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Curso Preparatório 1ª Fase VFK Educação

Concurso de Cartório Disciplina: Direito Processual Civil

Direito Processual Civil para Concurso de Cartório

Sumário
1 Conceito ....................................................................................................................................... 7

1.1 PROCESSO .................................................................................................................................... 7

1.2 O PROCESSO E O DIREITO MATERIAL ............................................................................................... 8

1.3 O PROCESSO E O DIREITO CONSTITUCIONAL .................................................................................... 8

1.4 DIREITO PROCESSUAL CIVIL .......................................................................................................... 10

2 Princípios ................................................................................................................................... 11

2.1 DEVIDO PROCESSO LEGAL ............................................................................................................ 11

2.2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ................................................................................................. 12

2.3 LEGALIDADE ................................................................................................................................ 13


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

2.4 CONTRADITÓRIO ......................................................................................................................... 14

2.4.1 Contraditório e a liminar inaudita altera parte .............................................................. 14

2.5 AMPLA DEFESA ........................................................................................................................... 15

2.6 PUBLICIDADE .............................................................................................................................. 15

2.7 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO............................................................................................. 17

2.8 IGUALDADE PROCESSUAL OU ISONOMIA ....................................................................................... 18

2.9 EFICIÊNCIA .................................................................................................................................. 19

2.10 BOA-FÉ PROCESSUAL ................................................................................................................... 20

2.11 EFETIVIDADE ............................................................................................................................... 21

2.12 ADEQUAÇÃO .............................................................................................................................. 22

2.13 COOPERAÇÃO ............................................................................................................................. 22

2.14 RESPEITO AO AUTORREGRAMENTO DA VONTADE NO PROCESSO ..................................................... 23

2.15 PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO................................................................................................ 24

2.16 ACESSO À JUSTIÇA....................................................................................................................... 24

2.17 MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS........................................................................................... 26

2.18 IMPARCIALIDADE DO JUIZ (JUIZ NATURAL) ..................................................................................... 27

2.19 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO ....................................................................................................... 27

3 Jurisdição ................................................................................................................................... 29

3.1 AUTOTUTELA .............................................................................................................................. 29


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3.2 AUTOCOMPOSIÇÃO ..................................................................................................................... 30

3.3 JULGAMENTO POR TRIBUNAL ADMINISTRATIVO ............................................................................. 30

3.4 ARBITRAGEM .............................................................................................................................. 31

3.5 PRINCÍPIOS JURISDICIONAIS ......................................................................................................... 32

3.5.1 Territorialidade ................................................................................................................... 32

3.5.2 Indelegabilidade ................................................................................................................. 32

3.5.3 Inafastabilidade .................................................................................................................. 32

3.5.4 Juiz natural ......................................................................................................................... 33

3.6 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA ............................................................................................................ 33

4 Competência ............................................................................................................................. 34

4.1 DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA .................................................................................................. 34

4.2 REGRA DA KOMPETENZKOMPETENZ ............................................................................................. 34

4.3 COMPETÊNCIA DO FORO E COMPETÊNCIA DO JUÍZO ...................................................................... 34

4.4 CRITÉRIOS DE DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA ............................................................................. 35

4.4.1 Objetivo ............................................................................................................................... 35


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4.4.2 Funcional ............................................................................................................................ 35

4.4.3 Territorial ............................................................................................................................ 35

5 Sujeitos do processo ................................................................................................................ 36

6 Petição inicial e procedimento comum ................................................................................ 36

6.1 PROCEDIMENTO COMUM............................................................................................................. 36

6.2 PETIÇÃO INICIAL .......................................................................................................................... 38

6.3 REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL................................................................................................... 38

6.3.1 Forma .................................................................................................................................. 38

6.3.2 Indicação do juízo ao qual se dirige ................................................................................. 38

6.3.3 Qualificação das partes ..................................................................................................... 38

6.3.4 Causa de pedir (fato e fundamento jurídico do pedido)................................................. 39

6.3.5 Pedido ................................................................................................................................. 39

6.3.6 Valor da causa.................................................................................................................... 40

6.3.7 Provas .................................................................................................................................. 40

6.3.8 Opção pela realização ou não de audiência ................................................................... 40

6.3.9 Documentos indispensáveis à propositura da ação........................................................ 41

6.4 INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL ............................................................................................ 41

7 Contestação ............................................................................................................................... 42

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7.1 PRAZO ....................................................................................................................................... 42

7.2 INEXISTÊNCIA OU NULIDADE DE CITAÇÃO ...................................................................................... 42

7.3 INCORREÇÃO DO VALOR DA CAUSA .............................................................................................. 43

7.4 PEREMPÇÃO, LITISPENDÊNCIA E COISA JULGADA ............................................................................ 43

7.5 ALEGAÇÃO DE CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM ................................................................................ 43

7.6 ADITAMENTO E INDEFERIMENTO .................................................................................................. 43

7.7 RECONVENÇÃO ........................................................................................................................... 44

7.8 REVELIA ...................................................................................................................................... 45

8 Atos processuais ....................................................................................................................... 46

8.1 SENTENÇAS ................................................................................................................................ 46

8.2 DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS ....................................................................................................... 47

8.3 DESPACHOS................................................................................................................................ 47

9 Condições da ação.................................................................................................................... 48

9.1 LEGITIMIDADE ............................................................................................................................. 48

9.2 INTERESSE DE AGIR ...................................................................................................................... 49


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9.3 POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO ............................................................................................ 49

10 Formação do processo ........................................................................................................ 51

10.1 PETIÇÃO INICIAL .......................................................................................................................... 51

10.2 PEDIDO ...................................................................................................................................... 51

10.2.1 Espécies de pedido ......................................................................................................... 51

10.2.2 Improcedência liminar do pedido ................................................................................ 52

10.3 CITAÇÃO .................................................................................................................................... 53

10.3.1 Comparecimento espontâneo ...................................................................................... 53

10.3.2 Pessoalidade da citação................................................................................................ 53

10.3.3 Local da citação ............................................................................................................. 54

10.3.4 Impedimento legal para a citação ............................................................................... 54

10.3.5 Efeitos da citação........................................................................................................... 54

10.3.6 Modalidades ................................................................................................................... 55

10.4 AUDIÊNCIA PRELIMINAR DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO .............................................................. 58

10.5 RESPOSTA DO RÉU (CONTESTAÇÃO) ............................................................................................. 59

11 Extinção do processo .......................................................................................................... 60

11.1 DECISÕES QUE NÃO EXAMINAM O MÉRITO .................................................................................... 60

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11.1.1 Indeferimento da petição inicial .................................................................................. 60

11.1.2 Abandono do processo pelas partes ............................................................................ 60

11.1.3 Abandono do processo pelo autor ............................................................................... 61

11.1.4 Falta de pressupostos processuais ............................................................................... 61

11.1.5 Perempção, litispendência e coisa julgada ................................................................. 61

11.1.6 Ausência de interesse ou legitimidade ........................................................................ 61

11.1.7 Existência de convenção de arbitragem ...................................................................... 62

11.1.8 Desistência ..................................................................................................................... 62

11.2 DECISÕES QUE EXAMINAM O MÉRITO ........................................................................................... 62

11.2.1 Julgamento de mérito (procedência ou improcedência) ........................................... 62

11.2.2 Homologação de acordo .............................................................................................. 63

11.2.3 Decisão sobre decadência ou prescrição ..................................................................... 63

12 Tutelas provisórias .............................................................................................................. 65

12.1 TUTELA PROVISÓRIA ANTECIPADA................................................................................................. 65

12.2 TUTELA PROVISÓRIA CAUTELAR .................................................................................................... 65


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12.3 TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA E DE EVIDÊNCIA ........................................................................ 66

12.4 TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA ANTECEDENTE E INCIDENTAL ..................................................... 66

13 Preclusão ............................................................................................................................... 67

13.1 PRECLUSÃO TEMPORAL ................................................................................................................ 67

13.2 PRECLUSÃO LÓGICA..................................................................................................................... 67

13.3 PRECLUSÃO CONSUMATIVA ......................................................................................................... 67

13.4 PRECLUSÃO PRO JUDICATO .......................................................................................................... 67

14 Nulidades .............................................................................................................................. 68

14.1 REGULARIZAÇÃO PROCESSUAL ..................................................................................................... 68

15 Provas .................................................................................................................................... 69

15.1 CLASSIFICAÇÃO DAS PROVAS ....................................................................................................... 69

15.1.1 Quanto ao objeto .......................................................................................................... 69

15.1.2 Quanto ao sujeito .......................................................................................................... 69

15.1.3 Quanto à forma ............................................................................................................. 69

15.2 OBJETO DA PROVA ...................................................................................................................... 69

15.3 FATOS QUE DISPENSAM COMPROVAÇÃO ...................................................................................... 70

15.4 ÔNUS DA PROVA ........................................................................................................................ 70

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16 Intervenção de terceiros ..................................................................................................... 72

16.1 ASSISTÊNCIA ............................................................................................................................... 72

16.2 DENUNCIAÇÃO DA LIDE ............................................................................................................... 72

16.3 CHAMAMENTO AO PROCESSO ...................................................................................................... 73

16.4 AMICUS CURIAE .......................................................................................................................... 73

17 Recursos ................................................................................................................................ 75

17.1 VEDAÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS............................................................................................. 75

17.2 EFEITO DOS RECURSOS ................................................................................................................ 75

17.3 APELAÇÃO .................................................................................................................................. 76

17.4 AGRAVO DE INSTRUMENTO .......................................................................................................... 76

17.5 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ........................................................................................................ 77

17.6 AGRAVO INTERNO ....................................................................................................................... 77

17.7 RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL ....................................................................................... 77

17.8 RECURSO EXTRAORDINÁRIO ......................................................................................................... 78

17.9 RECURSO ESPECIAL ...................................................................................................................... 79


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17.10 EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA ................................................................................................... 79

17.11 REMESSA NECESSÁRIA............................................................................................................. 80

18 Cumprimento de sentença ................................................................................................. 82

18.1 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONDENATÓRIA EM OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER OU DE ENTREGAR

COISA 82

18.2 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONDENATÓRIA AO PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA ....................... 83

18.3 INAUGURAÇÃO DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA .......................................................................... 83

18.4 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE....................................................................................................... 83

18.5 DEFESA DO EXECUTADO............................................................................................................... 84

18.6 FASE EXPROPRIATÓRIA ................................................................................................................. 84

18.7 PROCESSO DE EXECUÇÃO ............................................................................................................. 84

18.8 EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO ............................................................................................................. 85

19 Procedimentos especiais .................................................................................................... 86

19.1 CARACTERÍSTICAS DO PROCEDIMENTO ESPECIAL............................................................................ 86

19.1.1 Alteração no prazo para oferecimento da contestação ............................................. 86

19.1.2 Duplicidade da ação ..................................................................................................... 86

19.1.3 Concessão de medida inaudita altera parte ............................................................... 86

19.1.4 Limitações/condicionamentos ao direito de defesa ................................................... 86


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19.1.5 Jurisdição de equidade.................................................................................................. 87

20 Ações coletivas ..................................................................................................................... 88

20.1 AÇÃO CIVIL PÚBLICA .................................................................................................................... 88

20.2 MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO .......................................................................................... 88

20.3 AÇÃO POPULAR .......................................................................................................................... 89

20.4 AÇÃO CIVIL COLETIVA .................................................................................................................. 89

21 Ações autônomas de impugnação .................................................................................... 91

21.1 AÇÃO RESCISÓRIA ....................................................................................................................... 91

21.2 EMBARGOS DE TERCEIRO ............................................................................................................. 91

21.3 RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL .................................................................................................. 92

21.4 MANDADO DE SEGURANÇA ......................................................................................................... 93

22 Juizados Especiais Cíveis..................................................................................................... 94


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1 Conceito
Para que seja possível conceituar, com perfeição, o direito processual civil é

necessário estabelecer uma interação de matérias e doutrinas, isso porque o ramo do


processo civil é, inerentemente, interdisciplinar, vez que norteia diversas searas do

direito. Além disso, a aludida vertente se relaciona, constantemente, com a teoria geral
do direito, o direito material e o direito constitucional.

Considerando a dinamicidade das relações pessoas e sociais, e também levando


em conta que o direito objetiva acompanha-las, de modo a adequar a legislação ao

contexto social e histórico, é por certo que o direito processual civil sofra diversas
mudanças conforme o passar do tempo, igualmente ocorre em relação a teoria geral

do direito e o direito constitucional.


Portanto, é importante entender como as mudanças nos ramos de direito
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constitucional e direito material refletem no processo.

1.1 Processo
O processo pode ser abordado sob diversos prismas, logo, seus conceitos podem
ser diversos.
Inicialmente, o processo é entendido como uma ferramenta apta a conceber
normas e regramentos jurídicos, relações jurídicas e também atos jurídicos complexos,

ou seja, procedimentos.
Outra abordagem é compreender o processo como mecanismo de criação de

fontes, o que, consequentemente, o torna criador de normas jurídicas.


Os primeiros dois conceitos, que remetem o processo como uma ferramenta de

fabricação de normas, existem porque as normas jurídicas só podem ser criadas através
de processo legislativo, administrativo ou jurisdicional. Destaca-se, também, o

chamado processo negocial, existente na seara do direito civil, que consiste em um


desdobramento da autonomia da vontade, haja vista ser o contrato um acordo de

vontades que faz lei entre as partes, podem elas estipular cláusulas e conteúdos

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contratuais livremente, desde que respeitem as normas de ordem pública, tal ato é

equiparado, de certo modo, a criação de normas jurídicas (neste caso, que atingem
apenas as partes contratantes, por força do princípio da relatividade).

Por fim, se tem o conceito de processo como exercício de jurisdição, isso significa
dizer que o processo é o conjunto de princípios e regramentos que trata da jurisdição

civil, ou seja, cuida da aplicação das normas jurídicas nos casos concretos, soluciona
litígios e promove a pacificação de conflitos de interesses, tudo isso mediante a

atuação de autoridades judiciárias, serventuários e auxiliares da justiça e do Ministério


Público. Esse processo ocorre de maneira simples: quando emerge um litígio entre as

partes, nasce uma pretensão de resolver a controvérsia, de modo que, se tal pretensão
for levada ao âmbito judiciário, será obrigação do Estado-juiz promover uma solução.

Desta feita, fica claro que o processo, nesta conceituação, é uma relação jurídica.

1.2 O processo e o direito material


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Conforme já visto anteriormente, o processo, dentre as várias conceituações, é


uma maneira de exercer a jurisdição civil, isto é, aplicar as normas e princípios jurídicos

a resolução de uma demanda concreta. Tais demanda são, basicamente, direitos


materiais, ou seja, bem ou utilidade da vida, direitos e deveres que precisam ser

observados e tutelados jurisdicionalmente. Assim, para o processo ser iniciado basta a


existência de situação jurídica que solicite a tutela jurisdicional. A situação jurídica que

demanda intervenção jurisdicional dá-se o nome de direito material. É como se o


direito material equivalesse a pretensão das partes, enquanto o processo é a

ferramenta apta a materializar a referida pretensão.

1.3 O processo e o direito constitucional


A relação estabelecida entre processo e direito constitucional para além de
explicita é fundamental. É cediço que a Carta Magna atua como premissa básica e

norteadora a todos os ramo do direito lato sensu, estabelecendo diretrizes,


regramentos, princípios e modus operandi de aplicação, sistematização e estruturação

das normas base do ordenamento jurídico brasileiro. Não por outro motivo o artigo

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inaugural do Código de Processo Civil de 2015 faz questão de asseverar a relação entre

eles estabelecida, in verbis:

Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado


conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na
Constituição da República Federativa do Brasil , observando-se as
disposições deste Código.

O dispositivo, de maneira inteligível, esclarece que o direito processual é uma


vertente constitucionalizada, isto é, há integração entre ambos os ramos, de modo que,

é comum encontrar dispositivos processuais que remetam a Constituição Federal e


vice-versa. O que é bastante coerente, pois os dispositivos constitucionais para além

de norteadores são de observância obrigatória. Por certo, todas as leis


infraconstitucionais devem observância aos dispositivos constitucionais, ainda que em

seu conteúdo não haja artigo ressaltando tal obrigação, contudo, a cautela do
legislador em inserir referido dispositivo demonstra a preocupação com este
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acatamento. A título de exemplo, o instituto do contraditório, que assegura o direito


de defesa, impugnação e réplica das partes integrantes de relação jurídico-processual,

é plasmado em ambos os diplomas legais, sendo que na Constituição Federal é

elencado como um dos direitos fundamentais de todo cidadão, senão vejamos:

Art. 5º, LV da CF - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,


e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Art. 7º do CPC - É assegurada às partes paridade de tratamento em
relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de
defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais,
competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.

A partir da análise dos artigos, fica inequívoca a relação entre processo e direito

constitucional, dada a interdisciplinaridade existente entre os ramos. Além disso, as

normas infraconstitucionais, como o Código de Processo Civil, são consideradas


ferramentas de concretização do conteúdo constitucional, portanto, devem

sistematizar, estruturar e principalmente materializar os direitos plasmados na


Constituição Federal. Importante mencionar: as normas infraconstitucionais que, de

qualquer modo, violem a Constituição Federal serão ceifadas através do controle de

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constitucionalidade, daí a importância de se estar em conformidade com tais

dispositivos constitucionais.

1.4 Direito processual civil


O direito processual civil exprime-se como o conjunto normativo que rege todo
o ramo do processo civil. Através do conjunto de normas pode-se estabelecer maneiras

de construir e organizar o processo e as relações jurídicas dele decorrentes, haja vista


que as normas ofertam subsídios suficientes a promover a correta aplicação e

entendimento da referida vertente.


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2 Princípios
A norma jurídica é um gênero composto por duas espécies, quais sejam, as regras

e os princípios. As regras caracterizam-se por ter suporte fático definido, enquanto os


princípios funcionam como mandamentos de otimização, devendo ser aplicados

segundo as circunstâncias do caso concreto. Basicamente, os princípios são enunciados


compostos por valores universais que orientam a interpretação da ordem jurídica.

2.1 Devido processo legal


O princípio do devido processo legal encontra amparo no inciso LIV do art. 5º da

Constituição Federal, confira:

Art. 5º, LIV da CF - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens


sem o devido processo legal;

A previsão expressa deixa claro que o devido processo legal, além de princípio
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de direito processual civil, é também direito fundamental de cada cidadão. É a partir

do devido processo legal que se originam vários dos princípios processuais, tais como,
o contraditório, a ampla defesa, o acesso à justiça, a duração razoável do processo, a

publicidade, a isonomia, e tantos outros.


