer tarefas que deveriam ser divididas de forma mais igualitária.
Chamar a atenção para o fato de que não fosse preciso dizer a uma pessoa adulta e
capaz, que consegue trabalhar e produzir, como e quando realizar tarefas diárias e
388
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
divertidas, como relata Lana Del Rio, “história de ontem: Põe a roupa na máquina?
Ponho. Ele colocou a roupa na máquina, mas não ligou, porque eu não tinha
Desde sempre escutamos histórias como essa, e tantas outras do tipo: por
que você não me acordou? Por que você não me pediu? Qual o problema de fazer
depois? Por que você se incomoda tanto com a casa suja? Eu até cozinho, mas não
mulheres.
389
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
estrutura dos Tribunais, 44% são juízas substitutas, 39% são juízas titulares, 23% são
próprio trabalho, os afazeres domésticos, para os quais não tem mais suporte, nos
Os relatos não param por aí, para a Advogada Thayná Taredy, de 33 anos,
que mora no seu escritório, é muito complicado realizar todas as atividades: “sou
uma mulher negra, mas sou advogada. Estudei, mas continuo precarizada. Se
teria feito meu doutorado”, não esquecendo que ela é mãe solo, de um menino de
sobrecarga existe mesmo tendo uma divisão de tarefas domésticas e parentais com
seu marido. Ela também acredita que existem muitos advogados e servidores sem
condições para se adequar aos novos modelos de audiências por vídeo conferência,
390
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
por exemplo, o que pode aumentar o abismo entre as profissionais. Ela termina a
reportagem dizendo
muito precarizadas.
aumentaram e parece que todo dia é segunda-feira. Os horários após às 22:00 horas,
realidade cada vez mais palpável, as relações conjugais também precisam ser
repensadas. Diversas pesquisas têm sido feitas sobre a manutenção do home office
nas empresas, e uma recente realizada pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, indica
que 30% das empresas brasileiras devem manter o home office após a pandemia do
12 anos, por exemplo, o trabalho em casa se tornou uma corrida interminável, com
horários cronometrados, e ainda assim, não sendo possível lidar e finalizar todas as
atividades.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Metterie se esperava que os homens “ ao ficarem mais tempo em casa, fossem notar
primeiras pesquisas sobre o assunto parecem indicar que essa consciência realmente
possível, a palavra sobrevivência vem dando a tônica dos dias! Às tarefas realizadas
no cotidiano do “antigo normal”, tais como cuidar da casa, da educação das filhas
incorporadas.
Journal for the Philosophy of Science, indica que em abril, o número de artigos
392
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Acreditamos que “uma constatação que não parece ser muito difícil para
Em qualquer relato tanto nas redes sociais como nas reportagens científicas
ou sociais, essa sobrecarga aparece cada vez mais intensa. Não importa quanto as
mulheres produzam, e o quanto elas se sintam mulheres maravilhas (ou não!), esses
Se temos uma proposta de como mudar esse cenário, sim temos, mas
lembrando que ideias mágicas não existem, fórmulas prontas muito menos, pois
cada uma de nós sabe das suas dores e angústias. Mas acreditamos que as mulheres
Mas para que essa resistência produza frutos, são necessárias mudanças de
Adichie:
393
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
#cargamentaldasmulheres e #cargamentaldasmulheresnocovid.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
92
Embora o levantamento dos relatos tenha sido possível porque as publicações foram deixadas como públicas
pelas próprias autoras, avaliamos que seria melhor apresentarmos os nomes sob a forma abreviada, à medida
que o objetivo principal consiste em problematizar situações de exploração e não de expor, mais uma vez, tais
mulheres.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Sobre a
dificuldade
F.B. de conciliar “Aulas remotas (como aluna) e crianças: não dá certo.
Estudante estudo com Anota aí”.
maternidade,
durante a
pandemia
Sobre a
ANÔNIMA romantização “Precisamos parar de romantizar o termo ‘mulher
do sobre- guerreira’. Guerreira é a Xena. Eu sou sobrecarregada
trabalho mesmo”.
ilustrativa, o problema da sobre-carga das mulheres não é novo e não tem início a
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma teoria ou um conceito, parte dela integrante, dura o mesmo tempo dos
seus pressupostos. Com a divisão sexual do trabalho não seria diferente. Essa
estatística que foi agravada pelos marcadores da diferença de gênero, classe e raça,
93
O presente artigo foi fechado no dia 24/09/2020. Neste dia, chegamos a quase 140.000 vítimas fatais do
coronavírus (MINISTÉRIO DA SAÚDE. Dados de 24/09/2020).
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
demonstra limites claros de manutenção nos mesmos moldes adotados até agora. E
REFERÊNCIAS
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CHARREL, Marie. “Eu fico esgotada enquanto ele assiste as suas séries”: o
confinamento agravou as desigualdades entre homens e mulheres. Le Monde,
tradução por Andre Langer. Publicado em 12.05.2020. Disponível em:
http://www.ihu.unisinos.br/598923-eu-fico-esgotada-enquanto-ele-assiste-as-suas-
series-o-confinamento-agravou-as-desigualdades-entre-homens-e-mulheres.
Acesso em 12 set. 2020.
CLAIRE, Maire, redação. Pesquisa feita por mulheres cai durante a pandemia e
produção de homens aumenta. Publicado em 12.05.2020. Disponível em:
https://revistamarieclaire.globo.com/Noticias/noticia/2020/05/pesquisa-feita-por-
mulheres-cai-durante-pandemia-e-producao-de-homens-aumenta.html. Acesso
em 12 set. 2020.
401
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
LIMA, Lana Lage da Gama; SOUZA, Suellen André de. Patriarcado. In:
COLLING, Ana Maria et al (Orgs). Dicionário Crítico de Gênero. Ed. Universidade
Federal da Grande Dourados, 2019.
MELO, Hildete Pereira de; Thomé Débora. Mulheres e poder: histórias, ideias e
indicadores. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018.
402
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
A pandemia causada pelo Covid-19 é considerada a pior crise global e um dos momentos
mais drásticos da humanidade desde a Segunda Guerra Mundial, conforme as projeções da
ONU. Em razão da calamidade sanitária, faz-se emergencial o amparo do Estado, este que
é o realizador constitucional do fornecimento e a manutenção da saúde pública. De acordo
com o art. 23, II/ CF, é estabelecido que a saúde é matéria de competência comum da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, atuando em cooperação. Contudo, a
realidade se distancia dos preceitos da Magna Carta. As normas editadas e decretadas pelos
governos federal, estadual e municipal sobre as medidas de combate ao Covid-19 não só
divergem em relação à manutenção ou desestruturação do isolamento social, causando um
processo de desinformação e insatisfação popular, como também refletem a crise política e
fiscal em meio à crise pandêmica, sendo efeito decorrente da abrangência do texto
constitucional, bem como a carência de lei especial. Diante deste contexto, alicerceado sob
os ensinamentos da metodologia jurídica e hipotético-dedutivo de revisão de literatura,
fora elaborado este artigo a fim de traçar os impasses legislativos que, por sua generalidade
e abstração, afastam os Entes federativos de seus deveres, possibilitando que estes, em
períodos como a presente crise sanitária, não deem cumprimento às suas obrigações
constitucionais, infringindo o direito fundamental social da saúde e apresentando-se
ineficazes para com os as necessidades do povo.
ABSTRACT
The Covid-19 pandemic is considered the worst global crisis and one of the most drastic
moments in humanity since World War II, according to UN projections. Due to the health
calamity, the State is protected as an emergency, which is the constitutional director of the
94
Bacharelando em Direito pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos, Unifeb. E-mail:
LeonardoCauzim@outlook.com Lattes: http://lattes.cnpq.br/2855498718858789
95
Doutorando e Mestre em Direitos Coletivos e Cidadania pela Universidade de Ribeirão Preto, Unaerp.
Docente, advogado e jornalista. E-mail: dhnunes@hotmail.com Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3286458334196996 Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9162-3606
403
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
supply and maintenance of public health. According to art. 23, II / CF, it is established that
health is a matter of common competence of the Union, the States, the Federal District and
the Municipalities, acting in cooperation. However, reality differs from the precepts of the
Magna Carta. The rules issued and enacted by the federal, state and municipal governments
on measures to combat Covid-19 not only differ in relation to the maintenance or disruption
of social isolation, causing a process of disinformation and popular dissatisfaction, but also
reflect the political crisis and in the midst of the pandemic crisis, an effect resulting from
the scope of the constitutional text, as well as the lack of a special law. In view of this
context, based on the teachings of legal methodology and hypothetical-deductive literature
review, this article was prepared in order to trace the legislative impasses that, due to their
generality and abstraction, remove the federative entities from their duties, allowing them,
in periods such as the current health crisis, do not comply with their constitutional
obligations, violating the fundamental social right of health and being ineffective in relation
to the needs of the people.
INTRODUÇÃO
federativos, que, ao invés de agirem de forma conjunta, travam uma guerra política
6º; 23; 24; 30; 196; 197; as Resoluções do STF e os decretos federais e estaduais, sendo
404
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OBJETIVOS
riscos para todos (como exemplo o art. 196/CF); c) analisar os institutos jurídicos
entes federativos, permitindo que estes, em momentos como a atual crise sanitária,
assim a um direito universal e social, que é o direito à saúde, e que tem essência
DO CONCEITO DE FEDERALISMO
405
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Montesquieu, que em sua obra “O Espírito das Leis”, (2000, p. 141), tratou de uma
de uma República Federalista, ou seja, o Estado ideal, pois assim não seria um
pequeno Estado como as repúblicas, sujeitas à destruição por uma força estrangeira,
concentração de poder.
redação do art. 2º do 'Federalist Papers', definiram que “cada Estado conserva sua
406
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em todo o território nacional, bem como em cada unidade federada, devendo ser
histórico.
Vejamos:
Federal de 1988, marcado pelo traço cooperativo, José Afonso da Silva (2018) aborda
407
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESPONSABILIDADES DO ESTADO
políticas públicas que assegurem o acesso universal e igualitário da saúde (art. 196),
408
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sanitárias (art. 198, II). Esses preceitos foram reafirmados pelo art. 2º da Lei Orgânica
José Afonso da Silva (2019), conceituando que os direitos sociais, como dimensão
possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a
que, por sua vez, proporciona condição mais compatível com o exercício efetivo da
liberdade. Logo, os direitos sociais devem ser entendidos como uma ação corretiva
análise de Bobbio (2004) uma ação positiva do Estado. A saúde fora dotada de status
409
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lei.
Vejamos:
abaixo:
410
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Estado.
97
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE nº 855178 ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 23/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 15-04-2020
PUBLIC 16-04-2020. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4678356&n
umeroProcesso=855178&classeProcesso=RE&numeroTema=793 Acesso em: 21.mai.2020
411
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Vide ementa:
412
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mandamento constitucional do art. 196, CRFB/1988 cominado com o art. 23, inciso
pelo vírus Covid-19 é considerado não só um dos momentos mais drásticos, mas a
projeções da ONU. Por via da conexão geopolítica e comercial dos povos, produto
Brasil um dos países que foram afetados forma sistêmica. Tão vasta foi a
413
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comum entre os entres federativos, assim como o art. 24/CF prevê a competência
De acordo com o art. 23, II/ CF, o dever para com a saúde pública é matéria
Municípios, devendo cooperar entre si para o alcance do fim que a todos interessa.
harmônica e cooperativa.
medidas traziam a ideia de ‘’isolamento vertical’’ tendo por objetivo o alcance sobre
414
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
etc.).
Por outro lado, fora optado pelo governo do Estado de São Paulo o
(Anvisa – art. 3º, VI), assim como também determinou que medidas restritivas
definir quais atividades devem ser consideradas essenciais, de modo a não poderem
ser interrompidas durante a pandemia (art. 3º, § 9º). Posteriormente, dois decretos
sua paralisação.
415
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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Geral da União posicionou-se sobre o tema, estabelecendo que é inviável que cada
Estado defina de própria forma o que são serviços essenciais, pois, se assim o fosse,
edição de normas gerais sobre proteção à saúde, sendo uma questão que não
416
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
o teor da Decisão:
país com dimensões continentais, com regiões que demandam soluções ajustadas
ao seu contexto”.
que é devido que a União legisle sobre o tema, desde que o exercício dessa
417
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não pode implicar, sob ângulo material, na hierarquização dos poderes ou das
ministro ainda alerta que “o presente caso revela muito bem a necessidade de
crise pandêmica. Pois, ainda que o art. 21, XVIII/CF determine que cabe à União
Entes Federados.
98
Princípio federativo. Visa a união entre o federalismo à cooperação entre os membros desde que respeitada
a autonomia dos Entes e seja destinada a responsabilidade para aquele que fornecer melhor eficácia.
99
Predominância do interesse local em relação à sua relevância, autonomia e capacidade de eficácia.
(MORAES, 2014).
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
orientou e julgou como deve ser a atuação dos Estados-Membros, a rotineira troca
100
Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada pela Associação dos Defensores Públicos – ANADEP com
pedido de medida cautelar, contra a Lei Complementar 48/2003 do estado da Paraíba, que modificou a Lei
Complementar nº 39 de 2002. As leis referem-se à organização da Defensoria Pública no estado.
101
Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino
(Confenem) contra dispositivos da Lei Complementar 170/1998, do estado de Santa Catarina, que limitam o
número máximo de alunos por sala de aula no estado. (Discussão sobre competência legislativa concorrente
na educação, prevista no Art. 24, IX/CRFB).
102
De relatoria do ministro Edson Fachin, a Ação contestou a Lei municipal 13.113/2001, de São Paulo, e o
Decreto municipal 41.788/2002, que proíbiram o uso de amianto como matéria prima na construção civil.
419
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Raul Machado Horta (2010, p. 274) ao tratar que “o convívio harmonioso entre
comum no fornecimento da saúde, assim como o art. 24/CF não limita o legislador
ao tratar sobre o mesmo tema, favorece então, ambiente para a aplicação de medidas
420
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
pouco à ineficácia.
cumprimento da ‘’regra de ouro’’ do orçamento (art. 167, III/ CF; Lei. Nº 101/2000)
que proíbe que o governo realize dívidas para pagar a despesas correntes, que,
desastrosas.
políticas públicas que diminuam riscos contagiosos e forneçam o acesso aos serviços
de saúde, conforme o art. 196/CF, sendo também responsável por inferir ao direito
421
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
governamentais conflitivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
e medidas dos unilaterais dos entes federativos, resultando não em uma ação
pandêmica.
REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2ª Ed.
2017.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Nova Ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
422
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
BRASIL. Lei nº 13.979, de 06 de fevereiro de 2020. Seção: 1, Brasília, DF, 06. Fev.
2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/L13979.htm . Acesso em: 10. Mai. 2020.
423
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
sp?incidente=4678356&numeroProcesso=855178&classeProcesso=RE&numeroTem
a=793 Acesso em: 21.mai.2020
DALLARI, Dalmo de Abreu. O Estado Federal. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
HORTA, Raul Machado. Direito Constitucional. 5. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2010.
KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do Estado. São Paulo: Martins Fontes,
1998.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 30. Ed. São Paulo: Atlas, 2014.
424
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo:
Malheiros, 42ª Ed. 2019.
425
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
Dentre as várias áreas impactadas pela pandemia da COVID-19, a educação aparece como
uma das mais latentes, principalmente pelas políticas de isolamento social e pela
insuficiência da inclusão digital dos estudantes, nisto consiste a justificativa e a relevância
do artigo. Objetiva-se, então, por meio deste trabalho, analisar à questão do Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM) relativo ao ano de 2020 considerando a problemática
que envolve o ensino público brasileiro diante da pandemia, bem como a necessidade de
inclusão digital. Nesse sentido, o artigo se dividiu da seguinte forma: Em um primeiro
momento, mostra-se a educação frente à Pandemia da COVID 19. Depois, aborda-se a
inclusão digital como uma meio de efetivar o direito a educação. E, por fim, retrata-se a
questão da (in)aplicabilidade do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) referente ao
ano de 2020. Para tanto, o trabalho contou com metodologia do tipo bibliográfica, de
natureza qualitativa, com a finalidade descritiva e exploratória. Conclui-se que para se
efetivar o Direito Fundamental a educação, principalmente em situações como a da
pandemia da COVID-19, faz-se necessária a inclusão digital dos sujeitos envolvidos no
103
Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (PPGD/UNIFOR). Diretora e pesquisadora
da linha de pesquisa Direito Internacional dos Direitos Humanos do Grupo de Estudos em Direito e Assuntos
Internacionais (GEDAI) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Membro dos Grupos de Pesquisa:
Administração Pública e Tributação no Brasil (GEPDAT) e Relações Econômicas, Políticas, Jurídicas e Ambientais
na América Latina (REPJAL), ambos do Programa de Pós-graduação em Direito da UNIFOR. Endereço
eletrônico: camillam.cavalcanti@outlook.com. Currículo: http://lattes.cnpq.br/5567124816666252.
104
Pós-graduanda em Direito Internacional e Direito Humanos pela Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais (PUC-MG). Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará. Pesquisadora do Grupo
de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais (GEDAI/UFC). Endereço eletrônico:
nikaelly_lopes@hotmail.com. Currículo: http://lattes.cnpq.br/3857380840307158.
105
Pós-doutoranda em Direitos Sociais pela Universidade de Salamanca. Pós- doutoranda em Direito pela
Universidade Federal do Ceará. Doutora em Direito pela Universidade de Salamanca. Professora do Grupo de
Estudos em Direito e Assuntos Internacionais (GEDAI/UFC). Professora da Uninassau. Email:
arnellerolim@hotmail.com. Currículo: http://lattes.cnpq.br/8388142696323733.
426
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
Among the various areas impacted by the COVID-19 pandemic, education appears as one
of the most latent, mainly due to social isolation policies and the inclusion of students'
digital inclusion, this is the justification and an article of the article. The objective, then, is
through this work, to analyze the issue of the National High School Examination (ENEM)
for the year 2020 considering the problem that involves Brazilian public education in the
face of the COVID-19 pandemic, as well as the need for inclusion digital. In this sense, the
article was divided as follows: At first, education in the face of the COVID-19 Pandemic is
shown. Then, digital inclusion is addressed as a means of realizing the right to education.
And, finally, the question of the inapplicability of the National High School Examination
(ENEM) for the year 2020 is portrayed. For this purpose, the work had a bibliographic
methodology, of qualitative nature, with descriptive qualification. and exploratory. It is
concluded that in order to make the Fundamental Right to education effective, especially
in situations such as the pandemic of COVID 19, it is necessary to digitally include the
obligated subjects in the educational system (teachers and students), mainly due to the
understanding that digital inclusion is linked to the Right to Education, considering Robert
Alexy's Theory of Fundamental Rights (2008).
Keywords: Education law; Right to Digital Inclusion; COVID 19 pandemic; National High
School Exam.
INTRODUÇÃO
deste direito a situação social. Conforme a teoria criada por Robert Alexy, os direitos
427
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Informação (TICS), nota-se a inclusão digital como uma das formas de inclusão
incluídos digitalmente e, com isso, não estavam preparados para tal situação.
plataformas virtuais, ainda se pode dizer a inclusão digital que vai além de apenas
privilegiados e os que eram estão prejudicados, em especial, no que diz respeito aos
e artigos científicos atuais, fez-se o estudo e a escrita sobre a temática. Por fim, a
428
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
848.917 delas morriam (MAMOON; RASSKIN, 2020, s.p.). Ainda que negativa para
discriminatória, mais difícil para uns grupos sociais que para outros. Eles têm em
“pressupõe que as pessoas tenham casa, dinheiro para comida e que contem com os
meios para se conectar com os outros” (DAVIS; KLEIN, 2020, online), a educação foi
429
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
secundário inferior ou superior, ao passo que, 463 milhões não tiveram como
acessar a aprendizagem remota. De todo modo, nos casos em que esse acesso foi
processo de aprendizagem.
primário ao ensino médio não podem ser atingidos pela educação à distância em
bens domésticos necessários para receber uma instrução nesses moldes, de modo
que:
430
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
No entanto, o relatório alerta que o número real de alunos que não podem
Denise Silva e Francisco Souza (2020, p. 974) relatam que os dados elencados
deverá ser igualitária. Assim, o Poder Público deverá, por meio de políticas
106
No original: “Students in rural areas consistently represent the vast majority of those who cannot be reached
by any of the three remote learning modalities analyzed, irrespective of the country’s level of economic
development. Overall, three out of four students who cannot be reached live in rural areas, but in lower-income
countries the percentage is even higher. In addition, students from the poorest 40 per cent of families account
for a disproportionately high percentage of those who cannot be reached. In low-income countries, they
represent 47 per cent of those who cannot be reached, while in middle-income income countries they constitute
74 to 86 per cent of those who cannot be reached” (UNICEF, 2020a).
431
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
evitar a propagação do vírus, o Estado tem que intervir por meio de providências
432
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
meio de evitar prejuízos ainda mais graves educacionalmente. Cabe ainda ressaltar
que, diante do fato de que os estudantes do ensino público brasileiro não são
incluídos digitalmente se tem ainda um fator que agrava uma avaliação qualitativa
públicas, expõe que “No atual contexto da sociedade, não há como se dissociar
presentes no Século XXI, nasce uma necessidade de somar tais meios para melhorar
a qualidade do ensino.
Cabe ressaltar que a existência das TICs na sociedade não significa inclusão
e o acesso à internet não configuram a inclusão digital dos estudantes. É preciso que
433
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Considerando que, no Brasil, muitos alunos não têm nem o básico que seria
Marcon (2020, p. 100) após problematizar “Que educação estamos praticando e para
social. Com isso, na medida em que uma pessoa estiver excluída digitalmente se
tem também agravada a exclusão social desta. Lucila Pesce e Adriana Bruno (2015,
107
No original “[...] una computadora y una conexión a Internet no es suficiente, los jóvenes necesitan para
fortalecer y asegurar su inclusión e inserción social, acceder a una diversidad de bienes culturales y educativos
y aprender a diferenciarlos, analizarlos, compararlos, hacer sus propias búsquedas y tomar decisiones respecto
de las respuestas que encuentran, es decir superar la brecha cognitiva.” (MARTÍNEZ, 2015, p. 347).
434
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Cabe ressaltar ainda a concepção de Victor Malaggi (2020, p.76) que, ao falar
teórica e praticamente, ‘daquilo que é’ e ‘daquilo que virá’ a partir da crise humana
conjunto de fatores que seja capaz de atrelar tal direito à realidade local. Assim,
ter direitos atribuídos a estes para que, com isso, sejam concretizados na medida em
Direito à inclusão digital pode ser “uma norma de direito fundamental atribuída ao
Porém, mesmo com a tese apresentada de que a “inclusão digital seria uma
de ensino no Brasil, a maioria dos sujeitos envolvidos não tem nem os instrumentos
denota-se caminho logo que precisa ser percorrido para se concretizar o Direito à
435
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
educação tendo como instrumento a inclusão digital, indo desde a concessão dos
da realização anual do Exame Nacional, para o qual, os alunos que objetivam uma
sua aplicabilidade e que tudo transcorra de forma correta, já que se está falando do
436
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p. 38) destaca no sentido de possibilitar “a educação como instância social que está
de suas habilidades”.
casa”, dos quais “89,1% são de escolas públicas”, “70,3% são negros” e “64,6% são
no qual declarou que “O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) não será adiado
e que não foi feito para corrigir injustiças” (FOLHAPRESS, 2020). Um discurso que
propaganda com meio para difundir o seu entendimento, com o lema “O Brasil não
pode parar” (RIVEIRA, 2020). Essa contumácia de não entender que dentro da
437
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FEDERAL, 2020).
aplicação da prova do ENEM de 30 a 60 dias e, para tanto, seria feita uma votação
438
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
adiamento seria satisfatório para, pelo menos, se ter um tempo viável para se sanar
pandemia da COVID-19. Haja vista que não se pode comparar a possibilidade que
aluno de escola pública. Mesmo, na tentativa de fazer uma consulta para saber esse
do ENEM foi decisão razoável para a questão sanitária. Entretanto, não é uma
aplicação prova para o ano de 2021 não exaure as desigualdades estendidas pela
Sendo assim, têm-se que muitos estudantes serão prejudicados no que diz
respeito ao ingresso no ensino superior por não terem tido acesso à educação
439
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONCLUSÃO
oferta da educação, ou seja, viu-se que adaptação do ensino para o modelo remoto
ano letivo. Nessa perspectiva, teve-se uma pauta que veio a ser bastante
Médio (ENEM).
ensino superior, o que leva a entender que o acesso à Instituição de Ensino Superior
fato de que uma pessoa que tem uma graduação concluída tem maior probabilidade
Portanto, tal temática é considerada uma pauta importante para que cada ano
necessárias que devem ser aplicadas para conter sua propagação. Nesse sentido,
forma remota. Então, percebeu-se que não se poderia manter a aplicação da prova
440
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continuar na escola.
não foi tão debatida e que atualmente é tão necessária: a necessidade da inclusão
inclusão digital.
a educação ter sido agradava por conta do necessário isolamento social para a
441
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sistema educacional público para que, assim, os estudantes não ainda mais
prejudicados.
REFERÊNCIAS
BITANTE, Alessandra Preto; FARIA, Ana Cristina de; GASPAR, Marcos Antônio;
PASCUAL, José Valentin Iglesias; DONAIRE, Denis. A. Impactos da tecnologia da
informação e comunicação na aprendizagem dos alunos em escolas públicas de
São Caetano Do Sul (Sp). HOLOS, Rio grande do Norte, Ano 32, vol. 8., 2016.
Disponível em: http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/2876.
Acesso em: 12 set. 2020.
BRASIL. SENADO FEDERAL. Projeto de Lei nº 1277 de 2020. Inclui § 1º-A ao art.
44 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, para prever a prorrogação
automática de prazos para provas, exames e demais atividade para acesso ao
442
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
FOLHAPRESS. Em reunião com senadores, Weintraub diz que Enem não foi feito
para corrigir injustiças. Diário de Pernambuco. 2020. Disponível em:
https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/brasil/2020/05/em-reuniao-com-
senadores-weintraub-diz-que-enem-nao-foi-feito-para-co.html. Acesso em: 30 ago.
2020.
443
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RIVEIRA, Carolina. Adiar ou manter? Enem tem maior desafio da história com
coronavírus. Exame.com. 2020. Disponível em: https://exame.com/brasil/adiar-ou-
manter-enem-tem-maior-desafio-da-historia-com-coronavirus/. Acesso em 30 ago.
2020.
SILVA, Denise dos Santos Vasconcelos; SOUSA, Francisco Cavalcante de. Direito à
educação igualitária e(m) tempos de pandemia: desafios, possibilidades e
perspectivas no Brasil. Revista Jurídica Luso-Brasileira (RJLB), Ano 6, nº 4, p.
445
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RESUMO
Esse artigo objetiva analisar e a (in) eficácia do ensino a distância em tempos de combate
ao coronavírus e o possível aumento da exclusão e desigualdade sociais em função da
falta de acesso a equipamentos adequados e internet por parte dos alunos. Pesquisar a
educação também significa tratar de direitos fundamentais e, essa pesquisa justifica-se por
que é preciso discutir o ensino adotado na educação básica durante a pandemia, pois, isso
poderá contribuir para o aumento da exclusão social e aumentar as desigualdades já
existentes, pois, parte da população, em vulnerabilidade social, não tem condições de
acesso ao ensino à distância, em razão de não ter equipamentos ou acesso à internet. Para
a pesquisa utilizou-se o método crítico, de revisão bibliográfica, a análise de documentos
e dados sobre o acesso à internet e uso de computadores, celulares, etc., presentes no
material estudado. No primeiro capítulo discute-se os preceitos educacionais e a educação
na legislação, o segundo capítulo trata da EaD nos seus aspectos conceituais e marcos
legais e o terceiro capítulo apresentam-se dados sobre o acesso à internet e a
equipamentos, discutindo a EaD em tempos de coronavírus: exclusão e desigualdades. Os
dados apontam para uma realidade que o modelo de ensino utilizado neste período de
combate ao coronavírus poderá aumentar exclusão social e os índices de desigualdade já
existentes na sociedade brasileira, uma vez que por não ter acesso à internet e a
equipamentos adequados, o sujeito fica sem acesso à educação que é um direito que
possibilita acesso a outros direitos, à inclusão e à ascensão social.
108
Mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Federal de Sergipe – UFS/ PPGECIMA.
Especialista em Educação Matemática pelas Faculdades Integradas de Patos – FIP. Especialista em Gestão
Escolar e Práticas Pedagógicas pela Universidade Cândido Mendes – UCAM. Professor de Matemática na
Educação Básica na SEDUC/CE e na SME/Caririaçu-CE. E-mail: prof.celiomendonca@gmail.com; Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4677212015468292.
109
Mestre em Direitos Sociais, Difusos e Coletivos. Professor de Direito Constitucional, Financeiro e Tributário
na Universidade Estácio de Sá – UNESA/RJ. Pesquisador bolsista do Programa Pesquisa Produtividade da
UNESA/RJ. E-mail: darlan.moulin@estacio.br; Lattes: http://lattes.cnpq.br/9695783352656464.
110
Bacharel em direito pela Universidade Estácio de Sá. E-mail: debora-cosmo@hotmail.com; Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2343612571690649
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
This article aims to analyze and the (in) effectiveness of distance learning in times of
fighting the coronavirus and the possible increase in social exclusion and inequality due to
the lack of access to adequate equipment and internet by students. Researching education
also means addressing fundamental rights, and this research is justified because it is
necessary to discuss the teaching adopted in basic education during the pandemic, as this
may contribute to the increase of social exclusion and to increase existing inequalities, as ,
part of the population, in social vulnerability, does not have access to distance learning, due
to the lack of equipment or internet access. For the research, the critical method of
bibliographic review was used, the analysis of documents and data on internet access and
use of computers, cell phones, etc., present in the studied material. The first chapter
discusses the educational precepts and education in the legislation, the second chapter
deals with DE in its conceptual aspects and legal frameworks and the third chapter presents
data on access to the internet and equipment, discussing DE over time. of coronavirus:
exclusion and inequalities. The data point to a reality that the teaching model used in this
period to combat the coronavirus may increase social exclusion and the inequality rates that
already exist in Brazilian society, since the subject does not have access to the internet and
adequate equipment without access to education, which is a right that allows access to other
rights, inclusion and social ascension.
INTRODUÇÃO
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dos alunos. Dessa forma, pode-se demonstrar que o modelo de ensino adotado
educação.
de alunos que não têm instrumentos para uso e acesso à internet para participar
essa pesquisa justifica-se pelas discussões que precisam ser travadas a respeito da
EaD adotada nesse período de pandemia. Nesse aspecto, é relevante discutir essa
realidade para que possa-se fazer correção de rumos e adotar caminhos para que
acesso à educação por meio da EaD, o que acaba por prejudicar os estudos,
449
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LEGISLAÇÃO
450
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garantidos. É através dela que o indivíduo passa a ter consciência de seus direitos,
significa ter consciência dos seus direitos, dos direitos de outrem e da necessidade
vez que, “[...] não pode estar associado apenas à ideia de crescimento econômico,
considerando-se reducionista qualquer teoria que sustente tal ideia, uma vez que
451
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p. 10).
cidadania, a educação também é útil para que ele alcance suas liberdades
implante políticas públicas que visem assegurar a sua concretização com padrões
2017).
452
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restrita à doutrina do Direito, mas, está no cerne da CF/1988, tanto é que foi
fundamental.
essa dupla faceta de assegurar que o Estado não pode negar direitos fundamentais,
na medida em que se configura como direito subjetivo que comina com a sua
culturais, além de possibilitar por essas mesmas vias o alcance de outros direitos
453
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fundamento. E isso ocorre por que esse direito parece ser o alicerce para o alcance
Público tem o dever de proporcionar os instrumentos necessários para que ela seja
direito posto aos sujeitos sociais e como ponto de partida para se alcançar outros
454
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não aprende, as desigualdades sociais são aprofundadas por que, em tese a escola,
isso significa que tanto as práticas educativas na escola devem ser de qualidade,
acesso à educação também devem sê-lo, pois, não basta escola para que o direito à
educação se concretize.
Assim,
455
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sobre como deve ocorrer e em que ou quais circunstâncias pode ser oferecida pelo
legislação.
pontos de estrangulamentos.
A EaD tem conceito amplo e vai além das atividades ministradas para
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A EaD a partir das atividades realizadas fora da escola, parece restrita por
e espaços.
uso das tecnologias digitais pelos atores sociais” (DAVID, 2010, p. 07).
(ciberespaço, simulação, tempo real, processos de virtualização etc.) vem criar uma
Assim, a EaD não pode ser dissociada do uso das TIC e das diversas
formas de comunicação em tempo real, pois, isso torna a aula com maior interação
por si só o sucesso dessa modalidade de ensino, uma vez que é necessário, uma
educativas na EaD.
457
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professores.
Por outro lado, não é permitido o uso da EaD como única forma de acesso
e, além disso, as formas de acesso e interação entre professor e aluno também podem
por uma legislação específica e pode ser implantada na educação básica (educação
implementada para todos os níveis da educação básica, uma vez que restringe à
sua efetivação.
458
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1996, p. 05). Nesse caso, o decreto nº 9.057/2017 é o documento legal mais recente
A EaD sob essa ótica pode ocorrer em espaços e tempos diverso e, aponta
Ensino Fundamental a própria LDBEN no seu artigo 32, § 4º destaca que, “o ensino
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não pode ser para o Ensino Fundamental a única forma de acesso à educação,
Art. 9º [...]
I - estejam impedidas, por motivo de saúde, de acompanhar o
ensino presencial;
II - se encontrem no exterior, por qualquer motivo;
III - vivam em localidades que não possuam rede regular de
atendimento escolar presencial;
IV - sejam transferidas compulsoriamente para regiões de difícil
acesso, incluídas as missões localizadas em regiões de fronteira; ou,
V - estejam em situação de privação de liberdade (BRASIL, 2017, p.
02).
460
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oferta da educação no Ensino Médio. Pelo contrário, deixa claro que a EaD nessa
instituições de EaD. Isso significa que a EaD também tem caráter complementar à
evidente que quando se trata de Educação de Jovens e Adultos (EJA) para o Ensino
que as pessoas que não tiveram acesso à Educação na idade adequada, possa
usufruir desse direito por meio dessa modalidade de ensino. Isso, contudo, só é
admitido pela legislação vigente para correção de fluxo e para avançar para as
séries seguintes.
acesso e práticas específicas para essa modalidade, definidas pelas diretrizes dos
diversos sistemas de educação que a adota. Dessa forma, não é uma modalidade
outra forma, não é direcionada para o ensino formal em massa, uma vez que tem
público específico e volta-se, assim, apenas para uma parcela dos estudantes que,
461
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Ainda sobre essa questão, os manuais do curso, ainda ponderam que, embora
2020).
Assim, a discussão a respeito da EaD deve voltar-se para o público para o qual
escola. Não é o caso, para a educação básica que, essa modalidade seja aplicada
462
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
pensar respostas para a educação em uma realidade em que os alunos não podem
não podem atrasar a sua vida estudantil e “não podem perder o ano” na educação.
Essa narrativa trata-se de um contrassenso, uma vez que considerar a EaD como
plataformas adequada e com acesso a todos os alunos, bem como, sem uma
É preciso conceber o fato de que os meios de acesso à EaD não pode ser de
responsabilidade apenas dos estudantes, pois, estes não optaram por essa
modalidade de ensino e tampouco estão preparados para tal. Além disso, quando
Além disso, essa modalidade não pode ser massiva, pois, por exemplo, o
463
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
mão do conteudismo, entender que aprendizagem vai além do que é dado pela
escola e aceitar o ano letivo já não cabe mais em 2020” (SANTOS, 2020, p. 01). A
revestir-se de sua oferta com qualidade e, pensar a EaD sob a forma de “atividade
sejam protagonistas da sua própria educação, não podem ser responsáveis pelos
exercícios físicos.
que sempre existiu no Brasil, uma vez que milhões de pessoas não têm acesso aos
464
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constata-se que “[...] a crise não é cega, nem mesmo neutra, mas atua
pela urgência em manter o ensino escolar nas plataformas digitais. O que não parece
plataformas digitais como grupos de Whats App como sendo adequados à EaD e,
embora seja uma rede de acesso popular não responde às demandas do ensino e da
O ensino por meio da EaD tem problemas que vão além das questões legais.
Essa parece ser uma questão superada, uma vez que as diretrizes do MEC e dos
outras questões relacionadas ao preparo dos professores com relação a EaD estão
no cerne das discussões e cada um resolve da sua maneira, que mecanismo utilizar
pelo TIC Domicílios 2018, cerca de 85% dos usuários de internet das classes D e E
465
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
possuem acesso à internet somente por meio de aparelho celular, enquanto 13%
tem acesso tanto pelo dispositivo móvel quanto pelo computador. Na classe A, as
Não parece ser o celular o instrumento mais adequado ao estudo por meio
de EaD, uma vez que tem limitações de qualidade de imagem e, além disso, é um
tanto cansativo para os alunos, mesmo esse sendo um aparelho que faz parte do
seu dia a dia. A questão é que o seu uso em atividades formais não faz parte do
“atividades remotas”.
Nesse caso, quando o Estado prover a educação apenas por meio de EaD
7,5% tem até 1GB de franquia mensal, enquanto 16% entre 1 e 2GB, outros 39,7%
466
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
cada domicílio não se pode ter um ambiente de sala de aula propício ao estudo e,
muitas famílias têm mais de um filho na escola pública, sendo, por vezes
computadores e 35,7% dos que faz o uso desse equipamento é feito de modo
sem distinção daqueles que tem ou não condições de arcar com valores para plano
os impactos causados pelo isolamento social sugerido pela OMS e reforçado pelo
COVID-19.
467
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
2020).
Dessa forma,
a educação estar entre os mais importantes, uma vez que a partir dela, outros
realizado está provocando um aumento na exclusão social daqueles que não têm
educação. Esse modelo de ensino, da forma como está sendo realizado acarretará
uma vez que estão sendo privados de educação de qualidade e, isso significa que
a escola está reproduzindo para essa geração a desigualdade imposta pela falta de
acesso à internet.
468
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
sociais com esteio nos ideais a sua efetivação com qualidade significa potencializar
sujeitos sociais que usufruem desse direito. Dessa forma, verifica-se que o conceito
conteúdos digitais.
um direito pelo qual o Estado não deva zelar pelo mesmo. Pelo contrário, é
dos problemas dessa crise, no entanto, para ser ministrada sob a modalidade EaD
presenciais em curso por práticas de EaD pode acarretar uma série de problemas
469
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
à internet e os meios adequados para uso desses meios pode agravar, ainda mais,
famílias que impactam no acesso à educação, que vão desde a saúde física e mental
muitas vezes, são precárias. Esse modelo de EaD serve como um “laboratório”
REFERÊNCIAS
470
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471
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
SANTOS, Dani. Hipocrisia à distância: a escola finge que está ensinando e os pais
fingem que os filhos estão aprendendo. Disponível em:
https://www.revistabula.com/31077. Acesso em 02.Set.2020.
472
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
SILVA, Daisy Rafaela da; MOULIN, Darlan Alves; MOULIN, Maria Angélica de
Andrade Moraes. A efetivação do direito humano ao desenvolvimento em tempos
de crise socioeconômica: a violação aos direitos humanos com o agravamento da
pobreza extrema no Brasil. In: FONSECA, Diogo Sandret da Costa; SERRANO,
Pablo Jiménez; RAMPAZZO, Lino (Orgs.). A efetivação dos direitos humanos na
sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Jurismestre: 2020.
473
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
DO TRABALHADOR
RESUMO
O presente trabalho tem por escopo analisar a legitimidade da flexibilização dos direitos
fundamentais sociais do trabalho frente ao princípio da proteção do trabalhador, bem como
das normas constitucionais, analisando também o entendimento do Supremo Tribunal
Federal no julgamento eletrônico em plenário virtual da liminar na Ação Direita de
Inconstitucionalidade (ADI) 6363, frente à crise sanitária ocasionada pelo Covid-19. Busca-
se ainda, observar o cenário das relações de trabalho no Brasil durante a pandemia,
realizando um comparativo entre os direitos sociais do trabalho e a ameaça de desemprego
em massa, analisando-se os efeitos da jurisprudência de crise adotada pelo STF no
momento atual, além das possíveis consequências dessa flexibilização nas conquistas
trabalhistas até então alcançadas. O presente trabalho foi estruturado em três capítulos,
sendo que o primeiro visa abordar o cenário trabalhista na pandemia de coronavírus, o
segundo tratará dos aspectos que envolvem os direitos sociais do trabalho e a ameaça de
desemprego em massa, e o terceiro analisará a denominada jurisprudência de crise que tem
sido adotada nesse tempo de pandemia, especialmente no âmbito do Supremo Tribunal
Federal. Verificar-se-á ao final que, a flexibilização dos direitos sociais, mesmo em situações
de crise, resulta em um retrocesso aos direitos trabalhistas conquistados a duras penas ao
longo da história, desprotege o trabalhador hipossuficiente e cria uma falsa sensação de
liberdade, quando na verdade permanece refém da vontade do empregador para manter o
seu emprego. Para tanto, serão utilizadas a metodologia qualitativa e bibliográfica e o
método dedutivo.
111
Graduação em Direito pelo Centro Universitário Curitiba. Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do
Vale do Itajaí- UNIVALI, na área de Concentração em Fundamentos do Direito Positivo, Especialista em Direito
do Trabalho e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário Curitiba - UNICURITIBA, e-mail:
c_savaris@hotmail.com. http://lattes.cnpq.br/4075995413144897.
112
Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Franca. Pós-graduanda em Direito e Processo do
Trabalho pela FDRP-USP (Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo). E-mail:
carlacarmozineadv@gmail.com. http://lattes.cnpq.br/3406284631631876.
474
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
This article is to analyze the legitimacy of the flexibilization of the fundamental social rights
of the work in front of the principle of the protection of the worker, as well as the
constitutional norms, analyzing also the understanding of the Federal Supreme Court in
electronic judgment on the virtual plenary of the liminary in the Direct Action of
Unconstitutionality (ADI) 6363, front of the sanitary crisis caused by Covid-19. It also seeks
to observe the scenario of labor relations in Brazil during the pandemic, comparing between
the social rights of work withd the threat of mass unemployment, analyzing the effects of
the crisis jurisprudence adopted by the STF at the present time , and the possible
consequences of this easing in the labor achievements hitherto achieved. This article is
structured in three chapters, the first aims to address the labor scenario in the coronavirus
pandemic, the second will deal with aspects involving labor social rights and the mass
unemployment, and the third will analyze the so-called crisis jurisprudence that has been
adopted at this time of pandemic, especially within the Federal Supreme Court. In the end,
it will be seen that the flexibilization of social rights, even in crisis situations, results in a
regression to labor rights won at hard times throughout history, unprotects the
hypossufficient worker and creates a false sense of freedom, when in fact remains hostage
to the will of the employer to keep his job. For this, the qualitative and bibliographic
methodology and the deductive method will be used.
INTRODUÇÃO
Federal do Brasil.
saúde, da economia, bem como na humanitária e social, cenário este que preocupa
475
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Dessa forma, busca-se demonstrar com o presente artigo que, apesar dos
longo da história.
sociais?
intenção das medidas proferidas fosse evitar o desemprego em massa, é sabido que
476
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
apresar de não ter sido convertida em lei, foi a primeira medida provisória editada
de meios tecnológicos como principal meio de trabalho (RUIZ, 2020, p. 17), haja
477
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
A partir desse quadro, ficou constatado que a crise advinda com o novo
das relações de trabalho para uma nova realidade, resultando num aumento
somente uma pequena parcela da população que possui acesso a esses novos meios
setores, demonstrando que tais flexibilizações não são suficientes para impedir o
sociais.
durante a pandemia, uma vez que passou a ser de 13,3% no segundo trimestre de
478
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
governo não esta no trabalho e no trabalhador que o presta, mas sim nas empresas
163)
trabalho a retirada de rigidez não é tão simples, devendo ser analisada a partir da
perspectiva de Mário Sérgio Salerno, de que ela pode ocorrer, desde que não haja
E, ainda que haja uma justificativa atual para este fenômeno, sabe-se que a
flexibilização dos direitos trabalhistas não é algo novo, pois vem se intensificando
problema do desemprego.
479
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
plano, pois estancava o meio de produção, além de tornar muito mais onerosa a
produção.
conforme destacado anteriormente, desvia o principal propósito por detrás das leis
flexibilização:
Ela é o reflexo de uma sociedade que vive tão somente o lucro, independente
das consequências que podem ser vividas pela parte mais fraca desse elo, os
guardião da Constituição, que no entanto permite essa ocorrência sob a ótica dos
perante os empregadores, mesmo quando seus direitos são violados, uma vez que
trabalho limitada, dentre outras, além de que pode desencadear diversas doenças
graves ao empregado.
480
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pouco a pouco de lado, ou ainda, estão somente protegendo uma minoria, qual seja,
lembrando que não deve ser a partir de uma flexibilização sem limites.
481
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Isso ocorre pois a flexibilização sem limites é deixar uma relação a encargo das
partes envolvidas, ou seja, sem qualquer intervenção estatal. Porém, conforme bem
pode-se perceber o quão essencial foi a intervenção estatal progressiva nas relações
de trabalho, por conta da exploração desde os primórdios até os dias atuais, onde
pode-se constatar abusos de direito por parte do elo mais forte, representado pelo
explana Pereira:
Dessa forma, ainda que hajam adeptos à esta flexibilização, o ideal é demonstrar
atividade, garantir que haja condições dignas de trabalho, bem como a preservação
482
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
3 JURISPRUDENCIA DE CRISE
encontra-se ameaçada, de tal modo que, as garantias mínimas dos mais vulneráveis,
chegam a passar penúria sem que esse limbo seja efetivamente resolvido.
O Supremo Tribunal Federal (STF) foi provocado por meio de Ações Diretas de
Inconstitucionalidade, tais como as ADIs 6342, 6344, 6346, 6349, 6352, 6354, 6375,
927/20, além das ADIs 6363 e 6370, que questionam a MP 936/20, sendo que essas
483
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
econômicos atuais.
Dessa forma, nota-se que para o bem da economia e de uma suposta garantia
vistos como vilões da economia, pois ameaçam quebrar negócios, são considerados
trabalhadores, mas altos custos para o pequeno empresário, que sob risco de
484
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Colômbia, Portugal e Grécia, nos quais já se discutiu, dentre outros temas, o fim de
sendo que, em todos eles, há algo em comum: tomar decisões que envolvem
dos trabalhadores ao longo do tempo, uma vez que, apesar de proferidas em tempo
OIT, bem como outros instrumentos internacionais que versam sobrem os direitos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
485
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
especialmente no que diz respeito às relações de trabalho, vez que muitas iniciativas
demonstrando que o foco do Estado já não era mais garantir direitos fundamentais
E, ainda que a nova sociedade esteja passando por profundas mudanças, sabe-
relações de trabalho, deve ser analisada com bastante cautela, haja vista as
dos direitos fundamentais sociais não é de hoje, mas que ainda demonstra que falta
486
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
fundamentais sociais, e que conforme João Leal Amado, pode-se verificar que o
capitalismo, constando que já não há mais foco ao que exerce o trabalho, mas às
empresas e ao custo que esta têm para manter este direito (AMADO, 2013, p. 184)
2013, p. 185).
REFERÊNCIAS
487
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 16. Ed. São Paulo:
LTr, 2017;
GOMES, E. B., & Arruda Vaz, A. A possível flexibilização dos direitos sociais e
políticas públicas: solução para o Mercosul em tempos de crise?. Espaço Jurídico
Journal of Law [EJJL], 16(2), 2015, p. 303-320;
KREIN, José Dari. Tendências recentes nas relações de emprego no Brasil. Tese de
Doutorado em Economia Aplicada. Campinas, Unicamp, 2007. Disponível em:
<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/285517>. Acesso em: 07 set.
