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DECLARAÇÃO...............................................................................................................I

AGRADECIMENTOS....................................................................................................II

DEDICATÓRIA............................................................................................................III

RESUMO.......................................................................................................................IV

ABSTRACT........................................................................................................................V

CAPITULO 1.......................................................................................................................1

Introducção..........................................................................................................................1

1.1.Contextualização........................................................................................................2

1.2.Delimitação do Tema.................................................................................................2

1.2.1Delimitacao Espacial................................................................................................2

1.2.2 Delimitação Temporal.........................................................................................2

1.3. Problematização........................................................................................................2

1.4.Justificativa da pesquisa.............................................................................................3

1.5.Hipóteses....................................................................................................................4

1.6.Objectivos do Trabalho..............................................................................................5

1.6.1.Objectivo Geral...................................................................................................5

1.6.2.Objectivos Específicos........................................................................................5

CAPITULO II......................................................................................................................6

2. Revisão da Literatura.......................................................................................................6

2.1. Conceito Básicos dos Direitos Humanos..................................................................6

2.2. Direitos Humanos......................................................................................................6

2.2.1. Concepção Ética.................................................................................................6

2.3.Conceito dos Direitos Humanos....................................................................................6

2.3.1 Direitos Humanos como Princípios.....................................................................6

2.3.2.Gerações de Direitos Humanos...........................................................................7

2.3.3.Direitos Humanos de Primeira Geração..............................................................7

0
2.3.4. Concepção Legalista...........................................................................................7

2.3.5. Direitos Humanos de Terceira Geração.............................................................8

2.3.6. Direitos Humanos de Quarta Geração................................................................9

2.3.7. Direitos Humanos de Quinta Geração................................................................9

2.4.Natureza Jurídica dos Direitos Humanos...................................................................9

2.5. Breve Historial Sobre Uniões Prematuras...............................................................10

2.6. Uniões Prematuras em Moçambicano.....................................................................11

2.6.1 As Leis das Uniões Prematuras no Ordenamento Jurídico Moçambicano........11

2.7. União Prematura (Lei nº 19/2019, de 22 de Outubro – Lei de Prevenção e Combate


às Uniões Prematuras)....................................................................................................13

2.8. Causas das Uniões Prematuras................................................................................14

2.9. Predominância da Cultura Patriarcal.......................................................................14

2.10. Os Ritos de Iniciação............................................................................................15

CAPITULO III...................................................................................................................17

3. Metodologia...................................................................................................................17

3.1. Natureza de Pesquisa...............................................................................................17

3.2. Método de Abordagem............................................................................................17

3.3. Método de Procedimento........................................................................................18

3.4. População Alvo e Amostra......................................................................................18

3.4.1. População.........................................................................................................18

3.4.2. Amostra............................................................................................................19

3.5. Técnicas de Recolha de Dados............................................................................19

3.5.1. Questionário.....................................................................................................20

3.5.2. Pesquisa Bibliográfica......................................................................................20

3.5.3. Entrevista..........................................................................................................20

3.6.Fiabilidade e Validade..............................................................................................21

CAPITULO IV..................................................................................................................22

1
4. Análise e Discussão dos Resultados..............................................................................22

4.1. Identificação do Local de Pesquisa.........................................................................22

4.2. A Pobreza Nas Suas Múltiplas Dimensões.............................................................22

4.3 Resumo de Análises.................................................................................................24

4.4. O Impacto das Uniões Prematuras na Educação.....................................................24

4.5. Influência da Lei das Uniões Prematuras................................................................26

4.6. Leis das Uniões Prematuras e suas Relações de Poder...........................................28

4.7. O Impacto das Uniões Prematuras na Saúde e Nutrição.........................................29

CAPÍTULO V 5. Conclusões, Recomendações e Limitações...........................................33

5.1. Conclusões..............................................................................................................33

5.2. Recomendações da Pesquisa...................................................................................35

6. Referências bibliográficas..............................................................................................36

Cronologia de Actividades.................................................................................................47

2
DECLARAÇÃO

Eu, Magid Ibraimo Calu Jala declaro por minha honra que o presente trabalho é da minha
autoria e nele observei os requisitos e recomendações do Instituto Superior Mutasa -
ISMU concernentes à elaboração de trabalhos de investigação científica. Declaro ainda
que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obter qualquer
grau académico.

Magid Ibraimo Calu Jala

_______________________________________

Maputo, aos ______de__________________de 2024

I
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, mando o meu agradecimento a Allah que mi deu forca, energia e
beneficio para que termina-se com este trabalho. Em seguida agradeço aos meus
progenitores que incentivaram todos os anos que estive nesta Faculdade de Ensino em
Direito. A minha esposa, filhos, que mi apoiaram de forma direita contribuindo para que
este trabalho si realiza-se. Para terminar agradeço au meu supervisor, colegas e todas as
pessoas que fizeram parte dessa etapa decisiva na minha vida.

II
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho em primeiro lugar a Allah pela vida, saúde e protecção que me tem
concedido diariamente, a minha família. Obrigado por tudo o que fizeram por mim, a
paciência, moral, carrinho, pela distância, sofrimento e pela ausência que efectuei durante
a minha caminhada académica. E que foi positiva por espera, hoje logramos a satisfação
fruto do nosso sacrifício empenho.

A dedicatória é extensa para os meus filhos, esposo, amigos e colegas de serviço pelo
todo apoio e incentivos proporcionados durante os meus estudos.

III
RESUMO

A presente pesquisa cujo tema é Direitos Humanos no contexto das Uniões Prematuras no
Ordenamento Jurídico Moçambicano: Caso de estudo Distrito Zandamela, período
compreendido entre 2022-2023, entregue ao Instituto Superior Mutasa, como requisito
para a obtenção de grau académico de Licenciatura em Direito, tem como objectivo
Analisar os Direitos Humanos no contexto das Uniões Prematuras no ordenamento
Jurídico Moçambicano.

Através do uso do método monográfico com uma abordagem qualitativa, foi possível
constatar que as leis das uniões prematuras embora tolerada das comunidades, são um
mal social que esta ser combatida através da aprovação da lei que a criminaliza. Isso
devesse ao facto de as comunidades do distrito de Zandamela não tem incorporado no seu
seio precipitações de legislativo com vista ao combate deste mal, por outro lado devido
ao facto de os líderes comunitários, nas reuniões populares limitam se ao incentivá-las
através de apelos para que a comunidade se obtenha da prática das uniões prematuras, por
outro lado por causa das ocorrências privilegia se dialogo entre a família da menor dos
pais do sedutor de modo a encontrar em consenso.

Caso não se chegue aos entendimentos, em últimas instanciam a polícia ou alguns


membros da comunidade. Deste modo o estudo recomenda que para além da aprovação
da legislação é necessário que haja a divulgação da mesma, se possível em língua local de
modo a que a comunidade se aproprie dos instrumentos legais para o seu uso. As uniões
prematuras são crimes no ordenamento jurídico moçambicano pelo que além de apelos a
comunidade deve haver intervenção de autoridades com vista a estancar este fenómeno.

Palavras- Chaves:

Lei das Uniões Prematuras, Comunidades, Direitos Humanos

IV
ABSTRACT

This research, whose theme is Human Rights in the context of Premature Unions in the
Mozambican Legal System: Case study Zandamela District, period between 2022-2023,
delivered to the Instituto Superior Mutasa, as a requirement for obtaining an academic
degree in Law, aims to analyze Human Rights in the context of Premature Unions in the
Mozambican legal system.

Through the use of the monographic method with a qualitative approach, it was possible
to verify that the laws on premature unions, although tolerated by communities, are a
social evil that must be combated through the approval of the law that criminalizes them.
This was due to the fact that the communities in the Zandamela district did not
incorporate legislative efforts to combat this evil, on the other hand due to the fact that
community leaders, at popular meetings, limited themselves to encouraging them through
appeals . so that the community can benefit from the practice of premature unions, on the
other hand, due to the occurrences, dialogue between the family of the minor of the
seducer's parents is privileged, in order to find consensus.

If an understanding cannot be reached, the police or some members of the community


will eventually become involved. Therefore, the study recommends that, in addition to
the approval of the legislation, it is necessary to disseminate it, if possible in the local
language, so that the community takes ownership of the legal instruments for its use.
Premature unions are crimes in the Mozambican legal system, so in addition to appeals to
the community, there must be intervention from the authorities with a view to stopping
this phenomenon.

Keywords:

Law on Premature Unions, Communities, Human Rights

V
CAPITULO 1

Introducção

A união prematura é um problema social que tem deixado impactos negativos desde a
gravidez precoce, fístula obstétrica, abandono escolar por parte da rapariga e aumento da
pobreza nas comunidades. Desta forma, visando contribuir para prevenção e combate a
este fenómeno, a sociedade é chamada a tratar à união prematura como um problema
social que afecta a saúde e o desenvolvimento das crianças, em destaque para as
raparigas, bem como a própria sociedade em geral, de forma directa ou indirectamente.
Isto é, os diferentes actores, principalmente o sistema jurídico nacional, devem tratar e
divulgar acções que para além de falarem sobre as uniões forçadas de forma a sensibilizar
a comunidade, procure educá-la e chamar atenção para prevenção e combate deste
problema social.

É neste sentido que o ordenamento jurídico nacional, através da justiça, procura


desencorajar a prática deste mal sociocultural que é a união prematura. Contudo, muitas
vezes a justiça actua de forma superficial, sem olhar o contexto, causa e consequências
desta prática social. O sistema jurídico além de julgar apenas os casos, deveria aliar-se a
potências parceiros como por exemplo, a midia e em conjunto promover campanhas de
sensibilização para o abandono desta prática sociocultural. Com vista a encontrar uma
justificativa que explica a ocorrência deste fenómeno, a presente proposta de pesquisa
subordinada ao tema: Direitos Humanos no contexto das Uniões Prematuras no
Ordenamento Jurídico Moçambicano: Caso Distrito de Zandamela, no período de
(2022- 2023), pretende discutir como a comunidade pode ser factor impulsionador para o
combate das uniões prematuras com principal incidência às comunidades onde esta
prática é verificável com o prejuízo para o enquadramento das raparigas ao meio social e
educacional.

