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(Organizadores)
NOVAS PERSPECTIVAS DO
DIREITO INTERNACIONAL :
AS RELAÇÕES EXTERNAS NO
VOLUME 3
EDITORA
MUCURIPE
MATHEUS CAVALCANTE LIMA
MILENA ALENCAR GONDIM
WILLIAM PAIVA MARQUES JÚNIOR
(Organizadores)
NOVAS PERSPECTIVAS DO
DIREITO INTERNACIONAL:
AS RELAÇÕES EXTERNAS NO
CONTEXTO PÓS-COVID-19
VOLUME 3
AUTORES
Editora Mucuripe
Fortaleza, 2023
Esta obra está sob os direitos da Creative Commons 4.0
https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/deed.pt_BR
CC
BY SA
Novas perspectivas do Direito Internacional:
as relações externas no contexto pós - Covid-19 - volume 3
1ª edição
Editora Mucuripe
Conselho Editorial
André Parmo Folloni João Ricardo Catarino
Arno Dal Ri Junior Juarez Freitas
Daniela Leutchuk de Cademartori Marcelo Cattoni
Danielle Annoni Marciano Seabra de Godoi
Denise Lucena Cavalcante Marcos Wachowicz
Germana de Oliveira Moraes Maria Vital da Rocha
Gisele Cittadino Martonio Mont Alverne Barreto Lima
Hugo de Brito Machado Segundo Paulo Caliendo
João Luís Nogueira Matias Roberto Alfonso Viciano Pastor
ISBN- 13 : 978-65-87966-35-9
CAPÍTULO XI.
A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS E
O ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL NO BRASIL:
ANÁLISE DO CASO INSTITUTO PENAL PLÁCIDO DE SÁ
CARVALHO................................................................................. 282
Mateus Venícius Parente Lopes
THE INTER-AMERICAN COURT OF HUMAN RIGHTS
AND THE UNCONSTITUTIONAL STATE OF AFFAIRS IN
BRAZIL: ANALYSIS OF THE CRIMINAL INSTITUTE
PLÁCIDO DE SÁ CARVALHO CASE
CAPÍTULO XII.
TRANSPANDEMIA: A BUSCA E OS DESAFIOS PELA
EFETIVIDADE DE UM TRATADO INTERNACIONAL DE
DIREITO SANITÁRIO ................................................................ 304
Carolina Lima Ciríaco Scipião
TRANSPANDEMIC: THE SEARCH AND CHALLENGES IN
THE EFFECTIVENESS OF AN INTERNATIONAL HEALTH
TREATY
SOBRE OS COORDENADORES
Introdução
julho de 2022.
13 Dados disponíveis em: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/notas-a-im-
prensa/20203-declaracao-presidencial-sobre-a-renovacao-e-o-fortalecimento-da-
integracao-da-america-do-sul-santiago-22-de-marco-de-2019. Acesso em: 29 de
julho de 2021.
A integração regional sul-americana ante os desafios jurídicos do PROSUL
32| no contexto pós-pandêmico e o necessário resgate da democracia
23 MESQUITA, Paulo Estivallet de. Novos sinais para a política externa brasileira na
América Latina. V Conferência sobre Relações Exteriores: o Brasil e as tendên-
cias do cenário internacional. Sérgio Eduardo Moreira Lima e Augusto W. M.
Teixeira Júnior (organizadores). – Brasília: FUNAG, 2018, págs. 33 e 34.
William Paiva Marques Júnior |39
necessidade de avaliar a melhor forma de mudar ou se adaptar
à nova conjuntura. Contudo, esse processo gera efeitos inevitá-
veis nos processos de integração existentes.
Como medida profilática, tem-se que as eventuais
clivagens políticas e ideológicas latentes no cenário político sul-
americano não devem ser tema central dos processos integraci-
onistas regionais sul-americanos e também não podem servir de
impedimento para a efetividade de resultados práticos e dialó-
gicos.
No diagnóstico da atual política diplomática brasi-
leira, Renata Moraes Simões24 ressalta que, com um forte dis-
curso de ruptura, em 2019 é empossado o presidente Jair Bolso-
naro. No intuito de dar continuidade ao que se chamou “desi-
deologização” da política externa brasileira, Bolsonaro coloca à
frente do MRE o diplomata Ernesto Araújo. Desde sua posse
como ministro, Araújo verbalizou um denso questionamento às
tradicionais ideias de multilateralismo e universalismo que por
anos foram associadas à práxis do Itamaraty. Torna-se cada vez
mais evidente os traços de ruptura que a gestão atual pretende
imprimir nas relações exteriores do Brasil contrapondo-se à
continuidade mantida desde o fim dos anos 1990. As transfor-
mações ocorrem na expectativa de demarcar uma via inovadora
de atuação ao refutar o legado dos governos anteriores, bem
como desconstruir seus vestígios. As relações exteriores brasi-
leiras até o momento são demarcadas pela busca do alinha-
mento personalista ao então presidente Donald Trump e da en-
trada brasileira na OCDE, que representam, na visão de Araújo,
uma reparação histórica ao fato de que por décadas a política
vista, atribui igual peso aos seus interesses como os atribui aos
dos outros, cria organizações destinadas a incentivar a vida em
comum e é comprometida com a tarefa de inclusão social.
A realidade pós-pandêmica é dinâmica e os desafios
são enormes na tentativa de reversão desse grave e doloroso
quadro na América do Sul. Surgiram novas mutações do vírus
e a vacinação ainda é desigual nos países do PROSUL, devendo
criar-se um quadro de solidariedade regional para combate ao
quadro caótico de ausência de meios verificada nos países inte-
grantes. A cada dia surgem novos desafios jurídicos e muitos
países apresentam uma completa ausência de diretrizes claras e
congruentes na necessidade de combate aos efeitos deletérios
causados pela Covid-19 e da superação dos problemas econô-
micos surgidos a partir do conflito travado entre a Rússia e a
Ucrânia, os quais certamente impactam a integração regional
sul-americana. Afinal, conforme conclui Jürgen Habermas30:
“Mas devemos antes encontrar uma saída construtiva para o
nosso dilema. Essa esperança se reflete na cautelosa formulação
do objetivo de que a Ucrânia não pode perder esta guerra.”
A estrutura flexível e pouco institucionalizada tipifi-
cadora do PROSUL concatena-se à postura de esvaziamento
dos organismos identificados ao modelo anterior de integração
regional, uma vez que, consoante expresso por Alejandro Fren-
kel31: “Prosur no se propone agregar un nuevo plato al menú de
raty.gov.br/pt-br/notas-a-imprensa/21459-declaracao-presidencial-do-prosul-so-
bre-acoes-conjuntas-para-enfrentar-a-pandemia-do-coronavirus. Acesso em: 08
abr. 2022.
