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UESC/ PROC. PEN.

I
Prof. Helvécio G. de Argôllo
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DIREITO PROCESSUAL PENAL I

1. PROPEDEUTICA / NOÇÕES ELEMENTARES

Fundamentos de existência do Processo Penal. Peculiaridades. (Im)Possibilidade de uma teoria


geral do processo em razão das peculiaridades do processo penal.

O litígio. Pretensão e lide. Formas compositivas do litígio. O monopólio do exercício da violência


por parte do Estado como ordenador da vida social. (arts. 345 do Código Penal. Crime: “Fazer
Justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite ”.

O Fundamento da Existência do Processo Penal enquanto instrumentalidade garantista. (re)


discussão sobre o papel fundamental do processo penal, por que ele existe e por que precisamos
dele. Processo Penal para que(m). (LOPES JR., p. 1)

Qual é o nosso paradigma de leitura do processo penal, qual o ponto fundante do discurso do
processo penal? Garantismo ou Utilitarismo?

Os princípios de política processual de uma nação é o seguimento de sua política estatal em


geral. Assim, o processo penal de uma nação é o termômetro dos elementos autoritários ou
democráticos de sua Constituição (GOLDSCHMIDT), de modo que, a uma Constituição
autoritária vai corresponder um processo penal autoritário, utilitarista (eficiência antigarantista).

Por outro lado, a uma Constituição democrática, necessariamente deve corresponder um


processo penal democrático e garantista.

O Utilitarismo processual (eficiência antigarantista). Mas o que é o garantismo?

A EVOLUÇÃO EM DIREÇÃO AO GARANTISMO:

Na evolução do relacionamento indivíduo-Estado, houve necessidade de normas que garantissem


os direitos fundamentais do ser humano contra o forte poder estatal intervencionista. Para isso, os
países inseriram em suas Constituições regras de cunho garantista, que impõem ao Estado e à
própria sociedade o respeito aos direitos individuais, tendo o Brasil, segundo José Afondo da Silva,
sido o primeiro a introduzir em seu texto normas desse teor. Além disso, principalmente após as
guerras mundiais, os países firmaram declarações conjuntas, plenas de normas garantidoras,
visando justamente a que seus signatários assumissem o compromisso de, em seus territórios,
respeitarem os direitos básicos do indivíduo. (FERNANDES, p. 13)

O GARANTISMO COMO ÚLTIMA RATIO DO PROCESSO PENAL

O garantismo é um direito a partir da concepção de submissão de todos à lei constitucional. Não se


pode entendê-lo como direcionado à soberania interna de poderes institucionalizados, visto que esta
idéia de soberania foi repudiada pelo constitucionalismo. Assim, todos os poderes ficam
subordinados à vontade da lei, que tem a tarefa de transformar os direitos fundamentais em direito
constitucional interno. É nesse passo que o garantismo representa um limite ao poder estatal
soberano, porque nascido no âmbito dos direitos fundamentais. (THUMS, p. 27).
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O processo penal garantista, que decorre da laicização moderna do Estado, opõe-se ao


movimento de lei e ordem, que pretende o controle social a partir de leis mais duras, a exemplo
do que ocorreu com os Tribunais da Inquisição, que para combater as condutas criminosas,
ligadas a convicções pessoais, idéias e pensamentos, puniam o homem por ter aderido a uma
falsa doutrina em detrimento de um a única verdadeira, como foi o caso da heresia.

Nesse sentido, pode-se afirmar que a laicização do Direito Processual Penal implica
necessariamente a adoção de uma política garantista, na medida em que o direito na esfera
criminal sempre esteve preocupado com a questão da materialização dos crimes. Identificar,
descrever e intimidar como o Direito Penal, relegado a segundo plano a questão do processo
penal, pode ser muito mais significativo o que o direito substantivo. Aliás, as grandes barbáries
foram cometidas na área do processo penal, isto é, a forma como se aplica a lei penal. (THUMS,
p. 277).

No atual Estado Democrático de Direito, as áreas do direito material e processual se


interpenetram, de modo que no processo garantista verifica-se necessariamente a conjugação
de regras processuais e penais. Nesse sentido, pode-se reconhecer como inconstitucional a
incriminação de uma conduta sem necessidade, como ocorre em várias hipóteses do Estatuto
do Desarmamento.

O garantismo é originário da obra de Luigi Ferrajoli (Direito e Razão: Teoria do Garantismo


Penal), que oferece sólidos elementos para um arcabouço de filosofia do Direito Penal e do
Processo Penal. Partindo do modelo do Estado de Direito, particularmente no que respeita à
gestão das relações entre o Poder Público e o particular, reconhecendo-se a necessidade do
alargamento dos princípios jurídicos e do papel criativo do juiz, não mais escravo ou boca da lei,
Ferrajoli procura estabelecer limites mais ou menos objetivos para a contenção da nascente e
crescente liberdade judiciária, do ponto de vista específico do Direito Penal e do Processo Penal.

