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(Organizadores)
NOVAS PERSPECTIVAS DO
DIREITO INTERNACIONAL :
AS RELAÇÕES EXTERNAS NO
VOLUME 4
EDITORA
MUCURIPE
WILLIAM PAIVA MARQUES JÚNIOR
MANUELLA OLIVEIRA TOSCANO MAIA
MILENA ALENCAR GONDIM
(Organizadores)
NOVAS PERSPECTIVAS DO
DIREITO INTERNACIONAL:
AS RELAÇÕES EXTERNAS NO
CONTEXTO PÓS-COVID-19
VOLUME 4
AUTORES
Amanda Rodrigues Lavôr
Ana Paula França Rolim
Carolina Lima Ciríaco Scipião
Filipe Brayan Lima Correia
Helaine Cristina Pinheiro Fernandes
Hélio Barbosa Hissa Filho
Laís Maria Belchior Gondim
Lanna Maria Peixoto de Sousa
Lucas Salles Gazeta Vieira Fernandes
Lucas Saraiva
Milena Alencar Gondim
Monalisa Rocha Alencar
Pedro Emanuel Barreto de Azevedo
Ythalo Frota Loureiro
William Paiva Marques Júnior
Editora Mucuripe
Fortaleza, 2024
Esta obra está sob os direitos da Creative Commons 4.0
https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/deed.pt_BR
CC
BY SA
Novas perspectivas do Direito Internacional :
as relações externas no contexto pós- Covid-19 – volume 4
1ª edição
Editora Mucuripe
Conselho Editorial
André Parmo Folloni João Ricardo Catarino
Arno Dal Ri Junior Juarez Freitas
Daniela Leutchuk de Cademartori Marcelo Cattoni
Danielle Annoni Marciano Seabra de Godoi
Denise Lucena Cavalcante Marcos Wachowicz
Germana de Oliveira Moraes Maria Vital da Rocha
Gisele Cittadino Martonio Mont Alverne Barreto Lima
Hugo de Brito Machado Segundo Paulo Caliendo
João Luís Nogueira Matias Roberto Alfonso Viciano Pastor
CAPÍTULO IV.
O FLUXO MIGRATÓRIO VENEZUELANO E OS IMPACTOS
NA POLÍTICA EXTERNA E MIGRATÓRIA BRASILEIRA.. 124
Pedro Emanuel Barreto de Azevedo
THE VENEZUELAN MIGRATORY FLOW AND IMPACTS
ON BRAZILIAN FOREIGN AND MIGRATORY POLICY
CAPÍTULO V.
OS PARÂMETROS DE PROTEÇÃO DO SISTEMA
INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS SOBRE A
NEGLIGÊNCIA SISTEMÁTICA NO COMBATE A
VITIMIZAÇÃO LETAL INTENCIONAL DE PESSOAS
LGBTIQIAPN+ ............................................................................. 148
Ythalo Frota Loureiro
THE PROTECTION PARAMETERS OF THE INTER-
AMERICAN SYSTEM OF HUMAN RIGHTS OVER
SYSTEMATIC NEGLIGENCE IN COMBATING THE
INTENTIONAL LETHAL VICTIMIZATION OF
LGBTIQIAPN+ PEOPLE
CAPÍTULO VI.
CIDADES INTELIGENTES E ODS 11: PROTAGONISMO DOS
MUNICÍPIO NA EXTINÇÃO DA COMISSÃO NACIONAL
PARA OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL ........................................................................... 188
Lucas Saraiva
William Paiva Marques Júnior
SMART CITIES AND SDG 11: THE ROLE OF
MUNICIPALITIES IN THE DEMISE OF THE NATIONAL
COMMISSION FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT GOALS
Matheus Cavalcante Lima, Milena Alencar Gondim e
William Paiva Marques Júnior |5
CAPÍTULO VII.
A APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS AMBIENTAIS NAS
DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE
VERSAM SOBRE UTILIZAÇÃO PLÁSTICO .......................... 212
Amanda Rodrigues Lavôr
Lucas Salles Gazeta Vieira Fernandes
THE APPLICATION OF ENVIRONMENTAL PRINCIPLES
IN THE DECISIONS OF THE SUPERIOR COURTS
REGARDING PLASTIC USE
CAPÍTULO VIII.
LEI EUROPEIA DO CLIMA E TRANSIÇÃO ENERGÉTICA244
Laís Maria Belchior Gondim
William Paiva Marques Júnior
EUROPEAN CLIMATE LAW AND ENERGY TRANSITION
CAPÍTULO IX.
A LOCALIZAÇÃO COMO ESTRATÉGIA PARA A
IMPLEMENTAÇÃO DOS ODS ................................................. 272
Lucas Salles Gazeta Vieira Fernandes
Milena Alencar Gondim
LOCALIZATION AS A STRATEGY FOR IMPLEMENTING
THE SDG
Novas perspectivas do direito internacional:
6| As relações externas no contexto pós-COVID-19
CAPÍTULO X.
TRABALHO DOMÉSTICO: UMA PERSPECTIVA DO
TRABALHO DECENTE NA RELAÇÃO LATINO-
AMERICANA DE BRASIL E ARGENTINA............................ 297
Lanna Maria Peixoto de Sousa
DOMESTIC WORK: A PERSPECTIVE OF DECENT WORK
IN THE LATIN AMERICAN RELATIONSHIP OF BRAZIL
AND ARGENTINA
CAPÍTULO XI.
VULNERABILIDADES DO MERCADO DE CRÉDITO DE
CARBONO NO BRASIL: A NECESSÁRIA SUPERAÇÃO DO
VAZIO NORMATIVO EM MATÉRIA PENAL AMBIENTAL
........................................................................................................ 332
Monalisa Rocha Alencar
VULNERABILITIES OF THE CARBON CREDIT MARKET IN
BRAZIL: THE NEED TO OVERCOME THE REGULATORY
VOID IN ENVIRONMENTAL CRIMINAL MATTERS
CAPÍTULO XII.
INFLUÊNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE
DIREITOS HUMANOS NO BRASIL PELA PROTEÇÃO DA
MULHER E PROTOCOLO PARA JULGAMENTO COM
PERSPECTIVA DE GÊNERO..................................................... 369
Ana Paula França Rolim
INFLUENCE OF THE INTER-AMERICAN COURT OF
HUMAN RIGHTS IN BRAZIL FOR THE PROTECTION OF
WOMEN AND PROTOCOL FOR TRIAL WITH A GENDER
PERSPECTIVE
Matheus Cavalcante Lima, Milena Alencar Gondim e |7
William Paiva Marques Júnior
CAPÍTULO XIII.
O IMPACTO DAS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL QUE SUGEREM CONDUTAS
AMBIENTALMENTE DESEJADAS NOS CUSTOS DE
TRANSAÇÃO EMPRESARIAIS ................................................ 403
Amanda Rodrigues Lavôr
Lucas Salles Gazeta Vieira Fernandes
THE IMPACT OF SUPREME FEDERAL COURT JUDICIAL
DECISIONS THAT SUGGEST ENVIRONMENTALLY
DESIRED CONDUCT ON COMPANIES' TRANSACTION
COSTS
CAPÍTULO XIV.
PROCESSO DE MEDIDA PROVISÓRIA NA CORTE
INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS QUE
RESULTOU NA CONTAGEM EM DOBRO DO TEMPO DE
PRISÃO.......................................................................................... 434
Filipe Brayan Lima Correia
PROVISIONAL MEASURE PROCESS IN THE INTER-
AMERICAN COURT OF HUMAN RIGHTS THAT
RESULTED IN A DOUBLE COUNTING OF PRISON TIME
Novas perspectivas do direito internacional:
8| As relações externas no contexto pós-COVID-19
CAPÍTULO XV.
DA AGENDA 2030 AO PACTO ECOLÓGICO EUROPEU: A
EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO DOS OCEANOS CONTRA A
POLUIÇÃO POR (MICRO)PLÁSTICOS .................................. 464
Lucas Salles Gazeta Vieira Fernandes
FROM THE AGENDA 2030 TO THE EUROPEAN GREEN
DEAL: THE EVOLUTION OF THE PROTECTION OF THE
OCEANS AGAINST THE POLLUTION BY
(MICRO)PLASTICS
CAPÍTULO XVI.
A MEDIAÇÃO SANITÁRIA COMO MECANISMO DE
PROMOÇÃO DO DIREITO À SAÚDE NA PANDEMIA DA
COVID-19: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS RELAÇÕES
BILATERAIS ENTRE BRASIL E URUGUAI ........................... 493
Carolina Lima Ciríaco Scipião
William Paiva Marques Júnior
HEALTH MEDIATION AS A MECHANISM FOR
PROMOTING THE RIGHT TO HEALTH IN THE COVID-19
PANDEMIC: AN ANALYSIS BASED ON BILATERAL
RELATIONS BETWEEN BRAZIL AND URUGUAY
SOBRE OS ORGANIZADORES
DOI: 10.29327/5341937.1-1
Introdução
1 FERRAJOLI, Luigi. Por que uma Constituição da Terra? Tradução: Sandra Regina
Martini e Bernardo Baccon Gehlen. Revista de Direito Brasileira. Florianópolis,
SC. Volume 31, n. 12, Jan./Abr. 2022, p. 04.
A superação da figura do inimigo no direito internacional: a constituição
28| da terra (Luigi Ferrajoli), a solidariedade (Stefano Rodotà) e o direito ...
2 FERRAJOLI, Luigi. Por que uma Constituição da Terra? Tradução: Sandra Regina
Martini e Bernardo Baccon Gehlen. Revista de Direito Brasileira. Florianópolis,
SC. Volume 31, n. 12, Jan./Abr. 2022, p. 06.
William Paiva Marques Júnior | 29
de decisão é adquirido através de uma luta competitiva pelos
votos da população.
Em um contexto de crise da cultura garantista no mo-
delo de ascensão da persecução tradicional de recrudescimento
do Direito Penal, a partir da preocupação midiática e do popu-
lismo penal, verificando-se o aumento substancial da população
carcerária.
A questão do garantismo, relacionada diretamente à
existência de um Estado de Direito comprometido com os direi-
tos fundamentais não é olvidada pela proposta de Constituição
da Terra.
Por seu turno, Luigi Ferrajoli3 assevera que os direi-
tos e garantias fundamentais constituem condições jurídicas de
democracia. Obviamente, a democracia depende das condições
pragmáticas - políticas, econômicas, sociais e culturais, em
grande parte, independentes do Direito.
No contexto de deslegitimação da política, perpas-
sando pela ascensão dos poderes econômicos e financeiros na
seara global em um contexto de regressão moral e jurídica. As
assimetrias entre Direito e Política reverberam na destruição
dos direitos sociais. Deve-se sempre ter em mira que o Estado
Constitucional de Direito é um estado de progresso.
4
FERRAJOLI, Luigi . Por que uma Constituição da Terra? Tradução : Sandra Regina
Martini e Bernardo Baccon Gehlen. Revista de Direito Brasileira. Florianópolis,
SC. Volume 31, n. 12, Jan./Abr. 2022, p . 07.
5
FERRAJOLI, Luigi . Por que uma Constituição da Terra? Tradução: Sandra Regina
Martini e Bernardo Baccon Gehlen. Revista de Direito Brasileira. Florianópolis,
SC. Volume 31 , n. 12, Jan./Abr. 2022, p . 09.
William Paiva Marques Júnior | 31
b) em segundo lugar, na direção de um constitucionalismo
de direito privado, em acréscimo ao constitucionalismo
de direito público atual, através da introdução de um sis-
tema adequado de regras e de garantias em face dos po-
deres selvagens dos mercados atuais;
c) em terceiro lugar, na direção de um constitucionalismo
dos bens fundamentais, em acréscimo ao dos direitos
fundamentais, através da previsão de garantias destina-
das a conservar e assegurar o acesso de todos ao gozo de
bens vitais como os bens comuns, mas também de medi-
camentos essenciais e alimentação básica.
Para Luigi Ferrajoli6, uma Constituição da Terra de-
veria listar, ao lado dos direitos humanos, os bens fundamen-
tais, estabelecendo as garantias relacionadas, como a proprie-
dade planetária dos bens comuns, as garantias de acesso à água
potável e à alimentação básica para todos os seres humanos e a
produção e distribuição obrigatória de cuidados de saúde para
todos os medicamentos que salvam vidas, vacinas e outros
equipamentos essenciais de saúde.
Bastante pertinente é a advertência de Luigi Ferra-
joli7 consoante a qual podem existir, de fato, democracias não
10 FERRAJOLI, Luigi. Por que uma Constituição da Terra? Tradução: Sandra Regina
Martini e Bernardo Baccon Gehlen. Revista de Direito Brasileira. Florianópolis,
34 | A superação da figura do inimigo no direito internacional: a constituição
da terra (Luigi Ferrajoli), a solidariedade (Stefano Rodotà) e o direito ...