A integração regional sul-americana ante os desafios jurídicos do PROSUL
50 | no contexto pós-pandêmico e o necessário resgate da democracia
Considerações Finais
Referências
Introdução
5 “Le plan comporte les mesures de vigilance raisonnable propres à identifier les
risques et à prévenir les atteintes graves envers les droits humains et les libertés
fondamentales, la santé et la sécurité des personnes ainsi que l'environnement,
résultant des activités de la société et de celles des sociétés qu'elle contrôle au sens
du II de l'article L. 233-16, directement ou indirectement, ainsi que des activités
des sous-traitants ou fournisseurs avec lesquels est entretenue une relation com-
merciale établie, lorsque ces activités sont rattachées à cette relation.” (FR, 2017)
6 “II.-Lorsqu'une société mise en demeure de respecter les obligations prévues au I
n'y satisfait pas dans un délai de trois mois à compter de la mise en demeure, la
juridiction compétente peut, à la demande de toute personne justifiant d'un inté-
rêt à agir, lui enjoindre, le cas échéant sous astreinte, de les respecter.” (FR, 2017)
Antônio Lucas dos Santos da Mata | 69
No caso da Alemanha, a Lei de Devida Diligência na
Cadeia de Suprimentos (em alemão Lieferkettensorgfaltspflichten-
gesetz - LkSG), teve o início de suas discussões em 2019, mas foi
somente em 2020 que se decidiu criar um regulamento obriga-
tório para que as empresas observassem suas obrigações de
RSC, especialmente porque, com base nos estudos realizados
pelo Governo Alemão, não estava sendo cumprido a adoção de
práticas voluntárias de devida diligência, logo, surgiu a neces-
sidade de criar um instrumento que tornasse a realização de tais
práticas obrigatório (BUSINESS AND HUMAN RIGHTS RE-
SOURCE CENTRE, 2021). Em julho de 2021 a lei foi aprovada e
começará a vigorar em 2023 (DE, 2021).
Em conformidade com o que está previsto na lei, as
regras serão aplicadas a empresas que possuem suas sedes ou
estabelecimento principal na Alemanha ou que tenham alguma
filial no solo nacional, desde que observado os regramentos,
como o número mínimo de funcionários, que inicialmente é três
mil, sendo a partir de 2024 reduzido para mil. A lei aborda tanto
violações graves de direitos humanos quanto práticas empresa-
riais que resultem em degradação ambiental. Além de observar
os ditames básicos da lei, as empresas deverão ainda criar uma
plataforma interna para o recebimento de reclamações de quais-
quer pessoas acerca de alguma prática que estejam indo de en-
contro com as diretrizes elencadas na legislação. Caso eventual-
mente haja o descumprimento das empresas de tais medidas,
esta poderá ser processada perante o judiciário (DE, 2021).
As leis adotadas na França e na Alemanha são ape-
nas dois exemplos de normas que estabelecem mHRED no sis-
tema jurisdicional interno. Existem diversos outros países,
ainda no contexto europeu, que também adotaram medidas si-
milares, adequadas as suas respectivas realidades. Além disso,
70 | Responsabilidade social e corporativa na União Europeia e no Brasil
7 “1. This Directive shall apply to companies which are formed in accordance with
the legislation of a Member State and which fulfil one of the following conditions:
(a) (b) the company had more than 500 employees on average and had a net
worldwide turnover of more than EUR 150 million in the last financial year for
which annual financial statements have been prepared; the company did not
reach the thresholds under point (a), but had more than 250 employees on aver-
age and had a net worldwide turnover of more than EUR 40 million in the last
financial year for which annual financial statements have been prepared, pro-
vided that at least 50% of this net turnover was generated in one or more of the
following sectors: (i) the manufacture of textiles, leather and related products (in-
cluding footwear), and the wholesale trade of textiles, clothing and footwear; (ii)
agriculture, forestry, fisheries (including aquaculture), the manufacture of food
products, and the wholesale trade of agricultural raw materials, live animals,
wood, food, and beverages; (iii) the extraction of mineral resources regardless
from where they are extracted (including crude petroleum, natural gas, coal, lig-
nite, metals and metal ores, as well as all other, non-metallic minerals and quarry
products), the manufacture of basic metal products, other non-metallic mineral
products and fabricated metal products (except machinery and equipment), and
the wholesale trade of mineral resources, basic and intermediate mineral prod-
ucts (including metals and metal ores, construction materials, fuels, chemicals
and other intermediate products). 2. This Directive shall also apply to companies
which are formed in accordance with the legislation of a third country, and fulfil
72 | Responsabilidade social e corporativa na União Europeia e no Brasil
one of the following conditions: (a) generated a net turnover of more than EUR
150 million in the Union in the financial year preceding the last financial year; (b)
generated a net turnover of more than EUR 40 million but not more than EUR 150
million in the Union in the financial year preceding the last financial year, pro-
vided that at least 50% of its net worldwide turnover was generated in one or
more of the sectors listed in paragraph 1, point (b).” (EU, 2022b)
Antônio Lucas dos Santos da Mata | 73
Nesse sentido, as práticas empresariais só são adotadas caso a
gestão empresarial compreenda haver uma razão de ser para
tais atos, seja por questões de mercado, seja por políticas e va-
lores internos da empresa.
O que há até então no Brasil, no quesito regulação
específica de RSC, são atos infralegais, como a Portaria nº 350
do antigo Ministério dos Direitos Humanos, Resolução nº
4.327/2014 do Banco Central do Brasil, e o Decreto nº 9.571/2018.
O ponto em comum entre estes é a necessidade de se garantir a
observância dos direitos humanos pelas empresas (CARVA-
LHO, 2021). Todavia, estas ainda não criaram uma obrigação
generalizada e uniforme para todas as empresas adotarem prá-
ticas de RSC, especialmente porque o próprio Decreto nº
9.571/18, em seu artigo 1º, §2º, fixou que a adoção das diretrizes
nele elencadas serão cumpridas de forma voluntária pelas em-
presas (BRASIL, 2018). Por conta disso, em virtude da ausência
de obrigatoriedade do RSC no Brasil, as empresas possuem
maior discricionariedade de agir sem ter que reestruturar o seu
sistema de negócios a fim de garantir que haja a observância de
direitos humanos e a proteção do meio ambiente em todas as
fases operacionais.
Dois grandes exemplos no Brasil dos impactos que a
falta de devida diligência e práticas de RSC de uma empresa
podem ocasionar social, ambiental e economicamente foi o rom-
pimento das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas
Gerais. A falta de análise de riscos, plano de preservação das
barragens e de contingência das externalidades negativas, con-
tribuiu para que esta tragédia não só afetasse todo o ecossistema
na região, como ocasionou a devastação da economia local e ge-
rou danos sociais gravíssimos. Por conta disso, ainda hoje se
fala de processos de responsabilização da empresa Vale S.A. por
74 | Responsabilidade social e corporativa na União Europeia e no Brasil
Referências
mie.gouv.fr/files/files/directions_services/cge/devoirs-vigilances-
entreprises.pdf. Acesso em: 30 abr. 2020.
*
Mestranda em Direito Constitucional Público pela Universidade Federal do Ce-
ará (PPGD/UFC), com mobilidade acadêmica na Universidade Federal de São
Carlos (UFScar). Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade de
Fortaleza (UNIFOR). Graduada em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNI-
FOR). Advogada. Pesquisadora voluntária do Projeto Processo Civil e Proteção
da Pessoa nas Relações Privadas - PROCIP (Cnpq/UNIFOR) (2018-2019). Pesqui-
sadora voluntária do Projeto Pesquisa Empírica em Direito (PROBIC/UNIFOR)
(2019-2020). Pesquisadora voluntária do Projeto de Pesquisa Jurimetria e pesquisa
empírica em Direito (PROBIC/UNIFOR) (2020 - 2022). Pesquisadora voluntária
no Projeto de Pesquisa Dimensões do Conhecimento do Poder Judiciário - ESMEC
(DGP/CNPq) (2021 - andamento). Desenvolve pesquisas e possui publicações re-
lacionadas ao comportamento decisório dos tribunais e meio ambiente.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6958-4735.
