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rodada 1

Direito Constitucional, Direito Processual


Penal e Medicina Legal
RODADA 1

pcpr2020
DELEGADO DE POLÍCIA

Material: Direito Constitucional, Direito Processual Penal e Medicina Legal

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OBSERVAÇÕES INICIAIS

OLÁ, AMIGO(A) DELEGADO(A), a caminhada para o desafio aos que vencerão no Paraná
começa aqui.

Chegou a hora de adentramos em uma leitura mais direcionada ao que interessa ser
revisado com maior cuidado.

Essa é a rodada 01, onde selecionamos três disciplinas importantíssimas: Direito Consti-
tucional, Direito Processual Penal e Medicina Legal (um diferencial no estudo para nossa
carreira).

Conforme dito na aula sobre planejamento de estudo, a leitura completa da rodada é o


mínimo (além da lei seca) que você deve realizar semanalmente.

Acompanhe a evolução do curso no mural de recados e fique ligado na nossa seção de


materiais.

Além disso, é muito importante para nossa equipe que não deixe de avaliar os materiais
e as videoaaulas, esse feedback é essencial para nosso trabalho.

Faça a sua parte e estude com dedicação! O melhor resultado vem logo mais.

“O sucesso é a soma de pequenos esforços - repetidos dia sim,


e no outro dia também.”

(Robert Collier)

Atenciosamente,
Equipe Mege.
SUMÁRIO
PARTE I............................................................................................................................................. 6
DOUTRINA.................................................................................................................................................. 6
CONCEITO, OBJETO DE CONSTITUIÇÃO E NATUREZA........................................................................... 6
PERSPECTIVAS DO DIREITO CONSTITUCIONAL...................................................................................... 8
FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL................................................................................................. 9
CONSTITUIÇÃO: SENTIDO SOCIOLÓGICO; SENTIDO POLÍTICO; SENTIDO JURÍDICO........................ 9
SENTIDOS (CONCEPÇÕES/ACEPÇÕES).................................................................................................... 9
SOCIOLÓGICO (FERDINAND LASSALLE) – “O QUE É UMA CONSTITUIÇÃO”........................................ 9
EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS........................................................27
APLICABILIDADE E EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS........................................................27
CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM JOSÉ AFONSO DA SILVA..............................................................30
PODER CONSTITUINTE............................................................................................................................33
PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO (PCO)...........................................................................................34
PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE................................................................................38
PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR..............................................................................41
PODER CONSTITUINTE DERIVADO REVISOR.........................................................................................48
PODER CONSTITUINTE DIFUSO..............................................................................................................49
PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL.............................................................................................49

PARTE II.......................................................................................................................................... 50
DIREITO PROCESSUAL PENAL.................................................................................................................50
DOUTRINA................................................................................................................................................ 50
04
INQUÉRITO POLICIAL...............................................................................................................................50
CONCEITO................................................................................................................................................. 50
NATUREZA JURÍDICA................................................................................................................................50
FINALIDADE.............................................................................................................................................. 50
POLÍCIA JUDICIÁRIA X POLÍCIA ADMINISTRATIVA................................................................................51
VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL...................................................................................52
CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL........................................................................................54
NOTICIA DO CRIME (NOTITIA CRIMINIS)...............................................................................................57
FORMAS DE INSTAURAÇÃO....................................................................................................................58
INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONA-
DA............................................................................................................................................... 59
INVESTIGAÇÃO CONTRA AUTORIDADE COM FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO..................60
DIILIGÊNCIAS INVESTIGATÓRIAS............................................................................................................61
DILIGÊNCIAS INVESTIGATÓRIAS REQUERIDAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO....................................67
PRAZOS..................................................................................................................................................... 67
RELATÓRIO DA AUTORIDADE POLICIAL................................................................................................68
DESTINO DO INQUÉRITO POLICIAL.......................................................................................................69
INDICIAMENTO.........................................................................................................................................70
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO INQUÉRITO POLICIAL....................................71
ARQUIVAMENTO DO INQÚERITO POLICIAL..........................................................................................72
ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (ANPP)...................................................................................74
ATRIBUIÇÃO PARA O INQUÉRITO POLICIAL..........................................................................................79
TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA.....................................................................................80

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OUTROS PROCEDIMENTOS INVESTIGATÓRIOS...................................................................................80
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL CONDUZIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO...............................................82
CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO MP...................................................................82
JUIZ DAS GARANTIAS...............................................................................................................................83
QUESTÕES................................................................................................................................................. 88

PARTE III....................................................................................................................................... 100


MEDICINA LEGAL....................................................................................................................................100
CONCEITO E DIVISÃO DA MEDICINA LEGAL.......................................................................................100
PERÍCIA E PERITOS.................................................................................................................................101
CONCEITO DE PERÍCIA, CORPO DE DELITO........................................................................................102
DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS..........................................................................................................103
TIPOS DE DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS.........................................................................................103
LEGISLAÇÃO APLICADA À PERÍCIA.......................................................................................................105
QUESTÕES...............................................................................................................................................110
IDENTIDADE, RECONHECIMENTO E IDENTIFICAÇÃO........................................................................119
MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO.............................................................................................................120
IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL..........................................................................................................121
ESPÉCIE...................................................................................................................................................122
RAÇA:.......................................................................................................................................................124
SEXO:.......................................................................................................................................................128
ESTATURA:..............................................................................................................................................132
IDADE.......................................................................................................................................................132
05
IDENTIFICAÇÃO JUDICIÁRIA OU POLICIAL:..........................................................................................133
MÉTODOS ANTIGOS..............................................................................................................................133
SISTEMA ANTROPOMÉTRICO DE BERTILLON.....................................................................................133
PAPILOSCOPIA........................................................................................................................................134
SISTEMA DACTILOSCÓPICO DE VUCETICH.........................................................................................135
POROSCOPIA:.........................................................................................................................................138
GENÉTICA................................................................................................................................................138
IDENTIFICAÇÃO ODONTOLEGAL..........................................................................................................140
QUESTÕES...............................................................................................................................................142

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PARTE I
DOUTRINA

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO CONSTITUCIONAL: NATUREZA; CONCEITO E OBJETO; PERSPECTIVA SOCIOLÓ-


GICA; PERSPECTIVA POLÍTICA; PERSPECTIVA JURÍDICA; FONTES FORMAIS; CONCEPÇÃO
POSITIVA.

ATENÇÃO: Uma última prova de Delegado Paraná não caiu questão sobre o tema.

Em análise aos últimos 10 anos de provas de Delegado de Polícia, o tema não foi
cobrado de forma específica. No entanto, por ser um tema introdutório ao Direito Consti-
tucional, pode ser cobrado em conjunto com qualquer outro tópico do edital.

Em análise aos 15 últimos editais e provas realizadas pela Banca NC- UFPR, este
tópico foi cobrado em conjunto com classificações das Constituições em uma prova.

06

CONCEITO, OBJETO DE CONSTITUIÇÃO E NATUREZA

O Direito Constitucional é um ramo do Direito Público, destacado por ser funda-


mental à organização e funcionamento do Estado, à articulação dos elementos primários
do mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura política.

Consiste num diploma legal que estabelece os direitos, as garantias e os deveres


dos cidadãos, além de determinar as competências relativas à edição de normas jurídi-
cas, legislativas ou administrativas. Assim sendo, em sentido material, pode-se conceituar
um texto constitucional como um conjunto de princípios que expressam concepções
decorrentes de valores morais, sociais, culturais e históricos, que asseguram os direitos
dos cidadãos e condicionam o exercício do poder.

Ademais, é uma Lei fundamental do Estado, que visa organizar os seus elementos
constitutivos, como:

Î a formação dos poderes.


Î as formas de Estado e de governo.
Î a separação de poderes
Î as limitações ao exercício do poder político (supremacia constitucional).

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Tem por objeto a constituição política do Estado, no sentido amplo de estabelecer
sua estrutura, a organização de suas instituições e órgãos, o modo de aquisição e limita-
ção do poder, através, inclusive, da previsão de diversos direitos e garantias fundamentais.

No que se refere à natureza, a doutrina traz o sentido científico e o sentido normativo.

No sentido científico, o direito constitucional é ramo do direito público (interno),


pois cuida de relações jurídicas que envolvem a figura do Estado. No Brasil, país que
adota a constituição prolixa, o direito constitucional expande-se também às relações pri-
vadas. Trata-se da constitucionalização do direito privado, que se materializa em especial,
por meio da disciplina constitucional de institutos do direito privado (casamento, família);
da interpretação conforme a constituição de disposições referentes ao direito privado e
de teorias e decisões a defender a eficácia horizontal dos direitos fundamentais no âmbi-
to das relações privadas.

No sentido normativo, os preceitos constitucionais (regras e princípios) apresentam


características básicas, tais como supremacia constitucional, maior abertura semântica,
caráter político e transversalidade.

A supremacia constitucional traz que as normas devem ser organizadas e interpre-


tadas conforme as normas constitucionais em vigor.
07
Através da maior abertura semântica, os preceitos constitucionais passam a serem
formulados de forma a atribuir mais sentidos, o que favorece uma evolução interpretativa.

Os valores políticos influenciam na interpretação de constitucional e na resolução


de problemas, colocando a Constituição como uma espécie de estatuto jurídico do poder
político.

E, por fim, a transversalidade que traduz o entendimento de que o direito Cons-


titucional que está no ápice do sistema jurídico, deve ter um caráter dialógico (dialogar
com outras ciências) para poder estabelecer as opções dogmáticas para toda a sociedade
nacional (tem que ter um intertexto aberto).

COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM PROVA?

(NC-UFPR ADVOGADO – 2019) A Teoria da Constituição é um segmento importante


dentro do conhecimento jurídico, vez que determina a compreensão do modelo
constitucional, com uma série de consequências normativas conforme o padrão
que se adote em determinado país. A partir do exposto, assinale a alternativa correta.

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a) Constituição costumeira é aquela que, mesmo existindo um texto constitucional
expresso, é derrogada pelos costumes praticados pelas instituições políticas.

b) Por supremacia da Constituição entende-se a concepção de que as normas


constitucionais encontram-se acima de todo o restante do ordenamento jurídico,
influenciando sua interpretação e concretização.

c) O bloco de constitucionalidade, formado pelos Tratados de Direito Internacional


de Direitos Humanos, possui o condão de revogar normas constitucionais.

d) Constituições rígidas são aquelas em que há impossibilidade ou maior dificul-


dade de alteração do conteúdo normativo; constituições flexíveis, por sua vez, são
aquelas em que, apesar da existência do texto constitucional expresso, os dispositi-
vos podem ser flexibilizados mediante interpretação da Corte Superior.

e) O conteúdo das constituições, considerado o parâmetro teórico mais recente,


deve-se pautar por normas mais objetivas, descartadas normas programáticas de
direitos sociais.

RESPOSTA: B 08

PERSPECTIVAS DO DIREITO CONSTITUCIONAL

Não se ponde confundir as “perspectivas” com as “concepções” de Constituição.

Perspectiva sociológica. Constituição e sociedade formam uma relação circular,


de influência recíproca constantemente atualizada pelo constituinte. Desta maneira, tal
como a evolução cotidiana é capaz de remoldar o Texto Constitucional, também impõe a
Lei Maior padrões de comportamento, seja para os particulares em geral, seja com maior
razão para os agentes públicos e políticos.

Perspectiva política. Toda Lei Fundamental é elaborada por um agente político


democraticamente eleito para tal (tratando-se de Constituição promulgada).

Perspectiva jurídica. A ideia de supremacia da Constituição, notadamente formal,


possibilita o controle de constitucionalidade repressivo, feito pela via judicial, seja em
sua forma difusa, seja em sua forma abstrata. Em ambos os casos, competirá ao Poder
Judiciário garantir a manutenção da ordem constitucional contida nos preceitos da Lei
Fundamental.

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FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL

As fontes podem ser materiais e formais. As fontes materiais são a origem e o


manancial sociológico do direito constitucional, isto é, os elementos fáticos que condu-
zem à criação de uma Lei Fundamental; já as fontes formais são o manancial normativo.

A doutrina, nesse quesito, não é muito uníssona. Há muita divergência entre os


autores. Para Dirley Cunha, as fontes podem ser imediatas ou mediatas. Imediatas são
a própria Constituição e os costumes. As mediatas são a jurisprudência constitucional
(entendimento dado pelos tribunais e a doutrina).

CONSTITUIÇÃO: SENTIDO SOCIOLÓGICO; SENTIDO POLÍTICO;


SENTIDO JURÍDICO; CONCEITO, OBJETOS E ELEMENTOS.

ATENÇÃO: Última prova de Delegado Paraná caiu uma questão sobre sentidos
da Constituição.

- Em provas de Delegado de Polícia, o tema sentidos da Constituição foi cobrado


pela última vez em 2018. Em análise aos últimos dez anos, o tema não foi muito cobrado,
09
no entanto, pelo número de questões que caíram na prova, é possível sim a sua cobrança.
Peço atenção aos conceitos e autores de cada sentido da Constituição.

- Em análise aos 15 últimos editais e provas realizadas pela Banca NC- UFPR este
tópico não constava no edital e consequentemente não foi cobrado.

SENTIDOS (CONCEPÇÕES/ACEPÇÕES)
SOCIOLÓGICO (FERDINAND LASSALLE) – “O QUE É UMA CONSTITUIÇÃO”

A concepção sociológica, elaborada por Ferdinand Lassalle, considera a Consti-


tuição como sendo a somatória dos fatores reais de poder, isto é, o conjunto de forças
de índole política, econômica e religiosa que condicionam o ordenamento jurídico de
determinada sociedade.

A constituição seria uma “mera folha de papel”, caso ela não representasse o
somatório dos fatores reais de poder presentes numa sociedade.

IMPORTANTE: distinção entre a Constituição:

Real: fruto do reflexo social, bem como, corresponde à própria realidade social

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(prevalência);
Jurídica: fruto da racionalidade humana/dever-ser, destoa da realidade.

DICA PARA MEMORIZAR:

Sociológico: somatória dos fatores reais de poder / Sociológico: Lassalle

Como o assunto foi cobrado em concurso?

(COSP-UEL DPC PR - 2013) Sobre a classificação das constituições, relacione a coluna


da esquerda com a da direita.

(I) Em sentido político.

(II) Em sentido jurídico.

(III) Em sentido sociológico.

a) A constituição de um país é, em essência, a soma dos fatores reais do poder que


regem esse país, sendo esta a constituição real e efetiva, não passando a constituição
escrita de uma “folha de papel”.
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b) A constituição é considerada norma pura, puro dever-ser, é o conjunto de nor-
mas que regula a criação de outras normas.

c) A constituição é considerada como decisão política fundamental, decisão concre-


ta de conjunto sobre o modo e forma de existência da unidade política.

A) I-A, II-C, III-B.

B) I-B, II-A, III-C.

C) I-B, II-C, III-A.

D) I-C, II-A, III-B.

E) I-C, II-B, III-A.

Resposta: E

Político (Carl Schmitt) – “Teoria da Constituição”

É conjunto de normas escritas ou não escritas, que sintetizam, exclusivamente, as


decisões políticas fundamentais de um povo, tendo em vista que são as normas indispen-
sáveis à construção de um modelo de Estado:

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Î Organização do Estado
Î Organização dos Poderes
Î Direitos e Garantias Fundamentais

Caso a norma não aborde nenhuma dessas matérias acima mencionadas será
denominada de norma constitucional formal (leis constitucionais).

IMPORTANTE: Para este autor há divisão clara entre a constituição e a lei constitucional:

Constituição: encontraríamos, exclusivamente, as matérias constitucionais, ou


seja, organização do Estado, dos Poderes e garantia dos Direitos Fundamentais,
sempre com o objetivo de limitar a atuação do poder;

Leis Constitucionais: seriam aqueles assuntos tratados na Constituição, mas que


materialmente não tinham natureza de norma constitucional. Na verdade, esses
assuntos nem deveriam constar na Constituição; por exemplo, na Constituição,
visualizamos um exemplo no artigo 242, §2º, que determina que o Colégio Dom Pe-
dro II, localizado na cidade do RJ, será mantido na órbita federal. Esse dispositivo é
uma norma apenas formalmente constitucional, materialmente não.
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OBS: Carl Schmitt sempre defendeu o conceito de que a Constituição é a decisão
política fundamental de um povo, visando sempre:

Î organização dos Estados, dos Poderes e efetiva proteção dos Direitos e Garantias
Fundamentais.

DICA PARA MEMORIZAR:

Político: decisão política fundamental de um povo / Político: Schmitt

COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(UESPI DPC PI - 2014) Entre os chamados sentidos doutrinariamente atribuídos à


Constituição, existe um que realiza a distinção entre Constituição e lei constitucional.
Assinale a alternativa que o contempla.

a) Sentido político

b) Sentido sociológico.

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c) Sentido jurídico.

d) Sentido culturalista.

e) Sentido simbólico

Resposta: A

(CESPE DPF – 2018) A possibilidade de um direito positivo supraestatal limitar o


Poder Legislativo foi uma invenção do constitucionalismo do século XVIII, inspirado
pela tese de Montesquieu de que apenas poderes moderados eram compatíveis
com a liberdade. Mas como seria possível restringir o poder soberano, tendo a sua
autoridade sido entendida ao longo da modernidade justamente como um poder
que não encontrava limites no direito positivo? Uma soberania limitada parecia uma
contradição e, de fato, a exigência de poderes políticos limitados implicou redefinir
o próprio conceito de soberania, que sofreu uma deflação.

Alexandre Costa. O poder constituinte e o paradoxo da soberania limitada. In:


Teoria & Sociedade. n.º 19, 2011, p. 201 (com adaptações).
12
Considerando o texto precedente, julgue o item a seguir, a respeito de Constituição,
classificações das Constituições e poder constituinte.

A ideia apresentada no texto reflete a Constituição como decisão política funda-


mental do soberano, o que configura o sentido sociológico de Constituição.

ERRADO.

Jurídico (Hans Kelsen) – “Teoria Pura do Direito”

Para Hans Kelsen, a Constituição é o fundamento de validade de todo ordenamento


jurídico estatal. É a concepção jurídica. Segundo este autor, o guardião da constituição
deveria ser o poder judiciário. A constituição não retira seu fundamento da sociologia,
política ou da história, mas sim do próprio Direito.

Constituição é um conjunto de normas jurídicas, é uma lei como todas as demais, é


formada por várias normas. Se ela é uma lei assim como as demais, o fundamento dela
só pode estar no Direito.

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A constituição não se situa no mundo do “ser” e sim do “dever ser” (o direito tem um
caráter prescritivo e não descritivo).

IMPORTANTE: Para Kelsen, há dois sentidos para a fundamentação da Constituição:

Constituição em sentido “LÓGICO-JURÍDICO”: Norma Fundamental Hipotética

- Fundamental: porque nela que está o fundamento da constituição.

- Hipotética: porque não é uma norma posta, é apenas pressuposta, não é uma
norma positivada, é apenas uma pressuposição, como se a sociedade fizesse uma pres-
suposição que essa norma existe para fundamentar a constituição.

- Conteúdo da norma fundamental hipotética: “Todos devem obedecer a Constituição”.


Contém este comando. Como se fosse um contrato social, parte da ideia que existe essa
norma se não ninguém obedeceria à constituição.

Constituição em sentido “JURÍDICO-POSITIVO: Norma Positivada Suprema Cons-


tituição feita pelo poder constituinte, CF/88, por exemplo. Conjunto de normas jurídicas
positivadas. Os diplomas normativos devem buscar fundamento de validade na Consti-
tuição. Vale salientar que a Constituição busca fundamento de validade na norma hipo-
tética fundamental.
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COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(FUNIVERSA DPC DF - 2015) Acerca da teoria geral das constituições, assinale a


alternativa correta.

a) Hans Kelsen concebe dois planos distintos do direito: o jurídico-positivo, que são
as normas positivadas; e o lógico-jurídico, situado no plano lógico, como norma
fundamental hipotética pressuposta, criando-se uma verticalidade hierárquica de
normas.

b) Para Hans Kelsen, as normas jurídicas podem ser classificadas como normas
materialmente constitucionais e normas formalmente constitucionais. Para o referido
autor, mesmo as leis ordinárias, caso tratem de matéria constitucional, são defi-
nidas como normas materialmente constitucionais.

c) De acordo com o sentido político de Carl Schmitt, a constituição é o somatório dos


fatores reais do poder dentro de uma sociedade. Isso significa que a constituição
somente se legitima quando representa o efetivo poder social.

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d) De acordo com o sentido sociológico de Ferdinand Lassalle, a constituição não se
confunde com as leis constitucionais. A constituição, como decisão política funda-
mental, irá cuidar apenas de determinadas matérias estruturantes do Estado, como
órgãos do Estado, e dos direitos e das garantias fundamentais, entre outros.

e) De acordo com o sentido político-sociológico de Hans Kelsen, a constituição está


alocada no mundo do “dever ser”, e não no mundo do “ser”. É considerada a norma
pura ou fundamental, fruto da racionalidade do homem, e não das leis naturais.

RESPOSTA: A

De acordo com uma das concepções sobre a Constituição, ela “consigna a norma
fundamental hipotética não positiva, pois sobre ela embasa-se o primeiro ato legis-
lativo não determinado por nenhuma norma superior de direito positivo” (BULOS,
Uadi Lammêgo, Curso de Direito Constitucional, 2015, p. 103). O trecho acima des-
tacado:

a) remete aos fatores reais de poder enunciados por Lassale em sua concepção
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sociológica.

b) alude a ideia de que a “essência da Constituição” advém da realidade social em


que o texto constitucional estiver inserido.

c) tem por base a linha decisionista que funda a concepção política de Schimitt.

d) sustenta a concepção de que as leis constitucionais podem conter diversos ele-


mentos que não sejam propriamente constitucionais.

e) refere-se ao aspecto lógico-jurídico da concepção jurídica de Kelsen.

RESPOSTA: E

(CESPE DPF – 2018) A possibilidade de um direito positivo supraestatal limitar o


Poder Legislativo foi uma invenção do constitucionalismo do século XVIII, inspirado
pela tese de Montesquieu de que apenas poderes moderados eram compatíveis
com a liberdade. Mas como seria possível restringir o poder soberano, tendo a sua

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autoridade sido entendida ao longo da modernidade justamente como um poder
que não encontrava limites no direito positivo? Uma soberania limitada parecia uma
contradição e, de fato, a exigência de poderes políticos limitados implicou redefinir
o próprio conceito de soberania, que sofreu uma deflação.

Alexandre Costa. O poder constituinte e o paradoxo da soberania limitada. In:


Teoria & Sociedade. n.º 19, 2011, p. 201 (com adaptações).

Considerando o texto precedente, julgue o item a seguir, a respeito de Constituição,


classificações das Constituições e poder constituinte.

A exigência de poderes políticos limitados após a manifestação do poder constituinte


originário fundamenta tanto o sentido lógico-jurídico quanto o sentido jurídico-po-
sitivo da Constituição.

CERTA

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ELEMENTOS

José Afonso da Silva define cinco categorias de elementos das constituições:

Elementos orgânicos: são as normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder:

Título III- Da Organização do Estado

Título IV- Da Organização do Poderes e do Sistema de Governo

Título V – Capitulo II e III- Das Forças Armadas e da Segurança Pública

Título VI- Da Tributação e Orçamento

COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(CESPE DPC TO - 2008) Julgue o item abaixo:

Os elementos orgânicos que compõem a Constituição dizem respeito às normas


que regulam a estrutura do Estado e do poder, fixando o sistema de competência
dos órgãos, instituições e autoridades públicas.

RESPOSTA: CERTO

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Elementos limitativos: manifestam-se nas normas que compõem o elenco dos
direitos e garantias fundamentais, limitando a atuação dos poderes estatais:

Título II- Dos Direitos e Garantias Fundamentais (exceto o capítulo II – Dos Direitos
Sociais.

Elementos socioideológicos: revelam o compromisso da Constituição entre o Esta-


do individualista e o Estado Social, intervencionista:

Título II – capítulo II – Dos Direitos Sociais

Título VII – Da Ordem Econômica e financeira

Título VIII- Da ordem Social

Elementos de estabilização constitucional: consubstanciados nas normas consti-


tucionais destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Cons-
tituição, do Estado e das instituições democráticas. Constituem o elemento de defesa do
Estado e buscam garantir a paz social:

Art.102, I, a – ADI
16
Art. 34 a 36 – intervenção nos Estados e Municípios

Art. 59, I e 60 – processos de emenda a CF

Art. 102 e 103- jurisdição constitucional

Título V- Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas

COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(CESPE DPCRN - 2009) Acerca dos sentidos, dos elementos e das classificações
atribuídos pela doutrina às constituições, assinale a opção correta.

a) O elemento de estabilização constitucional é consagrado nas normas destinadas


a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do
Estado e das instituições democráticas.

b) O elemento socioideológico é assim denominado porque limita a ação dos


poderes estatais e dá a tônica do estado de direito, consubstanciando o elenco dos
direitos e garantais fundamentais.

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c) Quanto à forma, diz-se formal a constituição cujo texto é composto por normas
materialmente constitucionais e disposições diversas que não tenham relação
direta com a organização do Estado.

d) Segundo o sentido sociológico da constituição, na concepção de Ferdinand


Lassalle, o texto constitucional equivale à norma positiva suprema, que regula a
criação de outras normas.

e) Segundo o sentido político da constituição, na concepção de Carl Schmitt, o texto


constitucional equivale à soma dos fatores reais de poder, não passando de uma
folha de papel

RESPOSTA: A

Elementos formais de aplicabilidade: encontram-se nas normas que estabelecem


regras de aplicação na Constituição:

Preâmbulos 17
ADCT

Art.5 parag.1

CLASSIFICAÇÕES DAS CONSTITUIÇÕES: CONSTITUIÇÃO


MATERIAL E CONSTITUIÇÃO FORMAL; CONSTITUIÇÃO-GARANTIA
E CONSTITUIÇÃO-DIRIGENTE; NORMAS CONSTITUCIONAIS.

ATENÇÃO: Última prova de Delegado Paraná não caiu questão sobre o tema.

- Em provas de Delegado de Polícia, o tema classificações das Constituições e normas


constitucionais foi cobrado pela última vez em 2018. Em análise aos últimos dez anos,
os temas não foram muito cobrados, no entanto, pelo número de questões na prova, é
possível sim a sua cobrança.

- Em análise aos 15 últimos editais e provas realizadas pela Banca NC- UFPR, o
tópico classificações das Constituições constava em 8 editais e caiu uma vez. Já o tópico
normas constitucionais constava em 9 editais e caiu uma vez.

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- Com relação às normas constitucionais fiquem atentos aos artigos da Constituição
Federal que se referem às normas de eficácia limitada e as normas de eficácia contida,
tendo em vista que a banca pode trocar uma pela outra.

- Apesar de a banca especificar os tipos de classificação, o início do tópico traz “clas-


sificações das constituições”, que pode abranger todos os tipos, sem que isso enseje a
anulação da questão.

CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
QUANTO AO CONTEÚDO

Material: conjunto de normas escritas ou não, que se limitam a dispor sobre


organização do Estado, organização dos poderes e direitos e garantias fundamentais.

Formal: É o conjunto de normas que estão escritas em um documento solene


denominado de Constituição, independentemente da matéria tratada.

Î CRFB/88: Formal.

18
COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(FGV DPC MA - 2012) A respeito da Constituição da República Federativa do Brasil, de


1988, tendo em vista a classificação das constituições, assinale a afirmativa correta.

a) A Constituição de 1988 é exemplo de Constituição semirrígida, que possui um


núcleo imutável (cláusulas pétreas) e outras normas passíveis de alteração.

b) A Constituição de 1988 é exemplo de Constituição outorgada, pois resulta do


exercício da democracia indireta, por meio de representantes eleitos.

c) O legislador constituinte optou pela adoção de uma Constituição histórica, forma-


da tanto por um texto escrito quanto por usos e costumes internacionais.

d) Na Constituição de 1988, coexistem normas materialmente constitucionais e nor-


mas apenas formalmente constitucionais.

e) A Constituição de 1988 pode ser considerada como uma Constituição fixa (ou
imutável), pois o seu núcleo rígido não pode ser alterado nem mesmo por Emenda.

RESPOSTA: D

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QUANTO À FORMA

Escrita ou Instrumental: aquelas sistematizadas num único texto, criadas por um


órgão constituinte.

Não escrita ou Costumeira: são baseadas em textos esparsos, jurisprudências,


costumes (normas consuetudinárias), convenções, atos de parlamento entre outros. Ex:
Constituição Inglesa.

Î CRFB/88: Escrita.

COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM PROVA?

(NC-UFPR ADVOGADO – 2019) A Teoria da Constituição é um segmento impor-


tante dentro do conhecimento jurídico, vez que determina a compreensão do modelo
constitucional, com uma série de consequências normativas conforme o padrão que
se adote em determinado país. A partir do exposto, assinale a alternativa correta.

a) Constituição costumeira é aquela que, mesmo existindo um texto constitucional


expresso, é derrogada pelos costumes praticados pelas instituições políticas.
19
b) Por supremacia da Constituição entende-se a concepção de que as normas
constitucionais encontram-se acima de todo o restante do ordenamento jurídico,
influenciando sua interpretação e concretização.

c) O bloco de constitucionalidade, formado pelos Tratados de Direito Internacional


de Direitos Humanos, possui o condão de revogar normas constitucionais.

d) Constituições rígidas são aquelas em que há impossibilidade ou maior dificuldade


de alteração do conteúdo normativo; constituições flexíveis, por sua vez, são aquelas
em que, apesar da existência do texto constitucional expresso, os dispositivos podem
ser flexibilizados mediante interpretação da Corte Superior.

e) O conteúdo das constituições, considerado o parâmetro teórico mais recente,


deve-se pautar por normas mais objetivas, descartadas normas programáticas de
direitos sociais.

RESPOSTA: B

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QUANTO À ORIGEM

Promulgadas: É fruto de uma participação popular muito intensa, por meio da


eleição de uma Assembleia popular constituinte aquelas, composta por representantes
do povo. Sua elaboração se dá de maneira consciente e livre.

Outorgadas: impostas, chamadas de cartas políticas. Não contam com a participa-


ção popular no seu processo político de elaboração.

Cesaristas: imposta por um ditador ou junta militar e submetida a posterior apro-


vação popular. A cesarista é uma Carta outorgada, mas que é posteriormente submetida
a uma votação popular para ser ratificada.

Pactuadas: firmadas por acordo/pacto entre duas forças políticas oponentes.

Î CRFB/88: Promulgada, popular, democrática ou votada.

COMO ESSE TEMA FOI COBRADO EM CONCURSO? 20


(UEG DPC GO - 2018) A Constituição Federal brasileira de 1988 classifica-se quanto à
origem, ao modo de elaboração, à alterabilidade, à dogmática e ao critério ontológico
de Karl Loewenstein, respectivamente, em:

a) outorgada, dogmática, rígida, eclética e normativa.

b) outorgada, histórica, semirrígida, ortodoxa e nominalista.

c) promulgada, dogmática, rígida, eclética e normativa.

d)promulgada, histórica, semirrígida, ortodoxa e nominalista.

e) cesarista, histórica, imutável, eclética e semântica.

RESPOSTA: C

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(CEBRASPE DPC MA – 2018) De acordo com a doutrina majoritária, quanto à origem,
as Constituições podem ser classificadas como:

a) promulgadas, que são ditas democráticas por se originarem da participação po-


pular por meio do voto e da elaboração de normas constitucionais.

b) outorgadas, que surgem da tradição, dos usos e costumes, da religião ou das


relações políticas e econômicas.

c) cesaristas, que são as derivadas de uma concessão do governante, ou seja, da-


quele que tem a titularidade do poder constituinte originário.

d) pactuadas, que são formadas por dois mecanismos distintos de participação po-
pular, o plebiscito e o referendo, ambos com o objetivo de legitimar a presença do
detentor do poder.

e) históricas, que surgem do pacto entre o soberano e a organização nacional e en-


globam muitas das Constituições monárquicas.

RESPOSTA: A 21

QUANTO À ESTABILIDADE/MUTABILIDADE/ALTERABILIDADE

Imutável, permanente, granítica ou intocável: Não prevê nenhum processo de


alteração de suas normas, sob o fundamento de que a vontade do Poder Constituinte
exaure-se com a manifestação da atividade originária.

Fixa ou silenciosa: a alteração está condicionada à convocação do próprio poder


constituinte originário, ocasião que implica, não em alteração, mas em elaboração, pro-
priamente, de uma nova ordem constitucional.

É exemplo a Constituição Espanhola de 1876.

Rígida: admite alteração, porém, somente através de um processo legislativo mais


solene, especial, e muito mais difícil que o processo legislativo de elaboração das leis.

Semirrígida ou semiflexível: separa, por categorias, as normas submetidas ao pro-


cesso gravoso e aquelas submetidas ao processo simplificado. É parcialmente rígida e
parcialmente flexível.

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É exemplo a Constituição de 1824.

Flexível: admite alteração pelo mesmo processo legislativo de alteração das leis.

É exemplo a Constituição Inglesa.

Transitoriamente flexíveis: para Bulos, são as suscetíveis de reforma, com base


no rito das leis comuns, mas apenas por determinado período. Ultrapassado este, o do-
cumento constitucional passa a ser rígido.

Î CRFB/88: Rígida.

QUANTO À ELABORAÇÃO

Dogmáticas: É aquela que, sempre escrita, resulta de uma manifestação consti-


tuinte ocorrida num determinado e exato momento da história política de um país que
acolhe.

Históricas ou Costumeiras: É aquela sempre não escrita e resulta de uma lenta e


contínua evolução das tradições e costumes de um povo. Ex. Constituição Inglesa. 22
A Constituição americana de 1787 não pode ser classificada como histórica. A cons-
tituição histórica é formada com documentos esparsos no decorrer do tempo. A Consti-
tuição americana foi promulgada (de uma vez em só procedimento) pela Convenção da
Filadélfia e, apesar de ter mais de 200 anos e toda uma construção hermenêutica à luz
de mutações constitucionais desenvolvidas pela Suprema Corte, é tida pela classificação
tradicional como escrita.

Î CRFB/88: Dogmática.

COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(DPC MG - 2003) Em relação à classificação das Constituições, assinale a alter-


nativa incorreta:

a) As Constituições rígidas são aquelas que necessitam de procedimentos especiais


(mais solenes) para sua modificação, diferentemente das flexíveis que podem ser
alteradas pelo processo legislativo ordinário, não requerendo, assim, procedimentos
especiais para sua modificação. Portanto, é correta a afirmação de que no caso

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das Constituições flexíveis não há uma hierarquia entre Constituição e legislação
infraconstitucional, ou seja, uma lei infraconstitucional posterior altera texto consti-
tucional quando for com ele incompatível (critério cronológico).

b) A Constituição material consiste no núcleo ideológico constitutivo do Estado e da


sociedade explicitado no conjunto de matérias tipicamente constitucionais, escritas
ou não no corpo do documento constitucional, sendo portanto correta a afirmação
de que existem matérias constitucionais não disciplinadas por normas formalmente
constitucionais.

c) A atual Constituição Brasileira de 1988 pode ser classificada em termos gerais


como: formal, promulgada, escrita, dogmática, rígida e analítica.

d) A Constituição Inglesa é classificada como não escrita, porém nela encontramos


uma série de documentos escritos.

e) A Constituição Americana de 1787, diferentemente da atual Constituição Brasileira


de 1988, é classificada quanto ao modo de elaboração como histórica, visto que
permanece praticamente inalterada, sendo fruto de um lento e contínuo processo
de tradição histórica do documento constitucional, hoje com mais de 200 anos.

