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DIREITO DAS SUCESSÕES

2021/2022
Prof. Paulo Teixeira
Índice
21.02.2022 ...................................1
28.02.2022 ...................................1
1. DIREITO DAS SUCESSÕES .............................................................................................1
1.1. Conceito de sucessão .................................................................................................1
1.2. Direitos transmissíveis e Direitos intransmissíveis ...............................................2
1.3. Justificação da intransmissibilidade ........................................................................3
2. Espécies de sucessão .........................................................................................................4
2.1. A Sucessão Voluntária ..............................................................................................5
2.2. A Sucessão Contratual ..............................................................................................5
2.3. A Sucessão Testamentaria ........................................................................................5
2.4. A Sucessão Legal .......................................................................................................5
2.4.1. A Sucessão Legitimária .....................................................................................5
2.4.2. A Sucessão Legítima..........................................................................................6
07.03.2021 ...................................7
3. A Herança e O Legado ......................................................................................................7
4. A Designação Sucessória ..................................................................................................8
4.1 Hierarquia na Designação Sucessória ...........................................................................9
5. Sucessão Legitimária .......................................................................................................12
5.1 Herdeiros legitimários ..................................................................................................12
5.2 Quota indisponível (ou legítima do herdeiro legitimário) .......................................13
5.3 A defesa da legítima ......................................................................................................14
5.4 A legítima subjetiva.......................................................................................................15
14.03.2022 .................................15
6. A designação Contratual ................................................................................................15
7. A Designação testamentaria ...........................................................................................16
7.1 Capacidade testamentária ..........................................................................................17
7.2 O objeto testamentário ................................................................................................17
7.3 Forma do testamento ..................................................................................................18
7.4 O testamento público ..................................................................................................18
7.5 Testamento cerrado .....................................................................................................18
7.6 Formas especiais de testamento.................................................................................19
7.7 Interpretação do testamento.......................................................................................19
7.8 Conteúdo do testamento ............................................................................................20
7.9 Clausulas acessórias típicas no testamento ..............................................................22
7.10 Revogação testamentária ............................................................................................23
21.03.2022 .................................24
8. A Designação Legítima ...................................................................................................24
8.1 A ordem da designação legítima – Art. 2133º CC....................................................25
8.2 Primeira classe de sucessíveis – Cônjuges e Descendentes ....................................26
8.3 Segunda classe de sucessíveis - Cônjuge e Ascendentes ........................................27
8.4 Terceira classe de sucessíveis - Irmãos e seus Descendentes .................................27
8.5 Quarta classe de sucessíveis - Outros Colaterais até ao 4º grau ............................28
8.6 Quinta classe - O estado..............................................................................................28
9. A Abertura da Sucessão ..................................................................................................28
10. Vocação Sucessória ......................................................................................................29
10.1 Modos de Vocação Sucessória ...................................................................................29
a. Direito de representação .........................................................................................30
11. Exemplos Práticos .......................................................................................................33
28.03.2022 .................................37
b. O Direito de Acrescer ..............................................................................................37
c. Substituição Direta (também conhecida como vulgar, comum ou ordinária) .38
12. A herança ......................................................................................................................39
12.1 A aceitação e o repudio ...........................................................................................40
12.2 Encargos da herança................................................................................................41
12.3 Valor da herança ......................................................................................................42
13. Colação – Arts. 2104º a 2118º CC ...............................................................................43
13.1 A Colação na sucessão conjunta de cônjuge e descendentes .............................45
14. Quotas legitimárias .....................................................................................................46
Notas explicativas – doação e colação ..................................................................................47
Caso Prático .............................................................................................................................48
Caso Prático – 2ª variação.......................................................................................................52
Caso Prático – 3ª variação.......................................................................................................54
04.04.2022 .................................55
14.1 Regras de imputação ...............................................................................................55
14.2 A redução das liberalidades por inoficiosidade ..................................................55
Caso Prático .............................................................................................................................57
Casos Práticos para Férias ......................................................................................................59
Caso 1 ....................................................................................................................................59
Caso 3 ....................................................................................................................................60
Caso 4 ....................................................................................................................................62
Caso 5 ....................................................................................................................................65
02.05.2022 .................................69
Caso Prático 1 ..........................................................................................................................69
Caso Prático 2 ..........................................................................................................................71
Caso Prático 3 ..........................................................................................................................75
Caso Prático 4 ..........................................................................................................................77
Caso Prático 5 ..........................................................................................................................79
Caso Prático 6 ..........................................................................................................................81
Caso Prático 7 ..........................................................................................................................83
Caso Prático 8 ..........................................................................................................................85
09.05.2022 .................................88
16.05.2022 .................................88
REGULAMENTO (UE) N.º 650/2012 ...................................................................................88
Lei 48/2018 de 14 agosto ........................................................................................................88
Artigo 2168.º - (Liberalidades inoficiosas) ............................................................................89
Caso I ........................................................................................................................................89
Casso II .....................................................................................................................................91
Caso II .......................................................................................................................................93
Caso III ......................................................................................................................................95
Caso IV .....................................................................................................................................97
Caso V .....................................................................................................................................102
Caso VI ...................................................................................................................................104
Caso VII ..................................................................................................................................106
Caso VIII .................................................................................................................................109
21.02.2022
Regulamento sucessório europeu - 2012

28.02.2022

1. DIREITO DAS SUCESSÕES


1.1. Conceito de sucessão
Juridicamente, dá-se sucessão ou transmissão quando uma pessoa fica investida
num direito ou numa obrigação ou num conjunto de direitos e obrigações, que
antes pertenciam a outra pessoa, sendo que os direitos e as obrigações do novo
sujeito são considerados os mesmos do sujeito anterior e tratados como tais. Esta
é uma noção do Prof. Inocêncio Galvão Telles.
Para além de sinónimos, sucessão e transmissão, são nesta acessão conceitos
muito abrangentes. Interessa-nos retirar o seu sentido restrito, para abordar o
direito das sucessões. Sucessão ou transmissão, podem ocorrer quer em vida quer
por morte. É justamente a sucessão mortis causa, ou seja, a transmissão cujo
princípio causal se centra no facto jurídico morte que nos é importante para o
direito das sucessões. Assim, falaremos de direito das sucessões quando em
relação a um universo de direitos, há uma pessoa que deixa de ser titular e outra
que os adquire, por se ter verificado a morte da primeira.
Sucessão ou transmissão em vida, distingue-se da sucessão mortis causa, porque
a primeira, pressupõem que a morte não seja causa para a transmissão de bens
ou de uma mudança, na titularidade de obrigações ou direitos sobre tais bens.
Na sucessão inter vivos, a transmissão ocorre entre alguém que está vivo a outro
que recebe os direitos e as obrigações, enquanto na sucessão mortis causa, o
sucessível ocupa a posição dè cuiús (dè cujús ou autor da sucessão), substituindo-
o na titularidade dos direitos, porquê a sua morte os deixou vagos. A morte está
na origem da transmissão.

[1]
Nota:
Para o direito das sucessões a morte referida pelo Art. 68º n.º 3 e 114º do CC,
ambas declaradas judicialmente ou a morte atestada por entidade administrativa
é tratada da mesma forma, do ponto de vista sucessório. Ou seja, basta que
alguém judicialmente ou administrativamente seja declarado morto, para que na
verdade seja iniciado o processo ou chamado o fenómeno sucessório.

1.2. Direitos transmissíveis e Direitos intransmissíveis


A esfera jurídica ou o universo de direitos e obrigações de que um sujeito é titular,
comporta direitos pessoais (ligados a personalidade do sujeito), e direitos
patrimoniais que compreendem direitos de crédito e direitos reais. Em regra, os
direitos de natureza estritamente pessoal, porque refletem uma especial ligação
ao sujeito que os detém, dele não se podem desligar, isto é, não podem entrar no
comercio jurídico. Não são, pois, transmissíveis. Ao invés, os direitos de
conteúdo patrimonial, são desligados do sujeito e, portanto, facilmente se admite
a sua transmissibilidade.
Também em regra, um direito transmissível ou intransmissível em vida, também
o é por morte. Como exemplo de intransmissibilidade, quer em vida, quer por
morte, temos o direito real de habitação porque a sua existência está estritamente
dependente da necessidade concreta do seu titular e nas circunstâncias que a ele
dizem respeito. Já o direito do uso-fruto, é apenas intransmissível por morte. Em
vida do usufrutuário, o direito pode ser transmitido gratuita ou onerosamente
sem restrições, extinguindo-se, porém, pela morte do primitivo titular. O
primitivo usufrutuário é aquele, a favor de quem o usufruto foi constituído. A
quem este em vida transmitir o usufruto, é também designado por usufrutuário.
Contudo, a extinção do usufruto encontra-se inevitavelmente ligada a vida do
primitivo usufrutuário.
No âmbito dos direitos pessoais, os direitos de autor são exemplo de
intransmissibilidade em vida e transmissibilidade por morte. Tais direitos são
inseparáveis do seu titular na sua vida, mesmo que tenha alienado os direitos

[2]
patrimoniais sobre a obra que é autor, mas por sua morte transmitem-se aos seus
herdeiros.
Não tão evidente, mas doutrinariamente aceite, existe o problema da
hereditabilidade do direito de indemnização, consagrados nos Art. 483º e 496º n.º
1 e n.º 3 CC, na sequência do qual se muda o direito de indeminização para
compensação, revestindo por isso caracter patrimonial e como tal hereditavel. É
assente que existem bens imateriais, insuscetíveis de avaliação pecuniária,
impagáveis pois e por não serem reparáveis, e não se podendo traduzir tais bens
em valor pecuniário, não seriam conceitualmente indemnizáveis. Porém, a
gravidade de tal lesão, impõem por razões de justiça, que pelo menos haja uma
compensação mesmo sabendo que com ela nada se repara, mas na maioria das
vezes produz um efeito atenuante e apaziguador.
Nota:
Os direitos de caris estreitamente pessoal, em regra não são transmissíveis mortis
causa e são em regra transmissíveis mortis causa os direitos de caris patrimonial.

1.3. Justificação da intransmissibilidade


As razões últimas, que se apontam para explicar a intransmissibilidade de alguns
direitos, são válidas em sentido oposto para justificar a transmissibilidade dos
restantes. Há direitos que são constituídos a favor de alguém, para satisfação das
suas necessidades pessoais e específicas (intuitus personae). O conteúdo de direito
em causa foi modelado tendo em conta as carências próprias e concretas daquele
destinatário, de tal modo que se o destinatário fosse outro, outro seria
necessariamente o conteúdo do direito (ou nem a constituição do direito se
justificaria). Assim não faria sentido, mesmo falando de direitos de caris
patrimonial, que o sujeito que detém um direito “á sua medida” pudesse aliená-
lo, pois com certeza não satisfaria as necessidades de outrem.
Para além do direito real de habitação, o mesmo se passa com o direito a
alimentos, que são proporcionados por alguém em função das particulares
necessidades de certa pessoa. Estes dois direitos são intransmissíveis, quer em
vida quer por morte e por isso se dizem, absolutamente intransmissíveis. O

[3]
usufruto “parente próximo do direito de habitação” é intransmissível por morte,
mas não o é em vida, uma vez que o vínculo que se estabeleceu com o seu titular
não foi motivado por uma particular situação de necessidade ou de outra
natureza desse sujeito.
Já certos direitos de personalidade que visam proteger atributos de uma pessoa
em concreto (integridade, honra, bom nome, …, Art. 70º e ss CC) ou os direitos
de autor, embora estes estejam a proteger “a paternidade” de obra intelectual,
são intransmissíveis em vida, mas transmissíveis por morte embora com
restrições.
Por vezes o direito é intransmissível, por depender de motivações subjetivas do
seu titular. Por exemplo, ninguém pode suceder ao doador no direito de invalidar
uma doação por ingratidão do donatário, Art. 974º e ss CC, pois só ele pode sentir
as ofensas que lhe foram dirigidas. Contudo, este direito transmite-se por morte,
mas só se o titular falecer na pendência da ação já instaurada com o objetivo de
obter sentença que declare a invalidade das doações.

2. Espécies de sucessão
Nos termos do Art. 2026º CC, a sucessão é deferida por lei, testamento ou
contrato.
Em rigor, temos na sucessão mortis causa, a sucessão legal e a sucessão voluntária
(testamento e contrato).
A primeira, decorre do normativo legal e a segunda, da declaração de vontade
do autor da sucessão ou dè cuiús ou dè cujús. Por sua vez, a sucessão legal
compreende a sucessão legítima que é meramente supletiva, face a ausência de
vontade do autor da sucessão e a sucessão legitimária que resulta de normas
imperativas. A sucessão voluntária, como acima já se viu, subdivide-se em
sucessão testamentaria e em sucessão contratual.

[4]
2.1. A Sucessão Voluntária
A vontade, normalmente conhecida como “última vontade”, é o que o direito
pretende proteger dando força a ideia de influência e continuidade do dè cuiús
nas suas relações jurídicas, que por sua morte agora se transmitem. Para que haja
essa influência, é necessária uma manifestação de vontade unilateral
(testamento) ou bilateral (contrato sucessório) do autor da sucessão. A sucessão
voluntária, reparte-se, pois, em sucessão testamentária e muito residualmente em
sucessão contratual (doações mortis causa).

2.2. A Sucessão Contratual


São proibidos os contratos sucessórios (entre eles as doações por morte, a
renuncia a sucessão de pessoa viva e a venda de herança própria ou de terceiro
com exceção dos admitidos na lei. Ora do Art. 1700º CC, resulta a admissibilidade
de contratos sucessórios (doações por morte) em convenções antinupciais. A
sucessão contratual resume-se assim, a doação mortis causa, admitida nos Art.s
1700º e ss CC. Esta sucessão contratual prevalece sempre sobre a anterior ou
posterior disposição testamentaria com ela conflituante, e é irrevogável.

2.3. A Sucessão Testamentaria


Há sucessão testamentaria, Art. 2024º a 2030º e 2179º e ss, quando o autor da
sucessão manifesta a sua vontade sobre o destino da sua herança ou de parte
dela. Testamento, nas palavras da lei, é o ato unilateral e revogável pelo qual uma
pessoa dispõem para depois da morte, de todos os seus bens ou de parte deles. É
de salientar aqui o caracter pessoal do testamento, no qual uma solitária vontade
se exprime sem influências externas.

2.4. A Sucessão Legal


2.4.1. A Sucessão Legitimária
A sucessão legitimária decorre imperativamente da lei e por isso não pode ser
afastada pela vontade do dè cuiús, Art. 2026º, 2027º e 2156º e ss CC. Havendo
herdeiros legitimários (cônjuges, descentes e ascendentes – Art. 2157º CC) não
poderá nunca o autor da sucessão dispor em vida ou por morte, de uma parcela

[5]
dos seus bens que a lei destina obrigatoriamente aqueles herdeiros, Art. 2158º a
2161º CC. Essa parcela de que não pode dispor, chama-se quota indisponível. A
quota disponível, ao invés é a parcela de bens de que o autor da sucessão em vida
ou mortis causa, pode dispor. Não deixando herdeiros legitimários, pode dispor
da totalidade.

2.4.2. A Sucessão Legítima


A sucessão legítima tem previsão legar nos Art.s 2026º, 2027º e 2131º ss CC. Tal
como a sucessão legitimária, é deferida por lei, mas neste caso pode ser afastada
pelo autor da sucessão em vida ou mortis causa. As normas da sucessão legítima
são supletivas, exatamente porque dão destino aos bens do autor da sucessão,
quando este por sua vontade não o fez. Haverá assim sucessão legítima, quando
o dè cuiús não tiver disposto em vida ou mortis causa no todo ou em porte, da
porção de bens de que podia dispor livremente.

Resumo do Professor:
Alguns direitos e obrigações são transmitidos mortis causa;
A herança ade ser composta, em regra com caracter patrimonial. Era da
titularidade do autor da sucessão que ficou vaga momentaneamente pela sua
morte, mas alguém agora irá ocupar o lugar deixado vago por esse autor da
sucessão.

quando há
herdeiros
Legítima Pode dispor
(cônjugue,
(2131º ss) de 1/3
descendentes ou
ascendentes)
Legal (2027º)
não dispõem
Sucessão
dos seus bens
Supletiva
Legitimária em vida
Espécies de (2156º ss)
Quota legitima
Sucessões
ou indidponível
(2026º)

Testamentári Quota
a disponível
Voluntária
Contratual doação
(2028º) mortis causa

[6]
TPC
Ver Art. 1700º al. c) na sua nova redação (ler e compreender).

Artigo 1700.º
(Disposições por morte consideradas lícitas)

1. A convenção antenupcial pode conter:


a) A instituição de herdeiro ou a nomeação de legatário em favor de qualquer dos esposados,
feita pelo outro esposado ou por terceiro nos termos prescritos nos lugares respectivos;
b) A instituição de herdeiro ou a nomeação de legatário em favor de terceiro, feita por
qualquer dos esposados.
c) A renúncia recíproca à condição de herdeiro legitimário do outro cônjuge.
2. São também admitidas na convenção antenupcial cláusulas de reversão ou fideicomissárias
relativas às liberalidades aí efectuadas, sem prejuízo das limitações a que genericamente estão
sujeitas essas cláusulas.
3 - A estipulação referida na alínea c) do n.º 1 apenas é admitida caso o regime de bens,
convencional ou imperativo, seja o da separação.

Contém as alterações dos seguintes diplomas: Consultar versões anteriores deste artigo:
- Lei n.º 48/2018, de 14/08 -1ª versão: DL n.º 47344/66, de 25/11

Comentário
Com a entrada em vigor da Lei 48/2018 e a consagração, na nova alínea c) do artigo
1700.º, da possibilidade de os nubentes renunciarem – reciprocamente ou não – à
posição sucessória do cônjuge sobrevivo, abre-se a porta à permissão legal de um
pacto de non succedendo e a tese da viabilidade dos legados em substituição da
legítima na convenção antenupcial fica mais risonha. Ainda assim, é pena que o
legislador não tenha aproveitado a oportunidade para consagrar expressamente
essa possibilidade: ao invés da renúncia total, o futuro cônjuge podia ser
compensado com um legado.

07.03.2021

3. A Herança e O Legado
A propósito da herança, importa neste momento apenas distinguir o herdeiro
do legatário.
O herdeiro, é todo aquele que sucede na totalidade ou numa quota-parte
(podendo esta ser o remanescente) do património do falecido Art. 2030º n.º 2 e n.º
3 CC. Esta noção é exatamente a mesma, quer em causa esteja a sucessão legal

[7]
(legítima e legítimaria) e a testamentaria. Por outras palavras, quando alguém
sucede em bens que não estão previamente determinados por vontade do dè cuios
abrangendo a totalidade do património ou de uma indefinida quota-parte, temos
uma situação de herança e consequentemente a de herdeiro. Esta comum e
corrente definição, resulta do chamado: critério da indeterminação dos bens
sucessíveis.
Ao invés, tem-se por legatário aquele que é chamado a suceder em bens certos e
determinados, com exclusão de outros bens. Maioritariamente os legados são
instituídos pela vontade do autor da sucessão e só residualmente pela Lei.
Por vezes, surgem problemas na interpretação da vontade do testador, como é o
caso dos legados de coisa não especificada, embora determinada. Os Arts. 203º e
206º CC, abordam a questão da universalidade de facto, e é a esse propósito que
a dúvida se pode instalar. O legatário, é chamado a suceder em certa
universalidade de facto, sem que estejam especificados em concreto quais os
elementos da universalidade de facto que compõem o legado.
Exemplo: no testamento, o autor da sucessão declarou deixar ficar ao sobrinho
15 ovelhas do seu rebanho.

4. A Designação Sucessória
Consiste a designação sucessória na determinação, antes da morte do autor da
sucessão, como seu sucessível ou sucessíveis certa pessoa ou certa categoria de
pessoas, em resultado da aplicação de regras imperativas ou supletivas ou por
força da vontade do autor da sucessão, corporizada em testamento ou muito
excecionalmente em doações mortis causa.
Para prevenir eventuais lapsos de continuidade das transmissões por morte, a
Lei designa antes dela, quais são os possíveis sucessores e havendo vontade
manifestada pelo autor da sucessão quais os parâmetros de que ele se pode
socorrer. O que se pretende é assegurar que a herança não permanece jacente ad
etaernum, isto é, que os direitos contidos na herança fiquem sem titular.

[8]
NOTA: Existe antes da morte, quais os seus possíveis herdeiros.

4.1 Hierarquia na Designação Sucessória

Nota: existe aqui uma regra hierárquica do seu chamamento.

As designações sucessórias são múltiplas, podendo pois confrontar-se dai a


necessidade de as hierarquizar, anulando conflitos e tornando previsível e
estável a futura sucessão aos olhos dos interessados.
Antes da morte do autor da sucessão, surgem-nos designadas por força da Lei ou
da vontade deste, certas pessoas como seus possíveis sucessores, de forma a
garantir que pela morte, as relações jurídicas do dè cuios tenham continuidade
através das pessoas designadas, legal ou voluntariamente. Dir-se-á que a morte
pode surgir em qualquer momento, interrompendo a titularidade das relações
jurídicas de um qualquer sujeito, que em qualquer caso estará assegurada a
previa determinação de alguém como estando, melhor, posicionado para
continuar as ditas relações jurídicas do falecido.
Assim, hierarquicamente temos:
a. Os sucessíveis legitimários (herdeiros). Estes são designados por normas
de caracter imperativo, Arts. 2026º, 2027 e 2156º ss CC. E estão no topo da
hierarquia. A sucessão legitimária, é aquela que não pode ser afastada pelo
autor da sucessão. Esta traduz a determinação antes da morte do dè cuios
como sendo seus sucessíveis, certa pessoa ou categoria de pessoas, por
imposição da Lei e portante insuscetível de ser afastado por vontade, o
mesmo é dize inderrogável. A estes sucessíveis legitimários, destina-se a
quota indisponível do autor da sucessão e não pode ser essa quota-parte
ser ferida por um qualquer ato dispositivo gratuito em vida ou mortis causa
do autor da sucessão. Pode até acontecer que o dè cuios mesmo sabendo
que tem potenciais herdeiros legitimários, ter disposto entre vivos ou por
morte gratuitamente da totalidade dos seus bens. Contudo, a Lei prevê
um conjunto de mecanismos de proteção da quota indisponível do autor

[9]
da sucessão (chamada de legítima na perspetiva do herdeiro legitimário),
que permitem reduzir a requerimento dos herdeiros legitimários as
liberalidades levadas a efeito pelo autor da sucessão na exata medida em
que se mostrar necessário para o cumprimento dessa legítima. É deste
modo, que se pode dizer que a excessiva liberalidade do autor da sucessão
esbarra nesta linha de defesa dos herdeiros legitimários. Este mecanismo,
é designado por redução das liberalidades por inoficiosidade e funciona
quando se verifica a ofensa da quota indisponível, Art. 2168º ss CC,
reduzindo-se as liberalidades em tanto quanto for necessário para que a
legítima seja assegurada. Esta redução abrange não só as liberalidades que
produzem efeitos após a morte do autor da sucessão, mas também as que
produzem efeitos durante a vida dele.
b. Os sucessíveis contratuais (donatários mortis causa). São admitidos a título
excecional, Arts. 2026º, 2028º, 1700º ss CC, e resultam dos contratos de
doação celebrados a quando da realização de uma convenção antenupcial,
na sequência da qual se dispõem por morte de certos bens ou quotas parte
do património hereditário a favor do esposado ou de terceiros (São
esposos, no lapso temporal, a partir do momento em que se inicia na
conservatória o procedimento tendente ao casamento, é nesse momento
que se pode celebrar a convenção antinupcial e inclusive renunciar
antecipadamente a sua qualidade de herdeiro legitimário quando e se
suceder ao outro, Art. 1700º alínea c), está tem de ocorrer de forma
reciproca, de ambos os lados dos esposos. Quando casam passam a ser
cônjuges)1. A sucessão contratual, prevalece sobre a sucessão
testamentária, revogando tacitamente anteriores disposições
testamentárias. Se um testamento pode ser revogado por um outro

1
Hierarquicamente, temos os sucessíveis legitimários, sucessíveis contratuais, sucessíveis
testamentários e sucessíveis legítimos. Estes por sua vez vão repartir-se na hierarquia. São sucessíveis
legitimários os cônjuges, descendentes e ascendentes, são estes os únicos qualificados pela lei como
herdeiros legitimários, mas em circunstância alguma podem os 3 ser chamados ao mesmo tempo, para
o mesmo fenómeno sucessório. Nos sucessíveis legítimos, é exatamente igual. Podem ser chamados:
cônjuge e descendentes; cônjuge e ascendentes, ascendentes e descendentes, só cônjuge, só
ascendentes, só descendentes.