O referido princípio determina que não basta que o processo esteja em

consonância com o a lei, ele também deve guardar conformidade com o direito lato
sensu, respeitando todos os direitos, deveres e garantias atribuídos aos jurisdicionados.

Além de estabelecer vedação a possibilidade da edição de normas que afrontem a

razoabilidade e as premissas inerentes ao regime democrático de direito.


O intuito do princípio é assegurar que os jurisdicionados tenham direito a um

processo que tramite de forma justa, equitativa (adaptando, o quanto possível, os


regramentos conforme a situação concreta), e devida, desta forma garantindo a

conformidade com a lei. Igualmente atua como mecanismo de proteção ao exercício


abusivo de poderes.

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2.2 Dignidade da pessoa humana


A dignidade da pessoa humana já é princípio consolidado no ordenamento

jurídico brasileiro, sendo estudada sobre os prismas de todas as searas do direito. Dada
a sua importância e notoriedade, está plasmada em dispositivos tanto do Código de

Processo Civil, como da Constituição Federal:

Art. 1º da CF - A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
Art. 8º do CPC - Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos
fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e
promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a
eficiência.

Da leitura dos referidos dispositivos pode-se depreender que a dignidade da


pessoa humana é direito fundamental constitucional, e por essa razão, deve ser
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observada, promovida e assegurada pela autoridade judiciária.


A dignidade da pessoa humana comporta em seu bojo todos os direitos

fundamentais, sejam eles constitucionais ou infraconstitucionais. Por ser de suma


importância é aplicada em todos os ramos do direito, incluindo o processual civil.

O Estado é materializado pela figura do juiz, por essa razão é atribuída a ele a
tarefa de observar, promover e assegurar a dignidade da pessoa humana no curso da

relação processual. Para que seja possível cumprir a aludida tarefa o magistrado deve
viabilizar a correta e adequada aplicação da lei, e mais, deve assegurar que a dignidade
das partes não seja violada. Em alguns casos, o órgão jurisdicional deve atuar de modo
ainda mais contundente para garantir a dignidade da pessoa humana, admitindo-se,

inclusive, a atuação ex officio, tudo com o objetivo de efetivar o princípio.


Outro aspecto interessante que o princípio da dignidade da pessoa humana

materializa é a humanização do processo judicial, isto é, a idealização de um processo


que acompanhe a dinamicidade da sociedade, de modo a vislumbrar problemas
contemporâneos e estuda-los visando ofertar solução adequada (evidentemente
soluções que prestigiem a dignidade de cada ser humano).
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2.3 Legalidade
Trata-se de outro princípio de grande notoriedade no ordenamento jurídico

brasileiro. A legalidade é acentuada em todas as vertentes do direito, pois é direito


fundamental e premissa básica de qualquer temática, inclusive, no direito processual

civil. Em razão de sua essencialidade, está disposta no Código de Processo Civil, bem
como na Constituição Federal:

Art. 5º, II da CF - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer


alguma coisa senão em virtude de lei.
Art. 8º do CPC - Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos
fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e
promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a
eficiência.

A legalidade é requisito inerente ao processo, isso porque está presente tanto

como norma processual, tanto como norma norteadora da decisão. As leis permeiam
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todo o processo, estando presentes nos momentos onde se pretende fazer valer um

direito, ou quando a pretensão é a de ver cumprido um dever.


A observância do princípio da legalidade no processo não se restringe a aplicação

das leis, e a vinculação das decisões com o direito. Em verdade, o Estado-juiz deverá
se valer as diversas fontes do direito para materializar a legalidade, tais como os

princípios de direito, os precedentes judiciais, os usos e costumes (em alguns casos),


os contratos (que é lei entre as partes contratantes, portanto, deve ser cumprido tal

como) etc.
Ademais, o artigo 8º do CPC demonstra que no âmbito processual a aplicação da

legalidade também ocorre em relação a interpretação. Isso porque, além da


interpretação literal considerando apenas o vernáculo e aspectos gramaticais, em

muitos casos, a autoridade judiciária deve interpretar de acordo com os critérios de


razoabilidade e proporcionalidade. No ordenamento jurídico brasileiro isso pode ser

observado com frequência, muitas vezes o âmbito de incidência de uma norma é


ampliado ou restringido, ou mesmo, interpretado por analogia, tudo com o propósito
de resguardar a legalidade.

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Não se pode olvidar que, atualmente, a legalidade não se exprime como um

princípio que visa a aplicação radical da lei, e apenas da lei. Existem diversos objetivos,
conforme mencionado, sendo um deles o da vedação de decidir unicamente baseado

em direito natural, ou norma criada pelo juiz.

2.4 Contraditório
Trata-se de princípio de grande notoriedade no direito, aplicável em todos os
ramos, e também em no âmbito judicial, contratual e administrativo. Considerando a

importância, é previsto na Constituição Federal, e também no Código de Processo Civil:

Art. 5º, LV da CF - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,


e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Art. 7º do CPC - É assegurada às partes paridade de tratamento em
relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de
defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais,
competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
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O princípio do contraditório intenta promover a democracia, ou seja, garantir a


participação de todos os envolvidos, de modo isonômico. A democracia é consolidada

pelo contraditório, vez que através dele a parte pode consubstanciar o contexto fático
e defender-se de modo livre. Basicamente, o contraditório é uma ferramenta contra o
abuso de poder e arbitrariedades, pois permite que as partes se manifestem e
defendam-se, apresentando documentos, argumentos, provas, e todos os meios

admitidos pelo direito.


Além disso, o contraditório garante que as partes possam participar de modo

efetivo do processo, acompanhando os atos e procedimentos que puderem, sendo


comunicadas dos desdobramentos, cientificadas de acordo com o momento

processual, e principalmente, tendo a possibilidade de influenciar na decisão, através


da apresentação de argumentos, provas e documentos.

2.4.1 Contraditório e a liminar inaudita altera parte


Conforme já mencionado, o contraditório é direito de todo jurisdicionado e deve

estar presente em todo e qualquer processo, sendo assegurado tal direito pela

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Constituição Federal e pelo Código de Processo Civil.

Contudo, os referidos dispositivos não mencionam a necessidade de se conceder


o contraditório de forma antecipada. Justamente pela ausência de menção legal

quanto ao momento adequado de ocorrência do contraditório é que existe a


possibilidade de concessão da liminar inaudita altera parte.

Existem algumas situações concretas que apresentam risco de prejuízo


irrecuperável, de modo que, se concedido o contraditório previamente, aumentam-se

as chances de concretização do prejuízo irreparável. Portanto, de acordo com as


circunstâncias do caso concreto o juiz poderá conceder a liminar sem antes ouvir a

parte contrária, visando resguardar direito de difícil ou impossível recuperação. A


liminar inaudita altera parte configura situação em que o contraditório é diferido, uma

vez que só será concedido após garantido o bem da vida objeto da demanda.

2.5 Ampla defesa


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

Comumente a ampla defesa é apresentada e associada ao princípio do


contraditório, isso porque o aludido instituto consta no mesmo dispositivo

constitucional do contraditório, vejamos:

Art. 5º, LV da CF - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,


e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

A ampla defesa consiste na oportunidade de demonstrar sua verdade, o seu lado

na história, e principalmente a oferta de mecanismos aptos ao exercício de defesa.


Assim, as partes obtêm condições suficientes para demonstrar a verdade dos fatos,

restando assegurada a defesa.


Tal qual o contraditório, a ampla defesa funciona como instrumento que atua na

promoção do equilíbrio na relação processual, ou seja, impede o abuso de poder e


arbitrariedades.

2.6 Publicidade
O princípio da publicidade é de suma importância para o ordenamento jurídico

brasileiro, e por tal razão permeia todas as vertentes do direito. Está previsto tanto na
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Constituição Federal, quanto no Código de Processo civil:

Art. 5º LX da CF - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos


processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
exigirem.
Art. 8º do CPC - Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos
fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e
promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a
eficiência.
Art. 11 do CPC - Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade.

O Poder Judiciário funciona como ferramenta apta a promover a solução de


conflitos, pacificação social, bem como, atua na proteção e promoção dos direitos
coletivos e individuais. Justamente por estar à serviço de toda a sociedade, há
premente necessidade de ser acessível mediante a publicidade, para fins de segurança,

transparência e disponibilidade ao público, que é o destinatário do referido serviço.


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

Evidentemente a publicidade encontra algumas limitações, pois, não obstante

tratar-se de direito constitucional não poderá afrontar outras garantias igualmente


constitucionais, como a intimidade, a privacidade ou mesmo o interesse social.

Art. 189 do CPC - Os atos processuais são públicos, todavia tramitam


em segredo de justiça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio,
separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e
adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à
intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de
carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem
seja comprovada perante o juízo.

Nesse sentido, temos o dispositivo supracitado, que de modo preventivo

estabelece limitação à publicidade dos atos judiciais. O motivo da lei prever tais
hipóteses é resguardar a intimidade e privacidade das partes nos casos em que uma
eventual exposição poderia causar danos ou prejuízos. Além disso, a limitação pode
ser estendida, até mesmo, para as audiências, que também são públicas, e em tese,

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podem ser acessadas por todos. Deste modo, nas hipóteses de sigilo judicial, durante

as audiências ou sessões de julgamento só será autorizado o comparecimento das


partes, dos respectivos advogados ou defensores públicos, do Ministério Público, e do

juiz.

2.7 Duração razoável do processo


A duração razoável do processo é reputada como um dos princípios mais
importantes de todo o processo civil. Não por outra razão está presente na

Constituição Federal, no Código de Processo Civil, e ainda, no Decreto 678/92 (Pacto


de São José da Costa Rica), vejamos:

Art. 5º LXXVIII da CF - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são


assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam
a celeridade de sua tramitação.
Art. 8. 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias
e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para


que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil,
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
Art. 4º do CPC - As partes têm o direito de obter em prazo razoável a
solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.

Basicamente, é como se as disposições relativas à razoável duração do processo


estivessem previstas duas vezes na Carta Magna, isso porque o Pacto de São José da

Costa Rica é um tratado internacional do qual o Brasil é signatário, portanto, sendo


recepcionado no ordenamento jurídico como norma de eficácia constitucional,

estando acima das leis infraconstitucionais, por exemplo.


Nesta vereda, necessário esmiuçar o significado do instituto para melhor

compreender a sua real importância. Razoável indica a qualidade daquilo que é


ponderado, racional, moderado. Como os processos trabalham casos concretos, não é

possível definir um prazo máximo para a tramitação processual, e estabelece-lo como


razoável, porquanto seria quase impossível o seu cumprimento. Por essa razão, ao
definir o que seria a razoável duração do processo considera-se três critérios distintos:

i) a atuação do judiciário; ii) a complexidade da causa e seus aspectos pessoais; e iii) a

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conduta das partes e dos advogados ou defensores. A partir da análise dos referidos

critérios é possível estabelecer prazos razoáveis e alcançáveis para a duração do


processo.

No mais, as partes contam com algumas ferramentas legais para lidar com a
demora injustificada dos tramites processuais, tais como: impetração de mandado de

segurança em razão da omissão judicial, ação de responsabilidade civil contra o Estado


em razão de prejuízos ocasionados pela demora irrazoável, e representação ao

corregedor do Tribunal ou ao CNJ contra magistrado que excede injustificadamente


os prazos legais (com eventual perda da competência pela demora).

Todas as previsões legais, e ainda, os instrumentos colocados à disposição das


partes, demonstram a preocupação do ordenamento jurídico em assegurar que os

processos judiciais mantenham um padrão mínimo de razoabilidade.


Rememorando que duração razoável não se confunde com rapidez, isso porque
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

o tempo adequado à solução de uma controvérsia, por vezes, pode não ser tão célere
como pretendem as partes, afinal o juiz precisa reunir conjunto documental, probatório

e elementos pessoais que constroem sua convicção e motivam o proferimento de


decisão.

2.8 Igualdade processual ou isonomia


A isonomia é princípio norteador de todos os ramos do direito, sendo inclusive,

mandamento legal comum à diversas constituições mundo afora, tendo origem arcaica
e grega. No ordenamento interno, tem previsão na Lei Maior, e também no Código de

Processo Civil:

Art. 5º da CF - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes.
Art. 7º do CPC - É assegurada às partes paridade de tratamento em
relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de
defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais,
competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.

Essencialmente, cuida-se de princípio muito simples: o Poder Judiciário deve

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fornecer tratamento igualitário a todos os jurisdicionados, isso porque todos são iguais

perante a lei. Portanto, a igualdade processual deve ater-se a alguns elementos que
atuam na promoção da isonomia, e são eles: a equidistância do magistrado

relativamente às partes do processo, materializada por sua imparcialidade; viabilização


e democratização do acesso às informações processuais aptas a facilitar o exercício do

contraditório e da ampla defesa; não discriminação em relação ao acesso à justiça, isto


é, não apresentar diferenças de tratamento em razão de raça, gênero, etnia, religião,

orientação sexual, nacionalidade, aparência etc.; e a diminuição, o quanto possível, das


desigualdades que obstam o acesso à justiça, como a concessão da assistência

judiciária integral e gratuita para os hipossuficientes, fornecimento de comunicação


adequada à pessoa com deficiência (braile, língua brasileira de sinais), tradutor ou

intérprete quando necessário, audiências ou sustentações orais mediante


videoconferência.
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

Vale a ressalva que, alguns dos mecanismos de redução de desigualdades


relativos ao acesso à justiça, aos poucos, vem sendo incorporados de forma definitiva

ao cotidiano processual. Como exemplo, podemos citar a realização de audiências,


sustentações orais e sessões de julgamento que, após a pandemia, tem sido realizadas

de modo remoto, promovendo a celeridade e a economia processual, tanto para as


partes, quanto para o Poder Judiciário.

Ademais, importante frisar que, o tratamento fornecido pelo órgão jurisdicional


deve ser igualitário, com o adendo de que, os iguais serão tratados de forma igual, e

os desiguais na medida de suas desigualdades. Qualquer fator de eventual


discriminação deve ser autorizado pela norma, assim como ocorre nos casos de

tramitação prioritária para idosos ou portadores de doenças graves.

2.9 Eficiência
A eficiência é um dos megaprincípios do direito brasileiro, amparado pela
previsão constitucional, e também processual:

Art. 37 do CPC - A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

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Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,


moralidade, publicidade e eficiência (...)
Art. 8º do CPC - Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos
fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e
promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a
eficiência.

A eficiência é um dos meios utilizados para atingir uma finalidade principal: o


devido processo legal. Ora, não há como o processo ser devido, se não for eficiente.

Em suma, a eficiência denota uma noção de boa administração, isto é, aquisição de


resultados efetivos. Para que a eficiência seja materializada no processo, exige-se

presteza, cautela, dedicação, rendimento funcional e atuação ativa do magistrado (com


o devido aperfeiçoamento técnico e pessoal constante para melhor desempenho

funcional), uma vez que ele representa o Estado-juiz.


O órgão jurisdicional detém a incumbência de gestão dos processos judiciais,

portanto, na qualidade de gestor da relação processual, deve cumprir com o dever


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

constitucional de eficiência. Neste ponto, a eficiência é traduzida como atuação apta a

alcançar finalidade satisfatória do processo, que na maioria das vezes é materializada


pela solução da controvérsia.

2.10 Boa-fé processual


A boa-fé é um princípio arcaico do direito, baseada no ideal de fiducia, que

traduz-se como relação de confiança entre os agentes. Por carregar um ideal íntegro
e respeitável, o referido princípio é reputado como ferramenta garantidora da lisura e

honradez nas relações jurídicas. Encontra respaldo legal no Código de Processo Civil,
e também no Código Civil, que traz disposições referentes à boa-fé em âmbito

negocial:

Art. 5º do CPC - Aquele que de qualquer forma participa do processo


deve comportar-se de acordo com a boa-fé.
Art. 113 do CC - Os negócios jurídicos devem ser interpretados
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Art. 422 do CC - Os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé.

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A boa-fé contida no artigo 113 do Código Civil é subjetiva, significa dizer que é

uma crença psicológica do agente. Basicamente, é a ignorância da violação do direito


(ilicitude), funcionando como fonte de interpretação da declaração de vontade. Já a

boa-fé abarcada pelo artigo 422 do Código Civil e também pelo artigo 5º do CPC é
objetiva, portanto, equivale a externalização de um comportamento honesto, probo,

é agir com lealdade, honrando a palavra dada.


Nesta vereda, do ponto de vista processual, inicialmente, nos parece interessante

a boa-fé objetiva, isso porque ela estabelece condutas a serem seguidas ou evitadas,
ou seja, atua como norma. A boa-fé objetiva desempenha três funções que podem ser

aproveitadas processualmente falando: interpretativa, uma vez que os negócios


jurídicos devem ser observados sob sua ótica, assim, uma vez incidente conflito que

verse sobre contratos, por exemplo, o órgão jurisdicional deverá interpretar o


instrumento contratual de acordo com a boa fé; supletiva ou integrativa, já que cria
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

deveres anexos; e reativa ou de controle, pois repele pretensões desleais e delimita o


exercício dos direitos que uma parte pode exercer contra a outra. Trata-se, ainda, de

preceito de ordem pública, o que permite o reconhecimento ex officio pelo juiz.


Inclusive, é a violação da boa-fé objetiva que costuma promover a intervenção estatal

(jurisdicional e administrativa) nas relações privadas.


Assim, a boa-fé processual determina o comportamento de lealdade probidade

das partes integrantes do processo, isto é, o vínculo jurídico estabelece o dever de


observar a confiança razoável que qualquer pessoa comum esperaria do outro (ideal

semelhante ao dever de cuidado do pater familias).

2.11 Efetividade
O princípio da efetividade guarda relação de similaridade com o da eficiência,
isso porque, a eficiência pode ser utilizada como instrumento meio para atingimento

do fim efetividade.
Concisamente, a efetividade equivale a dizer que não basta os direitos serem
reconhecidos e positivados, eles também devem ser efetivados, isto é, concretamente
materializados.
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A efetividade da justiça pode ser concretizada de diversas maneiras, tais como:

facilitação do acesso à justiça, pois esse é o meio apto a promoção dos direitos; uma
vez acessada, a justiça deve seguir o ideal de celeridade, garantindo o provimento

jurisdicional o mais rápido possível, afinal, conforme ensinava o ilustre jurista Rui
Barbosa “mas justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”;

após o reconhecimento do direito, o órgão jurisdicional deve, ainda, viabilizar a sua


efetivação, ora incentivando o cumprimento voluntário, ora utilizando ferramentas

para forçar o cumprimento compulsório.

