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Coordenação-Geral de Ensino
Ana Claudia Bernardes Vilarinho de Oliveira
Coordenação Pedagógica
Joyce Cristine da Silva Carvalho
Gerente de Curso
Adriana Aparecida Vizzotto
Conteudistas
Juliana Teixeira de Souza Martins
Orlinda Cláudia Rosa de Moraes
Renata Avelar Giannini
Revisão Técnica
Denice Santiago Santos do Rosário
Revisão Pedagógica
Evania Santos Assunção Motta
Revisão Textual
Bruna Carolina da Silva Pereira
Programação e Edição
Renato Antunes dos Santos
Fábio Nevis dos Santos
Design Instrucional
Marcelo Pinto de Assis
Sumário
1. APRESENTAÇÃO DO CURSO ...................................................................................................... 5
2. OBJETIVOS DO CURSO .............................................................................................................. 7
2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................................. 7
2.2 Objetivos Específicos: .................................................................................................................. 7
3. ESTRUTURA DO CURSO............................................................................................................. 8
4. MÓDULOS DA FORMAÇÃO ....................................................................................................... 9
4.1 – Módulo I: Protagonismo de mulheres e enfrentamento da violência ................................ 9
4.1.1 Apresentação do módulo .................................................................................................... 9
4.1.2 Objetivos do módulo ......................................................................................................... 10
4.1.3 Estrutura do módulo.......................................................................................................... 11
4.1.3.1 Aula 1 – A evolução dos direitos humanos de mulheres........................................... 12
Evolução do direito das mulheres e meninas ................................................................... 13
As conferências internacionais de mulheres .................................................................... 16
Declarações da Assembleia Geral da ONU........................................................................ 20
Interseccionalidade e o marco normativo internacional de proteção dos direitos
humanos das mulheres ..................................................................................................... 21
Finalizando ........................................................................................................................ 23
4.1.3.2 Aula 2 - Principais Conceitos e Definições ................................................................. 23
Sexo ................................................................................................................................... 25
Gênero e Papéis Sociais de Gênero .................................................................................. 26
Identidade De Gênero ....................................................................................................... 31
Sexualidade ....................................................................................................................... 33
Orientação Sexual ............................................................................................................. 34
Atenção para não confundir: ............................................................................................ 35
Igualdade de Gênero e Feminismo ................................................................................... 38
Patriarcado e o Conceito de Família ................................................................................. 39
Interseccionalidade ........................................................................................................... 40
Finalizando ........................................................................................................................ 42
4.1.3.3 Aula 3 - Sensibilização à violência baseada em gênero ............................................. 43
Violência psicológica ou emocional .................................................................................. 44
Violência física ................................................................................................................... 45
Violência patrimonial ........................................................................................................ 45
Violência sexual ................................................................................................................ 45
Finalizando ........................................................................................................................ 47
4.1.3.4 Aula 4 - Participação, liderança e protagonismo de mulheres .................................. 48
Mulheres contribuem para o protagonismo e a estabilidade .......................................... 48
A agenda sobre mulheres paz e segurança....................................................................... 49
Resoluções sobre a agenda mulheres paz e segurança .................................................... 51
A agenda sobre mulheres, paz e segurança no Mundo, na América Latina e no Brasil ... 51
Finalizando ........................................................................................................................ 53
4.2 – Módulo II: Violências, estrutura de governança e políticas baseadas em evidências ....... 53
4.2.1 Apresentação do módulo .................................................................................................. 54
4.2.2 Objetivos do módulo ......................................................................................................... 54
4.2.3 Estrutura do módulo.......................................................................................................... 55
4.2.3.1 Aula 1 - O que os dados disponíveis nos dizem sobre violência contra mulheres e
meninas no Brasil? ................................................................................................................. 56
A Violência Doméstica....................................................................................................... 56
Violência Sexual................................................................................................................. 61
Violência Letal ................................................................................................................... 63
Fique por Dentro ............................................................................................................... 66
4.2.3.2 Aula 2 - Dados e Evidências na formulação de políticas públicas ............................. 68
Dados e evidências. Do que estamos falando?................................................................. 68
Que fontes de dados existem?.......................................................................................... 72
Saúde ................................................................................................................................. 73
Segurança Pública: ............................................................................................................ 74
Secretarias Estaduais de Segurança Pública: .................................................................... 74
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ........................................................ 75
Sociedade Civil................................................................................................................... 75
A importância dos registros feitos pelos profissionais do Susp........................................ 77
4.2.3.3 Aula 3 - Governança e a importância do trabalho em rede ...................................... 79
Estrutura de Governança da proteção de mulheres no Brasil .......................................... 79
Disque 100 e Ligue 180 ..................................................................................................... 84
O que é trabalho em rede? ............................................................................................... 84
A(s) rede(s) de proteção.................................................................................................... 86
Como Funciona.................................................................................................................. 87
Finalizando ........................................................................................................................ 89
4.3 – Módulo III: Aspectos operacionais e táticos fundamentais para o enfrentamento da
violência contra mulheres ...................................................................................................... 90
4.3.1 Apresentação do módulo .................................................................................................. 90
4.3.2 Objetivos do módulo ......................................................................................................... 90
4.3.3 Estrutura do módulo.......................................................................................................... 91
4.3.3.1 Aula 1 – O papel dos órgãos de segurança pública no enfrentamento da violência
contra mulheres e meninas. .................................................................................................. 93
Introdução ......................................................................................................................... 93
Violência contra a mulher é um problema de segurança pública ................................... 94
O enfrentamento da violência contra a mulher como parte da política de segurança
pública ............................................................................................................................... 97
Finalizando ...................................................................................................................... 100
4.3.3.2 Aula 2 - Legislação aplicada na proteção de mulheres e meninas em seus aspectos
práticos. ............................................................................................................................... 101
Introdução ....................................................................................................................... 101
Aspectos Gerais da Legislação e Aplicação Prática ......................................................... 104
Definindo a Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher ........................................ 105
As Formas de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher ..................................... 106
Aspectos Do Atendimento Às Mulheres Em Situação De Violência Doméstica ............. 107
Mas o que é revitimização? ............................................................................................ 108
Aspectos do Atendimento às Vítimas de Crimes Sexuais ............................................... 110
Medidas Protetivas de Urgência ..................................................................................... 115
Finalizando ...................................................................................................................... 117
4.3.3.3 Aula 3: Identificando a violência contra mulheres e meninas ................................ 118
Introdução ...................................................................................................................... 118
Principais aspectos da violência contra a mulher ........................................................... 118
Análise de risco ............................................................................................................... 119
Dimensões da avaliação de risco .................................................................................... 120
Fatores de Risco .............................................................................................................. 121
Fatores de proteção ........................................................................................................ 122
Classificação e gestão do risco ........................................................................................ 123
Gestão de Risco ............................................................................................................... 123
Plano de Segurança ......................................................................................................... 123
Formulário Nacional de Avaliação do Risco (FONAR) ..................................................... 124
Finalizando ...................................................................................................................... 127
4.3.3.4 Aula 4: Identificando o papel dos atores da segurança pública na redução da “rota
crítica” das vítimas de violência. .......................................................................................... 128
Introdução ....................................................................................................................... 128
Atuação da segurança pública com perspectiva de rede ............................................... 128
Rota crítica ...................................................................................................................... 131
E o papel dos atores da segurança pública na redução da “rota crítica” das vítimas de
violência?......................................................................................................................... 131
Finalizando ...................................................................................................................... 133
4.3.3.5 Aula 5: A atuação da segurança pública de modo integrado com os diferentes atores
da rede proteção e enfrentamento. .................................................................................... 134
Introdução ....................................................................................................................... 134
Atuação Integrada ........................................................................................................... 134
Vantagens de trabalhar de forma integrada .................................................................. 135
Desafios do trabalho integrado....................................................................................... 136
A segurança pública no contexto de integração operacional ......................................... 137
Finalizando ...................................................................................................................... 140
4.3.3.6 Aula 6: Serviços especializados no atendimento a mulheres e meninas no âmbito da
segurança pública. ............................................................................................................... 141
Introdução ....................................................................................................................... 141
As Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher ................................................ 142
Atribuições das DEAMs ................................................................................................... 143
Patrulhas e Rondas Maria da Penha ............................................................................... 146
Principais características e modelo de atuação: ............................................................. 147
Principais atividades das Patrulhas Maria da Penha: ..................................................... 149
Principais estratégias das Patrulhas Maria da Penha: .................................................... 151
Finalizando ...................................................................................................................... 152
4.3.3.7 Aula 7: Desafios da atuação quando os autores ou vítimas de violência contra a
mulher são profissionais de segurança pública. .................................................................. 154
Introdução ....................................................................................................................... 154
Prevenção e enfrentamento da violência doméstica nas instituições de segurança
pública ............................................................................................................................. 155
4.3.3.8 Aula 8 – Boas Práticas: Grupos Reflexivos para profissionais de segurança autores
de violência doméstica e familiar ........................................................................................ 160
Finalizando ...................................................................................................................... 161
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 163
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 6
APRESENTAÇÃO DO CURSO
que os (as) capacite a atuar de modo técnico, profissional e humanizado diante de cada
ocorrência, evitando, sobretudo, uma atuação revitimizante.
A ampliação do debate público sobre o tema, as alterações na legislação nacional
voltada ao enfrentamento da violência contra a mulher, bem como a necessidade de
padronização dos protocolos de atuação, tornam este um tema de interesse para todos os
profissionais do Sistema Único de Segurança Pública – Susp. Um dos principais
pressupostos do atendimento a mulheres e meninas em situação de violência é a
necessidade da intersetorialidade, ou seja, a perspectiva de um trabalho articulado e em
rede, entre órgãos e serviços das áreas de saúde, segurança pública, justiça, assistência
social, educação, dentre outras.
Primeiro Módulo
Apresenta uma introdução ao tema, destacando os principais conceitos, marcos
teóricos e normativos sobre o enfrentamento da violência contra mulheres e meninas, bem
como sobre a importância do protagonismo das mulheres na prevenção e redução da
violência.
