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Coordenação Pedagógica
Gisele Matos Gervásio
Conteudistas
Adriana Romana Dolis Bierings
Karina Duarte Rocha da Silva
Gerente de Curso
Maria de Fátima de Souza Moreno
Revisão Pedagógica
Joyce Cristine da Silva Carvalho
Designer Instrucional
Luana Manuella de Sales Mendes
SEGURANÇA DE GRUPOS VULNERÁVEIS: PRINCÍPIOS DE
ATENDIMENTO ÀS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
Sumário
Apresentação do Curso .................................................................................................................... 4
Objetivos do Curso ............................................................................................................................ 4
Objetivo Geral ................................................................................................................................. 4
Objetivos Específicos ................................................................................................................... 5
Estrutura do Curso ........................................................................................................................ 6
Módulo 1 – O QUE É A VIOLÊNCIA DE GÊNERO? BREVES APONTAMENTOS DA
HISTÓRIA DOS DIREITOS DA MULHER NO BRASIL ................................................................ 8
Apresentação do módulo ............................................................................................................. 8
Objetivos do módulo ..................................................................................................................... 8
Estrutura do módulo...................................................................................................................... 9
1. Conceito, origem e características da violência de gênero ......................................... 10
1.1 Características da violência de gênero: .......................................................................... 11
2. Linha histórica dos direitos da mulher no Brasil ............................................................ 14
3. Causas e fatores de risco para a violência ................................................................... 17
3.1 Violência contra mulheres baseada na raça/cor ...................................................... 18
3.2 Vulnerabilidade social e econômica ........................................................................... 18
3.3 Violência contra mulheres com deficiência .............................................................. 20
3.4 Violência contra mulheres homossexuais, bissexuais e transgêneros ............ 25
Finalizando ..................................................................................................................................... 27
Módulo 2 - OS TIPOS DE VIOLÊNCIA E O CICLO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO ............. 28
Apresentação do módulo ........................................................................................................... 28
Objetivos do módulo ................................................................................................................... 28
Estrutura do módulo.................................................................................................................... 28
1. A violência contra as mulheres ........................................................................................ 30
2. A Lei nº 11.340/2006 - Lei Maria da Penha......................................................................... 31
3. Tipos de violência contra a mulher ..................................................................................... 32
3.1. Violência física .................................................................................................................. 33
3.2 Violência psicológica............................................................................................................ 33
3.3 Violência sexual ..................................................................................................................... 38
3.4 Violência patrimonial ............................................................................................................ 40
3.5 Violência moral....................................................................................................................... 42
3.6. Violência institucional ......................................................................................................... 42
4. O ciclo da violência.............................................................................................................. 44
4.1 Fases do ciclo da violência................................................................................................. 44
4.2. Fatores que contribuem para o ciclo da violência ...................................................... 46
Finalizando ..................................................................................................................................... 49
Módulo 3 - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER E OS
MECANISMOS DE PROTEÇÃO ..................................................................................................... 51
Apresentação do módulo ........................................................................................................... 51
Objetivos do módulo ................................................................................................................... 51
Estrutura do módulo.................................................................................................................... 52
1. Medidas Protetivas de Urgência .......................................................................................... 53
1.1 Em relação ao agressor ....................................................................................................... 54
1.2 Em relação à mulher e a seu patrimônio ........................................................................ 56
1.3 Outras Medidas Protetivas possíveis ............................................................................. 57
2. Necessidade da devida informação à vítima ................................................................ 58
3. Do Formulário Nacional de Avaliação de Risco .............................................................. 59
4. Da possibilidade de afastamento do agressor do lar pela Autoridade Policial ...... 60
5. Do Banco Nacional de Medidas Protetivas de Urgência ............................................... 60
6. Consequências do descumprimento de medida protetiva de urgência ................... 61
Finalizando ..................................................................................................................................... 62
Módulo 4 - O PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO FEMINICÍDIO. REDE DE
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. ..... 64
Apresentação do módulo ........................................................................................................... 64
Objetivos do módulo ................................................................................................................... 64
Estrutura do módulo.................................................................................................................... 65
1. Plano Nacional de Enfrentamento ao Feminicídio .......................................................... 66
2. Redes de atendimento e de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra
a mulher .......................................................................................................................................... 69
3. A importância da capacitação continuada dos profissionais que compõem a rede
de proteção às mulheres ............................................................................................................ 81
Finalizando ..................................................................................................................................... 83
Referências Bibliográficas............................................................................................................. 84
Apresentação do Curso
Caro(a) aluno(a),
Objetivos do Curso
Objetivo Geral
4
Objetivos Específicos
• Introduzir o conceito de gênero, as origens e as características da
violência de gênero;
• Apresentar a evolução histórica acerca dos direitos da mulher no
Brasil;
• Refletir sobre as principais causas e os principais fatores de risco
para a violência contra a mulher;
• Apontar os tipos de violência de gêneros, em todas as suas
formas;
• Apresentar o ciclo da violência e suas fases
• Discorrer sobre a Lei nº 11.340/2006 – Lei Maria da Penha
• Aprofundar sobre o estudo das Medidas Protetivas de Urgência
• Trazer linhas gerais sobre o Plano Nacional de Enfrentamento ao
Feminicídio;
• Apresentar as redes de enfrentamento e de atendimento à
violência doméstica e familiar contra a mulher;
• Discorrer sobre a importância de se instituir protocolos de
atendimento à mulher vítima de violência e a capacitação dos agentes públicos
5
Estrutura do Curso
6
Módulo 3 – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER E OS MECANISMOS DE PROTEÇÃO
1. Medidas Protetivas de Urgência
1.1 Em relação ao agressor
1.2 Em relação à mulher e a seu patrimônio
1.3 Outras Medidas Protetivas possíveis
2. Necessidade da devida informação à vítima
3. Do Formulário Nacional de Avaliação de Risco
4. Da possibilidade de afastamento do lar do agressor pela
Autoridade Policial
5. Do Banco Nacional de Medidas Protetivas de Urgência
6. Consequências do descumprimento de medida protetiva de
urgência
Referências Bibliográficas
7
Módulo 1 – O QUE É A VIOLÊNCIA DE GÊNERO? BREVES
APONTAMENTOS DA HISTÓRIA DOS DIREITOS DA MULHER NO
BRASIL
Apresentação do módulo
Neste módulo, você vai estudar o que é a violência de gênero, sua origem e
características. Para compreender esse panorama, é importante entender o contexto
histórico-social e a breve evolução legislativa que acompanhou a garantia de direitos
e proteção especial às mulheres em situação de violência, nas suas mais diversas
formas, seja no setor público ou privado.
Objetivos do módulo
8
• Apontar as principais causas e os principais fatores de risco que
potencializam a violência de gênero.