Como tais disciplinas cuidam de uma intervenção estatal de grandes conseqüências na


liberdade individual, sobretudo no que respeita ao aspecto das penas corporais, próprias do
Direito Penal, Ferrajoli se debruça cuidadosamente sobre as principais características do ato
jurisdicional, enquanto ato de autoridade pública, dotado de coercibilidade estatal, para daí
assinalar que, para além da autoridade inerente a qualquer ato do Poder Público, as decisões
judiciais em matéria criminal, mais que qualquer outra (administrativas e políticas), devem
demonstrar o amplo conhecimento sobre a matéria decidida. E de tal maneira que toda
condenação criminal seja fruto exclusivo do saber (conhecimento), e não manifestação de poder
(de autoridade). (OLIVEIRA, 2009, p. 29)

Como são inúmeras as dificuldades de todo conhecimento (afirmação da certeza), a


solução de um caso penal somente poderá obter legitimidade quanto fundada em procedimento
judicial no qual se permitam o mais amplo conhecimento dos fatos e a mais ampla possibilidade
de argumentação jurídica. Procedimento, então, realizado em contraditório, para que possam os
interessados (autor e réu) participar intensamente de todas as questões debatidas, e, mais que
isso, em que a atividade defensiva seja a mais ampla possível; daí se falar em ampla defesa
como princípio do processo penal garantista). (FERRAJOLI, 2002, PP. 30-40)
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O constitucionalismo moderno vinculou o legislador tanto sob a forma de produção das


normas inferiores quanto ao seu conteúdo, conferindo poderes ao julgador de declarar
inconstitucional determinada norma que não está adequada à forma de produção ou que possui
conteúdo que viola direitos fundamentais. Nesse sentido as seguintes colocações de Luiz
Roberto Barroso (p. 40):

O Estado moderno se consolida, ao longo do século XIX, sob a forma de Estado de


direito. Na maior parte dos países europeus, a fórmula adotada foi a monarquia
constitucional. O núcleo essencial das primeiras constituições escritas é composto
por normas de repartição e limitação do poder, aí abrangida a proteção dos direitos
individuais em face do Estado. A noção de democracia somente viria a desenvolver-
se e aprofundar mais tarde, quando se incorporam à discussão idéias como fonte
legítima do poder e representação política. Apenas quando já se avançava no
século XX é que seriam completados os termos da complexa equação que traz
como resultado o Estado Democrático de Direito: quem decide (fonte do poder),
como decide (procedimento adequado) e o que pode e não pode ser decidido
(conteúdo das obrigações negativas e positivas dos órgãos do poder).

A construção do Estado constitucional de direito ou Estado constitucional


democrático, no curso do século XX, envolveu debates teóricos e filosóficos
intensos acerca da dimensão formal e substantiva dos dois conceitos centrais
envolvidos: Estado de direito e democracia. Quanto ao Estado de direito, é certo
que, em sendo formal, é possível afirmar sua vigência pela simples existência de
algum tipo de ordem legal, cujos preceitos materiais e procedimentais sejam
observados tanto pelos órgãos do poder quanto pelos particulares. Este sentido
mais fraco do conceito corresponde, segundo a doutrina, à noção alemã de
Rechtsstaat, flexível o suficiente para abrigar Estados autoritários e mesmo
totalitários que estabeleçam e sigam algum tipo de legalidade. Todavia, em uma
visão substantiva do fenômeno, não é possível ignorar a origem e o conteúdo da
legalidade em questão, isto é, sua legitimidade e sua justiça. Esta perspectiva é que
se encontra subjacente ao conceito anglo-saxão de rule of the Law e que se
procurou incorporar à idéia latina contemporânea de Estado de direito...

Já no tocante à democracia, é possível considerá-la em uma dimensão


predominantemente formal, que inclui a idéia de governo da maioria e de respeito
aos direitos individuais, freqüentemente referidos como liberdades públicas – como
as liberdades de expressão, de associação e de locomoção –, realizáveis mediante
abstenção ou cumprimento de deveres negativos pelo Estado. A democracia em
sentido material, contudo, que dá alma ao Estado constitucional de direito, é, mais
que o governo da maioria, o governo para todos. Isso inclui não apenas as minorias
– raciais, religiosas, culturais –, mas também os grupos de menor expressão
política, ainda que não minoritários, como as mulheres e, em muitos países, os
pobres em geral. Para a realização da democracia nessa dimensão mais profunda,
impõe-se ao Estado não apenas o respeito aos direitos individuais, mas igualmente
a promoção de outros direitos fundamentais, de conteúdo social, necessários ao
estabelecimento de patamares mínimos de igualdade material, sem a qual não
existe vida digna nem é possível o desfrute efetivo da liberdade.

O constitucionalismo democrático, ao final da primeira década do século XXI, ainda


se debate com as complexidades da conciliação entre soberania popular e direitos
fundamentais, Entre governo da maioria e vida digna e em liberdade para todos, em
um ambiente de justiça, pluralismo e diversidade. Este continua a ser, ainda, um
bom projeto para o milênio.

Outorga da solução das controvérsias ao Estado, através do exercício da função jurisdicional.


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“IN ABSTRATO”

JUS PUNIENDI (Indelegabilidade)

“IN CONCRETO”

PRETENSÃO PUNITIVA

JUS PERSEQUENDI (Ou Persecutionis)

2. FINALIDADE DO PROCESSO PENAL

Aplicação da pena após a busca e constatação da verdade real.


