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Fernando O. Paulino
Liziane Guazina
Fábio Pereira
(organizadores)
2016
2º Curso de Verão: Pesquisa em Comunicação na América Latina
Públicas: um estudo dos portais das secretarias de C&T da região sudeste do Brasil
RESUMO
A comunicação pública pode assumir o relevante papel de ser uma ferramenta mediadora da integração entre
ciência, tecnologia e sociedade. A popularização da ciência através da comunicação pública deve ser vista como
vetor de inclusão social e subsídio para a democratização do conhecimento, em direção a práticas de gestão e
controle social mais efetivas, apontando para a necessidade de que a opinião pública seja considerada como mais um
dos indicadores relevantes para a gestão de políticas públicas da área. Entre as ações de comunicação pública sobre
políticas de ciência e tecnologia na atualidade no Brasil, destacam-se os portais eletrônicos de governo das unidades
federativas, que incluem páginas específicas das secretarias da área. Políticas e programas desenvolvidos pelas
instâncias estaduais de gestão têm sido cada vez mais divulgados na internet, o que suscita questões de pesquisa
sobre a qualidade das realizações de comunicação na área. Este artigo buscou identificar a potencial contribuição da
comunicação pública digital sobre ciência e tecnologia à afirmação da cidadania, considerada em sua dimensão de
exercício do direito à informação. Para tal, foram aplicadas análises de conteúdo nas páginas das Secretarias de
Ciência e Tecnologia dos estados da região Sudeste: Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro.
Introdução
A crescente presença de temas ligados à Ciência e Tecnologia em diferentes dimensões da
vida cotidiana aponta a necessidade do entendimento de questões científicas-tecnológicas para o
exercício da cidadania. A crença na ligação direta entre C&T e desenvolvimento supõe que tomar
uma decisão racional e objetiva pode ser facilitada a partir de informações de qualidade sobre o
tema. De acordo com Hayashi, Hayashi e Furnival (2008), o estudo da ciência e tecnologia sobre
a ótica social justifica-se pelo fato de que a C&T é constituída, acima de tudo, por atividades
sociais: “são atividades realizadas por grupos de pessoas, para grupos de pessoas, os resultados
das quais são usados por comunidades de pessoas. Desse modo, podemos pensar a C&T na
sociedade, e a C&T como uma instituição social” (p. 38).
O conhecimento científico é cada vez mais necessário ao cidadão comum e é produto da
popularização da ciência. As informações que chegam aos não especialistas são mediadas a partir
de pessoas e entidades que fazem usos de vários canais de comunicação e linguagens para
transmitir as novidades científicas aos diversos segmentos da sociedade.
Comunicação Pública
O conceito de comunicação pública refere‐se à comunicação realizada no espaço público
Políticas Públicas
As áreas que deveriam receber atenção especial do Estado e políticas de melhoria
sofreram mudanças historicamente, e hoje estão relacionadas com características que são vistas
como direitos de homens e mulheres. As políticas públicas “estão associadas aos direitos que
determinada sociedade reconhece aos seus diferentes cidadãos, são construídas historicamente,
não são conceitos absolutos”, afirma Canela (2005, p. 10).
A política pública não pode se resumir ao momento de sua implementação, uma vez que
consiste em um processo sistemático e não excludente de busca de soluções para problemas
enfrentados pelos cidadãos. Ela pretende colocar o governo em ação a partir de programas,
analisando as ações já realizadas e, quando necessário, propondo mudanças no curso das
medidas tomadas até então.
Souza (2003) afirma que as políticas públicas passam por um processo com várias etapas,
nas quais, de uma maneira ou outra, a mídia estaria presente desenvolvendo um importante
papel. Vicente (2008, p. 277) defende que “a imprensa, por definição, pode e deve assumir um
papel ativo no processo de monitoramento, fiscalização e cobrança quanto à definição, gestão e
avaliação das políticas públicas”.
Aqui é preciso deixar claro que você está se referindo a dimensões atribuídas à mídia no
processo de formulação e implementação das políticas públicas; isto é, dentre as diferentes
funções desempenhadas pela mídia, estão...No agendamento, está a capacidade de a mídia
indicar quais temas merecem destaque a partir do que ela publica ou omite, ou ainda de acordo
com a frequência com que reporta determinados temas. No enquadramento dado aos temas que
aborda, a mídia pode colaborar com a construção de significados e influenciar as etapas do
processo. Na construção da informação, a mídia tem sua função potencializada ao investigar e
fornecer informações, inclusive conferindo voz a fontes alternativas. Na função de controle
social, a mídia trabalharia com o “acompanhamento, não apenas do lançamento oficial de
projetos, mas de sua continuidade, da idoneidade em sua execução e de seus resultados”, pondera
Canela (2005, p. 17).
Ao enquadrar de maneira deficitária as políticas públicas sociais, a mídia acaba por
enfraquecer sua própria capacidade de agendar temas, fornecer informações e ser controladora
social, e enfatiza que a não identificação clara de temas sociais como políticas públicas acaba por
reforçar uma cultura paternalista, como se o Estado prestasse favores e não assegurasse um
direito dos cidadãos.
A democracia, ainda que recente no Brasil, passa por uma fase em que a participação
pública está cada dia em foco pela própria mídia, e ainda mais presente no agendamento de
políticas públicas. Apesar de muito se falar sobre democracia, a política aparece cada vez mais
distante do cotidiano dos leitores, e também ainda mais afastada das exigências do que tem sido
chamado de cidadania informada.
Os subsídios apontados nas páginas sobre políticas públicas “devem abranger com
clareza e amplitude as questões centrais envolvidas, prestando-se tanto à tarefa de proporcionar a
identificação dos assuntos sobre os quais é preciso possuir perspectivas embasadas, quanto ao
próprio processo de construção de posicionamentos, com dados integrais, balizas, comparações,
prognósticos etc”, salienta Rothberg (2010, p. 25).
Para Canela (2005), os indivíduos nem sempre são capazes de “identificar os eixos de
atuação do Estado como políticas públicas”, além de sofrerem limitações na tarefa de avaliar o
desempenho de indivíduos e grupos políticos.
“Quando essa falha informacional passa a atingir não só o cidadão mediano, mas também
os diferentes atores organizados que potencialmente podem exercer um nível mais contundente
sobre os representantes eleitos”, salienta Canela (2008, p. 18), “a possibilidade de as políticas
públicas formuladas atenderem às reais necessidades da população decresce de maneira
diretamente proporcional ao déficit informacional”.
A caracterização das políticas públicas como algo distante e de difícil entendimento pode
incentivar a apatia e a recusa de inserção no sistema democrático. Quanto mais a política é vista
de maneira particular e espetaculosa, mas difícil se torna a visualização da ação política como
algo de grande alcance e grandes consequências.
Busca-se, assim, um meio pelo qual os resultados da ciência possam ser utilizados na
previsão de impactos e formulação de políticas. Assim, os conhecimentos científico-tecnológicos
podem ser utilizados como insumos à tomada de decisão para a formulação de políticas
(policymaking) de desenvolvimento.
Metodologia
Cada política encontrada nos portais estudados foi caracterizada com um indicador para
cada variável: “0” (ausência de informação relacionada) e “1” (presença de informação
relacionada). Desta forma, uma política pública apresentada com o máximo de informações
obteria, segundo a lista proposta, 20 pontos. O número de pontos efetivamente obtido na
avaliação de informações a respeito de cada política, quando considerado em relação ao total de
20 pontos, gera um número percentual, correspondente ao grau de abrangência e profundidade
das abordagens de comunicação presentes nos sítios estudados. Este número foi então
denominado Índice de Qualidade da Informação (IQI).
2. Objetivos e metas – os propósitos de uma política pública podem ser apresentados de forma a
idealizar o cenário a ser atingido, não caracterizado necessariamente em termos quantitativos.
Esta categoria observará a presença ou ausência de informações sobre objetivos (genericamente
enunciados, de forma qualitativa) e metas (específicas, de forma quantitativa) das políticas
públicas.
3. Públicos beneficiados – cabe buscar informações sobre quais critérios foram levados em
conta na hora de decidir porque certo recurso foi alocado para beneficiar de-terminado grupo,
classe social ou setor, em detrimento de outros. Tais decisões, embora com frequência
controversas e excludentes, tendem a ser ignoradas.
1. Condições sociais: fazem referência ao contexto social em que dada política se insere,
envolvendo fatores como trabalho, lazer, saúde etc.
2. Condições econômicas: fazem referência ao contexto econômico em que dada política está
inserida, envolvendo fatores como emprego, desempenho profissional, nível de atividade
industrial, inovação, etc.
3. Cenário político: serão identificadas informações sobre eventuais arranjos, acordos e alianças
políticas que motivaram ou contribuíram para a formulação, a execução e o desempenho de uma
política.
6. Objetivos: os propósitos de uma política pública podem ser apresentados de forma a idealizar
abstratamente um cenário genérico a ser atingido, não caracterizado necessariamente em termos
quantitativos. Ainda assim, são ligados a motivações que tendem a representar aspirações sociais
legítimas. Daí a relevância de registrar, sob este critério, informações sobre propósitos
genericamente anunciados.
7. Metas: além de objetivos genéricos, uma política também deve possuir metas objetivas,
possíveis de serem visualizadas em termos quantitativos e em escalonamento temporal. A
presença de números, estatísticas e projeções será verificada sob este critério.
9. Ações: a partir dos recursos disponíveis, as políticas dependem de ações objetivas para sua
implementação.
10. Informações operacionais, parcerias e convênios: devem ser identificados os dados sobre
procedimentos e instrumentos empregados para que os setores envolvidos em uma política
possam se beneficiar dela, como formulários, editais públicos, instruções para inscrições,
adesões etc. Também devem ser consideradas informações sobre parceiros e conveniados
essenciais para a implementação de determinada política.
11. Públicos-alvo: será observada a presença de informações sobre os diversos setores a quem
uma política se destina, seja em termos genéricos (camadas sociais, faixas etárias, setores
empresariais) ou específicos (entidades, instituições).
13. Eficácia: serão observadas informações a respeito da relação entre objetivos e resultados
concretamente obtidos no âmbito de uma política. Números, estatísticas e projeções serão
apreciados sob este critério.
14. Efetividade: a avaliação de uma dada política não envolve somente a consideração de efeitos
imediatamente passíveis de mensuração, como número de pessoas beneficiadas e setores
mobilizados, mas também a avaliação em perspectivado impacto sobre as condições anteriores
que foram alvo da política. Sob este critério, serão identificadas as informações que descrevam
os benefícios gerados por determinada política em termos das efetivas transformações obtidas.
15. Custo-efetividade: sob esta categoria será identificada a presença de informações sobre
alternativas de ação possível na situação específica enfocada e as razões para terem sido
preteridas, apresentadas como justificativa para a escolha de determinada política.
16. Bem-estar: será avaliada a presença de considerações sobre os benefícios esperados de dada
política em termos de resolução de necessidades de sobrevivência, conforto material,
atendimento de necessidades básicas etc.
17. Igualdade: sob este critério, serão observadas as informações sobre os resultados de dada
política em termos de sua justa distribuição diante das necessidades dos setores envolvidos, e
referentes ao grau de equidade com que apolítica foi implementada.
19. Prevenção de riscos: será observada a presença de informações sobre riscos ambientais a
serem controlados na execução de determinada política.
20. Recursos de gestão de riscos: serão identificadas as informações sobre recursos humanos,
materiais e financeiros investidos na gestão de riscos ambientais envolvidos na execução de
determinada política.
As análises aqui apresentadas dizem respeito às páginas com informações sobre políticas
públicas de Ciência e Tecnologia encontradas nas seções permanentes das secretarias estaduais
da área da região sudeste: São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, foram
coletadas e analisadas entre março e maio de 2014. Ao todo páginas referentes a políticas
públicas de C&T foram analisadas.
Gráfico II: Índice de Qualidade da Informação obtido pelos estados e média do IQI nos
portais analisados.
Observou-se que a categoria mais preenchida foi a de objetivos, com (77,77%). Entre as
demais categorias, podem ser detectados três cenários distintos, contemplando conteúdos que
estiveram presentes em diferentes faixas de percentuais do total de páginas web analisadas, a
saber: a) ‘informações operacionais, parcerias e convênios’, ‘ações atuais’, ‘público-alvo’ e
‘recursos e eficiência’, com 53,70 a 20%. b) ‘condições econômicas’, ‘informações legais’,
‘igualdade’, ‘condições sociais’, ‘cenário político’, ‘condições ambientais’ e ‘metas’ com 20% a
1,85%; c) ‘instrumentos de relacionamento’, ‘eficácia’, ‘efetividade’, ‘custo-efetividade’, ‘bem
estar’, ‘satisfação do usuário’, ‘prevenção de riscos’, ‘recursos de gestão’, todos com 0%.
A presença de informações nas categorias preenchidas medianamente no âmbito da faixa “a”
sugere que a atuação dos profissionais responsáveis pela produção dos portais de governo se
orienta pela necessidade de buscar e apresentar os dados mais obviamente ligados a uma política,
como aqueles que se referem às camadas sociais a serem beneficiadas, e como e por que razão
determinados públicos seriam alvo de ações sistemáticas de governo.
A reduzida presença de informações nas categorias situadas na faixa “b” indica que há
pouca preocupação dos produtores e gestores de conteúdo com a exigência democrática de
apresentar dados que permitam avaliar a performance de um governo na execução de uma
política, relacionados a aspectos como pressupostos das escolhas realizadas pelos mandatários,
metas objetivas, recursos investidos, critérios de equidade na distribuição dos benefícios e
resultados efetivamente alcançados.
A escassez de informações nas categorias incluídas na faixa “c” sugere que a produção dos
portais tende a ignorar quase por completo dados essenciais sobre aspectos como formas de
otimização de resultados, planejamento e justificativas sobre as escolhas realizadas pelos
mandatários diante do contexto mais amplo de ações alternativas possíveis.
As análises das páginas referentes a políticas públicas de C&T dos estados da região
sudeste do Brasil indicam que as informações atualmente disponibilizadas nos portais de governo
são superficiais e enquadradas de maneira insuficiente. Sendo assim, a comunicação pública
acaba por enfraquecer a capacidade dos cidadãos de obter informações para manter-se vigilantes
em relação aos resultados da gestão pública. A insuficiência de informações também leva a não
identificação clara de temas sociais como políticas públicas, o que acaba por reforçar uma
cultura paternalista, como se o Estado prestasse favores e não assegurasse um direito dos
cidadãos.
Considerações finais
Referências
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A participação na emissora pública brasileira: reflexões teóricas e metodológicas
Resumo: Este artigo faz parte de uma pesquisa de mestrado sobre a participação e a
representação dos movimentos sociais na emissora pública brasileira, a TV Brasil. Neste
trabalho, em específico, a proposta é fazer uma reflexão teórica e metodológica sobre a
análise da participação, tomando como principal referência a obra de Nico Carpentier.
Nesse sentido, busca-se apresentar correntes de compreensão sobre o termo
“participação”, optando pela adoção de uma perspectiva maximalista. Além disso, serão
apresentadas algumas reflexões iniciais sobre os espaços de participação
institucionalizados na EBC, como o Conselho Curador e a Ouvidoria.
Palavras-chave: Participação; TV Pública; EBC; Conselho Curador; Ouvidoria.
Considerações finais
3 Mais informações em PAULINO, F.O.; SILVA, L.M. Comunicação Pública em Debate: Ouvidoria e Rádio.
Brasília: Editora UnB, 2013.Disponível em: <http://repositorio.unb.br/handle/10482/14774> Acesso em 14 set. 2015.
sentido, buscou-se estabelecer perspectivas teóricas sobre o conceito de “participação”
que, embora seja tão utilizado e demandado, tenha sentidos e aplicações diversas.
A discussão sobre as visões minimalistas e maximalistas da “participação”, tanto
na democracia como um todo como especificamente na esfera midiática, nos permitiu
localizar a base sobre a qual parte este estudo assim como aplicar esses pontos de vista
na participação promovida pelos diferentes modelos de televisão: comercial,
comunitário e público. Assim, entende-se a perspectiva maximalista como a mais
adequada para se analisar as emissoras públicas, embora elas não sejam capazes de
atingir os mesmos níveis de participação que os canais comunitários.
Considerando que a pesquisa macro inclui uma perspectiva gramsciana, de
contra-hegemonia – e, portanto, politizada – a visão minimalista da “participação”
acaba sendo insuficiente para responder as questões levantadas. Neste sentido, a
participação deve ir além do acesso ou da mera interação, promovendo mais que apenas
uma simulação, até mesmo para que a emissora se constitua de fato como “pública”.
Assim, as etapas de análise propostas por Carpentier se colocam como procedimentos
úteis na elaboração da pesquisa.
De forma inicial, tentou-se, neste artigo, mapear os aparatos institucionais de
participação da TV Brasil, os quais serão posteriormente analisados a partir destas
etapas de análise propostas na dissertação de mestrado em curso. Neste sentido, mais do
que apenas a existência de estruturas legais que possibilitem a “participação”, a
pesquisa macro pretende observar as práticas culturais e cotidianas, que viabilizam ou
não a efetivação desta “participação”, levando a reverberações no conteúdo veiculado
pela emissora.
Já que o interesse da pesquisa é avaliar o grau de emergência de vozes contra-
hegemônicas, essa participação também é analisada a partir de um grupo de atores
específico, que são os movimentos sociais. Para isso, pretende-se analisar, mais
profundamente, por meio da dissertação, a participação no âmbito do Conselho Curador
e na produção jornalística. Desse artigo, surgem então as seguintes questões, que se
pretende responder no trabalho final: Quem são os representantes dos movimentos
sociais no Conselho Curador? Qual a posição deles no processo de discussão? Em que
medida suas reivindicações reverberam na prática? Como se dá o diálogo com os
movimentos sociais no processo de produção do telejornal? A representação destes
grupos é uma repetição de estereótipos ou inclui discussões mais aprofundadas?
Desta forma, mais do que um artigo conclusivo, este texto se constitui como um
ponto de partida para reflexões maiores que serão feitas em relação à participação na
emissora pública brasileira.
Referências
Allan Gouvêa2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de analisar uma experiência informativa sobre o câncer, a partir
de um programa televisivo da principal emissora pública do país (Ser Saudável, TV Brasil).
Destaca-se, nesse sentido, o fato de não ser um produto que se vale de padrões e formatos
jornalísticos convencionais. Como fundamentação, utilizam-se referenciais teóricos (tais
como ARAÚJO; CARDOSO, PESSONI, MORAES) para compreender, discutir e definir as
relações entre os campos comunicação e saúde. As reflexões se desdobram em duas edições
do programa veiculadas durante o período de um ano, que abordam, em alguma medida, a
temática oncológica. O estudo faz uma análise de conteúdo qualitativa, donde se verifica uma
aproximação da narrativa com aquilo que se espera para um produto informativo sobre
saúde/câncer.
1. Introdução
Este estudo visa identificar, a partir da mídia informativa, alguns dos efeitos sociais
vigentes sobre o câncer. Partimos da ideia de que a percepção sobre os tumores malignos
ainda estão cercados de mitos, metáforas, preconceitos e desconhecimentos e, assim, se
constituem por vezes como um verdadeiro tabu em nossa sociedade.
Durante a análise dos produtos televisivos que tratam da temática sobre câncer em
uma emissora comercial e em outra pública, no âmbito de um projeto de pesquisa maior,
1 Trabalho apresentado como requisito parcial para a conclusão do “1º Curso de Verão Pesquisa em
Comunicação na América Latina”, da Associação Latino Americana de Investigadores da Comunicação
(ALAIC), realizado de 19 a 25 de março de 2014, na Universidade de Brasília (UnB).
2 Bacharel em Comunicação Social pela UFJF, mestre em Comunicação pela mesma universidade. Integrante do
Grupo de Pesquisa “Laboratório de Jornalismo e Narrativas Audiovisuais”, com bolsa Fapemig. E-mail:
allangouvea@yahoo.com.br.
1
enumeramos uma série de elementos constitutivos dessa cobertura passíveis de crítica, a partir
de categorias de análise elaboradas especificamente para este objeto de estudo. Porém, dentro
do escopo de análise selecionado (dois telejornais e dois programas especializados em saúde),
deparamo-nos com uma experiência informativa muito singular em relação ao padrão vigente
nos demais produtos. Trata-se do semanal “Ser Saudável”, exibido pela TV Brasil – a primeira
emissora de abrangência nacional do sistema de televisão pública do país. A seleção dele se dá
justamente pelo fato de não ser um programa que obedece ao modelo telejornalístico vigente,
mas que apresenta potencialidades informativas por meio de outro formato – que consiste, em
resumo, na visita de médicos aos domicílios dos personagens selecionados. Tais
potencialidades podem se aproximar mais, pressupostamente, de um padrão que se espera
para a relação comunicação, informação e saúde. O atendimento dessa expectativa – em um
formato distinto da narrativa jornalística tradicional (repórteres e VTs) – pode representar
ainda um sintoma de um suposto descrédito do jornalismo hegemônico nos dias atuais3.
O principal objetivo nessa pesquisa é, dessa forma, compreender a lógica de
produção televisiva em saúde, identificar seus sentidos e seus prováveis efeitos sociais. Um
dos primeiros questionamentos, inclusive, se propõe a definir ou conceituar este campo
interdisciplinar, com base em algumas contribuições teóricas já disponíveis. A investigação
enseja, ainda, encontrar parâmetros para respaldar um conhecimento acadêmico que dê conta
de problematizar o discurso do estado de saúde e doença, e apontar diretrizes possíveis para
uma informação em saúde voltada preferencialmente para o interesse público.
Como procedimento metodológico, adotamos uma análise de conteúdo de natureza
qualitativa4, na qual pesam como expectativas ou referências: a presença do suporte
especializado, sobre o que está habilitado a falar, o que ele fala e de que lugar; a participação
popular de pacientes, ex-pacientes e familiares, ou pessoas comuns, e como eles são ouvidos,
como se dá a sua representação, se estão aptos ou não a reivindicar suas demandas; quais os
critérios de noticiabilidade ou por que o câncer aparece nos programas; quais os
enquadramentos e as angulações construídas; a potencialidade comunicativa, percebida por
meio da narrativa, em relação às estratégias de personificação, humanização, dramatização e
sensibilização do relato; as relações e as metáforas empregadas para se referir aos tumores; os
3 Danilo Rothberg (2011), por exemplo, defende que subsiste na atualidade um descrédito do jornalismo, que
vem crescendo na esteira de sua desconexão com seu público, porque a informação jornalística parece ter se
distanciado dos temas que as pessoas pensavam ser necessários para a resolução de seus problemas cotidianos;
que se alastra por outros campos, como o político.
4 As categorias foram estabelecidas a partir dos referenciais teóricos do jornalismo e da comunicação e saúde –
utilizados no projeto de pesquisa como um todo (GOUVÊA, 2015), com base em pesquisas exploratórias com
matérias televisivas sobre o câncer da Rede Globo e da TV Brasil. Esses critérios levam em consideração as
especificidades desse tipo de cobertura.
2
ditos e os não ditos sobre as formas enunciativas do dizer do estado de saúde ou de doença; as
relações de poder que emergem, a política, em sentido lato – o papel do Estado, o
personalismo político e as políticas públicas; a qualidade técnica da sequência audiovisual; a
acessibilidade da linguagem, com vistas a perceber eventuais ruídos pela escolha de termos e
dados dificilmente codificados pelo público leigo.
Comunicação e Saúde é um termo que indica uma forma específica de ver, entender,
atuar e estabelecer vínculos entre estes campos sociais. Distingue-se de outras
designações similares, como comunicação para a saúde, comunicação em saúde
e comunicação na saúde. Embora as diferenças pareçam tão sutis que possam ser
tomadas como equivalentes, tenhamos em mente que todo ato de nomeação é
ideológico, implica posicionamentos, expressa determinadas concepções, privilegia
temas e questões, propõe agendas e estratégias próprias (ARAÚJO; CARDOSO,
2009, grifos das autoras).
3
Na primeira proposta conceitual apresentada, as pesquisadoras utilizam o conceito de
‘campos sociais’, proposto por Bourdieu5 (1989), para, a partir dessa definição, explicar as
relações que podem estabelecer entre si. O momento histórico dos estudos nessa área é aquele
em que sinalizou a primeira tentativa de institucionalização da propaganda como estratégia
educativa e sanitária, em 1923, no contexto da “Reforma Carlos Chagas” 6. À medida que o
tempo passou, novas discussões entre saúde e sociedade entraram na agenda, sobretudo a
partir dos anos de 1960, e hoje ainda mais pela massiva presença da mídia no social. Para
elas,
Essa noção parece apresentar um ponto de vista mais abrangente desses estudos,
mais complexo e problematizador, se comparada com a de outras perspectivas acadêmicas; e
contempla, ademais, uma concepção de que comunicação tem um papel fundamental no
controle social, na medida em que confere legitimidade aos sentidos sociais em voga.
Comunicação
Saúde
Educação popular
Movimentos sociais
Políticas públicas
5 Em linhas gerais, a teoria dos campos elaborada por Bourdieu propõe que cada universo da sociedade está
condicionado às relações intrínsecas do habitus dos seus agentes, organizados de acordo com as disputas internas
e externas, pelos interesses aos quais se inclinam, com um sistema de trocas linguísticas que funciona nessa
perspectiva. Essa concepção aplicada ao método científico permitiria um aprofundamento da investigação, como
forma de fuga do reducionismo. “A teoria geral da economia dos campos permite descrever e definir a forma
específica de que se revestem, em cada campo, os mecanismos e os conceitos mais gerais (capital, investimento,
ganho), evitando assim todas as espécies de reducionismo [...] Compreender a gênese social de um campo, e
apreender aquilo que faz a necessidade específica da crença que o sustenta, do jogo de linguagem que nele se
joga, das coisas materiais e simbólicas em jogo que nele se geram, é explicar, tornar necessário, subtrair ao
absurdo do arbitrário e do não motivado os atos dos produtores e das obras por eles produzidas e não, como
geralmente se julga, reduzir ou destruir.” (BOURDIEU, 1989, p. 69, grifos do autor).
6 “Nos anos 1920, pela primeira vez a saúde surgia como questão social no Brasil. Com o crescimento da
economia cafeeira, a aceleração do processo de urbanização e o desenvolvimento industrial, a questão da saúde
ganhou novos contornos, pois as condições sanitárias afetavam diretamente a qualidade da mão de obra. As
medidas de saúde pública caracterizaram-se pela tentativa de modernização e extensão de seus serviços por todo
o país. A reforma promovida por Carlos Chagas em 1923, criando o DNSP, visava incorporar o saneamento
rural, a propaganda sanitária e a educação higiênica como preocupações do Estado” (LIMA; PINTO, 2003, p.
1043).
4
Ciência e tecnologia
informação
Comunicação
e
Saúde
uma forma de a mídia usar sua força de divulgação de assuntos de saúde com
abrangência e interesse público, impactando positivamente a saúde da população. A
mídia exerceria uma pedagogia ao repetir narrativas e imagens que instituem juízos
e modos de reagir diante de dilemas morais gerados pela sociedade contemporânea.
Profissionais do jornalismo, queiram ou não, desempenham o papel de educadores.
Além disso, podem influenciar na eventual adoção pública de medidas supostamente
protetoras, sem garantias de eficácia. (PESSONI, 2008, p. 297)
5
A definição caracterizada pela preposição ‘para’ constitui, dessa forma, uma
perspectiva que prevê uma função didático-pedagógica para a imprensa, com um
direcionamento positivista e que defende, com isso, a observância de um paradigma ideal e
idealizado, já que é preciso questionar ou averiguar essa comunicação, e suas ferramentas, e
que saúde se pretende obter como finalidade.
Numa corrente parecida com esta última, um grupo de pesquisadores portugueses
trabalhou com a proposta de “Comunicação na saúde”, cujo projeto intitulado “Doença em
Notícia” levou três anos de estudos e análises, de 2010 a 2013, em Portugal, mas buscando
dialogar com os trabalhos realizados em outros países. O projeto de pesquisa resultou em um
e-book: A saúde em notícia: repensando práticas em comunicação. Os pesquisadores
lusitanos também trabalham conforme a concepção de uma comunicação como agente
fundamental na promoção da saúde e da igualdade, sendo necessária a formulação de uma
comunicação estratégica, que possa dar conta desse objetivo. Mais que uma informação para
fomentar o bem-estar das pessoas, o papel da comunicação, no contexto de uma sociedade
democrática, deve prever, ademais, a propagação do ideal de equidade. Para eles,
6
informar e para influenciar as decisões dos indivíduos e das comunidades no sentido de
promoverem a sua saúde” (TEIXEIRA, 2004, p. 615).
Num sentido de maior generalidade ainda, Schiavo também propõe uma definição
para health communication7, que engloba muitas outras áreas do conhecimento, cujo conceito
é explicado pela pesquisadora Ana Paula Azevedo:
De acordo com essa autora, a comunicação na saúde deve ser entendida como uma
abordagem multifacetada e multidisciplinar que visa atingir diversas audiências e
partilhar informações relacionadas com a saúde com o objectivo de influenciar,
engajar e apoiar [os diversos actores sociais] indivíduos, comunidades, profissionais
de saúde, grupos especiais, legisladores e o público no sentido de introduzir, adoptar
um comportamento, prática ou política que, em última análise, melhorem os
resultados de saúde (AZEVEDO, 2012, p. 188).
Embora seja razoável reconhecer que haja diferenças sutis em relação às concepções
que cada nome articula, nota-se em todas elas um subtexto de que a informação é um dos
principais artifícios que integram as relações desse campo duplo e o de que essa informação é
preponderante para a produção do conhecimento, que, por sua vez, possibilitará a melhoria da
qualidade de vida, e o desenvolvimento humano; em síntese, a tão falada e almejada
promoção da saúde.
Não obstante todas as disputas por uma conceitualização do campo, é importante
assinalar um objetivo central para a troca de informações na seara da saúde e, assim, espera-
se, no mínimo, “estabelecer um debate público sobre temas de interesse e garantir às pessoas
informações suficientes para a ampliação de sua participação cidadã nas políticas de saúde”
(ARAÚJO; CARDOSO, 2007, p. 61).
É também por essa razão, que se destaca, dentre as subáreas da Comunicação, o
papel do Jornalismo – atividade que lida diariamente com a produção e publicação de
notícias, que têm como matéria-prima a informação. Nas linhas que se seguem, procuraremos
confrontar todo esse entendimento teórico com o referido recorte empírico para,
possivelmente, compreender as eventuais lacunas analíticas que precisam ser preenchidas
nessa área do conhecimento.
7 Nesse caso especificamente, não é possível traçar uma diferenciação quanto à terminologia, pois uma livre
tradução do inglês permite a utilização de qualquer vocábulo que tente conectar as palavras comunicação e
saúde.
7
junho de 2014. Realizamos uma busca nos acervos digitais (portais institucionais), acessando
todos os vídeos disponibilizados nesse período. Foram selecionadas as duas únicas edições
que se propuseram a falar, de alguma forma, das neoplasias.
O SS vai ao ar aos sábados, às 10h, e alguns episódios são reprisados ao término das
temporadas. É um programa diferente porque é apresentado por dois médicos (“de família e
comunidade”) e fora do estúdio. Em decorrência do reduzido número de edições, o exame
analítico vai observar unicamente as expectativas sob o viés da qualidade (conforme os
parâmetros já enunciados), até mesmo para corresponder aos limites e às possibilidades de um
artigo científico.
O programa parece ter como objetivo se constituir como um outro gênero
televisivo, pois os apresentadores, por exemplo, são profissionais da saúde. Os médico-
apresentadores visitam pessoas que vivem ou que viveram uma situação de doença,
dialogando com as pessoas, dando informações e entrevistando outros especialistas. Sobre o
formato do programa, o sítio eletrônico da TV Brasil8 informa que se trata de uma
9
prognóstico, pois, “apesar de ser um câncer”, são altas as chances de cura e a sobrevida é cada
vez maior.
Na voz da apresentadora, há uma crítica sutil ao sistema público de saúde, que
deveria garantir um acesso mais rápido e fácil ao atendimento, além de permitir que um
mesmo profissional acompanhe a evolução dos casos – especialmente para o tratamento do
linfoma. Para ela, isso deve se estender também para o atendimento da rede privada. Uma
informação de serviço é a que incentiva as pessoas a se cadastrarem para a doação de medula
óssea, que não oferece riscos significativos ao doador e que pode salvar vidas.
Acreditamos que o formato e o conteúdo empregados por esse programa se
aproximam muito de um modelo que poderíamos idealizar para a informação em saúde. Em
nenhum momento, o SS faz alarde em torno da doença, não estabelece um regime
comportamental para prevenção ou tratamento, procura desmistificar a doença (com perguntas
no estilo ‘mitos e verdades’) e, principalmente, ao utilizar a personificação como estratégia de
cobertura televisiva, o faz muito mais com a perspectiva de humanização do relato, sem
apelar para as emoções ou para o sensacionalismo. É um modelo que, de alguma maneira,
pode servir de referência para os demais.
Essa avaliação também se faz em relação à outra edição selecionada, que, na
verdade, aborda uma doença que não é considerada câncer, mas que pode causar confusão,
como afirmam os especialistas do programa.
“O mioma não é câncer”, informou o médico-apresentador nos minutos iniciais do
Ser Saudável. Contudo, incluímos essa edição em nossa análise, sobretudo por conta dessa
confusão que se faz e, portanto, configura um material de “abordagem parcial”. Na verdade,
miomas são tumores benignos, nódulos do útero que, em alguns casos, causam sintomas nas
mulheres. Apenas quando a paciente apresenta sangramento menstrual excessivo, dor pélvica,
“pressão” no baixo ventre e/ou aumento do volume abdominal é que o mioma é tratado e, por
vezes, retirado. Os ginecologistas mostram que se trata de uma doença muito comum,
principalmente no período de idade em torno dos 30 e 40 anos. As consequências possíveis
são a retirada do útero, a infertilidade e a compressão de outros órgãos próximos do útero.
O formato desse programa foi bem parecido com o primeiro e, nesse sentido, foi
importante para este trabalho para compreender que o câncer guarda tantos mitos que chega,
inclusive, a ser confundido com outras doenças que apresentam riscos menores. Nesse
sentido, explica-se que a retirada do útero, se necessário (em caso de mioma ou câncer do
colo de útero) não elimina, do ponto de vista fisiológico, a libido da mulher; isso pode
10
acontecer, eventualmente, por conta de fatores psicológicos. Além disso, a ginecologista
também explica que, apenas em menos de 1% dos casos, um mioma pode se “malignizar” e se
transformar em sarcoma (câncer).
Nos dois programas, o alvo foi o público feminino, sendo mulheres de diversos
lugares do Brasil: Rio Grande do Sul, São Paulo e Bahia; e de diversas profissões (jornalista,
professora, dona de casa...). No segundo episódio, uma mulher negra foi entrevistada pela
apresentadora também negra. Isso demonstra que há uma tentativa, por parte do canal público,
de representação da diversidade regional e étnica brasileiras, até mesmo em um programa
sobre saúde.
Considerações finais
A informação tem posição central nas questões de saúde pública. O conhecimento de
seu corpo, das mazelas que pode vir a ter, dos direitos que lhe competem nessa seara, das
escolhas que pode livremente fazer, pode determinar, para os indivíduos, uma série de
relações simbólicas, que estabelecem uma hierarquia do corpo social. Os médicos são os
grandes detentores desse saber e, dessa forma, estão aptos a deliberar em função de normas de
conduta, decisões de políticas públicas e a definirem, com autoridade e propriedade, o que é
verdade ou não no âmbito da saúde. A mídia vem, então, legitimar esse status.
Com isso, tendo em vista a preocupação das ferramentas comunicativas para a
promoção da saúde, além de outras questões mais complexas, percebemos que também no
caso do câncer a informação está no meio do campo de batalhas para que este se torne mais
aceitável, ou menos estigmatizado pela população.
Pensar a comunicação no âmbito da saúde requer, desse modo, um compromisso
ético e um engajamento com o outro, para que ele tenha segurança e autonomia em suas
atitudes para com o próprio corpo. E, quando esse outro já está acometido por uma doença, é
necessário maior tato ainda para enfocar seu sofrimento. Narrativas sensíveis podem ser
construídas sem sensacionalismo e sem coerção, a exemplo da experiência desse programa de
saúde produzido pela TV pública. O Ser Saudável, inclusive, carrega um sintoma ou um
indício muito interessante, porque não é apresentado por jornalistas nem se autodenomina
jornalístico; mas parece ser o que mais se aproxima do que se espera de um programa
informativo sobre câncer.
E é exatamente aqui que está o valor científico dessa experiência comunicacional,
por ser informativo, mas sem, necessariamente, utilizar os operadores jornalísticos canônicos.
11
Se o telejornalismo já carrega, por si mesmo, um tom dramático no seu modo de
fazer notícias e reportagens, isso se potencializa sobremaneira quando a pauta é o câncer, uma
vez que ele é o grande vilão que ameaça a saúde pública, fazendo um número incomensurável
de vítimas, que nem sempre conseguem ser salvas pelos heróis da saúde, que se veem
limitados pelos algozes do sistema público. Essa é a lógica predominante – que não é
encontrada na análise apresentada – como se pode verificar em outros estudos 9. Novas
linguagens e novos formatos são uns dos elementos esperados para uma TV pública e, no
espaço selecionado, parece haver cumprimento dessa expectativa; sobretudo, em função de
um tema tão delicado e presente no cotidiano da população. Mais importante do que isso,
porém, é a visão quase desnuda dos mitos aos quais, durante tanto tempo, a doença esteve
sujeita.
Referências
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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM SAÚDE. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009. Disponível em
<http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/comsau.html> Acesso em 27 jun. 2014.
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AZEVEDO, Ana Paula Margarido de. Jornalismo de saúde: novos rumos, novas literacias. In:
Comunicação e sociedade – Mediatização jornalística do campo da saúde, Número especial,
p. 185-197, 2012.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1989.
COELHO, Zara Pinto. Saúde, sociedade, cultura e comunicação. In: LOPES, Felisbela et. al.
A saúde em notícia: repensando práticas de comunicação. CECS/Universidade do Minho:
Braga, 2013. Disponível em <http://www.comunicacao.uminho.pt/cecs> Acesso em 28 jun.
14.
FERRARA, Lucrécia D’Alessio. A estratégia empírica da comunicação. In: BRAGA, José
Luiz; LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; MARTINO, Luiz Cláudio (org.). Pesquisa
empírica em Comunicação. São Paulo: Paulus, 2010.
GOUVÊA, Allan. Entre mitos, silenciamentos e circularidades: a cobertura televisiva do
câncer e suas formas de percepção. 2015. 243 p. Dissertação (Mestrado em Comunicação) –
Programa de Pós-graduação em Comunicação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de
Fora, 2015.
9 Por exemplo: GOUVÊA, A.; COUTINHO, I. Telejornalismo e saúde: abordagens do câncer nos noticiários da
televisão brasileira. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 36., 2013,
Manaus, AM. Anais... Manaus: UFAM, 2013. CD-ROM.
12
LIMA, Ana Luce Girão Soares de; PINTO, Maria Marta Saavedra. Fontes para a história dos
50 anos do Ministério da Saúde In: Histórias, Ciências, Saúde – Manguinhos, n. 03, p.
1037-51, 2003.
MORAES, Nilson A. Comunicação e saúde: entre sentidos, interesses e estratégias. In: ECO-
PÓS – publicação da pós-graduação em comunicação e cultura, v. 10, n. 01, p. 64-78, jan.-
jun. 2007.
PESSONI, Arquimedes. Comunicação para a saúde. In: MARQUES DE MELO, José (org.).
O campo da comunicação do Brasil. Petrópolis: Vozes, 2008.
ROTHBERG, Danilo. Jornalismo público: informação, cidadania e televisão. São Paulo:
Editora Unesp, 2011.
RUÃO, Teresa. Estratégias de comunicação na saúde – na promoção da igualdade. In:
LOPES, Felisbela et. al. In: A saúde em notícia: repensando práticas de comunicação.
CECS/Universidade do Minho: Braga, 2013. Disponível em
<http://www.comunicacao.uminho.pt/cecs> Acesso em 28 jun. 14.
SONTAG, Susan. A doença como metáfora. Rio de Janeiro: Graal, 1984.
TEIXEIRA, José A. Carvalho. Comunicação em saúde: relação técnicos de saúde – utentes.
In: Análise Psicológica, Set 2004, vol. 22, n.3, p. 615-620. Disponível em
<http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v22n3/v22n3a21.pdf> Acesso em 03 jul. 2014.
13
Limites e desafios do Brasil e do México para o exercício do direito de acesso à
informação
Resumo: Este artigo trata dos limites e desafios da Lei de Acesso à Informação
brasileira, Lei 12.527/2011, em função, dentre outros aspectos, da ausência de uma
instância independente de supervisão e de análise recursal da Lei. Na sequência, o artigo
vai tratar do Instituto Federal de Acesso a Informações Públicas do México, IFAI, que
em maio de 2015 passou a se chamar Instituto Nacional de Transparência, Acesso à
Informação e Proteção de Dados Pessoais, INAI, com ênfase em alguns dos limites e
desafios enfrentados desde a criação do órgão autônomo, em 2003. Ao final, o artigo irá
apontar os desafios comuns dos modelos do México e do Brasil na busca pelo direito de
acesso à informação e pela consolidação da cultura da transparência nos países.
Introdução
Este artigo indica alguns limites e desafios da Lei de Acesso à Informação brasileira, os
quais se refletem na implementação do pleno direito de acesso à informação. Assim, a estrutura do
artigo se apresentará em três partes. Na primeira, serão levantados limites apontados antes mesmo
do início da vigência da Lei, os quais, quando da efetiva aplicação da legislação, estão se mostrando
verdadeiros desafios para a consolidação do direito de acesso no Brasil. A segunda parte indica
alguns desafios enfrentados pelo México no que se refere à Lei de Acesso do país e ao modelo de
supervisão e instância recursal adotado, considerado um exemplo institucional para os outros países.
As considerações finais consolidam as contribuições do artigo ao esclarecer os limites e desafios
presentes nos modelos brasileiro e mexicano de provimento de acesso a informações públicas, os
quais para serem suplantados dependem de fatores não somente de natureza institucional e legal.
Em estudo comparativo, feito por Mendel (2009), no âmbito da Unesco, entre as legislações
de diversos países e documentos internacionais, notam-se as seguintes características que devem
orientar o desenvolvimento e a aplicação de leis de acesso à informação: o acesso à informação
como direito humano; o dever de publicar; os procedimentos e recursos; exceções; sanções;
proteções; e medidas de promoção.
No que diz respeito aos procedimentos e recursos, a Lei de Acesso a Informação brasileira,
Lei 12.527/2011, enfrenta críticas desde a sua implantação. Entre os juízos, destacam-se os relativos
à ausência de um órgão autônomo de análise e aplicação da lei. Isso porque o modelo adotado no
Brasil prevê que a Controladoria-Geral da União (CGU), órgão vinculado ao Poder Executivo
Federal, é quem realiza a supervisão da norma e avalia os recursos impetrados na administração
pública federal, em situações em que a informação é negada ou quando é considerada insuficiente
pelo solicitante.
Nesse sentido, a LAI prevê a apresentação de recurso quando o solicitante entender que o
órgão ou entidade não concedeu a informação solicitada ou não forneceu o motivo para negar
determinado dado. O recurso deve ser interposto no prazo de dez dias da decisão que indeferiu o
pedido, tendo a autoridade superior cinco dias para se manifestar. O artigo 16 da LAI prevê alguns
casos em que a CGU exerce o papel de supervisor, e, uma vez negado o pedido, na sequência, a
Comissão Mista de Reavaliação de Informações (CMRI) também funciona como instância de
revisão.
Percebe-se que a composição da CMRI faz dela um órgão de caráter político, pois todos os
seus integrantes podem ser livremente nomeados e exonerados pelo Presidente da República.
Portanto, torna-se difícil que a Comissão contrarie de maneira frontal os interesses do
governo do qual fazem parte, pois os que votarem nesse sentido podem simplesmente ser
destituídos de seus cargos pelo chefe de Estado brasileiro. Devido ao exposto, não é possível
afirmar que o Brasil possui um órgão julgador com alto grau de autonomia, diferentemente
do Chile ou do México (CUNHA FILHO, XAVIER, 2014, p. 205, apud DUTRA, 2015, p.
115).
No que diz respeito aos pedidos feitos aos órgãos dos poderes Legislativo e Judiciário ou nas
esferas estaduais e municipais, a lei brasileira não prevê a existência de uma terceira instância de
análise, tendo em vista que o Decreto 7.724 de 2012 somente regula o direito de acesso à
informação no poder Executivo Federal. Sendo esses pedidos, nos casos em que os solicitantes
recorrem das decisões, submetidos ao exame dentro dos próprios órgãos. As decisões ficam a
depender, assim, do exame discricionário da autoridade máxima ou dos respectivos colegiados.
A despeito de o estudo comparativo ter sido feito antes da legislação brasileira de acesso a
informações públicas ter sido aprovada no Congresso Nacional, em setembro de 2011, e começado
a viger, em maio de 2012, Mendel, em entrevista ao jornal o Estado de S. Paulo, em março de 2012,
destaca a necessidade de se aguardar a implementação para uma avaliação mais completa
(BRAMATTI; GALLO, 2012). “Temos de ver, com o passar do tempo, como esse órgão de recursos
se comportará”.
Ainda no que tange aos obstáculos advindos de valores e práticas da cultura político-
institucional brasileira, Rothberg, Napolitano e Resende (2013, p. 116) citam como um dos desafios
a falta de um órgão autônomo.
A ausência de um órgão independente, específico para zelar pela aplicação da lei, também
suscita dúvidas sobre a capacidade de o texto legal transformar a cultura do sigilo e
clientelismo inscrustrada no serviço público brasileiro em seus três níveis de gestão.
(ROTHBERG; NAPOLITANO; RESENDE, 2013, p. 116).
Segundo a CGU, grande parte dos recursos indeferidos se deve à falta de especificação da
informação requerida (BRASIL, 2013, p. 32). Isso acontece porque, de um lado, existe o cidadão
que está se habituando a solicitar informações conforme a LAI e, de outro, existe a cultura da
opacidade na administração pública, como explica Reis (2014, p. 63):
A busca por transparência não ocorre sem percalços ou polêmicas, os quais precisam ser
vistos a partir da perspectiva do distanciamento do Estado em relação à sociedade brasileira.
Não se trata propriamente de um Estado ausente, definição muito apressada e imprecisa do
Estado brasileiro. Trata-se de um Estado distante, cujos mecanismos de funcionamento são
variáveis, dispersos e desconhecidos de boa parte da população. Essa distância, formada por
desconfiança, resistência ou riscos, caracteriza o que se definiu aqui como paradigma da
opacidade.
Com o objetivo de avaliar se as entidades públicas estão cumprindo as regras da Lei 12.527,
um relatório do Programa de Transparência Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV), dos
pesquisadores Michener, Moncau e Velasco (2014) apresenta o resultado de 453 pedidos com base
em 55 questões diferentes para 133 órgãos públicos dos três Poderes em oito unidades federativas.
O estudo apontou para situações em que os órgãos públicos aplicam a Lei de forma discriminatória,
tanto no recebimento ou não de uma resposta, quanto nos prazos de resposta. Entre as
recomendações com vistas a reduzir os riscos da discriminação, está a adoção de medidas como as
do México e do Chile. Nesses países, segundo os pesquisadores da FGV não se exige o documento
de identificação do cidadão para o exercício do direito fundamental de acesso à informação.
Dutra (2015) aborda a utilização da Lei 12.527/2011 por jornalistas como ferramenta de
trabalho. Entre as conclusões do estudo, estão as perspectivas de jornalistas que destacam como
avanços a impossibilidade de sigilo quanto a fatos relativos à violação de direitos humanos, e a
obrigação de acesso a informações essenciais para recuperação de fatos históricos de maior relevância.
Por outro lado, entre os problemas constam a “‘ausência de órgão fiscalizador independente’, exceções
consideradas amplas, nenhuma participação da sociedade civil nos órgãos recursais, e o fato do texto
não mencionar o tratamento de documentos eletrônicos, como e-mails funcionais” (DUTRA, 2015, p.
115).
Segundo Mendel (2009), a lei mexicana figura entre as leis de direito à informação mais
progressistas do mundo. Também ressalta que, “depois do sistema da Suécia, talvez seja a garantia
constitucional mais detalhada e abrangente do direito à informação no mundo” (MENDEL, 2009, p.
86).
O então IFAI e agora INAI zela, entre outras funções, pela análise dos recursos na esfera
federal mexicana. O México adotou uma aplicação diferenciada da lei, com o poder Executivo
(agências e entidades) sujeito a uma supervisão mais rigorosa, por órgãos mais independentes. Em
contrapartida, a fim de exigir que outros órgãos públicos processem solicitações de modo similar, a
lei estabelece a obrigatoriedade dos demais órgãos criarem critérios e procedimentos conforme
regulamentos ou acordos de natureza geral que obedeçam aos princípios e prazos estipulados na lei.
Em relação aos recursos dos pedidos feitos a órgãos do poder Executivo, as queixas se dão
em em primeiro lugar no próprio órgão em que a informação foi solicitada. Caso não concorde com
a decisão da primeira instância, pode-se dar entrada ao pedido de recurso ao IFAI e devem ser
registradas em 15 dias a contar do aviso de recusa do acesso, nos seguintes casos: quando as
informações não são fornecidas de outra forma, parcial ou totalmente; quando a correção de
informações pessoais foi negada; ou para revisão de aspectos como tempestividade, custo ou forma
de acesso. Segundo Mendel, “trata-se de um prazo extremamente curto, que pode impedir que
alguns postulantes registrem apelações” (MENDEL 2009, p. 92).
Após um ano de uma decisão do IFAI que confirme uma decisão original de um órgão
público, o solicitante pode solicitar ao IFAI a revisão de sua decisão, que deverá ser proferida em
até 60 dias da solicitação. O IFAI pode aceitar ou rejeitar uma queixa, ou modificá-la, de modo que
sua decisão deverá incluir os prazos para o cumprimento. A decisão do IFAI é definitiva para as
agências, mas os postulantes podem recorrer perante à justiça federal.
Na composição do IFAI, há cinco comissários, com mandatos de sete anos. Esse mandato
pode ser encurtado em função do cometimento de violações graves ou reincidentes da Constituição
ou da Lei de Direito a Informação, quando seus atos ou omissões comprometerem o trabalho do
IFAI, ou se tiverem sido condenados por crime passível de reclusão. Os cinco comissários são
indicados pelo Poder Executivo, mas as indicações poderão ser vetadas por voto majoritário do
Senado ou da Comissão Permanente, contanto que ajam em 30 dias. Somente poderão ser indicados
para o cargo de comissário os cidadãos/cidadãs, pessoas que nunca tenham sido condenadas por
crime de fraude, tenham no mínimo 35 anos de idade, não possuam fortes conexões políticas e
tenham apresentado “desempenho excepcional nas atividades profissionais”.
Apesar dessas delimitações que visam a assegurar a independência do IFAI, o órgão enfrenta
críticas relativas à composição da Comissão. Para Fuente (apud IFAI, 2013),
(...) o fato de que ele tem autonomia constitucional não necessariamente a garante. É
chegado o momento de aproveitar a experiência dos últimos anos na criação ou reforço de
organismos autônomos e reconhecer que alguns de seus membros, para além seu valor
pessoal, têm chegado a ocupar essas delicadas tarefas como resultado de um processo de
cotas divididas entre os partidos políticos (IFAI, 2013, p.15, tradução nossa).
Em relação ao uso que os jornalistas têm feito da lei de acesso a informação no México,
segundo dados da Diretoria-Geral de Coordenação e Vigilância, no período entre 12 de junho de
2003 e 17 de outubro de 2012, o Instituto Federal de Acesso à Informação Pública registrou 841.884
pedidos de acesso à informação. Em 47.063 (5,59%) pedidos, o solicitante se declarou pertencente a
algum meio de comunicação. Cerca de 28 mil desses pedidos tiveram resposta favorável. Em 6,7%
desses casos, pouco mais de 3 mil pedidos, os solicitantes consideraram as respostas insatisfatórias
e apresentaram recursos ao IFAI. Em contrapartida, em 1.678 recursos ao IFAI, os solicitantes já
haviam recebido alguma informação. Para Delarbre (apud IFAI, 2013), os solicitantes de pedidos de
acesso à informação ligados a meios de comunicação têm sido um pouco mais ativos que os
requerentes em geral, para propor recursos e reclamações ao IFAI.
Além do fato de serem todas as informações requeridas feitas por jornalistas, mas também
por pessoal administrativo ou proprietários de empresas de mídia que se declararam jornalistas,
acrescente-se o fato de que nem todas as requisições foram voltadas à satisfação de uma
necessidade de produção jornalística. Isso se observa porque, com base nos pedidos deferidos, a
média de matérias correspondentes seria de 250 matérias por mês. Número distante da realidade dos
principais jornais mexicanos.
Os editores ou repórteres podem ter considerado o tema insuficiente para ser publicado ou
simplesmente a informação recebida não atendeu às expectativas para publicação. Em
muitos casos, depois de semanas ou meses de espera pela resposta, a matéria que levou ao
pedido de informação pode ter envelhecido, principalmente levando-se em conta os ritmos
urgentes do jornalismo (IFAI, 2013, p. 53, tradução nossa).
Quanto à capacidade do IFAI de fazer cumprir suas decisões, Fuente (apud. IFAI, 2013)
afirma: “já vimos que ‘dar ciência’ às instâncias correspondentes sobre as irregularidades detectadas
não tem muito efeito, não leva a nenhuma parte. Isso porque, de 2006 até 2013 nenhuma sanção foi
aplicada em função das violações denunciadas pelo IFAI” (IFAI, 2013, p. 15).
Considerações finais
Este artigo situou os limites e desafios da Lei 12.527, de 2011, quanto à ausência de um
órgão independente de supervisão e análise recursal dos pedidos de acesso a informações públicas
no Brasil. Em primeiro lugar, tratamos das regras relacionadas à apresentação de recursos quando o
solicitante entende que o pedido foi insuficiente ou quando o pedido de acesso foi negado. Em
segundo lugar, foi mostrado o modelo adotado no México, considerado um exemplo de
implementação da lei de acesso. Foi dada ênfase a alguns desafios que têm impedido o pleno
exercício do direito de acesso no México.
Segundo o Ouvidor-Geral da União no período entre 2012 e 2014, José Eduardo Romão, é
indispensável compreender que, mesmo com estudos apontando para a necessidade do Brasil ter um
órgão independente, é preciso questionar: “Será que no Brasil não é possível ter um órgão como o
IFAI/INAI em razão, dentre muitos aspectos, dos impedimentos impostos pelo patrimonialismo e
pelo coronelismo que vigoram no país e prevalecem sobre a distribuição do poder e da
comunicação?” (informação verbal2).
Também no que se refere ao modelo adotado no Brasil, Romão sinaliza para a existência de
garantias e deveres dos servidores públicos que atuam na CGU, de modo a ampliar a adoção de
critérios técnicos no julgamento dos recursos, para além do uso de critérios políticos. Em
contrapartida, como visto acima, apesar de o INAI ser um órgão autônomo, as nomeações e
contratações dos servidores não conferem independência às decisões, especialmente pela
possibilidade de sanções em caso de um servidor revelar informações com algum grau de sigilo.
Diante dos limites apresentados pelos dois países, nota-se que a consolidação da lei de
acesso à informação vai além de desafios institucionais ou de ordem normativa. Aspectos ligados à
cultura da transparência, de gestão documental, de interpretação da norma e relativos à participação
da sociedade civil, de pesquisadores e de jornalistas são fundamentais para bem avaliar os avanços
2 Comentário fornecido por José Eduardo Romão, na 2.ª Escola de Verão Pesquisa em Comunicação na América Latina,
em Brasília, em março de 2015.
trazidos pela norma e os espaços para a melhoria. Somente com a junção desses fatores será
possível o desenvolvimento e o fortalecimento de habilidades que tanto a transparência quanto o
acesso a informações públicas requerem.
Referências:
BRAMATTI, D.; GALLO, F. Lei de Acesso está entre as 30 melhores. O Estado de São Paulo, São
Paulo, 25 mar. 2012. Entrevista. Disponível em: http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,lei-
de-acesso-esta-entre- as-30-melhores-imp-,853010. Acesso em 15 mai 2013.
BRASIL. Lei de Acesso à Informação. Brasília: Presidência da República, 2011. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm.
BRASIL. Decreto nº 8.109, de 17 de setembro de 2013. Diário Oficial da União, Brasília, 18 set.
2013. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D8109.htm#art6.
CUNHA FILHO, Marcio Camargo; XAVIER, Vítor César Silva. Lei de Acesso à Informação:
teoria e prática. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.
DUTRA, Luma Poletti. Direito à informação em pauta: os usos da lei de acesso por jornalistas.
2015. 141 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Faculdade de Comunicação, Universidade
de Brasília, Brasília, 2015.
IFAI. Instituto Federal de Acceso a la Información Pública. Los critérios y resoluciones del IFAI.
2008. Disponível em:
www.ifai.org.mx/descargar.php?r=/pdf/ciudadanos/sitios_de_interes/estudio/&a=Criterios%20y
%20resoluciones%20del%20IFAI.pdf. Acesso em: 20 set 2014.
MOURA, Maria Aparecida (Org). A construção social do acesso público à informação no Brasil.
Contexto, historicidades e repercussões. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
REIS, Lígia Maria de Sousa Lopes. A lei brasileira de acesso à informação e a construção da
cultura de transparência no Brasil: os desafios para a implementação da norma e o agir
comunicativo no enfrentamento da opacidade estatal. 2014. 151f. Dissertação (Mestrado em
Comunicação) – Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília, Brasília, 2014.
ROTHBERG, Danilo; NAPOLITANO, Carlo José; RESENDE, Letícia Passos. Estado e burocracia:
limites de aplicação da Lei de Acesso a Informações no Brasil. Revista Fronteiras: estudos
midiátivos, v. 15, n. 2, p. 108-117, 2013.
Nuevos marcos regulativos para la comunicación comunitaria en Uruguay
Construcción de autonomía en las organizaciones sociales
Introducción
1
marco regulativo busca promover el derecho a la libre expresión, al acceso y la
producción cultural, así como el derecho de todos los ciudadanos a la información y la
comunicación. En este contexto, y con el desarrollo de la televisión digital, el gobierno
de este país definió la asignación de señales televisivas para la gestión de tres tipos de
operadores: públicos, privados y comunitarios. Se entiende así, el sector público como
aquél integrado por órganos gestionados por las instituciones estatales (ministerios,
gobiernos nacionales y municipales y demás entidades); por otro lado, el sector privado
integrado por asociaciones que persiguen un fin económico; y finalmente el sector
comunitario gestionado por organizaciones sociales que no buscan percibir lucro de su
actividad.
La tentativa es por una distribución equitativa del espectro radioeléctrico que,
como bien público, albergue y equilibre la diversidad de intereses y necesidades de
todos los sectores de la sociedad. Con la pretensión de establecer una comunicación sin
privilegios se busca dar voz incluso aquellos que históricamente fueron excluidos de la
representación masiva. Dar un orden alternativo al espacio comunicativo con nuevas
reglas y nuevos actores creando otras palabras, otras imágenes y sentidos que atraviesan
otras subjetividades, implica el cuestionamiento de formas arraigadas de pensar y
desarrollar la comunicación. Principalmente implica la posibilidad de ejercer la
comunicación como un derecho de todos los individuos, quebrando dicotomías que atan
lo público y lo estatal con lo gubernamental y con intereses privados; que piensan el
desarrollo de lo cultural ligado al lucro económico; que privilegian discursos como
válidos desacreditando posturas y visiones; y que confunden la regulación con la
limitación de la libertad editorial.
Con la adopción de un sistema de televisión digital, Uruguay ha definido asignar
al Plenario Intersindical de Trabajadores − Convención Nacional de Trabajadores (PIT-
CNT) una señal para el desarrollo de un canal comunitario. Creemos pertinente pensar
si el hecho de que las organizaciones sociales tengan la posibilidad de gestionar su
propio canal televisivo contribuye a resignificar la participación social, dando espacio
para el ejercicio y construcción de autonomía de tales actores. Podríamos así cuestionar
si el hecho de que se construya un espacio para la comunicación comunitaria contribuye
con la creación de nuevas esferas de participación y autonomía.
Así como lo desarrolla Cicilia Peruzzo (2013) podríamos caracterizar las
organizaciones y movimientos sociales desde diferentes concepciones y significados
según las realidades socio-políticas actuales. De este modo y así como lo expresa la
2
autora,
Na formação dos movimentos sociais há a confluência de identidades, na
visão de Manuel Castells (2000, v.2, p23-24), necessárias na articulação dos
movimentos sociais pois organizam significados. Elas podem ser
classificadas legitimadoras (introduzidas pelas instituições dominantes no
intuito de manter a dominação), de resistência (criadas por atores que se
sentem ameaçados pela estrutura de dominação, como por exemplo as
gangues) e identidades de projeto (forjadas por atores para construir uma
nova identidade capaz de redefinir sua posição na sociedade e transformar a
estrutura social). (Peruzzo, 2013, p. 164)
Considerando esto, queremos pensar en este trabajo sobre los espacio de las
organizaciones sociales que actúan no sólo para resolver sus necesidades materiales
concretas, sino que también generan prácticas que buscan proponer otros modos de
organizar la sociedad. Como lo explica Alfredo Falero (2008) la construcción de
derechos, surgida desde los gobiernos o mismo desde las organizaciones sociales,
aunque pensada con el objetivo de atender a la sociedad en su conjunto, acaban
favoreciendo, muchas veces, intereses meramente privados. Es entonces que queremos
pensar el desarrollo de la comunicación como herramientas de aquellos sectores
organizados de la sociedad que proponen y buscar practicar modos alternativos de
entender la sociedad.
3
esfera de lo público. El desarrollo del Estado moderno constitucional creó a su interior
un conjunto de instituciones autónomas que se constituyeron como órganos de
representación, configurando así nuevas formas políticas. De esta manera, y en la
medida que la forma de los Estados se hacían más compleja, surgían mecanismos de
instalación y reproducción del poder no directamente coercitivos.
La burguesía es, según Habermas (2003), la primera clase gobernante cuya
fuente de poder surge independiente del control del Estado. La esfera pública burguesa
puede ser entendida inicialmente como la esfera de las personas privadas que exigen de
las leyes generales respuestas a su necesidad de desarrollo en el intercambio de
mercancías. El surgimiento de esta esfera estuvo basado en el principio de acceso
universal de todos los individuos a los llamados bienes comunes. Sin embargo, la
misma constitución y noción de esfera pública, significó la restricción de ésta a aquellos
individuos instruidos y de elite. La esfera pública, entonces, desde su gestación, se
yuxtapone a la esfera privada, teniendo una actuación política que media, a su vez, con
el poder estatal, bajo la pretensión de que éste responda sus necesidades.
A partir del siglo XX la apertura de espacios de participación política ha
significado un rol activo por parte de la sociedad civil, la cual, y siguiendo las
conceptualizaciones de Antonio Gramsci (2001), no actúa sólo para legitimar la
formación social del Estado, sino que se configura como un espacio donde se disputa la
supremacía de un proyecto social determinado.
Las diversas experiencias militantes que procuran establecer formas más
democráticas para la definición de los espacios de comunicación, reorganizando la
asignación de medios y estableciendo nuevos marcos regulativos para la instalación de
nuevos sentidos, muestran cómo la sociedad civil , como el tercer sector en general
ausente, gana hoy en las diferentes negociaciones un lugar con mayor protagonismo.
Podemos entender este hecho como algo no menor si pensamos que estas definiciones
pretenden tener incidencia sobre temas complejos que generan posiciones opuestas, al
querer establecer las bases sobre las cuales se asienta una comunicación democrática y
las formas cómo se estructuran los medios de comunicación.
En la última década, en el marco de los últimos gobiernos democráticos, y a
partir de diferentes decisiones políticas, se ha resignificado en la región latinoamericana
la participación social, concediendo espacio para el ejercicio y la construcción de
autonomía en ciertos sectores. Han emergido paralelamente al poder institucionalizado
nuevas alternativas de participación. La imposición de soluciones concretas “desde
4
abajo”, a través de afirmaciones locales, de búsqueda de respuestas propias frente a
necesidades sentidas, pone en duda las soluciones que el sistema ha dado hasta el
momento, agotándose y haciendo necesaria la búsqueda de alternativas a su orden
propuesto. En este sentido, puede considerarse la existencia de diversas expresiones de
las organizaciones sociales como manifestaciones que, en alguna medida, buscan
combatir antiguas condiciones de dominación -colonial, étnica, de clase, de género- aún
presentes en la sociedad actual. Estas expresiones se configuran potencialmente como
formas de contestar un orden establecido (Renna, 2014).
La complejización de los Estados, a partir del siglo XX, determinó que la
relación directa que existía entre las esferas económica y política pasase a estar mediada
por la construcción y afianzamiento de una esfera donde actúa la sociedad civil. La
construcción de una esfera privada separada del Estado, surge de una necesidad de la
burguesía por preservarse y afianzarse como clase dirigente. Su vínculo con el espacio
público estatal se construye bajo la pretensión de que éste se preste para el desarrollo de
sus necesidades, sin ser un obstáculo para su expansión. La creación de un Estado de
derecho, controlado por la sociedad para que éste no exceda su función de guardián de
las libertades individuales, funciona como instrumento legitimo para garantir un orden
que se presenta como natural para el desarrollo de las relaciones económicas
capitalistas. De esta forma, se separa y construye un ámbito de la sociedad civil con
sentido privado (Acanda, 2002). Desde esta concepción de espacio privado, la sociedad
civil se configura también en defensa de los intereses de un grupo restricto y no
construye, por tanto, necesariamente sentido comunal. Es teniendo en cuenta estos
elementos que queremos pensar aquí la constitución de una esfera pública y su
configuración como espacio donde actúa la sociedad civil.
Como lo explicábamos, las iniciativas de la sociedad civil no necesariamente
implican la generación valores de igualdad, pero sí pueden pensarse como espacios
donde éstos, potencialmente, son desarrollados. Es en este sentido, y en referencia a
nuestro objeto de estudio, que debemos pensar cómo se desarrolla un espacio de
comunicación comunitaria en el ámbito de las organizaciones sociales, siendo que éste
es un medio de expresión de los intereses de los trabajadores sindicalizados. Es preciso,
a través de las presentes líneas de análisis, cuestionar de qué forma se crea una esfera
pública que defiende valores de comunidad, buscando comprender además si son los
trabajadores organizados capaces de generarlos. Por otro lado, nos surge pensar en la
importancia de la constitución de una sociedad civil movilizada en la promoción de
5
transformaciones sociales; una sociedad civil que se desmasifica, se corporiza y gana
visibilidad en la medida que reconoce su fuerza en vínculo con la existencia de la
sociedad política.
Antonio Gramsci entiende el Estado conformado por una sociedad política
configurada por los aparatos administrativos, represivos y burocráticos, y una sociedad
civil constituida por aparatos privados de hegemonía, siendo éstos organizaciones e
instituciones políticas, educativas, jurídicas, comunicacionales, culturales y religiosas
(Semeraro, 1999). Estas dos esferas están íntimamente ligadas y una depende de la otra.
Para Gramsci la sociedad civil es el lugar donde se decide la hegemonía, donde se
conforma el proyecto de sociedad y es elaborada y difundida la ideología. Es en el
ámbito de la sociedad civil donde se legitiman los valores que dan forma a un tipo de
sociedad determinada, y es en este campo donde son rebatidas y negociadas las
particularidades políticas, culturares y económicas.
De esta forma, podemos decir que una clase logra su supremacía sobre otra, no
sólo por medio de la coerción y la dominación, sino que a través de conciliar su
dirección intelectual y moral. Debe ser distinguido, entonces, el concepto de
dominación del de hegemonía, “el dominio se expresa en formas directamente políticas
y en tiempos de crisis por medio de una coerción directa o efectiva. Sin embargo, la
situación más habitual es un complejo entrelazamiento de fuerzas políticas, sociales y
culturales” (Williams, 2000, p. 129). Es decir, la hegemonía no se da como forma de
dominación directa, estable y definitiva, sino que se mantiene siendo continuamente
recreada y defendida.
Construcción de autonomía
6
Aníbal Quijano (2014) entiende que la sociedad en la actualidad está
configurada fuertemente por dos formas constituidas en lo privado-capitalista y lo
estatal-capitalista. Estos dos tipo de relaciones buscan, a través de diferentes estrategias,
un mismo objetivo: controlar el capital y obtener poder político-económico.
Lo que es, sin embargo, sorprendente, es que aún bajo esas condiciones, las
prácticas y las instituciones del nuevo privado-social y de sus instituciones
públicas-no-estatales, existen, se reproducen, aumentan de número y de tipo,
y se van convirtiendo en una nueva y vasta red de organización de una nueva
“sociedad civil”. (Quijano, 2014, p. 720)
7
Los esfuerzos de las organizaciones por configurar modos sociales más
democráticos, considerando la existencia de espacios de comunicación que promuevan
la libertad de expresión, se han dado tras una batalla de ideas y una lucha por establecer
nuevas formas de relaciones culturales. El trabajo intelectual de pensar la creación de
una Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual ha significado una reflexión acerca
de las necesidades sociales más allá de los sentidos que ha impuesto el monopolio o el
oligopolio de los medios de comunicación. La exclusión a ciertos sectores en la
participación de definiciones políticas implica limitar la reflexión y construcción de lo
social. Por mucho tiempo los discursos de las organizaciones sociales han quedado, a
través de prácticas de comunicación en los medios tradicionales, excluidos de la escena
pública. En muchos casos los discursos dominantes los han absorbido como
representaciones para sí, resignificándolos y anulando su poder de rebatir sentido. Es
preciso considerar que,
Un elemento cultural residual se halla normalmente a cierta distancia de la
cultura dominante efectiva, pero una parte de él, alguna versión de él -y
especialmente si el residuo proviene de un área fundamental del pasado- en
la mayoría de los casos habrá de ser incorporada si la cultura dominante
efectiva ha de manifestar algún sentido en estas áreas. Por otra parte, en
ciertos momentos la cultura dominante no puede permitir una experiencia y
una práctica residual excesiva fuera de su esfera de acción, al menos sin que
ello implique algún riesgo. Es en la incorporación de lo activamente residual
-a través de la reinterpretación, le disolución, la proyección, la inclusión y la
exclusión discriminada- como el trabajo de la tradición selectiva se torna
especialmente evidente. (Williams, 1997, p. 144)
8
La constitución de una esfera pública de carácter burgués aunque proyectada con
la pretensión de ser un espacio de creación de democracia, acaba favoreciendo, sobre un
criterio de formación cultural y por el sentido de propiedad privada, la exclusión de
ciertos intereses en detrimento de otros.
Debe reconocerse que la creación de la esfera pública se ha configurado en base
a una determinación de las lógicas del capital, extendidas éstas, a partir del siglo XX, a
todas las esferas de interacción social. Según lo explica César Bolaño (2013) haciendo
una lectura en base a una perspectiva de la Economía Política de la Comunicación,
9
políticas públicas que reglamenten los medios de comunicación, si éstos no contribuyen
a repensar las lógicas mediante las cuales se configuran históricamente los medios de
comunicación, encubriendo la existencia evidente de desigualdades y desajustes en
cuanto al acceso de derechos sociales fundamentales. Así como lo expresa Bolaño
(2013) “cuando mayor es el número de los capitales individuales o de las instituciones
pública que participan del monopolio de la información, más se refuerza la apariencia
de igualdad” (Bolaño, p.70).
En la actual etapa de desarrollo del capitalismo, en la cual se prima el consumo
sobre la creación autónoma de productos y necesidades, cobra real importancia el hecho
de que las organizaciones sociales creen sus propios contenidos a través de una estética
que responda a sus particularidades. Es decir, que la nueva configuración del espacio
comunicacional, no debe solamente garantizar el acceso a los medios y circuitos de
distribución, y claro que esto es fundamental, pero, especialmente las organizaciones
precisan crear significados propios.
A modo de cierre
La comunicación de masas dirigida a un público tan genérico que no define las
diferencias de clases, sino que por el contrario tiende a homogenizar individuos con
necesidades y expectativas muy diferentes, no contribuye a destacar las contradicciones
que el sistema capitalista genera. Es necesario, entonces, que una comunicación de los
trabajadores actúe también para quebrar una lógica capitalista presente en el
desenvolvimiento de los medios de comunicación.
El nuevo modo de regulación parece despertar la posibilidad para que las
organizaciones sociales asuman la construcción de su autonomía, considerando la
potencialidad de crear lo público como espacio donde se ejerza la democracia y la
igualdad entre los individuos. Para esto es importante generar formas de comunicación
alternativas que rebatan sentido a las configuraciones de Estado que sólo buscan la
reproducción del capital. Así como lo expresa Aníbal Quijano (2014) surge la
importancia de generar formas que salgan de la égida de lo estatal-privado, para
componer formas de lo social-privado que trasunten en la construcción de una cultura
más plural.
Podríamos decir que la estrategia política de establecer un proyecto de televisión
público y comunitario alternativo, dependerá del grado de participación social que se
logre promover. Esta participación no debe verse como utópica o deseable, sino que
10
practicable, actuante en cada puesta en práctica, en cada construcción de sentido. Los
medios de comunicación, productores de poder simbólico podrán funcionar potenciando
la accesibilidad de la población al ámbito de lo político, si consiguen que ésta tenga
protagonismo en la producción y en el intercambio de lo simbólico.
La promoción de espacios de participación comunitarios puede verse como una
tentativa por construir autonomía en aquellos sectores de la sociedad que se apropian de
ellos. Una vez que se crean espacios que priman en su organización el valor de lo
comunitario puede producirse la identificación de unos individuos con otros, que se
reconocen en el intercambio que la misma constitución de estos espacios produce. Es en
esos lugares donde el encuentro promueve el reconocimiento de subjetividades, insertas
éstas en un colectivo que comparte una misma construcción histórica. Los espacios de
comunicación comunitaria pueden verse como decisivos para el desenvolvimiento de las
potencialidades subjetivas y sociales, en la medida que construyen sujetos activos y
conscientes. Éstos siendo lugares de construcción de sentidos y no de recepción o
aceptación pasiva, fomentan individuos activos y no de sujetos indiferentes, que buscan
desde iniciativas creativas superar su condición, al mismo tiempo que proponen formas
alternativas de organizar la sociedad.
Referencias bibliográficas
11
KAPLÚN, Gabriel. Políticas de comunicación en Uruguay: agenda pendiente y agenda
pública. Derecho a Comunicar Nº 1, México, 2011. Disponible en:
http://www.derechoacomunicar.amedi.org.mx/.
12
Lei de acesso à informação e democracia digital: informação
como pilar para o desenvolvimento da condição feminina no
Brasil
Palavras-chave: Lei de Acesso à Informação; democracia digital; comunicação pública; direito das
mulheres; análise de conteúdo.
Introdução
No Brasil, dificuldades em acessar informações são reflexos da política corruptiva, do
Estado burocrático, de um período histórico político-militar e da cultura do segredo. Sobre essa
última característica, Rothberg (2015) afirma que foi fundada pela administração pública por
estratégias advindas do patrimonialismo e clientelismo. Entretanto, o direito à informação está
presente na Constituição de 1988 e, mais recentemente, em 2011, foi regulamentado pela Lei de
Acesso à Informação Pública (Lei 12.527/11).
