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SEMANA 04
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DELEGADO DE POLÍCIA

SEMANA 04/30

Sumário
META 1 .............................................................................................................................................................. 8
DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME – PARTE I (CONCEITOS GERAIS – CLASSIFICAÇÕES – INÍCIO DOS
ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CRIME) ............................................................................................................. 8
1. CONCEITO DE CRIME ..................................................................................................................................... 8
1.1. Crime X Contravenção Penal ................................................................................................................................... 9
1.2. Classificações dos Crimes ...................................................................................................................................... 11
1.2.1 Quanto à Qualidade do Sujeito Ativo .............................................................................................................. 11
1.2.2 Quanto à Estrutura do Tipo Penal ................................................................................................................... 12
1.2.3 Quanto à Relação entre a Conduta e o Resultado Naturalístico ..................................................................... 12
1.2.4 Quanto ao Momento de Consumação............................................................................................................. 14
1.2.5 Quanto ao Número de Agentes ....................................................................................................................... 15
1.2.6 Quanto ao Número de Vítimas ........................................................................................................................ 16
1.2.7 Quanto ao Grau de Intensidade do Resultado ................................................................................................ 16
1.2.8 Quanto ao Número de Atos Executórios ......................................................................................................... 19
1.2.9 Quanto à Forma pela qual a Conduta é Praticada ........................................................................................... 19
1.2.10 Quanto ao Modo de Execução Admitido ....................................................................................................... 20
1.2.11 Quanto aos Bens Jurídicos Atingidos ............................................................................................................. 20
1.2.12 Quanto À Existência Autônoma Do Crime: .................................................................................................... 20
1.2.13 Quanto À Necessidade De Corpo De Delito Para A Prova Da Existência ....................................................... 20
1.2.14 Quanto ao Local de Produção do Resultado .................................................................................................. 20
1.2.15 Quanto ao Vínculo com outros Crimes .......................................................................................................... 21
1.2.16 Quanto à Liberdade ou não para o Início da Persecução Penal .................................................................... 21
1.2.17 Quanto à Violação de Valores Universais ...................................................................................................... 21
1.2.18 Quanto ao Potencial Ofensivo ....................................................................................................................... 22
1.2.19 Quanto ao iter criminis .................................................................................................................................. 22
1.2.20 Crimes de Impressão ..................................................................................................................................... 23
1.2.21 Crimes de Colarinho Branco e Crimes de Colarinho Azul .............................................................................. 23
1.2.22 Outras Classificações ..................................................................................................................................... 23
2. SUJEITOS DO CRIME .................................................................................................................................... 25
3. OBJETO DO CRIME ....................................................................................................................................... 26
4. ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CRIME ........................................................................................................ 26
4.1 Fato Típico .............................................................................................................................................................. 26
4.1.1 Conduta ........................................................................................................................................................... 27
META 2 ............................................................................................................................................................ 41
MEDICINA LEGAL: PERÍCIA E PERITO E DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS ........................................................ 41
1. CONCEITO DE MEDICINA LEGAL .................................................................................................................. 41
2. SUBDIVISÕES DA MEDICINA LEGAL ............................................................................................................. 43
3. PERÍCIAS E PERITOS ..................................................................................................................................... 44
3.1. Perícia .................................................................................................................................................................... 44
3.2. Peritos ................................................................................................................................................................... 52
3.3. Crime de Falsa Perícia............................................................................................................................................ 57
4. DOCUMENTOS MÉDICO LEGAIS .................................................................................................................. 58
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SEMANA 04/30

4.1. Relatórios (Laudos e Autos)................................................................................................................................... 58


4.2. Parecer Médico-Legal ............................................................................................................................................ 61
4.3 Atestado ................................................................................................................................................................. 62
4.3.1 Tipos de Atestados........................................................................................................................................... 63
4.3.2 Classificação quanto ao modo de fazer ou conteúdo, os atestados podem ser:............................................. 64
4.3.3 Atestado de óbito ............................................................................................................................................ 64
4.3.4 Notificação Compulsória .................................................................................................................................. 66
4.5. Depoimentos Orais ................................................................................................................................................ 67
4.6 Prontuários ............................................................................................................................................................. 68
DIREITOS HUMANOS: INTERPRETAÇÃO, EFICÁCIA E DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ...... 69
1. INTERPRETAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS................................................................................................ 69
1.1 Aspectos gerais ....................................................................................................................................................... 69
1.2 Métodos para interpretação dos direitos humanos .............................................................................................. 70
1.3 Conflito entre Direitos Humanos............................................................................................................................ 73
2. DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO .................................................................................................... 77
2.1 Fundamentos e Objetivos da República Federativa do Brasil ................................................................................ 78
2.2 A Supremacia da Constituição e os Direitos Humanos ........................................................................................... 79
2.3 A Incorporação dos Tratados Internacionais no Ordenamento Jurídico Brasileiro................................................ 80
3. EFICÁCIA DOS DIRETOS HUMANOS ............................................................................................................. 83
META 3 ............................................................................................................................................................ 85
DIREITO PROCESSUAL PENAL: JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (PARTE I).......................................................... 85
1. MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS................................................................................................ 87
1.1 Autotutela .............................................................................................................................................................. 88
1.2 Autocomposição ..................................................................................................................................................... 88
1.3 Jurisdição ................................................................................................................................................................ 88
2. COMPETÊNCIA ............................................................................................................................................. 90
2.1 Critérios de fixação da competência ...................................................................................................................... 91
2.2 Competência Absoluta x Competência Relativa ..................................................................................................... 92
2.3 Regras de fixação de competência ......................................................................................................................... 94
3. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO (JMU) E DOS ESTADOS (JME) ......................... 94
4. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL ....................................................................................... 102
4.1 Crimes Políticos .................................................................................................................................................... 103
4.2 Infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da união ou de suas entidades
autárquicas ou empresa pública ................................................................................................................................ 105
4.3 Crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no país, o resultado tenha
ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente .................................................................................... 113
4.3.1 As causas relativas a Direitos Humanos a que se refere o § 5º deste artigo ............................................ 115
4.4 Crimes contra a Organização do Trabalho .................................................................................................... 116
4.5 Crimes contra o Sistema Financeiro e a Ordem Econômico-Financeira............................................................... 116
4.6 Crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves ............................................................................................... 118
4.7 Crimes relativos à disputa sobre direitos indígenas ............................................................................................. 119
5. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA ESTADUAL .................................................................................... 120
6. COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO (RATIONE PERSONAE/RATIONE FUNCIONAE) ............ 121
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SEMANA 04/30

6.1 Reflexos da nova decisão do STF acerca da investigação criminal ....................................................................... 130
6.2 Crimes Dolosos Contra Vida X Foro por Prerrogativa de Função ......................................................................... 133
6.3 Concurso de Agentes e Foro por Prerrogativa ..................................................................................................... 133
META 4 .......................................................................................................................................................... 135
DIREITO PROCESSUAL PENAL: JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (PARTE II)....................................................... 135
7. COMPETÊNCIA TERRITORIAL ..................................................................................................................... 135
7.1 Regras de competência específicas para algumas espécies de crimes: ............................................................... 135
7.2 Competência territorial com base no domicílio do acusado: ............................................................................... 145
7.3 Competência em Razão da Matéria ou Natureza da Infração.............................................................................. 146
7.4 Competência por Distribuição .............................................................................................................................. 151
7.5 Competência por Conexão ou Continência .......................................................................................................... 151
7.6 Regras na determinação da competência ............................................................................................................ 153
DIREITOS HUMANOS: FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES CONTRA OS DIREITOS HUMANOS E OUTROS
INSTRUMENTOS D EPROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, POLÍTICA NACIONAL
DE DIREITOS HUMANOS E OS PROGRAMAS NACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS ...................................... 160
1. FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES GRAVES CONTRA OS DIREITOS HUMANOS – INCIDENTE DE DESLOCAMENTO
DE COMPETÊNCIA (IDC) ................................................................................................................................. 160
2. OUTROS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 .................................................................................................................. 165
2.1 Habeas Corpus ...................................................................................................................................................... 165
2.2 Habeas Data ......................................................................................................................................................... 168
2.3 Mandado de Injunção .......................................................................................................................................... 169
2.4 Mandado de Segurança ........................................................................................................................................ 170
2.5 Ação Popular ........................................................................................................................................................ 170
3. A POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E OS PROGRAMAS NACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS
....................................................................................................................................................................... 171
META 5 .......................................................................................................................................................... 176
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE CRIMES HEDIONDOS.......................................................................... 176
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 177
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA............................................................................................................................... 177
3. CRITÉRIOS PARA A DEFINIÇÃO DE HEDIONDEZ ......................................................................................... 178
4. ANÁLISE DO ROL DE CRIMES HEDIONDOS ................................................................................................ 180
5. CRIMES HEDIONDOS PREVISTOS NO ART. 1º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 8.072/90 ......................... 200
5.1 Crimes Equiparados a Hediondos ......................................................................................................................... 208
5.1.1 Tráfico de Drogas ........................................................................................................................................... 209
5.1.2 Tortura ........................................................................................................................................................... 209
5.1.3 Terrorismo ..................................................................................................................................................... 210
6. ESPECIFICIDADES DOS CRIMES HEDIONDOS ............................................................................................. 210
6.1 Insuscetibilidade de Graça, Anistia e Indulto ....................................................................................................... 210
6.2 Insuscetibilidade de Fiança................................................................................................................................... 211
6.3 Regime Inicial Fechado para o Cumprimento da Pena Privativa de Liberdade .................................................... 211
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SEMANA 04/30

6.4 Critérios Diferenciados para Concessão de Livramento Condicional. .................................................................. 214


6.5 Progressão de Regime .......................................................................................................................................... 214
6.6 Direito de Recorrer em Liberdade ........................................................................................................................ 216
6.7 Estabelecimentos Penais De Segurança Máxima ................................................................................................. 217
6.8 Prioridade no Trâmite dos Processos ................................................................................................................... 217
7. PRISÃO TEMPORÁRIA E CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS ............................................................... 218
8. CAUSA DE AUMENTO DO §9º DA LEI DE CRIMES HEDIONDOS ................................................................. 219
META 6 – REVISÃO SEMANAL........................................................................................................................ 221
Direito Penal: Teoria Do Crime – Parte I (Conceitos Gerais – Classificações – Início Dos Elementos Estruturais Do Crime)
.................................................................................................................................................................................... 221
Medicina Legal: Perícia E Perito E Documentos Médico-Legais ................................................................................. 222
Direitos Humanos: Interpretação, Eficácia E Direitos Humanos Na Constituição Federal ......................................... 223
Direito Processual Penal: Jurisdição E Competência .................................................................................................. 224
Direitos Humanos: Federalização Dos Crimes Contra Os Direitos Humanos E Outros Instrumentos D Eproteção Dos
Direitos Humanos Na Constituição Federal, Política Nacional De Direitos Humanos E Os Programas Nacionais De
Direitos Humanos ....................................................................................................................................................... 227
Legislação Penal Especial: Lei De Crimes Hediondos ................................................................................................. 228
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SEMANA 04/30

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA SEMANA 04


META DIA ASSUNTO
1 SEG DIREITO PENAL: Teoria do Crime – Parte I
MEDICINA LEGAL: Perícia e Perito e Documentos Médico Legais
2 TER DIREITOS HUMANOS: Interpretação, Eficácia e Direitos Humanos da
Constituição
3 QUA DIREITO PROCESSUAL PENAL: Jurisdição e Competência (Parte I)
DIREITO PROCESSUAL PENAL: Jurisdição e Competência (Parte II)
4 QUI DIREITOS HUMANOS: Federalização dos Crimes Contra os Direitos Humanos e
Outros Instrumentos de Proteção
5 SEX LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: Lei de Crimes Hediondos
6 SÁB/DOM [REVISÃO SEMANAL]

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SEMANA 04/30

META 1

DIREITO PENAL: TEORIA DO CRIME – PARTE I (CONCEITOS GERAIS – CLASSIFICAÇÕES – INÍCIO DOS
ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CRIME)

TODOS OS ARTIGOS
⦁ Art. 1, CP
⦁ Art. 13, §2º, CP
⦁ Art. 14, CP
⦁ Art. 75, CP
⦁ Arts. 1º a 10 da Lei de Contravenções Penais (DL 3688/41)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER
⦁ Art. 1º, CP
⦁ Art. 13, §2º, CP
⦁ Art. 14, CP
⦁ Art. 75, CP

1. CONCEITO DE CRIME

A depender do critério adotado para a definição de crime, este conceito será diferente. Temos os
seguintes critérios:
I – Critério material/substancial: considera crime toda ação ou omissão humana (ou da pessoa jurídica nos
crimes ambientais) que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados;

II – Critério legal: é o conceito dado pelo legislador. É o que a lei definiu. De acordo com o art. 1º da Lei de
Introdução ao Código Penal, “considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa”;

III – Critério analítico/formal: define crime de acordo com os elementos que compõe sua estrutura. Pode ter
como base uma posição quadripartida (crime é fato típico, ilícito, culpável e punível), tripartida (crime é fato
típico, ilícito e culpável) ou bipartida (crime é fato típico e ilícito). Será aprofundado mais à frente.

CONCEITO DE CRIME
CRITÉRIO MATERIAL Ação ou omissão humana (ou de PJ nos crimes ambientais) que
lesa ou expõe a perigo de lesão, bem jurídico protegido.
CRITÉRIO LEGAL O que a lei define como tal. (Art. 1º CP)

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Crime: A infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou


detenção, cumulativa ou alternativamente com pena de multa.
Contravenção: é espécie de infração penal a que a lei comina a
prisão simples e/ou multa.
A diferença é meramente qualitativa (espécie de pena) e
quantitativa (quantidade da pena).
CRITÉRIO FORMAL/ ● Quadripartida – fato típico, ilícito, culpável e punível
ANALÍTICO (crítica: punibilidade não é elemento, mas consequência
do crime – não vingou);
● Tripartida – fato típico, ilícito e culpável (clássicos –
obrigatoriamente, e finalistas);
● Bipartida – fato típico e ilícito (finalistas).

No mais, infração penal é gênero, podendo ser dividida em crime (ou delito) e contravenção penal.
Vamos ver as diferenças:

1.1. Crime X Contravenção Penal

CRIME CONTRAVENÇÃO
Quanto à pena privativa de Infração penal que a lei comina Infração penal a que a lei comina,
liberdade pena de reclusão ou de isoladamente, pena de prisão simples
detenção, quer isoladamente, (cumprida sem rigor penitenciário,
quer alternativamente ou nos termos do art. 6º da LCP) ou de
cumulativamente com a pena de multa, ou ambas, alternativa ou
multa. cumulativamente.
Quanto à espécie de ação Pode ser ação penal pública Ação penal pública incondicionada,
penal condicionada/incondicionada nos termos do art. 17 da LCP.
ou privada.
Quanto à admissibilidade da A tentativa é punível (em regra). Não é punível a tentativa, nos termos
tentativa (punibilidade) do art. 4º da LCP.
Quanto à extraterritorialidade Admite-se extraterritorialidade Não se admite extraterritorialidade,
da lei penal brasileira (art. 7º do CP). nos termos do art. 2º da LCP.
Quanto à competência para Pode ser competência da justiça Somente competência da justiça
processar e julgar estadual ou federal. estadual.
* Exceção: foro por prerrogativa de
função.
Quanto ao limite das penas Limite da pena privativa de A duração da pena de prisão simples

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liberdade é de 40 anos (artigo não pode, em caso algum, ser


75 do CP). superior a 05 anos (artigo 10 da LCP).

DICA DD! A pena máxima de 40 anos foi atualizada pelo Pacote Anticrime. Trata-se de uma mudança que
piora a situação do réu (novatio legis in pejus), motivo pelo qual só se aplica aos fatos ocorridos após sua
entrada em vigor (23/01/2020).

De acordo com Cleber Masson, os fundamentos para essa mudança legislativa são basicamente
dois:
1) O aumento da expectativa de vida: A média de vida do brasileiro em 1940, quando o Código Penal
foi elaborado, era de 45 anos. Hoje a expectativa de vida é de 70 anos.
2) Gravidade e número de crimes: Em 1940 quase não havia o crime de organização criminosa. Os
crimes em mais evidência, à época, eram crimes de furto, crimes de bar, etc. Atualmente, a atuação
criminosa se tornou cada vez mais complexa devido ao surgimento de organizações criminosas. Não
pode o sujeito que pratica 30 crimes de tráfico com soma de 300 anos ter o mesmo tratamento do
sujeito que praticou 1 crime de tráfico apenas.

Diante dessa mudança, como fica a Súmula 715 do STF? Continua valendo? Sim. O limite de 40 anos
é para fins de cumprimento máximo da pena, entretanto para os benefícios penais, considera-se o total da
condenação.

✓ Súmula 715 do STF - A pena unificada para atender ao limite de trinta anos
(40 anos!) de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não
é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento
condicional ou regime mais favorável de execução.

● O Brasil adotou o sistema dualista ou binário: divide a infração penal (que é gênero) em crime
(sinônimo de delito) e contravenção penal (crime anão/delito liliputiano/crime vagabundo).

● As contravenções penais foram expressamente excluídas da competência da Justiça Federal (art. 109,
IV, CF). O único caso em que a Justiça Federal terá competência para julgar as contravenções penais
é quando o contraventor detém foro de prerrogativa de função federal, o qual será julgado pelo TRF
respectivo.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar


IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas

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públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar


e da Justiça Eleitoral;

● E o artigo 28 da Lei de Drogas, que não tem nenhuma dessas penas, é o que? Há entendimento
doutrinário de que não seria nem crime nem contravenção, e sim uma infração penal sui generis.
Para o STF, no entanto, o artigo 28 é crime. De acordo com julgado da Suprema Corte, não houve
descriminalização da conduta pela nova lei de drogas, ocorrendo apenas a despenalização no tocante
à pena privativa de liberdade (para mais detalhes consulte o material específico da Lei de Drogas).

1.2. Classificações dos Crimes

1.2.1 Quanto à Qualidade do Sujeito Ativo

I- Crimes comuns/gerais: podem ser praticados por qualquer pessoa;

Obs.: Há também os crimes bicomuns, que podem ser cometidos por qualquer pessoa e contra qualquer
pessoa.
Sujeito ativo comum e sujeito passivo comum – Crime bicomum. Ex.: homicídio.

II- Crimes próprios/especiais: o tipo penal exige uma condição (fática ou jurídica) especial do sujeito ativo.
Admitem coautoria e participação. Exemplo: peculato (somente pode ser praticado por funcionário público);

Obs.: Os crimes próprios podem ser puros e impuros. Nos crimes puros, a ausência da condição especial do
sujeito ativo leva à atipicidade do fato. Por sua vez, nos crimes impuros, a ausência dessa condição especial
acarreta a desclassificação para outro delito.

Obs. 2: Há também os crimes bipróprios, que exigem uma condição peculiar do sujeito passivo e do sujeito
ativo, como no caso do infanticídio.

Pode o homem ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e passivo do crime?


R: Em regra, não. Entretanto, para Rogério Greco, há uma exceção no crime de rixa (art. 137, CP).

III- Crimes de mão própria ou de conduta infungível: crimes que somente podem ser praticados por pessoa
expressamente indicada no tipo penal, como no caso de falso testemunho. O agente deve agir pessoalmente.
Segundo a doutrina majoritária, não admitem coautoria, mas somente participação (ex.: se houve o
envolvimento do advogado – há decisão do STF nesse sentido).

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1.2.2 Quanto à Estrutura do Tipo Penal

I – Crimes simples: é aquele que o fato se amolda a um único tipo penal.

II – Crimes complexos: pode ser subdivido em:

a) Crime complexo em sentido estrito: resulta da união de dois ou mais tipos penais, como o crime
de roubo, que deriva da fusão entre furto + ameaça ou furto + lesão corporal.

Obs.: São crimes famulativos aqueles que compõem a estrutura unitária do crime complexo.

b) Crime complexo em sentido amplo: deriva da fusão de um crime com um comportamento


penalmente irrelevante, como o estupro = violência ou ameaça (conduta típica) + conjunção carnal (figura
atípica).

c) Crime ultracomplexo: resta caracterizado quando crime complexo é acrescido de outro, que serve
como qualificadora ou majorante daquele. Ex.: roubo majorado pelo emprego de arma de fogo = roubo
(crime complexo) + porte ilegal de arma de fogo (que vai servir como causa de aumento).

1.2.3 Quanto à Relação entre a Conduta e o Resultado Naturalístico

I – Crimes materiais/causais: o tipo penal compreende uma conduta e um resultado naturalístico


indispensável para a consumação.

II – Crimes formais/de consumação antecipada o tipo penal contém uma conduta e um resultado
naturalístico, mas esse resultado é desnecessário para a consumação.

III- Crimes de mera conduta/de simples atividade: o tipo penal se limita a descrever uma conduta, sem que
haja um resultado naturalístico, como no caso de ato obsceno (art. 233 do CP).

Confira a dica do professor Marcelo Veiga:

https://youtu.be/TeS4nd_aadA

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CLASSIFICAÇÕES PERTINENTES:
- Delitos de tendência interna transcendente ou de intenção: requerem um agir com ânimo, finalidade ou
intenção adicional de obter um resultado ulterior, distinto da realização do tipo penal.
“Transcendente, além do dolo, transcende o dolo”. Ex.: art. 288, o dolo é associar-se. O que vai além do
dolo? Cometer crimes – o que é indiferente para a consumação ou não do delito”.
São crimes formais! Se consumam com a prática da conduta, independentemente da realização do resultado
naturalístico.
Ex.: No furto há a intenção de ter a coisa para si ou para outrem (essa intenção transcende o dolo).
Ex.: No crime de extorsão mediante sequestro temos a expressão “com o fim de”.
Ex.: No crime de receptação temos “em proveito próprio ou alheio”.

Os delitos de intenção se subdividem em 2 grupos:


Essa classificação se subdivide em duas:
a) Crime de Resultado Cortado: em que o resultado naturalístico (dispensável por se tratar de delito formal)
depende, para sua configuração, de COMPORTAMENTO ADVINDO DE TERCEIROS estranhos à execução do
crime. Ex.: art. 159 do CP - extorsão mediante sequestro - a obtenção da vantagem para o resgate depende
dos familiares da vítima.

b) Crime Atrofiado ou Mutilado de 02 atos: o resultado naturalístico (também dispensável) depende de um


NOVO COMPORTAMENTO DO PRÓPRIO AGENTE. Ex.: falsificar moeda para colocar em circulação (art. 289,
caput e §1º - sendo que o §1º é um tipo autônomo com pena autônoma) – o agente falsifica para colocar em
circulação (que é dispensável para realizar o tipo penal).
A chave está em analisar qual deles necessita que o segundo ato seja praticado por 3º ou pelo próprio agente
para a obtenção do resultado naturalístico (que na verdade é dispensável).

Diferenciam-se de:

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- Delitos de tendência intensificada ou de atitude pessoal: que são diferentes dos explicados acima, pois
não transcendem a vontade do agente. Temos um “algo a mais” além do dolo de praticar a conduta, ou seja,
além da vontade e da consciência, mas que não transcende. É uma tendência interna que intensifica,
REFORÇA o dolo (Welzel).
Welzel já dizia: “Elementos especiais, pessoais, subjetivos que colorem o conteúdo ético-social da conduta”.
Essa tendência intensificada colore, dá novas cores ao enfoque subjetivo, ao conteúdo ético-social. Ex:
animus injuriandi – configuração crime de injúria.

Na prova de Delegado do Rio Grande do Sul, em 2018, foi considerada correta a seguinte assertiva: Os
crimes formais também podem ser definidos como crimes de resultado cortado.
Esse tema foi objeto recente de questão no concurso de Delegado da Polícia Civil de Pernambuco, na fase
dissertativa, onde trazia um caso onde o médico ginecologista, mediante fraude, enganava a paciente para
que pudesse realizar procedimento nela e com isso satisfazer a sua lascívia, respondendo o médico por
violação sexual mediante fraude. Se fosse simplesmente examinar, não seria crime. Como foi para satisfazer
lascívia, era. Seria crime de tendência intensificada.

1.2.4 Quanto ao Momento de Consumação

I – Crimes instantâneos/de estado: a consumação ocorre em um determinado momento, sem continuidade


no tempo.
II – Crimes permanentes: a consumação se prolonga no tempo por vontade do agente (afeta na prescrição e
no flagrante), podendo ser:

a) necessariamente permanentes: são crimes cuja consumação depende da manutenção da situação


contrária ao Direito por um período juridicamente relevante, como no caso do sequestro.

b) eventualmente permanentes: são crimes instantâneos, mas nos quais, no caso concreto, a
situação de ilicitude pode ser prolongada, como no caso de furto de energia elétrica.

Na prova de Delegado do Rio Grande do Sul, em 2018, foi considerada correta a seguinte assertiva: O crime
de furto é classificado como crime instantâneo, porém há a possibilidade de um crime de furto ser
considerado, eventualmente, crime permanente.

III – Crimes instantâneos de efeitos permanentes: os efeitos subsistem após a consumação,


independentemente da vontade do agente. Ex.: bigamia. No 2º casamento o delito já se consumou, mas os
efeitos permanecem.

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IV – Crimes instantâneos de continuidade habitual - Se consumam por meio de uma única conduta que
causa um resultado instantâneo, mas que exigem, em seguida, para a configuração do tipo, a reiteração da
conduta de forma habitual. – Ex.: Art. 228 do CP: Favorecimento à Prostituição. Deve haver a constatação
da prostituição com habitualidade, que é elemento intrínseco da atividade. Exige prova concreta da reiterada
conduta da vítima, uma vez que prostituição implica em habitualidade.

V – Crimes instantâneos de habitualidade preexistente – Se concretiza com uma única conduta, com
resultado instantâneo, embora exija, para tanto, o desenvolvimento habitual de outro comportamento
preexistente. – Ex.: Art. 334, § 1º, "c" do CP - Venda de mercadoria estrangeira, introduzida clandestinamente
no país, no exercício de atividade comercial - se não existir anteriormente a prática habitual da atividade
empresarial, não se configura o delito.

IV – Crimes a prazo: a consumação exige a fluência de determinado período de tempo. Ex.: apropriação de
coisa achada.

Na prova de Delegado do Rio Grande do Sul, em 2018, foi considerada correta a seguinte assertiva: O crime
de lesão corporal grave em decorrência da incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias é
classificado, em relação ao momento consumativo, como um crime a prazo. Nesse sentido, dispõe o CPP:

Art. 168, CP. (...) §2º: Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1º, I, do Código
Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.

1.2.5 Quanto ao Número de Agentes

I – Crimes unissubjetivos/unilaterais/de concurso eventual: podem ser praticados por um único agente,
mas nada impede que sejam em concurso de pessoas;

II – Crimes plurissubjetivos/plurilateriais/de concurso necessário: são os que somente podem ser


praticados por uma pluralidade de agentes, que podem ser coautores ou partícipes, imputáveis ou não,
conhecidos ou desconhecidos. São subdivididos em:

a) Crimes de condutas paralelas: os agentes se auxiliam, mutuamente, para a produção do resultado,


buscam um fim único. Ex.: associação criminosa.
b) Convergentes: condutas diferentes que se completam, ainda que uma não seja culpável. Ex.:
bigamia.
c) Divergentes: dirigidas umas contra as outras. Ex.: rixa.

Confira a dica do Professor Marcelo Veiga:


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https://youtu.be/KKg_BSuzMFc

Obs.: Crimes PLURISSUBJETIVOS não se confundem com crimes de PARTICIPAÇÃO NECESSÁRIA,


pois nesse último, o autor pratica vários crimes, porém o tipo penal exige a colaboração do sujeito passivo,
que não será punido. Ex.: corrupção de menores; favorecimento a prostituição.

1.2.6 Quanto ao Número de Vítimas

I – Crimes de subjetividade passiva única: possuem uma única vítima;

II – Crimes de dupla subjetividade passiva: possuem duas ou mais vítimas.

1.2.7 Quanto ao Grau de Intensidade do Resultado

I – Crimes de dano/de lesão: a consumação somente ocorre com a efetiva lesão do bem jurídico.

II – Crimes de perigo: a consumação ocorre com a mera exposição do bem jurídico a uma situação de perigo,
podendo ser subdivididos em:

a) Crimes de perigo abstrato/presumido: a consumação ocorre automaticamente com a prática da


conduta, sendo desnecessária a comprovação da situação de perigo. A presunção do perigo é
absoluta;
b) Crimes de perigo concreto: a consumação depende da efetiva comprovação da situação de perigo
no caso concreto;
c) Crimes de perigo individual: atingem uma pessoa ou um número de determinado de pessoas;
d) Crimes de perigo comum/coletivo: atingem um número indeterminado de pessoas;
e) Crimes de perigo atual: o perigo está ocorrendo;
f) Crimes de perigo iminente: o perigo está prestes a ocorrer;

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g) Crimes de perigo futuro: a situação de perigo derivada da conduta se projeta para o futuro.

Caiu na Prova Delegado PA (2016) Crime de potencial perigo: “Hefendehl apresenta nova modalidade de
delito de perigo abstrato destacando que a relevância de sua construção está no fato de limitar a incidência
do tipo penal objetivo pela ideia de criação de um risco proibido nos moldes da teoria da imputação objetiva.
Portanto, a anormal condução do veículo em razão da influência do álcool ou de qualquer outra substância
psicoativa e, portanto, contrária às normas de segurança no trânsito - em uma perspectiva ex ante - é que
deverá ser considerada criação de risco proibido para os bens jurídicos individuais que são tutelados
penalmente pelo art. 306 da Lei de Trânsito, porquanto assim haverá potencialidade lesiva na conduta
praticada pelo motorista, legitimando o tipo penal. [...] Assim, para não punir pela simples desobediência ao
comando normativo requer-se, primeiramente, que o agente crie um risco proibido (superando o risco-base
relacionado à norma de cuidado no trânsito, isto é, dirigindo sob a influência de álcool ou drogas) e, depois,
que haja bens jurídicos contra os quais as condutas arriscadas (condução em zigue-zague, por exemplo)
possam estar direcionadas”. (SCHMITT DE BEM; MARTINELLI. Lições Fundamentais de Direito Penal. p. 143-
144).

ATENÇÃO:
Constitucionalidade do crime de perigo abstrato:
1ª Corrente: LFG, Bittencourt, Damásio: O crime de perigo abstrato viola o princípio da lesividade ou
ofensividade.
2ª Corrente: O crime de perigo abstrato revela maior zelo do Estado em proteger adequadamente
certos interesses. Essa corrente volta a ganhar força no STF.

CRIMES DE PERIGO ABSTRATO DE PERIGOSIDADE REAL

Os crimes de perigo abstrato de perigosidade real também são denominados de “crimes de perigo abstrato-
concreto”, de caráter híbrido, de perigo hipotético, de aptidão abstrata. São crimes em que não basta a mera
realização da conduta, sendo necessária a criação de um perigo em potencial.

Sobre os crimes de perigosidade real, assim ensina Rogério Sanches:

De acordo com essa nova espécie de infração penal, teríamos não apenas dois tipos de crime de perigo
(abstrato e concreto), mas sim três! No crime de perigo abstrato (ou puro), o risco advindo da conduta é
absolutamente presumido por lei, bastando a violação da norma. Já no crime de perigo concreto, o risco deve
ser comprovado. A acusação tem o dever de demonstrar que da conduta houve perigo real para vítima certa
e determinada. No crime de perigo abstrato de perigosidade real, o risco ao bem jurídico tutelado deve ser

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comprovado, dispensando vítima certa e determinada. É indispensável a superação de um determinado


risco-base ao bem jurídico protegido.
Vamos trabalhar essa discussão com o auxílio de um exemplo: sabemos que o crime de embriaguez ao
volante - art. 306 do CTB - é de perigo. Mas de qual espécie?
Se de perigo abstrato (ou puro), basta a condução de veículo sob efeito de álcool, pois o risco advindo da
conduta é absolutamente presumido por lei (haverá crime ainda que ausente a condução anormal do
veículo).
Se de perigo concreto, deve ser comprovado que a conduta gerou risco (condução anormal do veículo),
periclitando vítima certa e determinada.
Se de perigo abstrato de perigosidade real, exige-se a prova de condução anormal (rebaixando o nível de
segurança viário), mas dispensa a demonstração de perigo para vítima certa e determinada. Sem essa
perigosidade real para a coletividade, que é concreta, caracteriza mera infração administrativa.

Ainda no tocante ao crime de embriaguez ao volante, importante, ressaltar o entendimento defendido por
SCHMITT DE BEM e MARTINELLI, na obra “Lições Fundamentais de Direito Penal” (p. 143-144). Para referidos
autores, em uma perspectiva teleológica, portanto, deve-se interpretar o dispositivo sempre verificando a
existência de um potencial perigo ao bem jurídico. Trata-se de “um critério material-individual, segundo o
qual haverá que determinar se certo nível de ingestão de álcool ou de drogas influenciou realmente a
condução do sujeito no caso concreto que se examina”. Ressalta-se que a presente tese foi objeto de
questionamento na prova para Delegado da PCPA, em 2016 (vide item 5, questão 9).

a) Crime de embriaguez ao volante (art. 306, §1º)


Para a Sexta Turma do STJ (RESp 1582413/RJ) o crime de embriaguez ao volante é um crime de
PERIGO ABSTRATO.

Art. 306, CTB. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada
em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

No mesmo sentido é o crime de entregar a direção de veículo automotor à pessoa não habilitada:

✓ Súmula 575 do STJ: Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou


entregar a direção de veículo automotor a pessoa que não seja habilitada,
ou que se encontre em qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB,
independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto
na condução do veículo.
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b) Posse ou Porte de munição de arma de fogo

De acordo com o STJ (6ª Turma. HC 473.334/RJ – 2019), os delitos de posse e de porte de arma de
fogo são crimes de perigo abstrato, de forma que, em regra, é irrelevante a quantidade de munição
apreendida.

c) Art. 56, Lei de Crimes Ambientais

De acordo com o STJ (Info. 613/2017), o crime previsto no art. 56, caput, da Lei nº 9.605/98 é de
perigo abstrato, sendo dispensável a produção de prova pericial para atestar a nocividade ou a
periculosidade dos produtos transportados, bastando que estes estejam elencados na Resolução nº
420/2004 da ANTT. Portanto para o STJ, apesar do crime ser concreto, ele tem aptidão abstrata (Crime de
Perigo Abstrato-Concreto), ou seja, não precisa de perícia ou prova para comprovar a situação de perigo,
a conduta per si teria aptidão para gerar um perigo concreto.

Art. 56, Lei nº 9.605/98. Produzir, processar, embalar, importar, exportar,


comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar
produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio
ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus
regulamentos: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

1.2.8 Quanto ao Número de Atos Executórios

I – Crimes unissubsistentes: o crime depende de apenas um ato de execução, capaz, por si só, de produzir a
consumação. Não admitem tentativa.

II – Crimes plurissubsistentes: a conduta se exterioriza por meio de dois ou mais atos, que devem ser
somados para produzir a consumação. Admitem tentativa.

1.2.9 Quanto à Forma pela qual a Conduta é Praticada

I – Crimes comissivos: são praticados mediante conduta positiva.

II – Crimes omissivos: são praticados por meio de uma conduta negativa, uma inação, podendo ser:

a) Omissivos próprios/puros: a omissão está contida no tipo penal, de modo que a descrição da
conduta já prevê a realização do crime por meio de uma conduta negativa;
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b) Omissivos impróprios/impuros/espúrios/comissivos por omissão: o tipo penal prevê em sua


descrição uma ação, uma conduta positiva, mas a omissão do agente acarreta a produção do resultado
naturalístico. São os casos de dever de agir previstos no art. 13, §2º, do CP.

III – Crimes de conduta mista: o tipo penal é composto de duas fases distintas: uma inicial e positiva; outra
final e omissiva. Exemplo: crime de apropriação de coisa achada, no qual o agente encontra uma coisa
perdida e dela se apropria, deixando de restitui-la ou entregá-la à autoridade competente no prazo de 15
dias.

1.2.10 Quanto ao Modo de Execução Admitido

I – Crimes de forma livre: admite qualquer meio de execução.

II – Crimes de forma vinculada: somente podem ser executados pelos meios indicados no tipo penal.

1.2.11 Quanto aos Bens Jurídicos Atingidos

I – Crimes mono-ofensivos: ofendem um único bem jurídico (furto).

II – Crimes pluriofensivos: ofendem dois ou mais bens jurídicos (latrocínio).

1.2.12 Quanto À Existência Autônoma Do Crime:

I – Crimes principais: possuem existência autônoma e independente de um crime anterior;

II – Crimes acessórios/parasitários/de fusão: somente existem se houver a prática de um crime anterior,


como a receptação.

1.2.13 Quanto À Necessidade De Corpo De Delito Para A Prova Da Existência

I – Crimes transeuntes/de fato transitório: não deixam vestígios materiais.

II – Crimes não transeuntes: deixam vestígios materiais. Nesses crimes, a ausência do exame de corpo de
delito leva à nulidade da ação penal, salvo quando impossível a sua realização.

1.2.14 Quanto ao Local de Produção do Resultado

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I – Crimes à distância: a conduta e o resultado ocorrem em países diversos.

II – Crimes plurilocais: a conduta e o resultado se desenvolvem em comarcas diversas, dentro do mesmo


país.

III – Crimes em trânsito: somente parte da conduta ocorre em um país, sem causar lesão ou expor a situação
de perigo bens jurídicos de pessoas que nele vivem, tendo país diverso como foco de produção do resultado.

1.2.15 Quanto ao Vínculo com outros Crimes

I – Crimes independentes: não estão ligados a outros delitos;

II – Crimes conexos: são crimes que estão interligados. Essa ligação pode ser penal ou processual penal. A
conexão penal pode ser:

a) Teleológica/ideológica: um crime é praticado para assegurar a execução de outro delito;


b) Consequencial/causal: um crime é cometido na sequência de outro, com o propósito de ocultá-lo ou
assegurar a vantagem ou a impunidade;
c) Ocasional: um crime é praticado como consequência da oportunidade proporcionada por outro
delito. Ex.: estupro praticado após o roubo. Trata-se de criação doutrinária, sem amparo legal.

1.2.16 Quanto à Liberdade ou não para o Início da Persecução Penal

I – Crimes condicionados: a persecução penal depende de uma condição objetiva de procedibilidade. Essa
condição deve estar prevista expressamente na norma penal.

II – Crimes incondicionados: a persecução penal pode ocorrer livremente, sem necessidade de autorização.

1.2.17 Quanto à Violação de Valores Universais

I – Crimes naturais: violam valores éticos absolutos e universais.

II – Crimes plásticos: não ofendem valores universais, apesar de previstos em leis penais.

III – Crimes vazios: são delitos plásticos que não protegem qualquer bem jurídico. Nem toda a doutrina
concorda com a existência dessa espécie.

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1.2.18 Quanto ao Potencial Ofensivo

I – Crimes de mínimo potencial ofensivo: não comportam pena privativa de liberdade.

II – Crimes de menor potencial ofensivo: a pena privativa de liberdade em abstrato não ultrapassa dois anos,
cumulada ou não com multa – segue o rito do Jecrim (Lei 9.099/95).

III – Crimes de médio potencial ofensivo: a pena mínima não ultrapassa um ano, independentemente do
máximo da pena privativa de liberdade cominada. São os que cabem a suspensão condicional do processo.

IV – Crimes de elevado potencial ofensivo: apresentam pena mínima superior a um ano, não sendo cabível
a suspensão condicional do processo. Aplica-se na totalidade os institutos do Código Penal.

V – Crimes de máximo potencial ofensivo: recebem tratamento diferenciado pela Constituição Federal. São
os crimes hediondos, o tráfico de drogas, a tortura, o terrorismo, o racismo e a ação de grupos armados
contra a ordem constitucional.

1.2.19 Quanto ao iter criminis

Por iter criminis entende-se o itinerário, o caminho do crime, isto é, todas as etapas da infração penal,
desde o momento em que ela é uma ideia na mente do agente até sua consumação.
Diz-se consumado o crime quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal (CP,
art. 14, I). O crime consumado também é chamado de crime perfeito. Diz-se tentado quando, iniciada a
execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente (CP, art. 14, II). Também é
chamado de crime imperfeito.

A tentativa pode ser branca ou cruenta:


● Considera-se branca quando o objeto material (pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta) não é
atingido (por exemplo, o homicida efetua os disparos e não atinge a vítima, que permanece
incólume).
● Considera-se cruenta ou vermelha quando o objeto material é atingido.

Crime falho: é sinônimo de tentativa perfeita, tentativa acabada. O sujeito praticou todos os atos da
execução, mas não conseguiu consumar o crime por circunstâncias alheias à sua vontade.
Quase-crime: não há crime, o que há é um crime impossível, por ineficácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto. (CUIDADO PARA NÃO CONFUNDIR!)
Crime exaurido: é uma expressão utilizada sempre que, depois da consumação, o bem jurídico sofre
novo ataque ou findam-se as suas consequências. Assim, no crime de extorsão mediante sequestro (art. 159,
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CP), a privação da liberdade da vítima por tempo juridicamente relevante é suficiente para a consumação do
crime. Se os sequestradores receberem a vantagem indevida, exigida como condição ou preço do resgate,
diz-se que o crime está exaurido.

O exaurimento não influencia na tipicidade, mas poderá servir como circunstância judicial
desfavorável (art. 59, caput, CP), atuar como qualificadora (art. 329, §1º, CP) ou caracterizar causa de
aumento de diminuição de pena. Eventualmente, poderá configurar crime autônomo (Ex.: Após
consumação do crime de sequestro, o agente decide estuprar a vítima).

1.2.20 Crimes de Impressão

São aqueles que provocam determinado estado de ânimo, de impressão na vítima. Subdividem-se
em:

a) crimes de inteligência: praticados mediante o engano;


b) crimes de vontade: recaem na vontade da vítima quanto à sua autodeterminação;
c) crimes de sentimento: incidem nas faculdades emocionais da vítima.

1.2.21 Crimes de Colarinho Branco e Crimes de Colarinho Azul

I – Crimes de colarinho branco: são os crimes cometidos na órbita econômica, como a lavagem de dinheiro,
praticado por quem, normalmente, teria condições de viver adequadamente sem o cometimento de crimes,
que gozam da elevada condição financeira e do poder dela decorrente. Geram as chamadas “cifras douradas”
da criminalidade, vez que raramente são apurados e punidos.

II – Crime de rua ou crime de colarinho azul: de modo oposto aos crimes de colarinho branco, são aqueles
praticados por pessoas economicamente menos favorecidas, em situações de vulnerabilidade. O nome se dá
pelo fato de que essa é uma alusão aos operários norte-americanos no final do século XX, denominado e
“blue collars”. Quando não integram o conhecimento do Poder Público, constituem as “cifras negras” da
criminalidade – ponto a ser melhor estudado em criminologia.

1.2.22 Outras Classificações

● Crime gratuito: é o crime praticado sem motivo conhecido. Não se confunde com motivo fútil, pois
neste há motivação, porém, desproporcional ao crime praticado.
● Crime de ímpeto: é o cometido sem premeditação, decorrente de reação emocional repentina.
● Crime de circulação: é o praticado em veículo automotor, a título de dolo ou culpa.

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● Crime de atentado ou empreendimento: É aquele em que a lei pune de forma idêntica o crime
consumado e a forma tentada. Ou seja: não há diminuição da pena em face da tentativa. Ex.: crime
de Evasão mediante violência contra a pessoa.

Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida


de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa.

● Crime de opinião ou de palavra: cometido com excesso abusivo na manifestação do pensamento,


seja pela forma escrita ou verbal.
● Crime multitudinário: é aquele praticado pela multidão, em tumulto. A lei não define o que seria
multidão, assim, analisa-se o caso concreto. No direito canônico, exigia-se, no mínimo, 40 pessoas.
● Crime internacional: aquele que o Brasil, por tratado ou convenção devidamente incorporado ao
ordenamento jurídico pátrio, se obrigou a reprimir. Ex.: art. 231 do CP - tráfico de pessoas.
● Crime de mera suspeita, sem ação ou mera posição: o agente não realiza a conduta, mas é punido
pela suspeita despertada em seu modo de agir. Sem reforço doutrinário. Não pode existir no
ordenamento pátrio. Ex.: contravenção penal do art. 25 (posse de instrumento usual na prática de
furto) – e, por isso, o STF a declarou não recepcionada pela Constituição.
● Crime inominado: é aquele que ofende regra ética ou cultural consagrada pelo Direito Penal, embora
não definido como infração penal. Não é aceito por ferir o princípio da reserva legal.
● Crime profissional: é o crime habitual cometido com finalidade lucrativa. Ex: art. 230 do CP
(rufianismo).
● Crime hediondo: é todo delito que se enquadra no art. 1º da Lei 8.072/1990, na forma consumada
ou tentada. Adoção do critério legal.
● Crime de expressão: é o que se caracteriza pela existência de um processo intelectivo interno do
autor. Ex: CP, art. 342 – falso testemunho.
● Crime de ação violenta: é o cometido mediante o emprego de violência ou grave ameaça. Ex: roubo.
● Crime de ação astuciosa: é o praticado por meio de fraude, engodo. Ex: estelionato.
● Crime putativo, imaginário ou erroneamente suposto: aquele onde o agente acredita ter realmente
praticado um crime, mas na verdade, houve um indiferente penal. Trata-se de um não-crime por erro
de tipo, erro de proibição ou por obra de agente provocador.
● Crime remetido: é o que se verifica quando o tipo penal faz referência a outro crime, que passa a
integrá-lo. Ex: art. 304 do CP (uso de documento falso).
● Crimes de responsabilidade: dividem-se em próprios (crimes comuns ou especiais) e impróprios
(infrações administrativas), que redundam em sanções políticas.
● Crime de acumulação - Visam proteger interesses supraindividuais. Analisando-se isoladamente
cada conduta, a aplicação da repressão penal pode parecer desproporcional. No entanto, sua prática
reiterada é lesiva e pode causar sérios prejuízos. Ex.: crimes contra o meio ambiente. Se alguém for
encontrado pescando 1 peixe em local proibido, parece irrelevante para que seja considerado crime.
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Todavia, se diversas pessoas começarem a pescar por lá, haverá um desequilíbrio ambiental
significativo da região. Com isso, o delito de acumulação traz ao intérprete a necessidade de analisar
o fato sob esse aspecto, impedindo a aplicação do princípio da insignificância, via de regra.
● Crimes parcelares: são os crimes da mesma espécie que compõem a série da continuidade delitiva,
desde que preenchidos os requisitos exigidos pelo art. 71, caput, do Código Penal. Adota-se no Brasil
a teoria da ficção jurídica – na qual os delitos parcelares são considerados, para fins de aplicação da
pena, como um único crime.
● Crime de catálogo (LEMBRAR DE LISTA TELEFÔNICA) diz respeito aos delitos compatíveis com a
interceptação telefônica, disciplinada pela Lei 9.296/1996, como meio de investigação ou de
produção de provas durante a instrução em juízo.

2. SUJEITOS DO CRIME

a) Sujeito ativo: é a pessoa que pratica a infração penal. Qualquer pessoa física e capaz e com 18
anos completos pode ser sujeito ativo de crime.

* ATENÇÃO: Pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de crimes?


A pessoa jurídica é um ente autônomo e distinto dos seus membros, dotado de vontade própria. Pode
cometer crimes ambientais e sofrer pena. A CF/88 autorizou a responsabilidade penal do ente coletivo,
objetiva ou não. Deve haver adaptação do juízo de culpabilidade para adequá-lo às características da pessoa
jurídica criminosa. O fato de a teoria tradicional do delito não se amoldar à pessoa jurídica, não significa
negar sua responsabilização penal, demandando novos critérios normativos. É certo, porém, que sua
responsabilização está associada à atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio
(dolo ou culpa).

Conclusão: Tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica praticam crimes ambientais, podendo ser
responsabilizadas administrativa, civil e penalmente.

STF (1ªTurma) – a denúncia pode imputar o fato criminoso, somente, a pessoa


jurídica, principalmente nos casos em que não é possível identificar a pessoa física
autora do comportamento indesejado ao meio ambiente (2º Fase MP/MG).

Nesse sentido, é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais
independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. A
jurisprudência não mais adota a chamada teoria da "dupla imputação”.
STJ. 6ª Turma. RMS 39.173-BA, julgado em 6/8/2015 (Info 566).
STF. 1ª Turma. RE 548181/PR, julgado em 6/8/2013 (Info 714).

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b) Sujeito passivo: É pessoa ou ente que sofre as consequências da infração penal. Pode figurar no
sujeito passivo qualquer pessoa física ou jurídica, ou mesmo ente indeterminado, a exemplo da coletividade
e da família.

3. OBJETO DO CRIME

Subdivide-se em objeto jurídico e objeto material:


a) objeto jurídico: é o bem ou o interesse tutelado pela norma. Exemplos: no crime de aborto é a
vida; no crime de roubo é o patrimônio; no crime de estupro é a liberdade/dignidade sexual.

b) objeto material: é a pessoa ou a coisa que foi atingida pela conduta criminosa. Exemplos:
homicídio – a pessoa; furto – coisa subtraída. É possível que haja crime sem objeto material (ex.: falso
testemunho).

4. ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CRIME

Vimos o conceito analítico de crime, que pode variar de acordo com o sistema adotado. Aqui, no
entanto, vamos destrinchar esse conceito, abordando cada um dos elementos que podem compor o delito.
E lembre-se: atenção máxima, sem deixar dúvidas para trás, pois é o tema mais cobrado em provas!

4.1 Fato Típico

- Conceito: “o fato humano (ou também o fato praticado por pessoa jurídica, em relação aos crimes
ambientais) que se enquadra com perfeição aos elementos descritos no tipo penal” (Masson, 2017, p. 243).

- Elementos (via de regra, são 4): Conduta, Resultado, Nexo causal e Tipicidade.

Conduta

Tipicida Fato Resulta


de típico do

Nexo
causal

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Conduta e tipicidade: presentes em todos os crimes.


Resultado (naturalístico* - veremos melhor à frente) e nexo causal estão presentes apenas nos
crimes materiais.

Começaremos pela conduta.

4.1.1 Conduta

Como tudo no Direito, há aqui uma diversificação de sistemas/teorias, sendo que, para cada um
deles, há um conceito diferente de conduta, bem como há diversificações acerca da localização de
determinados elementos na composição da estrutura do crime.
A culpabilidade, terceiro elemento do crime, também varia bastante de acordo com as teorias a
seguir, de modo intimamente ligado à definição de conduta, razão pela qual optamos por explicá-las
integralmente aqui. Quando chegarmos em culpabilidade, faremos apenas um resumo do essencial falado
neste ponto, ok? Então atenção!

A) TEORIAS

I - Teoria causalista/mecanicista/naturalista/clássica/causal: (Franz Von Liszt, Belling e Radbruch) Crime é


fato típico, ilícito e culpável, e a conduta seria elemento do fato típico.

● Conduta: movimento humano voluntário que produz alteração no mundo exterior; (conduta sem
finalidade).
É considerado um MODELO AVALORADO, só permite elementos objetivos e subjetivos, de modo que
não permite elementos normativos (que exigem juízo de valor pelo intérprete).
Ademais, teve influência no método científico/positivismo.

Teoria do tipo avalorado ou acromático: Não há qualquer relação prévia entre o fato típico e
antijuridicidade. A teoria do tipo avalorado, expõe em relação entre a tipicidade e a antijuridicidade, nas
lições de Zaffaroni: “Quanto à relação entre tipicidade e antijuridicidade. A teoria conhecida como teoria do
tipo avalorado ou neutro ou acromático, afirma que a tipicidade nada indica em relação à antijuridicidade.
A finalidade do tipo penal é apenas descrever uma conduta criminosa de forma mais objetiva possível,
ignorando outros elementos como a ilicitude e culpabilidade. Nas palavras de Cezar Roberto Bittencourt:
“O tipo na concepção de Beling, esgota-se na descrição da imagem externa de uma ação determinada”.
CUIDADO: Não confunda com DOLO acromático, pois aqui se refere a relação entre fato típico a
antijuridicidade. O dolo acromático é do finalismo.
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ATENÇÃO! Para a teoria causalista, a ação seria o mero processo causal que a vontade desencadeia no mundo
exterior. Nessa concepção, a ação humana não possui conteúdo de vontade ou finalidade. A conduta é
analisada por si só, sem elemento subjetivo. Desse modo, se alguém atropela um pedestre e lhe causa lesões
que o levam à morte, praticou a conduta prevista no art. 121 CP, ou seja, praticou o fato típico de homicídio.
A questão da intenção ou não de matar, por exemplo, só é analisada na culpabilidade. O fato típico possui
uma análise estritamente objetiva, descritiva.

