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Índice Pág.

Declaração de Autenticidade................................................................................................................iii
Dedicatória...........................................................................................................................................iv
Agradecimentos.....................................................................................................................................v
Lista de Mapas......................................................................................................................................vi
Lista de Gráficos..................................................................................................................................vii
Lista de Siglas.....................................................................................................................................viii
Resumo.................................................................................................................................................ix
CAPITULO 0: INTRODUÇÃO..........................................................................................................10
0.1.Tema..............................................................................................................................................11
0.2.Delimitação do Tema.....................................................................................................................11
0.3.Problema........................................................................................................................................11
0.4. Objectivos do Estudo....................................................................................................................14
0.4.1. Objectivo geral..........................................................................................................................14
0.4.2. Objectivos Específicos...............................................................................................................14
0.5. Justificativa...................................................................................................................................14
0.5.1. A nivel social.............................................................................................................................15
0.5.3. Ao nível jurídico........................................................................................................................15
CAPÍTULO I – METODOLOGIA DA PESQUISA...........................................................................16
1.1.Tipo de pesquisa............................................................................................................................16
1.1.1. Quanto à Natureza.....................................................................................................................16
1.1.2. Quanto à Abordagem.................................................................................................................16
1.1.3. Quanto aos Objectivos...............................................................................................................16
1.1.4.Quanto aos procedimentos técnicos............................................................................................16
1.2. Método de Pesquisa......................................................................................................................16
1.3. Universo e Tipo de Amostragem..................................................................................................17
1.4.Técnicas de Recolha de Dados......................................................................................................17
CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................19
2.1. Considerações gerais sobre o Direito Ambiental em Moçambique...............................................19
2.2. Conceito de Direito do Ambiente.................................................................................................20
2.3.Os princípios gerais do Direito do Ambiente.................................................................................21
2.4.Conceito de Direitos Humanos......................................................................................................23
2.5.Gerações de Direitos Humanos......................................................................................................24
2.5.1.Direitos Humanos de Primeira Geração......................................................................................26

i
2.5.2.Direitos Humanos de Segunda Geração......................................................................................27
2.5.3.Direitos Humanos de Terceira Geração......................................................................................28
2.5.4.Direitos Humanos de Quarta Geração.........................................................................................29
2.5.5.Direitos Humanos de Quinta Geração.........................................................................................29
2.6.Direitos Fundamentais...................................................................................................................29
2.7.Problemas Ambientais Decorrente da Exploração do Carvão Mineral..........................................31
2.8.Situação Actual do Sector Mineiro em Moçambique.....................................................................32
2.9.Responsabilidades do Governo......................................................................................................33
2.9.1.Condições a serem Criadas no acto de Reassentamentos............................................................34
2.9.2.Lei de Terras...............................................................................................................................35
2.9.3. Lei do Ambiente........................................................................................................................35
2.9.4.Regulamento sobre a Inspecção Ambiental................................................................................37
2.9.5.Regulamento sobre o Processo de Auditoria Ambiental.............................................................38
CAPÍTULO III: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS........................................................40
3.1.Discrição do Local do Estudo........................................................................................................40
3.1.1.Localização Geográfica da Vila de Moatize...............................................................................40
3.1.2. Recursos Mineiras.....................................................................................................................41
3.2.Descrição dos Conteúdos...............................................................................................................42
3.2.1.Perfil da População da amostra...................................................................................................43
3.2.3.Indicadores de relacionamento entre a empresa mineradora Vale Moçambique, Governo local e
à comunidade de Nhantchere...............................................................................................................44
3.3.Descrição de conteúdos que foi dirigida à autoridades local do Distrito de Moatize.....................48
4.0.CONCLUSÃO E SUGESTÕES:................................................................................................53
4.1.Conclusão:....................................................................................................................................53
4.2.Sugestões:.....................................................................................................................................56
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.....................................................................................................57

ii
Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço a Deus, que permitiu que tudo isso acontecesse, ao longo de
minha vida e não somente nestes anos como universitária, mas em todos os momentos é o
maior mestre que alguém pode conhecer ele também me concedeu capacidades físicas,
emocional e intelectual que permitiram a realização deste trabalho monográfico.

A realização do presente trabalho, marca o final de uma etapa do meu percurso académico, e
como tal, não poderia deixar de dirigir algumas palavras de agradecimentos a todos aqueles
que me incentivaram a lutar por aquilo que sempre acreditei e que me apoiaram ao longo
desta minha caminhada.

Os meus sinceros agradecimentos ao meu supervisor, pela paciência, incentivo e sabedoria,


pelos ensinamentos ao longo do trabalho, pela simplicidade com que me tratou, e por
acreditar neste trabalho, vai o meu muito obrigado.

Um obrigado em especial para o meu esposo e a minha filha pela paciência, encorajamento e
incentivo, que sempre me apoiou, incondicionalmente, na vida em geral e na realização desta
Monografia, superando o emocional.

Agradeço de igual modo também, a todos os docentes da ISGECOF que contribuíram para a
minha formação.

Aos meus colegas e amigos pelo apoio moral, incentivo, confiança que depositaram em mim
ao longo da formação académica e fora da mesma e pela colaboração.

A todos que directa ou indirectamente contribuíram para a realização deste trabalho, o meu
muito obrigado.

iii
Lista de Mapas

Mapa 1: Localização Geográfica da Vila de Moatize..............................................................40

Mapa 2: Áreas de Exploração do Carvão Mineral...................................................................41

iv
Lista de Gráficos

Gráfico 1: Ilustrando o número de inqueridos por faixa etária................................................43


Gráfico 2: Ilustrando o número de inqueridos por sexo...........................................................44
Gráfico 3: Ilustrando o mecanismo de consulta e diálogo efectuada à comunidade................45
Gráfico 4: Ilustrando o nível de satisfação existente na relação entre a empresa e a
comunidade de Nhantchere......................................................................................................45
Gráfico 5: Ilustrando o posicionamento da população em relação aos benefícios
proporcionados pela empresa Vale Moçambique à comunidade.............................................46
Gráficio 6: Ilustrando as dificuldades encaradas pelos membros da comunidade resultante da
exploração mineira...................................................................................................................48

v
Lista de Siglas

CRM- Constituição da República de Moçambique


DUDH- Declaração Universal dos Direitos Humanos
CADHP- Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos
DUAT- Direito de Uso e Aproveitamento da Terra
ONU- Organização das Nações Unidas
DH- Direitos Humanos

vi
Resumo

Este estudo tem como objetivo analisar a violação dos direitos à saúde e ao ambiente na comunidade
de Nhatchere, Cidade de Moatize, como resultado das actividades de extração de carvão mineral a céu
aberto protagonizado pela Vale Moçambique S.A. no período de 2015 à 2019. Para tal, foi
desenvolvida uma pesquisa exploratória, transversal e qualitativa compondo aportes disponíveis na
literatura científica, notícias de divulgação popular e legislação, observação directa e entrevistas com
autoridades e moradores locais. Os impactos ambientais derivados da exploração mineral em Moatize
são notórios, contudo, não se verifica uma efectiva intervenção do Estado, tanto no que diz respeito a
sua responsabilidade civil perante os danos ambientais decorrentes da emissão do pó de carvão, bem
como na prevenção e mitigação dos impactos na saúde e organização social da população.
Palavra-chave: Avaliação dos Direitos Fundamentais, violação.

vii
CAPITULO 0: INTRODUÇÃO

Com a descoberta dos recursos minerais na Província de Tete, o Governo de Moçambique,


como parte da nova política, tem promovido investimento nacional e internacional na
exploração destes recursos, atribuindo licenças de prospecção e exploração. Dados geológicos
da Província de Tete e, particularmente do Distrito de Moatize, fornecem indicações positivas
sobre a qualidade, abundância e profundidade destes recursos, com destaque para o carvão
mineral.

Consequentemente, tem sido criado postos de trabalho temporários para a comunidade e


melhorada economicamente as condições de vida das populações locais. Contudo, a
implementação desses megaprojetos exercem de alguma forma, pressão sobre as instituições
do Estado, promovendo a segregação sócio - espacial que contrapõe com a geração de
oportunidades de trabalho os quais beneficiam apenas uma pequena elite nacional e/ou
estrangeira.

A mineração de carvão provoca a poluição da água e do ar. A poeira e as partículas de carvão


resultantes da mineração, bem como a fuligem libertada durante o transporte de carvão
contribuem para a poluição do ar, causando problemas respiratórios graves e potencialmente
mortais para os trabalhadores das minas e membros da comunidade circunvizinhas.

No país, a exploração de minério é condicionada ao licenciamento ambiental que objectiva o


registo das actividades cuja localização e dimensão, sejam susceptíveis de provocar impactos
significativos sobre o ambiente, logo condicionadas às exigências legais inseridas nos termos
do número 1 do artigo 15 da Lei nº 20 (Lei, 1997).

Com o presente estudo, pretendeu-se analisar a violação dos direitos fundamentais plasmados
na Constituição da República de Moçambique, bem como a violação dos direitos humanos
consagrados na Declaração Universal nomeadamente o direito à saúde e o direito ao
ambiente, na comunidade de Nhatchere, na cidade de Moatize, como resultado da actividade
da extração do carvão mineral a céu aberto, protagonizada pela empresa mineradora Vale
Moçambique S.A, no período de 2015 à 2019.

Pelo facto da mineração de carvão ser amplamente reconhecida como uma das formas mais
perigosas de extracção de recursos naturais para a saúde humana e para o meio ambiente,
procurou-se no presente estudo, compreender por um lado, o seu impacto no meio social e

8
biótico através das percepções da comunidade sobre os riscos ambientais resultante da
actividade mineral com base nas observações em campo e nas respostas sobre as mudanças
ocorridas nos últimos cinco anos no ambiente do bairro. Por outro lado, mediante a pesquisa
bibliográfica, prodeceu-se a consulta sobre a legislação com destaque para a Constituição da
República, a Lei de Minas, a Lei do Ambiente entre outras com o propósito de compreender à
intervenção das instituições do Governo na busca de soluções concessuais deste dilema.

A monografia obedeceu a seguinte estrutura: Introdução; 1. Revisão da Literatura; 2.


Metodologia da Pesquisa; 3. Análise e Interpretação de Dados; 4. Conclusão e Sugestões;
Bibliografia; Apêndice e Anexo.

0.1.Tema

Violação dos Direitos Fundamentais na Comunidade de Nhatchere, Cidade de Moatize,no


período de 2015 à 2019

0.2.Delimitação do Tema

A pesquisa foi relizada na Cidade de Moatize, na Comunidade de Nhatchere, tendo sido feitas
referência as informações colhidas desde o ano de 2015 à 2019.

0.3.Problema

Na maioria das vezes, as actividades mineralógicas são realizadas de forma predatória,


destrutiva e agressiva ao ambiente, deteriorando progressivamente a qualidade de vida da
população local, pois, tem sido notório a realização da actividade de mineração (exploração
do carvão mineral) próximo de residências, sem que sejam observados o cumprimento do acto
de reassentamento das populações, como é o caso da comunidade de Nhatchere, arredores da
Cidade de Moatize.

A detonação de rochas tem originado poeiras de carvão em grande quantidade que chega a
ponto de misturar-se com produtos alimentares (farinha) e em plantas comestíveis (moringa,
etc.), confeccinados pela população, situação esta que viola alguns direitos consagrados na
Constituição da República de Moçambique de 2004 colocando em risco a vida da população
da comunidade de Nhatchere.

9
O número um do artigo 117 (Ambiente e qualidade de vida) da Constituição da República de
Moçambique elucida que o Estado promove iniciativas que visam garantir o equilíbrio
ecológico e a conservação e preservação do ambiente visando a melhoria da qualidade de vida
dos cidadãos.  O número dois do mesmo artigo, clarifica que com a finalidade de garantir o
direito ao ambiente no quadro de um desenvolvimento sustentável, o Estado adopta políticas
visando:

a) prevenir e controlar a poluição e a erosão;

b) integrar os objectivos ambientais nas políticas sectoriais ;

c) promover a integração dos valores do ambiente  nas políticas e programas educacionais;

d) garantir o aproveitamento racional dos recursos naturais com salvaguarda da sua


capacidade de renovação, da estabilidade ecológica e dos direitos das gerações vindouras;

e) promover o ordenamento do território  com vista a uma correcta localização das actividades
e a um desenvolvimento sócio-económico equilibrado.