Como um direito fundamental, o direito à informação tem o objetivo de promover outros
direitos e, assim, a Lei de Acesso à Informação (LAI) também tem a incumbência de disponibilizar
dados que ajudem a desenvolver a condição de grupos minoritários, como das mulheres, e também
a divulgar os programas e as políticas.
Frente a esse quadro, as características da Internet poderiam fomentar condições de
interatividade na política, estimulando uma democracia mais atuante, conhecida também por
accountability. O termo não é traduzido, mas tem o significado similar a responder por algo, se
encaixando no contexto de prestação de contas e responsividade. O’Donnell (1998) descreve dois
tipos de accountability: a vertical, que significa a prestação de contas por meio das eleições e
1
Formada em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, pela UNESP, é aluna regular do programa de Pós-Graduação em
Comunicação Midiática, na mesma instituição, na linha de pesquisa: Gestão e Políticas da Informação e da Comunicação Midiática.
1
reivindicações e movimentos de liberdade de expressão – para isso o acesso à informação é
preponderante –; e a horizontal, que é mais complexa e envolve agências e órgãos que têm a
capacidade de empreender ações do controle rotineiro da administração pública até a realização de
sanções. Desse modo, os cidadãos teriam oportunidade de se envolver com as políticas, discutir as
necessidades atuais e influir em medidas jurídicas que melhorem as vidas principalmente dos
grupos marginalizados. E esse papel é majoritariamente da comunicação pública. López (apud
KOÇOUSKI, 2012), pontua que a comunicação pública ocorre na esfera pública, que segundo
Habermas (1997), é a ambiência em que os indivíduos têm possibilidade de se expor e, a partir da
periferia, os problemas pessoais de um grupo se tornam pauta na administração institucionalizada,
se transformando em tema de interesse público. Segundo Matos e Nobre (2013), comunicação
pública, referente ao governo e a sociedade, é direcionada pelo interesse coletivo.
A indagação em busca de resposta e que une todas essas questões é como as tecnologias de
informação e comunicação podem auxiliar as mulheres 2 a buscarem os seus direitos e, assim,
transformarem uma sociedade com traços patriarcais. Essa pergunta é crucial para desenvolver um
panorama sobre comunicação pública digital específica para as mulheres no Brasil, principalmente
ao que se refere à disponibilização de informações em portais governamentais (.gov). Essa ideia
está prevista no artigo 8 da Lei de Acesso à Informação, que rege a disponibilização de conteúdo de
serviços e de prestação de contas pelos portais públicos governamentais. Mas a comunicação
pública digital deve ir além, propondo, por meio de ferramentas de comentários, chats, consultas
públicas e outras ferramentas, a participação social.
Esse tema, norteado pelas Ciências Políticas, tem o centro de discussão no direito de acesso
à informação como um componente da cidadania atual e do desenvolvimento da democracia digital.
Isso porque, parte-se da ideia de que o reconhecimento das políticas públicas é fomentado pela
comunicação pública (produzida pelo governo), em particular veiculada pela Internet. Esta pesquisa
é parte do desenvolvimento da dissertação de mestrado da autora, que pretende analisar e comparar
por regiões e estados brasileiros a integridade das informações das páginas de portais eletrônicos do
governo sobre políticas públicas para mulheres por meio da análise de conteúdo. O objetivo do
presente artigo, então, é refletir sobre os tipos de informações essenciais para a fomentação de uma
comunicação pública eficaz, desenvolvendo a democracia digital. Para isso, será utilizada a
pesquisa bibliográfica para aprofundar o tema Lei de Acesso à Informação e democracia digital, a
metodologia exploratória, com o intuito de observar o site da Secretaria de Políticas Públicas para
as Mulheres (SPM) (www.spm.gov.br); e a metodologia de análise de conteúdo (BARDIN, 1979)
para suscitar categorias importantes.
2
É possível entender a pesquisa como defesa dos direitos minoritários, já que não há aprofundamento sobre o tema de direitos das
mulheres no presente momento.
2
Lei de Acesso a Informação
É por meio da informação que a sociedade se instrui sobre as ações dos representantes e
também de como o dinheiro público é distribuído e manejado. Além disso, tem o potencial de
estimular os cidadãos a participarem de debates sobre políticas públicas e reformas úteis. Outro
aspecto em que a informação atua é na escolha dos representantes do Legislativo e Executivo em
uma democracia. Sem a liberdade de informação, os cidadãos não fomentam condições suficientes
para eleger conscientemente o seu representante, já que desconhecem as ações da administração,
das propostas, entre outros aspectos relevantes de um candidato. Ademais, o acesso amplo à
informação torna os governos mais transparentes, resultando em confiança por parte da sociedade e,
assim, consequentemente, em uma democracia mais consolidada.
O direito de informação possui três faces: o direito de informar, o direito de se informar e o
direito de ser informado (STROPPA, 2010). De forma genérica, a primeira perspectiva está
relacionada à liberdade de expressão e opinião; as outras estão associadas ao direito de acesso a
informações, pois se referem à busca do cidadão por dados de interesse individual ou coletivo e a
disponibilização voluntária de informações relevantes de empresas e órgãos públicos. “Sendo
assim, o direito ou liberdade de informação agrega não apenas a liberdade do emissor, mas também
o direito do destinatário de se informar e ser informado” (STROPPA, 2010, p. 71).
Por essa última perspectiva oriunda o movimento de regulação de acesso à informação, de
acordo com Michener (2011, p. 7): “Quase metade das leis de acesso do mundo foram promulgadas
nos últimos dez anos e apenas uma lei foi formalizada antes de 1950 (Suécia, em 1766)”. E foi no
século XX que o assunto passou para a esfera internacional. Organizações e grupos de países
passaram a discutir o tema, principalmente com o viés de direitos humanos. De acordo com Mendel
(2008), isso se deve às transições políticas para a democracia desde o início de 1990; os avanços
tecnológicos que mudaram as relações sociais e a informação; e a forma como a informação é
usada. “A tecnologia da informação melhorou, em termos gerais, a capacidade do cidadão comum
de controlar a corrupção, de cobrar dos líderes e de contribuir para os processos decisórios”
(MENDEL, 2008, p.4). O autor aponta esse fato ao aumento da demanda pelo acesso à informação3.
Na década de 1940, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o direito à
informação como um direito humano (Carta das Nações Unidas), reforçando a ideia da liberdade de
informação. Em 1948, com a Declaração dos Direitos Humanos, esse reconhecimento foi reforçado,
e está presente no artigo 19: “Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este
3
Apesar de cada vez mais ampliado o acesso, os aparatos tecnológicos estão economicamente disponíveis para um grupo restrito de
cidadãos, marginalizando muitas classes sociais que não têm acesso.
3
direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.
No Brasil, esse direito já estava previsto na Constituição de 1988, nos artigos 5, 37 e 216.
Mas, foi em 2011, que esse direito foi regulamentado com a promulgação da LAI, ou Lei de Acesso
à Informação.
A LAI é dividida em dois tipos de transparência: a ativa e a passiva. Na ativa, os órgãos
devem disponibilizar informações relevantes para os cidadãos de forma voluntária, mantendo os
dados e pesquisas atualizadas em suas homepages. Na passiva, são feitos pedidos de informações
específicas, que podem ser efetuadas através da ferramenta on-line E-Gov e também em locais
governamentais físicos, que são informados nos portais governamentais.
Além disso, a LAI conta com 47 artigos organizados em seis capítulos e é regida pelo
princípio de máxima divulgação, prevê o mínimo de restrições – apenas quando fere o direito
privado e de segurança nacional – e demanda sistemas para a disseminação das informações.
Este presente artigo tem a intenção de estudar a Lei em seu caráter ativo e, principalmente,
veiculado por portais eletrônicos. Por isso, faz-se necessário destacar o artigo 8 que prevê o dever
de órgãos e entidades públicas de promoção de informação ativa de interesse coletivo. No §1 o
dispõem o tipo básico de informação que deve conter nos informativos e sites disponibilizados por
esses órgãos: 1- institucionalmente oferecendo as competências e estrutura organizacional,
endereços e telefones das respectivas unidades e horários de atendimento ao público; 2- Prestação
de contas tornando visíveis os repasses ou transferências de recursos e o registro de despesas; 3-
Projetos públicos como informações concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive os
respectivos editais e resultados, bem como a todos os contratos celebrados; 4- Incentivo da
participação da sociedade disponibilizando dados sobre o desenvolvimento de programas, ações,
projetos e obras de órgãos e entidades; e as respostas a perguntas mais frequentes da sociedade.
Os parágrafos seguintes, do mesmo artigo, deixam claro o uso obrigatório para a divulgação
de informações em sítios oficiais de órgãos e entidades públicas, tornando optativa apenas a
municípios com população de menos de 10.000 (dez mil) habitantes. Além disso, o § 3 o preceitua
que esses sites devem atender aos requisitos:
4
IV - divulgar em detalhes os formatos utilizados para estruturação da
informação;
V - garantir a autenticidade e a integridade das informações disponíveis para
acesso;
VI - manter atualizadas as informações disponíveis para acesso;
VII - indicar local e instruções que permitam ao interessado comunicar-se,
por via eletrônica ou telefônica, com o órgão ou entidade detentora do sítio; e
VIII - adotar as medidas necessárias para garantir a acessibilidade de
conteúdo para pessoas com deficiência, nos termos do art. 17 da Lei no 10.098, de
19 de dezembro de 2000, e do art. 9o da Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência, aprovada pelo Decreto Legislativo n o 186, de 9 de julho de
2008. (BRASIL, 2011).
Democracia digital
A comunicação como um sistema cognitivo humano passou do plano oral para a escrita e,
atualmente, para o meio digital. Esse novo ambiente, que necessita de tecnologias ligadas à rede
mundial de computadores, transforma o modo de agir e interagir com a sociedade. E na política e
democracia não é diferente. Apesar de o Brasil presenciar a democracia representativa, o formato
digital desse sistema político pode contribuir para a participação e fiscalização dos cidadãos,
promovendo o empoderamento dos indivíduos. Do outro lado, a participação exige uma
transparência por parte dos representantes.
Em grego, “democracia” significa “poder do povo”, e pela experiência ateniense é que
surge, nos séculos V e IV A.C., o ideal do ser político. Nessa sociedade grega, o cidadão deveria
pertencer e participar ativamente da vida política e de seu círculo social (CORTINA, 2005). Para
Bezerra e Jorge (2010), no sistema democrático, cada pessoa tem soberania para atuar e deliberar
sobre uma decisão pública. A ação coletiva pela defesa de mesmos interesses era uma maneira de
deliberar de forma legítima ou, em última instância, promover o voto.
Se democracia é um termo que instiga muitas visões que não cabem ser debatidas aqui,
democracia digital também se desenvolve com muitas perspectivas. Silva (2005) determina cinco
graus de democracia digital que variam de um polo de baixa interação, em que o cidadão é um
receptor de informação e beneficiário de projetos facilitadores; a outro (quinto grau) em que se
torna, por assim dizer, um cidadão ateniense, substituindo o representante político. Desse modo
pode-se pensar em democracia digital desde boa governança à aproximação do representante e
5
representado e isso, conforme Bezerra e Jorge (2010), é atribuído a disponibilização de informações
adequadas e suficientes para possibilitar a ação cidadã.
Assim, democracia digital implica no governo eletrônico ou e-government, que disponibiliza
ferramentas para facilitar processos que os cidadãos são aptos a realizar e também promover a
participação. A Organização das Nações Unidas (2003, p.1) sintetiza o conceito como “utilização da
Internet e da Web para ofertar informações e serviços governamentais aos cidadãos”. No Modelo de
Governança para Inclusão Social, da ONU (2005), há a recomendação para os governos de
promover a diversidade no planejamento de projeto e ações, valorizando todos os grupos e
inserindo-os no contexto de participação política.
A ONU divulgou em 2014 um relatório com o ranking de países que são referências na prática
de governo eletrônico. A Coreia é o país que alcançou o maior desenvolvimento, seguido por
Austrália, Singapura e França e Holanda. Dentre os 25 países líderes, a maioria (dezesseis) está
localizada no continente europeu e no leste europeu (cinco). Na América Latina, o melhor
posicionado é o Uruguai (na 26ª posição), seguindo por: Chile (33ª posição), Argentina (46ª
posição), Colômbia (50ª posição), Costa Rica (54ª posição) e o Brasil (57ª posição). A ONU, por
meio da experiência das nações mais bem colocadas, apontou quatro indicadores que formam um
paradigma do governo eletrônico: preocupação com a disponibilização das informações; usar as
ferramentas para promover e divulgar os serviços públicos; possibilidade de interação e
participação; oferta de canais que proporcionem áudio, vídeo e comentários ou diálogo.
Carpentier (2012) destaca que participação não é sinônimo de interação e acesso, eles são
fatores que levam à participação, principalmente quando se trata de uma democracia digital. Para
definir participação, segundo o autor, é necessário pensar em democracia que se forma por três
complexos elementos: manifestações e variantes; a diferença entre a democracia teórica com a da
prática e a cultural; e a distinção entre a política e o político. “Uma das dimensões fundamentais que
estruturam os diferentes modelos democráticos é a dimensão minimizada versos maximalizada, que
subjaz a uma série de posições-chave na articulação da democracia” (CARPENTIER, 2012, p.
165)4. No viés minimalista, participação se ancora na noção de política institucionalizada. Ou seja,
quando se fala em mídia, o profissional que controla o conteúdo e a tecnologia tem um comando
superior ao público, fomentando, muitas vezes, a interação e não a participação de fato. Já no viés
maximalista, a democracia é tomada como um arranjo mais equânime de representação e
participação, em que são projetadas investidas visando à participação. Nessa dimensão, o político é
parte integrante do social, tornando a participação mais compreendida nos vários setores sociais e
4
Tradução livre.
6
culturais, como a mídia, tanto em nível macro quanto micro. Assim, a participação maximalista leva
à igualdade social.
Para que se tenha acesso e interação, as tecnologias da informação são fundamentais e
estabeleceram uma nova ordem comunicativa e de cognição. Braga (2007, p. 6) comenta sobre a
relevância das tecnologias para a transparência das ações da administração pública, cumprindo
“funções básicas para o fortalecimento das instituições democráticas, especialmente no sentido de
tornar mais transparente o processo decisório sobre políticas públicas de interesse comunitário”. É
possível que esse seja o aspecto mais importante para pensar a democracia digital a favor de grupos
minoritários, como as mulheres, no Brasil.
Informação disponível de forma transparente, ativa e objetiva pode promover um terreno fértil
para a construção de uma participação efetiva e maximalizada. Nesse sentido, com a intenção de
desenvolver a dissertação da autora, o item a seguir tomará o debate feito até agora sobre a LAI e
democracia digital e relatará o resultado da pesquisa exploratória e de análise de conteúdo feita no
portal eletrônico da Secretaria de Políticas para Mulheres. Para isso, é necessário discorrer
brevemente sobre a condição social-política das mulheres e descrever a metodologia de análise de
conteúdo e o resultado obtido por meio da análise das categorias.
Pesquisa exploratória
Tomemos a disponibilização de informações como aspecto fundamental para o
desenvolvimento da boa governança e, assim, da democracia digital e participação política de fato.
Desse modo, a Lei de Acesso à Informação, no Brasil, é preponderante para a edificação de um
modelo de governo eletrônico e do fortalecimento das políticas públicas para as mulheres.
Em termos de igualdade de gênero, as mulheres ao longo da história buscaram os seus
direitos. Durante o século XX, a condição política feminina evoluiu. No Brasil, as conquistas mais
significativas ocorrem a partir da década de 1970, quando há a formação de movimentos sociais
urbanos com a presença do sexo feminino, que depois conflui em movimentos feministas.
Por essas ações, na década de 1980, foram desenvolvidas as primeiras políticas públicas com
o recorte de gênero, como é o caso do Conselho Estadual da Condição Feminina (1983). Conforme
Farah (2004), as mulheres se mobilizaram e apresentaram a Carta das Mulheres Brasileiras para
estruturar propostas à nova Constituição de 1988. As sugestões se configuravam em termos de
saúde, família, trabalho, violência, discriminação, cultura e propriedade da terra.
Mais recentemente, em 2003, no governo do presidente Lula, foi criada a Secretaria de
Políticas para as Mulheres, que tem como principal objetivo promover a igualdade entre homens e
mulheres e combater todas as formas de preconceito e discriminação herdadas de uma sociedade
7
patriarcal e excludente. A Secretaria age em três linhas de ação: (a) Políticas do Trabalho e da
Autonomia Econômica das Mulheres; (b) Enfrentamento à Violência contra as Mulheres; e (c)
Programas e Ações nas áreas de Saúde, Educação, Cultura, Participação Política, Igualdade de
Gênero e Diversidade. Essa secretaria desenvolve um portal eletrônico (www.spm.gov.br) e será a
mídia base para a pesquisa.
O método envolvido contextualmente nesta pesquisa, o da análise de conteúdo, “em
concepção ampla, se refere a um método das ciências humanas e sociais destinado à investigação de
fenômenos simbólicos por meio de várias técnicas de pesquisa” (FONSECA JÚNIOR, 2006, p.
280). Apesar de ser uma técnica enraizada na ideia positivista, a inferência – conceito construído na
década de 1950 – permite classificações por deduções lógicas, tornando a análise de conteúdo mais
que um método descritivo, mas também qualitativo5 (BARDIN, 1979). Pela promoção de dados e o
panorama crítico do objeto, a análise de conteúdo terá a função de organizar as informações de cada
portal, para posteriormente ser possível realizar uma análise, na dissertação de mestrado da autora.
No presente trabalho, a metodologia se encontra na fase de categorização e, por isso, foram
utilizadas as páginas online de políticas públicas do site da Secretaria de Políticas Públicas em uma
pesquisa exploratória. Para isso, tomará como base teórica a Lei 12.527/11, a teorização sobre
democracia digital e accountability e a pesquisa de Rothberg (2014).
Da pesquisa bibliográfica presente na pesquisa e da pesquisa exploratória realizada no site
www.spm.gov.br surgiram as seguintes classes de informação contidas nas páginas governamentais
de cada estado sobre as políticas públicas e programas das mulheres:
1) Atualização da homepage (a periodicidade de atualização, principalmente, por meio de
notícias);
2) Predominância do conteúdo da página: institucional, de serviço, de notícia ou de pesquisa;
3) Presença de ferramentas de buscas e de interação, como possibilidade de comentar,
compartilhar em outro site de rede social, enviar dúvidas e sugestões e etc;
4) A presença de mecanismos e ferramentas que promovam a acessibilidade do conteúdo por
pessoas com deficiência na visão e audição;
5) Avaliação da informação de políticas públicas e programas governamentais, analisando
categorias adaptadas de Rothberg (2014)6:
- Antecedentes e diagnósticos subdividida em: (a) contexto social em que dada política se
insere; (b) condições econômicas; (c) cenário político; (d) Informações legais: deve ser identificada
a presença de leis, decretos, regulamentos e portarias relacionados a uma política.
5
É importante ressaltar que, como apresenta Lopes (2010), não há uma divisão entre pesquisa quantitativa e qualitativa, ambas se
complementam e se constroem juntas.
6
Foi retirada a categoria de Normas e padrões e na subcategoria Igualdade.
8
- Propósitos composta por: (e) objetivos e metas; (f) recursos e critérios de eficiência; (g) ações
realizadas e planejadas; (h) informações operacionais.
- Públicos e setores beneficiados formadas pelas categorias: (i) públicos-alvo; (j) instrumentos
de relacionamento
- Indicadores de impactos sociais composto por: (k) benefícios da política; (l) satisfação do
usuário; (m) igualdade.
- Indicadores de impactos econômicos: (n) eficácia; (o) efetividade; (p) custo-efetividade.
9
ausentes não eram pontuadas. A análise mostrou que a pontuação total foi de 63, ou seja, 43,75% do
valor ideal. A categoria com menos informação, de forma percentual com o máximo possível, foi a
Impactos Econômicos, que teve uma média de 14,8%; seguida de Impactos sociais (25%);
Propósitos e Públicos e Setores Beneficiados (55,5% cada); e Antecedentes e diagnósticos (61%).
As subcategorias: Satisfação do usuário (Impactos Sociais); Eficácia e Custo-efetividade
(Impactos Econômicos) não tiveram conteúdo disponível. Já Contexto social e Objetivos e metas
foram as subcategorias com o índice máximo, encontrados em todas as páginas.
O que foi percebido é que muitas das informações referentes aos resultados dos programas,
serviços ou lei, que tangem principalmente às categorias Impactos Sociais e Impactos Econômicos,
estão presentes em cartilhas e balanços periódicos publicados em formato impresso e
disponibilizado nas páginas em PDF, o que pode justificar a falta de informação dessas categorias
nas páginas. Já em relação a Contexto social e Objetivos e metas, subcategorias de Antecedentes e
Diagnósticos e Propósitos, há uma contextualização abrangente das políticas, por partirem de fatos
realmente relevantes e de repercussão, como é o caso da farmacêutica Maria da Penha; e também
objetivos visíveis de cada ação, sendo as metas não visíveis e também disponibilizadas em conteúdo
de formato PDF, quando presentes. O quadro a seguir se refere à pontuação de cada página:
O índice médio depreendido é 7,2, sendo que há três páginas com pontuação inferior à
média. A menor pontuação, de Pesquisas e publicações, é resultado da forma como as informações
são disponibilizadas no site, pois há a divulgação de 21 resumos de pesquisa e publicações em
parceria com outras organizações e empresas com a indicação de links para download para outra
mídia de caráter impresso em formato PDF, tornando reduzidas as informações na página analisada.
10
Outro aspecto observado e importante no contexto de políticas de combate à violência
doméstica é a ausência de informação na subcategoria “Satisfação do usuário”, em que promoveria
interação com a mulher que usufruísse dos programas e serviços. Além disso, informações como
essas promovem outras metas e o aprimoramento das políticas.
O que pode ser observado até o momento da análise, é que as informações disponíveis sobre
programas que combatem a violência doméstica contra a mulher contribuem para ações práticas das
usuárias, mas não são suficientes para promover a transparência. Nas cartilhas disponíveis essas
informações são mais completas, entretanto, nas páginas, por possibilitar uma linguagem interativa
e de fácil compreensão, alguns temas – como os relacionados a Impactos socias e, principalmente,
Econômicos – não são tratados de forma visível e simples.
Considerações finais
A exposição tornou clara a relação entre os conceitos de accountability, democracia digital,
participação e acesso à informação. Nesse sentido, a Lei de Acesso à Informação é um passo
importante para o Brasil na direção do desenvolvimento da accountability digital. Assim, as
categorias pontuadas são uma forma de visualizar como a LAI está sendo aplicada na comunicação
pública para desenvolver políticas e programas para grupos minoritários, como as mulheres.
Disponibilizar conteúdo de forma clara, objetiva, pautado na verdade, com informações
relevantes são os preceitos da transparência e que podem influir em uma democracia digital,
visando chegar à participação maximalizada. A informação, assim, é o primeiro passo para o
desenvolvimento de uma sociedade preocupada com a democracia e que tenham interesse em
participar, cobrar e dialogar com os representantes.
A violência doméstica contra as mulheres é um assunto delicado e que necessita ser
trabalhado com cuidado e de forma específica. Informações sobre “Satisfação do usuário”, por
exemplo, poderia ser disponibilizadas por meio de depoimentos de mulheres atendidas, pelas várias
mídias que a Internet possibilita e de forma anônima. Nesse caso, a informação promove confiança
para a mulher e, assim, tem potencial para que ela aja conforme os seus direitos.
Em relação principalmente às organizações civis que militam pela causa da mulher,
informações sobre custos e impactos são formas de tornar as ações transparentes e, assim, haver
uma aproximação entre sociedade e governo para a melhoria de políticas. Essa aproximação
também poderia ocorrer via Internet por meio de ferramentas de comentários, chats e fóruns,
ausente no site da Secretaria de Políticas para as Mulheres.
O que se conclui, desse modo, é que as páginas abrangem informações de caráter de
divulgação, o que já é algo relevante em uma sociedade patriarcal e machista de contribuir para a
11
consolidação dos direitos das mulheres. No entanto, por motivos desconhecidos, que podem ser
falta de recursos humanos e investimento ou pela própria cultura; o tema possibilita uma
comunicação mais dirigida, principalmente às mulheres, criando uma identidade mais sólida e
fazendo-as se sentirem representadas. O desafio, assim, é perceber como as categorias propostas
aqui são analisadas nos outros temas de políticas públicas para as mulheres.
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12
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brasileiras. Opinião Pública, Campinas, v. 11, n. 2, Oct. 2005.
14
Propuestas para el estudio del destinatario de sitios web y redes sociales de teatros
Resumen: Este artículo presenta los resultados de un estudio exploratorio de 6 sitios web oficiales
de teatros localizados en Chile, Francia y España. Sobre la base del análisis del discurso se indagó
en cómo se incorpora al destinatario. Se concluyó que la presencia discursiva del destinatario se
concreta a través del uso del nosotros inclusivo, la designación del usuario como espectador y
público, y el discurso referido a través de la citación en redes sociales. Asimismo, a través de los
perfiles oficiales de los teatros en redes sociales se generan interacciones entre espectadores, esto
permite una amplificación del destinatario. Desde un punto de vista numérico, es decir, en función
de todos los recursos que la web puede ofrecer (imágenes, videos del espectáculo, etc.) se intenta
llamar la atención del futuro espectador sobre cómo va a ser la puesta en escena, además de acceder
a una profundidad de información sobre el dramaturgo, los comediantes y el director.
Palabras clave: sitios web, redes sociales, destinatario, publico teatral, análisis del discurso.
Introducción
Es bien sabido que internet ocupa una buena parte de nuestro tiempo. CARDON (2010)
señala que esto se debe “al desarrollo de blog y de redes sociales, la generalización de usos de la
web, […], la penetración de útiles numéricos en un numero cada vez más importante de esferas
sociales, la diversificación de usos comerciales, lúdicos o prácticos de la web, entre otros”
(CARDON, 2010, P. 27, traducción personal [desde ahora T.P.]). El mismo autor habla de este
fenómeno como “la masificación de internet”. Esta constatación capta evidentemente la atención de
las Ciencias de la Comunicación y la Información. Sumado a lo anterior, Internet ha evolucionado
muy rápidamente en la última década, provocando una proliferación de sitios web cada vez más
específicos. ROUQUETTE (2009) asegura que “la práctica de la difusión en línea aumenta en
proporción más rápido que el de la lectura en línea, de 40 millones de sitios en marzo del 2003 se ha
pasado a más de 150 millones en 2008 (fuente www.netcraft.com), hay en promedio un sitio por
cada 6 internautas” (ROUQUETTE, 2009, P. 6, T.P.).
1.Aspectos tradicionales del análisis del discurso: los pronombres, la designación y el discurso
referido
En el caso de los pronombres partimos de la idea bien sabida que “no se puede interpretar un
enunciado que contenga “yo” y/o “tu” sin tomar en cuenta el acto individual de enunciación que lo
soporte” (MAINGUENEAU, 2007, p. 21, T.P.) Para efectos del corpus de estudio explicaremos
solamente el caso del tu, ustedes/vosotros/as y nosotros. El pronombre de “tu” en algunos casos
tiene la función de personalizar o generalizar. Al respecto MAINGUENEAU (2007) señala que “tu
se muestra con una característica de genérico que tiene por función personalizar enunciados de
valor general remplazando el sujeto universal (on en particular [en el caso del francés]) por un tu”
(MAINGUENEAU 2007, P. 24, T.P.)
En otros casos el “tu” funciona como genérico “todo ocurre como si el allocutorio por medio
del “tu genérico” estuviera constituido como una parte del proceso (beneficiario, victima)
2
(MAINGUENEAU, 2007, p. 25, T.P.). En lo que se refiere al pronombre de segunda persona plural
y segunda persona singular de cortesía “vous” en francés y “usted/es” o “vos/vosotros” en español.
Es bien sabido que este pronombre se utiliza tradicionalmente como cortesía, “en principio el “tu”
se opone al “vous” singular como una forma de familiaridad, de igualdad de distancia y de cortesía”
(MAINGUENEAU, 2007, p. 29, T.P.). Sin embargo, la alternancia entre “tu y usted” es mucho más
compleja y varía en función de la lengua y del país de donde esta lengua se hable. Lo que podemos
asegurar es que “dirigiéndose a alguien del modo “tu”, el enunciador impone un determinado
cuadro de intercambio verbal, cuadro que el receptor puede rechazar al precio de una reacción
agresiva. Decir “tu o vous” implica un solo movimiento: 1) darse a si mismo un cierto estatus, 2)
dar un cierto estatus a otro” (MAINGUENEAU, 2007, p. 29, T.P.). En lo que respecta al
“Nosotros”, éste pronombre es considerado tradicionalmente como un “yo” plural sin embargo
“esto no corresponde nunca, salvo en algunas situaciones muy marginales donde el relato o la
redacción son colectivas” (KEBRAT-ORECCHIONI, 2009, p. 45, T.P.).
Ahora bien, dentro de un determinado discurso se presentan diferentes voces que se agrupan
en la noción de discurso referido definido como “los diversos modos de representación del
discurso, palabras atribuidas a instancias otras que el locutor” (CHARAUDEAU ET
MAINGUENEAU, 2002, p. 190, T.P.). Dicho de otro modo, se trata de “los modos de
representación en un discurso de otro discurso” (AUTHIER-REVUZ, 1992, p. 38, T.P.). La
clasificación más clásica del discurso referido es la tripartición entre discurso directo, indirecto e
indirecto libre. Esta división opera en función de la concordancia de tiempo de los enunciados. Sin
embargo, como plantean CHARAUDEAU ET MAINGUENEAU (2002), la lengua tiene otros
modos de insertar el discurso de otros como la utilización de comillas, cursiva, la modalización por
envío a otro discurso (los dichos de…) y múltiples formas de alusión de discursos ya dichos. En
consecuencia, la tarea para identificarlos no es simple. El discurso directo ha sido tradicionalmente
definido como “un modo de expresión según el cual el narrador refiere a los propósitos de otro en
su forma original” (TRÉSOR DE LA LANGUE FRANÇAISE INFORMATISÉ). Sin embargo,
como plantea AUTHIER-REVUZ (1992) el discurso directo no es ni objetivo ni fiel, incluso si se
reproduce la materialidad exacta de un enunciado no se esta restituyendo el acto de enunciación. El
enunciador puede cambiar la manera de presentar el discurso citado, por ejemplo:
3
la expresión, en este sentido, se distancia refiriéndose a otra fuente enunciativa”
(CHARAUDEAU Y MAINGUENEAU, 2002, p. 191-192, T.P.)
El corpus exploratorio es definido como una primera entrada al objeto de estudio. Según
MOIRAND (1992), se trata de una mirada panorámica sobre el objeto que va luego construirse. En
este sentido, la metodología se establece a medida que el corpus de análisis se define. El corpus
exploratorio se construye gracias a la lectura flotante del corpus que, posteriormente, genera
6
reagrupaciones textuales que, a su vez, no están necesariamente fundadas en tipologías discursivas
preestablecidas.
En nuestro caso, construir un corpus exploratorio radica en dos necesidades principales. Por
un lado, efectuar una reflexión metodológica frente a la falta de técnicas discursivas que se adapten
al objeto. Por otro lado, afrontar la complejidad del análisis de datos provenientes de la web, en
particular, en lo que refiere al carácter volátil de los datos y por ende al registro. Con el imperativo
de formar un corpus representativo y estable que permita un análisis profundo, se corre el riesgo de
eliminar las características intrínsecas de la web como la heterogeneidad y volatilidad.
Heterogeneidad por una parte enunciativa ya que, en palabra de MOIRAND (2004), un texto puede
contener diferentes modos discursivos como la descripción y la explicación. Además, en un texto
que aparentemente corresponde a un solo enunciador, se puede incorporar el discurso referido o, en
general, dichos producidos por otros actores que son diferentes del enunciador. Por otra parte, la
web tiene una heterogeneidad de signos que es intrínseca. Por ejemplo, en una misma pagina puede
haber acceso a imágenes, videos, audio, tecnosignos, etc.
Para llevar a cabo esta investigación, recolectamos un primer corpus exhaustivo de un total
de 199 teatros y 1237 espectáculos. Frente al gran número de datos consideramos necesario
aproximarnos sobre la base de un estudio cualitativo para poder abordar con exhaustividad cada uno
de los recursos que un estudio sobre la web impone. Para ello, trabajamos en un primer momento
con 6 teatros 2 provenientes de Francia (Théâtre de la ville; Théâtre de la bastille, 2 de Chile
(Estación Mapocho y Matucana 100) y 2 de España (Centro dramático Nacional y Teatro español).
4. Primeros resultados
Gracias a una primera aproximación al corpus exploratorio, pudimos concluir que los sitios
web de teatro poseen una heterogeneidad de recursos para llamar la atención de los públicos. Por
ejemplo, las entrevistas con el director, las fotografías de los ensayos, los videos que funcionan
como Tráiler o Teaser, y los audios del espectáculo. Esto podría ser interpretado como una manera
de hacer parte previamente al destinatario de un aspecto fundamental en el teatro que es: “la mise en
scène”, difícilmente apreciable de modo exclusivamente textual.
Además, existen diferentes maneras de acceder a los espectáculos, ya sea a través de un
vinculo directo, como una fotografía y/o texto que aparecen en la página inicial, o a través del
despliegue de un menú con las rúbricas que el sitio ofrece. La rúbrica espectáculos de teatro es muy
variada y contiene una gama de estilos como: la danza, la acrobacia, la performance. Es por eso
que, al momento de la descripción, se reitera el tipo de espectáculo del cuál se habla.
7
La mayoría de los teatros contempla resúmenes para la prensa, vínculos con el sitio web
oficial de la compañía, del director, de los actores o, si es el caso, de la banda que compone la
música para la obra. Igualmente, todos tienen vínculos hacia una cuenta oficial de redes sociales
numéricas siendo las mas recurrentes Facebook, Twitter, YouTube (o, Dailymotion). Esto permite al
usuario hacerse “seguidor” o compartir el contenido en su perfil personal. A la vez, gracias a los
Tecnosignos, como hashtag y arrobas, el usuario puede profundizar el terreno de lectura o de
navegación.
En todos los sitios web estudiados, es posible comprar un ticket para asistir a un espectáculo,
además de abonarse a una lista de novedades que, en su mayoría, funcionan quincenalmente. Estos
recursos permiten dejar un rastro del usuario y enviar información más adecuada al perfil. La
identificación y estudio de los rastros del usuario varían en función de los recursos con los que cada
teatro cuenta para elaborar una propuesta de comunicación y de marketing.
Desde el punto de vista de la participación, se observa poca interacción con los usuarios,
ellos no participan agregando contenido nuevo, es decir, no son los propios destinatarios que van a
hacer una descripción del espectáculo. Solo uno de los sitios permite la incorporación de
comentarios al final de la descripción. Esto se debe, posiblemente, a que funcionan, exclusivamente,
como sitios de información que permiten acceder a los espectáculos de teatro que están en cartelera
y comprar entradas. Al contrario, se observan algunas formas de participación menos evidentes,
como por ejemplo al compartir contenidos hacia las redes sociales numéricas, los usuarios acceden
a formas de reacción usando el botón “me gusta” o “Twittear”. Una vez el contenido circula en las
redes sociales, la manera de comentar el contenido modaliza la forma de interpretación del
enunciado. En otros casos, los usuarios preguntan información relativa al espectáculo, como por
ejemplo el precio o la duración. Incluso, los usuarios suelen hacer comentarios del espectáculo bajo
la forma de una invitación a asistir.
Ahora bien, en el caso particular de Twitter, se observa una practica que reúne al público
teatral en un hashtag común “Tuiteatreros”, en el caso de España, o “Théâtrices”, en el caso
francés. Sobre esta forma, los usuarios recomiendan los espectáculos que están en cartelera de cada
ciudad. Cabe mencionar que en Twitter se genera una amplificación del destinatario gracias a la
utilización del arrobas que incorpora a los seguidores de otras cuentas. Frecuentemente, se cita a los
directores y actores, lo que permite convocar a sus propios públicos. Asimismo, algunos teatros
cuentan con al menos una repetición que contemple el encuentro con el público, generalmente, en
forma de diálogos posteriores al espectáculo con el director y los actores. Lo anterior denota un
trabajo de la parte de los teatros por conformar un público fiel, interesado en el tras bambalinas, el
proceso de creación, o la visión de los actores y de la compañía. Los encuentros, en algunos casos,
8
se transmiten a través de Twitter generando un hilo de conversación. Sin embargo, esto es una
práctica aun marginal y no metódica.
En lo que respecta la descripción del espectáculo, algunos textos están firmados por
personalidades de la cultura, otras por seudónimos, y otras no tienen firma. En su mayoría, las
descripciones plantean que el espectáculo “invita” a algo, semánticamente esto implica una acción
de la parte del objeto, en este caso del destinatario. A su vez, el destinatario se designa en su
mayoría como espectador/es y público/s. Sobre este aspecto, se destaca la reiterada utilización del
nosotros inclusivo que corresponde al hecho que el enunciador se configura, al mismo tiempo,
como espectador y enunciador, haciendo reflejo de lo que el lector del sitio debiera volverse. Lo
anterior, permite aproximar enunciador y destinatario. Sobre este mismo punto, incluso se expresan
cuáles serán las acciones que el espectador debiese emprender, una vez frente al espectáculo, como:
encontrar, comprender, reconocer, aprender, percibir, interesarse, todas ellas detonan nuevamente
una acción de su parte, dicho de otro modo, se trata de un destinatario espectador activo frente al
espectáculo artístico.
Para hablar del espectáculo, observamos una referencia a la decoración, la vestimenta, las
luces. Otras descripciones ponen el acento en la compañía, su trayectoria, el trabajo previo a la
puesta en escena. Otras, se focalizan exclusivamente en la obra dramática. Ahora bien, en lo
respecta la manera de designar el acto teatral, lo más utilizado es “obra”, con variantes como “obra
de teatro” u “obra coral”. Esta designación, desde un punto de vista artístico, se define como el
producto intelectual de una serie de acciones realizadas previamente.
Para referir a la calidad de la obra, se refiere a otros discursos generalmente denotados por
marcas gráficas. Sobre este punto, los discurso referidos que se reiteran son la palabra del
dramaturgo y de la prensa. Además, el enunciador se configura como un especialista, conocedor de
la compañía, del director y, de la trayectoria de los mismos. Lo anterior, podría deberse al la
necesidad de acreditar su opinión sobre el espectáculo.
Para terminar, no nos atrevemos aún a concluir sobre las diferencias que puedan existir entre
un país y otro, ni sobre el uso específico que cada teatro hace del sitio web y las redes sociales, en
función de la política cultural que cada país quiera llevar a cabo. Solo por citar un ejemplo, después
del golpe de estado en Chile se genera una fragmentación de la producción teatral y del público. Los
artistas fueron exiliados, y los actores debieron hacer frente a la censura. Lo anterior, afectaría, por
un lado, la manera en como se llevan a cabo las políticas culturales y, por otro lado, a la
convocatoria de un público teatral. Actualmente, realizamos una ardua investigación sobre el
discurso institucional que expresa cada país a través de las políticas culturales publicadas por los
ministerios respectivos.
9
Primeras conclusiones
En el marco particular del Análisis del Discurso los nuevos corpus provenientes de internet
han abierto nuevos campos de investigación. Como lo plantea DARBELLAY (2005) “la emergencia
de las Nuevas tecnologías de la Información y de la Comunicación y de Multimedia, ofrecen nuevos
campos de investigación para el Análisis del Discurso” (DARBELLAY, 2005, p. 28, T.P.).
Por su parte, FLOREA (2012) destaca que “las mutaciones tecnológicas de la última década
han modificado profundamente las prácticas discursivas, lo que trae consigo una serie de
interrogantes inéditas en el momento en que la imagen y el hipertexto son corolarios indisociables
del texto” (FLOREA, 2012, p. 45, T.P.). En este contexto, la incorporación de objetos numéricos ha
cuestionado nociones fundamentales para los analistas del discursos, como los géneros y los tipos
de discursos. (MAINGUENEAU, 2013; PAVEAU, 2015).
Asimismo, “la web ocupa un lugar como dispositivo socio-técnico en las sociedades del
siglo XXI” (BARATS, 2013, p. 5, T.P.), esto ha instalado en las Ciencias de la Comunicación y la
Información la pregunta sobre “cómo mesurar entre lo que constituye una simple adaptación de
practicas anteriores y lo que son aportes, transformaciones y lógicas específicas de la web”
(ROUQUETTE, 2009, p. 5, T.P.). En este sentido, los investigadores están de acuerdo en señalar
que hoy no es posible aplicar ni las mismas categorías de análisis, ni las mismas nociones teóricas a
este objeto complejo que es la web. Para ROUQUETTE (2009) “los métodos y los conceptos
disponibles generados por el análisis de los medios y las herramientas de comunicación clásicas no
son siempre adaptables” (ROUQUETTE, 2009, p. 7, T.P.). Por lo tanto, abordar la web constituye
un desafío, por un lado, frente a la falta de métodos aplicados al objeto y, por otro lado, frente a un
campo de investigación que se actualiza rápidamente en función de las renovaciones propias de
Internet.
En este marco, un análisis de corpus exploratorio nos permitió, por un lado, establecer
categorías ajustadas a los datos, sobretodo cuando estamos frente a corpus mixtos conformado por:
hipervínculos, imágenes, videos y textos. Por otro lado, nos permitió concluir que el público de
teatro es incorporado en el sitio web, tanto discursivamente como a través de los recursos que la
propia web ofrece. En particular, la rúbrica de programación convoca a una multiplicidad de signos
que funcionan en conjunto para llamar la atención del posible espectador. Asimismo, es patente la
incorporación limitada, de la voz del público en el sitio web oficial de cada teatro. Al contrario, la
interacción se efectúa en las redes sociales que sirven como soporte al intercambio, en particular, en
10
el caso de espectadores asiduos. Esto amplifica al destinatario y difunde ampliamente el
espectáculo.
Esperamos sobre la base de este artículo poder contribuir en el desarrollo de investigaciones
que se orienten a la comunicación numérica en América Latina para poner a dialogar puntos de
vistas provenientes de horizontes diferentes.
Referencias
BEACCO, J.-C.; MOIRAND, S. Autour des discours de transmission des connaissances. Langages,
v. 29, n. 117, p. 32-53, 1995
CROVI, D.; AGUIRRE D.; APODACA J.; CAMACHO O. Pagina web. Una propuesta para su
análisis. Revista Mexicana de Ciencias Políticas y Sociales, XLV, Nº185, p. 167-185, 2002
11
ERTZSCHEID, O. ; GALLEZOT, G. ; SIMONNT B. À la recherche de la « mémoire » du web :
sédiments, traces et temporalités des documents en ligne. In : BARATS, C., Manuel d’analyse du
web. Paris, Armand Colin, p. 53-73, 2013
FLOREA, M. Faire une thèse d’analyse du discours, troisième génération. Revue Langage et
société, vol 2, n° 140, p. 41-56, 2012
MAINGUENEAU, D. Genres de discours et web : existe-t-il des genres web ? BARATS C.,
Manuel d’analyse du web. Armand Colin, Paris, p. 74-97, 2013
MOIRAND, S. L’impossible clôture des corpus médiatiques. La mise au jour des observables entre
contextualisation et catégorisation. Revue Tranel, nº 40, p. 71-92, 2004
PAVEAU, M. Ce qui s’écrit dans les univers numériques. Itinéraires, p. 2-19, 2015
12
13
LIVROS, TEORIA E JOYSTICK: A INSERÇÃO DO NEWSGAME
COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO DA ÉTICA
JORNALÍSTICA
Carlos Marciano1
1. Introdução
1
Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina
(Posjor/UFSC). Graduado em Jornalismo pelo Bom Jesus/Ielusc (2012). Pesquisador do Observatório da Ética
Jornalística (objETHOS) e do Núcleo de Estudos e Produção Hipermídia Aplicados ao Jornalismo (Nephi-Jor);
carlosnmarciano@gmail.com
e ler nos impressos as novas notícias velhas coletadas no dia anterior. A dinâmica da internet e a
disseminação das redes sociais permitem que qualquer pessoa poste um fato noticioso
instantaneamente, e a máxima de que uma imagem vale mais que mil palavras nunca foi tão
utilizada como em tempos digitais.
Diante desse quadro a academia precisa lidar com dois fatores: formar profissionais que
dominem as ferramentas estando assim aptos a exercer suas funções no ambiente digital e, em meio
à instantaneidade da informação, exercitar no estudante o pensamento crítico para filtrar o que é de
fato relevante de ser noticiado, estimulando antes de qualquer postagem os princípios básicos da
apuração e a busca pela veracidade dos fatos.
A ética jornalística é o princípio que orienta essas ações e na academia essa disciplina
normalmente é teórica. Embora em outras disciplinas o estudante tenha a oportunidade de
praticá-la, a base das aulas de ética é formada por textos e exemplos que não devem ser
seguidos, como reportagens cuja apuração apresentou casos de deslizes éticos.
O jornalista sai da graduação com conhecimentos básicos sobre como escrever um
lead, o que cada coluna representa na lauda do telejornalismo, ou como escrever um roteiro
que será lido no rádio. O trabalho fica facilitado quando o mercado exige do profissional a
técnica aprendida e vivenciada em sala de aula.. Já, a ética jornalística é mais complexa,
exige reflexão, não ações mecânicas. Aliás, é a primeira que deve pautar a segunda.
Normalmente a disciplina “Ética Jornalística” é ministrada nos primeiros semestres da
graduação e as disciplinas práticas, nas quais o aluno poderá exercitar o que aprendeu sobre
deontologia jornalística, ficam para os semestres seguintes. Essa diferença de tempo entre
assimilação e ação pode dificultar o aprendizado dos princípios éticos e uma possível solução
para essa dicotomia seria unir teoria e prática dentro da mesma disciplina. É justamente aqui
que jogos e jornalismo podem se unir em um bem comum, onde os newsgames podem se
apresentar como um recurso pedagógico lúdico para o ensino da ética jornalística.
2- O Ensino da Ética
Antes mesmo da internet e dos jogos eletrônicos, Huizinga (2008) já defendia a ideia
que o jogo está contido na natureza de cada ser vivo. Afirmou que "em toda a parte
encontramos presente o jogo, como uma qualidade de ação bem determinada e distinta da
vida 'comum'" (Huizinga, 2008, p.7).
Por muito tempo os jogos foram vistos apenas como entretenimento. Contrariando
esse estereótipo, cada vez mais eles estão sendo utilizados em outras instâncias. Assim
algumas categorias são aceitas para classificar os games: Jogos de Marketing (Advergames),
Jogos de Simulação (Simulation Games), Jogos de Saúde (Health Games), Jogos Políticos
(Politic Games) e Jogos Educativos (Educational Games).
Dentro da prática pedagógica, esses jogos que trazem à tona assuntos de interesse
amplo, enquadrando-se no conceito de “jogos sérios”, proposto por Eduardo de Martin Silva
(2008) “Ao ver representadas temáticas vinculadas a questões do mundo em que vive, o
jogador encontra mais argumentos que o incentivam a encontrar as soluções mais adequadas
a cada problema apresentado, como que em uma transferência mútua entre os suportes físico
real e o digital” (SILVA, 2008, p.82).
Pode-se trazer ainda para a compreensão dos jogos educativos as filosofias Instrutiva
(Games-to-teach) e Construtiva (Games-to-learn). Tais termos foram cunhados por Yasmin
Kafai (2001). A primeira concepção significa “Jogos para Ensinar”, trata-se da transmissão
direta dos conhecimentos -por exemplo, Quiz2 e jogos de tabuadas. A segunda, “Jogos para
Aprender”, foca-se na aprendizagem aprofundada pelo aspecto lúdico, no qual o jogador
precisará imergir na história e coletar informações ou objetos para resolver a incógnita
-como em jogos estilo ARG3.
2
Jogos em forma de questionário
3
ARG é uma sigla em inglês para Alternative Reality Game (Jogo de Realidade Alternativa), uma espécie de
disputa virtual. Estilo de RPG online, feito apenas com palavras e textos que misturam realidade e ficção
atraindo pessoas por sites e fóruns de discussão na Internet. Um ARG inicia quando uma é pista lançada,
geralmente em um site. Começam a circular boatos na Internet, até que alguém toma a iniciativa de
investigar o que acontece. (Fonte: http://www2.uol.com.br/ohayo/v2.0/eventos/materia s/jul10_arg.shtml )
Cristiano Pinheiro (2007) analisa características técnicas dos jogos, como gráficos,
roteiro e interface. Se bem elaboradas, as informações visuais presentes nos gráficos terão a
função de atrair o jogador para aquele ambiente virtual; o roteiro transportará o usuário para
dentro da história; e por fim, a interface disponibilizará as informações para que a imersão
aconteça. Segundo o autor “esses fatores, gráficos, roteiros, interface são indícios de outros
parâmetros que podem ter suas transformações, a partir da comunicação, demonstradas ao
longo do desenvolvimento do videogame. De fato, o videogame passa a demonstrar a
capacidade de se elevar a um veículo de comunicação” (PINHEIRO, 2007, p.8).
Analisar os jogos por esses aspectos comunicacionais pode ajudar a entender que a
relação entre jogos e jornalismo é viável. Assim entramos em outra categoria de
classificação também aceita entre os pesquisadores da área; os jogos jornalísticos
(newsgames).
Por essência esse tipo de jogo deve ter seu enredo baseado em algum fato, recente ou
não, divulgado nas mídias jornalísticas. Multimídia e interatividade são a base da narrativa
dos newsgames.
No artigo “O que são Newsgames”, o jornalista Tiago Dória explica que o termo
surgiu em 2003, através de Gonzalo Frasca, desenvolvedor do “September12th#4”, um
dos primeiros newsgames que simulam o combate ao terrorismo.
Disponibilizados gratuitamente e nas plataformas online, os newsgames ganham
espaço em portais jornalísticos renomados, como The New York Times e El País, de forma a
complementar ludicamente o conteúdo das notícias que os originaram.
Um dos motivos para muitas pessoas desconhecerem os jogos jornalísticos é a
carência de bibliografia específica conceituando o termo. O livro “Newsgames: Journalism at
Play”, escrito, em 2010, por Ian Bogost, Simon Ferrari e Bobby Schweizer, é uma
referência, pois aborda o tema em caráter exclusivo.
Esse aspecto de reflexão que os newsgames se propõem a exercer é definido pelos
autores como “retórica processual”, ou seja, a capacidade dos jogos de simularem
interativamente o funcionamento das coisas e permitirem que leitores/jogadores assimilem
mais facilmente conteúdos complicados. Na análise de alguns jogos Bogost, Ferrari e
Schweizer (2010) evidenciam a possibilidade de unir jogos e jornalismo e dividem os
4
Disponível em: < http://www.newsgaming.com/games/index12.htm>. Acessado em 5 de maio de 2015.
newsgames em sete categorias: newsgames de atualidades (current events newsgames),
newsgames Infográficos (infographics newsgames), newsgames documentários (documentary
newsgames), newsgames de raciocínio (puzzle newsgames), newsgames de comunidade
(community newsgames), Newsgames para letramento (literacy newsgames). É justamente
nessa última categoria que o ensino da ética jornalística pode ser melhor sistematizado.
5- Newsgames de Letramento
De acordo com Bogost, Ferrari e Schweizer (2010) esse tipo de jogo não se propõe a
formar jornalistas, mas sim destacar as peculiaridades da profissão como técnicas para
apuração, valores e normas de conduta.
Os newsgames de letramento buscam aproximar o público das particularidades da
profissão de jornalista e se referem aos jogos cujo propósito é ensinar práticas jornalísticas,
podendo ser direcionados tanto para estudantes e profissionais quanto para cidadãos em geral.
Um exemplo desse tipo de jogo é o Warco 5 (abreviatura para “war correspondant”), que
começou a ser desenvolvido em 2011, em Brisbane, na Austrália.
Em Warco o jogador se transforma em Jesse De Marco, uma jornalista correspondente
de guerra com a missão de relatar um conflito armado. Sua arma é uma câmera filmadora e no
decorrer do jogo o usuário precisa entrevistar pessoas, coletar imagens e recolher o material
que no fim irá compor uma reportagem para o jornal ficitício “PWN News”.
O caráter pedagógico se dá pelo fato do jogador receber instruções de como um
jornalista deve se portar no campo de batalha para conseguir captar as imagens e informações,
por exemplo, mantendo-se atrás dos soldados, utilizando o zoom e captando sons à distancia
para evitar ser atingido por explosões ou rajadas de tiros. Um jogo pensado para uso
educacional onde a estrutura e a narrativa vão abordar a prática jornalística em detalhes.
Figura 01
De posse da câmera filmadora o jogador busca as técnicas de apuração para registrar o conflito sem ser morto.
Fonte: gamepressure.com
5
Vídeo de divulgação disponível em <https://youtu.be/sQlkYY88wLM>. Acessado em 5 de maio de 2015.
Disponível em: http://games.gamepressure.com/view_screen.asp?ID=222400
Desenvolvido por meio de parceria entre as empresas ManiatyMedia, Arenamedia e
Defiant, a equipe conta com a experiência do jornalista Tony Maniaty e direção de Robert
Connolly ,responsável pelo filme “Balibo” que retrata as mortes de jornalistas australianos no
Timor-Leste, em 1975).
Devido a falta de incentivos para lançar o jogo comercialmente, o projeto se encontra
estagnado, porém é uma iniciativa de newsgame de letramento com o propósito de ajudar os
jornalistas a orientar-se em apurações dentro de zonas de conflito.
Considerações Finais
Referências
HUINZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. 5. ed. São
Paulo: Editora Perspectiva S.A., 2008.
SILVA, Carlos Eduardo de Martin. Experiência com jogos digitais e causas sérias.
Comtemporânea, Rio de Janeiro, v.7, n.11, p. 74-84, jul/dez 2008. Disponível em: <
http://www.contemporanea.uerj.br/pdf/ed_11/contemporanea_n11_74_carloseduardo.pdf>
Acessado em: 5 de maio de 2015.
1. Introdução
1
Mestre em Linguística (UFAL). Doutoranda no Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura
e Sociedade (UFBA). Docente do Instituto Federal da Bahia - IFBA/ Salvador. Pesquisadora nos Grupos
de Pesquisa Linguagens e Representações (IFBA) e Polifonias (UFBA).
sociais não podem ser entendidos sem a função ativa dos media, uma vez que as ações
sociais, os produtos culturais e os programas políticos tornaram-se eles todos mediais”
(BASTOS, 2012, p. 69).
No campo evangélico2 brasileiro muitas são as mudanças nas últimas décadas, o
surgimento e/ou fortalecimento de uma religiosidade ativista e o crescimento de uma fé
individualizada quantificam-se em igrejas. Observa-se uma tendência em homogeneizar
os sentidos no predomínio de religiões e igrejas que melhor se converteram ao
fenômeno da midiatização das práticas sociais, desse modo “pensar a midiatização da
religião a partir das mediações não é examinar o uso dos meios de comunicação por
alguma igreja, mas verificar como isso altera tanto as práticas religiosas quanto o
âmbito das igrejas e dos fieis.” (MARTINO 2012, p. 225).
Nos últimos 40 anos, acontecimentos como o fenômeno dos televangelistas 3
norte-americanos e a publicação do “documento ‘Inter Mirífica’, no qual a Igreja
Católica não só revisa seus conceitos sobre a sua compreensão acerca da mídia como
um instrumento indispensável à sua ação pastoral, como encoraja claramente os
católicos a ocupar o espaço dos meios de comunicação” contribuíram no surgimento de
novas religiosidades no Brasil (FAUSTO NETO, 2002, p.152).
A emergência das igrejas eletrônicas concentrou na televisão brasileira uma
grande produção. Segundo o Observatório de Imprensa4, o gênero que mais ocupou as
grades de programação em 2012 foi o religioso, responsável por 13,55% do tempo
médio das grades. A grande presença da religião, principalmente evangélica,
desencadeou outros fatores como o nascimento de ídolos da música gospel, o uso de um
discurso útil diante das urgências cotidianas, o atendimento espiritual a todos que
precisam sem necessariamente exigir que o indivíduo se converta à religião. Nesse
sentido, o protestantismo midiático se mostra menos conservador e prático:
Abandonam-se as formas tradicionais de comunicação estruturadas
nos limites e nos parâmetros dos próprios rituais religiosos, bem como
as “comunicações alternativas”, centradas nas experiências dos
grupos, e se instauram estratégias “mass mediáticas” envolvendo uma
complexidade que ultrapassa largamente as tradicionais formas de
interação com que cristãos estruturam suas práticas e sua fé. A
2
Os protestantes, no Brasil, são chamados de Evangélicos.
3
“No Brasil, os televangelistas norte-americanos fizeram sucesso nos anos 70 e 80. Dentre muitos,
podemos citar: Rex Humbard, com o ‘Programa Rex Humbard’, que permanceu no ar até 1985; o ‘Clube
700’, de Pat Robertson, a partir de 1979; o ‘Programa Jimmy Swaggart’; e o programa de Bernhard
Johnson Jr., que marcou o fim do período de ouro dos televangelistas americanos no Brasil, quando saiu
do ar, em 1987” (ARAUJO, 2014, p. 841).
4
Informe de Acompanhamento de Mercado de TV Aberta publicado pelo Observatório Brasileiro do
Cinema e do Audiovisual (OCA), da Ancine, junho 2013. http://observatoriodaimprensa.com.br/tv-em-
questao/_ed754_religioso_e_o_genero_mais_presente_na_tv_aberta/ acesso em 06/05/2015.
midiatização da religião redefine o que os sociólogos e especialistas
chamam hoje de novas estratégias organizadoras e reguladoras da
experiência religiosa atualmente no Brasil. (FAUSTO NETO, 2002,
155)
5
Evangélicos carismáticos conservadores que se distinguem dos batistas, adventistas e demais que não
pregam a manifestação do Espírito Santo enquanto dogma. Também não se classificam entre as
neopentecostais, como Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Mundial da Graça e demais de origem
fundamentalmente midiática. Os pentecostais no Brasil tem sua principal representação nas Igrejas
Assembleias de Deus.
para a adoração. O protestantismo, buscando afirmar sua identidade, negou a opulência
desses templos e retomou as formas de culto mais simples, redefinindo a arquitetura
religiosa. No Brasil, os cultos das Igrejas Assembleias de Deus, nas primeiras décadas
de implantação, a partir de 1911, eram realizados nos lares, muito domésticos e simples,
o que facilitou o acesso e a boa acomodação das pessoas das classes sociais mais baixas,
nas periferias das cidades.
A construção dos santuários pentecostais redefiniu o trabalho desenvolvido nessas
igrejas, as funções variam conforme o funcionamento das práticas religiosas, mas todos são
convocados a trabalhar. O trabalho missionário é um dos mais priorizados, pois cumpre a
determinação de difusão da fé e atrai novos fiéis. O proselitismo justifica a utilização da
televisão6 como instrumento de evangelismo.
Desde então, o espaço sagrado rompeu as paredes do templo físico, ganhando
outras dimensões: “A consequência mais imediata disso é o deslocamento do espaço
tradicional dos templos para um campo aberto e multidimensional que, além de chegar
ao fiel, atinge também o público anônimo, heterogêneo e disperso.” (CORREA, 2013,
p. 128). Mesmo em campo aberto, a audiência dos programas religiosos se constitui
principalmente do mesmo público das igrejas.
Nessa configuração, questionamos: a religião na televisão é evangelismo ou
extensão do trabalho desenvolvido nos templos? Levando em consideração que os
primeiros programas pentecostais da televisão brasileira não foram produzidos pelas
Igrejas Assembleias de Deus, que eles são produções independentes de pregadores
evangelistas e ainda, que, somente na década de 90 essa instituição assumiu
oficialmente a produção via televisão, pode-se dizer que o pentecostalismo na mídia
representa uma luta de poder dentro da própria religião.
O uso da televisão contribuiu para ampliar o espaço da própria religião, na
medida em que disputas internas por regiões, bairros, cidades, localizações diversas dos
templos provocaram inúmeras segmentações na estrutura administrativa das Igrejas
Assembleias de Deus, que, embora homogêneas teologicamente, se pluralizam quanto à
administração.
Nesse processo, o objetivo inicial de evangelismo não se revela como o
principal, os programas televisivos voltam-se para o público da própria igreja,
reforçando o discurso da necessidade de manutenção do programa, do canal, ou seja, do
6
Até fim da década de 90 havia a proibição de assistir e/ou possuir aparelho de TV para os pentecostais
das Igrejas Assembleias de Deus no Brasil, embora essa proibição viesse perdendo forças desde os anos
80.
templo, para a efetuação da “obra de Deus”, consequentemente surgem campanhas e
comércios para esse objetivo. A necessidade do templo, do espaço, gerou no
Cristianismo uma prática discursiva de valorização da oferta, do dízimo, ou seja, da
contribuição material. Na religião midiatizada esse discurso se amplia à comercialização
de produtos especializados.
A nova forma de congregar, pelo espaço midiático, inclui um templo altamente
tecnológico, que ultrapassa a barreira física das paredes e alcança o fiel no conforto de
sua casa. As dimensões espacial e temporal do culto são altamente afetadas. As
comparações entre o que é pregado na televisão e o que é pregado no templo tradicional
são inevitáveis, o distanciamento e a representação do pastor da televisão, cria nele uma
imagem idealizada, de super “star”, associada à imagem do sacerdote comum, que
inevitavelmente deixa escapar no convívio diário com “suas ovelhas” as fraquezas
humanas.
Não pensamos a media como centro das transformações sociais, mas
consideramos a televisão como um meio importantíssimo nas mudanças sofridas no país
desde a década de 50, e principalmente a partir da década de 80, quando o poder de
consumo permitiu a presença do aparelho de televisão na maioria dos lares brasileiros e
quando o país passou por mudanças radicais na política e na economia. Com a televisão
presente nos lares dos religiosos, o espaço e o tempo sagrado foram redefinidos. O
espaço do culto ultrapassa hoje as paredes de um templo e invade qualquer espaço em
que a televisão esteja ligada transmitindo o programa.
A partir do momento em que o individuo pode cultuar enquanto cozinha,
costura, trabalha no computador ou faz ginástica, o espaço sagrado perde suas
características e ganha formato de qualquer espaço do cotidiano, ao mesmo tempo em
que o espaço comum se torna sagrado, mesmo sem ter sido constituído para esse fim.
Nessa nova configuração, os espaços do cotidiano são consagrados não pelos símbolos,
mas pelo sujeito religioso.
Quanto ao tempo da adoração, na mídia religiosa, o culto se alterna com o
comércio de produtos sacralizado pela finalidade missionária. Em relação à mídia
secular, o sagrado é absorvido pelo entretenimento. Na tela, o tempo da adoração e o
tempo do entretenimento disputam um único espaço ou se concentram no mesmo
espaço. É o que acontece nos programas religiosos de entretenimento ou nos programas
de auditório e de ficção carregados de símbolos religiosos.
Na luta pela audiência o caráter de divertimento prende a atenção dos
telespectadores que não mais consideram pecado assistir a programação secular. Nesse
processo de naturalização da identidade de telespectador, os religiosos pentecostais
vivem a expectativa pelo final da novela, pelo paredão do Big brother, e, desse modo,
consomem a programação. O público pentecostal, principalmente os mais jovens, não
foge a essa busca pelo divertimento, pela procura da felicidade no espaço e no tempo
terreno.
7
Atualmente há um crescimento no número de comércio especializado e um grande interesse do
comércio em geral em atender às demandas do público evangélico. Em 31/08/2014, o site do jornal Folha
de São Paulo publicou que o comércio de roupas em geral na região do Brás - São Paulo cresceu apenas
3,5% em 12 meses, enquanto o comércio de moda destinada aos evangélicos aumentou 20% no mesmo
período. O evangélico é atualmente o principal consumidor da indústria fonográfica, com uma média de
10 novos CDs por mês e baixo índice de pirataria, além de grande incentivo em outros setores.
A ascensão econômica do pentecostal e o avanço midiático alteraram práticas do
trabalho religioso. Por exemplo, o evangelismo se ressignificou nessas novas condições
de produção, “ir por todo mundo pregando evangelho” não quer dizer, nos dias atuais,
deslocar-se geograficamente. O evangelismo pentecostal realizado nas ruas, em cultos
nas feiras e praças, ou de “boca a boca”, com distribuição de folhetos por pequenos
grupos que saíam de porta em porta pregando e convidando as pessoas para visitar a
igreja, foi substituído por outras possibilidades. Menos pessoal, com menos exposição
nas ruas, de modo mais eficaz e dentro dos padrões atuais.
Ao religioso impossibilitado de ir pessoalmente executar o evangelismo, seja por
questões de trabalho, doença ou família, é solicitado que contribua materialmente para a
instituição, e, dessa forma, se sinta também atendendo ao objetivo missionário.
Como forma de recompensa a quem financia o evangelismo, há um discurso
constante de retorno imediato, próspera compensação, derrame de bênçãos, que silencia
o dizer de que quem não contribue está fora da graça de Deus. Esse elemento do
procedimento religioso – a oferta, que faz parte do culto sagrado, passou na
midiatização religiosa a se significar na comercialização de mercadorias geradas por
indústrias de música, literatura, e outros produtos, o que inclui o próprio Jesus, ou a
salvação, nesse paradigma.
No evangelismo midiatizado, o comércio é interpretado como necessário para a
sobrevivência. Na televisão, os programas missionários apelam para a oferta ou para a
venda de produtos como mecanismo de manutenção e expansão. Alencar (2013, p. 271-
272), ao tratar dos três últimos programas 8 televisivos, em cadeia nacional, das Igrejas
Assembleias de Deus destaca o fato de não se unificarem, já que o objetivo seria o
mesmo, o evangelismo:
Os três são modernos. Estéticos e economicamente modernos, mas
conservadores. A verdadeira causa da dissensão entre os mesmos não
é teológica, doutrinaria ou ideológica, mas econômica. Todos os
programas oficialmente objetivam a “evangelização”, mas, na
verdade, são programas de vendas de produtos, são polishops – na
pior e na melhor acepção da palavra; ambos têm projetos político-
financeiros e todos eles estão ricos. (ALENCAR, 2013, p. 273)
Ser consumidor dos produtos divulgados nos programas funciona como forma
de realização do evangelismo, pois os discursos nos programas reforçam a necessidade
8
Programa Movimento Pentecostal, com o Pastor José Wellington, presidente das Assembleias de Deus;
Programa A Voz das Assembleias de Deus, com o Pastor Samuel Câmara, da Igreja-Mãe, em Belém do
Pará; Programa Vitória em Cristo, com o Pastor Silas Malafaia.
de manutenção desse espaço “sagrado”, cujos interesses são bem mais econômicos e
políticos.
5. Considerações finais
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
1 Mestranda em Políticas de Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB). Graduada em jornalismo e em publicidade
pela UnB. Auditora Federal de Controle Externo (orientação comunicação social) no Tribunal de Contas da União (TCU).
2
2 In other words, the mobile communication society deepens and diffuses the network society, which came into existence in
the past two decades, first on the basis of networks of electronic exchange, next with the development of networks of
computers, then with the Internet, powered and extended by the World Wide Web. Wireless communication technologies
diffuse the networking logic of social organization and social practice everywhere, to all contexts – on the condition of being
on the mobile net. (CASTELLS et. al., 2007, p. 258).
(36%). Estima-se que em 2020 a região já seja a segunda maior em uso de smartphones,
ficando atrás apenas da Ásia-Pacifico.4
Para ARDÈVOL, M. et. al. (2011) os dispositivos móveis estão se convertendo em um
instrumento de uso generalizado para os segmentos da população com menores recursos e
para os países em desenvolvimento.
A tecnologia móvel tem se mostrado uma ferramenta importante para diminuir a
desigualdade digital entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, especialmente
devido ao rápido declínio nos preços dos dispositivos. A tecnologia chega a ser apontada
como possível solução à exclusão digital na região
A banda larga móvel proporciona uma oportunidade única para levar o
acesso à Internet para a maioria da população, a preços acessíveis. Esta
plataforma oferece quatro benefícios principais; a conexão à Internet está
disponível para o usuário para se comunicar em qualquer lugar; além disso, a
cobertura móvel permite que usuários fiquem permanentemente em
comunicação. Custos fixos de acesso à rede são reduzidos ao custo de
aquisição aparelho, enquanto os custos de serviços podem ser cobertos em
um regime de repartição; diminui a necessidade de competências digitais
como a grande maioria da população já possui e sabe como usar o
dispositivo móvel.5 (GOGGIN, G.; HJORTH, L., 2014, p.107-108, tradução
nossa).
A expansão nos usos dos dispositivos e redes de banda larga móveis podem impactar
também o crescimento econômico e a redução da pobreza. Estudo 6 realizado para verificar o
impacto da telefonia móvel sobre o crescimento econômico durante o período que vai de 1996
a 2007, mostrou que a penetração da telefonia móvel incide positivamente no crescimento
econômico de todos os 153 países pesquisados. Entretanto o impacto é significativamente
maior nos 18 países latino-americanos que faziam parte da amostra. (ARDÈVOL, M. et. al.,
2011, p. 94).
Em relação à redução da pobreza o estudo realizado considerou indicadores do período
de 1999 a 2002. Demonstrou-se que a penetração da telefonia móvel influi de forma
significativa na redução da pobreza por meio de seus efeitos sobre fatores ligados ao
5 Mobile broadband provides a unique opportunity to bring Internet access to the majority of the population at affordable
prices. This platform offers four main benefits; internet connection is available to the user to communicate anywhere;
additionally, mobile coverage allows users to stay communicated permanently. Network access fixed costs are reduced to the
handset acquisition cost while service costs can be covered on a pay as you go basis; diminishes the need for digital skills as
the great majority of the population already own and know how to use the mobile device. (GOGGIN, G.; HJORTH, L., 2014,
p.107-108).
6 ARDÈVOL, M. et. al. Comunicación Móvil y Desarrollo Económico y Social en América Latina. 1ª ed. Madri: Fundación
Telefónica, 2011.
3
4
desenvolvimento social, criando mais oportunidades para melhorar a qualidade de vida entre
os setores pobres quando estes passam a ter acesso à comunicação móvel, e também pelo
impacto dessa tecnologia para melhorar aspectos de processos comerciais e produtivos.
Os resultados obtidos confirmam que nos 18 países da América Latina existe
uma relação negativa entre a taxa de penetração da telefonia móvel e da
pobreza: uma maior penetração da telefonia móvel, menores níveis de
pobreza. Levando em conta a definição de variáveis, podemos assumir que é
uma relação de causalidade e que o desenvolvimento sócio-econômico é o
mecanismo transmissor que vincula o aumento da penetração móvel com os
menores níveis de pobreza.7 (ARDÈVOL, M. et. al., 2011, p. 126, tradução
nossa).
É importante ressaltar que o crescimento econômico, a redução da pobreza e outras
questões como, por exemplo, a exclusão digital variam em ritmos diferentes nas mais diversas
regiões do mundo, a depender de fatores estruturais, econômicos, políticos e sociais. O que o
estudo sugere é que nos países latino-americanos a expansão da telefonia móvel tende a
contribuir de forma mais significativa no período analisado, que em países considerados
desenvolvidos. Um motivo possível para essa diferença seria o fato de que a expansão das
redes de telefonia móvel é mais recente nos países da América Latina.
4
5
como uma extensão do governo eletrônico que possibilita aos cidadãos acessar informações
públicas, obter serviços governamentais e se envolver na administração pública usando seus
telefones celulares e outros dispositivos móveis (CASTELLS, et. al. (2007),.
Estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) em conjunto com a União Internacional de Telecomunicações (UIT) 8 aponta a
comunicação móvel como uma tecnologia capaz de oferecer aos governos oportunidades
significativas de promover a economicidade, aprimorar a comunicação com a sociedade,
aumentar a troca de informações, expandir a entrega de serviços públicos e ainda combater a
desigualdade digital.
Com tecnologias móveis, informações e ações podem ser coordenadas em
qualquer local e entre agências, melhorando a colaboração e a coordenação
entre as autoridades públicas em todos os níveis de governo. (...) Além disso,
a penetração da telefonia móvel estende a divulgação e o acesso a grupos
que muitas vezes são difíceis de alcançar, como por exemplo, os cidadãos
nas zonas rurais, e expande a responsabilização e a transparência do governo
a um maior número de cidadãos.9 (OECD/ITU, 2011, p.13, tradução nossa)
Nesse contexto, tem crescido o número de aplicativos e serviços móveis voltados para
a interação entre Estado e cidadão. Aplicativos de utilidade pública passaram a ser oferecidos
em um número crescente de países. Em 2012, 29% dos 193 países integrantes da ONU
disponibilizavam aplicativos móveis como ferramentas de governo eletrônico. Em 2014 esse
número aumentou para 49%10.
Em geral, esses apps buscam facilitar o acesso a serviços públicos, disponibilizar
informações e orientações de interesse público e aumentar o engajamento e a participação
social. Também podem ser oferecidas ferramentas para que o cidadão busque seus direitos e
faça denúncias.
É comum que esses aplicativos fiquem concentrados em um endereço eletrônico
específico mantido pelo governo, para facilitar a localização pelos usuários que poderão
adquiri-los gratuitamente.
8 OECD/ITU. M-Government: Mobile Technologies for responsive govenments and connected societies. OECD Publishing,
2011.
9 With mobile technologies, information and actions can be co-ordinated in any location and among agencies, improving
collaboration and co-ordination between public authorities across levels of government. (...) Furthermore, mobile phone
penetration extends outreach and access to groups which are often difficult to reach, e.g. citizens in rural areas, and expands
government’s accountability and transparency to a higher number of citizens. (OECD/ITU, 2011, p.13)
Nos Estados Unidos, o site oficial do governo 11 reúne mais de uma centena de
aplicativos destinados aos cidadãos, que podem, entre outras formas, utilizá-los para consultar
leis, documentos públicos e o orçamento do governo, procurar empregos, buscar informações
e serviços de saúde e educação.
O mesmo ocorre na União Europeia. Sites oficiais dos governos francês 12 e alemão,
por exemplo, 13 oferecem centenas de aplicativos móveis aos cidadãos europeus para facilitar a
prestação de serviços públicos e disponibilizar informações nas mais diversas áreas.
No Brasil, o Guia de Aplicativos do Governo Federal 14 já disponibiliza dezenas de
aplicativos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário voltados ao acesso a informações e à
prestação de serviços. Lá estão, por exemplo, o aplicativo Câmbio Legal, do Banco Central,
que permite ao usuário identificar o local mais próximo para comprar e vender moeda
estrangeira, o aplicativo Brasil Banda Larga, que permite ao usuário testar a qualidade de sua
banda larga móvel e o Vacinação em Dia, do Ministério da Saúde, que gerencia cadernetas de
vacinação cadastradas pelo usuário.
O governo chileno disponibiliza em sua página oficial15 uma série de aplicativos
voltados à prestação de serviços jurídicos, de saúde, transportes e segurança, além do acesso a
informações de utilidade pública. Aplicações semelhantes também são desenvolvidas em
outros países latino-americanos, como México, Peru, Colômbia, Honduras e El Salvador.