E-mail: arodrigueslavor@gmail.com.
Amanda Rodrigues Lavôr | 85
ações governamentais para a formulação de políticas públicas e pro-
gramas nacionais de desenvolvimento nesse sentido. Conclui-se que
é possível aplicar a legislação internacional ao Brasil, no que diz res-
peito à responsabilidade do agente poluidor, porém se faz necessário
aplicar outros mecanismos impositivos constantes no Direito Ambi-
ental Internacional, que podem apresentar uma abordagem mais efi-
caz para combater a poluição por resíduos plásticos no ambiente ma-
rinho.
Palavras-chave: Direito Internacional. Poluição Marinha por Plástico.
Responsabilidade Civil.
Introdução
Fonte: Fundo Mundial para a Natureza (WWF), 2015, Reviving the Ocean
Economy.
1972).
Até o acontecimento da Convenção de Londres, em
dezembro de 1972, não se conhecia o impacto concreto que os
perda.
Diante da progressão dos problemas ambientais ma-
ARTIGO 207
Contaminação procedente de fontes terrestres
1. Os Estados devem adotar leis e regulamentos
para prevenir, reduzir e controlar a poluição do
meio marinho proveniente de fontes terrestres, in-
cluindo rios, estuários, dutos e instalações de des-
carga, tendo em conta regras e normas, bem como
práticas e procedimentos recomendados e interna-
cionalmente acordados.
ARTIGO 211
A responsabilização civil por poluição marinha por plástico e a
96| possibilidade de aplicação da legislação internacional à situação do Brasil
1 Oceana é uma fundação que visa proteger os oceanos e alimentar o mundo, criada
em 2001 por um grupo de fundações líderes em conservação – Pew Charitable
Trusts, Oak Foundation, Marisla Foundation e Rockefeller Brothers Fund.
A responsabilização civil por poluição marinha por plástico e a
100 | possibilidade de aplicação da legislação internacional à situação do Brasil
Considerações finais
Referências
ALAUX, Adrien. French civil liability & ocean plastic pollution: the
apprehension of Kairos. Colloque "La pollution des océans par les
plastiques" dans le cadre des 14èmes Journées scientifiques de
l'Université de Nantes, Université de Nantes, Jun 2021, Nantes,
France.
WWF . Reviving the Ocean Economy: the case for action. Gland :
Wwf, 2015. Disponível em:https: //wwf.panda.org/discover/our_fo-
cus/oceans_practice/reviving_the_ocean_economy/ . Acesso em: 16
jun. 2022 .
Introdução
*
Mestranda em Direito Constitucional pela Universidade Federal do Ceará. Pós-
graduanda em Direito Processual Civil pela Fundação do Ministério Público do
Estado do Rio Grande do Sul. Especialista em Direito Tributário pela Unichristus.
Adriana Fonteles Silva | 117
de gases de efeito estufa, motivo pelo qual se faz necessário es-
tudar como o Sistema tributário Nacional pode inibir o uso
dessa de fonte de energia não renovável que causa efeitos ne-
fastos no meio ambiente.
O artigo versa sobre a necessidade de promover um
diferencial tributário que vise o incentivo ao desenvolvimento
dos meios de produção de maneira sustentável, que incentiva o
uso de fontes de energia limpa, renovável, ou seja, a criação de
um sistema tributário que onera de forma diferenciada, pro-
gressiva, aquele que utiliza maior quantidade combustíveis fós-
seis.
A degradação ao meio ambiente tem impacto mun-
dial, tanto que um dos objetivos da ONU é promover o desen-
volvimento sustentável e econômico dos países e a cooperação
entre eles, esse também foi um dos motivos que fizeram com
que vários países se unissem visando a promoção de padrões
internacionais em questões econômicas, financeiras, comerciais,
sociais e ambientais, criando a Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), pois, embora seja neces-
sário ao desenvolvimento das sociedades e da economia, esse
desenvolvimento deve ocorrer de maneira ordenada com o
meio ambiente, conter a devastação ambiental e fomentar o de-
senvolvimento sustentável.
A relevância da matéria é tamanha que recentemente
o Conselho de Direitos Humanos da ONU1 reconheceu que o
meio ambiente limpo, saudável e sustentável é um direito hu-
mano, demonstrando a importância e atualidade do tema pro-
posto. No Brasil, embora a Constituição da República tenha
tentável .
e sua incorporação pelo Brasil e pela União Europeia. In: DIZ, Jamile Bergamas-
chine Mata; GAIO, Daniel. (Org.). Desenvolvimento sustentável na contempora-
neidade. Belo Horizonte: Arraes, 2019, p. 84-104
8 MARQUES JÚNIOR, William Paiva; MORAES, Germana de Oliveira . A constru-
ção do paradigma ecocêntrico no Novo Constitucionalismo Democrático dos pa-
íses da UNASUL. Revista de Direito Brasileira, v. 5, p. 41-68, 2013. Link:
https://www.indexlaw.org/index.php/rdb/article/view/2719
124 | Tributação de carbono e sustentabilidade ambiental
riais, no entanto, isso não deve servir como uma barreira para a
12 FILHO, Itamar da Silva Santos; FERREIRA, Paulo Rangel Araújo. Princípios Fun-
damentais da Tributação Ambiental. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v.14
n.29 p.125-151 Mai./Ago. de 2017
128 | Tributação de carbono e sustentabilidade ambiental
Considerações finais
Referências
https://www.conectas.org/wp-content/uploads/2021/10/res-48_13-
DH-ao-meio-ambiente- TRADUZIDO.docx- 1.pdf
*
Advogada. Mestranda em Direito pela Universidade Federal do Ceará - UFC.
Pós-graduada em Direito Penal e Criminologia pela Pontifícia Universidade Ca-
tólica do Rio Grande do Sul - PUCRS. Graduada em Direito pela Universidade
Federal do Ceará - UFC. Membro da Comissão Nacional de Avaliação da Educa-
ção Superior - CONAES/MEC e da Comissão de Estudos em Direito Penal da Or-
dem dos Advogados do Brasil - Seccional Ceará.
Ana Beatriz Barros de Siqueira | 135
substantivo sobre o acordo, sobretudo quanto à possibilidade de ab-
solvição, e o seu reconhecimento como direito subjetivo do investi-
gado.
Palavras-chave: Justiça negociada. Acordo de não persecução Penal.
Patteggiamento.
Introdução
16 TONINI, Paolo. Manuale di Procedura Penale. Milão: Giuffrè, 11. ed., 2010, p. 28
33.
Ana Beatriz Barros de Siqueira | 145
à produção de provas e o juiz não pode julgar com base em ele-
mentos colhidos apenas na fase de investigação.