2020;
488
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
VINHAS, Tânia. Frase da semana: “aqueles que não conseguem lembrar o passado
estão condenados a repeti-lo. Disponível em:
https://super.abril.com.br/blog/superblog/frase-da-semana-8220-aqueles-que-nao-
conseguem-lembrar-o-passado-estao-condenados-a-repeti-lo-8221/. Acesso em: 14
set.2020;
489
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
COVID-19
RESUMO
Na atualidade, verifica-se que ainda não se tem proporcionado a todos os cidadãos,
principalmente àqueles mais necessitados, o pleno direito de acesso à saúde, fato que lhes
afeta a dignidade da pessoa humana (DPH). O presente trabalho objetiva determinar os
possíveis impedimentos para que a clientela a ser enfocada nesta pesquisa tenha acesso à
saúde a fim de atender suas reais necessidades. O principal problema que motivou a
realização da pesquisa foi a constatação empírica, na realidade brasileira, das dificuldades
de as pessoas com baixo poder aquisitivo obterem acesso ao tratamento de suas
enfermidades, especificamente a Covid-19. A escolha do tema enfocado na presente
pesquisa justifica-se plenamente pela gravidade do problema que afeta camada
considerável da população brasileira. A metodologia aplicada é a pesquisa bibliográfica e
seu resultado constata que a dignidade da pessoa humana ainda não é proporcionada a
essas pessoas, devido à falta de política governamental rígida e à falta de adequação das
farmacêuticas. Para abranger as questões levantadas, ao longo do desenvolvimento do
artigo, aborda-se preliminarmente a DPH e a afetação da clientela, pelo não recebimento de
medicamentos necessários a seu tratamento. Em seguida, são enfocadas as políticas
públicas voltadas para a área de saúde. Continuando, focalizam-se o Sistema de Saúde
brasileiro e o fornecimento de medicamentos às pessoas debilitadas socialmente e são
expostas as obrigações pertinentes ao Estado abrangidas pela área em estudo. As
considerações finais reúnem os comentários do autor sobre a matéria.
ABSTRACT
Nowadays, it appears that all citizens, especially those most in need, have not yet been
granted full access to health, a fact that affects the dignity of the human person (DPH). The
present work aims to determine the possible impediments so that the clientele to be focused
in this research has access to health in order to meet their real needs. The main problem that
motivated the research was the empirical observation, in the Brazilian reality, of the
113
Pós-doutor em Democracia e Direitos Humanos pela Universidade de Coimbra/Portugal, Doutor e Mestre
em Direito. Professor Adjunto do Curso de Direito da UFF/ICM/MDI. Docente dos Cursos de Especialização em
Gestão Pública, Gestão Pública Municipal e Gestão em Saúde Pública, na modalidade de Ensino à Distância,
ofertadas pela Universidade Federal Fluminense através do Consórcio CEDERJ e da Universidade Aberta do
Brasil (UAB). CV: http://lattes.cnpq.br /8477467816197173. E-mail:davidaf@id.uff.br.
490
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
difficulties of people with low purchasing power to obtain access to the treatment of their
illnesses, specifically Covid-19. The choice of the theme focused on in this research is fully
justified by the seriousness of the problem that affects a considerable part of the Brazilian
population. The applied methodology is the bibliographic research and its result verifies
that the dignity of the human person is not yet provided to these people, due to the lack of
rigid government policy and the lack of adequacy of pharmaceutical companies. To cover
the issues raised, during the development of the article, DPH and the effect of the clientele
are preliminarily addressed, due to the non-receipt of medicines necessary for their
treatment. Then, public policies focused on the health area are focused. Continuing, the
Brazilian Health System and the supply of medicines to the socially impaired are focused
on and the relevant obligations to the State covered by the area under study are exposed.
Final considerations bring together the author's comments on the matter.
INTRODUÇÃO
veiculadas pela mídia davam conta de que, entre as pessoas infectadas pelo vírus,
o Estado prestar proteção para a preservação da saúde dos seres humanos sob sua
responsabilidade.
Sustentável (ODS) a serem alcançados até 2030. Vale ressalvar que em 2000 foram
491
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
alcançados até 2030, mantendo entre eles o Objetivo 3115. Por meio desse Objetivo
saudável. Propõe-se que tal prerrogativa seja compartilhada por todos os seres
medicamentos.
histórico sobre sua observância. Logo adiante, trata-se das políticas públicas
área da saúde. A partir daqui, enfoca-se como vem sendo proporcionado o acesso a
114
Vide ONU. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível
em: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2015/10/agenda2030-pt-br.pdf. Acesso em: 22 abr. 2020.
115
Vide ONU. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível
em: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2015/10/agenda2030-pt-br.pdf. Acesso em: 22 abr. 2020.
492
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
racionalista de Hugo Grócio. Nesse mesmo período, em 1589, o jus philosophus Hugo
dissociado da saúde (SARLET, 2004). Nesse sentido, Consuelo Cuesta Sanz (1998,
p. 291) salienta o seguinte: “a preocupação pelo comércio foi o motivo principal para
não era considerada como ausência de enfermidade, mas sim um bem em si mesmo,
493
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
encontrassem (SANZ,1998).
fundamental, mediante o qual cada cidadão deveria ter seus direitos respeitados
pelo Estado. Assim, propicia que cada indivíduo tenha assegurada sua dignidade
Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, em seu artigo 25.
Portanto, esse direito tardou mais de meio século para afirmar-se como direito
deste direito é conquista sociocultural bastante recente, cujo conteúdo foi cunhado
reconhecer a saúde como Direito Humano Fundamental. Está posto que não deva
haver por parte dos Estados qualquer ato inibitório a colocar em perigo a saúde das
pessoas, mas sim realizar todos os esforços para sua preservação (SANZ,1998).
2 POLÍTICAS PÚBLICAS
494
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
a igualdade de gênero e a saúde117 acarreta uma série de problemas que não têm sido
pessoas que não têm acesso a esse quarteto de necessidades básicas, são aquelas
municípios, estados e governo federal por meio do Sistema Único de Saúde (SUS),
é um exemplo salutar de política pública direcionada à área de saúde que deve ser
(MOURA, 2019).
ou WHO em inglês), órgão da ONU, que, em sua 66ª Assembleia Mundial da Saúde,
(WHO, 2015).
116
Vide também o artigo 196 da Constituição Federal.
117
Vide ONU. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível
em: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2015/10/agenda2030-pt-br.pdf. Acesso em: 22 abr. 2020.
495
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Para que se ter ideia do que ocorre na realidade brasileira, inclusive comparável
de Saúde (SUS), público e gratuito, para oferecer o piso básico de atendimento para
camadas mais pobres e de baixa renda, além de atender parte da classe média; b)
controlado pelo governo federal. Terceiriza serviços com unidades do SUS, sendo
utilizado por população de média e alta renda que possui seguros adicionais de
saúde.
118
Vide artigo, 23, II, da Constituição Federal.
496
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
qualidade dos serviços prestados, nos preços dos planos e seguros de saúde, e em
Em 1999, 43% das instalações e 70% dos leitos eram privados, sendo que 58%
desses leitos eram contratadas pelo SUS, além de a imensa maioria dos
as mais afetadas. Diante dessa distorção, quem não disponha de plano de saúde fica
497
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
assistência ao servidor público. Além disso, do total de pessoas cobertas por plano
de saúde, 47,8% eram titulares do plano de saúde único ou principal que possuíam.
Segundo este levantamento esse percentual é ainda maior entre as pessoas das
classes C, D e E, atingindo 77%. Destaca que 44,8% dos entrevistados sem plano de
dinheiro do próprio bolso para pagar pelos serviços necessários (BOCCHINI, 2018).
119
O posto ou centro de saúde foi o local mais declarado como normalmente procurado (56,8%), seguido pelos
consultórios particulares (19,2%) e pelo ambulatório de hospital (12,2%).
498
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120
A OMS considera medicamentos essenciais aqueles que servem para satisfazer as necessidades de atenção
à saúde da maioria da população.
499
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privadas, muitas delas estrangeiras, estimando uma grande economia nos gastos
(ODS).
121
Vide BRASIL. Ministério da Saúde. Laboratórios Oficiais. Disponível em:
http://www.saude.gov.br/assistencia-farmaceutica/laboratorios-oficiais. Acesso em: 5 abr. 2020c.
122
(NYSE:Q) é uma empresa líder global no fornecimento de informação, soluções tecnológicas inovadoras e
serviços de investigação clínica focada no uso de dados e ciência para ajudar clientes da área da saúde a
encontrar melhores soluções para os seus pacientes.
500
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ninguém para trás, pois os ODS têm a intenção de beneficiar todas as pessoas em
enorme disparidade existente entre as camadas sociais, no que diz respeito a contar
socorrer ao Poder Judiciário? Sim, pois é livre o acesso. Contudo, se o Estado alegar
501
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2010)123. Entretanto, tal recorrência vai depender do caso concreto a ser analisado
pelo Judiciário124.
aos idosos; grandes distâncias geográficas que dificultam o acesso aos serviços; a
seguinte afirmativa:
importante, pelo Estado ou por quotização social; os Estados Unidos e a Suíça, nos
123
Vide também: JACOB, Cesar Augusto Alckmin. A “reserva do possível”: obrigação de previsão orçamentária
e de aplicação da verba. In: GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo (Org.). O controle jurisdicional das
políticas públicas. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 237-284.
124
Vide (Superior Tribunal de Justiça – Resp 1762423 CE 2018/0220698-0, Relator: Ministro Og Fernandes,
Data de Publicação: DJ 24/09/2018).
502
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despesa privada e o aumento dos custos pode-se perceber que existe relação linear
entre eles: quanto mais os países têm sistema público, mais fácil torna-se o controle
de custos; enquanto nos que tem sistema misto público-privado, mais difícil é esse
pode criar impasse nessa área negando o acesso, em especial considerando que a
saúde é um direito e o Estado é seu provedor, devendo assegurar a cada pessoa, por
muitas vezes indispensáveis ao tratamento são cada vez mais onerosos, se bem que
imprescindíveis.
503
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regulação do sistema, independentemente de como ele seja; b) para que uma decisão
seja tomada e seja útil, é preciso basear-se em uma dessas lógicas. Daí,
e quando isto ocorreria? Esse impasse pode ser solucionado? Sua resposta é
o controle dos preços de medicamentos fosse feito pelo governo e não pelas
indústrias;
504
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diretamente a população;
Thomas Pogge assevera que cerca de 3,4 bilhões de pessoas detêm menos de
famílias americanas mais ricas, que constituem três milhões de pessoas. Em época
países e o Brasil é um deles, mas ainda está entre as sociedades mais desiguais, com
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pois não têm acesso a saneamento básico adequado, não contam com boas
Na visão de Pogge (2008, p. 124) tal situação pode ser alterada desde que se
efetivem progressos contra a carga global das doenças (CGD), pois essas doenças
mais desejáveis são aqueles que não são curados e não morrem, uma vez que
125
Hoje em dia, cerca de 100 companhias farmacêuticas de grande porte são responsáveis por cerca de 90%
dos produtos farmacêuticos para consumo humano.
126
Essa negligência se concentra no fato de as grandes empresas farmacêuticas preferirem desenvolver
produtos destinados a público possuidor de recursos para comprar seus produtos, como aqueles para queda
de cabelo, remoção de acne etc., em vez de investir em pesquisa para doença de Chagas, tuberculose, doença
do sono, entre outras.
127
Os medicamentos que aliviam a dor colocam o pobre e o rico no mesmo pé de igualdade, pois não terão
sua doença curada e ficarão à mercê do medicamento por longo período de sua vida.
506
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Aliança Global para Vacinas e Imunização (GAVE) e o Fundo Global para Combater
Uma Saúde Mundial (One World Health – IOWH), o Instituto Novartis para
bilhões de dólares para neutralizar o custo imposto aos pobres do mundo pela
128
Anunciado em 2003, este programa conjunto WHO/UNAIDS destinava-se a fornecer, até 2005, tratamento
antirretroviral a 3 milhões (do que era então estimado em 40,3 milhões) de pacientes de Aids nos países menos
desenvolvidos. Na realidade, o número de pacientes que receberam esse tratamento aumentou somente em
0,9 milhão e chegou a 1,3 milhão no final de 2005.
129
Um compromisso antecipado de compra (APC) é uma promessa de compra, a um preço preestabelecido e
lucrativo, de um grande número determinado de doses de um medicamento novo que obedece a certas
especificações.
Constata-se situação similar sendo aplicada no Brasil entre o Ministério da Saúde (MS) e algumas empresas
farmacêuticas privadas, sob a denominação de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), sendo que
estas empresas têm seu estoque adquirido pelo MS para utilização pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pelo
prazo de cinco anos.
130
Um compromisso antecipado de mercado (AMC) é uma promessa de subsidiar a venda de grande número
determinado de doses de um medicamento novo que obedece a certas especificações. O único AMC emitido
até agora – financiado por Itália, Reino Unido, Canadá, Rússia, Noruega e a Fundação Gates – é para vacinas
contra doença pneumocócica, causa importante de pneumonia e meningite entre as populações pobres.
Novos relatórios sugerem que ele está projetado para servir, sobretudo aos interesses da indústria
farmacêutica.
507
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criação da OMC, mas não atingiram de forma plena seu objetivo. Torna-se
intangível pensar que esse objetivo seja alcançado, se for tratado pela ótica das
empresas farmacêuticas, com base nos pontos apresentados por Pogge (2008, p. 129-
131), a seguir:
a) devido aos preços altos dos remédios – os preços praticados pelas empresas
enquanto ela estiver em vigor, os preços não vão diminuir, pois o lucro é o
enfermidades;
lucrar e vão lucrar muito mais se não curarem as doenças, mas somente
508
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promotores de venda;
Segundo o autor, tal situação pode ser modificada por meio da implantação
anual baseada no impacto que tal iniciativa possa acarretar aos negócios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
prática, implica outro patamar a ser alcançado. Tal situação prática pode ser
constatada no caso dos medicamentos que, mesmo prevista no terceiro item dos
execução tem sido severamente inibida pelas dificuldades que se apresentam a cada
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e os Estados, no qual não haja perdas consideráveis para nenhuma das partes: nem
medicamento; nem para o Estado, não sendo extorquido pelo preço abusivo que
O Estado brasileiro deve ter atuação mais contundente diante das indústrias
farmacêuticas, com seu poder econômico e de lobby. Para isso, se faz necessário o
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carentes da população terem acesso a saúde, por iniciativa ou não do poder público,
Constituição Federal.
públicas para inibir ou minimizar a ação de doenças no meio social. Para haver
caso contrário, a população mais carente será subjugada por essas enfermidades.
Entretanto, desponta a esperança de que tal acerto possa ser alcançado, desde
REFERÊNCIAS
BOCCHINI, Bruno. Pesquisa mostra que quase 70% dos brasileiros não têm plano
de saúde. Agência Brasil. Disponível em:
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https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-02/ pesquisa-mostra-que-quase-
70-dos-brasileiros-nao-tem-plano-de-saude-particular. Acesso em: 2 abr. 2020.
512
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SANZ, Consuelo Cuesta. La salud como Derecho Humano. In: LA CALLE, María
José de La Fluente y de la Calle; PARDO, Miguel Ángel Montanés; VIÑAS,
Antonio Rovira (Coord.). La Declaración Universal de los Derechos Humanos en
su 50° aniversario. Barcelona: Boscil, 1998, p. 291-298.
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SÉGUIN, Elida. Estatuto da cidade: promessa de inclusão social, justiça social. Rio
de Janeiro: Forense, 2002.
514
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DESAFIO POLÍTICO-JURÍDICO
RESUMO
O Brasil, como muitas outras nações, tem travado uma luta constante contra o avanço do
Pandemia dentro do seu território. Esse esforço trouxe como consequência uma estagnação
da economia, um aprofundamento das mazelas sociais que já convivíamos há anos, bem
como pode atrasar a implementação de reformas e movimentos importantes. O objetivo
deste estudo é abordar um destes movimentos, que é a transição para um modelo
econômico mais sustentável, a economia circular, que alcança e atende os direitos
econômicos, sociais e culturais, os quais nos afiliamos e que pode encontrar mais
dificuldade durante o período que se estende a Pandemia. Justifica-se a presente pesquisa
na medida em que as ações tomadas para conter o vírus mortal, que se espalha lentamente
sobre o país, além de violarem os mencionados direitos, infringem com a morte os direitos
humanos e a dignidade da pessoa humana. A hipótese é que as ações governamentais de
combate à covid-19 podem transgredir os direitos humanos e atrapalhar a transição para a
economia circular. A pesquisa será trabalhada com base no método histórico mediante
pesquisa bibliográfica qualitativa. No primeiro capítulo abordaremos, como introdução, o
contexto em que se encontram as discussões levantadas; no segundo capítulo, abordaremos
o que é a economia circular e como ela se conecta com os direitos econômicos, sociais e
culturais; no terceiro trabalharemos as ações governamentais no combate ao vírus da covid-
19, concluindo em seguida.
RESUMEN
Brasil, como muchas otras naciones, ha estado librando una lucha constante contra el
avance del coronavirus dentro de su territorio. Este esfuerzo, sin embargo, ha provocado
un estancamiento de la economía, una profundización de los males sociales que vivimos
desde hace años, además de retrasar la implementación de importantes reformas y
movimientos. El objetivo de este estudio es precisamente abordar uno de estos
131
In memoriam († 25/09/2020) - PPGDIN/Professor CEDERJ, lattes: http://lattes.cnpq.br/6547258530091663.
132
Doutorando PPGDIN/Professor UNESA, e-mail careccard@gmail.com, lattes:
http://lattes.cnpq.br/8815697429970108
515
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
INTRODUÇÃO
516
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
diversos líderes mundiais no que toca ao enfrentamento do vírus 133, bem como na
dura realidade enfrentada por todos os brasileiros, em especial das classes menos
que hodiernamente são praticadas pelo governo federal, onde tem hegemonia
com a quantidade de matéria prima não renovável utilizada e nem com o descarte
133
O vírus covid-19 já matou, até a segunda quinzena de setembro de 2020, mais de 900.000 (novecentos) mil
pessoas em todo o mundo, sendo mais de 139.000 (cento e trinta e nove mil) apenas no Brasil,
desconsiderando a altíssima subnotificação. Fonte: Consórcio de Veículos de Imprensa do Brasil – Fonte:
https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/09/brasil-tem-1136-mortes-pela-covid-19-e-chega-a-
128-mil-obitos.shtml e https://www.worldometers.info/coronavirus/?utm_campaign=homeAdvegas1, acesso
em 10.09.2020.
134
Nota dos autores: Esse dilema, Economia versus Vida, que não se restringiu ao Brasil, e foi um dos muitos
desvelamentos que o Covid 19 trouxe à baila no contexto das sociedades contemporâneas.
135
A crise da pandemia do coronavírus tem preocupado a maior parte dos países do mundo em razão da
inexistência de tratamento ou vacina capaz de evitar a morte de parcela significativa pessoas. O que se conhece
até o presente momento é que embora a letalidade não seja alta, a ausência destas medidas já alcançou
número de mortes superior a outras doenças respiratórias.
136
Essa é a denominação de um grupo de professores liderados por Milton Friedman e George Stigler, com
sede na Universidade de Chicago, na Faculdade de Economia, os dois maiores expoentes do neoliberalismo
econômico americano na segunda metade do século XX. Os professores defendiam a observação dos dados e
a realização de testes empíricos como maneira de mostrar as limitações da ação do Estado na economia.
517
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
maneira orgânica para que o material empregado possa ser reutilizado ao máximo
insumos básicos de caráter médico para o combate ao vírus da covid-19, bem como
toca os direitos humanos, Flávia Piovesan; no que alcança o tema dos direitos
CULTURAIS
nacional pode ser compreendida sob diferentes aspectos. O consumo cada vez
518
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que gera uma grande produção de resíduos sólidos que não consegue ser absorvida
A adoção deste modelo pelo Brasil deve ser tomada com o efetivo respeito
137
Um exemplo disto são os inúmeros exemplos que são noticiados no mundo de regeneração do ecossistema.
Desde a volta dos golfinhos aos Canais de Veneza à agua de cor “caribenha” na poluída Enseada de Botafogo
no Rio de Janeiro.
138
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-
intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio
ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de
asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social
e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
519
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Assim, ao proteger direitos que, por vezes, podem ser conflitantes, como
para o governo e uma luta diária pela população para que não haja diminuição de
seus direitos139.
ação integrada de tais direitos ajuda em uma integração mais completa, como
139
Luta principalmente em razão da adoção de uma postura neoliberal pelo Ministro da Economia, Paulo
Guedes, ex-aluno da Escola de Chicago, durante o Governo, de ultradireita, de Jair Bolsonaro.
520
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paradigma, posto que apesar de existir uma tensão entre princípios aparentemente
construção de uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I, CF/88), a garantia do
marginalização para a redução das desigualdades (art. 3º, III, CF/88), a prevalência
dos direitos humanos (art. 4º, II, CF/88), o exercício de cooperação entre os povos
para o progresso da humanidade (art. 4º, IX, CF/88) são princípios que garantem
521
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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livre iniciativa, cuja meta é assegurar a todos os brasileiros uma existência digna,
do pleno emprego (art. 170, incisos, II, III, IV, V, VI, VII e VIII, da CF/88).
estimulação ao cooperativismo.
140 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 - Art. 174. Como agente normativo e regulador da
atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento,
sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. Fonte:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm; acesso em 05/09/2020.
522
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neste Pacto, passaram a ser uma agenda brasileira em 1991, quando o Congresso
Nacional aprovou, em dezembro daquele ano, o texto elaborado pela XXI Sessão da
Assembleia-Geral das Nações Unidas realizada em 1966. Texto este que passou a
Brasileira passou a prever após 1988. Desde a previsão de que cada Estado nacional
estabelecidos com outros países (Artigo 1º. 2) e a adoção de medidas para promover
higiene, bem como previdência social (Artigos 6º, 7º, 8º e 9º); para atingir também
141
Fonte: planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm; acesso em 07/09/2020.
523
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produzidos seja mantido em circulação por meio de cadeias produtivas integradas” assim,
2012 da Fundação Ellen MacArthur, que foi criada especificamente para difundir o
conceito e contribuir para a transição do sistema linear para este sistema circular
orgânica, à luz do artigo 174, da CF/88 apontado acima, bem como na adoção de
uma bandeira política, “uma meta política, em um contexto de aumento dos preços dos
142
Um dos autores deste artigo abordou a influência do campo sociológico no tema da transição para uma
economia circular utilizando a ideia de campus e habitus muito bem trabalhados na obra de Bourdieu. “Na
sociologia econômica estruturalista de Pierre Bourdieu, os conceitos de Campo e Habitus são usados para
explicar que o comportamento do agente econômico (homo oeconomicus) é tanto um fator determinado
quanto um fator determinante do local e das práticas envolvidas neste ambiente e “são adquiridas pela
interiorização das estruturas sociais. Portadoras da história individual e coletiva, são de tal forma internalizadas
que chegamos a ignorar que existem. São as rotinas corporais e mentais inconscientes, que nos permitem agir
sem pensar.” (Thiry-Cherques, 2006). (ECCARD, 2019)
524
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Economia Circular.
que uma transição para um novo conceito de economia pode alcançar todos estes
direitos, além, de um dos mais importantes, que são o respeito aos Direitos
Humanos.
143
Artigo 2 - Obrigação de Adotar Disposições de Direito Interno - Se o exercício dos direitos estabelecidos
neste Protocolo ainda não estiver garantido por disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados-
Partes comprometem-se a adotar, de acordo com suas normas constitucionais e com as disposições deste
Protocolo, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efetivos esses
direitos. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3321.htm, acesso em 10/09/2020.
525
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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outra natureza (Artigo 10); do direito ao meio ambiente sadio (Artigo 11), educação
Protocolo quanto pelo Pacto, estão dentro do que chamamos de respeito aos Direitos
abstração, onde cada Estado assumia o papel de reconhecer, proteger ou mesmo desrespeitar
diferentes frentes são necessárias, posto que a previsão de proteção em textos legais
144
Importante destacar o texto de Flávia Piovesan sobre o tema: A existência de cláusulas constitucionais
abertas a propiciar o diálogo entre as ordens jurídicas local, regional e global, por si só, não assegura a
efetividade do diálogo jurisdicional em direitos humanos. Se, de um lado, constata-se o maior refinamento das
cláusulas de abertura constitucional – a contemplar a hierarquia, a incorporação e as regras interpretativas de
instrumentos internacionais de direitos humanos – por outro lado, esta tendência latinoamericana não é
suficiente para o êxito do diálogo jurisdicional em matéria de direitos humanos. Isto porque interpretações
jurídicas reducionistas e restritivas das ordens constitucionais podem comprometer o avanço e a potencialidade
de cláusulas abertas. Daí a necessidade de fomentar uma doutrina e uma jurisprudência emancipatórias no
campo dos direitos humanos inspiradas na prevalência da dignidade humana e na emergência de um novo
Direito Público marcado pela estatalidade aberta em um sistema jurídico multinível. A formação de uma nova
cultura jurídica, baseada em uma nova racionalidade e ideologia, surge como medida imperativa à afirmação
do ius commune latino-americano em direitos humanos. (PIOVESAN, 2014)
526
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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é medida que atende aos acordos multilaterais pactuados pelo Brasil que podem
uma emancipação dos cidadãos brasileiros, que deverão ser contemplados com
Outro fator que dificulta a tomada de ações por parte do governo relaciona-
se com o rumo neoliberal que a economia do país passou a ser conduzida, desde o
de verbas, e a pressão cada vez maior que o setor empresarial e industrial faz por
setor econômico, sob a justificativa de que a ausência de trabalho pode gerar fome,
145 Golpe este que contribuiu com a derrubada da, então, presidente Dilma Rousseff, do Partido dos
Trabalhadores, rompendo um ciclo de 13 anos de governos de esquerda, que ficou marcado por tirar da
miséria boa parte da população mais pobre, mas também por continuar com um esquema de corrupção entre
as elites brasileiras (empresários, políticos, doleiros, dentre outros), empresas estatais, bem como
construtoras e outras empresas, que movimentou bilhões de reais).
146
Nota dos autores: A atual crise econômica, presente desde o início do 2º governo Dilma, foi aprofundada
pelas políticas recessivas do Governo de Michel Temer com o pomposo título de Ponte para o Futuro.
527
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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ponderação entre a saúde e economia, uma vez que é ele quem orienta, rege e limita
a atuação do Poder Público, bem como as relações da sociedade, e, de fato, tem sido
em solo nacional.
Wuhan e muitos estrangeiros estavam no foco do contágio inicial, que ocorreu entre
contudo, em um primeiro momento afirmou que não teria como buscar seus
147
Os ministros da saúde do governo Bolsonaro recomendaram a implementação de políticas de valorização
da vida, mais especificamente o isolamento social, para evitar a proliferação do vírus bem como para dar
tempo aos outros entes federativos (Estados, Municípios e Distrito Federal) para prepararem sua base de
assistência à saúde para a quantidade expressiva de contaminados que procurariam a rede do Sistema Único
de Saúde – SUS, e também não apoiaram a adoção de um protocolo de tratamento onde os medicamentos
defendidos pelo presidente deveriam ser utilizados pelo SUS, em detrimento do pleno funcionamento da
economia.
528
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
conterrâneos, mas mudou de ideia após pressão feita internamente. Este primeiro
isolamento social proposto pelo Ministério da Saúde148 como prática para diminuir
(BARRETO et al., 2020; CAMPOS, 2020), comportamento este não isolado, mas
seguido por outros líderes nacionais como, Andrés Manuel López Obrador,
Presidente Daniel Ortega, capitaneados por Donald Trump, dos Estados Unidos
148
As ações do Presidente sempre serviram para atrapalhar o combate ao vírus em território nacional, como
bem apontado: Iniciativas de governadores foram questionadas pelo presidente da República, que já havia
declarado ao longo do mês, sobre a pandemia, sucessivamente: “é uma pequena crise”, “não há motivo para
pânico”, “isso está sendo propalado pela mídia”, “outras gripes já mataram mais do que esta” e até mesmo
que “é uma fantasia”. Além do discurso, as atitudes pessoais do presidente afrontavam ostensivamente as
recomendações de distanciamento, como a presença em manifestações e locais públicos, sem uso de máscara
ou qualquer outra medida para proteção (...) (HENRIQUES; VASCONCELOS, 2020)
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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Outro fator que demonstra o conflito entre os chefes dos poderes executivos
“exagero” 150
das medidas tomadas, bem como xingados 151
em variadas
oportunidades.
nacional fez com que, na ausência de uma liderança federal por parte do Presidente,
Não havia leitos suficientes, não havia equipamentos suficientes, não havia
149
Fonte: https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-08-08/negacionismo-de-bolsonaro-diante-da-pandemia-
tem-metodo-e-pode-garantir-sua-sobrevivencia-politica.html, acesso em 10/09/2020.
150
Fonte: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/04/16/bolsonaro-ataca-governadores-
excesso-nao-vai-curar-problema-vai-agravar.htm, acesso em 10/09/2020.
151
Fonte: https://exame.com/brasil/bolsonaro-chama-governadores-e-prefeitos-de-projetos-de-ditadores-
nanicos/, acesso em 10/09/2020; https://www.terra.com.br/noticias/coronavirus/bolsonaro-ataca-
governadores-isolamento-total-e-tirania,32976128d141f8f303933d6aea6b13981cm8zzc9.html, acesso em
10/09/2020.
530
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instaladas poderiam adaptar-se mais facilmente para poder produzir caso houvesse
uma atuação do governo federal para reorientar a economia neste sentido, com
lampejo do empreendedor para salvar seu negócio a uma medida orientada pelo
adquiriu insumos fora do país para ajudar os demais entes federativos, contudo, a
atrapalharam a população, que ficou dividida pela guerra de narrativas sobre o que
era verdade e o que era mentira, que não conseguiu leitos hospitalares e morreu em
casa sem assistência médica, que não recebeu as medicações necessárias, que passou
auxilio financeiro de maneira rápida, que virou chacota internacional por ter como
Brasil designado esforços para uma transição formal das práticas de economia
própria empresa que produz, dos trabalhadores envolvidos nos diversos processos
531
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própria população em si, pois é necessário incorporar o consumidor para que ele
federal ao não reconhecer a letalidade do vírus desde seu início o impediu de atuar
federativos.
152
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços
de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e
controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou
jurídica de direito privado.
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem
um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços
assistenciais;
III - participação da comunidade.
532
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONCLUSÃO
da covid-19.
desde a revolução industrial e que passou a ser objeto de discussão mundial à partir
nações, o Brasil ainda age timidamente, sem nenhuma ação governamental neste
e que impacta o mundo inteiro atualmente em diversas ondas de contágio (já nos
em funcionamento.
533
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Por outro lado, a confusão gerada pelo governo federal pelo fato de negar a
apenas para os Estados Unidos, que tem em seu presidente, Donald Trump, o maior
atendimento médico pelo Sistema Único de Saúde, se depararam com uma situação
suficiente. Toda atuação governamental está sendo pífia e ineficaz, pois conduziu o
Diante de tudo o que foi exposto é possível confirmarmos esta hipótese. Fica
a tragédia causada pela Pandemia em território nacional. São, neste exato momento,
534
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econômico buscam muito mais proteger empresas e industrias a atender aos direitos
famílias, de higiene, segurança, com respeito ainda aos recursos naturais do país.
iniciativa para uma transição para um novo modelo econômico. Desta forma, mais
Isso fica mais claro quando compreendemos que a economia circular exige
uma adequada articulação de políticas públicas por parte do Estado, seja para
direitos civis e políticos, mas também os econômicos sociais e culturais, que não
535
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
536
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
set. 2016.
537
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
A pesquisa revela o retrocesso dos direitos sociais dos trabalhadores durante a pandemia
da Covid-19. Dessa forma, objetiva realizar uma concisa análise dos direitos da classe
operária sob a perspectiva da Covid-19. Apresenta como problemática verificar de que
forma o estado brasileiro está atuando a fim de evitar e/ou minorar os prejuízos na
economia durante a crise ocasionada pelo coronavírus. Parte do pressuposto de que a
previsão constitucional que delimita os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, prevista
no artigo 7º da Constituição Federal do Brasil de 1988, bem como as garantias expressas na
Consolidação das Leis do Trabalho não são observadas. Assim, utilizando-se do escopo
teórico-bibliográfico e do método hipotético-dedutivo, serão apresentadas breves
considerações sobre os avanços e os retrocessos dos direitos sociais trabalhistas e algumas
das implicações da Covid-19 no direito do trabalho. Os resultados obtidos indicaram que a
pandemia acentuou a vulnerabilidade do proletariado, pois o Estado buscou beneficiar os
empregadores. Assim, não se deve utilizar do atual cenário para justificar a violação de
direitos tampouco se valer do viés democrático-constitucional para impor retrocessos.
153
Doutor em História das Sociedades Ibéricas e Americanas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUC-RS) com auxílio CNPq. Mestre em Direito pela Universidade de Lisboa (UL). Mestre em
História pela Universidade de Passo Fundo (UPF) com auxílio CAPES. Especialista em História do Direito e do
Pensamento Político pela Universidade de Lisboa (UL). Licenciado em História pelo Centro Universitário
Leonardo da Vinci. Graduado em Direito pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Professor do Instituto
Federal de Mato Grosso - IFMT. E-mail: alexfaverzani@hotmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5100841403053828.
154
Mestranda em Direito pela Universidade de Passo Fundo (UPF) com auxílio CAPES. Especialista em Direito
Público pela Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul (FMP-RS). Especialista em
Ciências Criminais pela Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul (FMP-RS).
Especialista em Direito Civil e Processo Civil pela Faculdade Meridional (IMED). Graduada em Direito pela
Faculdade Meridional (IMED). Advogada. E-mail: arianefaverzani@outlook.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4134556466550459.
155
Mestrando em Direito pela Universidade de Passo Fundo (UPF) com auxílio CAPES. Pós-graduado em Direito
do Trabalho pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Graduado em Direito pela Universidade de Passo
Fundo (UPF). Advogado. E-mail: luisdallacort92@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7568831264711870.
538
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
The survey reveals the regression of workers' social rights during the Covid-19 pandemic.
Thus, it aims to carry out a concise analysis of the rights of the working class from the
perspective of Covid-19. It is problematic to verify how the Brazilian state is acting in order
to avoid and/or mitigate the losses in the economy during the crisis caused by the
coronavirus. It starts from the assumption that the constitutional provision that delimits the
rights of urban and rural workers, provided for in article 7 of the Federal Constitution of
Brazil of 1988, as well as the guarantees expressed in the Consolidation of Labor Laws are
not observed. Thus, using the theoretical-bibliographic scope and the hypothetical-
deductive method, brief considerations about the advances and setbacks of social labor
rights and some of Covid-19's implications for labor law will be presented. The results
obtained indicated that the pandemic increased the vulnerability of the proletariat, as the
State sought to benefit employers. Thus, the current scenario should not be used to justify
the violation of rights, nor should it use the democratic-constitutional bias to impose
setbacks.
INTRODUÇÃO
539
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
proteção.
BRASILEIROS
O trabalho faz parte da estrutura social, sendo dele que sao providos os
recursos dos quais milhares de pessoas auferem seu sustento e de suas famílias. As
século XV, sendo que no século XIV o declínio já havia iniciado (BARROS, 1997. p.
49).
corporações de ofício foram perdendo espaço. Dessa maneira, surgiu uma nova
540
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
(HONNET, 2015).
de ordem econômica e social que estabeleciam o valor do trabalho, o qual deve ter
uma ordem privilegiada em relação ao capital. Para tanto, surgiram várias normas
investidas do empresário.
dignidade da pessoa humana, entre tantos outros. Também, foi nesse lapso
541
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
temporal que muitos dos direitos da classe trabalhadora foram conquistados, bem
conseguiu alcançar garantias que lhe eram negadas, atualmente, vivencia-se uma
flexibilização desses direitos. Tal situação é gerada pelo sistema capitalista global,
que não se preocupa com o bem-estar social da população, mas, sim, com a
todo o mundo enfrentam há mais de quarenta anos ataques aos seus direitos, os
542
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
quais submetem os operários, ainda que de forma diferente em cada país, a uma
Ao longo dos últimos quarenta anos, foi dada uma prioridade maior ao
2020).
em 11 de março de 2020, uma pandemia. Tal crise possui múltiplas faces, já que
543
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
cenário seja superado com o mínimo prejuízo possível aos empregadores e aos
proletariado, uma vez que receiam perder os seus postos de trabalho ou que estes
drama da incerteza do futuro enquanto ser humano e enquanto ser que dedica sua
emergência.
544
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ou para outra espécie de trabalho à distância, bem como que determine o momento
trabalho (BRASIL, 2020). Denota-se que tal deliberação se afasta do previsto no art.
75-C, caput e § 1º, da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (BRASIL, 2017), o
MIZIARA, 2020, p. 60). Por fim, o teletrabalho, conforme o art. 75-B da Consolidação
545
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
laborais prestadas pelo empregado em outro local que não seja o seu ambiente de
notificado com antecedência mínima de quarenta e oito horas por escrito ou por
Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL, 2017), uma vez que este determina o
prazo de quinze dias para que ocorra a transição do trabalho remoto para o
presencial.
forma, apenas possibilita que o contrato que regule essa situação seja elaborado até
trinta dias contados a partir da data da alteração do regime de trabalho, não sendo
546
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
escrito ou por meio eletrônico, devendo constar o período a ser gozado pelo
previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (2017), que determina, em seu artigo
aquisitivo ainda não tenha transcorrido. De acordo com o artigo 129 e 134, caput da
CLT (2017), o empregado adquire o período de férias a cada doze meses de trabalho,
férias não poderão ser gozadas em períodos inferiores a cinco dias corridos
coletivas (BRASIL 2020). Nas palavras de Souza Júnior, Gaspar, Coelho e Miziara
quarenta e oito horas. Evidencia-se que alguns requisitos previstos no artigo 139,
547
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
conceder mais de dois períodos anuais de férias coletivas e não observar o limite
mínima de quarenta e oito horas por escrito ou por meio eletrônico, indicando
dezoito meses, contrariando o que dispõe o artigo 59, parágrafo 5º, da CLT (2017)
que prevê que a compensação seja realizada em até seis meses. Nessa perspectiva,
548
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calamidade pública, devendo ser realizados no prazo de sessenta dias. Porém, caso
o exame médico ocupacional mais recente tenha sido feito em menos de cento e
oitenta dias. Tal norma se apresenta preocupante, pois flexibiliza regras de saúde e
empregadores relativo aos meses de março, abril e maio de 2020, com vencimento
549
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MIZIARA, 2020, p. 97). Ainda, o pagamento poderá ser feito parcelado em até seis
Por fim, “[...] é importante ressaltar que as normas não poderão ser
as medidas adotadas durante a sua vigência são válidas, assim como os seus efeitos
(GAMEIRO, 2020).
550
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que, segundo o artigo 6º, § 2º, I e II, da Medida Provisória nº 936/2020 (BRASIL,
poderão perdurar por até noventa dias, desde que acordadas entre empregador e
empregado por acordo individual escrito, e poderá ocorrer nos percentuais de 25%,
fracionada em até dois períodos de trinta dias. Da mesma maneira, tal suspensão
551
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funcionário, o qual deverá ser comunicado com antecedência mínima de dois dias
(BRASIL, 2020).
prorrogação por ato do Poder Executivo dos prazos para redução da jornada de
552
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
constam nas Medidas Provisórias nº 927/2020 – que teve a sua vigência encerrada -
553
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
não ocorre por meio da flexibilização de direitos. Logo, valer-se do atual cenário
REFERÊNCIAS
BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Crimes Contra a pessoa. São Paulo:
Saraiva, 1997.
554
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
555
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
https://www.thomsonreuters.com.br/content/dam/openweb/documents/pdf/Brazil
/white-paper/10056-medida-provisoria-927-comentada.pdf. Acesso em: 5 set. 2020.
556
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo realizar uma crítica à atribuição do status de heróis aos
profissionais da saúde na medida em que tal qualificação promove um processo de
naturalização da violência sofrida por eles e alienação de suas próprias identidades como
trabalhadores, contribuindo para precarização de seu trabalho. Essa qualificação legitima a
aceitação de condições inadequadas de trabalho e a viola direitos trabalhistas e
fundamentais destes profissionais. Embora o objeto deste trabalho esteja inserido na
temática das relações trabalhistas, transbordaremos o modo como o problema se constitui
pela dogmática e nos utilizaremos de uma abordagem sócio filosófica e psicológica sobre o
tema. O texto foi construído em três partes: uma avaliação das condições gerais de trabalho
destes profissionais, o incremento da precarização durante a pandemia e, por fim, o
sofrimento e formas de defesa destes trabalhadores. Nossas conclusões sobre o tema são
ainda provisórias, posto que o fenômeno ainda se descortina diante de nós, mas nossa
crítica é contundente e denuncia a violência que estes profissionais são submetidos pele
estigma de heróis.
ABSTRACT
This paper aims to criticize the attribution of the hero's status to health professionals as this
qualification promotes a process of naturalization of the violence suffered by them and
alienation of their own identities as workers, contributing to the precariousness of their
work. This qualification legitimizes the acceptance of inadequate working conditions and
the violation of the fundamental and labor rights of these professionals. Although the object
of this work is inserted in the theme of labor relations, we will overflow the way the
problem is constituted by dogmatics and we will use a socio-philosophical and
psychological approach on the subject. The text was constructed in three parts: an
156
Bacharel em História (UFRJ) Bacharel, Mestre e Doutorada em Direito (UNESA-RJ), pesquisadora do
NEDCPD e INCT InEAC, bolsista PROSUP CAPES, carolinarfreitas@gmail.com,
http://lattes.cnpq.br/6072376918939497
157
Bacharel em Direito (UFG), Mestre e Doutoranda em Direito (UNESA-RJ), elainerossi@hotmail.com,
http://lattes.cnpq.br/0586880834647917
557
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
INTRODUÇÃO
sofrida por eles e alienação de suas próprias identidades como trabalhadores, por
fundamentais.
558
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ENFERMIDADES
das condições de trabalho ocasionado pela pandemia, situação que arrebata para o
O MPT 161
instaurou vários inquéritos civis baseados em relatórios dos
158
Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/por-que-hospitais-do-rj-tem-mais-mortes-de-enfermeiros-no-
pais-2_79895.html>. Acesso em 01 de jun. 2020.
159
Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ), Cremerj em revista, Maio, 2020.
Por ofício, CREMERJ pede EPIs ao Ministério da Saúde.
160
Conselho Federal de Medicina (CFM), Revista Medicina, Ano XXXV, nº 301, Março 2020. Saúde dos médicos
e de equipes deve ser motivo de preocupação de gestores, p.4.
161
Dentre os inquéritos e ações civis públicas propostas pelo MPT com esse objeto, cabe destacar o Inquérito
nº 001955.2020.01.000/4 no Rio de Janeiro e a ACP nº 0000607-54.2020.5.10.0019 no DF
559
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
pagamento de salários.
MPT editou nota técnica conjunta nº 15/2020 contendo diretrizes para a proteção de
médicos (19.858)”162.
trabalho, posto que revogou Portaria nº 2.309/20 que havia incluído o COVID-19
por esse novo vírus. Felizmente, em decisão nas ADIs 163 que contestam diversos
162
Estes resultados preliminares podem ser encontrado na reportagem: FIOCRUZ AVALIA CONDIÇÕES DE
TRABALHO NA SAÚDE DURANTE A PANDEMIA. Agência Brasil, Rio de Janeiro, 22 de julho de 2020. Disponível
em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-07/fiocruz-avalia-condicoes-de-trabalho-na-saude-
durante-pandemia. Acesso em: 25 de julho de 2020.
163
ADI 6354, ADI 6346, ADI 6342, ADI 6349, ADI 6348, ADI 6352, ADI 6344.
560
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
dos nossos governantes que não lograram êxito, ao longo de todos estes meses, em
sociedade pela hercúlea atuação que vem sendo feita pelos profissionais da área
trabalhadores, na medida em que, se são heróis, se pode exigir deles empenho para
164
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/mais-saude/noticia/2020/05/17/herois-da-saude-
recebem-cartinhas-de-criancas-durante-pandemia-em-sp-recarregados.ghtml. Acesso em 01 de jun de 2020.
165
A campanha se encontra disponível no site da instituição através do link
https://cremerj.org.br/informes/exibe/4766
561
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
estresse para além do ordinário, sendo demandados a lidarem com uma doença
Esse é o fim visado por essa reflexão, desmistificar o ‘elogio’ lançado para os
166
Dentre os trabalhos analisados, cabe destacar as seguintes produções internacionais sobre o tema:
SHIGEMURA et al. Public responses to the novel 2019 coronavirus (2019-nCoV) in Japan: mental health
consequences and target populations. Psychiatry Clin Neurosci 2020; 74:281-2; XIANG Y et al. Timely mental
health care for the 2019 novel coronavirus outbreak is urgently needed. Lancet Psychiatry 2020; 7:228-9.
562
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA
de trabalho.
927/2020, que teve vigência de 22.03.2020 a 29.07.2020, no seu capítulo VII, tratava
ocupacionais, a não ser mediante comprovação de nexo causal; e o art. 31, estipulava
a atuação dos auditores fiscais apenas como orientadores pelo período de 180 dias.
Várias foram as ADI’s apresentadas. A ADI 6380 foi ajuizada pela Confederação
563
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
O STF suspendeu a eficácia dos dois últimos dispositivos. Referida ação teve a
A Constituição, em seu art. 7º, XXII, assegura “redução dos riscos inerentes ao
trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança” e a CLT, em seu art.
ocupacionais.”
demissional, por conta do empregador, está prevista no art. 168, também da CLT.
diagnóstico da Covid-19.
sofrendo os efeitos das necessárias medidas para combater a pandemia, foi editada
564
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
disposto nos arts. 3º, 7º e 8º da MP 936/20, em face do disposto nos arts. 7º, VI e XIII
com pequenas alterações no texto, mas sem muita relevância no que diz respeito à
de condições de trabalho.
167
Vale transcrever o seguinte trecho da decisão: “O Tribunal, por maioria, negou referendo à medida
cautelar, indeferindo-a, nos termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, Redator para o acórdão,
vencidos o Ministro Ricardo Lewandowski (Relator), que deferia em parte a cautelar, e os Ministros Edson
Fachin e Rosa Weber, que a deferiam integralmente. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello.
Presidência do Ministro Dias Toffoli. Plenário, 17.04.2020 (Sessão realizada inteiramente por videoconferência
- Resolução 672/2020/STF).” Disponível em:
<http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5886604>. Acesso em: 30 jun. 2020.
565
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
valor inferior em 38% que outros tipos de empregados de outros setores produtivos,
2018, em Brasília/DF168.
168
Para mais informações sobre a crítica ao processo de terceirização: ALMEIDA, Juliane Franco de Sousa.
Aspectos da Pejotização dos Médicos. Migalhas. 2019. Disponível em:
566
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reconhecendo que a partir da vigência das Leis nºs 13.429/2017 e 13.467/2017 está
Estado: onde a máquina governamental deveria ter atuado e não o fez, façam vocês.
Esse quadro teria ainda como consequência nefasta a banalização das péssimas
condições de trabalho.
567
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constitutivo.
a sociedade; sofrimento físico pelas longas jornadas, muitas vezes com privação do
sono, o que pode levar à ansiedade, depressão, esgotamento físico e mental. Está
169
A psicodinâmica do trabalho “tem por objeto o estudo clínico e teórico da patologia mental decorrente do
trabalho. Fundada ao final da II Guerra por um grupo e médicos-pesquisadores liderados por L. Le Guillant, ela
ganhou já uns 15 anos um novo impulso que a levou recentemente a adotar a denominação de “análise
psicodinâmica das situações de trabalho”, ou simplesmente “psicodinâmica do trabalho”. Nessa evolução da
disciplina, a questão do sofrimento passou a ocupar uma posição central o trabalho. O trabalho tem efeitos
poderosos sobre o sofrimento psíquico. Ou bem contribui para agravá-lo, levando progressivamente o
indivíduo à loucura, ou bem contribui para transformá-lo, ou mesmo subvertê-lo, em prazer, a tal ponto que,
em certas situações, o indivíduo que trabalha preserva melhor a sua saúde do que aquele que não trabalha.
Por que o trabalho ora é patogênico, ora estruturante? O resultado jamais é dado de antemão. Depende de
uma dinâmica complexa cujas principais etapas são identificadas e analisadas pela psicodinâmica do trabalho.”
(DEJOURS, 2007, p. 21).
568
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função, estabelece algumas estratégias para lidar com o medo, sendo uma dela a
prioridade, posto que essenciais para o tratamento dos demais. E a atenção deve ser
feita não só ante o fornecimento de EPI’s e capacitação, mas também pelo apoio
ausência de proteção170.
insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias
170
Essa hipótese também foi ventilada em outras pesquisas, dentre as quais cabe destacar: DIAS, Elizabeth C.