O uso dos aplicativos como ferramentas de governo móvel surge na região como uma
oportunidade para ampliar e facilitar o exercício da cidadania, definida por Garcia e Lukes
como a conjunção de três elementos:
1) a garantia de certos direitos, assim como a obrigação de cumprir certos
deveres para com uma sociedade específica; (2) pertencer a uma comunidade
política determinada (normalmente um Estado); e (3) a oportunidade de
contribuir na vida pública desta comunidade através da participação. 16
(GARCIA Y LUKES, apud GORCZEVSKI, C.; MARTIN, N., 2011, p. 29)
11 http://www.usa.gov/mobileapps
12 www.proximamobile.fr
13 https://www.govdata.de/
14 http://www.aplicativos.gov.br
15 http://apps.gob.cl/
16 “GARCIA, S. y LUKES, S. Ciudadania: justicia social, identidad y participación. Madrid: Signo XXI, 1999. P. 1.”
6
7
7
8
Castells pondera que se for possível estabelecer uma relação com essas novas fontes
de contribuição de cidadãos interessados na política sem que o processo fique restrito a uma
elite tecnologicamente capacitada, “um novo modelo de sociedade civil pode ser reconstruído,
possibilitando a popularização da democracia, via eletrônica.” (CASTELLS, 2009b, p. 411).
Compreender a tecnologia móvel como instrumento importante para a vida
democrática é um dos grandes desafios para os governos da América Latina pois ela poderia
atuar como catalisadora da participação social e da promoção da cidadania, de forma a
contribuir para construção de uma verdadeira democracia participativa. “Ou se compreende
que a tecnologia móvel pode nos permitir uma melhor organização e comunicação na
8
9
sociedade do conhecimento, para a ação política, ou tudo que for feito serão imitações tardías,
sem autenticidade e sem sentido”.17 (GUTIÉRREZ-RUBI, 2015, p. 99, tradução nossa)
Para Bonavides (2001) não há democracia sem participação.
17 “O se compreende que la tecnología móvil puede permitirnos una mejor organización y comunicación en la sociedade del
conocimiento, para la acción politica, o todo lo que se haga serán imitaciones tardias, sin autenticidade y sen sentido”
(GUTIÉRREZ-RUBI, 2015, p. 99)
18 “The current state of mobile broadband in Latin America is still marginal despite its hight growth rate; public policies
oriented to promote its growth are required. Diverse mechanisms are available to promote mobile a broadband growth.”
(GOGGIN, G.; HJORTH, L., 2014, p.107).
9
10
19
com poucos concorrentes. (GOGGIN, G.; HJORTH, L., 2014, p.108,
tradução nossa).
CONCLUSÃO
19 The later allocations, given the characteristics of the bands, accont mainly for improving 3G and 4G connections in urban
áreas; in other words, their main goal is to improve the market’s efficiency and service quality in urban areas, most of them
already covered by fixe or mobile broadband services. But one of the major social and economic outputs in spectrum
allocations may come specifically from the 700 MHz band, the so called digital dividend. This band allows operators to offer
3G and 4G mobile broadband in a wider area, which is specially useful in reaching rural areas not currently covered or with
few competitors. (GOGGIN, G.; HJORTH, L., 2014, p.108).
10
11
20 “Focus should be indeed on the needs of the public sector and for the end-users, be these citizens or businesses, to ensure
that Technology is exploited to reorganize the way civil servants work and to meet the needs of citizens through improved
service delivery.” (OECD/ITU, 2011, p.12)
11
12
Referências
Links:
www.anatel.gov.br
www.aplicativos.gov.br
http://apps.gob.cl/
www.facebook.com
12
13
www.proximamobile.eu/appsystem
www.usa.gov/mobileapps
13
DEMOCRACIA, PODER E MULHER: algumas questões de visibilidade no Brasil e na
Argentina
Resumo: Brasil e Argentina vivem momentos políticos parecidos. Com passados recentes marcados
e problemas presentes similares, passaram por transformações políticas e socioeconômicas
recorrentes nos últimos trinta anos. E as primeiras décadas de do século XXI trouxeram mais
coincidências políticas e históricas, como a subida à Presidência da República das primeiras
mulheres eleitas por voto direto dos cidadãos de seus países. Na Argentina, em 2007, Cristina
Kirchner e, em 2010, no Brasil, Dilma Rousseff. Com foco nesses dois acontecimentos, faz-se uma
leitura das coberturas das eleições de 2007, na Argentina, feita pelo jornal Clarín, e, no Brasil, em
2010, pelo jornal brasileiro Folha de São Paulo, tentando responder como a mulher torna-se visível
no processo democrático de seus países, ao se candidatar à Presidência da República. A metodologia
utilizada em um primeiro momento foi a análise de conteúdo dos jornais citados, com um recorte
analítico das primeiras capas dos jornais.
comunidade política internacional, como países livres, econômica e politicamente frutíferos. Dados
da Freedom House 2013 conferem ao Brasil e à Argentina nota 2, em uma escala democrática de 1
3
a 7, do país mais ao menos democrático. Para fazer o relatório anual, leva-se em conta alguns
fatores, como liberdade de expressão, direito à greve e realização de eleições livres, todos em
crescente ascensão nos vizinhos sul-americanos, desde a década de 1980, com a queda dos regimes
ditatoriais.
Com passados recentes marcados pelas violentas ditaduras militares, crises econômicas,
além de uma série de problemas similares, os dois países passaram por transformações políticas e
socioeconômicas recorrentes nos últimos trinta anos. E o início do século XXI resultou em mais
coincidências políticas e históricas entre essas duas nações, como a subida à Presidência da
República das primeiras mulheres eleitas por voto direto dos cidadãos de seus países. Na Argentina , 4
1 Professora do ensino superior; doutoranda da linha de pesquisa Jornalismo e Sociedade do Programa de Pós-Graduação da FAC-
UnB; mestre em Comunicação e Linguagens pela UTP-PR; jornalista pela PUC-PR
2 Neste artigo, o termo democracia será tratado de forma genérica, ou seja, sem diferenciar os tipos de democracia que são praticados
pelos muitos países que adotam esse modelo político ao redor do mundo. Chauí (2000) explica o termo democracia como um sistema
sociopolítico baseado em três direitos fundamentais ao cidadão: liberdade, igualdade e participação. Esta forma de Governo permite a
instituição de direitos reais à sociedade, com liberdade e igualdade, sem nenhuma distinção entre todos os sujeitos sociais. Também
permite a participação de todos os cidadãos em discussões e deliberações públicas pelo voto representativo. O processo democrático
permite ainda que indivíduos se organizem em associações, movimentos sociais e populares, partidos políticos, sindicatos, classes,
criando assim um contrapoder social, afim de limitar direta ou indiretamente o poder do Estado. Essas características fazem da
democracia um sistema político que se transforma, se altera conforme o contexto social, espacial e temporal no qual é exercido.
3 Organização norte-americana, de vigilância independente dedicada à expansão da liberdade em todo mundo FREEDOM IN THE
WORLD 2013: Democratic Breakthroughs in The Balance. Disponível em: <https://www.freedomhouse.org/sites/default/files/FIW
%202013%20Booklet.pdf>. Acesso em: 20 maio 2014.
4 No caso da Argentina, há outras mulheres que governaram o país. Eva Perón (Evita) e Maria Estela Martínez, mais conhecida
como Isabelita Perón, ambas esposas de Juan Domingo Perón, presidente da Argentina, entre 1946 a 1955, e depois, entre 1973 a
em 2007, Cristina Kirchner e, em 2010, no Brasil, Dilma Rousseff.
Estes dois acontecimentos chamam a atenção pela proximidade geográfica e temporal, pois
nenhuma mulher, nos dois países citados, havia conseguido se eleger por voto direto para o mais
alto cargo político do Poder Executivo. Assim, o que este artigo propõe é como a mulher, aqui
representada por Cristina Kirchner e Dilma Rousseff, torna-se visível no processo democrático de
seus países, ao se candidatar à Presidência da República da Argentina e do Brasil, respectivamente?
Com foco nesses dois acontecimentos marcantes para a política latina e mundial, faz-se uma
leitura das coberturas das eleições de 2007, na Argentina, feita pelo jornal Clarín, considerado o
maior jornal de circulação daquele país e o mais lido da América Latina ; e, do maior jornal 5
brasileiro em circulação paga, Folha de São Paulo , conforme a Associação Nacional de Jornais
6
(ANJ), no Brasil, utilizando um dos conceitos mais centrais tanto para o jornalismo como para a
política: a visibilidade. Este conceito-chave da noticiabilidade é ontológico e interfere na
democracia e, portanto, no desenvolvimento e estruturação da esfera pública política. Para embasar
a discussão sobre o assunto, foram utilizados os estudos feitos por Foucault, Bourdieu, Dijk, Maia,
Charaudeau, Weber, Mouillaud, Bobbio, entre outros.
1974, que se destacaram nas lutas pela melhoria da qualidade de vida da população. Mas nenhuma das duas foi eleita pelo voto
popular. Evita, segunda mulher de Perón, se torna primeira-dama e uma das líderes mais emblemáticas que a Argentina conheceu. Ela
é responsável pela implantação do direito ao voto das mulheres, mas sua trajetória é curta, devido à sua morte. Depois, Isabelita,
terceira esposa do presidente argentino, primeira-dama e vice-presidente assume o Governo após a morte de seu marido. Disponível
em: <http://www.jdperon.gov.ar/material/biografiaperon.html>. Acesso em: 02 maio 2014.
5 LONGHI, Raquel R.; SILVEIRA, Mauro C.. A convergência de linguagens nos especiais do Clarín.com. Revista de Estudos da
Comunicação. Curitiba, v. 11, n. 25, p. 157-166, maio/ago. 2010. “Da extensa lista de atividades da empresa, Albornoz (2007, p. 124)
registra que o Clarín é o principal jornal argentino e o de maior circulação no mundo de fala espanhola – com uma tiragem média
superior a 550 mil exemplares e mais de dois milhões de leitores diariamente”.
6 ALAP. Os 50 maiores jornais do Brasil. jan/14http://www.alap.com.br/noticias/os-50-maiores-jornais-do-brasil-jan14. Acesso
em 10 de março de 2014. (ALAP - Associação Latino-americana de Publicidade )
7 CHAUÍ, Marilena. A sociedade civil é o Estado propriamente dito. Trata-se da sociedade vivendo sob o direito civil , isto é, sob as
leis promulgadas e aplicadas pelo soberano.
contemporaneidade. Charaudeau (2011) coloca que a legitimação destas práticas depende das
situações de troca social em que os sujeitos estão envolvidos, ou seja, se são candidatos, se são
representantes de um grupo social, se estão estabelecidos como Governo, se defendem um território.
O autor acrescenta ainda que sobre este bem comum há um “jogo de dominação” próprio, norteado
pela legitimidade “por meio da construção de opiniões” (uma luta discursiva) e pela autoridade
“mediante uma dominação feita de regulamentação e de sanção”.
Esse jogo de influência, percepção, manipulação se dá em um espaço determinado,
principalmente pelo discurso, pois “a linguagem é o que motiva a ação, a orienta e lhe dá sentido”
(CHARAUDEAU, 2011, p. 39). Desta forma, como frisa o autor francês, “qualquer enunciado, por
mais inocente que seja, pode ter um sentido político a partir do momento em que a situação o
autorizar” (Ibidem, p. 39). Apesar do sentido do enunciado, este pode ser neutro e o que deve ser
observado é a situação de comunicação em que foi criado. “Não é o conteúdo do discurso que assim
o faz, mas a situação que o politiza” (Ibidem, p. 40). Maia (2008) concorda, mas lembra que os
discursos concorrem entre si, disputando os espaços, lutam pelas posições do jogo, estabelecendo
negociações de valores e necessidades. Há um aumento dos riscos ao se argumentar em público e
não se pode esquecer que entre os atores políticos mais influentes estão os meios de comunicação,
criando situações, alterando a lógica das práticas políticas e, portanto, os espaços de diálogo entre
governo, Estado e povo.
Ekecrantz (apud MAIA et al, 2006) embasado na “natureza mutante do espaço”, afirma que
as tecnologias de informação e comunicação alteraram o modo como os atores sociais e políticos
dialogam. Levam para dentro e para fora da cena midiática as decisões, as posições, os contextos
políticos, expondo o jogo, deixando-o circular pela esfera pública política, acessível a todos os
atores sociais. Alsina (2009, p. 14) propõe uma definição para notícia, “a notícia é uma
representação social da realidade quotidiana, gerada institucionalmente e que se manifesta na
construção de um mundo possível”.
Da ágora grega, onde só os homens - phratris - tinham voz, vez e voto, ao espaço público
8
Assim, é possível entender que a edição jornalística é uma estratégia da Política, que utiliza
deste expediente para criar o vislumbre ou encobertar o que lhe convém. A visibilidade e a
credibilidade são frutos das imagens que são construídas pelo poder que é inerente à linguagem e à
máquina midiática. Isso posto, é possível reconhecer algumas das estratégias utilizadas pelos dois
jornais supracitados e analisados, no intuito de descobrir como conduziram suas edições.
Deste modo, elas se inserem, aos poucos, com dificuldades e preconceitos, em atividades
profissionais, mas estas representavam um risco para as “funções sociais da mulher”. Louro (2006,
p. 454) ressalta que, ao se feminizar ocupações como a enfermagem e o magistério, estas
adquiriram características femininas: “cuidado, sensibilidade, amor, vigilância etc”. As novas
ocupações vieram carregadas de discursos, reproduzindo a “metáfora materna”, ou seja, “dedicação
- disponibilidade, humildade - submissão, abnegação - sacrifício” (ibidem).
É neste cenário histórico que surgem várias mulheres pedindo mais espaço. Elas queriam
estudar e trabalhar fora de casa, experimentar a rua, ser ativas politicamente. Donas de casa,
esposas, mães, filhas, queriam ser escritoras, jornalistas, advogadas, médicas, entre tantas outras
12 LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na Sala de Aula. In: PRIORI, Mary Del. História das Mulheres no Brasil. São Paulo:
Contexto, 2006, p. 443 a 481.
profissões. Queriam ter voz, ter direito ao voto, ter direito a cargos políticos, mas ainda não podiam
expressar-se. Uma mulher que se expressasse de um modo mais agressivo ou afirmativo, era
considerada mal-educada, transloucada ou histérica. Ainda não havia lugar para a mulher. Ela devia
ficar, conforme os críticos da época falavam “na esfera perfumada de sentimentos e singeleza”, ou
bem longe da esfera pública (TELLES apud PRIORI, 2006).
Mesmo com as conquistas, na sociedade hegemonicamente masculina, não tinha poder real,
pois as sociedades, orientadas pelo sistema religioso e político, limitavam e não reconheciam a
autoridade da mulher. “A norma dominante era a reprodução e o direito do marido” (ROSALDO
apud ROSALDO; LAMPHERE, 1979, p. 51). A mulher foi desqualificada desde o início desse
pleito por mais espaços no mercado de trabalho e nas esferas sociais e políticas. Sua sexualidade foi
contestada e taxaram-na de pervertida, depravada. Acusaram-na de ser “metida a homem” e
estabeleceram vínculos com a promiscuidade e a homossexualidade. Seu escasso poder continua
sendo ilegítimo e errôneo. Independente do espaço adquirido nas esferas públicas, como as escolas,
universidades, empresas, indústrias, hospitais, vários estudiosos, a desqualificação da deficiência da
mulher como governante e legitimavam a ordem social dominada pelos homens. Eles ressaltavam a
desigualdade sexual como responsável pela falta de reconhecimento nos processos sociais (Ibidem).
Telles (apud PRIORI, 2006) evidencia que o século XIX viu muitas mulheres envolvidas em
ações políticas, revoltas, guerras. Em 1893, a Nova Zelândia dá o direito ao voto à mulher. As
inglesas (“suffragettes”), em 1897, iniciam um movimento pelo direito ao voto. O qual só
adquiriram em 1918. O movimento sufragista feminino ganha o mundo. A Austrália e a Finlândia
permitem que a mulher vote, respectivamente, em 1902 e 1907. O movimento chegou poucos anos
mais tarde às Américas. E em 1906, as estadunidenses ganham o direito ao voto. O mesmo só vai
acontecer no Brasil em 1933 e na Argentina, em 1947. KARAWEJCZYK (2010, p. 7) acrescenta
que
foi uma luta demorada. Somente na década de vinte é que a luta pelo direito ao voto
feminino toma uma direção mais definitiva e definida. Hobsbawm lembra que uma parcela
muito pequena de mulheres se envolveu no movimento reivindicatório por uma maior
participação no mundo político.
Da imposição por meio da força física e das atitudes bélicas, nasceram os sistemas de
valores, de propriedade e de trocas. Criou-se o sistema de dominação e de escravidão. As mulheres
ficam retidas ao ambiente privado do lar, da família, da casa. Esta atitude reflete a propriedade, a
obediência ao marido e o poder hegemônico e patriarcal exerce-se rigorosamente sobre a esposa e
seus bens.
Após séculos de submissão, as mulheres começam a despertar. Lutam por direitos e espaços
em um mundo masculino. Acumulam funções, sobrecargas de trabalho e continuam a ser mães,
esposas e donas-de-casa. Ao ocupar lugares antes do homem, há uma reação violenta dos setores
tradicionais da sociedade, pois as mulheres ameaçam o status quo masculino. Mesmo
sobrecarregadas pela dupla jornada (trabalho renumerado mais trabalho doméstico), ainda
conseguiram abrir brechas na estrutura do poder. Dijk explica que devido à resistência de grupos
dominados,
sob condições econômicas, históricas ou culturais específicas, tais grupos podem envolver-
se com várias formas de resistência, ou seja, com o exercício de um contrapoder, o que, a
seu turno, pode tornar o poderoso menos poderoso, ou até mesmo vulnerável, situação
típica das revoluções. Portanto, o exercício do poder não se limita simplesmente a uma
forma de ação, mas consiste em uma forma de interação social. (DIJK, 2010, p. 43)
Assim, entende-se poder como uma força que penetra, produtiva, indutora, provocadora.
“Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do
que uma instância negativa que tem por função reprimir” (FOUCAULT, 1979, p. 8). Isso justifica o
porque das mulheres ainda não conseguirem seu espaço como ser social e político. As barreiras ao
voto e à candidatura feminina foram removidas nas democracias contemporâneas, os avanços
conseguidos nas últimas décadas, não deram às mulheres o empoderamento que se esperava e “a
composição dos quadros políticos se alterou pouquíssimo, e a presença feminina na política formal
ainda permanece desigual” (COSTA; BELTRÃO, 2008, p. 5).
13 BRASIL. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é adotado desde 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), com o objetivo de mensurar a qualidade de vida em regiões ou países a partir de critérios mais
abrangentes que o tradicional PIB per capita. O cálculo do IDH é obtido pela média aritmética simples dos três componentes, que,
previamente normalizados, passam a ser compreendidos no intervalo de zero a um. Quanto mais próximo o índice se situar do limite
superior, maior o desenvolvimento humano na região. (BRASIL, 2009, p. 91)
O que surpreende nas últimas décadas, são as transformações ocorridas na América do Sul
quando se fala em eleições para o mais alto cargo executivo, a Presidência da República. Primeiro,
foi o Chile que conseguiu eleger, em 2006, Michelle Bachelet. Em 2007, a Argentina elege Cristina
Kirchner. Com mais tradição nas causas de gênero e luta política feminina, o poder legislativo
argentino criou a Lei 24.01214, de 29/11/1991. Esta lei trouxe benefícios e avanços quanto à
equidade de gêneros para a Argentina, gerando impacto simbólico e proporcionando a percepção da
atividade pública como tarefa de homens e mulheres, além de saltar de 4,3% (1983) para 35,8%, em
2005, de mulheres membros da Câmara Baixa. E, em 2010, Dilma Rousseff é eleita presidente do
Brasil, um dos países da América Latina com menor representação de mulheres parlamentares. O
Relatório Global de Desigualdade de Gênero 2010 15 alerta que, apesar da Constituição Brasileira de
1988 ter como regra essencial que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”, o país
está desequilibrado. A participação feminina é quase 20% a menos que a masculina no mercado de
trabalho e a disparidade salarial é de 30% para que exerçam as mesmas funções, com o mesmo
nível de instrução e idade.
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Participação política e deliberação on-line na sociedade na informação1
Os meios de comunicação atuam como mediadores entre esfera pública e esfera política,
divulgando informações governamentais, sendo vigilantes do trabalho do governo e dando
visibilidade aos problemas e requerimentos dos cidadãos. Contudo, em um contexto em que
prevalece o jornalismo comercial, e no qual a propriedade dos meios massivos é concentrada
em poucos indivíduos, a situação descrita acima não se concretiza.
Esse é o cenário do setor de comunicação no Brasil – e em outros países da América
Latina -, que carece de leis que regulamentem economicamente os meios de comunicação, e
ainda convive com o coronelismo eletrônico, onde políticos são proprietários ou tem alguma
relação direta com empresas de radiodifusão.
1
O trabalho é parte da discussão teórica da pesquisa de mestrado “Deliberação on-line e participação política na
sociedade da informação: o potencial do website Vota na Web” financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo, a Fapesp.
2
Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Unesp. Aluna do programa de Mestrado em Comunicação
na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp. seridorio@gmail.com.
errático em termos de pluralidade de fontes e de espaço para vozes
dissonantes (BEZERRA, 2008, p. 416).
Nos início dos anos 60, militares norte-americanos começaram estudos para o
desenvolvimento do que hoje conhecemos como a internet (CASTELLS, 2008), uma rede de
redes sem um centro de controle, o que dificultaria a destruição desse meio de comunicação.
Parar chegarmos ao padrão WWW que utilizamos atualmente, diversos estudos foram
necessários, mas restritos ao eixo Estados Unidos-Europa. Portanto, o contexto da Guerra
Fria influenciou fortemente o desenvolvimento da internet, a revolução da tecnologia da
informação dependeu fortemente de um conjunto de circunstâncias atrelados ao triunfo norte-
americano (CASTELS, 2008).
O que vivemos atualmente, alguns teóricos chamam de Sociedade de Informação.
Para Akutsu e Pinho (2002) dois fatores centrais guiam o desenvolvimento desse estágio: a
comunicação e a computação. Vivemos a superação da era industrial, em que os produtos
industrializados guiavam a ordem econômica global, agora a informação é a força motriz do
desenvolvimento.
A sociedade da informação não é um modismo. Representa uma profunda
mudança na organização da sociedade e da economia, havendo quem a
considere um novo paradigma técnico-econômico. É um fenômeno global,
com elevado potencial transformador das atividades sociais e econômicas,
uma vez que a estrutura e a dinâmica dessas atividades inevitavelmente
serão, em alguma medida, afetadas pela infraestrutura de informações
disponível. É também acentuada sua dimensão político-econômica,
decorrente da contribuição da infraestrutura de informações para que as
regiões sejam mais ou menos atraentes em relação aos negócios e
empreendimentos. Sua importância assemelha-se à de uma boa estrada de
rodagem para o sucesso econômico das localidades. Tem ainda marcante
dimensão social, em virtude do seu elevado potencial de promover a
integração, ao reduzir as distâncias entre pessoas e aumentar o seu nível de
informação (TAKAHASHI, 2000, p. 5).
O modo de produção é a criação e processamento de informação, porém, isso
significa que a indústria e a agricultura não existam na mesma sociedade (STRAUBHAAR e
LA ROSE, 2004). A informação e a comunicação são agora setores-chaves do
desenvolvimento, estando intrinsecamente ligadas às outras formas de produção.
A economia da informação tem dois aspectos. O primeiro é a própria
importância do crescimento do setor da informação como fonte de empregos
e gerador de crescimento econômico. O segundo é a importância da infra-
estrutura da informação para o resto da economia como foco de empregos
em outras indústrias e contribuidora de produtividade nas áreas bancária,
manufatureira etc (STRAUBHAAR e LAROSE, 2004, p 44).
Apesar das divergências entre autores entusiastas dos meios tecnológicos e dos
apocalípticos, “há razoável concordância com a possibilidade de participação do cidadão na
vida pública, utilizando-se a Internet para o aperfeiçoamento da democracia” (AKUTSU e
PINHO, 2002, p.729). É importante reconhecer que estamos diante de meios de
comunicação que possibilitam a interação e a produção mútua de conteúdo. No contexto
político, é preciso destacar iniciativas legislativas de consulta pública para construção
participativa, como foi o caso, no Brasil, do Marco Civil da Internet.
Então, tanto os governos como cidadãos podem buscar a mídia proporcionada pela
internet para divulgar informações e reivindicar posicionamentos e ações. Além da
problemática já discutida, três principais eixos influenciam na eficiência desse processo: a
inclusão digital; a disposição dos agentes políticos; e disposição dos cidadãos.
O problema da inclusão digital no Brasil não foi superado. Embora dados recentes do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tenham mostrado que, em 2013, 49,4%
dos brasileiros3 acessaram a internet, o questionário4 de coleta revela que para responder sim
o cidadão poderia ter acessado a internet uma única vez nos últimos três ou doze meses, e
esse acesso poderia ter ocorrido em casa, local de trabalho, escola ou qualquer outro local.
3
Considerando população com 10 ou mais anos de idade.
4
Fonte: ftp://ftp.ibge.gov.br/Acesso_a_internet_e_posse_celular/2013/questionario2013.pdf
Portanto, é preciso questionar se um acesso único é inclusão digital, principalmente em um
recorte temporal muito grande para a internet.
A mesma pesquisa – a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2013 (Pnad) -
apontou que 48% dos lares brasileiros tem acesso à internet, 88,4% através do
microcomputador, 53,6% também pelo celular e 17,2% por tablets. Porém, não se discute
qual é o uso que as pessoas fazem da internet, se são adeptas à discussão política, se buscam
por informações da sua cidade ou se só usam esses meios como forma de entretenimento.
Tendo problematizado a Sociedade da Informação e a internet, partimos na próxima
seção para a conceituação de participação política e para uma perspectiva de como esse
processo se dá no ambiente digital.
Bourbieu (2011, p. 196) coloca como condição para participar do campo político o
tempo livre e a educação – sendo que participar, aqui, adquire o sentido de entrar nesse
microcosmo. Em sua análise da cultura da participação, Shirky (2011) também coloca o
tempo livre como insumo fundamental da participação – aqui analisada principalmente
através das mídias.
A conexão da humanidade nos permite tratar o tempo livre como um
recurso global compartilhado e também definir novos tipos de participação e
compartilhamento que se valem desse recurso. Nosso excedente cognitivo é
apenas potencial; ele nada significa nem faz coisa alguma sozinho. Para
compreender o que podemos fazer com esse novo recurso, precisamos
entender não apenas que tipo de ação ele viabiliza, mas também os comos e
ondes dessas ações (SHIRKY, 2011, p. 30).
Para Shirky (2011), a cultura a participação nasce quando os cidadãos, cientes de seu
tempo livre, também possuem os meios, a motivações e a oportunidade para participar. Os
meios podem ser as mídias, e no caso que queremos discutir aqui, a internet.
Participação tem um sentido amplo, ela pode ser cultural, social ou política. Shirky
(2011, p. 25) afirma que participar é “é agir como se sua presença importasse, como se,
quando você vê ou ouve algo, sua resposta fizesse parte do evento”. Porém, vamos nos
restringir, aqui, a discutir a participação política.
Mantilla (1999) vê a comunicação política como uma ação multidimensional, que
além do caráter ideológico e político também possui fatores econômicos e sociais. A autora
destaca alguns desses aspectos, como a educação, sexo, idades, a comunidade em que o
individuo vive e a cultura sociopolítica.
Carpentier (2013) enfatiza que um olhar criterioso é essencial para definir o que é
participação política, já que o pesquisador defende que algumas discussões e ações acabam
sendo menos participativas que outras. “We need to admit that some practices are labeled
‘participatory’, while they simply are not, or where the level of participation is only minimal.
That’s where we need to be critical (CARPENTIER, 2013, p. 267).
Carpentier parte da corrente da ciência política em que uma ação só pode ser
considerada como participação política quando há disputa de poder. Para o autor, a
participação política “completa”5 é quando o jogo de poder ocorre em igualdade. Carpentier
enxerga, contudo, um limite de práxis em sua visão normativa.
5
Tradução da autora para “full political participation”
I don’t think this level of equality can ever be reached on a permanent basis;
if it is reached, it will only be a temporary and unstable moment of radical
equality. But the concept of full participation is important as an intellectual
reference point that allows for a critical evaluation – and comparison – of
different participatory social practices. At the same time, the notion of full
participation, even if it is a never-to-be-reached ideal, functions as an
important democratic utopia (CARPENTIER, 2013, p. 267).
Joaquim Paulo Serra (2012) coloca a participação política como o conjunto das ações
dos cidadãos que tem como objetivo influenciar as decisões políticas. O autor enfatiza
também que, na nossa sociedade midiatizada, é impossível pensar a participação política
dissociada de algum meio de comunicação.
Pra utilizar a internet como meio de participação o cidadão deve ter acesso à rede,
tempo livre e a aptidão para se expressar. Além disso, deve ter um objetivo claro, já que,
como Habermas (2012) identifica no agir comunicativo, os indivíduos se comunicam para
chegar ao entendimento. Logo, pensando no que Carpentier (2013) coloca quanto à
igualdade de poderes, e na proposta de agir comunicativo de Habermas, chegamos a um
modelo de deliberação.
Considerações Finais
O que percebemos é que não basta que as ferramentas existam, para que a
participação política e a deliberação ocorram no ambiente on-line. A cultura política e a
configuração do mercado midiático influenciam como os atores se colocam e agem como
cidadãos.
A Sociedade da Informação reproduz, em parte, a concentração midiática dos meios
tradicionais, e a informação que adquire maior fluxo e credibilidade na rede ainda advém de
portais e sites mantidos por oligopólios. Ademais, por mais que exista a possibilidade maior
de produção de conteúdo de interação por parte do usuário, ele ainda pertence às classes mais
altas da população.
As condições de acesso e a inclusão digital na questão da literacia – ou seja, se os
usuários usam criticamente a internet – limitam, ainda, as potencialidades que existem na
internet. Mesmo que esses processos continuem no âmbito do potencial – não ocorrendo de
fato – é preciso discuti-los pra vislumbrarmos um futuro mais democrático e inclusivo.
Contudo, nesse momento de transição, devemos analisar empiricamente experiências
a partir das teorias existentes, para podemos perceber em que aspectos a internet pode
possibilitar a participação política e deliberação. Assim, a partir dos dados novas teorias
podem emergir e também novas plataformas de interação mais apropriadas a essa
configuração.
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Los dueños de la TV: elites políticas y televisión pública en Colombia 1
Resumen: Los canales públicos regionales se han constituido en una destacada oferta
televisiva en el país, pues son el único medio de comunicación que tienen las regiones
para contar y representar sus realidades y culturas sin el filtro centralista de la televisión
nacional; no obstante, en ocasiones la credibilidad de estos canales queda en entredicho,
pues la intervención de los políticos en su administración desorienta su función de
servicio público. Por tal motivo, el propósito en este capítulo es analizar, a través de un
estudio de caso, la vida pública de quienes han ocupado la gerencia del canal público
regional Telepacífico, para identificar las relaciones y dependencias que han tenido con
los políticos del departamento del Valle, y destacar cómo su llegada al cargo se asocia
más a la cercanía con la élite política que a su experiencia en el campo de los medios de
comunicación.
Introducción
Durante años en el manejo de la televisión pública nacional los criterios políticos se
impusieron sobre los técnicos, por eso funcionó más como televisión Estatal que como
TV pública, pues la asignación de programación y cargos en el Instituto de Radio y
Televisión -INRAVISIÓN- responsable del funcionamiento de la TV colombiana por
más de 50 años (1963-2004), se usaron para pagar favores políticos y no de acuerdo a
necesidades técnicas del medio de comunicación.
Por eso era habitual que a la dirección de INRAVISIÓN llegaran personas ajenas a la
televisión pero cercanas a los partidos políticos tradicionales, de ahí que se hizo común
que antes o después de pasar por la dirección, sus directivos aspiraran a cargos de
elección popular o fueran nombrados en cargos políticos sin relación con el medio.
1 Las reflexiones presentadas se desprenden del proyecto “Historia de la televisión en Colombia: procesos de
regionalización y resignificación del paisaje televisivo nacional”, desarrollado por el autor como tesis doctoral en la
Universidad Federal de Rio de Janeiro.
Uno de los escenarios en los que se observa con mayor claridad la politización de la TV
regional es en la asignación de quienes administran estos canales, ya que los gerentes,
que son nombrados por las Juntas Administradoras, con frecuencia responden a
intereses de los gobernadores.
Por lo anterior, el propósito del presente capítulo es realizar un estudio de caso para
analizar la relación que los gerentes del canal público regional Telepacífico han tenido
con la política y poderes de la región, analizando por medio del método prosopográfico,
la vida pública de quienes han ocupado la gerencia del canal durante 26 años (1988-
2014). El análisis no tiene la pretensión de juzgar la gestión de los gerentes, ni evaluar
el tipo de programación que se produjo durante su periodo, pero si busca problematizar
y responder interrogantes como: ¿Quién toman las decisiones sobre el canal público?
¿La elección de los gerentes de Telepacifico está mediada por los méritos y experiencia
de los candidatos o por intereses partidistas y personalistas de quienes intervienen en la
elección? ¿Existe una correlación entre llegada de gobernadores y cambios en la
gerencia del canal?
A pesar de esta idea y a menos de un año de puesta en marcha el Estado fue incapaz de
financiar en su totalidad el funcionamiento de la televisión pública, por eso en 1955
comenzó a entregar los espacios en la única cadena existente hasta ese momento a
empresas privadas para que elaboraran la programación y la explotaran comercialmente.
Estos fueron los primeros pasos de lo que se conoció como el sistema mixto, un modelo
de administración único en Latinoamérica, en el que el Estado conservaba la propiedad
sobre el espectro electromagnético e infraestructura, pero en el que la programación era
producida por empresas programadoras privadas.
Bajo este modelo se desarrolló un hibrido entre televisión pública y privada que marcó
de manera particular la forma de hacer televisión en el país (VIZCAÍNO, 1992; REY,
2002; MARÍN, 2006), pues no era del todo televisión pública como existía en Europa,
ni netamente privada como en Estados Unidos y en otros países de Suramérica, como se
dijo en otro momento era una televisión pública comercial (GARCÍA, 2015).
Para hacer posible la televisión en las regiones sería necesario que llegara a la
presidencia de la República un político oriundo de una región; por tanto, cuando en
1982 el antioqueño Belisario Betancur ganó las elecciones presidenciales, se abrió la
posibilidad de los canales regionales.
En cada uno de estos canales INRAVISIÓN se asoció con los departamentos de las
diferentes regiones, en consecuencia desde sus orígenes los gobernadores
departamentales se han sentido dueños de la televisión pública y han intervenido
durante años en las decisiones que sobre ella se toman, apropiándose de forma
desmedida de unos canales que deberían responder a los intereses y necesidades de los
ciudadanos de esas regiones.
Como sucedió con la televisión pública nacional, los canales regionales no pudieron
financiarse únicamente con dinero de las entidades departamentales, motivo por el cual
después de 1986 estos canales entraron a operar bajo el sistema mixto de la TV
nacional; es decir, la propiedad sobre la infraestructura seguía siendo del Estado, pero la
programación la hacían los privados; por esta razón, el hibrido TV pública-TV privada
se extendió al ámbito regional.
Prosopografía
La prosopografía es un método empleado por historiadores que consiste en analizar la
vida pública de grupos y colectividades con características comunes; así lo definió
Lawrence Stone: “la prosopografía es la investigación de las características comunes de
un grupo de actores en la historia por medio de un estudio colectivo de sus vidas” (2011,
p. 115). La prosopografía se ha utilizado para estudiar grupos dirigentes o con cargos de
poder en diferentes épocas: “Desde el comienzo, el objeto de estudio privilegiado
fueron las élites y sólo más recientemente, gracias al uso generalizado de la informática,
otros actores, más masivos, pudieron ser analizados prosopográficamente” (FERRARI,
2010, p. 531). La prosopografía no es útil para estudiar cualquier tipo de colectividad,
en los estudios adelantados bajo este método sobresalen los dedicados a grupos de
poder:
Además del status, es fundamental que sobre el grupo estudiado sea posible hallar
información que permita caracterizarlo y reconstruir su historia, por eso “las
investigaciones biográficas de un número amplio de personas solamente es posible para
grupos razonablemente bien documentados y que la prosopografía está entonces
limitada por la cantidad y cualidad de los datos acumulados sobre el pasado” (STONE,
2011, p. 123).
El segundo paso para avanzar en una prosopografía consiste en listar las características
visibles del grupo elegido, o sea, la información que tienen en común y que ayudarán a
establecer relaciones. Para los gerentes de Telepacífico, se consideró importante
identificar: periodo en el que ocuparon la gerencia, criterios de selección, motivos de
salida, nombre del(os) gobernador(es) bajo el que desempeñaron la función, profesión y
estudios, trabajos que ocuparon antes y después de pasar por el canal regional. Con esta
información se buscó identificar el perfil de los gerentes para conocer su formación
académica, experiencia en el campo de la televisión y medios de comunicación; los
cargos públicos que desempeñaron, saber si ocuparon cargos de elección popular o
puestos públicos de libre nombramiento; sus vínculos con los alcaldes y gobernadores
de la región.
En la prosopografía el tema de las fuentes es central, ya que existen personajes que por
su nombre, reputación y transcendencia es fácil recopilar datos, en tanto se hallarán
otros para los que la información es casi inexistente, por ello “el éxito de la
prosopografía depende de las preguntas que se formule el investigador pero también de
la existencia, la calidad y la disponibilidad de las fuentes” (FERRARI, 2010, p. 543).
Para el caso de los gerentes del canal regional se recurrió a los archivos del principal
periódico de la región El País de la ciudad de Cali, así como al del periódico de
circulación nacional El Tiempo3. Igualmente, se revisó la página web Telepacífico y los
documentos que ahí hay disponibles, como actas, acuerdos y comunicados.
3 La revisión de archivo se realizó sobre los periódicos publicados entre julio 3 de 1988, fecha en la que entró en
funcionamiento el canal y el 30 de septiembre de 2014, mes en el que llegó a la gerencia Mauricio Prieto.
En la actualidad funcionan ocho canales regionales en Colombia, Telepacífico se
inauguró el 3 de julio de 1988 y fue el tercer canal de este tipo en entrar en
funcionamiento. Como canal público tiene la responsabilidad de producir y emitir
información y programación cultural y educativa para los cuatro departamentos que
conforman la región pacifica colombiana: Chocó, Valle del Cauca, Cauca y Nariño.
La sede del canal está ubicada en Cali, capital del Valle del Cauca. Esta ciudad es
considerada la capital de la región y principal polo de desarrollo de la misma. La
ubicación de Telepacifico en Cali ha ocasionado, no solo un centralismo en la
producción de los contenidos (GARCÍA, 2011), sino un control casi exclusivo de los
políticos y gobernantes de la ciudad y el departamento del Valle, ya que los demás
departamentos no tienen ninguna participación en la dirección y control del canal.
Al igual que los demás canales regionales del país, Telepacífico está organizada como
Empresa Industrial y Comercial del Estado -EICE-, una figura administrativa que la
orienta a gestionar parte de su presupuesto y organizar su programación según
parámetros de la TV comercial, pues debe recurrir a la comercialización de sus espacios
para sobrevivir financieramente (GARCÍA, 2015).
Actualmente los socios de Telepacífico son: El departamento del Valle del Cauca, el
Instituto Financiero para el desarrollo del Valle -INFIVALLE-, y el Ministerio de las
Tecnologías y las comunicaciones –MINTIC- (Tabla 1). Se debe resaltar que
INFIVALLE es “un establecimiento público departamental, descentralizado, de fomento
y desarrollo regional […]. Su Junta Directiva está presidida por el Gobernador del
Departamento y es representando legalmente por un Gerente” (www.infivalle.gov.co).
Lo anterior quiere decir que el gobernador del Valle tiene participación en Telepacífico
como gobernador, y también a través de INFIVALLE, institución dependiente de su
despacho.
Fuente: Sociedad Televisión del pacífico LTDA. (Acuerdo 005, 16 de mayo de 2012).
La dirección del canal está en cabeza de la Junta administrativa que es la encargada de
nombrar el gerente y que está conformada por: el Gobernador o su delegado, el gerente
de INFIVALLE o su delegado, un representante del Ministerio de las Tecnologías de la
Información, un representante de la ANTV y otro miembro elegido libremente por la
gobernación. Como se aprecia, el poder que tiene el gobernador del Valle sobre
Telepacífico es bastante amplio, pues tres de los cinco miembros de la Junta están
asociados a este cargo, por lo que el contrapeso que pueden hacer el MINTIC o la
ANTV es mínimo. Según los estatutos actuales del canal «La junta administradora
podrá deliberar y decidir con la asistencia de tres de sus miembros y sus decisiones se
adoptarán con el voto favorables de la mayoría de los asistentes» (Artículo 16), esto
quiere decir, que aunque no asistan los miembros del MINTIC y ANTV, los tres
miembros vinculados a la gobernación podrán tomar decisiones sobre el canal. La Junta
administrativa debe ser presidida por el gobernador, además en caso de renuncia o
ausencia del gerente, el nombramiento provisorio es potestad del gobernador (Artículo
21).
Con todos estos derechos sobre el canal, la figura del gobernador del Valle se impone
sobre los interés regionales y éste termina siendo manejado con criterios políticos y
propagandísticos; por tanto, como se mostrará en el próximo apartado, la llegada de los
gerentes al canal está más asociada a la cercanía y vínculos que tengan con la clase
política de este departamento, que por su trayectoria y reconocimiento en los medios.
Entre 1988 y 2014 el canal ha tenido 15 gerentes. Esto quiere decir, que en promedio
Telepacífico cambia de gerente cada veintiún meses, lo cual refleja inestabilidad en la
dirección, pero como se mostrará más adelante, tiene que ver con la coincidencia de los
periodos de los gerentes con el de los gobernadores del Valle.
La mayoría de los gerentes del canal regional no han llegado a la gerencia gracias a su
experiencia y trayectoria en el campo del periodismo o la comunicación, sino por los
vínculos y relaciones con la clase dirigente de la ciudad y la región. De ahí que de los
15 gerentes, solo se tenga información de dos que son formados en el campo de los
medios de comunicación; en tanto, ocho de ellos son profesionales del derecho. Salvo
contadas excepciones, pocos de los que han ocupado la gerencia han tenido experiencia
profesional dentro del canal, y los que la han tenido ha sido en el área jurídica y no en la
producción, programación o dirección de programas.
Telepacífico y la elite política del Valle del Cauca
Desde 1988 son muchos los acontecimientos, programas y personajes que han marcado
la historia de Telepacífico, sin duda quienes han ocupado la gerencia se han constituido
en actores centrales en su desarrollo, por eso, en este apartado se describe el perfil de los
15 gerentes que pasaron por el canal. La descripción comienza con Amparo Sinisterra
de Carvajal, impulsora del canal y finaliza con Mauricio Prieto, gerente que inició su
periodo en septiembre de 2014.
Posteriormente llegaría Luis Guillermo Restrepo, abogado que fue gerente entre Julio de
1995 y enero de 1998 durante la gobernación del conservador Germán Villegas. Antes
de ocupar la dirección del canal público, no se le conocía experiencia en medios de
comunicación, en cambió si se destacaba su participación en cargos de nombramiento
por parte de los políticos de la región, como la gerencia del Instituto Financiero para el
Desarrollo del Valle del Cauca -INFIVALLE. Además, fue gerente del Banco Ganadero,
Banco Mercantil y Corporación Financiera Agropecuaria -Cofiagro-. Es decir, su mayor
experiencia estaba vinculada al sector financiero y no a los medios de comunicación.
Restrepo es miembro del partido Conservador, tanto así que cuando ocupó la gerencia
de INFIVALLE lo hizo bajo el mandato de Carlos Holguín Sardi, el político
conservador más influyente del departamento; en tanto, la gerencia del canal la asumió
bajo otro líder de este partido, Germán Villegas. Una vez salió del canal, se conoce poco
de los cargos que ocupó. No obstante, durante la gerencia de Germán Patiño (2000-
2003), se pueden encontrar actas de la Junta Administrativa del canal firmadas por Luís
Guillermo Restrepo como Presidente; sin embargo, no se tiene claridad si su
participación en la Junta se dio como representante de la Gobernación, de INFIVALLE
o como el otro miembro al que tiene derecho el gobernador, que por la época de las
actas era Germán Villegas. Actualmente Restrepo es director de la sección Opinión del
periódico El País de Cali; empresa que pertenece a los Lloreda, otra poderosa familia
conservadora caleña.
Propuesta por el recién posesionado gobernado del Valle, Gustavo Álvarez, en enero de
1998 llega a la gerencia Mariana Garcés, abogada con experiencia en el sector público y
privado que desde muy joven fue apoyada e impulsada por Amparo Sinisterra, pues sus
familias habían participado en diferentes proyectos públicos y privados. Como se
mencionó anteriormente, el esposo de Sinisterra y el padre de Garcés, trabajaron juntos
en el gobierno de Carlos Lleras, y Bernardo Garcés fue socio de Sinisterra en la
creación de Proartes. Mariana Garcés se vinculó a Telepacífico de la mano de Amparo
Sinisterra, ahí ocupó cargos administrativos hasta llegar a la gerencia, cargo que
desempeñó hasta 2000. Su paso por Telepacífico, además de la pertenencia y amistad a
las familias dirigentes de la región, contribuyó para que Garcés continuara su carrera en
el ámbito de la cultura, es así que luego pasó a la Comisión Nacional de Televisión y en
2005 ocupó la Secretaria de Turismo y Cultura de Cali, para luego ocupar la dirección
Proartes.
Tras la salida de Garcés fue nombrado Germán Patiño, reconocido escritor, historiador y
periodista que ocupó entre el 2000 y 2003 la gerencia del canal, y aunque por ser un
personaje del sector cultural pareciera tener las cualidades para ocupar el cargo,
aparentemente su llegada a ese puesto estuvo influenciada por su cercanía con los
políticos de la región. Antes de llegar a Telepacífico, se había desempeñado como
Asesor de Germán Villegas cuando éste fue alcalde de Cali entre 1990 y 1992, y
ocuparía la Gerencia Cultural del departamento entre 1996 y 1997, cuando el propio
Villegas fue Gobernador. Posteriormente Germán Patiño se desempeñaría en la
dirección de cultura del municipio de Cali durante la alcaldía de Ricardo Cobo (1998-
2000); tanto Villegas como Cobo son líderes políticos del Partido Conservador. Parte
del periodo de Germán Patiño en Telepacífico lo ejerció durante el segundo periodo de
Villegas como gobernador (2001-2003).
Patiño posee un reconocimiento como escritor e historiador; fue el impulsor del festival
de música del pacífico “Petronio Álvarez” y tiene varias publicaciones sobre la cultura
afrodescendiente; sin embargo, como se puede apreciar su experiencia no estaba en el
campo de la televisión ni los medios de comunicación.
Lo mismo se podría decir de Héctor Alonso Moreno, que hasta su llegada a la gerencia
solo se le conocía un breve paso por la secretaria de educación departamental, además
de un puesto de Asesor de Angelino Garzón. La mayor parte de su carrera la desempeñó
como profesor universitario, de ahí que sea el gerente con más títulos académicos, ya
que además de ser licenciado en Historia, y magíster en Estudios Políticos, posee un
PhD en realidad política de América Latina. Títulos que sin embargo, no parecieran
facultarlo para gerenciar un canal de televisión, por lo que sin duda, su llegada al canal
está asociada al gobernador de turno.
A la salida de Moreno se vincula Víctor Manuel Salcedo que fue gerente del canal entre
enero de 2007 y marzo de 2009; esto quiere decir, que empezó su periodo durante el
último año de gobernación de Angelino Garzón y el primero de Juan Carlos Abadía.
Antes de ocupar la gerencia del canal trabajó en la alcaldía de Buga y en la empresa de
Licores del Valle. Cuando sale del canal, Víctor Manuel es nombrado Secretario de
Gobierno del departamento por Juan Carlos Abadía, gobernador que sería suspendido en
2010 por participación en política y sobre el que recayeron varias investigaciones
disciplinarias.
Víctor Manuel Salcedo es reemplazado por Silvia Patricia López, abogada que tendría
un paso corto por Telepacífico, pues no alcanzó a estar un año al frente del canal, al que
renunciaría antes de la adjudicación de la franja informativa, la cual según algunos
observadores era manipulada por el exgobernador Abadía para castigar a un
telenoticiero que no lo apoyó en su proyecto político. Cabe resaltar que Silvia Patricia
había firmado contratos de asesoría con la gobernación del departamento mientras
Abadía era gobernador.
Ante la renuncia de López la Junta nombra a Lorena Ivette Mendoza que se venía
desempeñando como jefe de la oficina jurídica de Telepacífico. Antes de entrar a
trabajar en el canal regional Lorena Ivette Mendoza trabajó en la Personería y
Contraloría de Cali, y como Secretaría Jurídica de la alcaldía de Jamundí.
Tras su salida del Canal en 2012, Lorena Ivette Mendoza es nombrada Procuradora
Provincial de Cali y luego en Barranquilla, lo cual evidencia una vez más que la vida de
los gerentes de Telepacífico, antes y después de ocupar ese cargo, no está vinculada a
los medios, sino a cargos públicos controlados por los políticos regionales.
Cuando Mendoza sale de Telepacífico, llega Alberto José Cobo, quien es nombrado en
enero de 2012 por el recién posesionado gobernador Héctor Fabio Useche. Cobo es
abogado de formación y antes de ser gerente era jefe de la oficina de control interno del
canal y se había desempeñado como asesor de Departamento Administrativo de Gestión
del Medio Ambiente – DAGMA, entidad del municipio de Cali.
Como el gobernador Useche sería destituido por los entes de control tres meses después
de su posesión, la estadía de Cobo en el canal fue corta, pues se asegura que este era una
ficha política de Useche para pagar favores políticos a quienes lo apoyaron en campaña.
Ante la destitución del gobernador se convocan nuevas elecciones, que son ganadas por
Ubeimar Delgado, político vinculado al partido conservador.
A partir de esta relación entre Azcarate y Guzmán, se comentó que Telepacífico había
quedado en manos de Mauricio Guzmán, que a pesar de su destitución y vinculación al
narcotráfico, sigue siendo una figura política influyente. Ubeimar Delgado el
gobernador que como presidente de la Junta Administrado posesionó a Luz Elena
Azcarate, fue concejal de Cali durante el mismo periodo en el que Mauricio Guzmán
fue alcalde.
Azcarate estaría al mando del canal hasta septiembre de 2014, cuando renuncia a la
gerencia para aspirar a la alcaldía de Cali por el partido Conservador. En lugar de Luz
Elena Azcarate, una vez más se nombra como gerente a un profesional cercano de la
gobernación, en este caso, Mauricio Prieto, que durante el mandato de Ubeimar
Delgado fue Gerente de la Imprenta Departamental, gerente de la Beneficencia del Valle
y Secretario Jurídico del despacho del gobernador.
Conclusiones
Telepacífico se ha convertido en un botín político de la clase dirigente del Valle, por tal
motivo no se ha proyectado como medio de comunicación de alcance regional, su
desarrollo se mueve al vaivén de los intereses políticos, de ahí los cortos periodos que
los gerentes, pues su permanencia en el cargo depende de la afinidad con la gobernación
del departamento y no de sus capacidades para la gerencia de la empresa televisiva.
Emulando el periodo en el que la TV pública nacional era manejada con criterios
partidistas, Telepacífico ha renovado la politización de la televisión entregando la
gerencia a figuradas vinculadas a los poderes regionales y afiliadas a los partidos
políticos tradicionales.
Referencias
Resumo: Este artigo discute os desafios da Comunicação Pública no cenário da América Latina,
onde se constata que a noção do que é “público” é, muitas vezes, limitadamente atrelada ao
sentido governamental/estatal. Nossa problemática parte de que este fato é prejudicial ao
desenvolvimento/reverberação dessa esfera da Comunicação, sobretudo de seus conteúdos.
Objetivamos refletir sobre conceitos e práticas propostos por Jenkins, Ford e Green (2014), na
obra Cultura da Conexão, como possibilidades de incrementar a atuação da Comunicação
Pública, motivar sua aceitação, ampliar sua abrangência e, sobretudo, a partir da participação
dos diferentes agentes envolvidos nesse processo, principalmente o cidadão, “propagar” seus
conteúdos no cenário mediático hodierno. Com abordagem metodológica dialética, trata-se de
um exercício reflexivo e crítico que deseja despertar a compreensão de que os desafios aqui
apresentados são também caminhos sistemáticos que levam a entender como a ideia e práticas
de “propagabilidade” podem potencializar a Comunicação Pública no contexto latino-
americano.
Apresentação
2
e notadamente dependente da efetiva participação/engajamento dos cidadãos que
compõem as audiências.
Metodologicamente, nosso estudo está estruturado, de acordo com Lakatos e
Marconi (1992 apud SANTAELLA, 2001, p.138), em certos aspectos que norteiam uma
abordagem dialética, uma vez que tal aporte interpretativo problematiza o conhecimento
“dentro de um contínuo em constantes mudanças” e inacabamento “que contém um todo
que abarca contrários em incessantes conflitos”. Essa definição parece-nos bem
apropriada, uma vez que entendemos que a Comunicação Pública depara-se,
atualmente, com o desafio de se inserir em um espaço de mutação frequente, o ambiente
digital.
3 Para Duarte (2012, p. 53): “O interesse geral e a utilidade pública das informações que circulam na
esfera pública são pressupostos de comunicação pública.”
4 De acordo com Matos (2012, p. 52) “a esfera pública é o conjunto de espaços físicos e imateriais em
que os agentes sociais podem efetivar sua participação no processo de comunicação pública”.
discutida/acessada/estudada. (Cf. ESCUDERO; BERTI, 2012). Por outro lado, é preciso
destacar que, tomando o exemplo específico do Brasil, podemos afirmar que há
iniciativas que indicam uma preocupação no desenvolvimento de pesquisas nessa área,
fomentadas e protagonizadas, por exemplo, pelo Observatório da Radiodifusão Pública
na América Latina5.
Voltando-se especificamente para o fenômeno da Comunicação Pública no
subcontinente, a atuação do referido Observatório enquanto Espaço Público Virtual tem
se destacado por suscitar, através das suas análises e diagnósticos, a imprescindível
compreensão sobre as reais funções e formas de ação dos meios públicos, os quais,
muitas vezes, são “confundidos” e/ou limitadamente “rotulados” como
estatais/governamentais (Cf. ESCH; BIANCO; MOREIRA, 2013), no sentido político-
partidário, bem como, por vezes, enxergados de maneira elitista, o que de certo modo,
acaba repelindo as audiências da programação das Emissoras Públicas de Comunicação.
Como resultado de uma primeira fase do projeto de investigação sobre o sistema
de radiodifusão pública de dez países da América do Sul, os pesquisadores Esch, Bianco
e Moreira (2013) concluíram que em tais países (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela) há tendências de mudanças
no que se refere a: a) construção de novo marco regulatório; b) criação de empresas
públicas no lugar de estruturas jurídicas estatais centralizadas; c) instituição de
conselhos deliberativos relativamente autônomos encarregados de supervisão da gestão
das emissoras; d) diversificação de fontes de financiamento na tentativa de reverter a
dependência de recursos de governos; e) renovação da programação com abertura para
produção independente.
Esses resultados são pistas que nos demonstram que este é um momento
propício para pensarmos, no contexto da América Latina, estratégias de consolidação da
Comunicação Pública e, para tanto, acreditamos que a teoria e as práticas de
propagação, propostas por Jenkins, Ford e Green (2014), são cabíveis justamente por
colocarem no centro dessa discussão a importância da participação dos cidadãos, da
promoção do diálogo destes com os profissionais de comunicação e estudiosos da
mídia.
Ainda tomando com referência o que apregoam esses autores norte-americanos,
Considerações finais
Referências
ESCH, Carlos Eduardo; BIANCO, Nélia Rodrigues Del; MOREIRA, Sônia Virgínia.
Radiodifusão pública: um desafio conceitual na América Latina. Revista FSA
(Faculdade Santo Agostinho), v. 10, p. 67-86, 2013.
JENKINS, Henri; FORD, Sam; GREEN, Joshua. Cultura da Conexão: criando valor e
significado por meio da mídia propagável. Tradução Patrícia Arnaud. São Paulo: Aleph,
2014.
GLADWELL, Malcom. The tipping point: how little things can make a big difference.
Boston: Little, Bronw, 2000.
MATOS, Heloíza. Comunicação pública, esfera pública e capital social. DUARTE,
Jorge. (org.). Comunicação Pública: Estado, mercado, sociedade e interesse público.
São Paulo: Atlas, 2012.
MONTEIRO, Graça França. A singularidade da comunicação pública. DUARTE, Jorge.
(org.). Comunicação Pública: Estado, mercado, sociedade e interesse público. São
Paulo: Atlas, 2012.
MOTA, Maurício. Prefácio. Como fazer o seu vídeo ter 2 milhões de acesso. In:
JENKINS, Henri; FORD, Sam; GREEN, Joshua. Cultura da Conexão: criando valor e
significado por meio da mídia propagável. Tradução Patrícia Arnaud. São Paulo: Aleph,
2014.
UNESCO. Public Broadcasting: Why? How? Unesco: 2001. Disponível em: <
http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001240/124058Eo.pdf >. Acesso em: 05 mai
2015.
A verdade e o jornalismo: Uma perspectiva filosófica
RESUMO: Este capítulo tem como objetivo discutir o conceito de verdade e sua relação com
o jornalismo. Para tanto, partimos da oposição entre a concepção positivista de verdade,
desenvolvida pelo filósofo francês Auguste Comte e que serve de base para a prática
jornalística contemporânea, e a concepção sócio-histórica da verdade, presente nas obras de
Friedrich Nietzsche e Michel Foucault, buscando evidenciar a divergência entre a deontologia
do jornalismo e seus efeitos sobre a sociedade na qual está inserido.
1 O autor é licenciado em filosofia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e bacharel em jornalismo pela Universidade Sagrado Coração (USC). Atualmente é mestrando em comunicação
na Universidade de Brasília (FAC/UnB). E-mail: f.strongren@yahoo.com.br.
pela premissa da objetividade jornalística. Isto é, o jornalista, ao dedicar-se a retratar os fatos
objetivamente, apresenta uma verdade determinada pelos grupos dominantes, comprometendo
uma das funções básicas do jornalismo: ser instrumento de proteção da sociedade dos abusos
dos governantes e das instituições e de transformação desta mesma sociedade (TRAQUINA,
2005, p. 49-50).
Nossa pesquisa toma os princípios metodológicos da filosofia que, como destacam
Folscheid e Wunenburger (2006), não existe de forma independente e externa ao ato de
filosofar, como um conjunto de técnicas a serem aplicadas, mas surgem de modo inerente à
lógica e exigências da pesquisa. “Por isso a prática da filosofia é, antes de mais nada,
inseparável de uma freqüentação de textos que devemos aprender a ler, a explicar e a
comentar” (FOLSCHEID e WUNENBURGER, 2006, XI). Neste caso, retirei a primeira
oração, esperando deixar o parágrafo mais direto e objetivo, porém não consegui imaginar
uma forma de reescrevê-lo.
Deste modo, nosso percurso metodológico teve início com a leitura das obras de
Comte, Nietzsche e Foucault e de livros e artigos que destacam a questão da verdade e de sua
relação com o jornalismo. Em seguida, passamos para a análise e comparação dos conceitos-
chaves da pesquisa (verdade, jornalismo e objetividade), que serviu de base para a redação
deste capítulo.
O século XIX foi testemunha de uma grande mudança no jornalismo. Estimulado pelo
desenvolvimento do capitalismo, pela consolidação da democracia e da imprensa como
indústria passiva de lucro, o que se viu foi uma reformulação dos propósitos e conceitos do
jornalismo.
A principal mudança que surgiu nesse período foi a separação entre informação e
opinião, influenciada pelo pensamento positivista de Auguste Comte. Dentro dessa nova
proposta, o jornalismo assumiu para si o valor de “espelho do mundo”, trazendo a ideia de
que apresenta em suas páginas a realidade tal como ela é, adotando um conceito fundamental
no seu desenvolvimento contemporâneo: a objetividade (BARROS FILHO, 1995;
SCHUDSON, 2010; TRAQUINA, 2005).
Barros Filho (1995, pg. 20) diz que este conceito de objetividade dividiu as opiniões
dos teóricos e pensadores do jornalismo moderno, com grupos defendendo sua prática e
outros criticando-a, alertando sobre a impossibilidade de que a objetividade seja alcançada ou
pelo fato dela ser prejudicial ao jornalismo, seja por não cativarem o leitor, despersonalizarem
o jornalista ou dar uma visão superficial da realidade. Todavia, seja entre os defensores ou os
críticos da objetividade jornalística, o paradigma da verdade não parece ser criticado.
Mas, afinal, o que seria essa informação verdadeira que os jornalistas tanto buscam? O
que é essa verdade na qual se baseia a produção jornalística?
Sem uma clara definição da origem e fundamento da verdade no jornalismo, as
respostas dadas às outras questões proeminentes do jornalismo contemporâneo, como sua
função social, sua deontologia e a profissionalização da categoria, tendem a ser construídas
em um terreno sem fundamentos.
Fundada pelo filósofo francês Auguste Comte na primeira metade do século XIX, o
positivismo filosófico atingiu seu auge nos últimos anos do mesmo século, enveredando-se
pelas mais diversas esferas do mundo ocidental moderno, incluindo o jornalismo, que se
consolidava como veículo de comunicação de massas. No positivismo, Comte propõe uma
sociologia, um estudo da sociedade que tivesse como princípio único o empírico e que
alcançasse resultados tão incontestáveis quanto os das ciências exatas, fugindo, assim, das
explicações metafísicas dos fenômenos sociais. Nessa busca pelo fato social em si, o
positivismo se distancia de tudo o que é criado pelo homem, como os juízos de valor, que no
jornalismo resultou na separação do fato da opinião (BARROS FILHO, 1995, p. 22).
Não foi somente na distinção entre fato e opinião que o positivismo contribuiu para o
jornalismo. Ao tornar a sociedade um objeto científico, o positivismo trouxe os métodos das
ciências exatas para o universo das relações humanas, tendo como princípio básico a
observação neutra e imparcial da realidade, nas palavras de Comte (2002, p. 1): “A pura
imaginação perde então de modo irrevogável a sua antiga supremacia mental e subordina-se
necessariamente à observação, de maneira a constituir um estado lógico plenamente normal”.
Além do pensamento positivista, a consolidação da objetividade jornalística no fim do
século XIX também esteve ligada a fatores econômicos e tecnológicos.
Com a expansão do jornalismo e o crescimento da publicidade gerado pelo
desenvolvimento da sociedade industrial ao longo do século, o jornal estabeleceu-se como
uma empresa capitalista, capaz de gerar lucros com a comercialização do produto informação.
Na busca pelo aumento das tiragens, os jornais depararam-se com a necessidade de atender
um público mais heterogêneo, ou seja, que não pertencia mais a uma elite, nem compartilhava
de um único ideal político.
Ao lado do aparato comercial e filosófico, o ideal de objetividade jornalística também
obtinha suporte e referência do desenvolvimento tecnológico da segunda metade do século
XIX. O primeiro desses suportes, lembra Traquina (2005, p. 38), veio com o advento da
fotografia, da qual o jornalismo tomou o padrão de realidade apresentado por uma foto como
referência de reprodução da realidade. Outro fator determinante foi a ampliação da rede
telegráfica, que uniu o mundo até a década de 1870, fortaleceu as agências de notícia que se
propunham a oferecer só os fatos, “sem descontentar leitores e anunciantes (efetivos e
potenciais) de cores ideológicas e inclinações partidárias distintas” (BARROS FILHO, 1995,
p. 24-25). O novo paradigma da objetividade, combinado com as novas técnicas de redação e
estilo, criou a imagem do jornalismo como reflexo da realidade e levou o jornalista a uma
categoria próxima à do cientista.
Neste mesmo período em que ganha sua estrutura contemporânea, o jornalismo
assume um papel fundamental na sociedade. Exemplificando essa mudança de perspectiva da
imprensa, Traquina (2005, p. 49) cita o filósofo James Mills, que via no jornal “um
instrumento de reforma da sociedade” e o ex-presidente dos Estados Unidos, Thomas
Jefferson, que afirmava ser a liberdade de impressa parte integrante da democracia. O
pesquisador português segue afirmando que:
Mesmo sendo amplamente aceita desde o século XIX até os tempos atuais, a visão
positivista da verdade encontrou críticos como Friedrich Nietzsche e Michel Foucault, que
apontam o local da verdade não no mundo empírico, mas como fruto de uma construção
social que envolve interesses morais e jogos de poder. Tal perspectiva, ao ser colocada em
confronto com as práticas jornalísticas e sua função social, evidenciam uma contradição que
deixaremos mais claro nas próximas seções desse capítulo, onde apresentamos as concepções
de Nietzsche e Foucault sobre a verdade e sua ligação com o jornalismo. A discussão está
apressada.
“Como poderia algo nascer do seu oposto? Por exemplo, a verdade do erro?
Ou a vontade de verdade da vontade de engano? [...] as coisas de valor mais
elevado devem ter uma origem outra, própria – não podem derivar desse
fugaz, enganador, sedutor, mesquinho mundo, desse turbilhão de insânia e
cobiça! Devem vir do seio do ser, do intransitório, do deus oculto, da ‘coisa
em si’ – nisso, e em nada mais, deve estar sua causa” – Este modo de julgar
constitui o típico preconceito pelo qual podem ser reconhecidos os
metafísicos de todos os tempos [...] (2005, p. 9-10).
2
Devemos destacar que os metafísicos aos quais Nietzsche se refere são distintos dos metafísicos de Comte. Para
o filósofo francês, metafísica é um estágio de transição entre as explicações teológicas e o positivismo. Já para
Nietzsche, metafísica é a busca por verdades universais, grupo no qual se incluía Comte.
O que é a verdade, portanto? Um exército móvel de metáforas, metonímias,
antropomorfismos, numa palavra, uma soma de relações humanas que foram
realçadas poética e retoricamente, transpostas e adornadas, e que, após uma
longa utilização, parecem a um povo consolidadas, canônicas e obrigatórias.
(2008, p. 36).
Desta forma, Nietzsche conclui que a verdade não vai além de um mentir socialmente,
conforme uma convenção, da qual o homem se mantém fiel pela necessidade que possui de
viver em sociedade. Em oposição aos efeitos benéficos da verdade, a mentira nasce do abuso
nocivo dessas convenções.
Tal qual o estoico, o jornalista também vê o fato noticioso (natureza) segundo sua
própria imagem. Isto é, acreditando no ideal – e no poder – da objetividade, o jornalista acaba
por transpor seus valores (a moral de sua sociedade) sobre os valores dos outros.
Apesar de parecer, de certo modo, um jornalismo mais ligado ao humor, as sessões do
tipo “mundo estranho” revelam um pouco dessa transposição de valores e verdades locais em
outras sociedades. Observando as matérias publicadas nas editorias “Esquisitices”, do portal
R7, e “Planeta Bizarro”, do G1, vemos uma amplitude diversa nos temas abordados, que vão
desde fotos de prisão (snapshot) até receitas inusitadas e fotos curiosas. Talvez, o único
padrão é a origem das matérias: o exterior. No entanto, algumas matérias locadas nessas
editorias chamam a atenção ao enquadrar como “bizarro” ou “esquisito” hábitos culturais ou
comportamentos de outrem. O mesmo pode ser notado em outras editorias e séries
documentais como a “Tabu”, do National Geographic Channel.
Essa prática vai de encontro ao princípio do jornalismo de “[...] fornecer aos cidadãos
3
Esses números do Grupo Clarín apresentados pela matéria do G1 é contestada por diversos sites na internet,
que apresentam uma listagem muito maior de veículos pertencentes ao grupo de mídia argentina (ESTE, 2013;
MIRÁ, 2011).
as informações necessárias para o desempenho das suas responsabilidades cívicas [...]”
(TRAQUINA, 2005, p. 50), uma vez que as verdades que chegam ao leitor são sempre as
mesmas, isto é, construídas sobre a moral que ele integra, não apresentando novidades que
possibilitem a construção comparativa. Nietzsche aponta o mesmo problema ao falar da
prática dos filósofos em “Além do bem e do mal”:
Visto sob a ótica nietzschiana, o jornalista, ao primar pela objetividade, reproduz uma
verdade já aceita, a moral já praticada, sem oferecer aos leitores informações para que possam
confrontar a sua realidade, a estruturação social da qual fazem parte.
Essa reprodução da sua própria moral se liga a afirmação de Nietzsche que não seriam
os sentidos os responsáveis pela apreensão do objeto, antes disso, construímos a realidade
através de nossa fé, de nossa ficção, com hipóteses “prematuras”. Reproduzimos, antes do
contato sensitivo, aquilo com o que já estamos acostumados e não a vivência mesma.
Para nosso olho é mais cômodo, numa dada ocasião, reproduzir uma imagem
com frequência já produzida, do que fixar o que há de novo e diferente numa
impressão: isto exige mais força, mais “moralidade”. [...] Mesmo nas
vivências mais incomuns agimos assim: fantasiamos a maior parte da
vivência e dificilmente somos capazes de não contemplar como “inventores”
algum evento. Tudo isso quer dizer que nós somos, até a medula e desde o
começo – habituados a mentir. (NIETZSCHE, 2005, p. 81. Grifo do autor).
Talvez esse seja um dos pontos mais conflitantes do pensamento nietzschiano com o
ideal de objetividade jornalística. Mesmo levando em conta o reconhecimento, dentro da
teoria do jornalismo, de que a objetividade é um ideal que deve nortear a ação do jornalista,
afirmar que é “mais cômodo, numa dada ocasião, reproduzir uma imagem com frequência já
produzida” e que “fantasiamos a maior parte da vivência” desconstrói a possibilidade da
objetividade.
Como seria possível relatar um fato, por essência singular, se ao observarmos, só
trazemos de volta aos nossos olhos aquilo que eles já viram antes? Provavelmente, os
defensores mais ferrenhos da objetividade poderiam contra-argumentar, dizendo que, no caso
de Nietzsche estar certo, nossas experiências estariam reduzidas a um pequeno número e não
poderíamos sequer imaginar a existência do singular.
Porém, a tese nietzschiana não pretende excluir a ideia do singular, ao contrário, ele
afirma que a experiência singular é, previamente, carregada de moral. Isto é, aplicamos todo o
nosso repertório social no ato singular.
No jornalismo, os “olhos cômodos” do repórter influenciam sua observação em
diversos aspectos. Encontramos um exemplo dessa valoração moral imediata nas coberturas
iniciais de diversos veículos de comunicação sobre o Cartão Recomeço. Apresentado
oficialmente em 9 de maio de 2013, pelo Governo do Estado de São Paulo, como um projeto
para custear o atendimento de dependentes químicos em clínicas e entidades credenciadas, o
projeto foi apelidado pelos jornais de “Bolsa Crack”, passando a ideia que o valor pago pelo
estado iria para o usuário. Em um segundo momento, os jornais trocaram a expressão negativa
por “Bolsa Anticrack”.
O DISCURSO JORNALÍSTICO
Como um dos principais leitores de Nietzsche no século XX, Michel Foucault coloca-
se ao lado do pensador alemão na crença de que a verdade é construída socialmente, detendo-
se especialmente as relações de poder que envolvem essa construção. Nessa perspectiva, ele
afirma que o discurso é uma forma de exercício de poder e de construção da realidade.
Para Foucault, a construção social do discurso utiliza de certos procedimentos para
determinar quais discursos são válidos e quais são relegados ao campo da mentira e da
inexistência. O primeiro deles é a interdição, que estabelece quem, quando e onde um
discurso pode ser pronunciado (FOUCAULT, 2010, p. 9).
No jornalismo encontramos a interdição em seus três modos: o tabu do objeto, ou seja,
quando determinado assunto é excluído ou colocado como periférico na produção jornalística,
como o uso do termo “ex-namorada” para designar Adriana, caso extraconjugal do então
senador Antônio Carlos Magalhães em 2003 (GOMES, 2004, p. 12); o ritual da circunstância,
que afirma que não se pode falar de tudo em qualquer lugar, como o caso de coberturas de
suicídios, onde o jornalismo não noticia os casos de suicídio para não estimular outros
potenciais suicidas; e direito privilegiado de quem fala, como a busca por fontes oficiais em
casos policiais (onde o que vale é o que está no boletim de ocorrência, não, necessariamente, a
versão dos envolvidos).
Esse último tipo de interdição também está diretamente ligado ao outro tipo de
exclusão apontado por Foucault: a separação e rejeição, em um procedimento que identifica o
que é verdadeiro e falso, baseado, sobretudo, na autoridade de quem fala. E, como apontam
Franzioni, Ribeiro e Lisboa (2011), no artigo “A verdade no jornalismo: relações entre prática
e discurso”, o direito de fala é ligado em sua maioria às elites do poder. Tal posição é
ratificada pelas autoras, fazendo referência ao trabalho de Léon Signal, que “mostrou que a
maioria das matérias de primeira página dos dois principais jornais norte-americanos, o New
York Times e o Washington Post, eram fortemente inspiradas por fontes governamentais”
(Ibidem, p. 50). Assim, as autoras concluem que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Gianela Turnes1
Resumo: O artigo faz uma revisão bibliográfica das pesquisas sobre a criação do novo
cargo de editor de mídias sociais em redação de jornal. Apresentamos os resultados
desses estudos e identificamos tendências e metodologias utilizadas nas pesquisas. Na
literatura revisada, a atuação desse novo profissional nas mídias sociais estaria alterando
principalmente a relação do jornalista com o público. Porém, concluímos que ainda
faltam estudos aprofundados sobre a identidade do novo cargo, que poderiam apontar se
esse profissional representa, concretamente, um novo perfil profissional do jornalista.
1
Gianela Turnes es Economista, diplomada en Economía y Gestión Bancaria, y maestranda en
Información y Comunicación por la UdelaR; diplomada en Gestión Cultural y Comunicación por
FLACSO y docente de economía en la UdelaR
Desde una concepción de ortodoxia económica pura, las empresas que ofrecen
servicios de TV abierta son agentes privados que compiten en el mercado, y en este
juego competitivo cualquier intervención del Estado es desaconsejada. Una mirada al
sector de actividad televisiva en Uruguay desde este enfoque podría caracterizarlo como
una industria cuyos agentes operan en competencia, tomando sus decisiones en libertad
y con información perfecta, ofreciendo productos en el mercado a los precios en que
pudieran encontrar su demanda y lograr el equilibrio. Cualquier interferencia
regulatoria que limitara la libre elección de los agentes sería considerada inoportuna y
provocadora de ineficiencias. Cualquier intencionalidad atribuida a los agentes que
fuera diferente de la obtención de beneficios a través de la operación de su explotación
comercial sería desechada por inconsistente en el modelo. Cualquier distinción de
diferencias de poder entre los agentes que condujera a ventajas comerciales de unos
sobre otros sería explicada mediante un desempeño más eficiente, o mejor asignación de
recursos, en suma, como mayor esmero puesto en la meta de rentabilidad (MOCHÓN Y
BEKER, 2008, pp.12 y 14)
Desde una visión todavía liberal aunque ajustada con los aportes de la economía
del bienestar, estas empresas operarían en un mercado privado utilizando un bien
público como recurso que permite poner en el aire sus transmisiones: el espectro
radioeléctrico. Éste es un recurso necesario para el cumplimiento de las funciones
públicas asociadas a las telecomunicaciones, la seguridad aeronáutica, la meteorología,
etc., que presenta condiciones de monopolio natural para su gestión, por lo que se
justifica su tratamiento como servicio público. En el marco de la economía del
bienestar, sería posible explicar la organización del mercado desde alguna forma de
competencia imperfecta. Además, el Estado tendría un rol regulatorio más importante
e incluso se justificaría su participación directa como oferente, a partir del
reconocimiento de la existencia de ineficiencias o fallos del mercado, que requieren una
corrección del Estado, para así alcanzar o propender hacia el bienestar social, definido
como una situación de eficiencia que maximiza el bienestar colectivo (STIGLITZ,
2003, caps.1 y 3).