[10]
testamento posterior, facilmente se compreende que também o possa ser
por contrato, como é o caso da doação mortis causa. Para além disso, são os
Arts. 1701º e 1705º n.º 1 CC, que nos afirmam que em regra o pacto
sucessório é irrevogável logo após a aceitação e não se admite, pois, que
um testamento o ponha em causa mesmo que posterior2.
c. Os sucessíveis testamentários (podem chamar-se herdeiros ou legatários),
resultam da expressa vontade do autor da sucessão. Contudo, esta
vontade do autor da sucessão está condicionada ao facto de não poder por
em causa em nenhuma circunstancia, as normas imperativas da sucessão
legitimária e bem assim, das limitações decorrentes das doações mortis
causa Arts. 2026º, 2027º, 2131º e 2179º CC. Estes sucessíveis testamentários
podem ser herdeiros ou legatários, consoante por vontade do testador
sucedam na totalidade ou quota indefinida do património ou em bens
determinados respetivamente. Entre herdeiros testamentários e legatários,
têm prevalência estes últimos, já que são os herdeiros testamentários os
responsáveis pelo cumprimento dos legados, Arts. 2068º, 2070º e 2265º CC.
O princípio da liberdade testamentária, permite ao autor da sucessão a
possibilidade de ele próprio ditar em testamento regras de
sucessibilidade, nomeadamente criando classes de sucessíveis como é o
caso das substituições sucessórias.
d. Por fim os sucessíveis legítimos, serão apenas chamados se o falecido não
tiver disposto, valida e eficazmente em vida ou por morte, mas de modo

2
A Lei entende que há um conjunto de pessoas, que o estado entende como devem ser aquelas que
privilegiadamente devem continuar com as relações jurídicas do autor da sucessão, de tal modo devem
ser estas que não se admite (só mesmo em casos muito, muito excecionais, os casos de indignidade
sucessória e de deserdação, sempre com decisão judicial e nunca por vontade própria) que possa ser
afastado de pelo menos uma parte do autor da sucessão dos sucessores legitimários. Falamos de
legitima a porção de bens imperativamente destinados aos herdeiros legitimários, essa quota designa-se
de quota indisponível. Se ele em vida ou mortis causa tiver disposto mais do que aquilo que podia dispor
em função dos concretos herdeiros legitimários, a lei prevê um conjunto de mecanismos que impõem a
redução total ou parcial dessas liberalidades.
Exemplo: O Sr. António fez um testamento e disse: deixo ficar toda a minha herança a santa casa da
misericórdia de Mirandela. Faleceu e verifica-se que deixou ficar dois herdeiros legitimários, o seu
cônjuge sobrevivo e um descendente, neste caso ele não podia ter disposto livremente de mais de 1/3
da sua herança, porque os outros 2/3 são destinados aos seus herdeiros legitimários. Assim, a bem ou a
mal, por acordo ou não. Este testamento apenas vai produzir efeitos a beneficiária santa casa de 1/3 do
património.

[11]
gratuito da totalidade dos bens de que podia dispor, Arts. 2026º, 2027º e
2131º CC.

5. Sucessão Legitimária
A designação legitimária, como já sabemos, é a determinação antes da morte do
autor da sucessão, de certas pessoas como seus sucessíveis por força de Lei
imperativa, ou seja, inultrapassável por vontade do autor da sucessão. A
designação sucessória, inicia-se pela conjunção da existência física do designado
e do seu enquadramento nas classes legitimárias previstas pela Lei, tendo por
base a espectativa jurídica, de vir a adquirir a sua porção legitimária. O autor da
sucessão não pode alterar o elenco dos herdeiros legitimários nem a ordem pela
qual são chamados. Não pode igualmente modificar a porção da legítima pré-
fixada pela Lei para os herdeiros legitimários, nem pode unilateralmente definir
as legítimas subjetivas ou sujeitá-las a encargos, Art. 2163º CC.
O mecanismo da deserdação, Art. 2166º CC, não traduz o principio de que o autor
da sucessão pode afinal afastar por vontade até um herdeiro legitimário, uma vez
que a deserdação é em vez disso o resultado da incapacidade sucessória por parte
do sucessível visado.
Contudo, entre o momento inicial da designação sucessória legitimária e o da
abertura da sucessão, várias alterações podem surgir relativamente a cada
designado e que não resultam da vontade do autor da sucessão, mas que
modificam a vocação (exemplo, nacimento ou morte de filhos).

5.1 Herdeiros legitimários


São herdeiros legitimários, o cônjuge os descentes e ascendentes, pela ordem e
segundo as regras estabelecidas para a sucessão legítima, Art. 2157º CC. A
expressa remissão para o Art 2133º, leva-nos ao encontro de duas classes
sucessíveis legitimários no seu n.º 1 alíneas a) e b). A primeira composta por
cônjuges e descendentes e a segunda composta por cônjuges e ascendentes. Entre
estas duas classes, prevalece a primeira, por força do Art. 2134º CC, sendo apenas

[12]
chamados os sucessíveis da segunda classe se não existirem descendentes (regra
da preferência de classes). Dentro de cada classe, prevalece o parente de grau
mais próximo face ao mais afastados, pelo que existindo um filho se afasta o
chamamento de um neto ou existindo um pai se afasta o chamamento do avo,
Art. 2135º CC.

5.2 Quota indisponível (ou legítima do herdeiro legitimário)


A Lei, no Art. 2156º CC, chama-lhe legítima (legítima global ou objetiva) que é a
porção de bens, de que o autor da sucessão não pode dispor por estar legal e
imperativamente reservada aos herdeiros legitimários. A medida da legítima,
varia não apenas em função da classe do herdeiro legitimário (por exemplo os
descendentes dão origem a uma legítima objetiva ou global maior do que a dos
ascendentes) como também do tipo de legitimário (o cônjuge tem posição
privilegiada) e ainda varia em função do número de legitimários, uma vez que a
legítima subjetiva dos filhos é diferente em função do número.
Será de 2/3 da herança a legítima objetiva quando:
a. Em concurso, estão conjugues e filhos ou uma ou mais estirpes de
descendentes do autor da sucessão Arts. 2158º e 2160º CC
b. Não havendo cônjuge que sobrevivam ao autor da sucessão, dois ou mais
filhos, Art. 2159º n.º 2 CC ou duas ou mais estirpes de descentes, Art. 2160º
CC
c. Não havendo descendentes do autor da sucessão concorram a sucessão, o
cônjuge com um ou mais ascendentes, qualquer que seja o grau de
parentesco, Art. 2161º CC

Será de metade da herança, a legítima objetiva global quando:


a. O único herdeiro legitimário for o cônjuge, Art. 2158º CC
b. Não havendo cônjuge sobrevivo, sobreviver um só filho, Art. 2159º n.º
2 CC ou uma só estirpe de descendentes, Art. 2160º CC

[13]
c. Não havendo cônjuge nem descendentes, a herança chamar apenas um
ou ambos os pais do autor da sucessão, Art. 2161º n.º 2 1º parte CC

Será de 1/3 da herança a legítima objetiva quando:


Na falta de conjugues descendentes e pais do autor da sucessão, forem
chamados um ou os vários dos seus ascendentes do 2º grau e seguintes,
Art. 2161º nº2 2º parte.

A legítima objetiva ou global, reservada para o conjunto dos herdeiros


legitimários fixa-se no momento da abertura da sucessão, contribuindo para a
determinação da parcela que a constitui (2/3, metade ou 1/3) a totalidade dos
herdeiros legitimários independentemente de tais sucessíveis poderem ou não
aceitar a sucessão.

5.3 A defesa da legítima


O autor da herança pode em vida fazer dos seus bens o que quiser e nada deixar
de herança. É o caso de alienar onerosamente todos os seus bens e gastar o
produto dessa alienação sem atender as expectativas sucessórias dos herdeiros
legitimários. Porém, quando o autor da sucessão em vida (doações) ou por morte
(testamento e doações mortis causa), estiver com isso a afetar a legítima dos
possíveis sucessíveis prioritários, a Lei prevê formas de proteger a legítima
respetiva, por entender que os beneficiários de transmissões gratuitas devem
ceder em relação aos herdeiros prioritários (herdeiros legitimários).
São os seguintes os mecanismos de proteção da legítima:
a. A redução das liberalidades por inoficiosidade, Art. 2168º e 2169º CC. As
liberalidades, entre vivos ou por morte, que tenham valor elevado quando
comparado com a legítima objetiva, podem ser reduzidas em montante
total ou parcial necessário para a satisfação ou preenchimento da legítima
objetiva.

[14]
b. A proibição de no testamento ser impostos e encargos sobre a legítima
objetiva ou subjetiva ou o preenchimento das mesmas contra a vontade do
herdeiro.
c. A cautela sociniana, Art. 2164º CC, se o testador deixar usufruto ou
constituir pensão vitalícia que atinga a legítima, podem os herdeiros
legitimários cumprir o legado ou entregar ao legatário tão só a quota
disponível.

5.4 A legítima subjetiva


A legítima subjetiva ou individual ou ainda quinhão hereditário, é a porção ou
quota-parte que cada um dos herdeiros legitimários chamados a sucessão tem na
legítima objetiva ou global.

14.03.2022

6. A designação Contratual
Como resulta de contrato, estamos perante um acordo de vontades contraditórias
e divergentes, mas tendentes a um resultado único. Os efeitos da doação mortis
causa, para além do seu caracter bilateral, tem eficácia reforçada por ter como
objetivo fomentar ou proteger o casamento. Claramente, a doação mortis causa
não aconteceria, não fosse a existência do casamento (favor matrimonii). A regra,
é, portanto, e nesta vocação, a da irrevogabilidade depois da aceitação ao
contrário do que acontece com o testamento, Arts. 1701º n.º 1 e 1705º n.º 1 CC. O
n.º 2 do Art. 1705º CC, apresenta, porém, uma exceção, admitindo-se a revogação
unilateral no caso de o autor da sucessão reservar tal direito em caso de
ingratidão por parte do donatário, Arts. 970º e 975º alínea a) CC. Quanto a
revogação por mútuo acordo, é aplicado o regime geral do Art. 406º n.º 1 CC, no
caso das liberalidades feitas por terceiro. As doações entre esposados
distinguem-se em relação aos períodos antes e depois do casamento, antes do
casamento são revogáveis ou modificáveis, Art. 1712º CC, depois do casamento
tal já não pode acontecer, uma vez que as doações mortis causa foram feitas em

[15]
convenção antinupcial e estas estão sujeitas ao princípio da imutabilidade, Art.
1714º CC.

7. A Designação testamentaria
Nesta tratamos de um negócio jurídico solitário, no qual impera tão só a vontade
única do autor da sucessão, quer no ato dispositivo de todos os bens ou parte
deles, quer no ato revogatório de testamentos anteriores, Arts. 2179º, 2311º e 2312º
CC. O ato revogatório, pode resultar de declaração expressa ou tácita. Nem só
de disposições de carater patrimonial pode um testamento versar, pois
encontramos as disposições testamentarias a favor da alma no Art. 2224º CC, a
testamentaria no Art. 2320º CC, o destino final do seu cadáver, a perfilhação no
Art. 1853º alínea b) CC, entre outras.
O testamento, é um negócio jurídico unilateral por conter uma só declaração de
vontade e mortis causa, uma vez que os seus efeitos só se produzem após a morte
do testador. É igualmente revogável a todo o tempo, desde que para tal assim
queira o testador.
De referir ainda o carater pessoalíssimo do testamento, Art. 2182º CC. De acordo
com esta norma, o testamento é um ato pessoal insuscetível de ser feito por meio
de representante ou de ficar dependente do arbítrio de outrem. Diferente disto é
o seu carater individual ou singular, uma vez que o seu autor apenas pode ser
pessoa isolada e não duas ou mais. Esta característica é também conhecida como
a proibição de testamento de mão comum, Art. 2181º CC. Todavia, tal proibição
não prejudica que duas ou mais pessoas fação testamentos recíprocos ou a favor
do mesmo ou mesmos terceiros, mas desde que, em vários testamentos
separados, ainda que possam ser realizados no mesmo dia e em ato contínuo.
É ainda necessário esclarecer que a uni-pessoalidade do testamento, em nada fica
posta em causa pela eventual autorização do cônjuge prevista na alínea b) n.º 3
do Art. 1685º CC, quando em causa estejam atos de disposição de bens comuns.
No que toca a forma, o testamento é um negócio jurídico de natureza formal,
Arts. 2204º e 2210º ss, já que a sua validade depende da observância de uma das
formas típicas previstas na lei. Tal exigência, prende-se com a necessidade de

[16]
proteger o testador de eventuais precipitações, obrigando-o à ponderação e tal só
é possível, se houver redução a escrito.

7.1 Capacidade testamentária


Podem testar, todos os indivíduos que a lei não declare incapazes para o fazer,
Art. 2188º CC. Logo no Art. 2189º CC, se declarem incapazes de testar os menores
não emancipados (Art. 2189º alínea a) e 132º CC). Os interditos por anomalia
psíquica e os maiores acompanhados nos termos em que prevê a alínea b) do Art.
2189º. A sanção predisposta pela lei para o testamento feito por incapaz é a
nulidade. A capacidade para testar determina-se pela data do testamento, art.
2191º CC. No caso do testamento público pelo Art 2205º CC e também nos
testamentos especiais pelo Arts. 2210º e ss, a sua data é fácil de determinar, o
mesmo não se passando com o testamento cerrado que possui duas datas, a data
em que foi realizado pelo seu autor e a data da aprovação pelo notário, Art. 2207º
CC.
Não se confundindo com a incapacidade de testar, encontramos na lei alguns
casos de indisponibilidade relativa, em virtude de se proibir o testamento a favor
de certa pessoa por entre ela e o testador existirem laços especiais de
relacionamento, Arts. 2192º ss. Estas indisponibilidades visam proteger o
testador mais de si mesmo, do que de terceiros em virtude da eventual
dependência, fraqueza, temor reverencial, entre outros.

7.2 O objeto testamentário


É nulo o testamento cujo objeto seja física ou legalmente impossível, contrário a
lei, indeterminável, contrário a ordem pública ou ofensivo dos costumes, Art.
280º CC. Para além de aqui se aplicarem as regras gerais relativas ao objeto dos
negócios jurídicos, há que atender às regras especiais previstas para o objeto do
testamento e encontram-se previstas nos Arts. 2230º a 2232º e 2245º CC. São
igualmente nulas as disposições determinadas por fim contrário a lei, Art. 2186º
CC.

[17]
7.3 Forma do testamento
O testamento é um negócio jurídico formal e as formas legais admitidas no sosso
ordenamento jurídico, são na sua forma comum o testamento público e o
testamento cerrado, Art. 2204º CC. Não são admitidos o testamento hológrafo,
que é o testamento escrito datado e assinado pelo testador, mas não aprovado
pelo notário, o testamento nuncupativo, que é meramente verbal feito perante
um conjunto de testemunhas, assim como não é valido o testamento “per
relatiomn” que é o testamento que fica dependente de instruções ou
recomendações feitas a outrem secretamente ou que se reporte a documentos não
autênticos.

7.4 O testamento público


É público o testamento escrito por notário no seu livro de notas, Art. 2205º CC.
A redação do testamento é confiada ao notário na presença de duas testemunhas,
como garantia de se reproduzir com segurança e fielmente a vontade do testador
livre de preções ou intimidações. Diminui-se o risco de se escrever algo com
significação dúbia ou mesmo diferente do que se pretendia. Este testamento diz-
se público pois é realizado por entidade dotada de fé pública ficando arquivado,
ainda que o seu livre acesso só ocorra depois da morte do testador. Aliás, a morte
do testador é um facto abrevado no próprio testamento. Em vida do testador só
este terá acesso ao testamento ou só através de procurador com mandato especial
para o efeito.

7.5 Testamento cerrado


É manuscrito e assinado pelo testador que o terá de apresentar ao notário para
obter aprovação. Excecionalmente, pode ser manuscrito e até assinado por
outrem a rogo do testador se não souber escrever, nem assinar. Não se exige, pois,
que o testador saiba escrever mas têm de saber ler, pois terá ele próprio de ter
capacidade para se inteirar do conteúdo do testamento sem a ajuda de terceiros.

[18]
São assim inábeis para testar sob esta forma os analfabetos, os cegos e as pessoas
que por doença não possam ler. A aprovação do testamento cerrado, funciona
como meio de evitar que ele seja inválido por falta de forma, assegurando-se
assim que a última vontade do testador fique expressa. O testamento cerrado,
pode ficar ou não à guarda do notário já que se trata de um documento particular
com carater mais sigiloso. Após a morte do testador, o testamento cerrado tem
necessariamente que ser apresentado para abertura formal, quer esteja cozido,
lacrado, encerrado ou aberto.

7.6 Formas especiais de testamento


Em síntese, estas formas especiais admitem-se em virtude das circunstâncias
anómalas que a justificam e que impossibilitam o recurso às formas comuns atrás
referidas. A lei prevê, o testamento militar no Art. 2211ºCC, o testamento
marítimo nos Arts. 2214º a 2218º CC, o testamento feito a bordo de aeronave no
Art. 2219º CC e o testamento feito em caso de calamidade pública no Art. 2220º
CC. Para cada uma delas a lei prevê pressupostos e formalidades próprias.

7.7 Interpretação do testamento


O sentido e o alcance de qualquer disposição testamentária, procura-se
determinar sempre de acordo com a vontade real do testador. O interprete deve
procurar o sentido mais ajustado a intenção do testador, uma vez que o
testamento é um negócio jurídico unilateral, gratuito, revogável, não recipiendo3
e de última vontade. Na interpretação do testamento encontramos um desvio a
teoria consagrada para os negócios jurídicos em geral pelo Art. 236º n.º1 CC, que
é o objetivismo ou a teoria da impressão do declaratário, sendo sobreposta essa
teoria pelo subjetivismo do Art. 2187º CC. Para uma atenta busca da vontade
psicológica do testador, o interprete não pode apenas ter em conta o texto do
testamento, mas a declaração testamentária na globalidade, pois a sua unidade
tem sentido próprio. Com tudo, esta visão subjetivista que quase atribui ao

3
não carece de aceitação pela parte do destinatário (declaratário)

[19]
exercício interpretativo o poder de “entrar” postumamente na alma do testador,
pondo a descoberto a real intenção deste, é limitada pelo n.º 2 do Art. 2187º, não
prevalecendo a vontade do testador, que não tenha no contexto um mínimo de
correspondência ainda que imperfeitamente expressa.
A interpretação do testamento pode levar-nos a mais que um resultado, entre os
dois sentidos possíveis, deve prevalecer aquele que for menos gravoso para o
testador e que simultaneamente torne exequível a disposição testamentária.

7.8 Conteúdo do testamento


Usualmente, o testamento é composto por disposições de caracter patrimonial,
desde logo porque são as relações jurídicas patrimoniais as que são suscetíveis
de serem continuadas pelos herdeiros do dè cuios, extinguindo-se as de conteúdo
marcadamente pessoal. A lei prevê contudo diversas disposições de carater não
patrimonial inseríveis no testamento, admitindo-se até que este possa apenas
conter estas disposições não patrimoniais, Art. 2179º n.º 2 CC. Podem constar do
testamento as disposições sobre a publicação ou não das suas cartas, memórias
ou outros escritos, a divulgação do seu retrato físico ou da sua imagem, a
revelação de factos íntimos da sua vida privada e da sua identidade pessoal, a
concessão de exclusiva publicação da sua biografia e de acesso a fontes
documentais do testador, etc.
As de caracter patrimonial, assumem duas naturezas distintas. Podemos
encontrar disposições testamentarias a título de herança ou de legado. As
disposições testamentarias a título de herança, podem abarcar a totalidade do
património do falecido ou numa quota-parte ou ainda no remanescente desse
património.
São legados, Art. 2030º n.º 2 CC, as deixas testamentárias que incidem sobre bens
determinados, ainda que possam revestir diversas modalidades:
a. Legado de coisa determinada, mas não especificada
b. O legado de usufruto
c. O legado por conta da legítima
d. O legado em substituição da legítima

[20]
e. Os legados de divisão de toda a herança
Para além daquelas modalidades, podemos falar ainda do legado de coisa
onerada, o legado de crédito, o legado de prestação periódica, os legados pios
e os pré-legados.
No legado de coisa onerada, o bem legado pode estar onerado com alguma
servidão ou outro encargo que lhe seja inerente. Se assim ocorrer, o legatário
recebe a coisa legada com a mesma oneração, Art. 2272º CC.
O legado de crédito, não é mais do que uma seção mortis causa do direito de
crédito a favor do legatário, mas aqui sem a necessidade de ser promovida a
notificação ao devedor, Arts. 2261º n.º 1 e 583º CC. Tal legado de crédito só
produz efeito em relação há parte do crédito que subsista no momento da morte
do testador.
Quanto ao legado de prestação periódica, tem em regra o objeto prestações em
dinheiro ou géneros que deveram ser pagas ao legatário em certos períodos (por
exemplo mensais ou anuais) desde a morte do testador até a morte do legatário
ou até determinado momento ou facto fixado pelo testador. É relativamente
vulgar o legado de alimentos cujo quantitativo pode o testador deixar fixado ou
remeter para apreciação de terceiro.
Ainda mais vulgar é o legado de usufruto. Tanto pode incidir sobre a totalidade
da herança, sobre uma sua quota-parte ou sobre um ou vários bens do património
hereditário, razão pela qual um ou os vários herdeiros recebem a nua
propriedade dos bens e um ou mais legatários o usufruto deles. Ainda que
excecionalmente, também as pessoas coletivas podem ser usufrutuarias embora
o usufruto aqui não possa durar mais do que 30 anos, Art. 2258º CC.
Os legados pios, são regulados por legislação especial, Art. 2280º CC. São legados
pios todas as deixas testamentarias destinadas a fins religiosos ou a criação,
manutenção ou desenvolvimento de obras de assistência, previdência, educação
ou afins análogos.
Os pré-legados, são uma deixa testamentária feita a um herdeiro legitimário,
legítimo ou testamentário que acresce à sua quota, pela qual todos os herdeiros
incluindo o próprio legatário são responsáveis pela sua entrega.