2015. Condições de trabalho e saúde dos médicos: uma questão negligenciada e um desafio para a Associação
Nacional de Medicina do Trabalho. Disponível em: http://www.rbmt.org.br/details/5/pt-BR/condicoes-de-
trabalho-e-saude-dos-medicos—uma-questao-negligenciada-e-um-desafio-para-a-associacao-nacional-de-
medicina-do-trabalho. Acesso em: 10 jun. 2020.
569
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
mão de sua dignidade. A nossa dignidade, como sujeito de direito, passa pela
outros homens, deve ser provido ou ter meios para prover sua subsistência e deve
mesmo, a dignidade impede que um sujeito utilize outra pessoa para concretizar
sua exclusiva pretensão. Portanto, em razão da sua dignidade o sujeito social está
autodeterminar.
570
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
pertence, que pertence aos outros, que renuncia a toda redes de proteção social para
não assumir sua fragilidade. Uma sociedade que impõe esse status está ocultando
precisa dele e por quê” (BORRADORI, 2004, p.55), questões encobertas pela fantasia
do título.
que atuam para salvar vidas, tem suas próprias vidas em risco para
REFERÊNCIAS
171
Para mais detalhes sobre as recomendações:
https://www.amib.org.br/fileadmin/user_upload/amib/2020/
marco/18/corona_psico_amib_ 15h56_18032020.pdf
571
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ORNELL, Felipe et al. The impact of the COVID-19 pandemic on the mental health
of healthcare professionals. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 36, n. 4, 2020.
ORTIZ, Renato (Org.). A Sociologia de Pierre Bourdieu. São Paulo: Olho D'agua,
2007.
572
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RESUMO
O presente estudo debruça-se em torno de analisar a garantia de acesso à água potável
reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Comentário Geral
Nº 15, como um Direito Humano, tal garantia se relaciona diretamente com o Mínimo
Existencial, pois é indispensável para vida humana. É importante abordar conceitos como
o de direito fundamental e suas subdivisões, pois o direito de acesso à água é compreendido
também como um direito fundamental, e o de mínimo existencial, em que se se nota uma
profunda relação com o direito à água. A metodologia empregada na condução do presente
parte do método dedutivo, auxiliado da pesquisa bibliográfica e da revisão de literatura,
sob o formato de revisão sistemática, como técnicas de pesquisa.
ABSTRACT
The present study is focused on analyzing the guarantee of access to drinking water
recognized by the United Nations (UN), through General Comment No. 15, as a Human
Right, such a guarantee relates directly to the Minimum Existential because it is
indispensable for human life. It is important to address concepts such as the fundamental
right and its subdivisions, because the right of access to water is also understood as a
fundamental right, and the existential minimum, where one can see a deep relationship
with the right to water. The methodology used to conduct the present part of the deductive
172
Artigo vinculado ao Grupo de Pesquisa “Faces e Interfaces do Direito, Sociedade, Cultura e
Interdisciplinaridade no Direito” – vinculado à Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) – Bom Jesus do
Itabapoana-RJ”
173
Graduando do Curso de Direito da Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) – Unidade Bom Jesus do
Itabapoana, dsouzaguedes@gmail.com;
174
Pós-Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Sociologia Política da
Universidade Estadual do Norte Fluminense. Doutor e Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade
Federal Fluminense. Coordenador do Grupo de Pesquisa “Faces e Interfaces do Direito, Sociedade, Cultura e
Interdisciplinaridade no Direito” – vinculado à Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) – Bom Jesus do
Itabapoana-RJ” E-mail: taua_verdan2@hotmail.com; Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8802878793841195
574
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
method, aided by bibliographic research and literature review, under the format of
systematic review, as research techniques.
INTRODUÇÃO
muitas vezes da vida humana eram muito comuns, não havendo nenhuma previsão
legal que coibisse tais práticas. No século XX, sobretudo a partir da 2º Guerra
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e a partir desse marco, tem se discutido
muito sobre o respeito e garantia desses direitos. Com a positivação desse conjunto
denominados direitos fundamentais, uma vez que são indispensáveis para limitar
água, uma vez que a água é indispensável para manutenção das atividades do
cotidianas, logo garantir o direito de acesso à água é garantir uma vida com
dignidade, assim surge uma estrita relação de tal tema com o Mínimo Existencial.
humano básico, leva a uma série de outros problemas, como por exemplo,
575
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
problemática é importante discutir tal tema, uma vez que esse Direito Humano é
sistematicamente violado.
humana, desde a relação entre homem e sociedade até a relação do cidadão com
afastar do homem o interesse por uma vida “terrestre” transitória digna. No lugar
Deus, conjugando todos seus esforços para manter “a riqueza dos ricos e a pobreza
o fascismo tenham desaparecido, nos últimos anos tem reaparecido sob nova feição,
576
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
acomete o Brasil e diversos outros países, em que se podem notar graves violações
existir a ideia de exclusividade dos desses direitos. Desde 1945, pode-se notar “um
indivíduos sem distinção, obtidos com o nascimento, como por exemplo, o direito à
presume que todo ser humano tenha acesso aos direitos mais básicos, ou seja, ao
controle dos abusos do poder do próprio Estado”, na busca pela garantia dos
577
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
2017). De acordo com Peres Luno (1995, apud, MIGUEL, 2014, s.p.), existem três
pertencentes ao homem pelo fato de ser homem. De acordo com a definição formal,
ao não indicar o conteúdo, surge uma indicação sobre seu regime jurídico, essa
que não podem ter o acesso a ele restrito, “em virtude de seu regime indisponível e
578
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
última definição, os direitos humanos são fundamentais, pois, “sem eles o ser
s.p.).
de direitos. Os direitos humanos de 1º dimensão são os que tratam dos direitos civis
direitos humanos de 3º dimensão são aqueles que versam sobre o “respeito aos
uma distribuição melhor da renda”. Por fim, os direitos da 4º dimensão tratam dos
prestações. Os direitos fundamentais de defesa são aqueles que têm como escopo
579
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
manutenção da cidadania e liberdade, sem a realização de um, o outro não pode ser
Como assevera Pinheiro (2008, apud, MOREIRA, 2011, s.p.), “não adiantaria ter
liberdade sem saúde para gozá-la, ou, então, sem alimentação adequada que
propicie energia suficiente para usufruí-la”, ou seja, sem a garantia dos direitos
desenvolvimento humano, cuja base são normas de caráter internacional que devem
s.p.). A partir dessa discussão, tem-se o acesso à água potável como um direito
(World Water Council), realizados a cada três anos, representando uma base para
580
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
MAZZARINO, 2016, s.p.). No mundo, cerca de 884 milhões de pessoas tem o direito
população do planeta, não tem acesso ao sistema de saneamento básico (ONU, s.d.,
p. 01). No dia 28 de julho de 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas por meio
outros direitos humanos (ONU, s.d.). Ainda de acordo com o relatório da ONU:
vida se deu em 1977, na Conferência das Nações Unidas sobre Água realizada em
Mar Del Plata, na Argentina. O esboço traçado durante essa conferência prescrevia
581
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Comitê das Nações Unidas para os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais afirmou
em seu Comentário Geral nº 15 que versa sobre o direito humano de acesso à água
que: “o direito humano à água prevê que todos tenham água suficiente, segura,
A água a ser utilizada no uso doméstico deve ser segura, ela é seguram
assegurar a qualidade da água potável, além disso, a água deve ser incolor, inodora
que devem ser protegidas as fontes de água contra invasão e poluição. O direito
582
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
refere à água doce do planeta) são ameaçados não só pelo aquecimento global e
isso tudo associado à agricultura mundial e seus danos ao meio ambiente. Existem
previsões de que em 2025, “um terço da população mundial não terá acesso à água
potável para satisfazer suas necessidades básicas” (WOLKMER, 2012, p. 188, apud,
583
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
acesso à água tratada, na zona rural são 21 milhões de indivíduos que também não
têm acesso à água potável, “apenas 46% dos domicílios brasileiros contam com
coleta de esgoto”. A falta de acesso á água para o consumo humano, sobretudo nas
EXISTENCIAL
digna, tem como berço o direito alemão. No Brasil, a carta magna de 1988,
pode ser definido como o direito humano às condições essenciais para uma vida
digna, que não pode sofrer interferência do Estado no que se refere à cobrança de
ideia de mínimo vital na medida em que não pode ser definido apenas como
mais básico de dignidade (SARLET, 2015, apud, RESENDE, 2017). Como assevera
Milaré (2013, apud, RESENDE, 2017) a água enquanto elemento essencial da vida,
584
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
respectivos organismos.
realização, uma vez que não há vida digna onde prevalece a escassez de água
existencial, uma vez que sem ela não se garante sequer a sobrevivência física”
quanto mais uma vida digna (GREATREX, 2004, p. 10, apud, RESENDE, 2017, p.
de defesa e direitos a prestações. Nessa teoria, o direito humano à água como direito
585
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
exercido como um limite à atuação dos agentes públicos. É positivo, pois “impõe
(SARLET, 2015, apud, RESENDE, 2017, p. 277). De acordo com Sarlet (2015):
o de baixa renda, o Estado deverá fornecer, pelo menos “50 litros por pessoa ao dia”,
à vida, pois de acordo com a OMS essa é a “quantidade mínima necessária para
586
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
tratado como prioridade pelas instituições sociais e órgãos estatais, bem como por
meios irão concretizar tal direito humano fundamental (RANGEL, 2016, s.p.).
CONCLUSÃO
A falta de acesso à água potável é violadora dos direitos humanos, uma vez
que o Comentário Geral Nº 15 prevê que todos terão acesso à água potável em
se nota atualmente com relação aos direitos humanos e sua positivação. A violação
do direito de acesso à água potável deve ser discutida exaustivamente, até que se
587
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
possa apontar, com apoio da positivação na legislação se for preciso, soluções que
busquem sanar tal problema. Para início é importante uma discussão saudável entre
acesso à água, pois a violação desse direito fere uma série de normas internacionais
REFERÊNCIAS
588
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Disponível em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.31058&seo=1>. Acesso em:
01 set. 2020.
RESENDE, Augusto César Leite de. O acesso à água potável como parcela do
mínimo existencial: reflexões sobre a interrupção do serviço público de
abastecimento de água por inadimplemento do usuário. In: Revista Brasileira de
Políticas Públicas, v. 07, n. 2, p. 266, ago. 2017. Disponível em:<
file:///C:/Users/W7/Downloads/4728-21154-1-PB.pdf>. Acesso em 01 set. 2020.
589
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
590
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
A saúde é um direito fundamental de acordo com a ótica constitucional brasileira, segundo
a qual todas as pessoas são titulares, sem acepção de nenhuma natureza. Todavia, muitos
fatores socioeconômicos ainda determinam aqueles que terão, ou em que condições terão,
acesso ao atendimento, tratamento e prevenção médica. Nesse sentido, em razão de suas
condições de higiene, acesso à saúde e disposição do espaço, unidades prisionais tem sido,
historicamente, epicentros de doenças infectocontagiosas. Desse modo, o presente estudo
baseado em revisão bibliográfica, demonstra de que forma a pandemia de COVID-19,
aliada à inobservância do direito fundamental à saúde, tem agido, ou pode agir, nos
ambientes carcerários como intensificação do extermínio necropolítico. Para tanto, analisa
a efetividade das políticas públicas sociais de direito universal à saúde no ambiente
prisional, para em seguida tratar da necropolítica que permeia o reconhecido estado de
coisas inconstitucional e seu agravamento diante da crise sanitária.
ABSTRACT
Health is a fundamental right according to the Brazilian constitutional perspective,
according to which all people are entitled. However, many socioeconomic factors still
determine those who will have, or under what conditions they will have, access to care,
treatment and medical prevention. In this sense, due to their hygiene conditions, access to
health and space provision, prison units have historically been epicenters of infectious
diseases. Thus, the present study, based on a bibliographic review, demonstrates how the
175
Advogada. Pós-graduanda em Direito Internacional e Direito Humanos pela Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais (PUC/MG). Bacharelanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará.
Pesquisadora do Grupo de Estudos em Direito e Assuntos Internacionais (GEDAI/UFC). Endereço eletrônico:
nikaelly_lopes@hotmail.com. Currículo: http://lattes.cnpq.br/3857380840307158.
176
Doutoranda em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade de Lisboa. Mestre em Ciências Jurídico-
Políticas pela Universidade de Lisboa. Endereço eletrônico: brunasouzap@gmail.com. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/4520240823157056.
591
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
INTRODUÇÃO
liberdade. Há que se considerar que, o fato de terem contrariado a lei, não faz com
que sua dignidade deva ser suprimida no meio carcerário, devendo serem
Seguindo este pensamento, o preso não deve ser entendido como mero objeto
592
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ambiente.
fundamentais da pessoa presa, não são fruto do acaso, mas parte de uma política de
como lidar com corpos elimináveis, cujo valor social foi perdido, antes mesmo do
verifica-se que houve uma explicitação nas práticas estatais de exercer o controle
impróprios.
de extermínio necropolítico?
se-á a efetividade da tutela jurídica do direito à saúde dos presos para destacar como
593
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
e moral dos presos, reconhece que devem ser preservados todos os direitos que
comtemplam uma pessoa livre, com exceção daqueles incompatíveis com a sua
acordo com o qual fica estabelecido que “a saúde é direito de todos e dever do
Por esta concepção, o Estado tem o dever de não somente tratar os enfermos,
p. 404).
e igualdade, sem o qual nenhum outro direito poderá ser plenamente satisfeito,
estando diretamente ligado ao direito à vida e ao bem viver. Para a World Health
1946). Por este panorama, a Pan American Health Organization – PAHO, alerta que
594
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
dignidade da pessoa humana. Por esta concepção, afirma Ingo Wolfgang Sarlet que
onde se ausenta o respeito pela vida e pela integridade física e moral do ser humano,
onde as condições básicas para uma existência digna não forem asseguradas e
2011, p. 56).
humanos de todos, existem ainda outras razões para que o Estado priorize a
prisional tem grande impacto na saúde populacional como um todo. Isto é, entre a
população em geral o que refletirá na comunidade caso não sejam tratadas, mas em
promover a saúde prisional é promover a justiça social (ENGGIST et al, 2014, p. 02).
595
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
determinam que:
da população carcerária também está tutelado pela Lei de Execuções Penais – LEP,
177
Nesse sentido, o STJ no início deste ano atendendo a um pedido da Defensoria Pública de São Paulo e em
acordo com as Regras de Mandela, estabeleceu que deveriam fornecer banho quente aos presos durante o
inverno.
596
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Sturza e Corrêa (2015, p. 410) esclarecem que o Estado ao privar as pessoas de sua
saúde com o fim de dar efetividade as leis, por meio da promoção do acesso
ambiente prisional. Nesse contexto, o acesso das pessoas privadas de liberdade aos
serviços de saúde está submetido aos cuidados do Sistema Único de Saúde (SUS)
por meio da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de
ser ofertada por meio das equipes de Atenção Básica das Unidades Básicas de Saúde
ou por meio das Equipe de Saúde do Sistema Prisional – ESP (BRASIL, 2014).
A referida política tem por alguns de seus princípios o respeito aos direitos
políticas para atenção à saúde das pessoas privadas de liberdade (BRASIL, 2014). O
597
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
e suas demandas por atenção à saúde (Schmitt et al, 2019, p. 19). Todavia, o
positivado segue muito distante da realidade prática, ainda em 2020, dos 927
plano.
Política Criminal e Penitenciária – CNPCP (BRASIL, 2009), a cada 500 presos deve
haver, na área da saúde, uma equipe técnica formada por um médico clínico, um
nove terapeutas ocupacionais, quando hoje, existem 0,99 médico a cada mil presos
(BRASIL, 2020). Do mesmo modo, abaixo do esperado são os estados onde não
basilares reconhecidos pelo Estado, a consagração normativa por si só, não tem sido
598
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
O sistema penitenciário vive uma profunda crise, onde a constante violação dos
que levaram à criação do sistema punitivo que, hoje, ainda enxerga as penitenciárias
Como retrata Franco (2004, p. 21), “os seres humanos são, como nunca foram no
178
“O reconhecimento de um ECI [estado de coisas inconstitucional] pressupõe, dentro dos parâmetros fixados
pela Corte Constitucional colombiana, especialmente nas tutelas T-25/2004 e T-153, que exista grave e massiva
violação dos direitos fundamentais, uma omissão persistente do Estado em resolvê-la e, ainda, um litígio
estrutural a demandar soluções interinstitucionais para os problemas” (FERREIRA; ARAÚJO, 2016, p. 69). No
Brasil, tal condição foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal por meio da Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental n.º 347.
599
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
estrutural valor da dignidade humana e sua ampla tutela legal, o sistema de justiça
direito de punir.
Para Espinoza (2004, p. 53) o sistema criminal se destaca por ser uma entidade
seletista e perversa, que recruta sua clientela entre os mais miseráveis, seja para
que, ao fim de suas penas, estejam ressocializados e não voltem a incorrer em novos
todo.
suspenso, onde o direito incide seletivamente. Desse modo, embora leis determinem
superlotação que eleva a insegurança e impõe condições tortuosas onde presos não
600
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
extermínio necropolítico (BORGES, 2019, p. 27), que atua sobre vidas cuja
Achille Mbembe (2018), segundo o qual se expressa pelo poder de ditar quem deve
determinação sobre a vida e a morte ao desprover o status político dos sujeitos, onde
arbitrariedade e inumanidade”.
Destaque-se que para Achille Mbembe (2018, p. 05), “matar ou deixar viver
manifestação de poder”.
morto”, onde o sujeito da frase tem endereço, situação socioeconômica e cor de pele
601
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
(MBEMBE, 2018, p. 16-17). A soberania, por sua vez, por ser definida como “um
debruçar sobre aquela que pode ser considerada uma das primeiras manifestações
escravizado aparece sob s condição de uma tripla perda que determina uma
percebe-se que o sistema de justiça é inseparável das estruturas que racistas derivam
identidade, onde por meio da segregação, as pessoas presas são destituídas, até
602
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
2019, p. 28) de forma que o encarcerado também aparece como “uma sombra
personificada” cuja vida, por vezes, em muitos aspectos, é uma forma “de morte-
penal179, pela precarização dos meios de vida e da saúde, bem como pela exposição
sobrevivência e da morte da população prisional, como pode ser visto pelo quadro
total de mortes no ano de 2015 a cada 10 mil pessoas privadas de liberdade (BRASIL,
2016).
179
Sobre isso, Moura explica que nesse “espaço necropolítico de gestão dos indesejáveis, adstritos a uma
lógica colonial, torna a violência um fim em si mesmo. Um fim para (sobre)viver” (MOURA, 2019, p. 14).
603
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
expressiva população prisional cuja informação não foi informada, como o Rio de
década (DPRJ, 2018) 180 . Destaca-se também o número de mortes cuja causa foi
2018, a taxa de mortalidade no sistema penitenciário era de 15,2 óbitos para cada 10
mil pessoas presas (BRASIL, 2018). Já entre julho e dezembro de 2019, morreram
saúde.
risco de ficarem cegas (DPRJ, 2018). De acordo com o estudo, naquele ano, 53
idade. Tais “mortes invisíveis, tão comuns, são fruto de um espaço inserido um
2019, p. 13).
180
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro relatou, em 2018, que em 1998, 26 mortes foram
registradas no sistema prisional carioca, enquanto em 2017 o número saltou para 266. No mesmo documento,
narra-se que 30 dos 83 presos mortos entre 2014 e 2015, apresentavam sinais de emagrecimento excessivo e
desnutrição (DPRJ, 2018).
604
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
higiene, aliados a exposição a violências e doenças diversas faz com que o sistema
exposição continuada a patologias diversas, que fazem que com que ambientes
provocada pelo novo corona vírus, tendo em vista que essas são características
doença que já atingiu 28.553.659 de pessoas no mundo, das quais 917.082 vieram a
181
Verificado pela última vez em 12 de setembro de 2020 em Mamoon e Rasskin (2020).
605
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
BARNERT; AHALT; WILLIAMS, 2020; HRW, 2020; SLOANE, 2020; WHO, 2020).
infecção por coronavírus seja 15% ainda maior entre a população carcerária 182, de
modo que protocolos de atuação e planos de contenção foram adotados pela maioria
situação pode ser ainda mais grave (FRANCO-PAREDES, 2020). Isso porque, além
Estima-se que 6% (seis por cento) dos casos de contaminação por corona vírus
séptico, falência de órgãos e risco de morte, sendo idosos, gestantes, pessoas com
4.633 casos suspeitos e 107 óbitos183 provocados por Covid-19 (DEPEN, 2020), mas
182
Segundo Barnert, Ahalt e Williams (2020, p. 964), em 29 de fevereiro de 2020 quase metade dos casos de
COVID-19 reportados em Wuhan, na China, eram do sistema prisional da cidade.
183
Dados acessados até o dia 12 de setembro de 2020. Disponível em:
https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiYThhMjk5YjgtZWQwYS00ODlkLTg4NDgtZTFhMTgzYmQ2MGVlIiwidC
I6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em: 17 maio 2020.
606
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
o número pode ser ainda maior. As pessoas presas constituem parcela populacional
presos com comorbidades, além de 11.374 pessoas com mais de 60 anos, ao passo
pelo número de mortes, mesmo antes da pandemia, entre presos com menos de 40
anterior.
penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta será
discriminatória, mais difícil para uns grupos sociais que para outros” que têm em
comum alguma vulnerabilidade social precedente que se agrava com ela, de modo
CIDH, 2020). Certamente, não se pode afirmar que o vírus opera segundo distinções
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
dizer que as políticas de agentes do Estado (GOMES, 2020), determinam quem terá
escolher ir até uma unidade de atendimento médico, tendo que ser submetida ao
veracidade de suas queixas, de modo que, não raramente, podem ser encaminhados
habilidades de detecção (BURKI, 2020). Isso ocorre ainda diante das claras
presas fundamenta uma desvalorização das queixas que estes últimos manifestam
quanto a seu estado de saúde. Os detentos são percebidos, muitas vezes como
determinada pelo número de presos que não estão recebendo tratamento adequado
atendimento médico externo fazem com que presos adiem ou não informem seus
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
física dos presídios, que contam com insuficientes consultórios médicos (1.022),
salas de coleta de material para laboratório (470), salas de esterilização (264), salas
tempo “pode ser equivalente a uma sentença de morte” (DAVIS, KLEIN, 2020). De
adotada por países como o Irã, que liberou 70 mil presos e concedeu perdão a outros
10 mil (HEARD, 2020), mas que encontra barreira nas políticas de segurança pública
609
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que entendem os presos como corpos essencialmente perigosos, ainda que se trata
debilitada.
aos casos confirmados e aos detentos que se enquadrariam no grupo de risco são
inconstitucional vivenciada pelo sistema prisional brasileiro (CNJ, 2020), que por si
só, representa um ambiente em que a saúde não pode prosperar. Veja que o instituto
610
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
direitos humanos em que o Brasil é signatário, não são aplicados, nesses ambientes
sistêmica e diabetes tipo 2 e que cumpria pena por crime sem violência ou grave
ameaça187.
pessoas idosas, mães, gestantes e lactantes, pessoas com deficiência e mais de 5.000
somente 134 alvarás foram expedidos (DPSP, 2020; CONJUR, 2020). As decisões se
impetrou Habeas Corpus coletivo n.º 596.189 perante o Superior Tribunal de Justiça,
184
TJAM. Habeas Corpus Criminal nº 4002620-31.2020.8.04.0000; Relator (a): Hamilton Saraiva dos Santos.
185
TJAC. Habeas Corpus Criminal nº 1000825-25.2020.8.01.0000; Relator (a): Elcio Mendes.
186
TJSP. Habeas Corpus Criminal nº 2098876-58.2020.8.26.0000; Relator (a): Otavio Rocha.
187
STF. HC nº 7000712-49.2018.1.00.0000, Relator (a): Edson Fachin.
188
STJ. HC nº 596189 (2020 – 0169244-4) – Relator (a): Sebastião Reis Júnior.
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cada preso.
para muitos dos presos será equivalente à pena de morte, em um ambiente em que
Contudo, jamais saberemos ao certo até que ponto a pandemia de corona vírus
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
morte, tem início muito antes do perecimento total do corpo biológico, quando pela
dos corpos.
aprofundamento das vulnerabilidades dos presos, o que tem refletido como morte
coronavírus.
pessoas presas, cuja sentença não se limita ao determinado pelo juiz e resta
maioria das vezes, elas não estarão econômica e psicologicamente preparadas para
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hoje se encontram no sistema prisional, para os quais a sentença de morte, por vezes,
Dessa forma, embora o direito fundamental à saúde das pessoas presas esteja
garante. Bem verdade, necessita-se que a pessoa presa seja enxergada como sujeitos
de direitos, como vidas e não como gastos, de modo que, para garantir direitos
se de vista não são a dignidade dos apenados, mas a de todos os seres humanos.
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REFERÊNCIAS
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GOMES, José Clayton Murilo Cavalcanti. Onde viver é despesa e morrer é lucro.
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das Nações Unidades para o Tratamento de Reclusos (Regras de Nelson
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RESUMO
O presente artigo objetiva trazer alternativa à soluções dos problemas sociais nacionais,
com as hipóteses de (in)viabilidade de elaboração de políticas públicas para o combate ao
COVID-19 em âmbito local, a partir de exemplo estratégico que vem sendo adotado na
prevenção de disseminação do vírus no Estado do Rio Grande do Sul, o Sistema de
Isolamento Controlado. O tema se mostra pertinente diante da necessidade de se buscar
alternativas paliativas que valorizem a singularidade e o tratamento individualizado das
diferentes realidades locais, com vistas a proteger a população da melhor forma possível,
até que não se descubra uma maneira efetiva de conter a disseminação e a letalidade da
COVID-19. As políticas públicas têm a função de contribuir ao desenvolvimento e à
diminuição das desigualdades do país, mas tem sido subutilizadas ou mal direcionadas
pelo sistema político. Para, efetivamente, atenderem ao propósito de sua criação é
necessário o melhor planejamento das ações do Estado. Nessa busca por um olhar
diferenciado para diferentes realidades, em análise aos tópicos propostos, conclui-se que o
poder local pode ser uma alternativa mais efetiva para concretização das ações positivas
em matéria de políticas públicas em matéria de saúde para o enfrentamento da COVID-19,
eis que mais próximo do cidadão, diretamente atingido pela boa ou má prestação do serviço
de saúde.
Palavras-chave: direitos sociais; políticas públicas; serviços públicos; poder local; COVID-
19.
ABSTRACT
This article aims to bring an alternative to solutions to national social problems, with the
hypothesis of (in) feasibility of developing public policies to combat COVID-19 at the local
level, based on a strategic example that has been adopted in the prevention of
dissemination. of the virus in the State of Rio Grande do Sul, the Controlled Isolation
System. The theme is relevant in view of the need to seek palliative alternatives that value
the uniqueness and the individualized treatment of different local realities, with a view to
protecting the population in the best possible way, until an effective way to contain the
189
Mestranda em Direito na linha Relações Sociais e Dimensões do Poder pelo Programa de Pós-Graduação
em Direito da Universidade de Passo Fundo/RS; Especialista em Direito Processual Civil e Constitucional pela
Universidade de Passo Fundo/RS; Advogada inscrita na OAB/RS sob nº 51.924. E-mail:
mirellegallas@gmail.com. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/5985510180372202.
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dissemination and the lethality of COVID-19. Public policies have the function of
contributing to the development and the reduction of inequalities in the country, but they
have been underused or misdirected by the political system. In order to effectively meet the
purpose of its creation, better planning of State actions is necessary. In this search for a
different look at different realities, in analysis of the proposed topics, it is concluded that
the local government can be a more effective alternative for the realization of positive
actions in the field of public health policies for coping with COVID-19 , behold, closer to
the citizen, directly affected by the good or bad provision of the health service.
Key-Words: social rights; public policy; popular participation; local power; COVID-19.
INTRODUÇÃO
especialmente os sociais, o poder local, como meio territorial, pode ser uma
em saúde.
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às realidades locais, com vistas a pensar soluções jurídicas para este grave problema
e a importância dos conselhos para efetividade da construção das ações. Por fim, o
saúde.
O presente artigo não tem o condão de esgotar a matéria, mas sim apontar
ações e podem ser incrementadas com ações novas para que em momentos de maior
cidadãos.
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o que se faz em matéria de direitos humanos. O que se diz nos apresenta como
“tanto no que diz com o seu conteúdo, quanto ao que concerne à sua titularidade,
Observa-se que com a evolução histórica dos direitos, a partir das lutas de
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não pode ser desprezado como forma de garanti-los e efetivá-los. (RUBIO, 2018, p.
34-35)
quarta geração referem-se, “aos efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa
As exigências dos direitos são sempre as mesmas — “com relação aos poderes
sociais, por sua vez, somente podem ser realizados se impostas obrigações positivas
aos outros, inclusive aos órgãos públicos. Considerados a segunda geração dos
saúde e educação. Bobbio aduz que tais direitos “São antinômicos no sentido de
integral de uns impede a realização integral dos outros.” (BOBBIO, 2004, p. 14-15)
625
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financiamento da seguridade social e o piso dos gastos com a saúde e educação nos
Federal, apostando na saúde e educação. Esses direitos, entre outros, fazem parte
Por tal razão, é possível afirmar que saúde e educação são direitos
sociais que assumem uma posição preferencial no ordenamento
constitucional brasileiro, o que há de ser considerado quando da
discussão de medidas que tenham como fim estabelecer limites a
tais direitos, inclusive mediante eventual relativização dos pisos de
gasto público, que ao fim e ao cabo, assumem a condição de
garantias dos direitos à saúde e à educação. (SARLET; MARINONI;
MITIDIERO, 2018, p. 666-667)
A Constituição Federal dispõe em seu artigo 196 que a saúde como direito de
No artigo 198 da Carta Magna, está previsto que as ações e serviços públicos de
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de saúde, definindo, em seu artigo 200 as suas competências e dentre elas executar
às ações das entidades sem fins lucrativos e filantrópicas. O sistema único passou a
A LOS, alterada pela Lei nº 12.864, de 2013, estabelece em seu art. 3º, parágrafo
único, que os níveis de saúde são o reflexo da ordem social e econômica do país, e
meio ambiente, trabalho, renda, educação, atividade física, lazer, acesso a bens e
serviços essenciais. Também a saúde condiz com ações que se destinem à garantia
Por certo, a saúde como direito fundamental social necessita de ações do Estado
uma saúde integral à população estão longe de ser alcançados. O Estado não tem
realizado seu papel controlador e fiscalizador de forma efetiva. Para tanto, as ações
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especial, através dos governos estadual e municipal onde as ações concretas são
norma federal.
contribuir para que sejam efetivas, mediante sua participação nos processos de
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impactos reais.
políticas públicas, observados os direitos ali estabelecidos. Nessa esfera Bucci nos
orienta:
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diversos suportes legais que devem ser observados, tais como: leis, normas
Para tal mister são necessárias três fases, a decisão política de planejar; a
em si, que exige o enfoque técnico com exame econômico. O Estado não está
174 da Constituição de 1988 estabelece essa obrigação estatal. O plano, por sua vez,
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prestador, profissional ou o usuário, sendo que este tem assegurado 50% dos
aparelho de Estado que se acelerou no final dos anos 80 e instituiu no país um novo
garantido.
631
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OUVERNEY; PINTO; SILVA) O pacto tem três dimensões justificadas, Pacto pela
(BRASIL, 2006)
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das ações e serviços, que serão integrados em redes de atenção à saúde. No âmbito
visando a realização de ações para criar condições de vida digna à toda a população
estão sob a tutela da Lei de responsabilidade fiscal para aplicação de todo e qualquer
fins de promoção do bem-estar social que objetiva nosso país. Os recursos a serem
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para alocação dos recursos, com vistas ao atendimento do direito à saúde e das
municipais, tratar a saúde com extrema transparência e ofertar ações e serviços que
municipal para atendimento da saúde em seu aspecto integral, para que possa
assegurar os serviços necessários ao município que gere, bem como os recursos dos
país, podendo resultar na ineficiência das ações e mau uso de recursos públicos, o
634
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enfrentamento da pandemia.
do Covid-19 vem trazendo ensinamentos que não podem ser desconsiderados após
Estado do Rio Grande do Sul em virtude da pandemia, declarado pelo Decreto n.º
55.128, reconhecido pela Assembleia Legislativa por meio do Decreto Legislativo n.º
2020.
635
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Controlado através dos Decretos nº 55240 e 55241 (RIO GRANDE DO SUL, 2020),
SUL, 2020)
econômicos do Estado. Tendo por base o grau de risco de cada região, é estabelecida
a bandeira do menor ao maior risco, nas cores amarela, laranja, vermelha ou preta.
podendo ser objeto de recursos pelos municípios que compõe as regiões. Quando a
sábado. As regiões com risco maior, incluindo aquelas que apresentaram recursos,
636
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saúde, mas não deixam de avaliar as questões econômicas e sociais, bem como,
registro e controle de dados, visto que as pessoas circulam e o vírus circula com elas.
Grande do Sul (UFRGS), Ricardo Dagnino, que desde 29 de fevereiro quando o vírus
se instalou, passou a acompanhar a evolução dos dados afirma que “Não tem como
controlar o vírus. Sem teste massivo e sem vacina, não tem como. Sem testar, não
tem como desenhar uma política pública. Este distanciamento nunca existiu porque
as pessoas não param de circular”. Essa constatação se dá ao fato que nem todas as
(POLÍTICA..., 2020)
pelos próprios municípios, desde que não pertençam a regiões que se encontram
637
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
preta, risco altíssimo. Esse decreto buscou equalizar as questões municipais sociais
estrutura existente acaba por ser contabilizada para um maior número de pessoas
que aquelas que residem no município. Essa identificação acarreta um maior risco
para a região de abrangência fazendo com que alguns municípios estejam sempre
no rol daqueles com maior risco e as atividades comerciais e industriais tem maior
limitação. O ensinamento que essa estratégia adotada nos traz é a observância das
locais.
operarem com base em erros e acertos, com maior ou menor êxito na disseminação
destes direitos. (SANTIN, 2017) A busca pelo desenvolvimento social pode ser
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Dowbor (2010, p. 17) refere que “[...] cada cidade pode organizar a sua
147).
152-153).
Por certo, a eficiência das políticas públicas pode ser melhor alcançada através
2006. p. 163-164).
639
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cidadãos, o espaço local pode tornar-se um reduto para o exercício do poder de uns
298-311)
de sua dignidade. Em que pese exista previsão legal para a participação dos
social, ainda falta a organização e popularização desta prática a fim de que todos
640
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
locais.
pelos municípios, poderão atuar em favor da própria gestão com resultados mais
641
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
saúde não visa somente a cura de doenças, mas muito mais a prevenção que ocorre
poder municipal, como um porta voz dos cidadãos, bem como gestor
REFERÊNCIAS
642
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BRASIL. Lei nº 12.466 de 24 de agosto de 2011. Acrescenta arts. 14-A e 14-B à Lei
nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que “dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências”, para dispor sobre as
comissões intergestores do Sistema Único de Saúde (SUS), o Conselho Nacional de
Secretários de Saúde (Conass), o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde (Conasems) e suas respectivas composições, e dar outras providências.
643
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
BUCCI, Maria Paula Dallari (Org.) Políticas públicas: reflexões sobre o conceito
jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006, p.1- 49.
COSTA, Marli Marlene Moraes da; REIS, Suzete da Silva. Espaço local: o espaço
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públicas. 1.ed. Santa Cruz do Sul: IPR, 2010, p. 103-123.
644
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
SIMÕES, Carlos. Curso de direito de serviço social. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2008.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
O presente artigo, por meio dos métodos comparativo, analítico e reflexivo, analisa o direito
fundamental à saúde, a partir da perspectiva da pandemia do COVID-19, como direito
global no sentido de se adotar políticas públicas coordenadas entre os Estados por ela
afetados, desde as medidas de prevenção, contenção e solução das doenças provocadas pelo
coronavírus até as ações de recuperação das respectivas economias, tendo em conta o
contexto na qual está inserida em cada Estado. O atual modelo de saúde se mostrou frágil
e suscetível a diversas influências, seja por razões políticas ou econômicas, expondo as
pessoas a enormes riscos às suas vidas e saúde. Portanto, a governança internacional da
saúde em compatibilidade com a governança econômica deve buscar respostas através de
estudos e posteriores resultados de modo não apenas orientar os Estados, mas também
implementar ações que permitam proteger vidas e gerar o menor impacto econômico
possível. A inteligência artificial poderá servir de ferramenta à remoção dos obstáculos para
a implementação de uma perspectiva de saúde transnacional. Justifica-se, destarte, a
necessidade cada vez maior, a partir do COVID-19, de estudos para se considerar a saúde
como um direito global de modo a garantir dignidade às populações e reforço das
democracias na medida em que cada cidadão teria essa participação internacional.
ABSTRACT
This article, using comparative, analytical and reflective methods, analyzes the
fundamental right to health, from the perspective of the COVID-19 pandemic, as a global
right in the sense of adopting coordinated public policies among the states affected by it,
190
Professor em Pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas. Advogado. Doutorando em Administración,
hacienda y justicia en el Estado Social pela Universidade de Salamanca. Mestre em Direito Público pela
Universidade de Coimbra. E-mail: fluizgomes@yahoo.com.br. Link do currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2253275025710096.
191
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Direitos, Instituições e Negócios da Universidade Federal
Fluminense. Mestre em Direito Civil pela Universidade de Coimbra. De Fevereiro de 2019 a Agosto de 2020,
foi Professora Substituta do Departamento de Direito Privado, nível Assistente A, da Universidade Federal
Fluminense (Niterói). E-mail: fabiolavmorais@yahoo.com.br. Link do currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8043511599773332.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
from measures to prevent, contain and solve diseases caused by coronavirus to recovery
actions in the respective economies, taking into account the context in which it operates in
each state. The current health model has shown itself to be fragile and susceptible to various
influences, whether for political or economic reasons, exposing people to enormous risks to
their lives and health. Therefore, international health governance in line with economic
governance must seek answers through studies and subsequent results in a way that not
only guides States, but also implements actions that allow to protect lives and generate the
least possible economic impact. Artificial intelligence can serve as a tool for removing
obstacles to implementing a transnational health perspective Therefore, the increasing
need, from COVID-19, for studies to consider health as a global right is justified in order to
guarantee dignity to the populations and reinforcement of democracies as each citizen
would have this participation. International.
INTRODUÇÃO
como nos Estados Unidos da América, se viram lançando mão de medidas que não
assistência médica à sua população, bem como todos os cuidados necessários aos
648
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
SAÚDE
2019.
A partir de então, a OMS tem trabalhado 24/7 para analisar dados, fornecer
coronavírus.
• Proteger vidas;
649
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valor social a ser perseguido por toda a humanidade, no seu art. 5º, que assim
ou enfermidade.
art. 196 que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
proteção e recuperação”
650
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
quando afetado pela pandemia, que diz: “não escolhe idade nem nacionalidade”.
um espírito 'todos por um', muitos deram uma resposta 'apenas para mim'. Mas
maneira de levar os suprimentos para onde eles são necessários. Colocar barreiras
entre nós simplesmente não .az sentido! Os cidadãos da Europa se lembrarão das
necessidade de uma Europa “que sai da varanda todas as noites para aplaudir os
saúde locais e que o fluxo livre de equipamentos e bens médicos fosse garantido,
da crise do COVID-19.
651
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Solicitou-se ajuda para ser estendida aos Balcãs Ocidentais, àquelas pessoas
dos países da UE. Considerou-se que esses tempos extraordinários não são um
entendendo que os novos títulos do euro ou" coronabonds "não seriam uma
pessoas de quem nossas vidas dependem, deveria ser prestada ajuda aos mesmos
clara e coordenada.
e assistência financeira aos países membros mais afetados pela crise atual. Foi a
652
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envolvem.
doenças.
infecções.
economia.
653
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O mundo é hoje considerado uma vila global. Isso ocorre porque agora temos
de políticas.
essencial do terceiro milênio tem que estar a serviço e possuem diversas vertentes
de utilização.
abasteçam com informações precisas, com dados da saúde do seu país. Essa troca
654
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uma vez abastecidos todos esses dados, pudesse orientar as pessoas, ao menos, para
Todos esses dados deveriam estar públicos de sorte a tornar a saúde coletiva
CONSIDERAÇÕES FINAIS
de saúde global que requer ação efetiva e imediata por governos, indivíduos e
empresas.
655
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Por sua vez, os governos devem alocar todos os recursos necessários para
de doenças.
Para efetivar isso, a inteligência artificial, nos termos que se expôs, tem papel
fundamental.
REFERÊNCIAS
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dos Tribunais, 2002.
BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. São Paulo: Malheiros, 2008.
656
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo Caminho. 3ª ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
A acessibilidade nas cidades consiste num direito fundamental, que deve ser assegurado a
toda pessoa, tenha ela uma deficiência ou não. Afinal, está correlacionado ao próprio
exercício da cidadania, que pressupõe a possibilidade da prática dos direitos/deveres.
Nesse sentido, compete ao Poder Público o dever de implementar políticas públicas
orientadas para uma cidade com maior acessibilidade e, caso permaneça omisso, sustenta-
se que uma maior e mais plena tutela do cidadão nesta situação será obtida mediante o
recurso ao Judiciário por meio de tutela coletiva.
ABSTRACT
Accessibility in cities is a fundamental right, which must be guaranteed to everyone,
whether they have a disability or not. After all, it is correlated to the exercise of citizenship
itself, which presupposes the possibility of practicing rights / duties. In this sense, it is the
responsibility of the Public Power to implement public policies aimed at a city with greater
accessibility and, if it remains silent, it is maintained that greater and fuller protection of
the citizen in this situation will be obtained through recourse to the Judiciary through
collective protection.
192
Professor Adjunto da Universidade Federal Fluminense e da Faculdade Cenecista de Rio das Ostras.
Professor de história no Colégio Municipal Elza Ibrahim. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em
Direitos, Instituições e Negócios/UFF. E-mail: alexandermpt@yahoo.com.br. Currículo lattes:
http://lattes.cnpq.br/1342995859695951.
193
Pós-Doutora, Doutora e Mestre em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ.
Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Direitos, Instituições e Negócios/UFF. Professora
Associada de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense. E-mail:
celiababreu@gmail.com. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8015623070536170.
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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INTRODUÇÃO
Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD), Lei 13146/15, também designada de Lei
modelo social de deficiência, isto é, que cabe à sociedade se adaptar às pessoas com
deficiência e não o inverso, e que não se pode falar em “problema” na pessoa, mas
de que uma cidade seja acessível a todos. Assim sendo, um primeiro aspecto a ser
destacado é que lutar por uma cidade acessível beneficia não apenas à pessoa com
deficiência – que talvez tenha uma urgência maior na acessibilidade – mas à toda a
afetivos, sanguíneos ou outros entre pessoas com deficiência e as demais, e por fim,
porque a deficiência de uma pessoa não pode representar um obstáculo para que
através dela é possível exercitar todos os demais direitos. Logo, uma sociedade que
não seja pensada a partir de uma acessibilidade para todas as pessoas será marcada
por uma grande exclusão social. Existem diversas formas de acessibilidade, que
comportam variações desde edificações acessíveis para uma pessoa com deficiência
física até o acesso aos sítios da internet para alguém com deficiência visual. As
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barreiras que as pessoas com deficiência enfrentam devem ser superadas com apoio
do Poder Público e também da sociedade, bem como dos seus grupos sociais.
sem evidentemente esquecer que sua garantia é uma tarefa vinculada aos demais
é bibliográfica e jurisprudencial.
possam exercer seus direitos e ter, em muitos casos, uma vida com dignidade.
acesso decorre não de uma questão médica, mas social (BARCELLOS; CAMPANTE,
660
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de promover uma vida mais digna e acessível à pessoa com deficiência, eliminando
na prestação de direitos sociais à medida que a pessoa é vista pela ótica do cuidado,
e que as pessoas são interdependentes, e com isso, existe uma reciprocidade quanto
deficiência não se resume a uma questão individual, mas social. Escreve a autora:
É preciso, portanto, entender que a pessoa com deficiência deve ser tratada
quanto na LBI no art. 53 até 78, dedicando inclusive um título para este tema, o que
com deficiência, como se depreende do art. 4º, alíneas f a i, 9º e 20, a fim de que
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ser observada não apenas pelo Poder Público, mas por toda a sociedade.
tratamento diferenciado àquele que tem uma deficiência, a fim de que tenha a
plural, isto é, acessibilidades, tendo em vista as diversas formas que esta pode
exercício dos demais direitos da pessoa com deficiência, porque em uma sociedade
662
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pessoas com deficiência não podem exercer, plenamente, a sua cidadania. Não há o
exercício da inclusão social sem acessibilidade. Não se pode falar em inclusão social
Nesse viés, é fundamental que o Estado, por meio de suas políticas públicas,
âmbito de uma ação civil pública ajuizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa dos
de que sejam reconfigurados assentos especiais antes da roleta (dois de cada lado)
com aplicação de multa no valor de 5 cadeiras por ônibus não adequado. O Tribunal
deficiência.194
futebol), o direito à saúde (comparecer a consulta médica) etc. Em suma, o que deve
ser superado não é pouco, ao revés, são as barreiras existentes na sociedade, que
194
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1595018. Rel. Min. Humberto Martins. 2ª Turma. Data do
Julgamento: 18/06/16. Data da Publicação: 29/08/16.
663
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Além disso, Ana Paula de Barcellos e Renata Ramos Campante defendem que
certo que não deve ser aceita a concepção de que a acessibilidade decorre de uma
implantação das medidas que implica a maior despesa e não quando estas são
o negócio, a ponto de esta atividade econômica ser encerrada. Desta feita, sustentam
concretude deste direito, diante da omissão das autoridades públicas. Diante disto,
195
Trata-se de parte da resposta de Paula Rocha no Conselho de Arquitetura e urbanismo do Rio Grande do
Sul à indagação: Por que as cidades não são acessíveis para todos? Disponível em:
https://www.caurs.gov.br/cidade-acessivel-para-todos/. Acessado em: 25/06/20.
664
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ACESSIBILIDADES
especial na França, o poder do Estado sofreu uma limitação, e daí a clássica distinção
do Brasil, devem ser independentes e harmônicos entre si. Neste sentido, surge a
questão de qual o papel que cada poder poderá exercer, a fim de garantir a
Pessoa com Deficiência (EPD) que igualmente garantiu diversos direitos em prol
das pessoas com deficiência, inclusive a acessibilidade, que abrange, por exemplo,
O Estatuto da Cidade, Lei 10257/01, a seu turno, sofreu alteração com a Lei
13699/18, que incluiu mais uma diretriz de política urbana, assegurando condições
cidade cada vez com menos barreiras e obstáculos ao pleno exercício da autonomia
coletivo, com diálogo com a sociedade, e não de forma impositiva, como por
665
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gerir a coisa pública. Neste aspecto, deve efetivamente tornar concreto aquilo que
uma das medidas que devem ser observadas pelo Estado reside na promoção de
neste âmbito as pessoas com deficiência serem mais ouvidas nos casos de alterações
de espaços públicos, bem como acerca das maiores dificuldades por elas
tendência de buscar uma proteção pelo Poder Judiciário, segue aumentando ainda
mais a judicialização.
alcance”. (BARROSO, 2012, p. 24). Portanto, pode-se entender que seja possível
que haja a tendência de buscar sua efetividade pela tutela jurisdicional (BARROSO,
2012, p.25-26).
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iria se “conter” a fim de não interferir nos demais Poderes, isto é, numa situação
que poderia parecer inviável, tendo em vista a crescente busca pela proteção
dos conflitos a ele submetidos, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) atua
designar que o juiz não figura apenas uma ‘boca da lei”, mas realiza um processo
julgador ao buscar a justiça deve atentar para alguns valores, em específico, a justiça
2015, p. 33).
apenas à figura do Executivo, mas também está presente nos demais Poderes,
667
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668
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esse direito. Por conseguinte, enquanto os demais poderes da República não vêm
Todavia, o fato é que nem sempre será possível uma decisão judicial de
realização imediata, ainda que seja necessária. Basta pensar, por exemplo, na
públicos para as pessoas com deficiência. Não se tem dúvida de que se trata de um
Aplicando uma multa ao ente público caso não cumpra esta decisão? Determinando
de muitas cidades está voltada para priorizar o transporte por veículos particulares,
o que pode resultar em maior número de acidentes, em especial para pessoas com
deficiência, configurando uma visão não democrática das cidades (SILVA, 2016,
passim).