Este fallo de mercado conlleva una ineficiencia inherente desde el punto de vista de
la economía del bienestar, porque los oferentes pueden ejercer su poder aumentado,
basado en el acuerdo logrado entre sí, y limitar las posibilidades del demandante de
elegir según sus preferencias. En consecuencia, no se alcanza el bienestar social. En
particular, pueden subir el precio del bien, o bajar su calidad sin que el demandante
pueda obtener de otro oferente mejores condiciones para comprar en el mercado. Esta
situación puede ejemplificarse con la organización del mercado de TV para abonados de
Montevideo. Tomando la información que publica la Unidad Reguladora de Servicios
de Comunicación (URSEC) para diciembre de 2014, el mercado de TV para abonados
de Montevideo se distribuye según el cuadro 1 a continuación:
La economía del bienestar reconoce la existencia - también como fallos del mercado
- de los llamados bienes y servicios públicos, definidos como un grupo diferenciado
respecto de los bienes y servicios privados. Estos últimos son bienes materiales o no
materiales que se transan en el mercado a cambio de un precio, con fines de
maximización de utilidad individual. Los bienes públicos en cambio, tienen
particularidades en su esencia y en la forma en que operan en el mercado, que habilitan
su consideración por fuera del ámbito mercantil. En primer lugar, los bienes públicos
responden inherentemente a una necesidad reconocida colectivamente como tal: son
bienes necesarios para el bienestar social (STIGLITZ, 2003, p.78). Ejemplos de bienes y
servicios reconocidos como satisfaciendo necesidades aceptadas por el colectivo son la
educación, el disfrute del tiempo libre, la cultura, la información, el entretenimiento.
Ahora bien, el concepto de bien público propio de la economía del bienestar, que dio
justificación al desarrollo del modelo europeo de radiodifusión, con emisoras de larga
trayectoria reconocidas por el público a nivel internacional por la calidad diferencial de
sus producciones, como la BBC, no es consensualmente aceptado para la actividad de
las emisoras.
Si se atiende a los grupos sociales que no se sienten representados por las propuestas
de las emisoras privadas con fines de lucro, es posible interpretar la existencia de
emisoras públicas y comunitarias como oferentes que completan un mercado que a nivel
privado no satisface las necesidades sociales de diversidad, defensa de derechos de las
minorías, promoción de la cultura, cuidad del medio ambiente, etc.
En este texto nos ceñimos al análisis de César Bolaño (BOLAÑO 1995, 2002,
2013), quien ha estudiado desde esta perspectiva el funcionamiento del sistema de TV y
de la radio brasileños y de Internet, entre otros, según una perspectiva marxista donde
los medios de comunicación en particular (y la industria cultural en general) cumplen
un doble rol clave en el sistema capitalista. Por una parte, son empresas capitalistas
dedicadas a generar ganancias a través de su operación, como cualquier otra empresa
inmersa en el sistema. Por otra, cumplen un rol fundamental en el mantenimiento y
reproducción del sistema, a través de la publicidad y la propaganda, que operan
permitiendo a la industria cultural (y dentro de ella los medios masivos de
comunicación) mediar entre el gran capital y el público, y también entre el Estado y el
público, para asegurar la reproducción del sistema capitalista y garantizar la cohesión
social.
El hecho de que una parte de esa información sea objetiva no implica que ella
sea verdadera. De hecho Bolaño señala que en las economías mercantiles existen
mecanismos de verificación de la veracidad de la información disponible en las
transacciones. Cabe señalar que la ortodoxia ha desarrollado conceptos como el riesgo
moral referido a la posibilidad de no cumplimiento de acuerdos contractuales por alguna
de las partes intervinientes, o la selección adversa mediante la que algunos agentes
tienden a encontrarse en sus transacciones con contrapartes con tendencia al
incumplimiento. Estas categorías evidencian el reconocimiento liberal de la posibilidad
de que la información que circula en las transacciones no solo no sea completa, libre o
perfecta, sino que además admite la posibilidad de que la información en las
transacciones no sea veraz. Del mismo modo que la ortodoxia admite este riesgo, la
economía política de la comunicación explica cómo la publicidad tiene la capacidad de
manipular la información alterando las condiciones de las transacciones y favoreciendo
a algunos agentes -empresarios - en detrimento de otros - consumidores - que acceden
a esa información manipulada, proceso que expone las desigualdades en torno a la
información incluida en el proceso de comunicación y a la disponibilidad de
información en el modo de producción capitalista.
3. Conclusión
Referências
GARCÍA RUBIO, Carlos. Lo que el cable nos dejó. Televisión para abonados,
comunicación y democracia en Uruguay. Montevideo. Ediciones de La
Pluma. 1994
STIGLITZ, Joseph. La economía del Sector Público. 5. ed. Barcelona. Antoni Bosch.
2003
RESUMO: O presente artigo propõe uma reflexão acerca dos atributos estéticos da
imagem fotográfica em três revistas culturais publicadas no Brasil. A pesquisa tem
como ponto de partida as propriedades inerentes ao processo produtivo do jornalismo
cultural, caracterizado por recursos criativos, críticos e de divulgação. Tais recursos são
problematizados em relação ao conceito de “estética da fotografia”, trabalhado pelo
francês François Soulages tanto como aparato teórico quanto como método de
investigação. O artigo se desenvolve em três momentos: (1) a compreensão do conceito
de “estética da fotografia” como proposto por Soulages; (2) uma observação dos
diálogos existentes entre a fotografia e o jornalismo cultural; e (3) a identificação dos
atributos estéticos que integram o conteúdo pesquisado. Compõe o objeto empírico do
estudo proposto o conteúdo jornalístico das revistas Bravo!, Cult e Rolling Stone Brasil,
centralizado nas edições publicadas em 2012.
1 Este artigo representa um fragmento da pesquisa que resultou na dissertação intitulada Os atributos
da fotografia em revistas culturais no Brasil: um estudo de Bravo!, Cult e Rolling Stone Brasil, defendida
em julho de 2014, no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa
Catarina (Posjor/UFSC).
2 Jornalista fomada pela Universidade Federal de Goiás, Mestre em Jornalismo pelo Programa de Pós-
Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (Posjor/UFSC). Atua no mercado
como jornalista de cultura e redatora publicitária.
1
desconstrução das falsas opiniões e dos falsos princípios; depois, a reconstrução
racional de novos fundamentos” (idem, p. 16). Toma-se, portanto, a forma como
Soulages compreende a estética da fotografia e suas implicações no campo da arte para,
em seguida, confrontar tais ideias com as fotos publicadas em revistas de cultura. O
autor parte da ideia de que existe um preconceito relativo à fotografia quando vista
como prova da existência de um acontecimento: ela é aproximada da objetividade e
privada de suas funções estéticas (SOULAGES, 2010, p. 22).
Didaticamente, este artigo foi dividido em três momentos: a compreensão do
conceito de estética da fotografia; os diálogos existentes entre a fotografia e o
jornalismo cultural; e a reflexão sobre as imagens apreciadas durante a análise do
corpus da pesquisa4.
4 A leitura de imagens, compreendida entre os meses de abril e maio de 2014, se deu sobre um corpus
de nove imagens publicadas nas revistas analisadas nos meses de março, julho e dezembro de 2012. O
corpus é composto pelas seguintes peças jornalísticas: na Bravo!, as matérias (1) Mistério no museu,
(março de 2012), (2) A Tropicália segundo Tom Zé (julho de 2012) e (3) “Eu não existiria sem Gonzagão”
(dezembro de 2012); na Cult, as matérias (4) “Não sou um grande ator” (março de 2012), (5) Congresso
CULT reuniu Gay Talese, Art Spiegelman e Gonçalo Tavares em SP (julho de 2012) e (6) Tudo a dizer
(dezembro de 2012); e, na Rolling Stone Brasil, as matérias (7) Rainha da Sucata (março de 2012), (8) O
Xingu sem celuloide (julho de 2012) e (9) Paz no caos (dezembro de 2012).
5 François Soulages estabelece uma diferenciação entre os conceitos de ‘fotografia’ e ‘foto’. A primeira
é o procedimento, a técnica, a arte fotográfica; a segunda é a fotografia em sua materialidade, é “a
imagem material obtida por meio de um procedimento fotográfico” (2010, p.11). No decorrer da
pesquisa, esta mesma diferenciação foi adotada. No entanto, utilizamos o conceito “imagem” – a partir
da definição apresentada por André Roillé (2009) – quando nos referimos ao efeito estético da
fotografia.
2
Uma foto é um vestígio, é por isso que é poética. O fotógrafo é aquele
que deve deixar, ou melhor, que deve criar vestígios de sua passagem
e da passagem dos fenômenos, vestígios de seu encontro – fotográfico
– com os fenômenos. É por isso que é um artista (2010. p. 14).
Para Soulages, “uma estética (da fotografia) deve ser fundamentada numa
filosofia geral (da fotografia, isto é, numa reflexão acerca de sua essência e acerca de
suas condições de recepção)” (idem, p. 15). O tripé sobre o qual o autor fundamenta sua
análise demonstra, além da conclusão de que a fotografia é sempre artística, a noção de
3
que a fotografia não trabalha por si só. A estética da fotografia é, para ele, o resultado do
ato fotográfico, da circunstância em que uma foto é tirada e da recepção daquela foto
pelo observador.
O autor acredita ser a imagem fotográfica um “espaço imaginário e efeito de um
processo que liga o imaginário e o real. Talvez o receptor não possa rever tudo nem
reviver tudo: é o específico da arte. Ele vê o caminho e as direções” (p. 121). Dessa
maneira, a consciência da impossibilidade da apreensão do real é o que possibilita a
concepção da ideia de obras fotográficas e, consequentemente, de arte fotográfica. Uma
última abordagem do objeto introduz o conceito de “fotograficidade”, um híbrido de
fotografia e especificidade que procura pelo que torna específica a fotografia. Segundo
Soulages, “para poder garantir os fundamentos de uma estética da fotografia, é preciso
conhecer ao mesmo tempo o que é específico da fotografia e as realidades das obras
fotográficas” (p. 125). A partir disso, confirma-se a noção da tríade que sustenta a linha
de raciocínio da estética da fotografia.
Consideramos, então, as três etapas em que é feita a foto: o ato fotográfico, a
obtenção do negativo – que no contexto digital é o arquivo original, criado no momento
do clique e transferido para o computador – e o trabalho com o negativo – ou seja, a
cópia a partir do arquivo de origem. O clique que cria o negativo é irreversível, não
pode ser refeito e jamais ocorrerá novamente naquela exata configuração. A cópia, por
sua vez, é inacabável; enquanto existir o negativo, ou o arquivo original, existe a
possibilidade de copiá-lo. Nesses termos,
A fotograficidade é, portanto, essa articulação surpreendente do
irreversível e do inacabável. É a articulação, por um lado, da
irreversível obtenção generalizada do negativo – constituída em
primeiro lugar pelo ato fotográfico, ou seja, por esse confronto de um
sujeito que fotografa com algo a ser fotografo, graças à mediação do
material fotográfico ou, em outras palavras e de maneira mais geral,
pelas condições de possibilidade da produção do filme exposto e a
realização dessa exposição, e em seguida pela obtenção restrita do
negativo, isto é, essas cinco outras operações que o produzem
(revelação, banho interruptor, fixação, lavagem e secagem) – e, por
outro lado, do inacabável trabalho com o negativo – a partir do
mesmo negativo inicial, pode-se obter um número infinito de fotos
totalmente diferentes, ao intervir de maneira particular durante as seis
operações que produzem a foto (exposição, revelação, banho
interruptor, fixação, lavagem e secagem). Para compreender a
fotograficidade, é preciso, portanto, passar de uma concepção
humanista a uma concepção materialista da fotografia (SOULAGES,
2010, p. 131, grifos do autor).
4
permanece. Perda das circunstâncias e configurações únicas do ato fotográfico e
permanência do que é propagado pela cópia do negativo – que são os vestígios do ato
fotográfico. Nas palavras de Soulages, as duas práticas – perda e permanência –
implicam engajamentos opostos:
uma luta contra o passar do tempo, a outra contra o eterno retorno;
uma nunca pode realizar a mesma coisa, apesar de todos os seus
desejos e toda a sua vontade, a outra sempre pode fazer a mesma
coisa, mas é instada, pela especificidade do trabalho com o negativo, a
fazer outra coisa (idem, p. 131).
5
seu universo que não é o nosso, cujas paisagens nos seriam tão
estranhas como as porventura existentes na Lua. Graças à arte, em vez
de contemplar um só mundo, o nosso, vemo-lo multiplicar-se, e
dispomos de tantos mundos quantos artistas originais existem, mais
diversos entre si do que os que rolam no infinito e que, muitos séculos
após a extinção no núcleo de onde emanam, chame-se este
Rembrandt, ou Vermeer, ainda nos enviam seus raios (PROUST, s.d.,
p. 172).
6
transmitida ao público leitor.
O texto do jornalismo cultural, enfatizando sua configuração nas revistas,
também se volta a construir cenas. Quando trata de assuntos pautados pela agenda
cultural da cidade, o jornalista é descritivo, juntando peças para que o leitor monte uma
imagem. O leitor é, dessa forma, conduzido pela perspectiva construída pelo jornalista:
uma perspectiva que parte da experiência de quem escreve; das percepções do momento
da entrevista, das sensações que configuram aquele tempo e espaço. Dessa maneira, as
funções da escrita e da fotografia no jornalismo cultural se complementam no sentido de
provocar sensações. Tal configuração também pode ser observada em outras editorias
jornalísticas – dado que a estética não se limita ao estado da arte –, no entanto, no
jornalismo cultural, o aspecto artístico é extenuante por ser a arte o objeto a ser
destrinchado pelo jornalista e pelo fotógrafo.
Reconhecemos que a compreensão da estética da fotografia no conteúdo
jornalístico das revistas de cultura estudadas passa também por uma observação acerca
da configuração artística do objeto fotografado. Nesta circunstância, é importante
assinalar as diferenças entre as doutrinas do “isso existiu” e do “isso foi encenado”.
Roland Barthes (2012) é responsável por difundir a doutrina do “isso existiu”, que
afirma ser a fotografia a prova da existência de um acontecimento. No entanto, Soulages
desmistifica tal linha de raciocínio ao afirmar que
a doutrina do “isto existiu” de Barthes parece mitológica. Talvez fosse
necessário substituí-la por um “isto foi encenado” que nos permitisse
esclarecer melhor a natureza da fotografia. Diante de uma foto, só
podemos dizer: “isto foi encenado”, afirmando, dessa maneira, que a
cena foi encenada e representada diante da máquina e do fotógrafo;
que não é o reflexo nem a prova do real; o isto se deixou enganar: nós
fomos enganados. Ao termos uma necessidade tão grande de acreditar,
caímos na ilusão: a ilusão de que havia uma prova graças à
fotografia... (2010, p. 26).
7
fotografia gera artes fictícias, o que possibilita a criação de um museu imaginário,
particular de cada indivíduo. Sob este ponto de vista, Soulages identifica a fotografia
como a “arte elevada ao quadrado; o objeto da fotografia pode ser, então, não só as
obras de arte e a própria arte, mas também a própria fotografia” (2010, p. 315). O museu
imaginário é, então, diferenciado do museu tradicional, tanto em seu modo de ser como
na apresentação das obras. Neste sentido, o museu imaginário caminha lado a lado à
ideia de experiência em Benjamin (2012, 1994), constituindo um acervo imagético
guardado na memória e que se manifesta involuntariamente perante as interações
cotidianas.
Em uma abordagem direcionada especificamente ao jornalismo cultural e à
ilustração como leitura cultural, por outro lado, Rivera (2006) se refere à criação de um
“museu” cotidiano, suportado por uma “estética do suplemento”. Nas palavras do autor,
o duplo circuito visual do plástico e do fotográfico converteu os
suplementos em uma espécie de autêntico ‘museu’ cotidiano, no qual
se podem rastrear simultaneamente a produção de talentosos artistas e
ilustradores (e nesse sentido constituem uma impensada summa artis
que é à vez uma história da ilustração e das próprias artes plásticas),
junto com um gigantesco arquivo iconográfico – quase impossível de
pensar como projeto editorial unitário – que registra as pegadas de
décadas e décadas de atividade cultural (p. 167, tradução livre).
8
De maneira geral, o jornalismo cultural retrata a arte, reporta grupos que se
reúnem para produzir arte, interações sociais que formam comunidades com interesses
comuns e, muitas das vezes, esses interesses têm conotação artística. Por outro lado, ao
mesmo tempo é possível perceber neste jornalismo um empenho em estreitar laços entre
o público e os bens simbólicos que movimentam a indústria cultural – caracterizando
uma função de consumo inserida no gênero. Tudo isso – a abordagem estética e
mercadológica – remete ao conjunto de sensações transmitidas através da imagem.
9
transmitida; referência, quando a fotografia é referência para outras artes ou quando
busca nelas uma referência para si; e, finalmente, registro, que aponta o essencial da
fotografia na arte contemporânea.
A partir de tal percurso, conseguimos identificar alguns atributos que
comprovam a presença imanente da arte no conteúdo jornalístico das revistas culturais.
Vale ressaltar que denominamos “atributos” as manifestações expressivas da fotografia
no ambiente do jornalismo cultural – um ambiente que, por se dedicar massivamente à
arte, estaria atravessado por ela.
10
Figura 3: Abertura da reportagem de Armando Antenore (Bravo!, dezembro de 2012,
p. 24-25)
11
Figura 5: Foto de Renato dos Anjos (CULT, julho de 2012, p. 65)
12
Figura 8: Abertura da reportagem de Edgardo Martolio (Rolling Stone Brasil, julho de
2012, p. 98-99)
13
Sobre a transferência, notamos que se trata do modo de manifestação mais
diverso a configurar no corpus. Em cada uma das matérias observadas o deslocamento
se dá de maneira única, constituindo-se na originalidade de cada obra “jornalístico-
artística”. Elencamos, portanto, como os atributos da transferência os seguintes
recursos: na Bravo!, o deslocamento do tridimensional para o plano, o enquadramento
fechado que desloca o sentido original da obra, a apropriação do fundo fotográfico
como suporte para o texto, e a fotomontagem que desloca as fotos antigas de seu sentido
original e as insere no sentido artístico; na Cult, o deslocamento do efêmero para o
irreversível, a articulação entre o pictórico e o fotográfico, a estética do insignificante, e
a fotografia amadora como expressão artística; e, na Rolling Stone Brasil, a composição
fotográfica representando um momento de transição do objeto, a documentação do
cotidiano, a utilização de elementos básicos da comunicação visual e das técnicas do
desenho e a elevação de elementos secundários à condição de elemento compositor do
sentido da obra.
A questão da referência, por sua vez, é abordada de maneira similar pela Bravo!
e pela Rolling Stone Brasil; enquanto a Cult foca em uma “estética do ponto de vista”,
observada nas três ocasiões configuradas no corpus. Na Bravo! observamos o uso de
referências à pintura – nas texturas e pinceladas que compõem o rosto do palhaço (1) –,
ao Tropicalismo – na relação dialética com o passado que caracteriza a obra de Tom Zé
na contemporaneidade (2) –, às narrativas das histórias em quadrinhos e da fotonovela –
na fotomontagem de Luiz Gonzaga e Gilberto Gil e à influência da obra do primeiro no
estilo musical do segundo (3). Na Rolling Stone Brasil, observamos referências à
cultura pop – em (7), é iminente a referência à novela brasileira Rainha da Sucata, na
qual a protagonista também passa por uma transformação, tal qual a cantora de
tecnobraga Gaby Amarantos; e (9) apresenta um universo cultural multifacetado exposto
na parede numa representação do caos que caracteriza o cantor Otto – e ao cinema – (8)
remete à factualidade do lançamento do filme Xingu para discorrer sobre questões
territoriais, políticas e históricas da região do Parque Indígena.
Por fim, a questão do registro se manifesta de maneira similar nas três revistas,
com algumas particularidades sobressalentes: a questão da estética da arte ao quadrado é
observada na Bravo! – (1) – e na Cult – (5) –; e o registro do efêmero é ocorrente na
Bravo! – (2) –, na Cult – (4) – e na Rolling Stone Brasil – (8). Entre as manifestações
particularizadas, observamos o jogo entre passado e presente que centraliza a obra de
Luiz Gonzaga na arte contemporânea, fazendo do registro fotográfico uma maneira de
14
estabelecer o status da obra do músico – (3) –; e a fotografia como forma de registrar
momentos de transição nas carreiras dos artistas Gaby Amarantos e Otto – (7) e (9).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
15
Dessa maneira, constatamos que a reflexão acerca de uma estética da fotografia
própria das revistas de cultura perpassa a necessidade de conceber este ambiente como
artístico, sendo a “obra de arte” uma articulação do conteúdo do texto e da composição
das fotos e demais imagens que a integram. O problema decorrente dessa linha de
raciocínio é uma possível descaracterização do jornalismo perante a concepção de arte a
ser adotada. É percebido, no corpus contemplado, que a função jornalística do conteúdo
se mantém na formação das imagens, embora haja diferenças na dosagem da
intervenção provocada pela incorporação dos modos de manifestação da arte
fotográfica.
REFERÊNCIAS
BARTHES, Roland. A câmara clara. [Ed. especial] Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2012.
PROUST, Marcel. O tempo redescoberto. In: Em busca do tempo perdido, vol. VII.
Rio de Janeiro: Globo, s.d..
16
SOULAGES, François. Estética da fotografia: perda e permanência. São Paulo:
Editora Senac, 2010.
______. Estética e método. Tradução Laurita Salles. In: Revista ARS (São Paulo) v. 2,
n. 4 (2004) – ECA/USP. São Paulo / Paris, 2004. Disponível em: <
http://www.revistas.usp.br/ars/article/view/2931> p. 18-41.
17
O problema da convergência na perspectiva da teoria das barreiras à entrada
Helena Martins1
2 No estudo original de Bolaño, o foco reside sobre a televisão e sua capacidade de constituição de uma nova esfera
pública. Hoje, é imperativo considerar centralmente a Internet, já que tem viabilizado maior penetração da lógica da
mercantilização no âmbito da cultura, das relações sociais, mas também questionamentos à Indústria Cultural e a
produção de sentidos que buscam romper essa lógica. Reflexões sobre a rede foram adicionadas pelo autor em
edições mais recentes do livro, como a publicada pela editora espanhola GEDISA, em 2013.
definidos por ela, por meio de um sistema que define os consumidores a partir do
comportamento e das informações pessoais disponibilizadas por ele e por seus amigos.
Essa contradição ocorre porque a reestruturação do sistema capitalista, em geral,
bem como as tecnologias, são alvos de distintas pressões, que abrem margem para
questionamentos e variações. Em meio a eles, podem emergir elementos de mudanças
estruturais, impactando a forma de organização social, a depender do resultado das
tensões que sofre. No cenário atual, as tecnologias desestabilizam mercados, abrindo
espaço para novos entrantes, alterando as relações de poder então estabelecidas e,
inclusive, criando novos arranjos econômicos e político-institucionais.
3 Das citadas, a GVT não constava no ranking elaborado pelo Valor Econômico em 2012. A SKY não aparece na
lista, que está disponível em: http://www.valor.com.br/valor1000/2014/ranking1000maiores/TI_Telecom
4 Os dados do grupo foram obtidos após somatória dos valores da Editora Globo, O Globo / Extra e Globo, os quais
são apresentados separadamente no Ranking do Valor Econômico.
Os números da Abril, tradicional grupo de mídia com forte atuação no mercado
de jornais e revistas, são R$ 2.570,3 mi e – R$ 168,4 mi, respectivamente, o que mostra
a distância dos grupos nacionais, à exceção do Globo, em relação aos concorrentes
transnacionais. A barreira financeira também já havia levado a Abril a sair do mercado
de TV paga, onde atuou como empresa pioneira nos anos 1990.
Questões relacionadas à crise do impresso e da publicidade, à concorrência com
a Internet e à presença de conglomerados tradicionais tendem a reforçar essa
desigualdade e o oligopólio, que conta hoje com forte presença de transnacionais. No
caso da TV paga, espaço de confluência de ações entre teles e radiodifusão, duas
operadoras dominam atualmente 80,71% do mercado, que fica assim dividido:
Net/Claro/Embratel (51,95%), Sky/DirecTV (28,76%), Oi (6,23%), Vivendi (GVT)
(4,75%) e Telefônica (4%), segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel)5 de março de 2015. Do ponto de vista do conteúdo, apesar da política de cotas
que garantiu espaços para produções nacionais e independentes a partir do que
estabelece a Lei 12.485, a presença predominante é das majors norte-americanas.
“A última barreira lançada é a de desenvolvimento, decorrente de privilégio de
acesso a mercados, insumos e equipamentos ou de métodos específicos de
gerenciamento, produção, distribuição e qualificação do trabalho que garantam uma
redução de custos do produto” (Brittos, 1999, p. 5-6). Aqui, as telecomunicações,
especialmente as empresas transnacionais do setor, destacam-se diante dos grupos
tradicionais, já que possuem um volume de recursos maior, bem como grande
capacidade de desenvolvimento tecnológico e inovação. Além disso, elas têm a
possibilidade de amortizar custos decorrentes desse investimento em diversas praças.
O exposto até aqui mostra que a separação estrutural possibilitou a manutenção
dos lugares tradicionalmente ocupados pelos grupos. Mas a convergência também
estimula a emergência de serviços bastante híbridos, o que pressiona os limites dessa
divisão. É o caso do vídeo por demanda, baseado na oferta direcionada de produtos por
meio das redes de telecomunicações, e o chamado triple play, que faz do serviço
multimídia um diferencial entre os grupos e também um fator para alavancar vendas de
TV paga e de telefonia, que são comercializadas junto com a banda larga.
7 Disponível em:
<http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed816_integracao_marca_do_novo_grupo_globo>. Acesso em:
20 set. 2014
ser disponibilizados em uma plataforma por demanda chamada Globosat Play, voltada
para assinantes de TV paga que possuam ao menos um canal Globosat no seu pacote.
Para usar a plataforma Globosat Play e ter acesso aos canais e seus conteúdos, é preciso
fazer um cadastro, mas não há custo adicional. O serviço é apontado como uma resposta
ao cenário de crescimento de plataformas de vídeo sob demanda, como o Netflix8.
O Globosat Play substituiu o serviço Muu, lançado em 2011 como a primeira
experiência da Globo com serviços que seguem o conceito TV Everywhere. Interessante
perceber que, no mesmo ano, o Netflix começou a operar no país. Apesar da
concorrência com o serviço da maior empresa de comunicação do Brasil, o norte-
americano é hoje a plataforma VOD mais utilizada. Isso mostra que mesmo as barreiras
à entrada construídas historicamente estão sendo modificadas no momento atual.
Ademais, a holding da família Marinho possui, desde 2012, seu próprio serviço
sob demanda, o Globo.tv+. Acessível pelo computador e também por dispositivos como
smartphones e tablets, ele disponibiliza os conteúdos do grupo na íntegra, inclusive
novelas e outras produções de sucesso que já foram ao ar. É diferente, portanto, do
Globo.TV, que oferece gratuitamente trechos dos programas da emissora. O Globo.TV+
custa R$ 12,90 mensais para quem quiser ter acesso a todo o acervo e R$ 9,90 para ver
apenas novelas. A existência dessa opção e a pequena diferença de preço em relação ao
primeiro pacote revelam a importância da telenovela como produto do grupo.
Mudam os canais de distribuição e, com isso, os modelos de negócios e mesmo a
produção dos conteúdos. Sobre isso, vale destacar também que a Globo tem apostado
em referências cruzadas entre seus veículos, bem como na produção de webseries
específicas para a Internet, a exemplo de “Laboratório do Som”, além de outros
conteúdos de entretenimento, os quais estão reunidos no portal Gshow, que pode ser
acessado como aplicativo para celular. Embora ainda não seja possível precisar o
impacto financeiro dessas iniciativas, elas sinalizam as estratégias adotadas pelo grupo
para se posicionar no cenário da convergência.
3. Considerações finais
8 VARELLA, João. Como Globo, ESPN e HBO enfrentam o Netflix. IstoÉ Dinheiro. 11/03/2015. Disponível em:
http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/mercado-digital/20150311/como-globo-espn-hbo-enfrentam-
netflix/240681.shtml. Acesso: 15 jul. 2015.
A convergência audiovisual-telecomunicações-informática se processa no Brasil
seguindo a lógica da acomodação de interesses dos grupos tradicionais e dos novos
entrantes, em especial as empresas de telecomunicações transnacionais. A manutenção
de mercados específicos para eles é uma barreira que garante essa organização.
Por outro lado, a emergência da Internet e de serviços convergentes acaba
levando à produção de novos mercados e à alteração dos modos de fruição dos produtos
culturais. Isso impacta todos os agentes envolvidos no amplo setor das comunicações.
Mudanças nas lógicas produtivas tornaram-se inescapáveis, mas as empresas
tradicionais buscam se adaptar a elas e incidir na reorganização do mercado a partir da
valorização e da busca por proteger o seu principal ativo: o conteúdo, no caso do Grupo
Globo, ponta de lança do setor de radiodifusão. Já para as telecomunicações, a
possibilidade de oferta de serviços multimídia e o potencial financeiro constituem-se
como barreiras que garantem espaços privilegiados neste momento de mudanças.
Vemos, portanto, que as barreiras analisadas aqui passam por modificações. Há o
reforço da barreira financeira e de desenvolvimento, dada a necessidade de
investimentos vultosos para garantir a oferta de diversos serviços, conhecer mais o
público e desenvolver estratégias de fidelização. A barreira político-institucional
mantém-se forte, como vimos no caso da elaboração da Lei 12.485, que acabou
impedindo uma alteração mais drástica no setor. Tal barreira, contudo, tem sido
pressionada por mais agentes, além das tradicionais empresas de radiodifusão. Estas,
por fim, como exemplifica o caso da Globo, apoiam-se na barreira estético-produtiva
para se manter firmes no mercado e garantir a fidelização do público. De modo geral,
apesar da convergência, há uma reacomodação que, embora ainda não finalizada,
mostra que se dá com o reforço da lógica do oligopólio no setor.
Bibliografia
_________, C. et. al. Economia Política da Internet. Aracaju: Editora UFS, 2007.
BRITTOS, V. C. A oligopolização do mercado brasileiro de televisão por assinatura.
Texto apresentado no GT de Políticas Públicas de Comunicação da INTERCOM. Rio de
Janeiro, 1999.
Jocélio de Oliveira1
Introdução
O trabalho de Fechine (2004) nos ensina que “televisão é fluxo”. A programação está
organizada em grade, numa sucessão de arranjos que respeitam horários e dias da semana, de
forma contínua, gravados ou ao vivo. Essa formatação cumpre um papel na experiência televi-
siva: o ritmo do cotidiano aparece sincronizado com o da TV. Dessa maneira, assistir a pro-
gramação assume uma dimensão ritualizada, que se modela como hábito. Uma relação de “es-
tar por estar”, acompanhar a grade para “não fazer nada”, não pensar, descansar. A discussão
da autora segue no sentido de pensar de que forma esse ato gera significação a partir de uma
abordagem semiótica. No âmbito da discussão proposta neste capítulo, iremos nos deter na
noção de fluxo televisual e suas conexões com a manifestação de pensamento coletivo, além
das possibilidades de experimentar e partilhar um mundo (valores) comum por meio da intera-
ção com programação.
Colocamos esses aspectos em perspectiva por acreditar que esse fluxo não comunica
apenas conteúdos informacionais inseridos nos elementos de áudio e vídeo. O que é transmiti-
do pela programação de TV é composto, sobretudo por “afetos”, que tal como sugerido pelo
filósofo John Dewey (2010) configuram-se como emoções, que cumprem papel como ele-
mento, em certa medida, explicativo da experiência. Falamos assim em elementos estéticos e
sensíveis capazes de gerar pulsões, sensações. Ou, nas palavras do autor, “uma força motriz e
1 Jornalista e mestre em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Midiáticas
(PPGC/UFPB) na linha de pesquisa Mídia e Cotidiano. Integrante do Grupo de Estudo e Pesquisas em Etnografi-
as Urbanas (GUETU/UFPB). Atua profissionalmente como editor assistente do telejornal Bom Dia Paraíba, na
TV Cabo Branco em João Pessoa. E-mail: oliveira.jocelio@gmail.com.
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consolidante” (Idem, p. 120), que confere unidade e continuidade a experiência. De modo que
a dimensão afetiva do que é experimentado pelo sensível gera “resíduos” que alimentam a
própria compreensão do vivido. É nessa perspectiva que falamos em unidade.
A dimensão informacional dos conteúdos do fluxo é intencional e mensurável pelas di-
versas técnicas quantitativas da pesquisa em comunicação. Contudo, preocupa-nos neste capí-
tulo pensar uma abordagem teórica para compreender e perceber os aspectos de ordem subje-
tiva que emergem na experiência afetiva com a televisão e seus produtos. Particularmente, es-
tudamos aqui o telejornal policial Correio Verdade, produzido e exibido pela TV Correio,
emissora filiada a Rede Record na Paraíba, e que vai ao ar de segunda a sábado, ao meio dia.
Tal estudo foi desenvolvido ao longo de uma pesquisa de mestrado, na qual acompanhamos
três famílias do bairro Mandacaru, na João Pessoa, enquanto consumiam o programa mencio-
nado, cada uma delas durante o período de um mês. Os aspectos teórico-metodológicos dessa
pesquisa são aqui discutidos, articulados à apresentação das conclusões desenvolvidas sobre
um aspecto particular: o modo como a população enxerga e se distingue de pessoas que come-
tem crimes.
Acreditamos que o campo de estudos da experiência, aliada aos pressupostos da pes-
quisa de recepção, ilumina a compreensão dos afetos ligados ao ato de assistir televisão. Esse
comportamento é inserido e contextualizado como uma prática do “cotidiano”, entendido aqui
como “estilo”, numa perspectiva de retroalimentação. Da mesma forma que os sujeitos enxer-
gam as dinâmicas sociais por meio da TV, ela própria compõe essa forma de ser e estar no
mundo. É dessa forma que ela opera o estabelecimento de um repertório comum, seja de lin-
guagem, conteúdos informacionais ou imagens. Assumindo que se trata de uma prática huma-
na e social que vincula relações simbólicas e estabelece sentidos, compartilhados por meio do
discurso (FRANÇA, 2006).
A proposição inicial de que televisão é fluxo nos é bastante pertinente para pensar a re-
lação com a noção de “experiência”. Dewey (2010) a caracteriza como um processo entre um
ser vivo e algo que lhe é externo no ambiente em que vive. No nosso caso, a TV enquanto ob-
jeto e seus produtos enquanto conteúdos e elementos simbólicos. Para ele, as pulsões resultan-
tes desse contato podem ser alteradas por emoções ou ideias, cuja participação na experiência
perpassa as várias etapas do processo:
Em uma experiência, o fluxo vai de algo para algo. À medida que uma parte
leva a outra e que uma parte dá continuidade ao que veio antes, cada uma ga-
nha distinção em si. O todo duradouro se diversifica em fases sucessivas,
que são ênfases de suas cores variadas. (DEWEY, 2010, p. 111)
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Contudo, ao tratar da relação entre o campo da experiência e os meios de comunica-
ção, Duarte (2010) chama atenção para o fato de que a experiência não tem a ver necessaria-
mente com o conteúdo, mas sim com o movimento, com a vertigem que ele provoca. Nesse
sentido, ela integra a porção do “fluxo audiovisual” que é carregada de afetos, cujos efeitos
não são imediatos. “Essas experiências não podem estar ditas na informação, pois não fazem
parte do conteúdo, mas da construção de novas temporalidades nascidas do encontro do públi-
co com esse outro-mídia-mensagem” (DUARTE, 20010, p. 102). De forma que a leitura e
percepção desse movimento não podem ser realizadas apenas por meio da interação com o
conteúdo latente, ou mais visivelmente expresso no texto dos meios. Do mesmo modo, essa
relação não imprime marcas exclusivas no instante e no espaço da fruição do fluxo. As im-
pressões postas pela experiência escorrem no tempo, caminham com os indivíduos.
De forma complementar, Dewey diz que uma experiência pode ser vivida de maneira
incipiente. Para o filósofo, a experiência se consuma na medida em que se compreende o vivi-
do. No contexto estudado aqui, essas noções são fundamentais para perceber o modo como
essa partilha afetiva resulta na tomada de decisões e posições, na incorporação de valores e
pontos de vista sobre determinados temas e questões sociais.
Por fim, estabelecemos um vínculo com os estudos de recepção e do consumo cultural
de produtos midiáticos, assumindo aqui todo aspecto de fetichismo, afeto e subjetividade exis-
tente na relação de consumo. Para Canclini (1995) “(…) o consumo é o conjunto de processos
socioculturais em que se realizam a apropriação e os usos dos produtos” (p. 53), o que, trans-
posto à mídia, implica em dizer que é processo, é coletivo, é sociocultural. Classificar como
processo significa que há continuidade, e que essa atividade não é concluída de forma imedia-
ta quando se desliga o equipamento de televisão.
O cotidiano já foi denominado como aquilo que se passa enquanto nada se passa, roti-
na, hábito, costume (PAIS, 2003). Em todas essas passagens, o termo aponta para uma forma
de sentir estruturada (constante) e que (co)move por conta própria as ações diárias dos indiví-
duos em sociedade. Nesse sentido, ele é revelador. São nos gestos sutis de uma prática “im-
pensada” que podem ser percebidos os sedimentos de algo que perpassa e sustenta o social:
são condutas, valores, juízos estéticos. É na necessidade dessas ações “automáticas” que se
imprime um núcleo ativo que move o ser individual e coletivo.
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Essas marcas se espalham e orientam, de forma sensível, condutas nos mais diversos
grupos com os quais o indivíduo interage: família, trabalho, círculo de amigos, religião. Mas
também o seu trato com as dimensões da técnica, da objetividade, do trato com os objetos.
Maffesoli (1985) aborda o cotidiano como um “estilo”, o que significa caracterizá-lo como
uma forma de sentir e de agir comum de uma época, partilhada socialmente, e que afeta os in-
divíduos. É a existência de uma dimensão imaginária alocada no meio termo entre as pulsões
puramente emotivas, e ainda não nominadas, e o que já é estruturado e estabelecido como há-
bito, norma e regra, não necessariamente escritos.
De acordo com o sociólogo, da mesma forma em que falamos de um ‘homem medie-
val’, ou um ‘homem moderno’, um sujeito pode ser capaz de cristalizar o espírito de uma épo-
ca, internalizar seu estilo, com efeitos no, e pelo campo midiático:
(…) as figuras típicas, com a ajuda da mídia, são sentidos como tais em tem-
po real. Assim, aquela estrela esportiva ou cantor de rock, aquele homem de
negócios ou apresentador de televisão, aquele guru intelectual ou religioso, e
até mesmo aquele animal em evidência no turfe semanal vai, por algum tem-
po, cristalizar o gênio coletivo. (MAFFESOLI, 1985, p. 39)
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mídia é responsável pelo fornecimento de sentidos que alimentam o espaço público no cotidi-
ano. Ora, são esses pequenos sedimentos, desprendidos por meio da linguagem e reapropria-
dos no pelas audiências nos ambientes em que circulam no dia a dia, que compõem uma nar-
rativa social, coletiva sobre temas variados. Nesse lugar, questionamo-nos sobre que valores
são esses que se dão a ver no cotidiano, por meio da televisão.
Partindo dos telejornais policiais, vale a pena destacar algumas de suas características
para compreender que tipo de estratégias são utilizadas pelos chamados programas populares
para se aproximar ao máximo dos indivíduos. Araújo (2006) coordenou uma série de pesqui-
sas sobre alguns desses programas no país, para fazer o levantamento de suas principais carac-
terísticas. Entre elas são apontadas 1) a ênfase nas pessoas comuns e seus problemas, 2) a
atenção com a exibição de fatos e a comprovação de sua realidade, e 3) a exploração da vida
privada.
Em cada um desses aspectos se desdobram outras abordagens e comportamentos mais
específicos, de forma que cada um dos produtos audiovisuais pode privilegiar uma ou outra
característica, e dessa maneira ser mais, ou menos, popular. Mesmo assim, é a partir desse tri-
pé, e sobre um espírito da época, que será montada a proposta discursiva dos programas para
seu público. Tendo em vista, ainda, que determinados acontecimentos podem se desdobrar ao
longo do fluxo, que é contínuo em programas de TV de distintos gêneros e formatos.
A experiência do sensível
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se dá numa relação entre o sujeito e algo que está fora dele; e embora seja um processo cogni-
tivo, algo do que se passa é externo ao sujeito, configura-se como uma disputa travada em ter-
reno público, e que, portanto pode ser observada por outros. Acreditamos que o ato de assistir
ao fluxo televisual proporciona momentos dessa ordem. A elaboração do pensamento aconte-
ce no sujeito, mas a partir de uma provocação externa. Esse momento de interação é que pode
ser assistido.
Destacamos ainda a importância do cotidiano na composição de um imaginário e a sua
relação com os meios de comunicação. Temos em vista que “ao contrário da fragmentação das
experiências ordinárias, uma experiência se distingue das demais porque não é mecânica e in-
tegra a dispersão vivida em outros momentos, formando um todo. Uma experiência, portanto,
não é intrusa, ela se baseia na experiência ordinária” (LANA & FRANÇA, 2008, p. 3) (grifos
dos autores). No contexto deste estudo, queremos chamar atenção para o papel da comunica-
ção midiática, e o telejornalismo policial como uma de suas expressões, na composição de um
retrato comum da vida diária. Tendo em vista, inclusive, que o consumo dos conteúdos televi-
sivos é uma atividade interna à vida social e integrada ao ritmo da sociedade, como sugerimos
no início deste capítulo.
Em mais uma analogia entre o que seria o fluxo da TV e uma experiência, a partir de
Dewey (2010), podemos dizer que a experiência é um processo contínuo. É possível que ela
seja vivida inicialmente de modo incipiente, mas que se desdobre ao longo do tempo. Tempo
esse que não é o cronológico, porque, depois de ser tocado pela experiência de algo, o indiví-
duo é deslocado do tempo. “A experiência estética reconstrói o tempo fora do cronológico, é o
debulhamento de um segundo em infinitos instantes, nos quais os territórios diluem suas fron-
teiras em amplas e profundas possibilidades de trocas simbólicas” (DUARTE, 2010, p. 99).
Trata-se de um movimento sensível e discreto, em termos de mobilização imediata dos sujei-
tos, na provocação de reações e atitudes. Mas que colabora para sedimentar emoções, senti-
mentos, que se desprendem do individuo nas interações que desenvolve no dia a dia.
Condição essa que pode ser identificada no telejornal investigado em nossa pesquisa.
O apresentador Samuka Duarte busca provocar esse deslocamento do tempo com o suspense e
a tensão ao narrar, explicar e reexplicar os fatos em seu programa. A técnica resulta no que já
vem sendo chamado de telejornalismo dramático 2. Associado aos programas populares, isso
implica no apontado por Araújo (2006): a necessidade de personagens, enredos, sequência de
fatos, cenário e narrador. Nas palavras do autor, “os programas populares constroem uma nar-
rativa dos fatos para ordenar a realidade e apresentá-la ao público, a fim de também deixá-la
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mais parecida com a realidade da vida cotidiana. O real dos programas populares é mais ve-
rossímil se for ordenado e encadeado” (p. 61). Ou seja, embora articulados com a vida que se
desenrola fora dos meios, não podemos perder de vista que a os conteúdos experimentados de
forma mediada são sempre uma representação do que se passa no terreno dos fatos e aconteci-
mentos cotidianos. Tal postura se aproxima do que França (2006) aponta quando diz que a te-
levisão hoje fabrica as próprias imagens e um mundo próprio.
Nesse sentido, julgamos importante refletir sobre o programa como um todo, não se
prendendo a análises particulares de notícias isoladas, associando ainda a intensidade da repe-
tição diária da temática desse tipo de telejornal, como fatores importantes para configuração
de uma experiência sensível. O seu sentido emerge da relação dos efeitos visíveis, ou não,
com as emoções, carências simbólicas e disposições culturais de um grupo (DUARTE, 2010).
A simbolização dos conteúdos televisivos é mediada através da cultura e, por meio da TV, são
representados alguns aspectos da vida cotidiana, no contexto de cada grupo social ou comuni-
dade.
Ainda nessa referência a uma dimensão de partilha, é pertinente o pensamento de
Dewey, segundo o qual é possível fazer mais uma aproximação com a atividade do jornalista.
Para ele, “o artista, ao trabalhar, incorpora em si a atitude do espectador” (DEWEY, 2010, p.
128). Parece-nos a mesma conduta do profissional que, seguindo “critérios de
noticiabilidade”, seleciona o que vai ou não ao ar, o que vira ou não notícia. Assume-se como
representante dos interesses coletivos, como aquele que sabe o que é ou não de interesse pú-
blico e do público, como se o refletisse (ou dele fosse espelho, para algumas teorias).
A experiência não é, contudo, uma atividade passiva. Ela implica necessariamente em
uma resposta ao sofrido. O ambiente funciona como um fator da experiência, mas é na relação
com o outro, ou com o objeto, que ela se estrutura, ou seja, implica numa atitude resposta. Ela
se dá entre o “estar sujeito” e o “fazer”, e dessa forma se configura como um processo, um
afeto, uma emoção que promove o desenvolvimento de uma percepção. Para Dewey, o obser-
vador é capaz de criar a sua própria experiência na percepção, que aparece então como face
ativa desse sistema. O receptor faria atos comparáveis ao do criador, ou seja, aquele mesmo
relacionado à (re)estruturação dos elementos sensíveis.
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área na América Latina começam a formar uma nova tradição. Dois autores, habitualmente
utilizados de forma complementar, se destacam nesse cenário: o filósofo Jésus Martín-Barbe-
ro e o antropólogo Nestor García Canclini. Embora o termo recepção seja comumente visto
como um grande guarda-chuva para agregar as diversas correntes teóricas que estudam as re-
lações entre o público e os meios, esses dois autores oferecem propostas e abordagens com-
plementares para análise do fenômeno apontado.
Em Barbero observamos uma preocupação com os usos sociais dos meios. O autor
compreende a comunicação a partir de contextos de cultura, e revela uma preocupação em re-
lação a sua força e dimensão política. Barbero desenvolve o conceito de mediações para tratar
do “pano de fundo” que sustenta a relação entre o indivíduo, ou grupo, com os meios e propõe
justamente que se faça essa migração do que seria uma predominância dos meios de comuni-
cação para esses outros operadores (mediações), que são coletivos.
A recepção aparece como um processo, algo que não finda no contato com o conteúdo
dos meios, mas se desdobra na relação com o ambiente e os elementos que integram as media-
ções. Nesse processo, o sujeito tem um papel ativo, assim como na experiência, já que é por
meio, ou em favor dele, que os sentidos emitidos pelos produtos dos meios são reelaborados.
Escosteguy e Jacks explicam esse processo:
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diano, o “repertório compartilhado” ao qual as autoras se referência e cujas mobilizações po-
dem ser sentidas no nível da “identidade”, tanto pessoal quanto coletiva. Foi esse tipo de mo-
vimento reconhecemos em nosso estudo: as formas pelas quais a interação entre os nossos su-
jeitos, interlocutores, interagiam com o telejornal policial e a partir das relações estabelecidas
nesse terreno, elaboravam representações sobre temas variados da sociedade (as visões sobre
política, família, justiça, bandido e trabalhador, por exemplo). Mas o componente ‘tempo’ é
essencial nessa dinâmica, porque é o desdobramento dessas interações sucessivas e repetidas
que ajudam a validar, ou não, essas percepções que surgem da experiência de consumo midiá-
tico.
Outra tendência latino-americana nesse grupo de estudos é o denominado “consumo
cultural”. Essa abordagem recebeu mais destaque ao longo desse texto em função de maior
proximidade com seus conteúdos, muito embora uma não exclua a outra. O que Canclini pro-
põem é uma aproximação entre público e meios a partir das teorias do consumo e aponta a
prevalência do valor simbólico sobre o econômico na relação de consumo, ou pelo menos a
sua subordinação àquela primeira dimensão. Por esse viés, o ato de assistir este ou aquele pro-
grama de TV configura-se como um ritual, ato distintivo, em que se objetiva os desejos ao
mesmo tempo em que cria identidade.
Ao estabelecer uma relação entre comunicação e ritual, nos apoiamos na interseção
proposta por Reis (2010) entre televisão, temporalidade e segurança ontológica. O autor faz
um mapeamento do uso desse termo, e identifica um grupo para o qual os media não são o ri-
tual em si, mas desempenham funções rituais na sociedade. Com isso, ele sinaliza para o cum-
primento de uma função de garantir certa segurança e ordenamento aos indivíduos, de forma
que “(...) poderíamos entender simultaneamente o visionamento do telejornal como um ritual
cuja função é estruturar a vida do lar e providenciar um modo simbólico de participação na
comunidade (Idem, p. 254)”. O autor conclui reconhecendo a conexão dessa dimensão simbó-
lica com o conceito antropológico communitas, que indica a formação entre os telespectadores
de uma experiência partilhada no âmbito da coletividade. Embora frágil, momentânea, para
ele.
Contudo, tal ordenamento é também um efeito sensível das relações de consumo. E
sobre esse aspecto, ao refletirem sobre qual é o lugar do “consumo cultural”, numa espécie de
hierarquia dos estudos de recepção, Toaldo e Jacks desdobram os postulados de Canclini e
apontam possibilidade de articulação entre esse estudo e sua conexão com a análise dos mei-
os:
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(…) porque o consumo não se limita à troca de mercadorias, tornando-se
parte de interações socioculturais mais complexas, produzidas em torno de
bens e objetos simbólicos que produzem significados, representam diferenci-
ação, compartilhamento, comunicam escolhas, posicionamentos da situação
dos indivíduos no mundo, satisfazem desejos. (TOALDO & JACKS, 2013,
p. 5)
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ainda modelados e construídos com o auxílio das mediações.
Ao defender o texto resultante do trabalho do antropólogo como o esforço para uma
“descrição densa”, Clifford Geertz afirma que “se você quer compreender o que é a ciência
(…) você deve ver o que os praticantes da ciência fazem” (1989, p. 15). Ponto de vista que
ilumina a nossa escolha pela etnografia, ao pensar que para descobrir o que as audiências fa-
zem, quais são as suas relações com os produtos jornalísticos, com programas de violência,
como reelaboram mensagens, é preciso ver o que os receptores fazem. De forma que o objeto
do trabalho de campo é produzir uma interpretação, fazer uma leitura, das estruturas de signi-
ficação do grupo pesquisado, tentando entender a sua lógica.
Essa lógica é partilhada e pode ser apreendida. Para Geertz “a cultura é pública, por-
que o seu significado o é” (1989, p. 22). No nosso campo de análise, acreditamos que essa
partilha é definidora da forma como experimentamos o mundo por meio de telejornais polici-
ais, retroalimentando a cultura no seu cotidiano. A análise desses índices podem apontar ten-
dências, mas de forma alguma procuram ser totalizantes ou expressar uma visão fechada e de-
finitiva do fenômeno dos telejornais policiais.
Apresentamos uma proposta metodológica para apreensão da experiência midiática
que se estrutura a partir dos telejornais policiais. Para tentar identificar essas manifestações
optamos pela etnografia como metodologia de pesquisa, estruturando-a com série de técnicas
de investigação. Sendo que a observação participante, com anotações no caderno de campo, e
a realização de entrevistas semiestruturadas gravadas foram essenciais para o desenvolvimen-
to da pesquisa, pois nos permitiram compreender mais efetivamente a lógica desse “outro”
que compõe as audiências. Um recorte das impressões colhidas por meio dessas duas aborda-
gens será apresentado logo mais.
A observação participante se caracteriza pela inserção do pesquisador no ambiente do
seu interlocutor, provocando a interação com ele. É claro que essa mudança na rotina do sujei-
to observado interfere, em alguma medida, nas reações habituais dos pesquisados. Ela permite
a identificação, a partir de um olhar treinado, de uma ocorrência espontânea (dos) e participa-
tiva (com) os interlocutores sobre o fato estudado, como sugere Ribeiro de Oliveira (2012).
Para a autora, essa técnica permite unir o objeto ao seu contexto, o que por vezes se manifesta
nas anotações do caderno de campo. Essa, aliás, é uma característica ressaltada por La Pastina
(2014, p. 131) ao comentar o trabalho de Nigel Barley. “(...) todo o tempo em que você faz et-
nografia, em que está no campo, 1% do que coleta são informações sobre o que você está inte-
ressado, e que vão realmente ser úteis para a sua análise; 99% são contexto, que ajuda a enten-
der esse 1%”. Essa perspectiva mostra como a compreensão de uma cultura é extremamente
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dependente de uma imersão no contexto em que as suas práticas se dão e acontecem.
Escolhemos a entrevista semiestruturada (que pressupõe a existência de questões pre-
viamente formuladas, mas com a possibilidade de um diálogo mais livre com os interlocutores
de acordo com os assuntos que surgirem na conversação) porque ela nos ajuda a dar conta de
temas comuns nos diversos grupos, como o questionamento sobre violência, o tema da reli-
gião no telejornal, e juventude. Contudo, durante a observação outros assuntos podem surgir.
Esse corpo metodológico montado por nós é caracterizado pelo antropólogo Magnani como
uma abordagem “de dentro e de perto”. Para ele este plano é “capaz de apreender os padrões
de comportamento, não de indivíduos atomizados, mas dos múltiplos, variados e heterogêneos
conjuntos de atores sociais cuja vida cotidiana transcorre na paisagem da cidade e depende de
seus equipamentos” (MAGNANI, 2002, p. 17). Tal consideração encerra os apontamentos que
fizemos aqui sobre o tripé teórico que assumimos para pesquisa: o estilo cotidiano, o consumo
cultural e a experiência sensível.
A incursão que fizemos na antropologia nos fez compreender que fazer etnografia é um
esforço pela produção de um texto que é uma leitura, uma interpretação, da experiência de
campo vivida, a partir das diversas técnicas e teorias utilizadas. A etnografia já não representa
mais o ponto de vista do “nativo”, o interlocutor com quem o pesquisador se relacionou, ou
mesmo o ponto de vista do próprio investigador, pois resulta desse diálogo e se situa entre ele.
Nesse sentido, o trabalho clássico de Geertz traz uma definição bastante interessante:
Fazer etnografia é como tentar ler (no sentido de “construir uma leitura de”)
um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas
suspeitas e comentários tendenciosos, escrito não com os sinais
convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamento
modelado. (GEERTZ, 1989, p. 20)
Tal atitude exige do pesquisador o sincero interesse em ouvir, a dedicada atenção para
os detalhes e o paciente interesse em perceber os laços afetivos construídos na interação entre
os sujeitos e os meios. Já num cruzamento mais efetivo entre a antropologia e a comunicação,
Travancas chama atenção para o fato de que essa perspectiva metodológica exige um
mergulho do pesquisador e que não pode ser feita sem preparo ou por curtos períodos.
Reforçando a reflexão que acabamos de desenvolver:
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vozes. Das vozes narrativas, das vozes dos autores com quem dialoga e da
sua voz. (TRAVANCAS, 2006, p. 8)
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das entrevistas que interpretamos aqui. Muito embora não seja uma expressão dita
textualmente dessa forma pelos outros interlocutores, sua significação é partilhada e perpassa
todos os grupos observados.
“Os mente vazias” são as pessoas sem qualquer tipo de ocupação: emprego formal,
trabalho informal, que não estudam e geralmente também não têm vínculo com alguma
religião (para os interlocutores). Por causa dessa falta de ocupação de atividades, ou seja, por
terem as mentes vazias, elas se envolvem com práticas ilícitas. É uma tradução do ditado
popular que diz: “cabeça vazia, oficina do diabo”. Assim como reflete, de maneira bastante
discreta, sutil ou sensível, a oposição “bandido x trabalhador”.
Esse raciocínio também leva a considerar ineficiente a existência de penitenciárias, por
exemplo, já que estando lá, os detentos também não desenvolvem atividades para “ocupar a
mente”. Sobre esse tema, fizemos algumas anotações no caderno de campo, reproduzida
abaixo:
No Roger (presídio de João Pessoa) só tem gente ruim, carrego, mente vazia,
disse Camila, que também ficou se questionando como entram tantas facas,
celulares e drogas no presídio. Concluiu que só pode ser com a ajuda dos
próprios agentes e policiais. Falou que é muito bom e fácil ser diretor de
presídio, que eles ganham dinheiro sem fazer nada, porque os presos não
fazem nada na cadeia, então que trabalho é esse? (Diário de Campo do dia
23 de setembro de 2014)
Camila integra a família Gonçalves e dentro desse contexto ainda podemos extrair
outras referências ao significado do termo “mentes vazias”. Para dona Lena, do mesmo grupo
familiar, o sucesso na criação dos seus filhos reside justamente em ter evitado que eles
ficassem ociosos:
Eu criei cinco filhos homens, graças a Deus, hoje são tudo homem de bem,
casado, cada um tem sua família. Estudaram, trabalhavam, eles eram
menores mas trabalhavam, eu ocupava eles. Estudava, ia pro colégio e eu
fazia qualquer coisa pra eles venderem, pra eles se ocuparem. Hoje são tudo
de bem. (Entrevista de Lena – família Gonçalves)
Eu achava assim, que o melhor era... Era ter emprego para esse povo errado.
Ter emprego, ter escola, para... Errado é, então colocava num canto ali e...
Preso, mas preso não para ser espancado e isso e aquilo. Porque se, se pau
desse jeito a ladrão, a criminoso não existia, né? Colocasse ali num canto
preso, mas obrigado a estudar, aprender ser gente, né não? Aprender ser
gente, ter um emprego digno. Eu acho que era assim. Era para ser assim. Ter
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emprego, ter escola para esse povo. (Entrevista de Damiana – Família
Santos)
É importante ter em vista que por trás dessa visão, também é apresentado uma solução
para o problema, que reside justamente no antônimo da mente vazia, que é uma mente
ocupada. Nesse sentido, emprego e educação (ensino) aparecem como ferramentas óbvias,
para os interlocutores, de reabilitação social. Para alguns deles, atividades desse tipo podem
ser eficazes na recuperação de autores de práticas ilícitas, inclusive se colocadas no âmbito do
sistema prisional.
Feltran (2007) faz uma análise dessa relação que põe em lados opostos trabalhadores e
bandidos, ou “Os mente vazias” das mentes ocupadas. Seu texto parte da convivência com
uma família moradora da favela de Sapopemba, na zona Leste de São Paulo. Ele identifica
uma mudança de perspectiva entre uma primeira geração que ocupa esse espaço, envolvida na
luta por direitos sociais, com uma moral católica (num contexto de crescimento dos
evangélicos) e extremamente envolvida numa narrativa do trabalho (ou de sua procura); e a
geração de seus filhos que cresceram na periferia. Para este segundo grupo, as regras da favela
são constitutivas de seu modo de ser, não enfrentaram migrações, não enxergam na dimensão
no trabalho (vivida pelos seus pais) uma possibilidade de ascensão social, de acordo com o
autor.
A família a partir da qual Feltran desenvolveu a pesquisa é formada pela mãe e seus oito
filhos. A migração de Salvador para São Paulo começou no final dos anos 80 e terminou em
95. Ao longo desse percurso a criminalidade foi incorporada à rotina familiar, na medida em
que 5, dos 8 filhos de Ivonete, praticavam crimes e eram detidos ou se envolviam com o
consumo de drogas, de forma que a criminalidade, antes abominada pela mãe, passa a ser
parte constitutiva e definidora da família. A reflexão também segue mostrando como o crime
organizado se tornou responsável por prestar assistência e organizar a vida na comunidade, a
partir de experiências desse núcleo familiar, além de apontar como a vida no crime também é
encarada como um ofício.
No entanto, essa convivência não é pacífica e reproduz dentro de casa a tensão externa
da polarização entre os filhos bandidos e os filhos trabalhadores. Segundo o pesquisador, a
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narrativa elaborada pelos segundos sobre a própria vida segue numa perspectiva de tentar se
distinguir dos primeiros. De um lado o discurso de que o crime não lucra de maneira a
compensar os riscos, de outro a afirmação de que envolvidos em atividades ilícitas, os filhos
conseguem trazer dinheiro e sustentar a casa.
O autor apresenta essa experiência para tentar demonstrar de que modo a convivência
entre esses dois modelos existe no interior de um ambiente privado. Mas logo em seguida
contrasta essa leitura particular com a pública, que é a qual tivemos acesso com a observação
participante nesta pesquisa. Nestas condições, tanto pelo que pudemos identificar, quanto para
Feltran (2007), a repressão aos bandidos representa a proteção dos trabalhadores. E nesse
campo, é a “plasticidade” da noção de quem merece e de quem não merece amparo que é
problematizada.
Segundo o pesquisador, há três tipos distintos de abordagens policiais contra
criminosos. A primeira é rotineira e pontual, a segunda se caracteriza por operações amplas e
focadas e por último as ações que acontecem em crises de segurança. Para cada um desses
aspectos o “inimigo” é diferente, num regime crescente de ampliação desse espetro. Nas
primeiras o bandido é aquele já reconhecido e identificado pelos agentes a partir de sua rotina.
No segundo caso, parentes, amigos, pessoas próximas aos bandidos, mesmo que não tenham
envolvimento em crimes, podem ser alvo de abordagens. A terceira situação coloca em
confronto direto essas duas faces da situação de violência, contexto no qual se incluem
populações inteiras, de bairros periféricos e outras condições desse tipo.
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Essa fala também pode ser percebida como encaminhada pelo próprio programa, que di-
ante dos crimes, situa em lados opostos o bandido e o trabalhador, o homem de bem, que tem
a sua memória recuperada a partir de sua rotina de dedicação ao emprego e à família. “Ia do
trabalho para casa”, ou “de casa para igreja”, são expressões comuns que sinalizam nesse sen-
tido. Outra intervenção prática dessa distinção pode ser percebida na necessidade dos interlo-
cutores de reconhecerem que todo bairro tem o lado bom e “áreas podres” (Camila e Gorete),
de forma que em Mandacaru, apesar de periférico e zona comum de crimes, não poderia se di-
ferenciar dos outros por essa característica. Afinal, é um bairro como outro qualquer.
O que se coloca aqui é mais uma problemática ligada ao consumo como elemento de ci-
dadania e distinção, mas cujos efeitos são percebidos e resultam em atitudes sobre o mundo
no qual se vive. A emoção resultante da experiência de consumo midiático ajuda a elaborar
juízos de valores que justificam a compreensão de que é normal a morte de bandidos, assassi-
nados por outros bandidos, por causa de dividas com drogas. Essa foi outra fala comum apre-
endida das entrevistas e observação, cujo plano de fundo é o demérito do “mente vazia” em
sua humanidade, implica numa morte autorizada.
Considerações finais
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Acreditamos, contudo, que um estudo de recepção carece do desenvolvimento de uma
abordagem multidisciplinar, tal qual a do projeto Vivendo com a telenovela (LOPES, SI-
MÕES & RESENDE, 2002), apresentado anteriormente. Por isso, a conjugação de propostas
da filosofia (experiência), antropologia (método), comunicação (objeto) e sociologia (cotidia-
no). Dessa forma, é possível chegar com mais sustentação ao propósito da epígrafe desse arti-
go: “(…) se você quer compreender o que é a ciência (…) você deve ver o que os praticantes
da ciência fazem.” (GEERTZ, 1989). Uma compreensão do telespectador de telejornais poli-
ciais deve ser realizada seguindo esse mesmo caminho, dirigindo-se até o seu lugar (princípio
de sentido), para tentar interpretá-lo de forma inteligível.
Referências bibliográficas
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18
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19
Título: Pensar el pensar. Los análisis metateóricos como necesidad del campo de la
Comunicación.
1
cual ha desembocado no solo en la polisemia, ambigüedad y ubicuidad que acompaña al
término sino también en la confluencia de múltiples disciplinas para el abordaje de un(os)
objeto(s) de estudio(s) que aún continúa siendo motivo de debates (MARTINO, 2001).
Por otra parte, en la medida en que ha ido creciendo la conciencia –y la evidencia-
de que la comunicación constituye un escenario de lucha y conquista del poder simbólico y
real (CASTELLS, 2009), se han hecho aún más abigarrados sus nexos con los poderes
políticos, económicos e institucionales (DONSBACH, 2006; VASALLO, 1999) lo cual ha
contribuido aún más a las polarizaciones ideológicas, el crecimiento fragmentado del
campo y la primacía de la lealtad institucional por encima del interés social o académico
(OTERO, 2010; PETERS, 1986).
Sumado a lo anterior está el contexto de primacía del campo profesional sobre el
investigativo, a lo cual Follari (2005) denomina “las especificidades epistemológicas del
campo de la Comunicación”. De la combinación de ambos se generan muchas de las
insuficiencias en los niveles ontológico, axiológico, epistemológico y metodológico que
desde hace tres décadas fueron señalados a la investigación en comunicación y que aún
persisten.
Basta volver a términos como “pobreza intelectual” (PETERS, 1986), erosión
epistemológica (DONSBACH, 2006) o relativismo teórico (VIDALES, 2013) todos ellos
utilizados para caracterizar la situación del campo de la Comunicación y la ausencia de una
reflexión fructífera –y traducible en acciones- al interior del mismo sobre las maneras de
abordar sus objetos de estudio.
Al respecto el autor del último de los términos citados ha dicho de manera clara:
Los estudios de la comunicación y la investigación de la comunicación
voltean constantemente a ver la realidad social en busca de objetos de
estudio, pero rara vez voltean a ver sus propios procesos de producción de
conocimiento, sus marcos epistemológicos, los supuestos ontológicos
sobre la comunicación que se encuentran en la base de su práctica de
investigación, los efectos que la elección de sus métodos de recolección
de datos tienen en sus objetos de estudio, los efectos que los propios
investigadores, como observadores tienen sobre la realidad social que
estudian (VIDALES, 2013, pp. 30-31).
2
“dependencia excesiva de los conceptos y prácticas de Estados Unidos y Europa” (CRAIG,
2008, p. 678) y el predominio numérico y de visibilidad de la investigación gestada en
estos polos (Carrasco e Saperas, 2014)(CARRASCO; SAPERAS, 2014, p. 1716), con todo
lo que implica en términos axiológicos y teleológicos esta exportación, habitualmente
acrítica, de categorías e instrumentos creados en contextos políticos, culturales, ideológicos
e institucionales, por lo general bastante diferentes a aquellos a los que se quieren
transportar.
Todo lo anterior refleja la ausencia de una reflexión metateórica, de un análisis de
segundo orden cuyo objeto de estudio no sea comunicación en sí misma, sino la manera en
que esta se estudia y que permita sacar a flote, iluminar, explicitar, aquellas condiciones,
posicionamientos, asunciones que dan forma, limitan, influyen o estimulan una manera
específica de entenderla. Lamentablemente, como señala el profesor español Miguel de
Moragas (2010), en el campo de la Comunicación la multiplicación de los problemas ha
seguido un ritmo superior a la capacidad académica para afrontar ordenadamente su
interpretación y contextualización.
Por tanto, el desarrollo de análisis metateóricos que permitan realizar un análisis de
segundo orden a los cuerpos teóricos con los que se intenta analizar los fenómenos
comunicativos es una necesidad impostergable que no solo es pertinente para el marco del
campo comunicológico, sino que puede extenderse incluso a otras áreas de las Ciencias
Sociales en las cuales imperan situaciones bastante similares.
3
en mapas cognitivos utilizados por las personas para generar estrategias, incidiendo
directamente sobre la realidad que describe y predice.
Así, cuando el saber teórico empezó a mostrar que también tenía ataduras y fuentes
de distorsión (de carácter lógico y sociales), cuando la sobreproducción teórica junto a la
existencia de explicaciones contrapuestas respecto a un mismo fenómeno demostró la
necesidad de estudiar a fondo su conformación, y cuando el dominio prometido por la
ciencia empezó a volverse contra el propio hombre; se hizo necesario que la teoría dejara
de ser resultado de estudio para convertirse en objeto de estudio, es decir, producir un saber
posterior, capaz de sacar a la luz las relaciones ocultas entre realidad, conocimiento,
condiciones de producción e ideología, lo cual dio lugar a la llamada teoría de segundo
orden o metateoría.
Para justipreciar la importancia de los análisis metateóricos para el campo
comunicológico, debería comenzarse por definir qué es metateoría y cuál es su objeto de
estudio. En un minucioso análisis Wallis (2010), rastreó más de veinte conceptualizaciones
de metateoría; caracterizadas todas por la sumatoria de elementos considerados importantes
más que por la asociación relacional de los mismos; y también por la existencia de
múltiples discrepancias en torno a aspectos fundamentales.
Según este académico norteamericano existen dos enfoques predominantes sobre la
metateoría, uno integrativo (combinación de múltiples teorías) y otro deconstructivo
(descomposición de las teorías para su análisis o recomposición), ambos con puntos en
común, semejantes niveles de utilidad pero diferentes orientaciones. No obstante, más de la
mitad de los autores analizados, indistintamente del enfoque al que se afiliaban, coincidían
en que la metateoría se centra en el análisis de teorías, y en menor medida también existía
concordancia en el hecho de que perseguía la explicitación de los elementos implícitos, es
decir, de las estructuras subyacentes a la teoría.
En cuanto a aquellos elementos sobre los que existen mayores discrepancias a la
hora de definir qué es metateoría, es conveniente realizar algunas puntualizaciones que
considero importante tener en cuenta para arribar a una conceptualización operacional del
término. En primer lugar metateoría da pie a dos significaciones: “Una de las acepciones es
como disciplina que se encarga de estudiar las propiedades de la teoría científica; la otra es
como teoría cuyo objeto de estudio es teoría” (MARTÍN-LAHERA, 2004, p. 56). Aunque
4
distintas, no son excluyentes entre sí sino que dan cuenta de dos fenómenos diferentes pero
íntimamente interrelacionados: uno puntual [la teorización sobre una(s) teoría(s)
específica(s)] y otro general (la estructuración de un área disciplinar especializada en el
estudio de las teorías).
Por otro lado creo necesario reflexionar acerca de un aspecto que por sencillo tiende
a pasarse por alto y es precisamente el carácter puramente teórico de la metateoría, lo cual
es asumido por gran parte de los autores que han incursionado en el campo (BUNGE, 1999;
RITZER, 1997). Aunque es cierto que la metateoría es básicamente una reflexión, una
teorización sobre otra u otras teorías y que los datos que emplea son extraídos
fundamentalmente de los cuerpos teóricos estudiados (WALLIS, 2010), cabría preguntarse
si al igual que la elaboración teórica necesita entrar en contacto con la realidad para
fundamentar y corroborar los hechos que analiza, no sería lícito que la reflexión
metateórica conlleve también implicaciones prácticas para comprobar las teorías que genera
sobre las teorías que estudia. Por ejemplo, cuánto ayudaría al estudio de los factores
sociohistóricos que condicionan una teoría, la aplicación de instrumentos de investigación
que permitan levantar información al respecto: dígase investigación etnográfica de los
contextos en que se produce la teoría, entrevistas a los autores en los casos que sea posible,
investigación historiográfica y otros. Por otra parte, el análisis crítico de aspectos
relacionados con el proceder metodológico y el posicionamiento ante el objeto de estudio,
por ejemplo, sería mucho más completo y fiable, si está precedido por una práctica
investigativa que permita identificar las debilidades existentes y aun así, este proceder
práctico tiene como objetivo principal el estudio de la propia teoría, y no del hecho en sí,
que se convierte en un medio para alcanzar un fin.
Por ello, entiendo la metateoría como un análisis teórico-práctico de segundo orden.
Restringirla solamente a una dimensión teórica sería por una parte, ignorar lo que ocurre
realmente en la mayor parte de la producción metateórica hoy y por otra, un suicidio en el
plano teórico y sobre todo en el práctico.
Otra arista álgida del debate lo constituye el alcance del objeto de estudio de la
metateoría, mientras algunos autores asumen una posición inclusiva que reconoce análisis
tanto generales como específicos, otros excluyen la posibilidad de análisis metateóricos
sobre una teoría puntual, la producción teórica de un autor determinado, o las teorías sobre
5
cierto aspecto de la realidad. Aquí me adscribo a criterios inclusivos como los de Ritzer
(1997) y Wallis (2010) quienes reconocen que el terreno de estudio de la metateoría puede
ser desde una teoría, autor u objeto específico hasta un campo o dominio científico.
Por último, y no menos importante está la finalidad de la metateoría. Ante una
actitud contemplativa o meramente descriptiva con que se ha tendido a encasillar a la
metateoría, considero pertinente asumir una posición activa en pleno acuerdo con el
señalamiento de Turner (1990) en cuanto a que “la metateoría es más una manera de
producir mejor teoría que un fin en sí mismo” Aunque para nada es despreciable el valor
descriptivo de una investigación, circunscribirse a las caracterizaciones o a la identificación
de limitaciones, es un ejercicio incompleto o trunco de acuerdo al nivel de profundidad y
esfuerzo que exige una investigación metateórica. Tampoco puede pasarse por alto que este
tipo de estudios debe constituir una especie de examen de conciencia, en el cual se analizan
las finalidades que persiguen los cuerpos analizados y en función de qué y de quiénes se
ponen los resultados, con una intención profiláctica que controle los posibles efectos
indeseables y dirija los resultados hacia propósitos emancipatorios y de mejoramiento
social.
En este punto resulta totalmente válido asumir la posición del profesor mexicano
Carlos Vidales (2013, p. 74) , quien desde la conformación de una propuesta con objetivos
similares refiere que la intención que persigue no es decir cómo es (descriptivo), y mucho
menos cómo debería ser (normativo), sino cómo podría ser (propositivo) en el futuro, a
partir del planteo de escenarios posibles y alternativos.
Teniendo en cuenta todo lo anterior y en aras de lograr una conceptualización
operacional que relacione causalmente los elementos implicados en la misma, se entiende
por metateoría un análisis teórico-práctico de segundo orden sobre un dominio, campo
u objeto de estudio determinado, que parte del análisis interno del cuerpo teórico y
sus condiciones de producción con el objetivo de develar la consistencia y coherencia
del mismo, las correspondencias y contradicciones entre sus diferentes niveles y sus
componentes, las relaciones o posibles complementaciones con otros cuerpos teóricos y
las características, condicionamientos y límites que le definen el contexto
sociohistórico, cultural y académico en que fue generado; todo ello con una finalidad
de fructificación heurística y de reflexividad ética y teleológica.
6
Siguiendo a Turner (1990) pueden señalarse un grupo de ventajas y aportes que
saltan a la vista como: evaluar la claridad y adecuación de conceptos, proposiciones y
modelos; sugerir puntos de similitud, convergencia o divergencia con otras teorías; reunir
estudios empíricos existentes para confirmar la plausibilidad de la teoría; sintetizar una
teoría, o porciones de esta, con otras teorías; rescribir una teoría teniendo en cuenta
consideraciones empíricas o conceptuales; formalizar una teoría de manera más precisa;
formularla en un lenguaje más adecuado y; hacer deducciones de una teoría como una
manera de facilitar su validación empírica
Pero existen un grupo de razones, aún más convincentes y que se tornan vitales por
tres motivos fundamentales. El primero de índole científica, ya que este tipo de ejercicios
son indispensables para el desarrollo, expansión y legitimación de un campo, sobre todo si
este carece de una identidad inobjetablemente reconocida –como es el caso de la
comunicación-; y el segundo de índole práctica “para compensar con mayores síntesis la
abundancia de análisis” (Gómez, 2008) existente en la actualidad y orientar la selección en
la búsqueda de soluciones.