Estrutura do módulo
9
1. Conceito, origem e características da violência de gênero
O que é o gênero?
10
1.1 Características da violência de gênero1:
Exemplos:
11
Quando há uma ruptura ou uma subversão desse modelo, a mulher pode
perder o caráter de vítima nessa relação e se tornar a culpada, mesmo que ela seja a
pessoa que sofra a violência.
Exemplos:
12
- Psicologicamente interiorizada5 – os papéis do feminino e masculino são
internalizados na mulher no desempenho do papel amoroso e materno, dócil,
compreensivo, submisso e, no homem, a virilidade sexual e laborativa, de provedor.
Socialmente, homens e mulheres permanecem replicando papéis que resultam numa
sociedade sexista. E, nesse aspecto, é perceptível a invisibilidade, pois o cumprimento
desses papéis é tão definido, que, diante de um ato de violência, ainda que grave, ele
é aceitável por determinado núcleo social.
Quantas mulheres são agredidas em seus lares, na frente dos familiares, sem
que nenhuma providência punitiva seja tomada, ainda que pela denúncia? Por que
aceitamos esse comportamento de violência?
E isso se faz por meio da virilidade, de ser o provedor, entre outros papéis
atribuídos ao masculino. Se o homem não consegue desempenhar essa função, ele
é julgado pelos pares, diminuído, humilhado e enfraquecido. Legitima-se até o uso da
força física, para que o modelo sexista seja normalizado.
Nesse modelo, se a mulher não cumpre seu papel predeterminado, ainda que
ela seja vítima de violência, a sua condição de vítima passa a ser questionada.
Exemplos:
2. “Ela não limpou a casa e foi ofendida”. A violência passa a ser legítima?
Figura 2 - O patriarcado
14
2. Durante o Brasil Império, 1830, pelo Código Penal Brasileiro, a pena era
atenuada quando houvesse adultério da mulher (justificado pela desonra, artigo 18,
4º).
3. O direito ao voto das mulheres foi reconhecido somente em 1932, pelo
Decreto nº 21.076, que instituiu o Código Eleitoral Brasileiro.
4. O Código Civil de 1916 retrata de forma significativa o modelo patriarcal.
Veja alguns exemplos, que vigoraram até o advento da Constituição Federal de 1988:
- o homem era o chefe de família e administrador dos
bens comuns e particulares (artigos 233 e seguintes);
- a mulher era tutelada pelo marido, passando a ser
relativamente capaz após o casamento (artigos 240 e
seguintes);
- o fato de a mulher não ser virgem e isso ser descoberto
após o casamento, poderia causar a anulação do casamento,
pois era considerado erro essencial sobre a pessoa do cônjuge
(artigo 219, IV).
5. Em 1985, é criado o Conselho Nacional de Direitos das Mulheres e a 1ª
DEAM – Delegacia Especial de Atendimento à Mulher no Brasil, em São Paulo.
6. Em 1988, é promulgada a Constituição Federal, em que estão previstos
vários direitos fundamentais e cláusulas pétreas, que impõem ao Estado a criação e
implementação de políticas públicas para promover a igualdade de direitos entre
homens e mulheres.
7. O Código Penal Brasileiro, em vários artigos, utilizava a expressão
“MULHER HONESTA”, que significava o recato e sexualidade controlada e restrita à
convivência conjugal, determinando um padrão de comportamento socialmente
aceito, para que a mulher pudesse estar na condição de “vítima”. Somente com a Lei
nº 11.106, promulgada em 2005, tal expressão pré-julgadora foi retirada do Código
Penal.
8. Até o ano de 2005, o casamento era excludente da culpabilidade nos
crimes contra os costumes, atualmente denominados crimes contra a dignidade
sexual. O artigo 107 do Código Penal assim previa:
“VII – pelo casamento do agente com a vítima nos crimes contra os costumes,
definidos nos Capítulos I, II e III do Título VI da Parte Especial deste código”,
e,
VIII - pelo casamento da vítima com terceiro, nos crimes referidos no inciso
anterior, se cometidos sem violência real ou grave ameaça e de que a
15
ofendida não requeira o prosseguimento do inquérito policial ou da ação penal
no prazo de sessenta dias a contar da celebração;”.
17
pertencer a grupos étnicos e sociais específicos. São os recortes sociais que tornam
determinados grupos mais vulneráveis a serem vítimas de determinados crimes.
A raça e a cor tem sido fator preponderante para justificar e potencializar o risco
da violência contra mulheres, principalmente, as mulheres negras sofrem por
pertencerem a esse grupo, devido à desigualdade racial existente decorrente da
histórico sociocultural brasileiro. As mulheres negras e suas descendentes sofrem
com muito mais frequência e intensidade de atos de violências, como “feminicídio,
racismo, importunação sexual, violência física, injúria qualificada pela raça/cor, etc.”.
Os dados do último mapa da violência de 2021 mostram que 67% das vítimas
de homicídio em 2019 eram mulheres negras. Do total de 3.737 mulheres
assassinadas, 2.468 eram negras.
18
A vulnerabilidade social e econômica é outro fator que potencializa a ocorrência
de violência contra mulheres, principalmente a intrafamiliar e doméstica, é a falta de
recursos financeiros, de trabalho e renda, da mulher que depende financeiramente do
autor da agressão. A dependência financeira é fator de risco e motivador da
permanência da vítima no ciclo da violência, que será estudado durante o curso.
➢ https://www.youtube.com/watch?v=T9d7g8TdwQs
O uso abusivo de álcool e drogas também tem sido fator que potencializa o
cenário de violência doméstica e intrafamiliar, em que as mulheres e crianças têm sido
os maiores alvos das condutas violentas por parte do autor que usa essas
substâncias.
Ainda, notícias que tratam de questões relacionadas à segurança
das mulheres no transporte público:
➢ https://expresso.estadao.com.br/naperifa/transporte-publico-e-
espaco-em-que-as-mulheres-mais-temem-sofrer-assedio/
➢ https://noticias.r7.com/sao-paulo/sp-pelo-4-ano-seguido-
transporte-publico-e-o-espaco-de-maior-risco-de-assedio-para-
mulheres-29062022
➢ https://g1.globo.com/mg/minas-
gerais/noticia/2022/09/28/homem-e-preso-suspeito-de-
importunacao-sexual-dentro-de-onibus-em-belo-horizonte.ghtml
➢ https://noticias.r7.com/jr-na-tv/videos/mais-de-30-das-mulheres-
ja-sofreram-assedio-no-transporte-publico-diz-pesquisa-12092022
➢ https://summitmobilidade.estadao.com.br/guia-do-transporte-
urbano/mulher-no-transporte-publico-dificuldades-e-solucoes/
➢ ASSÉDIO NO TRANSPORTE PÚBLICO: O que as experiências
com o vagão rosa nos ensinaram até agora. Disponível em
http://files.antp.org.br/2019/4/10/rtp151-3.pdf
19
3.3 Violência contra mulheres com deficiência
20
Fonte: Não se cale MS, 2019.