669
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pelo avançar da idade, ou por conta de algum acidente; não se pode mais construir
uma percepção de um homem “perfeito” (LEITE, 2017, p.14). Por isso, é de extrema
relevância que as barreiras presentes nas cidades sejam removidas, para que todos
justamente o que visa tanto a Convenção de Nova York quanto o Estatuto da Pessoa
com Deficiência: a autonomia de cada pessoa com deficiência; que ela possa
transitar pelas ruas, avenidas conforme o seu bel-prazer, para realizar diversas
puro lazer:
orientadas para proporcionar maior mobilidade urbana aos cidadãos, para que
de ir e vir, de transitar pelas vias urbanas, com a remoção das barreiras sociais, que
670
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não são apenas físicas, mas também atitudinais, o que requer um amplo projeto
ser humano. Sem isso, o quadro que se tem é de cidades “inacessíveis” (SILVA, 2018,
p. 56).
Visto isto, cumpre dar início à análise de um julgado que teve por objeto uma
ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público, a fim de determinar que o
(praças, jardins), áreas de lazer (teatro, estádio, cinema, ginásio de esportes) e etc,
tutela antecipada deferida pelo Tribunal de Justiça da Bahia, o que foi deferido pelo
196
A título exemplificativo, destacamos parte do trecho da decisão: “Nesse sentido, patente a inviabilidade de
elaboração de projetos apenas por meio dos recursos humanos das áreas de engenharia e arquitetura da
administração pública, sendo indispensável, com efeito, licitação para contratação até mesmo dos projetos
arquitetônicos de acessibilidade. E tal medida inviabilizaria obediência ao prazo de sessenta dias fixado pela
decisão impugnada, ante os procedimentos exigidos pelas normas de licitação.
Ademais, não se pode ignorar o risco de lesão à ordem econômica, porquanto, conforme documentos juntados
aos autos, recente projeto de acessibilidade para dez estações ferroviárias de Salvador tem custo estimado de
seis milhões e meio de reais.
Projetando-se o custo para adaptabilidade de toda a cidade, nos termos do acórdão impugnado, inevitável que
recursos não previstos no orçamento sejam retirados de outras ações da Prefeitura, para cumprimento da
decisão, o que implicará sacrifício de outros serviços prestados à população.” BRASIL. Supremo Tribunal
Federal. Suspensão de Tutela Antecipada 584. Rel. Min. Cezar Peluso. Data de Julgamento: 18/08/2011. Data
de Publicação: 30/08/2011.
671
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favor das pessoas com deficiência se pautou na restrição aos recursos. Por outro
lado, surgem demandas coletivas em favor da pessoa com deficiência por meio de
ação civil pública. Em face deste panorama, Daniel Sarmento defende que as ações
coletivas são capazes de apresentar uma decisão mais racional, pois nas demandas
Constata-se que nesta decisão judicial foi observado, ainda que de forma
diante de uma decisão judicial desta espécie é oportuno que exista uma
obra, que é necessária; é fundamental que seja dado o primeiro passo, a fim de que
urbano e edifícios de uso público a fim de atender às pessoas com deficiência, vemos
que o Município alegou que o pedido fora genérico, que o tempo de 30 dias não era
ainda, que a imposição de multa diária provoca dano à economia pública. O caso
672
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pelo Executivo em razão da omissão deste poder, sem que isto configure ofensa à
separação de poderes. O pedido foi indeferido, tendo em vista que o Município por
realização das obras de acessibilidade não foi aceita pelo STF, inclusive
mencionando o art. 537 §1º do Código de Processo Civil (CPC), que convenciona a
para que tenha maior acessibilidade. Um possível caminho seria o Município iniciar
identificar a quais obras deve conferir uma prioridade, dentro dos limites
obras de acessibilidade, sendo viável ao juiz reduzir o valor da multa, desde que
defende-se que as ações coletivas constituem o meio processual mais adequado para
a busca judicial da acessibilidade, em específico por meio de uma ação civil pública.
decerto devem ser ajuizadas, mas por meio de um processo coletivo é possível
atingir um número muito maior de pessoas com deficiência com a decisão judicial.
197
BRASIL Supremo Tribunal Federal. Suspensão de Tutela Antecipada 159. Rel. Min. Dias Toffoli. Data de
Julgamento: 30/03/20. Data da Publicação: 02/04/20.
673
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
NOTAS CONCLUSIVAS
leitura dos artigos 1º, III; 3º, I e 5º, § 2º. Portanto, a democracia brasileira não pode
sociedade, das mais diversas naturezas, deverão ser combatidas tanto pelo Poder
Público, por meio de políticas públicas, quanto também pela sociedade, seja por
até atitudinal para atender aqueles que possuem algum tipo de deficiência, ou
universalizar uma determinada medida solicitada por esta via, sob pena de se estar
direito de todos.
674
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
acessibilidade em favor das pessoas com deficiência, certo é que o discurso de que
a sua implantação representa muito gasto financeiro deve dar lugar àquele em que
_o Estado tem o dever de agir, realizando projetos que visem a eliminação das
REFERÊNCIAS:
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1595018. Rel. Min. Humberto Martins.
2ª Turma. Data do Julgamento: 18/06/16. Data da Publicação: 29/08/2016.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
LEITE, Flávia Piva Almeida; RIBEIRO, Lauro Luiz Gomes; COSTA FILHO, Waldir
Macieira da Costa (coord). Comentários ao Estatuto da Pessoa com Deficiência. 2
ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
RAMOS, Elival Silva da. Ativismo Judicial. Parâmetros dogmáticos. 2 ed. São
Paulo: Saraiva, 2015.
677
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
19) NO BRASIL
RESUMO
O presente trabalho visa analisar a efetivação do direito à saúde e a (in) eficácia do Sistema
Único de Saúde no combate à pandemia do novo coronavírus no Brasil. Questiona-se, como
problemática, se as políticas públicas implementadas pelo Estado no enfrentamento a
COVID-19 são eficazes para se garantir o mínimo existencial no direito à saúde,
possibilitando que as pessoas obtenham um tratamento digno contra as complicações da
infecção pelo novo coronavírus. Cogita-se que as ações realizadas pelo Poder Público no
enfrentamento à pandemia não são eficazes, hipótese confirmada a luz de diversos estudos
realizados que demonstraram que o descaso com a saúde pública por anos comprometeu a
estrutura do SUS, uma vez que milhões de reais foram desviados da área da saúde, o que
comprometeu seriamente a eficácia do sistema que acabou sendo revelada em plena
pandemia: o SUS não tem condições de atender com dignidade a população em um estado
de calamidade. Busca-se, então, demonstrar que a eficácia do sistema único de saúde
somente será possível quando forem implementadas políticas que visem resguardar as
condições mínimas para o atendimento da população brasileira de forma digna,
possibilitando à máxima proteção à dignidade. Para tanto, utilizou-se os métodos crítico,
de revisão bibliográfica e análise documental.
Palavras Chave: Direito à saúde; mínimo existencial; dignidade humana; SUS; COVID-19.
198
Bacharel em Direito pela Universidade Estácio de sá; integrante do grupo de estudos sobre Dignidade
Humana e a função social do Estado em tempos de crise ; e-mail: rosaneiellomodireito@outlook.com; Lattes;
http://lattes.cnpq.br/4240351515714833.
199
Bacharel em Direito pela Universidade Estácio de Sá; Integrante do grupo de estudos sobre Dignidade
Humana e a função social do Estado em tempos de crise; e-mail: alexeufenix@hotmail.com; Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3204261874505502.
200
Mestre em Direitos Sociais, Difusos e Coletivos. Professor de Direito Constitucional, Financeiro e Tributário
na Universidade Estácio de Sá – UNESA/RJ. Pesquisador bolsista do Programa Pesquisa Produtividade da
UNESA/RJ. E-mail: darlan.moulin@estacio.br; Lattes: http://lattes.cnpq.br/9695783352656464.
678
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
This work aims to analyze the realization of the right to health and the (in) effectiveness of
the Unified Health System in combating the pandemic of the new coronavirus in Brazil. It
is questioned, as a problem, whether the public policies implemented by the State in
confronting COVID-19 are effective in guaranteeing the minimum existential in the right to
health, enabling people to obtain a dignified treatment against the complications of
infection with the new coronavirus. It is believed that the actions taken by the Public Power
in the fight against the pandemic are not effective, a hypothesis confirmed in the light of
several studies that demonstrated that the neglect with public health for years
compromised the structure of SUS, once millions of reais were deviated from the health
area, which seriously compromised the effectiveness of the system that ended up being
revealed in the middle of a pandemic: SUS is unable to provide dignified care to the
population in a state of calamity. It seeks, then, to demonstrate that the effectiveness of the
single health system will only be possible when policies are implemented that aim to
safeguard the minimum conditions for the care of the Brazilian population in a dignified
manner, allowing maximum protection to dignity. For this, the critical methods of
bibliographic review and document analysis were used.
INTRODUÇÃO
efetivado no Brasil e quais tem sido às políticas públicas que tem sido implementada
pelo SUS para garantir a efetivação desse direito em tempos de pandemia COVID-
19.
surgirem por conta das contaminações por covid-19, o que acabará acarretando um
pesquisas realizadas que demonstraram que o SUS está sendo dilapidado há anos
679
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
por maus gestores que tem desviado diversos recursos públicos que deveriam ser
pandemia, uma vez que o descaso com tal direito vem ocorrendo por anos,
6º da Constituição Federal de 1988 não está sendo concretizado para grande parcela
da população brasileira, que tem sua dignidade violada diariamente por não
por enfraquecer as políticas de combate à pandemia, uma vez que não é oferecido à
para o alcance da sua eficácia e os esforços para que os direitos fundamentais fossem
680
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
2003, p.51).
Ressalta-se que no século XIX, como nos dias atuais, já se esperava do Estado
Constituição Federal, eles não têm a sua efetivação e isso já foi comprovado por
53).
681
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
materiais e humanos. Foi o caos vivido pelos menos favorecidos, pessoas morrendo
por ficarem à espera de leitos na UTI. E o mais agravante é ver as pessoas que vivem
São José de Costa Rica) aderida pelo Brasil, elenca que os direitos e liberdade não
podem ser limitado ou suprimido pelo Estado e pela própria sociedade, por ter o
legislador perante a sociedade tem seus limites, ele não pode agir de livre arbítrio,
por que isso poderia destruir o mínimo que garante os direitos fundamentais.
sociedade. Sem segurança jurídica garantida não há limites para que os direitos
sejam respeitados pelos políticos e por quem detém o grande poder. Não pode a
682
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
sociedade ficar à mercê da vontade dos políticos e até mesmo da sociedade. Seria
prevenção de várias doenças, diminuindo os riscos que muitas das vezes levam as
pessoas a óbito e também a diminuição do índice das doenças mais graves. Com
isso deve o Estado prover as condições para o seu exercício, assegurando o acesso
que foram frustrados por pouca iniciativa no novo modelo de atenção básica de
por parte dos políticos, fazem com que as ações de políticas públicas, a organização
683
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
se deparam com a falta. Houve sobrecarga nos cofres públicos municipais devido a
Equipe de saúde da família, Atenção Básica e leitos de UTI. Mais não foram
suficiente, o SUS ainda está dando certo em algumas regiões, com a dedicação de
(CONASEMS, 2020).
disposição dos planos de saúde um fundo para que fosse feito uma parceria, e assim
os diversos leitos que estão ociosos na rede privada seriam disponibilizados para as
pessoas carentes, mais foram diversas tentativas infrutíferas, com a alegação que os
leitos seriam para os inadimplentes. Diante desse fato observamos um dos direitos
Imperioso salientar que nessa pandemia da nova corona vírus, 70% dos
684
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
(COVID-19), ficou mais claro para a sociedade a deficiência do SUS decorrente dessa
entre os municípios, ou seja, não temos isonomia, algumas pessoas são mais
aqueles que estão no poder. O fato é que a saúde da população está em risco e cada
vez mais as equipes de saúde passam por grandes desafios (CEEN, 2020).
infelizmente enfrenta grandes problemas que vai desde sua gestão até o
investimento. Um sistema que está sendo inibido, pela emenda constitucional 95,
685
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
por uma evolução, surgindo assim novos direitos para satisfazerem as necessidades
consolidar o direito à saúde de toda a sociedade, tais direitos não podem ser
forma alguma, ser restringidos pelo legislador de forma arbitrária. É importante que
2006, p. 152).
como objetivo impedir que os direitos das minorias sejam violados pela maioria. As
sem fim para o atendimento, percebeu-se o tempo todo a violação de tais direitos e
686
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
DIGNIDADE HUMANA
sendo certo que sem saúde não há vida. Sendo a saúde um dos direitos
proteção, uma vez que tal direito é tutelado pelo ordenamento jurídico, estando
Segundo Sarlet; Figueiredo (2010, p. 37). “{…} pelo menos no que se refere ao
estatal de proteção e efetivação desse direito”. O que foi surpresa nessa pandemia
iria viver ou morrer. O Estado que deveria garantir o direito à saúde acabou por
violar, por meio desse protocolo, o direito humano e fundamental social à saúde e
de um dever da própria pessoa ( e de cada pessoa) para com sua própria saúde(
687
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
proteção a integridade física. Essa proteção pode ser contra o próprio Estado
todos os meios necessários para que cada indivíduo tenha a sua vida resguardada
espera de um leito e isso se não vier a óbito, sendo isso uma violação por parte do
em toda rede pública. Relatos de médicos na rede pública de que pacientes vieram
O mínimo existencial não foi suprimido pelo o Estado que tem o dever de
sendo beneficiado no lugar da população mais carente. Mais uma vez a dignidade
688
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
da pessoa humana, o direito à vida sendo violado devido o Estado não suprir o
muito importante para que o direito à saúde seja efetivado, diante da ausência do
Estado. Com isso houve a judicialização da saúde. Várias ações são propostas no
judiciário para suprir o mínimo existencial necessário à saúde, como é o caso das
ações para adquirir medicamentos caros por pessoa de baixa renda que não
Poder Judiciário em todo o país. Conflitos pelo simples fato de violarem o direito à
cada vez mais carente e doente, razão pela qual o Estado deve agir com
visa garantir o bem-estar a todos. O Estado tem o dever de fazer com que os direitos
689
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que o homem em virtude de sua condição biológica humana é titular de direitos que
que não pode ser tirado, por ser inerente a pessoa humana. É o valor próprio, a
das pessoas por não conseguirem o primeiro atendimento, ficando horas nas filas
das Nações Unidas (1948), seundo o qual todos os seres humanos “todos os seres
mente os direitos fundamentais. Cada indivíduo é único, motivo pelo qual nessa
pandemia que todo o mundo está vivenciando, todas as ações no combate são
coletivas. Quando foi anunciado na mídia o desvio das verbas destinadas para
combater a doença não houve fraternidade e o cuidado por parte de quem detém o
poder.
690
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Percebe-se que a sociedade não acredita mais nos seus governantes, porque
cada olhar uma esperança que tudo seria resolvido. E mais uma vez veio à traição
por parte dos detentores do poder. Nesse sentido, Bauman (2016, p. 24) esclarece
do dever por parte do Estado e por aqueles que foram eleitos democraticamente.
Muitas pessoas perderam a sua vida. Aquele que tinha o dever de cuidar das
famílias, já não existe mais. A política não tem mais o poder de controlar a vida de
sociedade quando não supri as necessidades mais básicas, como por exemplo à
saúde, o direito a vida. Suas regras não protegem mais os menos favorecidos que
são isolados dos seus próprios direitos, “[...] já que sem liberdade material não há
como, por exemplo, o trabalho, o acesso a saúde, a educação e existência dignas para
Insta salientar que nos casos de omissão ou desvio de finalidade por parte
existencial para uma existência digna (SARLET, 2010, p.23). Desta forma, constata-
se que o Estado tem o dever de garantir às condições mínimas para que as pessoas
691
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Essa pandemia do novo coronavírus (COVID-19) faz aparecer algo que já era
suspeita a muito tempo: O Estado não tem dado a importância devida na elaboração
Muitos recursos que deveriam ser destinados à saúde são desviados, o que
compromete seriamente o êxito das ações dessa área. Observa-se que muitas vidas
poderiam ter sido salvas se, de fato, a saúde pública fosse levada a sério.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
fundamental social à saúde, bem como a (in) eficácia das políticas públicas para a
combater mazelas de alta complexidade, uma vez que o descaso com o sistema de
referido sistema.
Estado não são eficazes para combater as mazelas ocasionadas pelo novo
existencial no direito à saúde não está sendo observado, já que o Estado não
atendimento digno para aqueles que necessitaram recorrer aos hospitais para obter
tratamento médico.
condições mínimas necessárias para uma vida digna. O Estado tem o dever de zelar
692
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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pelo bem-estar de sua população e para tanto, deve-se garantir que todos possam
REFERÊNCIAS
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
PAIM, Jairnilson silva. O que é o SUS: Rio de Janeiro: Fio Cruz, 2015.
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BRASILEIRA
RESUMO
A pandemia do novo coronavírus acarretou a tomada de medidas de isolamento que
atingiram diversos setores da sociedade, e dentre eles o setor educacional, com quase a
totalidade das aulas presenciais sendo canceladas, ensejando perturbações em diversos
níveis da vida estudantil. Para tanto, o presente trabalho perfaz um exame da crise sanitária
global em curso e da situação da educação presencial, e também, uma abordagem sobre o
neoliberalismo, a globalização e o saber científico, correlacionando a simultaneidade entre
o surgimento da sociedade do conhecimento e os ataques ocorridos a ele ocorridos. Por fim,
analisa-se a Constituição de 1988, o neoliberalismo e a educação, salientando que a
educação não pode, e não deve, ser examinada sob o viés de geração de riquezas, ainda
realizando apontamentos sobre a necessidade de atuação estatal para minimizar os
impactos do fechamento das instituições de ensino. Para tanto, foi elaborada uma pesquisa
teórico dogmática, de cunho qualitativo.
ABSTRACT
The pandemic of the new coronavirus led to the taking of isolation measures that affected
various sectors of society, including the educational sector, with almost all of the face-to-
face classes being canceled, causing disruptions at different levels of student life. To this
end, the present work makes an examination of the current global health crisis and the
situation of face-to-face education, and an approach to neoliberalism, globalization and
201
Pós-Doutora, Doutora e Mestre em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ.
Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Direitos, Instituições e Negócios/UFF. Professora
Associada de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense. E-mail:
celiababreu@gmail.com. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8015623070536170.
202
Professor Assistente da Universidade Federal Fluminense e da Faculdade Cenecista de Rio das Ostras.
Professor de história no Colégio Municipal Elza Ibrahim. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em
Direitos, Instituições e Negócios. E-mail: alexandermpt@yahoo.com.br. Currículo lattes:
http://lattes.cnpq.br/1342995859695951.
203
Mestrando em Direito Constitucional pela Universidade Federal Fluminense. E-mail:
joaopedroschuab@gmail.com. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/9032655751013575.
696
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
scientific knowledge, correlating the simultaneity between the emergence of the knowledge
society and the attacks that have occurred to him. Finally, the 1988 Constitution,
neoliberalism and education are analyzed, emphasizing that education cannot, and should
not, be analyzed under the bias of wealth generation, still making notes on the need for
state action to minimize the impacts the closure of educational institutions. For that, a
dogmatic theoretical research was carried out, of qualitative nature.
INTRODUÇÃO
a superlotação dos hospitais e a busca incessante por uma cura ou vacina, vários
setores da sociedade sofrem com o advento das medidas de isolamento social para
contenção da doença. Este também é o caso da área educacional, haja vista que todas
Trata-se de uma epidemia que revela, segundo Cueto (2020, online), a torpeza
sofremos”. Em outras palavras, uma epidemia que surge como triste sequela de
uma crise que remonta aos anos oitenta do século passado, ocasião em que a maioria
697
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
acaba por sujeitar as áreas sociais – e dentre elas está inserido o setor da educação –
Estado do Bem-Estar Social em nosso país. Nesse contexto, o trabalho em tela será
composto por três partes. Inicialmente, será realizado um exame da crise sanitária
neoliberalismo e a educação, salientando que a educação não pode, e não deve, ser
698
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
das instituições de ensino. Para tanto, será realizada uma pesquisa teórico
econômicos, dentre outros, sendo que tais transtornos são particularmente mais
826 milhões de estudantes, que estão mantidos fora de sala de aula, não têm acesso
a um computador doméstico, e 43% não têm acesso a internet em casa (706 milhões
para acesso às aulas, cerca de 56 milhões de alunos vivem em locais que não são
699
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
relação entre professores e alunos, certo é que será necessário o uso da tecnologia
para não interromper este elo tão importante de comunicação, exigindo-se do poder
destinada à educação nas rádios? O que será feito para levar, especialmente à
população mais vulnerável, o acesso à internet e aos dispositivos para ter acesso às
aulas? Como ficará a relação entre professores e alunos, haja vista que, se graças a
direto entre os professores e alunos ainda se torna essencial? Como fica o papel do
ano. Com isso, concluiu que as aulas serão a distância e realizadas por meio de aulas
virtuais na internet, rádio e televisão. Foi lançado o programa de TV, “Eu aprendo
em casa”, bem como o Ministério da Educação comprou 719.000 tablets com internet
governo favoravelmente à redução das taxas escolares. Num cenário em que muitos
ficaram sem renda, o governo vem estimulando às famílias a retirarem os filhos das
700
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
social”. De acordo com os autores, este efeito “beneficia a promoção social das
classes mais baixas através das oportunidades que oferece”, como “uma melhor
realização de mudança social ou, pelo menos, um dos recursos de adaptação das
desenvolvimento, e é para torná-los mais do que cultos, que a educação deve ser
pensada e programada. A este respeito, destaca a doutrina que não à toa alguns
701
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
visível e as fronteiras entre países ficam cada vez mais fluidas; promove-se uma
outro. Hoje não, o capital é mais que transnacional, o Estado-Nação perde espaço
702
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ilimitada e uma minimização do Estado na área econômica e social. Com isso, nestes
2-3).
703
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
cidadania dos indivíduos e também de transformação social, mas sim porque “nesta
escola aparece, na realidade, enquanto mais uma empresa que oferece um serviço a
emancipatório que desta deveria se esperar. Isto, sem mencionar que esta educação
704
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
mais voltada para o campo técnico do que humano. Se aprendemos a ler, escrever e
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
abrangência do mercado:
para assim, funcionar à sua imagem e semelhança, com vistas a produção de bens
Estado, por meio de políticas públicas sociais, a razão para o atraso, e o não
da pessoa humana.
ESTATAL.
706
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
As políticas sociais, após um demasiado tempo para sua conquista por meio de
membros da sociedade, bem como para garantir meios para que todos tenham as
inequívoca, entre outros direitos sociais, o direito de educação (art. 6º). Nos termos
2013, p. 1975).
estatal com educação escolar pública (art. 4º) e garantindo para ela padrões mínimos
707
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
e a crise econômica de 2008, claramente se encontra em crise, fazendo com que assim
Supremo Tribunal trocando o texto constitucional pela chamada ‘voz das ruas’”,
com o fim do almejado estado social, justamente pelo dualismo metodológico que
Heller combateu em sua Teoria do Estado, acabando por derrotar também a noção
deveria ser suficiente para garantir o papel do Estado Social previsto no art. 3º
708
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
e irracional, existindo entre ambas uma tensão imanente, e por estas razões, a
jurídica, sendo que para ele, na vida quotidiana de um sistema jurídico, a sua regra
critério sobre o outro, como ocorre quando alega a supremacia do parlamento sobre
garantem uma educação para todos, com padrões mínimos de qualidade, bem como
709
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
online).
em seu artigo 209, traz a exigência do cumprimento das normas gerais da educação
exploração do ensino à iniciativa privada, e dispõe, em seu artigo 170 que a ordem
710
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mais barreiras de acesso à educação pelas camadas mais pobres da população, com
a fim de que todos tenham a mesma oportunidade, por exemplo, de disputar uma
CONSIDERAÇÕES FINAIS
711
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
formas como nos relacionamos, como as formas que trabalhamos, e também o modo
de ensinar. O ensino presencial, que passou a ser remoto, trouxe inovações nunca
reduzir as disparidades para com o acesso aos meios de ensino remoto, que
como quem tem espaço físico para uma boa aprendizagem em casa, e além de tudo,
internet de qualidade.
que é preciso pensar no bem-estar, saúde mental e equilíbrio emocional dos alunos,
que estão vivenciando situação nunca vivida em nossa sociedade, com vistas a
evitar a evasão dos discentes mais vulneráveis, com a premissa que a educação deve
REFERÊNCIAS
712
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
HELLER, Hermann. La justificación del Estado. México DF: UNAM, 2002. Ed. orig.
1933.
ISTO É. Peru descarta aulas presenciais e aposta em educação a distância para 2020.
Disponível em: https://istoe.com.br/peru-descarta-aulas-presenciais-e-aposta-em-
educacao-a-distancia-para-2020/. Acesso em 20 jun 2020.
MÉSÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005.
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
PONTE, Carlos Fidelis. O que a pandemia pode nos ensinar?. Disponível em:
<https://radis.ensp.fiocruz.br/index.php/home/opiniao/pos-tudo/o-que-a-
pandemia-pode-nos-ensinar>. Acesso em 09 mai 2020.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
Em 14 de maio de 2020, o jornal Estadão noticiou que o governo federal brasileiro não
concedeu aos familiares de detentos o auxílio emergencial disponibilizado em razão da
pandemia do novo Corona Vírus. A empresa que faz o processamento dos dados para a
concessão do auxílio admitiu a restrição de acesso às famílias de encarcerados. Noutro giro,
segundo a Dataprev, os requerimentos não foram negados, porém mais de 39 mil pedidos
apresentados pelos familiares de detentos ou pelos próprios indivíduos encarcerados irão
passar por um “processamento adicional”. O presente trabalho objetiva investigar o
impacto do encarceramento para a família dos indivíduos detidos, com especial enfoque na
situação socioeconômica enfrentada por estas pessoas frente à negativa do auxílio
emergencial em decorrência do novo Corona Vírus. Utilizar-se-á, como metodologia, a
análise materialista, por meio do marco teórico analítico crítico da economia política da
pena, feminismo marxista e criminologia crítica. A primeira seção apresenta aspectos
socioeconômicos brasileiros durante a pandemia do Covid-19, com destaque às
vulnerabilidades acentuadas em relação à vida, saúde e subsistência dos trabalhadores. Na
segunda seção, é trabalhado o marco teórico da economia política da pena no contexto da
pena de prisão na sociedade neoliberal para, a seguir, serem trabalhadas reflexões
feministas e familiares acerca dos impactos do encarceramento. Por fim, se investiga o caso
da negativa do auxílio emergencial aos familiares de detentos. Conclui-se que os
trabalhadores que possuem familiares de detentos encontraram especial dificuldade de
manutenção de subsistência durante a pandemia, estando mais propensos aos riscos de
saúde e vida característicos da crise sanitária.
204
Advogada inscrita na OAB/SC, graduada em Direito pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC),
mestranda no Programa de Pós-Graduação em Direito UNESC na linha de Direitos Humanos, Cidadania e Novos
Direitos, com ênfase em Criminologia Crítica, pesquisadora do Grupo de Estudos Avançados em Economia
Política da Pena, do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) em parceria com o Grupo Andradiano
de Criminologia Crítica da UNESC. Endereço eletrônico: jessicadomicianojeremias@gmail.com. Currículo Lattes
em: <http://lattes.cnpq.br/5486365774085204>. ORCID em: <https://orcid.org/0000-0002-1604-0256>.
715
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
On May 14, 2020, the newspaper Estadão reported that the Brazilian federal government
did not grant to the family members of prisoners the emergency aid made available due to
the pandemic of the new Corona Virus. The company that processes the data for the
granting of the aid admitted the restriction of access to the families of prisoners. On the
other hand, according to Dataprev, the requests have not been denied, but more than 39
thousand requests submitted by relatives of detainees or by the incarcerated individuals
themselves will be submitted by an “additional processing”. This paper seeks to investigate
the impact of incarceration on the family of detained individuals, with a special focus on
the social and financial situation faced by these people in the face of the negative emergency
aid resulting from the new Corona Virus. As methodology, a materialist analysis will be
used, through the critical analytical theoretical framework of the political economy of
punishment, Marxist feminism and critical criminology. The first section presents Brazilian
socioeconomic aspects during the Covid-19 pandemic, with a special focus on the
heightened vulnerabilities in relation to the life, health and subsistence of the working class.
In the second section, the theoretical framework of the political economy of punishment is
worked on in the context of the neoliberal. Than, feminist and family perspectives of the
incarceration are analyzed. Finally, the case of the denial of emergency aid to relatives of
prisoners is investigated. It is concluded that workers who have family members in jails
found particularly difficulties to maintain their subsistence during the pandemic, being
more prone to the health and life risks characteristic of the health crisis.
INTRODUÇÃO
noticiou que o governo federal brasileiro não concedeu aos familiares de detentos o
no valor de 600 reais. Segundo o portal de notícias, que obteve acesso ao ofício
empresa que faz o processamento dos dados para a concessão do auxílio admitiu a
716
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Para além das divergências nas informações prestadas, ora apontando para
requisições ainda não atendidas. Com isso, infere-se que milhares de pessoas
provocada pela pandemia do Covid-19. Desta forma, para além dos riscos já
administração pública. Por esta razão, importa investigar possíveis explicações para
capitalismo, com o sistema de punição vigente. Para isso, é feito um resgate das
717
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
demonstrar que o sistema penal atua sobre a vida das famílias também por meio do
controle social sobre seus membros. Por fim, parte-se à análise da negativa do
BRASIL
2020a). Nesta mesma data, o mundo já contava com 93.091 casos confirmados de
da OMS, na mesma data, declara que esta é a primeira pandemia no mundo vivida
2020a).
tempo que poderia ter sido valioso na elaboração de estratégias sanitárias para a
contenção das infecções, a postura adotada pelo governo federal nacional foi de
718
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
república Jair Bolsonaro anunciou que “pelo meu histórico de atleta, caso fosse
Perigosa não somente pelos seus impactos no campo da saúde e no risco trazido
foi menos que os anos de 2017 e 2018. Laura de Carvalho explica que pouco antes
obter mais recursos para a contenção da pandemia, já era uma realidade. O decreto
719
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
no Brasil, há que se considerar que se fala de um país marcado desde sempre por
Tendo isso em mente, vê-se que a pandemia do Corona Vírus aponta uma
Dados do IBGE apontam que, entre 19/07 e 25/07/2020, 76,9% das pessoas
afastadas por outros motivos e 13,7% das pessoas foram classificadas como
720
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
estavam em trabalho remoto, 18,5 milhões de pessoas não procuraram trabalho por
trabalho menor que o normalmente recebido. Por fim, o relatório aponta que 44,1%
sendo mercadoria, não se consegue fazer com que a saúde escape dessa lógica de
721
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
determinação de uma renda básica à população mais pobre, linhas de crédito para
que tais medidas são insuficientes, de modo que o capitalismo não pode dar conta
Saffioti nos lembra que homens e mulheres não ocupam posições iguais na
sociedade brasileira. Mesmo que uma mulher desempenhe uma função fora do lar,
Com isso, vemos que, para além das desigualdades e altas cargas de exploração
722
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
expôs ainda mais a população nacional a riscos de saúde e vida. Juntamente a isso,
NEOLIBERAL
proposto.
1970. Das direções de pesquisa tomadas neste período, destaca-se o papel dos
723
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
forma a uma crítica materialista dos processos de punição, por meio do qual se
Vera Malaguti Batista afirma que o marxismo foi um eixo essencial para a
acerca da questão criminal são Punição e Estrutura Social, de Georg Rusche e Otto
punitivo, por meio do argumento de que existe íntima relação entre o mercado de
724
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
2016, pp. 31-35). “Enquanto aqueles que tinham recursos suficientes para pagar
meios (isto é, em sua grande maioria) eram impotentes para porem-se a salvo do
35-36).
As teses dos autores receberam algumas críticas por parte de Dario Melossi e
725
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
instituições prisionais. Ocorre que, para além desta dimensão objetiva, as prisões
material das relações de produção”. A economia deve ser vista como uma
relacionadas:
726
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
David Harvey, por sua vez, explica que o neoliberalismo é uma das teorias e
As novas formas políticas observadas após os anos de 1980 são muito mais do
114).
727
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
calculador e cuja atuação é centrada em si mesmo (LEAL, et. al., 2019, pp. 43-44).
que coloca o delito como um resultado de um cálculo de custo e benefício feio por
parte do agente. Deste modo, o sistema penal teria com função contrapor esse
responsabilidade pela própria segurança nas mãos de cada um, alimentando ainda
mais a indústria de segurança privada (LEAL, et. al., 2019, pp. 44-47).
728
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ENCARCERAMENTO
729
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
O impacto do sistema penal na vida de milhões de mulheres não pode ser lido
população jovem e negra no Brasil precisa ser analisado juntamente a sua realidade
aponta, ainda, que o Brasil teve, em média, uma taxa anual de crescimento de sua
população prisional de 7,14% desde o ano 2000 (BRASIL, 2019, p. 07-08). Das
pessoas provadas de liberdade no Brasil, 46,2% são de cor/etnia parda, 35,4% são de
pp. 31-32).
massa no Brasil é a racializada como preta e parda, de modo que, apesar de poucos
dados especificamente neste sentido, infere-se que as famílias atingidas pelo sistema
históricas e sociais.
população negra e jovem estadunidense, trata acerca impacto da prisão pela vida
730
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
temática.
bens de terceiros caso estes fossem utilizados no cometimento de algum crime. Com
evidências, esposas que soubessem que seus maridos utilizassem algum tipo de
135-136).
Outra consequência nefasta do controle penal sobre a vida das famílias dá-se
detentos são, muitas vezes, recebidos com desdém por parte de empregadores,
731
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
violência vivenciada por estas pessoas e famílias, a autora afirma que mesmo no Jim
Crow, quando negros eram duramente segregados pela cor da pele nos EUA, as
reconhecidos como parte da classe trabalhadora ascendente, ainda que suas rendas
Vê-se que sistema penal atua para além da figura do encarcerado, possuindo
Paulo, Rafael Godoi atesta que a presença das famílias é central na viabilização do
secundário. Por esta razão, não se tem uma situação de imposição de penas sobre
uns e contaminação de outros, mas sim uma administração ampliada das penas que
732
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que a imensa maioria das pessoas encarceradas são homens, como é a situação no
Brasil, compreender o sistema penal pela ótica do gênero impõe, para além do
com o que se buscou contribuir neste trabalho. Recorda-se que não há como se
efetiva dos impactos do sistema penal e, no caso deste trabalho, apresente elementos
requisitos de idade superior aos 18 anos, exceto nos casos de mães adolescentes,
de renda federal, recebimento de renda familiar mensal per até meio salário-
mínimo, ou cuja renda familiar mensal total seja de até 3 salários mínimos, que, no
733
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
informais que já fizessem parte do Cadastro Único e não recebiam outros benefícios.
“Além de prever um valor três vezes menor, o auxílio proposto pelo governo
734
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
(TURTELLI, 2020).
maior acesso à informação à população que passa pelo controle do sistema penal,
esses pedidos foram submetidos sem qualquer amparo ou previsão legal pode ser
penas, que atinge não somente as pessoas encarceradas como também seus
familiares. Para além das diversas formas invisíveis de punição a que essas famílias
trabalha com a categoria de política criminal atuarial. Com isso, aponta que se deve
que permitem o uso seletivo das formas de punição como modelo de gestão de risco,
2012, p. 238-239).
735
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
últimas décadas, neste trabalho cumpre destacar que a consolidação de uma política
toda uma classe social excluída da ascensão social por meio da integração
736
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
uma economia globalizada. Neste contexto, Di Giorgi aponta que uma série de
fatores não econômicos fazem parte do processo de definição do valor geral da força
de trabalho e dos grupos que preenchem suas vagas. A interação entre estruturas
determinação desse valor social. Por isso, pode-se dizer que a situação das classes
2019, p. 49-50).
Defendendo uma economia política da pena que supere a ênfase tradicional dos
poderes da pena, o mesmo autor defende uma análise que compreenda a mudança
737
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
largos passos rumo a sua adoção no Brasil, demonstrou eficiência não só no controle
dos indivíduos especificamente selecionado pelo sistema penal, mas de toda uma
controle do estado.
uma classe.
doença não basta. O vírus não só atinge as pessoas de maneira totalmente diversa a
depender de suas classes sociais, estando mais vulnerável a camada mais pobre da
738
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
brasileiro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
que faz o processamento dos dados para a concessão do auxílio admitiu a restrição
739
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
As ações repressivas dirigem-se não somente aos indivíduos, mas a toda uma
classe social marcada como alvo de uma prática penal violenta e, muitas vezes,
efeito secundário, mas sim como central e constitutivo do sistema penal atual, temos
sistema penal.
liberdade pelo sistema penal, mas também suas famílias, foram diretamente
19, os trabalhadores que possuem algum grau de parentesco com pessoas detidas
740
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
REFERÊNCIAS
ANTUNES. Ricardo. Corona Vírus: o Trabalho Sob o Fogo Cruzado. São Paulo:
Boitempo, 2020.
BATISTA, Vera Malagutti. Introdução crítica à criminologia brasileira. 2. ed. Rio
de Janeiro: Revan, 2012b.
741
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CARVALHO. Laura de. Curto Circuito: o Vírus e a Volta do Estado. São Paulo:
Todavia. 1. ed. 2020
GODOI, Rafael. Fluxos em Cadeia: as prisões em São Paulo na virada dos tempos.
1. ed. São Paulo: Boitempo, 2017.
742
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BÁSICA
RESUMO
O presente estudo tem por objetivo identificar se é possível exigir do Poder Público políticas
efetivas para garantir o direito à educação básica através da concretização do acesso à
Internet durante o período de pandemia causada pela COVID-19. Para tanto, cabe abordar
o Direito à Educação sob o prisma do mínimo existencial. Ademais, impende estudar a
igualdade de acesso à educação sob o prisma material, que impõe ao administrador público
o dever objetivo de atender aos ditames constitucionais. Sob o viés prático, cabe analisar a
visão da Corte Constitucional quanto à salvaguarda dos direitos prestacionais, em especial
da educação básica, além de se identificar políticas públicas concretas de acesso à Internet
desenvolvidas durante a pandemia em benefício de alunos carentes. Considerando-se que
o trabalho é de natureza bibliográfica, o método de abordagem utilizado foi o método
dedutivo, concluindo-se, ao final, pela viabilidade de se requerer ao Estado a garantia do
acesso à Internet para a continuidade da educação básica e, se este for omisso, a postulação
judicial.
ABSTRACT
The presente study search to identify whether it is possible to demand effective policies
from the Government to guarantee the right to basic education through the materialization
of Internet access during the pandemic period caused by COVID-19. Therefore, the Right
205
Pós-graduanda em Direitos Humanos pela Faculdade de Ciências e Tecnologias de Campos Gerais (FACICA).
Bacharel em Direito pela URI - Campus Santo Ângelo. Advogada. E-mail: janiceskieling@gmail.com.
206
Pós-graduado em Direito Tributário pela Universidade Anhanguera Uniderp - Campus Campo Grande.
Bacharel em Direito pela URI - Campus Santo Ângelo. Servidor público federal. E-mail:
diegoottrindade@gmail.com.
207
Mestre em Desenvolvimento, Gestão e Cidadania pela UNIJUÍ. Pós-graduada em Instituições Jurídico-
Políticas pela UNIJUÍ. Professora da Pós-graduação e Graduação em Direito da UNIJUÍ. Advogada. Email:
lisianewickert@gmail.com. Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4737963Z6.
745
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
INTRODUÇÃO
impossibilitando a continuidade dos estudos dos alunos mais carentes, cujo acesso
746
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
No Brasil, a primeira norma a tratar sobre o tema foi a Lei Federal n.º 13.979,
Esta lei conceituou e elencou diretrizes sobre questões como o isolamento social, a
março de 2020, a partir do qual foram editados atos normativos e criados projetos
exigir do Poder Público políticas efetivas para garantir o direito à educação básica
público o dever objetivo de atender aos ditames constitucionais. Sob o viés prático,
cabe analisar a visão do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto à salvaguarda dos
Para isso, o estudo foi desenvolvido por meio do método hipotético dedutivo
decisões judiciais.
747
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
mudança das condições históricas, ou seja, dos carecimentos e dos interesses, das
classes no poder, dos meios disponíveis para a realização dos mesmos, das
transformações técnicas, etc.” (BOBBIO, 1992, p. 18). Assim, com a evolução dos
teoria das gerações dos direitos humanos foi concebida em 1979 (em uma
Estrasburgo - França), pelo jurista francês Karel Vasak, que associou cada uma das
direitos (RAMOS, 2018, p. 59). A segunda geração abrange os direitos sociais (de
reivindicações de justiça social – na maior parte dos casos, esses direitos têm por
“estabelecer uma liberdade real e igual para todos, mediante a ação corretiva dos
748
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
harmonia com a ideia de que o ser humano integra o planeta e precisa atuar em prol
partir da Primeira Guerra Mundial, quando começa a ser adotada uma política
intensa na vida econômica das pessoas, fundamentando suas ações na busca pela
(CRFB/88) foi a primeira a dedicar uma posição especial a aludidos direitos, com
749
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Imperial de 1824 – é um dos direitos sociais que compõem o mínimo existencial (ao
lado dos direitos à saúde, à assistência social e ao acesso à justiça). Justamente por
um
750
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
buscando alcançar principalmente aqueles que não podem custear uma educação
se aos 6 (seis) anos de idade, que terá por objetivo a formação básica do cidadão; c)
ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de 3 (três) anos
(arts. 4º, I, “a” a “c”; 30; 32 e 35, todos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
o que demonstra a atenção dispensada pelo regime jurídico vigente desde então.
Além de ser descrito no rol dos direitos sociais (art. 6º), há seção exclusiva localizada
no Título VIII, que aborda a temática da ordem social. Em especial, no que tange à
como dever da família, da sociedade e do Estado (art. 227). Por certo, há autêntica
foi detalhada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA - Lei 8.069/90), nos
artigos 53 e 54, bem como pela LDB, nos artigos 1º a 5º, inclusive quanto aos meios
de execução.
208
A educação infantil corresponde à primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e
social, complementando a ação da família e da comunidade. Ela será oferecida em: I - creches, ou entidades
equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco)
anos de idade (arts. 29 e 30 da LDB).
209
A LDB foi editada com base no artigo 22, inciso XXIV, da CRFB/88.
751
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
na intervenção estatal, de modo a garantir estes direitos para as pessoas que não
economicamente seja por outros fatores. Sem a prestação estatal, os direitos sociais
Sendo assim, a igualdade pode ser visualizada sob o vértice formal – oriunda
do liberalismo clássico – em que todos têm acesso aos mesmos direitos sem
seria desigualdade flagrante, e não igualdade real” (BARBOSA, 2003 apud CUNHA
752
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
no artigo 206, inciso I, da CRFB/88 (dispositivo repetido nos artigos 53, inciso I, do
ECA e 3º, inciso I, da LDB). Para garantir citado direito basilar da sociedade
moderna, esse acesso deve ocorrer por meio de políticas públicas concretas,
vírus. Com as escolas fechadas, utilizar a Internet torna-se imprescindível para que
distância (art. 80)210. Convém lembrar que, em 12/09/2018, o Plenário do STF julgou
210
O art. 80 da LDB é regulamentado pelo Decreto n.º 9.057, de 25 de maio de 2017. Segundo o “art. 8º:
Compete às autoridades dos sistemas de ensino estaduais, municipais e distrital, no âmbito da unidade
federativa, autorizar os cursos e o funcionamento de instituições de educação na modalidade a distância nos
seguintes níveis e modalidades: I - ensino fundamental, nos termos do § 4º do art. 32 da Lei n.º 9.394/96
(situações emergenciais); II - ensino médio, nos termos do § 11 do art. 36 da Lei n.º 9.394, de 1996 ; III -
educação profissional técnica de nível médio; IV - educação de jovens e adultos; e V - educação especial”.
753
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
dever de prover a educação, pois, embora não haja vedação constitucional, o tema
Art. 2º [...].
§ 4º A critério dos sistemas de ensino, no ano letivo afetado pelo
estado de calamidade pública referido no art. 1º desta Lei, poderão
ser desenvolvidas atividades pedagógicas não presenciais:
I – na educação infantil, de acordo com os objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento dessa etapa da educação básica e
com as orientações pediátricas pertinentes quanto ao uso de
tecnologias da informação e comunicação;
II – no ensino fundamental e no ensino médio, vinculadas aos
conteúdos curriculares de cada etapa e modalidade, inclusive por
meio do uso de tecnologias da informação e comunicação, cujo
cômputo, para efeitos de integralização da carga horária mínima
anual, obedecerá a critérios objetivos estabelecidos pelo CNE.
§ 5º Os sistemas de ensino que optarem por adotar atividades
pedagógicas não presenciais como parte do cumprimento da carga
horária anual deverão assegurar em suas normas que os alunos e os
professores tenham acesso aos meios necessários para a realização
dessas atividades.
211
Trecho do voto do Min. Alexandre de Morais: “A Constituição Federal não veda de forma absoluta o ensino
domiciliar, mas proíbe qualquer de suas espécies que não respeite a solidariedade entre Família e Estado, a
fixação de núcleo básico do ensino e todas as previsões que são impostas diretamente pelo texto
constitucional, inclusive no tocante às finalidades e objetivos, pois são obrigações destinadas a todos aqueles
que pretendam ofertar o ensino obrigatório, seja público, seja privado coletivo, comunitário ou domiciliar.
Dessa maneira, as espécies de unschooling radical (desescolarização radical), unschooling moderado
(desescolarização moderada) e homeschooling puro, em qualquer de suas variações, serão inconstitucionais,
pois negam a possibilidade de participação estatal solidária, inclusive na fixação de um núcleo básico de
fiscalização e avaliações”.
754
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
acesso à Internet como direito humano básico e, por consequência, uma ferramenta
NA VISÃO DO STF
de seus atores. Existe um amplo espectro de autonomia nas escolhas dos meios e
Isso, contudo, não concede carta branca ao arbítrio e à violação evidente à atribuição
Sob essa ótica, nas hipóteses em que os Poderes Legislativo e Executivo forem
755
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
direito à educação, é necessário que ele seja apto a ser defendido judicialmente
as teses consolidadas nos seus órgãos colegiados. Nesse ponto, observa-se que o
de Santo André (SP) alegou que não é possível impor somente ao ente municipal a
756
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
2006).
desenvolvimento integral das crianças (CRFB/88, art. 208, IV), a qual impõe ao
escassez dos recursos. Inclusive, a sua origem tem liame com o acesso à educação
início dos anos 1970), em que foi proferida a decisão numerus clausus (SARLET, Ingo;
757
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
perspectiva da teoria dos custos dos direitos, com base na impossibilidade de sua
Agravo Regimental, foi aduzida violação aos artigos 2º (separação de poderes) e 205
758
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
atender a alunos com deficiência auditiva. Por certo, deve ser preservado o núcleo
Carta de 1988 quanto nos textos convencionais para inclusão social das pessoas com
CRFB/88.
de políticas públicas para a sua concretização, os direitos sociais são mais difíceis
759
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ordem social, uma vez que objetivam a redução das desigualdades existentes na
760
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que não pode se escusar com fulcro na teoria da reserva do possível. As discrepâncias de
tolhimento do direito à educação, razão pela qual é tão importante a atuação estatal.
dimensão212, assim como os demais direitos fundamentais. Isso significa que existe um viés
à ação ou às ações negativas ou positivas que lhe foram outorgadas pela norma
‘direito’ de uma pessoa é aquilo que lhe cabe ou lhe é devido enquanto pessoa, e aquilo que
os outros são obrigados ou vinculados a lhe garantir ou a respeitar” (ALEXY, 2015, p. 181).