12 FERRAJOLI, Luigi. Por que uma Constituição da Terra? Tradução: Sandra Regina
Martini e Bernardo Baccon Gehlen. Revista de Direito Brasileira. Florianópolis,
SC. Volume 31, n. 12, Jan./Abr. 2022, p. 14.
A superação da figura do inimigo no direito internacional: a constituição
36| da terra (Luigi Ferrajoli), a solidariedade (Stefano Rodotà) e o direito ...
13 FERRAJOLI, Luigi. Por que uma Constituição da Terra? Tradução: Sandra Regina
Martini e Bernardo Baccon Gehlen. Revista de Direito Brasileira. Florianópolis,
SC. Volume 31, n. 12, Jan./Abr. 2022, p. 12.
William Paiva Marques Júnior | 37
e, por conseguinte, a proibição inderrogável, constituindo um
crime a sua detenção e, mesmo antes, seu comércio e sua pro-
dução. Uma Constituição da Terra deveria banir todas as armas,
mesmo as que não são armas de guerra. Todos os anos, milhões
de pessoas morrem no mundo devido à difusão de armas: só
em 2017, foram cometidos 464.000 homicídios, na sua maioria
com armas de fogo, e centenas de milhares de pessoas morre-
ram nas muitas guerras que infestam o planeta, quase todas ci-
vis; sem contar o número altíssimo de suicídios e acidentes cau-
sados pelo uso de armas. Esse massacre absurdo deve-se, em
grande parte, à facilidade de aquisição e à enorme difusão das
armas.
Ainda sobre o desarmamento, assevera Luigi Ferra-
joli14, a produção, o comércio e a posse de armas – armas incom-
paravelmente mais destrutivas do que há quatro séculos – são o
sinal de uma não concluída civilização da nossa sociedade e o
principal fator de desenvolvimento da criminalidade, do terro-
rismo e das guerras.
Nesse sentido, surgem os aportes necessários ao re-
conhecimento de um constitucionalismo supranacional e glo-
bal, ultrapassando questões meramente econômicas, com preo-
cupações voltadas para aspectos do fortalecimento dos direitos
humanos, da participação social inclusiva e democrática, do Es-
tado Social e Democrático de Direito, fundado no valor da dig-
nidade humana (base axiológica dos direitos fundamentais).
A Constituição da Terra nasce como um espírito teó-
rico e se caracteriza pela vocação universalista, informada pela
14 FERRAJOLI, Luigi. Por que uma Constituição da Terra? Tradução: Sandra Regina
Martini e Bernardo Baccon Gehlen. Revista de Direito Brasileira. Florianópolis,
SC. Volume 31, n. 12, Jan./Abr. 2022, p. 13.
38| A superação da figura do inimigo no direito internacional: a constituição
da terra (Luigi Ferrajoli), a solidariedade (Stefano Rodotà) e o direito ...
15 FERRAJOLI, Luigi.Por uma Teoria dos Direitos e dos Bens Fundamentais. Tra-
dução: Alexandre Salim, Alfredo Copetti Neto, Daniela Cademartori, Hermes Za-
neti Júnior, Sérgio Cademartori. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora,
2011, p. 54 e 55.
William Paiva Marques Júnior | 39
A humanidade passa por um momento dramático no
período de pós-pandemia por diversos motivos:
(1) a continuidade do conflito Rússia/Ucrânia e a possibili-
dade de um conflito nuclear;
(2) os desequilíbrios ambientais inerentes à mudança climá-
tica;
(3) a desigualdade socioeconômica em níveis severos;
(4) os dramas dos fluxos migratórios, o direito de imigrar é
primevo no Direito Natural, como fundamento do flores-
cimento da Civilização Ocidental.
16 FERRAJOLI, Luigi. Por que uma Constituição da Terra? Tradução: Sandra Regina
Martini e Bernardo Baccon Gehlen. Revista de Direito Brasileira. Florianópolis,
SC. Volume 31, n. 12, Jan./Abr. 2022, p. 13.
A superação da figura do inimigo no direito internacional: a constituição
40 | da terra (Luigi Ferrajoli), a solidariedade (Stefano Rodotà) e o direito ...
18 FERRAJOLI, Luigi. Por que uma Constituição da Terra? Tradução: Sandra Regina
Martini e Bernardo Baccon Gehlen. Revista de Direito Brasileira. Florianópolis,
SC. Volume 31, n. 12, jan./Abr. 2022, p. 09.
19 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional: um estudo com-
parado dos sistemas regionais europeu, interamericano e africano. 9. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 59-60.
William Paiva Marques Júnior | 43
lado, a emergência do Direito Internacional dos Direitos Huma-
nos, e, de outro, a emergência da nova feição do Direito Consti-
tucional Ocidental, aberto a princípios e valores, com ênfase no
valor da dignidade humana. No âmbito do Direito Internacio-
nal, começa a ser delineado o sistema normativo de proteção
dos direitos humanos. É como se se projetasse a vertente de um
constitucionalismo global, vocacionado a proteger os direitos
fundamentais e a limitar o poder do Estado, mediante a criação
de um aparato internacional de proteção de direitos. Por sua
vez, no âmbito do Direito Constitucional Ocidental, testemu-
nha-se a elaboração de textos constitucionais abertos a princí-
pios, dotados de elevada carga axiológica, com destaque para o
valor da dignidade humana. É fortalecida a ideia de que a pro-
teção dos direitos humanos não deve se reduzir ao domínio re-
servado do Estado, porque revela tema de legítimo interesse in-
ternacional. Por sua vez, essa concepção inovadora aponta para
duas importantes consequências:
1ª) a revisão da ideia tradicional de soberania absoluta do
Estado, que passa a ser objeto de relativização, na me-
dida em que são admitidas intervenções no plano nacio-
nal em prol da proteção dos direitos humanos- isto é,
transita-se de um concepção hobbesiana de soberania, cen-
trada no Estado, para uma concepção kantiana de sobera-
nia, centrada na cidadania universal, e
2ª) a cristalização da ideia de que o indivíduo deve ter direi-
tos protegidos na esfera internacional, na condição de su-
jeito de direitos.
Observa-se que a Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948 inaugura a concepção contemporânea dos di
A superação da figura do inimigo no direito internacional: a constituição
44 | da terra (Luigi Ferrajoli), a solidariedade (Stefano Rodotà) e o direito ...
20 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução: Carlos Nelson Coutinho. 1. ed.
13. reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 29 e 30.
William Paiva Marques Júnior | 45
O intitulado Sistema Internacional de Proteção dos
Direitos Humanos, por intermédio do sistema global e de siste-
mas regionais. O Sistema Global de Direitos Humanos apre-
senta como protagonista as Nações Unidas – ONU, e tem como
marco a Declaração dos Direitos Humanos de 1948, também é
configurado através de vários outros documentos, como o Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Político (1966), o Pacto In-
ternacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
(1966), a Convenção pela Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial (1965) e de Discriminação contra a Mulher
(1979), a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), entre
outros. A adesão a esses tratados pelos Estados membros tem
impulsionado a expansão dos Direitos Humanos, inclusive por
intermédio da criação de mecanismos e legislações no domínio
interno. O desenvolvimento dos Direitos Humanos nos ordena-
mentos jurídicos nacionais revela-se significativo, com uma tra-
jetória promissora, fato que se vislumbra elemento propulsor
para o constructo de um constitucionalismo global.
No plano prospectivo, deve haver a Constituição
identitária que supere a ideologia da guerra e do ódio às dife-
renças. A construção da ideia de inimigo é prejudicial ao pró-
prio futuro do horizonte democrático. O radicalismo (de direita
ou de esquerda) não pode prevalecer em um regime que se ba-
liza pela lógica da temperança e da maturidade, e, neste ponto,
aproxima-se da ideia de Direito Fraterno.
Na visão de Eligio Resta 21 , dispensando o jogo
amigo-inimigo, o Direito Fraterno é não violento. Não incor-
pora a ideia do inimigo de nenhuma outra forma, e por isso é
diferente da guerra.
24 131.
RESTA, Eligio.livre:
Tradução “Vogliamo
Il Diritto Fraterno. Tredicesimaricordare
in conclusione edizione.i Roma:
passaggi fondamentali
Laterza, 2020, p.
del diritto fraterno como condizioni minime di quel diritto vivente che attende la
sua forma.”
25 RODOTÀ, Stefano. Solidarietà. Un’utopia necessaria. Seconda edizione. Roma:
A superação da figura do inimigo no direito internacional: a constituição
48 | da terra (Luigi Ferrajoli), a solidariedade (Stefano Rodotà) e o direito ...
Laterza, 2016, p. 4. Tradução livre: “Nei tempi difficili è la forza delle cose a fa
ravventire come un bisogno ineliminabile il riferimento a principi che consentano
di sottrarsi alla contingenza e alla nuda logica del potere, riscoprendo una radice
profonda della solidarietà come segnale di non aggressione tra gli uomini.”
William Paiva Marques Júnior | 49
Elucida Stefano Rodotà 26 que a solidariedade não
pode ser fragmentada em contratos que, pelo contrário, realçam
a dimensão individualista e dão proeminência decisiva à dispa-
ridade de poder das partes contratantes, exatamente o oposto
da função em torno da qual a solidariedade constitucional tem
sido progressivamente construída.
Constitucionalismo e democracia representam con-
ceitos distintos. Um pode existir sem o outro. A realidade con-
temporânea demostra que a relação entre a democracia e a
Constituição se revela como constante necessidade. O escopo
fundamental da constituição moderna é a introdução de meca-
nismos reativos às mudanças não permitidas. No contexto do
modelo imanente ao neoconstitucionalismo europeu-continen-
tal, o valor democrático é materializado por meio da democra-
cia representativa e majoritária.
Nesse contexto, aduz Cláudio Finkelstein27: o que se
busca com o movimento de constitucionalização do Direito In-
ternacional não é a identificação de um processo social ou polí-
tico, mas sim uma atitude. Uma filosofia de legitimação política
de respeito a um texto fundamental – este sim uma Constitui-
ção- ainda que não seja escrito ou um texto histórico. Enfoque
maior deve ser dado a contextualizar a inclusão e exclusão, vez
que nessa constituição global também devem ser contemplados,
como tutelados, atores não-estatais, tradicionalmente relegados
Referências bibliográficas
FERRAJOLI, Luigi . Por uma Teoria dos Direitos e dos Bens Fun-
damentais . Tradução: Alexandre Salim, Alfredo Copetti Neto, Da-
niela Cademartori, Hermes Zaneti Júnior, Sérgio Cademartori.
Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2011 .
DOI: 10.29327/5341937.1-2
*
Especialista em Direito Constitucional (Uniderp). Graduada em Direito pela Uni-
versidade de Fortaleza - UNIFOR. Atuação na área de Direito Constitucional e
Direito Civil. Atualmente é Oficial de Justiça - Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará - TJCE. Artigo formulado para a disciplina Direito das Relações Internaci-
onais e Contemporaneidade, para o curso de Mestrado em Direito da Universi-
dade Federal do Ceará (UFC), ministrada pelo Professor William Paiva Marques
Júnior. Semestre 2023.1.
Os direitos das pessoas com autismo na Convenção de Nova Iorque
64 |
reconhecimento de suas capacidades e habilidades individuais, a pro-
moção de sua autonomia e independência, fornecimento de serviços
e apoios adequados para suas necessidades, constatando-se que os
direitos presentes na Convenção de Nova Iorque, não se efetivam por
si só, sendo necessária a conscientização, acessibilidade, adaptações e
solidariedade. Ao final, propõem-se exequíveis soluções, visando as-
segurar o acesso pleno ao conjunto de direitos garantidos, a fim de
realizar a inclusão social efetiva das pessoas com autismo.
Introdução
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/
d6949.htm. Acesso em: 01 abr. 2023.
Os direitos das pessoas com autismo na Convenção de Nova Iorque
66 |
Iorque, o presente capítulo busca analisar os direitos das pes-
soas autistas consagrados no comando convencional, objeti-
vando:
1) extrair a relação com a legiferação do Estatuto da Pessoa
com Deficiência (Lei 13.146 de 2015), assim como com a
Lei n° 12.764/2012, que instituiu a Política Nacional de
Proteção dos Direitos das Pessoas com Transtorno do Es-
pectro Autista, visto que a pessoa com autismo é equipa-
rada à pessoa com deficiência;
2) identificar os meios pelos quais o legislador brasileiro
efetivou direitos e princípios previstos na Convenção,
efetuados os ajustes à realidade brasileira, relativamente
às pessoas com transtorno do Espectro autista;
3) apreciar avanços e aspectos a serem melhorados, com
base no Comando Convencional;
4) ressaltar a questão da capacidade civil das pessoas com
autismo, que passa por mudanças significativas após a
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com deficiên-
cia, posto que determinou que os Estados Partes estrutu-
rem instrumento de apoio ao exercício da capacidade.
