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SEMANA 10

PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Sumário
META 1 ............................................................................................................................................................ 10
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI MARIA DA PENHA ..................................................................................... 10
1. FINALIDADES DA NORMA ............................................................................................................................ 11
2. PREVISÃO CONSTITUCIONAL E IGUALDADE MATERIAL .............................................................................. 13
3. INTERPRETAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA................................................................................................. 15
4. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER........................................................................... 15
5. SUJEITO PASSIVO ......................................................................................................................................... 19
6. SUJEITO ATIVO............................................................................................................................................. 22
7. ELEMENTO SUBJETIVO ................................................................................................................................ 24
8. HIPÓTESES DE CONFIGURAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ...................................................................... 25
9. FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER .............................................................................................. 28
10. FORMAS DE PREVENÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA ................................................................................. 29
11. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA FAMILIAR ...................................................... 31
12. DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL ..................................................................................... 35
13. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA ....................................................................................................... 40
13.1. Considerações Iniciais: ........................................................................................................................................ 40
13.2. Legitimidade para conceder as medidas protetivas de urgência: ....................................................................... 44
13.3. Das medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor ............................................................................ 48
13.4. Das Medidas Protetivas De Urgência À Ofendida ............................................................................................... 51
13.5. Vias impugnativas................................................................................................................................................ 52
13.6. Descumprimento das medidas protetivas de urgência....................................................................................... 52
14. PRISÃO PREVENTIVA.................................................................................................................................. 57
15. RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO NOS CRIMES PRATICADOS NO CONTEXTO DA LEI 11.340/06 .......... 59
16. VEDAÇÕES PREVISTAS NA LEI MARIA DA PENHA ...................................................................................... 60
16.1 Vedação à pena de cesta básica, prestação pecuniária ou pagamento isolado da multa ................................... 60
16.2. Vedação às penas restritivas de direito............................................................................................................... 61
16.3. Vedação à aplicação do Princípio da Insignificância............................................................................................ 62
17. AÇÃO PENAL NOS CRIMES DA LEI MARIA DA PENHA................................................................................ 64
18. COMPETÊNCIA NA LEI MARIA DA PENHA.................................................................................................. 65
19. REPARAÇÃO DE DANOS NO ÂMBITO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ....... 69
20. LEI 14.022/2020......................................................................................................................................... 71
21. ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS IMPORTANTES.............................................................................. 75
META 2 ............................................................................................................................................................ 83
DIREITO PROCESSUAL PENAL: QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTES, SUJEITOS DO PROCESSO,
COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS, EMENDATIO E MUTATIO LIBELI .................................................. 83
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

1. QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTES .................................................................................. 84


1.1 Questões Prejudiciais ............................................................................................................................................. 85
1.1.1 Prejudiciais obrigatórias e devolutivas absolutas (heterogêneas relativas ao estado civil das pessoas) ........ 87
1.1.2 Prejudiciais facultativas e devolutivas relativas............................................................................................... 88
1.1.3 Sistemas de Solução das Questões Prejudiciais............................................................................................... 90
1.2 Exceções ................................................................................................................................................................. 91
1.2.1 Exceções de Suspeição, Impedimento e Incompatibilidade ............................................................................ 92
1.2.2 Exceção De Incompetência .............................................................................................................................. 95
1.2.3 Exceção de Litispendência ............................................................................................................................... 96
1.2.4 Exceção de Ilegitimidade de Parte................................................................................................................... 97
1.2.5 Exceção de Coisa Julgada................................................................................................................................. 97
2. SUJEITOS DO PROCESSO.............................................................................................................................. 99
2.1 Introdução .............................................................................................................................................................. 99
2.2 Classificação dos Sujeitos do Processo:.................................................................................................................. 99
2.2.1 Juiz ................................................................................................................................................................. 100
2.2.2 Ministério Público.......................................................................................................................................... 105
2.2.3 Acusado ......................................................................................................................................................... 109
2.2.4 Defensor ........................................................................................................................................................ 112
2.2.5 Assistente De Acusação ................................................................................................................................. 114
3. COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS................................................................................................. 118
3.1 Citação.................................................................................................................................................................. 119
3.2 Revelia no Processo Penal .................................................................................................................................... 134
3.3 Intimação.............................................................................................................................................................. 135
4. EMENDATIO E MUTATIO LIBELLI ............................................................................................................... 138
4.1 Introdução ............................................................................................................................................................ 138
4.2 Institutos correlatos ............................................................................................................................................. 138
4.2.1 Princípio da correlação entre a acusação e a sentença: ................................................................................ 138
4.3 Emendatio Libelli .................................................................................................................................................. 139
4.4 Mutatio Libelli ...................................................................................................................................................... 143
META 3 .......................................................................................................................................................... 152
DIREITO CIVIL: DIREITO DAS COISAS.............................................................................................................. 152
1. CARACTERÍSTICAS ...................................................................................................................................... 153
2. DIREITOS REAIS X DIREITOS PESSOAIS PATRIMONIAIS.............................................................................. 155
3. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS ........................................................................................................ 155
4. POSSE......................................................................................................................................................... 156
4.1 Teorias da Posse ................................................................................................................................................... 156
4.2 Posse x Detenção.................................................................................................................................................. 158
4.2.1 Hipóteses de detenção .................................................................................................................................. 158
4.3 Classificação da Posse .......................................................................................................................................... 161
4.3 Efeitos da Posse.................................................................................................................................................... 165
4.4. Composse: (Art. 1.199, CC).................................................................................................................................. 167
4.5 Formas de Aquisição, Transmissão e Perda da Posse .......................................................................................... 168
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SEMANA 10/18

5. PROPRIEDADE............................................................................................................................................ 171
5.1 Atributos: GRUD ................................................................................................................................................... 171
5.2 Classificação da propriedade:............................................................................................................................... 171
5.3 Características ...................................................................................................................................................... 172
5.4 Função social da propriedade: ............................................................................................................................. 175
5.5 Propriedade resolúvel e propriedade fiduciária................................................................................................... 176
5.6 Formas de aquisição da propriedade imóvel e móvel:......................................................................................... 177
5.6.1 Modos de Aquisição de Bem Imóvel.............................................................................................................. 178
5.6.2 Modos de Aquisição da Propriedade Móvel.................................................................................................. 186
6. PERDA DA PROPRIEDADE MÓVEL OU IMÓVEL:......................................................................................... 188
7. DIREITOS DE VIZINHANÇA ......................................................................................................................... 189
7.1 Do Uso Anormal Da Propriedade ......................................................................................................................... 189
7.2 Das Árvores Limítrofes ......................................................................................................................................... 189
7.3 Da Passagem Forçada........................................................................................................................................... 190
7.4 Da Passagem De Cabos E Tubulações................................................................................................................... 190
7.5 Das águas.............................................................................................................................................................. 190
7.6 Dos Limites Entre Prédios E Do Direito De Tapagem ........................................................................................... 190
7.7 Do Direito De Construir ........................................................................................................................................ 190
8. CONDOMÍNIOS .......................................................................................................................................... 191
8.1 Do Condomínio Voluntário................................................................................................................................... 191
8.2 Do Condomínio Edilício ........................................................................................................................................ 191
8.3 Do Condomínio em Multipropriedade (TIME-SHARING): .................................................................................... 196
9. DIREITOS REAIS DE GOZO OU FRUIÇÃO .................................................................................................... 200
9.1 Superfície.............................................................................................................................................................. 200
9.2 Servidões .............................................................................................................................................................. 201
9.3 Usufruto ............................................................................................................................................................... 203
9.4 Uso ( = Usufruto Anão, Nanico Ou Reduzido) ...................................................................................................... 205
9.5 Habitação ............................................................................................................................................................. 205
10. DIREITOS REAIS DE GARANTIA:................................................................................................................ 205
10.1 Penhor ................................................................................................................................................................ 207
10.2 Hipoteca ............................................................................................................................................................. 208
10.3 Anticrese............................................................................................................................................................. 210
META 4 .......................................................................................................................................................... 213
DIREITO PROCESSUAL CIVIL: TUTELA DE URGÊNCIA ..................................................................................... 213
1. TUTELA PROVISÓRIA.................................................................................................................................. 213
2. TUTELAS DE URGENCIA ............................................................................................................................. 214
2.1. Requisitos ............................................................................................................................................................ 214
2.2. Algumas regras .................................................................................................................................................... 214
2.3. Tutela antecipada genérica ................................................................................................................................. 214
2.4. Tutela antecipada contra a Fazenda Pública: ...................................................................................................... 221
2.5. Tutela antecipada cautelar.................................................................................................................................. 222
3. TUTELA DE EVIDÊNCIA............................................................................................................................... 225
3.1. Hipóteses de cabimento...................................................................................................................................... 225
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SEMANA 10/18

4. PROCEDIMENTOS CAUTELARES DO CPC/73 ADAPTADOS AO CPC/2015 .................................................. 226


4.1. Protesto, notificação e interpelação ................................................................................................................... 226
4.1.1. Definição ....................................................................................................................................................... 226
4.1.2. Procedimento ............................................................................................................................................... 226
4.2. Arresto, sequestro e caução................................................................................................................................ 227
4.3. Busca e apreensão:.............................................................................................................................................. 229
4.4. Exibição de documentos ..................................................................................................................................... 230
4.4.1. Pedido formulado pela parte:....................................................................................................................... 230
4.4.2. Documento ou coisa em poder de terceiro .................................................................................................. 231
4.4.3. Hipóteses em que pode haver recusa em exibir os documentos: ................................................................ 231
4.4.4. Julgamento ................................................................................................................................................... 231
4.4.5. Medidas adotadas pelo juiz para forçar a exibição ...................................................................................... 232
4.5. Justificação .......................................................................................................................................................... 232
META 5 .......................................................................................................................................................... 233
DIREITO EMPRESARIAL: SOCIEDADES............................................................................................................ 233
1. SOCIEDADES SIMPLES X SOCIEDADES EMPRESÁRIAS................................................................................ 233
2. TIPOS DE SOCIEDADE................................................................................................................................. 233
2.1. Sociedades dependentes de autorização ............................................................................................................ 233
2.2. Sociedade Nacional ............................................................................................................................................. 234
2.3. Sociedade Estrangeira ......................................................................................................................................... 234
2.4. Sociedade entre cônjuges ................................................................................................................................... 234
2.5. Sociedade Unipessoal.......................................................................................................................................... 234
3. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS ..................................................................................... 235
4. SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS ......................................................................................................... 237
4.1. Sociedade em Comum......................................................................................................................................... 237
4.2. Sociedade em conta de participação (= sociedade secreta) ............................................................................... 237
5. SOCIEDADES PERSONIFICADAS.................................................................................................................. 238
5.1. Sociedade Simples ............................................................................................................................................... 238
5.2. Sociedade Limitada ............................................................................................................................................. 241
5.3. Sociedade Anônima............................................................................................................................................. 247
5.4. Sociedade em nome coletivo .............................................................................................................................. 262
5.5. Sociedade em comandita simples ....................................................................................................................... 263
5.6. Sociedade em comandita por ações.................................................................................................................... 263
5.7. Sociedade Cooperativa........................................................................................................................................ 264
5.8. Sociedade de capital e indústria.......................................................................................................................... 264
6. OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS ......................................................................................................................... 264
6.1. Transformação .................................................................................................................................................... 264
6.2. Incorporação ....................................................................................................................................................... 265
6.3. Fusão ................................................................................................................................................................... 265
6.4. Cisão .................................................................................................................................................................... 265
6.5. Outras operações entre as sociedades................................................................................................................ 265
7.1. Dissolução, liquidação e extinção das sociedades contratuais ........................................................................... 267
7.2. Dissolução parcial das sociedades contratuais.................................................................................................... 268
7. ARBITRAGEM NOS CONFLITOS SOCIETÁRIOS............................................................................................ 271
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SEMANA 10/18

7.1. Em S/A ................................................................................................................................................................. 271


8. TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (Disregard doctrine) ............................. 271
9. CONCENTRAÇÃO EMPRESARIAL E DEFESA DA LIVRE CONCORRÊNCIA ..................................................... 272
9.1. Livre Iniciativa x Livre Concorrência .................................................................................................................... 272
9.3. Principais atos de concentração empresarial danosos à livre concorrência ....................................................... 272
DIREITO EMPRESARIAL: EMPRESÁRIO........................................................................................................... 274
1. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL ......................................................................................................................... 274
1.1. Impedimentos legais ........................................................................................................................................... 275
1.2. Incapacidade ....................................................................................................................................................... 275
1.3. Empresário Individual casado.............................................................................................................................. 276
2. REGISTRO DO EMPRESÁRIO ...................................................................................................................... 277
2.1. Lei de Registro Público de Empresas Mercantis (Lei 8.934/1994) ...................................................................... 277
2.3. Atos de registro praticados pelas Juntas Comerciais .......................................................................................... 278
2.4. Estrutura organizacional das Juntas Comerciais ................................................................................................. 279
2.5. Processo Decisório nas Juntas Comerciais .......................................................................................................... 279
2.6. Recursos Cabíveis ................................................................................................................................................ 280
2.7. Publicidade dos Atos de Registro ........................................................................................................................ 280
3. ESCRITURAÇÃO DO EMPRESÁRIO.............................................................................................................. 280
3.1. Microempresários e empresários de pequeno porte.......................................................................................... 281
3.2. Sigilo empresarial ................................................................................................................................................ 282
3.3. Eficácia probatória dos livros empresariais......................................................................................................... 282
4. NOME EMPRESARIAL (ART. 1.155, CC E SEGUINTES) ................................................................................ 283
4.1. Espécies de nome empresarial............................................................................................................................ 284
4.2. Nome empresarial das sociedades...................................................................................................................... 285
4.3. Princípios que norteiam a atividade empresarial................................................................................................ 286
5. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL (art. 1.142, CC e seguintes)................................................................ 286
5.1. Natureza Jurídica do estabelecimento empresarial ............................................................................................ 287
5.2. Elementos............................................................................................................................................................ 288
5.2. Contrato de trespasse ......................................................................................................................................... 289
5.3. Sucessão empresarial .......................................................................................................................................... 289
5.4. Cláusula de não concorrência.............................................................................................................................. 289
5.5. Avaliação do estabelecimento empresarial e due diligence ............................................................................... 290
5.6. Proteção do ponto de negócio ............................................................................................................................ 290
5.7. Shopping Center .................................................................................................................................................. 291
5.8. Aviamento e clientela.......................................................................................................................................... 292
6. AUXILIARES E COLABORADORES DO EMPRESÁRIO ................................................................................... 292
6.1. Prepostos do empresário .................................................................................................................................... 292
6.2. Contabilista.......................................................................................................................................................... 292
6.3. Gerente................................................................................................................................................................ 292
7. SIMPLES NACIONAL (LEI COMPLEMENTAR Nº 123/2006) ........................................................................ 293
7.1. Conceito .............................................................................................................................................................. 293
7.2. Características (CF, art. 146, parágrafo único) .................................................................................................... 293
7.4. Vedações à opção:............................................................................................................................................... 294
7.5. Exclusão do regime.............................................................................................................................................. 296
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

7.6. Tributos incluídos e não incluídos na sistemática ............................................................................................... 298


7.7. Processo Judicial.................................................................................................................................................. 299
7.8. Regras empresariais de tratamento diferenciado............................................................................................... 299
META 6 REVISÃO SEMANAL........................................................................................................................ 303
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI MARIA DA PENHA ................................................................................... 303
DIREITO PROCESSUAL PENAL: QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTES, SUJEITOS DO PROCESSO,
COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS, EMENDATIO E MUTATIO LIBELI ................................................ 305
DIREITO CIVIL: DIREITO DAS COISAS.............................................................................................................. 307
DIREITO EMPRESARIAL: SOCIEDADES............................................................................................................ 309
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA SEMANA 10


META DIA ASSUNTO
1 SEG LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: Lei Maria da Penha
DIREITO PROCESSUAL PENAL: Questões Prejudiciais e Processos
2 TER Incidentes, Sujeitos do Processo, Comunicação dos Atos Processuais,
Emendatio e Mutatio Libeli
3 QUA DIREITO CIVIL: Das Coisas
4 QUI DIREITO PROCESSUAL CIVIL: Tutela de Urgência
DIREITO EMPRESARIAL: Sociedades
5 SEX
DIREITO EMPRESARIAL: Empresário
6 SÁB/DOM [Revisão Semanal]

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

META 1

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI MARIA DA PENHA

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA


Lei 11.340/06
Lei 14.022/2020
Lei 14.541/2023
Art. 226, §8º, CF/88
Art. 88, Lei 9.099/95 (inaplicabilidade da Lei 9.099/95 à Maria da Penha)

CPP
Art. 312 e 313, III
Art. 322
Art. 581, V

CP
Art. 44, §2º
Art. 45, §1º e 2º
Art. 129, §9º
Art. 138 a 140 (os crimes contra a honra configuram violência moral contra a mulher)
Art. 330

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES NÃO DEIXE DE LER!

Lei 11.340/06
Art. 5º e Art. 7º
Art. 8º, §4º
Art. 9º, §4º a §8º
Art. 10-A (importantíssimo)
Art. 11, 12 e 12-C (importantíssimos)
Art. 14-A
Art. 16 e 17 (importantíssimos)
Art. 18 e 19
Art. 20
Art. 22, VI e VII
Art. 24-A (importantíssimo)

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Art. 38-A
Art. 41

CPP
Art. 312 e 313, III, CPP
Art. 322, CPP

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 600-STJ: Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei nº
11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima.
Súmula 588-STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça
no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos.
Súmula 589-STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados
contra a mulher no âmbito das relações domésticas.
Súmula 536-STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de
delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.
Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra
a mulher é pública incondicionada.

1. FINALIDADES DA NORMA

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, nos termos do §8º do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher,
da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do
Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação
de violência doméstica e familiar.

A Lei Maria da Penha possui natureza multidisciplinar, pois, além do caráter penal material e
procedimental, cria também mecanismos de natureza civil, de proteção à mulher, e trata até mesmo temas
afetos às políticas públicas. Ou seja, cuida-se de diploma direcionado à proteção da mulher frente a diversas
áreas do direito.
São quatro as finalidades da lei:
Prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher;

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SEMANA 10/18

Estabelecimento de medidas de assistência;


Estabelecimento de medidas de proteção;
Criação de Juizados Especiais de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Cuidado! O juizado mencionado, não se confunde com os Juizados Especiais Criminais


criados pela Lei nº 9.099/95. Ademais, o art. 41 da Lei nº 11.340/06, afasta a aplicação da
Lei dos Juizados no caso de aplicação da Lei Maria da Penha.

Os arts. 2° e 3° da Lei nº 11.340/06 enumeram direitos e garantias fundamentais inerentes à pessoa


humana que devem ser assegurados a toda e qualquer mulher, independentemente de classe, raça, etnia,
orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião:

Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual,


renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades
para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento
moral, intelectual e social.
Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos
direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à
moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à
liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
§ 1º O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos
das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de
resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
§ 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições necessárias
para o efetivo exercício dos direitos enunciados no caput.

CAIU EM CONCURSO!
- PCBA/2022
seis artigos e entrou em vigor no ano de 2006. Sobre as disposições que compõem o Título I da referida lei,

a) Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos
do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência
contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção
às mulheres em situação de violência doméstica e familiar

b) Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível
educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe
asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e
seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social

c) Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho,
à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária

d) A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e
conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de
Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e
emergencialmente quando for o caso

e) O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito
das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão

Resposta ência doméstica


não estão contidas no Título I (Disposições Preliminares), mas no Título III (Da Assistência à mulher em
situação de violência doméstica).

2. PREVISÃO CONSTITUCIONAL E IGUALDADE MATERIAL

Art. 226 A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...)
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

A Lei nº 11.340/06 foi criada, não apenas para atender ao disposto no art. 226, §8°, da Constituição
Federal, que considerou ser dever do Estado assegurar a igualdade substancial nas relações domésticas, em
razão da necessidade de proteção específica e da continuada relação de submissão experimentada pelas
mulheres, mas também para dar cumprimento a diversos tratados internacionais ratificados pela República
Federativa do Brasil.
Nesse sentido, é dever do Estado, por meio de prestações positivas (ações afirmativas), extirpar a
desigualdade histórica que existe entre homens e mulheres, construindo uma igualdade para além da
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meramente formal, estabelecida no art.5º, I, da CRFB, ou seja, uma igualdade materialmente perceptível no
âmbito das relações sociais.
Explica o professor Renato Brasileiro (2020):

Com o objetivo de compensar desigualdades históricas entre os gêneros masculino


e feminino, e de modo a estimular a inserção e inclusão desse grupo socialmente
vulnerável nos espaços sociais, promovendo-se, assim, a tão desejada isonomia
constitucional entre homens e mulheres (CF, art. 5°, I), esta Convenção passou a
prever a possibilidade de adoção de ações afirmativas ("discriminação positiva").
Afinal, a promoção da igualdade entre os sexos passa não apenas pelo combate à
discriminação contra a mulher, mas também pela adoção de políticas
compensatórias capazes de acelerar a igualdade de gênero.

Ressalta-se que esses programas de ações afirmativas não se colocam em rota de colisão com o
princípio da igualdade, potencializando, pelo contrário, expectativas compensatórias e de inserção social de
parcelas historicamente marginalizadas. Não violam o princípio da igualdade, pois há uma discriminação
positiva e não negativa.
Inf. 654 do STF - Não há violação do princípio constitucional da igualdade no fato
de a Lei n. 11.340/06 ser voltada apenas à proteção das mulheres.

CAIU EM PROVA DELTA/MG 2021

A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) determina que casos de violência doméstica e intrafamiliar que sejam
tipificados como crime, devem ser apurados através de inquérito policial e remetidos ao Ministério Público.
Nesse sentido, diploma situações de violência doméstica, proíbe a aplicação de penas pecuniárias aos
agressores, amplia a pena aplicável, dentre outras medidas de tutela das mulheres em situação de violência,
assim como de seus dependentes. Sobre a Lei Maria da Penha, é CORRETO afirmar:

A) É considerado constitucional o tratamento diferenciado entre os gêneros mulher e homem , no que diz
respeito à necessária proteção ante as peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira.
-se à união entre homem
e mulher, celebrada pelo casamento civil.
C) Sob a perspectiva de uma interpretação conforme a Constituição, sem redução de texto, a Lei Maria da
Penha pode ser considerada adequada ao modelo constitucional, se a proteção por ela trazida destinar-se,
igualmente, aos homens do núcleo familiar.
D) Trata-se de legislação inconstitucional, uma vez que trata com distinção as mulheres, colocando-as em
situação privilegiada perante os homens.

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Gabarito: letra A

3. INTERPRETAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA

Art. 4º - Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se
destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de
violência doméstica e familiar.

Cuida o dispositivo da famigerada interpretação teleológica , aquela que parte das finalidades da
norma.
Segundo o art. 4º, a interpretação da Lei deve levar em conta os fins sociais a que se destina, ou seja,
deve tutelar a mulher que se encontra em uma situação de vulnerabilidade no âmbito de uma relação
doméstica, familiar ou íntima de afeto.

4. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

O conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher é extraído do art. 5º, conjugado com o
art. 7º, ambos da Lei 11.340/06.

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei
complementar nº 150, de 2015)
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de
orientação sexual.

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade
ou saúde corporal;

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II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir
e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018)
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria.

De forma genérica, são exigidos três requisitos para a configuração de violência doméstica:

1) A vítima deve ser mulher. (Aqui é importante ser cuidadoso, uma vez que há jurisprudência do
STJ reconhecendo o direito de transexuais à alteração do registro civil, mesmo sem realizar a
cirurgia de redesignação sexual, logo a este seria extensível a proteção da Lei Maria da penha.)

2) Deve ocorrer uma das hipóteses do artigo 5º da referida lei:


2.1. A violência deve ter ocorrido âmbito da unidade doméstica, compreendida como o
espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive
as esporadicamente agregadas;
2.2. No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos
que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou
por vontade expressa
2.3. Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a ofendida, independentemente de coabitação.

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Atenção à súmula 600 do STJ, segundo a qual a configuração da violência familiar não exige a
coabitação entre autor e vítima. Tal entendimento visa estender o grau de proteção da norma de modo a
abarcar um conjunto de relações fluídas, percebidas em grande parte na sociedade brasileira.

Súmula 600 do STJ: Para configuração da violência doméstica e familiar prevista


no artigo 5º da lei 11.340/2006, lei Maria da Penha, não se exige a coabitação entre

3) Produção de forma de violência prevista nos incisos do art. 7º, Lei 11.340/06:
a. Violência física
b. Violência patrimonial
c. Violência sexual
d. Violência moral
e. Violência psicológica

Obs.: A Lei nº 13.772/2018 promoveu uma pequena mudança na Lei nº 11.340/2006 para deixar expresso
que a violação da intimidade da mulher é uma forma de violência doméstica, classificada como violência
psicológica.

CESPE/2021 - Os casos conhecidos como revanche pornô divulgação de fotos íntimas como forma de
vingança são contemplados como violência moral na Lei Maria da Penha. ITEM INCORRETO. Trata-se de
uma espécie de violência psicológica contra a mulher.

Considerações importantes:
(1) Não há necessidade de habitualidade. O art. 5º, caput refere-se apenas à ação ou omissão.
(2) É indispensável que ocorra uma violência de gênero, tal qual expresso no caput do art.5º. Ausente
esta violência de gênero, não se aplica a Lei Maria da Penha. Segundo Renato Brasileiro:

indiscriminada a toda e qualquer mulher, mas apenas àquelas que efetivamente se


encontrarem em uma situação de vulnerabilidade em razão de gênero. É
indispensável, portanto, que a vítima esteja em uma situação de hipossuficiência
física ou econômica, enfim, que a infração tenha como motivação a opressão à

(3) Para o STJ há presunção legal da hipossuficiência da mulher vítima de violência doméstica:

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Apesar de haver decisões em sentido contrário, prevalece o entendimento de que


a hipossuficiência e a vulnerabilidade, necessárias à caracterização da violência
doméstica e familiar contra a mulher, são presumidas pela Lei nº 11.340/2006. A
mulher possui na Lei Maria da Penha uma proteção decorrente de direito
convencional de proteção ao gênero (tratados internacionais), que o Brasil
incorporou em seu ordenamento, proteção essa que não depende da
demonstração de concreta fragilidade, física, emocional ou financeira. Ex:
agressão feita por um homem contra a sua namorada, uma Procuradora da AGU,
que possuía autonomia financeira e ganhava mais que ele. STJ. 5ª Turma. AgRg no
AREsp 620.058/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/03/2017. STJ. 6ª Turma.
AgRg nos EDcl no REsp 1720536/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
04/09/2018. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 92.825, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca; Julg. 21/08/2018.

O fato de a vítima ser figura pública renomada não afasta a competência do Juizado
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para processar e julgar o delito.
Isso porque a situação de vulnerabilidade e de hipossuficiência da mulher,
envolvida em relacionamento íntimo de afeto, revela-se ipso facto, sendo
irrelevante a sua condição pessoal para a aplicação da Lei Maria da Penha. Trata-se
de uma presunção da Lei. STJ. 5ª Turma. REsp 1416580-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 1º/4/2014 (Info 539).

APROFUNDANDO PARA AS PROVAS DISCURSIVAS...


Em provas subjetivas, além de apresentar o entendimento do STJ, é importante demonstrar conhecimento
acerca dos entendimentos doutrinários sobre o tema. Para parte da doutrina, somente haveria presunção
absoluta de vulnerabilidade da mulher quando o sujeito ativo fosse homem. Em sendo uma mulher, essa
presunção de vulnerabilidade deveria ser relativa, a ser demonstrada no caso concreto. Confira a explicação
do professor Renato Brasileiro:
mo se afastar a aplicação da Lei Maria da Penha às hipóteses de violência doméstica
e familiar perpetrada por um homem contra a mulher. Nesse caso, parece haver verdadeira presunção
absoluta de vulnerabilidade. Em tais situações, a desigualdade entre os gêneros feminino e masculino que
justifica o tratamento desigual contemplado pela Lei Maria da Penha pode ser facilmente constatada, seja
pela maior força física do homem, seja pela posição de superioridade que geralmente ocupa no seio familiar
e social. Todavia, quando esta mesma violência é perpetrada por uma mulher contra outra no seio de uma
relação doméstica, familiar ou íntima de afeto, não há falar em presunção absoluta de vulnerabilidade do
gênero feminino. Cuida-se, na verdade, de presunção relativa. A título de exemplo, possamos pensar numa
violência física praticada por uma irmã contra a outra. Como o sujeito ativo de tal crime não se apresenta
supostamente mais forte, ameaçador e dominante que a vítima, não há nenhum critério razoável capaz de
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justificar a aplicação dos ditames gravosos da Lei nº 11.340/06. Afinal, o objetivo da Lei Maria da Penha não
foi o de conferir uma proteção indiscriminada a toda e qualquer mulher, mas apenas àquelas que
efetivamente se encontrarem em uma situação de vulnerab

5. SUJEITO PASSIVO

Exclusivamente a mulher (violência de gênero), independentemente da orientação sexual, sendo


perfeitamente possível que o agressor e a vítima sejam do sexo feminino (art.5º, p.ú., Lei nº 11.340/06).
Ensina o Professor Renato Brasileiro de Lima:

necessário que a violência seja perpetrada por pessoas de sexos distintos. O


agressor tanto pode ser um homem (união heterossexual) como outra mulher
(uni

Ademais, é irrelevante a idade da vítima. De acordo com Renato Brasileiro


(...) A Lei n. 11.340/2006 nada mais objetiva do que proteger vítimas, contra quem
os abusos aconteceram no ambiente doméstico e decorreram da distorção sobre a
relação familiar decorrente do pátrio poder, em que se pressupõe intimidade de
afeto, além do fato essencial de ela ser mulher (de qualquer idade), elementos
suficientes para atrair a competência da vara especializada em violência doméstica.
A prevalecer o entendimento em sentido contrário, crianças e adolescentes vítimas
de violência doméstica -segmento especial e prioritariamente protegido pela
Constituição da República (art. 227) - passariam a ter um âmbito de proteção
menos efetivo do que mulheres adultas. (Legislação Criminal Especial Comentada,
pg. 1275).

Ressalta-se que, para a doutrina majoritária e os Tribunais Superiores, é possível que os transgêneros
e transexuais sejam vítimas no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher.

APROFUNDANDO PARA PROVAS DISCURSIVAS...


Aplica-se a Lei Maria da Penha aos transexuais?
Há duas correntes sobre o tema.
1ª Corrente: não seria possível, pois seria uma analogia in malan partem.
2ª Corrente: É possível conferir a proteção da Lei Maria da Penha, mesmo sem realizar a cirurgia de
transgenitalização. A Lei Maria da Penha não distingue orientação sexual e identidade de gênero das vítimas
mulheres. O fato de a ofendida ser transexual feminina não afasta a proteção legal, tampouco a competência
do Juizado de Violência Doméstica e Familiar. Nesse sentido posicionou-se o STJ:

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RECURSO ESPECIAL. MULHER TRANS. VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. APLICAÇÃO DA LEI N. 11.340/2006,
LEI MARIA DA PENHA. CRITÉRIO EXCLUSIVAMENTE BIOLÓGICO. AFASTAMENTO. DISTINÇÃO ENTRE SEXO E
GÊNERO. IDENTIDADE. VIOLÊNCIA NO AMBIENTE DOMÉSTICO. RELAÇÃO DE PODER E MODUS OPERANDI.
ALCANCE TELEOLÓGICO DA LEI. MEDIDAS PROTETIVAS. NECESSIDADE. RECURSO PROVIDO.
1. A aplicação da Lei Maria da Penha não reclama considerações sobre a motivação da conduta do agressor,
mas tão somente que a vítima seja mulher e que a violência seja cometida em ambiente doméstico, familiar
ou em relação de intimidade ou afeto entre agressor e agredida.
3. A vulnerabilidade de uma categoria de seres humanos não pode ser resumida tão somente à objetividade
de uma ciência exata. As existências e as relações humanas são complexas e o Direito não se deve alicerçar
em argumentos simplistas e reducionistas.
4. Para alicerçar a discussão referente à aplicação do art. 5º da Lei Maria da Penha à espécie, necessária é a
diferenciação entre os conceitos de gênero e sexo, assim como breves noções de termos transexuais,
transgêneros, cisgêneros e travestis, com a compreensão voltada para a inclusão dessas categorias no abrigo
da Lei em comento, tendo em vista a relação dessas minorias com a lógica da violência doméstica contra a
mulher.
5. A balizada doutrina sobre o tema leva à conclusão de que as relações de gênero podem ser estudadas
com base nas identidades feminina e masculina. Gênero é questão cultural, social, e significa interações
entre homens e mulheres. Uma análise de gênero pode se limitar a descrever essas dinâmicas. O
feminismo vai além, ao mostrar que essas relações são de poder e que produzem injustiça no contexto do
patriarcado. Por outro lado, sexo refere-se às características biológicas dos aparelhos reprodutores
feminino e masculino, bem como o seu funcionamento, de modo que o conceito de sexo, como visto, não
define a identidade de gênero. Em uma perspectiva não meramente biológica, portanto, mulher trans
mulher é.
STJ, REsp 1.977.124/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, DJE 22/04/2022).

Atenção: O homem pode ser vítima de violência doméstica e familiar, porém sem a possibilidade de
aplicação da Lei Maria da Penha. Isso porque a Lei Maria da Penha exige uma qualidade especial, qual seja,
ser mulher.
Se a violência doméstica sofrida pelo sujeito do sexo masculino qualificar o crime de lesão corporal,
aplica-se art.129, §9º, do CP.
Não se aplica a Lei Maria da Penha. O sujeito passivo (vítima) não pode ser do sexo
masculino. STJ. 5ª Turma. RHC 51481/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
21/10/2014.

Lesão corporal contra irmão configura o § 9º do art. 129 do CP não importando


onde a agressão tenha ocorrido. Não é inepta a denúncia que se fundamenta no
art. 129, § 9º, do CP lesão corporal leve , qualificada pela violência doméstica,
tão somente em razão de o crime não ter ocorrido no ambiente familiar. Ex: João
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agrediu fisicamente seu irmão na sede da empresa onde trabalham, causando-lhe


lesão corporal leve. O agente deverá responder pelo art. 129, § 9º do CP. Sendo a
lesão corporal praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou
companheiro, deverá incidir a qualificadora do § 9º não importando onde a
agressão tenha ocorrido. STJ. 5ª Turma. RHC 50026-PA, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, julgado em 3/8/2017 (Info 609)

No tocante à possibilidade de aplicação das medidas protetivas de urgência a vítimas homens, em


que pese homem vítima de violência doméstica não poder figurar como sujeito passivo da Lei Maria da
Penha, bem como o art. 22 da lei protetiva fazer referência à adoção de tais medidas apenas quando
constatada violência contra a mulher, diante da nova redação conferida no art. 313, inciso III, do CPP (pela
Lei n°12.403/2011) há parcela da doutrina que admite a aplicação de medidas protetivas de urgência à vítima
do sexo masculino, pois a expressão textual é de que tais medidas também podem ser concedidas de modo
a coibir a violência doméstica e familiar contra a criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência (LIMA, Renato Brasileiro. Legislação Criminal Especial Comentada, pg. 1301).
Nesse sentido:

Aqui reside uma aparente contradição entre a Lei Maria da Penha e o inciso III do
art. 313 do CPP, com redação dada pela Lei n° 12.403/11. As medidas protetivas de
urgência a que se refere o inciso III estão previstas na Lei Maria da Penha (Lei n°
11.340/06), a qual dispõe apenas sobre violência doméstica e familiar contra a
mulher. Como, então, explicar-se o teor do inciso III do art. 313 do CPP, que faz
menção à garantia da execução dessas medidas protetivas de urgência quando o
crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência?
Na verdade, mesmo antes do advento da Lei n° 12.403/11, apesar de a Lei
11.340/2006 ter por objeto apenas a violência doméstica e familiar contra a mulher,
as medidas protetivas nela previstas já vinham sendo utilizadas por meio de
analogia em toda e qualquer hipótese de violência de gênero, ou seja, desde que
presente situação de hipossuficiência física e/ou econômica. Assim, mesmo que a
violência doméstica e familiar fosse praticada, por exemplo, contra uma criança do
sexo masculino, tais medidas protetivas de urgência já vinham sendo aplicadas
cautelarmente, seja por meio de analogia, seja com fundamento no poder geral de
cautela. Daí porquê do inciso III do art. 313 do CPP ter acrescentado a violência
doméstica e familiar contra crianças, adolescentes, idosos, enfermos ou pessoas
com deficiência, já que também se afigura possível a adoção das medidas protetivas
de urgência listadas na Lei Maria da Penha em face dessas situações de

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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vulnerabilidade. (LIMA, Renato Brasileiro. Legislação Criminal Especial Comentada,


pg. 1311).
Note que, por exemplo, inobstante o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do idoso,
preverem medidas de natureza cautelar a favor das vítimas, essas não possuem a mesma eficácia das
Medidas Protetivas, pois seu descumprimento não acarreta sanções ao agressor, bem como o ECA determina
o acolhimento da vítima, quando a medidas recomendada seria o afastamento do agressor tal como previsto
pela Lei Maria da Penha. Desta forma, tendo em vista a vulnerabilidade da criança, do adolescente e do idoso,
do gênero masculino, vítima de crime de violência doméstica, é possível a aplicação subsidiária das medidas
protetivas de urgência aos mesmos.
Contudo, outra parte da doutrina aponta que, em se tratando de vítima do sexo masculino,
inaplicável a Lei Maria da Penha, podendo a vítima requerer a decretação de medidas cautelares diversas da
prisão, especialmente aquelas arroladas nos incisos II e III do art. 319 do Código de Processo Penal.
Atenção: ATUALMENTE NO TOCANTE À CRIANÇA E ADOLESCENTE, HÁ A LEI LEI Nº 14.344, DE 24 DE
MAIO DE 2022 que cria mecanismos para a prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e familiar
contra a criança e o adolescente e dispõe no art. 20 e seguintes a possibilidade de aplicação de medidas
protetivas de urgência.

CAIU EM CONCURSO!
PCES/2022 Delegado de Polícia: Está fora do âmbito de proteção da Lei nº 11.340/2006,
que trata da violência doméstica contra a mulher,
(d) a mulher agredida dentro do ambiente laboral por colega de trabalho do sexo masculino com quem nunca
teve relação íntima ou de afeto.

DICA DD: De acordo com o STJ, a proteção e os a vítima do sexo masculino poderá requerer a decretação de
medidas cautelares diversas da prisão, especialmente aquelas arroladas nos incisos II e III do art. 319 do
Código de Processo Penal.
Os benefícios previstos pela Lei Maria da Penha devem ser garantidos no âmbito da relação empregatícia da
mulher que presta serviços domésticos em residências de família, sendo desnecessária coabitação. Fonte:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/07122020-Relator-afasta-exigencia-
de-coabitacao-e-aplica-Lei-Maria-da-Penha-em-crime-cometido-contra-empregada-pelo-neto.aspx

6. SUJEITO ATIVO

Pode ser tanto o homem quanto a mulher (art. 5º, parágrafo único, Lei 11.340/06).
Logo, a violência doméstica baseada em razão de gênero havida entre companheiras se submete à
Lei Maria da Penha, não sendo o fato de se tratar de relação homoafetiva suficiente para afastar sua
aplicação. Também é possível que em um conflito percebido mãe e filha, irmãs, ou mesmo sogra e nota esteja
sujeito à aplicação da Lei 11.340/06.
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Violência praticada por filha contra a mãe


Aplica-se a Lei Maria da Penha. O agressor também pode ser mulher. STJ. 5ª Turma.
HC 277561/AL, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/11/2014.

Constatada situação de vulnerabilidade, aplica-se a Lei Maria da Penha no caso


de violência do neto praticada contra a avó
A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar
que, cometida no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação
íntima de afeto, cause-lhe morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico, e
dano moral ou patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito de violência
doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as
companheiras ou amantes, bem como a mãe, as filhas, as netas do agressor e
também a sogra, a avó ou qualquer outra parente que mantém vínculo familiar ou
afetivo com ele. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1626825-GO, Rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Vamos esquematizar?

SUJEITO ATIVO SUJEITO PASSIVO

Homem ou mulher; Há exigência de uma qualidade especial: ser mulher.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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7. ELEMENTO SUBJETIVO

Para a doutrina amplamente majoritária: apenas crimes dolosos podem atrair a aplicação da Lei
Maria da Penha.
Deve-se frisar que, no que tange à modalidade de culpa consciente, aplica-se a incidência da Lei nº
11.340/06. Isso porque, na culpa consciente, existe vontade e nítido liame subjetivo entre o agente e o
resultado, na medida em que o sujeito reconhece que ultrapassa os limites do risco autorizado, ou seja, ele
tem ciência de que está lesando um dever de cuidado por meio de sua conduta. Isso é: Quando atua com
culpa consciente, o agente prevê a ocorrência do resultado penalmente relevante, em que pese acreditar,
firmemente, que não irá se verificar.
Já no tocante à culpa inconsciente, a doutrina entende não ser possível aplicar a Lei Maria da Penha
para os crimes culposos (nos casos em que a culpa é inconsciente, o agente não possui conhecimento de que
infringe um dever de cuidado, tampouco prevê a ocorrência do resultado danoso, razão pela qual sua
ação/omissão não poderá ter qualquer base no gênero, implicando o afastamento do artigo 5º da Lei Maria
da Penha.)
Vejamos o julgamento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, assim ementado:

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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Ementa: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. DESCLASSIFICAÇÃO PARA LESÃO


CORPORAL CULPOSA. ART. 129, § 6º, DO CÓDIGO PENAL. NÃO INCIDÊNCIA DA LEI
MARIA DA PENHA. CONFLITO PROCEDENTE. Já que houve a desclassificação para o
delito de lesão corporal culposa, impõe-se a procedência do conflito, fixando a
competência do juízo da 1ª Vara Judicial da Comarca de Estrela para o
processamento do inquérito policial e de eventual ação penal. CONFLITO DE
COMPETÊNCIA PROCEDENTE. (Conflito de Jurisdição Nº 70051245728, Segunda
Câmara, Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lizete Andreis Sebben, Julgado
em 08/11/2012).

Cuidado! Apesar de o Supremo não ter enfrentado diretamente a questão por ocasião do julgamento
da ADI 4.424/DF (Rei. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/ 2012), o Plenário do Supremo concluiu que o crime de
lesão corporal praticada contra a mulher em âmbito doméstico será de ação penal pública incondicionada,
mesmo que de natureza leve ou culposa. Logo, por via oblíqua as infrações penais culposas também se
sujeitam à incidência da Lei Maria da Penha. O mesmo se aplica no caso da contravenção penal de vias de
fato:

Em caso de vias de fato, se praticada em contexto de violência doméstica ou


familiar, não há falar em necessidade de representação da vítima para a
persecução penal. STJ, AgRg no HC 713415, j. em 22/02/2022.

8. HIPÓTESES DE CONFIGURAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

A ação ou omissão da qual resulta a violência doméstica não precisa ser necessariamente uma
infração penal, ações que não são típicas, ou são praticadas no bojo de alguma excludente de ilicitude ou
culpabilidade, podem ser consideradas violência doméstica, mesmo não sendo punidas criminalmente.

I - No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas,


com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

A lei é clara no sentido de que não se exige o vínculo familiar para a caracterização do âmbito de
unidade doméstica, sendo necessário apenas que o espaço seja de convivência permanente incluindo-se as
pessoas agregadas esporadicamente.

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SEMANA 10/18

Nesse sentido, é possível aplicar a Lei Maria da Penha em relações de amigos que moram juntos, ou,
ainda, em violência perpetrada contra empregada doméstica, desde que presentes os demais requisitos,
sobretudo a situação de vulnerabilidade.

II - No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

Nesta hipótese, sim, o determinante é a existência de vínculo familiar, de origem biológica ou não. A
violência não precisa ser praticada no âmbito da unidade doméstica, podendo ocorrer dentro ou fora do
espaço habitado pelos familiares.
Lembrando que não basta a relação de parentesco, sendo imprescindível a presença dos requisitos:
motivação de gênero e situação de vulnerabilidade.

Obs.: Vínculo de natureza familiar é jurídico. Logo, pode ser um vínculo conjugal, vínculo de parentesco ou
um vínculo por vontade expressa (adoção).

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.

A Lei nº 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, em seu art. 5.º, inc. III, caracteriza como
violência doméstica aquela em que o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação (STJ, CC 100654).
Contudo, necessário se faz salientar que a aplicabilidade da mencionada legislação a relações
íntimas de afeto como o namoro deve ser analisada em face do caso concreto. Não se pode ampliar o termo
- relação íntima de afeto - para abarcar um relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. Em miúdos, o

que não tem efetiva conexão afetiva.

ESFAVOR DE EX-
NAMORADA. (...) a aplicabilidade da mencionada legislação a relações íntimas de
afeto como o namoro deve ser analisada em face do caso concreto. Não se pode
ampliar o termo - relação íntima de afeto - para abarcar um relacionamento
passageiro, fugaz ou esporádico. In casu, verifica-se nexo de causalidade entre a
conduta criminosa e a relação de intimidade existente entre agressor e vítima, que
estaria sendo ameaçada de morte após romper namoro de quase dois anos,
situação apta a atrair a incid
100.654/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 13/05/2009).

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Violência praticada por companheiro da mãe ("padrasto") contra a enteada. Aplica-


se a Lei Maria da Penha. Obs.: a agressão foi motivada por discussão envolvendo o
relacionamento amoroso que o agressor possuía com a mãe da vítima (relação
íntima de afeto). STJ. 5ª Turma. RHC 42092/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
25/03/2014.

situação de violência praticada contra a mulher, em contexto caracterizado por


relação de poder e submissão, praticada por homem ou mulher sobre mulher em
situação de vulnerabilidade. Precedentes. No caso não se revela a presença dos
requisitos cumulativos para a incidência da Lei nº 11.340/06, a relação íntima de
afeto, a motivação de gênero e a situação de vulnerabilidade. Concessão da
ordem. Ordem não conhecida. Habeas corpus concedido de ofício, para declarar
competente para processar e julgar o feito o Juizado Especial Criminal da Comarca
ª Turma, HC 175.816/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Belizze,
j. 20/06/2013, DJe 28/06/2013).

Vamos esquematizar?

ÂMBITO DA UNIDADE ÂMBITO DA FAMÍLIA. QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE


DOMÉSTICA AFETO

Espaço de convívio permanente Indivíduos que são ou se Em qualquer relação íntima de


de pessoas, COM OU SEM consideram aparentados, afeto, na qual o agressor conviva
VÍNCULO FAMILIAR, inclusive as unidos por laços naturais, por ou tenha convivido com a
esporadicamente agregadas. afinidade ou por vontade ofendida, INDEPENDENTEMENTE
expressa DE COABITAÇÃO.
Não se exige o vínculo familiar. Aqui importam os laços, pouco Aqui, o importante é que haja um
Leva em conta apenas o aspecto importando o lugar, pouco relacionamento entre duas
espacial. importando se há coabitação. pessoas, seja baseado na amizade
ou em qualquer outro
sentimento, desde que não seja
uma relação passageira.

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DICA DD: foi editada a lei 14.550/2023 que altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 e garante
que a Lei Maria da Penha seja aplicada em todos os casos de violência doméstica e familiar

Note que o art. 40-A determina que a Lei será aplicada a todas as situações previstas no seu art. 5º
(Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial).
Conclui-se, portanto, que a lei continuou, acertadamente, delimitando a aplicação nas hipóteses de
violência de gênero definidas pelo art. 5°.

9. FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

O conceito de violência doméstica e familiar é divorciado do conceito de violência existente na esfera

a violência física, a violência psicológica, a violência sexual, a violência patrimonial e a violência moral.
As violências, como já exposto anteriormente, devem ser praticadas a título de dolo. Lembrando que
há entendimento admitindo também na prática do crime culposo consciente.
Note que o art. 7° faz uso da expressão "entre outras", portanto não se trata de um rol taxativo,
mas sim exemplificativo. Logo, é perfeitamente possível o reconhecimento de outras formas de violência
doméstica e familiar contra a mulher. Tem-se aí verdadeira hipótese de interpretação analógica.

Violência física Entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal
Violência psicológica a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuição da autoestima, lhe prejudique o pleno desenvolvimento, ou que
vise degradar ou controlar suas ações de maneira geral
Lei 13.772/2018: acrescenta um novo crime ao Código Penal - Crime de registro não
autorizado da intimidade sexual (art. 216-B).1
Promoveu ainda uma pequena mudança na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) para
deixar expresso que a violação da intimidade da mulher é uma forma de violência
doméstica, classificada como violência psicológica.

Violência sexual- entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou
a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao

1
https://www.dizerodireito.com.br/2018/12/lei-137722018-crime-de-registro-nao.html

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aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite


ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

Violência patrimonial - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades

APROFUNDANDO PARA PROVAS DISCURSIVAS


Há divergência doutrinária se há a aplicação das escusas absolutórias, das imunidades absoluta e relativa
previstas no CP nos casos de violência patrimonial no âmbito doméstico e familiar.
1ª posição Maria Berenice Dias: NÃO. Defendem a inaplicabilidade das escusas absolutórias por ser uma
medida de política criminal incompatível com a mens legis da Lei Maria da Penha. Permitir a incidência das
imunidades é enfraquecer a proteção (que deveria ser mais intensa) à mulher vítima de violência patrimonial
no seio das relações domésticas, familiares e íntimas de afeto.
2ª posição- Nucci e Renato Brasileiro: SIM. Diante do silêncio da Lei, o ideal é concluir pela aplicação das
escusas absolutórias no caso de crimes patrimoniais perpetrados no contexto da violência doméstica e
familiar contra a mulher. Estender a vedação expressa presente no estatuto do idoso constitui verdadeira
analogia in malam partem, colocando-se em rota de colisão com o princípio da legalidade.

Violência moral - entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou
injúria.

Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte alternativa: A violência moral, entendida como
qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria, é uma das formas de violência doméstica e
familiar contra a mulher, estabelecida na Lei n. 11.340/2006

Logo, é importante perceber que as agressões da qual a lei protege não são necessariamente físicas,
podendo ser objeto do procedimento previsto na Lei 11.340 atos de disposição ilegítima de patrimônio e
crimes contra a honra, caso presentes das hipóteses já estudadas no art. 5°.

10. FORMAS DE PREVENÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA

Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais,
tendo por diretrizes:

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I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da


Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde,
educação, trabalho e habitação;
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações
relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas,
às consequências e à frequência da violência doméstica e familiar contra a mulher,
para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação
periódica dos resultados das medidas adotadas;
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da
pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou
exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso
III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;

O MP tem instaurado ACPs contra programas de TV que violam este dispositivo.

IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em


particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher;
V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência
doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em
geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos
das mulheres;
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos
de promoção de parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades
não-governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de
erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher;
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal,
do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas
enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;
VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de
irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de
raça ou etnia;
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os
conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de raça ou etnia
e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

Merece destaque o inciso IV, que trata da implementação de Delegacias especializadas no


atendimento à mulher vítima de violência doméstica e familiar. Em alguns locais chamada de Deam. A vítima

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deve ser encaminhada a esta Delegacia especializada para que lá seja adequadamente atendida e para que
lá sejam tomadas todas as providências em relação a essa espécie de delito.

DICA DD: foi editada a Lei nº 14.541/2023, dispondo sobre a criação e funcionamento ininterrupto
de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deam).
De acordo com o referido diploma, além das funções de atendimento policial especializado para as
mulheres e de polícia judiciária, o Poder Público deverá prestar, por meio da Deam, e mediante convênio
com a Defensoria Pública, os órgãos do Sistema Único de Assistência Social e os Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher ou varas criminais competentes, a assistência psicológica e jurídica à
mulher vítima de violência (art. 2º).
A Lei ainda estabelece que a finalidade da Deam é atender todas as mulheres vítimas de violência
doméstica e familiar, crimes contra a dignidade sexual e feminicídios.
A Deam deverá funcionar ininterruptamente, inclusive em feriados. Além disso, as mulheres deverão
ser atendidas em sala reservada e, preferencialmente, por policiais do sexo feminino. Destaca-se, ainda, que
os policiais encarregados de atendimento às vítimas deverão receber treinamento adequado visando o
acolhimento das vítimas de maneira eficaz e humana.
Nos municípios onde não houver Deam, a delegacia existente deverá atuar de forma a priorizar o
atendimento da mulher vítima de violência por agente feminina especializada.
Por fim, a Deam deverá disponibilizar número de telefone ou outro mensageiro eletrônico destinado
ao acionamento imediato da polícia em casos de violência contra a mulher.

11. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA FAMILIAR

Art. 9° A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será


prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na
Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de
Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e
emergencialmente quando for o caso.

§ 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de


violência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais do governo
federal, estadual e municipal.
§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para
preservar sua integridade física e psicológica:
I - Acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da
administração direta ou indireta;
II - Manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local
de trabalho, por até seis meses.
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III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para


eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de
casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente. (Incluído
pela Lei nº 13.894, de 2019)
§ 3º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar
compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico
e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia
das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos
de violência sexual.

§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou
psicológica e dano moral ou patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos
os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo
com a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total
tratamento das vítimas em situação de violência doméstica e familiar, recolhidos
os recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do ente federado responsável
pelas unidades de saúde que prestarem os serviços. (Vide Lei nº 13.871, de
2019) (Vigência)

§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo iminente e


disponibilizados para o monitoramento das vítimas de violência doméstica ou
familiar amparadas por medidas protetivas terão seus custos ressarcidos pelo
agressor. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência)

§ 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá importar


ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes, nem
configurar atenuante ou ensejar possibilidade de substituição da pena
aplicada. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência)

§ 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar tem prioridade para


matricular seus dependentes em instituição de educação básica mais próxima de
seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos
documentos comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do processo de
violência doméstica e familiar em curso. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)

§ 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependentes matriculados ou


transferidos conforme o disposto no §4º** deste artigo, e o acesso às informações
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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será reservado ao juiz, ao Ministério Público e aos órgãos competentes do poder


público. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019)

**Obs.: o §8º faz referência ao §4º porque o projeto de lei que o


inseriu transitou de forma concomitante ao projeto de lei que
alterou os §§4º, 5º e 6º (Lei 13.871/2019), não havendo um ajuste
na numeração dos parágrafos. Onde se lê §4º, devemos ler §7º.

Ao tratar sobre a assistência à mulher em condição de violência doméstica o legislador possibilitou a


decretação judicial de diversas ações e programas de auxílio por prazo determinado para a vítima, dentre as
quais:
Possibilidade de remoção prioritária da servidora pública, integrante da administração direta e
indireta.
Manutenção do vínculo trabalhista pelo prazo de até seis meses quando necessário o afastamento
da vítima de seu local de trabalho.
Obs.: Segundo o STJ, o INSS deverá arcar com a subsistência das mulheres que precisaram se afastar
do trabalho para se proteger de violência doméstica. Para o colegiado, tais situações ofendem a integridade
-

A medida de afastamento do local de trabalho, prevista no art. 9º, § 2º, da Lei é


de competência do Juiz da Vara de Violência Doméstica, sendo caso de
interrupção do contrato de trabalho, devendo a empresa arcar com os 15
primeiros dias e o INSS com o restante
O art. 9º, § 2º da Lei Maria da Penha prevê que: O juiz assegurará à mulher em
situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e
psicológica, manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento
do local de trabalho, por até seis meses. A competência para determinar essa
medida é do Juiz da Vara de Violência Doméstica ou do Juiz do Trabalho? Juiz da
Vara de Violência Doméstica. O juiz da vara especializada em Violência Doméstica
(ou, caso não haja na localidade, o juízo criminal) tem competência para apreciar
pedido de imposição de medida protetiva de manutenção de vínculo trabalhista,
por até seis meses, em razão de afastamento do trabalho de ofendida decorrente
de violência doméstica e familiar. Isso porque o motivo do afastamento não advém
da relação de trabalho, mas sim da situação emergencial que visa garantir a
integridade física, psicológica e patrimonial da mulher. Qual é a natureza jurídica
desse afastamento? Sobre quem recai o ônus do pagamento? A natureza jurídica
do afastamento por até seis meses em razão de violência doméstica e familiar é de

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interrupção do contrato de trabalho, incidindo, analogicamente, o auxílio-doença,


devendo a empresa se responsabilizar pelo pagamento dos quinze primeiros dias,
ficando o restante do período a cargo do INSS. STJ. 6ª Turma. REsp 1757775-SP, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/08/2019 (Info 655).

Encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para eventual ajuizamento
da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união
estável perante o juízo competente.

A Lei nº 13.894/2019 acrescentou um novo inciso ao § 2º do art. 9º prevendo que, se a vítima e o agressor
forem casados ou viverem em união estável, a mulher deverá ser encaminhada à assistência judiciária
para que possa ter a oportunidade de, assim desejando, desvincular-se formalmente do
marido/companheiro agressor por meio da ação judicial própria.

Atenção aos parágrafos 4º ao 8º:


O autor de violência doméstica praticada contra mulher terá que ressarcir os custos relacionados
com os serviços de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às vítimas de violência doméstica
e familiar e com os dispositivos de segurança utilizados pelas vítimas para evitar nova violência.

A Lei nº 13.894/2019 acrescentou o § 4º e §5º e 6º do art. 9º prevendo que o autor de violência doméstica
praticada contra mulher terá que ressarcir os custos relacionados com:

familiar: Quando se fala em ressarcir todos os danos causados, isso significa que o agressor tem o dever,
inclusive, de pagar ao Sistema Único de Saúde (SUS) as despesas que foram realizadas com os serviços de
saúde prestados para o total tratamento da vítima em situação de violência doméstica e familiar. Ex: custos
com cirurgia, com medicamentos, com atendimento de psicóloga etc. Assim, mesmo o SUS sendo um
serviço oferecido gratuitamente à população, o agressor tem o dever de ressarcir os gastos que o poder
público teve com isso.

como por exemplo:


2
; tornozeleira eletrônica com dispositivo de aproximação que fica com a mulher.

Observações importantes sobre o ressarcimento previsto no §6º:

2
http://www.tjes.jus.br/botao-do-panico-dispositivo-de-seguranca-que-ajuda-a-proteger-mulheres-vitimas-de-violencia-
domestica-completa-6-anos/

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SEMANA 10/18

- O ressarcimento não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus
dependentes;
- O fato de o agressor ter feito o ressarcimento não configura atenuante (art. 65, III, b, CP);
- O ressarcimento não enseja possibilidade de substituição da pena aplicada (art. 17 desta lei e Súmula 588
STJ).

CESPE/2021 - Acerca do enfrentamento ao preconceito e da promoção da igualdade, julgue o próximo item.


O ressarcimento de custos pelo agressor, conforme previsto na Lei Maria da Penha, não pode resultar em
ônus ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes. (CORRETO).

Prioridade para matricular seus dependentes em instituição de educação básica mais próxima de
seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos
comprobatórios do registro da ocorrência policial.

A Lei nº 13.882/2019 amplia esse rol de assistência e prevê que a mulher vítima da violência doméstica terá
prioridade para matricular ou para transferir seus filhos ou outros dependentes para escolas próximas de seu
domicílio. E se não houver vaga na escola próxima, ainda assim, o dependente da vítima terá direito de ser
matriculado como um excedente, ou seja, mesmo fora do número de vagas. É nesse sentido a previsão da
medida protetiva de urgência constante do art. 23, V:

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: V
dependentes da ofendida em instituição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a
transferência deles para essa instituição, independentemente da existência de vaga

Obs.: a informação de que o aluno foi transferido ou matriculado por conta de violência doméstica sofrida
por sua mãe deverá ficar em sigilo, sendo de conhecimento apenas do juiz, do MP e dos órgãos competentes
do poder público (ex: diretora da escola).

12. DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL

Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar


contra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência
adotará, de imediato, as providências legais cabíveis.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de
medida protetiva de urgência deferida.

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Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o


atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por
servidores - preferencialmente do sexo feminino - previamente capacitados.

Trata-se de tema rotineiramente abordado em prova de carreiras policiais, uma vez que é direito da
mulher ser atendida de forma especializada, ininterrupta e preferencialmente, por servidoras do sexo
feminino. Como se depreende do texto legal, não há uma necessidade absoluta de que o atendimento seja
realizado por Mulher:
§ 1º A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de
testemunha de violência doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher,
obedecerá às seguintes diretrizes: (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada
a sua condição peculiar de pessoa em situação de violência doméstica e
familiar; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência
doméstica e familiar, familiares e testemunhas terão contato direto com
investigados ou suspeitos e pessoas a eles relacionadas; (Incluído pela Lei nº
13.505, de 2017)
III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo
fato nos âmbitos criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos
sobre a vida privada. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
§ 2º Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de
testemunha de delitos de que trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o
seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual
conterá os equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de
violência doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência
sofrida; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
II - quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado
em violência doméstica e familiar designado pela autoridade judiciária ou
policial; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a
degravação e a mídia integrar o inquérito. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)

Em linhas gerais, busca-se por meio do estabelecimento de diretrizes especiais à polícia judiciária
evitar a vitimização secundária, bem como a heterovitimização, impedindo que a vítima seja objeto de
sucessivas inquirições e procedimentos que possam potencializar as sequelas das violências sofridas.

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Os arts. 11 e 12 da Lei Maria da Penha tratam das providências que devem ser tomadas pela
autoridade policial que tenha atuação na Delegacia especializada no atendimento à mulher vítima de
violência doméstica e familiar contra a mulher, ou da Delegacia de Polícia comum, nos locais em que não
houver delegacia especializada.
Algumas providências são de caráter obrigatório, como, por exemplo, a oitiva da vítima, lavratura do
boletim de ocorrência, atermação da representação e a verificação se o agressor possui registro de porte ou
posse de arma de fogo; outras, no entanto, têm sua realização condicionada à discricionariedade da
autoridade policial, que deve determinar sua realização de acordo com as peculiaridades do caso concreto.

Artigos importantíssimos de alta incidência nas provas de delegado de


polícia!

Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a


autoridade policial deverá, entre outras providências:

Trata-

I - Garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao


Ministério Público e ao Poder Judiciário;
II - Encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico
Legal;

O encaminhamento ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico


Legal decorre da necessidade de realização de perícia, para que se forme
o conjunto probatório ligado à prova de existência da infração penal, nos
moldes do art. 158 do Código de Processo Penal ("Quando a infração
deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado")

III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local
seguro, quando houver risco de vida;
IV - Se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus
pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar;
V - Informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços
disponíveis, inclusive os de assistência judiciária para o eventual ajuizamento
perante o juízo competente da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação

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de casamento ou de dissolução de união estável. (Redação dada pela Lei nº 13.894,


de 2019);
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito
o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os
seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo
Penal:
I - Ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a
termo, se apresentada;
II - Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas
circunstâncias;
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz
com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;
IV - Determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e
requisitar outros exames periciais necessários;
V - Ouvir o agressor e as testemunhas;
VI - Ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de
antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro
de outras ocorrências policiais contra ele;
VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e,
na hipótese de existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar
a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão
do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do
Desarmamento); (Incluído pela Lei nº13.880, de 2019);
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério
Público.
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá
conter:
I - Qualificação da ofendida e do agressor;
II - nome e idade dos dependentes;
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida;
IV - Informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da
violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência
preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019);
§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º o boletim
de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.
§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos
fornecidos por hospitais e postos de saúde.

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Aqui é importante ficar atento, pois se trata de dispositivo diretamente voltado à autoridade policial,
em especial para o dever de remessa dos autos para o magistrado no prazo de 48 horas, bem como para a
inovação legislativa que orienta a verificação do registro de posse ou porte de arma de fogo por parte do
agressor.
Note que a autoridade policial não tem legitimidade para aplicar diretamente a medida protetiva ou
representar por ela. O delegado apenas encaminha ao juiz, em 48 horas, quando há pedido da ofendida!
Não há que se falar em representação pelos procedimentos legais.
O inciso VI determina que a autoridade policial deve fazer juntar aos autos do procedimento
investigatório a folha de antecedentes criminais do agressor, indicando a existência de mandado de prisão
ou registro de outras ocorrências policiais contra ele. Nessa toada, é igualmente importante que o delegado
verifique se há, no banco de dados criado pela Lei n. 13.829/19 (que inseriu o art. 38-A na Lei), eventual
registro de medida protetiva de urgência anteriormente determinada em detrimento do agressor.

Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva de


urgência. Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão registradas em
banco de dados mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça,
garantido o acesso do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de
segurança pública e da assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade
das medidas protetivas".

ATENÇÃO: CONFORME ESTABELECE A LEI Nº 14.310/2022


Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão, após sua concessão,
imediatamente registradas em banco de dados mantido e regulamentado pelo
Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso instantâneo do Ministério Público,
da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e de assistência social,
com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas. (Redação dada Lei
nº 14.310, de 2022)

A consulta em questão é de fundamental importância, não apenas para fins de verificação de


eventual tipificação do crime do art. 24-A (descumprimento das medidas protetivas), mas também no sentido
de evidenciar a necessidade de representação ao juiz pleiteando a decretação da prisão preventiva do
agressor (Lei n. 11.340/06, art. 20).
De forma semelhante com o que ocorre na Lei 9.099/95, há possibilidade de utilização de laudos e
boletins de atendimentos médicos fornecidos fora do Instituto Médico Legal. Essa possibilidade consiste em
uma espécie de mitigação da obrigatoriedade do exame de corpo de delito, porquanto laudos ou
prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde poderiam ser utilizados para embasar a
denúncia e, até mesmo, eventual condenação. Nas palavras de Renato Brasileiro:

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verdadeiros meios de prova, ou seja, a um instrumento por meio do qual as fontes


de prova são introduzidas no processo, é evidente que, nos mesmos moldes do que
ocorre no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95, art. 77, § 1 °),
os laudos ou prontuários médicos também podem ser utilizados na sentença
condenatória para a formação do convencimento do juiz acerca da materialidade
de uma violência doméstica e familiar contra a mulher, e não apenas para fins de

Já caiu em prova e foi considerada correta a seguinte assertiva:


de lesão corporal culposa no âmbito de violência doméstica e familiar contra a mulher, é prescindível o exame
de corpo de delito do art. 158 do CPP, se existentes outros elementos de prova, tais como laudos ou
prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde.

Outra inovação ocorreu no §1º, inciso IV. A Lei 13.836/2019 estabeleceu que uma das providências
do Delegado de Polícia é informar à autoridade judicial caso a mulher vítima da violência seja pessoa com
deficiência.
Por questões didáticas, analisaremos o art. 12-C juntamente com
o estudo acerca das medidas protetivas de urgência, no tópico
abaixo

13. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA

13.1. Considerações Iniciais:

Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo
de 48 (quarenta e oito) horas:
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de
urgência;
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária,
quando for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de separação judicial, de
divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o
juízo competente; (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019)
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.
IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor.
(Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019).

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Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério
Público, devendo este ser prontamente comunicado.
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou
cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de
maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou
violados.
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida,
conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se
entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu
patrimônio, ouvido o Ministério Público.
Lei 14.550/2023:
§ 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição
sumária a partir do depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou da
apresentação de suas alegações escritas e poderão ser indeferidas no caso de
avaliação pela autoridade de inexistência de risco à integridade física, psicológica,
sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes.
§ 5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da
tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência
de inquérito policial ou do registro de boletim de ocorrência.
§ 6º As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco à
integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus

a) Conceito e Natureza jurídica


As medidas protetivas de urgência são medidas adotadas para proteger a mulher em situação de
vulnerabilidade. Possuem natureza de medidas cautelares, razão pela qual se submetem, em regra, à cláusula
de reserva de jurisdição, devendo, portanto, apresentar os seguintes pressupostos:
Fumus comissi delicti;
Periculum libertatis.

Obs.: Medidas cautelares situacionais: As medidas protetivas de urgência, por possuírem natureza cautelar,
dependem da manutenção da situação fática de perigo que legitimaram a sua decretação. Assim,
desaparecido o suporte fático legitimador da medida, deve o magistrado revogar a constrição. Nesse sentido,

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é possível dizer que a decisão que decreta a medida sujeita-se à cláusula rebus sic stantibus, estando sempre
sujeita à nova verificação de seu cabimento à luz do seu suporte fático legitimador.

Explica o professor Renato Brasileiro (2020):

do agressor, mudanças do estado de fato subjacente ao momento de sua decretação ou mesmo o surgimento
de novas provas que alterem o convencimento judicial sobre o fumus comissi delicti ou o periculum libertatis
podem levar à necessidade de: 1) revogação da medida; 2) substituição da medida por outra , mais gravosa
ou mais benéfica; 3) reforço da medida, por acréscimo de outra em cumulação; 4) atenuação da medida,

DICA DD:
revogação da
12/04/2023

b) Autonomia das medidas protetivas:

Há no STJ entendimento segundo o qual "as medidas de urgência, protetivas da mulher, do


patrimônio e da relação familiar, somente podem ser entendidas por seu caráter de cautelaridade - vigentes
de imediato, mas apenas enquanto necessárias ao processo e a seus fins" (AgRg no REsp 1.769.759/SP,
relator Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 07/05/2019, DJe de 14/05/2019).
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que, ocorrendo a conclusão do inquérito
policial sem indiciamento do recorrente, é indevida a manutenção de medidas protetivas, decisão que
reconhece importância ímpar ao ato de indiciamento e certamente cairá em provas. Veja:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. MEDIDAS


PROTETIVAS DE URGÊNCIA. CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL SEM
INDICIAMENTO DO RECORRENTE. REVOGAÇÃO.
(...)
3. Constata-se que, apesar de as medidas protetivas terem sido devidamente
fundamentadas, ocorreu a conclusão do inquérito policial sem indiciamento do
recorrente. Dessa forma, é indevida a manutenção das medidas protetivas
fixadas. Processo sob segredo de justiça, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, Sexta
Turma, por maioria, julgado em 20/09/2022.

Contudo, em reação legislativa, a partir da lei 14.550/2023, que alterou a lei Maria da Penha,
as medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da tipificação penal da violência,

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do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito policial ou do registro de boletim de


ocorrência.
da tipificação penal da violência;
do ajuizamento de ação penal ou cível;
da existência de inquérito policial;
de registro de boletim de ocorrência.

Isso significa que, visando uma maior proteção à vítima, ou seja, desvinculando a aplicação das
medidas protetivas de qualquer procedimento ou ação penal, a legislação define a natureza autônoma das
medidas protetivas. Neste sentido, o STJ tem posicionamento publicado na edição n° 205 da Jurisprudência
em Teses com a seguinte redação:

contra a mulher possuem natureza satisfativa, motivo pelo qual podem ser
pleiteadas de forma autônoma, independentemente da existência de outras ações

Conforme a lei n. 14.550/2023, a proteção continuará válida enquanto permanecerem os riscos à


vítima ou aos seus dependentes justamente pela natureza autônoma. Ademais, as medidas protetivas de
urgência serão concedidas quando houver riscos à:
integridade física;
psicológica, sexual;
patrimonial;
moral da vítima ou de seus dependentes.

As medidas protetivas de urgência poderão ser INDEFERIDAS no caso de avaliação pela autoridade
de inexistência de risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de
seus dependentes!

A mudança na legislação também garante que a Lei Maria da Penha seja aplicada em todos os casos
de violência doméstica e familiar e da condição do agressor
ou da vítima.

c) Possibilidade de aplicação de mais de uma medida protetiva concomitantemente:


As medidas protetivas de urgência poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente. Ex:
determinação para que o agressor se afaste do lar (inciso II do art. 22) e não se aproxime da vítima (inciso III
do mesmo artigo).

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Além disso, as medidas protetivas de urgência poderão ser aplicadas em conjunto com as medidas
cautelares do CPP. Ex: determinação para que o agressor se afaste do lar (inciso II do art. 22 da LMP) e que
compareça periodicamente em juízo (inciso I do art. 319 do CPP).

d)
Inciso II - Encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária:
Uma dessas medidas protetivas de urgência que a vítima poderá pedir é justamente a
assistência judiciária (art. 18, II, da Lei nº 11.340/2006).
A Lei nº 13.894/2019 alterou esse inciso II do art. 18 para deixar claro que essa assistência
judiciária abrange o direito de ajuizar ações de separação judicial, de divórcio, de anulação
de casamento ou de dissolução de união estável.