A nível individual, a união prematura é uma violação do gozo dos direitos humanos, em
particular da rapariga. As consequências que advêm após o casamento podem ser, o
abandono da escola e a separação da criança do seu meio familiar. Estes dois factores
podem ser determinantes para o fracasso no futuro, seja a falta de um emprego digno,
assim como a falta de cuidados por parte da família de origem Varela (2004).

1
1.1.Contextualização

Em Moçambique a união prematura é uma grande violação da Lei 19/20219 (Lei de


Prevenção e Combate as Uniões Prematuras) e dos Direitos Humanos das raparigas que
põem em causa o seu desenvolvimento físico, intelectual e psicológico, sendo um grave
problema socioeconómico que tem sido ainda um dos assuntos negligenciados e, quando
reportados, não trazem dados que definem como práticas nocivas que violam os Direitos
das Crianças de acordo com Rede de Comunicadores Amigos da Criança (RECAC,
2018). Entretanto, o presente estudo decorre num contexto onde a questão da união
prematura ainda é um problema extremamente preocupante para os diferentes sectores da
nossa sociedade.

1.2.Delimitação do Tema

1.2.1Delimitacao Espacial

Espacialmente, o presente trabalho vai ser desenvolvido dentro do território nacional,


concretamente no distrito de Zandamela e com base a instrumentos normativos nacionais
e internacionais que Moçambique possui e ratificou com vista promover os direitos
humanos, prevenção e combate a União prematura, na massificação e melhoria no acesso
a justiça para a sociedade no geral.

1.2.2 Delimitação Temporal

Em termos temporais a pesquisa vai olhar para os instrumentos normativos que foram
sendo criados, aprovados, ratificados e implementados nos últimos 04 anos, isto é de
entre 2019 a 2023.

Para esta pesquisa, foi seleccionada uma parte da amostra da população constituído por
(10) dez elementos, dos quais (2) dois líderes comunitários, (05) cinco mães e (3) três ex-
adolescentes seleccionados com base intencional no Distrito de Zandamela.

1.3. Problematização

Segundo (UNICEF,2016), devido ao elevado índice de pobreza e a falta de princípios ou


respeito pelos direitos da mulher, as famílias entregam as suas filhas em troca de bens
monetário e não só. Nas zonas rurais, as raparigas quando atingem a adolescência são
2
forçadas a união prematura, renegando a educação delas. Portanto, esta problemática de
uniões prematuras ainda continua a ser negligenciada na sua maioria por comunidades
que praticam esse mal social enraizada nas culturas e tradições, perpetuando-se desta
maneira de gerações em gerações em várias regiões do país.

De acordo com dados da (UNICEF (2016) o maior desafio é de transmitir informações


claras e perceptíveis sobre os direitos sexuais e reprodutivos, direitos individuais da
criança e da rapariga e essencialmente sobre as uniões prematuras. Daí que a média deve
despenhar um papel crucial no processo da divulgação dos Direitos da Criança (RECAC,
2018). Assim, o presente estudo pretende analisar como é que a questão da união
prematura é tratada pelo sistema jurídico dentro do ordenamento jurídico nacional para
entender como esta entidade contribui na prevenção e combate à união prematura em
Moçambique.

Em forma de pesquisa a questão é colocada da seguinte forma:

 Até que ponto a lei das uniões prematuras garante a protecção dos direitos
humanos no ordenamento jurídico moçambicano?

1.4.Justificativa da pesquisa

A escolha do tema advém da importância da actuação do jurista nas organizações da lei


das uniões prematuras nas raparigas, na gestão do sistema jurídico nacional dos direitos
humanos. Apesar da relevância da motivação no desempenho individual e organizacional,
nota se que os educadores se preocupam em alcançar resultados esquecendo-se das
necessidades dos adolescentes, focando se no alcance dos objectivos da organização.

O sistema jurídico nacional ocupa um papel de destaque, porque desperta o senso crítico
nas pessoas e sugere justiça e boa governação em todas as esferas e níveis da sociedade.

Desta forma, o interesse em analisar a questão da união prematura e direitos humanos no


ordenamento jurídico nacional deveu-se ao facto de a pesquisadora reconhecer, por um
lado, primeiro, impacto negativo que este fenómeno sociocultural imprime sobre a
sociedade moçambicana e, por outro, o papel que diferentes actores estratégicos podem
desempenhar para a prevenção e o combate deste infortúnio, comunicando, formando a
opinião pública, educando e influenciando positivamente o comportamento dos principais
actores.

3
Espera-se que esta seja, uma oportunidade para incentivar e encorajar a sociedade no
geral, o governo, a sociedade civil e a todos aqueles que exercem ou anseiam exercer a
profissão de jurista, a considerarem a questão das uniões prematuras como violação dos
direitos humanos da criança e da rapariga, em particular.

Esta pesquisa constitui também, um contributo na melhoria do sistema jurídico nacional,


especialmente na verificação e avaliação das intervenções deste sector no tratamento de
questões ligadas a união prematura e direitos humanos, no que diz respeito a prevenção e
combate deste mal.

A razão da escolha do tema justifica-se sob (03) três perspectivas, nomeadamente:

 A nível profissional - A escolha do tema reside no caso de verificar inflexibilidade na


organização e divulgação da lei das uniões prematuras aos profissionais que lidam com
esta matéria;

 A nível social e económico - Esta pesquisa pode ser aproveitada pela instituição de
análise e outras organizações dos direitos humanos, instituições públicas e privadas para
compreender os pontos críticos das suas actuações e buscar melhores mecanismos de
resolução dos problemas olhando para a motivação como catalisador do sucesso
organizacional.

 A nível académico - O estudo contribuirá, para enriquecer debates literários existentes


sobre a temática, assim como de base para o desenvolvimento de posteriores estudos. E
neste contexto o presente trabalho poderá ser útil como material de consulta dos
estudantes de ciências sociais no ramo de direito, também, pode servir como um ponto de
partida de novas investigações do tema em questão.

1.5.Hipóteses

H1: Com o cumprimento da lei das uniões prematuras e cientes nos deveres colectivos da
protecção dos Direitos Humanos, pode impulsionar na redução de uniões prematuras no
pais.

H2: A mudança de hábitos socioculturais, podem contribuir na redução das uniões


prematuras.

4
1.6.Objectivos do Trabalho

1.6.1.Objectivo Geral

 Analisar os Direitos Humanos no contexto das Uniões Prematuras no ordenamento


Jurídico Moçambicano, no Distrito de Zamdamela no período de (2022-2023)

1.6.2.Objectivos Específicos

 Estudar os conceitos dos Direitos Humanos no contexto das uniões prematuras;

 Avaliar a situação dos Direitos Humanos no contexto jurídico Moçambicano;

 Apresentar os princípios para o combate as uniões prematuras.

5
CAPITULO II

2. Revisão da Literatura

2.1. Conceito Básicos dos Direitos Humanos

2.2. Direitos Humanos

Este capítulo dedica-se a prover um panorama das normas de direitos humanos no seu
âmbito nacional e internacional. Incluem-se breves descrições sobre a natureza, o
conceito, as gerações, assim como um resumo do seu antecedente histórico.

2.2.1. Concepção Ética

Esta concepção trata os direitos humanos como direitos morais, à vista disso entendem
que toda norma jurídica pressupõe uma série de valores. Segundo Nuno um dos
defensores da teoria dos direitos morais, entende que os direitos humanos são a parte
mais substancial dos direitos morais oriundos dos princípios da inviolabilidade, da
autonomia e da dignidade da pessoa humana.

2.3.Conceito dos Direitos Humanos

Segundo Piovesan (2004). Direitos Humanos-são, direitos básicos de todos os seres


humanos. São direitos civis e políticos, direitos económicos, sociais e culturais
(exemplos: direitos ao trabalho, à educação, à saúde, à previdência social, à moradia, à
distribuição de renda, entre outros, fundamentados no valor igualdade de oportunidades);
direitos difusos e colectivos (exemplos: direito à paz, direito ao progresso, auto
determinação dos povos, direito ambiental, direitos do consumidor, inclusão digital, entre
outros, fundamentados no valor fraternidade).

2.3.1 Direitos Humanos como Princípios

Esta concepção entende que os direitos humanos são princípios externos ao ordenamento
jurídico. Não faltando quem assegure que os direitos humanos formam parte de um
ordenamento jurídico, como princípios não formulados em normas positivas expressas.
Se trata de uma teoria muito próxima a teoria dos direitos morais, que entendem os
direitos humanos como valores morais, sendo que esta entende como princípios. Para
Morán 2004“indaga ser óbvio que os direitos fundamentais incorporados nos preâmbulos
são considerados como princípios superiores do ordenamento jurídico”.

6
2.3.2.Gerações de Direitos Humanos

A positivação dos direitos que hoje são reconhecidos fundamentalmente e que


corresponde a de mais, às gerações de direitos humanos deu-se, nas variadas Cartas
Fundamentais, em correspondência ao transcurso da história da humanidade e
efectivamente se perfectibilizou no ordenamento jurídico, com a proporção que hoje se
concebe, como uma consequência histórica da transmudação dos direitos naturais
universais em direitos positivos particulares, e, depois, em direitos positivos universais.

2.3.3.Direitos Humanos de Primeira Geração

Segundo Lafer (1988).

Os direitos humanos de primeira geração são resultantes,


principalmente, da Declaração Francesa dos direitos do Homem e do Cidadão e da
Constituição dos Estados Unidos da América de 1787, que surgiram após o confronto
entre governados e governantes, é dizer, da insatisfação daqueles com a realidade
política, económica e social de sua época, e que resultou nessas afirmações dos direitos
de indivíduos em face do poder soberano do Estado absolutista.