Diante de tais características, entende-se que o pro-
cesso penal italiano é de natureza acusatória. Apesar de ainda
apresentar algumas normas de caráter inquisitório, como a ini-
ciativa probatória do juiz, é marcado pela separação das funções
de acusação, julgamento e defesa (actum trium personarum), pelo
contraditório na produção da prova e pela presunção de inocên-
cia, os quais são princípios inerentes ao sistema processual acu-
satório.17
Segundo Tonini, o processo penal italiano contempo-
râneo é formado pelos princípios da separação das funções de
acusação, julgamento e defesa, da repartição das fases proces-
suais e da simplificação procedimental.18
A respeito da separação das fases, o rito ordinário é
dividido em três: investigação preliminar (indagini preliminare),
audiência preliminar (udienza preliminare) e instrução e julga-
mento (dibattimento). Na investigação preliminar são colhidos
elementos de informação, os quais não configuram prova, visto
que não há contraditório sobre a sua produção. Por outro lado,
a legislação processual penal autoriza que a defesa proceda a
sua própria investigação, podendo-se valer de investigadores
particulares e peritos.19
17 FRANCO, José Henrique Kaster. O que a justiça consensual italiana tem a ensinar
ao Brasil: patteggiamento e projeto moro. Revista Judiciária do Paraná, Curitiba, v.
19, n. 19, p. 209-242, maio 2020, p. 210.
18 TONINI, op. cit., p. 33.
19 GIACOMOLLI, Nereu José. Legalidade, oportunidade e consenso no Processo
Penal na perspectiva das garantias constitucionais: Alemanha, Espanha, Itália,
Portugal, Brasil. 1. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 254-255.
Justiça penal negocial no Brasil e na Itália: uma análise comparativa
146 | entre o acordo de não persecução penal e o patteggiamento
2.2. Patteggiamento
25 Ibidem, p. 217.
26 VASCONCELOS, Vinicius Gomes. CAPPARELLI, Bruna. Barganha no processo
penal italiano: análise crítica do patteggiamento e das alternativas procedimen-
tais na justiça criminal. Revista Eletrônica de Direito Processual – REDP, Rio de
Janeiro, v. 15, p. 435-453, jan./jun. 2015, p. 446.
Ana Beatriz Barros de Siqueira | 149
Proposto e aceito o acordo, este será objeto de con-
trole judicial. Nesse momento, o juiz deverá analisar se há de
fato consenso entre ambas as partes, bem como verificar a cor-
reta qualificação jurídica do fato e a adequação da pena aplicada
com base nas circunstâncias do caso. Após a análise judicial, o
acordo poderá ser homologado por decisão equiparada à sen-
tença condenatória. Por outro lado, poderá pronunciar desde
logo sentença absolutória quando verificar que o fato não ocor-
reu, que o agente não cometeu o fato, que o fato não constitui
crime ou que existe alguma causa de extinção de punibilidade.27
Além disso, caso o juiz entenda que os motivos da
recusa do Ministério Público são infundados, poderá conceder
os benefícios do patteggiamento de ofício. Nesse caso, após a ins-
trução processual, se o juiz entender que a recusa do Ministério
Público foi infundada, poderá aplicar os benefícios da redução
de pena ou da conversão da pena privativa de liberdade em san-
ção pecuniária ou substitutiva.28
Percebe-se, portanto, que o controle judicial apre-
senta caráter substancial e não meramente formal. O juiz não
apenas observará se há voluntariedade no acordo entre as par-
tes, mas atuará de forma decisiva. Funcionará de forma mais
ativa, pois pode substituir a vontade do Ministério Público
quando este não concordar com o patteggiamento, bem como
deve exercer um controle sobre a aplicação da pena, podendo
inclusive absolver o imputado.
Finalmente, quanto aos recursos relativos ao patteg-
giamento, poderá o imputado apelar da sentença que indeferir o
penal e patteggiamento
29 Ibidem, p. 222-223.
Ana Beatriz Barros de Siqueira | 151
influência do modelo norte-americano de justiça criminal – no-
tadamente do plea bargaining, mas apresentam diferenças em re-
lação a este.30
O plea bargaining é instituto marcado pela ampla dis-
cricionariedade do órgão acusador e por um controle judicial
meramente formal. Trata-se de característica condizente com a
tradição common law, visto que no processo penal norte-ameri-
cano, predomina um juízo de oportunidade no exercício da ação
penal. Portanto, a escolha pelo não oferecimento da acusação é
decorrência do princípio da oportunidade.31
Por outro lado, tanto o processo penal brasileiro
como o italiano são pautados na predominância do princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública. Assim, compete ao Mi-
nistério Público o oferecimento da ação penal quando presentes
a materialidade e os indícios suficientes de autoria. Nesse con-
texto, não cabe ao Ministério Público, quando presentes esses
requisitos, optar por não denunciar o réu.
Dessa forma, a implementação do consenso nesses
países mostra-se à primeira vista conflitante com o princípio da
obrigatoriedade da ação penal, uma vez que o Ministério Pú-
blico estaria descumprindo seu dever de oferecimento da de-
núncia. Para justificar essa aparente contradição entre a obriga-
toriedade da ação penal e a os instrumentos de consenso, en-
tende-se que vigora uma obrigatoriedade mitigada ou regu-
lada. Com isso, apesar de preponderar o princípio da obrigato-
riedade, nos casos em que a lei permitir, será possível que o Mi-
nistério Público faça um juízo de oportunidade quanto ao ofe-
recimento da denúncia.32
Além disso, a justificativa para a inserção de meca-
nismos de negociação penal no ordenamento jurídico é comum
em ambos os países. Ao lado dos demais procedimentos de
abreviação processual, o acordo de não persecução penal e o
patteggiamento objetivam conferir eficiência ao sistema de justiça
criminal.33 Justifica-se que os mecanismos de consenso tornam
o processo penal mais célere e são aptos a produzir uma econo-
mia recursos, que poderão ser alocados no combate à criminali-
dade de maior gravidade.34
Por fim, em contraposição ao plea bargaining, o patteg-
giamento e o acordo de não persecução penal consistem em uma
barganha sobre a pena de forma limitada. As legislações italiana
e brasileira preveem as hipóteses em que será possível o acordo,
que se pautam principalmente na pena prevista para o delito.
Da mesma forma, ambos os ordenamentos jurídicos preveem
hipóteses de vedação à propositura do acordo, sobretudo em
crimes de maior reprovabilidade, como os que contêm violência
física ou sexual.
38 FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. 3. ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 599-602.
39 LOPES JR., Aury. A crise existencial da justiça negocial e o que (não) aprendemos
com o JECrim. Boletim IBCCRIM. São Paulo, ano 29, n. 344, p. 4-6, jul. 2021, p. 5.
40 VASCONCELLOS, Vinicius Gomes de. Barganha e Justiça Criminal Negocial:
análise das tendências de expansão do consenso no processo penal brasileiro. 2.
Ana Beatriz Barros de Siqueira | 157
Apesar das críticas, a inconstitucionalidade do pat-
teggiamento foi afastada pela Corte Constitucional. Segundo a
justiça italiana, não há violação ao direito constitucional de de-
fesa, visto que o patteggimento configura uma forma de exercício
do direito de defesa do réu. Além disso, decidiu que não há uma
obrigação absoluta em exercer esse direito, pois a Constituição
garante as condições para que o direito de defesa seja facultado
e exercitado, mas não se trata de um exercício obrigatório.