Numa perspectiva pós-positivista ou no âmbito do chamado constitucionalismo
contemporâneo, que coloca a Constituição no cento do Ordenamento Jurídico, que
interpreta o direito a partir dos Direitos Fundamentais, a finalidade do Processo Penal,
seria, no Estado Democrático de Direito, a de tutela dos Direitos Fundamentais, tanto na
perspectiva Estatal (proteção de Direitos Coletivos e Potenciais) quanto na do sujeito de
Direito (acusado) (proteção das liberdades individuais).

O Processo Penal, no modelo do Estado Democrático de Direito, se caracteriza por


institucionalizar e positivar amplas garantias e direitos individuais.

3. CONCEITO DE PROCESSO PENAL

Conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal,


bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária e a estruturação dos órgãos da
função jurisdicional. (Frederico Marques).

Outra possibilidade de conceito: Direito processual penal como um complexo de princípios


e normas que constituem o instrumento técnico necessário à aplicação do Direito Penal,
regulamentando o exercício da jurisdição pelo Estado-juiz, por meio do processo, os
institutos da ação e da defesa, além da investigação criminal pela polícia judiciária, através
de inquérito policial, ou por outro órgão público, também legitimado em lei, a investigar
através de procedimentos investigatórios diversos.”

Consultar apostila “A Lógica dos Conceitos”.

4. ESPÉCIES DE PROCESSO PENAL

Em seu desenvolvimento histórico, o processo penal, no aspecto formal, se manifestou


mediante três sistemas, cada qual com suas características:

SISTEMA INQUISITÓRIO: Aperfeiçoado e difundido pelo direito canônico, através do denominado


Tribunal da Inquisição, tendo as seguintes características:

a) UNIDIRECIONAL= Reúne num só órgão a incumbência de conhecer das provas da


acusação, da defesa e, finalmente, do julgamento.
b) Toda a tramitação, pois, é por impulso oficial, mesmo para a formulação da acusação;
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c) Permite-se a apuração sigilosa;


d) A confissão, se houver, por si só basta para a condenação;
e) Vê-se o réu como objeto do processo e não como sujeito de direito

SISTEMA ACUSATÓRIO:

a) As partes postam-se em posição de igualdade;


b) O julgador é um terceiro imparcial;
c) Tem a publicidade dos atos como princípio;
d) Adota-se o princípio da iniciativa das partes.

SISTEMA MISTO:

Resulta da composição dos dois outros.


Há instrução preliminar, de caráter inquisitório, feito pela Polícia Judiciária e em seguida
instrução probatória.

SISTEMA, SISTEMA JURÍDICO E PRINCÍPIOS

SISTEMA: “Conjunto de elementos relacionados entre si e harmonicamente


conjugados.”

SISTEMA JURÍDICO: Resultante da ordenação das normas diretivas de princípios gerais, os chamados
Princípios Gerais do Direito.

Os fenômenos jurídicos implicam relações estáveis entre si; essas relações facultam um conjunto
de estruturas que permitem a consistência ontológica do conjunto. Seja como for o labor teórico que sobre
ele incida, o Direito, ainda que relativizado segundo coordenadas históricas e geográficas, pressupõe
como que uma concatenação imanente (CLAUS, 2002,p. LXV).

A idéia de sistema em direito provoca dúvidas e discussões. Como hipótese de trabalho, porém,
costuma-se utilizar a noção de Kant: “sistema é a unidade, sob uma idéia, de conhecimentos diversos ou,
se se quiser, a ordenação de várias realidades em função de pontos de vista unitários”.

Enquanto realidade cultural o direito deve ser conhecido, para ter aplicação. A aprendizagem dos
fenômenos jurídicos terna-se, assim, indispensável.

Essa aprendizagem pode, em teoria, processar-se por via empírica (conhecido apenas pela via da
experiência, sem conhecimento sistemático sob o objeto observado). As diversas situações relevantes
são ministradas, caso a caso, aos sujeitos, funcionando, depois, em todas as conjunções similares. Pode-
se então, dizer, que o Direito, embora dotado necessariamente de um sistema interno, segue vias
assistemáticas de reprodução. Uma segunda posição é, no entanto viável, e mesmo preferível, a partir
de certo estádio de evolução histórica: a da sistematização da aprendizagem ou na comunicação. Ou
seja,

PRINCÍPIOS, no DIREITO: São postulados fundamentais da política processual penal de um Estado


que informam o conteúdo das normas que regem o processo e seu conjunto.

Obs. É dos princípios que se deduz a lei, não podendo existir incongruência entre lei e princípio.

Para uma noção crítica de Princípios (Alexandre Rosa):

Um modelo ou esquema teórico serve com as lentes dos óculos, saber, somente a partir dos
pressupostos teóricos é que se poderá colocar alguma ordem na realidade. Observar os mesmos
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fatos se dá de modo diferente para quem conhece a Teoria da Imputação Objetiva1 e quem a
desconhece. Enfim, o aparato teórico presente em cada Mapa Mental2 condiciona o sentido que
virá depois porque coloca ordem nos elementos que reconhece com válido. Sempre será, contudo,
uma simplificação para leitura do real, justamente porque algo escapa.