Como plantea Steven Wallis (2010, p. 75) :
7
bien puede ser la revisión crítica, teórica no sólo de ideas, sino también de
acciones, de compromisos sociales, de opciones epistemológicas, sociales,
políticas. La metateoría puede recuperar una historia vivida, encontrar su
sentido, sus líneas de fuerzas y orientarla hacia la acción futura”
(ZÚÑIGA, 2002).
8
Existen ejemplos de investigaciones metateóricas que se concentran en el análisis de
las categorías y conceptos constitutivos de una teoría en específico o aquellas que hacen
referencia a determinado objeto de estudio (GÓMEZ, 2008), mientras que otros autores
optan por apoyarse en ideas generales presentes en cualquier tipo de reflexión, agrupadas
en niveles epistémicos (SÁNCHEZ RUIZ, 1992) , niveles de la teoría (ANDERSON,
2009), dimensiones (LOR, 2010), áreas constitutivas (GÁNDARA, 2011), pero siempre
reconociendo la jerarquía y relaciones de interdependencia existentes entre ellos, así como
los distintos elementos que los integran. Estos niveles –como se les denominará en lo
adelante, para remarcar su carácter jerárquico e interdependiente- constituyen agrupaciones
de tipos de ideas que se hallan presentes, implícita o explícitamente, en toda reflexión.
Aunque no existe un criterio consensuado, la mayoría de estos autores hacen
referencia indistintamente – y en ocasiones con entendimientos diferentes- a niveles
ontológico, sociológico, epistemológico, teleológico, axiológico, metodológico, ético,
valorativo, ideológico, praxeológico, distinguiéndose cada propuesta por los niveles que
utilizan para el análisis, así como por la amplitud y definición que hacen de cada uno de
ellos y los indicadores que incluyen en los mismos. Como se ha dicho anteriormente, en
este aspecto se arrastran las dificultades respecto a la claridad conceptual.
Para el presente trabajo se sugiere operacionalizar el análisis metateórico en cuatro
niveles jerárquicos e interdependientes: ontológico, axiológico, epistemológico y
metodológico. En cada uno de estos niveles se agrupan conjuntos de ideas relacionadas con
la naturaleza de la realidad y el sujeto investigador, la proyección ética y valorativa de la
investigación, así como cuestiones relacionadas con el planteamiento teórico y estratégico
de la investigación que subyacen y estructuran las maneras de ver y posicionarse ante la
realidad de determinada teoría.
Esta decisión responde a un grupo de criterios básicos y necesidades de la
investigación. En primer lugar porque estos cuatro niveles permiten una reflexión
totalizante, abarcadora y sistémica del objeto de estudio tanto en su interior, como en su
relación con el contexto en que se generó y desarrolla. Segundo; en estos cuatro niveles se
incluyen todos los abarcados en las anteriores propuestas 2. Tercero; constituye una
2 No se ha decidido incluir de manera independiente un nivel sociológico que estudie las relaciones entre la
ciencia, las instituciones científicas y la sociedad en general, porque estos son elementos que están presentes en y que
configuran la totalidad de los niveles propuestos. De allí que -y en concordancia con el concepto de metateoría y el
método histórico-dialéctico que asume esta investigación- no pueda entenderse las posiciones ontológicas, axiológicas,
9
operacionalización más concreta y parsimoniosa. Cuarto; considera las interdependencias,
jerarquías y contradicciones, superando con ello las dicotomías excluyentes típicas del
pensamiento científico moderno y permitiendo una visión dialéctica que opere sobre una
realidad entendida como totalidad concreta.
Profundizando más en esta operacionalización; cuando se habla de explicitar los
posicionamientos que asume una teoría a nivel ontológico se refiere a aquellos
relacionados con la realidad en la que se inscribe su objeto de estudio, es decir su
naturaleza, sus elementos constituyentes, sus propiedades (causalidad, temporalidad,
jerarquía de las relaciones), y también respecto al propio investigador como sujeto
cognoscente. Mientras, que a nivel axiológico se tendrían en cuenta la influencia de los
factores valorativos sobre la ciencia, el conocimiento y la actividad científica; así como la
significación social de estos (FABELO, 2011) y las posiciones asumidas por el
investigador hacia la realidad y los resultados de su trabajo.
Al nivel epistemológico corresponden las cuestiones asociadas a los procesos
lógicos de producción del conocimiento y las perspectivas y métodos teóricos que los rigen,
la relación entre el sujeto y el objeto de estudio, la construcción de este último y su sistema
categorial, las finalidades cognoscitivas que se persiguen, la articulación de las unidades
aseverativas y otros elementos que tienen que ver con el proceso teórico de planeación y
generación del conocimiento.
Por último el nivel, muy condicionado por los anteriores, se encargaría
reflexivamente del estudio del conjunto de procedimientos para la producción de la
evidencia empírica, es decir, la estructuración técnica, práctica y operacional de “un sistema
coherente de acciones, pasos, vías e instrumentos para analizar el objeto de estudio”
(Álvarez y Barreto, 2010, p. 188-189).
De cualquier manera esta operacionalización responde fundamentalmente a
necesidades metodológicas y no pretende exhibir una rigidez absoluta pues como señala
Corbetta (2007) estas cuestiones se encuentran “relacionadas entre sí, no sólo porque las
respuestas para cada una de ellas se influyen entre sí, sino también porque a veces es difícil
distinguir los límites entre ellas”, por lo cual determinados aspectos ubicados en un nivel
específico, vuelven a aparecer y a reproducirse recursivamente en otros.
epistemológicas y metodologías, si no es en estrecha correlación con los contextos sociohistóricos que las condicionan.
10
Por otra parte, vale la pena aclarar que muchos de los cuerpos conceptuales que se
utilizan en el campo comunicológico, no alcanzan propiamente el rango de teorías ni tienen
formulados explícitamente ni problematizados estas cuestiones de tipo ontológico,
axiológico o epistemológico, pues su finalidad es puramente operativa, y no se proponen
entender el mundo en estas dimensiones (VIDALES, 2013). Por tanto, no se trata de
someterlos a una crítica pidiéndoles que den algo para lo que no fueron creados, pues el
resultado de tal empeño ya se conocería de antemano.
No obstante, el hecho de que no tengan formulaciones explícitas al respecto ni
constituyan foco de su atención, no quiere decir que no asuman posicionamientos
relacionados con estos niveles, pues como plantea Anderson (2009) estas son tipos de ideas
presentes en cualquier formulación teórica, e incluso yo diría que presentes también en toda
acción práctica, algunas veces de manera consciente y las más, inconscientemente. De ahí
que la intención de estos análisis sea explicitar dichos posicionamientos que se reflejan y
tienen consecuencias en la práctica investigativa, determinar –si es posible- las fuentes de
esos condicionamientos, sus repercusiones e identificar alternativas posicionales que
permitan otros abordajes del objeto de estudio y contribuyan tanto a una mejor
comprensión del mismo como a un aprovechamiento con finalidades emancipadoras de los
resultados obtenidos.
4. Conclusiones
El campo de la Comunicación ha estado atravesado desde sus inicios por una serie
de problemáticas relacionadas con las debilidades epistemológicas del mismo, la
subordinación de los intereses académicos a los institucionales, el predominio hegemónico
de la investigación gestada en los Estados Unidos y Europa, el carácter instrumental de las
investigaciones por encima de su significación social, las consecuencias negativas de la
reproducción acrítica del paradigma dominante de investigación, el alto grado de
fragmentación del campo y otras que apuntaban a la ausencia de una práctica sistemática de
la reflexividad al interior del mismo.
En este sentido los análisis metateóricos como estudios de segundo orden, se
convierten más que en una promisoria herramienta de trabajo, en un necesidad no solo por
11
lo que pueden contribuir a la legitimación y maduración del campo comunicológico; sino
porque las propias características y evolución de los campos académico e investigativo de
la Comunicación exigen de una práctica reflexiva constante que permita depurar y
perfeccionar los cuerpos teóricos-metodológicos que se emplean para el estudio de los
fenómenos de la realidad.
La propuesta de operacionalizar el análisis metateórico en cuatro niveles jerárquicos
e interdependientes (ontológico, axiológico, epistemológico y metodológico) constituye
solo un postulado de base, una especie de provocación intelectual para seguir trabajando
sobre todo en una mayor especificación y explicitación de los componentes al interior de
cada nivel y las relaciones de ellos.
Avanzar en la construcción de una propuesta de esta tipo siempre implica un riesgo
enorme por la complejidad de la tarea, las inevitables exclusiones y elecciones que conlleva
y la pluralidad y diversidad de los objetos de estudio a los que será aplicada; pero
magnitud de ese riesgo solo es comparable con la necesidad que de ella se tiene. Cualquier
diseño al que se arribe debe ser consciente de sus opacidades y de su carácter transitorio y
de progresiva superación, pero como señaló acertadamente Charles Wright Mills (1969), la
investigación es un ejercicio de artesanía intelectual en el que se prefiere hacer con lo que
se tiene, crear vías, rutas, instrumentos que estimulen el pensamiento y no dejar el terreno
baldío a expensas de las intuiciones o las iniciativas festinadas.
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13
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14
A qualidade no telejornalismo: conceito e matrizes
Introdução
A busca por métodos de verificação da qualidade voltados para emissoras de
televisão ainda é incipiente – assim como a própria significação do conceito, cuja
abrangência de discussão impõe pesquisas de múltiplas abordagens, desde aspectos
ligados à gestão, passando por questões técnicas e de conteúdo. Entretanto, no Brasil
nota-se uma preocupação em tratar o assunto não somente quanto a sua definição, mas
também na elaboração de parâmetros que possam auxiliar pesquisadores e profissionais
da área jornalística e de gestão a identificar se determinada programação ou veículo
atende aos requisitos básicos de qualidade.
Portanto, este trabalho se propõe, através de levantamento bibliográfico e
entrevistas realizadas com profissionais da Empresa Brasil de Comunicação (EBC),
responsável pela gestão da TV Brasil, emissora pública brasileira, abordar como o
conceito de qualidade é construído da perspectiva do jornalismo como construção social
(BECKER, 2005; GOMES, 2006; COUTINHO, 2013). Também busca-se levantar
como este conceito pode ser avaliado por profissionais e cidadãos. As entrevistas foram
1 Jornalista (UFV), mestrando em Comunicação (UFJF), especialista em Jornalismo Político (AVM) com
MBA em Administração de Empresas (FGV). É pesquisador do Laboratório de Jornalismo e Narrativas
Audiovisuais (UFJF). E-mail: jtarcisiofilho@gmail.com.
realizadas em março de 2014 durante pesquisa de campo na EBC e foram direcionadas a
forma como a qualidade é constituída e praticada no conteúdo informativo da TV Brasil.
Para discutir os métodos que vêm sendo desenvolvidos nos últimos anos,
principalmente relacionados ao estudo “Indicadores de qualidade da informação
jornalística” – realizado por pesquisadores da Rede Nacional de Observatórios de
Imprensa (Renoi) em conjunto com a UNESCO, consideramos importante abordar
também pesquisas sobre qualidade que são objetos de estudos de acadêmicos da área de
telejornalismo, como as desenvolvidas pelo Laboratório de Jornalismo e Narrativas
Audiovisuais da Universidade Federal de Juiz de Fora e publicadas no livro “A
informação na TV Pública” (COUTINHO, 2013). A compreensão dos indicadores
formulados contribui para a discussão conceitual e formação crítica de leitores e
(tele)espectadores.
2 Entre os vintes pontos que compõe o projeto de lei de iniciativa popular estão: participação social;
regulamentação da complementariedade dos sistemas e fortalecimento do sistema público de
comunicação; fortalecimento das rádios e TVs comunitárias; democracia, transparência e pluralidade nas
outorgas; limite à concentração nas comunicações, proibição de outorgas para políticos; garantia da
produção e veiculação de conteúdo nacional e regional e estímulo à programação independente;
promoção da diversidade étnico-racial, de gênero, de orientação sexual, de classes sociais e de crença;
criação de mecanismos de responsabilização das mídias por violações de direitos humanos. A lista
completa pode ser acessada no site: http://www.paraexpressaraliberdade.org.br/
3 Entre os países latino-americanos que contam com lei de meios voltados para o audiovisual, estão:
Venezuela (2004/Lei de Responsabilidade Social do Rádio e da Televisão); Uruguai (Lei da Radiodifusão
Comunitária/2007); Argentina (2009/Lei de Serviços da Comunicação Audiovisual), Brasil (2012/Lei de
Televisão por Assinatura), Equador (2013/Lei Orgânica de Comunicação), México (2013/2014, com a
reforma constitucional que incorpora novas leis de comunicações), Uruguai (2014/Lei de Serviços de
Comunicação Audiovisual).
Oriundo do modelo ocidental, o telejornalismo brasileiro, portanto, estaria ligado
à perspectiva liberal sobre o papel democrático da mídia. Assim, pontos frequentemente
abordados a esta temática, são relacionados “a noção de quarto poder, em que está
implícita a autonomia da imprensa em relação ao governo, o direito à liberdade de
expressão e o compromisso com o interesse público; o caráter público ou privado da
empresa jornalística” (GOMES, 2006, p.5). Esse referencial dos princípios jornalísticos,
que embasa muitos dos estudos sobre a qualidade, demonstra também a visão do
jornalismo como construção social – que também é uma referência adotada por outros
autores, como Becker (2005) e Coutinho (2013). Assim, ao se discutir a qualidade e o
fazer jornalístico, deve-se considerar questões sociais e o “contexto profissional e
cultural em que a prática jornalística acontece” (GOMES, 2006, p.5).
Perante a necessidade de considerar os ambientes social e cultural, Gomes
(2006) afirma ser preciso criar uma forma de identificação entre os programas e seus
telespectadores. Nestas condições, cita o conceito de “modo de endereçamento”, como
sendo a forma como “determinado programa se relaciona com sua audiência a partir da
construção de um estilo, que o identifica e que o diferencia dos demais” (GOMES,
2006, p.16). A pesquisadora, assim, consolida sua proposta de que a produção da notícia
não deve se atentar apenas ao acontecimento, mas também ao público que terá acesso à
notícia. Para avaliar a qualidade no telejornalismo, o modo de endereçamento deve ser
explorado através de “como o endereçamento de um determinado programa é
construído, a partir de quais elementos, de quais estratégias” (GOMES, 2006, p.18).
Esses procedimentos fariam parte do processo para tornar real a concepção de
que “a televisão de qualidade é aquela que se torna parte da conversação pública
cotidiana”, defendida por Becker (2005, p. 56), através de percepções elaboradas por
Omar Rincón4. Muitos pesquisadores também defendem a questão da diversidade numa
abordagem abrangente, perpassando por questões técnicas, de conteúdo e
representações, “transformando e misturando gêneros, inserindo novos pontos de vista
nos fatos noticiados e ampliando a quantidade e os diferentes tipos de personagens”
(BECKER, 2005, p.57).
A diversidade também faz parte de trabalhos que tratam da qualidade em
emissoras públicas. Bucci, Chiaretti e Fiorini (2012) incluem esta característica como
4 RINCÓN, Omar (2004). In: Lutando por uma televisão melhor, Entrevista a João Freire Filho, ECO-
PÓS - Publicação da pós-graduação em comunicação e cultura, Vol. 7, n.1.Rio de Janeiro: E-papers
Serviços Editoriais Ltda., pp.113-25.
um dos dez eixos5 que compõe os 188 indicadores de qualidade6 formulados com a
função de verificação. Numa perspectiva semelhante, Coutinho (2013), também com
enfoque no jornalismo público, reafirma tal preceito através de quatro fatores que
devem nortear a qualidade: a polifonia7; multiplicidade de abordagens; aprofundamento
da cobertura de forma que incentive o debate público; e abordagem de assuntos que não
são veiculados com ênfase pela mídia comercial. Este último tópico também pode ser
interpretado como uma forma de instigar o público, “incluído o consumidor enquanto
cidadão” (BARBERO, 2002, p.57). Nota-se, portanto, que na maioria dos preceitos, a
diversidade ocupa um lugar chave na elaboração dos indicadores.
Na discussão qualitativa sobre a comunicação pública no Brasil, apesar dos
estudos serem recentes, geralmente publicadas nos últimos cinco anos, é perceptível
também a influência de linhas teóricas oriundas de pesquisadores latino-americanos. A
pesquisadora argentina, Norma Mazziotti (2002), relaciona a qualidade “com a
criatividade, com a possibilidade de expressar de outras maneiras, e de maneiras novas,
o que se quer contar” (BARBERO, 2002, p. 215). Uma percepção que além de se
aproximar com a diversidade do formato, também se justifica na concepção de Fuentes
(2002) ao afirmar que “a televisão pública pode e deve se esforçar para buscar novos
formatos e atender à demanda de públicos minoritários” (FUENTES, 2002, p. 132).
Além de ir ao encontro do pensamento de Becker (2005), que diz que a qualidade está
ligada à produção de programas inovadores, universais e ousados, também se encontra
com a pesquisa de Coutinho (2013), que defende que a TV Pública tem a missão de
representar as minorias, principalmente na luta contra estereótipos.
Fuentes (2002) ainda reforça conceitos que são abrangentes no estudo da
qualidade no Brasil, como a pluralidade, a inovação e a necessidade da descentralização
midiática. O autor enfatiza a criação de uma identidade própria – que seria alcançada
5 Os dez eixos que norteiam os indicadores formulados por Bucci, Chiaretti e Fiorini (2012) são:
transparência de gestão; diversidade cultural; cobertura geográfica e oferta de plataformas; padrão
público; independência; interação com o público; caráter público do financiamento; grau de satisfação da
audiência; experimentação e inovação de linguagem; e padrões técnicos.
6 Os indicadores de qualidade produzidos por Bucci, Chiaretti e Fiorini (2012) foram elaborados em
formato de perguntas. As questões se agrupam em dois tipos, os que podem ser respondidos de formas
objetivas e os que só podem ser mensurados com precisão através de uma análise de especialistas e
críticos independentes. As perguntas envolvem temas ligados à diversidade cultural, cobertura geográfica,
independência, padrões técnicos, entre outros.
7 A autora caracteriza a polifonia de vozes como diversidade de opiniões e pontos de vistas. Não se deve
confundir tal conceito com questões apenas quantitativas, como número expressivo de fontes utilizadas –
mas sim, olhares diferenciados sobre determinado assunto.
“desde a grade de programação, passando pela construção de marcas, até os elementos
que completam uma identidade corporativa, são as ‘ofertas’ que as emissoras fazem aos
seus receptores” (FUENTES, 2002, p.139). Essa concepção pode ser interpretada
também como uma síntese do que nos propomos a discutir até o momento. Ao executar
o modo de endereçamento proposto por Gomes (2006), perpassando por fatores ligados
ao debate público, diversidade, valores democráticos, pluralidade e outros quesitos que,
juntos, compõe uma TV de qualidade, seria possível criar uma identidade para uma TV,
seja ela pública ou de exploração comercial – comprometida com valores além dos
mercadológicos e de índices de audiência.
Nesta busca pelo sentimento de pertencimento, tão carente em muitas TVs
públicas latino-americanas, como é o caso da TV Brasil que, mesmo após sete anos no
ar, ainda não chega a pontuar nos institutos que medem a audiência 8, é preciso ir além
da perspectiva técnica e de conteúdo para a qualidade. Também se deve considerar que
para a construção de uma TV de qualidade e com identidade forte é preciso garantir
transparência na gestão – já que, além de influenciar no conteúdo, também pode
aproximar a empresa da sociedade, que é a principal financiadora das TVs públicas.
De acordo com Bucci, Chiaretti e Fiorini (2012), quanto mais alto o grau de
transparência na gestão, “mais preparada está a instituição para prestar um serviço
público de qualidade” (BUCCI; CHIARETTI; FIORINI, 2012, p.26). Em pesquisas
acadêmicas da comunicação que trabalham uma interlocução com métodos
administrativos de manutenção da qualidade9, a discussão geralmente é embasada por
uma abordagem onde se prioriza elementos que podem ser úteis aos investigadores e
profissionais para otimizar a atividade jornalística de acordo com princípios pré-
estabelecidos.
Apesar de Bucci, Chiaretti e Fiorini (2012) se atentarem às questões ligadas à
transparência de gestão, missão, administração de recursos e nível de diálogo com a
sociedade, algumas ferramentas administrativas também fazem parte do dia a dia de
setores de (tele)jornalismo. Um dos métodos, por exemplo, é o Balanced Scorecard
8 A audiência, analisada de forma isolada, não é considerada um indicador de qualidade. Entretanto, em
entrevistas realizadas com profissionais da TV Brasil em março de 2015, ficou evidente que sua medição
faz parte da meta institucional. Em encontro com pesquisas acadêmicas, como a realizada por Coutinho
(2012), conclui que a TV Pública deve se preocupar com a audiência para que não se torne uma TV vista
por poucos e não dê o retorno efetivo para a sociedade. O traço de audiência também não permite que seu
conteúdo se torne parte das discussões cotidianas, como defende Becker (2005).
9 Para essa abordagem, que será discutida com maior profundidade posteriormente, utilizamos como
referência a pesquisa “Indicadores da Qualidade da Informação Jornalística” produzida pela Rede
Nacional de Observatórios de Imprensa (Renoi) em parceria com a UNESCO.
(BSC). Utilizado por emissoras de TV e redações multimídias, como a Rede Gazeta no
Espírito Santo, é considerado um sistema capaz de registrar as falhas, pontos positivos e
comparação de índices de audiência nas mais diversas plataformas comunicativas.
Portanto, se torna um mecanismo para embasar críticas internas e analisar resultados de
setores distintos de uma empresa de comunicação, inclusive do jornalismo.
Entretanto, para se verificar a qualidade de uma forma mais padronizada,
existem estudos que recorrem a normas já estabelecidas e consolidadas para serem
aplicadas em produtos midiáticos. Essa opção, além de garantir maior legitimação dos
métodos de análise, também promove a aplicação de conceitos universais no campo da
comunicação. A partir deste momento, buscaremos aprofundar a discussão dos trabalhos
que usam como referência as propostas e matrizes baseadas nas normas ISO 9000 e ISO
9001, formuladas pela organização Internacional para Padronização (ISO) e utilizada
pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
11 Apenas a publicação de Rothberg (2010) não abordou diretamente a gestão da qualidade através do
sistema ISO. O professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) no trabalho “Jornalistas e suas
visões sobre qualidade: teoria e pesquisa no contexto dos ‘Indicadores de Desenvolvimento da Mídia’ da
UNESCO” se dedicou a analisar a qualidade na perspectiva dos profissionais do jornalismo.
12 Entre os pontos analisados por Christofoletti (2010), estão a avaliação de processos produtivos,
reuniões internas de avaliação, presença de manual de redação, código de ética, pesquisas de satisfação,
serviço de atendimento ao leitor, presença de ombudsman ou ouvidor etc.
conceitual que se traduz concretamente na ausência ou pouca nitidez das ações e
estratégias para a busca de excelência técnica” (CHRISTOFOLETTI, 2010, p. 41).
É importante considerar que apesar do estudo ter sido realizado com foco
principal em jornais impressos, muitas das constatações também podem ser estendidas
para o campo do telejornalismo público. Em entrevistas realizadas com quatro
profissionais da TV Brasil em março de 2015, pertencentes aos setores estratégicos -
Direção de Jornalismo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Ouvidoria e
Conselho Curador - notou-se que dentro da própria EBC não há um consenso sobre o
que é qualidade. Essa ausência de sintonia pode dificultar a criação de parâmetros
qualitativos e sistemas de gestão da qualidade.
A ouvidora Josetti Marques (2015), por exemplo, defende que não se devem
criar parâmetros de qualidade pelo risco de engessar o fazer jornalístico – que, para ela,
está em constante transformação, devido às mudanças sociais. Já Nereide Beirão (2015),
diretora de Jornalismo, e o assessor de Jornalismo Eurico Tavares (2015), consideram
que a qualidade está ligada à informação fornecida ao telespectador de forma completa,
contextualizada, comprometida com a veracidade dos fatos e com boa técnica. A
presidente do Conselho Curador Ana Fleck (2015) diz que os aspectos qualitativos são
formulados de forma constante, através de audiências, análises de programas e retornos
da sociedade.
Mesmo os entrevistados considerando o “Manual de Jornalismo da EBC:
Somente a Verdade” como um norteador da atividade jornalística nos veículos que
compõe a EBC, nota-se que não há uma integração conceitual entre setores estratégicos
que fazem parte da TV Pública brasileira sobre o ideal da qualidade a ser alcançada. A
segmentação de opiniões pode se tornar, inclusive, um entrave para implantação das
normas estabelecidas pela certificação ISO 9000/9001.
Na proposta de diretrizes para gestão da qualidade aplicada ao jornalismo,
Guerra (2010) afirma que as matrizes elaboradas pelos pesquisadores da Renoi devem
ser discutidas e aprimoradas por empresários, funcionários e membros das organizações
jornalísticas – daí a importância de um trabalho em sintonia. Em sua pesquisa, recupera
a necessidade de se adequar a dualidade: expectativas dos consumidores 13 e percepção
13 Em relação à expectativa dos consumidores, Guerra (2010) ainda descreve uma dupla dimensão. “A
privada, relativa a gostos, preferências, potencialidades próprias de cada indivíduo ou grupo de
indivíduos. E a pública, relativa à condição cidadã que estes mesmos indivíduos e grupos desfrutam no
âmbito das sociedades democráticas” (GUERRA, 2010, p. 45).
dos mesmos sobre o produto ou serviço14. Portanto, na composição da matriz, a relação
entre as organizações jornalísticas e a audiência é analisada como um serviço público –
sendo o interesse público um valor notícia universal. Utilizando a norma da ABNT ISO
9001:2008 e o documento da Fundação Nacional da Qualidade, conclui que:
14 A afirmação de Guerra (2010) é embasada no livro “Administração Pública” de Nigel Slack, Stuart
Chambers e Robert Johnson, publicado em 2007, com tradução de Maria Teresa Corrêa de Oliveira e
Fábio Alher pela editora Atlhas (SP).
15 Entre as pesquisas citadas estão “A abordagem econômica nos noticiários público e comercial: o
rebaixamento da nota de classificação de risco do Brasil”, apresentada Tarcísio Oliveira Filho e Iluksa
Coutinho no XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste (2014), e “Entre denúncias
e silêncios: a cobertura do caso Pasadena em emissoras de TV comercial e pública”, apresentada pelos
mesmos autores no XII Congresso da Associação Latinoamericana dos investigadores em Comunicação
(2014).
visão micro, que fazem parte da rotina empresarial e que afetam diretamente o fazer
jornalístico
Enquanto frentes sociais se mobilizam para preencher a lacuna referente à
legislação para uma comunicação pautada por valores democráticos – como é o caso do
Fórum Nacional pela Democratização da Mídia -, através de pressão política e
mobilização dos movimentos sociais, as empresas jornalísticas deveriam assumir o
compromisso de trabalhar a qualidade de forma sistematizada, por métodos
considerados referências universais. Os trabalhos aplicados às normas ISO 9000 e ISO
9001 constituem uma ferramenta importante para alcançar este objetivo. Se na pesquisa
a comunicação é cada vez mais vista como uma área com frequente
interdisciplinaridade com outras áreas, na prática não deve ser abordada de forma
diferente. Esses métodos, além de organizar a atividade jornalística, também se aliam
aos valores e missões de muitas organizações.
A aplicação das matrizes não só é respaldada por questões ligadas às normas
técnicas, mas também pela incorporação dos conceitos teóricos defendidos por autores
que estudam o jornalismo de qualidade, como a diversidade, pluralidade, polifonia de
vozes e construção de um estilo que possa se identificar com os espectadores. Portanto,
as matrizes são uma ferramenta que viabiliza a concretização do interesse público
perante uma atividade consolidada como serviço público.
Como evidenciado pelos autores, os modelos ainda carecem de testes e são um
ponto de partida para serem aprimorados. A própria prática pode contribuir para a
criação de matrizes mais eficientes e comprometidas com o conceito de qualidade.
Porém, para que isso seja possível é necessário criar uma cultura organizacional16 capaz
de unir jornalistas, direção e cargos estratégicos ao compromisso de uma TV de
qualidade.
No caso da TV Pública, que tem o ideal constitucional de se diferenciar do que é
produzido pela grande mídia e de buscar uma identidade nacional, é importante aderir a
mecanismos que possam verificar se tais objetivos estão sendo alcançados. As
discussões no Conselho Curador e os retornos obtidos através da Ouvidora podem atuar
como termômetros para avaliar se os métodos de gestão da qualidade empregados são
efetivos. E na perspectiva do fazer jornalístico como uma construção social (BECKER,
16 Por cultura organizacional entende-se a criação de práticas que sejam difundidas no ambiente
empresarial e que possam ser utilizadas por diferentes profissionais em atendimento aos valores e a
missão da empresa/veículo de comunicação.
2005; GOMES, 2006; COUTINHO, 2013), as ferramentas de análise da qualidade
também podem ser úteis neste contexto, através da inclusão da participação social e da
atenção às demandas reais do público.
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fortalecimento da radiofusão pública: o caso da Argentina, do Equador e do Uruguai.
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TAVARES, Eurico. Entrevista concedida a Tarcísio Oliveira Filho. Brasília: EBC, em 19
de março de 2015.
Perspectivas iniciais para o estudo da saúde do jornalista
Ideias iniciais
1
As últimas pesquisas indicam que no Brasil existam hoje 145 mil jornalistas
profissionais (MICK; LIMA, 2013). Integrantes de um mercado muito competitivo e
com baixa remuneração, os jornalistas sofrem as consequências do atual modelo de
trabalho adotado pelo mercado brasileiro.
Neste panorama, nos propomos a desenvolver um trabalho na interface entre
comunicação e saúde (LERNER; SACRAMENTO, 2014; GOMEZ; MACHADO;
PENA, 2011; PAULINO, 2009; PITTA, 1995). Sendo assim, os pilares da nossa
fundamentação teórica emergem desta área, que na pesquisa está relacionada às
mudanças estruturais no jornalismo (MOURA; PEREIRA; ADGHIRNI, 2015;
BARSOTTI, 2014; ADGHIRNI, 2012; PEREIRA; ADGHIRNI, 2011), à precarização
da profissão de jornalista (LIMA, 2015; SILVA, 2014; SILVEIRA, 2010; ACCARDO,
2007), aos estudos sobre o trabalho (ANTUNES, 2009; DEJOURS, 1992, 1997, 2011),
à visão do jornalista enquanto trabalhador (FIGARO; NONATO; GROHMANN, 2013;
FIGARO, 2008, 2001) e às consequências do trabalho na saúde e na qualidade de vida
no trabalho dos jornalistas (TAVEIRA; LIMONGI-FRANÇA; FERREIRA, 2015;
FERREIRA et al, 2013; FERREIRA, 2012; HELOANI, 2003, 2005, 2006; LIPP, 1996).
Nossa hipótese atual da pesquisa de doutorado é que a precarização da profissão
afeta a saúde destes profissionais. Esta foi uma das conclusões-hipóteses da nossa
pesquisa anterior (BULHÕES, 2014), na qual investigamos a prática profissional, o
ethos e a identidade dos jornalistas que atuam concomitantemente em redações
jornalísticas e assessorias de imprensa em Natal-RN.
Na atual pesquisa buscamos desenvolver esta hipótese investigando sobre a
saúde de jornalistas brasileiros, tomando como recorte os que atuam nas cidades de
Brasília-DF e Natal-RN, escolhidas tanto pela proximidade acadêmica da pesquisadora,
quanto por questões peculiares locais e discrepâncias entre si.
Brasília-DF pode ser considerada a capital do jornalismo brasileiro, devido ao
Distrito Federal ter a maior concentração de jornalistas per capita do país, que é
aproximadamente um jornalista para cada quase 385 moradores; são cerca de 6.500
jornalistas em uma população média de 2,5 milhões de habitantes (SILVA, 2014). Pelo
fato de ser capital federal do país, ela tem uma concentração incomum de órgãos
públicos, veículos de comunicação, correspondentes etc.
Natal-RN foi considerada a cidade com o mais baixo piso salarial do país pelos
últimos cinco anos. Com cerca de 1.700 jornalistas atuando no mercado (MAIA;
FEMINA, 2012), não é excepcional encontrar dentre eles profissionais com mais de
2
três empregos formais (BULHÕES, 2014) e também jornalistas que ganham abaixo do
piso, que é R$1.370,00 (FENAJ, 2015).
A primeira fase do trabalho pauta-se em pesquisa exploratória que, de acordo
com Bonin (2011), é um movimento de aproximação ao fenômeno pesquisado, com
vistas a conhecer suas especificidades. Pode incluir um levantamento de dados referente
ao problema, além de trazer pistas que irão contribuir para a construção investigativa.
Nossa principal estratégia metodológica é a etnometodologia, que considera a
linguagem comum como locutora da realidade social (COULON, 1995). Sendo assim o
jornalista, ao falar de sua vivência profissional, pode revelar melhor a realidade social
na qual está inserido. “A importância teórica e epistemológica da etnometodologia se
deve ao fato de efetuar uma ruptura radical com modos de pensamento da sociologia
tradicional. Mais que teoria constituída, ela é uma perspectiva de pesquisa, uma nova
postura intelectual” (COULON, 1995, p. 07).
Por proximidade com a metodologia escolhida, optamos complementá-la com a
técnica da entrevista em profundidade, que consoante com Duarte (2008) serve para que
se recolham respostas a partir da experiência de uma fonte. Pereira (2012) destaca que a
realização de pesquisas qualitativas exige um preparo extra do pesquisador
entrevistador, que precisa considerar diferentes aspectos da interação com o entrevistado
e considerar durante o processo de interpretação dos dados, analisando “a própria
atuação do pesquisador no processo de construção da narrativa” (PEREIRA, 2012, p.
43).
Com relação aos sujeitos de pesquisa, trabalharemos com perfis que nos façam
refletir sobre as diferentes formas de trabalho como jornalista em Natal e Brasília.
Buscaremos contemplar concomitantemente os perfis abaixo:
a) Permanência na profissão: pretendemos ter entrevistados que atuam como
jornalistas; que têm a formação, mas nunca atuaram; que atuavam e mudaram de
profissão; e que atuavam e se aposentaram.
b) Local de atuação: em meios de comunicação hegemônicos e contra-
hegemônicos da mídia tradicional (emissoras de TV e rádio, jornais impressos, revistas,
portais etc.), da comunicação organizacional ou docência; sejam organizações públicas,
privadas ou do terceiro setor.
c) Funções: Repórter, editor, pauteiro, locutor, apresentador, blogueiro, assessor
de comunicação ou imprensa, marketing, comunicação interna, relações públicas,
analista de mídias sociais etc.
3
d) Formação: com diploma de graduação de universidades públicas e privadas e
sem diploma.
e) Tipos de vínculos: estagiário, freelancer, pessoa jurídica (PJ), contrato sem
carteira assinada, contrato com carteira assinada em outra função (embora atuando
como jornalista), contrato com carteira assinada como jornalista, concursado com outra
função, mas exercendo a função de jornalista e concursado como jornalista.
Também nos interessam questões relacionadas a gênero, idade, tempo de
profissão, trajetória, ideologia profissional, sindicalização, não deixando de considerar
aqueles que possuem múltiplos empregos e também demais questões que possam surgir
no desenvolvimento da pesquisa.
Com relação aos instrumentos de coleta de dados, registraremos as entrevistas
por meio de gravações em áudio e anotações, com transcrição literal em seguida. Todo
esse material constitui a base para nossa análise dos dados empíricos, bem como as
impressões e interpretações dos gestos e falas dos entrevistados. Consideramos, ainda,
que no decorrer da pesquisa os sujeitos podem sofrer mudanças de postos de trabalho,
pois isso é comum na área do Jornalismo.
4
identidades individual e coletiva; fragilização da organização dos trabalhadores; a
condenação e o descarte do Direito do Trabalho.
Desses, acreditamos que prevalece na profissão de jornalista o segundo tipo, que
segundo a autora “é encontrado nos padrões de gestão e organização do trabalho – o que
tem levado a condições extremamente precárias, através da intensificação do trabalho
(imposição de metas inalcançáveis, extensão da jornada de trabalho, polivalência etc.)”
(DRUCK, 2001, p. 48). Sendo assim, os principais fatores determinantes para a atual
precarização da profissão de jornalista são: as longas e intensas jornadas de trabalho, o
acúmulo de funções e os baixos salários.
Lima (2015) foi mais específico ao mapear os cinco indicadores mais fortes de
precarização do trabalho de jornalista: jornada de trabalho excessiva; intensidade do
trabalho; vínculos empregatícios precários; baixos salários; e indícios de multifunção.
Destacamos que a ideia de precarização da profissão de jornalista não surgiu
agora. No contexto europeu, Accardo (1998) aponta que os efeitos da precariedade e da
proletarização dos chamados "trabalhadores-jornalistas" resultam em um
empobrecimento material (diminuição do poder de compra, endividamento crescente,
deterioração das condições de vida) e em problemas de ordem psicológica, como o
estresse.
Tratando de uma realidade brasileira, Sant’Anna (2005, p. 16) relata que os
veículos de comunicação brasileiros "reduziram suas equipes, eliminaram coberturas
jornalísticas setorizadas, dispensaram os profissionais", enquanto que Marcondes Filho
(2009, 2009a) ressalta que o jornalista teve seu trabalho aumentado com as tecnologias,
passou a ter mais atribuições, o contingente nas redações foi reduzido, o prestígio
diminuiu, a responsabilidade aumentou e, hoje, qualquer um pode exercer a profissão.
Segundo o autor, este conjunto contribui para a precarização profissional, posição cuja
endossamos.
Nos atendo ainda à questão da tecnologia, Heloani (2006) corrobora com esta
visão quando aponta que as supostas vantagens das tecnologias vieram acompanhadas
de cargas excessivas de trabalho, invasão da vida pessoal e desconfortos físicos como
olhos irritados, dores no pescoço e nas costas, lesões por esforços repetitivos. "As
organizações, pressionadas pelo processo de globalização, substituem cada vez mais o
homem pela máquina, implementam novas tecnologias e obrigam o jornalista a adaptar-
se freneticamente a elas" (HELOANI, 2006, p. 192).
5
Para Duarte (2004), a precarização laboral expressa a dinâmica de um fenômeno
de transições e exposição aos diferentes riscos associados às dinâmicas atuais do
mercado de trabalho. A autora relaciona esta questão aos vínculos contratuais instáveis e
também às mudanças organizacionais constantes e irregularidade crescente dos horários
e das remunerações, mesmo tendo por base vínculos contratuais estáveis.
Silveira (2010, p. 89) traz um recorte histórico-temporal voltado à atualidade
quando diz que "considerando que os jornalistas brasileiros enfrentam um processo de
precariedade nas condições de trabalho e de remuneração, talvez poucas vezes visto no
mercado convencional, eles têm sido hábeis em encontrar saídas que lhes permitam
viver com menos privações". Uma dessas saídas citadas pelo autor é justamente a
múltipla jornada de trabalho, que implica em uma carga horária excessiva, com longas e
intensas jornadas de trabalho, que podem influenciar negativamente na saúde dos
jornalistas.
Adotamos na pesquisa a premissa de que a profissão de jornalista está passando
por uma precarização. Ainda não podemos afirmar desde quando há esse fenômeno, mas
estimamos que a sua existência ficou mais evidente com a popularização de um perfil
profissional multifuncional.
Não queremos enfatizar um discurso de que a profissão de jornalista é a mais
precária, ou passa por uma precarização mais forte do que profissão x e y. Mas por que
acreditamos que de fato há uma precarização da profissão? Defendemos que as
condições de trabalho, no geral, estão longe das ideais e propomos a discussão das
consequências disso, apontando especificamente para a questão da saúde e qualidade de
vida no trabalho do jornalista, uma investigação complexa que poderemos discutir mais
profundamente no futuro.
6
jornalismo é anterior à internet, porém esta acelerou o processo. Com ênfase nos jornais,
ela destaca a circulação em queda (em detrimento ao aumento no número de jornais), o
encolhimento da receita publicitária, os cortes nas redações e a expansão rumo aos
meios digitais.
Barsotti (2014) acredita que a atual fase do jornalismo, que corresponde ao da
era eletrônica, põe em xeque a profissão de jornalista, mas que no fim das contas torna-
o mais necessário. A autora não tem pretensão de atribuir as mudanças no campo do
jornalismo exclusivamente ao avanço das novas tecnologias digitais, mas destaca a
importância de observarmos esta dinâmica.
Le Cam, Pereira e Ruellan (2015) destacam as mudanças e permanências do
jornalismo. Eles defendem que o jornalismo não sofre alterações mudando todas as
dinâmicas anteriores; muito pelo contrário, o jornalismo se ancora na história e conserva
permanências em suas práticas.
Os autores apontam que "a retórica sobre a crise do jornalismo é por si só um
dos discursos mais permanentes e mais recorrentes" (LE CAM; PEREIRA; RUELLAN,
2015, p. 13), afirmação cuja corroboramos.
Podemos sintetizar o conceito de mudanças estruturais no jornalismo como um
"conjunto de transformações no jornalismo, que incluem novas formas de produção da
notícia, processos de convergência digital e a crise da empresa jornalística enquanto
modelo de negócios" (PEREIRA; ADGHIRNI, 2011, p. 39). Neste contexto, os autores
estabelecem três eixos principais de análise sobre as mudanças estruturais no
jornalismo: mudanças estruturais na produção da notícia, mudanças estruturais no perfil
do jornalista e as novas relações com os públicos.
Neste ponto, nos questionamos: até que ponto as mudanças estruturais são "no"
ou "do" jornalismo? Pensando em mudanças "no" jornalismo, podemos crer que as
mudanças são externas e afetam o jornalismo; já em mudanças "do" jornalismo, as
mudanças são internas, ou seja, de entro para fora, oriundas das bases estruturais,
ocasionando novas concepções de técnica, prática e linguagem jornalística.
Como Pereira (2015) aponta, há diferenças entre mudanças de fato e discursos
sobre mudanças no jornalismo. Ele aponta que, em um primeiro momento, há uma
estabilidade no jornalismo como prática social; em outra perspectiva, há rearranjos nas
práticas - sem modificações nas estruturas -, inovações pontuais e segmentações; e, por
fim, há mudanças estruturais, porém raras e oriundas de um processo lento.
7
Em suma, temos que refletir sobre até que ponto a prática jornalística vem se
modificando, pois não temos uma resposta pronta para isso. Como Pereira (2015)
afirma, devemos considerar os indicadores atuais dessa mudança.
8
(L.E.R.) (HELOANI, 2006), dores nas costas, na cabeça, insônia, gastrite, depressão,
fadiga visual (SINJORBA, 2015), dores no pescoço e articulações, ansiedade,
problemas de visão, dores nos braços, pernas e articulações, palpitações (SINDJORCE,
2010) e Síndrome de Burnout (NOGUEIRA, 2012).
De acordo com Gomes (2006), dados da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) estimam que no Brasil cerca de 57 mil pessoas morrem anualmente, vítimas de
acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Nos voltando especificamente ao caso
dos jornalistas, Heloani (2005) também cita resultados de pesquisas da OIT, em parceria
com sindicatos de jornalistas, que demonstraram tendências para a profissão: "devido às
doenças insidiosas e, portanto, de difícil diagnóstico precoce, parte significativa desses
profissionais não alcança sequer a aposentadoria" (HELOANI, 2003, p. 20).
Em pesquisas com ênfase nos aspectos psicológicos, psicopatológicos e
psicossomáticos relacionados ao exercício do trabalho jornalístico, Heloani (2003, 2005,
2006) cita uma série de implicações do trabalho jornalístico na qualidade de vida destes
profissionais. Ele aponta que os profissionais mais afetados por problemas de qualidade
de vida no trabalho (QVT) geralmente são "fracassados" no que diz respeito à vida
afetiva e familiar e no cuidado com a saúde.
Para o autor, as novas tecnologias implantadas nas redações têm influenciado no
desenvolvimento de estresse, entendido como "o esforço despendido por determinado
organismo, diante de determinada demanda externa, seja essa solicitação excessiva ou
moderada, boa ou ruim (HELOANI, 2006, p. 173)", além de distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho (DORT), como as lesões por esforços repetitivos (LER). Ele
aponta oito categorias de qualidade de vida no trabalho (QVT): remuneração justa e
adequada, condições de trabalho, desenvolvimento de capacidades, oportunidade de
crescimento, integração social, constitucionalismo, equilíbrio entre vida e trabalho e
relevância social do trabalho na vida. Tais indicativos serão considerados como base
investigativa na nossa pesquisa.
Debruçando-nos à questão da precarização da profissão e também das mudanças
estruturais (por ora, chamadas assim, mas também vistas como transformações),
inicialmente podemos inferir que estes conceitos poderão ser muito caros no estudo
sobre saúde e qualidade de vida no trabalho do jornalista. Investigar sobre a
precarização da profissão nos traçará uma linha direta com a dicotomia entre trabalho e
adoecimento - seja esse mental ou físico.
9
As perspectivas sobre mudanças estruturais no jornalismo nos fornecerão uma
visão mais ampla das transformações pelas quais o campo passa e nos trará uma
contribuição contextual de como se insere a precarização da profissão. Ou seja,
sugerimos na pesquisa que a precarização da profissão é parte das mudanças estruturais
no jornalismo.
Por fim, o que se pretende não é fazer um discurso de vitimização da profissão,
muito menos alimentar uma mitologia de que jornalista é super herói, mas acreditamos
que o trabalho deste profissional é atingido por questões diversas, que podem reverberar
em sua saúde.
Referências
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Curitiba: CRV, 2015.
1
Programa Comunicação Comunitária da Universidade de Brasília:
as transformações das práticas de comunicação a partir da emergência da cultura digital
1 Mestra em Ciências Sociais pelo Centro de Pesquisa e Pós Graduação Sobre as Américas (CEPPAC) da UnB. É
pesquisadora do Programa de Extensão de Ação Contínua Comunicação Comunitária – FAC/UnB.
1
influenciam a formatação das atividades. Portanto, o uso e transformações tecnológicas colaboram
na caracterização e qualificação da comunicação.
Em países latino-americanos, por exemplo, adjetivos qualificadores da comunicação se
tornaram comuns depois da década de 1970 — como, alternativa, popular, cidadã, comunitária,
educativa e para o desenvolvimento (KAPLÚN, 2007). Principalmente a partir da utilização de
ferramentas de comunicação, diferentes atores se envolvem nesta esfera e originam essas diferentes
terminologias. Como explica Gabriel Kaplún (2007), alguns desses atores são as organizações não
governamentais, os movimentos sociais, educativos, políticos e religiosos. As universidades se
incorporam também neste espaço de articulação e a inserção do Programa Comunicação
Comunitária no referido cenário é abordada na seção seguinte deste artigo.
Os processos históricos podem revelar o surgimento das diversas denominações. No caso do
Brasil especificamente, Regina Festa (1986) identifica o surgimento da imprensa alternativa ou
nanica também na década de 1970 sob o regime militar (1964 - 1985). Esses veículos, vendidos nas
bancas de jornais e também informalmente, expressavam opiniões de resistência ao regime
estabelecido. Festa lembra, no entanto, que a censura e repressão à comunicação ocorria em
paralelo a grandes investimentos na comunicação de massa.
A comunicação popular foi ressurgindo no período inicial do regime — após movimentos
de cultura popular na década de 1960 — devido à percepção de que a estratégia de educação de
massa não era efetiva para a transformação social. Optou-se pelo trabalho de base com apoio do
pensamento de Paulo Freire, com forte representação de grupos e organizações ligados à Igreja
(FESTA, 1986). Cicilia Peruzzo (2006, p.2) recorda que movimentos populares da década de 1980
também se utilizaram desta modalidade de comunicação, cuja definição pode ser sistematizada
como: “uma forma de expressão de segmentos excluídos da população, mas em processo de
mobilização visando atingir seus interesses e suprir necessidades de sobrevivência e de participação
política”.
As décadas de 1980 e 1990 oferecem novas oportunidades para a participação política com a
redemocratização após a ditadura militar no Brasil – e de outros regimes autoritários em países da
América Latina. Evelina Dagnino (2002) aponta que a relação entre sociedade civil e Estado sofre
transformações. O antagonismo é substituído pela possibilidade de negociação e atuação conjunta
sob a perspectiva da participação. Esta negociação ocorre dentro da própria sociedade civil, cuja
diversidade de grupos direciona para a disputa pela construção democrática do país.
O resgate de práticas de comunicação popular, anteriores à década de 1980, e a variedade de
termos qualificadores conduzem à confusão sobre a definição de comunicação comunitária. O
termo se torna mais complicado se analisado a partir da perspectiva da comunidade, especialmente
2
considerando as transformações impulsionadas pelas tecnologias digitais e da internet. Estas
fomentam comunidades virtuais, baseadas em laços fracos pautados por interesses específicos e a
subjetividade dos indivíduos envolvidos (ALONGE, 2006). Marcos Palácios abordava este debate
ainda na década de 1990:
A comunidade deve ser vista como toda forma de relação caracterizada por
situações de vida, objetivos, problemas e interesses em comum de um grupo de
pessoas, seja qual for a dimensão desse grupo e independentemente de sua
dispersão ou proximidade geográfica (PALÁCIOS, 1997, p.36).
... lo comunitario aparece ahora como un modo de pensar los procesos de cambio
social profundo y, a la vez, democrático, de abajo hacia arriba. En esta
perspectiva, lo comunitario sería una búsqueda por fortalecer el –con frecuencia
debilitado– espacio social, reconociendo la importancia de la dimensión subjetiva
[…]. El apellido comunitario ha ido cobrando fuerza también como un modo de
subrayar que entre estado y mercado hay otros modos de construir sociedad; que
entre la representación política y el consumo hay otros modos de construir
ciudadanía (KAPLÚN, 2007, p.313).
Nesta direção, Nancy Fraser (1991) repensa a esfera pública proposta por Jürgen Habermas.
Inicialmente, a autora critica a visão de que o acesso à esfera pública seria igual para todos,
defendendo a existência de esferas públicas competidoras — que fortaleceriam o princípio
democrático. Para a autora, o pressuposto de que, nessa arena, deveriam ser discutidos o bem
comum — em face a assuntos privados — é equivocado. Não deveriam haver fronteiras pré-
estabelecidas sobre o que é passível de discussão, permitindo às minorias convencerem que
assuntos privados podem se referir a interesses compartilhados.
Se a identidade perpassa a prática política da comunicação, temas privados — referente a
direitos das mulheres, de grupos étnicos ou de religiões estigmatizadas — possuem importância
destacada e devem ser evidenciados. No caso de meios de comunicação — principalmente os
comunitários —, o estímulo ao debate pode garantir voz aos grupos minoritários.
O interesse pelo comunitário e popular influencia também os meios massivos. De acordo
com Peruzzo (2006, p.9), o popular massivo se manifesta nas dimensões “culturalistas, popularesca
e de utilidade pública”.
A realidade, então, problematiza a perspectiva da comunicação comunitária — que não
3
poderia ser encontrar em “estado puro” nas ações realizadas, pelo Programa Comunicação
Comunitária, prioritariamente em Planaltina-DF. Por um lado, é visível um trabalho de base da
comunicação popular na parceria com o Centro de Integração Esporte e Cultura – CIEC e com o
Assentamento Pequeno William. Por outro lado, a comunicação comunitária se revela na emissão
de programação na rádio comunitária Utopia FM, que possui alcance limitado ao bairro onde se
localiza. Na mesma emissora, há o horizonte da comunicação alternativa na escolha de músicas, que
geralmente não tocam nas rádios comerciais.
O Programa Comunicação Comunitária, desse modo, navega entre os diferentes conceitos de
comunicação, visando criar espaços para coletivos e indivíduos assumirem o protagonismo da ação
política pelo diálogo. Com a cultura digital e a convergência tecnológica, os canais de comunicação
e os espaços de participação se amplificam. Nas seções seguintes, o surgimento e desenvolvimento
do programa será analisado considerando a inserção e uso gradual de tecnologias digitais para a
ação mobilizadora.
4
Metodista de São Paulo – UMESP. Peruzzo está entre os líderes de grupos de pesquisa nacionais
que abordam a temática da comunicação comunitária. As equipes de pesquisadores, provenientes
das diversas regiões do Brasil, revelam o interesse na temática e sua interface com outros temas
como desenvolvimento, políticas públicas, cidadania e cultura2.
Tabela 1: Grupos de pesquisa sobre Comunicação Comunitária segundo banco de dados do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq
Instituição Grupo de Pesquisa Linhas de Pesquisa Líder
Universidade de Brasília - Comunicação Comunitária e Comunicação Comunitária e Fernando Oliveira Paulino
UnB Cidadania Cidadania; Comunicação
Comunitária, Cidadania e
Educação Ambiental; e
Comunicação Comunitária,
Cidadania e Tecnologias de
Comunicação
Universidade Estadual da Comunicação Cultura e Comunicação Comunitária; Luiz Custódio da Silva e
Paraíba - UEPB Desenvolvimento Comunicação e Cidoval Morais de Sousa
Desenvolvimento;
Comunicação e Educação;
Comunicação, Ciência e
Desenvolvimento Regional;
e Folkcomunicação e
Cultura Popular e Mídia e
Informação Local
Universidade do Estado da Comunicação e Cultura para Comunicação, Direitos e Gislene Moreira Gomes
Bahia - UNEB o Desenvolvimento Poder; Edu-comunicação
Sustentável - COM 10! comunitária; e Políticas
Públicas da Comunicação e
Cultura
Universidade Estadual de Comunicação e História Comunicação Comunitária e Paulo César Boni e
Londrina - UEL construção da Cidadania; Florentina das Neves Souza
Cultura Visual e Memória;
Imagem e mídia; Mídia e
Memória; e Mídias
impressas, audiovisuais e
interativas
Universidade Federal de Comunicação e Mídia na Amazônia, Edileuson Santos Almeida
Roraima - UFRR Amazônia Brasileira Desenvolvimento
Sustentável e Mídia;
Ambiente, Imagem e
Jornalismo; Comunicação
comunitária e cidadania;
Ecologia, Mídia e
Sociedade na Amazônia; e
Historiografia da
Comunicação e da Mídia na
Amazônia: Do Oral ao
Digital
2 A tabela foi organizada com o levantamento no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq. A sistematização
selecionou apenas os grupos que possuíam o termo comunicação comunitária em seu título ou nos nomes das linhas
de pesquisa.
5
Universidade Federal do Comunicação, Capital comunicativo e Fabio Fonseca de Castro e
Pará - UFPA desenvolvimento e experiência social na Otacílio Amaral Filho
sociedade na Amazônia Amazônia; Comunicação
popular, alternativa e
comunitária na Amazônia;
Comunicação, cultura e
desenvolvimento social na
Amazônia; e Narrativas
midiáticas e percepções do
desenvolvimento na
Amazônia
Universidade Estadual do Grupo de Pesquisa em Comunicação Alternativa; e Orlando Maurício de
Piauí - UESPI Comunicação Alternativa, Comunicação Comunitária Carvalho Berti
Comunitária e Popular da
UESPI
Universidade Federal do LACOSA - Laboratório de Comunicação Ambiental; Mohammed ElHajji
Rio de Janeiro - UFRJ Comunicação Social Comunicação Cidadã,
Aplicada Comunicação Comunitária;
Comunicação e Espaço
Urbano; Comunicação
Intercultural; e Tecnologias
Sociais de Comunicação
Universidade Federal do ECC - Laboratório de Comunicação Comunitária; Raquel Paiva de Araujo
Rio de Janeiro - UFRJ Estudos em Comunicação Comunicação, Cultura e Soares e Muniz Sodre de
Comunitária Conflito; e Mídia e Araujo Cabral
Identidade Cultural
Universidade Metodista de Núcleo de Estudos de Comunicação Comunitária e Cicilia Maria Krohling
São Paulo - UMESP Comunicação Comunitária e Local Peruzzo e Luzia Mitsue
Local (CEI Comuni) Yamashita Deliberador
Universidade Estadual de Núcleo de Pesquisa em Comunicação Popular e Rozinaldo Antonio Miani
Londrina - UEL Comunicação Popular Comunitária e a disputa da
hegemonia; e Concepções e
práticas da Comunicação
Popular e Comunitária
6
semestre de 2002. O objetivo era justificar a presença da emissora comunitária na UnB e fomentar
práticas de extensão, para além das salas de aula da FAC.
A disciplina iniciou suas atividades no Varjão-DF, Região Administrativa próxima ao centro
de Brasília. O facilitador da inserção da Comunicação Comunitária na região foi a articulação que
ocorria para a formação do Fórum de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável – DLIS, cujo
objetivo era criar articulações descentralizadas entre grupos da sociedade civil e o Estado. As ações
desenvolvidas pela disciplina compreendiam principalmente oficinas com adolescentes e jovens.
Aproximadamente 5 anos depois, a mobilização por meio de organizações locais se enfraqueceu e a
disciplina não contava mais com estrutura para realizar as atividades de extensão.
Em 2007, o foco da Comunicação Comunitária se volta para Planaltina-DF, Região
Administrativa 40 km distante de Brasília, devido à construção de um campus avançado da UnB na
localidade. No mesmo ano, a disciplina é institucionalizada como um Projeto de Extensão de Ação
Contínua e, em 2011, se torna um Programa, reunindo os projetos Ralacoco e Dissonante.
O Projeto Dissonante é um servidor de rádio web livre criado em 2007 como Trabalho de
Conclusão do Curso de Jornalismo na UnB e que, atualmente, conta com aproximadamente 500
contas de rádio web registradas – e de 5 a 10 emissoras online se revezando diariamente. Segundo
os idealizadores do projeto, Leyberson Pedrosa e Pedro Matos (2007, p.7), o Dissonante se
fundamenta em três eixos de ação: “a) tecnologia social de democratização, b) desmistificando a
produção em Comunicação e c) divulgação e debate ”.
7
outros esforços anteriores para o uso, especialmente, da internet nas ações de mobilização, o
Dissonante estabeleceu uma prática mais sistematizada e contínua de novas tecnologias.
No princípio, os locutores da RALACOCO transmitiam em FM por meio de um transmissor
e antena instalados na FAC/UnB. A grande maioria dos programas eram veiculados ao vivo, com
poucas gravações produzidas antes da emissão. As ferramentas utilizadas, então, eram gravadores
de fita cassete e os equipamentos, geralmente doados, incluíam um reprodutor de disco de vinil. As
oficinas da disciplina Comunicação Comunitária usavam equipamentos similares e, quando
necessário, o áudio das fitas era capturado e digitalizado no computador para edição por meio do
software livre Audacity.
Desde o início das atividades da RALACOCO, a utilização de mensagens eletrônicas foi
uma estratégia para manter o coletivo informado do cotidiano do projeto com a utilização de listas
de e-mails. Houve também a criação de um blog para divulgar a emissora, suas atividades e
programação. Por volta de 2005, a rádio obteve uma conta para transmissão de seu conteúdo com o
serviço de streaming de áudio do Radiolivre.org. Visando fomentar uma rede de comunicação livre
e comunitária, o servidor Radiolivre.org foi criado de modo autogestionado a partir de ideia
surgidas no Fórum Social Mundial de 2003 em Porto Alegre-RS3.
Com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação, os aparelhos para produção de
conteúdo foram se tornando mais acessíveis. A institucionalização do Projeto Comunicação
Comunitária em 2007 permitiu a participação em editais de fomento e a aquisição de laptops e
câmeras filmadoras. A elaboração de conteúdo audiovisual, estimulou a criação de novos canais de
comunicação do Programa: sites institucionais, contas de rádio web, perfil no Youtube e Vimeo
(para vídeos), espaço no Picasa (para fotografias), disciplina no Moodle (ambiente virtual para
educação) e perfis nas mídias sociais (Twitter e Facebook).
Para fins deste artigo, será analisada – de forma ilustrativa do debate sobre mobilização
social e o uso de tecnologias – a fanpage (ou página para os fãs) do Programa Comunicação
Comunitária no Facebook. De acordo com a pesquisa de 2013 sistematizada pela Unicef com dados
de entrevistas com 2.002 pessoas com idade entre 12 e 17 anos no Brasil, 92% desses adolescentes
utilizam mais o Facebook (92%) dentre as outras mídias sociais: Orkut e Twitter (PALAZZO,
2013). A plataforma também é interessante para a análise pois reúne conteúdo multimídia e fornece
dados estatísticos sobre as publicações, curtidas, comentários e alcance dos posts.
A fanpage foi criada em 2011 e atualmente possui pouco mais de 2 mil curtidas. Em 2014, o
estudante de Comunicação Organizacional, Pedro Henrique Santos, incluiu a plataforma em um
3 Informações disponíveis na seção de perguntas sobre o Radiolivre.org e as rádios livres do portal do projeto:
http://radiolivre.org/?q=sobre.
8
planejamento das mídias sociais do Programa Comunicação Comunitária. Neste momento, as
prática anteriores, mais espontâneas e intuitivas, foram alvo de um plano e olhar estratégico.
No calendário de publicações da fanpage, é interessante citar a estratégia da utilização de
referências à cultura de massa, como por exemplo, imagem de divulgação do Programa com a
presença de personagens da série de livros bestseller e filmes do Harry Potter. Por outro lado, o
conteúdo das publicações também valoriza o aspecto cultural das expressões da comunicação
comunitária, divulgando a festa religiosa em referência ao Espírito Santo: Folia do Divino. Ambos
os exemplos revelam como atividades comuns aos integrantes e parceiros dos projetos no cotidiano
também se repetem no espaço virtual, de modo que a internet é apropriada e readequada por
relações e práticas sociais pré-existentes à rede.
Uma outra estratégia visível na fanpage é a divulgação das transmissões de streaming da
RALACOCO. Em outros momentos da história do Programa, com a utilização de plataformas de
chat (como MSN Messenger e GoogleTalk), os ouvintes participavam ao vivo da programação e
podiam escutar ou intervir ao mesmo tempo em que se ocupavam de outras atividades em locais
distantes. Ou seja, se instaura uma lógica da comunidade virtual descentralizada em que a relação
com o tempo e o espaço se modifica para o ouvinte – que realiza várias atividades ao mesmo tempo.
Há que se destacar também que os posts relativos à RALACOCO possuem alcance
expressivo. Os dois últimos posts sobre a emissora, de outubro e novembro de 2014 chegaram a
1.000 e 2.600 usuários do Facebook respectivamente. O alcance se constitui como provável indício
de que há uma comunidade que acompanha essas publicações – infere-se que sejam os antigos
participantes da emissora que não mais se inserem na comunidade física da universidade.
Novamente se percebe uma comunidade reunida por laços fracos que revelam elementos da
afetividade (pela participação na rádio em tempos passados e as amizades criadas) e da
subjetividade (acionada pelas memórias das rotinas de produção da programação, seleção de
temáticas pessoalmente interessantes e convívio com demais locutores).
Verifica-se que a tecnologia permite a organização dos diferentes coletivos, grupos e
indivíduos conectados ao Programa Comunicação Comunitária. Convocam-se, então, as pessoas à
ação, mobilizando as rumo a um propósito comum (TORO, 1997). Há a mobilização: 1) dos
estudantes universitários para integrar o programa, utilizar as ferramentas disponíveis e elaborar
produtos de comunicação, 2) das lideranças comunitárias e dos estudantes de ensino médio de
Planaltina-DF para as produção de conteúdo, 3) das rádios web do Dissonante para utilizarem a
internet de forma a expandir seu alcance e 4) dos diferentes públicos que acessam os conteúdos
disponíveis.
Esta mobilização ocorre no momento em que se tende para a cultura da convergência
9
(JENKINS, 2009). Isto é, o público gradualmente se desloca de uma posição de consumidor passivo
e é convidado a ser ativo e se envolver com os produtos midiáticos. A interação gera a possibilidade
de colaboração coletiva. A partir das transformações da relação do público com a tecnologia e o
consumo das mídias é possível vislumbrar o estímulo à cultura livre, aquelas “que deixam uma
grande parcela de si aberta para outros poderem trabalhar em cima” (LESSIG, 2004). Ou seja, a
cultura livre na perspectiva do Programa Comunicação Comunitária permite a combinação de
elementos de diferentes produtos culturais e referência de vários segmentos culturais da sociedade.
Considerações finais
10
gradativamente diminuem. Castells recorda que os usuários e os produtores da internet são os
mesmos indivíduos. Isso significa que há um feedback instantâneo e também um dinamismo nas
modificações das estruturas. Porém, com o passar do tempo, mais elementos são estabelecidos e
menos permanecem abertos para definições e alterações.
Portanto, o Programa Comunicação Comunitária – que pretende realizar a mobilização
social a partir da perspectiva de práticas de comunicação alternativa, popular e comunitária –
necessita propor continuamente diferentes formas de se criar espaços de participação que
considerem os grupos excluídos e a nova lógica da convergência da cultura. Afinal, a expressão de
minorias na busca de visibilizar suas demandas e interesses é fundamental para a participação
política em esferas públicas (e nas esferas tecnológicas) e no fortalecimento da democracia.
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12
TRANSPARÊNCIA, LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO E CNJ – A
COMUNICAÇÃO PÚBLICA DO PODER JUDICIÁRIO SOB A PERSPECTIVA
DA LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO
1
Kátia Viviane da Silva Vanzini é jornalista, doutoranda em Comunicação pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestre em Comunicação pela mesma instituição, jornalista na TV
Universitária Unesp e professora das Faculdades Integradas de Bauru. Foi aluna participante na
Escola de Verão ano 2014. Orientador: Danilo Rothberg. E-mail: katiavanzini@gmail.com
1
INTRODUÇÃO
2
sua gestão, com a presença de informações em todas as subcategorias investigadas.
Como indicação de aprimoramento, sugerimos o investimento em mecanismos que
considerem o papel mais ativo do usuário graças às possibilidades pelas potencialidades
das TIC com a oferta de arquivos em formatos como áudios, vídeos, infográficos,
animações, por exemplo.
1. COMUNICAÇÃO PÚBLICA
Duarte e Veras (2006) apontam que os serviços do governo eletrônico devem ser
prestados “de forma contínua; de forma integrada; de qualquer ponto; com rapidez e
resolutividade; com transparência e controle social” (DUARTE; VERAS, 2006, p. 56).
4
pressuposto constitucional do direito à informação. A lei entrou em vigor no dia 16 de
maio de 2012, como norma que busca garantir um dos direitos fundamentais do
cidadão: o direito de acesso a todas as informações que estão sob o controle da
administração pública, como documentos, arquivos, dados, processos, súmulas, entre
outros, que possam ser solicitados e enviados a quem interessar. Seus dispositivos são
aplicáveis aos três Poderes da União, Estados, Municípios e Distrito Federal, para
órgãos da administração pública direta e indireta.
5
Organização dos Estados Americanos e ONU – Organização das Nações Unidas.
Os autores citam ainda o artigo 37 da CF, parágrafo 3º, II, o qual estabelece que
“há a previsão do acesso aos usuários aos registros administrativos e informações sobre
os atos de governo” (ROTHBERG; NAPOLITANO; RESENDE, 2013, p. 11), salvo, é
claro, quando afetam os direitos invioláveis: “a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação” (BRASIL, 2011); assim também se coloca o artigo 139, III,
que prevê que o direito à informação só poderá sofrer algum tipo de restrição em casos
de decretação de estado de sítio.
6
direito de acesso à informação pública, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei do
Processo Administrativo, a Lei do Habeas Data e a Lei de Arquivos. Outra iniciativa
nesse sentido foi o Portal da Transparência (www.transparencia.gov.br), implantado em
2004 pelo governo federal, através do qual é possível “acompanhar informações
atualizadas diariamente sobre a execução do orçamento; obter informações sobre
recursos públicos transferidos e sua aplicação direta (origens, valores, favorecidos)”
(CGU, 2012, p. 11).
8
f) O sexto princípio determina que os custos de acesso à informação não devam
representar qualquer tipo de empecilho à sua concretização.
g) Reuniões abertas dos órgãos púbicos são determinadas pelo sétimo princípio, pois a
“lógica subjacente ao direito a informação aplica-se, por princípio, não apenas às
informações registradas, mas também às reuniões de órgãos públicos” (MENDEL,
2009, p. 40).
h) Princípio da divulgação tem precedência, o qual estabelece que “as leis que não
estejam de acordo com o princípio da máxima divulgação devem ser revisadas ou
revogadas” (MENDEL, 2009, p.41).
i) O nono princípio prevê a proteção aos denunciantes que tornarem públicos os atos
ilícitos.
9
“abarca muito mais do que simplesmente disponibilizar as informações em páginas de
órgãos públicos, abrange uma série de processos interativos, com a relação contribuinte-
fisco, bem com a acessibilidade do cidadão a todo e qualquer dado que o Estado tenha
arquivado sobre ele” (SILVA, L. M., 2009, p.181):
2. COLETA DE DADOS
10
conselhos, listas de veículos, remuneração de magistrados e servidores, recursos
humanos, processos de gestão, pessoal terceirizado, processos de contas ano a ano, com
link para cada processo; link para os orçamentos dos tribunais; relatórios de gestão
fiscal e prestação de contas; lista de empresas fornecedoras, sistema de
acompanhamento de licitações, entre outros.
Transparência
Frota - aquisição, uso, locação e identificação dos veículos oficiais a serviço das
instituições;
3. RESULTADOS
13
CONCLUSÃO
O presente artigo teve por objetivo avaliar como o Conselho Nacional de Justiça
disponibiliza informações com o intuito de garantir a transparência de suas ações, a
publicidade e o atendimento à Lei de Acesso à Informação.
14
REFERÊNCIAS
15
KUNSCH, M. M. K. Comunicação Pública: direitos de cidadania, fundamentos e
práticas. In: MATOS, H. (Org.) Comunicação Pública: interlocuções, interlocutores e
perspectivas. São Paulo: ECA/USP, 2012. Páginas: 3 a 14.
16
Internet, Povos originários e Colonialidade
RESUMO: O Brasil abriga uma enorme diversidade de povos originários que, com o
surgimento e popularização da internet, estão se apropriando de um espaço de
enunciação capaz de fazer circular sentidos interditados e/ou silenciados ao longo da
história. Estamos diante da ‘liberação do polo da emissão’, característico das mídias de
função pós-massiva e também diante de um poderoso instrumento de construção
identitária indígena. O uso das novas tecnologias de comunicação é capaz de contribuir
para a “desestigmatização” da identidade étnica indígena por meio da visibilidade de
saberes e culturas, que é potencializada no ciberespaço a partir de um diálogo que na
teoria, se torna mais direto e horizontal. Essa abertura comunicativa permite a estes
grupos tornar público um discurso capaz de subverter a matriz colonial, uma
experiência que está situada entre os focos de descolonização na América Latina.
INTRODUÇÃO
Ciberespaço e cultura
CONSIDERAÇÕES FINAIS
NOTAS
¹http://pib.socioambiental.org/pt/c/iniciativas-indigenas/autoria-indigena/sites-indigenas
² http://florestaprotegida.org.br/
³ http://www.jovensindigenas.org.br/
4
http://www.arpinsul.org.br/
5
http://wara.nativeweb.org/
6 http://www.indiosonline.net/
7
https://www.facebook.com/aty.guasu?fref=ts
8
http://kajre.yolasite.com/sobre-n%C3%B3s.php
9
https://www.youtube.com/channel/UCN5-Ubh5NI_1O8kc9Evh48w
10
https://www.facebook.com/kajrepedrabranca?fref=ts
REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ATY GUASSU. [comentário pessoal]. Facebook. 28 de setembro de 2015. Disponível em:
https://www.facebook.com/aty.guasu/posts/701604239974778. Acesso em: 02 out.
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VIRILIO, Paul. A arte do motor. São Paulo: Estação liberdade, 1996.
Webjornalismo em mutação: o caso da série de reportagens multimídia
TAB, do portal Uol
Resumo: O jornalismo, como parte intrínseca da sociedade, tem respondido ao avanço das
tecnologias de informação e comunicação em suas diversas searas. Novos modelos de negócio,
além de narrativas inovadoras parecem ser imperativos para a resistência dos veículos
midiáticos frente a crises financeiras, de audiência e até mesmo de credibilidade, em alguns
casos. Fundamental num momento histórico em que a informação é o maior dos capitais, o
jornalismo passa por mutações que vão do processo de produção à publicação. Neste trabalho,
intenciona-se um debate crítico acerca das mutabilidades do jornalismo, em especial do
webjornalismo, e seus reflexos positivos, como a emergência de novos formatos jornalísticos,
como a grande reportagem multimídia, gênero que herda características da grande reportagem
impressa, mas apresenta diferenciais, como a interatividade, a hipertextualidade e a
multimidialidade. O trabalho enfoca a análise de uma expoente do formato no Brasil, a série de
reportagens multimídia TAB, do portal Uol.
WEBJORNALISMO EM MUTAÇÃO
4 A fim de dar uma sensação ilusória de profundidade de campo, esta é uma técnica de design que usa elementos
gráficos (fundos de tela, imagens e textos, por exemplo) sobrepostos em camadas que se movimentam em
velocidades distintas conforme acontece a rolagem do mouse na tela.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se o jornalismo encontra-se em um momento de mudanças estruturais, em que a
produção e o consumo de notícias são transformados, bem como o perfil do jornalista,
características da profissão e relacionamento com os públicos, é porque a sociedade
também passa por mutações significativas. A imprensa faz parte de um dos diversos
campos sociais que se relacionam entre si e todos, em maior ou menor grau, acabam por
sofrer influências das novas tecnologias de informação e comunicação. Assim, ao
mesmo tempo em que a figura do jornalista parece estar desacreditada (formas
alternativas de veiculação da notícia, por vezes, se contrapõem ao que é publicado nos
veículos tradicionais), o público não busca informações unicamente na imprensa, já que
outros atores em rede (de cientistas a especialistas ou até celebridades) publicam as
informações de maneira segmentada, da forma como o leitor deseja, talvez com direito a
feedback.
Se a confiabilidade da notícia é maior quando dada por meios tradicionais,
conforme Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, e se há um percentual muito pequeno de
brasileiros que leem jornais impressos hoje, segundo a mesma pesquisa, existe uma
possibilidade de que o formato impresso seja impopular perante meios massivos, como
a televisão. Ao mesmo tempo, é possível que, por trás de tais indicadores, exista uma
crença por parte dos brasileiros de que muitas informações disponíveis no ciberespaço
estejam suscetíveis a erros e inverdades, apesar do consumo considerável de internet no
País.
Tais suspeitas, certamente simplistas, necessitariam de pesquisas mais amplas
para oferecer resultados. Entretanto, neste artigo intencionou-se demonstrar que, apesar
(e talvez por conta) do momento de mudança no jornalismo, novos formatos noticiosos
vêm à tona, uma vez que a notícia se encontra em mutação. A grande reportagem
multimídia é um exemplo de formato jornalístico híbrido, com heranças notáveis da
grande reportagem do impresso, mas com avanços significativos em relação à leitura do
texto. A narrativa, aprofundada, intensa, liberta das técnicas redacionais canônicas da
notícia, é enriquecida pela experiência interativa existente nos vídeos, nas animações,
nos testes e outros recursos que estão em concordância com o leitor da era de
convergência midiática. Este leitor, imersivo (SANTAELLA, 2004), tem todas as
ferramentas para se aprofundar e construir sua própria ordem de leitura numa grande
reportagem multimídia.