[21]
7.9 Clausulas acessórias típicas no testamento
As clausulas acessórias típicas podem ser gerais ou especiais. As gerais, são
elementos acidentais ou não essenciais ao testamento e comuns há generalidade
dos negócios jurídicos, como sejam, a condição, o termo, o modo (ou encargo) e
a clausula penal.
A condição é suspensiva, quando a disposição testamentaria de herança ou de
legado, têm a produção dos seus efeitos jurídicos subordinada a um
acontecimento futuro e inserto. Exemplo: A institui B, como sua herdeira
testamentaria se ela vier a ter filhos.
A condição já será resolutiva, quando a deixa testamentária a título do legado ou
herança tiverem a resolução dos seus efeitos a um acontecimento futuro e incerto.
Exemplo: A institui B sua herdeira, mas deixará de ser beneficiária se vier a ter
filhos.
Existe termo quando for estipulado que os efeitos de um determinado negócio
jurídico, como é o testamento, se verificarem a partir de um momento futuro e
certo (suspensivo) ou seção esses efeitos jurídicos se for termo resolutivo. O n.º 2
do Art. 2243º CC, não admite a instituição de herdeiro (testamentário) a termo,
mas o n.º 1 do mesmo artigo já o admite em relação ao legatário.
Existe clausula modal ou encargo no testamento, quando o testador impõem aos
herdeiros ou legatários (Art. 2244º CC) um encargo positivo (prestação
pecuniária de coisa ou de facto a favor de terceiro ou a favor da alma do testador)
ou negativo se impuser uma omissão comportamental.
Por fim, a clausula penal no testamento pode resultar da vontade do testador em
determinar que as obrigações decorrentes do testamento sejam garantidas
através do cumprimento de determinada prestação. Há, porém, que ter em conta
enquanto restrição ao disposto no Art. 2163º CC.
As clausulas acessórias especial do testamento são:
a. A substituição direta ou vulgar
b. A substituição fideicomissária ou fideicomisso
c. As substituições pupilares e quase pupilar

[22]
Na substituição direta o testador prevendo a hipótese de o herdeiro ou legatário
instituído não poderem ou não querem aceitar a herança ou legado, nomeia no
mesmo testamento um substituto que irá suceder como herdeiro ou legatário
conforme o caso. Os substitutos, sucedem nos direitos e nas obrigações em que
sucederiam os substituídos, exceto se outra for a vontade do testador. A
substituição direta, pode ser simples quando há um único instituído e um único
substituto, Arts. 2281º e 2285º n.º 1 CC, pode ser plural, quando há vários
substitutos, para um instituído ou vários instituídos com um só substituto, Arts.
2282º e 2285º n.º1 CC, e pode ser ainda reciproca se os vários co-herdeiros por um
lado ou os colegatários por outro, se substituírem entre si por determinação do
testador, Arts 2283º e 2285º n.º 1 CC.
A substituição fideicomissária ou fideicomisso é a convenção testamentária
pela qual o testador impõem ao herdeiro ou ao legatário (fiduciários) o encargo
de conservar a herança ou o legado para que revertam pela morte do herdeiro ou
do legatário a favor de outrem, também ele indicado no mesmo testamento
(fideicomissário), Arts. 2286º a 2296º CC.
A substituição pupilar acontece quando o progenitor se substitui ao filho menor
na atribuição da herança deste, Art. 2297º CC. Não se trata da sucessão do pai,
mas sim da do filho menor. Pretende evitar-se que o filho morra antes de ter
capacidade sucessória para testar.
No que diz respeito a substituição quase pupilar, podemos afirmar que tem
regime paralelo ao da pupilar, com a diferença de que o filho é substituído pelo
progenitor, qualquer que seja a sua idade, desde que esteja abrangido pelas
circunstâncias alusivas ao regime do maior acompanhado.

7.10 Revogação testamentária


O testamento é um negócio jurídico livre e absolutamente revogável, direito ao
qual o testador não pode renunciar. Até ao último momento da sua vida o
testador pode considerar sem qualquer efeito ou alterar total ou parcialmente um
ou os vários testamentos anteriores.

[23]
A revogação testamentária pode ser expressa, tácita ou real. É expressa, quando
o testador declara noutro testamento que revoga total ou parcialmente um
testamento anterior, Art. 2312º CC. A revogação tácita consiste na produção de
declarações testamentarias contidas em testamento posterior, que no todo ou em
parte afastam outras anteriores, por se mostrarem incompatíveis entre si. A
revogação real de um testamento ou de uma disposição testamentária, tem lugar
quando o testador por mero ato material ou jurídico, revelam um
comportamento que levou o interprete a admitir a presunção de tal revogação.
São exemplos, a inutilização do testamento cerrado, a alienação de objeto que
conste do testamento ou a sua transformação em coisa diferente da que vem
mencionada no testamento.

21.03.2022

8. A Designação Legítima
Já se verificou que esta modalidade de sucessão está condicionada pela sucessão
legitimária e pela sucessão voluntária que se impõem hierarquicamente.
Havendo sucessíveis legitimários, a sucessão legítima fica desde logo limitada a
quota disponível, não os havendo pode abranger toda a herança. Por outro lado,
se o autor da sucessão dispôs da referida quota disponível ou da herança,
prevalece a posição dos sucessíveis designados por assim ter sido a vontade do
autor da sucessão. Em suma, a sucessão legítima abre-se quando não se
verifiquem a sucessão legítimaria e/ou a voluntaria.
A designação legítima surge na cauda da lista de sucessões, por se entender que
ela cumpre uma ideia de refúgio. O autor da sucessão na impossibilidade ou
desinteresse na manifestação de vontade sobre o destino a dar aos seus bens, tem
garantido por lei esse destino. A lei escolhe os familiares que lhe são mais
próximos, Art. 2133º CC. Assegura-se através da designação legítima, a
transmissão dos bens evitando que caiam em abandono, razão pela qual o estado

[24]
surge no fim da linha na designação legítima e não pode repudiar a herança, Art.
2154º CC.

8.1 A ordem da designação legítima – Art. 2133º CC


A primeira classe de sucessíveis, abrange o cônjuge e os descendentes. A
segunda inclui o cônjuge e os ascendentes. A terceira, os irmãos e os seus
descendentes. A quarta, outros colaterais até ao 4º grau. Na quinta surge o
estado.
A sucessão legítima estabelece três princípios gerais que a regulam, Arts. 2134º,
2135º e 2136º do CC, e que são também aplicáveis a sucessão legitimária por força
do Art. 2157º CC. São eles:
a. Preferência de classes – diz-nos o Art. 2134º CC, que os herdeiros de cada
uma das classes de sucessíveis, preferem aos das classes imediatas,
segundo a ordem estabelecida no Art. 2133º CC. Assim, os ascendentes
apenas têm designação na falta de descendentes. Os irmãos e sobrinhos,
apenas são chamados na falta de cônjuge, descendentes e ascendentes, etc.
A preferência faz-se com absoluta e total exclusão das classes seguintes.
Deste modo, um neto do autor da sucessão (parente na linha reta e no 2º
grau, mas da primeira classe de sucessíveis) tem prioridade na designação
legitima e legitimária, face ao pai do autor da sucessão, que é parente na
linha reta e no 1º grau, mas pertence a segunda classe.
b. Preferência de graus, de acordo com o Art. 2135º CC, dentro de cada classe
os parentes de grau mais próximo preferem aos de grau mais afastado.
Assim, logo na primeira classe de sucessíveis descendentes, os filhos
afastam os netos e estes os bisnetos.
c. Sucessão por cabeça, este princípio consagrado no Art. 2136º CC,
determina a sucessão em partes iguais entre os parentes de cada classe e
do mesmo grau sucessório. Teremos, contudo, que ter em conta as regras
de direito de representação dos Arts. 2039º e ss CC, que origina uma
partilha por estirpes, chamando os descendentes de grau mais afastado ou
que no caso de igualdade de graus sucessórios, determina primeiro a

[25]
divisão da massa hereditária por estirpes e só depois e dentro de cada
estirpe por cabeça.

8.2 Primeira classe de sucessíveis – Cônjuges e Descendentes


O cônjuge sobrevivo (supérstite [sobrevivo]), tanto na sucessão legitimária como
na legitima integra a primeira classe de sucessíveis, concorrendo com os
descendentes. Se o autor da sucessão não deixar cônjuge sobrevivo, concorreram
os seus descendentes se os houver. Na falta de descendentes, o cônjuge é
designado para a totalidade da herança ou da legítima global se não houver
ascendentes, caso em que estaremos perante a segunda classe de sucessíveis.
Para que o cônjuge seja sucessível legitimo e/ou legitimário, é necessário que se
verifiquem os pressupostos do Art. 2133º, n.º 1 alíneas a) e b) e n.º 3 CC e ainda o
Art. 2157º CC. Quando o cônjuge concorre com descendentes, não pode receber
quota-parte inferior a ¼ da herança por força do Art. 2139º n.º 1 CC ou ¼ da
legítima objetiva, Arts. 2157º e 2139º n.º 1 CC. A quota mínima indicada, só tem
relevância se a concurso estiverem 4 ou mais filhos ou estirpes de descendentes.
É de salientar que o n.º 3 do Art. 2133º CC, já que o cônjuge sobrevivo só é
chamado a suceder se não se encontrar divorciado ou separado judicialmente de
pessoas e bens por sentença que tenha já transitado em julgado ou venha a
transitar.
O cônjuge concorrerá com descendentes do 2º grau e seguintes, no caso de os
filhos não poderem ou não quererem aceitar a herança, sendo aqueles designados
por direito de representação, Arts. 2039º e 2042º CC.
O cônjuge sobrevivo goza ainda de direito de acrescer simultaneamente com
descendentes, se algum ou alguns dos descentes chamados não poderem ou não
quiserem aceitar a herança.
No caso de o autor da sucessão não deixar cônjuge sobrevivo, a herança divide-
se pelos filhos em partes iguais, Art. 2139º n.º 2 CC.

[26]
8.3 Segunda classe de sucessíveis - Cônjuge e Ascendentes
Na sucessão de ascendentes, Art. 2142º CC, quer concorram ou não com o
cônjuge, vigoram os princípios da preferência de grau pelo predisposto no Art.
2135º CC e da sucessão por cabeça disposto no Art. 2136º CC, não existindo,
porém, direito de representação que é exclusivo dos descendentes, Art. 2039º CC.
Não existindo descendentes do autor da sucessão, o cônjuge sobrevivo concorre
com os ascendentes em qualquer grau da linha reta, preferindo os de grau mais
próximo 2135º. Assim, e nesse caso o cônjuge sobrevivo terá sempre 2/3 da
herança ou da legitima objetiva, consoante se trate de sucessão legitima, Art.
2142º CC, ou legitimária predisposto nos Arts. 2157º e 2142º n.º 1 CC, enquanto o
conjunto dos ascendentes chamados a suceder apenas tem direito a 1/3. Não
havendo cônjuge sobrevivo, nem descendentes, concorrem entre si os
ascendentes dentro do mesmo grau de parentesco há totalidade da herança em
partes iguais. Também aqui vigora o direito de acrescer, se estiverem no mesmo
grau de parentesco.
Por fim, quanto a esta classe, faltando os ascendentes, o cônjuge do autor da
sucessão é chamado a totalidade da massa hereditária (herança ou legítima
objetiva, Arts. 2144º e 2157º CC).

8.4 Terceira classe de sucessíveis - Irmãos e seus Descendentes


Não havendo sucessíveis das duas classes anteriores, ou seja, não existindo
cônjuge, descendentes nem ascendentes são chamados a sucessão os irmãos e
seus descendentes, Art. 2145º CC. Os irmãos do dè cuios, podem ser germanos ou
unilaterais, de acordo com o Art. 2146 CC e se o forem apenas de um tipo ou de
outro, são designados sucessoriamente em partes iguais, sucedendo por cabeça.
Os irmãos germanos, são filhos do mesmo pai e da mesma mãe e os unilaterais,
são filhos apenas do mesmo pai (consanguíneos) ou filhos da mesma mãe
(uterinos).
De forma diferente será se a concurso sucessório forem chamados irmãos
germanos, mas também consanguíneos ou uterinos. Neste caso, cada um dos
irmãos germanos ou seus descendentes se houver direito de representação,

[27]
receberá um quinhão igual ao dobro do quinhão de cada um dos irmãos
unilaterais.
Por exemplo: A deixa como sucessores B e C irmãos germanos e D irmão uterino
numa herança de 30 mil euros. B e C sucedem cada um em 12 mil euros,
enquanto, que D sucede em 6 mil euros.

8.5 Quarta classe de sucessíveis - Outros Colaterais até ao 4º


grau
Na falta de herdeiros das classes anteriores, são chamados a sucessão os restantes
colaterais até ao 4º grau, preferindo sempre os mais próximos, Art. 2147º CC, o
que permite concluir a inexistência de direito de representação nesta classe. O
Art. 2148º CC, indica-nos que a partilha é feita por cabeça.

8.6 Quinta classe - O estado


O estado. é o último dos sucessíveis depois de todos os parentes e cônjuge de
acordo com o Art. 2152º CC, assim se evita que os bens sucessórios fiquem
abandonados e também reúne o estado meios para a realização das suas funções
sociais.
De todos os sucessíveis, o estado é o único que não necessita de fazer a aceitação
da herança e também não a pode repudiar. Tirando alguns aspetos
diferenciadores de regime, o estado intervém nestes casos como sujeito de direito
privado, isto é, sem o seu característico ius imperium.

9. A Abertura da Sucessão
Podemos dizer que a abertura da sucessão, inicia-se ou ocorre com a morte do
autor da sucessão. A abertura da sucessão é o início do processo complexo,
tendente a devolução sucessória das relações jurídicas transmissíveis do autor da
sucessão e tem como causa determinante a sua morte e no pressuposto que
existem relações jurídicas transmissíveis.

[28]
Quanto ao momento da abertura da sucessão, ocorre sempre por referência ao
momento da morte do autor da sucessão e o lugar dessa abertura é o do seu
último domicílio.

10. Vocação Sucessória


A vocação sucessória, é o chamamento de herdeiros ou legatários à titularidade
das relações jurídicas transmissíveis do autor da sucessão. A vocação sucessória
é distinta da designação sucessória, já que esta última é uma situação anterior
aquela, e que é mutável, por exemplo por alteração do testamento ou até da lei.
Aberta a sucessão, com o desaparecimento do autor da sucessão, serão chamados
a titularidade das relações jurídicas do falecido, aqueles que gozam de prioridade
na hierarquia dos sucessíveis desde que tenham a necessária capacidade. A
capacidade ou incapacidade sucessórias para serem eficazes, têm de existir no
momento da abertura da sucessão e basta que vigorem nesse momento para que
o sucessível seja ou não chamado (é exceção o Art. 2034º alínea d)).

10.1 Modos de Vocação Sucessória


Já sabemos, que a vocação sucessória não é mais do que o chamamento de alguém
a título de herdeiro ou de legatário à titularidade das relações jurídicas sem
sujeito. Importa esclarecer, que nem todos os que são chamados o são do mesmo
modo. Entre vários modos doutrinariamente aceites, importa para o nosso estudo
dois deles, a saber a vocação direta e a vocação indireta.
A mais usual, é a vocação direta e traduz a designação de um sucessível
prioritário ou pelo menos esse ou esses sucessíveis, aparecem na hierarquia por
expectativa em primeiro lugar.
Ao contrário na vocação indireta também conhecida como vocação anómala, um
sucessível é chamado não apenas em atenção a relação existente entre ele e o
autor da sucessão, mas também em função da sua posição perante um terceiro,
que é primitivo designado que não entra na sucessão, mas que serve de ponto de
referência para a vocação. Por outras palavras, o chamamento na vocação

[29]
indireta funciona a favor de alguém subsequente ou substitutivamente em vez
do primitivo designado prioritário por este não ter podido ou não ter querido
aceitar a sucessão.
A vocação indireta, comporta 3 situações distintas:
a. Direito de representação;
b. O direito de acrescer.
c. A substituição direta;

a. Direito de representação
De acordo com o Art. 2039º CC, dá-se direito de representação quando a
lei chama os descendentes de um herdeiro ou legatário a ocupar a posição
daquele que não pode ou não quis aceitar a herança ou o legado. Neste
caso a representação sucessória defere-se por força da lei e não por
manifestação de vontade do autor da sucessão, sendo tal deferimento
imperativo na sucessão legitimária e supletivo nas restantes formas de
sucessão.
Para que haja lugar ao direito de representação em qualquer espécie de
sucessão, importa que se verifique uma impossibilidade de aceitação ou
de repúdio da herança ou legado por tarte do sucessível, com designação
prioritária e que este tenha no momento da abertura da sucessão,
descendentes que o representem naquela posição jurídica.
Exemplo: A viúvo, falece em 2008, tendo deixado um filho sobrevivo C
casado com D, um ano antes falecera o seu outro filho B, pai dos seus netos
F e G. Por força do direito de representação, F e G sucedem indireta ou
anomalamente a A numa quota igual a C, ocupando a posição jurídica de
B pré-falecido.
Bem diferente disto, encontramos o chamado direito de transmissão. Mais
concretamente, o direito de transmissão de aceitar ou repudiar a herança
ou o legado. Usando ainda aquele exemplo, imagine-se que C morre
depois de A, sem que se tivesse promovido a aceitação expressa ou tácita
da herança ou o repúdio. É preciso pois saber, que a lei prevê que esse

[30]
direito que se atinha de aceitar ou repudiar a herança de A para que fora
chamado, tem de ser aceite ou repudiada por alguém. Quer isto dizer, que
na herança de C, esta o direito que C tinha para aceitar ou repudiar a
herança do pai, tendo, no entanto, falecido depois dele, mas sem aceitar
ou repudiar a herança. Esse direito será como todos os outros da herança
exercido pelos herdeiros de C.
O direito de representação na sucessão legal, previstos nos Arts.2039º e
2042º CC, têm origem em situações de pré-morte, deserdação, repúdio e
indignidade sucessória. Para que haja direito de representação na sucessão
legal, exige-se que o sucessível tenha descendentes, qualquer que seja o
grau, mas observando-se a regra da preferência de grau mais próximo,
Art. 2135º CC.
Para além, do direito de representação legal (legítima e legitimária) a lei
prevê o direito de representação na sucessão testamentaria, conforme o
Art. 2041º CC. Nesta, é imprescindível que o sucessível designado no
testamento não possa ou não queira aceitar a herança ou legado e que a
causa da não aceitação seja apenas a pré-morte ou repúdio, Art. 2041º n.º
1 CC. Exige-se ainda que o sucessível testamentário tenha descendentes
qualquer que seja o grau de parentesco, observando-se também aqui o
princípio da preferência de grau mais próximo. Por fim, e ainda com
respeito ao Art. 2041º n.º 1 CC, para que se verifique direito de
representação na sucessão testamentária, é necessário que não haja outra
causa de caducidade sucessória ou que o autor da sucessão não tenha
afastado o direito de representação ou ainda que o testador não tenha
designado um substituto do herdeiro ou legatário, Art. 2041º n.º 2 alínea
a). Também não pode se em causa haja fideicomisso4 no qual o

4
Disposição testamentária em que um herdeiro ou legatário é encarregue de conservar
e, por sua morte, transmitir a outrem a sua herança ou o seu legado.

[31]
fideicomissário5 não possa aceitar a herança ou ainda que não estejamos
perante uma situação de legado de usufruto ou de outro direito pessoal.
As causas de caducidade a que se refere o Art. 2041º n.º 1 CC, são visíveis
no Art. 2317º CC. Para ter afastado a aplicação do direito de representação
é necessário que o testador tenha assim declarado ou que tenha feito
funcionar um qualquer outro instituto substitutivo. Com efeito, pode o
testador prever que o herdeiro ou legatário não queiram ou não possam
aceitar a herança ou legado, que indica no testamento quem o ou os deve
substituir (substituição direta, Arts. 2281º e 2285º CC). Havendo
fideicomisso (substituição fideicomissária) se o fideicomissário não poder
ou não quiser aceitar a herança ou legado, não existe direito de
representação para os descendentes do fideicomissário, fica a substituição
sem efeito, tornando-se o fiduciário titular dos mesmos direitos daquele,
desde a morte do testador, Arts. 2293º n.º 2 e 2296º CC.
O direito de representação tem lugar ainda que todos os membros das
várias estirpes esteja relativamente ao autor da sucessão no mesmo grau
de parentesco ou exista uma só estirpe. Tem-se por estirpe, o grupo
familiar composto por um progenitor e pela respetiva descendência. Esta
descendência por poder abranger vários graus, pode acontecer que num
desses graus haja descendentes que sejam troncos de subestirpes. Deste
modo e por força do n.º 2 do Art. 2044º CC, também aos representantes
numa subestirpe cabe aquilo a que sucederia o ascendente tronco da
subestirpe.

5
De acordo com a definição do Art. 2286.º CC, “diz-se substituição fideicomissária, ou
fideicomisso, a disposição pelo qual o testador impõe ao herdeiro instituído o encargo
de conservar a herança, para que ela reverta, por sua morte, a favor de outrem; o
herdeiro gravado com o encargo chama-se fiduciário, e fideicomissário o beneficiário da
substituição”. O Art. 2296.º CC, estende a aplicação desta figura aos legados. Trata-se
assim de uma situação em que o sucessor instituído em primeiro lugar (o fiduciário) fica
obrigado a conservar o objeto da sucessão para que ele reverta por sua morte em
benefício de um segundo sucessor (o fideicomissário), em ordem a permitir o
conhecimento da situação por terceiros, a cláusula fideicomissária está sujeita a registo,
nos termos do art. 94.º b) CRPerdial.