São vistos como direitos inerentes ao indivíduo e tidos como direitos naturais, uma vez
que precedem o contrato social. Por isso, são direitos individuais: (I) quanto ao modo de
exercício é individualmente que se afirma, por exemplo, a liberdade de opinião; (II)
quanto ao sujeito passivo do direito pois o titular do direito individual pode afirmá-lo em
relação a todos os demais indivíduos, já que esses direitos têm como limite o
reconhecimento do direito de outro. Filosoficamente, pode-se creditar o surgimento e o
resguardo dessa geração direitos à moral individualista e secular, que colocava o
indivíduo como centro do poder e rechaçava, de outra parte, a promiscuidade entre poder
político e religioso, assinalando a secularização do poder do Estado.

2.3.4. Concepção Legalista

A concepção legalista afirma que não existe direitos fundamentais se estes não estiverem
reconhecidos no ordenamento jurídico estatal. De facto, há quem entenda que os direitos
humanos carecem de uma entidade jurídica de verdadeiros direitos humanos antes de sua
incorporação à lei positiva, pois não existem direitos humanos que não estejam
positivados pela legislação estatal, é uma atitude legalista pelo Estado.

7
No pensamento de Peces-Barba (1980), tentando explicar a concepção legalista dos
direitos humanos, faz a distinção destes com os direitos fundamentais. Vejamos a seguir
esta análise comparativa onde, para este doutrinador, os direitos fundamentais se
completam com sua recepção no Direito Positivo, pois, em sua opinião, um direito
fundamental não alcança sua plenitude se não for reconhecido no direito positivo.

Segundo Piovesan (2004).

Por isso mesmo, inexiste equívoco quando se confere a essa Norma


Fundamental a atribuição de reflectir um momento histórico significativo, o actual,
porque o máxime do alargamento no campo dos direitos e garantias fundamentais até
hoje conquistado, colocando-se, ainda, “entre as Constituições mais avançadas do
mundo no que diz respeito à matéria”.

O moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um fenómeno do pós-guerra.


Seu desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da
era Hitler e à crença de que parte destas violações poderiam ser prevenidas se um efectivo
sistema de protecção internacional de direitos humanos existisse.

2.3.5. Direitos Humanos de Terceira Geração

À par das dificuldades e das conquistas decorrentes da doutrina social pelo


reconhecimento e pela eficácia dos direitos civis e políticos, de primeira geração, e dos
direitos económicos, sociais e culturais, direitos de segunda geração, outros valores, até
então não tratados como prioridade na sociedade ocidental, foram colocados na pauta de
discussão em período posterior ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Referidos
valores, para serem efectivados, exigiam soluções inovadoras que só o reconhecimento de
direitos de estirpe diversa dos já positivados poderia satisfazer. Estes novos direitos
passaram, assim, a serem alcunhados de direitos de terceira geração.

Para Tavares e Almeida (2006).

Trazem como nota distintiva o facto de se desprenderem, em


princípio, da figura do homem indivíduo como seu titular, destinando-se à protecção de
grupos humanos (família, povo, nação), e caracterizando-se, consequentemente, como
direitos de titularidade colectiva ou difusa.

8
Dentre os direitos fundamentais da terceira dimensão consensualmente mais citados,
cumpre referir os direitos à paz, à autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento, ao
meio ambiente e qualidade de vida, bem como o direito à conservação e utilização do
património histórico e cultural e o direito de comunicação.

2.3.6. Direitos Humanos de Quarta Geração

Há doutrinadores, ainda, que reconhecem a existência de uma quarta geração ou


dimensão de direitos humanos, que se identificariam com o direito contra a manipulação
genética, direito de morrer com dignidade e direito à mudança de sexo, todos pensados
para o solucionamento de conflitos jurídicos inéditos, novos, frutos da sociedade
contemporânea. Há, ainda, doutrinadores, como o constitucionalista Paulo Bonavides
(2003). Entendem que a quarta geração de direitos identificar-se-ia com a universalização
de direitos fundamentais já existentes, como os direitos à democracia directa, à
informação e ao pluralismo.

2.3.7. Direitos Humanos de Quinta Geração.

Finalmente, os direitos humanos da quinta geração, como os de quarta, também não são
pacificamente reconhecidos pela doutrina, como o são os das três primeiras. No entanto,
os direitos que por essa geração são reconhecidos, quais sejam, a honra, a imagem, enfim,
os “direitos virtuais” que ressaltam o princípio da dignidade da pessoa humana, decorrem
de uma era deveras nova e contemporânea, advinda com o exacerbado desenvolvimento
da Internet nos anos 90. Tais valores, portanto, são defendidos e protegidos por essa
geração de direitos, com a particularidade de protegê-los frente ao uso massivo dos meios
de comunicação electrónica, merecendo, assim, protecção não só as pessoas naturais, mas
também as pessoas jurídicas.

2.4.Natureza Jurídica dos Direitos Humanos

Na filosofia de Alexandrinho (2001).

Os direitos humanos ou direitos do homem, nascem essencialmente como


direitos negativos, ou seja, como obrigação de omissão ou abstenção por parte de
Estado em face de certas condutas dos cidadãos.

O ser humano é livre, logo o Estado deve abster-se de privar a liberdade; o ser humano
tem direito a expressar-se livremente, logo o Estado deve abster-se de censurá-lo.

9
A sistematização desses direitos negativos em uma determinada ordem constitucional ou
em um tratado ou em uma proclamação internacional constitui aquilo que a doutrina
convenciona. Conceituar então, a natureza jurídica dos direitos humanos se torna
abrangente pela diversidade de posicionamentos encontrados na doutrina. Onde para
alguns, os direitos humanos são simplesmente direitos subjectivos; onde para outros são
direitos subjectivos, emanados directamente das normas positivas e somente adquirem
valor jurídico ao serem reconhecidas pelo Estado. Segundo Morán (2004).

Outros ainda, que consideram os direitos humanos como valores; ou ainda como
princípios gerais de direito; enquanto para outros são faculdades de poderes nascidos
de normas objectivas previamente existentes nos ordenamentos estatais, que lhes são
impostas obrigando o seu reconhecimento, com sentido de direito natural clássico ou
simplesmente como direito objectivo numa concepção mais actual.

Concepções Doutrinárias Acerca da Natureza Jurídica dos Direitos Humanos

Concepção Jusnaturalista

A concepção jusnaturalista é aquela tradicionalmente adoptada por aqueles que defendem


a plena validade jurídica dos direitos humanos como faculdades intrínsecas do homem,
independente de sua positivação. Direitos do homem como imperativos do Direito
natural, anteriores e superiores à vontade do Estado.

Segundo Coelho (2003).

“Direitos do homem são direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos
(dimensão jusnaturalista-universalista), ou seja, os direitos do homem arrancariam da
própria natureza humana e daí o seu carácter inviolável, intemporal e universal.“

2.5. Breve Historial Sobre Uniões Prematuras

A Instituição do Casamento (Uniões Prematuras),faz parte de uma das tradições mais


antigas do mundo, sendo considerado mais um fenómeno sociológico do que jurídico.
Nos dias de hoje o casamento é visto como uma união, ou formalidade que tem como
propósito constituir família. Segundo Rodrigues (2016), desde a antiguidade as primeiras
formas de casamento eram vistas como meios de manutenção, estabelecimento de
alianças, conquista de aliados, constituição de relações diplomáticas e laços económicos

10
entre grupos sociais. O casamento tinha como principal papel atribuir uma estabilidade
social e as suas funções versavam sobre a reprodução humana e a criação dos filhos.

No século XI o casamento ainda significava uma aliança entre as famílias, por isso que o
casamento era arranjado pelas famílias dos noivos, a partir do século XII o consentimento
ou manifestação voluntária da vontade de unir-se passou a ser parte da condição para o
casamento. Na Europa medieval, durante muito tempo o casamento foi uma forma de
manter alianças político militares, entre a realeza e demais membros da nobreza, por
forma a assegurar a estabilidade económica da região.

A irrevogabilidade da união permitia que existisse uma estabilidade entre os grupos de


interesse. Desta forma as noivas eram prometidas pelos seus familiares desde muito cedo,
sendo que a idade núbil das raparigas era entre 12 a 13 anos de idade e para os rapazes
era de 18 anos. Durante a idade média, o casamento passou a ter a influência do
cristianismo, passando a ser considerado como um sacramento que contava muito a
vontade divina e a canonicidade revestia o casamento.

2.6. Uniões Prematuras em Moçambicano.

Moçambique é um dos países que tem estado a dar passos significativos na prevenção e
combate as Uniões Prematuras. O compromisso pela erradicação deste mal que afecta
48% de raparigas em Moçambique tem sido expresso e assumido pelo Presidente da
República, Filipe Jacinto Nyusi, pela Primeira-dama da República de Moçambique,
Isaura Nyusi, pela Presidente da Assembleia da República de Moçambique, Esperança
Bias e pela Ministra de Género Criança e Acção Social, Cidália Chaúque Oliveira. Por
parte da Sociedade Civil esta preocupação foi expressa pela Coligação para Eliminação
dos Casamentos Prematuros em Moçambique (CECAP) pelos Parceiros de Cooperação e
por Individualidades tais como Graça Machel Trust (Presidente da FDC).

2.6.1 As Leis das Uniões Prematuras no Ordenamento Jurídico Moçambicano

As Leis das Uniões Prematuras no ordenamento jurídico moçambicano são como uma
das expressões pouco percebida de abuso sexual e da violação dos direitos sexuais e
reprodutivos da rapariga contudo, percorrendo os dispositivos legais (Lei da Família) lei
no 22/2019 de 11 de Dezembro, podemos constatar uma almofada que acomoda essa
prática, ao conceber no artigo 77º da aso a esta prática ao consentir que pessoas com

11
menos de 18 anos e maiores de 16 possam contrair casamento, bastante que haja
consentimento dos pais ou sejam emancipados.

Em Moçambique, parte de determinados tratados internacionais, podemos encontrar por


meio do nº1 e 2 do artigo 18 da CRM, o qual preceitua que “o Estado tem o dever de
assegurar a protecção dos direitos da mulher e da criança, conforme estipulados nas
Declarações e Convenções Internacionais”.

Sob o ponto de vista académico, é importante fazer o estudo sobre este tema, pois
apresenta um pouco ou quase inexplorada no contexto das discussões sociológicas e de
desenvolvimento sobre casamentos prematuros em Moçambique, que é a abordagem
jurídica que analisa as Implicações da Violação dos Direitos Fundamentais dos Menores.