Inciso IV Apreensão imediata da arma de fogo em posse do agressor


Lei nº 13.880/2019 inseriu o inciso IV ao artigo 18, estabelecendo que o juiz, ao receber os
autos pela autoridade policial, constatando que o suposto agressor possui registro de porte
ou posse de arma de fogo, deverá determinar, como medida cautelar, a apreensão desta
arma.

13.2. Legitimidade para conceder as medidas protetivas de urgência:

As medidas protetivas de urgência, em regra, são concedidas pela autoridade judicial (Juiz ou
Desembargador), após requerimento do Ministério Público ou da ofendida cujo pedido é formulado
perante a autoridade policial.
Note, portanto, que as medidas protetivas de urgências não podem ser objeto de representação
pela autoridade policial. Como vimos na análise do art. 12, §1º, o que o delegado de polícia pode fazer é
apenas tomar a termo a declaração da ofendida pela concessão das medidas protetivas, ou seja, somente
pode transcrever esse pedido e encaminhá-lo ao Poder Judiciário.
Ressalta-se que, até a edição da Lei nº 13.827/2019, a regra que exigia cláusula de reserva de
jurisdição não possuía exceções. A referida Lei, no entanto, inovou e trouxe uma hipótese em que uma das
medidas protetivas de urgência poderia ser concedida pelo Delegado de polícia, ou até mesmo pelo policial,
em determinadas situações.
O art. 12-C, inserido pela Lei nº 13.827/2019 e posteriormente atualizado pela Lei 14.188/2021,
permite que a medida protetiva de AFASTAMENTO DO LAR seja concedida pelo Delegado de Polícia, se o
Município não for sede de comarca ou até mesmo pelo policial, caso também não haja Delegado de Polícia
no momento, devendo o juiz ser comunicado no prazo máximo de 24 horas.

Cuidado para não confundir com o prazo de 48 horas previsto no art. 12, III e
art. 18!
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Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade


física ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou
de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou
local de convivência com a ofendida: (Redação dada pela Lei nº 14.188, de 2021)
I - Pela autoridade judicial;
II - Pelo delegado de polícia, quando ou Município não for sede de comarca; ou
III - Pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver
delegado disponível no momento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.827, de
2019)
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado
no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a
manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério
Público concomitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019).
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida
protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso. (Incluído
pela Lei nº 13.827, de 2019).

Explicação via dizer o direito:


Verificada a existência de...
Risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica da mulher em situação
de violência doméstica e familiar,
Ou de seus dependentes,
O agressor deverá ser imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com
a ofendida.

Quem determina esse afastamento?


1º) em primeiro lugar, a autoridade judicial.
2º) se o Município não for sede de comarca:o Delegado de Polícia poderá determinar essa
medida.
3º) se o Município não for sede de comarca e não houver Delegado disponível no momento:
o próprio policial (civil ou militar) poderá ordenar o afastamento.

Se a medida for concedida por Delegado ou por policial (situações 2 e 3), o Juiz será comunicado no
prazo máximo de 24 horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida
aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente!
O Supremo Tribunal Federal (STF) considerou válida a alteração promovida pela Lei nº 13.827/19,
que passou a permitir que, em casos excepcionais, a autoridade policial afaste o suposto agressor do
domicílio ou do lugar de convivência quando for verificado risco à vida ou à integridade da mulher, mesmo
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sem autorização judicial prévia. A decisão foi proferida no bojo da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
6138:

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E NECESSIDADE DE MEDIDAS EFICAZES PARA


PREVENIR A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. CONSTITUCIONALIDADE DE MEDIDA
PROTETIVA DE URGÊNCIA CORRESPONDENTE AO AFASTAMENTO IMEDIATO DO
AGRESSOR DO LOCAL DE CONVIVÊNCIA COM A OFENDIDA EXCEPCIONALMENTE
SER CONCEDIDA POR DELEGADO DE POLÍCIA OU POLICIAL. IMPRESCINDIBILIDADE
DE REFERENDO PELA AUTORIDADE JUDICIAL. LEGÍTIMA ATUAÇÃO DO APARATO DE
SEGURANÇA PÚBLICA PARA RESGUARDAR DIREITOS DA VÍTIMA DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR. IMPROCEDÊNCIA.
1. A autorização excepcional para que delegados de polícia e policiais procedam na
forma do art. 12-C II e III, E § 1º, da Lei nº 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA), com
as alterações incluídas pela Lei nº 13.827/2019, é resposta legislativa adequada e
necessária ao rompimento do ciclo de violência doméstica em suas fases mais
agudas, amplamente justificável em razão da eventual impossibilidade de
obtenção da tutela jurisdicional em tempo hábil.
2. Independentemente de ordem judicial ou prévio consentimento do seu morador,
o artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal admite que qualquer do povo, e, com
maior razão, os integrantes de carreira policial, ingressem em domicílio alheio nas
hipóteses de flagrante delito ou para prestar socorro, incluída a hipótese de
excepcional urgência identificada em um contexto de risco atual ou iminente à vida
ou à integridade física
ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus
dependentes.
3. Constitucionalidade na concessão excepcional de medida protetiva de
afastamento imediato do agressor do local de convivência com a ofendida sob
efeito de condição resolutiva.
4. A antecipação administrativa de medida protetiva de urgência para impedir que
mulheres vítimas de violência doméstica e familiar permaneçam expostas às
agressões e hostilidades ocorridas na privacidade do lar não subtrai a última palavra
do Poder Judiciário, a quem se resguarda a prerrogativa de decidir sobre sua
manutenção ou
revogação, bem como sobre a supressão e reparação de eventuais excessos ou
abusos.
5. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente. STF, ADI 6138, Rel.
Min. Alexandre de Moraes, Julgado em 23/03/2022.

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CONCLUSÃO: Em regra, as medidas protetivas de urgência somente podem ser concedidas pela
autoridade judiciária, por se tratar de medida submetida à cláusula de reserva de jurisdição, após o
requerimento do MP ou da ofendida. No entanto, em havendo risco à vida ou integridade física ou
psicológica da ofendida ou de seus dependentes, poderá o Delegado de Polícia ou o próprio policial
determinarem o AFASTAMENTO IMEDIATO DO LAR, nas hipóteses previstas em lei!

PEGADINHA DE PROVA:
* REGRA: O delegado tem 48 horas para enviar a representação da vítima ao juiz (art. 12, III), e o juiz
também possui 48 horas para tomar as devidas providências (art. 18, caput)
* EXCEÇÃO: Em caso de medida protetiva de afastamento do lar concedida pelo Delegado de Polícia ou
pelo Policial, nas hipóteses previstas em lei, a comunicação ao juiz deve ser feita em 24 horas, tendo este
o mesmo prazo de 24 horas para decidir sobre ela. (Art. 12-C, §1º).

As medidas protetivas podem ser concedidas de ofício pelo juiz?


1ª C NÃO! Em observância ao Sistema Acusatório, que inclusive foi reforçado com o advento do
Pacote Anticrime, não pode o juiz, de ofício, decretar as medidas protetivas de urgência. Isso
porque é vedado, ao magistrado, decretar qualquer medida cautelar de ofício, e como a medida
protetiva de urgência tem natureza de medida cautelar, o juiz também não poderia aplicá-la sem
prévio requerimento das partes.
Obs.: há quem defenda que, nas hipóteses de afastamento imediato do lar (art. 12-C, inc.
I) ou decretação da prisão preventiva, o juiz poderia agir de ofício, tendo em vista que há
autorização expressa na Lei nesse sentido, devendo-se invocar, para tanto, o princípio da
especialidade. (Tema extremamente controverso que será analisado adiante)

2ª C SIM! Apesar de o dispositivo não prever expressamente, seria possível que as medidas
protetivas fossem concedidas pelo Juiz de ofício. Isso porque o juiz, ao conceder medidas protetivas
de urgência de ofício, não estaria promovendo a persecução penal contra o acusado, mas apenas
tomando medidas que visam a beneficiar a vítima de violência doméstica. Inclusive, o próprio
parágrafo primeiro determina que as medidas devem ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, confirmando
a possibilidade de o Juiz poder concedê-las de ofício.

CUIDADO! Embora o art. 19, §1º autorize o juiz a apreciar as medidas protetivas sem a prévia oitiva do MP,
o mesmo não ocorre nas hipóteses de alteração ou reforço das medidas já concedidas, em que se exigirá a
prévia oitiva do MP, à luz do art. 19, §3º.

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CONCESSÃO DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE CONCESSÃO DE NOVAS MEDIDAS PROTETIVAS OU


URGÊNCIA REVISÃO
Art. 19, §1º Art. 19, §3º
Dispensam prévia oitiva do MP Exigem prévia oitiva do MP

§ 1º - As medidas protetivas de urgência poderão ser § 3º - Poderá o juiz, a requerimento do Ministério


concedidas de imediato, independentemente de Público ou a pedido da ofendida, conceder novas
audiência das partes e de manifestação do medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já
Ministério Público, devendo este ser prontamente concedidas, se entender necessário à proteção da
comunicado ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio,
ouvido o Ministério Público.

Atenção à jurisprudência:

O juízo do domicílio da vítima em situação de violência doméstica é competente


para processar e julgar o pedido de medidas protetivas de urgência,
independentemente de as supostas condutas criminosas que motivaram o pedido
terem ocorrido enquanto o autor e a vítima encontravam-se em viagem fora do
domicílio desta. STJ. 3ª Seção. CC 190.666-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
8/2/2023 (Info 764).

13.3. Das medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão
competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite
mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e
psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe
de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
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V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.


VI comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação;
e (Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020)
VII acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento
individual e/ou em grupo de apoio. (Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020)

Atenção ao Informativo 756 do STJ! (14/11/2022):

As medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do art. 22 da Lei


Maria da Penha têm natureza de cautelares penais, não cabendo falar em citação
do requerido para apresentar contestação, tampouco a possibilidade de
decretação da revelia, nos moldes da lei processual civil REsp 2.009.402-GO, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, por maioria,
julgado em 08/11/2022.
Não se pretende precipuamente, por meio da decretação dessas medidas,
antecipar os efeitos da sentença ou antecipar a fruição do bem jurídico desejado
pelo autor da demanda, que apenas seria obtido ao final do processo de
conhecimento, em caso de procedência da pretensão deduzida em juízo. Ao se
decretar uma medida protetiva, visa-se, antes de tudo, proteger a vida e a
incolumidade física e psíquica da vítima e, com isso, de uma forma mais ampla,
acautelar a ordem pública, uma das finalidades das cautelares previstas no Código
de Processo Penal.
Quanto à distinção entre a natureza cível e a natureza criminal das medidas
protetivas, a jurisprudência desta Corte Superior, há muito, posiciona-se no sentido
de que aquelas previstas no art. 22, incisos I, II e III, da Lei n. 11.340/2006 são de
natureza criminal, enquanto as dispostas nos demais incisos desse dispositivo têm
natureza cível.
Reconhecer a natureza penal das medidas cautelares dos incisos I, II e III do art.
22 da Lei Maria da Penha traz uma dúplice proteção: de um lado, protege a vítima,
pois concede a ela um meio célere e efetivo de tutela de sua vida e de sua
integridade física e psicológica, pleiteada diretamente à autoridade policial, e
reforçada pela possibilidade de decretação da prisão preventiva do suposto autor
do delito; de outro lado, protege o acusado, porquanto concede a ele a
possibilidade de se defender da medida a qualquer tempo, sem risco de serem a
ele aplicados os efeitos das revelia.
Portanto, deve-se aplicar às medidas protetivas de urgência o regramento
previsto pelo Código de Processo Penal no que tange às medidas cautelares. Dessa
forma, não cabe falar em instauração de processo próprio, com citação do
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requerido, tampouco com a possibilidade de decretação de sua revelia em caso de


não apresentação de contestação no prazo de cinco dias. Aplicada a cautelar
inaudita altera pars, para garantia de sua eficácia, o acusado será intimado de sua
decretação, facultando-lhe, a qualquer tempo, a apresentação de razões contrárias
à manutenção da medida.
É ilegal a fixação ad eternum de medida protetiva, devendo o magistrado
avaliar periodicamente a pertinência da manutenção da cautela imposta. HC
605.113-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, por unanimidade,
julgado em 08/11/2022. O Superior Tribunal de Justiça possui o entendimento
segundo o qual "as medidas de urgência, protetivas da mulher, do patrimônio e da
relação familiar, somente podem ser entendidas por seu caráter de cautelaridade -
vigentes de imediato, mas apenas enquanto necessárias ao processo e a seus fins"
(AgRg no REsp 1.769.759/SP, relator Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe de
14/05/2019).
Desse modo, levando em conta a impossibilidade de duração ad eternum da
medida protetiva imposta - o que não se confunde com a indeterminação do prazo
da providência -, bem como a necessidade de que a proteção à vítima perdure
enquanto persistir o risco que se visa coibir, aplica-se, por analogia, o disposto no
art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal, devendo o magistrado
singular examinar, periodicamente, a pertinência da preservação da cautela
imposta, não sem antes ouvir as partes.

Além disso, sobre a duração da medida protetiva, vale destacar a jurisprudência do STJ (informativo
770, de 18/04/2023):
Independentemente da extinção de punibilidade do autor, a vítima de violência
doméstica deve ser ouvida para que se verifique a necessidade de
prorrogação/concessão das medidas protetivas.
A jurisprudência do STJ se firmou no sentido de que, extinta a punibilidade, não
subsistem mais os fatores para a manutenção/concessão de medidas protetivas,
sob pena de eternização da restrição de direitos individuais.
Nesse sentido, as duas Turmas de Direito Penal desta Corte vem decidindo que,
embora a lei penal/processual não prevê um prazo de duração da medida
protetiva, tal fato não permite a eternização da restrição a direitos individuais,
devendo a questão ser examinada à luz dos princípios da proporcionalidade e da
adequação.
(...)
Assim, antes do encerramento da cautelar protetiva, a defesa deve ser ouvida,
notadamente para que a situação fática seja devidamente apresentada ao Juízo
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competente, que, diante da relevância da palavra da vítima, verifique a


necessidade de prorrogação/concessão das medidas, independentemente da
extinção de punibilidade do autor. STJ. REsp 1.775.341-SP, Rel. Ministro Sebastião
Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 12/4/2023, DJe
14/04/2023.

Decisão que fixa alimentos em razão da prática de violência doméstica pode ser
executada sob o rito da prisão civil. A decisão proferida em processo penal que fixa
alimentos provisórios ou provisionais em favor da companheira e da filha, em razão
da prática de violência doméstica, constitui título hábil para imediata cobrança e,
em caso de inadimplemento, passível de decretação de prisão civil. STJ. 3ª Turma.
RHC 100446-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/11/2018 (Info
640).

A Lei 13.984/2020 acrescentou duas novas medidas protetivas de urgência a serem cumpridas pelo
agressor (frequentar centro de educação e de reabilitação e ter acompanhamento psicossocial). Isso é
possível porque o rol das medidas protetivas previsto na Lei Maria da Penha é meramente exemplificativo,
podendo ser concedidas outras providências que não estejam ali elencadas.
Ressalta-se que, mesmo antes da Lei nº 13.984/2020, tais medidas já poderiam ser determinadas.
Trata-se daquilo que a doutrina denominou de princípio da atipicidade das medidas protetivas de urgência
(LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada. 4ª ed., Salvador: Juspodivm, 2016, p.
931).

13.4. Das Medidas Protetivas De Urgência À Ofendida

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário
de proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo
domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos
relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de
educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa
instituição, independentemente da existência de vaga. (Incluído pela Lei nº
13.882, de 2019)

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A Lei 13.882/2019 garante a matrícula dos dependentes da mulher vítima de violência doméstica e
familiar em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio. Mesmo se não houver vaga na
escola próxima, ainda assim, o dependente da vítima terá direito de ser matriculado como um excedente, ou
seja, mesmo fora do número de vagas (já explicado acima).

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles
de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as
seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e
locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos
materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
ofendida.

13.5. Vias impugnativas

a) Indeferimento ou revogação de medida já imposta: RESE, através de interpretação ontológica e


evolutiva do art. 581, V do CPP, posto que são medidas constritivas da liberdade.
b) Deferimento: Habeas corpus ao Tribunal de Justiça, câmara criminal. Além de ser uma restrição
libertária, há risco ao direito ambulatorial na medida em que eventual descumprimento da Medida
protetiva de urgência posta pode acarretar a decretação da prisão preventiva ou a detenção
cominada pelo art. 24-A.

Cabe habeas corpus para apurar eventual ilegalidade na fixação de medida


protetiva de urgência consistente na proibição de aproximar-se de vítima de
violência doméstica e familiar. STJ. 5ª Turma. HC 298499-AL, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 1º/12/2015 (Info 574).

13.6. Descumprimento das medidas protetivas de urgência

Quais as consequências caso o indivíduo descumpra a decisão judicial que impôs a medida
protetiva de urgência?
É possível a execução da multa imposta;
É possível a decretação de sua prisão preventiva (art. 313, III, do CPP) caso presentes também os
indícios do art. 312, CPP (analisaremos adiante)
O agente responderá pelo crime do art. 24-A da Lei nº 11.340/2006:
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Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência
previstas nesta Lei:
Pena detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos
§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz
que deferiu as medidas.
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá
conceder fiança.
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis.

A conduta de descumprir medida protetiva de urgência


prevista na Lei Maria da Penha configura crime?
Antes da Lei nº 13.641/2018: Depois da Lei nº 13.641/2018 (atualmente): SIM
NÃO
Antes da alteração, o STJ entendia que o Foi inserido novo tipo penal na Lei Maria da Penha
descumprimento de medida protetiva de urgência prevendo como crime essa conduta:
prevista na Lei Maria da Penha (art. 22 da Lei Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere
11.340/2006) não configurava infração penal. medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei:
O agente não respondia nem mesmo por crime de Pena detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
desobediência (art. 330 do CP).

O art. 24-A, inserido pela Lei 13.641/2018, é o único delito tipificado na Lei nº 11.340/2006.
Em verdade, trata-se de um delito de desobediência, em que o agressor, ao descumprir a medida
restritiva imposta pelo juízo a título de medida protetiva, está violando a administração da justiça por conta
de seu desprezo à decisão judicial. Portanto, é sujeito ativo do delito, o agressor destinatário da medida. Já
o sujeito passivo é a administração da justiça e, secundariamente, a vítima.

a) Sujeito ativo: Comete este delito a pessoa que descumpre a medida protetiva de urgência imposta
com base na Lei Maria da Penha.
Homem ou mulher: Aqui cabe uma interessante observação: ao contrário do que muitos
imaginam, o autor da violência doméstica não precisa ser necessariamente um homem. Assim,
existem casos de violência doméstica praticados por mulheres. Ex: filha contra mãe (STJ HC
277.561/AL). A exigência é de que a vítima seja mulher, mas o agressor pode ser homem ou
mulher. Isso significa que o sujeito ativo do crime do art. 24-A da Lei Maria da Penha pode ser
homem ou mulher. É o caso, por exemplo, da nora que agride a sogra. Se o juiz impuser que a
nora não se aproxime da sogra e a nora descumprir essa ordem, responderá prelo crime do
art. 24-A.

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Partícipes: O indivíduo poderá responder por este delito, na qualidade de partícipe, mesmo
sem ser o autor da violência doméstica. Ex: o juiz determina que João mantenha distância
mínima de 500 metros de Maria (sua ex-esposa) e não tente nenhum contato com ela por

proibição, envia para Maria, pelo seu número do whatsapp, um áudio do agressor no qual ele
tenta a reconciliação com a vítima.

b) Sujeito passivo: O sujeito passivo é o Estado. Em relação à vítima mediata ou secundária, há


divergência: uns defendem que a vítima secundária é a mulher vítima da violência doméstica,
enquanto outros entendem que é o juiz que expediu a ordem.

c) Tipo objetivo:
Descumprir: consiste em desobedecer, ou seja, não atender, não cumprir a decisão judicial.
Ação ou omissão: vale ressaltar que esse crime poderá ser praticado mediante conduta
comissiva (ex: aproximar-se da vítima mesmo havendo uma proibição) ou omissiva (ex: não
pagar os alimentos provisórios fixados pelo juiz como medida protetiva).
Decisão judicial: deve-se entender em sentido amplo, abrangendo tanto decisões
interlocutórias como eventualmente uma sentença ou acórdão no qual seja fixada a medida
protetiva. A decisão pode ser de 1ª instância ou de Tribunal (colegiada ou monocrática). Obs.:
O fato de a medida em questão ter sido decretada por um juízo cível não afasta a tipificação
do delito do delito. É nesse sentido, aliás, o teor do art. 24-A, §1º, da LMP.
Medidas protetivas de urgência previstas na Lei Maria da Penha: As medidas protetivas de
urgência estão previstas nos arts. 22 a 24 da Lei nº 11.340/2006.Esse rol é exemplificativo e o
juiz poderá aplicar outras medidas não expressamente listadas na Lei Maria da Penha. Vale
ressaltar, no entanto, que o crime do art. 24-A somente se verifica se o agente descumprir uma
medida protetiva prevista na Lei nº 11.340/2006. Se o sujeito descumprir medida protetiva
atípica, ou seja, não prevista expressamente na Lei Maria da Penha, não haverá o crime do art.
24-A.
Reserva de jurisdição: Importante esclarecer que apenas o juiz (ou Tribunal) pode impor as
medidas protetivas de urgência. A autoridade policial ou o membro do Ministério Público não
gozam dessa possibilidade.
Desobediência: O art. 24-A é um tipo especial de desobediência (art. 330 do CP).

Obs.1: Não se exige violência ou grave ameaça: O crime do art. 24-A pode se consumar mesmo que
o sujeito ativo não tenha agido com violência ou grave ameaça. Ex: o juiz determinou que João, acusado de
violência doméstica, não se aproxime menos que 500m da ex-mulher. O autor do fato, arrependido, procura
a vítima chorando e com um buquê de rosas. Ele terá cometido o crime do art. 24-A. Se houver violência ou

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grave ameaça, o agente poderá responder pelo delito do art. 24-A em concurso com outros delitos. Ex: se o
agente, que estava proibido de se aproximar da ex-mulher, procura-a e a ameaça de morte, ele responderá
pelo delito do art. 24-A da Lei nº 11.340/2006 em concurso com o art. 147 do Código Penal.

Obs.2: Inexigibilidade de conduta diversa: Uma das medidas protetivas de urgência previstas na Lei

medida em virtude de impossibilidade econômica, não poderá ser punido pelo crime do art. 24-A,
considerando que se trata de hipótese de inexigibilidade de conduta diversa, que consiste em causa
excludente de culpabilidade.

d) Tipo subjetivo: O crime é punido a título de dolo.


O dolo, no caso, consiste na vontade livre e consciente de descumprir decisão judicial que defere
medida protetiva de urgência baseada na Lei Maria da Penha. Obviamente, para que haja o crime, é
indispensável que o agente saiba da existência da decisão judicial deferindo a medida protetiva.
Não há crime se o sujeito age com culpa. Ex: vai a uma festa de aniversário de amigos em comum e
ali encontra a ex-mulher sendo que havia uma ordem de não aproximação.

e) Consumação e tentativa:
A medida protetiva pode consistir em uma ordem para que o agente faça alguma coisa ou para que
não faça (não adote determinado comportamento). Desse modo, o crime se consuma no momento em que
o agente faz a conduta proibida na decisão judicial (ex: entra em contato com a ex-mulher, mesmo isso tendo
sido proibido) ou, então, no instante em que termina o prazo que havia sido fixado para que o sujeito
adotasse determinado comportamento (ex: juiz fixou o prazo de 24h para que o agressor deixasse a casa;
após isso, sem cumprimento, o crime já terá se consumado).
A tentativa, em tese, é possível na modalidade comissiva. Ex: o ex-marido, mesmo estando proibido
de entrar em contato com a ex-mulher, envia-lhe uma carta, que é interceptada pela sogra.

f) Considerações gerais sobre o crime do art. 24-A:

Trata-se de crime próprio, pois exige característica especial do agente.


Formal, pois se consuma independentemente da existência de um resultado material bastando
a conduta de desrespeitar a medida protetiva.
Doloso, pois não está presente a tipicidade específica exigida pelos crimes culposos.
Instantâneo, pois se aperfeiçoa de imediato.
Plurissubsistente, pois sua conduta é fracionável, admitindo-se a tentativa
Ação penal: A ação penal é pública incondicionada.

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Observações importantes:
§ 1º: A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as
medidas: As medidas protetivas de urgência da Lei nº 11.340/2006 não são exclusivas do processo
penal. Isso significa que podem ser aplicadas em processos cíveis, independentemente da existência
de inquérito policial ou processo criminal contra o suposto agressor.

§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança: A


Lei nº 13.641/2018, ao incluir esse § 2º, criou uma exceção à regra do art. 322 do CPP. Isso porque o
§ 2º proíbe que o Delegado de Polícia conceda fiança para o crime do art. 24-A, a despeito desse
delito ter pena máxima de 2 anos.

CUIDADO! Veda-se a concessão de fiança pela autoridade policial somente no delito do art. 24-A! Caso seja
praticado outro delito, com pena máxima de 4 anos, ainda que no âmbito da Lei Maria da Penha, será
possível a concessão da fiança, nos moldes do art. 322 do CPP! Em outras palavras: o mero fato de o crime
ter sido praticado no âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher, por si só, não afasta a
concessão da fiança!
Renato Brasileiro explica:
ade policial poderá conceder fiança às infrações penais cuja
pena máxima não seja superior a 4 (quatro) anos, não se pode estabelecer qualquer outro requisito para a
concessão do referido benefício, sob pena de indevida violação ao princípio da legalidade. De mais a mais, o
simples fato de um crime estar sujeito à decretação da prisão preventiva não é óbice à concessão da fiança

§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis: descumprimento de
medida protetiva pode ensejar a execução da multa eventualmente imposta e a decretação da prisão
preventiva do autor. O que este § 3º explicita é que tais consequências continuam acontecendo
mesmo agora com a existência de um tipo penal específico para essa conduta.

Lei nº 9.099/95 para o crime do art. 24-A da Lei Maria da Penha


A pena máxima do art. 24-A não ultrapassa dois anos, razão pela qual parte da doutrina entende que
se trata de infração de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei nº 9.099/95) 3. Diante disso, indaga-se a
possibilidade da transação penal, da suspensão condicional do processo e dos demais benefícios da Lei nº
9.099/95 para o autor do crime do art. 24-A da Lei nº 11.340/2006.

3
Renato Brasileiro discorda e afirma que, a despeito de a pena máxima cominada não ser superior a 2 anos, o art. 24-A é crime
comum, de competência do juízo comum, aplicando-se o procedimento comum sumário.

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A jurisprudência é extremamente refratária à aplicação de qualquer medida despenalizadora em se


tratando de delitos que envolvam violência doméstica. Nesse sentido, a título de exemplo, as súmulas 536,
542 e 588, todas do STJ:
Súmula 536-STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se
aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

NÃO CONFUNDA: Em se tratando de crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher
NÃO SE APLICA A SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO, ENTRETANTO É POSSÍVEL A CONCESSÃO DA
SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA (Código Penal).

14. PRISÃO PREVENTIVA

Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a


prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do
Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial.

A prisão preventiva na Lei Maria da Penha é um tema bastante controvertido na doutrina. Isso porque
a Lei prevê a possibilidade de decretação da cautelar, pelo juiz, de ofício, em qualquer fase da persecução
penal, o que, para a doutrina amplamente majoritária, violaria do Sistema Acusatório. Na realidade, antes
mesmo do advento do Pacote Anticrime, que veio para reforçar a imparcialidade do juiz, já havia acirrada
discussão sobre o tema.
Após o advento do Pacote Anticrime, como proceder?
Prova objetiva Verificar se a assertiva contempla a letra da lei ou a jurisprudência do STJ.
Pois na lei admite a possibilidade de o juiz decretar a prisão preventiva de ofício, seja em
fase de inquérito policial ou instrução penal. Já em decisão do STJ, não cabe preventiva de
ofício.

ATENÇÃO! STJ decidiu que NÃO cabe decretação de prisão de ofício nem no rito da Lei Maria da Penha:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


OMISSÃO. VÍCIO INEXISTENTE. CONVERSÃO DA PRISÃO EM FLAGRANTE EM
PREVENTIVA DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Sufragado o entendimento da
impossibilidade de conversão da prisão em flagrante em preventiva sem
provocação do Ministério Público, autoridade policial ou querelante, não se verifica
no acórdão nenhum vício apto a ensejar a oposição de embargos de declaração. 2.
A prisão preventiva de ofício, não mais admitida no sistema do CPP, norma
processual geral, depois da Lei 13.964/2019, com as alterações promovidas no
art. 311, reconduz o sistema mais ainda aos ditames do princípio acusatório, não
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podendo conviver com normas de leis esparsas que ainda a contemplem, como a
do art. 20 da Lei 11.340/2006. 3. De toda forma, o tema não se insere no
julgamento como nenhum vicio integrativo, menos ainda a omissão. O que se
pretende é apenas a rediscussão da matéria, na contramão dos precedentes da
Turma, visando alterar a conclusão que resultou desfavorável, o que é incabível na
via eleita. 4. Embargos de declaração rejeitados. (STJ - EDcl no AgRg no HC: 705436
RS 2021/0359211-4, Relator: Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), Data de Julgamento: 19/04/2022, T6 - SEXTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 22/04/2022)

Prova discursiva é imprescindível trazer os dois posicionamentos sobre o tema, no sentido


de que, para uma primeira corrente, é possível a decretação de ofício pelo juiz, em razão do
princípio da especialidade, enquanto para uma segunda corrente, é inviável tal decretação,
sob pena de violar o Sistema Acusatório.

Obs.: Prisão preventiva em razão do descumprimento das medidas protetivas de urgência

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da
prisão preventiva: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução
das medidas protetivas de urgência; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

A possibilidade de decretação da prisão preventiva em face do descumprimento injustificado das


medidas protetivas de urgência decretadas decorre da necessidade de emprestar, a estas, força coercitiva.
Se tais medidas não surtirem efeito almejado, a prisão preventiva pode ser decretada como soldado de
reserva, a fim de se evitar a reiteração de violência doméstica e familiar contra a mulher.
Ressalta-se que não basta o mero descumprimento das medidas protetivas de urgência, sendo
imprescindível, ainda, preencher os requisitos previstos no art. 312, CPP. Nas palavras de Renato Brasileiro
(2020):

pena do crime doloso, deve-se entender que, independentemente da espécie de


pena cominada ao delito (reclusão ou detenção) e do quantum de pena a ele
cominado, a prisão preventiva pode ser adotada como medida de ultima ratio no
sentido de compelir o agente à observância das medidas protetivas de urgência
previstas na Lei Maria da Penha, mas desde que presente um dos fundamentos
que autorizam a prisão preventiva (CPP, art. 312)
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No mesmo sentido, o STJ:

dada pela Lei nº 11.340/2006, admita a decretação da prisão preventiva nos crimes
dolosos que envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher, para garantir
a execução de medidas protetivas de urgência, a adoção dessa providência é
condicionada ao preenchimento dos requisitos previstos no art. 312 daquele
diploma. É imprescindível que se demonstre, com explícita e concreta
fundamentação, a necessidade da imposição da custódia para garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para
assegurar a aplicação da lei penal, sem o que não se mostra razoável a privação da
liberdade, ainda que haja descumprimento de medida protetiva de urgência,

Turma, HC 100.512/MT, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJe 23/06/2008).

ATENÇÃO! Segundo a jurisprudência do STJ, NÃO É POSSÍVEL a decretação de prisão preventiva do


autor de contravenção penal, mesmo que tenha praticado o fato no âmbito de violência doméstica, mesmo
que ele tenha descumprido medida protetiva imposta (STJ. 6º turma. HC437.535).
O sentido da vedação à cautelar pessoal nesta hipótese é simples: a redação do art. 313, III, do Código
de Processo Penal fala em CRIME, não abarcando a contravenção penal, logo, em respeito ao princípio da
legalidade não há possibilidade de aplicar a prisão preventiva nessa hipótese.

15. RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO NOS CRIMES PRATICADOS NO CONTEXTO DA LEI 11.340/06

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de


que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em
audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da
denúncia e ouvido o Ministério Público.

ATENÇÃO!! A audiência prevista no art. 16 da Lei n. 11.340/2006 tem por objetivo


confirmar a retratação, não a representação, e não pode ser designada de ofício
pelo juiz. Sua realização somente é necessária caso haja manifestação do desejo
da vítima de se retratar trazida aos autos antes do recebimento da denúncia. REsp
1.977.547-MG, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira Seção, por
unanimidade, julgado em 8/3/2023. (Tema 1167)

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Percebe-se aqui que há uma exceção à regra geral trazida pelo Código de Processo Penal, podendo
haver retratação da representação após oferecimento da denúncia.

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL LEI 11.340/06

A retratação poderá ocorrer até o oferecimento da A retratação poderá ocorrer antes do recebimento
denúncia (art. 25) da denúncia (art. 16)

Se a mulher vítima de crime de ação pública condicionada comparecer ao cartório da vara e


manifestar interesse em se retratar da representação, ainda assim o juiz deverá designar audiência para que
ela confirme essa intenção e seja ouvido o MP, nos termos do art. 16.

Não atende ao disposto neste art. 16 a retratação da suposta ofendida ocorrida em cartório de Vara,
sem a designação de audiência específica necessária para a confirmação do ato. Em outras palavras, se a
vítima comparece ao cartório e manifesta interesse em se retratar, ainda assim o juiz deverá designar a
audiência para ouvir a ofendida e o MP, não podendo rejeitar a denúncia sem cumprir esse procedimento.
STJ. 5ª Turma. HC 138143-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/09/2019 (Info 656).

16. VEDAÇÕES PREVISTAS NA LEI MARIA DA PENHA

16.1 Vedação à pena de cesta básica, prestação pecuniária ou pagamento isolado da multa

Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a
mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.

Esse dispositivo proíbe que o juiz aplique as seguintes penas restritivas de direitos à pessoa que
praticou violência doméstica e familiar contra a mulher:
Pena de "cesta básica";
Quaisquer espécies de prestação pecuniária (art. 45, §§ 1º e 2º);
Pagamento isolado de multa (art. 44, § 2º do CP).

Tal vedação se presta a não atribuição de um caráter meramente patrimonial à punição do agressor,
o que de certa forma incentivaria um processo discriminatório em que agressores abastados financeiramente
se eximiriam de sua responsabilidade com o mero pagamento de indenizações e prestações pecuniárias.

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16.2. Vedação às penas restritivas de direito4

Alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 17, ao proibir apenas esses tipos
de penas, teria, a contrario sensu, permitido que fossem aplicadas outras espécies de penas restritivas de
direitos.

Essa interpretação foi aceita pela jurisprudência? É possível a aplicação de penas restritivas de
direito para os crimes cometidos contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico?
R.: NÃO. A jurisprudência entende que não cabe a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos nos crimes cometidos contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente
doméstico. O STJ editou a súmula 588 para espelhar essa sua posição consolidada:

Súmula 588 A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com


violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. (Dje 18/09/2017)

STF concorda com o teor da súmula 588 do STJ?


R.: Em parte. Em caso de CRIMES praticados contra a mulher com violência ou grave ameaça no
ambiente doméstico: o STF possui o mesmo entendimento do STJ e afirma que não cabe a substituição por
penas restritivas de direitos. Nesse sentido:

Não é possível a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de


direitos ao condenado pela prática do crime de lesão corporal praticado em
ambiente doméstico (art. 129, § 9º do CP). A substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos pressupõe, entre outras coisas, que o crime não
tenha sido cometido com violência ou grave ameaça (art. 44, I, do CP). STF. 2ª
Turma. HC 129446/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/10/2015 (Info 804).

Por outro lado, em caso de CONTRAVENÇÕES PENAIS praticadas contra a mulher com violência ou
grave ameaça no ambiente doméstico há uma discordância. Ex: imagine que o marido pratica vias de fato
(art. 21 da Lei de Contravenções Penais) contra a sua esposa; ele poderá ser beneficiado com pena restritiva
de direitos?
STJ e 1ª Turma do STF: NÃO. Não é possível a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos tanto no caso de crime como contravenção penal praticados contra a
mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico. É o teor da Súmula 588-STJ. A

4
Explicação via Dizer o Direito.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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1ª Turma do STF também comunga do mesmo entendimento: HC 137888/MS, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 31/10/2017.
2ª Turma STF: SIM. Afirma que é possível a conversão da pena privativa de liberdade por
restritiva de direito, nos moldes previstos no art. 17 da Lei Maria da Penha, aos condenados pela
prática de contravenção penal. Isso porque a contravenção penal não está na proibição contida
no inciso I do art. 44 do CP, que fala apenas em crime. Logo, não existe proibição no
ordenamento jurídico para a aplicação de pena restritiva de direitos em caso de contravenções.
Nesse sentido: STF. 2ª Turma. HC 131160, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/10/2016.
Relembre o que diz o inciso I do Código Penal:

DICA! Em concursos, se o enunciado não estiver fazendo qualquer distinção, fiquem com a posição
exposta na súmula e que também é adotada pela 1ª Turma do STF.

16.3. Vedação à aplicação do Princípio da Insignificância

Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a
mulher no âmbito das relações domésticas. Os delitos praticados com violência contra a mulher, devido à
expressiva ofensividade, periculosidade social, reprovabilidade do comportamento e lesão jurídica causada,
perdem a característica da bagatela e devem submeter-se ao direito penal.
Assim, o STJ e o STF não admitem a aplicação dos princípios da insignificância aos crimes e
contravenções praticados com violência ou grave ameaça contra a mulher, no âmbito das relações
domésticas, dada a relevância penal da conduta.

Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em situação de


violência doméstica. Os delitos praticados com violência contra a mulher, devido à
expressiva ofensividade, periculosidade social, reprovabilidade do comportamento
e lesão jurídica causada, perdem a característica da bagatela e devem submeter-se
ao direito penal. O STJ e o STF não admitem a aplicação dos princípios da
insignificância e da bagatela imprópria aos crimes e contravenções praticados com
violência ou grave ameaça contra a mulher, no âmbito das relações domésticas,
dada a relevância penal da conduta. Vale ressaltar que o fato de o casal ter se
reconciliado não significa atipicidade material da conduta ou desnecessidade de
pena. STJ. 5ª Turma. HC 333.195/MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
12/04/2016. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 318849/MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 27/10/2015. STF. 2ª Turma. RHC 133043/MT, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgado em 10/5/2016 (Info 825).

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Súmula 589-STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou


contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações
domésticas

Obs.: Princípio da Insignificância x Princípio da Bagatela Imprópria


Aplica-se o princípio da bagatela imprópria à infração que nasce relevante para o Direito penal, ou
seja, é uma infração típica, antijurídica e culpável, mas, em momento posterior, verifica-se que a aplicação
de qualquer pena, ao caso concreto, seria totalmente desnecessária.
Nesse sentido, surgiu uma tese defensiva afirmando que, se o casal se reconciliasse durante o curso
do processo criminal, o juiz poderia absol
No entanto, essa tese NÃO É ACEITA pelos Tribunais Superiores? Assim como ocorre com o princípio
da insignificância, também não se admite a aplicação do princípio da bagatela imprópria para os crimes ou
contravenções penais praticados contra mulher no âmbito das relações domésticas, tendo em vista a
relevância do bem jurídico tutelado.

O fato de o casal ter se reconciliado ou de a vítima ter perdoado não importará na


absolvição do réu. Nesse sentido: O princípio da bagatela imprópria não tem
aplicação aos delitos praticados com violência à pessoa, no âmbito das relações
domésticas, dada a relevância penal da conduta, não implicando a reconciliação do
casal em desnecessidade da pena. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1463975/MS, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 09/08/2016.

No mesmo sentido: STJ. 6ª Turma. AgInt no HC 369.673/MS, Rel. Min. Rogerio


Schietti Cruz, julgado em 14/02/2017.

CAIU EM PROVA DELTA/PR 2021:


Sobre Lei nº 11.340/2006, a qual cria os mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, assinale a alternativa correta.

A) O crime de lesão corporal leve, praticado contra a mulher no âmbito das relações domésticas e familiares,
deve ser processado mediante ação penal pública condicionada à representação.
B) Presentes os requisitos, é possível a realização de transação penal nos crimes que envolvem violência
doméstica e familiar contra a mulher.
C) Não é possível a aplicação do princípio da insignificância nos delitos praticados com violência ou grave
ameaça no âmbito das relações domésticas e familiares contra a mulher.
D) O sujeito passivo da violência doméstica objeto da Lei Maria da Penha é apenas a mulher, e o sujeito ativo
é apenas o homem.

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E) O descumprimento de medida protetiva de urgência configura o crime de desobediência em face da


inexistência de outras sanções previstas no ordenamento jurídico para a hipótese.

Gabarito: Letra C

17. AÇÃO PENAL NOS CRIMES DA LEI MARIA DA PENHA

Inicialmente, cumpre salientar que não são todos os crimes praticados no contexto de violência
doméstica e familiar contra a mulher que são de ação penal pública incondicionada. Veja: a regra prevista
pelo Código Penal é que os crimes serão de ação penal pública incondicionada, inclusive quando não houver
previsão expressa nesse sentido. Ou seja: quando o Código não falar nada, o crime será de ação penal pública
incondicionada (essa regra vale para todos os crimes!). Assim, para que o crime seja de ação penal privada
ou pública condicionada, deve haver disposição expressa nesse sentido.
Ocorre que havia divergência doutrinária sobre o crime de LESÃO CORPORAL LEVE e LESÃO
CORPORAL CULPOSA no âmbito da Lei Maria da Penha. Isso porque, por um lado, a Lei 9099/95 afirma que
os crimes de lesão corporal culposa e leve são de ação penal pública condicionada à representação (art. 88),
enquanto, por outro lado, o art. 41 da Lei Maria da Penha expressamente afasta a incidência da Lei 9099/95
aos crimes cometidos no âmbito da Violência Doméstica e familiar contra a mulher.
Assim surgiu a seguinte divergência: aplica-se o disposto na Lei 9099/95, que prevê a ação penal
pública condicionada à representação para as lesões corporais leves e culposas, ou se aplica o disposto na
Lei 11.340/06, que veda a aplicação da Lei 9099/95 aos crimes da Lei?
A doutrina e jurisprudência dominantes são no sentido de que deve prevalecer o art. 41 da Lei Maria
da Penha, em razão do princípio da especialidade. Assim, embora a regra geral seja de que as lesões
corporais leves e culposas dependam de representação, SE OCORREREM NO ÂMBITO DA LEI MARIA DA
PENHA, SERÃO CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA. Não porque a Lei 11.340/06 dispõe
dessa forma, mas sim porque veda a aplicação da Lei 9.099/95.
Portanto, o queremos dizer é:
Se o crime praticado no âmbito de violência doméstica e familiar contra a mulher estiver
previsto no CÓDIGO PENAL como um crime condicionado à representação, como é o caso
da ameaça, assim será. As ameaças no contexto de violência doméstica precisarão de
representação da ofendida pois esta é a regra geral do Código Penal - e a Lei Maria da Penha
não afasta a incidência do Código Penal.
Por outro lado, se o crime praticado no âmbito de violência doméstica e familiar contra a
mulher estiver previsto NA LEI DE JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS como um crime
condicionado à representação, como é o caso da lesão corporal leve e culposa, essa regra
não será aplicada aos crimes praticados no contexto de violência doméstica pois a própria
Lei Maria da Penha afasta a incidência da Lei 9.099/95.

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Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 1995.

Informativo 654 do STF - Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar
contra a mulher não se aplica a Lei dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95), mesmo
que a pena seja menor que 2 anos.

Súmula 542 - STJ: a ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

Veja a explicação do professor Renato Brasileiro sobre o tema (2020, Pg. 1281):

"Lado outro, o art. 41 da Lei nº 9.099/95 dispõe que, aos crimes praticados com
violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena
prevista, não se aplica a Lei nº 9.099/95. Ora, se a Lei dos Juizados não é aplicável
às situações de violência doméstica e familiar contra a mulher, e se é a Lei nº
9.099/95 que dispõe que os crimes de lesão corporal leve e de lesão corporal
culposa são de ação penal pública condicionada à representação (art. 88), conclui-
se que, se acaso praticados no contexto de violência doméstica e familiar contra a
mulher, tais delitos seriam de ação penal pública incondicionada.".

18. COMPETÊNCIA NA LEI MARIA DA PENHA

Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais


decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-
se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação
específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o
estabelecido nesta Lei.

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da


Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União,
no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento
e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a mulher.
Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno,
conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

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Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio ou de dissolução de


união estável no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)
§ 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher a pretensão relacionada à partilha de bens. (Incluído pela Lei nº
13.894, de 2019)
§ 2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o ajuizamento da
ação de divórcio ou de dissolução de união estável, a ação terá preferência no
juízo onde estiver. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

a) Ato infracional:
Ato infracional continua a ser da competência do juizado da infância e da juventude, mesmo
quando cometido contra a mulher no âmbito familiar.

b) Execução penal:
Embora, o artigo 13 aluda à execução, a competência para tanto continua sendo regida pelo artigo
65 da Lei 7210/84 (lei de execuções penais). Não se aplica ao pé da letra o artigo 13 da lei 11.340, sendo a
competência da execução penal regida pelo referido art. 65 da LEP.

LEP. Art. 65. A execução penal competirá ao Juiz indicado na lei local de
organização judiciária e, na sua ausência, ao da sentença.

c) Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher


Conforme já mencionado, o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher não se
confunde com os Juizados Especiais Criminais (cuja aplicação, inclusive, é expressamente vedada pela Lei
Maria da Penha).
O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher é um órgão fracionário do Poder
Judiciário que teve a sua criação autorizada por esta lei. Cabe aos Tribunais de Justiça dos Estados a criação
desse órgão dentro das suas estruturas, de acordo com as normas de organização judiciária da cada Estado.
Ressalta-se que sua criação é facultativa, estando inserida no âmbito da autonomia política de cada ente
federativo.
O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher tem competência mista, ou seja, cível
e criminal. Ao mesmo tempo em que se julga o delito praticado em situação de violência doméstica e familiar
contra a mulher, praticam-se atos de natureza cível, como a separação judicial, entre outros.
Ademais, nos locais em que ainda não tiverem sido estruturados os Juizados de Violência Doméstica
e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para as causas
decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher.

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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stica
contra a mulher, independentemente de sua classificação como crime ou
contravenção, deve ser fixada a competência da Vara Criminal para apreciar e julgar
o feito, enquanto não forem estruturados os Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a mulher.

Inf. 550 do STJ - Juizado da Violência Doméstica possui competência para executar
alimentos por ele fixados. O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher tem competência para julgar a execução de alimentos que tenham sido
fixados a título de medida protetiva de urgência fundada na Lei Maria da Penha em
favor de filho do casal em conflito.

Inf. 572 do STJ - Competência para julgar ação de divórcio advinda de violência
suportada por mulher no âmbito familiar e doméstico. A extinção de medida
protetiva de urgência diante da homologação de acordo entre as partes não afasta
a competência da Vara Especializada de Violência Doméstica ou Familiar contra a
Mulher para julgar ação de divórcio fundada na mesma situação de agressividade
vivenciada pela vítima e que fora distribuída por dependência à medida extinta.

Inf. 617 do STJ -A Vara Especializada da Violência Doméstica ou Familiar Contra a


Mulher possui competência para o julgamento de pedido incidental de natureza
civil, relacionado à autorização para viagem ao exterior e guarda unilateral do
infante, na hipótese em que a causa de pedir de tal pretensão consistir na prática
de violência doméstica e familiar contra a genitora. STJ. 3ª Turma. REsp 1.550.166-
DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/11/2017

Obs.: Quem julga o crime de estupro de vulnerável praticado por pai contra filha de 4 anos: vara

Se o fator determinante que ensejou a prática do crime foi a tenra idade da vítima fica afastada a
vara de violência doméstica e familiar? Ex: estupro de vulnerável praticado por pai contra a filha, de 4 anos.

SIM. Posição da 5ª Turma do STJ: Se o fato de a vítima ser do sexo feminino não foi determinante
para a caracterização do crime de estupro de vulnerável, mas sim a tenra idade da ofendida, que
residia sobre o mesmo teto do réu, que com ela manteve relações sexuais, não há que se falar
em competência do Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. STJ. 5ª
Turma. AgRg no AREsp 1020280/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/08/2018.

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NÃO. Julgado recente da 6ª Turma do STJ: A idade da vítima é irrelevante para afastar a
competência da vara especializada em violência doméstica e familiar contra a mulher e as
normas protetivas da Lei Maria da Penha. STJ. 6ª Turma. RHC 121813-RJ, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 20/10/2020 (Info 682).

d) Crimes dolosos contra a vida praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a
mulher
Em um primeiro momento cumpre recordarmos que o Tribunal do júri é composto por duas fases,
uma primeira chamada de Iudicium Accusationis, a segunda conhecida como Iudicium Causae.
Na primeira fase temos a participação apenas do Juiz Sumariante, que pode pronunciar,
impronunciar, absolver sumariamente ou desclassificar. Apenas na segunda fase é que entra a atuação do
Júri sendo composto pelo Juiz Presidente e por mais 25 jurados, 7 dos quais irão compor o Conselho de
sentença.
Em alguns Estados essa primeira fase do Tribunal do Júri vem tramitando nos Juizados de violência
doméstica e familiar contra a Mulher, enquanto que, em outros, a primeira fase tramita nas varas privativas
do júri. Isso é possível, dependendo da Lei de Organização judiciária local, pois o que a Constituição Federal
obriga é o Julgamento propriamente dito do crime doloso contra a vida pelo Tribunal do Júri.
Nesse sentido, contemplamos que a Constituição Federal exige é que o julgamento ocorra no
Tribunal do Júri, de forma que nada impede que a Lei de Organização Judiciária delegue a primeira fase a
outro juízo, como por exemplo, ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

STF - A Lei de Organização Judiciária poderá prever que a 1° fase do procedimento


do júri seja realizada na Vara de Violência Doméstica em caso de crimes dolosos
contra a vida praticados no contexto de violência doméstica. Não haverá usurpação
da competência constitucional do júri. Apenas o julgamento propriamente dito é
que, obrigatoriamente, deverá ser feito no Tribunal do Júri. STF. 2a Turma. HC
102150/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/5/2014.

Obs.: Em caso de ameaça por redes sociais ou pelo Whatsapp, o juízo competente para deferir as medidas
protetivas é aquele no qual a mulher tomou conhecimento das intimidações.

Em caso de ameaça proferida contra a mulher por meio de redes sociais (ex:
Facebook) ou por aplicativos como o WhatsApp, o juízo competente para deferir as
medidas protetivas é aquele onde a vítima tomou conhecimento das intimidações,
por ser este o local de consumação do crime previsto pelo art. 147 do Código
Penal. O art. 147 do CP é crime formal, de modo que se consuma no momento em
que a vítima toma conhecimento da ameaça. Segundo o art. 70, primeira parte, do
CPP, "a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
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infração". Ex: o ex-marido, residente em Curitiba, ameaçou a vítima por meio de


mensagens no Facebook e no Whatsapp. Quando a vítima recebeu as mensagens
já estava morando em Naviraí (MS). Diante disso, a competência para julgar as
medidas protetivas em favor da mulher é o juízo da comarca de Naviraí (MS). STJ.
3ª Seção. CC 156.284/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 28/02/2018.

19. REPARAÇÃO DE DANOS NO ÂMBITO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

A sentença penal condenatória, depois de transitada em julgado, produz diversos efeitos. Um deles
é que a condenação gera a obrigação do réu de reparar o dano causado. Inclusive, à luz do CPC (art. 515), a
sentença condenatória constitui-se em título executivo judicial:

CP. Art. 91. São efeitos da condenação:


I Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

CPC. Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo
com os artigos previstos neste Título: VI - a sentença penal condenatória transitada
em julgado;

Assim, a vítima (ou seus sucessores), na posse da sentença que condenou o réu, após o seu trânsito
em julgado, dispõe de um título que poderá ser executado no juízo cível para cobrar o ressarcimento pelos
prejuízos sofridos em decorrência do crime.
O art. 387, IV, do CPP prevê que o juiz, ao condenar o réu, já estabeleça na sentença um valor mínimo
que o condenado estará obrigado a pagar a título de reparação dos danos causados. Veja:

Art. 387.O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV fixará valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719/2008)

Acerca da fixação desse valor mínimo, atente-se à algumas considerações:


Para que seja fixado o valor da reparação deverá haver pedido expresso e formal do MP ou do
ofendido;
Não é necessário que o MP ou o ofendido, ao fazer o pedido, apontem o valor líquido e certo
pretendido;
A reparação dos danos abrange tanto os danos materiais como os danos morais:
a) Danos materiais - o juiz somente poderá fixar a indenização se existirem provas nos autos
que demonstrem os prejuízos sofridos pela vítima em decorrência do crime.

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b) Danos morais - Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e
familiar, o valor mínimo a ser fixado a título de danos morais independe de instrução
probatória. (O dano moral é in re ipsa)

Veja a jurisprudência sobre o tema:

Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar,


é possível a fixação de valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde
que haja pedido expresso da acusação ou da parte ofendida, ainda que não
especificada a quantia, independentemente de instrução probatória. STJ. 3ª
Seção. REsp 1.643.051-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 28/02/2018
(Info 621).

A posterior reconciliação entre a vítima e o agressor não é fundamento suficiente


para afastar a necessidade de fixação do valor mínimo previsto no art. 387, inciso
IV, do CPP, seja porque não há previsão legal nesse sentido, seja porque compete
à própria vítima decidir se irá promover a execução ou não do título executivo,
sendo vedado ao Poder Judiciário omitir-se na aplicação da legislação processual
penal que determina a fixação do valor mínimo em favor da ofendida. CPP/Art. 387.
O juiz, ao proferir sentença condenatória:(...) IV - fixará valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido; STJ. 6ª Turma. REsp 1819504-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
10/09/2019 (Info 657).

CAIU EM CONCURSO!

PCBA/2022 Delegado de Polícia: O art. 7º da Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006 dispõe que a
União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, no limite de suas respectivas
competências, instrumentos específicos para o atendimento da mulher em situação de violência doméstica
e familiar. Levando em consideração o que está descrito na referida lei sobre esses instrumentos, analise as
afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F).

( ) Centros de educação e de reabilitação para os agressores.


( ) Centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e respectivos dependentes em situação
de violência doméstica e familiar.
( ) Delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e centros de perícia médico-legal
especializados no atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar.

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( ) Casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situação de violência doméstica e


familiar.
( ) Programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica e familiar, que poderão ser custeadas
com os recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.
a) F - F - F - V - V
b) V - F - F - V - F
c) V - F - V - F - V
d) V - V - F - F - V
e) V - V - V - V V

OBS.: No dia 30/03/2022, foi sancionada a Lei 14.316, de 2022, que destina pelo menos 5% dos recursos do
Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) para o enfrentamento da violência contra a mulher, incluindo-
se aí as ações previstas na Lei Maria da Penha.

20. LEI 14.022/2020

Vimos que, embora a Lei Maria da Penha não possa ser aplicada aos homens, ainda que em situação
de vulnerabilidade, é possível aplicar a eles as medidas protetivas de urgência.
Nesse sentido, e considerando que, durante a pandemia do Covid-19, verificou-se que o
confinamento social gerou um aumento no número de casos de violência doméstica e familiar contra as
mulheres, crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência, foi editada a Lei nº 14.022/2020, que
prevê medidas para enfrentamento da violência doméstica e familiar contra essas pessoas durante o período
de pandemia.
Por se tratar de um tema extremamente recente, aconselhamos a leitura detalhada da lei!
Veja, abaixo, um resumo das mudanças efetuadas5.

1) Serviços de atendimento a essas pessoas são considerados essenciais


O art. 3º da Lei nº 13.979/2020 prevê, em seus incisos, nove medidas para enfrentamento do
coronavírus. Ex: isolamento, quarentena, restrição excepcional e temporária da locomoção interestadual ou
intermunicipal, requisição de bens e serviços, entre outros.
O § 8º do art. 3º faz, contudo, uma ressalva e afirma que essas medidas previstas nos incisos, quando
adotadas, deverão resguardar o exercício e o funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais.

5
Dizer o Direito

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A Lei nº 14.022/2020 acrescenta um novo parágrafo ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020 afirmando que
são essenciais os serviços e atividades voltados ao atendimento de:
Mulheres em situação de violência doméstica e familiar;
Crianças e adolescentes vítimas de crimes previstos no ECA ou no CP;
Pessoas idosas vítimas de crimes previstos no Estatuto do Idoso ou no CP;
Pessoas com deficiência vítimas de crimes previstos no Estatuto da Pessoa com Deficiência ou no CP.

Veja o dispositivo inserido:

Art. 3º, § 7º-C Os serviços públicos e atividades essenciais, cujo funcionamento


deverá ser resguardado quando adotadas as medidas previstas neste artigo,
incluem os relacionados ao atendimento a mulheres em situação de violência
doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, a
crianças, a adolescentes, a pessoas idosas e a pessoas com deficiência vítimas de
crimes tipificados na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), na Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), na
Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), e no
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal).

Para garantir que esse serviço essencial seja mantido, foi acrescentado o art. 5º-A à Lei nº
13.979/2020 prevendo que:
Os prazos processuais, a apreciação de matérias, o atendimento às partes e a concessão de medidas
protetivas devem continuar normalmente;
O registro de ocorrências relacionadas com essas infrações penais poderá ser feito por telefone ou
meio eletrônico.

Art. 5º-A Enquanto perdurar o estado de emergência de saúde internacional


decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019:
I - os prazos processuais, a apreciação de matérias, o atendimento às partes e a
concessão de medidas protetivas que tenham relação com atos de violência
doméstica e familiar cometidos contra mulheres, crianças, adolescentes, pessoas
idosas e pessoas com deficiência serão mantidos, sem suspensão;
II - o registro da ocorrência de violência doméstica e familiar contra a mulher e de
crimes cometidos contra criança, adolescente, pessoa idosa ou pessoa com
deficiência poderá ser realizado por meio eletrônico ou por meio de número de
telefone de emergência designado para tal fim pelos órgãos de segurança pública;
Parágrafo único. Os processos de que trata o inciso I do caput deste artigo serão
considerados de natureza urgente.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

2) Poder público deverá adotar medidas para garantir o atendimento presencial


A Lei nº 14.022/2020 prevê que o poder público deverá adotar as medidas necessárias para que,
mesmo durante a pandemia, seja mantido o atendimento presencial de mulheres, idosos, crianças ou
adolescentes em situação de violência.
Se for necessário, poderá haver a adaptação dos procedimentos estabelecidos na Lei Maria da Penha
(Lei nº 11.340/2006) às circunstâncias emergenciais do período de pandemia. A adaptação dos
procedimentos deverá assegurar a continuidade do funcionamento habitual dos órgãos do poder público
descritos na Lei nº 11.340/2006, no âmbito de sua competência, com o objetivo de garantir a manutenção
dos mecanismos de prevenção e repressão à violência doméstica e familiar contra a mulher e à violência
contra idosos, crianças ou adolescentes.
Se, por razões de segurança sanitária, não for possível manter o atendimento presencial a todas as
demandas relacionadas à violência doméstica e familiar contra a mulher e à violência contra idosos, crianças
ou adolescentes, o poder público deverá, obrigatoriamente, garantir o atendimento presencial para
situações que possam envolver, efetiva ou potencialmente, os ilícitos previstos:
I - No Código Penal, na modalidade consumada ou tentada:
a) feminicídio (art. 121, § 2º, VI);
b) lesão corporal de natureza grave (art. 129, § 1º);
c) lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º);
d) lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º);
e) ameaça praticada com uso de arma de fogo (art. 147);
f) estupro (art. 213);
g) estupro de vulnerável (art. 217-A);
h) corrupção de menores (art. 218);
i) satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente (art. 218-A);
II - na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha): o crime de descumprimento de medidas protetivas
de urgência (art. 24-A);
III - no ECA;
IV - no Estatuto do Idoso.

3) Realização prioritária do exame de corpo de delito


Mesmo durante a vigência da Lei nº 13.979/2020, ou mesmo durante o estado de emergência de
caráter humanitário e sanitário em território nacional, deverá ser garantida a realização prioritária do exame
de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva:
I - Violência doméstica e familiar contra a mulher;
II - Violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

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Nos casos de crimes de natureza sexual, se houver a adoção de medidas pelo poder público que
restrinjam a circulação de pessoas, os órgãos de segurança deverão estabelecer equipes móveis para
realização do exame de corpo de delito no local em que se encontrar a vítima.

4) Disponibilização de canais de comunicação


Os órgãos de segurança pública deverão disponibilizar canais de comunicação que garantam
interação simultânea, inclusive com possibilidade de compartilhamento de documentos, desde que gratuitos
e passíveis de utilização em dispositivos eletrônicos, como celulares e computadores, para atendimento
virtual de situações que envolvam violência contra a mulher, o idoso, a criança ou o adolescente, facultado
aos órgãos integrantes do Sistema de Justiça - Poder Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública, e aos
demais órgãos do Poder Executivo, a adoção dessa medida.
Vale ressaltar que a disponibilização de canais de atendimento virtuais não exclui a obrigação do
poder público de manter o atendimento presencial de mulheres em situação de violência doméstica e
familiar e de casos de suspeita ou confirmação de violência praticada contra idosos, crianças ou adolescentes.
Nos casos de violência doméstica e familiar, a ofendida poderá solicitar quaisquer medidas protetivas
de urgência à autoridade competente por meio dos dispositivos de comunicação de atendimento on-line.

5) Concessão das medidas protetivas de urgência de forma eletrônica


A Lei prevê que, se as circunstâncias do fato justificarem, a autoridade competente poderá conceder
qualquer uma das medidas protetivas de urgência previstas na Lei Maria da Penha, de forma eletrônica.
A autoridade poderá considerar provas coletadas eletronicamente ou por audiovisual, em momento
anterior à lavratura do boletim de ocorrência e a colheita de provas que exija a presença física da ofendida.É
possível ainda que o Poder Judiciário faça a intimação da ofendida e do ofensor da decisão judicial por meio
eletrônico.
Após a concessão da medida de urgência de forma eletrônica, a autoridade competente,
independentemente da autorização da ofendida, deverá:
I - se for autoridade judicial, comunicar à unidade de polícia judiciária competente para
que proceda à abertura de investigação criminal para apuração dos fatos;
II - se for delegado de polícia, comunicar imediatamente ao Ministério Público e ao Poder
Judiciário da medida concedida e instaurar imediatamente inquérito policial, determinando
todas as diligências cabíveis para a averiguação dos fatos;
III - se for policial, comunicar imediatamente ao Ministério Público, ao Poder Judiciário e à
unidade de polícia judiciária competente da medida concedida, realizar o registro de boletim
de ocorrência e encaminhar os autos imediatamente à autoridade policial competente para
a adoção das medidas cabíveis.

6) Prorrogação automática das medidas protetivas

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As medidas protetivas deferidas em favor da mulher serão automaticamente prorrogadas e vigorarão


durante a vigência da Lei nº 13.979/2020, ou durante a declaração de estado de emergência.
O juiz competente providenciará a intimação do ofensor, que poderá ser realizada por meios
eletrônicos, cientificando-o da prorrogação da medida protetiva.
Obviamente, essas medidas poderão ser revistas ou cessadas pelo Poder Judiciário caso se entenda
necessário.

7) Denúncia recebidas deverão ser repassadas para os órgãos competentes


As denúncias de violência recebidas na esfera federal pela Central de Atendimento à Mulher - Ligue
180 e pelo serviço de proteção de crianças e adolescentes com foco em violência sexual - Disque 100 devem
ser repassadas, com as informações de urgência, para os órgãos competentes.
O prazo máximo para o envio dessas informações é de 48 horas, salvo impedimento técnico.

8) Autoridade de segurança pública deverá assegurar atendimento ágil


Em todos os casos, a autoridade de segurança pública deve assegurar o atendimento ágil a todas as
demandas apresentadas e que signifiquem risco de vida e a integridade da mulher, do idoso, da criança e do
adolescente, com atuação focada na proteção integral.

9) Realização de campanhas informativas


O poder público promoverá campanha informativa sobre prevenção à violência e acesso a
mecanismos de denúncia durante a vigência da Lei nº 13.979/2020, ou durante a vigência do estado de
emergência decorrente da Covid-19.

10) Vigência
A Lei nº 14.022/2020 entrou em vigor na data de sua publicação (08/07/2020).

21. ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS IMPORTANTES

É válida a atuação supletiva e excepcional de delegados de polícia e de policiais a


fim de afastar o agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida,
quando constatado risco atual ou iminente à vida ou à integridade da mulher em
situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, conforme o
art. 12-C inserido na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). STF. Plenário. ADI
6138/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/3/2022 (Info 1048).

Não cabe o arbitramento de aluguel em desfavor da coproprietária vítima de


violência doméstica, que, em razão de medida protetiva de urgência decretada
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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judicialmente, detém o uso e gozo exclusivo do imóvel de cotitularidade do


agressor.
Em regra, a utilização ou a fruição da coisa comum indivisa com exclusividade por
um dos coproprietários, impedindo o exercício de quaisquer dos atributos da
propriedade pelos demais consortes, enseja o pagamento de indenização àqueles
que foram privados do regular domínio sobre o bem, tal como o percebimento de
aluguéis. É o que prevê o art. 1.319 do Código Civil. Contudo, impor à vítima de
violência doméstica e familiar obrigação pecuniária consistente em locativo pelo
uso exclusivo e integral do bem comum constituiria proteção insuficiente aos
direitos constitucionais da dignidade humana e da igualdade, além de ir contra um
dos objetivos fundamentais do Estado brasileiro de promoção do bem de todos sem
preconceito de sexo, sobretudo porque serviria de desestímulo a que a mulher
buscasse o amparo do Estado para rechaçar a violência contra ela praticada, como
assegura a Constituição Federal em seu art. 226, § 8º, a revelar a
desproporcionalidade da pretensão indenizatória em tais casos. A imposição
judicial de uma medida protetiva de urgência - que procure cessar a prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher e implique o afastamento do
agressor do seu lar - constitui motivo legítimo a que se limite o domínio deste sobre
o imóvel utilizado como moradia conjuntamente com a vítima, não se
evidenciando, assim, eventual enriquecimento sem causa, que legitime o
arbitramento de aluguel como forma de indenização pela privação do direito de
propriedade do agressor. STJ. 3ª Turma. REsp 1966556-SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 08/02/2022 (Info 724).

A reconciliação entre a vítima e o agressor, no âmbito da violência doméstica e


familiar contra a mulher, não é fundamento suficiente para afastar a necessidade
de fixação do valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração
penal
A posterior reconciliação entre a vítima e o agressor não é fundamento suficiente
para afastar a necessidade de fixação do valor mínimo previsto no art. 387, inciso
IV, do CPP, seja porque não há previsão legal nesse sentido, seja porque compete
à própria vítima decidir se irá promover a execução ou não do título executivo,
sendo vedado ao Poder Judiciário omitir-se na aplicação da legislação processual
penal que determina a fixação do valor mínimo em favor da ofendida. CPP/Art. 387.
O juiz, ao proferir sentença condenatória:(...) IV - fixará valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido; STJ. 6ª Turma. REsp 1819504-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
10/09/2019 (Info 657).
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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Se a mulher vítima de crime de ação pública condicionada comparece ao cartório


da vara e manifesta interesse em se retratar da representação, ainda assim o juiz
deverá designar audiência para que ela confirme essa intenção e seja ouvido o MP,
nos termos do art. 16
A Lei Maria da Penha autoriza, em seu art. 16, que, se o crime for de ação pública
condicionada (ex: ameaça), a vítima possa se retratar da representação que havia
oferecido, desde que faça isso em audiência especialmente designada, ouvido o
MP. Veja: Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da
ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante
o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do
recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. Não atende ao disposto
neste art. 16 a retratação da suposta ofendida ocorrida em cartório de Vara, sem a
designação de audiência específica necessária para a confirmação do ato. Em
outras palavras, se a vítima comparece ao cartório e manifesta interesse em se
retratar, ainda assim o juiz deverá designar a audiência para ouvir a ofendida e o
MP, não podendo rejeitar a denúncia sem cumprir esse procedimento. STJ. 5ª
Turma. HC 138143-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/09/2019 (Info 656).

A medida de afastamento do local de trabalho, prevista no art. 9º, § 2º, da Lei é de


competência do Juiz da Vara de Violência Doméstica, sendo caso de interrupção do
contrato de trabalho, devendo a empresa arcar com os 15 primeiros dias e o INSS
com o restante
O art. 9º, § 2º da Lei Maria da Penha prevê que: O juiz assegurará à mulher em
situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e
psicológica, manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento
do local de trabalho, por até seis meses. A competência para determinar essa
medida é do Juiz da Vara de Violência Doméstica ou do Juiz do Trabalho? Juiz da
Vara de Violência Doméstica. O juiz da vara especializada em Violência Doméstica
(ou, caso não haja na localidade, o juízo criminal) tem competência para apreciar
pedido de imposição de medida protetiva de manutenção de vínculo trabalhista,
por até seis meses, em razão de afastamento do trabalho de ofendida decorrente
de violência doméstica e familiar. Isso porque o motivo do afastamento não advém
da relação de trabalho, mas sim da situação emergencial que visa garantir a
integridade física, psicológica e patrimonial da mulher. Qual é a natureza jurídica
desse afastamento? Sobre quem recai o ônus do pagamento? A natureza jurídica
do afastamento por até seis meses em razão de violência doméstica e familiar é de
interrupção do contrato de trabalho, incidindo, analogicamente, o auxílio-doença,
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

devendo a empresa se responsabilizar pelo pagamento dos quinze primeiros dias,


ficando o restante do período a cargo do INSS. STJ. 6ª Turma. REsp 1757775-SP, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/08/2019 (Info 655).

Decisão que fixa alimentos em razão da prática de violência doméstica pode ser
executada sob o rito da prisão civil
A decisão proferida em processo penal que fixa alimentos provisórios ou
provisionais em favor da companheira e da filha, em razão da prática de violência
doméstica, constitui título hábil para imediata cobrança e, em caso de
inadimplemento, passível de decretação de prisão civil. STJ. 3ª Turma. RHC 100446-
MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/11/2018 (Info 640).

Fixação do valor mínimo para reparação dos danos prevista no art. 387, IV, do
CPP
Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar,
é possível a fixação de valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde
que haja pedido expresso da acusação ou da parte ofendida, ainda que não
especificada a quantia, e independentemente de instrução probatória. CPP/Art.
387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV - fixará valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido. STJ. 3ª Seção. REsp 1643051-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 621).

Violência praticada por filha contra a mãe


Aplica-se a Lei Maria da Penha. O agressor também pode ser mulher. STJ. 5ª Turma.
HC 277561/AL, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/11/2014.

Violência praticada por filho contra pai idoso


Não se aplica a Lei Maria da Penha. O sujeito passivo (vítima) não pode ser do sexo
masculino. STJ. 5ª Turma. RHC 51481/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
21/10/2014.

Súmulas Importantes:

Súmula 536, STJ - A suspensão condicional do processo e a transação penal


não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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Súmula 542, STJ - A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

Súmula 588, STJ - A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher


com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição
da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

Súmula 589, STJ - É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou


contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações
domésticas.

Súmula 600, STJ - Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no


artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre
autor e vítima.