[32]
Exemplo:
+A
(2008)

+C
B (2007)

D +E
(2006)

F G
Imagine-se uma herança no valor de 80 mil euros, o sujeito A viúvo
e sem testamento. Faleceu em 2008 com uma herança no valor de 80
mil euros deixando sobrevivos o seu filho B, o seu neto D filho do
seu pré falecido filho C e dois bisnetos F e G, filhos do pré falecido
neto E, filho de C. Não se cumpre aqui a regra da sucessão por
cabeça entre os herdeiros B, D, F e G. Verifica-se ao invés, direito de
representação em qualquer das subestirpes (de C e de E). Deste
modo, a B cabem 40 mil euros e os outros 40 mil euros a estirpe do
seu falecido irmão C. Ao herdeiro D, por direito de representação,
cabe 20 mil euros, enquanto a F e a G cabe a cada um 10 mil euros.

11. Exemplos Práticos

Esquema Base

C D

A B

N E F G L M

O P Q M J

X W

[33]
1ª Alteração
C D

2019+A B

N E F G L M

O P Q M J

X W
➔ A faleceu em 2019
Questão:
Pretende-se saber em primeiro lugar e com base em que artigos.
A abertura da sucessão ocorreu quando?
Resposta:
O fenómeno sucessório ocorreu em 2019, com o falecimento de A, Art. 2031º CC.
Questão:
Há sucessão contratual e/ou testamentária?
Resposta
Não há sucessão contratual, para ter havido, teria de estar no esquema ou
enunciado “convenção pré-nupcial”, na qual foi feita uma ou mais doações mortis
causa.
Não há sucessão testamentária porque nada foi indicado sobre um testamento de
A.
Assim, vamos ter neste caso, a sucessão legitimária e a sucessão legitima.
Quem sucede ao A, na sucessão legitima e legitimária e porquê?
Em termos de vocação sucessória, quem vamos chamar e quem não chamamos.
Chamamos o cônjuge e os descendentes na sucessão legitimários, Art. 2157º, pela
mesma ordem dos da legitima.

[34]
Primeira regra de chamamento, quer na sucessão legitima e na legitimária,
preferência de cônjuge, e também nas duas, depois os descendentes.
Preferência de classes, 1ª classe cônjuge e descendentes (sucessão legitima e
legitimária)
Regra de preferência de grau, chama-se os de grau mais próximos.
Chamamos B, E, F, G e H
Divisão ou sucessão por cabeça
O cônjuge concorre com 4 ou mais descendentes, logo não poderá que receber
menos de ¼ da herança seja do todo (da legitima ou da legitimária) ou seja só da
legitima global, não havendo sucessão legitima (em casos em que há testamento
a deixar a quota disponível a outro). Quando assim é, quer na sucessão legitima,
quer na sucessão legitimária, primeiro calcula-se ¼ para o cônjuge sobrevivo e as
outras ¾ partes dividem-se por cabeça.

2ª Alteração

C D

2019+A B

N E F (PF) G L M

O P Q M J

X W

➔ A faleceu em 2019
➔ F é pré falecido
Neste caso F, não pode ser herdeiro, é chamado M seu representante, que pode
aceitar ou não. Art. 2039º e temos sucessão legal, Art. 2042º.

[35]
3ª Alteração

C D

2019+A B

N E(PF) F (PF) G(R) L M

O P Q M J

X W
➔ Chamado a
suceder, optou por repudiar, não tem descendentes. Não se aplica o Art.
2039º, direito de representação, pois não tem descendentes.
➔ Agora E é pré falecido, sucede por direito de representação O, P e Q.

C D

2019+A B

N E F (PF) G(R) L M

O P+(2010) Q M J

X W

➔ P faleceu em 2010, são chamados como seus representantes X e W.


Caso 2

+A B(R)

E F C D

[36]
➔ A fez testamento a favor de B, da sua quota disponível
➔ A faleceu, deixou como herdeiros B, E e F
➔ B repudiou a herança
➔ Não temos Sucessão Legitimária
➔ B repudiou enquanto herdeiro legitimário e testamentário
➔ C e D são chamados a suceder de forma anómala a posição de B, isto está
errado, pois C e D só podem pelo Art. 2041º CC em relação a quota
disponível.

28.03.2022
b. O Direito de Acrescer
Podemos definir o direito de acrescer como o direito de, certo sucessível
chamado simultaneamente com outros de adquirir o objeto sucessórios,
que outro ou outros dos sucessíveis também chamados, não pode ou não
quis que não poderão ou não quiserem sempre que se verifique um
conjunto de pressupostos negativos e positivos. Atentos a este conjunto de
circunstâncias, devemos juntar as particularidades de cada uma das
espécies de sucessão.
Do ponto de vista, do que não se deve verificar:
a. Substituição direta
b. Vontade do autor da sucessão contraria ao direito de acrescer
c. Direito de representação
d. Direito de transmissão, do direito de aceitar ou repudiar
e. Pessoalidade do legado
Quando as primeiras duas alíneas, deve dizer-se que não são possíveis na
sucessão legitimária uma vez que é imperativa e, portanto, não pode ser
afastada pelo autor da sucessão. Porém, se em causa estiver a sucessão
legitima ou a sucessão testamentária, pode então o dè cuios na falta ou

[37]
repúdio dê certo sucessível, seja este substituído por outrem estranho ou
não a sucessão.
Também não há lugar ao direito de acrescer, se no caso houver lugar ao
direito de representação, situação em que serão chamados os descendentes
do que não pode ou não quis aceitar a sucessão e não os co-sucessíveis.
Igualmente não se verifica o direito de acrescer, enquanto os herdeiros do
sucessível que morreu sem ter aceitado ou repudiado a herança, não
tiverem exercido esse direito de aceitar ou repudiar.
Por último, se na sucessão testamentaria o legado tiver natureza
puramente pessoal, isto é, a liberalidade foi “desenhada” tendo em conta
as características do beneficiário. Se assim ocorrer, não há direito de
acrescer, extinguindo-se o legado, tudo se passando como se não tivesse
existido.
Do lado positivo, para que ocorra direito de acrescer tem de haver uma
quota-parte vaga, por falta ou repudio de herdeiros (legais, testamentários
ou contratuais) ou delegatários testamentários ou contratuais, e têm ainda
de existir mais co-herdeiros ou colegatários chamados ao mesmo tempo
que foram os que não quiseram ou não poderão.

c. Substituição Direta (também conhecida como vulgar, comum ou


ordinária)
Desde que não esteja em causa a sucessão legitimária, porque intocável
para o autor da sucessão, pode este em todas as outras vocações traçar o
destino dos seus bens. É o que acontece com esta modalidade de vocação
anómala, que quando operante, prevalece sobre as duas anteriormente já
faladas, isto é, sobre o direito de representação e o direito de acrescer.
A substituição direta, prevista nos Arts. 2281º a 2285º CC, traduz-se na
nomeação por parte do testador de um substituto para o herdeiro ou
legatário instituídos, para o caso de não poderem ou não quiserem
aceitarem a herança ou o legado.

[38]
A substituição direta, pode valer apenas para o caso de os sucessíveis
substituídos não poderem aceitar a sucessão ou só para o caso de tais
sucessíveis repudiarem a sucessão, mas desde que o testador expressa ou
tacitamente declare pretender essa exclusividade.
A substituição direta pode ser simples (quando há um único instituídos e
um único substituto, Arts. 2281º e 2285º n.º1 CC), plural(quando há vários
substitutos para um instituído ou vários instituídos com um só substituto,
Arts. 2282º e 2285º n.º 1 CC) e reciproca (se os co-herdeiros por um lado
ou os colegatários por outro, se substituírem entre si por determinação do
testador, Arts. 2283º e 2285º CC).

12. A herança
Em sentido amplo, a herança comporta a totalidade da massa hereditária, ou seja,
o conjunto das relações jurídicas geralmente patrimoniais de que uma pessoa
singular é titular a data da sua morte aptas a serem transmitidas aos sucessores.
É uma universalidade de direito, que abrange a herança em sentido estrito, bem
como, os legados. Diz-se jacente a herança não aceite, nem repudiada ou
declarada vaga para o estado, Art. 2046º CC, isto e, é jacente quando aberta a
sucessão, Art. 2031º CC, ainda não foi aceite pelos herdeiros, repudiada por eles
ou declarada vaga para o estado. A situação de herança jacente, é em si uma
transição em que a herança não tem titular, não tendo quem zele pelos bens e de
modo a assegurar os interesses dos sucessíveis, incluindo o estado e os credores
da herança, a lei garante a tomada de medidas necessárias a conservação dos
referidos bens. Assim, o sucessível chamado a herança, sem ter ainda exercido o
seu direito de aceitar ou repudiar pode providenciar pela prática de atos urgentes
de administração, isto é, aqueles que se mostrem necessários e adequados à
preservação dos bens da herança, Arts. 2047º n.º 2 e 2079º ss CC.
Na herança indivisa, estamos sempre perante a existência de dois ou mais
herdeiros que perante a universalidade que é a herança, não detém direitos
próprios sobre cada um dos bens hereditários e nem sequer são comproprietários
deles. Existe apenas uma comunhão sem determinação de parte ou de direito. Já

[39]
não é jacente, porque foi aceite, mas ainda se fala de herança porque não foi
partilhada.
Quando a herança tem um só herdeiro, o problema tratado no parágrafo anterior
não existe, uma vez que ele é titular quer da universalidade de direito que é a
herança, quer de cada um dos bens que a compõem.
Na herança partilhada, deixa de haver cotitularidade na herança, para haver o
pleno direito de propriedade sobre bens ou parte deles, certos e determinados.
Referimo-nos a compropriedade que pode resultar da partilha. Exemplo: A
deixou na sua herança, como únicos bens: 3 mil euros e uma casa no valor de 300
mil euros. Têm três herdeiros legitimários. Antes da partilha, esses três herdeiros
são titulares de direitos em comum e sem determinação de parte ou direito sobre
aqueles bens. Feita a partilha, imagine-se que a casa fica a pertencer aos 3 em
partes iguais. Significa, que cada um deles passa a ser proprietário de 1/3 do
imóvel, tendo-se estabelecido por isso o regime da compropriedade.

12.1 A aceitação e o repudio


O nosso sistema de aquisição sucessória, não se processo ipso iure, isto é, não
ocorre pela mera determinação do direito. Quer isto dizer, que ninguém é
herdeiro ou legatário se o não quiser. Assim sendo e havendo vocação sucessória
direta ou indireta, terão os sujeitos dessa mesma vocação que manifestar a sua
vontade aceitando ou repudiando a herança.
A aceitação da herança, pode ser pura e simples ou a benefício de inventário,
consistindo esta última na declaração de aceitação do herdeiro que reserva o
direito de só aceitar depois de apurado o património que desconhece.
A aceitação, pode ser expressa ou tácita, Art. 2056º CC. É expressa, quando
nalgum documento o sucessível chamado a herança declara aceitá-la ou assume
o título de herdeiro, com a intenção de a adquirir. Será tacita, quando a aceitação
se deduz de factos de que com toda a probabilidade a revela.
Na aceitação pura e simples, o herdeiro aceita sem mais a herança
independentemente de qualquer processo de inventário.

[40]
Nos termos do Art. 2050º n.º1 CC, aceitação é o ato jurídico que tem por efeito a
aquisição do domínio e posse dos bens da herança, embora isso não signifique a
apreensão material dos bens. Para evitar falhas na titularidade das relações
jurídicas, objeto da sucessão, os efeitos atrás mencionados retrotraem-se ao
momento da abertura da sucessão, Art. 2050º n.º 2 CC.
O repúdio tem regime particular, nomeadamente quanto a forma. O repúdio da
herança ou do legado terá de ser feito por escritura pública ou documento
particular autenticado, se da herança fizerem parte bens imóveis ou se o legado
for bem imóvel. Em termos de efeitos, o repúdio quer do herdeiro quer do
legatário, torna-os “não chamados” exceto para efeitos de representação, Art.
2062º CC, sendo por isso chamados os sucessíveis subsequentes, Art. 2032º CC.

12.2 Encargos da herança


Nos termos dos Artigos 2168º e 2070º n.º 2 CC, estão elencados os encargos
ordinários da herança, impostos pela lei e referentes a qualquer herdeiro. São
esses encargos os seguintes:
1. As despesas com o funeral e sufrágios (missas, rezas, obras de
caridade e etc.);
2. Os encargos com a testamentaria, administração e liquidação do
património hereditário;
3. As dívidas do autor da sucessão, que são pagas em terceiro lugar;
4. Os legados.
Como os legados são pagos em último lugar, pode acontecer que na herança não
existam bens suficientes para os cumprir integralmente, caso em que serão pagos
rateadamente. A lei designa por testamentaria, a nomeação pelo testador de uma
ou mais pessoas, que ficam encarregadas de vigiar o cumprimento do seu
testamento ou de o executar no todo ou em parte. Tais pessoas chamam-se
testamenteiros, Art. 2320º CC. A administração da herança por parte do cabeça
de casal (cabecelato) é também fonte de despesas relativas ao exercício dessa
função e por elas deve ser ressarcido.

[41]
12.3 Valor da herança
Saber qual o valor da herança é tarefa primordial, para se poder proceder a
partilha dos bens que dela fazem parte. Para tal, são vários os aspetos a que temos
de atender para calcular o valor do ativo e do passivo. Desde logo e por exemplo:
“saber se o autor da sucessão é ou não casado?”, “qual o regime de bens do
casamento?”, ou “se existem ou não convenções antinupciais de conteúdo
relevante para este fim?”, são aspetos a ter em conta. Em função dos vários
aspetos a analisar, apurar-se-á para efeitos hereditários uma massa ativa que
abrange os bens próprios do autor da sucessão e a eventual meação que tenha
nos bens comuns e uma massa composta pelas dívidas da sua exclusiva
responsabilidade e pela metade proporcional nas dívidas da responsabilidade
comum de ambos os cônjuges.
Um dos aspetos que assume maior relevância nesta matéria, mostra-se previsto
no Art. 2162º CC, com epigrafe cálculo da legitima. De acordo com o n.º 1 deste
artigo, para este cálculo atende-se:
a. Aos bens existentes no momento da morte do dè cuios (relictum);
b. Ao valor dos bens doados (donatum);
c. Ao valor das despesas sujeitas à colação;
d. Às dividas da herança.
Assim, como valor ativo há que ter em conta o património existente no momento
da morte e as disposições em vida e como valor passivo as dívidas da herança.
Quanto as doações, há que esclarecer que para este fim, são tidas em conta todas
as que foram feitas em vida do autor da sucessão, independentemente de os
donatários serem sucessíveis ou terceiros, não relevando se estão ou não sujeitos
a colação.
Das despesas feitas pelo dè cuios em favor dos seus sucessíveis, são tidas em conta
para o cálculo do valor da herança, se nos termos do Art. 2110º CC, se demonstrar
que estão sujeitas a colação.
Já das dívidas, não surgem tantos problemas quanto à sua determinação, uma
vez que estão elencadas no Art. 2068º CC, com exceção dos legados que fazem
parte do relictum.

[42]
Deste modo, o cálculo deve fazer-se somando-se ao relictum o valor das doações,
subtraindo-se o passivo, pelo que assim teremos o valor da massa hereditária.

13. Colação – Arts. 2104º a 2118º CC


Este instituto jurídico é privativo da sucessão dos descendentes. A colação tem
em vista a igualação na partilha entre os descendentes, consistindo na restituição
à herança dos bens que foram doados em vida ao descendente. Parece resultar
da presunção legal de que às doações feitas a descendestes pelo autor da sucessão
na altura da doação, eram presuntivos herdeiros legitimários, Arts. 2104º e 2105º
CC, envolveriam apenas uma antecipação do preenchimento do respetivo
quinhão hereditário, Art. 2108º n.º 1 CC, na pressuposição que a intenção do
autor da sucessão ao doar, não terá sido a de beneficiar aquele descendente face
aos demais, mas apenas a imediata aquisição do bem e dos poderes
característicos da aquisição dos correspondentes direitos.
Não estão nunca sujeitas há colação, as doações mortis causa e muito menos as
disposições testamentárias seja de herança ou de legado. Só as doações e as
despesas gratuitas feitas em vida pelo autor da sucessão a descendentes estão
eventualmente sujeitas a colação.
Um dos fundamentos da colação, é o de presumir que o autor da sucessão com
as doações pretendeu apenas antecipar o gozo dos bens doados aos descendentes
e não acrescentar-lhes qualquer beneficio em detrimento dos demais
descendentes.
Para que haja colação, é necessário cumulativamente:
a. Que haja doações ou certas despesas gratuitamente feitas pelo autor da
sucessão, a favor de descendentes que na data da liberalidade fossem
seus presuntivos herdeiros legitimários;
b. Que tais liberalidades não estejam dispensadas da colação pelo autor
da sucessão ou por força da lei;
c. Que se tenha aberto uma sucessão hereditária na qual concorram
efetivamente diversos descendentes, nomeadamente os descendentes
ou seus representes beneficiados com aquelas liberalidades.

[43]
Quer isto dizer em primeiro lugar, que para haver colação é necessário que o
autor da sucessão tenha doado em vida coisas, direitos ou outros bens jurídicos
ou tenha efetuado em vida despesas gratuitas, em favor de um ou até de todos
os descendentes que à data da doação ou da despesa fossem presuntivos
herdeiros legitimários do doador. Em segundo lugar, é necessário que o autor da
sucessão não tenha dispensado o donatário ou o beneficiário das despesas
gratuitas da colação, Art. 2113º CC, dispensa esta que traduz a intenção de
favorecimento do destinatário através da liberalidade. Feitas as doações e/ou as
despesas gratuitas a favor de algum ou alguns dos presuntivos herdeiros
legitimários descendentes, pode o autor da sucessão no mesmo ato ou em ato
posterior, dispensá-los expressa ou tacitamente da colação. Acrescente-se ainda
que nas doações verbais de coisas móveis acompanhada da tradição, presume-se
a dispensa da colação.
Em terceiro lugar, para que haja colação é necessário também que se tenha aberto
a sucessão na qual concorram diversos descendentes, com respeito do princípio
da preferência de grau, mas sem prejuízo do direito de representação se o houver.
A obrigação de conferir, recai sobre o donatário, mas se este não sobreviver
(morreu antes da abertura da sucessão) a obrigação de conferir recai sobre os seus
descendentes se os houver, ainda que estes nada tenham beneficiado com a
liberalidade. Dito de outro modo e pela negativa, a colação não tem lugar se os
descendentes donatários e seus representantes não poderem ou não quiserem
aceitar a herança, ou seja, não concorrem a herança, situação em que poderão
conservar as liberalidades em causa, a não ser que haja lugar a redução por
inoficiosidade.
Só podem reclamar a colação aqueles a quem igualmente ela poderia ser exigida
(não podem fazer os legatários, os herdeiros testamentários ou contratuais). A
colação é uma operação que visa a igualação entre descendentes, aceitantes da
herança e a eles se deverá circunscrever.

[44]
13.1 A Colação na sucessão conjunta de cônjuge e descendentes
Recuando um pouco no tempo o Decreto-Lei 496/77, promoveu alterações
profundas no direito sucessório português, designadamente por ter introduzido
o cônjuge como herdeiro nas primeira e segunda classes sucessíveis e como
herdeiro legitimário. Até então, o cônjuge sobrevivo encontrava-se na quarta
classe sucessível, sendo, portanto, afastado da sucessão pela existência de
descendentes, ascendentes, irmãos e seus descendentes do autor da sucessão.
Para além disso, o cônjuge sobrevivo passou a deter quota mínima quando em
concurso com quatro ou mais descendentes, quer na sucessão legitima que na
sucessão legitimária.
O quer aqui se discute tem a ver com o facto do Art. 2104º CC, não ter sofrido
nenhuma alteração em 77, mantendo, pois, e até aos dias de hoje a redação
originária do atual CC, nesse Art. 2104º CC, resulta claramente que a obrigação
de conferir para a igualação na partilha, recai sobre os descendentes. “Será que o
legislador se esqueceu de alterar aquele preceito ou não quis mesmo sujeitar a
colação o cônjuge que tenha beneficiado com liberalidades feitas em vida?”,
“Estarão todos os sucessíveis em caso de concurso, de cônjuges e descendentes
sujeitos a colação?”, “Terão apenas os descendentes obrigação de conferir,
efetuando-se somente entre eles a igualação com base nas doações feitas?”.
As questões não são pacíficas e não há posição doutrinaria uniforme. Parece, a
quem assim defenda, que não há justificação razoável para que apenas os
descendentes estejam sujeitos a colação e não de igual modo o cônjuge sobrevivo.
Não se justifica que o cônjuge sobrevivo, chamado conjuntamente a herança com
os descendentes, aproveitar-se do aumento da massa partilhável pela devolução
à herança dos bens doados e sujeitos a colação, estando ele ao invés dispensado
de o fazer. Acresce que a lei presume, para que haja colação, que o dè cuios com
essas liberalidades não esta mais a fazer do que a antecipar a entrega de parte do
quinhão hereditário do presuntivo herdeiro legitimário descendente. Pergunta-
se: “porque é que não funciona para o cônjuge a mesma presunção, já que a rácio
parece ser a mesma?”. Por estas questões em aberto e pelas razões que as
sustentam, parece ser mais defensável que deveriam estar sujeitos a colação os

[45]
descendentes e o cônjuge sobrevivo, quando concorram conjuntamente a
sucessão. Longe de ser pacífica a resolução do problema, não falta doutrina e
jurisprudência defendendo exatamente o contrário.

14. Quotas legitimárias


Para sabermos quais as frações da herança pertencentes a cada herdeiro, temos
de averiguar quais os títulos de vocação sucessória, Arts. 2026º a 2028º CC.
Assume particular relevância a questão de saber se no caso há ou não herdeiros
legitimários, efetivamente chamados e aceitantes. No caso de os haver a que
calcular a legitima global ou objetiva reservada imperativamente para tais
herdeiros, Art. 2156º CC, conseguindo-se deste modo também qual a quota
disponível do autor da sucessão.
Não havendo herdeiros legitimários, o autor da sucessão poderia livremente
dispor de toda a sua herança, havendo apenas lugar a aplicação das regras da
sucessão legitima, se o autor da sucessão não tiver válida e eficazmente disposto
de toda a sua herança.
Existindo herdeiros legitimários, os poderes de disposição estão limitados em
termos de eficácia a quota disponível, aplicável quer a sucessão legitima quer a
sucessão legitimária.
A lei reserva imperativamente para os herdeiros legitimários, chamados a
sucessão as seguintes quotas da herança:
1. Dois terços (2/3):
a. Se houver concurso do cônjuge sobrevivo com um ou mais filhos
ou uma ou mais estirpes de descendentes do autor da sucessão,
Arts. 2158º n.º 1 e 2160º CC;
b. Não havendo cônjuge, sobrevivam dois ou mais filhos ou duas ou
mais estirpes de descendentes, Art. 2160º CC;
c. Não havendo descendentes, concorram a sucessão o cônjuge
sobrevivo com um ou mais ascendentes, qualquer que seja o grau
de parentesco, Art. 2161º n.º 1 CC.