Segundo Módulo
Aborda a estrutura de governança do enfrentamento desta forma de violência no
Brasil, bem como a importância do uso de dados e evidências para informar as políticas
públicas focadas nesta temática.
Terceiro módulo
Trata dos aspectos operacionais, práticos e legais, destacando experiências bem-
sucedidas no enfrentamento da violência contra mulheres e meninas, como as delegacias
especializadas, as Patrulhas/Rondas Maria da Penha, entre outros.
OBJETIVOS DO CURSO
3. ESTRUTURA DO CURSO
4. MÓDULOS DA FORMAÇÃO
1 mulheres;
Aula 1
Marco normativo internacional: a evolução dos direitos humanos de mulheres
Aula 2
Conceitos e Definições
Aula 3
Sensibilização à violência baseada em gênero
Aula 4
Participação, liderança e protagonismo de mulheres
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 13
Na Prática
Vocês sabem o que são os direitos humanos? Qual a importância deles? Por que eles
foram pensados? Como eles se relacionam aos direitos humanos de mulheres?
Gostaria de convidá-los e convidá-las a pensar nessas perguntas. Tire cinco minutos e
pense um pouco sobre elas. Anote em um papel e ao fim desta aula vamos comparar as
respostas.
Fonte: Wikipedia
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 14
Eleanor Roosevelt foi uma figura importante em São Francisco, nos Estados Unidos, local em que a Declaração foi assinada.
Na foto ela declara este que foi um dos primeiros documentos internacionais que falam sobre como os países devem tratar seus cidadãos
e cidadãs com dignidade e respeito.
Neste contexto, a presente aula explora a evolução dos direitos humanos das
mulheres, desde a sua origem a partir da evolução dos direitos humanos e do
reconhecimento da igualdade de gênero, até os dias atuais. Entender o progresso dos
direitos humanos significa entender como a desigualdade impõe barreiras para que mulheres
possam se desenvolver plenamente e contribuir para o desenvolvimento das sociedades em
que vivem.
Para abordar o tema dos direitos das mulheres e das meninas, recomenda-se um
entendimento sobre o “regime internacional de igualdade de gênero”, o contexto histórico em
que surgiu, bem como o que ele propõe. O termo regime se refere aos “princípios, normas,
regras e procedimentos decisórios de determinada área, sobre os quais as expectativas dos
atores são convergentes”.1 Tais regras e procedimentos podem ser explícitos, como a
codificação do Direito Internacional na forma de tratados, ou podem ser implícitos ou menos
vinculantes do ponto de vista formal, a exemplo das conferências internacionais. Estas
constituem importantes normas e ações, reunidos de maneira tal que conseguem influenciar
a ação do Estado. O regime de igualdade de gênero, como outros regimes, inclui uma série
de conferências, tratados, e diversificada rede de organizações, do nível global ao local,
incluindo organizações governamentais e não governamentais.
A Carta da ONU é um documento fundador do regime de igualdade de gênero. O
Preâmbulo da Carta reafirma, especificamente, a “fé nos direitos fundamentais humanos, na
dignidade e no valor do ser humano, nos direitos iguais dos homens e mulheres e das
grandes e pequenas nações, e […] na promoção do progresso social e de padrões de vida
melhores, em um contexto mais amplo de liberdade”. A Carta também enfatiza
especialmente a não discriminação contra mulheres e meninas, e a promoção da igualdade,
do equilíbrio e da equidade de gênero nos Capítulos I, III, IX e XII. Porém, alguns dos
princípios centrais que emergem na Carta, incluindo a igualdade soberana dos Estados, a
manutenção da paz e da segurança, e a não intervenção nos assuntos internos dos Estados,
Figura 4: Bertha Lutz A brasileira Bertha Lutz foi uma das cinco mulheres que participaram oficialmente como
durante os trabalhos da representantes de governo na Conferência de São Francisco, a qual originou a Organização das
Conferência de São
Nações Unidas, que é a principal organização internacional no âmbito da defesa de direitos. Bertha
Francisco - 1945
Lutz foi a responsável pela inclusão da igualdade de gênero na Carta deste importante organismo.
Uma enorme contribuição de uma brasileira para todas as mulheres do mundo.
.
institucional dentro da ONU, pelo que se tornou informalmente
Fonte: Câmara dos conhecido como a Carta Internacional de Direitos Humanos.
Deputados
Comitê. Para serem aceitas pelo Comitê, as comunicações individuais precisam atender a
uma série de critérios. Um exemplo é o esgotamento de todas as ações cabíveis em âmbito
nacional.
2. Segundo procedimento: permite que o Comitê inicie inquéritos sobre as
situações de violações graves ou sistemáticas de direitos das mulheres.
Em ambos os casos, para que sejam aceitos, os Estados devem ser partes
signatárias da Convenção e do Protocolo.2
Vimos na seção anterior que os direitos das mulheres avançaram através de três
instrumentos principais: a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, a inclusão da
igualdade de gênero no documento fundados da ONU, e a atuação da Comissão sobre o
Status da Mulher que gerou a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres, e uma série de protocolos adicionais. Porém, houve ainda
uma série de conferências internacionais que também contribuíram para avançar os direitos
das mulheres, em especial nas esferas econômica e política.
Entre 1975 e 1995, o regime de igualdade de gênero se consolidou em diversas
áreas através das quatro conferências globais sobre mulheres, realizadas na Cidade do
México, em Copenhague, na Dinamarca; em Nairóbi, no Quênia; e em Beijing, na China.
Essas conferências proporcionaram plataformas para negociações intergovernamentais e
deram às organizações de mulheres um palco internacional para a proposição de suas
reivindicações e para o seu trabalho em rede.
A primeira conferência foi convocada na Cidade do México para coincidir com o Ano
Internacional da Mulher, em 1975, oficializado para relembrar a comunidade internacional de
que a discriminação contra mulheres e meninas continuava a ser um problema na maior
parte do mundo. Esta primeira conferência focou no desenvolvimento de planos de ação para
atender três principais objetivos:
(1) a plena igualdade de gênero e a eliminação da discriminação de gênero;
(2) a integração e participação plena das mulheres nas ações relacionadas ao
desenvolvimento;
(3) a contribuição ampliada das mulheres para fortalecer a paz mundial.3
Fonte: ONU
Fonte: ONU
Fonte: ONU
6 Idem.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 21
Fonte: ONU
reconheceu a necessidade urgente da aplicação universal dos direitos das mulheres e dos
princípios a respeito da igualdade, segurança, liberdade, integridade e dignidade de todos
os seres humanos, e expressou sua preocupação com o fato de que a violência contra as
mulheres é um obstáculo à conquista da igualdade, do desenvolvimento e da paz. Ela
apontou que essa violência pode ser praticada por agressores de ambos os sexos, dentro
da família e do próprio Estado. Essas declarações e resoluções da Assembleia Geral, entre
outras, são peças centrais na compreensão do desenvolvimento e da trajetória do trabalho
da ONU na promoção da igualdade de gênero e do empoderamento de mulheres e meninas.
Mas além dos esforços com enfoque específico nas questões de gênero, outras
áreas dentro do Sistema ONU passaram por mudanças, criando espaço para que as
questões de gênero aparecessem em novos contextos, em particular no contexto da paz e
da segurança internacional. No final da década de 1990, por exemplo, no âmbito das graves
situações de violência em Ruanda e na ex-Iugoslávia, o Conselho de Segurança realizou
uma série de reuniões para tratar a questão da responsabilidade para proteger populações
civis em tempos de guerra.
Parte dessa mudança de pensamento estava relacionada à evolução do Direito
Internacional que, pela primeira vez, codificou o estupro e a violência sexual como crimes de
guerra, crimes contra a humanidade e atos de genocídio. Essa importante categorização
começou com os Tribunais Penais Internacionais para a ex-Iugoslávia e para Ruanda,
tornando-se permanente com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, em 1998.7
Neste, o estupro e a violência sexual são considerados crimes contra a humanidade. Esses
instrumentos internacionais históricos estão entre os fatores que pressionaram o Conselho
de Segurança a ampliar o seu entendimento do que constitui uma ameaça à segurança
internacional, estabelecendo uma jurisdição que vai além de um conflito armado
internacional, real ou iminente.
7 BRASIL, 2002.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 23
SAIBA MAIS
A necessidade de estabelecer um regime de proteção das mulheres surgiu em razão da
marginalização e exclusão das mulheres ao longo dos séculos, o que gerou oportunidades
desiguais de acesso a direitos, inclusive com relação aos papéis que desempenham na
sociedade. Por isso, o movimento feminista, muito antes da existência das Nações Unidas,
luta para o reconhecimento destes direitos, o que só aconteceu após a elaboração de uma
série de documentos que discutimos aqui brevemente. Para um breve resumo do conteúdo
desta aula, acesse o vídeo do Politize: "Direito das Mulheres: o que são e como surgiram? -
Projeto Equidade". Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wQHeL2hHe7g
Finalizando
Bom, agora que nós terminamos esse módulo, gostaria de convidá-los e convidá-las
a dar uma olhadinha naquele conteúdo que vocês pensaram na nossa atividade de abertura.
E então, suas respostas estão mais ou menos de acordo com o que aprenderam nessa
seção? Para facilitar vou fazer um resumindo aqui embaixo sobre o que aprendemos neste
módulo:
Na Prática
SAIBA MAIS
Sexo
Na Prática
14 Ver também: "Estereótipo de que 'matemática é para garotos' afasta meninas da tecnologia, diz
pesquisador", disponível em: https://tinyurl.com/5yeksysj.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 29
______________________________________________________________________
1. COMUNICAÇÃO VERBAL
2. VALORIZAÇÃO SOCIAL
Para os homens, a mulher dos sonhos é aquela que se encaixa dentro do padrão de
beleza. Para a mulher, o homem dos sonhos é admirado por outras características que não
só o seu corpo. A mulher aparece como um objeto: se o seu corpo for jovem e corresponder
ao desejado, não é necessário que ela tenha outra qualidade. Assim, o único interesse que
os homens têm nas mulheres reflete que elas são objetos sexuais, não seres pensantes com
quem compartilham sentimentos ou anseios.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 31
3. FOCO
Muitos argumentam que homens não conseguem lidar com mais de um assunto ao
mesmo tempo, tendo um único foco por vez. A mulher, por outro lado, teria a habilidade de
fazer várias coisas ao mesmo tempo ("multitasking"). Mas não se trata de uma habilidade
natural, mas de necessidade, pois enquanto o homem se dedica com atenção a cada uma
de suas atividades, a mulher fica pelas outras atividades pendentes, como as tarefas da casa
e dos filhos, além de seu trabalho, se for o caso.