Jurisprudência em Teses:

EDIÇÃO N. 205: MEDIDAS PROTETIVAS (2022)

1) As medidas protetivas previstas na Lei n. 11.340/2006 são aplicáveis às


minorias, como transexuais, transgêneros, cisgêneros e travestis em situação de
violência doméstica, afastado o aspecto meramente biológico.
2) As medidas protetivas impostas pela prática de violência doméstica e
familiar contra a mulher possuem natureza satisfativa, motivo pelo qual podem
ser pleiteadas de forma autônoma, independentemente da existência de outras
ações judiciais.
3) Não se aplica o art. 308 do CPC/2015, que exige o ajuizamento de ação
principal no prazo de trinta dias, à medida protetiva de alimentos deferida com
fundamento na Lei n. 11.340/2006, que possui natureza satisfativa, e não
cautelar.
4) A medida protetiva de alimentos deferida com fundamento na Lei
n.11.340/2006 subsiste enquanto perdurar a situação de vulnerabilidade
desencadeada pela prática de violência doméstica e familiar, e não apenas
durante a situação de violência.
5) O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher é competente
para executar os alimentos fixados como medida protetiva de urgência em
decorrência da aplicação da Lei Maria da Penha pela Vara especializada.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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6) A decisão proferida em processo penal que fixa alimentos em razão de


prática de violência doméstica constitui título hábil para imediata cobrança e, em
caso de inadimplemento, é possível a decretação de prisão civil.
7) Não é possível decretar a prisão do paciente por descumprimento de
cautelar de prestação de alimentos sem a indicação concreta de prejuízo efetivo
à vítima quando há contra ele a imputação de ataques físicos e morais à vítima e
foram fixadas diversas medidas protetivas que preservam a segurança dela.
8) O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher é competente
para conhecer e julgar ação de divórcio ou de reconhecimento e dissolução de
união estável na hipótese em que houve anterior promoção de medida protetiva,
ainda que tenha sido extinta por homologação de acordo entre as partes.
9) O Juízo da Vara Especializada em Violência Doméstica e Familiar ou, na
ausência deste, o Juízo Criminal é competente para apreciar o pedido de
imposição de medida protetiva de manutenção de vínculo trabalhista da ofendida
em razão de afastamento do trabalho decorrente de violência doméstica e
familiar.
10) Compete à Justiça Federal apreciar pedido de medida protetiva de urgência
decorrente de crime de ameaça contra mulher, iniciado no estrangeiro com
resultado no Brasil e cometido por meio de rede social de grande alcance.

EDIÇÃO N. 41: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER

1) A Lei n. 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, objetiva proteger a


mulher da violência doméstica e familiar que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico, e dano moral ou patrimonial, desde que o crime seja
cometido no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação
íntima de afeto.

2) A Lei Maria da Penha atribuiu às uniões homoafetivas o caráter de entidade


familiar, ao prever, no seu artigo 5º, parágrafo único, que as relações pessoais
mencionadas naquele dispositivo independem de orientação sexual.

3) O sujeito passivo da violência doméstica objeto da Lei Maria da Penha é a mulher,


já o sujeito ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que fique
caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade, além da
convivência, com ou sem coabitação.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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4) A violência doméstica abrange qualquer relação íntima de afeto, dispensada a


coabitação.

5) Para a aplicação da Lei n. 11.340/2006, há necessidade de demonstração da


situação de vulnerabilidade ou hipossuficiência da mulher, numa perspectiva de
gênero.

6) A vulnerabilidade, hipossuficiência ou fragilidade da mulher têm-se como


presumidas nas circunstâncias descritas na Lei n. 11.340/2006.

7) A agressão do namorado contra a namorada, mesmo cessado o relacionamento,


mas que ocorra em decorrência dele, está inserida na hipótese do art. 5º, III, da Lei
n. 11.340/06, caracterizando a violência doméstica.

8) Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher têm competência


cumulativa para o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do art. 14 da Lei n.
11.340/2006.

9) O descumprimento de medida protetiva de urgência não configura o crime de


desobediência, em face da existência de outras sanções previstas no ordenamento
jurídico para a hipótese.

10) Não é possível a aplicação dos princípios da insignificância e da bagatela


imprópria nos delitos praticados com violência ou grave ameaça no âmbito das
relações domésticas e familiares.

11) O crime de lesão corporal, ainda que leve ou culposo, praticado contra a mulher
no âmbito das relações domésticas e familiares, deve ser processado mediante
ação penal pública incondicionada.

12) É cabível a decretação de prisão preventiva para garantir a execução de


medidas de urgência nas hipóteses em que o delito envolver violência doméstica.

13) Nos crimes praticados no âmbito doméstico e familiar, a palavra da vítima tem
especial relevância para fundamentar o recebimento da denúncia ou a condenação,
pois normalmente são cometidos sem testemunhas.

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14) A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na


hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha. (Súmula n. 536/STJ)

15) É inviável a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos


nos casos de violência doméstica, uma vez que não preenchidos os requisitos do
art. 44 do CP.

16) O habeas corpus não constitui meio idôneo para se pleitear a revogação de
medidas protetivas previstas no art. 22 da Lei n. 11.340/2006 que não implicam
constrangimento ao direito de ir e vir do paciente.

17) A audiência de retratação prevista no art. 16 da Lei n. 11.340/06 apenas será


designada no caso de manifestação expressa ou tácita da vítima e desde que
ocorrida antes do recebimento da denúncia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Leis Penais Especiais, Volume Único, Gabriel Habib
Legislação Criminal Especial Comentada. Renato Brasileiro de Lima
Vade Mecum ou Buscador de Jurisprudência do Dizer o Direito, Márcio André Lopes Cavalcante

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META 2

DIREITO PROCESSUAL PENAL: QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTES, SUJEITOS DO


PROCESSO, COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS, EMENDATIO E MUTATIO LIBELI

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CPP:
Art. 92 a 124-A
Art. 351 a 371
Art. 381 a 393
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES NÃO DEIXE DE LER!
CPP
Art. 95, 96, 100
Art. 104 a 107
Art. 118, 120, 122 e 124-A
Art. 125 a 127
Art. 131, 133 e 133-A
Art. 134, 136, 141 e 144-A
Art. 145, 147, 148 e 149
Art. 351, 353, 361, 362, 366 e 367
Art. 383 e 385

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 273-STJ: Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação da
data da audiência no juízo deprecado.
Súmula 155-STF: É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de
precatória para inquirição de testemunha.
Súmula 453-STF: Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de Processo
Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância
elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.
Súmula 208-STF: O assistente do Ministério Público não pode recorrer, extraordinariamente, de decisão
concessiva de habeas-corpus.
Súmula 210-STF: O assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusive extraordinariamente, na ação
penal, nos casos dos arts. 584, parágrafo 1º e 598 do Código de Processo Penal.
Súmula 448-STF: O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr imediatamente após
o transcurso do prazo do Ministério Público.
Súmula 455-STJ: A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no artigo 366 do
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CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo.
Súmula 415-STJ: O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena
cominada.
Súmula 366-STF: Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora não
transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.
Súmula 351-STF: É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz
exerce a sua jurisdição.

1. QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTES

Conceito: São as intercorrências processuais e eventualmente meritórias apresentadas no curso da


persecução penal e que devem ser resolvidas para que o magistrado possa adentrar no mérito principal da
demanda.
Para Frederico Marques, essas questões, por um critério lógico, devem ser enquadradas no contexto

Questões prejudiciais: Quando a questão prévia é vinculada ao mérito da demanda ela é chamada
de questão prejudicial.
Questões incidentais/preliminares: Quando a questão prévia é de natureza processual ela assume a
feição de procedimento incidental.

QUESTÕES PREJUDICIAIS QUESTÕES PRELIMINARES


Estão relacionadas ao direito material. Estão relacionadas ao direito processual.
Relacionam-se à própria existência da Dizem respeito à ausência de pressupostos
infração penal. processuais ou das condições da ação.
Ex.: acusado por bigamia que alega que o Ex.: ilegitimidade da parte acusadora,
primeiro casamento é nulo. incompetência do juiz.
São dotadas de autonomia, podendo ser Não possuem autonomia, razão pela qual
objeto de um processo distinto daquele extinto o processo penal, não há questões
referente à questão prejudicada. preliminares.
Podem ser apreciadas pelo juízo penal ou Só podem ser analisadas pelo juízo penal
pelo juízo extrapenal, a depender da (pois não possuem existência autônoma).
natureza.
Condicionam o conteúdo das decisões Impedem as decisões sobre as questões
referentes à questão prejudicada. O juiz fica, principais.
de certa forma, vinculado àquilo que foi dito Ex.: juiz é considerado suspeito e, por isso,
na questão prejudicial. não pode apreciar a demanda.

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Disciplina no CPP:
Exceções (art. 95 a art. 111)
Conflito de jurisdição (art. 113 a 117)
Restituição de coisas apreendidas (art. 118 a 124)
Medidas assecuratórias (art. 125 a 148)
Incidente de insanidade mental (art. 149 a 154)
Incidente de falsidade documental (art. 145 a 147)

1.1 Questões Prejudiciais

a) Conceito: São todas as questões relacionadas ao mérito da causa, que necessitam ser julgada antes dele.
Nestes casos, o objeto da ação penal assume a condição de questão prejudicada.

Ex.1: A prova da ocorrência de um crime anterior (um furto, por exemplo) é prejudicial no processo criminal
por receptação, pois deve ser decidida antes de manifestar-se o juiz quanto à condenação ou absolvição do
réu.
Prova do furto: questão prejudicial.
Receptação: questão prejudicada.

Ex.2: A decisão relativa à nulidade do primeiro casamento é prejudicial em relação ao processo penal por
bigamia, dado que interfere diretamente na sentença a ser proferida pelo juiz criminal.
Nulidade das primeiras núpcias: questão prejudicial.
Bigamia: questão prejudicada.

b) Natureza Jurídica: Trata-se de matéria controvertida.

1ª Corrente - Elementar da infração penal, diante da previsão dos art. 92 e art. 93, do CPP,

haverá crime. Posição, entre outros, de Denilson Feitosa.

Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de


controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o
curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia
dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição
das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.

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Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão


sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível,
e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde
que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei
civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e
realização das outras provas de natureza urgente.

2ª Corrente Espécie de conexão, havendo um vínculo, um elo que a liga com a questão
prejudicada. Essa é a posição de Mirabete, de Antônio Scarance Fernandes, entre outros.

c) Características:

Anterioridade: Deve ser enfrentada antes da questão prejudicada, de modo que sem a
solução de prejudicial não se avança no deslinde da questão prejudicada.
Essencialidade (necessidade ou interdependência): O mérito da ação principal depende da
resolução da questão prejudicial, ou seja, há subordinação que há entre questão prejudicial
e prejudicada.
Ex.: No crime de receptação deve-se provar que o agente sabe que a coisa é proveniente de
crime antes de se analisar o crime de receptação propriamente.
Autonomia: Questão prejudicial pode ser objeto de uma ação autônoma.
Ex.: No crime de bigamia que o processo penal, ainda que o processo penal venha a ser
extinto, o processo cível que discute a validade do casamento irá prosseguir normalmente.

d) Classificações:

I. Quanto à natureza:
I.I. Homogênea (comum ou imperfeita): Versam sobre matéria do mesmo ramo do direito da causa
principal, ou seja, possuem natureza penal.
Ex.: Lavagem de capitais e infração penal antecedente.
É caso de conexão instrumental (ou probatória), implicando na reunião dos processos.

Art. 76, CPP - A competência será determinada pela conexão:


III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias
elementares influir na prova de outra infração.

Obs.: Na questão prejudicial homogênea o juiz irá, na fundamentação da sentença, falar sobre a questão
prejudicial, ou seja, na hipótese do crime de lavagem de capitais, irá verificar se há um crime antecedente, o
qual é pressuposto para a existência do crime prejudicado. Contudo, se apreciado de maneira incidental (sem
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o reconhecimento da conexão), essa análise não faz coisa julgada quanto ao crime antecedente, pois não se
trata do objeto principal daquela ação penal.
I.II. Heterogênea (incomum ou perfeita): Versam sobre matéria de outro ramo do direito, que não
o direito penal.
Ex.: Validade do casamento para configuração do crime de bigamia.

II. Quanto à extensão:


II.I. Total: Elimina a própria tipicidade do fato. Ou seja, a sua solução pode culminar na inexistência
do crime.
Ex.: Bigamia e a validade do primeiro casamento.
II.II. Parcial: Atinge qualificadoras ou circunstâncias acidentais ao delito, não influindo a
caracterização do tipo base.

III. Quanto à competência:


III.I. Devolutiva: Será resolvida na esfera extrapenal, de modo que o juiz penal devolve o
conhecimento da questão ao juiz natural (extrapenal).
Pode ser:
Relativa: O juiz criminal delibera de forma discricionária se irá julgar a questão extrapenal ou
irá remeter à outra esfera. São as questões heterogêneas que não dizem respeito ao estado
civil das pessoas.
Absoluta: O juiz criminal deve aguardar a decisão em outra esfera do direito a qual a questão
será remetida, sendo aquelas relativas ao estado civil das pessoas. São as questões
heterogêneas relacionadas ao estado civil das pessoas. E se o juiz penal decide? Há nulidade
absoluta, pois se trata de juiz absolutamente incompetente.
III.II. Não devolutivas: Julgadas na própria seara penal, pelo juiz que preside o processo principal.
Percebe-se que o principal exemplo é dado pelas questões prejudiciais homogêneas, que sempre serão
não devolutivas.

IV. Quanto aos efeitos:


IV.I. Obrigatórias (necessárias ou em sentido estrito): Levam necessariamente a suspensão do
processo e do prazo prescricional. Logo, o juiz deve suspender o processo. São as questões heterogêneas que
dizem respeito ao estado civil das pessoas.
IV.II. Facultativas (em sentido amplo): não levam necessariamente à suspensão do processo. O juiz
tem a faculdade de determinar ou não a suspensão.

1.1.1 Prejudiciais obrigatórias e devolutivas absolutas (heterogêneas relativas ao estado civil das pessoas)

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Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de


controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o
curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia
dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição
das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.
Parágrafo único. Se for o crime de ação pública, o Ministério Público, quando
necessário, promoverá a ação civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a
citação dos interessados.

a) Cabimento: Pressupostos que autorizam o reconhecimento de uma prejudicial absoluta.

(1) Deve estar ligada à existência da infração: Essa questão prejudicial só poderá ser reconhecida se
estiver relacionada à existência da infração. No caso de meras circunstâncias agravantes e
atenuantes não haverá suspensão do processo.
(2) Deve se tratar de uma controvérsia séria e fundada: A parte tem de demonstrar plausibilidade da
prejudicial que está sendo invocada e, se o juiz perceber que a parte visa apenas retardar o curso do
feito, deve negar a existência de prejudicialidade.
(3) Deve ser uma questão prejudicial heterogênea relacionada a outro ramo do direito relativa ao
estado civil das pessoas.

b) Legitimidade: Qualquer das partes ou reconhecida ex officio pelo juiz.

c) Regime de suspensão: A suspensão perdura até o trânsito em julgado da sentença cível que resolva a
prejudicial. Mas as medidas instrutórias urgentes podem ser autorizadas pelo juiz.

d) Sistema recursal: A decisão sobre a suspensão processual desafia recurso em sentido estrito. A denegação
é irrecorrível, e comporta habeas corpus ou mandado de segurança.

e) Paralisação da prescrição: Enquanto o processo aguarda solução da prejudicial, o prazo prescricional fica
suspenso (art. 116, I, CP).

1.1.2 Prejudiciais facultativas e devolutivas relativas

Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão


sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível,
e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde
que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei

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civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e


realização das outras provas de natureza urgente.
§ 1o O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá ser razoavelmente
prorrogado, se a demora não for imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o
juiz cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará prosseguir o processo,
retomando sua competência para resolver, de fato e de direito, toda a matéria da
acusação ou da defesa.
§ 2o Do despacho que denegar a suspensão não caberá recurso.
§ 3o Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ação pública, incumbirá ao
Ministério Público intervir imediatamente na causa cível, para o fim de promover-
lhe o rápido andamento.

a) Cabimento: Pressupostos que autorizam o reconhecimento de uma prejudicial relativa:

(1) Deve estar ligada à existência da infração;


(2) Deve-se estar diante de uma prejudicial heterogênea não relativa ao estado civil das pessoas: Pode
ser sobre qualquer matéria (ex.: administrativo, civil, tributário, trabalhista), desde que não diga
respeito ao estado civil das pessoas.
Ex.: Exercício arbitrário das próprias razões (STF, HC 75.169). Nesse caso, o cidadão teria retomado
o seu imóvel valendo-se da força. A discussão era se o agente podia se valer do desforço imediato ou
não. O STF entendeu que era uma questão não ligada ao estado civil das pessoas (posse).
(3) Deve haver uma ação cível em andamento;
(4) Deve ser uma questão de difícil solução;
(5) Ausência de limitações quanto à prova fixadas pela lei civil: No direito civil, existem limitações
quanto à prova (ex.: art. 227, do CC). No processo criminal, não se encontra limitação semelhante a
essa, uma vez que prevalece o princípio da liberdade das provas (ex.: então, no processo penal é
possível utilizar prova testemunhal para provar negócio superior a 30 salários mínimos).

b) Legitimidade: Qualquer das partes ou reconhecida ex officio pelo juiz.

c) Cabe ao juiz aferir a suspensão do processo.

d) Sistema recursal: A decisão sobre a suspensão processual desafia recurso em sentido estrito. A denegação
é irrecorrível, e comporta habeas corpus ou mandado de segurança.

e) Paralisação da prescrição: Enquanto o processo aguarda solução da prejudicial, o prazo prescricional fica
suspenso.

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Classificação Questões
Prejudiciais

Homogênea Heterogênea
Quanto à natureza
Comum Jurisdicional
Imperfeita Perfeita

Quanto à Competência Não Devolutiva Devolutiva

Absoluta Relativa
Obrigatória - Prejudicial Facultativa - Prejudicial
Heterogênea relativa ao Heterogênea NÃO relativa
Estado Civil das Pessoas
Quanto aos Efeitos Prejudiciais em Prejudiciais em
Necessárias
sentido amplo (prejudiciais em sentido amplo
Quanto ao Grau de
Total Total
Influência sobre a questão Total

1.1.3 Sistemas de Solução das Questões Prejudiciais

I. Sistema da Cognição Incidental (ou do Predomínio da Jurisdição Penal): O juiz penal sempre terá
competência para apreciar a questão prejudicial, ainda que pertencente a outro ramo do direito
(heterogênea), dada a acessoriedade desta em relação ao mérito principal.

II. Sistema da Prejudicialidade Obrigatória (ou da Separação Jurisdicional Absoluta): O juízo penal
não poderá julgar a questão prejudicial pertencente a outro ramo do direito, devendo esta ficar a cargo do
juízo que seria competente para apreciar a questão caso ela fosse proposta de maneira autônoma, para o
qual o juiz penal deve remeter quando a verificar.

III. Sistema da Prejudicialidade Facultativa: O juízo penal tem a faculdade de remeter ou não a
apreciação da questão prejudicial heterogênea ao juízo extrapenal.

IV. Sistema Eclético (ou Misto): Resulta da fusão do sistema da prejudicialidade obrigatória com o
sistema da prejudicialidade facultativa. Assim, em se tratando de questão prejudicial heterogênea relativa
ao estado civil das pessoas, vigora o sistema da prejudicialidade obrigatória, sendo o juízo penal obrigado a
remeter as partes ao juízo cível para solução da controvérsia. Por outro lado, tratando-se de questão
prejudicial heterogênea que não diga respeito ao estado civil das pessoas, vigora o sistema da
prejudicialidade facultativa, ou seja, caberá ao juízo penal deliberar se enfrentará ou não a controvérsia. É o
adotado pelo CPP.

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CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCRJ 2022): Tício está sendo processado criminalmente pela prática de crime de apropriação
indébita. Em sua resposta à acusação, Tício alega ser improcedente a imputação, tendo em vista que discute,
em ação civil por ele proposta, a legitimidade da posse da coisa móvel.
Acerca dessa situação, assinale a opção correta:
O juiz criminal pode resolver, incidenter tantum, a questão da posse sem que seja necessária a suspensão da
ação penal (item correto).

1.2 Exceções

a) Conceito: São procedimentos incidentais em que se alegam determinados fatos processuais referentes a
pressupostos processuais ou condições da ação, objetivando a extinção do processo ou sua simples dilação.

Art. 95, CPP: Poderão ser opostas as exceções de:

I - suspeição;
II - incompetência de juízo;
III - litispendência;
IV - ilegitimidade de parte;
V - coisa julgada.

Em regra, são processadas em autos apartados e NÃO suspendem o processo.

b) Classificações

I. Quanto à natureza:
I.I. Processual: alegação de fato processual contra o processo ou contra a admissibilidade da ação.
São processuais as exceções previstas no art. 95 do CPP.
I.II. Substancial/Material:
Direta (defesa direta de mérito): ataca a própria pretensão do autor, especificamente no
tocante à imputação delituosa constante da peça acusatória. Ex.: negativa de autoria ou de
participação.
Indireta (defesa indireta de mérito ou preliminar de mérito): oposição de fato extintivo,
modificativo ou impeditivo do direito do autor. Ex.: prescrição.

II. Quanto aos efeitos:


II.I. Dilatórias: geram apenas a procrastinação, o retardamento do trâmite processual.
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Exceção de suspeição, impedimento e incompatibilidade;


Exceção de incompetência do juízo.
II.II. Peremptórias: uma vez reconhecidas, geram a extinção do processo.
Exceção de litispendência;
Exceção de coisa julgada.

III. Quanto à forma de processamento:


III.I. Interna: pode ser formulada no bojo dos autos em que o acusado está sendo demandado.
III.II: Instrumental: ocorre quando o legislador impõe determinada forma para o exercício da
exceção, implicando em processamento autônomo, com autuação própria. Segundo o art. 111 do CPP, as
exceções serão processadas em autos apartados e não suspenderão, em regra, o andamento da ação penal.
Não obstante, de acordo com Renato Brasileiro (2017, p. 1112), as matérias de defesa elencadas no art. 111
do CPP podem ser apreciadas pelo juiz ainda que não arguidas por meio de petição autônoma.

1.2.1 Exceções de Suspeição, Impedimento e Incompatibilidade

O art. 112 do CPP sugere que a suspeição, o impedimento e a incompatibilidade são situações
distintas. No entanto, é certo que todas essas situações objetivam proteger a imparcialidade do julgador.

Art. 112. O juiz, o órgão do Ministério Público, os serventuários ou funcionários de


justiça e os peritos ou intérpretes abster-se-ão de servir no processo, quando
houver incompatibilidade ou impedimento legal, que declararão nos autos. Se não
se der a abstenção, a incompatibilidade ou impedimento poderá ser arguido pelas
partes, seguindo-se o processo estabelecido para a exceção de suspeição.

a) Suspeição (art. 254 a 256, CPP):


Possui natureza dilatória;
Relação externa ao processo;
Consequência: prática de ato jurisdicional por juiz suspeito, segundo o art. 564, I, CPP, é causa de
nulidade absoluta.
Ônus da prova: excipiente (STJ, HC 146796).
A exceptio suspicionis pode ser arguida pelas partes, diretamente ou por meio de procurador com
poderes especiais.
Momento para ser arguida: no curso do processo criminal.
Se conhecida a suspeição antes do ajuizamento da ação penal, mas não houver a necessidade
de qualquer intervenção judicial no curso do inquérito (ex.: representação pela prisão
preventiva), a exceção poderá ser deduzida por ocasião do oferecimento da denúncia ou da
queixa pela acusação.
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Se as razões da suspeição decorrerem de fato revelado apenas na fase instrutória do


processo criminal, o ingresso da exceção poderá ocorrer a qualquer tempo, desde que antes
da sentença, visto que esta importa em esgotar o juiz sua atuação no processo.
Ocorrido o trânsito em julgado e sendo absolutória a decisão, nada restará a ser feito, já que
não é possível desconstituir uma absolvição atingida pela preclusão. Se, opostamente, tratar-
se de sentença condenatória, poderá o interessado utilizar-se do habeas corpus ou da revisão
criminal para a anulação dos atos realizados pelo juiz parcial.

ATENÇÃO: É incabível a anulação de processo penal em razão de suposta irregularidade verificada em


inquérito policial.

A suspeição de autoridade policial não é motivo de nulidade do processo, pois o


inquérito é mera peça informativa, de que se serve o Ministério Público para o início
da ação penal. Assim, é inviável a anulação do processo penal por alegada
irregularidade no inquérito, pois, segundo jurisprudência firmada no STF, as
nulidades processuais estão relacionadas apenas a defeitos de ordem jurídica pelos
quais são afetados os atos praticados ao longo da ação penal condenatória. STF. 2ª
Turma. RHC 131450/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/5/2016 (Info 824).

Obs.: Dispõe o art. 107, CPP, que não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito,
mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal. A autoridade policial, constatando uma
hipótese que a torne suspeita, deverá declarar sua suspeição e, se não o fizer, não há procedimento que
possa ser utilizado para afastá-la em juízo.

b) Impedimento (art. 252 a 255, CPP):


Relação interna ao processo: fundamenta-se em razões de ordem objetiva previstas em lei, por
exemplo, o fato de estar atuando no feito, como advogada, cônjuge do juiz.
Consequência: prática de ato jurisdicional por juiz impedido, dada a sua gravidade, segundo doutrina
majoritária, acarreta a inexistência do ato. Jurisprudência majoritária trata a questão como nulidade
absoluta.
Trata-se de rol taxativo previsto no art. 252 do CPP

c) Incompatibilidade
São as razões que afetam a imparcialidade do juiz, e que não estão elencadas entre as causas de
suspeição e impedimento, estando previstas nas leis de organização judiciária. Exemplo: a situação
de foro íntimo, que, mesmo não prevista nos art. 252 e 254 do CPP, constitui, sem dúvida alguma,
motivo para que o juiz se afaste da condução do processo, ex officio ou por recusa de qualquer das
partes
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Consequência acarreta controvérsia na doutrina. Veja:


Segundo Renato Brasileiro tem-se confundido com o de suspeição
por razões de foro íntimo, motivo pelo qual preferimos tratá-la nos mesmos termos da suspeição, ou
seja, hipótese que autoriza o reconhecimento da nulidade absoluta
Por outro lado, Norberto Avena mpatibilidade dá causa à nulidade relativa dos
atos praticados pelo juiz incompatível, devendo, assim, ser arguida nos prazos determinados pelo

d) Procedimento das Exceções: regras relativas a suspeição, que se aplicam também aos impedimentos e
incompatibilidades.
O juiz deve reconhecer suspeição de ofício (art. 97, CPP), sendo a decisão irrecorrível (art. 581, III,
CPP). Se o juiz não reconhecer de ofício, pode ser arguida pelas partes, por meio de uma petição
escrita (art. 98, CPP), a ser apresentada na primeira oportunidade, observando o art. 96, CPP.
MP ou o querelante: no momento do oferecimento da peça acusatória.
Acusado: no momento da resposta à acusação (art. 396-A, CPP).
Não acolhendo a exceção, o juiz oferece resposta em 3 dias, e remete os autos ao Tribunal em 24h
(art. 100, CPP).
Julgada procedente a suspeição, ficarão nulos os atos do processo principal, pagando o juiz as custas,
no caso de erro inescusável; rejeitada, evidenciando-se a malícia do excipiente, a este será imposta
a multa (art. 101, CPP).

ATENÇÃO:
1) As exceções, em regra, são apreciadas pelo próprio juízo, salvo a de suspeição.
Com a chegada do processo no Tribunal, é possível:
Rejeição liminar, se manifestamente improcedente (art. 100, §2º, CPP).
Se verossímil a arguição, o Tribunal inquire testemunhas e profere decisão irrecorrível (art. 581, III,
CPP). As partes poderão impetrar MS, ou, se houver risco à locomoção do acusado, poderá este se
valer de HC.

2) As exceções, em regra, não possuem efeito suspensivo (art. 111), salvo a de suspeição se a parte contrária
reconhecer a alegação de parcialidade (art. 102, CPP).

3) As exceções, em regra, podem ser opostas verbalmente ou por escrito, salvo a de suspeição.
O CPP autoriza que a exceção de incompetência seja oposta verbalmente ou por escrito (art. 108) e as
exceções de litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada seguem o mesmo procedimento da exceção
de incompetência). Assim a única exceção que deve ser feita por escrito é a de suspeição (e por consequência,
a de impedimento e incompatibilidade, pois seguem o mesmo procedimento).

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CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCPB 2022): Conforme o CPP, o juiz estará impedido de exercer jurisdição no processo se:
a) for amigo íntimo ou inimigo de uma das partes.
b) tiver aconselhado uma das partes a respeito do processo.
c) seu cônjuge responder a ação que será julgada pela parte.
d) seu tio atuou como delegado no inquérito policial.
e) for tutor ou curador de uma das partes do processo.
Gabarito: letra D.

1.2.2 Exceção De Incompetência

Deve ser arguida no prazo da defesa, podendo ser oposta oralmente ou por escrito (art. 108, CPP).
Os atos decisórios praticados por juiz, se incompetência absoluta ou relativa, são nulos, podendo os
atos probatórios serem aproveitados (art. 567, CPP).
O recebimento da denúncia, embora com carga decisória, não é ato decisório, podendo ser ratificado
pelo juiz competente (HC 83.006/SP, STF).

a) Competência Absoluta X Relativa:

Já estudamos no material de competência, mas vamos relembrar?

COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA


Pode ser arguida a qualquer momento. Deve ser arguida oportunamente, sob pena de
preclusão.
Modalidades: Modalidades:
Em razão da matéria; Em razão do território;
Prerrogativa de função; Prevenção (Súmula 706, STF);
Funcional. Distribuição.
NÃO admite conexão e continência. Admite conexão e continência.
Declarada de ofício pelo juiz. Declarada de ofício pelo juiz (a doutrina
majoritária entende que a Súmula 33 do STJ
não se aplica em âmbito criminal).

b) Recursos cabíveis:
Se o juiz declara a sua incompetência de ofício: RESE (art. 581, II, CPP).
Se o juiz julgar procedente a exceção de incompetência: RESE (art. 581, III, CPP).

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Se o juiz julgar improcedente a exceção de incompetência: Não cabe recurso, sendo possível se valer
de HC, ou renovar a questão em sede de preliminar de apelação.

1.2.3 Exceção de Litispendência


Trata-se de exceção de natureza peremptória, sendo cabível na hipótese de tramitarem, no mesmo
juízo ou em juízos diversos, duas ou mais ações contra o mesmo réu, envolvendo o mesmo fato.
É a imputação do fato ao mesmo acusado.
Não tem prazo para arguição.
Atende ao princípio do non bis in idem.

a) Requisitos:
Coexistência de processos: quando houver ações penais idênticas em andamento.
Mesma imputação fática:
Identidade da causa de pedir: refere-se ao fato imputado, que deve ser o mesmo em ambas
as ações penais, ainda que a capitulação atribuída em cada um dos processos seja distinta.
Identidade do pedido: o pedido é o de condenação, inerente a qualquer ação penal.
Mesmo legitimado passivo: as duas ou mais ações deverão ter sido movidas contra o mesmo réu,
não importando a circunstância de uma delas ter sido iniciada pelo Ministério Público e a outra pelo
particular.

ATENÇÃO! NÃO há litispendência entre IP e processo penal, pois só há litispendência a partir da citação
válida.
E se constatada a duplicidade após o trânsito em julgado da sentença proferida no processo que
gerou a litispendência (o segundo processo ajuizado)?
Nesta hipótese, NÃO se estará diante de litispendência, tendo em vista a inexistência de duas ações
penais em curso, haja vista que uma delas, pelo menos, já terá sido extinta.
Levando em conta que as exceções constituem meio de defesa, a providência correta a ser adotada
dependerá do caso concreto. Logo:
1. Se a sentença transitada em julgado for condenatória, resta à defesa buscar desconstituí-la
por meio de habeas corpus, observada a restrição da Súmula 693 do STF, ou revisão criminal
(art. 648, VI, do CPP) sob o pálio da nulidade (art. 626 do CPP).
2. Se foi exarada sentença absolutória, mesmo que se trate do processo que produziu a
litispendência, não há como ser desconstituída. Logo, o processo validamente instaurado (o
primeiro ajuizado) e ainda em curso é que deverá ser extinto, mediante ingresso de exceção,
não de litispendência, mas sim de coisa julgada.

b) Recursos:
Se o juiz reconhece litispendência de ofício (decisão definitiva): Apelação (art. 593, II, CPP).
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Se o juiz julgar procedente a exceção de litispendência: RESE (art. 581, III, CPP).
Se o juiz julgar improcedente a exceção de litispendência: Não cabe recurso, sendo possível se valer
de HC ou renovar a questão em sede de preliminar de apelação.

1.2.4 Exceção de Ilegitimidade de Parte

a) Conceito: Refere-se a titularidade do direito de ação (polo ativo) e a capacidade para figurar como réu
(polo passivo) na relação processual.
Em outras palavras: é a exceção adequada para arguir tanto a ilegitimidade ad causam quanto a
ilegitimidade ad processum. Pode ser arguida a qualquer momento.
Ex.:
Denúncia oferecida pelo Ministério Público em crime de ação penal privada (ilegitimidade ad causam
ativa).
Queixa ajuizada pelo ofendido em crime de ação penal pública antes de esgotar o prazo do promotor
de justiça para o oferecimento de denúncia (ilegitimidade ad causam ativa).
Denúncia movida contra indivíduo menor de 18 anos de idade à época do fato (ilegitimidade ad
causam passiva).

b) Prazo: O reconhecimento da ilegitimidade provoca a nulidade processual e, por isso, não se sujeita à
preclusão. Destarte, pode ser arguida em qualquer tempo pelos interessados.

c) Recursos:
Se o juiz reconhece a ilegitimidade de ofício, rejeitando a denúncia: RESE (art. 581, I, CPP).
Se juiz anular o processo por ilegitimidade (art. 564, II, CPP): RESE (art. 581, XIII, CPP).
Se o juiz julgar procedente a exceção de incompetência: RESE (art. 581, III, CPP).
Se o juiz julgar improcedente a exceção de ilegitimidade: Não cabe recurso, sendo possível se valer
de HC ou renovar a questão em sede de preliminar de apelação.

1.2.5 Exceção de Coisa Julgada


A coisa julgada refere-se à decisão jurisdicional da qual não cabe mais recurso, tornando-se imutável.
Atende ao princípio do non bis in idem.
A exceção de coisa julgada é uma exceção de natureza peremptória, que tem seu fundamento
remoto na circunstância de que ninguém pode ser punido mais de uma vez pelo mesmo fato. Logo, poderá
ser deduzida quando se encontrar em tramitação processo criminal por fato já decidido em outro processo
por sentença transitada em julgado.
Difere, absolutamente, da exceção de litispendência, pois esta pressupõe a coexistência de dois ou
mais processos idênticos em andamento, enquanto aquela se justifica na existência de um processo em
andamento e outro já extinto definitivamente com julgamento de mérito.
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a) Requisitos:
Decisão de mérito definitiva;
Novo processo, com o mesmo fato veiculado, independente da tipificação legal apresentada;
Mesmo réu;
Mesmo pedido.

b) Recursos:
Se o juiz reconhecer a coisa julgada de ofício: Apelação (art. 593, II, CPP).
Se o juiz julgar procedente a exceção de coisa julgada: RESE (art. 581, III, CPP).
Se o juiz julgar improcedente a exceção de coisa julgada: Não cabe recurso, sendo possível se valer
de HC ou renovar a questão em sede de preliminar de apelação.

Veja a jurisprudência sobre o tema:

RECURSO EM HABEAS CORPUS. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. DUPLICIDADE DE AÇÕES


PENAIS PELO MESMO FATO. PROLAÇÃO DE SENTENÇA. TRÂNSITO EM JULGADO.
PREVALÊNCIA DO PRIMEIRO DECISUM IMUTÁVEL. RECURSO NÃO PROVIDO.
(...)
4. No que atine ao conflito de coisas julgadas, a Terceira Seção desta Corte
Superior afirmou que "a primeira decisão é a que deve preponderar" (AgRg nos
EmbExeMS n. 3.901/DF, Rel. Ministro Rogerio Schietti, DJe 21/11/2018). Ainda que
a análise haja sido realizada no âmbito do processo civil, os apontamentos feitos
podem ser aplicados, também, ao processo penal.
5. A solução é consentânea com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
afirmada em mais de uma oportunidade. Nesse sentido: HC n. 101.131/DF (Rel.
Ministro Luiz Fux, Rel. p/ acórdão Ministro Marco Aurélio, 1ª T., DJe 10/2/2012);
HC n. 77.909/DF (Rel. Ministro Moreira Alves, 1ª T., DJ 12/3/1999); HC n. 69.615/SP
(Rel. Ministro Carlos Velloso, 2ª T., DJ 19/2/1993).
6. A prevalência da primeira decisão imutável é reforçada pela quebra do dever de
lealdade processual por parte da defesa. A leitura da segunda sentença - proferida
após o trânsito em julgado da condenação - permite concluir que a duplicidade não
foi mencionada sequer nas alegações finais.
7. Ainda, a hipótese em exame guarda outra peculiaridade, a justificar a
manutenção do primeiro decisum proferido: a absolvição dos réus, na segunda
sentença, contraria jurisprudência - consolidada à época - do Superior Tribunal de
Justiça.

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8. Ainda que o julgamento do Recurso Especial Repetitivo n. 1.480. 881/PI pela


Terceira Seção do STJ seja posterior à prolação da sentença mencionada
(26/8/2015), o entendimento já estava uniformizado na jurisprudência e, em abril
de 2014, a matéria foi pacificada por força do julgamento dos Embargos de
Divergência em Recurso Especial n. 1.152.864/SC (Rel. Ministra Laurita Vaz, 3ª S.,
DJe 1/4/2014).
9. Recurso não provido.
(RHC 69.586/PA, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 27/11/2018, DJe 04/02/2019).

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCAM 2022): João foi investigado, processado e julgado pelo fato de, em comunhão de ações
e desígnios com outra pessoa não identificada, ter receptado veículo automotor VW/Saveiro, placa SAV-
1234/AM, contendo diversos pares de calçados na caçamba, tudo pertencente à sociedade empresária AM
Pé Descalço Ltda. Após a instrução criminal, o magistrado julgou procedente a denúncia, condenando João
pelo delito de receptação. Posteriormente, surgiu a informação de que, em verdade, João teria tomado lugar
de roubo, mediante grave ameaça exercida com o emprego de arma de fogo contra o motorista e o ajudante
da VW/Saveiro, o que foi devidamente registrado em sede policial. Diante desse cenário, é correto afirmar
que a condenação anterior pelo crime de receptação, ainda que indevida, impede o novo processo e o
julgamento pelo crime de roubo (item correto).

2. SUJEITOS DO PROCESSO

2.1 Introdução

Sujeitos processuais são as pessoas entre as quais se constitui, se desenvolve e se completa a relação
jurídico-processual. A relação jurídica processual é composta de três sujeitos: juiz, autor e réu, que são os
sujeitos principais (ou essenciais) do processo.
Em sentido material, quanto à infração penal em si, as partes são o autor do crime e a vítima.
Em sentido formal (no processo penal), parte é aquele sujeito processual que deduz ou contra o qual
é deduzida uma relação de direito material-penal. São partes no processo penal, portanto, o autor
(em geral o Estado, através do Ministério Público, e, excepcionalmente o ofendido, por meio da ação
penal privada) e o réu.

2.2 Classificação dos Sujeitos do Processo:

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a) Sujeitos principais (essenciais): são aqueles cuja presença é essencial para que a relação processual
seja regularmente instaurada. São essenciais o juiz, o acusador e o acusado.
b) Sujeitos secundários (acessórios/colaterais): são as pessoas que podem, eventualmente, intervir no
processo, a fim de deduzir uma determinada pretensão, mas cuja ausência não afeta a validade da
relação processual, como o assistente da acusação e os terceiros interessados.

Obs.: Há, ainda, os auxiliares da justiça e os terceiros não interessados, sujeitos que não fazem parte da
relação processual, mas praticam atos que conduzem ao desenvolvimento do processo.

2.2.1 Juiz

a) Conceito
É o representante do Estado, com o poder de aplicar o direito ao caso concreto. O juiz não é parte,
mas é sujeito processual. Incumbido da função de aplicar o direito ao caso concreto, o magistrado atua como
uma figura suprapartes, acima dos interesses em disputa.

denomina de poderes de polícia ou administrativos. Nesta sua função, poderá, por

sessões e prender os desobedientes (art. 497, I), confirmando a regra do art. 794

p. 520).

b) Funções do juiz no processo penal (LIMA, 2017, p. 1208):


(1) De natureza administrativa: Caracteriza-se pela manutenção da ordem no curso dos atos
processuais, podendo, para tanto, requisitar a força pública. Em síntese, por força dessa atividade
administrativa, o juiz pratica atos de polícia com o objetivo de assegurar a ordem no decorrer do
processo, podendo requisitar o concurso da polícia, encarregada de manter a ordem pública para
que se cumpram as determinações no sentido de preservação da regularidade dos atos judiciais.
(2) De ordem jurisdicional: Ao juiz incumbe prover a regularidade do processo, o que é feito de forma
positiva, quando determina o que deve ser feito, e negativa, quando desfaz o mal feito por seus
auxiliares, pelas partes ou por terceiros que intervêm no processo.

Obs.: Para que possa exercer validamente as funções jurisdicionais é necessário que tenha:
Capacidade subjetiva em abstrato (capacidade funcional): existência de requisitos pessoais para o
ingresso na magistratura e capacidade para o exercício das funções judicantes, adquirida com a
nomeação, posse e exercício efetivo do cargo;
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Capacidade subjetiva em concreto: inexistência de suspeição/impedimento para o processo;


Capacidade objetiva: competência para o processo.

c) Princípios relacionados à figura do juiz:


Princípio da identidade física do juiz: Consiste no fato de que o juiz que preside a instrução do
processo, colhendo as provas, deve ser aquele que julgará o feito, vinculando-se à causa, e está
previsto no art. 399, §2º, do CPP.

Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a
audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério
Público e, se for o caso, do querelante e do assistente.
§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.

Há exceções ao princípio, conforme pontua a jurisprudência do STJ:

O STJ possui firme o entendimento no sentido de que o princípio da identidade


física do juiz não pode ser interpretado de maneira absoluta, e admite exceções,
como nas hipóteses do art. 132 do CPC/73, em cujo rol está incluída afastamento
do magistrado em decorrência do regime de exceção ou mutirão para agilização da
prestação jurisdicional. Incidência da Súmula 83 do STJ. 4. Agravo interno não
provido. (AgInt no AREsp 1149739/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 07/05/2019, DJe 16/05/2019).

Princípio do impulso oficial: Uma vez iniciada a ação penal, o juiz deve conduzir o desenvolvimento
dos atos processuais até o final da instrução (art. 251 CPP).

Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem


no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.

Princípio do juiz natural: O princípio do juiz natural decorre do art. 5.º, LIII, da Constituição Federal,
ao dispor que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente.
Tal princípio possui dois desdobramentos: em primeiro lugar, consagra a ideia de que o cidadão tem
o direito de ser processado perante a autoridade competente (art. 5°, LIII, CF), isto é, magistrado
devidamente investido na jurisdição. Em segundo lugar, referido princípio obsta a criação de juízos ou
tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII, CF).
Nas palavras do professor Noberto Avena:

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-se, assim, da análise do inciso LIII que a pretensão a ele incorporada


objetiva assegurar ao acusado o direito de ser submetido a processo e julgamento
não apenas no juízo competente, como também por órgão do Poder Judiciário
regularmente investido, imparcial e, sobretudo, previamente conhecido segundo
regras objetivas de competência estabelecidas anteriormente à prática da infração
penal. Em consequência, veda-se a criação de tribunais ou juízos de exceção (o que
não se confunde com jurisdições especializadas, que constituem simples
desdobramento da atividade jurisdicional), assim como a designação de magistrado
para atuar, especificamente, em um determinado caso, por exemplo, em razão da

d) Prerrogativas do juiz:
-se de garantias conferidas aos magistrados, sobretudo pela
Constituição Federal, que têm por finalidade assegurar-lhes o exercício da atividade jurisdicional da forma
mais isenta possível, possibilitando-
Previstas no art. 95 da Carta da República, consistem em:
Vitaliciedade (art. 95, I): é adquirida pelo juiz após dois anos de exercício do cargo. Uma vez adquirida
a vitaliciedade, o juiz apenas perderá o cargo a partir de decisão judicial transitada em julgado no
âmbito de ação de demissão que lhe tenha sido movida
Inamovibilidade (art. 95, II): garante ao juiz a permanência no local em que se encontra classificado.
No entanto, essa inamovibilidade não é absoluta, podendo o magistrado ser removido
compulsoriamente se razões de interesse público assim impuserem, conforme previsão incorporada
ao art. 93, VIII, da Constituição Federal.
Irredutibilidade de subsídios (art. 95, III): pretende resguardar o juiz de eventuais represálias de
ordem financeira.

e) Causas de impedimento e suspeição do juiz:


O magistrado deve, ainda, possuir competência e imparcialidade.
A imparcialidade é a aptidão para emitir um juízo de valor sem pender ao favorecimento de qualquer
das partes, e sua ausência pode ensejar o impedimento, suspeição ou incompatibilidade:

1) Impedimento: As hipóteses de impedimento estão enumeradas no artigo 252 do CPP.


o juiz
declarar-se impedido, de ofício, afastando-se da presidência do feito e encaminhando o processo para o seu
substituto legal. Se não o fizer, porém, poderá qualquer das partes arguir o impedimento, acolhendo-se,
neste caso, o rito previsto para a exceção de suspeição, conforme preceitua o artigo 112 do Código de

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Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:


I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta
ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do
Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como
testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de
direito, sobre a questão;
IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no
feito.

Inciso I - Trata-se da hipótese de impedimento em decorrência da relação de parentesco. De acordo


com Nestor Távora, a despeito da inexistência de previsão legal, a situação de impedimento em razão do
casamento deve abranger, também, a situação da união estável.
Inciso II - A lei presume que se o juiz atuou no feito com alguma outra atribuição, não possuirá a
necessária isenção para o julgamento. Ex.: promotor de justiça oferece denúncia e, posteriormente,
aprovado em concurso público para a magistratura, depara-se com a situação de ter que sentenciar referido
processo. Nesta situação, o CPP presume que este magistrado teria a sua imparcialidade comprometida.
Inciso III - Pelas mesmas razões expostas no tópico anterior, não se pode exigir de um juiz que tenha
participado de um julgamento que, uma vez alçado ao Tribunal, tenha imparcialidade para apreciar um
recurso manejado no curso daquele processo.
Inciso IV - Seria ilógico exigir do magistrado a imparcialidade em uma situação em que ele próprio,
seu cônjuge ou parente (consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral) for parte ou diretamente
interessado na demanda.

Trata-se de rol taxativo (não admite analogia ou interpretação extensiva).


O impedimento pode ser suscitado por qualquer das partes.
Os atos praticados por juiz impedido são atos inexistentes.
Pode ser suscitado a qualquer tempo, não se sujeitando à preclusão temporal.

2) Suspeição: Constituem motivos de incapacidade subjetiva do juiz, pois o vinculam a uma das partes.
Estão arroladas no art. 254 do Código de Processo Penal, dispondo que o juiz dar-se-á por suspeito, e, se
não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes.

Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por
qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
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II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a


processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau,
inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por
qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

Pode ser suscitada por qualquer das partes ou declarada de ofício pelo juiz.
Trata-se de rol exemplificativo (para doutrina majoritária).
Natureza dos atos praticados por juiz suspeito - há divergência na doutrina:
Noberto Avena e Renato Brasileiro - Ocorre nulidade absoluta;
Nestor Távora Ocorre nulidade relativa.

Obs.: De acordo com o art. 256 do CPP, a suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida quando a
parte injuriar o juiz ou, de propósito, der motivo para criá-la.

IMPEDIMENTO DO JUIZ SUSPEIÇÃO DO JUIZ


(Art. 252 do CPP) (Art. 254 do CPP)
Previsão taxativa no art. 252 do CPP Previsão em rol não taxativo do art. 254 do CPP.
Hipóteses objetivas, existindo um vínculo entre o juiz e O vício é externo, existindo vínculo entre o juiz e a parte ou
o objeto em litígio. entre o juiz e a questão discutida no feito.
Presume-se, de forma absoluta, a parcialidade do juiz. Presume-se, de forma relativa, a parcialidade do juiz.
A atuação de juiz impedido provoca nulidade absoluta A atuação de juiz suspeito provoca a nulidade relativa do
do ato processual. ato processual.

Veja a jurisprudência sobre o tema:

O rol do art. 252 do CPP é taxativo ou permite outras hipóteses de impedimento?


As hipóteses de impedimento previstas no art. 252 do CPP constituem rol
taxativo.
Rol suspeições é exemplificativo. Por outro lado, o rol de suspeições previstas no
art. 254 do CPP é exemplificativo, sendo, assim, imprescindível, para o
reconhecimento da suspeição do magistrado, não a adequação perfeita da
realidade a uma das proposições do referido dispositivo legal, mas sim a
constatação do efetivo comprometimento do julgador com a causa. STJ. 5ª Turma.

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REsp 1379140/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/8/2013. As


causas de impedimento do juiz estão previstas taxativamente no artigo 252 do CPP,
ao passo que os atos que indicam a suspeição estão dispostos no rol exemplificativo
contido no art. 254. STJ. 5ª Turma. RHC 69927/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em

exemplificativo.

O magistrado que atuou como corregedor em processo administrativo instaurado


contra o réu não está impedido de participar como julgador no processo criminal
que tramita contra o acusado. A situação não se amolda em nenhuma das
hipóteses do art. 252 do CPP. O STF entende que não é possível criar, por meio de
interpretação, novas causas de impedimento que não estejam descritas
expressamente nesse dispositivo. STF. 2ª Turma. RHC 131735/DF, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 3/5/2016 (Info 824).

3) Incompatibilidade
Enquanto os casos de suspeição e impedimento têm previsão expressa no CPP, as incompatibilidades
compreenderão todas as demais situações que possam interferir na imparcialidade do julgador e que não
estejam previstas como impedimento ou suspeição.
Ensina o professor Renato Brasileiro (2020):

Como se percebe, devido à imprecisão do termo no processo penal, a verdade é


que, na prática, a incompatibilidade vem sendo tratada como espécie de
suspeição por razões de foro íntimo, cuja conceituação tem caráter residual, isto
é, abrange tudo aquilo que não se refira diretamente às causas de suspeição ou de
impedimento, mas que seja capaz de interferir na imparcialidade do magistrado.

Parte da doutrina entende que, quer se trate de impedimento, quer se trate de


incompatibilidade, os atos do processo realizados são tidos como inexistentes, pois,
nos termos do artigo 252, do CPP, o juiz não poderá exercer a sua função
jurisdicional em processo que esteja impedido ou haja motivo legal de
incompatibilidade. No entanto, considerando que o conceito de incompatibilidade
tem-se confundido com o de suspeição por razões de foro íntimo, preferimos tratá-
la nos mesmos termos que a suspeição, ou seja, hipótese que autoriza o
reconhecimento de nulidade absoluta

2.2.2 Ministério Público

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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O Ministério Público é instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado,


incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis (art. 127 da CF).
No âmbito do processo penal, possui a função institucional de promover, privativamente, a ação
penal pública. Logo, o parquet é parte imparcial ou parte formal no processo penal.

o
sistema acusatório torna privativa do Ministério Público a propositura da ação
penal pública. Isso significa dizer que uma relação processual somente poderá ter
início mediante a provocação da pessoa encarregada de deduzir a pretensão
punitiva (ne procedat judex ex officio), e, conquanto não se retire do juiz o poder
de gerenciar o processo mediante o exercício do poder de impulso processual, fica
o magistrado impedido de tomar iniciativas que não se alinham com a equidistância
2020)

Embora o Ministério Público tenha o ônus da acusação evidencia-se o caráter de imparcialidade.


Isso porque, não cabe ao órgão a busca da condenação a qualquer custo, mas da verdade processual, atento
aos princípios que dizem respeito ao acusado.

Obs.: Há divergência na doutrina em relação a qualificação do Ministério Público como parte imparcial ou
parte formal do processo.

Além disso, o Ministério Público sempre exercerá, cumulativamente ou não com a posição de autor,
o papel de custos legis. Tal raciocínio é permitido pela redação do art. 257, I e II, do CPP (redação da Lei
11.719/2008), determinando que, além da promoção da ação penal pública, incumbe ao parquet, ainda,
fiscalizar a execução da lei.

o titular da ação penal pública, nos termos do art. 129, I, da Constituição do Brasil.
Porém, essa atribuição não o impede de, mesmo como parte, agir como fiscal da

Art. 257. Ao Ministério Público cabe:


I - Promover, privativamente, a ação penal pública, na forma estabelecida neste
Código;
II - Fiscalizar a execução da lei.

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Cabe ainda ressaltar a importante função atribuída ao Ministério Público pelo art. 129, VII da CF/88,
no sentido de exercer o controle externo da atividade policial, requisitar diligências investigatórias e
determinar a instauração de inquérito policial.

a) Prerrogativas: Conforme se infere do art. 38 da Lei 8.625/1993, as prerrogativas conferidas aos órgãos do
Ministério Público são simétricas às previstas aos magistrados.

Vitaliciedade (art. 38, I): Os membros do Ministério Público, uma vez decorridos dois anos de
exercício do cargo, apenas poderão perdê-lo mediante sentença judicial transitada em julgado,
proferida em ação de demissão ajuizada pelo Procurador-Geral perante o Tribunal competente.
Inamovibilidade (art. 38, II): Em regra, não será possível afastar o membro do Ministério Público do
local em que se encontra exercendo atribuições. Entretanto, é possível que haja remoção
compulsória, motivada pelo interesse público, determinada pelo Conselho Nacional do Ministério
Público ou do órgão colegiado competente do Ministério Público, por meio de voto da maioria
absoluta de seus membros.
Irredutibilidade de subsídio (art. 38, III): Salvo exceções constitucionalmente estabelecidas nos art.
37, X e XI, 39, § 4.º, 150, II, 153, III, e 153, § 2.º, I.

b) Princípios que regem a atuação do Ministério Público:


(1) Unidade: Significa que os seus membros fazem parte de uma mesma instituição, esta chefiada por
um Procurador-Geral.
(2) Indivisibilidade: Sendo uno, a atuação do Ministério Público não se manifesta por meio deste ou
daquele membro individual e pessoalmente considerado, mas sim pela atuação da Instituição como
um todo.
(3) Independência funcional: Não se subordina, no exercício das atribuições respectivas, a qualquer
dos Poderes Estatais Executivo, Legislativo ou Judiciário. Vincula-se tão somente às previsões
inseridas às Constituições Federal e Estaduais e às leis.

Além desses princípios, a doutrina aponta outros:


· Indisponibilidade: Não pode dispor da ação penal.
· Irrefutabilidade: O promotor não pode ser recusado.
· Independência: Não está sujeito à ordem de ninguém.
· Irresponsabilidade: Em regra, o promotor não pode ser civilmente responsável pelos atos praticados
no exercício da função;
· Devolução: Em certos casos, o superior pode exercer a função própria do subordinado (art. 28, CPP).
· Princípio do promotor natural: Segundo Fernando Capez, tal princípio decorre do art. 5º, LIII, da CF,
e significa que ninguém será processado senão pelo órgão do MP dotado de amplas garantias

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pessoais e institucionais, de absoluta independência e liberdade de convicção e com atribuições


previamente fixadas e conhecidas.
Com isso, o nosso ordenamento não admitiria o promotor de exceção, melhor dizendo, não
admitiria nomeações casuísticas de membros do Ministério Público para determinados casos
em desobediência às regulamentações anteriores.
STF e STJ reconhecem o princípio do promotor natural dupla garantia: ao membro do MP
e à coletividade -, mas evitam reconhecer nulidade com base em afronta a este princípio.

c) Suspeição e Impedimento do MP: art. 258 do CPP.

sos em que o juiz ou


qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente, consangüíneo ou afim, em linha
reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que lhes
for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos

É possível a arguição de suspeição de membros do Ministério Público, inclusive


do Procurador-Geral da República nos processos que tramitam no âmbito do STF.
O STF entendeu que o então Procurador-Geral da República Rodrigo Janot não era
suspeito para investigar e denunciar Michel Temer. Entendeu-se que o fato de o
PGR dar entrevistas falando sobre o caso, requerer que o inquérito fosse dirigido
para determinado Delegado e ainda que um determinado Procurador, em tese,
tenha orientado o advogado do réu acerca da colaboração premiada não
caracterizam hipóteses de suspeição. STF. Plenário. AS 89/DF, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 13/9/2017 (Info 877).

Não viola o Princípio do Promotor Natural se o Promotor de Justiça que atua na


vara criminal comum oferece denúncia contra o acusado na vara do Tribunal do Júri
e o Promotor que funciona neste juízo especializado segue com a ação penal,
participando dos atos do processo até a pronúncia. No caso concreto, em um
primeiro momento, entendeu-se que a conduta não seria crime doloso contra a
vida, razão pela qual os autos foram remetidos ao Promotor da vara comum. No
entanto, mais para frente comprovou-se que, na verdade, tratava-se sim de crime
doloso. Com isso, o Promotor que estava no exercício ofereceu a denúncia e
remeteu a ação imediatamente ao Promotor do Júri, que poderia, a qualquer
momento, não ratificá-la. Configurou-se uma ratificação implícita da denúncia. Não
houve designação arbitrária ou quebra de autonomia. STF. 1ª Turma.HC
114093/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 3/10/2017 (Info 880).
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Membro do MP que participou da investigação não é impedido/suspeito de


oferecer denúncia. A participação de membro do Ministério Público na fase
investigatória não acarreta, por si só, seu impedimento ou sua suspeição para o
oferecimento da denúncia. STF. 1ª Turma. HC 85011, Relator p/ Acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 26/05/2015.

Súmulas pertinentes:

Súmula 208, STF: O assistente do Ministério Público não pode recorrer,

Súmula 210, STF: O assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusive


extraordinariamente, na ação penal, nos casos dos arts. 584 §1º, e 598 do Código
de Processo Penal.

Súmula 234, STJ: A participação de membro do Ministério Público na fase


investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o
oferecimento de denúncia.

CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCMG 2021): De acordo com o Código de Processo Penal, é CORRETO afirmar: A lei prevê a
extensão das hipóteses de impedimentos e suspeição dos juízes aos membros do Ministério Público, naquilo
que for aplicável (item correto).

2.2.3 Acusado

É o sujeito passivo da relação processual, e somente ganha essa condição após o recebimento da
denúncia ou queixa.
Nem todos, porém, têm capacidade ou legitimidade para ocupar o polo passivo do processo criminal.
Excluem-se desta condição:
i. Os entes que não possuem capacidade para serem sujeitos de direitos e obrigações, v.g., pessoas já
falecidas.
ii. Menores de 18 anos de idade, por faltar-lhes o requisito da legitimidade passiva ad causam.
iii. Pessoas que gozem de imunidade diplomática, o que abrange os chefes de Estado e os
representantes de governos estrangeiros, que estão excluídos da jurisdição criminal dos países em
que exercerem suas funções.
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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Neste enfoque, o art. 564, II, do Código de Processo Penal contempla como causa de nulidade (absoluta) do
processo criminal a ilegitimidade de parte, o que abrange, evidentemente, tanto a ilegitimidade ad causam
ativa como a passiva.

Pessoa jurídica pode ser ré em ação penal?


R.: A responsabilidade penal da pessoa jurídica ainda é um tema controvertido na doutrina, mas as
pessoas jurídicas possuem capacidade processual para figurar no polo passivo de ação penal ambiental (§ 3º
do art. 225 da CF e art. 3º Lei 9.605/98). A CF também prevê a responsabilidade penal das PJ nos crimes
contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular (173, § 5º, CF), mas ainda não há
responsabilidade penal da PJ nesse âmbito, por falta de regulamentação. Portanto, atualmente, a PJ
somente pode ser denunciada em crimes ambientais.
Há duas correntes doutrinárias que interpretam diferentemente a questão: Para doutrina
minoritária, as sanções penais somente são aplicáveis às PF, restando às PJ as sanções administrativas. Por
outro lado, a doutrina majoritária entende que tanto a pessoa física como a pessoa jurídica estão sujeitas,
simultaneamente, às sanções penais e administrativas, as quais independem da responsabilidade civil.
O STF e o STJ tinham acolhido a teoria da dupla imputação: para ser imputado à PJ, o crime também
deveria ser imputado à pessoa física. No entanto, no julgamento do RE 548.181, a 1ª Turma do STF admitiu
a possibilidade de condenação da pessoa jurídica por crime ambiental e a absolvição das pessoas físicas,
inclusive o gestor da empresa. Com isso, o STF desvinculou a responsabilidade penal da pessoa jurídica em
relação às pessoas físicas supostamente autoras e partícipes do delito ambiental, em interpretação ao
artigo 225, § 3º, da Constituição. O STJ hoje acompanha com tranquilidade este novo entendimento.

Direitos do acusado: A CF/88 e o CPP estabelecem uma série de direitos ao acusado. Na medida em
que tais direitos refletem na garantia constitucional da ampla defesa, a sua violação, em regra, importa em
nulidade absoluta.
São eles:
Direito a ter respeitada sua integridade física e moral - Art. 5º, XLIX, CF;
Direito de ser processado e sentenciado pela autoridade competente - Art. 5.º, LIII, da CF;
Direito ao devido processo legal - Art. 5.º, LIV, da CF;
Direito ao contraditório e à ampla defesa - Art. 5.º, LV, da CF;
Direito à presunção de inocência até o trânsito em julgado da condenação - Art. 5.º, LVII, da CF;
Direito de não ser submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei - Art. 5.º,
LVIII, da CF e Lei 12.037/2009;
Direito a processo e julgamento público, salvo quando necessário o sigilo para preservação da
intimidade ou dos interesses sociais - Arts. 5.º, LX, e 93, IX, da CF;

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Direito de não ser preso, senão em flagrante ou mediante ordem escrita emanada da autoridade
judiciária competente, salvo nos Art. 5.º, LXI, da CF e casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei 282 do CPP;
Direito a ser informado de seus direitos quando preso, entre os quais o de permanecer calado, bem
como de assistência da família e de advogado - Art. 5.º, LXIII, da CF e art. 306, § 2.º, do CPP;
Direito de não ser preso nem mantido na prisão, quando a lei admitir liberdade provisória, com ou
sem fiança - Art. 5.º, LXVI, da CF;
Direito de ser cientificado quanto à identidade dos responsáveis pela sua prisão ou por seu
interrogatório policial, quando preso - Art. 5.º, LXIV, da CF e arts. 288 e 291 do CPP;
Direito de não serem admitidas em seu desfavor provas obtidas por meios ilícitos - Art. 5.º, LVI, da
CF;
Direito à assistência jurídica integral e gratuita, quando não dispuser de recursos suficientes para
constituir advogado - Art. 5.º, LXXIV, da CF e Lei 1.060/1950;
Direito à indenização por erro judiciário ou pelo tempo que permanecer preso, além do fixado na
sentença - Art. 5.º, LXXV, da CF;
Direito a um processo com duração razoável e a meios que garantam a celeridade de sua tramitação
- Art. 5.º, LXXVIII, da CF;
Direito à entrevista prévia e reservada com seu advogado, constituído ou nomeado, antes de ser
interrogado em juízo - Art. 185, § 2.º, do CPP;
Direito a que seu silêncio não seja interpretado como confissão ficta ou utilizado pelo juiz como
elemento de convicção em seu desfavor - Art. 186, parágrafo único, do CPP;
Direito à defesa técnica fundamentada, quando assistido por defensor dativo ou público Art. 261,
parágrafo único, do CPP.

ATENÇÃO:
1) Pelo Princípio da Intranscendência das penas, a sanção penal NÃO pode passar do agente delitivo.

2) O STF entendeu que a condução coercitiva para o interrogatório não foi recepcionada pela Constituição
Federal, em razão da ofensa aos princípios da liberdade de locomoção, presunção de inocência e nemo
tenetur se detegere.

3) Conforme o art. 261 CPP, nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado
sem defensor. A defesa técnica é um direito indisponível do réu, razão pela qual necessariamente deve ser
representado por defensor, sob pena de nulidade absoluta (art. 564, III, c, CPP).

Segundo Noberto Avena, quando, regularmente chamado, deixar o acusado de comparecer ao respectivo
ato processual, diz-se ocorrer situação de contumácia. Da contumácia decorre à revelia. Esta é consequência

111
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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daquela. No processo penal à revelia não induz à presunção de verdade dos fatos articulados na inicial
acusatória, impondo-se, sempre, sejam estes comprovados para fins de responsabilização criminal.

Súmulas pertinentes:

Súmula 523 STF: No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta,
mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

Súmula 708 STF: É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos
autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para
constituir outro.

2.2.4 Defensor

Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor
(nomeado) ou procurador (constituído), que é obrigatoriamente um advogado (art. 261, CPP).
Diante do princípio constitucional que assegura aos acusados em geral a ampla defesa com os meios
e recursos a ela inerentes, é indispensável que o réu seja amparado por pessoa com conhecimentos técnicos
suficientes para que se torne efetiva a referida garantia. Nesse sentido, é correto afirmar que o advogado é
indispensável à administração da justiça.
Considerando que ampla defesa se subdivide em autodefesa e defesa técnica, tem-se que esta
(defesa técnica) é indisponível, devendo ser exercida ainda que contra a vontade do acusado ou na sua
ausência, razão pela qual, se o acusado não tiver procurador constituído, lhe deve ser nomeado defensor
pelo juiz, sendo este um defensor dativo (art. 263, CPP) e, em havendo mais de um réu, o juiz deve nomear
defensor para todos (se possível, advogados diversos).
Ressalta-se que a nomeação de defensor dativo não impede que o réu constitua defensor de sua
confiança a qualquer tempo, ou defenda-se, se tiver habilitação.
Via de regra, o réu deve ser representado por advogado ou defensor. No entanto, excepcionalmente
o réu pode atuar em causa própria, quando:
Advogar em causa própria;
Interpor um recurso (art. 577, CPP);
Impetrar habeas corpus (art. 654, CPP).

O art. 265 prevê que o defensor NÃO poderá abandonar o processo, senão por razão imperiosa,
comunicando previamente ao juiz, sob pena de multa e demais sanções cabíveis.
Em abandonando a causa, o advogado deve ficar à disposição da parte pelo prazo de 10 (dez) dias,
conforme art. 5º, §3º, do Estatuto da OAB.

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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É constitucional a multa imposta ao defensor por abandono do processo, prevista


no art. 265 do CPP: Art. 265. O defensor não poderá abandonar o processo senão
por motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de multa de 10
(dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis. A
previsão da multa afigura-se compatível com os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade. A multa não se mostra inadequada nem desnecessária. Ao
contrário, mostra-se razoável como meio prévio para evitar o comportamento
prejudicial à administração da justiça e ao direito de defesa do réu, tendo em vista
a imprescindibilidade da atuação do profissional da advocacia para o regular
andamento do processo penal. A multa do art. 265 do CPP não ofende o
contraditório, a ampla defesa, o devido processo legal ou a presunção de não
culpabilidade. Não há necessidade de instauração de processo autônomo e de
manifestação prévia do defensor, no entanto, é possível que ele, posteriormente,
se justifique por meio de pedido de reconsideração. Outra alternativa é a
impetração de mandado de segurança. STF. Plenário. ADI 4398, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 05/08/2020 (Info 993).

Jurisprudência selecionada sobre o tema:

A nomeação judicial de Núcleo de Prática Jurídica para patrocinar a defesa de réu


dispensa a juntada de procuração. STJ. 3ª Seção. EAREsp 798496-DF, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 11/04/2018 (Info 624).

O advogado do Núcleo de Prática Jurídica tem a prerrogativa de ser intimado


pessoalmente dos atos processuais. Aplica-se ao advogado integrante do núcleo
de prática jurídica de instituição de ensino superior o mesmo regramento que rege
a Defensoria Pública, quanto à necessidade de intimação pessoal. STJ. 5ª Turma. HC
387135/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 01/06/2017.

Não é necessária a intimação prévia da defesa técnica do investigado para a


tomada de depoimentos orais na fase de inquérito policial. Não haverá nulidade
dos atos processuais caso essa intimação não ocorra. O inquérito policial é um
procedimento informativo, de natureza inquisitorial, destinado precipuamente à
formação da opinio delicti do órgão acusatório. Logo, no inquérito há uma regular
mitigação das garantias do contraditório e da ampla defesa. Esse entendimento
justifica-se porque os elementos de informação colhidos no inquérito não se
prestam, por si sós, a fundamentar uma condenação criminal. A Lei nº 13.245/2016
implicou um reforço das prerrogativas da defesa técnica, sem, contudo, conferir ao
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advogado o direito subjetivo de intimação prévia e tempestiva do calendário de


inquirições a ser definido pela autoridade policial. STF. 2ª Turma. Pet 7612/DF, Rel.
Min. Edson Fachin, julgado em 12/03/2019 (Info 933).

Súmula pertinente:

Súmula 644-STJ: O núcleo de prática jurídica deve apresentar o instrumento de


mandato quando constituído pelo réu hipossuficiente, salvo nas hipóteses em que
é nomeado pelo juízo.

2.2.5 Assistente De Acusação

É a posição ocupada pelo ofendido quando ingressa no feito, atuando ao lado do Ministério Público
no polo ativo.
A intervenção do assistente de acusação NÃO é obrigatória, mas quando participa do feito atua
exercendo pretensão contrária à do acusado.
O art. 269 do CPP dispõe que o assistente pode se habilitar a qualquer momento no processo penal
condenatório, enquanto não passar em julgado a sentença. Portanto, após o trânsito em julgado da sentença
penal, não há mais que se falar em habilitação do assistente de acusação.
Só é possível a intervenção do assistente nos crimes de ação penal pública, e desde que esses crimes
tenham vítima. Além disso, o art. 270 do Código de Processo Penal veda a atuação de correu como assistente
de acusação.
Objetivos:
Clássico: obter um título executivo judicial para futura execução no juízo cível, pela ação civil
ex delicto. Há um interesse meramente particular.
Moderno: auxiliar no combate à criminalidade e promoção da justiça, em interesse público.
Com base nesse objetivo moderno, admite-se que o assistente ofereça recurso contra a
sentença condenatória para agravar a pena do réu, conforme já entendeu o STF e STJ.

Em caso de morte do ofendido, podem sucedê-lo como assistente de acusação o cônjuge,


ascendente, descendente ou irmão (art. 268, CPP).
Conforme art. 271, CPP, o assistente te acusação pode:
Propor meios de prova;
Requerer perguntas às testemunhas;
Aditar libelo e os articulados;
Participar do debate oral;
Arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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O prazo para o assistente de acusação habilitado nos autos apelar é de 5 (cinco)


dias, após a sua intimação da sentença, e terminado o prazo para o Ministério
Público apelar. Incidência do enunciado da Súmula n.º 448 do STF. STJ. 5ª Turma.
HC 237574/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/11/2012.

Súmula 448-STF: O prazo para o assistente recorrer supletivamente começa a


correr imediatamente após o transcurso do prazo do MP.

Pergunta-se: O ofendido (não habilitado como assistente de acusação) pode ser considerado sujeito
processual?
A pergunta somente tem pertinência em face do art. 159, § 3º, CPP, que permite a ele (ofendido) a
formulação de quesitos e de indicação de assistente técnico, bem como a comunicação de determinados
atos processuais e o encaminhamento para atendimento multidisciplinar (art. 201, §§ 2º, 4º e 5º, CPP).
De se ver então que a atual legislação prevê que o ofendido, ainda quando não tenha se animado a
ocupar a posição do assistente de acusação, pode participar na produção da prova, com formulação de
quesitos e indicação de assistente técnico.
Ora, aqui, como ressalta evidente, o ofendido atuará como parte, embora sua contribuição na
formação do convencimento judicial esteja limitada à prova pericial. Mas parece-nos irrecusável que essa é
tipicamente uma posição de parte processual, instrumentalizada com poderes e faculdades processuais.
De outro lado, já no que se refere às atuais disposições do art. 201, CPP, no qual se prevê, inclusive,
a possibilidade de decretação de segredo de justiça, com o fim de proteção da imagem, privacidade e
intimidade do ofendido, a questão, a nosso aviso, não caracteriza a qualificação de parte processual,
impondo-se mais como medidas protetivas, assecuratórias da intangibilidade pessoal da vítima.
No ponto, repetimos; o acompanhamento compulsório do processo, excluídas as comunicações
relativas à prisão (art. 201, § 2º, CPP), é inadmissível. Melhor será ouvir o ofendido acerca de seu eventual
interesse em relação aos demais atos do processo do que submetê-lo, contra a sua vontade, ao andamento
de toda a ação penal.

