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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
SECRETARIA DE GESTÃO E ENSINO EM SEGURANÇA PÚBLICA
DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA
COORDENAÇÃO-GERAL DE ENSINO
COORDENAÇÃO DE ENSINO A DISTÂNCIA

CONTEUDISTAS
Camila Reis Guimarães Baleeiro
Natália Cybelle Lima Oliveira

REVISÃO
Alice Borges Mendonça

PRODUÇÃO (APOIO)
Beatriz Beserra Mendes

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Daniele Rosendo dos Santos
Márcio Raphael Nascimento Maia

SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

PROGRAMAÇÃO E EDIÇÃO
Lúcio André Amorim
Renato Antunes dos Santos

DESIGNER
Fagner Fernandes Douetts
Renato Antunes dos Santos

DESIGNER INSTRUCIONAL
Wagner Henrique Varela da Silva

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Sumário
Apresentação do Curso ................................................................................... 6

Objetivos do Curso .......................................................................................... 9

Estrutura do Curso ......................................................................................... 10

Módulo I - PRINCÍPIOS BÁSICOS DA BIOLOGIA E SUAS APLICAÇÕES NA


GENÉTICA FORENSE .................................................................................... 11

Apresentação do módulo ....................................................................................11

Objetivos do módulo ............................................................................................11

Estrutura do módulo.............................................................................................11

Aula 1 - O estudo da Biologia na resolução de crimes .....................................12

Aula 2 - A importância do material genético e aplicações práticas dos


conhecimentos da Genética ................................................................................15

Aula 3 - A Genética Forense e como ela auxilia na resolução de crimes ........22

Finalizando ............................................................................................................30

Módulo II - HISTÓRICO DA UTILIZAÇÃO DO DNA NA RESOLUÇÃO DE


CRIMES E FUNDAMENTAÇÃO LEGAL ......................................................... 31

Apresentação do módulo ....................................................................................31

Objetivos do módulo ............................................................................................31

Estrutura do módulo.............................................................................................31

Aula 1 - Aspectos históricos da utilização do DNA na resolução de crimes ..32

Aula 2 - Utilização das Técnicas de Identificação pelo DNA no Brasil e no


Mundo ...................................................................................................................37

2.1 Normas internacionais relacionadas aos Bancos de Perfis Genéticos:


.................................................................................................................. 38

AULA 3 – Arcabouço Legal Brasileiro que Normatiza a Identificação Genética


Criminal e Inclusão de Perfis Genéticos em Bancos de DNA. .........................42

Finalizando ............................................................................................................49

3
Módulo III - NORMAS E UTILIZAÇÃO DOS BANCOS DE PERFIS GENÉTICOS
......................................................................................................................... 51

Apresentação do módulo ....................................................................................51

Objetivos do módulo ............................................................................................51

Estrutura do módulo.............................................................................................51

Aula 1 - A importância do Banco de Perfis Genéticos ......................................52

Aula 2 - Normas Legais Aplicadas aos Bancos de Perfis Genéticos ...............55

Aula 3 - Sistema de Gestão de Qualidade dos Laboratórios Integrados à RIBPG


...............................................................................................................................62

Aula 4 - Casos resolvidos com o auxílio do Banco de Perfis Genéticos .........66

Finalizando ............................................................................................................71

Módulo IV - PROCEDIMENTOS BÁSICOS PARA A REALIZAÇÃO DE


COLETA DE DNA DE CONDENADOS ........................................................... 72

Apresentação do módulo ....................................................................................72

Objetivos do módulo ............................................................................................73

Estrutura do módulo.............................................................................................73

Aula 1 - Fundamentação Legal sobre Procedimentos Relativos à Coleta de


Material Biológico de Condenados .....................................................................74

1.1 Sistema prisional e coleta de material biológico: ............................. 81

1.2 Fluxo de Trabalho: ........................................................................... 82

1.3 Codificação de Amostras de Referência oriundas da coleta obrigatória


84

Aula 2 - Introdução à Biossegurança e Equipamentos de Proteção Individual


...............................................................................................................................87

2.1 Introdução à Biossegurança ............................................................ 87

2.2 Riscos Biológicos envolvidos na coleta de materiais biológicos ...... 93

2.3 Equipamentos de proteção individual .............................................. 96

Aula 3 - Técnicas de coleta de Amostras de Referência ............................... 102

4
3.1 Etapas a serem realizadas antes das coletas ................................ 105

Aula 4 - Acondicionamento, Armazenamento e Transporte de Amostras de


Referência para as Unidades Periciais de Processamento ........................... 117

4.1 Armazenamento e transporte de amostras de mucosa oral coletadas


com suabes estéreis ............................................................................... 118

4.2 Armazenamento e transporte de amostras de mucosa oral coletadas


com cartões FTA® .................................................................................. 119

Finalizando ......................................................................................................... 120

Referências Bibliográficas .......................................................................... 121

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Apresentação do Curso

Caro(a) aluno(a),

Seja bem-vindo(a) ao Curso Coleta de DNA em condenados:


Legislação e Procedimentos!

Esperamos que durante essa jornada, você possa conhecer um pouco


mais sobre a utilização da Genética Forense na aplicação da justiça, e como a
Coleta de DNA (Ácido Desoxirribonucleico) de condenados pode contribuir para
esse processo. Para isso, convidamos você a trilhar um caminho de
conhecimentos essenciais para que se possa entender o potencial da parceria
entre a Ciência e a Justiça.

Para que a Justiça possa ser aplicada de maneira igualitária e objetiva,


muitas vezes é necessário a aplicação da Ciência para a resolução de crimes e
outras questões legais do nosso dia a dia. Por esse motivo, surgiu a necessidade
da criação de um dos ramos das ciências naturais: As Ciências Forenses! Mas
o que vem a ser isso? As Ciências Forenses atuam no processo de geração e/ou
transferência de conhecimentos científicos e tecnológicos, com a finalidade de
aplicação na análise de vestígios e visam responder questões científicas de
interesse da Justiça.