23
RESPOSTA: E

QUANTO À EXTENSÃO

Sintética (concisas, breves, sumárias, sucintas, básicas): somente traz o núcleo


básico do texto constitucional (concisa). Ex: Constituição dos Estados Unidos.

Analítica (prolixa, amplas, extensas, largas, longas, desenvolvidas, volumosas,


inchadas): Aquela que trata de vários temas de forma minuciosa, definindo, largamente,
os fins atribuídos ao Estado.

De acordo com Bernardo Gonçalves, são exemplos a Constituição de Portugal (1976)


e Espanha (1978).

Î CRFB/88: Analítica.

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COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(NUCEPE DPC PI 2108) A Constituição Federal de 1988 pode ser considerada:

a) semirrígida, porque algumas matérias, denominadas cláusulas pétreas, são


imutáveis.

b) sintética, porque veicula tão somente princípios e normas gerais.

c) analítica, pois aborda minúcias, estabelecendo regras que poderiam estar em


leis infraconstitucionais.

d) pactuada, segundo valores e tradições estabelecidos e conservados pela sociedade.

e) outorgada, permitiu a participação do povo em seu processo de elaboração.

RESPOSTA: C

24
QUANTO À IDEOLOGIA

Ortodoxa ou Simples: resulta da consagração de uma só ideologia. Ex. Constituição


Soviética de 1977.

Como o assunto foi cobrado em concurso?

(FUNIVERSA DPC DF - 2015) Com relação à classificação das constituições, é correto


afirmar que:

a) a constituição dirigente visa garantir os direitos fundamentais de primeira geração


ou dimensão.

b) a constituição-garantia anuncia um ideal a ser concretizado pelo Estado e pela


sociedade, caracterizando-se por conter normas programáticas.

c) constituições outorgadas são aquelas que, embora confeccionadas sem a partici-


pação popular, para entrarem em vigor, são submetidas à ratificação posterior do povo
por meio de referendo.

d) as constituições podem ser ortodoxas, quando reunirem uma só ideologia, como


a Constituição Soviética de 1977, ou ecléticas, quando conciliarem várias ideologias em
seu texto, como a Constituição Brasileira de 1988.

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e) as constituições semirrígidas são aquelas que podem ser modificadas por meio
de emendas ou de revisão constitucional.

Resposta: D

Eclética, Complexa ou Compromissária: É aquela formada por várias ideologias.

Î CRFB/88: Eclética.

QUANTO À ESSÊNCIA/ONTOLOGIA/MODO DE SER – KARL LOENWENSTEIN

Normativa (com valor jurídico): Seria aquela perfeitamente adaptada ao fato so-
cial. Além de juridicamente válida, ela estaria em total consonância com o processo polí-
tico.

Nominalista, nominativas ou nominais (com valor jurídico): É aquela na qual o


texto constitucional não domina a realidade político-social. Não há uma adequação entre
o que está no texto e a realidade social. Contudo, há uma boa vontade, desejando-se que 25
o texto concretize-se, mas não há essa adequação.

Semântica (utilizada apenas para justificar juridicamente o exercício autori-


tário do poder): Não há adequação entre texto e realidade. Está a Constituição a serviço
das classes dominantes.

De acordo com Bernardo Gonçalves:

Sobre a atual Constituição de 1988, temos a informar que alguns doutrinadores,


infelizmente, a classificam de forma equivocada pela classificação ontológica. Nesse sen-
tido, Pedro Lenza, em uma das últimas edições de seu manual, a classificou como norma-
tiva e, posteriormente, na última edição de sua obra a classifica como uma Constituição
que se “pretende normativa”. Ora, esse entendimento, como todo o respeito, é inteira-
mente equivocado. Aqui, não se trata de corrente divergente, mas, sim, de erro explicito
quanto a obra de Loewenstein. Nesse sentido, obvio que toda Constituição se pretende
normativa, mas uma coisa é pretender ser, outra coisa é ser. Reiteramos que Loewens-
tein busca o que a Constituição realmente é em um momento histórico. E a nossa, é pela
lógica loewensteiana nominal.

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QUANTO À SISTEMATIZAÇÃO

Unitária, codificada, Unitextual ou reduzida: a sistematização das matérias apre-


senta-se num instrumento único e exaustivo de todo o seu conteúdo.

Variada, não codificadas, legais: encontram-se previstas em textos esparsos.

Î CRFB/88: Unitária.

QUANTO À FINALIDADE/MODELO

Garantia: busca garantir a liberdade e limitar o poder. Volta-se para o passado.

Balanço: somente descreve e registra a organização política atual, estabelecida. A


Constituição Soviética adotava este modelo, a cada novo estágio rumo a constituição do
comunismo, uma nova Constituição era promulgada. Volta-se para o presente.

Dirigente, plano, diretiva, programática, ideológica-programática, positiva,


doutrinal ou prospectiva: além de estruturar e delimitar o poder do Estado, tem por
objetivo estabelecer um projeto de Estado para o futuro. Volta-se para o futuro. 26
Î CRFB/88: Dirigente.

QUANTO AO SISTEMA

Principiológica: Predominam os princípios considerados normas de alto grau de


abstração e de generalidade para uma boa parte dos doutrinadores pátrios.

Preceitual: Prevalecem as regras, que para boa parte da doutrina nacional, pos-
suem um baixo grau de abstração e um alto grau de determinabilidade.

Bernardo Gonçalves cita como exemplo a Constituição do México de 1917.

Î CRFB/88: Principiológica.

QUANTO À FUNÇÃO

Pré-constituição, constituição provisória ou constituição revolucionária:


é o conjunto de normas com dupla finalidade de definição do regime de elaboração e

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aprovação da Constituição Formal e de sua estruturação do poder político no interregno
constitucional, a que se acrescenta a função de supressão ou erradicação de resquícios
do antigo regime.

Constituição Definitiva ou de duração indefinida para o futuro: como pretende


ser a Constituição produto final do processo constituinte.

CONTEÚDO IDEOLÓGICO DAS CONSTITUIÇÕES

Constituições Liberais (negativas): não intervenção do Estado → absenteísmo


estatal, direitos de 1° geração.

Constituições Sociais (dirigentes): atuação estatal, consagrando a igualdade subs-


tancial → atuação positiva do Estado, direitos de 2° geração.

Î CRFB/88: Constituição social ou dirigente.

CONSTITUIÇÕES EXPANSIVAS
27
A expansividade da CF, 1988 pode ser vista em três planos:

Conteúdo anatômico e estrutural da constituição: destaca-se a estrutura do texto


a sua divisão em títulos, capítulos, seções, subseções, artigos da parte permanente e ADCT.

Comparação constitucional interna: relaciona-se a CF, 1988 com as Constituições


Brasileiras precedentes, considerando a extensão de cada uma e as suas alterações.

Comparação constitucional externa: relaciona a Constituição Brasileira com as


constituições estrangeiras mais extensas.

EFICÁCIA E APLICABILIDADEc DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

APLICABILIDADE E EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

Aplicabilidade:

a) Imediata: Normas de aplicabilidade imediata são aquelas autoexecutáveis. São


as normas que não dependem de outras para produzir efeitos.

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b) Mediata: São normas não autoexecutáveis. Exigem um regramento posterior
para que possam produzir efeitos sociais. Precisa desse arcabouço posterior.

Eficácia:

a) Jurídica: É a norma na sua literalidade. É o texto codificado.

b) Social: É a norma que tem ressonância na sociedade. Por isso se diz norma de
eficácia social. Há normas que estão na constituição, mas não possuem eficácia social. Ex.
art. 7º, IV – tem eficácia jurídica, mas não tem eficácia social (norma do salário mínimo).

OBS: No nosso ordenamento não existe norma constitucional completamente des-


tituída de eficácia. Uma norma pode até não possuir eficácia social, mas possivelmente
possuirá a chamada eficácia jurídica, que é a aptidão para condicionar o ordenamento
jurídico.

COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(NC-UFPR PROCURADOR JURÍDICO – 2020) [...] não se pode deduzir que todos os
direitos fundamentais possam ser aplicados e protegidos da mesma forma, embora
28
todos eles estejam sob a guarda de um regime jurídico reforçado, conferido pelo
legislador constituinte. (HACHEM, Daniel Wunder. Mandado de Injunção e Direitos
Fundamentais, 2012.) Sobre o tema, assinale a alternativa correta.

a) É compatível com a posição do autor inferir-se que, não obstante o reconheci-


mento do princípio da aplicabilidade imediata das normas definidoras de direitos
e garantias fundamentais, há peculiaridades nas consequências jurídicas extraíveis
de cada direito fundamental, haja vista existirem distintos níveis de proteção.

b) É compatível com a posição do autor a recusa ao reconhecimento do princípio da


aplicabilidade imediata das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais
no sistema constitucional brasileiro.

c) O autor se refere particularmente à distinção existente entre direitos fundamentais


políticos e direitos fundamentais sociais, haja vista a mais ampla proteção constitu-
cional aos primeiros, que não estão limitados ao mínimo existencial.

d) O autor se refere particularmente à distinção entre os direitos fundamentais que


consistem em cláusulas pétreas e os direitos fundamentais que não estão prote-
gidos por essa cláusula, sendo que a maior proteção dada aos primeiros os torna
imunes à incidência da reserva do possível.

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e) O autor se refere particularmente à distinção entre os direitos fundamentais que
estão expressos na Constituição de 1988 e aqueles que estão implícitos, decorrendo
dos princípios por ela adotados, haja vista o expresso regime diferenciado de proteção
estabelecido em nível constitucional para esses dois grupos de direitos.

RESPOSTA: A

ATENÇÃO: apesar de a questão citar um autor do estado do Paraná, nota-se que


a assertiva cobra o básico do conhecimento das normas constitucionais, além ser
bastante interpretativa. Então, peço a vocês que não se assustem com este tipo de
questão. Nas várias questões que abordarei ao longo dos materiais, vocês percebe-
ram que apenas com a leitura do material e a lei seca é possível resolver as ques-
tões. Algumas bancas costumam citar nomes de autores no início da questão como
uma forma de amedrontar o candidato que já está em certo nível de estresse.

Outra informação importante é que apenas um dos quinze editais da banca foi feita
referência bibliográfica. No entanto, na prova (NC-UFPR ADVOGADO – 2019) não foi
cobrada nenhuma referência bibliográfica específica.
29
A título de conhecimento: Daniel Wunder Hachem. Professor da Graduação, Mes-
trado e Doutorado em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e da
Universidade Federal do Paraná. Diretor Adjunto de Internacionalização da PUCPR.
Professor Visitante da Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne (2018/2020). Pós-Dou-
torado pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne (Bolsa CAPES Pós-Doutorado no
Exterior - PDE - 2017). Doutor e Mestre em Direito do Estado pela Universidade
Federal do Paraná. Professor do Corpo Docente Estável e do Comitê Acadêmico do
Mestrado em Direito Administrativo da Universidad Nacional del Litoral (Argentina).
Professor Visitante da Universitat Rovira i Virgili - Espanha (2016). Coordenador do
Curso de Especialização em Direito Administrativo do Instituto de Direito Romeu
Felipe Bacellar. Membro do Foro Iberoamericano de Direito Administrativo, da
Associação de Direito Público do Mercosul. Diretor de Publicações da Rede Docente
Eurolatinoamericana de Direito Administrativo. Líder do NUPED - Núcleo de Pesqui-
sas em Políticas Públicas e Desenvolvimento Humano da PUCPR. Diretor Acadêmico
do NINC - Núcleo de Investigações Constitucionais do Programa de Pós-Graduação
em Direito da Universidade Federal do Paraná (www.ninc.com.br). Editor-Chefe da
Revista de Investigações Constitucionais (Qualis A1), da Revista de Direito Econô-
mico e Socioambiental (Qualis A2) e da Revista Eurolatinoamericana de Derecho
Administrativo. Editor Acadêmico da A&C - Revista de Direito Administrativo & Cons-
titucional (Qualis A2).

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CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM JOSÉ
AFONSO DA SILVA
Î Eficácia plena (aplicabilidade imediata): desde a promulgação, está apta a
produzir todos os seus efeitos, não necessitando de regulamentação infracons-
titucional. É norma de aplicabilidade direta, imediata e de efeitos integrais, que
só poderá sofrer limitações por outra norma constitucional.

COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(CESPE AGENTE PC PE - 2016) Considerando as disposições da CF, é correto afirmar


que a norma constitucional segundo a qual:

a) a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito nem a coisa
julgada é de eficácia limitada e aplicabilidade direta.

b) ninguém será privado de liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal
é de eficácia plena e aplicabilidade imediata.

c) é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qua-


30
lificações profissionais que a lei estabelecer é de eficácia plena e de aplicabilidade
imediata.

d) é direito dos trabalhadores urbanos e rurais a proteção do mercado de trabalho


da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei, é de eficácia plena e
aplicabilidade imediata.

e) ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante é


de eficácia contida e aplicabilidade não integral.

RESPOSTA: B

Î Eficácia Contida (aplicabilidade imediata): desde a promulgação, está apta


a produzir todos os seus efeitos, mas poderá ter sua abrangência reduzida por
norma infraconstitucional. Também chamada de norma de eficácia redutível,
restringível ou prospectiva. Ex: É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.

ATENÇÃO: Maria Helena Diniz utiliza a nomenclatura “norma com eficácia restringível”.

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COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(DPC MG - 2003) Segundo a doutrina da Aplicabilidade das Normas Constitucionais


desenvolvida no Brasil pelo professor José Afonso da Silva, as normas constitucio-
nais podem ser classificadas em normas de eficácia plena, contida e limitada. Como
podemos classificar a norma constitucional do art5° VIII que preleciona: “ ninguém
será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica
ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e
recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.”

a) Eficácia plena e aplicabilidade imediata.

b) Eficácia limitada sendo que a sua aplicação plena dependeria de regulamentação


por lei.

c) Eficácia limitada, por não ser auto-executável.

d) Eficácia contida mas com aplicação mediata e indireta.

e) Eficácia contida e aplicabilidade imediata.

31
RESPOSTA: E

(CESPE ESCRIVÃO PC PE - 2016) Quanto ao grau de aplicabilidade das normas cons-


titucionais, as normas no texto constitucional classificam-se conforme seu grau de
eficácia. Segundo a classificação doutrinária, a norma constitucional segundo a qual
é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualifica-
ções profissionais que a lei estabelecer é classificada como norma constitucional

a) de eficácia limitada.

b) diferida ou programática.

c) de eficácia exaurida.

d) de eficácia plena.

e) de eficácia contida.

RESPOSTA: E

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(DPF CESPE – 2018) A respeito dos direitos fundamentais e do controle de constitu-
cionalidade, julgue o item que se segue.

Em relação aos estrangeiros, a norma constitucional que garante o acesso a cargos,


empregos e funções públicas é de eficácia contida.

RESPOSTA: E. Trata-se de norma de eficácia limitada.

Î Eficácia Limitada (aplicabilidade postergada, diferida ou mediata / eficácia


mínima): desde a sua promulgação, não está apta a produzir todos os seus efeitos,
tendo em vista que ela necessita de regulamentação infraconstitucional. É nor-
ma de aplicabilidade indireta, mediata, reduzida ou diferida.

COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(DPC MG 2006) O artigo 7º, XXVII, da Constituição Federal, que assegura aos traba- 32
lhadores urbanos e rurais, textualmente, “a proteção em face da automação, na
forma da lei”, é norma de eficácia:

a) Contida, cujo saneamento da omissão pode ser tentado por meio de mandado de
injunção e de ação direta de inconstitucionalidade por omissão.

b) Contida, cujo saneamento da omissão pode ser tentado somente pelo trabalhador,
por meio de mandado de injunção, por ser direito a ele conferido.

c) Limitada, cujo saneamento da omissão pode ser tentado somente pelo trabalhador,
por meio de mandado de injunção, por ser direito a ele conferido.

d) Limitada, cujo saneamento da omissão pode ser tentado por meio de mandado
de injunção e de ação direta de inconstitucionalidade por omissão.

RESPOSTA: D

ATENÇÃO: Maria Helena Diniz utiliza a nomenclatura “norma com eficácia relativa
complementável”.

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As normas de eficácia limitada se dividem em dois grupos:

Princípio Institutivo/Organizativo – tem cunho meramente organizacional (estru-


tura). São aquelas que englobam a organização dos poderes e do Estado. Ex. art. 33, 88,
91, § 2º da CF. São normas que contêm esquemas gerais de estruturação de instituições,
órgãos ou entidades. Ex. art. 18, §2º, 33, 102, §1º. Ex: A lei disporá sobre a organização
administrativa e judiciária dos Territórios – art. 33 da CRFB/88;

Princípio Programático – são programas a serem implementados pelo Estado, para


a consecução de fins sociais (políticas públicas). Ex. art. 3º da CF (objetivos fundamentais),
direito à saúde, educação, cultura, ciência e tecnologia, entre outros.

OBS: NOVAS NOMENCLATURAS:

Î Maria Helena Diniz - ainda acrescenta à classificação as normas supereficazes


ou com eficácia absoluta. Assim são chamadas porque contêm uma força
paralisante de toda e qualquer legislação que, explícita ou implicitamente vier
a contrariá-las. Essas normas se perfazem nas chamas cláusulas pétreas (artigo
60 da CRFB/88).

Î Uadi Lammêgo Bulos - normas constitucionais de eficácia exaurida (ou esvaída)


e aplicabilidade esgotada são aquelas, como o próprio nome sugere, que já
33
extinguiram a produção de seus efeitos, por isso estão esgotadas. São próprias
do ADCT, notadamente as normas que já cumpriram o papel, encargo ou tarefa
para a qual foram propostas.

PODER CONSTITUINTE: FUNDAMENTOS DO PODER CONSTITUINTE;


PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO E DERIVADO; REFORMA E
REVISÃO CONSTITUCIONAIS; LIMITAÇÃO DO PODER DE REVISÃO;
EMENDAS À CONSTITUIÇÃO.

ATENÇÃO: Última prova de Delegado Paraná caiu uma questão sobre o tema.

- Em provas de Delegado de Polícia, o tema Poder Constituinte foi cobrado pela


última vez em 2018. Em análise aos últimos dez anos, o tema foi muito cobrado. O alu-
no deve ficar atento as caraterísticas do Poder Constituinte Originário, diferenças entre
Poder Constituinte Derivado Decorrente, Reformador e Revisor e, também, DECORAR o
art.60 da Constituição Federal.

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- Em análise aos 15 últimos editais e provas realizadas pela Banca NC- UFPR, o tópi-
co Poder Constituinte constava em 6 editais e caiu uma vez.

PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO (PCO)

Conceito: O objetivo fundamental do PCO é criar um novo Estado, diverso do que


vigorava em decorrência da manifestação do poder constituinte precedente.

Não importa a rotulação que é dada ao ato constituinte, o que importará é sua
natureza. Se este ato rompe com a ordem jurídica anterior intencionalmente, de forma a
invalidar a ordem preexistente, há um novo Estado.

COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(DPC MG - 2008) Com base na teoria geral do Poder Constituinte, podemos enten-
der como poder institucionalizado:

a) todo poder imposto a um grupo de indivíduos sem que se possa distinguir efeti-
34
vamente quem o exerce.

b) todo poder individualizado que motiva os distintos regimes políticos.

c) todo poder que consiste em uma operação jurídica que nasce de determinado
fato ou fenômeno social.

d) todo poder que emana do povo e em seu nome deve ser exercido.

RESPOSTA: C

(IBADE DPC AC – 2017) Acerca do poder constituinte e controle de constitucionalidade,


é correto afirmar:

a) O STF admite controle concentrado ou difuso de constitucionalidade de normas


produzidas pelo poder constituinte originário, aplicando a tese das “normas consti-
tucionais inconstitucionais”.

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b) Um dos exemplos à limitação circunstancial do poder de reforma na CRFB/88
diz respeito às pessoas que poderão propor emendas à Constituição (artigo 60,
CRFB/88).

c) O poder constituinte originário é definido como permanente, pela possibilidade


de se manifestar a qualquer tempo.

d) A CRFB/88 adota o entendimento de que o povo é o titular do poder constituin-


te, se filiando, portanto, à concepção da teoria da soberania nacional cunhada por
Emmanuel Sieyès.

e) As limitações materiais ao poder constituinte de reforma (artigo 60, § 4°, CRFB/88)


significam a intangibilidade literal da respectiva disciplina na Constituição originária.

RESPOSTA: C

(NUCEPE DPC PI – 2018) Sobre o Poder Constituinte, assinale a alternativa CORRETA.


35
a) Reformador é incondicionado e ilimitado.

b) Originário é aquele que instaura uma nova ordem jurídica, provocando uma rup-
tura com a ordem jurídica anterior.

c) Dos estados-membros é incondicionado e ilimitado juridicamente.

d) Reformador pode suprimir cláusulas pétreas.

e) Decorrente é o conferido aos municípios dos territórios.

REPOSTA: B

Características essenciais do Poder Constituinte Originário:

Î Inicial – Não há nenhum outro poder antes ou acima dele. É um poder inicial,
pois inaugura a ordem jurídica e institui o Estado.

Î Poder juridicamente ilimitado - Não sofre limitação imposta por outra ordem
jurídica, ainda que lhe seja anterior.

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Î Poder Autônomo – Cabe apenas a ele (PCO) escolher a ideia de direito que vai
prevalecer dentro de um determinado Estado.

Î Incondicionado – O PCO não está submetido a nenhuma norma formal ou ma-


terial. Essa é uma visão totalmente positivista, pois, para os positivistas, Direito
é o direito posto pelo Estado. Neste raciocínio, se o poder constituinte não está
condicionado a nenhum Direito do Estado, ele é incondicionado.

Abade Sieyès, que era jusnaturalista, destacava outras características do poder


constituinte originário, quais sejam:

Î Incondicionado juridicamente pelo direito positivo – O poder constituinte


originário é incondicionado pelo direito positivo, mas está condicionado por
algumas normas de direito natural.

Î Poder Permanente – O poder constituinte originário não se esgota no seu


exercício. Ou seja, mesmo que uma Constituição seja feita, ele não se esgota,
continuando a existir; fica em estado latente, podendo atuar novamente a qual-
quer momento.

Î Inalienável – porque a titularidade deste poder não pode ser transferida.


36
Dessa forma, é plenamente possível que o poder constituinte originário possa deli-
berar pelo reconhecimento ou não de direitos adquiridos segundo a ordem jurídica anterior.

COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(UEG DPC GO - 2013) O poder constituinte originário, segundo a teoria constitucional,


é a força política capaz de estabelecer o vigor normativo da Constituição e tem por
características precípuas

a) pertencer a uma dada ordem jurídica e ser regido pelo direito por ela positivado.

b) esgotar-se com a edição da Constituição, não subsistindo para além dessa ordem.

c) ser a vontade política do grupo de poder, independente de valores culturais.

d) ter eficácia atual por constituir força histórica apta a realizar os fins a que se propõe.

RESPOSTA: D

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(NC-UFPR PROCURADOR – 2019) Desde a sua promulgação, a Constituição da Repú-
blica de 1988 sofreu uma série de alterações, e o tema da reforma não sai de pauta
dos governos que lhe sucederam. Sobre o assunto, assinale a alternativa correta.

a) Uma das prerrogativas do poder constituinte derivado é o de alteração de cláu-


sulas pétreas.

b) No regime constitucional brasileiro atual, está expressamente vedada a conside-


ração de limites materiais ao poder de reforma constitucional.

c) No Brasil, o poder constituinte originário é aquele que decorre do Título I da Consti-


tuição da República, não havendo sentido falar que ele subsiste fora da Constituição.

d) O poder constituinte originário pode deliberar pelo reconhecimento ou não de


direitos adquiridos segundo a ordem jurídica anterior.

e) Poder constituinte derivado é aquele que se destina à correção de inconstitu-


cionalidades.

RESPOSTA: D 37

Poder Constituinte Originário formal e material:

Î Formal: Responsável pela formalização do conteúdo escolhido, ele será formali-


zado em normas constitucionais. Assembleia Nacional Constituinte.

OBS: Miguel Reale – teoria tridimensional do direito.

- Valor – plano axiológico, valores originariamente morais, ex: liberdade...


- Norma;
- Fato;

Î Material: Diz respeito ao conteúdo, escolhe a ideia de direito que irá prevalecer
nessa nova constituição, os valores a serem consagrados nessa nova constituição.
Povo.

O material precede o formal, estando ambos interligados.

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Formas de expressão do Poder Constituinte Originário:

Î Outorga: declaração unilateral do agente revolucionário.

Ex.: Constituição de 1824, 1937, 1967, EC 1/69

Î Assembleia Nacional Constituinte ou Convenção: nasce da deliberação da


representação popular

Ex.: Constituição de 1891, 1934, 1946, 1988

PODER CONSTITUINTE DERIVADO, INSTITUÍDO, SECUNDÁRIO OU


DE SEGUNDO GRAU

PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE

Responsável pela elaboração da constituição dos estados-membros.

O poder constituinte decorrente é retirado do texto constitucional, do art.25, CF e 38


do art.11, da ADCT. Além de esses dois dispositivos conferirem aos Estados-membros os
poderes para elaborar suas próprias Constituições, deles é abstraído o Princípio da Sime-
tria. Vejamos o seu teor:

Art. 25, CF - Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que ado-
tarem, observados os princípios desta Constituição.

Art. 11, ADCT - Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará
a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição
Federal, obedecidos os princípios desta.

Parágrafo único. Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal,


no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de discussão e
votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na Constituição Estadual.

Dentro dessa ideia de princípio da simetria, o STF costuma dizer que algumas nor-
mas constitucionais são normas de observância obrigatória pelos Estados-membros.

As normas de observância obrigatória podem ser divididas em suas espécies. Po-


dem ser:

Î Expressas:

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Ex. art.27, §1º, CF - § 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais,
aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade,
imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às
Forças Armadas.

Ex. art.28, CF - A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para man-


dato de quatro anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno,
e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do
término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de janeiro do
ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77.

Ex. Art. 75, CF - As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à
organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito
Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.

Art. 77, CF. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-


-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último
domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do
mandato presidencial vigente.

 Implícitas: essas normas geram polêmica, pois sua definição dependem da juris-
prudência do STF, já que não há qualquer norma constitucional que as estabeleça como 39
de reprodução obrigatória. Pelo menos a princípio, não há nenhum critério objetivo para
se aferir quais normas são de observância obrigatória.

Algumas das normas constitucionais consideradas de observância obrigatória pelos


Estados, ainda que implicitamente, segundo o STF são:

Normas que estabelecem competências para os poderes. Ex. ADI 1.901. Se, por
exemplo, na CF uma competência é atribuída ao Chefe do Executivo, ou ao judiciário, ou
ao legislativo, não podem essas mesmas competências serem atribuídas, na esfera esta-
dual ou municipal, a uma autoridade diferente.

Normas e Princípios básicos do processo legislativo. A CF/88, no seu art.59 e


seguintes, trata do processo legislativo. Não há dispositivo que diz que essas normas
devem ser observadas pelos Estados. Contudo, segundo o STF, essas normas devem ser
obrigatoriamente observadas pelos Estados e também pelos municípios.

Ex. art.61, §1º, CF – matérias de iniciativa privativa do Presidente da República. No


âmbito Estadual, essas matérias teriam que ser atribuídas ao Governador. No âmbito
municipal, deveriam ser atribuídas ao Prefeito. Essa norma do art.61, §1º, CF também é
se observância obrigatória porque é uma norma de competência.

Ex. Na ADI 486, uma Constituição Estadual trouxe uma previsão de que as emendas
à constituição estadual deveriam ser aprovadas por 4/5 dos membros da Assembleia

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legislativa. Na esfera federal, a CF exige 3/5 dos membros da Câmara e do Senado. O STF
declarou inconstitucional esse dispositivo, entendendo muito elevado em relação à CF.

Requisitos para a criação de CPI. O art.58, §3º, CF, estabelece os requisitos para a
criação de CPIs e é de observância obrigatória pelas constituições estaduais.

Art. 58, §3º, CF - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de


investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos
das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal,
em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros,
para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o
caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou
criminal dos infratores.

COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(UEG DPC GO - 2013) A partir da ideia da existência de um poder constituinte,


enquanto poder destinado à criação do Estado e à alteração das normas que consti-
tuem uma sociedade política foram elaboradas teorias que apresentam classificações 40
desse poder. Conhece-se assim a distinção entre

a) poder decorrente, enquanto autonomia das unidades da federação, e poder deri-


vado, encarregado da elaboração das normas constitucionais originárias e reforma
da Constituição Federal.

b) poder de reforma e poder constituinte decorrente, subespécies do poder derivado,


em que o primeiro compreende a emenda e a revisão e o segundo reporta-se à
autonomia das unidades da federação.

c) poder de reforma constitucional e poder derivado, em que o primeiro compreende


a emenda e o segundo a elaboração de normas constitucionais originárias.

d) poder originário e poder decorrente, em que o primeiro compreende as normas


constitucionais originárias e perenes e o segundo, decorrente do primeiro, compreende
a reforma constitucional pela emenda e revisão da Constituição Federal.

RESPOSTA: B

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PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR

Trata-se do poder que vai fazer a reforma da constituição, consagrado no art. 60.
Reforma é a via ordinária de alteração da constituição. São quatro os tipos de limitações
que podem ser impostas ao poder reformador:

 Limitações temporais – Impedem a alteração da CF durante um determinado


período de tempo, com o objetivo de lhe assegurar maior estabilidade.

Essa limitação temporal ocorreu no Brasil na Constituição de 1824, em que seu


art.174 proibia qualquer modificação na Constituição durante 4 anos.

Obs: Na constituição atual, havia uma limitação temporal para o Poder Revisor, no
art.3º, da ADCT, em que se vedava a revisão constitucional antes de 5 anos de sua existência.

Dentro dessa ideia de limitação temporal, com relação ao poder constituinte


REFORMADOR, não há qualquer limitação temporal na CF/88 (nem no art.60, nem em
qualquer outro artigo).

 Limitações Circunstanciais – São limitações que impedem a alteração da


Constituição em situações especiais.

Art. 60, §1º, CF - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção
federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
41

COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(FUNCAB DPC RO - 2014) Acerca do tema “poder constituinte e reforma constitucio-


nal”, marque a alternativa correta.

a) Poder constituinte é o poder que o governo tem de vetar as leis inconstitucionais.

b) O poder constituinte reformador manifestado por meio de emendas tem por


características ser inicial, autônomo e ilimitado.

c) O poder constituinte reformador manifestado por meio de emendas pode ser


iniciado por meio das mesas das assembleias legislativas.

d) A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de


estado de defesa ou de estado de sítio.

e) Compete ao Presidente da República vetar emendas constitucionais que contra-


riem o interesse público.

RESPOSTA: D

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(UEG DPC GO – 2018) É constitucionalmente possível, apesar das limitações constitu-
cionais ao poder constituinte derivado, segundo a doutrina nacional predominante,

a) a alteração na titularidade dos poderes constituintes originário e derivado


reformador.

b) a edição, ainda este ano, da centésima Emenda Constitucional, pois a interven-


ção federal no Rio de Janeiro, prevista para durar até 31 de dezembro de 2018, não
configura nenhuma limitação temporal ao poder de reforma.

c) a Constituição ser emendada mediante proposta de iniciativa popular.

d) a dupla revisão, com a revogação da cláusula pétrea num primeiro momento e a


posterior abolição do direito por ela protegido.

e) a hipotética redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.

RESPOSTA: E

42
 Limitações Formais ou Procedimentais – Há quem chame estas de limitações
implícitas. Estão relacionadas ao procedimento a ser utilizado para a alteração da cons-
tituição.

Temos duas formas de limitações formais: subjetivas e objetivas.

a) Limitação formal subjetiva

Art. 60, CF - A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado


Federal;

II - do Presidente da República;

III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação,


manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

Após a iniciativa, a proposta de emenda (PEC) será discutida e votada no Senado e


na Câmara. Esse quórum está previsto no art. 60, §2º, CF.

Geralmente, a votação começa na Câmara e depois vai para o Senado. A PEC deve
ser aprovada em 2 turnos de votação, com quórum de 3/5 (ou seja, 60%). Uma casa terá
a iniciativa e a outra será a revisora.

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COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(VUNESP DPC SP - 2014) A Constituição poderá ser emendada mediante proposta

a) de governador da Unidade da Federação.

b) de mais da metade das Câmaras Municipais, manifestando-se, cada uma delas,


pela maioria relativa de seus membros.

c) do Presidente da República, mediante representação popular, manifestada por


apoio de partido político sem representação no Congresso Nacional.

d) de dois terços, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado


Federal.

e) de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação,


manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

RESPOSTA: E
43

b) Limitação formal objetiva

Art. 60, §2º, CF - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Na-
cional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos
votos dos respectivos membros.

A PEC não tem sanção nem veto. A Emenda Constitucional é promulgada pelas mesas
da Câmara E do Senado, conjuntamente.

Art.60, §3º, CF - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara


dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem (À medida que
as emendas vão sendo aprovadas, elas recebem o nº subsequente, que não corresponde
ao nº da PEC).

Quem publica a Emenda é o Congresso.

Uma última limitação à PEC é aquela prevista no art. 60, §5º, da CF:

Art. 60, §5º, CF - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida


por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.

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A sessão legislativa começa em 2 de fevereiro e vai até 17 de julho. Depois, reco-
meça em 1º de agosto e vai até 22 de dezembro. Cada sessão legislativa anual possui 2
períodos legislativos (semestrais).

Se uma PEC é rejeitada ou havida por prejudicada em uma sessão legislativa, ela só
poderá ser apresentada novamente na sessão legislativa seguinte (ano seguinte).

 Limitações Materiais ou substanciais – Cláusulas Pétreas - As finalidades das


cláusulas pétreas são:

- Preservar a identidade material da CF. (CF/69, apesar de ter sido feita por emen-
das, é considerada uma nova CF, pois alterou a identidade da CF/67);

- Preservar institutos, direitos e valores essenciais;

- Permitem a continuidade do processo democrático (sociedade protegendo-se de


suas próprias fraquezas). Não são antidemocráticas, ao contrário permitem a continuida-
de da democracia. Art. 60, §4º.