A Lei nº 20/97, de 1 de Outubro (Lei do Ambiente), respondendo às directivas da Política


Nacional do Ambiente, e em conformidade com a Constituição de 1990, estipula as bases para
a prevenção e protecção ambiental no país. Os princípios estabelecidos na Política Nacional
aparecem plasmados na Lei, onde o artigo nº 4 das Disposições Gerais, ao estabelecer os
princípios fundamentais destaca, entre outros, o princípio da “precaução, com base na qual a
gestão do ambiente deve priorizar estabelecimento de sistemas de prevenção de actos lesivos
ao ambiente, de modo a evitar ocorrências de impactos ambientais negativos (…)”,
especificando ainda a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres no acesso e
utilização de recursos naturais.

Sobre a poluição do ambiente o artigo nº 9 proíbe “a produção, o depósito no solo e no


subsolo, o lançamento para a água ou para a atmosfera, de quaisquer substâncias tóxicas e
poluidoras (…)”. Os resultados da pesquisa permitiram no entanto constatar uma clara
violação desta lei, como veremos ao longo do texto.

Os direitos à informação, educação e justiça, plasmados no Capítulo VI desta Lei (artigos 19,
20 e 21 respectivamente), não só preconizam medidas para a protecção do ambiente como
ainda dos direitos dos cidadãos que tenham sido lesados por terceiros em consequência da
violação da legislação ambiental, destacando-se os artigos nº 21 e nº 22, que explicitam o
10
direito de acesso à justiça, nomeadamente, o direito a requerer a suspensão das actividades
que provocaram os danos.

Pela Resolução nº 5/95, de 3 de Agosto, o Conselho de Ministros aprovou a Política Nacional


do Ambiente, publicada no Boletim da República a 6 de Dezembro de 1995 (I Série, nº 49). O
“preâmbulo” da Resolução remete para a Constituição, o direito dos cidadãos a “um ambiente
equilibrado e o dever de o defender”, atribuindo ao Estado a tarefa da sua materialização
através de iniciativas visando “o equilíbrio ecológico, a conservação e preservação da
natureza”.

Entre os princípios definidos pela Política Nacional do Ambiente, podemos destacar: o


Homem como principal beneficiário da sua gestão adequada; optimização do uso dos recursos
naturais; obrigações do poluidor para repor o ambiente; rendimentos provenientes do uso
racional do ambiente devem beneficiar as comunidades locais; garantia de participação
pública na tomada de decisões sobre impactos ambientais; valorização do conhecimento local
na gestão ambiental.

Ora, o que se observa, na aplicação das leis específicas é a violação da Constituição da


República, tanto no que respeita à igualdade de direitos entre mulheres e homens, como na
restituição e compensação das comunidades pela expropriação dos seus bens e modo de vida,
como ainda na salvaguarda do meio ambiente.

Um vez que, as actividades mineralógicas são realizadas de forma predatória, destrutiva e


agressiva ao ambiente, deteriorando progressivamente a qualidade de vida da população local,
por estas actividades serem realizadas próximo de residências, sem que sejam observados os
processos de consulta e comunicação entre a empresa e à comunidade, importa formular a
seguinte pergunta de partida: Em que medida a exploração do carvão mineral pela
empresa Vale Moçambique SA, viola o artigo 117 (Ambiente e Qualidade de Vida),
consagrado na Constituição da República de Moçambique, prejudicando à vida da
população da comunidade de Nhatchere?

11
0.4. Objectivos do Estudo

0.4.1. Objectivo geral

 Analisar a violação do artigo 117 plasmado na Costituição da República de Moçambique,


resultante da exploração mineira à ceu aberto e seu impacto na vidas da população da
comunidade de Nhatchere.

0.4.2. Objectivos Específicos

 Realizar um diagnóstico sobre a actividade mineira e seu impacto na violação do artigo


117 da CRM;

 Elencar os principais impactos sócio-ambientais decorrentes da violação do artigo 117 da


CRM

 Identificar os problemas de saúde e ambientais que impactam na vida da população da


comunidade de Nhatcgere.

 Verificar o tipo de relação existente entre a comunidade e a empresa e, com o Governo


local e propor soluções que visam uma melhor intervenção da máquina administrativa
local com vista a observância do plasmado no artigo 117 da CRM.

0.5. Justificativa

A escolha deste tema a nível pessoal surge pelo facto de não haver a observância de um
processo de exploração seguindo os ditames da lei de minas gerando consequências
desumanas a comunidade de Nhatchere, leva-nos a crer que o processo de comunicação e
auscultação dos membros da comunidade por quem de direito com vista o reassentamento da
população residente nas zonas limites da mina da Vale, não foi observada.

Como é sabido, a reparação do dano ambiental se constituíu de um problema de difícil


solução, contudo, esta constatação não deve ser obstáculo à aplicação da responsabilidade
civil ou ambiental, a fim de que os recursos naturais degradados possam ser devidamente
reparados e se possível, indeminizados. Logo, justifica-se a presente pesquisa a fim de
garantir qualidade de vida para as presentes e futuras gerações, uma vez que a poluição
ambiental por poeira de carvão das minas se constitui de factor desencadeador de distúrbios
da vida das comunidades, um relevante problema de saúde pública e comprometedor da saúde

12
global. Para tal, foram pontuadas divergências teóricas e doutrinárias face tanto à legislação
sobre o tema quanto à relevância do mesmo e da necessidade de instituir uma vigilância
ambiental para melhor compreender os efeitos na saúde e propor medidas de prevenção.

0.5.1. A nivel social reveste-se também de grande importância, na medida em que nos leva a
reflectir sobre os processos de mineração que tem causado impactos sócio-económicos
negativos, principalmente quando se trata de acesso das populações aos recursos de forma
benéfica.

0.5.2. A nível académico

Ainda referir que a escolha deste tema justifica-se também partindo da premissa de que as
descobertas dos recursos naturais em Moçambique ainda estão por vir, principalmente as de
natureza extractiva, é imprescindível tratar deste assunto, visto que para a exploração dos
mesmos, resultará sempre a realização de mais processos de conflitos entre a população e as
empresas concessionadas, principalmente nos locais onde forem descobertos dai a
necessidade de as academias trazer mais estudos sobre o assunto para a melhoria da
problematica.

Por outro lado, como se tem assistido nos últimos anos em Moçambique, vários processos
desta natureza desde que começaram os processos de extracção dos recursos naturais,
evidenciam impactos negativos no seio das famílias afectadas, a perda de DUAT, difícil
acesso a terras férteis para a prática da agricultura, água potável, condições habitacionais
condignas, falta de diálogo por parte dos actores envolvidos (as famílias afectadas, as
empresas e o governo).

0.5.3. Ao nível jurídico

O tema consiste em procurar tornar mais eficaz a aplicação da Lei de Minas, incentivando-se
uma maior fiscalização por parte das autoridades, visto que, a não aplicação efectiva e a
ineficácia da lei supra mencionada, pode vir a ter como consequência graves tais como
problemas ambientais de saúde e integridade física da população causado pela extracção de
carvão de forma inapropriada.

13
CAPÍTULO I – METODOLOGIA DA PESQUISA

Este capítulo foi destinado essencialmente a apresentar os procedimentos metodológicos


utilizados na elaboração deste trabalho. Neste sentido, foram referidos os métodos utilizados,
os procedimentos de investigação, a população e a amostra, o instrumento de recolha de dados
e o método de recolha.

1.1.Tipo de pesquisa

1.1.1. Quanto à Natureza

A pesquisa é Básica. Para Marconi & Lakatos (2003:83), Pesquisa Básica: tem como
objectivo de gerar conhecimento que seja útil para a ciência e tecnologia, sem
necessariamente haver uma aplicação prática.

1.1.2. Quanto à Abordagem

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, “o pesquisador procura reduzir a distância entre a teoria
e os dados, entre o contexto e a acção, usando a lógica da análise fenomenológica, isto é, da
compreensão dos fenómenos pela sua descrição e interpretação” (TEXEIRA, 2000, p.124).

1.1.3. Quanto aos Objectivos

Tratou-se de uma pesquisa exploratória, visto que tem como finalidade proporcionar mais
informações sobre o assunto investigado, possibilitando sua definição e seu delineamento, isto
é, facilitar a delimitação do tema da pesquisa, orientar a fixação dos objectivos e a formulação
das hipóteses, assumindo as formas de pesquisa bibliográficas e estudos de caso.

1.1.4.Quanto aos procedimentos técnicos

Tratou-se de uma pesquisa do campo. Segundo Gil (2008; p.24), as pesquisas do campo são
“aquelas em que o pesquisador entra em contacto directo com a realidade de pesquisa, com
vista a familiarizar-se em manifesto com o fenómeno a pesquisar”.

1.2. Método de Pesquisa

Quanto à sua abordagem o método aplicado foi hipotético-dedutivo, que inicia pela percepção
de uma lacuna nos conhecimentos acerca da qual formulam-se hipóteses e, pelo processo
dedutivo, testa-se a ocorrência de fenómenos abrangidos pela hipótese.
14
Nesta pesquisa ainda recorreu-se ao método histórico. Na perspectiva de Marconi & Lakatos
(2003), este método segundo as autoras, parte do princípio de que as actuais formas de vida
social, as instituições e os costumes têm origem no passado, é importante pesquisar suas
raízes,  para compreender sua natureza e função.  Assim, o método histórico consistiu em
investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua
influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual através de
alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto
cultural particular de cada época.Este método permitiu compreender eventos como era a
aplicação da lei no passado antes da extração massiva do carvão mineral, isto é, o método
histórico permitiu compreender as actuais transformações resultantes da exploração do carvão
mineral, fazendo uma comparação entre o passado e o presente.

1.3. Universo e Tipo de Amostragem

De acordo com Soveral E. Silva (2004:208), Universo da população é o conjunto de


elementos (seres, objectos, acontecimentos) com uma ou mais características comuns, a cerca
da qual pretendemos efectuar um estudo.

A pesquisa qualitativa depende em largas escalas de informações dos sujeitos que vivem
directamente o problema descrito num determinado espaço de tempo. Neste caso, para o
estudo contamos com um universo de 15 elementos, dos quais 14 que correspondem a classe
da comunidade representada por chefes de família, sendo que 9 Homens e 6 Mulheres; O
estudo contou ainda com a participação de 1 Representante do Governo Local da Cidade de
Moatize, prefazendo uma amostra representativa igual ao universo, correspondente à 15
elementos.

Segundo Mattar (1996, p. 132 apud Oliveira, 2001), “amostragem não probabilística é aquela
em que a selecção dos elementos da população para compôr a amostra depende ao menos do
julgamento do pesquisador ou do entrevistador no campo”.

1.4.Técnicas de Recolha de Dados

A técnica aplicada no estudo foi a estrevista semi-estruturada, um cruzamento de perguntas


abertas e fechadas. Para Lüdke e André (1986) a entrevista deve ser permeadas por um clima
de estimulação e de aceitação mútua, entre o pesquisador e o pesquisado, que facilita a

15
fluência das informações, podendo-se ser captadas de forma imediata assuntos pessoais e de
natureza íntima ou temas complexos.

A essência da entrevista foi a palavra e a interacção, pois ela teve como principal alvo as
comunicações verbais e não verbais. Ela é uma das principais técnicas nas pesquisas em
ciências humanas e sociais.

Os instrumentos utilizados na entrevista do presente trabalho foram: guião de perguntas, folha


A4, Notebook, canetas etc. O guião teve perguntas abertas, direcionadas à população, ao
representante do governo local e ao secretário do bairro.

16
CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo, primeiramente foram evidenciados os principais conceitos relacionados ao


estudo. Em seguida, por meio da pesquisa bibliográfica, procurou-se aprofundar o tema em
estudo, tendo como base a lei fundamental e uma série de legislação específica atinente ao
ambiente e saúde pública.