21
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinam, generonumero.media, 2021.
22
Uma mulher de classe social de média alta, estava muito feliz em seus trinta e
pouco anos, pois tinha se casado, então, com o “príncipe encantado”, quando passou
a desenvolver Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença que causa degeneração
progressiva de neurônios motores. Assim que o fato foi levado ao conhecimento da
polícia por intermédio de seus familiares, a vítima já não tinha mais nenhum
movimento motor, se comunicava com auxílio de um programa de computador,
apenas com o movimento dos olhos. A vítima era assistida por serviço médico de
“home care”. Nesse contexto, seu marido, aproveitava de quando estava sozinho com
vítima para praticar os mais diversos atos de violência, dentre eles a tortura, e a vítima
não tinha como se defender.
23
"Vozes de mulheres com deficiência e a violência de gênero: análise discursiva
de narrativas de vida em Campo Grande" - dissertação de mestrado apresentado
ao Programa de Pós-Graduação em Letras, na UEMS - Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul, por Flávia Pieretti
Cardoso: http://www.uems.br/assets/uploads/cursos_pos/edc4fb6d0115090bccaa916
7bb1cda17/teses_dissertacoes/1_edc4fb6d0115090bccaa9167bb1cda17_2019-11-
26_10-58-52.pdf
DISTRITO FEDERAL.
Uma pessoa que nasceu biologicamente masculina, mas que se identifica com
o gênero feminino, ou que nasceu biologicamente feminina, mas se identifica com o
gênero masculino é chamada de transgênero.
25
Fazer parte do grupo LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, trans,
queers, pansexuais, agêneros, pessoas não binárias e intersexo) é causa e fator de
risco potencializador da violência contra mulheres.
Assim, você estudou que essas são as principais causas e fatores que
potencializam a violência contra as mulheres, seja no ambiente público ou privado.
26
No módulo a seguir, você vai prosseguir nos seus estudos, e os fundamentos
obtidos até momento o ajudará a compreender os tipos da violência e o ciclo da
violência.
Finalizando
27
Módulo 2 - OS TIPOS DE VIOLÊNCIA E O CICLO DA VIOLÊNCIA DE
GÊNERO
Apresentação do módulo
Objetivos do módulo
Estrutura do módulo
28
3.6 Violência Institucional
4. O ciclo da violência
4.1 Fases do ciclo da violência
4.2 Fatores que contribuem para o ciclo da violência
29
1. A violência contra as mulheres
“qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que Ihe cause morte, dano
ou sofrimento físico, sexual ou psicológico a mulher, tanto na esfera pública
quanto na privada.”
Outro questionamento que temos a obrigação de fazer nesse curso: Por que
alguém se sente no direito de tocar uma mulher em partes íntimas ou de roçar o corpo
contra ela, quando estão em um ônibus, trem ou transporte similar? Por que não há o
respeito pelo corpo da mulher, pela sua intimidade, individualidade e escolhas, pela
sua sexualidade?
30
2. A Lei nº 11.340/2006 - Lei Maria da Penha
Em seu artigo art. 5º, esta lei previu a violência doméstica e familiar contra a
mulher como sendo qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, que
ocorra em uma dessas circunstâncias, individual ou concomitantemente:
31
relacionamento. Também não necessita da convivência sob o mesmo teto entre os
envolvidos.
A Lei Maria da Penha, em seu art. 7º, enumera algumas formas de violência
doméstica e/ou familiar contra a mulher.
➢ https://ibdfam.org.br/index.php/noticias/7590/10+filmes+para+refl
etir+sobre+a+viol%C3%AAncia+contra+a+mulher
➢ https://educacaointegral.org.br/reportagens/16-filmes-para-
debater-os-direitos-das-mulheres/
33
Fonte: Diário do Nordeste, 2020.
34
O conceito amplo de violência psicológica compreende também os
demais tipos penais de ameaça, o constrangimento ilegal, a
perseguição, outra inovação trazida pela Lei nº 14.132 de 31 de março
de 2021, todos previstos no Código Penal Brasileiro, e toda e qualquer
conduta que cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação
da mulher vítima.
- Relacionamentos abusivos
35
inadequadas; proibição de usar o aparelho celular; de participar de
redes sociais; ridicularização perante terceiros; etc...
Nesses exemplos citados, em geral, a mulher não percebe que está sendo
vítima, pois confunde tais atos com demonstração de carinho, cuidado, proteção, e
tais atos de controle passam a ser aceitos e justificados.
A violência é sutil e romantizada, e podemos notar as características de
invisibilidade, legitimação de privilégios e autorização social do modelo patriarcal de
sociedade.
O relacionamento abusivo pode ocorrer desde o início do relacionamento, em
todas as faixas etárias, inclusive entre adolescentes.
Quando a vítima, enfim, percebe estar numa situação abusiva, os atos de
controle aumentam e outros tipos de violência passam a existir.
36
É uma forma de violência psicológica, que, sem dúvida, pode trazer severos
danos à vítima.
A perseguição não precisa ser física. Hoje em dia, com a sociedade cada vez
mais hiperconectada, é possível perseguir alguém também virtualmente, pela internet.
É muito comum que o crime no ambiente virtual ocorra em contexto de violência
doméstica e/ou familiar contra a mulher, mas não esteja restrito a ele. Pode acontecer
também em situações em que autor e vítima não têm qualquer relação íntima ou
sequer se conheçam pessoalmente.
Pode-se citar o exemplo cada dia mais comum na atualidade em que pessoas
criam uma obsessão por alguém que conhece apenas pela internet, e passam a
persegui-la virtualmente, enviando e-mails e mensagens nas redes sociais, criando
perfis fakes para evitar de serem bloqueadas, tentando acompanhá-las em locais
públicos, dentre outros comportamentos perseguidores.
Por fim, destacamos que, embora homens e mulheres possam ser vítimas do
crime de perseguição, o legislador previu uma causa de aumento de pena quando o
crime for cometido contra mulher por razões de sexo feminino.
Os estudos sobre a violência de gênero tem sido cada vez mais focados para
as situações de violência psicológica.
Nesse contexto, recentemente, o legislador trouxe diversas inovações para
punir situações relacionadas à violência psicológica.
Assim, a Lei nº 14.132/2021 previu este tipo penal:
37
A doutrina tem lançado questionamentos acerca da constitucionalidade do tipo
penal, diante de sua abrangência. Também se tem questionado sobre a necessidade
ou não de laudo pericial que comprove o dano psicológico da vítima.