Por sua vez, a dimensão objetiva consiste na obrigação permanente de proteção dos
direitos fundamentais a ser exercida pelos órgãos estatais, tanto contra agressões dos
resguardar os bens protegidos. As políticas públicas estão inseridas nessa dimensão, haja
vista que o Estado está obrigado a criar os pressupostos fáticos necessários ao exercício
efetivo desses direitos, os quais não carregam apenas “uma proibição de intervenção
212
É importante reforçar que “a moderna teoria dos direitos fundamentais vem reconhecendo uma dupla
dimensão, ou dupla perspectiva dos direitos fundamentais, na medida em que estes podem ser considerados
como posições jurídicas subjetivas essenciais de proteção da pessoa, como valores objetivos básicos de
conformação do Estado Constitucional Democrático de Direito, manifestando-se, destarte, ora como carta de
concessões subjetivas, ora como limites objetivos de racionalização do poder e como vetor para a sua atuação”
(CUNHA JR., 2015, p. 508).
761
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Decreto n.º 9.204/2017, foi criado para ampliar o acesso à Internet para o maior
número possível de escolas, bem como propiciar aos professores e alunos o contato
cumprir as metas fixadas pelo Plano Nacional de Educação - PNE (Lei n.º
213
O Programa foi organizado para ser concretizado em três fases: “(1) indução (2017 a 2018) para construção
e implantação do Programa com metas estabelecidas para alcançar o atendimento de 44,6% dos alunos da
educação básica; (2) expansão (2019 a 2021) com a ampliação da meta para 85% dos alunos da educação
básica e início da avaliação dos resultados; e (3) sustentabilidade (2022 a 2024) com o alcance de 100% dos
alunos da educação básica, transformando o Programa em Política Pública de Inovação e Educação Conectada
e alta velocidade e fomentar o uso pedagógico de tecnologias digitais na educação básica” (BRASIL, M. E.,
2020).
762
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Informação (Cetic), 30% das famílias brasileiras não têm acesso à Internet, ao passo
que 40% dos estudantes de escolas públicas não possuem computadores ou tablets.
Diante desse cenário, alguns congressistas apresentaram projetos de lei (PL) para
para a contratação de planos de banda larga fixa e móvel, como o PL n.º 3.462/2020
alunos da rede pública estadual de ensino, para aulas virtuais e conteúdos didáticos.
214
Meta 7 [...] 7.15) universalizar, até o quinto ano de vigência deste PNE, o acesso à rede mundial de
computadores em banda larga de alta velocidade e triplicar, até o final da década, a relação computador/aluno
(a) nas escolas da rede pública de educação básica, promovendo a utilização pedagógica das tecnologias da
informação e da comunicação;
763
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
desenvolvido pelo Estado de São Paulo para o retorno das aulas, em 27 de abril de
Por seu turno, outros países da América Latina adotaram medidas similares.
56% (cinquenta e seis por cento) das famílias dispõe de acesso à Internet. Já na
gratuito a sites educacionais às famílias que não possuem condições para pagar pelo
19).
764
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
moderna.
indissociável do dia a dia do homem do século XXI. Basta pensar nos segmentos
lockdown; etc.
acesso à educação básica por meio da Internet para alunos carentes no contexto da
direito de acesso à Internet sequer era assegurado para todos os alunos no âmbito
765
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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problema, pois parcela dos alunos não tem dispositivos eletrônicos, bem como o
line.
educação básica para alunos carentes. Tanto é assim que foram identificados
casos mais extremos, inclusive, pode ser fornecido o dispositivo eletrônico (por
Outrossim, se for provado que tal encargo não está sendo concretizado, é cabível
prestação da educação básica. Veja-se que o acesso deve ser visto sob o vértice da
fornecer os meios necessários para que o aluno mais carente possa usufruir do
direito prestacional.
766
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
sim viabilizar o acesso à educação de forma on-line. Por outro lado, diante da crise
econômica latente ocasionada pela pandemia, é muito provável que o Poder Público
saúde das pessoas ou a outros direitos sociais (ex.: Internet e educação). Trata-se da
Referido contraponto exige uma análise cautelosa, a fim de que não seja
recursos, fato que contribui para o aumento das diferenças sociais (alunos de escolas
privadas, com acesso aos mais avançados aparatos tecnológicos, versus alunos de
REFERÊNCIAS
767
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
BARCELLOS, Ana Paula de. A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais. Rio de
Janeiro: Renovar, 2002.
768
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CUNHA JR., Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. Salvador: Editora
JusPodivm, 2015.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 33. ed. rev. e atual. até a EC n.º 95.
São Paulo: Atlas, 2017.
OLIVEIRA, Bruna Pinotti Garcia; LAZARI, Rafael de. Manual de direitos humanos:
volume único. 4. ed. rev., atual. e ampl. Salvador: Juspodivm, 2018.
769
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
digital. In: MAIA, Luciano Mariz; ARAÚJO, Marcelo Labanca Corrêa de; SILVA,
Lucas Gonçalves da (Coord.). Direitos fundamentais e democracia I [Recurso
eletrônico on-line]. Organização CONPEDI/UFPB. Florianópolis: CONPEDI, 2014.
RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. 5. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018.
770
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.
771
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
A PANDEMIA – COVID-19
RESUMO
No presente trabalho analisam-se as ações do governo federal que, para enfrentamento da
pandemia da Covid-19 na área da saúde, implicaram gastos diretos. Busca-se mapear as
ações, aferindo-se o volume das despesas previstas delas decorrentes. Além disso, esforça-
se para estabelecer um marco de análise dos desenhos institucionais das ações sustentadas
por esses gastos. Como resultado provisório espera-se fixar critério jurídico capaz de
auxiliar na medida do impacto dessas ações, em termos de durabilidade e agregação à
capacidade estatal de prover o serviço público de saúde, ampliando a efetividade do direito
humano fundamental à saúde. Trata-se de tema de elevada relevância prática e implicações
inegáveis, no salvamento de vidas humanas que estão padecendo nas filas dos hospitais
públicos por falta de infraestrutura, equipamentos, leitos e profissionais de saúde
suficientes e bem remunerados, que deem conta do aumento da demanda. Associado ao
quadro de referência da cidadania fiscal e do marco analítico da Análise Integral do Direito
(AID) promove-se pesquisa qualitativa e exame dos dados disponibilizados nos portais de
orçamento e transparência do governo. Além do mapeamento das ações, faz-se o exame da
qualidade, durabilidade e gastos nelas aplicados, utilizando-se dos resultados coligidos
como variável da efetividade do direito humano fundamental à saúde neste momento de
crise. Por razões operacionais de pesquisa recorta-se, para apreciação, o período entre 30 de
janeiro a 08 de maio de 2020 no Brasil. Conclui-se que as ações do governo foram
institucionalmente desenhadas e voltadas ao curto prazo, com baixa possibilidade de
aproveitamento futuro para a operação regular do sistema de saúde pública.
215
. Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Faculdade de Direito da UFF –
(PPGDC – UFF). Pós-graduado em Direito e Advocacia Pública pela (Uerj). Graduado em Direito na (PUC-Rio).
E-mail: leonardo_tognoc@id.uff.br e (Lattes: http://lattes.cnpq.br/2324225159456367).
216
. Doutor em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Ciências Jurídicas na
Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio). Endereço para acessar currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7221133491442018. Indicação do e-mail e link(s) para currículo na plataforma Lattes.
772
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
This work analyzed the actions of the federal government, which involved direct
expenditure in response to the Covid-19 pandemic in the health sector. It attempts to draw
an action diagram to assess the expected costs resulting from it. In addition, it strives to
establish a framework to analyze the institutional design of actions supported by these
expenditures. As an interim result, it is expected that a legal standard will be established to
help measure the impact of these actions, including persistence and aggregation of the
nation’s ability to provide public health services, thereby increasing the efficiency of the
basic human being. Right to health. This is a subject of high practical and undeniable
significance in terms of queuing to save lives in public hospitals due to lack of
infrastructure, equipment, beds and sufficient and well-paid health professionals. This is
the reason for the increase in demand. Combining the reference framework of tax
citizenship and the analytical framework of Comprehensive Legal Analysis (AID) facilitates
qualitative research and inspection of data available on government budgets and
transparency portals. In addition to mapping actions, the collected results are used as
variables for the effectiveness of basic health and human rights in the current crisis, and the
quality, durability, and expenditure of actions are checked. For operational research
reasons, the period from January 30 to May 8, 2020 in Brazil has been deleted for reference.
The conclusion is that the government’s actions are institutionally designed and focused on
the short-term, and they are rarely used in the normal operation of the public health system
in the future.
Keywords: public budget; social status; right to health; pandemic - Covid-19; fiscal
citizenship.
1. INTRODUÇÃO
de março, como pandemia, a doença causada pelo novo coronavírus tem desafiado
Além das medidas públicas que o enfrentamento da doença impôs, trouxe à vista
773
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aquela parcela da sociedade “sem voz”, menos abastada, que já morria nas filas dos
de saúde pública nos anos subsequentes, a fim de dar efetividade ao direito à saúde
no país.
774
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ações do governo federal na área da saúde que implicaram gastos diretos; quer-se
775
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GASTOS PÚBLICOS
XVIII a XX, à medida que são reconhecidos direitos que, ampliados inclusive
dimensão dos direitos e deveres de ordem civil, política e social que garantem aos
217
. Adotam-se como sinônimos, no texto, os termos: conceito, categoria e ideia. Embora distinguíveis, de
ordinário, nas reflexões metodológicas e epistemológicas.
776
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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na boca do povo, inclusive com a substituição do próprio povo, pois se dizia “o povo
quer isso ou aquilo”, e se passou a dizer “a cidadania quer...”. A cidadania virou gente,
ética e normativa dos direitos ínsitos na concepção de cidadania” (TORRES, 1999, p. 251).
passiva, apática, sem cor. De acordo com Enzo Bello (2010, p. 529), a cidadania
passiva teria sido o modo como transplantado o conceito sociológico para o Direito,
777
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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plenamente ao ser confiada ao Direito e à Constituição”. No Brasil nem tudo que está na
o que parece possível por meio do exame, delimitado no tempo e setorialmente, dos
de 1988, em seu artigo 1º, inciso II, como princípio fundamental do Estado
que para ser efetivada não basta apenas estar prevista no texto constitucional. A
entre Estado e cidadão, trazendo consigo a temática dos status. Para Ricardo Lobo
processualis.
que atue com maior eficácia na ordem normativa em prol da afirmação dos direitos”; de
778
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Estado e os sujeitos que o integram, por meio da requalificação destes com a ideia
peculiares.
779
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segundo o qual a cidadania deve ser ativa 218 , promovendo-se, pela ação e
e estruturas para a vida digna, sobretudo, nos lugares de maior carência. Sublinha,
controle são estimuladas pela categoria da cidadania fiscal, a fim de que os esforços
218
. Para (BELLO, 2010, p. 522) a cidadania ativa está “atrelada a uma ideia de justiça distributiva e preconizou
o pertencimento dos indivíduos a uma comunidade democraticamente autogovernada, bem como o
autodomínio dos cidadãos e a participação política direta nos assuntos da coletividade”.
780
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Declaração Universal dos Direitos Humanos) e (CRFB, art. 196). Por conseguinte, a
pública no Brasil e no mundo, trazendo com ela, novos desafios às finanças públicas
219
. O caso narrava que um homem de 61 anos deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein (SP), na terça-
feira dia 25 de fevereiro, com histórico de viagem para Itália, região da Lombardia. Todavia, no dia 02 de abril
de 2020 o Ministério da Saúde voltou atrás e informou, através do site oficial do governo, que houve o caso
de uma mulher de 75 anos, falecida em 23 de janeiro, em Minas Gerais, diagnosticada com o (Covid-19). Este,
através de investigação retroativa, até o momento, foi confirmado como o primeiro caso no Brasil e com óbito.
Possivelmente, houve outros casos talvez diagnosticados com insuficiência respiratória e até aqueles que nem
foram aos hospitais; mas, fato é que a doença já estava no Brasil bem antes da data oficialmente divulgada, e
mais, houve notória demora por parte do Governo Federal em adotar as medidas de enfrentamento.
Disponível em
<https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2020/04/02/interna_nacional,1135097/primeira-morte-de-
covid-19-no-brasil-foi-em-minas-informa-governo.shtml.> Acesso em 10 de maio de 2020.
781
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Emenda Constitucional 01
Leis Ordinárias 07
Leis Complementares 01
Projeto de Lei 01
Medidas Provisórias 41
Resoluções 50
Portarias 130
Instruções Normativas 10
Recomendações 03
Circulares 01
Total 245
Fonte: elaboração própria com base nos dados extraídos dos endereços eletrônicos do Congresso
Nacional e da Presidência da República.
782
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normativos abaixo:
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Lei Complementar nº 172 de 16 Não foi possível apurar o Autoriza aos Estados, DF e
de abril de 2020 montante específico Municípios a transposição e a
transferência de saldos
financeiros remanescentes de
exercícios anteriores, constantes
de seus respectivos Fundos de
Saúde, provenientes de repasses
do Ministério da Saúde,
destinados exclusivamente à
realização de ações e serviços
públicos de saúde, segundo os
critérios disciplinados pelos arts.
2º e 3º da Lei Complementar nº
141, de 2012, condicionados à
observância prévia dos seguintes
requisitos: cumprimento dos
objetos e dos compromissos
previamente estabelecidos em
atos normativos específicos
expedidos pela direção do SUS;
inclusão dos recursos financeiros
transpostos e transferidos na
Programação Anual de Saúde e
na respectiva lei orçamentária
anual, com indicação da nova
categoria econômica a ser
785
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
federal na área da saúde que implicaram gastos diretos são realizadas através da
220
. Trata-se de valor estimado. Não foi possível mensurar até o término deste artigo o valor total da
transposição e transferência de saldos financeiros remanescentes de exercícios anteriores, constantes dos
respectivos Fundos de Saúde dos Estados, DF e Municípios, provenientes de repasses do Ministério da Saúde,
destinados exclusivamente à realização de ações e serviços públicos de saúde, autorizada pela LC nº 172 de 16
de abril de 2020.
786
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
A análise dos desenhos institucionais das ações sustentadas por esses gastos
787
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CEPAL222, OCDE223.
possibilidades de ser encampada no dia a dia institucional e se, pelas suas regras,
tendo em vista o desenho federativo, pode ser manejada por diferentes instâncias
democrático que se forma algo como o terreno comum entre democratas de diferentes faixas.
221
. Disponível em <https://nacoesunidas.org/fmi-preve-para-este-ano-maior-recessao-global-desde-1929/>
Acesso em, 11 de junho de 2020.
222
. Disponível em <https://nacoesunidas.org/cepal-apresentara-relatorio-sobre-efeitos-economicos-e-
sociais-da-covid-19-para-america-latina-e-caribe/> Acesso em, 11 de junho de 2020.
223
. Disponível em <http://www.oecd.org/coronavirus/policy-responses/covid-19-na-regiao-da-america-
latina-e-caribe-implicacoes-sociais-e-economicas-e-politicas-prioritarias-433b9d11/> Acesso em, 11 de junho
de 2020.
788
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
bem à custa dos outros membros da comunidade política. Agem para promover o
por suas ações aos outros membros da comunidade política. Por transparência
ruim em uma democracia que funcione bem; os cidadãos devem, em geral, ser
ser argumentado que existem boas razões democráticas para superar a presunção
particulares.
2011, p. 88-90)224.
224
. Para os primeiros autores a Legística se subdivide em material e formal. A perspectiva material, em
consonância com a problemática abordada, os atos normativos realizados pelo governo federal devem se
ocupar da identificação e definição do problema, cuja solução é atribuída à ação legislativa, determinando os
objetivos e disponibilizando meios potencialmente aptos a gerar os efeitos pretendidos pela legislação, no caso
combate eficiente à pandemia causada pelo (Covid-19). A perspectiva formal se destina a aperfeiçoar o círculo
de comunicação legislativa, fornecendo princípios, a fim de melhorar a compreensão e o acesso aos textos
legislativos.
789
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
federal
790
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Critérios Medida Medida Medida Medida Medida Medida Lei Lei nº
de Provisóri Provisór Provisória Provisória Provisória Provisória Complem 13.995 de
Robustez a nº 924 ia nº 938 nº 939 de nº 940 de nº 941 de nº 947 de entar nº 5. 5. 2020
de de 2.4.2020. 2.4.2020. 2.4.2020. 8.4.2020. 172 de de
13.3.2020 2.4.2020. 16.4.2020 6.5.2020
791
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Federais Particip
) ação dos
Municíp
ios –
FPM.
Qualidade Não Não Não podia Não Não Não Não podia Não
formal (se podia ser podia ser podia ser podia ser podia ser ser podia ser
a medida adotada ser adotada adotada adotada adotada adotada adotada
792
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
já não com base adotada com base com base com base com base com base com base
seria na com na na na na na na
passível legislaçã base na legislação legislação legislação legislação legislação legislação
de ser o legislaçã existente à existente existente existente existente à existente
adotada existente o época. à época. à época. à época. época. à época.
com base à época. existent Observa Observa Observa Observa Observa os Observa
na Observa e à os os os os aspectos os
legislação os época. aspectos aspectos aspectos aspectos formais. aspectos
existente -- aspectos Observa formais. formais. formais. formais. Requer formais.
necessária, formais. os Requer Requer Requer Requer regulamen Requer
proporcio Tem aspectos regulame regulame regulame regulame tação em regulame
nal e caráter formais. ntação em ntação em ntação em ntação em nível ntação em
subsidiári emergen Requer nível nível nível nível administra nível
a e se cial. regulam administr administr administr administr tivo. administr
observa, Requer entação ativo. ativo. ativo. ativo. ativo.
dos regulam em nível
aspectos entação adminis
formais, em nível trativo.
exposição administ
de rativo.
motivos
no
processo
de sua
feitura).
Pode
desdobrar
em um
outra
linha: se a
medida é
bem
detalhada
ou se
requer
regulamen
tação para
sua
aplicação
793
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Deliberaçã Não Não Não Não Não Não Não houve Não
o (se a houve houve houve houve houve houve participaçã houve
medida participa particip participaç participaç participaç participaç o de outros participaç
contou ção de ação de ão de ão de ão de ão de setores da ão de
com a outros outros outros outros outros outros sociedade. outros
participaç setores setores setores da setores da setores da setores da Houve setores da
ão de da da sociedade sociedade sociedade sociedade participaçã sociedade
outros sociedad socieda ou de ou de ou de ou de o do Poder . Houve
setores e ou de de ou de outros outros outros outros Legislativo participaç
pela outros outros poderes poderes poderes poderes e do ão do
realização poderes poderes da da da da Executivo Poder
de da da República República República República Federal Legislativ
audiência Repúblic Repúbli o e do
pública ou a ca Executivo
outra Federal
forma de
consulta
no
processo
de sua
formação)
Simetria Há Há Há Há Há Há Há Há
Internacio simetria simetria simetria simetria simetria simetria simetria simetria
nal (se as com com com com com com com com
medidas alguns alguns alguns alguns alguns alguns alguns alguns
adotadas países. países países países países países países países
encontram
se alinham
com
experiênci
as
internacio
nais –
(Relatório
s FMI,
CEPAL,
OCDE)
Critérios
de
Revisibilid
ade
Transitori Tem Tem Tem Tem Tem Tem Tem Não tem
edade (se vigência vigência vigência vigência vigência vigência vigência vigência
794
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Potencial Pode ser Pode ser Pode ser Pode ser Pode ser Pode ser Pode ser A medida
de integrad integrad integrada integrada integrada integrada integrada pode ser
replicação a à lógica a à à lógica à lógica à lógica à lógica à lógica adotada
(se a coorden lógica coordena coordena coordena coordena coordenad por outras
medida ada da coorden da da da da da da da da a da ação entidades
pode ser ação ada da ação ação ação ação federativa, federativa
adotada federativ ação federativa federativ federativ federativ na medida s.
por outras a, com federati , na a, na a, na a, na em que
entidades restriçõe va, na medida medida medida medida descentrali
federativa s. União medida em que em que em que em que za
s ou se impondo em que descentral descentra descentra descentra recursos
pode ser aos descentr iza liza liza liza da União
integrada demais aliza recursos recursos recursos recursos para os
à lógica entes da recursos da União da União da União da União demais
coordenad federaçã da para os para os para os para os entes da
a da ação o. União demais demais demais demais federação.
federativa para os entes da entes da entes da entes da
) demais federação. federação federação federação
entes da . . .
federaçã
o.
Fonte: elaboração própria
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
795
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
das medidas do governo federal, na forma como projetada, são de curto prazo não
cidadãos no controle social dos atos dos gestores públicos como instrumento de
perspectiva da AID.
796
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
eficácia e efetividade das normas jurídicas, no caso voltadas ao direito humano fundamental
à saúde.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 12ª Ed. – Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
CORVAL, Paulo Roberto dos Santos. Análise Integral do Direito (AID): primeiras
aproximações e apontamentos para a pesquisa no direito público. Revista de Informação
Legislativa: RIL, v. 54, n. 213, p. 81-111, jan./mar. 2017. Disponível em:
<http://www12. senado.leg.br/ril/edicoes/54/213/ril_v54_n213_p81>. Acesso em: 08
de maio de 2020.
797
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
TORRES, Ricardo Lobo. A cidadania multidimensional na era dos direitos. In: Id.
(Org.). Teoria dos direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.
798
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
A Medida Provisória 927/2020 trouxe uma série de medidas trabalhistas para o combate à
crise econômica provocada pela pandemia da COVID-19, trazendo disposições que
incentivam a implementação do teletrabalho como mecanismo de continuidade das
atividades da empresa. Nesse contexto, a presente pesquisa tem por escopo analisar os
agravamentos trazidos pela crise da pandemia da COVID-19 às condições de trabalho dos
empregados e empregadas em regime de teletrabalho, em função da aplicação da Medida
Provisória 927/2020. Trata-se aqui de explicativa e qualitativa, utilizado o método de
abordagem dedutivo, a investigação histórica como método de procedimento e a análise
bibliográfica-documental como técnica de pesquisa. Em sua estrutura, o presente artigo
apresenta a forma como o teletrabalho está previsto na ordem jurídica brasileira, depois
analisa as modificações trazidas pela Medida Provisória 927/2020 e, por fim, verifica os
possíveis impactos que regulamentações atuais podem acarretar para as condições laborais
dos trabalhadores e trabalhadoras em regime de teletrabalho. Ao final, conclui-se que a
medida amplia os poderes do empregador sobre os trabalhadores e trabalhadoras nesta
modalidade, que passam a se submeter cada vez mais aos riscos de desenvolvimento de
doenças laborais e de responsabilização pelos riscos da atividade econômica, em razão de
fatores como a falta de controle de jornada de trabalho e a ampliação dos poderes do
empregador.
225
Professor da Universidade Regional do Cariri (URCA). Especialista em Direito Previdenciário e Trabalhista e
bacharel em Direito pela Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail: sarto_filho@outlook.com. Currículo
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3788300482751530.
226
Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Direito do
Trabalho e Previdenciário pela Faculdade Paraíso do Ceará (FAP-CE). Bacharela em Direito pela Universidade
Regional do Cariri (URCA). E-mail: larissa.bras29@gmail.com. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8693130079985899.
227
Bacharel em Direito pela Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail:
niltonmarinho_menezes@outlook.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5531914910819228.
799
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
Provisional Measure 927/2020 brought a series of labor measures to combat the economic
crisis caused by the pandemic of COVID-19, bringing provisions that encourage the
implementation of telework as a mechanism for the continuity of the company's activities.
In this context, the present research aims to analyze the aggravations brought by the
COVID-19 pandemic crisis to the working conditions of men and women teleworkers, as a
result of the application of Provisional Measure 927/2020. This is about explanatory and
qualitative, using the deductive approach method, historical research as a method of
procedure and bibliographic-documental analysis as a research technique. In its structure,
this article presents the way telework is provided for in the Brazilian legal order, then
analyzes the changes brought by Provisional Measure 927/2020 and, finally, verifies the
possible impacts that current regulations may have on the working conditions of men and
women teleworkers. In the end, it is concluded that the measure expands the employer's
powers over men and women workers in this modality, who are increasingly subject to the
risks of developing occupational diseases and of being responsible for the risks of economic
activity, due to factors as the lack of control of working hours and the expansion of the
employer's powers.
INTRODUÇÃO
medida em que provocou uma relevante crise econômica a nível mundial. Neste
800
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
texto da Consolidação das Leis do Trabalho pela Lei 13.467/2017, ainda apresenta
recentes, sob o pretexto de ser uma medida necessária para a geração de empregos.
anteriores tende a diminuir, de forma que se faz necessário debater os impactos que
específicos são: apresentar a maneira como o teletrabalho foi recebido pela ordem
de teletrabalho.
801
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
trabalhadoras (que sofrem impactos distintos nos seus mundos do trabalho, motivo
pelo qual são grafados em apartado), bem como sua relação com a sistemática
do seu tratamento jurídico. Isso porque uma das suas principais características é
fato que pode servir como um disfarce para mecanismos de redução da proteção ao
802
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
elemento novo e cada vez mais central da exploração da mão de obra no contexto
tecnológicos, não apenas como substitutos da mão de obra fabril, mas também como
Com a nova redação, não havia dúvidas de que o teletrabalho deveria obedecer
aos mesmos ditames das demais formas de relação de emprego, uma vez que, além
803
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
13.467/2017, a qual trouxe previsões na CLT que, de uma maneira geral, tenderam
que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo” (BRASIL, 1943).
verificado abriu margem para discussão, na medida em que cria uma distinção
se o artigo 62 da CLT:
O inciso I do dispositivo prevê que quem realiza trabalho externo somente será
referente a esta condição na Carteira de Trabalho e Previdência Social. Tal regra não
804
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
aditivos:
805
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
dos custos a serem arcados com o desempenho do trabalho. Com isso, tem-se
Trabalho.
ostensiva, acerca dos riscos e precauções que devem ser tomadas no desempenho
das atividades. Além disso, também destaca que trabalhadores/as irão assinar um
Trata-se de uma tese que preconiza, mais uma vez, a assunção dos riscos da
acidentes de trabalho, tais como prazo para entrega, ritmo exigido do empregado,
806
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
611-A, sendo uma delas a norma coletiva que dispõe sobre teletrabalho (BRASIL,
prevalecerá sobre o texto legal, ainda que seja para precarizar ainda mais as
condições laborais.
citado processo produtivo em curso no Brasil desde a década de 1980. Assim sendo,
com esse contexto, merecendo avaliações críticas, cujos impactos serão analisados
em momento oportuno.
807
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
decorrência do seu elevado potencial de contágio. Tais políticas vêm se dando não
tanto em função da letalidade da doença em si, mas sim pelo aumento progressivo
isolamento social, ou seja, estimular (e, em casos mais graves, obrigar) as pessoas a
visem estimular a produção, como acontece nos tempos de guerra. Assim, emerge
trabalhadores/as perdem seus empregos para evitar ter suas vidas ceifadas pela
cada vez mais dependente de uma estratégia que possa conciliar a produtividade
808
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
como uma alternativa ainda mais viável no contexto atual. A explicação para isso
228
Denomina-se “desemprego estrutural” o fenômeno provocado pelo contexto de flexibilização produtiva,
que reduz o contingente de trabalhadores/as empregados e provoca uma situação em que a falta de emprego
não decorre mais de um contexto de crise, mas da própria estrutura do sistema capitalista, na medida em que
essa mão de obra disponível pode ser aproveitada para o desenvolvimento do labor em condições mais
precárias, como terceirizados, subempregados, entre outros.
809
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
os danos econômicos causados isolamento social. Não cabe aqui a análise de todas
as normas emitidas pelo Executivo até então, de maneira que o presente estudo se
COVID-19.
de até 4 meses, sem percepção de salário (BRASIL, 2020a), fato que acarretou uma
810
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
disposições que afetaram esse regime laboral em si, conforme se fará a partir de
que flexibilizem ainda mais as suas condições laborais (LIMA FILHO, 2018), pelos
unilateral para que empregado/a realize teletrabalho, muito embora existente uma
estabelecida pelo artigo 468 da CLT, que só autoriza a alteração contratual mediante
811
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
refere aos moldes estabelecidos pela CLT e que a alteração trazida pelo caput do
2020a).
pandemia. Este fator reflete ainda mais a lógica incorporada pelo contexto atual,
812
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Tal entendimento reforça ainda mais o que foi abordado acima acerca da
pelo custeio dos serviços de infraestrutura. Além disso, mesmo não havendo
Tal dispositivo se mostra inócuo ou, se muito, uma tentativa de buscar reforçar
controle de jornada, uma vez que, conforme já estudado na seção anterior, o labor
Por fim, a Medida Provisória 927 ainda estabelece, em seu artigo 5º, a permissão
813
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
desempenho do serviço.
ainda mais ampla do que aquela observada na Lei 13.467/2017. Com isso, observa-
se uma constante busca pelo salvamento das empresas, com pouca preocupação
economia capitalista.
estágio atual, vai procurando se reinventar, a partir de meios que evitem o colapso
814
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Ocorre que não é de hoje que o Brasil vem enfrentando uma situação de crise
que acaba sendo colocada como justificadora para a adoção de medidas relevantes
815
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
mais reduzido (ANTUNES, 2018), tornando-se cada vez mais responsáveis pela
medida em que não explora nenhuma atividade econômica, não havendo sentido
2007).
Medida Provisória 927, o/a trabalhador/a se encontra em uma posição ainda mais
do/a empregado/a.
Brasil, conforme abordado anteriormente, restringiu uma série de direitos para o/a
816
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ocupacionais sofridas.
condição.
Antunes:
817
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capitalista, ainda que de maneira indireta. Isso porque é esse trabalho, não
convencionais.
818
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do que aquela enfrentada pelo homem, passa por uma condição ainda mais gravosa:
intensificadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
819
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Sua regulamentação mais efetiva veio acontecer com a Lei 13.467/2017, que
acerca da matéria.
demanda por bens e serviços. Esse fato tem feito com que formas de trabalho que
pela Medida Provisória 927/2020, está o teletrabalho. No entanto, cabe destacar que
820
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
a norma teve como característica muito maior a busca pela manutenção das
sufocando os direitos dos/as trabalhadores/as, que passam a ficar cada vez mais
821
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
direitos sociais se mostra urgente, na medida em que irá delinear os caminhos para
mundos do trabalho.
REFERÊNCIAS
822
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 14 ed. rev., atual. e ampl. Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.
LIMA FILHO, José Sarto Fulgêncio de; PEREIRA, Eddla Karina Gomes.
Precarização das relações laborais: análise crítica sobre as disposições do
teletrabalho na Lei 13.467/2017. Revista de Direito, Viçosa, v. 12, n. 01, p. 01-19,
jan./jun. 2020.
823
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
824
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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PANDEMIA DE COVID-19
RESUMO
O presente artigo visa analisar as alterações feitas pelas medidas provisórias sobre
negociações coletivas e acordos individuais devido à pandemia de Covid-19, bem como os
seus efeitos no ordenamento jurídico brasileiro e sua compatibilidade com princípios
fundamentais do direito do trabalho, Convenções da OIT e a Constituição Federal, no que
diz respeito ao direito coletivo e negociações coletivas. A relevância do tema está ligada ao
papel fundamental da negociação coletiva e representatividade sindical para a
democratização das relações de trabalho e garantia de melhores condições aos
trabalhadores. Quanto à metodologia, o método de abordagem é o qualitativo dedutivo e
quanto ao método de procedimento, serão utilizados o método bibliográfico, documental e
jurisprudencial. O presente trabalho está estruturado em três tópicos principais. O
primeiro, busca analisar as mudanças sobre o direito negocial causadas pela pandemia de
Covid-19 e as medidas governamentais impostas. O segundo é a análise conceitual sobre
negociação coletiva no ordenamento jurídico brasileiro, e o terceiro tópico aborda a
proteção do trabalhador em tempos de pandemia. A partir do que foi abordado, concluímos
serem as medidas provisórias que substituíram a negociação coletiva pelo acordo
individual prejudiciais aos direitos e interesse da classe trabalhadora, bem como não são
compatíveis com o texto constitucional, as Convenções da OIT e os princípios fundamentais
do direito do trabalho.
ABSTRACT
This Article aims to examine the changes made by the provisional measures on collective
bargaining and individual agreements due to the Covid-19 pandemic, as well as its effects
229
Mestranda em Direito pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais, Campus Franca/SP. E-mail: moscardinimarialaura@gmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5137375461339685.
230
Livre-docente em Direito Internacional Público pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. E-
mail: daniel.damasio@unesp.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2529993936323609
825
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
on the Brazilian legal system and its compatibility with fundamental principles of labour
law, ILO Conventions and the Federal Constitution, with regard to collective law and
collective bargaining. The relevance of the theme is linked to the fundamental role of
collective bargaining and trade union representation for the democratization of labor
relations and ensure better conditions for workers. As for the methodology, the method of
approach is qualitative deductive and as to the method of procedure, the bibliographic,
documentary and jurisprudential method will be used. The present work is structured on
three main topics. The first seeks to analyze the changes in business law caused by the
Covid-19 pandemic and the government measures imposed. The second is the conceptual
analysis of collective bargaining in the Brazilian legal system, and the third topic addresses
worker protection in times of pandemic. From what has been addressed, we conclude that
the provisional measures that replaced collective bargaining with the individual agreement
detrimental to human rights and interest of the working class, as well as are not compatible
with the constitutional text, ILO Conventions and the fundamental principles of labour law.
INTRODUÇÃO
continentes, fazendo algo que nunca havia sido cogitado acontecer: o isolamento
bem como exigiu dos governos medidas e ações especialmente voltadas ao contexto
826
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
quanto à proteção dos direitos trabalhistas coletivos e dos direitos sociais previstos
na Constituição Federal.
resguardados.
social do trabalho.
827
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da OIT sobre o tema e aos princípios fundamentais do trabalho, bem como causam
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COVID-19
Muitos autores, como Ney Maranhão e Felipe Prata Mendes (2020, p. 507)
Coronavírus fez com que essa pandemia produzisse efeitos desastrosos no atual
a maior e mais grave de todas a que ora é vivenciada com o Covoravírus” (2020,
edição Kindle).
A falta de preparo dos países para lidar não apenas com a doença, mas
829
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de março de 2020. Foi a primeira vez que o Brasil usou tal medida prevista na
Constituição Federal.
de calamidade pública.
830
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provisória e que foi convertido em lei diz respeito a possibilidade, durante o estado
Ainda, foi convertido em lei o dispositivo que determina ser necessária apenas
a comunicação dos acordos individuais firmados aos sindicatos, no prazo de até dez
alegação de que a supracitada medida provisória viola os artigos 7º, incisos VI, XIII
A Suprema Corte fixou seu entendimento como sendo suficiente ser o sindicato
sendo que, caso não o faça, seu silêncio será considerado como concordância tácita.
831
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amparo do judiciário, optou por privilegiar o individual sobre o coletivo, bem como
segundo o qual, ela deve conter normas e regras que visem a melhora das condições
832
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sindical.
sobre o tema, posto que, para o autor, a negociação coletiva é um meio de solução
dos interesses das partes perante assuntos de relevância social (DELGADO, 2015, p.
105).
sobre o que considera ser a negociação coletiva, de forma que tal definição deve ser
extraída das Convenções da OIT ratificadas pelo sobre o tema, como as Convenções
n. 98 e 154.
A organização deu destaque especial ao tema ao enquadrá-lo como uma das quatro
833
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significa dizer que versam sobre princípios e direitos mínimos e fundamentais dos
834
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cuidam apenas dos direitos dos trabalhadores dentro do universo fabril, cuidam de
situação paritária.
sua importância social, tendo separado tópicos que não poderiam ser negociados
835
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trabalhistas tão fundamentais que a CLT determina não poder serem os mesmos
individual.
qual uma das partes exerce grande poder sobre a outra, aniquilam-se as chances da
Além disso, tendo em vista que a partir da reforma trabalhista, o artigo 611-A,
lei mesmo que para suprimir direitos legislados, não basta fomentar e aplicar a
trabalho.
COVID-19
836
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Para o referido autor, “…pouco importa se isso foi conseguido por meio de
ele, o que realmente importa é criar mecanismos e alocar recursos para manter o
trabalho.
837
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
interesse de muitos.
José Claudio Monteiro de Brito Filho (2020, p. 581), destacou ser injusta a forma
por justiça social a partir da medida que foi convertida em lei. Nas palavras do
autor:
negociação coletiva, como também estipulou em seu artigo 8º, inciso VI, a
838
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
trabalho.
trabalho.
Ney Maranhão e Felipe Prata Mendes (2020, p. 514) ressaltam que, nos tempos
de crise, falhas no sistema sindical brasileiro se tornaram mais evidentes. Não basta
representativo e forte o suficiente para lutar pelos direitos dos trabalhadores, assim
como não adianta uma reforma trabalhista que privilegia o negociado sobre o
legislado sem antes realizar uma reforma sindical que revise os canais democráticos
839
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Sobre o tema, a autora Lorena Vasconcelos Porto (2020, p. 164) conclui que as
OIT.
Vale acrescentar que além dos apontamentos feitos pela autora, as medidas
adotadas pelo Brasil não usaram a principal ferramenta apontada pela OIT como
840
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O contexto vivido hoje, no qual passamos por uma crise gerada pela pandemia
de Covid-19, não apenas evidenciou as falhas e defeitos dos sistemas sociais atuais,
emergência, e fez com que os Estados focassem suas políticas e ações na solução dos
iniciado muito antes da crise gerada pela pandemia de Covid-19 que influenciou
nas decisões referentes às alterações feitas sobre o tema. Como citado anteriormente,
atualizar as regras negociais, diminuir seus prazos e inserir a utilização dos meios
individuais que são, na verdade, imposições do polo mais forte das relações laborais
841
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
a presente crise.
REFERÊNCIAS
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 15ª ed. São Paulo:
LTr, 2016.
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RESUMO
Em virtude da multifacetada crise causada pela COVID-19, inúmeras temáticas têm sido
(re)discutidas no ambiente público ao redor do globo. Dentre os debates, um dos assuntos
que mais chama a atenção envolve a renda básica universal e as tensões que lhe orbitam.
Diante desse cenário, o presente trabalho tem como objetivo central compreender quais são
os fundamentos jurídico-políticos da renda básica universal, bem como seu campo de
possibilidades, investigando se sua implementação (no Brasil), como política social,
efetivaria e conformaria direitos fundamentais constitucionalmente previstos,
especialmente em um contexto de incertezas, como o vivenciado atualmente. Ao final,
conclui-se pela adequabilidade constitucional da renda básica universal, em relação à
efetivação de direitos fundamentais, haja vista tratar-se de política social de ruptura de um
paradigma histórico excludente e socialmente opressivo, com forte potencial
emancipatório, possuindo variados benefícios para a sociedade, tanto econômicos quanto
sociais, sejam subjetivos ou intersubjetivos.
231
Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com bolsa CNPq. Integrante do
Grupo de Pesquisa sobre Pessoa, Autonomia e Responsabilidade (GPAR) da UFMG e do Grupo de Pesquisa
sobre Planejamento e Estruturação do Patrimônio Familiar da FDMC. E-mail:
fabriciomanoeloliveira@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4950472427486097.
232
Doutoranda e Mestre em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desenvolvendo
pesquisas com ênfase no Direito Processual Coletivo. Professora de Direito Processual Civil e Professora-
Orientadora dos Laboratórios de Prática Jurídica em Arbitragem e em Negociação e Mediação da Faculdade
de Direito Milton Campos (FDMC). Professora dos cursos de graduação em Direito do Centro Universitário
Estácio de Belo Horizonte. Pesquisadora do Programa Universitário de Apoio às Relações de Trabalho e à
Administração da Justiça (Prunart | UFMG), onde exerce a coordenação discente do Grupo de Estudos e
Pesquisa "Litigiosidade Repetitiva, Ações Coletivas e Administração da Justiça". Advogada. E-mail:
thaisctv.adv@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5527042007236355.
845
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
Due to the multifaceted crisis caused by COVID-19, numerous themes are being discussed
in public space around the globe. Among the debates, one of the issues that draws the most
attention involves universal basic income and the tensions that surround it. In view of this,
the present work aims to understand what are the legal-political foundations of universal
basic income, as well as its field of possibilities, investigating whether its implementation
(in Brazil), as a social policy, would effect constitutionally foreseen fundamental rights,
especially in a context of uncertainties, like the current one. In the end, it is concluded that
the constitutional adequacy of the universal basic income, in relation to the realization of
fundamental rights, considering that it is a social policy of rupture of an exclusionary and
socially oppressive historical paradigm, with strong emancipatory potential, with varied
benefits for society, both economic and social, whether subjective or intersubjective.
Key words: Social Policies; Universal Basic Income; Distributivism; Fundamental rights.
INTRODUÇÃO
(KILEY, 1985; LOUNISSI, 2018), escreveu um manifesto que, para além de trazer luz
à desigualdade social e pobreza que afetavam grande parte das nações, propunha
2019, p. 776-783). Essa ideia é geralmente apontada pela doutrina como o embrião
846
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
pensamento marxista 233 quanto do pensamento liberal clássico 234 , em que pese a
ecoaram principalmente (mas não só) em dois autores: Philippe Van Parijs (1994,
Se, de fato, como apontado pela literatura, o tema (quase sempre) volta a
inevitável a rediscussão de alguns de seus aspectos, até mesmo porque grande parte
complementar em benefício de seus cidadãos, ainda que temporária, com viso a lhes
dar sustentação econômica, eis que, na prática, ficaram estes impedidos de laborar
233
Para Michael W. Howard (2005, p. 613-631), inexiste incompatibilidade entre o socialismo e o marxismo e
a renda básica universal, bem como a ideia de pleno emprego. Segundo o autor, em realidade, ambas
poderiam se complementar em favorecimento do próprio cidadão, trabalhador.
234
Autores liberais nela enxergaram uma possibilidade efetiva de superação da pobreza, desde que
estabelecida sobre certas bases, e implantada por meio de um imposto de renda negativo. Tal engenho, em
verdade, nada mais era do que uma política social calcada no pagamento, pelo governo, de determinadas
quantias a todos aqueles que ganhassem até um certo limite definido em lei, isso em substituição ao imposto
de renda (TONDANI, 2009, p. 246).
847
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
É nesse cenário, pois, que grassa o presente trabalho, que se justifica ante a
implementação de uma renda básica universal (no Brasil), como política social,
básica universal (como política social) frente aos direitos fundamentais consolidados
POLÍTICO-JURÍDICAS E EXPERIÊNCIAS
social. De acordo com Philippe Van Parijs (2000, p. 179), pode ser conceituada como
“[...] uma renda paga por uma comunidade política a todos os seus membros
848
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
trabalho”.
paraestatal ou mesmo supraestatal (PARIJS, 2000, p. 179). Mas, por outro lado, é
indispensável que tenha em seu bojo algum tipo de (i) regularidade temporal, (ii)
horizontalidade, e (iii) não possua condicionantes (PARIJS, 1994, 2003, 2004, 2014).
p. 183-184)235. Quanto ao terceiro aspecto, por fim, reclama como indevida qualquer
universalidade.
tanto como um mecanismo que lida com o cenário posto, atuando como um
235
Vale mencionar que, ao contrário do que possa se pensar inicialmente, a renda básica universal não propicia
que os mais ricos fiquem mais ricos. Isso porque ela deve estar vinculada a uma série de outros mecanismos,
inclusive tributários, para que distorções sociais sejam superadas. No fundo, por si só, ela é apenas uma mola
propulsora em direção a um sistema mais distributivista do ponto de justiça social: “Para que a introdução ex
nihilo de uma renda básica proporcione uma vantagem financeira para os pobres, a condição-chave é
simplesmente que, com relação a seus números (não necesariamente a sua renda), os relativamente ricos
deveriam contribuir mais para o seu financiamento do que os relativamente pobres” (PARIJS, 2000, p. 185).
236
Apesar disso, discute-se se crianças, adolescentes (MCKAY, 2007, p. 337-338) ou mesmo estrangeiros
(PARIJS, 2000, p. 182-186) deveriam recebê-la.
849
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Contudo, para além da ideia de justiça social237, que por si só já seria assaz
doutrina aponta uma série de possíveis outros efeitos positivos em relação à sua
Para Ailsa McKay (2007, p. 338), “a citizens’ basic income would therefore
ciclo vicioso do qual é extremamente difícil escapar. Na prática, isso acaba gerando
um grilhão social que se perpetua no tempo através das gerações, tanto sob uma
um único objetivo, qual seja alimentar-se, sobreviver àquele dia: “In effect, decision-
the ocean current, while the wealthy are swimming with it ₋ those on low incomes
237
Tida “[…] as a state of affairs (either actual or ideal) in which (a) benefits and burdens in society are dispersed
in accordance with some allocation principle (or set of principles); (b) procedures, norms, and rules that govern
political and other forms of decision making preserve the basic rights, liberties, and entitlements of individuals
and groups; and (c) human beings (and perhaps other species) are treated with dignity and respect not only
by authorities but also by other relevant social actors, including fellow citizens”, um conteúdo realmente justo
e equânime, pilar de uma sociedade democrática (PARIJS, 2009, p. 129-132),
850
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
are exhausting themselves to avoid being dragged out to sea” (GANDY et al, 2016,
p. 14); no segundo caso, tem-se um problema social mais amplo, em que não se
educação e, em última instância, a própria ascensão social. Com efeito, fato é que a
sujeito.
1994, 1997, 2009, 2011), o conferimento de “[...] maior poder de barganha [ao
86).
851
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que, com mais recursos financeiros nas mãos da população, eleva-se a demanda e a
vagas (PARIJS, 1994, 2003, 2004, 2014). Além disso, permite-se a diminuição dos
dediquem a cursos e estudos dos mais diversos, os quais antes dificilmente teriam
demais. Passa a não ser mais preciso, do ponto de vista econômico, lutar somente
pela sobrevivência, por ter o que comer naquele dia (PARIJS, 1994, 2003, 2004, 2014).
Pontos positivos como esses vêm sendo observados nos Estados Unidos
com a instituição do Earned Income Tax Credit (EITC) 238 , ou mesmo a partir dos
238
De acordo com Eduardo Matarazzo Suplicy (2011, p. 73), o “[…] Earned Income Tax Credit (EITC), Crédito
Fiscal por Remuneração Recebida, [é] uma forma de imposto de renda negativo que complementa a renda dos
que trabalham, mas não alcança um patamar que lhes permita sair da condição de pobreza. […] Eis como
funciona o EITC hoje nos Estados Unidos. Vou dar dois exemplos: o primeiro, uma pessoa adulta que more só,
mas que tenha uma criança, que trabalhe por um salário mínimo de US$ 7,25 por hora e esteja empregado o
ano inteiro, então recebe US$ 15.080 por ano. Ela tem o direito a um crédito fiscal de US$ 3.121 a mais, e sua
renda anual vai para US$ 18.201, menos encargos sociais, da orden de US$ 1.154. No caso de um casal com
852
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Contudo, para além das experiências citadas, existem outros programas parciais
duas crianças, se a sua renda anual for positiva, porém inferior ao patamar de US$ 12.970, esse casal tem um
crédito fiscal equivalente a 40% de cada dólar que recebe pelo trabalho no intervalo de zero a US$ 12.970.
Ora, se receber US$ 10 mil, o casal receberá US$ 4 mil a mais. Se conseguir fazer, por exemplo, US$ 18 mil ao
ano, o casal obterá um crédito de US$ 5.160 e a sua renda vai para US$ 23.160, o que significa ultrapassar a
linha oficial de pobreza nos Estados Unidos, que, para uma familia de pai, mãe e duas crianças, está em US$
23 mil anualmente. Se a renda do trabalho do casal continuar a crescer e chegar a US$ 21.970, eles ainda têm
o direito ao crédito fiscal máximo de US$ 5.160. Mas, caso a renda anual do casal continue aumentando na
faixa de US$ 21.970 até o limite de US$ 46.471, o seu crédito fiscal passa a diminuir de 21% para cada dólar
adicional até o patamar de US$ 46.471. Portanto, vai diminuindo à taxa de 21% sobre a diferença entre US$
46.471 e a renda obtida pelo casal. A partir de US$ 46.471, se aumentar a renda, o casal passa a ter obrigações
de pagamento de mais imposto de renda”.