No Brasil, a constitucionalidade do acordo de não
persecução penal está sendo discutida na Ação Direta de In-
constitucionalidade (ADI 6.305), que aguarda julgamento no
Supremo Tribunal Federal.
Considerações finais
Referências
*
Mestranda em Direito Constitucional pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Advogada ambiental e urbanística. Membra da comissão de estudos para a sus-
tentabilidade, ESG e empreendedorismo da OAB/CE.
E-mail: emiliadmendes@gmail.com.
**
Mestranda em Direito Constitucional pela Universidade Federal do Ceará (UFC)
Emilia Davi Mendes e Norma Navegantes da Silva | 165
atores envolvidos. Todavia, faz-se necessário a definição de parâme-
tros mais objetivos acerca da consolidação de tais organismos, bem
como o direcionamento de esforços para especificação, monitora-
mento e avaliação dos efeitos dos benefícios comunitários pretendi-
dos. No que concerne à metodologia, a pesquisa tem natureza quali-
tativa e utilizou-se da linha teórico-bibliográfica e exploratória, por
meio do processamento de informações contidas na legislação, em ar-
tigos científicos e doutrinas, com destaque ao âmbito da União Euro-
peia.
Palavras-chave: Democracia. Energias renováveis. Sustentabilidade.
União Europeia.
Introdução
7.1 Até 2030, assegurar o acesso universal, confiável, moderno e a preços acessíveis a
serviços de energia;
7.2 Até 2030, aumentar substancialmente a participação de energias renováveis na
matriz energética global;
7.3 Até 2030, dobrar a taxa global de melhoria da eficiência energética.
7.a Até 2030, reforçar a cooperação internacional para facilitar o acesso a pesquisa e
tecnologias de energia limpa, incluindo energias renováveis, eficiência energética
e tecnologias de combustíveis fósseis avançadas e mais limpas, e promover o in-
vestimento em infraestrutura de energia e em tecnologias de energia limpa.
7.b Até 2030, expandir a infraestrutura e modernizar a tecnologia para o fornecimento
de serviços de energia modernos e sustentáveis para todos nos países em desen-
volvimento, particularmente nos países menos desenvolvidos, nos pequenos Es-
tados insulares em desenvolvimento e nos países em desenvolvimento sem lito-
ral, de acordo com seus respectivos programas de apoio. (ONU, 2022).
Emilia Davi Mendes e Norma Navegantes da Silva | 171
2. Estruturas organizacionais alternativas para o setor
energético estabelecidas pela legislação Europeia
(16) [...]
a) que, de acordo com a legislação nacional aplicá-
vel, se baseie na participação aberta e voluntária,
seja autônoma e efetivamente controlada por acio-
nistas ou sócios situados nas proximidades do pro-
jetos de energia renovável detidos e desenvolvidos
por essa entidade legal;
(b) cujos accionistas ou sócios sejam pessoas sin-
gulares, PME ou autoridades locais, incluindo mu-
nicípios;
(c) cujo objetivo principal seja proporcionar bene-
fícios ambientais, econômicos ou sociais à comuni-
dade para seus acionistas ou membros ou para as
Emilia Davi Mendes e Norma Navegantes da Silva | 173
áreas locais onde opera, em vez de lucros financei-
ros; (EU, 2018).
(11) [...]
(a) seja baseada na participação voluntária e aberta
e efetivamente controlado por membros ou acio-
nistas que sejam pessoas físicas, autoridades lo-
cais, incluindo municípios, ou pequenas empresas;
(b) tenha como objetivo principal proporcionar be-
nefícios ambientais, econômicos ou sociais à co-
munidade a seus membros ou acionistas ou às
áreas locais onde atua, em vez de gerar lucros fi-
nanceiros; e
(c) pode se dedicar à geração, inclusive a partir de
fontes renováveis, distribuição, fornecimento, con-
sumo, agregação, armazenamento de energia, ser-
viços de eficiência energética ou serviços de carre-
gamento de veículos elétricos ou fornecer outros
serviços de energia a seus membros ou acionistas.
(EU, 2019).
Considerações finais
Referências
EU. Directive 2018/ 2001/ EU. Promotion of the Use of Energy from
Renewable Sources [2018] oj L328/82, art 2(16). Disponível em:
182 | Democracia energética sustentável na União Europeia
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CE-
LEX:32018L2001. Acesso em: 20 jun. 2022.
Considerações finais
Referências
Introdução
Artigo 41º
Direito a uma boa administração
1. Todas as pessoas têm direito a que os seus as-
suntos sejam tratados pelas instituições, órgãos e
organismos da União de forma imparcial, equita-
tiva e num prazo razoável.
2. Este direito compreende, nomeadamente:
a) O direito de qualquer pessoa a ser ouvida antes
de a seu respeito ser tomada qualquer medida in-
dividual que a afete desfavoravelmente;
Raoni Marques Oliveira | 217
b) O direito de qualquer pessoa a ter acesso aos
processos que se lhe refiram, no respeito dos legí-
timos interesses da confidencialidade e do segredo
profissional e comercial;
c) A obrigação, por parte da administração, de fun-
damentar as suas decisões.
3. Todas as pessoas têm direito à reparação, por
parte da Comunidade, dos danos causados pelas
suas instituições ou pelos seus agentes no exercício
das respectivas funções, de acordo com os princí-
pios gerais comuns às legislações dos Estados-
Membros.
4. Todas as pessoas têm a possibilidade de se diri-
gir às instituições da União numa das línguas ofi-
ciais dos Tratados, devendo obter uma resposta na
mesma língua. (UNIÃO EUROPEIA, 2010)
2.1. Sujeitos
Artigo 51º
Âmbito de aplicação
1. As disposições da presente Carta têm por desti-
natários as instituições, órgãos e organismos da
União, na observância do princípio da subsidiari-
edade, bem como os Estados-Membros, apenas
quando apliquem o direito da União. Assim
sendo, devem respeitar os direitos, observar os
princípios e promover a sua aplicação, de acordo
com as respetivas competências e observando os
limites das competências conferidas à União pelos
Tratados.
Raoni Marques Oliveira | 219
2. A presente Carta não torna o âmbito de aplica-
ção do direito da União extensivo a competências
que não sejam as da União, não cria quaisquer no-
vas atribuições ou competências para a União,
nem modifica as atribuições e competências defi-
nidas pelos Tratados. (UNIÃO EUROPEIA, 2010)
2.2. Conteúdo
Silva (2019, p. 181), por sua vez, destaca que esse Có-
digo desenvolve os princípios da imparcialidade e da equidade,
traz valores fundamentais para a boa administração ‒ a título
de exemplo, tem-se a não discriminação e a proporcionalidade,
dentre outros ‒ e ainda impõe obrigações que concretizem tais
preceitos, como a de encaminhar ao órgão competente as recla-
mações feitas por cidadãos, devendo haver decisão no prazo de
dois meses. A autora ressalta ainda que, apesar de não ter força
vinculativa, por precisar da aprovação de regulamento que re-
conheça seu conteúdo, o Código certamente desempenha um
relevante papel de soft law.