Tendo em vista o tipo penal ser ainda muito recente, para os dois
questionamentos acima, ainda não temos posicionamentos dos tribunais superiores.
Em todo caso, o que nós, enquanto profissionais de segurança pública, temos
que considerar é que o legislador está cada vez mais preocupado em trazer proteção
para mulheres vítimas de violência psicológica.
Assim, ao atender mulheres que narram situações relacionadas no tipo penal,
os profissionais de segurança pública devem acolhê-las, assisti-las e tomar todas as
medidas que estiverem à sua disposição para protegê-las.
38
241-A, 241-B, 241-C, 241-D, 241-E, todos do Estatuto da Criança e
do Adolescente).
8
FORUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PUBLICA. Violência contra mulheres em 2021. 2022.
Disponível em: <violencia-contra-mulher-2021-v5.pdf (forumseguranca.org.br) >. Acesso em: 14, mai.
2022.
39
3.4 Violência patrimonial
A realidade nos mostra que a mulher idosa, no momento de sua vida em que
deveria descansar, sendo cuidada pelos familiares e estar cuidando de si mesma, não
40
raro, com seus parcos rendimentos sustenta toda sua família e é vítima dos mais
diversos tipos de violência, como ofensas morais, ameaças, agressões físicas e a
apropriação de seu patrimônio.
41
Um sinal de alerta para identificar esse golpe é quando o homem coloca
dificuldades para realizar videochamadas, sempre inventando uma desculpa.
A vítima procura ajuda quando já está em uma situação financeira difícil,
quando perdeu parte ou todo o seu patrimônio ou está com dívidas insolúveis. Diante
desse cenário, os danos psicológicos são imensuráveis.
42
a rede de enfrentamento para pedir ajuda, ela terá que contar a história que vivenciou,
que nunca gostaria que tivesse ocorrido, ou seja, o acolhimento deve buscar ao
máximo evitar a revitimização.
Os profissionais de segurança pública, da rede de enfrentamento e que atuam
no sistema de justiça, como um todo, necessitam de capacitação constante para
compreender o fenômeno e a complexidade da violência de gênero e estarem
preparados para, de fato, realizar uma oitiva empática, sem julgamentos e estarem
predispostos para essa função de ajudar a mulher a romper o ciclo da violência.
A capacitação e a adoção de protocolos de atendimento são muito importantes,
pois traz a uniformidade de atendimento em determinadas circunstâncias e segurança
para o profissional, fluidez e eficiência ao trabalho.
Pode-se citar o caso midiático da jovem Mariana Ferrer, vítima de possível
estupro, a qual foi humilhada, durante audiência de instrução e julgamento pelo
advogado de defesa, sem que houvesse qualquer interferência do Ministério Público
ou do Poder Judiciário para resguardá-la.
Nesse cenário, foi promulgada a Lei nº 14.245/2021, criada para coibir a prática
de atos atentatórios à dignidade da vítima e de testemunhas. Referido dispositivo legal
alterou o Código de Processo Penal, que passou a proibir durante audiências
questionamentos e manifestações sobre circunstâncias ou elementos alheios aos
fatos objeto de apuração no processo e a utilização de linguagem, de informações ou
de material que ofendam a dignidade da vítima ou de testemunhas.
Violência Institucional
Art. 15-A. Submeter a vítima de infração penal ou a testemunha de crimes
violentos a procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos, que a
leve a reviver, sem estrita necessidade:
I - a situação de violência; ou
II - outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou
estigmatização:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Se o agente público permitir que terceiro intimide a vítima de crimes
violentos, gerando indevida revitimização, aplica-se a pena aumentada de 2/3
(dois terços).
43
§ 2º Se o agente público intimidar a vítima de crimes violentos, gerando
indevida revitimização, aplica-se a pena em dobro.
4. O ciclo da violência
44
Ocorre a transformação daquele homem que a mulher escolheu para ser seu
companheiro para a vida. Antes carinhoso, atencioso e prestativo, ele passa a ser
crítico, controlador e apresentar atos de violência, ainda que implícitos.
É nesse momento que se iniciam as agressões invisíveis, de difícil
identificação, pois não deixam vestígios. Cita-se como exemplos, quando a mulher é
extremamente controlada pelo seu namorado, que não a deixa ir sozinha à academia,
ter vida social com amigos, participar de redes sociais; usar determinadas roupas por
julgá-las inadequadas.
Muitas vezes o autor justifica seus atos de “controle” como cuidado, zelo, amor,
mas, na verdade, é o início de uma vida sem liberdade, de desrespeito, que culminará
em atos mais gravosos no futuro.
É nessa fase que surgem as violências psicológicas e morais, em que as
mulheres suportam humilhações das mais diversas ordens, que diminuem sua
autoestima e as fazem adoecer.
Fase 2 – Explosão
45
amorosidade; compra presentes; faz promessas de mudanças, que, provavelmente
nunca vão ocorrer se não houver um investimento verdadeiro nesse sentido.
A mulher revive os momentos de alegria com o abusador e acredita que ele irá
mudar.
Especialistas também chamam esse ciclo de “calmaria” e, por vezes, é nessa
fase que podem ocorrer as renúncias junto ao Poder Judiciário das representações
criminais já oferecidas anteriormente.
No entanto, algum tempo depois, por não ter ocorrido mudança e intervenção
substancial naquela relação, os atos de violência se repetem, saindo da lua de mel e
voltando para a fase de tensão, em um movimento cíclico.
Por isso, é comum, nas delegacias de polícia, ser verificado o registro de várias
ocorrências policiais envolvendo as mesmas partes, no mesmo contexto de violência.
Nesse ponto, é importante lembrar que a renúncia formal somente pode ser
convalidada na Justiça (artigo 16 da Lei nº 11.340/2006).
Assim, a partir da compreensão desses fenômenos, é tão importante a
capacitação de todos os profissionais que atuam na Rede de Enfrentamento de
Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres, para se evitar o pré-julgamento
da mulher nessas condições e não a revitimizar. Deve-se saber ouvi-la com empatia
e ajudá-la naquilo que estiver ao alcance dos profissionais de segurança pública.
46
Os fatores a seguir apresentados podem ser a motivação única ou conjugada
com vários outros para justificar ou impedir o rompimento do ciclo.
Exemplos:
1. A mulher apanhou do marido, mas ela não tinha feito a comida no horário
certo, não tinha limpado a casa. Era o papel de esposa fazer. A vítima justifica a
agressão, por não ter feito as tarefas domésticas.
47
Fonte: Dimitri Soares, 2014.
- Baixa autoestima: dificuldade de se ver como uma pessoa que mereça ser
amada e que tem valor. Ela está intimamente relacionado com a dependência
emocional, sendo, em muitos casos, resultado de uma relação violenta marcada pela
violência psicológica.