Teorias explicativas das cláusulas pétreas:

a) Teoria do Pré-Comprometimento (Jon Elster): As Constituições


democráticas são mecanismos de autovinculação (por isso “pré-comprometi- 44
mento”) adotados pela soberania popular para proteger o povo de suas pró-
prias paixões e fraquezas. O objetivo das cláusulas pétreas seria, então, esta-
belecer metas para serem cumpridas a longo prazo, e evitar que a maioria de
uma época, levada por seus ávidos interesses momentâneos, tente alterar a
CF em um determinado momento. Portanto, as cláusulas pétreas protegem a
maioria da própria maioria.

b) Teoria da Democracia Dualista (Bruce Ackerman): Bruce Aker-


man faz uma distinção entre dois tipos de política – política ordinária e ex-
traordinária (por isso democracia “dualista”).

A política ordinária compreende as deliberações tomadas pelos órgãos de repre-


sentação popular (ex. leis ordinárias, leis complementares, medidas provisórias, etc. -
medidas tomadas pelos representantes do povo). A política extraordinária, por sua
vez, reflete as decisões tomadas pelo povo em momentos de grande mobilização cívica,
em que há uma intensa manifestação da cidadania. A política extraordinária seria, por
exemplo, a elaboração da CF. No raciocínio de Akerman, como essas deliberações são
tomadas em momentos de grande mobilização cívica, a política extraordinária pode
impor limites à política ordinária.

IMPORTANTE: Com relação às cláusulas pétreas, a CF dispõe que “Não será objeto
de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir”.

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Não significa que não possam ser alteradas, desde que estas não sejam tendentes
a abolir seu núcleo essencial. Então a clausula pétrea pode ser alterada por exemplo com
acréscimos.

Ex. A EC 45/04 extinguiu os Tribunais de Alçada e isso não foi considerado violação
à separação de poderes.

Tipos de cláusulas pétreas:

Art. 60, §4º, CF - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir:

I - a forma federativa de Estado;

Segundo, Sepúlveda Pertence, por vezes, em seus votos, manifestou-se no sentido


de que “A forma federativa de Estado é princípio intangível desde a nossa primeira Cons-
tituição Republicana (de 1891)”.

II - o voto direto, secreto, universal e periódico;

O voto deve ser direto, secreto, universal e periódico. A obrigatoriedade do voto não
é cláusula pétrea. 45
Voto obrigatório não é cláusula pétrea, apenas o voto direito, secreto, universal e
periódico.

III - a separação dos Poderes;

IV - os direitos e garantias individuais.

Note que a CF não se refere a direitos e garantias fundamentais, não se refere a


todos eles, somente aos direitos e garantias individuais.

STF: os direitos e garantias individuais, apesar de serem sistematicamente elenca-


dos no art. 5º não se restringem a ele, encontram-se espalhados por toda a constituição.

Ou seja, não são todos Direitos fundamentais que são protegidos pelas cláusulas
pétreas, apenas os individuais, entretanto, estes não estão alocados somente no art. 5º.

Vejamos alguns:

Direito ao voto - direito fundamental/direito político – TODOS direitos políticos são


cláusulas pétreas? Não, somente o voto, visto que se fossem todos não haveria a previsão
na própria constituição para o voto, este é garantia individual.

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Princípio da Anterioridade Eleitoral – a lei que modifica o processo eleitoral em
um prazo de um ano até as eleições, deve esperar as próximas eleições (art. 16). STF: É
pétrea por ser uma garantia individual do cidadão eleitor, não por ser um direito político
(que também é um Direito Fundamental).

TSE – resolução em 2006 estabelece a “verticalização”. Se for feita uma coligação no


âmbito nacional, não pode ser feita uma coligação no âmbito estadual com um partido
que faz parte de outra no âmbito nacional. Os partidos, querendo afastar tal regra, fize-
ram a EC 52/06, pondo fim à verticalização. Entretanto, era menos de 01 ano das eleições.
STF: o princípio é cláusula pétrea, devendo, portanto, ser observado também pelas EC’s.

Princípio da Anterioridade Tributária (150, III, “b”) – É CLÁUSULA PÉTREA, mesmo


estando no art. 150, pois é uma garantia individual do cidadão contribuinte.

Ainda, algumas correntes sobre o tema:

1ª corrente: Ingo Sarlet e Paulo Bonavides – Consideram que não só os direitos e


garantias individuais, mas também os DIREITOS SOCIAIS seriam cláusulas pétreas. ARGU-
MENTO: os direitos sociais também devem ser considerados porque são pressupostos
para as pessoas exercerem os direitos individuais. Ex: como uma pessoa que não tem
direitos sociais básicos, direito à informação, saúde, alimentação, irá exercer, terá a capa-
cidade de exercer os direitos individuais como o voto?
46
2ª corrente: Marcelo Novelino – acredita que se o DIREITO SOCIAL for ligado à digni-
dade da pessoa humana, como o mínimo existencial por exemplo, deve ser considerado
cláusula pétrea. Então para ele, alguns devem ser considerados e outros que não são
importantes não devem ser considerados.

3ª corrente: Carlos Velloso, por exemplo, todos DF são considerados cláusulas pétreas.

Cláusulas Pétreas Implícitas: Defende-se, então, como cláusula pétrea implícita o


art. 60, CF. Nesse sentido: José Afonso da Silva, Paulo Bonavides. Esses autores defendem
isto porque o art. 60, CF estabelece limitações circunstanciais, materiais, formais impos-
tas pelo poder constituinte originário ao poder constituinte reformador.

Este entendimento é incompatível com a “tese da dupla revisão”, segundo a qual seria
possível afastar uma limitação e, em seguida, alterar o conteúdo originariamente protegido.

COMO O ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(CESPE DPC PE 2016) Acerca do poder de reforma e de revisão constitucionais e dos


limites ao poder constituinte derivado, assinale a opção correta.

a) Além dos limites explícitos presentes no texto constitucional, o poder de reforma


da CF possui limites implícitos; assim, por exemplo, as normas que dispõem sobre o

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processo de tramitação e votação das propostas de emenda não podem ser supri-
midas, embora inexista disposição expressa a esse respeito.

b) Emendas à CF somente podem ser apresentadas por proposta de um terço, no


mínimo, dos membros do Congresso Nacional.

c) Emenda e revisão constitucionais são espécies do gênero reforma constitucional,


não havendo, nesse sentido, à luz da CF, traços diferenciadores entre uma e outra.

d) Não se insere no âmbito das atribuições do presidente da República sancionar as


emendas à CF, mas apenas promulgá-las e encaminhá-las à publicação.

e) Se uma proposta de emenda à CF for considerada prejudicada por vício de natu-


reza formal, ela poderá ser reapresentada após o interstício mínimo de dez sessões
legislativas e ser apreciada em dois turnos de discussão e votação.

RESPOSTA: A

(FGV DPC MA - 2012) Com relação aos limites ao exercício do Poder Constituinte, 47
assinale a única afirmativa correta.

a) Os limites ao Poder Reformador, como todas as exceções, interpretam-se res-


tritivamente; daí decorre que é vedada a proposta de Emenda tendente a abolir a
forma Federativa de Estado, sendo possível, por outro lado, que uma Emenda retire
dos municípios o status de entes da federação.

b) Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir a forma


federativa do Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, os monopólios do
Estado e os direitos e garantias individuais.

c) Além dos limites expressos na Constituição ao Poder Constituinte Reformador,


podem ser identificados limites implícitos, exemplificados pelo próprio dispositivo
que prevê as matérias que não podem ser objeto de Emenda.

d) De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, não se pode invo-


car a existência de direito adquirido em face do Poder Constituinte, quer do originá-
rio, quer do reformador.

e) O Poder Constituinte Originário divide-se em Poder Constituinte Estruturante e


Poder Constituinte Decorrente

RESPOSTA: C

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PODER CONSTITUINTE DERIVADO REVISOR

O art.3 ADCT determinou que a revisão constitucional seria realizada após 5 anos,
contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros
do Congresso Nacional, em sessão unicameral. A revisão só poderia ser feita uma única vez.

COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(FUNDATEC DPC RS 2018) O poder constituinte pode ser conceituado como o poder
de elaborar ou atualizar uma Constituição. A titularidade desse poder pertence ao
povo, como aponta a doutrina moderna. Sobre as proposições em relação ao tema,
assinale a alternativa INCORRETA.

a) Recepção é um processo abreviado de criação de normas jurídicas, pelo qual a


nova Constituição adota as leis já existentes, se com ela compatíveis, dando-lhes
validade e evitando o trabalho de se elaborar toda a legislação infraconstitucional
novamente. Já a desconstitucionalização ocorre quando as normas da Constituição
anterior permanecem em vigor, desde que compatíveis com a nova ordem, mas
com status de lei infraconstitucional. 48
b) O poder constituinte originário tem como principais características ser: inicial,
ilimitado e incondicionado; já o poder constituinte derivado, por sua vez, possui as
seguintes características principais: subordinado, condicionado e limitado.

c) Há possibilidade de se apontar duas formas básicas de expressão do Poder Cons-


tituinte originário: Assembleia Nacional Constituinte e Movimento Revolucionário
(outorga).

d) O poder constituinte derivado revisor consiste na possibilidade que os Estados-


-membros têm, em virtude de sua autonomia político-administrativa, de se auto-or-
ganizarem através de suas respectivas constituições estaduais, sempre respeitando
as limitações estabelecidas pela Constituição Federal.

e) O poder constituinte difuso dá fundamento ao fenômeno denominado de muta-


ção constitucional. Por meio dela, são dadas novas interpretações aos dispositivos
da Constituição, mas sem alterações na literalidade de seus textos, que permane-
cem inalterados.

RESPOSTA: D

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PODER CONSTITUINTE DIFUSO

Pode ser caracterizado como um poder de fato e se manifesta através das mutações
constitucionais. Trata-se de processo informal e espontâneo de mudança da Constituição.
A mutação e a nova interpretação não poderão macular os princípios estruturantes da
Constituição.

COMO ESSE ASSUNTO FOI COBRADO EM CONCURSO?

(VUNESP DPC SP – 2018) Ao julgar o RE nº 251.445/GO, o Supremo Tribunal Federal


decidiu que o termo “casa”, resguardado pela inviolabilidade conferida pelo art. 5º ,
inciso XI, da Constituição Federal e antes restrito a domicílio e residência, revela-se
abrangente, devendo, portanto, se estender também a qualquer compartimento
privado onde alguém exerça profissão ou atividade. Essa fixação de novo entendi-
mento pelo Supremo Tribunal Federal que acarretou num processo de alteração
do sentido da norma constitucional, sem alteração do texto, é denominada pela
hermenêutica constitucional de

a) repristinação constitucional.

b) mutação constitucional informal. 49


c) interpretação conforme.

d) interpretação literal.

e) interpretação teleológica.

RESPOSTA: B

PODER CONSTITUINTE SUPRANACIONAL

Busca sua fonte de validade na cidadania universal, no pluralismo de ordenamen-


tos jurídicos, na vontade de integração e em um conceito remodelado de soberania.
Reorganiza a estrutura de cada um dos estados ou adere ao direito comunitário de viés
supranacional por excelência, com capacidade, inclusive, para submeter as diversas
constituições nacionais ao seu poder supremo. Exemplo: União Europeia.

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PARTE II
DIREITO PROCESSUAL PENAL

DOUTRINA

INQUÉRITO POLICIAL

CONCEITO

O conceito não veio estampado na lei, incumbindo à doutrina tal missão.

De acordo com as lições trazidas por Guilherme de Souza Nucci, o inquérito policial é
um procedimento preparatório da ação penal, de caráter administrativo, conduzido pela
polícia judiciária e voltado à colheita preliminar de provas para apurar a prática de uma
infração penal e sua autoria.

O trabalho da autoridade policial inicialmente é identificar as fontes de prova, ou 50


seja, pessoas, coisas e documentos que de alguma forma possam ajudar a esclarecer
o delito. A partir daí ele irá coletar elementos de informação para que o titular da ação
penal possa ingressar em juízo.

NATUREZA JURÍDICA

Antes de qualquer coisa, é importante saber o que o inquérito policial não é (e


isso fica muito claro entre os doutrinadores). Afirma-se tranquilamente que o inquérito
policial não é um processo, pois dele não resulta a imposição de sanção. Também NÃO É
UM PROCESSO ADMINISTRATIVO. É pois um procedimento administrativo.

Por isso, se alguma irregularidade for cometida no inquérito, o processo subsequente


não ficará contaminado (STF: HC 94.034). Eventuais vícios no IP não tem o condão de
provocar nulidade no processo.

FINALIDADE

Tem por objetivo precípuo servir de lastro à formação da convicção do


representante do Ministério Público (opinio delicti), mas também colher provas

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urgentes, que podem desaparecer após o cometimento do crime. Não se pode olvidar,
ainda, servir o inquérito à composição das indispensáveis provas pré-constituídas que
servem de base à vítima, em determinados casos, para a propositura da ação penal
privada (Guilherme de Souza Nucci, 2016).

OBSERVAÇÃO! Paralelamente à finalidade clássica do inquérito policial (levantamento


de autoria e materialidade para formação da opnio delict), podemos adicionar o que
a doutrina moderna tem chamado de “função de filtro processual”. Na verdade, não
se trata de uma novidade, mas sim uma forma de encarar o instituto inquisitorial. A
expressão é autoexplicativa, pois, como quer deixar claro, o inquérito policial deve
funcionar como um filtro de eventuais processos vindouros.

Enganam-se aqueles que pensam que o inquérito é um mecanismo unidirecional,


servindo tão somente para buscar elementos de convicção positiva ao dono da ação
penal. Bem pelo contrário, pois, em grande parte das vezes, as conclusões do inquérito
levam a não instauração de uma ação penal, seja por apontar razão da defesa seja por
carrear aos autos alguma exclusão do crime ou da própria punibilidade do agente.

Nesse sentido é que se pode afirmar que o IP tem uma função preservadora, de
bloqueio da instauração do processo penal eventualmente temerário, resguardando,
assim, direitos fundamentais do investigado. 51
Nos dizeres de Aury Lopes Junior, “a instrução preliminar pode ser vislumbrada como
a ponte que liga a notitia criminis ao processo penal”.

POLÍCIA JUDICIÁRIA X POLÍCIA ADMINISTRATIVA

O art. 4º do Código de Processo Penal preceitua que a polícia judiciária será exercida
pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a
apuração das infrações penais e da sua autoria.

O art. 4º, parágrafo único, do CPP prevê que a competência definida neste artigo não
excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.

Portanto, a Polícia Judiciária é a responsável pela presidência do inquérito policial,


cuja atividade é fiscalizada pelo controle externo da atividade policial, exercido pelo
Ministério Público (art. 129, VII, da CF/88), sem subordinação hierárquica, cuja distinção
em relação à Polícia Administrativa será didaticamente explicitada no quadro abaixo.

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POLÍCIA JUDICIÁRIA POLÍCIA ADMINISTRATIVA

• Função típica repressiva (atua após • Função típica preventiva/


a prática da infração penal); ostensiva (atua antes da prática
da infração penal);
• Função atípica preventiva/
ostensiva. • Função atípica repressiva.

• Preside o inquérito policial; • Estadual e DF: Polícias Militares.

• Estadual e DF: Polícias Civis;

• Federal: Polícia Federal.

Segundo Eugênio Pacelli de Oliveira, a denominação de polícia judiciária somente se


explica em um universo em que não há a direção da investigação pelo Ministério Público,
como é o brasileiro. Quem preside e conduz o inquérito policial é o Delegado de
Polícia Civil ou o Delegado de Polícia Federal, como vem garantido na lei 12.830/13, 52
em seu art. 2º, § 1º (com exceção do Inquérito Policial Militar – IPM).

VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

Durante o inquérito policial colhem-se elementos informativos, como regra, haja


vista que poderão ser produzidas provas para embasar eventual sentença condenatória,
denominadas de provas cautelares, não repetíveis e antecipadas, nos termos do art.
155 do CPP, tão cobrado em provas:

O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida


em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusi-
vamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas
as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Mas o que seriam as provas cautelares, as não repetíveis e as antecipadas? Vejamos


abaixo.

a) Provas cautelares: provas que devem ser produzidas com urgência em razão
do risco de perda do objeto da prova pelo decurso do tempo, com contraditório
postergado/diferido. Cita-se como exemplo a interceptação das comunicações
telefônicas e a busca e apreensão domiciliar.

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b) Provas não repetíveis: esta, por outro lado, se trata de uma prova cuja fonte
perece após ser produzida, o que inviabiliza, portanto, a sua repetição. Como regra,
prescinde de autorização judicial e há contraditório postergado/diferido. Cita-se como
exemplo o exame de corpo de delito, quando houver vestígios (crime não transeunte).

c) Provas antecipadas: são aquelas produzidas em incidente pré-processual,


em virtude de necessidade e urgência, que tramita perante o judiciário com a efetiva
participação das futuras partes, razão pelo qual são respeitados o contraditório e a
ampla defesa (contraditório real), o que legitimará a utilização de tais provas na fase
processual. Cita-se como exemplo o depoimento ad perpetuam rei memoriam (art. 225,
CPP), consistente no depoimento de testemunha que poderá se ausentar ou falecer até a
instrução criminal regular por enfermidade ou velhice.

Note que as provas cautelares e não repetíveis possuem contraditório


diferido/postergado (produzidas de forma inquisitiva), já as provas antecipadas
possuem contraditório real. Este ocorre durante a formação do elemento da prova
com a participação das partes e do órgão julgador, já aquele a formação ocorre em
certo momento e a participação deles em momento ulterior, quando as partes poderão
impugnar e produzir contraprova.

53
Para visualizar melhor:

CAUTELARES NÃO REPETÍVEIS ANTECIPADAS

Contraditório diferido Contraditório diferido Contraditório REAL

SEM reserva de
Com autorização judicial jurisdição (Delegado Diante do Juiz
pode determinar)

Ex.: Interceptação Ex.: Perícia de lesões Ex.: Depoimentos ad Per-


telefônica, MBA corporais, exame de petuam rei memoriam
bafômetro

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CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

Inicialmente, vale ressaltar que o tema “características” costuma ser um dos mais
cobrados em provas de Delegado de Polícia dentro dos tópicos de inquérito policial.

A fim de melhor viabilizar a memorização das 10 (dez) características, caso não tenha
outro método melhor, usa-se a frase “SINA É DOIDO”, com cada letra correspondendo a
uma característica (Sigiloso, Inquisitivo, Nulidades (inexistência), Autoritariedade, Escrito,
Discricionário, Oficialidade, Indisponibilidade, Dispensabilidade, Oficiosidade. Vamos a
cada uma delas.

1. Sigiloso: Enquanto o processo criminal em regra é público, o inquérito policial é


resguardado pelo sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
sociedade, conforme dispõe o art. 20 do CPP.

A autoridade policial, por meio do elemento surpresa durante as diligências – a fim


de se evitar a perda de elementos e que se maquiem os fatos, caso contrário a investigação
se tornaria ineficiente – coligirá elementos informativos e provas em busca da “verdade
real” para instruir o inquérito e viabilizar a futura ação penal.

Vale ressaltar a função garantista do sigilo, destinada à proteção dos investigados 54


diante da publicidade maçante que permeia fatos delituosos, ainda mais na era digital e da
intensa publicação de informações nas redes sociais, evitando-se pré-julgamentos quanto
à autoria antes mesmo da conclusão da investigação (princípio da não culpabilidade).

ATENÇÃO! O sigilo não se aplica ao juiz, ao Ministério Público e ao advogado, com


certa disciplina quanto a este, conforme dispõe o art. 7º, XIV e § 10º, do Estatuto da
OAB e a Súmula Vinculante nº 14.

- STF: Mesmo que a investigação criminal tramite em segredo de jus-


tiça será possível que o investigado tenha amplo acesso aos autos, inclusive
a eventual relatório de inteligência financeira do COAF, sendo permitido,
contudo, que se negue o acesso a peças que digam respeito a dados
de terceiros protegidos pelo segredo de justiça. Essa restrição parcial
não viola a súmula vinculante 14. Isso porque é excessivo o acesso de um
dos investigados a informações, de caráter privado de diversas pessoas,
que não dizem respeito ao direito de defesa dele. STF. 1ª Turma. Rcl 25872
AgR-AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/12/2019 (Info 964).

2. Inquisitivo (Inquisitorial): o entendimento majoritário na doutrina é o de que


o inquérito policial é um procedimento inquisitivo, em que não há que se falar em

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contraditório ou ampla defesa, mesmo com a promulgação da lei 13.245/16, que instituiu
como direito do advogado assistir o investigado no curso da investigação criminal em
sede de inquérito policial ou de outro procedimento.

3. Inexistência de nulidades: os vícios do inquérito policial não geram nulidade


na futura ação penal, mas tão-somente a ilegalidade e consequente ineficácia do ato
praticado no bojo dos autos do procedimento investigatório. Nesse sentido:

- STF: Não há nulidade na ação penal instaurada a partir de ele-


mentos informativos colhidos em inquérito policial que não deveria
ter sido conduzido pela Polícia Federal considerando que a situação
não se enquadrava no art. 1º da Lei 10.446/2002. O inquérito policial
constitui procedimento administrativo, de caráter meramente informativo
e não obrigatório à regular instauração do processo-crime, cuja finalidade
consiste em subsidiar eventual denúncia a ser apresentada pelo Ministério
Público, razão pela qual irregularidades ocorridas não implicam, de regra,
nulidade de processo-crime. O art. 5º, LIII, da Constituição Federal, afirma
que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente”. Esse dispositivo contempla o chamado “princípio do juiz na-
tural”, princípio esse que não se estende para autoridades policiais, consi-
derando que estas não possuem competência para julgar. A desconformi- 55
dade da atuação da Polícia Federal com as disposições da Lei nº 10.446/2002
e eventuais abusos cometidos por autoridade policial, embora possam impli-
car responsabilidade no âmbito administrativo ou criminal dos agentes, não
podem gerar a nulidade do inquérito ou do processo penal. STF. 1ª Turma.
HC 169348/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2019 (Info 964).

4. Autoritariedade: presidido por autoridade pública, nos termos do art. 144, §§


1º, I e IV, e 4º, da CF, no caso, investido no cargo de Delegado de Polícia, consoante
regulamentado no Estatuto do Delegado de Polícia (art. 2º, §§ 1º e 3º, da Lei nº 12.830/13).

5. Escrito ou Formal: a teor do art. 9º do CPP, os atos praticados devem ser escritos
e os atos orais reduzidos a termo. Doutrina minoritária entende que o dispositivo em
comento restou mitigado com o advento da Lei nº 11.719/08, quanto às alterações do
art. 405, §§1º e 2º, do CPP, que, por exemplo, permitem o registro de um depoimento por
meio digital já na fase judicial.

6. Discricionário: A persecução criminal, no inquérito policial, é conduzida de


maneira discricionária pela autoridade policial, a quem incumbe fazer um juízo de
prognose e de diagnose (Norberto Avena, 2017), explico! Juízo de prognose: a autoridade
policial decidirá quais as providências necessárias à elucidação da infração penal. Juízo
de diagnose: sucederá aquela ao final da investigação, quando a autoridade policial
apresentará o relatório conclusivo do inquérito policial.

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Os artigos 6º e 7º trazem um rol exemplificativo de diligências a serem realizadas
pela autoridade policial e o art. 14 prevê expressamente a discricionariedade. Deve-se
observar, contudo, as normas constitucionais e infraconstitucionais para evitar que a
discricionariedade se transforme em arbitrariedade (v.g, medidas resguardadas à reserva
de jurisdição, tal qual a interceptação telefônica, e as determinadas por lei, como o exame
de corpo de delito).

ATENÇÃO! A discricionariedade esbarra na oficiosidade quanto à impulsão da


investigação (ex officio), de modo que a discricionariedade se refere às diligências.
Ademais, o exame de corpo de delito é diligência que foge à discricionariedade
quando a infração penal deixa vestígios, por determinação legal (art. 158 do CPP).

7. Oficialidade: presidido pela Polícia Judiciária, órgão oficial do Estado, sendo


vedada a delegação da condução do inquérito policial a particulares. Note-se que apesar
de o juiz e membro do Ministério Público requisitarem a instauração do inquérito policial,
não podem presidi-lo.

8. Indisponibilidade: uma vez instaurado, a autoridade policial não poderá


promover o arquivamento do inquérito policial, ainda que em seu juízo conclua pela
atipicidade do fato ou ausência de indícios quanto à autoria. O inquérito sempre será
encaminhado ao Judiciário, independente da conclusão e êxito das investigações, nos
termos do art. 17 do CPP. 56
9. Dispensabilidade: De acordo com Guilherme de Souza Nucci, a natureza do
inquérito, como já se viu, é dar segurança ao ajuizamento da ação penal, impedindo que
levianas acusações tenham início, constrangendo pessoas e desestabilizando a justiça penal.
Por isso, ao oferecer a denúncia, deve o representante do Ministério Público – o mesmo valendo
para a vítima – ter como suporte o inquérito policial, produzido pela polícia judiciária, na sua
função de Estado-investigação, órgão auxiliar do Poder Judiciário nessa tarefa. Eventualmente,
é possível dispensar o inquérito, desde que o acusador possua provas suficientes e idôneas
para sustentar a denúncia ou a queixa, embora hipótese rara.

Assim, é possível, segundo doutrina majoritária, a dispensa do inquérito policial,


o que ocorre quando o Ministério Público ou o ofendido estejam municiados
com acervo probatório suficiente para o ajuizamento da ação penal. Tal doutrina
também afirma que tal conclusão é retirada da leitura do art. 12 do CPP, que deixa clara
a possibilidade de dispensa do Inquérito.

CUIDADO! Existe doutrina minoritária em sentido contrário, ou seja, afirmando que


o inquérito policial é indispensável a um processo penal garantista. Nesse sentido,
colacionam-se as palavras do Delegado de Polícia Henrique Hoffmann, que, citando
Aury Lopes Júnior, afirma que “o processo penal sem a investigação preliminar é um
processo irracional, uma figura inconcebível e monstruosa que abala os postulados
garantistas”. O mesmo autor ainda observa a nua realidade de que o Ministério
Público, mesmo pugnando por uma suposta dispensabilidade do inquérito policial,
na esmagadora maioria dos casos não abre mão desse filtro processual.

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10. Oficiosidade: Ao tomar conhecimento da notícia do crime (notitia criminis) de
ação penal pública incondicionada, por qualquer meio, a autoridade policial é obrigada
a agir de ofício (ex officio), independentemente de provocação, a fim de elucidar a
materialidade, a autoria e as circunstâncias da infração penal.

NOTICIA DO CRIME (NOTITIA CRIMINIS)

Notícia do crime (notitia criminis) é o conhecimento pela autoridade policial de um


fato aparentemente criminoso, de forma espontânea ou provocada.

Pode ser classificada em direta (espontânea ou cognição imediata), indireta


(provocada ou cognição mediata), e coercitiva.

1) Notitia criminis direta (espontânea ou cognição imediata): a autoridade


policial toma conhecimento do fato criminoso de forma espontânea por meio das suas
atividades rotineiras no exercício da função, pela imprensa ou pelo encontro casual de
elementos relacionados ao crime (p. ex., localização da coisa subtraída – res furtiva).

2) Notitia criminis indireta (provocada ou cognição mediata): terceiros levam à


conhecimento da autoridade policial. Pode ocorrer por requerimento verbal ou escrito 57
por qualquer do povo (art. 5º, § 3º, do CPP), bem como por requisição de autoridades
públicas. Trata-se de verdadeira delatio criminis.

3) Notitia criminis coercitiva: essa modalidade pode se inserir tanto na direta


quanto na indireta descrita nos itens anteriores. Na coercitiva a autoridade policial recebe
a notícia do crime juntamente com o suposto autor do fato criminoso preso em flagrante,
por ela própria ou por seus agentes (direta), ou por um particular (indireta).

4) Notitia criminis anônima (apócrifa ou inqualificada): Trata-se de comunicação


apócrifa à autoridade policial (sem a identificação do comunicante), quer seja por escrito,
quer seja verbal por meio de denúncia anônima (disque-denúncia, por exmeplo). Perceba
que nada mais é do que uma notitia criminis inqualificada.

O delegado, após diligências preliminares para a verificação da procedência das


informações (VPI – procedimento de verificação de procedência da informação), instaura
o procedimento investigatório competente (inquérito policial, TC, etc).

ATENÇÃO! Segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante, não se


admite a instauração de procedimento policial (inquérito policial, TC, etc) de imediato com
base tão-somente na delatio criminis anônima/apócrifa ou notitia criminis inqualificada,
exceto se ela, por si só, já constituir o corpo de delito (v.g, uma carta anônima caluniosa).

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FORMAS DE INSTAURAÇÃO

Apesar de o tema “ação penal” ser ponto de estudo futuro, é de relevância inicial
relacionar os tipos de ação com as formas de instauração do Inquérito. Maiores detalhes
sobre o tema serão vistos em momento oportuno.

a) Ação penal pública incondicionada: a persecução penal nos crimes de ação


penal pública incondicionada se inicia independe da vontade do ofendido (ex officio).
Exemplo: Crime de homicídio.

b) Ação penal pública condicionada: nesse caso, o início se condiciona à


representação do ofendido ou à requisição do Ministro da Justiça (condição de
procedibilidade). Exemplo: Crime de ameaça.

c) Ação penal privada: é necessário o requerimento do ofendido para viabilizar o


início da persecução penal, contudo, o ofendido é o titular da ação penal, de modo que,
mesmo havendo requerimento, é necessário o ingresso da ação penal posteriormente
para dar continuidade à persecução penal. Exemplo: injúria, calúnia e difamação.

Alinhadas essas premissas básicas quanto à ação penal, que serão aprofundadas
em tema específico, passa-se à análise das formas de instauração de acordo com o tipo
de ação penal. 58
9.1. INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL
PÚBLICA INCONDICIONADA

No caso de crimes de ação penal pública incondicionada, há 04 (quatro) formas de


instauração do inquérito policial pela autoridade policial (art. 5º do CPP):

a) Ex ofício (art. 5º, I, CPP): hipótese em que a autoridade policial, por meio de
portaria, determina a instauração do inquérito policial independente de representação
ou requerimento.

b) Requisição do juiz ou do Ministério Público (art. 5º, II, CPP): há divergência


na doutrina se a requisição pelas autoridades mencionadas ofende o sistema acusatório,
mas o entendimento majoritário é o de que se a requisição do MP ou Juiz for legal, o
delegado deve cumprir. Quanto à requisição do magistrado, há entendimento doutrinário
de que transformaria o processo em judicialiforme, incompatível com a atual modelo
adotado pela Carta Magna, de modo que o juiz oficia o “parquet”, que só então poderá
requisitar a instauração.

ATENÇÃO! Prevalece o entendimento de que a requisição de autoridades (juiz, MP,


etc) para a instauração de inquérito policial não abrange o indiciamento, pois se
trata de ato privativo da autoridade policial, cujo entendimento restou consagrado
em lei (art. 2º, § 6º, do Estatuto do Delegado de Polícia – Lei nº 12.830/2013).

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c) Requerimento do ofendido ou do seu representante legal (art. 5º, II, CPP): do
requerimento do ofendido ou de seu representante legal para a instauração de inquérito
policial, contendo o máximo de informações (art. 5º, § 1º, CPP), o delegado fará juízo de
tipicidade e poderá deferir ou indeferi-lo. Na hipótese de indeferimento, é cabível recurso
administrativo ao Chefe de Polícia, nos termos do art. 5º, § 2º, do CPP.

d) Lavratura do auto de prisão em flagrante: o auto referente à formalização da


prisão em flagrante é a peça que dá início ao inquérito policial, verificada qualquer das
hipóteses previstas no art. 302 do CPP, enquanto que nas demais formas de instauração
acima mencionadas a autoridade policial a faz por meio da peça denominada “Portaria”.

INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE AÇÃO


PENAL PÚBLICA CONDICIONADA

Quando o crime exigir representação da vítima ou do seu representante legal, o


inquérito policial não poderá sem ela ser instaurado, porquanto se afigura como uma
condição de procedibilidade da ação penal. Relembrando, trata-se da delatio criminis
postulatória.
59
Todavia, o direito de representar não é “ad eternum”, haja vista que, de acordo com
os arts. 38 do CPP e 103 do CP, o ofendido decai do direito se não o exerce no prazo
decadencial de 06 (seis) meses, contados do conhecimento da autoria. Transcorrido o
prazo sem representação acarreta a extinção da punibilidade.

ATENÇÃO! A representação do ofendido ou de seu representante legal prescinde de


rigor formal, bastando que de alguma forma se extraia a manifestação inequívoca
de que pretende ver o autor responder criminalmente pelos fatos (STJ, HC 130.000/
SP, DJ 08.09.2009).

ATENÇÃO! A requisição do Ministro da Justiça nos crimes cometidos por


estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7.º, § 3.º, b, do Código Penal) e
crimes contra a honra cometidos contra o Presidente da República ou Chefe
de Governo estrangeiro (art. 141, I, c/c o art. 145, parágrafo único, ambos do CP)
é dirigida ao Ministério Público, que desde já formará, se o caso, a opinio delicti.
Assim, segundo Norberto Avena, NÃO se trata atualmente de hipótese de
início de inquérito policial e há possibilidade de previsão em eventuais tipos
penais (art. 100, § 1º, CP).

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INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA

Exige-se requerimento da vítima ou de seu representante legal, ou, no caso de


morte ou declaração de ausência, são legitimados o cônjuge, ascendente, descendente e
irmão – “CADI” – nos termos do art. 31 do CPP.

Após o requerimento, o inquérito policial é instaurado, concluído e remetido ao


órgão julgador, onde permanecerá aguardando o transcurso do prazo decadencial para
o ajuizamento da ação privada pelo legitimado.

INVESTIGAÇÃO CONTRA AUTORIDADE COM FORO


POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

Por muito tempo se discutiu se seria necessária autorização do tribunal competente


pelo respectivo foro por prerrogativa para o início das investigações pela polícia. Fato é
que os julgados ainda costumam ser variados, havendo decisões para os dois lados.

Com efeito, pode-se dizer que há uma certa tendência da jurisprudência em


dispensar tal autorização judicial. Segundo os referidos julgados que encampam essa 60
tese, o foro por prerrogativa de função apenas atrai qualquer decisão judicial necessária
para o respectivo tribunal (decretação de prisão ou deferimento de mandado de busca,
por exemplo), sendo desnecessária a autorização para iniciar a investigação e para indiciar
o suspeito.