2.12 Adequação
Tal princípio estabelece a adequação entre a tutela jurisdicional a ser aplicada e
o bem da vida pleiteado, ou seja, define quais os meios e procedimentos corretos à

aplicação do caso concreto, de modo que, ao final do processo, a lide seja resolvida de
modo efetivo.
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

A adequação pode ser enxergada por três prismas diferentes: teleológico,


objetivo e subjetivo. No que tange o prisma teleológico, deve ser identificada a fase

processual, se de conhecimento, execução, ou recursal, para que seja possível definir


os atos e procedimentos necessários e adequados para o seguimento processual. Já

em relação ao prisma objetivo, há necessidade de adequar a tutela jurisdicional ao


objeto da demanda, ou seja, é o direito material tratado no processo que definirá os

tramites processuais adequados. E por fim, o prisma subjetivo versa sobre a exigência
de adequação entre o regramento processual e as partes envolvidas no processo, isto

é, deve haver consonância entre os acontecimentos processuais e os sujeitos


envolvidos, por exemplo, nas ações em que há parte menor de idade, é imprescindível

a atuação do Ministério Público na proteção dos direitos da criança e do adolescente.

2.13 Cooperação
O princípio da cooperação é, em verdade, base estrutural do direito processual
civil brasileiro. O referido princípio está contido no artigo 6º do Código de Processo

Civil:

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Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que


se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

Um dos objetivos processuais é a condução cooperativa, de modo que as partes

estejam em condições isonômicas, e o magistrado figure como um viabilizador do


diálogo processual (ao invés de mero espectador da lide, como ocorre em alguns

sistemas).
Essencialmente, a cooperação é uma atividade assistencial e de condução

desenvolvida por todos os sujeitos processuais, incluindo o Estado-juiz, consolidada


mediante processos comunicativos, formadores de opinião (e consequentemente do

livre convencimento motivado), que resultam na construção de uma decisão efetiva e


justa e na entrega do provimento jurisdicional.

Portanto, a cooperação é exprimida como a colaboração das partes, e do


magistrado, visando uma mesma finalidade: a conclusão do processo e a

materialização do direito pleiteado.


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

2.14 Respeito ao autorregramento da vontade no processo


Cuida-se de uma decorrência da liberdade, um direito e garantia constitucional
prevista no artigo 5º da Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade (...)

Sabendo que todo indivíduo possui liberdade de ir e vir, de escolher qual religião

acreditar e professar a fé, de pensamento e opinião, dentre várias outras, por certo, a
referida liberdade também inclui o autorregramento da vontade processual.

O autorregramento da vontade incide na premissa de que todos tem direito de


regular os próprios interesses perante o órgão jurisdicional, e mais, todos tem direito

de fazer livremente as escolhas que reputar adequadas. É uma das garantias


fundamentais constitucional pois é um dos pilares e instrumentos da democracia, vez
que os cidadãos só podem participar, direta ou indireta, na construção dos direitos
políticos, se tiverem liberdade suficiente para manifestarem suas opiniões, vontades e
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sugestões.

Obviamente, a liberdade não é ilimitada ou absoluta, portanto, estará presente


de modo comedido em âmbito processual, pois não se pode olvidar que todos os

envolvidos têm direito ao autorregramento da vontade, sendo necessário respeitar as


liberdades individuais e coletivas neste processo. Portanto, o respeito ao

autorregramento da vontade determina que o exercício da autonomia deve ocorrer de


modo livre, sem limitações que não sejam razoáveis, proporcionais ou justificadas. Em

contrapartida, as partes devem se assegurar que o referido exercício não afronte outras
garantias processuais.

2.15 Primazia da decisão de mérito


O princípio da primazia da decisão de mérito busca ressaltar a importância das

decisões em âmbito judicial, uma vez que essas são aptas a solucionar a lide, bem
como viabilizar a entrega do provimento jurisdicional. Encontra respaldo no artigo 4º
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

do CPC:

Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução


integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.

Conforme a locução do artigo supracitado, as partes integrantes da relação


processual têm o direito à solução integral do mérito. Isso quer dizer que o órgão
jurisdicional deve buscar, o quanto possível, a decisão, empregando esforços para que

esta sempre seja alcançada.


A preocupação do dispositivo é, claramente, ver satisfeito o pedido pleiteado

pelas partes, de modo a promover a pacificação social. Importante rememorar que o


Poder Judiciário está à serviços dos jurisdicionados, isto é, cidadãos, portanto, é um

dos maiores interessados em ver solucionados os conflitos, e igualmente, na


materialização das pretensões pleiteadas. Daí a importância de assegurar que as

decisões de mérito sejam proferidas, pois estas têm o condão de propiciar a paz social.

2.16 Acesso à justiça


Trata-se de direito e garantia fundamental de inestimável valor, plasmada no

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incido XXXV do art. 5º do Diploma Constitucional e reforçada pelo artigo 3º do Código

de Processo Civil:

Art. 5º, XXXV da CF - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário


lesão ou ameaça a direito;
Art. 3º do CPC - Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou
lesão a direito.

Os referidos dispositivos visam o direito e acesso à justiça, isto é, ao provimento


judicial efetivo. Basicamente, é proporcionar aos cidadãos o direito de ação, de clamar

ao Judiciário uma solução para suas demandas.


Tal direito é de grande amplitude e incondicionalidade, vez que o órgão

jurisdicional não pode se recusar a receber, analisar e responder as demandas que lhe
forem submetidas à apreciação. Ainda que a resposta fornecida seja que o referido

direito não existe, está eivado de vício, ou sequer pode ser examinado pois carece de
pressupostos básicos, os jurisdicionados tem direito a uma resposta formal do
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

Judiciário.
Cinge-se a controvérsia no fato de que, grande parcela da população brasileira

encontra diversos obstáculos em relação ao acesso à justiça. Por vezes, isso ocorre

diante da insignificância do direito ou bem jurídico violado (uma das razões que deu
origem aos Juizados Especiais) que resulta na renúncia do direito de ação por parte do
ofendido, que desiste de veicular a pretensão judicialmente pois teme a demora, o alto
custo, e também, pelo temor sucumbencial. Normalmente, são os cidadãos

hipossuficientes quem suportam os resultados do acesso dificultado ao Judiciário.


Segundo pesquisas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

constatou que, em meados de 2022 o desemprego atingia, em média, 12 milhões de


brasileiros. Se considerarmos o termo “pobre” na acepção jurídica ou social da

expressão, a situação fica ainda mais delicada, pois, grande parcela da população que
é empregada, ganha aproximadamente, 1 salário-mínimo, e geralmente tais valores

não são suficientes para pagar as taxas judiciais, os honorários advocatícios, e outras
despesas processuais (tudo isso sem comprometer o sustento próprio ou familiar). Por

essa razão o Poder Judiciário prevê a possibilidade da chamada justiça gratuita, que

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cobre os custos referentes à assistência judiciária integral, oportunizando que a

camada mais carente da população brasileira tenha materializado o direito


constitucional de acessar a justiça.

Além dos métodos judiciais comum empregados à solução de litígios, também


há possibilidade de se alcançar a justiça mediante a solução consensual de conflitos,

como a arbitragem, conciliação e a mediação, sendo que tais métodos são


expressamente autorizados pelo Código de Processo Civil, sendo inclusive estimulados.

2.17 Motivação das decisões judiciais


A motivação das decisões judiciais é principal constante da Constituição Federal,

tendo sido alocado no artigo 93, que trata, fundamentalmente, dos princípios a serem
observados quando da confecção da Lei Complementar que rege o Estatuto da

Magistratura:

Art. 93, IX da CF - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário


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serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de


nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos
quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo
não prejudique o interesse público à informação;

Segundo o referido mandamento constitucional, o juiz ou tribunal, no momento


da decisão deve argumentar, justificar e fundamentar, expondo os motivos que

motivaram aquela decisão. Logo, se uma das partes pleiteia liminar, por exemplo, o juiz
deve fundamentar porque decidiu conceder ou não. Do mesmo modo, deve

argumentar e explicar, inteligivelmente, o porque a ação é procedente ou


improcedente.

Isso porque, a ausência de fundamentação permitiria o proferimento de decisões


arbitrárias, sem respaldo jurídico e legal, de maneira a afrontar o princípio da

publicidade, pois impediria as partes, a sociedade, e até mesmo as instâncias


superiores, de entender o porquê a decisão foi tomada. Igualmente impediria a
fiscalização da prestação jurisdicional, violando o dever de transparência e do devido
processo legal. Por fim, obstaria a possibilidade de reexame da decisão, isto é, as partes

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não teriam a oportunidade de litigar em sede recursal pois o duplo grau de jurisdição

estaria suprimido.

2.18 Imparcialidade do juiz (juiz natural)


Com efeito, o juiz natural é um dos princípios mais importantes do direito
processual civil, sendo aproveitado em todos as searas do direito. É previsto por dois

incisos do artigo 5º da Constituição Federal:

Art. 5º XXXVII da CF - não haverá juízo ou tribunal de exceção;


Art. 5º LIII da CF - ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente;

Essencialmente, o primeiro dispositivo veda a possibilidade da criação de


tribunais de exceção, como o Tribunal de Nuremberg. Já o segundo inciso dispõe que

os processos e sentenças judiciais devem ser conduzidos e proferidos pela autoridade

judiciária competente, quais sejam: o juiz e o desembargador.


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

Os dispositivos veiculam preocupação muito coerente do legislador, que é a de

inviabilizar arbitrariedades, abuso de poder, e ainda, a garantia de imparcialidade do


juiz em relação às partes (deve haver equidistância do julgador relativamente aos

sujeitos processuais, além disso, os institutos da suspeição e impedimento existem com


a finalidade de mitigar qualquer parcialidade por parte do juiz).

Sendo assim, o juiz natural caracteriza-se por ser um indivíduo cuja competência
é definida conforme regramento estabelecido previamente na legislação, de modo que

tais regras não podem ser modificadas posteriormente para atingir fatos pretéritos.
Portanto, além da proibição da arbitrariedade de estabelecimento de tribunais de

exceção, as partes também não podem selecionar qual juiz atuará no processo, pois se
assim fosse, os litigantes escolheriam um julgador com convicções e linha de

pensamento compatíveis com os interesses processuais.

2.19 Duplo grau de jurisdição


O texto constitucional estabelece juízos e tribunais, bem como, atribui-lhes
competência para julgar recursos. Ou seja, fica implícito que o sistema brasileiro

abrange o duplo grau de jurisdição.


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O duplo grau incide sempre que houver inconformismo de uma ou ambas as

partes da relação processual relativamente a decisão de primeiro grau, o que costuma


acontecer com frequência. O reexame em segundo grau, beneficia os sujeitos

processuais, na medida em que submete a decisão à apreciação de um colegiado


composta por julgadores mais experientes, dotados de um arcabouço jurídico apto a

identificar erros, desproporcionalidades ou injustiças eventualmente cometidas no


juízo de origem.

O reexame traz segurança jurídica pois é uma decisão opinada por mais de um
julgador. Considerando que os juízes são seres humanos, portanto, passíveis de falhas,

a possibilidade de reexame em segunda instância atribuir maior credibilidade ao Poder


Judiciário, bem como, prestigia o contraditório. A maioria das decisões podem ser

reavaliadas, desde que esse seja o desejo das partes litigantes. Contudo, existem
exceções, a título de exemplo, podemos citar as causas de competência originária do
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STF como hipótese onde não há possibilidade de incidência do duplo grau de


jurisdição, haja vista ser o STF a última instância possível dentro do ordenamento

jurídico brasileiro.

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3 Jurisdição
Entende-se por jurisdição o poder estatal, proveniente de sua soberania, para

gerir e administrar a justiça (lato sensu). É, essencialmente, a função estatal de


solucionar controvérsias submetidas à sua apreciação mediante a aplicação da

legislação.
Nos primórdios da humanidade as controvérsias eram solucionadas pela força ou

pelo raciocínio das partes envolvidas, contudo, as referidas soluções falhavam na


promoção da paz social, vez que muita das vezes eram injustas, arbitrárias e parciais

(ganhava o mais forte, ou o mais esperto).


Por essa razão os Estados, conforme conquistavam a soberania, passaram a se

responsabilizar pelas lides, de modo que solucionariam os conflitos de interesses


baseados em algo concreto, imparcial, previamente definido e confiável, ou seja, a lei.

A jurisdição é inerte, o que significa dizer que o Estado precisa ser provocado
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

para que aprecie a pretensão das partes e resolva o conflito submetido à apreciação.

O Estado, através do poder jurisdicional, pode impor as decisões proferidas em


âmbito judicial, haja vista serem cogentes, portanto, passíveis de cumprimento

coercitivo, por exemplo.

3.1 Autotutela
Consiste em solução primitiva das controvérsias, surgida no período anterior a
organização estatal. Nesta hipótese o indivíduo dotado de mais força, poder ou astúcia,

impõe sua vontade, subjugando a outra parte a aceita-la sem questionamentos, de


modo egoísta e parcial. No ordenamento jurídico tal conduta é classificada como

exercício arbitrário das próprias razões, se praticado por jurisdicionado, e abuso de


poder, se praticado pelo próprio ente estatal. Evidentemente a prática é defesa no

ordenamento jurídico brasileiro e em vários outros ao redor do mundo.


Obviamente, a vetusta “solução” não prestigia de forma alguma a justiça ou a
pacificação social, e por essa razão não poder normalizada ou admitida livremente.
Todavia, de forma excepcional, o Estado admite a utilização da autotutela como
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solução de conflito de interesses, como é a hipótese da legítima defesa (da pessoa ou

da posse), o estado de necessidade, o direito de greve, e alguns outros institutos


previstos na legislação brasileira. Após a ocorrência da autotutela, o caso será

submetido ao crivo judicial, para que legitime ou não a tutela privada.

3.2 Autocomposição
A autocomposição traduz-se como um método de solução consensual de
conflitos, para além de previsão no Código de Processo Civil, encontra estímulo à sua

realização no parágrafo 2º e 3º do art. 3º:

§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual


dos conflitos.
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual
de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do
processo judicial.

A autocomposição consiste na solução da controvérsia mediante o acordo entre


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

as partes. Basicamente, as partes manifestam a vontade de solucionar o litígio através

de um ajuste que atenda, o quanto possível, o interesse de ambas. Certamente, na


maioria dos casos, não é possível solucionar o caso atendendo, igualitariamente, o

interesse de ambas as partes, é por isso que a autocomposição implica, por vezes, no
sacrifício do próprio interesse, ainda que parcialmente, em favor do interesse alheio.

É cediço que o novo CPC incentiva e fomenta a solução consensual dos conflitos
de interesse, isso porque é uma das formas mais eficazes de pacificação social, e ainda,

desoneraria o Judiciário, que recebe diariamente milhares de demandas que poderiam


ser solucionadas de modo mais simples e menos litigioso.

3.3 Julgamento por tribunal administrativo


Neste caso os conflitos são julgados por tribunal administrativo, quer dizer, a

solução do conflito de interesses é estatal, mas não é jurisdicional. Paralelamente a


atuação do Poder Judiciário outras instituições possuem “jurisdição” própria em suas
respectivas áreas de atuação.
A jurisdição desses tribunais é calcada no know-how técnico e jurídico, ou seja,
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nas experiências práticas e específicas, tais qualidades permitem que sejam proferidas

decisões que versem sobre os respectivos ramos de entendimento. São exemplos de


tribunais administrativos: o Tribunal Marítimo, o Tribunal de Contas da União e o

Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).


É importante frisar que, as decisões proferidas em âmbito administrativo fazem

apenas coisa julgada administrativa, logo, a matéria pode ser objeto de discussão na
seara judicial, onde será apreciada pelo juiz natural, oportunizando um “reexame” (que

em verdade é considerado exame inicial, pois a apreciação anterior era meramente


administrativa), e talvez até uma decisão em sentido contrário da proferida

administrativamente. Além do mais, a decisão administrativa não obsta, de forma


alguma, a apreciação da matéria em segundo grau jurisdicional, portanto, se o

jurisdicionado não se satisfazer com a decisão de mérito proferida em primeiro grau,


poderá discutir a matéria em sede recursal.
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3.4 Arbitragem
A arbitragem é um método alternativo de solução de litígios, respaldada pelo

parágrafo 1º do artigo 3º do Código de Processo Civil:

§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.

Diferentemente da conciliação e da mediação a arbitragem é realizada apenas

em âmbito extrajudicial, excluindo a via judicial da apreciação dos eventuais conflitos


ocorridos. Para que seja possível o estabelecimento da arbitragem as partes devem

convencionar e acordar em cláusula contratual específica e expressa a vontade de


resolver os litígios mediante arbitragem.

Uma vez convencionada, quando os conflitos surgirem, as partes devem recorrer


ao árbitro (um terceiro que detém know-how e expertise em uma área específica,

podendo oportunizar uma decisão especializada) que decidirá a controvérsia.


Conforme a regulamentação da Lei 9.307/1996, a sentença proferida pelo árbitro tem

eficácia de sentença judicial, e não poderá ser objeto de recurso, ou mesmo de


homologação judicial.

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Não obstante a arbitragem afastar a possibilidade de discussão do conflito em

âmbito judicial, a sua instalação pode ocorrer na via judicial. Isso porque, por vezes,
uma das partes apresenta recalcitrância em aceitar a resolução do litígio em câmara

arbitral, portanto, se a resistência ocorrer, a parte contrária pode pleitear judicialmente


a instituição da arbitragem, conforme acordado contratualmente.

3.5 Princípios jurisdicionais

3.5.1 Territorialidade

O exercício da jurisdição pressupõe limites territoriais. Deste modo, só poderá ser


exercida em um determinado território específico e pré-determinado. Quando houver

a necessidade de comunicação com juízos de outros territórios os magistrados,


mediante cooperação, podem estabelecer diálogo através de cartas precatórias ou

cartas rogatórias, a depender do caso tratado.