Os objetivos da pesquisa demonstram que os dispo-
sitivos da convenção, fundados nos valores da justiça, da digni-
dade da pessoa humana e da isonomia, tencionam a excomun-
gar a discriminação, ao menos no plano ideal normativo, pro-
curando identificar as origens e causas de tal discriminação no
decorrer da história, assim como objetiva apontar soluções para
o arredamento ou otimização do problema da discriminação,
tais como políticas públicas de conscientização, de incentivo e
promoção de inclusão social da pessoa com autismo.
Helaine Cristina Pinheiro Fernandes | 67
No que concerne à metodologia e ao tipo de pes-
quisa, mostra-se necessária a utilização do método intradiscipli-
nar de estudo e análise, de forma que as obras "Mundo Singu-
lar", de autoria da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva e "Au-
tismo e outros atrasos do Desenvolvimento", do também psi-
quiatra Ernest Christian Gauderer, serão o norte quando da
compreensão do Transtorno do Espectro Autista - TEA.
Na seara jurídica, foi utilizado o método dedutivo,
tendo sido o estudo feito por meio de pesquisas bibliográficas e
exploratórias, com abordagem qualitativa extraída da jurispru-
dência, da doutrina. Analisa-se a Convenção de Nova Iorque, o
Estatuto da Pessoa com Deficiência, a Lei n° 12.764/2012, que
instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos das Pes-
soas com Transtorno do Espectro do Autismo, dispositivos do
Código Civil e de outros diplomas atinentes à matéria, a fim de
depreender os avanços sociais acarretados pelo comando con-
vencional e analisar, de forma crítica, a evolução da aplicação
destes comandos, destacando os pontos práticos que necessitam
de aprimoramento.
3 FOUCAULT, M. (2003) A vida dos homens infames. In: ______. Estratégia, poder
Os direitos das pessoas com autismo na Convenção de Nova Iorque
68|
Ao longo da história, a sociedade tem promovido a
exclusão das pessoas que não se enquadram “nos padrões ditos
de normalidade”, que são diferentes. Os parcos relatos históri-
cos existentes sobre as pessoas com autismo e com deficiência
apontam para uma trajetória de incapacidade, privação de di-
reitos e de garantias fundamentais, resultando em discrimina-
ção e exclusão social.
Na Roma antiga, os direitos do nascituro eram aco-
lhidos, exceto se o parto prematuro, considerado como tal
aquele ocorrido antes do sétimo mês de gestação, acarretasse
deficiência, inviabilidade de sobrevivência pela prematuridade
ou monstruosidade, havendo previsão da morte por afoga-
mento. Caso sobrevivessem tais recém-nascidos, posterior-
mente eram comercializados numa espécie de mercado dito “es-
pecial”, composto por pessoas com deformidades físicas das
mais diversas, incluindo, anormalidades esqueléticas, anões, gi-
gantes, hermafroditas, cegos e quaisquer outros que ostentas-
sem uma debilidade.
A eclosão do Cristianismo trouxe preocupação vi-
sando ajudar os órfãos e os rejeitados, que eram recebidos por
bispos e freiras nos mosteiros existentes e atendidos pelas insti-
tuições envolvidas em ajudar esses excluídos.
Ao longo da Idade Média, paradoxalmente a pie-
dade defendida pela igreja, a sensação de ter indivíduos com
deficiência transitando pelas ruas, trazia desconforto às pes-
soas, que resolveram criar uma embarcação para levá-los em
alto mar, sem destino, conhecida como “Nau dos Loucos”, vi
7 Ibidem, p. 167.
8 CAMPANHOLE, Adriano; CAMPANHOLE; Hilton Lôbo. Todas as Constitui-
ções do Brasil / compilação dos textos, notas, revisão e índices. São Paulo: Atlas,
1971. 659 p. Disponível em: http://biblioteca2.senado.gov.br:8991/F/?func=item-
global&doc_library=SEN01&doc_number=000012720. Acesso em: 23 mar. 2023. p.
582.
9 AGUILAR FILHO, Sidney. Educação, autoritarismo e eugenia = exploração do
trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-1945). 2011. 364 p.
Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação.
Campinas. São Paulo. 2011. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/
handle/REPOSIP/251194A. Acesso em: 23 mar. 2023. p. 24; 112; 173; 203; 207
Helaine Cristina Pinheiro Fernandes | 71
Durante a segunda guerra mundial, o médico austrí-
aco Hans Asperger, debruçou-se sobre o estudo individuali-
zado em crianças com sintomas de psicopatia de autismo. Ele
entrou para a história da psiquiatria ao ampliar os critérios de
definição dessa condição de saúde e dar uma “nova cara” ao
autismo. Entretanto, há estudos realizados a partir das análises
de documentos da época, que afirmam que ele esteve envolvido
nas políticas de homicídio de crianças no período nazista. Se-
gundo Edith Sheffer, “arquivos revelam que Asperger partici-
pou do sistema de assassinato infantil em múltiplos níveis: ele
era próximo de líderes do sistema de eutanásia infantil em Vi-
ena e, como membro do Estado nazista, enviou dezenas de cri-
anças para a instituição infantil de Spiegelgrund, onde eram
mortas”.10
Em 1948, após a segunda guerra, a Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos, promoveu a defesa e o respeito
aos direitos e liberdades entre as civilizações dos Estados-Mem-
bros e dos territórios sob sua jurisdição, garantindo que as pes-
soas nascem livres e iguais em dignidade humana e direitos.
(artigo 1º da Resolução ONU n.º 217 A, III de 10 de dezembro
de 1948). 11
Conhecer a história dos direitos das pessoas com de-
ficiência e com autismo, contribui para a compreensão das ra-
zões pelas quais ainda há muitas dificuldades e desvantagens
15 SILVA,
57 Ana Beatriz Barbosa. Mundo Singular. Rio de Janeiro: Fontanar. 2012, p.
uma mãe de uma pessoa com autismo, que lutou pelo reconhe-
cimento desses direitos - que em seu art. 1º, parágrafo 2º, equi-
20 CUNHA, Felipe Hotz de Macedo. Proteção contra qualquer forma de abuso e ex-
ploração e contra tratamentos desumanos ou degradantes. In: TIBYRIÇÁ, Renata
Flores; D’ANTINO, Maria Eloisa Famá (org.). Direitos das pessoas com autismo:
comentários interdisciplinares à Lei 12.764/12. 1 ed. São Paulo: Memnon Edições
Científicas, 2018. p. 190
Os direitos das pessoas com autismo na Convenção de Nova Iorque
78|
A não discriminação, como direito ora citado, consti-
tui uma vertente negativa do princípio da igualdade, pelo qual
são formuladas regras constitucionais e legais determinando
que os atos discriminatórios não poderão ser aceitos. Gilmar
Ferreira Mendes define, com base na doutrina alemã, que a iso-
nomia tanto pode ser vista como exigência de tratamento igua-
litário (Gleichbehanlungsgebot), como a proibição de trata-
mento discriminatório (Ungleichbehanlungsverbot).21
Diante de todo o contexto histórico já abordado no
presente capítulo, de desrespeito ao próprio direito à vida das
pessoas com deficiência, o texto convencional entendeu indis-
pensável trazer expressamente a previsão do direito à vida, à
liberdade e à segurança pessoal das pessoas com deficiência e
com autismo, constantes nos artigos 10 e 14. No mesmo sentido,
tais direitos também foram reforçados no art. 3º, I e II da Lei nº
12.764/12, protegendo as pessoas com autismo contra qualquer
forma de abuso e exploração, assim como tratamentos desuma-
nos e degradantes.22 Quando é dado à pessoa com autismo tra-
tamento justo, sensível e igualitário, há uma evolução positiva
do seu quadro clínico. Todavia, quando é exposto a qualquer
tipo de violência, abuso ou maus tratos, tende a isolar-se, desen-
volver agressividade, regredindo socialmente.23
nº 12.764/ 12 (art. 3º, IV, alínea ce art. 2º, V) trazem previsão ex-
Considerações finais
28 FARAH, Fabiana Barroca Alves . Os direitos das pessoas com autismo: uma abor-
dagem jurídica sob a Perspectiva social. p . 109. Dissertação (Mestrado) – Uni7.
Fortaaleza. Ceará. 2020. Disponível em: https://www.uni7.edu.br/wp-content/
uploads/2021/06/Dissert o F bi n Fr h.pdf. Acesso em: 01 jul. 2023.
Os direitos das pessoas com autismo na Convenção de Nova Iorque
86|
vez, a evolução do quadro clínico do autista, que necessita de
29
intervenção imediata logo após o diagnóstico elucidativo.
Necessário também que as empresas qualifiquem
seus empregados e o Poder Público capacite seus servidores,
além de promover a devida informação à sociedade, no intuito
de reforçar o respeito aos direitos da pessoa com autismo, pre-
servando a sua autonomia com dignidade, pois a inclusão e a
acessibilidade por si só não se efetivam. Dependem da solidari-
edade social para acontecerem, pois a vida em sociedade é ine-
vitável para a subsistência de cada um,30 sendo a solidariedade
o elo entre as pessoas e a possibilidade da inclusão para todos.
Segundo Danilo Fontenele Sampaio Cunha31, enxergar o outro
como sujeito é, portanto, respeitar e propiciar o desenvolvi-
mento uniforme de todas suas potencialidades e, para tanto, há
que se conhecerem, além de seus impulsos e necessidades, os
meios necessários às suas satisfações, sendo crucial que a liber-
dade e a sinceridade das expressões particulares sejam dirigidas
à meta comum de todo conhecimento, qual seja, o contínuo pro-
gresso da humanidade.
Neste aspecto, a solidariedade se mostra como o ca-
minho a ser seguido, na redescoberta dos laços comuns da ir-
mandade humana. Vencer o egoísmo, os comportamentos indi-
vidualistas, as tendências isolacionistas no empreendimento da
inclusão do outro no mundo, parece ser a maior meta de supe-
29 Ibidem, p. 109.
30 Aristóteles. A Política. 3. Ed. Brasília: UNB, 1997, p. 12. In TABOSA, Agerson. So-
ciologia Geral e Jurídica. Fortaleza: Qualygrf Editora e Gráfica,2005, p. 119.
31 CUNHA, Danilo Fontenele Sampaio. Sociologia Jurídica: Ordem jurídica, legiti-
midade social e justiça. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020, p 421-422.
Helaine Cristina Pinheiro Fernandes | 87
ração individual e institucional de todos que lidam com o di-
reito, afinal a solidariedade é um princípio reitor não apenas das
relações interpessoais, mas sobretudo do Direito.
Referências
teca2.senado.gov.br:8991/F/?func=itemglobal&doc_library=SEN01
&doc number-000012720 . Acesso em: 23 mar. 2023.
DOI: 10.29327/5341937.1-3
Introdução
Considerações finais
Referências
www.funcionpublica.gov.co/eva/gestornormativo/norma.php?i=
51147. Acesso em: 7.abr.2023.
www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed protect/---protrav/---
Direito à desconexão na América Latina:
120 |
estudo comparado entre Brasil e Colômbia
DOI: 10.29327/5341937.1-4
Introdução
1
CAVALCANTI, L; OLIVEIRA, T.; ARAÚJO, D. , A inserção dos imigrantes no
mercado de trabalho brasileiro . Relatório Anual 2016. Observatório das Migra-
ções Internacionais; Ministério do Trabalho/ Conselho Nacional de Imigração e
Coordenação Geral de Imigração. Brasília, DF: OBMigra, 2016, p.50. Disponível
em: https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/dados anuais/RelatorioCom-
pleto v8 0512 pagespelhada comcapa.pdf. Acesso em 13/04/2023 .
2
BRASIL. Ministério da Justiça . Informe migração venezuelana janeiro 2017 - fe-
vereiro de 2022. Disponível em: https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/Sub-
comit% C3%AA federal/publica% C3% A7% C3%B5es/informe-migracao-venezu-
elana-jan2017-fev2022 -v5.pdf. Acesso em 12/04/2023.
3 Idem.
4 Idem .
O fluxo migratório venezuelano e
128 | os impactos na política externa e migratória brasileira
8 Idem. p. 49
9 Idem. p. 50.
10 SANTOS, Boaventura de Souza. En defensa de Venezuela. Disponível em:
https://www.aporrea.org/actualidad/a249886.html. Acesso em 18/04/2023.
O fluxo migratório venezuelano e
130 | os impactos na política externa e migratória brasileira
23
ONU. Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Refúgios em
números 4ª edição . Disponível em https://www.acnur.org/portugues/wp-con-
tent/uploads/2019/07/Refugio-em-nu% CC%81meros versa% CC% 830-23-de-ju-
lho-002.pdf. Acesso em: 18/04/2023, p . 34 .