Porém, depois de indiciado o suspeito, e concluída a investigação criminal, os


autos do IP deveram ser remetidos ao respectivo tribunal detentor do foro. Veja julgado
relativamente atual (do ano de 2017) sobre o tema:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS . INQUÉRITO POLICIAL


PARA APURAR A SUPOSTA PRÁTICA DE CRIMES AMBIENTAIS E DE ESTELIO-
NATO. INVESTIGADOS COM FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. PRÉVIA
AUTORIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO. DESNECESSIDADE. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO LEGAL. VIOLAÇÃO AO SISTEMA ACUSATÓRIO. DESPROVIMEN-
TO DO RECLAMO. 1. No julgamento do REsp 1.563.962/RN, esta colenda
Quinta Turma firmou o entendimento de que, embora as autoridades com
prerrogativa de foro devam ser processadas perante o tribunal competen-
te, a lei não excepciona a forma como devem ser investigadas, devendo ser
aplicada, assim, a regra geral prevista no artigo 5º do Código de Processo
Penal. 2. A jurisprudência tanto do Pretório Excelso quanto deste So-
dalício é assente no sentido da desnecessidade de prévia autorização
do Judiciário para a instauração de inquérito ou procedimento inves-

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tigatório criminal contra agente com foro por prerrogativa de função,
dada a inexistência de norma constitucional ou infraconstitucional nesse
sentido, conclusão que revela a observância ao sistema acusatório adota-
do pelo Brasil, que prima pela distribuição das funções de acusar, defender
e julgar a órgãos distintos. 3. O Superior Tribunal de Justiça assentou o
entendimento de que o mero indiciamento em inquérito policial, desde que
não seja abusivo e ocorra antes do recebimento da exordial acusatória,
não constitui manifesto constrangimento ilegal a ser sanável na via estreita
do writ. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. AgRg no HABEAS
CORPUS Nº 404.228 - RJ (2017/0145256-0)

Há que mencionar, ainda, que a simples menção do nome da autoridade com


foro por prerrogativa de função durante as investigações não obriga a remessa dos
autos da investigação para o foro respectivo (STF, Informativo nº 854).

ATENÇÃO! O STF já rejeitou denúncia instruída com inquérito conduzido em primeira


instância que tinha como investigado um Deputado Federal (Inquérito nº 3305).

61
DIILIGÊNCIAS INVESTIGATÓRIAS

O Código de Processo Penal estipula diligências a serem realizadas pela autoridade


policial logo que tomar conhecimento da prática de infração penal, conforme incisos do
artigo 6º, de acordo com a discricionariedade inerente à investigação criminal. Ressalto
que a leitura e releitura dos incisos do artigo é suficiente e necessária, aliada aos
comentários constantes dos itens abaixo.

I) Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e


conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais. Trata-se da preservação
do local de crime, diligência necessária para o melhor aproveitamento dos elementos
durante o exame pericial, pois quanto mais intacto estiver a “cena do crime”, melhor o
“expert” terá condições de examiná-la.

ATENÇÃO! A Lei nº 5.970/73, em seu art. 1º, excepciona a regra permitindo a remoção
de pessoas no caso de acidente de trânsito que tenham sofrido lesão, estiverem no
leito da via e prejudicarem o tráfego.

II) Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos
peritos criminais. Tal diligência, assim como a busca precedente (pessoal ou domiciliar),
se encontra disciplinada nos arts. 240 e ss. do CPP e prescinde de instauração prévia

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de inquérito policial, conforme entendimento sufragado pelo c. STJ. Ressalte-se que
determinados objetos apreendidos devem ser encaminhados para exame pericial (arts.
158 a 184 do CPP).

Os objetos apreendidos não poderão ser restituídos caso interessem ao processo,


constituam instrumentos ou proveito do crime, ou haja dúvida quanto ao direito do
reclamante (arts. 118 a 120 do CPP).

III) Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias. O presente inciso é a consolidação da característica da discricionariedade
na atuação da autoridade policial na condução do inquérito policial, que deverá colher
todos os elementos possíveis.

ATENÇÃO! A Lei Maria da Pena (arts. 11 a 12-A da Lei nº 11.340/06) prevê providências
e procedimentos específicos que devem ser adotados pela autoridade policial além
das diligências preliminares em comento previstas no CPP.

IV) Ouvir o ofendido: trata-se de diligência com relevância para a descoberta de


outras fontes de prova a respeito do fato delituoso, contudo, apesar de não prestar o
compromisso de dizer a verdade, se injustamente der causa à instauração do inquérito
policial (ou processo criminal), pode responder por denunciação caluniosa (art. 339 do
CP). Vale ressaltar que, caso o ofendido se mostre recalcitrante, é admita a condução
62
coercitiva (art. 201, § 1º, CPP).

V) Ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no


Capítulo III do Título VII, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por
duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura: vale ressaltar que antes de ouvi-
lo é necessária a advertência quanto ao direito ao silêncio, em face do princípio do nemo
tenetur se detegere, e a assistência de advogado é facultativa, devendo seguir os ditames
do interrogatório judicial no que lhe for aplicável (arts. 185 a 196 do CPP).

O termo deve ser assinado por duas testemunhas, todavia, a falta delas incorre em
mera irregularidade.

O Plenário do STF, por maioria, decidiu pela inconstitucionalidade da condução


coercitiva do investigado ou indiciado ao declarar a não recepção da expressão
“para o interrogatório” constante do art. 260 do CPP (ADPF 395 e 444/DF).

ATENÇÃO! O art. 7º, XXI, do Estatuto da OAB foi acrescentado como uma prerrogativa
do advogado (já consagrado na CF/88) de assistir a seus clientes durante a apuração
de infrações, consignando como consequência da não observância a nulidade
absoluta do ato e dos dele derivados. A doutrina majoritária explicita que o advogado
pode apresentar RAZÕES e QUESITOS.

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VI) Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações: àquele se
aplicam os ditames dos arts. 226 a 228 do CPP, enquanto que, nestas, os dos arts. 229
e 230 do CPP. Admite-se, por analogia (verdade real), o reconhecimento fotográfico,
aplicando-se-lhe as regras do reconhecimento de pessoas.

Acareação é procedimento que envolve pessoas que divergem em seus depoimentos,


destinada à solução de pontos divergentes sobre fatos ou circunstâncias relevantes,
mediante reperguntas.

ATENÇÃO! Diante do princípio do nemo tenetur se detegere, o entendimento


esmagador é o de que o investigado tem o direito de NÃO colaborar ativamente na
produção de qualquer prova, inclusive a acareação. Contudo, admite-se a execução
coercitiva de provas que demandem mero comportamento passivo (por exemplo,
reconhecimento pessoal).

VII) Determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a


quaisquer outras perícias: caso o crime deixe vestígios, é obrigatório o exame de corpo
de delito direto ou indireto (testemunhas, etc). Atualmente única perícia que vincula a
autoridade policial, nos termos dos arts. 158 e 167 do CPP.

ATENÇÃO! O termo “outras perícias” abrange diversos outros exames periciais que
podem ser determinados de ofício pela autoridade policial, EXCETO o exame de
63
insanidade mental, que exige prévia autorização judicial (cláusula de reserva de
jurisdição).

VIII) Ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se


possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes: a identificação do
indiciado está prevista na Lei nº 12.037/09, que regulamentou o dispositivo constitucional
que dispõe acerca da não identificação criminal daquele que é identificado civilmente. A
identificação será melhor tratada em tópico específico no presente material. Quanto à
folha de antecedentes, trata-se de uma das medidas que visa demonstrar a vida pregressa
do investigado.

ATENÇÃO! Os requerentes que solicitarem atestado de antecedentes, neste NÃO


poderá conter anotações referentes à instauração de inquérito (art. 20, p. ún., Lei
nº 12.681/12).

IX)  averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual,


familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e
depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para
a apreciação do seu temperamento e caráter: o presente dispositivo é bem detalhado
e autoexplicativo, devendo tais esclarecimentos serem objeto de investigação pela
autoridade policial, tendo em vista que lhe incumbe não só elucidar a materialidade e a
autoria, mas também as circunstâncias da infração penal (art. 2º, § 1º, da Lei nº 12.830/13),

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imprescindíveis para a aplicação de determinadas benesses, ou não (excludentes,
qualificadoras do crime, causas de isenção de pena, agravantes, atenuantes, etc).

ATENÇÃO! O Estatuto da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016) trouxe mudança


legislativa com o acréscimo do inciso X ao art. 6º do CPP, abaixo transcrito, novidade
legislativa de suma importância para os concursos de Delegado de Polícia.

X) Colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem


alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos
filhos, indicado pela pessoa presa: Trata-se de inovação legislativa fundada em políticas
públicas em prol de “dependentes” do investigado, e não diretamente a favor deste,
notadamente quando recolhido ao cárcere.

Segundo Norberto Avena, quanto ao objetivo dessa disciplina, é, principalmente, dar


conhecimento às demais autoridades que atuam na persecução criminal (juiz e Ministério
Público) e à defesa constituída, nomeada ou pública do preso, sobre a existência de filhos,
menores ou portadores de alguma deficiência, a fim de que possam ser requeridas ou
adotadas as medidas necessárias para que não permaneçam eles sem assistência e
responsável no período em que o pai ou a mãe estiverem contidos.

Vale acrescentar que a diligência objetiva, também, instruir melhor eventuais


representações por prisão (medida excepcional), haja vista a existência de medidas
cautelares diversas da prisão.
64
XI)Reprodução simulada dos fatos: Denominada por alguns como “reconstituição
do crime”, está prevista no art. 7º do CPP. Trata-se de diligência que objetiva verificar a
veracidade das versões constantes dos autos, a fim de melhor aproximar a conclusão da
investigação ao que realmente aconteceu na prática da infração penal, desde que não
contrarie a moralidade ou a ordem pública (por exemplo, nos crimes sexuais).

ATENÇÃO: Prevalece o entendimento de que o investigado não é obrigado a


participar da reprodução simulada dos fatos, pois, frise-se, fere o princípio do
nemo tenetur se detegere (STF, HC 96219-MC/SP); bem como que é prescindível
a sua intimação, e de seu advogado, para dela participar em sede de investigação
criminal, todavia, caso realizada no processo judicial, torna-se imprescindível, em
face da ampla defesa e do contraditório.

DILIGÊNCIAS INVESTIGATÓRIAS ESPECÍFICAS dos arts. 13-A E


13-B do CPP

Trata-se de diligências investigatórias que objetivam acelerar o andamento da


persecução penal quando se tratar de crimes gravíssimos indicados pelo próprio legislador,
acrescentadas ao Código de Processo Penal com a promulgação da Lei nº 13.344/2016.

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a) Obtenção de dados cadastrais (art. 13-A, CPP):

Art. 13-A.  Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do


art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), e no art. 239 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Es-
tatuto da Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou
o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder
público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações ca-
dastrais da vítima ou de suspeitos.

Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vin-


te e quatro) horas, conterá I - o nome da autoridade requisitante; II - o
número do inquérito policial; III - a identificação da unidade de polícia judi-
ciária responsável pela investigação. (grifo meu)

As informações são de extrema relevância para o desenrolar da investigação e se


referem somente aos dados cadastrais da vítimas ou suspeitos, de modo que eventual
juízo de ponderação entre o direito à intimidade e à liberdade das vítimas, esta prevalece.

Os crimes gravíssimos referidos no dispositivo são os de sequestro e cárcere


privado, redução a condição análoga à de escravo, tráfico de pessoas, extorsão
qualificada pela restrição da liberdade da vítima, extorsão mediante sequestro, bem
65
como o de promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou
adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o
fito de obter lucro.

Segundo Eugênio Pacelli de Oliveira, mesmo que se possa considerar que os dados
prestados ofendem, em certa intensidade, a intimidade dos sujeitos em questão, há de se levar
em conta que estamos falando de crimes gravíssimos (equiparados aos hediondos, nos termos
e condições do art. 12 desta Lei – para fins de livramento condicional), ligados à privação de
liberdade das vítimas. Uma ponderação rasa já aponta a prevalência do interesse investigativo
sobre eventual direito a privacidade.

b) Obtenção de informações das Estações Rádio Base – ERB’s (art. 13-B, do CPP):

Art. 13-B.  Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes re-


lacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o
delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às
empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que
disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais,
informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos sus-
peitos do delito em curso.

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§ 1o  Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da
estação de cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência.

§ 2o  Na hipótese de que trata o caput, o sinal: 

I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer


natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei;

II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular


por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez,
por igual período;

III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será
necessária a apresentação de ordem judicial.

§ 3o  Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá


ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado
do registro da respectiva ocorrência policial.

§ 4o  Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas,


a autoridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço
de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente
66
os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que
permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com
imediata comunicação ao juiz.

Em uma leitura dos dispositivos acima, percebe-se que o § 4º é o único dispositivo


que trouxe alteração substancial na obtenção mais célere das informações, haja vista
que os apenas colocaram no CPP o que já era aceito na prática. Assim, o acesso às ERB’s
necessita de autorização judicial, no entanto, caso haja a representação para a quebra
e a decisão deferindo ou indeferindo não seja proferida em 12h, é possível que a
autoridade requisite diretamente à empresa, condicionada à comunicação do juízo
para o qual foi distribuída a representação não decidida.

Corrobora tal conclusão o doutrinador Eugênio Pacelli de Oliveira: “sem a inserção


do parágrafo quarto do artigo 13-B, nada mudaria no nosso sistema, pois, anteriormente à
inovação legislativa, já era possível ao Delegado pedir os referidos dados via judiciário. Todavia,
caso o juiz fique omisso em doze horas, poderá o delegado requisitar diretamente às
empresas (somente tendo que comunicar o juiz).”

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DILIGÊNCIAS INVESTIGATÓRIAS REQUERIDAS
PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

Mesmo depois de concluídas as diligências investigatórias que a autoridade policial


entendera pertinentes, com o encerramento da investigação por meio do relatório
conclusivo e remessa dos autos ao Poder Judiciário, pode o Ministério Público requisitar
ao juiz a devolução dos autos do inquérito policial para novas diligências a serem
cumpridas pela autoridade policial, desde que imprescindíveis ao oferecimento da
denúncia, para a formação da opinio delicti, tendo em vista ser o titular da ação penal,
nos termos dos arts. 16 do CPP.

O art. 47 do CPP, por sua vez, dispõe acerca da requisição de informações e/ou
documentos diretamente (sem a devolução do inquérito à Delegacia de Polícia) pelo
Ministério Público à autoridade correspondente.

PRAZOS

Os prazos para a conclusão do inquérito policial têm natureza processual, assim,


exclui o dia do início e inclui o último dia, além de prorrogar o prazo para o dia útil seguinte
67
caso se inicie, ou se finde, em dia não útil (sábado, domingo ou feriado), nos termos do
art. 798, § 1º, do CPP.

Há divergência na doutrina acerca da natureza do prazo estando o indiciado preso.


De acordo com a doutrina majoritária, mantém-se a natureza processual do prazo de
conclusão do inquérito, mesmo estando o réu preso. De acordo com Guilherme de
Souza Nucci, passa a ter natureza de norma processual mista ou material, ocasião em
que a contagem deve ser feita na forma do Código Penal: inclui-se o dia do início e exclui
o último dia, além de não prorrogar para o dia útil seguinte.

O prazo de conclusão do inquérito policial, de acordo com o art. 10, “caput” do CPP, é
de 10 (dez) dias se o indiciado estiver preso (prisão em flagrante ou preventiva), contado
do dia da execução da ordem de prisão; e de 30 (trinta) dias, se estiver solto (com ou
sem fiança). Nessa hipótese, admite-se a prorrogação por prazo fixado pelo juiz, no
caso de fato de difícil elucidação (art. 10, § 3º, CPP).

A doutrina majoritária sempre se posicionou pela impossibilidade de prorrogação do


prazo do inquérito, caso o indiciado estivesse preso e, por outro lado, pela possibilidade
de concessão de prorrogação, se o indiciado estivesse solto.

Ocorre que a lei anticrime (Lei 13.869/19) passa a prever expressamente que,
estando o investigado preso, o prazo da duração do inquérito poderá ser prorrogado

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uma vez pelo prazo de 15 dias, conforme indica o §2º do art. 3º-B do CPP. O mesmo
dispositivo deixa claro que, após essa única prorrogação permitida (15 dias), se a
investigação não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada.

Para facilitar a memorização dos prazos, atente-se para a tabela abaixo:

PRESO SOLTO
Regra Geral (art. 10, CPP) 10 + 15 30 dias, prorrogáveis
Justiça Federal 15 + 15 30 dias, prorrogáveis

Lei de Drogas 30 + 30 90 + 90
Crimes contra a economia popular 10 10
Crime Militar 20 40 + 20
Crime hediondo ou equiparado Prisão temporária:30 + 30 ------ \\ -----

ATENÇÃO! Na hipótese de prisão temporária com prazo inferior ao previsto para


a conclusão do inquérito policial, não se altera este. Todavia, se o prazo da prisão
temporária for superior, este será também o prazo para a conclusão do inquérito 68
policial. Por exemplo, prisão temporária de 05 (cinco) dias, o inquérito deverá ser
concluído em 10 (dez) dias; prisão temporária de 30 (trinta) dias (crime hediondo), o
inquérito concluir-se-á também em 30 (trinta) dias.

Note-se que a Lei dos Crimes Hediondos prevê o prazo de 30 dias para a prisão
temporária, prorrogáveis por igual período (art. 2º, § 4º, da Lei nº 8.072/90). Diante disso,
Norberto Avena e Guilherme de Souza Nucci defendem que o prazo para a conclusão
inquérito, estando o indiciado preso temporariamente em razão de crime hediondo
ou equiparado, segue o da prisão temporária.

RELATÓRIO DA AUTORIDADE POLICIAL

A peça lavrada pela autoridade policial ao final da investigação denomina-se


RELATÓRIO, em que constará o que restou apurado, de forma minuciosa, e a determinação
de remessa dos autos ao Poder Judiciário, nos termos do art. 10, § 1º, do CPP, além de
proceder, se o caso, ao indiciamento na referida peça conclusiva.

A doutrina majoritária entende que o Delegado de Polícia não pode declinar qualquer
juízo de valor sobre os fatos, haja vista que o relatório se trata de peça descritiva do que

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fora realizado nos autos do inquérito policial, tais como as diligências executadas e as
não executadas, apresentando as razões de tempo ou de inviabilidade da não realização
delas, inclusive podendo indicar testemunhas não inquiridas e o local onde possam ser
encontradas, conforme dispõe o art. 10, § 2º, do CPP.

ATENÇÃO! O art. 52 da Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas) trouxe hipótese excepcional


em que o Delegado de Polícia, cuidando-se de crime nela previsto, deve justificar as
razões que o levaram à classificação do delito.

A título de conhecimento, Norberto Avena entende ser possível o juízo de tipicidade


por parte da autoridade policial no bojo do relatório independente se é crime da Lei de
Drogas, contudo, não lhe é lícito examinar ou tecer considerações no relatório acerca de
aspectos relativos à ilicitude da conduta ou à culpabilidade do indiciado.

Vale ressaltar que o relatório não vincula o titular da ação penal (MP) que
formula sua própria opinio delicti, tampouco o órgão julgador.

Por fim, nada obsta que o relatório seja acompanhado de alguma representação
na mesma peça, por exemplo, “RELATÓRIO FINAL C/C REPRESENTAÇÃO POR PRISÃO
PREVENTIVA”.

69
DESTINO DO INQUÉRITO POLICIAL

Nos termos do art. 10, § 1º, do CPP, os autos do inquérito policial concluído e relatado
devem ser encaminhados – juntamente com os instrumentos do crime e objetos que
interessem à prova (art. 11, CPP), tais como documentos, armas, computadores, celulares
– ao juízo competente, onde as partes poderão pugnar pela contraprova.

Tratando-se de crime de ação penal pública, o juízo remeterá os autos ao Ministério


Público; se de ação penal privada, os autos aguardarão a iniciativa ou o requerimento de
entrega dos autos pelo ofendido ou representante legal, mediante traslado (art. 19, CPP).

Há discussão na doutrina acerca do destino do inquérito policial (art. 10, CPP), sob
o argumento de que o Ministério Público, titular da ação penal, deveria ser o destinatário
direto e imediato, independente do Poder Judiciário. Há julgados do STF acerca do tema
quando disciplinado em lei estadual, tratando-se de lei inconstitucional, in verbis: é
inconstitucional lei estadual que preveja a tramitação direta do inquérito policial entre a
polícia e o Ministério Público. É constitucional lei estadual que preveja a possibilidade de
o MP requisitar informações quando o inquérito policial não for encerrado em 30 dias,
tratando-se de indiciado solto. STF. Plenário. ADI 2886/RJ, red. p/ o acórdão Min. Joaquim
Barbosa, j. em 3/4/2014 (Info 741).”

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A Resolução nº 063/2009 do Conselho da Justiça Federal regulamentou a tramitação
direta do inquérito policial entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, desde
que efetuado tão-somente o registro dos autos na Justiça Federal por ocasião da primeira
remessa, independente se o Delegado de Polícia Federal requer a dilação do prazo para as
investigações ou apresenta o relatório final, sendo que, naquele caso, o próprio membro
do Ministério Público Federal autoriza a dilação do prazo e restitui os autos à Delegacia
de Polícia Federal.

De acordo com o Tribunal Cidadão (STJ), a citada resolução e eventuais portarias de


juízes singulares não estão impingidas de ilegalidade: “Não é ilegal a portaria editada
por Juiz Federal que, fundada na Res. CJF n. 63/2009, estabelece a tramitação direta de
inquérito policial entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. (STJ, RMS 46.165-SP).

INDICIAMENTO

Trata-se de ato privativo do Delegado de Polícia por meio do qual, indicando as


circunstâncias do fato e segundo sua análise técnico-jurídica, atribui a determinada
pessoa a provável (indícios) autoria ou a participação de uma infração penal, nos termos
do art. 2º, § 6º, do Estatuto do Delegado de Polícia (Lei nº 12.830/13), fazendo com que a 70
linha de investigação o tenha como suspeito principal.

O indiciamento pode ser feito a qualquer momento. Na Portaria de instauração


(início), em despacho em meio à tramitação do inquérito (meio), no relatório final (fim).

O indiciamento é ato fundamentado do Delegado de Polícia e deve conter os seguintes


pressupostos a ele inerentes, a fim de se evitar o constrangimento do investigado:

a) indícios suficientes de autoria;

b) prova da materialidade do delito.

ATENÇÃO! O indiciamento é ATO PRIVATIVO do Delegado de Polícia, não se


admitindo requisições nesse sentido por outras autoridades públicas (Juiz, membro
do Ministério Público, Chefe de Polícia, Comissão Parlamentar de Inquérito, etc), o
que não se confunde com requisição de instauração de inquérito policial, já explorado
no presente material. Tal entendimento é consagrado pela maioria esmagadora da
doutrina (Guilherme de Souza Nucci, Norberto Avena) e da jurisprudência (STF, HC
115015/SP).

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APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
NO INQUÉRITO POLICIAL

Como visto em linhas anteriores, o inquérito policial tem a finalidade principal de


levantar elementos de convicção a respeito de um possível crime. Nesse ponto – crime – é
que entra a discussão sobre a aplicação do princípio da insignificância durante o inqué-
rito policial.

Segundo o ensinamento de Roxin, amplamente aceito por nossos tribunais supe-


riores, o princípio da insignificância leva ao reconhecimento da atipicidade material do
fato. Sem tipicidade material não há tipicidade, e, sem tipicidade, não há crime (conceito
analítico de crime).

Reconhecendo que o princípio da insignificância é uma realidade doutrinária e juris-


prudencial (apesar de não tratado pela lei), e que ele leva à exclusão do próprio fato cri-
minoso, poderia o delegado de polícia deixar de recolher ao cárcere alguém que foi preso
em flagrante delito ou mesmo deixar de indiciar esse investigado com base no referido
princípio? Tal pergunta, apesar de parecer fácil, envolve acalorados debates.

É possível perceber que parte dos doutrinadores se coloca a favor de tal possibilidade.
Outros se colocam contrariamente, afirmando que somente o “dominus litis” e o juiz po- 71
deriam verificar a ocorrência do princípio da insignificância. Outra parcela da doutrina
(não tão pequena) nem mesmo enfrenta o tema.

Norberto Avena (2019), se colocando a favor do reconhecimento do princípio da


insignificância pelo delegado de polícia, aduz o seguinte:

“Percebe-se que, em decorrência dessa natureza jurídica das


funções de polícia das funções de polícia judiciária e de apuração de
infrações penais, restou afastada a ideia de que a autoridade policial veri-
fica apenas a tipicidade formal dos fatos investigados (adequação da
conduta à norma incriminadora), podendo, então, adentrar em aspectos
relacionados à tipicidade material, afastando-a, por exemplo, a partir
do princípio da insignificância e do princípio da adequação social. Mais:
sendo a atividade do delegado jurídica, pode ele, inclusive, deixar de
indiciar o investigado se constatar excludentes de ilicitude, de tipicidade ou
culpabilidade (salvo inimputabilidade), conclusão esta que não subsistia
nos tempos anteriores à Lei 12.830/13, quando se afirmava que, ao
delegado, incumbia, tão somente, examinar questões relativas à auto-
ria, à materialidade e à tipicidade formal da conduta”.

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No mesmo sentido vem o enunciado nº 08 do II Encontro Nacional dos Delegados
sobre Aperfeiçoamento da Democracia e Direitos Humanos (2015): “O Delegado de Polícia
pode aplicar o princípio da insignificância e deixar de lavrar auto de prisão ou apreensão em
flagrante, sem prejuízo da instauração de investigação policial e do controle interno e externo”.

Em posição totalmente oposta, Nestor Távora (2017) aduz que a posição francamente
majoritária tem se inclinado pela impossibilidade do delegado de polícia invocar o
princípio da insignificância para deixar de atuar, pois estaria movido pelo princípio da
obrigatoriedade. No mesmo sentido parece caminhar Renato Brasileiro, que só fala na
aplicação da insignificância ao final do inquérito policial, explicando que o reconhecimento
do princípio pode ser um fundamento para que o membro do Ministério Público faça o
pedido de arquivamento do IP.

Pensamos que o tema é muito controvertido para ser cobrado em uma prova
objetiva. Por outro lado, não podemos esquecer que as provas de concurso costumam
abraçar a tese institucional do cargo para qual está selecionando candidatos. Com
isso, apesar de achar difícil que o tema seja cobrado em “alternativas” (prova fechada),
pensamos que seria mais seguro o candidato, em um concurso para carreiras policiais,
assinalar que pode o Delegado de Polícia reconhecer e aplicar o princípio da insignificância,
apresentando os motivos acima expostos. 72

ARQUIVAMENTO DO INQÚERITO POLICIAL


Mudanças promovidas pela “Lei Anticrime”

Grandes transformações foram promovidas com a alteração do art. 28 do CPP pela


lei 13.964/19 (Pacote anticrime).

Porém, antes de enfrentar o assunto, não custa lembrar que o referido dispositivo
está suspenso por decisão cautelar em sede de ADI proferida pelo Ministro Luiz Fux em
22/01/2020. Como já dito, a ADI não foi definitivamente julgada, e, com isso, existe uma
chance de a nova redação vir em sua prova.

Inicialmente, cumpre fazer um comparativo entre a redação anterior e a atuação


redação do art. 28 do CPP:

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REDAÇÃO ANTERIOR REDAÇÃO ATUAL

Art. 28. Se o órgão do Ministé- Art. 28. Ordenado o arquivamento


rio Público, ao invés de apresentar a do inquérito policial ou de quaisquer
denúncia, requerer o arquivamento do elementos informativos da mesma
inquérito policial ou de quaisquer pe- natureza, o órgão do Ministério Público
ças de informação, o juiz, no caso de comunicará à vítima, ao investigado e à
considerar improcedentes as razões in- autoridade policial e encaminhará os
vocadas, fará remessa do inquérito ou autos para a instância de revisão mi-
peças de informação ao procurador-ge- nisterial para fins de homologação,
ral, e este oferecerá a denúncia, desig- na forma da lei. (Redação dada pela
nará outro órgão do Ministério Público Lei nº 13.964, de 2019)
para oferecê-la, ou insistirá no pedido
de arquivamento, ao qual só então es- §1º Se a vítima, ou seu
tará o juiz obrigado a atender representante legal, não concordar
com o arquivamento do inquérito
policial, poderá, no prazo de 30 (trinta)
dias do recebimento da comunicação,
submeter a matéria à revisão da ins-
tância competente do órgão ministe-
rial, conforme dispuser a respectiva lei
orgânica. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

§ 2º Nas ações penais relativas


a crimes praticados em detrimento da
União, Estados e Municípios, a revisão
do arquivamento do inquérito policial
poderá ser provocada pela chefia do
73
órgão a quem couber a sua representa-
ção judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)

Segundo a nova redação, o arquivamento do IP não será mais realizado pelo juiz.
A regra, agora, é que o Promotor de Justiça ordenará o arquivamento e encaminhará para
instância de revisão integrante da estrutura do próprio Ministério público.

Assim, se o órgão de revisão confirmar o arquivamento, os autos do inquérito serão


devidamente encerrados.

Entretanto, se o órgão de revisão entender que não é caso de homologação do


arquivamento, fará remessa do inquérito ao procurador-geral, e este designará outro
órgão do Ministério Público para oferecê-la.

DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL E OFERECIMENTO DA DENÚNCIA

O desarquivamento do IP é a reabertura das investigações. Vale lembrar que,


quando o IP é arquivado por falta de lastro probatório para o oferecimento de denúncia,
tal arquivamento é baseado na clausula “rebus sic stantibus”, ou seja, alterados os
pressupostos da decisão de arquivamento, poderá tal decisão ser modificada (a coisa
julgada formada por tal arquivamento é formal).

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O pressuposto para o desarquivamento é a noticia de provas novas. Isso é muito
importante, pois em tese, não é necessário nesse momento que já existam provas novas,
mas apenas a noticia de tais provas:

Art. 18.  Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária,


por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas
(desarquivamento), se de outras provas tiver notícia. (grifou-se)

Já o pressuposto para o oferecimento da denúncia é o surgimento de NOVAS


PROVAS. Primeiro se desarquiva o IP, e posteriormente, sendo coletadas as novas provas,
oferece-se a denúncia.

- A terminologia “provas novas”: A prova nova é aquela capaz de produzir uma


mudança substancial dentro do contexto probatório no qual foi produzida a decisão de
arquivamento.

A doutrina subdivide esse conceito em duas espécies:

A) Provas substancialmente novas: É aquela inédita e desconhecida. Até então


ninguém tinha conhecimento de sua existência. Ex: Uma arma do crime que apareceu
depois do arquivamento do inquérito.
74
B) Provas formalmente novas: Já era conhecida, porém ganhou uma nova versão.
Ex: Testemunha que muda seu depoimento tempos depois.

Os DOIS subtipos de provas (substancialmente e formalmente novas) são o


suficiente para o desarquivamento do IP e posterior oferecimento da denúncia. Vejamos
o enunciado 524 da Súmula do STF:

ARQUIVADO O INQUÉRITO POLICIAL, POR DESPACHO DO JUIZ,


A REQUERIMENTO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA, NÃO PODE A AÇÃO
PENAL SER INICIADA, SEM NOVAS PROVAS.

Lembrando que a súmula acima é anterior à Lei Anticrime, e, por isso, fala que o
arquivamento do IP se dá por despacho do juiz.

ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (ANPP)

A Lei Anticrime (Lei 13.964/19) acrescentou o artigo 28-A ao Código de Processo


Penal, passando a prever, dessa forma, a possibilidade de o Ministério Público celebrar
ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (ANPP) com o investigado.

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Salienta-se que o instituto já estava tratado na Resolução 181/17 do CNMP, mas o
pacote anticrime 13.964/19 foi a primeira lei em sentido estrito a tratar do tema. Inclusive,
tal alteração joga por terra um dos maiores argumentos até então usados contra o uso do
ANPP no processo penal, qual seja, sua falta de previsão legal.

Obs: Boa parte da doutrina firmava que era inconstitucional a Re-


solução do CNMP que tratava do ANPP. Para tais respeitados autores, por
tratar de Direito Processual Penal, nos termos do art. 22, I, da CF, o tema só
poderia ser regulamentado por Lei Federal. Com a Lei Anticrime tratando
do assunto, tal discussão está enterrada.

Em linhas gerais, pode-se dizer que o ANPP é mais um mecanismo de justiça penal
consensual que se soma a institutos já conhecidos como transação penal, suspensão
condicional do processo, suspensão condicional da pena, colaboração premiada, entre
outros. Segundo a doutrina, o instituto mitiga nitidamente o princípio da obrigatoriedade
da ação penal, que de fato precisa ser reinterpretado a partir de agora.

Para ajudar na compreensão e na fixação da letra seca do novo art. 28-A (que
provavelmente será o principal alvo de provas), iremos fazer uma forma de “lei comentada”,
transcrevendo cada partícula do dispositivo e em seguida fazendo os comentários que
eventualmente se façam necessários. 75
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal
e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e
com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acor-
do de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alter-
nativamente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Já no caput podemos ver que os requisitos de admissibilidade do ANPP são:

1. Não ser caso de arquivamento;

2. Ter o investigado confessado formal e circunstanciadamente a prática de infração


penal;

3. Que a infração penal seja:

3.1. Sem violência ou grave ameaça

3.2. Com pena mínima inferior a 4 anos

4. Que o acordo seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.

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Verificada a presença de todos os requisitos, e que se trata de caso em que seja
possível o ANPP, passa-se aos incisos do caput, que, por sua vez, apresentam as condições
a serem ajustadas entre o MP e o acusado:

I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;


(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público


como instrumentos, produto ou proveito do crime; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspon-


dente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser
indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de de-
zembro de 1940 (Código Penal); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-


-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de inte-
resse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como
função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo
delito; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Públi-
76
co, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)

Observe que o final do “caput” diz que as condições podem ser fixadas “cumulativa e
alternativamente”. Acreditamos que seja uma impropriedade linguística, pois a partícula
“e” dá a entender que em todos os casos a fixação seria cumulativa e alternativa. Ora, por
questões de lógica, ou se aplica apenas uma das condições (alternativamente) OU mais
de uma, caso em que teremos aplicação cumulativa. Melhor seria que o legislador tivesse
usado a partícula “OU” no lugar de “e”, como já era feito na Resolução 181/17.

Apesar da pequena impropriedade legislativa, imaginamos que não há dúvidas sobre


a finalidade do legislador, que apenas quis permitir, no caso concreto, a aplicação de uma
ou várias condições, a depender da análise do membro do MP responsável pelo caso.
Assim, pode ser acordada apenas a reparação do dano à vítima, ou então a reparação do
dano cumulada com prestação de serviços à comunidade, por exemplo.

§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste
artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Sem necessidade de maiores aprofundamentos, o §1 do art. 28-A afirma que as


causas de aumento e diminuição de pena serão levadas em consideração para verificar

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se a reprimenda do crime se enquadra ou não no quantum do caput, qual seja, pena
mínima não superior há 4 anos.

§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses: (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais,


nos termos da lei; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indi-


quem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as
infrações penais pretéritas; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da
infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional
do processo; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou prati-


cados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

O §2 apresenta as chamadas condições negativas de admissibilidade, ou seja,


77
enumera situações em que não será admitido o ANPP. Muito cuidado, pois, diferentemente
da anterior Resolução 181/17 do CNMP, não está nesse rol os chamados “crimes hediondos
ou equiparados”. Logo, em tese, se satisfeitos os demais requisitos (pena mínima não
maior que 4 anos, sem violência e grave ameaça, etc.), pode ser proposto Acordo de Não
Persecução em relação a crimes hediondos ou equiparados.