● Nesse sistema clássico o dolo é normativo (vontade + consciência + consciência atual da ilicitude).
Não basta o agente querer ou aceitar o resultado / ele reclama o conhecimento que o
comportamento é contrário ao direito. (o dolo está na culpabilidade)
Segundo a teoria causal, o dolo causalista é conhecido como dolo normativo, pelo fato de existir
no dolo, juntamente com os elementos volitivos e cognitivos, considerados psicológicos, um elemento de
natureza normativa (real ou potencial consciência sobre a ilicitude do fato).

Caiu na prova Delegado Federal – CESPE! Segundo a teoria causal, o dolo causalista é conhecido como dolo
normativo, pelo fato de existir, nesse dolo, juntamente com os elementos volitivos e cognitivos, considerados
psicológicos, elemento de natureza normativa (real ou potencial consciência sobre a ilicitude do fato). (item
correto).

● Culpabilidade: TEORIA PSICOLÓGICA – composta por:


A CULPABILIDADE seria o VÍNCULO PSICOLÓGICO entre o sujeito e o fato típico e ilícito. Esse vínculo
pode ser representado tanto pelo dolo como pela culpa (que eram ESPÉCIES DA CULPABILIDADE).
a) imputabilidade (pressuposto)
b) dolo normativo ou culpa (espécies).

DOLO NORMATIVO: é aquele que traz em seu interior a consciência atual/real da ilicitude, ou seja, o agente
pratica um comportamento sabendo que aquilo é contrário ao Direito.

A IMPUTABILIDADE, por sua vez, consiste na capacidade do ser humano de entender o caráter ilícito
da conduta e de determinar-se de acordo com esse entendimento.

IMPORTANTE: a imputabilidade era um PRESSUPOSTO para a culpabilidade. (não era um elemento, pois
estava fora da culpabilidade).

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● Dolo e culpa aqui são espécies de culpabilidade, pois permitem avaliar o vínculo psicológico entre o
autor e a conduta – ou seja, não são analisados de pronto, na verificação do fato típico (dentro de
“conduta”), mas tão somente no terceiro substrato do crime – a culpabilidade.
● Problemas:
a) não explica os crimes omissivos (há necessidade de “movimento”, ou seja, ação), tampouco
os crimes formais e de mera conduta (vez que dependia de produção de resultado naturalístico);
b) só faz a análise da finalidade do agente na culpabilidade, terceiro elemento do crime,
inviabilizando que esta seja analisada desde logo (assim, para esse sistema, caso alguém
pratique atos criminosos durante um episódio de sonambulismo, por exemplo, estes seriam
considerados fatos típicos);
c) é equivocado separar a conduta da relação psíquica do agente, não analisando sua vontade.
● Quem é clássico, é obrigatoriamente “tripartida” (falado anteriormente). Não pode ser “bipartida”,
já que dolo e culpa aqui só são analisados na culpabilidade, de modo que esta deverá então ser
considerada elemento do crime, sob pena de haver responsabilidade penal objetiva.
● Foi abandonada com o tempo.

FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE


(Teoria psicológica)
Conduta (movimento humano Relação de contrariedade Imputabilidade
voluntário que produz alteração entre o fato e o Direito (pressuposto)
no mundo exterior)
Resultado naturalístico Dolo normativo (vontade + consciência +
consciência atual da ilicitude) ou culpa.
(espécies)
Nexo causal
Tipicidade

II – Teoria Neokantista/Neoclássica/Teoria Causal-valorativa (base causalista): (Reinhart Frank) (Edmund


Mezger)

O sistema neoclássico surgiu na Alemanha, no ano de 1907, pelos estudos de Reinhart Frank, que
desenvolveu a teoria da normalidade das circunstâncias concomitantes (teoria da “evitabilidade”). Por essa
teoria, só existe culpabilidade quando o agente imputável pratica o fato típico e ilícito em uma situação de
normalidade, ou seja, quando lhe era exigível uma conduta diversa.

● Conduta: “COMPORTAMENTO humano voluntário causador de modificação no mundo exterior”. –


aqui conduta não é ação, mas comportamento, o que abrange tanto a ação quanto a omissão.

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● Dolo e culpa: Permanecem na culpabilidade, mas deixam de ser ESPÉCIES e se tornam ELEMENTOS
DA CULPABILIDADE.
● O dolo continua sendo normativo (híbrido/colorido), pois traz em seu interior a consciência
atual/real da ilicitude.
● Como o modelo neoclássico é um modelo claramente valorativo, pois começa a fazer um juízo de
valor nos elementos do crime, começam a surgir teorias que passam a reconhecer uma relação entre
o fato típico e a antijuridicidade (a absoluta autonomia entre elas cai por terra – teoria do tipo
avalorado). Nesse sentido, a antijuridicidade também ganha um aspecto normativo, que é a
danosidade social do fato (o fato, além de ser ilícito, precisa ser danoso).
Surgem duas teorias principais para explicar a relação do fato típico com a ilicitude: o principal ponto
em comum dessas teorias é: juntar/unir os substratos do fato típico e ilicitude em um único substrato (para
que haja só um momento de análise).

❖ TEORIA DA RATIO ESSENDI:


De acordo com a Teoria da Ratio Essendi, o fato típico é a RAZÃO DE SER da ilicitude.
Crime não é fato típico, ilícito e culpável. Ele adota um conceito bipartido: o crime é um fato
tipicamente ilícito e culpável. Ou seja: crime é formado por fato típico e culpabilidade.

❖ TEORIA DOS ELEMENTOS NEGATIVOS DO TIPO:


Apesar de parecida com a teoria da ratio essendi, com ela não se confunde.
Temos o TIPO TOTAL DO INJUSTO, em que o crime é composto pelo tipo total + culpabilidade. E
esse tipo total é dotado de duas faces, uma positiva e uma negativa:
(a) Face positiva – é chamada de tipicidade provisória (é o que nós conhecemos como tipicidade).
(b) Face negativa – é a ausência dos elementos negativos do tipo (o que nós conhecemos como causas
excludentes da ilicitude – estado de necessidade legítima defesa, etc.).

Conclusão: Para essa teoria, os elementos negativos do tipo não podem estar no tipo penal, uma vez
que a presença deles excluiria a própria tipicidade, pois compõem a face negativa do próprio tipo.

● A alteração se encontra na culpabilidade, que passa a contar com um terceiro elemento: A


EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA.

● Culpabilidade: TEORIA PSICOLÓGICO-NORMATIVA – composta por três elementos:


a) imputabilidade
b) dolo normativo ou culpa
c) exigibilidade de conduta diversa. (foi acrescentada).

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Reinhart Frank desenvolveu a Teoria da normalidade das circunstâncias concomitantes, segundo a


qual só há crime caso fosse exigível comportamento diferente do agente no caso concreto (exemplo:
dificuldade financeira: a solução é trabalhar, não roubar/furtar) e coloca na culpabilidade um terceiro
elemento: a exigibilidade de conduta diversa (elemento normativo, por isso deixa de ser apenas
“psicológica”, analisando-se se foi uma conduta “normal”).
Para essa teoria, a culpabilidade seria o juízo de reprovabilidade que recai sobre o autor de um fato
típico e ilícito que poderia ter sido evitado.
A imputabilidade deixou de ser pressuposto da culpabilidade, dolo e culpa também deixaram de ser
“espécies” e todos passaram a ser “elementos”.

● ENTENDA: Como não há mais qualquer vedação para o ingresso do valor na teoria do crime, a
culpabilidade passa a sofrer um influxo. Assim, a IMPUTABILIDADE (elemento normativo), que antes
era um pressuposto na culpabilidade, se torna elemento da culpabilidade.
● Por ser “comportamento” aqui e não mais movimento, engloba crimes omissivos.
● Continua não explicando formais e de mera conduta, pela exigência da produção de modificação no
mundo exterior.

FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE


(Teoria psicológico-normativa)
Conduta (comportamento Relação de contrariedade entre o Imputabilidade
humano voluntário que produz fato e o Direito (elemento)
alteração no mundo exterior)
Resultado naturalístico Dolo normativo (vontade +
consciência + consciência atual da
ilicitude) ou culpa.
(elementos)
Nexo causal Exigibilidade de conduta diversa
(elemento)
Tipicidade

III – Teoria Finalista (prevalece): (Hans Wetzel – 1930, livro “O novo sistema jurídico penal”). A conduta
também está no fato típico.

● Conduta: comportamento humano voluntário, psiquicamente dirigido a um fim.


● Dolo e culpa: Migram da culpabilidade para o fato típico (dentro do elemento “conduta” – ou seja,
estruturalmente, não mudaram os elementos do fato típico).
● O dolo deixa de ser normativo e passa a ser natural: Retirou-se de sua análise o elemento normativo
(“consciência atual da ilicitude”), constituindo este um elemento similar autônomo da culpabilidade:
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“potencial consciência da ilicitude” (ou seja, a consciência da ilicitude deixou de ser atual para se
tornar potencial. Permanece em sua análise apenas a vontade (elemento volitivo) e a consciência
(elemento cognitivo).
Obs.: Dolo natural também pode ser chamado de neutro, sem cor, acromático.
● O potencial conhecimento da ilicitude não integra o dolo, mas sim a culpabilidade.

Nesse modelo, temos a Teoria da RATIO COGNOSCENDI ou TEORIA DA INDICIARIEDADE para


explicar a relação entre o fato típico e a ilicitude:
Essa teoria diz que o fato típico é a RAZÃO DE CONHECER da ilicitude (na ratio essendi era razão de
SER). Ou seja: fato típico é INDÍCIO/PRESUNÇÃO da ilicitude
Essa presunção é relativa, podendo ser afastada pela prova em contrário de causa excludente da
ilicitude (presunção iuris tantum).

● Culpabilidade: TEORIA NORMATIVA PURA DA CULPABILIDADE. Agora não há mais elementos


psicológicos na culpabilidade (dolo e culpa), mas apenas normativos. A isto a doutrina deu o nome
de “CULPABILIDADE VAZIA”, pois foi esvaziada em relação aos elementos psicológicos.
A culpabilidade passa a ser formada por:
1) Imputabilidade
2) Potencial Consciência da ilicitude
3) Exigibilidade de Conduta diversa

A “retirada” do dolo da culpabilidade fez com que esta passasse a ser restrita a elementos
exclusivamente normativos: a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude (retirada do dolo,
que se torna natural e não mais híbrido) e a exigibilidade de conduta diversa – eis a teoria normativa
pura da culpabilidade.

● No exemplo do sonambulismo, aqui não haveria fato típico, vez que o comportamento não foi
psiquicamente dirigido a esta finalidade, vez que não houve dolo ou culpa, agora analisados na
conduta.
● Finalistas podem ser bipartites ou tripartites porque aqui o dolo e a culpa estão na conduta e não na
culpabilidade. Então, a culpabilidade pode ser tanto elemento do crime, como pressuposto de
aplicação da pena.
● Explica crimes omissivos (comportamento), bem como os formais e de mera conduta (não há mais
a necessidade de modificação no mundo exterior, mas que o comportamento seja psiquicamente
dirigido a um fim).
● Falha: a) não explica crimes culposos; b) centralizou-se no desvalor da conduta, ignorando o desvalor
do resultado.

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● A doutrina entende que foi a adotada pelo CP, vez que, tendo em vista que no artigo 20, a ausência
de dolo vai acarretar a exclusão do fato típico, é porque o dolo está na conduta.

FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE


(Teoria normativa pura)
Conduta (comportamento Relação de contrariedade entre o Imputabilidade
humano voluntário, fato e o Direito (elemento)
psiquicamente dirigido a um
fim.)
* Dolo e culpa integram a
conduta (dolo natural)
Resultado naturalístico Exigibilidade de conduta diversa
(elemento)
Nexo causal Potencial consciência da ilicitude
(elemento)
Tipicidade (Aqui a culpabilidade é vazia)

TEORIA CIBERNÉTICA: Wetzel criou esta teoria para compatibilizar o finalismo com os crimes culposos.
Ele dizia aqui que a conduta seria a ação biociberneticamente antecipada, preocupando-se com o controle
da vontade do agente, existente tanto nos crimes dolosos quanto culposos.

Para ele, tanto alguém que mata no intuito de efetivamente matar, quanto alguém que mata por uma atitude
imprudente, possuiriam o controle da vontade em relação a ação que estariam praticando. (essa concepção
dá enfoque a conduta sobre qual o ser humano possui o domínio).

Na esquematização de Zaffaroni: 1) o agente se propõe a um fim; 2) seleciona, em sua mente, os meios


necessários para atingir fim (plano); 3) põe em funcionamento a causalidade e 4) a causalidade produz o
resultado.

IV – TEORIA FINALISTA DISSIDENTE: É a bipartite, em que a culpabilidade seria pressuposto de aplicação da


pena. Logo, crime seria fato típico + ilícito, apenas.

- Outras teorias que tratam da conduta / ação:

V – TEORIA SOCIAL DA AÇÃO: É tripartite, estando a conduta no fato típico. A conduta seria comportamento
humano voluntário dirigido a um fim socialmente relevante.

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Ou seja: Essa teoria explicava a ação, não com base na finalidade e nem em relações de causa e efeito
(explicações física-naturalística), mas com base na RELEVÂNCIA SOCIAL DA CONDUTA.
Crítica: não há definição clara do que seria “socialmente relevante”.

VI – CONCEITO PESSOAL DE AÇÃO (ROXIN)


Para Roxin, o conceito de ação é a MANIFESTAÇÃO DA PERSONALIDADE DO INDIVÍDUO. Abrange todo
acontecimento atribuível ao centro de ação psíquico-espiritual do homem
CRÍTICA: Há uma generalização sobre o que efetivamente venha a ser manifestação da
personalidade.

VI – TEORIA FUNCIONALISTA (FUNCIONALISMO TELEOLÓGICO): (Roxin) A conduta seria comportamento


humano voluntário, orientada pelo princípio da intervenção mínima, causadora de relevante e intolerável
lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Adota-se a Teoria personalista da ação: base metodológica,
influência do pensamento de Claus Roxin. Ou seja, proteção dos bens jurídicos relevantes.

VII – FUNCIONALISMO SISTÊMICO OU RADICAL: (Jakobs) É tripartite. A conduta seria comportamento


humano voluntário causador de resultado evitável, violando o sistema, frustrando as expectativas
normativas. Adota a Teoria da evitabilidade individual: base metodológica, influência do pensamento de
Jakobs. Ou seja, garantia da vigência da norma.

● Dolo e culpa: Permanecem no fato típico.


● Serve de base para o DIREITO PENAL DO INIMIGO.

Confira a dica do professor Marcelo Veiga:

https://youtu.be/Rywml23Mn0o

B) CARACTERÍSTICAS DA CONDUTA

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Não há crime sem conduta (o ordenamento jurídico brasileiro não admite os crimes de mera
suspeita).
Consequência prática: Foi decidido pelo Plenário do STF (RE 583.523), que o art. 25 da Lei das
Contravenções Penais não foi recepcionado pela Constituição.

Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou
roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido como vadio
ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados
usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove destinação legítima

Apenas o ser humano pode praticar condutas penalmente relevantes (salvo pessoas jurídicas em
crimes ambientais.
Apenas a conduta voluntária interessa ao Direito Penal (vontade é elemento do dolo, que é elemento
da conduta no finalismo).
Apenas os atos exteriorizados no mundo ingressam no conceito de conduta (a mera cogitação não é
punível). Segundo Nelson Hungria, o direito penal só pode agir quando a intenção criminosa sai do claustro
psíquico do agente e se projeta no mundo.

C) FORMAS DE CONDUTA: AÇÃO X OMISSÃO

I. Crime comissivo (ação): É movimento corporal exterior, postura positiva. O agente infringe um tipo
proibitivo, realizando a conduta vedada.

II. Crime omissivo: Conduta de não fazer o que poderia ser feito, postura negativa. O agente deixa de agir de
acordo com o determinado por lei.

Obs.: Temos ainda os Crimes de conduta mista, que vimos nas classificações, que é aquele que
possui uma parte inicial praticada por ação e uma parte final praticada por omissão (ex.: apropriação de
coisa achada, art. 169, parágrafo único, II, CP).

● TEORIAS SOBRE A OMISSÃO:


∘ Naturalística: A omissão é fenômeno causal, sendo verdadeira espécie de ação. Quem se
omite, FAZ efetivamente alguma coisa, por produzir resultado no mundo dos fatos.
∘ Normativa (Adotada no CP): A omissão é determinada pela lei. Só será relevante ao direito
penal a omissão quando a lei impunha uma ação diante da inércia do agente.

ESPÉCIES DE CRIMES OMISSIVOS:

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OMISSIVOS IMPRÓPRIOS (ESPÚRIOS /


OMISSIVOS PRÓPRIOS (PUROS)
COMISSIVOS POR OMISSÃO)
Dever genérico de agir (recai sobre todos Dever específico de evitar o resultado (recai sobre
indistintamente) – crimes comuns. as pessoas do art. 13, §2º, CP – os “garantes”) –
crimes próprios.
Subsunção direta entre fato e norma. Omissão Subsunção indireta entre fato e norma.
descrita no próprio tipo penal. O tipo descreve uma ação, mas a inércia do agente,
descumprindo seu dever de agir (art. 13, §2º, CP),
leva à produção do resultado naturalístico.
NÃO admitem tentativa, são unissubsistentes. Admitem tentativa, são plurissubsistentes.
Via de regra, são de mera conduta, mas o STF tem
decisão dizendo que excepcionalmente podem ser Via de regra, são crimes materiais.
materiais.
Ex.: salva-vidas que, podendo, deixa de impedir um
Ex.: Omissão de socorro (art. 135, CP).
afogamento e a pessoa morre.

Crimes de "olvido" (ou de esquecimento) é o nome dado aos crimes omissivos impróprios culposos, ou seja,
nos casos em que a omissão do garantidor ocorrer por culpa. Aproveitando o exemplo do afogamento, o
salva-vidas não impediu aqui por estar beijando a namorada, por exemplo.

Jurisprudência pertinente: O representante legal de sociedade empresária


contratante de empreitada não responde pelo delito de desabamento culposo (art.
256, parágrafo único, do CP) ocorrido na obra contratada, quando não
demonstrado o nexo causal, tampouco pode ser responsabilizado, na qualidade de
garante, se não havia o dever legal de agir, a assunção voluntária de custódia ou
mesmo a ingerência indevida sobre a consecução da obra. STJ. 6ª Turma. RHC
80.142-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 28/3/2017 (Info
601).

CAIU NA PROVA DELEGADO - CEBRASPE – PCRJ – (2022)

Durante a pandemia, Tadeu descumpriu levianamente regras determinadas pelas autoridades sanitárias,
tendo frequentado festas e deixado de usar equipamentos de proteção individual em diversos momentos.
Depois de apresentar sintomas de covid-19, buscou atendimento hospitalar. Ao ser avaliado pelo médico,
Geraldo, verificou-se a necessidade de internação de Tadeu, com o uso de respirador artificial. Havia apenas
um respirador na região, o qual foi disponibilizado a Tadeu. De acordo com o prognóstico médico, caso não
fizesse uso do aparelho, Tadeu provavelmente morreria, mas com o tratamento adequado poderia obter

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plena recuperação em algumas semanas. Nesse mesmo dia, deu entrada no hospital, também vítima de
covid-19, o paciente Jeferson, que havia adotado todas as precauções necessárias para evitar a
contaminação, mas ainda assim contraíra o vírus. Seu quadro clínico é idêntico ao de Tadeu e o prognóstico
é o mesmo. No entanto, não havia outro respirador artificial no hospital nem em unidades de saúde
próximas, não existindo possibilidade de transferi-lo. A única solução seria retirar Tadeu do aparelho e
submeter Jeferson ao tratamento, o que Geraldo se negou a fazer, oferecendo outros cuidados a Jeferson.
Não obstante os esforços de Geraldo, Jeferson morreu em algumas horas, o que poderia ser evitado pelo uso
do respirador. Nessa situação hipotética, Geraldo:

A-responderá pelo resultado morte, pois a ponderabilidade da vida deve levar em consideração o contexto
em que ocorreu a contaminação.
B-não responderá pelo resultado morte, pois o dever de omissão prepondera sobre o dever de ação.
C-não responderá pelo resultado morte, pois agiu sem potencial consciência da ilicitude de seu
comportamento.
D-não será punido pelo resultado morte, pois há uma hipótese de escusa absolutória determinada pela
inevitabilidade do resultado em relação a um dos pacientes.
E-responderá pelo resultado morte, pois a pessoa salva realizou a autocolocação em risco, devendo ter sido
priorizado o atendimento ao outro paciente.

COMENTÁRIO

Questão complexa e de banca própria conforme é tradição nos concursos do Rio de Janeiro.

Ao garantidor cabe agir quando é impelido pelo ordenamento jurídico, nos termos do § 2º, do artigo 13, do
Código Penal, mas a sua atuação só pode-lhe ser exigida quando, no caso concreto, tiver meios para agir.
No caso narrado, Geraldo não podia agir, na medida em que não havia recursos médicos disponíveis, não
cabendo-lhe levar em consideração os motivos, causas e o contexto da contaminação do paciente que já
estava sob os seus cuidados médicos.

Alheia à discussão sobre a natureza jurídica da COLISÃO DE DEVERES (causa supralegal de inexigibilidade de
conduta diversa, estado de necessidade especial ou causa supralegal de excludente de ilicitude), o médico
não responderá. Isso porque, independente da natureza jurídica adotada na colisão de deveres, é correto
que o dever de omissão prepondera sobre o de ação. Ou seja, o médico não pode retirar o respirador de um
paciente e colocá-lo no outro (deve se omitir), quando os dois bens jurídicos vida colidem.
(...) Cabe, finalmente, consignar a colisão entre um dever de atuar e um dever de omitir-se, no caso de bens
de mesma hierarquia. Nesta hipótese, goza de preferência o dever de omissão. Utilizando exemplo de
Jescheck, um médico, encontrando conectada a uma única máquina de coração e pulmão de um hospital a
um paciente sem esperança, poderia abster-se de retirá-la deste paciente para conectá-la a um ferido grave,
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recém-chegado, que tivesse boas expectativas de sobreviver. Para o autor, não se trata de nenhuma
justificativa quanto ao dever de atuar infringido, mas sim de considerar os deveres como equivalentes. (...)
(BIERRENBACH, Sheila de Albuquerque. Crimes omissivos impróprios. Belo Horizonte: Del Rey, 1996)

Complementando sobre o tema:


(...) De acordo com G. Jakobs, quando coincidirem um dever de conduta (mandamento) e um dever de
omissão (proibição), este último prevalece, pois, ao titular do interesse favorecido pelo dever de conduta
não pode exigir uma tolerância da conduta interventora que o beneficia até que, segundo os princípios gerais,
deixe de existir o dever de omissão (a proibição). Ou seja, somente quando a vítima da intervenção, segundo
os princípios gerais, tem o dever de tolerar é que o mandamento se concretiza, de fato, em dever. Exemplo:
um garantidor que, em uma situação de perigo, somente pode preservar a vida de seu protegido matando
um terceiro envolvido somente se comporta licitamente quando omite a conduta. (...) (SILVA, André Vinicius
Coutinho da. A colisão de deveres no Direito Penal. Rio de Janeiro, 2010. fl. 34)

GABARITO: B

Questão de prova: Vunesp/Delegado RR 2022 (não aplicada)


A respeito dos crimes omissivos, é correto afirmar que
(A) são necessariamente punidos de forma mais branda que os crimes comissivos.
(B) no ordenamento penal brasileiro, são somente aqueles em que o tipo penal específico evidencia um não
fazer.
(C) os crimes omissivos impróprios são necessariamente crimes de resultado naturalístico.
(D) os crimes omissivos próprios são crimes próprios de garantes, isto é, pessoas que possuem o dever legal
de evitar o resultado.
(E) os crimes omissivos impróprios consumam-se com a mera abstenção do comportamento exigido
Gabarito DD: letra C
Os crimes omissivos impróprios/impuros/comissivos por omissão são aqueles que exigem resultado
naturalístico e se caracterizam pela não execução (omissão) da conduta esperada para se evitar o resultado.
São pressupostos:
- dever jurídico específico de agir para evitar o resultado;
- resultado deve ser evitável pela ação do agente;
- o agente deve ter a possibilidade de agir para evitar o resultado;
- ocorrência do resultado que devia ser evitado.

D) CAUSAS DE EXCLUSÃO DA CONDUTA

● Caso fortuito (ação humana) e força maior (natureza) são acontecimentos imprevisíveis e
inevitáveis, que escapam ao controle da vontade. Sem vontade não há conduta. Obs.: A depender
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da corrente adotada, esses conceitos podem ser encontrados invertidos – caso fortuito como ação
da natureza etc.
● Movimentos reflexos: Reações corporais automáticas, as quais independem da vontade do ser
humano. São reações fisiológicas, que decorrem da provocação dos sentidos. Não se confundem
com:
∘ Ações em curto circuito, que derivam de uma explosão emocional repentina (há conduta e
crime).
∘ Atos habituais: realizados pela pessoa repetidamente, mesmo que contrários ao
ordenamento jurídico – há vontade. Lembrando que hábito e costume são diferentes, vez
que o hábito (dirigir falando ao celular) se faz por repetição por vontade do agente e o
costume, embora também haja repetição, é porque se acredita na obrigatoriedade.

● Coação física irresistível (vis absoluta) – O agente é fisicamente controlado pelo coator, de modo
que não há vontade. Exclui o dolo e, por conseguinte, a tipicidade. Ex.: Thiago aperta o dedo de Ana
contra o gatilho para matar alguém. Mas atenção: aqui a coação deve ser física. Se for moral
irresistível (vis compulsiva) a situação é de inexigibilidade de conduta diversa. Há vontade, vez que o
agente decide se obedece ou não, mas é uma vontade viciada. Exclui a culpabilidade.
● Sonambulismo e hipnose: os atos são praticados em estado de inconsciência, de modo que se não
há consciência, não há dolo e, consequentemente, não há conduta.
● Embriaguez letárgica
∘ Santiago Mir Puir e Grande parte da doutrina - hipótese de ausência da conduta.
∘ Bittencourt - é um transtorno mental transitório que, como tal, deveria ser tratado. Dessa
forma, deveria ser analisado como uma hipótese de exclusão da imputabilidade, e não como
ausência de conduta.

Quando o indivíduo se coloca deliberadamente em estado de inconsciência?


R.: Teoria da Actio Libera in Causa. Em regra, essa teoria é estudada no estudo da
imputabilidade, na culpabilidade. Porém a doutrina vem estendendo essa teoria também para a conduta
para verificar a relevância penal dessa conduta. Isso porque, no momento que se pratica a conduta, o
indivíduo não tem qualquer domínio do que está praticando, de modo que não poderia sequer ser
considerada conduta.
Mas aplicando a teoria da actio libera in causa, se transporta o momento de análise dessa
conduta, não para o ato praticado, mas para o ato anterior, que foi o ato em que o indivíduo se colocou em
estado de inconsciência, sempre dolosamente ou culposamente.
Assim, pela aplicação da teoria da actio libera in causa, se o indivíduo se colocou culposa ou
dolosamente em estado de inconsciência, haveria sim a existência da conduta.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

- Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 13ª edição – Cleber Masson;


- Sinopse nº 1 – Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo;
- Manual de Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Rogério Sanches Cunha.

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META 2

MEDICINA LEGAL: PERÍCIA E PERITO E DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

⦁ Art. 6º, VII, CPP


⦁ Art. 158, CPP
⦁ Art. 158-A a 158-F, CPP
⦁ Art. 159 a 184, CPP
⦁ Art. 235, CPP
⦁ Arts. 275 a 281
⦁ Art. 525, 527 e 530-D, CPP
⦁ Art. 543, II, CPP
⦁ Art. 50, §1º, Lei de Drogas
⦁ Art. 129, §1º do CP
⦁ Art. 269 do CP
⦁ Art. 342 do CP
⦁ Lei 12030/09 inteira

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 158, CPP
⦁ Art. 158-A a 158-F, CPP (muito importante!)
⦁ Art. 159, §1º, §5º, CPP
⦁ Art. 160 a 163, CPP
⦁ Art. 167 a 169, CPP
⦁ Art. 171, CPP
⦁ Art. 180, CPP
⦁ Art. 184, CPP
⦁ Art. 276 e 278, CPP
⦁ Art. 50, §1º, Lei de Drogas
⦁ Art. 2º da Lei 12030/09

1. CONCEITO DE MEDICINA LEGAL

O conceito de medicina legal é tratado de maneira geral, como ciência e como arte. Na visão de
Delton Croce, a Medicina Legal é ciência e arte extrajurídica auxiliar alicerçada conjuntamente com
conhecimentos médicos, paramédicos e biológicos com a finalidade de defender os direitos e os interesses
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dos homens e da sociedade. Tais conhecimentos médicos, especificamente relacionados com a Patologia,
Fisiologia, Traumatologia, Psiquiatria, Microbiologia e Parasitologia, Radiologia, Tocoginecologia, Anatomia,
patológica entre outras, com bem como o Direito; por isso, diz Medicina Legal.
A medicina legal é uma disciplina eminentemente jurídica, pois, por mais que traga seus conceitos da
medicina e outros ramos das ciências biológicas, seus conhecimentos são destinados para a utilização no
ramo do Direito. Essa é a razão pela qual se afirma que a Medicina Legal é a mais importante e significativa
das ciências subsidiárias do Direito (Wilson Palermo).

Conceituação dada por diversos autores:

LACASSAGNE → é a arte de pôr os conceitos médicos ao serviço da administração da justiça.


FRANÇA → é a contribuição da medicina, da tecnologia e outras ciências afins, às questões do Direito na
elaboração das leis, na administração judiciária e na consolidação da doutrina.
HOFFMAN → é a ciência que tem por objetivo o estudo das questões no exercício da jurisprudência civil e
criminal e cuja solução depende de certos conhecimentos médicos.
HYGINO → medicina a serviço das ciências jurídicas e sociais, enquanto arte e ciência, destituída de método
e objeto próprio, mas que carece de especialização, sob pena de prejuízo do laudo (conceito mais restritivo).
HÉLIO GOMES → “O conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados a servir ao Direito,
cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais,
no seu campo de ação de medicina aplicada”.
ANDRÉ PARÉ → “Arte de fazer relatórios em juízo.”
TOURDES → “a aplicação do conhecimento médico às questões que concernem aos direitos e aos deveres
dos homens reunidos em sociedade”.

Concordamos com ambos (Lacassagne e Hoffman), pois a medicina legal é, a um


só tempo, arte e ciência. É arte porque a realização de uma perícia médica requer
habilidade na prática do exame e estilo na redação do laudo; é ciência porque,
além de ter um campo próprio de pesquisas, vale-se de todo o conhecimento
oferecido pelas demais especialidades médicas. HERCULES, Hygino de C. Medicina
Legal, texto e Atlas, 2ª Edição, pg. 13.

Caiu na prova Delegado Paraná 2021! Entre os conceitos a seguir, assinale a alternativa que apresenta uma
definição de medicina legal: C) Arte de fazer relatórios em juízo.

ATENÇÃO! Algumas provas cobram aspectos históricos.


● O pai da medicina legal é Ambroise Paré (França).

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No Brasil a medicina legal sofreu influência da Alemanha, França e Itália (cuidado: Portugal não
influenciou a medicina legal no BR – já foi questionado em prova).
● Segundo Oscar Freire, pode ser dividida em 3 fases:
1. Estrangeira (período colonial até 1877).
2. De transição (início de 1877).
3. De Nacionalização (a partir de 1985).
Principais nomes:
● Agostinho J.S. Lima (RJ, 1922): tanatologia.
● Raymundo Nina Rodrigues (BA, 1930): pesquisa científica, tornando a medicina legal uma
ciência acadêmica no BR.
● Oscar Freire de Carvalho (SP, 1930).

A Medicina Legal é aplicável a diversas disciplinas.


● Criminal: homicídio, lesão corporal, crimes contra a dignidade sexual, aborto, infanticídio,
inimputabilidade.
● Civil: capacidade civil, investigação de paternidade.
● Trabalhista (infortunística forense): acidentes de trabalho, concessão de adicionais de
insalubridade e periculosidade.
● Previdenciária: concessão de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez.
● Penitenciária: psicologia do detento em diversos pontos como no livramento condicional e
psicossexualidade das prisões.
● Processual: perícias, tratamento psicológico de vítimas e testemunhas.

2. SUBDIVISÕES DA MEDICINA LEGAL

(A) PATOLOGIA FORENSE - estuda a TRAUMATOLOGIA FORENSE e a TANATOLOGIA


● Traumatologia forense - estuda as energias vulnerantes, seus mecanismos de ação e suas
consequências
● Tanatologia – estuda a morte, sua causa jurídica e os fenômenos cadavéricos.

(B) TOXICOLOGIA FORENSE - que tem por objeto de estudo as substâncias tóxicas, seus efeitos sobre o
ser humano, seu mecanismo de ação, seu modo de detecção em casos concretos e o esclarecimento
de aspectos de repercussão jurídica.

(C) ANTROPOLOGIA FORENSE - estuda os restos mortais com objetivo de esclarecer sua identidade,
causa de morte e ascendência.

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(D) SEXOLOGIA FORENSE - abrange aspectos relacionados com o diagnóstico de virgindade, violência
sexual, gravidez, puerpério, aborto e problemas médicos legais relativos ao casamento.

(E) PSIQUIATRIA FORENSE - tem por finalidade a avaliação da responsabilidade penal e a capacidade
civil, que podem estar alteradas em função de distúrbios mentais. Nela são abordados os aspectos
médico-legais a embriaguez e as toxicomanias.

3. PERÍCIAS E PERITOS

3.1. Perícia

O objeto da Medicina Legal é a PERÍCIA MÉDICA – consistindo essa em todo ato médico com o
propósito de contribuir com as autoridades administrativas, policiais ou judiciárias com conhecimentos
específicos da área médica.
Genival Veloso de França (pg. 13) conceitua a perícia como:
"Define-se perícia médico-legal como um conjunto de procedimentos médicos e
técnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da
justiça. A perícia, segundo seu modo de realizar-se, pode ser sobre o fato a analisar
(peritia percipiendi) ou sobre uma perícia já realizada (pericia deducendi), o que
para alguns constitui-se em um Parecer".
A perícia pode ser definida como todo exame realizado por profissional não-médico com o fim de ser
usado como meio de prova em juízo.
A perícia médico-legal, por sua vez, compreende todos os exames realizados por profissionais da
medicina, tanto na fase administrativa policial, quanto em juízo.

* Não se esqueça que a prova pericial é um dos meios de provas admitidos em direito para formar o livre
convencimento do juiz.

Nesse campo, têm-se:


a) as perícias médicas - psiquiátrica, necroscópica, traumológica e sexológica;
b) as perícias não médicas - contábil, de engenharia, física, química e a balística;
c) os exames, os quais podem ser diretos ou indiretos.

▪ Exame direto → é aquele realizado sobre o corpo de delito, que corresponde a qualquer evidência
da prática do crime (materialidade delitiva direta). Todavia, não é sempre que o corpo de delito está
disponível, o que enseja o exame indireto por meio de evidências, testemunhas e vestígios.
▪ Exame indireto → é aquele realizado sobre evidências, testemunhas, vestígios etc.

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A perícia possui:
● Parte Objetiva: Relacionada às alterações visíveis encontradas nas lesões e, nos laudos, serão
destacadas na descrição.
● Parte Subjetiva: Valoração da parte objetiva. Aqui podem surgir divergências que serão destacadas
na parte de discussão dos laudos.

Caiu na prova Delegado PCRO 2022! Acerca das perícias e dos peritos, é correto afirmar que os aspectos
objetivos de uma perícia, relacionados às alterações visíveis verificadas por quem procede ao exame, serão
destacados nos respectivos laudos na parte da descrição. (item correto) Como explicado acima, a perícia
possui uma parte objetiva (relacionada às alterações visíveis encontradas nas lesões e, nos laudos, serão
destacadas na "descrição"); e uma parte subjetiva (valoração da parte objetiva. Aqui podem surgir
divergências que serão destacadas na parte de "discussão" dos laudos).

a) Finalidades da perícia
Podemos elencar 3 (três) finalidades da perícia:

(1) Retratação: narrativa (percipiendi), na qual o perito analisa a situação e narra em palavras suas
percepções. A descrição dos fatos é feita de forma simples para que leigos entendam a observação
técnico-científica pericial.
(2) Interpretativa: viés científico (deducendi), é a mais comum, em que o perito fornece o retrato da
cena e suas deduções técnicas. O fato é analisado e interpretado cientificamente pelo perito.
(3) Opinativa: o perito, além de narrar a cena e apresentar suas deduções, expõe de forma conclusiva
sua opinião científica. Vale dizer que o perito não julga, mas apenas apresenta sua opinião.

b) Momento da perícia
Em relação ao momento da perícia, esta pode ser:

(1) retrospectiva – depois da ocorrência do fato


(2) prospectiva – dizendo o que pode vir a acontecer.

Via de regra, a perícia será retrospectiva.

c) Exame de corpo de delito x corpo de delito


● O exame do corpo de delito, embora redundante, é o exame que é realizado sobre o corpo de delito.
● O corpo de delito elemento objetivo que o delito deixou / materialidade delitiva - o próprio crime
tipificado, o local do fato, o instrumento utilizado.

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Atenção!!! Cuidado para não confundir corpo da vítima com corpo de delito. Exemplo: em uma cena de
homicídio mediante arma de fogo, a arma utilizada também compõe o corpo de delito.

O corpo de delito, por sua vez, pode ser:


(1) delicta factis permanentis – com o caráter de ser permanente
(2) delicta fatis transeunteis – podendo deixar de existir facilmente.

Obs.2: Cuidado para não confundir conceito de corpo de delito com a definição de corpus criminis, corpus
instrumentorium e corpus probatorium. Vejamos:

● CORPUS CRIMINIS - Toda coisa ou pessoa sob a qual recai a conduta delitiva.
● CORPUS INSTRUMENTORIUM - É o instrumento, objetos, meios utilizados pelo agressor para
cometer a prática delitiva.
● CORPUS PROBATORIUM – vestígios.

Wilson Palermo (sinopse medicina legal) dispõe de algumas considerações importantes sobre a perícia na
literatura médico-legal:
- Pode envolver qualquer aspecto do ser humano
-Pode ser sobre o fato a analisar (perícia percipiendi), ou seja, aquela procedida sobre fatos cuja avaliação é
feita baseada em alterações ou perturbações produzidas por diversas maneiras, seja pelas energias
causadoras de danos, seja por doenças. É vista sob uma ótica qualitativa e quantitativa.
- Pode ser sobre uma perícia já analisada (perícia deducendi). É feita sobre fatos pretéritos com relação aos
quais possa existir discordância das partes ou do julgador.
- A finalidade da perícia é produzir a prova, que nada mais é do que a materialização do fato.
- No Processo Penal, como regra, o laudo médico-legal não é documento sigiloso. Porém, a depender do caso
concreto, pode ter decretação de segredo de justiça.
- Pode ser realizada em vivos, cadáveres, esqueletos, animais e nos objetos. Sobre a importância de cada um:

*nos vivos: diagnóstico de lesões, determinação de idade e sexo.


*nos mortos: diagnóstico da causa de morte, causa jurídica da morte, tempo da morte, identificação de
cadáver.
*nos esqueletos: identificação do sexo e tempo de morte.
*nos objetos: exames de armas, projéteis, procura por sangue, fluídos, impressões digitais...

O art. 158 do CPP exige exame pericial nos corpos que deixam vestígios, não podendo supri-lo a
confissão do acusado.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
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Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito


quando se tratar de crime que envolva: (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)
I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído dada pela Lei nº 13.721,
de 2018)
II - Violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com
deficiência. (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)

Caiu na Prova Delegado BA (aplicação 11/09/22) Sobre o corpo de delito, perícia e peritos, analise a
afirmativa: O exame de corpo de delito é obrigatório para a tipificação das infrações que deixam vestígios.
(item correto).

ATENÇÃO! O CPP foi alterado pelo Pacote Anticrime e passou a prever o procedimento acerca da cadeia de
custódia. Apesar de não seja tema afeto à medicina legal, a leitura dos artigos é imprescindível pois o objeto
da cadeia de custódia é precisamente as evidências angariadas no exame pericial.

A partir do momento em que uma prova é coletada ou uma evidência é apreendida, ela deve ser
custodiada (guardada) e todo esse caminho deve ser documentado exatamente para que não haja nenhuma
dúvida quanto à lisura e legalidade da prova.
Nessa esteira, podemos definir a Cadeia de Custódia como o procedimento de documentar a
história cronológica da evidência. Esse procedimento visa a garantir o rastreamento das evidências utilizadas
em processos judiciais, registrar quem teve acesso ou realizou o manuseio desta evidência.
Portanto, vale a leitura dos seguintes artigos:

Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos


utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado
em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de
seu reconhecimento até o descarte.
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou
com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de
vestígio.
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse
para a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação.
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou
recolhido, que se relaciona à infração penal.

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas


seguintes etapas:

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I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse


para a produção da prova pericial;
II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e
preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de
crime;
III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime
ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada
por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo
pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento;
IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial,
respeitando suas características e natureza;
V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é
embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas,
químicas e biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome
de quem realizou a coleta e o acondicionamento;
VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as
condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo
a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de
sua posse;
VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser
documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de
procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de
quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do
vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu;
VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com
a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim
de se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido
por perito;
IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas,
do material a ser processado, guardado para realização de contraperícia,
descartado ou transportado, com vinculação ao número do laudo
correspondente;
X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a
legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial.

ESQUEMATIZANDO

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2- isolamento: ato de 3- fixação: descrição detalhada do 4- coleta: ato de


1- reconhecimento: evitar que se altere o vestígio conforme se encontra no recolher o vestíg
ato de distinguir um estado das coisas, local de crime ou no corpo de delito, e que será submeti
elemento como de devendo isolar e a sua posição na área de exames, à análise pericia
potencial interesse preservar o ambiente podendo ser ilustrada por fotografias, respeitando sua
para a produção da imediato, mediato e filmagens ou croqui, sendo características e
prova pericial; relacionado aos indispensável a sua descrição no natureza;
vestígios e local de laudo pericial produzido pelo perito
responsável pelo atendimento;

5- acondicionamento: 6 - transporte: ato de


procedimento por meio do 7- recebimento: ato formal de transferência
transferir o vestígio de um da posse do vestígio, que deve ser
qual cada vestígio coletado é local para o outro, utilizando
embalado de forma documentado com, no mínimo, informações
as condições adequadas referentes ao número de procedimento e
individualizada, de acordo (embalagens, veículos,
com suas características unidade de polícia judiciária relacionada,
temperatura, entre outras), de local de origem, nome de quem transportou
físicas, químicas e biológicas, modo a garantir a
para posterior análise, com o vestígio, código de rastreamento, natureza
manutenção de suas do exame, tipo do vestígio, protocolo,
anotação da data, hora e características originais, bem
nome de quem realizou a assinatura e identificação de quem o
como o controle de sua recebeu;
coleta e o posse;
acondicionamento;

8- processamento: exame 9- armazenamento:


pericial em si, manipulação procedimento referente à descarte:
do vestígio de acordo com guarda, em condições procedimento
a metodologia adequada às adequadas, do material a referente à liberação
suas características ser processado, guardado do vestígio,
biológicas, físicas e para realização de respeitando a
químicas, a fim de se obter contraperícia, descartado legislação vigente e,
o resultado desejado, que ou transportado, com quando pertinente,
deverá ser formalizado em vinculação ao número do mediante autorização
laudo produzido por laudo correspondente; judicial.
perito;

Segundo Wilson Palermo, embora a lei tenha previsto sequencialidade, deve-se se ater a critérios lógicos,
entendendo que é possível que as etapas de reconhecimento e isolamento podem ser invertidas. O
Professor ainda ressalta que embora a lei tenha previsto sequencialidade, deve-se se ater a critérios
lógicos; ele entende que são possíveis pequenas inversões, desde que não comprometa a integridade e
não se perca a história do vestígio, obedecendo o princípio da eficiência.

Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito
oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo
quando for necessária a realização de exames complementares.
§ 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser
tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de
natureza criminal responsável por detalhar a forma do seu cumprimento.
§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer
vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável,
sendo tipificada como fraude processual a sua realização.

Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela


natureza do material.

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§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração


individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio
durante o transporte.
§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características,
impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço
para registro de informações sobre seu conteúdo.
§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e,
motivadamente, por pessoa autorizada.
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de
acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local,
a finalidade, bem como as informações referentes ao novo lacre utilizado.
§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente.

Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia
destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada
diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal.
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para
conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a
seleção, a classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro
e apresentar condições ambientais que não interfiram nas características do
vestígio.
§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser
protocoladas, consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a
eles se relacionam.
§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser
identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso.
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser
registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a
destinação, a data e horário da ação.

Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central
de custódia, devendo nela permanecer.
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de
armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária
determinar as condições de depósito do referido material em local diverso,
mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia oficial de natureza
criminal.

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O art. 161, do CPP estabelece que o exame de corpo de delito possui lugar e hora, devendo ser
realizado o quanto antes. A exceção fica a cargo da necropsia que deve ser realizada após 6 (seis) horas da
morte no caso de ser fundamental para apurar os sinais de morte (art. 162, CPP).

Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a
qualquer hora.

Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os
peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes
daquele prazo, o que declararão no auto.

Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo
do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões
externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de
exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.

Não confundir:
- 06 horas após a morte com 06 horas após encontrar o corpo;
- 06 horas após a morte com 06 horas após identificação do cadáver;

Por que temos esse período de 6 horas após a morte?


Na medicina legal temos um período chamado Período de Incerteza de Tourdes, e quando formos
estudar a matéria afeta a Cronotanatognose (diagnóstico do tempo de morte), veremos que os fenômenos
cadavéricos – transformativos, destrutivos, etc. – não aparecem ao mesmo tempo, pois a morte é um
processo, e não um instante. Logo, deve-se ter cuidado em esperar o tempo de 06 horas para a realização de
quaisquer exames.

Exceção: não é necessário esperar o período de 6 horas quando se tratar de:


1. MORTE VIOLENTA - Veremos em Tanatologia que a morte violenta é a morte causada por problemas
externos, ou seja, tem origem por ação externa (“vindas de fora”) nas quais se incluem o homicídio,
o suicídio e o acidente).
2. LESÕES EXTERNAS PERMITIREM PRECISAR A CAUSA DA MORTE - Quando o cadáver apresentar sinais
inconfundíveis, como decapitação (cabeça separada do corpo), espostejamento ferroviário (secção
das partes do corpo fora das articulações em decorrência de acidente de trem).

Obs.: Comentário do art. 162 à luz da medicina legal


🡺 uma necropsia é constituída de exame interno e externo de um cadáver. Com isso temos que o
parágrafo único do art. 162 não está dispensando a realização da necropsia, isso porque, nos
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casos de morte violenta ou suspeita, a necropsia é obrigatória. O dispositivo dispensa tão


somente o exame interno, já o exame externo - que faz parte do exame cadavérico – deve ser
realizado.
🡺 para a medicina legal deve-se sempre questionar a aplicabilidade prática deste dispositivo.
Sendo assim quando em provas aparecer a literalidade da lei considerar a alternativa como
correta, já dando o examinador um caso concreto e questionando sobre sua aplicabilidade, deve
candidato desconfiar da possiblidade de aplicação. Isso porque, toda doutrina médico legal
questiona a aplicabilidade desse dispositivo de lei, pois há situações que só poderão ser de fato
compreendidas com exames internos, mesmo que estes sejam dispensados por lei.

O exame pode, ainda, ser complementado por nova perícia após 30 (trinta) dias para verificar a
existência de sequelas, nos termos do art. 168, CPP. Isso se revela de suma importância, pois a ausência de
eventual perícia complementar serve tanto para desclassificar a lesão, quanto resultar na absolvição por
falta de materialidade delitiva (art. 386, II, CPP)

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido
incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da
autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público,
do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.
§ 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito,
a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
§ 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I,
do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da
data do crime.
§ 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

3.2. Peritos

De acordo com o artigo 159 do Código de Processo Penal, dada pela lei n. 11.689/2008, para ser
perito é necessário que o profissional tenha nível superior, sendo que o curso superior não o vincula
necessariamente à área de atuação.
Depois de designado pela autoridade competente ele presta seus serviços de conhecimento à justiça
ou à polícia sobre fatos, pessoas ou coisas.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
oficial, portador de diploma de curso superior.

a) Oficial:
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Para a conceituação duas leis merecem destaque: a Lei 11.690/08 (que reformou o CPP) e a Lei
12.030/09 (que dispõe sobre as perícias de natureza criminal). Essa lei traz autonomia técnica, científica e
funcional no exercício da carreira de Perito Oficial.

Art. 1o - Esta Lei estabelece normas gerais para as perícias oficiais de natureza
criminal.
Art. 2o - No exercício da atividade de perícia oficial de natureza criminal, é
assegurado autonomia técnica, científica e funcional, exigido concurso público,
com formação acadêmica específica, para o provimento do cargo de perito oficial.
Art. 3o - Em razão do exercício das atividades de perícia oficial de natureza criminal,
os peritos de natureza criminal estão sujeitos a regime especial de trabalho,
observada a legislação específica de cada ente a que se encontrem vinculados.
Art. 5o - Observado o disposto na legislação específica de cada ente a que o perito
se encontra vinculado, são peritos de natureza criminal os peritos criminais,
peritos médico-legistas e peritos odontolegistas com formação superior
específica detalhada em regulamento, de acordo com a necessidade de cada órgão
e por área de atuação profissional.

O Perito Oficial compõe os quadros do Estado, seu ingresso se dá mediante concurso público, são
investidos, portanto, por lei e podem ser perito criminal com formação de curso superior em qualquer
espécie; perito médico legista com formação em medicina; perito odonto-legista com formação em
odontologia.

Obs.1: em alguns Estados o Perito Criminal é Policial Civil, como, por exemplo, em Minas Gerais e Rio
de Janeiro. Em outros, a Superintendência da Perícia está vinculada diretamente a Secretária de Estado de
Segurança, como, por exemplo, a Perícia Cientifica do Paraná.
Obs.2: as Superintendências de Perícia Técnica Científica, estejam ou não vinculadas à Polícia Civil,
se subdividem em três institutos: médico legal, de criminalística e de identificação.

Embora não seja tema atinente à medicina legal, para provas de Delegado de Polícia, é importante
ficar atento ao recente julgado proferido pelo STF:
O exame de corpo de delito deve ser realizado por perito oficial (art. 159 do CPP). Do
ponto de vista estritamente formal, o perito papiloscopista não se encontra previsto
no art. 5º da Lei nº 12.030/2009, que lista os peritos oficiais de natureza criminal.
Apesar disso, a perícia realizada por perito papiloscopista não pode ser considerada
prova ilícita nem deve ser excluída do processo. Os peritos papiloscopistas são
integrantes de órgão público oficial do Estado com diversas atribuições legais, sendo
considerados órgão auxiliar da Justiça. Não deve ser mantida decisão que determinava
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que, quando o réu fosse levado ao Plenário do Júri, o juiz-presidente deveria esclarecer
aos jurados que os papiloscopistas – que realizaram o laudo pericial – não são peritos
oficiais. Esse esclarecimento retiraria a neutralidade do conselho de sentença. Isso
porque, para o jurado leigo, a afirmação, pelo juiz, no sentido de que o laudo não é
oficial equivale a tachar de ilícita a prova nele contida. Assim, cabe às partes, respeitado
o contraditório e a ampla defesa, durante o julgamento pelo tribunal do júri, defender
a validade do documento ou impugná-lo. STF. 1ª Turma. HC 174400 AgR/DF, rel. orig.
Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 24/9/2019
(Info 953).

Em decisão exarada pelo Plenário do STF no bojo da ADI 2.575/PR, julgada em 24.06.2020, entendeu-
se que a Polícia Científica, embora possua estrutura própria e incumbência de realizar as perícias de
criminalística e médico-legais, não pode ter caráter de órgão de segurança pública. Por esse motivo, os
ministros julgaram inconstitucional dispositivo da Constituição do Paraná que colocava a Polícia Científica
como órgão de segurança pública estadual ao lado das polícias civil e militar.

b) Não Oficial ou Juramentado:


Trata-se de pessoa idônea nomeada na falta de Perito Oficial, portadora de diploma de curso
superior, preferencialmente, na área específica.
Devem prestar juramento de bem e fielmente desempenhar o encargo (arts. 159, §§1° e 2° do CPP).

§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica,
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do
exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente
desempenhar o encargo. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

Obs.1: Prazo para entrega do laudo:


Em regra, o prazo para a entrega do laudo é de dez dias (art. 160, §único do CPP). Contudo, existem
situações excepcionais: Lei de Drogas - art. 50, §1°- em que para autuação da prisão em flagrante deve o
Delegado requisitar a elaboração do laudo preliminar; exame complementar da lesão corporal do art. 129,
§1° do CP, que será realizado em trinta dias após a data do fato; exame de sanidade mental em que o prazo
é de 45 dias.