Moral e Conhecimento. A moral como objeto de conhecimento. Ela diz coisas que a pessoa deve
conhecer. Mas o que ela diz? Ela fala em regras, e assim diz o que deve ser feito e o que não deve ser
feito. Ela fala em princípios, ou máximas, e, portanto, diz em nome do que as regras devem ser seguidas.
E ela fala em valores, e assim revela de que investimentos afetivos são derivados os princípios. Ex. A
moral pode afirmar que a vida é um valor, derivar o princípio segundo o qual a vida deve ser respeitada,
e ditar regras como “não matar”, “não ferir”, “promover o bem-estar”.

Do ponto de vista lógico, a seqüência argumentativa segue o caminho que parte dos valores e chega às
regras prescritivas, passando pelos princípios. Todavia, do ponto de vista da aprendizagem da moral por
parte das crianças, o caminho é inverso: o primeiro contato com a moral, o mais concreto, dá-se por meio
de regras, sendo os princípios que as inspiram e os valores que lhe dão fundamento, de assimilação
posterior. Infelizmente, algumas pessoas param seu aprendizado moral no conhecimento das regras, e
contentam-se com essa dimensão normativa, sem nunca realmente se perguntarem de onde elas
derivam.

Portanto, a dimensão intelectual para o agir moral pressupõe o conhecimento das regras, dos princípios
e dos valores. Ela também pressupõe conhecimentos culturais, psicológicos e científicos.

REGRAS, PRINCÍPIOS e VALORES. Relações entre eles:

REGRAS e PRINCÍPIOS:

Exemplo de Regra: Os Dez Mandamentos do Antigo Testamento: não matar, não roubar etc. E vamos
entender como PRINCÍPIO moral a matriz da qual são derivadas as regras. Por exemplo, a máxima cristã
que reza que devemos amar-nos uns aos outros corresponde a um princípio do qual se deriva, entre
outras, a regra “não matar”. Empregando uma metáfora, podemos dizer que as regras morais
correspondem ao “mapa” e os princípios correspondem à bússola. Como é com bússolas que se fabricam
os mapas, e não o contrário, possui maior sofisticação moral quem sabe, além de ler mapas, empregar
as bússolas.

Quem se limita ao conhecimento das regras morais não somente fica, na prática, sem saber como agir
em inúmeras situações (porque não há regras explicitadas para todas) como corre o risco de ser
dogmático e injusto. Em compensação, quem conhece princípios pode saber guiar-se em diversas
situações e decidir como agir. Nesse mundo que é o nosso, em rápida mutação, notadamente econômica
e tecnológica, conhecer princípios morais parece corresponder a uma competência necessária.

1 Ler apostila disponibilizada no Google Drive.


2 Ler texto “Real ou Realidade”, disponibilizado no Google Drive.
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REGRAS = MAPA; PRINCÍPIOS = BÚSSOLA e os valores, seriam o que? continuando a metáfora, seriam
o planeta, onde nos movemos com nossa bússola e nossos mapas. O que são valores? São resultado de
um investimento afetivo. Portanto, pertencem ao plano ético, uma vez que é nele que se encontra a

energética da vida em geral, e, em particular, da vida moral. (La Taille. Yves de. Moral e Ética: dimensões intelectuais e

afetivas)

OS PRINCÍPIOS (BÚSSOLA) DO PROCESSO PENAL

Da intima relação entre processo e Estado deriva a introdução cada vez maior nos
textos constitucionais de princípios e regras de direito processual, levando ao
desenvolvimento de estudos específicos sobre as normas processuais de índole
constitucional, o que redundou na criação de uma disciplina específica: Direito Processual
Penal Constitucional. Entre nós, consoante Antônio Scarance Fernandes (2002, p. 16),
destaca-se, nesse sentido, o trabalho desenvolvido por Ada Pellegrini Grinover, para
quem

O importante não é apenas realçar que as garantis do acusado – que são, repita-se ,
garantias do processo e da jurisdição – formam alçadas a nível constitucional, pairando
sobra a lei ordinária, à qual informam. O importante é ler as normas processuais à dos
princípios e das regras constitucionais. É verificar a adequação das leis à letra e ao espírito
da Constituição. É vivificar os textos legais à luz da ordem constitucional. É proceder a
interpretação da norma em conformidade com a Constituição.

Com a evolução do direito processual constitucional, deixam as normas


constitucionais do processo de serem vistas como simples princípios programáticos,
meras diretrizes dirigidas ao legislador ordinário, para serem verdadeiras normas jurídicas
que proíbem a lei ordinária, sob penas de inconstitucionalidade material.

Garantias (Princípios) processuais e o sistema acusatório

Princípio, numa palavra, pode ser considerado, entre as várias nuanças que podemos a
ele atribuir, como mandamento nuclear de um sistema, regra fundante que, normalmente, está
fora do próprio sistema por ele regido.

As diversas garantias constitucionais, embora tenham operacionalidade em si e


isoladamente, ganham força quanto atuam de forma coordenada e integradamente, constituindo
um sistema ou um modelo de garantias processuais.