Assim, tendo em vista o caráter deveras aberto do di-
reito à boa administração, seu conteúdo ainda evoluirá bas-
tante. Os códigos da União Europeia, as legislações dos estados-
membros e a jurisprudência do Tribunal de Justiça Europeu se-
rão essenciais para defini-lo, levando ao surgimento gradual de
novos direitos, a partir dos padrões estabelecidos na Carta de
Direitos Fundamentais.
Finalmente, chama atenção o fato de o conteúdo do
artigo 41 ser muito focado em direitos fundamentais de pri-
meira dimensão, não havendo qualquer referência a direitos a
prestações positivas por parte da Administração. Esta questão
constitui o problema central da pesquisa e será abordada no
próximo capítulo.
Considerações finais
Referências
=OJ : C:2010 : 083 : 0389: 0403 : pt : PDF . Acesso em: 18 jun. 2022.
Introdução
2 VICENTE, Dário Moura. O lugar dos sistemas jurídicos lusófonos entre as famí-
lias jurídicas. Revista Brasileira de Direito Comparado, Rio de Janeiro, v. 36, p.
85-113, 2010. Semestral.
3 REBOUÇAS, Gabriela Maia; LEITE, Martha Franco; MARQUES, Verônica Tei-
xeira. Pesquisa comparativa em ciências sociais e humanas: um panorama de seus
usos. Interfaces Científicas - Humanas e Sociais, [S. l.], v. 5, n. 2, p. 21–32, 2016.
Charles da Costa Bruxel | 235
Supremo Tribunal Federal do Brasil é significativamente dife-
rente da linha de entendimento adotada pelo Tribunal Consti-
tucional de Portugal a respeito da prevalência do negociado co-
letivamente sobre o legislado?
Nesse sentido, a hipótese encampada é de que o Su-
premo Tribunal Federal do Brasil acabou construindo tese simi-
lar à seguida pelo Tribunal Constitucional de Portugal a res-
peito da prevalência do negociado coletivamente sobre o legis-
lado, a despeito das divergências entre os ordenamentos jurídi-
cos de cada país.
Para tanto, a pesquisa implementada, sob o ponto de
vista dos procedimentos técnicos, será bibliográfica (doutrina)
e documental (Constituição de Portugal, julgados do Tribunal
Constitucional de Portugal, Constituição da República Federa-
tiva do Brasil, Consolidação das Leis do Trabalho, julgados do
Supremo Tribunal Federal, dentre outros). Do ponto de vistas
dos objetivos, a pesquisa, apesar de ser explicativa, também se
enquadra como exploratória, haja vista que foi elaborada no
momento em que ainda não foram disponibilizadas todas as in-
formações acerca do Recurso Extraordinário com Agravo nº
1.121.633 julgado pelo STF (inteiro teor dos votos proferidos e
dos debates realizados). Quanto à forma de abordagem do pro-
blema, a pesquisa é qualitativa, pois foca no aprofundamento
de discussões jurídicas não quantificadas.
O método de abordagem empregado será, precipua-
mente, o comparativo, pois se buscará cotejar o entendimento
do Tribunal Constitucional do Brasil e de Portugal acerca da
prevalência do negociado coletivamente sobre o legislado.
Além desse, será adotado também o método dedutivo4, pois, a
deral, haja vista que a solução encontrada servirá tanto para em-
5
OJ n. 31 da SDC do TST: "ESTABILIDADE DO ACIDENTADO . ACORDO HO-
MOLOGADO. PREVALÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE . VIOLAÇÃO DO ART. 118
DA LEI Nº 8.213/91 . Não é possível a prevalência de acordo sobre legislação vi-
gente, quando ele é menos benéfico do que a própria lei, porquanto o caráter im-
perativo dessa última restringe o campo de atuação da vontade das partes."
6 Os tratados internacionais sobre direitos humanos possuem, no mínimo, caráter
supralegal e infraconstitucional, conforme entendimento adotado pelo Supremo
Tribunal Federal no RE 466343, HC 87585 e ADI 5240. Caso, entretanto, sejam
aprovados, em cada Casa Legislativa do Congresso Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos respectivos membros, os tratados internacionais de di-
reitos humanos ingressam no ordem jurídico com status equivalente ao de uma
emenda constitucional.
A prevalência do negociado sobre o legislado: análise comparativa
238 | entre a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal...
9 Constituição Federal, art. 114, §2º: Recusando-se qualquer das partes à negociação
coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissí-
dio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o con-
flito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem
como as convencionadas anteriormente.”
A prevalência do negociado sobre o legislado: análise comparativa
240 | entre a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal...
11 CLT, art. 611-A: “A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm preva-
lência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: I - pacto quanto à jor-
nada de trabalho, observados os limites constitucionais; II - banco de horas anual;
III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jor-
nadas superiores a seis horas; IV - adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE),
de que trata a Lei nº 13.189, de 19 de novembro de 2015 ; V - plano de cargos,
salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como
identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança; VI - regu-
lamento empresarial; VII - representante dos trabalhadores no local de trabalho;
VIII - teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente; IX - remunera-
ção por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado, e remu-
neração por desempenho individual; X - modalidade de registro de jornada de
trabalho; XI - troca do dia de feriado; XII - enquadramento do grau de insalubri-
dade; XIII - prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia
das autoridades competentes do Ministério do Trabalho; XIV - prêmios de incen-
tivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programas de incentivo;
XV - participação nos lucros ou resultados da empresa. §1º No exame da conven-
ção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho observará o
disposto no §3º do art. 8º desta Consolidação. §2º A inexistência de expressa indi-
cação de contrapartidas recíprocas em convenção coletiva ou acordo coletivo de
trabalho não ensejará sua nulidade por não caracterizar um vício do negócio ju-
rídico. §3º Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção
coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever a proteção dos empre-
gados contra dispensa imotivada durante o prazo de vigência do instrumento co-
letivo. §4º Na hipótese de procedência de ação anulatória de cláusula de conven-
ção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, quando houver a cláusula com-
pensatória, esta deverá ser igualmente anulada, sem repetição do indébito. §5º Os
sindicatos subscritores de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho
deverão participar, como litisconsortes necessários, em ação individual ou cole-
tiva, que tenha como objeto a anulação de cláusulas desses instrumentos.”
12 CLT, art. 611-B:“Art. 611-B. Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de
acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos se-
guintes direitos: I - normas de identificação profissional, inclusive as anotações
na Carteira de Trabalho e Previdência Social; II - seguro-desemprego, em caso de
A prevalência do negociado sobre o legislado: análise comparativa
244 | entre a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal...
23 MAIA, Gabriela Soares Pommot. A relação dos contratos de trabalho atípicos com
a flexibilização do direito do trabalho: uma perspectiva luso-brasileira. 2015. 98 f.
Dissertação (Mestrado) - Mestrado em Direito, Faculdade de Direito, Universi-
dade de Coimbra, Coimbra, 2015.
24 AMADO, João Leal. Negociado x legislado: a experiência e a reforma trabalhista
brasileira: algumas notas. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, São Paulo,
SP, v. 83, n. 3, p. 138-159, jul./set. 2017.