Pergunta-se: Existe assistente de defesa?


R.: NÃO!
Assim como existe o assistente de acusação, diversos doutrinadores sustentam a ideia de que seria
possível falarmos em assistência de defesa (ou assistente da defesa). No caso do assistente de acusação
existe previsão expressa no CPP. Por outro lado, o CPP não fala nada sobre assistente de defesa.
Alguns autores afirmam que o art. 72 da Lei dos Juizados Especiais teria admitido, ainda que de forma
tímida, a intervenção do responsável civil pelos danos como assistente de defesa. Assim, se a infração de
menor potencial ofensivo foi cometida por determinada pessoa, no entanto, outro indivíduo é que será o
responsável pelo pagamento da indenização caso haja condenação, então, neste caso, esse responsável civil
poderia intervir no processo como assistente de defesa. Veja a explicação de Renato Brasileiro:
115
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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No entanto, a despeito do silêncio do legislador, considerando que a Lei dos


Juizados, ao se referir à audiência preliminar, faz menção ao comparecimento do
autor do fato delituoso, da vítima e do responsável civil pelos danos causados,
todos acompanhados por advogado (Lei nº 9.099/95, art. 72), há quem entenda
que esse responsável civil figura como verdadeiro assistente da defesa. Isso porque,
considerando que a reparação do dano nas infrações de menor potencial ofensivo
acarreta renúncia ao direito de queixa ou de representação, com a consequente
extinção da punibilidade se se tratar de crime de ação penal privada ou pública
condicionada à representação, é evidente o interesse do responsável civil em
auxiliar o autor do fato na imediata composição civil dos danos, nos termos do art.

Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 1362-1363).

Guilherme de Souza Nucci menciona que existe previsão legal expressa de que a OAB atue como
assistente de defesa, no caso do art. 49, parágrafo único da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia):

Art. 49. Os Presidentes dos Conselhos e das Subseções da OAB têm legitimidade
para agir, judicial e extrajudicialmente, contra qualquer pessoa que infringir as
disposições ou os fins desta lei. Parágrafo único. As autoridades mencionadas no
caput deste artigo têm, ainda, legitimidade para intervir, inclusive como
assistentes, nos inquéritos e processos em que sejam indiciados, acusados ou
ofendidos os inscritos na OAB.

que a OAB atue como assistente de acusação em caso envolvendo advogado como
réu, cuja demanda desperte o interesse de toda a classe dos advogados.
Entretanto, é preciso salientar que a Lei 8.906/94 autoriza, expressamente, a
assistência, também, do advogado que seja réu ou querelado, pois se refere à
intervenção em inquéritos e processos em que sejam indiciados (nítida hipótese
criminal), acusados ou ofendidos (em igual prisma) os inscritos na Ordem dos
Advogados do Brasil. Dessa forma, nos moldes propostos pelo Código de Processo
Civil, aplicado por analogia neste caso de lacuna do Processo Penal, a OAB pode
atuar como assistente da defesa, quando possui interesse de que a sentença seja
favorável ao réu-
entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a

116
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-
(Código de Processo Penal comentado. 19ª ed., 2020, p. 1027)

No entanto, o STJ afirma que não existe a figura do assistente de defesa no processo penal nem
mesmo na hipótese do art. 49, § único, da Lei nº 8.906/94. Nesse sentido:

Não há, no processo penal, a figura do assistente de defesa, pois a assistência é


apenas da acusação. STJ. Corte Especial. AgRg no Inq 1.191/DF, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 21/10/2020.

A Ordem dos Advogados do Brasil não tem legitimidade para atuar como
assistente de defesa de advogado réu em ação penal. Isso porque, no processo
penal, a assistência é apenas da acusação, não existindo a figura do assistente de
defesa. STJ. 5ª Turma.RMS 63.393-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 23/06/2020 (Info 675). STJ. 6ª Turma. REsp 1815460/RJ, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 23/06/2020.

Jurisprudência selecionada sobre o tema:

Se o acórdão absolutório foi combatido tempestivamente pelo assistente de


acusação, não houve formação de coisa julgada em favor do réu, ainda que o MP
tenha perdido o prazo. O Ministério Público e o assistente de acusação
interpuseram recurso. Ocorre que o recurso do MP não foi conhecido, por
intempestividade. Por outro lado, ficou constatado que o recurso do assistente de
acusação foi interposto dentro do prazo. Logo, se o acórdão absolutório foi
combatido tempestivamente pelo assistente de acusação, não houve formação de
coisa julgada em favor do réu e o recurso deve ser apreciado pelo Tribunal. STF. 2ª
Turma. HC 154076 AgR/PA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/10/2019 (Info
958).

Impossibilidade de seguradora intervir como assistente da acusação. Segundo o


art. 268 do CPP, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido
(pessoalmente ou por meio de seu representante legal, caso seja incapaz). Caso a
vítima tenha morrido, poderá intervir como assistente: a) o cônjuge; b) o
companheiro; c) o ascendente; d) o descendente; ou e) o irmão do ofendido.
Imagine que Maria fez um seguro de vida no qual foi previsto o pagamento de
indenização de R$ 500 mil a seu marido (João) caso ela morresse. Alguns meses
depois, Maria apareceu morta, envenenada. O inquérito policial concluiu que havia
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suspeitas de que João foi o autor do crime, razão pela qual ele foi denunciado por
homicídio doloso. Uma das cláusulas do contrato prevê que, se o beneficiário foi
quem causou a morte da segurada, ele não terá direito à indenização. A seguradora
poderá intervir no processo criminal como assistente da acusação para provar que
João foi o autor do crime? NÃO. A seguradora não tem direito líquido e certo de
figurar como assistente do Ministério Público em ação penal na qual o beneficiário
do seguro de vida é acusado de ter praticado o homicídio do segurado. O art. 268
prevê quem poderá intervir como assistente de acusação e neste rol não se inclui a
seguradora. O sujeito passivo do crime de homicídio é o ser humano e o bem
jurídico é a vida, de forma que, por mais que se reconheça que a seguradora possui
interesse patrimonial no resultado da causa, isso não a torna vítima do homicídio.
Vale ressaltar que, em alguns casos, a legislação autoriza que certas pessoas ou
entidades, mesmo não sendo vítimas do crime, intervenham como assistentes de
acusação. STJ. 6ª Turma. RMS 47.575-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 14/4/2015 (Info 560).

Dispensa de procuração para atuar como representante do assistente de


acusação. Em regra, o Defensor Público não precisa de mandato (procuração) para
representar a parte em processos administrativos ou judiciais. Isso está previsto na
LC 80/94. Exceção: será necessária procuração se o Defensor Público for praticar
algum dos atos para os quais a lei exige poderes especiais (exemplos: transigir,
desistir, renunciar art. 105 do CPC/2015). Se a vítima (ou seus sucessores)
quiserem ingressar no processo criminal como assistente de acusação, será
necessário que outorguem uma procuração ao Defensor Público para que este as
represente em juízo? NÃO. Quando a Defensoria Pública atuar como representante
do assistente de acusação, é dispensável a juntada de procuração com poderes
especiais. O Defensor Público deve juntar procuração judicial somente nas
hipóteses em que a lei exigir poderes especiais. Atuar como representante do
assistente de acusação não é considerado um poder especial, não se exigindo
procuração especial. A participação da Defensoria Pública como representante do
assistente de acusação pode ser negada sob o argumento de que a vítima ou seus

Defensoria o direito de apurar o estado de carência de seus assistidos. STJ. 5ª


Turma. HC 293.979-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 5/2/2015 (Info 555).
Fonte: Dizer o Direito

3. COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS

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A comunicação dos atos processuais é essencial para o desenvolvimento regular do processo,


estando intimamente ligada a dois princípios constitucionais: contraditório e ampla defesa.
A doutrina elenca 3 atos destinados à comunicação, quais sejam:
(1) Citação: dá ciência ao indivíduo do processo;
(2) Intimação: relacionada a ato futuro;
(3) Notificação: relacionada a ato passado.

Ressalta-se, contudo, que o CPP não faz distinção entre intimação e notificação, adotando

3.1 Citação

a) Conceito e finalidade:
É, em regra, o primeiro ato de comunicação processual, por meio do qual é dada ciência ao indivíduo
quanto ao recebimento de uma denúncia ou queixa contra a sua pessoa (concretização do princípio do
contraditório), ao mesmo tempo em que ele é chamado para o exercício de sua defesa (concretização do
princípio da ampla defesa).
Ressalta-se que a finalidade da citação sofreu alterações após a reforma de 2008, veja:
Antes da reforma de 2008: o acusado era citado para comparecer em juízo para o
interrogatório (1º ato da instrução).
Após a reforma de 2008: o acusado é citado para apresentar resposta à acusação no prazo de
10 dias (tornando-se o interrogatório o último ato da instrução).

Embora a citação seja considerada, em regra, o primeiro ato de comunicação do processo, pois,

e não uma citação, como por


exemplo prevê o art. 514 do CPP.

forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte assertiva: A citação no processo penal sempre será
o primeiro ato de comunicação do denunciado no processo penal.

Considerações importantes acerca da citação:


Ocorre uma única vez dentro do processo (ato de ciência da ação);
Não induz litispendência;
119
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Não torna o juiz prevento;


Pode ser feita a qualquer dia e qualquer hora, desde que respeitada a garantia de inviolabilidade
domiciliar, inclusive aos domingos, feriados e períodos de férias (art. 797, CPP);
A ausência da citação acarreta nulidade absoluta, ao passo que a sua deficiência (ex.: inobservância
das formalidades da citação) acarreta apenas nulidade relativa. Sobre a nulidade da citação, atente-
se ainda para as seguintes observações:
· O ato que decreta a nulidade da citação seja nulidade absoluta ou relativa é chamado de
circundação. Temos, portanto, uma citação circunduta.
· A falta ou nulidade da citação será sanada se o interessado comparecer antes de o ato se
consumar, ainda que o faça com a única finalidade de argui-la.

Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará


sanada, desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora
declare que o faz para o único fim de argüi-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão
ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar
direito da parte.

ATENÇÃO: Embora a falta de citação seja causa de nulidade absoluta, admite-se que seja sanada, em
razão da previsão do art. 570, CPP.

b) Espécies de citação:
Citação pessoal ou real: É a regra no processo penal. É aquela feita for oficial de justiça por
mandado, precatória, requisição, rogatória ou carta de ordem, em que o acusado toma ciência da
acusação pessoalmente.
Citação ficta ou presumida: É chamada citação ficta pois não se entrega pessoalmente ao acusado a
cópia da denúncia. Possui como modalidades da citação por edital e por hora certa.

Espécies de citação pessoal ou real:


1) Citação por Mandado:
É a regra geral, em que deve citar o acusado pessoalmente por oficial de justiça, através do mandado,
quando o réu estiver em território sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado.
Por este motivo, a citação pessoal não pode ser feita na pessoa de seu procurador, salvo se se tratar
de inimputável (citação imprópria) ou pessoa jurídica, hipóteses em que será considerada válida a citação
feita na pessoa do curador ou do representante legal, respectivamente.

Art. 351. A citação inicial far-se-á por mandado, quando o réu estiver no território
sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado.

120
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Para o cumprimento do mandado de citação, é preciso que ele preencha os requisitos intrínsecos e
(art. 352, CPP) e extrínsecos (art. 357, CPP).

Art. 352. O mandado de citação indicará: [requisitos intrínsecos]


I - o nome do juiz;
II - o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;
III - o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos;
IV - a residência do réu, se for conhecida;
V - o fim para que é feita a citação;
VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;
VII - a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.

Art. 357. São requisitos da citação por mandado: [requisitos extrínsecos]


I - leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se
mencionarão dia e hora da citação;
II - declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé, e sua aceitação ou
recusa.

2) Citação por Carta Precatória:


A citação por carta precatória será efetivada quando o réu estiver fora do território da jurisdição,
mas em lugar sabido, obedecendo o trâmite previsto no art. 355, CPP.
Assim, o juízo deprecado, ao receber a carta precatória, lançará o seu cumprimento a ser realizado
por oficial e justiça. Após o cumprimento, a carta será imediatamente devolvida ao juízo deprecante,
independentemente de traslado e sem maiores formalidades.

Art. 353. Quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juiz processante,
será citado mediante precatória.

Art. 354. A precatória indicará:


I - o juiz deprecado e o juiz deprecante;
II - a sede da jurisdição de um e de outro;
Ill - o fim para que é feita a citação, com todas as especificações;
IV - o juízo do lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer.

Art. 355. A precatória será devolvida ao juiz deprecante, independentemente de


traslado, depois de lançado o "cumpra-se" e de feita a citação por mandado do juiz
deprecado

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

§ 1o Verificado que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro


juiz, a este remeterá o juiz deprecado os autos para efetivação da diligência, desde
que haja tempo para fazer-se a citação.
§ 2o Certificado pelo oficial de justiça que o réu se oculta para não ser citado, a
precatória será imediatamente devolvida, para o fim previsto no art. 362.

Ressalta-se que o art. 355, §1º prevê o instituto da carta precatória itinerante. Isso significa que,
quando o juízo deprecado (aquele que recebe a carta precatória) constatar que o réu se encontra em
território sujeito à jurisdição de outro juiz, o próprio juízo deprecado deverá encaminhar a precatória ao local
onde o réu se encontra, sem necessidade de retornar ao juízo deprecante, em observância ao princípio da
economia processual.
Em havendo urgência, o CPP autoriza que a carta precatória seja expedida pela via telegráfica, desde
que haja firma reconhecida pelo juiz.

Art. 356. Se houver urgência, a precatória, que conterá em resumo os requisitos


enumerados no art. 354, poderá ser expedida por via telegráfica, depois de
reconhecida a firma do juiz, o que a estação expedidora mencionará.

Súmulas pertinentes:

Súmula 155, STF: É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação
da expedição de precatória para inquirição de testemunha.

Súmula 273, STJ: Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se


desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado.

3) Citação por Carta Rogatória:


A citação por carta rogatória deverá ser feita quando o acusado estiver no estrangeiro ou em sede
de embaixada ou consulado, suspendendo-se o curso do prazo prescricional até o seu cumprimento.
Ressalta-se que a expedição de carta rogatória é medida excepcional, tendo em vista que,
atualmente, é possível a utilização do recurso de videoconferência. Por esse motivo, somente será possível
quando a parte interessada demonstrar a necessidade da diligência e arcar com os custos do envio.

Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante
carta rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu
cumprimento.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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Art. 369. As citações que houverem de ser feitas em legações estrangeiras serão
efetuadas mediante carta rogatória

Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a


sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio.

Até quando o prazo prescricional fica suspenso?


R.: Segundo STJ, se for expedida carta rogatória para citar um acusado no exterior, o prazo
prescricional ficará suspenso até que ela seja cumprida, o que ocorre com o ato de comunicação
ocorrido no estrangeiro (e não com a juntada da carta cumprida aos autos).

Se for expedida carta rogatória para citar um acusado no exterior, o prazo


prescricional ficará suspenso até que ela seja cumprida, ou seja, o prazo
prescricional voltará a correr antes mesmo que a carta seja juntada aos autos. O
CPP afirma que, se for expedida uma carta rogatória para citar um acusado no
exterior, o prazo prescricional ficará suspenso até que ela seja cumprida: Art. 368.
Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta
rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.
Até quando o prazo prescricional fica suspenso? Até o cumprimento da carta ou até
a sua juntada aos autos? O termo final da suspensão do prazo prescricional pela
expedição de carta rogatória para citação do acusado no exterior é a data da
efetivação da comunicação processual no estrangeiro, ainda que haja demora
para a juntada da carta rogatória cumprida aos autos. STJ. 5ª Turma. REsp
1882330/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/04/2021 (Info 691).

A solução adotada pelo STJ também é a defendida por Renato Brasileiro:

afiançável ou não o delito, estando o acusado em local certo no


estrangeiro, sua citação será feita mediante carta rogatória, permanecendo
suspenso o curso da prescrição enquanto não houver seu cumprimento. Mas até
quando deve permanecer suspenso o prazo prescricional? A nosso ver, a fluência
do lapso prescricional possui como dies a quo não a data em que os autos da carta
rogatória derem entrada no cartório, mas sim aquela em que se der o efetivo
cumprimento no juízo rogado. Nessa linha, é sempre bom lemb
processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos

(LIMA Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed., Salvador: Juspodivm,
2020, p. 1373).
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

4) Citação do Militar:

Art. 358. A citação do militar far-se-á por intermédio do chefe do respectivo


serviço.

Considerando que a citação do militar deve ser feita por intermédio do chefe do respectivo serviço,
como forma de resguardar a intangibilidade do quartel, bem como a hierarquia e disciplina, deve o juiz
encaminhar a requisição por ofício ao superior hierárquico, que, por sua vez, será responsável por
encaminhar ao acusado em momento oportuno.
Não há, aqui, a citação por mandado.

5) Citação do Funcionário Público:

Art. 359. O dia designado para funcionário público comparecer em juízo, como
acusado, será notificado assim a ele como ao chefe de sua repartição.

Tanto o funcionário público como o chefe de sua repartição devem ser notificados. Caso o
funcionário esteja fora da comarca, o juiz deve-se valer da expedição de carta precatória.

6) Citação do Réu Preso:

Art. 360. Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado.

A citação do réu preso deve ser sempre pessoal, salvo se o preso estiver em unidade da federação
diversa, hipótese em que será válida a citação por edital.

Súmula 351-STF: É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da
federação em que o juiz exerce a sua jurisdição.

IMPORTANTE!
Segundo o STJ, é possível a utilização de WhatsApp para a citação de acusado, desde que sejam
adotadas medidas suficientes para atestar a autenticidade do número telefônico, bem como a identidade do
indivíduo destinatário do ato processual. STJ. 5ª Turma. HC 641.877/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
09/03/2021 (Info 688).

Veja a explicação do professor Márcio Cavalcante sobre o tema:

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

de ordem formal, haja vista a competência privativa da União para legislar sobre
processo (art. 22, I, da CF/88), ou de ordem material, em razão da ausência de
previsão legal e possível malferimento de princípios caros como o devido processo
legal, o contraditório e a ampla defesa. No entanto, por outro lado, não se pode
fechar os olhos para a realidade. Excluir peremptória e abstratamente a
possibilidade de utilização do WhatsApp para fins da prática de atos de
comunicação processuais penais, como a citação e a intimação, não se revelaria
uma postura comedida.

Não se trata de autorizar a confecção de normas processuais por tribunais, mas sim
o reconhecimento, em abstrato, de situações que, com os devidos cuidados,
afastariam, ao menos, a princípio, possíveis prejuízos ensejadores de futuras
anulações. Isso porque a tecnologia em questão permite a troca de arquivos de
texto e de imagens, o que possibilita ao oficial de justiça, com quase igual precisão
da verificação pessoal, aferir a autenticidade do número telefônico, bem como da
identidade do destinatário para o qual as mensagens são enviadas.

Além disso, não há falar em nulidade de ato processual sem demonstração de


prejuízo ou, em outros termos, princípio pas nullité sans grief. Assim, é possível
imaginar-se a utilização do WhatsApp para fins de citação na esfera penal, com base
no princípio pas nullité sans grief.

De todo modo, para que seja admitida a citação por WhatsApp é indispensável que
sejam tomados todos os cuidados possíveis para se comprovar a autenticidade
não apenas do número telefônico com que o oficial de justiça realiza a conversa,
mas também da identidade do destinatário das mensagens.

É possível imaginar-se, por exemplo, a exigência pelo agente público do envio de


foto do documento de identificação do acusado, de um termo de ciência do ato
citatório assinado de próprio punho, quando o oficial possuir algum documento do
citando para poder comparar as assinaturas, ou qualquer outra medida que torne
inconteste tratar-se de conversa travada com o verdadeiro denunciado. De outro
lado, a mera confirmação escrita da identidade pelo citando não nos parece
suficiente.

Necessário distinguir, porém, essa situação daquela em que, além da escrita pelo
citando, há no aplicativo foto individual dele. Nesse caso, ante a mitigação dos
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

riscos, diante da concorrência de três elementos indutivos da autenticidade do


destinatário, número de telefone, confirmação escrita e foto individual, entende-
se possível presumir-se que a citação se deu de maneira válida, ressalvado o direito
do citando de, posteriormente, comprovar eventual nulidade, seja com registro de
ocorrência de furto, roubo ou perda do celular na época da citação, com contrato
de permuta, com testemunhas ou qualquer outro meio válido que autorize concluir
de forma assertiva não ter havido citação válida.

Assim, é possível o uso da referida tecnologia para citação, desde que, com a
adoção de medidas suficientes para atestar a identidade do indivíduo com quem
se travou a conversa.

Espécies de citação ficta ou presumida:


1) Citação por edital:
A citação por edital ocorre quando o acusado não for encontrado, ou seja, quando estiver em local
incerto ou não sabido.

Obs.: Locais perigosos (ex.: comunidades dominadas por milícias) NÃO autorizam a citação por edital.

Segundo a jurisprudência do STJ, é necessário empreender esforços para a localização do acusado


antes de realizar a citação por edital.

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. SENTENÇA.


INTIMAÇÃO PELA VIA EDITALÍCIA. NULIDADE. DILIGÊNCIAS NÃO REALIZADAS.
RÉU PRESO DURANTE O PRAZO DE INTIMAÇÃO DO EDITAL. RECURSO ORDINÁRIO
PROVIDO. ORDEM CONCEDIDA.
1 - Imperioso o reconhecimento da nulidade da intimação do acusado acerca da
sentença condenatória, porquanto não realizadas diligências para sua localização,
além de que, restando posteriormente custodiado, necessária seria a sua
intimação pessoal acerca do resultado da ação penal em andamento, em
observância ao art. 5º, LV, da Constituição Federal.
2 - A doutrina se orienta no entendimento de que, preso o réu durante o prazo do
edital, deverá ser intimado pessoalmente do r. decreto condenatório, na forma do
art. 392, inciso I, CPP, restando prejudicada a intimação editalícia, conforme leciona
JÚLIO FABBRINI MIRABETE (in "Processo Penal, 10ª ed., Atlas, fls. 470) (HC
15.481/SP, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJ 10/09/2001).
3 - Recurso ordinário provido, para declarar a nulidade da ação penal, desde a
intimação do acusado da sentença condenatória.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

(RHC 45.584/PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em


03/05/2016, DJe 12/05/2016).

Segundo o entendimento sumulado do STJ, basta que a citação indique o dispositivo da lei penal,
sendo desnecessário transcrever a denúncia ou resumir os fatos.

Súmula 366-STF: Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal,
embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se
baseia.

A citação por edital é considerada, pela doutrina, um ato complexo, porquanto só se perfaz com a
publicação do edital e com o decurso do prazo de dilação de 15 dias. Esse prazo de dilação corresponde ao
tempo que deve ocorrer entre a publicação do edital e a data em que se considerada efetivado o ato
processual.

Art. 361. Se o réu não for encontrado, será citado por edital, com o prazo de 15
(quinze) dias.

E se o acusado, citado por edital, não comparecer e nem constituir advogado? R.: Nesse caso, o
processo e o prazo prescricional ficarão suspensos, em observância ao princípio do contraditório e ampla
defesa, podendo o juiz, se for o caso, determinar a produção antecipada de provas ou decretar a prisão
preventiva. É o que prevê o art. 366 do CPP:

Art. 366: Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado,
ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz
determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o
caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

E se o acusado, citado por edital, constituir advogado, mas seu patrono renunciar antes de proferida
a sentença? R.: Nesse caso, NÃO cabe suspensão do processo ou do prazo prescricional, porquanto o
advogado fora, inicialmente, constituído. Por este motivo, deve o juiz nomear a Defensoria Pública ou
um defensor dativo para patrocinar a defesa do acusado e permitir o prosseguimento do trâmite
processual.

PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DO


RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. HOMICÍDIO. ACUSADO CITADO POR EDITAL.
ADVOGADO REGULARMENTE CONSTITUÍDO NOS AUTOS. RENÚNCIA DOS PODERES
3 (TRÊS) MESES APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. SUSPENSÃO DO PROCESSO
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

E DO PRAZO PRESCRICIONAL. INAPLICABILIDADE DO ART. 366 DO CPP. NOMEAÇÃO


DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA PATROCINAR A DEFESA DO ACUSADO.
IMPOSSIBILIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO ACUSADO PARA CONSTITUIR NOVO
DEFENSOR. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. (...)
2. A teor do art. 366 do CPP, a suspensão do processo penal e do prazo
prescricional, somente é possível quando o acusado, após citado por edital, não
comparece e não constitui advogado nos autos.
3. No caso, embora o paciente tenha sido citado por edital, constituiu, desde a
fase inquisitorial, advogado nos autos com amplos poderes, o que demonstra que
conhecia da imputação contra ele dirigida.
4. A renúncia do advogado deu-se 3 (três) meses após o recebimento da denúncia,
inexistindo ilegalidade na decisão do Juízo de primeiro grau que determinou o
prosseguimento do feito com a nomeação da Defensoria Pública para patrocinar
a defesa do acusado, uma vez que não seria possível intimá-lo pessoalmente para
constituir defensor de sua confiança, tendo em vista encontrar-se em lugar incerto
e não sabido. 5. Habeas corpus não conhecido.
(HC 338.540/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 14/09/2017, DJe 21/09/2017)

Observações sobre o art. 366:


1) O art. 366 não se aplica aos crimes de lavagem de capitais. Se o indivíduo denunciado por crime de
lavagem for citado por edital, não comparecer e nem constituir advogado, o processo prosseguirá
regulamente, com a adoção de um defensor dativo.

Art. 2º, §2º, Lei 9613/98 No processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica
o disposto no art. 366 do Código de Processo Penal, devendo o acusado que não
comparecer nem constituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o feito até
o julgamento, com a nomeação de defensor dativo.

Caiu na prova de Delegado de Polícia Federal de 2021: Em relação ao disposto na Lei n.º 9.613/1998, que se
refere à lavagem de dinheiro, julgue os itens a seguir. Ficarão suspensos o processo e o curso do prazo
prescricional do acusado citado por edital que não comparecer nem constituir advogado. Gabarito: ERRADO.

2) Com relação ao prazo de suspensão da prescrição, há divergência no âmbito dos Tribunais Superiores.
Para o STJ a suspensão deve ser regulada pelo máximo da pena abstratamente cominada ao delito
(Súmula 415). Já para o STF, a suspensão deve observar o tempo de prescrição da pena máxima
abstratamente cominada ao delito (Tese de Repercussão Geral, 2020).

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Súmula 415-STJ: O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo


máximo da pena cominada.

Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital, ressalvados os


crimes previstos na Constituição Federal como imprescritíveis, é constitucional
limitar o período de suspensão do prazo prescricional ao tempo de prescrição da
pena máxima em abstrato cominada ao crime, a despeito de o processo
permanecer suspenso. STF. Plenário. RE 600851, Rel. Min. Edson Fachin, julgado
em 04/12/2020 (Repercussão Geral Tema 438).

3) Citado o réu por edital, nos termos do art. 366 do CPP, o processo deve permanecer suspenso
enquanto o réu não for localizado ou até que seja extinta a punibilidade pela prescrição.
Vale ressaltar que se trata de mudança de entendimento do STJ, porque este Tribunal entendia, antes
da decisão do STF no RE 600851, que esgotado o prazo máximo de suspensão processual, nos termos do art.
366 do CPP, feito deveria voltar a tramitar mesmo com a ausência do réu, mediante a constituição de defesa
técnica (STJ. 6ª Turma. RHC 112.703/RS, Min. Nefi Cordeiro, DJe de 22/11/2019).

O art. 366 do CPP estabelece que se o acusado for citado por edital e não
comparecer ao processo nem constituir advogado o processo e o curso da
prescrição ficarão suspensos. Enquanto o réu não for localizado, o curso processual
não pode ser retomado. STJ. 6ª Turma. RHC 135970/RS, Rel. Min. Sebastião Reis
Junior, julgado em 20/04/2021 (Info 693).

Logo, atualmente, o tema é pacífico no âmbito dos Tribunais Superiores, ficando o processo suspenso
por prazo indefinido.

4) A produção antecipada de provas é admita apenas quando se tratar de prova urgente, perecível e
devidamente fundamentada.
Segundo a súmula 455 do STJ, o mero decurso do tempo não é suficiente para deferir a produção
antecipada de provas, que deve se basear em risco concreto de esquecimento.

Súmula 455: A decisão que determina a produção antecipada de provas com base
no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando
unicamente o mero decurso do tempo.

A oitiva de testemunhas pode ser considerada prova urgente para os fins do art. 366 do CPP? R.:
Sim, desde que as circunstâncias do caso concreto revelem a possibilidade concreta de perecimento.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Ex: a testemunha possui idade avançada e se encontra enferma, com possibilidade concreta de
morte.

A oitiva das testemunhas que são policiais é considerada como prova urgente para os fins do art.
366 do CPP? R: Segundo o entendimento do STJ, se as testemunhas atuarem na segurança pública,
deverá ser autorizada a sua oitiva como prova antecipada, pois os policiais lidam diariamente com
inúmeras ocorrências e, se houvesse o decurso do tempo, eles poderiam esquecer dos fatos.

O fato de o agente de segurança pública atuar constantemente no combate à


criminalidade faz com que ele presencie crimes diariamente. Em virtude disso, os
detalhes de cada uma das ocorrências acabam se perdendo em sua memória. Essa
peculiaridade justifica que os policiais sejam ouvidos como produção antecipada da
prova testemunhal, pois além da proximidade temporal com a ocorrência dos fatos
proporcionar uma maior fidelidade das declarações, possibilita ainda o registro
oficial da versão dos fatos vivenciados por ele, o que terá grande relevância para a
garantia da ampla defesa do acusado, caso a defesa técnica repute necessária a
repetição do seu depoimento por ocasião da retomada do curso da ação penal.
Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. RHC 128.325/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
08/09/2020.

A decisão que indefere a produção antecipada de provas é atacada por RESE.

É cabível recurso em sentido estrito para impugnar decisão que indefere


produção antecipada de prova, nas hipóteses do art. 366 do CPP. As hipóteses de
cabimento de recurso em sentido estrito estão previstas no art. 581 do CPP, sendo
esse um rol taxativo (exaustivo). No entanto, apesar disso, é admitida a
interpretação extensiva dessas hipóteses legais de cabimento. Se você observar as
situações ali elencadas, verá que não existe a previsão de recurso em sentido estrito
contra a decisão que indefere o pedido de produção antecipada de provas. Apesar
disso, será possível a interposição de RESE contra essa decisão com base no inciso

sentença: XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão

art. 366 deve ser encarada, para fins de recurso, como sendo uma decisão que
a
produção das provas. Logo, enquadra-se no inciso XVI do art. 581 do CPP. STJ. 3ª
Seção. EREsp 1630121-RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
28/11/2018 (Info 640).
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Por fim, mas não menos importante, é importante lembrar que não cabe citação por edital nos
procedimentos do JECRIM. Assim, não sendo o réu encontrado para ser citado, deve o juiz remeter os autos
para a Justiça Comum, em que será adotado o processo sumário, hipótese em que será possível efetivar a
citação por edital.

Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível,
ou por mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as
peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.

2) Citação por Hora Certa:


A citação por hora certa passou a ser expressamente permitida no Processo Penal com o advento da
Lei 11.719/08, e ocorrerá quando o ficar demonstrado que o réu está se ocultando para não ser citado.
Em outras palavras: ocorre quando o oficial de justiça vai tentar citar o réu e, reiteradas vezes, não o
localiza no endereço onde ele normalmente deveria estar. Diante disso, o oficial percebe que réu está, na
verdade, praticando manobras para não ser encontrado, buscando, com isso, evitar o início dos atos
processuais.
Nesse caso a lei autoriza que o oficial de justiça marque determinado dia e horário para voltar no
endereço do réu e, nesta data designada, tentar novamente citar o indivíduo. Caso ele não esteja mais uma
vez presente, a citação considera-se realizada e presume-se que o réu tomou conhecimento da ação penal
que irá seguir o seu curso normal.

Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça
certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma
estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código
de Processo Civil.

Obs.: os art. 227 a 229 do CPC/1973, mencionados acima pelo art. 362 do CPP,
correspondem, atualmente, aos art. 252 a 254 do CPC/2015.

Se efetivada a citação por hora certa e, ainda assim, o acusado não comparecer e nem constituir
advogado, o feito irá prosseguir normalmente, devendo o juiz nomear um defensor dativo para representá-
lo. Ao contrário do que ocorre com a citação por edital, aqui NÃO há suspensão do processo e nem do prazo
prescricional!

Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não


comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

O procedimento para a citação por hora certa não está previsto no CPP, motivo pelo qual deve seguir
o trâmite definido pelos artigos 252 a 254 do CPC. Trata-se, portanto, de uma norma processual penal em
branco.

Art. 252. Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando
em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de
ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de
que, no dia útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar.
Parágrafo único. Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de
acesso, será válida a intimação a que se refere o caput feita a funcionário da
portaria responsável pelo recebimento de correspondência.

Art. 253. No dia e na hora designados, o oficial de justiça, independentemente de


novo despacho, comparecerá ao domicílio ou à residência do citando a fim de
realizar a diligência.
§ 1º Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das
razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado
em outra comarca, seção ou subseção judiciárias.
§ 2º A citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa da família ou o
vizinho que houver sido intimado esteja ausente, ou se, embora presente, a pessoa
da família ou o vizinho se recusar a receber o mandado.
§ 3º Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com qualquer
pessoa da família ou vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome.
§ 4º O oficial de justiça fará constar do mandado a advertência de que será
nomeado curador especial se houver revelia.

Art. 254. Feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe de secretaria enviará
ao réu, executado ou interessado, no prazo de 10 (dez) dias, contado da data da
juntada do mandado aos autos, carta, telegrama ou correspondência eletrônica,
dando-lhe de tudo ciência.

Obs.: A citação por hora certa já teve sua constitucionalidade, inclusive, atestada pelo STF.

1. É constitucional a citação por hora certa, prevista no art. 362, do Código de


Processo Penal. 2. A ocultação do réu para ser citado infringe cláusulas
constitucionais do devido processo legal e viola as garantias constitucionais do
acesso à justiça e da razoável duração do processo.[Tese definida no RE 635145,
132
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

rel. min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. min. Luiz Fux, P, j. 1º-8-2016, DJE 207 de 13-9-
2017, Tema 613.]

Cabe citação por hora certa nos juizados criminais especiais, regido pela Lei nº 9.099/95? R.: Há
polêmica sobre o tema.
1ª corrente: NÃO. Se o oficial de justiça informar que o réu está se ocultando para não ser citado, deverá
o juiz declarar a incompetência do Juizado Especial e remeter os autos a uma vara criminal comum, a
fim de que seja adotado o rito sumário (art. 538 do CPP), com base no art. 66 da Lei nº 9.099/95. É
adotada por Norberto Avena.
2ª corrente: SIM. É a posição que prevalece no âmbito dos Juizados Especiais, havendo um enunciado
do FONAJE nesse sentido. Melhor posição para prova objetiva!

Enunciado 110: No Juizado Especial Criminal é cabível a citação com hora certa (XXV
Encontro São Luís/MA).

Vamos esquematizar?
CITAÇÃO REAL OU PESSOAL CITAÇÃO FICTA OU PRESUMIDA
Citação por mandado; Citação por edital;
Citação do militar; Citação por hora certa.
Citação do funcionário público;
Citação do réu preso.

CITAÇÃO POR EDITAL CITAÇÃO POR HORA CERTA


Art. 361. Se o réu não for encontrado, será Art. 362. Verificando que o réu se oculta
citado por edital, com o prazo de 15 (quinze) para não ser citado, o oficial de justiça
dias. certificará a ocorrência e procederá à
citação com hora certa, na forma
estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei
no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código
de Processo Civil.
Parágrafo único. Completada a citação com
hora certa, se o acusado não comparecer,
ser-lhe-á nomeado defensor dativo.
Quando o réu não é encontrado. Quando o réu se oculta para não ser citado.

O não comparecimento e nem a constituição O não comparecimento e nem a


de advogado acarreta a suspensão do processo constituição de advogado acarreta o regular
e do prazo prescricional.

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SEMANA 10/18

prosseguimento do feito com a nomeação


de defensor dativo.

Não tem aplicabilidade no JECRIM. Tem aplicabilidade no JECRIM (doutrina


majoritária).

3.2 Revelia no Processo Penal

A revelia no processo penal está prevista no art. 367 do CPP e, ao contrário do processo civil, NÃO
gera a presunção da veracidade dos fatos.

acusado por ocasião da realização de qualquer ato relevante do processo, tem como única consequência a
não intimação dele para a prática dos atos subsequentes, exceção feita à intimação da sentença, que deverá
, p. 612).

Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado
pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou,
no caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.

Hipóteses em que restará configurada à revelia:


(1) Se, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo
justificado;
(2) Se mudar de residência e não comunicar o novo endereço ao juízo;
(3) Se o réu solo, devidamente intimado, não comparecer à sessão do julgamento no Tribunal do
Júri (art. 457, CPP).

Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado
solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente
intimado.

Consequências da decretação da revelia:


(1) Prosseguimento normal do feito, com a nomeação de defensor dativo, sem que o acusado
tenha o direito de ser intimado para os atos posteriores;
(2) Quebramento da fiança (art. 341, I, CPP)

Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado:

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I - Regularmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer, sem motivo


justo;

3.3 Intimação

Intimação diz respeito a um ato processual já praticado ou ainda a ser praticado. A doutrina

Art. 370. Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que
devam tomar conhecimento de qualquer ato, será observado, no que for aplicável,
o disposto no Capítulo anterior.
§ 1o - A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do
assistente far-se-á por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos
judiciais da comarca, incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado.
§ 2o - Caso não haja órgão de publicação dos atos judiciais na comarca, a intimação
far-se-á diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante
de recebimento, ou por qualquer outro meio idôneo.
§ 3o - A intimação pessoal, feita pelo escrivão, dispensará a aplicação a que alude
o § 1o.
§ 4o - A intimação do Ministério Público e do defensor nomeado será pessoal.

A intimação pode ser realizada pessoalmente ou através de órgão oficial. Veja:

INTIMAÇÃO PESSOAL INTIMAÇÃO POR ÓRGÃO OFICIAL


Ministério Público Defensor constituído
Defensor Público Advogado do querelante
Defensor Dativo ** Assistente de acusação

** A prerrogativa legal de intimação pessoal do defensor dativo pode ser renunciada expressamente pelo
profissional, sem que tal conduta acarrete nulidade da intimação. Esse é o entendimento do STJ:

Obrigatoriedade de intimação pessoal do Defensor Público e do defensor dativo:

respeito do dia em que será julgado o recurso (art. 370, § 4º do CPP). Se for feita a
sua intimação apenas pela imprensa oficial, isso é causa de nulidade.
Exceção: não haverá nulidade se o próprio defensor dativo pediu para ser
intimado dos atos processuais pelo diário oficial. Ex.: O réu foi acusado de um
crime. Na localidade, não havia Defensoria Pública, razão pela qual o juiz nomeou
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

um defensor dativo para fazer a assistência jurídica do acusado. O réu foi


condenado em 1ª instância. Irresignada, a defesa interpôs recurso de apelação. Na
petição do recurso, o defensor dativo afirmou que preferia ser intimado pela
imprensa oficial, declinando da prerrogativa de ser pessoalmente cientificado dos
atos processuais. Por meio do Diário da Justiça, o defensor dativo foi intimado da
data de julgamento da apelação. No julgamento do recurso, o TJ manteve a
sentença condenatória. A partir daí, a Defensoria Pública foi estruturada no Estado
e o Defensor Público que assumiu a assistência jurídica de João impetrou habeas
corpus sustentando que houve nulidade do julgamento da apelação, já que o
defensor dativo não foi pessoalmente intimado. O STJ negou o pedido afirmando
que a intimação do defensor dativo apenas pela impressa oficial não implica
reconhecimento de nulidade caso este tenha optado expressamente por esta
modalidade de comunicação dos atos processuais, declinando da prerrogativa de
ser intimado pessoalmente. STJ. 5ª Turma. HC 311676-SP, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 16/4/2015 (Info 560).

Considerações importantes:
Em caso de sentença condenatória, réu e advogado devem ser intimados, e o prazo para recurso só
começará a contar a partir da 2º intimação (não se aplica para os casos de sentença absolutória ou
absolutória imprópria).
Considera-se efetivamente a intimação com o mero cumprimento do mandado de intimação e não
com a sua juntada aos autos.

Súmula 710-STF: No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e


não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

Obs.: Essa súmula vale também para os prazos recursais. Assim, o início da
contagem do prazo para interposição da apelação conta-se da intimação da
sentença, e não da juntada aos autos do mandado respectivo (STJ HC 217.554/SC,
julgado em 19/06/2012).

Para o Ministério Público e Defensoria Pública, considera-se efetivada a intimação a partir da entrada
dos autos no respectivo gabinete, não sendo necessário que o membro manifeste sobre a ciência da
intimação.
Os prazos são contados de acordo com o disposto na súmula 310 do STF.

Súmula 310-STF: Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com


efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira
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imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia
útil que se seguir.

Veja, ainda, o disposto nos art. 391 e 392 do CPP:

Art. 391. O querelante ou o assistente será intimado da sentença, pessoalmente ou


na pessoa de seu advogado. Se nenhum deles for encontrado no lugar da sede do
juízo, a intimação será feita mediante edital com o prazo de 10 dias, afixado no
lugar de costume.

Art. 392. A intimação da sentença será feita:


I - ao réu, pessoalmente, se estiver preso;
II - ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, quando se livrar solto,
ou, sendo afiançável a infração, tiver prestado fiança;
III - ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou não, a infração,
expedido o mandado de prisão, não tiver sido encontrado, e assim o certificar o
oficial de justiça;
IV - mediante edital, nos casos do no II, se o réu e o defensor que houver
constituído não forem encontrados, e assim o certificar o oficial de justiça;
V - mediante edital, nos casos do no III, se o defensor que o réu houver constituído
também não for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça;
VI - mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor, não for encontrado,
e assim o certificar o oficial de justiça.

Atenção! Alteração legislativa 2022:

Art. 798-A. Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre
20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive, salvo nos seguintes casos: (Incluído
pela Lei nº 14.365, de 2022)
I - que envolvam réus presos, nos processos vinculados a essas prisões; (Incluído
pela Lei nº 14.365, de 2022)
II - nos procedimentos regidos pela Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria
da Penha); (Incluído pela Lei nº 14.365, de 2022)
III - nas medidas consideradas urgentes, mediante despacho fundamentado do
juízo competente. (Incluído pela Lei nº 14.365, de 2022)
Parágrafo único. Durante o período a que se refere o caput deste artigo, fica vedada
a realização de audiências e de sessões de julgamento, salvo nas hipóteses dos
incisos I, II e III do caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.365, de 2022)
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CAIU EM PROVA:

(Delegado de PCPB 2022): Assinale a opção correta em relação à citação e à intimação no processo penal:
a) Os prazos são contados da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta
precatória.
b) É válida a citação por edital de réu preso na mesma comarca do juízo processante quando este não tem
ciência do fato.
c) O processo ficará suspenso caso o réu seja citado pessoalmente e, injustificadamente, deixe de comparecer
em juízo.
d) A intimação do membro do Ministério Público, do assistente de acusação e do defensor do réu é pessoal.
e) É nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, mas não transcreve nem resume a inicial.
Gabarito: letra A.

4. EMENDATIO E MUTATIO LIBELLI

4.1 Introdução

Para o Código de Processo Penal, sentença é tão somente a decisão que julga o mérito principal, ou
seja, a decisão judicial que condena ou absolve o acusado. A contrario sensu, as decisões que extinguem o
processo sem julgamento de mérito, segundo o CPP, são tratadas como decisões interlocutórias mistas.
Sentença: Somente a decisão que julga o mérito principal.
Decisões interlocutórias mistas: Decisões que extinguem o processo sem julgamento de
mérito.
Em homenagem ao sistema acusatório, é imperioso reconhecer que os limites da decisão
condenatória estão pré-estabelecidos na inicial acusatória, já que a jurisdição é inerte e o juiz não pode julgar
ultra, citra ou extra petita. Se não for observado nulidade absoluta.

4.2 Institutos correlatos

4.2.1 Princípio da correlação entre a acusação e a sentença:


Há autores que empregam a expressão ou

a) Conceito:
O princípio da correlação entre acusação e sentença informa que a sentença (ou a pronúncia) deve
guardar plena consonância com o fato delituoso descrito na inicial acusatória, não podendo dele se afastar,
sendo vedado ao juiz proferir decisão extra petita (decisão fora do pedido) ou ultra petita (decisão além do
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pedido), sob pena de reconhecimento de nulidade absoluta, em razão de afronta aos princípios da ampla
defesa, do contraditório, do devido processo legal e do próprio sistema acusatório.
Em outras palavras, o acusado não pode ser processado e julgado por fato diverso daquele que foi
lhe imputado na acusatória.

b) Fundamentos desse princípio:


Ampla defesa
Contraditório
Sistema acusatório

O princípio da correlação entre acusação e sentença está relacionado à ampla defesa e ao


contraditório, pois ninguém pode ser surpreendido no momento da sentença. Portanto, a ideia é que a
sentença deve guardar plena consonância com o fato delituoso descrito na peça acusatória. Caso contrário,
haveria violação à ampla defesa, ao contraditório e ao sistema acusatório o juiz estaria agindo de ofício ao
criar uma nova acusação (processo judicialiforme).
Ao estudar o princípio da correlação entre acusação e sentença é imprescindível analisar dois
institutos previstos no Código de Processo Penal: a emendatio libelli (CPP, art. 383) e a mutatio libelli (CPP,
art. 384).

4.3 Emendatio Libelli

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa,
poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha
de aplicar pena mais grave. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1º Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de
proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o
disposto na lei. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2º Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão

a) Conceito:
A emendatio libelli é a correção da capitulação jurídica, realizada pelo juiz, em relação àquela
atribuída inicialmente pela acusação.
Ocorre quando o juiz, sem modificar a base fática da imputação, atribui classificação diversa a ela,
atribui classificação distinta, ainda que mediante aplicação de pena mais grave.
Ex.: furto qualificado pela fraude {pena de 2 a 8 anos} e o promotor classificou como estelionato
{pena de 1 a 5 anos}. O juiz não fica vinculado a classificação feita pelo MP e, nesse caso, pode proferir uma
sentença pelo crime de furto, mesmo que seja um crime mais grave.
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Iuria novit curia O juiz ou tribunal conhecem o direito.


Narra mihi factum dabo tibi ius Narra-me o fato que lhe dou o direito.

Observações importantes:
Na emendatio libelli, o juiz não modifica os fatos descritos na peça acusatória (base fática da
imputação), isto é, não há alteração da imputação. Assim, o juiz se limita a corrigir uma classificação
típica mal formulada, ou seja, altera-se apenas a capitulação do crime, permanecendo intocada a
imputação fática.
Quando a autoridade judiciária procede à correção da capitulação, não há falar em violação ao
princípio da correlação entre acusação e sentença, pois, no processo penal, o acusado se defende
dos fatos que lhes são imputados (e não desta ou daquela classificação delitiva), não acarretando
nenhum prejuízo à ampla defesa ou ao contraditório, ainda que seja aplicada pena mais grave.
Nos casos de emendatio libelli NÃO é necessário o aditamento, nem tampouco a oitiva da defesa.

É lícito ao juiz alterar a tipificação jurídica da conduta do réu no momento da


sentença, sem modificar os fatos descritos na denúncia, sendo desnecessária a
abertura de prazo para aditamento. AgRg no HC 770.256-SP, Rel. Ministro Ribeiro
Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 25/10/2022, DJe 4/11/2022
(Info 761).

b) Formas de emendatio libelli:

a) Por defeito de capitulação: por algum erro ou defeito (classificação equivocada);


b) Por interpretação distinta: ao analisar um tema divergente na doutrina ou jurisprudência;
c) Por supressão de elementar ou circunstância: ao retirar uma qualificadora trata-se de uma
emendatio.

c) Momento da aplicação da emendatio libelli:


1ª corrente: majoritária - deve ser feita pelo juiz apenas no momento da sentença, sob o argumento

juiz não é dado alterar a classificação do fato delituoso por ocasião do recebimento da peça
acusatória.
2ª corrente: Antônio Scarance Fernandes, Aury Lopes Jr, Gustavo Badaró, André Nicolitt quando
houver excesso da acusação privando o acusado de institutos despenalizadores ou de liberdade
provisória, é possível, no limiar do processo uma desclassificação incidental e provisória. Ex.: o
promotor entendeu que é tráfico e o juiz entende que é uso.

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SEMANA 10/18

Obs.: A jurisprudência entende que o juiz poderá realizar a emendatio ao receber a denúncia nos casos de
favorecer o réu ou nos casos em que teria alteração da competência ou procedimento a ser adotado.

Inf. 553, 6ªT. STJ:


adequação típica dos fatos narrados na denúncia para viabilizar, desde logo, o
reconhecimento de direitos do réu caracterizados como temas de ordem pública
decorrentes da reclassificação do crime. Com efeito, é válida a concessão de
direito processual ou material urgente, em tema de ordem pública, mesmo quando
o fundamento para isso seja decorrência de readequação típica dos fatos
acusatórios, em qualquer fase do processo de conhecimento. De fato, o limite do
caso penal são os fatos indicados na peça acusatória. Irrelevante é a adequação
típica indicada pelo agente ministerial, que em nada limita a persecução ou as
partes do processo - o juiz e mesmo o acusador podem compreender até a sentença
que os fatos descritos caracterizam crimes outros. Daí porque não cabe ao juiz
corrigir defeito de enquadramento típico da denúncia - na sentença simplesmente
enquadrará os fatos ao direito, na forma do art. 383 do CPP, como simples exercício
de jurisdição. É a emendatio libelli reservada para o momento da prolação da
sentença, ocasião em que o magistrado, após encerrada a instrução e debates,
decidirá o direito aos fatos acusatórios - sem qualquer limitação de enquadramento
típico. Ocorre que matérias de ordem pública, de enfrentamento necessário em
qualquer fase processual - como competência, trancamento da
ação, sursis processual ou prescrição -, podem exigir como fundamento inicial o
adequado enquadramento típico dos fatos acusatórios, como descritos (assim
independendo da instrução). Não se trata de alteração do limite do caso penal pela
mudança do tipo penal denunciado - irrelevante aos limites do caso penal - e sim
de decidir se há direito material ou processual de ordem pública, como, por
exemplo, a definição do direito à transação penal, porque os fatos denunciados
configuram em verdade crime diverso, de pequeno potencial ofensivo. Trate-se de
simples condição do exercício da jurisdição, aplicando o direito aos fatos narrados
na denúncia para a solução de temas urgentes de conhecimento necessário. Cuida-
se de manifestação em tudo favorável à defesa, pois permite incidir desde logo
direitos do acusado. Impedir o exame judicial em qualquer fase do processo como
meio de aplicar direitos materiais e processuais urgentes, de conhecimento
obrigatório ao juiz, faz com que se tenha não somente a mora no reconhecimento
desses direitos, como até pode torná-los prejudicados. Prejuízo pleno também
pode ocorrer, como no direito à transação penal ou sursis processual se realizado
o correto enquadramento típico na sentença, ou acórdão de apelação. Ou no
enquadramento da supressão de valores mediante fraude bancária como
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SEMANA 10/18

estelionato ou furto, pois diferentes os locais da consumação e, como


incompetência relativa, sem renovação dos atos no foro adequado. Assim, há
direito do acusado a ver reconhecida a incompetência, a prescrição, o direito à
transação, a inexistência de justa causa, e, se isso pode reconhecer o magistrado
sem dilação probatória, pela mera aplicação do direito aos fatos denunciados, pode
e deve essa decisão dar-se durante a ação penal, como temas de ordem pública,
mesmo antes da sentença. Se a solução do direito ao caso penal dá-se em regra
pela sentença - daí os arts. 383 e 384 do CPP - temas de ordem pública podem ser
previamente solvidos. HC 241.206-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
11/11/2014, DJe 11/

Conclusão:
A regra continua sendo a sentença como o momento ideal para a realização da emendatio libelli.
Exceção: quando o equivocado enquadramento jurídico obstaculizar o enfrentamento de matérias
de ordem pública, como competência, transação penal, sursis, prescrição. Nesses casos, a correção da
imputação antecipada decorre da simples condição do exercício da jurisdição.

d) Emendatio libelli e necessidade de oitiva das partes:


1ª corrente majoritária - não há necessidade de oitiva das partes, uma vez que o acusado se defende
dos fatos. (STF AP 461 AgR terceiro).
2ª corrente: minoritária, Aury Lopes Jr o contraditório aplica-se tanto as questões de fato quanto
as de direito, até porque não haveria prejuízo algum a oitiva do acusado.

d) Emendatio libelli nas diferentes espécies de ação penal: Pode ser feita na ação penal pública
(condicionada ou incondicionada) como na ação penal privada (propriamente dita, personalíssima ou
subsidiária da pública).

e) Emendatio libelli na 2º instância: É possível desde que respeitado o princípio da non reformatio in pejus.

Ex.: o juiz condena pelo estelionato, sendo assim se somente o réu apela e na segunda instância e o Tribunal
verifica ter havido furto mediante fraude nesse caso se a apelação foi apenas da defesa, não poderá
prejudicar (art. 617 CPP).

Art. 617: O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos

porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.

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SEMANA 10/18

atio libelli (art. 383 do CPP) também pode ser aplicada em


segundo grau, desde que nos limites do art. 617 do CPP, que proíbe a reformatio in

27/03/2008, DJe 22/04/2008).

Caso de emendatio libelli em 2ª instância:


O réu foi condenado a 4 anos de reclusão pela prática do crime previsto no art. 4º,
caput, da Lei nº 7.492/86. O Tribunal, em recurso exclusivo da defesa, reclassificou
a conduta para os art. 16 e 22, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86, mantendo,
contudo, a pena em 4 anos de reclusão. Não há qualquer nulidade no acórdão do
Tribunal. Houve, no presente caso, emendatio libelli. É possível a realização de
emendatio libelli em segunda instância no julgamento de recurso exclusivo da
defesa, desde que não gere reformatio in pejus, nos termos do art. 617 do CPP.
Como a pena foi mantida pelo Tribunal, não houve prejuízo ao réu. STF. 2ª Turma.
HC 134872/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 27/3/2018 (Info 895).

4.4 Mutatio Libelli

Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição


jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou
circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público
deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta
houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo
o aditamento, quando feito oralmente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1º: Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art.
28 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2º: Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o
aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora
para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo
interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento. (Incluído pela Lei
nº 11.719, de 2008).
§ 3º: Aplicam-se as disposições dos §§ 1º e 2º do art. 383 ao caput deste artigo.
(Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 4º: Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no
prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do
aditamento. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 5º: Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá. (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

a) Conceito:
Ocorre quando durante o curso da instrução probatória, surge prova de elementar ou circunstância
não contida na peça acusatória.
Nesse caso, como há uma alteração da base fática da imputação, há necessidade de aditamento da
peça acusatória, com posterior oitiva da defesa.

Ex.: MP oferece por furto simples, mas durante a instrução as testemunhas confirmam que teria havido
emprego de violência contra a vítima, nesse caso surgiu a elementar do roubo não contida da denúncia, logo
o acusado não se defendeu. Nesse caso os autos deverão ser encaminhados ao MP para seja realizado um
aditamento à peça acusatória para poder imputar o crime de roubo. Depois da imputação será a oitiva da
defesa.

b) Elementares X Circunstâncias:
Elementares - São dados essenciais da figura típica, cuja ausência pode acarretar atipicidade absoluta
(atipicidade) ou relativa (desclassificação). Segundo Cézar Roberto diz que para saber se é elementar
é olhar se sua retirada é absoluta ou relativa.
Circunstâncias - São dados periféricos que gravitam ao redor da figura típica básica. Podem aumentar
ou diminuir a pena, mas não interferem no crime (causas de aumento, qualificadoras, causas de
diminuição).

Obs.: O CPP em seu art. 385 diz que o juiz pode reconhecer agravantes, mesmo que não constem da peça
acusatória. Embora a doutrina critique o dispositivo, os Tribunais Superiores entendem que o referido artigo
é constitucional, de modo que o reconhecimento de agravantes pelo juiz não configura hipótese de mutatio
libelli.

5ª T. STJ
de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o
Ministério Público tenha opinado pela absolvição. 2. O artigo 385 do Código de
Processo Penal foi recepcionado pela Constituição Federal. Precedentes desta

6ª T. STJ
da congruência a condenação por agravantes ou atenuantes não descritas na
denúncia. Inteligência dos arts. 385 e 387, I, do Código de Processo Penal" (HC
219.068/RJ)

144
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

ATENÇÃO! Segundo entendimento do STJ a desclassificação para crime culposo configura hipótese de
mutatio libelli.

RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. EXPOR À VENDA


MERCADORIAS IMPRÓPRIAS AO CONSUMO. VIOLAÇÃO AO ART. 619 DO CPP.
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA. FUNDAMENTAÇÃO
SUFICIENTE AO DESLINDE DA CONTROVÉRSIA. SENTENÇA. DESCLASSIFICAÇÃO DA
CONDUTA DOLOSA PARA CULPOSA. INOBSERVÂNCIA DO ART. 384, CAPUT, DO
CPP. MUTATIO LIBELLI. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO ENTRE A
ACUSAÇÃO E A SENTENÇA. ANULAÇÃO DA SENTENÇA. SUPERVENIÊNCIA DA
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.
1. Não importa negativa de prestação jurisdicional o acórdão que adota
fundamentação contrária aos interesses da parte, mas suficiente ao deslinde da
controvérsia.
2. O fato imputado aos réus na inicial acusatória, em especial a forma de
cometimento do delito, da qual se infere o elemento subjetivo, deve guardar
correspondência com aquele reconhecido na sentença, a teor do princípio da
correlação entre a acusação e a sentença.
3. Encerrada a instrução criminal, concluindo-se que as condutas dos recorrentes
subsumem-se à modalidade culposa do tipo penal e ausente a descrição de
circunstância elementar, atinente ao elemento subjetivo do injusto na denúncia,
imperativa a observância da regra inserta no art. 384, caput, do CPP, ainda que a
nova modalidade de delito comine pena inferior, baixando-se os autos ao
Ministério Público para aditar a inicial, sob pena violação ao princípio da ampla
defesa e contraditório.
4. Transcorrido o prazo prescricional de 4 anos (art. 109, V, c/c 110, § 1º, do CP),
desde o recebimento da denúncia até a presente data, considerando-se a
inexistência de outro marco interruptivo em face da anulação da sentença
condenatória, verifica-se a prescrição da pretensão punitiva do Estado.
5. Recurso parcialmente provido para anular a sentença condenatória e julgar
extinta a punibilidade dos recorrentes.
(REsp 1388440/ES, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
05/03/2015, DJe 17/03/2015).

Lado outro, a Corte Superior possui jurisprudência no sentido de que a imputação pela forma
consumada e condenação pela tentativa NÃO configura hipótese de mutatio libelli. Trata-se de hipótese de
emendatio libelli.

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HABEAS CORPUS. ART. 217-A C/C ARTS. 226, II, E 14, II, TODOS DO CÓDIGO PENAL.
DENÚNCIA POR DELITO CONSUMADO. CONDENAÇÃO EM PRIMEIRO GRAU PELO
ART. 61 DA LCP. CONDENAÇÃO EM SEGUNDO GRAU PELA FORMA TENTADA DO
ART. 217-A. ALEGADA AUSÊNCIA DE CORRELAÇÃO ENTRE DENÚNCIA E
CONDENAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. ORDEM DENEGADA.
1. O delito consumado e a tentativa não são duas diferentes modalidades de
delito, mas somente distintas manifestações de um único delito.
2. Como o réu não se defende da capitulação da denúncia, mas do fato descrito
na exordial acusatória, não há a nulidade prevista no art.384 do CPP, visto que o
magistrado limitou-se a dar definição jurídica diversa (crime tentado) da que
constou na denúncia (crime consumado), aplicando pena menos grave.
3. Ordem denegada.
(HC 297.551/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado
em 05/03/2015, DJe 12/03/2015)

c) Fato novo X Fato diverso:


Fato novo - Ocorre quando os elementos de seu núcleo essencial constituem acontecimento
criminoso completamente distinto daquele resultante dos elementos do núcleo essencial da
imputação. Nesse caso o fato novo nada agrega a imputação inicial, mas a substitui por completo.
Nessa hipótese como não há qualquer relação com o fato inicialmente imputado ao acusado não se
aplica a mutatio libelli, devendo ser instaurado novo processo criminal.
Fato diverso - Ocorre quando os elementos de seu núcleo essencial correspondem parcialmente aos
fatos da imputação originária, porém com o acréscimo de alguma elementar ou circunstância que o
modifique. É para o fato diverso que se reserva a mutatio libelli.

d) Necessidade de aditamento: Surgindo prova de elementar ou circunstância não contida na peça


acusatória, deve ser feito o aditamento, pouco importando o quantum de pena cominado a imputação
diversa.

6ª T. STJ -
forma de cometimento do delito, da qual se infere o elemento subjetivo, deve
guardar correspondência com aquele reconhecido na sentença, a teor do princípio
da correlação entre a acusação e a sentença. 3. Encerrada a instrução criminal,
concluindo-se que as condutas dos recorrentes subsumem-se à modalidade
culposa do tipo penal e ausente a descrição de circunstância elementar, atinente
ao elemento subjetivo do injusto na denúncia, imperativa a observância da regra
inserta no art. 384, caput, do CPP, ainda que a nova modalidade de delito comine
pena inferior, baixando-se os autos ao Ministério Público para aditar a inicial, sob
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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1.388.440/ES).

Enunciado 17 d I Jornada de Direito Processual Penal: É possível aditar a denúncia


para requerer a perda de bens cujo conhecimento se der após iniciada a ação penal,
caso em que, recebido o aditamento, deverão ser ouvidos os interessados e
propiciada a dilação probatória.

e) Aditamento provocado X Aditamento espontâneo:


Antes da lei 11.719/08 era o juiz que baixava (provocado) o processo a fim de que o MP aditasse a
peça acusatória. Depois da lei o MP deverá aditar a denúncia ou queixa (espontâneo). Se o MP não fizer o
aditamento espontaneamente o juiz deverá remeter os autos ao PGJ, nos termos do art. 28, adotando o
princípio da devolução.

Obs.: Gustavo Badaró, Aury Lopes Jr e André Nicolitt dizem que esse § 1o do art. 384 é inconstitucional, pois
quando o juiz se manifesta pela remessa dos autos se inclina pela condenação.

f) Posição do PGJ ao receber os autos:


(1) O PGJ faz o aditamento;
(2) O PGJ não faz o aditamento, de modo que ao juiz não restará outra opção, senão julgar o acusado
com base na imputação originária. Nicolitt e Aury criticam essa posição dizendo que caso o PGJ não
adite a peça o juiz deve absolver o acusado por estar na dúvida ou não sendo o fato concreto
ocorrido, aplicando assim o in dubio pro reo.

g) Procedimento da mutatio libelli:


1 - Aditamento: MP faz o aditamento espontâneo, por escrito ou oralmente (reduzido a termo na
audiência de instrução), no prazo de 5 dias.
2 - Oitiva da defesa: A defesa é ouvida antes do recebimento do aditamento. É um misto de defesa
preliminar (apontar para o juiz as causas do art. 395 CPP) combinado com resposta à acusação
(buscar uma absolvição sumária), devendo convencer o juiz sobre essas duas defesas.
Prazo para oitiva 5 dias.
Defesa pode arrolar até 3 testemunhas no prazo de 5 dias.

Art. 384, § 4o Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três)
testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos
termos do aditamento. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

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3 - Juiz realiza um juízo de admissibilidade do aditamento (como se fosse o recebimento ou a rejeição


da peça)
Recebimento do aditamento.
Rejeição do aditamento (CPP, art. 395).

e
admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará
dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo
interrogatório do
nº 11.719, de 2008).

CPP, art. 384, § 5º:


pela Lei nº 11.719, de 2008).

4 - Nova instrução probatória: realizando novo interrogatório do acusado e podendo arrolar 3


testemunhas. Esse interrogatório é obrigatório, pois é uma nova imputação.
5 - Recurso cabível contra a rejeição do aditamento: Se isso ocorrer através de uma decisão
interlocutória rejeitar será o RESE. No entanto, se isso ocorrer na própria audiência una de instrução
e julgamento com posterior de prolação de sentença, nesse caso o recurso adequado será o de
apelação (art. 593, §4o CPP), pois quando cabível apelação não cabe RESE, aplicando o princípio da
absorção ou consunção.

h) Mutatio libelli e espécies de ação penal:


1ª corrente - majoritária - Pacelli, Denilson Feitoza, Mirabette - De acordo com o art. 384, caput,
mutatio somente é cabível em crimes de ação penal pública condicionada ou incondicionada ou
ação penal privada subsidiária da pública. O aditamento deve ser feito pelo MP em ambas as
possibilidades
2ª corrente - minoritária - Gustavo Badaró, Aury e Renato Brasileiro - Dizem que a mutatio também
pode ser feita nos crimes de ação penal exclusivamente privada e privada personalíssima, observado
o prazo decadencial.

i) Mutatio libelli na 2ª instância: NÃO é possível, pois haveria violação ao duplo grau de jurisdição diante da
supressão da primeira instância. (STF súmula 453). Isso, no entanto, não impede que o tribunal anule o
processo em face da inobservância do art. 384.

j) Mutatio libelli e possibilidade de condenação do acusado quanto a imputação originária:


Antes da Lei 11.719/08, diante do aditamento recebido, o juiz era livre para condenar o acusado tanto
pela imputação originária quanto pela superveniente. Era a denominada imputação alternativa.
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Contudo, após a lei 11.719/08, trouxe nova redação ao art. 384, § 4º uma vez recebido o aditamento o
juiz estará adstrito a imputação superveniente, sendo a ele VEDADO condenar o acusado pela imputação
originária, salvo nas seguintes hipóteses:
No caso de imputação por crime simples, para posterior inclusão de elemento especializante;
No caso de crime complexo.

j) Mutatio libelli e aplicação das medidas despenalizadores e eventual declínio de competência.


Aplica-se o § 1º e o §2º do art. 383, CPP a hipótese de mutatio libelli.

Art. 383, § 1o Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver


possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá
de acordo com o disposto na lei.
Art. 383, § 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão
encaminhados os autos. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Mudança de competência: os autos serão remetidos ao juiz competente (art. 383, §2o)
Transação penal e suspensão condicional do processo: art. 383, §1o c/c súmula 337 STJ.

Súmula 337, STJ - É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação


do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.

QUADRO COMPARATIVO
(COM BASE NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL):

EMENDATIO LIBELLI MUTATIO LIBELLI


Não há alteração na base fática da imputação. Há alteração da base fática da imputação decorrente
do surgimento de elementares ou circunstâncias
não contidas na imputação originária.
Não há necessidade de aditamento. Há necessidade de aditamento (espontâneo ou
provocado) independentemente do quantum de
pena cominada à nova imputação.
Não há necessidade de oitiva das partes (para a Há necessidade de oitiva das partes notadamente da
doutrina majoritária). defesa (defesa preliminar).
É cabível em toda e qualquer espécie de ação penal De acordo com o CPP, é cabível apenas na ação penal
pública e privada. pública e na ação penal privada subsidiária da
pública.

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Pode ser feita em 2ª instância, desde que respeitado Não pode ser feita em 2ª instância, sob pena de
o princípio da non reformatio in pejus. violação ao princípio do duplo grau de jurisdição
(Súmula 453, STF).
O juiz fica vinculado ao fato imputado ao acusado na O juiz fica vinculado aos termos do aditamento.
pela acusatória.

Bibliografia:
Manual de Processo Penal. Volume único. Renato Brasileiro de Lima. 8ª edição, 2020
Processo Penal. Noberto Avena. 10ª edição, 2018
Curso de Direito Processual Penal. Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar. 12ª edição, 2017.
Código de Processo Penal para concursos. Nestor Távora e Fábio Roque. 7ª edição, 2016.
Dizer o Direito

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META 3

DIREITO CIVIL: DIREITO DAS COISAS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
Art. 183, §3º e 191, §único

CÓDIGO CIVIL
Art. 516
Art. 1196 ao 1224
Art. 1225 ao 1227
Art. 1228 ao 1259
Art. 1260 ao 1313
Art. 1314 ao 1377
Art. 1378 ao 1510-E

OUTROS DISPOSITIVO LEGAIS


DL nº 911/69
Lei nº 9.514/97.
Lei nº 271/67

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES NÃO DEIXE DE LER!

CÓDIGO CIVIL
Art. 1193 a 1209 (importantíssimo)
Art. 1210, 1212
Art. 1214 a 1222 (importantíssimo)
Art. 1225 a 1227
Art. 1228 e 1229
Art. 1238 a 1244
Art. 1248 e 1254
Art. 1260 a 1262
Art. 1267 e 1268
Art. 1275
Art. 1314 a 1320
Art. 1358-A a 1358-U (inovação legislativa recente)

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Art. 1361, 1365, 1366 e 1368


Art. 1368-C a 1368-F (inovação legislativa recente)
Art. 1369 a 1372 e 1375
Art. 1390, 1393 e 1410
Art. 1412 a 1416
Art. 1419, 1421, 1425, 1428 e 1430
Art. 1433 a 1437
Art. 1473 a 1475
Art. 1479, 1481, 1487, 1489, 1490 e 1491
Art. 1499 a 1501
Art. 1510-A a 1510-E

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 637-STJ: O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação
possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o
domínio.
Súmula 619-STJ: A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária,
insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.
Súmula 487-STF: Será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio, se com base neste for ela
disputada.
Súmula 263-STF: O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usucapião.
Súmula 340-STF: Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não
podem ser adquiridos por usucapião.
Súmula 237-STF: O usucapião pode ser arguido em defesa.
Súmula 391-STF: O confinante certo deve ser citado pessoalmente para a ação de usucapião.

1. CARACTERÍSTICAS

Oponibilidade erga omnes;


Existência do direito de sequela;
Direito de preferência do titular de direito real;
Viabilidade de incorporação da coisa pela posse;
Usucapião como um dos meios de aquisição;
Rege o princípio da publicidade dos atos.
Obediência a rol taxativo (tipicidade dos Direitos Reais):

São Direitos Reais (art. 1225, CC):

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Propriedade;
Superfície;
Laje (incluído pela MP 759/2016)
Servidões;
Usufruto;
Uso;
Habitação;
Direito do promitente comprador do imóvel;
Penhor;
Hipoteca;
Anticrese;
Concessão de uso especial para fins de moradia;
Concessão de direito real de uso.

Esse rol do art. 1225 é taxativo (numerus clausus) ou exemplificativo (numerus apertus)?
A visão clássica ainda é MAJORITÁRIA, no sentido de que o rol é taxativo. Esse é o posicionamento
que devemos adotar em provas de primeira fase. Caio Mário, Orlando Gomes, MHD, Carlos Roberto
Gonçalves. Contudo, há uma visão mais contemporânea que entende que o rol é exemplificativo. Podemos
desenvolvê-la em provas de segunda fase ou no exame oral.

A doutrina que entende ser o rol exemplificativo se divide em duas correntes.

1ª Corrente: Para o professor Gustavo Tepedino não há taxatividade, mas tipicidade. Em outras
palavras, existe possibilidade de criação de outros direitos reais por outras leis (alienação fiduciária

mais segura dessa vertente, e é a preferida do professor Tartuce.


De fato, existem direitos reais previstos em lei que não estão no rol do art. 1225. Ex.: alienação
fiduciária em garantia. DL nº 911/69 e Lei nº 9.514/97.
2ª Corrente: Já os professores Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald entendem que a autonomia

Segundo o princípio da taxatividade, somente são direitos reais os indicados em lei. Mas não só são
direitos reais aqueles constantes no artigo 1.225 supratranscrito, mas também outros disciplinados de modo
esparso no próprio Código Civil e os instituídos em diversas leis especiais, ex.: direito de retenção (art. 516),
concessão de uso (Lei nº 271/67). As partes não podem criar direitos reais por uma razão simples:
prevalecendo os direitos reais erga omnes, seria inadmissível que duas ou três pessoas pudessem, por acordo
de vontades, criar deveres jurídicos para toda a sociedade.