Dentro dessa grande árvore de conhecimento, a Genética Forense é um


ramo muito importante, pois ela trata da utilização dos conhecimentos e das
técnicas da Genética e da Biologia Molecular, para auxiliar nas respostas das
demandas judiciais. Há mais de vinte anos é amplamente utilizada para
demonstrar a culpabilidade dos criminosos, isentar os inocentes, identificar
corpos e restos humanos, determinar paternidade com confiabilidade
incondicional, elucidar trocas de bebês em berçários, detectar substituições e
erros de rotulação em laboratórios de patologia clínica, entre inúmeras outras
aplicações.

A aplicação dessa ciência é especialmente importante na investigação da


autoria de crimes. Para isso, a genética forense busca comparar os perfis

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genéticos de materiais biológicos encontrados em cenas de crimes, com os
obtidos de amostras coletadas de suspeitos, sendo na maioria das vezes, uma
ciência comparativa. Contudo, durante muito tempo, sua aplicação ficou
limitada à apresentação de suspeitos pela autoridade policial. E foi justamente
para superar essa limitação, que foi criado o conceito de Bancos de Perfis
Genéticos, mas o que vem a ser isso?

Pode ser feita uma analogia com uma grande biblioteca virtual, onde de
um lado são depositadas as informações dos perfis genéticos relacionados aos
mais diversos ilícitos penais, e do outro, as informações de indivíduos que já
foram condenados por crimes, de acordo com as disposições legais aplicáveis.
A partir daí, os bancos têm a função de comparar esses perfis, a fim de detectar
coincidências, e assim, quando elas ocorrem entre um perfil de vestígios
criminais com o de um condenado, é possível indicar a autoria de um crime que
antes não tinha solução. Este é apenas um exemplo do potencial dessa
ferramenta, e nós esperamos que durante esse curso você navegue por toda
essa gama de possibilidades que ela nos dá, no auxílio às demandas da
sociedade.

O sucesso dessa ferramenta na solução de crimes, depende


primordialmente de uma coleta bem feita do material biológico dos condenados
reclusos no sistema prisional, de maneira que se permita a identificação
genética, de acordo com o Art. 9º da Lei nº 12.654/2012.

Uma coleta de qualidade, permite não só a solução de crimes, mas


também garante que os resultados das análises seguintes a partir dessa coleta,
sejam CONFIÁVEIS!

Para isso, é imprescindível que o profissional que irá realizar o


procedimento detenha os conhecimentos dos fundamentos e das técnicas, para
que a coleta do DNA dessas pessoas ocorra da melhor forma. Erros na
identificação de amostras, no acondicionamento desses materiais e na
organização dos documentos, podem levar a problemas como a falsa imputação
de crimes, por exemplo, o que além de impedir a aplicação da justiça da maneira
correta, diminui a confiança da sociedade no serviço prestado por essa área
essencial à Segurança Púbica.

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Assim, devido à necessidade de padronização dos procedimentos e
técnicas para a realização de coleta de Amostras de Referência de DNA em
indivíduos condenados pelos crimes descritos na Lei nº 12.654/2012, pelos
profissionais que integram o Sistema Único de Segurança Pública (Susp),
visando a inclusão em Banco de Perfis Genéticos, é que o presente curso foi
criado.

A aclimatação inicial é fundamental para se conhecer ao ambiente virtual


de aprendizagem, entender o funcionamento do curso e realizar os estudos de
forma tranquila.

Leia o conteúdo com atenção, navegue nos links indicados, realize os


exercícios e reflita sobre as possibilidades de aplicação.

Preparado?

Então, vamos lá!

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Objetivos do Curso

A finalidade deste curso é, desenvolver competências básicas para que


os profissionais do Sistema Único de Segurança Pública (Susp) conheçam quais
são os procedimentos e técnicas necessárias, para realizar a coleta de material
biológico de condenados de forma padronizada e segura, à luz dos crimes
previstos pela legislação vigente, objetivando a inserção de perfis de DNA em
Bancos de Perfis Genéticos.

Esse curso criará condições para que você possa:

• Entender o disposto na Lei nº 12.654/2012 e demais normas legais


relacionadas e suas aplicações práticas na Perícia Criminal brasileira;
• Compreender a importância do DNA como ferramenta de identificação
humana, bem como o uso do Banco de Perfis Genéticos nas
investigações criminais envolvendo indivíduos alcançados pelos crimes
enquadrados em leis específicas;
• Elaborar um fluxo de trabalho para realização de coletas em instituições
criminais, em concordância com os requisitos e documentações
necessárias para sua execução;
• Utilizar corretamente os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), bem
como aplicar as práticas de Biossegurança.;
• Realizar as técnicas de coleta de amostras biológicas de condenados
para exames de DNA, seguindo os procedimentos padrões de
identificação, armazenamento, acondicionamento e transporte de tais
amostras, objetivando a inserção de perfis de DNA em Bancos de Perfis
Genéticos.

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Estrutura do Curso

O curso tem carga horária de 40 horas/aula e é totalmente ofertado na


modalidade a distância, por meio do Ambiente Virtual de Ensino e
Aprendizagem, em que são disponibilizados os conteúdos do curso, sendo de
responsabilidade do discente acessar o Ambiente Virtual para realizar o estudo
e as atividades obrigatórias.

Para um melhor aprendizado sobre os tópicos a serem abordados, o


conteúdo foi disponibilizado em 4 (quatro) módulos:

Módulo 1 – Princípios Básicos da Biologia e suas aplicações na Genética


Forense.

Módulo 2 – Histórico da Utilização do DNA na Resolução de Crimes e


Fundamentação Legal.

Módulo 3 – Normas e Utilização dos Bancos de Perfis Genéticos.

Módulo 4 – Procedimentos básicos para a realização de coleta de DNA de


condenados.

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Módulo I - PRINCÍPIOS BÁSICOS DA BIOLOGIA E SUAS
APLICAÇÕES NA GENÉTICA FORENSE

Aqui iniciamos o caminho de conhecimentos que você deverá adquirir


para realizar a coleta de materiais biológicos de condenados, com o objetivo de
inserção em Bancos de Perfis Genéticos. Porém, para que você possa
compreender todos os aspectos necessários para realizar esta tarefa da forma
certa e entender qual o propósito dela, temos que começar a jornada de dentro
para fora. Entender um pouco da nossa biologia será essencial para trilhar o
caminho do aprendizado.