Nesse sentido, a partir do que está exposto e analisado, lança-se importantes contributos
para as autoridades de administração da justiça, lançam-se novos horizontes de pesquisa
que, posteriormente ajudarão a compreender as subjectividades dos menores em situação
forçada de casamento. As Uniões Prematuras em Moçambique, tal como em outros países
da região austral de África, é uma das principais formas de abuso e violação dos direitos
da rapariga.

Segundo (UNICEF e FNUAP).

É entre os países da África Austral e do Sul da Ásia onde se registam as


maiores taxas de ocorrência deste fenómeno que afecta 36 por cento das mulheres entre
os 2024 anos casadas ou em união de facto que afirmam ter casado antes de atingirem
os 18 anos de idade.

Partindo do pressuposto que ao aderir à convenções como a Declaração


Universal dos Direitos Humanos (DUDH), a Carta Africana dos Direitos do Homem e
dos Povos, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a convenção
Internacional dos Direitos da Criança, a Carta Africana dos Direitos e Bem-Estar da
Criança, entre outras convenções, o Estado Moçambicano reconhece o princípio de
universalidade dos direitos, assim como, a igualdade dos seres humanos. Torna-se, então,
legítimo considerar como refere o artigo 16 da Declaração Universal dos Direitos
Humanos que em Moçambique todos os indivíduos têm a liberdade para contrair
matrimónio desde que seja observado o princípio da consagração da idade núbil, Artigo
77º da Lei da Família consubstanciado ao artigo 122º do Código Civil.

12
Considera-se assim, que as uniões de carácter matrimonial envolvendo menores de idade,
sendo promovidas por adultos não têm enquadramento no ordenamento jurídico
moçambicano (Ex: Código Civil, Lei da Família), é pois, neste âmbito que torna-se
importante ter em consideração que neste artigo o casamento prematuro resume-se a
relações de carácter matrimonial envolvendo indivíduo adulto de sexo masculino e menor
de sexo feminino.

A magnitude dos efeitos das uniões prematuras não são conhecidas no país, porém,
reconhece-se que o seu impacto está directamente relacionado com aumento:

 Dos índices de abandono escolar entre as raparigas; e


 Dos índices de pobreza entre a população feminina.

Em Moçambique, as Uniões Prematuras envolvem, maioritariamente, raparigas com


idades inferiores a 18 anos e indivíduos adultos de sexo masculino. Este facto realça as
relações de dominação e subordinação que, no contexto moçambicano, orientam as
relações entre adultos e crianças e entre indivíduos do sexo masculino e do sexo
feminino.

2.7. União Prematura (Lei nº 19/2019, de 22 de Outubro – Lei de Prevenção e


Combate às Uniões Prematuras)

União Prematura é a ligação entre pessoas que, em que pelo menos uma seja criança,
formada com o propósito imediato ou futuro de constituir família. O casamento, noivado,
a união de facto ou qualquer relação que seja equiparável à relação de conjugalidade,
independentemente da sua designação regional ou local, envolvendo criança, são havidos
como união prematura nos termos da presente Lei (Artigo 2). E de acordo com o Artigo
77, que fala da autorização e incentivo para a união, o Legislador diz nº 1 que: “O pai,
mãe, tutor, padrasto, madrasta, qualquer outro parente na linha recta e qualquer parente
até ao terceiro grau na linha colateral. O encarregado de guarda da criança ou da sua
educação, ou a pessoa que, de boa-fé, tiver a criança na sua dependência ou sobre ela
exercer poder equiparável ao parental ou de guarda, que autorizar ou obtiver autorização
para união de criança, instigar, aliciar ou não obstar a união, será punido com pena de
prisão de (2) dois a (8) oito anos e multa até dois anos, se pena mais grave não couber.”

13
2.8. Causas das Uniões Prematuras

Que factores contribuem para a preocupante situação das elevadas taxas de uniões
prematuras em Moçambique? Vários estudos e análises (por exemplo, UNICEF, FNUAP
e CECAP 2015; UNICEF 2015; Francisco 2014; Osório e Macuácua 2013).

Sobre o fenómeno das uniões prematuras e assuntos conexos, nomeadamente, a gravidez


precoce ou a educação da rapariga em Moçambique chegam à mesma conclusão:

 As uniões prematuras têm como causas os factores de ordem sociocultural e de


ordem económica;
 A pobreza, desigualdades e marginalização dos tecidos sociais rurais dos
processos de produção e distribuição da riqueza, bem como dos processos de
tomada de decisão.

Com base na vasta literatura disponível, podemos afirmar que a predominância da cultura
patriarcal é a base sobre a qual assentam diversos factores que propiciam a manutenção e
reprodução das uniões prematuras. Essa cultura patriarcal funciona como fermento para a
prática de ritos de iniciação com uma orientação contrária à dignidade da pessoa humana
prevista na Declaração Universal dos Direitos Humanos, contra a Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e contra a
Constituição da República de Moçambique, que estabelece o princípio da igualdade entre
homens e mulheres.

2.9. Predominância da Cultura Patriarcal

O contexto sociocultural dentro do qual acontecem as uniões prematuras é caracterizado


por uma visão de supremacia do género masculino sobre o género feminino. Com efeito,
essa supremacia do masculino sobre o feminino produz e reproduz mecanismos de
representação social e simbólica, incluindo práticas costumeiras que relegam a mulher
para o segundo plano.

A estrutura conceptual dos programas educativos tem sido, por isso, concebida para
defender o status quo da rapariga que “existe para servir e obedecer ao rapaz”.
Reconhecendo esse facto, o Governo de Moçambique destaca como acção necessária
para a redução das uniões prematuras “o empoderamento das raparigas com informação,
habilidades e redes de apoio para aumentar os conhecimentos sobre si próprios, o mundo
que as rodeia e que sejam capazes de tomar decisões sobre as suas vidas” Osório (2013).

14
Apesar de ser dinâmica, a cultura leva muito tempo a mudar e a sua mudança acontece
sempre sob influência de outros factores contextuais, tais como: a elevação dos níveis de
escolaridade, o aumento do poder de compra enquanto consequência do desenvolvimento
económico, o aumento da disponibilidade tecnológica, a massificação de informação
(media tradicionais e redes sociais) e maior integração intercultural. Assim, nem o
Governo e nem as Organizações da Sociedade Civil (OSC), muito menos os parceiros de
cooperação devem entrar em pânico com a lentidão da mudança cultural, pois ela não só
leva tempo a acontecer como acontece em resultado da mudança dos factores
mencionados acima.

2.10. Os Ritos de Iniciação

Os ritos de iniciação, com algumas variantes de diferenciação são praticados


maioritariamente nas províncias do norte (Cabo Delgado, Nampula e Niassa) e centro
(Zambézia, Tete e Manica) de Moçambique. Estas duas regiões representam a maior área
territorial do país, bem como a maioria da população do país. Há indícios de ritos de
iniciação também na zona sul do país, mas assumindo outras formas e características e
parecem estar já em desuso. Na discussão corrente sobre as uniões prematuras é comum
apontarem-se os ritos de iniciação como uma das causas das uniões prematuras, da
gravidez precoce e inclusive do abandono escolar por parte das raparigas menores de 18
anos.

Osório e Macuácua (2013).

“Têm provado não é uma relação directa de causa-efeito, mas, sim,


evidências de como determinados conteúdos dos ritos de iniciação (educação sexual das
raparigas orientando-as a servirem e satisfazerem os homens) ”.

A metodologia usada para transmitir esses conteúdos (o recurso à encenação de relações


sexuais com uso de objectos de aparência do órgão sexual masculino), a finalidade
subjacente à realização desses ritos (preparar a menina para o casamento, para que saiba
atender os homens e satisfazê-los, em contraposição com os rapazes que são preparados
para serem chefes de família, para “domar” as mulheres e fazerem-se respeitar por elas ao
invés de uma educação baseada na igualdade de direitos e deveres enquanto cidadãos)
impelem à união prematura, condição suficiente para uma gravidez precoce. Esta, por sua
vez, uma das principais causas do abandono escolar (MINEDH, 2018).

15
O conteúdo dos ritos de iniciação assenta na promoção de um quadro cognitivo cultural
de “formatação da mentalidade” das crianças para serem seguidoras cegas da cultura
patriarcal. A este propósito, a pesquisadora Conceição Osório relata que, quando estudou
os ritos de iniciação, notou que:

“Pelo que ensinam e pelo modo como são transmitidas as aprendizagens, as


crianças do sexo feminino e do sexo masculino aprendem a distinguirem-se e a adoptar
práticas que lhes condicionam o acesso a direitos. Ou seja, os ritos de iniciação têm uma
primeira função que é de formar identidades, de nos dizer o que está certo errado no
nosso comportamento. Neste sentido, os ritos são apresentados como verdades que não
podemos questionar sob pena de estarmos a violar “a nossa cultura” Osório (2015).

É assim que os ritos de iniciação são percebidos como uma das fontes que impulsionam
as uniões prematuras, resultando depois em gravidez precoce e na geração de mães e
crianças subnutridas que, de seguida, têm de enfrentar todas as consequências das
dificuldades da saúde materno-infantil. No entanto, não se critica a existência dos ritos de
iniciação em si, mas somente uma parte dos seus conteúdos e a metodologia neles usados.

Nos dizeres de Osório (2015):

“Os ritos continuam a ser, pelos factores de demarcação para a sua


realização, pelas cerimónias que os constituem e pelos sentidos que lhes são conferidos,
um factor de coesão cultural. Quando falamos em coesão cultural, falamos em elementos
que identificam a pertença de cada pessoa a uma determinada maneira de ver e de se
situar no mundo. Assim a coesão contém tanto o reconhecimento da pertença através da
conformação com representações e práticas consagradas nos processos de interacção, e
também de subjectivação, como o reconhecimento de exclusão para as e os que não
pertencem ao grupo.”