De observar que contexto de funcionamento integrado e complementar das garantias


processuais, devem ser incluídas como inerentes ao modelo processual penal brasileiro as
garantias constantes na Convenção Americana de Direitos Humanos, que em seu art. 8º prevê
as garantias judiciais.

O art. 5º, § 2º da Constituição fixa que:


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“Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros


decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.

Em razão de e tal dispositivo, defendia-se que os tratados que tiverem por objeto direitos
e garantias individuais seriam equiparados às normas constitucionais, tendo o mesmo status
hierárquico.

A discussão reacendeu com o § 3º do art. 5º da Constituição, acrescido pela Emenda


Constitucional 45, assim consignado:

“Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem


aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais”.

Essa discussão foi enfrentada pelo STF, que em 2006, quando do julgamento do Recurso
Extraordinário 466.343/SP, fixou que:

“Tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil possuem status


normativo supralegal”

Como consequência desse posicionamento, tornou-se inaplicável a legislação


infraconstitucional, seja ela anterior ou posterior ao ato de ratificação, pelo Brasil, sem qualquer
reserva, no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e da Convenção Americana de
Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica.

1. P. DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (CF. ART. 1º INC. III)3

2. P. DA VERDADE REAL OU MATERIAL

3. P. DA LEGALIDADE ou OBRIGATORIDADE

4. P. DA OFICIALIDADE OU IMPULSO OFICIAL

5. P. DA OFICIOSIDADE

6. P. DA OBRIGATORIEDADE OU LEGALIDADE

7. P. DA INDISPONIBILIDADE

8. P. DA IMPARCIALIDADE E INDEPENDENCIA DO JUIZ

9. P. DO JUIZ NATURAL

3 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da
pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político
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10. P. DA IGUALDADE DAS PARTES (Isonomia Processual)

11. P. DA PARIDADE DAS ARMAS

12. P. DA PERSUASÃO RACIONAL OU DO LIVRE CONVENCIMENTO (obrigatoriedade


da motivação das decisões judiciais)

13. P. DA PUBLICIDADE

14 P. DO CONTRADITÓRIO (Bilateralidade da audiência)

15. P. DA AMPLA DEFESA

16. P. DA INICIATIVA DAS PARTES / DA DEMANDA (ne procedat judex ex officio)

17. P. DO NÃO JULGAMENTO ALÉM DO PEDIDO / DA CORRELAÇÃO OU DA


CONGRUÊNCIA (ne eat judex ultra petita partium)

18. P. DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ COM A CAUSA

19. P. DO DEVIDO PROCESSSO LEGAL

20. P. DA INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILÍCITOS

21. P. DA PRESUÇÃO DE INOCÊNCIA OU DE NÃO-CULPABILIDADE

22. P. DO FAVOR REI

23. P. DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

1. P. DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

• Art. 1º Inc. III da Constituição Federal.

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em um Estado Democrático de Direito, e tem como
fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – o pluralismo político.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10 de dezembro de 1948, por seu turno, no preâmbulo,
estabelece assim:

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família


humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da
paz no mundo,
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Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos


bárbaros que ultrajam a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que
mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo
do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum,

Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para
que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contar a tirania e a
opressão [...]

• Cuida-se de princípio fundante da República brasileira e, assim, de todo o Ordenamento Jurídico


Nacional. Por tal razão, a previsão no texto constitucional acaba por ser imprescindível, muito embora por
si só não tenha o condão de assegurar o devido respeito e proteção à dignidade. Não obstante, tendo em
vista o compromisso assumido formalmente pelo constituinte, pelo menos – nas hipóteses de violação
dos deveres e direitos decorrentes da dignidade da pessoa – restará uma perspectiva concreta, ainda
que mínima, de efetivação por meio dos órgãos jurisdicionais, enquanto e na medida em que se lhes
assegurar as condições básicas para o cumprimento de seu desiderato (SARLET, 2007, p. 4).

• As várias concepções da dignidade da pessoa humana e sua trajetória: Influências do pensamento


cristão – dignidade ontológica –; A influência de Kant na concepção atual de dignidade da pessoa
humana; Redução da Dignidade à liberdade e autonomia da vontade (Ainda Kant. O que é liberdade?);
Redução da Dignidade à qualidade de vida (surge das discussões sociais, como a do aborto eugênico:
vidas humanas sem valor? Que não vale a pena ser vivida? Vidas indignas? Direito a não nascer nessas
situações, ou direito a morrer ante tais situações.).

• Consagrando expressamente, no título dos princípios fundamentais, a dignidade da pessoa


humana como um dos fundamentos do nosso Estado democrático (e social) de Direito (art. 1ª inc. I, da
CF).

A Constituição de 1988, a exemplo do que ocorreu, entre outros países, na Alemanha –, além de ter
tomado uma decisão fundamental a respeito do sentido, da finalidade e da justificação do exercício do
poder estatal e do próprio Estado, reconheceu categoricamente que é o Estado que existe em função da
pessoa humana, e não o contrário, já que o ser humano constitui a finalidade precípua, e não meio da
atividade estatal (SARLET, 2007, p. 67).

Em que consiste, afinal, a dignidade humana?


(Ler o texto lançado do drive, intitulado "A dignidade da pessoa humana em Immanuel Kant".)