239
“Graças ao dividendo igual pago a todos os seus habitantes, o Alasca, hoje com 700 mil habitantes, tornou-
se o mais igualitário dos 50 estados norte-americanos, com um coeficiente Gini de desigualdade, em 2009, de
apenas 0,402. Esse coeficiente nos Estados Unidos é de 0,469. O mais alto nos Estados Unidos é o do Distrito
de Columbia, onde está Washington, D.C., que é de 0,539, semelhante ao do Brasil, também em 2009. O
sistema instituído, portanto, pelo gobernador Jay Hammond é tão popular que hoje é considerado suicidio
político para qualquer liderança no Alasca propor o seu fim” (SUPLICY, 2011, p. 75). Consoante explicam
Algimantas Laurinavičius e Antanas Laurinavičius (2016, p. 57), Even though dividends received by the state’s
residents do not compare to the ben-efits provided by the concept of basic income (“benefit that ensures the
standard of liv-ing above the poverty line”), however, calculations show that properly invested benefits would
enable the residents of Alaska to accumulate a substantial capital. From 1982 to 2015, each resident of the
state received 40 thousand US dollars (or 30 thousand US dollars during the period of 1995–2015) (see Table
1). By reinvesting the dividends received from the Fund with a 5% annual rate of return, in 2015, residents of
the state of Alaska who turned twenty years old could have accumulated 51 thousand US dollars in their
investment accounts (for comparison, Table 2 shows the amount of capital that could have been accumulated
if the received dividends have been reinvested with a 3%, 5%, 7% return or annually reinvested into the US
stock market).
240
O “Prime Minister Juha Sipilä's Government set customer orientation of services as one of the strategic
objectives of the Governmental Programme. To achieve this goal, Sipilä’s government decided to launch a basic
income experiment during its term. By experimenting with basic income, Sipilä’s government tried to find out
whether the introduction of a basic income could make the social security system in Finland more inclusive
and further increase the labour supply. […] The model chosen for the experiment was a partial basic income
and the amount of basic income was 560 euros per month. This corresponded to the monthly net amount of
the basic unemployment allowance and the labour market subsidy provided by Kela (the Social Insurance
Institution of Finland). Two thousand persons aged 25–58 years who received an unemployment benefit from
Kela in November 2016 were selected for the actual experiment. They were selected through random sampling
without any regional or other emphasis” (KANGAS et al, 2019, p. 6-7).
241
“In 2015, the Government of Macao announced that it would pay 9.000 patacas (around 1.127 US dollars)
to each individual who is a permanent resident of this terri-tory, and 5.400 patacas (around 676 US dollars) to
each non-permanent resident. The only condition is to have a valid Macao resident identification card. This
programme is implemented since 2008. In 2015, 675.696 people received ben-efits (of which 90% received
the full amount of the benefit). In 2014, benefit size was the same, however, that year these benefits were
given to 635 thousand people.Benefits applied in Macao are a small scale basic income programme, similar to
the dividends paid in the state of Alaska (LAURINAVIČIUS; LAURINAVIČIUS, 2016, p. 57-58).
853
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exemplo242, mas, por não ter o presente trabalho finalidade exaustiva, abre-se mão
242
Ademais, não se pode esquecer que muitos países vem discutindo a questão nos últimos tempos, como é
o caso da Austrália (MAYS, MARSTON, TOMLINSON, 2016; KLEIN, MAYS, DUNLOP, 2019) e da Nova Zelândia
(RANKIN, 2016).
243
Não se desconhece a existência de variadas críticas em relação à ideia da renda básica universal e à sua
aplicabilidade prática (PANKAJ, 2016; CASS, 2016, LAURINAVIČIUS, LAURINAVIČIUS, 2016; DE WISPELAERE,
HALMETOJA, PULKKA, 2018), que suscitam desde a ausência de um conjunto de dados robustos para a extração
de informações e a distorção na interpretação destas, até o desincentivo gerado ao trabalho, a inviabilidade
económica de uma implantação verdadeiramente horizontal, a ausência de factibilidade política e a baixa
efetividade em relação aos fins a que se destina, todavia, ainda que se considere em absoluto todas as críticas,
elas parecem não ser suficientes para derrocar por completo a ideia da renda básica universal. Afinal, pode-se
pensar e debater o modelo de implementação e os contornos práticos, mas não sua axiologia ética subjacente:
a de que se deve garantir a todos dentro da sociedade condições dignas (mínimas) de vida. O igualitarismo e
o (re)distributivismo proposto por tal marcador parecem imprescindíveis para a concretização de uma
sociedade justa em âmbito material, e não somente formal, dentro do sistema capitalista contemporáneo. Nos
dizeres de Jennifer Mays, Greg Marston e John Tomlinson (2016, p. 9-20): “Modern interpretations of the
basic-income proposal represent a progressive alternative relevant to redressing widening global inequities
and poverty driven by neoliberal transformations. […] The right to a decent income and access to resources is
central to living a good life and is especially critical for vulnerable groups such as people in poverty, children
and young people, single parents, and people with disabilities. Much of the debate in this book comes back to
a central moral and ethical question of “What type of society do we want?” Political values and the state of
the public sphere within a single nation will determine how countries respond to this question. Answering this
question will also inevitably be informed by global changes, as no nation is immune to extra-national social,
cultural, and economic forces. Addressing growing economic insecurity through a basic income requires local,
national, and global measures (Standing, 2014). Proposing a new redistributive strategy for the twenty-first
century, one that is based on social citizenship, human rights, and social justice within the ecological limits of
a finite planet is a major public policy challenge. As the chapters in this collection highlight, it is time for bold
thinking and collective action”.
854
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
portanto, o direito a se ter direitos, dinâmica que assume diversas facetas ao longo
dimensão histórica reverbera uma maior exigência da atuação do Estado frente aos
se a demandar uma atuação positiva (e não apenas negativa) por parte do governo,
somente dela) proposta por Robert Alexy (1999, 2008, 2015), que insinua, pois, que
244
Quer dizer, os direitos do homem, que primordialmente apenas possuem validez moral e têm por objeto
carências e interesses, passam a também possuir validez jurídico-positiva quando convertidos em direito
positivo através de uma carta constitucional, tornando-se direitos fundamentais. Não perdem, é claro, aquela
(ALEXY, 1999, 2015).
855
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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de disputa de sentido e conflitos dos mais diversos. É dizer, mais do que um caráter
organizativo dos elementos de Estado (SILVA, 1997, p. 42), passam a prever toda a
por isso mesmo se entende que devem ser lidas a partir de uma ótica ampliada,
Em verdade,
Nessa toada, qualquer tipo deliberação pública 245 não poderá deixar de ter em
mente o paradigma constitucional, em observância aos fins e propósitos traçados nas cartas
social 247 , garantindo a qualidade de vida da população, mormente de sua parcela mais
vulnerável. Afinal,
245
E, em última análise, privada.
246
“[…] políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo
Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das
desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconómico” (HÖFLING, 2001, p. 32).
247
Não se está a tratar aqui da exibilidade judicial de direitos sociais constitucionalmente previstos. Nesse
sentido, ver: ALEXY (1999, 2008, 2015).
856
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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direitos fundamentais248 (BARROSO, 2006, p. 41), traz em seu bojo um extenso rol
conforme previsão de seu artigo 6º (BRASIL, 1988), menções que, na linha do que
fora exposto, devem ser tidas não como mandados retóricos por parte do corpo
248
(Re)conquista por ser um programa democrático, em fuga ao paradigma anterior (BARROSO, 2014).
249
“Mais do que oferecer ‘serviços’ sociais – entre eles a educação – as ações públicas, articuladas com as
demandas da sociedade, devem se voltar para a construção de direitos sociais” (HÖFLING, 2001, p. 40).
857
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Nesse sentido, como política social parece a renda básica universal atender a
Robert Alexy (2008, p. 499-509). Isso porque se trata de um projeto arquitetado para
como visto. É dizer, in abstrato a renda básica universal efetiva e conforma direitos
lembrar que, segundo levantamento realizado pelo IBGE (2018), em 2018 cerca de
6,5% da população vivia com rendimento domiciliar per capita abaixo da linha de
pobreza (internacional), com menos de US$ 1,90 por dia, o que significa dizer que,
na prática, 13,5 milhões de pessoas sobreviviam com pouco mais de R$ 6,30 por dia,
humano. Ademais, é muito provável que esse percentual tenha subido com o
858
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
A ideia de uma sociedade justa (PARIJS, 2009, p. 129-132), cumpre lembrar, não é
compatível com uma distribuição de riqueza que não impeça que diariamente
milhares de pessoas simplesmente não tenham o que comer, não por falta de
CONSIDERAÇÕES FINAIS
859
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
pessoas.
grande parcela da população. É essencial, tanto como um mecanismo que lida com
ambos os horizontes, cabe rememorar, possui como fim último a promoção de uma
social.
REFERÊNCIAS
860
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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864
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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865
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
Guatemala é um país com profundas iniquidades que dificultam a garantia do direito à
saúde da população. Com a pandemia os sistemas de saúde e os do sistema de proteção
social foram colocados à prova. A análise histórica das políticas de saúde permite
compreender a situação atual que enfrentam os diferentes países e assim, propor soluções.
O presente ensaio possui como objetivo apresentar de forma geral a organização, o
desenvolvimento histórico e o estado atual do sistema de saúde guatemalteco e as
principais medidas para o enfrentamento da pandemia por SARS-CoV-2 na Guatemala. Foi
realizada uma revisão de literatura nas bases de dados LILACS e PUBMED, assim como
literatura cinzenta e relatórios oficiais. Primeiro, descreve-se a configuração do direito à
saúde no país, posteriormente a trajetória histórica das políticas sanitárias e por último, são
enumeradas as principais medidas adotadas durante a pandemia. Conclui-se que existe um
debilitamento histórico do sistema de saúde provocado pela omissão de implementação de
medidas durantes seus primórdios e pelo processo de reforma dos anos 90. Faz-se
imperativo para garantir o direito à saúde a modificação do modelo de atenção e uma
reforma sanitária, não só do setor saúde, com equidade de gênero e pertinência intercultural
para a diminuição das iniquidades em saúde.
ABSTRACT
Guatemala is a country with profound inequities that make it difficult to guarantee the
population's right to health. With the pandemic, health systems and social protection
systems were put to the test. The historical analysis of health policies allows us to
understand the current situation facing different countries and, therefore, to propose
solutions. This essay aims to present in general the organization, the historical development
and the current state of the Guatemalan health system and the main measures to face the
SARS-CoV-2 pandemic in Guatemala. A literature review was carried out in the LILACS
and PUBMED databases, as well as gray literature and official reports. First, the
configuration of the right to health in the country is described, then the historical trajectory
of health policies and finally, the main measures adopted during the pandemic are listed.
250
Doutorando em Saúde Coletiva pelo ISC/UFBA. Mestre em Saúde Coletiva pela UEFS. Médico e Cirurgião
pela USAC, Guatemala. E-mail: crisgibb@hotmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2374264066338385
866
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
It is concluded that there is a historical weakening of the health system caused by the failure
to implement measures during its beginnings and by the reform process of the 90s. It is
imperative to guarantee the right to health, to modify the model of care and a health reform,
not only in the health sector, with gender equity and that considers the intercultural context
to reduce health inequities.
INTRODUÇÃO
cultural que incidem nos diferentes padrões de saúde, doença e morte das
alguns países moldaram seus sistemas de saúde por meio da prestação de serviços
Guatemala.
867
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
colocados a prova, mas também os sistemas de proteção social como um todo. Por
compreender seus desafios e propor soluções para garantir o direito à saúde para
Foram revisados estudos publicados nas bases de dados Lilacs e Pubmed para
868
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
DENEULIN, 2018) e, no caso da saúde não é a excepção. Pode ser tão amplo que
considere uma acepção positiva da saúde ou tão restrita como atender somente ao
e a igualdade e chamava à atenção ao fato de que não basta apenas declarar que
869
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
aspectos étnicos e de gênero. A taxa de desnutrição continua a ser das mais altas de
Guatemala possui uma série de limitações para garantir ao acesso aos serviços
de saúde, sendo uma delas, o financiamento. O país possui um dos valores mais
mais baixo da região (0,4 para medicina e 0,1 para enfermagem), no caso do país
870
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
2020).
GUATEMALA
processo que não permitiu as liberdades para todos os povos e constitui-se como o
(PNUD, 2010).
Com o decorrer do tempo a situação não mudou, com um Estado voltado para
871
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
de reforma, e o gasto do estado ainda permaneceu baixo. O tempo deste período foi
curto dado que o presidente Jacobo Árbenz Guzmán foi derrocado por um golpe de
1989).
872
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
época da insurgência.
873
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
aumentar o orçamento para viabilizar as propostas, para o qual era preciso realizar
institucional.
a reforma setorial de saúde devia caminhar nesse sentido para combater as causas
874
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
875
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que a realidade do país, não se compara com a de outros países que tomaram a
informais no nível nacional que sem políticas de proteção social, o ficar em casa
estavam trabalhando sem acesso a carro, tinham que ocupar uma parte do seu
876
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
caso dos testes, o laboratório nacional não foi descentralizado e fortalecido, no lugar
Em maio, dois meses do primeiro caso na Guatemala, uma comissão foi criada
sem ser possível conhecer a distribuição por renda, etnia ou outras variáveis além
877
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
divulgados pelo presidente foi uma constante, incluindo a população migrante, sem
2020).
créditos de capital de trabalho para empresas afetadas pela crise, bônus salarial para
de US$130 mensais por três meses), dois programas de ajuda alimentaria direta com
878
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
serviços (BASILE, 2020), sem políticas de proteção social. Ainda com suas baixas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
conformação do Estado, o qual não permite a garantia do direito à saúde para toda
entre outros, o qual permite padrões de saúde, doença e morte diferenciados entre
garífuna e mestiço.
sistema de saúde não tem sido uma prioridade ao longo da história do país. A
bem-estar da população.
879
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
deverá ser atravessada pela ideia de uma reforma sanitária para a Guatemala com
REFERÊNCIAS
880
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
fev. 1988.
881
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
NÓMADA. Resumen del día: Esto incluyen los kits, de las munis de Guatemala y
Mixco, contra el COVID-19. Nómada, 16 jul. 2020.
882
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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883
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo tratar da questão da marginalização que mulheres
transexuais, travestis e transgênero vivenciam nos seus espaços sociais, em virtude da
invisibilidade estrutural do Estado, que se agravou ainda mais nesse período de pandemia.
Pretende-se analisar os impactos do COVID-19 na população transexual, considerando que
grande parte da população está tendo que sobreviver com R$ 600,00 (seiscentos reais),
pagos através do auxilio emergencial. Busca-se entender que essa pandemia e
consequentemente o isolamento social é um problema de saúde pública que afeta a toda a
população, em especial a população preta e periférica, e corpos trans, que estão morrendo
vítima de violência doméstica e suscetível a contaminação por conta da prostituição, sua
última fonte de renda.
RESUME
The present work aims to address the issue of marginalization that transsexual, transvestite
and transgender women experience in their social spaces, due to the structural invisibility
of the State, which worsened even more in this pandemic period. It is intended to analyze
the impacts of COVID-19 on the transsexual population, considering that a large part of the
population is having to survive with R $ 600.00 (six hundred reais), paid through
emergency aid. It seeks to understand that this pandemic and consequently social isolation
is a public health problem that affects the entire population, especially the black and
peripheral population, and trans bodies, who are dying as a victim of domestic violence
and susceptible to contamination due to prostitution, their last source of income.
251
Advogado. Mestrando em Ciências Jurídicas e Sociais no Programa de Pós Graduação em Sociologia e
Direito da UFF (PPGSD/UFF) e membro do grupo de pesquisa Laboratório Empresa e Direitos Humanos (LEDH-
UFF). E-mail: renanpssouza@yahoo.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3927340018219483.
252
Advogado. Especialista em Processo Civil pela UFF. Mestrando em Ciências Jurídicas e Sociais no Programa
de Pós Graduação em Sociologia e Direito da UFF (PPGSD/UFF).E-mail:thiago_pachecoo@hotmail.com. Lattes
http://lattes.cnpq.br/4372685380980627.
884
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
INTRODUÇÃO
na evolução humana por conta do Covid-19, um vírus que teve sua primeira
incidência no continente Asiático que tem causado uma nova forma de repensar as
microscópico” trouxe para o mundo fez emergir um novo olhar sobre o pensamento
na forma de pensar o mercado para além das relações sociais, sobretudo por conta
subsistência.
atual, que extrapola o campo jurídico e que contribui não somente para avanços
grupo, que diariamente tem sua dignidade humana e seus direitos fundamentais
885
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
vista social.
Além disso, o autor busca demonstrar, também, que o atual cenário é reflexo de
886
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
vírus da desigualdade, que durante anos corroí o nosso tecido social. Nota-se ainda,
que tal vírus sempre teve como pilar de sustentação a consolidação da estrutura
normalidade da excepção
Por fim, no primeiro capítulo, ele argumenta que argumenta que o momento
‘normalidade’, não se encontrariam tão visíveis aos olhos dos cidadãos, mas se
tornam perceptíveis mediante a uma situação atípica, que acaba por afetar grande
Outro ponto importante salientado pelo autor são os efeitos da quarentena nos
grupos sociais. Segundo ele, os grupos mais vulneráveis, que ao logo dos anos
foram marginalizados, para não dizer esquecidos, são os que mais sentem esses
efeitos:
887
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
trabalhadores da rua, por exemplo, sofrem muito mais com o isolamento social que
Boaventura acaba por mostrar que a quarentena acentua, ainda mais, as diferenças
grupos.
PERIODO DE PANDEMIA.
que se identificam com seu nome social e gênero de acordo com sua construção.
888
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Pretende-se, num primeiro momento fazer uma breve fala sobre o processo de
população está tendo que sobreviver com R$ 600,00 (seiscentos reais), pagos através
isolamento social (sem criticá-lo) é um problema de saúde pública que afeta a toda
passa por todo uma luta contra a invisibilidade das empresas, e também vai se
desdobrando no processo de luta pela sobrevivência dessas mulheres que estão nas
adequada.
construído sob um viés patriarcal de uma ciência limita os corpos, usando como
base a diferença sexual para legitimar o discurso; até porque dentro do campo da
pesquisa medica não tem como afirmar a centralidade nos gêneros masculinos e
femininos (vide pessoas intersexo - uma pessoa que naturalmente, ou seja, sem
889
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
construção identitária.
heterossexualidade, por isso, que desde o início essas pessoas sofrem violência,
recreativa, e ainda tendo que lidar com as violências mais comuns como a
evidencia esse grande número de mortos pelo vírus. Uma matéria do G1, mostrou
890
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que metade da população vive com uma renda média de cerca de R$ 400,00 e em
potável. Nosso Sistema Único de Saúde, o SUS, atende mais de 190 milhões de
pessoas, sendo que 80% delas dependem exclusivamente dele para qualquer
atendimento de saúde. Por sua vez, o censo demográfico do IBGE, mostra que 11,4
pandemia, chamo atenção para essas mulheres que estão inseridas nesse modelo
mulheres que tem como sobrevivência seus corpos, haja vista que os espaços de
trabalho ainda são negados, que sofrem com a estigma patologizada da sociedade
impostas desde muito cedo). É muito difícil para uma mulher transexual se inserir
inferiorizada.
promovem um recorte sobre modulação dos corpos trans para inserção no mercado
253
Brasil tem 11,4 milhões morando em favelas e ocupações, diz IBGE. G1, 21/12/2011. Disponível em:
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/12/brasil-tem-114-milhoes-morando-em-favelas-e-ocupacoes-diz-
ibge.html. Acesso em: 25/09/2020.
891
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que reafirmar a dinâmica do nosso país. Nesse sentido é importante fazer essas
desrespeitadas diariamente em seu trabalho, não são tratadas pelo nome social, e
ocupação dos espaços. Não podemos esquecer que cerca de 90% (relatório ANTRA)
primeiros que mais mata transexuais (relatório de 2019). A própria OIT reconhece a
dificuldade do Brasil em empregar pessoas Trans, tendo em vista que essas pessoas
ainda são invisíveis em muitos espaços, e para além disso, a inclusão ainda encontra
254
A passabilidade (de “passar por”) é a característica de sujeitos trans passarem por sujeitos cis, conseguindo
apagar ao máximo marcas do sexo imposto ao seu nascimento e colocarem em si características sociais do
sexo com o qual se identificam e desejam ser reconhecidos. Essa é uma ação que aponta para produção social
do gênero quando tais sujeitos trabalham sua imagem, sua gestualidade, as inflexões de fala, modos de agir e
se apresentar, enfim, uma série de marcadores que imputam a um corpo marcadores de gênero. Disponível
em:
https://www.editorarealize.com.br/revistas/enlacando/trabalhos/TRABALHO_EV072_MD1_SA36_ID649_160
62017182251.pdf
892
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
voltadas para os corpos cisgeneros). O Brasil é o país que mais mata travesti e
transexual e também aquele que mais inviabiliza ao acesso à educação, aos espaços
brasil, que é uma triste realidade da sociedade, onde temos mulheres cada vez mais
consideramos que cerca de 70% delas não conseguiram acessar a renda básica
emergencial, e que tem na prostituição sua fonte de renda, hoje estão sem sua fonte
893
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
pandemia, em virtude daquelas que continuaram na rua tendo que trabalhar para
ter o que comer dentro de casa. É importante estruturar o pensamento com os cortes
dos governos neoliberais, onde tivemos a PEC 55 (congela gastos com saúde e
educação) que trouxe uma realidade mais cruel para parcela mais pobre e para essas
mulheres que precisam do sistema de saúde, que além de despreparada não dão
conta.
encontramos essas pessoas, em majoritário pretas, pobres, sem acesso aos serviços
mínimos de governo, e que causa um desespero para nós ativistas que não
conseguimos mapear essas pessoas, para poder ajudar, por conta desse processo de
exclusão. Outro dado importante é sobre as questões de insumos (álcool gel e sabão)
Esse material que é “básico” para a sociedade está fora do acesso de muitas pessoas
que sequer tem água encanada dentro de casa, e segundo ativistas LGBTQ+, as
mulheres trans estão a frente da campanha de arrecadação para que essas pessoas
tenham acesso. Essas mesmas mulheres que eu volto a falar que tiveram seu
benefício negado, que estão morrendo, seja de covid-19, seja de violência de gênero,
pessoais informais, temos que refletir que grande parte dessas mulheres se
informais. Será que o governo tem feito algo para garantir a subsistência dessas
894
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
mulheres já que essa renda emergencial não tem atendido as necessidades básicas
contaminação, o que nos faz refletir sobre a quem se destina as medidas da OMS.
Por fim, a realidade dessa pandemia para essas mulheres se desdobra nas
para depois pensar no acesso as políticas assistenciais voltadas para mulheres cis, o
895
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que mostra a face desse cenário político, hoje no governo Bolsonaro inviabiliza o
CONSIDERAÇÕES FINAIS
de sobrevivência e ocupação dos espaços. Não podemos esquecer que cerca de 90%
Brasil entre os primeiros que mais mata transexuais (relatório de 2019). A própria
que essas pessoas ainda são invisíveis em muitos espaços, e para além disso, a
trabalho formal e por não terem acesso à maior parte das políticas públicas sociais,
temos que refletir que grande parte dessas mulheres se encontram marginalizadas,
condicionadas a prostituição. Será que o governo tem feito algo para garantir a
subsistência dessas mulheres já que essa renda emergencial não tem atendido as
896
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
sociais.
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897
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898
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RIOGRANDENSE
RESUMO
O presente trabalho tem como problema central a análise das ações, em âmbito nacional e
estadual, para assegurar o direito à saúde das pessoas encarceradas no Estado do Rio
Grande do Norte, demonstrando a atual realidade do sistema prisional norte riograndense,
as principais disposições da Recomendação nº 62, do Conselho Nacional de Justiça – CNJ,
quanto ao tratamento das pessoas encarceradas, com as consequências geradas pela
pandemia da COVID-19. Este estudo justifica-se, primordialmente, considerando as
condições precárias e as sistemáticas violações de direitos fundamentais das pessoas
privadas de liberdade que acabam por sofrer, ainda mais, com o avanço da pandemia
causada pela COVID-19 no sistema prisional. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa
qualitativa e quantitativa, tendo por base diplomas legais, posicionamento doutrinário e os
números sobre o impacto da pandemia no espaço carcerário do Rio Grande do Norte. O
trabalho estruturou-se em três partes, sendo a primeira dedicada a feitura de um panorama
sobre o sistema carcerário brasileiro, uma segunda dedicada a abordar linhas gerais sobre
o direito à saúde das pessoas presas e uma terceira e última parte destinada à análise
específica das medidas adotadas pelo Estado brasileiro, com recorte no Rio Grande do
Norte, no tratamento da pandemia da COVID-19 no sistema prisional. Com isto, concluiu-
se que as medidas adotadas para evitar que o novo coronavírus chegasse ao sistema
prisional não foram suficientes, figurando a adoção de políticas públicas de prevenção e
saúde efetivas e a reforma do sistema prisional, como os principais desafios a serem
superados.
255
Mestrando em Direito pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido, e-mail:
brunof_barboza@hotmail.com, link para currículo na plataforma Lattes:
http://lattes.cnpq.br/6334824308322475.
256
Pós-graduando em Direito Constitucional e Tributário pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido e em
Direito Criminal e Processo Penal pela Faculdade Católica do RN, e-mail: oliveira_pablo@outlook.com, link para
currículo na plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/2240567117708064.
899
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
This paper has as its central problem the analysis of national and local level actions to
ensure the right to health of people in prison in the State of Rio Grande do Norte
penitentiary system, demonstrating the current reality of the prison system in Rio Grande
do Norte, the main provisions of Recommendation nº 62, from the National Council of
Justice - CNJ, regarding the treatment of incarcerated people, with the consequences
generated by the COVID-19 pandemic. This study is justified, primarily, considering the
precarious conditions and systematic violations of fundamental rights of persons deprived
of their liberty who end up suffering, even more, with the advance of the pandemic caused
by COVID-19 in the prison system. To this end, a qualitative and quantitative research was
developed, based on legal diplomas, doctrinal positioning and figures on the impact of the
pandemic on the prison space in Rio Grande do Norte. The work was structured in three
parts, the first dedicated to providing an overview of the Brazilian prison system, a second
dedicated to address general guidelines on the right to health of prisoners and a third and
final part aimed at the specific analysis of measures adopted by the Brazilian State, with a
focus on Rio Grande do Norte, in the treatment of the COVID-19 pandemic in the prison
system. With this, it was concluded that the measures adopted to prevent the new
coronavirus from reaching the prison system were not sufficient, figuring the necessity of
effective public health and prevention policies and the reform of the prison system, as the
main challenges to be overcome.
INTRODUÇÃO
900
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Assim, o presente trabalho tem como problema central a análise das ações,
presas em solo potiguar? Para além disso, quais as políticas públicas implementadas
nesse ambiente?
Grande do Norte.
901
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Nesse sentido, Foucault (2009, p. 222) alerta que “a prisão torna possível, ou
902
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Rio Grande do Norte enfrenta uma crise sanitária, de ordem mundial, jamais vista
dos apenados, com o advento da pandemia causada pela COVID-19, passa por um
ainda maior entre o direito de punir e a preservação dos direitos fundamentais dos
encarcerados:
resguardo ao direito à saúde dos presos, haja vista que, em razão da existência de
acaba sendo uma área de fácil e intensa disseminação da doença, expondo todos
903
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voltado apenas para a prevenção das doenças, envolvendo outros fatores, como um
como um dos direitos mais básicos, justamente em razão das condições precárias
Nesse sentido, válido destacar que uma das diretrizes que regem o PNAISP
904
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(oito milhões, seiscentos e trinta e quatro mil, oitocentos e noventa e sete) casos
setecentas e trinta e uma) mortes, no mundo todo, com números crescem dia a dia.
257
O que você precisa saber – o que é Covid-19. Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-
doenca#o-que-e-covid. Acesso em 01 de maio de 2020.
905
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socioeducativo.
podendo haver supressão de outros relativos à sua condição existencial que não
sejam antinômicos entre si. Como bem afirma Bobbio (2004, p. 21) “a ilusão do
906
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que o vírus venha a se propagar entre estas e entre aqueles com quem
adolescentes.
estabelecimentos penais cuja ocupação seja superior à sua efetiva capacidade, bem
ameaça à pessoa.
penais ou socioeducativos.
907
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para a COVID-19, que seja feita a separação daquelas pessoas que apresentaram
comento.
Justiça do Rio Grande do Norte ou dos seus magistrados, certo é que o Governo do
quais sejam: idosos acima de 60 (sessenta) anos, pessoas com tuberculose, doença
908
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no piso delimitando a distância mínima de dois metros, caso não seja possível
169,48% (cento e sessenta e nove vírgula quarenta e oito por cento), cuju déficit é de
258
http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/sistema-prisional-elabora-plano-de-prevena-a-o-ao-coronava-
rus/474419
909
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imperioso ater-se até em que medida o isolamento dessas pessoas será possível,
posto que, em condições insalubres tão propícias à disseminação dessa doença, não
da doença.
Nesse sentido, o cenário pode ser aterrorizante, como explica Sanches et. al.
brasileiras, pode-se estimar que um caso contamine até 10 pessoas. Assim, em uma
cela com 150 PPL, 67% deles estarão infectados ao final de 14 dias, e a totalidade,
em 21 dias”.
concessão de prisão domiciliar para pessoas que cumprem pena em regime aberto
ou semiaberto.
910
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259
http://www.seap.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=230834&ACT=&PAGE=0&PARM=&LBL=ACERV
O+DE+MAT%C9RIAS
911
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saúde, posto que, em que pese a pena privativa de liberdade retirar do condenado
alguns dos seus direitos, não lhe retira a dignidade, inerente a pessoa humana.
lecionam que:
enquanto risco à segurança pública da população, mas sim como medida de visa
tornar efetivo o direito da pessoa presa de ter a sua saúde resguardade, conforme
preconiza a Lei de Execução Penal e a própria Constituição Federal no art. 5º, inc.
XLIV.
912
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Outro ponto nodal, que não encontra previsão na Recomendação n.º 62,
todavia tem sido adotado largamento em praticamente todo o país, diz respeito ao
sistema prisional.
Brasil (OAB) e a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte (DPE), por
913
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importa, ainda trazer à baila que, o primeiro caso confirmado de infecção causada
pelo novo coronavírus 262 , se deu em 20 de maio de 2020, tendo sido adotada as
medidas de distanciamento do interno, bem como daqueles com quem este teve
260
http://www.seap.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=231476&ACT=&PAGE=0&PARM=&LBL=ACERV
O+DE+MAT%C9RIAS
261
https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2020/06/03/presos-do-rn-podem-receber-
televisita-dos-parentes-durante-pandemia-do-coronavirus.ghtml
262
http://www.seap.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=231478&ACT=&PAGE=0&PARM=&LBL=ACERV
O+DE+MAT%C9RIAS
914
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testaram positivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
infectocontagiosas.
das medidas adotadas pelo Poder Executivo Estadual, tendo-se por base, as
não têm sido adotadas, ainda que diante das possibilidade aventadas pelo Conselho
915
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REFERÊNCIAS
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martin Claret, 2007.
916
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917
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918
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RESUMO
O presente trabalho pretende analisar o modo tradicional adotado para ensinar o Direito e
seu ensino não mais suficiente diante das constantes transformações que exigem um
profissional apto a pensar de modo transdisciplinar. A partir dessa problemática, o trabalho
apresentará a inclusão desses saberes nos currículos dos cursos jurídicos brasileiros desde
a sua criação, em 1827. O texto também irá destacar a relevância dos conteúdos
denominados propedêuticos no processso de formação do bacharel, promovendo uma
visão integrada, critica e reflexiva. Por fim, abordar-se-á algumas alternativas para o
processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos propedêuticos, com foco nos direitos
socias à educação.
1 INTRODUÇÃO
263
Camila Ires Figueredo Barros, graduanda em Direito, e-mail:
camilairesfb@gmail.comhttp://lattes.cnpq.br/2991410306737857
264
Professor, Dr. em Ciências Sociais e Sociologia pelas Universidades Nacional Mayor de San Marcos, Lima,
Peru e pela Universidade Federal do Ceará; Professor do Curso de Direito no Centro Universitario Dr. Leão
Sampaio; Professor colaborador do Mestrado Acadêmico em Serviço Social – MASS UECE; membro do CEP da
Unileão; e membro da equipe de revisores da revista Interfase. ercilio@leaosampaio.edu.br
http://lattes.cnpq.br/4390207370465257.
919
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uma visão disjuntiva do conhecimento, que consiste em uma visão certa e segura.
instituições que incluem nesse eixo de disciplinas a Teoria Geral do Direito, Ciência
920
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
dados coletados de alguns documentos jurídicos, tais como: livros, sites, revistas,
artigos científicos e e-books, porém, que contenham dados verídicos para que
2 ABORDAGEM TEÓRICA
feita pelos cursos de Direito foi uma opção de cunho político, pois, para a elite
921
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
realidade essa que podemos enxergar ainda hoje em grande parte dos cursos de
Direito.
Direito são capazes de pensar novas soluções aos problemas que o mundo lhes
“as demais matérias e novos direitos serão incluídos nas disciplinas em que se
922
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
proximidade como diversas áreas de saberes, também oferece uma nova relação
139).
determinada disciplina.
feita pelos cursos de Direito foi uma opção de cunho político, pois, para a elite
923
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
das escolas de Direito era “formar homens hábeis para serem um dia sábios
Bárbara Silva Costa (2013) discorre acerca da grade curricular de ensino das
924
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
realidade essa que podemos enxergar ainda hoje em grande parte dos cursos de
Direito. Veja:
Desde 1823 as escolas de Direito foram pensadas como uma alternativa para
penosa necessidade de irem mendigar as luzes nos países remotos” (REALE, 1997,
925
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ciência do Direito, e seu método lógico-formal, centrado no dever ser, produziu uma
caracterizava-se por:
926
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num aumento do número de cursos no país, não ficando apenas restrito a Olinda e
São Paulo.
ensino jurídico brasileiro, essa corrente positivista veio para substituir o jus
religiosos.
esforços liberais, como Rui Barbosa (vice chefe do Governo Provisório), contrário às
194).
Já no século XX, entre 1920 e 1934 foram criadas cadeiras de Sociologia nas
escolas de Recife e Distrito Federal, em São Paulo surgiu o curso de Ciências Sociais
significativo no número de vagas dos cursos de Direito, motivo esses que chamou
927
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crítica e reflexiva por parte dos egressos do ensino superior (COSTA, 2013, p. 56).
políticos no cidadão (BARBOSA, 1942, p. 9). Assim, esse objetivo seria alcançado à
propedêuticos.
Direito são capazes de pensar novas soluções aos problemas que o mundo lhes
928
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“as demais matérias e novos direitos serão incluídos nas disciplinas em que se
Bases da Educação Nacional), Lei nº 9.394/96, tendo em vista que ela trouxe nossas
929
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
A Resolução nº 9/2004 permanece em vigor até os dias de hoje (COSTA, 2013, P. 70).
Sociologia etc.
930
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Ressalta-se novamente que o profissional do século XXI precisa estar apto para lidar
com problemas que emergem a cada dia que afetam todos os tipos de pessoas,
classes e nacionalidade.
brasileiro, em sua criação, era capacitar os estudantes para atuar nas novas funções
do Direito.
As áreas de saber estão cada vez mais isoladas uma das outras, havendo
931
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
pode ser observada por meio da organização de conteúdo em um número cada vez
ciência, elas apresentam uma tendência conservadora e uma falsa autonomia. Isso
como ela será ministrada em sala de aula ser constituído por manuais ou códigos.
formação crítica que transcenda muito além da mera repetição das codificações
932
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
jurídico, como também o Direito alternativo teve papel importante nesse contexto.
formação para interligar sua disciplina com os demais eixos (HERRERA, 2011, p.
4088).
[...] não basta ensinar o Direito, pois aquele que só sabe Direito, nem
o Direito saberá bem! É que o Direito, como ciência humana, social,
exige da parte de quem estuda uma visão ampla de todo o campo
das relações humanas, o que significa dizer, uma sólida formação
humanística (RIBEIRO JÚNIOR, 2001, p. 54).
Umas das formas de incentivar os alunos de Direito a ter uma visão mais
quais seriam os saberes envolvidos nesse processo. De acordo coma tabela abaixo,
933
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O saber
docente
O que é necessário para ser educador Saberes envolvidos no processo
Ter uma concepção de mundo Filosofia, Sociologia, História,
Economia
propedêuticos.
934
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Discurso do Método:
935
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e encapsulado sob a forma de disciplina, para que seja consumido com maior
profissional de uma área que não seja a sua. É perceptível a resistência de alguns
Costa (2013, p. 253) afirma que atém meados do século XX, o mundo
936
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
positivo.
O papel da lei ocupa um lugar de destaque para o Direito, seja para assegurar
254), sobre isso, Leonel Severo Rocha apresenta dois pontos de vistas importantes:
Privado).
positivo controla todas as decisões. Bobbio (1997, p. 119-120) afirma que tal questão
que considera o ordenamento jurídico completo para fornecer ao Juiz em cada lide
uma solução sem necessidade de recorrer à equidade. Tal concepção tem se tornado
937
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indeterminada, onde estaria ligado a uma noção de Estado forte, soberano e norma
MULTIDISCIPLINARIDADE, PLURISDISCIPLINARIDADE E
TRANSDISCIPLINARIDADE
Para que houvesse a reconexão dos saberes e uma compreensão integrada na área
Como exemplo, foi adotado a interdisciplinaridade que exige uma reflexão acerca
como diversas áreas de saberes, também oferece uma nova relação entre o conhecimento e
a prática.
esclarecer uma situação precisa. Isso significa que a abordagem interdisciplinar não
938
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onde a comunicação de ideias pode ir bem mais além da integração mútua dos conceitos,
ou mais disciplinas, com objetivos múltiplos, sem relações entre elas e nenhuma
de um objeto de uma mesma e única disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo
determinada disciplina.
139).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
939
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
juristas.
adequado, não significa que não seja possível experimentar técnicas pedagógicas
precisa ser utilizada como único e principal recurso pedagógico empregado em sala
superior que trazem consigo carências de conhecimentos não supridos nos ensinos
anteriores. Assim, o professor precisa encarar esse problema como sendo seu.
940
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professores para atuar diante de uma realidade que sofre inúmeras transformações
em legislações e códigos.
REFERÊNCIAS
941
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GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 1999.
942
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943
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ROCHA, Leonel Severo. Prefácio. In: OLIVEIRA, Romulo Andre Alegretti. Ensino
Jurídico no Brasil: qualidade e risco. Passo Fundo: UPF, 2003.
944
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RUIZ, João Álvaro. Metodologia Científica: guia para eficiência nos estudos. 5.
ed. São Paulo: Atlas, 2002.
945
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
RESUMO
A uber alterou o hábito de consumo de serviços de locomoção, no entanto, representa
também uma profunda alteração na estrutura do mercado de trabalho, de forma que o
trabalhador vinculado a uber e demais aplicativos similares da mesma função não são
amparados pela legislação trabalhista. Os motoristas de uber então são submetidos a
jornadas de trabalho excedentes, sem direitos previdenciários e trabalhistas. Partimos da
hipótese preliminar que existe, portanto, uma linha de continuidade entre a uberização e
os outros instrumentos de precarização do trabalho, como por exemplo a terceirização e a
pjotização. Assim, está no cerne da questão para compreensão do fenômeno da uberização
as transformações sociais decorrentes da reestruturação produtiva surgida a partir de
meados da década de 1970. Pretendemos então questionar: qual é o local ocupado pela
uberização no cenário geral de reestruturação produtiva? Justifica-se o presente ensaio em
razão da centralidade cada vez maior que tal modalidade de contratação de serviço vem
ganhando. A metodologia utilizada será qualitativa, a partir da análise bibliográfica de
autores que discutem a reestruturação produtiva e que pontuam o trabalho como fundante
da sociabilidade humana. Estruturamos nossa exposição em: 1) Discutiremos teoricamente
qual o significado da reestruturação produtiva para a estabilização do capitalismo; 2)
Analisaremos quais os elementos característicos do toytotismo; 3) Para assim
desenvolvermos quais as linhas de continuidade e ruptura entre o Toyotismo e a
uberização.
ABSTRACT
Uber has changed the habit of consuming locomotion services, however, it also represents
a profound change in the structure of the labor market, so that workers linked to uber and
other similar applications of the same function are not covered by labor legislation. Uber
drivers are then subjected to excess working hours, without social security and labor rights.
265
Graduando em Direito pela Faculdade Nobre de Feira de Santana, victorios1108@outlook.com e
http://lattes.cnpq.br/4021160593969700.
266
Mestre em Sociologia e Direito pelo PPGSD/UFF, gabrielcavalcanteaadv@gmail.com e
http://lattes.cnpq.br/6747139003815987
267
Graduando em Direito pela Faculdade Nobre de Feira de Santana l, victorbastosrp@hotmail.com
http://lattes.cnpq.br/1988928155559982
946
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
We start from the preliminary hypothesis that there is, therefore, a line of continuity
between uberization and other instruments of job insecurity, such as outsourcing and
pjotization. Thus, at the heart of the question for understanding the phenomenon of
uberization is the social transformations resulting from the productive restructuring that
arose from the mid-1970s. We intend to ask then: what is the place occupied by uberization
in the general scenario of productive restructuring? The present essay is justified due to the
increasing centrality that this type of service contract has been gaining. The methodology
used will be qualitative, based on the bibliographic analysis of authors who discuss
productive restructuring and who point out the work as the foundation of human
sociability. We structured our exhibition in: 1) We will discuss theoretically what is the
meaning of productive restructuring for the stabilization of capitalism; 2) We will analyze
which are the characteristic elements of toytotism; 3) In order to develop the lines of
continuity and rupture between Toyotism and uberization.
INTRODUÇÃO
predominante sobre todo o tecido social humano. A vida humana tem como
artesanal até a grande indústria com maquinário pesado na fase industrial temos
947
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circundantes.
alteração da atividade de trabalho. No entanto o termo não pode ser encarado como
948
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produtiva toyotista; 2) para que possamos delimitar quais são os pontos de ruptura
PRODUTIVA
produção. Em que as forças produtivas equivalem aos meios a partir dos quais o
responsáveis pelo ato produtivo a fim de que ele ocorra. Rubin apresenta as duas
949
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950
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produzido aquilo que tem finalidades próprias para o consumo, para a fruição,
do momento em que há a divisão social do trabalho é cada vez mais provável que
ideológico tais como o Direito, a cultura, o Estado. Devendo então o toyotismo ser
processo tem como expressão uma circularidade que é iniciada com a inversão de
mercadoria para ser comprada e vendida, consumida, devendo o valor obtido e seu
951
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sociais e no ponto onde absorve a força de trabalho acaba por ser razão de
submissão das ações subjetivas a uma lógica alheia à vontade consciente dos seres
952
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953
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processo de mercadorização.
local social. Tal inversão ocorre a partir do momento em que determinadas relações
formas sociais, das relações de produção e das forças produtivas como cristalização:
954
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a reesutruturação produtiva
produtiva toyotista em específico, temos como central apontar que novas forças
955
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Antunes:
produzidas ocorrem com estoques mínimos, com placas e senhas para a reposição
956
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uma quebra da organização sindical por duas vias: a primeira em razão da expansão
957
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das forças produtivas reclamando assim novos arranjos das relações de produção,
não só sobre a força de trabalho terceirizada, não só sobre a força de trabalho fabril,
958
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Nesse ponto Castels avança para análises da esfera superestrutural, tais como
959
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que se retroalimenta por todo o tecido social com inúmeros pontos de intersecção.
produtiva toyotista.
70, o autor afirma: “Pela primeira vez na história, a mente humana é uma força
formas de trabalho. Como exemplo podemos tomar que o que a Uber comercializa
960
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retorno cada vez maiores” (CASTELS, 1999, p. 73). Tal caminho de desenvolvimento
961
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Slee realiza detalhada análise sobre as empresas que atuam hoje sob os mesmos
vinculação à Internet:
962
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deveria ser formar uma rede de iguais para resolver este problema.”
Construir uma “rede de iguais” significa, primeiro e acima de tudo,
construir uma plataforma na internet: um site ou um aplicativo
móvel em que consumidores e fornecedores podem trocar bens e
serviços. (SLEE, 2017, p. 27)
incipiente, temos uma generalização desse processo no tempo presente, o que nos
relação social se expressa da maneira mais clara possível como uma coisificação, ao
ou celular pessoal, através da rede de internet, em que separados por uma tela as
rede, seja o computador ou outro meio de acesso, por outro lado em perspectiva
963
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aparentemente não é o trabalhador que está vendendo sua força de trabalho, mas,
um serviço a um terceiro.
a subordinação entre trabalho e capital era mais visível, com ordens expressas dos
patrões, aqui temos maneira de subordinação mais sutis, ao ponto de serem quase
produto. A respeito das pontuações como forma de controle do trabalho Slee nos
964
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Com o tempo, a Uber foi coletando mais e mais dados sobre todos
os aspectos das corridas. Esses dados dão à corporação novas
oportunidades de controlar o comportamento dos motoristas e
formatar a experiência dos consumidores. A Uber sabe que os
passageiros vão aceitar pagar tarifas mais altas quando a bateria do
celular está acabando; sabe que ficaremos mais felizes em pagar
uma tarifa calculada sobre um múltiplo de 2,2 vezes o preço base
do que sobre um múltiplo de 2, porque a falsa precisão do 2,2 nos
remete ao racional cálculo de um algoritmo, ao passo que o número
redondo de 2 nos soa como uma decisão humana para nos roubar
dinheiro.
A Uber tem estudado a psicologia da persuasão e a utiliza para
melhorar suas operações, adotando técnicas de videogames que
mantêm os motoristas nos trilhos. Muitos motoristas estão
convencidos de que o sistema os engana, por exemplo, mostrando
viagens que desaparecem antes que possam aceitá-las, o que faz
com que não consigam atingir os níveis de aceitação necessários
para ganhar um bônus. Ou manipulando o tempo de espera por um
passageiro que ao final cancela, negando o direito à taxa por
desistência. (SLEE, 2017, p. 81)
vigilância
965
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circuitos tecnológicos. Por mais que na primeira revolução industrial o homem teve
fetiche derivado da tecnologia. Nas palavras de Scholz: “Há uma massa de corpos
966
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(SCHOLZ, 2017, p. 24). Nesse sentido, ocultar atrás da tela reforça o apagamento do
967
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reorganização. Scholz apresenta essa relação com reganismo como outros meios:
terminologias do circuito econômico são alteradas para ocultar as relações que ali
968
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justamente como ponto de ruptura, para eleo não é uma mera continuação do
969
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
produtiva toyotista na visão de dois autores. Em primeira linha Antunes nos ajuda
inauguradas a partir da década de 70; por outro lado Castells imprime o foco de sua
força produtiva com cada vez maior centralidade. Por outro lado, descrevemos
970
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trabalho e do consumo.
reestruturação produtiva.
REFERÊNCIAS
971
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TRABALHO BRASILEIRO
RESUMO
O presente texto tem como objetivo, a partir do diálogo com autores marxistas que
empreenderam reflexões relacionadas ao Direito, esboçar uma análise a respeito da
estrutura do Direito do Trabalho brasileiro. Para sistematizar toda a relação do Estado
brasileiro com as questões pertinentes à regulação da compra e venda da mercadoria força
de trabalho, o Estado constituiu internamente um núcleo de organização burocrática
apropriada para o desenvolvimento técnico da relação jurídica trabalhista. Não só um corpo
burocrático específico, cristalizado na Justiça do Trabalho, como também sistematizou um
conjunto de técnicas, métodos e atos específicos cristalizando-os no processo trabalhista.
Fazendo isso fez com o que um corpo de especialistas, bem como uma parcela do fundo
público estatal, fosse destinado a realizar no concreto a figura do Estado como terceiro
intermediador dos conflitos originários da negação de direitos trabalhistas. Nossa questão
de partida é apreender como se deu essa sistematização em âmbito nacional. Dessa maneira
temos pela frente o desenvolvimento de um debate amplo a respeito do Direito do Trabalho
brasileiro.
ABSTRACT
The objective of this text, based on the dialogue with Marxist authors who undertook
reflections related to Law, is to outline an analysis regarding the structure of Brazilian Labor
Law. In order to systematize the entire relationship of the Brazilian State with the issues
pertinent to the regulation of the purchase and sale of labor force merchandise, the State
internally constituted an appropriate bureaucratic organization nucleus for the technical
development of the labor legal relationship. Not only a specific bureaucratic body,
crystallized in the Labor Court, but it also systematized a set of specific techniques, methods
268
Graduando em Direito pela Faculdade Nobre de Feira de Santana, victorios1108@outlook.com e
http://lattes.cnpq.br/4021160593969700.