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2. DIREITOS REAIS X DIREITOS PESSOAIS PATRIMONIAIS

Direitos Reais Direitos Obrigacionais


Numerus clausus Numerus apertus
Direito de sequela NÃO há sequela
Eficácia erga omnes Eficácia inter partes (relativa)
Registrabilidade e publicidade Forma livre, em regra
Pessoa x coisa Pessoa x pessoa (pessoas determináveis ou
determinadas)
Encerra direito de gozo, fruição ou garantia Encerra direitos de crédito a uma prestação,
sobre a coisa corpórea entre sujeitos
Caráter permanentes ou perpétuo Caráter transitório

ATENÇÃO: FIGURAS HÍBRIDAS ENTRE DIREITO REAL E OBRIGACIONAL

Obrigações propter rem: Aderem à coisa (e não à pessoa), transmitindo-se automaticamente ao seu
novo titular, desde que haja transferência da propriedade. São obrigações que NÃO emanam da
vontade, mas do registro da propriedade. Ex: IPTU, IPVA, Taxas condominiais.
Obrigações de ônus real: Limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo um gravame. Limitam-
se ao valor da coisa e desaparecem com o perecimento da coisa. Ex: Penhor, hipoteca, anticrese.
Obrigações de eficácia real: Sem perder o caráter de direito pessoal, ou direito a uma prestação,
ganham oponibilidade a terceiros, que adquiram direitos sobre determinados bens, tendo em vista
o seu registro. Ex: Direito de preferência em contrato de locação.

ÔNUS REAIS OBRIGAÇÕES PROPTER REM


A responsabilidade pelo ônus real é Na obrigação propter rem responde o devedor com todos
limitada ao bem onerado. os seus bens, ilimitadamente, pois é este que se encontra
vinculado.
O ônus real desaparece, perecendo Os efeitos da obrigação propter rempodem permanecer,
o objeto. mesmo havendo perecimento da coisa.
Os ônus reais implicam sempre As obrigações propter rem podem surgir com uma
uma prestação positiva. prestação negativa.

3. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS

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Os Direitos reais na coisa alheia, que nos interessa por ora, podem ser classificados de acordo com a
tabela abaixo:

DIREITO REAL DE GOZO OU DIREITO REAL DA COISA


DIREITO REAL A AQUISIÇÃO
FRUIÇÃO ALHEIA DE GARANTIA

Permitir que uma pessoa Não terá a coisa consigo. É - Busca-se através do domínio
tenha consigo os poderes de vedada a utilização da coisa. ser proprietário.
utilização da coisa. Credor tem o direito real. - O exercício dos poderes do
domínio viabilizam a aquisição
da propriedade.
Permitir que terceiro retire as
ASSEGURAR CUMPRIMENTO
utilidades da coisa.
DE OBRIGAÇÃO.

UTILIDADE
6 HIPÓTESES 4 HIPÓTESES 1 HIPÓTESE (OU 2)

1. Enfiteuse (código 16) 1. Hipoteca


1. Promessa irretratável de
2. Superfície 2. Penhor
compra e venda
3. Servidão predial 3. Anticrese
2. Direito de preferência
4. Usufruto 4. Alienação fiduciária
(não unânime)
5. Uso em garantia.
6. Habitação

4. POSSE

A posse é o fenômeno fático que a pessoa exerce sobre uma coisa, e o conceito varia conforme a
teoria adotada.
Pelo art. 1.196 do CC, considera-se possuidor aquele que tem, pelo menos, um dos atributos da
propriedade.
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno
ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

4.1 Teorias da Posse

a) Teoria Subjetiva (Savigny): A posse seria o poder direto da pessoa de dispor fisicamente do bem
com a intenção de tê-lo para si e defendê-lo da agressão de quem quer que seja. Elementos:
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Corpus: Poder físico ou de disponibilidade da coisa (elementos objetivo). Poder físico é a


possibilidade de exercer influência imediata sobre a coisa.
Animus domini: Intenção de ter a coisa para si, exercer o direito de propriedade (elemento
subjetivo).

Em razão do segundo elemento, o locatário, o comodatário, o depositário, entre outros, não seriam
considerados possuidores, mas sim meros detentores, pois não há qualquer intenção de tornarem-se
proprietários.

b) Teoria Objetiva (Ihering): Para a constituição da posse, basta que a pessoa disponha fisicamente
da coisa, ou que tenha a mera possibilidade de exercer esse contato e exerça sua função social. Ou seja, para
a Teoria Objetiva, ao contrário da Teoria Subjetiva, para ser possuidor não é necessária a intenção de ser
dono.
Para essa teoria, a posse seria formada por dois elementos: o corpus e o affectio tenendi.
Corpus Poder físico de disponibilidade sobre a coisa, dentro do qual inclui a intenção de
explorar a coisa com fins econômicos
Affectio tenendi - Significa utilizar-se do bem como se proprietário fosse. Isso quer dizer destinar
o bem à sua função econômico-social.

A teoria objetiva do IHERING tem a característica singular de que há hierarquia entre posse e
propriedade. Essa concepção de hierarquia, contudo, hoje vem sendo refutada pela teoria sociológica da
posse.

Obs.: Flávio Tartuce afirma que, para a teoria Objetiva, a posse seria formada de um único elemento
corpus, de modo que a função social da propriedade ficaria a cargo da Teoria Sociológica. Em outras
palavras: para o autor, o CC/02 teria adotado parcialmente a teoria objetiva, pois também traz a ideia
de posse social (Teoria Sociológica da Posse). Nesse sentido, não basta ao possuidor agir como
proprietário, devendo agir como um bom proprietário, dando, à coisa, função social.

c) Teoria Sociológica: A teoria sociológica da posse consagra a função social da posse. Não possui
previsão expressa, mas é extraída implicitamente do sistema.
Essa teoria não desmente por completo a teoria objetiva; os elementos estruturais/ estáticos da
posse não são repudiados (corpus e affectio tenendi) apenas desmente no que tange à relação de
hierarquia entre posse e propriedade. A posse é protegida em si mesma, não em decorrência da
propriedade.

Qual foi a teoria adotada pelo Código Civil?

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SEMANA 10/18

R.: O CC/02 adotou a Teoria Objetiva de IHERING, conforme art. 1196. O art. 1.196 define o possuidor
como aquele que tem de fato o exercício pleno ou não de algum dos poderes inerentes à propriedade. Em
nenhum momento, fez-se referência a elemento subjetivo, ou seja, ele contempla a teoria objetiva do
IHERING.
Ademais, é possuidor todo aquele que atua como se proprietário fosse (exercício de algum dos
poderes inerentes à propriedade), que é a definição de affectio tenendi. O art. 1.228, caput, trata dos
poderes inerentes à propriedade: uso, gozo, disposição e reivindicação (vale a remissão do art. 1.196).

4.2 Posse x Detenção

Detenção é a desqualificação jurídica da posse. Há o poder físico sobre a coisa, mas o sistema retira
a qualidade de possuidor. Ou seja: o detentor tem a coisa apenas em virtude econômica ou vínculo de
subordinação (mera custódia). É uma desqualificação da posse
O detentor exerce sobre o bem a posse em nome de outrem, e em cumprimento de ordens ou
instruções suas, de modo que NÃO pode invocar, em nome próprio, as ações possessórias, embora possa se
valer da autotutela.
Atenção às considerações importantes:

(1) É admitida a conversão da detenção em posse, se rompida a subordinação.

(2) O detentor NÃO tem direito à usucapião, nem às benfeitorias e acessórios.

STJ: A ocupação irregular de área pública NÃO induz posse, mas ato de mera
detenção => Como consequência, NÃO há direito à indenização em face do poder
público.

Súmula 619 - A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de


natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e
benfeitorias.

4.2.1 Hipóteses de detenção

a) Fâmulo (servo da posse): Quem exerce o poder de fato sobre a coisa, mas sem autonomia (em nome
de outrem, recebendo ordens e instruções de seu superior). Ex.: caseiro.

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SEMANA 10/18

Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de


dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento
de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve
este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que
prove o contrário.

b) Atos de mera permissão ou tolerância (art. 1208, 1ª parte)

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim
como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão
depois de cessar a violência ou a clandestinidade.

Atos de mera permissão ou de tolerância não induzem posse.


Permissão há consentimento prévio
Tolerância sem consentimento prévio

c) Atos violentos ou clandestinos, antes do convalescimento: (art. 1208, 2ª parte)


Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim
como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão
depois de cessar a violência ou a clandestinidade.

Doutrina majoritária: Entende que, enquanto houver atos de violência ou clandestinidade, não
haverá posse, mas mera detenção; somente depois de cessada a violência ou a clandestinidade é que haverá
posse. A transmudação de detenção em posse ocorrerá nos termos do art. 1.200 (fundamental a remissão).

· Clandestinidade - é o poder de fato exercido às escondidas, de maneira imperceptível. A partir do


momento em que o sujeito exerce o poder de fato de modo natural, há transmudação para posse
injusta.
Posse violenta - não é a exercida durante atos violentos, mas aquela que proveio de atos violentos,
pressupondo que esses tenham cessados. De igual modo com a posse clandestina: pressupõe a
cessão dos atos.

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de
cessar a violência ou a clandestinidade.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

d) Bens públicos: De acordo com o STJ, não cabe posse sobre qualquer bem público, seja ele de uso
comum, de uso especial ou bens dominicais. Assim, particular que ocupa bem público é mero
detentor, não tem posse.

Súmula 619-STJ: A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de


natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e
benfeitorias.

ATENÇÃO: Se o particular que ocupa bem público não tem posse e sim, detenção, logo, não há proteção
possessória em face do Poder Público.
Exceção Inf. 594, 2016, STJ: É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares
sobre bem público dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse.

Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias
para defender a sua permanência no local? 1) particular invade imóvel público e
deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: não é possível. Não terá
direito à proteção possessória. Não poderá exercer interditos possessórios porque,
perante o Poder Público, ele exerce mera detenção. 2) particular invade imóvel
público e deseja proteção possessória em face de outro PARTICULAR: terá direito,
em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de interditos possessórios
em litígio entre particulares sobre bem público dominical, pois entre ambos a
disputa será relativa à posse. STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).

Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público,
alegando-se incidentalmente o domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte
Especial. EREsp 1.134.446-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/03/2018 (Info 623)

Súmula 637-STJ: O ente público detém legitimidade e interesse para intervir,


incidentalmente, na ação possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer
matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o domínio.
e) Esbulhador, enquanto o esbulhado não toma ciência do esbulho art. 1224. CC:

Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho,
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-
la, é violentamente repelido.

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

O art. 1.224 traz uma posse ficta em favor do possuidor que não presenciou o esbulho. A posse só
será considerada perdida quando o possuidor deixar de tentar recuperar a coisa ou, tentando recuperá-la,
for repelido. Durante o tempo em que o esbulhado não toma conhecimento, haverá mera detenção para
os esbulhadores.
Enquanto o esbulhado não toma ciência do esbulho, os esbulhadores são meros detentores, por isso
esse lapso temporal não será computado para considerar a posse como nova ou velha.

CONVERSÃO DA DETENÇÃO EM POSSE:


É possível que o ato de mera detenção se torne posse, quando houver o seu convalescimento. A conversão
da mera detenção em posse se dará com a ruptura da relação jurídica originária. O convalescimento, também
chamado de interversão, ocorrerá quando cessada a causa que lhe originou ou quando passado ano e dia.

Enunciado 301 da IV Jornada de Direito Civil: É possível a conversão da detenção em posse, desde que
rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios.

CAIU EM CONCURSO!

IBFC PCBA/2022 Delegado de Polícia: No que se refere à posse e sua classificação, de acordo com as
disposições do Código Civil, assinale a alternativa incorreta.

a) A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam
presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.
b) É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.
c) Considera-se possuidor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a
posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
d) O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei
expressamente não admite esta presunção.
e) É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

Resposta: A C (incorreta).
4.3 Classificação da Posse

a) Quanto à relação pessoa coisa (desdobramento da posse):

Posse direta ou imediata: Exercida por quem tem a coisa materialmente. Ex: Locatário,
depositário, comodatário;
Pode indireta ou mediata: Exercida por meio de outra pessoa. Ex: Locador, depositante, nu-
proprietário.
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Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula (OU AFASTA) a
indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua
posse contra o indireto.

Observações:
A posse direta NÃO anula a indireta;
O possuidor direto tem direito de defender sua posse contra o indireto, e este contra aquele.

b) Quanto à presença de vícios objetivos:

Posse justa (= posse limpa): NÃO apresenta vícios da violência, clandestinidade e precariedade.
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

Posse injusta: Possui vícios, bastando um dos três:

(1) Violência: Esbulho, violência física ou moral. A posse violenta pressupõe violência à pessoa,
não à coisa (o fato de ter quebrado janela ou porta não faz com que a posse seja violenta).
Ex.: roubo.
(2) Clandestinidade: é a posse que se adquire às ocultas de quem exerce a posse atual, sem
publicidade ou ostensividade. Ex.: furto
(3) Precariedade: o possuidor recebe a coisa coma obrigação de restituí-la e, abusando da
confiança, deixa de devolvê-la. Ex.: Apropriação indébita.

Consequências da presente classificação:


Usucapião: somente o possuidor justo (pode ter se tornado justo depois de um ano e um dia)
pode obter propriedade por usucapião
Ações possessórias: o possuidor justo sempre tem ação possessória. O possuidor injusto só
tem contra terceiro e não contra o possuidor justo.

OBS.: A posse injusta não é a exercida durante atos violentos/clandestinos/precários, mas sim em
decorrência deles. Ou seja: enquanto perdurar a violência, precariedade ou clandestinidade, não
haverá posse, e sim detenção (art. 1.208 CC). Cessadas, surge a posse. Essa posse será injusta em
relação a quem a perdeu, porém será justa em relação à comunidade já que pode praticar atos de
defesa da posse em face de terceiros. Trata-se da dualidade de configuração da posse.

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OBS.: Segundo o entendimento majoritário, a posse injusta passa a ser justa depois de um ano e dia,
por interpretação do art. 924, do CPC (parâmetro para saber se cabe ação de força velha ou nova
cabe liminar).

c) Quanto à boa-fé subjetiva ou intencional:

Posse de boa-fé: é de boa-fé a posse se o possuidor ignora/desconhece o vício ou obstáculo que


impede a aquisição da coisa. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento
em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não mais ignora que sua posse é
indevida.

CC: Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento
em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui
indevidamente.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: A posse de boa-fé só perde esse
caráter quando do trânsito em julgado da sentença proferida em ação possessória. (PCMG/2018)

Obs.1: A prova da boa-fé é extremamente difícil, porque se trata de elemento subjetivo, por isso o
art. 1.201, § único, prevê que o possuidor com justo título é presumidamente possuidor de boa-fé. Trata-se
de uma presunção relativa.

Obs.2: Esse justo título não deve ser confundido com o justo título do art. 1.242, que trata de
usucapião ordinária (título hábil à aquisição de propriedade), enquanto o art. 1.201, § único, é justo título de
aquisição da posse (p.e., contrato de comodato, de locação, de usufruto).

Posse de má-fé: Conhecedor do vício que paira sobre a coisa. Ainda que de má-fé, esse possuidor
NÃO perde o direito de ajuizar ação possessória competente para se proteger do ataque de
terceiro.

Consequências da presente classificação:


Possuidor de boa-fé:
Só responderá pela perda ou deterioração da coisa se der causa.
Tem direito aos frutos percebidos enquanto durar a boa-fé, bem como direito à
restituição dos frutos pendentes e dos frutos colhidos por antecipação, ao tempo que
cessou a boa-fé.

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Possui direito de retenção e indenização em relação às benfeitorias necessárias e úteis,


e direito de indenização e levantamento em relação às benfeitorias voluptuárias.

Possuidor de má-fé
Em regra, possui responsabilidade objetiva pela perda ou deterioração da coisa, anda
que não tenha dado causa. Salvo se comprovar que de igual modo teria acontecido
caso estivesse na posse do reivindicante.
Responde pelos frutos colhidos, percebidos e os que deixou de perceber por sua culpa,
só tendo direito às despesas de produção e custeio.
Só possui direito à indenização em relação às benfeitorias necessárias.

d) Quanto à presença do título:

Posse com título: Há algum documento representativo da transmissão da posse. Ex: Contrato de
locação;

Posse sem título: NÃO há qualquer documento.


Jus possidendi: Direito à posse que decorre de propriedade;
Jus possessionis: Direito que decorre exclusivamente da posse.

Sobre o tema há o enunciado 303, CJF: Considera-se justo título, para a presunção relativa da boa-fé
do possuidor, o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não materializado em
instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da função social da posse

e) Quanto ao tempo:

Posse nova: Menos de 01 ano e dia


Posse velha: Mais de 01 ano e dia.

Ameaça, turbação e esbulhos novos (menos de 01 ano e dia): Ação de força nova Segue rito
especial e cabe liminar;
Ameaça, turbação e esbulho velhos (menos de 01 ano e dia): Ação de força velha Rito ordinário,
NÃO cabe liminar, mas o juiz pode conceder tutela antecipada, se presentes os requisitos.

f) Quanto aos efeitos:

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Posse ad interdicta: Pode ser defendida pelas ações possessórias


Posse ad usucapionem: Prolonga no tempo, sendo mansa, pacífica, ininterrupta, com intenção de
dono.

4.3 Efeitos da Posse

a) FRUTOS:

I) Posse de boa-fé: O possuidor tem direito, enquanto durar, aos frutos percebidos. Devem ser restituídos:
Frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé, depois de deduzidas as despesas com produção
e custeio;
Frutos colhidos com antecipação;
Frutos naturais e industriais: colhidos e percebidos logo que são separados;
Frutos civis: reputam-se percebidos por dia.

II) Posse de má-fé: Responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelo que, por culpa
sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé, mas tem direito às
despesas de produção e custeio.

b) BENFEITORIAS:

I) Posse de boa-fé: Possui direito à indenização por benfeitorias necessárias e úteis, bem como pelas
acessões (plantações e construções);
Se não indenizado, possui direito à retenção das benfeitorias, até que receba o que lhe é devido;
Se benfeitorias voluptuárias, tem direito ao seu levantamento, se não forem pagas, desde que não
gerem prejuízo à coisa.

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que


impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé,
salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta
presunção.

II) Posse de má-fé: São ressarcidas apenas as benfeitorias necessárias, não lhe assistindo o direito de
retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.

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RESPONSABILIDADE
FRUTOS BENFEITORIAS
(PERDA)
- Tem direito às benfeitorias
necessárias e úteis. obs2.
Tem direito, com
(indenização e retenção) obs3. Responde por culpa (perda
BOA-FÉ exceção dos frutos
- Pode levantar as voluptuárias que der causa).
pendentes. Obs1.
se não houver prejuízo para o
bem principal.
Não tem direito e
Responde ainda que a
responde pelos frutos Tem direito às benfeitorias
MÁ-FÉ perda seja acidental, em
colhidos e pelos que necessárias (indenização).
regra.
deixou de colher.

PCPA/2021 - Sobre os efeitos da posse previstos no Código Civil, é correto afirmar que

a) o possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa
esbulhada sem saber que o era.
b) o possuidor, mesmo que de boa-fé, não tem direito aos frutos percebidos.
c) o possuidor de boa-fé responde pela perda ou deterioração da coisa, mesmo que não der causa.
d) ao possuidor de má-fé não serão ressarcidas as benfeitorias necessárias e não lhe assiste o direito de
retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
e) as benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda
existirem.

GABARITO: LETRA E

c) FACULDADE DE INVOCAR OS INTERDITOS POSSESSÓRIOS:

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação,
restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de
ser molestado.

Ameaça Interdito proibitório


Turbação Ação de manutenção de Há fungibilidade entre as
posse três ações!

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Esbulho Reintegração de posse

Obs.: Não obsta a manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito
sobre a coisa.

Obs.: STJ: Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público,
alegando-se incidentalmente o domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. (ERESP
1.134.446-mt, INFO 623)

d) LEGÍTIMA DEFESA DA POSSE E DESFORÇO IMEDIATO:

O proprietário pode se valer da autotutela, independente de ação judicial, contanto que o faça logo.
Os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da
posse.

Duas são as hipóteses de autotutela: legítima defesa e desforço imediato. Ambas com fundamento
material no art. 1210, § 1º, do CC:

art. 1210, § 1º, do CC - -se ou


restituir-se por sua própria força, contando que o faça logo; os atos de defesa, ou
de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da

que atenda à função social, deve-se utilizar a noção de melhor posse, com base nos

Já caiu em prova (PCPR/2021) e foi considerada correta a seguinte alternativa: A legítima defesa da posse e
da propriedade prescinde do auxílio policial.

4.4. Composse: (Art. 1.199, CC)

art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma
exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros
compossuidores.

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SEMANA 10/18

É a situações em que duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre
a mesma coisa, e pode existir tanto na posse direta quanto na indireta, por ato inter vivos ou mortis causa.

Na composse, todos possuem a mesma posse sobre a mesma coisa, independente de sua fração
ideal. Logo, todos podem exercer todos os poderes sobre a coisa como um todo.

STJ: Nos casos de composse NÃO se admite a usucapião de um compossuidor sobre o bem, já que
todos os compossuidores exercem, cada um, poderes sobre a coisa como um todo, SALVO no casso
de um compossuidor estabelecer posse com exclusividade, afastando os demais.

O STJ entende que qualquer herdeiro pode ingressar com ação possessória contra terceiros. Porém,
também cabe ação possessória de um herdeiro contra o outro, se houver um esbulho praticado
entre ambos. (REsp 537.363/RS. Informativo 431 STJ).

A composse leva em conta o aspecto subjetivo e não objetivo. Ou seja, leva em conta se duas ou
mais pessoas são possuidoras do bem (e não a natureza da posse).

4.5 Formas de Aquisição, Transmissão e Perda da Posse

a) Aquisição: Com o CC/02, passou a ser rol aberto, e pode ser:

Aquisição originária: Há um contato direto entre a pessoa e a coisa;

Aquisição derivada: Há intermediação pessoal. Ex: Tradição.


Tradição real: Ocorre pela entrega efetiva ou material da coisa;
Tradição simbólica: Há um ato representativo da entrega da coisa. Ex: Entrega das chaves do
apartamento => TRADITIO LONGA MANU;
Tradição ficta: Ocorre por presunção, em que o possuidor detinha em nome alheio e passa
a possuir em nome próprio (Ex: Locador que compra o imóvel => TRADITIO BREVI MANU) ou
o inverso (ex: proprietário vende o imóvel e nele permanece como locatário => CONSTITUTO
POSSESSÓRIO).

Quem pode adquirir a posse?


R.: A posse pode ser adquirida:
Pelo próprio sujeito;
Por seu representante legal ou convencional;
Por terceiro que não tenha mandato, se houver confirmação posterior, com efeitos ex tunc.

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Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:


I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;
II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

b) Transmissão: A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres
=> PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO CARÁTER DA POSSE:

Sucessão universal (herança legítima): continuação da posse


Sucessão singular: união de posses.

c) Perda: Numerus apertus:

Abandono da coisa
Tradição;
Destruição: perecimento do objeto;
Colocação da coisa fora do comércio (inconsutibilidade jurídica);
Posse de outrem;
Constituto possessório;

Obs.: Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se
abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, e violentamente repelido.

Jurisprudências e súmulas importantes sobre a posse:

É vedado o ajuizamento de ação de imissão na posse, de juízo petitório, na


pendência de ação possessória sobre o mesmo bem
O art. 557 do CPC e o art. 1.210, §2º, do CC estabelecem a vedação da exceção de
domínio. Há uma separação absoluta entre os juízos petitório, baseado na
propriedade, e o juízo possessório, baseado na posse. Isso porque a posse é
fenômeno fático-social digno de tutela, sendo totalmente autônomo e distinto da
propriedade. Um dos efeitos da posse é justamente a sua proteção através da
tutela estatal. Portanto, havendo uma ação possessória em curso, não é cabível o
ajuizamento de ação petitória ou a discussão a respeito da propriedade. Ademais,
a vedação à exceção de domínio não deve ser compreendida como limitação aos
direitos constitucionais de propriedade ou de ação, seja porque a propriedade deve
obedecer à sua função social, seja porque o não debate sobre o domínio nas ações
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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possessórias representa apenas uma condição suspensiva no exercício do direito


de ação fundada na propriedade. A ação de imissão na posse, apesar do nome, não
se baseia na posse, mas sim na propriedade, sendo uma ação petitória. É a ação
cabível para o proprietário obter a posse que nunca teve. Assim, havendo uma ação
possessória em curso, caso seja ajuizada a ação de imissão na posse, esta deverá
ser extinta sem resolução de mérito, ante a falta de pressuposto negativo de
constituição e desenvolvimento válido do processo, qual seja, a ausência de ação
possessória pendente sobre o bem como requisito para o manejo de ação petitória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1909196-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/06/2021
(Info 701).
Não há necessidade de se suspender a ação possessória até que se julgue a ação de
usucapião
Não há prejudicialidade externa que justifique a suspensão da demanda
possessória até que se julgue a ação de usucapião. A posse é fato, podendo estar
dissociada da propriedade. Por conseguinte, a tutela da posse pode ser
eventualmente concedida mesmo contra o direito de propriedade. As demandas,
possessória e de usucapião, não possuem, entre si, relação de conexão ou
continência. STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1483832/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 06/10/2015. STJ. 3ª Turma. AgInt na PET na Pet 14017/SP,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/04/2021.

Súmula 637-STJ: O ente público detém legitimidade e interesse para intervir,


incidentalmente, na ação possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer
matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o domínio. STJ. Corte Especial. Aprovada
em 07/11/2019.

Em ação possessória ajuizada pelo fazendeiro que teve o imóvel invadido por
indígenas, não cabe a realização de laudo antropológico para examinar se são
terras indígenas. É inadequada a discussão acerca da tradicionalidade da ocupação
indígena em ação possessória ajuizada por proprietário de fazenda antes de
completado o procedimento demarcatório. Assim, não cabe produção de laudo
antropológico em ação possessória ajuizada por proprietário de fazenda ocupada
por grupo indígena. STJ. 2ª Turma. REsp 1650730-MS, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 20/08/2019 (Info 655).

Não é possível que oficina retenha veículo até que haja o pagamento do serviço
contratado. Oficina mecânica que realiza reparos em veículo, com autorização do
proprietário, não pode reter o bem por falta de pagamento do serviço. STJ. 3ª
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Turma. REsp 1628385-ES, Rel. Min. Ricardo Villas BôasCueva, julgado em 22/8/2017
(Info 610).

5. PROPRIEDADE

É um feixe de poderes complexos, é o direito que a pessoa tem, dentro dos limites normativos, de
usar, gozar, dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindicá-lo de quem injustamente o
possua ou detenha.

5.1 Atributos: GRUD

Gozar ou fruir: Retirar os frutos da coisa (naturais ou civis);


Reaver: Reivindicar a coisa contra quem injustamente a possua (elemento externo da propriedade).
Usar: dar destinação como bem entender. Esse atributo hoje encontra fortes limitações: Limitado
pelo direito de vizinhança e leis específicas, a exemplo do Estatuto das Cidades.
Dispor: Ex: Compra e venda, doação, testamento.

O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e
sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a
fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a
poluição do ar e das águas.

São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam
animados pela intenção de prejudicar outrem.

5.2 Classificação da propriedade:

Propriedade plena ou alodial: O proprietário tem todos os atributos do GRUD. Ademais, a


propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.

Propriedade limitada ou restrita: Ocorre quando recai algum ônus sobre a propriedade (ex:
hipoteca, servidão ou usufruto) OU quando a propriedade for resolúvel, dependente de condição ou
termo.

O proprietário que reúne todos os poderes/atributos da propriedade (GRUD), é titular da propriedade plena
ou alodial. Quando essa propriedade é limitada ou restrita, ou seja, se parte dos atributos passa a ser de
outrem, o direito de propriedade pode se dividir em 2 partes:
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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Nua-propriedade: Corresponde à titularidade do domínio, e está despida dos atributos de gozar e


usar;
Domínio útil: Corresponde aos atributos de gozar, usar e dispor.

5.3 Características

Direito absoluto: sentido de eficácia erga omnes. A propriedade não é absoluta no sentido de
prevalência em relação a qualquer outro direito. Ela deve ser ponderada com outros direitos
fundamentais.
Direito exclusivo: NÃO pode pertencer a mais de uma pessoa, salvo o domínio ou copropriedade.

Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário


Essa presunção é relativa. No condomínio, por exemplo, duas ou mais pessoas têm
todos os atributos.

Direito perpétuo: O direito permanece independente do seu exercício; a propriedade é contínua até
que surja um fato modificativo ou extintivo.
Direito elástico: A propriedade pode ser distendida ou contraída quando ao seu exercício;
Direito fundamental.

Obs.1: A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e


profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas,
por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las. No
entanto, a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de
energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais, podendo o
proprietário explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não
submetidos a transformação industrial.

Obs.2: Condomínio comum


Diz-se que existe um condomínio geral quando duas ou mais pessoas possuem direito de propriedade
em relação a determinado bem (móvel ou imóvel). Este instituto encontra-se disciplinado nos arts. 1.314 a
1.330 do Código Civil. Ex: dois amigos resolvem comprar, em conjunto, uma casa de praia. Haverá aí um
condomínio geral.

Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela
exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro,
defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa


comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros.

Art. 1.315. O condômino é obrigado, na proporção de sua parte, a concorrer para


as despesas de conservação ou divisão da coisa, e a suportar os ônus a que estiver
sujeita.
Parágrafo único. Presumem-se iguais as partes ideais dos condôminos.

Considerações sobre o condomínio:


No condomínio tradicional, não há elisão ao princípio da exclusividade, eis que, pelo estado de
indivisão do bem, cada um dos proprietários detém fração ideal do todo. Mesmo quando atue isoladamente,
o condômino exercitará o domínio na integralidade e não apenas na proporção de sua fração.
O condômino pode usucapir contra os coproprietários se o condomínio for pro indiviso, ou seja, a
indivisão do bem for de fato e de direito (uma moto com minha irmã), se o apossamento recair sobre a
integralidade do imóvel. Se for pro diviso, ou seja, a indivisão for apenas jurídica, mas já houve divisão de
fato entre os condôminos, um dos condôminos pode usucapir parcialmente de outras determinadas porções.

Jurisprudências recentes sobre o condomínio-comum:

Condomínios residenciais podem impedir, por meio da convenção condominial, o


uso de imóveis para locação pelo Airbnb
Existindo na Convenção de Condomínio regra impondo destinação residencial,
mostra-se indevido o uso de unidade condominial para fins de hospedagem
remunerada, com múltipla e concomitante locação de aposentos existentes nos
apartamentos, a diferentes pessoas, por curta temporada (ex: locação pelo Airbnb).
Vale ressaltar que existe a possibilidade de os próprios condôminos de um
condomínio edilício de fim residencial deliberarem em assembleia, por maioria
qualificada (2/3 das frações ideais), permitir a utilização das unidades condominiais
para fins de hospedagem atípica, por intermédio de plataformas digitais ou outra
modalidade de oferta, ampliando o uso para além do estritamente residencial e,
posteriormente, querendo, incorporarem essa modificação à Convenção do
Condomínio. STJ. 4ª Turma. REsp 1819075/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel.
p/ Acórdão Min. Raul Araújo, julgado em 20/04/2021 (Info 693).

Julgado correlato: O condomínio que possui destinação exclusivamente residencial


pode proibir a locação de unidade autônoma por curto período de tempo A
exploração econômica de unidades autônomas mediante locação por curto ou
curtíssimo prazo, caracterizada pela eventualidade e pela transitoriedade, não se
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

compatibiliza com a destinação exclusivamente residencial atribuída ao


condomínio. A afetação do sossego, da salubridade e da segurança, causada pela
alta rotatividade de pessoas estranhas e sem compromisso duradouro com a
comunidade na qual estão temporariamente inseridas, é o que confere
razoabilidade a eventuais restrições impostas com fundamento na destinação
prevista na convenção condominial. O direito de propriedade, assegurado
constitucionalmente, não é só de quem explora economicamente o seu imóvel,
mas sobretudo daquele que faz dele a sua moradia e que nele almeja encontrar,
além de um lugar seguro para a sua família, a paz e o sossego necessários para
recompor as energias gastas ao longo do dia. STJ. 3ª Turma. REsp 1.884.483-PR, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/11/2021 (Info 720).

O locatário não possui legitimidade para ajuizar ação contra o condomínio para
questionar a forma pela qual a coisa comum é gerida. O locatário não possui
legitimidade para ajuizar ação contra o condomínio no intuito de questionar o
descumprimento de regra estatutária, a ausência de prestação de contas e a
administração de estabelecimento comercial. STJ. 4ª Turma. REsp 1630199-RS, Rel.
Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 05/08/2021 (Info 704).

A proprietária do imóvel gerador dos débitos condominiais pode ter o seu bem
penhorado no cumprimento de sentença, mesmo não tendo figurado no polo
passivo da ação de cobrança, que tramitou apenas em face de seu ex-
companheiro. O imóvel gerador dos débitos condominiais pode ser objeto de
penhora em cumprimento de sentença, ainda que somente o ex-companheiro
tenha figurado no polo passivo da ação de conhecimento. STJ. 3ª Turma. REsp
1683419-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

O condomínio, por ser uma massa patrimonial, não possui honra objetiva e não
pode sofrer dano moral. Os condomínios são entes despersonalizados, pois não
são titulares das unidades autônomas, tampouco das partes comuns, além de não
haver, entre os condôminos, a affectio societatis, tendo em vista a ausência de
intenção dos condôminos de estabelecerem, entre si, uma relação jurídica, sendo
o vínculo entre eles decorrente do direito exercido sobre a coisa e que é necessário
à administração da propriedade comum. Caracterizado o condomínio como uma
massa patrimonial, não há como reconhecer que seja ele próprio dotado de honra
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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objetiva. Qualquer ofensa ao conceito (reputação) que possui perante a


comunidade representa, em verdade, uma ofensa individualmente dirigida a cada
um dos condôminos, pois quem goza de reputação são os condôminos e não o
condomínio, ainda que o ato lesivo seja a este endereçado. Diferentemente do que
ocorre com as pessoas jurídicas, qualquer repercussão econômica negativa será
suportada, ao fim e ao cabo, pelos próprios condôminos, a quem incumbe
contribuir para todas as despesas condominiais, e/ou pelos respectivos
proprietários, no caso de eventual desvalorização dos imóveis no mercado
imobiliário. Assim, o condomínio, por ser uma massa patrimonial, não possui honra
objetiva e não pode sofrer dano moral. STJ. 3ª Turma. REsp 1736593-SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

5.4 Função social da propriedade:

exercida pelo det

A função social da propriedade faz com que a propriedade envolva a situação jurídica de mão dupla,
ou seja, o proprietário tem direitos e deveres em relação ao não proprietário, que da mesma forma os tem
em relação ao proprietário. Não há definição apriorística da função social da propriedade, ou seja, trata-se
de um conceito indeterminado. A CF/88 sinalizou o que seja a função social nos artigos 182 e 186, quando,
respectivamente, afirma que atendem à função social:

1) IMÓVEL URBANO quando atende às exigências do Plano Diretor Urbano; mas se, por exemplo,
mesmo cumprindo as exigências do PDU, um imóvel for ocupado para uma atividade que utiliza mão-de-obra
escrava, não estará sendo atendida a função social. O Estatuto da Cidade (artigo 5o) afirma que o proprietário
que não cumprir a função social ao imóvel urbano pode ser obrigado a ocupar, parcelar ou construir em seu
imóvel, dentro do prazo (01 ano para apresentação do projeto e 02 anos para início), sob pena de
PROGRESSIVIDADE DO IPTU (artigo 7o), em até 15%, ao longo de 05 anos. Essa progressão não tem natureza
fiscal, tem natureza EXTRAFISCAL, funciona como sanção de proteção ambiental. Se ainda assim o
proprietário não der função social ao imóvel, sofrerá DESAPROPRIAÇÃO, cuja indenização será feita nos
seguintes termos:

Em títulos da dívida pública,


Por valor venal (e não de mercado),
Retira-se o valor de possível valorização que o imóvel tenha sofrido em decorrência de obra pública,
Não cabe restituição por lucro cessante e
Não cabe o pagamento de juros compensatórios.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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Obs.: proprietário que é punido NÃO pode ser indenizado da mesma forma que o proprietário que não está
sendo punido.

2) IMÓVEL RURAL quando há aproveitamento racional e adequado da propriedade (Lei 8.629/93


estabelece os percentuais de aproveitamento das áreas rurais); utilização adequada que preserva os recursos
naturais e o meio ambiente; observa as disposições que regulamentam as relações de trabalho (proteção
contra o trabalho escravo ou o proprietário rural que costumeiramente descumpre as exigências
trabalhistas); favorece o bem-estar do proprietário e dos trabalhadores. Caso não cumprida a função social,
pode haver a desapropriação da propriedade rural: pagamento com títulos da dívida agrária. É proibida a
desapropriação da pequena propriedade rural e da propriedade produtiva. Há imóvel que pode ser
economicamente produtivo, mas, socialmente improdutivo, EXEMPLO: fazenda toda plantada,
informatizada, com as relações trabalhistas em ordem e dá enorme lucro, mas a sua cultura é de maconha;
nesse caso não será nem a desapropriação, é caso de perdimento do bem, como previsto na própria CF/88.

A função social da propriedade tem dupla função (José de Oliveira Ascensão):

a) Função limitadora: impõe um não fazer. Ex.: a propriedade não pode ser exercida em abuso de
direito. Art. 1228, §2º, do CC vedação dos atos emulativos ou chicaneiros.

§ 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou


utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.

b) Função impulsionadora: impõe condutas. A coisa cumpre a sua função social quando é utilizada em
um sentido positivo

5.5 Propriedade resolúvel e propriedade fiduciária

Propriedade resolúvel: É aquela que pode ser extinta, quer pela condição (evento futuro e incerto)
ou pelo termo (evento futuro e certo). Ex: Cláusula especial de venda com reserva de domínio;

Propriedade fiduciária: É a propriedade resolúvel da coisa móvel infungível que o devedor, com
escopo de garantia, transfere ao credor.

Em outras palavras: a propriedade fiduciária ocorre quando o credor fiduciário adquire a


propriedade resolúvel e a posse indireta de bem móvel recebido em garantia de financiamento efetuado
pelo alienante, que se mantém na posse direta da coisa, resolvendo-se o direito fiduciário com a solução da
dívida garantida
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O objeto é BEM MÓVEL, por natureza, INFUNGÍVEL, DURÁVEL e INCONSUMÍVEL. É PACÍFICO que o
bem que já integre o patrimônio do devedor pode ser objeto de propriedade fiduciária (Súmula 28 do STJ).

Da Propriedade Resolúvel
Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento
do termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua
pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a
coisa do poder de quem a possua ou detenha.
Art. 1.360. Se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o
possuidor, que a tiver adquirido por título anterior à sua resolução, será
considerado proprietário perfeito, restando à pessoa, em cujo benefício houve a
resolução, ação contra aquele cuja propriedade se resolveu para haver a própria
coisa ou o seu valor.

Da Propriedade Fiduciária
Art. 1.361. Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel
infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor.
§ 1 o Constitui-se a propriedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por
instrumento público ou particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e
Documentos do domicílio do devedor, ou, em se tratando de veículos, na repartição
competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro.
§ 2 o Com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento da
posse, tornando-se o devedor possuidor direto da coisa.
§ 3 o A propriedade superveniente, adquirida pelo devedor, torna eficaz, desde o
arquivamento, a transferência da propriedade fiduciária.

5.6 Formas de aquisição da propriedade imóvel e móvel:

PROPRIEDADE IMÓVEL
Forma Originária Forma Derivada
Contato direito entre pessoa e coisa. A Intermediação pessoal.
propriedade é zerada, ou seja, os seus A propriedade continua com os mesmos
acessórios (tributos, dívidas de condomínio, atributos, em razão da solução de continuidade
hipoteca, propter rem) são extintos. STF
Re 94596-6/RS.

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Acessão: é a incorporação natural ou Registro imobiliário;


artificial. Sucessão hereditária.
- Ilhas; Compra e venda
- Aluvião;
- Avulsão;
- Álveo abandonado;
- Plantações;
- Construção.

Usucapião

PROPRIEDADE MÓVEL
Forma Originária Forma Derivada
Ocupação e achado de tesouro; Especificação;
Usucapião. Confusão;
Comistão;
Adjunção;
Tradição;
Sucessão.

Obs.: Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Não
o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada a
autoridade competente. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito
a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e a indenização pelas despesas que houver
feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la.

* Atenção: Outras formas de aquisição que não estão delineadas no resumo


devem ser complementadas com a leitura do Código Civil.

Alguns temas relevantes sobre as formas de aquisição da propriedade:

5.6.1 Modos de Aquisição de Bem Imóvel

A) USUCAPIÃO:

É o modo originário de aquisição da propriedade pela posse qualificada prolongada no tempo.


Se a propriedade é adquirida de forma originária, o novo proprietário NÃO é responsável pelos
Tributos que recaiam sobre o imóvel
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SEMANA 10/18

Se imóvel gravado por hipoteca, posteriormente adquirido por usucapião: o gravame de extingue.
NÃO correrão os prazos de usucapião entre cônjuges na constância da sociedade conjugal, a exceção
da usucapião conjugal.

Não correm os prazos:


Contra o absolutamente incapaz;
Contra os ausentes do país a serviço público;
Contra os que se acham servindo nas forças armadas, em tempo de guerra;
Pendendo condição suspensiva;
Não estando vencido o prazo para a aquisição do direito;
Pendendo ação de evicção.

Modalidades de usucapião:

MODALIDADE FUNDAMENTO REQUISITO REMISSÕES


Decurso do tempo que causa -Posse ad usucapionem; Art. 1.238, caput
EXTRAORDINÁRIA 1 a prescrição aquisitiva. -15 anos ininterruptos. do CC.
- Independe de títuli e boa

Prescrição diminuída por ter -Posse ad usucapionem; Art. 1.238, §
o possuidor dado destinação -10 anos ininterruptos; único, do CC
que atende à função social. -Ter o possuidor constituído
EXTRAORDINÁRIA 2 sua morada OU realizado
obras OU serviços
produtivos.
Prescrição aquisitiva -Posse ad usucapionem; Art. 1.242, caput,
- 10 anos contínuos; do CC.
ORDINÁRIA 1 - Justo título;
- Boa- fé.
Prescrição aquisitiva -Posse ad usucapionem; Art. 1.242, §
- 05 anos contínuos; único.
- Aquisição onerosa do
imóvel com base em
ORDINÁRIA 2 registro irregular
posteriormente cancelado;
-Ter o possuidor constituído
sua moradia OU realizado

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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investimentos de interesse
social e econômico.
Prescrição extintiva pelo -Posse ad usucapionem; Art. 1.239, CC
proprietário não dar função - 05 anos contínuos; +
social e prescrição aquisitiva, - Máximo de 50 Hc em zona Art. 191, CF/88
ESPECIAL RURAL benefício ao possuidor que a rural; +
CONSTITUCIONAL atendeu. - Tornar a propriedade Lei nº 6.969/81
RURAL PRO LABORE produtiva;
-Ter o possuidor constituído
a sua morada;
- NÃO ser proprietário ou
possuidor de outro imóvel
urbano ou rural.
Sanção ao proprietário por -Posse ad usucapionem; Art. 1.240, CC
não dar cumprimento à - 05 anos contínuos;
função social da propriedade - Área urbana de até 250
urbana. m²;
ESPECIAL URBANA - Moradia própria ou da
CONSTITUCIONAL família;
- Não ser possuidor ou
proprietário de outro
imóvel urbano ou rural;
- Não ter recebido o
benefício antes.
Sanção ao proprietário por -Posse ad usucapionem; Lei nº 10.257/01
não dar cumprimento à - 05 anos contínuos;
função social da propriedade - Área urbana com mais de
urbana e benefício aos 250 m²;
possuidores que a - Destinada à moradia da
ESPECIAL URBANA atenderam. população posseira;
COLETIVA - Possuidores de baixa
renda;
- NÃO se proprietário ou
possuidor de outro imóvel
urbano ou rural;

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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- Seja impossível destacar


cada terreno de forma
individual.
Busca impedir que os imóveis -Posse ad usucapionem; Art. 1.240-A, do
vinculados ao programa - 02 anos ininterruptos e CC.
sem oposição;
possam ficar em situação de - Imóvel urbano de até 250
CONJUGAL, incerteza de propriedade. m²;
PRO-FAMÍLIA - Dividia a propriedade com
ex-cônjuge ou companheiro
que abandonou o lar;
- Moradia sua ou da família.

Súmula 263-STF: O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usucapião

Súmula 237-STF: O usucapião pode ser arguido em defesa.

Já caiu em prova e foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: o reconhecimento da usucapião


extraordinária pressupõe o atendimento do requisito de exercício de posse mansa, pacífica e sem oposição,
pelo prazo determinado em lei, conforme a hipótese e a observância do módulo estabelecido por lei
municipal de acordo com as normas de parcelamento do solo urbano. (FGV/2022).

O erro encontra-se no fato de que a usucapião extraordinária independe do tamanho do imóvel. Veja o
julgado que aborda o tema:
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. IMÓVEL
USUCAPIENDO COM ÁREA INFERIOR AO MÓDULO URBANO DISPOSTO NA LEGISLAÇÃO MUNICIPAL.
REQUISITOS PREVISTOS NO ART. 1.238 DO CC: POSSE, ANIMUS DOMINI, PRAZO DE 15 (QUINZE) ANOS.
RECONHECIMENTO DO DIREITO À AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE NÃO SUJEITO A CONDIÇÕES POSTAS POR
LEGISLAÇÃO DIFERENTE DAQUELA QUE DISCIPLINA ESPECIFICAMENTE A MATÉRIA.
1. Tese para efeito do art. 1.036 do CPC/2015: O reconhecimento da usucapião extraordinária, mediante o
preenchimento dos requisitos específicos, não pode ser obstado em razão de a área usucapienda ser
inferior ao módulo estabelecido em lei municipal. 2. No caso concreto, recurso especial não provido, a fim
de afirmar a inexistência de impedimento para que o imóvel urbano, com área inferior ao módulo mínimo
municipal, possa ser objeto da usucapião extraordinária. (REsp 1667842/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 03/12/2020, DJe 05/04/2021)

Jurisprudências relevantes sobre o tema:


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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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O STJ decidiu que o bem furtado pode ser objeto de usucapião, desde que tenha cessado a
clandestinidade:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA DE BEM MÓVEL.


PRESSUPOSTOS DE DIREITO MATERIAL. BOA-FÉ IRRELEVANTE.
VEÍCULO FURTADO. OBJETO HÁBIL. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE. POSSIBILIDADE.
RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
1. Recurso no qual se discute a possibilidade de aquisição da propriedade de bem
móvel furtado por terceiro que o adquiriu de boa-fé e exerceu a posse ininterrupta
e incontestadamente por mais de 20 (vinte) anos.
2. A usucapião é instituto destinado a dar segurança e estabilidade à propriedade,
bem como consolidar as aquisições e facilitar a prova do domínio, de modo que,
entre os requisitos materiais, não há nenhuma menção à conduta ou inércia do
proprietário. Doutrina.
3. Nos termos do art. 1.261 do CC/2002, aquele que exercer a posse de bem móvel,
interrupta e incontestadamente, por 5 (cinco) anos, adquire a propriedade
originária do bem, fazendo sanar todo e qualquer vício anterior.
4. A apreensão física da coisa por meio de clandestinidade (furto) ou violência
(roubo) somente induz a posse após cessado o vício (art. 1.208 do CC/2002), de
maneira que o exercício ostensivo do bem é suficiente para caracterizar a posse
mesmo que o objeto tenha sido proveniente de crime.
5. As peculiaridades do caso concreto, em que houve exercício da posse ostensiva
de bem adquirido por meio de financiamento bancário com emissão de registro
perante o órgão público competente, ao longo de mais de 20 (vinte) anos, são
suficientes para assegurar a aquisição do direito originário de propriedade, sendo
irrelevante se perquirir se houve a inércia do anterior proprietário ou se o
usucapiente conhecia a ação criminosa anterior à sua posse.
6. Recurso especial desprovido.
(REsp 1637370/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
julgado em 10/09/2019, DJe 13/09/2019)

O STJ decidiu que NÃO cabe oposição em ação de usucapião:


RECURSO ESPECIAL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS.
OPOSIÇÃO. NÃO CABIMENTO. NATUREZA JURÍDICA. AÇÃO DE CONHECIMENTO.
INTERESSE PROCESSUAL. AUSÊNCIA. CONTESTAÇÃO. VIA ADEQUADA. NULIDADE.
CITAÇÃO. VÍCIO. REEXAME DE PROVAS.
INVIABILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de


Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. As questões controvertidas no presente recurso podem ser assim resumidas: (i)
se é cabível a intervenção de terceiros na modalidade de oposição na ação de
usucapião e (ii) se há vício de nulidade do processo por falta de citação da
recorrente para ação de usucapião na condição de confinante e proprietária do
bem usucapiendo.
3. A oposição é instituto de intervenção de terceiros que tem natureza jurídica de
ação judicial de conhecimento, de modo que o opoente deve preencher as
condições da ação e os pressupostos processuais para o seu processamento.
4. Não cabe intervenção de terceiros na modalidade de oposição na ação de
usucapião.
5. O opoente carece de interesse processual para o oferecimento de oposição na
ação de usucapião porque, estando tal ação incluída nos chamados juízos universais
(em que são convocados a integrar o polo passivo por meio de edital toda a
universalidade de eventuais interessados), sua pretensão poderia ser deduzida por
meio de contestação.
6. A previsão da convocação, por meio edital, de toda universalidade de sujeitos
indeterminados para que integrem o polo passivo da demanda se assim desejarem
elimina a figura do terceiro no procedimento da ação de usucapião.
7. Tendo a Corte de origem concluído, à luz da prova dos autos, que (i) nenhum dos
imóveis objeto da lide se encontra registrado no nome da recorrente e (ii) não há
nos autos nenhum lastro probatório que demonstre a posição de confinante da
recorrente, inviável a inversão do julgado, por força da Súmula nº 7/STJ.
8. Recurso especial conhecido em parte e não provido.
(REsp 1726292/CE, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 12/02/2019, DJe 15/02/2019)

A destinação de parte do imóvel para fins comerciais não impede o reconhecimento da usucapião
especial urbana sobre a totalidade da área
A usucapião especial urbana apresenta como requisitos a posse ininterrupta e
pacífica, exercida como dono, o decurso do prazo de cinco anos, a dimensão da
área (250 m² para a modalidade individual e área superior a esta, na forma
coletiva), a moradia e o fato de não ser proprietário de outro imóvel urbano ou
rural. O uso misto da área a ser adquirida por meio de usucapião especial urbana
não impede seu reconhecimento judicial, se a porção utilizada comercialmente é
destinada à obtenção do sustento do usucapiente e de sua família. É necessário que
183
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

a área pleiteada seja utilizada para a moradia do requerente ou de sua família, mas
a lei não proíbe que o autor a utilize também para seu sustento. Assim, o fato de o
autor da ação de usucapião utilizar uma parte do imóvel para uma atividade
comercial que serve ao sustento da família domiciliada no imóvel não inviabiliza a
prescrição aquisitiva buscada. STJ. 3ª Turma. REsp 1777404-TO, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

O interesse jurídico no ajuizamento direto de ação de usucapião independe de prévio pedido na via
extrajudicial

A tentativa de usucapião extrajudicial não é condição indispensável para o


ajuizamento da ação de usucapião. Mesmo que estejam preenchidos os requisitos
para a usucapião extrajudicial, o interessado pode livremente optar pela
propositura de ação judicial. O próprio legislador deixou claro, no art. 216-A da Lei
de Registros Públicos, que a existência da possibilidade de usucapião extrajudicial
não traz prejuízo à busca da usucapião na via jurisdicional: Art. 216-A. Sem prejuízo
da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de
usucapião (...) STJ. 3ª Turma. REsp 1824133-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

É possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com a implementação do requisito


temporal no curso da demanda

É possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigido por lei se


complete no curso do processo judicial, conforme a previsão do art. 493, do
CPC/2015, ainda que o réu tenha apresentado contestação. Em março de 2017,
João ajuizou ação pedindo o reconhecimento de usucapião especial urbana, nos
termos do art. 1.240 do CC (que exige posse ininterrupta e sem oposição por 5
anos). Em abril de 2017, o proprietário apresentou contestação pedindo a
improcedência da demanda. As testemunhas e as provas documentais atestaram
que João reside no imóvel desde setembro de 2012, ou seja, quando o autor deu
entrada na ação, ainda não havia mais de 5 anos de posse. Em novembro de 2017,
os autos foram conclusos ao juiz para sentença. O magistrado deverá julgar o
pedido procedente considerando que o prazo exigido por lei para a usucapião se
completou no curso do processo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/06/2018 (Info 630).
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Se o juízo criminal decretou a perda do imóvel que está sendo pleiteado em ação de usucapião, esta
decisão produzirá efeitos no juízo cível, devendo a ação ser extinta por perda do objeto.

Há perda de objeto da ação de usucapião proposta em juízo cível na hipótese em


que juízo criminal decreta a perda do imóvel usucapiendo em razão de ter sido
adquirido com proventos de crime. João praticou um crime.Com o dinheiro obtido
com o delito, ele comprou uma casa. No processo criminal, o juiz decretou, em
março/2012, o sequestro da casa comprada. João fugiu e abandonou o imóvel.Em
abril/2012, Pedro invadiu a casa e passou a morar lá.Em maio/2017, após mais de
5 anos morando no imóvel, Pedro ajuizou ação de usucapião (art. 1.240 do CC). A
ação de usucapião estava tramitando até que, em outubro/2017, transitou em
julgado a sentença do juiz condenando João pela prática do crime. Como efeito da
condenação, o magistrado determinou o confisco da casa (art.
ação de usucapião perde o objeto, considerando que este tema foi definido no juízo
criminal. STJ. 3ª Turma.REsp 1471563-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 26/09/2017 (Info 613).

Não configura decisão extra petita a sentença que, reconhecendo a usucapião,


determina a liquidação para individualizar a área usucapida, ainda que não haja
pedido expresso na inicial. AgInt no REsp 1.802.192-MG, Rel. Ministro João Otávio
de Noronha, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 12/12/2022, DJe
15/12/2022.

CAIU EM CONCURSO

PCSP/2021 Delegado de Polícia: Tício, mediante ameaça, se apossou do terreno que era
possuído por Caio de forma mansa, pacífica e com animus domini há mais de 30 (trinta) anos. Caio, utilizando-
se de sua própria força, e apenas dos meios indispensáveis, imediatamente ao esbulho praticado por Tício,
restituiu-se na posse, expulsando-o do terreno. Tício, então, ajuizou uma ação possessória contra Caio,
alegando ter sido possuidor do terreno antes da posse de Caio, por 4 (quatro) anos e possuir título de
propriedade do terreno. Por fim, Tício compareceu à delegacia de polícia, acusando Caio de ter praticado
crime de exercício arbitrário das próprias razões. Acerca do caso narrado, pode-se corretamente afirmar que

(a) quando mais de uma pessoa se disser possuidora, dever-se-á privilegiar o possuidor que primeiramente
possuiu a coisa, mesmo que esta não esteja na sua posse atual.

185
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

(b) a alegação de Tício de que é proprietário do terreno não poderia ser apresentada em ação possessória,
tendo em vista o acolhimento, pelo Código Civil, da absoluta separação entre os juízos possessório e
petitório.
(c) a posse é um fato que não encontra guarida no ordenamento jurídico, salvo ao proprietário da coisa, razão
pela qual, se Tício comprovar sua propriedade, Caio deve sair do imóvel, independentemente do tempo de
posse.
(d) a conduta de Caio configura o crime de exercício arbitrário das próprias razões, pois a lei civil veda, de
forma expressa, ao possuidor esbulhado restituir-se na posse por sua própria força.
(e) não poderá Caio, na defesa da ação possessória, alegar que adquiriu a área pela usucapião em razão do
tempo e da natureza de sua posse.

5.6.2 Modos de Aquisição da Propriedade Móvel

A) OCUPAÇÃO:
É o modo ORIGINÁRIO por excelência de aquisição da propriedade móvel, pelo qual alguém
imediatamente apropria-se de coisas SEM DONO, seja porque nunca foram apropriadas (RES NULLIUS), seja
porque foram abandonadas (RES DERELICTAE).
As coisas abandonadas não se confundem com as perdidas, pois aqui há apenas um temporário
afastamento do corpus, mas é mantido o animus. Para estas, há a descoberta.
Tem como objeto seres vivos (caça e pesca) e seres inanimados

B) CONFUSÃO X COMISTÃO X ADJUNÇÃO:


Confusão (= confusão real): É a mistura entre coisas líquidas (ou gases), em que não é possível a
separação;
Comistão: Mistura de coisas sólidas ou secas, NÃO permitindo a separação;
Adjunção: Justaposição de uma coisa sobre a outra, impedindo a separação.

C) USUCAPIÃO
Ordinária: Art. 1.260, CC posse mansa e pacífica, ininterruptamente e sem oposição, durante TRÊS
ANOS, exercida com animus domini, JUSTO TÍTULO e BOA-FÉ.
Extraordinária: Art. 1.261, CC posse ininterrupta e pacífica com animus domini pelo prazo de CINCO
ANOS.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e
incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a
propriedade.

Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá
usucapião, independentemente de título ou boa-fé.

Veja a jurisprudência pertinente sobre o tema:

Obs.: Súmula 193, STJ o direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por
usucapião. Os bens objeto de furto podem ser adquiridos por usucapião
extraordinária pelo próprio autor do furto.

A existência de contrato de arrendamento mercantil do bem móvel impede a


aquisição de sua propriedade pela usucapião, contudo, verificada a prescrição da
dívida, inexiste óbice legal para prescrição aquisitiva - A existência de contrato de
arrendamento mercantil do bem móvel impede a aquisição de sua propriedade
pela usucapião, contudo, verificada a prescrição da dívida, inexiste óbice legal para
prescrição aquisitiva. Exemplo: João celebrou contrato de arrendamento mercantil
com o banco para aquisição de um automóvel; em 1998, o arrendatário deixou de
pagar as prestações; o arrendador tinha o prazo de 5 anos para ajuizar ação de
cobrança, ou seja, até 2003; até essa data (2003), não se podia falar em usucapião;
a partir de 2003, como o arrendador já não mais poderia ajuizar a ação de cobrança,
entende-se que cessaram os vícios que maculavam a posse do arrendatário; logo,
a partir de 2003 começou a ser contado o prazo de usucapião; como o prazo de
usucapião extraordinário de bem móvel é de 5 anos, o arrendatário adquiriu a
propriedade por usucapião em 2008. STJ. 4ª Turma. REsp 1528626-RS, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em 17/12/2019 (Info 667).
Bem furtado pode ser objeto de usucapião, desde que tenha cessado a
clandestinidade - É possível a usucapião de bem móvel proveniente de crime após
cessada a clandestinidade ou a violência. Nos termos do art. 1.261 do CC/2002,
aquele que exercer a posse de bem móvel, interrupta e incontestadamente, por 5
anos, adquire a propriedade originária do bem, fazendo sanar todo e qualquer vício
anterior. A apreensão física da coisa por meio de clandestinidade (furto) ou
violência (roubo) somente induz a posse após cessado o vício (art. 1.208 do
CC/2002), de maneira que o exercício ostensivo do bem é suficiente para
caracterizar a posse mesmo que o objeto tenha sido proveniente de crime. Caso
concreto: indivíduo adquiriu caminhão por meio de financiamento bancário, com
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

emissão de registro perante o órgão público competente, ao longo de mais de 20


anos. Depois se descobriu que o veículo havia sido furtado antes da aquisição.
Pode-se reconhecer que houve a aquisição por usucapião, sendo irrelevante se
analisar se houve a inércia do anterior proprietário (vítima do furto) ou se o
usucapiente conhecia a ação criminosa anterior à sua posse. STJ. 3ª Turma. REsp
1637370-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/09/2019 (Info 656).

O indivíduo que tem a propriedade de um veículo que, no entanto, está registrado


em nome de um terceiro no DETRAN, possui interesse de agir para propor ação de
usucapião extraordinária (art. 1.261 do CC) já que, com a sentença favorável,
poderá regularizar o bem no órgão de trânsito. STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.177-RJ,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/10/2016 (Info 593).

6. PERDA DA PROPRIEDADE MÓVEL OU IMÓVEL:

Alienação: ato pelo qual o proprietário, por vontade própria, gratuita ou onerosamente, transfere a
outrem seu direito sobre a coisa;

Renúncia: ATO UNILATERAL pelo qual o proprietário declara formal e explicitamente o propósito de
despojar-se do direito de propriedade. Só se aplica aos BENS IMÓVEIS, com exceção do patrimônio
móvel que se encerra no direito hereditário objeto de abdicação pelo herdeiro;

Abandono: é o ATO MATERIAL pelo qual o proprietário desfaz-se da coisa porque não quer mais ser
seu dono. Por não ser um ato expresso como a renúncia, a derrelição deve resultar de ATOS
EXTERIORES que atestem a manifesta intenção de abandonar.

O mero desuso não implica em abandono, tem que haver o elemento psicológico
O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em
seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como
bem vago, e passar, tres anos depois, a propriedade do município ou a do distrito federal, se
se achar nas respectivas circunscrições.

Perecimento da coisa: dá-se pela perda das qualidades essenciais da coisa

Transmissão da propriedade: Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título


transitivo no Registro de Imóveis. Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua
a ser havido como dono do imóvel.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Perda involuntária: pela arrematação, adjudicação, implemento de condição resolutiva, usucapião,


casamento pela comunhão universal e confisco

Desapropriação: modo ORIGINÁRIO de aquisição e perda da propriedade, em face da intervenção


estatal na propriedade privada.

O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou
utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público
iminente.
O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em
extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável
número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente,
obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.

7. DIREITOS DE VIZINHANÇA

7.1 Do Uso Anormal Da Propriedade

O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais


à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha.
Excetuam-se quando forem justificadas pelo interesse público, caso em que o proprietário ou possuidor
causador delas, pagará ao vizinho indenização.

Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização, a localização do prédio,


atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos
moradores da vizinhança.

O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a


reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente.

7.2 Das Árvores Limítrofes

A árvore, cujo tronco estiver na linha divisória, presume-se pertencer em comum aos donos dos
prédios confinantes.

As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a divisa do prédio, poderão ser cortados, até o
plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de
propriedade particular.

7.3 Da Passagem Forçada

O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente ou porto, pode, mediante pagamento
de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se
necessário. Se ocorrer alienação parcial do prédio, o proprietário da outra deve tolerar a passagem.

7.4 Da Passagem De Cabos E Tubulações

Mediante indenização, o proprietário é obrigado a tolerar a passagem, pelo seu imóvel, de cabos,
tubulações e outros condutos subterrâneos de serviços de utilidade pública, quando de outro modo for
impossível ou excessivamente oneroso.

7.5 Das águas

O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as águas que correm naturalmente do
superior, não podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo; porém a condição natural e anterior do
prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou possuidor do prédio superior.

Quando as águas, artificialmente levadas ao prédio superior, ou aí colhidas, correrem dele para o
inferior, poderá o dono deste reclamar que se desviem, ou se lhe indenize o prejuízo que sofrer.

7.6 Dos Limites Entre Prédios E Do Direito De Tapagem

O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano ou
rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a
aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente
entre os interessados as respectivas despesas.

7.7 Do Direito De Construir

O proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, salvo o direito dos
vizinhos e os regulamentos administrativos. O proprietário construirá de maneira que o seu prédio não
despeje águas, diretamente, sobre o prédio vizinho. É defeso abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou
varanda, a menos de metro e meio do terreno vizinho.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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São proibidas construções capazes de poluir, ou inutilizar, para uso ordinário, a água do poço, ou
nascente alheia, a elas preexistentes.

Não é permitida a execução de qualquer obra ou serviço suscetível de provocar desmoronamento ou


deslocação de terra, ou que comprometa a segurança do prédio vizinho, senão após haverem sido feitas as
obras acautelatórias.

8. CONDOMÍNIOS

8.1 Do Condomínio Voluntário

a) Dos direitos e deveres dos condôminos:

Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos
compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva
parte ideal, ou gravá-la. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem
dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros.
O condômino é obrigado, na proporção de sua parte, a concorrer para as despesas de conservação
ou divisão da coisa, e a suportar os ônus a que estiver sujeita.
Presumem-se iguais as partes ideais dos condôminos.
A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de
cada um pela sua parte nas despesas da divisão.

b) Administração do condomínio:

Por maioria será escolhido o administrador, que poderá ser estranho ao condomínio. O condômino
que administrar sem oposição dos outros presume-se representante comum.

8.2 Do Condomínio Edilício

Pode haver, em edificações, partes que são propriedade exclusiva, e partes que são propriedade
comum dos condôminos.
As partes suscetíveis de utilização independente, tais como apartamentos, escritórios, salas, lojas e
sobrelojas, com as respectivas frações ideais no solo e nas outras partes comuns, sujeitam-se a propriedade
exclusiva, podendo ser alienadas e gravadas livremente por seus proprietários, exceto os abrigos para
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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veículos, que não poderão ser alienados ou alugados a pessoas estranhas ao condomínio, salvo autorização
expressa na convenção de condomínio.
O solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede geral de distribuição de água, esgoto, gás e
eletricidade, a calefação e refrigeração centrais, e as demais partes comuns, inclusive o acesso ao logradouro
público, são utilizados em comum pelos condôminos, não podendo ser alienados separadamente, ou
divididos.
A cada unidade imobiliária caberá, como parte inseparável, uma fração ideal no solo e nas outras
partes comuns, que será identificada em forma decimal ou ordinária no instrumento de instituição do
condomínio.
Institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos ou testamento, registrado no Cartório de Registro
de Imóveis.
A convenção que constitui o condomínio edilício deve ser subscrita pelos titulares de, no mínimo,
dois terços das frações ideais e torna-se, desde logo, obrigatória para os titulares de direito sobre as
unidades, ou para quantos sobre elas tenham posse ou detenção. Para ser oponível contra terceiros, a
convenção do condomínio deverá ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis.
O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive
multas e juros moratórios.

a) Da administração do condomínio:

O condomínio edilício é administrado pela assembleia-geral e pelo síndico. A assembleia escolherá


um síndico, que poderá não ser condômino, para administrar o condomínio, por prazo não superior
a dois anos, o qual poderá renovar-se.

A assembleia-geral enquanto órgão do condomínio nada mais é do que a reunião dos condôminos
para tratar de assuntos afetos ao condomínio. A assembleia pode ser convocada pelo síndico ou por
¼ dos condôminos.

ATENÇÃO NOVIDADE LEGISLATIVA: ASSEMBLEIA ELETRÔNICA.

A Lei nº 14.309/22 inseriu o art. 1.354-A no Código Civil para permitir que a convocação, a realização
e a votação em assembleia-geral por meio eletrônico, desde que tal possibilidade não seja vedada
pela convenção de condomínio e que sejam preservados os direitos de voz, de debate e de voto dos
condôminos. Vejamos a redação do novo art. 1.354-A do CC:

Art. 1.354-A. A convocação, a realização e a deliberação de quaisquer modalidades


de assembleia poderão dar-se de forma eletrônica, desde que: (Incluído pela Lei nº
14.309, de 2022)
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

I - tal possibilidade não seja vedada na convenção de condomínio; (Incluído pela Lei
nº 14.309, de 2022)
II - sejam preservados aos condôminos os direitos de voz, de debate e de
voto. (Incluído pela Lei nº 14.309, de 2022)
§ 1º Do instrumento de convocação deverá constar que a assembleia será realizada
por meio eletrônico, bem como as instruções sobre acesso, manifestação e forma
de coleta de votos dos condôminos. (Incluído pela Lei nº 14.309, de 2022)
§ 2º A administração do condomínio não poderá ser responsabilizada por
problemas decorrentes dos equipamentos de informática ou da conexão à
internet dos condôminos ou de seus representantes nem por quaisquer outras
situações que não estejam sob o seu controle. (Incluído pela Lei nº 14.309, de 2022)
§ 3º Somente após a somatória de todos os votos e a sua divulgação será lavrada a
respectiva ata, também eletrônica, e encerrada a assembleia geral. (Incluído pela
Lei nº 14.309, de 2022)
§ 4º A assembleia eletrônica deverá obedecer aos preceitos de instalação, de
funcionamento e de encerramento previstos no edital de convocação e poderá ser
realizada de forma híbrida, com a presença física e virtual de condôminos
concomitantemente no mesmo ato. (Incluído pela Lei nº 14.309, de 2022)
§ 5º Normas complementares relativas às assembleias eletrônicas poderão ser
previstas no regimento interno do condomínio e definidas mediante aprovação da
maioria simples dos presentes em assembleia convocada para essa
finalidade. (Incluído pela Lei nº 14.309, de 2022)
§ 6º Os documentos pertinentes à ordem do dia poderão ser disponibilizados de
forma física ou eletrônica aos participantes. (Incluído pela Lei nº 14.309, de 2022)

Convocará o síndico, anualmente, reunião da assembleia dos condôminos, na forma prevista na


convenção, a fim de aprovar o orçamento das despesas, as contribuições dos condôminos e a
prestação de contas, e eventualmente eleger-lhe o substituto e alterar o regimento interno.

O art. 1.353, caput, do CC, estabelece que, salvo quando exigido quórum especial, as deliberações
da assembleia serão tomadas, em primeira convocação, por maioria de votos dos condôminos
presentes que representem pelo menos metade das frações ideais. Em segunda convocação, as
deliberações da assembleia serão tomadas pela maioria dos votos dos presentes, ainda que não
representem metade das frações ideais.

1ª convocação: maioria de votos dos condôminos presentes que representem pelo


menos metade das frações ideais;

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

2ª convocação: maioria dos votos dos presentes (não importando se representem


pelo menos metade das frações ideais).

NOVIDADE LEGISLATIVA QUÓRUM ESPECIAL E CONVERSÃO DA ASSEMBLEIA EM SESSÃO


PERMANENTE

Os quóruns especiais geralmente são muito altos e, como muitos condôminos não comparecem às
reuniões, por vezes, a aprovação das deliberações era inviabilizada. Para amenizar essa
problemática a Lei nº 14.309/22 inseriu os parágrafos 1º a 3º no art. 1.353 do CC, para prever a
possibilidade de conversão da assembleia em sessão permanente, para que os condôminos
possam ir votando até que seja atingido o quórum especial.

Art. 1.353. Em segunda convocação, a assembleia poderá deliberar por maioria dos
votos dos presentes, salvo quando exigido quórum especial.
§ 1º Quando a deliberação exigir quórum especial previsto em lei ou em convenção
e ele não for atingido, a assembleia poderá, por decisão da maioria dos presentes,
autorizar o presidente a converter a reunião em sessão permanente, desde que
cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.309, de 2022)
I - sejam indicadas a data e a hora da sessão em seguimento, que não poderá
ultrapassar 60 (sessenta) dias, e identificadas as deliberações pretendidas, em
razão do quórum especial não atingido; (Incluído pela Lei nº 14.309, de 2022)
II - fiquem expressamente convocados os presentes e sejam obrigatoriamente
convocadas as unidades ausentes, na forma prevista em convenção; (Incluído pela
Lei nº 14.309, de 2022)
III - seja lavrada ata parcial, relativa ao segmento presencial da reunião da
assembleia, da qual deverão constar as transcrições circunstanciadas de todos os
argumentos até então apresentados relativos à ordem do dia, que deverá ser
remetida aos condôminos ausentes; (Incluído pela Lei nº 14.309, de 2022)
IV - seja dada continuidade às deliberações no dia e na hora designados, e seja a
ata correspondente lavrada em seguimento à que estava parcialmente redigida,
com a consolidação de todas as deliberações. (Incluído pela Lei nº 14.309, de 2022)
§ 2º Os votos consignados na primeira sessão ficarão registrados, sem que haja
necessidade de comparecimento dos condôminos para sua confirmação, os quais
poderão, se estiverem presentes no encontro seguinte, requerer a alteração do
seu voto até o desfecho da deliberação pretendida. (Incluído pela Lei nº 14.309, de
2022)

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

§ 3º A sessão permanente poderá ser prorrogada tantas vezes quantas


necessárias, desde que a assembleia seja concluída no prazo total de 90 (noventa)
dias, contado da data de sua abertura inicial. (Incluído pela Lei nº 14.309, de 2022)

b) Do condomínio de lotes:

Pode haver, em terrenos, partes designadas de lotes que são propriedade exclusiva e partes que são
propriedade comum dos condôminos. A fração ideal de cada condômino poderá ser proporcional à área do
solo de cada unidade autônoma, ao respectivo potencial construtivo ou a outros critérios indicados no ato
de instituição.