[46]
2. Metade da herança (1/2):
a. Se o único herdeiro legitimário for o cônjuge sobrevivo, Art. 2158º
CC;
b. Não havendo cônjuge sobrevivo, sobreviver apenas um só filho,
Art. 2159º n.º 1, ou uma só estirpe de descendentes, Art. 2160º CC;
c. Não havendo cônjuge sobrevivo, nem descendentes, forem
chamados um ou ambos os pais do autor da sucessão, Art. 2161º
n.º 2 - 1º parte.
3. Um terço da herança (1/3):
Na falta de cônjuge, descendentes e pais do autor da sucessão, forem
chamados um ou vários ascendentes do 2º grau e seguintes, Art.
2161º n.º 2 - 2º parte.

As quotas da legitima global ou objetiva (mesma coisa) atrás referidas, fixam-se


no momento da abertura da sucessão, relevando para a determinação da sua
porção, todos os sucessíveis prioritários independentemente de tais sucessíveis
não puderem ou não quererem aceitar a sucessão. Uma vez determinadas as
variantes da legitima global ou objetiva, terão as respetivas quotas disponíveis a
parte restante da herança.

Notas explicativas – doação e colação


➔ A colação, defendida por duas correntes doutrinárias. Sendo a mais
relevante aquela que diz que o cônjuge não está sujeito a colação.
➔ A questão da colação tem haver:
Havendo descendentes, quer beneficiar em vida um deles em
detrimento dos demais, tendo liberdade de doação, pode doar a um
dos seus descendentes. Porém a lei protege os demais
descendentes.
O autor da sucessão não pode exceder a sua quota disponível
Se alguma das coações feitas em vida, é necessário saber se o autor
da sucessão o fez com o objetivo de aumentar o património daquele

[47]
descendente, não o querendo fazer naquele momento aos demais
ou se simplesmente quis por via da doação antecipar o seu herdeiro.
Pode ainda na quota disponível, expressamente escrita, doar a sua
quota disponível, não está sujeito a coação, mas se nada disser, está
sujeito a colação.
Para que haja colação, não é apenas necessário que haja doação.

Exemplo:
António têm dois filhos e um neto. Hoje doou ao neto um apartamento. No
momento, em que foi feita a doação, se fosse aberta a sucessão, o neto era
chamado a suceder em termos de vocação direta ou anómala? Não, pois esta
afastado pela preferência de graus.
Assim, essa doação seria imputada na quota disponível.
Mas se a doação fosse feita ao filho, já esse problema não se coloca, pois seria
prioritariamente chamado a suceder. Resta então agora saber se este filho, aceita
ou não aceita ser herdeiro? Se aceitar ser herdeiro, segundo passo para haver
colação, se não aceitar, ou seja, repudiar a herança é necessário saber se têm
descendentes. Se tiver descendentes, como no nosso exemplo, se este aceitar
representar o descendente que não quis, esta ele próprio sujeito indiretamente a
colação, nos mesmo termos em que estaria o filho se aceitasse a herança. Não
havendo descendentes, acresce aos demais e aí já não há colação. Passando assim
a doação a ser imputada na quota disponível.
Havendo colação, o sujeito donatário devolve na integra não o bem, mas o valor
monetário ao tempo da abertura da sucessão. Ao devolver aumenta o relictum,
terão todos os herdeiros incluindo o próprio.

Caso Prático
António casou com Berta em 1947, sob o regime da comunhão geral de bens. Do
casamento nasceram 5 filhos, Pedro casado com Paula no regime da comunhão
de adquiridos, Paulino casado com Teresa no regime da separação de bens,
Dionisio solteiro maior, Eduardo solteiro maior e Carlos divorciado ao tempo da

[48]
abertura da sucessão tendo sido casado no regime da comunhão de adquiridos
com Idalina.
António faleceu em 1980 no estaco casado com Berta, antes da morte de António
havia falecido Paulino que para além do seu cônjuge sobrevivo e herdeiro deixou
dois filhos Jorge e Gabriel, ambos solteiros maiores.
António fez testamento, no qual disse deixar ficar 1/3 da sua quota disponível a
Pedro.
António e mulher tinham bens comuns no valor de 125 mil euros, deixou dívidas
no valor de 12300€ e tinha doado a Teresa uma joia de família no valor de 22500€.
Quid iuris.

Notas do enunciado:
➔ Deixou em testamento 1/3 da quota disponível a Pedro – Deixa
testamentária
➔ Bens comuns: 125000€
➔ Dívidas: 12300€
➔ Doou em vida a Teresa joia de família no valor de 22500€

1º Identificar abertura da sucessão


Por Morte de António, abre-se a sucessão, ocorrendo o fenómeno sucessório em
1989, Art. 2031º CC.
2º Apurar vocações direta e/ou indireta – Para saber quem chamamos e porque
Em termos de hierarquia da designação sucessória [há 4: legitimária, legitima,
testamentária, contratual] temos legitimária e testamentária e podemos ter
eventualmente ou não a sucessão legitima, se o autor da sucessão não tiver

[49]
disposto válida e eficazmente em vida ou por morte de toda a sua quota
disponível, se sim não há sucessão legitima, senão haverá sucessão legitima.
Dentro da designação sucessória na hierarquia temos herdeiros legitimários, que
são o cônjuge e descendentes, Art. 2157º CC.
Ainda no Art. 2157º CC, diz que dentro da mesma regra de classes e preferências
são previstas para a secessão legitima. São chamados por vocação direta pela
preferência de grau, Art. 2135º CC. Paulino não pode responder ao chamamento
porque já havia falecido, pelo direito de representação serão chamados (Jorge e
Gabriel) Art. 2039º (lei da representação no seu todo) e 2042º (sucessão legal –
Legitimaria e legitima).
São chamados por vocação direta e indireta Berta, Pedro, Paulino (representado
por Jorge e Gabriel), Dionisio, Eduardo e Carlos. Do seu filho pré falecido
Paulino, sobrevivem dois netos, Jorge e Gabriel.
O autor da sucessão fez liberalidades: testamento e doação.

Massa hereditária = relictum + doações – dívidas = 62500 + 22500 - 12300=72700€


Nota: havendo herdeiros legitimários, as doações entram todas menos as mortis
causa).
Valor da Quota ideal (Valor de referência conceitual) = 72700€
É com base neste valor que se vai calcular a Legitima Objetiva e a Quota
Disponível, consoante os herdeiros estão em causa.
Herdeiros Legitimários = Cônjuge e Descendentes

Legitima Objetiva ou Global dos herdeiros legitimários = 2/3 (Art. 2159º) =


48467€
Quota Disponível = (1/3) = 24233€ - não há norma, é por dedução do cálculo da
unidade

Agora temos de apurar o que é que cada um deles (herdeiros legitimários), deste
valor no mínimo estaria reservado.

[50]
Chamamos Legitima Subjetiva agora de:
Na sucessão legitima ou na legitimária, por regra a divisão da sucessão faz-se por
cabeça, a não ser que o cônjuge concorra com 4 ou mais herdeiros, primeiro tira-
se a quota mínima do cônjuge que é de ¼ e só depois se distribui por cabeça de
descendentes ou estirpes de descendentes (Art. 2139º n.º 1).
➔ Legitima subjetiva de Berta = ¼ de 48467€ = 12116€ (Art. 2139º)
Aos restantes, divide-se por cabeça o valor de 48467€ - 12116€ = 36351€ /
5 (herdeiros)=7270€
➔ Legitima subjetiva de Pedro =7270€
➔ Legitima subjetiva de Paulino (Jorge e Gabriel) = 7270€
➔ Legitima subjetiva de Dionisio = 7270€
➔ Legitima subjetiva de Eduardo = 7270€
➔ Legitima subjetiva de Carlos = 7270€

Cálculo para saber se o autor da sucessão excedeu ou não a quota disponível. É


o valor real.
Pela linha de raciocino anterior, a lei quer assegurar que na herança exista pelo
menos 48467€, se os herdeiros legitimários tiverem este valor garantido não
podem reivindicar mais coisa alguma.

Qual o valor real então da herança?


A primeira operação da partilha é o pagamento aos credores
relictum – passivo = 62500 – 12300 = 50200€
Os credores estão satisfeitos, como o valor final 50200€ é superior a 48467€, a
partida poder-se-ia concluir que esta tudo cumprido. Contudo, há uma deixa
testamentária a dizer que deixa 1/3 da sua quota disponível ao seu filho Pedro.

Quota disponível = 24233 = 1/3 = 8077€

Então

[51]
Legitima objetiva 2/3 = 48467
Quota disponível 1/3 = 8077
Legitima Subjetiva ¼ Berta = 12117
Legitima Subjetiva Total = 36350
Legitima Subjetiva de cada herdeiro = 7270

R-P = 62500 – 12300


= 50200
- 8077 → Quota disponível testamentária 1/3
------------------------
42123
+ 6344 → Redução parcial da deixa testamentária
-----------------------
48467

Vamos verificar se podemos cumprir a deixa testamentária a Pedro de 1/3 da quota disponível

48467
-42123 → cálculo com -1/3 da quota disponível
------------
6364
Como o valor de 42123 é inferior a 48467, concluímos que houve excesso de liberalidades

Assim, temos de saber qual o valor mínimo que temos de ter para garantir a legitima subjetiva
de cada herdeiro

8077
- 6344
----------------
1733

Confirmação dos cálculos, não é necessário fazer no exame


Somamos aos 1733 o valor restante das liberalidades 22500, que tem de ser igual a
quota disponível total 24233, como é igual não há erros de cálculo.

Caso Prático – 2ª variação


O autor da sucessão deixou ao filho Pedro 2/3 da sua quota disponível em
testamento

Todos os cálculos do hipotético valor da herança mantem-se, altera-se só os


valores reais.

[52]
R-P = 62500 – 12300
= 50200
- 16155 → Quota disponível testamentária 2/3
------------------------
34045 → valor inferior a legitima objetiva, é necessário saber em quanto?
+ 14422 → Redução parcial da deixa testamentária
-----------------------
48467

48467
-34045 → cálculo com -2/3 da quota disponível
------------
14422

16155
- 14422
----------------
1733

Confirmação dos cálculos

22500
+ 1733
---------------
24233 → valores iguais, cálculos corretos

[53]
Caso Prático – 3ª variação
O autor da sucessão deixou ao filho Pedro a sua quota disponível em testamento

Todos os cálculos do hipotético valor da herança mantem-se, altera-se só os


valores reais.

R-P = 62500 – 12300


= 50200
- 24233 → Quota disponível testamentária
------------------------
25967 → valor inferior a legitima objetiva, é necessário saber em quanto?
+ 22500 → Redução parcial da deixa testamentária
-----------------------
48467

48467
-25967 → cálculo com menos a quota disponível
------------
22500

24233
- 22500
----------------
1733

Confirmação dos cálculos

22500
+ 1733
---------------
24233 → valores iguais, cálculos corretos

O autor da sucessão dispôs ou não da sua quota disponível total?


Sim, no valor de 1733€.

[54]
04.04.2022
14.1 Regras de imputação
Já vimos que estando presentes sucessíveis legitimários ou existindo sucessíveis
legitimários, temos de ter em conta os valores que dizem respeito a quota
indisponível do autor da sucessão e da quota disponível, de modo a sabermos
que valores da herança vamos imputar a cada uma delas, já que os bens que
entram para o computo da herança têm proveniências distintas e eventualmente
com regras diferentes, Arts. 2014º n.º 1 e n.º 2 e 2165º n.º 4.
Há imputação na quota indisponível (ou legitima dos herdeiros legitimários):
a. Do valor das doações sujeitas a colação, mas até ao limite da legitima
subjetiva do herdeiro legitimário;
b. Do valor da doação sujeita a colação, mas em que o donatário sem ter
descendentes que o representem, repudia a herança (não trazendo
assim a doação à colação);
c. De legado em substituição da legitima.
Há imputação na quota disponível:
a. Do valor das doações não sujeitas à colação;
b. Do valor da doação que exceda a legitima subjetiva do beneficiário e
que não seja suscetível de redução por inoficiosidade;
c. Do valor do legado, em substituição da legitima que exceda a legitima
subjetiva do legatário.
Estas regras acima indicadas, comungam sempre do princípio de que o
beneficiário da liberalidade é em simultâneo herdeiro legitimário. Quanto às
liberalidades que o autor da sucessão haja feito a terceiros, são obviamente e
sempre imputáveis na quota disponível.

14.2 A redução das liberalidades por inoficiosidade


Sabemos que está vedado a quem tenha presuntivos herdeiros legitimários
exceder-se no animus donandi, alienando gratuitamente determinados bens que
venham a ofender a legitima daqueles herdeiros legitimários. Não se entenda
como uma violação analisável a data da liberalidade, embora se possa estabelecer
um raciocínio de antecipação de tal modo que se o autor da liberalidade falecesse

[55]
naquele momento estaria a exceder a sua quota disponível. Na realidade o autor
da sucessão pode ter a espectativa de aumentar o seu património ao ponto de as
liberalidades feitas ou a fazer não beliscarem a legitima dos herdeiros
legitimários. Podem ainda não supor que até a data da sua morte, o seu
património venha a estar diminuído e como tal tornar-se insignificante a
liberalidade ao tempo em que foi feita.
É necessário que, caso tais atribuições patrimoniais se verifiquem seja assegurado
aos sucessores legitimários um meio de contra elas reagir e de reintegrar a
legitima. Esse meio é o da redução das liberalidades por inoficiosidade, Arts.
2168º e SS, que nos diz serem inoficiosas as liberalidades entre vivos ou mortis
causa que ofendam a legitima dos herdeiros legitimários.
Com este mecanismo, verá o dè cuios preterida a sua vontade ou pelo menos não
cumprida tal qual pretendia, reduzindo-se o negócio jurídico a requerimento dos
herdeiros legitimários ou dos seus sucessores, em tanto quanto for necessário
para que se proteja a legitima dos herdeiros legitimários, Art. 2169º.
A ordem da redução dos negócios, Arts. 2171º a 2173º, faz-se por categorias de
liberalidades, reduzindo-se as liberalidades das categorias seguintes após total
excussão das liberalidades enquadradas nas categorias antecedentes.
Assim, começasse a redução pelas disposições testamentarias a título de herança
e só depois mostrando-se insuficientes se reduzem os legados. Se ainda assim, a
legitima dos herdeiros legitimários não se mostrar assegurada, prossegue-se a
redução das doações, iniciando-se essa redução pela doação mais próxima da
data da abertura da sucessão.
É de realçar o facto, de a redução das deixas testamentarias tanto a título de
herança como de legados, dentro de cada uma dessas espécies, é em princípio
feita proporcionalmente aos valores relativos de cada deixa, mesmo que as
diversas deixas constem de testamentos com datas diferentes. Ao contrário, se
houver necessidade de reduzir as doações ou as despesas gratuitas feitas em
vida, segue-se o critério da antiguidade.

[56]
Caso Prático

Morreu sem ter dito que aceitava


O autor da sucessão: ou repudiava a herança, dá-se
direito de transmissão
- Deixou bens = 50000€
- Passivo = 5400
- Deixa testamentária = Quota disponível a favor de B
- Doação em vida de 25000€ a W

➔ Por morte de A, abre-se a sucessão, ocorrendo o fenómeno sucessório em


1990, Art. 2031º CC.
➔ Na sucessão hierárquica temos sucessão legitimária - cônjuge e
descendentes, Art. 2157º CC
➔ São chamados por vocação direta pela preferência de grau, Art. 2135º CC,
B, C, D, E, F, G, H
➔ Há vicissitudes em relação a aceitação e ao repúdio. C chamado a sucessão
disse “eu não quero”, repudiou a herança, dá-se o direito de acrescer aos
que com ele foram chamados ao mesmo tempo para suceder. G chamado
a sucessão repudiou, mas têm descendentes, por força dos Arts. 2039º e
2042º, vai a sua estirpe ocupar a posição de G. F é pré falecido e não tem
descendentes [3 formas de vocação anómala ou indireta: Direito de
representação, Direito de Acrescer, Substituição Direta] a sua quota vai
para direito de acrescer aos demais que foram chamados ao mesmo tempo
que ele. E foi chamado e morreu 2 dias depois, sem ter aceitado ou
repudiado, a isto chama-se direito de transmissão de aceitar ou repudiar,
exerce o direito os seus herdeiros, pela prioridade é B (1º grau). Chamamos

[57]
D, que é pré falecido e que deixou 2 descendentes, O e P, P é pré falecido
em relação a D e a A, vamos ter direito de representação de P por Q e R.
➔ O autor da sucessão fez liberalidades: testamento e doação.
➔ Sucessão legitima – só saberemos após os cálculos

Massa hereditária = relictum + doações – dívidas = 50000 + 25000 - 5400=69600€


(2162º)
LO 2/3= 69600 x 2/3 = 46400
QD 1/3 = 23200

Legitima Subjetiva de B ¼ = 11600€


Legitima Subjetiva de D(O,P[Q,R]) =8700€
Legitima Subjetiva de E = 8700€
Legitima Subjetiva de G(M,N) = 8700€
Legitima Subjetiva de H = 8700€

R-P = 50000 – 5400


= 44600 → eventualmente quando este valor é inferior a LO, logo há excesso de liberalidades
- 23200 → Quota disponível testamentária
------------------------
21400
+ 23200 → Redução total da deixa testamentária
-----------------------
44200
+1800 → redução parcial da doação
---------------------
46400

[58]
Casos Práticos para Férias
Caso 1

+2010A B(R)

E F C D

Bens Deixados: 4 000 000€


Passivo: Ø
Testamento: quota disponível a favor de B

Resolução:
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de A, ocorrendo o fenómeno
sucessório em 2010 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. Sucede a A, B seu Cônjuge, E e F seus descendentes (Art. 2157º). Há
sucessíveis legitimários, cônjuge e descendentes (2133º n.º 1 al. a), 2134º
e 2135º CC), sendo a primeira classe de sucessíveis conjugue e
descendentes.
4. Cálculo da legitima - Art. 2162º n.º 1 CC
(Relictium) R=4 000 000€
(Doações) D=0€
(Passivo) P=0€
MH = 4000000+0-0 = 4000000€
5. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC
LO 2/3=4000000x2/3=2 666 667€
Quota Disponível
QD1/3=4000000x1/3=1 333 333€

[59]
6. B repudiou a herança, logo repudiou também a deixa testamentária
(Art. 2055º CC).
7. Segundo o Art. 2062º CC, o repúdio retrotrai-se ao momento da
abertura da sucessão, salvo para efeitos de representação. Ora B têm
dois descendentes C e D, que poderiam eventualmente ocupar o lugar
de representação. No caso em concreto não poderão, pois segundo o
Art. 2042º CC, não são em linha reta, descendentes de nenhum filho do
autor da sucessão, nem são em linha colateral, pois não são
descendentes de nenhum irmão do autor da sucessão.
8. Como B repudiou, dá-se o direito de acrescer a E e F (Art. 2137º n.º 2
CC).
Cálculo da Legitima Subjetiva
LS E = 1 333 333€
LS F = 1 333 333€
9. Existe deixa testamentária a favor do cônjuge B da QD (Art. 2030º 2º
parte CC), que repudiou, mas como B têm descendentes C e D, cabe-
lhes na deixa testamentaria o direito de representação (2041º CC).
10. Cálculo das liberalidades testamentárias
R-P=4000000€-0€=4000000€-1333333€(QDT)=2666667€(LO)
11. Não há excesso de liberalidades (Art. 2168º n.º1 CC), nada ofende a
legitima dos herdeiros legitimários.
12. A QD de B será dividia por C e D no valor de 666667€ a cada um.

Caso 3
Aníbal, casou em 1914 com Joana, tendo falecido em 1980. Do casamento
nasceram 2 filhos, Pedro e Vera, ambos casados no regime da comunhão geral de
bens com Violeta e Paulo, respetivamente. Pedro, incompatibilizado com o pai
havia anos, repudiou a herança. Pedro não tinha descendentes. Vera havia
falecido dois anos antes do pai.
Joana fora, entretanto condenada pelo crime de homicídio doloso de seu marido.

[60]
Aníbal fez testamento no qual dispôs: deixo toda a minha fortuna ao meu médico,
que certamente me acompanhará até ao fim dos meus dias e que me tem
auxiliado na minha doença prolongada. No mesmo testamento dispôs ainda:
Caso o meu médico não queira ou não possa então deixo todos os bens ao Futebol
Clube do Porto.
Quem sucede a Aníbal?
Tópicos de resolução:
O aluno terá de abordar os seguintes aspetos:
a) Abertura da sucessão;
b) Do chamamento;
c) Da representação;
d) Da indignidade sucessória;
e) Da sucessão legitimária – legitima objectiva e subjectiva;
f) Da sucessão testamentária;
g) Do instituto da substituição.

Resolução:
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de Aníbal, ocorrendo o
fenómeno sucessório em 1980 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. Sucede a Aníbal, Joana sua Cônjuge, Pedro e Vera seus descendentes
(Art. 2157º CC). Há sucessíveis legitimários, sendo a primeira classe de
sucessível cônjuge e descendentes (2133º n.º 1 al. a), 2134º e 2135º CC.
4. Joana não pode ser sucessível herdeira legitimária de Aníbal, pois esta
afastada por indignidade, Art. 2034º alínea a) CC.

[61]
5. Pedro repudiou a herança, Art. 2062º CC, não têm descendentes.
6. Vera é pré-falecida e não têm descendentes, Art. 2042º e 2043º CC.
7. Não temos herdeiros sucessíveis legitimários.
8. Aníbal fez testamento ao médico e em caso deste não querer ou não
poder dispôs a favor do FCP.
9. De acordo com o preceituado no Art. 2194º CC, o médico não poderia
beneficiar da deixa testamentária, no caso de Aníbal tivesse vindo a
falecer no decorrer da doença prolongada, pois será nula.
Não sendo este o caso, pois Aníbal não faleceu de morte pela doença,
mas sim pela sua esposa que o matou, logo o médico tem capacidade
para suceder testamentariamente a Aníbal.