Cada vez mais interativas e presentes no webjornalismo, essas novas narrativas
apostam em layout e interatividade, elementos que comprovadamente envolvem os
usuários a permanecerem na página e a realizarem a leitura de caráter imersivo, segundo
estudos empíricos de Sundar (2000 apud DEUZE 2003).
McLuhan (2009) já dizia que, no momento em que os meios se encontram,
ocorre uma libertação e liberação do entorpecimento e do transe que tais meios impõem
aos nossos sentidos. Assim, apesar de estar presente apenas na quarta geração do
webjornalismo, a grande reportagem multimídia é a prova de que a internet, como meio
híbrido, pode e deve ser um espaço onde se pode ir além do convencional no jornalismo
e no webjornalismo. Sua consolidação como gênero certamente depende de
investimentos pesados em equipes multimídia, mas sua presença pode resultar, à
empresa jornalística, em credibilidade, característica desejada na imprensa, e inovação,
valor muito buscado no ambiente corporativo.
Paradoxalmente ao momento em que vivemos, a grande reportagem multimídia é um
formato onde a figura do jornalista como intermediário se mostra ainda mais
importante, uma vez que exige dedicação, investigação e amplitude informacional. A
qualidade desses produtos corrobora o que Wolton (2010) defende: quanto mais
informação acessível e gratuita, e mais liberdade para cada um fazer o que quiser, mais
será imprescindível o jornalista para “selecionar, hierarquizar, verificar, comentar,
legitimar, eliminar e criticar” (WOLTON, 2010, p. 72).
REFERÊNCIAS
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< http://tab.uol.com.br/futebol-iraque/>. Acesso em 5 de maio de 2015.
LUHAN, M. (2009). Os meios de comunicação como extensões do Homem. 16ª ed. Tradução
de Décio Pignatari. São Paulo: Cultrix.
Liliane Monteiro1
Introdução
1
Relações Públicas, licenciada e especialista em língua portuguesa, mestre em comunicação na contemporaneidade.
Analista de redes sociais digitais e docente na educação básica e no ensino superior. Doutoranda ECA-USP.
2
Disponível em: http://www.techtudo.com.br/listas/noticia/2015/04/facebook-revela-total-de-usuarios-de-whatsapp-
instagram-videos-e-mais.html . Acesso em Outubro de 2015.
Para Fals Borda (2008, p. 253) são poucos os momentos em que o curso da vida
acontece de maneira a se configurar como um processo fundamental de transformação
social. Com a disseminação da internet, seu acesso e uso, a partir da década de 1990, e a
consequente ampliação3 do acesso populacional às tecnologias comunicação e
informação (computador e celular4), delineia-se um cenário onde podemos destacar
dois fatores: a transição das bases do capitalismo industrial para o capitalismo
informacional - o lucro da produção industrial em massa migra para a produção da
informação- às consequentes transformações subjetivas de ampliação do direito à
comunicação, informação, e a transparência pública como ferramentas democráticas.
Um exemplo dessas transformações já constituídas em ferramentas normativas seria a
Lei de Acesso a Informação:
socialmente validada, pelo Estado e pela sociedade (...) caracteriza por uma
figura de linguagem entre os anseios democráticos presentes nas
conversações cotidianas e a necessidade de congregar expectativas entre tais
anseios e as normas sociais regulamentadas, sejam elas leis, decretos,
resoluções normativas, dentre outros. (CAETANO, 2012, p. 97)
3
Disponível em: http://www.fnazca.com.br/wp-content/uploads/2014/12/fradar-14_publica-site.pdf . Acesso em
Outubro de 2015.
4
“(...) novo milagre econômico brasileiro (...) criou uma massa de consumidores que até então só via tudo pela vitrine
(...) justamente um símbolo de status econômico que permitiu a esses novos consumidores colocarem em prática sua
cidadania: o telefone celular.” Disponível em: http://tab.uol.com.br/ativismo-digital/ . Acesso em Outubro de 2015.
com vistas a promover conversações deliberativas e garantir que tais conversações
sejam validadas pelas instituições democráticas, como arquetípicas de processos
comunicacionais estruturados num jogo de práticas de ação política e discursiva,
articulando processos deliberativos e processos censórios, internos e externos aos
Grupos-movimento.
A natureza dinâmica entre processos deliberativos e processos censórios parece
ser a base constitutiva de uso e apropriação de diversos Grupos de Facebook, sejam eles
abertos, fechados ou secretos. O elemento significativo gerador da intensa apropriação e
uso da ferramenta parece ser a ampliação de espaços de fala íntegra, autêntica,
necessária à instituição do que se entende como norma reguladora para o bem comum.
A ocorrência de censura, geralmente a censura entre pares, dada a natureza de
identidade de classe que compõem os perfis participantes dos Grupos observados -
trabalhadoras e trabalhadores - e a autocensura, têm indicado que as falas ou discursos,
de forças de matizes à esquerda e à direita do espectro político, por vezes se
contrapõem, sendo proferidas mais livremente do que as falas publicizadas pelas forças
do Estado, organizações da sociedade civil ou mesmo na grande mídia.
Grupos de Facebook, como comunidades virtuais5, têm se caracterizado como
movimentos sociais, já que se incluem em um cenário de sociedades complexas quando
da ocorrência de questionamentos epistemológicos do que as ciências sociais e ciências
sociais aplicadas entenderiam por comunidade e movimento social:
6
“No coração da democracia forte está a conversação (...) A conversação não é erro do discurso (...) a conversação
permanece central à política, que poderia ossificar-se completamente sem sua criatividade, sua variedade, sua
abertura e sua flexibilidade, sua inventividade, sua capacidade para a descoberta, sua efemeridade e complexidade,
sua eloquência, seu potencial para a empatia e expressão afetiva. Barber (2003, apud MAIA, 2008, pp.203-205.
” “é possível afirmar que a conversação é parte significante da socialização (…) contribuindo para a formação de
redes de interação, de confiança e de laços de solidariedade”. Matos (2009, 82-100)
A liberdade de fala estaria cerceada sempre que apenas alguns atores sociais
tivessem instrumentos para mobilizar discursos na esfera pública, a comunicação
pública um elemento central para a concepção de processos deliberativos contrários à
interdição de vozes e assuntos, na esfera pública.
Ao prosseguir seus estudos baseados no conceito de esfera pública, Habermas
aborda brevemente o conceito de comunicação pública. Para isso, o autor indica o papel
da “periferia” no jogo discursivo para a construção de políticas públicas. Segundo ele:
“a periferia consegue preencher essas expectativas fortes, na medida em que as redes de
comunicação pública não institucionalizada possibilitam processos de formação de
opinião mais ou menos espontâneos”. (HABERMAS, 1992, p. 90).
Também Matos (2009) articula reflexões habermasianas, no que concerne aos
fluxos comunicativos - dentre eles, a comunicação pública. Para a autora, a
comunicação pública “envolveria o cidadão de maneira diversa, participativa,
estabelecendo um fluxo de relações comunicativas entre o Estado e a Sociedade.”
(MATOS, 2009, p. 102).
Algumas outras reflexões acerca de comunidades virtuais ocupando papeis
semelhantes a movimentos sociais seriam: a) o papel do Estado na elaboração do
discurso – preparatório e presente atuante na divulgação das políticas públicas; b) a
normatização da fala de atores sociais na comunicação pública. Em um cenário de
utilização massiva de redes sociais digitais, a despeito das ferramentas de disseminação
de pautas e discursos mobilizados pelo Estado, o discurso seria um instrumento social
cujo funcionamento independeria, necessariamente, do poder político do Estado, de
instituições representativas opressoras, do poder econômico ou da grande mídia.
Portanto, num espaço público onde a permeabilidade do discurso proveniente do
Estado, de instituições de representação e da mídia estaria hipoteticamente mais
articulado do que os temas que circulam nas conversações cotidianas, surgem com as
redes sociais digitais outros espaços para os quais se voltam os temas que parecem ter
ultrapassado o espaço físico das telas da televisão e de reuniões de representantes eleitos
para as mais diversas instituições das democracias contemporâneas, criando uma outra
esfera discursiva, de ampliação da posse dos tempos e temas de fala. É também nesse
espaço virtual de comunicação, nas redes sociais digitais, que faremos a observação de
novas formas de articulação das conversações cotidianas e suas interações discursivas
na esfera pública.
Figura 1
7
Disponível em: http://tecnoblog.net/67893/trafego-facebook-eua-brasil/ Acesso em Outubro de 2015.
8
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ato_m%C3%A9dico . Acesso em Outubro de 2015.
9
Disponível em: http://www.casacivil.gov.br/noticias/2013/07/sancionada-lei-que-regulamenta-atividade-medica-no-
pais-ato-medico. Acesso em Outubro de 2015.
Outra categoria profissional que se apropriou de Grupos de Facebook foram
docentes de educação básica pública. Em artigo recente, Caetano (2015) apresenta
dados sobre apropriação e uso da ferramenta Grupo, por parte de trabalhadoras e
trabalhadores da educação pública básica, bem como o silenciamento generalizado dos
perfis acerca de pautas rejeitadas pela comunidade virtual.
Ferreira traz aporte significativo sobre a abordagem comunicacional para
estudos de processos deliberativos, e propõe:
10
Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150804_grupos_intolerancia_lk . Acesso em
Outubro de 2015.
11
http://docslide.com.br/documents/astroturfing-e-o-uso-das-midias-sociais-conectadas-nas-eleicoes-presidenciais-
de-2010.html
12
Sobre o termo astroturfing de maneira genérica: https://pt.wikipedia.org/wiki/Astroturfing . Acesso em Outubro
de 2015.
13
Disponível em : https://www.academia.edu/16711497/Mapeando_a_Vigil
%C3%A2ncia_Corporativa_na_Internet_Brasileira_privacidade_e_transpar%C3%AAncia_no_Google_e_Facebook .
Acesso em Outubro de2015.
do pressuposto de que a natureza primordial de usos e discursos da internet e de suas
ferramentas é, sobremaneira, o bem comum.
Nesse sentido, quando a academia se debruça apenas sobre práticas de controle e
perspectivas de violência, referenda processos censórios que cerceiam as vozes das
periferias discursivas, como a de classes de trabalhadoras e trabalhadores.
A produção de conhecimento científico deve ser plural, portanto, seria
significativa a busca e reafirmação da necessidade de mudanças paradigmáticas nos
estudos acadêmicos e nos métodos e técnicas de coletas de dados, bem como na
orientação de análises e reflexões, no sentido de observar as vozes que não ecoam na
grande mídia, e fizeram das redes sociais digitais espaços públicos que, por vezes,
delineiam ágoras digitais.
14
Seminários Avançados: “Globalização Alternativas e a Reinvenção da Emancipação Social” – Faculdade de
Economia da Universidade de Coimbra – Março de 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=ErVGiIUQHjM Acesso em Setembro de 2015.
importantes contribuições da teoria feminista, inclusive da teoria política
feminista. (MIGUEL, 2014, p. 26)
Considerações Finais
As redes sociais digitais estão sendo usadas por grande parte da população
mundial há pelo menos 10 anos. As pessoas têm conversado, mantido relacionamentos
de todas as naturezas, feito negócios, trabalhado colaborativamente e de maneira
intensa, por meio das redes sociais digitais. A vida online parece não ser mais um
pedaço da vida cotidiana, mas estar integrada a ela.
A epistemologia estruturante da pesquisa acadêmica nas ciências humanas e
ciências sociais aplicadas não pode continuar tão distante da vida online - sob o discurso
da neutralidade ou da obrigatoriedade de carregar a marca do distanciamento - como
premissa inicial na produção do conhecimento científico. A sociedade estará cada vez
mais próxima da observação dos destinos e resultados da aplicação do orçamento
público, inclusive daquele destinado à produção de conhecimento científico.
O método científico será mais e mais questionado conforme as comunidades se
apropriem das reflexões sobre quão são importantes e significativas as pesquisas
científicas. As fronteiras entre produção e apropriação de conhecimento dentro da
universidade e fora dela serão um dos grandes desafios do século XXI, e as redes sociais
digitais estarão no centro dessas discussões, como ferramenta técnica para as
conversações ou como objeto de pesquisa, para o empoderamento social ou para o seu
controle, já que a história humana é testemunha da natureza dúbia do resultado da
aplicação de conhecimento científico acumulado.
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%C3%AAncia_no_Google_e_Facebook
http://www.kas.de/wf/doc/16510-1442-5-30.pdf
Passaporte ideologia
As definições sobre jornalismo estão fundadas em diferentes bases: jornalismo é
uma profissão, uma indústria, um gênero literário, uma cultura, um complexo sistema
social. Para Mark Deuze (2005), no entanto, jornalismo é, antes de tudo, ideologia. Para
tangenciarmos a motivação de caráter ideológico em Callado, Deuze (2005) coloca luz à
análise na medida em que entende o jornalismo como uma ideologia ocupacional.
A ideologia é entendida pelo teórico com um processo intelectual em que a soma
das ideias de um grupo, sobretudo quanto às questões sociais e políticas, ganha forma.
"A definição é escolhida aqui não em termos de luta, mas como um conjunto de valores,
estratégias e códigos formais que caracterizam o jornalismo profissional e são
compartilhados amplamente por seus membros" (DEUZE, 2005, p. 445)3. Ética,
autonomia, credibilidade, imediatismo e interesse público se apresentam como valores,
elencados por Deuze, como constituintes da concepção ideológica do jornalismo que
são compartilhados por seus profissionais.
Essa ideologia do jornalismo, que funda o ideal identitário do jornalista, está
também na motivação que leva o repórter ao Vietnã do Norte. Ao ver no jornalismo o
espaço para a discussão sobre temas políticos e sociais de sua época, Callado emprega
de sentido sua viagem para a cobertura da Guerra do Vietnã. Sua ideologia de jornalista
dá validade e sentido ao seu trabalho.
O posicionamento sobre a necessidade de envolver-se nas questões de seu tempo,
que leva Callado ao Vietnã do Norte, dialoga com a concepção do que seria um
jornalista-intelectual, discutida por Fábio Pereira (2011).
3 Tradução livre do trecho: "(...) the term is chosen here not in terms of a struggle, but as a collection of
values, strategies and formal codes characterizing professional journalism and shared most widely by its
members". (DEUZE, 2005, p. 445).
Acho que o escritor deve fazer exatamente aquilo que ele deseja fazer.
Se a ideia é fazer poesias herméticas, teatro do gênero Ionesco, acho
perfeito. Muito pior é ele querer se fazer de outro tipo de escritor, que
ele não é. Agora eu acho que um intelectual, sobretudo num país como
o Brasil, não tem o direito de se eximir como pessoa, e como
intelectual, de opinar sobre a situação do país. (CHIAPPINI, 1984,
p.152)
4 A definição de que a história em Quarup apresentaria a ideia do que seria uma revolução brasileira foi
feita por Ferreira Gullar ao comentar a 23ª edição do livro, publicada em 2014, pela editora José
Olympio.
Especificamente, a geração de intelectuais de Callado indica a combinação
indissociável entre povo e nação como a verdadeira garantia da unidade nacional. "Não
se trata mais de assegurar a coesão interna da nação mas de defender interesses das
ameaças externas do imperialismo" (Daniel Pécault, 1990, p. 15). Como intérpretes da
massas populares, os intelectuais asseguravam sua legitimidade. O papel político se
tornava insubstituível:
A mudança não viria mais "de cima". A revolução idealizada passa, para esses
intelectuais, pela mobilização e ação das classes populares. Esse eixo ideológico, que
conduz a narrativa de Quarup, também pode ser percebida na produção jornalística de
Callado. Ao dialogar sobre essa relação que Callado estabeleceu entre o jornalismo, seu
ganha pão, e a literatura, a qual se dedicou exclusivamente a partir de 1975, Davi
Arrigucci Jr cita Jacques Lacan5 e explica como os campos se fundem na construção de
uma ou outra narrativa.
6 Boaventura de Sousa Santos, um dos fundadores do Fórum Social Mundial, sublinha que o "sul" da sua
proposta epistemológica não está associado apenas aos países localizados ao sul geográfico mas a todos
os grupos presentes em territórios que sofreram com os processos destrutivos da colonização. Os ideais
que envolve o Fórum são essenciais nos seus estudos da globalização contra-hegemônica e também na
promoção da luta pela justiça cognitiva global que fundamenta o conceito de Epistemologias do Sul.
Explica Boaventura: "As Epistemologias do Sul são a reivindicação de novos processos de produção, de
valorização de conhecimentos válidos, científicos e não científicos, e de novas relações entre diferentes
tipos de conhecimentos, a partir das práticas das classes e grupos sociais que sofrem, de maneira
sistemática, destruição, opressão e descriminação causados pelo capitalismo, o colonialismo e todas as
naturalizações de desigualdade em que se desdobraram". (BOAVENTURA, p. 16).
Além da comparação com o Brasil, Callado escolhe fundamentar seu registro da
resistência a partir do empoderamento da mulher vietnamita. A primeira personagem do
livro é Nguyen Thi Hang, um jovem de 24 anos, "uma veterana em derrubar avião e
prender piloto", segundo Callado. As mulheres, personagens heroicos, além de
percorrerem toda a reportagem, são o eixo para a condução da narrativa.
A capa da primeira edição do livro da reportagem, publicado pela Civilização
Brasileira, mostra essa intenção representativa de Callado. O contraste das alturas entre
a jovem vietcongue e seu piloto norte-americano aprisionado é metafórico sobre o que
Callado e a Civilização Brasileira quer mostrar com a reportagem sobre a Guerra do
Vietnã: o olhar cuidadoso sobre o outro, sobre o desconhecido, a partir de uma
perspectiva distinta capaz de apresentar um "projeto" de revolução possível.
Figura 1. Capa da primeira edição de "Vietnã do Norte. Advertência aos Agressores", publicado pela
Civilização Brasileira, em 1969. A jovem vietcongue segura o fuzil ao lado de um piloto norte-americano
capturado.7
7 CALLADO, Antônio. Vietnã do Norte: Advertência aos Agressores. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1969.
Para Boaventura, o desenvolvimento de qualquer teoria, de qualquer
desenvolvimento de novo conhecimento, exige um mergulho na prática. O intelectual
precisar estar no terreno em que estão os movimentos e às manifestações. Callado vai
até o lugar dos vietnamitas, imerge nesse cotidiano de resistência e, a partir de sua
ideologia para a busca de alternativas de enfrentamento, apresenta pra seus leitores uma
nova forma de compreensão da realidade.
Ao aparecer na capa de seu livro ao lado de uma mulher vietnamita, Callado dá a
primeira pista ao leitor sobre o que virá nas páginas que seguem: a história da
resistência do Vietnã do Norte contada a partir do seu ponto de vista assumido durante
todo o percurso da reportagem.
11 Por esse aspecto, a comparação que Joel Silveira faz entre Antônio Callado e o fotógrafo Henri
Cartier-Bresson é possível. Para Bresson, que produziu boa parte das fotos mais conhecidas do século
XX, as imagens fotografadas devem contar uma história, proporcionar informação suficiente para que o
espectador entenda o contexto a partir do qual ela existe e possa imaginar o que vem em seguida.
A uns 200 metros do mar, à sombra dos coqueiros, a mesa tosca, com
um bule e xícaras de chá de porcelana lisa, sem os graciosos desenhos
de costume.
- Não repare a louça grosseira - disse Thi Chot. - Foi tudo quebrado
num bombardeio.
E emendou: - Minhas saudações fraternais às mulheres do Brasil!
(...) Nguyen Thi Chot era gorduchinha, atarracada e enérgica. Prometi
transmitir suas saudações e observei que o serviço de chá podia não
ser tão bonito quanto o de costume, mas que, em compensação, era
linda a tenda de seda branca que nos dava sombra.
- É nylon daqueles pára-quedas americanos que trazem flares para
iluminar os bombardeios noturnos.
13
A nova mulher do Vietnã explica, em parte, o êxito do país contra os
inimigos e contra a ignorância em que vivia. Como sua pátria, a
mulher vietnamita passou sem transição do feudalismo e colonialismo
para uma esplêndida posso de si mesma. (Callado, 1977, p.18).
Referências Bibliográficas
______. Vietnã do Norte: Advertência aos Agressores. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra,
1977.
CASTRO, G.; GANELO, Alex (Orgs.). Jornalismo e literatura: a sedução da palavra. São
Paulo: Escrituras, 2002.
COSTA, Cristiane. Pena de aluguel. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
MORAES LEITE, Lígia Chiappini. Antônio Callado. Literatura comentada. São Paulo: Abril
Educação, 1982. Casa de Las Americas, 1983.
______. Quando a pátria viaja: uma leitura dos romances de Antônio Callado. Cuba:
PÉCAUT, Daniel. Os Intelectuais e a Política no Brasil. Entre o povo e a nação. São Paulo:
Editora Ática, 1990.
Palavras-chave: Relações Públicas, Cinema, Narrativa, The Ides of March, Representação Social.
1 Mestrando em Comunicação Midiática e graduado em Relações Públicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (Unesp – Bauru).
Os interesses em impressionar a platéia, podem ser entendidos através de uma lógica onde
se estabelecem operações de caráter ideológico, em que certos discursos e representações sociais
são utilizados para legitimar identidades e visões sociais. Neste sentido, nos quadros da
Antropologia Compreensiva, avalia-se a própria ideologia como um sistema cultural que permeia os
comportamentos individuais e coletivos (GEERTZ, 1978).
As peças fílmicas, vistas através desta perspectiva, se tornam elementos dinamizadores do
cenário cultural e reflexos da própria cultura, da onde extrai suas construções simbólicas para
elaborar seus processos de significação e transmitir representações ao público espectador.
Destarte, o cinema pode construir, desconstruir, afirmar, legitimar ou até mesmo negar
identidades através de seus processos de produção de sentido. A experiência cinematográfica se
estabelece como uma vivência real, proporcionando desdobramentos para toda a sociedade e para
diversas esferas sociais, fornecendo quadros de referência para a vida cotidiana.
Neste sentido, devem ser discutidas a representação social e a construção de identidades no
cinema, além de seus impactos socioculturais, traçando um panorama sobre como a profissão de
relações públicas é representada por uma filmografia recente. Portanto, é essencial a utilização do
conceito de representações sociais de Moscovici para entender como se constroem e são
reproduzidas tais elaborações simbólicas.
A presente pesquisa apresenta como objetivo descortinar a representação social do
profissional de relações públicas no Cinema, adotando um recorte que privilegia uma película
recente e que enfoca o cotidiano da atividade profissional. O estudo apresenta relevância para a área
de relações públicas e no estudo dos desdobramentos culturais através dos processos midiáticos,
uma vez que se compromete a identificar questões que podem nortear a atuação e as percepções da
sociedade e dos próprios profissionais com relação à essa atividade. Em vista disso, poderá
contribuir tanto em âmbito científico, descortinando a visão sobre a identidade das relações públicas
por meio do cinema, como os próprios mecanismos de construção e de circulação de representações
sobre a profissão na sociedade.
Ao entender como a sua profissão é representada por meio de uma narrativa externa àquele
que é emitida pelo próprio grupo, este trabalho pode ajudar o relações-públicas ter um horizonte
mais amplo em relação à imagem da sua atividade e seu reconhecimento social, fazendo com que
possa desempenhar uma atividade reflexiva sobre sua profissão e elaborar estratégias identitárias.
Nota-se que as representações sociais não são meras reproduções das ideologias dominantes
e tampouco são assimiladas de forma acrítica pelos atores sociais. Ao contrário, as representações
sociais são resultado de um processo em que o indivíduo participa de maneira ativa e consciente:
Por meio desta perspectiva, os meios de comunicação de massa passam a ter um papel
central na sociedade, pois se tornam veículos de disseminação de certas representações sociais que
refletem a ideologia de seus produtores e os interesses que habitam seus interstícios. O cinema
assume a função de retratar a realidade privilegiando certas construções simbólicas, construindo
processos comunicativos que reiteram determinadas visões sociais e pautam cognitivamente as
opiniões e comportamentos sobre dados assuntos. O fazer cinematográfico, portanto, carrega uma
visão de mundo que é afirmada a todo momento com o intuito de fazer com que seus espectadores
reconheçam a verossimilhança nas imagens transmitidas pelas telas do Cinema. (METZ, 1972).
Metodologias utilizadas
Quadro 01: Representações sociais ligadas ao profissional de relações públicas no filme The Ides of March
Inteligente, Articulado 7
Charmoso, Sedutor, Atraente 4
Desleal, Manipulador 3
"Figurão" 2
Corajoso 1
"homem de confiança" 1
Respeitado 1
Idealista 1
Implacável 1
Cínico 1
Estressado 1
Talentoso 1
Fonte: elaboração própria
Considerações Finais
Referências
GEERTZ, C. A ideologia como sistema cultural. In: A interpretação das culturas. Rio de Janeiro:
Zahar, 1978. Cap. 6. P. 107-134.
Filmografia
The Ides of March. Produção de George Clooney. Estados Unidos da América: Columbia Pictures,
Smokehouse Pictures, Appian Way Productions, 2011. DVD.
O esvaziamento da programação infantil na TV aberta:
avaliação de cenário de grades da TV aberta e o caráter complementar das
emissoras públicas
1. INTRODUÇÃO
1 Luísa Guimarães Lima é doutoranda em comunicação na Universidade de Brasília (UnB), na linha de pesquisa
Políticas de Comunicação e Cultura. É professora de Jornalismo no Centro Universitário Iesb.
2 Balão Mágico (1983-1986), Xou da Xuxa (1986-1992), Tv Colosso (1993-1997), Angel Mix (1996-2000) e TV
Globinho (2000-2012) são alguns dos programas infantis diários que foram ao ar nos últimos 30 anos na Globo
(DICIONÁRIO, 2003).
Um jornal paulista tentou imprimir tom de galhofa ao obituário das manhãs infantis
diárias da emissora carioca: “Querida, encolheram as crianças. Na TV aberta, ao menos, a
programação para essa faixa etária ficará em breve mais ‘baixinha’”, dizia o primeiro parágrafo da
notícia Audiência e falta de anunciantes reduzem os infantis globais (FOLHA, 2012).
3 “Na PeNSE 2009 [Pesquisa Nacional de Saúde Escolar], no conjunto dos Municípios das Capitais e Distrito
Federal, 79,4% dos adolescentes informaram assistir a duas horas ou mais diárias de televisão. Este indicador
permaneceu praticamente inalterado na PeNSE 2012, 78,6%” (IBGE, 2013, p. 58).
Segundo Potyara Pereira (2008, p. 273), políticas públicas são aquelas “que requerem a
participação ativa do Estado, sob o controle da sociedade, no planejamento e execução de
procedimentos e metas voltados para a satisfação de necessidades sociais. De acordo com a autora,
o conceito de política pública expressa “a conversão de demandas e decisões privadas e estatais
em decisões públicas que afetam e comprometem a todos” (PEREIRA, 2008, p. 174). Dessa
forma, o termo “pública” remete-se à universalidade e à totalidade. É num cenário em que a
realidade concreta precisa ser mudada que o conceito de política pública se faz oportuno.
Embora as grades de programação infantil da televisão aberta tenham diminuído, não são
todas as crianças que têm acesso aos espaços para onde ele talvez tenha migrado, passando por
reconfiguração: internet e TV paga. Apenas 29% da população brasileira tem acesso à TV paga
(ANATEL, 2014). O acesso à internet, embora tenha crescido nos últimos anos, continua restrito a
apenas 48% (SECOM-PR, 2014) da população brasileira – crianças representam 14 % dos
usuários domiciliares ativos da rede.
Apesar de representarem atualmente uma parcela significativa do mercado, que movimenta bilhões de reais
em mercado publicitário, juridicamente, por serem tachados incapazes e relativamente incapazes, ou seja,
̂ ainda o discernimento para julgar as próprias atitudes, os menores não podem ser
indivíduos que não tem
considerados consumidores para efeitos da legislacã̧ o em vigor (BOMFIM; CARDOSO, 2012, p. 13).
De acordo com Brittos, Bolaño e Rosa (2010), a comunicação é um bem público, ainda
que apropriado privadamente. “Percebe-se que são explícitas as divergências entre a formação do
mercado da cultura – onde o interesse vigente é o econômico – e o interesse público” (BRITTOS;
BOLAÑO; ROSA, 2010, p. 8). Deseja-se pensar como são produzidos, imersos em ambientes de
interesses contraditórios, e como atuam as empresas que agem nesse âmbito.
4 Suzy dos Santos define a EPC como uma corrente do campo da Comunicação Social que estuda as “relações
sociais, em especial as relações de poder que mutuamente constituem a produção, a distribuição e consumo de
recursos, inclusive os meios de comunicação” (SANTOS, 2008, p. 14)
Neste artigo, analisamos o cenário de esvaziamento da programação infantil destinada às
crianças entre 1991 e 2014. Para além da impressão que um espectador formado nos anos 1990
possa ter a respeito da diminuição do número de horas dedicadas às crianças na televisão aberta,
interessa-nos delinear um cenário mais claro.
No que tange às políticas, programas e projetos sociais, Ivanete Boschetti (2009) afirma
que a avaliação e a análise devem ser pensadas de modo complementares e não estanques.
A avaliação de uma política social pressupõe inseri-la na totalidade e dinamicidade da realidade. Mais que
conhecer e dominar tipos e métodos de avaliação ou diferenciar análise e avaliação, é fundamental
reconhecer que as políticas sociais têm um papel imprescindível na consolidação do Estado democrático de
direito e que, para exercer essa função, como seu objetivo primeiro, devem ser entendidas e avaliadas como
um conjunto de programas, projetos e ações que devem universalizar direitos. (BOSCHETTI, 2009, p. 3).
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Quadro 1
Fonte: elaboração da autora
Em seguida, calculamos a média do ano, na seguinte fórmula:
(número horas destinadas à programação infantil semanalmente em janeiro + número horas destinadas à
programação infantil em março + número horas destinadas à programação infantil em maio + número horas
destinadas à programação infantil semanalmente em julho + número horas destinadas à programação infantil
semanalmente em setembro + número horas destinadas à programação infantil semanalmente em novembro)
÷6
Quadro 2
Fonte: elaboração da autora
5 A partir de 2010, o jornal Folha de São Paulo deixa de publicar a programação televisiva em suas páginas. Tal
ação tem a dizer sobre a diminuição da importância da TV aberta em nosso país – além de dificultar o trabalho
dos pesquisadores que se debruçam sobre a televisão.
não foi incorporado como pressuposto absoluto, mas como parte do objeto a ser analisado. Assim,
o nosso procedimento metodológico fundamenta-se no que Gil chama de “método bibliográfico”,
que segundo ele é uma pesquisa “desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 1995, p.71).
Gráfico 1: Horas semanais de programação infantil nas grades de emissoras pública e comerciais:
1991 a 2014
Fonte: Elaboração da autora
Gráfico 2: Horas semanais dedicadas à programação infantil em emissoras comerciais abertas: 1991 a
2014
Fonte: Elaboração da autora
Gráfico 3: Horas semanais de programação infantis em emissora pública aberta: 1991 a 2014
Fonte: Elaboração da autora
Entre 2003 e 2014, chama a atenção o fato de que a Cultura ou a TV Brasil ofereceram
quase o mesmo número de horas destinadas às crianças que aquelas ofertadas por todas as
emissoras comerciais abertas somadas. Observa-se, ainda, que nos anos de 2005 e 2009 apenas
uma emissora pública aberta apresente número maior de horas semanais que todas as emissoras
comerciais abertas juntas. A seguir, podemos ver a divisão do conteúdo infantil entre as emissoras
abertas nos anos de 1991, 1995, 2001, 2005, 2014:
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso marco legal é claro: a televisão deve ter conteúdo educativo e produções
voltadas à infância, conforme o ECA e a Constituição de 1988. No entanto, o Estado ainda não
tomou medidas específicas suficientes para corrigir as distorções provocadas pela prioridade dos
interesses comerciais das empresas de comunicação.
6. REFERÊNCIAS
Resumo: A Lei 12.527, conhecida como Lei de Acesso à Informação, foi aprovada em
novembro de 2011 depois de um longo processo político. Sua trajetória tem início em
2003, com o projeto de lei visando regulamentar o direito de acesso à informação
pública no país, previsto na Constituição Federal de 1988. Ao longo dos oito anos em
que o tema tramitou no Congresso, observou-se o posicionamento de setores favoráveis
e reticentes à norma. Neste meio tempo, entidades da sociedade civil também se
envolveram na discussão e somaram forças para consolidar o direito de acesso a
informações públicas. O objetivo deste artigo é recuperar a trajetória da Lei
12.527/2011, identificando os principais atores políticos envolvidos em seu processo de
aprovação, bem como os argumentos defendidos por aqueles que apresentavam
resistência à sua sanção. A elucidação deste processo de desenvolvimento da LAI
contribui para compreensão do modo pelo qual ela vem sendo aplicada desde então.
Introdução
Aprovada em novembro de 2011, a Lei 12.527 ficou popularmente conhecida
como Lei de Acesso à Informação, ou LAI. Ela regulamenta o direito de acesso às
informações públicas, previsto no inciso XXXIII do artigo 5º da Constituição Federal de
1988, estabelece mecanismos de solicitação, prazos de resposta, procedimentos de
divulgação proativa de informações por parte dos órgãos da administração pública,
delimita um regime de exceções e determina sanções em caso de descumprimento.
Comparada às normas vigentes em outros países, a abrangência da LAI é uma de
suas características singulares: se aplica aos três Poderes (Executivo, Legislativo e
Judiciário) e em todos os níveis administrativos (federal, estadual, distrital e municipal),
além de autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia
mista e “demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados,
Distrito Federal e Municípios” (BRASIL, 2011).
De acordo com Mendel (2009), o aprimoramento da tecnologia e os processos
políticos de redemocratização são fatores fundamentais para a crescente demanda e
reconhecimento do direito à informação como um direito humano. Além do viés político
1 Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo e Mestre em Comunicação Social pela
Universidade de Brasília. Pesquisadora do Observatório da Mídia (UFES). E-mail:
lumadutra@gmail.com
e tecnológico, também houve a dimensão econômica neste processo: nas décadas de
1980 e 1990 a crescente globalização da economia fez com que bancos e empresários
buscassem cada vez mais informações sobre aspectos econômicos em diferentes países
de modo a avaliar os riscos de seus investimentos (RIVERA, 2008).
O direito à informação, portanto, previsto no artigo 192 da Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948, começa a se materializar com a aprovação de leis de
acesso à informação. O movimento ganha força em nível mundial a partir do final dos
anos 1990 e início dos anos 2000. O Brasil foi um dos últimos países da América Latina
a aprovar uma Lei de Acesso, porém, as políticas de acesso à informação pública já
vinham sendo gradualmente amadurecidas, como se verá a seguir.
2 Artigo 19: “Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a
liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por
quaisquer meios e independentemente de fronteiras” (ONU, 1948).
Apesar dos dispositivos constitucionais, muitas das políticas de acesso à
informação pública que se seguiram prezavam mais pela proteção das informações do
Estado do que pela sua divulgação, ou até previam o direito de acesso, mas não
estabeleciam mecanismos para a sua concretização. Este é o caso da Lei Ordinária 8.159
de janeiro de 1991, por exemplo, que trata da política nacional de arquivos públicos e
privados, e prevê que todos os cidadãos tenham direito de receber informações dos
órgãos públicos, porém, não determina como se dará o acesso a estas informações.
Em maio de 1995 foi aprovada a Lei Ordinária 9.051, que trata da expedição de
certidões para a defesa de direitos ou esclarecimentos de situações, estabelecendo um
prazo máximo de 15 dias para a expedição dos documentos a partir do registro do
pedido no órgão expedidor.
Em 1997 foram duas normativas: o Decreto Presidencial 2.1343, que tratava da
categorização e do acesso aos documentos públicos e sigilosos, e criava as “Comissões
Permanentes de Acesso”; e a Lei 9.507, conhecida como Lei do Habeas Data, que trata
dos procedimentos de Habeas Data e considera públicos os bancos de dados que não
sejam privativos dos órgãos detentores da informação, estabelecendo o prazo de 48
horas para o deferimento (ou indeferimento) do pedido.
No ano seguinte, o Decreto 2.9104 estabelecia as regras para a proteção de
documentos e demais materiais de natureza sigilosa. Em 1999 o Decreto 2.942 5
normatizava a política nacional de arquivos públicos.
Em 2000 foi aprovada a Lei Complementar nº 101, conhecida como Lei de
Responsabilidade Fiscal, que prevê a transparência na gestão fiscal, disponibilizando o
acesso às informações referentes a despesas e receitas públicas. Em 2002 foram dois
decretos presidenciais: o 4.073, que dispõe sobre o Conselho Nacional de Arquivos
(CONARQ) e sobre o Sistema Nacional de Arquivos (SINAR), e determina a criação de
Comissões Permanentes de Avaliação de Documentos em cada órgão da administração
pública federal. E, em dezembro do mesmo ano, no apagar das luzes de seu mandato, o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aprovou o decreto 4.5536, que, entre outras
9 Iniciativa global multilateral que trabalha para que países adotem políticas de governo aberto e
participativo. Foi lançada em setembro de 2011 e o Brasil foi um dos oito países fundadores a assinar a
Declaração de Governo Aberto. Disponível em: http://www.opengovpartnership.org/about/open-
government-declaration Acesso em 13 set. 2015.
A trajetória no Congresso
O livre acesso das pessoas aos atos do governo – nos níveis municipal,
estadual e federal – é um dos princípios republicanos básicos na construção
de uma nação. O documento e a informação produzida pelo agente público,
pelo governante ou pelo político não pertence a ele nem ao Estado, mas sim
ao cidadão13.
12 CRISTALDO, H. A um mês das eleições TSE publica lista com doadores de campanha. Agência
Brasil, Brasília, 07 set. 2012. Política. Disponível em: http://www.ebc.com.br/2012/09/a-um-mes-das-
eleicoes-municipais-tse-publica-lista-com-doadores-de-campanha. Acesso em 27 maio 2015.
13 Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas. Sobre o Fórum: o que é / objetivos. Disponível
em: <http://www.informacaopublica.org.br/node/2>, acesso em: 27 maio 2015.
da LAI, o Fórum continua ativo, com um site 14 que acompanha a implementação da lei e
reproduz matérias publicadas em portais de notícias de todo o país envolvendo
transparência e acesso à informação pública.
Alguns meses antes da criação do Fórum, em fevereiro de 2003, o deputado
Reginaldo Lopes (PT-MG) apresentou um Projeto de Lei que regulamentava o inciso
XXXIII do artigo 5º da Constituição Federal. O PL 219/2003 15 estabelecia o prazo
máximo de 15 dias para prestação de informações ao cidadão por parte da administração
pública, determinava que a regra valesse para os Três Poderes e para todos os níveis de
governo, porém não apontava a internet como principal plataforma de acesso aos
documentos.
Em maio de 2003 o PL 219 foi aprovado pela Comissão de Trabalho, de
Administração e Serviço Público da Câmara, cujo relator designado foi o deputado
Ricardo Rique (PL-PB), que emitiu parecer favorável. De lá o texto seguiu para a
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC). O relator escolhido foi o
deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS), que também emitiu parecer favorável ao projeto
em outubro de 2003 (apesar disso, a aprovação pela CCJC só saiu em dezembro de
2004). Daí em diante o projeto ficou parado e só foi retomado três anos depois, em
2007, quando a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados apensou o PL 219/2003 a
outros projetos16 relacionados ao tema.
Em maio de 2009 o PL 219/2003 foi apensado ao PL 5.228/2009, enviado pelo
Poder Executivo. A elaboração do texto do Executivo envolveu diversos ministérios e
secretarias (Casa Civil, Justiça, Relações Exteriores, Defesa, AGU, Secretaria de
Direitos Humanos, Gabinete de Segurança Institucional, Secretaria de Comunicação
Social e CGU) e foi estruturada a partir de um modelo básico apresentado pela
organização Transparência Brasil em 2005 no Conselho de Transparência Pública e
Combate à Corrupção da CGU.
A Câmara dos Deputados criou uma Comissão Especial para analisar o projeto
do Executivo, presidida pelo deputado José Genoíno (PT-SP), cuja relatoria ficou a
cargo do deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS). Depois de um amplo debate e de
Conclusões
Este artigo buscou situar a Lei de Acesso à Informação no cenário das políticas
brasileiras de acesso à informação pública, demonstrando que o tema foi ganhando cada
vez mais notoriedade, em especial no início dos anos 2000. Foram necessários oito anos
de tramitação até que a lei fosse aprovada, processo que envolveu disputas ideológicas
entre setores mais resistentes à abertura do Estado e aqueles que viam esse processo
como consequência natural do amadurecimento democrático.
Três anos depois, a Lei de Acesso à Informação é uma realidade, contudo, o
empenho pela garantia do direito à informação não deve ser dado como encerrado.
Levantamentos têm indicado que qualidade da aplicação da lei varia nos Três Poderes e
21 A entrevista foi republicada no Blog Públicos no dia 29 de março de 2012. Disponível em: <
http://blogs.estadao.com.br/publicos/toby-mendel-especialista-em-governo-aberto-avalia-lei-brasileira-de-
acesso-a-dados/>, acesso em: 27 maio 2015.
nos níveis administrativos, alguns mais opacos, outros mais transparentes (ARTIGO 19,
2014; MICHENER, MONCAU, VELASCO, 2014). Em um país marcado pela cultura
patrimonialista, com uma tradição de opacidade do poder, não seria razoável imaginar
que alterando a perspectiva jurídica os reflexos na sociedade viriam automaticamente.
Portanto, os aspectos culturais precisam ser levados em consideração na
elaboração de normas, que, por sua vez, precisam ser acompanhadas de ações para
fortalecer a formulação, implantação e avaliação de políticas públicas associadas ao
direito de acesso à informação. Para que a estrutura do Estado opere de maneira
adequada, superando as tradições de opacidade do poder e construindo uma cultura da
transparência, é necessário um comprometimento das autoridades e da sociedade, na
qual também se inserem os meios de comunicação e o jornalismo. A Lei em si
representa apenas uma etapa deste processo conjunto.
Referências
Mariella Bastian2
Introdução
1
O projeto de doutorado ao que este texto se refere é financiado pela fundação Hanns Seidel.
2
Mariella Bastian, mestre em jornalismo pela Universidade Técnica de Dortmund/Alemanha, é doutoranda e
trabalha no Instituto Erich Brost para jornalismo internacional da TU Dortmund. As linhas de pesquisa da autora
incluem media accountability, mídia na América Latina, mídia e democracia e jornalismo e mídias sociais. E-
Mail: mariella.bastian@tu-dortmund.de
1
estão no foco dessa análise. Neste texto, algumas conexões são apresentadas para esclarecer
as condições para o fortalecimento de media accountability a serviço da democratização,
tendo como base o contexto latino-americano.
MAI como, por exemplo, ombudsmen, observatórios da mídia ou a publicação de
códigos de ética devem defender a independência dos meios de comunicação do controle e da
censura estatal (BERTRAND, 2000; EBERWEIN et al, 2011; STAPF, 2005, p. 17–36). O
funcionamento de muitos desses instrumentos depende, entre outros aspectos, do papel do
governo e de atores políticos, mas também do quadro econômico no qual os veículos de
comunicação atuam. Portanto, este artigo tem o objetivo de apresentar um primeiro passo para
um desenvolvimento de um enquadramento de pesquisa sobre media accountability na
América Latina. No foco dessa aproximação às esferas que podem influir a criação de
instrumentos de media accountability estão os sistemas políticos e econômicos.
Um fator importante que deve ser considerado na pesquisa sobre media accountability
é o desenvolvimento digital. Pesquisadores tem assumido que a internet tem o potencial para
promover o discurso público e que a deliberação pode acontecer pela participação do público,
em situações nas quais limitações espaciais e restrições do poder se reduzem (COLEMAN;
BLUMLER, 2009; DAHLBERG, 2001; DAHLGREN, 2005; FREELON, 2010;
RASMUSSEN, 2008). Além disso, tem havido transformações no papel tradicional dos meios
de comunicação de massa como gatekeepers porque cidadãos tem encontrado mais maneiras
de difundir suas ideais e atitudes, além de notícias próprias, publicadas na internet. Esse
aspecto continua a ser especialmente relevante em democracias incompletas (BASTIAN;
TRILLING, 2013; sobre o conceito de democracias incompletas: MERKEL, 2010).
Por isso, tanto instrumentos tradicionais de media accountability quanto instrumentos
inovadores têm que ser ainda mais investigados. Até agora, existem pesquisas sobre alguns
instrumentos próprios na América Latina, como, por exemplo, o observatório brasileiro SOS
Imprensa (PAULINO; SILVA, 2007) ou ombudsmen (LEAL FILHO; PAULINO; SILVA,
2012; PAUWELS, 2012) e pesquisas comparativas de diferentes países sobre um instrumento
(por exemplo HERRERA; CHRISTOFOLETTI, 2006), que indicam como uma parte de
instrumentos de media accountability são colocadas em prática na América Latina. A
pesquisa provavelmente mais recente e ampla sobre media accountability ocorreu por meio do
projeto MediaAcT3 (FENGLER et al, 2014; EBERWEIN et al, 2011) que investigou o
fenômeno na União Europeia e em dois países do mundo árabe. Acadêmicos criticam também
a investigação insuficiente sobre o papel da mídia em processos de democratização em países
3
Mais informações disponível no site do projeto www.mediaact.eu
2
em transição de regimes autoritários para práticas democráticas, por exemplo na região da
América Latina (por exemplo PORTO; HALLIN, 2009; PORTO, 2012, p. 35), e
especialmente sobre “the relationship between the media and the dynamics of democratic
deepening in transitional societies”4 (Ibid., p. 35).
Media accountability
any informal institution, both offline and online, performed by both media professionals and
media users, which intends to monitor, comment on and criticize journalism and seeks to expose
and debate problems of journalism:
- at the individual level (e.g. plagiarism of a single journalist, misquotiation in an article),
- at the level of media routines (e.g. the acceptance of corruption among journalists),
- at the organizational level (e.g. PR influence on editorial decision in a newsroom), and
- at the extra-media level (e.g. state repressions against journalism). 6
Essa definição tem a vantagem de facilitar a análise do status quo de práticas de media
accountability num determinado sistema midiático, porque define os diferentes níveis em que
esse fenômeno pode ocorrer e, portanto, já inclui diferentes atores possíveis.
4
“a relação entre a mídia e as dinâmicas de um aprofundamento democrático em sociedades transitórias”
(tradução própria)
5
“processos voluntários o involuntários pelos quais a mídia responde diretamente o indiretamente a sociedade
para a qualidade e/ou as consequências de publicação.” (tradução própria)
6
“qualquer instituição informal, ambos offline e online, realizado por ambos professionais e usuários de mídia,
que pretende monitorar, comentar e criticar o jornalismo e que busca expor e discutir problemas do jornalismo:
- no nível individual (por exemplo plágio de um jornalista, citação errada em um artigo),
- no nível de rotinas da mídia (por exemplo a aceitação de corrupção entre jornalistas),
- no nível organizacional (por exemplo influência em decisões jornalísticos em uma redação), e
- no nível externo da mídia (por exemplo repressões estatais contra o jornalismo).”
(tradução própria).
3
Alguns anos antes, os pesquisadores Bardoel e d’Haenens (2004, p. 8f.) apresentaram
também uma aproximação com subdimensões. Eles descrevem media accountability no
contexto do debate sobre uma midiatização (inglês: mediatization) crescente da sociedade e
apoiam a recomendação por mais transparência e accountability como contraponto à crescente
influência da mídia. Bardoel e d’Haenens (2004) subdividem o termo media accountability
em quatro setores: market accountability, professional accountability, public accountability e
political accountability. O setor de ações políticas de accountability contém por exemplo leis
de mídia, enquanto professional accountability afeta em primeiro lugar o setor da auto-
regulação da mídia, por exemplo via códigos de ética de empresas jornalísticas (HEIKKILÄ
et al, 2012, p. 6f.). Market accountability se refere à atuação da mídia no sistema econômico e
ao relacionamento com os proprietários com interesses econômicos. Por outro lado, public
accountability abrange ações para a interação com o público e para um comportamento
adequado quanto às reações do público (Ibid).
Referindo-se a essas categorias de media accountability, Bardoel e d’Haenens (2004,
p. 20) avaliam o mercado como “rarely being an adequate mechanism of social
responsability”7. Com certeza os diferentes setores se sobrepõem ou influenciam muitas vezes
em um ou outro quadro, como, por exemplo, no caso de desenvolvimento de uma lei de
mídia, no qual tanto o sistema político é envolvido como isso pode ter uma influência direta
sobre o mercado. Como cada região – e, portanto, também cada sistema midiático – tem as
suas próprias tradições históricas, culturais e políticas, existem exigências e expectativas
específicas em relação à implementação e ao potencial de media accountability. Na América
Latina, a importância de aspectos econômicos e políticos para o desenvolvimento de
instrumentos de media accountability deve ser levada em conta.
7
“raramente sendo um mecanismo adequado de responsabilidade social” (tradução própria)
4
outro lado as estruturas de propriedade dessas organizações ou conglomerados são
altamente concentrados com grupos familiares controlando todas as ações ou a grande
maioria delas.
O fato de muitas empresas serem ativas em vários setores da mídia, como por
exemplo TV, rádio e mídia impressa ao mesmo tempo, contribui para o alto índice de
concentração, algo que intensifica a influência desses veículos de comunicação sobre a
opinião pública. Esse fenômeno chamado cross-media ownership muitas vezes
começa com um conglomerado que está ativo em um setor só e depois investe em
outros setores da mídia (BOAS, 2013, p. 53; LIMA, 2011, p. 29; DOYLE, 2002, p. 66-
82). Tais práticas acontecem, por exemplo, no caso da Globo (Brasil) ou do Clarín
(Argentina), que já tinham uma posição bem forte no mercado impresso antes de
começar a investir no setor da radiodifusão.
Organizações midiáticas públicas ou estatais com uma influência relevante são
relativamente incomuns na América Latina – conforme Boas (2013, p. 54), Argentina
e Venezuela são os únicos países na região onde emissoras financiadas por recursos
públicos têm uma quota de mercado de mais de cinco por cento. Por outro lado, os
governos têm a possibilidade de influenciar na distribuição de notícias, por exemplo
via mídia pública (em alguns casos os limites entre mídia pública e veículos a serviço
do Estado não estão claramente definidos nas práticas e/ou nas normas), ou por uma
relação de proximidade entre mídia e a política, aspecto vai ser desenvolvido mais
detalhadamente adiante.
De um ponto de vista normativo e democrático, Baker (2007, p. 5–53)
argumenta que evitar a concentração de propriedade da mídia é essencial para que (1)
a distribuição de poder comunicativo contribua para um sistema político mais
democrático, (2) o abuso de poder comunicativo seja evitado, e (3) falhas sistemáticas
no mercado da mídia sejam reduzidas e a qualidade garantida. Baker considera esses
três aspectos cruciais. Porém, o autor adiciona mais três fatores que também são
relevantes no processo de reduzir a influência de estruturas de propriedade no
desenvolvimento da democracia: (4) grandes conglomerados de mídia que estão ativos
em diferentes setores costumam ser mais vulneráveis à pressão externa, por exemplo
por políticos ou entidades privadas, (5) pressão interna ou até auto-censura por causa
de outros interesses (econômicos) do conglomerado pode ser diminuída em situações
de menor grau de concentração, e (6) apesar de sinergias presumidas, os
5
conglomerados também podem ter atuação ineficiente.
Além disso, outros acadêmicos como Doyle (2002, p. 172) chamam a atenção
para a diversidade cultural e a coesão da sociedade, que correm o risco de ser
ameaçadas. Em conclusão, “[...] policies that affect media concentrations have very
significant political and cultural as well as economic implications.” 8 (DOYLE 2002, p.
7). Neste último caso, Doyle (2002, p. 172) por exemplo argumenta que mesmo para
as empresas um risco da concentração pode ser colocar a identidade da própria marca
em risco, além da questão da distribuição dos custos e das verbas disponíveis para a
mídia em total. Mas os efeitos no setor político e cultural são ainda mais relevantes na
elaboração presente: as possibilidades da implementação de instrumentos de media
accountability são localizados nessas áreas em termos de assegurar o pluralismo e
garantir mais diversidade nos conteúdos e – em consonância com isso – nos grupos de
atores na mídia.
Segundo Klinger (2011), stakeholders do setor político, da sociedade civil e da
mídia têm possibilidades para atuar contra a concentração do mercado mediático
apesar de todos os desafios existentes. Tais ações podem ser encontradas tanto na
grande variedade de instrumentos de media accountability como em medidas políticas.
A relevância de aproveitar a oportunidade de atuar contra a concentração da mídia fica
especificamente clara no caso de América Latina, como Boas (2013, p. 54) explica:
“Most of Latin America’s media moguls can act with an impunity that Rupert
Murdoch would envy.”9
Em termos de relação entre mídia e política, Baker (2007, p. 163–189) faz
algumas sugestões – que obviamente podem ser discutidas criticamente 10 – de como
evitar uma concentração alta no mercado da mídia. Segundo o autor, uma dessas ações
seria introduzir uma lei que promova a competição, regulando a percentagem máxima
de uma empresa no mercado. No entanto, uma lei que define um nível máximo de
circulação e, portanto, limita o crescimento interno de uma organização (contrastando
com medidas legislativas que têm um foco na fusão de empresas) seria controversa de
um ponto de vista democrático, porque cidadãos poderiam ser excluídos de certos
8
“[…] políticas que afetam a concentração da mídia têm significantes implicações políticos e culturais tão como
econômicos”.
9
“A maioria de magnatas latino-americanos dos meios de comunicação podem atuar com uma impunidade que
Rupert Murdoch invejaria” (tradução própria).
10
Especialmente os diferentes contextos culturais, sociais e históricos de sistemas midiáticos devem ser
considerados na avaliação de benefícios de mecanismos possíveis para contrapor e combater uma concentração
alta do mercado.
6
produtos de notícias.
Além de tais leis competitivas e antitrustes, uma abordagem estrutural poderia
se dar por meio da proibição de criar novas empresas de mídia para organizações já
existentes, ou a apreciação obrigatória do governo em solicitações de fusão de
organizações. Outra medida por parte do Estado poderia ser a aplicação de taxas e
políticas de subsídios para proporcionar uma dispersão maior no setor midiático.
No entanto, essas sugestões representam só alguns exemplos de medidas
possíveis e elas têm como objetivo um ideal que dificilmente pode ser alcançado
(Ibid., p. 164). As estruturas de propriedade na América Latina criam vários desafios e
uma situação especial para o desenvolvimento de um sistema de media accountability
em funcionamento, situação agravada pela relação entre mídia e política nos países da
região.
7
público aberto e democrático no qual exista a intermediação entre stakeholders e no qual as
pessoas possam participar no processo político é papel de atores políticos em sociedades
políticas. A falta de pluralismo externo devido à concentração no mercado de mídia afeta os
setores social, judiciário, político e econômico (Ibid., p. 32). Restrições às estruturas de
propriedade no mercado da mídia é um tema relevante porque afeta as condições de
exercício da liberdade de expressão nos países latino-americanos.
Como já descrito anteriormente, organizações públicas ou estatais de mídia com
uma quota de mercado perceptível são raras na região. (BOAS, 2013, p. 54) A situação
para radiodifusores públicos é semelhante: em geral eles não têm uma audiência muito
ampla em comparação com a concorrência privada, como por exemplo no caso dos
veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Enquanto isso, por exemplo, a igreja pentecostal Igreja Universal do Reino de
Deus com seu radiodifusor Rede Record é um ator importante no Brasil – TV Record tinha
uma quota de mercado de 14,6% em 2007 e foi e a segunda maior emissora de TV aberta
junto com SBT e depois de TV Globo (GRÜNEWALD; KIRSCH, 2009, p. 835) –, no
Uruguai emissoras religiosas não tem um papel tão importante, situação atípica na
América Latina. Uma preocupação é que atores com um contexto específico, nesse caso
religioso, possam influenciar essencialmente o conteúdo e a distribuição de notícias.
A mesma preocupação afeta o fenômeno do coronelismo eletrônico11, que
representa o abuso de poder econômico por razões políticas. O conceito original de
coronelismo foi desenvolvido por Victor Nunes Leal (1948), que descreveu práticas
políticas nas áreas rurais do Brasil durante a República Velha (1889-1930). Desde o
século XIX os chefes locais no Brasil foram chamados de coronéis (LIMA; LOPES, 2007,
p. 2). Portanto, coronelismo eletrônico significa a prática na qual políticos (locais)
recebem licenças para emissoras e, em troca, apoiam grupos políticos (MIGUEL, 2007, p.
413; LIMA, 2011, p. 81). Segundo Costa (2008, p. 130), por exemplo, no Brasil a
atribuição de licenças segue só teoricamente critérios técnicos – a lealdade a grupos
políticos acaba por ser muito mais importante.
“No coronelismo eletrônico, portanto, a moeda de troca continua sendo o voto, como
no velho coronelismo. Só que não mais com base na posse da terra, mas no controle da
informação – vale dizer, na capacidade de influir na formação da opinião pública”
(LIMA; LOPES, 2007, p. 3)
11
Em países de língua espanhola se usam, de maneira semelhante ao coronelismo, os termos caudillismo ou
caciquismo.
8
Lima (2011, p. 81) argumenta que esse fenômeno seria “ uma das principais
características da radiodifusão brasileira desde a metade do século passado”. A relação de
proximidade entre política e mídia fica clara no fato de que um grande número de
políticos controla direta ou indiretamente organizações de mídia de países latino-
americanos (BOAS, 2013). No caso do Brasil, o projeto Donos da Mídia publicou uma
lista com 271 políticos que são diretores ou sócios de 324 veículos de comunicação
(DONOS DA MÍDIA, n.d.). A gama das posições deles é ampla com políticos atuantes no
Poder Executivo ou no Poder Legislativo, mas a maioria deles são governadores,
deputados federais e senadores (LIMA; LOPES, 2007, p.3). Exemplos destacados de
famílias brasileiras que são ativas na política e possuem veículos de comunicação são os
Sarney ou os Collor de Mello (Ibid. f.), cujos personagens mais conhecidos foram ex-
presidentes brasileiros.
Conclusão
Referências bibliográficas:
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9
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12
Participação popular nos meios de comunicação no Brasil
Resumo
O artigo propõe uma retrospectiva sobre a relação dos meios de comunicação de massa com
sua audiência na criação de fóruns e arenas de participação popular, numa espécie de esfera
pública criada pela mídia. Propomos realizar um resgate sobre a participação popular no
Brasil e o advento de programas com formatos voltados à participação popular. Usaremos a
revisão bibliográfica para tratar do tema, revisitando autores fundamentais na definição de
conceitos como “esfera pública” (HABERMAS, CARPENTIER) e “participação popular”
(AVELAR, RAMOS), além de autores ligados ao campo da Comunicação (ESCH, LIMA,
RUBIM), entre os outros.
Palavras-chave: Mídia, participação popular, mediação da mídia, cidadania,
audiência.
1. Introdução
O cidadão comum tem tido grande destaque nos meios de comunicação nos
dias atuais. Programas inteiros são dedicados a sua participação, que geralmente está
ligada a reclamações e reivindicações sobre algum tipo de direito. Até mesmo os
programas de entretenimento usam e abusam da participação de populares que vão até
o estúdio para ganhar um teste de DNA ou um favor, conquistado após a exposição de
suas lamúrias em rede nacional.
A participação confere aos programas legitimidade e credibilidade junto ao
público, chama atenção, aproxima o telespectador, o ouvinte que está em casa, da
realidade do outro que está do outro lado. Também é uma válvula de escape para
quem participa, que pode se fazer ouvido, ter um espaço para colocar sua voz, sua
versão.
Mas não é de hoje que a participação popular em programas de rádio e
televisão acontece. Um fenômeno bem conhecido é o rádio social, sobre o qual
1 Mestranda em Comunicação Social – Universidade de Brasília. Linha Jornalismo e Sociedade. Email para:
mdomingos_df@hotmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7749484943510047
1
trataremos a seguir, em que um comunicador cobra das autoridades locais sobre
problemas da comunidade, como falta de água, buracos nas ruas e deficiência no
atendimento básico de saúde.
Outro tipo de participação popular nos meios de comunicação acontece nas
rádios comunitárias. Por meio desse meio de comunicação, nos últimos 20 anos, a
participação de comunidades diretamente no feitio de programas de rádio se
intensificou e, hoje, o país conta com milhares de emissoras comunitárias espalhadas
pelo país.
Para entender melhor as diferentes abordagens dos meios de comunicação à
participação do cidadão, vamos começar por um resgate histórico sobre a participação
popular no Brasil. Muito antes de se transformar num filão do jornalismo e do
entretenimento, a participação dos cidadãos tem sua gênese ligada à busca pelo
reconhecimento de direitos civis, ainda nas décadas de 1960 e 1970, durante a
ditadura no Brasil (1964-1985).
A pesquisadora Denise Cogo lembra em seu livro No ar...uma rádio
comunitária (1998), que na América Latina e, em última instância no Brasil, esse tipo
de participação emerge no interior da Igreja Católica e dos movimentos e
organizações sociais, impulsionando o surgimento das rádios comunitárias, quando a
informação das rádios comerciais ainda passava pelo constrangimento da censura e de
forte orientação político-ideológica, causada pelo Golpe de 64:
2 Esmeralda Villegas Uribe concluiu sua graduação em comunicação social na Pontifica Universidade Javeriana,
em Bogotá (Colômbia), em 1981, onde também realizou uma especialização. Se tornou especialista em rádio no
CIESPAL. Em 1997 defendeu na UMESP sua dissertação de mestrado “A Rádio popular na vila de Nossa Senhora
Aparecida; uma proposta de comunicação popular”, orientada pelo Prof. Dr. José Marques de Mello.
2
comunicação como ferramentas que fortaleceram a formação sóciopolitica das
comunidades, que tiveram início nos próprios movimentos sociais e não nas
faculdades de comunicação. “Grupos populares, sindicatos, campesinos começaram a
produzir comunicação. Atores novos que aparecem na arena pública”, destacou
Villegas em palestra na Escola de Verão: “Pesquisa em Comunicação na América
Latina”, na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB).
Pensando no grande impacto dos meios de comunicação nos dias atuais, de
sua existência para o fortalecimento da democracia, o presente artigo se propõe a
remontar, de forma sucinta, a trajetória da participação popular na mídia. O que é
participação? Ela se dá apenas no campo da política? Pode acontecer nos meios de
comunicação? Para tentar entender essas questões, propomos uma revisão
bibliográfica dos principais conceitos que permeiam a participação popular na mídia,
na tentativa de identificar a origem desse fenômeno no Brasil e uma análise sobre
como se consolidou nos meios de comunicação nos últimos anos.
2. Participação popular
3
procedimento deliberativo (rito procedimental), e no papel que as
instituições desempenham na transformação da opinião pública em
poder comunicativo. Nesse modelo de duas vias da política
deliberativa, a esfera pública se torna “um sistema de alarme com
sensores que, embora não específicos, são sensíveis ao todo da
sociedade” (CARPENTIER apud HABERMAS, 1996: 359)3.
A teoria tem sido muito estudada por tratar o cidadão como ser ativo no
processo de comunicação e decisão, não apenas como receptor passivo das decisões
tomadas por representantes instituídos pelo poder do voto - presumidamente mais
capacitados a decidir por seus representados. O cidadão passa a atuar no novo
contexto de participação, onde o poder do voto é expandido à própria sociedade, que
tem a possibilidade de responder aos estímulos, se transformando em uma sociedade
interativa.
Em tempos de internet e redes sociais, onde a interatividade é uma variável
constante e que, sem ela, o sucesso do processo comunicativo não aconteceria,
analisar a participação dos cidadãos nos diferentes espaços públicos gerados pela
mídia é uma forma de entender os novos mecanismos de atuação desses entes nessa
nova arena. “A internet é uma grande praça que pode romper com os meios
tradicionais de comunicação na mobilização de pessoas”, disse o professor uruguaio,
Gabriel Kaplún4, durante palestra na Escola de Verão: “Pesquisa em Comunicação
3 In the Habermasian model of deliberative democracy, participation is multidirectional because of the strong
emphasis on the procedural-deliberative, and on the role that institutions play in the transformation of public
opinion into communicative power. In his two-track model of deliberative politics, the public sphere becomes a
“warning system with sensors that, though unspecified, are sensitive throughout society” (Tradução livre)
4 Gabriel Kaplún é comunicador, Prof. Dr. em Estudos Culturais. Docente e investigador da Universidade da
República, Diretor de Licenciatura em Ciências da Comunicação, no Uruguai.
4
na América Latina”, na UnB. Para ele, os meios de comunicação tradicionais
(televisão, rádio e jornal) já desempenhavam um papel importante no agendamento de
assuntos de interesse da população e o advento da internet permitiu que a população
emitisse sua opinião sobre esses temas, se tornando uma “possibilidade democrática
interessante”.
3. Participação no Brasil
5
introdução, traça uma análise sobre a participação da população brasileira na busca
por um sistema democrático mais justo e igualitário.
Ela também destaca que a participação da população brasileira nos processos
decisivos da política se deu apenas em meados do século XX com a urbanização do
país.
6
das Diretas Já, como forma de pressionar para o fim do regime, o que ocorreu em
1985.
Outro exemplo, na década de 1990, o movimento dos “cara-pintada”, que
mobilizou os jovens contra as denúncias de corrupção por parte do então presidente
Fernando Collor de Melo. Porém, a atuação política, foi realizada pelo Congresso
Nacional, que votou pela cassação do mandato presidencial no processo de
impeachment. Mais recentemente, o movimento dos protestos de junho de 2013, que
pediram mais participação social nas instâncias de decisão do governo sem depender
da representatividade política e, até mesmo, questionando essa representatividade.
4. Participação na Mídia
7
lugares”: nas ruas, nas praças, parlamentos, etc. A existência dessa
engenhosa plêiade redefine os nichos ocupados por cada um dos
elementos na “ecologia da política atual” ( RUBIM, op. cit. Pág. 55-
56).
Surge então uma nova esfera pública, mediada pela mídia e com
características de ampla participação popular, que influencia a opinião pública e é por
ela influenciada.
8
dos ouvintes um carro, chamado de unidade móvel de jornalismo, no qual um repórter
percorre a cidade ouvindo e tentando solucionar os pedidos da população.
9
Ao identificar uma espécie de “jornalismo comunitário” sendo praticado pela
mídia comercial, Lima chama atenção para um dos fatores que podem contribuir para
o que ele chama de redução da notícia a apenas uma “mercadoria” (LIMA, 2001).
Segundo ele, isso faz com que a esfera pública seja reduzida ao mercado e o cidadão-
telespectador apenas ao consumidor.
10
Carole Pateman (1992, pg. 137). Precursora dos estudos da Teoria Democrática
Participativa, Pateman defende que sem a participação popular, o sistema democrático
clássico, baseado na noção de representado/cidadão que elege o
representante/autoridade, não seria tão eficaz quanto um sistema no qual a
participação efetiva dos mesmos representados, que cobram por resultados e
transparência nas ações desses representantes. Esse novo conceito modificou a visão
dos estudos da Ciência Política sobre o peso que a variável participação teria na teoria
das decisões políticas dali para frente.
Não só no campo da Ciência Política, mas na Comunicação, o conceito de
participação também se tornou relevante e vem sendo amplamente utilizado nos dias
atuais, como vimos a partir da bibliografia apresentada. Percebemos o poder que a
participação desempenha na vida pública, a ponto de ser incorporada dentro das ações
da mídia. A participação popular no Brasil demorou a ser utilizada como uma
ferramenta democrática pelo povo, no campo da Política, mas uma vez conquistada,
foi rapidamente adaptada pelos meios de comunicação para atrair audiência e conferir
a seus programas e transmissões caráter cidadão, de atendimento ao interesse público.
Mesmo que os primórdios da participação na mídia estivessem ligados aos
interesses educativos e de ativismo com as transmissões radiofônicas das CEB’s, sua
trajetória a partir de sua apropriação pelos locutores e comunicadores no rádio social,
até a abertura para a participação do público em programas de televisão para reclamar
seus direitos, mostra o grande envolvimento que esse tipo de programação alcança.
Como vimos, Habermas, Elster e Carpentier trabalharam com as implicações
da participação em novas arenas, participação essa, fundamental para a deliberação de
decisões da sociedade como um todo. Embora, a crítica feita à Teoria Deliberativa
aponta para o acesso desigual dos cidadãos a essas arenas de participação, por
possuírem visões, arcabouços e experiências diferentes, o que poderia gerar uma
conseqüente desigualdade no âmbito das decisões, nenhum autor desprezou a
influência da participação na definição de uma sociedade mais justa e igualitária. Ao
passo que, para o campo da Ciência Política a participação popular modificou a forma
como enxergar a compreensão sobre os fenômenos sociais e políticos, a participação
no campo da Comunicação também rendeu e ainda gera pesquisas sob quais os efeitos
dessa participação.
Vimos que o conceito de participação popular foi assimilado pelos meios de
comunicação no Brasil, a partir das organizações da sociedade civil, com suas
11
experiências de comunicação na busca pela cidadania, e que a partir da década de
1990 a mídia privada se apropriou da participação de seu público como meio para se
sustentar num ambiente desfavorável de crise financeira e de credibilidade nos
últimos 30 anos.
Com a consolidação dessas práticas pelos meios de comunicação vimos que o
objetivo principal não foi melhorar as condições de vida da população ou permitir
que os cidadãos tivessem voz ativa em arenas criadas pela mídia. Acreditamos que,
pelo contrário, essas práticas têm minado a possibilidade de geração de resultados
duradouros de caráter educativo, social e cultural em benefício para a sociedade.
O que se vê é o uso dos cidadãos nos diversos veículos de comunicação para
perpetuar discursos adversários contra o poder público, esvaziando o contexto real no
qual se dão os problemas nas comunidades, fazendo da participação do público
apenas um formato para atrair mais audiência e garantir mais recursos financeiros,
além de manter a opinião pública domesticada dentro de uma visão editorial de
caráter duvidoso.
Referências
AVELAR, Lúcia. Participação Política. In: Sistema Político Brasileiro: uma
introdução. Orgs. Lúcia Avelar & Antônio Octávio Cintra. Rio de Janeiro: Fundação
Konrad-Adenauer-Stiftung; São Paulo: Fundação Unesp Ed., 2004.
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Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
COGO, Denise Maria. No Ar...uma rádio comunitária. São Paulo. Paulinas, 1998.
Coleção Comunicação e Estudos.
12
Del Bianco, Sônia Virgínia Moreira. Rio de Janeiro: EdUERJ; Brasília, DF: UnB,
1999 .
LIMA, Venício A. de. Mídia: Teoria e Politica. São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2001.
13
Quem é o editor de mídias sociais? Uma revisão de literatura
Marina Simon1
Resumo: O artigo faz uma revisão bibliográfica das pesquisas sobre a criação do
novo cargo de editor de mídias sociais em redação de jornal. Apresentamos os
resultados desses estudos e identificamos tendências e metodologias utilizadas nas
pesquisas. Na literatura revisada, a atuação desse novo profissional nas mídias sociais
estaria alterando principalmente a relação do jornalista com o público. Porém,
concluímos que ainda faltam estudos aprofundados sobre a identidade do novo cargo,
que poderiam apontar se esse profissional representa, concretamente, um novo perfil
profissional do jornalista.
Em maio de 2009, de forma pioneira, o jornal The New York Times (NYT)
criava um novo cargo batizado de editor de mídias sociais. Na época, o veículo norte-
americano contratou para o posto a jornalista Jennifer Preston 2, que acumulava 20
anos de casa como repórter.
No mesmo ano, a Sky News e a BBC também criavam a nova função nas
respectivas redações (ALEJANDRO, 2010). Na sequência, diversos outros veículos,
no Brasil e no mundo, incorporaram o novo cargo, entre eles Daily News, The
3 Reportagem de 2010 (VASCONCELOS, 2010) trazia detalhes da nova função e do currículo da jornalista Nívea
Carvalho, que assumiu a nova editoria na época. Hoje o editor é Sergio Maggi. Disponível em
http://oglobo.globo.com/expediente. Acesso em: 28 maio 2015.
4 CARVALHO, L.; LOPES, C. Editores de redes sociais falam sobre estratégias para fisgar o leitor na
web. Portal Imprensa. 25 jul. 2014. Disponível em: http://bit.ly/1uDFqGg. Acesso em: 20 mar. 2015.
5 Disponível em http://www.huffingtonpost.com/ethan-klapper/ Acesso em: 28 maio 2015.
6 Disponível em http://www.lemonde.fr/journaliste/michael-Szadkowski. Acesso em: 28 maio 2015.
7 Disponível em https://www.linkedin.com/in/santoscristiano. Acesso em: 28 maio 2015.
3) filtrar temas populares e pertinentes que estão sendo discutidos pelo público
em sites como Facebook e Twitter e, assim, sugerir possíveis pautas para as editorias
do jornal;
5) pensar e desenvolver novas estratégias que poderão ser usadas nas mídias
sociais.
13 No original: “Overall, there is a lack of data – including an absence of academic studies – regarding
the nature of these positions in news organizations. The jobs themselves are new creations but are rapidly
becoming mainstream (CURRIE, 2012, p. 3)”.
Em ”Social media editors in the newsroom: A survey of roles and functions”
(2012), Currie entrevistou 13 editores de mídias sociais que trabalham nas redações
dos principais jornais do Canadá anglófono. Além de concluir que o papel de
gatekeeper não se sustenta mais na nova função, o autor afirma que o editor de mídias
sociais também não exerce outra atividade básica do jornalismo que é a produção de
notícia.
Esses profissionais declararam que seu principal objetivo é o de “servir à
audiência” (escutar, interagir, responder), empoderando o público para participar da
produção de notícias e até mesmo a pautar os veículos. Segundo Currie (2012, p. 2):
14 No original: “But social media editors are usually more focused on building audience interaction
through a news organization’s online comments section, and its presence in social networks such as Twitter
and Facebook (CURRIE, 2012, p.4)”.
15 No orginal: “These editors describe themselves in media interviews as part listener, teacher, cheerleader
and collaborator, helping bring « eyeballs and traffic » to news sites […]. The result is a weakening of news
organizations’ system of editorial control and, consequently, their traditional gatekeeping function (CURRIE,
2012, p.2)”.
Outra observação resultante das entrevistas é que a maior parte do tempo
desses profissionais é absorvida por atividades tais como criar novas estratégias de
atuação nas mídias sociais (do que propriamente executá-las) e ajudar os pares a
operarem nesses ambientes, realizando uma espécie de “treinamento” dos colegas.
Para Currie, divididos entre o dever de servir à audiência e de servir ao jornalismo
tradicional, o desafio de uma futura pesquisa será verificar como esses profissionais
resolvem concretamente esse dilema em seu dia a dia profissional.
Também à luz da teoria do gatekeeping, em sua tese de doutorado “The role of
social media editors in television newsrooms: an exploratory study”, Devito (2014)
analisa como o editor de mídias sociais define o seu papel numa redação de televisão.
Por meio de entrevistas em profundidade, a autora entrevistou 23 editores de
mídias sociais de redações de televisão nos Estados Unidos, espalhados em 20 cidades
daquele país. Da mesma forma que Currie (2012), Devito (2014) também conclui que
a tradicional função de gatekeeper é abandonada nessa nova função. Esses
profissionais estariam mais possivelmente numa posição de dividir com a audiência o
papel de gatekeeper. Nesse sentido, a exemplo das conclusões de Currie (2012),
Devito (2014) constata que o editor estaria dividido entre servir a audiência e servir os
pressupostos do jornalismo tradicional, representado por seus pares de redação. Além
disso, como apontado no artigo anterior, todos os editores de mídias sociais tinham
formação em jornalismo.