Portanto, os ritos de iniciação com todos os defeitos que lhe são apontados ao longo deste
estudo, constituem uma manifestação cultural profunda, secular e que, como qualquer
manifestação cultural, contém defeitos que devem ser corrigidos.

16
CAPITULO III

3. Metodologia

3.1. Natureza de Pesquisa

O presente estudo de pesquisa foi qualitativa. Uma pesquisa qualitativa “é uma pesquisa
descritiva em que o investigador se interessa mais pelo processo do que pelos resultados,
examina os dados de maneira indutiva e privilegia o significado “Boaventura (2007:56).

Neste tipo de pesquisa, a preocupação não é apenas com a quantificação de dados, mas
procurar descrever a interacção, as relações que se verificam entre variáveis, neste caso a
motivação e a retenção.

Para Richardson Apud Boaventura (2007:56). A pesquisa é quantitativa ao empregar a


“quantificação tanto nas modalidades de recolha de informações, como no tratamento
dessas através de técnicas esta0p vctísticas, desde as mais simples como percentual,
média, desvio-padrão, às mais complexas, como coeficiente de correlação, análise de
regressão, etc.” A capacidade de investigar não é feita somente pelos instrumentos que o
pesquisador utiliza, mas igualmente, da especificação dos passos que devem ser trilhados
em certa ordem para alcançar um determinado fim. Dai que, Lakatos (2009:83), concebe
o percurso metodológico como sendo o caminho e os passos para se atingir um
determinado objectivo.

Nesta ordem de ideia, o presente trabalho foi desenvolvido por meio de uma pesquisa
qualitativa e quantitativa, considerando que esta abordagem proporcionou resultados
significativos, no sentido de potenciar ao pesquisador uma visão mais ampla do
quotidiano, além de produzir conhecimentos e contribuir para a transformação da
realidade em estudo.

3.2. Método de Abordagem

Empregou se como método de abordagem o hipotético dedutivo. De acordo com Poper


Apud Marcone e Lakatos (2003), o método científico parte de um problema a qual se
oferece uma espécie de solução provisória, uma teoria de tentativa passando se depois a
criticar a solução com vista a eliminação do erro, tal como no caso da dialéctica, esse
processo se renovaria assim mesmo, dado surgimento a novos problemas.

17
O processo de investigar segundo Marconi e Lakatos (2003), oferece as seguintes etapas:

 Problema que surge em geral, de conflito, espectativa e teoria existente;


 Solução proposta consistindo numa conjugação, dedução de consequência na
forma de preposição passiva do texto;
 Texto de falseamento, tentativa de refutação entre outro meio pela observação e
pela experimentação.

3.3. Método de Procedimento

Segundo Lakatos e Marconi (2001:92), o método monográfico consiste no estudo de


determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades,
com finalidade de obter generalizações, isto é, a investigação deve examinar o tema
proposto observando, todos os factores que o influenciaram e analisando - o em todos os
seus aspectos. Estes autores afirmam que o método monográfico constitui uma etapa mais
concreta de investigação com a finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos
fenómenos menos abstractos, pressupõem uma atitude concreta em relação ao fenómeno
e limita - se a um domínio particular no campo das ciências sociais.

3.4. População Alvo e Amostra

Um dos fundamentos básicos de uma pesquisa é o conhecimento da população alvo da


pesquisa. Desta forma os residentes do Distrito de Zandamela, constituem a população
em estudo, Para esta pesquisa, foi seleccionada uma parte da amostra da população
constituído por (10) dez elementos, dos quais (2) dois líderes comunitários, (05) cinco
mães e (3) três ex-adolescentes seleccionados com base intencional no Distrito de
Zandamela.

3.4.1. População

Segundo Quive (1995).População alvo refere-se a um conjunto de habitantes de um


determin-ado lugar. Este refere ainda que a População alvo deve ser determinado segundo
o problema que se pretende estudar. Compartilhando o pensamento dos autores acima

18
indicados; a delimitação do universo, consiste em explicar que as pessoas ou coisas,
fenómenos etc. foram pesquisados, enumerando-se as suas características comuns.

3.4.2. Amostra

Conforme Gil (1989:91), as pesquisas sociais abrangem um universo de elementos tão


grandes que se tornam impossível considerá-los em sua globalidade. Na mesma linha de
pensamento, Fernandes (1999:10), define a amostra como sendo um subconjunto finito da
população, adverte-nos que, quando se torna certo número de elementos para averiguação
algo sobre a população a que pertencem fala-se de amostra, assim sendo, amostra é
definida como qualquer subconjunto do conjunto universal ou da população em estudo.

Assim, nesta pesquisa, seleccionou-se uma parte dos elementos da população alvo,
constituída por (10) elementos dos quais, (02) Líderes comunitários, (05) mães que
acolheram casos de união prematura e (03) ex-adolescentes que casaram prematuramente,
os quais relacionam-se intencionalmente com o objecto da pesquisa, seleccionados com
base em amostragem intencional ou por propósito. Não foi possível a aplicação do
questionário devido à natureza do problema pois muitas famílias naquele Distrito de
Zandamela, ao tomar conhecimento do carácter criminal das uniões prematuras, preferem
não tomar partido sobre o assunto, daí que optou-se pelo uso da revisão bibliográfica
como mecanismo de colecta de dados e informação.

3.5. Técnicas de Recolha de Dados

Neste trabalho, apresentamos como técnicas para a recolha de dados, a documentação


directa e indirecta. Para Marconi e Lakatos (2003),agrupa a documentação indirecta em
duas categorias: " a pesquisa documental e pesquisa bibliográfica". A pesquisa
documental considera as fontes primárias, isto é, documentos que recebera nenhum
tratamento científico, enquanto a pesquisa bibliográfica constitui fonte secundaria, que
recebera um tratamento analítico- científico (livros, artigos científicos e dissertações).

Na documentação directa encontramos a entrevista e o inquérito por questionário. O


inquérito por questionário foi administrado as raparigas do Distrito de Zandamela
escolhido com base em critérios pré definidas pelo autor. Para a realização da entrevista o
autor elaborou um guião com perguntas que exigia respostas mais aprofundadas por parte
dos entrevistados. A entrevista foi realizada de forma aberta, sem pré condições em locais
escolhidos pelos nossos interlocutores. Isto, permitiu que os interlocutores ficassem a

19
vontade. No que diz respeito a análise documental, a mesma baseou-se essencialmente na
leitura da lei da família e artigos científicos relacionados com a temática em estudo. Por
sua vez o inquérito será utilizado com a finalidade de recolher a opinião e preocupação
das raparigas que compõem o objecto de estudo no caso do Distrito da Zandamela.

3.5.1. Questionário

Para a recolha de dados a pesquisadora servir-se-á dos guiões de entrevista e questionário


dirigidos aos diferentes actores sociais relevantes ao Distrito da Zandamela,
principalmente Autoridade Comunitária, menores em situação de uniões prematuras bem
como os homens que estão em relações forçadas com as menores em causa e autoridades
policiais. Esta técnica vai permitir a recolha imediata e corrente de informações
desejadas, além de que vai possibilitar o tratamento de assuntos de natureza estritamente
pessoal, bem como termos complexos e de escolhas nitidamente individuais, permitindo
assim o aprofundamento de pontos levantados por outras técnicas na recolha de dados
para o alcance superficial.

3.5.2. Pesquisa Bibliográfica

Com vista à elaboração do presente estudo, recorreu-se a pesquisa bibliográfica como


uma fonte segura para a obtenção de informação relevante e segura a qual será
complementada pela análise documental, onde a pesquisadora irá consultar livros,
colectâneas de legislação e outros materiais disponíveis nas bibliotecas, livros, artigos
científicos e material disponibilizados nos sites da internet, nos quais vai se explorar
dados teóricos relacionados com o nosso estudo.

Segundo Gil (1989), refere que a pesquisa bibliográfica é desenvolvida desde o material
previamente elaborado, constituído geralmente de livros e artigos científicos. Ainda para
este autor, afirma que a pesquisa bibliográfica se utiliza essencialmente das contribuições
de vários autores sobre determinada questão.

3.5.3. Entrevista

A técnica de entrevista vai se operacionalizar no sentido de obter os elementos de


entrevistas, conforme ilustra a distribuição da amostra, dados relevantes sob ponto de
vista de objecto de pesquisa. Também, esta técnica será aplicada aos entrevistados através
de um guião de perguntas abertas de forma estruturadas para permitir colher informações
relevantes que possam conduzir ao alcance dos objectivos. Na concepção dos autores

20
Lakatos e Marconi (1996, p. 1959), na sua abordagem adverte-nos que a entrevista é um
encontro estabelecido entre dois ou mais indivíduos, cujo objectivo é estabelecer uma
conversa interagindo de forma a obter informações que visam dar resposta as questões
colocadas aos entrevistados.

3.6.Fiabilidade e Validade

Seja qual for o procedimento de recolha de dados que adoptar, devera sempre examina-lo
criticamente e ver até que ponto ele será fiável e valido. A fiabilidade de um teste ou de
outro processo de recolha de dados consiste na sua capacidade de fornecer resultados
semelhantes sob condições constantes em qualquer ocasião. Ao escrever sobre este tema,
levanta a seguinte questão:

 Será que quatro entrevistadores, utilizando os mesmos planos e processos,


obteriam resultados semelhantes?

Esta questão é legítima e deve apresentar a si próprio quando verificar os assuntos


abordados num inquérito ou entrevista. A validade é um conceito mais complexo. Diz-
nos se um método mede ou descreve o que supostamente deve medir ou descrever. Se um
método não é fiável, também não é válido, mas um método fiável não é necessariamente
válido.

21
CAPITULO IV

4. Análise e Discussão dos Resultados

Neste capítulo todos os instrumentos são relevantes para apreciação do problema da


nossa pesquisa onde iremos demonstrar o impacto das uniões prematuras na saúde e
nutrição, leis das uniões prematuras e suas relações de poder, definição, motivações e
influência da lei das uniões prematuras, o impacto das uniões prematuras na educação e a
pobreza nas suas múltiplas dimensões, aspectos jurídicos e políticos estratégicos
envolvidos no casamento prematuro, tendo referência a Convenção Internacional dos
Direitos da Criança, lei da família aprovada lei 22/2019 de 11 de Dezembro, e o Código
Civil. Não só como também iremos analisar e interpretar os resultados da pesquisa e sua
correcção como informação colectada através de fontes bibliográficas.