Esse módulo pretende criar condições para que você possa:

• Conhecer um pouco do funcionamento do nosso DNA, do que trata a


genética forense e como a nossa biologia pode ser fundamental na
resolução dos mais diversos crimes;
• Entender como os conhecimentos básicos da biologia do corpo humano
podem auxiliar na resolução de crimes;
• Conhecer o trabalho da Genética Forense e como ela auxilia na resolução
de crimes; e
Compreender a importância de coletar corretamente o material genético.

Este módulo compreende as seguintes aulas:

Aula 1 - O estudo da Biologia na resolução de crimes.

Aula 2 - A importância do material genético e aplicações práticas dos


conhecimentos da Genética.

Aula 3 - A Genética Forense e como ela auxilia na resolução de crimes.

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Bom meu caro aluno, vamos então começar a entender quais os aspectos
do nosso corpo que permitem que os conhecimentos da biologia possam auxiliar
tanto na resolução de crimes, quanto no fornecimento de provas técnicas
capazes de subsidiar a aplicação da justiça. Para isso precisamos entender
aspectos mais básicos de como o nosso corpo funciona e do que se trata o DNA,
que é a ferramenta de estudo e aplicação prática da Genética Forense.

Como sabemos, o corpo humano, e o de boa parte dos demais seres


vivos, é formado por diferentes órgãos, cada um com uma função essencial, que
juntos permitem que ele funcione de maneira adequada. Cada um desses órgãos
é indispensável, pois realiza uma função única dentro daquele organismo. Como
exemplo temos o nosso coração, que funciona como uma bomba, mantendo o
nosso sangue em movimento, as veias e artérias que funcionam como vias de
transporte para que o sangue bombeado pelo coração chegue aos demais
órgãos e possa levar oxigênio para o nosso corpo.

Na figura 1 podemos observar que são diversos e diferentes os órgãos do


nosso corpo, olhando de perto, percebe-se justamente essas diferenças que
possibilitam que cada um possa executar sua função dentro do todo. Enquanto
o nosso coração é um músculo robusto pela força física que deve ter para
bombear o nosso sangue e, fica numa parte central do nosso corpo, já a nossa
pele, precisa ter mais resistência para nos proteger do mundo externo e se
estende por todo nosso corpo, para desempenhar essa função. Então, imagine
como a vida seria possível se não houvesse essa diversidade de funções e
formas dentro da natureza do nosso corpo!

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Figura 1: Corpo humano
Fonte: SCD/EaD/Segen.

Agora é a hora de puxar na memória os aprendizados da escola, e lembrar


que todos os órgãos do nosso corpo são compostos de maneira fundamental de
unidades biológicas chamadas células. As nossas células são, basicamente, a
menor parte do nosso corpo que consegue funcionar com relativa independência
e com bastante funcionalidade. Ficou difícil entender? Vamos falar rapidamente
do que é uma célula e você poderá compreender melhor.

Dentro do estudo da vida, podemos perceber que, muitas vezes, a lógica


do maior se aplica ao menor. Muitas das funções que vemos no nosso corpo
acontece também nas nossas células, ou seja, as nossas células também
possuem seus órgãos, que nesse caso se chamam organelas, e que
desempenham funções que vão permitir o seu funcionamento.

Veja a respiração, por exemplo, assim como o nosso corpo precisa


respirar, a nossa célula também precisa. A diferença é que enquanto no nosso

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corpo são os pulmões os responsáveis por essa função, na célula as organelas
responsáveis por essa função, são as mitocôndrias. Enquanto a pele é a
responsável por recobrir o nosso corpo, nas células a membrana plasmática é a
responsável por essa função.

Se você observar bem, verá que todo sistema precisa


de um órgão que sirva como centro de comando, ou seja,
aquele que irá conectar cada uma das funções e dar sentido
ao todo. No caso do nosso corpo, poderíamos dizer que o
cérebro realiza essa função, visto que é o órgão
responsável por interpretar os sinais internos e externos,
encaminhando sinais através do sistema nervoso que
conecta todo o nosso sistema biológico. Na nossa célula, é
no DNA que encontramos as informações necessárias para
instruir e coordenar as funções que cada parte irá
desempenhar.

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Aula 2 - A importância do material genético e aplicações
práticas dos conhecimentos da Genética

O material genético que você carrega nas células que formam o seu
corpo, existem instruções capazes de orquestrar as mesmas funções biológicas
realizadas por todos os outros seres humanos à sua volta, como andar, respirar
e pensar. Podemos dizer, portanto, que o nosso DNA guarda todas as
semelhanças que temos entre nós, e com muitos outros seres da natureza.

Apesar das nossas semelhanças serem inúmeras, são as nossas


diferenças que possibilitam que o estudo do DNA possa auxiliar na resolução de
crimes. As diferenças que encontramos no DNA de uma pessoa para a outra,
bem como a influência de aspectos próprios do meio ambiente, são os principais
fatores responsáveis por fazer com que cada pessoa seja diferente da outra, isto
é, são essas diferenças que permitem que o nosso DNA, seja capaz de nos
atribuir uma identidade.

Verificando as semelhanças e diferenças quando comparamos o DNA de


pessoas distintas, pode ser feita uma analogia com o sistema de endereçamento
postal, no qual há milhares de indivíduos com o mesmo CEP, algumas centenas
com o mesmo endereço de rua, poucos com o mesmo número do edifício, alguns
com o mesmo número do apartamento, entretanto, apenas um com o nome e
sobrenome correspondentes a este endereço.

De maneira geral, o DNA de uma pessoa é formado pela combinação do


DNA da mãe, com o DNA do pai. As possibilidades de combinação entre o DNA
de duas pessoas são tão grandes que, é impossível, estatisticamente falando,
que uma pessoa seja igual à outra. Desse modo, as informações genéticas que
se traduzem nas características físicas e outros aspectos, como predisposição a
doenças e habilidades individuais que você possui, caro aluno, basicamente são
a combinação entre esses mesmos aspectos encontrados no DNA de seus pais.

São inúmeras as funções que são coordenadas pelo nosso DNA, tanto
em nível celular, quanto no nosso organismo como um todo. O nosso código
genético, que é como chamamos o conjunto de informações contidas no nosso

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DNA, funciona como uma gigantesca biblioteca, que manda instruções dentro de
um sistema complexo de transmissão de informações para que cada parte da
nossa célula e do nosso corpo, desempenhe a sua função a contento.