Devito (2014) levanta, ainda, uma discussão sobre como é feita a seleção do
conteúdo que alimenta as mídias sociais. E aqui a conclusão é que este conteúdo não é
necessariamente as notícias mais quentes do dia e muito menos as factuais, mas sim
as que têm maior repercussão16 entre os internautas, muitas vezes conteúdos
desprovidos dos tradicionais valores-notícia.
A autora conclui que vídeos de amenidades (filhotes de gatos e cachorros, por
exemplo) atraem mais audiência e costumam criar uma boa imagem daquele canal de
televisão, seguindo uma lógica mais mercadológica do que propriamente jornalística.
Nessa linha de raciocínio, a autora defende ainda que os currículos das faculdades de
jornalismo deveriam se preocupar em ensinar aos alunos conteúdos programáticos
sobre quais posts fariam mais sucesso nas mídias sociais.
16 Nas mídias sociais, a repercussão de uma matéria é medida pela quantidade de curtidas, comentários e
compartilhamentos que ela recebe.
No artigo “De leão de chácara a anfitrião: a criação do cargo de editor de
mídias sociais nas empresas de comunicação” (PALAZI; SCHMIDT; ZANOTTI,
2011), os autores realizaram entrevistas com os cinco primeiros jornalistas a
assumirem a função de editor de mídias sociais em jornais no Brasil. Aqui, a
preocupação também é analisar se o novo cargo representaria uma mudança de
paradigma no jornalismo.
Sem conclusão definitiva sobre o assunto, até pelo seu caráter novo e
experimental à época, Palazi, Schmidt e Zanotti concluíram que a atividade do editor
conseguiu aumentar o contato entre o jornalista e o público, mas que ainda não era
possível concluir se o jornalista tornou-se efetivamente um “anfitrião” do público. A
mudança na relação jornalista/público sinalizaria para a transformação do atual
cenário:
Eles afirmam que a criação do novo cargo sinalizaria para uma mudança de
postura do tradicional jornalista gatekeeper, que se tornaria então o que eles
denominam de “gatewatcher”, ou seja:
Referências bibliográficas
MULLER , C.A. A crise estrutural dos jornais e o surgimento das mídias digitais.
Impactos sobre a produção jornalística. In: PEREIRA, F.H; MOURA, D.O.;
ADHIRNI, Z.L (orgs.). Jornalismo e Sociedade: teorias e metodologias. Florianópolis:
Editora Insular, 2012, p. 145-165.
ROSTON, M. Don’t try too hard to please Twitter — and other lessons from The New
York Times’ social media desk. NiemanLab. 22 jan. 2015. Disponível em:
http://www.niemanlab.org/2015/01/dont-try-too-hard-to-please-twitter-and-other-
lessons-from-the-new-york-times-social-media-desk/. Acesso em: 27 maio 2015.
SOMAIYA, R. Facebook muda a forma como seus usuários consomem
jornalismo. Observatório da Imprensa, 4 nov. 2014. Reproduzido do New York Times,
26/10/2014, tradução de Celestino Vivian. Acesso em: 2 abril 2015.
WASIKE, B. Framing news in 140 Characters: How social media editors frame the
news and interact with audiences via Twitter. Global Media Journal – Canadian
Edition. Volume 6, Issue 1, p. 5-23, 2013.
WITKIN, K. Social media editor role isn’t dying; it’s expanding. World News
Publishing Focus, 17 jun. 2013. Disponível em: http://bit.ly/1bQ0knW. Acesso em: 2
set. 2013.
Narrativa e Interatividade: discussões sobre a transmissão de informações na nova
perspectiva da TV Digital1
5
Middleware é um software base, que se posiciona entre o hardware e as diferentes aplicações que rodam em
determinada máquina. No caso do Ginga, ele nasceu vocacionado para lidar com interatividade, e sua parte principal
(Ginga-NCL) foi escrita em código-fonte aberto. Ao longo dos anos, o Ginga se tornou um padrão da Associação
Nacional de Normas Técnicas (ABNT) e da União Internacional de Telecomunicações (UIT).
com seu público. Desse modo, iremos expor também, as diferenças entre a interação que
acontece na TV e a promovida pela comunicação em rede.
7
Primo (2003) explica que o termo interação mútua deve ser compreendido em contraste com a interação reativa. A
palavra mútua foi escolhida, não como um pleonasmo, mas para salientar as modificações recíprocas dos interagentes
durante o processo. Ao interagirem, um modifica o outro. Cada comportamento na interação é construído com base
nas ações anteriores.
Sobre a diferença entre a interação ocorrida na televisão e na internet, temos
Pierre Lévy (1999, p. 92) que define ciberespaço como “o espaço de comunicação
aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos
computadores”. Santaella (2010) nos diz que é possível entender o ciberespaço como
um espaço de interação, cujo acesso se dá por meio de interfaces dos mais diversos tipos
que permitem navegar à vontade pela informação midiática e reenviá-la para quem quer
que seja, de qualquer e para qualquer lugar do planeta.
De acordo com a própria definição, podemos dizer que na internet pode
ocorrer interatividade entre as pessoas, como em nenhum outro meio de comunicação.
Isso porque, na internet, acontece troca efetiva entre emissor e receptor e, diferente da
narrativa televisiva, por exemplo, o discurso em rede não é estruturado de forma
sequencial. O ciberespaço é composto pelo hipertexto 8, que disponibiliza ao internauta
diversas possibilidades de recursos na leitura, por meio de cliques.
As informações na internet não obedecem a uma programação, com horário
de exibição e duração definidas. O usuário é livre para ordenar de modo particular o seu
processo de aquisição de conhecimentos através do uso de hiperlinks9, além de alterar
textos, imagens, músicas, vídeos, postar comentários, produzir e publicar seu próprio
conteúdo.
Outra característica da internet é sua multimidialidade, ou seja, a integração
de várias mídias na elaboração e veiculação de informações. Partindo da perspectiva das
próprias capacidades sensoriais do ser humano, Castells (1999) diz que multimídia foi o
nome dado ao novo sistema caracterizado pela integração de diferentes veículos de
comunicação e seu potencial interativo. Desse modo, esse novo sistema estende o
âmbito de comunicação eletrônica para todo o domínio da vida.
O internauta não está sujeito só à recepção e o ciberespaço é hoje um espaço
público, por excelência, para a divulgação de opiniões e ideias. Um espaço vasto para
troca de mensagens que podem ser emitidas pelas mais variadas plataformas, de emails,
fóruns de discussões, chats ou bate-papo, páginas pessoais, redes sociais, conferências e
etc. A rede mundial de computadores promove interação, a edificação do pensamento
do internauta, a transmissão de informações, conversação com pessoas em diversos
lugares do mundo, além da gravação de conteúdo que for de interesse particular. A
8
Hipertexto, na internet, é um documento que contém textos, comumente conhecido como “página”. Os hipertextos
podem se ligar a outros hipertextos através de hiperlinks ou links.
9
Hiperlink, ou simplesmente link, permite acesso entre diversos endereços eletrônicos. Pode estar representando por
palavras, expressões ou ícones. Ao clicar em um hiperlink, o usuário será encaminhado para outra “seção” da página
ou para outro endereço eletrônico.
comunicação no ciberespaço promove o acesso a lugares remotos em questão de
segundos, reduzindo distâncias a ponto de torná-las insignificantes.
A experiência proporcionada pelo espaço virtual da rede, em que o
individuo é concomitantemente emissor e receptor, aproxima-se da realidade que se
quer estabelecer com a transformação técnica dos sistemas de televisão, na tentativa de
abreviar as distâncias que existem entre quem faz e quem assiste televisão, tornando
essas funções intercambiáveis.
Considerando as diferenças entre os tipos de interação que podem ocorrer na
TV e na internet, trataremos a seguir da proposta de interação com a TV através de
outros meios, ilustrados a partir da convergência de mídias, dentro da perspectiva da
digitalização.
Considerações Finais
Referências
BARBOSA, Marialva. Televisão, narrativa e restos do passado. Revista da
Associacã̧ o dos Programas de Pós-graduacã̧ o em Comunicacã̧ o. Compós, 2007
MACHADO, Arlindo. A Televisão Levada a Sério. São Paulo: Editora Senac, 2000.
PROULX, Mike; SHEPATIN, Stacey. Social TV – How marketers can reach and
engage audiences by connecting television to the web, social media, and mobile, New
Jersey: John Wiley & Sons Inc, 2012.
Introdução
“Usar a tecnologia é tão natural quanto respirar”. Essa afirmação do pesquisador Dan
Tapscott (1999, p. 38) se refere ao envolvimento das crianças com as tecnologias,
principalmente o computador e a Internet, já que elas nascem nesse ambiente digital. Embora
possam ser perceptíveis os usos dessas mídias pelo público infantil, é fundamental
compreender como se desenvolvem as relações socioculturais nesse meio que se propõe
interativo e convergente (CASTELLS, 2002; JENKINS, 2009).
Ao pensar na apropriação desse meio pelas crianças, os espaços e as ferramentas
disponíveis na mídia digital seriam um canal propulsor de diálogo e expressividade, além de
possibilitar a produção e a recepção de conteúdos feitos para crianças e também por crianças.
1
Discente de Doutorado em Comunicação do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Estadual
Paulista (Unesp). Professora dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas da Universidade Sagrado Coração, em Bauru
(SP). E-mail: mayraunesp@yahoo.com.br
1
Ao pensar nessa dinâmica comunicativa desse ecossistema comunicativo 2, é papel da
AAcademia investigar as potencialidades dessa mídia digital voltada a um segmento de
público que estabelece uma relação natural com o meio, ao mesmo tempo em que se
desenvolve como cidadão ativo e crítico.
A partir dessa perspectiva, é possível fomentar questões sobre os usos e as
significações dessa mídia para as crianças e como tais apropriações podem representar um
exercício participativo, nos moldes da Comunicação Participativa, proposta pelo pesquisador
latino-americano Mario Kaplún. Pretende-se, assim, neste estudo, provocar uma reflexão
sobre a participação das crianças3 a partir de ferramentas digitais que possam valorizar a
expressividade, a opinião e a criticidade infantis.
Tendo em vista o direito garantido na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos
da Criança (ONU, 1989), no que se refere ao acesso a informações e à liberdade de
expressão4, é necessário valorizar a livre-expressão das crianças para que elas possam se
manifestar em qualquer meio e da forma que julgarem condizente com seus interesses. Nesse
sentido, os veículos de comunicação, tanto impressos quanto digitais, tornam-se também
meios nos quais deveria haver espaços disponíveis para essa livre manifestação infantil, não
focando apenas em produtos voltados ao entretenimento infantil, mas em formatos e
linguagem que possibilitem a participação de crianças para debater questões pertinentes ao dia
a dia escolar, familiar e social.
A elaboração, produção e veiculação de produtos nos diferentes suportes de mídia,
principalmente na Internet, que considerem esses aspectos é de suma relevância, uma vez que
o público infantil estabelece um contato, quase genuíno, com a mídia digital: “a tecnologia foi
completamente transparente para a Geração Internet 5” (TAPSCOTT, 2010, p. 30). Diante
2
Segundo Barbero (2009, p. 159), “quando falamos de tecnologia estamos nomeando uma mediação simbólica, cada vez mais
estamos falando de um 'ecossistema' comunicativo, falamos do conceito de 'entorno' [...]Agora vivemos também em um
entorno “comunicativo”, esse entorno técnico-comunicativo com suas linguagens, escrituras e gramáticas novas”.
3
Nesta pesquisa, considera-se criança os indivíduos até os 12 anos de idade incompletos, conforme definição do Estatuto da
Criança e do Adolescente (BRASIL, 1991).
4
“A criança tem direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de procurar, receber e partilhar
informações e ideias de toda a espécie, sem considerações de fronteiras, sob forma oral, escrita, impressa ou artística ou por
qualquer outro meio à escolha da criança” (ONU, 1989, artigo 13).
5
Geração Internet é o termo utilizado por Tapscott (1999, 2010) para se referir às crianças e aos jovens que, em 1999, tinham
entre 2 e 22 anos de idade, considerando que a maioria deles tinha uma familiaridade singular com a Internet para realização
de diversas atividades, do universo escolar ao mero entretenimento, perpassando as relações interpessoais pelo uso de
programas de mensagens instantâneas e atualmente pelas redes sociais digitais.
2
dessa relação natural das crianças e jovens com as tecnologias, a autonomia e a independência
são características dessa geração, que visa interagir com os conteúdos e com os demais
usuários.
Na defesa de uma cultura da participação na sociedade contemporânea, Clay Shirky
(2011) afirma que os jovens com acesso à mídia rápida e interativa se afastam de mídias de
mero consumo, como a televisão; eles passam a atuar em prol do compartilhamento e de
trocas que favorecem a formação de comunidades, ao mesmo tempo consumidoras e
produtoras de conteúdo digital. Como a participação, segundo o autor, é inerente à Internet,
incentivar ações participativas é fundamental para que se tenha uma mídia na qual seja
possível consumir, produzir e compartilhar de forma cada vez mais barata e universal.
Aliando essa cultura à cultura que se (re)constrói da infância, conectada à mídia
digital, Tapscott (2010) destaca que há urgência em reconhecer as crianças como atores
sociais, espertos, rápidos e tolerantes, em busca de transformações, já que veem o mundo do
trabalho e escolar de modo colaborativo, querem ser prosumidores (dialogando com os
mercados e marcas) – como nos coloca Toffler (1980) – e voltam-se para um ativismo social.
3
latino-americano para promover uma Comunicação Participativa e inserir as crianças da
geração digital em um exercício de interação e protagonismo por meio de um cassete-fórum
em um ambiente digital.
O autor acredita que essa troca possibilita a autovalorização dos grupos, uma vez que
reconhecem a importância de suas mensagens e opiniões. Kaplún (1984) ressalta ainda que
esse sentimento de pertença e participação faz com que haja uma intervenção, visto que,
segundo ele, sem participação não há desenvolvimento porque, por meio dela, os indivíduos
4
assumem seu papel de protagonistas e criam as soluções para os próprios problemas. Diante
das demandas dos “emirecs” é que se consolida a Comunicação Participativa, a qual tem
como um dos métodos o cassete-fórum, desenvolvido por Kaplún, nos anos 70, com
populares rurais na América Latina, especialmente no Uruguai, a fim de promover um
intercâmbio de necessidades e interesses da população rural.
Essa metodologia tinha como proposta uma organização dos grupos, de acordo com as
etapas a seguir: 1) interlocutores de uma Rádio Popular propunham um tema gerador para
discussão, considerando questões pertinentes à realidade rural; 2) as fitas com a gravação
problematizadora do tema eram encaminhadas para diferentes grupos que se reuniam para
debater o assunto e realizar uma nova gravação com as conclusões dos membros; 3) essas
novas gravações eram encaminhadas aos interlocutores centrais que escutavam todo o
material; 4) era elaborado um cassete coletivo para enviá-lo aos grupos de origem, contendo
os pontos convergentes e divergentes sobre a questão em debate; e, 5) por fim, cada grupo
ouvia o novo cassete, refletia sobre as conclusões dos demais grupos e, assim, fomenta-se um
exercício de troca comunicativa e cidadã, já que era possível pensar em ações coletivas que
atendessem à realidade local.
6
Na perspectiva da sociologia, os atores sociais são pessoas, grupos ou organizações que possuem “a capacidade de buscar
mecanismos próprios para alcançar objetivos, acumulando força, gerando e mudando estratégias para converter-se num
centro criativo de acumulação de poder. Isto compreende o ator social como um ser atuante na sociedade” (MATUS, 1996
apud BOTELHO-FRANCISCO, 2014, p. 15-16).
5
Na defesa da participação das crianças na mídia, em especial na Internet, o método
cassete-fórum pode ser um instrumento dialógico, uma vez que as ferramentas de
interatividade, tais como comentários e fóruns em sites, blogs e redes sociais digitais, ao
serem apropriadas pelo público infantil, podem se tornar espaços de democratizar a
participação, a autoexpressão e a troca de experiências.
De modo experimental, adaptando esse método para as mídias digitais, o uso das redes
sociais digitais7, já familiares às crianças, seria o mais adequado para fomentar o diálogo entre
elas a fim de discutir os produtos de mídia digital com os quais têm contato e temáticas que as
interessam, como conteúdos escolares e questões sociais como política, saúde, entre outros.
Devido à necessidade do acesso, da apropriação e do domínio dessas redes, seria necessário
realizar atividades de educação para a mídia8 para que grupos de crianças, compostos por
atores de diferentes classes sociais e nível de instrução, pudessem ser representados nesse
ecossistema comunicativo, contribuindo para a democratização da participação infantil.
Retomando a dinâmica organizacional do método, o o quadro 1 sintetiza e compara a
adaptação das etapas, considerando as ações propositivas no ambiente digital e as expectativas
a respeito desse modelo participativo adaptado:
7
A pesquisa TIC Kids Online Brasil 2012 (CGI, 2013), realizada com 1.580 crianças e jovens de 9 a 16 anos, revela que
82% dos pesquisados usam a Internet para atividades escolares; 68% para rede social; 66% para assistir a vídeos online; 54%
para jogos online e envio de mensagens instantâneas. Outra pesquisa realizada com 1.984 crianças de 6 a 9 anos aponta que
as redes sociais configuram como uso majoritário para 31,4% dos participantes do estudo (JUNQUEIRA; PASSARELLI,
2012). Cabe ressaltar que o cadastro em redes sociais digitais, como o Facebook, apresenta um limite de idade que no caso é
de 13 anos. Para a aplicabilidade deste estudo, será preciso analisar a viabilidade de alguma rede ou desenvolver alguma
ferramenta participativa, como já experimentamos em Ferreira (2009) com o “Espaço Criança”.
8
Segundo Belloni (2005, p. 12), as atividades de educação para a mídia “dizem respeito à formação do usuário ativo, crítico e
criativo de todas as tecnologias de informação e comunicação”.
9
Postman (1999) afirma que as crianças dessa faixa etária são capazes de falar e refletir sobre os efeitos de uma vida adulta
precoce de um modo direto e econômico, sem serem estimulados a usar a linguagem para mascarar sentimentos.
6
GRUPO GERADOR Rádio popular Grupo de crianças que têm perfil
mais ativo em redes sociais10
TEMA GERADOR Assunto relevante às Questão eleita pelo grupo
comunidades rurais
gerador como mais recorrente
entre as publicações e as
manifestações infantis nas redes
sociais digitais
DISCUSSÕES Comunidades debatiam e Crianças estabelecem interações
gravavam uma mensagem por meio de trocas de
sintetizadora das conclusões do mensagens, comentários e
grupo compartilhamentos de
mensagens
NOVO TEMA GERADOR A gravação retornava à Rádio Grupo gerador observa e
Popular que reunia as discussões sintetiza as interações e formula
e produzia uma nova mensagem nova questão para o debate
com as reflexões coletivas
AVALIAÇÕES Os grupos tinham acesso à A ação em rede desses grupos
gravação coletiva e conheciam a
demonstra como as crianças
opinião de seus pares sobre o
mesmo assunto participam da mídia e quais
assuntos sociais são mais
próprios a sua realidade e
potencial de intervenção
RESULTADOS Os grupos se sentiam Crianças garantem um espaço de
valorizados porque podiam se expressividade na mídia e
expressar livremente, além de utilizam as redes sociais digitais
ter acesso às informações e como instrumento de diálogo
discussões de outros grupos reflexivo e transformador da
realidade, reconhecendo-se,
assim, como atores sociais
Fonte: elaborada pelo autora
7
dialogando sobre temas que são pertinentes ao universo infantil e sobre os quais julgamos ser
pertinente o adulto reconhecer, de modo a valorizar a atuação dos integrantes dessa geração
como protagonistas sociais.
8
comunicação para a infância visa garantir o respeito aos direitos das crianças e preservar um
ambiente de liberdade de expressão. É preciso garantir oportunidades:
Nesse sentido, retomando o papel ativo das crianças frente à mídia digital, seus
direitos à comunicação e à liberdade de expressão necessitam ser assegurados não pela livre
utilização das ferramentas digitais, mas por espaços de mídia que reconheçam essa
expressividade e deem valor a ela. Se os produtores de mídia reconhecem as crianças
enquanto público-alvo de consumo, também precisam entender que essa nova geração é
crítica, cidadã e tem potencial para intervir no produto midiático e também na sociedade.
Ao valorizar o público infantil e a atuação social das crianças, os produtores de mídia
digital para a infância estariam promovendo uma cultura de participação cidadã, de modo a
levantar temas condizentes com o cotidiano infantil para um “consumo” mais consciente e
para um compartilhamento que esteja além de interesses individuais e de mercado, mas
conectados, literalmente, com os anseios, os usos, as apropriações e as significações dos
conteúdos sociais dadas pelas próprias crianças.
Desse modo, o empoderamento infantil diante da mídia digital demonstra que esse
ecossistema comunicativo carece de reformulações a fim de se conectar com essa geração, ou
seja, há necessidade de rever formatos, linguagens, conteúdos e até mesmo agentes produtores
9
para que haja mais espaços interativos e participativos para as crianças. Aliado a isso, esse
empoderamento não deve se limitar ao acesso aos conteúdos e ao uso das ferramentas, deve-
se possibilitar
que as crianças sejam capazes de fazer o que sabem fazer melhor. Nesse
ponto de vista não é suficiente que os adultos deixem seus pequenos
prosseguirem, mas demanda que ouçam, respondam com atenção dando
retorno das atividades criativas ou outras formas de atividades, encorajando
a reflexão crítica, levando sua participação a sério (LIVINGSTONE, 2011,
p. 36-37) .
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10
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11
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TAPSCOTT, Dan. A hora da geração digital: como os jovens que cresceram usando a
internet estão mudando tudo, das empresas aos governos. Tradução de Marcello Lino. Rio de
Janeiro: Agir Negócios, 2010.
12
TOFFLER, Alvin. A terceira onda. Tradução de João Távora. 16. ed. Rio de Janeiro:
Record, 1980.
13
Un acercamiento a las condiciones para el desarrollo de la televisión comunitaria de los
movimientos sociales en Uruguay.
Introducción
1
Lic. en Ciencias de la Comunicación y Maestrando en Información y Comunicación por la Universidad de la República (Udelar),
Uruguay. Docente del Servicio Central de Extensión y Actividades en el Medio (Udelar), integra el Grupo de Investigación
Alternativas Mediáticas. Posgrado: Maestría en Información y Comunicación, Universidad de la República (Uruguay).
destacado en la esfera pública, en los distintos medios de comunicación. Más aún, su imagen es
construida a través de la mirada y voz que otros ponen en común y muy pocas veces por sí mismos.
En este sentido es que la posibilidad de que los sectores populares tengan sus propios medios
masivos de comunicación, en este caso una señal de televisión abierta, toma un gran valor,
favoreciendo la difusión y comunicación de nuevas voces y rostros que desentonen con el discurso
hegemónico.
En este sentido, en octubre de 2013 el gobierno otorgó la autorización para brindar el
servicio de televisión comunitaria a través de una señal abierta de Televisión Digital Terrestre a la
única organización sindical que nuclea a todos los sindicatos del país, el Plenario Intersindical de
Trabajadores – Convención Nacional de Trabajadores, PIT-CNT; esta decisión fue el resultado de la
realización de un llamado abierto a interesados. Esto podría constituirse en un paso muy importante
hacia la democratización de la comunicación y los medios, y en particular para los movimientos
sociales, pensando en el papel que juega hoy la televisión en nuestra sociedad, como medio de
producción simbólica que influye en las culturas y subjetividades.
En este contexto, toma relevancia estudiar los intentos de generar una comunicación masiva
propia de los sectores populares y las políticas que la enmarcan. Por ello, a través de un enfoque
cualitativo, la investigación en curso analiza las condiciones existentes para el desarrollo de
televisión comunitaria de movimientos y organizaciones sociales en Uruguay. Se abordan las
condiciones propias de los movimientos (organizativas, técnicas, profesionales, políticas,
económicas, etcétera), así como las condicionantes del contexto (políticas, económicas,
reglamentarias, entre otras posibles), buscando responder sobre las posibilidades de generar
televisión comunitaria desde estos actores sociales. Revisando bibliografía y antecedentes,
siguiendo proyectos en marcha, analizando políticas, discursos de los actores y contextos, se busca
aportar a los movimientos sociales y a las políticas públicas de comunicación.
Dado que el proceso del trabajo de campo está en pleno desarrollo, no compartiremos aquí
conclusiones categóricas al respecto. Sí en cambio, realizaremos un primer acercamiento al tema y
problema de investigación, así como a algunas reflexiones primarias que en el camino se vienen
construyendo.
Para iniciar este recorrido es necesario compartir algunos de los conceptos que enmarcan,
fundamentan y guían este trabajo, que ayudan a reflejar el rol de los medios masivos, y la televisión
en particular, en la sociedad capitalista hoy.
En primer lugar vale incorporar el planteo gramsciano que recupera Raymond Williams
(1980) sobre el concepto de hegemonía, sumando elementos como dominación y cultura. Gramsci
(1970) para hablar de dominación diferencia dos vías para alcanzarla, la hegemonía y el dominio. El
dominio “se expresa en formas directamente políticas y en tiempos de crisis por medio de una
coerción directa o efectiva” (WILLIAMS, 1980, p. 129), al tiempo que la hegemonía es un
complejo entrelazamiento de fuerzas políticas, sociales y culturales, o “las fuerzas activas sociales y
culturales que constituyen sus elementos necesarios” (WILLIAMS, 1980, p. 129).
Esta idea de hegemonía incluye los conceptos de cultura, entendida como "proceso social
total", e ideología, como "un sistema de significados y valores que constituye la expresión o
proyección de un particular interés de clase" (WILLIAMS, 1980, p. 129). De esta manera el
concepto de hegemonía se diferencia de el de cultura por relacionar a esta la distribución de poder,
introduciendo así también las ideas de dominación y subordinación. Del mismo modo el término va
más allá de el de ideología, y aquí radica su valor. La hegemonía establece que más allá del sistema
de valores y creencias, toda sociedad bajo la dominación de un sector o clase social, vive, se
desarrolla y organiza a partir de las significaciones, creencias y valores de esa clase dominante.
Por otra parte, recuperamos el concepto de poder simbólico desarrollado por John
Thompson (1998), quien, siguiendo a Michell Mann, propone la caracterización de cuatro
dimensiones principales del poder: poder económico, poder político, poder coercitivo y poder
simbólico. Para Thompson, estos distintos tipos de poder se vinculan a los medios de comunicación.
Los medios aparecen como herramientas para el ejercicio, promoción y defensa de poder, y de allí
que podamos ubicarlos como instituciones paradigmáticas, es decir, "plataformas privilegiadas para
el ejercicio de ciertas formas de poder" (THOMPSON, 1998, p. 30).
El poder simbólico, término prestado pero diferenciado del uso que le da Pierre Bourdieu, es
la "capacidad de intervenir en el transcurso de los acontecimientos, para influir en las acciones de
los otros y crear acontecimientos reales, a través de los medios de producción y transmisión de las
formas simbólicas" (THOMPSON, 1998, p. 34). Así, los medios tienen herramientas para incidir y
ser actores privilegiados en cuanto a la dimensión simbólica del poder como medios reproductores
de sentidos, imágenes y sonidos, que a través de la pantalla se transforman en medios de
legitimación y renovación de la hegemonía capitalista, o alternativa que busca construir otro tipo de
relaciones sociales.
Estos conceptos y apuntes ayudan a visualizar la importancia que puede tener para sectores
de la clase trabajadora, como el movimiento sindical uruguayo, la propiedad de un medio masivo
como lo es una señal de televisión digital abierta en la disputa de sentidos; y también el enorme
poder que los medios comerciales y el estado ostentan.
Con un sistema televisivo concentrado y una débil propuesta por parte del canal estatal, en
2005 llegó al gobierno el partido Frente Amplio, quien en su programa abordaba las políticas de
comunicación como un asunto a considerar. De esta manera en el primer período liderado por
Tabaré Vázquez el gobierno definió iniciar el despliegue de la Televisión Digital Terrestre (TDT) y
promulgó la Ley de Radiodifusión Comunitaria del año 2007. A partir de dicha ley, que se centraba
en las radios, ya se incluía el posible desarrollo de la televisión comunitaria y definía la división del
espectro radioeléctrico -patrimonio de la humanidad- en tres franjas destinadas a medios
comerciales, públicos y comunitarios, respectivamente. Al mismo tiempo se establecía que el estado
debe garantizar y promover el servicio de radiodifusión comunitaria sin fines de lucro orientado a
satisfacer las necesidades de comunicación social y a habilitar el ejercicio del derecho a la
información y a la libertad de expresión.
Durante el período de José Mujica en la presidencia (2010-2015) continuó el avance en las
políticas de comunicación, a pesar de que en 2010 el mismo presidente Mujica expresó que “la
mejor ley de prensa es la que no existe”. En primer lugar rectificó la decisión tomada por el
gobierno anterior sobre la norma elegida para el desarrollo de la televisión digital (originalmente la
europea), adoptando definitivamente la norma japonesa-brasilera ISDB-T. En 2012 a través de un
decreto presidencial, sentó las bases para el despliegue de la televisión digital terrestre y la
realización de llamados públicos a las nuevas señales digitales y, retomando lo expuesto en la ley
de radiodifusión comunitaria, se incluyó también la oportunidad para el desarrollo de medios
audiovisuales “comunitarios o sin fines de lucro”. La normativa determina la asignación en
Montevideo de seis canales para el sector público (incluyendo uno para el canal estatal TNU y otro
para la señal municipal TV Ciudad), siete para el sector privado comercial (conservando las
adjudicaciones a los canales 4, 10 y 12), y siete para el sector comunitario. En el resto del país se
determina la asignación de tres canales para cada sector (público, comercial, comunitario) por
localidad.
En diciembre de 2014, y luego de tensas y extensas discusiones, el parlamento aprobó la
Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual, la cual regula de manera innovadora en varios
aspectos incorporando también lo ya expresado en decretos y leyes anteriores en relación al sector
comunitario y la televisión digital. Propone porcentajes importantes de contenidos nacionales, la
creación de fondos para la producción independiente, la defensa de la libertad de expresión, así
como derechos de los televidentes, límites a la propiedad de medios, espacio gratuito para campañas
de bien público y campaña electoral, entre muchos aspectos abordados. De todas formas, esta
importante ley, aún espera la reglamentación del Poder Ejecutivo y la resolución de recursos de
inconstitucionalidad iniciados por partidos políticos opositores y gremiales mediáticas.
En 2013 se realizaron los primeros llamados para adjudicar las nuevas señales de televisión
digital a los sectores comercial, público y comunitario. El gobierno determinó como resultado de
este proceso, en un comentado y discutido fallo, autorizar en Montevideo y zona metropolitana dos
nuevas señales abiertas comerciales (Grupo Giro, conformado por el periódico La Diaria y la
cooperativa audiovisual Demos y los propietarios de la señal para abonados VTV), que aún no están
al aire. Al mismo tiempo, a través de decretos presidenciales y desoyendo críticas de varios
sectores, adjudicó automáticamente las licencias a los canales comerciales actuales (canales 4, 10 y
12), otorgándoles la autorización para una señal digital, sin concurso, audiencia pública, ni
exigencia de proyecto comunicacional como correspondía.
El llamado a interesados a brindar servicios de radiodifusión comunitaria de televisión
digital recibió tres propuestas: la Asociación Comunicación Social Empresarial, asociación sin fines
de lucro creada por las cámaras empresariales de Uruguay, el Canal Cristiano, que no se consideró
por no ser una asociación civil y ser presentada fuera de plazo, y finalmente, el proyecto del
movimiento sindical a través del PIT-CNT. El proceso implicó la presentación de las propuestas
comunicacionales, su sostenibilidad financiera y las características técnicas del emprendimiento, así
como una audiencia pública y abierta donde cada una de las propuestas defendió su iniciativa. La
decisión fue tomada por el Poder Ejecutivo, considerando la recomendación de la Dirección
Nacional de Telecomunicaciones y Servicios de Comunicación Audiovisual (Dinatel), la cual
integraba los comentarios de la Comisión Honoraria Asesora de Radiodifusión Comunitaria
(Charc), integrada por delegados de medios comunitarios, organizaciones sociales, la Universidad
de la República y universidades privadas. El resultado en octubre de 2013 fue la adjudicación al
PIT-CNT de una señal digital para brindar el servicio de televisión comunitaria.
Otra iniciativa dentro de las políticas a analizar, es la adjudicación por parte del gobierno al
Ministerio de Educación y Cultura (MEC) de una señal de televisión digital comunitaria, que
eventualmente podría dar espacio a producciones de organizaciones sociales. En particular, se le
concedió un canal para utilizar en la “modalidad de uso compartido”, lo que habilita al Ministerio a
gestionar la señal cediendo espacios para que distintas propuestas comunitarias compartan un
mismo canal. Hasta el momento el MEC no ha desarrollado ninguna iniciativa al respecto, siendo
esto una oportunidad, aunque dependiente del estado, para que distintas organizaciones puedan
difundir su producción audiovisual.
Otra iniciativa menor, pero interesante para el desarrollo de la televisión comunitaria, fue la
convocatoria a propuestas de producción de contenidos audiovisuales de carácter comunitario
realizada en el año 2014 por parte de la Dinatel. El llamado contribuía económicamente con la
producción de aquellos productos que resulten seleccionados con unos diez mil dólares y un fondo
total de unos treinta mil dólares para los proyectos seleccionados. Esta iniciativa contó con una sola
propuesta presentada, lo que marca también la falta de desarrollo del sector. El Proyecto Árbol con
su programa “Hacé y mostrá televisión comunitaria”, fue quien consiguió el respaldo económico.
Árbol es un colectivo que desde el año 2003 viene trabajando contenidos audiovisuales de manera
participativa y sus contenidos tienen difusión en el canal municipal TV Ciudad.
En octubre de 2014 el Poder Ejecutivo prorrogó los plazos establecidos para que comiencen
a transmitir las nuevas señales digitales adjudicadas dado que aún no estaban en condiciones de
iniciar sus transmisiones. Al momento de escribir este artículo, mayo de 2015, tanto las nuevas
propuestas comerciales como la comunitaria, no han iniciado ni anunciado su lanzamiento efectivo,
y cuentan como plazo máximo, octubre de 2015. En este contexto, la televisión digital terrestre y la
nueva legislación implican una oportunidad para pensar en un posible nuevo escenario de la
televisión, que por ahora no es tal.
Reflexiones preliminares
Como mencionamos en la introducción, y queremos remarcar ahora, este trabajo es un
primer acercamiento al tema que nos convoca. Por ello lo aquí presentado no son diagnósticos y
análisis cerrados, sino parte de un proceso que necesariamente tendrá nuevos elementos que
alimentarán nuestra reflexión. Sin perjuicio de esto, a continuación compartiremos algunas
reflexiones.
En primer lugar, no es en vano señalar nuevamente que es central el rol del estado para
regular el sistema mediático y, en este caso en particular, ser garante de un sistema de televisión
inclusivo y diverso, que dé posibilidades reales de reconocimiento de la amalgama cultural, social y
política de Uruguay, y más allá. Por ello, es un avance el reconocimiento del sector comunitario en
la legislación sobre televisión digital que posibilita que movimientos y organizaciones sociales
desarrollen sus propios medios.
Sin embargo, al mismo tiempo, el llamado a proyectos de televisión digital comunitaria
parece presentar obstáculos en las condiciones exigidas para las organizaciones interesadas,
considerando el casi inexistente desarrollo previo en la televisión comunitaria; incluyendo
exigencias que no se le plantearon a los actuales canales comerciales. Entonces, por un lado se
reconoce la importancia del desarrollo de medios comunitarios, pero en las políticas impulsadas
parece desconocerse la extremada debilidad del sector al no generar algunas iniciativas de mayor
apoyo en esta etapa embrionaria.
De parte de las organizaciones sociales, también han existido postergaciones y falta de
priorización del tema. Sin obviar los costos económicos y la complejidad de emprender este
proyecto, parece que el sentido de tener una señal de televisión abierta, un medio masivo de
comunicación, no ha logrado calar hondo en los principales responsables del movimiento sindical,
quienes ya cuentan con la licencia correspondiente.
Como un primer acercamiento al tema, parece evidente que los movimientos y
organizaciones sociales no cuentan hoy con las condiciones para desarrollar una señal alternativa de
televisión comunitaria. Las políticas quedan a mitad de camino, legitimando y legalizando, pero sin
impulsar en la medida necesaria. Los sectores organizados aceptan la importancia de construir
medios propios pero parecen no apropiarse definitivamente de esta necesidad de generar sus
alternativas mediáticas, o al menos no están dispuestos a arriesgarse en ese sentido. Al parecer, las
iniciativas por parte del estado han buscado generar propuestas donde no las había, pero al mismo
tiempo desconociendo las dificultades de las escasas experiencias o proyectos previos.
Quizás respuestas intermedias que favorezcan el desarrollo efectivo de la televisión
comunitaria, con proyectos menos ambiciosos pero que piensen en un desarrollo progresivo podrían
desembocar en el mediano plazo en propuestas consistentes y sostenibles del sector comunitario,
que a su vez responda a la concientización de los movimientos y organizaciones sociales respecto al
valor de la televisión comunitaria como herramienta comunicacional.
Para ello, el desafío es generar políticas acordes con las características del sector por parte
del estado y que los sectores populares se apropien de sentido de contar con un medio masivo y
generen las condiciones mínimas para construir la televisión comunitaria que se puede hoy, para en
todo caso luego proponerse como avanzar y exigir qué políticas serían necesarias para su
crecimiento.
Referencias.
Patrícia Lima1
RESUMO: O foco deste artigo está centrado na análise de como a Infografia Interativa
vem sendo utilizada para noticiar, reconfigurando a dinâmica produtiva da notícia. Para
isso, analisamos a construção webjornalística e infográfica do Site do Jornal Folha de S.
Paulo. Com o desenvolvimento tecnológico novas formas de comunicação surgiram por
meio da Cultura da Internet e transformações ocorreram principalmente no campo do
jornalismo, afetando diretamente sua prática produtiva. O objetivo central do trabalho se
concentra em analisar a utilização da linguagem infográfica interativa nos processos
produtivos da notícia webjornalística. Partimos de uma pesquisa exploratória em que
foram realizadas observações e análises do infográfico escolhido como corpus. O estudo
possibilitou constatarmos o fenômeno das infonotícias, que são notícias feitas com
recursos infográficos interativos e que estão enquadradas no que tangem os processos
produtivos do jornalismo.
Introdução
2 Jornal com sede em Columbus, Ohio. Considerado o único jornal diário de tradição na cidade.
Fundado em 1871.
3 Tido por pesquisadores como Mielniczuk (2002) o principal elemento do hipertexto, capaz de
estruturar uma narrativa multilinear.
Quando partimos para a conceituação e nomenclaturas do jornalismo no espaço
digital, encontramos uma variedade de termos usados por pesquisadores da área. É
comum, ao realizar uma pesquisa ou leitura do assunto, se deparar com as
terminologias: Jornalismo eletrônico, Jornalismo digital, Ciberjornalismo, Jornalismo
online, Webjornalismo.
Lemos (2010), tendo como pano de fundo o ciberespaço, refere-se ao jornalismo
na Web como ciberjornalismo, pois remete à prática jornalística realizada com o auxílio
das possibilidades tecnológicas. Já Mielniczuk (2003) ressaltava que o mais adequado é
utilizar webjornalismo por designar a produção de conteúdo jornalístico exclusivamente
para a Web.
Mielniczuk (2003) apresenta as definições das nomenclaturas sobre a prática da
produção do jornalismo contemporâneo do seguinte modo: Jornalismo eletrônico-
prática do jornalismo que utiliza equipamentos e recursos eletrônicos; Jornalismo
digital- emprega tecnologia digital, fornecendo dados em forma de bits às produções;
Ciberjornalismo- elaboração que envolve tecnologias que usam o ciberespaço;
Jornalismo online- utiliza a transmissão de dados em rede e tempo real e
Webjornalismo- utiliza uma parte da Internet (a Web).
Embora existam variadas denominações, conceitos e nomenclaturas, se constata
que não há consenso sobre uma denominação única para designar a prática jornalística
no ambiente da Internet. Concordamos com Palácios (2011) ao afirmar que
independente da definição ou nomenclatura, o jornalismo no espaço online é uma
atividade jornalística feita de alguma maneira na Internet com suporte dos meios
digitais. Não pretendemos aprofundar as questões sobre terminologia e adotaremos a
utilização do termo webjornalismo para referenciar o jornalismo na Web, durante nossas
abordagens sobre o tema.
O jornalismo viu crescer incorporações do contorno multimídia nas redações.
Mudanças na escrita, no novo público, na colaboração direta dos leitores e nas diversas
ferramentas à disposição da produção da notícia, são algumas das mudanças advindas.
Diretamente afetado, o jornalista teve que se adequar aos moldes atuais. A rotina foi
alterada e o profissional se depara com uma forma nova de obter informações, de
pesquisar assuntos, de contato com as fontes, e principalmente, de lidar com as
ferramentas e dispositivos, mas deve entender como, afirma Pereira (2003), processo de
apropriações das tecnologias.
Refletir sobre webjornalismo, é compreender o campo em que ele é permeado,
como por exemplo, a instantaneidade dos intercâmbios mediados, poder de
armazenamento e recuperação das informações, potência e possibilidades, escrita e
leitura hipertextual, conversação em rede, interatividade das informações, e tantas
outras possibilidades que fazem parte da grande reconfiguração ocorrida na história do
jornalismo e de seu elemento primordial: a notícia.
Notícias infográficas/Infonóticias
Autoras como Borrás e Caritá (2000), Seixas (2004) e Teixeira (2007) também
destacam a infografia como gênero informativo da prática webjornalística e atestam que
os infográficos, assim como o texto jornalístico, apresentam elementos que respondem
às perguntas clássicas: Como? O que? Quem? Quando? Onde?
Verificamos que com a utilização dos infográficos para noticiar desde o
jornalismo impresso, passou de textos longos e complexos, sem técnica de escrita
jornalística e mais próxima da linguagem literária, configurando o conhecido nariz de
cera que obedecia a uma composição de texto introdutório longo, prolixo, sem
objetividade, para um texto baseado no lead.
Caracterizando, assim, um jornalismo de potencialização informativa, feito em
espaço pequeno e com hibridização midiática.
.
Discutimos, então, as infonotícias, que como frisado na introdução é a
terminologia que atribuímos às notícias feitas com recursos infográficos interativos e
que estão enquadradas no que tangem os processos produtivos do jornalismo. Info vem
de infográfico e notícia do formato construtivo de produto jornalístico. São os
infográficos que podem ser considerados a própria notícia, com construção coerente no
que preconiza a produção jornalística e a linguagem infográfica. É a notícia
propriamente estruturada ao formato webjornalístico/infográfico.
O ponto central das infonotícias está diretamente situado à coesão entre visual e
textual. O contorno de cor, o movimento das imagens, o som, os pontos de links, os
vídeos informativos e tudo que possa dinamizar a leitura quantificada das informações,
fazem parte dessa coesão.
Os infográficos, notoriamente, estão oferecendo esta estrutura aos leitores,
aliada à natureza jornalística das notícias, na qual as fontes, o lead, os créditos e toda a
hierarquia produtiva são contemplados.
Essa composição é produzida na lógica do formato multimídia, que conta além
do texto com recursos de imagem, animação, grafismo e outros (Figura 1).
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/infograficos/2015/01/118390-aceleracao-
luminosa.shtml
Essa é uma infonotícia, que traz dados sobre um novo acelerador de partículas,
capaz de emitir radiação especial, acelerando a iluminação. O projeto é realizado na
cidade de Campinas (SP).
Assim, ratifica-se o que afirma Jorge (2013, p. 240):
Infográfico: o mensalão
Este é um infográfico interativo do ano de 2012, mês de julho, sobre o
julgamento daquele que foi considerado pela grande mídia como o maior escândalo de
corrupção do país: o Mensalão (Figura 2).
Figura ─ Página introdutória do infográfico sobre o julgamento do mensalão
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/especial/2012/ojulgamentodomensalao/ojulgamento/o_julgament
o.shtml
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/especial/2012/ojulgamentodomensalao/ojulgamento/o_julgament
o.shtml
)
Figura 4─ Parte do infográfico que retrata a composição de funções e quem são os julgadores
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/especial/2012/ojulgamentodomensalao/ojulgamento/o_julgament
o.shtml
)
Ao clicar em algum dos ícones simulados pelos bonecos surge uma foto da
pessoa representada com informações sobre sua função no julgamento. Para
exemplificar clicarmos no ícone do segundo boneco da esquerda e surgiu o quadro que
traz as informações sobre a pessoa representada, que neste caso, foi o Joaquim Barbosa,
relator do processo.
Clicando na cor marrom, surge a imagem da sala de julgamento na dimensão de
360° (Figura 5).
Figura 5─ Parte do infográfico retratando a sala do julgamento no ângulo de 360°
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/especial/2012/ojulgamentodomensalao/ojulgamento/o_julgament
o.shtml
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CORREIA, João Carlos. O admirável mundo das notícias: teorias e métodos. 2011.
Disponível em:
<http://www.academia.edu/2017895/Joao_Carlos_Correia_O_admiravel_Mundo_das_
Noticias_Teorias_e_Metodos>. Acessado em 20 nov. 2013.
DOCTOR, Ken. Newsonomic: doze novas tendências que moldarão as notícias e o seu
impacto na economia mundial. São Paulo: Cultrix, 2011.
JORGE, Thais Mendonça de. Cronologia da Notícia: de 1740 a 2020. In: Encontro
Nacional da Rede Alfredo de Carvalho, 2., 2004, Florianópois. Anais... Florianópolis:
UFSC/Sindicato dos Jornalista/Fenaj, 2004.
LAGE, Nilson. Estrutura da notícia. 5ª. ed. São Paulo: Ática, 2000.
LIMA, Patrícia Medeiros de; BEZERRA, Ed Porto. Infografia interativa como nova
linguagem jornalística: uma análise a partir do site do Jornal Folha de São Paulo. VIII
Simpósio Nacional da Abciber. Disponível em: < >. Acesso em: 10 dez. 2014.
MIELNICZUK, Luciana. Jornalismo na web: Uma contribuição para o estudo do
formato da notícia na escrita hipertextual. 2003. 246 f. Tese (Pós-com Cibercultura).
Universidade Federal da Bahia Salvador. 2003.
TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo: por que as notícias são como são. 3ª. ed.
rev. Florianópolis: Insular, 2012
Participação e Representação: apontamentos sobre o Conselho de Comunicação Social
Resumo: Este artigo realiza uma revisão conceitual e bibliográfica sobre participação e
representação em instituições participativas, para, em seguida, analisar o Conselho de
Comunicação Social. A abordagem se justifica pela relevância da ampliação da inclusão da
sociedade civil nos processos decisórios sobre a comunicação social no país. Como resultado
foi possível notar que, embora o Conselho tenha sido criado como uma instância
participativa, sua efetivação ainda não contempla os parâmetros apresentados pela literatura
para garantir a participação social. Trata-se de uma etapa da pesquisa desenvolvida em nível
de mestrado na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Introdução
Participação
2 Em aula “How to research participatory processes”, ministrada por Nico Carpentier em 23.03.2015, na
Universidade de Brasília (UnB), como parte da programação da segunda edição da Escola de Verão "Pesquisa
em Comunicação da América Latina", promovida pela Associação Latino Americana de Investigadores da
Comunicação (ALAIC).
O conceito de participação, desde então, tem sido definido a partir de
autores como Pateman (1992), Arendt (2002, 2008, 2010), Habermas (1987,
2007) e Honneth (2003), levando-se em conta os seguintes aspectos: o
caráter educativo das experiências de participação por meio do aprendizado
sobre as regras do jogo e da prestação de contas do que foi realizado, a
necessidade de uma racionalidade comunicativa na construção de uma esfera
pública dialogal e o reconhecimento da legitimidade das demandas de outros
grupos nos espaços participativos. (BARBOSA; KERBAUY, 2015, p. 14)
Representação
A representação não deve ser vista apenas como parte do processo eleitoral, em que o
papel do cidadão é ter a liberdade de escolher seu representante para o parlamento. Para além
dessa visão, neste item demonstrar-se-á que a representação pode ocorrer em espaços
participativos, sem a necessidade de autorização (como o sufrágio) para que seja uma forma
de mediação entre o Estado e sociedade e sem a obrigatoriedade da igualdade matemática
para sua legitimação (AVRITZER, 2007).
Rousseau (1999, p.151) defendia que a participação se contrapunha à representação,
uma vez que acreditava que a primeira só poderia ser exercida diretamente pelo povo, pois a
soberania “consiste essencialmente na vontade geral e a vontade absolutamente não se
representa”. Outra visão, apresentada por Almeida (2004), recorre aos estudos de Hobbes
(1997) para defender que o representante, nomeado ator, é legitimamente o porta-voz do
representado, o autor, de quem recebe o direito. Na realidade da sociedade civil, o autor é o
povo (entendido como uma unidade, uma pessoa, quando, por consentimento, elege seu
representante) que transfere a autoridade para o representante. “A idéia é de que a
representação seria essa relação que se estabelece na personificação de atos que não são
próprios do representante, mas cujas ações são decorrentes de sua autoridade de praticar tais
atos outorgada por quem pertence o direito, ou a própria autoridade” (ALMEIDA, 2004,
p.29). Como resultado, todas as ações e consequências das ações do representante seriam de
responsabilidade de todas as pessoas pactuantes. “La relación de una persona con otra o
varias en virtud de la cual la voluntad de la primera se considera como expresión inmediata
de la última, de suerte que jurídicamente aparecen como siendo una sola persona”.
(JELLINEK, 2001, apud ALMEIDA, 2004).
Em contraposição, tem-se a visão de Montesquieu (2002), que afirma que o povo tem
a responsabilidade limitada na escolha do representante que, depois de eleito, tem a
autonomia para tomar as decisões livremente, sem que seja necessário inquirir os
representados sobre cada assunto. Sob essa perspectiva, o povo não deveria ser
responsabilizado pelos atos do representante. Almeida (2004), entretanto, defende que na
sociedade atual é inviável que a representação seja exercida de modo limitado como aponta
Montesquieu, pois não haveria a alternativa de uma democracia direta. Seria necessária,
assim, a ampliação das possibilidades da democracia representativa, aproximando-se mais à
definição de Hobbes.
Nesse sentido, a questão colocada pela política contemporânea deve ser uma
reducã̧ o da preocupacã̧ o com legitimidade dessas novas formas de
representacã̧ o e um aumento da preocupacã̧ o sobre de que modo elas devem
se sobrepor em um sistema político regido por múltiplas soberanias. O
futuro da representacã̧ o eleitoral parece cada vez mais ligado à sua
combinacã̧ o com as formas de representacã̧ o que tem ̂ sua origem na
participacã̧ o da sociedade civil. (AVRITZER, 2007, p. 459).
Interessante notar, ademais, que, na verdade, tal como pontuado por Faria
(2007), não existe uma apologia à participação política literalmente direta.
Trabalha-se, antes, com a possibilidade de que indivíduos específicos
representem outros em matérias específicas, mas com a ressalva da
necessidade de existência de espaços alternativos – fóruns públicos (FARIA,
2007) – para que ocorra o contato face a face entre os entes da relação, no
sentido de validar as perspectivas diversas através da persuasão, do diálogo,
ou do escrutínio público de argumentos diferenciados (VAZ, 2011, p. 94).
Feita essa ressalva, este trabalho tratará das experiências participativas de uma
maneira abrangente como instituições, haja visto que não está apoiada na literatura
institucionalista. Como Avritzer (2008, p.45), este artigo considera o conceito de instituições
participativas como “[...] formas diferenciadas de incorporação de cidadãos e associações da
sociedade civil na deliberação sobre políticas”. De acordo com o autor, a incorporação se
distingue em três caminhos: a) Orçamentos Participativos (OP): aberto a todos os cidadãos, a
participação é entendida “de baixo para cima”; b) Conselhos: com menor abertura para
participação e moldado pelo sistema político na medida em que são determinados pela
legislação, entendidos como modos de “partilha de poder”; e c) Planos Diretores: em que a
sociedade civil não participa diretamente do processo, é a “ratificação pública”. Cada uma
dessas três possibilidades produz um resultado distinto na deliberação das políticas públicas.
3 Instituições Participativas.
Devido à aproximação estrutural com o CCS, Conselho de Comunicação Social, este
artigo discute mais atentamente os conselhos, que, de maneira geral, têm média abrangência
entre a população e são estipulados legalmente. Cabe destacar que a atuação dessas instâncias
participativas e a efetividade de suas ações dependem de variáveis como "o cenário colocado
localmente para a participação da sociedade civil, o perfil dos governos, a capacidade de
articulação e autonomia das organizações, a representatividade dos integrantes desses
colegiados dentre outras variáveis qualitativas". Além disso, o 'status' dessas instituições
contribuem para a legitimidade das tomadas de decisão sobre as políticas públicas
(SARDINHA, 2010, p.76).
Em sua última gestão finalizada, entre os anos de 2012 e 2014, o CCS se reuniu vinte
e duas vezes e aprovou 13 pareceres. Nova composição foi eleita em sessão conjunta entre
Senado e Câmara dos Deputados no mês de julho de 2015.
Ao retomar os parâmetros propostos por Vaz (2011), é possível perceber que o CCS
não apresenta efetividade deliberativa garantida, embora sua formatação inclua atores sociais
distintos e interessados nas discussões apresentadas, pois a influência de seus pareceres e
relatórios não é assegurada por seu perfil auxiliar do Congresso Nacional. Em outras
palavras, a efetividade poderia ser analisada sob dois pontos de vista: interna, no qual os
debates e deliberação acontecem e externa, em que os resultados das ações do Conselho estão
vinculados à consideração do Poder Legislativo.
Quanto ao desenho institucional, nota-se no CCS que é bem estruturada, uma vez que
tem em seu regulamento o calendário de reuniões ordinárias estipulado previamente e é
organizado por meio de comissões que setorizam os diversos tipos de apreciação. Contudo,
pode-se considerar que este não é um conselho reconhecido como institucionalizado no
organograma do Legislativo, uma vez que seu funcionamento tem sido frequentemente
interrompido a cada fim de gestão, devido ao aparente desinteresse do Congresso em mantê-
lo ativo.
Já no que se refere à representação e à representatividade, há também uma fragilidade,
pois as entidades representativas da sociedade civil (tais como FNDC 4 e Fretecom5, por
exemplo) não reconhecem como legítimos seus representantes, escolhidos pelo Congresso
suspostamente ignorando suas indicações.
Conclusões
Referências
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PRODUÇÃO E DIFUSÃO: a incidência do pensamento comunicacional latino-
americano no referencial teórico dos GTs da ALAIC
Resumo: A presente pesquisa exploratória identifica e avalia as contribuições dos Grupos Temáticos
(GTs) da Associação Latino Americana de Investigadores da Comunicação (ALAIC) na consolidação
e difusão dos estudos científicos das Ciências da Comunicação. Busca-se, também, verificar quais os
principais autores que estão sendo mais citados nos referenciais teóricos das pesquisas em andamento.
O estudo se justifica por possibilitar uma avaliação do referencial bibliográfico utilizado nas pesquisas
em comunicação apresentadas nos GTs da ALAIC, considerada uma das mais importantes associações
difusoras dos estudos comunicacionais na América Latina. O corpus de análise constitui-se dos dados
coletados, com base nas referências bibliográficas dos artigos aceitos nos Grupos Temáticos (GTs) e
Grupos de Interesse (GIs) e publicados nos Anais do Congresso da ALAIC 2012. A investigação é
amparada em dois procedimentos teórico-metodológicos: a) análise documental e b) análise
quantitativa.
Introdução
A Associação Latino Americana de Investigadores da Comunicação (ALAIC)
completou 35 anos de criação em 2013. Ao longo de sua trajetória, vem fomentando a difusão
e consolidação do pensamento latino-americano em comunicação. A presente investigação
avalia as contribuições de autores latinos e de seus estudos na formulação dos referenciais
teóricos dos estudos apresentados nos Grupos Temáticos (GTs) e Grupos de Interesse (GIs) do
Congresso da ALAIC de 2012. A escolha desta edição para análise justifica-se por se tratar do
Congresso que recebeu o maior número de trabalhos científicos, em comparação com os
eventos anteriores.
Desta forma, este trabalho descreve e analisa a influência de teóricos latino-
americanos na construção do referencial teórico-bibliográfico de artigos apresentados nos
congressos bianuais da ALAIC. No caso deste estudo, trata-se dos artigos aceitos e publicados
nos Anais do Congresso da ALAIC de 2012. Por outro lado, considera uma oportunidade para
verificar como tem ocorrido a difusão e consolidação do pensamento comunicacional latino-
americano nos cursos de Pós-Graduação, como aportes teórico-metodológicos nos estudos
desenvolvidos por mestrandos e doutorandos.
1 Jornalista, Mestre em Comunicação Midiática pela (UNESP/Bauru e Membro dos Grupos Pesquisa -
Pensamento Comunicacional Latino-Americano do CNPq). E-mail: pvgiraldi@hotmail.com Colaboração do
graduando em Publicidade do IESB-Brasília, Lucas Ribeiro dos Santos. E-mail: lucaslogista@gmail.com
1
Sobre o pensamento comunicacional latino-americano, temos como fundamentação
teórica os estudos desenvolvidos por autores como Marques de Melo (2000), Motta (2002),
Kunsch (2009), Gobbi (2008, 2010), Hohlfeldt (2010), Cabalerro (2013), Sodré (2013), que
buscam compreender o cenário latino da pesquisa em comunicação e resgatar as contribuições
dos cientistas paradigmáticos, representantes de quatro gerações: precursores, pioneiros,
inovadores e renovadores, conforme classificação referenciada nos estudos de Gobbi (2010).
O corpus da pesquisa é constituído a partir dos Anais da ALAIC de 2012. O estudo
desenvolvido é amparado em dois procedimentos metodológicos, sendo a análise documental
e quantitativo-qualitativa. A primeira etapa da análise procede com o tabelamento das
referências utilizadas pelos pesquisadores em seus artigos aceitos nos Grupos Temáticos
(GTs) ou Grupos de Interesse (GIs) da ALAIC. Posteriormente, os autores citados nos artigos
foram classificados com base no método quantitativo, respectivamente por tema de estudo dos
GTs.
Esta pesquisa está organizada em três partes. Inicialmente, apresentamos uma breve
trajetória dos Congressos da ALAIC e síntese das temáticas debatidas pelos pesquisadores.
Produzimos fichamento das informações coletadas nos Anais do Congresso da ALAIC de
2012, tabelamento das referências e análise de dados e, por fim, mapeamos os principais
teóricos com maior incidência nos estudos dos GTs.
A análise procede com a coleta de dados, com base nas referências bibliográficas dos
artigos aceitos nos Grupos de Trabalho. Desta forma, evidenciamos os principais autores
latino-americanos citados nos estudos, a partir da observação do referencial teórico. A análise
busca amparo em dois procedimentos metodológicos, sendo a análise documental (FOX,
2004; CHAUMIER, 1982), a partir das informações oriundas do fichamento dos artigos
publicados nos Anais da ALAIC de 2012 nos GTs e GIs, sendo 19 Grupos de Trabalhos, com
uma média de 700 textos publicados, sem considerar os casos de duplicidades ou artigos que
não possuem referencial bibliográfico.
A partir dos dados coletados, procedemos com a análise quantitativa (FLICK, 2004),
considerando, com base nos números, também, a relevância qualitativa, ou seja, o
efeito/incidência das contribuições desses teóricos na difusão do pensamento comunicacional
latino-americano.
Os autores identificados nas referências bibliográficas dos artigos foram classificados
nos GTs e, posteriormente, com base na concatenação dos dados, foi possível mapear os dez
2
principais autores de maior influência nos estudos de comunicação apresentados nos GTs da
ALAIC.
Acreditamos que esse levantamento, ainda que quantitativo, oferece uma visão dos
autores que estão norteando as pesquisas em comunicação na América Latina, a partir da
formatação de um importante instrumento de pesquisa bibliográfica e identificação dos
autores latinos mais citados nas fundamentações teóricas das pesquisas em andamento. Por
outro lado, inicia um debate oportuno acerca de uma possível escassez, repetições de teorias
ou a falta delas e direcionamento do referencial teórico na América Latina no que tange aos
estudos comunicacionais. É meta deste estudo, identificar, também, as contribuições da
ALAIC na consolidação do campo da comunicação e na formação acadêmica dos novos
pesquisadores.
Como conclusões iniciais do estudo, apresentamos panorama dos principais teóricos
latino-americanos que estão referenciando os estudos de comunicação dos Grupos de
Trabalho (GTs) da ALAIC e, ao mesmo tempo, contribuindo para a difusão e consolidação do
pensamento comunicacional latino-americano. Contudo, busca-se oferecer indicativos e
informações que, futuramente, contribuirão para possível construção de um mapeamento dos
diferentes aportes teórico-metodológicos que estão caracterizando a identidade dos estudos
em comunicação na América Latina.
3
As características descritas pela autora vêm confirmar a trajetória científica de mais de
três décadas percorridas pela ALAIC. Os Congressos da ALAIC também são bianuais. A
primeira edição do evento foi realizada em 1992, no Brasil, em Embu-Guaçu (SP), com
participação de cerca de 100 pesquisadores. Outros países latinos receberam o Congresso
como o México (1994 e 2008), Venezuela (1996), Brasil (1998 e 2006), Chile (2000), Bolívia
(2002), Argentina (2004), Colômbia (2010), Uruguai (2012) e Peru (2014).
Desta forma, os eventos científicos organizados pela ALAIC, assim como o próprio
Congresso Mundial, têm representado um papel importante na produção e difusão do
pensamento comunicacional latino-americano. E, como observa Motta (2011), a ALAIC está
no caminho certo, mas precisa avançar para ser uma entidade internacional. Para o autor, a
Associação deve se “institucionalizar ainda mais com uma presença maior pelo menos nas
grandes unidades de ensino da comunicação na América Latina”. (MOTA, 2011, p. 113).
2http://www.ALAIC2012.comunicacion.edu.uy/
4
estudantes do próprio Uruguai. O Brasil representou um total de 367 dos trabalhos inscritos
no Congresso, seguido da Argentina com 142, e o México com 58.
3Termo utilizado nos eventos científicos que expressa “aprovação” do artigo enviado pelo autor da pesquisa ao
Grupo Temático escolhido para apresentar o trabalho.
5
Quadro 1. Trabalhos apresentados nos GTs – Divisão por dia
Grupos Temáticos 1º dia 2º dia 3º dia
GT 1 Comunicación Intercultural y Folkcomunicación 14 14 14
GT 2 Comunicación Organizacional y Relaciones Públicas 8 8 8
GT 3 Comunicación Política y Medios 15 18 0
GT 4 Comunicación y Educación 9 9 7
GT 5 Comunicación y Salud 19 17 9
GT 6 Economía Política de las Comunicaciones 12 9 7
GT 7 Estudios de Recepción 17 16 17
GT 8 Comunicación Popular, Comunitaria y Ciudadanía 10 9 10
GT 9 Teoría y Metodología de la Investigación en Comunicación 5 16 15
GT 10 Comunicación, Tecnología y Desarrollo 5 15 17
GT 11 Comunicación y Estudios Socioculturales 23 19 19
GT 12 Comunicación y Cambio Social 13 11 10
GT 13 Comunicación Publicitaria 9 9 8
GT 14 Discurso y Comunicación 17 18 16
GT 15 Comunicación y Ciudad 11 10 9
GT 16 Estudios sobre Periodismo 21 18 15
GI 1 Comunicación Digital, Redes y Procesos 17 18 17
GI 2 Historia de la Comunicación 24 10 17
GI 3 Ética, Libertad de Expresión y Derecho a la Comunicación 10 9 9
Total 259 253 224
Fonte: ALAIC 2012, dados adaptados pelo autor.
6
artigo e posterior inserção nos Anais do evento, pontua como publicação no Currículo Lattes,
uma exigência para quem trilha a carreira acadêmica.
No próximo quadro, apresentamos o total de artigos em cada GT e GI, publicados nos
Anais4 do ALAIC de 2012. Classificamos os números por ordem decrescente para identificar
quais GTs receberam a maior quantidade de trabalhos. Lembrando, a escolha de qual GT
submeter o artigo é feita pelo próprio pesquisador. Ele envia seu trabalho para avaliação em
um dos grupos disponíveis no evento no momento da inscrição, tendo em vista a linha de
pesquisa em que atua e a proximidade de seu objeto de estudo com a ementa do Grupo
Temático.
8
América Latina, “buscando dar nossa quota de contribuição na reconstrução do pensamento
crítico latino-americano”. (BOLAÑO, 2009, p. 130).
Com base no tabelamento de mais de 11.400 referências (bibliográficas, revistas
científicas, textos online, arquivos digitais) utilizadas pelos autores para produção dos artigos
apresentados nos GTs da ALAIC em 2012, produzimos comparativo e concatenação dos
dados em planilhas do Excel, para identificar os autores mais citados nos trabalhos,
organizados inicialmente por GT.
Para identificar os autores mais citados no referencial teórico dos artigos, utilizamos o
valor mínimo de seis citações e máximo de 26, com base na contabilização, em planilha, das
referências coletadas. Primeiramente, identificamos os três autores com maior incidência nas
pesquisas. Posteriormente, selecionamos um autor que foi citado o maior número de vezes,
para uma classificação dos teóricos mais referenciados nos GTs, que será apresentada a seguir.
No quadro acima, levamos em consideração o país de origem do autor e não
propriamente o local onde atua/atuou como pesquisador. Sendo assim, a Espanha e o Brasil
9
são os países, em destaque, na representação de autores/teóricos da comunicação. Entre os
pesquisadores, estão as contribuições dos cientistas paradigmáticos como Luiz Beltrão
(precursores), José Marques de Melo, Jesús Martín-Barbero e Eliseo Verón (inovadores) e
Venício A. de Lima, Marialva Barbosa, Orlando Betancor (renovadores). Para essa
organização das gerações de pesquisadores, utilizamos a classificação de Gobbi (2010) sobre
os autores que representam o pensamento comunicacional latino- americano.
É oportuno dizer da diversidade de teóricos utilizados nos trabalhos do **GT 11 -
Comunicación y Estudios Socioculturale, sendo mínima a diferença entre a média de autores.
Constatamos que o grupo vem balizando seus estudos a partir das reflexões de autores como
Jean Baudrillard (França), Zygmunt Bauman (Polônia), Pierre Bourdieu (França), Stuart
Hall (Reino Unido), Néstor Garcia Canclini (Argentina), Manuel Castells (Espanha), Jesús
Martín-Barbero (Espanha) e James Curran (Austrália). Sendo assim, não foi possível
apontar apenas um teórico de destaque, como nos demais GTs.
11
1. Martín-Barbero Espanha
2. Manuel Castells Espanha
3. José Marques de Melo Brasil
4. Luiz Beltrão Brasil
5. Eliseo Verón Argentina
6. Inesita Soares de Araújo Brasil
7. Néstor Garcia Canclini Argentina
8. Alejandra Vargas Garcia México
9. Affonso Dragon-Gumucio Bolívia
10. Efendy Maldonado Equador
12
Considerações finais
Esse estudo, em sua fase inicial, poderia render outras discussões em torno da
produção e difusão do pensamento comunicacional na América Latina. Contudo, essas
reflexões serão apresentadas em novas oportunidades. Nesta análise exploratória, buscamos
evidenciar o panorama teórico-metodológico atual dos estudos em desenvolvimento nos GTs
e GIs da ALAIC de 2012.
Nesta primeira observação, percebe-se a diversidade de participantes de diferentes
idiomas, de temas e objetos de estudos, além do intercâmbio cultural e de conhecimento
possibilitados pelos Congressos bianuais da ALAIC. Isso vem reforçar a missão da
Associação em fomentar, difundir e consolidar a pesquisa em comunicação pelo mundo,
abrindo novos aportes teóricos para o campo comunicacional e rompendo com barreiras
ideológicas que minimizavam o potencial da América Latina no cenário científico. O
crescimento do número de artigos enviados aos Congressos da ALAIC no período estudado
revela a ampliação e a consolidação da entidade, que vem conquistando a confiança dos
pesquisadores e assumindo grau de credibilidade, resultado de 35 anos de história.
Mesmo que ainda haja a prevalência de autores europeus e dos EUA nos referenciais
teóricos das pesquisas, também constatamos um fato de grande importância, que se trata da
ascensão e inserção do pensamento comunicacional latino-americano nos estudos
apresentados nos Grupos de Trabalhos da ALAIC.
Os resultados parciais apontam para a necessidade de uma maior difusão das teorias
latinas de comunicação nos Programas de Pós-Graduação responsáveis pela formação desta
geração de pesquisadores (produtores) que, ainda, desconhece esse potencial teórico tão
familiar. O intercâmbio das pesquisas produzidas na América Latina pode contribuir para que
haja maior valorização das produções regionais e institucionalização da ALAIC nas unidades
de ensino da comunicação.
Que esse estudo possa contribuir para que a comunidade acadêmica reconheça os
autores latino-americanos que estão referenciando as pesquisas em comunicação na América
Latina. Desejamos que seja o início de um debate necessário e urgente acerca do marco
teórico e metodológico, no que tange a consolidação e especificidade da produção e difusão
13
da pesquisa latino-americana em comunicação, não só entre os países latinos como também
em todos os países do mundo.
Referências
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MATTELART, Armand. e M. Histórias das Teorias da Comunicação. 5. ed. São Paulo: Ed.
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MOTTA, Luiz Gonzaga. Brasil: alternativa popular, comunicação e movimentos sociais. In:
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Petrópolis, Vozes, 1987.
14
Em busca de autotransparência: a utilização da Lei de Acesso à
Informação por servidores da Capes/MEC
Introdução
Transparência é um conceito central para a compreensão da vida social no ocidente. Um
dos principais norteadores da moderna Administração Pública, a transparência se define
como o livre acesso e divulgação das ações governamentais. Ser transparente, nesse
sentido, é contribuir para o fortalecimento da democracia, prestigiar a cidadania, tornar
as políticas de Estado mais efetivas.
A LAI tem sido objeto de análises que se dividem, via de regra, conforme as etapas de
aplicação da lei. Há trabalhos focados na perspectiva dos órgãos públicos, produtores de
informação, responsáveis pelo atendimento do que está disposto pela norma e há
trabalhos que enfocam o ponto de vista do cidadão, dos usuários da lei, de quem
demanda informação. Nesse trabalho, os dois olhares distintos convergem.
Para que os mecanismos políticos do Estado apareçam como neutros, o que está
operando "às costas dos sujeitos"? O que está tão opaco que se aceita como natural? E
mais, seria a lei uma possível fonte das contradições internas e inerentes da própria
conjunção social?
Para fins de delimitação da análise, foi escolhida como objeto específico a aplicação da
LAI na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do
Ministério da Educação do Brasil. Trata-se de um órgão com um quadro funcional de
cerca de 400 servidores e que possui uma alta taxa de atendimento (mais de 95%) das
demandas de acesso à informação.
Pelo número reduzido de servidores, foi possível realizar entrevistas qualitativas com
os oito servidores que acionaram a LAI nos três anos de aplicação da norma2. Os dados
e números do Serviço de Informação ao Cidadão (SIC) ficam disponíveis em portal
público também como uma das ações de Acesso à Informação.
De acordo com o Banco Mundial, a boa governança implica em gestão setor público,
(eficiência, eficácia e economia), accountability, troca e livre circulação de informação
2 O próprio artigo é fruto desse intercruzamento de noções e busca de autotransparência, já que atuo
como analista da Capes.
3 O fato da definição de governança das Nações Unidas estar atrelada aos conceitos do Banco Mundial é
mais um indicativo para a reflexão e questionamento sobre a neutralidade do Estado.
(transparência), e um quadro jurídico para o desenvolvimento (justiça, respeito pelos
direitos humanos e liberdades) (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2006, p.4)
Apesar de muitas vezes serem aplicados com mesmo sentido, transparência possui
conceito distinto de “acesso à informação” (DUTRA, 2014). O acesso é, de alguma
maneira, um passo além da transparência. Não se trata apenas de “deixar-se ver”, mas
sim da regulamentação para garantir acesso à informação de responsabilidade do
Estado.
Essa garantia é um direito, mas de natureza especial, já que a informação tem como
característica ser o instrumento, ou meio, para se conseguir e conhecer outros direitos e
por isso mesmo deve ser protegida como direito (ABRAMOVICH, COURTIS, 2000). O
caráter instrumental da informação implica que o direito ao acesso não é transformador,
ou revolucionário em si, mas funciona como base de reivindicação consciente de
mudança (ALMINO, 1986).
A partir dessa interação é possível perceber como uma legislação de acesso à informação
tem a capacidade de aprimorar a estrutura de accountability já que pode diminuir o
desequilíbrio entre a incapacidade de resposta dos representantes aos representados e a
capacidade dos representados em ter informações para elaborar as perguntas aos
representantes.
Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado (BRASIL, 1988).
Para os fins desta análise, entre as diversas características da lei, duas se destacam como
mais importantes. Primeiramente, a determinação da divulgação na internet de um rol
mínimo de informações para todos os órgãos da administração, que inclui, entre outros,
contratos, licitações, estrutura organizacional, receitas, despesas, e o estímulo para que
cada vez mais informações sejam divulgadas de maneira espontânea, sem a necessidade
de serem demandadas pelo cidadão. Essa divulgação prévia de informações é definida
como “transparência ativa”.
Em segundo lugar, como está explícito no 10º artigo da lei, a resposta ao pedido de
acesso não pode estar condicionada à motivação do uso dessa informação. “São vedadas
quaisquer exigências relativas aos motivos determinantes da solicitação de informações
de interesse público”. O órgão público não pode, portanto, questionar a intencionalidade
do pedido de acesso e, consequentemente, direcionar, ou mesmo negar, a resposta de
acordo com quem faz o pedido.
Sobre os aspectos culturais, a pesquisa realizada na época indicou que era preciso
reduzir a margem de arbítrio pessoal para as decisões de indeferimento das solicitações
de acesso por meio de uma definição mais clara do que é (e não é) informação pública.
O estudo deixa claro que é preciso enfrentar a postura de alguns agentes públicos que se
veem como proprietários das informações.
4 Disponível em <http://capes.gov.br/acesso-ainformacao/relatorios-anuais>
Roberto DaMatta (2011) realizou uma pesquisa como um dos desdobramentos do
projeto entre CGU e Unesco. O antropólogo identifica o que chama de “cultura do
pendrive”, em que funcionários não compartilham com colegas as informações sob sua
responsabilidade, apropriam-se dos dados e impossibilitam a agregação desse
conhecimento em benefício da sociedade. A pesquisa de DaMatta revela que alguns
servidores públicos veem o cidadão de maneira infantil, como sujeitos dependentes da
tutela do Estado para compreender informações produzidas pela administração pública.
Como base ontológica desses aspectos culturais a serem ultrapassados está a própria
tradição colonial e formação patrimonialista da sociedade brasileira. O Estado é
distante, desconhecido e merecedor de desconfiança, um verdadeiro paradigma de
opacidade. (REIS, 2014). A submissão a interesses particulares foi condicionada
historicamente de tal maneira que há uma incompreensão total do significado e do valor
do bem público, nos mais diversos setores da vida social. A superação desse processo
envolve, portanto, uma nova compreensão da atividade de servidor público, com ênfase
nessa última palavra.