269
Mestre em Sociologia e Direito pelo PPGSD/UFF, gabrielcavalcanteaadv@gmail.com e
http://lattes.cnpq.br/6747139003815987
270
Graduando em Direito pela Faculdade Nobre de Feira de Santana l, victorbastosrp@hotmail.com
http://lattes.cnpq.br/1988928155559982
972
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and acts crystallizing them in the labor process. Doing this meant that a body of experts, as
well as a portion of the state public fund, was destined to concretely carry out the figure of
the State as the third intermediary in conflicts arising from the denial of labor rights. Our
starting point is to apprehend how this systematization took place at the national level.
Thus, we are faced with the development of a broad debate regarding Brazilian Labor Law.
INTRODUÇÃO
conta da questão jurídica não ser o objeto de estudo do autor, não há na obra de
Marx uma elaboração teórica consistente a respeito do Direito, quando muito o que
temos são citações esparsas que não conformam um todo articulado. Disso decorre
arcabouço teórico deixado pelo Mouro. Tal situação se dá de modo a que se pega
categorial, e este é utilizado como pano de fundo para a elaboração teórica sobre o
potencialidade criativa do marxismo. Porém, é necessário cuidado para não cair nos
desvios daqueles que, nas palavras de Roberto Lyra Filho, “mutilam o oscilante
973
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corpo de idéias, ora nítidas, ora confusas, e dissipam a riqueza do conjunto, para
O presente texto tem como objetivo, a partir do diálogo com autores marxistas
real caótico de infinitas determinações e sintetiza deste uma estrutura interna. Onde
interrelacionadas pelo todo que as envolve, onde é atividade humana a criadora dos
objetos sociais realmente existentes e onde tudo é aquilo que é, e a negação do seu
974
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categoria Direito, surgindo em alguns momentos de sua obra como mero direito
975
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haveria Direito dentro do Estado, ao passo que quando apresenta o Direito como
Assim não haveria uma abordagem dialética de tal categoria nos escritos
976
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coisa feita, perfeita e acabada; é aquele vir-a-ser que se enriquece nos movimentos
Mas somente dizer que o método dialético aplicado à teoria jurídica seria um
Direito é um sistema (ou uma ordem) de relações sociais, que corresponde aos
interesses da classe dominante e que, por isso, é assegurado pelo seu poder
caracterizar classe social como uma categoria relacionada à distribuição dos meios
Karl Kautsky, e avança na mediação aqui proposta de que a forma Direito condiz a
relações entre homens realmente existentes, e não a uma relação abstrata entre
coisas:
977
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representar aquilo que Marx entendia por modo de produção social é aquela na qual
sim reciproca, bem como não seria uma influência mecânica, inescapável, mas sim
mero decalque das estruturas econômicas, tal como bem observa Alysson Leandro
Mascaro:
978
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campo jurídico. A realidade social então é um todo único, construído pela atividade
humana, tanto consciente quanto inconsciente, cuja base ontológica é o ser social do
homem, porém esse ser social desdobra-se em diversas formas, desde a forma
autor as relações jurídicas das relações sociais em geral. Para a devida diferenciação
979
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fetiche é caracterizado por Marx como a capacidade que a mercadoria tem de apagar
980
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esfera econômica não por conta de características humanas, mas por serem
981
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MATERIALISTA DIALÉTICA
pois o homem passa a realizar trabalho tão-somente como meio para reproduzir sua
própria vida.
982
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capital que gera mais capital, pois a remuneração do trabalho é dada abaixo do valor
Aqui cabe uma distinção entre o que transcorre com a mais-valia na esfera
Porém é na esfera da circulação que a mais-valia produzida será realizada, pois não
tornar mercadoria o trabalho torna-se uma mercadoria sui generis, uma mercadoria
mercadorias, uma mercadoria que cria valor e ao ser remunerada abaixo do valor
983
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verdade é uma atividade fetichizada, uma relação entre os donos dos meios de
econômicas hegemônicas dos países latinos é uma disjuntiva que transfere o espaço
de realização da mais-valia para fora das fronteiras nacionais. Assim delimita Ruy
Mauro Marini:
984
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são vendidas:
985
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inverso, “ na realidade, todas essas instituições se articulam umas nas outras num
conjunto mais ou menos coerente, apesar das contradições que ele [o Direito] revela
e tenta ocultar” (MIAILLE, p. 98, 2005). Por fim, o nivel da prática jurídica, designa
“práticas sociais que se desenvolvem sobre dados objectos com vista a produzir
resultados jurídicos” (MIAILLE, p. 101, 2005). Tal perspectiva teórica nos servirá de
sociais que então disputavam a sociedade brasileira. Não só sua origem é decorrente
Temer são exemplos concretos de momentos onde o embate ideológico teve como
986
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seu artigo primeiro onde está escrito que “os valores sociais do trabalho e da livre
as coisas pelo seu nome, aqui consagra-se pela omissão, pelo mecanismo de não
dizer o trabalho pelo seu nome, de não o considerar como aquilo que é, não o
Para Pashukanis “toda relação jurídica é uma relação entre sujeitos. O sujeito
é o átomo da teoria jurídica, o elemento mais simples e indivisível, que não pode
987
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988
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pela cobertura formal da legalidade, tendo qualquer conflito que ser resolvido pela
maneira:
politicamente legítimas ele terá que romper com a legalidade que cristaliza a relação
de exploração, terá que romper não só com o capital, mas com toda a relação social
989
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Serviço, ter direito a parcelas mensais de seguro desemprego se esse contrato vier a
ser rompido e assim por diante. Nesse sentido o vínculo contratual do Direito do
Vargas cuja visão de política de Estado era de viés intervencionista. Nesse sentido
Consolidação das Legislações Trabalhistas, que cumpre o papel de ser uma ossatura
990
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
surgimento da CLT e sua reprodução histórica desloca o Estado brasileiro, que até
então tratava as questões sociais como questão de polícia, para que este Estado deixe
de ser um Estado tão-somente repressivo para que se torner um Estado que trabalhe
tanto no nível da repressão quanto do consenso. A CLT cumpre o papel de ser uma
991
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trabalhadores quanto dos donos dos meios de produção. Em alguma medida pode
classes.
992
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e gerando riquezas para uma parcela ínfima da população que detém os meios de
993
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ampla que passa a ser comprado e vendido e sim trabalho de categorias específicas.
O acordo coletivo de trabalho que regula a categoria dos petroleitos, com salários
o que esse ramo de atividade se desloque dos outros tantos ramos de atividades de
994
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no processo trabalhista. Fazendo isso fez com o que um corpo de especialistas, bem
como uma parcela do fundo público estatal, fosse destinado a realizar no concreto
uma relação dialética entre a reprodução de uma conduta ilegal por parte do
Nesse sentido:
995
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
compreender este potencial que aos poucos o capital legalizou o Direito de Greve,
padronizando as formas e meios que uma greve pode ser considerada ato legal ou
ilegal. A greve não é um ato jurídico por primazia, é um ato de força política, uma
ato que o direito de greve tenta jurisdicionar, tornar jurídico, por intenção de
996
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
venda de sua força de trabalho, pode significar o caminho pelo qual a consciência
submetido.
normativa, para a modificação da forma direito a fim de que esta resguarde uma
maior proteção ao trabalho, tal como também pode ser impulsionada para o
modo de produção social, tendo por conteúdo maiores garantias para a compra e
venda da força de trabalho por meio da forma jurídica, enquanto na segunda opção
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Alegre: Fabris e Instituto dos Advogados do RS, 1983.
LUKÁCS, Gyorg. Prolegômenos para uma ontologia do ser social. São Paulo: Boitempo,
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997
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
MASCARO, Alysson Leandro. Estado e forma política. São Paulo: Boitempo, 2016.
998
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume I: Direitos Fundamentais de Primeira Dimensão: Direitos Civis e Políticos
RESUMO
No ano de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o planeta estava
passando por uma pandemia ocasionada pelo novo coronavírus, gerando uma crise de
saúde pública (acompanhada de profunda crise econômica e social) nos âmbitos
internacional e nacional. Tal emergência sanitária colocou em evidência os profissionais da
saúde, bem como a essencialidade de seu trabalho e sua exposição ao contágio.
Considerando esse cenário, este artigo tem como objetivo analisar quais são as
possibilidades de ações conjuntas e diálogo normativo entre OMS e Organização
Internacional do Trabalho (OIT) no combate ao novo coronavírus com vistas a proteger a
saúde e segurança dos trabalhadores da área da saúde. Para tanto, a pesquisa valeu-se do
método dedutivo e da técnica de pesquisa bibliográfico-documental e foi estruturada em
três capítulos, além de introdução e conclusão: (i) Organização Mundial da Saúde,
international health regulations e saúde e segurança do trabalhador; (ii) os international labour
standards da Organização Internacional do Trabalho e os core labour rights; (iii) saúde e
segurança do trabalhador e as possibilidades de ações conjuntas e diálogo normativo a
partir de colaboração global entre OMS e OIT. Verificou-se que, embora a colaboração
institucional seja possível e que a saúde seja um tema de elevada importância para ambos
organismos internacionais, não foram constatadas iniciativas conjuntas dos organismos
durante a pandemia.
271
Mestranda em Direito pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Bacharel
em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia. Advogada. E-mail: catharina.scodro@gmail.com.
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/5202927132960365
272
Doutora e Mestra em Direito do Trabalho e da Seguridade Social pela Faculdade de Direito da Universidade
de São Paulo. Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Advogada. Pesquisadora da Escola Superior de Advocacia de São Paulo. Professora de Direito do Trabalho da
Universidade Paulista, da Universidade São Judas Tadeu e da Escola de Direito de São Paulo da Fundação
Getúlio Vargas. Pesquisadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inocação da FGV Direito SP. E-mail:
olivia.pasqualeto@fgv.br . Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1403687458551003
999
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
In 2020, the World Health Organization (WHO) declared that the planet was experiencing
a pandemic caused by the new coronavirus, generating a public health crisis (accompanied
by a deep economic and social crisis) at the international and national levels. Such sanitary
emergency highlighted health professionals, as well as the essentiality of their work and
their exposure to contagion. Considering this scenario, this article aims to analyze what are
the possibilities for joint actions and normative dialogue between WHO and the
International Labor Organization (ILO) in the fight against the new coronavirus in order to
protect the health and safety of health workers. In order to do so, the research used the
deductive method and the bibliographic-documental research technique and was
structured in three chapters, in addition to the introduction and conclusion: (i) World
Health Organization, international health regulations and health and safety at work; (ii) the
international labor standards of the International Labor Organization and the core labor
rights; (iii) worker health and safety and the possibilities for joint actions and normative
dialogue based on global collaboration between WHO and ILO. It was found that, although
institutional collaboration is possible and health is a topic of high importance for both
international organizations, there was no evidence of joint initiatives by the agencies during
the pandemic.
INTRODUÇÃO
1000
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conjuntas.
OMS e a OIT, a partir do diálogo normativo e ações conjuntas, bem como verificar
de saúde.
Saúde (OMS) foi criada em 1946 com a finalidade de ser a agência especializada na
1001
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
(1946) que definia a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e
Nações Unidas e demais organismos (inc. b); o auxílio aos Governos, quando
1002
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Para além das regulamentações gerais, os IHR prevê medidas específicas para
para sua implementação efetiva (WHO, 2007, p. 17). Para tanto, a justificativa se
(ONGs) e fundações.
1003
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
integrante da saúde geral e da vida diária” (WHO, 2012, p. 01) (tradução nossa) e
como um todo, que os sistemas de saúde devem atuar como facilitadores para a
sistemas de saúde devem incluir primeiramente aqueles em maior risco ou que têm
01).
1004
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
de saúde nos locais de trabalho ao redor do mundo (WHO, 2013, p. 08). Novamente,
273
Posteriormente, com a dissolução da Sociedade das Nações e a criação da Organização das Nações Unidas,
a OIT passou a integrá-la na condição de agência especializada nos assuntos pertinentes às relações de
trabalho.
1005
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que dispôs que “(...) the failure of any nation to adopt humane conditions of labour
is an obstacle in the way of other nations which desire to improve the conditions in
1979, p. 22).
1006
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partir do potencial lesivo da injustiça no seio social. Para o autor, a ação contra a
injustiça (social) fortalece a Paz, a partir, por exemplo, da contribuição dos direitos
mudanças técnicas e sociais constantes nas relações humanas, de sorte que não se
24).
que as questões sociais não podem ser apartadas das econômicas (VALTICOS, 1979,
1007
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que podem atuar como “fonte de inspiração para os governos” por constituir
qualidade de hard law – que devem ser ratificadas pelos Estados-Membros e, por
de sorte que, com a qualidade de soft law (FELICIANO, 2013, p. 162-163), constituem
1008
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Forçado (1957), a C138 – Idade Mínima para Admissão (1973), a C182 – Convenção
sobre Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e Ação Imediata para sua
OIT sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho (1998)” (II, C). Tal
1009
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Por ser recente, tal alteração ainda não incitou o reconhecimento das
por exemplo, é necessário considerar, para além da C155, a C149 – Convenção Sobre
OIT.
1010
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
tal diálogo.
suas agências, bem como com os organismos especializados (artigo 2, b e i). Assim,
transdisciplinares.
quais possa ser atribuída uma parcela de responsabilidade nesta grande missão,
1011
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sorte que se relaciona com diferentes international labour standards, que podem se
do Pessoal de Enfermagem.
1012
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
infectado por COVID-19 (FOLHA, 2020), de sorte que os mais infectados são os
por meio de relatórios, publicações com sugestões sobre a higiene do meio ambiente
Coronavírus.
para os profissionais da saúde que pelo risco que o combate à pandemia representa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1013
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
específico, ligado à própria história da OIT, que tem nos standards um instrumento
da economia e, posteriormente, foram sendo ampliados. Em que pese a OIT não ter
incluído a saúde e segurança do trabalhador no seu rol de core labour rights, a saúde
(2019).
1014
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Nesse sentido, entende-se que uma publicação conjunta – ainda que não dotada
REFERÊNCIAS
1015
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ILO. ILO Sectoral Brief: COVID-19 and the health sector. 11 abr. 2020. Disponível
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Implementation Global Country Survey 2008/2009 – Executive Summary and
Survey Findings. Geneva: WHO Document Production Services, 2013.
1017
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
O medo do desastre faz com que todos ajam de forma a aumentar o desastre.
(Bertrand Russell)
INTRODUÇÃO
de rechaço aos pobres por meio de ações/omissões do Estado, desde antes e durante
274 Pós-doutorado pela Universidade Nacional de Córdoba (CEA - Centro de Estudos Avançados) Argentina;
Doutora em Direito; Mestre em Direitos Difusos e Coletivos; Professora Titular do Programa de Mestrado em
Direito do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), de Lorena/ SP e nos Cursos de Graduação em
Direito e Pós-graduação em Direito e Formação Docente; Professora e Pesquisadora do Programa de Mestrado
em Direito do Centro UNISAL de Lorena – SP; Professora Doutora III da EEL USP; Líder do Grupo de Pesquisa
“Direitos Sociais, Direitos Fundamentais e Políticas Públicas” da linha de pesquisa “Direitos sociais, econômicos
e culturais”, do Programa de Mestrado em Direito do UNISAL, Lorena – SP. Email: daisyrafa1@hotmail.com.
Lattes: CV: http://lattes.cnpq.br/9677842625734705
275 Bacharelando em Direito (UNISAL, Lorena – SP); Bolsista PIBIC / CNPq, Integrante do Grupo de Pesquisa
“Direitos Sociais, Direitos Fundamentais e Políticas Públicas” da linha de pesquisa “Direitos sociais, econômicos
e culturais”, do Programa de Mestrado em Direito do UNISAL, Lorena – SP. Email: davidias0102@hotmail.com.
Lattes: CV: http://lattes.cnpq.br/8035910409464339
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
aos mais pobres e vantagens benéficas ao seleto grupo dos “ultras ricos”, que
mesmo de ter contato com o que realmente se trata, pode ocorrer em razão da
ainda condições econômicas, voltando-se contra os pobres, que detêm menos poder
que serve ainda como “justificativa” para a exclusão e discriminação, de modo geral
outro, resultando em exclusão ou ainda uma inclusão perversa que possui limites
bem determinados e serve para explorar ainda mais aquele que é “diferente”.
Adela Cortina, vocábulo esse que foi eleito a palavra do ano de 2017 pela Fundación
del Español Urgente (FUNDÉU, 2017), tem sua origem no grego άπορος (á-poros),
isso é aquele sem recursos, pobre, e φόβος (fóbos), que significa medo, aversão,
desse modo aporofobia traduz e nomeia o rechaço, aversão, temor e/ou desprezo
1019
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
personas concretas hacia las que se dirige.” (2017, p. 15). Por isso, a nomenclatura
pobre não sofre violências por ser “ele”, mas por ser “um” pobre, o ódio se alimenta
contra um determinado grupo e não indivíduos que praticaram certas ações, mas
rechaçados.
pobreza carrega consigo, pode-se dizer que a pobreza concretiza a violação dos
liberdade, acesso à informação, aos benefícios da ciência, trabalho etc. que somados
agindo por meio de políticas (ou omissões) que não apenas excluem, mas pioram a
condição de vida dos mais pobres, restringem e/ou violam, direta ou indiretamente
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
art. 3º, III estabelece como objetivo da República Federativa do Brasil “erradicar a
como princípio da ordem econômica e financeira, no art. 170, VII, a “redução das
maneira mais adiante, nesse artigo, em uma seção reservada para a discussão sobre
A aporofobia estatal, porém, não ocorre por acaso tampouco por “capricho”
grupo restrito de pessoas, os “super ricos”, e nessa categoria são inclusas cerca de
2.000 pessoas que concentram mais de 60% da riqueza mundial (OXFAM, 2020),
gritantes ao se fazer o recorte não só dos 1% mais ricos, mas os 0,1% ou ainda 0,01%
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
corresponde a uma cifra com doze zeros, e caso tal fato se concretize, estaremos
diante de um cenário em que uma única pessoa concentra mais riqueza que o
Produto Interno Bruto (PIB) de 179 países juntos, onde vive 43,7% da população
pessoas e o cenário onde poucos concentram muita riqueza, frente a isso há pessoas
com fome, sem moradia e com seus direitos mais básicos sendo violados
classificados como empresários, mas que tem sua renda afetada pela situação
pandêmica.
desemprego marca 13,2% (DURÃO, 2020), e os 1% mais ricos do país (cerca de 2,1
2020), o brasileiro mais rico atualmente é o banqueiro Joseph Safra, com uma
fortuna estimada em US$ 19,9 bilhões, seguido por Jorge Paulo Lemann com US$
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
vidas valem mais que outras quando, por exemplo, testes são recomendados a
população mais pobre, não por causa da saúde dos pobres, mas pela segurança dos
mais ricos (CHADE, 2020), tais medidas são fatos que quando somados geram,
principalmente pelos mais ricos, que somente os enxergam como possíveis causas
humanidade.
serviços públicos, falta de moradia etc. geram um cenário sem dúvidas excludente,
“super ricos”, sendo flagrante que os limites morais são descartados e situações
manobras são feita dentro da lei, influenciadas justamente por esses que visam tão
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
que hoje são sentidas em razão da pandemia, seriam, de forma mais ou menos
(CARBONELL, 2020) temos certo de que a doença não é a única responsável pela
Tem-se o mal estar social, quando a pessoa humana não tem condições
básico à alimentação é impedido pelo alto custo dos mantimentos que compõem as
cestas básicas, como o arroz. Em notícia intitulada “Pobres são os mais afetados pela
Após muitos anos controlada, a alta dos preços traz de volta a inflação,
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
portas de agências bancárias, levou pessoas com total insegurança social, pobres e
miseráveis a receberem valores, que não alcança o salário mínimo, que em tese,
O Estado, descumpre seu papel quando passa a ser de “Bem estar social” para
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
miserável, assim:
afirmaram que:
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
saúde, educação, cultura, ciência e tecnologia e tantos outros. Nada tem justifica
O Estado não pode valer-se da crise, o que agora ficou mais grave, diante da
Pandemia causada pelo COVID 19, para se aproveitar e retroceder nos direitos
Sobre o cenário atual, Daisy Rafaela, Consuelo Yoshida e Tiago Cappi (2020)
se manifestaram:
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
meio tributário, concessões ou outras formas em que os avanços são pouco ou nada
CONSIDERAÇÕES FINAIS
trata da atuação do Estado pois ele está cada vez mais alinhado às questões de
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
abissais. O pobre além de ter direitos inalcançáveis em sua maioria das vezes, passa
do Estado antes, de bem-estar social e agora, com suas novas configurações passa a
Estudos indicam que a relação entre ricos e pobres ficou mais distante, isto
porque empobreceu-se mais, por outro lado, os ricos nunca foram tão ricos, e em
cenário de pandemia, o país perderá muitas vidas, em sua grande maioria, pobres,
a qualidade de vida dos pobres e sua dignidade afetadas por tais medidas, as
crise. As realidades são quase opostas ao observar os impactos que a pandemia gera,
de um lado os bairros mais pobres acabam sendo os mais afetados pela doença, de
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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24 bilhões enquanto mundo afunda em pandemia. Exame, 15 abr. 2020. Disponível
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2016.
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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CHADE, Jamil. Populações mais pobres devem ser testadas com prioridade, alerta
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COSTA, José Ricardo Caetano; SERAU JUNIOR; Marco Aurélio; SOARES, Hector
Cury. O “Estado de Mal-Estar Social” Brasileiro. Belo Horizonte: IEPREV, 2020.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
FUNDÉU. Aporofobia, palavra del año 2017 para Fundéu BBVA. Fundación del
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
VILLAS BÔAS, Bruno. IBGE: Renda dos 1% mais ricos é 33,7 vezes a dos 50% mais
pobres. Valor Econômico, Rio de Janeiro, 06 maio 2020. Disponível em:
<https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/05/06/ibge-renda-dos-1percent-mais-
ricos-e-337-vezes-a-dos-50percent-mais-pobres.ghtml>. Acesso em: 10 set. 2020.
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume I: Direitos Fundamentais de Primeira Dimensão: Direitos Civis e Políticos
RESTRIÇÕES DA COVID-19
RESUMO
O direito à saúde é um direito fundamental presente na Segunda Dimensão dos Direitos
Fundamentais, posto que está inserido nos direitos sociais. O artigo aborda as contradições
geradas no âmbito dos Direitos Humanos e dos direitos fundamentais da gestante, no que
tange ao direito a acompanhante, conforme previsto pela Lei Federal nº. 11.108, de 07 de
abril de 2005, frente às restrições impostas pelas organizações nacionais e internacionais em
função da COVID-19. Os Direitos Humanos das mulheres precisam ser respeitados, dado
que o direito a presença de acompanhante não é derrogável, e faz parte do bem estar físico
e psíquico da parturiente e do nascituro, mas a pandemia exige que as restrições sanitárias
sejam cumpridas para a manutenção da vida. Em que medida tais restrições podem
representar violações desse direito fundamental? O objetivo do artigo, de um ponto de vista
jurídico, é propor a compatibilização entre os antagonismos, procurando garantir os
direitos da gestante com a manutenção da segurança prevista pelas Organizações de saúde
nacionais e internacionais. Para tanto, apresenta uma pesquisa teórica, apoiada em método
dedutivo e abordagem qualitativa, para expor as implicações da pandemia na saúde da
mulher nessa condição, perpassando os debates sobre o parto humanizado no Brasil. A
contribuição do debate gira em torno do direito fundamental à saúde da parturiente em
tempos de pandemia.
277
Mestranda no Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Prestação Jurisdicional e Direitos
Humanos (UFT/ESMAT). E-mail: karine.direito@uft.edu.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7064561946604860.
278
Doutor em Direito. Professor no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional em
Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos (UFT/ESMAT). Bolsista FAPTO. E-mail: paschoal@mail.uft.edu.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7410990226412683.
279
Doutor em Educação. Professor no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional em
Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos (UFT/ESMAT). Bolsista FAPTO. E-mail: psoares@mail.uft.edu.br.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1365699355771676.
1034
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ABSTRACT
The right to health is a fundamental right, present in the Second Dimension of Fundamental
Rights, since it is part of social rights. The article addresses the contradictions generated in
the context of human rights and the fundamental rights of pregnant women, with regard
to the right to accompany, as provided for by Federal Law nº. 11.108, of April 7, 2005, in the
face of restrictions imposed by national and international organizations in accordanlight of
COVID-19. Women's human rights need to be respected, since the right to be accompanied
is not derogable, and is part of the physical and psychic well-being of the parturient and
the unborn child, but the pandemic requires that sanitary restrictions be fulfilled for the
maintenance of life. To what extent can such restrictions represent violations of this
fundamental right? The objective of the article, from a legal point of view, is to propose the
compatibilization between antagonisms, seeking to guarantee the rights of pregnant
women with the maintenance of safety provided for by national and international health
organizations. To this end, it presents a theoretical research, supported by a deductive
method and qualitative approach, to expose the implications of the pandemic in women's
health in this condition, going through the debates about humanized childbirth in Brazil.
The contribution of the debate revolves around the fundamental right to health of the
parturient in times of pandemic.
INTRODUÇÃO
saúde como direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), por sua vez, define a saúde como
1035
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
cuidados básicos. Cabe salientar que, após o parto, a mulher entra em um momento
modificações tanto físicas quanto emocionais, que não tem um tempo determinado
para terminar. Para fins didáticos, é uma fase que se inicia logo após o parto e vai
até o 10º dia pós-parto; tardio, com início no dia 11º ao 42º dia pós-parto; e remoto
com início 43º dia até um ano pós-parto (BRASIL, 2016). Diante desse quadro, a
De acordo com a Lei Federal nº. 11.108, de 07 de abril de 2005, toda gestante
1036
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
humanizado.
compatibilização do antagonismo.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
A presente seção, que trata do parto humanizado no Brasil, tem por objetivo
parto e pós-parto (DINIZ, 2005, p. 631). São grupos e pessoas que trouxeram
constituição da lei.
cesárea acabou sendo apontada como a melhor forma de dar à luz, sem medo, risco
e dor.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
mulheres.
280
Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5596:oms-
emite-recomendacoes-para-estabelecer-padrao-de-cuidado-para-mulheres-gravidas-e-reduzir-intervencoes-
medicas-
desnecessarias&Itemid=820#:~:text=O%20parto%20%C3%A9%20um%20processo,o%20parto%20e%20o%20
nascimento. Acessado em 15/05/2020.
1039
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
1994, e recebeu o justo nome de Leila Diniz. Desde então, em 1998, o Ministério da
públicos de saúde e fortalecer a relação da mãe com seu bebê (BRASIL,1998; 1999).
que dissemina a falsa ideia de dor e de sofrimento sobre esse momento mágico na
Desde 2005, a Lei n°. 11.108, mais conhecida como Lei do Acompanhante,
uma figura que a gestante atribua uma sensação de apoio e confiança, e que possa
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
processo de parturição.
inclusive, através de outros documentos, como, por exemplo, a Portaria n°. 2.418 do
apresenta aspectos gerais da assistência ao parto, dentre eles o apoio durante o parto
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
acompanhante, o que pode ser observado nos estudos que mostram que as
de cor branca, pagando pela assistência, e que tiveram uma cesariana. Essa
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
descaso com o bem-estar, a segurança e o conforto durante o parto. Sobre elas recai,
LEGISLAÇÃO
não pede, ele não entra, mas se exigir, entra. Para os autores, existe uma postura de
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
resistência em fazer.
devem ter apoio durante o parto e nascimento” (DINIZ et al, 2014, p. S141).
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
seus direitos, fazendo com que se sintam respeitadas. Para tanto, é necessário
uma desinformação que ocorre entre os profissionais de saúde, que negam esse
[...] como já sou maior de idade não posso ter mais acompanhante.
[...] somente menor de idade pode ter alguém com você. [...] falaram
isso logo quando eu entrei para ser atendida [...]. não deixaram a
minha mãe entrar comigo [...] e como eu não tenho mais direito se
fosse adolescente até eu brigaria para ter, mas fazer o que? [...] (P18);
[...] falavam que eu não podia ter acompanhante, aqui ninguém tem
o acompanhante [...] e as pessoas falaram que não pode e deveriam
deixar uma pessoa ficar, somente menor de idade [...] (P20).
(RODRIGUES et al., 2017, p. 3).
1046
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
informada acerca desses direitos legais e possa tomar uma decisão consciente, caso
necessário.
e impede que a mulher usufrua do seu direito, além de corroborar com uma prática
[...] eu não tive isso, não deixaram o meu marido participar comigo,
e tentei ver isso, mas esse médico não estava deixando. [...] as outras
meninas, os seus esposos estavam junto, não sei porque ele não
deixou ficar e ver o meu parto, achei uma falta de compreensão! [...]
(P03); [...] na sala de parto foi estranho, não deixaram a minha mãe
entrar. [...] o médico disse que não podia entrar na sala. [...] nesse
momento iria ficar sozinha, somente depois iria me ver [...] (P15).
(RODRIGUES et al., 2017, p. 4).
médico e a mulher percebeu que outras mulheres, no caso, “os seus esposos estavam
juntos”, mas não fez apelo aos seus direitos por desinformação. A violação dos
direitos se torna ainda mais gravosa quando a mulher sabe dos seus direitos, mas
[...] mas não consegui [...] (P02); [...] eu briguei com todo mundo
aqui. [...] sei que tem uma lei [...]. Tenho um direito de ter o
acompanhante, chamei a polícia e tudo, mas não consegui
atendimento, pois não tinha espaço suficiente para isso [...] (P19).
[...] pois, quando eles [profissionais] falam que não pode [ter
acompanhante] acho que é normal, nem questiono, e não falo nada,
pois eles entendem disso [...] (P01); [...] já sei como funciona, achei
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
relação de desigualdade na relação de poder, não lhes restando outra opção senão
al., 2017, p. 8). Da mesma forma, revelou que a prevalência das estruturas
legalmente.
1048
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
à luz recentemente são mais vulneráveis a infecções em geral e, por isso, estão nos
grupos de risco do vírus da gripe, por exemplo. Mas a lei confere direito ao
De acordo com Freitas (2020), não existiam planos estratégicos prontos para
serem aplicados a uma pandemia, pois tudo ainda era novo e, mesmo com as
epidemiológicas entre esses vírus respiratórios. Mas a situação não é simples e não
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
legalidade dessa restrição como uma violação dos Direitos Humanos das mulheres,
situação de grave crise sanitária que afeta a saúde pública, exigindo a redução da
acompanhante, conforme prevê a lei. A presente seção possui esse objetivo, a saber,
compatibilizar os antagonismos.
seguinte nota:
281
Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/principais-questoes-sobre-
covid-19-e-o-cuidado-obstetrico/ Acesso em: 15/05/2020.
1050
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recomenda não ter acompanhante no parto. Porém, o Colégio Real Inglês (Royal
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
§ 2º, inciso III, dispõe que a disciplina para os cuidados com a Covid-19 não deve se afastar
acompanhante, que a Defensoria Pública do Estado de São Paulo ajuizou uma Ação
Civil Pública em uma das Varas da Fazenda Pública de Mogi das Cruzes (SP), para
O juiz destacou que a Santa Casa não pode inviabilizar o direito da mulher:
“A Lei 13.979/20, não suspendeu a eficácia da Lei 11.108/05, que alterou a Lei do
2020).
1052
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
O projeto prevê, nesse espeque, várias medidas, como leitos exclusivos, pré-
282
Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/677456-projeto-preve-medidas-para-protecao-de-
gravidas-parturientes-e-no-pos-parto-durante-pandemia/ Acesso em: 03/08/2020.
1053
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da COVID-9:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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mulher faça valer esse direito legal, o que pode caracterizar a violação de um direito
Federal nº. 11.108 e não garantir esse direito fundamental da gestante pode gerar
sanções.
insegurança. Embora haja avanços garantidos por lei, a resistência precisa ser
rompida.
contraditórias nas equipes médicas que, por sua vez, querem garantir a segurança
foi mostrado que o direito ao acompanhante não pode ser restringido, mas sim que
REFERÊNCIAS
1055
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
BRASIL. Lei Federal nº. 11.108, de 07 de abril de 2005. Brasília: Câmera dos
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enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
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medidas%20para,Art Acesso em: 10/09/2020.
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONTEMPORÂNEO
RESUMO
O presente trabalho representa um esforço coletivo em contribuir com as reflexões acerca
dos principais atuais desafios colocados para a organização dos trabalhos e o movimento
sindical brasileiro. Para tanto, busca-se conciliar um levantamento bibliográfico com a
narrativa de atores políticos centrais, para apresentar uma perspectiva fora do comum da
literatura sociológica sobre o desenvolvimento das lutas no seio do movimento sindical
brasileiro no período que compreende a década de 1920 até os nossos tempos. Em seguida,
passado o percurso de análise histórica da atual crise do sindicalismo, o trabalho se volta
ao exame do termo de quitação anual de débitos trabalhistas, instrumento inserido pela Lei
n. 13.467/17, a chamada Reforma Trabalhista que, na prática vem representando mais um
entrave a atuação dos sindicatos, hoje. Pretende-se, com isso, evidenciar a
contraditoriedade explicitada na aplicação desse novo dispositivo quando considerada a
lógica protetiva própria a sistemática justrabalhista, criando assim um contributo teórico
para se driblar mais esse ataque que fere de frente e a fundo a autonomia dos sindicatos.
Palavras Chave: novo sindicalismo; sindicatos; reforma trabalhista; termo de quitação; crise
do sindicalismo.
ABSTRACT
This work represents a collective effort to contribute to the reflections about the main
current challenges posed to the organization of work and the Brazilian union movement.
To this end, we seek to reconcile a bibliographic survey with the narrative of central political
actors, to present an out-of-the-ordinary perspective of sociological literature on the
development of struggles within the Brazilian trade union movement in the period between
the 1920s and ours. times. Then, after passing the course of historical analysis of the current
crisis of unionism, the work turns to examining the term of annual discharge of labor debts,
283
Mestranda em Ciências Jurídicas e Sociais no Programa de Pós Graduação em Sociologia e Direito da UFF
(PPGSD/UFF), membro do Núcleo de Estudos Marxistas da UFF/VR e membro-pesquisadora do grupo
Economia, Poder e Sexualidade (PPGSD/UFF). email: mfbsouza@id.uff.br. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4226227928175779.
284
Advogado. Mestrando em Ciências Jurídicas e Sociais no Programa de Pós Graduação em Sociologia e
Direito da UFF (PPGSD/UFF) e membro do grupo de pesquisa Laboratório Empresa e Direitos Humanos (LEDH-
UFF). e-mail: renanpssouza@yahoo.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3927340018219483.
1059
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
an instrument inserted by Law no. 13,467 / 17, the so-called Labor Reform, which, in
practice, represents yet another obstacle to the work of unions today. It is intended, with
this, to verify the possibility of answers and alternatives within the justrabalistic system to
circumvent this attack that directly and deeply injures the autonomy of the unions.
Keywords: new unionism; unions; labor reform; discharge term; union crisis.
INTRODUÇÃO
autores das alterações era o de dar maior autonomia ao trabalhador para decidir e
desfavorecer ainda mais a figura do trabalhador na balança laboral, uma vez que
desígnio.
que se refere as discussões das verbas rescisórias, problema esse que será tratado
nesse artigo.
1060
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
nos casos de rescisão de contrato firmado por empregado com mais de um ano de
Para desenhar o que foi o movimento que ascende na década de 1970, optamos
Sociais Dinarco Reis, que entre tantas outras missões, colabora com o resgate da
acima sinalizada.
pelo movimento sindical a partir da década de 1970. Para tanto, faz-se necessário
1061
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
entre o ser humano e a natureza - aquele com vistas a garantir sua subsistência e
reproduzir sua existência por meio da relação com esta última -, em nossas terras
a atual e pretérita crise do sindicalismo, é necessário que façamos um não tão breve
Aos fins do ano de 1926, fora criado no Rio de Janeiro o chamado Bloco
passos lentos, um impulso às atividades industriais no país, por força dos impactos
1062
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
vapor. Nesse sentido, o período é caracterizado por Caio Prado Júnior da seguinte
forma:
1063
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
com a prisão de 100 operários (ROEDEL, Hiran, et al., 2002, p. 130). A década é
começa a ser abafada no seio do movimento com forte repressão e perseguição por
parte do governo.
camponês e operário, por sua vez, passaram dali em diante a enfrentar maiores
feitos, numa greve que durou quase um mês na cidade de São Paulo, em 1932. Em
meio a essa efervescência, no ano de 1935, já sob o governo de Getúlio Vargas, inicia-
medidas contra os sindicatos que levou desde a intervenção nestes até a prisão de
1064
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Comércio, criado em novembro de 1930 passa, no ano de 1937, a interferir com mais
intensidade nos sindicatos, medida esta que fraturou ainda mais a independência
previa uma série de medidas restritivas285 aos sindicatos. Ou seja, a medida tomada
9070/1946, que inviabilizou ainda mais a realização de greves no país. Ainda nessa
difícil, mas os trabalhadores não recuaram durante o período que registou além de
285
Previa o Decreto 19.770, de 1931: o controle financeiro do Ministério do Trabalho sobre os recursos dos
sindicatos, inclusive proibindo a utilização destes recursos em períodos de greve; a participação do Ministério
nas assembleias sindicais; que atividades políticas e ideológicas não poderiam existir por parte dos sindicatos;
veto à filiação de trabalhadores a organizações sindicais internacionais; proibição da sindicalização dos
funcionários públicos; definição do sindicato como órgão de colaboração e cooperação com o Estado;
participação limitada dos operários estrangeiros nos sindicatos. Este era um ponto bastante problemático, já
que boa parte das lideranças sindicais ainda era de origem estrangeira; garantia de sindicato único por
categoria, a chamada unicidade sindical.
286
Nesse sentido, explicita Roedel: Apesar desta orientação, o movimento sindical renasceu. Não só nas
sindicalizações (Em 1945 eram 474.943, e em 1946, 797.691 sindicalizados), como também no aumento das
1065
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
(MUT), sob forte influência e com inserção do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
O MUT tinha por objetivo organizar de forma mais ampla a luta sindical dos
fato que, consequentemente, culminou em seu fim no ano de 1947 (ROEDEL, Hiran,
greves. Em fevereiro de 1946, São Paulo conviveu com 100.000 trabalhadores parados e mais de 60 greves
(2002, p. 132).
1066
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
O início da década de 1960 foi marcado por alguns avanços no campo das
lutas sindicais, desde a criação de comissões e comitês nas fábricas até a participação
1067
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Brasil. A reorganização da classe que ganhava cada vez mais força impulsionava-se
1068
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
classe refletiu-se, também, nas disputas ideológicas travadas pelo país que
começava uma das piores faces da história do nosso país, o período da ditadura
burgo-militar.
mobilizado nos primeiros anos da ditadura. Destaca Costa (1997) que durante o
1069
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
1070
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
predatória 287
que se aprofunda da década de 1960 em diante. Com o
de reserva que, também, contribuiu para forçar os salários a níveis ainda mais
veremos a seguir.
Em sua obra de três tomos “O Capital” (1867), Karl Marx esboça uma
287
Ver “A acumulação predatória”, em A Política Salarial no Brasil, de Edmilson Costa, 1997, p. 37.
288
Ver “Adeus ao Trabalho?: Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho” (2008),
de Ricardo Antunes.
289
Ver “A Crise Econômica Mundial, a Globalização e o Brasil” (2013), de Edmilson Costa.
290
Ver “Estratégia e Tática da Revolução Socialista no Brasil” (2014), Resolução do XV Congresso Nacional do
Partido Comunista Brasileiro (PCB).
291
Correspondente a segunda fase do capitalismo, também chamada de capitalismo industrial, quando do
advento da Revolução Industrial e seus desdobramentos.
292
Mais-valia; trabalho excedente não remunerado de onde o capitalista extrai os lucros.
1071
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mundial que se inicia na década de 1960, que antecede a crise dos anos 1970: o da
queda das taxas de lucro nos países centrais e em especial nos Estados Unidos, fato
que levou o grande capital a se reformular para driblar a crise e recuperar sua alta
rentabilidade. Para isso, Costa sinaliza quais foram os três eixos elementares sob os
1072
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
sindical.
293
Ver “A superacumulação como substrato fundamental da crise”, em “As raízes da crise econômica mundial”,
de François Chesnais, em “Dossiê Crise e Desenvolvimento”, Revista Em Pauta: teoria social e realidade
contemporânea, 2013, 11.31.
294
Ver “Dimensões da crise contemporânea do sindicalismo: impasses e desafios”, de Ricardo Antunes, em
“Adeus ao Trabalho? ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho”, 2008, p. 61.
1073
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
entanto, não existe uma linearidade nesse processo. Em geral, essas fases
1074
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
qual fora fruto a Constituição de 1988. Ainda que limitada em diversos aspectos e
levando-se em conta que se tratavam de demandas que ora dividiam e ora uniam
crise já mencionados. Assim, no ano de 2003, assume a presidência Luis Inácio Lula
1075
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
levado a cabo pelos seus opositores articulados com setores da burguesia que não
mais tinham interesse nas políticas conciliatórias do governo petista, ocupa o cargo
até a eleição do atual presidente Jair Messias Bolsonaro, eleito pelo PSL, à época. Do
intensificaram.
que diz respeito às condições da classe trabalhadora brasileira, basta que nos atemos
1076
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
organização sindical maiores desafios que os que já enfrentava até então. Nesse
1077
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
É nesse “mato sem cachorro” em que estamos que o fortalecimento das lutas
contribuição ao conjunto das lutas sindicais frente aos grandes desafios que se
colocam. A partir desse ponto, desenvolveremos uma análise sobre o termo anual
momento, não existia um código específico que regulasse quais eram os direitos dos
trabalhadores, papel este que era desempenhado pelo Código Civil de 1916, que
servia como base para as regulações dos contratos de trabalho, entre outras
um artigo específico aos trabalhadores em seu título “II - Dos Direitos e Garantias
1078
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
garantias invioláveis após um longo e árduo período em que a população rural ficou
à mercê da legislação esparsa e dos abusos dos seus empregadores nas fábricas e
campos rurais.
carta cidadã como cláusula pétrea, sendo assim invioláveis e garantindo a proteção
dos cidadãos frente aos arbítrios do Estado. Estabeleceu-se, assim, quais valores
ordenamento jurídico.
1079
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
trabalhista.
infligindo a natureza tributária do imposto (art. 149, CF/88), tema sobre o qual não
nos debruçamos nesse trabalho. Como fora dito, o foco principal aqui que é o termo
pela Lei n. 13.467/2017. Desta feita, o instrumento inserido pela referida lei, fora
entanto, o germe dessa suposta fora o antigo art. 233 da CF/88, que já previa algo
Gusmão:
Tratava-se da comprovação, pelo empregador rural, perante a Justiça do
Trabalho, de cinco em cinco anos ou em prazo inferior, a critério do
empregador, do cumprimento das suas obrigações trabalhistas com o
empregado rural, na presença deste e do seu representante sindical.
(GUSMÃO, 2017, p.396)
Com isso, o empregador se isentava de qualquer ônus decorrente da obrigação
quitada pelo respectivo período. Contudo, essa quitação não vinculava uma decisão
1080
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
do acordo, algo que não existia anteriormente, e com isso, a redação se espreitou
elementos trazidos nessa redação nova como, por exemplo, o caráter “facultativo”
da assinatura que, embora seja apenas literalidade da palavra, o artigo deixa claro
homologação pelo sindicato, dada a revogação dos §1º e 3º do art. 477, da CLT, pela
Dessa forma, sua autonomia no papel de fiscalizador dos termos fora atingida de
fronte.
1081
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
quitação dada pelo empregado das parcelas já pagas pelo empregador, o que mostra
CONSIDERAÇÕES FINAIS
trabalhadores, o Brasil torna-se cada vez mais o país mais apropriado para o livre
TRCT.
1082
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
desses novos dispositivos implementados a negação de sua razão de ser, qual seja,
luta, como fora demonstrado, ela representa apenas mais um capítulo dos muitos
Nesse sentido, a intrínseca contradição das normas trabalhistas que ora existem, ora
garante, ora retiram, ora reprimem e ora protegem explicitam as relações de poder
e taticamente desse movimento, ou encontrarão seu fim mesmo naquilo que, hoje,
REFERÊNCIAS
1083
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
BRASIL. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Disponível em: Acesso em: 10 ago.
2020.
1084
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
ROEDEL, Hiran et. al. PCB, 80 anos de luta. Fundação Dinarco Reis, Rio de
Janeiro, 2002.
1085
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
BRASILEIRA
RESUMO
Este artigo objetivou identificar possíveis mudanças significativas no ensino jurídico que,
em tempos de coronavírus, motivaram a edificação de uma nova prática laboral brasileira.
Para o alcance do objetivo proposto, o método de abordagem foi o indutivo, sendo o
levantamento de dados realizado através da técnica da pesquisa bibliográfica de fonte
secundária. Nas considerações finais, concluiu-se que várias foram as mudanças
significativas no ensino jurídico, dentre eles uma que tem relação direta com a construção
de uma nova prática laboral brasileira.
Palavras chave: ensino jurídico; coronavírus; nova prática laboral brasileira; teletrabalho.
ABSTRACT
This article aimed to identify possible significant changes in legal education that, in times
of coronavirus, motivated the construction of a new Brazilian labor practice. To achieve the
proposed objective, the method of approach was the inductive one, and the data survey
was carried out using the secondary bibliographic research technique. In the final remarks,
it was concluded that several were the significant changes in legal education, among them
one that is directly related to the construction of a new Brazilian labor practice.
295
Doutorando em Ciências Jurídicas pela Universidade do Minho. Mestre em Ciência Jurídica pela
Universidade do Vale do Itajaí – Univali. Mestre em Estudios Políticos pela Universidad de Caldas – Ucaldas.
Oficial de Justiça e Avaliador. Professor Universitário. E-mail: staack@tjsc.jus.br. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5640235906331706.
296
Doutorando em Ciências Jurídicas pela Universidade do Minho. Mestre em Direitos Humanos na
Universidade Federal do Pará (UFPA). Professor Universitário. E-mail: eduardocgfilho@gmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9254268660807373.
297
Doutoranda em Ciências Jurídicas pela Universidade do Minho. Mestre em Ciência Jurídica pela
Universidade do Vale do Itajaí – Univali. Mestre em Estudios Políticos pela Universidad de Caldas – Ucaldas.
Advogada e Professora Universitária. E-mail: gaberds@gmail.com. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2058469220386782.
1086
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
INTRODUÇÃO
prática laboral brasileira, cujo foco, no presente texto, será voltado para os docentes
universitários.
1087
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CORONAVÍRUS
A forma como vivemos (e viveremos nos próximos anos) foi alterada com a
em números atualizados, o Brasil já ultrapassa cento e vinte mil mortes pela COVID-
adoecimento.
todos foram atingidos, o que nos chama atenção para o inescapável fato de que a
enquanto civilização.
todos, fazendo “cair por terra” a ideia conservadora de que a sociedade de consumo
ser humano, posto que nós sempre nos acostumamos a recorrer a uma série de
recursos para minimizar a inafastável margem de insegurança que nos traz a vida
(2020) afirma que “não estamos mais acostumados a enfrentar o poder da natureza
1088
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
“comunhão planetária298”.
Em toda angústia gerada por esta situação, aprendemos mais sobre “nossos
próprios fantasmas”. Este pequeno vírus veio para sacudir nossas ilusões acerca do
controle que acreditamos ter sobre a natureza, sobre nosso próprio destino e nos
fazer ver, mais uma vez, todo nosso narcisismo se prostrar pequeno e acanhado
Em um país tão desigual como o Brasil, por certo a pandemia não nos
prioritariamente certos grupos. Dentre os coletivos sociais que sofrerão com mais
mulheres, que não raro são tidas como “as cuidadoras do mundo” desempenhando,
portanto, para garantir os cuidados dentro de suas famílias e fora delas também,
298
Aqui, há de se notar que a própria etiologia do termo “pandemia”, usada pela primeira vez por Platão,
advêm de “todo o povo”.