- Medo do novo: medo de encarar uma vida nova é um dos obstáculos que
precisa ser vencido para a mulher retomar sua identidade e se reencontrar com sua
essência. É uma das facetas da dependência emocional, que precisa ser trabalhada
internamente.
E os direitos enunciados:
Todos esses direitos juntos, se respeitados, significam uma vida sem violência.
Finalizando
49
enfrentamento da violência contra às mulheres, meninas, adolescentes e
idosas.
50
Módulo 3 - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER E OS MECANISMOS DE PROTEÇÃO
Apresentação do módulo
Agora que você já estudou sobre o que é gênero e em que consiste a violência
de gênero, além de ter sido apresentado à Lei nº 11.340/2006 – Lei Maria da Penha,
vamos nos aprofundar um pouco sobre um poderoso mecanismo de proteção às
mulheres vítimas de violência doméstica e familiar: as medidas protetivas de urgência.
Objetivos do módulo
Este módulo tem por objetivos, no que refere às medidas protetivas de
urgência:
51
Estrutura do módulo
52
1. Medidas Protetivas de Urgência
Como vimos no curso, a Lei Maria da Penha não se aplica para todos os casos
de violência de gênero. Para os que se aplica, ela traz um instrumento poderoso de
proteção: as Medidas Protetivas de Urgência.
Essa lei traz um rol de medidas que podem ser decretadas, em regra, pelo juiz
a pedido da mulher, por intermédio do delegado de polícia, por meio de requerimento
do Ministério Público.
Desde 2019, existe a possibilidade legal de, na ausência de juiz na comarca, a
autoridade determinar o afastamento do agressor do lar, como veremos em mais
detalhes ainda neste módulo.
O afastamento do agressor do lar visa garantir maior efetividade à lei e proteger
a mulher em situação de violência, resguardando sua integridade física e psicológica,
além de proteger seus bens.
A fim de conferir uma proteção plena à vítima, é possível, inclusive, que seus
familiares e testemunhas também sejam abrangidos pelas medidas protetivas.
53
idôneo, tal como e-mail institucional, e os requerimento de medidas protetivas sejam
encaminhados digitalmente, sem ser necessário o deslocamento físico dos policiais
para tanto.
Quando do atendimento, o policial deve sempre ficar muito atento: assim que
se deparar com situações em que o ofensor possui acesso legal à arma de fogo.
Devemos lembrar que os atos de violência doméstica têm uma progressão em
suas formas, o que é potenciado, muitas vezes, pelo uso abusivo de álcool e drogas.
Um contexto que se inicia com atos de violência moral pode, em pouco tempo, passar
para violência física e chegar a um feminicídio.
Por isso, mesmo nas situações concretas em que não se vislumbra um risco
imediato à vida da vítima, deve ser considerado que, em pouco tempo, aquela situação
pode se agravar e o acesso à arma de fogo facilita que tragédias aconteçam.
Nos casos em que o agressor, em razão de seu ofício (profissionais de
segurança pública, integrantes das Forças Armadas, dentre outros) ou por motivos
particulares, tem acesso a armas de fogo é importante que a vítima seja informada
sobre a possibilidade de ela requerer a suspensão da posse ou restrição do porte, nos
termos do item I do art. 22.
Lembramos que a legislação prevê várias hipóteses para que
particulares tenham acesso legal à arma de fogo, como é o caso dos
Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CAC) ou dos cidadãos em
geral, para a mera posse da arma (Lei nº 10.826/2003).
54
possibilidade prevista no inciso II: afastamento do lar, domicílio ou local de convivência
com a ofendida.
Considere-se que, para ser decidido pelo afastamento do agressor, de seu lar
verifica-se apenas se tal medida é necessária para fazer cessar os atos de violência
contra a mulher, vulnerável naquela relação.
Assim, mesmo que o imóvel onde o casal resida seja de propriedade exclusiva
do agressor ou de terceira pessoa, ainda assim, pode ser determinado o afastamento
do agressor.
Esse afastamento, contudo, tem natureza cautelar e, como tal, é provisório e
não faz com que o agressor perca eventuais direitos cíveis sobre o imóvel.
Assim, no caso de vítima e agressor serem casados ou viver em união estável,
a vítima deve ser orientada a procurar advogado ou a Defensoria Pública, para tomar
as medidas necessárias, com base no Direito de Família.
A prática nos mostra que as medidas previstas nesse inciso são as mais
comuns de serem deferidas.
Destaca-se que as proibições em questão abrangem não apenas a vítima, mas
também seus familiares e testemunhas dos atos de violência, para que a proteção à
vítima seja realmente efetiva.
Em relação à proibição de contato, ela inclui também os meios digitais, como
mensagens por redes sociais, e-mails ou quaisquer outros meios.
A proibição delineada no item “c” se aplica, por exemplo, às situações em que
a vítima e o agressor frequentem, ordinariamente, algum lugar em comum, como
clubes, Igrejas, faculdade. Assim, nesses casos, é importante que, no requerimento,
seja especificado o lugar (nome e endereço) que se pretende que o agressor seja
proibido de frequentar.
55
O inciso IV visa preservar a vida e integridade física e psicológica tanto dos
dependentes menores, quanto da vítima, quando elas estão colocadas em risco pelas
visitas do agressor.
De modo similar, o inciso V visa dar amparo material à vítima de violência
doméstica, em especial quando existe a situação de dependência econômica.
Contudo, por tais medidas terem natureza cautelar e provisória, a vítima deve
ser orientada a procurar advogado ou a Defensoria Pública, para tomar as medidas
cíveis necessárias quanto à guarda dos filhos, pensão alimentícia e demais direitos
cíveis, conforme o caso.
56
Para a proteção patrimonial da vítima, tenham sido eles adquiridos na
constância na sociedade conjugal ou particulares da ofendida, a Lei nº 11.340/2006
também prevê a possibilidade de se requerer algumas medidas:
Deve-se destacar que o rol de medidas trazidas pela Lei Maria da Penha não é
taxativo, mas exemplificativo. Ou seja, não existe restrição aos representantes legais
ou do próprio Ministério Público em solicitar e nem mesmo ao juiz em conceder
somente as medidas elencadas na lei.
A partir de avaliações, pode-se adotar outras medidas como forma de
assegurar a eficiência daquelas previstas expressamente pelo legislador.
57
2. Necessidade da devida informação à vítima
58
uma decisão judicial que determine que o autor não se aproxime fisicamente da
ofendida ou que não mantenha qualquer tipo de contato com ela.
E, ainda, essas situações contribuem para que, na percepção dos envolvidos,
a medida protetiva “não sirva para nada”.