ATENÇÃO: A Medida Provisória nº 1.085/2021 alterou o art. 1.358-A que dispõe acerca do Condomínio de
Lotes, vejamos:

-A.
§ 2º Aplica-se, no que couber, ao condomínio de lotes: (Redação dada Pela
Medida Provisória nº 1.085, de 2021)
I - o disposto sobre condomínio edilício neste Capítulo, respeitada a legislação
urbanística; e (Incluído Pela Medida Provisória nº 1.085, de 2021)
II - o regime jurídico das incorporações imobiliárias de que trata o Capítulo I do
Título II da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, equiparando-se o
empreendedor ao incorporador quanto aos aspectos civis e registrários. (Incluído
Pela Medida Provisória nº 1.085, de 2021)

Por derradeiro, cumpre destacar recente julgado, correlato ao tema, em que o STJ afirmou que o
adquirente de imóvel deve pagar as taxas condominiais desde o recebimento das chaves ou, em caso de
recusa ilegítima, a partir do momento no qual as chaves estavam à sua disposição.

O promitente comprador passa a ser responsável pelo pagamento das despesas


condominiais a partir da entrega das chaves, tendo em vista ser o momento em que
tem a posse do imóvel. A recusa em receber as chaves constitui, em regra,
comportamento contrário aos princípios contratuais, principalmente à boa-fé
objetiva, desde que não esteja respaldado em fundamento legítimo. A rejeição em
tomar a posse do imóvel, sem justificativa adequada, faz com que o adquirente das
unidades imobiliárias passe a ser responsável pelas taxas condominiais. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.847.734-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
29/03/2022 (Info 731).

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

8.3 Do Condomínio em Multipropriedade (TIME-SHARING):

Segundo Gustavo Tepedino, a multipropriedade significa, genericamente, a relação jurídica de


aproveitamento econômico de uma coisa móvel ou imóvel, repartida em unidades fixas de tempo, de modo
que diversos titulares possam, cada qual a seu tempo, utilizar-se da coisa com exclusividade e de maneira
perpétua. É uma pluralidade de direitos individuais sobre a mesma base material, dividida em frações de
-
O caráter real da multipropriedade imobiliária decorre da aderência imediata do vínculo jurídico ao
bem imóvel sobre o qual incide, servindo o contrato, embora imprescindível, unicamente para definir o
objeto do direito e disciplinar a relação entre os multiproprietários, e entre estes e a empresa promotora.

A multipropriedade pretende oferecer a cada titular um direito de natureza real, perpétuo e


exclusivo, que incide sobre o bem jurídico de maneira plena, no âmbito da fração temporal que lhe é deferida.

ATENÇÃO: DO CONDOMÍNIO EM MULTIPROPRIEDADE (Lei 13.777/2018 alterou o Código Civil)

Art. 1.358-C. Multipropriedade é o regime de condomínio em que cada um dos


proprietários de um mesmo imóvel é titular de uma fração de tempo, à qual
corresponde a faculdade de uso e gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel,
a ser exercida pelos proprietários de forma alternada.
Parágrafo único. A multipropriedade não se extinguirá automaticamente se todas
as frações de tempo forem do mesmo multiproprietário.

Art. 1.358-D. O imóvel objeto da multipropriedade:


I - é indivisível, não se sujeitando a ação de divisão ou de extinção de condomínio;
II - inclui as instalações, os equipamentos e o mobiliário destinados a seu uso e
gozo.
Art. 1.358-E. Cada fração de tempo é indivisível.
§ 1º O período correspondente a cada fração de tempo será de, no mínimo, 7 (sete)
dias, seguidos ou intercalados, e poderá ser:
I - fixo e determinado, no mesmo período de cada ano;
II - flutuante, caso em que a determinação do período será realizada de forma
periódica, mediante procedimento objetivo que respeite, em relação a todos os
multiproprietários, o princípio da isonomia, devendo ser previamente divulgado;
ou
III - misto, combinando os sistemas fixo e flutuante.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

§ 2º Todos os multiproprietários terão direito a uma mesma quantidade mínima de


dias seguidos durante o ano, podendo haver a aquisição de frações maiores que a
mínima, com o correspondente direito ao uso por períodos também maiores.

Art. 1.358-F. Institui-se a multipropriedade por ato entre vivos ou testamento,


registrado no competente cartório de registro de imóveis, devendo constar
daquele ato a duração dos períodos correspondentes a cada fração de tempo.

Art. 1.358-H. O instrumento de instituição da multipropriedade ou a convenção de


condomínio em multipropriedade poderá estabelecer o limite máximo de frações
de tempo no mesmo imóvel que poderão ser detidas pela mesma pessoa natural
ou jurídica.
Parágrafo único. Em caso de instituição da multipropriedade para posterior venda
das frações de tempo a terceiros, o atendimento a eventual limite de frações de
tempo por titular estabelecido no instrumento de instituição será obrigatório
somente após a venda das frações.

Art. 1.358-I. São direitos do multiproprietário, além daqueles previstos no


instrumento de instituição e na convenção de condomínio em multipropriedade:
I - usar e gozar, durante o período correspondente à sua fração de tempo, do imóvel
e de suas instalações, equipamentos e mobiliário;
II - ceder a fração de tempo em locação ou comodato;
III - alienar a fração de tempo, por ato entre vivos ou por causa de morte, a título
oneroso ou gratuito, ou onerá-la, devendo a alienação e a qualificação do sucessor,
ou a oneração, ser informadas ao administrador;
IV - participar e votar, pessoalmente ou por intermédio de representante ou
procurador, desde que esteja quite com as obrigações condominiais, em:
a) assembleia geral do condomínio em multipropriedade, e o voto do
multiproprietário corresponderá à quota de sua fração de tempo no imóvel;
b) assembleia geral do condomínio edilício, quando for o caso, e o voto do
multiproprietário corresponderá à quota de sua fração de tempo em relação à
quota de poder político atribuído à unidade autônoma na respectiva convenção de
condomínio edilício.

Art. 1.358-J. São obrigações do multiproprietário, além daquelas previstas no


instrumento de instituição e na convenção de condomínio em multipropriedade:
I - pagar a contribuição condominial do condomínio em multipropriedade e,
quando for o caso, do condomínio edilício, ainda que renuncie ao uso e gozo, total
197
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

ou parcial, do imóvel, das áreas comuns ou das respectivas instalações,


equipamentos e mobiliário;
II - responder por danos causados ao imóvel, às instalações, aos equipamentos e ao
mobiliário por si, por qualquer de seus acompanhantes, convidados ou prepostos
ou por pessoas por ele autorizadas;
III - comunicar imediatamente ao administrador os defeitos, avarias e vícios no
imóvel dos quais tiver ciência durante a utilização;
IV - não modificar, alterar ou substituir o mobiliário, os equipamentos e as
instalações do imóvel;
V - manter o imóvel em estado de conservação e limpeza condizente com os fins a
que se destina e com a natureza da respectiva construção;
VI - usar o imóvel, bem como suas instalações, equipamentos e mobiliário,
conforme seu destino e natureza;
VII - usar o imóvel exclusivamente durante o período correspondente à sua fração
de tempo;
VIII - desocupar o imóvel, impreterivelmente, até o dia e hora fixados no
instrumento de instituição ou na convenção de condomínio em multipropriedade,
sob pena de multa diária, conforme convencionado no instrumento pertinente;
IX - permitir a realização de obras ou reparos urgentes.
§ 1º Conforme previsão que deverá constar da respectiva convenção de
condomínio em multipropriedade, o multiproprietário estará sujeito a:
I - multa, no caso de descumprimento de qualquer de seus deveres;
II - multa progressiva e perda temporária do direito de utilização do imóvel no
período correspondente à sua fração de tempo, no caso de descumprimento
reiterado de deveres.
§ 2º A responsabilidade pelas despesas referentes a reparos no imóvel, bem como
suas instalações, equipamentos e mobiliário, será:
I - de todos os multiproprietários, quando decorrentes do uso normal e do desgaste
natural do imóvel;
II - exclusivamente do multiproprietário responsável pelo uso anormal, sem
prejuízo de multa, quando decorrentes de uso anormal do imóvel.

Art. 1.358-K. Para os efeitos do disposto nesta Seção, são equiparados aos
multiproprietários os promitentes compradores e os cessionários de direitos
relativos a cada fração de tempo.
Art. 1.358-L. A transferência do direito de multipropriedade e a sua produção de
efeitos perante terceiros dar-se-ão na forma da lei civil e não dependerão da
anuência ou cientificação dos demais multiproprietários.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

§ 1º Não haverá direito de preferência na alienação de fração de tempo, salvo se


estabelecido no instrumento de instituição ou na convenção do condomínio em
multipropriedade em favor dos demais multiproprietários ou do instituidor do
condomínio em multipropriedade.
§ 2º O adquirente será solidariamente responsável com o alienante pelas
obrigações de que trata o § 5º do art. 1.358-J deste Código caso não obtenha a
declaração de inexistência de débitos referente à fração de tempo no momento de
sua aquisição.

Art. 1.358-M. A administração do imóvel e de suas instalações, equipamentos e


mobiliário será de responsabilidade da pessoa indicada no instrumento de
instituição ou na convenção de condomínio em multipropriedade, ou, na falta de
indicação, de pessoa escolhida em assembleia geral dos condôminos.
§ 1º O administrador exercerá, além daquelas previstas no instrumento de
instituição e na convenção de condomínio em multipropriedade, as seguintes
atribuições:
I - coordenação da utilização do imóvel pelos multiproprietários durante o período
correspondente a suas respectivas frações de tempo;
II - determinação, no caso dos sistemas flutuante ou misto, dos períodos concretos
de uso e gozo exclusivos de cada multiproprietário em cada ano;
III - manutenção, conservação e limpeza do imóvel;
IV - troca ou substituição de instalações, equipamentos ou mobiliário, inclusive:
a) determinar a necessidade da troca ou substituição;
b) providenciar os orçamentos necessários para a troca ou substituição;
c) submeter os orçamentos à aprovação pela maioria simples dos condôminos em
assembleia;
V - elaboração do orçamento anual, com previsão das receitas e despesas;
VI - cobrança das quotas de custeio de responsabilidade dos multiproprietários;
VII - pagamento, por conta do condomínio edilício ou voluntário, com os fundos
comuns arrecadados, de todas as despesas comuns.
§ 2º A convenção de condomínio em multipropriedade poderá regrar de forma
diversa a atribuição prevista no inciso IV do § 1º deste artigo.

Art. 1.358-N. O instrumento de instituição poderá prever fração de tempo


destinada à realização, no imóvel e em suas instalações, em seus equipamentos e
em seu mobiliário, de reparos indispensáveis ao exercício normal do direito de
multipropriedade.
§ 1º A fração de tempo de que trata o caput deste artigo poderá ser atribuída:
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

I - ao instituidor da multipropriedade; ou
II - aos multiproprietários, proporcionalmente às respectivas frações.
§ 2º Em caso de emergência, os reparos de que trata o caput deste artigo poderão
ser feitos durante o período correspondente à fração de tempo de um dos
multiproprietários.

9. DIREITOS REAIS DE GOZO OU FRUIÇÃO

Superfície;
Servidões;
Usufruto;
Uso;
Habitação;
Concessão de uso especial para fins de moradia;
Concessão de direito real de uso.

9.1 Superfície

O proprietário concede a outrem, por tempo determinado ou indeterminado, gratuita ou


onerosamente, o direito de construir ou plantar no seu terreno, mediante escritura pública devidamente
registada no Cartório de Registro de Imóveis.

O CC/02 NÃO contempla a possibilidade de sobrelevação ou da superfície de segundo grau, que


consiste na concessão feita a terceiro, pelo superficiário, de construir sobre a sua propriedade superficiária.
No entanto, a doutrina admite o direito de superfície de segundo grau.
A propriedade superficiária pode ser autonomamente objeto de direitos reais de gozo e garantia,
cujo prazo não exceda a duração da concessão do direito real de garantia.

São partes:
Proprietário
Superficiário.

Considerações:
O direito de superfície NÃO autoriza obras no subsolo, salvo se a utilização for inerente à concessão.
É possível hipotecar (e adquirir por usucapião) o direito do superficiário pelo prazo de vigência do
direito real.
O superficiário deve zelar pelo imóvel como se fosse seu.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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Direito de superfície do CC/02 Direito de Superfície dos Estatuto das Cidades


- Imóvel urbano ou rural - Imóvel urbano
- Exploração restrita: construção e plantações - Exploração ampla: qualquer utilização de acordo
com a política urbana
- Em regra, NÃO há autorização para utilização - Em regra, é possível utilizar o subsolo ou o espaço
do subsolo e espaço aéreo aéreo
- Cessão somente por prazo determinado - Cessão por prazo determinado ou indeterminado

Caiu na prova Delegado PCRO (2022) Se uma pessoa, por meio de escritura pública devidamente registrada
no cartório de registro de imóveis, conceder a outra o direito de construir em seu terreno, caracteriza-se o
direito de superfície. (item correto). Superfície - CC, art. 1.369. O proprietário pode conceder a outrem o
direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura pública
devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóvel

9.2 Servidões

É direito real sobre imóvel, em virtude do qual se impõe uma restrição a um prédio (serviente) para
uso e utilidade de outro pertencente a dono diverso (dominante). Constitui-se mediante declaração expressa
dos proprietários, ou por testamento, e subsequente registro no Cartório de Registro de Imóveis.

a) Características:
É relação entre dois prédios distintos, em que se estabelece ônus ou encargo;
Os prédios devem pertencer a donos diversos;
As servidões servem à coisa, e não ao dono;
É indivisível;
Inalienável;
Pode importar uma abstenção, um suportar ou um fazer;
Em caso de incômodo pelo dono do prédio serviente, o dono do prédio dominante poderá fazer uso
das ações possessórias.

b) Modos de aquisição:
Negócio jurídico inter vivos ou mortis causa;
Destinação do proprietário;
Sentença judicial.
Usucapião;

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Obs.: O exercício incontestado e contínuo de uma servidão aparente, por dez anos, nos
termos do art. 1.242 do Código Civil, autoriza o interessado a registrá-la em seu nome no
registro de imóveis, valendo-lhe como título a sentença que julgar consumado a usucapião.
Se o possuidor não tiver título, o prazo da usucapião será de vinte anos.

c) Extinção das servidões:


· Desapropriação;
Renúncia;
Fim da utilidade ou comodidade;
Resgate;
Reunião dos prédios no domínio da mesma pessoa;
Supressão das obras;
Não uso, por 10 anos contínuos.

d) Classificações:

I) quanto à natureza dos prédios:


Servidão rústica: fora da área urbana;
Servidão urbana.

II) quanto à conduta das partes:


Servidão positiva: Consiste em fazer algo. Ex: Servidão de passagem ou de trânsito;
Servidão negativa: Ato omissivo ou abstenção. Ex: Servidão de não construir.

III) quanto ao modo de exercício:


Servidão contínua: exercida independente de ato humano;
Servidão descontínua: depende de atuação humana.

IV) Quanto à forma de exteriorização:


Servidão aparente: Evidenciada no plano real e concreto. Ex: Servidão de passagem;
Servidão não aparente: NÃO revelada no plano exterior. Ex: Servidão de não construir.

* ATENÇÃO: Passagem forçada x servidão

PASSAGEM FORÇADA SERVIDÃO


- Direito de vizinhança - Direito real de gozo ou fruição

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- Obrigatória - Facultativa
- Pagamento obrigatório de indenização - Pagamento de indenização se as partes acordarem
- Imóvel sem saída (não há outras opções) - Há outras opções
- Medida judicial cabível: Ação de passagem - Medida judicial cabível: Ação
forçada

9.3 Usufruto

É o direito rela de gozo ou fruição. Pode recair em um ou mais bens, móveis ou imóveis, em um
patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo os frutos e utilidades.

a) Partes envolvidas:
Usufrutuário: Tem direito à posse, uso, administração e percepção dos frutos. Tem os atributos de:
· Usar;
· Fruir.

Nu-proprietário: Tem os atributos de:


· Reivindicar;
· Dispor da coisa.

Questões relevantes:
Somente o usufrutuário pode locar o imóvel objeto de usufruto (gozar e fruir);
Apenas o usufrutuário pode usar a coisa;
Apenas o nu-proprietário pode vender o bem;
Apenas o nu-proprietário pode ingressar com ação reivindicatória da coisa dada em usufruto;
Usufrutuário e nu-proprietário podem ingressar com ação possessória.
O usufruto de imóveis, quando não resulte de usucapião, constituir-se-á mediante registro no
Cartório de Registro de Imóveis.
Não se pode transferir o usufruto por alienação; mas o seu exercício pode ceder-se por título gratuito
ou oneroso.
O usufrutuário não é obrigado a pagar as deteriorações resultantes do exercício regular do usufruto.

b) Classificação

I) quanto ao modo de instituição (origem):


Usufruto legal: Decorre da lei, sendo desnecessário o registro. Ex: Usufruto dos pais sobre os bens
dos filhos menores.
Usufruto voluntário ou convencional: Pode ter origem em testamento ou contrato.
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Se decorrer de contrato:
Usufruto por alienação: O proprietário concede o usufruto a terceiro e fica com a nua-
propriedade;
Usufruto por retenção: O proprietário reserva para si o usufruto e transfere a nua-
propriedade a um terceiro;
Usufruto misto: Decorre da usucapião;
Usufruto judicial: Ocorre na execução, desde que menos gravoso ao executado e eficiente
para o recebimento do crédito.

II) quanto ao objeto:


Usufruto próprio: Bens infungíveis e consumíveis;
Usufruto impróprio (quase usufruto): Bens fungíveis e consumíveis.

III) quanto à extensão:


Usufruto total ou pleno: Abrange todos os acessórios da coisa;
Usufruto parcial ou restrito.

IV) quanto à duração:


Usufrutuário ou a termo: É fixado um prazo de duração.
Usufruto vitalício: A morte do nu-proprietário NÃO extingue o usufruto.

OBS: O usufruto é inalienável e impenhorável, mas o STJ admite a penhora dos frutos.

c) Extinção:
Renúncia do usufrutuário;
Morte do usufrutuário;
Termo final de sua duração;
Extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o usufruto foi constituído, ou, se ela perdurar, pelo
decurso de 30 anos da data em que se começou a exercer;
Cessação do motivo de que se origina;
Destruição da coisa;
Quando se confundem a qualidades de usufrutuário e proprietário;
Por culpa do usufrutuário, quando aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, ou quando, no
usufruto de títulos de crédito, não dá às importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo
único do art. 1.395;
Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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SEMANA 10/18

9.4 Uso ( = Usufruto Anão, Nanico Ou Reduzido)

É o direito de usar a coisa móvel ou imóvel, podendo o usuário perceber frutos dentro dos limites
das necessidades pessoais suas e se dua família.
Pode ser gratuito ou oneroso;
Pode ser constituído por ato inter vivos ou mortis causa.
Há apenas o direito de usar a coisa, seja móvel ou imóvel;
Direito personalíssimo.

9.5 Habitação

Consiste em utilizar gratuitamente imóvel alheio para fim de moradia. Portanto, é cedida apenas
parte do atributo de usar.
O titular NÃO pode alugar ou emprestar, só pode ocupar o imóvel com a família.
Direito personalíssimo;
O imóvel é impenhorável;
Temporário;
Pode recair sobre o imóvel ou parte dele;
Caso haja mais de um titular, qualquer um pode habitar a casa sem pagar aluguel ao outro.

Caiu na prova Delegado PC-RR (2022) Acerca do usufruto, uso e habitação, é correto afirmar: a percepção
dos frutos da coisa é livre pelo usufrutuário, limitadamente às necessidades do usuário e de sua família pelo
usuário e vedada ao titular do direito de habitação. (item correto).

Letra de lei! Da Habitação

Art. 1.414. Quando o uso consistir no direito de habitar gratuitamente casa alheia, o titular deste direito não
a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la com sua família.

10. DIREITOS REAIS DE GARANTIA:

Um bem garante a dívida por vínculo real. Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca,
o bem dado em garantia fica sujeito, por vínculo real, ao cumprimento da obrigação.

a) Características (PISE):

Preferência: O credor hipotecário e o pignoratício têm preferência no pagamento a outros credores,


observado, quanto á hipoteca, a prioridade no registro.
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SEMANA 10/18

Indivisibilidade: O pagamento de uma ou mais prestações da dívida NÃO importa exoneração da


garantia, SALVO disposição expressa no título ou na quitação.

Sequela: Para onde o bem vai, o direito real de garantia o acompanha;

Excussão: O credor pignoratício e o hipotecário têm direito a excutir a coisa. Com isso, o credor pode
ingressar com ação de execução pignoratícia ou hipotecária para promover a alienação judicial da
coisa garantida, visando a receber o seu crédito que tem garantia. O credor anticrético não possui
tal direito, podendo apenas reter o bem em seu poder enquanto a dívida não for paga.

b) Requisitos:

Subjetivos: Somente quem é proprietário poderá oferecer o bem em garantia real. Se proprietário
casado, requer outorga conjugal, SALVO separação absoluta de bens.

Objetivos: Consuntibilidade jurídica O bem oferecido em penhor, hipoteca ou anticrese deverá ser
alienável.

c) Requisitos específicos (art. 1.424, CC):


Valor do crédito, estimação, seu valor máximo;
Prazo para pagamento da dívida;
Taxa de juros;
Bem dado em garantia.

Art. 1.424. Os contratos de penhor, anticrese ou hipoteca declararão, sob pena de


não terem eficácia:
I - o valor do crédito, sua estimação, ou valor máximo;
II - o prazo fixado para pagamento;
III - a taxa dos juros, se houver;
IV - o bem dado em garantia com as suas especificações.

* ATENÇÃO: Ausência dos requisitos => Ineficácia perante terceiros.

É nula a cláusula que autoriza o credor pignoratício, anticrético ou hipotecário a ficar com o objeto
da garantia, se a dívida não for paga no vencimento. Após o vencimento, poderá o devedor dar a coisa em
pagamento da dívida.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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10.1 Penhor

Garantia constituída sobre bens móveis, ocorrendo a transferência da posse do bem do devedor ao
credor, em regra. Às vezes, o penhor NÃO recairá sobre coisa móvel, bem como as coisas empenhadas
continuam no poder do devedor nos seguintes casos:

Penhor rural;
Penhor industrial; O devedor deve guardar e conservar a coisa
Penhora Mercantil;
Penhor de veículos.

a) Partes do penhor:
Devedor pignoratício: Dá a coisa em garantia;
Credor pignoratício: Tem o crédito e o direito real de garantia.

* ATENÇÃO: A instituição do penhor será efetivada por instrumento público ou particular. Se instrumento
particular, deve ser levado a registro no cartório de títulos e documentos. Se não houver o registro, a
eficácia será inter partes.

b) Tipos de penhor:

I. Penhor legal (arts. 1462-1472, CC/02);


II. Penhor Convencional ou comum: Transmissão de posse do devedor ao credor;
III. Convencional Especial: Possui algumas espécies

Penhor rural: Constitui-se sobre imóveis, por instrumento público ou particular, registrado no
cartório de registro de imóveis.
O credor poderá emitir cédula rural pignoratícia;
Modalidades:
Penhor agrícola: Prazo de 03 anos. O segundo penhor terá preferência sobre o
primeiro;
Penhor pecuário: Prazo de 04 anos.
Penhor industrial e mercantil;
Penhor de direito e títulos de crédito;
Penhor de veículos: prazo de 02 anos.

* ATENÇÃO: Enquanto não cancelado o penhor, ele terá eficácia erga omnes.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

c) Extinção do penhor

Extinção da obrigação;
Renúncia do credor;
Confusão;
Adjudicação judicial, remissão ou venda da coisa empenhada.

10.2 Hipoteca

Recai sobre bens imóveis, NÃO havendo transmissão da posse das coisas entre as partes. Assim, um
bem imóvel remanesce em poder do devedor ou de terceiro, assegurando preferencialmente ao credor o
pagamento de uma dívida.

a) Partes na hipoteca:
Devedor hipotecante;
Credor hipotecário.
Súmula 308-STJ: A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro,
anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem
eficácia perante os adquirentes do imóvel.

* ATENÇÃO: A hipoteca deve ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis do local do imóvel, ou no
de cada um deles, se o título de referir a mais de um bem.

b) Objeto da hipoteca:
Bens imóveis e acessórios dos imóveis;
Domínio direto;
Domínio útil;
Estradas de ferro, devendo as hipotecas serem registradas no município da estação inicial da
respectiva linha;
Jazidas, minas, energia hidráulica, monumentos arqueológicos;
Navios;
Aeronaves;
Direito de uso especial para fins de moradia;
Direito real de uso;
Propriedade superficiária.

Obs.1: É admitida a sub-hipoteca e o fracionamento, se o imóvel dado em garantia for loteado.


208
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Obs.2: É nula a cláusula que proíbe ao proprietário alienar imóvel hipotecado.

c) Classificação:

I) Convencional:
Comum: Recai sobre imóvel ou sobre recursos minerais;
Especial: Quando se trata de bens diversos de imóveis.

* ATENÇÃO PEREMPÇÃO DA HIPOTECA CONVENCIONAL: É a extinção pelo decurso do prazo máximo de


30 anos, a contar da data da instituição por negócio jurídico (art. 1485).

II) Legal: Prevista nos arts. 1489-1498, do CC/02.

III) Judicial: Prevista no art. 495, do CPC:

Art. 495. A decisão que condenar o réu ao pagamento de prestação consistente


em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de fazer, de não fazer ou
de dar coisa em prestação pecuniária valerão como título constitutivo de hipoteca
judiciária.

IV) Cedular: Prevista no art. 1486 do CC:


Art. 1.486. Podem o credor e o devedor, no ato constitutivo da hipoteca, autorizar
a emissão da correspondente cédula hipotecária, na forma e para os fins previstos
em lei especial.

d) Extinção da hipoteca:
Pelo implemento da condição resolutiva;
Com a averbação, no cartório de registro de imóveis, do cancelamento do registro, à vista da
respectiva prova.
Desapropriação;
Usucapião: Extingue qualquer vínculo real, por ser forma originária de aquisição da propriedade;
Confusão: O credor passa a ser proprietário do imóvel
Perempção do direito hipotecário: após 30 anos sem a execução da hipoteca ou sem o seu
cancelamento, perderá efeito.
Pelo perecimento da coisa
Pela renúncia do credor
Pela remição
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Pela arrematação ou adjudicação.

* ATENÇÃO: SÚMULA 308 DO STJ A hipoteca firmada entre a construtora e o agente


financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem
eficácia perante os adquirentes.

10.3 Anticrese

Um imóvel dado em garantia é transmitido do devedor, ou por terceiro, ao credor, podendo este
retirar da coisa os frutos e rendimentos para pagamento da dívida.

a) Partes:
Devedor anticrético;
Credor anticrétido

O imóvel dado em anticrese pode ser hipotecado a terceiros, assim como o imóvel hipotecado pode
ser dado em anticrese.

O adquirente dos bens dados em anticrese poderá remi-los, antes do vencimento da dívida, pagando
a sua totalidade à data do pedido de remição e imitir-se-á, se for o caso, na sua posse.

ATENÇÃO: DIREITO DE LAJE Com a Lei nº 13.465/2017, o CC/02 foi alterado para prever o direito de laje.
Trata-se do famoso puxadinho, construção improvisada, geralmente sem autorização do poder público,
realizada acima da propriedade de terceiro, com a sua autorização.
Sugerimos a leitura: https://jus.com.br/artigos/54931/direito-real-de-laje-primeiras-impressoes

Art. 1.510-A. O proprietário de uma construção-base poderá ceder a superfície


superior ou inferior de sua construção a fim de que o titular da laje mantenha
unidade distinta daquela originalmente construída sobre o solo. (Incluído pela Lei
nº 13.465, de 2017)
§ 1º O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o subsolo de terrenos
públicos ou privados, tomados em projeção vertical, como unidade imobiliária
autônoma, não contemplando as demais áreas edificadas ou não pertencentes ao
proprietário da construção-base. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 2º O titular do direito real de laje responderá pelos encargos e tributos que
incidirem sobre a sua unidade. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 3º Os titulares da laje, unidade imobiliária autônoma constituída em matrícula
própria, poderão dela usar, gozar e dispor. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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§ 4º A instituição do direito real de laje não implica a atribuição de fração ideal de


terreno ao titular da laje ou a participação proporcional em áreas já edificadas.
(Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 5º Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor sobre posturas edilícias e
urbanísticas associadas ao direito real de laje. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 6º O titular da laje poderá ceder a superfície de sua construção para a instituição
de um sucessivo direito real de laje, desde que haja autorização expressa dos
titulares da construção-base e das demais lajes, respeitadas as posturas edilícias e
urbanísticas vigentes. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)

Art. 1.510-B. É expressamente vedado ao titular da laje prejudicar com obras novas
ou com falta de reparação a segurança, a linha arquitetônica ou o arranjo estético
do edifício, observadas as posturas previstas em legislação local. (Incluído pela Lei
nº 13.465, de 2017)

Art. 1.510-C. Sem prejuízo, no que couber, das normas aplicáveis aos condomínios
edilícios, para fins do direito real de laje, as despesas necessárias à conservação e
fruição das partes que sirvam a todo o edifício e ao pagamento de serviços de
interesse comum serão partilhadas entre o proprietário da construção-base e o
titular da laje, na proporção que venha a ser estipulada em contrato. (Incluído
pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 1º São partes que servem a todo o edifício: (Incluído pela Lei nº 13.465, de
2017)
I - os alicerces, colunas, pilares, paredes-mestras e todas as partes restantes que
constituam a estrutura do prédio; (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
II - o telhado ou os terraços de cobertura, ainda que destinados ao uso exclusivo do
titular da laje; Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
III - as instalações gerais de água, esgoto, eletricidade, aquecimento, ar
condicionado, gás, comunicações e semelhantes que sirvam a todo o edifício; e
(Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
IV - em geral, as coisas que sejam afetadas ao uso de todo o edifício. (Incluído pela
Lei nº 13.465, de 2017)
§ 2º É assegurado, em qualquer caso, o direito de qualquer interessado em
promover reparações urgentes na construção na forma do parágrafo único do art.
249 deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)

Art. 1.510-D. Em caso de alienação de qualquer das unidades sobrepostas, terão


direito de preferência, em igualdade de condições com terceiros, os titulares da
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

construção-base e da laje, nessa ordem, que serão cientificados por escrito para
que se manifestem no prazo de trinta dias, salvo se o contrato dispuser de modo
diverso. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 1º O titular da construção-base ou da laje a quem não se der conhecimento da
alienação poderá, mediante depósito do respectivo preço, haver para si a parte
alienada a terceiros, se o requerer no prazo decadencial de cento e oitenta dias,
contado da data de alienação. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 2º Se houver mais de uma laje, terá preferência, sucessivamente, o titular das
lajes ascendentes e o titular das lajes descendentes, assegurada a prioridade para
a laje mais próxima à unidade sobreposta a ser alienada. (Incluído pela Lei nº
13.465, de 2017)
Art. 1.510-E. A ruína da construção-base implica extinção do direito real de laje,
salvo: (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
I - se este tiver sido instituído sobre o subsolo; (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
II - se a construção-base não for reconstruída no prazo de cinco anos. (Incluído pela
Lei nº 13.465, de 2017)
Parágrafo único. O disposto neste artigo não afasta o direito a eventual reparação
civil contra o culpado pela ruína. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)

212
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META 4

DIREITO PROCESSUAL CIVIL: TUTELA DE URGÊNCIA

1. TUTELA PROVISÓRIA

São fundadas em cognição sumária, não definitivas.


Segundo Daniel Amorim Assumpção Neves, a tutela provisória é proferida mediante cognição
sumária, ou seja, o juiz, ao concedê-la, ainda não tem acesso a todos os elementos de convicção a respeito
da controvérsia jurídica. Excepcionalmente, entretanto, essa espécie de tutela poderá ser concedida
mediante cognição exauriente, quando o juiz a concede em sentença.

Tutelas provisórias são tutelas jurisdicionais não definitivas, fundadas em cognição


sumária (isto é, fundadas em um exame menos profundo da causa, capaz de levar
à prolação de decisões baseadas em juízo de probabilidade e não de certeza).
Podem fundar-se em urgência ou em evidência (daí por que se falar em tutela de
urgência e em tutela da evidência

Dividida em:

Tutelas de urgência
Antecipadas: Possuem cunho satisfativo;
Cautelares: meramente preventivas.
Tutelas de evidência.

a) Efetivação da tutela provisória: O Juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para a
efetivação da tutela provisória. Segundo o art. 297, do NCPC, a efetivação da tutela provisória é realizada
pelo cumprimento provisório de sentença.

b) Provisoriedade: Segundo o art. 297, do CPC, o Juiz poderá determinar as medidas que considerar
adequadas para a efetivação da tutela provisória. Ademais, deve ser confirmada, se concedida
provisoriamente. Se em sentença não houver manifestação expressa, o status da tutela provisória dependerá
do conteúdo da sentença:
Se procedente o pedido do autor: A tutela provisória terá sido implicitamente confirmada;
Se improcedente o pleito autoral, ou extinto o processo sem resolução do mérito: revogação implícita
da tutela antecipada.

213
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

c) Tutela provisória e agravo de instrumento: Se deferida ou indeferida tutela provisória por decisão
interlocutória agravada, diante da superveniência de sentença, entende Daniel Assumpção que o recurso
perde o objeto com a sentença, ainda que o julgamento do agravo de instrumento seja superveniente à
sentença.

d) Competência:

Art. 299. A tutela provisória será requerida ao juízo da causa e, quando


antecedente, ao juízo competente para conhecer do pedido principal.
Parágrafo único. Ressalvada disposição especial, na ação de competência originária
de tribunal e nos recursos a tutela provisória será requerida ao órgão jurisdicional
competente para apreciar o mérito.

2. TUTELAS DE URGENCIA

2.1. Requisitos

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.

Probabilidade do DIREITO;
Perigo de dano ou resultado útil ao processo.

2.2. Algumas regras

A tutela antecipada NÃO pode ser concedida se houver risco de irreversibilidade dos efeitos da
decisão.
Pode ser exigida a caução do autor em qualquer das tutelas de urgência.

2.3. Tutela antecipada genérica

a) Requisito Negativo Irreversibilidade: NÃO se concederá a antecipação de tutela se houver perigo de


irreversibilidade dos efeitos da decisão.

ATENÇÃO!

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Enunciado 419 do FPPC: Não é absoluta a regra que proíbe a tutela provisória com
efeitos irreversíveis.

necessidade de impedir que uma decisão provisória produza efeitos definitivos.


Casos há, porém, em que se estará diante da situação conhecida como de
irreversibilidade recíproca. Consiste isso na hipótese em que o juiz verifica que a
concessão da medida produziria efeitos irreversíveis, mas sua denegação também

b) Legitimação:

Se houver pedido de tutela antecipada em caráter antecedente: o legitimado é o autor do pedido;


Se pedido incidental, no curso do processo: autor e réu podem formular o pedido.

I. Tutela antecipada em caráter antecedente

a) Procedimento: Conforme art. 303 do NCPC, quando a urgência for contemporânea à propositura da ação,
a petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final,
com exposição da lide. NÃO se trata de uma petição inicial, mas de um requerimento inicial voltado
exclusivamente à tutela de urgência pretendida:

Art. 303. Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a
petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação
do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar
e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.

ATENÇÃO:

Note que o autor deverá indicar na petição inicial que pretende se valer do benefício do art. 303 (art. 303,
§5º, NCPC).

A partir daí, abrem-se duas possibilidades:

Se indeferido o pedido: caberá ao autor emendar a petição inicial em até 05 (cinco) dias, sob pena
de ser indeferida e o processo ser extinto sem resolução do mérito;
Se a tutela antecipada for concedida: o autor deverá aditar a petição inicial, com complementação
da sua argumentação, juntada de novos documentos e confirmação do pedido de tutela final, em 15
(quinze) dias:
215
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Art. 303, § 1o. Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste artigo:
I - o autor deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua
argumentação, a juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de
tutela final, em 15 (quinze) dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar;
II - o réu será citado e intimado para a audiência de conciliação ou de mediação na
forma do art. 334;
III - não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado na forma
do art. 335.
§ 2o Não realizado o aditamento a que se refere o inciso I do § 1o deste artigo, o
processo será extinto sem resolução do mérito.
§ 3o O aditamento a que se refere o inciso I do § 1o deste artigo dar-se-á nos
mesmos autos, sem incidência de novas custas processuais.

b) Estabilização da tutela: Conforme art. 304, do NCPC, a tutela antecipada concedida de forma antecedente
se estabiliza se não for interposto pelo réu recurso contra a decisão concessiva da tutela antecipada.

Art. 304. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se
da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso.
§ 1º No caso previsto no caput, o processo será extinto.
§ 2º Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever, reformar
ou invalidar a tutela antecipada estabilizada nos termos do caput.
§ 3º A tutela antecipada conservará seus efeitos enquanto não revista, reformada
ou invalidada por decisão de mérito proferida na ação de que trata o § 2o.
§ 4º Qualquer das partes poderá requerer o desarquivamento dos autos em que foi
concedida a medida, para instruir a petição inicial da ação a que se refere o § 2o,
prevento o juízo em que a tutela antecipada foi concedida.
§ 5º O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, previsto no § 2º
deste artigo, extingue-se após 2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que
extinguiu o processo, nos termos do § 1º.
§ 6º A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a estabilidade dos
respectivos efeitos só será afastada por decisão que a revir, reformar ou invalidar,
proferida em ação ajuizada por uma das partes, nos termos do § 2o deste artigo.

Com a estabilização da tutela, o processo será extinto sem resolução do mérito (art. 304, §1º,
NCPC), e a tutela outrora concedida continua produzindo efeitos enquanto não revista, reformada ou
invalidada. Essa reforma pode ocorrer mediante uma ação autônoma com pedido de revisão, reforma ou
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

invalidação da decisão estabilizada, a ser demandada no prazo decadencial de 02 (dois) anos por qualquer
das partes prejudicadas (art. 304, §2º, NCPC).

ATENÇÃO!

Decisões relevantes do STJ sobre o tema:

A contestação tem força de impedir a estabilização da tutela antecipada


antecedente (art. 303 do CPC) ou somente a interposição de recurso, conforme
prevê a redação do art. 304? Há divergência entre a 1ª e a 3ª Turma:

PROCESSUAL CIVIL. ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA CONCEDIDA EM


CARÁTER ANTECEDENTE. ARTS. 303 E 304 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
NÃO INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRECLUSÃO. APRESENTAÇÃO
DE CONTESTAÇÃO. IRRELEVÂNCIA.
I - Nos termos do disposto no art. 304 do Código de Processo Civil de 2015, a tutela
antecipada, deferida em caráter antecedente (art.
303), estabilizar-se-á, quando não interposto o respectivo recurso.
II - Os meios de defesa possuem finalidades específicas: a contestação demonstra
resistência em relação à tutela exauriente, enquanto o agravo de instrumento
possibilita a revisão da decisão proferida em cognição sumária. Institutos
inconfundíveis.
III - A ausência de impugnação da decisão mediante a qual deferida a antecipação
da tutela em caráter antecedente, tornará, indubitavelmente, preclusa a
possibilidade de sua revisão.
IV - A apresentação de contestação não tem o condão de afastar a preclusão
decorrente da não utilização do instrumento proessual adequado - o agravo de
instrumento.
V - Recurso especial provido.
(REsp 1797365/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, Rel. p/ Acórdão Ministra REGINA
HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 03/10/2019, DJe 22/10/2019)

RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM CARÁTER


ANTECEDENTE. ARTS. 303 E 304 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. JUÍZO DE
PRIMEIRO GRAU QUE REVOGOU A DECISÃO CONCESSIVA DA TUTELA, APÓS A
APRESENTAÇÃO DA CONTESTAÇÃO PELO RÉU, A DESPEITO DA AUSÊNCIA DE
INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRETENDIDA ESTABILIZAÇÃO DA

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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TUTELA ANTECIPADA. IMPOSSIBILIDADE. EFETIVA IMPUGNAÇÃO DO RÉU.


NECESSIDADE DE PROSSEGUIMENTO DO FEITO. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
1. A controvérsia discutida neste recurso especial consiste em saber se poderia o
Juízo de primeiro grau, após analisar as razões apresentadas na contestação,
reconsiderar a decisão que havia deferido o pedido de tutela antecipada requerida
em caráter antecedente, nos termos dos arts. 303 e 304 do CPC/2015, a despeito
da ausência de interposição de recurso pela parte ré no momento oportuno.
2. O Código de Processo Civil de 2015 inovou na ordem jurídica ao trazer, além das
hipóteses até então previstas no CPC/1973, a possibilidade de concessão de tutela
antecipada requerida em caráter antecedente, a teor do que dispõe o seu art. 303,
o qual estabelece que, nos casos em que a urgência for contemporânea à
propositura da ação, a petição inicial poderá se limitar ao requerimento da tutela
antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a exposição da lide, do
direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do
processo.
2.1. Por essa nova sistemática, entendendo o juiz que não estão presentes os
requisitos para a concessão da tutela antecipada, o autor será intimado para aditar
a inicial, no prazo de até 5 (cinco) dias, sob pena de ser extinto o processo sem
resolução de mérito.
Caso concedida a tutela, o autor será intimado para aditar a petição inicial, a fim de
complementar sua argumentação, juntar novos documentos e confirmar o pedido
de tutela final. O réu, por sua vez, será citado e intimado para a audiência de
conciliação ou mediação, na forma prevista no art. 334 do CPC/2015. E, não
havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado na forma do art.
335 do referido diploma processual.
3. Uma das grandes novidades trazidas pelo novo Código de Processo Civil é a
possibilidade de estabilização da tutela antecipada requerida em caráter
antecedente, instituto inspirado no référé do Direito francês, que serve para
abarcar aquelas situações em que ambas as partes se contentam com a simples
tutela antecipada, não havendo necessidade, portanto, de se prosseguir com o
processo até uma decisão final (sentença), nos termos do que estabelece o art.
304, §§ 1º a 6º, do CPC/2015.
3.1. Segundo os dispositivos legais correspondentes, não havendo recurso do
deferimento da tutela antecipada requerida em caráter antecedente, a referida
decisão será estabilizada e o processo será extinto, sem resolução de mérito. No
prazo de 2 (dois) anos, porém, contado da ciência da decisão que extinguiu o
processo, as partes poderão pleitear, perante o mesmo Juízo que proferiu a

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

decisão, a revisão, reforma ou invalidação da tutela antecipada estabilizada,


devendo se valer de ação autônoma para esse fim.
3.2. É de se observar, porém, que, embora o caput do art. 304 do CPC/2015
determine que "a tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se
estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso", a
leitura que deve ser feita do dispositivo legal, tomando como base uma
interpretação sistemática e teleológica do instituto, é que a estabilização somente
ocorrerá se não houver qualquer tipo de impugnação pela parte contrária, sob pena
de se estimular a interposição de agravos de instrumento, sobrecarregando
desnecessariamente os Tribunais, além do ajuizamento da ação autônoma, prevista
no art. 304, § 2º, do CPC/2015, a fim de rever, reformar ou invalidar a tutela
antecipada estabilizada.
4. Na hipótese dos autos, conquanto não tenha havido a interposição de agravo de
instrumento contra a decisão que deferiu o pedido de antecipação dos efeitos da
tutela requerida em caráter antecedente, na forma do art. 303 do CPC/2015, a ré
se antecipou e apresentou contestação, na qual pleiteou, inclusive, a revogação da
tutela provisória concedida, sob o argumento de ser impossível o seu cumprimento,
razão pela qual não há que se falar em estabilização da tutela antecipada, devendo,
por isso, o feito prosseguir normalmente até a prolação da sentença.
5. Recurso especial desprovido.
(REsp 1760966/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
julgado em 04/12/2018, DJe 07/12/2018)

II. Tutela antecipada em caráter incidental: Pode ser concedida a qualquer momento do processo, inclusive
antes mesmo da citação do réu (inaudita altera parte).

É possível conceder a tutela antecipada em sentença, desde que haja prévio requerimento da parte.
A concessão da tutela antecipada em sentença se revela útil, sobretudo nos casos que desafiam recurso SEM
efeito suspensivo. Se concedida a tutela antecipada em sentença, o art. 1.013, §5º, do NCPC prevê
expressamente que o capítulo de sentença que confirma, concede ou revoga a tutela antecipada é
impugnável por apelação.

ATENÇÃO!

Segundo decidiu o STJ, o ressarcimento dos prejuízos advindos com o deferimento da tutela
provisória posteriormente revogada por sentença que extingue o processo sem resolução de mérito,
sempre que possível, deverá ser liquidado nos próprios autos:

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. DESISTÊNCIA DA DEMANDA


APÓS A CONCESSÃO DA TUTELA PROVISÓRIA. EXTINÇÃO DO FEITO, SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA FORMULADO PELA PARTE
RÉ PLEITEANDO O RESSARCIMENTO DOS VALORES DESPENDIDOS EM RAZÃO DO
DEFERIMENTO DA TUTELA PROVISÓRIA. CABIMENTO. DESNECESSIDADE DE
PRONUNCIAMENTO JUDICIAL PRÉVIO NESSE SENTIDO. OBRIGAÇÃO EX LEGE.
INDENIZAÇÃO QUE DEVERÁ SER LIQUIDADA NOS PRÓPRIOS AUTOS. ARTS. 302,
CAPUT, INCISO III E PARÁGRAFO ÚNICO, E 309, INCISO III, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL DE 2015. REFORMA DO ACÓRDÃO RECORRIDO QUE SE IMPÕE. RECURSO
PROVIDO.
1. A questão jurídica discutida consiste em definir se é possível proceder à
execução, nos próprios autos, objetivando o ressarcimento de valores despendidos
a título de tutela antecipada, posteriormente revogada em virtude de sentença que
extingue o processo, sem resolução de mérito, por haver a autora desistido da ação.
2. O Código de Processo Civil de 2015, seguindo a mesma linha do CPC/1973,
adotou a teoria do risco-proveito, ao estabelecer que o beneficiado com o
deferimento da tutela provisória deverá arcar com os prejuízos causados à parte
adversa, sempre que: i) a sentença lhe for desfavorável; ii) a parte requerente não
fornecer meios para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias, caso a tutela
seja deferida liminarmente; iii) ocorrer a cessação da eficácia da medida em
qualquer hipótese legal; ou iv) o juiz acolher a decadência ou prescrição da
pretensão do autor (CPC/2015, art. 302, caput e incisos I a IV).
3. Em relação à forma de se buscar o ressarcimento dos prejuízos advindos com o
deferimento da tutela provisória, o parágrafo único do art. 302 do CPC/2015 é claro
ao estabelecer que "a indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver
sido concedida, sempre que possível", dispensando-se, assim, o ajuizamento de
ação autônoma para esse fim.
4. Com efeito, a obrigação de indenizar a parte adversa dos prejuízos advindos com
o deferimento da tutela provisória posteriormente revogada é decorrência ex lege
da sentença de improcedência ou de extinção do feito sem resolução de mérito,
como no caso, sendo dispensável, portanto, pronunciamento judicial a esse
respeito, devendo o respectivo valor ser liquidado nos próprios autos em que a
medida tiver sido concedida, em obediência, inclusive, aos princípios da celeridade
e economia processual.
5. Recurso especial provido.
(REsp 1770124/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
julgado em 21/05/2019, DJe 24/05/2019)

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

2.4. Tutela antecipada contra a Fazenda Pública:

É possível a concessão de tutela antecipada contra a Fazenda Pública. Inclusive, mesmo nas obrigações
de pagar quantia certa, excepcionalmente o STJ tem admitido a tutela antecipada em caso de fornecimento
de medicamentos não entregues pelo Estado, inclusive com bloqueio de verbas públicas.
Em algumas hipóteses, são vedadas as tutelas antecipadas contra a Fazenda Pública, a saber:

Lei nº 9.494/97: Prevê uma série de restrições para a concessão de liminares e cautelares.
Não podem ser deferidas:

Concessão de liminares e cautelares em mandado de segurança contra a Fazenda


Pública;
Reclassificação ou equiparação de servidores públicos, ou concessão de aumentos
ou extensão de vantagens para pagamentos de vencimentos e vantagens pecuniárias.

Lei nº 8.437/97:

Art. 1° Não será cabível medida liminar contra atos do Poder Público, no
procedimento cautelar ou em quaisquer outras ações de natureza cautelar ou
preventiva, toda vez que providência semelhante não puder ser concedida em
ações de mandado de segurança, em virtude de vedação legal.
§ 1° Não será cabível, no juízo de primeiro grau, medida cautelar inominada ou a
sua liminar, quando impugnado ato de autoridade sujeita, na via de mandado de
segurança, à competência originária de tribunal.
§ 2° O disposto no parágrafo anterior não se aplica aos processos de ação popular
e de ação civil pública.
§ 3° Não será cabível medida liminar que esgote, no todo ou em qualquer parte, o
objeto da ação.
§ 4° Nos casos em que cabível medida liminar, sem prejuízo da comunicação ao
dirigente do órgão ou entidade, o respectivo representante judicial dela será
imediatamente intimado.
§5oNão será cabível medida liminar que defira compensação de créditos tributários
ou previdenciários.

Lei nº 12.016/2009 (Lei do Mandado de segurança):

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Art. 7º, § 2o Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a
compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens
provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e
a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer
natureza.

2.5. Tutela antecipada cautelar

No NCPC, ocorreu a extinção do processo cautelar AUTÔNOMO, tanto que o art. 308, §1º, do NCPC
expressamente admite que o pedido principal seja formulado conjuntamente com o pedido de tutela
cautelar.

cautelares são deferidas com base em um poder cautelar geral do juiz,


não havendo no CPC (diferentemente do que se via na tradição do direito brasileiro
desde suas origens lusitanas) a previsão de medidas cautelares específicas mas, tão
somente, do poder genericamente atribuído ao magistrado de deferir medidas

tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante [qualquer


medida] idônea para asseguração do dir
(CÂMARA, Alexandre de Freitas).

a) Algumas características da tutela cautelar:

Sumariedade:

Formal: É procedimento sumarizado aplicável ao processo cautelar;


Material: Suficiência da cognição sumária desenvolvida pelo juiz para a concessão da tutela cautelar.

A tutela cautelar é concedida mediante cognição sumária, diante da mera probabilidade de o direito
material existir. Trata-se da exigência decorrente da própria urgência da tutela cautelar. O art. 300, do NCPC
prevê os mesmos requisitos para as duas espécies de tutelas de urgência (antecedente e cautelar), o que não
impede de utilizar, para o processo cautelar, a terminologia antiga do fumus boni iuris para explicar a
probabilidade de o direito alegado existir para a concessão de tutela cautelar, segundo defende Daniel
Assumpção.

Instrumentalidade: Tal espécie de tutela serve como instrumento apto a garantir que o resultado
final do processo seja eficaz, para que o resultado tenha condições materiais para gerar os efeitos

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

práticos normalmente esperados.

b) Tutela cautelar em caráter antecedente: Sendo o pedido cautelar formulado de forma antecedente, o
procedimento a ser observado dependerá do acolhimento ou rejeição do pedido:
Se acolhido o pedido e efetivada a medida cautelar: O autor terá o prazo de 30 dias para aditar a
petição inicial elaborando o seu pedido principal, sendo adotado a partir desse momento o
procedimento comum;
Se rejeitado o pedido: A conversão do processo cautelar em processo principal é uma mera
faculdade do autor, e justamente para a possibilidade de o autor continuar com sua pretensão
cautelar o NCPC prevê um procedimento cautelar.

I) Procedimento:

Petição inicial: A petição inicial deverá indicar a lide e seu fundamento, a exposição sumária do direito que
visa assegurar e o perigo da demora da prestação da tutela jurisdicional.

Resposta do réu: Segundo o art. 306, do NCPC, o réu será citado no prazo de 5 dias para contestar o pedido,
sendo aplicável o prazo em dobro quando o réu for a Fazenda Pública, Ministério Público, Defensoria Pública
e quando houver no polo passivo litisconsórcio com patronos distintos de diferentes sociedades de
advogados. Se não for contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor serão presumidos verdadeiros.

Instrução probatória: Embora no processo cautelar exista uma sumariedade, tal situação NÃO dispensa a
necessidade de instrução probatória, razão pela qual todos os meios de prova admitidos em direito podem
ser produzidos no processo cautelar.

Sentença: Se deferido o pedido de tutela cautelar formulado em caráter antecedente, há duas situações:

Se efetivada a tutela: O autor terá o prazo de 30 dias para formular o pedido principal por emenda à
petição inicial (art. 308, NCPC). Caso o autor não deduza o pedido principal dentro do prazo legal,
cessa a eficácia da medida cautelar.

Art. 308. Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser formulado pelo
autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será apresentado nos mesmos autos
em que deduzido o pedido de tutela cautelar, não dependendo do adiantamento
de novas custas processuais.
§ 1o O pedido principal pode ser formulado conjuntamente com o pedido de tutela
cautelar.

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

§ 2o A causa de pedir poderá ser aditada no momento de formulação do pedido


principal.
§ 3o Apresentado o pedido principal, as partes serão intimadas para a audiência de
conciliação ou de mediação, na forma do art. 334, por seus advogados ou
pessoalmente, sem necessidade de nova citação do réu.
§ 4o Não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado na
forma do art. 335.

Se indeferido o pedido de tutela cautelar: O processo seguirá nos termos dos arts. 305 a 307 do
NCPC, ou seja, seguirá como processo cautelar até ser sentenciado.

Art. 305. A petição inicial da ação que visa à prestação de tutela cautelar em caráter
antecedente indicará a lide e seu fundamento, a exposição sumária do direito que
se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Parágrafo único. Caso entenda que o pedido a que se refere o caput tem natureza
antecipada, o juiz observará o disposto no art. 303.
Art. 306. O réu será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o pedido e
indicar as provas que pretende produzir.
Art. 307. Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor presumir-
se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá dentro de 5
(cinco) dias.
Parágrafo único. Contestado o pedido no prazo legal, observar-se-á o
procedimento comum.

Coisa julgada material: Segundo entendimento do STJ e de parte da doutrina, há coisa julgada
material no processo cautelar. Segundo Daniel Assumpção, a existência de coisa julgada material na sentença
cautelar viria confirmada pelo art. 309, do NCPC, que impede a parte de repetir o pedido, salvo por novo
fundamento, se por qualquer motivo cessar a medida cautelar.

II) Cessação da eficácia da tutela cautelar:

Art. 309. Cessa a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente, se:


I - o autor não deduzir o pedido principal no prazo legal;
II - não for efetivada dentro de 30 (trinta) dias;
III - o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado pelo autor ou extinguir
o processo sem resolução de mérito.
Parágrafo único. Se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, é
vedado à parte renovar o pedido, salvo sob novo fundamento.
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

3. TUTELA DE EVIDÊNCIA

Já constava no art. 273, II, do CPC/73 e art. 1.102-a do CPC/73, mas ganhou projeção no NCPC. Trata-
se de tutela provisória, de natureza satisfativa, independente da urgência, sendo aplicada para os casos
em que se mostra evidente a existência do direito.

Enunciado 418 do FPPC: As tutelas provisórias de urgência e de evidência são


admissíveis no sistema dos Juizados Especiais.
Enunciado 422 do FPPC: A tutela de evidência é compatível com os procedimentos
especiais.
Enunciado 423 do FPPC: Cabe tutela de evidência recursal.

3.1. Hipóteses de cabimento

Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da


demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando:
I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito
protelatório da parte;
II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e
houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante;

Enunciado 30 da ENFAM: É possível a concessão da tutela de evidência prevista no


art. 311, II, do CPC/2015 quando a pretensão autoral estiver de acordo com
orientação firmada pelo STF em sede de controle de constitucionalidade ou com
tese prevista em súmula dos tribunais, independentemente de caráter vinculante.

III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada


do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto
custodiado, sob cominação de multa;
IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos
constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar
dúvida razoável.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir
liminarmente.

ATENÇÃO

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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Tutela de evidência atípica: O art. 311 do NCPC NÃO consegue contemplar todas as hipóteses de
cabimento da tutela de evidência, sendo criada pelo legislador a tutela de evidência atípica, prevista de forma
esparsa pelo ordenamento legal, a exemplo da concessão da liminar possessória (art. 561, NCPC), conforme
defende Daniel Assumpção.

4. PROCEDIMENTOS CAUTELARES DO CPC/73 ADAPTADOS AO CPC/2015

Alguns procedimentos cautelares nominados, originariamente previstos no CPC/73, foram suprimidos


pelo CPC/2015. Para explicar melhor o assunto, segue texto de aprofundamento, ao falar sobre arresto,
sequestro e caução.

4.1. Protesto, notificação e interpelação

4.1.1. Definição

da vontade, podendo fazer-se judicialmente ou não. Normalmente, essas medidas ostentam claro caráter de
jurisdição voluntária, em que o Judiciário é utilizado apenas como o veículo para a manifestação da intenção
do requerente. Eventualmente, porém, esses procedimentos podem assumir natureza contenciosa, impondo

Notificação (art. 726 do CPC): Quem tiver interesse em manifestar formalmente sua vontade a
outrem sobre assunto juridicamente relevante poderá notificar pessoas participantes da mesma
relação jurídica para dar-lhes ciência de seu propósito.
Se a pretensão for a de dar conhecimento geral ao público, mediante edital, o juiz só a deferirá se a
tiver por fundada e necessária ao resguardo de direito.
Interpelação: Também poderá o interessado interpelar o requerido, no caso do art. 726, para que
faça ou deixe de fazer o que o requerente entenda ser de seu direito.
Protesto: objetiva dar ciência à outra parte de que algum ato por ela praticado não é aprovado pela
parte protestante.

4.1.2. Procedimento

Art. 728. O requerido será previamente ouvido antes do deferimento da


notificação ou do respectivo edital:
I - se houver suspeita de que o requerente, por meio da notificação ou do edital,
pretende alcançar fim ilícito;
II - se tiver sido requerida a averbação da notificação em registro público.
226
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Art. 729. Deferida e realizada a notificação ou interpelação, os autos serão


entregues ao requerente.

4.2. Arresto, sequestro e caução

Embora tenham sido previstos no CPC/73 como medidas cautelares nominadas, o CPC/2015 promover
algumas alterações. Sobre o tema, trazemos o artigo:

O novo Código de Processo Civil, instituído pela lei 13.105, de 16 de março de 2015,
entrou em vigor em 18 de março de 2016, de acordo com decisão do Plenário do
Superior Tribunal de Justiça, consoante interpretação do artigo 1.045 do novo
Código: "Este Código entra em vigor após decorrido 1 (um) ano da data de sua
publicação oficial".

Em relação à disciplina das medidas cautelares, o novo Código eliminou o Livro III
Do Processo Cautelar (artigos 796 a 889 do CPC de 1973) e redistribuiu algumas
medidas cautelares ao longo do Código.

Nesse sentido, foram extintos o procedimento cautelar incidental (artigo 796, 2ª


previsão, do CPC de 1973); a figura do apensamento dos autos do procedimento
cautelar aos do principal (artigo 809 do CPC de 1973); a possibilidade de concessão
de medidas cautelares de ofício pelo juiz (artigo 797 do CPC de 1973); e as figuras
nominadas do arresto, sequestro, caução, exibição, alimentos provisionais e
arrolamento, enquanto procedimentos cautelares específicos (artigos 813 a 845 e
852 a 860, do CPC de 1973); a exigência de prova literal de dívida líquida e certa
para a concessão de medida cautelar de arresto (artigo 814, I, do CPC de 1973); a
produção antecipada de provas e o atentado, enquanto medidas cautelares (artigos
846 a 851 e 879 a 881, do CPC de 1973); os procedimentos de justificação, dos
protestos, notificações e interpelações, homologação do penhor legal e posse em
nome de nascituro, como procedimentos cautelares autônomos (artigos 861 a 878
do CPC de 1973); o procedimento do protesto e apreensão de títulos (art. 882 a
887, do CPC de 1973); as medidas provisionais, como medidas cautelares típicas,
submetidas ao procedimento cautelar comum (art. 888 do CPC de 1973).
Mediante tais alterações, a novel legislação evidenciou a tendência consistente na
retirada da autonomia do processo cautelar, transformando sua concessão em uma
técnica processual destinada à preservação do resultado útil do processo, desde
que atendidos os requisitos legalmente previstos para tanto.
227
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Sobre o tema, Daniel Amorim Assumpção Neves afirma que:

"O processo autônomo cautelar desaparece, e, como nunca houve um processo


autônomo de tutela antecipada, é possível afirmar que deixa de existir o processo
autônomo de tutela de urgência. Há tratamento diverso quanto à natureza da
tutela de urgência pretendida quando o pedido for feito de forma antecedente".

A disciplina trazida pelo atual Código instituiu o regime das tutelas provisórias em
livro próprio de número V, as quais contam com disposições gerais comuns
previstas nos artigos 294 a 299; tutela de urgência prevista nos artigos 300 a 310; e
tutela de evidência prevista no artigo 311, todos do referido diploma.

A leitura de referidos artigos evidencia, de plano, a existência de alteração


referente à desnecessidade de requerimento expresso da parte para que sejam
concedidas as denominadas tutelas provisórias.

Nesse particular, destaca-se o posicionamento de Daniel Amorim Assumpção


Neves que, em cotejo com o Código de Processo Civil revogado, afirma que:

"No Novo Código de Processo Civil não há previsão expressa condicionando a


concessão de tutela provisória de urgência a pedido expresso da parte, afastando-
se, assim, da tradição do art. 273, caput, do CPC/73. Por outro lado, também não
existe um artigo que expressamente permita a sua concessão de ofício, ainda que
em situações excepcionais, como ocorria no CPC/1973 com o art. 797".

As tutelas provisórias se dividem em tutela de evidência e tutela de urgência, as


quais, por sua vez, podem ser requeridas em caráter antecedente ou incidental
(artigo 294, parágrafo único do Código de Processo Civil vigente). Portanto, a assim
denominada tutela provisória é gênero, do qual a tutela de urgência e a tutela de
evidência são espécies.

Sob esse aspecto, cabe mencionar, que no Código de Processo Civil revogado, havia
uma divisão em relação às cautelares, tanto no que diz respeito à sua
instrumentalização como em relação às suas espécies.

228
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Vale dizer, no Código revogado, as cautelares poderiam ser autônomas ou


incidentais e nominadas (p.ex. arresto, sequestro, busca e apreensão, etc.) ou
inominadas (poder geral de cautela).

Em outros dizeres, na disciplina do Código anterior, havia procedimentos cautelares


específicos (tais como arresto, sequestro, busca e apreensão, como já mencionados
acima) e o procedimento cautelar genérico que se manifestava através do
denominado poder geral de cautela e que abarcava as cautelares atípicas, ou seja,
as inominadas.

Todavia, entende-se que, no Código de Processo Civil vigente, essa dicotomia


acabou, além de não mais serem admitidas na forma de processo autônomo, as
cautelares continuaram existindo, tendo sido, contudo, extintos os procedimentos
próprios destinados ao seu requerimento e concessão. Assim, o objetivo do Código
vigente foi unificar o regramento, criando um regime único para os casos de tutela
provisória e, em particular, para as tutelas de urgência e de evidencia.

4.3. Busca e apreensão:

O CPC/2015 também suprimiu expressamente o procedimento cautelar de busca e apreensão. No CPC


constam as seguintes previsões:

Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação


de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a
efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático
equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente.
§ 1o Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras
medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e
coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo,
caso necessário, requisitar o auxílio de força policial.
§ 2o O mandado de busca e apreensão de pessoas e coisas será cumprido por 2
(dois) oficiais de justiça, observando-se o disposto no art. 846, §§ 1o a 4o, se houver
necessidade de arrombamento.
§ 3o O executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando
injustificadamente descumprir a ordem judicial, sem prejuízo de sua
responsabilização por crime de desobediência.
§ 4o No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de
fazer ou de não fazer, aplica-se o art. 525, no que couber.
229
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

§ 5o O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento de sentença


que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza não obrigacional.

Art. 846. Se o executado fechar as portas da casa a fim de obstar a penhora dos
bens, o oficial de justiça comunicará o fato ao juiz, solicitando-lhe ordem de
arrombamento.
§ 1o Deferido o pedido, 2 (dois) oficiais de justiça cumprirão o mandado,
arrombando cômodos e móveis em que se presuma estarem os bens, e lavrarão de
tudo auto circunstanciado, que será assinado por 2 (duas) testemunhas presentes
à diligência.
§ 2o Sempre que necessário, o juiz requisitará força policial, a fim de auxiliar os
oficiais de justiça na penhora dos bens.
§ 3o Os oficiais de justiça lavrarão em duplicata o auto da ocorrência, entregando
uma via ao escrivão ou ao chefe de secretaria, para ser juntada aos autos, e a outra
à autoridade policial a quem couber a apuração criminal dos eventuais delitos de
desobediência ou de resistência.
§ 4o Do auto da ocorrência constará o rol de testemunhas, com a respectiva
qualificação.

4.4. Exibição de documentos

A exibição de documento ou coisa pode ser formulada por uma das partes contra a outra, bem como
determinada de ofício pelo juiz, caso este entenda necessário, a fim de constituir prova a favor de uma das
partes.

4.4.1. Pedido formulado pela parte:

Art. 397. O pedido formulado pela parte conterá:


I - a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa;
II - a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento
ou com a coisa;
III - as circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que o documento
ou a coisa existe e se acha em poder da parte contrária.
Art. 398. O requerido dará sua resposta nos 5 (cinco) dias subsequentes à sua
intimação.
Parágrafo único. Se o requerido afirmar que não possui o documento ou a coisa, o
juiz permitirá que o requerente prove, por qualquer meio, que a declaração não
corresponde à verdade.
230
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

4.4.2. Documento ou coisa em poder de terceiro

Quando o documento ou a coisa estiver em poder de terceiro, o juiz ordenará sua citação para
responder no prazo de 15 (quinze) dias.
Se o terceiro negar a obrigação de exibir ou a posse do documento ou da coisa, o juiz designará
audiência especial, tomando-lhe o depoimento, bem como o das partes e, se necessário, o de testemunhas,
e em seguida proferirá decisão.
Se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a efetuar a exibição, o juiz ordenar-lhe-á que proceda ao
respectivo depósito em cartório ou em outro lugar designado, no prazo de 5 (cinco) dias, impondo ao
requerente que o ressarça pelas despesas que tiver.
Se o terceiro descumprir a ordem, o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se
necessário, força policial, sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência, pagamento de multa
e outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar a
efetivação da decisão.

4.4.3. Hipóteses em que pode haver recusa em exibir os documentos:

Art. 404. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o documento ou a


coisa se:
I - concernente a negócios da própria vida da família;
II - sua apresentação puder violar dever de honra;
III - sua publicidade redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem como a seus
parentes consanguíneos ou afins até o terceiro grau, ou lhes representar perigo de
ação penal;
IV - sua exibição acarretar a divulgação de fatos a cujo respeito, por estado ou
profissão, devam guardar segredo;
V - subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz,
justifiquem a recusa da exibição;
VI - houver disposição legal que justifique a recusa da exibição.
Parágrafo único. Se os motivos de que tratam os incisos I a VI do caput disserem
respeito a apenas uma parcela do documento, a parte ou o terceiro exibirá a outra
em cartório, para dela ser extraída cópia reprográfica, de tudo sendo lavrado auto
circunstanciado.

4.4.4. Julgamento

231
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

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Julgando procedente o pedido de exibição, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que, por meio
do documento ou da coisa, a parte pretendia provar (art. 400 do CPC), mediante decisão interlocutória,
recorrível por agravo de instrumento (art. 1.015, VI, CPC/2015).

4.4.5. Medidas adotadas pelo juiz para forçar a exibição

Sendo necessário, o juiz pode adotar medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-
rogatórias para que o documento seja exibido.

4.5. Justificação

É uma medida probatória não contenciosa, que se destina a justificar um fato ou uma relação jurídica,
que devem ser especificadas na petição inicial (CPC/15, art. 381, § 5º). O resultado da justificação servirá
como simples documento ou como prova em processo judicial ou administrativo.

Referências Bibliográficas:
Daniel Amorim Assumpção Neves. Manual de Direito Processual Civil.
Mozart Borba. Diálogos sobre o novo CPC.
Alexandre Freitas Câmara. O Novo Processo Civil Brasileiro.

232
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

META 5

DIREITO EMPRESARIAL: SOCIEDADES

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 389-STJ:
certidão de assentamentos constantes dos livros da companhia é requisito de procedibilidade da ação de
exibição de documentos ajuizada em face da sociedade anônima.
Súmula 551-STJ: Nas demandas por complementação de ações de empresas de telefonia, admite-se a
condenação ao pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio independentemente de pedido
expresso. No entanto, somente quando previstos no título executivo, poderão ser objeto de cumprimento
de sentença.

1. SOCIEDADES SIMPLES X SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

Nem toda atividade econômica configura atividade empresarial, já que nesta é imprescindível o
elemento organização dos fatores de produção.
As sociedades podem ser de duas categorias:

a) Sociedade Simples: Exploram atividade econômica não empresarial. Ex: Sociedades uniprofissonais;
b) Sociedades Empresárias: Exploram atividade econômica organizada para a produção ou circulação
de bens e serviços.
O que define uma sociedade como empresária ou simples é o seu objeto social: se este for explorado
com profissionalismo e organização dos fatores de produção, será empresária. Exceções:
Sociedade por ações Será sociedade empresária;
Cooperativa Será sociedade simples.

2. TIPOS DE SOCIEDADE

2.1. Sociedades dependentes de autorização

Algumas atividades de indiscutível interesse público dependem de autorização governamental e se


submetem à fiscalização do poder público, a exemplo de atividades financeiras, seguro, saúde e educação.
Em princípio, para funcionar, essas sociedades tem o prazo de 12 meses para entrar em
funcionamento, contados da publicação da lei ou do ato administrativo autorizador, salvo se for estipulado
prazo distinto.
Concedida a autorização, esta pode ser cassada pelo poder concedente.

233
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Pouco importa a origem do capital investido para que seja considerada de nacionalidade brasileira.

2.2. Sociedade Nacional

É nacional a sociedade organizada conforme a lei brasileira e que tenha no país a sede de sua
administração.
Se essa sociedade resolver mudar a sua nacionalidade, será necessário o consentimento unânime
dos seus sócios.

2.3. Sociedade Estrangeira

São as sociedades que não possuem sede no país nem se organizam conforme a lei brasileira,
necessitando de autorização governamental para entrar em funcionamento no país, podendo, entretanto,
ser acionista de sociedade anônima brasileira, sem que para tanto precise de autorização.
Depois de autorizada, a sociedade deverá proceder ao registro na Junta Comercial do Estado em
que vai desenvolver as suas atividades, submetendo-se, após registradas, às leis e tribunais brasileiros
quanto aos atos praticados no território nacional.
Deverá funcionar com o nome que tiver em seu país de origem, podendo ac

Deve possuir representante permanente no Brasil para resolver as questões e receber citação judicial
pela sociedade, podendo o representante atuar em nome da sociedade estrangeira perante terceiros,
averbar o instrumento de sua nomeação junto aos atos constitutivos da sociedade na Junta Comercial.
A sociedade estrangeira pode obter autorização do Poder Executivo para nacionalizar-se,
transferindo a sua sede para o território do país.