Obs.2: Assistente técnico:


Assistente técnico é o perito de confiança contratado pela parte para atuação no processo. Por isso,
não há que se falar em imparcialidade do assistente técnico em razão da relação de confiança com a parte.
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Além disso, essa figura foi introduzida com a reforma de 2008. É exigido curso superior e sua atuação tem
por objetivo confrontar o laudo pericial confeccionado pelo Perito Oficial.
A indicação é facultada as partes: Ministério Público, ofendido, querelante, acusado e assistente de
acusação (art. 159, §3° do CPP). Contudo, a admissão só pode ser em fase judicial e, após, a elaboração dos
laudos do perito oficial. Essa admissão é sujeita ao crivo do Magistrado e é irrecorrível (art. 273 do CPP).
Esse assistente técnico se manifesta de duas formas, a saber, através de parecer ou depoimento.
Além disso, o assistente técnico pode ter acesso ao material probatório, desde que requerido pelas partes,
sendo o exame realizado nas dependências do órgão oficial e na presença de um perito oficial.

ASSISTENTE TÉCNICO PERITOS


Auxilia as partes auxilia o juízo.
Atua apenas na fase processual. Atua tanto na fase processual quanto na fase
investigatória.
Indicado pela parte e admitido pelo juiz. Perito ad hoc é nomeado pelo juiz.

Não é funcionário público, não exerce múnus público Perito oficial é funcionário público
Perito ad hoc exerce múnus público.
Sem imparcialidade Com imparcialidade.

CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES:
Questão – Qual o número de peritos necessário para realizar a perícia técnica e confeccionar um laudo? Se
Perito Oficial basta um a partir da reforma promovida pela Lei 11690/08, pois antes eram exigidos dois Peritos
Oficiais. Se Perito Não Oficial: são exigidos dois (art. 159, §1° do CPP).

ANTES DA REFORMA DE 2008 APÓS A REFORMA DE 2008

Basta 1 perito oficial, mas nas perícias complexas é


2 peritos oficiais possível a nomeação de mais de 1 perito oficial.
2 peritos nomeados, ad hoc.

* EXCEÇÃO! Na lei de drogas, o laudo provisório pode ser firmado por apenas 1 perito oficial.
Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará,
imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto
lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e
quatro) horas.
§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da
materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e
quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa
idônea.
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§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1º deste artigo não ficará
impedido de participar da elaboração do laudo definitivo.

Questão – E se houver divergência entre os peritos?


Em regra, para cada área é nomeado um perito. Porém, há a possibilidade de perícia complexa a
depender do caso concreto que envolva mais de uma área e, consequentemente, uma pluralidade de peritos.
Ocorrendo divergência entre eles, no auto do exame serão constadas as respostas em separado ou
cada um redigirá seu laudo, cabendo ao juiz nomear um terceiro perito. Se este divergir de ambos, a
autoridade poderá determinar a realização de novo exame com outros peritos

Art. 180. Se houver divergência entre OS PERITOS, serão consignadas no auto do


exame as declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá
separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir
de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos

Obs.: O juiz NÃO FICARÁ ADSTRITO AO LAUDO, podendo ACEITÁ-LO ou REJEITÁ-LO, NO TODO ou EM PARTE.
(art. 182, CPP)

DICA DE PROVA – É comum o examinador inserir nas alternativas que os peritos nomeados não podem
divergir no exame, devendo estes concordar com os achados periciais e assim emitir laudo único.
ERRADO. É sim possível a divergência entre peritos nomeados, porque a perícia é um ato médico, portanto,
é ato de autonomia do perito.

Questão – E o perito que não tinha curso superior antes das alterações legislativas? Continuam a atuar nas
suas respectivas áreas, salvo os peritos médicos legistas que estão impedidos de atuar, exigindo o curso
superior de medicina.

Questão – As partes podem e intervir na nomeação do perito? As partes não intervirão na nomeação do
perito (art. 276 do CPP).

Art. 276. As partes não intervirão na nomeação do perito.

Questão – O perito nomeado pode se recusar? O perito nomeado é obrigado a aceitar, salvo motivo
justificado (art. 277 do CPP), estando, inclusive sujeito a multa nas seguintes situações: não atendimento a
intimação ou ao chamado; não comparecimento no dia e hora designados; não entregar o laudo.

Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob
pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.
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Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada
imediatamente:
a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;
b) não comparecer no dia e local designados para o exame;
c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos
estabelecidos.

Questão – É possível a condução coercitiva do perito?


Sim, é possível, conforme o art. 278 do CPP.

Questão – Impedimento e suspeição: os impedimentos do art. 279 do CPP são específicos para o perito
nomeado.
1ª hipótese é se tiver sob a interdição temporária de direitos (art. 47, I e II do CP).
2ª hipótese é se já tiver prestado depoimento ou opinado anteriormente sobre o objeto da perícia.
3ª hipótese é no caso de analfabeto e menores de vinte e um ano.

Além disso, é possível ser alegada a suspeição do perito (art. 280 do CPP).
Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre
suspeição dos juízes.

3.3. Crime de Falsa Perícia

O perito presta o depoimento oral. Ao prestar seu depoimento, ele o faz sob pena de falsa perícia,
inclusive se silenciar sobre algo que deveria declarar, conforme o supracitado art. 342, CP.
Ele deve ser intimado a comparecer com 5 (cinco) dias de antecedência da data de realização da
audiência e sua ausência importa em condução coercitiva
Cumpre destacar que, para fins penais no exercício da função, os peritos privados nomeados são
considerados funcionários públicos, conforme o art. 327, CP.

Falso testemunho ou falsa perícia


Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado
mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir
efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da
administração pública
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§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu
o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

4. DOCUMENTOS MÉDICO LEGAIS

Documento médico-legal é a anotação que tem por objetivo reproduzir e representar uma
manifestação do pensamento, baseada em critérios médico-legais. São instrumentos através dos quais o
médico fornece esclarecimentos à justiça. Constam todas as informações, de conteúdo médico ou não, que
tenham interesse judicial.
São documentos médico-legais os relatórios, os pareceres, os atestados, as notificações compulsórias
e os depoimentos orais.

Conceitos e peculiaridades:
1) Relatório médico-legal;
⋅ Auto - ditado diretamente ao escrivão;
⋅ Laudo - redigido pelos peritos.
2) Parecer
3) Atestado
4) Notificação compulsória
5) Depoimento oral

🕮 Prova! – PC/ES (2011)


Foi considerada INCORRETA a seguinte afirmação: Declarações, laudos, receitas e atestados são documentos
médico-legais emitidos por médico.
Como vimos, receitas não estão dentre os documentos médico legais.

» Documentos Médico Legais Em Espécie

4.1. Relatórios (Laudos e Autos)

O relatório médico-legal é o documento mais minucioso. A narração escrita de todas as operações


de uma perícia médica determinada por autoridade policial ou judiciária.
Quando ditado a um escrivão durante o exame, chama-se AUTO
Se redigido depois de terminada a perícia, deve ser chamado de LAUDO.

Caiu na Prova Delegado ES (aplicação 11/09/22) Chama-se de auto o relatório que é ditado diretamente ao
escrivão e diante de testemunhas. (item correto)

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🕮 Polícia Federal (2013)


No concurso da Polícia Federal (2013), foi considerada INCORRETA a seguinte afirmação: O laudo pericial, na
classificação de documentos médico-legais, se enquadra como atestado.
Como vimos, laudo é uma das formas de relatório.
🕮 Delegado de Polícia de SP (2011)
Foi considerada CORRETA a seguinte alternativa: A diferença entre laudo e auto médico-legal é que o
primeiro é escrito e o segundo é ditado a um escrivão perante testemunhas

O Relatório pode ser dividido em 7 partes:


1. Preâmbulo
2. Quesitos
3. Histórico
4. Descrição
5. Discussão
6. Conclusão e
7. Resposta aos quesitos.

1. PREÂMBULO - Essa parte contém a hora, data, local onde está sendo realizado o exame, autoridade que
o requereu e determinou a perícia.
É um tipo de introdução da qual constam:
✔ A qualificação da autoridade solicitante;
✔ A qualificação do perito;
✔ A qualificação do examinado;
✔ O local onde é feito o exame;
✔ A data e a hora;
✔ O tipo de perícia a ser feita.

2. QUESITOS - De acordo com Hygino Hercules, esta parte é constituída de perguntas que têm por
finalidade a caracterização de fatos relevantes.
Perguntas nas quais cuja finalidade é a caracterização de fatos relevantes que deram origem ao
processo.

3. HISTÓRICO/COMEMORATIVO – Contém o registro dos fatos mais importantes que deram origem á
requisição.
Hygino Hercules assevera que tais informações são obtidas através da anamnese do próprio
examinando.

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Em se tratando de autopsia, é preciso não esquecer que os dados da guia de remoção cadavérica
devem ser transcritos, não endossados. A parte do histórico é de extrema importância para orientar o perito
na realização do exame, pois pode fornecer dados relevantes á respeito da dinâmica do evento.

Caiu prova Delegado-BA 2022 (prova anulada) Num relatório médico-legal, o breve relato dos fatos
ocorridos por informação da vítima ou do indiciado, quando também alvo da perícia ou dos dados transcritos
da guia de remoção do cadáver e das suspeitas que pairam sobre o caso, é denominado____________.
Gab DD: Comemorativo (histórico).

4. DESCRIÇÃO - É a parte mais importante do relatório médico-legal, porque é nele que o perito coloca em
pratica o “visum et repertum”, (ver e reportar). Os peritos deverão expor todas as particularidades que a
lesão apresenta, devendo ser claro e objetivo. Ex.: A evolução das lesões pelo processo inflamatório faz com
que os aspectos se modifiquem. Nas lesões em cadáveres, os processos de decomposição modificam seu
aspecto. Logo, o melhor momento para a boa descrição é o primeiro exame.

5. DISCUSSÃO - É destinada a serem discutidas todas as hipóteses eventualmente elencadas


quando da descrição.
Se não houver contradições aparentes, pode não ser necessária. Contudo, quando surge alguma
discrepância é imperiosa.
Os achados têm que ser analisados sob novos ângulos, tentando encontrar uma explicação para as
diferenças. Podem ser formuladas hipóteses diferentes, por vezes envolvendo a necessidade de estudos mais
detalhados e exames complementares. É importante destacar que nessa parte do relatório o perito deve
tomar cuidado para não emitir juízo pessoal. *é mais comum nos pareceres médicos legais, que são respostas
ás consultas médico-legais, onde há espaço para que os peritos se manifestem sobre pontos controvertidos*

6. CONCLUSÃO – é a síntese da parte descritiva com a de discussão.


Terminadas a descrição e a discussão, se houver, o perito assume uma posição quanto à ocorrência,
ou não, do fato com base nas informações do histórico, nos achados do exame objetivo e no seu confronto.
As conclusões podem ser afirmativas ou negativas.

7. RESPOSTA AOS QUESITOS – encerrado o relatório, os peritos devem responder aos quesitos de forma
objetiva e concisa.
Em caso de dúvida, os peritos devem responder que não têm dados para esclarecê-la.
Terminado o relatório, o perito deve assiná-lo. A data do exame pode constar do preâmbulo, estar
no início da descrição, ou ser colocada antes das assinaturas finais.

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⮚ Obs.: consulta médico-legal


É um documento que exprime a dúvida e no qual a autoridade, ou mesmo um outro perito, solicita
esclarecimento sobre pontos controvertidos do relatório, em geral formulando quesitos complementares.

Vamos esquematizar?

Espécie de introdução. Consta data, hora, local, nome, qualificação do examinado,


PREÂMBULO
qualificação dos peritos...

QUESITOS São as perguntas que os técnicos irão responder, de forma afirmativa ou negativa.

HISTÓRICO OU
Relato dos fatos ocorridos, por informações colhidas do interessado ou de terceiros.
COMEMORATIVO
É a parte mais importante do relatório (já caiu em prova), pois descreve o perito
DESCRIÇÃO (VISUM
descreve minuciosamente o que encontrou no exame
ET REPERTUM)
(EXAMES MÉDICOS, CLÍNICOS...).
As lesões encontradas são analisadas cientificamente e comparadas com os dados
DISCUSSÃO
históricos, gerando a formulação de hipóteses

CONCLUSÃO O perito toma uma postura após o diagnóstico, juízo de valor.

A finalidade é estabelecer a existência de um fato típico ou não. Ao encerrar o


RESPOSTA AOS relatório, os peritos devem responder de forma sucinta e convincente SIM ou NÃO de
QUESITOS acordo com o achado constante na descrição. Se por motivo justo não tiver certeza,
pode responder “sem elementos ou prejudicado”.

Caiu na Prova Delegado ES (aplicação 11/09/22) A perícia se diferencia da prova testemunhal, porque o
perito não se limita à descrição minuciosa dos fatos, mas também emite um juízo de valor. (item correto)

4.2. Parecer Médico-Legal

Consiste em respostas técnicas dadas às consultas médico-legais. Devem ter as mesmas partes do
relatório médico-legais com exceção a descrição. Quando uma consulta médico-legal envolve divergências
importantes quanto à interpretação dos achados de uma perícia, de modo a impedir uma orientação correta
dos julgadores, estes, ou qualquer das partes interessadas, podem solicitar esclarecimentos a uma instituição
ou a um perito. O documento gerado por esse tipo de consulta recebe o nome de PARECER.
Assim, o parecer médico legal consiste no documento utilizado para dirimir divergências na
interpretação de uma perícia, sendo solicitado a uma pessoa de renome. Geralmente, é um documento
particular solicitado pela parte. Possui valor de prova técnica, a ser estimada de maneira relativa pelo juiz.
É usado:

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● Quando há divergências importantes quanto à interpretação dos achados de uma perícia, de modo a
impedir uma orientação correta dos julgadores, ou
● Quando estes querem solicitar esclarecimentos mais aprofundados a uma instituição cujo corpo
técnico tem competência inquestionável, ou a um perito ou professor cuja autoridade na matéria seja
reconhecida.

Segundo Fávero, um parecer consta de:


● Preâmbulo;
● Exposição;
● Discussão e
● Conclusão

Caiu prova Delegado-BA 2022 (prova anulada)


O __________é um documento utilizado para dirimir dúvidas na interpretação dos achados de uma perícia,
sendo solicitado a uma pessoa de renome. Sua parte mais importante é a__________.
GAB DD: Parecer médico-legal / discussão - o parecerista demonstra seu poder de argumentação. Não há,
como no relatório, o dever cívico de servir à justiça. Essa é a parte mais importante do parecer médico-legal.

DICA DE PROVA: é muito comum tentarem confundir as partes do relatório com as partes do parecer!
Tomem cuidado, ok?
***IMPORTANTE: NO PARECER NÃO HÁ DESCRIÇÃO!

Cuidado:

PARECER RELATÓRIO
Produzido em momento posterior ao Produzido no momento do exame de corpo de
exame de corpo de delito (exame indireto). delito (exame direto).
Possui 6 elementos (ou 4 a depender da Possui 7 elementos - há descrição.
doutrina) – não há descrição.
Elementos mais importantes: discussão e Elemento mais importante: descrição.
conclusão.

4.3 Atestado

O Atestado é uma afirmação pura e simples, por escrito, de um fato médico e suas consequências,
ou de um estado de sanidade. O documento não exige o compromisso legal, mas não significa que o médico

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não esteja obrigado a relatar a verdade. A sua falsidade enseja o crime do art. 302 do CP: Falsidade de
Atestado Médico.
Trata-se de documento particular e dotado de fé pública.

DICA DE PROVA – É comum ser cobrado em provas da seguinte forma:


“Atestado é um documento público apenas emitido por peritos oficiais”.
ERRADO. Como visto, trata-se de um documento particular, sendo ainda considerado o mais simples da
Medicina Legal dentre o rol dos documentos médico-legais, haja vista exigir menos requisitos para sua
elaboração, podendo ser elaborado por qualquer médico no exercício da medicina

4.3.1 Tipos de Atestados

Os atestados podem ser


a) Oficiosos;
b) Administrativos ou;
c) Judiciários.

a) Oficiosos — são os atestados solicitados por quaisquer pessoas a cujo interesse atendam. Visam
exclusivamente ao interesse privado. São por exemplo, os atestados de saúde para admissão, etc.

b) Administrativos — são os determinados pelas autoridades administrativas. São dessa categoria os


que os empregados/servidores públicos são obrigados a apresentar quando solicitam licença ou
requerem a aposentadoria, atestados de vacinação ou atestados de sanidade física e mental para
admissão em escolas e repartição pública.

c) Judiciários – são os atestados requisitados por juiz. O exemplo comum são aqueles com que os
jurados justificam suas faltas ao tribunal do júri. Só os atestados que interessam à justiça constituem
documentos médico-legais.

Vamos esquematizar?

OFICIOSOS ADMINISTRATIVOS JUDICIÁRIOS


Fazem provas ou justificativas Solicitado para o Serviço Requisitados pelo juiz, por
mais simples, como ausência Público, para efeito de interesse da administração da
às aulas e provas. É solicitado licenças, aposentadoria, Justiça (ex: para justificar uma
pelo paciente, para atender abono de faltas, concurso falta em uma audiência, um
interesses particulares. depoimento, etc.).

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público, etc. É solicitado por


autoridade administrativa.

🕮 Prova!
Na prova de investigador de polícia da Bahia, em 2013, foi considerada INCORRETA a seguinte afirmação:
Quando solicitado por autoridade competente, o relatório do médico legista acerca de exame feito em
vestígio relacionado a ato delituoso recebe a denominação de atestado médico.

* Relatórios e atestados possuem o mesmo valor probante, diferenciando-se por tratarem de assuntos
diferentes.

🕮 Prova!
Para agente de polícia de Alagoas, em 2012, considerou-se CORRETO: O atestado médico é a afirmação do
profissional acerca do fato examinado, já o laudo é o relatório emitido pelo perito, que pode ser o perito
médico legista. Nesse caso, trata-se do laudo pericial médico-legal.

4.3.2 Classificação quanto ao modo de fazer ou conteúdo, os atestados podem ser:

a) Idôneos — É aquele expedido pelo profissional habilitado e verdadeiro


b) Complacentes/De favor — Feito para agradar o cliente, para, por exemplo, ampliar a clientela. Além
de ferir a ética, pode configurar um atestado falso.
c) Imprudente – Emitido de forma descuidada, sem a realização dos devidos exames.
d) Falsos – É o que afirma uma inverdade, omite a verdade, ou é emitido sem exame do paciente.
Configura o crime de falsidade de atestado médico (art. 302, CP) e, no caso de atestado de óbito, o
crime de falsidade ideológica em documento público (art. 299, CP).

4.3.3 Atestado de óbito

O médico que fornece o atestado de óbito, devendo observar as normas legais para tanto.
Primeiramente, é preciso fazer uma diferenciação quanto aos tipos de morte:

MORTE NATURAL MORTE VIOLENTA MORTE SUSPEITA


Doença ou envelhecimento Entende-se por violenta a Morte suspeita é aquela cuja
morte não natural decorrente causa jurídica precisa ser
esclarecida.
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No caso de morte natural, em da ação de energias externas.


regra, o médico que Pode assumir a forma de: Na morte suspeita, não há
acompanha o paciente tem o ⦁ Acidente; sinais de violência, mas
dever de atestar o óbito. ⦁ Suicídio; também não há certeza de
Caso o médico não tenha ⦁ Crime. que tenha sido morte natural.
assistido o paciente, ele fica Nesses casos, o corpo será
impedido de preencher a encaminhado ao IML e a
declaração. autópsia é obrigatória.

🕮 Delegado de Polícia de GO – 2013/UEG


A respeito dos documentos médico-legais, tem-se o seguinte:
A) relatório médico somente poderá ser elaborado por médico legista.
B) laudo e auto são documentos idênticos.
C) o atestado de óbito poderá ser assinado por profissional não médico.
D) notificação é uma comunicação feita pelo médico ao delegado de polícia sobre um fato relevante na
investigação.
Gabarito: Letra C.

Comentários:
A) ERRADO. O relatório é o documento que relata a perícia. Em regra, a perícia médico-legal é elaborada por
um perito oficial, que é médico legista. Contudo, na falta deste, a perícia poderá ser realizada por 2 peritos
não-oficiais, o que significa dizer que o relatório pode ser elaborado por quem não é médico legista. Art. 159,
§ 1º, CPP Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de
diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica
relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
B) ERRADO. Os relatórios se dividem em autos e laudos. Delton Croce aduz que: “Se o relatório é ditado
diretamente ao escrivão, na presença de testemunhas, chamar-se-á auto, e, se redigido posteriormente
pelos peritos, ou seja, após suas investigações e consultas ou não a tratados especializados, recebe o nome
de laudo”.
C) CORRETO. É permitido que 2 pessoas, que tiverem presenciado ou verificado o óbito, atestem o óbito, se
não houver médico na localidade do óbito. Delton Croce esclarece que "será permitido o sepultamento do
cadáver sem o atestado de óbito, por inexistência de médico no lugar, o qual, conforme o art. 77 da Lei n.
6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), é suprido pelo testemunho de duas pessoas
qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte. E o art. 83 estabelece que, “Quando o assento
for posterior ao enterro, faltando atestado de médico ou de duas pessoas qualificadas, assinarão, com a que
fizer a declaração, duas testemunhas que tiverem assistido ao falecimento ou ao funeral e puderem atestar,
por conhecimento próprio ou por informação que tiverem colhido, a identidade do cadáver”".
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D) ERRADO. Notificação é uma comunicação de um fato por necessidade social ou sanitária. Ex: doenças
infecto-contagiosas

Obs.: O atestado de óbito fetal não é obrigatório se o feto contar com:


● Menos de 500 gramas
● Menos de 25 centímetros
● Menos que 20 semanas
Resolução nº 1.779/06 do Conselho Federal de Medicina:
a) Prematuras/precoce: o médico não emitirá declaração de óbito tratando-se de um feto prematuro.
· Feto com menos de: 500 gramas, ou 25 cm, ou cinco meses de gestação (20 semanas).
b) Intermediárias: o médico terá que emitir a declaração de óbito.
· Feto com: entre 500 e 1000 gramas, ou de entre 25 e 35 cm, ou até seis meses (20 até 27 semanas)
de gestação.
c) Tardias: o médico terá que emitir a declaração de óbito.
· Feto com mais de: 1000 gramas, ou mais de 35 cm, ou seis meses de gestação, acima de 27 semanas.
Para conhecimento: o autor Hygino de C. Hercules traz “a obrigatoriedade recai sobre as perdas fetais
tardias (acima de 28 semanas, acima de 1000 g e acima de 35 cm). As perdas precoces e as intermediárias
são consideradas aborto e o médico não está obrigado a fazer a declaração de óbito.Contudo, a OMS
recomenda que sejam preenchidas voluntariamente para que as informações possam ser aproveitadas na
confecção das tabelas de mortalidade, com fins sanitários e estatísticos.” Confira na página 23 do Livro
Medicina Legal. Texto e Atlas. Hygino de C. Hercules

Questão - É possível revelar o diagnóstico do atestado?


R.: O diagnóstico só poderá ser revelado em um atestado se tiver a autorização do paciente, ainda
que esse diagnóstico seja dado na forma do CID (Classificação Internacional de Doenças). Portanto, o
profissional médico não se exime de possíveis responsabilidades (ex.: crime de violação de segredo
profissional), caso alegue que mesmo diante da não autorização do paciente, colocou o diagnóstico em forma
de CID. Isso porque, é possível que a doença seja descoberta com uma simples busca na relação de
classificação por qualquer um por meio da internet por exemplo.

4.3.4 Notificação Compulsória

São comunicações compulsórias feitas pelos médicos às autoridades competentes, por razões sociais
ou sanitárias.
Caso o médico (apenas para o médico) deixe de fazer a comunicação, estará enquadrado no crime
de omissão de notificação de doença (art.269, CP):

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Art. 269. Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja


notificação é compulsória.

Situações que ensejam notificação compulsória:


● Doenças ou agravos, que constam da Portaria 104 do Ministério da Saúde;
● Ação penal pública incondicionada cujo conhecimento deu-se em função do exercício da medicina;

* Lembrando que agora todos os crimes contra a dignidade sexual são crimes de ação penal pública
incondicionada, de modo que o médico deverá notificar a autoridade responsável para apurar o caso.

● Lesão ou morte causada por atuação de não médico;


● Esterilizações cirúrgicas;
● Diagnóstico de morte encefálica;
● Tortura;
● Violência contra a mulher e maus-tratos contra criança, adolescente ou idoso.

Questão de Prova – Notificações são aqueles documentos obrigatoriamente emitidos pelos médicos em
situações específicas nas práticas médicas, incluindo o uso de drogas ilícitas e embriaguez.
ERRADO. O uso de drogas ilícitas e embriaguez já foram uma condição de notificação compulsória,
atualmente, não mais. Sendo assim qualquer uso de droga ilícita ou embriaguez, não configuram fatos
médicos ou condições de notificação compulsória, não obrigando ou gerando responsabilidade ao
profissional de saúde que não as comunicar.

4.5. Depoimentos Orais

São os esclarecimentos dados pelo perito, acerca do relatório apresentado, perante o júri ou em
audiência de instrução e julgamento.
O depoimento oral deriva da oitiva do perito em juízo, com valor probatório de prova técnica, e não
testemunhal. Dessa forma, quando o perito é chamado a falar em juízo sobre alguma divergência, ele atua
na condição de perito, e não de testemunha.
É de suma importância deixar claro, desde já, que a atuação do perito se limita à análise dos vestígios
do crime, enquanto a atuação da autoridade policial deve conduzir a sua atuação para alcançar indícios do
crime. O vestígio é material; enquanto o indício é subjetivo.
O perito não afirmará que houve um estupro, ele relatará que há indícios de conjunção carnal. Porém,
como sabemos, o estupro exige o dissenso da vítima. Nesse caso, cabe ao Delegado de Polícia buscar

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elementos que o possibilitem afirmar que houve não só a conjunção carnal, mas também o constrangimento.
Ou seja, a autoridade deverá colher indícios de que a atuação do agente foi criminosa, forçada, contra a
vontade da vítima.

Em caso de fatos obscuros ou conflitantes em um relatório de uma perícia, o magistrado pode adotar
3 medidas:
1. Nomear um parecerista – produção de um parecer.
2. Intimar o perito para responder a quesitos suplementares – produção de um laudo suplementar.
3. Intimar o perito para prestar esclarecimentos em audiência – depoimento oral.

4.6 Prontuários

Conjunto de documentos padronizados e ordenados, onde são registrados todos os cuidados


profissionais prestados ao paciente em instituições de saúde ou consultórios.
Trata-se de um documento histórico que não se resume apenas ao registro da anamnese do paciente.
É criado por interesses médicos, mas pode produzir relevantes efeitos jurídicos. Pertence ao
paciente, cabendo ao médico e a instituição a qual ele se vincula apenas o dever de guarda.

ATENÇÃO! Divergência quanto a possibilidade de requisição pelo delegado de polícia.

Parecer CFM 315/2015: o prontuário possui informações protegidas de forma absoluta por reserva de
jurisdição, não sendo cabível a sua disponibilização mediante requisição do delegado, não obstante o
disposto no art. 2, §2º, da Lei 12.830/13, isso porque, o sigilo profissional é uma garantia constitucional e,
portanto, de reserva absoluta de jurisdição.

En. 13, II Encontro Nacional de Delegados de Polícia (2015): o poder requisitório do delegado abarca o
prontuário médico que interesse à investigação policial, não estando albergado por cláusula de reserva de
jurisdição, sendo dever do médico ou gestor de saúde atender à ordem no prazo fixado, sob pena de
responsabilização criminal por crime de desobediência, visto que a Resolução é norma infralegal, enquanto
o poder requisitório tem fundamento em lei federal.

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DIREITOS HUMANOS: INTERPRETAÇÃO, EFICÁCIA E DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CRFB/88:
⦁ Art. 1º ao 4º.
⦁ Art. 5º .
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

CRFB/88:
⦁ Art. 1º, III.
⦁ Art. 3º, II
⦁ Art. 4º.
⦁ Art. 5º, §2º e §3º.

1. INTERPRETAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

1.1 Aspectos gerais

Todas as normas em vigor no Estado, sejam internas ou internacionais, devem ser interpretadas
conforme os direitos humanos, sem qualquer exceção. Assim, v.g., quer seja a Constituição do Estado (norma
interna) ou um tratado internacional de comércio (norma internacional) em vigor nesse mesmo Estado,
ambas as normas devem ser interpretadas “conforme” as diretrizes dos direitos humanos contemporâneos
previstas em tratados ou em costumes internacionais, a fim de encontrar a melhor solução para o direito da
pessoa em um dado caso concreto. (Mazzuoli, 2018)
Nesse sentido, a INTERPRETAÇÃO CONFORME OS DIREITOS HUMANOS, consiste na escolha, pelo
intérprete, quando a norma impugnada admite várias interpretações possíveis, de uma que a compatibilize
com os direitos humanos. Com base nessa interpretação, os direitos humanos influem em todo o Direito e
nos atos dos agentes públicos e privados, concretizando seu efeito irradiante, que os transformam no centro
dos valores de um ordenamento.
A interpretação, conforme os direitos humanos, é fruto da interdependência e indivisibilidade dos
direitos humanos, já que a compreensão e aplicação de uma norma de direitos humanos são feitas levando-
se em consideração os demais direitos atingidos. Por isso, os direitos humanos são direitos prima facie, isto
é, asseguram em um primeiro momento posições jurídicas que, posteriormente, podem sofrer restrições
pela incidência de direitos titularizados por outros indivíduos. (Ramos, 2017)
As regras tradicionais de interpretação são insuficientes no campo dos direitos humanos, já que as
normas nesta matéria são redigidas de forma aberta, repletas de conceitos indeterminados e
interdependentes e com riscos de colisão. Consequentemente, a interpretação é indispensável para que se

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possa precisar e delimitar os direitos humanos. As razões para a importância da interpretação dos direitos
humanos são as seguintes:
● Superioridade normativa, pois não há outras normas superiores às quais pode o intérprete
buscar auxílio;
● Força expansiva, que acarreta a jusfundamentalização do Direito, fazendo com que todas as
facetas da vida social sejam atingidas pelos direitos humanos.

A função da interpretação é concretizar os direitos humanos por meio de procedimento


fundamentado, com argumentos racionais e embasados, que poderá ser coerentemente repetido em
situações idênticas, gerando previsibilidade jurídica e evitando o arbítrio e decisionismo do intérprete-juiz.
A estrutura principiológica dos direitos humanos gera vários resultados possíveis em temas com
valores morais contrastantes. Não há certo ou errado: chega-se a uma conclusão que deve atender a uma
“RESERVA DE CONSISTÊNCIA” em sentido amplo (Peter Häberle). Aplicada à seara dos direitos humanos, a
reserva de consistência em sentido amplo exige que a interpretação seja:
● Transparente e sincera, evitando a adoção de uma decisão prévia e o uso da retórica da
“dignidade humana” como mera forma de justificação da decisão já tomada;
● Abrangente e plural, não excluindo nenhum dado empírico ou saberes não jurídicos, tornando
indispensável a participação de terceiros, como amicus curiae;
● Consistente em sentido estrito, mostrando que os resultados práticos da decisão são
compatíveis com os dados empíricos apreciados e com o texto normativo original;
● Coerente, podendo ser aplicada a outros temas similares, evitando as contradições que levam
à insegurança jurídica.

A adoção de um modelo aberto de processo de interpretação jusfundamental permite que os


julgadores possam ter mais elementos para a tomada de decisão.

1.2 Métodos para interpretação dos direitos humanos

Em relação à interpretação dos Direitos Humanos, os principais métodos utilizados são:

a) Princípio/critério da máxima efetividade;


b) Interpretação pro homine;
c) Primazia da norma mais favorável.

a) Critério da Máxima Efetividade


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O critério da máxima efetividade exige que a interpretação de determinado direito conduza ao maior
proveito do seu titular, com o menor sacrifício imposto aos titulares dos demais direitos em colisão. Implica
a aplicabilidade direta, pela qual os direitos humanos previstos na Constituição e nos tratados podem incidir
diretamente aos casos concretos, bem como conduz à aplicabilidade imediata, que prevê que os direitos
humanos incidem nos casos concretos, sem qualquer lapso temporal.

CAIU EM PROVA:

→ (FUMARC/2021/PC-MG/Delegado de Polícia) Em relação à interpretação dos Direitos Humanos:

- O princípio da máxima efetividade no Direito Internacional dos Direitos Humanos consiste em conferir
conceitos e termos inseridos nos tratados de direitos humanos, sentidos próprios, distintos dos sentidos a
eles atribuídos
pelo direito interno, para dotar de maior efetividade os textos internacionais de direitos humanos.

Resposta: Incorreto. O princípio da máxima efetividade exige que a interpretação de determinado direito
conduza ao maior proveito do seu titular, com o menor sacrifício imposto aos titulares dos demais direitos
em colisão.

- Na hipótese de dúvida na interpretação de qual norma deve reger determinado caso, impõe-se que seja
utilizada a norma de origem internacional, haja vista que, após o reconhecimento do indivíduo como sujeito
de direito
internacional, o aspecto protetivo desse ordenamento se sobrepõe ao direito interno.

Resposta: Incorreto. Na hipótese de dúvida na interpretação de qual norma deve reger determinado caso,
impõe-se a interpretação conforme os direitos humanos, a partir dos critérios da máxima efetividade, pro
homine e da primazia da norma mais favorável.

b) Interpretação Pro Homine

A interpretação pro homine exige que, diante de um conflito entre normas ou entre interpretações
da norma, a interpretação dos direitos humanos seja sempre aquela mais favorável ao indivíduo. Implica
em reconhecer a superioridade das normas de direitos humanos, exigindo, no caso concreto, a aplicação da
norma que dê posição mais favorável ao indivíduo.

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CAIU EM PROVA:

→ (FUMARC/2021/PC-MG/Delegado de Polícia) Em relação à interpretação dos Direitos Humanos:

A exegese do Direito Internacional dos Direitos Humanos, consagrada pela jurisprudência internacional, tem
como epicentro o princípio da interpretação pro homine, que impõe a necessidade de que a interpretação
normativa seja
feita sempre em prol da proteção dada aos indivíduos.

Resposta: Correto.

c) Princípio da Prevalência da Norma Mais Favorável

O princípio da prevalência da norma mais favorável ao indivíduo defende a escolha, no caso de


conflito de normas (nacionais ou internacionais), daquela que seja mais benéfica ao indivíduo. Não importa
a origem, mas sim o resultado: benefício ao indivíduo. O princípio sofre desgaste profundo pelo
reconhecimento da existência da interdependência e colisão aparente entre os direitos, o que faz ser
impossível a adoção desse critério no ambiente do século XXI no qual há vários direitos (de titulares distintos)
em colisão.
Os três métodos são encontrados em várias decisões judiciais, inclusive na do Supremo Tribunal
Federal. Para o Min. Celso de Mello:

Os magistrados e Tribunais, no exercício de sua atividade interpretativa,


especialmente no âmbito dos tratados internacionais de direitos humanos, devem
observar um princípio hermenêutico básico (tal como aquele proclamado no art. 29
da Convenção Americana de Direitos Humanos), consistente em atribuir primazia à
norma que se revele mais favorável à pessoa humana, em ordem a dispensar-lhe a
mais ampla proteção jurídica. O Poder Judiciário, nesse processo hermenêutico
que prestigia o critério da norma mais favorável (que tanto pode ser aquela
prevista no tratado internacional como a que se acha positivada no próprio direito
interno do Estado), deverá extrair a máxima eficácia das declarações
internacionais e das proclamações constitucionais de direitos, como forma de
viabilizar o acesso dos indivíduos e dos grupos sociais, notadamente os mais
vulneráveis, a sistemas institucionalizados de proteção aos direitos fundamentais
da pessoa humana, sob pena de a liberdade, a tolerância e o respeito à alteridade
humana tornarem-se palavras vãs. Aplicação, ao caso, do art. 7º, n. 7, c/c o art. 29,
ambos da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa
Rica): um caso típico de primazia da regra mais favorável à proteção efetiva do
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ser humano (HC 91.361, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 23-9-2008,
Segunda Turma, DJE de 6-2- 2009).

A doutrina aponta, ainda, a existência do critério da interpretação autônoma, que preconiza que as
expressões, os termos que existem dentro dos tratados internacionais de direitos humanos, devem ser
compreendidos à luz das peculiaridades próprias do direito internacional, sem as idiossincrasias do
ordenamento jurídico interno. Os Estados, ao interpretarem tratados internacionais de direitos humanos,
não podem fazê-lo com base nos seus conceitos internos de norma. Deve analisar, no plano internacional, o
que aquilo significa.

CAIU EM PROVA:

→ (FUMARC/2021/PC-MG/Delegado de Polícia) Em relação à interpretação dos Direitos Humanos:

- O princípio da interpretação autônoma consiste em assegurar às disposições convencionais seus efeitos


próprios, evitando-se que sejam consideradas meramente programáticas.

Resposta: Incorreto. O princípio da interpretação autônoma preconiza que na interpretação dos tratados
internacionais devem ser consideradas as peculiaridades próprias do direito internacional, e não os conceitos
jurídicos do ordenamento interno.

1.3 Conflito entre Direitos Humanos

A força expansiva dos direitos humanos consiste no fenômeno pelo qual os direitos humanos
contaminam as mais diversas facetas do ordenamento jurídico. Essa verdadeira jusfundamentalização do
direito, inclusive atingindo relações entre particulares (eficácia horizontal de direitos humanos), gera conflito
aparente entre direitos de titulares diversos, exigindo do intérprete sólida argumentação jurídica sobre os
motivos da prevalência de um direito em detrimento de outro, em determinada situação.
Os direitos humanos encontram seus limites tanto na sua redação original quanto na interação com
os demais direitos. Não existem direitos absolutos, porque os direitos humanos convivem com os demais
direitos previstos na Constituição e nos tratados internacionais.
Podemos classificar a colisão de direitos em dois tipos diversos:
(1) Colisão de direitos (ou colisão de direitos em sentido estrito): é constatada quando o exercício
de um determinado direito prejudica o exercício de outro direito do mesmo titular ou de titular
diverso.

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▪ Do ponto de vista subjetivo: essas colisões podem envolver direitos do mesmo


titular ou de titulares diferentes. Nos casos em que o titular dos direitos é a mesma
pessoa, existe a concorrência de direitos.
▪ Do ponto de vista objetivo: as colisões podem envolver direitos idênticos ou de
diferentes espécies.

(2) Colisão de direitos em sentido amplo: consiste no exercício de um direito que conflita ou
interfere no cumprimento de um dever de proteção de um direito qualquer por parte do Estado.
As teorias interna e externa buscam solucionar a colisão de direitos.

1.3.1 Teoria Interna

Os conflitos são superados pela determinação do verdadeiro conteúdo dos direitos envolvidos. Trata-
se de fórmula de superação dos conflitos aparentes entre direitos humanos, mediante o uso da
interpretação sistemática e finalística, que determinaria o verdadeiro conteúdo dos direitos envolvidos e a
adequação desse conteúdo à situação fática analisada.
Para a teoria interna, há limites internos a todo direito, quer estejam traçados expressamente no
texto da norma (direito fundamental traz, em seu texto, a própria ressalva que o exclui da aplicação no caso
concreto), quer sejam imanentes ou inerentes a determinado direito, o que faz com que não seja possível
um direito colidir com outro (trata-se do poder do intérprete de reconhecer qual é a estrutura e finalidades
do uso de determinado direito, delimitando-o). Desse modo, a teoria interna nega os conflitos entre direitos
humanos: “o direito cessa onde o abuso começa”.
Resultado do uso da teoria interna: ou a situação fática é albergada no âmbito de incidência de um
direito humano ou não o é e, consequentemente, não há direito algum a ser invocado.
Crítica à teoria interna: dificuldade do intérprete em delimitar, racionalmente, o conteúdo dos
direitos em análise, tornando-se um critério arbitrário.
No STF, há precedentes nos quais está clara a ideia de combate às pseudocolisões ou falsas colisões
de direitos, como se vê no HC 82.424, Rel. p/ o ac. Min. Presidente Maurício Corrêa, julgamento em 17-9-
2003, Plenário, DJ de 19-3-2004).

1.3.2 Teoria Externa

Adota a separação entre o conteúdo do direito e os limites que lhes são impostos do exterior,
oriundos de outros direitos. Visa à superação dos conflitos entre direitos, dividindo o processo de
interpretação em dois momentos:

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a) Delimitação do direito prima facie envolvido, identificando-se se o direito aparentemente incide


sobre a situação fática;
b) Investigação sobre a existência de limites justificáveis impostos por outros direitos, de modo
a impedir que o direito aparente (ou prima facie) seja considerado um direito definitivo.

A justificação se dá pelo critério da proporcionalidade que é, portanto, a chave mestra da teoria


externa, pois garante racionalidade e controle da argumentação jurídica que será desenvolvida para
estabelecer os limites externos de um direito e afastá-lo da regência de determinada situação fática. São nos
casos difíceis (hard cases) que a insuficiência da teoria interna se apresenta. A adoção da teoria externa
nestes casos resulta em maior transparência do raciocínio jurídico do intérprete.

Crítica: Inflação de conflitos sujeitos ao Poder Judiciário, resultando em aumento da imprevisibilidade e


insegurança jurídica sem maior controle da decisão (a depender da ponderação), bem como maior déficit
democrático, uma vez que o Poder Judiciário ditaria a última interpretação.
A resposta à crítica reside no reconhecimento da inevitabilidade dos conflitos de direitos humanos.

1.3.2.1 Conceito e Facetas da Proporcionalidade

O Princípio da proporcionalidade consiste na aferição da idoneidade, necessidade e equilíbrio da


intervenção estatal em determinado direito fundamental, e tem fundamento em diversos dispositivos:
a) Implícitos na CRFB/88, na visão da doutrina e dos precedentes do STF, embora não haja consenso;
b) Estado Democrático de Direito;
c) Devido Processo Legal;
d) Dignidade da Pessoa Humana e direitos fundamentais;
e) Princípio da Isonomia;
f) Direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios da Constituição.

O princípio da proporcionalidade é utilizado em três situações típicas:


i) Existência de lei ou ato administrativo que, ao incidir sobre determinado direito, o restrinja;
ii) Existência de lei ou ato administrativo que, ao incidir sobre determinado direito, não o
proteja adequadamente;
iii) Existência de decisão judicial que, em conflito de direitos humanos, opta pela prevalência de
um direito, limitando outro.

Originalmente, a proporcionalidade foi utilizada para combater os excessos das restrições a direitos,
isto é, como instrumento de fiscalização da ação excessivamente limitadora dos atos estatais, sendo
considerado o “limite dos limites” ou proibição de excesso (Übermassverbot).
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Contudo, atualmente, a proporcionalidade ganha a faceta de promoção de direitos, pela qual são
fiscalizados os atos estatais excessivamente insuficientes para promover um direito (exemplo: direitos
sociais), gerando a proibição de proteção suficiente (Untermassberbot).
A proporcionalidade também ganha a faceta da ponderação em conflito de direitos, pela qual é
utilizada pelo intérprete para fazer prevalecer um direito, restringindo outro.
Como realçado pelo Min. Gilmar Mendes, em seu voto no Caso Ellwanger: “(...) o
princípio da proporcionalidade alcança as denominadas colisões de bens, valores
ou princípios constitucionais. Nesse contexto, as exigências do princípio da
proporcionalidade representam um método geral para a solução de conflito”
(Voto do Min. Gilmar Mendes, HC 82.424, Rel. p/ o ac. Min. Presidente Maurício
Corrêa, julgamento em 17-9-2003, Plenário, DJ de 19-3-2004).

Segundo (Ramos, 2017) é plenamente admissível a ponderação de 2º grau, uma vez que o Poder
Constituinte não consegue esgotar a regência expressa de todas as hipóteses de colisão entre os direitos
fundamentais. Apesar de, neste caso, a regra de colisão já ter sido previamente estabelecida na Constituição
(e o Constituinte ter ponderado a limitação dos direitos em colisão), submete-se essa regra a uma nova
ponderação.

1.3.2.2 Elementos da Proporcionalidade

a. Adequação: das medidas estatais à realização dos fins propostos, em que se examina se a decisão
normativa restritiva de um determinado direito fundamental resulta, em abstrato, na realização
do objetivo perseguido;
b. Necessidade: das medidas, em que se busca detectar se a decisão normativa é indispensável ou
se existe outra decisão passível de ser tomada que resulte na mesma finalidade almejada, mas
que seja menos maléfica ao direito em análise;
c. Proporcionalidade em sentido estrito: ponderação (ou equilíbrio) entre a finalidade perseguida
e os meios adotados para sua consecução, mediante avaliação da relação custo-benefício da
decisão normativa avaliada.

1.3.2.3 Proibição da Proteção Deficiente

A proibição da proteção deficiente é o sentido positivo do critério da proporcionalidade: o critério


não é apenas o controle das restrições a direitos, mas também o controle da promoção a direitos. Decorre
do reconhecimento dos deveres de proteção, fruto da dimensão objetiva dos direitos humanos. A proibição
da proteção insuficiente também utiliza os mesmos três elementos da proporcionalidade.
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1.3.2.4 Proporcionalidade e Razoabilidade

Segundo as lições de (Ramos, 2017), o princípio da razoabilidade no campo dos direitos humanos
consiste na exigência de verificação da legitimidade dos fins perseguidos por uma lei ou ato administrativo
que regulamente ou restrinja o exercício desses direitos, além da compatibilidade entre o meio empregado
pela norma e os fins visados. A origem desse instituto é norte-americana, sendo extraído da cláusula do
devido processo legal.
Conforme lição de Luís Roberto Barroso, o princípio do devido processo legal, nos Estados Unidos,
extrapolou o caráter estritamente processual (procedural due process), gerando uma segunda faceta, de
cunho substantivo (substantive due process), que se tornou fundamento do princípio da razoabilidade das
leis e atos administrativos. O princípio da razoabilidade estabelece o controle do arbítrio dos Poderes
Legislativo e Executivo e é “por seu intermédio que se procede ao exame de razoabilidade (reasonableness)
e de racionalidade (rationality) das normas jurídicas e dos atos do Poder Público em geral”.
Em resumo, para Barroso, o “princípio da razoabilidade é um parâmetro de valoração dos atos do
Poder Público para aferir se eles estão informados pelo valor superior inerente a todo ordenamento
jurídico: a justiça”. (Barroso, 2001)

A doutrina brasileira se divide em duas principais correntes:


● 1ª corrente - Há aqueles que defendem equivalência entre os conceitos de proporcionalidade
e razoabilidade, uma vez que ambos têm como fundamento o chamado “devido processo legal
substancial”, sendo institutos idênticos com terminologia diferente apenas. Essa é a posição de
vários precedentes do Supremo Tribunal Federal.
● 2ª corrente: Há aqueles que diferenciam razoabilidade e proporcionalidade, enfatizando que a
razoabilidade representa apenas um dos elementos do critério da proporcionalidade (elemento
adequação), sendo este mais amplo. Para Virgílio Afonso da Silva, a regra da proporcionalidade
é mais ampla do que a regra da razoabilidade, pois não se esgota no exame da compatibilidade
entre meios e fins (adequação). (Silva, 2002)

2. DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO

Conforme já estudado:
● Direitos Humanos são aqueles direitos indispensáveis à uma vida digna, previstos em normas
internacionais de proteção dos direitos humanos; e
● Direitos Fundamentais materializam a dignidade humana no plano interno. Ou seja, são aqueles
positivados nas Constituições dos Estados.
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Dessa forma, conclui-se que os direitos humanos previstos na Constituição da República de 1988
correspondem aos chamados direitos fundamentais, como aqueles previstos em seu art. 5°.
A Carta Magna de 1988 é um marco na história constitucional brasileira, pois a sua abertura aos
direitos foi baseada também nos tratados internacionais celebrados pelo Brasil. Dessa forma, ela introduziu
o mais extenso rol de direitos de diversas espécies, incluindo direitos civis, políticos, econômicos, sociais e
culturais, além de prever várias garantias constitucionais.
Ademais, o art. 5°, §2°, da CRFB/88 prevê o princípio da não exaustividade dos direitos
fundamentais, ou seja, que o rol desses direitos não é taxativo, ao afirmar que os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes: i) do regime e dos princípios por ela adotados
e ii) dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

2.1 Fundamentos e Objetivos da República Federativa do Brasil

De acordo com o art. 1º da Constituição de 1988, a República Federativa do Brasil é formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constituindo-se em um Estado Democrático
de Direito, que tem como fundamentos: (Ramos, 2017)
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa;
V – o pluralismo político.
Seu parágrafo único reitera a vocação democrática do Estado, ao dispor que “todo o poder emana
do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Os fundamentos da República convergem para a proteção dos direitos humanos:
A soberania (art. 1º, I) possui duas esferas, quais sejam, a externa e a interna. Na esfera externa, a
soberania consiste no poder político independente na esfera internacional. Na sua esfera interna, a soberania
consiste no poder político titularizado pelo povo, redundando na soberania popular.
A cidadania (art. 1º, II) consiste em um conjunto de direitos e obrigações referentes à participação
do indivíduo na formação da vontade do poder estatal e, em geral, está associada à nacionalidade.
A dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) consiste na qualidade intrínseca e distintiva de cada ser
humano, que o protege contra todo tratamento degradante e discriminação odiosa, bem como assegura
condições materiais mínimas de sobrevivência. Trata-se de atributo que todo indivíduo possui, inerente à
sua condição humana, não importando nacionalidade, opção política, orientação sexual, credo, entre outros
fatores de distinção. Novamente, esse fundamento da República converge para a proteção de direitos
humanos, que é indispensável para o Estado Democrático de Direito brasileiro.
Por fim, há os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (art. 1º, IV) e o pluralismo político (art.
1º, V), que refletem o desejo do Constituinte de agregar, como fundamento da República, valores
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aparentemente antagônicos (capital e trabalho), bem como valores políticos dos mais diversos quilates,
redundando em uma sociedade diversificada e plural. Para que se tenha essa sociedade pautada na
pluralidade e respeito aos diferentes valores é essencial que exista a proteção de direitos humanos, para que
todos tenham assegurada uma vida digna.
Os objetivos fundamentais (art. 3°) da República Federativa do Brasil também se relacionam com a
proteção de direitos humanos, quais sejam: i) construir uma sociedade livre, justa e solidária (inciso I); ii)
garantir o desenvolvimento nacional (inciso II); iii) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais (inciso III) ; iv) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (inciso IV).
Assim, o Estado brasileiro deve guiar suas condutas para obter uma sociedade livre, justa e solidária,
atacando a pobreza e desigualdades odiosas.
Confira a dica do Professor Rafael de Lazari:

https://youtu.be/s8Px2235r2E

2.2 A Supremacia da Constituição e os Direitos Humanos

A supremacia da Constituição consiste na sua qualidade de norma superior, que representa


pressuposto de validade de todas as demais normas do ordenamento jurídico. A CRFB/88 apresenta um rol
extenso de direitos em seu texto, que são obrigatórios e superiores aos demais.
Uma parcela da doutrina reconhece que as normas constitucionais de direitos humanos possuem
hierarquia material singular, uma vez que são:
a) Cláusulas pétreas (art. 60, §4°, IV);
b) Princípios constitucionais sensíveis (art. 34, VII);
c) Preceitos fundamentais (art. 102, §1°);
d) Normas de aplicação imediata (art. 5°, §2°).

A superioridade das normas constitucionais exige que todas as demais normas do ordenamento
jurídico sejam interpretadas conforme os valores da Constituição e sejam com ela compatíveis, o que consiste
na necessidade de se fazer uma filtragem constitucional.

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Quando se trata de direitos humanos, há a chamada filtragem jusfundamentalista ou


jusfundamentalização do Direito, a qual afirma que todas as normas do ordenamento jurídico devem ser
compatíveis com os direitos humanos.
De acordo com André de Carvalho Ramos, essa filtragem jusfundamentalista serve para:
1) Declarar inconstitucional ou não recepcionada determinada norma ofensiva aos direitos
humanos;
2) Escolha de interpretação conforme aos direitos humanos de determinada norma;
3) Exigir que as políticas públicas tornem efetivas as normas de direitos humanos estabelecidas na
Constituição.

2.3 A Incorporação dos Tratados Internacionais no Ordenamento Jurídico Brasileiro

A Constituição da República de 1988 prevê um procedimento complexo para a formação e a


incorporação dos tratados no ordenamento jurídico interno, em que se une a vontade concordante dos
Poderes Executivo (art. 84, VIII)1 e do Poder Legislativo (art. 49, I), consubstanciando-se na Teoria da junção
das vontades (ou teoria dos atos complexos).
A formação e a incorporação dos tratados internacionais são constituídas de quatro fases:

1ª) Fase de Assinatura: Inicia-se com as negociações preliminares entre os Estados interessados, e
posteriormente, passa-se ao momento da assinatura, sendo atribuição do Chefe de Estado, em
decorrência implícita do disposto no art. 84, VIII, da CRFB/88. A assinatura, em virtude do princípio da
boa-fé (princípio geral de direito internacional), implica em que os signatários não podem atuar de modo
a comprometer o objeto do tratado, ainda que não vincule à ratificação, tratando-se, porém, de um
aceite precário, pois necessária a aprovação das demais fases.