Por isso, a vítima também deve ser cuidadosamente orientada em seu
atendimento sobre o ciclo da violência e que, mesmo assim, caso, por alguma
circunstância ela não tenha mais interesse na proteção, ela deve procurar o Poder
Judiciário e pedir a revogação das medidas. E, ainda, que, caso ela volte a sofrer
qualquer violência, ela poderá procurar novamente a Polícia e formular novo pedido
de medida protetiva de urgência.
59
Clique aqui para acessar o Formulário e a Resolução Conjunta nº 5
do CNJ:
https://atos.cnj.jus.br/files/original215815202003045e6024773b7dc.pdf
Em 13 de maio de 2019, foi incluído o art. 12-C à Lei Maria da Penha que
possibilitou o imediato afastamento do agressor do lar, domicílio ou local de
convivência com a ofendida por outras autoridades, que não apenas a judicial.
Isso se dá quando houver risco atual ou iminente à vida ou à integridade física
ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus
dependentes, e o local não for sede de comarca.
Nesse caso, a atribuição para determinar o afastamento será do Delegado de
Polícia. Caso também não haja Delegado disponível, qualquer policial poderá fazê-lo.
Na hipótese abordada, o Juiz deverá ser comunicado em 24 horas sobre o
afastamento do agressor e decidirá sobre a manutenção ou revogação da medida.
O Supremo Tribunal Federal, em decisão unânime, na Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 6138, de 23.03.2022, decidiu pela constitucionalidade dessa
previsão legal.
Segundo dados consolidados pelo Conselho Nacional de Justiça,
desde a vigência da lei (maio de 2019) até abril de 2022, em todo o
Brasil, houve a homologação pelo Poder Judiciário de 434
afastamentos dos agressores de seus lares determinados por
Autoridade Policial.
60
decisões urgentes sejam tomadas, como, por exemplo, a prisão em flagrante do
ofensor, a representação por sua prisão preventiva ou por outra medida cautelar.
Para resolver essa questão, o art. 38-A da Lei Maria da Penha previu o registro
das medidas protetivas em banco de dados.
Assim, o Conselho Nacional de Justiça instituiu o Banco Nacional de Medidas
Penais e Prisões (BNMP 3.0), que consiste em um sistema eletrônico de consulta
pública, em que, dentre outros documentos, serão cadastrados mandados de medidas
protetivas e de revogação.
O BNMP 3.0 está ainda em fase de implantação e será essencial para fins de
fiscalização, acompanhamento e efetividade pelos órgãos de segurança pública e da
rede de proteção.
Ainda sobre a temática, destacamos o Painel de Monitoramento das Medidas
Protetivas de Urgência, criado pelo Conselho Nacional de Justiça, que apresenta
dados estatísticos referentes às decisões de medidas protetivas de todo o Brasil, por
cada Tribunal.
Tais dados são importantes para analisarmos a realidade social de cada
unidade da federação e planejarmos políticas públicas de combate à violência
doméstica.
Acesse o Painel de Monitoramento das Medidas Protetivas de
Urgência, do Conselho Nacional de Justiça - https://medida-
protetiva.cnj.jus.br/s/violencia-domestica/app/dashboards#/view/5ff5ddea-
55e6-42a6-83fa-710d40507c3f?_g=h@2463b39
Leia a Resolução nº 417 de 20/09/2021, do Conselho Nacional de
Justiça, que instituiu o Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões
(BNMP 3.0):
https://atos.cnj.jus.br/files/original15570020210921614a00ccb7cfb.pdf
61
Assim, caso o agressor desobedeça à ordem imposta, ele poderá ser preso em
flagrante e, em tal hipótese, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança.
Outra consequência é a possibilidade de imposição de medidas cautelares
diversas de prisão, em especial, a monitoração eletrônica do agressor, a qual tem se
mostrado bastante eficiente para assegurar o distanciamento entre agressor e
ofendida.
Sobre o assunto, citamos o programa Dispositivo de Monitoramento
de Pessoas Protegidas (DMPP), da Secretaria de Segurança Pública
do Distrito Federal. Nele, agressores e vítimas são monitorados
diariamente, 24 horas por dia, por tecnologia de georreferenciamento;
os agressores, por meio de tornozeleira eletrônica e as vítimas, por
um dispositivo de segurança que recebem.
Finalizando
62
Neste módulo, você aprendeu que:
63
Módulo 4 - O PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO
FEMINICÍDIO. REDE DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER.
Apresentação do módulo
Objetivos do módulo
64
• Fazer com que o aluno saiba identificar o seu papel de órgão
público na rede de atendimento à violência doméstica e familiar contra a
mulher.
• Refletir sobre a importância e necessidade de se adotar
protocolos padronizados de atendimento à mulher em situação de violência,
bem como de se capacitar os agentes públicos para atuar em observância a
esses protocolos.
Estrutura do módulo
65
1. Plano Nacional de Enfrentamento ao Feminicídio
Figura 10: Taxa de homicídios por 100 mil mulheres nas unidades da federação (2019)
66
Por isso, as medidas previstas no Plano Nacional de Enfrentamento ao
Feminicídio não são voltadas exclusivamente ao fenômeno do feminicídio, mas a
todas as formas de violência contra a mulher.
Esse documento prevê uma série de ações governamentais com os seguintes
objetivos:
- implementar medidas de ampliação, articulação e integração entre os atores
da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres;
- promover ações de conscientização da sociedade sobre a violência contra as
mulheres, produzir e gerir dados sobre o tema;
- fomentar ações de monitoramento de autores de violência contra as mulheres;
- garantir direitos e assistência integral, humanizada e não revitimizadora às
mulheres em situação de violência e às vítimas indiretas de tais crimes.
Nele, são previstas diretrizes a serem seguidas pelas políticas públicas a serem
implementadas, as quais elencamos:
I - o reconhecimento da violência contra as mulheres como um
fenômeno multidimensional e multifacetado relacionado a fatores individuais,
comunitários e socioculturais;
67
Citamos, ainda, os princípios elencados pelo Plano Nacional de Enfrentamento
ao Feminicídio:
Art. 4º São princípios do Plano Nacional de Enfrentamento ao
Feminicídio:
I - primazia dos direitos humanos e reconhecimento da violência
contra as mulheres como violação a esses direitos;
II - assistência integral;
III - atendimento humanizado e não revitimizador;
IV - acesso à justiça;
V - segurança das mulheres;
VI - respeito às mulheres em situação de violência;
VII - confidencialidade;
VIII - cooperação ou abordagem em rede;
IX - interdisciplinaridade;
X - transversalidade; e
XI - transparência.
Esse Comitê, por sua vez, é composto por representantes de diversos órgãos,
como Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, Secretaria Nacional de
Segurança Pública, Secretaria Nacional de Justiça, Secretaria Nacional de
Assistência Social do Ministério da Cidadania, Ministério da Saúde e Ministério da
Educação.