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3.5.2 Indelegabilidade

O exercício da jurisdição não pode ser objeto de delegação, somente podendo


ser exercida pelo Poder Judiciário. Não se pode, por exemplo, delegar o poder

decisório a outro órgão, pois isso derrogaria regra de competência, o que designa
ofensa à garantia constitucional do juiz natural.

3.5.3 Inafastabilidade
É respaldado pelo inciso XXXV do artigo 5º da Constituição Federal, e também

pelo artigo 3º do Código de Processo Civil:

Art. 3º do CPC - Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou


lesão a direito.
Art. 5º XXXV da CF - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito;

De acordo com o princípio jurisdicional da inafastabilidade o órgão jurisdicional


não pode se escusar de julgar as pretensões submetidas à sua apreciação, ainda que a
situação não esteja prevista em lei (lacuna legal). Admitir tal situação poderia resultar

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em afronta ao direito de ação, bem como óbice ao acesso à justiça, duas garantias

constitucionais.

3.5.4 Juiz natural

Juiz natural é aquele cuja competência é estabelecida de acordo com regras


previamente dispostas na lei, sendo que tais regras não possam ser alteradas para

atingir situação ou caso específico ou anterior.


Portanto, o juiz natural é competente, na medida em que foi estabelecido com

base em normas gerais e abstratas prévias. Os juízes de exceção jamais podem ser
constituídos, pois o tribunal excepcional é expressamente vedado pela Constituição

Federal.

3.6 Jurisdição Voluntária


Trata-se de atividade de integração e fiscalização estatal. Existem algumas
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

manifestações de vontade, que para serem validadas e legitimadas, devem ser

submetidas ao crivo judicial, para que este fiscalize se aquela determinada vontade
está de acordo com os parâmetros legais e, portanto, apta a produzir os efeitos

almejados.
É como se o Estado tutelasse interesse de cunho privado, analisando a situação

do prisma assistencial, prestigiando os interesses dos sujeitos envolvidos (ao invés do


interesse meramente estatal), o ponto interessante é que na jurisdição voluntária não

há litígio propriamente dito como ocorre no contencioso.


No mais, relativamente à jurisdição voluntária aplicam-se todas os direitos e

garantias fundamentais do processo, além das disposições constitucionais e


processuais constantes do Código de Processo Civil.

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4 Competência
Não obstante a unicidade da jurisdição, vez que é uma manifestação do Poder

Estatal. Por certo, há necessidade de seu exercício ser distribuído entre diversos órgãos.
É justamente daí que se extrai o conceito de competência. A competência é o resultado

dos critérios de distribuição entre os diversos órgãos para o bom cumprimento do


exercício jurisdicional. Assim, a competência designa os limites para o exercício da

jurisdição.

4.1 Distribuição da competência


A distribuição da competência ocorre com base nos mandamentos
constitucionais (incluídas as constituições estaduais), legais e regimentais. Pode ocorrer

até mesmo embasada em normas contratuais, como é o caso do foro de eleição.

Art. 44 do CPC - Obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

Federal , a competência é determinada pelas normas previstas neste


Código ou em legislação especial, pelas normas de organização
judiciária e, ainda, no que couber, pelas constituições dos Estados.

O Diploma Constitucional trata de realizar a distribuição da competência


relativamente ao Poder Judiciário, especificando o que compete ao STF, STJ, Justiça

Federal, Militar, Trabalhista, Eleitoral e a Estadual que abarca as matérias residuais.

4.2 Regra da Kompetenzkompetenz


Kompetenzkompetenz traduzido para o vernáculo quer dizer “competência-
competência”. A partir da referida regra podemos extrair que qualquer órgão

jurisdicional detém competência para proferir decisões relativas a sua própria


competência. É uma competência apta a realizar o controle da própria competência

(analisar se é ou não competente).

4.3 Competência do foro e competência do juízo


A competência do foro refere-se ao local onde o órgão jurisdicional está alocado,
e, portanto, exerce a função jurisdicional, ou seja, é o território. Na mesma unidade

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territorial podem estar alocados diversos magistrados, de mesma atribuição, ou de

atribuição diferentes, a depender da legislação de organização local. Competência do


juízo é relativa a vara judicial, o cartório, ou a unidade administrativa.

4.4 Critérios de distribuição da competência


Os critérios que determinam a distribuição da competência são: o critério objetivo

(em razão da matéria, em razão da pessoa e em razão do valor da causa), o critério


funcional e o critério territorial.

4.4.1 Objetivo
Este critério de distribuição considera a demanda, como um todo, para a

distribuição da competência.
A competência em razão da pessoa considera os sujeitos envolvidos na demanda

para a fixação de competência.


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A competência em razão da matéria é estabelecida de acordo com a natureza da

situação jurídica objeto da demanda. Ou seja, através da causa de pedir é possível


identificar o bem da vida pleiteado, e deste modo, considera-lo para descobrir qual o

juízo competente.
A competência em razão do valor da causa considera as quantias elencadas como

equivalentes ao valor do pedido principal, ou seja, do bem da vida objeto da demanda.


A partir do valor definido, pode-se determinar qual o juízo competente.

4.4.2 Funcional
Este critério de distribuição leva em consideração as funções exercidas pelo

magistrado dentro do processo. Ou seja, a depender das funções que serão necessárias
dentro de um processo, distribui-se a competência.

4.4.3 Territorial
Este critério de distribuição considera a circunscrição territorial para a distribuição
da competência. A jurisdição é exercida nos limites territoriais pré-estabelecidos, de

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modo que a competência territorial define em quais os territórios a causa pode ser

processada. Contudo, as referidas regras de competência territorial são relativas,


podendo ser derrogadas de acordo com a vontade das partes litigantes.

5 Sujeitos do processo
Os sujeitos do processo, também chamado de partes, podem ser entendidos
como àqueles que pleiteiam tutela jurisdicional, e também aqueles em face de quem

a tutela é postulada. Logo, tem-se o autor, que é aquele que pede a tutela jurisdicional,
e o réu, que é aquele em face de quem a tutela é postulada.

Sendo assim, a parte pode ser: processual, material e legítima. A parte processual
é o sujeito que integra relação jurídica, tendo direito ao contraditório e a ampla defesa,

atuando de modo parcial, isto é, defendendo os próprios interesses, e que, ao final da


demanda, será atingido pelas consequências, que podem ser positivas (entrega do
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

provimento jurisdicional desejado) ou negativas (sucumbência). Quando o assunto for


sujeito processual, estaremos nos referindo a parte processual. Já a parte material é o

indivíduo que integra situação jurídica, contudo, não necessariamente é uma das
partes processuais. Isso porque existe a possibilidade de defender, legitimamente e em
nome próprio, direito alheio (legitimação extraordinária). Portanto, a parte material não
é o titular da demanda em discussão. Por fim, a parte legítima é o sujeito que possui

autorização para discutir determinada situação em juízo.

6 Petição inicial e procedimento comum


6.1 Procedimento comum
É um procedimento de caráter residual, portanto, aplicado quando os demais

procedimentos disponíveis não atenderem os requisitos, ou não houver previsão legal.


É mais alongado que o procedimento especial e o sumaríssimo. Também há
possibilidade de aplica-lo subsidiariamente aos demais procedimentos.
O procedimento comum pode ser dividido em até cinco fases: postulatória,

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ordinatória, instrutória, decisória e liquidação.

O procedimento comum é iniciado pela petição inicial, peça inaugural e


norteadora de todo o processo, seguida pela distribuição ao juízo competente. Após

recebida será realizado o juízo de admissibilidade, sendo que o juiz pode indeferir a
exordial, determinar a necessidade de emenda, decidir pela improcedência liminar do

pedido (antes da citação do réu), ou receber a petição e citar o réu.


Caso não haja manifestação de desinteresse de ambas as partes seguirá a

audiência de mediação ou conciliação, que pode resultar em acordo que encerra o


processo, se o acordo restar infrutífero o réu sai intimado para contestar ou reconvir.

Se a defesa apresentada pelo réu for indireta, ou este juntar novos documentos,
o autor poderá responder via réplica.

Se os documentos e informações contidos nos autos forem suficientes para


formar a convicção do julgador, havendo desnecessidade de produção probatória, o
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juiz pode julgar antecipadamente o mérito. O julgamento antecipado parcial de mérito


ocorre mediante decisão interlocutória, sendo cabível o recurso de agravo de

instrumento. A partir da decisão interlocutória já pode ser iniciado o cumprimento


provisório de sentença. Já o julgamento antecipado total de mérito se dá mediante

sentença, a qual pode ser atacada mediante apelação. A partir da sentença admite-se
o cumprimento definitivo de sentença.

Não sendo caso de julgamento antecipado o procedimento segue seu curso


normal, havendo o momento de saneamento do processo, onde é proferido despacho

saneador objetivando organizar o processo.


Em seguida há designação de audiência de instrução e julgamento, momento em

que as partes produzem as provas que desejarem e forem admitidas. A sentença pode
ser proferida na própria audiência, ou, posteriormente.

Após sentenciado, o processo adentra a fase recursal, que fica a critério das
partes, e por vezes, do Ministério Público. Superado os prazo para interposição de
recurso, haverá trânsito em julgado do feito, e poderá ser iniciado o cumprimento de
sentença, que, uma vez finalizado, marcará a extinção do processo.

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6.2 Petição inicial


A petição inicial é a forma de exteriorização da demanda, sendo que nela está

contida os pedidos almejados pelo demandante. A exordial é o ato inicial do processo,


ela quem delimita os contornos da lide, define quais as partes, o pedido, a causa de

pedir, e o valor da causa.


Por ser uma peça de suma importância durante toda a tramitação do feito, após

o recebimento, o juiz deve analisar criteriosamente, de modo a verificar se há ausência


de algum dos requisitos legais, pois antes da citação do réu é possível determinar a

emenda ou correção da inicial. Após a citação do réu a correção ou emenda também


é possível, contudo, dependerá da autorização do réu.

6.3 Requisitos da petição inicial

6.3.1 Forma
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Em regra, a petição inicial é escrita, com data, e assinada. Contudo, é possível a


postulação oral no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, no procedimento especial da

ação de alimentos (“alimentos de balcão”), e o pedido de medida protetiva urgente em


favor da mulher vítima de violência doméstica. Ainda que verbais, as referidas

postulações serão reduzidas a termo, para que seja possível a análise judicial.

6.3.2 Indicação do juízo ao qual se dirige

A petição inicial veicula um pedido dirigido ao Poder Judiciário, que, por sua vez,
é composto de diversos órgãos jurisdicionais. Sendo assim, o autor deve indicar para

qual juízo sua petição se dirige. É o chamado endereçamento, que é feito no cabeçalho
da exordial. Caso haja equívoco em relação a indicação do juízo haverá remessa da

petição ao destinatário correto.

6.3.3 Qualificação das partes


A petição inicial deve conter a qualificação completa das partes, isto é, tanto do
autor, quanto do réu. Portanto, a exordial deve mencionar os nomes, prenomes,

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patronímicos, estado civil, existência de união estável, profissão, número de inscrição

no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço


eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu, conforme os ditames do artigo

319, II do CPC.
O referido requisito objetiva a identificação das partes, de modo que seja possível

promover a citação, a definição de litisconsórcio necessário nos casos que exigem a


outorga uxória, e até mesmo a concessão ou não da assistência judiciária integral e

gratuita (já que algumas profissões denotam um fôlego financeiro maior ou menor).
Se o autor for pessoa jurídica, a petição deve veicular o estatuto social e a

documentação comprobatória da regularidade da representação processual. Se o


autor for menor impúbere, deve constar a informação de que é representado pelos

genitores ou demais legitimados. Se o autor for nascituro deve constar a informação


de que é nascituro de tal pessoa.
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6.3.4 Causa de pedir (fato e fundamento jurídico do pedido)


A petição inicial é o instrumento que guia a demanda durante todo o tramite

processual, portanto, deve conter a integral exposição dos fatos geradores da


demanda, bem como os fundamentos jurídicos do pedido, ou seja, a causa de pedir.

O demandante tem o dever de indicar na exordial o fato e o fundamento jurídico


que embasam o pedido, não bastando a indicação da relação jurídica, há necessidade

de indicar qual fato jurídico lhe deu causa.


É indicado que os fatos sejam narrados de modo inteligível e que guardem

consonância com a pretensão principal da petição, pois a ausência dos aludidos


requisitos resulta na inépcia da petição inicial.

6.3.5 Pedido
O pedido é, basicamente, a pretensão do autor. É necessário que o autor indique,

de forma inequívoca, o pedido imediato que é o provimento jurisdicional pleiteado


pela parte que pode ser constitutivo, declaratório ou condenatório, e o pedido

mediato, que é o bem da vida desejado. O pedido adstringe o juiz, de modo que este
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estará vinculado aos pedidos da inicial, não podendo conceder bem da vida distintos

dos pleiteados. Ademais, o pedido é requisito essencial da petição inicial, uma vez que
não existe petição sem pedido, isso geraria inépcia.

6.3.6 Valor da causa


Todas as causas devem ter valor atribuído, ainda que somente para fins de alçada.

Isso significa dizer que, nem toda causa veicula uma pretensão de conteúdo
econômico, mas, a fixação é necessária pois embasa a definição da competência

(critério em razão do valor da causa), o cálculo das taxas judiciais, base de cálculo de
multas processuais, o procedimento adotado (dependendo do valor a causa tramita

no juizado especial cível), etc.

6.3.7 Provas

A exordial deve indicar quais os meios de provas admitidos em direito o autor vai
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utilizar para provar as alegações tecidas na petição. Geralmente, o autor indica que

produzirá todas as provas em direito admitidas, até porque não há como saber o que
será controvertido pelo réu, dificultando a imputação das provas especificas. Além

disso, no momento processual adequado o juiz intimará as partes para indicar quais
provas desejam produzir.

6.3.8 Opção pela realização ou não de audiência


O autor tem a opção de manifestar, na petição inicial, se deseja a realização da

audiência preliminar de conciliação ou mediação. A audiência é denominada preliminar


pois ocorre antes de o réu apresentar contestação. Como o novo Código de Processo

Civil prestigia a solução consensual dos conflitos, é preferível que a audiência seja
realizada, salvo, quando ambas as partes manifestarem o desinteresse, ou quando a

demanda não admitir autocomposição.


Ainda que o autor manifeste desinteresse, o juiz designará a audiência, somente
com a manifestação de desinteresse do réu é que a audiência será cancelada. O silêncio
das partes relativamente à realização da audiência implica em concordância,

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autorizando que o juiz designe.

6.3.9 Documentos indispensáveis à propositura da ação


Além de todos os requisitos mencionados a petição inicial deve conter todos os

documentos que sejam imprescindíveis à propositura da demanda. Os documentos


que não forem essenciais podem ser juntados posteriormente, mas os indispensáveis

devem ser juntados desde logo.


Por exemplo, na ação de alimentos a certidão de nascimento do menor (ou de

casamento, nos casos de alimentos ao ex- cônjuge); na ação de interdição o laudo


médico; na ação reivindicatória de imóveis a certidão de propriedade etc.

Além dos documentos citados, é necessária a juntada da procuração, e do


comprovante de recolhimentos das taxas judiciais, exceto quando a parte for

beneficiária da assistência judiciária integral e gratuita.


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6.4 Indeferimento da petição inicial


O indeferimento da exordial é decisão que impede, preliminarmente, o
seguimento do feito, pois, não admite a demanda. O indeferimento somente pode

ocorrer antes da citação do réu, após a citação não há mais possibilidade de


indeferimento da inicial. Não se confunde indeferimento com inépcia, pois esta última

poderá ser reconhecida a qualquer tempo, mesmo após a citação do réu, importante
lembrar que a petição inepta gera a extinção do feito sem análise meritória.

O indeferimento da petição deve ser considerado a ultima ratio, ou seja, só deve


ocorrer se não houver a possibilidade de emenda ou correção da peça. Deve ser

oportunizada a emenda, sendo o indeferimento consequência da correção não


satisfatória.

São causas aptas a promover o indeferimento da inicial: a inépcia, ilegitimidade


da parte, falta de interesse processual, ausência de endereço do patrono para

recebimento das intimações, ausência do número de inscrição na OAB do advogado


patrocinador da causa, e a não indicação da sociedade de advogados da qual participa.

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7 Contestação
A contestação é o instrumento que o réu possui para veicular sua resposta à todas

as alegações contidas na inicial. Através da contestação o réu poderá apresentar sua


defesa, composta pelos argumentos aptos a convencer o juiz de não acolher, parcial

ou integralmente, os pedidos formulados na inicial. A pretensão veiculada na


contestação é declaratória negativa, uma vez que pleiteia que o juiz não acolha os

pedidos da exordial, bem como declare que o autor não tem razão.

7.1 Prazo
O réu conta o prazo de quinze dias para a apresentação da contestação, conforme
o art. 335 do CPC.

O prazo será dobrado, ou seja, de trinta dias, se o réu for ente público,
litisconsortes com advogados diferentes cujo processo tramite por autos físicos, o
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Ministério Público, ou réu representado pela Defensoria Pública.


O termo inicial de contagem do prazo pode ser: da audiência de conciliação ou

mediação, quando qualquer das partes não comparecer, ou, quando comparecerem
mas o acordo restar infrutífero; do protocolo do pedido de cancelamento da audiência
apresentado pelo réu; nas hipóteses contidas no artigo 231 do CPC; e, em havendo
litisconsórcio passivo e um dos litisconsortes manifestar desinteresse na audiência, o

termo será a data de apresentação do respectivo pedido de cancelamento de cada um


dos litisconsortes.

7.2 Inexistência ou nulidade de citação


Cuida-se de hipótese de defesa dilatória, isto é, caso acolhida o réu terá direito a

renovação do prazo para a apresentação de resposta. A referida defesa pode ser


alegada no bojo da contestação, de modo que impeça a revelia. Contudo, se

apresentada fora do prazo e da contestação, e o juiz não acolher a alegação, o réu será
considerado revel.

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7.3 Incorreção do valor da causa


O réu poderá veicular na contestação impugnação ao valor da causa atribuído

pelo autor. A impugnação pode ser calcada em duas hipóteses: o valor atribuído não
condiz com a razoabilidade e com o objeto da demanda; ou o valor não guarda

consonância com os requisitos de fixação do valor da causa dispostos no artigo 292


do CPC.