2ª) Fase Congressual: Consiste no referendo congressual (art. 49, I, CF), de competência exclusiva do
Congresso Nacional, sendo a votação separada, iniciada na Câmara dos Deputados e, posteriormente,
no Senado Federal.
Nesta fase, cabe ao Congresso Nacional aprovar ou rejeitar o projeto, não tendo prazo
preestabelecido, dependendo da conveniência política. Se o Congresso Nacional rejeitar a aprovação do
tratado internacional, finda-se aqui o processo, não havendo prosseguimento às demais fases.
Entretanto, caso o Congresso Nacional aprove o tratado internacional, sob a forma de Decreto
Legislativo, passa-se à próxima fase.

1
Tal competência pode ser delegada por meio da Carta de Plenos Poderes, assinada pelo Chefe do Poder Executivo e referendada
pelo Ministro das Relações Exteriores, sendo o seu titular o Representante Plenipotenciário.
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No que tange aos tratados internacionais de direitos humanos, para que tenha status de emenda
constitucional, devem, nessa fase, serem aprovados sob o rito do art. 5º, §3º, da CRFB/88, qual seja, a
aprovação, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros.
Insta salientar que existe uma corrente doutrinária minoritária a qual afirma que, para que um
tratado internacional de direitos humanos tenha status de emenda constitucional, a sua aprovação sob
o rito do art. 5º, §3º, da CRFB/88 deve ocorrer após a aprovação das quatro fases de formação e
incorporação, devendo haver uma nova votação no Congresso Nacional com tal quórum qualificado.

3ª) Fase de Ratificação: Trata-se da confirmação definitiva do aceite do tratado internacional,


calcada na discricionariedade política do Chefe do Poder Executivo. Verifica-se que a partir da ratificação,
o Estado se obriga à produção dos efeitos externos do tratado internacional. Pode se dar por: troca de
notas (tratados bilaterias) ou depósito do instrumento de ratificação (tratados multilaterais).

4ª) Fase de Promulgação: Trata-se da fase de promulgação e de publicação do tratado internacional


no Diário Oficial, por meio de Decreto do Presidente da República, ato que lhe dá eficácia interna. Não
há previsão do Decreto de promulgação na CRFB/88, sendo considerado costume constitucional.
De acordo com os posicionamentos do STF e do TSE, o Decreto Presidencial inova a ordem jurídica,
sendo indispensável para que possa ser recepcionado e aplicado internamente, justificando tal exigência
em nome da publicidade e segurança jurídica a todos.
André de Carvalho Ramos entende ser desnecessário o Decreto Executivo para qualquer tratado,
defendendo a teoria da junção de vontades restrita, a qual afirma que a publicidade da ratificação e a
entrada em vigor internacional deve ser atestada (efeito meramente declaratório) no Diário Oficial da
União, havendo sintonia entre a validade internacional e a validade interna dos tratados, uma vez que
exigir o Decreto Presidencial sem que a CRFB/88 o preveja, pode expor o Brasil à responsabilização
internacional em caso de delonga na sua edição. (Ramos, 2017)
Entretanto, a doutrina majoritária entende que o Brasil adota o sistema da recepção legislativa
(Dualismo – moderado, pois não exige a edição de lei formal), de acordo com o entendimento do STF e
do TSE, tendo em vista que existem dois momentos quanto à incorporação da norma internacional:
primeiramente, na fase de ratificação (3ª fase), o tratado começa a ter validade internacional; porém,
apenas em um segundo momento, na fase de promulgação (4ª fase), é que o tratado começa a ter
validade nacional.

MONISMO DUALISMO
Assinatura do tratado. Assinatura do tratado.
Aprovação legislativa Aprovação legislativa

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Ratificação e depósito - aqui o tratado passa existir Ratificação e depósito - o tratado só obriga o Estado na
juridicamente e pode ser aplicado tanto no plano ordem internacional, pois ainda não pertence ao direito
internacional como no plano interno. A ordem interno. Existência de duas ordens distintas.
jurídica é uma só.
Não existe. Promulgação na ordem interna - o tratado é
transformado em norma de direito interno.

Doutrina minoritária, porém contemporânea, (Flavia Piovesan e Cançado Trindade) entende que os
tratados de direitos humanos adota o sistema da recepção automática, uma vez que estes tratados seriam
auto-executórios, ou seja, que se incorporam ao direito brasileiro tão logo ratificados. Para Piovesan, o Brasil
adota a concepção dualista para a vigência interna dos tratados em geral, porém para os tratados de direitos
humanos, a concepção seria monista, pois prescinde de promulgação, em virtude da eficácia imediata que o
art. 5º, §§1º e 2º, da CRFB/88, lhes outorga.

2.4 Hierarquia dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos Ratificados pelo Brasil
A hierarquia dos tratados no plano interno sempre suscitou diversas discussões. Até 1977, todos os
tratados revestiam-se de caráter supralegal. Após 1977, entendia-se que os tratados incorporados ao
ordenamento jurídico brasileiro tinham a mesma força hierárquica que uma lei federal sendo, portanto,
submetidos aos critérios cronológico e da especialidade, não importando o tema que veiculavam (RE
80.004/SE).
Atualmente temos quatro posições em relação à hierarquia dos Tratados Internacionais de Direitos
Humanos incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro:
1ª. Supranacionalidade: Defendida por Celso Duvivier de Albuquerque Mello, as normas definidas
em tratados internacionais de direitos humanos possuem hierarquia supranacional, de modo
que estão acima da lei maior de um Estado, qual seja, a Constituição Federal.
2ª. Constitucionalidade: Defendida por Antônio Cançado Trindade e Flavia Piovesan, calcados no
art. 5°, §2º, da CRFB/88, tais normas são equivalentes às normas constitucionais, formando,
junto com ela, um bloco de constitucionalidade.
3ª. Supralegalidade: Adotado na Constituição Alemã, a qual reconhece que os tratados
internacionais de direitos humanos têm hierarquia inferior à Constituição, porém acima da
legislação ordinária.
4ª. Legislação Ordinária: Essa corrente afirma que tais tratados são equivalentes às leis ordinárias.

O entendimento majoritário a ser adotado deve ser aquele preconizado pelo Supremo Tribunal
Federal no RE 466343, no qual decidiu sobre a prisão civil do depositário infiel. No referido Recurso
Extraordinário, o STF adotou a corrente da SUPRALEGALIDADE acerca da hierarquia dos tratados

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internacionais de direitos humanos. Assim, os tratados internacionais de direitos humanos estariam acima
da legislação ordinária e abaixo da Constituição Federal, como regra.
Não podemos olvidar que, excepcionalmente, os tratados internacionais de direitos humanos terão
status de Emenda Constitucional se forem aprovados conforme o rito do art. 5º, §3º, da CRFB/88, com a
alteração da EC 45/2004:
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos
dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

Nesse contexto, com base na tese do Min. Gilmar Mendes, o STF passou a entender que, mesmo
antes da EC 45/04, os tratados internacionais de direitos humanos incorporados ao ordenamento pátrio
teriam o status de norma supralegal. Assim, há hoje o DUPLO ESTATUTO DOS TRATADOS DE DIREITOS
HUMANOS:
● Terão status supralegal os anteriores à EC 45/2004 e os posteriores a esta, se aprovados por
maioria simples e único turno pelo Congresso.
● Serão equivalentes à Emenda Constitucional os posteriores à EC 45/2004 e aprovados na forma
do art. 5°, §3º, da CRFB/88.

CAIU EM PROVA:

→ (VUNESP/2019) A “Teoria do Duplo Estatuto” dos tratados de Direitos Humanos, adotada pelo Supremo
Tribunal Federal e por parte da doutrina, consiste em conferir natureza constitucional aos tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, e natureza supralegal a todos
os demais, anteriores ou posteriores à emenda constitucional que estabeleceu o rito do art. 5° , § 3° , e que
tenham sido aprovados pelo rito comum.

Resposta: Certo.

OBS.: Com o advento da Emenda Constitucional nº 45, incluiu-se o parágrafo 5º no artigo 109 da CRFB/88
que trata do “incidente de deslocamento de competência”. Esse tema será estudado no tópico referente à
Federalização de crimes graves contra os direitos humanos.

3. EFICÁCIA DOS DIRETOS HUMANOS

A eficácia pode ser entendida como a qualidade ou a capacidade de a norma fundamental produzir
efeitos. A efetivação é a concretização da norma no meio social.
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A eficácia dos direitos humanos, assim como dos direitos fundamentais, pode ser classificada,
majoritariamente, em duas espécies: vertical e horizontal.
A eficácia vertical indica que as normas fundamentais são destinadas ao Estado. Geram uma relação
jurídico-constitucional entre a pessoa física ou jurídica (sujeito de direito) e os Poderes Legislativo, Executivo
e Judiciário, os quais estão vinculados ao respeito às normas constitucionais, independentemente de
regulamentação por norma infraconstitucional (é uma relação imperativa - dever de obedecer).
A eficácia horizontal refere-se à aplicabilidade direta dos direitos fundamentais nas relações
privadas, ou seja, nas relações entre particulares as normas fundamentais também podem ser utilizadas para
a solução das lides. No caso concreto, deve-se realizar a ponderação de princípios fundamentais para a
concessão do direito, por exemplo, intimidade versus dano moral, entre outros.
A doutrina moderna apresenta, ainda, a existência de uma eficácia diagonal, que consistiria na
invocação de direitos nas relações entre os particulares nas quais uma das partes ostenta vulnerabilidade,
fazendo nascer uma prevalência de determinado direito de um particular sobre o outro, por exemplo, nas
relações envolvendo crianças, pessoas com deficiência, trabalhadores, consumidores etc. A eficácia diagonal
é um subtipo da eficácia horizontal, acrescida do peso maior dado a um dos direitos em conflito.

EFICÁCIA VERTICAL EFICÁCIA HORIZONTAL EFICÁCIA DIAGONAL

A aplicação dos direitos fundamentais A aplicação dos direitos Há hipossuficiência de uma das
às relações entre Estado e particulares, fundamentais às relações partes. É uma relação entre
a relação de subordinação que o entre os próprios particulares. particulares onde não há uma
particular tem com o Estado. igualdade fática.

Bibliografia
Almeida, G. A. (2009). Direitos Humanos. São Paulo : Atlas.
Barroso, L. R. (2001). Princípios da razoabilidade e proporcionalidade. São Paulo: LTr.
Castilho, R. (2011). Direitos Humanos (coleção sinopses jurídicas). São Paulo : Saraiva.
Comparato, F. K. (2017). A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva.
Mazzuoli, V. d. (2018). Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Método.
Piovesan, F. (2019). Direitos Humanos e Justiça Internacional. São Paulo : Saraiva.
Ramos, A. d. (2017). Curso de Direitos Humanos. São Paulo : Saraiva.
Silva, V. A. (2002). O proporcional e o razoável. São Paulo: Revista dos Tribunais.

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META 3

DIREITO PROCESSUAL PENAL: JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (PARTE I)

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XXXVII
⦁ Art. 5º, XXXVIII
⦁ Art. 5º, LIII
⦁ Art. 102, I
⦁ Art. 105, I, “a”
⦁ Art. 109, inc. IV a XI
⦁ Art. 124 e 125, §§1º, 4º e 5º
⦁ Art. 144, §1º

CPP:
⦁ Art. 1º a 3º
⦁ Art. 3º-A a 3º-F
⦁ Art. 70 a 91
⦁ Art. 95, II e 108
⦁ Art. 113
⦁ Art. 383, §2
⦁ Art. 394, §3º
⦁ Art. 399, §2º
⦁ Art. 567

CP:
⦁ Art. 5º
⦁ Art. 6º, CP
⦁ Art. 149-A, §1º, IV, do CP

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Art. 9º, Código Penal Militar
⦁ Art. 70, Lei 11.343/06
⦁ Art. 2º, III, Lei 9613/98
⦁ Art. 239, 241-A e 241-B, ECA

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ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, XXXVII, CF/88


⦁ Art. 5º, XXXVIII, CF/88
⦁ Art. 5º, LIII, CF/88
⦁ Art. 109, IV a XI, CF/88 (alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 3º-B, XIV, CPP
⦁ Art. 3º-C e 3º-D (importantíssimo!)
⦁ Art. 70 a 73 (Leitura indispensável! Alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 76 a 82 (Leitura indispensável! Alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 6º, CP (análise comparativa com o art. 70 do CPP)
⦁ Art. 9º do Código Penal Militar

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 208-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita
a prestação de contas perante órgão federal.
Súmula 209-STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
incorporada ao patrimônio municipal.
Súmula 140-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure
como autor ou vitima.
Súmula 522-STF: Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a competência será da Justiça
Federal, compete a justiça dos estados o processo e o julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em
razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação
do órgão expedidor.
Súmula 38-STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por
contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de
suas entidades.
Súmula 42-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
Súmula 62-STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na carteira de
trabalho e previdência social, atribuído à empresa privada.
Súmula 104-STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de
documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.

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Súmula 107-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado
mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente
lesão à autarquia federal.
Súmula 498-STF: Compete a justiça dos estados, em ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos
crimes contra a economia popular.
Súmula vinculante 36-STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos
crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta de
Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela
Marinha do Brasil.
Súmula 122-STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a do Código de Processo Penal.
Súmula 147-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário
público federal, quando relacionados com o exercício da função.
Súmula 200-STJ: O juízo federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de
passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.
Súmula 165-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no
processo trabalhista.
Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Súmula 721-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa
de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Súmula 451-STF: A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido
após a cessação definitiva do exercício funcional.
Súmula 704-STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a
atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados.
Súmula 702-STF: A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos restringe-se aos crimes de
competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo
tribunal de segundo grau.
Súmula 555-STF: É competente o Tribunal de Justiça para julgar conflito de jurisdição entre juiz de direito
do estado e a justiça militar local.

1. MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

Os mecanismos de solução de conflitos são:

a) Autotutela;

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b) Autocomposição;
c) Jurisdição.

1.1 Autotutela

Caracteriza-se pelo emprego da força bruta para a satisfação de interesses.


Em regra, NÃO é admitida, sob pena de configurar o crime de exercício arbitrário das próprias
razões, previsto no art. 345, CP.

CP, art. 345: Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora
legítima, salvo quando a lei o permite.
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente
à violência.
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante
queixa.

Pergunta-se: Há permissão legal ao exercício da autotutela? R.: SIM. No Direito Penal podemos citar
a previsão da legítima defesa e o estado de necessidade. Já no Direito Processual Penal, temos a prisão em
flagrante.

1.2 Autocomposição

Baseia-se na busca do consenso entre as partes.


Está prevista na Lei n. 9.099/95, a partir dos institutos da composição civil dos danos, transação
penal e suspensão condicional do processo.
A autocomposição NÃO viola o princípio do devido processo legal. Isso porque:
a) os acordos previstos na Lei dos Juizados jamais poderão trazer como consequência uma pena
privativa de liberdade, sendo que, o máximo que a lei autoriza é a celebração de acordos para a
imposição de condições ou de penas não privativas de liberdade (restritivas de direito ou multa);
b) a própria CF (art. 98, I) autoriza e incentiva a criação de Juizados Especiais;
c) não haveria um conflito de interesses propriamente dito, tendo em vista que o Ministério Público
não tem interesse na persecução penal.

1.3 Jurisdição

Juris + Dictio = Direito + Dizer

A jurisdição é uma das funções do Estado, exercida prioritariamente pelo Poder Judiciário, mediante
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a qual o juiz se substitui aos titulares dos interesses em conflito, para aplicar o direito objetivo ao caso
concreto. Em outras palavras: é a tutela imediata de interesses através da aplicação do direito objetivo ao
caso concreto. Trata-se do poder-dever estatal de resolver conflitos, em substituição à vontade das partes.
Nos dizeres de Fernando Capez (2018, p. 252):

“(...) jurisdição é a função estatal exercida com preponderância de pelo Poder


judiciário, consistente na aplicação de normas da ordem jurídica a um caso
concreto, com a consequente solução do litígio. É o poder de julgar um caso
concreto, de acordo com o ordenamento jurídico, por meio do processo”.

OBS.: Não é exercida exclusivamente pelo Poder Judiciário. Em determinadas situações excepcionais outros
poderes irão exercer, a exemplo do crime de responsabilidade praticado pelo Presidente da República, o qual
compete ao Senado Federal apurar e julgar (art. 52, I, CF).

a) Características:

● Substitutividade: o Estado-juiz atua substituindo a atividade das partes.

A grande exceção que existe à substitutividade é justamente nos procedimentos de jurisdição


voluntária, porque nestes a vontade do Estado-juiz não substitui a das partes, ela na verdade vai integrar,
conferir eficácia jurídica ao desiderato das partes. Então, longe de a jurisdição cumprir aqui um papel
substitutivo, ela cumpriria um papel integrativo. E essa exceção no processo penal está bem pronunciada
quando pensamos na justiça penal negocial, porque quando o juiz homologa um ANPP, uma suspensão
condicional do processo, transação penal, composição civil dos danos no âmbito do JECRIM, a vontade do
juiz não está se sobrepondo a dos pactuantes. Está, na realidade, aderindo à vontade dos pactuantes,
integrando-a, justamente para lhes conferir eficácia jurídica.

● Inércia: os órgãos jurisdicionais, em regra, para atuarem, precisam ser provocados.


● Existência de lide: o exercício da jurisdição pressupõe-se a existência da lide, ou seja, o conflito de
interesses qualificado pela pretensão resistida.
● Imutabilidade: o exercício da jurisdição concluído em uma sentença, que possui caráter definitivo,
exceto previsões legais, a exemplo da revisão criminal pro reo.

b) Princípios:
● Investidura: o exercício da jurisdição exige um juiz regularmente investido no cargo, o que ocorre,
em regra, mediante concurso público de provas e títulos (art. 93, I, CF).
● Inevitabilidade: a jurisdição não se submete à vontade das partes, ou seja, as partes não podem
escolher se irão ou não se submeter à jurisdição, pois ela se impõe.
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● Improrrogabilidade: a prorrogação da competência somente será permitida quando houver previsão


na lei (ex.: casos de conexão e continência).
● Indelegabilidade: não se pode atribuir a outro órgão o poder de julgar, inerente ao Poder Judiciário,
salvo exceções legalmente previstas (ex.: competência do SF para julgar os crimes de
responsabilidade competidos pelo PR – art. 52, I, CF)
● Juiz Natural: o juiz é definido previamente à prática da infração penal, sendo vedada a existência de
juízo ou tribunal de exceção (art. 5, LIII e XXXVII, CF).
● Inafastabilidade: a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça a direito, isso
porque o acesso à justiça também é direito fundamental.
● Unidade: a jurisdição, exercida e manifestada por meio do Poder Judiciário, é única, diferenciando-
se apenas no que diz respeito à sua aplicação e grau de especialização (ex.: civil, penal, federal,
estadual, militar, trabalhista).

Pergunta-se: Diante do princípio do Juiz Natural, como fica a mudança de competência promovida por
lei posterior?
R.: Lei posterior que modifica a competência tem aplicação imediata aos processos em andamento na
primeira instância (art.2º CPP). No entanto, caso já haja sentença de mérito, a causa prosseguirá na jurisdição
em que foi prolatada, salvo se suprimido o Tribunal que deveria julgar o recurso. (STF – HC 76.510).

Pergunta-se: Convocação de juízes de 1ª instancia para atuar nos Tribunais viola o princípio do juiz
natural?
R.: De acordo com o entendimento dos Tribunais Superiores, a convocação de juízes de 1º grau para
substituir desembargadores não viola o princípio do juiz natural, desde que a convocação seja feita na forma
da lei, haja critérios objetivos pré-determinados para a escolha do juiz, e o órgão competente para o
julgamento do recurso seja composto em sua maioria por desembargadores efetivos.

2. COMPETÊNCIA

É o poder conferido pela Constituição ou pela lei a cada juiz para conhecer e julgar determinados
litígios. São regras que vão fixar os limites dentro do quais a jurisdição será validamente exercida. É a medida
da jurisdição, visto que todo juiz possui jurisdição, mas nem todo juiz possui competência.
Nesse sentido, Renato Brasileiro:

(...) é a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão jurisdicional poderá
aplicar o direito objeto ao caso concreto. (LIMA, 2017, p. 329).

Percebe-se, portanto, que o juiz deve ser natural e imparcial, observando a definição nas leis e
regras de organização judiciária.
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2.1 Critérios de fixação da competência

● Competência ratione materiae: fixada em virtude da natureza da infração penal. Ex.: crimes militares
e crimes eleitorais.
● Competência ratione personae: fixada em virtude do sujeito ativo do crime, em virtude do cargo que
exerce ou função que desempenha.
● Competência territorial ou ratione loci: fixada em virtude do local da consumação do delito.
● Competência funcional: fixada em virtude com a função do órgão jurisdicional.

A competência funcional pode ser:


(a) Competência funcional por fase do processo: De acordo com a fase em que o feito estiver,
um órgão jurisdicional diverso exercerá a competência em relação a ele. Ex.: Tribunal do Júri
é um procedimento bifásico.
⮚ 1ª fase: indicium accusationis/sumário da culpa – quem atua é o juiz sumariante;
⮚ 2ª fase: indicium causae – quem atua é o juiz presidente juntamente com o
conselho de sentença (7 jurados).

OBS.: Recentemente, o Pacote Anticrime introduziu no CPP (arts. 3º-A a 3º-F) uma nova espécie de
competência funcional por fase do processo, qual seja, a divisão funcional entre o juiz das garantias, cuja
competência tem início com a deflagração da investigação criminal e se estende até o recebimento da peça
acusatória, e o juiz da instrução e julgamento, cuja competência tem início tão logo recebida a denúncia (ou
queixa) e se estende, pelo menos em tese, até o trânsito em julgado de eventual sentença condenatória ou
absolutória.

(b) Competência funcional por objeto do juízo: É aquela em que cada órgão jurisdicional exerce
a competência sobre determinadas questões a serem decididas no processo. Ex.: no Tribunal
do Júri os jurados no conselho de sentença decidem sobre autoria e materialidade; já o juiz
presidente, em regra, é responsável pelas questões de direito, dosimetria da pena,
nulidades, etc.

(c) Competência funcional por grau de jurisdição: É aquela que divide a competência entre
órgãos jurisdicionais superiores e inferiores. Alguns autores classificam:
⮚ Competência funcional HORIZONTAL: Os órgãos jurisdicionais estão no mesmo
plano hierárquico. Ex.: Tribunal do Júri.
⮚ Competência funcional VERTICAL: Os órgãos jurisdicionais estão em planos
hierárquicos distintos. Ex.: julgamento de apelação e recursos em geral.

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2.2 Competência Absoluta x Competência Relativa

INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA INCOMPETÊNCIA RELATIVA


Interesse público (regras previstas na CF). Interesse preponderante das partes (regras
previstas na legislação infraconstitucional).
Improrrogável ou imodificável. Desta forma, Prorrogável ou derrogável. Assim, a conexão e
não pode ser alterada pela conexão e/ou pela a continência poderão modificá-la.
continência.
Inobservância produz nulidade absoluta. Inobservância produz nulidade relativa.

Ada Pellegrini entende que é uma decisão


inexistente (doutrina minoritária).
Pode ser arguida a qualquer momento, Deve ser arguida em momento oportuno, sob
inclusive após o trânsito em julgado de pena de preclusão.
sentença condenatória ou absolutória
imprópria. Portanto, não está sujeita a
preclusão.
Prejuízo é presumido. Prejuízo precisa ser comprovado.
Pode ser declarada de ofício, enquanto não Pode ser declarada de ofício.
houver o esgotamento da jurisdição (art. 494
do CPC/2015: até publicação da sentença). Obs.: A Súmula 33 do STJ (a incompetência
relativa não pode ser declarada de ofício) NÃO
se aplica ao Processo Penal.

Antes da Lei 11.719/08, a incompetência


relativa podia ser declarada de ofício até o
momento da sentença.

Com a adoção do PRINCÍPIO DA IDENTIDADE


FÍSICA DO JUIZ (art. 399, §2º) a incompetência
relativa só pode ser declarada até o início da
instrução processual. Isso porque, se o juiz
realizar a audiencia e a instrução, ele não
poderá enviar para o outro, por conta do
supracitado princípio, visto que o juiz que faz a
instrução deve ser o mesmo que profere a

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sentença.
Induzem incompetência absoluta: Induzem incompetência relativa:
● Ratione materiae ● Ratione Loci
● Ratione personae (funcionae) ● Por distribuição
● Funcional (é fixada de acordo com a ● Por prevenção (Súmula 706 STF)
função que cada um dos órgãos ● Conexão/continência
jurisdicionais exerce no processo)

DICA DD: matéria, pessoa e função = MPF


(mnemônico)

Pergunta-se: Quais são as consequências da incompetência absoluta e relativa?


R.: De acordo com o art. 567 do CPP, tem-se que “a incompetência do juízo anula somente os atos
decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente”. Diante
da redação do dispositivo em questão, grande parte da doutrina entende que o art. 567 do CPP, aplica-se
apenas às hipóteses de incompetência relativa, na medida em que, nas hipóteses de incompetência absoluta,
teríamos a anulação dos atos decisórios e também dos atos probatórios.
Não obstante o entendimento doutrinário, a jurisprudência sempre entendeu que, mesmo para os
casos de incompetência absoluta no processo penal, somente os atos decisórios seriam nulos, enquanto os
atos probatórios poderiam ser ratificados, remetendo-se os autos ao juiz competente. No entanto, a partir
do julgamento do HC nº 83.006/SP, o STF passou a admitir a possibilidade de ratificação pelo juízo
competente inclusive dos atos decisórios.
Obs.: O recebimento da denúncia (STF e STJ) é um ato decisório, porque interrompe a prescrição,
então não podemos encarar o recebimento da denúncia como um mero despacho, de impulso processual.
Explica o doutrinador Renato Brasileiro:

“Na dicção do Supremo, tanto a denúncia quanto o seu recebimento emanados de


autoridades incompetentes rationae materiae são ratificáveis no juízo
competente. Como se percebe, prevalece nos Tribunais o entendimento de que os
atos probatórios não devem ser anulados no caso de reconhecimento de
incompetência, sendo possível que até mesmo os atos decisórios sejam ratificados
perante o juízo competente. A questão, a nosso ver, está a merecer nova reflexão
por parte da jurisprudência a partir da inserção do princípio da identidade física do
juiz no processo penal – vide nova redação dada ao art. 399, § 2º, do CPP, por força
da Lei nº 11.719/08 (o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença). Ora,
se doravante o juiz que presidir a instrução deve proferir a sentença, como se pode,
então, admitir que a prova colhida perante juízo incompetente seja reaproveitada
perante seu juízo natural?”
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Súmula 706-STF: É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência


penal por prevenção.

2.3 Regras de fixação de competência

● 1º Regra: Fixar a competência internacional ou nacional.


● 2ª Regra: Fixada a nacional, verificar se a competência é especial (Militar ou Eleitoral) ou comum
(Federal ou Estadual).
● 3ª Regra: Verificar o órgão hierarquicamente competente e se o acusado tem foro por prerrogativa
de função.
● 4ª Regra: Verificar o foro territorialmente competente.
● 5ª Regra: Verificar o juízo competente, se vara comum ou Júri, por exemplo.

3. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO (JMU) E DOS ESTADOS (JME)

Embora a competência da Justiça Militar da União não seja objeto de nosso estudo, alguns pontos
são relevantes abordarmos alguns aspectos, pois houve uma mudança significativa em 2017 e tem efeitos
práticos.

A competência da Justiça Militar deve ser estudada com cautela, principalmente pela intervenção
das Forças Armadas e pelas alterações feitas pela Lei 13.491/17.
Inicialmente, observe o art. 124 da CF, que trata da JMU, e o art. 125, §4º da CF, que trata da JME:

Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos
em lei.

Art. 125, § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos
Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil,
cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos
oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004)
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente,
os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de
direito, processar e julgar os demais crimes militares. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004).
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a) Justiça Militar da União:


● Responsável por julgar:
⦁ Militares da União (ativos das Forças Armadas);
⦁ Civis (civis, militares estaduais, militares da reserva e reformados das forças armadas).
Obs.: STF e STJ adotam interpretação restritiva para o julgamento de civis.
● A Justiça Militar da União NÃO TEM competência cível.
● A Justiça Militar da União é composta por apenas 01 órgão: Conselho de Justiça (composto por 01
juiz auditor + 04 oficiais).
TODOS os crimes são julgados pelo Conselho. O juiz-auditor não tem competência
singular para julgar crimes (não pode julgar sozinho).

b) Justiça Militar dos Estados


● Responsável por julgar Militares dos Estados (PM, Corpo de Bombeiros, Polícia Rodoviária Estadual).
● NÃO julga civil. Nesse sentido a Súmula 53 STJ.

Cuidado: Esse entendimento se aplica apenas para a Justiça Militar dos Estados. Isso porque, em tese, a
Justiça Militar da União pode julgar tanto militares quanto civis, posto que a Constituição Federal não fez
nenhuma ressalva.

Súmula 53 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil


acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais.

● A condição deve ser aferida no momento do delito.


● Tem competência cível. Julga as ações judiciais contra atos disciplinares militares.
● Caso de um crime conexo, praticado por um militar e um civil, deve haver a cisão processual. Nesse
sentido a Súmula 90 STJ.

Súmula 90 STJ: Compete a justiça estadual militar processar e julgar o policial militar
pela pratica do crime militar, e a comum pela pratica do crime comum simultâneo
aquele

Vamos esquematizar?

JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO JUSTIÇA MILITAR DOS ESTADOS


Tem como critério para fixação de Possui dois critérios para fixação sua competência:
competência apenas a matéria (ratione ratione materiae e ratione personae.

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materiae). Julgando os crimes militares


definidos em lei. A condição de militar estadual deve ser aferida com
base em sua condição no “momento do delito”, e
não no processo criminal.
Não tem competência civil. Tem competência civil.

Como saber se a competência será da Justiça Militar?


Para a definição da competência da justiça militar, faz-se necessária a observância do:
a) Critério subjetivo: delito praticado por militar em atividade, em serviço ou não.
b) Critério objetivo: vulneração de bem jurídico caro ao serviço e ao meio militar, a ser analisado
no caso concreto. O art. 124 da CF/88 adotou, portanto, a tipificação do delito como critério
objetivo para definir se a competência é, ou não, da Justiça Militar. Desse modo, a
competência para julgar o fato será da Justiça militar sempre que a lei considerar determinado
crime como sendo militar.

A lei que define quais são os crimes militares é o Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001/1969).
⦁ No art. 9º do CPM são conceituados os crimes militares em tempo de paz.
⦁ No art. 10 do CPM são definidos os crimes militares em tempo de guerra.

Assim, para verificar se o fato pode ser considerado crime militar, sendo, portanto, de competência
da Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas nos art. 9º e art. 10 do CPM.

Crimes militares em tempo de paz

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:


I - Os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei
penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição
especial;

II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando


praticados: (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017)
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma
situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou
civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza
militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar
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contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº


9.299, de 8.8.1996)
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da
reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob
a administração militar, ou a ordem administrativa militar;
f) revogada. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)

III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra
as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no
inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem
administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade
ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar,
no exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função
de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e
preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente
requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior.

§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos
por militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. (Redação
dada pela Lei nº 13.491, de 2017)

§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos
por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça
Militar da União, se praticados no contexto: (Incluído pela Lei nº 13.491, de
2017)
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da
República ou pelo Ministro de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei nº 13.491, de
2017)
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar,
mesmo que não beligerante; ou (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da
ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no
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art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas


legais: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
o
a) Lei n 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de
Aeronáutica; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; (Incluída pela Lei nº 13.491,
de 2017)
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal
Militar; e (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
o
d) Lei n 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. (Incluída pela Lei nº
13.491, de 2017)

Crimes militares em tempo de guerra


Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra:
I - os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra;
II - os crimes militares previstos para o tempo de paz;
III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição
na lei penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente:
a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado;
b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a
eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a
segurança externa do País ou podem expô-la a perigo;

IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos neste
Código, quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em
território estrangeiro, militarmente ocupado

A Lei 13.491/2017 alterou o Código Penal Militar em dois dispositivos:


1) Art. 9º, II: autoriza a Justiça Militar a julgar crimes previstos na legislação penal;
2) Art. 9º, §2º: prevê a competência da Justiça Militar da União para julgar crimes dolosos contra vida,
ainda que praticados contra civil, atendidas as condições previstas em lei (incisos I a III).

Obs.: crimes dolosos contra vida contra civil, cometidos por militares do ESTADO serão de competência
do Tribunal do Júri (art. 9, §1º).

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:


II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando
praticados:

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O art. 9º, inciso II prevê que serão considerados crimes militares os crimes previstos no Código Penal
Militar e os previstos na legislação penal, quando praticados em determinadas situações.
Primeiramente, cabe estabelecer quais são os crimes previstos no Código Penal Militar e previstos
na legislação penal.
Em segundo lugar, note que, em diversas hipóteses, o CPM utiliza a expressão “em situação de
atividade ou assemelhado”. Essa expressão traduz um elemento subjetivo, qual seja, a condição de militar.
Ou seja: o inciso II do art. 9º do CPM fornece definição de crime militar que traz consigo um elemento
subjetivo, qual seja a condição de militar.
No entanto, o que significa “militar em situação de atividade”? O Código Penal Militar traz um norte
para a definição. Em interpretação autêntica, ele diz:

Art. 22. É considerada militar, para efeito da aplicação deste Código, qualquer
pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças armadas,
para nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar.

A Constituição Federal também parece caminhar no mesmo sentido:

Art. 142. (...) § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares,
aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes
disposições:

II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil


permanente, ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, será
transferido para a reserva, nos termos da lei;
II - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou
função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta,
ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", ficará agregado ao
respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser
promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para
aquela promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois anos de
afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da lei;
(...)
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;

Militar da ativa é o mesmo que militar em serviço? Em outras palavras: Para os fins do art. 9º, II,
do CPM, quando se fala em “militar em situação de atividade” exige-se que ele esteja em exercício efetivo?
Exige-se que o militar esteja trabalhando no momento dos fatos?
O tema é polêmico.
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1ª C: NÃO.
∘ Militar em serviço: Exige-se que, no momento da conduta, o agente esteja no exercício efetivo
de atividade militar. Ex.: art. 202 do CPM - Embriaguez em serviço.
∘ Militar em situação de atividade (militar da ativa): São os militares que estão em atividade, ou
seja, aqueles que não estão na reserva. Não importa para esse conceito saber se o militar estava
ou não de folga.

Não há incompetência da Justiça Militar, uma vez que tanto o recorrente quanto
as vítimas eram policiais militares da ativa, embora o acusado estivesse de folga
durante a prática delitiva. STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC 91.473/RJ, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 15/03/2018.

2ª C: SIM.
∘ Para que seja considerado crime militar e, portanto, de competência da Justiça Militar, exige-se
que, além da qualidade de militar da ativa, a prática da conduta tenha ocorrido durante o
exercício efetivo do serviço militar. Assim, compete à Justiça Militar julgar crime cujo autor e
vítima sejam militares, desde que ambos estejam em serviço e em local sujeito à administração
militar.

O mero fato de a vítima e de o agressor serem militares não faz com que a
competência seja obrigatoriamente da Justiça Militar. O cometimento de delito por
militar contra vítima militar somente será de competência da Justiça Castrense nos
casos em que houver vínculo direto com o desempenho da atividade militar. STF.
1ª Turma. HC 135019/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 20/09/2016 (Info 840).

O crime imputado foi praticado por militar contra militares, porém fora de situação
de atividade e de local sujeito à administração militar, o que atrai a competência
da Justiça comum. STF. 2ª Turma. HC 131076, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
01/12/2015

3ª C: INTERMEDIÁRIA
∘ Para a definição da competência da justiça militar, faz-se necessária a observância do critério
subjetivo (delito praticado por militar em atividade, em serviço ou não), aliado ao critério
objetivo (vulneração de bem jurídico caro ao serviço e ao meio militar, a ser analisada no caso
concreto). STJ. 5ª Turma. HC 550.998-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/06/2020 (Info
675)

Ex.: João, policial militar, estava em sua casa, de folga. Ele e a esposa começaram a discutir por
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ciúmes e João, embriagado, ameaçou matar a esposa. Com medo, a mulher se trancou no
banheiro e ligou para a polícia. Rapidamente foi deslocada uma viatura com dois policiais
militares para atender a ocorrência. Quando os policiais chegaram ao local, o agressor fugiu,
mas antes atirou contra eles e contra a viatura. Um dos policiais foi, inclusive, atingido pelos
disparos. João foi acusado de tentativa de homicídio. Quem será competente para julgar essa
tentativa de homicídio? R.: Justiça Militar.

∘ A fuga e a resistência do policial militar, contextualizada com disparos de arma de fogo contra
colegas e contra viatura da corporação, são suficientes para configurar a vulneração da
regularidade da Polícia Militar, cujo primado se pauta pela hierarquia e disciplina.

Na definição da competência da Justiça Militar, considera-se o critério subjetivo do


militar em atividade, em serviço ou não, aliado ao critério objetivo, do bem ou
serviço militar juridicamente tutelado Para a definição da competência da justiça
militar, faz-se necessária a observância do: • critério subjetivo (delito praticado por
militar em atividade, em serviço ou não), • aliado ao critério objetivo (vulneração
de bem jurídico caro ao serviço e ao meio militar, a ser analisada no caso concreto).
STJ. 5ª Turma. HC 550.998-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/06/2020
(Info 675)

ATENÇÃO AO JULGADO:
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra outro
quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime Compete à Justiça comum
(Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra outro quando ambos estejam fora
do serviço ou da função no momento do crime. Caso concreto: Francisco era soldado da Polícia Militar do
Estado do Maranhão. Samuel era cabo da Polícia Militar do Estado do Piauí. Determinado dia, Francisco, que
se encontrava de férias, passeava em Teresina (PI). Samuel percebeu que Francisco estava armado e, mesmo
estando de folga, abordou o soldado indagando sobre a arma. Iniciou-se uma discussão e Francisco atirou
três vezes contra Samuel, que faleceu em razão dos disparos. A vítima e o réu - ambos policiais militares à
época dos fatos - estavam fora de serviço quando iniciaram a discussão. Logo, não se pode falar que houve
crime militar, devendo, portanto, o réu ser julgado pela Justiça Comum estadual (Tribunal do Júri). STJ. 3ª
Seção. CC 170201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/03/2020 (Info 667).

ATENÇÃO:
Com as mudanças produzidas pela Lei 13.491/2017 algumas súmulas foram superadas ou perderam a razão
de ser:

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Súmula 172 STJ – Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade,
ainda que praticado em serviço. [Agora o abuso de autoridade será julgado pela JM].

Súmula 6 STJ – Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de
trânsito envolvendo viatura de Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação de
atividade. [Se o militar da PM estiver em serviço, resultando do acidente lesão ou morte culposa de um civil,
trata-se de crime militar].

Súmula 75 do STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de
promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal. [Poderá ser julgado pela JME].

Súmula 90 do STJ – Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do
crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele. [Fala-se que a súmula está
superada pois, após a Lei 13.491/2017, todos os crimes praticados por militar no exercício da função, estejam
eles no Código Penal Militar ou no Código Penal, serão considerados crimes militares a serem julgados pela
Justiça Militar].

Súmula 47 do STJ – Compete à Justiça Militar processar e julgar crime cometido por militar contra civil, com
emprego de arma pertencente à corporação, mesmo não estando em serviço. [Com a Lei 9.299/96 revogando
a alínea “f” do art. 9, esta súmula restou superada].

Importante consignar que as contravenções penais, ainda que praticadas por militar em serviço, não
serão julgadas pela JM.

4. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA FEDERAL

A Justiça Federal é considerada uma justiça comum, mas seu status é constitucional, já que as
hipóteses estão previstas no art. 109 da CF.
Ressalta-se que se trata de ROL TAXATIVO.

Aqui, analisaremos:

Art. 109, IV Crimes políticos, infrações em detrimento de bens, serviços ou


interesse da união ou suas entidades autárquicas e empresas públicas;

Art. 109, V Crimes previstos em tratado ou convenção internacional desde que


iniciada a execução no país o resultado tenha ou devesse ter ocorrido
no estrangeiro ou reciprocamente;
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Art. 109, V-A Crimes relativos a direitos humanos;

Art. 109, VI Crimes contra a organização do trabalho e quando a lei dispuser,


contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

Art. 109, IX Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves;

Art. 109, XI Crimes relativos à disputa de direitos indígenas.

OBS.1: Cuidado para não confundir competência da Justiça Federal com atribuições investigatórias
da Polícia Federal. As atribuições da Polícia Federal são mais amplas, conforme o §1º do art. 144 da CF. Ex.:
tráfico interestadual e roubo de cargas podem ser investigados pela PF e julgados pela JE.

CF Art. 144, §1º. A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente,
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar
infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,
serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual
ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

CAIU EM PROVA:

(Delegado do Estado do Espírito Santo 2022): Havendo repercussão interestadual que exija repressão
uniforme, o delegado da Polícia Federal poderá apurar crimes cuja apuração seja de competência da justiça
estadual, não havendo mácula apta a invalidar a produção de prova- item considerado correto.

OBS.2: A Justiça do Distrito Federal é a competente para julgar o crime de falso testemunho
praticado em processos sob sua jurisdição

O TJDFT faz parte do Poder Judiciário da União. Mesmo assim, se for praticado falso
testemunho em processo que ali tramita, a competência será da Justiça do Distrito
Federal (e não da Justiça Federal comum). Isso porque a Justiça do Distrito Federal
possui competência para julgar crimes, não havendo interesse direto e específico
da União a atrair o art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC 166732-DF, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 14/10/2020 (Info 681).

4.1 Crimes Políticos

● Antes da CF/88 – competência da Justiça Militar (art. 30, Lei 7170/83).


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● Com da CF/88 – competência da Justiça Federal.

⇨ O art. 30 da Lei nº 7.170/83 afirma que os crimes contra a Segurança Nacional são de competência
da Justiça Militar. Este dispositivo não foi recepcionado pelo art. 109, IV, da CF/88, ou seja, a regra
ali exposta não é mais válida. Assim, com a CF/88, os crimes previstos na Lei de Segurança Nacional
passaram a ser de competência da Justiça Federal Comum (Juiz Federal de 1ª instância).
⇨ A Lei nº 7.170/83 foi revogada pela Lei 14.197/21.

Requisitos para ser crime político:


1. Estar previsto no Título XII do Código Penal “DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DEMOCRÁTICO DE
DIREITO” [Com o advento da Lei 14.197/21 que inseriu o novo título ao CP e revogou a Lei 7.170/83
- Lei de Segurança Nacional];
2. Ter motivação política [conforme entendimento da jurisprudência ainda à luz da Lei 7.170/83].

Inf. 885, 1ª T. STF (2017): O réu ingressou clandestinamente em uma Usina


Hidrelétrica e alterou a posição da chave da bomba de alta pressão de óleo. O MPF
denunciou o agente pela prática do delito de sabotagem, previsto no art. 15 de Lei
de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/83), que consiste em crime político.

O STF entendeu que não houve crime político considerando que:


1) Não houve lesão real ou potencial a um dos bens jurídicos listados no art. 1º da Lei nº 7.170/83
(requisito objetivo); e
2) O agente não tinha motivação política (requisito subjetivo).

Além disso, o Tribunal entendeu que se tratava de crime impossível, considerando que essa alteração
da posição da chave não tinha condão de provocar qualquer embaraço ao funcionamento da Usina. STF. 1ª
Turma. RC 1473/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/11/2017 (Info 885).
Para que se configure crime político, além de a conduta estar enquadrada em um dos tipos previstos
no Título XII do Código Penal (após a Lei 14.197/21), exige-se também que fique comprovada a motivação
política do agente. Assim, para que seja crime político, exige-se um especial fim de agir do réu (“dolo
específico”), que é a motivação política do agente.
Cabe destacar, ainda, o disposto no art. 359-T, que configura uma causa de atipicidade da conduta,
quando o ato for praticado em manifestação crítica, atividade jornalística ou qualquer manifestação política
com propósitos sociais.

Art. 359-T. Não constitui crime previsto neste Título a manifestação crítica aos
poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos
e garantias constitucionais por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de
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aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos


sociais.

4.2 Infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da união ou de suas
entidades autárquicas ou empresa pública

Salienta-se que a lesão deve ser direta e imediata. Assim, tratando-se de uma lesão indireta/reflexa,
a competência será da Justiça Comum Estadual. Nesse sentido a Súmula 107 do STJ.

Súmula 107 STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de
estelionato praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das
contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão à autarquia federal.

Algumas hipóteses:

1) Por vislumbrar malferimento a bens, serviços e interesses da União e da ANEEL, compete à Justiça
Federal julgar crime relacionado ao apagão ocorrido no Estado do Amapá (STJ. CC 177.048, 3ª
Seção, julgado em 12.03.2021).

2) Fraude eletrônica em detrimento de correntista da Caixa Econômica Federal, cuja agência está
localizada em São Paulo e os saques fraudulentos são realizados em Curitiba: Competência da
Justiça Federal
Vamos analisar o caso em detalhes!
Inicialmente, cabe destacar que o emprego de fraude eletrônica para obtenção de valores de conta
de terceiro pode caracterizar um furto qualificado pelo emprego de fraude (art. 155, §4º, II do CP) ou um
estelionato (art. 171 do CP). No estelionato, a vítima é enganada e ela mesma entrega a vantagem para o
agente. No furto mediante fraude, geralmente através de um vírus, o agente consegue captar a senha da
vítima e passa a movimentar a conta.
No caso acima, trata-se um furto qualificado mediante fraude. Para a jurisprudência, como a fraude
foi usada para burlar o sistema de vigilância do banco, quem suportará o prejuízo financeiro é a instituição
bancária.
Logo, o sujeito passivo do crime é a instituição bancária, pois ela que teve o sistema de segurança
violado e, por isso, a competência é da Justiça Federal.
Pergunta-se: Nesse caso, qual foro competente? R.: O delito de furto consuma-se no local em que a
coisa é retirada da esfera de disponibilidade da vítima, ou seja, a competência territorial será determinada
em virtude do local onde mantida a conta corrente. (Art. 70 CPP). Portanto, no exemplo, será julgado em São
Paulo.

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OBS.: O mero FINANCIAMENTO da Caixa Econômica Federal NÃO atrai a competência para a Justiça Federal.
Diferente seria se a CEF atuasse como EXECUTORA ou FISCALIZADORA das obras, hipótese em que atrairia a
competência para a Justiça Federal.

Não compete à JF julgar crime ambiental ocorrido em programa Minha Casa Minha
Vida pelo simples fato de a CEF ter atuado como agente financiador da obra
Compete à Justiça estadual o julgamento de crime ambiental decorrente de
construção de moradias de programa habitacional popular, nas hipóteses em que
a Caixa Econômica Federal atue, tão somente, na qualidade de agente financiador
da obra. O fato de a CEF atuar como financiadora da obra não tem o condão de
atrair, por si só, a competência da Justiça Federal. Isto porque para sua
responsabilização não basta que a entidade figure como financeira. É necessário
que ela tenha atuado na elaboração do projeto ou na fiscalização da segurança e
da higidez da obra. STJ. 3ª Seção.CC 139197-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado
em 25/10/2017 (Info 615).

3) Roubo contra Casa Lotérica: Competência da Justiça Estadual, pois se trata de uma pessoa jurídica
de direito privado. Trata-se de uma permissionária de serviço público.

4) Roubo contra agência dos Correios:


Se o crime for praticado em detrimento de uma FRANQUIA dos Correios, a competência será da
Justiça Estadual. Lado outro, se o crime for cometido contra o próprio ente da Administração Indireta Federal
ou um carteiro, a competência será da Justiça Federal (STJ HC 39200).

Fique atento à jurisprudência:

Compete à Justiça Federal julgar crime contra a vida em desfavor de policiais


militares, consumado ou tentado, praticado no contexto de crime de roubo
armado contra órgãos, autarquias ou empresas públicas da União.
Compete à Justiça Estadual julgar o crime de homicídio praticado contra policiais
militares estaduais, ainda que no contexto do delito federal de contrabando (STJ.
3ª Seção. CC 153.306/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 22/11/2017). Ex: o sujeito ativo trazia cigarros importados em seu
veículo e, para fugir de uma blitz, atirou e matou um dos policiais militares. Situação
diversa, entretanto, é aquela em que o crime contra a vida em desfavor de
agentes estatais, consumado ou tentado, é praticado no contexto de crime de
roubo armado contra órgãos, autarquias ou empresas públicas da União. Isso
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porque, nesta hipótese, a íntima relação entre a violência, elementar do crime de


roubo, e o crime federal (roubo armado) atrai a conexão. Ex: o sujeito ativo
cometeu roubo contra os Correios; depois de consumado, passou a ser perseguido
por policiais militares e atirou contra eles, matando um e ferindo o outro. O roubo
e os delitos de homicídio serão julgados conjuntamente pela Justiça Federal. STJ.
3ª Seção. CC 165117-RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/10/2019 (Info
659).

5) Crime cometido em detrimento da FUNASA: Competência da Justiça Federal, uma vez que a
FUNASA é uma Fundação Pública Federal que, de acordo com o STF, é uma espécie de autarquia
federal.

6) Crime cometido em detrimento da OAB: Competência da Justiça Federal, uma vez que o STF
entende que a OAB possui natureza jurídica sui generis.

7) Crime contra o Banco do Brasil: Competência da Justiça Estadual, tendo em vista que o Banco do
Brasil é uma sociedade de economia mista.
Nesse sentindo, a Súmula 42 do STJ:

Súmula 42 - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis


em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu
detrimento.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCMG 2021) Num crime de estelionato praticado em Belo Horizonte contra uma agência
bancária do Banco do Brasil S.A, no qual o agente obteve vantagem financeira, é CORRETO afirmar que a
competência para a ação penal é da Justiça Estadual (item considerado correto).

8) Crimes contra bens tombados: Deve-se analisar o responsável pelo tombamento do bem.
Quando o bem tiver sido tombado pela União a competência será da Justiça Federal. Por outro lado,
a competência será da Justiça Estadual quando o bem tiver sido tombado pelo Município, pelo Estado ou
pelo DF.

9) Crime cometido contra consulado estrangeiro: Competência da Justiça Estadual.

10) Desvio de verba federal:


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Se as verbas federais ainda estiverem sujeitas à prestação de contas, a competência será da Justiça
Federal.

Súmula 208 do STJ - Compete à Justiça Federal processar e julgar Prefeito Municipal
por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal (TRF).

Por outro lado, quando não há mais prestação de contas, estando a verba incorporada, a
competência será da Justiça Estadual.

Súmula 209/STJ - Compete à Justiça Estadual processar e julgar Prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

11) Falsificação de moeda estrangeira: Competência da Justiça Federal, tendo em vista que atinge o
Banco Central do Brasil (autarquia federal) a quem incumbe fiscalizar a circulação de moeda
estrangeira no Brasil.
Cuidado com a jurisprudência do STJ:

Os crimes relacionados com pirâmide financeira envolvendo criptomoedas são,


em princípio, de competência da Justiça Estadual. Ausentes os elementos que
revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em detrimento de
interesses da União, compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes
relacionados a pirâmide financeira em investimento de grupo em criptomoeda. A
captação de recursos decorrente de “pirâmide financeira” não se enquadra no
conceito de atividade financeira, razão pela qual o deslocamento do feito para a
Justiça Federal se justifica apenas se demonstrada a prática de evasão de divisas ou
de lavagem de dinheiro em detrimento de bens e serviços ou interesse da União.
STJ. 3ª Seção. CC 170392-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/06/2020
(Info 673).

12) Crime cometido contra (ou por) funcionário público federal:


Quando o crime tiver sido praticado em razão da função, a competência será da Justiça Federal.

Súmula 147/STJ - Compete à justiça federal processar e julgar os crimes praticados


CONTRA (E POR) funcionário público federal, quando relacionados com o exercício
da função.

Atente-se que é indispensável o nexo funcional entre o crime e as funções exercidas pelo funcionário
público. Inclusive, o STJ tem jurisprudência nesse sentido:
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Compete à Justiça Estadual julgar homicídio praticado por Policial Rodoviário


Federal após desavença no trânsito ocorrida no seu deslocamento de casa para o
trabalho
Policial Rodoviário Federal, durante o trajeto de sua casa para o trabalho, envolveu-
se em uma desavença no trânsito com o condutor de um veículo que dirigia sem
respeitar a sinalização e em alta velocidade. O Policial efetuou disparos que
resultaram na morte do condutor. A competência para julgar essa acusação de
homicídio é da Justiça Estadual. A competência da Justiça Federal pressupõe a
demonstração concreta das situações veiculadas no art. 109 da CF/88. A mera
condição de servidor público não basta para atraí-la, na medida em que o interesse
da União há de sobressair das funções institucionais, não da pessoa do agente. A
infração penal cometida pelo réu no deslocamento até o local de trabalho não
guarda qualquer vinculação com o exercício das funções de Policial Rodoviário
Federal. STF. 1ª Turma. HC 157012/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
10/12/2019 (Info 963).