2.1. Considerações gerais sobre o Direito Ambiental em Moçambique

Com a Declaração de Estocolmo1, o Ambiente abandonou o papel secundário que, até àquela
data, desempenhara no cenário internacional, para se transformar no protagonista das
preocupações mundiais.

De acordo com SERRA e CUNHA 2, a Constituição da República Popular de Moçambique, de


1975, não fazia qualquer menção directa ao ambiente. Porém, com entrada em vigor do novo
texto constitucional, a Constituição da República de Moçambique de 1990, marcou-se um
passo muito importante na construção da ordem jurídico-ambiental moçambicana, ao ponto de
ser considerada “Constituição Ambiental”, assenta essencialmente nos artigos 72 e 37.

Com efeito, nos termos do artigo 72.º CRM de 1990, “todo o cidadão tem o direito de viver
num meio ambiente e o dever de o defender”.

Por seu turno, de acordo com artigo 37.º da mesma Constituição “O Estado promove
iniciativas para garantir o equilíbrio ecológico e a conservação e preservação do meio
ambiente visando à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos”. Este artigo deixa pois muito
bem claro, como fazem notar SERRA e CUNHA3, que compete ao Estado tomar as iniciativas
necessárias para uma efetiva tutela do meio ambiente, tanto em termos positivos, garantindo o
exercício do direito fundamental ao ambiente, como em termos negativos, abstendo-se de
praticar acções ou omissões que ponham em causa o equilíbrio ambiental, constituindo a sua
protecção uma garantia da norma jurídico-constitucional.

1
Princípio 1, da Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente Humano, 1972, dispõe que “O homem tem o direito
fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de
qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de
proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras.”
2
SERRA, C. M. e CUNHA, F. Manual de Direito do Ambiente, Maputo: Centro de formação jurídica e
Judiciaria, 2003
3
Idem
17
Nessa sequência, pretendendo-se dar corpo às novidades introduzidas no texto constitucional,
em 1997, foi aprovada a Lei n.º 20/97, de 1 de Outubro, adiante designada Lei do Ambiente
(LA), que vem definir as bases legais para a utilização e gestão correctas do ambiente e seus
componentes, com vista à materialização de um sistema de desenvolvimento sustentável no
país.4

Não obstante a sua inequívoca importância, esta lei apresenta soluções que, apesar de
especialmente direccionadas para a resolução de problemas ambientais, não são,
originariamente, de direito do ambiente, mas, antes, de outros ramos do direito, como o direito
civil, o administrativo e o penal.5

A elevação e correspondente autonomização do ambiente à categoria de bem jurídico


fundamental (a par do direito a vida, a saúde ou a propriedade), por parte do legislador
constitucional, prevaleceu no novo texto constitucional de 2004 (actualmente em vigor),
nomeadamente através dos artigos 90.º e 117.º.

2.2. Conceito de Direito do Ambiente

O Direito do ambiente pode ser definido, de acordo com SERRA e CUNHA citando REIS 6,
como sendo:

O sistema de normas jurídicas que, tendo especialmente em vista as


relações do Homem com o meio, prossegue os objectivos de
conservação da natureza, manutenção dos equilíbrios ecológicos,
salvaguarda do património genético, protecção aos recursos naturais e
combate às diversas formas de poluição.

Entretanto, ensina SÉGUIN7 que,

Direito Ambiental é o conjunto de regras, princípios e políticas


públicas que buscam a harmonização do homem com o Meio
Ambiente. Envolve aspectos naturais, culturais, artificiais e do
trabalho, que possuem regulamentação própria, com institutos
jurídicos diferentes, apesar de complementares.

4
Artigo 2.º da Lei do Ambiente, Boletim da República, I Série, n.º40, 3.º Suplemento
5
Silveira, P.C. Algumas Considerações sobre a Lei do Ambiente em Moçambique, disponível em
http://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Silveira-Paula-de-Castro-ALGUMAS-
CONSIDERACOES-SOBRE-A-LEI-DO-AMBIENTE-EM-MOCAMBIQUE.pdf, acesso em 08 de Julho de
2015
6
SERRA, C. M. e CUNHA, F. Manual de Direito do Ambiente, Maputo: Centro de formação jurídica e
Judiciaria, 2003
7
SÉGUIN, E. Direito Ambiental: nossa carta planetária. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 17.
18
Com as explicações acima apresentadas, nota-se que o Direito do Ambiente vem a ser um
conjunto de normas jurídicas que visam a protecção do meio ambiente e que se desdobra em
promover e garantir um ambiente sustentável as gerações futuras.

2.3.Os princípios gerais do Direito do Ambiente

A Lei do Ambiente consagra, expressamente, no seu art.º 4.º, alguns destes princípios
fundamentais em matéria ambiental, a saber:

 Princípio da utilização e gestão racional dos compostos ambientais – Este princípio


aparece no ordenamento jurídico moçambicano, em 1995, com a aprovação da Política
Nacional do Ambiente (PNA). Nos termos da qual, “a utilização dos recursos naturais
deve ser optimizada8”. Sendo a utilização e gestão racional dos recursos naturais, ambas,
condição necessária para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, pode dizer-se que
mais não é do que a concretização e densificação do princípio do desenvolvimento
sustentável no ordenamento jurídico nacional;

 Princípio do reconhecimento e valorização das tradições e do saber das comunidades


locais- Este princípio tem como fonte de inspiração o Princípio XXII, da Declaração do
Rio de Janeiro, nos termos do qual “as populações indígenas e suas comunidades e outras
comunidades locais desempenham um papel vital na gestão e desenvolvimento do
ambiente devido aos conhecimentos e práticas tradicionais, os Estados deverão apoiar e
reconhecer devidamente a sua identidade, cultura e interesses e tornar possível a sua
participação efectiva na concretização de um desenvolvimento sustentável”.

No entanto, SERRA e CUNHA9 entendem que,

A questão da protecção das comunidades locais e dos seus saberes,


como forma de protecção e preservação do meio ambiente, ganha
especial relevo em Moçambique onde, apesar de a Terra ser
propriedade do Estado, é daí que há décadas, as famílias retiram a sua
maior, e muitas vezes única, fonte de sustento. Razão pela qual, o
conhecimento e o saber das comunidades locais constituem
pressuposto fundamental para uma convivência harmoniosa com o
ambiente

8
Ponto 2.2, da Resolução n.º 5/95, de 3 de Agosto (Política Nacional do Ambiente).
9
SERRA, C. M. e CUNHA, F., Manual de Direito do Ambiente, Ministério da Justiça, Centro de Formação Jurídica
e Judiciária, 2.º ed. Revista e actualizada, Maputo, 2008, p. 170.
19
Contudo, para uma acertada compreensão deste princípio, é essencial chamar à colação o
conceito de comunidade local apresentado em sede de Lei de Terras 10, nos termos da qual,
entende-se por comunidade local “o agrupamento de famílias e indivíduos, vivendo numa
circunscrição territorial de nível de localidade ou inferior, que visa a salvaguarda de interesses
comuns através da protecção de áreas habitacionais, áreas agrícolas, sejam cultivadas ou em
pousio, florestas, sítios de importância cultural, pastagens, fontes de água e áreas de
expansão”11.

 Princípio da precaução- Este princípio consagra que a gestão ambiental deve priorizar o
estabelecimento de sistemas de prevenção de actos lesivos ao ambiente, de modo a evitar
a ocorrência de impactos ambientais negativos significativos ou irreversíveis,
independentemente da existência de certeza jurídica sobre a ocorrência de tais impactos.12

Entretanto, a questão de relevo, no que a este princípio diz respeito, é, sem dúvida, a tomada
de consciência de que é necessário actuar ainda antes de ter ocorrido o mal, ou sequer de
existir qualquer certeza científica quanto a ocorrência do dano

 Princípio da visão global e integrada do ambiente – Nos termos deste princípio, o


ambiente deve ser visto, e tratado, como um conjunto de ecossistemas interdependentes,
naturais e construídos, que devem ser geridos de maneira a manter o seu equilíbrio
funcional sem exceder os seus limites intrínsecos. Este princípio decorre, como refere
SERRA13, da alteração substancial que ocorreu no direito internacional do ambiente no
que toca ao seu objecto, uma vez que este não é mais um qualquer dos componentes
naturais individualmente considerados – água, ar, solo, subsolo, fauna, flora – mas sim a
própria biosfera globalmente considerada e analisada.

 Princípio da participação dos cidadãos – Este princípio corresponde ao entendimento


segundo o qual a participação dos cidadãos é a condição para o sucesso das políticas de
protecção e conservação ambientais. Porém, importa realçar que não pode haver
participação dos cidadãos na definição e implementação da política ambiental sem que
haja informação cabal por parte das entidades estatais competentes. Este princípio

10
Lei n.º 19/97, de 1 de Outubro, que aprova a Lei de Terras, Boletim da República, I Série, n.º40, 3.º
Suplemento
11
Artigo 1.º, n.º 1, da Lei n.º 19/97, de 1 de Outubro, que aprova a Lei de Terras, Boletim da República, I Série,
n.º40, 3.º Suplemento
12
Artigo 4.º, alínea c) da Lei do Ambiente, Boletim da República, I Série, n.º40, 3.º Suplemento
13
SERRA C. M. e CUNHA, F., Manual de Direito do Ambiente, Ministério da Justiça, Centro de Formação Jurídica
e Judiciária, 2.º ed. Revista e actualizada, Maputo, 2008, p. 176.
20
encontra papel de destaque em matéria de Avaliação de Impacto Ambiental, nos temos do
qual, a cabal participação da comunidade é condição necessária para a atribuição da
Licença Ambiental.14

 Princípio da igualdade – Este princípio visa garantir oportunidades iguais de acesso e


uso de recursos naturais a homens e mulheres. Contudo, não nos parece acertado entender
este princípio de forma restritiva, apenas no que respeita ao acesso aos recursos naturais
pelos diferentes géneros, mas sim de forma a respeitar o princípio da igualdade previsto
no art.º 35.º da Constituição da República de Moçambique (2004), nos termos do qual
“todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos
aos mesmos deveres…”. Ou seja, também em matéria ambiental os cidadãos são todos
iguais, estão sujeitos aos mesmos deveres e têm os mesmos direitos, nomeadamente no
que respeita a acesso aos recursos naturais.

 Princípio da Responsabilidade – Nos termos deste princípio, quem polui ou de qualquer


outra forma degrada o ambiente, tem sempre a obrigação de reparar ou compensar os
danos daí decorrentes. Ora, esta responsabilidade pode ser tanto de tipo civil,
administrativa ou penal, como teremos oportunidade de ver mais adiante no presente
trabalho.

 Princípio da Cooperação internacional – Quanto a nós, este princípio assume duas


vertentes, uma ao constatar que os danos provocados ao ambiente já não se cingem aos
limites territoriais de um Estado ou, como se costuma dizer, a poluição não tem fronteiras,
nem respeita o sinal “proibido ultrapassar”. Pelo que é, cada ver mais urgente, a
necessidade de encontrar soluções para os danos transfronteiriços.

2.4.Conceito de Direitos Humanos

Para Comparato (2010), direitos humanos são direitos próprios de todos os Homens, enquanto
Homens, à diferença dos demais direitos, que só existem e são reconhecidos, em função de
particularidades individuais ou sociais do sujeito. Trata-se, em suma, pela sua própria
natureza, de direitos universais e não localizados, ou diferenciais.

Segundo Mendes (2002), direitos humanos são definidos como um portifólio; um conjunto de
direitos inerentes à essência do ser humano e que tem por primeiro e último fim garantir a
14
Artigos 12.º, n.º 2, al.i), art.º 13.º, n.º 3, al.h) e at.º 14.º do Decreto n.º 45/2004, de 29 de Setembro
(Regulamento de Avaliação de Impacto Ambiental)
21
este, entre outros direitos, a vida, a liberdade, a igualdade, a integridade sendo sempre de
respeito e aplicação universal.

Por sua vez, Ascensão (1988) define direitos humanos como aqueles direitos que a pessoa
humana possui pelo simples facto de o ser, derivados por isso da sua natureza, anteriores e
superiores às ordens jurídicas positivas, que devem apenas reconhecê-los e assegurá-los.