§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo
membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência


na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na
presença do seu defensor, e sua legalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas


no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja
reformulada a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

Perceba que quem firma o acordo é o promotor junto com o investigado e a defesa.
O juiz apenas homologa, em audiência.

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§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os
autos ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Assim, podemos perceber que o acordo segue um rito extrajudicial até a sua
celebração. Após formalizado ao ajuste, todo o trâmite segue o rito judicial, desde sua
homologação, como mesmo após, onde o membro do MP irá receber os autos e executar
as condições perante o juiz da execução penal.

§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos
legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a


análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Se o Promotor discordar da não homologação da proposta, há a possibilidade de se


impetrar RESE (Recurso em sentido estrito), de acordo com a nova redação dada ao artigo
581, XXV, CPP.

§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu


78
descumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução


penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior
oferecimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também


poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento
de suspensão condicional do processo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Note que os §§ 10 e 11 tratam do descumprimento do ANPP. Muito interessante


é a regra trazido pelo §11, segundo a qual pode o MP negar o benefício da Suspensão
condicional do Processo (Art. 89 da Lei 9.099/95) com base no não cumprimento do
Acordo de Não Persecução anteriormente proposto.

§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão


de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente


decretará a extinção de punibilidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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Os § 12 e 13 apresentam as consequências do cumprimento do acordo.

Em primeiro lugar, o cumprimento do ANPP não aparecerá em Certidões de


Antecedentes. A intenção é que o beneficiado não carregue todo o estigma de alguém
que já foi alvo da persecução criminal, o que atentaria contra a própria ideia de justiça
consensual.

Em segundo, temos que o cumprimento integral do acordo gera extinção de


punibilidade. Logo, o §13 se soma ao rol do art. 107 do CP, ou seja, é uma nova hipótese
de extinção da punibilidade.

§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não
persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na
forma do art. 28 deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

O §14, último do artigo 28-A, apresenta a possibilidade de apresentação de razões


por parte do interessado no caso de não propositura do Acordo, havendo uma reanálise
do órgão superior do Ministério Público.

ATRIBUIÇÃO PARA O INQUÉRITO POLICIAL 79


A atribuição, ou competência administrativa, para a condução do inquérito policial
é da autoridade policial (Delegado de Polícia), assim, não há que se falar em competência
propriamente dita (competência como medida de jurisdição).

Vale ressaltar que diligências investigatórias pela autoridade policial em outra


circunscrição independem de precatória ou requisição, mesmo diante das diretrizes
abaixo demonstradas, conforme art. 22 do CPP.

Há algumas diretrizes que delimitam o campo de atuação da autoridade policial,


com delimitação territorial onde exerce suas atribuições (circunscrição), nos termos do
art. 4º do CPP, e de acordo com os seguintes critérios:

a) territorial (ratione loci): local de consumação do delito determina a circunscrição


policial responsável pela apuração do delito;

b) material (ratione materiae): corresponde à: b.1) divisão da investigação entre


as polícias judiciárias (Polícia Civil e Polícia Federal), de modo que à Polícia Federal,
como regra geral, investigar crimes de competência da Justiça Federal, e, à Polícia Civil,
os demais, excetuados os crimes militares; b.2) atribuição das delegacias especializadas
(Delegacia de Homicídios, Delegacia de Roubos e Furtos, etc).

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c) em razão da pessoa (ratione personae): leva-se em consideração alguma
circunstância da vítima com a especialização da autoridade policial e de seus agentes
para lidar com tais vítimas. Por exemplo, mulher (Delegacia de Atendimento à Mulher),
criança (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente).

ATENÇÃO! Não só o investigado possui direitos fundamentais, mas a vítima também,


razão pela qual a violação da atribuição ratione personae é passível de controle
judicial por meio de habeas corpus, inclusive com o trancamento do inquérito
policial, se o caso.

TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA

Regrado pela lei 9.099/95, o TCO é um procedimento mais simples que o inquérito
policial destinado à apuração das infrações de menor potencial ofensivo (Art. 61 da lei
9.099/95), com o resumo das declarações das pessoas envolvidas e das testemunhas,
determinando-se a realização das perícias necessárias, inclusive o exame de corpo de
delito, quando deixam vestígios.

A autoridade policial que tomar conhecimento do fato deve tomar do autuado 80


o compromisso de comparecimento ao juizado especial em dia e hora previamente
determinados.

Os autos serão remetidos de imediato ao Juizado Especial Criminal, onde, se o caso,


serão aplicados os regramentos da Lei nº 9.099/95.

ATENÇÃO! A utilização eventual de inquérito policial em vez de termo circunstanciado


não torna nulo o procedimento, nem passível de trancamento.

Maiores detalhes sobre o Termo Circunstanciado de Ocorrência serão vistos quando


do estudo da Lei 9.099/95, em Legislação Extravagante.

OUTROS PROCEDIMENTOS INVESTIGATÓRIOS

O inquérito policial é uma espécie de procedimento de investigação de infração


(penal), assim, há outras espécies de procedimentos investigatórios para apurar infrações
à lei (não só penal), abaixo relacionadas, nos termos do próprio art. 4º, parágrafo único,
do CPP.

a) Inquérito Policial Militar: presidido pela polícia judiciária militar, nos termos do
art. 8º do CPPM;

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b) Inquérito para investigar crime praticado por juiz ou promotor: presidido
pelo respectivo órgão de cúpula, nos termos da LOMAN e da LOMP;

c) Inquérito Civil Público: investigação conduzida pelo MP para apurar lesões a


interesses transindividuais (em tese, não criminal);

d) Inquérito Parlamentar: presidido pela Comissão Parlamentar de Inquérito e


será remetido ao Ministério Público para que, se o caso, promova a ação penal. Ademais,
o poder de polícia da Câmara e do Senado abrange a prisão em flagrante e a presidência
do inquérito no caso de crimes praticados em suas dependências (Súmula nº 397 do STF);

e) Inquérito administrativo para apuração de infrações à ordem econômica,


presidido pela Superintendência-Geral do CADE.

f) Sindicâncias e processos administrativos para apuração de falta funcional por


agentes da Administração Pública;

g) Investigação conduzida por agentes florestais (IBAMA, etc);

h) Inquérito conduzido pela Comissão de Inquérito do Banco Central do Brasil.


É admitido para embasar a denúncia (Informativo nº 578/STF);
81
i) Investigação particular: conduzida por particulares. Vale ressaltar a Lei nº
13.432/17, que dispõe sobre o exercício da profissão de detetive particular, prevê em seu
art. 5º que o detetive particular pode colaborar com investigação policial em curso, desde que
expressamente autorizado pelo contratante.

Segundo Eugênio Pacelli de Oliveira, embora a Constituição Federal (art. 144) e a Lei
nº 12.850/13 assegurem caber às polícias judiciárias a investigação das infrações penais (art.
144), é bem de ver que outras autoridades administrativas terminam por investigar fatos
que também constituem crimes, desde que orientadas pelas finalidades e atribuições
a elas deferidas em Lei. Assim, a Receita Federal investiga infrações fiscais/tributárias;
eventualmente, o material então produzido poderá subsidiar ação penal, dado que a
ilicitude tributária poderá se compatibilizar com a ilicitude penal.

ATENÇÃO! Com o advento da Lei nº 11.101/05 (Lei de Falências), restou revogado


o inquérito judicial presidido pelo juiz com contraditório e ampla defesa destinado
à instrução da ação penal. A figura do juiz inquisidor restou extirpada, também, do
antigo regramento de combate às organizações criminosas (ADI 1.570-2/04).

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INVESTIGAÇÃO CRIMINAL CONDUZIDA
PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

Por muito tempo pairou certa dúvida sobre os poderes de investigação próprios do
Ministério Público. O tema se resolveu ainda no ano de 2015, quando o STF, em matéria
de repercussão geral, decidiu que o MP pode sim investigar (STF Plenário. RE 593727/MG
de 14/05/2015).

Segundo a corte suprema, é possível a investigação realizada diretamente pelo MP,


mas deveriam ser observados os seguintes aspectos:

1) Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais


dos investigados;

2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente documen-


tados e praticados por membros do MP;

3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional


de jurisdição, ou seja, determinadas diligências somente podem ser au-
torizadas pelo Poder Judiciário nos casos em que a CF/88 assim exigir
(ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário etc); 82
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais assegura-
das por lei aos advogados;

5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculante


14 do STF (“É direito do defensor, no interesse do representado, ter
acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em pro-
cedimento investigatório realizado por órgão com competência de po-
lícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”);

6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável;

7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao


permanente controle do Poder Judiciário.

CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL PELO MP

É o conjunto de normas que regulamentam a fiscalização exercida pelo MP em relação


à polícia, na prevenção, apuração e investigação de infrações penais, na preservação dos
direitos e garantias constitucionais dos presos sob custódia policial, e na fiscalização do
cumprimento das determinações judiciais. Ou seja, na atividade fim da polícia.

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Isso esta regulamentado pelo art. 9 da LC 75/90 e pela resolução n. 20 do CNMP.

Segundo a melhor doutrina, tal controle externo decorre do sistema de freios e


contrapesos, não significando algum tipo de hierarquia entre as instituições (Polícia e
Ministério Público) ou seus membros.

Espécies de controle:

– Controle difuso: É aquele exercido por todos os órgãos do MP com atribuição


criminal por ocasião da análise dos procedimentos que lhe são distribuídos.

– Controle Concentrado: é aquele exercido por órgãos do MP com atribuição


específica para o controle externo da atividade policial.

JUIZ DAS GARANTIAS

A Lei 13.964/19 (Lei anticrime) instituiu a figura do Juiz das Garantias, que é o
responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos
direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder 83
Judiciário.

De forma geral, pode-se afirmar que o juiz das garantias é o magistrado que “cuidará”
das investigações, atuando desde seu início até o recebimento da denúncia. Após esse
momento, o “juiz do processo” irá assumir. A intenção principal de tal alteração legislativa
é manter a imparcialidade do juiz do processo, que, a partir desse momento passa a não
ter qualquer contato com a investigação preliminar.

Apesar do tema ter sido tratado pela Lei anticrime (13.964/19), estando
minuciosamente descrito entre os artigos 3-A e 3-F do CPP, é muito importante notar
que atualmente a eficácia de tais dispositivos está suspensa por decisão cautelar
proferida pelo ministro Luiz Fux no dia 22/01/2020, no seio das ADI’s 6.298, 6.299,
6.300 e 6.305.

Embora pouco provável, é SIM possível que os dispositivos de lei suspensos pela
decisão do Ministro Luiz Fux sejam cobrados em provas de concurso. Isso porque a
decisão apenas SUSPENDEU A EFICÁCIA de tais normativos, mas ainda não os declarou
inconstitucionais.

Logo, é aconselhável que nossos alunos façam uma leitura do texto seco dos
artigos 3-A a 3-F do CPP, de forma a não deixar qualquer aresta na preparação. Não há
necessidade, por outro lado, de maiores comentários teóricos sobre o tema.

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Abaixo, no intuito de facilitar seu estudo, segue o texto dos artigos 3-B a 3-F:

Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da le-


galidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos in-
dividuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do
Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente:     (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

I - receber a comunicação imediata da prisão, nos termos do in-


ciso LXII do caput do art. 5º da Constituição Federal;     (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)

II - receber o auto da prisão em flagrante para o controle da lega-


lidade da prisão, observado o disposto no art. 310 deste Código;     (In-
cluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - zelar pela observância dos direitos do preso, podendo deter-


minar que este seja conduzido à sua presença, a qualquer tempo;     (In-
cluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - ser informado sobre a instauração de qualquer investigação


criminal;     (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
84
V - decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou outra
medida cautelar, observado o disposto no § 1º deste artigo;     (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

VI - prorrogar a prisão provisória ou outra medida cautelar, bem


como substituí-las ou revogá-las, assegurado, no primeiro caso, o exer-
cício do contraditório em audiência pública e oral, na forma do dispos-
to neste Código ou em legislação especial pertinente;    (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)

VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de


provas consideradas urgentes e não repetíveis, assegurados o contra-
ditório e a ampla defesa em audiência pública e oral;    (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)

VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o inves-


tigado preso, em vista das razões apresentadas pela autoridade poli-
cial e observado o disposto no § 2º deste artigo;    (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

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IX - determinar o trancamento do inquérito policial quando não
houver fundamento razoável para sua instauração ou prosseguimento;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

X - requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de


polícia sobre o andamento da investigação;  (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)

XI - decidir sobre os requerimentos de:   (Incluído pela Lei nº


13.964, de 2019)

a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em siste-


mas de informática e telemática ou de outras formas de comunicação;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e telefônico;  (In-


cluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

c) busca e apreensão domiciliar; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

d) acesso a informações sigilosas; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)


85
e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam direitos fun-
damentais do investigado;    (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

XII - julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da


denúncia; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

XIII - determinar a instauração de incidente de insanidade mental;


(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos ter-


mos do art. 399 deste Código; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

XV - assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito


outorgado ao investigado e ao seu defensor de acesso a todos os ele-
mentos informativos e provas produzidos no âmbito da investigação
criminal, salvo no que concerne, estritamente, às diligências em anda-
mento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para


acompanhar a produção da perícia;        (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)

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XVII - decidir sobre a homologação de acordo de não persecução
penal ou os de colaboração premiada, quando formalizados durante a
investigação;    (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

XVIII - outras matérias inerentes às atribuições definidas


no caput deste artigo.     (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º (VETADO).     (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá,


mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério
Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15
(quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for concluída,
a prisão será imediatamente relaxada.    (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as


infrações penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com
o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Códi-
go.   (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão


86
decididas pelo juiz da instrução e julgamento.        (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

§ 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o


juiz da instrução e julgamento, que, após o recebimento da denúncia ou
queixa, deverá reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso,
no prazo máximo de 10 (dez) dias.    (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das


garantias ficarão acautelados na secretaria desse juízo, à disposição do
Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos autos do processo
enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos
relativos às provas irrepetíveis, medidas de obtenção de provas ou de
antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em
apartado.  (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos autos acautelados


na secretaria do juízo das garantias.  (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 3º-D. O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato


incluído nas competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impe-
dido de funcionar no processo.     (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz,
os tribunais criarão um sistema de rodízio de magistrados, a fim de
atender às disposições deste Capítulo.    (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

Art. 3º-E. O juiz das garantias será designado conforme as nor-


mas de organização judiciária da União, dos Estados e do Distrito Fede-
ral, observando critérios objetivos a serem periodicamente divulgados
pelo respectivo tribunal.     (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento


das regras para o tratamento dos presos, impedindo o acordo ou ajus-
te de qualquer autoridade com órgãos da imprensa para explorar a
imagem da pessoa submetida à prisão, sob pena de responsabilidade
civil, administrativa e penal.     (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Parágrafo único. Por meio de regulamento, as autoridades deve-


rão disciplinar, em 180 (cento e oitenta) dias, o modo pelo qual as in-
formações sobre a realização da prisão e a identidade do preso serão,
de modo padronizado e respeitada a programação normativa aludida
no caput deste artigo, transmitidas à imprensa, assegurados a efetividade 87
da persecução penal, o direito à informação e a dignidade da pessoa
submetida à prisão.    (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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QUESTÕES A) INCORRETA. Contraria o texto do art. 4º
do CPP, segundo qual “a polícia judiciária
será exercida pelas autoridades policiais no
1. (2013 – UEL – PCPR) Com relação ao
território de suas respectivas circunscrições
inquérito policial, segundo o Código de
e terá por fim a apuração das infrações
Processo Penal, assinale a alternativa
penais e da sua autoria”.
correta.

B) INCORRETA. Contraria o art. 3º do CPP,


A) A polícia judiciária será exercida pelas
que afirma ser possível a interpretação
autoridades policiais em todo o território
extensiva e aplicação analógica, bem como
nacional, independente de circunscrição,
o suplemento dos princípios gerais de
com o fim de apurar as infrações penais e
direito.
sua autoria.

C) INCORRETA. O prazo, na verdade, é de 10


B) Na legislação processual penal, é
dias se o indiciado estiver preso ou de 30
inaplicável a interpretação extensiva e
dias se solto (art. 10, do CPP).
analógica, bem como o suplemento dos
princípios gerais do direito.
D) CORRETA. É a cópia do art. 16 do CPP,
segundo o qual “O Ministério Público
C) O inquérito deverá terminar no prazo
não poderá requerer a devolução do
de trinta dias, se o indiciado tiver sido
preso em flagrante, ou estiver preso
inquérito à autoridade policial, senão 88
para novas diligências, imprescindíveis ao
preventivamente, contado o prazo a partir
oferecimento da denúncia”.
do dia da prisão.

E) INCORRETA. Segundo o art. 14 do CPP,


D) O Ministério Público não poderá requerer
“o ofendido, ou seu representante legal,
a devolução do inquérito à autoridade
e o indiciado poderão requerer qualquer
policial, senão para novas diligências,
diligência, que será realizada, ou não, a
imprescindíveis ao oferecimento da
juízo da autoridade”. É a característica da
denúncia.
discricionariedade no Inquérito policial, a
autoridade não está vinculada ao pedido
E) O ofendido, ou seu representante legal,
de diligência realizada pela vítima.
poderá requerer qualquer diligência, a
qual será realizada obrigatoriamente,
RESPOSTA: D
considerados os princípios do contraditório
e da ampla defesa.

Comentários:
2. (DPCSP – 2018) A respeito do inquérito
policial, assinale a alternativa correta.
Questão apresenta pontos básicos relativos
a temas como “Lei processual” e “Inquérito
A) Para saber qual é a autoridade
Policial”. Novamente, todos os itens com
policial  competente  para um certo
base na letra fria do CPP.
inquérito policial, utiliza-se o critério ratione
loci ou ratione materiae.

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B) A autoridade policial poderá arquivar Não se pode, no entanto, deixar de
autos de inquérito policial se convencida da observar que a expressão “atribuição”
inexistência da materialidade delitiva. seria mais adequada para se referir às
responsabilidades da autoridade policial,
C) Logo que tiver conhecimento da prática pois, como se sabe, “competência” – pelo
da infração penal, autoridade policial menos do ponto de vista técnico – significa
poderá apreender os objetos que tiverem “medida de jurisdição”, sendo exclusiva de
relação com o fato, após liberados pelos autoridades jurisdicionais. Tudo bem que
peritos criminais. não foi o bastante para tornar a alternativa
incorreta, mas com certeza o concursando
D) Como peça obrigatória para o deve-se atentar para a referida diferença.
oferecimento da denúncia, os autos de
inquérito policial acompanharão a denúncia A alternativa “B” não poderia ser a resposta,
ou queixa. pois, segundo famigerado artigo 17 do CPP,
“a autoridade policial não poderá mandar
E) O inquérito policial é um procedimento arquivar autos de inquérito”.
administrativo, de natureza acusatória,
escrito e sigiloso. A alternativa C também está incorreta, e
a fundamentação se liga à expressão final
do caput do art. 6 do CPP, que foi alterada

Comentários:
pela questão. Segundo referido dispositivo, 89
“logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá”
A presente questão aborda alguns dos
(e não apenas “poderá”) apreender os
conceitos básicos no que se refere à
objetos que tiverem relação com o fato,
investigação policial. Vejamos ponto a
após liberados pelos peritos criminais.
ponto.
A incorreção da letra “D”, por sua vez,
A alternativa “A” foi dada como correta,
se deve ao fato de ter relacionado o
sendo o gabarito final. Segundo a doutrina,
Inquérito como uma peça obrigatória para
são critérios usados para se identificar a
o oferecimento da ação penal, quando, na
autoridade policial com atribuição para um
verdade, explana o art. 12 do CPP que “O
certo inquérito:
inquérito policial acompanhará a denúncia
ou queixa, sempre que servir de base a uma
- Ratione materiae: leva em consideração a
ou outra”. Pela própria leitura do dispositivo,
natureza da infração penal.
e complementando com os ensinamentos
- Ratione loci: Leva em consideração o local doutrinários, é possível afirmar, a contrario
da infração; senso, que se o inquérito não servir de base
para a denuncia ou queixa, poderá ser
- Ratione personae: leva em consideração dispensado.
a condição pessoal dos sujeitos (ex.: idoso;
mulher; criança). A alternativa “E” traz incorreção ao tratar
o inquérito como um procedimento

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acusatório, quando, em verdade, tem Está correto o que se afirma apenas em:
natureza inquisitiva.
a) II e IV.
RESPOSTA: A
b) II, III e V.

c) I, III e IV.
3. (2016 – FUNCAB – PCPA – Delegado
de Polícia Civil) Sobre as funções do d) I e IV.
inquérito policial, leia as afirmativas.
e) III e V.
I. A função precípua da atividade de polícia
judiciária é a defesa social, a preservação
da ordem pública e o combate implacável à
criminalidade. ITEM I INCORRETO: a preservação da
ordem pública é função típica e precípua
II. A instrução preliminar, que se das polícias militares, nos termos do art.
consubstancia do inquérito policial, é 144, § 5º, da CF/88. Não obstante, também
uma “instituição indispensável à justiça é exercida pelas polícias civis como função
penal”. Seu primeiro benefício é ‘proteger atípica. 
o inculpado”. 
ITEM II CORRETO: Item escorreito, tendo 90
III. O processo é público e o inquérito em vista que hodiernamente a instrução
é sigiloso. A principal função do sigilo é preliminar é consubstanciada no inquérito
evitar a escandalosa publicidade sem que policial, embora raramente hajam outros
se tenha formado uma justa causa para o modos investigatórios, e visa tratar o
julgamento público no âmbito do processo. investigado não como mero objeto de
O sigilo, assim, antes da função utilitarista, prova, mas como sujeito de direitos,
possui função garantista.  servindo para colher elementos quanto ao
fato delitivo, independente se tendentes à
IV. Por motivos de defesa social e ordem futura condenação ou à própria absolvição
pública, é possível apresentar o preso (Processo Penal Justo). Vale ressaltar que o
em flagrante às emissoras de televisão, trecho do item foi extraído do livro Princípios
assegurando a estas o direito à informação fundamentais do processo penal, de autoria
tutelado constitucionalmente. de Joaquim Canuto Mendes de Almeida. 

V. O inquérito ostenta a função ITEM III CORRETO: O inquérito é


preservadora, consistente em preservar sigiloso primordialmente para evitar
a inocência contra acusações infundadas a estigmatização dos investigados e a
e o organismo judiciário contra o custo e realização de pré-julgamentos em relação
a inutilidade em que estas redundariam , à autoria antes mesmo de concluída a
propiciando sólida base e elementos para a investigação, notadamente em relação aos
propositura e exercício da ação penal.  inculpados, conforme item anterior.

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ITEM IV INCORRETO: O direito à informação c) conforme disposição expressa no
das emissoras não se sobrepõem à Código de Processo Penal vigente, o
presunção de não culpabilidade do autuado, Delegado de Polícia não é obrigado
além do sigilo inerente ao inquérito policial a determinar a realização de perícia
(visão garantista). requerida pelo investigado, ofendido
ou seu representante legal, quando não
ITEM V CORRETO: Item escorreito, mais for necessária ao esclarecimento da
uma vez extraído da obra do autor Joaquim verdade, ainda que se trate de exame
Canuto Mendes de Almeida: A instrução de corpo de delito, pois a investigação é
preliminar é uma ‘instituição indispensável conduzida de forma discricionária. 
à justiça penal’. Seu primeiro benefício é
‘proteger o inculpado’. Dá à defesa a faculdade d) o inquérito policial é um procedimento
de dissipar as suspeitas, de combater os discricionário, portanto, cabe
indícios, de explicar os fatos e de destruir a ao Delegado de Polícia conduzir
prevenção no nascedouro; propicia-lhe meios as diligências de acordo com as
de desvendar prontamente a mentira e de especificidades do caso concreto,
evitar o constrangimento da investigação e a não estando obrigado a seguir uma
escandalosa publicidade do julgamento. sequência predeterminada de atos.

RESPOSTA: B e) poderá a autoridade policial determinar


em todas as espécies de crimes, 91
atendidos os requisitos legais e suas
peculiaridades, a reconstituição do fato
4. (2017 – FAPEMS – PCMS – Delegado de delituoso, desde que não contrarie a
Polícia) Sobre as diligências que podem moralidade ou a ordem pública, com a
ser realizadas pelo Delegado de Polícia, participação obrigatória do investigado. 
é correto afirmar que:

a) caso o ofendido ou seu representante


legal apresente requerimento para Comentários:
instauração de instauração de inquérito
policial, a autoridade policial deve ALTERNATIVA A ERRADA: O termo “deve” e
atender ao pedido, em observância do ausência de especificação do tipo de ação
princípio da obrigatoriedade. penal (pública ou privada) tornou a assertiva
incorreta, haja vista que a autoridade
b) deparando-se com uma notícia policial pode ou não instaurar inquérito
na imprensa que relate um fato policial, após verificada procedência das
delituoso, a autoridade policial deve informações, mormente em se tratando de
instaurar inquérito policial de ofício, fato atípico, cabendo recurso ao Chefe de
elaborando,  conforme determina o Polícia no caso de indeferimento (art. 5º, §
Código de Processo Penal vigente, um 2º, CPP).
relatório sobre a forma como tomou
conhecimento do crime. ALTERNATIVA B ERRADA: Em atendimento
ao princípio da obrigatoriedade, deve

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instaurar inquérito policial, contudo, não há das premissas acima expostas, assinale a
disposição expressa no Código de Processo opção correta. 
Penal que determine a elaboração de
relatório acerca da forma como tomou a) Cabe ao delegado de polícia arquivar o
conhecimento do crime. inquérito policial.

ALTERNATIVA C ERRADA: até a palavra b) A remoção do delegado de polícia dar-


“verdade” da questão está correta, nos se-á somente por ato fundamentado
termos do art. 14 do CPP, contudo, o e o indiciamento, que é privativo do
exame de corpo de delito excepciona a delegado de polícia, dar-se-á por ato
discricionariedade da autoridade policial fundamentado, mediante análise
na condução da investigação (art. 158, CPP). técnico-jurídica do fato, que deverá
indicar a autoria, materialidade e suas
ALTERNATIVA D CORRETA. Conforme circunstâncias.
comentário do item anterior, está de acordo
com o art. 14 do CPP, consubstanciado na c) O Ministério Público pode não apenas
característica da discricionariedade do requisitara instauração do inquérito,
inquérito policial. como também determinar autoridade
policial o indiciamento de um
ALTERNATIVA E ERRADA: Em observância à investigado.
garantia constitucional de que o investigado
d) O inquérito policial ou outro
92
não é obrigado a produzir prova contra si
mesmo (nemo tenetur se detegere), ele não é procedimento previsto em lei em
obrigado a participar da reconstituição do curso, conduzido por delegado de
fato criminoso, trata-se de mera faculdade. polícia, somente poderá ser avocado ou
redistribuído por superior hierárquico
RESPOSTA: D ou pelo Ministério Público, por motivo
de conveniência e oportunidade.

e) Durante a investigação criminal, cabe


5. (2017 – IBADE – PCAC – Delegado de Polícia ao delegado de polícia a requisição de
Civil). No plano da teoria do garantismo, perícia, informações, proceder a buscas
para Ferrajoli, em sua clássica obra Direito domiciliares, buscar e apreender
e Razão, na lógica do Estado de Direito, documentos e dados que interessem à
as funções de polícia judiciária deveriam apuração dos fatos, independentemente
ser organizadas de forma independente da autorização judicial. 
não apenas funcional, mas, também
hierárquica e administrativamente dos ALTERNATIVA A ERRADA: é INCABÍVEL ao
diversos poderes aos quais auxiliam, Delegado de Polícia arquivar o inquérito
ou seja, deveria ter a garantia de policial por expressa vedação legal (art. 17
independência. Tal ideia deita raízes do CPP). 
na estrutura acusatória que visa uma
investigação isenta na apuração da ALTERNATIVA B CORRETA: A questão
verdade e não a serviço da acusação. À luz está em consonância com o Estatuto do

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Delegado de Polícia (Lei nº 12.830/13), 6. (2016 – FUNCAB – PCPA – Delegado de
conforme artigo 2º, §§ 5º e 6º.  Polícia Civil) Sobre inquérito, assinale a
opção correta.
ALTERNATIVA C ERRADA: De acordo com
o art. 5º, II, do CPP, o Ministério Público a) Por ser o inquérito sigiloso, quando
pode requisitar a instauração de inquérito por imperiosa  razão de ordem pública
policial. Todavia, conforme o próprio item for, fundamentadamente, decretado o
anterior, o indiciamento é ato PRIVATIVO segredo, o advogado não terá acesso às
do Delegado de Polícia, prerrogativa diligências documentadas nos autos do
prevista no aludido Estatuto, sendo ilegal inquérito.
requisição de indiciamento por autoridade
não policial.  b) O inquérito é um procedimento
administrativo,  que embora admita
ALTERNATIVA D ERRADA: Há dois erros na o exercício de alguns direitos de
questão. Primeiro, o Ministério Público não defesa e de informação ao indiciado,
pode avocar autos de inquérito policial. tem natureza acusatória, é sigiloso
Segundo, a avocação de inquérito policial e desprovido de ampla defesa e
é ato vinculado, e não discricionário contraditório.
(conveniência e oportunidade - lições de
direito administrativo), nos termos do art. 2º, c) A Constituição de 1988 institui o
§ 4º, da Lei nº 12.830/13: O inquérito policial sistema  acusatório, impondo a 93
ou outro procedimento previsto em lei em curso separação das funções de investigar,
somente poderá ser avocado ou redistribuído acusar, defender e julgar. Porém,
por superior hierárquico, mediante despacho isso não faz da polícia judiciária uma
fundamentado, por motivo de interesse função essencial à justiça por não ser
público ou nas hipóteses de inobservância da essência e estrutura do sistema
dos procedimentos previstos em regulamento acusatório.
da corporação que prejudique a eficácia da
investigação.  d) O indiciamento é ato privativo da
autoridade  policial, ou seja, delegado
ALTERNATIVA E ERRADA: A questão de polícia, não cabendo ao Ministério
está errada quanto à busca domiciliar Público, mesmo nos casos de
independente de autorização judicial, haja requisição de sua instauração por parte
vista que a medida se insere na cláusula de do Parquet, definir o indiciamento.
reserva de jurisdição (art. 5º, XI, CF/88), cuja
inviolabilidade, contudo, é respeitada se e) Nos casos de indiciado solto, o inquérito
houver autorização do morador. Quanto às policial, nos termos do código de
demais medidas, observando tal cláusula, processo penal, deverá ser encerrado
podem ser perfeitamente adotadas, nos em 90 dias.Parte inferior do formulário
termos do art. 2º, § 2º, da Lei nº 12.830/13.
ALTERNATIVA A ERRADA:  o sigilo às
RESPOSTA: B diligências documentadas não abrangem o
juiz, o MP e o advogado. Quanto à questão
em comento, trata-se de prerrogativa do

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advogado assegurada tanto no art. 7º, XIV, b) O acesso aos autos do inquérito policial
do EOAB quanto na Súmula Vinculante nº por advogado do indiciado se estende,
14. sem restrição, a todos os documentos
da investigação.
ALTERNATIVA B ERRADA: Uma palavra
tornou a questão errada: “acusatório”. O c) Em consonância com o dispositivo
inquérito policial é inquisitivo. constitucional que trata da vedação ao
anonimato, é vedada a instauração de
ALTERNATIVA C ERRADA: Apesar da Carta inquérito policial com base unicamente
Magna ter instituído o sistema acusatório e em denúncia anônima, salvo quando
a polícia judiciária não compor a estrutura constituírem, elas próprias, o corpo de
correspondente, exerce primordialmente a delito.
função de investigar, essencial e exclusiva
do Estado, notadamente à Justiça, nos d) O arquivamento de inquérito policial
termos do art. 2º da Lei 12.830/13. mediante promoção do MP por ausência
de provas impede a reabertura das
ALTERNATIVA D CORRETA: Está de acordo investigações: a decisão que homologa
com a lei (art. 2º, § 6º, da Lei nº 12.830/13) o arquivamento faz coisa julgada
e o entendimento sufragado pela Corte material.
Suprema (Informativo nº 717).

ALTERNATIVA E ERRADA: o prazo é de


e) De acordo com a Lei de Drogas, estando 94
o indiciado preso por crime de tráfico
30 (trinta) dias, se o indiciado estiver de drogas, o prazo de conclusão do
solto, prorrogáveis, e de 10 (dez) dias, inquérito policial é de noventa dias,
improrrogáveis, se estiver preso (art. 10, prorrogável por igual período desde que
CPP). imprescindível para as investigações.

RESPOSTA: D

ALTERNATIVA A ERRADA: o ato de


indiciamento é intrínseco à fase
7. (2016 – CESPE – PCPE – Delegado de investigatória, dotada de inquisitoriedade,
Polícia) A respeito do inquérito policial, razão pela qual é desnecessário o
assinale a opção correta, tendo como indiciamento, além do mais, configura
referência a doutrina majoritária e o constrangimento ilegal, pois finda a
entendimento dos tribunais superiores. investigação inicia-se a fase processual
(sistema acusatório), já com a denúncia
a) Por substanciar ato próprio da fase do acusado, antes investigado, conforme
inquisitorial da persecução penal, é
entendimento jurisprudencial (STJ, HC
possível o indiciamento, pela autoridade
165600 e HC 179951).
policial, após o oferecimento da
denúncia, mesmo que esta já tenha ALTERNATIVA B ERRADA: o acesso do
sido admitida pelo juízo a quo. advogado aos autos do inquérito se restringe
aos elementos de prova já documentados

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no procedimento investigatório, e não a a nulidade do processo penal dele
todos os documentos da investigação, decorrente.
consoante Súmula Vinculante nº 14. 
c) A representação do ofendido é
ALTERNATIVA C CORRETA:  Questão irretratável depois de recebida a
escorreita, de modo que a notitia denúncia. 
criminis inqualificada serve para o início
da investigação, não de base para a d) Da decisão que indefere o requerimento
instauração de inquérito policial, por si só, de abertura de inquérito policial
salvo quando ela própria constituir corpo formulado pelo ofendido cabe recurso
de delito, por exemplo, uma carta apócrifa ao Ministério Público.
contendo o crime de injúria (STF, HC 95244/
PE).  e) Se o investigado estiver preso em
flagrante, o extrapolamento do
ALTERNATIVA D ERRADA: O entendimento prazo de conclusão gera nulidade da
prevalecente é o de que arquivamento investigação.
do inquérito policial por insuficiência de
provas gera mera coisa julgada formal,
portanto, passível de desarquivamento (v.
ALTERNATIVA A CORRETA: Como dito
art. 18 do CPP e Súmula nº 524/STF).
no presente material, para analisar as
hipóteses de instauração de inquérito
95
ALTERNATIVA E ERRADA: O prazo para a
conclusão do inquérito policial, estando o policial deve-se entender as características
réu preso por crime de tráfico de drogas, e tipos das ações penais, que são utilizadas
é de 30 (trinta) dias. Seria de 90 (noventa) como referência para a instauração. Dessa
dias se estivesse solto (art. 51 da Lei nº forma, nos termos do art. 24, parte final,
11.343/06). do CPP, a representação pode ser ofertada
pelo ofendido ou de quem tiver qualidade
Resposta: CParte inferior do formulárioParte para representá-lo, como o procurador.
inferior do formulário
ALTERNATIVA B ERRADA: a irregularidade
no IP não gera nulidade no processo penal,
conforme entendimento jurisprudencial
8. (2018 – UEG – PCGO – Delegado de pacífico.
Polícia) Sobre o inquérito policial,
segundo o Código de Processo Penal, ALTERNATIVA C ERRADA: a representação
tem-se o seguinte: do ofendido já se torna irretratável no
oferecimento da denúncia (OFendido/
a) A representação, no caso de ação OFerecimento), e não depois de recebida
penal pública condicionada, pode ser (art. 25, CPP)
apresentada por procurador. 
ALTERNATIVA D ERRADA: é cabível o
b) Em regra, irregularidade em ato recurso, não ao Ministério Público, mas ao
praticado no inquérito policial gera Chefe de Polícia (art. 5º, § 2º, CPP).