______________________________________________________________________
Identidade De Gênero
é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal como homem, também denominada
transhomem trans-homem.17
A diferença entre transexuais e travestis está essencialmente na autoidentificação.
Se a pessoa deseja realizar a transição de gênero, através de tratamentos hormonais e
cirurgia de redesignação sexual, ela é transexual. Nesse caso, a pessoa gostaria que seu
corpo tivesse características do seu gênero (de como ela se identifica e se sente), não do
seu sexo biológico. Por outro lado, as travestis se identificam com o gênero oposto e adotam
suas expressões - comportamento, vestimentas etc -, mas não necessariamente desejam
mudar seu corpo. A questão social também tem papel fundamental nessa diferenciação, pois
muitas pessoas trans gostariam de realizar a transição de gênero, mas são impedidas por
dificuldades socioeconômicas. Desse modo, a autoidentificação é a melhor classificação,
visto que é baseada no desejo e no sentimento da pessoa e não em fatores físicos.
A transfobia é a discriminação que sofrem em função de sua identidade de gênero.
Por serem diferentes do padrão, pessoas trans sofrem muito preconceito e têm suas vidas
prejudicadas pela exclusão social e violência. Em geral, uma série de fatores deteriorantes
acomete a vida das pessoas trans: devido ao bullying e à perseguição nas escolas,
comunidades e mesmo em casa, dificilmente conseguem concluir sua educação; sem
instrução formal, não conseguem disputar espaço no mercado de trabalho formal 18 e são
forçadas a viver na marginalidade. As travestis19, em grande parte dos casos, sobrevivem
trabalhando como prostitutas.
A marginalização, porém, não é o pior que ocorre às pessoas trans. Elas sofrem
cotidianamente risco de vida devido à propagação do ódio e à desumanização de suas
imagens. O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo - apenas em
2021, foram 316 mortes violentas, sendo 285 assassinatos, 26 suicídios, e 5 mortes por
outras causas. 20
Um fator importante da sociabilização da pessoa trans é o nome social. Marcada ao
longo de sua vida pela dificuldade de viver em um corpo que não representa seu gênero, as
travestis e transexuais preferem ser chamadas pelo nome escolhido por elas, diferente de
seu nome do registro civil, ainda ligado a seu sexo biológico, com o qual não se identificam.
17 Identificar-se com as expressões de um gênero não é o mesmo que aceitar os papéis de gênero socialmente
impostos. A pessoa pode se identificar com ser mulher, sem reproduzir os estereótipos.
18 "ORIENTAÇÕES SOBRE IDENTIDADE DE GÊNERO: CONCEITOS E TERMOS". JESUS, Jacqueline
Gomes de. Brasília, 2012. P. 16. Disponível em: https://tinyurl.com/4denysk7.
19 Independente de como se identificam, a maioria das travestis preferem o tratamento no feminino. Portanto,
deve-se chamá-las de AS travestis, não OS travestis.
20 "Dossiê de mortes e violência contra LGBT+ no Brasil". Disponível em: https://tinyurl.com/yeysa6pr.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 34
Fonte: G1 – Globo.com
O motivo para tantas agressões às pessoas trans é o fato delas não corresponderem
à heteronormatividade, ou aos padrões socialmente construídos que consideram, por
exemplo, atribuições como a virilidade e a força como superiores. Neste contexto, o homem
é considerado superior às pessoas do gênero feminino, porém isso não se aplica a qualquer
homem: cabe apenas ao homem heterossexual que expresse categoricamente sua
masculinidade. Dessa forma, heteronormatividade descreve regras baseadas na vivência
heterossexual como obrigatórias a todos e pune socialmente aqueles que desviam dessas
normas.
Sexualidade
O sexo, como qualquer outro ato social, envolve uma série de questões da nossa
cultura: a beleza, o romance, o controle, a agressividade, a comunicação etc. Assim,
inevitavelmente a sexualidade é mais um marcador de diferença entre o gênero feminino e
o masculino, devido ao que é imposto pelos papéis de gênero atribuídos a homens e
mulheres e como cada um deve explorar sua liberdade sexual.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 35
Desde muito cedo, somos expostos a diversos tipos de mensagens, muitas vezes
contraditórias. Na família, em instituições religiosas e até mesmo nas escolas, é comum que
se apresente uma postura conservadora quanto ao sexo. Já a mídia e os amigos tendem a
tratar mais abertamente do assunto. Independente da abordagem, há sempre uma
mensagem e uma expectativa de comportamento sendo transmitida. Isso ocorre porque os
seres humanos, em geral, não limitam a sua sexualidade à reprodução e somam valores
morais e comportamentos sociais à prática sexual.21
Quem gosta mais de fazer sexo: o homem ou a mulher? Os estereótipos
(heteronormativos) de gênero afirmam que os homens são naturalmente mais inclinados aos
prazeres do sexo e precisam fazê-lo com mais frequência. Já o estereótipo feminino atribui
às mulheres o plano secundário, coadjuvante, como se as mulheres preferissem o romance
e gostassem menos da prática sexual.
Além disso, se uma mulher tem vários parceiros, é depreciada por ser vulgar ou
"prostituta". O homem, ao contrário, reforça sua masculinidade e é visto como "garanhão".
Por essa razão, a mulher costuma mentir o número de parceiros sexuais para preservar sua
reputação, ao passo que o homem tende a aumentar esse número, para mostrar potência e
virilidade. Essas ideias legitimam, isto é, autorizam socialmente, que homens tenham
relações fora do casamento ou se preocupem menos com o prazer feminino na hora do sexo.
Trata-se de um comportamento nocivo não apenas para a sexualidade da mulher, tolhida de
sua liberdade sexual, mas também para o homem, visto que o incentivo para que eles
tenham múltiplas parceiras aumenta os riscos de contração de DSTs e HIV.
Orientação Sexual
22 "LA TRAMPA DEL GÉNERO. MUJERES ,VIOLENCIA Y POBREZA." (tradução livre: A Armadilha do
Gênero. Mulheres, Violência e Pobreza). ANISTIA INTERNACIONAL. Disponível em:
https://tinyurl.com/3revn64r.
23 "EL PROGRESO DE LAS MUJERES EN EL MUNDO 2015-2016" (tradução livre: O Progresso das Mulheres
no Mundo 2015-2016). ONU MULHERES, 2015, página 11. Disponível em: https://tinyurl.com/3r7d2j97.
24 Ibid.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 39
Fonte: Medium.com
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 40
Nesse sistema, a família é a base social a partir da qual se constroem outros setores
da vida em sociedade. A família patriarcal baseia-se na exploração do homem sobre a
mulher, que fica excluída das possibilidades de participação ativa e relegada às funções de
reprodução e cuidados dos filhos e do marido. Ao mesmo tempo, a sexualidade do homem
é reforçada e estimulada, para exercer sua autoridade sobre a mulher. A esta, cabe obedecer
aos seus anseios, reduzindo a sua sexualidade à satisfação masculina. O objetivo do sexo
entre os dois é, portanto, proporcionar prazer ao homem.
Esse modelo é expressão máxima da sociedade da época da agricultura
escravocrata e apresenta muitos conflitos diante da modernidade. Com a formação de
grandes cidades, urbanização, industrialização e os avanços tecnológicos, a mulher25 entra
no mercado de trabalho, passa a desempenhar funções para fora do ambiente privado (do
lar), a receber salário e a não se dedicar integralmente aos filhos. Essa transição levantou
questionamentos sobre o tratamento que os homens lhes davam e reforçou o movimento
feminista em sua reivindicação por igualdade.
Outro embate do patriarcalismo nos tempos atuais é em relação à família, pois se
baseia em famílias heterossexuais, compostas por homem, sua mulher e os filhos do casal,
e rejeita outras formas possíveis de formação familiar, como casais homossexuais e mães
solteiras (família monoparental).
Essas questões demonstram que vivemos sob um modelo em ruínas, que não
consegue acompanhar o avanço da sociedade. Uma das principais dificuldades é convencer
os homens a renunciarem aos privilégios: se antes eles tinham o poder e o controle, cada
vez mais passam a ter que compartilhá-lo, em prol de uma sociedade mais justa e igualitária.
Interseccionalidade
25 Vale ressaltar que o patriarcado é um sistema cujo modelo é branco. Os homens negros exercem também
superioridade em relação às mulheres e reproduzem valores patriarcais devido a seus privilégios masculinos.
No entanto, a mulher negra sempre esteve no mercado de trabalho informal, em contraponto à mulher branca,
que ocupava o espaço privado do lar. Isso não significa que a mulher negra estivesse em posição de igualdade
em relação ao homem.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 41
26 Acesse: eva.igarape.org.br
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 42
SAIBA MAIS
Finalizando
oportunidades de mulheres e homens não dependerão do sexo com o qual a pessoa nasce.
A igualdade de gênero implica que os interesses, as necessidades e as prioridades de
mulheres e homens sejam levados em consideração, reconhecendo a diversidade dos
diversos grupos de mulheres e homens.
Na Prática
Se você considerou que alguma dessas frases não é agressão, pergunte-se porquê.
Todas elas são diferentes tipos de violência contra mulheres.
Como este curso fala especificamente sobre a violência contra mulheres, aqui
estamos tratando de todo tipo de violência cometida contra mulheres, inclusive mulheres
trans e meninas. A maioria desta violência ocorre porque elas não cumprem com a
expectativa de gênero. Nestes casos, a violência é uma forma do homem exercer o seu
poder.