13) Crime contra o meio ambiente: Em regra, são crimes de competência da Justiça Estadual.
OBS.: Por muitos anos, vigorou a Súmula 90 do STJ, cujo teor era: “Compete a Justiça Federal
processar e julgar os crimes praticados contra a fauna”. Contudo, a Súmula foi cancelada, pois com a CF/88
e Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), firmou-se o entendimento de que a preservação do meio ambiente
é de interesse de toda a coletividade e não apenas da União.

Exceções que configuram competência da Justiça Federal:

a) Crimes ambientais e contra a vida decorrentes do rompimento da barragem em Brumadinho/MG


(RHC 151.405-MG, 6ª Turma, julgado em 19/10/2021)

Em 2021, o STJ firmou a competência da JF no caso, ao argumento foi o de que haveria ofensa a bem
e interesse direto e específico de órgão regulador federal e da União pelas seguintes razões: 1) as Declarações
de Estabilidade da Barragem, apresentadas ao antigo DNPM (autarquia federal), seriam ideologicamente
falsas; 2) os acusados teriam omitido informações essenciais à fiscalização da segurança da barragem, ao não
fazê-las constar do SIGBM, sistema de dados acessado pela Agência Nacional de Mineração - ANM; e 3) com
o rompimento da barragem, houve supostamente danos a sítios arqueológicos, que são classificados como
bens da União (art. 20, X, da CF/88). STJ. 6ª Turma. RHC 151405-MG, Rel. Min. Olindo Menezes
(Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em 19/10/2021 (Info 714).

Cuidado: O Ministro Edson Fachin, em decisão monocrática, reformou o acórdão do STJ e decidiu
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que cabe à Justiça ESTADUAL de Minas Gerais processar e julgar a ação penal.
O Ministro Fachin citou jurisprudência do STF no sentido de que, para que ocorra a competência da
Justiça Federal, é necessário que reste demonstrado o interesse direto e específico, não bastando o interesse
genérico de coletividade. Do mesmo modo, o STF entende que a competência da Justiça Federal para julgar
o crime de falsificação de documentos somente se dá quando for comprovada a intenção do agente em
causar lesão a bens, interesse ou patrimônio da União. No caso de Brumadinho, o ministro ressaltou que a
emissão de declarações falsas sobre as condições de estabilidade foi apenas uma conduta para amparar as
decisões corporativas que, deliberadamente, desconsideravam o risco qualificado. Para ele, as condutas
atribuídas aos denunciados (diversos homicídios e crimes ambientais ocasionados pelo rompimento da
barragem) não tinham por objetivo final atingir interesse direto e específico da União, cujo prejuízo foi
apenas indireto. STF. Decisão monocrática. RE 1378054-MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 06/06/2022.
Fonte: Dizer O Direito.

b) Pesca proibida (período) em mar territorial. Mar territorial é bem da União.

c) Crime praticado no Rio Real, na divisa de Sergipe e Bahia. Rio que faz divisa ou fronteira é bem da
União.

d) Extração ilegal de recursos minerais, ainda que realizada em propriedade particular. Recursos
minerais são bens da União.

e) Cativeiro de animais da fauna exótica. Segundo o STF e STF, atenta contra um serviço de fiscalização
do IBAMA, que configura uma autarquia federal.

Para ser crime da competência da JC Federal (STF, Plenário. RE/RG 835558-SP – 2017):
● Tem que envolver animais silvestres, ameaçados de extinção, espécies exóticas, ou
protegidos por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
● Tem que ter caráter transnacional.

f) Crimes ambientais relacionados com organismos geneticamente modificados. Ex.: Cultivo de soja
transgênica em desacordo com a legislação vigente. STJ CC 41301.

g) Crimes praticados em Unidade de Conservação Federal. Veja a jurisprudência sobre o tema:

Se o crime ambiental for cometido em unidade de conservação criada por decreto


federal, a competência para julgamento será da Justiça Federal tendo em vista que
existe interesse federal na manutenção e preservação da região. Logo, este delito
gera possível lesão a bens, serviços ou interesses da União, atraindo a regra do art.
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109, IV, da Constituição Federal. STJ. 3ª Seção. CC 142.016/SP, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 26/08/2015. Por outro lado, não haverá
competência da Justiça Federal se o crime foi praticado dentro de área de proteção
ambiental criada por decreto federal, mas cuja fiscalização e administração foi
delegada para outro ente federativo: No caso, embora o local do dano ambiental
esteja inserido na Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio São Bartolomeu,
criada pelo Decreto Federal n. 88.940/1993, não há falar em interesse da União no
crime ambiental sob apuração, já que lei federal subsequente delegou a fiscalização
e administração da APA para o Distrito Federal (art. 1º da Lei n. 9.262/1996). 3.
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da Vara Criminal
e Tribunal do Júri de São Sebastião/DF, o suscitado. STJ. 3ª Seção. CC 158.747/DF,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/06/2018.

OBS.: Floresta Amazônica, Serra do Mar, Pantanal Mato-grossense, Zona Costeira e Mata Atlântica fazem
parte do Patrimônio Nacional, o que NÃO se confunde com o patrimônio da União. Por isso, os crimes
praticados nos locais citados serão julgados e processados pela Justiça Estadual.

14) Crimes de Contrabando e Descaminho: Competência da Justiça Federal, pois atraem o interesse
direto da União, motivo pelo qual são julgados pela justiça Federal.
Fique atento à jurisprudência:

Justiça Federal é competente para julgar venda de cigarro importado, permitido


pela ANVISA, desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de pagamento
do imposto de importação
Compete à Justiça Federal a condução do inquérito que investiga o cometimento
do delito previsto no art. 334, § 1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda de
mercadoria estrangeira, permitida pela ANVISA, desacompanhada de nota fiscal e
sem comprovação de pagamento de imposto de importação. STJ. Plenário. CC
159680-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/08/2018 (Info
631). Compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes de contrabando e de
descaminho, ainda que inexistentes indícios de transnacionalidade na conduta.
STJ. 3ª Seção. CC 160748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
26/09/2018 (Info 635).

15) Crimes contra a fé pública: Há algumas regras específicas para determinar a competência nos crimes
contra a fé pública. A seguir veremos cada uma delas.

● FALSIFICAÇÃO: competência fixada de acordo com O ÓRGÃO RESPONSÁVEL PELA EMISSÃO DO


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DOCUMENTO.

· CNH: Justiça Estadual, uma vez que é emitida pelo DETRAN.


· CPF: Justiça Federal, uma vez que é emitido pela Receita Federal.
· Diploma de curso superior de estabelecimento de ensino particular: Justiça Federal, uma vez
que envolve o Ministério da Educação.
· Documento relativo a estabelecimento particular de ensino: Justiça Estadual, conforme Súmula
104, STJ.
· Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Arrais-Amador (CHA),
emitidos pela Marinha do Brasil para que se possa pilotar pequenas embarcações: Justiça
Federal (e não Justiça Militar), conforme a SV 36.

● USO DE DOCUMENTO FALSO: competência será determinada com base na PESSOA PREJUDICADA
PELO USO, pouco importando o órgão emissor do documento.
Imagine, por exemplo, que João, em uma blitz do órgão municipal de trânsito, apresentou sua
Carteira de Habilitação falsificada. O agente de trânsito, percebendo a falsificação, chamou um PM e João foi
preso em flagrante por uso de documento falso (art. 304 do CP). Trata-se de competência da Justiça Estadual.
Isso porque o uso do documento falso foi utilizado para iludir o serviço de segurança viária realizado pelo
Município. Logo, não há nenhum interesse federal no crime praticado, não sendo competência da Justiça
Federal por não se enquadrar em nenhuma das hipóteses do art. 109 da CF/88. Diferentemente seria se João
apresentasse documento falso numa blitz realizada pela Polícia Rodoviária Federal, hipótese em que atrairia
a competência da Justiça Federal.

Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de


documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado
o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor.

● USO DE DOCUMENTO FALSO PELO MESMO AUTOR DA FALSIFICAÇÃO: aplicação do Princípio da


Consunção, tendo em vista que o crime de uso de documento falso é mero exaurimento da
falsificação anterior. Assim, a competência será determinada de acordo com o ÓRGÃO QUE EXPEDE
O DOCUMENTO, independentemente da pessoa prejudicada pelo seu uso.

● FALSIFICAÇÃO OU USO DE DOCUMENTO FALSO COMO CRIME MEIO PARA A PRÁTICA DE UM CRIME
FIM: também se aplica o Princípio da Consunção, tendo em vista que que o crime de falso é apenas
um meio para a prática de outro crime posterior (crime fim). Nesse sentido, a competência será
determinada de acordo com o SUJEITO PASSIVO DO CRIME FIM.

ATENÇÃO:
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1) Contravenções Penais:
Pergunta-se: Quem processa e julga as contravenções praticadas contra a União, Autarquia e
Empresa Pública Federal? R.: Serão julgadas pela Justiça Estadual em todas as hipóteses, mesmo que
conexas com crime de competência da federal, conforme art. 109, IV da CF.
Exceção: Contravenção praticada por agente com foro por prerrogativa de função. A contravenção
então poderá ser julgada na justiça federal → só há julgamento de contravenção penal pela JF em 2ª
instância.

CF Art. 109, IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento


de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Súmula: 38/STJ - Compete a justiça estadual comum, na vigência da Constituição


de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento
de bens, serviços ou interesse da união ou de suas entidades.

2) Execução Penal: Competência é fixada com base na natureza do estabelecimento prisional. É


irrelevante saber de qual Justiça proveio a condenação.
● Condenado federal cumprindo pena em estabelecimento prisional estadual: Justiça Estadual.
● Condenado estadual cumprindo pena em estabelecimento prisional federal: Justiça Federal.

Súmula 192, STJ: Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das
penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.

4.3 Crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no país, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente

Requisitos cumulativos:
1. Crimes com previsão em Tratados ou Convenções Internacionais;
2. Crime à distância (iter criminis com origem ou destino no Brasil);
3. Internacionalidade do resultado.

Exemplos de crimes possíveis:

a) Tráfico transnacional de drogas (art. 70, da Lei nº 11.343/2006);

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Há dispensa da efetiva transposição de fronteira: basta o intuito de transferência da droga para outro
país. Exige a dupla imputação: a droga tem que ser ilícita nos 2 países envolvidos.
Ex.: flagrante no embarque de aeroporto internacional com bilhete de voo para outro país (crime
internacional).
b) Tráfico internacional de arma de fogo (art. 18 da Lei nº 10.826/2003);
c) Tráfico internacional de pessoas (art. 149-A, §1º, IV, do CP);
d) Envio ilegal de criança ou adolescente para o exterior (art. 239 do ECA).

OBS.: Pornografia infantil praticada por meio da internet (art. 241-A e art. 241-B, do ECA)

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou


divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou
telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 3 (três) a
6 (seis) anos, e multa.

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou
outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa.

Segundo entendimento pacífico da jurisprudência, o fato de o delito ter sido cometido pela rede
mundial de computadores NÃO atrai, por si só, a competência da Justiça Federal. Para que o delito
cometido por meio da internet seja julgado pela Justiça Federal, é necessário que se amolde em umas das
hipóteses elencadas no art. 109, IV e V, da CF/88. Logo, é preciso analisar se houve internacionalidade da
conduta, possibilidade de transposição de fronteiras.
Ex.1: Justiça Estadual - troca de e-mails entre dois brasileiros, no Brasil.
Ex.2: Justiça Federal - colocar fotos em site aberto.

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em


disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente
(arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando praticados por meio da rede mundial de
computadores (internet). STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. orig. Min. Marco
Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28 e 29/10/2015
(repercussão geral) (Info 805).

Compete à Justiça Federal processar e julgar o conteúdo de falas de suposto cunho


homofóbico divulgadas na internet, em perfis abertos da rede social Facebook e na
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plataforma de compartilhamento de vídeos Youtube, ambos de abrangência


internacional. CC 191.970-RS, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção, por
unanimidade, julgado em 14/12/2022 (Info 761).

O STJ, interpretando a decisão do STF, afirmou que, quando se fala em “praticados por meio da rede
mundial de computadores (internet)”, o que o STF quer dizer é que a postagem de conteúdo pedófilo-
pornográfico deve ter sido feita em um ambiente virtual propício ao livre acesso. Por outro lado, se a troca
de material pedófilo ocorreu entre destinatários certos no Brasil, em ambiente privado, não há relação de
internacionalidade e, portanto, a competência é da Justiça Estadual. Ex.: conversas via Whatsapp ou por
meio de chat na rede social Facebook (comunicação se dá entre destinatários escolhidos pelo emissor da
mensagem). STJ. 3ª Seção. CC 150.564-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/4/2017.

Com base no mesmo raciocínio, a 3ª Seção do STJ decidiu (em 13.05.2020), que o crime de racismo
contra o povo judeu, praticado através rede social de grande alcance (Facebook), deve ser julgado pela
Justiça Federal (C.C. 163.420). Isso porque, considerando que as mensagens de cunho discriminatório
veiculadas em rede social são perfeitamente acessíveis no exterior, tem-se configurada a potencial
transnacionalidade do crime, ainda que o conteúdo NÃO tenha sido efetivamente visualizado fora do
território nacional. Além disso, também compete à Justiça Federal conceder medida protetiva em favor de
mulher ameaçada por ex-namorado que mora nos EUA e faz as ameaças por meio do Facebook. STJ. 3ª
Seção.CC 150712-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/10/2018 (Info 636).

4.3.1 As causas relativas a Direitos Humanos a que se refere o § 5º deste artigo

É o chamado de IDC (Incidente de Deslocamento de Competência), que consiste na federalização dos


crimes contra direitos humanos.
O crime, em regra, é da Justiça Estadual, mas a competência é deslocada para a Justiça Federal.
Tem como objetivo evitar uma possível responsabilização do Estado brasileiro no plano internacional
diante do risco concreto de sanção internacional.
A legitimidade é conferida ao PGR (Procurador Geral da República) que, deve suscitar perante o STJ,
a quem cabe deferir (ou não) o pedido.

Requisitos:
1. Crime com grave violação a DH (com dimensão metaindividual);
2. Negligência do Estado-membro em promover a persecução penal;
3. Risco concreto de imposição de sanção internacional pelo descumprimento dos compromissos
assumidos.

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4.4 Crimes contra a Organização do Trabalho

Crimes com dimensão meta individual, que possui uma multiplicidade de vítimas.
Tem que haver violação aos direitos dos trabalhadores coletivamente considerados.

OBS.: Crime de redução a condição análoga de escravo (art. 149, CP) para o STJ e STF a competência é da
Justiça Federal.

Tese com repercussão geral – Inf. 809, STF (2015): Compete à justiça federal
processar e julgar o crime de redução à condição análoga à de escravo (art. 149
do CP). O tipo previsto no art. 149 do CP caracteriza-se como crime contra a
organização do trabalho e, portanto, atrai a competência da justiça federal (art.
109, VI, da CF/88).

Pergunta-se: De quem é a competência para julgar o crime de omissão de anotação de vínculo


empregatício na CTPS (art. 297, § 4º, do CP)?
R.: Justiça Federal (STJ). O sujeito passivo primário do crime omissivo do art. 297, § 4.º, do Diploma
Penal, é o Estado, e, eventualmente, de forma secundária, o particular, terceiro prejudicado, com a omissão
das informações, referentes ao vínculo empregatício e a seus consectários da CTPS. Cuida-se, portanto de
delito que ofende de forma direta os interesses da União, atraindo a competência da Justiça Federal, nos
termos do art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC 145567/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
27/04/2016.
1ª Turma do STF: Justiça Estadual. Nesse sentido: 1ª Turma. Ag.Reg. na Pet 5084, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 24/11/2015.

Pergunta-se: O Título IV do Código Penal, que engloba os art. 197 a art. 207, possui a seguinte
rubrica: “Dos crimes contra a organização do trabalho”. Diante disso, os crimes contra a organização do
trabalho previstos neste Título IV do CP serão sempre julgados pela Justiça Federal?
R.: NÃO (STJ). Os crimes previstos nos art. 197 a art. 207 do CP somente serão de competência da
Justiça Federal quando ficar demonstrado, no caso concreto, que o delito provocou lesão a: i) direito dos
trabalhadores coletivamente considerados; ou ii) organização geral do trabalho.

4.5 Crimes contra o Sistema Financeiro e a Ordem Econômico-Financeira

CF Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

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Para que esse crime seja da competência federal, a lei deve assim dizer. Se a lei
não dispuser, não há o que falar nesses crimes na JF. Leis:

Primeiro ponto que se deve ter atenção é que, os crimes praticados contra o Sistema Financeiro e
Ordem Econômico Financeira somente serão de competência da Justiça Federal se houver previsão legal.
Portanto, a regra é a competência da Justiça Estadual e, excepcionalmente, nos casos expressamente
previstos em lei, será de competência da Justiça Federal.

Vejamos alguns casos:


1) Lei 1.521/51 (Crimes Contra a Economia Popular): não há nada disposto na Lei, razão pela qual
competência será da Justiça Estadual.

Súmula 498/STF - compete à justiça dos estados, em ambas as instâncias, o


processo e o julgamento dos crimes contra a economia popular.

2) Lei 4.594/64 (Crimes de Concessão Ilegal de Empréstimos): Competência da Justiça Estadual.


3) Crimes previstos na Lei 8.137/90:
● Crimes Contra a Ordem Tributária: a competência será definida pela natureza do tributo. Ex.:
crimes tributários envolvendo tributos federais, a competência será da Justiça Federal.
● Crimes Contra A Ordem Econômica: Justiça Estadual.
● Crimes Contra As Relações De Consumo: Justiça Estadual.

Jurisprudência em Teses do STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar os


crimes contra a ordem econômica previstos na Lei n. 8.137/1990, salvo se
praticados em detrimento do art. 109, IV e VI, da Constituição Federal de 1988.

4) Lei 8.176/91 (Adulteração de Combustíveis): A lei silencia, então é da Justiça Estadual. Pouco
importa o fato de a ANP fazer a fiscalização.
5) Lei 9.613/98 (Lavagem de Capitais): Em regra, é da Justiça Estadual.
Exceções:
a) Quando o crime for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da União,
suas autarquias ou EP.
b) Quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal.

Lei n. 9.613/98 - art. 2º: “O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:
III – são da competência da Justiça Federal:

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a) Quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira,


ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas;
b) Quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal”.

4.6 Crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves

CF Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência
da Justiça Militar;

Devemos estudar em conjunto com o CP. Vide art. 5º.

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de


direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional
as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves
ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em
pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas
em porto ou mar territorial do Brasil.

● “Navio”: embarcação de grande porte, de modo que, se o delito for cometido a bordo de um pequeno
barco (lancha, veleiro etc.), a competência será da Justiça Estadual.

ATENÇÃO: Navio em situação de deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento.


Para que o crime cometido a bordo de navio seja de competência da Justiça Federal, é necessário
que o navio esteja em deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento (ex.: parado
provisoriamente no porto, mas já seguirá rumo a outro país).
Se o navio estiver atracado e não se encontrar em potencial situação de deslocamento, a
competência será da Justiça Estadual.
Pergunta-se: O que é situação de potencial deslocamento? R.: Trata-se de conceito que deverá ser
avaliado no caso concreto.
· Ex1: se o navio (um transatlântico) se encontrava parado no porto para reabastecimento e, após
este ser concluído, quando estava preparado para sair, ocorreu um delito em seu interior, pode-
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se entender que ele está em situação de potencial deslocamento internacional, sendo este
delito de competência da Justiça Federal.
· Ex2: se o navio estiver no estaleiro, para conserto, sem previsão de nova viagem, não se pode
dizer que está em potencial deslocamento, sendo de competência da Justiça Estadual o
julgamento de eventual delito ali cometido.

Conclusão: A embarcação deve estar apta, portanto, a realizar viagens internacionais.

● “Aeronave voando ou parada”: a competência será da Justiça Federal mesmo que o crime seja
cometido a bordo de uma aeronave pousada e mesmo que se trate de aeronave de pequeno porte.
Assim, não é necessário que a aeronave esteja em movimento para a competência ser da Justiça
Federal.

Cuidado para não confundir:

AERONAVE pousada: competência da JC Federal.


NAVIO ancorado: competência da JC ESTADUAL, SALVO se estiver em situação de potencial
deslocamento.

ATENÇÃO: Balão NÃO se confunde com Aeronave.

Compete à Justiça Estadual o julgamento de crimes ocorridos a bordo de balões de


ar quente tripulados. Os balões de ar quente tripulados não se enquadram no
conceito de “aeronave” (art. 106 da Lei nº 7.565/86), razão pela qual não se aplica
a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IX, da CF/88). STJ. 3ª Seção.
CC 143.400-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/04/2019 (Info 648).

4.7 Crimes relativos à disputa sobre direitos indígenas

CF Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


XI - a disputa sobre direitos indígenas

Em regra, crime praticado por e contra índio será julgado e processado pela Justiça Estadual.
A competência será da Justiça Federal quando os direitos indígenas forem violados.

Súmula: 140/STJ - Compete a justiça comum estadual processar e julgar crime em


que o indígena figure como autor ou vítima.

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Veja a jurisprudência sobre o tema:

Indígenas agredidos por produtores rurais em disputa por terras pertencentes à


comunidade indígena: competência da Justiça Federal. Os indígenas abordaram
produtores rurais que estavam trabalhando nas terras pertencentes à comunidade
indígena, pedindo a paralisação das atividades. Os produtores rurais reagiram
agredindo os indígenas com socos e chutes. A competência para julgar o fato é da
Justiça Federal. Isso porque a motivação dos delitos gira em torno de disputa por
terras indígenas, situação na qual a jurisprudência entende que há interesse de
toda a comunidade indígena, a justificar o deslocamento da competência para a
Justiça Federal (art. 109, XI, CF/88). Não se aplica a Súmula 140 do STJ quando o
crime envolve interesses coletivos da comunidade indígena. Um dos produtores
rurais agressores era cunhado de um indígena, circunstância que foi considerada
irrelevante pelo STJ para a definição da competência da Justiça Federal tendo em
vista que a desavença entre eles não estava ligada a seu convívio familiar. STJ. 3ª
Seção. CC 156.502/RR, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
22/02/2018.

5. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA ESTADUAL

É residual, ou seja, tudo que não se encaixar no que vimos acima, será de competência da Justiça
Estadual.

Vamos ver algumas hipóteses que já foram decididas pelos Tribunais Superiores:

1. Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas corpus preventivo para viabilizar, para fins
medicinais, o cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis (maconha), bem como porte em
outra unidade da federação, quando não demonstrada a internacionalidade da conduta. (Info 673).

2. Compete à Justiça Estadual a execução de medida de segurança imposta a militar licenciado (Info
626).

3. Compete à Justiça Estadual apurar suposto crime de estelionato, em que foi obtida vantagem ilícita
em prejuízo de vítimas particulares mantidas em erro mediante a criação de falso Tribunal
Internacional de Justiça e Conciliação para solução de controvérsias. STJ. 3ª Seção. CC 146726-SP,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/12/2016 (Info 597).

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4. Declarações de particular que ofendem a honra de outro particular deverão ser julgadas na Justiça
Estadual, mesmo que feitas perante órgão federal (Info 593)

5. Compete à Justiça Estadual processar e julgar ação penal na qual se apurem infrações penais
decorrentes da tentativa de abertura de conta corrente mediante a apresentação de documento
falso em agência do Banco do Brasil (BB) localizada nas dependências de agência da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) que funcione como Banco Postal. STJ. 3ª Seção. CC 129804-
PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/10/2015 (Info 572).

6. Compete à Justiça Estadual o processamento e julgamento de ação penal que apura supostas fraudes
praticadas por administrador na gestão de operadora de plano de saúde não caracterizada como
seguradora. STJ. 3ª Seção. CC 148110-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Rel. para acórdão
Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 23/11/2016 (Info 595).

6. COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO (RATIONE PERSONAE/RATIONE FUNCIONAE)

Trata-se de uma prerrogativa prevista pela Constituição segundo a qual as pessoas ocupantes de
alguns cargos ou funções, somente serão processadas e julgadas criminalmente (não engloba processos
cíveis) por determinados Tribunais (TJ, TRF, STJ, STF).
Salienta-se que, tecnicamente, NÃO deve ser utilizada a expressão “foro privilegiado”,
principalmente, em provas discursivas e orais. Isso porque a competência por prerrogativa de função foi
criada para proteger o exercício funcional, de modo que NÃO constitui um privilégio ao indivíduo.
Além disso, a terminologia ratione personae também NÃO é adequada, pois ele não visa proteger
a pessoa, mas sim a função ocupada. Desta forma, o correto é usar a expressão ratione funcionae.

DICA: Aqui, é importante a leitura da CF, pois, algumas provas, cobram sua literalidade.

Previsão legal:
● Regra: somente a Constituição Federal pode prever casos de foro por prerrogativa de função. Ex.:
art. 102, I, “b” e “c”; art. 105, I, “a”.
● Exceção: o art. 125, caput e § 1º, da CF/88 autorizam que as Constituições Estaduais prevejam
hipóteses de foro por prerrogativa de função nos Tribunais de Justiça, ou seja, situações nas quais
determinadas autoridades serão julgadas originalmente pelo TJ:

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos


nesta Constituição.
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a
lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.
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Vale ressaltar, no entanto, que a previsão da Constituição Estadual somente será válida se respeitar
o princípio da simetria com a Constituição Federal. Isso significa que a autoridade estadual a qual for
conferido o foro por prerrogativa na Constituição Estadual deve ser equivalente a uma autoridade federal
que tenha foro por prerrogativa de função na Constituição Federal.

· Ex.1: A Constituição Estadual poderá prever que o Vice-Governador será julgado pelo TJ. Isso porque
a autoridade “equivalente” em âmbito federal (Vice-Presidente da República) possui foro por
prerrogativa de função no STF (art. 102, I, “b”, da CF/88). Logo, foi respeitado o princípio da simetria.

Cuidado: Lado outro, a Constituição Estadual NÃO pode prever foro por prerrogativa de função para
os Vereadores e Vice-Prefeitos.

A CF/88 não previu foro por prerrogativa de função aos Vereadores e aos Vice-
prefeitos. O foro por prerrogativa de função foi previsto apenas para os prefeitos
(art. 29, X, da CF/88). Diante disso, é inconstitucional norma de Constituição
Estadual que crie foro por prerrogativa de função para Vereadores ou Vice-
Prefeitos. A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as
autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os
Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de
função. STF. Plenário. ADI 558/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/04/2021.

· Ex.2: A Constituição Estadual NÃO pode prever foro por prerrogativa de função para os Delegados
de Polícia considerando que não há previsão semelhante para os Delegados Federais na Constituição
Federal (STF ADI 2587).

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por


prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para o Delegado Geral da Polícia
Civil
Extrapola a autonomia do estado previsão, em constituição estadual, que confere
foro privilegiado a Delegado Geral da Polícia Civil. A autonomia dos estados para
dispor sobre autoridades submetidas a foro privilegiado não é ilimitada, não pode
ficar ao arbítrio político do constituinte estadual e deve seguir, por simetria, o
modelo federal. STF. Plenário. ADI 5591/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
20/3/2021 (Info 1010).

Hipóteses de foro por prerrogativa de função previstas na CF/88:

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AUTORIDADE FORO COMPETENTE


● Presidente e Vice-Presidente da República
● Deputados Federais e Senadores
● Ministros do STF
● Procurador-Geral da República
● Ministros de Estado
● Advogado-Geral da União
STF
● Comandantes da Marinha, Exército e
Aeronáutica
● Ministros do STJ, STM, TST, TSE
● Ministros do TCU
● Chefes de missão diplomática de caráter
permanente
● Governadores
● Desembargadores (TJ, TRF, TRT)
● Membros dos TRE
● Conselheiros dos Tribunais de Contas STJ
● Membros do MPU que oficiem perante
tribunais
● Juízes Federais, Juízes Militares e Juízes do
Trabalho
TRF ou TRE
● Membros do MPU que atuam na 1ª
instância
● Juízes de Direito
TJ
● Promotores e Procuradores de Justiça
● Prefeitos TJ, TRF ou TRE

Se a Constituição estadual não trouxer nenhuma regra, tais autoridades serão julgadas em 1ª
instância.

Foro privativo no STF e ausência de duplo grau de jurisdição: as autoridades com foro por
prerrogativa de função no STF ficam sujeitas a julgamento por uma única instância, de forma que não gozam
de duplo grau de jurisdição.
Esse modelo vai de encontro com tratados internacionais sobre direitos humanos de que o Brasil é
signatário. Tanto a Convenção Americana de Direitos Humanos, quanto o Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos asseguram o “direito de recorrer da sentença para juiz ou Tribunal Superior”. Isso não ocorre

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com quem tem foro privilegiado no STF. Após o julgamento pela Corte, não há recurso para outro Tribunal.

DICA: Não significa que ele não possa recorrer (pode opor embargos e alguns recursos), o que não pode é
revisão de toda matéria de fato, sobre o julgamento.

O direito ao foro por prerrogativa de função se inicia com a diplomação do Deputado Federal ou
Senador e somente se encerra com o término do mandato. Assim, pelo entendimento que era
tradicionalmente adotado pelo STF, se determinado indivíduo estivesse respondendo a uma ação penal em
1ª instância, caso ele fosse eleito Deputado Federal, no mesmo dia da sua diplomação, cessaria a
competência do juízo de 1ª instância e o processo criminal deveria ser remetido ao STF para ali ser julgado.

A diplomação é o ato pelo qual a Justiça Eleitoral atesta quem são os candidatos eleitos e os respectivos
suplentes.

No entanto, o STF entendeu que as normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses
de foro por prerrogativa de função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes
que tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em razão dele.
Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado
Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando
o cargo de parlamentar federal.
Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não
apresentar relação direta com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado.

Vamos compreender os principais argumentos para uma prova discursiva?


(1) CF prevê um sistema de foro extremamente ampliado que alcança inúmeros agentes públicos, tão
alargado que gera consequências graves e indesejáveis para a justiça: a) afasta os Tribunais
Superiores, em especial o STF enquanto Suprema Corte, do seu verdadeiro papel de tribunais de
teses jurídicas, e não de julgamento de provas e fatos. Tal atribuição é melhor desempenhada pelo
juízo de 1º grau que tem melhores condições de conduzir a instrução processual. Isso contribui para
a ineficiência do sistema de justiça criminal.
(2) O modelo de foro por prerrogativa tal qual delineado impede o gozo de garantias importantes como
o direito ao duplo grau de jurisdição, previsto em alguns diplomas internacionais de que o Brasil é
signatário como CADH.
(3) Foro por prerrogativa de função é garantia para resguardar a função exercida e não, o agente
público nela investido de forma que sua incidência deve ficar adstrita as infrações comuns
praticadas após a diplomação e em razão do cargo.

Foi fixada, portanto, a seguinte tese:


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O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante
o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.

Veja a jurisprudência sobre o tema:

Se os fatos criminosos que teriam sido supostamente cometidos pelo Deputado


Federal não se relacionam ao exercício do mandato, a competência para julgá-los
não é do STF, mas sim do juízo de 1ª instância. Isso porque o foro por prerrogativa
de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas (STF AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 03/05/2018). A apropriação indébita se consuma no ato da
inversão da propriedade do bem. Se a inversão da propriedade ocorreu com a
transferência dos recursos da conta bancária da empresa vítima, com sede em
Brasília/DF, efetuada pelo Diretor da entidade, tem-se que a competência para
apurar este delito é do juiz de direito de 1ª instância do TJDFT. STF. 1ª Turma. Inq
4619 AgR-segundo/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/2/2019 (Info 931).

CRIMES COMETIDOS POR DEPUTADO FEDERAL OU SENADOR


SITUAÇÃO COMPETÊNCIA
Crime cometido antes da diplomação como Juízo de 1ª instância
Deputado ou Senador
Crime cometido depois da diplomação
(durante o exercício do cargo), mas o delito não
tem relação com as funções desempenhadas. Juízo de 1ª instância
Ex.: embriaguez ao volante.
Crime cometido depois da diplomação
(durante o exercício do cargo) e o delito está
relacionado com as funções desempenhadas. STF
Ex.: corrupção passiva.

Pergunta-se: Se o parlamentar federal está respondendo a uma ação penal no STF e, antes de ser
julgado, ele deixar de ocupar o cargo (ex.: renunciou ou não se reelegeu), cessa o foro por prerrogativa de
função e o processo deverá ser remetido para julgamento em 1ª instância?
R.: O STF decidiu estabelecer uma regra para situações como essa:
● Se o réu deixou de ocupar o cargo antes de a instrução terminar: cessa a competência do STF e o
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processo deve ser remetido para a 1ª instância.


● Se o réu deixou de ocupar o cargo depois de a instrução se encerrar: o STF permanece sendo
competente para julgar a ação penal.

Assim, o STF estabeleceu um marco temporal, fim da instrução, a partir do qual a competência para
processar e julgar ações penais – seja do STF ou de qualquer outro órgão jurisdicional – não será mais afetada
em razão de o agente deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo (ex.: renúncia, não reeleição,
eleição para cargo diverso). Ou seja: trata-se de um marco temporal para a perpetuação da jurisdição.

Pergunta-se: Quando se considera encerrada a instrução, para os fins acima explicados?


R.: Com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais. Nesse
momento fica prorrogada a competência do juízo para julgar a ação penal mesmo que ocorra alguma
mudança no cargo ocupado pelo réu.
Desse modo, mesmo que o agente público venha a ocupar outro cargo ou deixe o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo, isso não acarretará modificação de competência.
Ex.: Pedro, Deputado Federal, respondia ação penal no STF; foi publicado despacho intimando o MP
para apresentação de alegações finais; uma semana depois, o réu foi diplomado Prefeito; mesmo Pedro
tendo deixado de ser Deputado Federal, o STF continuará sendo competente para julgar o processo criminal
contra ele.

A escolha desse momento tem como fundamento três razões:


1ª. Trata-se de um marco temporal objetivo, de fácil aferição, e que deixa pouca margem de
manipulação para os investigados e réus e afasta a discricionariedade da decisão dos tribunais de
declínio de competência;
2ª. Este critério privilegia o princípio da identidade física do juiz, ao valorizar o contato do magistrado
julgador com as provas produzidas na ação penal;
3ª. Já existia precedente do STF adotando este marco temporal.

Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação


para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações
penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar outro cargo
ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.

Assim, se o Deputado Federal ou Senador estiver respondendo um processo criminal no STF e chegar
ao fim o seu mandato, cessa a competência do STF para julgar esta ação penal, salvo se a instrução
processual já estiver concluída, hipótese na qual haverá a perpetuação da competência e o STF deverá
julgar o réu mesmo ele não sendo mais um parlamentar federal.
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Veja a jurisprudência sobre o tema:

Depois de anos sendo investigado em inquérito que tramitava no STF, o Ministro


Relator declinou a competência para apurar os crimes porque os fatos ocorreram
antes de o investigado ser Deputado Federal; logo, aplica-se o entendimento
firmado na AP 937 QOO fato de as investigações estarem perto do fim e de já terem
demorado anos não servem como argumento jurídico válido para prorrogar a
competência do STF. Apesar da efetiva evolução das investigações, sob a
supervisão do STF, não houve oferecimento de denúncia contra o agravante nem
encerramento da instrução processual penal. Logo, o marco temporal relativo à
data de apresentação das razões finais não foi alcançado. Além disso, quanto ao
segundo argumento da defesa, o STF esclareceu que é possível a imediata remessa
dos autos às instâncias competentes, inclusive antes da publicação do acórdão ou
do trânsito em julgado, quando constatado o risco de prescrição. STF. 2ª Turma.
Pet 7716 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

Pergunta-se: Como fica no caso de agente político que perdeu o foro em razão do fim do mandato,
mas foi reeleito?
R.: Nessa hipótese, temos que analisar se houve intervalo entre os mandatos. Isso porque, segundo
o STF, o intervalo entre dois mandatos afasta foro por prerrogativa de função em relação à fato praticado
no período anterior, de modo que só é possível que o foro por prerrogativa de função seja mantido se a
reeleição para o 2º mandato seja consecutiva e imediata.
Vejamos decisão relativa ao tema:

Na hipótese em que o delito seja praticado em um mandato e o réu seja reeleito


para o mesmo cargo, a continuidade do foro por prerrogativa de função restringe-
se às hipóteses em que os diferentes mandatos sejam exercidos em ordem
sequencial e ininterrupta. No caso concreto, os fatos atribuídos ao paciente, então
Prefeito de Buritizal/SP, datam do ano de 2011, ou seja, teriam supostamente
ocorrido durante o mandato 2008-2012. Não eleito para o mandato subsequente,
o réu apenas veio a ocupar novo cargo de Prefeito em 2017-2020. Diante desse
quadro fático, constata-se que houve a quebra da necessária e indispensável
continuidade do exercício do mandato político para fins de prorrogação da
competência. Logo, ele será julgado pelo juízo de 1ª instância. STJ. 5ª Turma. HC
539002/SP, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado do
TJ/PE), julgado em 21/11/2019.

OBS.: Se o crime for cometido durante a campanha para a reeleição, e o agente for efetivamente
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reeleito, a competência permanecerá sendo a do STF/STJ. Veja:

STF é competente para julgar crime eleitoral praticado por Deputado Federal
durante a sua campanha à reeleição caso ele tenha sido reeleito. Pedro, Deputado
Federal, recebeu doação ilegal de uma empresa com o objetivo de financiar a sua
campanha para reeleição. Esta doação não foi contabilizada na prestação de
contas, configurando o chamado “caixa 2” (art. 350 do Código Eleitoral). Pedro foi
reeleito para um novo mandato de 2019 até 2022. O STF será competente para
julgar este crime eleitoral? SIM. O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas
aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas. O STF entende que o recebimento de doação ilegal destinado à
campanha de reeleição ao cargo de Deputado Federal é um crime relacionado com
o mandato parlamentar. Logo, a competência é do STF. Além disso, mostra-se
desimportante a circunstância de este delito ter sido praticado durante o mandato
anterior, bastando que a atual diplomação decorra de sucessiva e ininterrupta
reeleição. STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 13 e 14/3/2019 (Info 933).

Pergunta-se: O entendimento que reduz o alcance do foro por prerrogativa de função vale para
outras hipóteses de foro privilegiado ou apenas para os Deputados Federais e Senadores?
R.: Vale para outros casos de foro por prerrogativa de função. Foi o que decidiu o próprio STF no
julgamento do Inq 4703 QO/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/06/2018 no qual afirmou que o
entendimento vale também para Ministros de Estado.
Além disso, o STJ também decidiu que a restrição do foro deve alcançar Governadores e Conselheiros
dos Tribunais de Contas Estaduais (art. 105, I, “a”, da CF/88). E, a Corte Especial do STJ, seguindo o mesmo
raciocínio do STF, limitou a amplitude do art. 105, I, “a”, da CF/88 e decidiu que:

O foro por prerrogativa de função no caso de Governadores e Conselheiros de


Tribunais de Contas dos Estados deve ficar restrito aos fatos ocorridos durante o
exercício do cargo e em razão deste.
STJ. Corte Especial. APn 857/DF, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 20/06/2018.
STJ. Corte Especial. APn 866/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
20/06/2018.

Pergunta-se: O art. 105, I, “a”, da CF/88 prevê que os Desembargadores dos Tribunais de Justiça
sejam julgados criminalmente pelo STJ. O entendimento acima exposto (que restringiu o foro para crimes
relacionados com o cargo) é aplicado também para os Desembargadores dos Tribunais de Justiça? Se um
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Desembargador praticar crime que não esteja relacionado com o exercício de suas funções (ex.: lesão
corporal contra a esposa), ele será julgado pelo juízo de 1ª instância?
R.: NÃO. Os Desembargadores dos Tribunais de Justiça continuam sendo julgados pelo STJ mesmo
que o crime não esteja relacionado com as suas funções. STJ. APn 878/DF QO, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
julgado em 30/05/2016.
É uma espécie de “exceção” ao entendimento do STJ que restringe o foro por prerrogativa de função.
Isso porque, o STJ entendeu que haveria um risco à imparcialidade caso o juiz de 1º instância julgasse um
Desembargador (autoridade que, sob o aspecto administrativo, está em uma posição hierarquicamente
superior ao juiz).
Veja as palavras do Min. Relator Benedito Gonçalves:

“É que, em se tratando de acusado e de julgador, ambos, membros da Magistratura


nacional, pode-se afirmar que a prerrogativa de foro não se justifica apenas para
que o acusado pudesse exercer suas atividades funcionais de forma livre e
independente, pois é preciso também que o julgador possa reunir as condições
necessárias ao desempenho de suas atividades judicantes de forma imparcial. Esta
necessidade (de que o julgador possa reunir as condições necessárias ao
desempenho de suas atividades judicantes de forma imparcial) não se revela como
um privilégio do julgador ou do acusado, mas como uma condição para que se
realize justiça criminal. Ser julgado por juiz com duvidosa condição de se posicionar
de forma imparcial, afinal, violaria a pretensão de realização de justiça. A partir
desta forma de colocação do problema, pode-se argumentar que, caso
Desembargadores, acusados da prática de qualquer crime (com ou sem relação
com o cargo de Desembargador) viessem a ser julgados por juiz de primeiro grau
vinculado ao Tribunal ao qual ambos pertencem, se criaria, em alguma medida,
um embaraço ao juiz de carreira.”

Além dos Desembargadores, o STJ estendeu o discrímen apontado em relação a interpretação


restritiva conferida pelo STF aos magistrados e promotores de justiça, mantendo a aplicação do foro por
prerrogativa de função aos crimes com ou sem relação com o cargo, com fundamento na necessidade de o
julgador desempenhar suas atividades judicantes de forma imparcial.
Isso porque, considerando que a previsão da prerrogativa de foro da Magistratura e do Ministério
Público encontra-se descrita no mesmo dispositivo constitucional (art. 96, III, da CF/88), seria desarrazoado
conferir-lhes tratamento diferenciado.

Compete aos tribunais de justiça estaduais processar e julgar os delitos comuns,


não relacionados com o cargo, em tese praticados por Promotores de Justiça.

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STJ. 3ª Seção. CC 177.100-CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 08/09/2021
(Info 708).

6.1 Reflexos da nova decisão do STF acerca da investigação criminal

Antes, diante da interpretação literal do foro, o STF entendia que toda a investigação de autoridade
com foro no STF deveria ser supervisionada pelo Ministro-relator, exigindo desde a autorização prévia para
a instaurar e autorização para promover o indiciamento.
Agora, diante da redução teleológica, só subsistirá a supervisão judicial do Ministro se o crime for
depois da diplomação e com nexo funcional. Tratando-se de infração penal praticada antes da diplomação,
ou durante o mandato, mas despida de nexo funcional, o STF não intervirá, sendo livre a condução das
investigações pela Polícia Civil ou Federal, sem necessidade de autorização para instauração, autorização
para indiciar ou praticar quaisquer outros atos no âmbito das investigações.

Investigações criminais envolvendo Deputados Federais e Senadores DEPOIS da AP 937 QO


Situação Atribuição para investigar
Se o crime foi praticado antes da diplomação ● Polícia (Civil ou Federal) ou MP.
Se o crime foi praticado depois da diplomação ● Não há necessidade de autorização do
(durante o exercício do cargo), mas o delito STF
não tem relação com as funções ● Medidas cautelares são deferidas pelo
desempenhadas. juízo de 1ª instância (ex.: quebra de
Ex.: homicídio culposo no trânsito. sigilo)

Se o crime foi praticado depois da diplomação ● Polícia Federal e Procuradoria Geral da


(durante o exercício do cargo) e o delito está República, com supervisão judicial do
relacionado com as funções desempenhadas. STF.
Ex.: corrupção passiva. ● Há necessidade de autorização do STF
para o início das investigações.
Fonte: Dizer o Direito

Jurisprudência sobre o tema:

A prerrogativa de foro não se estende a terceiro que compartilhe imóvel com


autoridade não investigada. O foro privilegiado consiste em uma garantia
conferida a determinadas autoridades para assegurar-lhes o livre exercício do
cargo. Não se trata de imunidade penal ou de garantia de não ser importunado. No
caso, considerando que o detentor de foro por prerrogativa de função não é objeto

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da investigação, não há razão para se estender a terceiro a prerrogativa de foro,


ainda que compartilhem o mesmo domicílio. Sobre o tema, o STF também já decidiu
que a prerrogativa de foro se relaciona à autoridade, e não à titularidade de um
imóvel. No julgamento da Reclamação 36.956/SP, de relatoria do ministro Gilmar
Mendes, ficou definido que a questão central para validar a admissibilidade da
diligência é a incomunicabilidade do seu resultado com o titular da prerrogativa de
foro.Processo sob segredo judicial, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca,
Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 25/10/2022, DJe 07/11/2022

É indispensável a existência de prévia autorização judicial para a instauração de


inquérito ou outro procedimento investigatório em face de autoridade com foro
por prerrogativa de função em Tribunal de Justiça. STF. 2ª Turma. HC 201965/RJ,
Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/11/2021 (Info 1040).
Além disso, é preciso analisar as considerações da jurisprudência do STF em relação ao
INDICIAMENTO de autoridades que possuem foro por prerrogativa:

Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada.
Existem duas exceções previstas em lei de autoridades que não podem ser
indiciadas: a) Magistrados (art. 33, parágrafo único, da LC 35/79); b) Membros do
Ministério Público (art. 18, parágrafo único, da LC 75/93 e art. 41, parágrafo único,
da Lei nº 8.625/93).
Excetuadas as hipóteses legais, é plenamente possível o indiciamento de
autoridades com foro por prerrogativa de função. No entanto, para isso, é
indispensável que a autoridade policial obtenha uma autorização do Tribunal
competente para julgar esta autoridade. Ex.: em um inquérito criminal que tramita
no STJ para apurar crime praticado por Governador de Estado, o Delegado de
Polícia constata que já existem elementos suficientes para realizar o indiciamento
do investigado. Diante disso, a autoridade policial deverá requerer ao Ministro
Relator do inquérito no STJ autorização para realizar o indiciamento do referido
Governador. Chamo atenção para o fato de que não é o Ministro Relator quem irá
fazer o indiciamento. Este ato é privativo da autoridade policial. O Ministro Relator
irá apenas autorizar que o Delegado realize o indiciamento.
STF. Decisão monocrática. HC 133835 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
18/04/2016 (Info 825).

Existe decisão monocrática mais recente em sentido contrário:


De acordo com o Plenário do STF, é nulo o indiciamento de detentor de
prerrogativa de foro, realizado por Delegado de Polícia, sem que a investigação
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tenha sido previamente autorizada por Ministro-Relator do STF (Pet 3.825-QO,


Red. p/o Acórdão Min. Gilmar Mendes).
Diversa é a hipótese em que o inquérito foi instaurado com autorização e
tramitou, desde o início, sob supervisão de Ministro do STF, tendo o indiciamento
ocorrido somente no relatório final do inquérito. Nesses casos, o indiciamento é
legítimo e independe de autorização judicial prévia.
Em primeiro lugar, porque não existe risco algum à preservação da competência do
STF relacionada às autoridades com prerrogativa de foro, já que o inquérito foi
autorizado e supervisionado pelo Relator. Em segundo lugar, porque o
indiciamento é ato privativo da autoridade policial (Lei nº 12.830/2013, art. 2º, §
6º) e inerente à sua atuação, sendo vedada a interferência do Poder Judiciário
sobre essa atribuição, sob pena de subversão do modelo constitucional acusatório,
baseado na separação entre as funções de investigar, acusar e julgar. Em terceiro
lugar, porque conferir o privilégio de não poder ser indiciado apenas a
determinadas autoridades, sem razoável fundamento constitucional ou legal,
configuraria uma violação aos princípios da igualdade e da república.
Em suma: a autoridade policial tem o dever de, ao final da investigação, apresentar
sua conclusão. E, quando for o caso, indicar a autoria, materialidade e
circunstâncias dos fatos que apurou, procedendo ao indiciamento.
STF. Decisão monocrática. Inq 4621, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
23/10/2018.
Fonte: Dizer O Direito.

Por fim, cabe destacar que normas estaduais não podem impor restrições a investigação, conforme
estabelecido pelo STF:

É inconstitucional norma estadual de acordo com a qual compete a órgão


colegiado do tribunal autorizar o prosseguimento de investigações contra
magistrados, por criar prerrogativa não prevista na Lei Orgânica da Magistratura
Nacional e não extensível a outras autoridades com foro por prerrogativa de
função.
A prerrogativa de foro dos magistrados é disciplinada no art. 33, parágrafo único,
da LOMAN, que dispõe que “quando, no curso de investigação, houver indício da
prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar,
remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o
julgamento, a fim de que prossiga na investigação”. Assim, na hipótese de indícios
de prática de crime por magistrado, o art. 33 da LOMAN determina a remessa dos
autos ao Tribunal ou órgão competente, para fins de prosseguimento da
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investigação, a ser dirigida pelo relator, sem condicionar a investigação à


necessidade de prévia autorização do órgão colegiado. Logo, não é possível que a
norma estadual diga que somente o órgão colegiado irá autorizar. Basta que o
relator decida a respeito. STF. Plenário. ADI 5331/MG, Rel. Min. Rosa Weber,
redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 3/6/2022 (Info 1057).

6.2 Crimes Dolosos Contra Vida X Foro por Prerrogativa de Função

Tratando-se de crime doloso contra a vida, a própria Constituição Federal afirma que a competência
será do Tribunal do Júri. Contudo, a CF, igualmente, outorga a competência de determinados tribunais para
o julgamento de algumas pessoas.
Assim, pelo princípio da especialidade, a competência dos tribunais, prevista na Constituição
Federal, irá prevalecer sobre a competência do tribunal do júri. Lado outro, se a competência estiver
prevista na Constituição Estadual, irá prevalecer a competência constitucional do júri.
Ou seja:
● Competência prevista na Constituição Federal: prevalece o foro da CF em detrimento ao Tribunal
do Júri.
● Competência prevista na Constituição Estadual: prevalece o Tribunal do Júri (que tem assento
constitucional), em detrimento ao disposto na Constituição Estadual.

Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do tribunal do júri


prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente
pela Constituição Estadual.

Exemplos:
· Governador que mata dolosamente uma pessoa será julgado pelo STJ;
· Promotor do RJ será julgado pelo TJ/RJ;
· Delegado Geral de Polícia de MG será julgado pelo Tribunal do Júri;
· Deputado estadual será julgado pelo TJ, conforme entendimento do STJ.

6.3 Concurso de Agentes e Foro por Prerrogativa

Imagine, por exemplo, que João pratica um crime em concurso com um Deputado Federal. Diante
disso, pergunta-se:

1) O julgamento ocorrerá no STF ou haverá a cisão dos processos? R.: Havendo conexão ou continência os
processos poderão ser reunidos e julgados perante o STF, de modo que não há violação ao juiz natural, nem
a ampla defesa e nem ao devido processo legal.
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Súmula 704 do STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do
devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu
ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.

2) A reunião dos processos no STF é obrigatória ou facultativa? R.: Em que pese a separação dos processos
seja a regra geral, compete ao STF decidir pelo desmembramento ou não dos processos, configurando uma
faculdade da Suprema Corte.

O desmembramento de inquéritos ou de ações penais de competência do STF deve


ser a regra geral, admitida exceção nos casos em que os fatos relevantes estejam
de tal forma relacionados, que o julgamento em separado possa causar prejuízo
relevante à prestação jurisdicional. STF. Plenário. Inq 3515 AgR/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 13/2/2014 (Info 735)

3) A reunião dos processos no STF sempre poderá ocorrer independentemente da natureza do delito? R.:
Tratando-se de crime doloso contra vida NÃO será possível a reunião dos processos, uma vez que a conexão
e a continência são regras infraconstitucionais de mudança de competência. Assim, não podem se sobrepor
à competência constitucional do Tribunal do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

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META 4

DIREITO PROCESSUAL PENAL: JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (PARTE II)

7. COMPETÊNCIA TERRITORIAL

Trata-se de competência relativa. Portanto:


● É prorrogável;
● É passível de modificação;
● Pode causar, no máximo, uma nulidade relativa. Assim, deve ser alegada em momento oportuno
(sob pena de preclusão) e é preciso demonstrar o prejuízo.

Regra de Fixação: Em regra, será determinada pelo local da consumação (Teoria do Resultado). Na tentativa,
será determinada pelo local do último ato de execução.