O simples facto de ser homem faz do indivíduo titular de direito. Não importa a raça, a língua,
a religião, a nacionalidade, a filiação partidária, etc. deste individuo. A este respeito o art. 2º,
I, da Declaração Universal, diz que “cabe a cada indivíduo todos os direitos e todas as
liberdades enunciadas na presente Declaração, sem nenhuma distinção por razões de cor,
sexo, língua, religião, opinião política ou de outro tipo, por origem nacional ou social,
riqueza, nascimento ou outra consideração”, (Assembleia Geral das Nações Unidas, 1948).
Portanto, a defesa e garantia dos direitos humanos não deve ser condicionada.

2.5.Gerações de Direitos Humanos

Segundo Piovesan (2004) A positivação dos direitos que hoje são reconhecidos
fundamentalmente e que corresponde a de mais, às gerações de direitos humanos deu-se, nas
variadas Cartas Fundamentais, em correspondência ao transcurso da história da humanidade e
efectivamente se perfectibilizou no ordenamento jurídico, com a proporção que hoje se
concebe, como uma consequência histórica da transmudação dos direitos naturais universais
em direitos positivos particulares, e depois em direitos positivos universais.

Por isso mesmo, inexiste equívoco quando se confere a essa norma Fundamental a atribuição
de reflectir um momento histórico significativo bem como o actual, porque existe o máximo
do alargamento no campo dos direitos e garantias fundamentais até hoje conquistado,
colocando-se ainda, entre as Constituições mais avançadas do mundo no que diz respeito à
matéria (PIOVESAN: 2004; p. 15)

Para Herkenhoff (1994) São assim, considerados humanos, os direitos conferidos a todo e
qualquer sujeito, no intuito de se resguardar sua dignidade, direitos esses que a sociedade
política tem o dever de consagrar e garantir todos decorrentes de alterações no pensamento
filosófico, jurídico e político da humanidade, e que, positivados, convencionou-se designar
por “direitos fundamentais.

22
Como precedente histórico de processo de internacionalização dos direitos humanos, assinala-
se a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho, convenções pelas quais foi
possível, pela primeira vez, redefinir o status do indivíduo no cenário internacional, para que
se tornasse verdadeiro sujeito de direito internacional (HERKENHOFF: 1994; p. 24).

Defende Piovesan (2004) Em ambas as convenções, criadas antes da Primeira Guerra


Mundial, visou-se estabelecer limites à actuação estatal e garantir a observância dos direitos
fundamentais, assinalando a necessidade de se relativizar a soberania dos Estados.

Vale dizer, o advento da Organização Internacional do Trabalho, da Liga das Nações e do


Direito Humanitário regista o fim de uma época em que o Direito Internacional era, salvo
raras excepções, confinado a regular relação entre Estados, no âmbito estritamente
governamental (PIOVESAN: 2004; p. 33).

Na mesma senda, defende o mesmo autor que através destes institutos, não mais se visava
proteger arranjos e concessões recíprocas entre os Estados. Visava-se sim ao alcance das
obrigações internacionais a serem garantidas ou implementadas colectivamente que, por sua
natureza, transcendiam os interesses exclusivos dos Estados contratantes.

Segundo Herkenhoff (1994) Estas obrigações internacionais voltavam-se à salvaguarda dos


direitos do ser humano e não das prerrogativas dos Estados” Na sequência, após a Segunda
Grande Guerra, palco de massacres e conhecido genocídio das mais distintas etnias, efeito do
fortalecimento do totalitarismo estatal dos anos 30, a humanidade percebeu a premência de se
resguardar, mediante eficazes medidas, a dignidade da pessoa humana.

O moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um fenómeno do pós-guerra. Seu


desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da era
Hitler e à crença de que parte destas violações poderiam ser prevenidas se um efectivo sistema
de protecção internacional de direitos humanos existisse (HERKENHOFF: 1994; p. 26).

É efectivamente, remonta a história, somente com o pós-guerra, depois de todas as


atrocidades ocorridas sob o argumento da hibridação da raça ariana, projecto político e
industrial sabidamente abraçado por Adolf Hitler, com a real ruptura do paradigma dos
direitos humanos, mediante uma negação dos valores mais comezinhos ao homem
concedidos, emergiu, significativamente, no pensamento ocidental, a necessidade de se
reconstruir tais direitos.

23
Comparato (2010), faz seu argumento do momento histórico, que portanto, resultou na
Declaração Universal, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas de 1948 e a
Convenção Internacional sobre a prevenção e punição do crime de genocídio, ambas marcos
inaugurais de uma nova fase histórica, que se encontra em pleno desenvolvimento.

Dessa maneira foi que a Declaração definiu, como nunca antes, os padrões éticos e morais a
serem perseguidos pelos Estados, conferindo uma gama extensa de direitos e faculdades sem
as quais um ser humano já não mais poderia desenvolver sua personalidade intelectual, física
e moral e acarretando uma repercussão tal que os povos passaram a ter consciência de que o
conjunto da comunidade humana se interessava pelo seu destino (COMPARATO; 2010; p.
55).

Ademais, além de internacionalizar os direitos ali contidos, a Declaração também teve a


função de conjugar, harmonizar ou conciliar as gerações de direitos civis e políticos (primeira
geração de direitos) aos direitos económicos, sociais e culturais (segunda geração),
equalizando, desta forma, o discurso liberal e o discurso social defensores da cidadania,
atando o valor da liberdade ao da igualdade, dicotomia que até então não se cria pudesse ser
ultrapassada.

2.5.1.Direitos Humanos de Primeira Geração

Segundo Lafer (2009) Os direitos humanos de primeira geração são resultantes,


principalmente, da Declaração Francesa dos direitos do Homem e do Cidadão e da
Constituição dos Estados Unidos da América de 1787, que surgiram após o confronto entre
governados e governantes, é dizer, da insatisfação daqueles com a realidade política,
económica e social de sua época, e que resultou nessas afirmações dos direitos de indivíduos
em face do poder soberano do Estado absolutista.

Comparato (2010) argumenta que representaram a emancipação histórica do indivíduo


perante os grupos sociais aos quais ele sempre se submeteu: a família, o clã, o estamento, as
organizações religiosas. Mas em contrapartida, a perda da protecção familiar estamental ou
religiosa tornou o indivíduo muito mais vulnerável às vicissitudes da vida.

A sociedade liberal ofereceu-lhe, em troca, a segurança da legalidade, com a garantia da


igualdade de todos perante a lei. Esses direitos, visando a protecção das liberdades individuais

24
ao impor limites ao Estado, recebem a denominação, por alguns autores de direitos humanos
de primeira geração ou primeira dimensão.

Neste contexto, Lafer (2009) considera que Os direitos humanos da Declaração de Virgínia e
da Declaração Francesa de 1789 são neste sentido, direitos humanos de primeira geração, que
se baseiam numa clara demarcação entre Estado e não Estado, fundamentada no
contratualismo de inspiração individualista.

São vistos como direitos inerentes ao indivíduo e tidos como direitos naturais, uma vez que
precedem o contrato social. Por isso, são direitos individuais: (I) quanto ao modo de exercício
é individualmente que se afirma, por exemplo, a liberdade de opinião; (II) quanto ao sujeito
passivo do direito pois o titular do direito individual pode afirmá-lo em relação a todos os
demais indivíduos, já que esses direitos têm como limite o reconhecimento do direito de outro
(LAFER: 2009; p. 37).

Para Comparato (2010) Filosoficamente, pode-se creditar o surgimento e o resguardo dessa


geração direitos à moral individualista e secular, que colocava o indivíduo como centro do
poder e rechaçava, de outraparte, a promiscuidade entre poder político e religioso, assinalando
a secularização do poder do Estado.

São, destarte, os direitos individuais, que resguardam as liberdades individuais e impõem


limitações ao poder do Estado, decorrentes da evolução do direito natural e sofrendo
importante influência dos ideais iluministas, como se pode extrair do pensamento filosófico
de Rousseau, Locke e Montesquieu, principalmente. Essa dúvida, no entanto, desmerece
maiores delongas, já que não perfaz a matéria que se pretende analisar neste trabalho, razão
porque breves as linhas que encerram tal explanação (COMPARATO: 2010; p. 22).

2.5.2.Direitos Humanos de Segunda Geração

Segundo Humenhuk (2006) com a consagração dos direitos de liberdade, ocorreu a passagem
destas, as chamadas liberdades negativas, para os direitos políticos e sociais, que exigiam uma
intervenção directa do Estado, para ver-se concretizados, com a passagem da consideração do
indivíduo singular, primeiro sujeito a quem se atribuiu direitos naturais, para grupos de
sujeitos, sejam famílias, minorias étnicas ou até mesmo religiosas.

Os direitos sociais como o direito à saúde, configuram, assim, um dos elementos que
marcaram a transição do constitucionalismo liberal para o constitucionalismo social, direitos
25
que impõem, determinam ou exigem do Estado enquanto ente propiciador da liberdade
humana, não mais aquela actividade negativa, de restrição de sua actuação, mas uma acção
positiva, através de uma efectiva garantia e eficácia do direito fundamental prestacional
(HUMENHUK: 2006; p. 29).

De segunda geração, são, pois, os direitos ao trabalho, à saúde, à educação, dentre outros, cujo
sujeito passivo é o Estado, que tem o dever de realizar prestações positivas aos seus titulares,
os cidadãos, em oposição à posição passiva que se reclamava quando da reivindicação dos
direitos de primeira geração.

Foram positivados somente nas Constituições francesas liberais de 1791 e 1973, sendo
ampliados e reafirmados pela Constituição francesa de 1948, carta política esta que
correspondeu com a consciência da população, verdadeira interessada na efectivação de tais
direitos, dos problemas resultantes da revolução industrial e a condição dos operários.

2.5.3.Direitos Humanos de Terceira Geração

À par das dificuldades e das conquistas decorrentes da doutrina social pelo reconhecimento e
pela eficácia dos direitos civis e políticos, de primeira geração, e dos direitos económicos,
sociais e culturais, direitos de segunda geração, outros valores, até então não tratados como
prioridade na sociedade ocidental, foram colocados na pauta de discussão em período
posterior ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Para Tavares Almeida (2008) “Tais direitos, também conhecidos como direitos da
solidariedade ou fraternidade, caracterizam-se, assim, pela sua titularidade colectiva ou
difusa, tendo coincidido o período de seu reconhecimento ou positivação com o processo de
internacionalização dos direitos humanos”.

Cuida-se na verdade do resultado de novas reivindicações fundamentais do ser humano,


geradas, dentre outros factores, pelo impacto tecnológico, pelo estado crónico de beligerância,
bem como pelo processo de descolonização do segundo pós-guerra e suas contundentes
consequências, acarretando profundos reflexos na esfera dos direitos fundamentais
(TAVARES: 2008; p. 27).

Tais direitos, sabe-se, caracterizam-se pelo distintivo de demandarem a participação intensa


dos cidadãos, sem a qual não tem eficácia, requerendo a existência de uma consciência
colectiva na actuação individual de cada membro da sociedade, em aliança com Estado.
26
2.5.4.Direitos Humanos de Quarta Geração

Há doutrinadores, ainda, que reconhecem a existência de uma quarta geração ou dimensão de


direitos humanos, que se identificariam com o direito contra a manipulação genética, direito
de morrer com dignidade e direito à mudança de sexo, todos pensados para o solucionamento
de conflitos jurídicos inéditos, novos, frutos da sociedade contemporânea.

Há, ainda, doutrinadores, como o constitucionalista Paulo Bonavides, que entendem que a
quarta geração de direitos identificar-se-ia com a universalização de direitos fundamentais já
existentes, como os direitos à democracia directa, à informação e ao pluralismo.

2.5.5.Direitos Humanos de Quinta Geração

Finalmente, os direitos humanos da quinta geração, como os de quarta, também não são
pacificamente reconhecidos pela doutrina, como os das três primeiras. No entanto, os direitos
que por essa geração são reconhecidos, quais sejam, a honra, a imagem, enfim, os “direitos
virtuais” que ressaltam o princípio da dignidade da pessoa humana, decorrem de uma era
deveras nova e contemporânea, advinda com o exacerbado desenvolvimento da Internet nos
anos 90. Tais valores, portanto, são defendidos e protegidos por essa geração de direitos, com
a particularidade de protegê-los frente ao uso massivo dos meios de comunicação electrónica,
merecendo, assim, protecção não só as pessoas naturais, mas também as pessoas jurídicas.