Charles da Costa Bruxel | 253
redação do artigo 4º do Código do Trabalho de Portugal de
2003, o Estado-legislador se retraiu e pareceu mesmo se demitir
de suas responsabilidades: a tarefa constitucional não é cum-
prida e a missão assecuratória do legislador converte-se, no fi-
nal das contas, numa autêntica demissão parlamentar e/ou go-
vernamental. Ou seja, a lei não poderia, de forma válida (com-
patível com a Constituição Portuguesa), ter autorizado a ampla
possibilidade de a negociação coletiva prevalecer sobre a lei,
ainda que de forma mais prejudicial ao trabalhador.
Luanne Maia Pinheiro25 ressalta que o Código do
Trabalho de 2003 inaugurou a flexibilização da legislação traba-
lhista portuguesa, tendência que foi seguida posteriormente.
Assim, atendendo à determinação de revisão do referido Có-
digo do Trabalho após quatro anos de sua entrada em vigor (art.
20 da Lei nº 99/2003), foi iniciado o debate de uma ampla re-
forma no Código do Trabalho português.
Essa reforma do direito laboral português foi influ-
enciada pelo denominado Livro Verde sobre a Modernização
da Legislação do Trabalho, apresentado pela Comissão das Co-
munidades Europeias, em 2006. Glória Rebelo26 explica que esse
documento defende, em síntese, uma ampliação da flexibiliza-
ção das relações de trabalho acompanhada de um reforço da
proteção social dos cidadãos. Já Hermes Augusto Costa27 sali-
enta que o modelo trazido pelo citado Livro Verde é o da “fle-
xissegurança”, cuja vertente mais citada e estudada em Portugal
28 Ibidem .
22
29
MAIA, Gabriela Soares Pommot. A relação dos contratos de trabalho atípicos com
a flexibilização do direito do trabalho : uma perspectiva luso-brasileira . 2015. 98 f.
Dissertação (Mestrado) - Mestrado em Direito, Faculdade de Direito, Universi-
dade de Coimbra, Coimbra, 2015.
Charles da Costa Bruxel | 255
do art. 3º, n. 1, do Código do Trabalho português de 200930, po-
rém estabeleceu rol de matérias, como se extrai do art. 3º, n. 3,
do referido Código31, em que a regulamentação coletiva de tra-
balho somente prevaleceria sobre as normas legais laborais no
caso de serem mais favoráveis aos trabalhadores.
A partir desse panorama jurídico controvertido, Ma-
riana de Alvim Pinto32 explana que, apesar de polêmicas em
torno da possível inconstitucionalidade da fórmula geral de
prevalência do negociado coletivamente sobre o legislado ado-
tada pelo Código do Trabalho de 2003, o Tribunal Constitucio-
nal reconheceu a compatibilidade do art. 3º, n. 1, do Código do
Trabalho de Portugal de 2009, com a Constituição Portuguesa.
Em síntese, o Tribunal Constitucional de Portugal
(Acórdão n. 338/201033) entendeu que a solução adotada pelo le-
gislador foi razoável, uma vez que a prevalência da negociação
30 Código do Trabalho de Portugal de 2009, art. 3º, n. 1: “As normas legais regula-
doras de contrato de trabalho podem ser afastadas por instrumento de regula-
mentação colectiva de trabalho, salvo quando delas resultar o contrário.”
31 Código do Trabalho de Portugal de 2009, art. 3º, n. 3: “As normas legais regula-
doras de contrato de trabalho só podem ser afastadas por instrumento de regula-
mentação coletiva de trabalho que, sem oposição daquelas normas, disponha em
sentido mais favorável aos trabalhadores quando respeitem às seguintes maté-
rias: a) Direitos de personalidade, igualdade e não discriminação; b) Proteção na
parentalidade; c) Trabalho de menores; d) Trabalhador com capacidade de traba-
lho reduzida, com deficiência ou doença crónica; e) Trabalhador-estudante; f) De-
ver de informação do empregador; g) Limites à duração dos períodos normais de
trabalho diário e semanal; h) Duração mínima dos períodos de repouso, incluindo
a duração mínima do período anual de férias; i) Duração máxima do trabalho dos
trabalhadores noturnos; j) Forma de cumprimento e garantias da retribuição; l)
Capítulo sobre prevenção e reparação de acidentes de trabalho e doenças profis-
sionais e legislação que o regulamenta; m) Transmissão de empresa ou estabele-
cimento; n) Direitos dos representantes eleitos dos trabalhadores.”
32 PINTO, Mariana de Alvim. As Convenções Coletivas como Fonte de Direito do
Trabalho: tendências atuais. Revista Jurídica Luso-Brasileira, Lisboa, v. 6, p. 1113-
1166, nov. 2015.
33 PORTUGAL. Corte Constitucional. Acórdão nº 338/2010 do Plenário. Relator
256 | A prevalência do negociado sobre o legislado: análise comparativa
entre a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal...
Considerações finais
Referências
nas e Sociais, [S. l.], v . 5, n . 2, p . 21–32, 2016. Disponível em: https ://
periodicos.set.edu.br/humanas/article/view/2860 . Acesso em: 20
jun. 2022.
Introdução
*
Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Ceará (2010). Atual-
mente é Procuradora Jurídica do Instituto de Previdência do Município de Forta-
leza. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Público. Mes-
tranda em Direito pelo PPGD/UFC.
Milena Alencar Gondim | 265
nas mais diversas áreas, tais como da gestão pública e da ambi-
ental.
O termo governança propagou-se de tal maneira que
há a governança pública, a governança corporativa, a gover-
nança urbana, a governança eletrônica ou e-governança e a go-
vernança ambiental (GOMIDES; SILVA, 2009).
A governança ambiental pressupõe a participação e
o engajamento de todos os sujeitos, internos e externos, o com-
partilhamento de objetivos, a fluidez das fronteiras, a diversi-
dade de ação, a intervenção e o controle, visando à proteção do
meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável1.
Uma vez que os danos ambientais podem causar da-
nos transfronteiriços e transgeracionais, exsurge a ideia de ne-
cessidade de uma governança ambiental global, a fim de que
Considerações finais
Referências
Considerações finais
Referências
mas.rj.def.br/publico/sarova.ashx/Portal/sarova/imagem-dpge/pu-
blic/arquivos/LIMINAR_CIDH_PLACIDO.pdf. Acesso em: 30 jun.
2022.
www.corteidh.or.cr/docs/medidas/placido_se_01_por.pdf. Acesso
em: 30 jun. 2022.
www.corteidh.or.cr/docs/medidas/placido_se_02_por.pdf. Acesso
em: 30 jun. 2022.
www.corteidh.or.cr/docs/medidas/placido_se_03_por.pdf. Acesso
em: 30 jun. 2022.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos e o estado de coisas
3021
inconstitucional no Brasil : análise do caso Instituto Penal Plácido de Sá...
CARVALHO CASE
the case, highlighting the main points . This work consisted of descrip-
tive research (in terms of the objective), bibliographic research (in
terms of the procedure) and qualitative (in terms of the approach) . It
was concluded that the IPPSC is the target of the Unconstitutional
State of Affairs in force in Brazil, with prison overcrowding being one
*
Mestranda em Direito, Constituição e Justiça pela Universidade Federal do Ceará
– UFC. Bacharela em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
E-mail: carolina.sergestor@gmail.com.