Foram enviados 717 pedidos para 173 órgãos públicos dos três poderes e em todos os
níveis de governo. Com o objetivo de testar as regras de não-discriminação, a pesquisa
adotou a seguinte metodologia: foram utilizados os nomes de quatro voluntários, dois
identificados como pesquisadores da FGV e dois com nomes sem registros que
pudessem ser buscados na internet. A conclusão do trabalho foi de que “houve indícios
que reforçam a hipótese de que pode haver investigação prévia sobre o perfil do
solicitante” (MICHENER, MONCAU, VELASCO, 2014, p. 23).
De acordo com o objeto a que se dirigem, as solicitações dos servidores podem ser
agrupadas tematicamente em duas instâncias: pedidos sobre ações-fim e pedidos sobre
ações-meio. O primeiro agrupamento envolve requerimentos sobre programas da Capes,
usualmente solicitação de planilhas com números, investimentos, lista de beneficiados.
Nesse caso, chama a atenção que todos os pedidos buscam informações sobre iniciativas
das mesmas diretorias e coordenações dos requerentes.
Um ponto partilhado por todos os servidores requerentes é o de que as regras dos prazos
estabelecidos pela LAI dão uma garantia de resposta que não possui paralelo em outros
meios aos quais poderiam ter acesso. Mais da metade(62,5%) dos requerentes tentou
realizar solicitação por outros caminhos, sendo e-mail e telefone os principais
escolhidos, mas também houve casos de ofícios e visita pessoal. O relato dos servidores
aponta que a solicitação que não é feita pela LAI não costuma receber resposta, nem
mesmo a negativa de acesso. Os entrevistados relatam que as demandas entram num
processo de repasse às instâncias superiores
Nesse sentido, a LAI é percebida como uma ferramenta de desburocratização do serviço
público. A lei força a organização e sistematização dos dados, ainda marcados, de
acordo com os entrevistados, por muita confusão de fontes e validação. É comum,
segundo os servidores escutados, que uma mesma iniciativa conte com diferentes
números e indicadores ou mesmo que exista a ausência de um relatório ou apresentação
final de dados e resultados. A obrigatoriedade de resposta imposta pela LAI muda esse
cenário, mesmo que a sistematização seja fruto de um pedido de acesso à informação. A
facilidade, a velocidade e a agilidade do SIC foram características atribuídas ao serviço
em todas as entrevistas.
Aí se encontra uma interessante contradição, que revela a dinâmica dialética das forças
envolvidas no trabalho: ao mesmo tempo em que a identidade do solicitante importa,
muitas vezes de maneira determinante, para o acesso a informação, a lei ainda é a
ferramenta mais impessoal a serviço do servidor para conseguir informações sobre o
próprio trabalho. A resposta garantida pela lei é distinta de um pedido de favor, com
necessidade de explicação e a relação pessoal que isso envolve.
Dessa maneira, as entrevistas reforçam a relevância da transparência ativa como recurso
da lei a ser aprimorado. Segundo os entrevistados e usuários da lei, a LAI deveria servir
como guia de orientação, como norteador para organização e publicação dos dados e
informações requeridos. Mas para além da função meramente protocolar, ser exemplo
ao novo perfil do servidor público, com primazia da compreensão de bem público e da
prestação de contas (no sentido mais amplo) à sociedade.
O Estado parece ser uma construção racional (e, portanto, transformável com a mesma
facilidade) para a realização do interesse geral e os objetivos da comunidade. Eles não fazem
nenhuma menção ao fato de que o Estado, tal como existe hoje é um produto histórico, uma
forma de organização da dominação, que, sendo histórico, tem o seu fundamento no modo de
produção e reprodução social historicamente determinado que caracteriza a relação burguesa de
produção e nas relações de classe resultantes (HIRSCH, 1978, p. 57, tradução nossa).
Na medida em que a economia seja considerada a esfera da não-ideologia, esse admirável mundo
novo da mercadorização global se considera pós-ideológico. É claro que o aparelho ideológico
do Estado ainda existe, e mais do que nunca; entretanto uma vez que em sua autopercepção a
ideologia se localize em sujeitos (...), essa hegemonia da esfera econômica só pode parecer
ausência de ideologia (ZIZEK, 2011, p. 33)
O reflexo religioso do mundo real só pode desaparecer quando as relações cotidianas da vida
prática se apresentam diariamente para os próprios homens como relações transparentes e
racionais que eles estabelecem entre si e com a natureza. A figura do processo social de vida, isto
é, do processo material de produção, só se livra de seu místico véu de névoa quando, como
produto de homens livremente socializados, encontra-se sob seu controle consciente e
planejado(MARX, 2013, p. 216).
Ter essa questão como horizonte é o caminho para que o direito à informação pública e
os mecanismos de apuração conquistados se consolidem como um processo real de
direitos, que gerem redistribuição do poder e que não se convertam apenas em mera
permissão de informação, já que “os que detêm o poder conhecem muito bem a
diferença entre direito e permissão” (MILNER apud ZIZEK, 2011, p. 58). Permissões
não diminuem o poder de quem as concede. Direitos dão acesso ao exercício de poder à
custa de outro poder.
Referências
ALMINO, João. O segredo e a informação: ética e política no espaço público. São Paulo:
Brasiliense, 1986.
ARTIGO 19 BRASIL. Análise do projeto de lei de acesso à informação pública. São Paulo:
Artigo 29, 2009.
_________________. Monitoramento da lei de acesso à informação pública em 2013. São
Paulo: Artigo 19, 2014.
DUTRA, Luma Poletti. Direito à Informação em pauta: Os usos da Lei de Acesso por
Jornalistas. 2014. 141 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Faculdade de
Comunicação, Universidade de Brasília, Brasília.
ZIZEK, Slavoj. Primeiro como tragédia, depois como farsa. Boitempo Editorial. São
Paulo, 2011.
A TELENOVELA COMO OBJETO DE PESQUISA EM COMUNICAÇÃO
ESTUDO DE CASO DA NOVELA “CHEIAS DE CHARME”
Priscila Chéquer1
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a telenovela como
objeto de pesquisa em comunicação. Para isso, recortamos nossa proposta analítica no
intenso intercruzamento das produções de teledramaturgia com as demandas sociais
brasileiras. Como estudo de caso, analisaremos a telenovela “Cheias de Charme”
(Rede Globo, 2012) a partir da relação entre o texto audiovisual e o seu contexto de
produção. Com isso, busca-se compreender o diálogo dessa produção com as
demandas de consumo da audiência, em especial da “nova” classe C.
1. Introdução
É sabido que a telenovela brasileira, durante as seis décadas em que está sendo
exibida, sempre manteve uma estreita relação com sua audiência. Expressão maior da
teleficção nacional, a novela, em seu conjunto imagético, representa as imagens que
uma significativa parcela dos brasileiros fazem de si mesmos e através das quais se
reconhecem, tornando-se, assim, um dos maiores observatórios da vida cotidiana
nacional. Sua matéria-prima de trabalho são as histórias, as memórias e o imaginário
coletivo em um diálogo cada vez mais intenso com o social.
Lopes, Borelli e Resende (2002) propõem pensar a relação entre a
teledramaturgia e as demandas sociais a partir do conceito de “reflexividade social”
proposto por Anthony Giddens. Para o autor, a reflexividade estaria presente em toda
a ação humana se constituindo em um processo onde as práticas sociais são
repensadas e revisitadas à partir de novas informações inseridas no tecido social. Os
meios de comunicação inserem-se nessa dinâmica à medida que atuam na formação
do senso comum e no complexo sistema de recepção de novas informações
1
estabelecendo a mediação para o conhecimento e o entendimento dos fatos sociais, ao
mesmo tempo em que são constantemente alimentados pelo conhecimento
socialmente produzido. Esse movimento nos ajuda a entender a retroalimentação dos
conteúdos na mídia, a presença constante de temas cotidianos nas narrativas das
telenovelas e os debates provocados na audiência.
Além de ser considerada uma narrativa popular sobre a nação (LOPES, 2012), a
telenovela pode ainda ser pensada como um produto cultural latino americano.
Herdeira dos folhetins franceses do séc. XIX e das radionovelas cubanas, a telenovela
se firmou na América Latina tornando-se umas das maiores expressões televisivas do
continente e possibilitando, ainda, trocas simbólicas entre os povos e países de origem
latina. Essas trocas simbólicas são possibilitadas pela proximidade cultural dos países
latino americanos constituindo-se no que Straubhaar (2004) chama de mercados
linguístico-culturais, ou geoculturais. Países com culturas similares, proximidade
geográfica e com expressões idiomáticas compartilhadas tendem a fazer parte de um
mesmo mercado onde os bens culturais circulam, como afirma o autor: “[...] a
definição de mercados linguístico-culturais perpassa a linguagem e inclui história,
religião, etnicidade (em alguns casos) e cultura (p. 84).2
No campo das pesquisas em comunicação, a telenovela se insere como mais
uma possibilidade de compreender a diversidade cultural latino americana,
possibilitando o entendimento, não só das proximidades e das mediações, mas
também dos afastamentos e diferenças culturais inscritas nesse tipo de produção. No
que diz respeito ao estudo das produções nacionais, Malcher (2000) destaca o
crescimento dos trabalhos nessa área como uma possibilidade de ampliação no campo
de estudos em comunicação. Cada vez mais distante da hegemonia do pensamento
frankfurtiano, as pesquisas em telenovela tendem a privilegiar o diálogo com os
Estudos Culturais (BORELLI, 2001), deslocando –se para uma perspectiva que traz o
debate de questões como linguagem narrativa, técnica, estética e, principalmente, os
diálogos e as tensões entre audiência e obra.
Nessa perspectiva, a telenovela se torna um objeto de pesquisa privilegiado para
entender a relação entre produção cultural de massa e as matrizes populares, buscando
2 Destacamos nesse sentido a parceria da emissora brasileira Rede Globo com a mexicana Telemundo
para a produção do remake de “Vale Tudo” (1988-1989, de Gilberto Braga e direção geral de Dennis
Carvalho). Intitulada “Vale Todo”, a novela produzida para o público hispânico, nos EUA, foi gravada,
no Brasil, em espanhol, e foi ar em 17 de junho de 2002. Pensada exclusivamente para o mercado
latino, a novela contava com atores brasileiros e mexicanos e a trilha sonora incluía desde a dupla
sertaneja Zezé de Camargo e Luciano até o cantor mexicano Alejandro Fernández.
2
compreender o intercruzamento de suas produções com temas cotidianos que refletem
aspectos contemporâneos da política, economia, religião, entre outros assuntos que
fazem parte do imaginário brasileiro.
4
“nova” classe C4 no cenário político e econômico nacional, como afirma Octávio
Florisval, diretor-geral da emissora5:
São pesquisas para nossa reflexão interna, para orientar a área de
criação e de jornalismo [...] Estes 80% das classes C, D e E têm uma
vida própria, com características próprias. Nós precisamos atendê-
los [...] Eles têm que estar mais bem representados e identificados
na dramaturgia, no jornalismo.
4A “nova” classe média surgiu na formação da sociedade brasileira oficialmente em 2012, quando o
Governo Federal utilizou um novo critério de classificação social no país. A partir desse momento
considera-se classe média as famílias que possuem renda per capita entre R$291 a R$1.019. Nessa
nova classificação cerca de 110 milhões de brasileiros fazem parte da classe média (o equivalente a
52% da população), dos quais 35 milhões ascenderam socialmente. (Fonte: Perguntas e Respostas
sobre a definição da classe média. Disponível em < http://www.sae.gov.br/vozesdaclassemedia/wp-
content/uploads/Perguntas-e-Respostas-sobre-a-Defini%C3%A7%C3%A3o-da-Classe-M
%C3%A9dia.pdf> Acesso em 02 de fevereiro de 2014.
5 Entrevista concedida a Maurício Stycer, crítico do UOL, publicado originalmente em maio de
2011. Disponível em: http://televisao.uol.com.br/ultimas-noticias/2011/05/09/globo-muda-
programacao-para-atender-a-nova-classe-c.jhtm, acesso em: 02 de fevereiro de 2014.
5
como objetivo igualar o seu padrão de vida ao das classes A e B. Em geral, essa
ascensão social almejada era alcançada através do casamento ou do aparecimento
repentino de uma herança. Para Jameson (1980) a repetição de fórmulas prontas, e ao
mesmo tempo a ruptura com essa repetição, são traços característicos da produção
cultural de massa. À medida que a repetição produz a sobrevivência do gênero e
garante a empatia do público, a ruptura se apresenta como estratégia obrigatória e
como resposta “[...] a cada vez mais rápida temporalidade da sociedade de consumo,
com suas mudanças de estilo e de moda a cada ano ou estação” (p. 09).
Dessa forma, nas produções pensadas para a “nova” classe C, mantem-se a
temática da ascensão social mas, com algumas fraturas no arquétipo dessa
representação. Destaca-se, nesse sentido, a personagem Maria da Penha, que mesmo
após se tornar celebridade musical, continua morando na mesma casa em que residia
quando era empregada doméstica – na comunidade do Borralho. Como cantora de
sucesso a situação financeira da personagem eleva-se, porém, a ex-doméstica continua
residindo em sua comunidade, convivendo com os vizinhos com quem mantem uma
relação de irmandade, e criando o filho no mesmo lugar em que cresceu. Destacam-se
aqui o engrandecimento do trabalho (com dupla jornada de emprego), das raízes
comunitárias, emergência do capital familiar na falta de acesso ao capital econômico e
a valorização da ética (SOUZA, 2012; BARROS, 2006) como características que
representam uma vertente idealizadora da “nova” classe C nas telenovelas atuais.
Em seu estudo sobre a estrutura narrativa das telenovelas, Pallottini (2012)
aponta para o lugar sempre marcante da classe média nos núcleos secundários e
periféricos das histórias, criados, quase sempre, para aliviar o teor dramático das
tramas principais através do humor. “Já se tornou lugar-comum glosar a insistência
dos autores em contrabalancear núcleos de personagens ricas com núcleos de pobres –
na verdade, de gente da pequena classe média; os pobres mesmos dificilmente têm
lugar na telenovela” (p. 67). O atual processo de adaptação da teledramaturgia
brasileira a um novo público consumidor significa uma reformulação na articulação
entre ficção e realidade em que novas tramas emergem junto com as demandas do
país. Dessa forma, os apartamentos do Leblon e de Copacabana perdem espaço na
narrativa e cedem lugar às comunidades periféricas e à emergência de novos atores
sociais e suas cargas dramáticas.
A trama da novela Cheias de Charme apresentou a história de três empregadas
domésticas que, após gravarem um clipe e divulga-lo na internet de forma amadora,
6
se transformam em celebridades do mundo da música. Maria da Penha, Maria
Aparecida (Cida) e Maria do Rosário retratam a vida de milhares de mulheres que
garantem seu sustento com o serviço doméstico no Brasil. Em boa medida as histórias
das protagonistas contam as dificuldades enfrentadas para sustentar a família, o
preconceito com as trabalhadoras do lar, a dificuldade de auto-aceitação de sua
condição de doméstica – no caso de Cida -, a submissão pela necessidade de manter o
emprego e, principalmente, o embate com suas patroas representadas pela cantora de
eletroforró Chayenne e a socialite Sônia Sarmento. Em contraponto, essas
características do velho Brasil são rebatidas por um discurso em sintonia com as
demandas contemporâneas – especialmente com a PEC das domésticas - que apontam
para transformações a partir da valorização da profissão, conscientização de seus
direitos trabalhistas, reconhecimento da importância do trabalho doméstico para a
economia – defendida pela advogada e patroa Lygia - e orgulho da profissão com a
qual sustenta a família – representada mais especificamente pela personagem Penha.
Ao estudar essa mesma novela, Baccega destaca que:
Cheias de Charme teve a figura da empregada doméstica como
protagonista. Ainda que isso não signifique uma inovação, torna-se
relevante num momento socioeconômico do país em que as classes
populares ascendem ao consumo material, além da ampliação das
possibilidades de visibilidade proporcionadas pela internet,
elementos que tiveram destaque nesta telenovela, aliados às
estratégias de transmidiação, motivando e incentivando novas
práticas de consumo cultural, assim como a constituição de novos
modos de fruição da ficção televisiva. (BACCEGA et al., 2013, p.
64)
7
Além disso, no espaço diegético da narrativa os grupos musicais compostos
pelas personagens da trama estrelaram músicas e clipes inéditos de estilos musicais
pouco vistos em produções da nossa teledramaturgia. As protagonistas (Penha,
Rosário e Cida), após o sucesso com o clipe divulgado na internet, oficializaram o trio
“As Empreguetes” e mantiveram em seu repertório uma mistura bem humorada de
diversos ritmos musicais; a antagonista da trama, Chayene, é uma famosa cantora de
eletroforró livremente inspirada nas cantoras Joelma da Banda Calypso e Gaby
Amarantos do tecnobrega, mantendo em seu figuro uma extravagância similar às
fantasias de carnaval com muitas cores, plumas, adereços e maquiagem exagerada;
por fim, o galã e cantor Fabian é sucesso no mundo musical com o sertanejo
universitário e por ser conhecido como o Príncipe das Domésticas.
Macedo (2012) também destaca a escolha da trilha sonora de “Cheias de
Charme” a uma possível associação entre a estética musical brega e o universo de
consumo das empregadas domésticas:
Por exemplo, na década de 1970, entre os movimentos musicais que
surgiram no Brasil, a música “brega” obteve um grande sucesso de
público e de vendas atingindo, sobretudo, ouvintes das classes
populares. Cantores como Waldik Soriano, Odair José e Wando
conquistaram o “povo brasileiro” e algumas de suas músicas
tornaram-se verdadeiros hinos populares da época. Dentre as
alcunhas que essa geração recebeu estava a de “cantores das
empregadas”, rótulo que relacionava um tipo de música com uma
categoria profissional, rebaixando a ambos: a música “ruim” só
poderia fazer tanto sucesso graças a um grupo profissional feminino
e pouco prestigiado socialmente. (p.11)
Essa tendência do mercado musical vai de encontro com o que tem sido exibido
nas últimas décadas da teledramaturgia nacional, onde a trilha sonora era composta,
quase exclusivamente, por clássicos da MPB, do samba e da bossa nova, como
Roberto Carlos, Zeca Pagodinho, Nana Caymmi, Marisa Monte, entre outros. Ao
afirmar que “apesar da mistura de ritmos ser usual nas produções da Globo, há,
segundo os produtores de Cheias de Charme, uma aposta no que eles chamaram de
‘música popularíssima brasileira’” (MACEDO, 2012, p. 10), Macedo identifica um
esforço de aproximação com as novas tendências musicais que emergem das
periferias e ganham corpo através da democratização da produção musical e novas
formas de difusão de conteúdo através da internet e de novas plataformas midiáticas.
Se faz importante, nesse momento, ressaltar que as classificações acima
mencionadas estão baseadas nos conceitos do mercado e das pesquisas de mídia
8
realizadas por empresas de marketing e publicidade do país. Dessa forma, a
estratificação de hábitos de consumo e a própria definição de “cultura popular” ou de
“classes populares” está intimamente relacionada com o poder aquisitivo e com os
operadores de classificação econômico. Apesar desses critérios basearem as escolhas
das emissoras de TV, em especial no que diz respeito ao nosso objeto de estudo, se faz
necessário tensionar algumas questões.
A associação entre estratificação social, consumo e renda está naturalizada no
Brasil, dessa forma o ideal de mobilidade social e de crescimento econômico do país
foi construído a partir do discurso do consumo, das possibilidades de escolha e da
capacidade econômica de possuir. Para Barros (2006), o consumo é um grande
sistema classificatório a partir do qual se estabelecem aproximações e distinções
quase sempre relacionadas à classe social. A hierarquização promovida pelos
indicadores econômicos divide a sociedade e os indivíduos em grupos cujo critério
está focado na carência de aquisição dos bens materiais em detrimento de outros
aspectos imateriais, simbólicos e sociais como a transmissão do capital cultural e a
visão de mundo, por exemplo (SOUZA, 2012; BARROS, 2006). Nesse sentido,
Barros (2006) questiona a definição do conceito de cultura popular baseado
exclusivamente em aspectos econômicos: “A definição do que sejam as camadas
populares urbanas não pode ser reduzida a um único eixo de classificação,
especialmente ao que confina a uma questão de carência material.” (p. 02)
Hall (2003) também questiona a utilização genérica do termo “popular” e suas
associações com o mercado de bens de consumo cultural,
O termo [popular] pode ter uma variedade de significados, nem
todos eles uteis. Por exemplo, o significado que mais corresponde
ao senso comum: algo é "popular" porque as massas o escutam,
compram, leem, consomen e parecem apreciá-lo imensamente. Esta
é a definição comercial ou de "mercado" do termo. (p. 253)
9
No âmbito das inovações tecnológicas e narrativas, observamos que em Cheias
de Charme novos horizontes também foram explorados a partir da utilização das
novas tecnologias e de estratégias de transmidiação que não só garantiram um diálogo
mais direto e próximo com os telespectadores, mas também possibilitaram a
continuidade da narrativa que não se esgota nas exibições diárias da telenovela, mas
ao contrário, é ampliada com a participação da audiência na internet e com a
possibilidade de arquivamento e memória através da disponibilização dos capítulos no
site oficial da emissora e em blogs pessoais e perfis de redes sociais.
Em “Cheias de Charme” as estratégias de aproximação foram realizadas para
atrair um público brasileiro cada vez mais conectado com a internet, como apontam os
dados de uma pesquisa publicada em abril de 2012 realizada pelo Instituto Datafolha
em parceria com a agência de publicidade F/Nazca Saatchi & Saatchi. De acordo com
os dados há cerca de 84 milhões de internautas no Brasil; desse total houve um
crescimento significativo de usuários na classe C, alcançando 53% de usuários; 41
milhões acessam a internet em dispositivos móveis como celular e tablet; 76 milhões
de brasileiros (90% dos internautas) possuem perfil em redes sociais; cerca de metade
de usuários da internet móvel utiliza as redes sociais para comentar e/ou participar em
tempo real de conteúdo de outras mídias, em especial da televisão; 61% utilizam a
internet para visualizar conteúdo original veiculado em outros meios de comunicação
- sendo que 30% consome programas televisivos pela web. A publicação desses dados
nos dá o entendimento do contexto de consumidores no Brasil e nos mostra a
importância da internet no lazer e entretenimento do brasileiro, sinalizando para um
novo modo de consumir os produtos televisivos a partir da emergência de um novo
telespectador. Segundo Baccega,
A transformação do receptor em usuário de mídia favorece novos
modos de interação, como o espectador que prolonga na internet sua
experiência com a programação da TV. [...] Trata-se de um interator
conectado que manipula simultaneamente diferentes plataformas
comunicacionais mesclando os tênues limites entre o público e o
privado [...] dando origem a uma mescla pessoal e idiossincrática
cujos principais componentes são comunicação, entretenimento e
consumo, elementos que estão na base da experiência
contemporânea de mundo. (BACCEGA et al., 2013, p.72)
10
mistura programas ficcionais com programas reais da grade da emissora, dialoga com
cantores de sucesso em seus shows e possibilita a interação com os telespectadores a
partir de uma “segunda tela” no portal da TV Globo. Destacam-se, nesse sentido, o
blog Estrelas do Tom criado pelo personagem Tom Bastos, produtor musical do trio
Empreguetes. O blog era uma referência na telenovela e também se tornou na vida
real, dialogando constantemente com os telespectadores e conclamando-os a
participar através de concursos, como por exemplo a Batalha do Passinho, ou
incentivando a publicação de vídeos com paródias da música Vida de Empreguete. O
movimento Empreguetes para Sempre também foi lançado no Portal da TV Globo
onde não só artistas, mas também os fãs deixavam vídeos pedindo a volta do trio. A
página Trabalhador Doméstico também se destacou com informações sobre
legislação e leis trabalhistas para as domésticas. Assim, a produção confirma uma das
características mais marcantes das telenovelas, como afirma Pallottini (2012): “A
telenovela tende, pelos menos nos espíritos mais desavisados, a instituir uma confusão
entre ficção e realidade, dado o seu caráter invasivo [...] há um simulacro de
realidade, uma ficcionalização da realidade e uma realização da ficção” (pg.59).
O clipe Vida de Empreguete, que deu fama às protagonistas da trama, foi
produzido de forma caseira e se tornou um viral ao se espalhar pela internet
transformando as protagonistas da novela em celebridades virtuais, em uma clara
referência às tendências atuais onde “pessoas comuns” ganham fama após postarem
seus vídeos na web. Além disso, os grupos musicais fictícios fizeram participação em
programas reais como o Esquenta!, Domingão do Faustão, Encontro com Fátima
Bernardes, Video Show, Caldeirão do Huck e Mais Você, além de participarem de
encontros musicais com Ivete Sangalo, Luan Santana, Gaby Amarantos e João Neto e
Frederico.
A narrativa transmídia, por sua vez, é caracterizada pela “integração de
conteúdos e meios com o objetivo de evidenciar a colaboração do usuário, que passa a
ter vez e voz, tornando-se foco das atenções, como inventor de produtos e narrador de
experiências” (GUIMARÃES, 2013, p. 08). Assim, ao explorar essa potencialidade a
telenovela possibilitou uma convergência entre TV e internet, ampliando suas
potencialidades narrativas e oferecendo ao telespectador mais conteúdo além do
apresentado na TV. Assim, os autores inovaram ao exibir o clipe Vida de Empreguete
primeiro na internet para depois ir ao ar na novela, consolidando a produção como um
marco na experiência da convergência de mídias:
11
Pela primeira vez, a televisão cedeu para a internet a primazia na
exibição de uma cena-chave de teledramaturgia. Tudo isso sem
emulação. Foi com o clipe “Vida de empreguete”, apresentado
primeiro na internet (no sábado) e só bem depois (na segunda-feira)
em “Cheias de charme”, novela das 19h da TV Globo. O fato não
representou apenas um passo inédito para a teledramaturgia.
Significou uma movimentação nunca operada pela própria emissora.
A ousadia logo se revelou um acerto e com ganhos para ambas as
mídias. [...] (KOGUT apud BACCEGA et. al., 2013, p. 68-69)
Considerações Finais
12
REFERÊNCIAS
BACCEGA, M. A, et. al. Reconfigurações da ficção televisiva: perspectivas e
estratégias de transmidiação em Cheias de Charme. In: LOPES, Maria Immacolata
Vassallo (ORG.). Estratégias de transmidiação na ficção televisiva brasileira.
Porto Alegre: Sulina, 2013. p. 61 – 94 (v.03).
13
MALCHER, M. A. A telenovela como objeto científico. In: XXIII Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação, Intercom, Manaus. 2000.
14
DISCAPACIDAD, MUJER Y MEDIOS:
Sandra Meléndez-Labrador1
RESUMEN: Este capítulo pretende ofrecer un panorama sobre la realidad social de las
mujeres con discapacidad en Colombia, los antecedentes y posibilidades de abordaje
investigativo desde la comunicación y el estudio de los medios, y alentar con algunas ideas
la búsqueda de respuestas a preguntas que conlleven a erradicar la discriminación y a
mitigar la exclusión social con respecto a esta población desde nuestro campo disciplinario.
3 Cifras del Registro continuo para la localización y caracterización de personas con discapacidad y el
Ministerio de Salud y Protección Social
estas 452.255 mujeres colombianas con discapacidad son además afrodescendientes o
indígenas, adolescentes, campesinas, madres solteras cabezas de hogar, víctimas de
violencia, pobres4, sin estudios, desempleadas y/o pertenecientes a la comunidad LGBTI.
El anterior no es un panorama de ficción. De las 7.201.034 víctimas del conflicto
armado en Colombia registradas hasta marzo de 2015, 160.459 son personas con
discapacidad y 75.938 mujeres con discapacidad víctimas acentuadas de homicidio y
desplazamiento, amenazas, atentados, hostigamientos, desaparición forzada, pérdida de
bienes e inmuebles y delitos contra la libertad y la integridad sexual 5. Tan solo en Bogotá el
52% de las personas con discapacidad son mujeres y el 80% de quienes asumen el rol del
cuidador corresponden al género femenino. Adicionalmente, según datos de Profamilia, las
mujeres en Colombia son víctimas de cinco tipos de violencia: verbal o psicológica, física,
sexual, intrafamiliar y de género.
Las mujeres en las que pido que pensemos son mujeres que no pueden sentirse
identificadas con un modelo único y universal de mujer, debido a la etiquetación social y a
las diversas formas de discriminación que experimentan, derivadas de la interacción
compleja de factores sociales, políticos, culturales, económicos y simbólicos. En otras
palabras, son mujeres que están expuestas a experiencias concretas de discriminación en
distintos ejes dentro de una interseccionalidad estructural que comprende raza, género,
condición discapacitante, diversidad sexual, clase, entre otros condicionantes sociales.
Precisamente, en el preámbulo de la Convención sobre los Derechos de las Personas
con Discapacidad, promulgada por la Organización de las Naciones Unidas, en 2006, y
ratificada en más de 150 países6, en el numeral q se incluye esta situación: “Reconociendo
que las mujeres y las niñas con discapacidad suelen estar expuestas a un riesgo mayor,
dentro y fuera del hogar, de violencia, lesiones o abuso, abandono o trato negligente, malos
tratos o explotación”. Evidencia de esto son las ocho áreas clave que la organización
Mujeres con Discapacidad de Australia WWDA identificaron sobre derechos de niñas y
4 País número 12 de 168 con mayor desigualdad en el mundo, según datos publicados por PNUD en 2014.
5 Fuente: Registro Único de Víctimas (RUV) de la Red Nacional de Información (RNI) consultada en
rni.unidadvictimas.gov.co
6 Ratificada en Colombia en 2011.
adolescentes con discapacidad y que presentaron este año para consideración de la ONU 7:
1) La libertad de la esterilización forzada o bajo coacción; 2) La libertad de la
anticoncepción forzada; 3) La libertad de ejercer un control total sobre la salud sexual y
reproductiva; 4) La libertad de expresar la identidad de género y la sexualidad, así como el
acceso a información y recursos relevantes sobre la sexualidad e identidad de género; 5) La
libertad de toda forma de violencia, explotación y abuso; 6) El reconocimiento de la
naturaleza múltiple e interseccional de la identidad y la experiencia; 7) Derecho a la
educación inclusiva; 8) Derecho a la justicia y la libertad de la negación de la capacidad
jurídica y la toma de decisiones.
En este orden, la mujer colombiana con discapacidad puede llegar a tener aún más
riesgo que una sin discapacidad ante situaciones de violencia de género, bien porque
desconocen que la situación de violencia vivida es un delito denunciable (condición de
discapacidad cognitiva), o porque carecen de las condiciones para denunciar y hacerse oír
(condición de discapacidad sensorial). Es en este punto en el que la comunicación, los
medios y la información pueden convertirse en barreras que, al igual que las físicas y las
actitudinales, contribuyan a acentuar la exclusión social de estas mujeres, o idealmente
pueden constituirse vías de inclusión y reivindicación de sus derechos. Problemas como el
estigma, la invisibilización, la ignorancia, el miedo, el prejuicio y la vergüenza pueden ser
potenciados o mitigados a través de prácticas comunicativas y discursos justos o injustos,
impactando positiva o negativamente en la garantía de condiciones de vida dignas para
estas mujeres.
En términos de justicia social basta con consultar nuevamente la Convención para
comprender el importante rol que cumplen la comunicación, los medios y la información.
Por un lado, los órganos de los medios de comunicación deben ser alentados por los
gobiernos para difundir una imagen de las personas con discapacidad compatible con el
propósito de la Convención, así como para aceptar y facilitar la utilización de la lengua de
señas, el braile y formatos aumentativos y alternativos que garanticen a esta población la
accesibilidad a la información y la libertad de expresión y de opinión. Por el otro, nuestro
campo tiene una enorme incidencia con respecto a la toma de conciencia (artículo 8) en: a)
sensibilizar y fomentar el respeto de los derechos y la dignidad; b) promover la toma de
7 http://wwda.org.au/wp-content/uploads/2013/12/WWDA_Sub_CRC_GC_Adolescents.pdf
conciencia con respecto de las capacidades y aportaciones de estas personas; y c) luchar
contra los estereotipos, los prejuicios y las prácticas nocivas respecto a esta población,
incluidos los que se basan en el género en todos los ámbitos de la vida.
En otras palabras y para ser más clara en este capítulo, se puede analizar el
contenido mediático sobre las mujeres con discapacidad teniendo como base el “Catálogo
de recomendaciones para el tratamiento no sexista y no discriminatorio de las mujeres con
discapacidad en la publicidad” que sugiere: 1) visibilizar a las mujeres con discapacidad
relacionadas con el colectivo, ya que representan una mayoría con respecto al género en la
población con discapacidad; 2) usar su imagen en campañas publicitaria que no estén
relacionadas con la discapacidad; 3) visibilizarlas en campañas publicitarias de productos
de uso exclusivo para mujeres; 4) eliminar estereotipos, tópicos y prejuicios; 5) cuidar el
uso del lenguaje para erradicar fórmulas sexistas y discriminatoria; 6) utilizar formatos
accesibles; 7) trabajar las campañas en contacto con colectivos o movimientos asociativos
de mujeres con discapacidad.
Como reza en la Guía de estilo periodístico para informar sobre discapacidad, del
Ministerio de Comunicaciones de Colombia (1999, p.23):
Cuando el poder de los medios se orienta por la voluntad de generar impacto social a favor
de las personas con discapacidad, se evidencia en los espacios de cualquier medio, la presencia de
alumnos, maestros, mujeres, niñas, niños y jóvenes que interactúan social y familiarmente.
Justamente sobre el tema, la Alta Consejería Presidencial para la Equidad de la
Mujer en Colombia8 asegura que no hay equidad para la transmisión y difusión en los
medios de comunicación de las actividades y/o eventos con la población con discapacidad;
al igual que persisten imaginarios que perpetúan las labores de cuidado como exclusivas de
las mujeres.
Según esto, partamos de la justificación de un estudio de medios con respecto a la
discapacidad con enfoque de género. El Estudio General de Medios en Colombia (III –
2013) determinó que los medios con mayor audiencia son: televisión (95%), radio (71%),
internet (53%), revistas independientes (48%) y prensa (34%). El EGM (II-2013) ratifica
que de los 95 periódicos impresos que existen en Colombia (aproximadamente), El Tiempo
(domingo 1'949.143 lectores) y El Espectador (domingo 671.882 lectores) son los
periódicos tradicionales pagos a nivel nacional más leídos. Por su parte, la Encuesta de
Consumo Cultural del DANE encontró en 2012 que el 63.2% de los encuestados (mayores
de 12 años alfabetizados que habitan en las cabeceras municipales de las 6 regiones del
país) leyó periódicos impresos en el último mes así: 12-25 años (32%), 26-40 (28.5%) y 41-
64 (31.9%)9, mientras que en 201410 la cifra incrementó al 67.1%.
En ese sentido, si quisiera hacer, por ejemplo, un análisis de contenido de etiquetas
y lenguaje en los dos principales periódicos de Colombia: El Tiempo y El Espectador, se
11 Fuente: Programa de Acción por la Igualdad y la Inclusión Social – PAIIS de la Universidad de Los Andes,
Colombia.
Pasando al área de la accesibilidad, se encontró el estudio que en 1997 realizaron el
Instituto Nacional de Ciegos INCI y el Instituto Nacional de Sordos INSOR sobre el
“Consumo de medios por parte de la población discapacitada Colombiana: el caso de las
personas sordas y las personas ciegas”12, con el que se encontró, entre otros, que a) la
relación entre las personas sordas y los medios masivos de comunicación era mínima, y que
estos ni siquiera llegaban a la comunidad; y b) para esa fecha los usuarios de la lengua de
señas colombiana aún no habían podido usarla naturalmente, ni mucho menos desarrollarla.
Estos hallazgos, que valdría la pena revisar tras casi dos décadas, pueden incidir en la
manera como los medios masivos presentan y representan los temas referentes a las
mujeres con discapacidad. Los avances se han podido evidenciar en términos de avances en
política pública sobre accesibilidad en la televisión, pero es un hecho que tanto periódicos
como revistas en Colombia aún no son accesibles.
Consideraciones finales
Para concluir, si se tiene en cuenta que tanto discapacidad como género son
construcciones sociales elaboradas por una sociedad normalista para la primera y patriarcal
para la segunda, resulta definitivamente crucial estudiar el tipo de rol que desempeñan los
medios en Colombia con respecto a los imaginarios que se construyen sobre las mujeres
con discapacidad, papel que también podría influir en la manera como estas mujeres
construyen sus propias identidades individuales y colectivas. Esto permitiría determinar los
niveles de riesgo en los que las mujeres con discapacidad colombianas se encuentran con
respecto a la exclusión social que pueden experimentar de parte de los medios masivos de
comunicación.
En resumen, considero que se podrían incluir en los estudios de medios, mujeres y
discapacidad: el enfoque interseccional mencionado al inicio, la presentación de la realidad
social y la inclusión no solo desde la accesibilidad sino también teniendo en cuenta la
participación e incidencia en la construcción de sus propias representaciones e imágenes en
12 Financiado por el Ministerio de Comunicaciones, el Instituto Nacional para Sordos, el Instituto Nacional
para Ciegos.
los contenidos mediáticos, sin perder de vista las guías, manuales y decálogos13 que sobre
comunicación que no discrimina han aportado especialistas y organizaciones que trabajan
alrededor del tema de la discapacidad.
Referencias
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http://www.media-diversity.org/en/additional-files/documents/Z%20Current%20MDI
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Universidad Andina Simón Bolívar, 2012.
MINISTERIO DE COMUNICACIONES. Guía de estilo periodístico para informar sobre
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13 Consultar material en http://discapacidadycomunicaccion.blogspot.com.co/p/publicaciones.html
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2015.
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de las personas con discapacidad. New York, 2006. Disponible en:
<www.un.org/spanish/disabilities/default.asp?id=497 >. Acceso en: 10 mayo. 2015.
Valéria Castanho1
Introdução
1
Valéria Castanho é formada em Jornalismo e Relações Públicas pela Universidade de Brasília, onde também fez
especialização e Mestrado em Comunicação. Foi jornalista em vários jornais e assessora de comunicação em órgãos
públicos, privados e no terceiro setor. Foi professora de jornalismo e RP e desde 2005 é jornalista do Senado.
sociedade, mas também uma maior participação e engajamento constante do cidadão na construção
das principais políticas públicas de interesse público. Nesse artigo, usamos como estudo de caso o
Programa Interlegis, do Senado, iniciado há 18 anos com a missão de criar e desenvolver uma
comunidade virtual do Poder Legislativo brasileiro e levar tecnologia da informação, com produtos
e serviços em diversas áreas, para ajudar no processo de modernização, integração e maior
transparência das casas legislativas brasileiras.
Sociedade da Informação
Chega a ser espantoso que, há menos de 100 anos, no período entre as duas grandes guerras
mundiais, a sociedade de massa era definida como um espaço composto por indivíduos desprovidos
de ideologias. Eles eram inseridos na chamada Teoria Hipodérmica da Comunicação, que os
classificava como pessoas “atomizadas”, com “poucas ou nenhuma possibilidade de exercer uma
ação ou uma influência recíproca” (WOLF, 1985, p.23).
Até mesmo a definição da própria esfera pública ou espaço público, expressão ainda tão utilizada
nos dias atuais, e que foi definida inicialmente pelo filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas
como “uma esfera das pessoas privadas reunidas em um público” (1984, p.42), mas regulada pela
autoridade, hoje ganha contornos mais amplos. Essa nova esfera pública digital, segundo Levy ,
“não é recortada mais por territórios geográficos, mas diretamente mundial” (2010, p.13). Para
Matos, atualmente, “esfera pública é esse conjunto de espaços físicos e imateriais em que os agentes
sociais podem efetivar sua participação no processo de comunicação pública” (2012, p.52).
Comunicação Pública
É nesse cenário, à luz de conceitos diversos e suas constantes adaptações às novas exigências da
Sociedade da Informação, que o termo Comunicação Pública surge e se torna fundamental para a
definição e a própria compreensão da esfera pública digital, onde sociedade e Estado precisam se
entender e compartilhar essa nova estrada ainda em construção chamada cibercultura 4, também
conhecida como civilização da inteligência coletiva.
No Brasil, muito se discute ainda hoje, entre os estudiosos da Comunicação Pública, a dificuldade
em se adotar um conceito definitivo para o termo no cenário nacional, devido à tendência em se
identificar, como sinônimo de pública, várias outras denominações, como a comunicação
4
André Lemos define Cibercultura como o conjunto tecnocultural emergente no final do século XX, impulsionado
pela sociabilidade pós-moderna em sinergia com a microinformática e o surgimento das redes telemáticas mundiais,
práticas de consumo cultural, ritmos de produção e distribuição da informação, criando novas relações no trabalho e
no lazer, novas formas de sociabilidade e mobilidade.
governamental, a comunicação política e a própria comunicação organizacional (seja ela da área
pública, privada ou mesmo do terceiro setor), entre outras.
Mas usar o termo verdadeira comunicação pública não nos parece correto porque pressupõe serem
falsos os demais tipos de definições para a comunicação de diferentes atores com seus mais
diversos públicos. De fato, comunicação pública, no contexto teórico em que se propõe dentro dos
estudos da comunicação, só pode ser entendida como sinônimo de cidadania e voltada
exclusivamente para os reais interesses públicos.
Por outro lado, outros tipos de comunicação, que, em muitas situações, estão voltados para a
promoção da imagem de governos e suas ações, de partidos políticos e dos próprios políticos e
demais autoridades públicas, podem também desempenhar papel de público quando trabalham com
a informação voltada para a participação política e a cidadania.
Enfim, se a comunicação pública é uma opção no terceiro setor e na área privada, embora, na
sociedade da informação, tenha ganhado caráter obrigatório, já que seus públicos alvos, hoje, têm
demonstrado especial interesse por consumir produtos e ideias de organizações comprometidas com
a responsabilidade social e os interesses da sociedade, o mesmo não acontece no setor público. Esse
deve atuar obrigatoriamente e integralmente com a comunicação pública, porque tem o dever de
prestar de contas (accountability)5 de seus atos à sociedade.
A comunicação praticada na Administração Pública deve, portanto, nesse contexto, ser unicamente
um canal de relacionamento entre sociedade e Estado, na busca permanente pela participação
popular para a construção conjunta de políticas públicas comprometidas com a cidadania. Políticos
e demais autoridades públicas devem, até mesmo pelo preceito constitucional da impessoalidade 6,
evitar, assim, usar seus departamentos de comunicação social para se autopromoverem ou defender
interesses pessoais.
As crescentes manifestações públicas iniciadas em 2013 são um recado claro dos cidadãos nesse
sentido e para que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário prestem mais atenção nas
reivindicações da sociedade organizada, que não está mais disposta a suportar práticas distanciadas
dos reais interesses públicos.
E a resposta a essa exigência da sociedade está também na correta condução da comunicação dentro
das organizações públicas, que deve ser promovida com ética e honestidade, com base nos bons
resultados da gestão.
5
Termo que remete a palavras como ética e responsabilidade civil, pelo qual os detentores de funções de importância
na sociedade devem prestar contas a instâncias controladoras e a seus representados.
6
O caput e o parágrafo 1º d artigo 37 da Constituição Federal impedem qualquer tipo de identificação entre a
publicidade e os detentores de cargos públicos, inclusive os partidos políticos a que pertencem. Esse mesmo
dispositivo constitucional vincula a publicidade ao caráter educativo, informativo ou de orientação social, proibindo a
menção de nomes, símbolos ou imagens que caracterizam promoção pessoal ou de servidores públicos.
maior disponibilidade de informações sobre a gestão pública nos portais governamentais até o uso
de plataformas interativas e de troca de informações, por meio das quais a sociedade pode participar
de debates até mesmo online nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ou mesmo colaborar
na construção de agendas e políticas públicas que representam os reais interesses coletivos.
O Compromisso do Senado
O Parlamento brasileiro, como articulador e responsável pela formulação das políticas públicas
nacionais, tem sido palco de intensos debates e alvos da sociedade organizada, cada vez mais
atuante na luta por espaços de participação no processo político de construção e organização do
Estado. Ciente desse crescente interesse e também direito da sociedade em participar mais
ativamente das decisões políticas, o Senado tem buscado uma comunicação cada vez mais
transparente e comprometida com seus diversos públicos, por meio de uma variedade de
ferramentas que garantem ao cidadão a interatividade e até mesmo a interferência na agenda política
da Casa.
Com seus funcionários, o Senado tem criado inúmeros eventos e canais de diálogo, onde não só
procura valorizá-los, como também construir um espaço conjunto de participação e compromisso
para a direção da casa. São vários os exemplos, como a “Manhã de Ideias 7”, que disponibiliza dia e
horário para que um servidor inscrito tenha 15 minutos para apresentar, pessoalmente, a um grupo
de diretores da área administrativa, uma sugestão para a melhoria da Casa, sem a necessidade de
elaborar qualquer documento ou projeto.
Outra ferramenta forte na comunicação com o público interno do Senado é a intranet, criada em
2010, mas ampliada e reformulada em 2012 para passar a divulgar uma série de ações que seriam
7
A matéria intitulada “servidores dão ideias para a administração do Senado” está disponível em<
www12.senado.gov.br/jornal/edicoes/2014/10/15servidores-dao-ideias-para-administracao-do-senado. . Acesso em:
11 mai. 2015.
iniciadas a partir de então para valorização da instituição, do servidor, do ambiente de trabalho e da
comunidade8.
Em documento intitulado “Carta 90 dias”, divulgado pela intranet, em que a então recém-
empossada direção do Senado divulga as principais ações nos primeiros três meses de gestão, é
dado ênfase no desejo de estabelecer “uma política de portas abertas e de fluida comunicação com
todos da Casa”9.
Para atingir e estimular o seu público interno, o Senado tem atuado por meio de várias ações, como
debates sobre assedio sexual; homenagem às servidoras mais antigas e também aos já aposentados;
inauguração da sala de amamentação; projeto Talentos do Senado; curso de capacitação gerencial;
oficinas de culinárias, de yoga e de dança, entre outras; visitas guiadas de servidores de um setor a
outros locais de trabalho dentro da instituição; serviço de ajuda financeira e de coaching; programas
diversos como de gerenciamento de estresse e de caminhos para a aposentadoria; publicação de
artigos escritos pelos servidores sobre temas de interesse coletivo; entre muitos outros exemplos.
Esse tipo de ação de valorização do público interno, inclusive por meio de uma comunicação mais
dirigida é, segundo o francês Pierre Zémor, a principal chave para o estabelecimento de uma
identidade entre organização e servidor. Ele explica que “a comunicação interna deve favorecer sua
intervenção nos procedimentos, sua participação nas decisões e a partilha de responsabilidades.
Ficará, assim, satisfeito um objetivo de comunicação externa, considerando-se o papel de
comunicação que, cedo ou tarde, retorna a todo agente público10” (2012, p. 240).
Da mesma forma pensa Curvello, segundo o qual a comunicação interna se insere num contexto em
que as organizações exigem mais qualificação dos empregados, assim como maior iniciativa e até
mesmo participação na tomada de decisões da direção. A forma como a organização se comunica
com seus funcionários é importante para a construção de uma identidade que, segundo Curvello,
“condiciona as possibilidades de desempenho, o nível de efetividade, sua viabilidade, seu êxito ou
seu fracasso”. Para ele:
Outra iniciativa importante da Casa foi a Carta de Compromissos do Senado, um documento com
11 itens, escrito por servidores e corpo administrativo da instituição, para indicar como deve agir o
Parlamento com a sociedade. Divulgada internamente por meio de um evento com a participação de
cerca de 500 servidores e depois para toda a sociedade, a carta foi elaborada após ter ficado por um
mês na intranet, para colher sugestões internas.
No texto “Políticas de Comunicação Legislativa”, Novelli e Burity argumentam que abrir mais
canais de comunicação com o Parlamento garante a transparência das decisões e dos processos
políticos. “Concretamente, a comunicação legislativa apresenta resultados esperados ao provocar
novos comportamentos políticos, particularmente no estreitamento da relação dos parlamentares
com os cidadãos, a opinião política e a sociedade civil” (2010, p.277).
11
A matéria intitulada “Mais de 500 servidores assistiram à apresentação da Carta de Compromissos do Senado”,
com a integridade do documento e a explicação de cada um dos 11 itens, está disponível em
www.senado.leg.br/noticias/arquivos/2015/04/22/carta-de-compromissos-do-senado. Acesso em: 1º mai. 2015.
12
Mais informações sobre esses quatro veículos podem ser obtidas na página do Senado, acessando cada um deles,
pelo <www.senado.gov.br>.
Alguns exemplos desses de veículos de interatividade criados pelo Senado para promover maior
interação com o cidadão são o Alô Senado13, o e-Cidadania14, a Ouvidoria15, a Secretaria de
Transparência16 e o Data Senado17, entre outros. Segundo Brandão, essas novas práticas de
comunicação política com a sociedade têm um forte componente político participativo e “aparecem
no cenário político brasileiro (e de outros países) como uma promessa de participação mais ativa e
consciente dos cidadãos” (2012, p.5).
O Programa Interlegis
O Senado também tem usado as novas tecnologias de informação e comunicação, as chamadas TIC,
para incluir digitalmente casas legislativas de todo o Brasil, em especial de pequenos municípios,
para que possam melhorar a comunicação legislativa com a sociedade e, assim, obter a participação
do cidadão no processo democrático.
Esse papel é desempenhado desde 1997 pelo Programa Interlegis, criado com o objetivo de apoiar
o processo de modernização, integração e transparência do Poder Legislativo nos seus três níveis
(federal, estadual e municipal).
Primeira experiência de inclusão digital no âmbito parlamentar da América Latina e talvez o maior
programa de modernização e integração do Legislativo em todo o mundo (dadas as proporções
continentais do Brasil), o Interlegis atua por meio das TIC e uma comunidade virtual do Poder
Legislativo. Com isso, obtém o desenvolvimento colaborativo de soluções e transferência de
tecnologias em áreas diversas, com seus produtos e serviços. Tudo é desenvolvido com base em
softwares abertos e livres, para que sejam copiados e adaptados às necessidades de cada casa
legislativa e sem qualquer custo.
13
Criado em 1997, o Alô Senado permite que o cidadão entre em contato com o Senado por meio de carta, formulário
eletrônico na internet, redes sociais ou contato telefônico gratuito (0800-612211), para enviar mensagens diversas aos
senadores ou mesmo participar interativamente de audiências públicas e outros eventos da Casa. Mais informações
pelo link <www.senado.gov.br/senado/alosenado>.
14
O e-Cidadania foi criado em 2012 para estimular e possibilitar a maior participação e engajamento mais direto e
efetivo dos cidadãos no processo legislativo, com ideias, discussões e ações voltadas para temas em debate no Senado
e na sociedade. Mais informações pelo link <www12.senado.gov.br/ecidadania>.
15
Em funcionamento desde 2011, a Ouvidoria do Senado tem como objetivo receber e dar tratamento adequado a
sugestões, críticas, reclamações, denúncias e elogios da sociedade sobre atividades administrativas e legislativas do
Senado. Mais informações podem ser obtidas no relatório gerencial da Ouvidoria, disponível na página do Senado
em <www12.senado.gov.br/senado/ouvidoria>.
16
A Secretaria de Transparência do Senado foi criada em 2013 para garantir ao cidadão o acesso de dados,
informações e documentos de interesse coletivo ou geral, produzidos ou custodiados pelo Senado, e também prover o
apoio técnico ao Conselho de Transparência e Controle Social da Casa. Mais informações em
<www12.senado.gov.br/transparência>.
17
O DataSenado desenvolve pesquisas com o objetivo de estreitar a comunicação entre o Senado e as necessidades e
desejos da sociedade. Mais informações em <www.senado.gov.br/senado/datasenado>.
O Interlegis atua também por meio de videoconferências, redes sociais, oficinas de treinamento,
cursos presenciais e a distância (EAD) para capacitação de funcionários e parlamentares, bem como
a realização de eventos nacionais e regionais, além de uma série de publicações com informações
voltadas à comunidade legislativa.
Segundo Márcia Duarte, com a convergência das novas tecnologias, houve a multiplicação também
dos instrumentos de comunicação, que devem ser vistos como “essenciais para o empoderamento
das comunidades excluídas”:
Os produtos e serviços do Interlegis facilitam o dia a dia das casas legislativas, ampliando e
melhorando as atividades ligadas ao processo legislativo. Eles também ajudam no cumprimento de
leis criadas para garantir a boa gestão pública, como as leis de Acesso à Informação (LAI), da
Transparência (LC 131/2009) e da Responsabilidade Fiscal (LRF).
Outra marca do Interlegis é o compromisso com a transferência de tecnologia também para outros
países. Com esse propósito, o Programa tem enviado e recebido missões de cooperação de várias
nações, promovido cursos de capacitação a técnicos do Mercosul e participado de inúmeros eventos
internacionais.
Portal Modelo
O Portal Modelo possibilita à casa legislativa criar e publicar seu próprio site na internet, de
maneira simples, rápida e gratuita, podendo ainda ser hospedado no banco de dados do Interlegis.
Domínio.leg
O leg.br padroniza o domínio do Poder Legislativo, reforçando sua identidade e autonomia.
SAPL
SAAP
O Sistema de Apoio à Atividade Parlamentar (SAAP) funciona como uma espécie de gabinete
virtual, oferecendo ao parlamentar um conjunto de ferramentas que facilitam o seu dia a dia.
SPDO
Colab
Fases do Interlegis
Nesses 18 anos de existência, o Programa passou por duas fases - Interlegis I (1997/2006) e
Interlegis II (2007/2014) –, ambas com financiamento do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e igual contrapartida do Governo Brasileiro. A partir de 2015, iniciou sua
terceira etapa, com a bandeira da sustentabilidade social, ambiental e econômica e sem empréstimo
internacional.
A primeira fase do Interlegis representou uma drástica redução da exclusão digital em câmaras
municipais de todo país no início da primeira década do século XXI. Conhecida como fase de
estruturação do Programa, o Interlegis I foi marcado pela construção do prédio sede, em Brasília, a
instalação de equipamentos de informática e de videoconferência em 31 pontos diferentes do Brasil
e a doação e instalação de equipamentos de informática em cerca de 3.300 casas legislativas de todo
o país.
Essa doação, no início do Programa, foi fundamental para que muitas câmaras municipais,
principalmente às do interior do Brasil, em cidades mais carentes, pudessem iniciar o processo de
inclusão digital.
O relatório final do Interlegis/BID18 também apontou a existência de 45.791 servidores das casas
legislativas integrantes da Rede Nacional Interlegis (RNI), dos quais 29.945 foram capacitados
pelos cursos e oficinas oferecidos pelo Programa.
Uma das propostas em estudo para a sustentabilidade do Interlegis na terceira fase é a criação do
Fundo Setorial de Modernização do Legislativo (Funlegis) como uma das fontes de autonomia
financeira e fomento.
O Interlegis III busca uma participação mais efetiva do cidadão no processo legislativo, para a
consolidação de um parlamento que legisle para o futuro. A continuidade do Programa, nessa
terceira fase, ficará condicionada também à manutenção da capacidade alcançada pelo Interlegis até
o final de 2014, principalmente no poder de integração da comunidade legislativa.
Considerações finais
Enfim, a Sociedade da Informação é uma realidade mundial que se amplia a cada dia. Nessa esfera
pública não mais limitada por um espaço físico, mas desterritorializada pela internet e as chamadas
TIC, a comunicação tem que ser cada vez mais transparente e voltada para a cidadania, seja ela nos
órgãos públicos, privados ou no terceiro setor.
Nos órgãos estatais, então, que têm por obrigação divulgar com transparência todos os seus atos, a
comunicação tem que ser comprometida com seus diversos públicos, sejam eles internos ou
externos. No Legislativo não pode ser diferente, até porque a Casa das Leis é formada por
representantes eleitos por uma sociedade que, na era digital, exige ser bem representada.
18
O relatório está disponível na página do BID em <www.iadb.org/es/proyectos/project-information-page/1303.html?
id=BR0288>. Acesso em: 20 abr. 2015.
O Caminho do Senado, ampliando a comunicação interna, pela intranet, e estimulando o
engajamento do seu público interno, bem como criando programas e portais interativos com a
sociedade, é o da cidadania, na construção de uma estrada em direção à democracia participativa,
tão defendida nos últimos tempos.
Também as TIC, no Parlamento, têm uma importante missão de integrar e interconectar Legislativo
e sociedade, não para substituir a reunião física de parlamentares por virtual, mas para proporcionar
a ciberdemocracia em torno de decisões mais transparentes e voltadas para os reais interesses da
sociedade. Nessa comunicação voltada para as comunidades virtuais, a exemplo do Programa
Interlegis e seus diversos produtos criados para apoiar o processo de modernização, integração e
transparência do Poder Legislativo em todos os níveis, o objetivo é, segundo Lemos e Levy, “apoiar
o diálogo, a deliberação, a decisão e a ação de todos os cidadãos que desejam dela participar”
(2010, p.192).
Não há, portanto, nessa Sociedade da Informação do século XXI, um espaço em que a comunicação
pública possa existir sem que palavras como cidadania, democracia, participação, compromisso,
interatividade e transparência estejam presentes.
Referências
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Pública: Estado, Mercado, Sociedade e Interesse Público. São Paulo: Atlas, 2012, p. 214- 241.
A cobertura noticiosa de protestos no Brasil: considerações iniciais acerca de
gatekeeper, newsmaking e valores-notícia e da Teoria da Agenda
Vanessa Beltrame1
RESUMO: Esta pesquisa, ainda em fase inicial, procura entender de que maneira a
mídia impressa trata das manifestações populares que pedem por mudanças de cunho
sociopolítico no Brasil. Antes da investigação em si, contudo, faz-se necessária a
revisão dos conceitos de gatekeeper, newsmaking e valores-notícia e da Teoria da
Agenda, que serão o tema deste artigo e servirão de base para o trabalho futuro. Assim,
será possível analisar, na próxima fase da pesquisa, a cobertura dos protestos de rua que
ocorreram em alguns dos maiores levantes populares desde o início do processo de
redemocratização do país, apontando diferenças e semelhanças nos valores-notícia e
critérios de agendamento e de enquadramento.
Introdução
1
A investigação se dará em três momentos históricos distintos. Começará com o
movimento pelas Diretas Já, de 1984, em que a população tomou as ruas para pedir a
eleição de um presidente, após 20 anos de ditadura militar, e seguirá com o movimento
dos caras-pintadas, de 1992, que exigia o impeachment do então presidente Fernando
Collor de Mello. Por fim, será analisada a cobertura dispensada às Jornadas de Junho 2,
em 2013, manifestações populares que clamaram por mudanças políticas e sociais no
Brasil, e iniciadas com reivindicações de redução do preço da passagem de ônibus em
diversas capitais. Apesar de o contexto histórico e de as reivindicações de cada
movimento serem bastante distintas, a massiva reunião de pessoas nesses atos converge
para pontos em comum, como o descontentamento visível com a ordem política
instituída.
À primeira vista, o limbo silencioso de mais de 20 anos entre o movimento dos
caras-pintadas e as Jornadas de Junho pode causar estranheza, mas é explicado pelo fato
de não haver registro de outras manifestações de cunho político que tenham atingido
diversos estados do Brasil concomitantemente em todos estes anos. Sendo eventos deste
tipo relativamente raros (apenas três em um intervalo de 29 anos), é curioso entender
como a imprensa se comporta ao realizar estas coberturas.
Para dar sustentação à pesquisa, serão analisadas edições dos jornais Folha de São
Paulo e O Globo que façam referência aos protestos relacionados a qualquer um desses
três eventos históricos, conforme explicaremos logo mais, no tópico destinado ao
aprofundamento da metodologia.
2“Jornadas de Junho” é a alcunha dada aos protestos que se espalharam por várias cidades do Brasil em
junho de 2013. O termo foi amplamente utilizado no primeiro livro publicado sobre o tema,o Cidades
Rebeldes (2013), e também será adotado neste projeto.
2
De acordo com Traquina (2005), David White, em 1950, foi o pioneiro na
aplicação deste conceito ao campo jornalístico, referindo-se às notícias que passam por
diversos gates (portões) antes de serem publicadas ou descartadas. O jornalista exerce,
nesse contexto, o papel de porteiro (gatekeeper), decidindo o que passa pelo portão e o
que fica para trás. O estudo de White demonstrou que “as decisões do jornalista eram
altamente subjetivas e dependentes de juízos de valor” (TRAQUINA, 2005, p. 150).
A White, seguiram-se diversos outros estudos sobre o processo de seleção de
notícias que refutam a conclusão de que as decisões do jornalista transpassam
preferências pessoais. Entre elas, Traquina (2005, p. 151) cita o trabalho de McCombs e
Shaw, de 1976, e de Hirsch, de 1977, que “reanalisaram os dados de White e apontaram
a semelhança das proporções de notícias das diversas categorias utilizadas pelo serviço
das agências e as notícias selecionadas” para serem publicadas no jornal.
Já o newsmaking (produção de informação) tem como paradigma principal a
construção social da realidade. Os estudos sobre essa teoria articulam-se em duas
abordagens principais, segundo Wolf (2002, p. 188): “a cultura profissional dos
jornalistas e a organização do trabalho e dos processos produtivos”. Ao corroborar essa
ideia, Pena (2005, p. 128) afirma que esse modelo teórico leva em conta “critérios como
noticiabilidade, valores-notícia, constrangimentos organizacionais, construção da
audiência e rotinas de produção”.
Esta prática da noticiabilidade no newsmaking “é constituída pelo conjunto de
requisitos que se exigem dos acontecimentos [...] para adquirirem a existência pública
de notícias” (WOLF, 2002, p. 190). No conjunto, estão inseridos os valores-notícia (ou
critérios de noticiabilidade), que podem ser classificados como sendo de seleção ou de
construção:
Para Wolf, os valores-notícia de seleção referem-se aos critérios que
os jornalistas utilizam na seleção dos acontecimentos, isto é, na
decisão de escolher um acontecimento como candidato à sua
transformação em notícia e esquecer outro acontecimento. [...] Os
valores-notícia de construção são qualidades da sua construção como
notícia e funcionam como linhas-guia para a apresentação do material,
sugerindo o que deve ser realçado, o que deve ser omitido, o que deve
ser prioritário na construção do acontecimento como notícia.
(TRAQUINA, 2005a, p. 78)
3
em cidades brasileiras), “relevância” (têm impacto não só sobre as pessoas, mas também
sobre o país), “novidade” (acontecimentos espaçados no tempo), “notabilidade”
(envolve uma quantia considerável de pessoas), etc., a preocupação deste trabalho se
dará nos valores-notícia de construção (simplificação, amplificação, relevância,
personalização, dramatização e consonância).
Sendo assim, para entender como são construídas essas coberturas noticiosas, é
preciso questionar quais elementos dessas manifestações foram incluídos na produção
da notícia. Além disso, esse entendimento poderá levar a outro questionamento: quais
tópicos (reivindicações, acontecimentos, discursos, etc.) desses eventos são agendados
pela mídia?
Teoria da Agenda
4
Sabemos que o agendamento funciona como uma tentativa de influência sobre a
cognição do discurso midiático, intencional ou não, a partir dos fatos que são incluídos
ou excluídos no conteúdo. Sendo assim, “o pressuposto fundamental do agenda-setting
é que a compreensão que as pessoas têm de grande parte da realidade social lhes é
fornecida, por empréstimo, pelos mass media” (SHAW, 1979 apud WOLF, 2002, p.
145).
5
Por depender de um espaço público 4 que proporcione o debate, a opinião pública,
atualmente, é praticamente indissociável da mídia, que, por sua vez, está
majoritariamente ligada a interesses econômicos. Segundo Habermas (2003, p. 216), a
imprensa passa a servir a interesses comerciais e particulares a partir do surgimento dos
anúncios em publicações jornalísticas, que proporcionam a evolução de uma “imprensa
politizante” para uma “imprensa comercializada”. O advento dessa indústria da
publicidade proporciona aos relações públicas inserirem seu material nos meios de
comunicação ou diretamente no espaço público, tornando a opinião do público
facilmente trabalhável pela mídia. A esta manipulação, Habermas confere o título de
“opinião pública encenada”.
No cenário atual de formação de opinião pública, podemos perceber que as
reivindicações de movimentos sociais e políticos no Brasil têm a tendência de entrar na
pauta da mídia quando a agenda é negativa. Dificilmente encontraremos na grande
mídia a cobertura de um “protesto sem protesto”, como Viana (2013, p. 56) chama as
manifestações ditas pacíficas.
Portanto, só terão conhecimento das pautas de reivindicações aqueles leitores que
buscarem outros meios de informação que não os grandes jornais, na mídia alternativa
ou nos meios de divulgação dos próprios movimentos sociais. Isso porque o cidadão
brasileiro ainda tem dificuldade em acessar a informação completa sobre diferentes
assuntos na mídia.
Com o advento e massificação do uso das novas tecnologias de informação e
comunicação (TICs), a imprensa nacional passou por um momento de reinvenção,
investindo em conteúdos para a internet e para as mídias sociais. Esta transição é
apontada por Wolton (2004, p. 301) como problemática, pois “quanto mais fácil
tecnicamente fazer informação, mais seu conteúdo traz dificuldades”.
Para o autor, três crises cercam o jornalismo: os problemas econômicos (que
trazem à tona um mercado de trabalho em recessão), os problemas técnicos (a
dificuldade em transformar o fato em notícia nas transmissões) e os problemas políticos
(o abuso da liberdade de informação). Entre dez caminhos que esse autor sugere para a
adaptação do jornalista às crises da profissão, está reencontrar a confiança do público:
Apesar de seus discursos, os jornalistas têm pouca curiosidade a
respeito do público. Eles demonstram muitas vezes em relação ao
4Entendem-se o espaço público e a esfera pública como termos sinônimos. Definiremos o conceito como
o lugar (não necessariamente físico) para onde se encaminham e onde se discutem os temas que afetam a
sociedade.
6
público uma relativa indiferença, e falta pouco para eles pensarem que
sua profissão os coloca “à frente” do público. Como se o fato de saber
antes dos outros criasse uma diferença... Além disso, os jornalistas têm
uma visão qualitativa do público muito sumária, na qual dois polos
emergem: o paternalismo e o medo de ser criticado. (WOLTON, 2004,
p. 308)
É possível exemplificar esta visão simplificada que a mídia tem de seu público
com o episódio que Viana (2013) conta ter ocorrido no dia 13 de junho de 2013, durante
a transmissão de uma manifestação no programa Brasil Urgente, apresentado por José
Luiz Datena. A autora relata que, enquanto o âncora esbravejava contra a “baderna”
causada pelos protestos, a maioria dos telespectadores votava “sim” para responder à
enquete “você é a favor desse tipo de protesto?”. Visivelmente desconfortável com o
resultado, Datena questionou-se se a pergunta havia sido mal formulada, e pediu à
produção do programa que inserisse nova enquete no ar. Desta vez, com mais clareza:
“você é a favor de protesto com baderna?”.
“Cabia deixar evidente ao Deus-telespectador, já a ponto de ser chamado de
idiota, o que exatamente se queria dizer com a palavra, talvez demasiado tímida, ‘tipo’”
(VIANA, 2013, p. 54). Porém, a resposta seguiu a mesma: “sim”. É possível que, nesse
caso, a opinião pública estivesse reagindo à encenação apontada por Habermas?
Ao se enxergarem retratados na mídia como vândalos e baderneiros, em 2013, a
população passou a questionar também o poder da mídia. Porém, a grande mídia não
questionou a si mesma. E, nesse processo, ganharam espaço novas produções
jornalísticas independentes e colaborativas, como a Mídia Ninja Narrativas
Independentes, Jornalismo e Ação5, que agendou, de dentro das manifestações, pautas
favoráveis aos manifestantes, como os flagrantes forjados por policiais e a violenta
repressão, com balas de borracha, spray de pimenta e bombas de efeito moral.
É válido lembrar que, em um segundo momento, esta violência passou a ser
revelada também por alguns jornais, como a Folha de São Paulo, que teve uma repórter
atingida no rosto por uma bala de borracha disparada por um policial em sua direção no
dia 13 de junho. Ironicamente, mais cedo naquele mesmo dia, o editorial do periódico,
5 No portal, o grupo se identifica como “uma rede de comunicadores que produzem e distribuem
informação em movimento, agindo e comunicando”. Disponível em <https://ninja.oximity.com/>. Acesso
em 27 maio 2015.
7
intitulado Retomar a Paulista6, defendia mais rigor do poder público e da Polícia Militar
contra os manifestantes.
Metodologia
6 Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/06/1294185-editorial-retomar-a-
paulista.shtml>. Acesso em 27 maio 2015.
7 Disponível em <http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/noticias/2015/05/26/Circulacao-dos-
cinco-grandes-jornais-.html>. Acesso em 28 maio 2015.
8
Dessa maneira, pretendemos organizar e mapear informações, criando categorias a
serem determinadas a partir de uma observação inicial, como gênero jornalístico,
palavras-chave, fontes noticiosas, tamanho (em parágrafos) dispensados a cada
acontecimento, personagens em destaque, etc.
Após este primeiro filtro, será aplicada uma metodologia de Análise de Discurso
nas notícias que julgarmos mais emblemáticas, para entendermos como a mídia retrata
as manifestações em diferentes contextos históricos no Brasil. A ideia é caracterizar a
linha editorial da notícia em todos os três casos, por isso, focar-se-á na explicitação das
estruturas de linguagem dos textos dos jornais, relacionando-as ao contexto sócio-
histórico da produção do discurso.
Optou-se pela Análise de Discurso, pois este método proporciona a compreensão
dos sujeitos, da situação e da memória como condição de produção do discurso. Orlandi
(1996, p. 27) aponta três pontos como marcas fundamentais na produção do discurso: a
“ordem da língua como ordem própria”, “a intervenção do inconsciente e da ideologia”,
e “o estatuto e a forma da ‘interpretação’, como sintoma da relação da língua com a
exterioridade”.
Ao fim dessas análises, pretende-se chegar a conclusões que apontem de que
maneira são noticiados os protestos de cunho político no Brasil, também tornando
possível contextualizar como a mídia esteve envolvida nesses processos históricos a
partir da produção de seu conteúdo noticioso.
Referências bibliográficas:
9
MCCOMBS, Maxwell. A Teoria da Agenda: a mídia e a opinião pública. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2009.
VIANA, Silvia. Será que formulamos mal a pergunta?. In: MARICATO, Ermínia [et al].
Cidades Rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São
Paulo: Boitempo, Carta Maior, p. 53-58, 2013.
10
INFORMAÇÃO PÚBLICA, DEMOCRACIA DIGITAL E SERVIÇOS
ELETRÔNICOS DE GOVERNO: análise de serviços de solicitação de
informação pública na América Latina1
1
Trabalho derivado de dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de
mestre em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, sob orientação da Profa.
Dra. Maria Teresa Miceli Kerbauy. Linha de Pesquisa: Gestão e Políticas da Informação e da
Comunicação Midiática.
2
Mestre em Comunicação pelo Programa de Pós Graduação da FAAC/Unesp (2014). Graduada em
Comunicação Social - Hab. Publicidade e Propaganda pela Universidade do Sagrado Coração (2009).
Técnica em Informática pelo CTI/Unesp (2005).
3
Graduada em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara (1968),
Mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1979), Doutorado em
Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1992) e Pós-Doutorado em Ciência
Política pelo Instituto de Iberoamérica - Espanha (2011).
Direito à informação e novas tecnologias
A informação de que tratamos e que serve como recurso para uma participação
democrática do cidadão é chamada de informação pública. Diz respeito à informação
em poder do Estado ou que seja de interesse público. Depois de um intenso debate sobre
o que é informação e o conceito de público, Batista (2010) oferece a seguinte definição
que será utilizada neste trabalho a partir de agora:
O direito à informação tem em seu cerne a ideia de que os órgãos públicos não
detêm a informação para si, mas atuam como guardiães do bem público. Na maioria dos
países existe uma cultura de sigilo arraigada no âmbito do governo, que é baseada em
práticas e atitudes estabelecidas há muito tempo (MENDEL, 2009). De acordo com
Lopes (2011) muitos países na América Latina enfrentaram longos períodos de ditadura,
e por isso a construção da democracia na região está ainda em estágio inicial e, a
garantia de acesso à informação pública e de liberdade de expressão é ainda mais
importante. Essa garantia se efetiva através de legislações específicas baseadas na
premissa de um governo aberto, ou seja, um governo pautado nos princípios de
transparência, prestação de contas e responsabilização (accountability), participação
cidadã, tecnologia e inovação (CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO, 2014).
Legislações sobre o acesso à informação também fornecem diretrizes sobre obrigações,
procedimentos e prazos para a divulgação de informações públicas.
Não é nosso intuito discutir o âmbito político para acesso à informação, nem
aspectos de inclusão digital do cidadão. Mas é preciso lembrar a existência de
obstáculos à participação através das TIC, como a exclusão digital, desigualdade de
acesso à informática e internet, pouca habilidade técnica e discursiva, bem como
barreiras políticas culturais, organizacionais e constitucionais. A tecnologia precisa estar
integrada às tradicionais ferramentas offline de acesso à informação para que seja
aproveitada ao máximo, servindo como facilitadora do acesso. Diante disso,
objetivamos analisar serviços eletrônicos de informação pública ao cidadão na América
Latina e seu atendimento à universalidade sob os aspectos de acessibilidade e
usabilidade, no sentido de serem acessíveis e de utilização satisfatória a qualquer
pessoa, independentemente das condições físicas, meios técnicos ou dispositivos
utilizados.
Usabilidade é definida pela norma ISO 9241-11 (1998) como a medida na qual
um produto (ou site, como veremos) pode ser usado por usuários específicos para
alcançar objetivos específicos com eficácia, eficiência e satisfação em um contexto
específico de uso. Por eficácia entende-se o grau de precisão com que um usuário
consegue completar na íntegra uma determinada tarefa. Eficiência diz respeito aos
recursos utilizados em relação à precisão com a qual o usuário atinge seus objetivos. A
satisfação diz respeito ao nível de conforto e aceitação que o sistema produz nos
usuários. Usabilidade também se refere à ausência de desconforto e presença de atitudes
positivas para com o uso de um produto, site ou sistema (RIBEIRO, 2012).
Apesar das falhas, México e Brasil tiveram bom desempenho em nossa análise,
atendendo ao maior número de variáveis investigadas em todos os critérios
(acessibilidade, usabilidade e outros itens – aqueles referentes serviços de solicitação de
informação pública). El Salvador e Honduras tiveram um desempenho pouco inferior,
mas ainda acima dos demais. Guatemala, Peru e República Dominicana são alguns dos
países que têm somente formulários em que o cidadão pode fazer a solicitação de
informação pública, não havendo possibilidade de acompanhar o pedido ou fazer
recursos. Estes três últimos países tiveram o pior desempenho em relação à
universalização do serviço de solicitação de informação pública. Além dos erros de
acessibilidade, a usabilidade desses sites também apresentou pouca aderência às
questões propostas na análise. Ainda que os erros e problemas não impeçam,
necessariamente, o acesso ao serviço pode prejudicá-lo. Os erros de acessibilidade
podem comprometer a utilização por um determinado grupo de usuários, ou de pessoas
em determinada situação ou condição.
• Perguntas frequentes;
Considerações finais
ISO (International Standard Organization). ISO 9241 Part 11: Guidance on usability.
ISO 9241-11:1998.