No Brasil, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) é a principal legislação brasileira
de combate à violência doméstica contra a mulher e classifica as agressões em cinco
categorias: violência psicológica, violência moral, violência patrimonial, violência física e
violência sexual.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 45
Violência física
Qualquer ofensa à integridade ou à saúde física da mulher, tal como arremessar
objetos; sacudir ou segurar a mulher com força; dar empurrões, tapas, socos, chutes, puxões
de cabelo, mordidas; agredir com armas ou objetivos; queimar; coagir a fazer algo contra sua
vontade, como ingestão forçada de bebida alcoólica e/ou drogas ou ser forçada a participar
de atividades degradantes, como realizar fetiches.
Violência moral
Qualquer ofensa à reputação ou ao bem-estar psicológico que envolva insultos
relativos à sua condição de mulher - puta, vadia, louca -; xingamentos por rejeitar investida
afetiva ou sexual; repassar imagens ou informações de caráter íntimo sem autorização. Os
casos de violência moral recentes têm sido a pornografia de vingança (revenge porn), que
é o compartilhamento de fotos nuas (nudes) ou vídeos íntimos na internet, por um dos
envolvidos, sem autorização da mulher exposta, a fim de causar dano à sua reputação.
Violência patrimonial
Controlar, guardar ou tirar o dinheiro de uma mulher contra a sua vontade; guardar
documentos pessoais; quebrar ou causar danos propositais a objetos; furtar valores, bens,
documentos ou instrumentos de trabalho. Qualquer ofensa ao patrimônio da mulher como
forma de atingi-la.
Violência sexual
Toques ou carícias não desejadas ou não consentidas (ação popularmente conhecida
e naturalizada como "mão boba"); forçar a prática de atos sexuais, estupro, tentativa de
estupro, abuso de vítima sob o efeito de álcool e/ou drogas ou sem condições de consentir;
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 46
forçar gravidez ou aborto; impedir o uso de método contraceptivo; retirar a camisinha sem
que a parceira perceba ou sem consentimento; beijar à força. A violência sexual, além de
gerar traumas para a vítima, pode resultar em gravidez indesejada e aumentar o risco de
contração de DSTs e infecção por HIV.
Há duas formas de violência psicológica pouco notadas como agressões. O
comportamento controlador de homens sobre suas esposas, ao não as deixar sair, ao
impedir ou restringir o contato com suas famílias e amigos, ou ainda investigar seus celulares
e e-mails. Da mesma forma, fazer a mulher achar que está ficando louca ou que não sabe
mais o que diz (gaslighting) é uma forma de abuso mental enquadrada como violência
emocional, através do qual o homem distorce os fatos e manipula situação para fazer a vítima
duvidar de sua memória ou estabilidade mental.
A Lei Maria da Penha define ainda como violência doméstica e familiar contra a
mulher:
Art.5 "(...) qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos
que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
vontade expressa;
III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de
orientação sexual.27
A outra definição legal de violência contra a mulher está no Código Penal brasileiro
e prevê o feminicídio como modalidade de homicídio qualificado. O feminicídio é o
assassinato de mulheres pela razão de ser do sexo feminino; e/ou se envolver violência
doméstica e familiar; e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
A violência contra a mulher costuma ser uma violência baseada no gênero e tem
embasamento em uma discriminação, uma ideia de como as pessoas devem agir. Na
perspectiva machista, considera-se que uma mulher que tem múltiplos parceiros é vulgar e,
portanto, não é digna de respeito. Um homem que concorde com essa ideia e observe tal
comportamento em sua mulher, filha ou conhecida, tende a reagir negativamente e a
discriminá-la de alguma forma em seu convívio social, seja não contratando para um serviço,
27 LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006. Disponível em: LEI Nº 11.340/2006. Acesso em 04/06/2017.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 47
Finalizando
1 Maria da Penha. Ela também indicou que existem cinco formas de cometer
violência contra mulheres;
Na Prática
28 Ver: Hudson (2012). Além disso, para acessar o projeto de Woman Stats, de Hudson, ver:
https://tinyurl.com/449ybjxu.
29 Ver: https://tinyurl.com/2zae7j6p.
30 Ver: https://tinyurl.com/bdhea9du. .
31 Ver:https://tinyurl.com/mtrshju6.
32 Ver:https://tinyurl.com/yevh8zd3.
33 Ver: https://tinyurl.com/4krr4hea.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 49
Como vocês devem imaginar, uma resolução abordando este tema trouxe de fato
impactos grandes para o campo da paz e da segurança. O principal deles foi uma abertura
cada vez maior de posições e carreiras que têm sido tradicionalmente fechadas para
mulheres, como as forças armadas e as polícias. O pensamento é o seguinte. Se precisamos
de mais mulheres atuando nestes contextos, inclusive por meio de operações de paz, então
cada país precisa ter mais mulheres atuando nessas posições no âmbito nacional. E foi isso
que a ONU pediu. Desde 2005, a ONU tem solicitado aos países para enviar mais mulheres
uniformizadas e mais mulheres civis para atuar em suas forças de paz, promovendo a paz
nesses ambientes de guerra.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 52
Foi nesse contexto que o Brasil elaborou o seu primeiro Plano Nacional de Ação
sobre a agendas Mulheres, Paz e Segurança, e foi lá que reconheceu que é preciso incluir
mais mulheres brasileiras nas forças policiais e militares do Brasil, como forma de propiciar
a oportunidade para que o país efetivamente contribua com estes esforços internacionais.
Desde então, a participação de mulheres brasileiras policiais e militares nesses esforços
melhorou muito. Mas será que falar desta agenda no Brasil é possível? Afinal, o Brasil não é
um país em guerra. Ao menos não se fala da concepção tradicional de guerra. E é
exatamente este o ponto que queria abordar.
Na América Latina e no Brasil, especificamente, enfrentamos dinâmicas conflitivas,
a partir da atuação do crime organizado que tem um impacto desproporcional nas
populações locais, inclusive mulheres e meninas, justamente pelas expectativas sociais de
que tanto falamos. É por isso que é preciso ter uma atenção especial para este público
nessas áreas, em que o Estado tem dificuldade de acessar. E a presença de mulheres,
profissionais da segurança pública para acessá-las, servir como modelo e referência é
fundamental. A presença de mulheres na segurança pública afetará os tipos de ações
dedicadas ao enfrentamento da violência contra mulheres, as ações que observam o impacto
que dinâmicas criminais e conflitivas têm neste grupo e contribuirá para que se tornem mais
eficazes, aperfeiçoando a eficácia operacional das operações.
Mulheres são necessárias em todos os níveis. Tanto em um nível estratégico
pensando nestas políticas, como no nível tático, no terreno, observando o impacto na ponta.
Elas não são as únicas capazes de desempenhar este trabalho, mas, em razão dos papéis
sociais a que elas também estiveram sujeitas, tendem a colocar atenção em aspectos que
os homens prestam menos atenção. Por isso, vamos promover o protagonismo das mulheres
no enfrentamento da violência e convocar os homens para atentar a estes aspectos também.
SAIBA MAIS
Existe uma enorme gama de materiais que tratam desta agenda no Brasil. Acesse
por exemplo:
Renata Giannini et. al. "A agenda sobre mulheres, paz e segurança no contexto
latino-americano: desafios e oportunidades". Artigo Estratégico Instituto Igarapé (mar/2018.
Disponível em: https://tinyurl.com/2p8k3kpp.
Renata A. Giannini. “Promover gênero e construir a paz: a experiência brasileira”.
Artigo Estratégico Instituto Igarapé, (Set/2014). Disponível: https://tinyurl.com/7k599ent.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 53
Renata A. Giannini; Denise Hirao. "Identificar desigualdades para planejar uma paz
duradoura no Brasil". Advocacy Paper. Gender Associations (Dez/2020). Disponível:
https://tinyurl.com/2972ehex.
Finalizando
Aula 01. O que os dados disponíveis nos dizem sobre violência contra
mulheres e meninas no Brasil?
1.1. A Violência Doméstica
1.2. Violência Sexual
1.3. Violência Letal - Feminicídios e Homicídios Dolosos de Mulheres
A Violência Doméstica
“art. 5º (...) configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.
35 O Anuário Brasileiro de Segurança Pública é uma publicação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e
está em sua 17ª edição. O Anuário se baseia em informações fornecidas pelas secretarias de segurança pública
estaduais, pelas polícias civis, militares e federal, entre outras fontes oficiais da Segurança Pública. Disponível
em: https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 58
Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos
humanos.”
A Lei Maria da Penha deixa bem claro que a violência doméstica e familiar configura-
se como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que tenha como resultados morte,
sofrimento ou abuso, sejam esses de ordem física, material ou psicológica.
A definição em Lei é importante porque é ela que vai nortear os trabalhos dos
profissionais do Susp desde o registro ou atendimento de uma ocorrência até seu desfecho
ou encaminhamento.
Os dados do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, referente à 2022, mostram
que todos os indicadores de violência doméstica cresceram em comparação com o ano
anterior. As secretarias estaduais de segurança pública informaram que houve um aumento
de 2,9% nos registros de agressões por violência doméstica, 7,2% nos de ameaça e 8,2%
nos chamados para o 190, o número de emergência das Polícias Militares, resultando em
102 acionamentos por hora.
Também conhecida como “lua de mel”, esta fase se caracteriza pelo arrependimento do
agressor, que se torna amável para conseguir a reconciliação. A mulher se sente confusa e
pressionada a manter o seu relacionamento diante da sociedade, sobretudo quando o casal tem
filhos. Em outras palavras: ela abre mão de seus direitos e recursos, enquanto ele diz que “vai
mudar”.
Há um período relativamente calmo, em que a mulher se sente feliz por constatar os esforços e as
mudanças de atitude, lembrando também os momentos bons que tiveram juntos. Como há a
demonstração de remorso, ela se sente responsável por ele, o que estreita a relação de dependência
entre vítima e agressor.
Um misto de medo, confusão, culpa e ilusão fazem parte dos sentimentos da mulher. Por
fim, a tensão volta e, com ela, as agressões da Fase 1.
SAIBA MAIS
Você conhece a história da Maria da Penha?
Clique aqui para conhecer a mulher que dá o nome a uma das leis mais importantes
do nosso país para o enfrentamento da violência contra a mulher.