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ALTERNATIVA E ERRADA: Conforme ALTERNATIVA A CORRETA: os critérios
entendimento jurisprudencial informado básicos são o ratione loci (em razão do lugar
no presente material, o extrapolamento da infração penal) e o ratione materiae (em
do prazo de conclusão não tem o condão razão da infração penal – PF ou PC). Parte
de gerar nulidade na investigação. Quando da doutrina acrescenta, ainda, o critério
muito, caso evidenciado o abuso e o ratione personae.
atraso seja desproporcional, acarreta o
relaxamento da prisão. ALTERNATIVA B ERRADA: a autoridade
policial NÃO poderá mandar arquivar autos
RESPOSTA: A de inquérito policial (art. 17, CPP)

ALTERNATIVA C ERRADA: Questão maldosa,


como as que trocam o verbo do dispositivo
9. (2018 – VUNESP – PCSP – Delegado de legal “poderá” (faculdade) por “deverá”
Polícia) A respeito do inquérito policial, (obrigação). No caso, a autoridade policial
assinale a alternativa correta. deverá apreender e a questão menciona
“poderá”, nos termos do art. 6º, caput e
a) Para saber qual é a autoridade inciso II, do CPP
policial  competente  para um certo
inquérito policial, utiliza-se o critério ALTERNATIVA D ERRADA: os autos do
ratione loci ou ratione materiae. inquérito policial se tratam de peça 96
facultativa para o oferecimento da denúncia
b) A autoridade policial poderá arquivar (art. 12 e 39, § 5º, CPP).
autos de inquérito policial se convencida
da inexistência da materialidade ALTERNATIVA E ERRADA: a questão acertou
delitiva. quanto às características escrito e sigiloso,
todavia, o erro está na natureza acusatória,
c) Logo que tiver conhecimento da pois, como é cediço, detém natureza
prática da infração penal, autoridade inquisitiva.
policial poderá apreender os objetos
que tiverem relação com o fato, após
liberados pelos peritos criminais.
10. (2018 – FUMARC – PCMG – Delegado
d) Como peça obrigatória para o de Polícia) Sobre o ato de indiciamento
oferecimento da denúncia, os autos realizado no âmbito de investigação
de inquérito policial acompanharão a criminal conduzida por delegado de
denúncia ou queixa. polícia, é CORRETO afirmar:

e) O inquérito policial é um procedimento a) É realizado mediante o mesmo grau de


administrativo, de natureza acusatória, certeza de autoria que a situação de
escrito e sigiloso.Parte inferior do suspeito. 
formulário
b) Não é ato exclusivo do delegado de
polícia que conduz a investigação.

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c) Não poderá o delegado de polícia a) A autoridade fará minucioso relatório
retratar sua posição e “desindiciar” o do que tiver sido apurado e enviará os
investigado. autos ao juiz competente.

d) Resulta de um juízo de probabilidade b) Em qualquer situação e em qualquer


e não de mera possibilidade sobre a crime e para verificar a possibilidade
autoria delitiva. de haver a infração sido praticada
de determinado modo, a autoridade
ALTERNATIVA A ERRADA: Quando se fala policial poderá proceder à reprodução
em indiciamento, estamos diante do simulada dos fatos.
juízo de possibilidade (mero suspeito) e
de probabilidade (indiciado), de forma c) Todas as peças do inquérito policial
que aquele juízo não tem a mesma serão, num só processo, reduzidas a
certeza de autoria que este; aquele pode escrito ou digitadas e, neste caso, há
denotar possíveis autores, enquanto que, dispensa de serem todas as páginas
este, evidenciar a alta probabilidade de rubricadas pela autoridade.
determinado indivíduo ser o autor. Neste
caso em que se fundamenta o indiciamento, d) O inquérito deverá terminar no prazo
nos termos do art. 2º, § 6º, do Estatuto do de 10 (dez) dias, se o indiciado tiver
Delegado de Polícia. sido preso em flagrante, ou estiver
preso preventivamente, contado o 97
ALTERNATIVA B ERRADA: nos termos do prazo, nesta hipótese, a partir do dia da
dispositivo retromencionado, somente o comunicação ao juiz do cumprimento
Delegado de Polícia que pode praticar o ato da ordem de prisão, ou no prazo de
de indiciamento. 30 (trinta) dias, quando estiver solto,
mediante fiança ou sem ela.
ALTERNATIVA C ERRADA: o Delegado de
Polícia pode indiciar e desindiciar, caso se e) No relatório poderá a autoridade indicar
retrate da sua posição quanto ao indiciado. testemunhas que não tiverem sido
inquiridas, mencionando o lugar onde
ALTERNATIVA D CORRETA: como dito na possam ser encontradas. Quando o fato
justificativa do item A, o indiciamento for de difícil elucidação, e o indiciado
resulta de um juízo de probabilidade e estiver solto, a autoridade poderá
não de mera possibilidade sobre a autoria requerer ao juiz a devolução dos autos,
delitiva, distinguindo os adjetivos “indiciado” para ulteriores diligências, que serão
x “mero suspeito”. Vale ressaltar que o realizadas no prazo acordado pelo
indiciamento torna a pessoa o principal Ministério Público e marcado pelo juiz. 
suspeito da autoria ou participação.
ALTERNATIVA A CORRETA: A alternativa
RESPOSTA: D está em conformidade com o art. 10, § 1º,
do CPP, em sua literalidade.
11. (2018 – NUCEPE – PCPI – Delegado de
Polícia) Em relação aos procedimentos do ALTERNATIVA B ERRADA: Em qualquer
inquérito policial, é CORRETO afirmar que: situação e em qualquer crime não, tendo

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em vista que a reprodução simulada dos b) em razão do arquivamento, a ação penal
fatos somente proceder-se-á quando não só poderá ser proposta como ação
contrariar a moralidade ou a ordem pública penal privada subsidiária da pública.
(art. 7º, CPP)
c) o arquivamento do inquérito policial
ALTERNATIVA C ERRADA: as peças deverão gerou a perempção, que provoca a
ser rubricadas pela autoridade (art. 9º, inadmissibilidade da ação penal devido
CPP). à extinção da punibilidade provocada.

ALTERNATIVA D ERRADA: o prazo para a d) em razão da coisa julgada material


conclusão do IP quando o réu estiver preso feita com o trânsito em julgado da
conta do dia em que se executar a ordem decisão que deferiu o arquivamento do
de prisão (art. 10, CPP). O dispositivo nada inquérito, é inadmissível a propositura
fala a respeito da comunicação do juiz para de ação penal.
iniciar o prazo.
e) outro promotor de justiça, com
ALTERNATIVA E ERRADA: Não há que se entendimento contrário ao daquele
falar em prazo acordado pelo Ministério que requereu o arquivamento,
Público, mas tão-somente em marcação do poderá requerer o desarquivamento
prazo pelo juiz para realizar as ulteriores do inquérito e propor ação penal
diligências, quando se trata de fato de difícil independentemente da existência de 98
elucidação (art. 10, § 3º, CPP). novas provas. 

RESPOSTA: A ALTERNATIVA A CORRETA: A insuficiência


de provas não faz coisa julgada material,
mas somente formal, de forma que, caso
surjam novas provas, poderá a ação penal
12. (2018 – CESPE – PCMA – Delegado de se proposta pelo titular (Súmula nº 524/
Polícia) Após a instauração de inquérito STF).
policial para apurar a prática de crime de
corrupção passiva em concurso com o de ALTERNATIVA B ERRADA: a ação penal
organização criminosa, o promotor de privada subsidiária da pública é cabível no
justiça requereu o arquivamento do ato caso de inércia do Ministério Público, o que
processual por insuficiência de provas, não ocorre nos casos em que promove o
pedido que foi deferido pelo juízo. Contra arquivamento.
essa decisão não houve a interposição
de recursos. Nessa situação, ALTERNATIVA C ERRADA: a perempção tem
lugar nas ações penais privadas e consiste
a) mesmo com o arquivamento do na perda do direito de prosseguir com a
inquérito policial, a ação penal poderá ação penal já proposta em razão da desídia
ser proposta, desde que seja instruída do querelante na prática de algum ato
com provas novas. processual.

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ALTERNATIVA D ERRADA: como dito, não
faz coisa julgada material e admite-se a
propositura da ação penal se houver novas
provas.

ALTERNATIVA E ERRADA: entendimento


contrário não permite a propositura de
ação penal referente a inquérito policial
arquivado, a uma porque não existe previsão
legal, e, a duas, em razão da independência
funcional do membro do Ministério Público
que promoveu o arquivamento com o
deferimento do magistrado.

RESPOSTA: A

99

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PARTE III
MEDICINA LEGAL

CONCEITO E DIVISÃO DA MEDICINA LEGAL

Nas palavras de Genival Veloso França a “Medicina Legal é a contribuição da medici-


na, e da tecnologia e outras ciências afins, às questões do Direito na elaboração das leis,
na administração judiciária e na consolidação da doutrina”.

Outras definições:

• “Medicina Legal é o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados


a servir ao Direito, cooperando na elaboração, auxiliando a interpretação e
colaborando na execução dos dispositivos legais atinentes ao seu campo de ação
de medicina aplicada” (Hélio Gomes).
• “Medicina Legal é a aplicação de conhecimentos médico- -biológicos na elaboração
e execução das leis que deles carecem” (Flamínio Fávero). “Medicina Legal é a
aplicação de conhecimentos médicos e científicos aos problemas judiciais que
podem ser por eles esclarecidos” (Marc, Vilbert e N. Rojas).

Segundo Rogério Greco, a influência da Medicina Legal no campo legislativo pode


100
ser percebida em três aspectos:

1. acende luzes para a elaboração de novas leis;


2. coopera na execução das leis existentes;
3. interpreta dispositivos legais de significação médica.

Desse modo, a Medicina Legal auxilia o Direito na elaboração, execução (aplicação)


e interpretação das leis.

Trata-se de um ramo de estudo que se aplica na seara forense, fornecendo um


estudo interdisciplinar que buscar produzir conhecimentos técnico-científicos, no intuito
de conduzir a um juízo de certeza, fundamentador de todo provimento jurídico-penal,
seja ele condenatório ou absolutório. Apesar de ser uma especialidade da medicina, ela
aplica outros conhecimentos dos diversos ramos da medicina para às necessidades do
direito.

Com as Ciências Jurídicas e Sociais, a Medicina Legal empresta sua colaboração ao


estudo do Direito Penal nos problemas relacionados com os crimes em geral. Com o
Direito Civil, nas questões de paternidade, nulibilidade de casamento, testamento, início
da personalidade e direito do nascituro. Com o Direito Administrativo, quando avalia as
condições dos funcionários públicos, no ingresso, nos afastamentos e aposentadorias.

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Podemos dividir a medicina legal em “Geral”, que estuda os deveres (deontologia
médica) e os direitos (diceologia médica), e “especial”, que estuda as diferentes áreas da
medicina legal. São elas: antropologia, traumatologia, tanatologia, sexologia, psiquiatria,
psicologia, toxicologia, infortunística.

PERÍCIA E PERITOS

Existem dois tipos diferentes de perícia, são elas: administrativas e judicial. As perícias
administrativas podem ser de origem estatuárias, secundárias, entre outros. As perícias
judiciais são um ramo auxiliar do direito que ajuda a desvendar como ocorreram os fatos
e ajudam a encontrar o verdadeiro culpado. Perícias judiciais podem ser de origem civil,
trabalhista, criminal. O perito é aquele que está judicialmente condicionado a proceder um
exame para desvendar os fatos ocorridos aos interessados (CARVALHO et.al.).

Se conceitua perícia médico-legal, como sendo o conjunto de procedimentos médicos


e técnicos que têm por finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da justiça,
com finalidade precípua de produzir a prova, definindo a partir daí a materialidade do
delito. A perícia é feita no corpo de delito. A prova, por sua vez, nada mais é do que o
demonstrativo da veracidade do fato.
101
Repare que corpo de delito não se confunde com local de crime, este é a área re-
gional onde ocorreu o crime, o corpo de delito é, por exemplo, o corpo humano, a faca, o
sêmen etc. É, portanto, o conjunto de elementos decorrentes do fato delituoso.

Existem vários tipos de perícia existentes no Instituto Médico-legal, vejamos:

No vivo: como exemplos exames de corpo de delito de lesões corporais, verificação


de ato libidinoso, conjunção carnal.

No morto (autopsia e necropsia). Vê-se muito em códigos a sinonímia entre autopsia


e necropsia, mas não se confundem, nesse sentido, a necropsia é o estudo do morto, de
qualquer coisa que viveu e morreu, mesmo um animal irracional. A autopsia é o próprio
estudo, o auto estudo. Não é uma necropsia na própria pessoa, o que seria impossível,
trata-se, portanto, do estudo de sua própria espécie, um ser humano estuda outro ser
humano. Conclui-se que necropsia é gênero e autopsia é espécie.

Nas ossadas e esqueletos: São feitos exames antropológicos para dar diagnóstico
de identificação, sexo, raça, cor ou idade.

Nos objetos: São divididas em objetos propriamente ditos e em secreções, como a


perícia em sêmen, sangue, urina ou manchas. Quem faz a análise das secreções nos ma-
teriais são os peritos criminais.

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São conceitos diferentes entre o Corpo de Delito e o Exames do Corpo de Delito. O
corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais deixados pela infração penal. Corpo
de delito é a materialidade do crime. Já o Exame de Corpo de Delito, é o exame realizado
nos vestígios materiais deixados pela infração penal.

CONCEITO DE PERÍCIA, CORPO DE DELITO

A perícia médico-legal definida como sendo o conjunto de procedimentos médicos


e técnicos que têm por finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da justiça,
com finalidade precípua de produzir a prova, definindo a partir daí a materialidade do
delito. A perícia é feita no corpo de delito. A prova, por sua vez, nada mais é do que o de-
monstrativo da veracidade do fato.

Portanto, o corpo de delito é o conjunto de elementos materiais ou vestígios que


indicam a existência de um crime. O exame de corpo de delito é uma importante prova
pericial, sua ausência em caso de crimes que deixam vestígios gera a nulidade do proces-
so. Caso a falta de realização do exame direto seja levada a efeito por omissão do Estado
investigador, se do ato resultar prejuízo para a defesa, esvaziando a acusação, o procedi-
mento de nulidade deverá ser observado. 102
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:

III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:

b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o dispos-
to no Art. 167;

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desapareci-
do os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

A perícia criminal é uma atividade técnico-científica prevista no Código de Processo


Penal, indispensável para elucidação de crimes quando houver vestígios, embora
recomendada em todos os casos que possam incidir. Garantindo, desta forma, direitos
humanos do indivíduo e da sociedade, pois permite que o julgador disponha de um juízo
de certeza quando da prolação de sentença penal, condenatória ou absolutória.

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DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS

Documento é toda anotação escrita que tem a finalidade de reproduzir e representar


uma manifestação do pensamento. No campo médico-legal da prova, são expressões
gráficas, públicas ou privadas, que têm o caráter representativo de um fato a ser avaliado
em juízo. Os documentos que podem interessar à Justiça, são: as notificações, os atestados,
os prontuários, os relatórios e os pareceres; além desses, os esclarecimentos não escritos
no âmbito dos tribunais, constituídos pelos depoimentos orais.

TIPOS DE DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS

São usados quatro tipos de documentos médico-legais, sendo:

I. Notificações - Através da qual a autoridade é informada sobre a


ocorrência de determinado evento, podem possuir caráter compulsório
ou decorrer de necessidade social ou sanitária. Como nos casos de
acidentes do trabalho, doenças infectocontagiosas, AIDS etc. Quando as
notificações estão previstas em lei, há necessidade de se fazer a notificação
compulsória, como ocorre com certas doenças, em que é obrigatória a
notificação para núcleos de vigilância epidemiológica. 103
II. Atestados - São documentos que atestam, ou seja, afirmam para
alguém que determinado fato ocorreu. Atestado tem um caráter mais
singelo, incide sobre determinado fato, e não sobre determinada condição,
que é mais ampla e genérica. É uma informação declaratória reduzida
e simples de um fato médico e suas consequências para fins de licença,
dispensa ou aptidão. Podem ser oficiosos ou não oficiais, como os usados
para justificar faltas nas aulas, através do certificado de comparecimento
em consultas médicas; administrativos, utilizados para afastamento de
atividade laboral; ou ainda, judiciários, que decorrem do cumprimento
de obrigações legais, como o atestado de presença em uma audiência.
Os atestados devem expedir rigorosamente o fato ocorrido, sob pena de
crime de falsidade de atestado médico.
III. Relatórios - Podem ser laudo (escrito) ou auto (ditado a um
escrivão). São documentos mais amplos, são os verdadeiros documentos
da medicina-legal, e são lavrados pelos papiloscopistas, médicos legistas,
peritos odontolegistas e peritos criminais. Os relatórios apresentam com
detalhes tudo que interessa em uma perícia judicial-criminal. Relatórios são
os documentos que exaram de uma perícia e descrevem minuciosamente
um fato, em que se realizada uma perícia médica a fim de responder à
autoridade policial ou judicial determinando a materialidade do delito, e
podem assumir a forma de um auto ou um laudo. Sua função, portanto,
é dar a materialidade do delito, através da perícia. Assim as autoridades
e operadores do direito poderão classificar juridicamente o que está

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ocorrendo com o indivíduo. A única diferença entre auto e laudo é a forma
de produção, sendo que este é redigido pelo próprio examinador, todavia,
quando ele dita seu exame a um auxiliar que irá redigir por ele estaremos
diante de um auto. Quando elaborado por perito ad hoc exige deste o
compromisso legal de fielmente cumprir seu mister, quando elaborado por
perito oficial não precisa compromisso legal.
IV. Parecer - Os pareceres diferenciam-se dos relatórios no ponto
em que aquele é embasado em literatura, busca saber o que a literatura
mundial sobre o assunto informa, buscando assim, fundamentar seu
raciocínio e suas teses em uma informação da literatura. O relatório exige,
ainda, a presença da pessoa, ou seja, é preciso que esteja examinando
alguém e o auto decorra desse exame. No parecer não há necessidade
de exame direto, o que permite que seja feito em cima de documentos.
São, portanto, as opiniões estribadas na literatura. O parecer é a discussão
médico-legal de determinado caso em andamento, embasado em literatura,
não havendo sempre a necessidade de entrevista direta com o periciado.

O relatório pode ser requisitado pelos Delegados, pelos membros do MP, por Juízes
de Direito ou por presidentes de inquérito policial militar. Note que o Conselho Tutelar
tinha legitimidade para requisitar perícia, porém, não tem mais. Ressalta-se, ainda, que a
requisição não se confunde com solicitação, uma vez que esta pode ser feita por qualquer
pessoa interessada em um resultado, no entanto, solicita através de autoridades com- 104
petentes para lavrar uma requisição. Ressalta-se também que os oficiais da PM não são
legitimados para requisitar perícia, a não ser que estejam presidindo o Inquérito Policial
Militar, só neste caso terão a legitimidade referida.

O relatório da perícia é uma peça do inquérito e não tem a pretensão de esgotar a


materialidade e autoria. Quando uma suposta vítima de agressão solicita à autoridade
uma perícia, através desta será constatada apenas a ocorrência da agressão. Ao passo
que a autoria e as circunstâncias em que se deu a agressão estão fora da seara da perícia
médico-legal. Isso quem fará são os agentes da investigação policial judiciária, desde o
detetive ou investigador, até o Delegado que preside as investigações. A função da perícia
é apenas dar a materialidade do crime, só fala se ocorreu ou não.

Como documento mais importante da perícia, o relatório (tanto laudo como o auto)
se divide em partes, que são as seguintes:

1. Preâmbulo - Onde consta informação de data, hora, local do exame, autoridade


requisitante, qualificação do perito e do periciado. Essa individualização tem por
objetivo evitar fraudes em perícias, impedindo que uma pessoa se passe por outra
ao ser submetida à perícia.
2. Quesitos oficiais e acessórios - Cada crime tem seu quesito oficial, a exemplo
da lesão corporal, art. 129 do CP, onde temos 6 (seis) quesitos: houve ofensa à
integridade física ou à saúde? Qual o instrumento ou meio? Foi produzido com
emprego de fogo, veneno, explosivo, asfixia? Houve perigo de vida? Houve

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incapacidade para ocupações habituais por mais de 30 dias? Houve incapacidade
permanente, enfermidade incurável, perda ou inutilização de membro,
deformidade, aborto? Os quesitos servem, portanto, para questionar se houve
a lesão, caracterizar qual foi o elemento que produziu a lesão e colocar formas
agravantes. Depois de tudo isso é realizada a classificação da lesão, conforme seja,
em leve, grave ou gravíssima. Os quesitos oficiais são previstos em normativas
internas. Por sua vez, os quesitos acessórios ou especiais são quesitos formulados
por quem preside o inquérito, o que exige bastante habilidade para sua elaboração.
3. Histórico - Deve ser o mais curto e completo possível. Não se deve omitir nenhuma
informação importante, mas também não se pode invadir a intimidade da pessoa
com informações irrelevantes.
4. Descrição (exame) - É feita a efetiva descrição da lesão que está sendo vista.
A justiça espera do perito que ele faça, primordialmente, o visum et repertum,
expressão antiga que significa ver bem (examinar minuciosamente) e referir
(descrever, documentar) exatamente o que viu. Isso faz parte da descrição e para
França é a parte mais importante do relatório é a descrição.
5. Discussão - Esse elemento pode existir ou não. Quando o relatório é autoexplicativo
não precisa discutir. Porém, às vezes, ele não o é, o que torna necessário realizar
uma discussão.
6. Conclusão - A conclusão é seca.
105
7. Resposta aos quesitos - Em relação aos quesitos é importante esclarecer que
cada crime tem seu quesito, o qual pode ser oficial ou acessório, como visto. Note
que em psiquiatria ou psicologia forense ou exames em área cível não existem
quesitos oficiais. Nesses casos não há quesitos padronizados, o que os difere dos
casos criminais, os quais possuem quesitos padronizados.

Determinada a realização do exame, a autoridade policial ou judiciária e as partes


podem formular quesitos, ou seja, perguntas pertinentes à perícia e que versem sobre
pontos a serem esclarecidos. O Ministério Público, o assistente de acusação, o ofendido,
o querelante e o acusado terão permissão para formular quesitos e indicar assistente
técnico (art. 159, §3º, CPP).

§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido,


ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.

LEGISLAÇÃO APLICADA À PERÍCIA

O artigo mais importante do Código de Processo Penal, no que tange à perícia, é


o artigo 158, o qual torna o exame de corpo de delito indispensável, quando a infração
deixar vestígios, seja o exame direto ou indireto, não podendo supri-lo, nem mesmo, a
confissão do acusado.

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Portanto, o pressuposto para a realização de um exame de corpo de delito é a
ocorrência de um fato supostamente criminoso. Supostamente porque podem existir
situações de dispensabilidade, como no caso de um indivíduo que morre por enfarte em
casa, caso em que não será passível de necropsia. No entanto, se houver suspeita de
infração penal haverá necessidade do exame de corpo de delito, como ocorre no caso
do indivíduo que morre por infarto na fila de atendimento do posto de saúde, aqui,
apesar de ser um infarto, pode haver infração, a exemplo da omissão de socorro, e
tem vestígio, o corpo.

Para os cadáveres serem examinados no IML é necessário um motivo, que pode de-
correr de três razões, que são a morte violenta, morte suspeita ou morte não identificada.
Esses três tipos de cadáveres devem ir para o IML. A morte violenta é a morte por causas
externas, não abrange, portanto, as doenças naturais. São causas externas, por exemplo,
homicídio, enforcamento, afogamento, suicídio etc. Por sua vez, as causas suspeitas são
as que levam a dúvidas, veja o caso de um indivíduo de 80 anos que morreu sozinho em
casa, esse acontecimento é normal, no entanto, não é normal que uma pessoa de 20
anos, com saúde hígida, morra sozinho em casa, tem-se então uma morte suspeita. Em
relação aos não identificados a necessidade surge justamente de sua não identificação,
sendo necessário, portanto, identificá-lo para saber quem morreu.

Ninguém pode dispensar o exame de corpo de delito, desde que haja vestígio.
Quando não há vestígio deve haver outros meios de prova para suprir a ausência do ves- 106
tígio, a exemplo da prova testemunhal.

O exame de corpo de delito direto é aquele feito diretamente na vítima, por sua vez,
o indireto é feito através de documentos, depoimentos, ambos, porém, são realizados
pelo médico-legista. Quando a única maneira de se comprovar a materialidade de um de-
lito é através do corpo de delito indireto, este deverá ser realizado. O relatório hospitalar,
por exemplo, é um documento indireto, da qual decorre a perícia indireta.

O artigo 159 do CPP foi modificado pela Lei n. 11690/08, e a partir de então o exa-
me de corpo de delito passou a ser realizado por um perito oficial e não mais por dois,
como era antes da modificação. Note que se for perito oficial o exame de corpo de delito
poderá ser realizado por um só perito, conforme caput do artigo citado, porém, se não
houver perito oficial, e surgir a necessidade de realização do exame por perito ad hoc,
serão necessários dois, conforme se extrai do §1º do referido artigo.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
oficial, portador de diploma de curso superior.

§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente

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desempenhar o encargo. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

Sobre o prazo do laudo:

160 - Parágrafo único.  O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias,
podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.

Pela leitura do artigo 161 do CPP o exame de corpo de delito será feito em qualquer
dia e hora, portanto, não há problema em se realizar uma necropsia à noite, por exemplo.

Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer
hora.

Em reforço ao que foi disposto no artigo 161 é o artigo 162, que dispõe que a autop-
sia será feita pelo menos 6 horas depois da morte, salvo quando pelos sinais de morte, os
peritos julgarem que possa ser feita antes, logo, será feita em qualquer dia e hora.

Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os
peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele
prazo, o que declararão no auto.

Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do 107
cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas
permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para
a verificação de alguma circunstância relevante.

O tempo de espera de 6 horas surge em decorrência dos fenômenos cadavéricos,


os quais poderão estar completamente estabelecidos com 6 horas. Esse aguardo é uma
recomendação, não sendo, portanto, obrigatório, quando estudarmos tanatologia vere-
mos que muito antes das 6 horas existem alterações cadavéricas específicas da morte.

O parágrafo único do art. 162 conceitua o exame cadavérico, o qual, diferente da


autopsia ou necropsia, é um simples exame externo, pelo qual já se consegue perceber
a causa da morte, sem nenhuma outra circunstância a apurar. No IML o exame cadavé-
rico é muito difícil de ser realizado, sendo mais utilizado em casos de acidente de carro,
em que o indivíduo morre por esmagamento de crânio, por exemplo, caso em que, em
razão do acidente, o carro está ali, todo amassado, não sendo necessário abrir cavidades
corporais para saber dizer a razão da morte. Note que, ainda assim, deve-se ter cuidado,
pois no caso de o morto ser o motorista não se deve fazer o exame cadavérico, já que um
dia alguém pode querer saber se ele estava embriagado, e o exame cadavérico não terá
potencialidade de responder essa pergunta.

No caso de existir dúvidas sobre a identidade do cadáver (art. 166), não só o exumado,
mas qualquer cadáver, nós temos três caminhos periciais, outro caminho é a família, se
esta reconhecer o corpo a autoridade lavra o auto de reconhecimento e resolve a dúvida.

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Art. 166 - Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, proceder-se-á
ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere
ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade,
no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.

Vejamos os principais caminhos periciais de identificação:

1. Datiloscopia ou papiloscopia, que é a impressão digital;


2. Exame odontolegal, analisando a arcada dentária;
3. DNA, que é o ácido desoxirribonucleico.

Note que existe uma peculiaridade, no caso de papiloscopia e odontolegal deve


haver um documento chamado primeiro registro, uma vez que em nada adiantaria retirar
as digitais se não tiver um banco de dados para confronto de comparação, como aquele
formado pela expedição de carteiras de identidade. No exame odontolegal é a mesma
coisa, o dentista do falecido deve ter em seu consultório um molde dos dentes, assim,
este será comparado com o da pessoa. Se nenhum desses dois for capaz de conduzir à
identificação devemos partir para a análise de verossimilhança por DNA, este não tem
primeiro registro, o que exige a comparação do DNA da pessoa com o DNA de um suposto
familiar.

Reparem que não sendo possível realizar o exame de corpo de delito, por terem
108
desaparecidos os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta, conforme se
extrai da inteligência do artigo 167 do CPP. Ressaltamos que a prova testemunhal não
supre o exame de corpo de delito, a não ser em uma situação específica de desapareci-
mento dos vestígios.

O artigo 168 do CPP traz a hipótese de o primeiro exame pericial não ter sido com-
pleto, determinando que seja procedido a um exame complementar, a pedido ou de ofí-
cio, como no caso do sujeito toma um soco no olho, a primeira perícia concluiu que exis-
te uma equimose periorbitária no olho esquerdo, porém, o sujeito que toma volta dias
depois e diz que está com dificuldades para enxergar, será então necessário um exame
complementar, tendo em vista que não se sabe se essa dificuldade vai perdurar por mais
de 30 dias, por exemplo, assim, a autoridade manda o indivíduo voltar depois de trinta
dias após o fato e, se persistir a lesão, estará configurado o delito de lesão corporal grave,
por impedimento das ocupações habituais por mais de 30 dias.

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incom-
pleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou
judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado,
ou de seu defensor.

§ 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito,


a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.

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§ 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do
Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.

§ 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

O local do crime deve ser preservado, conforme se extrai do art. 6º c/c 169 do CPP.
A preservação do local do crime é feita no intuito de não tornar o lugar inidôneo para
perícia. Essa dinâmica é chamada cadeia de custódia, a qual abrange o conjunto de pro-
cedimentos adotados pelos peritos para proteger a cena do crime e os vestígios colhidos,
em consequência a própria perícia.

Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até
a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou
esquemas elucidativos.

Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas


e discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

Em nome do livre convencimento motivado o juiz não fica adstrito ao laudo,


podendo rejeitá-lo, no todo ou em parte, adotando-se o sistema liberatório de perícias
no sistema brasileiro. Desta forma, o juiz pode dispensar o laudo, embora, o exame de
109
corpo de delito seja indispensável, sendo de realização obrigatória. Todavia, o magistrado
poderá, perfeitamente, não concordar com o laudo, conforme art. 182, desde que o faça
de maneira fundamentada.

Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo
ou em parte.

O juiz ou autoridade policial poderão negar a realização da perícia, quando conside-


rar não ser necessária ao esclarecimento da verdade, salvo o exame de corpo de delito,
conforme art. 184.

Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial
negará a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da
verdade.

Art. 473. Novo Código de Processo Civil:

Art. 473. O laudo pericial deverá conter:

I. a exposição do objeto da perícia;


II. a análise técnica ou científica realizada pelo perito;
III. a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser

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predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual
se originou;
IV. resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes
e pelo órgão do Ministério Público.

§ 1º No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem simples


e com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões.

§ 2º É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação, bem como emitir


opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou científico do objeto da perícia.

§ 3º Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos podem


valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações,
solicitando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições
públicas, bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias
ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da perícia.

110

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QUESTÕES por perito oficial, portador de diploma de
curso superior.