Carolina Lima Ciríaco Scipião | 305
Introdução
https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/interactive-
timeline#!. Acesso em 25 jun. 2022.
5 WHO, 2020. Ibid.
6 BARRETO, Maurício L., AQUINO, Estela M. L. In: BUSS, Paulo Machiori; BUR-
GER, Pedro. (Org.) Diplomacia da Saúde: respostas globais à pandemia. Rio de
Janeiro: Fiocruz, 2021. p. 35
Carolina Lima Ciríaco Scipião | 309
A exemplo, o poderio de agravo dos pacientes infec-
tados implicou no colapso de vários sistemas de saúde7, de paí-
ses desenvolvidos, em desenvolvimento, e, principalmente, dos
países subdesenvolvidos, que não estavam preparados para su-
prir as demandas por consultas de urgência e emergência, hos-
pitalização, tratamentos de terapia intensiva, com necessidade
de ventilação mecânica dos pacientes mais graves. De outra or-
dem, as altas taxas de transmissibilidade do vírus provocaram
medidas entre os mais diversos governos de distanciamento so-
cial, que ocasionou na suspensão, adiamento ou até mesmo na
paralisação dos chamados serviços eletivos de saúde, conside-
rados aqueles não urgentes ou emergenciais, tais como: consul-
tas médicas, exames, procedimentos, cirurgias, dentre outros.
Esses fatores, também ocasionaram consequências colaterais à
saúde.
Conquanto, esses impactos tenham sido de grande
relevância e proporção, não foram os únicos. Conforme dito
acima, como estratégia frear a disseminação e o contágio do ví-
rus uma das estratégias adotadas mediante recomendação da
OMS, foi o distanciamento social8, que ocasionou a privação dos
espaços coletivos, e que também representou a restrição de ati-
vidades, com o objetivo de reduzir a circulação de pessoas, evi-
tar aglomerações em espaços públicos e privados, evitando as-
sim a propagação do contágio.
Ocorre que, essa restrição também representou gran-
des impactos sociais e econômicos, representando ameaças a
res, crianças e idosos, são déficits que não podem ser estatisti-
12 HOMMA, Akira (et.al). A crise das vacinas e de insumos e a produção local para
enfrentar a pandemia. In: BUSS, Paulo Machiori; BURGER, Pedro. (Org.) Diplo-
macia da Saúde: respostas globais à pandemia. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2021.
13 DUTRA, Gabrielle Scola; STURZA, Janaína Machado. TRANSPANDEMIA CO-
VID-19: A VACINA COMO ESTRATÉGIA DE SAÚDE PÚBLICA E MECA-
NISMO DE EFETIVAÇÃO DO DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL À SA-
ÚDE. Disponível em: https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidspp/ar-
ticle/viewFile/21400/1192613174. Acesso em: 25 de jun. 2022.
14 US. DEPARTAMENT OF STATE. Informativo: Cúpula Global Sobre Covid-19 do
Presidente Biden: Acabando com a pandemia e reconstruindo melhor. Disponível
em: https://www.state.gov/translations/portuguese/informativo-cupula-global-
sobre-covid-19-do-presidente-biden-acabando-com-a-pandemia-e-reconstru-
indo-melhor/. Acesso em: 25 de jun. 2022.
Carolina Lima Ciríaco Scipião | 313
2) Salvar vidas agora, resolvendo a crise de oxigê-
nio e falta de insumos, material médico-hospitalar
e equipamentos de proteção individual;
3) Reconstruindo melhor, estabelecendo um meca-
nismo sustentável de financiamento e segurança
da saúde, com o objetivo de se preparar para futu-
ras pandemias, bem como preveni-las;
4) Chamando o mundo para prestar contas (Res-
ponsabilizando o mundo), propondo o alinha-
mento de metas globais comuns, acompanhando o
progresso e o apoio mútuo. (tradução livre)
15 https://covid19.trackvaccines.org/
16 https://covid19.trackvaccines.org/agency/who/
17 WHO. Painel da OMS sobre o coronavírus (COVID-19). Disponível em: https://co-
vid19.who.int/. Acesso em: 29 de jun. 2022.
Transpandemia: a busca e os desafios pela efetividade de um tratado
314 | internacional de direito sanitário
Artigo 12
1. Os Estados-Partes do presente Pacto reconhe-
cem o direito
elevado nível possível
de toda pessoa
de saúde
defísica
desfrutar
e mental.
o mais
24 KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do Estado. Tradução Luís Carlos Borges.
4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005, (Justiça e direito), p.463.
25 MONACO, Gustavo Ferraz de Campos; LOULA, Maria Rosa Guimarães. Eficácia
das decisões da Organização Mundial da Saúde. In: LIMA, Fernando Rister de
Sousa (et. al) (coord.). COVID-19 e os impactos no direito: mercado, estado, tra-
balho, família, contratos e cidadania. São Paulo: Almedina Brasil, 2020. pgs.
236/237.
26 MONACO E LOULA, 2020, Ibid, p. 238.
Carolina Lima Ciríaco Scipião | 319
saúde de cada Estado definir os meios necessários para seu ga-
rantir a sua efetividade27.
A OMS é formada por 03 (três) principais órgãos: a
Assembleia Geral, o Secretariado e o Conselho Executivo, cada
um com suas funções e papéis específicos. A Assembleia Geral,
denominada Assembleia Mundial da Saúde (AMS), é composta
pelos representantes dos Estados-parte, cuja competência é de-
terminar a política, o programa de atividades e aprovar o orça-
mento da OMS. O Secretariado é considerado um órgão admi-
nistrativo, que lidera o corpo técnico da organização, e estabe-
lece comunicação junto aos Estados membros, para o exercício
de suas funções, através de um contato direto com os ministros
de saúde, com as organizações internas de saúde e demais ser-
viços. E, por fim, o Conselho Executivo, formado por 18 mem-
bros, com mandato de 03 (três) anos, que tem a função estraté-
gica de executar as decisões da AMS.
No contexto de competência da OMS, a sua Consti-
tuição estabelece nos artigos 21 e 22, respectivamente, que a
AMS tem autoridade para adotar regulamentos, que tratem
acerca de: “medidas sanitárias e de quarentena e outros proce-
dimentos destinados a evitar a propagação internacional de do-
enças”, que entrem em vigor para todos os Estados membros, a
partir de sua admissão ser devidamente notificada pela Assem-
bleia, contudo, exceto para aqueles que “comuniquem ao dire-
tor-geral sua rejeição ou reservas no prazo determinado pela
notificação”.
De acordo com Monaco e Loula, a força normativa
das decisões da OMS em face dos Estados membros, podem ser
identificas nos seguintes casos: (i) patrocínio da celebração de
30 GALVÃO, Luiz Augusto C. A resposta corajosa da OMS. In: BUSS, Paulo Ma-
chiori; BURGER, Pedro. (Org.) Diplomacia da Saúde: respostas globais à pande-
mia. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2021. ISBN: 978-65-87063-10-2. p. 232/235.
Transpandemia: a busca e os desafios pela efetividade de um tratado
324 | internacional de direito sanitário
Referências
65-87063-10-2 . p . 231/245.
Transpandemia: a busca e os desafios pela efetividade de um tratado
328 | internacional de direito sanitário