A promotora do Ministério Público de São Paulo, Silvia Chakian, fala no USP Talks,
sobre os diversos aspectos relacionados à violência contra a mulher.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 62
Violência Sexual
“(…) qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relação
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou
a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que
a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.” (LEI 11.340/06).
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1 o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que,
por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei
nº 12.015, de 2009)
realidade. Os dados mostram que, em 68,3% dos casos, a violência aconteceu na residência
da vítima. Mostrou também que 6 em cada 10 vítimas tinham entre 0 e 13 anos. Nessa faixa
etária, em 86,1% dos casos o agressor era alguém conhecido, sendo um familiar em 64,4%
das ocorrências. O horário em que ocorreram os estupros e estupros de vulneráveis também
nos dão pistas importantes: enquanto os estupros acontecem mais à noite e na madrugada,
os estupros de vulnerável, que tem crianças como principais vítimas, ocorrem
majoritariamente entre 06h e 18h.
“(...) estamos falando de um tipo de violência essencialmente intrafamiliar, que acontece em casa,
durante o dia, e que tem como principais vítimas pessoas vulneráveis. Esses são fatores que tornam o
enfrentamento a esse tipo de violência sexual extremamente desafiador”. Provavelmente estamos lidando aqui
com situações de violências de gênero muito arraigadas, imbricadas e naturalizadas nas relações familiares e
que são, portanto, transmitidas através das gerações. Esse contexto faz com que seja muito difícil para as
vítimas reconhecerem as violências que sofrem e, quando o fazer, terem muita dificuldade em denunciar ou
buscar ajuda. Dada a complexidade, as respostas às violências sexuais não são simples e precisam considerar
as diversas camadas do problema” (FBSP, 2023, pg 160)
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 64
SAIBA MAIS
Violência Letal
feminino quando o crime envolve a violência doméstica e familiar, mas também menosprezo
ou discriminação à condição de mulher, o caracterizando também como um crime de ódio.
A alteração da seção dos crimes hediondos (lei nº 8.072/90), que inclui o feminicídio
na mesma categoria, resultou na necessidade de se formar um Tribunal do Júri (júri popular),
para julgar os réus de feminicídio.
PARA REFLETIR
Por que é importante tipificar o assassinato de mulheres? Por que é necessário descortinar
essa violência enquanto um crime cometido pela condição de gênero, evidenciando quando
uma mulher é assassinada por ser mulher?
“O feminicídio é a ponta do iceberg. Não podemos achar que a criminalização do feminicídio vai dar conta da
complexidade do tema. Temos que trabalhar para evitar que se chegue ao feminicídio, olhar para baixo do
iceberg e entender que ali há uma série de violências. E compreender que quando o feminicídio acontece é
porque diversas outras medidas falharam. Precisamos ter um olhar muito mais cuidadoso e muito mais atento
para o que falhou.”
“o movimento legislativo na região tem como objetivo comum identificar as mortes de mulheres no conjunto de
homicídios que ocorrem em cada país para dimensionar o fenômeno das mortes intencionais de mulheres por
razões de gênero e tirá-lo da invisibilidade resultante da falta de dados estatísticos. Nesse sentido, nomear as
mortes violentas de mulheres como femicídio ou feminicídio faz parte das estratégias para sensibilizar as
instituições e a sociedade sobre sua ocorrência e permanência na sociedade, combater a impunidade penal
nesses casos, promover os direitos das mulheres e estimular a adoção de políticas de prevenção à violência
baseada no gênero”. (ONU MULHERES, 2016)
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 66
íntimo (53,6%), o ex-parceiro íntimo (19,4%) e algum familiar (10,7%). Sete em cada dez
mulheres foram mortas dentro de casa. Assim como o que vimos em relação à violência
sexual, os feminicídios ocorrem principalmente no contexto doméstico e familiar. A casa das
meninas e mulheres é o local onde estão mais vulneráveis às violências.
Por isso a necessidade de incorporar e aprofundar o olhar de gênero na atuação
profissional. Compreender o contexto em que essas violências acontecem é muito
importante e imprescindível se quisermos salvar mulheres de mortes e outras violências.
SAIBA MAIS
Uma das consequências mais graves dos feminicídios no Brasil, são os filhos que
ficam órfãos após essa violência.
Assista à matéria da TV Brasil sobre os Órfãos do Feminicídio para saber mais.
No Senado Federal está em tramitação o Projeto de Lei n° 1185, de 2022, que visa
criar a Política Nacional de Proteção e Atenção Integral aos Órfãos e Órfãs de
Feminicídios, voltada para a proteção e promoção de atenção multisetorial a crianças e
adolescentes menores de dezoito anos de idade cujas mães responsáveis legais tenham
sido vítimas de feminicídio.
Com isso, o Superior Tribunal Federal afasta de uma vez por todas as possibilidades
da utilização de argumento que se aproxime da legítima defesa da honra, não somente nos
Plenários do Júri, mas também nas Varas de Violência Doméstica, Cíveis, Trabalhistas,
Criminais e de Família.
SAIBA MAIS
Acesse o link:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/08/01/stf-retoma-julgamento-sobre-
validade-da-legitima-defesa-da-honra.ghtml
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 69
38 PNAINFO
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 71
Para conseguir alcançar os objetivos propostos, a lei prevê ainda a criação, por parte
do poder público, do Registro Unificado de Dados e Informações sobre Violência contra
as Mulheres que deverá reunir informações e dados sobre os registros administrativos,
sobre os serviços especializados de atendimento às mulheres em situação de violência e
sobre as políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres. Ou seja, um
mapeamento completo de todos os aspectos necessários para a construção de uma política
mais eficiente de proteção, onde estarão contidas as seguintes informações:
Saúde
Segurança Pública:
Figura 27: SINESP: Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisional e sobre Drogas.
Fonte: Sinesp
Sociedade Civil
Atlas da Violência busca retratar a violência no Brasil principalmente a partir dos dados do
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos
de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde. https://forumseguranca.org.br/atlas-da-
violencia/ e https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/
Instituto Igarapé
Colômbia e México. Os dados, que chegam ao nível municipal, estão detalhados por idade,
raça e tipo de instrumento utilizado. A plataforma mostra também a evolução dos direitos
humanos das mulheres e da igualdade de gênero, e explora a implementação de iniciativas
focadas na violência contra mulheres.
Instituto DataSenado
Nós vimos anteriormente como ter dados e evidências qualificadas são importantes
para a construção de políticas públicas mais eficientes. Por isso, é fundamental que os
profissionais do Susp criem ou estimulem a cultura de registro dos atendimentos realizados
com o maior número de informações possível. De registros os atendimentos de chamados
no 190 para violência doméstica, no caso das polícias militares, aos boletins de ocorrência
online ou nas delegacias de polícia, no caso das polícias civis. Quanto mais informações
disponíveis como raça/etnia, cor, idade, relação entre vítima e autor, melhor.
40 https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/pdfs/resolucao-no-7-de-2016
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 79
SAIBA MAIS
Veja, na prática, como utilizar dados e evidências em projetos e políticas locais!
Conheça a experiência do NÚCLEO DE ESTUDO E PESQUISA EM VIOLÊNCIA DE
GÊNERO E NÚCLEO POLICIAL INVESTIGATIVO DO FEMINICÍDIO – TERESINA (PI)
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 80
No primeiro módulo do curso você aprendeu sobre a evolução dos direitos humanos
das mulheres e os marcos normativos mais importantes para que pudéssemos chegar onde
estamos. Todos esses aspectos, obviamente, tiveram um impacto decisivo nos rumos e
aspectos do enfrentamento da violência contra as mulheres no Brasil, especialmente por
parte do poder público. Como a história nos mostra, o movimento organizado de mulheres
teve e ainda tem um papel fundamental e indispensável na aprovação de leis, influenciando
a criação de políticas e denunciando violências.
A partir, portanto, da atuação desses movimentos sociais no Brasil e no mundo e, à
medida em que os direitos humanos das mulheres foram sendo conquistados e
consolidados, conforme abordado no Módulo 1, as políticas para as mulheres foram sendo
desenhadas pelos governos e, no Brasil, temos alguns marcos importantes que nos ajudam
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 81
“a criação da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres pelo Governo Federal, no ano de
2003, e com a realização de conferências nacionais, cujas diretrizes levaram à formulação dos Planos
Nacionais de Políticas para as Mulheres. A complexidade e a abrangência do problema da violência contra
mulheres exigiram do Governo brasileiro alterações significativas na formulação e implementação de suas
políticas públicas, motivo pelo qual os Planos Nacionais de Política para Mulheres buscaram instituir a
integração entre diversas agências públicas, níveis governamentais e setores sociais para que a atuação estatal
ocorresse de forma satisfatória. No período entre 2005 e 2015, foram elaborados pelo Governo Federal três
Planos Nacionais de Políticas para Mulheres, os quais elencaram o enfrentamento da violência como um dos
principais eixos de atuação para garantir às mulheres uma vida mais digna. Foram traçadas diversas metas,
tais como a implementação e o fortalecimento da política nacional de enfrentamento; a garantia de atendimento
integral, humanizado e de qualidade às mulheres em situação de violência doméstica; a redução dos índices
criminais; a transversalidade das temáticas de gênero e violência contra mulheres nas mais diversas políticas
públicas setoriais; a intersetorialidade entre órgãos e atores de diferentes níveis de governo (BRASIL, 2005;
BRASIL, 2008; BRASIL, 2011).”41
44 O Conselho Nacional do Ministério Público -- CNMP), criado em 2004, abraçou a causa do enfrentamento
das violências contra as mulheres. No entanto, apesar de os promotores se orgulharem de sua autonomia
operacional e profissional, o processo tem sido mais desigual e menos homogêneono sentido de tornarem
operacionais as práticas de enfrentamento. No topo da pirâmide, o Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais
dos Estados tem uma comissão permanente sobre violência doméstica. Além disso, a maioria das
procuradorias-gerais estaduais (procuradorias) tem uma unidade de direitos da mulher na capital e algumas
também têm escritórios regionais. No estado de São Paulo, por exemplo, há o Grupo de Atuação Especial de
Enfrentamento à Violência Doméstica (GEVID). (Macaulay, 2021)
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 84
45 https://www.gov.br/mulheres/pt-br/central-de-conteudos/noticias/2023/abril/lei-determina-protecao-
imediata-a-mulheres-que-denunciam-violencia-domestica-e-familiar
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 85
será que as polícias civis de todos os estados conseguem colocá-lo em prática? Possuem
efetivo e equipamentos para tal? Sabemos que o número de delegacias existentes não é
nem de longe suficiente para atender a demanda. Existem alternativas, como a criada por
São Paulo, que disponibiliza atendimento por videoconferência realizado por equipe
especializada, 24h, às mulheres em localidades onde não existem delegacias das mulheres.