Em resumo, o conceito de dignidade da pessoa humana na filosofia de Kant é apreendido na obra


"Fundamentação da Metafísica dos Costumes", que pode ser considerada uma propedêutica para
outra obra, denominada "Crítica da razão pura prática". É um estudo essencial prévio para a
compreensão de outra célebre obra de Kant: "Crítica da Razão Prática". A obra objetiva fixar um
princípio supremo da moralidade.

A problemática central da "Fundamentação da Metafísica dos Costumes" consiste na seguinte


questão: Como devo agir para que a minha ação seja boa? A resposta à essa indagação fará
menção ao conceito de dignidade para Kant, que responde à indagação propondo a seguinte
metodologia:

a) conceituação da ação boa através da boa vontade;


b) utilização da razão pura, ou a priori, que exclui as regras da experiência (empíricas)
como orientadoras da ação humana, antes, vale-se de regra existente na razão
independentemente de qualquer experiência;
c) estabelecimento de uma lei universal que garanta a ação boa;
d) estabelecimento da finalidade fundamental da lei universal;
e) o dever com único motivo racional que impele o sujeito a agir conforme a lei universal.
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Obs. Conceito de ação boa e ação conforme o dever.

Para Kant, a motivação egoísta da ação é o divisor que separa a boa vontade da vontade
ruim. Veja-se os seguintes trechos de suas obras, nesse sentido:

"Pois é fácil então distinguir se a ação conforme ao dever foi praticada por dever ou com
intenção egoísta [...] É na verdade conforme ao dever que o merceeiro (vendedor) não
suba os preços ao comprador inexperiente, e, quando o movimento do negócio é grande,
o comerciante esperto também não faça semelhante coisa, mas fixe um preço fixo geral
para toda gente [...] É-se, pois, servindo honradamente; mas isso não é bastante para
acreditar que o comerciante tenha assim procedido por dever e princípios de honradez; o
seu interesse assim o exigia [...]. A ação não foi, portanto, praticada nem por dever nem
por inclinação imediata, mas somente com intenção egoísta." (Kant, Immanuel.
Fundamentação da Metafísicas dos Costumes).

Princípios Ideais de Kant:


Kant revela que o espírito ou razão, modela e coordena as sensações, das quais as
impressões dos sentidos externos são apenas matéria prima para o conhecimento.
O julgamento estético e teleológico unem nossos julgamentos morais e empíricos, de modo
à unificar o seu sistema.

A conclusão de Kant, por assim dizer, é pela impossibilidade de o intelecto produzir


conhecimento por si mesmo. A experiência é a origem do conhecimento e o entendimento
possui o papel de organizador das informações da sensibilidade.

Kant fundou uma nova teoria do conhecimento, chamada idealismo transcendental, e a sua
filosofia, como um todo, fundou o criticismo, corrente crítica do saber filosófico que visava,
como queria Kant, a delimitar os limites do conhecimento humano. Assim, para alcançar o
conhecimento dos fenômenos da realidade para si, a razão tem como meio o tempo e o
espaço, e os "óculos" da realidade, da possibilidade, da causalidade etc., de modo que só
podemos conhecer os fenômenos, ou seja, o que é visto através da razão, e não a
realidade em si mesma (o númeno,ou seja, a realidade tela com existe em si mesma, de
forma independente da perspectiva necessariamente parcial em que se dá todo o
conhecimento humano; coisa em si, nômeno, noúmeno, que embora possa ser pensado,
por definição é um objeto incognoscível).

Uma das frases mais famosas de Kant é esta: "Podemos julgar o coração de um homem
pela forma como ele trata os animais. O homem não é nada além daquilo que a educação
faz dele.

Sobre a Dignidade da pessoa humana:

Admitindo, porém, que haja alguma coisa cuja existência em si mesma tenha um valor
absoluto e que, como fim e si mesmo, possa ser a base de leis determinadas, nessa coisa
e só nela é que estará a base de um possível imperativo categórico, quer dizer de uma lei
prática.

Ora, digo eu: - "O homem, e, duma maneira geral, todo o ser racional, existe como fim e si
mesmo, não só como meio para o uso arbitrário desta ou daquela vontade. Pelo contrário,
em todas as suas ações, tanto nas que se dirigem a ele mesmo com nas que dirigem a
outras seres racionais, ele tem sempre de ter considerado simultaneamente com fim".
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Prof. Helvécio G. de Argôllo
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2. P. (MITO) DA VERDADE REAL, MATERIAL ou SUBSTANCIAL

• É também denominado Princípio da Investigação.

• É possível falar-se em “Verdade Substancial” no âmbito do Processo Penal? Desconstrução do


mito. Inacessibilidade da verdade real. (KHAKED JR., 2009). Melhor seria dizer-se verdade
processual.

• A crença de que a verdade podia ser alcançada pelo Estado tornou a sua perseguição o fim
precípuo do processo criminal. Diante disso, em nome da verdade, tudo era válido, restando
justificados abusos e arbitrariedades por parte das autoridades responsáveis pela persecução
penal, bem como a ampla iniciativa probatória concedida ao juiz, o que acabava por comprometer
a imparcialidade.