2.4. Sociedade entre cônjuges

Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado
no regime de COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS, ou no da SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA, situação aplicável tanto
para as sociedades empresárias quanto para as simples.
Não se impede que alguém casado sob o regime de comunhão universal ou de separação obrigatória
contrate, sozinho, sociedade com terceiros.

2.5. Sociedade Unipessoal

A Sociedade Limitada Unipessoal SLU, trazida pela Lei da Liberdade Econômica, é um instituto
que inovou e tem como objetivo inicial o esvaziamento e, posteriormente, a substituição da figura da EIRELI.
É importante ressaltar que houve a completa exclusão da natureza jurídica das Empresas Individuais de
234
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Responsabilidade Limitada (EIRELI).


Trata-se da sociedade limitada constituída por apenas um sócio. Não se trata de novo tipo
societário ou ente jurídico. Apenas significa a sociedade limitada com apenas um sócio. Seguirá as mesmas
regras da sociedade limitada.

Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao


valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização
do capital social.
§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas.
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único,
no que couber, as disposições sobre o contrato social. (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019)

A Lei de Liberdade Econômica trouxe a possibilidade de uma sociedade limitada ser constituída por
apenas um sócio (inclusão do § 1º ao art. 1.052 do CC). Nesse caso, não haverá contrato social, mas mero

contrato social.
Em agosto de 2021 com a publicação da Lei n.º 14.195/2021 (denominada de Nova Lei de Ambiente
de Negócios), houve a extinção definitiva do formato jurídico EIRELI e a sua automática substituição pela
Sociedade Limitada Unipessoal SLU, conforme art. 41 da referida lei.

CAPÍTULO IX
DA DESBUROCRATIZAÇÃO EMPRESARIAL E DOS ATOS PROCESSUAIS E DA
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE
Art. 38. (VETADO).
Art. 39. (VETADO).
Art. 40. (VETADO).
Art. 41. As empresas individuais de responsabilidade limitada existentes na data
da entrada
em vigor desta Lei serão transformadas em sociedades limitadas unipessoais
independentemente
de qualquer alteração em seu ato constitutivo.
Parágrafo único. Ato do Drei disciplinará a transformação referida neste artigo.

3. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

A) Quanto à responsabilidade dos sócios:


235
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Sociedade de Responsabilidade Ilimitada: Ex.: Sociedade em nome coletivo;


Sociedade de Responsabilidade Limitada: Sociedade anônima e sociedade limitada;
Sociedade Mista: Sociedade em comandita simples e sociedade em comandita por ações.

A limitação ou ilimitação de responsabilidade dos sócios diz respeito a sua responsabilidade pessoal
por dívidas da sociedade.

B) Quanto ao regime de constituição e dissolução:


Contratuais: Constituídas por um contrato social e dissolvidas segundo as regras previstas no Código
Civil. Nessas sociedades, a autonomia da vontade dos sócios para a constituição do vínculo societário é
máxima, podendo disciplinar as relações sociais como bem entenderem, desde que não desnaturem o tipo
societário escolhido.
Ex.:
Sociedade em nome coletivo;
Sociedade em comandita simples;
Sociedade limitada.
Institucionais: Constituídas por ato institucional ou estatutário. Os estatutos NÃO cuidam dos
interesses particulares dos sócios, mas do interesse geral da sociedade como instituição. A autonomia da
vontade dos sócios na formalização do ato constitutivo é mínima, e a intervenção do legislador é muito
relevante.
Ex.:
Sociedade anônima;
Sociedade em comandita por ações.

C) Quanto à composição:
De pessoas: A entrada de sócios depende do consentimento dos demais.
Ex.:
Sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples (sócio comanditado);
Sociedade limitada (salvo previsão contrária no contrato social).
De Capital: O importante é tão somente o capital investido pelo sócio, e a entrada de pessoas
estranhas independe do consentimento dos demais sócios.
Ex.:
Sociedade em comandita simples (quanto ao sócio comanditário);
Sociedade anônima;
Sociedade em comandita por ações.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

4. SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS

Abrange a sociedade em comum e a sociedade em conta de participação.

4.1. Sociedade em Comum

É a sociedade irregular ou sociedade de fato, segundo alguns autores.


A doutrina distingue a Sociedade irregular da sociedade de fato:
Sociedade de fato: É aquela que não possui instrumento escrito de constituição, ou seja, NÃO possui
um contrato social escrito, que já está exercendo suas atividades sem nenhum indício de que seus sócios
estejam tomando as providências necessárias para a sua regularização;
Sociedade irregular: Possui um contrato escrito e registrado, que já iniciou suas atividades normais,
mas que apresenta irregularidade superveniente ao registro (Ex.: NÃO averbou alterações do contrato
social);
Sociedade em comum: É a sociedade contratual em formação, ou seja, aquela que tem contrato
escrito e que está realizando atos preparatórios para o seu registro perante o órgão competente antes de
iniciar a exploração do seu objeto social.
Nada impede que se apliquem, por analogia, as normas da sociedade em comum às de sociedade de
fato e às sociedades irregulares.

a) Prova a existência da sociedade em comum


Os SÓCIOS, nas relações entre si e com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da
sociedade, mas os TERCEIROS podem prová-la a qualquer momento, por qualquer meio de prova => VIDE
ART. 987 CC.

b) Responsabilidade dos sócios na sociedade em comum


Embora a sociedade em comum NÃO seja dotada de personalidade jurídica, o que em tese conferiria
a responsabilidade ilimitada e direta dos sócios, o Código Civil prevê a RESPONSABILIDADE ILIMITADA,
porém SUBSIDIÁRIA DOS SÓCIOS EM GERAL, e a responsabilidade ilimitada e direta somente do sócio que
contratou pela sociedade.
Entre os sócios, todavia, a responsabilidade é subsidiária, ou seja, primeiro responde a própria
sociedade para somente depois serem executados, eventualmente, os patrimônios pessoais dos sócios.
Como a sociedade em comum, por não ser uma pessoa jurídica com existência formal reconhecida
pelo ordenamento jurídico, não tem patrimônio próprio que possa ser formalmente identificado, o seu
patrimônio social, na verdade, é formado de bens e direitos titularizados por cada um dos seus sócios.

4.2. Sociedade em conta de participação (= sociedade secreta)

237
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

É o que a doutrina chama de sociedade secreta, NÃO se tratando de uma sociedade, mas de um
CONTRATO ESPECIAL DE INVESTIMENTO.
NÃO possui personalidade jurídica.
Apresenta duas categorias distintas de sócios:
Sócio Ostensivo: É o único que aparece perante terceiros.
Sócios Participantes (= sócios ocultos): NÃO aparecem nas relações com terceiros, participando
apenas dos resultados sociais, conforme definido quando da elaboração do ato de constituição da sociedade.
Se os sócios participantes, em certa negociação, aparecerem perante terceiros, responderão
SOLIDARIAMENTE junto com o sócio ostensivo perante essa negociação.
Como é o sócio ostensivo quem exerce a atividade que constitui o objeto social, a sua falência
acarreta a dissolução da sociedade e liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito
quirografário, a ser habilitado no processo falimentar. Se quem falir for o sócio participante, o contrato social
fica sujeito às normas que regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido.
A constituição independe de qualquer formalidade, o que não significa que não possuam contrato,
mas o contrato não precisa sequer ser escrito. Geralmente os contratos de sociedade em conta de
participação são registrados no CARTÓRIO CIVIL DE TÍTULOS E DOCUMENTOS, MAS ESSE REGISTRO NÃO
CONFERE PERSONALIDADE JURÍDICA À SOCIEDADE.
Em geral, a sociedade em conta de participação é constituída para a realização de empreendimentos
temporários ou para negócios específicos, extinguindo-se depois.
Por não ter personalidade jurídica, NÃO possui patrimônio social, mas o Código Civil criou um
patrimônio especial.

5. SOCIEDADES PERSONIFICADAS

A principal consequência é o reconhecimento da sociedade como SUJEITO DE DIREITOS, ou seja,


ente autônomo dotado de personalidade jurídica distinta da pessoa dos seus sócios e com patrimônio
autônomo.

5.1. Sociedade Simples

É a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade econômica não empresarial, a exemplo
das sociedades uniprofissionais e da sociedade cujo objeto social constitui o exercício de atividade econômica
rural.

a) Contrato Social
É sociedade contratual, constituída por um contrato social e tem seu regime de constituição e
dissolução previsto no Código Civil.
Características:
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Podem tomar parte dele várias pessoas;


Affectio societatis;
É contrato plurilateral: As partes possuem direito e deveres não apenas em relação a uma outra
pessoa, mas em relação a todas que compõem a sociedade, daí a sua plurilateralidade.
Vide art. 997 CC Requisitos do contrato social.
O contrato deve ser escrito porque os sócios deverão levá-lo a registro no órgão competente, no
prazo de 30 dias que, no caso da sociedade simples pura, é o Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas
(art. 1.150 CC).

b) Qualificação dos sócios e da sociedade


A sociedade simples pura pode ter como sócios tanto pessoas físicas quanto jurídicas.
A qualificação dos sócios permite verificar a existência de eventuais impedimentos à participação na
sociedade.
Após a qualificação dos sócios, deve o contrato qualificar a própria sociedade.
A sociedade simples pura pode usar denominação social OU firma social.
Objeto social: A sociedade simples NÃO poderá explorar atividade empresarial, já que nesse caso a
sociedade seria empresária.
Deve ser definida a sede e prazo da sociedade, na medida em que a sede definirá o Cartório onde
será feito o registro do contrato social, enquanto o prazo definirá o período de duração da sociedade, sendo
as sociedades, em regra, constituídas por prazo indeterminado.

c) Capital Social
Deve ser expresso em moeda corrente nacional e pode compreender dinheiro ou bens suscetíveis
de avaliação pecuniária.

d) Subscrição e integralização das quotas


Definido o capital social, deve o contrato social mencionar a quota de cada sócio no capital social e
o modo de realizá-la, sendo a contribuição dos sócios requisito especial de validade do contrato social.
Formas de integralizar a contribuição do sócio:
Bens móveis ou imóveis, materiais ou imateriais, dinheiro, etc.;
Contribuição em serviços: NÃO poderá empregar-se de atividade estranha à sociedade, sob pena de
ser privado de seus lucros e dela excluído.
Em sendo integralizada com a transferência de bens para a sociedade, estes devem ser suscetíveis
de avaliação pecuniária, e o sócio responde pela evicção; Se integralizada com a transferência de créditos de
sua titularidade para a sociedade, responderá pela solvência do devedor.
Sócio remisso: É o sócio em mora quanto à integralização das suas cotas, podendo os demais sócios
cobrar dele uma indenização pelos prejuízos que sua mora tenha causado à sociedade. Podem ainda, se
preferir, excluir o sócio remisso ou reduzir-lhe a cota ao montante já realizado, sendo a exclusão
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

extrajudicial, SEM necessidade de recurso ao Judiciário.

e) Administração da Sociedade
O contrato social deve mencionar as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade,
seus poderes e atribuições.
A sociedade simples pura NÃO pode ser representada por pessoa jurídica.
A atividade do administrador é personalíssima, NÃO podendo outrem exercer as suas funções.
O contrato social, além de designar os administradores, deve estabelecer os seus poderes e
atribuições. Porém, nada impede que os sócios o façam em ato separado ao contrato social posteriormente.
Nesse caso, deve-se atentar apenas para a necessária averbação do ato no órgão de registro da sociedade.
A diferença entre o administrador nomeado no contrato social e o administrador nomeado em
separado reside no fato de que os poderes daquele, caso seja sócio, são em princípio irrevogáveis, salvo
por decisão judicial que reconheça a justa causa para a revogação. Em contrapartida, os poderes do
administrador não sócio ou de administrador designado em ato em separado, ainda que sócio, são
revogáveis a qualquer tempo pela vontade dos demais.
Caso o contrato social silencie acerca dos poderes dos administradores, entende-se que estes podem
praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade, SALVO alienação ou oneração de bens imóveis, o
que só poderão fazer se tais atos constituírem o próprio objeto da sociedade.
Em princípio, a sociedade responde por todos os atos dos seus administradores, em aplicação à
TEORIA DA APARÊNCIA, inclusive pelos atos com excesso de poderes praticados pelo Administrador.
EXCEÇÕES À TEORIA DA APARÊNCIA:
Atos praticados com excesso de poderes pelos seus administradores, se a limitação de poderes
estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade => Feito o registro, presume-se que os
terceiros sabiam da limitação de poderes.
Provando-se que a limitação de poderes era conhecida do terceiro.
Nos casos em que o administrador assume obrigação decorrente de operação evidentemente
estranha aos negócios da sociedade =>Aplicação da TEORIA ULTRA VIRES, segundo a qual se o administrador
celebra contrato assumindo obrigações em nome da sociedade, em operações evidentemente estranhas ao
seu objeto social, presume-se que houve excesso de poderes. Bastaria ao credor diligente atentar para a
compatibilidade entre a relação jurídica travada com a sociedade e o seu objeto social.
- Nos casos de exceção supra, caberá aos terceiros cobrar as obrigações decorrentes do ato excessivo
diretamente do administrador. Há quem entenda, entretanto, que o credor de boa-fé SEMPRE poderia cobrar
a sociedade, mesmo nesses casos, ante a Teoria da Aparência.
Os administradores são obrigados a prestar aos sócios as contas justificadas de sua administração, e
apresentar-lhes o inventário anualmente, bem como o balanço patrimonial e de resultado econômico.

f) Distribuição de resultados
Os sócios devem dividir os lucros e os prejuízos, sendo VEDADA a CLÁUSULA LEONINA, que exclui
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qualquer sócio dos lucros ou das perdas.


O legislador NÃO previu regras da distribuição dos lucros da sociedade, cabendo aos sócios prever a
forma de participação de cada um no contrato social. Se o contrato for omisso, aplica-se o art. 1.007 CC,
sendo os lucros e perdas na proporção das cotas. Se for sócio com contribuição em serviços, somente
participa dos lucros na proporção média do valor das quotas.

g) Responsabilidade dos sócios


A responsabilidade dos sócios quanto às obrigações sociais é ILIMITADA, de modo que, acaso os bens
sociais NÃO sejam suficientes para saldar o passivo da sociedade, os credores poderão executar o restante
da dívida do patrimônio dos sócios.

h) Alteração do contrato social


O contrato social pode ser alterado segundo a vontade dos sócios, sendo exigido quórum específico
para tanto (art. 997 CC):
Mudança na forma de distribuição dos lucros ou mudança de capital social: Aprovação unânime;
Outros temas: Aprovação da maioria absoluta, SALVO se o contrato dispuser diferente.
Qualquer alteração do contrato social deve ser averbada no Cartório onde foi feito o registro
originário da sociedade.

i) Direito e deveres dos sócios


Obrigações:
Contribuir para a formação do capital social, subscrevendo e integralizando suas respectivas cotas;
Participar dos resultados sociais.
O sócio retirante da sociedade NÃO fica automaticamente exonerado de eventuais obrigações
perante terceiros e perante a própria sociedade, respondendo solidariamente com o cessionário pelas
obrigações que tinha como sócio pelo prazo de 02 (DOIS) ANOS.

j) Deliberações Sociais
Em assuntos negociais mais relevantes, a decisão NÃO cabe aos administradores, mas ao conjunto
dos sócios, ou seja, exige deliberação social.
Cabe ao contrato social estabelecer quais matérias dependerão da deliberação dos sócios, mas em
alguns casos é a própria lei que o faz, como na transformação da sociedade. Nesse caso, a deliberação se dá
pela maioria dos votos, contados segundo o valor das quotas de cada um.

5.2. Sociedade Limitada

a) Aplicação das normas da sociedade simples e anônima


Em princípio, aplicam-se subsidiariamente à sociedade limitada as regras da sociedade simples,
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cabendo ao contrato social suprir eventuais omissões da legislação. É ainda possível aplicar supletivamente
as regras da S/A quando compatíveis com o regime da sociedade limitada. No entanto, há certas regras da
Lei de S/A que NÃO podem ser aplicadas supletivamente às sociedades limitadas, por serem matérias típicas
das S/A (Ex.: constituição e dissolução das sociedades).

b) Contrato Social
Deve conter as mesmas indicações da sociedade simples (art. 997 do CC), bem como outras
exigências contidas na legislação pertinente para fins de registro.

I Necessidade de contrato escrito: O contrato deve ser escrito, porque os sócios deverão levá-lo a registro
no órgão competente, no prazo de 30 dias.
Sociedade Empresária: O contrato deve ser registrado na Junta Comercial;
Sociedade Simples: Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

II Qualificação dos sócios e da sociedade: O contrato social deve mencionar nome, nacionalidade, estado
civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou denominação, nacionalidade e sede
dos sócios, se jurídicas.
Pode a sociedade limitada ter sócios pessoas físicas ou jurídicas (ex.: Holding Sociedade que tem
por objeto participar de outras sociedades, podendo ser pura quando apenas participa de outras
sociedades- ou mista quando além de participar de outras sociedades explora determinada atividade
econômica).
Incapaz: Pode ser quotista de sociedade limitada, bastando que o capital social esteja totalmente
integralizado e que ele NÃO exerça poderes de administração.
Impedido (Ex.: Servidor Público): Basta que ele não exerça poderes de administração.
Após a qualificação dos sócios, deve o contrato social qualificar a própria sociedade, mencionando
objeto, sede e prazo da sociedade.
A sociedade limitada pode usar tanto firma social quanto denominação social.
Objeto social: Embora seja um tipo societário tipicamente empresarial, pode ter por objeto o
exercício de atividade econômica não empresarial, caso em que ostentará a natureza de sociedade simples.

III Capital Social


É o montante de contribuições dos sócios para a sociedade, a fim de que ela possa cumprir o seu
objeto social. Deve ser expresso em moeda corrente nacional, e pode compreender dinheiro ou bens
suscetíveis de avaliação pecuniária.
Aumento do capital social: Integralizadas as cotas, pode o capital ser aumentado, com a
correspondente modificação do contrato. Os sócios possuem preferência para participar do aumento, na
proporção das cotas de que sejam titulares, em até 30 dias após essa deliberação. Decorrido o prazo de
preferência, e assumida pelos sócios, ou por terceiros, a totalidade do aumento, haverá reunião ou
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assembleia dos sócios, para que seja aprovada a modificação do contrato.


Pode a sociedade reduzir o capital, mediante a correspondente modificação do contrato nos
seguintes casos:
Depois de integralizado, se houver perdas irreparáveis;
Se excessivo em relação ao objeto da sociedade.
Se algum credor se sentir prejudicado, pode apresentar impugnação à redução do capital social.

IV Subscrição e integralização
Definido o capital da sociedade, deve o contrato social mencionar a quota de cada sócio no capital
social, e o modo de realizá-la.
Na sociedade limitada, o capital se divide em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a
cada sócio =>SISTEMA DA PLURALIDADE DE QUOTAS, mas não em sua concepção francesa pura, segundo o
qual o capital social é dividido em diversas partes iguais. Nosso ordenamento jurídico se afastou de outras
tendências do direito comparado:
Ao não estipular um valor predeterminado para as quotas, mínimo ou máximo;
Ao não consagrar a exigência de integralização inicial de um certo percentual do capital social total;
Ao não fixar qualquer prazo para a sua efetiva integralização;
Ao não exigir um capital mínimo para a constituição da sociedade.
TODOS OS SÓCIOS têm o dever de subscrição e integralização de quotas, podendo a contribuição ser
feita com bens, dinheiro, etc.
Na sociedade limitada NÃO se admite a contribuição em serviços.
Se o sócio integralizar sua cota com transferência de bens para a sociedade, responderá pela evicção;
se com créditos de sua titularidade, responderá pela solvência do devedor.
Na hipótese de cessão de quotas sociais, a responsabilidade do cedente pelo prazo de até 2 anos
após a averbação da respectiva modificação contratual restringe-se às obrigações sociais contraídas no
período em que ele ainda ostentava a qualidade de sócio, ou seja, antes da sua retirada da sociedade. Ex: o
sócio João retira-se da sociedade e a averbação dessa alteração social é levada à Junta Comercial em
18/02/2014. Dessa última data conta-se o prazo de 2 anos para que os credores ou a sociedade o acionem
pelas obrigações contraídas até 18/02/2014. Essa é a interpretação dos arts. 1.003, parágrafo único, 1.032 e
1.057, parágrafo único, do Código Civil. STJ. 3ª Turma. REsp 1537521/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 05/02/2019.
Os sócios respondem solidariamente até o prazo de 05 (cinco) anos pela exata estimação de bens
conferidos ao capital social.
O capital social pode ser dividido em cotas iguais ou desiguais, mas não se admite, em princípio, a
divisão de uma quota, SALVO para efeito de transferência, caso em que se estabelecerá um condomínio de
quotas. No caso de condomínio de quotas, os direitos a ela inerentes somente podem ser exercidos pelo
condômino representante, ou pelo inventariante do espólio de sócio falecido =>RESUMINDO: A QUOTA
TERÁ MAIS DE UM DONO, MAS PERANTE A SOCIEDADE, COMO ELA É INDIVISÍVEL, APENAS UM DOS
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CONDÔMINOS PODERÁ EXERCER OS DIREITOS QUE ELA CONFERE, O CONDÔMINO-SÓCIO.


Opções para o sócio remisso:
i.Purgar a mora e indenizar a sociedade pelos danos emergentes da mora;
ii.Sujeitar-se à cobrança judicial;
iii.Exclusão da sociedade
Com diminuição do capital social
OU
Com aquisição das ações pelos sócios, terceiros ou pela própria sociedade.

V Administração da Sociedade
Aplicam-se as disposições que versam sobre a sociedade simples.
A sociedade limitada NÃO pode ser administrada por pessoa jurídica, sendo a atividade de
administrador personalíssima.
Nas sociedades limitadas menores, é comum que a administração da pessoa jurídica seja atribuída a
todos os sócios, o que fica estabelecido no próprio ato constitutivo. Se um novo sócio ingressar nessa
sociedade posteriormente, a atribuição de administrar a sociedade NÃO se estende de pleno direito a ele.
Para que esse sócio adquira o poder de administração da sociedade, terá que ser feita alteração no contrato
social para que isso fique expressamente estabelecido.
Designação de administradores:
Se NÃO for sócio:
o Se o capital social estiver integralizado: No MÍNIMO 2/3 do capital social;
o Se o capital social NÃO estiver integralizado: Unanimidade.
Se for sócio:
o Se a designação for em ato separado do contrato social: Mais da metade do capital social.

VI Distribuição de Resultados
Todos os sócios possuem direito à distribuição de resultados, sendo VEDADA a cláusula leonina.
O legislador NÃO estabeleceu regras acerca de como deve ser feita a distribuição dos lucros da
sociedade, cabendo aos sócios prever a forma de participação de cada um no contrato social.
Os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer título, ainda
que autorizados pelo contrato, quando tais lucros ou quantia se distribuírem com prejuízo do capital.

VII Responsabilidade dos Sócios


Em regra, os sócios NÃO devem responder com seu patrimônio pessoal pelas dívidas da sociedade
=> PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PATRIMONIAL DAS PESSOAS JURÍDICAS.
Inicialmente, a responsabilidade dos sócios por dívidas da sociedade é sempre subsidiária. Em
situações normais, somente em caso de insolvência da sociedade é que o sócio poderá, eventualmente, ter
seus bens pessoais executados por dívidas sociais. Enquanto a sociedade possuir bens, porém, o sócio NÃO
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poderá ser executado pessoalmente, em função do benefício da ordem.


Eventual responsabilidade pessoal dos sócios nas sociedades limitadas sofrerá variação conforme o
capital da sociedade esteja ou não integralizado:
Capital totalmente integralizado: Os sócios NÃO deverão responder com seu patrimônio pessoal
pelas dívidas da sociedade;
Capital NÃO totalmente integralizado:Os sócios responderão com seu patrimônio pessoal até o
montante que faltar para a integralização.
Os sócios de uma sociedade limitada são solidariamente responsáveis pela integralização do
capital social, razão pela qual pode o credor da sociedade executar qualquer dos sócios quotistas, ainda
que um deles já tenha integralizado a parte que lhe cabe. => O LIMITE DE RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS
QUOTISTAS É O MONTANTE QUE FALTA PARA A INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL.

VIII Alteração do contrato social


O contrato social da sociedade limitada pode ser alterado, desde que possua o quórum de ¾ do
capital social.
Qualquer alteração do contrato social da sociedade limitada deverá ser averbada no local onde foi
feito o registro originário da sociedade.

c) Deliberações Sociais
Em regra, as decisões mais corriqueiras são tomadas unipessoalmente por aqueles que têm poderes
para administrar a sociedade. As decisões mais complexas, no entanto, exigem uma deliberação colegiada.
Hipóteses:
Aprovação das contas da Administração;
Designação dos Administradores, quando feita em ato separado;
Destituição dos Administradores;
O modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;
Modificação do contrato social;
Incorporação, fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação;
Nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;
Pedido de recuperação;
Exclusão de sócio remisso ou faltoso.
Assembleia dos Sócios: É o Órgão específico responsável pela tomada das deliberações sociais,
podendo ser substituída pela reunião de sócios (menos solene, cabendo aos sócios estabelecer o seu
procedimento no contrato social), nas sociedades com MENOS DE 10 SÓCIOS.
Tanto a reunião quanto a assembleia podem ser dispensadas e substituídas por um documento
escrito, desde que os sócios estejam de acordo (decisão unânime).
As deliberações sociais, desde que tomadas em conformidade com a lei e o contrato social, vinculam
todos os sócios, ainda que ausentes ou dissidentes. Para evitar ser responsabilizado futuramente, o sócio
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dissidente deve sempre requerer a consignação em ata do seu voto contrário à deliberação tomada.
CESPE: As deliberações tomadas em assembleia ou por reunião vinculam TODOS os seus sócios, ainda
que ausentes ou dissidentes, SALVO em relação ao que for decidido contrariamente à lei ou contrato.
A convocação da assembleia ou da reunião cabe ao ADMINISTRADOR, mas pode ser feita ainda:
Por sócio, quando os administradores retardarem a convocação por mais de 60 dias, nos casos
previstos em lei ou contrato, ou por titulares de mais de 1/5 do capital, quando NÃO atendido, no prazo de
08 dias, pedido de convocação fundamentado, com indicação das matérias a serem tratadas.
Pelo conselho fiscal.
- Quórum de instalação da Assembléia dos sócios:
Primeira convocação: titulares de no mínimo ¾ do capital social (+3 publicações de avisos com
antecedência de 08 dias);
Segunda convocação: com qualquer número (+3 publicações de avisos com antecedência de 05 dias).
Quórum de deliberação (Art. 1.076 CC):
Regra Geral: MAIORIA ABSOLUTA.
Unanimidade:
o Destituição de sócio nomeado no contrato social (desde que NÃO haja previsão de quórum diverso
no contrato social);
o Designação de administrador não sócio (Se o capital não estiver totalmente integralizado);
o Dissolução da sociedade com prazo determinado.
Votos correspondentes, no mínimo, a ¾ do capital social:
o Modificação do contrato social (salvo quanto às matérias sujeitas a quorum diverso);
o Aprovação da incorporação, fusão, dissolução ou levantamento da liquidação.
Votos de 2/3 do capital social:
o Designação de administrador não sócio (desde que o capital esteja inicialmente integralizado).
Votos correspondentes a mais da metade do capital social:
o Designação de administrador em ato separado do contrato social;
o Destituição de administrador sócio que tenha sido designado em ato separado do contrato social;
o Destituição de administrador não sócio;
o Expulsão de sócio minoritário (caso permitido no contrato social);
o Dissolução da sociedade contratada por prazo indeterminado.
É necessária a realização de uma assembleia anual para tratar de assuntos previstos na própria lei.
Direito de retirada ou direito de recesso: Será restrito aos seguintes casos:
Alteração do ato constitutivo;
Fusão;
Incorporação.

d) Natureza personalista ou capitalista da sociedade limitada


A sociedade limitada poderá ser sociedade de pessoas ou de capital a depender do que os sócios
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estabelecerem no ato constitutivo da sociedade.


Se o contrato social for omisso, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja
sócio, independente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de
¼ do capital social => Logo, na omissão de contrato social, o Código deu uma feição personalista à sociedade
limitada, protegendo os sócios quanto à entrada de estranhos no quadro social.

e) Conselho Fiscal
Pode o contrato instituir conselho fiscal composto por 03 ou mais membros e respectivos suplentes,
sócios ou não, residentes no país.
O conselho fiscal deve ser órgão heterogêneo, razão pela qual o CC assegurou aos sócios minoritários
que representem pelo menos 1/5 do capital social.

f) Exclusão extrajudicial de sócio minoritário por justa causa


O contrato social deve expressamente conter a previsão de exclusão extrajudicial de sócio
minoritário por justa causa. Caso não contenha, será necessário recorrer ao Judiciário.
Devem os sócios convocar assembleia ou reunião específica, na qual só se discutirá e votará uma
única matéria: a eventual exclusão do sócio faltoso.
O sócio acusado deve ser cientificado acerca da realização da assembleia ou reunião que deliberará
a sua possível exclusão, para que possa se defender das acusações que lhe são imputadas.
O CC exige quórum de MAIORIA ABSOLUTA para a exclusão extrajudicial.
Em resumo requisitos para a exclusão extrajudicial de sócio faltoso:
Que o sócio seja minoritário;
Previsão expressa no contrato social;
Prática de atos de inegável gravidade por parte de determinado sócio;
Convocação de assembleia ou reunião específica;
Cientificação do acusado com antecedência suficiente para possibilitar o seu comparecimento e
defesa;
Quórum de maioria absoluta.

5.3. Sociedade Anônima

a) Características
I Natureza capitalista: A participação societária (ações) é livremente negociável e pode ser penhorada para
a garantia de dívidas pessoais de seus titulares.

II Essência empresarial: Ainda que determinada S/A NÃO explore atividade econômica de forma
organizada, ela será empresária e se submeterá às regras do regime jurídico empresarial.

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III Identificação exclusiva por denominação:

devendo vir apenas no começo ou no meio.


A S/A JAMAIS poderá adotar firma social como espécie de seu nome empresarial, sendo
obrigatório o uso da denominação social.

IV Responsabilidade limitada dos acionistas: Cada sócio apenas responde pela sua parte no capital social,
não assumindo, senão em situações excepcionalíssimas, qualquer responsabilidade pelas dívidas da
sociedade.
A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios
ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.

b) Classificação das Sociedades Anônimas


Aberta: Quando tiver autorização para negociar seus valores mobiliários no mercado de capitais.
Fechada: Quando NÃO tiver autorização para tanto.
Essa autorização é concedida pela CVM.

MERCADO DE CAPITAIS
É o local onde se efetuam as diversas operações envolvendo os valores mobiliários
emitidos pelas Companhias Abertas.
a) CVM
É autarquia federal ligada ao Ministério da Fazenda, com qualidade de AGÊNCIA
REGULADORA.
Possui competência para o controle e fiscalização do mercado de capitais, de 03
diferentes formas:
I Regulamentar: Cabe à CVM estabelecer o regramento geral relativo ao funcionamento do
mercado de capitais;
II Autorizante: É a CVM que autoriza a constituição de companhias abertas e a emissão e
negociação de seus valores mobiliários;
III Fiscalizatória: A CVM deverá zelar pela lisura das operações realizadas no mercado de
capitais, sendo investida de poderes sancionatórios.

b) Bolsa de Valores
É associação privada formada por sociedades corretoras que, por autorização da CVM,
presta serviço de interesse público, consistente na manutenção de local adequado às
operações de compra e venda dos diversos valores mobiliários emitidos pelas companhias.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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c) Mercado de Balcão
É toda e qualquer operação do mercado de capitais realizada FORA da bolsa de valores.
Quem atua são as sociedades corretoras e instituições financeiras autorizadas pela CVM.

d) Mercado de Capitais primário e secundário


Primário: São realizadas as operações de subscrição e emissão de ações e outros
valores mobiliários das companhias.
Secundário: Compreende as operações de compra e venda desses valores.

OBS: Na BOLSA DE VALORES só se realizam operações de compra e venda de VALORES


MOBILIÁRIOS; Já no Mercado de Balcão, são realizadas TANTO OPERAÇÕES DE COMPRA E
VENDA QUANTO OPERAÇÕES DE EMISSÃO E SUBSCRIÇÃO DE NOVOS VALORES MOBILIÁRIOS.

c) Constituição da Sociedade Anônima


Se constitui NÃO por um contrato social, mas por ato institucional ou estatutário (estatuto social).

REQUISITOS PRELIMINARES:
I SUBSCRIÇÃO, pelo menos por 02 (duas) pessoas, de todas as ações em que se divide o capital social
fixado no estatuto.
Note que se exige a PLURALIDADE DE SÓCIOS para a constituição de S/A, NÃO sendo permitida a
criação de Sociedade Anônima unipessoal, SALVO a sociedade subsidiária integral.

i.Constituição por subscrição pública


As companhias abertas se constituem por meio de subscrição pública de ações, desde que
preenchidas as seguintes formalidades:
Registro prévio na CVM;
Colocação das ações à disposição dos investidores interessados;
Realização de assembleia inicial de fundação.
A constituição de companhia por subscrição pública somente poderá ser efetuada com a
intermediação de instituição financeira => Logo, o fundador de uma Companhia Aberta deverá contratar os
SERVIÇOS DE UNDERWRITING. Contratada a instituição financeira especializada para a prestação dos
serviços, poderá ser apresentado o pedido de registro na CVM, e será instruído com:
Estudo de viabilidade econômica e financeira do empreendimento;
Projeto do estatuto social;
Prospecto, organizado e assinado pelos fundadores e pela instituição financeira intermediária.
Caso a CVM aprove os documentos apresentados, com ou sem modificação, ela deferirá o registro e
terá início a segunda etapa do procedimento constitutivo de companhia aberta, por meio da colocação das
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ações junto aos investidores interessados, para que possam proceder à subscrição delas. Posteriormente, o
capital deve ser subscrito, o que ocorre com a assembleia de fundação.
Quórum de instalação:
Primeira convocação: presença dos subscritores que representem, no mínimo, metade do capital
social;
Segunda convocação: Qualquer número.
- Para que se aprove a constituição da companhia aberta, basta que não haja oposição de mais da metade
do capital social.

ii.Constituição por subscrição particular


A constituição pode se fazer por deliberação dos subscritores em assembleia-geral ou por escritura
pública em cartório.
Se adotada a lavratura pública em cartório, devem ser adotadas as seguintes formalidades:
Ser assinada por todos os subscritores;
Conter:
o Qualificação dos subscritores;
o Estatuto da companhia;
o Relação das ações tomadas pelos subscritores e importância das entradas pagas;
o Transcrição do recibo do depósito;
o Transcrição do laudo de avaliação dos peritos;
o Nomeação dos primeiros administradores.
Ultimadas as providências, passa-se às formalidades complementares de constituição da companhia.
OBS: A incorporação de imóveis para formação do capital social NÃO exige escritura pública.
O subscritor pode fazer-se representar na assembleia-geral ou na escritura pública por procurador
com poderes especiais.

iii.Formalidades complementares
É o procedimento de registro na Junta Comercial, além de outras medidas de cunho administrativo
e operacional.
Deferido o arquivamento dos atos constitutivos da companhia pela Junta Comercial, devem os
administradores providenciar a publicação de tais atos na imprensa oficial de sua localidade. Feita a
publicação, um exemplar do órgão oficial deverá ser arquivado no registro do comércio.

II REALIZAÇÃO, COMO ENTRADA, DE 10%, NO MÍNIMO, DO PREÇO DE EMISSÃO DAS AÇÕES SUBSCRITAS
EM DINHEIRO: Há casos em que se exige um percentual maior, a exemplo dos bancos, em que se exige 50%;

III DEPÓSITO, NO BANCO DO BRASIL S/A, OU EM OUTRO ESTABELECIMENTO BANCÁRIO AUTORIZADO


PELA CVM, DA PARTE DO CAPITAL REALIZADO EM DINHEIRO: Deve ser feito pelo fundador, no prazo de 05
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(cinco) dias, contados do recebimento das quantias, em nome do subscritos e a favor da sociedade em
organização.

d) Capital Social
É o montante da contribuição dos sócios para a sociedade.
Admite-se a emissão de ações sem valor nominal, bem como a emissão de ações com preço superior
ao seu valor nominal, razão pela qual o capital social da companhia nem sempre corresponderá à soma das
contribuições dos sócios pelas ações subscritas.
Para ações sem valor nominal, a legislação permite que parte do preço de emissão NÃO seja
computada para o capital, mas para a formação de reserva de capital; Para ações com valor nominal
subscritas por preço superior a esse valor (ágio), será igualmente destinado à formação de reserva de capital.
O capital social poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens
suscetíveis de avaliação em dinheiro.
Cabe ao estatuto ou ao boletim de subscrição definir as prestações e o prazo para pagamento.
O acionista que não integralizar/realizar o valor das ações que subscreveu nas condições
estabelecidas no estatuto, boletim ou na chamada, conforme o caso, será constituído em mora, tornando-
se, a partir de então, acionista remisso. Contra o acionista remisso, a companhia pode tomar duas medidas:
I.Promover contra os acionistas processo de execução para cobrar as importâncias devidas,
servindo o boletim de subscrição e o aviso de chamada como título extrajudicial;
II.Mandar vender as ações em bolsa por conta e risco do acionista.

e) Ações
AÇÃO é o principal valor mobiliário emitido pela companhia, e representa parcela do capital social,
conferindo ao seu titular o status de sócio, o chamado acionista.
As ações são consideradas bens móveis para efeitos legais.

I. Classificação das ações


i. Quanto aos direito e obrigações
Ordinárias: Conferem aos seus titulares direitos comuns, de tal sorte que o ordinarialista NÃO possui
nenhum direito especial ou vantagem em relação aos demais sócios, mas também não se sujeita a nenhuma
restrição, como ocorre com titulares de outras espécies de ação;
Preferencial: Confere ao seu titular uma preferência ou vantagem em relação aos ordinarialistas. Em
contrapartida, o estatuto pode retirar ou restringir alguns dos direitos normalmente conferidos aos titulares
de ações ordinárias, inclusive o direito de voto, desde que tais restrições sejam expressas no estatuto;
Ações de fruição: São emitidas em substituição a ações ordinárias ou preferenciais que foram
totalmente amortizadas, conferindo aos seus titulares meros direitos de gozo ou de fruição.

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STJ: Entendeu ser legítima a previsão estatutária que determina a não participação
do preferencialista nos lucros remanescentes, depois de recebido por ele o
dividendo mínimo.

GOLDEN SHARE: É uma categoria especial de ação preferencial, de propriedade do ente


desestatizante, nas companhias objeto de desestatização, a qual o estatuto social poderá conferir os poderes
que especificar, inclusive o poder de veto às deliberações da assembleia geral nas matérias que especificar.
O número de ações preferenciais sem direito a voto, ou sujeitas a restrição no exercício desse direito,
NÃO pode ultrapassar 50% do total das ações emitidas.
As ações ordinárias em S/A ABERTA NÃO podem ser divididas em classes. Todas as demais (ações
ordinárias em S/A fechada, e ações preferenciais em S/A abertas ou fechadas) podem.

ii. Quanto à forma de transferência


Nominativas: Se transferem mediante registro levado a efeito em livro específico escriturado pela
S/A para tal finalidade. O registro no livro é condição indispensável para que se opere validamente a
transferência da propriedade da ação.
A transferência de uma ação nominativa é ato formal que exige certa solenidade, consistente no
aparecimento do vendedor e comprador à companhia para assinatura do livro de transferências das ações
nominativas.
Escriturais: O estatuto da companhia pode autorizar ou estabelecer que todas as ações da
companhia, ou uma ou mais classes delas, sejam mantidas em contas de depósito, em nome de seus titulares,
na instituição que designar, sem emissão de certificados.
NÃO possuem certificado, nem exigem solenidade para a sua transferência.
A propriedade das ações escriturais é comprovada pela mera exibição do extrato da conta de
depósito de ações que a instituição financeira fornece ao seu titular:
Quando o acionista requerer;
Todo mês em que houver a movimentação;
Pelo menos uma vez ao ano.

II. Valor da ação


i. Valor nominal: É alcançado pela divisão do capital social total da S/A em moeda corrente pelo
número total de ações por ela emitidas.
- A LSA permitiu que as companhias emitam ações sem valor nominal, submetendo-se essa matéria à
disciplina estatutária.
- Finalidade: Conferir certa garantia aos acionistas à diluição injustificada do valor patrimonial das ações
quando da emissão de novas ações.
- Nada impede que o preço de emissão de novas ações emitidas pela companhia seja superior ao valor

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nominal =>ÁGIO = É a diferença entre o preço de emissão e o seu valor nominal.

ii. Valor patrimonial (ou valor real da ação): Calculado levando-se em conta o patrimônio líquido da
S/A pelo número de ações. Já o patrimônio líquido da S/A é calculado pela diferença entre o seu ativo e
passivo.
SÚMULA 371 STJ: NOS CONTRATOS DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA PARA AQUISIÇÃO DE LINHA
PATRIMONIAL (VPA) É APURADO COM BASE NO BALANCETE DO MÊS DA INTEGRALIZAÇÃO.

iii. Valor de negociação: Por sua vez se subdivide em:


o Valor de negociação privada: Se refere às ações negociadas fora do mercado aberto;
o Valor de mercado: Refere-se às ações de companhias abertas negociadas no mercado de capitais, o
qual compreende a bolsa de valores e o mercado de balcão.

iv. Valor econômico: É aquele que os peritos entendem, após a elaboração de estudos técnicos
específicos, que as ações possivelmente valeriam se fossem postas à venda no mercado de capitais.

v. Preço de emissão: Nessas operações, paga-se pela ação o seu preço de emissão, o qual representa o
valor que o investidor entrega à sociedade a título de contribuição ao capital social.
Caso o preço de emissão da ação seja superior ao seu valor nominal, a diferença, chamada ágio, NÃO
compõe o capital social da companhia, devendo ser contabilizada em conta específica, denominada reserva
de capital.

III. Direitos e obrigações conferidos pelas ações


São direitos essenciais de qualquer acionista:
Participação nos lucros sociais;
Participação na partilha do acervo líquido da companhia, nos casos em que esta for dissolvida;
Fiscalização da gestão da sociedade;
Preferência na subscrição de novos valores mobiliário;
Retirada.

i. Direito de Voto
Dentre os direitos essenciais do acionista, NÃO se encontra o direito de voto, razão pela qual se
conclui que tal direito NÃO é essencial. Logo, as ações preferenciais, em regra, NÃO conferem direito de
voto ao seu titular; Já as ações ordinárias conferem aos seus titulares esse direito.
É VEDADO atribuir voto plural (atribuir mais de um voto a uma mesma ação).
OBS: Voto Plural x Voto Múltiplo (art. 141 LSA).
Exercício do direito de voto:
Em geral, as AÇÕES PREFERENCIAIS NÃO conferem direito de voto ao seu titular ou restringem o
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exercício desse direito;


Há casos em que os acionistas preferenciais sem direito de voto adquirirão o exercício desse direito
se a companhia, em prazo NÃO SUPERIOR A 03 EXERCÍCIOS CONSECUTIVOS, deixar de pagar os dividendos
fixos ou mínimos a que fizerem jus, direito que conservarão até o pagamento, se tais dividendos não forem
cumulativos, ou até que sejam pagos os cumulativos em atraso.
Ação sobre a qual recai garantia pignoratícia: o acionista que empenha a sua ação NÃO perde, em
princípio, o direito de voto, SALVO se no contrato estiver estipulado o contrário; Quando a ação é objeto de
garantia fiduciária, o direito de voto deve ser exercido pelo devedor nos termos do contrato.
Ações gravadas com usufruto (art. 114 LSA): O direito de voto somente poderá ser exercido mediante
prévio acordo entre o proprietário e o usufrutuário

ii. Acionista controlador


Art. 116 LSA: Entende-se por acionista controlador a pessoa natural ou jurídica, ou grupo de pessoas
vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum que:
É titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria de votos nas
deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia;
Usa efetivamente o seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos
da companhia.
- Requisitos para a configuração do acionista controlador:
Natureza objetiva: Percentual do capital votante que confira maioria na assembleia e possibilidade
de eleição da maioria dos administradores;
Natureza subjetiva: Uso efetivo do percentual do capital votante para comandar a gestão dos
negócios do acionista.
O acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de poder.

ii.i. Espécie de poder de controle


a) Controle totalitário: Ocorre nas sociedades anônimas fechadas familiares e na sociedade subsidiário
integral.
Todos os acionistas possuem direito de voto e podem exercer o controle da sociedade, sendo o
vínculo entre os sócios intuito personae.

b) Controle majoritário: Ocorre nas sociedades em que o poder de controle é exercido pelo acionista que
detém a maioria das ações com direito a voto.

c) Controle minoritário: Ocorre quando a sociedade anônima tem capital social pulverizado, o que permite
que um acionista minoritário assuma o poder de controle da companhia.

d) Controle gerencial: Ocorre quando há uma grande dispersão acionária, ou seja, quando o capital social é
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tão pulverizado que os verdadeiros controladores são os administradores, assumindo os acionistas a posição
de meros investidores.

ii.ii. Alienação de controle


TAG ALONG (direito de venda conjunta): Prevê que a alienação, direta ou indireta, do controle da
companhia aberta somente poderá ser contratada sob a condição, suspensiva ou resolutiva, de que o
adquirente se obrigue a fazer oferta pública de aquisição das ações com direito a voto de propriedade dos
demais acionistas da companhia, de modo a assegurar o preço no mínimo igual a 80% do valor pago por ação
com direito a voto, integrante do bloco de controle.
É mecanismo de proteção a acionistas minoritários de uma companhia que garante a eles o direito
de deixar uma sociedade, caso o controle da empresa seja adquirido por um investidor que até então não
fazia parte da sociedade.

ii.iii. Oferta pública por aquisição (OPA ou TAKE OVER)


A oferta pública para a aquisição de controle de companhia aberta somente poderá ser feita com a
participação de instituição financeira que garanta o cumprimento das obrigações assumidas pelo ofertante.
VIDE ART. 258 LSA.
Até a publicação da oferta, a instituição financeira intermediária e a CVM devem manter sigilo sobre
a oferta projetada.
Quando a oferta pública de aquisição é precedida de negociação com os administradores da
companhia a ser adquirida, se trata de uma oferta amigável. Quando a oferta é feita sem prévia negociação,
se trata de uma oferta hostil (hostile takeover também ocorre em sendo a oferta pública de aquisição
após a rejeição inicial do conselho de administração).

iii. Acordo de Acionistas (contrato parassocial)


Pode se referir aos seguintes assuntos:
Compra e venda de ações;
Preferência para a aquisição de ações;
Exercício do direito de voto;
Exercício do poder de controle da companhia.
STJ: A sociedade tem legitimidade passiva para a causa em que se busca o cumprimento de acordo
de acionistas, porque terá que suportar os efeitos da decisão.
As obrigações ou ônus decorrentes desses acordos somente serão oponíveis a terceiros depois de
averbados nos livros de registros e nos certificados de ações, se emitidos.

f) Valores Mobiliários
São instrumentos para a captação de recursos no mercado de capitais.
É um mecanismo de autofinanciamento das sociedades.
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I. Debêntures: É uma espécie de valor mobiliário emitido pelas sociedades anônimas que conferem ao seu
titular um direito de crédito certo contra a companhia, nos termos do que dispuser a escritura.
É título extrajudicial.
A grosso modo, representam um contrato de mútuo/empréstimo que a companhia faz com os
investidores adquirentes.
A debênture pode conter cláusula de correção monetária, com base em coeficientes fixados para
TDP.
Deverá constar a época do vencimento da escritura de emissão e do certificado.
Em princípio, cabe à assembleia-geral deliberar privativamente sobre a emissão de debêntures, mas
há a possibilidade de a emissão ser deliberada pelo Conselho de Administração.
Requisitos para a emissão de debêntures:
Arquivamento, no registro do comércio, e publicação da ata da assembleia geral, ou do conselho de
administração, que deliberou sobre a emissão;
Inscrição da escritura de emissão no registro do comércio;
Constituições de garantias reais, se for o caso.
- Espécies de debêntures:
Com garantia real;
Com garantia flutuante;
Quirografárias;
Subordinadas.

II. Partes beneficiárias: São títulos que conferem aos seus titulares um direito de crédito eventual contra a
companhia.
Em princípio, NÃO conferem ao seu titular qualquer outro direito além da eventual participação nos
lucros anuais da companhia.
Somente as companhias fechadas podem emitir partes beneficiárias.

III. Bônus de subscrição: Assegura ao seu titular o direito de preferência na subscrição de novas ações.
NÃO confere aos seus titulares a ação, mas apenas um direito de preferência na sua subscrição, razão
pela qual o investidor deverá pagar o preço da emissão da ação => a grosso modo, quem adquire um bônus
-o dos acionistas.

g) Órgãos Societários
Cabe ao estatuto social cuidar das regras dos órgãos societários, mas a LSA disciplina os órgãos de
cúpula das companhias.

I. Assembleia-Geral: É o órgão máximo de deliberação da sociedade anônima, com competência para tratar
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de qualquer assunto relacionado ao objeto social.


VIDE matérias privativas da assembleia no art. 122 da LSA.
Via de regra, a assembleia deverá ser convocada pelo conselho de administração ou pela diretoria.
Porém, também pode ser convocada:
Pelo Conselho Fiscal;
Por qualquer acionista, quando os administradores retardarem por mais de 60 dias a convocação;
Por acionistas que representem 5% do capital social, no mínimo, quando os administradores NÃO
atenderem, no prazo de 8 dias, os pedidos de convocação;
Por acionistas que representem 5%, no mínimo, do capital votante ou dos acionistas sem direito a
voto, quando os administradores não atenderem, no prazo de 8 dias, o pedido de convocação da assembleia
para a instalação de conselho fiscal.
A convocação será feita por anúncio publicado por 03 vezes, no mínimo, nos seguintes intervalos:
1ª Convocação:
o S/A Fechada: 8 dias de antecedência;
o S/A Aberta: 15 dias de antecedência.
2ª Convocação:
o S/A Fechada: 5 dias de antecedência;
o S/A Aberta: 8 dias de antecedência.
Desobediência das solenidades legais: pode acarretar a anulação futura da assembleia, o que trará
prejuízos a toda companhia. Porém, a assembleia poderá ser considerada válida se todos os acionistas
comparecerem.
Os acionistas sem direito a voto podem comparecer à Assembleia-Geral e discutir a matéria
submetida à deliberação.
O acionista pode ser representado na assembleia-geral por procurador constituído há menos de 01
ano, que seja acionista, administrador da companhia ou advogado.

STJ (Info 612): O inventariante, representando o espólio, não pode votar em


assembleia de sociedade anônima da qual o falecido era sócio com a pretensão de
alterar o controle da companhia e vender bens do acervo patrimonial.

Quórum na S/A:
De instalação:
o 1ª chamada:
¼ do capital social votante;
2/3 do capital social votante, se houver proposta de reforma dos estatutos.
o 2ª chamada:
Qualquer número de acionistas.
De deliberação:
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o Matérias do art. 129: Maioria dos presentes (salvo no quórum estatutário instituído para as
companhias fechadas);
o Matérias do art. 136: Quórum qualificado (acionistas que representem metade, no mínimo, das ações
com direito a voto, SALVO no quórum estatutário, instituído para as CIAS fechadas).
- Em princípio, cabe ao estatuto disciplinar a situação a ser dada em caso de empate, podendo designar
árbitro para resolver a controvérsia. Se omisso, convoca nova assembleia nos dois meses seguintes.
Persistindo o empate, podem os acionistas decidir pela submissão da decisão a um terceiro ou juiz.
Assembleia-geral ordinária ou extraordinária: A extraordinária pode tratar das demais matérias que
exijam sua deliberação.
AGO: Deve ocorrer todo ano, nos 04 primeiros meses após o fim do exercício social;
AGE: Se tiver por objetivo a reforma do estatuto, somente se instalará em primeira convocação com
a presença de acionistas que representem 2/3, no mínimo, do capital com direito a voto, mas poderá
instalar-se em segunda com qualquer número.
Assembleia-geral virtual ou assembleia-geral on-line: O CVM permitiu as assembleias pela internet.

II. Órgãos de Administração da Companhia


- A legislação brasileira adotou o SISTEMA DUAL, em que a Administração é subdividida entre:
Conselho de Administração: Órgão facultativo em algumas S/A fechadas, sendo obrigatório apenas
nas companhia abertas, nas de capital autorizado e nas sociedades de economia mista;
Diretoria.

II.I. Conselho de Administração: Trata de matérias relacionadas à gestão dos negócios da sociedade
anônima.
VIDE art. 140 LSA.
Será composto por 03 membros, eleitos pela Assembleia-Geral e destituíveis a qualquer tempo,
devendo o estatuto estabelecer:
Número de conselheiros, processo de escolha e substituição do presidente do conselho pela
assembleia ou pelo próprio conselho;
Modo de substituição dos conselheiros;
Prazo de gestão, que NÃO poderá ser superior a 03 anos, permitida a reeleição;
Normas sobre convocação, funcionamento e instalação do conselho, que deliberará por maioria de
votos, podendo o estatuto estabelecer o quórum qualificado para certas deliberações.
O estatuto pode prever a participação no conselho de representantes dos empregados, escolhidos
por voto destes, em eleição direta, organizada pela empresa.
Critério de votação (cabe ao estatuto social a escolha):
Pode se adotar o critério majoritário (em chapas ou isoladamente);
Proporcional (NÃO é possível a formação de chapas);
Critério de voto múltiplo: Os acionistas que representam 0,1 do capital social com direito a voto,
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esteja ou não previsto no estatuto, podem requer a adoção do processo de voto múltiplo, atribuindo-se a
cada ação tantos votos quantos sejam os membros do conselho, e reconhecido ao acionista o direito de
cumular os votos num só candidato ou distribui-los entre vários. => NÃO pode o estatuto negar essa
prerrogativa.
O conselheiro deve ter reputação ilibada, NÃO podendo ser eleito, SALVO dispensa da assembleia-
geral, aquele que:
Ocupar cargos em sociedades concorrentes no mercado (regra da interlocking directorates um
homem deve servir a um chefe apenas);
Tiver interesse conflitante com a sociedade.

II.II. Diretoria
É o órgão realmente incumbido de desempenhar, de maneira efetiva, a gestão dos negócios sociais.
Assim, os diretores são os verdadeiros executivos da S/A.
Art. 143 LSA: A diretoria será composta por 02 ou mais diretores, eleitos e destituíveis a qualquer
tempo pelo conselho de administração ou, se inexistente, pela assembléia-geral, devendo o estatuto
estabelecer:
Número de diretores;
Modo de substituição;
Prazo de gestão, NÃO superior a 03 anos, permitida a reeleição;
Atribuições e poderes de cada diretor.
Os diretores NÃO precisam ser acionistas, mas devem ser pessoas físicas e residirem no território
nacional.
Alguns membros do conselho também podem ser diretores.

OBS: Como a LSA adotou o MODELO DUALISTA DE ADMINISTRAÇÃO, dividindo sua administração entre o
Conselho de Administração e a Diretoria, as normas relativas a requisitos, impedimentos, investidura,
remuneração, deveres e responsabilidade dos administradores aplicam-se a conselheiros e diretores.
O estatuto pode exigir que os membros eleitos para o conselho de administração ou para a diretoria
prestem garantia em favor da companhia, a qual só será levantada pelos mesmos após a aprovação e suas
contas.

DEVERES DOS ADMINISTRADORES


O Administrador deve empregar cuidado e diligência, sendo a sua obrigação de MEIO
e não de resultado.
É VEDADO ao administrador:
Praticar ato de liberalidade à custa da companhia;

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Tomar empréstimo de recursos ou bens da companhia ou usá-los em proveito próprio


sem autorização da assembleia-geral;
Receber de terceiros qualquer modalidade de vantagem pessoal em razão do cargo,
sem autorização estatutária ou da assembleia-geral.
- Possuem dever de lealdade e sigilo acerca de informações relevantes sobre os negócios da
sociedade => busca evitar o INSIDER TRADING (USO DE INFORMAÇÕES INTERNAS OU SIGILOSAS
PARA A OBTENÇÃO DE VANTAGEM).
É VEDADO ao Administrador intervir em qualquer operação social em que tiver
interesse conflitante com o da companhia.
Se companhia aberta: os administradores devem comunicar imediatamente à bolsa de
valores e divulgar pela imprensa qualquer deliberação da assembleia-geral ou dos órgãos de
administração da companhia, ou fato relevante ocorrido nos seus negócios, que possa influir
na decisão dos investidores do mercado => Se a divulgação trouxer prejuízo à CIA, podem se
recusar a divulgar.

RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES


A responsabilidade pelos atos de gestão dos negócios sociais praticados pelos
administradores NÃO recai sobre os mesmos, mas sobre a própria CIA => Logo, o administrador
NÃO é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em
virtude de ato regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar,
quando proceder:
Com culpa ou dolo dentro de suas atribuições;
Com violação à lei ou estatuto.
Em resumo:
Companhia fechada: Os administradores são solidariamente responsáveis, ainda que o
dever legal descumprido NÃO seja atribuição específica de algum deles;
Companhia aberta: Mesmo que um administrador NÃO tivesse atribuição específica de
dar cumprimento ao dever legal descumprido, ele responderá solidariamente se tomou
conhecimento do fato e não o comunicou à assembleia-geral.
Em caso de responsabilização do administrador pelos atos de gestão, a sociedade deve
procedê-la ingressando com ação própria, a AÇÃO DE RESPONSABILIDADE. Em princípio, a
deliberação sobre a propositura da referida ação compete à assembleia-geral ordinária, mas
pode também ocorrer em deliberação da assembleia-geral extraordinária.
Se a companhia deliberar pela NÃO propositura da ação, poderá ainda assim ser
proposta por acionistas que representem 5%, pelo menos, do capital social (conjunto de
acionistas).

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O resultado da ação, acaso bem sucedida, será revertido em favor da própria sociedade,
e não dos acionistas que ajuizaram a demanda.
O juiz poderá reconhecer a exclusão da responsabilidade do administrador, se
convencido de que agiu de boa-fé e visando ao interesse da companhia.
Fica excluída a responsabilidade dos administradores se a assembleia-geral aprovar,
sem reservas, suas contas, SALVO erro, dolo, fraude, ou simulação. Nesse caso, só uma decisão
judicial posterior pode anular a decisão da assembleia-geral, no prazo prescricional de 02 anos.
Quando são alegados danos sociais, os quais atingem diretamente a sociedade, mas
apenas indiretamente os acionistas, deve-se propor AÇÃO SOCIAL DE RESPONSABILIDADE, e
NÃO ação individual.

III. Conselho Fiscal


É órgão interno de fiscalização da gestão da administração da companhia e de assessoramento da
assembleia geral.
Nas S/A, é órgão de existência obrigatória, mas de funcionamento facultativo, pois cabe ao
estatuto dispor sobre seu funcionamento, podendo estabelecer, por exemplo, que não funcione de modo
permanente, mas apenas em determinados exercícios sociais, quando houver pedido expresso dos
acionistas para a sua instalação.
Composição: Mínimo 03 e máximo 05 membros, e suplentes em igual número, acionistas ou não,
eleitos pela assembleia-geral.
Somente podem ser eleitos para o conselho fiscal pessoas naturais, residentes no país, diplomadas
em curso de nível universitário, ou que tenham exercido, por prazo mínimo de 03 anos, cargo de
administrador de empresa ou conselheiro fiscal.
Os conselheiros recebem remuneração pelo desempenho de suas funções, e possuem os mesmos
deveres dos administradores.
O conselho fiscal deverá fornecer ao acionista, ou grupo de acionistas que representem, no mínimo,
5% do capital social, sempre que solicitadas, informações sobre matérias de sua competência.
Em princípio, o conselheiro fiscal NÃO é responsável por ato de outro conselheiro, SALVO se houver
conivência ou se o ato ilícito decorrer de atuação conjunta ou concorrente.

h) Livros e demonstrações contábeis


A S/A, além de ter que escriturar os livros obrigatórios comuns, deve ter os seguintes com as mesmas
formalidades legais (art. 100 LSA) Podem ser escriturados na forma eletrônica:
Livro de registro de ações nominativas;
Livro de transferência de ações nominativas, para lançamento dos termos de transferência;
Livro de registro de partes beneficiárias nominativas;
Livro de atas das assembleias-gerais;

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Livro de presença dos acionistas;


Livro de atas das reuniões do conselho de administração, se houver, e das atas das reuniões de
diretoria;
Livro de atas e pareceres do conselho fiscal.
Ao final de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escrituração mercantil da
companhia, as seguintes demonstrações financeiras:
Balanço patrimonial;
Demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados;
Demonstração do resultado do exercício;
Demonstração dos fluxos de caixa;
Se companhia aberta, demonstração do valor adicionado.

i) Lucros e dividendos
O exercício social terá duração de 01 (um) ano e a data do término será fixada no estatuto.
Lucro líquido é o resultado do exercício, depois de deduzidos:
Os prejuízos acumulados;
A provisão para o IR;
Participações estatutárias de empregados, administradores e partes beneficiárias.
Após a definição do lucro líquido, cabe à assembleia-geral ordinária deliberar sobre a sua destinação,
após análise da proposta elaborada pelos órgãos de administração da companhia. Logo, mesmo a existência
de lucro líquido em determinado exercício NÃO assegura aos acionistas a sua distribuição, cabendo à
assembleia essa decisão, podendo:
I. Deliberar pela distribuição do lucro líquido como dividendos entre os acionistas;
II. Deliberar pela apropriação do lucro líquido como reserva de lucros pela companhia.
RESERVA LEGAL: É a apropriação obrigatória de um percentual do lucro líquido como reserva para a
companhia (5% no mínimo, NÃO podendo exceder 20% do capital social).
Outras reservas (art. 194 LSA):
Reserva para contingência: finalidade de compensar, em exercício futuro, a diminuição do lucro
decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado;
Reserva de incentivos fiscais;
Reserva de lucros a realizar.
- Além dessas reservas, a assembleia-geral pode deliberar pela retenção de lucros.

5.4. Sociedade em nome coletivo

A responsabilidade dos sócios é ILIMITADA.


NÃO admite SÓCIO PESSOA JURÍDICA.
Podem os sócios, por ato constitutivo ou unânime convenção posterior, limitar entre si a
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responsabilidade de cada um =>A limitação de responsabilidade que os sócios podem estabelecer produz
efeitos SOMENTE entre eles, e não a terceiros, pois PERANTE OS CREDORES, A RESPONSABILIDADE DOS
SÓCIOS É SEMPRE ILIMITADA.
Sendo sociedade contratual, é regida subsidiariamente pelas normas da sociedade simples. Logo:
I. Deve adotar firma social como espécie de nome empresarial;
II. Os sócios têm ampla liberdade para disciplinar as suas relações sociais, desde que NÃO
desnaturem o tipo societário escolhido;
III. NÃO se admite a participação de incapazes;
IV. É sociedade de pessoas, dependendo do consentimento dos demais sócios a entrada de
estranhos no quadro social;
V. Sua administração compete aos próprios sócios, NÃO se admitindo a designação a não sócio.

5.5. Sociedade em comandita simples

Originam-se das comendas medievais.


Existem sócios de duas categorias:
Comanditados: Pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais;
Comanditários: Obrigados somente pelo valor de sua quota. Pode ser pessoa física ou jurídica.
Cabe ao contrato social especificar quem são os comanditados e quem são os comanditários.
O regime jurídico do sócio comanditado é o mesmo do sócio da sociedade em nome coletivo. Logo:
I. O comanditado deve ser pessoa física;
II. Só o comanditado pode administrar a sociedade;
III. Só o nome do comanditado pode constar da firma social;
IV. A responsabilidade do comanditado é ilimitada.

A obrigação do sócio comanditário é somente contribuir para a formação do capital social, podendo
ocorrer em dinheiro ou bens, mas NÃO em serviços.
A sociedade dissolve-se de pleno direito por qualquer das causas previstas no art. 1.033 do CC,
inclusive quando, por mais de 180 dias, perdurar a falta de uma das categorias de sócio.

5.6. Sociedade em comandita por ações

É uma sociedade empresária híbrida: possui aspectos de sociedade em comandita e aspectos de


sociedade anônima => Aplica-se o Código Civil + Lei das S/A (supletivamente).
Possui o seu capital dividido em ações.
Possui duas categorias distintas de sócios, uma com responsabilidade limitada e outra com
responsabilidade ilimitada.
Opera sob firma OU denominação.
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O acionista diretor responde ILIMITADAMENTE pelas obrigações sociais => Havendo mais de um
diretor: responsabilidade solidária.
Os diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade, sem limitação de tempo, e somente
poderão ser destituídos por deliberação de acionistas que representem, no mínimo, 2/3 do capital social.

5.7. Sociedade Cooperativa

Será SEMPRE SOCIEDADE SIMPLES.


Características => Vide art. 1.094 CC.
A responsabilidade dos sócios pode ser ilimitada ou limitada.
Cláusula de unimilitância: É a cláusula do estatuto social que impõe aos cooperados o dever de
exclusividade, vedando a vinculação a outra cooperativa congênere, sob pena de exclusão do seu quadro
associativo. Durante muito tempo o STJ entendia válida tal cláusula. Porém o CADE entendeu que viola o
princípio da livre concorrência, e editou a súmula 7 CADE, sendo posteriormente este o entendimento
adotado pelo STJ.

5.8. Sociedade de capital e indústria

Era tratada no antigo código comercial, não acolhido atualmente. No entanto, é possível que uma
sociedade simples pura mantenha estrutura com sócios capitalistas, que investem capital no
empreendimento, e sócios de indústria, que contribuam apenas com a prestação de serviços.

6. OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS

6.1. Transformação

É a operação pela qual a sociedade passa, independente de dissolução e liquidação, de um tipo para
outro.
É a mera mudança do tipo societário.
A deliberação acerca da transformação exige, em regra, votação unânime, SALVO nos casos em que
o ato constitutivo (contrato social ou estatuto) da sociedade transformanda já contenha expressa disposição
autorizando a operação. Nesse caso, aprovando-se a transformação por maioria, permite a lei que o sócio
dissidente se retire da sociedade.
A transformação NÃO prejudicará, em caso algum, os direitos dos credores, que continuarão, até o
pagamento integral dos seus créditos, com as mesmas garantias que o tipo anterior de sociedade lhes
oferecia.
A falência da sociedade transformada somente produzirá efeitos em relação aos sócios que, no tipo
anterior, a eles estariam sujeitos, se o pedirem os titulares de créditos anteriores à transformação, e somente
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a estes beneficiará.

6.2. Incorporação

É a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos
os direitos e obrigações.
Haverá a extinção da sociedade incorporada, mas não surgirá uma nova sociedade. Apenas a
incorporada desaparecerá, e será sucedida em todos os seus direitos e obrigações pela sociedade
incorporadora.

6.3. Fusão

É a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova, que lhes
sucederá em todos os direitos e obrigações.
Determina a extinção das sociedades que se unem, para formar sociedade nova, que a elas sucederá
nos direitos e obrigações.
Na fusão há o surgimento de uma nova sociedade, resultado da união das sociedades fundidas.

6.4. Cisão

É a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais
sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão
de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o capital, se parcial a versão.
Engloba transferência de patrimônio de uma sociedade para outra.
As sociedades que recebem os bens da sociedade cindida podem ser sociedades já existentes ou
sociedade constituída especificamente para tal operação.

6.5. Outras operações entre as sociedades

I. Coligação de sociedades
Se houver participação da S/A: aplicam-se as regras da S/A; se não houver, aplicam-se as regras do
Código Civil.
Consideram-se coligadas as sociedades que, em suas relações de capital, são controladas (art. 1.098
do CC), filiadas (art. 1.099 do CC) ou de simples participação (art. 1.100 do CC).

II. Grupos societários entre sociedades controladores e controladas


Se constituem por convenção pela qual se obriguem a combinar recurso ou esforços para a realização
dos respectivos objetos, ou a participar de atividades ou empreendimentos comuns.
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III. Consórcios
Formam-se para a execução de empreendimento específicos.
NÃO possui personalidade jurídica própria, conforme a LSA.

IV. Sociedade subsidiária integral


É o ÚNICO CASO DE SOCIEDADE UNIPESSOAL ADMITIDA NO DIREITO BRASILEIRO, modelo
específico de S/A em que todas as ações são de titularidade de um único acionista, o qual, por sua vez, será
sempre uma sociedade brasileira.

V. Sociedade de propósito específico (SPE)


NÃO é um novo tipo societário, mas uma sociedade empresária (geralmente S/A), que terá objeto
social único, exclusivo, e será constituída para desenvolver determinado projeto, a exemplo do que ocorre
com as PPP, em que a SPE é obrigatória.

VI. Holding
É quando uma sociedade é sócia de outra sociedade, podendo ser pura ou mista.

VII. Joint Venture


Modalidade de cooperação entre sociedades empresárias com a finalidade de exercício de uma
atividade econômica independente e com intuito lucrativo.
Exerce atividade econômica independente porque ela não é criada apenas para prestar serviços às
sociedades que a criaram ou para servir como prolongamento delas, mas para exercer atividade econômica
específica.
NÃO precisa assumir forma societária com personalidade jurídica autônoma e distinta das
sociedades que a formaram.

VIII. Fundos de private equity e venture capital


Esses fundos de capital de risco são um investimento privado através do qual se compra participação
em determinadas sociedades empresárias que ostentem possibilidades reais de crescimento e
desenvolvimento posterior. Os investidores assumem participação direta nos riscos e se comprometem em
alavancar o negócio com potencial de sucesso, por meio de orientação administrativa, comercial, financeira.
Após a alavancagem do negócio, é comum que os investidores vendam as participações que haviam
adquirido e procurem outro negócio potencialmente rentável para investir.
Drag Along: É o direito de um sócio que está vendendo suas ações de obrigar os demais sócios a
também vendê-las, caso o comprador tenha feito uma oferta de compra de toda a companhia. Geralmente
é inserida tal cláusula em estatuto de companhias que recebem investimentos de fundos de private equity e
venture capital, como estratégia para permitir a saída futura desses investidores, já que eles normalmente
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ingressam nesses empreendimentos com o objetivo de sair após determinado período, para procurar novas
possibilidade de investir.

7. DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DAS SOCIEDADES


O ato de dissolução da sociedade precede o procedimento de dissolução da sociedade.
Existem dois regimes distintos de dissolução das sociedades: um aplicável às sociedades contratuais
e previsto do Código Civil, e outro previsto na LSA.

7.1. Dissolução, liquidação e extinção das sociedades contratuais

O procedimento de dissolução pode ser extrajudicial ou judicial.

a) Hipóteses de dissolução
A sociedade é dissolvida nas seguintes hipóteses (art. 1.033 CC Dissolução de pleno direito):
I. Quando ocorrer vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio,
NÃO entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por prazo indeterminado;
II. Consenso unânime dos sócios;
III. Deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado;
IV. Falta de pluralidade de sócios, NÃO reconstituída no prazo de 180 dias;
V. Extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar: Nesse caso, o MP, tão logo lhe comunique
a autoridade competente, promoverá a liquidação judicial da sociedade, se os administradores não
o tiverem feito nos 30 dias seguintes à perda da autorização. Caso o MP NÃO promova a liquidação
judicial nos 15 dias subsequentes ao recebimento da comunicação, a autoridade competente
nomeará interventor com poderes para requerer a medida e administrar a sociedade, até que seja
nomeado o liquidante;
VI. Judicialmente: anulada a sua constituição, exaurido o fim social ou verificada a sua inexequibilidade
(art. 1034 CC);
VII. Falência.