2.6.Direitos Fundamentais

Segundo Canotilho (1999) Entende-se por direitos fundamentais, aqueles direitos inerentes a
própria condição humana, e que estão previstos num determinado ordenamento jurídico. Ao
abrigo de algumas disposições que são conferidos aos cidadãos em matéria da terra e
ambiental direitos e deveres dos cidadãos que substanciam a materialização dos princípios
fundamentais consagrados na constituição da República de Moçambique no que tange ao:

Direito de Habitação e Urbanização: todos os cidadãos têm direito à habitação condigna,


sendo dever do Estado, de acordo com o desenvolvimento económico nacional, criar as
adequadas condições institucionais, normativas e infra-estruturais. Incumbe também ao
Estado fomentar e apoiar as iniciativas das comunidades locais, autarquias locais e
populações, estimulando a construção privada e cooperativa, bem como o acesso à casa
própria (ROCHA: 2003; p. 141)..

27
Direito a participação no processo de tomada de decisões no domínio ambiental: para que
os cidadãos possam exercer os direitos ambientais é necessário que o Estado crie condições
para que se reconheça tais direitos. A questão da informação e participação tem a sua base de
partida da formatação do direito do homem ao ambiente como direito subjectivo e
consequentemente, como direito de defesa, neste quadro um dos principais deveres do
indivíduo e a sua participação. Vale assim dizer que estamos em presença de um direito -
dever, de um direito individual que se consubstancia num dever para com a colectividade.”
(ROCHA: 2003; p. 142).

Direito à Educação: Quer seja formal ou informal relativo a matéria ambiental pois muitos
dos problemas de saúde provenientes da matéria ambiental em Moçambique é resultante da
actividade humana, que para o referido estudo importa nós a concessão do DUAT em zonas
proibidas por lei para habitação propícias a propagação de danos a saúde devido a extracção
de recursos minerais ao céu aberto efectuada pela Vale nas proximidades daquela
comunidade. cuja actividade é desenvolvida com conhecimento do respectivo dano ao meio
ambiente.

Direito de recorrer aos Tribunais (art. 62º da CRM): Direito a justiça e conferido aos
cidadãos o direito de recorrer aos órgãos de administração da justiça contra os actos que
violem os direitos e interesses reconhecidos pela constituição e pela lei.

Assim como prescreve o artigo 8 da DUDH que toda a pessoa tem direito a recurso efectivo
para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais
reconhecidos pela Constituição ou pela lei.

No nosso ponto de vista ao analisar a realidade que se vive com o princípio geral de acesso a
justiça no que tange a protecção do meio ambiente são raros as acções de natureza ambiental
nos tribunais moçambicanos.Resulta do artigo 3 da DUDH que todo indivíduo tem direito à
vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Reza o artigo 4 da CADHP que pessoa humana é inviolável. Todo ser humano tem direito ao
respeito da sua vida e à integridade física e moral da sua pessoa. Ninguém pode ser
arbitrariamente privado desse direito.Ainda mais reza o artigo 18 da CADHP que a família é o
elemento natural e a base da sociedade. Ela tem que ser protegida pelo Estado, que deve zelar
pela sua saúde física e moral.

28
O Estado tem a obrigação de assistir a família na sua missão de guardiã da moral e dos
valores tradicionais reconhecidos pela comunidade. O Estado tem o dever de zelar pela
eliminação de toda a discriminação contra a mulher e de assegurar a protecção dos direitos da
mulher e da criança tais como estipulados nas declarações e convenções internacionais. As
pessoas idosas ou incapacitadas têm igualmente direito a medidas específicas de proteção que
correspondem às suas necessidades físicas ou morais.

2.7.Problemas Ambientais Decorrente da Exploração do Carvão Mineral

Segundo Aneel (2008) Na idade média surgiram os primeiros problemas de poluição


relacionados à contaminação por metais pesados provenientes das actividades mineradoras,
que se intensificaram no começo do século XIX com o processamento de metais em indústrias
químicas e de fundição.

O carvão mineral está entre os recursos energéticos não renováveis mais importantes na
reserva energética mundial a longo prazo, ocupando a primeira posição em abundância e
perspectiva de vida útil (AGUIAR E BALESTIERI: 2007; p. 50).

Vale ressaltar que o carvão mineral é uma das primeiras fontes energéticas exploradas em
grandes proporções pelo homem. Na década de 70 tal exploração experimentou rápido
crescimento em resposta à crise do petróleo, tornando-se neste momento um dos combustíveis
fósseis mais requisitados, tanto pelas grandes reservas, quanto pelos preços acessíveis
(ANEEL: 2008; p. 45).

Defende o mesmo autor que, por outro lado, sabe-se que a exploração desse minério, apesar
de suas vantagens económicas, causa sérios problemas sócio-ambientais durante o seu
processamento, seja na mineração, beneficamente ou combustão. Nas três fases de exploração
ocorre liberação de poluentes que impactam negativamente os ambientes naturais e urbanos,
gerando problemas que podem ser irreversíveis.

Segundo Trein (2008) A principal fonte geradora de impacto ambiental a partir do


processamento do carvão mineral está relacionada à formação de estéreis e re jeito ricos em
dissulfeto de ferro (FeS2), conhecido como pirita, os quais se oxidam na presença do ar, da
água e da acção de algumas bactérias. Estas fontes que geram drenagens ácidas de minas
(DAM), comumente associadas à dissolução de metais em minas.

29
Além disso, tem-se verificado a formação de lagoas ácidas próximas a mineradoras ou
empresas exploradoras de carvão, em razão da dissolução da pirita (FeS2), a qual promove a
diminuição do pH das águas e solubilização de vários metais, afectando as áreas
circunvizinhas imediatas e mediatas (ACP do carvão 2006).

Para Fungaro e Isodoro (2006) A pirita, quando em contacto com o oxigénio da água ou do ar
atmosférico, sofre reacção de oxidação e forma compostos químicos altamente ácidos,
susceptíveis à lixiviação e com potencial de acidificar o meio aquático.

Outro impacto ambiental que deve ser considerado refere-se à precipitação ácida proveniente
da emissão de poluentes atmosféricos (ex: dióxido de enxofre - SO2, óxidos de nitrogênio -
NOx, compostos orgânicos voláteis - VOCs e aerossóis), gerados a partir da combustão do
carvão mineral por termelétricas, siderúrgicas ou outras indústrias consumidoras (FUNGARO
E ISODORO: 2006; p. 44)

Conforme Pires (2002). O ambiente atmosférico é outro compartimento ambiental que sofre
grave impacto da exploração do carvão mineral. Os principais elementos químicos lançados
na atmosfera são: SO2, óxidos de enxofre (SOx), NOx e material particulado ou cinzas
volantes

Na combustão, o enxofre proveniente da pirita é oxidado totalmente em SO2 e logo depois em


trióxido de enxofre (SO3), porém em um processo mais lento. Os sulfatos são formados em
decorrência da concentração de SOx nas cinzas (PIRES: 2002; p. 31).

2.8.Situação Actual do Sector Mineiro em Moçambique

Segundo Pires (2002) O sector mineiro moçambicano notabiliza-se pela (o): (i) presença de
empresas com elevada capacidade técnica e financeira e com grande experiência a nível
internacional; (ii) estabelecimento de um quadro legal e fiscal apropriado para o exercício da
actividade. A actividade mineira em Moçambique é regida por sector mineiro.

Para tal, este sector define como objectivos segundo o (PES, 2008) o seguinte:

 Garantir a prospecção, pesquisa e extracção dos recursos minerais de forma sustentável;


 Reforçar a capacidade de promoção de investimento, licenciar e monitorar as actividades
de extracção;

30
 Expandir o investimento privado, mas com boas práticas sob ponto de vista social,
ambiental e incrementar a participação de companhias privadas moçambicanas;
 Promover a investigação e exploração de minerais industriais, tendo em vista a sua
utilização local, na agricultura e indústria;
 Promover a criação de associações, cooperativas, sociedades ou outras formas de
organização na extracção e processamento de pedras preciosas e semi-preciosas no país,
principalmente as que integram a mulher, como forma de assegurar uma exploração
sustentável dos recursos.
Moçambique tem um grande potencial mineiro, se todo ele for explorado de forma sábia ou
correcta, isto é, obedecendo os critérios da transparência, integridade, pode contribuir para o
crescimento e desenvolvimento económico sustentável do país e combater a pobreza absoluta.

2.9.Responsabilidades do Governo

Refere Araújo (2002) O Governo Moçambicano tem obrigação sob a constituição nacional e a
lei internacional dos direitos humanos para proteger uma variedade de direitos, tal como
alimentação, água, trabalho, habitação e saúde.

As empresas privadas também têm o dever de respeitar estes direitos. Normas emergentes da
lei internacional apontam também para as obrigações afirmativas dos governos dos países das
multinacionais-neste caso o Brasil, Australia, Rei Unido e Ìndia, de regular e fiscalizar as
práticas dos direitos humanos extra-territoriais de empresas privadas locais (ARAÚJO: 2002;
p. 27)

Por exemplo, os Princípios de Maastricht afirmam que governos devem tomar medidas para
assegurar que as corporações transnacionais e outros negócios não anulem ou prejudiquem e
usufruindo de direitos económicos, sociais e culturais, seja no seu país ou exterior. As
medidas que os Estados utilizam para fazer cumprir estas obrigações podem incluir
mecanismos administrativos, legislativos, investigatórios, adjudicatórios e outros
mecanismos.

Cabe ressaltar também que o Governo é uma organização que é autoridade governamental de
uma unidade política” o poder de regrar uma sociedade política ou o aparato pelo qual o corpo
governante funciona e exerce autoridade”. Usualmente, utilizado para designar a instância

31
máxima da administração executiva, geralmente reconhecida como liderança de um Estado ou
de uma nação.15

O Estado moçambicano esta a nível governamental em órgãos Centrais e Local onde tem
obrigações sob a sua constituição nacional e sob a lei internacional dos direitos humanos de
proteger e promover a realização progressiva de um conjunto de direitos, incluindo o direito à
alimentação, água, trabalho, habitação e saúde. Assim como as empresas privadas também
têm o dever de respeitar estes direitos.

2.9.1.Condições a serem Criadas no acto de Reassentamentos

Conforme Araujo (2002) citado por Niconte (2012) aborda as relações que se estabelecem
entre a população e o espaço físico. Defende ainda que a transferência de população de um
lugar para o outro deve implicar na melhoria de condições de vida dessa população. Neste
sentido, o autor dá ênfase à abordagem económica do desenvolvimento, olhando para as
vantagens económicas da empresa e do governo.

Negrão et al. (1997) citado por Singano (2000) define reassentamento como “processo pelo
qual uma determinada comunidade reocupa um determinado território que considera seu; o
conceito ostenta um prefixo de repetição e pressupõe a existência prévia de um processo de
assentamento. Numa outra vertente o Regulamento sobre o Processo de Reassentamento
Resultante de Actividades Económicas Reassentamento. A deslocação ou transferência da
população afectada de um ponto do território nacional a outro, deve ser acompanhada da
restauração ou criação de condições iguais ou acima do padrão anterior.

Ainda a mesma fonte reforça que com o desenvolvimento das sociedades, os aspectos
demográficos, económicos e sociais assumem um lugar de destaque na definição dos lugares
de residência, retirando assim o carácter determinístico dos factores de ordem física, que
vigoraram ate meados do século XX (OLIVER-SMITH: 2001; p. 25).

Por sua vez Chachuaio (2003) na mesma linha de pensamento, tenciona que para além das
condições físicas, urbanísticas e económicas que o processo de reassentamento implica há
uma interacção que se estabelece entre uma formação social e o seu território, entre a
organização do espaço e a organização social que no domínio da Antropologia e da Sociologia
pode designar-se por habitat.