1. (DPC-MG – 2006) - Quando os dois Pe- § 1o Na falta de perito oficial, o exame


ritos não chegam, na perícia criminal, será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
a um ponto de vista comum, cada um portadoras de diploma de curso superior
apresentará à parte o seu próprio rela- preferencialmente na área específica,
tório. Chama-se a isso de perícia: dentre as que tiverem habilitação técnica
relacionada com a natureza do exame. Art.
a) Nula.
159. O exame de corpo de delito e outras
b) Contraditória.
perícias serão realizados por perito oficial,
c) Complementar.
portador de diploma de curso superior.
d) Sucinta.
(Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

GABARITO: B
§ 2o Os peritos não oficiais prestarão
o compromisso de bem e fielmente
COMENTÁRIO: Entende-se por perícia con-
desempenhar o encargo. (Redação dada
traditória aquela em que diferentes peritos
pela Lei nº 11.690, de 2008)
chegam a conclusões diversas a respeito da
mesma matéria médica. Em outros termos,
fato único gera conclusões diferentes e até
opostas. 3. (CEPERJ - 2009 - PC-RJ - Delegado de Po-
lícia) - Sobre o exame de corpo de delito
111
e outras perícias, é correto afirmar que:

2. (CESPE - 2009 - PC-PB - Papiloscopista


a) o laudo pericial será elaborado no prazo
e Técnico em Perícia) - As perícias deve-
de 10 dias, podendo ser prorrogado
rão ser feitas
no máximo para 30 dias, em casos
excepcionais, a requerimento dos
a) por um perito oficial, mas devem ser
peritos.
homologadas por um segundo perito.
b) serão realizados por dois peritos
b) por dois peritos oficiais
oficiais, portadores de diploma de curso
obrigatoriamente.
superior, designados pela Autoridade
c) por pelo menos duas pessoas idôneas,
competente.
portadoras de diploma de curso
c) serão realizados por mais de um perito
superior, no caso de não haver peritos
oficial em caso de perícia complexa
oficiais.
que abranja mais de uma área de
d) por um perito oficial, desde que este
conhecimento especializado, com
preste o compromisso de bem e
escusa de indicação de outro assistente
fielmente desempenhar o encargo.
técnico pela parte
e) por apenas uma pessoa idônea, se não
d) o Ministério Público, o assistente de
houver peritos oficiais.
acusação, o ofendido, o querelante e o
acusado terão permissão para formular
GABARITO: C
quesitos e indicar assistente técnico.
e) os assistentes técnicos indicados pelas
COMENTÁRIO: Art. 159. O exame de corpo
partes poderão realizar pareceres em
de delito e outras perícias serão realizados

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prazo fixado pelo juiz, mas não será E - Correta definição de parecer.
admitida sua inquirição em audiência
do mesmo modo que os peritos.
5. (FUNIVERSA - 2015 - POLÍCIA CIENTÍFICA
GABARITO: D - GO - Perito Criminal) Com base nos con-
ceitos de perícia e de perito, bem como
COMENTÁRIO: o Ministério Público, o as- na normatização estabelecida no CPP, as-
sistente de acusação, o ofendido, o quere- sinale a alternativa correta.
lante e o acusado terão permissão para for-
mular quesitos e indicar assistente técnico. a) Falsa perícia pode ser definida como
(art. 159, §3º, CPP) a afirmação contra a verdade, como a
negação da verdade e como o silêncio
acerca da verdade, só podendo ocorrer
nos casos em que atuam peritos oficiais.
4. (FUNCAB - 2013 - POLITEC-MT - Perito b) O juiz pode rejeitar partes de um laudo,
Médico Legista – Psiquiátrica) Sobre o mas não o laudo todo.
Parecer médico-legal, marque a asserti- c) Para a realização do exame de corpo
va correta: de delito e de outras perícias, a regra
absoluta é o perito oficial, não cabendo
a) É um documento que exprime dúvidas alternativas.
sobre um relatório médico-legal e que d) A iniciativa da perícia cabe à autoridade
pode ser solicitado pela autoridade ou
mesmo por outro perito.
policial ou à autoridade judiciária e às
partes, estando todas elas aptas para
112
b) É um documento gerado por indicar os peritos.
divergências em uma consulta médico- e) Corpo de delito é o conjunto de vestígios
legal, cabendo ao perito relator a sua materiais (elementos sensíveis)
execução. deixados pela infração penal, ou seja,
c) Compõe-se de cinco partes: preâmbulo, representa a materialidade do crime.
exposição, descrição, discussão e
conclusão. GABARITO: E
d) É o documento que atesta a veracidade
de uma perícia forense COMENTÁRIO:
e) É feito por um professor renomado na
matéria ou por um grupo de peritos de A- ERRADA - Art. 342, CP. Fazer afirma-
uma instituição oficial. ção falsa, ou negar ou calar a verdade
como testemunha, perito, contador,
GABARITO: E tradutor ou intérprete em processo
judicial, ou administrativo, inquérito
COMENTÁRIO: policial, ou em juízo arbitral:

A - Essa afirmativa está relacionada B- ERRADA - Art. 182, CPP. O juiz não


com os quesitos. ficará adstrito ao laudo, podendo
B - Perícia Complementar aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em
parte.
C - O parecer NÃO POSSUI DESCRIÇÃO

D - Atestado C- ERRADA - Art.  159,  § 1o  CPP - Na

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falta de perito oficial, o exame será cia dos sinais de morte, julgarem que possa
realizado por 2 (duas) pessoas idô- ser feita antes daquele prazo, o que decla-
neas, portadoras de diploma de curso rarão no auto.
superior preferencialmente na área
específica, dentre as que tiverem ha- Parágrafo único. Nos casos de morte
bilitação técnica relacionada com a violenta, bastará o simples exame externo
natureza do exame do cadáver, quando não houver infração
penal que apurar, ou quando as lesões
D- ERRADA - As partes não indicam externas permitirem precisar a causa da
peritos, mas sim assistentes técnicos. morte e não houver necessidade de exame
interno para a verificação de alguma cir-
E – CORRETA - Corpo de delito é, para cunstância relevante.
a Medicina legal e o Direito, o conjun-
to dos vestígios materiais resultantes
da prática criminosa.
7. (FUNIVERSA - 2015 - POLÍCIA CIENTÍFI-
CA - GO - Médico Legista) - A narração es-
crita de todas as circunstâncias de uma
6. (FUNIVERSA - 2015 - POLÍCIA CIENTÍFI- perícia médica, determinada por uma au-
CA - GO - Médico Legista) Considerando toridade policial ou judiciária a um pro-
os conceitos de perícia e de perito, bem fissional previamente nomeado e com-
como a normatização estabelecida no
CPP, assinale a alternativa correta.
prometido na forma da lei, denomina-se
113
a) auto pericial.
a) A detecção de vestígios do crime nas b) relatório médico-legal.
coisas não é exame de corpo de delito. c) parecer médico-legal.
b) O exame de corpo de delito só poderá d) notificação pericial.
ser feito por via direta. e) consulta médico-legal.
c) A autópsia será feita pelo menos 6 horas
depois do óbito, salvo se os peritos, pela GABARITO: B
evidência dos sinais de morte, julgarem
que possa ser feita antes daquele prazo, COMENTÁRIO: Quando se fala de NARRA-
o que declararão no auto. ÇÃO ESCRITA, só podemos falar de laudo,
d) O exame de corpo de delito, em que é um tipo de relatório médico-legal,
questões médico-legais, só poderá ser portanto a alternativa menos errada seria
feito nas dependências dos Institutos a letra B: RELATÓRIO, temos: fatos ditados
de Medicina Legal ou dos hospitais por um perito a um escrivão- auto; fatos es-
públicos durante o correr do dia solar. critos por um perito- laudo. Jamais poderia
e) Exame de corpo de delito é a procura ser a letra A, pois seria uma narração DITA-
de vestígios do crime no corpo humano. DA e não escrita.

GABARITO: C

COMENTÁRIO: Art. 162 CPP. A autópsia


será feita pelo menos 6 (seis) horas depois
do óbito, salvo se os peritos, pela evidên-

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8. (FUNIVERSA - 2015 - POLÍCIA CIENTÍFI- relatar as lesões e sinais do indivíduo,
CA - GO - Médico Legista) - Com relação e se envolver cadáver tem que constar
ao laudo médico-legal, assinale a alter- os sinais da morte, identidade, exame
nativa correta. interno e externo; 
• Discussão – que é o diagnóstico onde o
a) É um documento privativo dos peritos perito externará sua opinião, relatório
oficiais, devendo, necessariamente, ser dos critérios utilizados; 
assinado por um perito relator e por um • Conclusão  – que é o resumo do ponto
perito revisor, sob pena de nulidade. de vista do perito, baseando-se nos
b) Tem por função principal o elementos objetivos e comprovadores
esclarecimento de dúvidas das de forma segura;
autoridades policial ou judiciária em • Respostas aos quesitos – eventualmente
relação a uma perícia prévia ou mesmo oferecidos pelas partes ou juízo.  Os
à apreciação técnica de fatos novos ao quesitos serão transcritos e receberão
processo em curso, caracterizando- pronta e sucinta resposta. Devemos
se pela presença de quesitos encontrar nesta parte do laudo uma
complementares. verdadeira síntese de tudo que ficou
c) Quando é ditado a um escrivão durante registrado, analisado e concluído no
a realização da perícia, denomina-se texto precedente.
auto.
d) Quesitos são perguntas que têm por
finalidade a caracterização de fatos
9. (Escrivão – PCPA – 2016) - Dentre as al-
114
relevantes ao processo em curso,
guardando relação direta com os tipos ternativas a seguir, assinale a que repre-
específicos de perícias e, desse modo, senta, de acordo com a literatura sobre o
não podendo ser padronizados, não tema, uma espécie de documento médi-
sendo, assim, parte integrante do laudo. co-legal.
e) São partes integrantes: preâmbulo,
quesitos, histórico, descrição, discussão, a) Denúncia
conclusão e resposta aos quesitos. b) Atestado
c) Petição
GABARITO: E d) Agravo
e) Sentença
COMENTÁRIO: São suas partes de um Lau-
do, que é um relatório: GABARITO: B

• Preâmbulo  – que contém nome do COMENTÁRIO: Os atestados são docu-


perito, seus títulos, nome da autoridade mentos que atestam, ou seja, afirmam para
que o nomeou, motivo da perícia, alguém que determinado fato ocorreu. É
nome e qualificação do indivíduo a ser uma informação declaratória reduzida e
examinado;  simples de um fato médico e suas conse-
• Histórico – que é a anamnese do caso, quências para fins de licença, dispensa ou
colheita de informações do fato, local, aptidão. Os atestados devem expedir rigo-
envolvidos; rosamente o fato ocorrido, sob pena de cri-
• Descrição  – que é a parte mais me de falsidade de atestado médico.
importante, deve ser minuciosa ao

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10. (IBFC - 2017 - POLÍCIA CIENTÍFICA-PR questões de paternidade, nulibilidade
- Médico Legista Área B) - A Medicina Le- de casamento, testamento, início da
gal é uma ciência de grandes proporções personalidade e direito do nascituro.
e muita diversificação. A respeito do Com o Direito Administrativo, quando
conceito de Medicina Legal, analise as avalia as condições dos funcionários
afirmativas. públicos, no ingresso, nos afastamen-
tos e aposentadorias. (Genival V. de
I. A Medicina Legal é a ciência a França).
serviço das ciências jurídicas e
sociais. III e IV – Verdadeiro – outras defini-
II. Embora se relacione estreitamente ções de Medicina Legal.
com o Direito Processual Penal,
a Medicina Legal não apresenta
relação com o Direito Processual
Civil. 11. (FCC - 2017 - PC-AP - Delegado de
III. Uma das definições de Medicina Polícia) O exame de corpo de delito é
Legal é que esta é a arte de pôr os dispensável nos crimes que deixam
conhecimentos médicos a serviço vestígios.
da administração da Justiça.
IV. A Medicina Legal tem recebido a) deve ser feito imediatamente para que
diversas denominações, como: não se percam os vestígios do crime,
Medicina Judiciária, Medicina o que veda a indicação de assistente
técnico pelas partes.
115
Política e Medicina Forense.
b) deve ser feito, em regra, pelo menos 2
Estão corretas as afirmativas: horas após o óbito.
c) realiza-se sobre vestígios do corpo
a) I, II e III, apenas humano, havendo regime diverso
b) I, III e IV, apenas para o exame sobre objetos e sobre
c) II, III e IV, apenas reconhecimento de escritos.
d) I, II e IV, apenas d) pode ser rejeitado pelo juiz, no todo ou
e) III e IV, apenas em parte.

GABARITO: B GABARITO: E

COMENTÁRIO: COMENTÁRIO: Art. 182. O juiz não ficará


adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou re-
I – Verdadeiro “Com as Ciências Jurí- jeitá-lo, no todo ou em parte.
dicas e Sociais, a Medicina Legal em-
presta sua colaboração ao estudo do
Direito Penal nos problemas relacio-
nados com lesões corporais, aborto 12. (Prova UEG - 2018 - PC-GO - Delegado
legal e aborto criminoso; infanticídio, de Polícia) Quanto às perícias de local,
homicídio e crimes contra a liberdade são levados em conta os diversos vestígios
sexual. (Genival V. de França) encontrados. A análise desses elementos
deverá constituir a materialidade dos
II – Falso - Com o Direito Civil, nas fatos, provendo a Justiça com provas su-

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ficientes para o alcance da dinâmica dos sentava temperatura de 27 ºC, além de
fatos, das motivações de um crime por- rigidez completa de tronco e membros.
ventura cometido e, preferencialmente, Constataram-se escoriações na face,
para o apontamento da autoria do mes- fraturas dos elementos dentários ante-
mo. Nesse sentido, tem-se o seguinte: riores, manchas roxas na região cervical
anterior e duas lesões profundas na re-
a) a prova testemunhal substitui o exame gião torácica anterior, abaixo da mama
de corpo de delito mesmo quando esquerda, medindo a maior delas 4 cm
vestígios forem encontrados. × 1 cm. Havia tênue mancha de tonali-
b) a análise dos vestígios é dispensável dade avermelhada na face posterior do
quando o culpado confessar o crime ou corpo, que só não se evidenciava nas
for pego em flagrante. partes que estavam em contato com o
c) vestígios são provas do cometimento solo. Nas adjacências das lesões toráci-
de um crime, sobretudo se são cas e no solo próximo ao corpo, havia pe-
encontrados no local dos fatos. quena quantidade de sangue coagulado.
d) o corpo da vítima é parte do corpo de No mesmo terreno onde estava o corpo,
delito e os vestígios nele encontrados. foi encontrada uma faca de gume liso
e) corpo de delito é o conjunto de vestígios único. A lâmina, que estava suja de san-
encontrados no local dos fatos ou a gue, tinha formato triangular e media
estes relacionados. 20 cm de comprimento e 4 cm de largura
em sua base. Exames laboratoriais rea-
GABARITO: E lizados posteriormente atestaram que o 116
sangue presente na faca pertencia à víti-
COMENTÁRIO: dentro dos crimes mate- ma. Após a lavagem do corpo, foi possí-
riais, classificam-se entre aqueles que, na vel detectar lesões torácicas, de acordo
linguagem do código de processo penal, com as imagens mostradas na figura a
aqueles que deixam vestígios, nos quais, seguir.
por segurança, o referido diploma legal exi-
ge que sua materialidade seja comprovada Considerando a situação hipotética
por meio do auto de exame de corpo delito. apresentada no texto 1A9AAA e a figura
que a ele se segue, assinale a opção cor-
reta.

13. (Prova CESPE - 2018 - PC-MA - Delega- a) Se não houvesse um perito médico-
do de Polícia Civil) - Texto 1A9AAA: Em legista oficial na localidade, mas
determinada cidade interiorana, por vol- houvesse um médico e um dentista
ta das dezesseis horas de um dia ensola- lotados no posto de saúde local, o
rado, o corpo de uma mulher jovem foi delegado de polícia poderia nomeá-los
encontrado por populares, em área des- para que eles realizassem o exame de
coberta de um terreno baldio. O delega- corpo de delito.
do de plantão foi comunicado do fato e, b) O exame de corpo de delito deverá ser
ao dirigir-se ao local, a autoridade poli- iniciado somente no período diurno.
cial verificou que o corpo se encontrava c) Será necessário aguardar ao menos
em decúbito dorsal e despido. A perícia seis horas após a localização do cadáver
de local, tendo realizado exame perine- para se proceder à autópsia.
croscópico, verificou que o corpo apre- d) O exame interno do cadáver poderá

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ser dispensado, uma vez que as lesões equipe pericial do instituto médico-legal
externas são suficientes para se para realização de perícia conjunta.
estabelecer com precisão a causa da c) informar à autoridade policial sobre
morte. a alteração do local de morte, emitir o
e) Após realizar o exame cadavérico, o laudo de impedimento e determinar a
perito médico-legista deverá redigir o remoção imediata do cadáver para o
parecer médico-legal, no qual deverá instituto médico-legal.
descrever minuciosamente o que d) realizar o exame externo do cadáver, de
observou e responder aos quesitos tudo que é encontrado em torno dele
formulados. ou que possa ter relação com o fato em
questão, e registrar no laudo a alteração
GABARITO: A notada no local de morte.
e) realizar o registro fotográfico do local,
COMENTÁRIO: Art. 159. O exame de corpo investigar as circunstâncias da morte,
de delito e outras perícias serão realizados não realizar o exame pericial do cadáver,
por perito oficial, portador de diploma de coletar o provável instrumento utilizado
curso superior. e descrever no laudo a alteração do
local de morte
§ 1o Na falta de perito oficial, o exame
será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, GABARITO: D
portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na área específica,
dentre as que tiverem habilitação técnica
COEMNTÁRIO:
117
relacionada com a natureza do exame. A – Atribuição da autoridade policial
que preside o inquérito policial;

B – Dever da \autoridade policial;


14. (Medicina Legal Prova VUNESP - 2018
- PC-BA - Delegado de Polícia) - Jovem do C – Existe a necessidade de analisar o
sexo masculino é encontrado morto no local de crime antes da remoção do corpo;
seu quarto, aparentemente um caso de
suicídio por enforcamento. Logo ao che- D – Correta;
gar no local de morte, a equipe pericial
encontra a vítima na cama, com o objeto E – Dever da autoridade policial.
usado como elemento constritor remo-
vido. Nessa situação, o perito criminal
deve
15. (Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - De-
a) avaliar detalhadamente o local, buscar legado de Polícia) - Enquanto área de es-
pistas de envolvimento de terceiros, tudo e aplicação de conhecimentos cien-
não realizar o exame pericial do cadáver tíficos, a Medicina Legal está alicerçada
e registrar a alteração notada no laudo em um conjunto de conhecimentos des-
final. tinados a defender os direitos e os inte-
b) fazer o boletim de ocorrência com a resses dos homens e da sociedade. Assi-
alteração notada, isolar e preservar o nale a seguir a alternativa que descreve
local de morte, e solicitar o envio de corretamente a Medicina Legal.

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a) É fundamentalmente uma forma de cada” (Hélio Gomes). Portanto a alternativa
apoiar as investigações das polícias D está correta, vamos discutir as outras al-
técnicas, sempre que haja evento a ser ternativas:
investigado que resultou em dano físico
e/ou mental. a. Note que a definição de medicina legal é
b) É um conjunto de noções sobre como mais ampla do que somente restringido
ocorrem as lesões corporais, as a investigação de crime, temos também,
consequências delas decorrentes, as por exemplo, auxilio a elaboração de
alterações relacionadas com a morte leis, portanto tem outras finalidades.
e os fenômenos cadavéricos, além da a. Medicina Legal é uma ciência, e não um
formulação de conceitos diferenciais em conjunto de noções.
embriaguez e uso de drogas, as asfixias b. Medicina legal é uma especialidade
mecânicas e suas características, os médica, em que alguns casos podem
crimes sexuais e sua análise pericial, ser exercidos por outros profissionais
entre outros. que não sejam médicos legistas
c) É uma atribuição designada ao médico (conforme § 1o artigo 159 CPP): “§
legista, podendo ser exercida por 1o Na falta de perito oficial, o exame
profissional civil ou militar, desde que será realizado por 2 (duas) pessoas
investido por instituição que assegure idôneas, portadoras de diploma de
a competência legal e administrativa do curso superior preferencialmente na
ato profissional. área específica, dentre as que tiverem
d) É um conhecimento médico e paramédico habilitação técnica relacionada com a 118
que, no âmbito do direito, concorre para natureza do exame. (Redação dada pela
a elaboração, interpretação e execução Lei nº 11.690, de 2008)”.
de leis existentes. Por meio de pesquisa c. Certa.
científica realiza seu aperfeiçoamento, d. Não pode relacionar a medicina Legal
estando a medicina a serviço das à obrigação de fazer laudos, apenas
ciências jurídicas e sociais. auxilia na elaboração, interpretação e
e) É a aplicação de conhecimento médico executarão dos dispositivos legais.
e biológico na execução de leis segundo
a previsão legal, com obrigação de fazer
relatórios cooperando na elaboração,
auxiliando na interpretação, e
colaborando na execução das leis de
forma a ser uma medicina aplicada.

GABARITO: D

COMENTÁRIO: quem teve acesso à obra


de Hélio Gomes, verá o conceito: “Medi-
cina Legal é o conjunto de conhecimentos
médicos e paramédicos destinados a ser-
vir ao Direito, cooperando na elaboração,
auxiliando a interpretação e colaborando
na execução dos dispositivos legais atinen-
tes ao seu campo de ação de medicina apli-

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IDENTIDADE, RECONHECIMENTO E IDENTIFICAÇÃO

Segundo França, citado por Palermo, a identidade é o conjunto de caracteres que


individualiza uma pessoa ou uma coisa, fazendo-a distinta das demais. Existem métodos
específicos para obter a identidade, individualizando determinada pessoa dos demais.

A identificação é exame técnico-científico, portanto, carreado de características como


impessoalidade, cientificidade, objetividade, orientando-se, portanto, por sua independên-
cia técnica. Palermo cita como o processo pelo qual determina ou não a identidade de uma
pessoa ou coisa.

O reconhecimento, por sua vez, é subjetivo, pois são feitos estímulos para que
alguém realce de sua memória informações que podem colaborar com a identificação
pretendida, depende da pessoa que será convidada a reconhecer, pois, utilizará de suas
lembranças, já tendo visto primeiro, para depois reconhecer. Só se reconhece alguém
que já é conhecido. O reconhecimento não é válido como identificação forense positiva
(como método técnico-científico).

A identidade é uma qualidade de ser uma coisa ou aquela pessoa e nenhuma outra,
ou seja, atividade que visa individualizar alguém perante outras. Existem dois aspectos
distintos: o subjetivo, que é a consciência do indivíduo de ser ele mesmo durante toda
a sua existência, podendo esta ser prejudicada nos esquizofrênicos, e o objetivo, que se 119
traduz pela sua presença física no meio ambiente, estabelecido pelas características pe-
culiares que lhe dão a individualidade.

Note que, embora entre gêmeos univitelinos o reconhecimento seja muito difícil,
por utilizar critérios externos e subjetivos de alcance, a identificação é bastante simples,
em decorrência do seu caráter objetivo e intrínseco, utilizando-se das impressões digitais
ou amostras de DNA para a identificação próprios e individuais. A lei 12037/09 regula a
identificação criminal.

Dispõe sobre a identificação criminal do civilmente identificado, regulamentando o


art. 5º, inciso LVIII, da Constituição Federal.

Art. 1º - O civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo


nos casos previstos nesta Lei.

Recapitulando:

Identificação é o meio pelo qual se pode afirmar que determinada coisa ou pessoa
é realmente aquela que se indica, individualizando esses organismos na sociedade. Utili-
za-se métodos para se obter a identidade daquilo que está querendo saber o que é.

Note que não se confunde identidade e identificação, este é um método, aquele é


um objetivo, ou seja, a propriedade de ser ou não se alguém ou alguma coisa.

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Reconhecimento: para o reconhecimento é necessário um registro, ou seja, para
reconhecer é necessário já ter conhecido.

MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO

As técnicas comumente utilizadas para identificação forense são: comparações an-


tropométricas, odontologia legal, papiloscopia, fotografias, superposição de imagens,
prosopografia, comparação imagiológica (radiografia, tomografias), genética.

A técnica pericial é realizada em três fases:

1. Um primeiro registro (caracteres imutáveis do indivíduo), e que possa distin-


gui-lo dos outros;
2. Um segundo registro dos mesmos caracteres, feito posteriormente, na medida
em que se deseja uma comparação;
3. A identificação propriamente dita, em que se comparam os dois primeiros
registros, negando ou afirmando a identidade procurada.

Existem 3 fundamentos biológicos e 2 técnicos que qualificam um método de iden-


tificação, conforme a tabela abaixo: 120

Tabela 1 - Fundamentos biológicos e técnicos para identificação, segundo França (2017).

FUNDAMENTO CARACTERÍSTICA
UNICIDADE não pode ser repetido em outro indivíduo; ser único;
Biológico

IMUTABILIDADE não muda com o tempo;

PERENIDADE se mantém ao longo do tempo, resistindo por toda a


vida e até após a morte; desde a vida embrionária à
putrefação

PRATICABILIDADE praticável no dia-a-dia pericial; qualidade de ser prá-


tico e fácil;
Técnico

CLASSIFICABILIDADE facilidade na metodologia de para o arquivamento


dos dados, afim de comparação; possível classificar.

Para Hygino (2014), o conjunto de elementos sinal éticos (sinais e dados peculiares
ao indivíduo), para ser considerado bom, deve preencher quatro requisitos técnicos, a
saber: unicidade, imutabilidade, praticabilidade e classificabilidade.

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Os tipos de identificação podem ser classificados em primários e secundários. Os
primários, mais confiáveis, são as análises odontológicas comparativas, as impressões
digitais e os perfis de ácido desoxirribonucléico (DNA). Entre os meios secundários se in-
cluem as diversas possibilidades de reconhecimento, tais como descrição pessoal, dados
médicos, as evidências e as roupas encontradas no corpo.

Tabela 2 - Métodos primários e secundários de identificação.

MÉTODOS PRIMÁRIOS MÉTODOS SECUNDÁRIOS

Dactiloscopia (papiloscopia) Mutilações, Marcas e Tatuagens

Genética (DNA) Antropométrico

Odontologia legal Outros métodos

A identificação humana pode ser dividida em médico-legal e judiciária ou policial.

121

Figura 2 - Identificação Judiciária - Sistema antoprométrico de Bertillon.

IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL

Necessita de conhecimentos médicos para serem executadas. Há variáveis que pos-


sibilitam a determinação, espécie e sexo, pois existem somente duas possibilidades. Já
a ancestralidade, idade e estatura permite apenas estimativas, pois existem inúmeras
possibilidades de achados.

Os aspectos analisados pela antropologia são:

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ESPÉCIE

As principais formas de saber se o osso é humano ou não, são as análises do osso


e do sangue.

Identificação por comparação antropológica:

Ossos

Alguns aspectos nos permitem saber se um osso é humano ou não, para tanto, devem
ser analisados o tamanho (segundo Hygino, é a primeira característica a ser analisada), peso
e forma dos ossos. Aplicando-se essa sistemática à análise do crânio e dos outros ossos.

122

Figura 3 - Diferença de formas e tamanhos dos crânios humano e canino.

Caso não consiga diferenciá-los pela forma e tamanho, podemos analisar de


forma microscópica. Após essa análise os ossos podem ser diferenciados pelos canais de
Havers. Estes canais servem de passagem para os vasos sanguíneos e se apresentam de
forma diferente nos humanos e nos animais, que são em menor número e mais largos no
homem, com até 8 por mm². Nos animais, são mais estreitos, redondos e mais numero-
sos, chegando a 40 por mm², conforme a tabela abaixo (França, 2017):

Tabela 3 - Canais de Havers, utilizados no auxílio da identificação


no Homem e no Animal (França, 2017):

CARACTERÍSTICAS HOMEM ANIMAL

Forma Elíptica ou irregular Circular


Diâmetro Superior a 3 mm Inferior a 25 mm
Número 8 a 10 mm² Muito superior ao homem,
chegando a 40 por mm2

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Palermo cita que esses canais nos humanos são em menor número, elípticos e mais
largos, enquanto nos animais são mais estreitos, circulares e numerosos.

Figura 4 - Sistema de Havers 123

Hygino (2014), também chama esses canais de Osteons. Em humanos, os osteons,


acham-se espalhados, dispersos, com um certo espaçamento no interior do osso lamelar
circunferencial, o qual exibe um aspecto com disposição em camadas. Em muitos outros
animais, os osteons tendem a se alinhar em fileiras limitadas por bandas ou em estrutu-
ras de formato retangular, chamadas de osso plexiforme. Portanto, os animais não pos-
suem estruturas concêntricas, mas sim plexiforme, inclinado ao eixo longitudinal.

Ao comparar o diâmetro total do osso com o diâmetro da medula é possível verificar


a que espécie de ser vivo pertence esse osso. Isso porque a medula humana é mais estreita,
ao passo que a medula animal é mais desenvolvida, mais ampla. Se houver uma grande
desproporção entre o córtex e a medula isso significa que se trata de um osso animal.

Sangue:

É possível realizar uma identificação pelas manchas de sangue, as quais podem ser
encontradas no local do crime, razão pela qual são recolhidas para serem identificadas,
primeiro para ver se é sangue, depois se é animal ou humano.

Palermo cita Roberto Blanco que afirma que o luminol é o teste de elite, quando se
fala em prova de orientação, que determina a natureza da substancia. Esse teste converte

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a alfa-amino-ftalidrazina em alfa-amino-ftalato na presença do peroxido de hidrogênio.
Pode ocorrer erros em casos em que tenha desinfetantes ou outras substancias oxidantes.

Outros testes de orientação são (Palermo): Adler, Van Deen, Kastle Meyer e Arman-
do Ferreira. A TÉCNICA DE ADDLER (solução saturada de benzidina em álcool a 96° ou em
ácido acético, torna-se azul-esverdeado a azul intenso em casos positivos).

Existem ainda as Provas de Certeza, exemplificadas pela Técnica de UHLENHUTH


e TEICHMANN. TEICHMANN utiliza o ácido acético glacial enquanto, UHLENHUTH o mé-
todo da albuminorreação/reação biológica de soro-precipitação. Esse último se mostra
mais seguro, pois existem diferenças entre as hemácias nos mamíferos e no homem, as
hemácias são anucleadas e circulares nos mamíferos; no homem, medem elas aproxima-
damente sete micras; e, nos demais vertebrados, apresentam-se nucleadas e elípticas.
Porém, o método mais seguro é o da albuminorreação ou processo de UHLENHUTH.

Por último classificar de acordo com o tipo sanguíneo, ou seja, A, B, O, positivo ou


negativo.

Pelo:

Segue a tabela abaixo


124
Outro elemento que auxilia na identificação de um ser como humano ou animal
é o tipo de pelo do cabelo. A medula do pelo humano é bem estreita, quase nula e nos
animais apresentam medula mais desenvolvida e bastante aparentes com um colar em
seus terminais. As escamas cuticulares nos animais são mais grossas e salientes do que
as humanas.

Palermo cita que o pelos humanos têm um córtex espesso e pigmento fino, mas
que aumenta após a puberdade. A partir desses elementos é possível fazer a reação an-
tígeno e anticorpo, estudar os cromossomos.

RAÇA:

O conceito de raça é bastante discutido. Atualmente se tem várias características


que indicam determinada raça ou ancestralidade, não apenas a cor da pele.

Existem três tipos de raças, quanto a cor de pele (classificação de Oswaldo Arbenz,
divididas em melanodermos, cuja expressão decorre de melanina, que é um pigmento
que dá a cor escura a pele, é a raça negra; os leucodermos (leuco é incolor) possuem me-
nos melanina, o que faz com que a pele seja branca; os faiodermos (mulatos/mornos) e
por último os asiáticos que são xantodermos, com pele amarela.

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França (2107), cita 5 tipos étnicos fundamentais: caucásico (pele branca ou triguei-
ra); mongólico (pele amarela); negroide (pele negra); indiano (não se afigura como um
tipo racial definido) e australoide (estatura alta; pele trigueira).

Para estabelecer a raça é necessário analisar o índice do crânio. Nesta análise te-
mos, igualmente, três espécies, sendo os braquicéfalos (platirrinos), os mesocéfalos (me-
sorrinos) e, por fim, os dolicocéfalos (catarrinos ou leptorrinos).

125
Figura 5 - Análise antropométrica do crânio.

Existem crânios mais longos e outros mais curtos, de forma que Braquicéfalos são
os mais curtos, já os dolicocéfalos são os mais longos. Quando o crânio é longo ele, na-
turalmente, é mais estreito. Em contrapartida, quando o crânio é curto ele é mais largo.

Os braquicéfalos, por possuírem crânio curto e largo, têm um nariz achatado, daí a
classificação platirrinos (plati-achatado; rinos-nariz). Os Dolicocéfalos têm o crânio longo
e estreito, o que resulta em um nariz fino, denominado leptorrino ou catarrino (lepto-fi-
no; rinos-nariz; catarrino é o nariz fino e para baixo). Os mesorrinos estão em um nível
intermediário, representando os mesocéfalos.

Figura 6 - Análise antropométrica frontal dos crânios.

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É importante ressaltar, porém, que o braquicéfalo e o dolicocéfalo podem se referir
a uma pessoa de pele branca ou negra. Os mesocéfalos ou mesorrinos não geram
discussão são, pacificamente, os asiáticos, pele amarela.

Figura 7 - Análise antropométrica da face.

Para diferenciar, então, deve ser analisado principalmente o nariz, não é correto
126
estabelecer a definição considerando característica de braquicéfalo ou dolicocéfalo.

Ao traçar uma linha horizontal na fronte do crânio e transversal acima do maxilar,


chega-se a um ângulo denominado de ângulo facial de Cloquet. Quanto maior o ângulo,
mais para dentro está o maxilar. Se der um ângulo menor que 83 graus é raça negra. Na
proporção que o ângulo aumenta (a maxila está para dentro), ficando maior que 83 graus
é considerado branco.

Figura 8 - Ângulo facial de Cloquet.

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Outros ângulos estão relacionados com a face e recebem nomes diferentes, conforme
o local de análise, sendo na espinha nasal anterior (Jacquart); no próstio (Cloquet); no
bordo incisal dos incisivos centrais superiores (Cuvier).

127

Figura 9 - Ângulos faciais (França, 2017).

O osso maxilar tem sua origem na expressão “gnatha”. A pessoa agnata não tem
maxilar. O macrognata tem o maxilar grande. O prognata tem a mandíbula projetada
para frente. Estatisticamente os prognatas são da raça negra. Normalmente os ortogna-
tas, com maxilar pra dentro, são da raça branca. Os mesognatas são os amarelos.

Em nossa cabeça existem pontos fixos, previamente determinados, e esparsos em


toda o crânio esqueletizado denominados pontos craniométricos. Permitem estabelecer
medidas precisas que facilitarão a futura identificação dos restos humanos. Através dos
pontos craniométricos, se sabe quanto de pele tem em determinado ponto, é possível,
assim, colocar massa sobre esse crânio na espessura que a estatística diz que tem de
massa naquele local. Ao final, consegue-se esculpir ou estimar digitalmente um rosto
aproximado com o que poderia ser o rosto da pessoa.

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128

Figura 10 - Pontos craniométricos para estudo antropológico.

SEXO:

França (2017) considera nove tipos de sexo: o morfológico, o cromossomial, o go-


nadal, o cromatínico, o da genitália interna, o da genitália externa, o jurídico, o sexo de
identificação e o sexo médico-legal.

Em cadáveres frescos ou mutilados, ou ainda em fase de putrefação avançada, a


técnica mais comum é a de abrir a cavidade abdominal, verificando a presença de útero e
ovários ou de próstata. Já no esqueleto, existe uma análise morfológica dos ossos, sendo
os principais: crânio, mandíbula, tórax e da pelve (França, 2017). Para Hygino, e nos casos
de adultos, o melhor osso para estimar a idade é a pelve.

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129

Figura 11 - Dois mais principais e mais efetivos métodos de determinação de sexo (crânio e pelve) -
Carvalho e Simon (1999).

Outro ponto a ser observado é a robustez, como aqueles que aparecem no crânio e
na inserção musculares de ossos masculinos.

Hygino descreve que as mudanças sexuais ocorrem mesmo antes do nascimento,


como exemplo a largura da chanfradura isquiática aumentado mais rapidamente em mu-
lheres durante o crescimento fetal.

O dimorfismo sexual acontece durante toda a infância e adolescência, ficando mais


marcado com o passar do tempo, com isso os métodos de determinação sexual ficam
mais precisos. As mulheres tem um amadurecimento precoce em relação aos homens,
portando ao considerar o sexo, é importante saber a idade do desconhecido.

Crânio:

As características do crânio não é tão precisa como aquela baseada na pelve, mas
deve ser usada na ausência de dados pélvicos para estimativa do sexo (Hygino, 2014).

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Tabela 4 - Aspectos relacionados ao sexo no crânio:

Caracteres anatômicos Masculino Feminino


Capacidade 1400 cm³ ou mais 1.300 cm3
Apófises mastoideas Rugosas e proeminentes Pouco proeminentes
Arcos superciliares Salientes Suaves

Proeminência glabelar evidente lisa


Osso frontal Inclinado Verticalizado
Processo mastoide mínima projeção maior comprimento e
largura
Côndilos occipitais Longos e delgados Curtos e largos
Crista nucal rugosa e proeminente lisa e pouco visível
índice de Baudoin menor de 50 maior de 55
Ângulo mandibular cerca de 124,4° (fechado) em média 127,6° (aberto)
Mandíbula Peso médio: 80 g 6 Peso médio: 63 g

130

Figura 12 - Diferenças entre o crânio masculino e o feminino.

Pelo comprimento e largura do côndilo é possível estabelecer sexo. Se for possível


dividir a largura do côndilo occipital pelo comprimento do côndilo, o resultado é o índice
de Baudoin.