• Atualmente, essa dicotomia entre verdade formal e material deixou de existir. Já não há mais
espaço para a dicotomia

• Verdade real, aqui, tem o sentido de princípio, não se trata de verdade absoluta ou ontológica,
mas sim da verdade possível no processo, ou, como se costuma denominar, verdade judicial ou
processualmente válida, já que a verdade buscada pela instrução probatória jamais poderia ser infalível;

• Está diretamente vinculado ao Sistema de Provas (art. 155 do CPP. Redação da Lei 11.690/2008).

"O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas."

• Vigora em todas as legislações onde está acolhido o Sistema Acusatório, que encontra adequação
em todo país democrático.

• Opõe-se ao denominado Princípio da Verdade Formal, imperante no processo civil, onde a prova
é menos exigente, admitindo-se a presunção e a transação, coisas que são proscritas no sistema do
processo penal.

• A natureza pública do interesse repressivo exclui limites artificiais que se baseiam em atos ou
omissões das partes. A força incontrastável desse interesse consagra a necessidade de um sistema que
assegure o império da verdade, mesmo contra a vontade das partes (TOURINHO FILHO, 2010a, 2ºv,
p.59)

• A causa final do processo é a “verdade real”, sendo absolutamente imprescindível que fique
elucidado o "thema probandum" a fim de que se dê solução justa e exata ao pedido que se contém na
acusação;

• Descobrir a verdade real é obter elementos probatórios aptos a demonstrar, com segurança
imutável, quem realmente praticou o crime e o modo e meio como ele foi na realidade executado;

• O interesse público é na exata apuração do crime e de quem foi o seu verdadeiro autor, pois a
este é que se deve aplicar a "sanctio juris" ;

• A tendência futura do processo civil é estabelecer também como regra o princípio da verdade real,
por ser o mais ideal para uma distribuição eqüitativa da justiça.;
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• Desse princípio deflui o da Persuasão Racional ou do Livre Convencimento, ou ainda da


obrigatoriedade da motivação das decisões judiciais, cujo conteúdo mínimo e essencial compreende:

1) O enunciado das escolhas do juiz, com relação: a) à individuação das normas aplicáveis; b) à
análise dos fatos; c) à sua qualificação jurídica; d) às conseqüências jurídicas desta decorrentes;

2) Nexos de implicação e coerência entre os referidos enunciados

• Não se deve perder de vista que a procura da chamada verdade real não pode implicar na violação de
direitos e garantias estabelecidas na legislação, notadamente na Constituição Federal, cuidando-se,
portanto, de uma busca sujeita a limites, até porque não seria razoável que o Estado, para alcançar a
chamada justiça, pusesse se sobrepor à Constituição.

2. P. DA LEGALIDADE OU OBRIGATORIEDADE
• Os órgãos persecutórios do Estado, ou aos quais é atribuída a persecução penal, não possuem
poderes discricionários para agir ou deixar de agir em determinadas situações segundo critérios de
conveniência e oportunidade, em se cuidando de crimes de ação penal pública incondicionada ou
condicionada.

• Assim, os órgãos da persecução (Polícia Judiciária e Ministério Púbico) devem necessariamente


atuar, desde que concorram as condições exigidas em lei, não lhes cabendo fazer juízo de
oportunidade para a sua atuação.

• O processo é obrigatório, devendo o Estado, na qualidade de mantenedor da paz social violada


pela prática delitiva, efetivar a "persecutio criminis" por meio de seus órgãos administrativos para impor
ao transgressor da norma sancionatória a "sanctio juris" correspondente., porquanto os delitos não devem
ficar impunes;

• O caráter público das normas penais materiais impõe o exercício do "jus puniendi" ;

• O princípio oposto é o da Oportunidade ou Discricionariedade;

• Insignificância do delito. Não importa, pois os Órgãos persecutórios tem de atuar;

• Autoridade Policial = Dever de instaurar o Inquérito;

• Ministério Público = Dever de intentar a ação penal;

• Art. 5º do CPP (Nos crimes de ação pública o Inquérito Policial será iniciado)

• Art 24 do CPP (Nos crimes de ação Pública esta será promovida pelo Ministério Público)

O Princípio, por evidente, não se aplica aos crimes de ação penal privada, sobre os quais vigora o
Princípio da Oportunidade, cabendo aos legitimados decidirem sobre a conveniência ou não do
ajuizamento da ação penal, através da "Queixa Crime", que é a peça inicial da ação penal privada,
enquanto a "Denúncia" é a peça inicial da ação penal pública, seja condicionada ou incondicionada.

PAÍSES QUE ADOTAM O P. DA LEGALIDADE: Argentina, Chile (embora não tenha Min. Público),
Colômbia, Cuba, México, Uruguai, Peru, Espanha, Portugal, Itália
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PAÍSES QUE ADOTAM O P. DA OPORTUNIDADE: França, Alemanha, Bélgica, Israel, EUA, Inglaterra,
Japão, Egito, Grécia.

2.1 P. da OFICIOSIDADE

Trata-se de desdobramento da legalidade, significando que a autoridade policial e o Ministério


Público devem agir "ex offício" visando à apuração dos crimes da ação penal pública, não devendo, salvo
as hipóteses que exigem representação do ofendido ou requisição do Ministério da Justiça, aguardar a
provocação de eventuais interessados (arts. 5º, §§ 4º e 5º , e 24 do Código de Processo Penal).