Argumentos trazidos pela doutrina para adoção da Teoria do Resultado:


● Maior facilidade na colheita de provas;
● O indivíduo deve ser processado e julgado no local onde houve perturbação da ordem jurídica.

CPP Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se
consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o
último ato de execução.
§ 1o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele,
a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil,
o último ato de execução.
§ 2o Quando o último ato de execução for praticado FORA do território nacional,
será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha
produzido ou devia produzir seu resultado.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCBA 2022): Adotado o critério territorial, real ou por extensão, com determinadas exceções
e particularidades, como manifestação da soberania nacional, aplica-se o Código de Processo Penal em todo
o território brasileiro, o que envolve o espaço aéreo, as águas interiores, o mar territorial e a plataforma
continental (item considerado correto).

7.1 Regras de competência específicas para algumas espécies de crimes:

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ATENÇÃO: Nesse tópico é necessário conhecimentos acerca dos crimes em espécie, matéria de
Direito Penal, pois é preciso saber o momento consumativo dos delitos.

a) Crimes Formais (de consumação antecipada): é aquele onde o resultado é mero exaurimento do delito,
que se consuma com a prática da conduta descrita no tipo.
Ex.: A vítima, que está no Curitiba, recebe uma ligação do presídio de São José dos Pinhais e é
constrangida a entregar o dinheiro em Araucária. Qual será o foro competente? Curitiba, São José dos Pinhais
ou Araucária?
O crime de extorsão consuma-se no local em que a vítima é constrangida, pouco importando o local
em que o pagamento foi feito. A competência será do juízo de Curitiba.

b) Crimes Plurilocais de Homicídio (Teoria Do Esboço Do Resultado): é aquele em que a conduta ocorre
em um local e o resultado em outra comarca.
Ex.: Tiros são desferidos em Campinas, mas a vítima morre em hospital de São Paulo. Pela regra do
art. 70, seria São Paulo o local da consumação e, consequentemente, do foro competente. No entanto, para
a jurisprudência, nesse caso, não aplica a regra do art. 70 (teoria do resultado), prevalecendo que o foro
competente será o do local da conduta (teoria da atividade), por dois motivos:
● Questões probatórias: no Tribunal do Júri a prova se concentra na audiência de julgamento, portanto
não conseguiria ouvir as testemunhas de outra comarca no dia do julgamento.
● Questões de política criminal: o julgamento deve ser feito no lugar em que ocorreu a conduta, que é
onde o crime teve repercussão.

A doutrina (Fernando de Almeida Pedroso) chama de Princípio do Esboço do Resultado, uma vez que o
resultado do delito é esboçado no local da conduta.

Em regra, o CPP acolhe a teoria do resultado, considerando como lugar do crime o


local onde o delito se consumou (crime consumado) ou onde foi praticado o último
ato de execução (no caso de crime tentado), nos termos do art. 70 do CPP.
Excepcionalmente, no caso de crimes contra a vida (dolosos ou culposos), se os atos
de execução ocorreram em um lugar e a consumação se deu em outro, a
competência para julgar o fato será do local onde foi praticada a conduta (local da
execução). Adota-se a teoria da atividade. STF. 1ª Turma. RHC 116200/RJ, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 13/8/2013 (Info 715).

c) Crimes Plurilocais x Crimes à Distância

Cuidado: não confundir crime plurilocal com crime de espaço máximo.

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Crime à distância ou de
Crime plurilocal
Espaço máximo

a) execução em um país e resultado em outro;


a) conduta e resultado em locais diferentes;
b) envolve dois países.
b) dentro do território nacional.

Aplica-se a Teoria da Ubiquidade (art. 6º, CP)


Aplica-se a Teoria do Resultado
c/c art. 70, §1º e 2º, CPP)

Nas palavras de Noberto Avena (2018):

Outra exceção à regra geral do art. 70, caput, do CPP quanto ao lugar do crime
ocorre nas hipóteses dos chamados crimes a distância, como tal considerados
aqueles que têm a sua execução iniciada em um determinado país e a sua
consumação em outro. Nesses casos, de acordo com o que dispõem o art. 70, §§
1.º e 2.º, do Código de Processo Penal e o art. 6.º do Código Penal, deve-se aplicar
a teoria da ubiquidade, que realiza a conjugação das teorias anteriores (teoria do
resultado e teoria da atividade), considerando como local do crime tanto o lugar
em que se processou a ação ou omissão (art. 70, § 1.º) como aquele em que ocorreu
ou deveria ter ocorrido o resultado (art. 70, § 2.º). Note-se que a previsão
incorporada ao art. 6.º do Código Penal já foi objeto de discussões na doutrina. Para
alguns, inclusive, o art. 6.º do CP, por ser lei mais nova, teria revogado, tacitamente,
o art. 70 do CPP, o qual traz em seu bojo a teoria do resultado. Contudo, a parcela
majoritária entende o art. 6.º como uma norma de aplicação da lei penal no espaço,
utilizável apenas quando se trata de crime que atinge mais de um país, e não
quando se trata de delito praticado integralmente no território brasileiro, pois
neste último caso continua sendo aplicável o art. 70 do CPP. Pois bem,
relativamente aos crimes a distância, é necessário distinguir
a) Atos executórios iniciados no Brasil e consumados no exterior: Tratando dessa
hipótese, dispõe o art. 70, § 1.º, do CPP que, se iniciada a execução do ato em
território nacional, e a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de
execução. Esse dispositivo harmoniza-se com o art. 6.º, 1.ª parte, do Código Penal,
estabelecendo que “considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação
ou omissão, no todo ou em parte”. Ilustra essa hipótese com o seguinte exemplo:
Joaquim, farmacêutico residente em Pelotas, no Rio Grande do Sul, pretendendo
matar a própria sogra, em tratamento em Buenos Aires, remete-lhe, de Pelotas,
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duas ampolas contendo substância mortífera. Aplicada a injeção, vem a sogra a


falecer. Descoberta a trama, será Joaquim processado e julgado em Pelotas, de
acordo com a regra do art. 70, § 1.º, do CPP c/c o art. 6.º, 1.ª parte, do CP. Se, no
mesmo exemplo, após a aplicação da injeção, a vítima é socorrida a tempo,
continua a competência sendo do juízo de Pelotas, porquanto houve tentativa de
homicídio cujo último ato de execução foi praticado em território nacional. (...)

Em síntese, na hipótese de delitos praticados integralmente no território brasileiro se aplica a regra


do art. 70 do CPP. Já em delitos nos quais a ação ou omissão ocorra no território de uma nação e o resultado
tenha sido produzido ou devesse ter sido produzido no território de outra, aplica-se a regra do art. 70, §§ 1.º
e 2.º, c/c o art. 6.º do Código Penal.

TIPO DE CRIME→ competência


CRIMES PLURILOCAIS → teoria do resultado
CRIMES PLURILOCAIS DOLOSOS CONTRA A VIDA → teoria da atividade
JUIZADOS ESPECIAIS → teoria da atividade
ATOS INFRACIONAIS → teoria da atividade

d) Crime de Estelionato eletrônico


O estelionato, previsto no art. 171, do CP, é um crime por meio do qual o agente, utilizando um meio
fraudulento, engana a vítima, fazendo com que ela entregue espontaneamente uma vantagem, causando
prejuízo à vítima. Pode ocorrer hipótese na qual a vantagem ilícita ocorre em um local e o prejuízo em outro.
Tais situações poderão gerar algumas dúvidas relacionadas com a competência territorial para processar e
julgar esse crime. A Lei nº 14.155/2021 inseriu o § 4º ao art. 70 do CPP tratando sobre o tema.

Art. 70. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito,
mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a
competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de
pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Vamos analisar três casos envolvendo estelionato para identificarmos as mudanças operadas pela
novidade legislativa.

1) Estelionato praticado por meio de cheque falso (art. 171, caput, do CP)

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Imagine a seguinte situação hipotética: João, domiciliado no Rio de Janeiro (RJ), achou um cheque
em branco. Ele foi, então, até Juiz de Fora (MG) e lá comprou inúmeras roupas de marca em uma loja da
cidade. As mercadorias foram pagas com o cheque que ele encontrou, tendo João falsificado a assinatura.
Trata-se do crime de estelionato, na figura do caput do art. 171 do CP.
A competência territorial para julgamento do delito será o juízo da comarca de Juiz de Fora (MG),
local da obtenção da vantagem indevida. Existe até uma súmula tratando sobre o tema:

Súmula 48-STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem


ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de
cheque.

Nessa hipótese NÃO se aplica o §4º, visto que ele não trata da hipótese de estelionato praticado por
meio de cheque falso. Logo, esse dispositivo não incide no presente caso. A regra a ser aplicada, portanto, é
a do caput do art. 70:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar
a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato
de execução.

O estelionato se consumou no momento em que João comprou as mercadorias da loja, pagando com
o cheque falsificado. Nesse instante houve a obtenção da vantagem ilícita e o dano patrimonial à loja. Logo,
nesta primeira hipótese, nenhuma mudança operada pela Lei nº 14.155/2021. Vale ressaltar que a Súmula
48 do STJ manteve-se válida com a novidade legislativa.

2) Estelionato praticado por meio de cheque sem fundo (art. 171, § 2º, VI)
Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro, domiciliado no Rio de Janeiro (RJ), foi passar o fim de
semana em Juiz de Fora (MG). Aproveitando que estava ali, ele foi até uma loja da cidade e comprou inúmeras
roupas de marca, que totalizaram R$ 4 mil. As mercadorias foram pagas com um cheque de titularidade de
Pedro. Vale ressaltar, no entanto, que Pedro sabia que em sua bancária havia apenas R$ 200,00, ou seja, que
não havia fundos suficientes disponíveis. Ele agiu assim porque supôs que não teriam como responsabilizá-
lo já que não morava ali.

Constata-se que Pedro praticou o crime de estelionato, no entanto, na figura equiparada do art. 171,
§ 2º, VI, do CP:

Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento:
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Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos
de réis.

Fraude no pagamento por meio de cheque


VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe
frustra o pagamento.

O cheque emitido por Pedro estava vinculado a uma agência bancária que se situa no Rio de Janeiro
(RJ). Tendo isso em consideração, verifica-se uma situação e alteração da competência com a Lei nº
14.155/2021:

● Antes da Lei: a competência para julgar seria do juízo do Rio de Janeiro (RJ), local onde se situa a
agência bancária que recusou o pagamento. Na teoria, o “dinheiro” que iria pagar a loja sairia da
agência bancária na qual Pedro tinha conta, ou seja, no Rio de Janeiro. Quando a loja foi tentar sacar
o cheque, lá em Juiz de Fora (MG), na teoria, a agência bancária localizada no RJ recusou o pagamento
porque informou que ali não havia saldo suficiente. Nessas situações, a jurisprudência afirmava que
a competência territorial era do local onde se situava a agência que recusou o pagamento:

Súmula 244-STJ: Compete ao foro do local da RECUSA processar e julgar o crime de


estelionato mediante cheque sem provisão de FUNDOS.

Súmula 521-STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de


estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de
FUNDOS, é o do local onde se deu a RECUSA do pagamento pelo sacado.

● Depois da Lei: a competência passou a ser do local do domicílio da vítima, ou seja, do juízo de Juiz
de Fora (MG). É o que prevê o novo § 4º do art. 70:

Art. 70. § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do (...) Código Penal, quando
praticados (...) mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em
poder do sacado (...) a competência será definida pelo local do domicílio da vítima
(...)

💣 Isso significa que a Súmula 244 do STJ e a Súmula 521 do STF estão superadas!

Pergunta-se: O que é o cheque com pagamento frustrado mencionado no § 4º do art. 70 do CPP?

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R.: Ocorre quando o agente que emitiu o cheque tinha fundos disponíveis, no entanto, depois de
emitir o cheque, ele saca o dinheiro que tinha no banco ou, então, simplesmente emite uma contraordem à
instituição financeira afirmando que não é para ela pagar aquele cheque.
Em nosso exemplo, imagine que, depois de emitir a cártula em favor da loja, Pedro entra em contato
com a instituição financeira e susta o cheque. No que tange à competência, a regra é a mesma do cheque
sem fundos.

3) Estelionato mediante depósito ou transferência de valores


Imagine a seguinte situação hipotética: Carlos, morador de Goiânia (GO), viu um anúncio na internet
que oferecia empréstimo “rápido e fácil”. Ele entrou em contato com a pessoa, que se identificou como
Henrique. Carlos combinou de receber um empréstimo de R$ 70 mil, no entanto, para isso, ele precisaria
depositar uma parcela de R$ 1 mil a título de “custas” para a conta bancária de Henrique, vinculada a uma
agência bancária localizada em São Paulo (SP). Carlos efetuou o depósito e, então, percebeu que se tratava
de uma fraude porque nunca recebeu o dinheiro do suposto empréstimo.
Novamente verifica-se uma situação e alteração da competência com a Lei nº 14.155/2021:
● Antes da Lei: o juízo competente seria, neste exemplo, o da comarca de São Paulo. O fundamento
era o caput do art. 70 do CPP:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar
a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato
de execução.

No caso em que a vítima, induzida em erro, efetuou depósito em dinheiro e/ou


transferência bancária para a conta de terceiro (estelionatário), a obtenção da
vantagem ilícita ocorreu quando o estelionatário se apossou do dinheiro, ou
seja, no momento em a quantia foi depositada em sua conta.
STJ. 3ª Seção. CC 167.025/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
14/08/2019.
STJ. 3ª Seção. CC 169.053/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
11/12/2019.

Segundo decidiu o STJ, o estelionato consuma-se no momento e no local em que é auferida a


vantagem ilícita. O prejuízo alheio, apesar de fazer parte do tipo penal, está relacionado à consequência do
crime de estelionato e não à conduta propriamente.
O núcleo do tipo penal é obter vantagem ilícita, razão pela qual a consumação se dá no momento em
que os valores entram na esfera de disponibilidade do autor do crime, o que somente ocorre quando o
dinheiro ingressa efetivamente em sua conta corrente.

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SEMANA 04/30

Resumindo: Estelionato que ocorre quando a vítima, induzida em erro, se dispõe a fazer depósitos
ou transferências bancárias para a conta de terceiro (estelionatário) tinha a competência firmada no local
onde o estelionatário possuía a conta bancária.

● Depois da Lei: a competência passou a ser do local do domicílio da vítima, ou seja, em nosso
exemplo, do juízo de Goiânia (GO). É o que prevê o novo § 4º do art. 70:

Art. 70. § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do (...) Código Penal, quando
praticados mediante depósito (...) ou mediante transferência de valores, a
competência será definida pelo local do domicílio da vítima (...)

Pergunta-se: E se houver mais de uma vítima, com domicílios em locais diferentes?


R.: A competência será definida por prevenção, ou seja, será competente para julgar todos as
condutas o juízo do domicílio da vítima que tiver praticado o primeiro ato do processo ou medida relativa a
este, nos termos do art. 83 do CPP:

Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois
ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles
tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a
este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts.
70, § 3º, 71, 72, § 2º, e 78, II, c).

É o que preconiza a parte final do § 4º do art. 70:

Art. 70. (...)§ 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito,
mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do
sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a
competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de
pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Pergunta-se: Esse novo § 4º do art. 70 do CPP aplica-se aos processos penais que estavam em curso
quando entrou em vigor a Lei nº 14.155/2021? O juízo que estava processando o crime deverá remeter o
feito para o juízo do domicílio da vítima?
R.: NÃO. Vigora aqui o princípio da perpetuatio jurisdictionis (perpetuação da jurisdição), previsto
no art. 43 do CPC/2015 e que pode ser aplicado ao processo penal por força do art. 3º do CPP.

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Segundo esse princípio, uma vez iniciado o processo penal perante determinado juízo, nele deve
prosseguir até seu julgamento. Assim, depois que o processo se iniciou perante um juízo, as modificações
que ocorrerem serão consideradas, em regra, irrelevantes para fins de competência.
Exceções: Existem duas mudanças que irão influenciar na competência, ou seja, duas situações em
que o juízo que começou a ação penal deixará de ser competente para continuar o processo por força de
fatos supervenientes. Veja:
1) Supressão do Órgão Judiciário: a lei (ou a CF) extingue o órgão judiciário (juízo) que era competente
para aquele processo. Ex.: a EC 45/2004 extinguiu os Tribunais de Alçada e todos os recursos ali
existentes foram redistribuídos.
2) Alteração da competência absoluta: pode acontecer de determinadas modificações do estado de
fato ou de direito alterarem as regras de competência absoluta para julgar aquele crime.
Ex1: imaginemos que viesse uma EC retirando da Justiça Federal a competência para julgar delitos
contra servidores públicos federais no exercício de suas funções;
Ex2: o crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil, ainda que cometido em serviço,
deixou de ser considerado crime militar e passou a ser crime comum por força da Lei nº 9.299/96, que alterou
o art. 9º, parágrafo único, do CPM (atual § 1º, por força da Lei nº 13.491/2017).

OBS.: A regra e as exceções estão previstas no art. 43 do CPC/2015 que, como vimos, aplica-se ao
processo penal em virtude do art. 3º do CPP:

Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da


petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito
ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem
a competência absoluta.

OBS.: O novo § 4º do art. 70 do CPP, que trata sobre a competência para julgar o crime de estelionato,
não se aplica aos processos penais que estavam em curso, mas se aplica imediatamente aos inquéritos
policiais que estavam em curso quando entrou em vigor a Lei nº 14.155/2021. STJ. 3ª Seção. CC 180832-RJ,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 25/08/2021 (Info 706).

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022 - Adaptada): Passando-se por funcionária de certa instituição financeira, Helena
usou um aplicativo de mensagens para fazer contato com a idosa Abigail, informando-lhe falsamente que o
cartão bancário desta fora clonado e pediu que a idosa fornecesse seus dados qualificativos e senha do cartão
para cancelamento. Abigail, confiando na suposta funcionária, repassou os dados. Em seguida, Helena disse
para Abigail cortar seu cartão ao meio e entregar ambas as partes a outra funcionária, que iria até sua casa
para buscá-las. A própria Helena, então, usando camiseta da instituição financeira e um crachá falso, foi até
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a casa de Abigail, em Niterói, e pegou as duas partes do cartão. Como o chip se encontrava preservado,
Helena o utilizou para a confecção de um novo cartão, com o qual transferiu dinheiro da conta de Abigail,
sediada em uma agência de São Gonçalo, para conta diversa, com agência em Rio Bonito. Além disso, Helena
fez compras em uma loja virtual, tendo recebido as mercadorias adquiridas em sua casa, em Maricá.

Considerando essa situação hipotética, o local em que se consumaram os crimes patrimoniais decorrentes
da transferência bancária e da aquisição de mercadorias, respectivamente, foi São Gonçalo e Maricá (item
considerado correto).

e) Crime praticado por pessoa jurídica


Há que se considerar como local da infração a sede fiscal da pessoa jurídica responsável pela
inserção, na Declaração de Importação, de seu nome como importadora ostensiva, sabedora de que o real
importador é outro

A empresa ostensiva, ou seja, a importadora aparente, que não indica o verdadeiro


importador das mercadorias pratica o delito tipificado no art. 299 do Código Penal
(falsidade ideológica). Ademais, considera-se como local da infração a sede fiscal
da pessoa jurídica responsável pela inserção, na Declaração de Importação, de seu
nome como importadora ostensiva, sabedora de que o real importador é outro.
STJ. 3ª Seção. AgRg no CC 175.542/PR, Rel. Joel Ilan Paciornik, julgado em
24/02/2021

f) Crime de Contrabando ou Descaminho


A competência territorial para os crimes de descaminho (art. 334 do CP) e do contrabando (art. 334-
A do CP), tecnicamente, deveria ser do local da aduana, ao não efetuar o pagamento. Contudo, o
entendimento dos Tribunais Superiores é que a competência será definida pelo local de apreensão dos bens.

Súmula 151/STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de


contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da
apreensão dos bens.

g) Crime de tráfico de drogas por meio de remessa do exterior pela via postal:

A competência territorial era do local em que a droga foi apreendida à luz do entendimento
sumulado do STJ. Contudo, a Súmula foi cancelada, sendo fixada a competência do local de destino da droga.

Na hipótese de importação da droga via correio cumulada com o conhecimento do


destinatário por meio do endereço aposto na correspondência, a Súmula 528/STJ
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deve ser flexibilizada para se fixar a competência no Juízo do local de destino da


droga, em favor da facilitação da fase investigativa, da busca da verdade e da
duração razoável do processo. STJ. 3ª Seção. CC 177882-PR, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 26/05/2021 (Info 698).

Foi logo após o julgado da 3ª Seção, que o STJ cancelou o enunciado da Súmula 528, que tratava da
competência do juízo federal para julgar crime cometido por pessoa que importou a droga por via postal.

Súmula 528/STJ: Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida


do exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional.
(SUMULA CANCELADA!)

Assim, de acordo com o novo entendimento, com o conhecimento do endereço designado para a
entrega (por via postal, a competência para processamento e julgamento deve ser fixada no juízo do local
de destino, e não onde foi apreendida a droga enviada.

7.2 Competência territorial com base no domicílio do acusado:

O domicílio do acusado, também chamado de foro subsidiário ou foro supletivo, será levado em
consideração para fixação de competência territorial quando:

a) Quando não se sabe o local da consumação do crime: foro do domicílio ou residência do réu.
Se o réu tiver mais de um domicílio ou residência: competência estabelecida pela prevenção (art. 72,
§1º, do CPP)
Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro: competência do juiz que primeiro
tomar conhecimento do fato (art. 72, §2º, do CPP).

b) Ação penal exclusivamente privada: O querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do
réu, ainda quando conhecido o lugar da infração. (art.73 CPP)
OBS.: A doutrina chama essa hipótese de foro de eleição, pois o querelante pode escolher onde quer propor
a ação.

CAIU EM PROVA:
(Delegado do Estado de Goiás 2022): Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o
foro de domicílio ou residência do réu, mesmo que conheça o lugar da infração - item considerado correto.

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Fonte.: Noberto Avena (2018)

7.3 Competência em Razão da Matéria ou Natureza da Infração

I. Competência do Tribunal do Júri:

Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de
organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri.
§ 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121,
§§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal,
consumados ou tentados

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§ 2o Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração


da competência de outro, a este será remetido o processo, salvo se mais graduada
for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada.
§ 3o Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à
competência de juiz singular, observar-se-á o disposto no art. 410; mas, se a
desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente caberá
proferir a sentença (art. 492, § 2o).

II. Competência da Justiça Eleitoral: A justiça eleitoral possui competência para o julgamento de crimes
eleitorais e aqueles que lhes são conexos ou continentes.

Em caso de conexão entre crime de competência da Justiça comum (federal ou


estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça
Eleitoral
Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem
conexos. Cabe à Justiça Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de
delitos comuns aos delitos eleitorais e, em não havendo, remeter os casos à Justiça
competente. STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933).

STF determina que Justiça Eleitoral de 1ª instância apure crime eleitoral e


também crime federal conexos; ao receber os autos, Justiça Eleitoral arquiva a
investigação do crime eleitoral e remete os autos à Justiça Federal; isso afronta a
decisão do STF
Caso concreto (com adaptações): Marcos era Ministro de Estado. Havia suspeitas
de que ele teria cometido dois crimes conexos: um crime eleitoral e um crime
federal “comum”. Considerando que ele possuía foro por prerrogativa de função,
foi instaurado, no âmbito do STF, um inquérito para apurar os fatos. Antes que
houvesse denúncia, Marcos foi exonerado do cargo de Ministro e, portanto, perdeu
o foro privativo. Diante disso, o STF determinou a remessa da investigação para a
1ª instância. O caso foi remetido para a 1ª instância da Justiça Eleitoral porque
segundo o entendimento do STF, em caso de conexão entre crime de competência
da Justiça comum (federal ou estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados
conjuntamente pela Justiça Eleitoral. O processo foi distribuído para o 1ª Zona
Eleitoral de Brasília (DF). O Promotor Eleitoral pediu sumariamente o arquivamento
da investigação no que tange ao crime eleitoral. O Juiz Eleitoral acolheu o pedido
do Ministério Público Eleitoral e arquivou a investigação quanto ao crime eleitoral.
Restava, no entanto, um outro delito, qual seja, o crime federal. Diante disso, o Juiz
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Eleitoral declinou da competência para processar o feito para a Seção Judiciária de


São Paulo (SP), local onde supostamente o crime teria sido praticado.
Inconformada, a defesa de Marcos ajuizou reclamação alegando que a decisão
declinatória do Juiz Eleitoral teria afrontado a decisão do STF. Houve um empate
na votação e prevaleceu a decisão mais favorável ao investigado. Para o Ministro
Gilmar Mendes, houve sim violação à autoridade da decisão proferida pelo STF,
uma vez que as instâncias inferiores não observaram as diretrizes que resultaram
na definição da competência da Justiça Eleitoral para apuração e processamento
dos fatos. O MPE promoveu o arquivamento do crime eleitoral imediatamente após
o recebimento dos autos, não tendo sequer empreendido qualquer diligência
investigativa para apurar os indícios de tais crimes. Além disso, o Juízo Eleitoral
arquivou o inquérito e remeteu os autos à Justiça Federal, mesmo diante da
expressa decisão dessa Corte que fixou sua competência para supervisão dos fatos.
As instâncias inferiores, portanto, ignoraram os termos da decisão reclamada, que
assentou a competência da Justiça Eleitoral para o processamento e a apuração dos
fatos em questão. STF. 2ª Turma. Rcl 34805 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/
o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 1º/9/2020 (Info 989).

A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar os crimes eleitorais e os


comuns que lhe forem conexos.
Sobre o tema, o precedente do Supremo Tribunal Federal, formado pelo seu
Plenário no julgamento do Inq. 4435 AgR-Quarto/DF, definiu ser competente a
Justiça Eleitoral para julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem
conexos, na forma dos arts. 109, IV, e 121, ambos da Constituição Federal, bem
como do art. 35, II, do Código Eleitoral, e do art. 78, IV, do Código de Processo Penal.
Ou seja, em caso de conexão ou continência entre crime comum e delito eleitoral,
todos devem ser julgados conjuntamente perante a Justiça Especializada.
Dessa forma, a competência da Justiça Eleitoral, proveniente da interpretação dada
pela Suprema Corte à Constituição Federal e à legislação dela decorrente, aplica-se
sempre que na ação penal houver qualquer menção a crime dessa espécie, seja na
descrição feita pelo órgão acusatório a respeito da suposta conduta ilícita, seja nas
decisões oriundas dos órgãos jurisdicionais.
De outro lado, a parte final do art. 82, do CPP, assim como o Enunciado da Súmula
235/STJ, apenas impede a reunião de processos conexos quando um deles já tenha
sido julgado, não incidindo se eles caminharam conjuntamente, de forma reunida,
desde o início da tramitação, muito anteriormente à prolação da sentença.
Assim, havendo reconhecimento da incompetência absoluta da Justiça Federal, a
ação penal deve ser remetida à Justiça Especializada, mas com anulação apenas dos
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atos decisórios praticados e sem prejuízo da sua ratificação pelo juízo competente.
(HC 612.636-RS, Quinta Turma, por maioria, julgado em 05/10/2021)

Cuidado: Desacato a juiz de direito no exercício da função eleitoral a competência é da Justiça


Federal e não da justiça eleitoral.

III. Competência da Justiça Federal (já estudada):

Dispõe o art. 109, da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou
pessoa domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro
ou organismo internacional;
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça
Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada
a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei,
contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente
sujeitos a outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal,
excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da Justiça Militar;
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de
carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a
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homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção,


e à naturalização;
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
§ 1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde
tiver domicílio a outra parte.
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária
em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que
deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito
Federal.
§ 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos
segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de
previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo
federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas
sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual.
§ 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o
Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil
seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer
fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal.

IV. Competência da Justiça do Trabalho2

A EC 45/2004, chamada de Reforma do Poder Judiciário, alterou o art. 114 da CF/88, inserindo novas
competências para a Justiça do Trabalho.
Destaco aqui os incisos I e IV:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:


I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público
externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios;
(...)
IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato
questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; (Incluído pela EC 45/2004)

2
Explicação retirada do Dizer o Direito.
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Alguns autores passaram a defender a ideia de que, com a EC 45/2004, a Justiça do Trabalho passou
a ter competência para julgar crimes relacionados com a organização do trabalho. No entanto, essa tese não
foi acolhida pelo STF.
Em 2007, o STF, ao julgar medida cautelar em ADI proposta contra a EC 45/2004, decidiu que “o
disposto no art. 114, incs. I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos pela Emenda Constitucional nº
45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para processar e julgar ações penais.” (STF. Plenário. ADI
3684 MC, Rel. Cezar Peluso, julgado em 01/02/2007).
Em 2020, o STF julgou em definitivo esta ADI e confirmou a decisão anterior reafirmando que:

A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar ações penais.
STF. Plenário. ADI 3684, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 11/05/2020.

Pergunta-se: E a competência da Justiça do Trabalho para julgar habeas corpus?


R.: A Justiça do Trabalho possui competência para julgar habeas corpus “quando o ato questionado
envolver matéria sujeita à sua jurisdição” (inciso IV do art. 114). Isso significa que a Justiça do Trabalho possui
competência para julgar habeas corpus que não envolva matéria penal.
Assim, a palavra “ações” prevista no inciso I do art. 114 refere-se unicamente a ações cíveis (não
abrangendo ações penais). E, de igual modo, o habeas corpus mencionado no inciso IV somente se volta
contra restrições à liberdade de locomoção que não tenham natureza penal.

7.4 Competência por Distribuição

A distribuição fixará a competência quando, em um mesmo juízo, existirem juízes igualmente


competentes para o julgamento de determinada infração penal.
Trata-se de uma competência relativa.

CAIU EM PROVA:
(Delegado do Estado de Goiás 2022): Quando houver mais de um juiz igualmente competente na mesma
circunscrição judiciária, a precedência da distribuição fixará a competência. A distribuição realizada
anteriormente à denúncia, para concessão de fiança, não tornará prevento o juízo para a ação penal
correspondente - item considerado correto.

7.5 Competência por Conexão ou Continência

I. Conexão: É a interligação entre duas ou mais infrações, e devem ser julgadas em um só processo.

Modalidades:
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1) Intersubjetiva: exige, além da ocorrência de duas ou mais infrações, que estas tenham sido
praticadas por duas ou mais pessoas.
▪ Por simultaneidade: vínculo entre as infrações pela similitude de tempo e espaço, permitindo
a oferta de denúncia única, imputando cada crime ao respectivo responsável.
▪ Concursal: agentes em concurso, abarcando todos os delitos praticados.
▪ Por reciprocidade: dois ou mais delitos, praticados por duas ou mais pessoas, que investem
uma contra as outras.

2) Teleológica: é praticada infração para facilitar, ocultar, conseguir impunidade ou vantagem em


relação a outra.

3) Probatória ou instrumental: influência direta que a prova de uma infração exerce na demonstração
de outro delito. Ex.: Comprovação de tráfico de drogas para demonstrar lavagem de dinheiro.
OBS.: não há exigência de relação de tempo e espaço entre os 2 crimes, sendo suficiente que a prova
de um crime influencie na de outro.

A verificação dos crimes no mesmo contexto fático configura mera descoberta


fortuita e não implica, necessariamente, conexão probatória ou teleológica entre
eles. AgRg no AgRg no RHC 161.096-SC, Rel. Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta
Turma, por unanimidade, julgado em 4/10/2022, DJe 17/10/2022 (Info 761).

II. Continência: É a reunião no mesmo processo de duas ou mais pessoas que concorreram para a realização
de delito único, ou quando duas ou mais infrações são praticadas através de uma só conduta.
Modalidades:
● Cumulação subjetiva: há um só delito, praticado por duas ou mais pessoas, a serem julgadas em
conjunto.
● Cumulação objetiva: existe uma só conduta, que provoca dois ou mais resultados lesivos,
configurando concurso formal de delitos, que serão reunidos em um só processo.
A continência por cumulação objetiva ocorre nas hipóteses de concurso formal de crimes (art. 70
CP), aberratio ictus (art. 73, CP) e aberratio criminis (art. 74 CP).
· Concurso formal: com uma conduta o agente pratica mais de um crime;
· Aberratio ictus: ocorre a continência por erro na execução, quando, por exemplo, o
agente mira na pessoa desejada e mata outra, além da desejada.
· Aberratio criminis: quando o agente atinge bem jurídico diverso do pretendido, além do
pretendido.

Cuidado: Os casos de aberractio ictus NÃO afetam a competência para julgamento no aspecto processual,
importando a pessoa efetivamente atingida. Ex.: Se um militar, desejando matar outro militar, erra o alvo e
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acerta um civil, na fixação da pena serão consideradas as características de quem pretendia atingir (vítima
virtual, isto é, o outro militar). No aspecto processual, importa a pessoa efetivamente atingida, isto é, o
civil, indo o militar a Júri

7.6 Regras na determinação da competência

O art. 78 do CPP estabelece as regras da força atrativa

a) Competência do Júri X Competência de outro órgão da jurisdição comum: prevalece o JURI.

b) Justiça Comum X Justiça Especial: prevalece a JUSTIÇA ESPECIAL.

c) Órgão de jurisdição superior X Órgão de Jurisdição Inferior: prevalece a JURISDIÇÃO SUPERIOR.

d) Concurso de jurisdições da mesma categoria:


1º: local da pratica do CRIME MAIS GRAVE.
● Ainda que o delito menos grave tenha sido praticado mais vezes.
● PPL é mais grave que PRD que é mais grave que Pena Pecuniária.
● Reclusão é mais grave que detenção.
● A análise se faz pela pena máxima cominada.
2º: local do cometimento do MAIOR NÚMERO DE INFRAÇÕES, se todos tiverem a mesma gravidade.
3º: firmada pela PREVENÇÃO, se iguais na gravidade e na quantidade.

Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão


observadas as seguintes regras:
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum,
prevalecerá a competência do júri;
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se
as respectivas penas forem de igual gravidade;
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior
graduação;
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.

IV. Separação de processos:

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Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento,


salvo:
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.
§ 1o Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum co-
réu, sobrevier o caso previsto no art. 152.
§ 2o A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver co-réu
foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.

Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem
sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo
excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por
outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.

Súmulas sobre o tema:


Súmula vinculante 36, STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar
civil denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso, quando
se tratar de falsificação de Caderneta de Inscrição de Registro (CIR) ou de Carteira
de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.

Súmula 208, STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal
por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.

Súmula 209, STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

Súmula 122, STJ: Compete à justiça federal o processo e julgamento unificado dos
crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art.
78, II, “a”, do Código de Processo Penal.

Súmula 451, STF: A competência especial por prorrogativa de função não se


estende ao crime cometido após a cessação definitiva do exercício funcional.

Súmula 704, STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido
processo legal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro
por prerrogativa de função de um dos denunciados.

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Súmula Vinculante 45, STF: A competência constitucional do Tribunal de Júri


prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente em
Constituição estadual.

Súmula 702, STF: A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos


restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais
casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.

Súmula 555, STF: É competente o Tribunal de Justiça para julgar conflito de


jurisdição entre juiz de direito do estado e a justiça militar local.

Entendimentos jurisprudenciais importantes:

Compete ao STF julgar a apelação criminal interposta contra sentença de 1ª


instância caso mais da metade dos membros do Tribunal de Justiça estejam
impedidos ou sejam interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88). STF. 2ª Turma. AO
2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/9/2019 (Info 950)

Beneficiário do auxílio emergencial transferiu o dinheiro para a conta de terceiro


que deveria sacar a quantia e entregar ao beneficiário; compete à Justiça Estadual
julgar a conduta do terceiro que decidiu não mais entregar o valor. STJ. 3ª Seção.
CC 182940-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 27/10/2021 (Info 716).

A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar crime comum conexo com
crime eleitoral, ainda que haja o reconhecimento da prescrição da pretensão
punitiva do delito eleitoral. STF. 2ª Turma. RHC 177243/MG, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 29/6/2021 (Info 1024).

Senador que pratica corrupção passiva que não está relacionada com seu cargo e
que não ofende bens, serviços ou interesse da União, deverá ser julgado em 1ª
instância pela Justiça comum estadual. O crime de corrupção passiva praticado por
Senador da República, se não estiver relacionado com as suas funções, deve ser
julgado em 1ª instância (e não pelo STF). Não há foro por prerrogativa de função
neste caso. O fato de o agente ocupar cargo público não gera, por si só, a
competência da Justiça Federal de 1ª instância. Esta é definida pela prática delitiva.
Assim, se o crime não foi praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse
da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (inciso IV do art.
109 da CF/88) e não estava presente nenhuma outra hipótese do art. 109, a
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competência para julgar o delito será da Justiça comum estadual. STF. 1ª Turma.
Inq 4624 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/10/2019 (Info 955).

É possível que os crimes antecedentes sejam julgados em um processo e a


acusação por lavagem seja apreciada em outro processo desmembrado, mesmo
que o MP esteja imputando a causa de aumento descrita na parte final do § 4º do
art. 1º da Lei 9.613/98
STJ. 5ª Turma. RHC 157077-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/05/2022
(Info 735).

É aplicável a teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso


do inquérito policial quando autorizadas por juízo aparentemente competente
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 156413-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
05/04/2022 (Info 733).

Jurisprudência em Teses (STJ):

1) Compete ao Superior Tribunal de Justiça o julgamento de revisão criminal


quando a questão objeto do pedido revisional tiver sido examinada anteriormente
por esta Corte.

2) A mera previsão do crime em tratado ou convenção internacional não atrai a


competência da Justiça Federal, com base no art. 109, inciso V, da CF/88, sendo
imprescindível que a conduta tenha ao menos potencialidade para ultrapassar os
limites territoriais.

3) O fato de o delito ser praticado pela internet não atrai, automaticamente, a


competência da Justiça Federal, sendo necessário demonstrar a internacionalidade
da conduta ou de seus resultados.

4) Não há conflito de competência entre Tribunal de Justiça e Turma Recursal de


Juizado Especial Criminal de um mesmo Estado, já que a Turma Recursal não possui
qualidade de Tribunal e a este é subordinada administrativamente.

5) É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por


prevenção, que deve ser alegada em momento oportuno, sob pena de preclusão.

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6) A competência é determinada pelo lugar em que se consumou a infração (art. 70


do CPP), sendo possível a sua modificação na hipótese em que outro local seja o
melhor para a formação da verdade real.

7) Compete ao Tribunal Regional Federal ou ao Tribunal de Justiça decidir os


conflitos de competência entre juizado especial e juízo comum da mesma seção
judiciária ou do mesmo Estado.

8) Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos


de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do
Código de Processo Penal. (Súmula n. 122/STJ)

9) Inexistindo conexão probatória, não é da Justiça Federal a competência para


processar e julgar crimes de competência da Justiça Estadual, ainda que os delitos
tenham sido descobertos em um mesmo contexto fático.

10) No concurso de infrações de menor potencial ofensivo, afasta-se a competência


dos Juizados Especiais quando a soma das penas ultrapassar dois anos.

11) Compete à Justiça Federal processar e julgar crimes relativos ao desvio de


verbas públicas repassadas pela União aos municípios e sujeitas à prestação de
contas perante órgão federal.

12) Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio municipal. (Súmula n. 209/STJ)

13) As atribuições da Polícia Federal não se confundem com as regras de


competência constitucionalmente estabelecidas para a Justiça Federal (arts. 108,
109 e 144, §1°, da CF/88), sendo possível que uma investigação conduzida pela
Polícia Federal seja processada perante a Justiça estadual.

14) Compete a Justiça comum estadual processar e julgar crime em que o índio
figure como autor ou vítima, desde que não haja ofensa a direitos e a cultura
indígenas, o que atrai a competência da Justiça Federal.

15) Compete a Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra


funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
(Súmula n. 147/STJ)
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16) Há conflito de competência, e não de atribuição, sempre que a autoridade


judiciária se pronuncia a respeito da controvérsia, acolhendo expressamente as
manifestações do Ministério Público.

17) Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas
impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos a Administração Estadual. (Súmula n.
192/STJ)

18) A mudança de domicílio pelo condenado que cumpre pena restritiva de direitos
ou que seja beneficiário de livramento condicional não tem o condão de modificar
a competência da execução penal, que permanece com o juízo da condenação,
sendo deprecada ao juízo onde fixa nova residência somente a supervisão e o
acompanhamento do cumprimento da medida imposta.

19) A ofensa indireta, genérica ou reflexa praticada em detrimento de bens,


serviços ou interesse da União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas
federais não atrai a competência da Justiça Federal (art. 109, IV, da CF/88).

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DIREITOS HUMANOS: FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES CONTRA OS DIREITOS HUMANOS E OUTROS


INSTRUMENTOS D EPROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, POLÍTICA
NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E OS PROGRAMAS NACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES RELACIONADOS AO TEMA

CRFB/88
⦁ Art. 109, inciso V-A e § 5.º (importantíssimo!!!).
⦁ Art. 5°, inciso LXVIII, da CRFB/88.
⦁ Art. 5°, inciso LXXII, da CRFB/88.
⦁ Art. 5°, inciso LXXI, da CRFB/88.
⦁ Art. 5°, inciso LXIX, da CRFB/88.
⦁ Art. 5°, inciso LXXIII, da CRFB/88.

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 2° do Decreto n° 7.037/09.
Obs. Mesmo revogados, é importante a leitura dos seguintes:
⦁ Art. 2° do Decreto n° 1.094/96 (revogado).
⦁ Art. 2° do Decreto n° 4.229/2002 (revogado).

1. FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES GRAVES CONTRA OS DIREITOS HUMANOS – INCIDENTE DE


DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA (IDC)

A federalização dos crimes graves contra os direitos humanos repercute em incluir na competência
da Justiça Federal o processo e o julgamento de condutas violadoras de Direitos Humanos mantidas impunes
no âmbito das agências penais dos estados-membros. É conhecido tecnicamente como Incidente de
Deslocamento de Competência (IDC), introduzido no ordenamento jurídico brasileiro pela EC 45/2004 e
previsto no art. 109, inciso V-A e § 5°, da CRFB/88.
De acordo com André de Carvalho Ramos, a motivação para a criação do IDC foi o Direito
Internacional, que não admite que o Estado justifique o descumprimento de determinada obrigação em
nome do respeito a “competências internas de entes federados”. O Estado Federal é uno para o Direito
Internacional e passível de responsabilização, mesmo quando o fato internacionalmente ilícito seja de
atribuição interna de um Estado-membro da Federação.3
Aponta-se como importante a leitura do art. 109, inciso V-A e § 5°, da CRFB/88 para se extrair os seus
principais elementos:

3
(RAMOS, André de Carvalho, 2018)
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§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da


República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes
de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá
suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou
processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (grifo nosso)

Pode-se, portanto, concluir que o IDC é constituído de seis elementos principais:


1) Legitimidade exclusiva de propositura: Procurador-Geral da República.
2) Competência privativa para o deferimento do IDC: Superior Tribunal de Justiça, com
possibilidade de recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal.
3) Abrangência: Esferas cível e criminal, desde que se refiram a graves violações de direitos
humanos.
4) Momento: Fase pré-processual ou fase processual.
5) Finalidade: Cumprimento de obrigações decorrentes de tratados de direitos humanos
celebrados pelo Brasil.
6) Competência para o julgamento do caso em que envolveu a grave violação dos direitos humanos:
Justiça Federal.

➔ IDC 01
O primeiro Incidente de Deslocamento de Competência (IDC) requerido pelo Procurador-Geral da
República ao Superior Tribunal de Justiça refere-se à apuração do assassinato da Irmã Dorothy Stang,
missionária de Notredame, que ocorreu no dia 12 de fevereiro de 2005, no município de Anapu, Estado do
Pará, tendo em vista que a mesma defendia reforma agrária justa e soluções para os conflitos de posse e
exploração de terra na região Amazônica.
No citado caso, o Superior Tribunal de Justiça indeferiu o pedido de deslocamento de competência,
uma vez que, apesar de reconhecer a grave violação de direito humano e a necessidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais, rejeitou o risco de descumprimento,
pois considerou demonstrado o empenho das autoridades estaduais, com o auxílio da Polícia Federal e do
Exército, em dar resposta eficiente à violação, conforme se verifica:
Constitucional - Penal e processual penal - Homicídio doloso qualificado (vítima
Irmã Dorothy Stang) - Crime praticado com grave violação aos direitos humanos -
Incidente de deslocamento de competência - IDC - Inépcia da peça inaugural -
Norma constitucional de eficácia contida - Preliminares rejeitadas - Violação ao
princípio do juiz natural e à autonomia da unidade da Federação - Aplicação do
princípio da proporcionalidade - Risco de descumprimento de tratado internacional
firmado pelo Brasil sobre a matéria não configurado na hipótese – Indeferimento
do pedido. 1. Todo homicídio doloso, independentemente da condição pessoal da
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vítima e/ou da repercussão do fato no cenário nacional ou internacional,


representa grave violação ao maior e mais importante de todos os direitos do ser
humano, que é o direito à vida, previsto no art. 4.°, n. 1, da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário por força do Decreto 678, de
06.11.1992, razão por que não há falar em inépcia da peça inaugural. 2. Dada a
amplitude e a magnitude da expressão direitos humanos, é verossímil que o
constituinte derivado tenha optado por não definir o rol dos crimes que passariam
para a competência da Justiça Federal, sob pena de restringir os casos de incidência
do dispositivo (CF, art. 109, § 5.° ), afastando-o de sua finalidade precípua, que é
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais
firmados pelo Brasil sobre a matéria, examinando-se cada situação de fato, suas
circunstâncias e peculiaridades detidamente, motivo pelo qual não há falar em
norma de eficácia limitada. Ademais, não é próprio de texto constitucional tais
definições. 3. Aparente incompatibilidade do IDC, criado pela Emenda
Constitucional 45/2004, com qualquer outro princípio constitucional ou com a
sistemática processual em vigor deve ser resolvida aplicando-se os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade. 4. Na espécie, as autoridades estaduais
encontram-se empenhadas na apuração dos fatos que resultaram na morte da
missionária norte-americana Dorothy Stang, com o objetivo de punir os
responsáveis, refletindo a intenção de o Estado do Pará dar resposta eficiente à
violação do maior e mais importante dos direitos humanos, o que afasta a
necessidade de deslocamento da competência originária para a Justiça Federal, de
forma subsidiária, sob pena, inclusive, de dificultar o andamento do processo
criminal e atrasar o seu desfecho, utilizando-se o instrumento criado pela aludida
norma em desfavor de seu fim, que é combater a impunidade dos crimes praticados
com grave violação de direitos humanos. 5. O deslocamento de competência - em
que a existência de crime praticado com grave violação aos direitos humanos é
pressuposto de admissibilidade do pedido - deve atender ao princípio da
proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido
estrito), compreendido na demonstração concreta de risco de descumprimento de
obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante
da inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições reais do Estado-
membro, por suas instituições, em proceder à devida persecução penal. No caso,
não há a cumulatividade de tais requisitos, a justificar que se acolha o incidente. 6.
Pedido indeferido, sem prejuízo do disposto no art. 1.°, III, da Lei 10.446, de
08.05.2002. (STJ, IDC l/PA 2005/0029378-4,3. Seção, j. 07.06.2005, rei. Min. Arnaldo
Esteves Lima, DJ 10.10.2005, p. 217, RSTJ 198/435).

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Apesar de o IDC 01 ter sido indeferido pelo Superior Tribunal de Justiça, ele foi importante em
diversos aspectos para o referido instituto jurídico. Primeiramente, o STJ conheceu a sua
constitucionalidade, ao reconhecer o pedido e fundamentar no sentido de que todo homicídio doloso
representa grave violação ao maior e mais importante de todos os direitos humanos, que é o direito à vida,
previsto no art. 4.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.
Em segundo lugar, foi nesse caso que o STJ fixou 3 requisitos cumulativos para o deferimento do
IDC:
1) A existência de grave violação a direitos humanos;
2) A necessidade de cumprimento, pelo Brasil, de obrigações decorrentes de tratados internacionais,
sob pena de responsabilização internacional;
3) Evidência de conduta das autoridades estaduais reveladora de falha proposital ou por negligência,
imperícia ou imprudência na condução de seus atos, que vulnerem o direito a ser protegido, ou ainda
revele demora injustificada na investigação ou prestação jurisdicional.

➔ IDC 02
Em 27 de outubro de 2010, houve a primeira decisão favorável à federalização de um caso. Trata-
se do caso "Manoel Mattos" (IDC 2 -DF - 2009/0121262-6), o segundo Incidente de Deslocamento de
Competência suscitado ao STJ (IDC-2).
O defensor de direitos humanos Manoel Mattos foi assassinado em 24.01.2009, no Município de
Pitimbu/PB, após ter incessantemente noticiado a atuação de grupos de extermínio na fronteira de
Pernambuco e Paraíba.
Ficou consignado na decisão que o risco de responsabilização internacional pelo descumprimento
de obrigações derivadas de tratados internacionais aos quais o Brasil anuiu (dentre eles, vale destacar, a
Convenção Americana de Direitos Humanos) é bastante considerável, mormente pelo fato de já ter havido
pronunciamentos da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com expressa recomendação ao Brasil
para adoção de medidas cautelares de proteção a pessoas ameaçadas pelo tão propalado grupo de
extermínio atuante na divisa dos Estados da Paraíba e Pernambuco, as quais, no entanto, ou deixaram de ser
cumpridas ou não foram efetivas.
Observa-se que os dois primeiros casos de IDC decorreram de crimes dolosos contra a vida. Uma vez
que somente o Caso Manoel Mattos foi deferido pelo STJ, a competência do Tribunal do Júri Estadual foi
deslocada para o Tribunal do Júri Federal.
Foram propostos outros incidentes de deslocamento de competência, como o IDC 03, em que se
tratava da atuação de grupos de extermínio e violência em Goiás, que foi julgado parcialmente procedente;
o DC 04, que foi suscitado devido à publicidade que o Tribunal de Contas de Pernambuco deu a dados da
aposentadoria da suposta vítima de violação de direitos humanos, pois lhe teria causado agressões físicas e
morais. Porém, tal IDC foi julgado improcedente, por ausência de condição de procedibilidade; e o IDC 05,
que se trata do caso do Promotor de Justiça Thiago Faria Soares, que foi julgado procedente. Entretanto,
para a Carreira de Delegado de Polícia Civil, é importante o conhecimento mais a fundo apenas do IDC 01
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– Caso Irmã Dorothy e do IDC 02 – Caso Manoel Mattos, pois foram precursores e balizaram diversos
aspectos do instituto.
Frisa-se que o STJ, Terceira Seção, deferiu o incidente de deslocamento de competência para a Justiça
Federal em razão da incapacidade dos agentes públicos na condução de investigações, de identificar os
autores dos homicídios/execuções cometidos nos casos conhecidos como "Maio Sangrento" e "Chacina do
Parque Bristol". Veja:
Os requisitos do incidente de deslocamento de competência são: a) grave violação
de direitos humanos; b) necessidade de assegurar o cumprimento, pelo Brasil, de
obrigações decorrentes de tratados internacionais; c) incapacidade - oriunda de
inércia, omissão, ineficácia, negligência, falta de vontade política, de condições
pessoais e/ou materiais, etc. - de o Estado-Membro, por suas instituições e
autoridades, levar a cabo, em toda a sua extensão, a persecução penal (IDC n. 1/PA,
Terceira Seção do STJ). STJ. IDC 9-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Terceira
Seção, por unanimidade, julgado em 10/08/2022. (Info 744)
Apesar de aceito pelo Superior Tribunal de Justiça, o IDC não escapa às críticas feitas pela doutrina,
tendo em vista que a federalização das graves violações de direitos humanos geraria o amesquinhamento
do pacto federativo em detrimento ao Poder Judiciário Estadual e ainda violaria o princípio do juiz natural e
do devido processo legal.

➔ Caso Marielle Franco e Anderson Gomes


No ano de 2020, o STJ julgou improcedente o incidente de deslocamento de competência ajuizado
pela Procuradoria-Geral da República (PGR) que buscava transferir para a esfera federal a investigação sobre
os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, ocorrido
em 2018 no Rio de Janeiro.
A ministra Laurita Vaz, relatora, defendeu a manutenção do caso sob a competência da Justiça
estadual, da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Para ela, o caso não preencheu os
requisitos necessários para a federalização. A ministra disse que não é possível verificar desídia ou
desinteresse por parte das autoridades estaduais nas investigações para solucionar o crime.4

Confira a dica do Professor Rafael de Lazari sobre IDC:

https://youtu.be/EC63LYh3Z9w

4
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Caso-Marielle-investigacao-sobre-mandantes-
do-crime-fica-na-Justica-do-Rio.aspx
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2. OUTROS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA


FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

Na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estão previstas ações constitucionais – ou


remédios constitucionais – que são instrumentos criados para assegurar e promover os direitos
fundamentais.
Neste material serão abordados apenas os aspectos que se relacionam com a matéria de Direitos
Humanos. O devido aprofundamento e o estudo de demais aspectos dizem respeito à matéria de Direito
Constitucional.