O importante é que os estados se preocupem em capacitar todo o efetivo para que sejam
capazes de atender mulheres em situação de violência, trabalhem eles em delegacias
especializadas ou não.
Por isso, além de conhecer as normas legais, os profissionais do Susp precisam
conhecer os serviços disponíveis para atendimento e acolhimento das mulheres, sejam estes
no âmbito da segurança e da justiça ou de outra área correlata.
O Disque 100 e o Ligue 180 são serviços gratuitos para denúncias de violações de
direitos humanos e de violência contra a mulher, respectivamente. Qualquer pessoa pode
fazer uma denúncia pelos serviços, que funcionam 24h por dia, incluindo sábados, domingos
e feriados. Além de cadastrar e encaminhar os casos aos órgãos competentes, a Ouvidoria
recebe reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de
atendimento.
46 https://www.gov.br/mdh/pt-br/direitoshumanosparatodos/disque-100-e-ligue-180
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 86
47 https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/copy_of_acervo/outras-referencias/copy2_of_entenda-a-
violencia/pdfs/rede-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 87
“A integração e o fluxo dos serviços são fundamentais no atendimento para garantir que,
uma vez rompida a barreira inicial da denúncia, a mulher seja efetivamente atendida e
tenha sua integridade preservada.”
Jacqueline Pitanguy, socióloga, cientista política e Coordenadora da ONG CEPIA –
Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação.
48 https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/feminicidio/capitulos/quais-sao-os-servicos-existentes-e-seus-
limites/
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 88
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/copy_of_acervo/outras-
referencias/copy2_of_entenda-a-violencia/pdfs/rede-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres
Como Funciona
Finalizando
Introdução
Atuar frente aos diferentes tipos de violência e crimes contra mulheres representa
parte importante do trabalho realizado por profissionais de segurança pública e o tema vem
ocupando espaço de relevância na agenda das instituições.
As estatísticas de agressões sexuais, violência doméstica e outras formas de
violência de gênero denunciadas às forças policiais seguem aumentando. E esse fenômeno
pode ou não ser devido a um aumento real do número de agressões cometidas, sendo
possível que, o aumento dos registros seja, em parte, devido à maior conscientização social
de que esses atos constituem crime.
Especificamente em relação às chamadas emergenciais, via 190, cabe destacar o
estudo do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 apontado que, entre os anos de
2020 e 2021, houve o acionamento cada vez mais frequente das polícias em contextos de
violência doméstica.
“O aumento das chamadas de emergência especificamente para situações que envolvem violência
doméstica é um sinal de que as polícias militares dos estados estão sendo cada vez mais demandadas a
atuarem nesses casos ou, ao menos, a prestarem um atendimento inicial. O que reforça a importância de não
apenas os efetivos das unidades especializadas no atendimento às mulheres em situação de violência, mas
todo o efetivo policial estar sensibilizado e capacitado para atender essas mulheres. Sabendo que as
complexidades da violência doméstica podem fazer com que uma mulher chame por socorro, desistindo depois
de ir à frente com a denúncia, e que sinta medo, culpa ou vergonha de pedir ajuda e romper com o ciclo de
violência no qual está inserida, o atendimento de emergência e adequado acolhimento e encaminhamento se
tornam extremamente importantes. Um mau atendimento nesse momento pode significar perdermos essa
mulher para sempre.” (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, FBSP, 2022, p.7)
Atenção!
Não banalizar as situações de violência ou julgar as vítimas é o primeiro passo para
um bom atendimento. É necessário valorizar a palavra da vítima oferecendo-lhe uma escuta
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 96
Na Prática
Antes de prosseguir leia o texto: “Escutatória” de Rubem Alves, clicando no link abaixo:
Embora atualmente possa parecer óbvio que violência contra a mulher é uma
questão de segurança pública, especialmente porque hoje há mudanças significativas e
investimentos nessa temática dentro do campo da segurança pública brasileira, nem sempre
as violências de caráter doméstico ou de gênero, ou seja, as que mais acometem as
mulheres e meninas, ocuparam lugar de prestígio na agenda da segurança pública. As
primeiras iniciativas na área da segurança pública voltadas para o atendimento especializado
de mulheres datam dos anos 1980 e foram desenvolvidas pela Polícia Civil através das
Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher.
A legalidade é um dos princípios que devem orientar a atuação de todo cidadão, em
especial os agentes públicos. Ainda assim, se torna importante identificar claramente qual o
papel dos órgãos da segurança pública no enfrentamento da violência contra
mulheres. A principal referência sobre a finalidade da segurança pública e as atribuições
das forças de segurança pública é a Constituição Federal em seu artigo 144:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para
a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V -
polícias militares e corpos de bombeiros militares. VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.
[...]
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens,
serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
Sobre esse aspecto Rossoni & Herkenhoff (2017) destacam o quão recente é a
atenção e o olhar para a vítima e o quanto esta foi relegada a um papel secundário e
frequentemente esquecido como parte do fenômeno criminal.
“Os primeiros estudos sobre a vítima surgiram principalmente com Mendelsohn e Von Henrig. No
Brasil, somente na década de 1970, essas pesquisas se desenvolveram, sobretudo com a criação da
Sociedade Brasileira de Vitimologia. Apesar desse progresso, a produção brasileira é, ainda, muito tímida.
Grande parte das vítimas sobreviventes tende a sofrer algum tipo de trauma, síndrome ou sequela, sem
despertar, com raras exceções, maior preocupação preventiva e corretiva por parte do poder público, salvo o
encaminhamento para a rede hospitalar em caso de trauma físico (ferimentos corporais).” ROSSONI &
HERKENHOFF (2017: 344)
Esse olhar especial para as vítimas não deve se restringir às medidas relativas à
apuração do fato, tais como: coleta de provas, depoimentos ou identificação da autoria, que
são elementos fundamentais para elucidação de crimes e responsabilização dos autores.
Deve-se também incluir uma perspectiva de humanização e sensibilidade no atendimento às
vítimas.
material; (2) com o incremento do sofrimento em decorrência da interferência do próprio Sistema de Justiça
Criminal e; (3) com o prolongamento do sofrimento em razão do julgamento do comportamento da vítima por
parte da sociedade. TERRES (2019:51).
SAIBA MAIS
Tipos de prevenção: prevenção primária, secundária e terciária.
1 - A prevenção primária tem como objetivo principal o combate aos fatores indutores
da criminalidade antes que eles incidam sobre o indivíduo. Atua na raiz do delito,
neutralizando o problema antes que ele apareça. Este tipo de prevenção busca afastar as
condições responsáveis pelo aumento da criminalidade. Para que essa modalidade de
prevenção produza os efeitos esperados, é necessário um investimento de longo e médio
prazo.
Na Prática
Reflita sobre os três tipos de prevenção e identifique de que forma eles podem ser aplicados
ao problema da violência contra mulher.
Finalizando
Introdução
2021 A Lei nº 14.132 inclui artigo no Código Penal (CP) para tipificar os
crimes de perseguição (stalking);
2023 A Lei 14.550 altera a Lei Maria da Penha para dispor sobre as
medidas protetivas de urgência e estabelecer que a causa ou a motivação
dos atos de violência e a condição do ofensor ou da ofendida não excluem
a aplicação da Lei.
Unidas para a Mulher (Unifem) uma das três leis mais avançadas do mundo, entre 90 países
que têm legislação sobre o tema. Dentre seus principais pontos destaca-se o reconhecimento
da violência doméstica e familiar como violação de direitos humanos.
Ela é considerada uma norma de “discriminação positiva” e visa acelerar a igualdade
de fato entre homens e mulheres. Trata-se de um dispositivo jurídico de natureza processual
e não material. Segundo Ada Pellegrini, o direito material é conceituado como “o corpo de
normas que disciplinam as relações jurídicas referentes a bens e utilidades da vida (direito
civil, penal, administrativo etc.)”. Para a mesma autora, o direito processual seria o “complexo
de normas e princípios que regem tal método de trabalho, ou seja, o exercício conjugado da
jurisdição pelo Estado-juiz, da ação pelo demandante e da defesa pelo demandado”.
Por fim, o direito processual é o conjunto de normas que regulamentam a forma de
aplicação do direito material. Os crimes estão definidos no Código Penal e legislações
extravagantes – direito material, nesse contexto a Lei Maria da Penha – direito processual,
define o rito. Sendo que, até o advento da Lei nº 13.641/2018, a Lei Maria da Penha não
trazia em seu bojo nenhum tipo penal.
A Lei Maria da Penha (Art.7º) traz uma visão mais ampla da violência doméstica e
familiar contra a mulher compreendida além da violência física, mas abrangendo a violência
sexual, psicológica, moral e patrimonial.
SAIBA MAIS
Art. 1º Esta Lei reconhece que a violação da intimidade da mulher configura
violência doméstica e familiar e criminaliza o registro não autorizado de conteúdo com
cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado. (Redação dada pela
Lei nº 13.772, de 2018).
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 109
Calúnia: Art. 138 CP. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como
crime.
Difamação: Art. 139 CP. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
reputação.
Injúria: Art. 140 CP. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade, honra pessoal ou o
decoro.
Pesquisas e estatísticas oficiais apontam que nos contextos de violência doméstica
os crimes de lesão corporal dolosa e ameaça representam a maior parte dos registros em
delegacias, bem como dos acionamentos emergenciais das polícias militares. Portanto, é
fundamental que os profissionais do Susp, no atendimento de ocorrências do tipo, saibam
identificar as diferentes formas de violência e sejam capazes de realizar os procedimentos e
encaminhamentos adequados à cada situação.