7.4 Perempção, litispendência e coisa julgada


A perempção, a litispendência e a coisa julgada são fatos que impedem a

instauração regular do processo, e, portanto, devem ser alegadas em sede de


contestação. A perempção consiste na situação em que o autor, por três vezes,

simplesmente abandona o processo, e por ter feito uso incorreto do direito de ação,
recebe a punição jurídica de proibição de ajuizar nova demanda por aquele

determinado fato. Já a litispendência compreende a ocasião em que há tramite


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simultâneo de dois processos idênticos, ou seja, mesmos sujeitos processuais, mesma

causa de pedir e mesmo pedido. A coisa julgada se refere a situação em que a ação
proposta já foi objeto processual, e, portanto, conta com decisão transitada em

julgado, inviabilizando sua rediscussão.

7.5 Alegação de convenção de arbitragem


O ônus de alegação de existência de convenção de arbitragem pertence ao réu,
conforme os ditames do artigo 337, X do CPC. Conforme estudado anteriormente, a
arbitragem institui cláusula de compromisso entre as partes, e uma vez pactuada entre
as partes afasta a atuação do órgão jurisdicional.

É de suma importância que o réu alegue tal fato na contestação, pois, se não o
fizer, o silêncio será interpretado como renúncia ao juízo arbitral, de modo que o

conflito será resolvido integralmente na via judicial.

7.6 Aditamento e indeferimento


Tal qual a petição inicial, a contestação também comporta aditamento
(semelhante a emenda) e o indeferimento. Os motivos plausíveis para indeferir a
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petição são, em suma, a intempestividade, ou então por motivos que afrontem os

requisitos absolutos da peça como a não comprovação de representação processual


regular.

Se o réu se apresentar sem advogado ou defensor público, deve o juiz nomear-


lhe um advogado dativo, ao invés de indeferir a contestação. Se a contestação for

apresentada por incapaz sem a devida representação, deve o juiz nomear um curador
especial.

O aditamento será viável nos casos em que permite-se acrescer defesas após o
prazo de resposta concedido legalmente. Ou seja, o aditamento só ocorre quando as

alegações forem relativas a um direito ou fato surgido posteriormente, quando forem


conhecíveis de ofício, ou quando a lei expressamente autorizar a sua formulação a

qualquer tempo e grau de jurisdição.

7.7 Reconvenção
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A reconvenção é a peça que permite ao réu, demandar contra o autor, dentro do


mesmo processo em que foi demandando primeiro. Funciona, basicamente, como um

contra-ataque, como uma outra “petição inicial”.


A reconvenção pode veicular qualquer tipo de pretensão, seja ela declaratória,

condenatória ou constitutiva. Sendo que o referido incidente processual tem o condão


de conferir amplitude ao objeto da demanda, vez que este será aumentado. Se a

reconvenção for indeferida liminarmente, o reconvinte poderá se valer do recurso de


agravo de instrumento.

Em regra, a reconvenção é cabível nas ações de procedimento comum. É vedada


no procedimento sumaríssimo, nos Juizados Especiais Cíveis, e em alguns

procedimentos especiais.
O autor, ora reconvindo será intimado para a apresentação de resposta, sendo

que o prazo para tanto terá a intimação como termo inicial.


Tanto os pedidos contidos na inicial, quanto os contidos na reconvenção, serão
analisados na mesma sentença.

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7.8 Revelia
Compreende a situação de não apresentação de contestação, ou de apresentação

intempestiva, logo, que não observou o prazo legal.


Uma vez reconhecida a revelia, começa a produção de seus efeitos, que são,

respectivamente: são presumidos verdadeiros todos os fatos alegados pelo autor; o


termo inicial dos prazos relativos ao réu revel sem advogado é a publicação da decisão;

ao tempo do comparecimento do réu no processo, não poderá alegar algumas


matérias em sua defesa em razão da preclusão; faz nascer a possibilidade de

julgamento antecipado de mérito.


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

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8 Atos processuais
Os atos processuais são as ações humanas realizadas dentro de um processo.

Diferem-se dos fatos processuais, que são os acontecidos naturalmente e podem


implicar em grande repercussão processual, independentemente das condutas

humanas (atos).
A ocorrência da pandemia, por exemplo, é um fato processual, que no início de

2020 inviabilizou a realização de audiências, sustentações orais e sessões de


julgamento, até a determinação de realização virtual. Outra decorrência da pandemia

que constitui fato processual é o lamentável e elevado número de mortes, ora, se a


parte falece é um fato processual de grande relevância e repercussão dentro do

processo.
A prática dos atos processuais deve observar as determinações legais. A lei, por

sua vez, determina a forma e sequência lógica de prática dos atos, para garantir que
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

eles sejam coordenados de modo a alcançar o provimento jurisdicional desejado.

8.1 Sentenças
Consiste no pronunciamento judicial, calcado nos arts. 485 e 487, que tem o
condão de finalizar a fase de conhecimento do procedimento comum (relativamente a
fase de execução a sentença tem o condão de extinguir o feito).

O artigo 485 abrange as hipóteses de extinção do processo sem resolução de


mérito, ou seja, sempre que ocorrer um dos incisos o processo será encerrado:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


I - indeferir a petição inicial;
II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência
das partes;
III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor
abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;
V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de
coisa julgada;
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;

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VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou


quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;
VIII - homologar a desistência da ação;
IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível
por disposição legal; e
X - nos demais casos prescritos neste Código.

Já o artigo 487 abarca os casos onde há resolução de mérito, portanto, o processo


segue seu curso normalmente:

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:


I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;
II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de
decadência ou prescrição;
III - homologar:
a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou
na reconvenção;
b) a transação;
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.

Um dos aspectos notáveis da sentença é que ela consiste em pronunciamento


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

judicial apto a finalizar um processo ou, ao menos, a fase de conhecimento.


O juiz conta com o prazo de 30 dias para proferir a sentença, contudo, havendo

motivo plausível e justificável, o prazo poderá ser estendido, conforme o artigo 227.

8.2 Decisões interlocutórias


Trata-se do pronunciamento judicial proferido no curso do processo, sem o
condão de encerrar a fase de conhecimento ou de finalizar o feito. Não obstante a

inaptidão para encerrar o processo ou a fase cognitiva, as decisões interlocutórias


podem gerar prejuízos as partes, ou impor gravame à estas.

O julgador detém o prazo de 10 dias para proferir decisões interlocutórias.

8.3 Despachos
Os despachos não veiculam conteúdo decisório, como as sentenças ou decisões
interlocutórias. Ademais, não podem acarretar prejuízos ou impor gravame às partes.

Isso significa dizer que os despachos servem, principalmente, para impulsionar o


processo, ou seja, promover o andamento processual. Diferentemente da sentença e

da decisão interlocutória, do despacho não cabe recurso, até porque em seu conteúdo
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não há decisão, apenas concessão de prazos, ciência de juntada de documentos,

determinação de cumprimento de acórdão etc., isto é, despachos de mero expediente.


Importante ressaltar que, se o despacho estiver apto a gerar prejuízos à qualquer

das partes, ele terá conteúdo decisório, logo, será possível a interposição do recurso
de agravo de instrumento.

O juiz conta com o prazo de 5 dias para proferir despachos.

9 Condições da ação
As condições da ação podem ser traduzidas como os requisitos exigidos para que

que o tramite processual tenha regularidade, de tal modo que o processo possa seguir
o seu curso normal, desaguando no julgamento de mérito e consequente entrega do

provimento jurisdicional. No direito processual civil existem três condições a ação, e


são elas: a legitimidade, o interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido.
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

O novo CPC elencou as condições da ação como pressupostos para instauração


do processo, portanto, sem o preenchimento destes não há admissibilidade da ação.

Tanto a legitimidade quanto o interesse de agir são considerados pressupostos para


postulação em juízo, conforme os ditames do art. 17 e 330, I e III. O não atendimento
dos referidos pressuposto resulta na carência de ação.
Já a possibilidade jurídica do pedido é questão decidida no mérito, isso porque

quando uma ou ambas as partes apresentarem pedido juridicamente impossível, o juiz


simplesmente não concederá o pleito, resultando na improcedência da ação, e não em

carência, conforme o art. 487, I do CPC.

9.1 Legitimidade
A legitimidade designa a necessidade de que o titular do direito compareça em
juízo para defender e postular direitos próprios, e não direitos alheios. Contudo,

existem alguns casos excepcionais onde a lei autoriza o indivíduo a invocar tutela
jurisdicional em nome próprio para defender direito alheio (legitimidade

extraordinária). Mas, em geral, as partes do processo comparecem em juízo para

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defender e postular direitos próprios (legitimidade ordinária).

Vale ressaltar que a legitimidade extraordinária não deve ser confundida com o
instituto da representação, pois, a representação compreende a situação em que o

titular do direito não possui autodeterminação (total ou parcial), isto é, não tem
aptidão para praticar os atos processuais, de modo que será representado por um

terceiro.

9.2 Interesse de agir


Para que exista interesse de agir se faz necessário o atendimento do trinômio
necessidade, adequação e utilidade. Há divergência doutrinária sobre a utilidade e a

adequação, alguns autores entendem que a utilidade é absorvida pela necessidade, e


outros entendem que a adequação não é de grande relevância, pois o equívoco na

escolha do procedimento pode ser posteriormente sanado. Contudo, trataremos do


interesse de agir considerando os três elementos.
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

O objeto do interesse de agir recaí é o provimento que se busca obter. Não se


confunde com o interesse substancial que é o pedido (satisfeito mediante a entrega

do provimento jurisdicional). A ausência do interesse de agir resulta na carência de


ação, ou seja, o processo não é instaurado validamente, de modo que o pedido sequer

será objeto de análise. O interesse de agir é constatado de acordo com o casa concreto,
visto que não é possível a aferição abstrata.

Relativamente ao trinômio que compõe o interesse de agir, temos a necessidade,


adequação e a utilidade. A necessidade consiste no fato de a pretensão veiculada

somente poder ser alcançada mediante a propositura da ação. Já a adequação recaí


sobre o fato da demanda escolhida ser o procedimento correto para a obtenção da

pretensão formulada. A utilidade compreende o fato de o processo possuir aptidão


suficiente para promover o resultado pleiteado pela parte, isto é, o processo pode

resultar em algum benefício àquele que demanda.

9.3 Possibilidade jurídica do pedido


Não mais é elencado como condição da ação. Em verdade, cuida-se de questão

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que será resolvida no mérito, no momento em que o juiz decidir pela procedência ou

improcedência da ação.
A possibilidade jurídica do pedido indica a necessidade de se pleitear algo que

possa ser provido judicialmente, e ainda, que o pedido seja calcado em causa de pedir
lícita, do contrário, haverá impossibilidade jurídica do pedido.

A título de exemplo, podemos citar o brasileiro que intenta ação judicial para
cobrar dívida de jogo; ou cidadão filipino que ajuíza ação de divórcio, sendo que as

Filipinas não permitem o divórcio legal. Em ambos os casos há manifesta


impossibilidade jurídica do pedido pois os ordenamentos jurídicos não autorizam a

concessão dos referidos pedidos. No primeiro caso, o julgador indeferiria a inicial e


julgaria o processo extinto sem resolução de mérito, mas por ausência de interesse de

agir, uma vez que a possibilidade jurídica do pedido não mais é condição da ação.
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

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10 Formação do processo
10.1 Petição inicial
A petição inicial é o instrumento da demanda, é a partir dela que o processo será

inaugurado, pois, como já estudado, a jurisdição é inerte, então há necessidade de


provocação da autoridade judiciária para que a parte tenha a chance de obter o

provimento jurisdicional desejado. As peculiaridades do instituto foram estudadas


adequadamente ao longo do item 6.

10.2 Pedido
O pedido compreende a pretensão da parte autora. O pedido deve veicular

pretensão certa, determinada, inteligível e com certa coerência. Pedido certo é aquele
que é imputado expressamente. Determinado é o pedido que delineia a quantidade,

qualidade e gênero da pretensão, de modo que seja possível identifica-la com


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

facilidade. Pedido inteligível é aquele que descreve com clareza, exatidão e plenitude

a pretensão que se postula. E por fim, coerente é o pedido que decorre da causa de
pedir. Em regra, o ordenamento jurídico veda a possibilidade de formular pedido

obscuro, ambíguo, vago e implícito.

10.2.1 Espécies de pedido

10.2.1.1 Pedido genérico


Conforme estudado, o pedido deve ser determinado, isto é, deve haver indicação

de qualidades e quantidades suficientemente para identificar o que se pleiteia. O


pedido genérico é justamente o contrário do determinado, e por isso é reputado como

pedido inepto.
Excepcionalmente será admitido pedido genérico, como é a hipótese das ações

universais.

10.2.1.2 Pedido alternativo

O pedido alternativo compreende a situação em que as prestações pleiteadas são

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alternativas, ou seja, a parte basicamente diz ao juízo “se não me conceder o pedido

X, por favor considere a concessão do pedido Y, que também satisfaz a minha


pretensão integralmente”, não importando se o juízo concederá X ou Y, bastando que

conceda algum dos pedidos. Não se confunde com pedido subsidiário, caso em que a
parte quer, especificamente um pedido que possui aptidão para satisfazer

integralmente a sua pretensão, mas, temendo que este não seja concedido, formula
pedido subsidiário que satisfaz apenas parcialmente a pretensão.

10.2.1.3 Pedido relativo a obrigação indivisível


O artigo 328 do CPC retrata a hipótese em que o credor de obrigação indivisível

requer, judicialmente, a satisfação de sua pretensão. Nas demandas creditícias, onde


há pluralidade de credores relativamente à objeto indivisível, todos os credores

solidários têm o direito de exigir a integralidade da dívida. Àquele que receber a dívida,
na íntegra, fica obrigado a repassar a cota do crédito em dinheiro para os cocredores.
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

A referida regra é proveniente do Código Civil, contudo, o CPC fez um adendo ao


dispositivo no momento de reproduzi-lo: o credor que não participar do processo para

receber a cota parta a qual faz jus, arcará proporcional com todas as despesas
processuais referentes à cobrança do crédito (taxas judiciais, honorários advocatícios

etc.).

10.2.2 Improcedência liminar do pedido

Excepcionalmente será admitida a improcedência liminar do pedido. Tal situação


ocorre quando o pedido recair em uma das hipóteses elencadas pelo artigo 332 do

CPC, quais sejam: contrariar enunciado de súmula de Tribunal de Justiça relativamente


a direito local; contrariar entendimento firmado em incidente de resolução de

demandas repetitivas ou de assunção de competência; contrariar acórdão proferido


pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de

recursos repetitivos; contrariar enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou


do Superior Tribunal de Justiça; e quando for verificada a ocorrência prescrição ou

decadência.

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10.3 Citação
A citação exprime-se como ato processual que convoca o réu ou o executado a

integrar a demanda processual. É através dela que se estabelece a comunicação entre


o Poder Judiciário e a parte ré, de modo que a citação tem o condão de convocar o

réu, bem como, o de promover a cientificação deste a respeito do processo instaurado.


Não se pode reputar a citação como pressuposto de existência do processo. Isso

porque, a citação ocorre no arcabouço processual, o que significa dizer que o processo
já existe antes da citação ser realizada. Em verdade, a citação é condição eficacial do

processo em relação a parte ré e condição de validade dos atos processuais


posteriores.

10.3.1 Comparecimento espontâneo


Apesar de não ser comum, o réu pode comparecer voluntária e espontaneamente

ao processo, ainda que não tenha sido citado. Neste caso, o prazo para a apresentação
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

de sua resposta, isto é, da contestação, será contado a partir do seu comparecimento

nos autos. Além disso, o comparecimento espontâneo supre a nulidade ou a falta de


citação.

10.3.2 Pessoalidade da citação


Considerando que a citação tem o objetivo de convocar o réu a integrar a

demanda processual, e também o cientificar do processo instaurado, por certo, ela

deve ser pessoal, isto é, na pessoa do citando.


Contudo, na ausência do citando, a citação pode ser realizada na pessoa do

mandatário, administrador, gerente ou preposto (nas ações em que estes tiverem


praticado o ato que originou a ação).

Se o réu for pessoa jurídica a citação pode ser realizada na pessoa com poderes
de administração, gerência ou funcionário responsável por correspondências.

A citação dos entes da Administração Pública é realizada ao órgão de Advocacia


Pública que se responsabilizada pela representação judicial, ou seja, o Advogado

Público é citado, para evitar que qualquer servidor ou funcionário público receba a
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citação.

Se a citação tiver como destinatário o condomínio edilício ou loteamento com


acesso controlado, a citação pode ser feita ao funcionário da portaria.

Se não for possível a citação do réu, será nomeado curador especial para receber
a referida citação, e apresentar defesa no prazo legal. A curatela, em regra, é feita pela

Defensoria Pública, que costuma apresentar contestação por negativa geral.

10.3.3 Local da citação

Não há local definido para que se realize a citação, uma vez que ela será feita em
qualquer lugar em que se encontre o réu ou executado. Contudo, a lei prevê situações

específicas onde a citação ocorre em local determinado, como é o caso do militar em


serviço ativo, que somente poderá ser citado na unidade de serviço, se não for

encontrado em sua residência, ou ainda, se esta for desconhecida.


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10.3.4 Impedimento legal para a citação

Em regra, a citação pode ser feita livremente, contudo, alguns momentos


demandam maior decoro e respeito, e são justamente os aludidos momentos que

reputam impedimento legal para a citação.


A citação não será realizada quando: o citando estiver participando de culto

religioso; nos 3 dias posteriores à celebração do casamento do citando (período de


gala); ao cônjuge, companheiro, ou parentes consanguíneos ou afins (linha reta ou

colateral) do falecido, no dia da morte e nos próximos 7 dias (período de nojo e luto
familiar); e aos doentes em estado grave.

Vale salientar que tais impedimentos não são absolutos, pois, se o direito estiver
na iminência de perecimento, a citação poderá ser realizada livremente.

10.3.5 Efeitos da citação


O momento que antecedente a concretização da citação é de grande
importância. Isso porque, antes da citação o sujeito passivo é mera parte processual, e
após a citação é indicado como réu, pois passou a integrar efetivamente a demanda.

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A citação validamente realizada tem aptidão para gerar alguns efeitos: torna a

coisa litigiosa, induz litispendência, constitui em mora o devedor, torna o juízo


prevento, interrompe a prescrição e impede a alteração da demanda sem o

consentimento do réu.