3. P da OFICIALIDADE OU IMPULSO OFICIAL


• Somente os órgãos do Estado podem executar o poder de cumprir sua atividade repressiva;

• A persecução penal é exercida por Órgãos próprios do Estado, pois a função penal tem índole pública, e a
pretensão punitiva do Estado deve ser feita valer por órgão público;

• Os Órgãos são oficiais, daí o princípio.

• Quais são os órgãos responsáveis pela persecução ? Polícia Judiciária e Ministério Público .

• Dele decorrem: autoritariedade (execução por autoridade) e atuação "ex officio "

Obs. O princípio comporta exceção, o que se verifica com a admissibilidade da ação penal privada, que não
é promovida pelo Ministério Público.

4. P. DA PUBLICIDADE
• Previsto expressamente no arst. 93, IX, 1ª parta, da Constituição Federal, e no art. 792, "caput", do Código
de Processo Penal

CF, art. 93, inc. IX


"Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias
partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação."

Art. 792 CPP.


"As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes
dos juízos e tribunais, com assistência de escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de
porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados."

• A relevância do Princípio é tão grande que se elevou à categoria de Dogma Constitucional, nos termos do
art. 5º inc. LX, vazado nos seguintes termos:

"A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou
interesse social o exigirem"

• Consagra-se como um princípio que impõe ao Estado o dever de atribuir transparência a seus atos,
reforçando com isso as garantias da independência, imparcialidade e responsabilidade do juiz. Além disso,
consagra-se como uma garantia para o acusado que, em público, estará menos suscetível a eventuais pressões,
violências ou arbitrariedades.
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• Os atos processuais, portanto, devem ser, em princípio, públicos, o que funciona como um freio contra a
fraude.

• A publicidade do Processo Penal concerne ao controle da Justiça Penal pela coletividade

• Vem ao encontro do interesse da comunidade no processo.

• A regra na nossa legislação é da publicidade absoluta. Art. 792: " As audiências, sessões e outros atos
processuais, serão, em regra, públicos ... ". Publicidade Restrita : Parágrafo Primeiro : "Se da publicidade da
audiência , da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação
da ordem, o Juiz ou Tribunal, Câmara ou Turma, poderá de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério
Público , determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar
presentes. "

Obs. 01 - A publicidade não atinge os atos do Inquérito (art. 20)


Obs. 02 - No Inquérito não se realizam atos processuais.

4. P. DA INDISPONIBILIDADE DO PROCESSO
• Consagrado em vários dispositivos do Código de Processo Penal, a exemplo do art. 17, segundo o qual "A
autoridade Policial não poderá arquivar autos de Inquérito", ou seja, veda à autoridade policial promover o
arquivamento do Inquérito Policial. O art. 42, por seu turno, estabelece que o Ministério Público não poderá desistir
da ação penal pública, e o art. 576, que impede o Ministério Público de desistir do recurso que haja interposto.

• Atinge também a fase pré-processual.

• Não pode deixar as investigações

• O Juiz, excepcionalmente, funciona como fiscal do P. da Indisponibilidade do Processo, daí porque na


hipótese do Ministério Público requerer o arquivamento do Inquérito, pode ele, não aceitando as razões, remeter ao
Procurador Geral da Justiça, nos termos do art. 28.

art. 576 – O Ministério Público não pode desistir do recurso que haja interposto "

• Em decorrência desse princípio é que o Juiz pode condenar, mesmo tendo o Ministério Público pedido a
absolvição . (art. 358). É que a pretensão punitiva, por pertencer ao Estado, é indisponível.

Obs. Hipóteses de exceção: Ação Penal Privada, Perdão, Perempção e Desistência.

7. P. DA IMPARCIALIDADE E INDEPENDÊNCIA DO JUIZ

• Na atuação concreta de julgador, a independências judicial tem sido sujeitada à Constituição, o


que decorre da própria separação dos poderes.

• Significa que o magistrado deve possuir capacidade objetiva e subjetiva para solucionar a
demanda aplicando o direito, ou seja, julgar de forma absolutamente imparcial, vinculando-se
apenas às regras legais e ao resultado da análise das provas do processo.

• Visando a garantir essa imparcialidade, a Constituição Federal estabelece ao magistrado as


garantias da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios (art.95), proibindo, ainda,
juízo ou tribunais de exceção (art. 5ª inc. XXXVII).
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• Em determinados casos, a lei presume a parcialidade do magistrado, impondo-lhe que se afaste


da causa, como ocorre nos casos de impedimento e suspeição.

• As declarações e tratados internacionais de direitos humanos, de uma forma geral, relacionam


duas características, assegurando a todos os acusados o direito de serem julgados por um tribunal
independente e imparcial.

• A Constituição não garante, expressamente, esse princípio da imparcialidade e da independência


do juiz, os quais são deduzidos por uma série de prerrogativas que são atribuídas à magistratura,
a exemplo da vitaliciedade, inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos, além do fato de
assegurar às partes sejam processadas e julgadas pelo juiz natural.

8. P. do JUIZ NATURAL

Trata-se de

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