Figura 2: Animação de sequência de DNA


Fonte: https://giphy.com/gifs/Massivesci-massivesci-nhgri-human-genome-
7A1dYzGilg6vLi9CLp

VOCÊ SABIA?
O potencial de armazenamento de informações do DNA é tão
grande, que pesquisadores da Universidade de Harvard, utilizando
técnicas de bioengenharia e genética, conseguiram utilizar a molécula
de DNA como mídia de armazenamento, como uma espécie de
pendrive. Eles chegaram à conclusão de que com apenas um grama
de DNA é possível armazenar 700 terabytes de informações!

Acessa o link:
https://vimeo.com/47615970
e assista o vídeo caso você tenha curiosidade em saber como os
pesquisadores conseguiram transformar o DNA na mídia de armazenamento do
futuro.

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Agora podemos imaginar que, para dar conta de registrar essa quantidade
de informações, o nosso DNA teria que ter quilômetros de extensão, já que essa
molécula deve ser grande o suficiente para conter todas as instruções
necessárias à vida humana.

Foram feitas algumas estimativas por cientistas da área, que chegaram à


conclusão de que, se nós pudéssemos pegar o DNA de todas as células de uma
única pessoa e, esticá-lo até que ele formasse uma linha reta, a fita de DNA
alcançaria um comprimento equivalente a 140 vezes a distância da terra ao sol.
Mas como uma molécula desse tamanho cabe dentro de uma célula?

Figura 3: Comprimento do DNA humano


Fonte: https://unbelievable-facts.com/2016/08/science-facts.html/human-dna-length

Para responder essa pergunta, é necessário que você conheça alguns


aspectos sobre a estrutura do DNA. Você pode imaginar como é difícil
representar e estudar compostos químicos e biológicos, principalmente por se
tratar de estruturas invisíveis aos olhos, por isso pesquisadores e estudiosos da
área, buscam criar formas de representar estruturas biológicas, como a molécula
de DNA, a partir dos elementos químicos que a compõe.

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A partir dos mais diversos estudos na área, chegou à conclusão de que o
DNA é formado, essencialmente, por quatro tipos de unidades chamadas
nucleotídeos que, se diferenciam entre si de acordo com suas características
químicas. Com o propósito de facilitar os estudos na área, os quatro tipos de
unidades que formam o nosso DNA são representados pelas letras A,G,C e T,
que correspondem aos compostos denominados adenina, guanina, citosina e
timina, respectivamente.

Figura 4: Quatro tipos de unidades que formam o DNA


Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

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Regiões codificantes

Dentro dessa grande molécula, existem as chamadas regiões


codificantes que orientam a produção de proteínas e estão relacionadas às
mais diversas funções do nosso corpo, e essas regiões são chamadas genes.
São nos genes que encontramos as informações genéticas relacionadas não só
ao funcionamento do nosso corpo, mas a todas as características físicas que
apresentamos, que é chamada na biologia de fenótipo.

Regiões não codificantes


Hoje se sabe que menos de 10% do nosso DNA, é formado de genes,
sendo a maior parte deles formados de regiões não codificantes, ou seja,
regiões que não são responsáveis por nenhuma função biológica conhecida, ou
característica física que apresentamos. Essas regiões apresentam grande
variabilidade entre os indivíduos e muitas regiões repetitivas, o que faz com que
sejam muito úteis na identificação genética, e são elas as regiões utilizadas para
os estudos da Genética Forense.

Regiões não codificantes


Segundo se sabe, atualmente a molécula de DNA é formada por duas
fitas que se complementam e se dispõe em um padrão helicoidal, compostas
pelos quatro tipos de nucleotídeos que detalhamos acima. Com o auxílio de
proteínas específicas, o material genético se compacta de maneira
extremamente organizada e se condensa ao máximo, até que possa caber
dentro do núcleo das nossas células. São essas estruturas condensadas e
enoveladas de DNA, localizadas no interior do núcleo das nossas células, que
chamamos de cromossomos.

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Figura 5: Representação do DNA
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/dna.htm - modificado

Vemos nessa figura, como os nucleotídeos se complementam formando


uma fita dupla, que se organiza de forma helicoidal e se compacta até formar os
cromossomos. Os cromossomos representam a forma mais compactada do
nosso DNA e, é essa organização, que permite que essa molécula tão extensa
possa ficar acomodada no núcleo das nossas células!

Logo, o conjunto de cromossomos encontrado no interior de cada uma


das células nucleadas de uma pessoa, reúne todas as suas informações
genéticas. Os seres humanos possuem dentro de suas células 23 pares de
cromossomos, portanto, totalizando 46 cromossomos, dentre os quais 23 são de
herança materna e 23 de herança paterna.

Dos 23 cromossomos que recebemos de cada um de


nossos pais, 22 são chamados de autossômicos, que estão
relacionados às características comuns entre indivíduos do
sexo masculino e do sexo feminino, e um deles é chamado
de cromossomo sexual. Após a união dos gametas, é
formada uma única célula que contém 22 pares de
cromossomos autossômicos e dois cromossomos sexuais.

Existem dois tipos de cromossomos sexuais, o cromossomo X e o


cromossomo Y, a sua combinação vai definir o sexo do indivíduo formado após

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a fecundação dos gametas. Um indivíduo do sexo feminino apresenta dois
cromossomos X, enquanto o do sexo masculino, possui um cromossomo X e um
cromossomo Y.

A partir dessas informações, podemos afirmar que qualquer indivíduo tem


no seu DNA, metade da informação genética herdada de sua mãe e metade
herdada de seu pai. Mas se isso acontece,

Figura 6: Para refletir


Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

A variabilidade entre irmãos e, entre os indivíduos em geral, ocorre porque


no processo de formação dos gametas (óvulos e espermatozoides) ocorre um
processo de recombinação genética que, confere grande variabilidade ao DNA,
de forma que nenhum gameta é igual ao outro. Por isso, mesmo que dois irmãos
tenham sido formados da união dos gametas do mesmo pai e da mesma mãe,
eles apresentarão características genéticas e físicas distintas. O conjunto de
informações genéticas obtidas a partir da análise de regiões encontradas nos
cromossomos autossômicos, é chamado de perfil genético.