24 ROCHA, Gustavo do Vale, RIBEIRO, Natália Vilar Pinto. Fluxo migratório vene-
zuelano no Brasil: análises e estratégias. Revista Jurídica da Presidência Brasília
v. 20 n. 122 out. 2018/jan. 2019 p. 541-563, DOI: http://dx.doi.org/10.20499/2236-
3645.RJP2018v20e122-1820, p.
25 Idem, p . 548.
26 MOREIRA, Paula. Imigração Venezuela-Roraima: evolução, impactos e pers-
pectivas. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA 2021. DOI : https ://
dx.doi.org/10.38116.\ridirur.imigracaovenezuela-roraima, p. 28-41 .
Pedro Emanuel Barreto de Azevedo | 135
federação distante geograficamente dos principais polos econô-
micos do país e que, por si, não é dotado de abastados recursos,
como é o caso do estado de Roraima.
Em razão de todo o exposto, verifica-se que, embora
a migração venezuelana, considerando o Brasil e as dimensões
de sua população, não possa ser considerada como um agente
de instabilidade geral, em virtude de particularidades do pro-
cesso migratório em estudo ‒ precariedade e extrema vulnera-
bilidade dos imigrantes ‒, uma resposta política era (e ainda é)
necessária para atender à toda essa problemática.
No próximo tópico, delineiam-se as políticas (no âm-
bito externo e migratório) implementadas pelo estado brasileiro
para lidar com o fenômeno analisado, examinando sua validade
de acordo com as normas constitucionais aplicáveis, tomando
como base o art. 4º da Constituição Federal.
30 Idem, p . 39.
31
Apresentação inicial do Ministro Ernesto Araújo na Comissão de Relações Exte-
riores e Defesa Nacional (CRE) do Senado Federal, em Brasília (05/03/2020) . Dis-
ponível em: https://antigo.funag.gov.br/index.php/es/politica-externa-brasileira/
3148-exposicao-do-ministro-ernesto-araujo-na-credn-do-senado. Acesso em: 24
abr. 2023.
32
32
BRASIL . Portaria Interministerial no 7, de 19 de agosto de 2019. Dispõe sobre o
O fluxo migratório venezuelano e
138 |
os impactos na política externa e migratória brasileira
33 ROCHA, Gustavo do Vale, RIBEIRO, Natália Vilar Pinto. Fluxo migratório vene-
zuelano no Brasil: análises e estratégias. Revista Jurídica da Presidência Brasília
v. 20 n. 122 out. 2018/jan. 2019 p. 541-563, DOI: http://dx.doi.org/10.20499/2236-
3645.RJP2018v20e122-1820, p. 554.
34 SEIXAS, Bernado Silva de, LIMA, Isabelle Cristina Moura. O Estado Democrático
de Direito e a Operação Acolhida: análise acerca do acolhimento dos refugiados
venezuelanos no estado de Roraima. Revista de Direito Internacional e Direitos
Humanos da UFRJ. Rio de Janeiro, v. 3, n. 2 (2020), p. 13.
O fluxo migratório venezuelano e
140 |
os impactos na política externa e migratória brasileira
de 2017, art. 142, III, e art. 161 ) , por meio da instituição da Por-
35 Idem, p. 13.
36 Idem, p.13.
37 XAVIER, Fernando César Costa. A interiorização como um direito social univer-
salizável. Revista Direito GV. São Paulo . v. 17, n. 1, 2021 , p.3 .
38 BRASIL. Portaria Interministerial n. 9 de 14 de março de 2018. Diário Oficial (da)
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF PUBLICADO NO
DOU Nº 51 de 15/03/2018, Seção 1 , Página 57. Disponível em https://portaldeimi-
gracao.mj.gov.br/images/portarias/PORTARIA%20INTERMINISTERIAL%20N
%C2%BA%209,%20DE%2014% 20DE% 20MAR% C3%870%20DE%202018.pdf.
39 BRASIL. Portaria Interministerial n. 15 de 27 de agosto de 2018. Diário Oficial
(da) República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, PUBLICADO NO
DOU Nº 166 de 28/08/2018, Seção 1 , Página 32. Disponível em: https: //portaldei-
migracao.mj.gov.br/images/portarias/PORTARIA INTERMINISTERIAL N%C2
%BA 15 DE 27 DE AGOSTO DE 2018.pdf.
40 BRASIL. Portaria Interministerial nº 2, de 15 de maio de 2019. Diário Oficial (da)
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, PUBLICADO NO
DOU Nº 103 de 30/05/2019, Seção 1 , Página 55. Disponível em: https://portaldei-
migracao.mj.gov.br/images/portarias/PORTARIA INTERMINISTERIAL N% C2
%BA 2 DE 15 DE MAIO DE 2019 ALTERA A PORTARIA INTER. N% C2
%BA 9.pdf .
Pedro Emanuel Barreto de Azevedo | 141
Tais atos normativos tiveram o condão de viabilizar
a regularidade do status migratório dos recém-chegados imi-
grantes venezuelanos, permitindo a concessão da autorização
de residência (por tempo determinado com possibilidade de re-
novação por tempo indeterminado).
Por todo o exposto, verifica-se que a política migra-
tória adotada pelo Brasil, em resposta ao fenômeno observado,
se coaduna com os princípios inscritos no art. 4º da Constituição
Federal, especialmente no que toca ao inciso II (prevalência dos
direitos humanos) e inciso X (concessão de asilo político). Em
relação ao inciso X, art. 4º, da CF, este é interpretado de modo
amplo, representando o direito de ser acolhido em estado es-
trangeiro.41
Considerações finais
Referências
gracao.mj.gov.br/images/Subcomit%C3%AA federal/publica% C3
%A7% C3% B5es/informe- migracao-venezuelana-jan2017- fev2022-
v5.pdf. Acesso em: 12 abr. 2023.
em : https://brazil.iom.int/sites/g/files/tmzbdl1496/files/documents/
MDH_OIM DTM Brasil N1.pdf. Acesso em: 18 abr. 203.
DOI: 10.29327/5341937.1-5
*
Promotor de Justiça do Estado do Ceará, Doutorando e Mestre do Programa de
Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará. Lattes iD: http://
lattes.cnpq.br/6387713593384966. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0001-8605-7208.
E-mail: ythalo.loureiro@mpce.mp.br.
Ythalo Frota Loureiro | 149
transsexual, interpretando o artigo 4 da CADH. Concluiu-se que são
parâmetros legais, para o reconhecimento de violação a direitos hu-
manos em casos de vitimização de pessoas LGBTI+: dever de não-dis-
criminação (art. 1.1); direito ao reconhecimento da personalidade ju-
rídica (art. 3); direito à vida (art. 4); direito à integridade pessoal (art.
5); direito à liberdade pessoal (art. 7); direito às garantias judiciais (art.
8); direito à proteção da honra e da dignidade(art. 11); direito à liber-
dade de pensamento e de expressão (art. 13); direito ao nome (art. 18);
igualdade perante a lei (art. 24); proteção judicial (art. 25 da CADH);
e proteção estatal ampla contra a violência de gênero (art. 7 da Con-
venção de Belém do Pará).
Introdução
1 Será utilizada a sigla “LGBTI+” de modo preferencial, de modo que o símbolo “+”
representa as diversas categorias de orientação sexual e de identidade de gênero.
150 | Os parâmetros de proteção do sistema interamericano de direitos humanos
sobre a negligência sistemática no combate a vitimização letal intencional...
2021 , p . 23).
xual legítima. (TIN : 2012, p . 10-11 ) . Por essa razão Judith Butler
afinal " [... ] a violência fóbica contra os corpos faz parte do que
por lei, desde a concepção, de modo que ninguém pode ser pri-
fatos que deram causa à medida cautelar, visando evitar sua re-
zada sofrida por pessoas trans em El Salvador por parte das au-
toridades estatais, e, em particular, afirmou que “ [ ...] Alexa Ro-
mofóbico que quase acabou com sua vida . [ ... ] dois membros
de uma gangue homofóbica atiraram várias vezes na Sra.
Edwards e seus irmãos, um dos quais também é gay, enquanto
"Artículos 4 (derecho a la
"La parte peticionaria alega que el Estado
vida), 5 (integridad
brasileño es responsable de la violación de los
personal), 8 (garantías
Kérika de derechos a la integridad personal y a la vida de
24 judiciales) y 25 (protección
Souza Lima la mujer trans Kérika de Souza Lima, que su
1 337/20 993-13 | nov . judicial), en relación con el
y familiares asesinato por agentes de la policía militar sigue
2020 artículo 1.1 (obligación de
versus Brasil impune y que los agentes responsables
respetar los derechos) de la
permanecieron en los cuadros de la
Convención Americana."
institución ." (p. 3)
(p . 2)
Fonte: OEA. CIDH . Relatoría sobre los Derechos de las Personas LGBTI. Disponível em:
https://www.oas.org/es/CIDH/jsForm/?File=/es/cidh/r/DLGBTI/default.asp. Acesso em: 18 jun. 2023.
Os parâmetros de proteção do sistema interamericano de direitos humanos
164 | sobre a negligência sistemática no combate a vitimização letal intencional...
Fonte : OEA. CIDH . Relatoría sobre los Derechos de las Personas LGBTI. Disponível em:
https://www.oas.org/es/CIDH/jsForm/?File=/es/cidh/r/DLGBTI/default.asp . Acesso em: 18 jun. 2023 .
Os parâmetros de proteção do sistema interamericano de direitos humanos
168 | sobre a negligência sistemática no combate a vitimização letal intencional...
Unânime
Chile (Fondo, Reparaciones y Costas) 17.1 (proteção à família)
19 (direitos das crianças)
24 (igualdade perante a lei)
Fonte: OEA. CIDH . Relatoría sobre los Derechos de las Personas LGBTI. Disponível em:
https://www.oas.org/es/CIDH/jsForm/?File=/es/cidh/r/DLGBTI/default.asp . Acesso em: 18 jun. 2023.
172 | Os parâmetros de proteção do sistema interamericano de direitos humanos
sobre a negligência sistemática no combate a vitimização letal intencional...
Considerações finais
Referências
Lucas Saraiva
DOI: 10.29327/5341937.1-6
6 UNITED STATES CLIMATE ALLIANCE. States united for climate action. Dis-
ponível em: http://www.usclimatealliance.org/. Acesso em: 29 jun. 2023.
7 UNITED STATES CLIMATE ALLIANCE. States united for climate action. Dis-
ponível em: http://www.usclimatealliance.org/. Acesso em: 29 jun. 2023.
Cidades inteligentes e ODS 11: protagonismo dos município na extinção
192 | da comissão nacional para os objetivos do desenvolvimento sustentável
8 Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrente-
mente sobre: VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e di-
reitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; § 1º No âmbito
da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer nor-
mas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados § 3º Inexistindo lei federal sobre
normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender
a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. BRASIL. Constitui-
ção da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: https://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 30
jun. 2023.
Lucas Saraiva e William Paiva Marques Júnior | 193
E em paralelo, os estados podem suplementar o que
já foi delimitado pela União (§ 2º). Inclusive em casos de inexis-
tência de lei federal sobre normas gerais, possibilitando o exer-
cer a competência plena a fim de atender os interesses regionais
(§ 3º), mas na superveniência de lei federal se faz necessária
uma adaptação e revisão, suspendendo as contradições (§ 4º).
Por sua vez, a constituição faz menção aos Municípios no art.
239, afirmando a sua competência comum, juntamente, com a
União, os estados, o Distrito Federal sobre a proteção do meio
ambiente e combate a poluição em qualquer de suas formas (in-
ciso VI), bem como a preservação das florestas, da fauna e da
flora (inciso VII).
Objetivando fixar normas para a cooperação harmô-
nica dessa competência comum, a Lei Complementar nº
140/2011, elencou as ações administrativas que cabem a cada
ente federativo, para evitar a sobreposição de atuações, confli-
tos normativos e garantir a gestão administrativa eficiente (art.
3º, inciso III)10. Desse modo, são ações administrativas do Mu-
nicípios para a proteção do meio ambiente (art. 9º), entre outras:
9 Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios: VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de
suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; Parágrafo único. Leis
complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento
e do bem-estar em âmbito nacional.
10 Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, no exercício da competência comum a que se refere esta
Lei Complementar: I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologica-
mente equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente;
II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do
meio ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da po-
breza e a redução das desigualdades sociais e regionais; III - harmonizar as polí-
ticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação entre os entes
Cidades inteligentes e ODS 11: protagonismo dos município na extinção
194 | da comissão nacional para os objetivos do desenvolvimento sustentável
16 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 21. ed. São
Paulo: Malheiros, 2013, p. 446.
17 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2017, p.
131.
18 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 21. ed. São
Paulo: Malheiros, 2013, p. 445.