A pluralidade de órgãos representados no Comitê decorre da complexidade do
tema e da necessidade de se adotar medidas transversais e interdisciplinares e a
atuação em rede dos diversos atores que trabalham no combate a esse fenômeno
social.
E o que significa atuação em rede?
É sobre isso que falaremos no próximo tópico.
68
https://www.in.gov.br/web/dou/-/decreto-n-10.906-de-20-de-
dezembro-de-2021-368988173
INTRODUÇÃO https://www.youtube.com/watch?v=-4CEMeskIxI
SEGURANÇA PÚBLICA
https://www.youtube.com/watch?v=t9gXbY9vk1Y
JUSTIÇA https://www.youtube.com/watch?v=UHlQyBdGCgw
SAÚDE https://www.youtube.com/watch?v=qlj_fXhmy7g
ASSISTÊNCIA SOCIAL https://www.youtube.com/watch?v=f-
UCrQweZEo
GESTÃO PÚBLICA https://www.youtube.com/watch?v=fHZetAmxJJE
MONITORAMENTO
https://www.youtube.com/watch?v=KcjhZsPGXBE
69
Ilustrando iniciativas da rede de enfrentamento à violência doméstica,
destacamentos a campanha Sinal Vermelho Contra a Violência
Doméstica, lançado em junho de 2020, pela Associação dos
Magistrados Brasileiros em parceria com o Conselho Nacional de
Justiça.
Fonte: Reprodução/Internet.
70
Agora que você já sabe o que é a Rede de Atendimento à Mulher em
Situação de Violência e conheceu vários de seus atores, vamos conhecer mais um
pouco alguns desses órgãos.
71
incentivo de criação de novas Delegacias Especializadas, atualmente, existe cerca de
500 DEAMs em todo o Brasil.
Naturalmente, cada estado tem autonomia para disciplinar o funcionamento de
suas delegacias conforme suas peculiaridades e necessidades. Assim, em alguns
Estados, as DEAMs funcionam ininterruptamente, 24 horas por dia, enquanto em
outras unidades, elas funcionam no horário ordinário de expediente.
Em todo caso, é importante que essas delegacias sejam um espaço de
atendimento diferenciado, onde a mulher seja e se sinta acolhida e encorajada a
procurar ajuda da polícia para mudar sua realidade de violência.
PARA REFLETIR!
- Delegacias Eletrônicas
72
medidas protetivas de emergência, sem ser necessário o deslocamento a uma
unidade policial.
Pela própria Delegacia Eletrônica, no Distrito Federal, a vítima registra a
ocorrência, assinala as medidas protetivas que tem interesse em requerer e preenche
o Formulário de Avaliação de Risco. A Polícia Civil do Distrito Federal é imediatamente
comunicada desse registro e faz o encaminhamento do requerimento ao Poder
Judiciário, também de maneira online. Se for necessário, a Polícia Civil contata a
vítima, para obter informações complementares que serão úteis à investigação.
Destacamos também a iniciativa do Governo Federal, que, por intermédio do
Ministério da Justiça e Segurança Pública, desenvolveu e disponibilizou plataforma
própria para funcionamento da Delegacia Virtual aos Estados interessados.
Atualmente, os Estados do Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Bahia, Piauí, Rio
Grande do Norte, Roraima, Sergipe e Tocantins se valem desse serviço.
73
- Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180
74
- Casas-Abrigo
Como vimos, grande parte das violências cometidas contra as mulheres são
praticadas no ambiente em que deveria ser o mais seguro e sagrado: o próprio lar.
Assim, quando a mulher toma providências para cessar com o ciclo de violência,
muitas vezes, ela se vê materialmente desamparada, desassistida, literalmente sem
ter para onde ir e levar seus filhos.
Ainda, é comum situações em que a mulher vítima de violência doméstica
esteja isolada, morando em cidade diferente de seus familiares e não tem rede de
apoio de amigos, que possa acolhê-la materialmente.
Em outros casos, a violência é tamanha que os familiares e amigos da vítima
não querem “se envolver”, por medo de se colocarem também em risco e virem a
sofrer retaliação pelo agressor.
Diante desse cenário, muitas mulheres que pedem ajuda do Estado para
romper com a violência a que estão submetidas precisam de um local seguro, para
onde elas possam ir, provisoriamente, junto com sua prole.
Nesse contexto, surgem as casas-abrigo: locais seguros que oferecem moradia
protegida e atendimento integral e especializado a mulheres em risco de vida iminente
em razão da violência doméstica.
Assim, as casas-abrigo são sediadas em local sigiloso, acessível somente a
pessoas e órgãos autorizadas. O abrigamento se dá em caráter temporário, no qual
as usuárias permanecem por um período determinado, durante o qual deverão reunir
condições necessárias para retomar o curso de suas vidas.
Contudo, o Brasil ainda tem muito a avançar no que se refere à criação desse
serviço. Conforme pesquisa feita pelo IBGE, em 2018, somente 2,4% dos municípios
possuíam casas-abrigo de gestão municipal para mulheres em situação de violência
doméstica. No nível estadual, naquele ano, existiam 43 casas-abrigo em todo o Brasil.
Assim, nós, enquanto profissionais de segurança pública, temos que estar
atentos à necessidade de implementação desse serviço, que é direito de todas as
mulheres.
75
PARA REFLETIR!
76
exercia a competência nos termos previsto na Lei nº 11.340/2006. Nas demais, a
competência cível se restringia às medidas protetivas de urgência9.
Segundo a Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), os Juizado poderão contar
com equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais
especializados nas áreas psicossocial, jurídica e da saúde.
Nesse campo, destaca-se a possibilidade de que esses atendimentos sejam
feitos por servidores do próprio Poder Judiciário ou por convênios com núcleos
universitários ou de parceria com o Poder Executivo.
Além disso, é importante que se observe que, no âmbito judicial, a mulher tenha
oportunidade ser devidamente informada, orientada e escutada. Por não se tratar de
vítimas de crimes comuns, é comum que as mulheres tenham necessidade de falar
mais do que sobre simples questões técnicas relacionadas à materialidade do crime,
e o Poder Judiciário também deve ser local para essa escuta.
No tocante à importância dos Juizados Especiais de Violência Doméstica,
destacamos o trecho do Projeto de Pesquisa do Conselho Nacional de Justiça10:
A pesquisa mostrou que a especialização na matéria tende a garantir
que os ritos previstos na Lei Maria da Penha, como a realização de
audiências de retratação, sejam observados com mais atenção; que os
espaços físicos estejam mais adequados ao atendimento das mulheres
em situação de violência, garantindo-lhes privacidade e escuta
sensível; e que as equipes multiprofissionais estejam disponíveis e
sejam acionadas pelo juízo em diferentes momentos do processo.