15
https//pt.m.wikipidia.org.gov.-google weblight.com-cessado no 17/10/2020
32
Numa visão contrária, Oliver-Smith (2001) citado por Niconte (2012) refere que “o
reassentamento é tido como a expressão mais aguda. Por exemplo, Singano (2000) citando
Bridger & Belshaw (1964), a de perda de poder das pessoas pelo facto de constituir a perda de
controlo sobre o espaço físico”. em sua analogia, define o reassentamento como a
transferência de populações de uma área para outra, num processo planificado e controlado
com objectivo de melhorar os padrões de vida.

2.9.2.Lei de Terras

A Lei de Terras estabelece os termos em que se opera a constituição, exercício, modificação,


transmissão e extinção do direito de uso e aproveitamento da terra (DUAT).

Segundo a Lei nº 19/97, de 1 de Outubro, no seu Capítulo II, artigo 9 refere-se que não podem
ser adquiridos direitos de uso e aproveitamento da terra nas zonas de protecção total e parcial
podendo, no entanto, ser emitidas licenças especiais para exercícios de determinadas
actividades.

Consta do Decreto nº 66/98, de 8 de Dezembro que o Regulamento da Lei de Terras, no seu


artigo 6 define a faixa de 50 metros de cada lado de linhas férreas como sendo Zonas de
Protecção Parcial.

2.9.3. Lei do Ambiente

A Lei n.º 20/1997, de 1 de Outubro, tem como objectivo definir a base jurídica para a boa
utilização e gestão do ambiente e seus componentes com a finalidade de formar um sistema de
desenvolvimento sustentável em Moçambique.

A Lei do Ambiente aplica-se a qualquer actividade que possa ter um impacto directo ou
indirecto sobre o meio ambiente. A lei requer que todas as actividades, que pela sua natureza,
localização ou dimensão, sejam susceptíveis de causar impactos ambientais significativos
sejam licenciados pelo Ministério de tutela.

Elencamos alguns dos princípios constantes no Artigo 4 da Lei n.º 20/97, de 1 de Outubro,
que orientam a legislação ambiental em Moçambique e que devem ser considerados no
presente estudo, considerando a mineração e os impactos ambientais gerados.

33
a) Princípio 1: a utilização e gestão racionais dos componentes ambientais, com vista à
promoção da melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e à manutenção da
biodiversidade e dos ecossistemas;

b) Princípio 2: o reconhecimento e valorização das tradições e do saber das comunidades


locais que contribuam para a conservação e preservação dos recursos naturais e do
ambiente;

c) Princípio 3: o princípio da precaução, com base no qual a gestão do ambiente deverá


priorizar o estabelecimento de sistemas de prevenção de actos lesivos ao ambiente, de
modo a evitar a ocorrência de impactos ambientais negativos significativos ou
irreversíveis, independentemente da existência de certeza científica sobre a ocorrência
de tais impactos;

d) Princípio 4: a importância da ampla participação pública;

e) Princípio 5: a igualdade, que garante oportunidade iguais de acesso e uso de recursos


naturais a homens e mulheres;

f) Princípio 6: o princípio do poluidor-pagador, com base no qual quem polui ou de


qualquer forma degrada o ambiente, tem sempre a obrigação de reparar ou compensar
os danos daí decorrentes.

A Lei nº 20/97, de 1 de Outubro, aborda sobre o Ambiente, no nº 1 do artigo 90 visa a


materialização do direito que a Constituição da República consagra aos seus cidadãos: o
direito de viver num ambiente equilibrado assim como a obrigação de o proteger.

Nessa Lei enfatiza-se, ainda, a necessidade imprescindível de uma gestão correcta do


ambiente e dos elementos que o constituem. Mais, ainda a Lei evidencia a necessidade de
criar condições favoráveis à saúde e ao bem-estar dos habitantes, ao desenvolvimento
socioeconómico e cultural das comunidades e à conservação dos recursos naturais que susten-
tam o ambiente.

Segundo a lei do ambiente nos seus artigos 12 e 13 estabelece que, o planeamento,


implementação e operação de projectos devem assegurar a protecção dos recursos biológicos,
em particular as espécies de animais e plantas ameaçados de extinção, ou que, por causa da

34
sua genética, ecológica, cultural ou científica, exigem atenção especial. Esta protecção deve
estender-se até seus habitats, especialmente em áreas de conservação ambiental integrada.
Relevância: O projecto deve considerar a biodiversidade protegida, assegurando a sua
protecção e evitando a degradação.

O Decreto nº 54/2015, de 31 de Dezembro sobre o Processo de Avaliação do Impacto Am-


biental estabelece os procedimentos e condições para o licenciamento ambiental e classifica
as actividades e os impactos que podem ser causados, dependendo do bem em causa,
classificado em categorias. Em consequência, o mesmo Decreto determina a necessidade de
estudos de impacto ambiental, estudos ambientais simplificados ou, nos casos de isenção de
licença ambiental, o dever da observância das normas básicas de gestão ambiental.

Por seu lado, a Directiva Geral para a Participação Pública no Processo de Avaliação de
Impacto Ambiental (AIA) (Diploma Ministerial nº 130/2006 de 19 de Julho), destaca a
importância do envolvimento público na AIA, sendo uma componente auxiliadora
fundamental para o alcance do desenvolvimento sustentável. Neste âmbito são equacionadas
conjuntamente as questões de índole ambiental, económica e social. Para projectos de catego-
ria A, o processo de participação pública é obrigatório, devendo neste caso cumprir-se com o
estabelecido nesta directiva.

O mesmo diploma legal do ambiente afere que participação pública é uma das componentes a
ser observada no processo da AIA para actividades de categoria A. Esta visa a colecta de
pareceres e sensibilidades das partes afectadas e interessadas em relação ao projecto. O
processo de participação pública deve ser realizado sempre que a actividade proposta implica
a deslocação permanente ou temporária das populações e comunidade e a deslocação de bens
ou restrição no uso ou acesso aos recursos naturais.

2.9.4.Regulamento sobre a Inspecção Ambiental

Este diploma (Decreto nº 11/2006 de 15 de Junho), estabelece mecanismos legais para


inspecções das actividades levadas a cabo pelo sector privado e público, que poderão directa
ou indirectamente causar impactos ambientais negativos. Entende-se por Inspecção Ambiental
as actividades que incluam:

a) Fiscalização do licenciamento ambiental e verificação da sua conformidade com as normas


de protecção ambiental;

35
b) Fiscalização de acções de auditorias e monitorização para verificar se as recomendações de
uma eventual auditoria foram aplicadas;

c) Fiscalização do cumprimento de medidas de mitigação propostas no âmbito do processo de


AIA. O Regulamento detalha os princípios, garantias e deveres associados à tarefa de
inspecção ambiental, bem como os procedimentos a seguir por parte de quem executa a
inspecção. Recaem sobre o MITADER todas as competências no que concerne a Inspecção
Ambiental, sendo que esta pode ser realizada sempre que o MITADER julgar necessário.

2.9.5.Regulamento sobre o Processo de Auditoria Ambiental

Este diploma afirma que os estabelecimentos de parâmetros ligados a Auditorias Ambientais


estão regulamentados e aprovados pelo Conselho de Ministros através do Decreto nº 25/2011
de 15 de Junho, sendo este aplicável a todas actividades que directa ou indirectamente podem
acarretar impactos ao ambiente. O artigo 4 do Decreto nº 25/2011 afirma que a Auditoria
Ambiental deve verificar os seguintes aspectos:

a) Os impactos provocados pelas actividades de rotina sobre o ambiente;

b) Os planos de contingência de risco de acidentes e as acções de evacuação e protecção


zinhas;

c) O grau de conformação de exercício das actividades de desenvolvimento de acordo com as


normas e parâmetros definidos e aplicáveis para sua implementação, desactivação e
restauração;

d) Os níveis efectivos ou potenciais de poluição ou de degradação ambiental resultantes da


implementação de actividades de desenvolvimento e de outras fases de actividades;

e) As condições de operação de manutenção dos equipamentos e sistemas de controlo e


prevenção da poluição;

f ) As medidas a serem tomadas para restaurar o ambiente e proteger a saúde humana;

g) A capacitação dos responsáveis pela operação e manutenção dos sistemas, rotina, ins-
talações e equipamentos de protecção do ambiente e da saúde humana;

h) A gestão e conservação das fontes de energia, da água, da matéria-prima e de outros


recursos;
36
i) Os ruídos e vibrações dentro e fora das instalações;

j) A selecção de novos métodos de produção e alterações dos métodos existentes, inclusive de


processo industrial e sistema de monitoramento contínuo para a redução dos níveis de
poluentes;

k) As medidas de prevenção controlam as contingências e emergência dos acidentes; e A


pesquisa e desenvolvimento, uso e armazenamento, manuseio e transporte de produtos
controlados.

37
CAPÍTULO III: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

O presente capítulo surge com o objectivo principal de apresentar diferentes dados


constatados no Campo de estudo, isto é, na Vila de Moatize, distrito com o mesmo nome,
Província de Tete sobre a violação dos direitos fundamentais dos cidadãos resultantes da
exploração do carvão mineral em Moatize na comunidade de Nhatchere. Os dados aqui foram
apresentados, interpretados, analisados e discutidos na base dos autores para se chegar a uma
determinada conclusão.

Os dados que fundamentaram este capítulo foram extraídos dos membros da comunidade
local como principais avaliadores do impacto socio-ambiental que fere os direitos
fundamentais, e responsáveis do governo do Distrito de Moatize na área de ambiente e
desenvolvimento rural. Este capítulo foi subdividido em duas partes distintas. A primeira diz
respeito a discrição do campo de estudo, e a segunda diz respeito a discrição dos conteúdos
observados e constatados.

3.1.Discrição do Local do Estudo

3.1.1.Localização Geográfica da Vila de Moatize

A vila de Moatize dista a 20 Km do Município de Tete, situa-se a Nordeste da Capital


Provincial, entre paralelos 15o, 37’ e 16o 38’ de latitude Sul e entre os meridianos 33o 22’ e 34o
28’ de longitude Este. É limitado a norte pelos distritos de Chiúta e Tsangano, a Este pela
República de Malawi, a Sul pelo Distrito de Tambara e Guro, Changara e Município de Tete,
através do Rio Zambeze, e Mutarara através do Rio Mecomdezi, e a Oeste pelos Distritos de
Changara e Chiúta.

A superfície do Distrito é de 8.462 Km2 e a população encontra-se estimada entre 292 mil
habitantes com uma densidade populacional de 34,5hab/ km2. A estrutura etária do distrito
reflecte uma relação de dependência económica de 1:0.9, isto é, em cada 10 crianças existem
9 pessoas em idade activa. Com uma população jovem (49%, abaixo dos 15 anos), tem um
índice de masculinidade de 95% (por cada 100 pessoas do sexo feminino existem 95 do
masculino) e uma taxa de urbanização do distrito é de 18%, concentrada na Vila de Moatize e
zonas periféricas de matriz semi-urbana.

38
Mapa 1: Localização Geográfica da Vila de Moatize

Fonte: Portal do Governo da Provincial de Tete, 2020.

3.1.2. Recursos Mineiras

Moatize é caracterizado por importantes jazigos de carvão (do tipo hulha), e inúmeras jazidas
de titanomagnetites vanadíferas (ferro, titânio e vanádio). Os jazigos de carvão fazem parte de
uma extensa área que se estende de Chingodzi ao rio Mecombedzi, situada a Sul da região
montanhosa do distrito, localizando-se os jazigos mais importantes na chamada Bacia
Carbonífera de Moatize-Minjova (Governo da Província de Tete, 2020).

O jazigo de Moatize foi objecto de exploração mineira desde princípios do século passado,
começando a exploração do carvão em pequena escala e a céu aberto. Os trabalhos
subterrâneos principiaram em 1940, com uma produção anual de 10.000 toneladas.

Em meados de 1950, a produção anual atingiu 25.000t e em 1975 o pico máximo de 575.000
toneladas. Em 1977, a Carbomoc E.E., continuou a exploração do jazigo. Actualmente, a
exploração deste carvão está a cargo da Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD
Moçambique).