Caso 4
Tiago, faleceu em 1979 no estado de casado com Ana e no regime da comunhão
de adquiridos. Deixou, para além do seu cônjuge sobrevivo, três filhos e três
netos. As filhas Clara e Clementina repudiaram a herança, sendo que Clara é
casada com Jorge e têm um filho João. Clementina é solteira e não tem
descendentes.
O outro filho Gualter é casado com Susana e têm dois filhos, Ricardo e Luís,
ambos solteiros, menores.
Tiago deixou testamento onde dispôs: Quero que o meu automóvel de coleção
de marca Mercedes fique para o meu neto Luís. Caso ele não aceite, então desejo
que o carro fique para o automóvel clube de Portugal.
Dispôs ainda que a totalidade da sua quota disponível ficasse para o seu cônjuge
sobrevivo, desde que me mande rezar 30 missas por minha alma, sendo que
desejo que o meu filho Gualter seja testamenteiro.
Luís repudiou a deixa testamentária e Gualter o cargo de testamenteiro.
Tiago tinha doado a Gualter um prédio urbano n valor de 4500€
Tiago deixou bens no valor de 95000€ e dividas no valor de 6500€
Tópicos de resolução:
O aluno terá de abordar os seguintes aspetos:

[62]
a) Abertura da sucessão;
b) Do chamamento;
c) Da representação sucessória;
d) Da colação;
e) Da sucessão legitimária – legitima objetiva e subjetiva;
f) Determinação do valor da herança;
g) Da sucessão testamentária;
h) Da inoficiosidade das liberalidades;
i) Do direito de transmissão.
j) Da sucessão legitima

Do autor da sucessão:
- Deixou bens = 95000€
- Passivo = 6500€
- Doações em vida = prédio urbano no valor de 4500€ a Gualter
- Deixas testamentárias:
» Automóvel para o neto Luís ou para ACP no valor de 500€
» Quota disponível ao cônjuge com a condição de mandar rezar 30
missas
» Filho Gualter testamenteiro

Nota: Luís repudiou a deixa testamentária e Gualter o cargo de testamentário.

[63]
Resolução:
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de Tiago, ocorrendo o
fenómeno sucessório em 1979 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. Sucede a Tiago, Ana sua Cônjuge, Clara, Clementina e Gualter seus
descendentes (Art. 2157º CC). Há sucessíveis legitimários, sendo da
primeira classe de sucessíveis conjugue e descendentes (2133º n.º 1 al.
a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente ao legitima saberemos
após os cálculos.
5. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC
R=95000
D=4500
P=6500
MH=95000+4500-6500=93000€
6. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC
LO 2/3=93000x2/3=62 000€
Quota Disponível
QD1/3=93000x1/3= 31 000€
7. Clementina repudiou a herança, Art. 2062º CC, não têm descendentes.
Dá-se o fenómeno do direito de acrescer (vocação indireta), Art. 2137º
n.º 2 CC.
8. Clara repudiou a herança, Art. 2062º CC, mas tem um descendente,
João. Estamos perante uma vocação indireta, dá-se o fenómeno do
direito de representação, Art. 2039º e ss CC.
9. São herdeiros sucessíveis legitimários por vocação direta Ana e
Gualter e por vocação indireta João, representante de Clara.
10. Cálculo da legitima subjetiva - Art. 2139º n.º 1 CC
LS Ana = 20667€

[64]
LS Clara(João) = 20667€
LS Gualter = 20667€
11. Averiguação das liberalidades em relação a LO

R-P=95000-6500= 88 500€
- 31 000€ Liberalidade da QD a favor do cônjuge

62 000€
+ 500€ Liberalidades Testamentárias automóvel

61 500€ Tiago podia dispor de 31 000€, sendo a LO de 62 000€, temos uma


inoficiosidade da LO de 62 000€ - 61500€ = 500€ (Art. 2168º n.º 1 CC.
Solução: de acordo com o Art. 2171º a ordem da redução por inoficiosidade
é 1º disposições testamentárias, 2º legados, 3º doações em vida
+ 500€ Reduzimos a deixa Testamentária da QD parcial no valor de 500€

62 000€ Sendo este valor igual a LO esta satisfeita as quotas hereditárias de cada
herdeiro legitimário.

Caso 5
João é casado com Luísa desde 1945. Tiveram seis filhos: Pedro, casado com
Paula; Inácio, casado com Ana; Tiago, viúvo desde 1985; Teresa, solteira, maior;
Dália, casada com Luís e Iolanda, casada com Joaquim.
João faleceu em 2005, no estado civil de casado com Luísa.
Pedro repudiou a herança de seu pai, tendo dois filhos e um neto, a saber,
Orlando, Alexandra e José, filho desta última.
Tiago, três dias após o falecimento de seu pai, morreu num acidente de viação,
deixando como herdeiro o filho Ricardo, solteiro, menor.
João doou a Dália um prédio urbano destinado a habitação, no valor de 150000€,
tendo doado ao seu amigo Julião um outro prédio urbano, no valor de 98500€.
João fez testamento cerrado no qual dispôs: Deixo ficar ¼ da minha quota
disponível ao meu cônjuge sobrevivo. Deixo ainda ficar ao meu bisneto José a
arma de caça e a colecção de selos.
A arma está avaliada em 200€ e a colecção de selos em 15000€
Os bens comuns do casal estão avaliados em 190000€ e deixou dividas no valor
de 23000€.
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Tópicos de resolução:

[65]
a) O aluno terá de abordar os seguintes aspectos:
b) Abertura da sucessão;
c) Do chamamento;
d) Da sucessão legitimária – legitima objectiva e subjectiva;
e) Determinação do valor da herança;
f) Da sucessão testamentária;
g) Da inoficiosidade das liberalidades;
h) Do direito de tranasmissão.
i) Da sucessão legitima

Do autor da sucessão:
- Deixou bens comuns = 190 000€ = 95 000€
- Passivo = 23 000€
- Doações em vida = prédio urbano no valor de 150 000€ a Dália
prédio urbano no valor de 98 500€ ao amigo Julião
- Deixas testamentárias:
» Quota disponível ao cônjuge no valor de ¼
» Bisneto José
o Arma de coleção 200€
o Coleção de selos 15 000€

[66]
Resolução:
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de João, ocorrendo o
fenómeno sucessório em 2005 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. Sucede a João, Luísa sua Cônjuge, Pedro, Inácio, Tiago, Teresa, Dália e
Iolanda seus descendentes (Art. 2157º CC). Há sucessíveis legitimários,
sendo da primeira classe de sucessíveis conjugue e descendentes (2133º
n.º 1 al. a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos
após os cálculos.
5. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC
R=95 000€
D=248 500€
P=23 000€
MH=95000+248000-23000=320 500€
6. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC
LO 2/3=320 500x2/3=213 667€
Quota Disponível
QD1/3=320 500x1/3= 106 833€
7. Pedro repudiou a herança, Art. 2062º CC, mas tem descendentes
Orlando e Alexandra. Estamos perante uma vocação indireta, dá-se o
fenómeno do direito de representação Art. 2039º e ss CC.
8. Tiago faleceu 2 dias após o falecimento do pai, sem ter podido aceitar
ou repudiar a herança. Estamos perante uma vocação indireta, dá-se o
fenómeno do direito de substituição direta, Art. 2281º e ss CC.
9. São herdeiros sucessíveis legitimários por vocação direta Luísa, Inácio,
Teresa, Dália e Iolanda e por vocação indireta Ricardo por substituição
direta de Tiago e Orlanda e Alexandra por representação de Pedro.

[67]
10. Dado que o cônjuge concorrer com mais de 4 herdeiro legitimário, de
acordo com o Art. 2139 n.º 2 CC, o cônjuge tem sempre direito a uma
quota mínima da legitima objetiva no valor de ¼. E aos restantes
herdeiros legitimários dá-se a sucessão por cabeça, Art. 2136º CC.
11. Cálculo da legitima subjetiva - Art. 2139º n.º 1 CC
LS Luisa ¼ = 53 417€
LO 2/3=320 500x2/3=213 667€-53 417€=160 250€/6=26 708€
LS Pedro(Orlando e Alexandra) = 26 708€
LS Inácio = 26 708€
LS Tiago(Ricardo) = 26 708€
LS Teresa = 26 708€
LS Dália = 26 708€
LS Iolanda = 26 708€
12. Averiguação das liberalidades em relação a LO

R-P=95000-23000= 72 000€
+ 150 000€ Doação a herdeiro legitimário, sem dispensa da colação Art. 2104º e 2105º

222 000€
- 26 708€ ¼ da QD

195 292€
- 15 200€ Liberalidades Testamentárias

180 092€ João podia dispor de 106 833€, sendo a LO de 213 667€, temos uma
inoficiosidade da LO de 213 667€ - 180 092€ = 33 575€ (Art. 2168º n.º 1 CC.
Solução: de acordo com o Art. 2171º a ordem da redução por inoficiosidade
é 1º disposições testamentárias, 2º legados, 3º doações em vida
+ 26 708€ Reduzimos a deixa Testamentária da QD na totalidade

206 800€ Continuamos com uma inoficiosidade de 6 867€

+ 6 867€ Passamos a redução total ou parcial dos legados. Os legados deixados, tem
valor de 15 200€, mas para satisfazer a LO só é necessário 6 867€, logos valos
reduzir parcialmente os legados no valor de 6 867€ restando ainda nos
legados o valor de 8 333€
213 667€ Sendo este valor igual a LO esta satisfeita as quotas hereditárias de cada
herdeiro legitimário.

[68]
02.05.2022

Resolução dos casos práticos para ferias

Caso Prático 1
António faleceu no estado civil de solteiro, embora vive-se com Pedro a 6 anos
em condições análogas às dos cônjuges. Não tem descendentes, nem ascendentes.
Sobrevivendo-lhe 3 irmãos, a saber João e Paulo, filhos do mesmo pai e mãe, e
ainda Teresa filha do mesmo pai. Teresa faleceu 10 dias antes do irmão, tendo
deixado 2 filhos X e Z. João havia falecido 1 ano antes de António, deixando
sobrinhos os seus dois filhos K e W e o neto L, filho de W. W falecera antes de
António. António fez testamento no qual instituiu Pedro como seu único e
universal herdeiro.
Deixou bens no valor de 130 000€ e passivo de 20 000€.

a) Quid iuris
Resolução:
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de António, ocorrendo o
fenómeno sucessório com a morte do mesmo (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.

[69]
3. António não tem sucessíveis legitimários Art. 2157º CC a contrário
senso.
4. António pode dispor da totalidade da sua herança, Art. 2156º a
contrário senso e 2179º CC.
5. De acordo com o preceituado no Art. 2068º, deve ao valor da herança
descontar-se as dividas do Dè cuios.
6. Quem recebe a quota disponível
R-P=130 000 – 20 000€ = 110 000€
7. Testamento a favor de Pedro no valor de 110 000€

b) Resolva o mesmo exercício com um testamento diferente. Deixo ficar ¼


dos meus bens a Pedro.
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de António, ocorrendo o
fenómeno sucessório com a morte do mesmo (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. António não tem sucessíveis legitimários Art. 2157º CC a contrário
senso.
4. António pode dispor da totalidade da sua herança, Art. 2156º a
contrário senso e 2179º CC.
5. De acordo com o preceituado no Art. 2068º, deve ao valor da herança
descontar-se as dividas do Dè cuios.
6. Cálculo da MH
R-P=130 000 – 20 000€ = 110 000€
7. Testamento da ¼ da MH a favor de Pedro no valor de 27 500€
8. Abertura da sucessão legitima – Art. 2131º CC, pelo facto de o falecido
não ter disposto valida e eficazmente de toda a sua herança.
110 000 – 27 500 = 82 500€

[70]
9. Chamem-to de acordo com o preceituado no Art. 2145º CC, sendo a 3
classe de sucessíveis, irmãos e seus descendentes, Art. 2133º n.º 1 alínea
c) CC.
10. De acordo com o preceituado no Art. 2146º CC, temos como sucessíveis
irmãos consanguíneos e germanos. Assim, cabe aos irmãos germanos
Paulo e João o dobro do quinhão hereditário que caberá a Teresa irmã
consanguínea.
11. Assim:
Paulo = 82500*2/5=33 000€
João = 82500*2/5=33 000€
Teresa = 82500*1/5=16 500€
12. Teresa é pré falecida a António, logo não teve oportunidade de aceitar
ou repudiar a herança, assim irá haver lugar ao fenómeno da
representação (Art. 2042º CC). Neste caso, cabe a cada estirpe aquilo em
que sucederia o ascendente respetivo, Art. 2044º n.º 1 CC. Assim sendo
Teresa irá ser representada por X e Z. O mesmo fenómeno irá ocorrer
em relação a João, que será representado por K e W, e por sua vez W irá
ser representado por L.
13. Valores a distribuir
Teresa (X e Z): 16500€, aplicando a divisão por cabeça (Art. 2044º n.º 2
CC) cabendo a cada um 8 250€.
Paulo recebe a quantia de 33 000€
João (K e W(L)): aplicando a divisão por cabeça (Art. 2044º n.º 2 CC)
cabendo a cada um 16 500€.

Caso Prático 2
António casou com Berta em 1989, no regime de separação de bens e faleceu em
2014. Além de Berta, sobreviveu-lhe os filhos do casal Joana, Luís, Teresa e
Manuela. Todos solteiros e maiores. Joana 2 dias depois do falecimento do pai,
faleceu vítima de doença prolongada, sobrevivendo-lhe o filho Inácio.
Tendo em conta que:

[71]
a) Os bens deixados por António, tem o valor de 47 500€
b) António doara a Manuela 1 prédio urbano no valor de 75 000€
c) As dívidas de herança são 12 000€
d) António fez testamento no qual dispôs: deixo ficar 2/3 da minha quota
disponível em partes iguais a minha mulher Berta e ao meu filho Luís.
Quid Iuris

Resolução:
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de António, ocorrendo o
fenómeno sucessório em 2014 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. Sucede a António, Berta sua Cônjuge, Joana, Luís, Teresa e Manuela
seus descendentes (Art. 2157º CC). Há sucessíveis legitimários, sendo
a primeira classe de sucessíveis conjugue e descendentes (2133º n.º 1
al. a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos
após os cálculos.
5. Pelo preceituado no Art. 2159º, a legitima do cônjuge e dos filhos em
caso de concurso é de 2/3. A contrário senso, a quota disponível é de
1/3.
6. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC

Cálculo da MH e LS Berta
R=47 500€

[72]
D=75 000€
P=12 000€
MH=47 500+75 000-12 000=110 500€

LO2/3=110 500* 2/3 = 73 667€


QD 1/3 =110 500*1/3= 36 833€ - Art. 2159º a contrário senso

7. No caso em concreto a cônjuge concorre com 4 ou mais herdeiro, Art.


2139º n.º 2, o que garante que o cônjuge tenha sempre direito ao
mínimo de ¼ da LO.
LS Berta ¼= 18 417€
8. Cálculo pela LO2/3 de Luís, Teresa, Manuela e Joana
Quota da LS de cada descendente = 73 667-18417=55 250/4 = 13 813€
9. LS
Luís = 13 813€
Teresa = 13 813
Manuela = 13 813€

10. Pelo preceituado no Art. 2104º CC, o valor doado a Manuela, terá de
ser restituído a herança pelo efeito da colação. Assim teremos de
cumprir os 3 requisitos:
1º foi feita uma doação a Manuela, sua descendente, presuntiva
herdeira legitimária a data da liberalidade. - Sim
2º Tal liberalidade não foi dispensada da colação pelo autor da
sucessão. - Sim
3º Foi aberta a sucessão em que Manuela concorre a herança,
conjuntamente com os seus irmãos e aceitou. - Sim
Estando assim cumpridos os 3 requisitos da colação, o valor
retoma a herança.

[73]
11. Segundo o Art. 2131º, António não dispôs valida e eficazmente de
todos os bens que poderia dispor. Assim, teremos de abrir a sucessão
legitima.
12. Art. 2132º, são herdeiros legítimos de António o seu cônjuge Berta e os
seus descendentes Joana, Luís, Teresa e Manuela. Assim nos diz o Art.
2133º n.º 1 alínea a) conjugado com o Art. 2134º e 2135º de preferência
de classes.
13. Deixa testamentária
2/3 da QD a favor de Beta e Luís em partes iguais
36 833 x 2/3 = 24 555€ / 2 = 12 277 €
14. Cumprimento da deixa testamentária
R-P= 47 500€ Valor do Relictum
- 12 000€ Valor do Danatum
35 500€
+ 75 000€ Doação a herdeiro legitimário Manuela, sem dispensa da
colação Art. 2104º e 2105º
110 500€ Este valor é superior a LO, que no caso concreto é de 73 667€
- 24 555€ Ensaio do cumprimento da Liberalidades Testamentárias

85 945€ Este valor é superior a LO

15. Como o valor final é superior a LO, então acresce ao valor apurado os
seguintes valores:
85 945€ (cumprimento da deixa testamentária) – 73 667€ (LO Global) =
12 278€

LS cônjuge ¼ = 12 278€ x ¼ = 3 070€


LS (Luís, Teresa, Manuela, Joana (Inácio)) =
= 12 278€ - 3 070€ = 9 208€ / 4 = 2 302€

16. Recebe a QD Berta e Luís, no valor de 24 555€, cabendo a cada um o


valor de 12 277 €

[74]
Caso Prático 3
Joaquim casou com Felisberta em 1990, em segundas núpcias dele e primeiras
dela. Da anterior relação Joaquim tinha 4 filhos, José, Cristina, Eunice e Teresa.
Do casamento com Felisberta, nasceram 2 filhos Claúdia e Luís. Joaquim faleceu
em 2007 e deixou em testamento a sua quota disponível a Felisberta.
Claúdia tinha falecido em 2006, tendo deixado cônjuge sobrevivo, Cristina
casada com Octávio, ambos com um filho João, repudiou a herança.
Joaquim deixou bens no valor de 105 000€ e fez doação ao seu amigo Ricardo de
um barco no valor de 15 000€.
Quid Iuris

Resolução:

1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de Joaquim, ocorrendo o


fenómeno sucessório em 2005 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. Sucede a Joaquim, Felisberta sua Cônjuge, José, Cristina, Eunice,
Teresa, Claúdia e Luís seus descendentes (Art. 2157º CC). Há
sucessíveis legitimários, sendo a primeira classe de sucessíveis,
cônjuge e descendentes (2133º n.º 1 al. a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos
após os cálculos.
5. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC
R=105 000€
D=15 000€

[75]
P=0€
MH = 105 000 + 15 000 – 0 = 120 000€
6. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC
LO 2/3 = 120 000 x 2/3 = 80 000€
Quota Disponível
QD1/3 = 120 000x1/3= 40 000€

7. No caso em concreto a cônjuge concorre com 4 ou mais herdeiro, Art.


2139º n.º 2 CC, o que garante que o cônjuge tenha sempre direito ao
mínimo de ¼ da LO. Aos restantes herdeiros legitimários dá-se a
sucessão por cabeça, Art. 2136º CC.
LS Felisberta ¼= 20 000€

8. Cristina repudiou a herança, Art. 2062º CC, mas tem um descendente


João. Estamos perante uma vocação indireta, dá-se o fenómeno do
direito de representação, Art. 2039º e ss CC.
9. Claúdia é pré-falecida, sem ter podido aceitar ou repudiar a herança.
Estamos perante uma vocação indireta, dá-se o fenómeno do direito de
acrescer, visto Claúdia não ter descendentes Art. 2301º CC.
10. São herdeiros sucessíveis legitimários por vocação direta Felisberta,
José, Eunice, Teresa e Luís, e por vocação indireta João por substituição
direta de Cristina.
11. Cálculo da legitima subjetiva - Art. 2139º n.º 1 CC
LS Felisberta ¼ = 20 000€
80 000€ - 20 000 = 60 000€/5 = 12 000€
LS Luís = 12 000€
LS José = 12 000€
LS Cristina(João) = 12 000€
LS Eunice = 12 000€
LS Teresa = 12 000€

[76]
12. Averiguação das liberalidades em relação a LO

120 000€ MH
- 15 000€ Doação a Ricardo

105 000€
- 40 000€ QD a favor de Felisberta

65 000€ É inferior a LO.


Solução: de acordo com o Art. 2171º a ordem da redução por inoficiosidade é
1º disposições testamentárias, 2º legados, 3º doações em vida
+ 15 000€ Liberalidades Testamentárias, redução parcial da deixa testamentária.
Então: 80 000€ (LO) – 65 000€ = 15 000€
80 000€ Igual a LO

Quem recebe a quota disponível:


Ricardo 15 000 + Felisberta 25 000€ = 40 000€

Caso Prático 4
Catarina e Miguel são casados a 8 anos, Miguel faleceu em 2008. Faça a partilha
tendo por base o seguinte:
a) Miguel não tinha filhos
b) Os pais de Miguel estão ambos vivos
c) Catarina coagiu Miguel para fazer um testamento no qual era beneficiaria
da quota disponível
d) Miguel em 2005 doou 150 000€ a João, seu amigo de infância.
e) Os bens deixados por Miguel, tem valor de 95 000€.
Quid Iuris

[77]
1. Autor da sucessão: Miguel
2. Momento e abertura da sucessão 2008 por morte de Miguel art. 2031º CC.
3. Chamamento:
São herdeiros legitimários de Miguel, Catarina seu cônjuge, o seu pai e a
sua mãe, Art. 2157º CC. Na segunda classe de sucessão, Art. 2133º nº1 b)
CC, mandado aplicar pelo 2157º CC.
4. O Art. 2142º nº1 CC dispõe que a legitima do cônjuge e dos ascendentes,
em caso de concurso é de 2/3 da herança do cônjuge e 1/3 dos
ascendentes.
5. Como Catarina, segundo o enunciado a deixa testamentaria foi obtida
através de coação feita por esta a Miguel, a deixa testamentaria é anulável
ao abrigo do Art. 2201º CC, por isso a requerimento dos restantes
herdeiros é anulada.
6. Os ascendentes pelo preceituado no Art. anterior, recebem metade da LO
e a outra metade a contrário senso é a QD
7. Sendo Catarina indigna, não pode ser sucessível herdeira legitimária de
Aníbal, pois esta afastada por indignidade, Art. 2034º alínea a) CC.
8. Cálculo da LO, Art. 2162º nº1 CC
MH=R+D-P = 95 000 + 150 000-0 = 245 000€
LO = 245 000*1/2 = 122 500€
QD = 245 000*1/2 = 122 500€ – art. 2162º CC a contrário sensu

9. Cumprimento da deixa testamentária


R-P= 95 000€ É inferior a LO.
Solução: de acordo com o Art. 2171º a ordem da redução por
inoficiosidade é 1º disposições testamentárias, 2º legados, 3º
doações em vida
+ 27 500€ Ensaio das liberalidades em vida 122 500€ - 95 000€ =
27500€
122 500€ Igual a LO

10. Quem Recebe a QD é João, mas terá de restituir a herança 27 500€

[78]
Caso Prático 5
José faleceu em 2020 no estado civil de solteiro aquando do falecimento vivia á 8
anos com Pedro em condições análogas às dos cônjuges.
José não deixou descendentes nem ascendentes.
Deixou, no entanto, 3 irmãos Carlos e João filhos da mesma mãe e do mesmo pai
(irmãos germanos) e Manuela filha apenas do mesmo pai (irmã consanguínea).
Carlos faleceu em 2018 tendo deixado 2 filhos e 1 neto, respetivamente, Z, X e
W. W havia falecido em 2015. Manuela faleceu á nascença.
José fez testamento no qual referiu que instituía único e universal herdeiro
Pedro.
José deixou bens no valor de 130 000€ e passivo de 12 000€.
Em 2019 doou ao amigo Bernardo 30 000€.