Figura 31: As mãos das pessoas apontam para a garota. É uma mulher não confiante. Opinião das pessoas
e a pressão da sociedade. Vergonha.
que a leve a reviver, sem estrita necessidade: (I) a situação de violência; ou (II) outras
situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização.
Vale lembrar também que o Conselho Nacional de Justiça – CNJ – editou a
Resolução nº 254/2018, abordando a violência institucional praticada contra a mulheres,
conceituando-a como a ação ou omissão de qualquer órgão ou agente público que fragilize,
de qualquer forma, o compromisso de proteção e preservação de direitos das mulheres.
Destaca-se também que a Lei nº 13.505/2017 acrescentou novos dispositivos à Lei
Maria da Penha tratando do atendimento policial e pericial especializado prestado à mulher
em situação de violência doméstica e familiar. Sendo importante observar a perspectiva da
NÃO REVITIMIZAÇÃO das mulheres atendidas, como se pode observar:
violência, ela está em condição, ou seja, ela acessa um lugar de passagem, pois é um sujeito
nessa relação. Estar em situação oferece a possibilidade de mudança” (MIRIM, 2005).
Os dados demonstram que os crimes sexuais figuram entre aqueles com o maior
percentual de subnotificação. Fatores como medo, vergonha e falta de confiança nas
instituições contribuem para as vítimas não registrarem. Esse quadro de subregistro é grave,
pois, além favorecer a impunidade, faz com que a maior parte das vítimas de estupro acabe
não acessando os procedimentos de saúde previstos nesses casos, aumentando os riscos
do agravamento de sequelas relacionadas à violência sexual. Não obstante o fato de que
qualquer pessoa pode ser vítima de crimes de natureza sexual, os dados mostram que
mulheres e meninas são as vítimas preferenciais.
A violência sexual produz graves efeitos na saúde física, com o risco de
contaminação por Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), entre elas, o HIV, até
gravidez indesejada, agravando o quadro traumático. Além disso, há que se considerar os
efeitos na saúde mental das vítimas que podem desenvolver quadros de depressão,
síndrome do pânico, ansiedade e distúrbios psicossomáticos.
Um dos grandes desafios no enfrentamento desse tipo de violência é a articulação e
integração dos serviços de todas as áreas relacionadas tais como: segurança pública, saúde,
justiça e assistência social, de modo a oferecer um atendimento humanizado e integral. Daí
a importância dos profissionais do Susp conhecerem tanto a legislação aplicada, quanto os
protocolos e encaminhamentos relativos ao atendimento das vítimas de crimes sexuais no
âmbito dos demais serviços, em especial na área da saúde.
A Lei nº 12.015/2009, que define os crimes contra a dignidade sexual define o crime
de estupro da seguinte forma:
Acesse a lei pelo link: LEI Nº 12.015, DE 7 DE AGOSTO DE 2009
ESTUPRO: Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a
ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
De acordo com esta redação qualquer pessoa, independente do sexo, pode ser
sujeito passivo do crime de estupro. A lei também tem o intuito de coibir abuso e exploração
sexual de crianças e adolescentes, incluindo o tipo penal estupro de vulnerável:
ESTUPRO DE VULNERÁVEL: Art. 217-A.Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com menor de 14 (catorze) anos.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 113
Fonte: TJDFT
§ 1º. Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
Sobre as diretrizes para o atendimento às vítimas de violência sexual pelos
profissionais de segurança pública e da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde
temos como referência o Decreto nº 7.958 de 13 de março de 2013, destacando-se:
NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA:
O que se percebe na recorrência do emprego do termo “assédio” é a tentativa de “dar nome” às
experiências de desconforto, perseguição, constrangimento ou importunação, normalmente infringidos às
mulheres, quer seja no espaço do trabalho, nas relações interpessoais ou mesmo no simples ato de circulação
no espaço público. (MORAES, 2017: p. 04)
Fonte: Sind-Saude MG
Fonte: SindComerciários
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 118
O crime de assédio sexual foi incluído no Código Penal Brasileiro a partir da Lei nº.
10.224, em maio de 2001. Embora, na legislação brasileira, não haja distinção de gênero
para aplicação desta lei, nota-se que esse tipo de crime atinge principalmente as mulheres,
assim como a maioria dos crimes de natureza sexual que têm as mulheres e meninas como
as principais vítimas.
ATENÇÃO
ATENÇÃO
✓ Apenas mulheres podem ser vítimas de importunação sexual? A lei não faz
distinção de gênero, ou seja, tanto homens quanto mulheres podem ser autores ou vítimas
desse tipo de crime.
https://www.defensoria.ce.def.br/noticia/nao-e-nao-saiba-o-que-e-importunacao-
sexual-e-assedio-sexual-e-o-que-fazer-se-voce-for-vitima/
Fonte: TJMT
SAIBA MAIS
Assista o vídeo “Imagine…”, que retrata cenas do cotidiano de uma audiência
tradicional, onde crianças e adolescentes são levadas a falar da situação de violência a que
foram expostos. https://youtu.be/i9EupNn0Vgo
A partir do vídeo sugerimos a reflexão sobre o significado do processo judicial para
uma criança ou adolescente e o quanto é importante o cuidado e atenção para promover
uma intervenção protetiva e acolhedora em situações que ensejam a escuta da
criança/adolescente vítima ou testemunha. Sugerimos também ampliar esse olhar reflexivo
para mulheres vítimas de abusos submetidas reiteradamente a contar e reviver a violência
sofrida e o quanto de revitimização há nesse processo. E o que é possível fazer para
evitarmos a revitimização.
Finalizando
Introdução
Fonte: CNJ
Conforme estamos vendo ao longo deste curso, existem diferentes tipos de violência
que afetam principalmente o gênero feminino, e que parte dessa violência é reforçada
através da cultura e dos estereótipos de gênero.
Portanto, parte importante da prevenção e enfrentamento da violência contra
mulheres e meninas passa pela identificação e reconhecimento dessa violência em suas
distintas manifestações, bem como pelo conhecimento e aplicação dos mecanismos
adequados a cada situação.
Além disso, é importante dimensionar os riscos associados, pois, nos contextos de
agravamento da violência contra a mulher, o feminicídio é uma possibilidade. E embora nem
sempre existam registros oficiais, como Registros ou Boletins de Ocorrência, nos casos de
feminicídios íntimos, normalmente as testemunhas, familiares ou vizinhos relatam um
histórico de agressões anteriores. Daí retornamos à importância do primeiro atendimento
como um fator importante para a quebra do ciclo da violência por parte da vítima.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 123
Devido aos fatores que já abordamos ao longo dos módulos anteriores, a vitimização
feminina guarda importantes diferenças em relação à população em geral. Nesse sentido,
assim como qualquer pessoa, as mulheres também estão expostas à criminalidade comum
e urbana como é o caso dos crimes patrimoniais e contra a pessoa. Porém, além disso, elas
são as principais vítimas de violências praticadas por parceiros íntimos, familiares e
conhecidos.
E, por conta dessa proximidade entre vítima e agressor, os episódios de violência
tendem a se repetir e esse contexto faz com que durante o atendimento de casos de violência
doméstica e familiar contra mulheres, muitos profissionais se perguntem por que os
envolvidos permanecem nessa situação. Questionamentos como: por que esta vítima não
se separa do agressor? O que leva estas pessoas a continuarem se relacionando? Quantas
vezes o Estado deverá retornar em determinada residência por causa da violência entre o
casal?
Embora sejam compreensíveis tais indagações, é importante que os profissionais
encarregados do atendimento de ocorrências de violência doméstica e familiar não façam
julgamento pessoal sobre a vítima e que atuem dentro da técnica e da legalidade. Atendendo
quantas vezes forem chamados ou quantas vezes a vítima busque o atendimento de um
órgão do sistema de segurança pública.
Outro aspecto relevante na contextualização da violência contra a mulher é o tipo de
local onde ocorrem as violências, em geral, interior das residências, longe do olhar público,
o que torna a atuação preventiva mais complexa, em especial considerando as modalidades
de prevenção baseadas na presença e ostensividade do policiamento.
Portanto, nesse contexto, fatores como tempo de resposta das forças de segurança
pública nos casos de acionamentos emergenciais, o acolhimento e a correta aplicação da
lei têm efeitos importantes para reduzir a impunidade e transmitir segurança às vítimas que
denunciam.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 124
Análise de risco
Fatores de Risco
ATENÇÃO:
O uso de armas nos episódios de violência é apontado pela literatura como um fator
de risco importante. (Medeiros, 2015).
Estudos indicam que mulheres ameaçadas ou agredidas com arma têm 20 vezes
mais probabilidades de serem vítimas de feminicídio. (AMCV et al., 2013)
Fatores de proteção
ATENÇÃO
Gestão de Risco
Fonte: TJDFT
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 129
Plano de Segurança
ATENÇÃO:
Art. 3º- O Formulário Nacional de Avaliação de Risco será preferencialmente aplicado pela Polícia
Civil no momento do registro da ocorrência policial, ou, na impossibilidade, pela equipe do Ministério Público
ou do Poder Judiciário, por ocasião do primeiro atendimento à mulher vítima de violência doméstica e familiar.
Note-se que não há impeditivo para que outras instituições, públicas ou privadas,
atuem na área da prevenção e do enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a
mulher. Portanto é possível que os profissionais atuantes nas Patrulhas e Rondas Maria da
Penha, desde que devidamente capacitados, também apliquem o questionário.
Contudo, é importante que seja evitado que vítima tenha que responder o FONAR
várias vezes, ou seja, em cada órgão pelo qual venha passar ela precise novamente
responder ao questionário. A repetição desnecessária de determinado procedimento pode
ensejar mais sofrimento às vítimas, caracterizando um tipo de revitimização, daí a
importância da articulação das instituições em rede para que, uma vez respondido o FONAR,
as informações cheguem às instituições encarregadas do acompanhamento do caso e da
gestão do risco.