4.1. Identificação do Local de Pesquisa

O Distrito da Zandamela localiza-se na Região sul da Província de Inhambane a 78 Km


da Cidade de Maputo, a latitude de 25 24‟ sul e longitude 32 48‟ e possui os seguintes
pontos:

 Limita-se a Norte com o Distrito de Bilene (Província de Gaza),

4.2. A Pobreza Nas Suas Múltiplas Dimensões

A pobreza constitui o principal determinante no que diz respeito às uniões prematuras em


Moçambique. Alguns pais apoiam-se na ideia de suas filhas menores de 18 anos
deixarem de frequentar o ensino para se casarem, geralmente com um homem adulto,
muito mais velho, na expectativa de obter um rendimento para suas famílias, ter um
genro que aliviará as despesas, sendo um agregado familiar elas deixam de ir à escola
para assumir os seus novos papéis sociais, os de esposas.

Mas, no fim, o problema da pobreza não fica resolvido com essa união prematura Varela.
A pobreza multidimensional é medida combinando diferentes componentes do bem-estar
da população (metodologia de Alkire-Foster) em contraposição com outras medições da
pobreza do rendimento ou do consumo. Na medição da pobreza multidimensional,
considera-se o acesso a um conjunto de seis elementos mais estáveis:

22
 Pelo menos um membro do agregado familiar ter finalizado a escola primária
completa;
 Ter acesso à fonte de água segura;  Ter acesso a saneamento melhorado;
 Ter acesso à energia;
 A casa possuir cobertura com materiais convencionais;
 Posse de bens duráveis.

Considera-se pobre o agregado familiar privado de, pelo menos, 4 dos 6 indicadores
apresentados.

Gráfico 1: Evolução da taxa de pobreza multidimensional por província (2022- 2023)

Fonte: Feijó 2022. Economia Política da Pobreza

As províncias com os mais altos índices de pobreza (Zambézia, Tete, Cabo Delgado,
Nampula, Niassa e Manica) são, coincidentemente, aquelas onde se praticam ritos de
iniciação e, ao mesmo tempo, são as províncias com as mais altas taxas de uniões
prematuras e gravidez precoce.

Para Bagnol et al (2015), nas situações em que os esposos abandonam suas esposas
(menores), elas ficam com os bebés que resultam desse casamento, sob os cuidados de
avós, facto que implica grande insegurança, tanto para a mãe adolescente quanto para o
bebé, especialmente quando a família tem poucos recursos financeiros e é incapaz de

23
sustentá-los. Como refere o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, 2015),
no seu estudo “Casamento Prematuro e Gravidez na Adolescência em Moçambique:

4.3 Resumo de Análises.

O casamento prematuro é um dos problemas mais graves de desenvolvimento humano


em Moçambique, mas que ainda é largamente ignorado no âmbito dos desafios de
desenvolvimento que o país persegue – requerendo, por isso, uma maior atenção dos
decisores políticos.

Segundo a citação do PSAF (2014), com as outras pesquisas concluio que a pobreza é
uma das principais razões das uniões prematuras:

“Os casamentos [uniões prematuras], então, servem para


superar dificuldades económicas. A par disso, o relatório de pesquisa de 2014, do
Instituto Panos África Austral [PSAF] (2014), assinala que muitos estudos apontam a
pobreza como a principal causa da persistência do casamento precoce, reiterando que
muitas famílias [moçambicanas] não têm condições para sustentar os seus filhos [...]
enquanto as famílias lutam para dar o mínimo necessário para a criança, algumas
crianças envolvem-se em actividades de prostituição e outras juntam-se a homens
adultos na expectativa de obter ganhos económicos.”

4.4. O Impacto das Uniões Prematuras na Educação

As uniões prematuras têm dois efeitos directos na educação: o primeiro é o abandono


escolar e, o segundo, o fraco desempenho escolar da rapariga. Na Estratégia de Género do
Sector da Educação e Desenvolvimento Humano 2017- 2021, nota que à medida que as
raparigas crescem, os índices de desistência aumentam. Por exemplo, “entre 2017 e 2021,
a diferença entre rapazes e raparigas na 1ª classe foi de 2%, favorecendo aos rapazes e foi
subindo até 20% na 7ª classe.” (MINEDH 2015, p. 11).

O desempenho escolar é medido pelas taxas de aprovação, desistência e repetência


conforme se apresenta na tabela 1 (desempenho escolar:

Aprovação/desistência/repetência).

24
Tabela 1: Desempenho escolar: aprovação/desistência/repetência

Taxas Sexo Ensino Primário Ensino Secundário


Taxa de 2019 2020 2021 2022 2023 2019 2020 2021 2022 2023
Aprovaçã
o F 80,7 81,0 82,0 83,3 83,5 63,5 62,7 62,2 66,7 68,1

M/F 80,1 80,5 81,5 82,8 83,1 64,1 63,3 63,4 67,4 67,4

Taxa de M/F 8,4 8,0 7,8 7.1 7.1 8.4 10,6 84,4 8,3 7,8
Desistênc
ia
M/F 9,0 8,5 8,2 7,4 7,4 8,2 10,3 8,5 7,8 6,9
Taxa de 7,1 Sem 7,2 6,0 13,3 13,8 13,6 14,7 12,7 12,9 13,4
repetênci info
a
M/F Sem 7,5 6,9 6,4 13,0 13,8 13,6 14,5 12,5
info.

Fonte: Adaptado do MINEDH 2015 F – Feminino M – Masculino

Elevadas taxas de desistências das raparigas no período em análise. Em termos de


tendência, notase uma lentidão na redução das taxas de desistências de raparigas no
ensino primário, ao passo que, no ensino secundário, se verificou uma subida.

Estes dados indicam um crescente nível de desistências de raparigas à medida que


passam à adolescência, geralmente entre os últimos anos do ensino primário e os
primeiros anos do ensino secundário. Esse período é coincidente com aquele em que
se registam maiores números de uniões prematuras.

Em termos de impacto, nos dizeres do Ministério da Educação e Desenvolvimento


Humano (MINEDH).
25
“As alunas, quando não concluem o nível básico, estão vedadas a
continuarem em outros níveis subsequentes ficando, deste modo,
excluídas do meio tecnológico, bem como do mercado de emprego,
complicando, deste modo, a sua participação nas actividades do
desenvolvimento individual e do país”. (MINEDH 2015: p.12).

Considerando que somente em 2017, perto de 3.000 raparigas abandonaram a escola


por causa da gravidez precoce, conforme dados do (MINEDH), e tendo em conta que
Moçambique gasta US$ 163.005, por ano, por cada aluno do ensino primário,
chegamos à conclusão de que somente em 2017, o Estado perdeu US$ 489.000,00
(Quatrocentos e oitenta e nove mil dólares norte- americanos), o equivalente a
29.430.0006. Por outras palavras, sem abandono escolar da rapariga, o Estado teria
poupado perto de 30 milhões de meticais, em 2017, somente no subsector do ensino
primário.

Um estudo realizado na província da Zambézia (As barreiras à educação da rapariga


no ensino primário, concluiu que 30% dos casos de abandono escolar das raparigas são
devidos a uniões prematuras e gravidezes precoces, na opinião dos encarregados de
educação entrevistados, Bagnol et al. (2015).

4.5. Influência da Lei das Uniões Prematuras

Na análise de bibliografia e documentação de referência foram identificadas duas


grandes abordagens teórico-metodológica consideradas úteis para o entendimento das
leis das uniões prematuras:

• A primeira analisa o grau de implementação das recomendações da Convenção


Internacional dos Direitos da Criança a partir da análise culturalista e estrutural
funcionalista da criança como categoria social; e a
• Segunda analisa o grau de implementação das convenções internacionais e do
estabelecido no ordenamento jurídico-legal, atinente à promoção dos direitos
da criança, estes autores fazem referência a factores socioculturais para
explicar os constrangimentos enfrentados pelos actores que militam na área da
protecção e autores cúmplices dos direitos da criança.

26
Barros e Taju: Sustentam que:

A ideia de que a condição da criança, em termos do exercício dos seus


direitos, obrigações e direitos reflecte os papéis funcionais ou
competências culturais prescritas e esperadas pela sociedade refere-se
a um ser imaturo que precisa ser preparado para a vida adulta,
prevalece criando condições para a exploração da noção das leis
uniões prematuras.
Esta perspectiva permite afirmar que as leis das uniões prematuras são fundamentados
pelo processo de socialização, na perspectiva Durkheim, que aborda a infância como
espaço social de preparação do indivíduo para a vida adulta. Neste espaço, estão
sempre presentes interesses políticos estratégicos das estruturas familiares que
asseguram a organização das mesmas e sua relação com o meio exterior.

Por isso, a partir da compreensão das lógicas que determinam o lugar onde a criança
ocupa na estrutura familiar e o seu espaço de actuação torna-se, a nosso ver, fácil
compreender os factores que tornam as leis das uniões prematuras um fenómeno que
ocorre em regiões específicas do país com impacto severo na qualidade de vida da
população feminina das zonas rurais.

Os autores consultados que abordam a infância como uma das áreas de estudos sociais
não consideram existir uma infância/criança universal. Por isso, tendo consciência da
não existência de um conceito Universal de criança/infância.

Estes autores afirmam que, os papéis e espaços sociais de actuação das crianças são
determinados em função das referências culturais do grupo no qual estas se encontram
inseridas. Esse posicionamento remete-nos à discussão sobre a capacidade que as
crianças têm para negociar seus interesses nos espaços que lhes são socialmente
prescritos.

O ponto de pesquisa para a delimitação da noção da lei das uniões prematuras passa
pela harmonização do conceito criança. Sendo uma categoria social importante no
processo de produção e reprodução de valores, normas e práticas culturais, a criança,
conceitualmente apreendida e compreendida é vivenciada de maneira diversificada em
função das representações e lógicas de vida dos grupos nos quais ela se encontra
inserida.