Resolução:
a) Resolva com os dados que tem
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de José, ocorrendo o
fenómeno sucessório em 2020 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. José não tem sucessíveis legitimários, Art. 2157º CC a contrário senso.

[79]
4. Quanto a doação feita em vida em nada interferirá, uma vez que não
será aberta a sucessão legitimária (Art. 2168º n.º 1 a contrário senso).
5. José, pode dispor da totalidade da sua herança, Art. 2156º a contrário
senso e 2179º CC.
6. De acordo com o preceituado no Art. 2068º, deve ao valor da herança
descontar-se as dividas do dè cuios.
7. Quem recebe a quota disponível
R-P=130 000 – 12 000€ = 118 000€
8. Testamento a favor de Pedro no valor de 118 000€

c) Resolva o mesmo exercício com um testamento diferente. Deixo ficar ¼


dos meus bens a Pedro.
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de José, ocorrendo o
fenómeno sucessório no ano de 2020 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Arts. 2032º e
2033º CC.
3. José não tem sucessíveis legitimários, Art. 2157º CC a contrário senso.
4. José pode dispor da totalidade da sua herança, Art. 2156º a contrário
senso e 2179º CC.
5. Quanto a doação feita em vida em nada interferirá, uma vez que não
será aberta a sucessão legitimária (Art. 2168º n.º 1 a contrário senso).
6. De acordo com o preceituado no Art. 2068º, deve ao valor da herança
descontar-se as dividas do dè cuios.
7. Cálculo da MH
R-P=130 000 – 12 000€ = 118 000€
8. Testamento de ¼ da MH a favor de Pedro no valor de 29 500€
9. Abertura da sucessão legitima – Art. 2131º CC, pelo facto de o falecido
não ter disposto valida e eficazmente de toda a sua herança.
118 000 – 29 500 = 88 500€

[80]
10. Chamamento de acordo com o preceituado no Art. 2145º CC, sendo a
terceira classe de sucessíveis irmãos e seus descendentes Art. 2133º n.º
1 alínea c) CC.
11. De acordo com o preceituado no Art. 2146º CC, temos como sucessíveis
irmãos consanguíneos e germanos. Assim, cabe aos irmãos germanos
Carlos e João o dobro do quinhão hereditário que caberá a Manuela
irmã consanguínea.
12. Manuela é pré-falecida sem descendentes, o que ocorre o fenómeno
sucessório do direito de acrescer (Art. 2301º CC).
13. Assim:
Carlos = 80500*2/5=44 250€
João = 88500*2/5=44 250€
14. Carlos é pré-falecida a José, logo não teve oportunidade de aceitar ou
repudiar a herança, assim irá haver lugar ao fenómeno da representação
(Art. 2042º CC). Neste caso, cabe a cada estirpe aquilo em que sucederia
o ascendente respetivo, Art. 2044º n.º 1 CC. Assim sendo Carlos irá ser
representada por Z e X.
15. Valores a distribuir
Carlos (X e Z): 44250€, aplicando a divisão por cabeça (Art. 2044º n.º 2
CC) cabendo a cada um 22 125€.
João recebe a quantia de 44 250€

Caso Prático 6
A faleceu em 1993 no estado civil de viúvo, deixou 3 filhos e 3 netos. As filhas C
e D repudiaram a herança sendo que C é casada com E e tem um filho J. D é
solteira e não tem descendentes, o outro filho G é casado com H e tem 2 filhos I e
L ambos solteiros.
A deixou testamento dizendo quero que a minha mota de coleção fique para o
meu neto L (mota 6000€).
A fez uma doação em 1991 a X seu amigo de infância no valor de 8000€, em 1988
doou ao seu cunhado W um anel de ouro e brilhantes no valor de 2500€.

[81]
A deixou bens no valor de 38 500€ e passivo de 12 000.
Quid iuris?

Resolução:
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de A, ocorrendo o fenómeno
sucessório em 1993 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. Sucede a A, C, D e G seus descendentes (Art. 2157º CC). Há sucessíveis
legitimários, sendo a primeira classe de sucessíveis, cônjuge e
descendentes (2133º n.º 1 al. a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos
após os cálculos.

5. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC


R=38 500€
D=10 500€
P=12 000€
MH=38500+10500-12000=37 000€
6. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC
LO 2/3=37 000x2/3= 24 666€
Quota Disponível
QD1/3=37 000x1/3= 12 333€

[82]
7. C repudiou a herança, Art. 2062º CC, mas tem um descendente J.
Estamos perante uma vocação indireta, dá-se o fenómeno do direito de
representação, Art. 2039º e ss CC.
8. D repudiou, dá-se o direito de acrescer a C e G (Art. 2137º n.º 2 CC).
9. São herdeiros sucessíveis legitimários por vocação direta G e por
vocação indireta J por substituição direta de C.
10. Dado que os descendentes concorrem apenas entre si a herança, a LO
será de 2/3, Art. 2159º n.º 2 CC.
11. Cálculo da legitima subjetiva - Art. 2139º n.º 1 CC
LS G = 12 333€
LS C(J) = 12 333€

12. Averiguação das liberalidades em relação a LO

R- P=38500-12000= 26 500€ Superior a LO


- 6 000€ deixa testamentária – Art. 2168º n.º 1, 2171º
20 500€ inferior a LO
Solução: de acordo com o Art. 2171º a ordem da redução por inoficiosidade
é 1º disposições testamentárias, 2º legados, 3º doações em vida
+ 4 166€ Redução parcial da deixa testamentária 2168º n.º 1 e 2171º

24 666€

13. Quem recebe a quota disponível:


X 8 000 + W 2 500€ + L 6 000 – 4 166€ = 1 834€

Caso Prático 7
A faleceu em 2010 no estado civil de casado com B. Meses antes de falecer A tinha
instaurado contra B processo judicial de divorcio que veio a ser decretado em
março de 2011.
A não tem descendentes nem ascendentes.
Fez testamento no qual disse, deixo ficar metade da minha herança ao meu irmão
C.
A deixou bens no valor de 50 000€ e passivo de 10 000€
Quid iuris?

[83]
Resolução:
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de A, ocorrendo o fenómeno
sucessório em 2010 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. Estamos na pendencia de uma ação de divórcio em curso do autor da
sucessão A e do seu cônjuge B.
4. A não tem descendentes, nem ascendentes em linha reta, apenas em
linha colateral o seu irmão C.
5. De acordo com o preceituado no Art. 2133º n.º 3 CC, diz-nos que o
cônjuge não será chamado a herança por sentença que venha a ser
transitada em julgado ou se a sentença de divórcio ou separação vier a
ser proferida em data posterior a da abertura da sucessão. No caso
concreto temos que o falecimento do autor da sucessão ocorreu em
2010 e a sentença de divorcio foi decretada em março de 2011.
6. No n.º 3 do Art. 1785º, diz-nos que o direito ao divórcio não se
transmite por morte, contudo a ação poderá ser continuada pelos
herdeiros do autor da sucessão para efeitos patrimoniais.
7. No caso concreto, temos sucessíveis a 3 classe de sucessíveis, irmãos e
seus descendentes (Art. 2133º n.º 1 alínea c)).
8. Do enunciado sabemos apenas da existência de um irmão, então de
acordo com o Art. 2133 n.º 1 alínea c) e n.º 3, o único herdeiro de A é C,
tanto na sucessão legitima como na testamentária, no valor total dos

[84]
bens menos as dívidas do autor da sucessão, ou seja, o valor a receber
por C, será de 40 000€.

Caso Prático 8
Eduardo e Luiza eram casados há 5 anos. Luiza faleceu em dezembro de 2009.
O casal tinha 3 filhos Alberto, José e Luís. Alberto morreu em janeiro de 2008,
sem descendentes. Luiza em 2004 doou a Alberto coisa no valor de 10 000€ e em
2005 doou a José igual quantia. Em 2006 e por conta da sua QD doou a Luís 4000€.
Luísa deixou bens no valor de 15 000€ e fez testamento no qual instituiu Eduardo
beneficiário da sua QD
Quid iuris?

Resolução:
1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de Luísa, ocorrendo o
fenómeno sucessório em 2009 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. Sucede a Luísa, Eduardo seu cônjuge e Alberto, José e Luís seus
descendentes (Art. 2157º CC). Há sucessíveis legitimários, sendo a
primeira classe de sucessíveis, cônjuge e descendentes (2133º n.º 1 al.
a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos
após os cálculos.

[85]
5. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC
R=15 000€
D=24 000€
P=0€
MH=15000+24000-0=39 000€
6. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC
LO 2/3=39 000x2/3= 26 000€
7. Quota Disponível – 2159º n.º 1 CC a contrário senso
QD1/3=39 000x1/3= 13 000€
8. De acordo com o preceituado no Art. 2139º n.º 1, 1ª parte, a partilha
entre cônjuge e descendentes faz-se por cabeça, em tantas partes
quantos forem os herdeiros. Ocorrer exceção, quando o cônjuge
concorra com um número de descendentes igual ou superior a 4.
9. Alberto faleceu um ano antes da sua mãe sem poder aceitar ou
repudiar a herança, logo à sua quota legitimária sucederá por vocação
indireta do fenómeno sucessório do direito de acrescer, pois não tem
descendentes (Art. 2137º n.º 2º CC).
10. Pelo preceituado no Art. 2104º CC, o valor doado a Alberto e José, terá
de ser restituído a herança pelo efeito da colação. Poder-se-ia
questionar a doação em vida a Alberto, mas pelo preceituado no Art.
2106º, a obrigação recai sobre os seus representantes. Como não tem
descendentes (representantes), logo esta doação não poderá ser
contabilizada (Art. 2104º a contrário senso). E também além disto, não
esta cumprido o 3º requisito da colação, ou seja, quando foi aberta a
sucessão Alberto não concorre a herança.
11. Quanto a doação realizada a José, terá esta de cumprir os 3 requisitos:
1º foi feita uma doação a José, seu descendente, seu presuntivo
herdeiro legitimário a data da liberalidade. - Sim
2º Tal liberalidade não foi dispensada da colação pelo autor da
sucessão. - Sim

[86]
3º Foi aberta a sucessão em que José concorre a herança,
conjuntamente com o seu irmão e aceitou. - Sim
Estão assim cumpridos os 3 requisitos da colação, o valor retoma a
herança.

12. LS
26 000/3 = 8 667€
LS Eduardo = 8 667€
LS José = 8 667€
LS Luís = 8 667€

13. Averiguação das liberalidades em relação a LO

R-P= 15 000€ Valor do Relictum


- 13 000€ QD
2 500€
+ 10 000€ Doação ao herdeiro legitimário Luís, sem dispensa da colação
Art. 2104º e 2105º
12 500€ Este valor é superior a LO
+ 13 000€ Ensaio do cumprimento da Liberalidades Testamentárias
26 000€ - 12 500€ =13 500€, mas a QD apenas é de 13 000€
25 500€ Este valor é ainda inferior a LO em 500€

14. Quem recebe a quota disponível, ninguém.

[87]
09.05.2022
Resolução dos casos práticos da aula anterior

16.05.2022

REGULAMENTO (UE) N.º 650/2012


DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 4 de julho de 2012
Regulamento da união europeia

A ter em conta:
Preambulo 9, 10, 12, 14, 15, 16, 18, 19 a 25, 38 a 40, 52
Artigos 1, 2, 20, 21, 22, 23

Este regulamento europeu, regula todas as sucessões por morte.


Na sua essência, temos que qualquer cidadão que disponha de mais que uma
nacionalidade, tanto no ceio da união europeia ou fora, tem a liberdade de
escolher a lei sucessória que lhe convier. Com base neste regulamento, e caso o
dè cuios nada tenho dito aplica-se a lei sucessória do país da sua residência fiscal
ou da residência a data do seu falecimento, desde que a maior parte do tempo lá
tenha vivido.

Lei 48/2018 de 14 agosto

Aquele que vai casar, em convenção antinupcial, Art. 1700º n.º 1 alínea c) CC, só
produz efeitos na separação de bens, e um e o outro vão renunciar a sucessão
legitimário. Enquanto legitima e contratual, não afasta a sucessão. A renuncia
que fazem em ambos tem haver exclusivamente com a LO.
Art. 1700º n.º 1 alínea c), n.º 3 (imposta no 1720), 2168º n.º 2, 1707º-A
Quando ocorrer esta convenção antinupcial de renuncia recíproca a herdeiro
legitimário, o conjugue, não poderá exceder em deixas testamentárias, legados
ou contrato, a quota que lhe caberia na sucessão legitimária.

[88]
Artigo 2168.º - (Liberalidades inoficiosas)
1. Dizem-se inoficiosas as liberalidades, entre vivos ou por morte, que
ofendam a legítima dos herdeiros legitimários.
2. Não são inoficiosas as liberalidades a favor do cônjuge sobrevivo que
tenha renunciado à herança nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo
1700.º, até à parte da herança correspondente à legítima do cônjuge caso a
renúncia não existisse.

Caso I
Abel casado com Joana, faleceu em maio de 2019. Sobreviveram a Abel, além do
cônjuge os filhos Tiago e Lucas solteiros e maiores.

Faça a partilha tendo em conta o seguinte:

a) Em 2010 Abel doou a Tiago um prédio com o valor de 168 000€ a data da
abertura da sucessão
b) Em 2011 doou a Lucas e a sua companheira Dulce um prédio no valor de
243 000€ a data da abertura da sucessão.
c) Abel fez testamento no qual legou a casa morada de família que era só
dele, a Joana no valor de 110 000€ a data da abertura da sucessão.
d) Deixou bens no valor de 15 000€ e não deixou passivo

2010 → doou a Tiago 168 000

2011 → doou a Lucas e Dulce 243 000

Deixa testamentária – Joana 110 000

Relitium = 15 000;

Donatum = 411 000


Resolução:

1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de Abel, ocorrendo o


fenómeno sucessório em maio de 2019 (Art. 2031º CC).

[89]
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e 2033º
CC.
3. Sucede a Abel, Joana seu cônjuge e Tiago e Lucas seus descendentes (Art.
2157º CC). Há sucessíveis legitimários, sendo a primeira classe de
sucessíveis, cônjuge e descendentes (2133º n.º 1 al. a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos após
os cálculos.
5. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC

R=15 000€

D=411 000€

P=0€

MH=15 000+411 000-0=426 000€

6. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC

LO 2/3=426 000x2/3= 284 000€

Quota Disponível – 2159º n.º 1 CC a contrário senso

QD1/3=426 000x1/3= 142 000€

7. De acordo com o preceituado no Art. 2139º n.º 1, 1ª parte, a partilha entre


cônjuge e descendentes faz-se por cabeça, em tantas partes quantos
forem os herdeiros. Ocorrerá exceção, quando o cônjuge concorra com
um número de descendentes igual ou superior a 4, em que a sua LS terá
de ser no mínimo de ¼ da LO.
8. Pelo preceituado no Art. 2104º CC, o valor doado a Tiago e Lucas, terá de
ser restituído a herança pelo efeito da colação.
9. Quanto a doação realizada a Tiago e Lucas, terá esta de cumprir os 3
requisitos:

1º foi feita uma doação a Tiago e Lucas, seu descendente, seu presuntivo
herdeiro legitimário a data da liberalidade. - Sim

2º Tal liberalidade não foi dispensada da colação pelo autor da sucessão.


- Sim

3º Foi aberta a sucessão em que Tiago e Lucas, concorrem a herança e


aceitam. - Sim

Estão assim cumpridos os 3 requisitos da colação, o valor retoma a


herança.

10. LS

284 000/3 = 94 667€

[90]
LS Joana = 94 667€

LS Tiago = 94 667€

LS Lucas = 94 667€

11. Averiguação das liberalidades em relação a LO

R-P= 15 000€ Valor do Relictum


+ 289 500€ Valores doados não sujeitos a colação de
Tiago e Lucas – 2104 ºe 2105º
168 000 + 121 500 = 289500
304 500€ Este valor é superior a LO = 284 000€€
- 20 500€ Cálculo do valor excedente 304 500 – 284 000
= 20 500€
284 000€ Valor igual a LO

12. Como o valor final é superior a LO, então acresce ao valor apurado os
seguintes valores:

LS (Joana, Tiago, Lucas) =


= 20 500€ / 3 = 6 833€
13. Recebe a QD Dulce e Joana

Casso II
A doação feita a Tiago, foi feita por conta da legítima

2010 → doou a Tiago por conta da legítima 168 000

2011 → doou a Lucas e Dulce 243 000

Deixa testamentária – Joana 110 000

Relitium = 15 000;

Donatum = 411 000

[91]
Resolução:

1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de Abel, ocorrendo o


fenómeno sucessório em maio de 2019 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e 2033º
CC.
3. Sucede a Abel, Joana seu cônjuge e Tiago e Lucas seus descendentes (Art.
2157º CC). Há sucessíveis legitimários, sendo a primeira classe de
sucessíveis, cônjuge e descendentes (2133º n.º 1 al. a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos após
os cálculos.
5. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC

R=15 000€

D=411 000€

P=0€

MH=15 000+411 000-0=426 000€


6. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC

LO 2/3=426 000x2/3= 284 000€

7. Quota Disponível – 2159º n.º 1 CC a contrário senso

QD1/3=426 000x1/3= 142 000€

8. LS

284 000/3 = 94 667€


LS Joana = 94 667€; LS Tiago = 94 667€; LS Lucas = 94 667€

9. De acordo com o preceituado no Art. 2139º n.º 1, 1ª parte, a partilha entre


cônjuge e descendentes faz-se por cabeça, em tantas partes quantos
forem os herdeiros. Ocorrer exceção, quando o cônjuge concorra com um
número de descendentes igual ou superior a 4.
10. Pelo preceituado no Art. 2104º CC, o valor doado a Tiago, terá de ser
restituído a herança pelo efeito da colação.

Quanto a doação realizada a Tiago e Lucas, terá esta de cumprir os 3


requisitos:

1º foi feita uma doação a Tiago e Lucas, seu descendente, seu presuntivo
herdeiro legitimário a data da liberalidade. - Sim

2º Tal liberalidade não foi dispensada da colação pelo autor da sucessão.


- Sim

[92]
3º Foi aberta a sucessão em que Tiago e Lucas, concorrem a herança e
aceitam. - Sim

Estão assim cumpridos os 3 requisitos da colação, o valor retoma a


herança.

11. Averiguação das liberalidades em relação a LO

R-P= 15 000€ Valor do Relictum


+ 121 500€ Valores doados não sujeitos a colação de
Lucas – 2104 ºe 2105º
136 500€ Este valor é superior a LO = 284 000€€
- 189 333€ Cálculo do valor excedente de Tiago284 000 –
94 667 = 189 333€
26 500€ Ensaio do legado
136 500€ Redução total do legado
+ 52 833€ Redução parcial a Dulce 284 000 – 94 667= 189
333
189 333€

12. Recebe a QD em parte e Tiago foi beneficiado da diferença

Caso III
Joana havia renunciado a sua condição de herdeira legitimária.

Resolução:

1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de Abel, ocorrendo o


fenómeno sucessório em maio de 2019 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e 2033º
CC.
3. Sucede a Abel, Joana seu cônjuge e Tiago e Lucas seus descendentes (Art.
2157º CC). Há sucessíveis legitimários, sendo a primeira classe de
sucessíveis, cônjuge e descendentes (2133º n.º 1 al. a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos após
os cálculos.
5. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC

R=15 000€

[93]
D=411 000€

P=0€

MH=15 000+411 000-0=426 000€

6. Joana repudiou a sua legitima Objetiva. Segundo o Art. 2062º CC, o


repúdio retrotrai-se ao momento da abertura da sucessão, salvo para
efeitos de representação.
7. Como Joana repudiou à condição de herdeira legitimária, dá-se o direito
de acrescer a Tiago e Lucas (Art. 2137º n.º 2 CC).
8. São sucessíveis herdeiros legitimários Tiago e Lucas
9. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC

LO 2/3=426 000x2/3= 284 000€

10. Quota Disponível – 2159º n.º 1 CC a contrário senso

QD1/3=426 000x1/3= 142 000€

11. Pelo preceituado no Art. 2104º CC, o valor doado a Tiago e Lucas, terá de
ser restituído a herança pelo efeito da colação.

Quanto a doação realizada a Tiago e Lucas, terá esta de cumprir os 3


requisitos:

1º foi feita uma doação a Tiago e Lucas, seu descendente, seu presuntivo
herdeiro legitimário a data da liberalidade. - Sim

2º Tal liberalidade não foi dispensada da colação pelo autor da sucessão.


- Sim

3º Foi aberta a sucessão em que Tiago e Lucas, concorrem a herança e


aceitam. - Sim

Estão assim cumpridos os 3 requisitos da colação, o valor retoma a


herança.

12. LS

284 000/2 = 142 000€

LS Tiago = 142 000€

LS Lucas = 142 000€

13. Averiguação das liberalidades em relação a LO

R-P= 15 000€ Valor do Relictum

[94]
+ 289 500€ Valores doados não sujeitos a colação de
Tiago e Lucas – 2104 ºe 2105º
168 000 + 121 500 = 289500
304 500€ Este valor é superior a LO = 284 000€€
- 110 000€ Ensaio do cumprimento da eixa testamentária
194 500€ Valor inferior a LO
+ 89 500 Redução parcial do legado
284 000
Pelo 2168 o cônjuge sobrevivo não pode receber mais que a sua LS em caso de
não renuncia

14. Como o valor final é superior a LO, então acresce ao valor apurado os
seguintes valores:

LS (Tiago e Lucas) =
= 20 500€ / 2 = 10 250€

15. Recebe a QD Dulce e Joana

Caso IV
Doação por conta da legitima a Lucas

Resolução

1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de Abel, ocorrendo o


fenómeno sucessório em maio de 2019 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e 2033º
CC.
3. Sucede a Abel, Joana seu cônjuge e Tiago e Lucas seus descendentes (Art.
2157º CC). Há sucessíveis legitimários, sendo a primeira classe de
sucessíveis, cônjuge e descendentes (2133º n.º 1 al. a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos após
os cálculos.
5. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC

R=15 000€

D=411 000€

P=0€

MH=15 000+411 000-0=426 000€

[95]
6. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC

LO 2/3=426 000x2/3= 284 000€

7. Quota Disponível – 2159º n.º 1 CC a contrário senso

QD1/3=426 000x1/3= 142 000€

8. LS

284 000/3 = 94 667€

LS Joana = 94 667€; LS Tiago = 94 667€; LS Lucas = 94 667€

9. De acordo com o preceituado no Art. 2139º n.º 1, 1ª parte, a partilha entre


cônjuge e descendentes faz-se por cabeça, em tantas partes quantos
forem os herdeiros. Ocorrer exceção, quando o cônjuge concorra com um
número de descendentes igual ou superior a 4.
10. Pelo preceituado no Art. 2104º CC, o valor doado a Tiago e Lucas, terá de
ser restituído a herança pelo efeito da colação.
Quanto a doação realizada a Tiago e Lucas, terá esta de cumprir os 3
requisitos:

1º foi feita uma doação a Tiago e Lucas, seu descendente, seu presuntivo
herdeiro legitimário a data da liberalidade. - Sim

2º Tal liberalidade não foi dispensada da colação pelo autor da sucessão.