Enquanto a variabilidade genética ocorre com maior frequência nos


cromossomos autossômicos, esse evento não ocorre com a mesma intensidade
com os cromossomos sexuais. Por esse motivo, uma pessoa do sexo masculino
possui um Cromossomo Y herdado de seu pai, quase que inalterado, ou seja,
sem grandes variações no seu DNA. O conjunto de informações genéticas
obtidas a partir da análise de regiões encontradas neste cromossomo é chamado
Haplótipo do Cromossomo Y.

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Aula 3 - A Genética Forense e como ela auxilia na resolução
de crimes

Bom, após essa breve jornada dentro do nosso corpo, vamos entender o
seguinte questionamento:

Figura 7: Para refletir


Fonte: do conteuditsa; SCD/EaD/Segen.

Para responder essa pergunta, vamos entrar agora no estudo da Genética


Forense, uma área muito importante dentro das Ciências Forenses.

As Ciências Forenses atuam no processo de geração e/ou transferência de


conhecimento científico e tecnológico em cada um dos ramos das ciências
naturais, com a finalidade de aplicação na análise de vestígios, buscando
responder questões científicas de interesse da Justiça. Uma das principais
ciências forenses, é a Genética Forense, que trata da utilização dos
conhecimentos e das técnicas da Genética e da Biologia Molecular no auxílio à
justiça.

As técnicas de biologia molecular aplicadas à área criminal, concentram-


se em grande parte, em análises do DNA para identificação de um indivíduo a
partir da análise de vestígios biológicos como cabelos, manchas de sangue e
fluidos corporais, dentre outros itens recuperados no local do crime. Contudo, de
que forma esses materiais biológicos acabam sendo transferidos para os
vestígios coletados nesses locais?

22
Cada vez que entramos em contato com quaisquer
pessoas, ou objetos ao nosso redor, deixamos neles um
pouco de nós. Parece poesia, mas na verdade quem explica
esse fenômeno é a física. A Teoria de Locard, que foi
postulada pelo cientista Edmond Locard, nos diz, de
maneira resumida, todo contato deixa uma marca. Qualquer
indivíduo que comete um crime, por exemplo, entrará
invariavelmente em contato com diversos objetos ao seu
redor, então para efetuar um roubo, uma pessoa precisará
de ferramentas, abrir portas, gavetas, utilizar um veículo,
entre muitas outras ações e movimentos que, irão gerar um
contato e consequentemente deixará uma marca.

Na prática
Vamos supor que uma câmera de segurança, por exemplo,
filma o exato momento em que uma pessoa toca na maçaneta da
porta de um imóvel, para cometer um furto. Se pudéssemos aproximar
aquela imagem muitas e muitas vezes, até um nível microscópico,
veríamos as células da pele daquele indivíduo se soltando e ficando
presas ao material daquela maçaneta que, conforme você pôde
observar durante a leitura desse módulo, carregam dentro delas a
identidade genética do autor daquele fato.

A partir daí é possível concluir que quanto maior o contato, maior também
será essa marca. Se este mesmo indivíduo do nosso exemplo anterior, se
cortasse numa janela do imóvel alvo de furto, o sangue que ficaria impregnado
no vidro carregaria ainda mais células e, consequentemente, muito mais cópias
do DNA do autor daquele crime. Quanto mais células do autor estiverem
presentes num objeto, maiores são as chances de obter um perfil genético
daquele material, o que aumenta inclusive a sua capacidade de identificar aquele
indivíduo.

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É isso que ocorre em grande parte dos crimes cometidos todos os dias. Os
contatos deixam como rastro o material biológico dos indivíduos envolvidos, ou
seja, as células do autor de um crime ou de vítimas, que serão coletadas pela
equipe de Perícia Criminal no local de crime e encaminhadas ao Laboratório de
Genética Forense.

As tecnologias utilizadas na Genética Forense, permitem que o DNA


presente naquele material encaminhado seja extraído do interior dessas células.
Após a extração, o Laboratório poderá proceder com a etapa de Quantificação,
que serve para estimar a quantidade e qualidade do DNA encontrado naquela
amostra. Posteriormente, as cópias de DNA ali presentes, serão multiplicadas
muitas e muitas vezes em uma etapa chamada de Amplificação. Além de
multiplicar as cópias de DNA, nesta etapa também ocorre a marcação do DNA
com sondas que emitem fluorescência, que serão captadas por um analisador
genético na etapa da genotipagem do DNA.

Na figura abaixo, você pode conferir algumas dessas etapas e sua ordem
de acontecimentos, a fim de facilitar a sua compreensão. Você pôde perceber
que a análise genética, necessita de diversas etapas e equipamentos, o que faz
com que demande tempo e recursos, tanto tecnológicos quanto humanos.

24
Figura 8: Etapas da análise genética
Fonte: PENA, 2005 (Modificado).
Ao fim da etapa de genotipagem, os dados gerados pelo equipamento são
interpretados por um software, que irá fornecer o produto final de análise da
Genética Forense: o Perfil Genético.

Na figura abaixo, temos um exemplo de um Perfil Genético


Autossômico obtido após o processamento de uma amostra coletada em um
local de crime. Nele podemos ver algumas informações que você já viu durante
a leitura deste módulo e que poderá reconhecer agora de maneira prática.
Observe que na porção superior da figura, vemos as regiões do DNA que serão
analisadas. Como você sabe, o DNA é uma molécula bastante extensa, e por
esse motivo é necessário que se escolham algumas regiões para análise
genética, que serão comparadas entre os perfis obtidos de diferentes amostras.

25
Figura 9: Exemplo de Perfil Genético Autossômico
Fonte: do conteudista/ SCD/EaD/Segen.

Podemos observar no perfil genético os cromossomos sexuais, que


indicarão o sexo do indivíduo: neste caso se trata de uma pessoa do sexo
masculino, pois vemos tanto o Cromossomo X, quanto o Cromossomo Y.

E por último, vemos ainda os marcadores presentes nos Cromossomos


Autossômicos. Se você prestar atenção, verá que na maioria das regiões são
apresentados dois picos, sendo um deles representante da herança materna e
o outro da herança paterna. Os números abaixo dos picos correspondem às
variantes alélicas e, na região em que vemos apenas um pico, temos um
exemplo de uma região na qual tanto a mãe quanto o pai do indivíduo
apresentavam o mesmo alelo genético naquela região.