Este carvão tem 7.000 calorias, com uma percentagem volátil de 22%. O carvão pode dar
coque, indispensável à indústria de alta metalurgia. O carvão de Moatize é tão bom como os
melhores da Europa e é da mesma formação do de Witbank, da República da África do Sul.
39
Actualmente existem explorações de larga escala de carvão mineral conduzidas pelo VALE
Moçambique, Limitada, Riversdale Moçambique Limitada e JINDAL Mozambique Minerals
(JSPL).

Mapa 2: Áreas de Exploração do Carvão Mineral

Fonte: Governo da Província de Tete (2020)

As áreas ocupadas pelas companhias para a exploração do carvão mineral incluem áreas onde
viviam comunidades locais. Os projectos abrangeram directamente cerca de 2388 agregados
familiares, residentes em 10 comunidades, nomeadamente: Nhatchere, Capanga Nzinda,
Capanga Gulo, Capanga Luani, Mpala, Nhanganjo, Chipanga, Bagamoyo, Chithata, Malabwe
e Mithethe, sendo as 5 primeiras afetadas pelo projeto Vale de Moçambique e as restantes
pelo projeto Riversdale Moçambique (Fian, 2010, p.21-23).

3.2.Descrição dos Conteúdos

A colecta de dados a partir de instrumentos apropriados permitiu de entre vários aspectos,


avaliar sob a perspectiva dos membros da comunidade de Nhantchere, quais as situações
vivenciadas, que contribuem na violação dos direitos fundamentais. Assim, na busca dos
mesmos elementos achou-se primeiro e pertinente levantar o perfil da população de amostra.

40
3.2.1.Perfil da População da amostra

i) Idade

Segundo os inquéritos, dos pesquisados, três (3) estão na faixa etária dos 30 à 35 anos de
idade, sete (7) estão na faixa etária dos 36 à 40 anos, três (3), estão na faixa etária dos 46 à 50
anos de idade, um (1) na faixa etária dos 51 à 55 anos e 1 (um) na faixa etária dos 56 à 60
anos de idade. Conforme ilustra a figura, pode-se concluír que maior número da população
inquerida, encontram-se na faixa etária dos 36 à 40 anos de idade, o que nos levar a constatar
que a comunidade de Nhantchere é constituída maioritáriamente por uma população jovem.

Gráfico 1: Ilustrando o número de inqueridos por faixa etária

Faixa etária dos inqueridos

56 à 60 anos: 1; 7%
30 à 35 anos: 3; 20%
51 à 55 anos: 1; 7%

46 à 50 anos: 3; 20%

36 à 40 anos: 7 ; 46%

Fonte: Autora

ii) Sexo

Do total da população da amostra (quinze), 9 são do sexo masculino e os restantes do sexo


femenino, isto é, 60% da população da amostra é constituída por homens e 40% por mulheres,
conforme ilustra a figura 2.

41
Gráfico 2: Ilustrando o número de inqueridos por sexo

0%
Sexo dos inqueridos
0% 0%
0%

Femenino:
40%

Masculino:
60%

Fonte: Autora

3.2.3.Indicadores de relacionamento entre a empresa mineradora Vale Moçambique,


Governo local e à comunidade de Nhantchere

Diferentes indicadores podem ser usados para auferir a relação existente entre a empresa
mineradora, o Governo local e à comunidade de Nhantchere. No caso concreto, foram
colocados em evidência alguns indicadores que permitiram uma maior clareza na análise das
questões levantadas aos inqueridos à saber:

 Mecanismos de consulta e diálogo entre a empresa Vale Moçambique, o Governo


local e à Comunidade de Nhantchere.

Factor preponderante na gestão de conflitos a vários níveis, visto que a comunicação contribui
para o bom relacionamento entre os diferentes intervenientes em letígio. Por isso, as
organizações com mecanismos de consulta e diálogo entre os gestores e colaboradores
facilmente criam ambientes de trabalho motivacionais.

Quanto a este aspecto foi possível perceber que do total dos inqueridos 85% dos membros da
comunidade afirmou não se verificou nenhuma consulta e diálogo realizada quer por parte da
empresa mineradora, assim como com o Governo local, enquanto que 15% respondeu que
foram observadas algumas consultas e diálogo entre as partes.

42
Gráfico 3: Ilustrando o mecanismo de consulta e diálogo efectuada à comunidade

A empresa Vale Moçambique e o Governo local,


efectuaram alguma consulta e diálogo com os membros
da comunidade?

SIM
15%

NÃO
85%

Fonte: Autora

 Relação existente entre a Empresa Vale Moçambique e a população da comunidade


de Nhantchere

Os grupos sociais são formados a partir de relaão formados a partir de relações estáveis entre
indivíduos que possuem interesses e objectivos comum.

Nas relações sociais, desenvolvem-se por diversos motivos, situações de solidariedade e de


conflito. Os conflitos estão presentes nas relações entre as pessoas, seja porque elas são
diferentes ou porque tem objectivos e interesses diferentes. Quanto a este aspecto, 85% dos
inqueridos responderam que a relação não é boa e, 15% considerou de boa

Gráfico 4: Ilustrando o nível de satisfação existente na relação entre a empresa e a


comunidade de Nhantchere

43
Fonte: Autora

 Benefícios que a empresa traz para a comunidade de Nhantchere

Questionados sobre este aspecto, 90% da população inquerida respondeu que a empresa Vale
Moçambique não traz nenhum benefício para a comunidade e, 10% afirmou que a empresa
tem beneficiado a comunidade.

Para Oliveira (2012) Sob ponto de vista social a extracção do carvão tem os seguintes
impactos Positivos:

 Criação de empregos (auto-emprego),


 Diminuição da proliferação de vectores de doenças: decorrente do favorecimento ao
aumento da vazão dos rios, devido à remoção do material sólido no seu leito.
 Aumento da oferta de areia: com repercussões positivas para a sociedade em geral,
mediante o seu uso para diversos fins, com a consequente melhoria da qualidade de vida.

Gráfico 5: Ilustrando o posicionamento da população em relação aos benefícios


proporcionados pela empresa Vale Moçambique à comunidade

Fonte: Autora

44
 Dificuldades encaradas pela população como resultado da actividade mineira

Na maioria das vezes, as actividades mineralógicas são realizadas de forma predatória,


destrutiva e agressiva ao ambiente, deteriorando progressivamente a qualidade de vida da
população local. Sob ponto de vista social esta actividade extractiva tem gerado uma série de
impactos negativos na saúde das populações e no meio ambiente.

Sobre a questão formulada 59% dos inqueridos apontaram o ruído como a primeira
dificuldade, 23% indicaram a poeira resultante da detonação das rochas, 10% apontaram
doenças respiratórias e 8% dos inqueridos indicou o estresse causado pela actividade mineira.

Segundo os Artigos 69 e 70 da Lei de Minas, a classificação ambiental das actividades


mineiras e os respectivos instrumentos de gestão ambiental são:

 Actividades de Categoria A: são as actividades realizadas ao abrigo da Concessão


Mineira e o instrumento exigido na sua emissão é a aprovação do Estudo de Impacto
Ambiental.

 Actividades de Categoria B: são actividades mineiras em pedreiras, actividades de


prospecção e pesquisa para projecto-piloto e certificado mineiro e o instrumento de gestão
ambiental exigido é o Estudo Ambiental Simplificado.

 Actividades de Categoria C: são actividades mineiras realizadas ao abrigo da Senha


Mineira e de prospecção e pesquisa que não empreguem métodos mecanizados e o
instrumento de gestão ambiental exigido a aprovação do Programa de Gestão Ambiental.

Percebe-se a ignorância do estudo do impacto ambiental onde a mineradora tem levado a cabo
a sua actividade de forma irregular sem respeitar o que a lei de minas preconiza para o efeito.

45
Gráficio 6: Ilustrando as dificuldades encaradas pelos membros da comunidade
resultante da exploração mineira

Dificuldades diárias encaradas pelos membros da comunidade resultantes


da exploração mineira

Estresse
8%
Doenças
respiratórias
10%

Poeira Ruido
23% 59%

Fonte: Autora

3.3.Descrição de conteúdos que foi dirigida à autoridades local do Distrito de Moatize

O governo Moçambicano tem obrigações sob a sua constituição nacional e sob a lei
internacional dos direitos humanos de proteger e promover a realização progressiva de um
conjunto de direitos, incluindo o direito à alimentação, água, trabalho, habitação e saúde. As
empresas privadas também têm o dever de respeitar estes direitos. 16 Com vista a compreender
o nível de intervenção do governo neste conflito foram tomadas em consideração as seguintes
questões:

 Qual foi o plano desenhado pelo governo face a exploração da Vale na mina de
Moatize?

Respondendo a essa questão o representante do governo do distrito de Moatize alegou que


aquando da concessão a mineradora, o contrato já preconiza o princípio de reassentamento
16
Pt.m.wikipedia.org/ acessada no Google-17/10/2020
46
das comunidades da área concessionada e complementou dizendo que essa natureza de
projectos vigora um outro principio que é o da responsabilidade social da qual toda a
comunidade deve sentir o benefício do ponto de vista económico da mineradora.

O sector mineiro moçambicano notabiliza-se pela (o): (i) presença de empresas com elevada
capacidade técnica e financeira e com grande experiência a nível internacional; (ii)
estabelecimento de um quadro legal e fiscal apropriado para o exercício da actividade. A
actividade mineira em Moçambique é regida por sector mineiro. Para tal, este sector define
como objectivos (PES, 2008):

 Garantir a prospecção, pesquisa e extracção dos recursos minerais de forma sustentável;


 Reforçar a capacidade de promoção de investimento, licenciar e monitorar as actividades
de extracção;
 Expandir o investimento privado, mas com boas práticas sob ponto de vista social,
ambiental e incrementar a participação de companhias privadas moçambicanas;
 Promover a investigação e exploração de minerais industriais, tendo em vista a sua
utilização local, na agricultura e indústria;
 Promover a criação de associações, cooperativas, sociedades ou outras formas de
organização na extracção e processamento de pedras preciosas e semi-preciosas no país,
principalmente as que integram a mulher, como forma de assegurar uma exploração
sustentável dos recursos.
Moçambique tem um grande potencial mineiro, se todo ele for explorado de forma sábia ou
correcta, isto é, obedecendo os critérios da transparência, integridade, pode contribuir para o
crescimento e desenvolvimento económico sustentável do país e combater a pobreza absoluta.

Nota-se que o Governo de Moatize acusa a Vale de não honrar os compromissos assumidos
junto do mesmo no âmbito das políticas estatais. O representante ora entrevistado fala de uma
situação de “costas voltadas”  entre a empresa e o Governo onde várias vezes entram em processos de
regoneciações mas sem concessões almejados do ponto de vista de solução para aquela comunidade.

 Do ponto de vista de reassentamento o que é que foi feito ?

Respondeu o representante do governo que desde a concessão estava em curso o


deslocamento das pessoas afectadas mas o problema reside na falta de colaboração da
comunidade em relação a facilitação de dados para a certificação dos mesmos.

47
Segundo Araujo (2002) citado por Niconte (2012) aborda as relações que se estabelecem entre
a população e o espaço físico. Defende ainda que a transferência de população de um lugar
para o outro deve implicar na melhoria de condições de vida dessa população. Neste sentido,
o autor dá ênfase à abordagem económica do desenvolvimento, olhando para as vantagens
económicas da empresa e do governo.

Negrão et al. (1997:7) citado por Singano (2000) define reassentamento como “processo pelo
qual uma determinada comunidade reocupa um determinado território que considera seu; o
conceito ostenta um prefixo de repetição e pressupõe a existência prévia de um processo de
assentamento.

Numa outra vertente o Regulamento sobre o Processo de Reassentamento resultante de


Actividades Económicas, Reassentamento (2012),“refere que é a deslocação ou transferência
da população afectada de um ponto do território nacional a outro, deve ser acompanhada da
restauração ou criação de condições iguais ou acima do padrão anterior.