- Sim

3º Foi aberta a sucessão em que Tiago e Lucas, concorrem a herança e


aceitam. - Sim

Estão assim cumpridos os 3 requisitos da colação, o valor retoma a


herança.

11. Averiguação das liberalidades em relação a LO


R-P= 15 000€ Valor do Relictum
+ 289 500€ Valores doados não sujeitos a colação de
Tiago e Lucas – 2104 ºe 2105º
168 000 + 121 500 = 289500
304 500€ Este valor é superior a LO = 284 000€€
- 20 500€ Cálculo do valor excedente 304 500 – 284 000
= 20 500€
284 000€ Valor igual a LO

12. Como o valor final é superior a LO, então acresce ao valor apurado os
seguintes valores:

[96]
LS (Joana, Tiago, Lucas) =
= 20 500€ / 3 = 6 833€

13. Recebe a QD Dulce e Joana

Caso V
A faleceu em agosto de 2015 no estado de casado com B, para além de B
sobreviveram-lhe 5 filhos C, D, E, F, G. Para além destes sobreviveu o pai P.

G faleceu em 2022, unido de facto com L, sobrevivendo-lhe o filho J.

A deixou bens no valor de 38 500€ e passivo de 6 300€.

Doação a X, amigo em 2014, 15 000€.

Deixou em testamento a QD a C e doação a D por conta da sua legitima de 62 000€


em 2012.
Quid Iuris.

Resolução:

1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de A, ocorrendo o fenómeno


sucessório em 2015 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e 2033º
CC.

[97]
3. Sucede a A, B seu cônjuge e C, D, E, F e G seus descendentes (Art. 2157º
CC). Há sucessíveis legitimários, sendo a primeira classe de sucessíveis,
cônjuge e descendentes (2133º n.º 1 al. a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos após
os cálculos.
5. G faleceu em 2022, e deixou descentes J, de acordo com o art. 2042º CC,
dá-se o fenómeno de representação.
6. P é afastado da sucessão pela regra da preferência de classes art. 2134º
CC.
7. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC

R=38 500€

D=77 000€

P=6 300€

MH=38 500+77 000-6 300=109 200€

8. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC

LO 2/3= 109 000x2/3= 72 800€

Quota Disponível – 2159º n.º 1 CC a contrário senso

QD1/3=109 000x1/3= 36 400€

9. De acordo com o preceituado no Art. 2139º n.º 1, 1ª parte, a partilha entre


cônjuge e descendentes faz-se por cabeça, em tantas partes quantos
forem os herdeiros. Ocorrer exceção, quando o cônjuge concorra com um
número de descendentes igual ou superior a 4. No caso concreto
concorre, por isso deverá receber ¼ da LO
LS B ¼ = 18 200€
10. LS

72 800 - 18200 = 54 600€/5= 10 920€

LS C = 10 920€

LS D = 10 920€

LS E = 10 920€

LS F = 10 920€

LS G(J) = 10 920€

11. Pelo preceituado no Art. 2104º CC, o valor doado a D, terá de ser
restituído a herança pelo efeito da colação.

[98]
Quanto a doação realizada a D, terá esta de cumprir os 3 requisitos:

1º foi feita uma doação a D, seu descendente, seu presuntivo herdeiro


legitimário a data da liberalidade. - Sim

2º Tal liberalidade não foi dispensada da colação pelo autor da sucessão.


- Sim

3º Foi aberta a sucessão em que Tiago e Lucas, concorrem a herança e


aceitam. - Sim

Estão assim cumpridos os 3 requisitos da colação, o valor retoma a


herança.

12. Averiguação das liberalidades em relação a LO

R-P= 32 200€ Valor do Relictum-Passivo


+ 62 000€ Valores doados não sujeitos a colação a D –
2104 ºe 2105º
84 200€ Este valor é superior a LO = 72 800€,
- 11 400€ excede 84200-72800=11 400€
72 800€ Este valor é inferior a LO = 426 000€

13. Recebe a QD C e X

14. Como o valor final é superior a LO, então acresce ao valor apurado os
seguintes valores:

LS cônjuge ¼ = 11 400€ x ¼ = 2 850€


LS (C, D, E, F, G(J)) =
= 11 400€ - 2 850€ = 8 550€ / 5 = 1 710€

Caso V - alterado
A faleceu em agosto de 2015 no estado de casado com B, para além de B
sobreviveram-lhe 5 filhos C, D, E, F, G. Para além destes sobreviveu o pai P.

G faleceu em 2022, unido de facto com L, sobrevivendo-lhe o filho J.


A deixou bens no valor de 38 500€ e passivo de 6 300€.

[99]
Doação a X, amigo em 2014, 15 000€.

Doação a C por conta da QD em 2013 de 40 000 e doação a D por conta da sua


legitima de 62 000€ em 2012.
Quid Iuris.

Resolução:

1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de A, ocorrendo o fenómeno


sucessório em 2015 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e 2033º
CC.
3. Sucede a A, B seu cônjuge e C, D, E, F e G seus descendentes (Art. 2157º
CC) pela preferência de graus. Há sucessíveis legitimários, pela sendo a
primeira classe de sucessíveis, cônjuge e descendentes (2133º n.º 1 al. a),
2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos após
os cálculos.
5. P é afastado da sucessão pela regra da preferência de classes art. 2134º
CC.
6. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC

R=38 500€

D=177 000€

P=6 300€

MH=38 500+117 000-6 300=149 200€

7. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC

LO 2/3= 149 000x2/3= 99 467€

[100]
Quota Disponível – 2159º n.º 1 CC a contrário senso

QD1/3=149 000x1/3= 49 733€

8. De acordo com o preceituado no Art. 2139º n.º 1, 1ª parte, a partilha entre


cônjuge e descendentes faz-se por cabeça, em tantas partes quantos
forem os herdeiros. Ocorrer exceção, quando o cônjuge concorra com um
número de descendentes igual ou superior a 4. No caso concreto
concorre, por isso deverá receber ¼ da LO
LS B ¼ = 24 867€
9. LS

99 467 – 24 867 = 74 600€/5= 14 920€

LS C = 14 920€

LS D = 14 920€

LS E = 14 920€

LS F = 14 920€

LS G = 14 920€

10. Pelo preceituado no Art. 2104º CC, o valor doado a D, terá de ser
restituído a herança pelo efeito da colação.

Quanto a doação realizada a D, terá esta de cumprir os 3 requisitos:

1º foi feita uma doação a D, seu descendente, seu presuntivo herdeiro


legitimário a data da liberalidade. - Sim

2º Tal liberalidade não foi dispensada da colação pelo autor da sucessão.


- Sim

3º Foi aberta a sucessão em que Tiago e Lucas, concorrem a herança e


aceitam. - Sim

Estão assim cumpridos os 3 requisitos da colação, o valor retoma a


herança.

11. Averiguação das liberalidades em relação a LO

R-P= Valor do Relictum-Passivo

32 200€ Este valor é inferior a LO = 99 417€,


+ 15 000€ Redução total a X

[101]
47 200€
27 400 Redução parcial a C
74600

12. Recebe a QD B e parte por C

B já recebeu por conta da legitima 62 000 – 24867=

Logo a nova LO = 74600

Caso VI
A faleceu em 2022 no estado de casado com B na comunhão geral. A deixou
testamento no qual instituiu B em ½ da sua QD. Para além do cônjuge,
sobreviveu-lhe C, D, E, F. O casal era dono de património no valor de 350 000€ e
eram devedores de 50 000€.
Quid Iuris.

Deixa testamentária ½ a favor conjugue B

R=350 000/2

P=
Resolução:

1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de A, ocorrendo o fenómeno


sucessório em 2022 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e 2033º
CC.
3. Sucede a A, B seu cônjuge e C, D, E e F seus descendentes (Art. 2157º
CC). Há sucessíveis legitimários, sendo a primeira classe de sucessíveis,
cônjuge e descendentes (2133º n.º 1 al. a), 2134º e 2135º CC).
4. Temos herdeiros legitimários, relativamente a legitima saberemos após
os cálculos.
5. Cálculo da legitima – Art. 2162º n.º 1 CC

[102]
R=350 000€

D=0€

P=50 000€

MH=350 000+0-50 000 = 300 000€

6. Cálculo da Legitima Objetiva – 2159º n.º 1 CC

LO 2/3= 300 000x2/3= 200 000€

Quota Disponível – 2159º n.º 1 CC a contrário senso

QD1/3=300 000x1/3= 100 000€

7. De acordo com o preceituado no Art. 2139º n.º 1, 1ª parte, a partilha entre


cônjuge e descendentes faz-se por cabeça, em tantas partes quantos
forem os herdeiros. Ocorrer exceção, quando o cônjuge concorra com um
número de descendentes igual ou superior a 4. No caso concreto
concorre, por isso deverá receber ¼ da LO
LS B ¼ = 50 000€
8. LS

300 000 – 50 000 = 250 000€/4= 62 500€

LS C = 62 500€

LS D = 62 500€

LS E = 62 500€

LS F = 62 500€

9. Averiguação das liberalidades em relação a LO

R-P= 300 000€


- 25 000€ Deixa testamentaria de 1/2
275 000€ Este valor é superior a LO = 200 000€, excede
em 75 000€

10. Recebe a QD de ½ B
11. Como o valor final é superior a LO, então acresce ao valor apurado os
seguintes valores:

LS cônjuge ¼ = 75 000€ x ¼ = 18 750€


LS (C, D, E, F) =

[103]
= 75 000€ - 18 750€ = 56 250€ /4 = 14 063€
Recebe 1/2 QD B e o outro ½ B, C, D, E, F

Caso VII
A morreu em agosto de 2015 casado com B, sobreviveram-lhe 5 filhos C, D, E, F
e G, e o seu pai P.

G faleceu este ano unido de facto com L, sobrevivendo-lhe o filho J.

A deixou bens no valor de 50 000€ e passivo de 6500€ e fez testamento, fazendo


um legado a C no valor de 5000€
Quid Iuris.

Resolução

1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de A, ocorrendo o fenómeno


sucessório em 2015 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. São sucessíveis legitimários de A, todos na primeira classe sucessória,
seu cônjuge B e seus descendentes C, D, E, F e G art. 2133º nº1 a), ex vi
art. 2157º CC. P é afastado da sucessão pela regra da preferência de
classes art. 2134º CC ex vi art. 2157º CC. Por sua vez J é afastado da

[104]
sucessão, mas pela regra da preferência de graus art. 2135º ex vi art.
2157º CC.
4. Cálculo da legitima – art. 2162º nº1 CC (H=R+D-P)
R=50 000€
D=0
P=6000€
MH=50 000+0-6000=44 000€
5. Cálculo da Legitima Objetiva – art. 2159º nº1 CC
LO= 44 000x2/3=29 333
QD= 44 000x1/3=14 667
G faleceu depois de A, sem haver aceitado ou repudiado a herança, no
entanto deixa sobrevivo o seu filho J, assim este é chamado por vocação
indireta através do fenómeno da transmissão art. 2058º nº 1 CC.
6. O art. 2139º nº1 CC, (ex vi art. 2157º CC) dispõe que a partilha entre
cônjuge e descendentes faz-se por cabeça e em partes iguais, sem prejuízo
de que a quota do cônjuge não poder ser inferior a ¼ da herança. Neste
caso o cônjuge concorre à herança com mais 5 descendentes, pelo que será
necessário garantir a quota mínima do cônjuge.
7. Cálculo da legitima subjetiva
LS B = 29 333x1/4 = 7333
29 333-7333= 22 000
LS C = 22 000x1/5 = 4400
LS D = 22 000x1/5 = 4400
LS E = 22 000x1/5 = 4400
LS F = 22 000x1/5 = 4400
LS G (J) = 22 000x1/5 = 4400
8. Averiguação das liberalidades
R-P= 50 000-6000= 44 000
- 5000 (ensaio da deixa testamentaria a título de legado)
39 000 (valor é superior á LO, pelo que não será necessário
reduzir a liberalidade)

[105]
9. Quem recebe a QD?
Valor da QD – 14 667
C recebe 5000 a título de legado
14667-5000=9667
Quer isto dizer que o autor da sucessão não dispôs da totalidade da QD,
isto significa que teremos que abrir a sucessão legitima nos termos do art.
2131º CC.
Serão chamados á sucessão legitima o cônjuge e os descendentes nos
termos do art. 2132º CC conjugado com o 2133º nº1 a) CC. P será afastado
pela regra da preferência de classes do art. 2134 e J pela regra da
preferência de graus do art. 2135º CC. No entanto J tal como aconteceu na
sucessão legitimaria irá ser chamado por vocação indireta pelo direto de
transmissão, em virtude de G ter falecido em 2022 sem ter havido aceitar
ou repudiar a herança.
Por isso vamos pegar no valor que sobra da QD e distribuir pelos
herdeiros, mais uma vez pela regra do art. 2139º nº1 CC teremos que fazer
a divisão por cabeça e em partes iguais, mas garantindo ¼ para o cônjuge
por concorrer à herança com mais de 3 descendentes.
Assim pela sucessão legitima:
B recebe 9667x1/4=2416
9667-2416=7251
C recebe 7251x1/5=1450
D recebe 7251x1/5=1450
E recebe 7251x1/5=1450
F recebe 7251x1/5=1450
G (J) recebe 7251x1/5=1450

Caso VIII
A faleceu hoje casado com B e no regime da comunhão geral.

A fez testamento, deixando a totalidade da QD a B. Para alem de B


sobreviveram-lhe os filhos C, D, E e F.

[106]
O casal possuía património no valor de 350 000€, o casal deixou dividas no valor
de 50 000€.

A fez uma doação a C por conta da sua legitima no valor de 75 000€.


Quid Iuris.

Resolução:

1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de A, ocorrendo o fenómeno


sucessório em 2015 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e 2033º
CC.
3. São sucessíveis legitimários de A, todos na primeira classe sucessória,
seu cônjuge B e seus descendentes C, D, E e F art. 2133º nº1 a), ex vi art.
2157º CC.
4. Cálculo da Legitima Objetiva – art. 2162º nº1 CC
H=R+D-P= 175 000 (meação nos bens comuns)+75 000-25 000 (meação no
passivo)=225 000
LO do cônjuge e descendentes = 225 000x2/3= 166 667 art. 2159º nº1 CC
QD 225 000x1/3= 83 333 art. 2159º nº1 CC a contrário sensu.

5. A doação feita a C, por conta da legitima será restituída à herança pelo


efeito da figura da colação art. 2104º nº1 CC ss, depois de verificados os
requisitos para que haja lugar a esta.
- Há doações feitas pelo autor da sucessão a um seu presuntivo herdeiro
legitimário á data da doação;
- Tais liberalidades não foram dispensadas da colação pelo autor da
sucessão ou por força da lei, pois o autor da sucessão ao afirmar que faz
a doação por conta da legitima, está a afirmar que não pretende
beneficiar C em relação aos outros herdeiros legitimários, pois se assim o
quisesse teria dito que a doação seria por conta da QD;
- Foi aberta uma sucessão á qual concorreram vários descendentes, entre
os quais C, beneficiário da liberalidade.

[107]
http://www.dgsi.pt/jtrg.nsf/86c25a698e4e7cb7802579ec004d3832/c58b
4a2c68154ba080257a28003bfc84?OpenDocument
6. O art. 2139º nº1 CC, (ex vi art. 2157º CC) dispõe que a partilha entre
cônjuge e descendentes faz-se por cabeça e em partes iguais, sem prejuízo
de que a quota do cônjuge não poder ser inferior a ¼ da herança. Neste
caso o cônjuge concorre à herança com mais 4 descendentes, pelo que será
necessário garantir a quota mínima do cônjuge.
7. Cálculo da legitima subjetiva
LS B = 166 667x1/4 = 41 667
166 667-41 667= 125 000
LS C=125 000x1/4=31 250
LS D = 125 000x1/4 = 31 250
LS E = 125 000x1/4 = 31 250
LS F = 125 000x1/4 = 31 250
8. Não há mais liberalidades para reduzir porque a que havia já foi trazida
pela colação.
9. Não tendo o autor da sucessão, disposto de todo ou em parte da sua QD,
terá que se abrir a sucessão legitima nos termos da art. 2131º CCss.
10. Serão chamados á sucessão legitima o cônjuge e os descendentes nos
termos do art. 2132º CC conjugado com o 2133º nº1 a) CC.
Por isso vamos pegar no valor da QD e distribuir pelos herdeiros, mais
uma vez pela regra do art. 2139º nº1 CC teremos que fazer a divisão por
cabeça e em partes iguais, mas garantindo ¼ para o cônjuge por concorrer
à herança com mais de 3 descendentes.
Assim pela sucessão legitima:
B recebe 66 667x1/4=16 667
66 667-16 667=50 000
C recebe 50 000x1/4=12 500
D recebe 7251x1/4=12 500
E recebe 7251x1/4=12 500
F recebe 7251x1/4=12 500

[108]
Caso IX
A faleceu em 2015 no estado civil de casado com B.

Na convenção que celebraram em 2014 acordaram o regime da separação de


bens e renunciaram reciprocamente à qualidade de herdeiros legitimários.

Sobreviveram a A, para alem de B 2 filhos C e D.

A deixou bens no valor de 45 000€ e deixou testamento, legando a B o automóvel


no valor de 25 000€ e não deixou passivo.
Quid Iuris.

Resolução:

1. A abertura da sucessão dá-se com a morte de A, ocorrendo o fenómeno


sucessório em 2015 (Art. 2031º CC).
2. Dá-se o chamamento dos seus sucessíveis, desde que reúnam os
pressupostos da vocação de acordo com o disposto nos Art. 2032º e
2033º CC.
3. São sucessíveis legitimários de A, todos na primeira classe sucessória,
seus descendentes C e D art. 2133º nº1 a), ex vi art. 2157º CC.
4. B não é chamado porque renunciou em convenção antenupcial á
condição de herdeiro legitimário de A art. 1700º nº1 c) CC. Não
concorrendo o cônjuge á herança teremos que lançar mão da norma
do art. 2159º nº2, concorrendo dois descendentes á herança a legitima
objetiva será de 2/3.
5. Cálculo da legitima – art. 2162º nº1 CC
H=R+D-P= 45 000+0-0= 45 000
LO= 45 000x2/3= 30 000 art. 2156º CC
QD= 45 000x1/3= 15 000 art. 2156º CC a contrário sensu

[109]
6. O art. 2139º nº2 CC, (ex vi art. 2157º CC) dispõe que não concorrendo
o cônjuge à herança, a partilha entre os descendentes faz-se por cabeça
e em partes iguais.
7. Cálculo da legitima subjetiva
LS C = 30 000x1/2 = 15 000
LS D = 30 000x1/2 = 15 000
8. Averiguação das liberalidades
R-P= 45 000-0= 45 000
- 25 000 (ensaio da deixa testamentaria a título de legado)
20 000 (valor é inferior á LO)
O nº2 do art. 2168º CC dispõe que não são inoficiosas as liberalidades a
favor do cônjuge que renunciou á condição de herdeiro legitimário até á
parte da herança que lhe caberia caso a renuncia não tivesse existido.
Assim teremos que ensaiar a LO como se o cônjuge não tivesse renunciado
à condição de herdeiro legitimário.
H=R+D-P= 45 000+0-0= 45 000
Art. 2159º nº1 CC LO= 45 000x2/3= 30 000
QD= 45 000x1/3= 15 000 art. 2159º nº1 CC a contrário sensu
LS B= 30 000x1/3= 10 000 art. 2139º nº1 CC ex vi art. 2157º CC
LS C= 30 000x1/3= 10 000 art. 2139º nº1 CC ex vi art. 2157º CC
LS D= 30 000x1/3= 10 000 art. 2139º nº1 CC ex vi art. 2157º CC
O valor em que o legado deixado a B excede a QD é exatamente o valor
que B receberia se não tivesse renunciado à condição de herdeiro
legitimário (10 000), pelo que assim não será reduzida a deixa
testamentaria e a LS de C e D será a que foi apresentada no ensaio do
cálculo da LO como se o cônjuge concorre-se à herança.
9. Quem recebe a QD?
Valor da QD – 15 000
B recebe 15 000 a título de legado

[110]
Casos Práticos

A faleceu em abril de 2010 no estado de casado com B, sobrevivendo-lhe ainda


os filhos C, D, e E.

Em maio de 2011, faleceu C, solteiro, tendo-lhe sobrevivido um filho G.

E faleu em agosto de 2009, no estado de caso com H e com 3 filhos I, J e L.

Em 1988, A e B doaram a E e H um imóvel no valor de 150 000.

Em abril de 1989 doaram a C com dispensa de colação imóvel 80 000€

A testamento legado a D, 30 000.

A data da morte A e B eram titulares de um deposito a prazo de 280 000 e de


um imóvel de 100 000€

Quid Iuris.

A faleceu em junho de 2010 casado com B, sobreviveram ainda os filhos C, D, E


e F. 3 meses dpois faleceu D sem descendentes.

A e B fizeram as seguintes doações

a. Março 2010 a C imóvel 180 000


b. Abril 2010 a E por conta da QD imóvel 120 000
c. Maio de 2010 a L filho de C imóvel 50 000

A fez testamento deixando a F em substituição da legitima imóvel próprio de A


de 70 000.

A data da morte o casal tinha bens no valor de 300 000.

A é casado com B no regime da separação de bens e tem 4 filhos, C, D, E e F. B


tem ainda um filho G. C é casado com H e tem um filho I, E é casada com J e
tem um filho K.

Em 2010 A doou a C imóvel 80 000. Em 2011, A doou a I imóvel 70 000. Em 2012


C foi condenado com transito em julgado pelo crime de calunia contra D. A
morreu em 2014 num acidente de viação e deixou testamento no qual disse:
deixo ficar a Luis meu medico oncologiata 1/5 da minha QD. Deixo a minha
mulher 1/3 da QD e deserdo C por ter cometido um crime contra o irmão.

A deixou bens no valor de 300 000 e passivo 20 000.

Quid iuris.

[111]

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