O Formulário é composto de questões objetivas (Parte I) e subjetivas (Parte II), e
será aplicado por profissional capacitado, admitindo-se, na sua ausência, o preenchimento
pela própria vítima, tão somente, quanto às questões objetivas (Parte I) sendo esta dividida
em quatro blocos:
SAIBA MAIS
Na Prática
Finalizando
Introdução
Fonte: Grancursosonline
Rede é uma malha de múltiplos fios, que pode se espalhar indefinidamente para todos os lados, sem
que nenhum dos seus nós possa ser considerado principal ou central, nem representante dos demais. Não há
um “chefe”, o que há é uma vontade coletiva de realizar determinado objetivo. (WHITAKER, 1993, p. 26).
Fonte: https://fnq.org.br
Do latim retis, a palavra rede significa teia, entrelaçamento de fios e nós que formam
uma espécie de tecido.
Nesse sentido o conceito de rede de enfrentamento da violência contra as mulheres
se refere à atuação articulada entre as instituições, serviços governamentais, não-
governamentais e a comunidade, visando o desenvolvimento de estratégias efetivas de
prevenção e de políticas que garantam o empoderamento das mulheres e seus direitos
humanos, a responsabilização dos agressores e a assistência qualificada às mulheres em
situação de violência (Brasília, 2011).
Já a rede de atendimento faz referência ao conjunto de ações e serviços de
diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança pública e da
saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento; à identificação
e ao encaminhamento adequado das mulheres em situação de violência e à integralidade e
humanização do atendimento (Brasília, 2011).
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 136
Rota crítica
E o papel dos atores da segurança pública na redução da “rota crítica” das vítimas
de violência?
De uma maneira geral, para as Nações Unidas (2003) e para o Escritório para
Vítimas de Crime (2001) o rol de respostas das forças de segurança pública aos casos de
violência doméstica deve incluir:
SAIBA MAIS
Assista ao vídeo: Rota Crítica – Barreiras Enfrentadas pelas Mulheres na busca por
Apoio e o Papel da Sociedade. Créditos: Equipe do Núcleo Judiciário da Mulher -
NJM/TJDFT. https://www.youtube.com/watch?v=_9tnHo5Y1OU
Finalizando
Introdução
A lei Maria da Penha prevê a integração operacional entre órgãos que atuam no
atendimento às mulheres em situação de violência:
Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por
meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de
ações não-governamentais, tendo por diretrizes: I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério
Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação,
trabalho e habitação; (BRASIL, 2006)
Atuação Integrada
A necessidade dos profissionais de compartilhar sua prática acaba se resolvendo de modo informal,
na rede de relações pessoais, a partir da confiança mútua. Entretanto, essa rede se dissolve quando os atores
mudam de posição e levam consigo sua rede de contatos e apoios. Não há, assim, um vínculo entre os serviços
e um fluxo interinstitucional que permita a troca de experiências.
Entretanto, trabalhar de forma integrada, embora seja um ideal a ser alcançado pelas
políticas de proteção às mulheres, ainda assim tem seus desafios e percalços. Dentre os
quais podemos destacar alguns:
⚫ Reduzido número de serviços especializados (considerando toda a realidade
local, urbana e rural);
⚫ Escassez de recursos financeiros e humanos;
⚫ Carência de equipe qualificada para o atendimento às mulheres, a fim de evitar
a revitimização no atendimento (atendimento especializado e não especializado);
⚫ Desconhecimento sobre o trabalho de outras instituições;
⚫ Falta de conhecimento dos fluxos de encaminhamentos adequados por parte
dos serviços não especializados;
⚫ Pouca integração entre a rede de proteção às mulheres e as outras redes:
socioassistencial, de saúde, da justiça e segurança que, em algumas regiões, ainda
trabalham de forma isolada, dificultando a articulação;
⚫ Pensamento de que “só o meu serviço é que sabe fazer o trabalho direito”.
Imagem 41: fluxograma de atendimento às mulheres vítimas de violência de segunda à sexta das 8:00h às
18:00h.
Fonte: http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860
Imagem 42: fluxograma de atendimento às mulheres vítimas de violência de após às 18:00h, finais de
semana e feriados.
Fonte: http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860
Fonte: http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/conteudo,52860
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 146
SAIBA MAIS
E reflita sobre o modo como funciona a Casa da Mulher Brasileira e como a estrutura
deste serviço público contribui para integração entre os órgãos e onde a segurança pública
se insere neste espaço.
Finalizando
Introdução
Dessa forma, com objetivo de comprovar a efetividade das práticas de polícia comunitária, foi criado
e instalado, no dia 20 de outubro de 2012, pela Polícia Militar, um programa de pleno atendimento às mulheres
vítimas de violência doméstica, a Patrulha Maria da Penha, com atendimento e fiscalização através de policiais
militares capacitados especificamente para essa finalidade, contemplando a adequação de recursos, meios e
práticas de polícia às necessidades das vítimas e buscando seu envolvimento na solução da violência
doméstica. (GERHARD, 2014, p.83)
III - Fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local
seguro, quando houver risco de vida;
Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/L14541.htm
Fonte: https://www.agenciabrasilia.df.gov.br/
Ainda não há uma lei federal que regulamente e padronize especificamente esse tipo
de serviço, embora desde 2017 esteja em tramitação o Projeto de Lei Federal nº 7187/17
que visa incluir a Patrulha Maria da Penha entre os programas previstos na Lei Maria da
Penha, tornando-o um programa permanente e presente em todos os estados.
Portanto, as Patrulhas Maria da Penha das Polícias Militares e Guardas Municipais,
em regra, são reguladas por normas internas das instituições gestoras, decretos ou leis
estaduais ou municipais.
Todavia, em sentido mais amplo, esses serviços especializados têm seu amparo
legal no Art. 8º da Lei Maria da Penha, que estabelece que a política pública que visa coibir
a violência doméstica e familiar contra a mulher se dará por meio de um conjunto articulado
de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 154
Imagem 47: Braçal utilizado por policiais da Patrulha Maria da PM do Rio de Janeiro.
Imagem 49 – “Blitz” educativa da Patrulha Maria da Penha da Guarda Municipal de Marabá em parceria com
o Departamento Municipal de Trânsito: Campanha Brasileira de Laço Branco.
SAIBA MAIS
https://www.youtube.com/watch?v=km2qQY56PnU
https://www.youtube.com/watch?v=689OZ8NldzA
Finalizando
Introdução
sobre polícia. Dayse Miranda (2016) apontou os conflitos conjugais e histórico de violência doméstica como
fatores de risco presentes nas narrativas de policiais militares que haviam pensado ou tentado suicídio. (CRUZ,
2023.p.10)
(1) Prevenção;
(2) Atendimento à mulher em situação de violência;
(3) Iniciativas voltadas para o autor do fato;
(4) Apuração no âmbito disciplinar.
Entretanto é importante esclarecer que estas diretrizes são linhas gerais de atuação
e, portanto, as instituições de segurança pública têm suas características e particularidades,
devendo utilizar as diretrizes com base na autonomia institucional, estrutura organizacional
e legalidade.
PREVENÇÃO:
Assédio Sexual
Fonte: Alesp
Nos casos em que o autor (a) de violência doméstica e familiar se trata de profissional
do Susp, as diretrizes nacionais para atendimento policial militar às mulheres em situação
de violência doméstica e familiar sugerem o seguinte:
⚫ Realizar o encaminhamento do profissional denunciado pela violência a
serviços ou grupos de responsabilização e educação e/ou atendimento psicossocial e
psicológico;
⚫ Suspender o porte de arma institucional e demandar a entrega de armas em
posse do autor até que o fato que originou a denúncia seja investigado e que a vítima esteja
em situação de proteção estatal;
⚫ Informar ao profissional do Susp, autor de violência doméstica e familiar contra
a mulher, acerca das medidas legais que serão adotadas;
⚫ Criar grupos reflexivos, a exemplo dos existentes em alguns estados,
estimulando o debate sobre o impacto da violência doméstica e familiar dentro das próprias
instituições de segurança pública;
⚫ Por peculiaridades de algumas instituições de segurança pública, as vítimas
devem ser incentivadas a realizar a denúncia e receber apoio na mudança de local de
trabalho, de forma que ela possa se distanciar do agressor.
Segurança Pública e Violência contra Mulheres e Meninas:
Do Enfrentamento ao Protagonismo Feminino na Prevenção e Redução da Violência 166
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei,
o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas
protetivas de urgência, entre outras:
[..]
VI - Comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e
VII - Acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo
de apoio.
O aprofundamento da discussão sobre a prevenção da violência doméstica e familiar
contra a mulher perpassa, além das ações voltadas às mulheres em situação de violência,
um olhar em relação ao autor do fato que não se restrinja à perspectiva da punição, sem com
isso isentá-lo da necessária responsabilização pelo crime cometido.
E, nesse contexto, os grupos reflexivos para autores de violência doméstica e familiar
contra a mulher têm sido uma alternativa exitosa.
Beiras et al (2022), sugere a criação de Grupos para populações específicas de
Violência doméstica:
O Grupo Reflexivo com Intervenções Terapêuticas foi iniciado com o objetivo de institucionalizar a
atenção psicossocial e de prevenção à violência doméstica destinada aos profissionais de segurança pública,
por meio de um espaço de escuta, cuidado e autorresponsabilização pelos atos. O grupo propõe uma reflexão
acerca do reconhecimento de crenças legitimadoras e perpetuadoras do uso de violência em relações
domésticas e familiares, levando seus integrantes a despirem-se de valores e crenças que levem a justificativas
e à negação dos comportamentos abusivos, bem como na ampliação da visão de mundo no que tange
violência, gênero, masculinidades e direitos.
https://www.tjdft.jus.br/informacoes/cidadania/nucleo-judiciario-da-
mulher/documentos-e-links/relatorios/relatorios-de-projetos-do-njm/relatorio-do-grupo-
reflexivo-com-intervencoes-terapeuticas-para-agentes-de-seguranca-publica-do-distrito-
federal-2019.pdf
SAIBA MAIS!
Finalizando
REFERÊNCIAS
Amâncio, Kerley Cristina Braz. (2013) “‘Lobby do Batom’: uma mobilização por direitos das
mulheres.
Revista Trilhas da História.” Três Lagoas, v.3, nº5 jul-dez. P.72-85. Disponível em:
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Brasil. Lei n.º 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
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