2.1 Habeas Corpus

O Habeas Corpus é um remédio constitucional que se encontra previsto no art. 5°, inciso LXVIII, da
CRFB/88:
LXVIII - Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder.

Insta apresentar, portanto, alguns tratados internacionais que tutelam o direito de ir e vir:
➢ Art. 3° da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
Art. 3°
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
➢ Art. 9° do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos determina:
Art. 9°
1. Toda pessoa tem à liberdade e à segurança pessoal. Ninguém poderá ser preso
ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de sua liberdade,
salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos.

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2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e
notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela.
3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser
conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por
lei a exercer funções e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser
posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não
deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias
que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência e a todos os
atos do processo, se necessário for, para a execução da sentença.
4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou
encarceramento, terá o direito de recorrer a um tribunal para que este decida sobre
a legalidade de seu encarceramento e ordene a soltura, caso a prisão tenha sido
ilegal.
5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegal terá direito à
reparação.
➢ Art. 7° da Convenção Americana de Direitos Humanos:
Art. 7°. Direito à Liberdade Pessoal
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoal.
2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas
condições previamente fixadas pelas Constituições políticas dos Estados-partes ou
pelas leis de acordo com elas promulgadas.
3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários.
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da detenção e
notificada, sem demora, da acusação ou das acusações formuladas contra ela.
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença
de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem
direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem
prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a
garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal
competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão
ou detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos
Estados-partes cujas leis preveem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser
privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a
fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser
restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por
outra pessoa.

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7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de
autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de
obrigação alimentar.

Também conhecido como direito de locomoção, encontra-se previsto no art. 5° da CRFB/88 em


diversos incisos:
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança;
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel.

➔ Habeas Corpus Coletivo


Em 2017, o Supremo Tribunal Federal, através do Ministro Relator do Habeas Corpus Coletivo n.
143.641, julgado em 15.08.2017, Ricardo Lewandowski, autorizou o uso de Habeas Corpus de maneira
coletiva, o qual tinha como pacientes todas as mulheres submetidas à prisão cautelar no Sistema
Penitenciário Nacional que fossem gestantes, puérperas ou mães de filhos de até 12 anos de idade sob sua
responsabilidade. Afirmou que como a lesão assumia caráter coletivo, o justo consistiria em disponibilizar
um remédio efetivo e funcional para a proteção da coletividade – mormente de coletividades vulneráveis
economicamente.
De acordo com o Ministro Relator, o Habeas Corpus Coletivo é um instrumento flexível e relevante,
que amplifica o acesso à Justiça previsto na CRFB/88 e no art. 25 da Convenção Americana de Direitos
Humanos:
Artigo 25. Proteção Judicial
1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro
recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra
atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição, pela lei
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ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas
que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais.

2.2 Habeas Data

O Habeas Data é um remédio constitucional que se encontra preceituado no art. 5°, inciso LXXII, da
CRFB/88:
LXXII - Conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público;
b) para retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo.

Portanto, uma das formas para garantir o direito à proteção contra informação abusiva, inexata ou
prejudicial as pessoas é o acesso a bancos de dados tanto públicos como privados com a finalidade de
atualizar, retificar, anular ou manter em reserva, no caso em que seja necessário, a informação do particular
interessado. Esta ação conhecida como Habeas Data foi instituída como uma modalidade do processo de
amparo para proteger a intimidade das pessoas. Mediante este procedimento, se garante a toda pessoa a
aceder a informação sobre si mesma ou seus bens contida na base de dados de registros públicos ou privados
e, se necessário, atualizar, retificar, anular ou manter reserva a informação com a finalidade de proteger
certos direitos fundamentais5, como o direito à privacidade, à honra e à reputação, previstos no art. 5°,
incisos X, da CRFB/88:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
No plano internacional, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos prevê tais direitos em seu
art. 11:
Art. 11. Proteção da Honra e da Dignidade
1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua
dignidade.
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida
privada, na de sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de
ofensas ilegais à sua honra ou reputação.
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas.

5
https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm
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➔ Habeas Data Coletivo


Não há previsão na CRFB/88 ou em lei ordinária, nem mesmo na jurisprudência nacional.

2.3 Mandado de Injunção

O Mandado de Injunção é um remédio constitucional utilizado para combater a inércia de


regulamentação que impeça ou dificulte a efetividade das normas constitucionais, que ocasiona a síndrome
da inefetividade das normas constitucionais, podendo a omissão advir de qualquer órgão público, desde que
tenha natureza administrativa e legislativa. Encontra-se preceituado no art. 5°, inciso LXXI, da CRFB/88:
LXXI - Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais
e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
Exemplo de tutela dos direitos fundamentais a partir de um Mandado de Injunção tratou-se do MI
4733, juntamente com a ADO 26, no qual o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que houve
omissão inconstitucional do Congresso Nacional por não editar lei que criminalize atos de homofobia e de
transfobia. Por maioria, a Corte reconheceu a mora do Congresso Nacional para incriminar atos atentatórios
a direitos fundamentais dos integrantes da comunidade LGBT e votaram pelo enquadramento da homofobia
e da transfobia como tipo penal definido na Lei do Racismo (Lei 7.716/1989) até que o Congresso Nacional
edite lei sobre a matéria.6
O Mandado de Injunção, regulamentado pela Lei n° 13.300/16, pode ser utilizado para buscar a
regulamentação de direitos sociais, inclusive, os que devem ser implementados progressivamente, conforme
estabelece o art. 26 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos:
Art. 26. Desenvolvimento Progressivo
Os Estados-Partes comprometem-se a adotar providências, tanto no âmbito interno
como mediante cooperação internacional, especialmente económica e técnica, a
fim de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem
das normas económicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da
Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de
Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros
meios apropriados.

➔ Mandado de Injunção Coletivo


Cumpre destacar que o Mandado de Injunção poderá ser coletivo e encontra-se previsto na Lei n°
13.300/16, a qual aduz em seu art. 12, parágrafo único:

6
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=414010
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Parágrafo único. Os direitos, as liberdades e as prerrogativas protegidos por


mandado de injunção coletivo são os pertencentes, indistintamente, a uma
coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou
categoria.

2.4 Mandado de Segurança

O Mandado de Segurança está previsto no art. 5°, inciso LXIX, da CRFB/88, que assim preceitua:
LXIX - Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público.

Portanto, cabe Mandado de Segurança, de acordo com a Lei n° 12.016/09, para proteger direito
líquido e certo, que consiste em todo direito cujos fatos que embasam podem ser provados de plano sem
instrução probatória, com o fim de combater condutas ilegais ou fruto de abuso de poder imputadas à
autoridade pública ou agente privado no exercício de atribuições do Poder Público.

Observação: O Mandado de Segurança é um instituto tipicamente brasileiro, inserido pela primeira vez
pela Constituição de 1934.

➔ Mandado de Segurança Coletivo


Também há o Mandado de Segurança Coletivo, que tem por finalidade tutelar os seguintes direitos,
de acordo com o art. 21, parágrafo único, da Lei n° 12.016/09:
Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo
podem ser:
I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com
a parte contrária por uma relação jurídica básica;
II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes
de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte
dos associados ou membros do impetrante.

2.5 Ação Popular

A Ação Popular encontra-se prevista no art. 5°, inciso LXXIII, da CRFB/88:


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LXXIII - Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência.

Verifica-se, portanto, que a Ação Popular visa tutelar a moralidade administrativa, o meio ambiente
e o patrimônio histórico e cultural. Alguns tratados internacionais garantem tais objetos, como, por exemplo,
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que estabelece a proteção da cultura em seu art. 27:
Art. 27
1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da
comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus
benefícios.
2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes
de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor.

➔ IMPORTANTE: NOVO ENTENDIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:


Ao julgar a ADPF 708, em 04.07.2022, o STF reconheceu o status supralegal dos acordos
internacionais que versem sobre o meio ambiente, pois considerados como tratados internacionais de
direitos humanos, no âmbito do art. 5º, §2º, da CRFB/88.

Um importante tratado internacional que tutela o meio ambiente é o Acordo de Paris, que é um
tratado global, adotado em dezembro de 2015 pelos países signatários da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima, durante a 21ª Conferência das Partes (COP21). Esse acordo rege medidas
de redução de emissão de dióxido de carbono a partir de 2020, e tem por objetivos fortalecer a resposta à
ameaça da mudança do clima e reforçar a capacidade dos países para lidar com os impactos gerados por essa
mudança. Por meio deste acordo, os governos se comprometeram em agir para manter o aumento da
temperatura média mundial “bem abaixo” dos 2 °C em relação aos níveis pré-industriais e em envidar
esforços para limitar o aumento a 1,5 °C. Para tanto, os países apresentaram planos de ação nacionais
abrangentes para reduzirem as suas emissões por meio da formulação de sua Contribuição Nacionalmente
Determinada.7

3. A POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E OS PROGRAMAS NACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

7
https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/sirene/publicacoes/acordo-de-paris-e-
ndc/arquivos/pdf/acordo_paris.pdf
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A Política Nacional de Direitos Humanos tem as funções de proteger e promover os direitos


humanos, consistindo-se na adoção de ações que considerem os direitos inerentes à pessoa humana em
consonância com as organizações internacionais sobre direitos humanos.
A elaboração de Programas Nacionais de Direitos Humanos (PNDH) é o primeiro passo para a
concretização de uma política pública de promoção desses direitos. Sua origem está na Declaração e
Programa de Ação da Conferência Mundial de Viena de 1993, organizada pela Organização das Nações
Unidas, que recomendou a cada Estado que fizesse um plano de ação nacional de promoção e proteção dos
direitos humanos.
Os PNDHs são criados a partir da edição de Decreto pelo Presidente da República e estabelecem
diretrizes a serem seguidas pelos órgãos governamentais de direitos humanos brasileiros.

➔ PNDH-1
Em 1996, durante o governo do Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, foi editado o
Decreto n° 1.094/96, que criou o Primeiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-1). Teve como
missão dar visibilidade aos problemas referentes aos direitos humanos no Brasil e, simultaneamente,
estipular e coordenar os esforços para a superação das dificuldades e implementação de direitos. Voltou-se
à garantia de proteção dos direitos civis e políticos (direitos de 1ª dimensão), sendo considerado importante
para a consolidação do regime democrático no Brasil (devido ao contexto histórico pós ditadura militar).
Entretanto, por não traçar planos específicos de ação, dotou-se de pouca efetividade.

➔ PNDH-2
Em 2002, durante o governo do Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, foi editado o
Decreto n° 4.229/02, que criou o Segundo Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-2) e revogou o
PNDH-1. Sua implementação, entretanto, foi realizada durante o governo do Presidente da República Luiz
Inácio Lula da Silva (2003-2010).

Observação: Perceba que o PNDH-2 revogou o PNDH-1. Os PNDHs não coexistem. Como se verá a seguir,
o PNDH-3 também revogou o PNDH-2.

O PNDH-2 amplia as diretrizes abordadas pelo PNDH-1, pois além de abarcar direitos civis e políticos,
abordou de forma inédita ações específicas referentes a direitos econômicos, sociais e culturais (direitos de
2ª dimensão). Por existir planos de ação, quais sejam, os Planos de Ação Anuais, é dotado de maior
efetividade em relação ao primeiro.

➔ PNDH-3
Em 2009, durante o governo do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, foi editado o
Decreto n° 7.037/09, que criou o Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e revogou o
PNDH-2, estando ainda em vigor. Ele é composto de:
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- 6 Eixos Orientadores;
- 25 Diretrizes;
- 82 Objetivos Estratégicos;
- 521 Linhas de Ações.

Portanto, ao adotar eixos orientadores e diretrizes, detalhou as diversas dimensões dos direitos
humanos, abarcando um maior rol de direitos (1ª, 2ª e 3ª dimensões), conforme se vê no art. 2° do Decreto
n° 7.037/09 (é muito importante a leitura atenta da lei seca):
Art. 2o O PNDH-3 será implementado de acordo com os seguintes eixos orientadores e suas respectivas
diretrizes:
I - Eixo Orientador I: Interação democrática entre Estado e sociedade civil:
a) Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e sociedade civil como instrumento de fortalecimento da
democracia participativa;
b) Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como instrumento transversal das políticas públicas e de
interação democrática; e
c) Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de informações em Direitos Humanos e construção de
mecanismos de avaliação e monitoramento de sua efetivação;
II - Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Humanos:
a) Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento sustentável, com inclusão social e econômica,
ambientalmente equilibrado e tecnologicamente responsável, cultural e regionalmente diverso, participativo
e não discriminatório;
b) Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito central do processo de desenvolvimento;
c) Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais como Direitos Humanos, incluindo as gerações
futuras como sujeitos de direitos;
III - Eixo Orientador III: Universalizar direitos em um contexto de desigualdades:
a) Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma universal, indivisível e interdependente, assegurando
a cidadania plena;
b) Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes para o seu desenvolvimento integral, de
forma não discriminatória, assegurando seu direito de opinião e participação;
c) Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais; e
d) Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade;
IV - Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência:
a) Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema de segurança pública;
b) Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema de segurança pública e justiça criminal;
c) Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e profissionalização da investigação de atos
criminosos;
d) Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase na erradicação da tortura e na redução da
letalidade policial e carcerária;
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e) Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de proteção das pessoas ameaçadas;
f) Diretriz 16: Modernização da política de execução penal, priorizando a aplicação de penas e medidas
alternativas à privação de liberdade e melhoria do sistema penitenciário; e
g) Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível, ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia
e a defesa de direitos;
V - Eixo Orientador V: Educação e Cultura em Direitos Humanos:
a) Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da política nacional de educação em Direitos
Humanos para fortalecer uma cultura de direitos;
b) Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia e dos Direitos Humanos nos sistemas de
educação básica, nas instituições de ensino superior e nas instituições formadoras;
c) Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal como espaço de defesa e promoção dos Direitos
Humanos;
d) Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Humanos no serviço público; e
e) Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à informação para consolidação
de uma cultura em Direitos Humanos; e
VI - Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade:
a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como Direito Humano da cidadania e dever do
Estado;
b) Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção pública da verdade; e
c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com promoção do direito à memória e à verdade,
fortalecendo a democracia.

O PNDH-3 traz pontos bem estabelecidos para cumprir a Política Nacional de Direitos Humanos. Cada
ação estratégica incumbe a um ou mais órgãos governamentais do dever de realização da conduta, ou a
diversos poderes estatais, caracterizando-se o aspecto da transversalidade das políticas públicas. Ainda,
decorre de uma interação democrática entre Estado e sociedade civil, como instrumento de fortalecimento
da democracia participativa.
Ademais, é o Programa com maior efetividade de todos, uma vez que traz planos de ação mais
exigentes, quais sejam, os Planos de Ação de Direitos Humanos bianuais (não bienais), sendo, portanto,
apresentados uma vez a cada 2 anos.
Por fim, salienta-se que a redação original do Decreto n° 7.037/09 instituiu como técnica de
monitoramento o Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH3, de acordo com o art. 4°.
Entretanto, ele foi revogado pelo Decreto n° 10.087/2019.

Observação: Recomenda-se a leitura do Anexo do PNDH-3.

Bibliografia
Almeida, G. A. (2009). Direitos Humanos. São Paulo : Atlas.
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Barroso, L. R. (2001). Princípios da razoabilidade e proporcionalidade. São Paulo: LTr.


Castilho, R. (2011). Direitos Humanos (coleção sinopses jurídicas). São Paulo : Saraiva.
Comparato, F. K. (2017). A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva.
Mazzuoli, V. d. (2018). Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Método.
Oliveira, E. d. (2012). Elementos do Direito - Direitos Humanos. São Paulo : Revista dos Tribunais.
Piovesan, F. (2019). Direitos Humanos e Justiça Internacional. São Paulo : Saraiva.
Ramos, A. C. (2017). Curso de Direitos Humanos. São Paulo : Saraiva.
Silva, V. A. (2002). O proporcional e o razoável. São Paulo: Revista dos Tribunais.
Ramos, A. d. (2018). Curso de Direitos Humanos. São Paulo : Saraiva.

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META 5

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE CRIMES HEDIONDOS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

LEI 8072/90 INTEIRA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL
⦁ Art. 5º, XLIII, CF/88
⦁ Art. 142 e 144, CF/88

CÓDIGO PENAL
⦁ Art. 121, §2º e 2º-A
⦁ Art. 129, §2º e §3º
⦁ art. 155, § 4º-A (Cuidado para não confundir com o art. 155, §7º)
⦁ Art. 157, §2º, V
⦁ Art. 157, §2º-A, I
⦁ Art. 157, §2º-B e §3º
⦁ Art. 158, §3º (art. 158, §2º não é mais considerado hediondo)
⦁ Art. 159, §§1º, 2º e 3º
⦁ Art. 213, caput, §§1º e 2º
⦁ art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o
⦁ art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º
⦁ art. 267, § 1o (caput não é hediondo)
⦁ art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 1º, 2º e 3º da Lei 2889/56
⦁ Art. 16, §2º, Estatuto do Desarmamento
⦁ Art. 17 e 18, Estatuto do Desarmamento
⦁ Lei 9455/97 (Lei de tortura – crime equiparado a hediondo)
⦁ Lei 13.260/16 (Lei de terrorismo – crime equiparado a hediondo)
⦁ Lei 11.343/06 (Lei de tráfico de drogas – crime equiparado a hediondo)

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 5º, XLIII, CF/88
⦁ Art. 155, § 4º-A e 7º, CP

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⦁ Art. 157, CP
⦁ Art. 158, §3º, CP
⦁ Art. 16, §2º Estatuto do Desarmamento

PRINCIPAIS ARTIGOS DA LEI 8072/90:


⦁ Art. 1º, caput, inc. II, III, IV e IX
⦁ Art. 1º, parágrafo único (muito importante!)
⦁ Art. 2º, inc. I e II
⦁ Art. 4º (leitura conjunta com a lei 7960/89)

1. INTRODUÇÃO

A definição semântica do termo hediondo está ligada a tudo aquilo que apresenta deformidade, que
causa horror, repulsa ou aversão, sendo, portanto, os crimes dessa natureza aqueles que, por algum critério
específico, são considerados de alto potencial de causar dano à sociedade.
Tal orientação encontra guarida na Constituição, uma vez que o artigo 5º, em seu inciso XLIII orienta
a criação de uma forma de tratamento mais enérgica do estado para com os agentes ativos dos crimes desta
natureza.

Art. 5º, CF. (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Trata-se de verdadeiro mandado de recrudescimento e criminalização por parte do Poder


Constituinte Originário, que impõe um regime jurídico mais gravoso aos crimes de tortura, tráfico de
entorpecentes e terrorismo, assim como aos delitos – definidos em lei - como crimes hediondos.

Obs.: Dos Mandados Constitucionais de Criminalização decorre a diminuição da liberdade de


conformação do legislador e de interpretação do julgador, evitando normas ou interpretações que ensejam
insuficiente proteção estatal.
Obs.: Estamos diante de uma norma constitucional de eficácia limitada e de aplicabilidade mediata,
pois depende de complementação por lei ordinária.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A nossa Constituição Federal é de 1988 e a Lei de Crimes Hediondos é de 1990, e há uma razão
histórica para isso.
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As décadas de 80 e 90 no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro, foram marcadas por uma onda
de criminalidades absurdamente violentas. No final da década de 80, houve uma onda de extorsões mediante
sequestro, instalando uma enorme criminalidade. (Curiosidade: dois fatos marcaram a história da
criminalidade no Rio de Janeiro nesse interregno temporal: o sequestro de Roberto Medina juntamente com
o sequestro do empresário Abílio Diniz.)
Foi dentro desse contexto histórico que a Constituição trouxe os crimes etiquetados de hediondos e
equiparou três crimes aos crimes hediondos: tráfico, tortura e terrorismo. E, apenas dois anos depois, surgiu
a Lei de Crimes Hediondos, que nada mais é do que resultado de manifestações de movimentos penais no
mundo inteiro, mais especificamente nos Estados Unidos.
O primeiro movimento foi capitaneado por Ralf Dahrendorf chamado de “Movimento de Lei e
Ordem” que surgiu como consequência do movimento do Direito Penal Máximo buscando reprimir o
aumento dos índices de criminalidade. O Direito Penal Máximo apresenta fundamento oposto ao do Direito
Penal Mínimo, pois entende ser o Direito Penal a solução para todos os problemas da sociedade, ocasionando
o aumento excessivo da tutela penal. Assim, é possível dizer que tal movimento baseia-se na ideia de
repressão e castigo, e de que somente leis endurecidas, que imponham longas penas privativas de liberdade
ou até mesmo a pena de morte, possuem aptidão para controlar e inibir a prática de crimes.
Soma-se a isso estudo feito em 1982 realizado por dois cientistas chamados James Wilson e George
Kelling que criaram a “The broken Windows theory” (Teoria das Janelas Quebradas), a qual estabelecia uma
relação entre desordem e criminalidade.
Foi nesse clima de Direito Penal do Terror que surgiu a Lei de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90),
trazendo preceitos severos, tanto de natureza penal quanto de natureza processual penal.

3. CRITÉRIOS PARA A DEFINIÇÃO DE HEDIONDEZ

Em regra, a doutrina e a análise do direito comparado indicam a existência de três critérios possíveis
para definir um crime como hediondo:
● Critério legal – Somente o legislador pode definir os delitos considerados hediondos, que devem estar
previstos em um rol exaustivo e com previsão legal.
● Critério judicial – Cabe ao juiz definir os delitos classificados como hediondos, a luz das circunstâncias
em concreto.
● Critério misto – Estabelece ao legislador a atribuição de um rol exemplificativo de delitos de natureza
hedionda, podendo o juiz analogicamente atribuir hediondez a outros delitos, de acordo com as
circunstâncias em concreto.

Vamos esquematizar?
SISTEMA LEGAL SISTEMA JUDICIAL SISTEMA MISTO
Compete ao legislador, em um O juiz quem, na apreciação do caso No primeiro momento, o legislador

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rol taxativo, enumerar quais os concreto, decide se a infração é apresenta um rol exemplificativo de
delitos considerados hediondos. hedionda ou não. O juiz analisando o crime hediondos, permitindo ao juiz,
Será hediondo aquilo que o caso concreto ele irá determinar se o na análise do caso concreto
legislador disse em um rol caso é hediondo ou não. Apreciação encontrar outros fatos
taxativo. Sistema adotado pelo do caso concreto. assemelhados. Trabalha com a
Brasil. interpretação analógica.

Crítica: Crítica: Crítica:


O sistema Legal trabalha com a Não traz a segurança jurídica, Reúne o que tem de ruim nos dois
gravidade abstrata, ao invés de podemos ser surpreendidos com um outros sistemas.
adotar a gravidade concreta crime considerado hediondo por
(ignora a gravidade do crime no análise do juiz. Fere o princípio da
caso concreto). taxatividade ou mandado de certeza.
Arbítrio do Juiz.

Em respeito ao princípio da legalidade, o direito brasileiro utiliza o Critério ou Sistema legal. Ora,
não se pode admitir que a definição de um crime fique a cargo do magistrado e de seu livre convencimento,
de modo que só a lei pode decidir quais condutas são consideradas criminosas, bem como definir quais
crimes são hediondos. É o que se extrai do art.5º XLIII, CF.

Art. 5º, CF. (...) XLIII - a LEI considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Nesse sentido, a lei 8.072 estabeleceu, em seu art. 1°, um ROL TAXATIVO de crimes como hediondos,
que terão essa característica ainda que na modalidade tentada (pegadinha de prova!).

Obs.1: A natureza tentada de um crime rotulado pela lei não exclui a sua hediondez. A tentativa não
altera a classificação do crime como hediondo, funcionando como uma mera causa de redução de pena (1/3
a 2/3). Dessa forma, temos que, para fins de reconhecimento da natureza hedionda, pouco importa que o
delito seja consumado ou tentado. Isso, inclusive, está expresso no art. 1º, caput da Lei 8.072/90.

Art. 1º, Lei nº 8.072/90. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos
tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:

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Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: À luz do que dispõe o direito brasileiro
sobre os crimes hediondos, somente recebem essa classificação os crimes consumados em razão do princípio
da reserva legal.

Obs.2: Crimes militares: o CPM traz o latrocínio. É crime hediondo? Não. Os crimes correspondentes
no CPM não são considerados hediondos por falta de previsão legal.

4. ANÁLISE DO ROL DE CRIMES HEDIONDOS

ATENÇÃO! O rol de crimes hediondos é frequentemente cobrado nas provas. Tem que decorar e saber
na ponta da língua!
ATENÇÃO! O rol de Crimes Hediondos foi substancialmente alterado pelo Pacote Anticrime! Portanto,
tenha atenção redobrada, pois certamente será objeto de questionamento nas próximas provas!

Art. 1º, Lei nº 8.072/90. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos
tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art.
121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX); (Redação dada pela Lei nº 14.344,
de 2022)

I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal
seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)


Circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso
V); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo
emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º)
Qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º); (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)

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III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão


corporal ou morte (art. 158, § 3º); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1o,


2o e 3o);

V - Estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);

VI - Estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);

VII - Epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).

VII-A – (VETADO)

VII-B - Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a


fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a
redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).

VIII - Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de


criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).

IX - Furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause


perigo comum (art. 155, § 4º-A). (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou


consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de


outubro de 1956; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto


no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº


10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição,


previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)

V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime


hediondo ou equiparado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Vamos começar esquematizando as mudanças que ocorreram com o Pacote Anticrime?

ANTES DA LEI 13.964/2019 DEPOIS DA LEI 13.964/2019


Homicídio (art. 121), quando praticado em atividade Homicídio (art. 121), quando praticado em atividade
típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, §
incisos I, II, III, IV, V, VI e VII); 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX);
OBS.: O inciso IX foi incluído pela Lei nº 14.344/22.
Latrocínio (art. 157, § 3º, in fine) Roubo:
a) Circunstanciado pela restrição de liberdade da
vítima (art. 157, § 2º, inciso V);
b) Circunstanciado pelo emprego de arma de fogo
(art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de
arma de fogo de uso proibido ou restrito (art.
157, § 2º-B);
c) Qualificado pelo resultado lesão corporal grave
ou morte (Latrocínio) (art. 157, § 3º);
Extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º); Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da
vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art.
158, § 3º);

-------- Furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de


artefato análogo que cause perigo comum (art. 155,
§ 4ºA)

Consideram-se também hediondos: Consideram-se também hediondos:


⦁ Genocídio ⦁ Genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº
⦁ Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso 2.889, de 1º de outubro de 1956;
restrito

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⦁ Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso


proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003;
⦁ Comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art.
17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Tráfico internacional de arma de fogo, acessório
ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Organização criminosa, quando direcionado à
prática de crime hediondo ou equiparado

CRIMES HEDIONDOS ≠ EQUIPARADOS A HEDIONDOS:


Os crimes de tortura, tráfico de drogas e terrorismo não são crimes hediondos, mas são crimes
equiparados a hediondos justamente por sofrerem as mesmas consequências legais ofertadas aos crimes
hediondos.

Inciso I: HOMICÍDIO (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente, e HOMICÍDIO QUALIFICADO (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX);
(Redação dada pela Lei nº 14.344, de 2022)

Todas as hipóteses de homicídio qualificado são consideradas crime hediondo, incluindo o


feminicídio e o homicídio praticado contra agentes de segurança pública!
Questão relevante trata da possibilidade de consideração do homicídio simples como hediondo na
hipótese de ser praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que realizado por apenas um
agente.

Considerações importantes:
● Para ser hediondo, não precisa que o homicídio seja praticado por grupo de extermínio. Basta que seja
praticado em atividade típica de grupo de extermínio (ideia de limpeza social), o que permite a prática
por uma única pessoa (não exigindo o concurso de pessoas).

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: É considerado crime hediondo o
homicídio, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, exceto se cometido por um só
agente.

● Não abrange milícia privada, sob pena de configurar analogia “in malam partem”!!!

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● Homicídio híbrido ou Homicídio qualificado-privilegiado: aquele em que há, ao mesmo tempo, a


presença de uma qualificadora e de uma hipótese de privilégio, não é considerado crime hediondo
pela jurisprudência.

STJ: “(...) Entendendo não haver contradição no reconhecimento de qualificadora


de caráter objetivo (modo de execução do crime), e do privilégio, sempre de
natureza subjetiva”. (STF, 1º Turma, HC 89.921|PR). O homicídio qualificado-
privilegiado não pode ser considerado hediondo (STJ, HC 153.728|SP)

Relembrando...
É importante lembrar que só há “homicídio qualificado privilegiado” quando umas das causas
especiais de diminuição de pena coexiste com uma qualificadora objetiva (não é possível
coexistir com qualificadora de ordem subjetiva).

Causas especiais de diminuição de pena do homicídio:


- Motivo de relevante valor social.
- Motivo de relevante valor moral
- Sob domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima.

Qualificadoras de ordem objetiva que admitem o privilégio:


- Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que possa resultar perigo comum;
- Por emboscada ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
- Feminicídio (embora para a doutrina majoritária se trate de uma qualificadora de ordem
subjetiva, os Tribunais Superiores entendem que se trata de uma qualificadora de ordem
objetiva).

Obs.: O Pacote Anticrime conferiu nova redação ao inciso I do art. 1º da Lei nº 8.072/90 para também
rotular como hediondo o crime de homicídio qualificado previsto no inciso "VIII - com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido" (art. 121, §2º, CP). O Presidente da República vetou essa alteração, contudo
o veto foi derrubado pelo Congresso Nacional. Portanto, o crime de homicídio cometido com o emprego de
arma de fogo de uso restrito ou proibido é considerado hediondo.

Esquematizando:
HOMICÍDIO SIMPLES. Regra - NÃO É hediondo.

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Exceção- é hediondo quando praticado em atividade típica de grupo


de extermínio, ainda que cometido por um só agente.
HOMICÍDIO PRIVILEGIADO NÃO é hediondo
HOMICÍDIO QUALIFICADO É hediondo.

HOMICÍDIO HÍBRIDO NÃO É crime hediondo.


(QUALIFICADO-PRIVILEGIADO)

Inciso I-A: LESÃO CORPORAL DOLOSA DE NATUREZA GRAVÍSSIMA (art. 129, § 2º) e LESÃO CORPORAL
SEGUIDA DE MORTE (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo
até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)

A referida hipótese legal fora acrescentada com o advento da Lei 13.142/2015, que alterou o Código
Penal e a Lei de Crimes Hediondos.
A lesão corporal, em regra, não é crime hediondo. Atualmente, apenas em duas hipóteses é que a
lesão corporal será considerada crime hediondo:
1) Lesão corporal gravíssima
2) Lesão corporal seguida de morte

PEGADINHA– lesão corporal grave não será hediondo, somente a gravíssima!!!

Quando praticadas, no exercício da função ou em decorrência dela, contra:


⦁ Autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal
⦁ Integrantes do sistema prisional
⦁ Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública
⦁ Contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição.

Obs.: Na eventualidade de um crime de lesão corporal gravíssima ou seguida de morte ser cometido
contra autoridades ou agentes não elencados no inciso I-A do art. 1º da Lei n. 8.072/90, como, por exemplo,
Promotores de Justiça ou membros do Poder Judiciário, não nos parece possível o etiquetamento como crime
hediondo, sob pena de indevida analogia “in malam partem”.
Esquematizando:

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SÃO CRIMES REQUISITO 1: CONDIÇÃO DA VÍTIMA REQUISITO 2:


HEDIONDOS: NEXO FUNCIONAL
1) Autoridade, agente ou integrante da: Desde que o crime tenha sido
⦁ Forças Armadas praticado:
Lesão corporal ⦁ Polícia Federal ⦁ No exercício da função da
gravíssima ⦁ Polícia Rodoviária Federal vítima; ou
(art. 129, §2º) ⦁ Polícia Ferroviária Federal ⦁ Em decorrência dela.
⦁ Polícias Civis
Lesão corporal seguida ⦁ Polícias Militares
de morte ⦁ Corpo de Bombeiros Militares
(art. 129, §3º) ⦁ Guardas Municipais (doutrina majoritária)
⦁ Sistema prisional
⦁ Força Nacional de Segurança Pública
⦁ Polícias Penais

2) Contra seu cônjuge, companheiro ou


parente consanguíneo até terceiro grau.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: o crime de lesão corporal dolosa, em
nenhuma de suas modalidades, é, para efeito da lei brasileira, hediondo.

Inciso II: ROUBO:


- Circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima
- Circunstanciado pelo emprego de arma de fogo ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou
restrito
- Qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte

Trata-se de inovação legislativa introduzida pelo “pacote anticrime” (Lei 13.964/19).


O Pacote Anticrime ampliou sobremaneira as hipóteses de hediondez relativas ao crime de roubo.
Antes da Lei 13.964/2019, o único crime de roubo que era considerado hediondo era o roubo qualificado
pela morte da vítima, chamado pela doutrina de latrocínio. Com o advento do Pacote Anticrime, outras
modalidades de roubo também passaram a ser etiquetadas como hediondas. Vejamos cada uma delas
separadamente:

Art. 157, CP - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência:

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Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. (...)

→ ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELA RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DA VÍTIMA


§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (...)
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. (...)

De acordo com o disposto no art. 157, §2°, inciso V, do Código Penal, aumenta-se a pena do crime
de roubo de 1/3 (um terço) até metade se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua
liberdade.
Ressalta-se que a restrição da liberdade da vítima deve perdurar por tempo juridicamente
relevante, ou seja, o autor do delito deve permanecer com a vítima em seu poder por tempo superior àquele
estritamente necessário para a execução do roubo, quer para assegurar o produto do crime, quer para não
ser localizado pela Polícia.
De se notar que o roubo circunstanciado pela restrição da liberdade da vítima foi a única figura
delituosa constante do §2° do art. 157 do CP alçada à natureza hedionda.

→ ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO EMPREGO DE ARMA DE FOGO


Art. 157, CP. (...) § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; (...)

De acordo com o art. 157, §2º-A, inciso I, do CP, a pena do crime de roubo aumenta-se de 2/3 (dois
terços) se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo.
Atenção, a lei foi taxativa em dizer “arma de fogo”, logo, o emprego de violência ou grave ameaça
para subtração de coisa alheia com arma branca, não será considerado hediondo.

Vale salientar que a Lei 13.964/2019 reestabeleceu a majorante da pena, se a violência ou grave ameaça é
exercida com emprego de “arma branca”, nesse caso, porém, o delito não será considerado hediondo e
majorante será de 1/3 a ½.

→ ROUBO MEDIANTE O EMPREGO DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO OU


RESTRITO
Art. 157, CP. (...) § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego
de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista
no caput deste artigo.

Se a violência ou grave ameaça for exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput do art. 157. Essa causa de aumento de pena funciona
como verdadeira norma penal em branco heterogênea, pois a definição do que seja arma de fogo de uso
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restrito ou proibido está inserida em ato administrativo, notadamente no Anexo I do Decreto nº 10.030/19,
que aprova o “Regulamento de Produtos Controlados”.

Art. 3º, Decreto nº 10.030/19. As definições dos termos empregados neste


Regulamento são aquelas constantes deste artigo e do Anexo III. (Redação dada
pelo Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência
Parágrafo único. Para fins do disposto neste Regulamento, considera-se: (Incluído
pelo Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência (...)
II - ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO - as armas de fogo automáticas, de qualquer
tipo ou calibre, semiautomáticas ou de repetição que sejam: (Incluído pelo
Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência
a) não portáteis; (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência
b) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, atinja, na
saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil
seiscentos e vinte joules; ou (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de munição
comum, atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas
libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules; (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de
2021) Vigência
III - ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO: (Incluído pelo Decreto nº 10.627, de
2021) Vigência
a) as armas de fogo classificadas como de uso proibido em acordos ou tratados
internacionais dos quais a República Federativa do Brasil seja signatária; e (Incluído
pelo Decreto nº 10.627, de 2021) Vigência
b) as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos inofensivos; (Incluído
pelo Decreto nº 10.627, de 2021)

Conclusão: A utilização de QUALQUER ARMA DE FOGO (de uso permitido, restrito ou proibido) torna
o roubo hediondo. Mas não se esqueça: o roubo com arma branca não é crime hediondo!

Vamos esquematizar?
A violência ou grave ameaça do crime de roubo é exercida com emprego de arma de É crime hediondo
fogo.
A violência ou grave ameaça do crime de roubo é exercida com emprego de arma de É crime hediondo
fogo uso restrito ou proibido.
A violência ou grave ameaça do crime de roubo é exercida com emprego de arma NÃO É crime hediondo
branca.

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→ ROUBO QUALIFICADO PELA LESÃO CORPORAL GRAVE


Art. 157, CP. (...) § 3º Se da violência resulta:
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e
multa;
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

De acordo com a doutrina, a expressão "lesão corporal grave" abrange não apenas a lesão corporal
grave propriamente dita, mas também a lesão corporal gravíssima (CP, art. 129, §§1° e 2°, respectivamente).
O resultado agravador pode ter sido suportado pela vítima da subtração ou por terceiro.

DICA DD: O crime de roubo somente será qualificado se o resultado agravador, “lesão corporal grave”,
resultar do emprego de violência. Logo, se a lesão corporal grave for fruto do emprego de grave ameaça, o
crime de roubo não será qualificado e, por conseguinte, também não será crime hediondo!

→ ROUBO QUALIFICADO PELA MORTE (LATROCÍNIO)


Art. 157, CP. (...) § 3º Se da violência resulta: (...)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

Ocorre quando, da violência empregada no roubo, ocorre a morte da vítima, podendo ser a título de
dolo ou de culpa.
Em relação ao latrocínio, é importante lembrar que:
● Para que haja latrocínio é necessário que a morte decorra da violência empregada durante e em
razão do roubo (fator tempo e o fator nexo).
● À luz do entendimento dos Tribunais Superiores, o crime se consuma com a morte da vítima, ainda
que o agente não subtraia o bem:

Súmula 610 – STF - Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda


que não se realize o agente a subtração de bens da vítima.

● Por se tratar de um crime contra o patrimônio, a competência é do juiz singular, e não do Tribunal
do Júri:

SÚMULA 603 – STF: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do


juiz singular e não do tribunal do júri.

Um crime preterdoloso pode ser crime hediondo?

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R.: SIM. No crime hediondo (Lei nº 8.072/90, art. 1 º, VII) de epidemia com resultado morte (CP, art.
267, § 1°), no qual a morte é provocada a título de culpa. Outro exemplo, é a hipótese do coautor que, de
maneira consciente, participa de um crime de roubo armado, responde pelo crime hediondo de latrocínio,
mesmo que o disparo fatal tenha sido efetuado por seus comparsas. Afinal, se tinha consciência de que o
crime de roubo seria executado com o emprego de arma de fogo, era no mínimo previsível a superveniência
do resultado morte.

Inciso III: EXTORSÃO QUALIFICADA PELA RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DA VÍTIMA, OCORRÊNCIA DE LESÃO
CORPORAL GRAVE OU MORTE (ART. 158, § 3º);

Dispõe o §3º do art. 158, do Código Penal:

Art. 158, CP. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o
intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer,
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. (...)
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa
condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de
reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave
ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.

Trata-se de inciso que sofreu alteração importante pela Lei nº 13.964/19.

● Antes das alterações promovidas pelo PAC: a Lei de Crimes hediondos previa apenas a extorsão
qualificada pela morte (art. 158, §2º do CP) como crime hediondo.

● Após a Lei 13.964/2019: o legislador alterou o inciso III da Lei nº 8.072/90, passando a prever que será
hediondo a “extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou
morte (art. 158, § 3º)”.

PARA PROVA DISCURSIVA:

Antes do Pacote Anticrime discutia-se se o crime de extorsão com restrição da liberdade, qualificado pelo
resultado lesão grave ou morte, era ou não hediondo, já que o art. 1º, III, da Lei 8.072/90 fazia remissão
expressa ao art. 158, §2º, sendo silente acerca do §3º.

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1ª posição - Majoritária: “Defendendo uma interpretação restritiva da lei, como forma de preservar a
garantia da legalidade penal e evitar a analogia, muitos juristas afastavam o caráter hediondo do “sequestro-
relâmpago” com resultado morte”. Argumentavam que o Brasil adotou o sistema legal, elencando um rol
exaustivo de crimes etiquetados como tal, de modo que não seria possível considerar o sequestro relâmpago
com resultado morte como hediondo em apreço ao Princípio da Legalidade Penal.

2ª posição - LFG e Sanches: Defendiam tratar-se de hediondo, com base nos seguintes argumentos:
- O art. 158, §3º é desdobramento formal e apenas exemplificativo de uma das possíveis formas de se praticar
o crime de extorsão que podem culminar no evento morte (art. 158, §2º). Não é crime autônomo. A
qualificadora “com resultado morte” já está presente no art. 158, §2º. O §3º apenas disciplina um meio de
execução específico. A interpretação literal tem que ser acompanhada da interpretação teleológica, racional,
da norma. Assim, as regras aplicadas ao delito geral (art. 158, §2º) devem ser igualmente aplicadas ao crime
específico (art. 158, §3º) permanecendo hediondo quando ocorre o evento morte.
- Para a admissão do sequestro relâmpago com resultado morte (art. 158, §3º) como hediondo basta utilizar
a interpretação extensiva, que não é vedada pelo Direito Penal, ainda que utilizada contra o réu, desde que
seja essa a inequívoca vontade do legislador.
- Posição em sentido diverso contraria o princípio da proporcionalidade: é aceitar que a extorsão simples
com resultado morte configura crime hediondo, ao passo que a extorsão qualificada pelo meio executório
empregado (restrição da liberdade) com resultado morte – que sinaliza o maior reprovabilidade do
comportamento – não é etiquetada como hediondo.

Essa discussão foi sepultada com a Lei nº 13.964/19. De acordo com a doutrina majoritária, com o advento
do Pacote Anticrime, passaram a ser consideradas hediondas todas as formas de extorsão mediante a
restrição da liberdade da vítima, independentemente de haver resultado qualificador ou não. Ou seja, são
hediondos:

(1) Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima;


(2) Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima com ocorrência de lesão corporal;
(3) Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima com morte.

Mas e o crime de extorsão qualificada previsto no art. 158, §2°, do Código Penal? Continua sendo
hediondo diante das mudanças produzidas pelo Pacote Anticrime?

R.: NÃO! E é aí que entra a crítica doutrinária acerca da mudança trazida pelo Pacote Anticrime. O
art. 158, §2º, trata da extorsão praticada mediante violência com resultado lesão corporal grave ou morte.
Observe que no art. 158, §2º, do CP não há restrição da liberdade da vítima, mas há lesão corporal grave ou
morte, decorrentes do emprego de violência.

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A extorsão com restrição da liberdade da vítima sem resultados especialmente agravadores (ou seja,
sem que produza morte ou lesão corporal grave) tem pena de 6 a 12 anos de reclusão (§ 3º) é considerado
crime hediondo, ao passo que a extorsão mediante emprego de violência, qualificada pelo resultado (lesão
grave ou morte), prevista no § 2º, que possui penas maiores (quando há lesão grave, a pena é de 7 a 18 anos
e quando há morte, reclusão, de 20 a 30 anos) não é etiquetada como hediondo.
Em outras palavras: no § 3º, temos crime hediondo (pena de 6 a 12); no § 2º, não, apesar de as
sanções penais serem mais severas (pena de 7 a 8 ou 20 a 30 anos). Ou seja, há uma clara violação ao princípio
da proporcionalidade!

Veja a explicação do Professor Renato Brasileiro sobre o assunto:

“De fato, ao promover a alteração do inciso III do art. 1 ° da Lei n. 8.072/90 para
incluir a extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de
lesão corporal ou morte, citando entre parênteses o art. 158, §3°, do CP, o
legislador, deliberadamente (ou não) - pensamos que foi um erro grosseiro mesmo
- excluiu do rol dos crimes hediondos a extorsão qualificada pela morte, tipificada
no art. 158, §2°, do Código Penal. Por mais absurdo e desproporcional que possa
parecer - tome-se como exemplo o fato de o roubo qualificado pelo resultado
morte ser hediondo -, a extorsão - e não a extorsão qualificada pela restrição da
liberdade da vítima -, que sempre recebeu igual tratamento dispensado ao roubo,
inclusive no tocante à sua gravidade, não é delito hediondo, nem mesmo se
qualificado pela morte.”

Resumindo:
● Extorsão qualificada pela morte (§2º) – DEIXOU DE SER HEDIONDO com o PAC.
● Extorsão qualificada pela LC grave (§2º) – continua NÃO SENDO HEDIONDO
● Extorsão mediante restrição da liberdade da vítima – PASSOU A SER HEDIONDO.
● Extorsão mediante restrição da liberdade qualificada pela LC grave – PASSOU A SER HEDIONDO
● Extorsão mediante restrição da liberdade qualificada pela morte – PASSOU A SER HEDIONDO

Vamos esquematizar?

ANTES DA LEI 13.964/2019 DEPOIS DA LEI 13.964/2019

Extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º); ou São hediondos:


seja: ● Extorsão qualificada pela restrição da
liberdade da vítima;

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● Extorsão simples com resultado morte (art. 158, ● Extorsão qualificada pela restrição da
§2º) era crime hediondo. liberdade da vítima com ocorrência de lesão
corporal;
● Extorsão qualificada pela restrição da
liberdade da vítima com morte.

INCISO IV: EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO E NA FORMA QUALIFICADA (ART. 159, CAPUT, E §§ 1º, 2º E
3º);

O delito de extorsão mediante sequestro é etiquetado como hediondo, seja na modalidade simples
ou na modalidade qualificada, na forma tentada ou consumada.
Art. 159, CP. Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é
menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido
por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.

INCISO V: ESTUPRO (ART. 213, CAPUT E §§ 1º E 2º);

Art. 213, CP. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor
de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

O delito de estupro é considerado hediondo independentemente da modalidade.

INCISO VI: ESTUPRO DE VULNERÁVEL (ART. 217-A, CAPUT E §§ 1O, 2O, 3O E 4O);
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Art. 217-A, CP. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de
14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência.
§ 2o (VETADO)
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se
independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido
relações sexuais anteriormente ao crime. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)

ANTES DA LEI 12.015/09 APÓS A LEI 12.015/09


1ª Corrente: estupro com violência presumida não é Prevê como hediondo o estupro de vulnerável, não
hediondo. importando se com ou sem violência.

2ª Corrente: estupro com violência presumida, a


exemplo do estupro com violência real é crime
hediondo.

O estupro com violência presumida (vulnerável), praticado antes da Lei 12.015/09


é hediondo.
“Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor praticados anteriormente à Lei
n.º 12.015/2009, ainda que mediante violência presumida, configuram crimes
hediondos. Precedentes desta Corte e do Supremo Tribunal Federal. 2. Embargos
de divergência acolhidos a fim de reconhecer a hediondez do crime praticado pelo
Embargado”. (STJ, REsp. 1225387/RS, rel. Min. Laurita Vaz, Dje 04/09/2013 –
Disponível no Informativo 519).

INCISO VII: EPIDEMIA COM RESULTADO MORTE (ART. 267, § 1º).

Art. 267, CP. Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:


Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
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§ 1º - Se do fato resulta MORTE, a pena é aplicada em dobro.


§ 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta
morte, de dois a quatro anos.

Epidemia é a difusão de doença mediante a propagação de genes patogênicos.


Ressalta-se que somente a propagação de doença humana é que configura o crime do art. 267, §1º
do Código Penal, já que, em se tratando de enfermidade que atinja animais ou plantas, o crime será o do art.
61, Lei nº 9.605/98, não hediondo por falta de previsão legal. Somente o §1º do art. 267 é rotulado como
hediondo.
A epidemia, por si só, não é crime hediondo. Exige-se que seja qualificada pela morte (crime
preterdoloso).
Ressalta-se que o crime de epidemia com resultado morte desafia a prisão temporária (Lei nº
7.960/09).

INCISO VII: B - FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE PRODUTO DESTINADO A


FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS (ART. 273, CAPUT E § 1º, § 1º-A E § 1º-B, COM A REDAÇÃO DADA
PELA LEI Nº 9.677, DE 2 DE JULHO DE 1998).

Art. 273, CP. Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em
depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o
produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado.
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos,
as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de
uso em diagnóstico.
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º
em relação a produtos em qualquer das seguintes condições:
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente
[DISPENSA PERÍCIA, BASTA A AUSÊNCIA DE REGISTRO NA ANVISA]
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua
comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
V - de procedência ignorada (não há dados quanto a origem do produto, o que
dificulta a fiscalização);

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VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente


(o produto não é necessariamente corrompido, mas originário de estabelecimento
clandestino, o que dificulta a fiscalização).

A hediondez conferida ao art. 273 estende-se à todas às suas modalidades, exceto


à modalidade culposa.
Importa salientar, ainda, que este crime admite a PRISÃO TEMPORÁRIA. Apesar de não estar
expressamente no rol de crimes que admitem prisão temporária previsto no art. 1º, inciso III da Lei 7.960/89,
não se pode esquecer o art. 2º, §4º da Lei 8.072/90, de acordo com a doutrina majoritária e a jurisprudência
dos Tribunais Superiores, ao prever o prazo de 30 dias de duração da prisão temporária no caso de ser crime
hediondo, acabou ampliando o rol de cabimento dessa modalidade de prisão, de modo que para todo crime
hediondo e equiparado – esteja ou não elencado no art. 1º, III, da Lei nº 7.960/09 – caberá prisão temporária.

Vamos relembrar alguns aspectos importantes acerca deste crime?


De acordo com a doutrina e com a jurisprudência, o preceito secundário do art. 273 (Pena - 10 a 15
anos de reclusão), é inconstitucional por violar a proporcionalidade, tendo em vista prever uma reprimenda
demasiadamente exagerada para o bem jurídico em questão. Na visão dos Tribunais Superiores, impõe-se
ao legislador o dever de observância do princípio da proporcionalidade como proibição de excesso e como
proibição de proteção insuficiente.
O § 1º-B foi inserido no art. 273 do CP por força da Lei 9.677/98. O objetivo do legislador foi o de
punir pessoas que vendem determinados “produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais” e que,
embora não se possa dizer que sejam falsificados, estão em determinadas condições que fazem com que seu
uso seja potencialmente perigoso para a população. A pena prevista pelo legislador para o § 1º-B foi de 10 a
15 anos de reclusão. Ocorre que essa pena é muito alta e, por conta disso, começou a surgir entre os
advogados que militam na área a constante alegação de que essa reprimenda seria inconstitucional por violar
o princípio da proporcionalidade.
A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do HC 239.363/PR, considerou
inconstitucional o preceito secundário do art. 273, § 1º-B, inciso V, do CP, autorizando a aplicação analógica
das penas previstas para o tráfico de drogas. Apesar da divergência8 entre as turmas que compõem a Terceira
Seção, o Tribunal tem admitido a aplicação a diminuição da pena com base no art. 33, §4º, da Lei nº
11.343/06, até mesmo em sede de revisão criminal.
1. A intervenção estatal por meio do Direito Penal deve ser sempre guiada pelo
princípio da proporcionalidade, incumbindo também ao legislador o dever de
observar esse princípio como proibição de excesso e como proibição de proteção
insuficiente. 2. É viável a fiscalização judicial da constitucionalidade dessa atividade
legislativa, examinando, como diz o Ministro Gilmar Mendes, se o legislador

8
5ª Turma – pela possibilidade; AgRg no REsp 1810273/SP. 6ª Turma: Pela impossibilidade - AgRg no REsp 1740663/PR.
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considerou suficientemente os fatos e prognoses e se utilizou de sua margem de


ação de forma adequada para a proteção suficiente dos bens jurídicos
fundamentais. 3. Em atenção ao princípio constitucional da proporcionalidade e
razoabilidade das leis restritivas de direitos (CF, art. 5º, LIV), é imprescindível a
atuação do Judiciário para corrigir o exagero e ajustar a pena cominada à conduta
inscrita no art. 273, § 1º-B, do Código Penal. 4. O crime de ter em depósito, para
venda, produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais de procedência
ignorada é de perigo abstrato e independe da prova da ocorrência de efetivo risco
para quem quer que seja. E a indispensabilidade do dano concreto à saúde do
pretenso usuário do produto evidencia ainda mais a falta de harmonia entre o
delito e a pena abstratamente cominada (de 10 a 15 anos de reclusão) se
comparado, por exemplo, com o crime de tráfico ilícito de drogas – notoriamente
mais grave e cujo bem jurídico também é a saúde pública. 5. A ausência de
relevância penal da conduta, a desproporção da pena em ponderação com o dano
ou perigo de dano à saúde pública decorrente da ação e a inexistência de
consequência calamitosa do agir convergem para que se conclua pela falta de
razoabilidade da pena prevista na lei. A restrição da liberdade individual não pode
ser excessiva, mas compatível e proporcional à ofensa causada pelo
comportamento humano criminoso. 6. Arguição acolhida para declarar
inconstitucional o preceito secundário da norma” (AI no HC 239.363/PR, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, DJe 10/4/2015).