27
Sendo que a lei das uniões prematuras constituem um fenómeno caracterizado pelo
casamento tradicional entre indivíduos adultos do sexo masculino e raparigas na
adolescência e pré- adolescência, que vivem em contextos socioculturais específicos.

4.6. Leis das Uniões Prematuras e suas Relações de Poder

As uniões prematuras ainda não constituem objecto de estudo de pesquisas feministas


em Moçambique, ele é abordado integrado pesquisas sobre relações de género e poder
de forma abrangente onde este é apresentado como um dos factores que limitam os
direitos humanos da mulher.

As contribuições trazidas pelos “estudos feministas”, ao analisarem a violência e


abuso sexual contra mulher, permitem enquadrar as uniões prematuras como reflexo
das relações desiguais de poder e dominação entre homens e mulheres nas sociedades
de ideologia patriarcal. Foi referido, anteriormente que as crianças, categoria social, é
considerada um ser subalterno que ocupa um lugar específico na estrutura da família e
da comunidade.

Ao analisar o grau de aplicabilidade dos direitos humanos e das mulheres, considera as


dificuldades interpretação, aplicação e promoção dos direitos humanos das mulheres
têm origem no facto da Declaração Universal dos Direitos Humanos ter sido instituída
com base em modelo patriarcal como é o caso de todas as formas de violência
exercidas no âmbito da família explicadas do ponto de vista da tradição cultural e do
respeito à privacidade.

Nesta perspectiva, as uniões prematuras são entendidas como forma de violência da


rapariga, com efeitos directos no exercício da sua saúde sexual e reprodutiva. Deste
modo, pode-se abordar as uniões prematuras no âmbito da protecção dos direitos
Humanos das mulheres, ainda que este artigo verse sobre os direitos da rapariga.

Na abordagem de Osório (2015).

“Destaca-se o facto de esta considerar que na Declaração Universal


dos Direitos Humanos, a privacidade ser concebida como um campo de
não intervenção do Estado, por isso, passível de ser regulada por
práticas e valores sociais em conflito com o público”.

28
Segundo Arnaldo (2007).

"A privacidade, passa a ser um valor referente ao grupo que é


orientado por padrões masculinos que determinam e legitimam a
discriminação das mulheres nas relações sociais que estabeleçam."

Para Marchi (2008).

"Acrescido à discriminação da mulher, está o facto de a criança


ocupar um lugar paralelo na estrutura familiar justificado pelo facto
de não ser ainda considerada membro efectivo do grupo familiar a que
pertence."
Em suma, a rapariga, como mulher e criança é duplamente discriminada. Como
criança, ela não existe socialmente e, como mulher ocupa uma posição subalterna na
estrutura familiar. Por isso, considera-se que as uniões prematuras são o reflexo da sua
dupla subalternidade (Criança /rapariga).

Por outro lado, sendo as leis das uniões prematuras o marco de ingresso na vida adulta
que legitima os laços de pertença ao grupo familiar e comunidade, torna-se possível
apoiarmo-nos nos autores dos estudos feministas para afirmar que o casamento
prematuro constitui fenómeno que se desenvolve directamente ligado ao processo de
construção da identidade feminina que salienta a subalternização da mulher. Isto pelo
facto de esta ser mulher, e da rapariga pelo facto de ser
“criança”.

Segundo Osório: “Como ocorre entre as mulheres adultas, as humilhações públicas


tendem a atingir as vítimas como reflexo das normas social e culturalmente

29
estabelecidas na sociedade”. Neste âmbito, considera-se que as raparigas dispõem de
espaço e instrumentos limitados e aceites para se protegerem das uniões prematuras.

4.7. O Impacto das Uniões Prematuras na Saúde e Nutrição

O impacto directo das uniões prematuras na saúde é o surgimento e aumento de casos


de fístulas obstétricas. O Ministério da Saúde, na “Estratégia Nacional da Prevenção e
Tratamento das Fístulas

Obstétricas em Moçambique”, descreve as doentes da fístula nos seguintes termos:

“Estas mulheres são muito jovens, pobres, com baixa escolaridade,


algumas delas no início da sua adolescência, que enfrentaram um
casamento e gravidez prematuros, e que por viverem em zonas e
periurbanas muito distantes de uma unidade sanitária que possa
oferecer Cuidados Obstétricos de Emergência, ou por não terem tido
acesso a transporte, desenvolveram um trabalho de parto arrastado
com o consequente desenvolvimento da Fístula Obstétrica (FO), vesico
ou retovaginal” (MISAU 2012).

As estimativas indicam que todos os anos ocorrem, em Moçambique, cerca de 2.000


novos casos de fístula obstétrica. A partir do ano de 2010, os novos casos de fístula
obstétrica ocorrem, na sua maioria, em raparigas e mulheres jovens (MISAU 2018).

 Como reverter o drama das uniões prematuras?

A Curto Prazo: Advogar por uma reforma legal. A idade legal para o casamento é 18
anos segundo a Lei da Família (Lei 10/2004) e a Lei de Promoção e Protecção dos
Direitos da Criança (Lei 7/2008).

No entanto, existe uma lacuna nesta legislação, permitindo o casamento aos 16 anos
com o consentimento dos pais (ironicamente com nenhuma menção do consentimento
da criança). Uma vez que a maioria destas uniões prematuras resulta de acordos
familiares, a actual legislação acaba conferindo cobertura legal ao casamento de
crianças que tenham a idade de 16 anos (UNICEF 2015).

30
Por esta razão, a CECAP, em colaboração com a 3.ª Comissão da Assembleia da
República, elaborou uma proposta de Lei de Prevenção e Combate às Uniões
Prematuras.

Na fundamentação, pode-se ler:

“O Projecto baseia-se na ideia de que o combate às uniões


prematuras, enquanto prioridade nacional e regional, só poderá
produzir resultados se for adoptada uma lei que introduza, reafirme e
cristalize os princípios que privilegiam a protecção dos interesses e
direitos da criança, numa perspectiva de direitos humanos. Assim
sendo, a referida Lei deve estabelecer proibições claras no domínio das
uniões prematuras, determinar as consequências civis da violação
dessas injunções e definir mecanismos e procedimentos expeditos para
sancioná- las.”
Espera-se que a Assembleia da República discuta e aprove essa lei com a maior
urgência necessária de modo que o país consiga:

• Proibir as uniões com ou entre crianças;

• Adoptar medidas para fazer cessar uniões prematuras já existentes; e

• Definir critérios de protecção de direitos adquiridos pela criança em situação


de união prematura e seus eventuais filhos, tal como consta dos objectivos do
referido projecto de lei.

Além de advogar por uma lei específica contra as uniões prematuras, seria interessante
divulgar e monitorar outras leis e programas ligados à protecção dos direitos sexuais e
reprodutivos de jovens e adolescentes.

A Médio Prazo: Manter as raparigas na escola. É crucial que a escola e o casamento


sejam mutuamente exclusivos, embora medidas possam e devam ser tomadas para
proporcionar oportunidades para que as raparigas já casadas voltem à escola.

A baixa qualidade da educação, leva alunos (tanto rapazes como raparigas), a


abandonarem e não completarem o ensino, portanto, aumentar a qualidade da
educação é uma estratégia-chave para manter as raparigas na escola (UNICEF 2015).

31
Promover o empoderamento económico da mulher. As raparigas e suas famílias
precisam de melhorar as suas perspectivas económicas. Somente quando as famílias e
as raparigas poderem colher os benefícios económicos do investimento na sua
educação, através de um maior poder aquisitivo na vida adulta, é que as famílias e as
próprias raparigas poderão visualizar o investimento na educação como um incentivo
muito forte para atrasar a idade de casamento. As transferências monetárias também
podem jogar um papel importante na redução das pressões económicas dos agregados
familiares que influenciam a ocorrência dos casamentos prematuros (UNICEF 2015).

A Longo Prazo: Influenciar mudança sociocultural. Poucos progressos serão feitos


para a eliminação das uniões prematuras a menos que as normas culturais que
fomentam e promovem os casamentos prematuros sejam mudadas.

O casamento é uma instituição moldada pelas atitudes sociais e, por isso, provocar
mudanças para que o casamento ocorra mais tarde através de intervenções com foco
em famílias individuais, não é susceptível de provocar alterações de atitudes e
comportamentos ao nível mais amplo da comunidade.

O trabalho com os líderes tradicionais, igrejas e mesquitas, assim como com as


raparigas que se encontram no comando dos ritos de iniciação, é crucial para transmitir
os benefícios de se retardar o casamento. Isto para comunicação social e das redes
sociais (Facebook, WhatsApp e Twitter),incluindo as rádios comunitárias
(UNICEF2015).

32
CAPÍTULO V 5. Conclusões, Recomendações e Limitações

5.1. Conclusões

De um modo geral a situação das uniões prematuras tem de ser tratada como uma
emergência nacional, um desastre socioeconómico que assola o país com consequências
graves, hoje e pior amanhã. Conhecida a cadeia dos efeitos negativos que resultam das
uniões prematuras, nomeadamente, a gravidez precoce, as fístulas obstétricas, o abandono
escolar pelas raparigas e a desnutrição crónica, é inaceitável o país continuar a fracassar
no combate a este flagelo.

Os factores que propiciam as uniões prematuras estão amplamente documentados


incluindo neste estudo: A estrutura cultural patriarcal; determinados conteúdos,
modalidades e finalidades dos ritos de iniciação; a pobreza, factores que podem ser
revertidos, bastando para tal que o poder político assuma a gravidade do problema.

Por que é que o poder político não assume tal gravidade do problema? Por falta de
vontade política, informaram várias pessoas consultadas no decurso deste estudo. Ora,
como é que se cria vontade política? Só pela via da pressão social.

Os governantes priorizam as questões do interesse de quem mais os pressiona, seja por


via financeira (quem financia campanhas eleitorais), seja por via política (quem decide
quem vai governar, por via do seu voto). Então, as organizações da sociedade civil estão
em boa posição de obrigar o poder político a ter „vontade política‟ de resolver o
problema das uniões prematuras.