Agora, na figura abaixo, você pode ver um exemplo da representação de


um Haplótipo do Cromossomo Y. Observe que diferente do Perfil Genético
Autossômico, no qual podemos constatar a contribuição materna e paterna,
neste caso temos apenas um pico representado na figura em cada região
analisada, já que as variantes alélicas presentes nesse cromossomo,
representam apenas a herança paterna do indivíduo.

26
Figura 10: exemplo da representação de um Haplótipo do Cromossomo Y
Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

Após obter o perfil genético, o Perito Criminal deverá proceder então com
sua análise e interpretação, mas como isso ocorre? Após rever um pouco dos
conceitos básicos da biologia, você viu que o DNA de uma pessoa é formado
pela combinação do material genético de seus pais, e que nesse processo
ocorrem eventos de recombinação genética que produzem um indivíduo único,
fazendo com que seja possível identificar uma pessoa, e distingui-la de qualquer
outra, através do perfil genético obtido a partir de seu DNA.

Você viu ainda que, a variabilidade genética que permite a


individualização do perfil genético de uma pessoa, ou seja, a distinção de seu
DNA do de qualquer outra, não ocorre nos cromossomos sexuais. Por isso, a
análise genética do cromossomo Y permite a identificação de uma linhagem
paterna, e não de um indivíduo em si, visto que homens de uma mesma família
apresentam, salvo raras exceções, o mesmo Haplótipo do Cromossomo Y.

A análise do Haplótipo do Cromossomo Y é especialmente importante na


resolução de crimes sexuais, pois o que ocorre muitas vezes é que o material da
vítima se encontra presente em maior proporção que o do autor do crime. Em
casos de vítimas do sexo feminino, que não apresentam o Cromossomo Y, no
processo de amplificação do DNA, as sondas presentes nos reagentes marcam
apenas as regiões do Cromossomo Y, de forma a isolar o material masculino
dentro daquela amostra.

27
Outro ponto relevante é que, já que o seu material genético é uma união
de cromossomos de seu pai e de sua mãe, a comparação de uma certa região
do seu DNA com a mesma região no DNA de um dos seus pais, permite que
sejam observadas semelhanças genéticas, o que possibilita que sejam
estabelecidos vínculos de parentesco entre duas pessoas a partir da análise
genética, o que ocorre nos chamados testes de paternidade.

Apesar desses testes serem comumente chamados dessa maneira, não


é apenas o vínculo de pai e/ou mãe com o seu filho que pode ser estabelecido a
partir dessas análises, sendo possível estabelecer outros vínculos familiares
como análise de irmandade. Dentro da genética forense, esses testes são muito
importantes quando se trata da identificação de pessoas de identidade
desconhecida ou desaparecidas, através da comparação de seu DNA, com o de
familiares em busca de seus parentes.

Você pôde ver até aqui que, a partir do material genético recuperado de
vestígios coletados de locais e vítimas de crimes, os Peritos Criminais do
Laboratório de Genética Forense são capazes de analisar os perfis genéticos
obtidos, o que possibilita tanto o estabelecimento de coincidências genéticas,
quanto a verificação de relações de parentesco entre indivíduos. Contudo, para
que essas relações possam ser estabelecidas, apenas o perfil genético obtido
do vestígio não é suficiente, tendo em vista que toda e qualquer análise genética
é realizada a partir da comparação entre perfis genéticos.

Nos casos em que se busca saber a quem pertence determinado material


biológico, é realizado o confronto genético entre o perfil obtido da amostra
coletada de um vestígio encontrado no local de crime – que é chamada de
Amostra Questionada, com o perfil obtido de um doador conhecido, que pode
ser um suspeito ou uma vítima – chamada de Amostra de Referência. Ao realizar
as comparações entre os perfis obtidos da Amostra Questionada e da Amostra
de Referência, o que se busca obter é uma coincidência genética, isto quer dizer
que o DNA comparado entre as duas amostras, deverá ser idêntico. Na figura
abaixo, podemos ver a coincidência entre os marcadores genéticos obtidos na
Amostra Questionada e os representados na Amostra de Referência coletada de
um suspeito.

28
Figura 11: Comparativo entre a amostra questionadas e a de referência
Fonte: da conteudista; SCD/EaD/Segen.

Desse modo, quando o objetivo é estabelecer relações de parentesco, se


compara o perfil genético coletado de uma pessoa cuja identidade é
desconhecida, com os obtidos das Amostras de Referência de seus supostos
pais, por exemplo. No caso em que se possui ambos os pais para a análise
comparativa, ao confrontar os perfis obtidos, se espera que metade do DNA da
Amostra Questionada seja idêntico ao DNA materno e metade idêntico ao DNA
paterno.

É dessa forma que a Genética Forense atua, buscando evidenciar


coincidências ou divergências genéticas, que poderão ser usadas para
demonstrar a culpabilidade dos criminosos, isentar os inocentes, identificar
corpos e restos humanos, determinar paternidade com confiabilidade

29
incondicional, elucidar trocas de bebês em berçários, dentre muitas outras
possibilidades que sejam de interesse da justiça.

Parabéns! Você chegou ao fim do nosso primeiro Módulo. Espero que


você tenha conseguido compreender alguns dos aspectos da nossa Biologia e
sua importância para a resolução dos mais diversos tipos de crime.

Neste módulo, você aprendeu que:

• Apesar de termos dentro do nosso corpo estruturas biológicas com


diferentes funções, todas elas são formadas pela união de células, que
guardam em seu núcleo o material genético de todo e qualquer ser
humano;
• A molécula de DNA é capaz de armazenar todas as informações
necessárias para o funcionamento do nosso corpo, e que através dela
podemos atestar as semelhanças e diferenças genéticas observadas
entre os indivíduos;
• A partir da análise de regiões específicas, é possível estabelecer um perfil
genético, que é único para cada indivíduo, o que confere ao DNA a
capacidade de estabelecer uma identidade. E é justamente por isso que
a análise do DNA é tão importante da resolução de crimes, pois a partir
dela podemos estabelecer a identidade de indivíduos que cometeram
crimes e que abandonaram seu material biológico nos vestígios coletados
pela Perícia Criminal;
• Os marcadores genéticos apresentam diferenças entre si, e podem
representar tanto regiões dos Cromossomos Autossômicos quanto do
Cromossomo Y;
• Através da análise comparativa, a Genética Forense é capaz de atestar
coincidências ou divergências entre esses marcadores, que permitem
verificar se determinado material biológico pertence a um indivíduo
suspeito de um crime, por exemplo.