Lucas Saraiva e William Paiva Marques Júnior | 199
2. Cidades inteligentes e soluções sustentáveis:
implementando o ODS 11
des inteligentes .
baixa renda e em situação de vulnerabilidade .; Meta 11.6: Até 2030, reduzir o im-
pacto ambiental negativo per capita das cidades, melhorando os índices de qua-
lidade do ar e a gestão de resíduos sólidos; e garantir que todas as cidades com
acima de 500 mil habitantes tenham implementado sistemas de monitoramento
de qualidade do ar e planos de gerenciamento de resíduos sólidos.; Meta 11.a:
Apoiar a integração econômica, social e ambiental em áreas metropolitanas e en-
tre áreas urbanas, periurbanas, rurais e cidades gêmeas, considerando territórios
de povos e comunidades tradicionais, por meio da cooperação interfederativa,
reforçando o planejamento nacional, regional e local de desenvolvimento. IPEA.
ODS 11 : Cidades e comunidades sustentáveis. Disponível em: https: //
www.ipea.gov.br/ods/ods11.html. Acesso em: 1 jul . 2023.
24 RE- CICLO. Re-ciclo. Disponível em: https://www.reciclofortaleza.com.br/.
Acesso em: 1 jul. 2023.
25
25
RE-CICLO. Re-ciclo . Disponível em: https://www.reciclofortaleza.com.br/.
Cidades inteligentes e ODS 11: protagonismo dos município na extinção
202 | da comissão nacional para os objetivos do desenvolvimento sustentável
28 CASIMIRO, Lígia Maria Silva de; CARVALHO, Harley. Para cidades justas, em
rede e inteligentes: uma agenda pública pelo direito à cidade sustentável. Inter-
nationalJournalof Digital Law, ano 2, n. 1, p. 205, 2021. Disponível em: https://
doi.org/10.47975/IJDL/1casimiro. Acesso em: 23 jun. 2023.
29 MARRARA, Thiago. A atividade de planejamento na administração pública: o
papel e o conteúdo das normas previstas no anteprojeto da nova lei de organiza-
ção administrativa. Revista Brasileira de Direito Público, v. 9, n. 34, p. 12, jul/
ago/set 2011.
Cidades inteligentes e ODS 11: protagonismo dos município na extinção
204 | da comissão nacional para os objetivos do desenvolvimento sustentável
Considerações finais
Referências
DOI: 10.29327/5341937.1-7
∴
O presente capítulo foi feito com o apoio do Fundação Cearense de Apoio ao De-
senvolvimento Científico e Tecnológico – FUNCAP.
*
Bacharela em Direito pela Universidade de Fortaleza. Especialista em Direito Pro-
cessual Civil pela Universidade de Fortaleza. Mestranda em Direito pela Univer-
sidade Federal do Ceará.
**
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Direito
Internacional pela Universidade de Fortaleza. Mestrando em Direito pela Univer-
sidade Federal do Ceará.
Amanda Rodrigues Lavôr e Lucas Salles Gazeta Vieira Fernandes | 213
atuação do Poder Judiciário. Para compreensão da referida proposta,
aplica-se a pesquisa do tipo bibliográfica e documental, com base em
revisão de literatura de artigos científicos, natureza pura e descritiva,
na análise de projetos e relatórios que versam sobre o tema e aplicação
da MAD para análise das decisões. Esta pesquisa tem relevância teó-
rica e prática, pois oferece uma contribuição original sobre danos am-
bientais, especificamente pela utilização e descarte inadequado de
plásticos e possibilita uma maior visibilidade às questões ambientais
e de sustentabilidade, bem como apontará quais são os fundamentos
decisórios utilizados. Conclui-se que não existem muitos julgados do
STF que relacionam a matérias ambientais com a poluição por plás-
tico. Nas decisões analisadas, verificam-se que os princípios do pro-
tetor-recebedor; princípio da defesa do meio ambiente; princípio do
meio ambiente equilibrado; princípio da sustentabilidade; princípio
da precaução. Contudo, as decisões são frágeis e insuficientes para
reprimir a ocorrência e o crescimento desse tipo de ação lesiva ao
meio ambiente.
Palavras-chave: Direito Ambiental. Poluição. Plástico. PrincípiosAm-
bientais. Decisões.
Introdução
Fonte: WWF, What a Waste 2.0: A Global Snapshot of Solid Waste Manage-
ment to 2050.
Amanda Rodrigues Lavôr e Lucas Salles Gazeta Vieira Fernandes | 221
Figura 4 ‒ Reciclagem de plásticos no Brasil
Fonte: WWF, What a Waste 2.0: A Global Snapshot of Solid Waste Manage-
ment to 2050.
Primeira Roberto
RE 901.444 AgR 04/06/2018
Turma Barroso
Segunda
RE 729.726 AgR Dias Toffoli 06/10/2017
Turma
Segunda
RE 729.731 ED-AgR Dias Toffoli 06/10/2017
Turma
Tribunal
RE 607.109 Rosa Weber 08/06/2021
Pleno
Considerações finais
Referências
13 jun. 2022 .
p. 189-217.
Cidades inteligentes e ODS 11 : protagonismo dos município na extinção
242 |
da comissão nacional para os objetivos do desenvolvimento sustentável
brary.org/sites/aa1edf33-en/index.html?itemId=/content/publi-
cation/aa1edf33 - en . Acessoem : 14 dez . 2022.
em :https : //wwf.panda.org/discover/our_focus/oceans_prac-
tice/reviving_the_ocean_economy/. Acesso em: 16 jun. 2022.
Amanda Rodrigues Lavôr e Lucas Salles Gazeta Vieira Fernandes | 243
THE APPLICATION OF ENVIRONMENTAL
PRINCIPLES IN THE DECISIONS OF THE
SUPERIOR COURTS REGARDING PLASTIC USE
Abstract: What are the environmental principles used by the Su-
preme Court in decisions involving the use of plastic? How is this ap-
plication done? Humanity gradually expanded its cover-city of pro-
duction and consumption. The amount of waste generated in this pro-
cess has also increased, among them, plastics. The alarming data pre-
sented on the pro-deduction and disposal of plastic materials demon-
strate the severity of the problem on a global level. Given the im-
portance of safeguarding the constitutional right to environment bal-
anced and healthy, in a preventive way and not only reparatory way,
it is indispensable to unravel the action of the Judiciary. Bibliographic
and documentary research is applied, based on a literature review of
scientific articles, pure and descriptive nature, in the analysis of pro-
jects and reports that deal with the theme and application of MAD for
decision analysis. This research has theoretical and practical rele-
vance, as it offers an original contribution on environmental damage,
specifically by the inappropriate use and disposal of plastics and al-
lows greater visibility to environmental and sustainability issues, as
well as indicate what are the decision-making fundamentals used. It
is concluded that there are not many decisions of the Supreme Court
that relate to environmental matters with plastic pollution. In the de-
cisions analyzed, it is verified that the principles of the protector-re-
cipient; principle of environmental protection; balanced environmen-
tal principle; sustainability principle; precautionary principle. How-
ever, the decisions are fragile and insufficient to suppress the occur-
rence and growth of this type of action harmful to the environment.
DOI: 10.29327/5341937.1-8
*
Mestranda em Direito pela Universidade Federal do Ceará (2023). Graduada em
Direito pela Universidade Federal do Ceará (2017.2-2022.1). membro participante
do Grupo de Estudo em Direito e Assuntos Internacionais - GEDAI (UFC) - da
Linha Direito Internacional e Meio Ambiente (2018.2-atual). Email: laismbg@hot-
mail.com.
** Mestre e Doutor em Direito Constitucional pela UFC. Professor Adjunto do De-
partamento de Direito Privado da Faculdade de Direito da UFC de Direito Civil
II e Direito Civil V. Professor (Direito Internacional e Metodologia da Pesquisa
Jurídica) e Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFC.
E-mails: williamarques.jr@gmail.com e williammarques@ufc.br.
Laís Maria Belchior Gondim e William Paiva Marques Júnior | 245
prevê a Lei Europeia do Clima? De que maneira se pode enquadrá-la
no que tange aos conceitos de desenvolvimento sustentável e susten-
tabilidade? Como podemos relacionar a LEC e a transição energética?
O objetivo desta pesquisa é examinar de que maneira esse ato norma-
tivo pode influenciar o processo de mudança da matriz energética na
UE. Quanto à metodologia, trata-se de estudo qualitativo, explorató-
rio, teórico-bibliográfico e documental acerca do tema. Realizou-se,
por meio do método indutivo, revisão bibliográfica de artigos, perió-
dicos, teses, dissertações, literatura, legislações e documentos nacio-
nais e internacionais. A estrutura do artigo será dividida em quatro
partes. De início, investiga-se o contexto em que o PEE foi estabele-
cido na UE, abordando marcos internacionais que culminaram no seu
surgimento. Depois, discorre-se sobre a Lei Europeia do Clima e suas
particularidades, trazendo-se ainda a diferenciação entre desenvolvi-
mento sustentável e sustentabilidade e qual definição ela prioritaria-
mente aborda. Em seguida, discute-se a relação entre essa norma e a
transição energética. Por fim, conclui-se que a LEC é uma estratégia
relevante para impulsionar esse processo no bloco, de forma que as
ações devem ser transversais, integrando-se clima e energia, pois um
reverbera no outro.
Palavras-chave: Lei Europeia do Clima. Pacto Ecológico Europeu.
Transição energética.
Introdução
Alterações climáticas: medidas que a UE está a tomar. [S. l.], 07 fev. 2023. Dispo-
nível em: https://www.consilium.europa.eu/pt/policies/climate-change/. Acesso
em: 27 jun. 2023.
4 CONSELHO EUROPEU; CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA (União Europeia).
Alterações climáticas: medidas que a UE está a tomar. [S. l.], 07 fev. 2023. Dispo-
nível em: https://www.consilium.europa.eu/pt/policies/climate-change/. Acesso
em: 27 jun. 2023; COMISSÃO EUROPEIA (União Europeia). Comunicação da Co-
missão ao Parlamento Europeu, ao Conselho Europeu, ao Conselho, ao Comité
Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões: Pacto Ecológico Europeu.
Bruxelas, 11 dez. 2019. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/
TXT/?uri=CELEX%3A52019DC0640&qid=1685383999175. Acesso em: 27jun. 2023;
COMISSÃO EUROPEIA (União Europeia). Um Pacto Ecológico Europeu: Ser o
primeiro continente com impacto neutro no clima. [S. l.], [s. d.]. Disponível em:
https://commission.europa.eu/strategy-and-policy/priorities-2019-2024/euro-
pean-green-deal_pt#:~:text=O%20Pacto%20Ecol%C3%B3gico%20Europeu%20ir
%C3%A1,saud%C3%A1veis%20e%20a%20pre%C3%A7os%20acess%C3%AD-
veis. Acesso em: 27 jun. 2023.
5 EUROPEAN COMMISSION (European Union). European Climate Law. [S. l.], [s.
Lei Europeia do Clima e transição energética
248 |
Dessa forma, a problemática do artigo consiste na
análise da Lei Europeia do Clima como estratégia para impulsi-
onar o processo de transição energética na União Europeia. A
relevância do tema fica justificada pela conjuntura ambiental
alarmante descrita anteriormente e pela urgência de ações con-
cretas para minimizar os danos, às vezes já sem poder serem
desfeitos.
Logo, surgem questionamentos. Em que contexto se
deu a adoção do Pacto Ecológico Europeu na União Europeia?
O que prevê a Lei Europeia do Clima? De que maneira se pode
enquadrá-la no que tange aos conceitos de desenvolvimento
sustentável e sustentabilidade? Como podemos relacionar a
LEC e a transição energética?
Essa pesquisa objetiva examinar de que modo esse
ato normativo pode influenciar o processo de mudança da ma-
triz energética na UE. Quanto à metodologia, trata-se que pes-
quisa qualitativa e exploratória, com estudo teórico-bibliográ-
fico e documental acerca do assunto. Realizou-se, por meio do
método indutivo, revisão bibliográfica de artigos, periódicos,
teses, dissertações, literatura, legislações e documentos nacio-
nais e internacionais.
8
ARAÚJO, Beatriz Azevêdo de . O regime internacional do clima e as implicações
para o Brasil : o desafio do Acordo de Paris . 2016. 97 f. Monografia (Graduação em
Direito) - Faculdade de Direito, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2016.
Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/25099 . Acesso em: 27
jun. 2023;INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE (IPCC) .
About: History of the IPCC. [S. 1.] , [ 20--] . Disponívelem: https://www.ipcc.ch/
about/history/. Acesso em: 28 jun. 2023.
9 UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION ON CLIMATE CHANGE .
Kyoto Protocol to enter into force 16 February 2005. [S.1 . ], 2005. Disponível em:
https://unfccc.int/files/press/news room/press releases and advisories/applica-
tion/pdf/press041118 eng.pdf. Acesso em: 28 jun. 2023; ARAÚJO, Beatriz Aze-
vêdo de. O regime internacional do clima e as implicações para o Brasil: o desafio
do Acordo de Paris . 2016. 97 f. Monografia (Graduação em Direito) - Faculdade
de Direito, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2016. Disponível em : http://
www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/25099 . Acesso em: 27 jun. 2023;ORGANI-
ZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) . Convenção Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima (1992) . Protocolos, etc., 1997. Protocolo de Quioto e le-
gislação correlata . Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas,
2004. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/
70328/693406.pdf?sequence=2. Acesso em : 28 jun. 2023.