33
Contudo, os objectivos pelos quais se norteou a presente pesquisa pressupõem-se que
tenham sido alcançados, as hipóteses foram confirmadas para o pleno entendimento de
que uniões prematuras são criminalizáveis.

O trabalho com os líderes tradicionais, igrejas e mesquitas, assim como com as raparigas
que se encontram no comando dos ritos de iniciação, é crucial para transmitir os
benefícios de se retardar o casamento. Sendo que a lei das uniões prematuras constituem
um fenómeno caracterizado pelo casamento tradicional entre indivíduos adultos do sexo
masculino e raparigas na adolescência e préadolescência, que vivem em contextos
socioculturais específicos.

O ponto de pesquisa para a delimitação da noção da lei das uniões prematuras passa pela
harmonização do conceito criança. Sendo uma categoria social importante no processo de
produção e reprodução de valores, normas e práticas culturais, a criança, conceitualmente
apreendida e compreendida é vivenciada de maneira diversificada em função das
representações e lógicas de vida dos grupos nos quais ela se encontra inserida.

Reconhecendo esse facto, o Governo de Moçambique destaca como acção necessária


para a redução das uniões prematuras “o empoderamento das raparigas com informação,
habilidades e redes de apoio para aumentar os conhecimentos sobre si próprios, o mundo
que as rodeia e que sejam capazes de tomar decisões sobre as suas vidas.

34
5.2. Recomendações da Pesquisa

Perante esta situação, a pesquisa recomenda:

 Enquadrar o problema das uniões prematuras no topo da agenda de


desenvolvimento do país, tendo em conta que se trata de uma emergência nacional
que emperra o desenvolvimento socioeconómico de Moçambique;
 Integrar o espírito e a letra da lei nas acções de fiscalização juntos dos círculos
eleitorais.
 Deve haver campanhas de sensibilização da comunidade no Distrito da Manhiça,
para que esta possa denunciar casos de uniões prematuras que ocorrem naquele
local.
 Promover a implementação de programas que visam promover os direitos de
saúde sexual reprodutiva (DSSR);
 Intervenção das autoridades Policiais os órgãos de administração da Justiça com
vista a impulsionar o combate às uniões prematuras no Distrito da Manhiça.
 Consciencialização de todos actores sociais para uma mudança de atitude com
relação ao
 papel da criança em especial a rapariga como um sujeito de direitos;
 Fortalecer a acção da CECAP por via de angariação de mais membros, mais
recursos financeiros de modo a consolidar o trabalho realizado e em curso, bem
como criar condições para intervenções mais amplas nos próximos tempos.
5.3. Limitações da Pesquisa
A presente pesquisa ao longo da sua execução deparou-se com as seguintes limitações:

35
 Escassez de fontes primária e secundárias como, Livros que versam sobre a
questão de uniões prematuras devido ao próprio conceito que se confunde com
casamento prematuro.
 Recusa das comunidades em fornecer elementos substantivos que possam
contribuir para a compreensão da magnitude da situação sobre lei das uniões
prematuras e do papel que cada um tem no seu combate.
 Limitação da abordagem jurídico e criminal das uniões prematuras.
 Não foi possível mapear as menores que se encontram na situação de união
prematuras, de modo a colher o entendimento destas no que diz respeito à
natureza criminal dos seus actos de acordo com a lei vigente em Moçambique.

6. Referências bibliográficas

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Moçambique, Maputo.

39
República de Moçambique (2009) Constituição da República de Moçambique. Escolar
Editora, Editores e Livreiros, Lda. Maputo.

ANEXOS

40
TRABALHO DO CAMPO

Até que ponto a lei das uniões prematuras garante a protecção dos direitos humanos
penalizando os seus actores, cúmplice no ordenamento jurídico moçambicano: Caso
Distrito de Zandamela (2022-2023).

Questionário para Inquérito


Parte I
O seguinte questionário destina-se apenas para efeitos de pesquisa sobre a Lei das Uniões
Prematuras. Não visa incriminar ou comprometer os inquiridos, por isso não será
obrigatório a colocação do nome do inquirido. Como se chama?
1.1. Idade---------, Género:…….

Posição que ocupa na tua unidade ou bairro: (Assinalar com X apenas uma alternativa)
2.1.Cidadão comum------------ (sem cargo de chefia) ------------------:
Parte II

Responde as questões que se seguem, nos espaços reservados para o efeito. Em alguns
casos assinale a opção ou opções que julgar correctas:
Usando palavras tuas, o que entendes por Lei das Uniões Prematuras?
R:
………………………………………………………………………………………………
………………

41
Será que há Lei das Uniões Prematuras no Distrito da Manhiça? Assinale com X apenas
uma alternativa: Sim-
----- Não-----
a) No caso de sim, qual é o papel desenvolvido pela comunidade para a redução deste mal
no Distrito de Zandamela?
………………………………………………………………………………………………
………………………………………………………………………………………………
…………………………………………

Como é que tem sido tratado os casos de Uniões Prematuras no Distrito de Zandamela?

………………………………………………………………………………………………
………………………………………………………………………………………………
………………………...

Quem são as pessoas mais abrangidas ou violentadas?


………………………………………………………………………………………………
………………………………………………………………………………………………
………………………..

Pela tua ideia, os casos de Uniões prematuras tem aumentado, diminuindo ou nada muda
nos últimos dias?

Sim Não

No caso de sim ou não, Justifique a tua resposta:

………………………………………………………………………………………………
……………………………………………………………..
……………………………………………………........

Quais são as dificuldades que se tem passado no teu bairro ou unidade para tratar ou
mitigar casos das Leis de Uniões Prematuras?

………………………………………………………………………………………………
………………………………………………………………………………………………
………………………..

42
Como tem sido a convivência entre as pessoas vítimas de Uniões prematuras, e os
violentadores?

………………………………………………………………………………………………
……………………………………………..
…………………………………………………………………………

TRABALHO DO CAMPO

 Até que ponto a lei das uniões prematuras garante a protecção dos direitos
humanos penalizando os seus actores, cúmplice no ordenamento jurídico
moçambicano: Caso Distrito da Manhiça (2020-2021).

PRIMEIRO INQUERIDO

1. António Rodrigues Cuna de 65 anos de idade, sexo masculino, secretário do bairro 3


Chécua.
Parte II

2. Usando palavras tuas, o que entendes por Lei das Uniões Prematuras?

Este respondeu que é o grau de implementação das convenções internacionais e do


estabelecido no ordenamento jurídico-legal, atinente à promoção dos direitos da
criança, sendo união de duas pessoas de sexos diferentes e com uma idade inferior a 18
anos sem consentimento dos pais.

3. Será que há uniões Prematuras no Distrito da Manhiça? Assinale com X apenas uma
alternativa:

Sim------ Não-----

43
Este respondeu sim,

4. No caso de sim, qual é o papel desenvolvido pela comunidade para a redução deste
mal no Posto Administrativo de Calanga?
Respondeu que depende da entrega das famílias vitimas se aproximarem a nós como
estrutura sempre apelamos que entre eles haja entendimento e quando houver ou
persistir desentendimento, apelamos a família da menina para ir queixar a policia.

5. Como é que tem sido tratado os casos de Uniões prematuras no posto


Administrativo de Calanga ou seja onde são resolvidos?
Respondeu que tratamos primeiro familiarmente onde os familiares do menino sempre
consideram culpados, eles devem garantir o cumprimento de todas as regras da casa da
menina e devem garantir que o casamento seja definitivo e quando houver
incumprimento obrigamos os familiares da menina para ir a policia.

6. Quais tem sido as consequências mais destacadas de Uniões Prematuras no Posto


Administrativo de Calanga? Respondeu que Marginalidade das raparigas, sufoco
do rapaz e da menina, dificuldades no parto e a pobreza.

7. Quem são as pessoas mais abrangidas ou violentadas?

Respondeu que são as raparigas, são casos raros em que atendemos um menino menor
de idade a unir-se com uma mulher maior de idade, nunca tivemos esses casos.

8. Quem são as pessoas mais abrangidas ou violentadas?


Respondeu que são as raparigas, são casos raros em que atendemos um menino menor
de idade a unir-se com uma mulher maior deidade, nunca tivemos esses casos

9. Quais são as dificuldades que se tem passado no teu bairro ou unidade para tratar ou
mitigar casos das Leis das Uniões Prematuras?
Respondeu que há muito desprezo por parte das raparigas assim como os rapazes
quando nós como estrutura falamos com eles não entendem nada só quando fala-se da
Policia é quando ouvem um pouco e para os pais ou progenitores dos ambos também há

44
problemas por que caso houver uma união prematura onde houve consentimento entre
os pais e o casal de menores, ai a estrutura não tem como intervir porque esses casos
não são denunciados e quando nòs intervimos dizem que somos odiosos não esperamos
sermos chamados porquê?
10. Como tem sido a convivência entre as pessoas vítimas de Uniões Prematuras, e os
violentadores?
Respondeu que caso houver entendimento no tratamento de casos a convivência tem
sido boa e caso a contrario não.

Figura 1.Reunião de sensibilização as famílias acerca das uniões prematuras junto as


autoridades policiais.

45
46
Figura 2. Reunião com as famílias que instam as uniões prematuras.

Figura 3. Comunidade reunida com objectivo de falar das desvantagens das uniões
prematuras as raparigas.

Cronologia de Actividades

1 Envio do tema e problema 20 De Janeiro de 2024

2 Envio da introdução 25 De Janeiro de 2024


3 Envio da revisão da literatura 27 De Janeiro de 2024
4 Envio de instrumentos de recolha de dados 30 De Janeiro de 2024
5 Envio da metodologia 4 De Fevereiro de 2024
6 Envio da análise e discussão de resultados 7 De Fevereiro de 20204
7 Envio das conclusões e recomendações 10 De Fevereiro de 2024
8 Envio das referências bibliográficas 13 De Fevereiro de 2024
9 Envio dos elementos pré e pós textuais 17 De Fevereiro de 2024
10 Envio da versão final 20 De Fevereiro de 2024

47
48

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