Declarada a inconstitucionalidade do preceito secundário previsto no art. 273, § 1º-


B, do Código Penal pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, no
julgamento da Arguição de Inconstitucionalidade no Habeas Corpus 239.363/PR, as
Turmas que compõem a Terceira Seção do STJ passaram a determinar a aplicação
da pena prevista no crime de contrabando ou no crime de tráfico de drogas do art.
33 da Lei de Drogas. A partir da solução da quaestio, verifica-se oscilação na
jurisprudência desta Corte. Destarte, a maioria dos julgadores da Terceira Seção
passou a adotar a orientação de aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33
da Lei n. 11.343/2006 nos crimes previstos no art. 273, § 1º-B, do Código Penal.
Assim, embora não tenha havido necessariamente alteração jurisprudencial, e sim
mudança de direcionamento, ainda que não pacífica, a respeito do tema, a
interpretação que deve ser dada ao artigo 621, I, do CPP é aquela de acolhimento
da revisão criminal para fins de aplicação do entendimento desta Corte mais
benigno e atual.” (RvCr 5.627/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 13/10/2021)

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O STF julgou inconstitucional a pena cominada à conduta de importar medicamento sem registro na
ANVISA (art. 273, § 1º-B, inciso I, do CP) e decidiu repristinar, a pena (de 1 a 3 anos, multa) cominada ao art.
273, antes da Lei nº 9.677/93:
STF (RE 979.962 - tese com repercussão geral): “É inconstitucional a aplicação do
preceito secundário do artigo 273, do Código Penal, com a redação dada pela Lei
9.677/98 (reclusão de 10 a 15 anos), na hipótese prevista no seu parágrafo 1º-B,
inciso I, que versa sobre importação de medicamento sem registro no órgão de
vigilância sanitária. Para essa situação específica, fica repristinado o preceito
secundário do artigo 273, na redação originária (reclusão de 1 a 3 anos, multa)”.

INCISO VIII: FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE


CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL (ART. 218-B, CAPUT, E §§ 1º E 2º).

Art. 218-B, CP. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de


exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
§ 1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.
§ 2º Incorre nas mesmas penas:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18
(dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste
artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as
práticas referidas no caput deste artigo.

Com o advento da Lei nº 12.978, que entrou em vigor no dia 22 de maio de 2014, para além da
mudança do nome jurídico do art. 218-B do Código Penal, também foi acrescentado ao art. 1º da Lei nº
8.072/90 o inciso VIII para rotular tal crime como hediondo.
Nas modalidades submeter, induzir, atrair e facilitar, consuma-se o delito no momento em que a
vítima passa a se dedicar à prostituição, colocando-se, de forma constante, à disposição dos clientes, ainda
que não tenha atendido nenhum. Trata-se, portanto, de um crime instantâneo, ainda que de efeitos
permanentes.
Já na modalidade de impedir ou dificultar o abandono da prostituição, o crime consuma-se no
momento em que a vítima delibera por deixar a atividade e o agente obsta esse intento, protraindo a
consumação durante todo o período de embaraço (crime permanente). Ou seja, aqui, temos um crime
permanente. Assim, considerando a natureza permanente do crime, quem antes da lei, dificultou o
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abandono, persistindo o embaraço na vigência da nova lei, vai ser alcançado pela mudança legislativa,
conforme o entendimento da Súmula 711, STF

Súmula 711, STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.

Obs.: Vamos relembrar alguns entendimentos recentes do STJ sobre esse crime?

● Nos termos do art. 218-B do Código Penal, são punidos tanto aquele que capta a vítima, inserindo-a na
prostituição ou outra forma de exploração sexual (caput), como também o cliente do menor prostituído ou
sexualmente explorado (§ 1º). STJ. 5ª Turma. HC 371633/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/03/2019
(Info 645).
● A vulnerabilidade no caso do art. 218-B do CP é relativa. No art. 218-B do Código Penal não basta aferir a
idade da vítima, devendo-se averiguar se o menor de 18 (dezoito) anos ou a pessoa enferma ou doente
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou por outra causa não pode oferecer
resistência. STJ. 5ª Turma. HC 371633/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/03/2019 (Info 645).
● O tipo penal não exige habitualidade. Basta um único contato consciente com a adolescente submetida
à prostituição para que se configure o crime. Trata-se de crime instantâneo. (STJ, Informativo 754).

INCISO IX: FURTO QUALIFICADO PELO EMPREGO DE EXPLOSIVO OU DE ARTEFATO ANÁLOGO QUE CAUSE
PERIGO COMUM (ART. 155, § 4º-A).

O ingresso do parágrafo 4º do art. 5º do Código Penal no art. 1º da Lei nº 8.072 é uma novidade
oriunda do “pacote anticrime” Lei nº 13.964/2019.

Furto
Art. 155, CP - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Furto qualificado
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.

Até a entrada em vigor do Pacote Anticrime, nenhuma modalidade de furto era rotulada como
hedionda, justamente por não envolver violência e grave ameaça contra a pessoa e por tutelar única e
exclusivamente o patrimônio da vítima (bem jurídico considerado disponível).

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No entanto, com base no critério de maior reprovabilidade da conduta do agente que utiliza
instrumentos que possam resultar em perigo comum, a Lei nº 13.964/19 conferiu caráter hediondo ao crime
de furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
Crítica doutrinária: O crime de furto mediante a utilização de explosivos ou artefato análogo é crime
hediondo, ao passo que o roubo mediante o emprego de explosivos não foi considerado hediondo, mesmo
sendo claramente mais grave que o furto, indicando uma evidente violação ao princípio da
proporcionalidade. Nas palavras de Renato Brasileiro (2020):
Interessante notar que o Pacote Anticrime rotulou como hediondo o crime de furto
qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum - CP, art. 155, §4°-A, incluído pela Lei n. 13.654/18 -, porém,
inexplicavelmente, olvidou-se de fazer o mesmo com o crime de roubo
circunstanciado pela destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego
de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum - CP, art. 157, §2°-A,
inciso II, também incluído pela Lei n. 13.654/18 -, delito este inegavelmente muito
mais grave do que o furto em questão. Sem embargo do evidente equívoco do
legislador, como se adota o sistema legal como critério para determinação dos
crimes hediondos, ao magistrado não se defere a possibilidade de considerá-lo
hediondo sob o argumento de que as circunstâncias fáticas dos crimes são
semelhantes - e até mais gravosas -, sob pena de evidente violação ao princípio da
legalidade.

DICA DD: Somente será crime hediondo quando o agente empregar explosivo ou artefato análogo que cause
perigo comum como instrumento do crime de furto. Quando o agente furtar substâncias explosivas
(enquanto objeto material do crime de furto), incidindo no art. 155, §7º, não será crime hediondo!

→ Art. 155, §4º-A – furto mediante emprego de explosivo - crime HEDIONDO.

→ Art. 155, §7º – furto de explosivo – NÃO é crime hediondo.

Adentraremos agora, na maior alteração ocorrida na lei, introduzida pelo “pacote anticrime” Lei nº
13.964/2019, qual seja, o parágrafo único do art. 1º. Particularmente, acreditamos que as alterações feitas
no parágrafo único organizaram e facilitaram o entendimento sobre o tema, sendo bastante preciso e
taxativo naquilo que pretendeu o legislador.

5. CRIMES HEDIONDOS PREVISTOS NO ART. 1º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 8.072/90

Art. 1º, Lei nº 8.072/90. (...) Parágrafo único. Consideram-se também hediondos,
tentados ou consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
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I - o crime de GENOCÍDIO, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de


outubro de 1956; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - o crime de POSSE ou PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO,
previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
III - o crime de COMÉRCIO ILEGAL DE ARMAS DE FOGO, previsto no art. 17 da Lei
nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - o crime de TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO, ACESSÓRIO OU
MUNIÇÃO, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
V - o CRIME DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, quando DIRECIONADO À PRÁTICA DE
CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

ANTES DO PACOTE ANTICRIME APÓS O PACOTE ANTICRIME


Consideram-se também hediondos: Consideram-se também hediondos:
⦁ Genocídio ⦁ Genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº
⦁ Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso 2.889, de 1º de outubro de 1956;
restrito. ⦁ Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso
proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22
de dezembro de 2003;
⦁ Comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art.
17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Tráfico internacional de arma de fogo, acessório
ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Organização criminosa, quando direcionado à
prática de crime hediondo ou equiparado.

→ INCISO I: CRIME DE GENOCÍDIO

O inciso I do parágrafo único da Lei 8.072/90 estabelece o crime de genocídio, nas modalidades
constantes dos art. 1º, 2º e 3º, da Lei 2.889/56, como crime hediondo, sendo consumados ou tentados.
Vejamos:

Art. 1º, Lei nº 2.889/56. Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte,
grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
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c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de


ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo; (...)

Art. 2º, Lei nº 2.889/56. Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática dos
crimes mencionados no artigo anterior.
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.

Art. 2º, Lei nº 2.889/56. Incitar, direta e publicamente alguém a cometer qualquer
dos crimes de que trata o art. 1º:
Pena: Metade das penas ali cominadas.
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime incitado, se este se
consumar.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a incitação for cometida
pela imprensa.

Portanto, são considerados crimes hediondos:


(1) Crime de genocídio – art. 1º
(2) Crime de associação para a prática de genocídio – art. 2º
(3) Crime de incitação ao genocídio – art. 3º

Perceba que as condutas que caracterizam o crime de genocídio como crime hediondo vão além do
crime propriamente dito, pois será considerada também como hedionda a conduta de quem associa-se para
praticá-lo, assim como quem promove a sua incitação.
Ressalta-se que o art. 8º da Lei 8.072/90 prevê uma pena de 3 (três) a 6 (seis) anos para o crime de
associação criminosa quando se tratar de crimes hediondos. Ora, considerando-se que, por força do art. 1º,
parágrafo único, da Lei nº 8.072/90, o crime de associação para a prática de genocídio previsto no art. 2°
da Lei nº 2.889/56 também é considerado crime hediondo, a ele deve ser aplicada a pena cominada no art.
8° da Lei nº 8.072/90, que prevê a pena de três a seis anos de reclusão para toda forma de associação para
a prática de crime hediondo.
Fato que merece nossa atenção é a distinção do crime de genocídio para o crime de homicídio
praticado por grupo de extermínio. Há características próprias entre os mesmos que os diferem de forma
clara.

GENOCÍDIO GRUPO DE EXTERMÍNIO

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✔ Dolo específico de destruir, no todo ou em parte,


✔ Eliminar apenas alguns de seus integrantes;
determinado grupo;
✔ Visam um grupo específico nacional, étnico, racial ou
✔ Visam qualquer grupo por características econômicas,
religioso. sociais, raciais, religiosas, etc.
✔ Caracteriza-se não somente pela morte, mas também
✔ Caracteriza-se, obrigatoriamente, pela morte de
pela lesão grave à integridade física ou mental de alguém do grupo.
membros do grupo, submissão intencional do grupo
a condições de existência capazes de ocasionar-lhes a
destruição física total ou parcial, bem como adoção
de medidas destinadas a impedir os nascimentos no
seio do grupo e, por fim, efetuar a transferência
forçada de crianças do grupo para outro grupo.
✔ Na hipótese de morte, no todo ou em parte, do grupo,
✔ Crime doloso contra a vida de competência do Tribunal
não se trata de crime contra a vida, mas tem natureza do Júri, para processá-lo e julgá-lo.
supranacional. Aqui cuida-se da preservação da
pessoa humana, devendo ser julgado e processado
por um juiz singular.

Vale relembrar!
Cumpre recordarmos que o genocídio é um típico exemplo de norma penal em branco “ao avesso”, isto é,
temos as condutas criminosas, mas faltam as respectivas penas, o preceito secundário está incompleto.
A norma penal em branco ao avesso é aquela em que o preceito primário é completo, mas o preceito
secundário carece de complemento normativo, sendo certo que este complemento deve derivar da lei, sob
pena de lesão ao princípio da reserva legal.

● INCISO II: POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO

Trata-se da posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso PROIBIDO, prevista no art. 16 da Lei no
10.826, de 22 de dezembro de 2003.
Ocorre que o Pacote Anticrime também promoveu alterações no Estatuto do Desarmamento,
ocasião em que o legislador passou a diferenciar as condutas que envolvem arma de fogo de uso restrito e
proibido, colocando essa última como qualificadora do delito em questão, no §2º. Veja:

Art. 16, Lei nº 10.826/03. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição

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de uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou


regulamentar: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I – Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma
de fogo ou artefato;
II – Modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a
arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer
modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – Portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou
adulterado;
V – Vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo,
acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
VI – Produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de
qualquer forma, munição ou explosivo.
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem ARMA DE
FOGO DE USO PROIBIDO, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze)
anos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Nesse tipo penal, não há a necessidade de diferenciar a posse do porte de arma de uso proibido, vez
que ambas as condutas se encontram tipificadas no mesmo §2º.

REDAÇÃO ANTIGA REDAÇÃO NOVA


Art. 16, Lei nº 10.826/03. Possuir, deter, portar, “Art. 16, Lei nº 10.826/03. Possuir, deter, portar,
adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
emprestar, remeter, empregar, manter sob sua emprestar, remeter, empregar, manter sob sua
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou
munição de uso proibido ou restrito, sem munição de uso restrito, sem autorização e em
autorização e em desacordo com determinação legal desacordo com determinação legal ou
ou regulamentar: regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º (...)
(...)

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Sem correspondência. § 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º


deste artigo envolverem arma de fogo de USO
PROIBIDO, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12
(doze) anos.” (NR)

Assim, antes do Pacote Anticrime, considerava-se hediondo o crime "de posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso restrito previsto no art. 16 da Lei n. 10.826/03”, suscitando, inclusive, controvérsias
sobre a abrangência ou não dos incisos I a VI do referido artigo.
No entanto, com o advento do Pacote Anticrime e as alterações promovidas no próprio Estatuto do
Desarmamento, que deslocou todas as condutas referentes ao “uso proibido” do caput para o §2º, passou-
se a considerar hediondo apenas o PORTE OU POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO.
Ressalta-se que a Lei de crimes hediondos fala somente em ARMA DE FOGO DE USO PROIBIDO, não
mencionando os demais objetos materiais previstos no art. 16, quais sejam, acessório ou munição. Por este
motivo, a doutrina majoritária entende que O PORTE/POSSE ILEGAL DE ACESSÓRIO OU MUNIÇÃO DE USO
PROIBIDO NÃO É CONSIDERADO CRIME HEDIONDO, sob pena de caracterizar analogia “in malam partem”
e consequente violação ao princípio da legalidade. Explica o professor Renato Brasileiro:
“Fosse a intenção do legislador de tratar como hedionda toda e qualquer conduta
relativa a artefatos de uso proibido, o inciso II ora sob comento deveria ter sido
redigido nos seguintes termos: "O crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo,
acessório ou munição de uso proibido ". In casu, não se pode querer aplicar o
mesmo raciocínio anteriormente desenvolvido (itens 1 e 2 acima) quanto ao antigo
crime hediondo de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (redação
do parágrafo único do art. 1 º da Lei n. 8.072/90 dada pela Lei n. 13.497/17), de
modo a se concluir que toda e qualquer conduta atinente a artefatos de uso
proibido seria hedionda por uma razão muito simples: posse ou porte ilegal de arma
de fogo de uso proibido não é o nomen iuris do delito, mas sim uma mera
qualificadora do crime do art. 16, doravante inserida no §2°, que, portanto, há de
ser interpretada restritivamente, sob pena de odiosa violação ao princípio da
legalidade.

Obs.: pensamos que a referida norma possuiu natureza dúplice. Isso porque:
✔ A norma será benéfica em relação àqueles praticaram a conduta de posse ou porte ilegal de arma de
fogo de uso restrito, pois essa modalidade não é mais considerada hedionda (“novatio legis in mellius”
e caráter retroativo).
✔ A norma será maléfica em relação àqueles que cometerem o porte de arma de fogo de uso proibido,
considerando que, além de ser tratada como hediondo, tornou-se qualificadora do delito previsto no
artigo 16 do Estatuto do Desarmamento, com pena maior de 4 a 12 anos de reclusão.

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● INCISO III: CRIME DE COMÉRCIO ILEGAL DE ARMAS DE FOGO, ACESSÓRIO OU MUNIÇÃO

Art. 17, Lei nº 10.826/03. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar,
ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda,
ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo,
qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou
clandestino, inclusive o exercido em residência. (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo, acessório ou
munição, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou
regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos
probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

REDAÇÃO ANTIGA REDAÇÃO NOVA


Art. 17, Lei nº 10.826/03. (...) “Art. 17, Lei nº 10.826/03. (...)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º
Sem correspondência. § 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega
arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização
ou em desacordo com a determinação legal ou
regulamentar, a agente policial disfarçado, quando
presentes elementos probatórios razoáveis de
conduta criminal preexistente.” (NR)

Trata-se de atualização introduzida pela Lei nº 13.964/19, incluindo, no rol taxativo dos crimes
hediondos, o comércio ilegal de arma de fogo previsto no art. 17 do Estatuto do Desarmamento.
Assim, todas as modalidades deste delito, incluindo as previstas no §2º, passam a ser consideradas
como hediondas.
Explica Renato Brasileiro (2020):

Por conseguinte, todas as figuras delituosas previstas no art. 17 e 18 são


consideradas hediondas, não apenas aquelas previstas no caput, mas também as
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equiparadas. A uma porque o legislador fez referência ao crime de comércio ilegal


de arma de fogo e ao delito de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou
munição, porque estas são as rubricas marginais (nomen iuris) constantes dos arts.
17 e 18 do Estatuto do Desarmamento. A duas porque, quisesse o legislador
conferir natureza hedionda apenas a determinadas condutas ali previstas, deveria
ter feito menção explícita ao caput do art. 17 (ou ao do art. 18). Se não o fez, não é
dado ao intérprete fazê-lo. Enfim, hão de ser consideradas hediondas tanto as
condutas do caput, quanto aquelas equiparadas.

● INCISO IV: CRIME DE TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO, ACESSÓRIO OU MUNIÇÃO

Art. 18, Lei nº 10.826/03. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do


território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização da autoridade competente:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa. (Redação dada pela Lei
nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de fogo,
acessório ou munição, em operação de importação, sem autorização da autoridade
competente, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios
razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

REDAÇÃO ANTIGA REDAÇÃO NOVA


Art. 18, Lei nº 10.826/03. (...) Art. 18, Lei nº 10.826/03. (...)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e
multa. multa.
Sem correspondência. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem
vende ou entrega arma de fogo, acessório ou
munição, em operação de importação, sem
autorização da autoridade competente, a agente
policial disfarçado, quando presentes elementos
probatórios razoáveis de conduta criminal
preexistente.” (NR)

Com a Lei nº 13.964/19, o crime de tráfico internacional de armas de fogo, acessórios e munições
passou a ser rotulado como crime hediondo.

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● INCISO V: CRIME DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, QUANDO DIRECIONADO À PRÁTICA DE CRIME


HEDIONDO OU EQUIPARADO

Art. 1º, Lei nº 12.850/13. Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas
e o procedimento criminal a ser aplicado.
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

A Lei 13.964/19 acrescentou o inciso V ao parágrafo único do art. 1º da lei ora em comento,
etiquetando como hediondo o crime de organização criminosa, quando esta tiver por finalidade a prática de
crime hediondo ou equiparado.
Veja bem, a Lei 13.964/19 não tornou o crime de organização criminosa, em si, um delito hediondo,
mas tão somente quando se destinar à pratica de crime hediondo ou equiparado.
Lembre-se que o crime de organização criminosa independe da prática efetiva de crimes, bastando
que haja a reunião estável, permanente e hierárquica das pessoas para a prática de crimes. E se ela for para
a prática de crime hediondo ou equiparado, aí sim, será hediondo.
Ressalta-se outras formas de associação, como, por exemplo, a associação criminosa (CP, art. 288) e
a constituição de milícia privada (CP, art. 288-A, incluído pela Lei n. 12.720/12), não devem ser rotuladas
como hediondas, ainda que direcionadas à prática de crime hediondo ou equiparado, sob pena de evidente
violação ao princípio da legalidade. (Não esqueça da exceção comentada acima acerca da associação para a
prática de genocídio!)

5.1 Crimes Equiparados a Hediondos

TRÁFICO
3T TORTURA
TERRORISMO

Frente à expressa determinação da Constituição Federal, são equiparados aos crimes hediondos os
delitos de tráfico de droga, tortura e terrorismo.
Tal conceituação é exaustivamente cobrada em provas objetivas, uma vez que, mesmo ensejando o
procedimento de recrudescimento idêntico aos dos crimes hediondos, eles são considerados equiparados, e
não propriamente hediondos pela doutrina, fique atento!

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5.1.1 Tráfico de Drogas

Encontra-se tipificado pela Lei 11.343/03, mas são todos os tipos penais ali elencados que
caracterizam tráfico de drogas. Segundo doutrina majoritária e jurisprudência do STF e STJ:

SÃO CONSIDERADOS SÃO EQUIPARADOS NÃO SÃO NÃO SÃO


TRÁFICO DE A CRIMES CONSIDERADOS EQUIPARADOS A
DROGAS HEDIONDOS TRÁFICO DE CRIMES HEDIONDOS
DROGAS
1) Art. 33, caput 1) Art. 28
2) Art. 33, §1º 2) Art. 33, §2º
3) Art. 34 – delito de maquinário 3) Art. 33, §3º
4) Art. 36 – o delito de financiamento 4) Art. 33, §4º - tráfico
ao tráfico privilegiado!
5) Art. 35 – associação para o tráfico
6) Art. 37 – o delito de colaboração
como informante
7) Art. 38
8) Art. 39.

De acordo com o STF, o tráfico privilegiado de drogas não tem natureza de crime hediondo, por
conseguinte não são exigíveis requisitos mais severos para o livramento condicional e para a progressão de
regime. (HC 118533, STF, Pleno).
Ademais, as alterações providas pelo Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/2019) apenas afastaram o
caráter hediondo ou equiparado do tráfico privilegiado, previsto no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, nada
dispondo sobre os demais dispositivos da Lei de Drogas. AgRg no HC 748.033-SC, Rel. Min. Jorge Mussi,
Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 27/09/2022, DJe 30/09/2022. (Info 754)

5.1.2 Tortura
Encontra-se previsto ao teor da Lei nº 9.455/97.
De acordo com a doutrina majoritária, o crime de tortura por omissão NÃO é considerado crime
equiparado a hediondo!
Art. 1º, Lei 9.455/97. Constitui crime de tortura: (...)
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-
las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

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5.1.3 Terrorismo
O crime de terrorismo é definido pelo art. 2°, caput, da Lei nº 13.260/16

6. ESPECIFICIDADES DOS CRIMES HEDIONDOS

O art. 2º da Lei 8.072/90 elenca um rol de consequências legais – de natureza penal e processual
penal – mais gravosas que são aplicáveis os crimes rotulados como hediondos e os crimes equiparados a
hediondos.
Inicialmente, cumpre destacarmos que as consequências/vedações também são aplicadas aos crimes
“equiparados” a hediondos, quais sejam, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tortura e terrorismo.

6.1 Insuscetibilidade de Graça, Anistia e Indulto

Nos termos do art. 2º, inciso I, da Lei nº 8.072/90, os crimes hediondos são insuscetíveis de anistia,
graça e indulto. Nesse sentido, também dispõe a Constituição Federal, senão vejamos.

Art. 2º, Lei nº 8072/90. Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça
e indulto;

Art. 5º, CF. (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça
ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

Repare que, enquanto a Lei de Crimes Hediondos proíbe a concessão de anistia, graça e indulto, a
CF/88 proíbe apenas anistia e a graça, sem fazer menção expressa ao indulto. Essa vedação do indulto
prevista na lei 8.072/90 (e que não está na CF) é constitucional?

1º corrente: Inconstitucional – A lei extrapolou a vedação constitucional. Considerando que a CF/88 traz
proibições máximas, não pode o legislador ordinário suplantá-las. A concessão do indulto é atribuição do
chefe do Poder Executivo (Presidente da República), não podendo o legislador ordinário limitá-lo.

2º corrente – STF/ Majoritária - Constitucional. A CF traz vedações mínimas ("a lei considerará"), quem irá
trabalhar é o legislador, a CF/88 dá um PATAMAR MÍNIMO DE PROIBIÇÃO. A vedação da graça abrange
indulto, que nada mais é do que uma graça coletiva.

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Obs.: Chama-se indulto humanitário aquele concedido por razões de grave deficiência física ou em
virtude de debilitado estado de saúde do executado. Temos decisões admitindo o indulto humanitário, com
fundamento no princípio da humanidade das penas, até mesmo para condenados por crimes hediondos e
equiparados (STJ). O STF, no HC 118/213 SP, não permitiu indulto humanitário para tráfico de drogas.

6.2 Insuscetibilidade de Fiança

Os crimes hediondos e equiparados são inafiançáveis.

Art. 2º, Lei nº 8.072/90. Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
II - fiança.

Cumpre destacar que, na redação original da Lei dos Crimes Hediondos, também era vedada a
liberdade provisória sem fiança. Essa proibição, contudo, foi abolida pela Lei 11.464/2007.

ANTES DA LEI 11.464/2007 DEPOIS DA LEI 11.464/2007


Vedava: Veda:
1) Fiança 1) Fiança
2) Liberdade provisória
Permite:
1) Liberdade provisória

A doutrina majoritária entende ser possível a concessão de liberdade provisória sem fiança, a
depender do convencimento do juiz, quanto à ausência dos requisitos para a decretação da prisão
preventiva.

6.3 Regime Inicial Fechado para o Cumprimento da Pena Privativa de Liberdade

Art. 2º, Lei nº 8.072/90. (...)


§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime
fechado. 

Em sua redação original, a Lei dos Crimes Hediondos previa que o regime deveria ser integralmente
fechado, ou seja, iniciaria e terminaria o cumprimento da pena em regime fechado, sem direito à progressão
de regime.

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No entanto, no HC 82959, o STF decidiu pela inconstitucionalidade desse regime, haja vista a clara
violação aos princípios da individualização da pena, da proporcionalidade e também da dignidade da pessoa
humana. Nessa esteira, passou-se a admitir a progressão de regime nos termos da LEP.
Ressalta-se que a obrigatoriedade do regime inicial fechado continua no texto da lei, mas a
jurisprudência e doutrina já se manifestaram pela inconstitucionalidade da previsão por entenderem que
viola o princípio da individualização da pena, devendo o juiz analisar o caso concreto para fundamentar sua
decisão (STF, Pleno, HC 111.840, Info 672).
O legislador não pode obrigar o juiz a aplicar um determinado regime prisional. A fixação de regime
inicial mais severo não deve basear-se na gravidade em abstrato do delito, exigindo, do magistrado,
motivação idônea.
Súmula 718 do STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime
não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o
permitido segundo a pena aplicada.

Súmula 719 do STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a


pena aplicada permitir exige motivação idônea.

CESPE/2019 - Júnia, de quatorze anos de idade, acusa Pierre, de dezoito anos de idade, de ter praticado crime
de natureza sexual consistente em conjunção carnal forçada no dia do último aniversário da jovem. Pierre,
contudo, alega que o ato sexual foi consentido. Se Pierre for condenado por estupro, o regime de
cumprimento de pena será integralmente fechado, por se tratar de crime hediondo. Item incorreto.

Obs.: Regime Inicial de Cumprimento de Pena na Lei de Tortura


Art. 1º, Lei nº 9.455/97. (...) § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a
hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

O § 7º dispõe que o condenado por crime previsto na Lei de Tortura, salvo a hipótese do § 2º (omissão
perante a tortura), iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
O STF já decidiu que a imposição de regime inicial fechado para os crimes hediondos e equiparados
é inconstitucional por violar o princípio constitucional da individualização da pena (STF, HC 111.840/ES).
Para a doutrina majoritária, é evidente que essa interpretação também deve ser aplicada aos crimes
equiparados a hediondo, a exemplo da tortura. A posição do STJ é nesse mesmo sentido:
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME DE TORTURA. REGIME INICIAL
FECHADO FIXADO EXCLUSIVAMENTE COM BASE NO ART. 1º, § 7º, DA LEI 9.455/97.
INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA. RECONHECIMENTO DA ILEGALIDADE PELO
TRIBUNAL DE ORIGEM. ALTERAÇÃO DO REGIME PARA O SEMIABERTO, COM
FULCRO NO ART. 33 E PARÁGRAFOS DO CÓDIGO PENAL. REFORMATIO IN PEJUS.
AUSÊNCIA. REPRIMENDA FINAL INFERIOR A 4 ANOS DE RECLUSÃO. REGIME INICIAL
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SEMIABERTO. CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO


ILEGAL. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A obrigatoriedade do regime inicial fechado prevista na Lei do Crime de Tortura
foi superada pela Suprema Corte, de modo que a mera natureza do crime não
configura fundamentação idônea a justificar a fixação do regime mais gravoso
para os condenados pela prática de crimes hediondos e equiparados. Para
estabelecer o regime prisional, deve o magistrado avaliar o caso concreto,
seguindo os parâmetros estabelecidos pelo artigo 33 e parágrafos do Código
Penal.
2. O regime inicial fechado foi fixado pelo Magistrado de primeiro grau com base,
exclusivamente, no disposto pelo art. 1°, § 7°, da Lei n° 9.455/97, em manifesta
contrariedade ao hodierno entendimento dos Tribunais Superiores. A Corte de
origem, por sua vez, ao reconhecer a existência de flagrante ilegalidade na
imposição do regime inicial fechado - diante da mera alusão ao § 7° do art. 1° da Lei
n° 9.455/97 -, alterou o regime inicial para o semiaberto à luz do art. 33, §§ 2º e 3º,
do Código Penal, o que não evidencia reformatio in pejus. (...) (RHC 76.642/RN, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
11/10/2016, DJe 28/10/2016).

Em 2015, o Info. 789 do STF, noticia julgamento em que, o Min. Marco Aurélio manifesta posição
pessoal de que o art. 1º, § 7º, da Lei nº 9.455/97 seria constitucional, ou seja, seria legítima a regra que
impõe o regime inicial fechado para o crime de tortura. Todavia, é uma posição minoritária e isolada do Min.
Marco Aurélio. Os demais Ministros acompanharam o Relator mais por uma questão de praticidade em razão
do que de
tese jurídica, pois eles não aderiram expressamente à tese do Relator.
CUIDADO COM INF. 789, STF (2015): CRIME DE TORTURA E REGIME INICIAL DE
CUMPRIMENTO DA PENA. O condenado por crime de tortura iniciará o
cumprimento da pena em regime fechado, nos termos do disposto no § 7º do art.
1º da Lei 9.455/1997 - Lei de Tortura. Com base nessa orientação, a Primeira Turma
denegou pedido formulado em “habeas corpus”, no qual se pretendia o
reconhecimento de constrangimento ilegal consubstanciado na fixação, em
sentença penal transitada em julgado, do cumprimento das penas impostas aos
pacientes em regime inicialmente fechado. (...) O Ministro Marco Aurélio (relator)
denegou a ordem. Considerou que, no caso, a dosimetria e o regime inicial de
cumprimento das penas fixadas atenderiam aos ditames legais. Asseverou não
caber articular com a Lei de Crimes Hediondos, pois a regência específica (Lei
9.455/1997) prevê expressamente que o condenado por crime de tortura iniciará o
cumprimento da pena em regime fechado, o que não se confundiria com a
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imposição de regime de cumprimento da pena integralmente fechado. Assinalou


que o legislador ordinário, em consonância com a CF/1988, teria feito uma opção
válida, ao prever que, considerada a gravidade do crime de tortura, a execução da
pena, ainda que fixada no mínimo legal, deveria ser cumprida inicialmente em
regime fechado, sem prejuízo de posterior progressão. Os Ministros Roberto
Barroso e Rosa Weber acompanharam o relator, com a ressalva de seus
entendimentos pessoais no sentido do não conhecimento do “writ”. O Ministro Luiz
Fux, não obstante entender que o presente “habeas corpus” faria as vezes de
revisão criminal, ante o trânsito em julgado da decisão impugnada, acompanhou o
relator. HC 123316/SE, rel. Min. Marco Aurélio, 9.6.2015. (HC-123316)

6.4 Critérios Diferenciados para Concessão de Livramento Condicional.

É possível o livramento para os crimes hediondos e assemelhados (3T – tráfico, tortura e terrorismo),
depois de ter havido o cumprimento de 2/3 da pena e não ser reincidente específico (hediondo ou
assemelhado), independentemente de ser o mesmo delito ou não.
Atente-se que a vedação ao reincidente específico é apenas para a concessão do livramento
condicional, e não para a concessão dos demais benefícios.

LIVRAMENTO CONDICIONAL
Regra geral – art. 83, CP Hediondos – art. 83, V, CP Tráfico de drogas - art. 44, Lei
11.343/06

+ de 1/3 do cumprimento de pena + de 2/3 do cumprimento de pena 2/3 do cumprimento de pena (art.
se não reincidente em crime doloso se não reincidente específico. 44, p.ú., Lei nº 11.343/06 –
e tiver bons antecedentes; VEDADO O LIVRAMENTO princípio da especialidade).
+ de 1/2 do cumprimento de pena CONDICIONAL EM CASO DE
se reincidente em crime doloso. REINCIDENTE ESPECÍFICO!

6.5 Progressão de Regime

Em sua redação originária, a Lei nº 8.072/90 vedava a progressão de regime para os crimes
hediondos, já que era previsto o regime integral fechado de cumprimento da pena (art. 1º, §1º). O STF
declarou a inconstitucionalidade do art. 1º, §1º, da Lei nº 8.072/90. Com isso, a progressão de regime foi
autorizada e seguia o disposto na LEP, ou seja, o condenado progredia com o tempo comum - 1/6 da pena.
Posteriormente, a Lei nº 11.464 inseriu o §2º ao art.2º da Lei 8.072/90, trazendo parâmetros distintos para
a progressão de regime para condenados por crimes hediondos e equiparados:

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Art. 2º, Lei nº 8.072/90. (...) § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados
aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois
quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se
reincidente.

Por se tratar de uma inovação legislativa mais prejudicial ao réu, foram editadas as seguintes
súmulas:
Súmula 471 do STJ: Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados
cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art.
112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime
prisional.

Súmula Vinculante nº 26: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de


pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2º da lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo
de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do
benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização
de exame criminológico.

Ocorre que, com o advento da Lei 13.964/19, o “pacote anticrime”, tal dispositivo foi revogado!! A
partir de agora, a progressão de regime voltará a ser guiada pelo art. 112 da Lei de Execução Penal (LEP), que
também sofreu alterações pela referida Lei, estabelecendo novos prazos a serem cumpridos, conforme
esquema abaixo:

ESQUEMATIZANDO:

CONDENADO POR CRIME HEDIONDO OU PRIMÁRIO


40% EQUIPARADO SE O RÉU FOR PRIMÁRIO
%%
CONDENADO PELA PRÁTICA DE CRIME HEDIONDO
OU EQUIPARADO, COM RESULTADO MORTE, VEDADO O
SE FOR PRIMÁRIO, VEDADO O LIVRAMENTO LIVRAMENTO
CONDICIOANAL
CONDICIONAL

CONDENADO POR EXERCER O COMANDO,


INDIVIDUAL OU COLETIVO, DE
PROGRESSÃO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ESTRUTURADA
REGIME NOS
CRIMES
50% PARA A PRÁTICA DE CRIME HEDIONDO OU
EQUIPARADO
HEDIONDOS

CONDENADO PELA PRÁTICA DO CRIME DE


CONSTITUIÇÃO DE MILÍCIA PRIVADA

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60% REINCIDENTE SE O APENADO FOR REINCIDENTE NA PRÁTICA DE


ESPECÍFICO CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO

REINCIDENTE SE O APENADO FOR REINCIDENTE EM


ESPECÍFICO COM CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO VEDADO O
70% RESULTADO COM RESULTADO MORTE, VEDADO O LIVRAMENTO
MORTE LIVRAMENTO CONDICIONAL. CONDICIOANAL

PROGRESSÃO DE REGIME NOS CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS


40% - Primário + Crime Hediondo/Equiparado
- Primário + Crime Hediondo/Equiparado, COM RESULTADO MORTE,
VEDADO O LIVRAMENTO CONDICIONAL.
Obs.: Note que o PAC criou uma nova vedação ao livramento condicional
nesse caso. Isso porque, se seguisse a regra geral prevista no CP, caberia o
50 %
livramento condicional.
- Exercer o COMANDO, individual ou coletivo, de organização criminosa
estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado.
- Condenado pela prática do crime de constituição de MILÍCIA PRIVADA.
- Reincidente + Crime Hediondo/Equiparado.
60% Obs.: Embora a LEP não inviabilize o livramento condicional, o CP o faz
quando o agente for reincidente específico em crime hediondo (art. 83, V).
Reincidente [ESPECÍFICO] + Crime Hediondo/Equiparado, COM RESULTADO
70%
MORTE, VEDADO O LIVRAMENTO CONDICIONAL.

Obs.: O art. 112 da LEP não previu percentual de progressão para o condenado por crime hediondo ou
equiparado que for reincidente comum (reincidente não específico). Diante da ausência de previsão legal, o
julgador deve integrar a norma aplicando a analogia “in bonam partem”, ou seja, aplica-se a mesma fração
do condenado primário, 40% ou 50%, conforme o caso (STJ, HC 581.315/PR, julgado em 10/06/2020 –
Disponível no Informativo 681).

6.6 Direito de Recorrer em Liberdade

Art. 2º, Lei nº 8.072/90. (...) §3º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá
fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.

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Interpretação conforme a CF: Réu processado preso, recorre preso, salvo se desaparecerem os
fundamentos que determinaram a decretação da prisão preventiva. Por outro lado, réu processado solto,
via de regra, recorre solto, salvo se presentes os fundamentos da prisão preventiva, eis a interpretação
conforme a Constituição.
Ante o exposto, contemplamos que está vedado a imposição da condição de recolhimento ao cárcere
para recorrer, devendo a sua decretação quando necessária ser fundamentada, em observância ao art. 93,
IX, da CF.

6.7 Estabelecimentos Penais De Segurança Máxima

Art. 3º, Lei nº 8.072/90. A União manterá estabelecimentos penais, de segurança


máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta
periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem
ou incolumidade pública.
Obs.: O condenado de alta periculosidade pode não ser necessariamente um condenado por crime
hediondo ou equiparado.

● Condenado federal cumprindo pena em estabelecimento estadual: Competência da execução é do


JUIZ ESTADUAL.

Súmula 192 do STJ - Compete ao juízo das execuções penais do estado a execução
das penas impostas a sentenciados pela justiça federal, militar ou eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos a administração estadual.

● Condenado no âmbito estadual, cumprindo pena em estabelecimento federal: A competência para


atuar na execução é da JUSTIÇA FEDERAL.

DICA DD: A lógica é: a competência é de quem fiscaliza o estabelecimento.

6.8 Prioridade no Trâmite dos Processos

Em atendimento ao Código de Processo Penal, haverá prioridade de tramitação dos processos que
versarem sobre crimes hediondos.

Art. 394-A, CPP. Os processos que apurem a prática de crime hediondo terão
prioridade de tramitação em todas as instâncias.
Conforme DoD:

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Na prática, o que muda: nada. Não existe um controle sobre essas prioridades e não
há qualquer sanção para o caso de a ordem ser descumprida. Isso sem falar que a
causa da demora na tramitação dos processos é muito mais profunda e o acréscimo
desse dispositivo não contribui em nada.
Trata-se de mais um exemplo de legislação simbólica.

7. PRISÃO TEMPORÁRIA E CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS

Por fim, e com alto índice de cobrança nas provas objetivas, bem como relevância para a confecção
de representações rotineiramente presentes em provas de segunda fase, há a previsão de prazo excepcional
para a prisão temporária nos crimes hediondos.
A prisão temporária é uma modalidade de prisão provisória, decretada antes do trânsito em julgado
da condenação, e tem natureza cautelar. No Brasil a prisão temporária é possível apenas na fase
investigatória, por esse motivo ela não pode ser decretada de ofício pelo juiz, dependendo de requerimento
do MP ou representação da autoridade policial.
Art. 2º, Lei nº 8.072/90. (...) § 4º A PRISÃO TEMPORÁRIA, sobre a qual dispõe a Lei
nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o
PRAZO de 30 DIAS, prorrogável por igual período em caso de extrema e
comprovada necessidade.

PRISÃO TEMPORÁRIA - CRIMES HEDIONDOS E


PRISÃO TEMPORÁRIA - REGRA GERAL
EQUIPARADOS

5 dias, prorrogáveis por igual período. 30 dias, prorrogáveis por igual período

Rol de crimes que aceitam a Prisão Temporária


(previsto pela lei 7.960 de 1989):
II - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria
ou participação do indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único);
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único);
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i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);


j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270,
caput, combinado com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).

O crime de envenenamento de água potável já foi considerado hediondo, mas hoje em


dia é crime simples, de modo que o prazo da prisão temporária será 5 + 5 dias.

Existem crimes hediondos que não estão previstos no rol de crimes que admitem temporária (art.
1º, III da Lei. 7960/89). Esses crimes admitem essa modalidade de prisão cautelar? Ex.: crimes de estupro de
vulnerável (art.217 CP), falsificação de remédios (art.273 CP) e tortura.
R.: Para a doutrina majoritária, a Lei 7.960 é lei ordinária, assim como a lei 8.072. Nesse sentido, a lei
8.072 poderá aumentar o prazo da prisão temporária (de 5+5 para 30 +30), bem como aumentar o rol de
crimes hediondos.
O §4º do art.2º da lei 8.072/1990 ampliou, não apenas, o prazo da prisão temporária, mas também
o rol dos delitos passíveis de prisão temporária.

8. CAUSA DE AUMENTO DO §9º DA LEI DE CRIMES HEDIONDOS

Explicação retirada do site Dizer o Direito:

Veja a redação do art. 9º da Lei nº 8.072/90:


Art. 9º, Lei nº 8.072/90. As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos
arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua
combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o
art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade,
respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a vítima em
qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal.

Essa causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes Hediondos ainda está em vigor?
NÃO. O entendimento do STJ e do STF é o de que o art. 9º da Lei de Crimes Hediondos foi
revogado tacitamente pela Lei nº 12.015/2009, considerando que esta Lei revogou o art. 224 do CP, que era
mencionado pelo art. 9º.

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Logo, como não mais existe o art. 224 no CP, conclui-se que o art. 9º da Lei de Crimes Hediondos
perdeu a eficácia (expressão utilizada em um voto do Min. Dias Toffoli).
O art. 9º da Lei de Crimes Hediondos ficou carente de complemento normativo em vigor, razão pela
qual foi revogada a causa de aumento nele consignada.
Imagine que uma pessoa foi condenada, antes da Lei nº 12.015/2009, pela prática de estupro
contra menor de 14 anos com a incidência da causa de aumento do art. 9º da Lei de Crimes Hediondos.
Como ocorreu a revogação tácita do art. 9º, essa pessoa poderá alegar que houve “novatio legis in
mellius” e pedir para retirar de sua condenação a causa de aumento do art. 9º?
SIM. Essa causa de aumento deve ser extirpada da reprimenda já imposta, por força do princípio
da novatio legis in mellius (art. 2º, parágrafo único, do CP):
Art. 2º, CP. (...) Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o
agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado.

Com a revogação expressa do art. 224 do Código Penal pela Lei nº 12.015/2009, há de ser
redimensionada a pena aplicada ao condenado, subtraindo-lhe o acréscimo sofrido em razão do aumento da
pena previsto no art. 9º da Lei nº 8.072/90, considerando-se o princípio da novatio legis in mellius, previsto
no art. 2º, parágrafo único, do CP. STJ. 5ª Turma. HC 428.251/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
17/04/2018.

Em suma:
A causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes Hediondos foi tacitamente
revogada pela Lei nº 12.015/2009, considerando que esta Lei revogou o art. 224 do
CP, que era mencionado pelo referido art. 9º.
Se um indivíduo foi condenado, antes da Lei nº 12.015/2009, pela prática de
estupro contra menor de 14 anos com a incidência da causa de aumento do art. 9º
da Lei de Crimes Hediondos, esta majorante deverá ser retirada de sua condenação
por força da novatio legis in mellius (art. 2º, parágrafo único, do CP).
Diante da revogação do art. 224 do CP pela Lei nº 12.015/2009, ainda que o fato
delituoso seja anterior a esta alteração, é o caso de se decotar da pena do
condenado o acréscimo baseado no art. 9º da Lei nº 8.072/90. STF. Plenário. HC
100181/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 15/8/2019 (Info 947).

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META 6 – REVISÃO SEMANAL

Direito Penal: Teoria Do Crime – Parte I (Conceitos Gerais – Classificações – Início Dos Elementos Estruturais
Do Crime)

TODOS OS ARTIGOS
⦁ Art. 1, CP
⦁ Art. 13, §2º, CP
⦁ Art. 14, CP
⦁ Art. 75, CP
⦁ Arts. 1º a 10 da Lei de Contravenções Penais (DL 3688/41)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO PODEM DEIXAR DE LER
⦁ Art. 1º, CP
⦁ Art. 13, §2º, CP
⦁ Art. 14, CP
⦁ Art. 75, CP

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Medicina Legal: Perícia E Perito E Documentos Médico-Legais

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

⦁ Art. 6º, VII, CPP


⦁ Art. 158, CPP
⦁ Art. 158-A a 158-F, CPP
⦁ Art. 159 a 184, CPP
⦁ Art. 235, CPP
⦁ Arts. 275 a 281
⦁ Art. 525, 527 e 530-D, CPP
⦁ Art. 543, II, CPP
⦁ Art. 50, §1º, Lei de Drogas
⦁ Art. 129, §1º do CP
⦁ Art. 269 do CP
⦁ Art. 342 do CP
⦁ Lei 12030/09 inteira

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 158, CPP
⦁ Art. 158-A a 158-F, CPP (muito importante!)
⦁ Art. 159, §1º, §5º, CPP
⦁ Art. 160 a 163, CPP
⦁ Art. 167 a 169, CPP
⦁ Art. 171, CPP
⦁ Art. 180, CPP
⦁ Art. 184, CPP
⦁ Art. 276 e 278, CPP
⦁ Art. 50, §1º, Lei de Drogas
⦁ Art. 2º da Lei 12030/09

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Direitos Humanos: Interpretação, Eficácia E Direitos Humanos Na Constituição Federal

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CRFB/88:
⦁ Art. 1º ao 4º.
⦁ Art. 5º .
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

CRFB/88:
⦁ Art. 1º, III.
⦁ Art. 3º, II
⦁ Art. 4º.
⦁ Art. 5º, §2º e §3º.

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Direito Processual Penal: Jurisdição E Competência

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XXXVII
⦁ Art. 5º, XXXVIII
⦁ Art. 5º, LIII
⦁ Art. 102, I
⦁ Art. 105, I, “a”
⦁ Art. 109, inc. IV a XI
⦁ Art. 124 e 125, §§1º, 4º e 5º
⦁ Art. 144, §1º

CPP:
⦁ Art. 1º a 3º
⦁ Art. 3º-A a 3º-F
⦁ Art. 70 a 91
⦁ Art. 95, II e 108
⦁ Art. 113
⦁ Art. 383, §2
⦁ Art. 394, §3º
⦁ Art. 399, §2º
⦁ Art. 567

CP:
⦁ Art. 5º
⦁ Art. 6º, CP
⦁ Art. 149-A, §1º, IV, do CP

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS:


⦁ Art. 9º, Código Penal Militar
⦁ Art. 70, Lei 11.343/06
⦁ Art. 2º, III, Lei 9613/98
⦁ Art. 239, 241-A e 241-B, ECA

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ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, XXXVII, CF/88


⦁ Art. 5º, XXXVIII, CF/88
⦁ Art. 5º, LIII, CF/88
⦁ Art. 109, IV a XI, CF/88 (alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 3º-B, XIV, CPP
⦁ Art. 3º-C e 3º-D (importantíssimo!)
⦁ Art. 70 a 73 (Leitura indispensável! Alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 76 a 82 (Leitura indispensável! Alta incidência nas provas!)
⦁ Art. 6º, CP (análise comparativa com o art. 70 do CPP)
⦁ Art. 9º do Código Penal Militar

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 208-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita
a prestação de contas perante órgão federal.
Súmula 209-STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
incorporada ao patrimônio municipal.
Súmula 140-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure
como autor ou vitima.
Súmula 522-STF: Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a competência será da Justiça
Federal, compete a justiça dos estados o processo e o julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em
razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação
do órgão expedidor.
Súmula 38-STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por
contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de
suas entidades.
Súmula 42-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
Súmula 62-STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na carteira de
trabalho e previdência social, atribuído à empresa privada.
Súmula 104-STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de
documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.
Súmula 107-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado
mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente
lesão à autarquia federal.

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Súmula 498-STF: Compete a justiça dos estados, em ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos
crimes contra a economia popular.
Súmula vinculante 36-STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos
crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta de
Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela
Marinha do Brasil.
Súmula 122-STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a do Código de Processo Penal.
Súmula 147-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário
público federal, quando relacionados com o exercício da função.
Súmula 200-STJ: O juízo federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de
passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.
Súmula 165-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no
processo trabalhista.
Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Súmula 721-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa
de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.
Súmula 451-STF: A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido
após a cessação definitiva do exercício funcional.
Súmula 704-STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a
atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados.
Súmula 702-STF: A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos restringe-se aos crimes de
competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo
tribunal de segundo grau.
Súmula 555-STF: É competente o Tribunal de Justiça para julgar conflito de jurisdição entre juiz de direito
do estado e a justiça militar local.

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Direitos Humanos: Federalização Dos Crimes Contra Os Direitos Humanos E Outros Instrumentos D
Eproteção Dos Direitos Humanos Na Constituição Federal, Política Nacional De Direitos Humanos E Os
Programas Nacionais De Direitos Humanos

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES RELACIONADOS AO TEMA

CRFB/88
⦁ Art. 109, inciso V-A e § 5.º (importantíssimo!!!).
⦁ Art. 5°, inciso LXVIII, da CRFB/88.
⦁ Art. 5°, inciso LXXII, da CRFB/88.
⦁ Art. 5°, inciso LXXI, da CRFB/88.
⦁ Art. 5°, inciso LXIX, da CRFB/88.
⦁ Art. 5°, inciso LXXIII, da CRFB/88.

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 2° do Decreto n° 7.037/09.
Obs. Mesmo revogados, é importante a leitura dos seguintes:
⦁ Art. 2° do Decreto n° 1.094/96 (revogado).
⦁ Art. 2° do Decreto n° 4.229/2002 (revogado).

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Legislação Penal Especial: Lei De Crimes Hediondos

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

LEI 8072/90 INTEIRA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL
⦁ Art. 5º, XLIII, CF/88
⦁ Art. 142 e 144, CF/88

CÓDIGO PENAL
⦁ Art. 121, §2º e 2º-A
⦁ Art. 129, §2º e §3º
⦁ art. 155, § 4º-A (Cuidado para não confundir com o art. 155, §7º)
⦁ Art. 157, §2º, V
⦁ Art. 157, §2º-A, I
⦁ Art. 157, §2º-B e §3º
⦁ Art. 158, §3º (art. 158, §2º não é mais considerado hediondo)
⦁ Art. 159, §§1º, 2º e 3º
⦁ Art. 213, caput, §§1º e 2º
⦁ art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o
⦁ art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º
⦁ art. 267, § 1o (caput não é hediondo)
⦁ art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 1º, 2º e 3º da Lei 2889/56
⦁ Art. 16, §2º, Estatuto do Desarmamento
⦁ Art. 17 e 18, Estatuto do Desarmamento
⦁ Lei 9455/97 (Lei de tortura – crime equiparado a hediondo)
⦁ Lei 13.260/16 (Lei de terrorismo – crime equiparado a hediondo)
⦁ Lei 11.343/06 (Lei de tráfico de drogas – crime equiparado a hediondo)

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 5º, XLIII, CF/88
⦁ Art. 155, § 4º-A e 7º, CP
⦁ Art. 157, CP
⦁ Art. 158, §3º, CP

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ESTOQUE FLEURIZA 70043503209 ESTOQUE FLEURIZA 70043503209 ESTOQUE FLEURIZA 70043503209 ESTOQUE
PREPARAÇÃO EXTENSIVA PLUS

DELEGADO DE POLÍCIA

SEMANA 04/30

⦁ Art. 16, §2º Estatuto do Desarmamento

PRINCIPAIS ARTIGOS DA LEI 8072/90:


⦁ Art. 1º, caput, inc. II, III, IV e IX
⦁ Art. 1º, parágrafo único (muito importante!)
⦁ Art. 2º, inc. I e II
⦁ Art. 4º (leitura conjunta com a lei 7960/89)

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Você também pode gostar