Lei Europeia do Clima e transição energética
252 |
Já o Acordo de Paris data de 2015 e objetiva limitar a
elevação das temperaturas globais acima dos níveis pré-indus-
triais a menos de 2ºC, procurando atingir 1,5ºC, Do AP se des-
taca o seu artigo 6 à medida que traz a mitigação dos GEE como
objetivo conjunto regional e mundial, bem como a ambição de
promover o desenvolvimento sustentável e a integridade ambi-
ental. Motiva ainda a participação de entidades privadas e pú-
blicas10.
Vale ressaltar que esse dispositivo foi efetivamente
regulamentado na 26ª Conferência das Partes (COP26), em
2021, em Glasgow, na Escócia. Na ocasião, houve discussões
acerca da implementação integral do AP, culminando no Livro
de Regras de Paris (ou Paris Rulebook, em inglês), o qual traz no-
vos preceitos para mercados internacionais de carbono e prazos
comuns para metas de redução das emissões11.
do Tribunal de Contas da União, Brasília DF. 101 fl.; GONÇALVES, Veronica Kor-
ber. A União Europeia na governança do clima: o caso da aviação civil internaci-
onal. 2016. 337 f. Tese (Doutorado em Relações Internacionais) - Programa de Pós-
Graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Brasília, 2016.
Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/21330/1/2016_Veroni-
caKorberGon%C3%A7alves.pdf. Acesso em: 29 jun. 2023.
Considerações finais
Referências
https://ukcop26.org/wp-content/uploads/2021/11/COP26-Negotia-
tionsExplained.pdf. Acesso em: 28 jun. 2023.
**
Milena Alencar Gondim
DOI: 10.29327/5341937.1-9
..
O presente capítulo foi feito com o apoio do Fundação Cearense de Apoio ao De-
senvolvimento Científico e Tecnológico– FUNCAP.
*
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará . Especialista em Direito
Internacional pela Universidade de Fortaleza . Mestrando em Direito pela Univer-
sidade Federal do Ceará.
**
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Direito
Previdenciário e Processo Previdenciário pelo Ibmec São Paulo. Mestranda pela
Universidade Federal do Ceará.
Lucas Salles Gazeta Vieira Fernandes e Milena Alencar Gondim | 273
ser o objetivo primordial de toda a atuação internacional. Posterior-
mente, verifica-se que, ao ser elaborada com a finalidade de instituir
objetivos e metas universais, a Agenda 2030 trouxe importantes avan-
ços no campo do desenvolvimento sustentável, uma vez que a criação
dos 17 ODS e suas 169 metas serviu para balizar as políticas públicas
e avançar a implementação desse novo ideal de progresso da huma-
nidade. Dessa forma, partindo-se do questionamento sobre o papel
da atuação local para implementação dos ODS, investigou-se como a
localização de medidas universais, criadas para atender às demandas
do cenário internacional, pode ser essencial para garantir a adaptação
dessas medidas às realidades locais, oferecendo assim respostas mais
efetivas a essas problemáticas. Por fim, utilizando-se de uma metodo-
logia descritivo-analítica, por meio de pesquisa bibliográfica e docu-
mental, conclui-se que, apesar de alguns desafios ainda a serem en-
frentados no momento da implementação local dos objetivos de de-
senvolvimento sustentável globais, o caráter específico dessa aplica-
ção mostra-se como o meio mais propício para atender às desigualda-
des de cada local e garantir maior efetividade ao seu combate, tendo
em vista o maior poder de adaptação e de oportunização de uma par-
ticipação múltipla no processo decisório, responsável por gerar uma
maior aceitação da comunidade local e, consequentemente, propiciar
o sucesso dos ODS.
Palavras-chave: ODS. Agenda 2030. Localização.
Introdução
Considerações finais
Referências
DOI: 10.29327/5341937.1-10
*
Mestranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universi-
dade Federal do Ceará (UFC), Especialista em Direito do Trabalho e Previdenci-
ário pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e pesqui-
sadora do Grupo de Estudos e Defesa do Direito do Trabalho e do Processo Tra-
balhista (GRUPE).
Trabalho doméstico: uma perspectiva do trabalho decente na relação
298 | latino-americana de Brasil e Argentina
Introdução
5 MIRANDA, Delaíde Alves. Trabalho Decente: uma análise na perspectiva dos di-
reitos humanos a partir do padrão decisório do TST Dissertação de Mestrado.
Universidade de Brasília (UNB). Brasília: 2022, p. 56.
Trabalho doméstico: uma perspectiva do trabalho decente na relação
304 | latino-americana de Brasil e Argentina
6 Ibidem, p.56.
7 Ibidem. p. 15.
8 Ibidem. p. 157.
Lanna Maria Peixoto de Sousa | 305
verno, a formação de um grupo técnico, o diálogo social e a pre-
ocupação permanente com a institucionalização do processo de
sustentabilidade.9
Na Argentina, o caso de maior relevância foi da Vila
de Santa Fé, tendo, inclusive, participação do governo baiano
na construção da Agenda de 2030 com a Comisión Provincial
Tripartida para el Trabajo Decente para Provincia de Santa Fé.10
Por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda
e Esporte (Setre), a coordenação da Agenda subnacional parti-
cipou de encontros em Santa Fé para fortalecimento e instituci-
onalização do trabalho decente, tendo como resultado políticas
públicas para formalização do emprego na Argentina e planeja-
mento de fóruns para discussão do tema.
Em termos mais precisos, a Agenda 2030 compre-
ende desde o compromisso firmado entre a autoridade compe-
tente do estado e a secretária do órgão com a proposta de coor-
denação e formulação da agenda, a criação do Grupo Técnico
por Decreto, competente para elaborar e organizar a sua cons-
trução, bem como a comissão gestora composta pela relação tri-
partite entre Estado, Empregador e empregador e, por fim, a
11 Ibidem, p. 8.
Lanna Maria Peixoto de Sousa | 307
sul-americano, já que se trata de região eminentemente subde-
senvolvida.
A pobreza também repercute no baixo orçamento
dos sindicatos, tendo em vista que nem todas as trabalhadoras
possuem condições de contribuir para seu sindicato representa-
tivo. No caso dos dois países objeto de comparação desta pes-
quisa, a situação agrava-se em ambos lados.
No Brasil, a Reforma Trabalhista12 e a consequente
modificação do financiamento da contribuição compulsória re-
duziu exponencialmente o orçamento dos sindicatos, levando à
falência o sistema de representação que já necessitava de ajus-
tes.
No caso da Argentina, em correspondência com a
pluralidade sindical, contribui-se conforme a representação do
sindicato, sendo o fator pobreza também condicionante no país
vizinho.
A OIT também enumera outros desafios do movi-
mento sindical doméstico a nível global, como a dispersão das
trabalhadoras nas residências, não tendo contato com outras
domésticas sindicalizadas durante a jornada de trabalho.13
15 Ibidem, p. 180.
16 Não obstante, o nível de ratificação de cada uma das convenções fundamentais é
Trabalho doméstico : uma perspectiva do trabalho decente na relação
310 | latino-americana de Brasil e Argentina
muito elevado em relação ao contexto mundial . 43. Apesar da alta taxa de ratifi-
cação de convenções, há evidência de violações frequentes (sic) aos direitos fun-
damentais no trabalho, mesmo nos países que as ratificaram. Em matéria de li-
berdade sindical, as queixas procedentes da região apresentadas ao Comitê de
Liberdade Sindical (CLS) passaram de 164, na primeira metade dos anos 1990,
para 194 na primeira metade da presente década . Além disso, dados oficiais dos
governos mostram a deterioração da negociação coletiva, como demonstra o fato
de que a sua cobertura tenha diminuído notavelmente nos últimos 15 anos.
17 Tradução nossa : Artigo 14 bis.- O trabalho em suas diversas formas gozará da
proteção das leis, que assegurarão ao trabalhador: condições dignas e equitativas
de trabalho, dia limitado; descanso e férias remuneradas; remuneração justa; sa-
lário mínimo móvel; Pagamento igual para trabalho igual; participação em lucros
da empresa, com controle de produção e colaboração em a direção; proteção con-
tra demissão arbitrária; estabilidade do empregado público; organização sindical
livre e democrática, reconhecida pelo simples inscrição em cartório especial. ”
Lanna Maria Peixoto de Sousa | 311
A Constituição argentina, então, exibe o rol de direi-
tos fundamentais trabalhistas com traços-reflexos do trabalho
decente, como as condições dignas e equitativas de trabalho, a
remuneração justa, descanso e férias remuneradas e o paga-
mento de salário de igual para igual.
Um ponto de notável interesse nas relações de traba-
lho argentinas é depreendido do artigo 24, primeira parte, e do
artigo 75, inciso 22 e 24, que promovem a integração supranaci-
onal, originando o princípio de direito público argentino e o di-
reito comunitário supranacional.18
Geral: 87ª reunión. Ginebra: OIT, 1999, p. 45. Por outro lado no primeiro Relatório
Global de seguimento à “Declaração dos Direitos e Princípios Fundamentais no
Trabalho”, apresentado à 88ª Conferência Internacional do Trabalho – “Su voz en
el trabajo” (Genebra, OIT, 2000) –, assinala a necessidade de promover a negocia-
ção coletiva e de incorporar a ela, em posição ativa, as mulheres sindicalistas, as-
sim como as demandas de gênero nas estratégias de negociação dos sindicatos:
“Com vistas a estabelecer a igualdade entre os sexos e dar um maior vigor aos
sindicatos, é indispensável que as mulheres possam exercer seu direito de filiação
a um sindicato e que seus interesses estejam representados em um plano de igual-
dade com os dos homens. Não somente deveriam estar presentes na mesa de ne-
gociação, como também será imprescindível precisar mais claramente seus inte-
resses próprios durante a negociação coletiva, para ter a segurança de que em
todo o convênio coletivo sejam consideradas as prioridades e aspirações de umas
e outros” (pag. 14, parágrafo 33).
20 MENDES, Felipe Prata. Os sindicatos no brasil e o modelo de democracia ampli-
ada. Dissertação- Área de Ciências Sociais Aplicadas, Centro Universitário do Es-
tado do Pará. Belém, p. 129. 2017.
21 CADEMARTORI, Daniela Mesquita Leutchuk de. O diálogo democrático. Curi-
tiba: Juruá, 2011, p. 15.
Trabalho doméstico: uma perspectiva do trabalho decente na relação
314 | latino-americana de Brasil e Argentina
22 Bruna Stephanie Miranda dos Santos, Santiago Duhalde. Movimento sindical ar-
gentino: Revitalização e protagonismo de Kirchner a Macri. Século XXI, Revista
de Ciências Sociais, v.10, no 2, p.65-85, jul./dez. 2020.
Lanna Maria Peixoto de Sousa | 315
uma vez que a existência de sindicatos com maior representati-
vidade há de obter condição de concentrar sindicalmente as for-
ças para negociar defronte a categoria e tendo legitimidade do
Estado.23
Ressalta-se que o Sistema de Unidade Sindical Pro-
mocionada (personería gremial) não é sinônimo de adoção do
modelo de unicidade, como ocorre no Brasil com a CRFB/8824; o
que advém dessa estrutura é a compreensão para que se evite a
fragmentação da força sindical, promovendo e garantindo a
consolidação de entidades que tenham relevância frente à cate-
goria de empregadores e sua representação.
Desse modo, não há qualquer restrição sobre a cria-
ção de sindicatos nas bases territoriais, havendo a possibilidade,
por exemplo, de existir múltiplos sindicatos na mesma base ter-
ritorial e com a mesma categoria de trabalhadores. O que irá di-
vergir e classificar o modelo argentino como plural e mitigado
é a legitimação dada pelo Estado aos sindicatos mais represen-
tativos para negociar, havendo discriminação entre as associa-
ções.
em domicílio particular.32
definição do emprego
Em seu artigo 2º, há a segunda definição
doméstico esboçado expressamente :
31 Tradução nossa: Artigo 1º. Âmbito de aplicação. A presente lei regerá em todo o
território da Nação as relações de trabalho que se estabeleçam com os emprega-
dos pelo trabalho que prestem em domicílios particulares ou no âmbito da vida
familiar e que não importe ao empregador lucro ou benefício econômico direto,
qualquer seja o número de horas diárias ou dias semanais em que são ocupados
para tais tarefas.
32 Estão estabelecidas as seguintes modalidades de entrega: 1 -Trabalhadores que
prestem tarefas sem aposentadoria para o mesmo empregador e residam no en-
dereço onde as executam; 2 -Trabalhadores que exercem funções com aposenta-
doria para o mesmo e único empregador; 3-Trabalhadores que prestam tarefas
com aposentadoria para diferentes empregadores.