1089
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
e o auto isolamento, estas possibilidades não passam de uma utopia para a maior
correr risco e contrair o vírus “na rua299” ou ficar em casa protegido da doença e
qual seja, o grupo dos docentes de cursos jurídicos 301 . É de extrema relevância
compreender os efeitos que são carreados para a vida destes professores, por isso
que o presente texto tem por objetivo principal apontar as principais mudanças
Direito.
299
Dentro desse grupo mais vasto de trabalhadores precários, há este grupo dos trabalhadores da rua, os
informais, os ambulantes, cujo “negócio” está indissociavelmente atrelado à rua. O impedimento ao trabalho
faz com que este trabalhador informal não tenha dinheiro para atender suas necessidades mais essenciais no
caso de ser infectado pelo Coronavírus , como por exemplo a compra de água e sabão para higienizar as mãos
e seus objetos pessoais com a finalidade de se evitar a propagação do contágio entre seus familiares (SANTOS,
2020).
300
O autor Christian Dunker (2020) indica que, se por um lado a biopolítica nos oferta mecanismos para o
controle de certos grupos, entre os quais as escolas e os hospitais, a necropolítica é caracterizada pela
manutenção das situações de miséria e desproteção da população, sendo o que explica, em sua visão, o real
motivo para a demora na tomada de medidas protetivas principalmente direcionadas ao trabalhador informal.
301
É necessário indicar que o trabalho dedica-se a tratar com mais vigor dos docentes vinculados a instituições
de ensino privada, pois são esses que atuam sob o manto do contrato de trabalho regido pela Consolidação
das Leis Trabalhistas e que, por não terem a estabilidade do serviço público, sofrem mais com os dissabores
trazidos por flexibilizações de direitos trabalhistas e, por conta desta sua posição mais fragilizada, estão mais
sujeitos a sofrerem pressões, assédios, observarem sua liberdade de cátedra e autonomia serem
completamente vilipendiadas, enfim, de sofrerem com a degradação de suas condições de trabalho.
1090
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
Coimbra 302 . Com esta “filiação” às diretrizes conimbricenses, pode-se dizer que
(NEDER, 2007).
sobretudo, pela obra de António Verney) foi decisiva para a formação jurídica
profissional muito poderoso. Chama atenção que vários destes magistrados eram
(NEDER, 2007).
É neste mesmo sentido que Adorno (1988) aduz que o Estado brasileiro se
formação jurídica. Neste contexto, como não poderia deixar de ser, a figura do
302
De acordo com Neder (2007) no decreto de criação das faculdades de Direito, havia 149 referências
explícitas a Coimbra e soa Estatutos da Faculdade de Direito de Coimbra, em 14 sessões realizadas na
Assembleia Constituinte (1823), 24 sessões na Câmara dos Deputados (1826-1827) e mais 11 sessões no
Senado.
1091
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
“bacharel 303 ” é muito bem considerada, pois passa a assumir grandes cargos
estratégicos do governo.
(ADORNO, 1988). Neste sentido também está Neder (2008) ao afirmar que “o
emancipação política, fato que estava intrinsecamente ligado à criação dos cursos
jurídicos no Brasil”.
303
Quando nos referimos ao bacharel, partimos da conceituação feita por Adorno (1988) para quem o
bacharel, além de ser o “principal intelectual da sociedade brasileira” do século XIX é “um intelectual que se
desenvolveu às expensas de uma vida acadêmica controvertida, agitada e heterogênea, construída nos
interiores dos institutos e associações acadêmicos, que teve no jornalismo seu mais eficaz instrumento de luta
e tornou viável a emergência de uma ética jurídica liberal, defensora das liberdades e da vigília permanente da
sociedade. As Academias de Direito fomentaram um tipo de intelectual produtor de um saber sobre a nação,
saber que se sobrepôs aos temas exclusivamente jurídicos e que avançou sobre outros objetos de saber. Um
intelectual educado e disciplinado, do ponto de vista político e moral, segundo teses e princípios liberais”.
1092
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
foram Olinda e São Paulo, tendo as duas Academias guardado relevantes diferenças
entre si. Para Neder (2008), o pensamento jurídico desenvolvido em Olinda poderia
ser caracterizado como autêntica Escola, posto que lá foi desenvolvida uma
Assim, Neder (2007) afirma que a formação jurídica paulista guardava mais
relação com os preceitos pombalinos do que liberais, isso além de se perceber certo
1093
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
notou que a utilização das tecnologias foi um mecanismo adotado por vários
gradualmente ter se tornado mais presente nas aulas, ainda estava restrita aos
docentes que, não só desejavam fazer uso desses recursos, mas acima de tudo que
todos os professores tiveram que se curvar, sob pena de não conseguirem mais
MOMENTO PANDÊMICO
trazer à baila alguns aspectos que condicionam a uma reflexão sobre o modo
1094
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
(NADER, 2014, p. 17). Nesta etapa, portanto, o ser humano precisa lidar com seus
próprios órgãos, com seu próprio corpo, com sua própria mente, ou seja, com sua
efeitos da adaptação interna, o ser humano decide por suprir suas necessidades com
prover suas lacunas vitais, tenta encontrar no mundo externo a razão de tudo e de
todos, o preenchimento de suas carências, o elixir para suas mais sagazes privações.
proveitos, seja interna ou externamente. Assim arremata Nader (2014, p. 17) sobre
os trabalhos produzidos pela sociedade: “[...] do trabalho que esta produz, o homem
Após esta breve passagem pelo processo adaptativo desenhado por Nader
é possível perceber que, diante do tema deste artigo, o que foi estabelecido pelo
1095
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
foram instituídos a fim de suprir as necessidades hodiernas e, por que não dizer,
então caos social estabelecido. E, por óbvio, não foi diferente com o ensino em todas
Outra categoria que possui uma íntima relação com o momento pandêmico
dignidade humana deve ser compreendida tendo por base o seguinte imperativo
categórico: [...] age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como
digno é tanto aquele que trata o outro como fim, levando em consideração, portanto,
tudo que o define e tudo que o torna feliz em todos os sentidos, como aquele que é
tratado como fim. Ademais, Kant, ao continuar o debate, apõe que é a autonomia o
edificando uma lei universal e prezando os fins, pode, de fato, praticar atos
No que concerne ao atual ensino jurídico, vale salientar que ainda não
estamos a lidar com uma plena autonomia do discente, embora ousamos dizer que
1096
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
futuro bacharel. Isso vem ao encontro do que defendia Paulo Freire, já que este era
homem, que perde assim seu poder de criar, se faz menos homem, é uma peça”.
emissor, mas, paulatina e sabiamente, estes estão sendo substituídos por aqueles
que estão a defender uma postura mais ativa do educando e, outrossim, estão a
definir-se não mais como simples emissores, mas sim como facilitadores na
e o educando, ao menos a nosso ver, está sim solidificando de maneira mais ativa o
conhecimento, o que, por óbvio, torná-lo-á um ser mais consciente de seu papel na
sociedade.
aulas presenciais por meio de plataformas virtuais. Fato é, portanto, que os alunos
nem sequer tiveram prejuízos em sua autonomia, já que o prazo regular de seu
curso não foi estendido, bem como permaneceram estimulados pelos docentes a
muitos alunos, por não terem acesso à internet, acabaram privados de uma aula
1097
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sua consciência crítica. Não ter uma aula regular, portanto, não deve ser um
impedimento para internalização de todo o conteúdo, nem sequer deve ser razão
para a sua não assimilação, já que, como adrede dito, o aluno é também garantidor
o direito posto e o direito pressuposto. Nas palavras de Eros Grau (2011, p. 65), “[...]
motivos e as razões para edificação do direito formal (direito posto). Neste sentido,
arremata Grau (2011, p. 81: “o povo – digo – produz o direito pressuposto; o Estado
produz o direito posto, que conhecemos como direito moderno ou direito formal;
apenas o direito produzido pelo povo é comprometido com a justiça.” Esta simbiose
direito previamente criado que deve o legislador se valer para que o seu direito
Foi, portanto, das bases desse direito pressuposto que o direito posto foi
1098
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de manutenção de uma relação social saudável. O campo laboral foi o mais atingido.
utilização das TIC’s305. Entretanto, esses métodos eram utilizados por aqueles que
se propunham a emprega-los.
métodos precisava ser rápida e ágil, mesmo para aqueles que não obtinham
304
Mescla de ensino presencial e digital.
305
Tecnologias de informação e comunicação.
1099
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emprego, tendo o empregado que se adaptar de forma célere ou “pedir para sair”
centros educacionais para a continuação das suas atividades, amparados até então
continuar até o termino das medidas de isolamento. Entretanto, com a perda da sua
dentre outras.
office (trabalho em domicílio), levando o trabalho para dentro dos lares, sendo
306
A MP 927/2020 teve a sua caducidade em 19/07/2020, deixando assim de compor o rol de medidas que
podem ser utilizadas em razão da pandemia.
1100
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distância (nos seu lares), falta de tempo e preparo das famílias para mediar a
essa modalidade, uma vez que eles não se comprometeram ao ensino virtual e sim
foram impostos a ele, entre tantas outras questões de natureza prática e formativa
disponibilizasse mais horas do seu dia em prol do labor, ficando cada vez mais
conectado ao seu trabalho para que assim pudesse realiza-lo, pois não obtinha os
Ainda que se entenda que as medidas tomadas foram drásticas, pois tinham
pelas MP 927/2020 tiveram uma boa intenção, acabaram por vedar a remuneração
trabalha mais.307
307
Art. 4º, § 5º O tempo de uso de aplicativos e programas de comunicação fora da jornada de trabalho normal
do empregado não constitui tempo à disposição, regime de prontidão ou de sobreaviso, exceto se houver
previsão em acordo individual ou coletivo.
1101
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atividades extra classe, isto é, inerentes à função docente. Entretanto, o erro dos
“tempos normais” não pode servir de métrica para validar os tempos “anormais”.
tal qual o restante da população que sofre com sintomas de sobrecarga emocional
Esses sintomas que são típicos dos momentos de crise também trazem
que por desenvolver as suas funções fora dos estabelecimentos da empresa não
308
“O direito a desconexão do trabalho consubstancia-se no direito de trabalhar e de, também, desconectar-
se do trabalho ao encerrar sua jornada, fruindo verdadeiramente das horas de lazer” (SOUTO MAIOR, 2003).
1102
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duas funções passam a coabitar o mesmo espaço com uma, possível, fiscalização 24
ao ponto de não se saber como será a reação desse profissional pós pandemia.
sofrem com mais demandas e maiores expectativas tanto das instituições de ensino
quanto dos próprios alunos, razão pela qual 53% desses profissionais indicam
implementado não é o adequado, mas sim o que poderia ser feito sob o estigma de
309
Devido a quarentena, 35% dos 2,4 mil docentes entrevistados tiveram que mudar totalmente os seus
hábitos; 41% disseram que mudaram muito e 22% tiveram que mudar um pouco a rotina. Apenas 2% disseram
que não precisaram mudar os hábitos (INSTITUTO PENÍNSULA, 2020).
1103
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sociológicas do trabalhador.
especificidades que devem ser avaliadas pelo profissional e pela própria empresa,
que ocorreu com a professora argentina que faleceu em meio a uma aula virtual,
pois teve COVID-19, mantinha sintomas leves da doença, mas resolveu continuar
suas atividades como docente, porque estava em casa e não se sentia mal o suficiente
centros educacionais foram feitas sob o enfoque pandêmico, isto é, sem avaliar de
1104
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Sucede que não podemos tomar por base a legislação da crise e os modos
mas, seguramente, teria deixado margem para uma maior discussão dos seus
efeitos.
Com isso, resta claro que a manutenção, dentro do possível, dos empregos
foi alcançada com sucesso. Por outro lado, no que tange à saúde física e mental do
sanitária mundial, o que ficam são novas condições de Unsicherheit, nas palavras de
CONSIDERAÇÕES FINAIS
uma porta que estava sendo aberta aos poucos, a fim de garantir saídas
1105
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das TIC’s.
chave mestra.
pouca remuneração.
alterado de forma abrupta, quando ainda não estavam preparados para essa
1106
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REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 12. ed. Tradução de Moacir Gadotti e Lilian
Lopes Martin. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 8 ed. rev.amp. São
Paulo: Malheiros, 2011.
1107
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NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 36. ed. rev. e atual. Rio de
Janeiro: Editora Forense, 2014.
1108
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TEMPOS PANDÊMICOS
RESUMO
O presente trabalho trata sobre a inserção de tecnologia no trabalho e dos seus reflexos em
relação a proteção dos direitos sociais, em especial no que tange ao direito à desconexão. O
objetivo do trabalho é analisar a proteção do direito à desconexão em relação a larga
utilização do teletrabalho em meio a pandemia do Covid-19. O tema se justifica diante da
necessidade de se pensar o uso da tecnologia no trabalho, em meio a uma crise sanitária
mundial, e a proteção do direito à desconexão do trabalhador. O trabalho utilizará o método
indutivo, racionalizado pelas técnicas da pesquisa bibliográfica, do referente, das categorias
básicas e dos conceitos operacionais, quando necessário, será divido em três capítulos: o
primeiro trará a contextualização do Covid-19, o segundo abordará o uso de tecnologia e o
excesso de informação relacionados ao teletrabalho e o último capítulo versará sobre o
direito à desconexão. A partir do exposto o presente trabalho concluirá que há um aumento
ao desrespeito ao direito à desconexão, devido a necessidade de aprendizado das
ferramentas tecnológicas, da falta de preparo dos trabalhadores e do excesso de informação
a que eles estão submetidos. Ainda sugerirá a aplicação da compliance trabalhista a fim de
efetivar o cumprimento do Direito à Desconexão.
ABSTRACT
The present work deals with the insertion of technology at work and its reflexes in relation
to the protection of social rights, especially with regard to the right to disconnect. The
objective of the work is to analyze the protection of the right to disconnect in relation to the
widespread use of telework in the midst of the Covid-19 pandemic. The theme is justified
310
Doutoranda em Ciência Jurídicas Privatísticas na Universidade do Minho - Portugal. Mestre em Ciência
Jurídica pela Universidade Vale do Itajaí (CAPES - Conceito 6). Mestre em Estudos Políticos na Universidad de
Caldas - Colômbia. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Pontifícia Universidade
Católica de Porto Alegre. e-mail: gaberds@gmail.com, currículo lattes:
http://lattes.cnpq.br/2058469220386782.
311
Graduação em Direito pelo Centro Universitário Curitiba (2015). Tem experiência na área de Direito do
Trabalho. Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI, na área de Concentração
em Fundamentos do Direito Positivo, Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pelo Centro
Universitário Curitiba- UNICURITIBA, e-mail: c_savaris@hotmail.com.
http://lattes.cnpq.br/4075995413144897
1109
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by the need to think about the use of technology at work, in the midst of a global health
crisis, and the protection of the right to disconnect workers. The work will use the inductive
method, rationalized by the techniques of bibliographic research, referent, basic categories
and operational concepts, when necessary, will be divided into three chapters: the first will
bring the contextualization of Covid-19, the second will address the use of technology and
the excess of information related to teleworking and the last chapter will deal with the right
to disconnect. Based on the above, the present work will conclude that there is an increase
in disrespect to the right to disconnect, due to the need to learn technological tools, the lack
of preparation of workers and the excess of information to which they are subjected. It will
also suggest the application of labor compliance in order to enforce compliance with the
Right to Disconnect.
INTRODUÇÃO
manutenção do labor, tanto que uma das formas autorizadas pelo governo federal
mercado, sendo cada vez mais difícil impor limites a desconexão, que acaba por
1110
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da jornada de trabalho.
poderão ser acionados, se necessário, para que o aspecto formal deste estudo se
1111
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DIREITOS SOCIAIS
Wuhan, faz parte de uma grande família viral, conhecida desde meados dos anos
60, que causam infecções respiratórias em seres humanos e animais. (SOARES, 2020)
organismo, de 2 a 14 dias. Os vírus são transmitidos pelo ar, por meio de tosse ou
espirro, contato pessoal próximo, como aperto de mão, e o contato com objetos ou
de regras, cuja a base é a Lei 13.979, de 06/02/2020, que estabelece as medidas para
virtude do surto do coronavírus de 2019, que acabou por gerar impactos nas
jurídico brasileiro.
relações, como, por exemplo, o que ocorreu no estado de Santa Catarina, onde o
1112
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governo para soluções jurídicas e legais quanto ao impacto dessa medida nas
relações de emprego, já que sem mão de obra não há capital. (NAHAS; MARTINEZ,
2020, p.1)
Covid-19.
ânimos dos empregadores que não sabiam como proceder em meio a situação de
quanto a higiene dos seus funcionários, iniciaram seu planejamento para o manejo
respondem por 52% dos trabalhadores com empregos formais, razão pela qual a
1113
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resposta estatal deveria ser precisa para amenizar os efeitos socioeconômicos das
na redação do Art. 3º da MP 927, onde há uma série de opções para que as empresas
razão pela qual importantes juristas brasileiros, a citar: Valdete Souto Severo e Jorge
transações/consumo pela internet, o uso de drive-in, entre outros métodos que não
quarentena.
1114
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Com isso, percebe-se que algumas mudanças que seriam paulatinas foram
feitas a fórceps e sob a égide de uma legislação temporária, em razão dos “novos
tempos”.
cunhada em meio a calamidade de saúde pública. Assim, nem tudo que foi
apreendido e modificado poderá ser válido passada esta crise, vide a própria
deste trabalho.
núcleo duro dos Direitos Sociais, especialmente, no que tange ao direito a limitação
1115
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prevista no Art. 62, inc. II e no capítulo II- A, intitulado “Do teletrabalho”. (BRASIL,
2017)
trabalho realizado na casa do trabalhador (home office), mas sim por prestação de
serviços realizado na maior parte das vezes fora das dependências do empregador,
trabalho presencial para o remoto para que o trabalhador possa trabalhar desde a
2020, p.3)
Ocorre que o Art. 4º, §1º da MP 927, (BRASIL, 2020), dispôs taxativamente
que:
1116
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2020, p.3)
para o trabalho remoto, razão pela qual mais horas estão sendo dispendidas para o
labor e, com isso, as bases antes sólidas das relações trabalho passaram a sofrer
modificações e flexibilizações, para dar espaço a esta nova dinâmica trazida pela
tecnologia.
312
A partir desse ponto do texto usará a palavra “teletrabalho” para descrever a modalidade de trabalho em
casa, pois foi assim que foi conceituada na MP 927/2020.
1117
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está predisposto a isso, quando é convocado a mudança pode ser mais difícil ainda.
as pessoas a uma supra-conexão, ou seja, uma conexão para muito além do razoável,
atual.
Com isso, verificou-se uma mudança de papéis, qual seja, a tecnologia, que
E, com isso, novas preocupações passaram a surgir, uma vez que diante do
lazer e descanso do empregado e, com isso, uma violação em massa dos direitos
fundamentais.
regulamentação pela Lei 13.467/17, razão pela qual este problema de confusão entre
1118
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saúde.
meios digitais, é muito grande tanto no que se refere ao trabalho quanto no que trata
das próprias informações sobre o Covid-19. Afinal, não basta mais os mecanismos/
2020).
Isso significa que grande parte das informações que chegam aos usuários
acerca do coronavírus são falsas, fazendo com que as pessoas percam a noção do
que há cerca de 900% de desinformação acerca do coronavírus, sendo que 59% trata
1119
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A questão das “Fake News” possui importância neste diapasão, pois elas
haja vista o tema da sociedade capitalista atual de que “tempo é dinheiro” (SILVA,
2019, p.50).
possuem.
1120
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por completo, seja por conta do whatsapp, e-mail, ou mensagens vindas do trabalho.
1121
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trabalho como mola propulsora deste ramo jurídico. (ALMEIDA, 2016, p.10).
tribunais.
Além disso, conforme destaca Gabriela Rangel da Silva (SILVA, 2020, p.59), o
determinar com o empregado uma jornada, bem como tenha um controle quanto a
313
A jurisprudência predominante entende o desrespeito ao direito à desconexão importa na indenização por
Danos morais conforme julgados: DANO MORAL - DIREITO FUNDAMENTAL AO LAZER - DIREITO À DESCONEXÃO
DO TRABALHO - Certo é que o dano moral existencial exige a prova de uma sequência de atos que cause a
violação de qualquer um dos direitos fundamentais do indivíduo, comprometendo seu projeto de vida pessoal
e a possibilidade da vida em sociedade. Todavia, não havendo prova quanto a ocorrência de qualquer violação
aos direitos da personalidade do autor, não merece acolhida o pedido de danos morais (TRT-3 - RO:
00108256720185030097 0010825-67.2018.5.03.0097, Relator: Marcio Flavio Salem Vidigal, Oitava Turma);
1122
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trabalho. Inclusive, é possível verificar que há uma severidade advinda das normas
2020).
a atividade humana, não utilizada mais para facilitar o trabalho, mas para
1123
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seja por receio de que haja contaminação ou pela limitação da atividade destes
órgãos por medidas governamentais, contribuindo para que este abuso com relação
atingindo o direito à saúde, visto que, a razoável duração do trabalho tem intrínseca
É bem verdade que as consequências desse contexto passam a ser notadas pelas
1124
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Assim, o que num primeiro momento era para possibilitar que as empresas
ser transformada.
A ideia aqui não é falar de cada uma das ferramentas de modo específico e
detalhado, mas sim demonstrar que através delas a empresa pode, além de
1125
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em cada empresa, podendo ser parcial, integral, 12x36, entre outras modalidades, e
O mesmo raciocínio pode ser colocado em prática com relação ao e-mail, vez
desconexão.
medida hábil a ser aplicada a fim de conquistar a desconexão, bem como uma forma
1126
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
dado que, não é de se admirar, que o grande marco do Direito do Trabalho mundial
somente, os modos e meios de labor, mas sim o tempo de trabalho que passou a se
1127
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empregos.
REFERÊNCIAS
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RESUMO
A pandemia da Covid-19 causou milhares de mortes em nível planetário. Além disso,
impactou em diversas relações contratuais, dentre elas a de locação. Desta forma, este artigo
objetiva estudar os efeitos da pandemia no contrato de locação de imóveis, em virtude da
grande relevância que este contrato apresenta na sociedade, seja para constituir uma
moradia ou realizar atividade econômica. Empregar-se-á a metodologia bibliográfica, eis
que se trata de nova temática no campo doutrinário. O trabalho divide-se em três partes:
no primeiro momento, uma abordagem sobre a relevância do contrato, em seguida,
especificar-se-á o contrato de locação e, finalmente, os efeitos do Covid-19 nas relações
locatícias, ponderando a existência de locação residencial e não residencial. Defender-se-á
que um acordo inicial entre as partes e a compreensão dos princípios contratuais
representariam um possível caminho para solucionar as lides decorrentes de um
desequilíbrio contratual superveniente em razão desta pandemia.
ABSTRACT
The Covid-19 pandemic caused thousands of deaths worldwide. In addition, it had an
impact on several contractual relationships, including leasing. In this way, this article aims
to study the effects of the pandemic on the real estate lease, due to the great relevance that
this contract presents in society, whether to build a house or carry out economic activity.
Bibliographic methodology will be used, since this is a new theme in the doctrinal field. The
work is divided into three parts: first, an approach on the relevance of the contract, then the
314
Pós-Doutora, Doutora e Mestre em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ.
Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Direitos, Instituições e Negócios/UFF. Professora
Associada de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense. E-mail:
celiababreu@gmail.com. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8015623070536170.
315
Professor Adjunto da Universidade Federal Fluminense e da Faculdade Cenecista de Rio das Ostras.
Professor de história no Colégio Municipal Elza Ibrahim. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em
Direitos, Instituições e Negócios. E-mail: alexandermpt@yahoo.com.br. Currículo lattes:
http://lattes.cnpq.br/1342995859695951.
316
Mestrando em Direito Constitucional pela Universidade Federal Fluminense. E-mail:
joaopedroschuab@gmail.com. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/9032655751013575.
1131
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lease agreement will be specified and, finally, the effects of Covid-19 on tenancy relations,
considering the existence residential and non-residential lease. It will be argued that an
initial agreement between the parties and an understanding of contractual principles would
represent a possible way to resolve disputes arising from a supervening contractual
imbalance due to this pandemic.
INTRODUÇÃO
os diversos efeitos desta pandemia, este estudo abordará os aspectos jurídicos nos
contratos de locação.
que aluga um imóvel para morar com sua família, representa o espaço em que tem
o seu descanso; por outro lado, a locação pode servir para explorar uma atividade
1132
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Das lições de Orlando Gomes, é possível extrair que várias foram as causas
fato de que foi desacreditada a ideologia segundo a qual a igualdade formal dos
segundo o autor:
uma das partes foi obrigada a contratar, ou do contrato que tem fonte legal, ou
1133
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a defesa dos aderentes (contrato de adesão), mediante normas legais que proíbam
desdobra-se através de uma imensa rede de contratos que a ordem jurídica oferece
aos sujeitos do direito para que regulem com segurança seus interesses” (GOMES,
2019, p.18). Indo além, o contrato é tido como merecedor de tutela e relevante não
“porque se vislumbra em cada contrato um fim socialmente útil que deverá ser
Uma outra questão que serve para sinalizar a relevância dos contratos
decorre do fato de que, no direito civil, estes estão presentes não apenas no direito
das obrigações, mas ainda no direito da empresa, no direito das coisas, no direito
de família, bem como no direito das sucessões. Mais do que isso, “ultrapassa[m] o
1134
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Comparado, passou a ser enunciada a ocorrência de uma suposta crise dos contratos
da autonomia da vontade.
uma mera fase de transformação do instituto, salienta Caio Mário da Silva Pereira:
compreender o contrato com sua estrutura clássica, concebido sob a égide do pacta
1135
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último, não obstante previsto como fonte interpretativa dos contratos mercantis no
praticamente após a sua previsão no Código Civil de 2002. Ao lado da boa-fé, dois
no contrato de adesão, arts 423 e 424, CC). Este princípio não é absoluto, devendo
XIX e também no século XX. De acordo com este princípio, “o contrato nasce do
1136
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consenso puro dos interessados, uma vez que é a vontade a entidade geradora.
sendo, “Lícito não lhes é arrependerem-se; lícito não é revogá-lo senão por
consentimento mútuo; lícito não é ao juiz alterá-lo ainda que a pretexto de tornar as
estrangeiros, à ela foi atribuída tríplice função: (I) interpretativa (art 113); (II) função
1137
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restritiva do uso abusivo de direitos (art 187); função criadora de direitos (art 422).
Econômica (Lei 13.874/19) ao art 421, escrevem que em nada contribuiu para a
não apenas como limite, mas como razão da liberdade de contratar”, acrescentando
social continuará a atuar não somente como limite externo, como também como
52).
que a “opção constitucional pelo objetivo de construir uma sociedade livre, justa e
1138
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2. O CONTRATO DE LOCAÇÃO
forma contratual pelo qual o locatário tem o direito de usar determinado bem, por
quando não se tem recursos para adquirir um bem ou, ainda, não se entende
A locação consiste, pois, no contrato em que uma parte cede a terceiro o uso e
Código Civil (CC). Apesar do Código Civil trazer o conceito da locação e discipliná-
la do referido dispositivo até o artigo 578, importa dizer, desde logo, que a
(Lei 4504/64).
portanto, como possuidor direto do bem, e pode, portanto, defender a posse do bem
1139
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preço, consentimento e prazo (NEVES, 2016, p. 152). O objeto deve ser devidamente
que não existe locação eterna, e desta forma, as partes tem liberdade para fixar, a
qualquer momento, o termo final, e caso não exista, poderá ser extinto a qualquer
locador, quanto ao locatário, e se, por um lado, incumbe ao locador conceder o uso
pacífico do bem para ser locado, por outro, o locatário tem o dever de pagar o
um tempo, pode ser ainda, de forma diferida, quando existe um hiato entre a
dos aluguéis.
1140
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2.2. Espécies
por isto, o primeiro passo consiste numa breve apresentação de suas espécies, a fim
recairá sobre as locações de bens imóveis urbanos, o que não significa dizer que a
pandemia não tenha causado efeitos na locação de bens móveis, como por exemplo,
civil, que, em alguns estados foi tratada como atividade essencial, e em outros não,
dos entes federativos. Neste caso, em particular, registra-se que, nas hipóteses em
que a construção civil não foi tratada enquanto atividade essencial, fato que ensejou
maior. Esta tese, entretanto, vem sendo refutada para defender que se trata de
317
TEIXEIRA, Cristiane. Academias alugam equipamentos para sobreviver à crise do coronavírus. Disponível
em: https://www1.folha.uol.com.br/mpme/2020/04/academias-alugam-equipamentos-para-sobreviver-a-
crise-do-coronavirus.shtml. Acessado em: 05/08/20.
1141
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locação de imóveis urbanos, e não os rurais, o que não significa que a pandemia não
tenha provocado efeitos em contratos agrários. Neste particular, vale relembrar que
a Lei 4504/64 rege as relações sobre os bens imóveis rurais, já a Lei 8245/91
do que seja imóvel urbano e rural não decorre da localização do bem, e sim da sua
que o locatário adquire o bem para residência, mas planta uma horta; nesta situação
distinção entre imóvel rural e urbano, ressalta a doutrina a posição de que seja
Ademais, destaca-se que a própria Lei 8245/91, em seu artigo 1º, parágrafo
único, excepciona modalidades de locações que não serão regidas por esta Lei, como
por exemplo, a locação em apart-hotel. Desta forma, é possível afirmar que estamos
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âmbito da ordem econômica e social. Ainda neste aspecto, o foco será a locação em
shopping center. Por oportuno, cumpre frisar que a divisão feita neste trabalho
de locação.318
dos 100.000 mortos em agosto, o que revela o grande potencial destrutivo deste
empresariais.
318
Desta forma, destacamos a classificação feita por Ermiro Ferreira Neto, em live realizada no dia 15 de maio
de 2020, na palestra: Covid-19 e as soluções para os contratos de locação, no item. 5.2. Revisão à luz da
diversidade de modelos de negócio na locação A. Locação residencial B. Locação não-residencial de escritório
ou salas comerciais C. Locação não-residencial de ponto comercial D. Locação em shopping center.
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contrato a todo custo, e claro, que pode ser extinto a qualquer momento, mas não
e neste aspecto, tal orientação deve ser aplicada a qualquer espécie de locação,
que, tanto a extinção quanto a revisão, configuram situações que devem ser
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do contrato não cumprido, tanto no artigo 476, quanto no 477, todos do Código Civil
e, por fim, a frustação do fim da causa do contrato. Por outro lado, indicam-se como
princípio da boa-fé objetiva, a força obrigatória dos contratos (pacta sunt servanda),
requisito nas ações revisionais de obrigação, além daqueles já previstos pelo artigo
fundamento no artigo 59 da Lei 8245/91; tal preceito, todavia, foi vetado na Lei
dos deputados Marcelo Freixo e Túlio Gadelha, em que se prevê a suspensão dos
1145
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previsto no artigo 23, I e XII da Lei de Locações, a isenção de multas por contratos
força maior e o referido desconto serve para manter o equilíbrio contratual. 319 Este
determinação judicial contrária, continuava a ser exigível. Além disso, o erro, entre
319
Desta forma, descrevemos o dispositivo: § 4º O desconto previsto neste artigo incide automaticamente
sobre os contratos de locação residencial firmados antes da presente Lei, caracterizando-se a pandemia do
Coronavírus como motivo de força maior e situação emergencial que justifica o presente desconto a fim de
preservar o equilíbrio da relação contratual. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=AA7FCD0E5A885E59B6748EC7
D8978F3B.proposicoesWebExterno2?codteor=1870957&filename=PL+1112/2020. Acessado em: 25/08/20.
320
BRASIL. Diário da Câmara dos Deputados. ANO LXXV Nº 102, QUINTA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2020, p. 476-
477.
1146
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buscassem abrigo nas ruas das cidades, aumentando ainda mais o quadro de
tem repercussão para além do que foi convencionado entre as partes, mas também
um aspecto social.
e neste caso, defender-se-á que poderá ser empregado tanto na locação residencial
liberdade contratual (ROCHA, 2018, p. 55). Ademais, este princípio se pauta por
1147
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realizar atividades que permitem o pagamento, e ainda que sem trabalho possua
não há que se falar em revisão. Este raciocínio também se aplica às locações não
tem condições de arcar com o custo. Neste caso, o ônus da prova será do locatário:
pelo dever anexo de lealdade, deverá provar que, para além do desequilíbrio, não
tem condições de arcar com o valor do aluguel sem prejuízo de seu sustento ou
pagamento dos aluguéis, eis que em muitos casos o locador depende deles para seu
1148
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desconto único para toda e qualquer locação residencial (LOBO; DIAS, 2020, p.121).
que se tem é a ocorrência de questão subjetiva ao devedor. Logo, nem um caso, nem
para moradia, pois não altera a base objetiva do negócio jurídico, não atingindo o
Gama e Neves, por sua vez, afirmam que inexiste uma resposta certa ou
absoluta sobre esta questão. Assim, exemplificam ter sido salutar a não manutenção,
futuramente. Outra medida lhes parece, porém, melhor, qual seja a da redução
montante mais justo e adequado em cada situação”. Mas, se, de todo modo, o
pagamento dos aluguéis, mesmo cumulativamente para o futuro, não for possível,
1149
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natureza, pois aqui, em regra, os riscos do negócio são atribuídos ao locatário, que
irá explorar uma atividade e seu sucesso ou não dependerá apenas do seu
diversos casos, mas para este trabalho restringir-se-á ao caso da locação em shopping
center.
deveria pagar o total dos aluguéis e outras despesas, durante o momento em que o
que estejam de alguma forma realizando suas atividades, como por ex., os serviços
de entrega de alimentos e mercadorias por delivery, tal raciocínio não prospera, eis
que a situação se inverte, pois é possível que neste caso os lucros do lojista sejam até
artigo 567 do Código Civil. Esta, entretanto, por se tratar de uma deterioração
1150
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deterioração das faculdades deste último, tem-se que seja autorizado a pleitear a
anos previsto no artigo 19 da Lei de Locações, visto que aos contratos de locação
devem ser rateadas pela taxa condominial. Desta maneira, defende-se que, diante
da pandemia atual, cabe o pagamento de um aluguel mínimo para que não haja
online).
1151
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água e a luz das áreas comuns, ou mesmo, ficar sem segurança (SIMÃO, 2020,
online).
mais adequada. Em lugar disso, sustentam que o caminho mais adequado passa
tenha que suportar, sozinho, todos os ônus”. Se, por outro lado, as partes não
103).
CONCLUSÃO
provocados pela pandemia. Não restam dúvidas de que, do ponto de vista do Poder
1152
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Público, será necessário e urgente adotar politicas que assegurem a todas as pessoas
é preciso buscar “saídas” para o efeito da Covid-19 nas relações locatícias. Assim
pela função social do contrato e pela boa-fé objetiva, verificar o que seria possível e
viável realizar, a fim de manter o contrato, desde que, efetivamente, seja do interesse
REFERÊNCIAS
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em: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-edilicias/324393/sem-
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LOBO, Arthur Mendes; DIAS, Wagner Inácio. Pandemia e locação comercial. In:
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
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TARTUCE, Flávio. Direito Civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. V. 3.
Rio de Janeiro: Forense, 2020.
1155
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para-sobreviver-a-crise-do-coronavirus.shtml. Acesso em: 05/08/20.
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BRASILEIRO
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo falar a respeito da insanidade mental e sua relação com
os direitos humanos, sob o enfoque do ordenamento jurídico brasileiro. A metodologia
utilizada foi a compilação bibliográfica, com a exposição de diversas obras e artigos
científicos sobre o tema. A pesquisa divide-se didaticamente em dois tópicos. O primeiro
tópico intitula-se saúde mental e os direitos humanos, discute acerca da classificação dos
direitos humanos, as diferenças entre direitos humanos e direitos fundamentais, a evolução
histórica normativa da doença mental e a análise da Lei nº 10.216/2001. Em seguida, o
segundo tópico denominado internação e seus reflexos na aplicação prática, ocupa-se da
contemplação no que tange aos manicômios judiciários, a recuperação do doente mental,
sua reinserção na sociedade e no tocante ao movimento da Luta Antimanicomial. Por fim,
concluir a relevância desse tema tanto para o mundo jurídico bem como para a sociedade
no geral.
321
Bacharelanda do curso de Direito pelo Centro Universitário UniEvangélica. E-mail:
sarahbborgesvasconcelos@hotmail.com
322
Mestre no Programa stricto senso em Ciências Ambientais (UniEvangélica). Professora do Curso de Direito
da UniEvangélica e Católica de Anápolis. Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Direito da UniEvangélica –
NPDU e orientadora do NTC. Especialista em Direito Constitucional pela Universidade Federal de Goiás – UFG
e em Ciências Penais pela UNIDERP. Advogada. E-mail: karla.oliveira@docente.unievangelica.edu.br.
http://lattes.cnpq.br/0805678957370865.
³ Mariane Morato Fonseca Stival.
323
Doutora em Direito pelo Centro Universitário de Brasília e Universidade de Paris (PhD). Pós Doutora.
Professora na Unievangélica. Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Tribunais Internacionais da Universidade
de São Paulo-USP. Membro da Academia Brasileira de Direito Internacional. E-mail:
marianemoratostival@hotmail.com. http://lattes.cnpq.br/8426566355669182.
1157
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ABSTRACT
This article aims to talk about mental insanity and your relation to human rights, under the
focus of the Brazilian legal system. The methodology used was the bibliographic
compilation, with the exhibition of several works and scientific articles on the subject. The
work is didactically divided into two chapters. The first chapter is entitled mental health
and human rights, discusses the classification of human rights, the differences between
human rights and fundamental rights, the historical normative evolution of mental illness
and the analysis of Law nº. 10.216/2001. Then, the second chapter, called hospitalization
and its effects on practical application, deals with contemplation with regard to judicial
asylums, the recovery of the mentally ill, their reintegration into society and the movement
of the Anti-Asylum Fight. Finally, conclude the relevance of this theme both for the legal
world as well as for society in general.
Keywords: Mental Insanity; Human Rights; Mental Health; Asylums; Anti-Asylum Fight.
INTRODUÇÃO
e sua relação com os direitos humanos. Além disso, discutir a respeito dos reflexos
acerca da inércia quanto ao debate desse tema e quanto aos tratamentos e reinserção
1158
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
mentais.
dos doentes mentais e quais são seus efeitos práticos. Primeiramente, faz-se
Vale ressaltar que esse conteúdo possui relevância do âmbito social, cultural
existe a cultura de segregação dos doentes mentais e, tratar cada vez mais sobre esse
assunto, diminuiria essa perpetuação. E, por fim, sob o enfoque político, a pesquisa
Os direitos humanos são classificados como direitos básicos que devem ser
1159
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
humanos são direitos naturais, portanto devem ser assegurados a todo e qualquer
longo da história.
convivência entre os homens, então cada pessoa protegia seus bens e seus direitos
da forma como lhe eram possíveis. Como uma civilização nem sempre tende a
elaborar regras gerais que disciplinavam as condutas dos indivíduos. Dessa forma,
foi criado a Lei das XII Tábuas, conhecido como o Código de Hamurabi,
inicialmente recebeu esse nome por ter sido esculpida em doze tábuas de madeira
1160
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dos direitos humanos. O soberano não estava submetido ao cumprimento das leis
Afirma-se que, “foi na Idade Média, em 1215 o primeiro avanço para limitar
uma série de leis e costumes presentes no país, sendo assim seus súditos o forçaram
a assinar a Carta Magna. Nela estava previsto o direito da igreja estar livre da
1161
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
parlamento inglês aprovou uma série de medidas para aumentar a receita fiscal das
foi feito a Declaração de Independência dos Estados Unidos em 1776, por Thomas
147).
E por fim, a última carta de declaração dos direitos humanos anterior a atual
francesa. A declaração afirma que os direitos humanos são direitos naturais e que
sua limitação é a não violação do direito de outro homem. Dessa forma, enxerga a
lei como uma expressão de vontade geral, que tem como objetivo promover a
Nações Unidas (ONU), cujo principal objetivo seria a manutenção da paz entre os
1162
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países e também prevenir futuras guerras. “Em 1948 foi elaborada a Declaração dos
traduzida pra mais de quinhentos idiomas”. Tornou-se uma inspiração para criação
básicos inerentes ao homem. Tem como objetivo promover um ideal de paz e justiça,
governantes.
distinção desses dois institutos é possível destacar a fonte pela qual emanam e
sua raça, nacionalidade, gênero, crença ou orientação sexual. Sua origem tem berço
1163
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Herrera Flores:
qualquer violação por parte dos Estados, cuja jurisdição fica limitada à esfera
direito violado cuja garantia esteja expressa em tratado internacional assinado pelo
Estado em que vive, não sendo preciso nenhum outro requisito. É indispensável a
estatal, visto que devem ser garantidos acima de qualquer coisa (PIOVESAN, 2006).
Em vista disso, a sua titularidade não prevê requisitos, todas as pessoas são
titulares dos direitos humanos. Não há, portanto, uma relativização, são
relação a sua fonte, eles emanam da Declaração dos Direitos Humanos elaborada
pela Organização das Nações Humanas (ONU). Sendo assim, estão firmados em
Cartas Magnas, sendo protegidos pela esfera interna de cada Estado. São direitos
1164
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
A proteção é a encargo do próprio Estado que deve repreender qualquer desvio dos
2003).
de cada país. São direitos humanos positivados por cada Carta Magna constituída.
Sendo assim, os titulares são os cidadãos de cada país onde a constituição encontra-
constitucional de cada país, possuem proteção interna e são restritos aos seus
habitantes. Todavia, apesar de existirem diferenças entre eles, ambos devem ser
1165
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mentais uma vez que se trata de direitos humanos fundamentais, porém nem
O primeiro registro legislativo realizado no Brasil foi feito por João Carlos
no Estado, para que os acalentados dessa doença pudessem receber a atenção que
evidente a semelhança entre esta lei e a vigente nos dias atuais, ambas com o caráter
Decreto nº 3.987, de 2 de janeiro de 1920. Por meio deste decreto foi criado o
passou a ter o direito de intervir sobre a sociedade para formatar suas ações
1166
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saúde mental. Não há, neste período, nenhuma norma jurídica específica de saúde
da saúde mental não foi paralisada. O registro legislativo desta época foi o Decreto
mental ou aos direitos dos portadores das enfermidades mentais. Somente com a
Constituição de 1988 que o tema recebeu seu espaço na Carta Magna. Com a
1167
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abordagem sem discriminação e preconceito. Esse contexto deu início ao anseio por
uma reforma psiquiátrica, que tinha como objetivo a humanização dos tratamentos
apresentado pelo deputado Paulo Delgado. O projeto contava com três artigos, cujo
conteúdo era deter a expansão dos leitos manicomiais, promover um novo tipo de
cuidado, criar uma nova rede de serviços, e proporcionar o fim das internações
Federal, tendo sido aprovado somente em 2001. Apesar disso, após a apresentação
país. Desta forma, suscitou a elaboração e aprovação de leis estaduais que tratavam
sobre o assunto, além de portarias por parte do Ministério da Saúde e uma resolução
acerca da proteção dos doentes mentais pelo Conselho Federal de Medicina (BRITO,
2004).
O Projeto de Lei de 1989 passou por mudanças para ser aprovado. A maior
antimanicomial. O projeto então passou a ser denominado Lei nº 10.216, que entrou
1168
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mencionaram o direito à saúde mental. E mesmo com todo esforço dos legisladores
para criação de uma lei específica que amparasse os doentes mentais, somente em
específica dos direitos dos portadores de doenças mentais. Após sua entrada em
vigor, houve uma maior preocupação quanto ao cuidado com o bem-estar psíquico.
1169
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para desenvolver políticas públicas que atendam esses doentes, bem como a devida
trazer limitações para a internação psiquiátrica que até então era vista como o único
tratamento possível, e com a nova lei tornou-se uma opção apenas quando todos os
mental sem intervenções invasivas e de forma natural. Houve a criação dos CAPS
que são os centros de atenção psicossocial, que servem como refúgio para aqueles
ser encaradas como última instância e que serão submetidas ao controle dessa lei.
recursos para garantir a preservação de seus direitos, como por exemplo os asilos.
1170
Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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doenças mentais. Uma vez reconhecido o doente mental como cidadão de direitos,
Portanto, faz-se necessário analisar essa lei, visto que trouxe grandes mudanças
Todavia, será visto que esse objetivo caiu em esquecimento, dando lugar à
revigorante por mudanças. Foi exatamente isso que aconteceu com a evolução do
pela sua reinserção no convívio social, trouxeram consigo o início da revolução pela
reforma psiquiátrica.
1171
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Pedro II, no Rio de Janeiro, ficava evidente o caráter hediondo dos tratamentos.
utilizadas de forma habitual entre os pacientes. Não havia uma divisão entre eles
por tipo de enfermidade, muito menos por sexo dos internos. Durante os primeiros
revolucionar a forma de lidar com as doenças mentais. A pintura foi sua grande
arma e considerava ser uma forma do doente mental expressar-se por meio da arte
(LUCHMANN, 2007).
cidade de Zurique, na Suíça”. A exposição foi inaugurada pelo próprio Carl Gustav
Jung, um dos maiores nomes no estudo da psique humana. Nise também propunha
a interação dos internos com os animais, que segundo ela desenvolvia a noção de
1172
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Em 1956, Nise fundou a Casa das Palmeiras, o primeiro passo na luta contra
mentais na sua reinserção na vida em sociedade. Nise era uma mulher à frente de
seu tempo, além disso possuía uma sensibilidade ímpar e humanizou a forma como
os doentes mentais eram tratados. Ela faleceu em 1999 aos 94 anos, hoje é
com mais de 5 mil pacientes, porém estima-se que 70% dos internos não
padrões eram internados, como por exemplo homossexuais, mães solteiras, negros,
banho por ducha escocesa, eram eletrocutados caso se comportassem mal, também
Toda desumanidade fez com que o hospital fosse comparado aos campos
Hospital Colônia, que teve suas atividades encerradas somente em 1980”. Em 1996,
um dos pavilhões foi transformado em um museu para manter viva essa lamentável
(COSTA, 2007).
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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a recuperação do doente mental e nem mesmo para sua volta à sociedade. Com base
profissionais.
A ruptura com o modelo manicomial significa muito mais que o fim dos
do movimento para ganhar espaço, sendo considerada uma verdadeira luta. Porém,
1174
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2007).
pensamento crítico a respeito do assunto saúde mental. Por esse motivo, fez-se
psiquiátrica no Brasil visa substituir, aos poucos, o tratamento dado até então por
destes. A partir da reforma, o Estado não poderia construir e nem mesmo contratar
tratamentos menos invasivos do que aqueles que eram dados. A família teria papel
(BERNARDO, 2018).
1175
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entrada em vigência desta lei, o assunto saúde mental tornou-se mais discutido no
país. Apesar de não ter extinto totalmente o modelo manicomial, limitou a sua
trouxe diversos outros benefícios nos tratamentos dos doentes mentais brasileiros,
grande avanço para a luta pelos direitos dos portadores de doenças mentais.
encaminhado para casa e a partir de então seguirá com o tratamento nos CAPS.
Possuem características acolhedoras aos doentes mentais, para que estes sintam-se
respeito de sua condição e sigilo no que tange às suas informações pessoais. Outro
1176
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início nos anos 70 e até hoje não foi finalizada. Apesar de ser um movimento
CONSIDERAÇÕES FINAIS
dificuldade em assegurar e proteger esse direito. Além disso, no que tange aos
por eles. Em consonância a isso, nota-se a necessidade de expor e discutir sobre esse
tema.
embora mínimos ao ser humano, ainda sim percorreram um longo caminho para
serem garantidos, trajeto este que deve continuar sendo percorrido. Observou-se
1177
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Volume II: Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão: Direitos Sociais, Econômicos & Culturais
mais modernas. Por fim, notou-se também que a promulgação de uma lei específica
que trata sobre os direitos dos doentes mentais deve ser vista como uma conquista
doente mental não contribui para sua recuperação e nem mesmo para sua volta a
mentais.
tema, assim como estudar a respeito de um movimento que luta sobre esses ideais.
Logo, ficou evidente a relevância do assunto tanto para o mundo atual, onde a saúde
mental é um termo tão propagado, como também para a sociedade futura com o
básicos. Embora o Brasil tenha começado a dar mais atenção aos doentes mentais
REFERÊNCIAS
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Anais do VI Seminário Internacional sobre Direitos Humanos Fundamentais
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BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: editora campus, 1992.
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