30
Módulo II - HISTÓRICO DA UTILIZAÇÃO DO DNA NA
RESOLUÇÃO DE CRIMES E FUNDAMENTAÇÃO LEGAL

Agora que você já conhece os aspectos da nossa biologia básica que


auxiliam da resolução de crimes, e como a Genética Forense utiliza esses
conceitos em favor da justiça, vamos apresentar agora um breve histórico dessa
área de conhecimento para que você entenda o caminho percorrido até os dias
atuais. Adicionalmente, iremos apresentar o arcabouço legal que fundamenta a
utilização do perfil genético como forma de identificação criminal, quais as
limitações impostas pela Lei para a coleta do DNA de indivíduos apenados, bem
como para sua inserção em Bancos de Perfis Genéticos.

Esse módulo pretende criar condições para que você possa:

• Conhecer alguns aspectos históricos da utilização do DNA na resolução


de crimes;
• Compreender como essa ferramenta foi e é utilizada em diversos países
do mundo;
• Conhecer as normas internacionais relacionadas aos Bancos de Perfis
Genéticos; e
• Conhecer o arcabouço legal brasileiro que normatiza a Identificação
Genética Criminal e inclusão de perfis genéticos em Bancos de DNA.

Este módulo compreende as seguintes aulas:

Aula 1 - Aspectos históricos da utilização do DNA na resolução de crimes.

Aula 2 - Utilização das Técnicas de Identificação pelo DNA no Brasil e no Mundo.

Aula 3 - Arcabouço Legal Brasileiro que normatiza a Identificação Genética


Criminal e inclusão de perfis genéticos em Bancos de DNA.

31
Atualmente se fala bastante do DNA e das suas aplicações nos mais
diversos campos do conhecimento, principalmente nas áreas relacionadas à
saúde. Mas em que momento se pensou que esses conhecimentos também
poderiam auxiliar à Justiça?

Para responder essa pergunta, precisamos voltar um pouco no tempo e


apresentar para você um grande cientista que ajudou a revolucionar a forma
como o DNA era utilizado até então.

Alec John Jeffreys é um geneticista britânico, professor da Universidade


de Leicester (Inglaterra) que, em 1985 publicou um artigo na revista Nature,
revista de grande impacto no meio acadêmico, Neste trabalho, ele comenta
sobre certas regiões do DNA, denominadas regiões de minissatélites, que,
poderiam identificar uma pessoa com quase 100% de certeza e, é neste trabalho
que aparece pela primeira vez o termo “DNA Fingerprinting” ("impressões digitais
do DNA"). Até esse momento, as impressões digitais eram a forma mais utilizada
de identificação humana, já que também possuem a capacidade de
individualização, ou seja, demonstrar um padrão que é único para cada
indivíduo.

Figura 12: DNA


Fonte: https://giphy.com/gifs/dna-l1fWtMmQbuGvm

32
Apesar de se tratar de técnicas bem distintas, foi a partir dessa analogia,
que o geneticista abriu as portas para que outros cientistas pudessem explorar
as possibilidades de utilização do DNA como forma de identificação quando,
ainda na década de 80, afirmou que todos os indivíduos poderiam ser
identificados através de um padrão único de DNA.

No início houve muita dúvida sobre usar sua descoberta na área forense,
por se tratar de uma técnica inovadora, mesmo na área da biologia molecular e
genética, porém esse estudo impulsionou vários outros que se sucederam, o que
fez com que a década de 90 fosse considerada a era de ouro das pesquisas
sobre a identificação por meio do DNA.

As técnicas e formas de identificar as pessoas foram evoluindo com o


passar dos anos, hoje as regiões do nosso DNA que são utilizadas para
identificação, já estão bem definidas. Elas são amplamente utilizadas em todo o
mundo e estão em constante atualização, tanto em seus aspectos científicos
quanto tecnológicos, visto que se trata de uma ciência extremamente dinâmica.

Bom, depois de apresentar este breve histórico, vamos ao seguinte


questionamento:

Figura 13: Para refletir


Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

Oficialmente, o DNA foi usado pela primeira vez para resolver um


problema de imigração. Um jovem ganês que morava com a família na Inglaterra,
fez uma viagem para seu país de origem e, quando regressou para o Reino
Unido, teve sua entrada negada sob a acusação de documentação falsificada.
Foi então que o governo solicitou que Jeffreys usasse da sua recente descoberta
de identificação através da análise do DNA para solucionar o caso.

33
Através do exame de DNA, ficou comprovado que a família biológica do
rapaz residia mesmo na Inglaterra, possibilitando assim sua entrada no país
(JEFFREYS et al., 1985a). Caso você tenha curiosidade de saber como o
pesquisador trabalhou com esse caso, segue um vídeo em que Jeffreys explica
a técnica utilizada.

Acessa o link:
https://www.youtube.com/watch?v=L0OM5oQI46g&t=8s
e assista o vídeo que caso você tenha curiosidade em a técnica utilizada
por Jeffreys.

A técnica foi usada oficialmente na área forense para


investigar uma série de crimes ocorridos no ano de 1986,
envolvendo o estupro e homicídio de duas adolescentes,
Lynda Mann e Dawn Ashcroft, no vilarejo de Narborough,
na Inglaterra. Os crimes chocaram bastante a sociedade na
época, o que gerou um grande empenho para que eles
fossem solucionados. Nos dois crimes, a polícia coletou
amostras de sêmen encontrado no corpo das vítimas e, na
ocasião, um homem chamado Richard Buckland confessou
os dois crimes.

Foi nesse momento, que Jeffreys foi chamado para


utilizar a técnica de DNA para comparar os perfis obtidos do
sêmen coletado das vítimas, com o obtido da amostra de
Richard Buckland, quando verificou que eles eram
incompatíveis. Mas o que isso quer dizer? Isso significa que

34
o doador daquele material biológico, não poderia ser o
suspeito que confessou aqueles crimes. Posteriormente se
descobriu que Richard Buckland queria apenas publicidade
e ele entrou para a história como o primeiro homem a ser
inocentado através da análise do DNA.