10.3.6 Modalidades

10.3.6.1 Citação pelo correio


É uma das modalidades mais comum, pois é elencada como a regra geral de

citação. Independe de requerimento da parte e pode ser feita em qualquer comarca


brasileira, não estando submetida ao envio de carta precatória.

Contudo, a lei veda, em algumas hipóteses a possibilidade de citação postal, por


exemplo, nos casos em o citando é incapaz, quando o citando for pessoa jurídica de

direito público, quando o citando residir em local onde não há entrega de


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

correspondência etc.

A correspondência deve acompanhar cópia da petição inicial, cópia do despacho


do juiz, o prazo para resposta, o endereço do juízo e do cartório, cópia da decisão que

defere a liminar (se houver), bem como as informações relevantes relativas à demanda
como o nome das partes, as residências. A correspondência também pode indicar data

para comparecimento à audiência de conciliação ou mediação, comunicando a


necessidade de estar acompanhado de advogado ou defensor público. Por fim, deve

conter a assinatura do escrivão ou do chefe da secretaria, acompanhado da declaração


de que o subscreve por ordem da autoridade judiciária. Ao entregar a correspondência,

o carteiro deve exigir que o citando assine o aviso de recebimento. Uma vez juntado o
aviso de recebimento nos autos está consolidada a citação postal.

10.3.6.2 Citação por oficial de justiça


A citação realizada por oficial de justiça quando a citação postal restar infrutífera,

ou quando a lei vedar a citação pelo correio. O oficial de justiça, no momento da


citação, entregará mandado contendo: o nome das partes e suas respectivas

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residências ou domicílios; a finalidade da citação, as especificação da exordial; o prazo

para apresentar contestação; as penalidades aplicáveis no caso de descumprimento; a


intimação para comparecimento em audiência acompanhado de advogado ou

defensor público, se esta tiver sido designada, informando data, horário e local; cópia
da petição inicial; cópia da decisão ou despacho que deferiu liminar; e a assinatura do

escrivão ou do chefe da secretaria, acompanhado da declaração de que o subscreve


por ordem da autoridade judiciária.

No momento da citação o oficial de justiça deve ler o mandado, entregar a


contrafé ao citando, entregar a certidão de recebimento ou recusa da contrafé, e obter

a nota de ciência ou certidão de que o réu não a apôs no mandado. Uma vez juntado
os autos do mandado no processo está consolidada a citação por oficial de justiça.

10.3.6.3 Citação com hora certa


Essa modalidade é utilizada quando o oficial de justiça já tiver procurado, sem
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sucesso, o citando por pelo menos duas vezes, e há suspeita de ocultação. Nesta
hipótese o oficial intimará algum familiar do citando, ou, na ausência destes, algum

vizinho, de que no dia útil subsequente retornará com o objetivo de efetivar a citação
em horário determinado.

Após realizada a citação com hora certa o escrivão ou chefe da secretaria deve
enviar ao citando carta, telegrama ou correspondência eletrônica, para cientifica-lo, no

prazo de 10 dias contados da data de juntada do mandado aos autos.

10.3.6.4 Citação pelo escrivão ou chefe da secretaria

Tal modalidade ocorre quando o citando comparece no cartório judicial. Nesta


hipótese o escrivão ou chefe da secretaria pode realizar a citação.

10.3.6.5 Citação por edital


A citação por edital ocorre quando: é desconhecido ou incerto o réu; é ignorado,

incerto ou inacessível o lugar em que se encontra o réu; e nas hipóteses expressamente


prevista na lei.

O edital deve conter: a afirmação do autor ou a certidão do oficial informando a


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presença das circunstâncias autorizadoras; a publicação do edital na rede mundial de

computador, no sítio do respectivo tribunal e na plataforma de editais do CNJ, que


deve ser certificada nos autos; a determinação do juiz relativamente ao prazo, que

pode variar entre 20 e 60 dias, contados da data de publicação única ou, havendo mais
de uma, da primeira; e a advertência de que será nomeado curador especial em caso

de revelia.
A referida modalidade é bastante utilizada em ações que envolvem muitas partes,

no polo ativo e principalmente no passivo, como as ações de usucapião. Por essa razão
o juiz poderá determinar que a publicação do edital seja realizada, igualmente, em

jornal de grande circulação, em rádios locais, e até mesmo carros de sons que circulem
transmitindo informações daquela determinada comarca.

Depois de publicado o edital, o prazo para apresentação de reposta é contado a


partir do dia útil subsequente ao fim da dilação assinada pela autoridade judiciária.
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10.3.6.6 Citação por meio eletrônico


A inclusão digital trouxe à luz uma nova realidade, onde grande parte da

população mundial utilizada a internet para a realização de diversas atividades


cotidianas como o trabalho, estudo, pagamento de contas, compra de ingressos e

tickets etc. No mundo jurídico não foi diferente, tanto é assim que atualmente, a
maioria dos processos tramita eletronicamente.

A lei 11.419/2006 trouxe regulamentos e regramentos relativos aos processos


judiciais de autos eletrônicos, prevendo a possibilidade de que os autos tramitem

integralmente ou parcialmente de modo digital. A referida lei também determina que,


nos processos eletrônicos todas as citações serão realizadas por meio eletrônico.

O CPC reputa como preferência a citação por meio eletrônico para pessoas
jurídicas de direito privado, salvo as empresas de pequeno porte e as microempresas.

Inclusive, as pessoas jurídicas, incluindo as empresas estatais, obrigatoriamente devem


manter cadastro nos sistemas de processo eletrônico.
A citação por meio eletrônico deve: ser feita em portal próprio, acessível mediante
cadastro no sistema; considera-se feita a citação no dia em que o citando consultar a
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intimação por meio eletrônico; se a consulta for realizada fora de dia útil, considera-se

feita a citação no primeiro dia útil subsequente; a consulta da citação deve ser realizada
dentro de 10 dias, sob pena de considera-la realizada automaticamente após o termo

final do prazo. O prazo para apresentação de contestação é iniciado no dia útil


subsequente à consulta, ou após o termo final do prazo de 10 dias.

10.4 Audiência preliminar de conciliação ou mediação


É cediço que o novo CPC emprega diversas técnicas e regramentos com o

objetivo de estimular a resolução consensual dos conflitos. Um desses métodos é a


audiência preliminar de conciliação ou de mediação.

Se a petição inicial não for indeferida, e nem for caso de improcedência liminar
do pedido, a autoridade judiciária determinará a citação do réu e designará a audiência

de conciliação ou mediação. Sendo que a audiência deve ser designada com


antecedência mínima de 30 dias, e o réu deve ser citado com pelo menos 20 dias de
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antecedência. Na citação estará contida a intimação de comparecimento em audiência


para o réu, informando-lhe que deve comparecer acompanhado de advogado ou

defensor público, bem como a data, horário e local de realização da audiência. O autor
será intimado na pessoa de seu advogado.

A audiência pode ser de conciliação ou mediação, dependendo do tipo de


conflito instaurado. Se houver vinculação anterior entre os sujeitos do processo, far-

se-á conciliação. Não havendo vinculação anterior entre os sujeitos do processo, far-
se-á mediação.

A audiência é realizada antes da apresentação da defesa por razão muito simples:


dela pode resultar acordo entre as partes, não sendo necessário todo o litígio habitual,

produção de provas, juntada de documentos, e longos prazos.


Existem duas hipóteses que obstam a designação da audiência de conciliação e

mediação: quando há manifestação de desinteresse de ambas as partes na realização


da audiência; e quando o processo em comento não admitir a autocomposição.

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10.5 Resposta do réu (contestação)


A resposta do réu materializa-se na contestação, que é o instrumento com

aptidão para ofertar resposta às alegações feitas pelo autor na petição inicial. A
contestação é o meio do réu de apresentar defesa, de modo a provar que o direito do

autor não merece prosperar através de argumentos fáticos e jurídicos e provas. O


instituto foi analisado com maior cautela no item 7.
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11 Extinção do processo
No que tange a extinção processual, essa pode ocorrer de dois modos distintos:

mediante decisão que examina o mérito, ou, através decisão que não examina o mérito.

11.1 Decisões que não examinam o mérito

11.1.1 Indeferimento da petição inicial


Conforme estudado no item 6.4, o indeferimento é a decisão que implica em

impedimento preliminar do seguimento do processo, uma vez que não admite a


demanda. O indeferimento ocorre antes da citação do réu. Além disso, a petição só

pode ser indeferida quando não há possibilidade de emenda ou correção da peça. As


causas de indeferimento da exordial são: a ilegitimidade da parte, falta de interesse

processual, inépcia, ausência de endereço do patrono para recebimento das


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intimações, a ausência do número de inscrição na OAB do advogado patrocinador da

causa, e a não indicação da sociedade de advogados da qual participa.

11.1.2 Abandono do processo pelas partes

O abandono pressupõe a paralisação processual por mais de 1 ano, em


decorrência de conduta negligente das partes. O fato de as partes não promoverem

qualquer movimentação no processo faz presumir o desinteresse na demanda, razão


pela qual será extinta.
Antes de promover a extinção processual o juiz deve, sob pena de nulidade,
intimar pessoalmente as partes, para que, em até 5 dias manifestem o interesse no

seguimento do feito. Isso porque, as vezes, as partes não sabem da negligência dos
patronos em relação ao processo, por isso é oportunizada a manifestação.

As custas processuais serão rateadas entre as partes, sendo que cada uma pagará
os honorários advocatícios do advogado que contratou.

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11.1.3 Abandono do processo pelo autor

O abandono, neste caso, pressupõe paralisação processual por mais de 30 dias.


Antes de promover a extinção do processo, deve o juiz, sob pena de nulidade,

intimar pessoalmente o autor, para que se manifeste em 5 dias, e cumpra as


providências que lhe cabem.

Se o réu já tiver sido citado, o autor será condenado ao pagamento das custas
processuais, bem como, dos honorários advocatícios.

11.1.4 Falta de pressupostos processuais


Os pressupostos processuais são divididos em pressupostos de existência

(provocação ou requerimento da parte para iniciar o processo; jurisdição e citação) e


pressupostos de validade (aptidão para provocar ou requerer o início do processo;

competência do juízo; imparcialidade do juiz; capacidade postulatória; capacidade de


estar em juízo e de ser parte; e citação válida. A ausência de algum ou vários dos
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

pressupostos pode implicar na extinção processual. Contudo, na prática forense não é


tão comum a extinção quase que automática em razão da ausência de pressupostos

processuais, isso porque o juiz sempre oportuniza a correção ou emenda do problema


(dever de prevenção).

11.1.5 Perempção, litispendência e coisa julgada


Conforme pormenorizado no item 7.4 a perempção, a litispendência e a coisa são

pressupostos negativos, ou seja, não devem estar presentes para que o processo siga
regularmente. A perempção é o abandono processual do autor, por 3 vezes, que resulta

na penalidade de não poder propor nova ação. A litispendência indica a tramitação de


dois processos com as mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido. Já a

coisa julgada é a autoridade que impede a alteração ou rediscussão de decisão de


mérito transitada em julgado.

11.1.6 Ausência de interesse ou legitimidade


A legitimidade compreende a necessidade de comparecimento em juízo do

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titular do direito, para que possa postular e defender direitos próprios. Já o interesse é

o provimento jurisdicional que a parte busca através do processo. Ambos são


condições da ação, e a falta deles implica em extinção do processo sem a resolução do

mérito.

11.1.7 Existência de convenção de arbitragem

A arbitragem é um método de resolução de conflitos realizado na via extrajudicial.


As partes instituem a arbitragem mediante convenção com cláusula específica e

expressa indicando a vontade de ambas de resolver os conflitos mediante o juízo


arbitral. A adoção da arbitragem como meio de resolução de litígio afasta

imediatamente a via judicial da apreciação dos conflitos.


Portanto, uma vez ocorrida a controvérsia, se qualquer das partes buscar o

Judiciário para a solução do conflito, basta que a parte contrária alegue a existência de
convenção arbitral, e junte os documentos comprobatórios para que o juiz determine
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

a instalação. Se não o fizer no prazo legal, entende-se que houve renúncia ao juízo
arbitral, assim, o litígio será resolvido em âmbito judicial.

11.1.8 Desistência
A desistência da ação é negócio jurídico unilateral do autor, que, inicialmente não

exige a concordância do réu. Se a autoridade judiciária concordar, a desistência é


homologada. Contudo, nem sempre a desistência é aceitada, porque o órgão

jurisdicional tem firmado entendimento, em alguns casos, de que alguns direitos não
permitem a desistência.

11.2 Decisões que examinam o mérito

11.2.1 Julgamento de mérito (procedência ou improcedência)

É uma das extinções mais comuns. Se a parte bate às portas do Judiciário porque
deseja ver satisfeita uma pretensão, é justo que o órgão jurisdicional responda ao
pleito, seja positiva ou negativamente. Daí vem o julgamento de mérito.

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A decisão meritória abrange a situação em que o juiz acolhe ou rejeita, integral

ou parcialmente, as pretensões formuladas pelas partes do processo. Quando a


autoridade judiciária acolher os pedidos, a ação será procedente. Quando a autoridade

judiciária não acolher os pedidos, a ação será improcedente.

11.2.2 Homologação de acordo

Conforme estudado, o CPC é um código que incentiva a solução consensual dos


conflitos, através de diversas técnicas e métodos processuais e procedimentais.

Portanto, é até preferível a autocomposição das partes.


As partes podem chegar a um acordo (transação) que é negócio jurídico apto a

promover a extinção consensual do conflito, mediante decisão homologatória de


autocomposição.

As vantagens provenientes da transação são diversas, tais como: o cumprimento


da obrigação em menor tempo, desnecessidade de beligerância processual entre as
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

partes, economia processual e economia de tempo.

11.2.3 Decisão sobre decadência ou prescrição

A prescrição e a decadência são institutos que estão a serviço da segurança


jurídica. A segurança jurídica é um valor muito importante para o ordenamento

jurídico, considerando que exige certeza quanto ao passado e algum grau de previsão
quanto ao futuro. Ambas são instrumento que buscam a estabilidade das relações

jurídicas e sociais, pacificando-as.


A prescrição é o instituto pelo qual o credor perde a pretensão por não a ter

exercido no tempo oportuno, isto é, a extinção da pretensão pelo decurso do prazo


legal. A prescrição ocorre nos prazos fixados em lei, no silêncio da lei o prazo da

prescrição é de 10 anos. É nula qualquer disposição das partes no sentido de alterar os


prazos de prescrição fixados, seja para mais, seja para menos. A renúncia antecipada a

prescrição é nula, mas pode-se renunciar depois que a prescrição se consumou, desde
que não prejudique terceiros. A prescrição pode ser alegada a qualquer tempo e grau

de jurisdição, e o juiz pode conhecer de ofício, vez que é matéria de ordem pública.
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Já a decadência compreende a perda do direito potestativo pelo fato de o seu

titular não o ter exercido no tempo oportuno. A regra é a de que os direitos


potestativos podem ser exercidos a qualquer tempo, só havendo decadência quando

houver previsão legal.


A decisão que reconhece tanto a prescrição, quanto a decadência, é meritória.
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12 Tutelas provisórias
A tutela provisória é uma espécie peculiar de tutela. Nela, o juiz exerce apenas

cognição sumária. Normalmente, em âmbito processual, o juiz é amparado pela


cognição exauriente para tomar suas decisões, isso porque a cognição sumária, por

vezes, não fornece elementos suficientes para formar o convencimento da autoridade


judiciária.

A tutela provisória pode ser embasada na evidência ou na verossimilhança,


justamente por essa base um tanto quanto abstrata, a natureza da tutela é provisória,

pois, posteriormente poderá ser modificada ou revogada.


O objetivo de concessão da tutela é resguardar a pretensão jurisdicional objeto

do processo, ou a de redistribuir alguns ônus relativos a morosidade processual.

12.1 Tutela provisória antecipada


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

Há natureza satisfativa na referida tutela, ou seja, sua concessão antecipa os


efeitos que, não fosse a tutela, só seriam concedidos ao final do processo. Tem o

condão de afastar situações de perigo que gerariam dano de difícil ou impossível


reparação mediante a entrega do pedido.
A tutela é sempre provisória pois precisa, necessariamente, ser substituída por
um provimento jurisdicional definitivo, que pode ser a efetivação da tutela, ou a sua

revogação.

12.2 Tutela provisória cautelar


É uma tutela de natureza assecuratória. Isso significa dizer que o juiz não defere,
de pronto, os efeitos pleiteados pela parte, mas, estabelece medida protetiva de

garantia, que resguarda e preserva o direito, de modo que a morosidade processual


não coloque em risco o direito. Essa tutela tem o condão de afastar situações de perigo

que gerariam dano de difícil ou impossível reparação através de providência


assecuratória. Assim, a pretensão não será imediatamente satisfeita, mas, ao final do

processo quando deferida, seus efeitos ainda serão de utilidade para à parte. Afinal, se

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o direito perecer durante o tramite processual, como seria entregue ao final da

demanda?

12.3 Tutela provisória de urgência e de evidência


A urgência e a evidência referem-se aos motivos que embasam a concessão da
tutela provisória. Ao conceder a tutela, o juiz deve argumentar a decisão, explicando

se a concessão é baseada na evidência do direito, ou na urgência da medida.


A tutela provisória será de urgência sempre que a demanda contiver subsídios

que demonstrem a probabilidade do direito (fumus boni juris) e o perigo de dano ou


risco ao resultado útil do processo (periculum in mora).

A tutela provisória de evidência não é calcada na existente de perigo, portanto,


afasta a necessidade de demonstração do perigo de dano ou risco ao resultado útil do

processo. Em verdade, ela é fundamentada na probabilidade do direito da parte, que


por vezes alcança um nível de plausibilidade tão grande, que torna o direito evidente,
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

viabilizando a concessão da tutela.

12.4 Tutela provisória de urgência antecedente e incidental


Conforme já visto, a tutela provisória pode se fundamentar tanto na urgência,
quanto na evidência. A tutela de evidência sempre ocorre de forma incidental. Já a

tutela de urgência pode ser incidental ou antecedente.


A tutela provisória de urgência incidental é aquela pleiteada em processo já

existente, assim, basta requerer a medida no bojo processual quando ocorrer situação
de urgência.