Contudo, embora não haja dúvidas de que a especialização das
unidades na matéria é um ganho para o tratamento dos casos, a
pesquisa evidenciou o fato de que o perfil do/a magistrado/a que
responde pela vara/juizado é fator decisivo na qualidade do
atendimento prestado às mulheres.
9
Conselho Nacional de Justiça, 2019. O Poder Judiciário no Enfrentamento à Violência
Doméstica e Familiar Contra as Mulheres. p. 18 Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/conteudo/arquivo/2019/08/7918e2dc8e59bde2bba84449e36d3374.pdf>. Acesso em
03.05.2022
10 Conselho Nacional de Justiça, 2019. O Poder Judiciário no Enfrentamento à Violência
O Ministério Público tem por função, dentre outros, de promover a ação penal
pública e zelar pelos direitos assegurados pela Constituição Federal.
Ante a complexidade da violência doméstica, a fim de poderem desempenhar
essas funções com excelência, assim como é importante a criação de Juizados
Especializados de Violência Doméstica, da mesma forma, é importante a criação de
Promotorias de Justiça Especializadas para lidar com a matéria.
Ressalta-se que, no dia a dia, é comum nos depararmos com situações de
grande complexidade, cujas demandas superam o poder de atuação imediata da
polícia. Nesses casos, é sempre salutar o contato com o Ministério Público que, como
fiscal da lei, pode intermediar para que as providências multidisciplinares ou judiciais
sejam tomadas.
Como exemplos, citamos situações em que a vítima está incapacitada por
alguma enfermidade, e os familiares não adotaram as medidas cíveis relacionadas à
curatela; quando os filhos menores da vítima estão tendo seus direitos de filiação
negligenciados e nenhuma providência judicial foi tomada; quando a vítima não
consegue ter acesso a atendimento médico. Nessas situações, é possível que o
Ministério Público adote providências em defesa dos direitos dessa mulher e, por isso,
é importante que ela seja orientada a procurar o Ministério Público ou, até mesmo, a
própria polícia poderá intermediar essa provocação.
Além disso, destacamos, também, ações de iniciativa dos Ministérios Públicos
dos Estados no combate à violência doméstica ou familiar contra a mulher, como a
criação de grupos reflexivos de homens, autores de violência, tal como os promovidos
pelo Ministério Público do Paraná.
PARA REFLETIR!
78
Tem interesse em saber diretrizes para implementação de
grupos reflexivos destinados a homens autores de violência?
Conheça o Manual de Orientação para Integrantes do Ministério
Público:
<https://direito.mppr.mp.br/arquivos/File/NUPIGE/manual_orientacao
_Nupige.pdf>.
- Defensoria Pública
79
serviço da Defensorias Públicas seja colocado à disposição das vítimas de violência
doméstica ou familiar contra a mulher.
Assim, diante da importância de que a vítima de violência doméstica ou familiar
tenha a devida assistência jurídica, nas comarcas maiores onde a Defensoria Pública
é mais bem estruturada, existem Núcleos Especializados para a prestação desse
serviço.
PARA REFLETIR!
PARA REFLETIR!
80
PARA REFLETIR!
81
da federação, para que cada qual tenha acesso a outras experiências e, a partir disso,
se construa normatizações mais adequadas a cada realidade.
Diante da importância de se estabelecer padronizações, em nível federal,
temos o Protocolo Nacional de Investigação e Perícias nos Crimes de Feminicídio,
lançado no ano de 2020, pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, que visa
harmonizar procedimentos investigativos entre os profissionais de segurança pública
de todo o país (polícias civis, polícias militares, órgãos de perícias criminais e de
medicina legal).
Por sua vez, para ajudar na implementação desse Protocolo Nacional,
destacamos a publicação do documento “Diretrizes para investigar, processar e julgar
com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres”, pela ONU Mulheres em
parceria com a Secretaria de Polícias para Mulheres, cujo objetivos citamos11:
11Diretrizes Nacionais para investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes
violentas de mulheres (feminicídios). Brasília-DF, 2016, Disponível em:
<https://oig.cepal.org/sites/default/files/diretrizes_para_investigar_processar_e_julgar_com_perspectiv
a_de_genero_as_mortes_violentas_de_mulheres.pdf>. Acesso em: 14, mai. de 2022.
82
PARA REFLETIR!
Finalizando
83
Referências Bibliográficas
84
______. Decreto nº 10.906, de 20 de dezembro de 2021. Institui o Plano Nacional
de Enfrentamento ao Feminicídio. Disponível em: <https://www.in.gov.br/web/dou/-
/decreto-n-10.906-de-20-de-dezembro-de-2021-368988173>. Acesso em: 14, mai.
2022.
______. Lei Maria da Penha. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso
em: 14, mai. 2022.
85
______. Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12015.htm>. Acesso
em: 14, mai. 2022.
87
______. Resolução Conjunta nº 5, de 3 de março de 2020. Disponível em:
<https://atos.cnj.jus.br/files/original215815202003045e6024773b7dc.pdf>. Acesso
em: 14, mai. 2022.
DAVID, Renata Bernardes. “AQUI NÓS SOMOS ASSIM: UMA LEVANTA E PUXA A
OUTRA” – O APOIO SOCIAL COMO FERRAMENTA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE
EM UM GRUPO DE MULHERES COM DEFICIÊNCIA NO DISTRITO FEDERAL.In:
Pesquisasus: Coletânea de Trabalhos e Experiências da Mostra da Escola de
Governo Fiocruz-Brasília. Anais...Brasília(DF) Fiocruz, 2022. Disponível em:
<https//www.even3.com.br/anais/mostraescolafiocruzbsb/471505-AQUI-NOS-
SOMOS-ASSIM--UMA-LEVANTA-E-PUXA-A-OUTRA--O-APOIO-SOCIAL-COMO-
FERRAMENTA-DE-PROMOCAO-DA-SAUDE-EM-UM-GR>. Acesso em: 03, out.
2022.
88
content/uploads/2021/10/anuario-15-completo-v7-251021.pdf>. Acesso em: 14, mai.
2022.
Sesc. Departamento Nacional. Você não está sozinha : guia para entender a
violência de gênero / Sesc, Departamento Nacional, Fundação de População das
Nações Unidas. – Rio de Janeiro : Sesc, Departamento Nacional, 2021. 34 p. : il. ;
21 cm.
89
______. Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres: Assistência
Social – (OMV/SF). Youtube, 31 de mai. de 2021. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=f-UCrQweZEo>. Acesso em: 14, mai. 2022.
90
______. Entendendo a Lei Maria da Penha. Medidas Protetivas e agora? Mulher.
Disponível em: <https://www.tjdft.jus.br/informacoes/cidadania/nucleo-judiciario-da-
mulher/documentos-e-links/arquivos/medidas-protetivas-e-agora-mulher.pdf>.
Acesso em: 16, mai. 2022.
91