33 Tradução nossa : ARTIGO 2— Aplicabilidade. Considera-se trabalho em domicí-
Trabalho doméstico: uma perspectiva do trabalho decente na relação
320 | latino-americana de Brasil e Argentina
35 Ibidem, p.18.
36 Ibidem, p.16.
Trabalho doméstico: uma perspectiva do trabalho decente na relação
322 | latino-americana de Brasil e Argentina
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Bxhw & Key-Pair-Id=APKAJLOHF5GGSLRBV4ZA#page=8.
Acesso em: 10 jun. 2023.
www.dieese.org.br/outraspublicacoes/2021/trabalhoDomes-
tico.html . Acesso em : 16 jul . 2021 .
http://www.setre.ba.gov.br/2015/11/476/Setre-participa-na-Argen-
tina-de-jornada- de-Trabalho-Decente.html . Acesso em: 14 mar.
2023.
Lanna Maria Peixoto de Sousa | 327
positorio.uca.edu.ar/bitstream/123456789/12473/1/caracterizacion-
empleo- domestico.pdf. Acesso em: 10 mar. 2023 .
DOI: 10.29327/5341937.1-11
*
Auditora Fiscal Jurídico da Receita Estadual da Secretaria da Fazenda do Estado
de Ceará – SEFAZ/CE. Mestranda em Direito pela Universidade Federal do Ceará
– UFC. Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tri-
butários – IBET. Especialista em Direito Público pela Faculdade Adelmar Rosado.
Ex-Consultora Técnico-Jurídica da Câmara Municipal de Fortaleza – CMFOR.
Monalisa Rocha Alencar | 333
sejam efetivamente tutelados a sustentabilidade e o equilíbrio ambi-
entais.
Palavras-chave: Mercado. Carbono. Vulnerabilidades. Sustentabili-
dade.
Introdução
Disponível em:
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/06/01/brasil-fica-em-81-lugar-
no-indice-dedesempenho-ambiental.ghtml. Acesso em: 19 nov. 2022.
Monalisa Rocha Alencar 1335
5 Crédito de Carbono gera US$1 bi no mundo. Valor Econômico, São Paulo, 25 mar.
2022. Disponível em: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2022/03/25/
credito-de-carbono-gera-us-1-bi-no-mundo.ghtml. Acesso em: 15 nov. 2022.
6 BNDES prepara compra regular de crédito de carbono. Valor Econômico, São
Paulo, 10 nov. 2022. Disponível em: https://valor.globo.com/financas/noticia/
2022/11/10/bndes-prepara-compra-regular-de-credito-de-carbono.ghtml. Acesso
em: 19 nov. 2022.
7 BB passa a atuar em todo o ciclo do mercado de carbono. Valor Econômico, São
Paulo, 29 set. 2022. Disponível em: https://valor.globo.com/financas/noticia/2022/
09/29/bb-passa-a-atuar-em-todo-o-ciclo-do-mercado-de-carbono.ghtml. Acesso
em: 19 nov. 2022.
Monalisa Rocha Alencar | 337
Diante desse contexto, “é necessário que haja uma es-
trutura de governança transparente e responsável para que o
público apoie os programas de compensação florestal, especial-
mente quando se espera que um grande comprador das com-
pensações seja o setor público.”8
Nesse sentido, a transparência, a segurança jurídica
e a responsabilidade penal ambiental são léxicos fundamentais
a integrarem o mercado de crédito de carbono no Brasil, cujo
destaque no âmbito do mercado voluntário mundial é evidente,
uma vez que ocupa o quarto lugar quanto ao volume de crédito
de carbono gerado9. Inclusive, “há grandes chances de o crédito
de carbono ser uma nova commodity brasileira”10. Apesar disso,
“a oferta atual de crédito de carbono no mercado brasileiro é de
menos de 1% do potencial anual do país”11.
Tal situação pode ser atribuída à inexistência das ba-
lizas legais, haja vista que a normatização da matéria é essencial
para que seja concedida segurança jurídica e transparência aos
8 OLIVEIRA, Letícia de; SILVEIRA, Caroline Soares da. Análise do mercado de car-
bono no Brasil: histórico e desenvolvimento. Novos Cadernos NAEA, v. 24, n. 3,
2021, p. 20.
9 DELAZERI, Linda Márcia Mendes; FERREIRA, Vinícius Hector Pires; VARGAS,
Daniel Barcelos. Mercado de carbono voluntário no Brasil na realidade e na prá-
tica. São Paulo: FGV-EESP, 2022, p. 11. Disponível em: https://eesp.fgv.br/sites/
eesp.fgv.br/files/ocbio_mercado_de_carbono_1.pdf. Acesso em: 12 mar. 2023.
10 CAVALCANTE, Denise Lucena. O papel da tributação ambiental em prol do ODS
13: ações contra as mudanças climáticas. In: GODINHO, Heloisa Helena Antona-
cio Monteiro; IOCKEN, Sabrina Nunes; WARPECHOWSKI, Ana Cristina Moraes.
(Org.). Políticas Públicas e os ODS da Agenda 2030. 1ed. Belo Horizonte: Fórum,
2021, v. 1, p. 408.
11 Brasil pode ser protagonista em créditos de carbono. Valor Econômico, São Paulo,
28 out. 2022. Disponível em: https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/
noticia/2022/10/28/brasil-pode-ser-protagonista-em-creditos-de-carbono.ghtml.
Acesso em: 19 nov. 2022.
Vulnerabilidades do mercado de crédito de carbono no Brasil: a necessária
338| superação do vazio normativo em matéria penal ambiental
19 Ibid., 12.
Monalisa Rocha Alencar | 347
plo, pelo BNDES e pelo BB, conforme já aludido; quanto em de-
corrência da proteção ambiental, a qual consiste no cerne da cri-
ação desse mercado.
Por derradeiro, quanto ao enquadramento penal de
condutas fraudulentas relacionadas à medição do crédito de
carbono gerado, vale enfatizar que não há tipo penal específico
para reprimi-las, mas, apesar dessa lacuna, é possível, a depen-
der das circunstâncias que permeiam o caso concreto, ser reali-
zada a correspondência, por exemplo, com os seguintes crimes:
estelionato (artigo 171 do Código Penal - CP) e falsidade ideo-
lógica (artigo 299 do CP).
20 Brasil pode ser protagonista em créditos de carbono. Valor Econômico, São Paulo,
28 out. 2022. Disponível em: https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/
noticia/2022/10/28/brasil-pode-ser-protagonista-em-creditos-de-carbono.ghtml.
Acesso em: 19 nov. 2022.
Monalisa Rocha Alencar | 349
Por fim, quanto à repressão penal, pode-se aplicar o
raciocínio semelhante ao desenvolvido no tópico anterior.
26 Ibid., p. 46.
27 FRANCO, Renata. Jornal Jurid, 09 mar. 2023. Uma análise crítica sobre as quei-
madas na Amazônia. Disponível em: https://www.jornaljurid.com.br/doutrina/
ambiental/uma-analise-critica-sobre-as-queimadas-na-amazonia. Acesso em: 11
mar. 2023.
Vulnerabilidades do mercado de crédito de carbono no Brasil: a necessária
354 |
superação do vazio normativo em matéria penal ambiental
28
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA) . Comunicados do
Ipea 81: Sustentabilidade ambiental no Brasil: biodiversidade, economia e
bem-estar humano: Direito ambiental brasileiro; Lei dos crimes ambientais.
IPEA: Brasília, 2011 , p. 8. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/
bitstream/11058/4602/1/Comunicados n81 Direito Ambiental.pdf. Acesso em:
12 mar. 2023.
29 Idib., p . 22.
Monalisa Rocha Alencar | 355
atual emergência climática30, a ampliação da área de desmata-
mento na Amazônia31, a recente destruição de 26% (vinte e seis
por cento) do bioma do Pantanal mato-grossense32, bem como
os recentes desastres ambientais, como o ocorrido em Mari-
ana/MG33 e em Brumadinho/MG 34, cujos responsáveis ainda
permanecem impunes.
A superação dessa postura passiva e descuidada pe-
rante o meio ambiente é medida imperiosa da contemporanei-
dade, cuja tolerância a esse desrespeito à própria vida não pode
ser mais aceita, reclamando soluções estruturais diversas, as
quais vão desde o necessário fortalecimento dos órgãos com po-
der de polícia ambiental até a rigorosa aplicação da lei penal.
Sobre essa temática, ressalta-se o entendimento de
Douglas Teodoro Fontes35:
30 Fatos sobre a Emergência Climática. Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA). Disponível em: https://www.unep.org/pt-br/explore-to-
pics/climate-change/fatos-sobre-emergencia-climatica. Acesso em: 11 mar. 2023.
31 COP27: 3 gráficos que mostram piora do Brasil em desmatamento, queimadas e
emissões de CO2. BBC, 15 nov. 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/por-
tuguese/brasil-63614414. Acesso em: 11 mar. 2023.
32 Imagens de queimadas em 'Pantanal' são reais e mostram impactos no bioma:
'Ainda dói', diz biólogo. G1, 29 jun. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/
ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2022/06/29/pantanal-mostra-imagens-de-queima-
das-e-faz-alerta-sobre-impactos-no-bioma-e-tudo-real-e-ainda-doi-diz-bio-
logo.ghtml. Acesso em: 11 mar. 2023.
33 Mariana: tragédia completa 7 anos de impunidade e atrasos na reparação às víti-
mas. G1, 05 nov. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/no-
ticia/2022/11/05/mariana-tragedia-completa-7-anos-de-impunidade-e-atrasos-
na-reparacao-as-vitimas.ghtml. Acesso em: 11 mar. 2023.
34 Quatro anos da tragédia em Brumadinho: 270 mortes, três desaparecidos e ne-
nhuma punição. G1, 25 jan. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/mg/minas-
gerais/noticia/2023/01/25/quatro-anos-da-tragedia-em-brumadinho-270-mortes-
tres-desaparecidos-e-nenhuma-punicao.ghtml. Acesso em: 11 mar. 2023.
35 FONTES, Douglas Teodoro. Direito Penal Ambiental. Uma visão socioeducaci-
onal. Belo Horizonte: Editora Dialética, 2021, ebook.
Vulnerabilidades do mercado de crédito de carbono no Brasil: a necessária
356 | superação do vazio normativo em matéria penal ambiental
Considerações finais
Referências
DOI: 10.29327/5341937.1-12
Introdução
9 “Art. 1º Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por violência contra a mu-
lher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofri-
mento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera
privada.”
10 GUERRA, Sidney. A proteção internacional dos direitos humanos no âmbito da
Corte Interamericana e o controle de convencionalidade. Nomos: Revista do Pro-
grama de Pós-Graduação em Direito UFC, Fortaleza, v. 32, n. 2, p. 341-366, dez.
2012. Semestral. Disponível em: http://periodicos.ufc.br/nomos/article/view/365/
347. Acesso em: 17 set. 2023. p. 359.
11 GONÇALVES, Tamara A. Direitos humanos das mulheres e a Comissão Intera-
mericana de Direitos Humanos, 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. E-book. ISBN
9788502187825. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/
Ana Paula França Rolim | 377
–, pesquisa da qual se retirou os seguintes dados importantes
para a compreensão do contexto da proteção da mulher pelo
sistema interamericano, aos quais se remete a seguir.
O primeiro recorte feito na pesquisa é quanto à pro-
porção de denúncia dividida entre os países signatários, de
acordo com o gráfico a seguir.
4,82 4,65
2
2023. p. 17.
14 Historicamente, mediante a divisão sexual do trabalho, as tarefas reprodutivas
foram sistematicamente atribuídas às fêmeas, no caso, às mulheres, principal-
mente fundamentando-se na lógica “Tradicionalista”, cujos defensores sustentam
que as diferenças biológicas entre homens e mulheres justificariam a atribuição
de papéis e de funções distintas entre os sexos, conforme explica Gerda Lerner.
Dessa forma, essa corrente de pensamento vê a divisão sexual do trabalho como
uma decorrência natural biológica, pela qual as desigualdades entre os sexos e a
dominação masculina seriam consectários inerentes, qualificando-as ainda como
justas e funcionais.
15 SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. In: HOLANDA,
Heloisa Buarque (org.). Pensamento feminista: conceitos fundamentais. 7. ed.
Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. 440 p. p. 49-80. Título original "Gender: a
Ana Paula França Rolim | 381
A seguir, passa-se à análise da primeira condenação
brasileira na Corte IDH por violação com discriminação em ra-
zão de gênero.
useful category of historical analysis", The American Historical Review, vol. 91,
nº 5, Nova York: American Historical Association, 1986, p. 1053-1075. Tradução
de Christine Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila.
16 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Márcia Bar
Influência da Corte Interamericana de Direitos Humanos no Brasil pela
382 | proteção da mulher e protocolo para julgamento com perspectiva ...