Os ossos do crânio masculino são mais ásperos e duros do que o feminino. Lembre-
-se que a delicadeza leva ao feminino.

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Pelve:

É o osso mais indicado para se estabelecer sexo na espécie humana é a pelve. A


mulher tem o quadril largo. O homem tem quadril estreito. Portanto, bacia larga indica
sexo feminino, ao passo que bacia estreita, indica sexo masculino.

131

Figura 13 - Diferenças anatômicas entre as bacias masculina e feminina.


A feminina é mais larga para permitir o parto.

Os ossos ilíacos se conjugam e se unem no púbis. Como a bacia da mulher é larga


o ângulo de encontro no púbis (índice infrapubiano) é maior que 90 graus. Por sua vez,
a bacia do sexo masculino é estreita (androide), o que faz com que o seu ângulo infrapu-
biano seja menor que 90 graus. Podemos concluir, portanto, que ângulo pubiano estreito
será homem, já ângulo aumentado na mulher, dando um formato ginecoide.

Em femininos, a chanfradura é larga, ampla, grande, usualmente formando um ângulo


de cerca de 60°. Em masculinos, é tipicamente mais estreita e forma um ângulo de cerca
de 30°.

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Tabela 5 - Determinação do sexo por meio das características morfoscópicas da pélvis (Ramírez).
132

Note que todas as análises ósseas indicam probabilidade, a qual aumenta conforme
for a estrutura óssea observada, no entanto, não dá certeza.

Estatura:

No vivo, é calculado com o indivíduo na posição vertical e no morto medido com


uma régua especial, cujas hastes tocam no ponto mais alto da cabeça e na face inferior
do calcanhar.

Caso tenha apenas as medidas dos ossos longos, será utilizada então a Tábua os-
teométrica de Broca ou tabelas de Étienne-Rollet, de Trotter e Gleser, de Mendonça ou de
Lacassagne e Martin para estimativa da estatura.

IDADE

De forma geral, a estimativa de idade nos fetos é feita pelo aspecto morfológico,
(sua estatura e pelos raios X). Já nas crianças nascidas a termo, observa-se o ponto de
ossificação de Blecard, na extremidade distal do fêmur.

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França (2017) elenca alguns elementos na estimativa de idade, descritos na tabela abaixo:

Tabela 6 - Estimativa de idade (França, 2017):

Elementos Características
Aparência Fácil distinguir um recém-nascido de um jovem ou de um ancião.
Pele formação das rugas
Pelos pelos pubianos, calvice
Globo ocular arco senil - 20% dos quadragenários e em 100% nos octogenários
Dentes a partir dos 5 meses de vida
Rx de ossos pontos de ossificação das epífises e diáfises
Suturas do crânio desaparecem na vida adulta
Ângulo mandibular 150° no feto, 135° no recém-nascido; 130° de 0 a 10 anos; 125° de
10 a 20 anos; 123° de 20 a 30 anos; 125° de 30 a 50 anos; 130° acima
dos 70 anos.

Segundo Hygino, a determinação da idade deve-se considerar um conjunto de ca-


racterísticas morfológicas do esqueleto que apresentam mudanças ao longo da vida. Os
centros de ossificação, os dentes (formação e erupção), fechamento metafisário e com-
primento dos ossos longos servem para o diagnóstico do nascimento até a adolescência. 133
A análise da bacia, principalmente pela sínfise pubiana e da superfície auricular da
articulação sacroilíaca, extremidades condrocostais das costelas, fechamento das suturas
cranianas e grau desgaste dentário. Ainda a idade pode ser estimada microscopicamente
pela histomorfométrica medicante contagem se osnteons.

IDENTIFICAÇÃO JUDICIÁRIA OU POLICIAL:

Não depende dos conhecimentos médicos e baseia nos dados antropométricos e


antropológicos para a identidade civil e caracterização de criminosos.

Métodos antigos

Como exemplo dos processos antigos temos o ferrete, assinalamento sucinto (ano-
tação da estatura, da raça, da compleição física, idade, cor dos olhos e dos cabelos e al-
gumas alterações mais apelativas da atenção), fotografia simples e retrato falado dentre
outros.

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Figura 14 - Identificação primitiva com “ferrete”.

SISTEMA ANTROPOMÉTRICO DE BERTILLON

Alphonse Bertillon era um francês policial e biometria pesquisador que aplicou a


técnica antropológica da antropometria para a aplicação da lei que cria um sistema de
identificação baseado em medições físicas. Para tanto, utilizava a técnica de bertilhona-
gem, a partir da qual se realiza a completa medida do indivíduo. Durante muito tempo foi
uma técnica válida para identificação.
134

Figura 15 - Bertilhonagem.

PAPILOSCOPIA

A Papiloscopia (análise das papilas dérmicas) é uma atividade técnico-científica, que


identifica através da aplicação da Datiloscopia (papila dos dedos), Quiroscopia (papila da
mão) e Podoscopia (papila da planta dos pés).

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Existem quatro principais características que levaram a identificação digital ser o
método mais utilizado, a começar pela perenidade ou imutabilidade, o que permite que
uma vez identificada, a pessoa nunca mais será desconhecida. Outro é a exclusividade ou
unicidade, uma vez nenhuma pessoa tem uma digital igual à da outra. Além da praticida-
de e classificabilidade, o que permite que sejam extraídas por exames rápidos e simples,
utilizando critérios técnicos de classificação individual.

Através do albodatilograma (albo vem de branco) é possível encontrar marcas trans-


versais nos dedos, na forma de linhas brancas que cortam as linhas impressas, manifes-
tando uma imagem negativa das cicatrizes existentes.

SISTEMA DACTILOSCÓPICO DE VUCETICH

Juan Vucetich definiu Dactiloscopia como “a ciência que se propõe a identificar as


pessoas, fisicamente consideradas, por meio das impressões ou reproduções físicas dos
desenhos formados pelas cristas papilares das extremidades digitais”.

O delta é a característica fundamental na classificação de uma impressão digital.


Esta, todavia, põe à vista dois ou três sistemas lineares: nuclear, basilar e marginal e na 135
união deles o delta.

Figura 16 - Delta na impressão digital.

Figura 17 - Tipos de Deltas.

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As impressões digitais foram estudadas por Juan Vucetich, o qual descreveu a exis-
tência de quatro desenhos fundamentais, sendo o verticilo (representado por 4 ou V), a
presilha externa (3 ou E), a presilha interna (2 ou I) e, por fim, o arco (1 ou A). Utilizando
letra para o polegar e algarismo numérico para os demais dedos.

Tabela 7- Classificação de Vucetich:

TIPO FUNDAMENTAL CARACTERÍSTICA


Arco ausência de delta
Presilha interna delta à direita do núcleo (observador)
Presilha externa delta à esquerda do núcleo
(observador)
Verticilo dois deltas

Tabela 8 - Classificação de Vucetich:

CODIFICAÇÃO
TIPO FUNDAMENTAL
POLEGAR DEMAIS DEDOS
Verticilo V 4 136
Presilha externa E 3
Presilha interna I 2
Arco A 1

Figura 18 - Classificação de Vucetich.

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A ficha decadactilar é a ficha utilizada para a identificação civil e criminal pela im-
pressão digital. A fórmula datiloscópica é formada por uma fração cujo numerador é a
mão direita, chamada de série; o denominador é a mão esquerda, chamada de seção.

Figura 19 - Fórmula datiloscópica.

O resultado é usado para alocar as pessoas, podendo inclusive, conter um número


maior de pessoas. Com isso, o uso de pontos característicos (final de linha ou encerro;
cortada; anastomose ou ligação; ilhota ou ilha; anzol ou gancho; tridente; bifurcação ou
forquilha) é então usado para a diferenciação. O que identifica realmente uma pessoa
não é a forma papiloscópica, a qual até pode ser idêntica em mais de uma pessoa, mas 137
ao analisar dentro da digital é possível verificar alguns desenhos mínimos, chamados de
pontos característicos. Por tudo isso, podemos afirmar que o que identifica e individualiza
uma pessoa é a posição dos pontos característicos.

No Brasil são necessários, pelo menos, 12 pontos característicos para garantir a


individualização de uma pessoa, separando-a das demais. Lembrando que não basta ter
12 pontos, mas na mesma posição.

É possível que duas pessoas tenham a mesma forma papiloscópica, assim como é
possível que tenham os mesmos pontos característicos. O que é impossível é que estejam
todos os pontos na mesma posição, na mesma sequência.

São três principais espécies de digitais, começando pelas as visíveis, que podem ser
vistas a olho nu, as latentes, que só são perceptíveis através dos reveladores, ou ainda,
moldadas, as quais ficam impressas em alguma superfície mole.

Particularidades:

Gêmeos univitelinos possuem material genético idêntico, já os desenhos digitais


são diferentes. Sob o ponto de vista da unicidade, a impressão digital individualiza ainda
mais do que a identificação pelo material genético.

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O Estatuto da Criança e do Adolescente exige que a criança seja identificada pela
podoscopia e a mãe pela datiloscopia, sob pena de responder criminalmente. Daí surge a
importância de sabermos que desde o 6º mês de vida intrauterina as impressões digitais
do indivíduo já estão formadas, após o que elas não mudam mais, ainda que em estado
de putrefação. Isso porque enquanto a epiderme estiver hígida, exercendo suas funções,
elas serão perenes, ou seja, imutáveis.

Note que existem doenças que apagam completamente as digitais, porém, após a
cura e o ressurgimento das digitais, elas estarão exatamente como eram antes.

POROSCOPIA:

Como vimos acima, podemos usar não só a papiloscopia, mas também a Porosco-
pia, que é o exame que realiza a identificação através das marcas deixadas pelos poros
da pele, presentes nas papilas digitais. São áreas puntiformes brancas dispostas ao longo
das linhas impressas. Assim, através da imagem negativa dos poros é possível identificar.
São negativas onde a tinta não entrou.

138
GENÉTICA

O exame genético para fins de identificação, segundo Hygino, está indicado princi-
palmente nos casos quando os despojos humanos se apresentam muito deteriorados,
carbonizados, esquartejados ou reduzidos a pequenos fragmentos ósseos, situações nas
quais os parâmetros antropométricos não podem ser aplicados de modo confiável.

O DNA (ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLEICO) contêm intrusões genéticas que coorde-


nam o desenvolvimento e funcionamento dos seres vivos. Também tem a finalidade de
produzir e sintetizar as proteínas do organismo. A recombinação gênica é a troca aleatória
de material genético que ocorre durante a meiose, no momento de reprodução celular.
Portanto, é essa troca aleatória de genes a responsável pelo alto grau de variabilidade
entre os organismos vivos. Cada ser humano tem uma combinação genética exclusiva, o
que permite uma diferenciação inequívoca destes organismos (salvo os gêmeos monozi-
góticos que compartilham do mesmo conjunto de genes).

A aplicação da análise de DNA está presente principalmente nos casos de:

• Identificação de suspeitos em casos de violência sexual (estupros, atentado


violento ao pudor, atos libidinosos)
• Identificação de cadáveres carbonizados ou em decomposição
• Identificação de corpos mutilados

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• Identificação de peças ósseas e órgãos humanos
• Investigação de paternidade
• Produção de perfis de material genético recuperado a partir de evidências de
natureza biológica presentes em suportes diversos encontrados em locais de
crimes (manchas de sangue, manchas de esperma, manchas de saliva, pêlos
e outros)

Normalmente, a identificação genética é realizada pela análise do DNA nuclear. Po-


rém, um outro tipo de DNA pode ser analisado (o DNA mitocondrial - mtDNA). O DNA
costuma ficar no centro das células, chamado de núcleos, porém podem estar presentes
em outras partes, como a mitocôndria, que contém o DNA de origem materna. Células da
epiderme possui poucos núcleos, por isso, quando necessária a análise genética, recorre-
-se ao DNA mitocondrial, isso ocorre também com ossadas muito antigas.

Lembrando que o mtDNA apresenta um padrão de herança materna, ou seja, a se-


quência é idêntica para todos os familiares por parte de mãe (herança matrilinear). Pode
ser usado para identificar pessoas desaparecidas, através de análise por comparação
com parentes.

A aplicação dos marcadores do cromossoma Y tem várias aplicações fundamentais,


nomeadamente identificação da linhagem paterna de um indivíduo, a ancestralidade da 139
mesma, bem como possivelmente a sua origem geográfica.

Nos casos de abuso sexual um agressor pode ser identificado pela detecção do seu
haplótipo numa amostra recolhida no local do crime. Existe mistura de material celular
da vítima e do suspeito, em quantidades desproporcionais, na grande maioria dos casos
com quantidade de material celular feminino consideravelmente superior à do suspeito.
Nestas circunstâncias o estudo dos marcadores específicos do cromossoma Y, permite
a possibilidade de identificar o agressor, inclusive com a presença de mais do que um
contribuinte do sexo masculino. Estes casos podem ser de difícil avaliação, na medida em
que a obtenção de um perfil masculino do cromossoma Y na amostra, significa que foi
identificada uma linhagem paterna e não um indivíduo específico, portanto pode ser o
irmão, pai do agressor, lembre-se, identifica tão somente uma linhagem paterna.

Metade dos cromossomas(as), da informação genética, vem da mãe e a outra do


pai. Com a fecundação ocorre o encontro dessas duas metades, através dos gametas
(feminino - óvulo e masculino - espermatozóide).

Tabela 9 - Total de cromossomos:

Total: 23 pares – 46 cromossomos

Sexual: 1 par

Autossômicos: 22 pares

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Existem duas metodologias para análise do DNA. Uma baseia-se no estabelecimen-
to dos padrões genéticos após a obtenção de fragmentos de restrição de DNA dos indiví-
duos (polimorfismo de comprimento de fragmentos de restrição ou restriction jragment
lenght polimorphism - RFLP).

A outra, mais usada na investigação criminalística, é conhecida como PCR (reação


em cadeia da polimerase ou polymerase chain reaction). Desenvolvida nos Estados Uni-
dos por Kary Mullis e cols., representa uma poderosa ferramenta em virtude de sua fa-
cilidade, rapidez e automação, minimizando riscos de contaminação da amostra. Essa
metodologia tem por base a elaboração e multiplicação de cópias, sendo conhecida como
“amplificação” de regiões hipervariáveis, catalisada por uma enzima chamada DNA poli-
merase. Possibilita o uso de mínimas quantidades de DNA, obtendo-se resultados satisfa-
tórios. A importância do uso de STRs (Seqüências curtas de repetições em Tandem) como
ferramentas de identificação individual, consiste no alto grau de polimorfismo, e por for-
mar um perfil genético único para cada indivíduo, exceto em gêmeos monozigóticos.

Segundo Hygino, O princípio básico para estabelecer uma identificação pela análise
de DNA, consiste no exame de uma quantidade suficiente de polimorfismos de um deter-
minado sujeito esteja presente, com isso, a probabilidade de que qualquer outra pessoa
na população tenha os mesmos alelos em cada locus cromossoma será ínfima.
140
O exame de DNA permite um cálculo estatístico de probabilidade, portanto sempre
possibilitando uma margem de erro ínfima, estatisticamente insignificante.

Sobre bancos de perfil genéticos, eles são constituídos, com a finalidade de arma-
zenar os dados de perfis genéticos de modo que possam ser confrontados em processos
de ações criminais, ou até mesmo com outras finalidades.

Hygino destaca que atualmente o exame de DNA constitui o melhor método para a
identificação de um indivíduo, mas para que ela seja eficaz, é necessário que o universo
de possíveis vítimas seja reduzido ao máximo.

IDENTIFICAÇÃO ODONTOLEGAL

Traços únicos contidos na morfologia dentária e por serem resistentes em situa-


ções adversas, os dentes humanos são importantes para investigação em situações de
identificação de vítimas vivas ou falecidas. Nesse sentido, registros odontológicos (pron-
tuários, modelos de gesso, radiografias) podem ser recuperados comparados a situação
atual da cavidade oral da vítima.

Não só traços anatômicos e morfológicos, bem como a presença de procedimen-


tos odontológicos como restaurações, coroas estéticas, estéticas, tratamentos de canal e

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próteses, implantes, são analisadas. Uma vez que essas intervenções são feitas sob me-
dida para cada indivíduo, elas são consideradas no momento da exclusão e confirmação
de identidade de vítimas.

Figura 20 - Comparação positiva odontolegal de radiografias ante-mortem (AM) e post-mortem (PM).

141

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QUESTÕES surge vinculada aos estudos fisio-bioló-
gicos do século XVIII e XIX, visando com-
preender o processo de evolução pelo
1. (FUNIVERSA - 2012 - PC-DF - Perito Cri-
qual se originaram os humanos moder-
minal – Odontologia) - A estimativa do
nos, com ênfase nos aspectos biológicos
sexo tem seu valor na esfera da odonto-
e físicos referentes a este processo. Sua
logia legal, em especial nos casos em que
metodologia se centraliza na compara-
se encontra apenas o crânio separado do
ção fóssil-residual além do estudo com-
esqueleto. Confrontando-se os aspectos
parativo de diferentes “tipos humanos”.
cranianos presentes no sexo masculino
Podemos dizer da antropologia:
e no feminino, qual das seguintes carac-
terísticas é mais compatível e provável
a) Antropologia forense é ramo da medici-
de ser encontrada em crânios de mulhe-
na legal que tem como principal objeto
res?
a identidade e identificação do ser hu-
mano.
a) glabela mais pronunciada
b) O uso da antropologia geral, não é acei-
b) fronte mais inclinada para trás
ta como prova na esfera penal.
c) côndilos occipitais mais curtos e mais
c) A antropologia identifica restos huma-
largos
nos, desde que não estejam esqueleti-
d) apófise estiloide mais longa e de maior
zados.
grossura
e) maior aspereza e irregularidade do bor-
d) A antropologia e sua grande relação 142
com a biologia e a osteologia, possibi-
do inferior do osso malar
lita somente a identificação de animais
esqueletizados.
GABARITO: C

GABARITO: A
COMENTÁRIO: Características masculinas:
fronte mais inclinada para trás, glabela e
COMENTÁRIO: a Antropologia Forense
arcos superciliares salientes, crânio mais
Estuda a identidade e a identificação do
pesado, côndilos occipitais longos e del-
homem. A identificação médico-legal é de-
gados, rebordos supraorbitários rombos,
terminada através de métodos, processos
linhas nucais rugosas, mento quadrado,
e técnicas de estudo dos seguintes carac-
dentre outras. Femininas: fronte mais ver-
teres: idade, sexo, raça, altura, peso, sinais
tical, glabela não saliente e continuação do
individuais, sinais profissionais, dentes, ta-
perfil frontonasal, crânio mais leve, côndilos
tuagens, já a identificação judiciária é atra-
occipitais curtos e largos, rebordos supraor-
vés da antropometria, datiloscopia, dentre
bitárias cortantes, linhas nucais discretas/
outras.
planas, mento pontiagudo. Parte superior
do formulário.
Os meios de identificação podem ser clas-
sificados em primários e secundários. Os
primários mais confiáveis são as análises
odontológicas comparativas, as impressões
2. (EXATUS - 2012 - DETRAN-RJ - Analista de
digitais e os perfis de ácido desoxirribonu-
Identificação Civil) - A antropologia Física

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cléico (DNA). Entre os meios secundários se por meio de gerações distantes na linha
incluem as diversas possibilidades de reco- materna.
nhecimento, tais como descrição pessoal, e) A Reação em Cadeia da Polimerase
dados médicos, as evidências e as roupas (PCR) é uma técnica comumente utiliza-
encontradas no corpo. da para se determinar o perfil de DNA
em uma amostra. Sensível e moderna é
capaz de gerar com eficácia um grande
número de cópias de um determinado
3. (FUNIVERSA - 2015 - POLÍCIA CIENTÍ- segmento de DNA a partir de pequena
FICA - GO - Médico Legista) - O processo quantidade de material genético.
de identificação por DNA (ácido desoxir-
ribonucleico) tem por lastro a assertiva GABARITO: E
de que cada indivíduo é geneticamente
único (à exceção dos gêmeos idênticos), COMENTÁRIO:
o que torna praticamente obsoletas ou-
tras técnicas antecedentes. Quanto a a. ERRADA - é possível extrair DNA
esse processo de identificação, assinale de ossos e unhas.
a alternativa correta. b. ERRADA - o que identifica é o
polimorfismo presente no DNA.
a) Apresenta como limitação a impossibi- c. ERRADA - o DNA mitocondrial
lidade de ser realizado em fragmentos pode ser usado na érea forense 143
ósseos e unhas. e está presente no cabelo sem
b) A molécula de DNA mostra-se ideal para bulbo e também em células
o processo de identificação em função anucleadas (hemácias).
da ausência de polimorfismos, facilitan- d. ERRADA - misturou as defini-
do assim a análise do comprimento dos ções (DNA nuclear X DNA mit.).
fragmentos resultantes da ação das en- e. CORRETA - é importante o con-
zimas de restrição. ceito de PCR.
c) O DNA mitocondrial, diferentemente do
DNA nuclear, não é útil para a tentati-
va de identificação de restos humanos,
uma vez que se faz escassamente pre- 4. (FUNCAB - 2015 - PC-AC - Perito Crimi-
sente em pelos sem bulbo piloso (has- nal) - De acordo com o sistema dactilos-
tes pilosas) e sangue. cópico de Vucetich, assinale a assertiva
d) A molécula de DNA apresenta três com- correta.
ponentes fundamentais: a desoxirribo-
se, um grupo fosfato e quatro tipos de a) No arco, situa-se apenas o sistema de
bases nitrogenadas (adenina, citosina, linhas marginais e basais, não encon-
guanina e timina), dispostos em um mo- trando o sistema central, tampouco ha-
delo estrutural de dupla hélice circular, vendo formato de delta.
no DNA nuclear, que permite uma aná- b) No sistema de identificação de Vuceti-
lise exclusivamente da herança mater- ch, utilizam-se apenas as impressões
na, permitindo inclusive a identificação dos cinco dedos da mão direita do indi-
víduo para a sua classificação.

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c) Presilha externa ocorre quando as li- • Arco: geralmente adéltico, formado
nhas se encaminham da esquerda para por linhas que atravessam o campo
o centro e voltam para a esquerda, re- digital, apresentando em sua tra-
sultando a presença de um delta à di- jetória formas mais ou menos pa-
reita. ralelas e abauladas ou alterações
d) Presilha interna ocorre quando as li- características. É representado pela
nhas se dividem da direita para o centro letra A para os polegares e número
e voltam para a direita, formando ape- 1 para os demais dedos.
nas um delta à esquerda.
e) O arco é a parte central do polegar que
forma um turbilhão em que se encon-
tram as linhas do sistema basal e mar- 5. (CESPE - 2016 - POLÍCIA CIENTÍFICA - PE
ginal, formando dois triângulos. - Médico Legista) - A respeito de identida-
de e de identificação humana para fins
GABARITO: A de exame pericial médico-legal, assinale
a opção correta.
COMENTÁRIO: As impressões obtidas são
colocadas na fórmula datiloscópica, na qual a) Mutilações, manchas, cicatrizes, estigmas
são representadas por uma fração, onde a profissionais, deformidades e patolo-
mão direito está no numerados e a mão es- gias diversas não são utilizadas como
querda no denominador, conforme abaixo: meios de identificação pela antropolo- 144
gia forense, por desobediência ao prin-
• Verticilo: representado por V nos cípio ético.
polegares (notação literal) e por 4 b) A antropologia social tem como objeti-
nos outros dedos (notação numéri- vo estabelecer as características físicas
ca). Apresenta dois deltas e um nú- pessoais, incluindo alterações associa-
cleo central. das às anomalias, patologias, hábitos e
• Presilha externa: um delta à esquer- atividades.
da do observador, apresentando c) No estudo da identidade humana, o as-
linhas que, partido da direita, cur- pecto objetivo é a consciência do indiví-
vam-se e voltam ou tendem a vol- duo de ser ele mesmo, ao passo que o
tar ao lado de origem, formando aspecto subjetivo se refere à existência
laçadas. É representado pela letra física estabelecida pelas características
E para os polegares e o número 3 peculiares que dão a individualidade.
para os demais dedos. d) A antropologia forense tem como obje-
• Presilha interna: um delta à direita tivo reduzir o universo de possíveis víti-
do observador, apresentando linhas mas, para otimizar os custos e agilizar
que, partindo da esquerda, curvam- os procedimentos legais.
-se e voltam ou tendem a voltar ao e) Entre os requisitos necessários aos mé-
lado de origem, formando laçadas. todos de identificação, incluem-se a
É representado pela letra I para os unicidade, a sinalética, a classificabilida-
polegares e o número 2 para os de- de e a imutabilidade.
mais dedos.

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GABARITO: E a) apenas gêmeos univitelinos apre-
sentam idênticas impressões digi-
COMENTÁRIO: os fundamentos biológicos tais.
ou técnicos que qualificam e que preen- b) o reconhecimento dos parentescos
chem as condições para um método de e das linhagens familiares é realiza-
identificação ser considerado aceitável são: do por meio de imagens datiloscó-
picas.
• UNICIDADE. Também chamado de c) o sistema dactiloscópico, quando
individualidade, ou seja, que deter- procedido na forma decadactilar,
minados elementos sejam específi- especialmente para fins de inves-
cos daquele indivíduo e diferenças tigação criminal, apresenta maior
dos demais. precisão.
• IMUTABILIDADE. São as característi- d) exclui-se o requisito da classificabi-
cas que não mudam e não alteram lidade, pois é impossível classificar,
ao longo do tempo. de forma organizada, tantas varie-
• PERENIDADE. Consiste na capacida- dades de desenhos e recuperar um
de de certos elementos resistirem à número expressivo de amostras.
ação do tempo, e que permanecem e) as impressões digitais, por serem
durante toda a vida, e até após a resultantes de fenômenos biológi-
morte, como por exemplo o esque- cos, são consideradas mutáveis ao
leto. longo da vida. 145
• PRATICABILIDADE. Um processo
que não seja complexo, tanto na ob- GABARITO: C
tenção como no registro dos carac-
teres. COMENTÁRIO:
• CLASSIFICABILIDADE. Este requisito
é muito importante, pois é neces- a. ERRADA - Uma das poucas diferen-
sária certa metodologia no arquiva- ças entre gêmeos univitelinos são
mento, assim como rapidez e facili- as impressões digitais, até o DNA é
dade na busca dos registros. o mesmo.
b. ERRADA - Linhagem familiar não
Lembrando: para Hygino (2014), o conjun- é traçada a partir da papiloscopia,
to de elementos sinal éticos (sinais e dados isso é para o DNA.
peculiares ao indivíduo), para ser conside- c. ERRADA - Uma das principais carac-
rado bom, deve preencher quatro requisi- terísticas das impressões digitais é
tos técnicos, a saber: unicidade, imutabili- a classificabilidade (seguindo uma
dade, praticabilidade e classificabilidade. metodologia de arquivamento, há
facilidade e rapidez na busca de re-
gistros), ao lado da perenidade (re-
sistem à ação do tempo), unicidade
6. (CESPE - 2016 - POLÍCIA CIENTÍFICA - PE (específico de cada indivíduo), pra-
- Médico Legista) - No método papiloscó- ticabilidade (não é um processo de
pico de identificação: identificação complexo e demora-

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do), imutabilidade (são característi- 8. (FUNCAB - 2016 - PC-PA – Papiloscopis-
cas que não mudam com o passar ta) - Ao analisar a fórmula dactiloscópica
dos anos e o envelhecimento). de Vucetich, abaixo descrita, é correto
d. ERRADA - Na realidade as impres- afirmar que a impressão digital do dedo:
sões digitais têm a característica da
imutabilidade, são características F.D = E 4 3 3 3/ V 4 4 4 0
que não mudam com o passar dos
anos e o envelhecimento. a) anular da mão esquerda apresenta
o desenho do arco.
b) indicador da mão direita apresenta
o desenho da presilha interna.
7. (CESPE - 2016 - POLÍCIA CIENTÍFICA - PE c) polegar da mão direita apresenta o
- Perito Criminal – Odontologia) - Estão desenho da presilha externa.
entre os métodos primários de identifi- d) mínimo da mão esquerda apresenta
cação humana: uma cicatriz deformante.
e) polegar da mão esquerda apresenta
a) o reconhecimento visual e a identifica- o desenho do arco.
ção de marcas ou tatuagens.
b) a identificação pela arcada dentária e a GABARITO: C
papiloscopia.
c) a genética forense e a reconstrução fa- COMENTÁRIO:
146
cial tridimensional.
d) a identificação visual e a impressão di- V E I A
gital.
e) a datiloscopia e a antropologia forense. 4 3 2 1

GABARITO: B PS.: começa sempre do polegar. Na se-


quência: polegar, indicador, médio, anular
COMENTÁRIO: existem 3 métodos primá- e mínimo.
rios de identificação humana: Papiloscopia
(impressão digital); Odontolegal (arcada Algumas situações especiais, recebem no-
dentária); Genética Forense (DNA). Os de- tações próprias:
mais métodos (reconhecimento, tatuagens,
- Dedos amputados (0)
antropologia) são considerados métodos
secundários, ou seja, auxiliares para méto-
- Dedos defeituosos ou com cicatriz que im-
dos primários. Os primários mais confiáveis
pede a classificação (X)
são as análises odontológicas comparativas,
as impressões digitais e os perfis de ácido
desoxirribonucléico (DNA). Entre os meios
secundários se incluem as diversas possibili-
dades de reconhecimento, tais como descri-
ção pessoal, dados médicos, as evidências e
as roupas encontradas no corpo.

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9. (FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de × 1 cm. Havia tênue mancha de tonali-
Polícia Civil) No que se refere ao tema dade avermelhada na face posterior do
“identificação”, os ângulos de Jacquart, corpo, que só não se evidenciava nas
Cloquet e Curvier são verificados: partes que estavam em contato com o
solo. Nas adjacências das lesões toráci-
a) no tórax. cas e no solo próximo ao corpo, havia pe-
b) nas pernas. quena quantidade de sangue coagulado.
c) nos braços. No mesmo terreno onde estava o corpo,
d) na bacia. foi encontrada uma faca de gume liso
e) no crânio. único. A lâmina, que estava suja de san-
gue, tinha formato triangular e media
GABARITO: E 20 cm de comprimento e 4 cm de largura
em sua base. Exames laboratoriais rea-
COMENTÁRIO: na craniometria, os ângu-
lizados posteriormente atestaram que o
los recebem diferentes nomes, conforme
sangue presente na faca pertencia à víti-
o local de análise, sendo na espinha nasal
ma. Após a lavagem do corpo, foi possí-
anterior (Jacquart); no próstrio (Cloquet);
vel detectar lesões torácicas, de acordo
no bordo incisal dos incisivos centrais su-
com as imagens mostradas na figura a
periores (Cuvier).
seguir.

A perícia dactiloscópica realizada no 147


cadáver referido no texto 1A9AAA iden-
10. (CESPE - 2018 - PC-MA - Delegado de
tificou a impressão digital de um único
Polícia Civil) - Texto 1A9AAA: Em deter-
dedo na faca encontrada no local do cri-
minada cidade interiorana, por volta das
me. A comparação dessa impressão di-
dezesseis horas de um dia ensolarado, o
gital com os dados do arquivo criminal
corpo de uma mulher jovem foi encon-
revelou que ela coincidia com a do dedo
trado por populares, em área descober-
indicador da mão direita de um homem
ta de um terreno baldio. O delegado de
foragido da justiça que havia sido conde-
plantão foi comunicado do fato e, ao
nado pelo estupro seguido de morte de
dirigir-se ao local, a autoridade policial
outras mulheres. Com referência a essas
verificou que o corpo se encontrava em
considerações adicionais, assinale a op-
decúbito dorsal e despido. A perícia de
ção correta.
local, tendo realizado exame perine-
croscópico, verificou que o corpo apre-
a) A análise do perfil genético de esperma-
sentava temperatura de 27ºC, além de
tozoides detectados na secreção vagi-
rigidez completa de tronco e membros.
nal da vítima seria opção mais confiável
Constataram-se escoriações na face,
que a impressão digital para identificar
fraturas dos elementos dentários ante-
o criminoso.
riores, manchas roxas na região cervical
b) No caso considerado, a impressão di-
anterior e duas lesões profundas na re-
gital de uma única polpa digital poderá
gião torácica anterior, abaixo da mama
ser considerada suficiente para estabe-
esquerda, medindo a maior delas 4 cm
lecer a autoria do crime.

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c) Se o referido homem tiver um irmão gê- ficativo no processo de identificação de
meo univitelínico, as impressões digitais pessoas.
serão insuficientes para diferenciá-los. d) Ilhotas, forquilhas e bifurcações são
d) A impressão digital encontrada na faca espécies de pontos característicos exis-
deverá ser comparada com registros tentes nos desenhos digitais, sendo que
recentes do homem em questão, uma a presença de ao menos quatro destes
vez que as linhas dactiloscópicas variam pontos, sem nenhum ponto de diver-
com o tempo. gência, indica confronto positivo para a
e) O fato de ser comum encontrar indi- identificação do suspeito.
víduos diferentes que possuam im- e) A datiloscopia se constitui um excelen-
pressões digitais idênticas justifica a te método de identificação e tem como
impossibilidade de se estabelecer com principais características a unicidade, a
segurança a autoria no caso em apreço. mutabilidade, a praticidade e a classifi-
cabilidade.
GABARITO: B
GABARITO: B
COMENTÁRIO: podemos afirmar o que
identifica e individualiza uma pessoa é a COMENTARIO:
posição dos pontos característicos. No Bra-
sil são necessários, pelo menos, 12 pontos a. ERRADO, como afirmado, a fotografia
característicos para garantir a individua- falha quanto ao requisito da imutabi- 148
lização de uma pessoa, separando-a das lidade, pois as características pessoais
demais. Lembrando que não basta ter 12 do agente se modificam com o tempo,
pontos, mas os 12 na mesma posição. Isso de forma intencional ou não.
pode acontecer em um único dedo. b. A rugopalatoscopia analisa as cristas si-
nuosas existentes do palato duro. COR-
RETO.
c. ERRADO, tatuagens tendem a ser fato-
11. (Instituto Acesso - 2019 - PC-ES - De- res individualizantes que auxiliam no
legado de Polícia) - A respeito da identi- estabelecimento da identificação.
ficação criminal, assinale a alternativa d. ERRADO - no Brasil são necessários,
correta: pelo menos, 12 pontos característicos
para garantir a individualização de uma
a) A fotografia sinalética constitui um mé- pessoa, separando-a das demais. Lem-
todo bastante eficaz de identificação brando que não basta ter 12 pontos,
e, por sua precisão, pode ser utilizada mas na mesma posição.
como método isolado de identificação e. ERRADO - seria IMUTABILIDADE – as im-
de pessoas. pressões digitais guardam o mesmo de-
b) A rugopalatoscopia é um método de senho desde o sexto mês de vida intra-
identificação que leva em consideração -uterina até alguns dias após a morte.
as cristas sinuosas existentes do palato
duro.
c) As tatuagens não possuem valor signi-

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