A tutela provisória de urgência antecedente refere-se a tutela pleiteada antes


mesmo da formulação da pretensão principal, ou ao menos, da formulação completa

da pretensão, com a devida argumentação e comprovações. Assim, basta que o autor


da tutela indique o pedido principal, e explique o porque o direito precisa ser

resguardado.

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13 Preclusão
A preclusão é a perda de uma faculdade, seja ela processual ou administrativa. A

preclusão ocorrida em âmbito processual pode ser temporal, lógica, consumativa ou


pro judicato. Já a preclusão ocorrida em âmbito administrativo é, em regra, a preclusão

temporal.

13.1 Preclusão temporal


A preclusão temporal compreende a perda do prazo por omissão. Basicamente o
sujeito perde o poder processual por não exercer em momento oportuno. Ou seja, se

o titular não adotar as providências cabíveis dentro do prazo legal haverá preclusão
temporal.

13.2 Preclusão lógica


A preclusão lógica consiste na perda de faculdade ou poder processual em
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

decorrência da prática de ato incompatível com o exercício da referida faculdade ou


poder. Isto é, há impossibilidade de prática do ato, pois o titular adotou conduta

incompatível com o ato que queria praticar.

13.3 Preclusão consumativa


A preclusão consumativa exprime a situação de perda de faculdade ou poder
processual em consequência de a faculdade ou poder já ter sido exercido. Assim, se o
titular pratica ato de modo a esgotar seus efeitos há impossibilidade de praticar
novamente tal ato, vez que já está consumado.

13.4 Preclusão pro judicato


A preclusão pro judicato é a preclusão operada em desfavor dos juízes,

impossibilitando a revisão indiscriminada de atos já analisados e decididos. Não


obstante os prazos judiciais serem impróprios, é necessário defini-los, para garantir
que o processo chegue ao destino final: a entrega do provimento jurisdicional. Por essa
razão, as autoridades judiciárias também estão submetidas à preclusão.

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14 Nulidades
A nulidade ocorre quando há violação norma de ordem pública, ou seja, norma

que tutela interesses além dos interesses pessoais das partes. Em razão do caráter
cogente, as normas de ordem pública possuem um rol de legitimidade amplo, logo,

podem ser alegadas e reconhecidas a qualquer tempo, e tal alegação pode advir de
interessados, do Ministério Público quando lhe couber intervenção, ou ex officio.

Portanto, se durante o processo um ato é prático sem observar o requisito de


validade, será constatada a nulidade. A partir do momento que uma nulidade é

detectada, a autoridade judiciária deve determinar a sua correção, podendo, inclusive,


determinar que o referido ato eivado de nulidade seja refeito.

O ato nulo, enquanto não identificado produzirá seus efeitos processuais, até o
momento de sua constatação e declaração de nulidade. No direito processual civil

consideram-se nulos os atos que não observam os requisitos legais como: a sentença
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

que não segue os ditames legais, a citação que não guarda consonância com as

formalidades legais, a ausência de intervenção do órgão ministerial quando obrigatória


etc.

14.1 Regularização processual


Quando a nulidade acontece durante o tramite processual, o juiz deve adotar

providências sanatórias. Se a nulidade for relativa, deve ser alegada pela parte
prejudicada, o quanto antes, sob pena de sofrer os efeitos da preclusão. Já se a

nulidade for absoluta, é dever do juiz declara-la de ofício, ou mediante requerimento


do interessado, com a consequente determinação de retificação do ato, ou ainda, que

o ato nulo seja refeito (e todos aquele por ele afetados).


Se o processo transitar em julgado sem que haja constatação da nulidade, as

partes podem ajuizar ação rescisória, observado o prazo legal.

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15 Provas
A prova é, basicamente, o instrumento empregado para formar o convencimento

do juiz relativamente aos fatos controversos do processo.


É justamente do referido conceito que se extraí a natureza jurídica do instituto: a

prova é um método de convencimento do juiz no que tange os fatos controvertidos


relevantes na demanda.

15.1 Classificação das provas

15.1.1 Quanto ao objeto

Podem ser diretas quando estiverem diretamente interligadas ao fato que se


objetiva comprovar. Ou, indiretas quando não se prestarem a comprovar, de modo

direto, o fato, mas que demonstrem de forma indireta (através de ligações e induções)
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

o que se pretende provar.

15.1.2 Quanto ao sujeito


Podem ser pessoais, quando for prestada por uma pessoa que relata um fato,

como a oitiva de testemunha. Ou, reais, quando obtidas mediante o exame ou análise
de determinada coisa, como a perícia.

15.1.3 Quanto à forma


Pode ser oral quando a prova for colhida verbalmente. Ou, escrita, quando a

prova for reduzida a termo ou redigida por documentos, por exemplo.

15.2 Objeto da prova


A prova recaí sobre os fatos controvertidos que guardem relevância com o
julgamento da demanda.

Basicamente, para proferir decisão, a autoridade judiciária precisa formar sua


convicção em relação a todos os fatos e diretos submetidos à sua apreciação. As partes

podem utilizar diversos métodos objetivando convencer, livremente, o juiz. De acordo

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com o princípio do livre convencimento motivado, o juiz não está absolutamente

adstrito ao formalismo legal, de modo que, pode fundamentar suas decisões baseado
nas provas constante dos autos.

15.3 Fatos que dispensam comprovação


Existem alguns fatos que são incontroversos, isto é, afastam a necessidade de

comprovação. Os fatos relevantes que dispensam a necessidade de dilação probatória


são: os fatos notórios, ou seja, de conhecimento geral de todos (ou ao menos, de

todos os integrantes daquela determinada comunidade); os fatos alegados por uma


das partes, e confessado pela outra (só o que é controverso exige comprovação); os

fatos admitidos como incontroversos pelas partes; fatos que possuem presunção
legal de existência ou veracidade (se a presunção for absoluta não se admite prova

em contrário; se a presunção for relativa a parte prejudicada pela alegação pode


produzir prova contrária).
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15.4 Ônus da prova


Não é incomum que, após o esgotamento das provas, os fatos continuem

obscuros, confusos ou incoerentes. Ou ainda, que não haja provas, apenas as alegações
das partes, pois ninguém documentou ou presenciou a ocorrência dos fatos. A

autoridade judiciária não pode se escusar de proferir sentença, portanto, deve reunir
elementos suficientes à formação de sua convicção.

A partir das regras relativas ao ônus da prova pode-se determinar a qual das
partes será imputado os efeitos negativos da ausência de provas. Em regra, o ônus da

prova recaí sobre aquele que enfrentará os prejuízos decorrente da ausência de


comprovação dos fatos.

A distribuição do ônus da prova é realizada com base no artigo 373 do CPC, que
determina:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor.

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Concurso de Cartório Disciplina: Direito Processual Civil

Ou seja, o ônus da prova geralmente é atribuído àquele que alegou o fato.

O ônus da prova pode ser invertido em três hipóteses: quando a própria lei
determinar (inversão legal), quando as partes manifestarem suas vontades nesse

sentido (inversão convencional), e quando a autoridade judiciária assim determinar


(inversão judicial).
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

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16 Intervenção de terceiros
Terceiro é o indivíduo que não é parte, portanto, não integra a relação processual

naturalmente. A intervenção de terceiro ocorre quando pessoa estranha à relação


processual tem justo motivo, autorizado por lei, para ingressar na demanda e tornar-

se parte. A intervenção pode ser espontânea ou voluntária quando o terceiro solicitar


o ingresso na demanda, ou pode ser intervenção provocada, quando o terceiro for

trazido ao juízo.

16.1 Assistência
Na assistência o terceiro passa a integrar processo alheio com o objetivo de
ajudar uma das partes. A assistência é possível em qualquer tempo ou grau de

jurisdição, e ainda, em qualquer procedimento, sendo que o terceiro deve receber o


processo no estado em que se encontrar.
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

A assistência é admitida porque o terceiro corre risco de ser prejudicado


juridicamente pela decisão, principalmente se esta não for favorável ao assistidos.

Como pode ser atingido pelo resultado da demanda, o assistente fará o possível para
influir positivamente no julgamento do processo.

16.2 Denunciação da lide


A denunciação da lide é modalidade provocada, uma vez que o terceiro é

intimado a integrar a relação processual. É considerada demanda incidental, regressiva,


antecipada e eventual.

Incidental porque compreende demanda nova em um processo já em curso,


sendo, portanto, incidente que resulta na formulação de nova pretensão na demanda.

Regressiva pois, materialmente falando, a denunciação da lide pretende cobrar


regressivamente de um terceiro responsável, ou garantir sua participação em eventual

sucumbência (pois também é responsável pela pretensão veiculada).


Antecipada, já que o denunciante age de forma antecipada, e antes mesmo

suportar eventuais prejuízos, demanda terceiro para assegurar o direito de ser

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ressarcido.

E eventual, na medida em que o denunciado somente será cobrado


regressivamente se, ao final do processo, o denunciante sucumbir.

Importante mencionar que é vedada a denunciação per saltum, ou seja, o


denunciante só pode demandar contra àqueles com quem mantiver relação jurídica

direta, não podendo “pular” essas pessoas para demandar contra sujeitos indiretos.

16.3 Chamamento ao processo


O chamamento ao processo tem o condão de ampliar o campo de defesa dos
devedores solidários e dos fiadores, criando a possibilidade de integrar ao processo os

responsáveis principais, os coobrigados e corresponsáveis, para que formem


litisconsórcio.

A referida intervenção só pode ser provocada pelo réu na contestação, e apenas


nos processos de conhecimento. Os sujeitos chamados ao ingresso da relação
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

processual, são, como o réu, devedores. Em verdade, o chamamento representa para


eles um ônus, pois, quando há solidariedade o credor possui a faculdade de demandar

a quantia que quiser do devedor que escolher. A partir do chamamento, o credor


passará a demandar contra todos, isto é, vai ser obrigado a demandar em face de

quem, inicialmente, não demandaria.


As hipóteses de chamamento ao processo compreendem: o chamamento de

devedores solidários quando o credor exigir parcial ou integralmente, de um ou de


alguns, a dívida comum; na ação movida contra o fiador é possível promover o

chamamento do afiançado; e quando duas ou mais pessoas prestarem fiança


solidariamente à uma mesma dívida, e o credor demandar apenas um dos fiadores,

este poderá promover o chamamento do cofiador e do devedor principal.

16.4 Amicus curiae


A tradução literal da expressão amicus curiae é “amigo da corte”. Basicamente o
amicus curiae é o terceiro que, voluntariamente, a pedido das partes, ou por

provocação, ingressa no processo objetivando o fornecimento de subsídios aptos a

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construir uma decisão mais justa e acertada.

Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a


especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da
controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a
requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar
ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou
entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de
15 (quinze) dias de sua intimação.

Portanto, o amicus curiae é figura judicial de importância ímpar, a medida que

fornece informações especializadas e técnicas, ajudando a solucionar conflitos e


formando a convicção do órgão jurisdicional. O amicus curiae pode ter interesse na

demanda, ou ainda, pode ser convidado por guardar pertinência temática com a causa.
Ademais, o mesmo processo pode contar com mais de um amicus curiae, vez que a

pluralidade de opiniões e óticas a respeito do mesmo tema enriquecem o debate, de


modo a promover uma decisão ainda mais especializada e pormenorizada.
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17 Recursos
Os recursos são provenientes do inconformismo das partes, que, dificilmente

aceitam a primeira resposta que recebem do órgão jurisdicional. Trata-se de uma


questão cultural, no ocidente há maior número de recursos do que no oriente. O

ordenamento jurídico brasileiro prevê grande quantidade de recursos, o que, por


vezes, promove o congestionamento no Judiciário, e a insatisfação social.

Recurso é o meio impugnativo apto a provocar, dentro da mesma relação


processual, o reexame da decisão judicial, seja pela mesma autoridade judiciária, ou

por outra hierarquicamente superior, visando a obtenção de reforma, invalidação,


esclarecimento ou integração.

O Código de Processo Civil unificou os prazos recursais, fixando-os em 15 dias


úteis, salvo os embargos de declaração, que continuam com prazo de 5 dias.
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

17.1 Vedação da reformatio in pejus


Quando há interposição de recurso, por certo, a parte deseja mais do que o

reexame da decisão, o que se almeja, de fato, é a reforma da decisão. Portanto, o


recurso não pode agravar a situação do recorrente. Ou a decisão será aperfeiçoada, ou
será mantida.
O órgão ad quem jamais poderá proferir decisão mais gravosa ao recorrente, pois

isso configuraria uma reforma para pior. Há inclusive súmula do Superior Tribunal de
Justiça baseada em tal princípio, vejamos:

Súmula 45 - no reexame necessário, e defeso, ao tribunal, agravar a


condenação imposta a fazenda pública.

Portanto, em que pese a reformatio in pejus não ser norma expressamente


constante na legislação, já é instituto consolidado segundo o entendimento

jurisprudencial e doutrinário.

17.2 Efeito dos recursos


Os recursos veiculam, essencialmente, três efeitos distintos: o devolutivo, o

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suspensivo, e o impeditivo do trânsito em julgado.

O efeito devolutivo é comum a todos os recursos, porque esse efeito,


basicamente, provoca o reexame da decisão, ou seja, “devolve” ao órgão jurisdicional

para segunda análise.


O efeito suspensivo refere-se ao impedimento da produção de efeitos da decisão.

Ou seja, se for atribuído efeito suspensivo ao recurso, a decisão de mérito de primeira


instância não poderá ser executada, até o julgamento do recurso.

A interposição de recurso impede que a demanda primitiva transite em julgado,


a medida que ainda será reexaminada no segundo grau de jurisdição. Importante

mencionar que somente recurso conhecido obsta o trânsito em julgado.

17.3 Apelação
É recurso cabível contra sentenças e decisões interlocutórias que não podem ser
atacadas por agravo de instrumento. A apelação pode ser interposta embasada no
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

inconformismo das partes, não importando se a sentença apreciou ou não o mérito,


ou se o processo é de conhecimento ou de execução.

Para a interposição de apelação deve ser observado o prazo legal de 15 dias.


Além disso, a apelação é veiculada por petição escrita, que pode ser única ou que

contenha as razões recursais em peça apartada. O apelante deve expor os fatos


ocorridos, o direito aplicável e as razões recursais, ou seja, o porque a decisão merece

ser reformada.

17.4 Agravo de instrumento


O agravo de instrumento é recurso cabível contra decisões interlocutórias que
versem sobre as matérias elencadas no rol do art. 1.015 do CPC. Trata-se de recurso

que impõe rol taxativo, isto é, somente as decisões elencadas no referido rol podem
ser impugnadas mediante o agravo de instrumento. Porém, o STJ editou o tema nº

988, que trata da taxatividade mitigada, ou seja, hipóteses que autorizam a mitigação
do rol constante do art. 1.015 do CPC, pois existe urgência decorrente da inutilidade

do julgamento da questão em momento processual posterior.

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17.5 Embargos de declaração


É o único recurso cível que conta com o prazo de 5 dias para oposição. É cabível

contra sentenças, decisões interlocutórias e acórdãos. Além disso, pode ser veiculada
em processo de conhecimento ou de execução. Outro aspecto notável dos embargos,

além do prazo diferenciado, é o fato de que o referido recurso dispensa preparo. É


uma maneira da legislação dizer aos jurisdicionados que todos tem direito à uma

justiça clara e inteligível.


É o recurso apto a promover a integração e clareza da decisão judicial que seja

obscura, omissa ou contraditória. Também pode ser oposto objetivando a correção de


eventuais erros materiais contidos na decisão.

Diferente dos outros recursos, não há manifesta intenção de reforma ou anulação


da decisão, o único objetivo é sanar vícios.

17.6 Agravo interno


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O agravo interno é recurso cabível contra a decisão monocrática do relator. O

relator tem alguns deveres, dentre eles, o de tocar e ordenar o processo, apreciando
os pedidos de liminares, e concedendo ou negando o provimento recursal. Em alguns

momentos, o relator poderá proferir decisões monocráticas, as quais comportam a


interposição de agravo interno destinado ao órgão colegiado, desde que observe o

prazo legal de 15 dias.


O relator, se assim desejar, pode exercer juízo de retratação. Se optar pela não
retratação, o órgão colegiado examinará o recurso e proferirá decisão.

17.7 Recurso ordinário constitucional


Conhecido popularmente pela sigla “ROC”. É um recurso dirigido ao STF ou ao
STJ, nas situações expressamente previstas na Constituição Federal.

Esse recurso tem aptidão de provocar o reexame das decisões que são de

competência originária dos tribunais (contra os quais não é cabível apelação). Nesse
caso os tribunais superiores atuam como “segundo instância”, a medida que farão o

primeiro reexame da decisão, que não passou pelo crivo de outros tribunais.

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As hipóteses de cabimento são elencadas no artigo 102, II e 105, II da Constituição

Federal:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a


guarda da Constituição, cabendo-lhe:
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o
mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais
Superiores, se denegatória a decisão;
b) o crime político;
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
II - julgar, em recurso ordinário:
a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória;
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo
internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente
ou domiciliada no País;
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17.8 Recurso extraordinário


Ao STF cabe a interpretação das normas constitucionais, mediante o controle
concentrado de constitucionalidade, ou por controle difuso. Basicamente, o recurso

extraordinário garante que o ordenamento jurídico esteja em conformidade com as


normas constitucionais. Uma vez descumprido mandamento constitucional pelas

instâncias ordinárias, pode ser interposto o recurso extraordinário.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a


guarda da Constituição, cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em
única ou última instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

Trata-se de recurso de fundamentação vinculada, ou seja, são destinados


somente a resolução de questões meramente de direito, não sendo reexaminadas

provas ou fatos constantes do processo.

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Um dos requisitos do recurso extraordinário é o pré-questionamento, ou seja, a

questão veiculada no recurso deve ser necessariamente enfrentada pelo tribunal a quo
no acórdão objeto de impugnação. Outro requisito é o esgotamento das instâncias

ordinárias, ou seja, o processo deve obrigatoriamente passar pelas instâncias


“menores”, não podendo o recorrente “saltar” até a última instância. Vale ressaltar que

o referido recurso não possui efeito suspensivo automático, deste modo, é possível
que seja instaurado o cumprimento provisório da decisão.

17.9 Recurso especial


A interposição de recurso especial exige que a decisão seja proferida por tribunais

(Tribunal de Justiça, Tribunal Regional Federal ou Tribunal de Justiça do Distrito Federal


e Territórios), e mais, que seja uma decisão de última ou única instância.