26 Artigo 1 - Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por violência contra a mu-
lher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofri-
mento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera
privada. (Convenção de Belém do Pará) Disponível em: http://www.cidh.org/basi-
cos/portugues/m.belem.do.para.htm. Acesso em: 01 de jul. 2023.
27 DIAS, 2021. Op. cit. p. 48.
Ana Paula França Rolim
| 393
(...) “conceptualmente podemos definir a la pers-
pectiva de género como el instrumento de análisis
destinado al estudio de las construcciones cultura-
les y sociales propias para las mujeres y los hom-
bres y el impacto diferenciado que éstas tienen”
con el objetivo de atacar la desigualdad histórica,
social, cultural y económica y alcanzar la igualdad
sustantiva. Y en términos operativos, agregó,
avanzar en la dirección donde “nos permita a no-
sotras como juzgadoras tres puntos muy determi-
nados: i) evaluar el impacto diferenciado de las
vulneraciones con base en el género de las vícti-
mas, ii) identificar o visibilizar los estereotipos de
género; y cómo entiende la Corte Interamericana
estos estereotipos y, finalmente, iii) reparar ade-
cuadamente las vulneraciones, teniendo en cuenta
un enfoque también diferenciado en las reparacio-
nes.28
brasileiro, tem -se que o nosso protocolo é bem me nor, visto que
menor,
Considerações finais
Souza e outros vs. Brasil, o qual foi inédito para o Brasil no que
Referências
https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502187825/.
Acesso em: 28 jun. 2023.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. In:
HOLANDA, Heloisa Buarque (org.). Pensamento feminista: con-
ceitos fundamentais. 7. ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019. p.
49-80. Título original "Gender: a useful category of historical analy-
sis", The American Historical Review, vol. 91, nº 5, Nova York:
American Historical Association, 1986, p. 1053-1075. Tradução de
Christine Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila.
SUGEREM CONDUTAS
CUSTOS DE TRANSAÇÃO
EMPRESARIAIS .
DOI: 10.29327/5341937.1-13
..
O presente capítulo foi feito com o apoio do Fundação Cearense de Apoio ao De-
senvolvimento Científico e Tecnológico – FUNCAP.
*
Bacharela em Direito pela Universidade de Fortaleza.Especialista em Direito Pro-
cessual Civil pela Universidade de Fortaleza . Mestranda em Direito pela Univer-
sidade Federal do Ceará.
**
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Direito
Internacional pela Universidade de Fortaleza . Mestrando em Direito pela Univer-
sidade Federal do Ceará.
404 | O impacto das decisões do Supremo Tribunal Federal que sugerem
condutas ambientalmente desejadas nos custos de transação empresariais
oferece uma contribuição original sobre essa relação das decisões ju-
diciais, principalmente as do STF, nos custos de transação de empre-
sas e decorre muito da necessidade que as empresas têm de ter con-
dutas ambientalmente corretas e equilibrar os custos de transação e
isso está diretamente ligado às decisões judiciais nesse sentido, para
uma efetiva modificação e até uma previsibilidade, que tende a redu-
zir alguns custos. Conclui-se que as decisões do STF que incentivam
condutas ambientalmente desejadas têm impacto nos custos de tran-
sação das empresas, tanto exercendo um controle de constitucionali-
dade de leis infraconstitucionais que vão de encontro à previsão cons-
titucional do meio ambiente saudável, quanto beneficiando, financei-
ramente, condutas ambiental corretas das empresas.
Palavras-chave: Custos de Transação. Supremo Tribunal Federal. Di-
reito ambiental.
Introdução
ADI, ADPF, uma vez que possuem efeito erga omnes e efeito re-
Considerações finais
DOI: 10.29327/5341937.1-14
Introdução
Artigo 1
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
dignidade e direitos. São dotados de razão e cons-
ciência e devem agir em relação uns aos outros
com espírito de fraternidade.
Artigo 2
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os
direitos e as liberdades estabelecidos nesta Decla-
ração, sem distinção de qualquer espécie, seja de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou
de outra natureza, origem nacional ou social, ri-
queza, nascimento, ou qualquer outra condição.
Filipe Brayan Lima Correia | 437
2. Não será também feita nenhuma distinção fun-
dada na condição política, jurídica ou internacio-
nal do país ou território a que pertença uma pes-
soa, quer se trate de um território independente,
sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a
qualquer outra limitação de soberania.
Artigo 3
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e
à segurança pessoal.
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948)
Considerações finais
Referências
DOI: 10.29327/5341937.1-15
∴
O presente capítulo foi feito com o apoio do Fundação Cearense de Apoio ao De-
senvolvimento Científico e Tecnológico– FUNCAP.
*
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Direito
Internacional pela Universidade de Fortaleza. Mestrando em Direito pela Univer-
sidade Federal do Ceará.
Lucas Salles Gazeta Vieira Fernandes | 465
às metas estabelecidas pela ONU, servindo como um importante me-
canismo para o sucesso dos ODS, e, no tocante ao ODS 14 e à poluição
marinha causada por (micro)plásticos, as medidas que vêm sendo ela-
boradas por essas iniciativas, buscam mitigar, na origem, as causas
que levam a chegada dos resíduos nos mares e oceanos, trazendo uma
perspectiva de efetiva redução dessa problemática no futuro.
Palavras-chave: ODS 14. Agenda 2030. Pacto Ecológico Europeu.
Plásticos e microplásticos.
Introdução
:Sustainable
9:nnovation
Sustentável.
ndustry
Education
institutions
7:Affordable
12esponsible
4:uality
Cities
8:ecent
Infrastructure
Equality
,ISDG
Communities
Health
Consumption
Work
5:Gender
SDG
Water
3:Good
Strong
:Pustice
6:Clean
and
QSDG
SDG
11
and
DSDG
SDG
eace
Hunger
and
SDG
Economic
,JSDG
and
SDG
Poverty
: educed
Growth
Land
and
2:ero
SDG
R:SDG
Below
ZSDG
16
: limate
:Life
15
on
Inequalities
SDG
:Life
SDG
Production
and
RSDG
and
ADG
and
1:No
14
Sanitation
10
Energy
C13
Clean
- eing
bWell
Water
Action
SDG 14.1:
Marine
T
Pollution
SDG 14.2:
Environmental
Restoration
SDG 14.3:
Ocean
Acidification
SDG 14.4: End
Overfishing
SDG 14.5:
Marine
Protection
SDG 14.6: End
Harmful
Subsidies
SDG 14.7: Small
Islandand
Developing
States
tonnes
100,000 400
300
tonnes
80,000 200
100 Fer
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60,000 ise Rin o P
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s
s
Fonte: HANN, S.; SHERRINGTON, C.; JAMIESON, O.; HICKMAN, M.;
KERSHAW, P.; BAPASOLA, A.; COLE, G. Investigating options for reduc-
ing releases in the aquatic environment of microplastics emitted by (but not
intentionally added in) products. 2018. Report for DG Environment of the
European Commission, 335.
Considerações finais
Referências
ALESSI, E.; DI CARLO, G. Out of the plastic trap: saving the Medi-
terranean from plastic pollution”. WWF Mediterranean Marine Ini-
tiative, 2018.Rome, Italy. 28 p.
Keywords: SDG 14. Agenda 2030. European Green Deal. Plastics and
microplastics.
CAPÍTULO XVI.
A MEDIAÇÃO SANITÁRIA COMO
MECANISMO DE PROMOÇÃO DO
DIREITO À SAÚDE NA PANDEMIA DA
COVID-19: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS
RELAÇÕES BILATERAIS ENTRE BRASIL E
URUGUAI
DOI: 10.29327/5341937.1-16
*
Mestranda em Direto, Constituição e Justiça pela Universidade de Fortaleza –
UFC. Pós-graduanda em Direito e Processo Constitucionais pela Universidade de
Fortaleza – UNIFOR. Bacharela em Direito pela Universidade de Fortaleza – UNI-
FOR. E-mail: carolina.sergestor@gmail.com.
** Mestre e Doutor em Direito Constitucional pela UFC. Professor Adjunto do De-
partamento de Direito Privado da Faculdade de Direito da UFC de Direito Civil
II e Direito Civil V. Professor do PPGD- UFC (Metodologia do Ensino Jurídico,
Metodologia da Pesquisa Científica e Direito Internacional). Assessor do Reitor
da UFC. E-mail: williamarques.jr@gmail.com
494 | A mediação sanitária como mecanismo de promoção do direito à saúde na
pandemia da Covid-19: uma análise a partir das relações bilaterais ...
Introdução
Não podemos dizer isso alto o suficiente, com clareza suficiente ou com frequên-
cia suficiente: todos os países ainda podem mudar o curso dessa pandemia. Se os
países detectarem, testarem, tratarem, isolarem, rastrearem e mobilizarem seu
povo na resposta, aqueles com um punhado de casos podem impedir que esses
casos se tornem clusters e esses clusters se tornem transmissão comunitária. [...]
Todos os países devem encontrar um bom equilíbrio entre proteger a saúde, mi-
nimizar as perturbações econômicas e sociais e respeitar os direitos humanos.
O mandato da OMS é a saúde pública. Mas estamos trabalhando com muitos par-
ceiros em todos os setores para mitigar as consequências sociais e econômicas
dessa pandemia. Esta não é apenas uma crise de saúde pública, é uma crise que
afetará todos os setores – portanto, todos os setores e todos os indivíduos devem
estar envolvidos na luta. Eu disse desde o início que os países devem adotar uma
abordagem de todo o governo, de toda a sociedade, construída em torno de uma
estratégia abrangente para prevenir infecções, salvar vidas e minimizar o im-
pacto”.
4 WHO. Painel da OMS sobre o coronavírus (COVID-19). Disponível em: https://
covid19.who.int/. Acesso em: 07 nov. 2022.
500 | A mediação sanitária como mecanismo de promoção do direito à saúde na
pandemia da Covid-19: uma análise a partir das relações bilaterais ...
pactos da pandemia .
O disciplinamento normativo das medidas combati-
5
FERRAJOLI, Luigi. Garantismo. Debate sobre el derecho y la democracia. Tra-
ducción: Andrea Greppi. Segunda edición . Madrid : Editorial Trotta, 2009, p . 115.
Tradução livre: “...también los derechos sociales, como por ejemplo los derechos
a la salud y al medio ambiente, requieren límites y proibiciones de lesión..."
Carolina Lima Ciríaco Scipião e William Paiva Marques Júnior | 505
estabelecendo estratégicas sanitárias, epidemiológicas e de tra-
tamento.
Importante ressaltar que o Mercosul (2020), alinhado
às diretrizes da OMS, elaborou a “Declaración de Asunción de la
Reunión de Altas Autoridades sobre Derechos Humanos em el MER-
COSUR (RAADDHH) sobre la Promoción y Protección de los Dere-
chos Humanos en Situación de Pandemia COVID-19”, reforçando
uma importante mensagem quanto à necessidade do planeja-
mento de ações coordenadas entre os Estados.
Nessa ordem de ideias, em seus primeiros meses, o
PROSUL logo foi obrigado a responder a um desafio inédito na
história recente da integração regional sul-americana, qual seja:
a necessidade de combate à pandemia sanitária da COVID-19.
Respeitando a soberania dos países participantes, o bloco criou
mesas de trabalho ad hoc sobre o quadro pandêmico, com resul-
tados práticos e contribuições para as respostas nacionais à do-
ença.
Contudo, nem todos os esforços e planos estratégicos
e de enfrentamento parecem ter sido suficientes para aplacar os
efeitos causados pela pandemia da Covid-19, principalmente no
quesito salvar vidas.
A pandemia da Covid-19 tornou clarividente a ne-
cessidade de pensar a saúde em nível global, através de planos
e ações coordenadas que tornem os resultados mais rápidos e
eficazes para proteção do direito à saúde, em contraponto as ati-
tudes concorrentes e descoordenadas (ALMEIDA e ALMEIDA,
2021), como a concorrência entre os países na corrida para a
compra de medicamentos, materiais médico-hospitalares, equi-
pamentos de proteção individual, fechamento de fronteiras, a
omissão de informações e a falta de compartilhamento de des-
cobertas científicas.
506 | A mediação sanitária como mecanismo de promoção do direito à saúde na
pandemia da Covid-19: uma análise a partir das relações bilaterais ...
QUILO, 2012) .
A mediação é:
A inscrição do amor no conflito
Uma forma de realização da autonomia
Uma possibilidade de crescimento interior através
do conflito
Um modo de transformação dos conflitos a partir
das próprias identidades
Uma prática dos conflitos sustentada pela compai-
xão e pela sensibilidade
Um paradigma cultural e um paradigma especí-
fico do Direito
Um modo particular de terapia
Uma nova visão da cidadania, dos direitos huma-
nos e da democracia
país.
O surgimento de espaços globalizados, não naciona-
Considerações finais
Referências
Rey, 1996.