Explica que as formas como as populações ocupam um determinado território, são muitas das
vezes moldadas pelas condições sócio-econámicas, no sentido em que o acesso aos serviços
básicos, oportunidades de empregos, habitação etc, determine as dinâmicas demográficas,
sociais e culturais de um assentamento. Ainda a mesma fonte reforça que com o
desenvolvimento das sociedades, os aspectos demográficos, económicos e sociais assumem
um lugar de destaque na definição dos lugares de residência, retirando assim o carácter
determinístico dos factores de ordem física, que vigoraram ate meados do século XX.

Por sua vez Chachuaio (2003) na mesma linha de pensamento, tenciona que para além das
condições físicas, urbanísticas e económicas que o processo de reassentamento implica há
uma interacção que se estabelece entre uma formação social e o seu território, entre a
organização do espaço e a organização social que no domínio da Antropologia e da Sociologia
pode designar-se por habitat.

Numa visão contrária, Oliver-Smith (2001) citado por Niconte (2012) refere que “o
reassentamento é tido como a expressão mais aguda. Por exemplo, Singano (2000) citando
Bridger & Belshaw (1964) a de perda de poder das pessoas pelo facto de constituir a perda de
controlo sobre o espaço físico”. Em sua analogia, define o reassentamento como a
transferência de populações de uma área para outra, num processo planificado e controlado
com objectivo de melhorar os padrões de vida.
48
Entende-se que não se criou condições para que houvesse o reassentamento para aquela
população da comunidade de Nhatcere visto que houve exigências da comunidade no sentido
de reivindicação direitos para que pudessem deixar aquele local.

 Sabendo que Moçambique é subscritor da Declaração Universal dos Direitos


Humanos, o que é que o Estado está a pensar nos casos para o caso da Valeestar a
perigar a saúde publica dos cidadãos da comunidade de Nhatcere?

Respondeu a esta questão o representante do Estado que Mocambique sempre respeitou os


convénios internacionais e que ira renegociar o contrato celebrado com a mineradora Vale de
forma a encontrar solução para sair dos impasses ora a vista.

Para Comparato (2007), direitos humanos são direitos próprios de todos os Homens, enquanto
Homens, à diferença dos demais direitos, que só existem e são reconhecidos, em função de
particularidades individuais ou sociais do sujeito. Trata-se, em suma, pela sua própria
natureza, de direitos universais e não localizados, ou diferenciais.

Segundo Mendes (2002), direitos humanos são definidos como um portifólio; um conjunto de
direitos inerentes à essência do ser humano e que tem por primeiro e último fim garantir a
este, entre outros direitos, a vida, a liberdade, a igualdade, a integridade sendo sempre de
respeito e aplicação universal.

Por sua vez, Ascensão (1988-1482) define direitos humanos como aqueles direitos que a
pessoa humana possui pelo simples facto de o ser, derivados por isso da sua natureza,
anteriores e superiores às ordens jurídicas positivas, que devem apenas reconhecê-los e
assegurá-los.

O simples facto de ser homem faz do indivíduo titular de direito. Não importa a raça, a língua,
a religião, a nacionalidade, a filiação partidária, etc. Deste individuo, a este respeito o art. 2º,
I, da Declaração Universal, diz que “cabe a cada indivíduo todos os direitos e todas as
liberdades enunciadas na presente Declaração, sem nenhuma distinção por razões de cor,
sexo, língua, religião, opinião política ou de outro tipo, por origem nacional ou social,
riqueza, nascimento ou outra consideração”, (Assembléia Geral das Nações Unidas, 1948).

Portanto, a defesa e garantia dos direitos humanos não deve ser condicionado Desde do início
da exploração mineira em Moçambique, se reassentado famílias como forma de dar lugar a
actividade mineira.
49
4.0.CONCLUSÃO E SUGESTÕES:

Depois de terminada a abordagem do capítulo central do trabalho onde apresentamos e


fizemos a analise dos dados trazidos da pesquisa de campo, onde constatamos os mais
diversos aspectos referentes a violação dos direitos fundamentais a habitação, a bem-estar e a
convivência em ambiente saudável sendo violados pelas empresas mineradoras.

Assim, neste ponto do trabalho pretendemos deixar ficar o último capítulo do trabalho onde
vamos tecer as últimas considerações em volta da pesquisa que fizemos, este capítulo é
estruturado duas partes, em primeiro, fala-se das conclusões e num segundo momento fala-se
das sugestões, assim temos:
50
4.1.Conclusão:

O estudo dos direitos fundamentais no curso de Direito reveste-se de grande importância,


como actores principais das relações em Sociedade, a comunidade constitui uma unidade de
análise importante nas relações nacionais e internacionais e os seus direitos devem ser
salvaguardados.

Consultadas várias obras de autores que falam sobre o tema ou área a fins de a partir de
documentos existes na Secretaria Distrital de Moatize e diversas bibliotecas da Província e do
País e consulta de algumas sites da internet, pode-se dizer que a avaliação dos direitos na
comunidade Nhatcere- Distrito de Moatize é negativa, porque houve violação dos direitos
fundamentais daquela comunidade, visto que, o processo de exploração não cumpre com as
normas estabelecidas que regem o mesmo processo preconizados pela lei de minas.

Tendo em conta a dimensão do tema, na óptica de Comparato (2007), direitos humanos são
direitos próprios de todos os Homens, enquanto Homens, à diferença dos demais direitos, que
só existem e são reconhecidos, em função de particularidades individuais ou sociais do
sujeito. Trata-se, em suma, pela sua própria natureza, de direitos universais e não localizados,
ou diferenciais.

O artigo 43 da Constituição de Moçambique 17 estabelece que a Constituição deve ser


interpretada em harmonia com a Carta Africana e com a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, que inclui o artigo 25 sobre o " direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si
e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos e os serviços sociais indispensáveis."  

O objectivo da presente pesquisa foi de Analisar a violação do artigo 117 plasmado na


Costituição da República de Moçambique, resultante da exploração mineira à ceu aberto e seu
impacto na vidas da população da comunidade de Nhatchere.

Respondendo aos objectivos por meio da pesquisa sobre à violação dos direitos fundamentais
na vida da população, concluíu-se que a actividade mineira desenvolvida pela mineradora
Vale Moçambique, impacta negativamente no ambiente e na qualidade de vida das
populações residentes na comunidade de Nhantchere.

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CRM (Constituição da República de Moçambique)
51
Na busca por compreender e descrever a percepção dos inqueridos a cerca do impacto gerado
pela exploração do carvão mineral à céu aberto, e a partir do método proposto neste estudo
visando o alcance do objectivo acima referido, foi possível identificar que alguns índices de
“insatisfação” por parte da população foram encontrados nos inidicadores de consulta e
diálogo no qual 85% considerou que este processo não foi observado quer pela empresa Vale
Moçambique, assim como pelo Governo local no seio da comunidade.

É de frisar ainda que a ausência do mecanismo de consulta e diálogo que deveria ser bem
encaminhado pelo governo local e pela empresa mineradora com os membros da comunidade,
aliada a inobservância de benefícios para à comunidade e às diversas situações
constrangedoras (ruido, poeira, doenças respiratórias e o estresse) vivenciadas pela população
local como resultado da actividade mineira, minou o relacionamento entre as partes, visto que
85% dos inqueridos afirmou que a relação existente é má. Por isso, a exclusão da população
da área do megaprojeto reitera as desigualdades sócio-espaciais potencializando a pobreza e a
exclusão, dificultando o diálogo entre a população local e os representantes dos megaprojetos.

O carvão mineral representa uma importante fonte de energia, a qual apesar de graves
impactos sobre o meio ambiente, se destaca pela abundância e distribuição geográfica das
reservas, além dos baixos custos e estabilidade nos preços, comparativamente a outros
combustíveis.

Os impactos ambientais da actividade de mineração se constituem de alterações do lençol de


água subterrânea, poluição sonora, visual, da água, ar e solo, impactos sobre a fauna e a flora,
assoreamento erosão, mobilização da terra, instabilidade de taludes, encostas e terrenos em
geral, lançamentos de fragmentos, ruídos e vibrações.

Apesar das constatações do estudo, notou-se uma conduta passiva por parte de quem é de
direito perante esta situação. As comunidades sentem-se desamparadas naquilo que seria a
responsabilidade do Estado perante os problemas vividos na sua comunidade. A maioria das
famílias que residem nas redondezas da mineradora no distrito de Moatize estão numa
condição legal, visto que possuem licenças para construção de suas habitações. Aqueles que
não apresentam licença ocuparam a terra de boa-fe, segundo prescreve alínea o artigo 12, da
Lei nº 19 (Lei, 1997).

O reassentamento sempre gera resistência ameaçando a identidade com o lugar e podendo


ocasionar o desaparecimento de uma cultura local, o risco dos habitantes não conseguirem
52
acesso aos espaços produtivos, a água e a outros recursos. Além disso, a resistência das
comunidades não é amparada pela legislação que não lhes concede poder de decisão, uma vez
que prioriza a arrecadação de impostos e outros ganhos econômicos que essa exploração pode
oferecer ao país.

Os impactos no uso do solo e espacialmente na alteração da paisagem, dinâmica social e


econômica são provocados principalmente pelo processo migratório e reassentamento da
população. Adicionalmente foram identificados impactos sociais relacionados com o facto de
grande parte da população, não possuir nível de escolaridade compatível com a demanda de
mão de obra especializada, suprida por trabalhadores migrantes de outras regiões do país, bem
como, dos países de origem das multinacionais, potencializando as desigualdades sociais,
diferença de renda e estilo de vida.

Os processos de reassentamentos em Moçambique resultantes de actividades económicas


(mineração) vem sendo acompanhados com muitas irregularidades e falhas, desde as casas
mal construídas sem nenhuma fundação, em alguns locais, apresentando rachas/fissuras antes
da entrada das pessoas, as terras não são aptas para a produção agrícola em alguns casos semi-
áridas, falta de alguns serviços básicos sociais, como por exemplo transporte, localização
distante dos centros urbanos, principais locais de comercialização dos produtos agrícolas e
não agrícolas e também este facto é que condiciona o comércio formal e informal destas
famílias.

Entendemos ainda que é necessário a mudança de paradigma, uma vez se torna necessário um
novo modo de estar a acolher a preocupação dos reassentados, por forma que a
reassentamento não constituía uma brecha para a violação sistemática dos direitos liberdades
e garantias fundamentais dos cidadãos.

Depois de provados que os objectivos da pesquisa foram alcançados, estamos expectantes que
a compreensão do trabalho alcance a todos e quiçá este trabalho sirva de referência e ajuda
para outros que queiram fazer trabalho no futuro onde vao abordar o mesmo tema ou em
temas conexos a este.

4.2.Sugestões:

Para que não se regista falhas no processo de implementação do reassentamento populacional


recomenda-se o seguinte:

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 Avaliações das potenciais áreas de reassentamento, de modo a assegurar que as
comunidades podem continuar a viver como viviam antes de terem sido deslocados;
 Planeamento e concepção da área de reassentamento, com base em estudos, de modo a
assegurar que as áreas são adequadas para o plantio de culturas, o acesso à pesca, a
floresta, e que existe água suficiente, para além de garantir que as pessoas deslocadas
poderão restaurar e restabelecer os seus modos de vida e subsistência.
 Monitoria independente das actividades, de modo a avaliar o sucesso do processo e das
actividades de reassentamento.
 Aos responsáveis do Governo, especificamente aos que tutelam o desenvolvimento
ambiental à fiscalizarem as actividades mineiras realizadas na vila de Moatize em
particular, e em Moçambique em geral de modo a garantir o desenvolvimento sustentável.
 O governo deve tomar consciência de que nada adianta que as empresas cumpram com as
responsabilidades sociais se por detrás não conseguem cumprir com as regras de
exploração a favor do desenvolvimento Ambiental;
 Sugere-se ainda as Empresas Mineiras a respeitarem a comunidade local e garantir que a
exploração não prejudique o desenvolvimento ambiental. É importante respeitar o
desenvolvimento ambiental porque o seu impacto negativo é atentado a saúde pública;
 As Empresas Mineiras a respeitarem as leis e decretos impostos pelo Governo de
Moçambique na área de Exploração Mineral.Respeitar estes decretos implica garantir o
bem-estar da comunidade local.

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