Em sendo hipótese de dissolução JUDICIAL, a dissolução total seguirá o procedimento comum e a


dissolução parcial seguirá o procedimento especial dos arts. 599/609 do NCPC.
Dissolvida a sociedade, ela NÃO perde automaticamente a sua personalidade jurídica, e continua a
existir apenas para ultimar as suas obrigações.
O ato de dissolução deverá ser registrado na JUNTA COMERCIAL, e a sociedade então inicia a sua fase
de liquidação, devendo designar o respectivo liquidante, e acrescer ao seu nome empresarial a expressão

b) Liquidante
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Nomeação do liquidante: Se não estiver designado no contrato, o liquidante será eleito por
deliberação dos sócios, podendo a escolha recair em pessoa estranha à sociedade.
O liquidante pode ser destituído, a todo tempo:
Mediante deliberação dos sócios;
Em qualquer caso, por via judicial, a requerimento de um ou mais sócios, ocorrendo justa causa.
Deveres do liquidante: VIDE ART. 1.103 CC.
O liquidante passa a ser, a grosso modo, o administrador da sociedade em liquidação, pois em todos
os atos, documentos e publicações, o liquidante deverá empregar a firma OU denominação social sempre
seguida da

c) Finalidade da liquidação e partilha do acervo


Finalidades da liquidação:
Realização do ativo, com a venda dos bens da sociedade e a cobrança dos seus devedores;
Satisfação do passivo, com o pagamento de todos os credores.
Feitos os pagamentos aos credores, entra-se na fase da partilha do acervo líquido da sociedade entre
os seus sócios. Realizada a partilha (se houver acervo líquido) e encerrada a liquidação, a sociedade se
extingue, ao ser averbada no registro próprio a ata da assembleia.
Caso algum sócio discorde da prestação de contas do liquidante, mas seja vencido na assembleia que
a aprovou, terá 30 dias para propor a ação cabível; Se for o credor o insatisfeito, este só terá direito a exigir
dos sócios, individualmente, o pagamento do seu crédito, até o limite da soma por eles recebida em partilha,
e a propor contra o liquidante ação de perdas e danos.
Em se tratando de liquidação judicial, o procedimento é diverso do em epígrafe. Nesse caso, o juiz
convocará, se necessário, reunião ou assembleia para deliberar sobre os interesses da liquidação, e as
presidirá, resolvendo sumariamente as questões suscitadas.

7.2. Dissolução parcial das sociedades contratuais

STJ: Nesse caso, NÃO se nomeia liquidante, bastando a indicação de perito contábil
para a apuração dos haveres.

STJ: O fundo de comércio deve ser levado em conta na apuração dos haveres do
sócio que está deixando a sociedade. => Enunciado 13, I Jornada de Direito
Comercial: A decisão que decretar a dissolução parcial da sociedade deverá indicar
a data de desligamento do sócio e o critério de apuração de haveres.

a) Penhora de quota por dívida particular do sócio


Inicialmente, o STJ entendia inadmissível a penhora por dívida particular do sócios, em obediência à
vontade societária manifestada no contrato social e ao princípio da affectio societatis.
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Com o Código Civil 2002, passou a se admitir a penhora => art. 1.026 CC. Logo, as quotas da sociedade
limitada são hoje penhoráveis para a garantia de dívidas pessoais dos sócios. Nesse caso, o credor NÃO
ingressa na sociedade, mas a quota será liquidada e o valor utilizado para pagamento do credor particular
do sócio.
Sociedade em nome coletivo: A penhora de quota NÃO é, em princípio, permitida, já que nessas
sociedades a affectio societatis é muito forte, e o quadro societário delas é bastante estável. Exceções (art.
1.043 CC):
Se a sociedade tiver sido prorrogada tacitamente;
Tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida oposição do credor, levantada no prazo de 90
dias, contado da publicação do ato dilatório.

b) Morte do Sócio: Deve acarretar apenas a dissolução parcial da sociedade, com a liquidação das quotas do
sócio falecido.

c) Exercício do direito de retirada (Direito de recesso): Fundamenta-se na ideia de que ninguém é obrigado
a contratar contra a sua própria vontade, e enseja a dissolução parcial da sociedade.

d) Exclusão de sócio: Em vez de se dissolver totalmente a sociedade, haverá liquidação da quota do sócio
excluído, com a respectiva apuração de haveres.

e) Efeitos da dissolução parcial


NÃO acarretará a liquidação e partilha, com a extinção da pessoa jurídica: haverá apenas um
procedimento de apuração de haveres, a fim de que o valor das quotas do sócio retirante seja avaliado.
Em princípio, acarretará a redução do capital social, SALVO se os sócios o complementarem.
A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de 90 dias, a partir da liquidação, salvo acordo ou
estipulação contratual em contrário.

STJ (Info 608): A dissolução parcial de sociedade limitada por perda da affectio
societatis pode ser requerida pelo sócio retirante, limitada a apuração de haveres
às suas quotas livres de ônus reais.

7.3) Dissolução, liquidação e extinção das sociedades por ações


O procedimento segue as regras da LSA
a) Hipóteses de dissolução (art. 206):
I.Pleno direito:
Término do prazo de duração;
Hipóteses previstas no estatuto;
Deliberação da AG por acionistas detentores de, no mínimo, METADE das ações com direito a voto;
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Extinção da autorização para funcionar;


Unipessoalidade incidente.
I.Por decisão judicial:
Anulação da constituição da Cia;
Irrealização do objeto social, em ação proposta por acionistas que representem 5% ou mais do
capital social;
Falência.
II.Por decisão da autoridade administrativa competente, nos casos previstos em lei especial.
A Companhia dissolvida conserva a personalidade jurídica, até a extinção, com o fim de proceder à
liquidação.

b) Liquidação
Silente o estatuto, a AG deverá nomear o liquidante e o conselho fiscal que deverão funcionar
durante o período de liquidação.
O liquidante poderá ser destituído, a qualquer tempo, pelo órgão que o tiver nomeado. Nada impede
que os acionistas requeiram a destituição judicial do liquidante, caso se verifique o descumprimento de
alguns de seus deveres.
A liquidação pode ser processada judicialmente na hipóteses do art. 209 da LSA:
A pedido de qualquer acionista, se os administradores ou a maioria de acionistas deixarem de
promover a liquidação, ou a ela se opuserem;
A requerimento do MP, se a companhia, nos 30 dias subsequentes à dissolução, não iniciar a
liquidação, ou, se após iniciá-la, a interromper por mais de 15 dias.
Deveres do liquidante: art. 210 LSA.
O liquidante deverá prestar contas à AG periodicamente.
Nas AG durante a fase de liquidação, todas as ações gozam de IGUAL DIREITO DE VOTO.
Havendo acervo a partilhar, a assembleia pode deliberar que, antes de ultimada a liquidação e depois
de pagos todos os credores, se façam rateios entre acionistas, à proporção que se forem apurando os haveres
sociais.
Concluída a fase de liquidação e a de partilha, o liquidante deverá prestar contas ao final.
Posteriormente, encerra-se a liquidação e a companhia se extingue.
Extingue-se a companhia:
Pelo encerramento da liquidação;
Pela incorporação ou fusão, e pela cisão com versão de todo o patrimônio em outras sociedades.

c) Dissolução parcial das sociedades por ações

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STJ entende possível a dissolução parcial de S/A nos casos em que se verifique a
presença do vínculo intuitu personae e a posterior quebra desse vínculo por algum
motivo.

STJ (Info 595): É possível que sociedade anônima de capital fechado, ainda que
não formada por grupos familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a
despeito de não atingir seu fim consubstanciado no auferimento de lucros e na
distribuição de dividendos aos acionistas , restar configurada a viabilidade da
continuação dos negócios da companhia.

7. ARBITRAGEM NOS CONFLITOS SOCIETÁRIOS

7.1. Em S/A

O art. 109 da LSA permite o uso da arbitragem.


Se a cláusula foi prevista originariamente no estatuto da companhia, tendo os sócios aprovado a
cláusula por unanimidade, é plenamente válida a cláusula e legítimo o uso da arbitragem.
Se a cláusula compromissória for introduzida em alteração estatutária, é possível que alguns
acionistas NÃO se manifestem sobre a matéria. Nesse caso, entende Santa Cruz que a inclusão de cláusula
compromissória de arbitragem deve ser sempre unânime.
É possível a previsão de cláusula compromissória em acordos de acionistas, desde que o objeto do
litígio refira-se a direito patrimonial disponível.

8.2. Em Sociedades Limitadas


Mesmo ausente previsão expressa no CC, é possível que o contrato social contenha cláusula
compromissória, bastando que os sócios tenham optado pela regência supletiva da LSA (que prevê
expressamente o uso da arbitragem).

8.3. Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM)


É o foro criado pela BOVESPA para resolver disputas societárias e do mercado de capitais.
A CAM possui regras próprias e possui quadro de árbitros especializados.
Qualquer interessado, investidor ou empresa, quer seja ou não uma companhia aberta, pode utilizar
a estrutura da CAM para solucionar conflitos.
A adesão à CAM é obrigatória para as companhias que fazem parte do Novo Mercado da Bovespa.

8. TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA (Disregard doctrine)

*ATENÇÃO: VIDE MATERIAL DE DIREITO CIVIL.


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9. CONCENTRAÇÃO EMPRESARIAL E DEFESA DA LIVRE CONCORRÊNCIA

A matéria se insere em direito econômico primordialmente. Assim, serão tecidas algumas


considerações sobre a matéria.

9.1. Livre Iniciativa x Livre Concorrência

Livre iniciativa: É a projeção da liberdade individual no plano da produção, circulação e distribuição


de riquezas, assegurando não apenas a livre escolha das profissões e atividades econômicas, mas a
autonomia na eleição dos meios de produção.
Livre concorrência: Possui caráter instrumental, significando que a fixação dos preços das
mercadorias e serviços NÃO deve resultar de atos cogentes da atividade administrativa.

10.2. Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência Lei do CADE (Lei nº 12.259/11): Possui a finalidade de
prevenir e reprimir as infrações contra a ordem econômica e se estrutura do seguinte modo:

- Superintendência Geral;
- Tribunal Administrativo de
CADE Defesa Econômica;
- Departamento de Estudos
Econômicos.
Sistema Brasileiro de Defesa
da Concorrência (SBDC)

Secretaria de
Acompanhamento
Econômico do Ministério da
Fazenda

9.3. Principais atos de concentração empresarial danosos à livre concorrência

Concentração que ocorre no mesmo estágio do processo


produtivo, que gera a uniformização de condutas, fixação de preços ou divisão de mercados. São empresas
que deveriam concorrer entre si, mas na prática terminam realizando combinações e acordos indevidos.
Aglutinação de vários estágios de produção por parte de uma
mesma empresa.
A empresa passa a concorrer com os próprios fornecedores, ou os adquire ou realiza contratos de
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SEMANA 10/18

exclusividade.
Pode gerar monopólio (só um vendendo) ou monopsônio (só um comprando): Só acarretará infração
à ordem econômica se exercidos de forma abusiva.
Dumping: Venda de produtos ou prestação de serviços abaixo do preço de custo (= preço predatório).
Para tentar combater a prática, economicamente tenta-se utilizar medidas de salvaguarda (ex.: sobretaxa de
produtos chineses).
Operações casadas: Consiste em subordinar a venda de um bem a outro.

DUMPING SOCIAL
1) Conceito de dumping: É uma prática concorrencial desleal entre países. Consiste na venda de bens por preç
artificialmente baixos, com caráter predatório, para dominar mercados e prejudicar a livre concorrência.
2) Dumping Social: É modalidade de dumping em que, para dominar mercado e eliminar a concorrência internacion
são utilizadas práticas trabalhistas prejudiciais à dignidade da pessoa humana, a exemplo do trabalho escravo
degradante, e contrários aos padrões mínimos de trabalho. Como exemplos, é possível citar:
Descumprimento da jornada de trabalho;
Terceirização ilícita;
Inobservância de normas de segurança.
3) Alguns mecanismos para tentar impedir o dumping social:
Cláusula: Consiste em cláusula contratual nos tratados internacionais, exigindo respeito a padrões mínim
sob pena de se aplicar sanções comerciais;
Selo Social: É atestado conferido por organizações internacionais ou entidades empresariais, no sentido
que determinado produto foi produzido segundo os padrões internacionais de trabalho.

Referências Bibliográficas:
- André Santa Cruz Ramos. Manual de Direito Empresarial.

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DIREITO EMPRESARIAL: EMPRESÁRIO

O Código Civil de 2002 (Livro II Direito de Empresa), ao dispor em seu art. 966 que -se
empresário quem exerce profissionalmente a atividade econômica organizada para a produção ou a
implantou no direito brasileiro a chamada teoria da empresa.
O sistema empresarial não coloca o seu foco no registro (Corporações de Comércio). Além disso, não
há uma lista com atividades (Atos de Comércio). A Empresa tem o seu foco na estrutura da atividade
desenvolvida. Temos o que se denomina porquanto fora na Itália com o advento do
Código Civil Italiano de 1942 que se adotou tal teoria. O sistema Italiano da Empresa que é tratado pelo Livro
II de nosso Código Civil a começar por seu artigo 966 que conceitua a Empresa e o Empresário:

Art. 966, CÓDIGO CIVIL. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente


atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de
serviços.

Síntese das características do empresário:

Profissionalismo: atividade habitual, exercida com assunção dos riscos;


Atividade econômica: atividade exercida com fins lucrativos;
Organização: atividade exercida com articulação dos fatores de produção (capital,
insumos, mãode-obra e tecnologia);
Produção/circulação de bens/serviços: abrangência da Teoria da Empresa.

1. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL

É a pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou
circulação de bens ou serviços.
O empresário individual é aquele que exerce a empresa, utilizando-se da personalidade jurídica de
pessoa natural, a mesma que adquiriu no nascimento com vida. Estamos diante de uma pessoa natural que
não pretende constituir uma Pessoa Jurídica para a empresa, pois não se importa que seus bens pessoais e
empresariais integrem o mesmo patrimônio. Nesse caso, a empresa faz parte de seu patrimônio pessoal.
Para caracterização do empresário ainda é preciso reunir 2 (dois) elementos (art. 972 do CC):
Capacidade civil PLENA
AUSÊNCIA de impedimento legal para o exercício da atividade empresarial.

Caiu em Prova Delegado Federal!! O delegado, no desempenho de sua função institucional de investigação
de infração legal, deve diferenciar se o ato ilegal foi praticado por pessoa jurídica empresa ou por pessoa

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física ou jurídica empresário, pois a empresa não se confunde com a pessoa que a compõe, tendo
personalidade jurídica distinta da de seus sócios. (item correto)

1.1. Impedimentos legais

Podem exercer a atividade empresarial os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não
forem legalmente impedidos (art. 972 CC).
O CC/02 NÃO trouxe nenhum dispositivo normativo com impedimento legal ao exercício do
comércio, de modo que eles se encontram espalhados pelo arcabouço jurídico-normativo, sendo os
impedimentos, em geral, normas de direito público para proteger a coletividade.
A proibição é para o exercício de empresa, NÃO sendo vedado que alguns impedidos sejam sócios de
sociedades empresárias. Logo: os impedimentos se dirigem aos empresários individuais e não aos sócios
de sociedades empresárias. No entanto, a possibilidade de os impedidos participarem de sociedades
empresárias NÃO é absoluta, somente podendo ocorrer se forem sócios de responsabilidade limitada e,
ainda assim, se não exercerem funções de gerência ou administração.
As obrigações contraídas por um empresário impedido NÃO são nulas, mas terão plena validade em
relação a terceiros de boa-fé que com ele contratem.

a pessoa legalmente impedida de


exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações

Caiu na prova Delegado de Polícia PCSE 2018! O incapaz é impedido de iniciar atividade empresarial
individual, mas poderá, excepcionalmente, ser autorizado a dar continuidade a atividade empresária
preexistente. (item correto)

1.2. Incapacidade

Só pode exercer empresa quem é capaz.


O CC abre duas exceções. Pelo art. 974 do CC, o incapaz pode, por meio de representante ou
devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo
autor da herança.

Note que nesse caso a possibilidade de o incapaz ser sócio de uma sociedade empresária configura
situação totalmente distinta, já que sócio de sociedade NÃO é empresário.
O incapaz NUNCA poderá ser autorizado a dar início a uma empresa, mas apenas a dar continuidade.

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A autorização para que o menor continue o exercício da empresa será dada pelo juiz em
procedimento de jurisdição voluntária e após a oitiva do MP. Se o juiz entender conveniente a
continuação do exercício da empresa pelo incapaz, concederá um alvará autorizando-o a tanto, por
representante ou assistente. Se o assistente ou representante for impedido, haverá a nomeação de
mais de um gerente, com a aprovação do juiz.
NÃO ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão
ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo os fatos constar no alvará da
autorização.
A prova da emancipação e da autorização do incapaz, nos casos do art. 974, e a eventual revogação,
serão inscritas ou averbadas no registro público de empresas mercantis.

Obs.: Nada obstante a exigência de capacidade civil plena (art. 972 CC), estando o menor emancipado pode
exercer atividade empresarial na condição de empresário individual:

menor pode obter a capacidade PLENA antes de completar a idade


legal pela emancipação, consoante a previsão contida no art. 5.º, parágrafo único,
do Código Civil. Nos casos ali indicados, adquirindo a capacidade plena ele deixa de
ser menor para os fins legais e, com isso, não sofre qualquer restrição para ser

Caiu na prova Delegado 2018!! Condenado por crime falimentar não pode se registrar na junta comercial
como empresário individual, mas pode figurar como sócio de responsabilidade limitada, desde que sem
poderes de gerência ou administração. (item correto)

1.3. Empresário Individual casado

O código civil estabeleceu algumas regras para o Empresário casado, já que o próprio casamento,
a separação ou o ato de reconciliação mudam a forma como os bens são dispostos perante a empresa. A
primeira regra de que tratou o código civil tem maior relação com a figura da sociedade empresária do que
o empresário individual em si, já que desautoriza que cônjuges sejam sócios caso o regime adotado seja o
da comunhão universal dos bens e tudo tem uma explicação.

Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros,
desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da
separação obrigatória.

Ainda, vale ressaltar que o art. 978 do Código Civil esclarece que o empresário regularmente inscrito
pode alienar ou gravar de ônus real o imóvel incorporado à empresa.
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SEMANA 10/18

Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer
que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa
ou gravá- los de ônus real.

Atenção!! No entanto, apesar de não existir nenhum requisito no art. 978 do Código Civil, os JURISTAS
INTEGRANTES DA JORNADA DE DIREITO COMERCIAL, sob a justificativa de fornecer maior segurança às
relações patrimoniais entre os cônjuges e entre o empresário casado e os que com ele contratarem, editaram
o enunciado nº 6
destinatário da norma do art. 978 do CCB e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus
real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal
à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente

da II Jornada de Direito Comercial)

2. REGISTRO DO EMPRESÁRIO

É obrigação legal para todo e qualquer empresário se inscrever na Junta Comercial ANTES de iniciar
a atividade, sob pena de exercê-la irregularmente (art. 967 CC). Caso o empresário não se registre na Junta
Comercial antes do início de suas atividades, tal fato NÃO implicará a sua exclusão do regime jurídico
empresarial, nem fará com que não sejam considerados empresários, posto que a inscrição do empresário
ou sociedade empresário é requisito da sua regularidade, e não de sua caracterização.
Requisitos para a inscrição no Registro Público de empresas mercantis de empresa individual:
a) Nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens;
b) Firma, com a respectiva assinatura autógrafa;
c) Capital;
d) Objeto e sede da empresa
Se sociedade empresária: deve registrar o ato constitutivo;
Se for instituída sucursal, filial ou agência, neste lugar também deverá inscrevê-la, com prova da
inscrição originária.

Domicílio: Súmula 363 STF A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio
da agência ou estabelecimento em que se praticou o ato.
A única exceção quanto à obrigatoriedade do registro diz respeito às atividades econômicas rurais,
em que há a faculdade de se registrar na junta comercial.

2.1. Lei de Registro Público de Empresas Mercantis (Lei 8.934/1994)

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a. Finalidades do Registro:
Dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança, eficácia aos atos jurídicos das empresas
mercantis;
Cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no país e manter atualizadas as
informações pertinentes;
Proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, e o seu cancelamento.

b. SINREM (Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis) É composto por dois órgãos:
Departamento Nacional de Registro de Empresas Mercantis (DNRC): É órgão central do SINREM,
com funções supervisora, orientadora, coordenadora e normativa;
Juntas Comerciais: Como órgãos locais, com funções executora e administradora dos serviços de
registro.

JUNTAS COMERCIAIS
- Responsáveis pela execução e administração dos atos de registro. São órgãos locais que integram a
estrutura administrativa dos Estados-Membros.
- Subordinação jurídica híbrida: As juntas comerciais, embora façam parte da estrutura administrativa dos
Estados (âmbito administrativo), se sujeitam no plano técnico às normas do DNRC.
- Apenas a Junta Comercial do DF se submete, tanto no plano técnico quanto administrativamente, ao
DNRC.
- Divisão de competência, segundo o STJ:
Matéria Administrativa: Competência da Justiça Estadual;
Matéria Técnica, relativa ao registro da empresa: Competência da JF, ante o interesse do DNRC.
=> Porém, o STJ alterou um pouco a jurisprudência, passando a entender que a JF é competente
para julgar os processos em que figura como parte a Junta Comercial somente nos casos em que
se discute a lisura do ato praticado pela Junta Comercial ou nos casos de MS impetrado contra
ato de seu presidente. Logo, se a demanda envolver apenas questões particulares, como conflitos
societários, a competência será da JE.
STJ: Compete à Justiça Comum processar e julgar ação ordinária pleiteando anulação de registro de
alteração contratual efetuado perante a Junta Comercial, ao fundamento de que, por uso indevido do
nome do autor, foi constituída de forma irregular a sociedade empresária.

2.3. Atos de registro praticados pelas Juntas Comerciais

a) Matrícula: ato de registro que se refere a alguns profissionais específicos, os auxiliares de comércio
(leiloeiros, tradutores públicos, intérpretes, etc.). Nesse caso, a Junta funcionaria, a grosso modo, como
órgão regulador da profissão.

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b) Arquivamento: Ato de registro que diz respeito aos atos constitutivos da sociedade empresária ou do
empresário individual. As sociedades cooperativas se sujeitam à inscrição nas juntas comerciais.

c) Autenticação: Ato de registro que se refere aos instrumentos de escrituração contábil do empresário e
dos agentes auxiliares de comércio. É requisito extrínseco de regularidade na escrituração.

2.4. Estrutura organizacional das Juntas Comerciais

a) Presidência: Órgão diretivo e representativo;


b) Plenário: Órgão diretivo superior;
c) Turmas: Órgãos deliberativos inferiores. Compostas por 03 vogais, NÃO participando o Presidente e o Vice
da Junta Comercial;
d) Secretaria Geral: Órgão administrativo;
e) Procuradoria: Órgão de fiscalização e consulta jurídica.

Vogais: Membros da Junta Comercial que decidem sobre os atos de registro e compõem as Turmas
e o Órgão plenário. O vogal e o suplente possuem mandato de 04 anos, permitida uma recondução.

2.5. Processo Decisório nas Juntas Comerciais

Uma alteração do contrato social deve ser levada a registro na junta comercial dentro de 30 dias,
contados da sua efetiva realização, posto que, se isso não for feito, a referida alteração só será considerada
eficaz perante terceiros após o deferimento do registro. Caso o registro seja feito no prazo legal, a alteração
contratual produzirá efeitos desde a data em que foi decidida pelos sócios. Logo:
Se o ato é levado a registro dentro do prazo de 30 dias: registro opera efeitos ex tunc;
Se o ato é levado a registro fora do prazo de 30 dias: produz efeitos ex nunc, ou seja, só se torna
eficaz a partir do seu deferimento.
Em regra, os atos de registro submetidos à apreciação da Junta Comercial são proferidos pelo
Presidente, vogais ou servidores com conhecimento em direito empresarial, em decisões singulares. No
entanto, alguns atos estão sujeitos à decisão colegiada, a ser decidido em 05 dias úteis:

Art. 41. Estão sujeitos ao regime de decisão colegiada pelas juntas comerciais, na
forma desta lei:
I - o arquivamento:
a) dos atos de constituição de sociedades anônimas, bem como das atas de
assembleias gerais e demais atos, relativos a essas sociedades, sujeitos ao Registro
Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins;

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b) dos atos referentes à transformação, incorporação, fusão e cisão de empresas


mercantis;
c) dos atos de constituição e alterações de consórcio e de grupo de sociedades,
conforme previsto na Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976;
II - o julgamento do recurso previsto nesta lei.

Frise-se que as Juntas Comerciais NÃO podem criar exigências não previstas na lei, a exemplo da
exigência por algumas juntas da certidão de regularidade fiscal estadual para o registro de alteração
contratual, em que pese tal exigência não estar prevista na lei de regência nem em seu decreto federal
regulamentar.

2.6. Recursos Cabíveis

Art. 44. O processo revisional pertinente ao Registro Público de Empresas


Mercantis e Atividades Afins dar-se-á mediante:
I - Pedido de Reconsideração: Objetiva rever despachos singulares de turmas que
formulem exigências para o deferimento do arquivamento, e será apresentado em
03 dias úteis (decisão singular) ou 05 dias úteis (decisão colegiada);
II - Recurso ao Plenário: Tem por objeto decisões definitivas, singulares ou de
turmas, e deverá ser decidido em 30 dias, a contar da peça recursal, ouvida a
procuradoria em 10 dias;
III - Recurso ao Ministro de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo: cabível
contra decisões do plenário da Junta.

2.7. Publicidade dos Atos de Registro

Qualquer pessoa, sem necessidade de provar interesse, poderá consultar os assentamentos


existentes nas juntas comerciais e obter certidões, mediante pagamento do preço devido.

3. ESCRITURAÇÃO DO EMPRESÁRIO

Os empresários se obrigam a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na


escrituração uniforme de seus livros, e a realizar anualmente o balanço patrimonial e de resultado
econômico.
Logo, devem os empresários manter:
Sistema de escrituração contábil periódico;
Levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado periódico.

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A escrituração irregular, inclusive, é considerada crime, caso a falência do empresário seja decretada.
Outrossim, os livros empresariais são equiparados a documento público para fins penais.
São instrumentos de escrituração:
Livros;
Conjunto de fichas e folhas soltas;
Conjunto de folhas contínuas;
Microfichas extraídas a partir de microfilmagem por computador.
A escrituração contábil incumbe ao contabilista, legalmente habilitado.
Segundo a doutrina, o único livro obrigatório comum a todo e qualquer empresário é o Diário, que
pode ser substituído por fichas, no caso de ser adotada escrituração mecanizada ou eletrônica, ou ainda por
balancetes diários e balanços, quando o empresário adotar o sistema de fichas de lançamento. Outros livros
podem ser exigidos dos empresários pela legislação trabalhista, fiscal ou previdenciária, mas NÃO podem ser
considerados livros empresariais.
Podem ainda ser exigidos livros específicos dos empresários, a depender do tipo de atividade (ex:
livro de duplicatas) ou profissão (livros impostos aos leiloeiros, por exemplo). E afora esses, o empresário
pode escriturar outros livros, a seu critério.

3.1. Microempresários e empresários de pequeno porte

No art. 970 do Código Civil oferece uma disposição em forma de mandamento para que a legislação
ofereça tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário.
O texto é parecido com o de nossa Constituição Federal.

Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao


empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí
decorrentes.

O Código Civil faz menção ao pequeno empresário em dois artigos (arts. 970 e § 2º do 1.179), o
diploma civil não indica quem é , conceito trazido pelo art. 68 da Lei Complementar
nº 123/06.

Art. 68 da Lei Complementar nº 123/06. Considera-se pequeno empresário, para


efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 (Código Civil), o empresário individual caracterizado como
microempresa na forma desta Lei Complementar que aufira receita bruta anual
até o limite previsto no § 1º do art. 18- A R$81.000,00 (oitenta e um mil reais)

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O CC dispensa ao pequeno empresário a necessidade de manter um sistema de escrituração e de


levantar anualmente os balanços patrimonial e de resultado econômico, entendendo a doutrina que a
mpresário e os de pequeno porte.
A Lei Complementar nº 123/06 prevê tratamento diferenciado para aqueles que forem
enquadrados como:

Microempresa (ME);
Empresa de Pequeno Porte (EPP);
Microempreendedor Individual (MEI) e;
Pequeno Empresário.

3.2. Sigilo empresarial

Os livros empresariais são protegidos pelo sigilo, de modo que, salvo os casos previstos em lei,
nenhuma autoridade, juiz ou Tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para
verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam ou não, em seus livros e fichas, as
formalidades prescritas em lei. No entanto, isso NÃO se aplica às autoridades fazendárias, quando no
exercício da fiscalização tributária.
STF: Entende que o exame dos livros e documentos constantes da escrituração deve se ater ao objeto
da fiscalização => VIDE SÚMULA 439 STF: Estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer
livros comerciais, limitado o exame ao ponto objeto da investigação.
O sigilo que protege os livros empresariais também pode ser quebrado por ordem judicial => VIDE
ART. 381 CPC E ART. 1.191 CC.
Em se tratando de S/A, a lei 6.404/76 determina que a exibição total dos livros da S/A pode ser
determinada por juiz quando houver requerimento de acionistas que representem pelo menos 5% do Capital
Social, apontando violação ao estatuto ou à lei ou suspeitas de graves irregularidades levadas a efeito por
órgão da companhia.
A exibição parcial dos livros empresariais pode ser determinada pelo julgador, a requerimento ou até
mesmo de ofício, e em qualquer processo.
A exibição parcial dos livros NÃO atinge os livros auxiliares, posto que, por não serem obrigatórios,
NÃO são de existência presumida. Caso o requerente consiga provar que o empresário possui determinado
livro auxiliar e que esse livro é indispensável para a prova de determinado fato, a exibição pode ser
determinada, mesmo a parcial, estabelecendo-se presunção contra o empresário, caso ele NÃO o apresente.

3.3. Eficácia probatória dos livros empresariais

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Art. 378 CC: Os livros empresariais provam contra o seu autor. É lícito ao
comerciante, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que
os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos.

Logo, a eficácia probatória dos livros empresariais contra o empresário opera-se independente de os
mesmos estarem corretamente escriturados, podendo o empresário demonstrar, por outros meios de prova,
que os lançamentos constantes daquela escrituração são equivocados.
A regularidade da escrituração exige a observância aos requisitos intrínsecos e extrínsecos:

a) Requisitos Intrínsecos: A escrituração será feita em idioma e moeda corrente nacionais, e em forma
contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas,
borrões, rasuras, emendas ou transporte para as margens;
b) Requisitos extrínsecos: Existência de um termo de abertura e de um termo de encerramento, bem
assim a autenticação da Junta Comercial.

4. NOME EMPRESARIAL (ART. 1.155, CC E SEGUINTES)

Consiste na expressão que os identifica nas relações jurídicas que formalizam em decorrência do
exercício da atividade empresarial.
Segundo doutrina majoritária, o direito ao nome empresarial é direito personalíssimo. Inclusive,
decidiu o STJ que, havendo mudança de nome empresarial, deve haver a outorga de nova procuração aos
mandatários da sociedade empresária.
Funções do nome empresarial:
a) Subjetiva: Individualizar e identificar o sujeito de direitos exercente da atividade empresarial;
b) Objetiva: Garantir fama, nome e reputação.

Art. 1.164. O nome empresarial não pode ser objeto de alienação.


Parágrafo único. O adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode, se o
contrato o permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com a
qualificação de sucessor.

Art. 1.165. O nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode
ser conservado na firma social.

Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas


jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso
exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado.

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Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território


nacional, se registrado na forma da lei especial.

Art. 1.167. Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para anular a inscrição do
nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato

NOME EMPRESARIAL X MARCA X NOME FANTASIA X NOME DE DOMÍNIO X SINAIS DE PROPAGANDA


Marca: Sinal distintivo que identifica produtos ou serviços do empresário. Precisa ser registrada
no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) para obter proteção;
Nome Fantasia: Identifica o título de estabelecimento (é como se fosse o apelido, nome popular).
O ordenamento jurídico NÃO reserva proteção específica ao nome fantasia ou título de
estabelecimento. Contudo, o uso indevido de título de estabelecimento (nome fantasia) de outro
empresário, ainda que a expressão não seja registrada como marca ou nome desse empresário,
caracteriza o crime de concorrência desleal (art. 195, V, da Lei nº 9.279/96).
Nome de domínio: É o endereço eletrônico dos sites dos empresários e, conforme enunciado 7 da
I Jornada de Direito Comercial, integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para
todos os fins de direito.
Sinais de Propaganda: Embora não se destinem a identificar especificamente produtos e serviços do
empresário, exercem a função de mercado de chamar a atenção dos consumidores. A nova legislação
deixou sem regulamentação, o que não significa que não exista proteção às expressões de propaganda,
reguladas pela CONAR.

4.1. Espécies de nome empresarial

O CC distingue duas espécies:

a) Firma: pode ser individual ou social, é espécie de nome empresarial formado por um nome civil, do próprio
empresário ou dos demais sócios.
O núcleo da firma é SEMPRE um nome civil (Ex: C. Cabral ou Camilla Cabral).
Na firma, é FACULTADA a indicação do ramo de atividade (ex: Camilla Cabral Cursos Jurídicos).

b) Denominação: Só pode ser social.


Pode ser formada por qualquer expressão linguística (elemento fantasia), bem como é obrigatória a
indicação do objeto social (ramo da atividade).
A DOUTRINA APONTA QUE A FIRMA É PRIVATIVA DE EMPRESÁRIOS INDIVIDUAIS E SOCIEDADES
DE PESSOAS, ENQUANTO A DENOMINAÇÃO É PRIVATIVA DE SOCIEDADES DE CAPITAL.

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A firma, seja individual ou social, além de identificar o exercente da atividade empresarial como
sujeito de direitos, exerce a função de assinatura do empresário ou da sociedade empresária; já a
denominação NÃO exerce essa função, servindo apenas como elemento identificador.
a) Firma Serve de assinatura do empresário => Contrata assinando o nome empresarial;
b) Denominação NÃO serve de assinatura do empresário => Contrata assinando com o nome civil do
representante.

4.2. Nome empresarial das sociedades

a) Sociedade Limitada: Firma ou denominação


Se optar pelo uso da firma social, será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que
pessoas físicas; se optar pelo uso da denominação social, esta deverá necessariamente designar o objeto da
sociedade, podendo figurar o nome de um ou mais sócios ou constar expressão linguística qualquer.
A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos
administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade.

b) Sociedades em que há sócios de responsabilidade ilimitada: Operarão sob firma, na qual somente o nome

abreviatura. Ex: Sociedade em nome coletivo.

c) Sociedade Anônima: Opera sob denominação designada no objeto social, integrada pelas expressões

nome do fundador, acionista ou pessoa que haja concorrido para a formação da empresa.

d) Sociedade em comandita por ações: pode adotar firma ou denominação, aditada da expressão

e) Sociedade em conta de participação: NÃO pode ter firma ou denominação, já que NÃO possui
personalidade jurídica própria.

f) Microempresa ou empresa de pequeno porte: Deverão acrescentar aos seus nomes as terminações ME
ou EPP, conforme o caso.

g) Sociedade Simples: O art. 977 do CC determina que o contrato social da sociedade simples deve indicar a
sua denominação. No entanto, isso NÃO exclui a possibilidade de se utilizar tanto a firma quanto a razão
social.

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4.3. Princípios que norteiam a atividade empresarial

a) Princípio da veracidade: O nome empresarial NÃO poderá conter informação falsa.


Será OBRIGATÓRIA a alteração do nome empresarial:
Quando se provar, posteriormente ao registro, a coexistência do nome registrado com outros já
constantes dos assentamentos da Junta Comercial;
Quando ocorrer morte ou a saída de sócio cujo nome conste da firma da sociedade;
Quando houver transformação, incorporação, fusão ou cisão da sociedade, entre outras situações
específicas.

b) Princípio da novidade: É proibido o registro de um nome empresarial igual ou muito parecido com outro
já registrado.
A PROTEÇÃO AO NOME EMPRESARIAL QUANTO AO PRINCÍPIO DA NOVIDADE SE INICIA
AUTOMATICAMENTE A PARTIR DO REGISTRO E É RESTRITA AO TERRITÓRIO DO ESTADO DA JUNTA
COMERCIAL EM QUE O EMPRESÁRIO SE REGISTROU. =>Assim, nada impede que um empresário com
atividade na Bahia registre nome empresarial idêntico ao de outro empresário, mais antigo, com atuação em
Pernambuco, SALVO se este obteve o direito de usar exclusivamente seu nome empresarial em todo
território nacional.
Embora o nome empresarial NÃO possa ser vendido, é possível que, num contrato de alienação do
estabelecimento empresarial (trespasse), ele seja negociado como elemento integrante desse próprio
estabelecimento.

OBS: CONFLITO DE NOMES NO STJ Para o STJ, nas lides em que se discutem eventuais conflitos
entre nomes empresariais, a maior preocupação é saber se há possibilidade de confusão entre
consumidores.

5. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL (art. 1.142, CC e seguintes)

Conceito técnico jurídico: É o complexo de bens, materiais e imateriais, que constituem o


instrumento utilizado pelo comerciante para a exploração de determinada atividade mercantil. Logo, o local
em que o empresário exerce suas atividades (ponto do negócio), é apenas um dos elementos que
compõem o estabelecimento empresarial, o qual é composto de outros bens materiais e até mesmo
imateriais É UNIVERSALIDADE DE FATO!
Trata-se do complexo de bens reunidos para o desenvolvimento da atividade empresarial. O
estabelecimento como um todo possui um valor econômico próprio, distinto do valor dos bens que o
compõem. É sinônimo de fundo de comércio.

Atenção a jurisprudência:
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equipamentos, utensílios etc.) e imateriais (marcas registradas, invenções

(STJ, REsp 907.014/MS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA


TURMA, julgado em 11/10/2011, DJe 19/10/2011)

LOGO: ESTABELECIMENTO NÃO SE CONFUNDE COM A EMPRESA, já que esta corresponde a uma
atividade, bem como estabelecimento NÃO se confunde com empresário.
O estabelecimento empresarial é o instrumento utilizado pelo empresário para a realização de sua
atividade empresarial, razão pela qual só o compõem aqueles bens que estejam ligados ao exercício da
atividade.
STJ: As mercadorias do estoque constituem um dos elementos materiais do estabelecimento
empresarial, visto tratar-se de bens corpóreos utilizados na exploração da sua atividade econômica.
- A doutrina aponta dois elementos relevantes na noção de estabelecimento:
Complexo de bens;
Organização.

5.1. Natureza Jurídica do estabelecimento empresarial

Para a Teoria Universalistas, o estabelecimento empresarial seria uma universalidade de direito ou


uma de fato.
A doutrina majoritária considerou o estabelecimento empresarial uma universalidade de fato, vez
que os elementos que o compõem formam uma coisa unitária exclusivamente em razão da destinação que
o empresário lhes dá, e não em virtude de disposição legal.

Art. 1.143, CC. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios
jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza.

Na universalidade de fato o conjunto de coisas singulares, simples ou compostas, resulta da vontade


da pessoa que lhes dá a destinação comum que melhor lhe aprouver. Já na universalidade de direito, há um
is Gonçalves Neto)

Caiu em prova! Julgue o item a seguir: Por configurar uma universalidade de fato, o estabelecimento
empresarial pode ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que
sejam compatíveis com a sua natureza. (item correto) es de direito a que a ordem jurídica atribui caráter
unitário. É nesse sentido que se devem compreender os enuncia

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5.2. Elementos

Estabelecimento empresarial é composto por bens de duas categorias: corpóreos e incorpóreos. Os


bens corpóreos são aqueles que se caracterizam por ocupar espaço no mundo exterior, dentre eles podemos
citar:

mercadorias;
instalações;
máquinas
utensílios;
dinheiro;
veículos;
imóvel da empresa;

Os bens incorpóreos são as coisas imateriais, que não ocupam espaço no mundo exterior, são
ideias, frutos da elaboração abstrata da inteligência ou do conhecimento humano. Existem na consciência
coletiva. Nessa categoria, estão os direitos que seu titular integra no estabelecimento empresarial, tais
como:

patente de invenção;
modelo de utilidade;
marcas;
desenhos industriais;
ponto;
título do estabelecimento;
perfis de redes sociais.

Atenção! O estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce a atividade empresarial. Como já
mencionado, o estabelecimento tem direta relação com o conjunto de bens para desenvolvimento da
atividade empresarial. O local onde a atividade é exercida pode se elevar a condição de ponto empresarial,
mas esse estudo perfaz o estudo das locações empresariais.

Obs.: Embora o estabelecimento empresarial possa fazer parte do patrimônio do empresário, com este
(patrimônio) NÃO se confunde. O patrimônio é considerado todo o complexo de direitos e obrigações de
uma pessoa (física ou jurídica), suscetível de avaliação econômica. Ao passo que o estabelecimento é apenas
um complexo de bens organizado para exercício da atividade empresarial.

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5.2. Contrato de trespasse

O trespasse significa a alienação do estabelecimento empresarial titularizado pelo empresário,


razão pela qual tem livre disponibilidade sobre a sua universalidade de fato.
Questiona-se se o estabelecimento pode ser objeto unitário de direito e de negócios jurídicos,
translativos, constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza => nesse ponto, o código se refere à
possibilidade de o estabelecimento ser negociado como um todo unitário (universalidade de fato), caso em
que se está diante do trespasse (contrato oneroso de transferência do estabelecimento empresarial).
É condição de eficácia perante terceiros o registro do contrato de trespasse na Junta Comercial e
sua posterior publicação na imprensa oficial.
O empresário que vender o estabelecimento empresarial deve ter cautela, pois ou deverá conservar
bens suficientes para pagar todas as suas dívidas perante os seus credores, ou deverá obter o consentimento
destes, expresso ou tácito. Caso não guarde patrimônio suficiente, o empresário deverá notificar os credores
para que, em 30 dias, se manifestem acerca da intenção em alienar o estabelecimento.
O trespasse irregular poderá ensejar o pedido e a decretação da quebra do empresário.

5.3. Sucessão empresarial

O adquirente do estabelecimento empresarial responde pelas dívidas existentes contraídas pelo


alienante desde que regularmente contabilizadas. No entanto, o alienante fica solidariamente responsável
por elas durante o prazo de 01 ano, sendo tal prazo contado da seguinte maneira:
Tratando-se de dívida já vencida, o prazo é contado a partir da publicação do contrato de trespasse;
Tratando-se de dívida vincenda, o prazo é contado no dia do seu vencimento.
Em se tratando de dívidas tributárias ou trabalhistas, aplica-se a legislação específica sobre a matéria.
Falência: A alienação do estabelecimento empresarial feita em processo de falência ou recuperação
judicial NÃO acarreta, para o adquirente do estabelecimento, NENHUM ônus, de modo que o adquirente
NÃO responderá pelas dívidas tributárias e trabalhistas.

5.4. Cláusula de não concorrência

NÃO havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento NÃO pode fazer concorrência
ao adquirente, nos 05 anos subsequentes à transferência => Observância ao princípio da boa-fé objetiva.

Enunciado 489 CJF: A ampliação do prazo de 05 anos de proibição de concorrência


pelo alienante ao adquirente do estabelecimento, ainda que convencionada no
exercício da autonomia da vontade, pode ser revista judicialmente, se abusiva.

O CADE entende que as cláusulas de não concorrência são válidas, desde que:
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Sejam medidas auxiliares ao negócio principal (acessoriedade);


Sirvam de garantia da viabilidade negocial (instrumentalidade);
Submetam-se a parâmetro mínimos fixados pelo Conselho, relacionados aos limites material,
territorial e temporal da cláusula.
Para o CADE, a simples revisão de cláusula de não concorrência fora dos limites geográficos do
mercado relevante deve ser repelida, pois tal cláusula só se justificaria como elemento acessório do contrato
que instrumentaliza o ato de concentração.
A intervenção do CADE só será legítima quando a operação puder causar danos, efetivos ou
potenciais, à livre concorrência.

STJ/2015: A cláusula de não-concorrência fixada por prazo indeterminado é


abusiva.

5.5. Avaliação do estabelecimento empresarial e due diligence

Due Diligence: É o procedimento de análise de documentos, da contabilidade, dos contratos, das


informações de determinada sociedade, para aferir o valor da empresa (valuation). Realiza-se previamente
à celebração do trespasse.

5.6. Proteção do ponto de negócio

O ponto de negócio NÃO é apenas o local físico, podendo ter existência física ou virtual.
O ponto do negócio possui proteção especial, assegurando até mesmo o direito à renovação
compulsória do contrato de aluguel, em face do DIREITO DE INERÊNCIA AO PONTO (prerrogativa de
permanecer naquele local mesmo na hipótese de o locador não pretender mais a renovação do contrato
locatício).
A Lei de Locações traz as seguintes condições para o direito à renovação do contrato de locação
(art. 51, Lei 8.245/91):
O contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado;
O prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos do contrato seja de 05
anos Esse prazo NÃO precisa, necessariamente, ter sido obtido por meio de um único contrato,
podendo ser alcançado pela soma de vários contratos escritos;
O locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de
3 anos.

O autor da renovatória deverá preencher a inicial com:


Prova dos requisitos em epígrafe;
Prova do exato cumprimento do contrato em curso;
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Prova da quitação dos impostos e taxas que incidiram sobre o imóvel e cujo pagamento lhe incumbia;
Indicação clara e precisa das condições para a renovação;
Indicação do fiador quando houver no contrato a renovar;
Prova de que o fiador aceita dos encargos da fiança;
Prova, se for o caso, de ser cessionário ou sucessor, em virtude de título oponível ao proprietário.

STJ: Decidiu que a renovação deve ser feita pelo mesmo prazo do último contrato, sendo o prazo
máximo de duração de 05 anos.
Hipóteses legais que autorizam a retomada do imóvel pelo locador:
O locatário faz proposta insuficiente para a renovação do contrato de aluguel. Porém, nesse caso o
locador deverá apresentar contraproposta, em condições de locação que repute compatíveis com o
valor locativo real e atual do imóvel.
STJ: No valor do novo aluguel deverão ser consideradas eventuais benfeitorias realizadas no imóvel
pelo próprio locatário, pois incorporadas ao domínio do locador proprietário, NÃO se vislumbrando
enriquecimento indevido.
O locador possuir proposta de aluguel feita por um terceiro, em melhores condições do que a
proposta do locatário, caso em que deverá ser anexada essa proposta nos autos;
O locador precisar fazer reforma substancial no imóvel, seja por determinação do Poder Público ou
para fazer modificações que aumente o valor do negócio ou da propriedade;
O locador necessitar do imóvel para uso próprio;
O locador precisar do imóvel para transferência de estabelecimento empresarial existente há mais
de um ano cuja maioria do capital social seja de sua titularidade ou de seu cônjuge, ascendente ou
descendente.

OBS: Nas 03 últimas hipóteses acima, o locador tem um prazo de 03 meses, contados a partir da entrega do
imóvel, para dar a este o destino alegado ou iniciar as obras determinadas pelo Poder Público ou que declarou
pretender realizar, sob pena de indenizar o locatário por prejuízos e lucros cessantes.

5.7. Shopping Center

André Santa Cruz entende ser um contrato sui generis, com natureza atípica mista, reconhecida pelo
STJ.
A legislação permite a propositura de ação renovatória nos contratos de locação de espaços em
shoppings centers.
Cláusula de raio: É comumente utilizada nos contratos de shopping center, em que proíbe o locatário
de se instalar em shopping concorrente durante a vigência do negócio. No entanto, o CADE entendeu que,
em alguns casos, viola o princípio da livre concorrência, podendo configurar prática anticompetitiva.

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STJ (Info 585): Em tese, não é abusiva a previsão, em normas gerais de


empreendimento de shopping center ("estatuto"), da denominada "cláusula de
raio", segundo a qual o locatário de um espaço comercial se obriga - perante o
locador - a não exercer atividade similar à praticada no imóvel objeto da locação
em outro estabelecimento situado a um determinado raio de distância contado a
partir de certo ponto do terreno do shopping center.

5.8. Aviamento e clientela

Aviamento: É a aptidão que um determinado estabelecimento possui para gerar lucros ao exercente
da empresa, sendo qualidade ou atributo do estabelecimento que vai influir na sua valoração econômica.
É em função do aviamento que se calcula o valor de um estabelecimento empresarial.
STJ: Mesmo uma empresa temporariamente inativa deve ser avaliada levando-se em consideração
o seu potencial aviamento.
Clientela: É o conjunto de pessoas que mantém com o empresário ou sociedade empresária relações
jurídicas constantes, sendo a manifestação externa do aviamento.

6. AUXILIARES E COLABORADORES DO EMPRESÁRIO

6.1. Prepostos do empresário

Implica, necessariamente, poderes de representação típicos do mandato, não podendo o preposto


delegar poderes sem a prévia autorização do proponente.
Os prepostos NÃO podem fazer concorrência, ainda que indireta, aos seus preponentes, SALVO se
possuírem autorização expressa. Se não possuem a autorização, poderão responder por perdas e danos,
podendo o empresário requerer a retenção dos lucros decorrentes da operação do preposto.
Teoria da Aparência: Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos,
praticados nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que NÃO autorizados por
escrito.
Caso a atuação dos prepostos tenha sido dolosa, assumirão responsabilidade solidária com seus
preponentes, podendo terceiros exigir a obrigação por qualquer deles.

6.2. Contabilista

Responsável pela contabilidade do empresário.

6.3. Gerente

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Aquele ao qual o empresário confia poderes de chefia em seu negócio, entendido como gerente
empregado.
O sócio-gerente da época da dissolução irregular responde pelos débitos da empresa, mesmo que
ele não fosse o gerente da pessoa jurídica executada no momento do fato gerador do tributo inadimplido.
O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular da pessoa jurídica executada
ou na presunção de sua ocorrência, pode ser autorizado contra o sócio ou o terceiro não sócio, com poderes
de administração na data em que configurada ou presumida a dissolução irregular, ainda que não tenha
exercido poderes de gerência quando ocorrido o fato gerador do tributo não adimplido, conforme art. 135,
III, do CTN.STJ. 1ª Seção.REsp 1645333-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 25/05/2022 (Recurso
Repetitivo Tema 981) (Info 738).

7. SIMPLES NACIONAL (LEI COMPLEMENTAR Nº 123/2006)

7.1. Conceito

O SIMPLES é um regime diferenciado e favorecido, dispensado às microempresas e empresas de


pequeno porte, com um regime único de arrecadação e de obrigações acessórias.
Define Ricardo Alexandre: De qualquer forma, ressalvadas situações bastante específicas, é possível
definir o Simples Nacional como um regime jurídico simplificado e favorecido, tendente a reduzir a burocracia
e a carga tributária a que estão submetidas as microempresas e empresas de pequeno porte do País.

7.2. Características (CF, art. 146, parágrafo único)

Adesão opcional para o contribuinte;


Possibilidade de estabelecimento de condições de enquadramento diferenciadas por Estado;
Recolhimento unificado e centralizado, com imediata distribuição da parcela de recursos
pertencentes aos respectivos entes federados, sendo vedada qualquer retenção ou
condicionamento;
Possibilidade de compartilhamento entre os entes federados do sistema de arrecadação, fiscalização
e cobrança, com adoção de cadastro nacional único de contribuintes.

Definição da empresa e microempresa de pequeno porte (art. 3º LC 123):

Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou


empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a
empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o
art. 966 da LEI Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente

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registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas


Jurídicas, conforme o caso, desde que:
I - no caso da MICROEMPRESA, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual
ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e
II - no caso da EMPRESA DE PEQUENO PORTE, aufira, em cada ano-calendário,
receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou
inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais).

ATENÇÃO à recente alteração promovida pela LC 155/16, que estipulou receita igual ou inferior a R$
4.800.00,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais)! Vide comentários ao final.

ATENÇÃO: Com a LC 147/2014, foi estabelecido um limite em separado de receita bruta para as
microempresas e empresas de pequeno porte que realizem exportações de mercadorias ou serviços,
por meio de comercial exportadora ou da sociedade de propósito específico prevista no art. 56 da LC
123/2006. Na prática, as optantes passam a ter dois limites de idênticos valores. Um relativo às receitas
oriundas de operações realizadas no mercado interno e outro referente às exportações de
mercadorias. Assim, é possível que uma empresa mantenha legitimamente o enquadramento no Simples
Nacional mesmo obtendo receitas de até R$ 7,2 milhões, desde que R$ 3,6 milhões sejam relativos a
exportação de mercadorias e serviços e 3,6 milhões sejam auferidos no mercado interno.

7.4. Vedações à opção:

A lei faz duas distinções, e elenca empresas que NÃO poderão participar do SIMPLES em nenhuma
hipótese, de outras que só poderão gozar dos benefícios não-tributários:

a) Vedação Total

Art. 3º, § 4º Não poderá se beneficiar do tratamento jurídico diferenciado previsto


nesta Lei Complementar, incluído o regime de que trata o art. 12 desta Lei
Complementar, para nenhum efeito legal, a pessoa jurídica:
I - de cujo capital participe outra pessoa jurídica;
II - que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa jurídica
com sede no exterior;
III - de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário ou seja
sócia de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos termos
desta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de
que trata o inciso II do caput deste artigo;

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IV - cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de
outra empresa não beneficiada por esta Lei Complementar, desde que a receita
bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo;
V - cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica
com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata
o inciso II do caput deste artigo;
VI - constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo;
VII - que participe do capital de outra pessoa jurídica;
VIII - que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de
desenvolvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito, financiamento e
investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora de títulos,
valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros
privados e de capitalização ou de previdência complementar;
IX - resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma de
desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-
calendário anteriores;
X - constituída sob a forma de sociedade por ações.
XI - cujos titulares ou sócios guardem, cumulativamente, com o contratante do
serviço, relação de pessoalidade, subordinação e habitualidade.

Na hipótese de a microempresa ou empresa de pequeno porte incorrer em alguma das situações


supra, será excluída do tratamento jurídico diferenciado, com EFEITOS A PARTIR DO MÊS SEGUINTE em que
ocorra a situação impeditiva.

b) Vedação Parcial

Art. 17. Não poderão recolher os impostos e contribuições na forma do Simples


Nacional a microempresa ou a empresa de pequeno porte:
I - que explore atividade de prestação cumulativa e contínua de serviços de
assessoria creditícia, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a
pagar e a receber, gerenciamento de ativos (asset management), compras de
direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de
serviços (factoring);
II - que tenha sócio domiciliado no exterior;
III - de cujo capital participe entidade da administração pública, direta ou indireta,
federal, estadual ou municipal;
IV - (REVOGADO)

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V - que possua débito com o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, ou com as
Fazendas Públicas Federal, Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade não esteja
suspensa;
VI - que preste serviço de transporte intermunicipal e interestadual de passageiros,
exceto quando na modalidade fluvial ou quando possuir características de
transporte urbano ou metropolitano ou realizar-se sob fretamento contínuo em
área metropolitana para o transporte de estudantes ou trabalhadores; (Redação
dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014) (Produção de efeito)
VII - que seja geradora, transmissora, distribuidora ou comercializadora de energia
elétrica;
VIII - que exerça atividade de importação ou fabricação de automóveis e
motocicletas;
IX - que exerça atividade de importação de combustíveis;
X - que exerça atividade de produção ou venda no atacado de:
a) cigarros, cigarrilhas, charutos, filtros para cigarros, armas de fogo, munições e
pólvoras, explosivos e detonantes;
b) bebidas a seguir descritas: Atenção às alterações da LC 155/16!
1 - alcoólicas;
2. (Revogado);
3. (Revogado);
4 - cervejas sem álcool;
XI - (Revogado);
XII - que realize cessão ou locação de mão-de-obra;
XIII - (Revogado);
XIV - que se dedique ao loteamento e à incorporação de imóveis.
XV - que realize atividade de locação de imóveis próprios, exceto quando se referir
a prestação de serviços tributados pelo ISS.
XVI - com ausência de inscrição ou com irregularidade em cadastro fiscal federal,
municipal ou estadual, quando exigível.

7.5. Exclusão do regime

A exclusão poderá ocorrer de ofício ou mediante comunicação das empresas optantes.

a) Exclusão mediante comunicação: Pode decorrer:


De opção da pessoa jurídica enquadrada na sistemática;
Obrigatoriamente, quando a pessoa jurídica incidir em qualquer das situações de vedação;

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Quando ultrapassado, no ano calendário de início da atividade, o limite de receita bruta


correspondente a R$ 300.000,00, multiplicados pelo número de meses de funcionamento nesse
período, em relação aos tributos e contribuições federais, e em relação aos tributos estaduais,
municipais e distritais, os respectivos limites proporcionais, também multiplicados pelo número de
meses de funcionamento no período, caso o DF, E e M tenham adotado as condições diferenciadas
de enquadramento.

A falta de comunicação da exclusão da pessoa jurídica, quando obrigatória a exclusão do SIMPLES,


sujeitará a PJ à multa de 10% do total de impostos e contribuições devidos conforme o SIMPLES, no mês que
anteceder o início dos efeitos da exclusão, não inferior a R$ 200,00 (duzentos reais).

b) Exclusão de Ofício: Ocorre na forma regulamentada pelo comitê gestor, nas seguintes hipóteses:

I - verificada a falta de comunicação de exclusão obrigatória;


II - for oferecido embaraço à fiscalização, caracterizado pela negativa não
justificada de exibição de livros e documentos a que estiverem obrigadas, bem
como pelo não fornecimento de informações sobre bens, movimentação
financeira, negócio ou atividade que estiverem intimadas a apresentar, e nas
demais hipóteses que autorizam a requisição de auxílio da força pública;
III - for oferecida resistência à fiscalização, caracterizada pela negativa de acesso ao
estabelecimento, ao domicílio fiscal ou a qualquer outro local onde desenvolvam
suas atividades ou se encontrem bens de sua propriedade;
IV - a sua constituição ocorrer por interpostas pessoas;
V - tiver sido constatada prática reiterada de infração ao disposto nesta Lei
Complementar;
VI - a empresa for declarada inapta, na forma dos arts. 81 e 82 da LEI Nº 9.430, de
27 de dezembro de 1996, e alterações posteriores;
VII - comercializar mercadorias objeto de contrabando ou descaminho;
VIII - houver falta de escrituração do livro-caixa ou não permitir a identificação da
movimentação financeira, inclusive bancária;
IX - for constatado que durante o ano-calendário o valor das despesas pagas supera
em 20% (vinte por cento) o valor de ingressos de recursos no mesmo período,
excluído o ano de início de atividade;
X - for constatado que durante o ano-calendário o valor das aquisições de
mercadorias para comercialização ou industrialização, ressalvadas hipóteses
justificadas de aumento de estoque, for superior a 80% (oitenta por cento) dos
ingressos de recursos no mesmo período, excluído o ano de início de atividade;

297
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XI - houver descumprimento reiterado da obrigação contida no inciso I do caput do


art. 26;
XII - omitir de forma reiterada da folha de pagamento da empresa ou de
documento de informações previsto pela legislação previdenciária, trabalhista ou
tributária, segurado empregado, trabalhador avulso ou contribuinte individual que
lhe preste serviço.

7.6. Tributos incluídos e não incluídos na sistemática

Tributos incluídos no SIMPLES Tributos NÃO incluídos no SIMPLES


1) IRPJ; 1) IOF;
2) IPI; 2) II;
3) CSLL; 3) IE;
4) COFINS; 4) ITR;
5) PIS/ PASEP; 5) IR
6) Contribuição patronal previdenciária para a I - relativo aos rendimentos ou ganhos líquidos
seguridade social, a cargo da pessoa auferidos em aplicações de renda fixa ou variável;
jurídica (CPP), salvo no caso de ME e EPP II - relativo aos ganhos de capital auferidos na
que se dedique às atividades de prestação alienação de bens do ativo permanente;
dos seguintes serviços: III - relativo aos pagamentos ou créditos efetuados
I. Construção de imóveis e obras de pela pessoa jurídica a pessoas físicas;
engenharia em geral, inclusive sob a forma 6) CPMF;
de subempreitada, execução de projetos e 7) FGTS;
serviços de paisagismo, bem como 8) Contribuição para manutenção da
decoração de interiores; Seguridade Social, relativa ao trabalhador;
I. serviço de vigilância, limpeza ou 9) Contribuição para a Seguridade Social,
conservação; relativa à pessoa do empresário, na
I. serviços advocatícios. qualidade de contribuinte individual;
1) ICMS; 10) Contribuição para o PIS/Pasep, Cofins e IPI
ISS. incidentes na importação de bens e
serviços;
11) ICMS devido em algumas hipóteses (vide
na lei);
12) ISS devido em algumas hipóteses (vide na
lei);
Demais tributos de competência da União, dos
Estados, do Distrito Federal ou dos municípios, não

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relacionados especificamente.

7.7. Processo Judicial

Segundo o art. 41 do Estatuto (com a redação dada pela LC 128/2008), os processos relativos a
impostos e contribuições abrangidos pelo Simples Nacional serão ajuizados em face da União, que será
representada em juízo pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional PGFN.
A atuação judicial dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em matéria concernente ao
Simples Nacional ficou restrita à celebração de convênio entre os mesmos e a PGFN, delegando àqueles a
inscrição em dívida ativa estadual e municipal e a cobrança judicial do ICMS e ISS inseridos na sistemática,
e da mera prestação de auxílio à própria PGFN, em relação aos tributos de sua competência, na forma a
ser disciplinada por ato do Comitê Gestor.
Excetuam-se do âmbito de atuação exclusiva da PGFN, além dos casos decorrentes dos convênios
acima citados, apenas as seguintes hipóteses:
Os mandados de segurança nos quais se impugnem atos de autoridade coatora pertencente a Estado,
Distrito Federal ou Município;
As ações que tratem exclusivamente de tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou
dos Municípios, as quais serão propostas em face desses entes federativos, representados em juízo
por suas respectivas procuradorias;
O crédito tributário decorrente de auto de infração lavrado exclusivamente em face de
descumprimento de obrigação acessória, uma vez que a lavratura é de competência privativa da
administração tributária perante a qual a obrigação deveria ter sido cumprida;
O crédito tributário relativo ao ICMS e ao ISS de que trata o § 16 do art. 18-A.

7.8. Regras empresariais de tratamento diferenciado

a) Deliberações sociais
As microempresas e as empresas de pequeno porte são desobrigadas da realização de reuniões e
assembleias em qualquer das situações previstas na legislação civil, as quais serão substituídas por
deliberação representativa do primeiro número inteiro superior à metade do capital social, SALVO se houver
disposição contratual em contrário, caso ocorra hipótese de justa causa que enseje a exclusão de sócio ou
caso um ou mais sócios ponham em risco a continuidade da empresa em virtude de atos de inegável
gravidade.
Os empresários e as sociedades de que trata esta Lei Complementar, nos termos da legislação civil,
ficam dispensados da publicação de qualquer ato societário.

b) Nome Empresarial

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As microempresas e as empresas de pequeno porte, nos termos da legislação civil, acrescentarão à

sociedade.

c) Lei 11.101/05 (Lei de Falências)


É previsto um plano especial de recuperação judicial para a ME e EPPs.

ATENÇÃO INOVAÇÃO LEGISLATIVA: LC 155/2016

PRINCIPAIS INOVAÇÕES:
a) Aumento do teto da receita-bruta para que a empresa possa ser considerada como de pequeno porte (a
partir de 2017):

Antes da LC 155/2016 Depois da LC 155/2016


A receita bruta anual deveria ser:
- maior que R$ 360.000,00 e
- menor ou igual a R$ 3.600.000,00 A receita bruta anual deve ser:
- maior que R$ 360.000,00 e
- menor ou igual a R$ 4.800.000,00.

b) Ampliação do conceito de Microempreendedor Individual - MEI para adesão ao Simples, podendo o MEI
exercer atividades de industrialização, comercialização e prestação de serviços no âmbito rual.

Antes da LC 155/2016 Depois da LC 155/2016


R$ 60.000,00
(sessenta mil reais) R$ 81.000,00
(oitenta e um mil reais)

c) Algumas empresas que trabalhem com bebidas alcoólicas agora poderão aderir ao Simples Nacional

Antes da LC 155/2016 Depois da LC 155/2016


Não poderia aderir ao Simples nenhuma ME ou EP que produzisse ou vendesse, no atacado, bebidas
alcoólicas. Em regra, não pode aderir ao Simples empresas que produzam ou vendam bebidas
alcoólicas.
Exceções. Poderão aderir ao Simples:
1. micro e pequenas cervejarias;

300
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2. micro e pequenas vinícolas;


3. produtores de licores;
4. micro e pequenas destilarias.

d) Investidor-anjo: É uma pessoa física ou jurídica que poderá investir na ME ou EPP aportando capital, ou
seja, fornecendo recursos para que a empresa se desenvolva e, com isso, depois ele recebe de volta esse
investimento realizado.
Esse dinheiro que o "investidor-anjo" irá repassar não integrará o capital social da empresa e não será
considerado como receita da sociedade.

I) Contrato de participação: A relação entre o investidor-anjo e a empresa deverá ser regulada


em um contrato de participação, com vigência máxima de 7 anos.
II) Exercício da atividade: A atividade constitutiva do objeto social deverá continuar sendo
exercida unicamente pelos sócios regulares da empresa, em seu nome individual e sob sua
exclusiva responsabilidade.
I) Características do investidor-anjo:
Pode ser uma pessoa física ou jurídica;
Não é considerado sócio da ME ou EPP na qual investe;
Não tem direito de gerir a empresa;
Não tem direito de voto na administração da empresa;
Não responderá por qualquer dívida da empresa, inclusive em recuperação judicial;
Não pode ter seu patrimônio atingido caso a empresa se torne devedora e sofra
processo de desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do CC).

IV) Remuneração do investidor-anjo: O investidor-anjo será remunerado por seus aportes, nos
termos do contrato de participação, pelo prazo máximo de 5 anos. Ao final de cada período,
o investidor-anjo fará jus à remuneração correspondente aos resultados distribuídos,
conforme contrato de participação. Esta remuneração não poderá ser superior a 50% dos
lucros da ME ou EPP.
I) Exercício do direito de resgate: O investidor-anjo somente poderá exercer o direito de resgate
depois de decorridos, no mínimo, 2 anos do aporte de capital, ou prazo superior estabelecido
no contrato de participação, e seus haveres serão pagos na forma do art. 1.031 do Código
Civil, não podendo ultrapassar o valor investido devidamente corrigido.
I) Transferência da titularidade do aporte: O investidor-anjo poderá transferir a titularidade do
aporte para terceiros. Dependerá do consentimento dos sócios, se for para terceiro alheio à
sociedade.

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* Atenção: Caso os sócios desejem vender a empresa o investidor-anjo terá direito de preferência na
aquisição e direito de venda conjunta da titularidade do aporte de capital, nos mesmos termos e
condições que forem ofertados aos sócios regulares.

e) Parcelamento de débitos: As empresas que estejam em débito com o Simples possam parcelar essas
dívidas em até 120 meses. O parcelamento abrange débitos que tenham vencido até maio de 2016 e inclui
créditos tributários já constituídos ou ainda não, com exigibilidade suspensa ou não parcelados ou não
inscritos ou não em dívida ativa, que já estejam sendo cobrados em execução fiscal ou ainda não.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Ricardo Alexandre. Direito Tributário Esquematizado.


André Santa Cruz Ramos. Direito Empresarial Esquematizado.
Dizer o Direito. http://www.dizerodireito.com.br/2016/10/principais-alteracoes-promovidas-pela.html

302
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META 6 REVISÃO SEMANAL

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI MARIA DA PENHA

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA


Lei 11.340/06
Lei 14.022/2020
Art. 226, §8º, CF/88
Art. 88, Lei 9099/95 (inaplicabilidade da Lei 9099/95 à Maria da Penha)

CPP
Art. 312 e 313, III
Art. 322
Art. 581, V

CP
Art. 44, §2º
Art. 45, §1º e 2º
Art. 129, §9º
Art. 138 a 140 (os crimes contra a honra configuram violência moral contra a mulher)
Art. 330

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES NÃO DEIXE DE LER!

Lei 11.340/06
Art. 5º e Art. 7º
Art. 8º, §4º
Art. 9º, §4º a §8º
Art. 10-A (importantíssimo)
Art. 11, 12 e 12-C (importantíssimos)
Art. 14-A
Art. 16 e 17 (importantíssimos)
Art. 18 e 19
Art. 20
Art. 22, VI e VII
Art. 24-A (importantíssimo)
Art. 38-A

303
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Art. 41

CPP
Art. 312 e 313, III, CPP
Art. 322, CPP

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 600-STJ: Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei nº
11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima.
Súmula 588-STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça
no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos.
Súmula 589-STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados
contra a mulher no âmbito das relações domésticas.
Súmula 536-STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de
delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.
Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra
a mulher é pública incondicionada.

304
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

DIREITO PROCESSUAL PENAL: QUESTÕES PREJUDICIAIS E PROCESSOS INCIDENTES, SUJEITOS DO


PROCESSO, COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS, EMENDATIO E MUTATIO LIBELI

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CPP:
Art. 92 a 124-A
Art. 351 a 371
Art. 381 a 393
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES NÃO DEIXE DE LER!
CPP
Art. 95, 96, 100
Art. 104 a 107
Art. 118, 120, 122 e 124-A
Art. 125 a 127
Art. 131, 133 e 133-A
Art. 134, 136, 141 e 144-A
Art. 145, 147, 148 e 149
Art. 351, 353, 361, 362, 366 e 367
Art. 383 e 385

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 273-STJ: Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação da
data da audiência no juízo deprecado.
Súmula 155-STF: É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de
precatória para inquirição de testemunha.
Súmula 453-STF: Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de Processo
Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância
elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.
Súmula 208-STF: O assistente do Ministério Público não pode recorrer, extraordinariamente, de decisão
concessiva de habeas-corpus.
Súmula 210-STF: O assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusive extraordinariamente, na ação
penal, nos casos dos arts. 584, parágrafo 1º e 598 do Código de Processo Penal.
Súmula 448-STF: O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr imediatamente após
o transcurso do prazo do Ministério Público.
Súmula 455-STJ: A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no artigo 366 do
CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo.

305
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SEMANA 10/18

Súmula 415-STJ: O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena
cominada.
Súmula 366-STF: Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora não
transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.
Súmula 351-STF: É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz
exerce a sua jurisdição.

306
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DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

DIREITO CIVIL: DIREITO DAS COISAS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
Art. 183, §3º e 191, §único

CÓDIGO CIVIL
Art. 516
Art. 1196 ao 1224
Art. 1225 ao 1227
Art. 1228 ao 1259
Art. 1260 ao 1313
Art. 1314 ao 1377
Art. 1378 ao 1510-E

OUTROS DISPOSITIVO LEGAIS


DL nº 911/69
Lei nº 9.514/97.
Lei nº 271/67

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES NÃO DEIXE DE LER!

CÓDIGO CIVIL
Art. 1193 a 1209 (importantíssimo)
Art. 1210, 1212
Art. 1214 a 1222 (importantíssimo)
Art. 1225 a 1227
Art. 1228 e 1229
Art. 1238 a 1244
Art. 1248 e 1254
Art. 1260 a 1262
Art. 1267 e 1268
Art. 1275
Art. 1314 a 1320
Art. 1358-A a 1358-U (inovação legislativa recente)
Art. 1361, 1365, 1366 e 1368
Art. 1368-C a 1368-F (inovação legislativa recente)

307
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

Art. 1369 a 1372 e 1375


Art. 1390, 1393 e 1410
Art. 1412 a 1416
Art. 1419, 1421, 1425, 1428 e 1430
Art. 1433 a 1437
Art. 1473 a 1475
Art. 1479, 1481, 1487, 1489, 1490 e 1491
Art. 1499 a 1501
Art. 1510-A a 1510-E

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 637-STJ: O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação
possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o
domínio.
Súmula 619-STJ: A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária,
insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.
Súmula 487-STF: Será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio, se com base neste for ela
disputada.
Súmula 263-STF: O possuidor deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usucapião.
Súmula 340-STF: Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não
podem ser adquiridos por usucapião.
Súmula 237-STF: O usucapião pode ser arguido em defesa.
Súmula 391-STF: O confinante certo deve ser citado pessoalmente para a ação de usucapião.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO DISTRITO FEDERAL TURMA 8

SEMANA 10/18

DIREITO EMPRESARIAL: SOCIEDADES

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 389-STJ:
certidão de assentamentos constantes dos livros da companhia é requisito de procedibilidade da ação de
exibição de documentos ajuizada em face da sociedade anônima.
Súmula 551-STJ: Nas demandas por complementação de ações de empresas de telefonia, admite-se a
condenação ao pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio independentemente de pedido
expresso. No entanto, somente quando previstos no título executivo, poderão ser objeto de cumprimento
de sentença.

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