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
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Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:


a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído
outro tribunal.

Importante ressaltar que a súmula 203 do STJ veda a interposição do aludido

recurso contra decisões proferidas pelo Juizados Especiais:

Súmula 203 – Não cabe recurso especial contra decisão proferida por
órgão de segundo grau dos Juizados Especiais.

Assim como o recurso extraordinário é um recurso de fundamentação vinculada,

que não tem efeito suspensivo automático e que necessita de pré-questionamento,


isto é, a questão discutida deve ser previamente enfrentada pelo tribunal a quo no

acórdão objeto de impugnação. Além disso, o recurso especial é interposto contra


decisões que contrariem ou neguem vigência a lei ou tratado federal.

17.10 Embargos de divergência


Cuida-se de recurso que objetiva certa uniformização das decisões. Ou seja,

sempre que houver divergência material ou processual no STF ou STJ, os embargos de


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divergência podem ser opostos para uniformizar a jurisprudência das cortes

superiores.
Isso porque, a divergência entre as cortes pode gerar confusões nas instâncias

ordinárias, que ora podem aplicar o entendimento do STJ, e na outra o entendimento


do STF. Levando em consideração a força do sistema de precedentes atualmente isso

é quase inaceitável.
A divergência atacada mediante os embargos deve ser atual, isto é, o tribunal

ainda não uniformizou o entendimento. Se essa regra não for seguida, não é possível
a oposição dos embargos, conforme a súmula 168 do STJ.

Súmula 168 - Não cabem embargos de divergência, quando a


jurisprudência do tribunal se firmou no mesmo sentido do acordão
embargado.

O processamento dos embargos segue o regimento interno do STF e do STJ, e


conta com o prazo de 15 dias para oposição. A petição de interposição deve estar
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acompanhada da prova da divergência, indicando de que forma ela se manifesta, e do


que trata.

17.11 Remessa necessária


Também chamado de “remessa obrigatória” ou “reexame necessário”. Há certa

divergência sobre o caráter recursal da remessa, pois alguns doutrinadores a


consideram uma condição de eficácia da sentença, vez que a lei determina que as

decisões proferidas contra os entes estatais só produzirão efeitos após o tribunal


confirmar a sentença:

Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito
senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito
público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à
execução fiscal.

Contudo, a doutrina a majoritária elenca a remessa como recurso de ofício

interposto pela declaração de vontade. Após a interposição o juiz verificará se é caso

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de remessa necessária ou se é caso de dispensa. A própria autoridade judiciária

provoca a remessa, garantindo que o tribunal reexamine o processo, daí o nome


“remessa necessária”, pois tanto o reexame, quanto a remessa são necessárias.
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18 Cumprimento de sentença
O cumprimento de sentença compreende a execução fundada em título judicial,

tem por finalidade a materialização da decisão proferida ao final da fase de


conhecimento.

18.1 Cumprimento de sentença condenatória em obrigação de fazer, não

fazer ou de entregar coisa


O cumprimento de sentença condenatória em obrigação de fazer, não fazer ou

de entregar coisa encontra respaldo no artigo 497 e 498 do CPC:

Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não
fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou
determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo
resultado prático equivalente.
Art. 498. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao
conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da
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obrigação.

Sempre que não houver cumprimento voluntário da obrigação a autoridade


judiciária poderá determinar medidas objetivando compelir o devedor. Os métodos

coercitivos são elencados também em dispositivo processual:

Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade


de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a
requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de
tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas
necessárias à satisfação do exequente.
§ 1º Para atender ao disposto no caput , o juiz poderá determinar, entre
outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção
de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de
atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força
policial.

Se mesmo com a imposição das sanções mencionadas o devedor não promover

à satisfação da obrigação, esta será convertida em perdas e danos.

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18.2 Cumprimento de sentença condenatória ao pagamento de quantia


certa
Na hipótese de cumprimento de sentença condenatória ao pagamento de

quantia certa deve-se seguir o procedimento descrito no artigo 523, e ante qualquer
incompatibilidade deve-se aplicar as regras do Livro II parte especial do CPC.

Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em


liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o
cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do
exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo
de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.

O cumprimento de sentença que se refere a quantia certa é mais simples, pois


trata de quantia já liquidada, o que facilita o processo. Deste modo, o cumprimento de

sentença será focado em compelir o devedor a entregar os valores devidos.

18.3 Inauguração do cumprimento de sentença


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

Para iniciar o cumprimento de sentença é preciso o preenchimento de dois


requisitos: o primeiro deles é a existência de título executivo judicial, e o segundo é a

situação de inadimplência do devedor.


Diante do preenchimento dos dois requisitos, pode se instaurar o cumprimento
de sentença. A lei determina que seja fornecido o prazo de 15 dias ao devedor, para
que este pague, voluntariamente, o que deve. Se não o fizer, será iniciado o

cumprimento de sentença com medidas que visam compelir o pagamento como a


penhora de bens. Além disso, o não pagamento voluntário resulta em multa acrescida

a dívida já existente.

18.4 Prescrição intercorrente


O maior interessado no cumprimento de sentença é o credor, uma vez que a
obrigação a ser satisfeita no referido processo é dele. Portanto, não é razoável que

permaneça inerte, devendo, portando, promover o andamento processual, adotar


medidas para a satisfação do crédito etc. Se o credor não promover o regular

andamento do feito os autos serão arquivados.

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A execução prescreve no mesmo prazo em que o credor tinha para promover a

ação, conforme determina a súmula 150 do STF:

Súmula 150 - prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da


ação.

O termo inicial da prescrição intercorrente é a data em que for possível o

requerimento do cumprimento de sentença. Caso já iniciado o cumprimento, mas lhe


seguir a inércia do credor, a prescrição intercorrente terá a contagem do prazo

restabelecida.

18.5 Defesa do executado


Considerando que o contraditório é direito constitucional, por certo, o executado
terá direito de impugnação no cumprimento de sentença no prazo de 15 dias. Ocorre

que, como a execução é fundada em título judicial, o executado não poderá alegar
qualquer matéria como defesa, estando adstrito a algumas alegações especificas, que
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

consiste em: falta ou nulidade de citação, ilegitimidade de parte, inexequibilidade do


título ou inexigibilidade da obrigação, penhora incorreta ou avaliação errônea, excesso

de execução ou cumulação indevida de execuções, incompetência absoluta ou relativa


do juízo, e causa modificativa ou extintiva da obrigação, desde que superveniente à
sentença.

18.6 Fase expropriatória


É fase comum a execução do cumprimento de sentença, e do processo de
execução por título extrajudicial. Nesta fase ocorre a expropriação dos bens do

devedor, com o propósito de satisfazer a dívida. Uma vez expropriados os bens podem
ser: alienados (de forma particular ou em hasta pública), adjudicados ou sofrer

expropriação de frutos e rendimentos de bem móvel ou imóvel.

18.7 Processo de execução


Apesar de guardar algumas semelhanças com o cumprimento de sentença, o
processo de execução é fundado em título extrajudicial. Isto é, o exequente constituiu

o título executivo fora do âmbito judicial, contudo, necessita da ajuda do Poder


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Judiciário para satisfazer obrigação.

Não é necessária a fase de conhecimento pois o título executivo já está formado,


então o processo será inaugurado somente com o propósito de satisfação do crédito.

Há necessidade de citação do executado, diferente do cumprimento de sentença, onde


este é apenas intimado.

Aqui o dever do Estado-juiz é empregar meios adequados à compelir o executado


a cumprir com a obrigação. Portanto, iniciada a execução a autoridade judiciária

adotará, o quanto possível, providências concretas e materiais aptas a promover o


pagamento.

18.8 Extinção da execução


A extinção da execução é marcada pelo encerramento do processo, ora porque a

obrigação foi cumprida, ora pela impossibilidade ou outras causas previstas em lei.
O artigo 924 do CPC elenca alguns exemplos que podem promover a extinção da
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execução.

Art. 924. Extingue-se a execução quando:


I - a petição inicial for indeferida;
II - a obrigação for satisfeita;
III - o executado obtiver, por qualquer outro meio, a extinção total da
dívida;
IV - o exequente renunciar ao crédito;
V - ocorrer a prescrição intercorrente.

Importante mencionar que o referido rol é meramente exemplificativo, portanto,


existem outras hipóteses aptas a implicar na extinção da execução.

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19 Procedimentos especiais
Os procedimentos especiais são aqueles que num processo, na fase de

conhecimento destoam do comum e do sumaríssimo. Estes procedimentos existem,


pois, a relação jurídica tem uma natureza que o exige, ou seja, a relação material tem

especificidades que justificam o procedimento diferenciado.


Há possibilidade de cumulação de pedidos que possuam procedimentos

diferentes, contudo, os pedidos devem adotar o procedimento comum, vez que este é
mais longo e completo.

19.1 Características do procedimento especial

19.1.1 Alteração no prazo para oferecimento da contestação

Por exemplo a restauração de autos, é necessária a dilação para a juntada de


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cópias das iniciais, contestação, documentos etc.

19.1.2 Duplicidade da ação


Consiste na situação onde o réu pode contra-atacar sem utilizar a reconvenção.

Ele contra-ataca no próprio corpo da contestação, é um pedido contraposto, que não


exige custas. A contestação é uma peça de resistência, onde o réu simplesmente resiste

ao pedido feito pelo autor. Para contra-atacar o réu pode se utilizar da reconvenção,
não só negando os pedidos, mas formulando seus próprios pedidos.

19.1.3 Concessão de medida inaudita altera parte


O termo em latim designa que uma das partes não foi ouvida. As ações

possessórias, por exemplo, têm o rito especial, se a petição inicial estiver devidamente
instruída, e estiver comprovada a violação da posse, o juiz defere, sem ouvir o réu, a

expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração.

19.1.4 Limitações/condicionamentos ao direito de defesa

Nos procedimentos especiais existe limitação temática da matéria alegada pelo


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réu para se defender.

19.1.5 Jurisdição de equidade


Em regra, os juízes devem solucionar os litígios de acordo com a lei em sentido

amplo (constituição federal, leis federais, medidas provisórias, leis estaduais, leis
municipais etc.). Temos aqui a chamada jurisdição de direito. Excepcionalmente, ao juiz

é permitido decidir “como se legislador fosse”. Para tanto, deve haver lei que o autorize
(art. 140, p. único). Fala-se, então, de jurisdição de equidade. Nos procedimentos

especiais de jurisdição voluntária o parágrafo único do art. 723 dispõe: “O juiz não é
obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a

solução que considerar mais conveniente ou oportuna”.


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20 Ações coletivas
As ações coletivas visam o interesse social, a medida que tutelam direitos

pertencentes a coletividade.
As ações coletivas são: a ação civil pública, o mandado de segurança coletivo, a

ação popular e a ação civil coletiva.

20.1 Ação civil pública


É regulamentada pela Lei 7.347/1985, e tem por principal objetivo a proteção dos
interesses difusos e coletivos. Através da referida ação é possível promover a

responsabilização daqueles que tenha causados danos materiais ou morais ao


consumidor; meio ambiente; ordem urbanística; bens de valor artístico, histórico,

arquitetônico, paisagístico, estético, turístico; e à honra e dignidade de grupos étnicos,


religiosos ou raciais.
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

Pode ser ajuizada por pessoas jurídicas, públicas ou privados, e pelo Ministério
Público. A ação civil pública objetiva a condenação dos réus à obrigação de fazer ou

de não fazer determinada conduta, impondo multa para os casos de descumprimento


da ordem judicial.

20.2 Mandado de segurança coletivo


O mandado de segurança coletivo surgiu ante a necessidade de tutelar

judicialmente questões subjetivas, contudo, que atingem número significativo de


indivíduo da sociedade. Deste modo, as questões, antes subjetivas, se tornam coletivas.

Art. 5º, LXX da CF - o mandado de segurança coletivo pode ser


impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa
dos interesses de seus membros ou associados;

O mandado de segurança coletivo é instrumento apto a desonerar o órgão


jurisdicional, a medida em que viabiliza o julgamento de questões idênticas (que antes
eram veiculadas em ação individual) numa mesma demanda, o que promove também
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a celeridade e economia processual.

20.3 Ação popular


A ação popular oportuniza aos jurisdicionados o ajuizamento de ação

objetivando a anulação ou reconhecimento da nulidade de atos que prejudiquem, de


qualquer modo, o patrimônio da União dos Estados ou dos Municípios, e demais

entidades da Administração Pública.

art. 5º, LXXIII, da CF - qualquer cidadão é parte legítima para propor


ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência;

Do referido dispositivo é possível extrair que a ação popular é mandamento


constitucional, disponível para todo e qualquer cidadão. O principal intuito é invalidar

os atos lesivos ao patrimônio público e ao meio ambiente, que pertencem a


Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

coletividade.

20.4 Ação civil coletiva


A ação civil coletiva é ajuizada com o pretexto de defender interesse difuso e

coletivo dos consumidores. O regramento é instituído pelo artigo 81 do Código de


Defesa do Consumidor:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das


vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título
coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar
de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos
deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos
deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a
parte contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim
entendidos os decorrentes de origem comum.

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As ações coletivas relativas ao consumo pertencem a coletividade. De modo que,

todos os cidadão serão beneficiados por sentença de ação coletiva, uma vez que os
efeitos são erga omnes, conforme a determinação do artigo 103 do CDC.
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21 Ações autônomas de impugnação


21.1 Ação rescisória
É uma ação autônoma de impugnação, ou seja, inaugura novo processo.

Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser


rescindida quando:
I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão
ou corrupção do juiz;
II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente
incompetente;

III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da


parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim
de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar manifestamente norma jurídica;
VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em
processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação
rescisória;
Pertence a: Eduardo Soares. Para uso pessoal e intransferível

VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova


cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só,
de lhe assegurar pronunciamento favorável;
VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.

É cabível contra decisões de mérito transitadas em julgado por até 2 anos. O

objetivo da ação rescisória é desconstituir decisão judicial já consolidada, e


eventualmente, promover o rejulgamento da demanda.

Não é considerada recurso, porque é ação autônoma de impugnação que


inaugura processo totalmente novo. Além disso, os recursos devem ser interpostos no

prazo legal, do contrário, são atingidos pela coisa julgada. A ação rescisória, em sentido
contrário, pressupõe que a demanda tenha sido atingida pela coisa julgada para que

possa ser objeto de rescisória.


Para que a decisão seja objeto de ação rescisória ela deve estar contaminada por

invalidade ou injustiça.

21.2 Embargos de terceiro


É a ação autônoma de impugnação que permite que um terceiro estranho à

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relação processual, recuperar um bem objeto de constrição judicial. Não se confunde

com ação possessória, pois pode ser ajuizada pelo possuidor e pelo proprietário, além
de que visa a proteção de terceiro de apreensão judicial indevida, e não de esbulho,

turbação e ameaça como as ações possessórias.

21.3 Reclamação constitucional


A reclamação constitucional garante que sejam observados os precedentes
proferidos nos incidentes de resolução de demandas repetitivas, ou incidentes de

assunção de competência. Também pode ser intentada para garantir a observância de


súmula vinculante, acórdão de repercussão geral (recurso extraordinário), ou acórdão

proferido em recurso especial. É necessário que haja esgotamento das vias ordinárias,
para que, só então, seja ajuizada a reclamação constitucional.

Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério


Público para:
I - preservar a competência do tribunal;
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II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;


III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de
decisão do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de
incidente de resolução de demandas repetitivas ou de incidente de
assunção de competência;

Além do CPC, também há dispositivo constitucional que prevê a reclamação, in

verbis:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a


guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da
autoridade de suas decisões;
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da
autoridade de suas decisões;

O jurisdicionado pode optar pela interposição de qualquer recurso que preencher


os requisitos, contudo, a vantagem oferecida pela reclamação constitucional, é que
está é dirigida diretamente ao guardião da Constituição Federal: O STF. Se for acolhida,
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anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial.

21.4 Mandado de segurança


O mandado de segurança é disciplinado na Lei 12.016/2009 e também na

Constituição Federal:

art. 5º, LXIX da CF - conceder-se-á mandado de segurança para


proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou
habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder
for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público.

Cuida-se de ação constitucional de rito sumário especial, que tutela o princípio


da legalidade de maneira residual, afastadas as hipóteses de habeas corpus e habeas

data, que fira direito líquido e certo contra a figura do impetrante, por ato ilegal ou
abusivo de autoridade.

Direito líquido é aquele pré-constituído e independe de instrução probatória. O


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direito líquido se apresenta devidamente comprovado por ocasião da impetração do

mandado de segurança, e não reclamará necessidade de instrução processual civil. É


aquele já existente, já aparente, já convincente. Suficiente a provar sua alegação contra

o ato de autoridade, colimado de ilegalidade. Direito certo é a certeza de que toda a


alegação diz respeito àquela pessoa. Enquanto a liquidez é a prova irrefutável, a certeza

é a individualização da ilegalidade, é a subsunção, isto é, encaixe que a alegação do


impetrante diz respeito a ele. É o apontamento da pessoalidade do direito alegado.

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22 Juizados Especiais Cíveis


Os juizados especiais cíveis foram idealizados sob o pretexto de democratização

do acesso a justiça, de modo que alguns conflitos que anteriormente não eram levados
ao Judiciário (em razão do direito ser considerado ínfimo) agora podem ser discutidos

no âmbito dos famosos “JECs”.


É regulado pela Lei 9.099/1995. Um dos maiores objetivos, além da

democratização da justiça, e a simplificação dos atos judiciais. Essa é uma das razões
de adoção do procedimento sumaríssimo, utilizado nos juizados especiais cíveis e

formado por atos simples e prazos reduzidos, visando a celeridade e eficácia do


processo.

Se comparado ao Poder Judiciário tradicional, e ao procedimento comum, o


juizado especial cível parece extremamente informal. Aos olhos dos jurisdicionados é

um local dotado de menos burocracia, portanto, o ingresso ao juízo é facilitado,


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mormente em relação as pessoas carentes de possibilidades materiais.

Além do menor emprego de formalidades, simplicidade e da economia e


celeridade processual, os juizados também trabalham constantemente para efetivar a

justiça, e isto é feito através do facilitamento do acesso à justiça. Mais do que


democratização do acesso ao Judiciário, os juizados especiais cíveis são instrumentos

aptos a promover a cidadania.

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