Figura 14: Primeiro assassinato resolvido com o uso da genética: caso Leicester
Fonte: https://www.csiacademy.com.br/blog

A partir daí, se iniciaram buscas incansáveis para encontrar o assassino


das jovens. As autoridades de Narborough simularam uma campanha de doação
de sangue, e foram coletadas amostras de sangue de 3.600 homens — toda a
população masculina do lugar, com idade entre 14 anos e 40 anos. Daí em
diante, Alec Jeffreys pôde analisar o DNA de todas aquelas amostras, chegando
à conclusão de que nenhum daqueles homens poderia ser o estuprador.

Foi apenas em 1988, que uma mulher informou à polícia sobre uma
conversa que escutou, na qual um homem chamado Ian Kelly, funcionário de
uma padaria, afirmara que teria doado seu sangue no lugar de um colega
também padeiro, chamado Colin Pitchfork. A polícia foi então atrás de Colin, que
não teve uma alternativa, senão doar seu sangue para comparação com o DNA

35
do material coletado das vítimas, quando foi finalmente identificado como o autor
dos crimes, através do DNA, e se tornou o primeiro indivíduo a ser condenado
através da identificação genética.

O caso ficou extremamente famoso e foi feito inclusive um documentário


pela rede BBC da Inglaterra sobre ele, dada sua importância na história da
utilização da genética forense na resolução de crimes.

Figura 15: Colin Pitchfork, condenado pelos assassinatos em 1988.


Fonte: https://www.leicestermercury.co.uk/news/local-news/catching-britains-killers-
colin-pitchfork-3358060

De lá para cá, diversos outros crimes foram solucionados com a utilização


dos conhecimentos da genética forense. Essa ferramenta é bastante valiosa
tanto para encontrar a autoria de crimes não solucionados, quanto para inocentar
pessoas acusadas com base em provas frágeis, como o reconhecimento por
vítimas e/ou retratos falados, que apresentam maior subjetividade e que,
frequentemente, são responsáveis pela condenação de pessoas inocentes.

De lá para cá, diversos outros crimes foram


solucionados com a utilização dos conhecimentos da
genética forense. Essa ferramenta é bastante valiosa tanto
para encontrar a autoria de crimes não solucionados,
quanto para inocentar pessoas acusadas com base em

36
provas frágeis, como o reconhecimento por vítimas e/ou
retratos falados, que apresentam maior subjetividade e que,
frequentemente, são responsáveis pela condenação de
pessoas inocentes.

Aula 2 - Utilização das Técnicas de Identificação pelo DNA


no Brasil e no Mundo

O potencial de identificação de autoria de crimes por meio do DNA,


causou tamanho impacto, que essa nova realidade motivou inclusive a criação
de um projeto denominado “Innocence Project”, criado nos Estados Unidos em
1992 e que hoje já está presente em diversos outros países, inclusive no Brasil.
O projeto já conseguiu reverter diversas condenações equivocadas com o uso
de testes de DNA, sendo responsável por inocentar 350 pessoas através dessa
ferramenta desde sua criação, algumas com sentença de morte decretada.

Essa ferramenta também foi responsável por solucionar diversos casos


antigos, que já não tinham perspectivas de serem solucionados, chamados “Cold
Cases”. Isto se deve ao fato dessa ferramenta não ser utilizada à época do
cometimento do crime, por isso a análise de DNA trouxe uma nova possibilidade
de investigação, permitindo a conclusão de diversos casos.

37
Figura 16: Pense nisso
Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

Apesar dessa tecnologia já possuir mais de 30 anos, somente nos anos


2000 a técnica ganhou maior notoriedade na sociedade, a partir de casos como
o do menino Pedrinho. O caso ocorreu no ano de 1986, em Brasília, onde Maria
Auxiliadora Braule Pinto teve seu filho sequestrado por uma mulher que, se
passou por enfermeira do hospital onde ela deu à luz a seu filho, Pedro. A mulher
era Vilma Martins Costa, que registrou o menino como seu filho. Levou-o para
Goiânia, onde o criou até 2002. Através de uma denúncia anônima, teve seu
crime descoberto, o que ficou comprovado após a realização de testes de DNA.
Estes, confirmaram que seu filho, registrado como Osvaldo Martins Borges era,
na verdade, Pedro Rosalino Braule Pinto, o menino que havia sido sequestrado.

2.1 Normas internacionais relacionadas aos Bancos de


Perfis Genéticos:

Atualmente, o número de casos resolvidos em todo o mundo por meio da


prova de DNA cresce exponencialmente, contudo, até pouco tempo só era
possível realizar a comparação do material genético obtido de vestígios
criminais, com suspeitos encaminhados pelas autoridades policiais e judiciarias,
o que limitava bastante as possibilidades de indicação de autorias.

38
Com a implantação de um banco de dados de DNA, os perfis genéticos
obtidos de vestígios coletados de vítimas e em locais de crime, podem ser
confrontados a qualquer tempo com perfis de criminosos condenados, mesmo
que por outro tipo de crime e em qualquer estado da federação, aumentando
bastante as possibilidades de identificação dos autores dos mais diversos tipos
de crimes.

Ainda é possível fazer o cruzamento de dados com perfis de vestígios


obtidos de outras vítimas, e de outros locais de crime, estabelecendo a relação
entre diversos crimes cometidos por um mesmo indivíduo, o que viabiliza a
identificação de crimes em série.

O Federal Bureau of Investigation – FBI (Agência Norte Americana de


Investigação), foi pioneira na criação de um banco de perfis genéticos e tornou-
se a líder no desenvolvimento de tecnologias para a utilização de DNA na
identificação de criminosos. O sistema de Índice de DNA Combinado (CODIS -
Combined DNA Index System) criado pelo FBI, que começou como um projeto
piloto em 1990 e ganhou força em 1994, deu ao FBI a autoridade de estabelecer
um banco de dados em nível nacional, nos EUA, para fins de investigação
criminal.

Foram selecionadas 13 regiões do DNA, que não indicam características


físicas de indivíduos, e servem como padrão mínimo para todos os laboratórios
que utilizam o sistema com o intuito de comparar os perfis genéticos obtidos de
suspeitos e condenados com os perfis genéticos de vestígios cadastrados no
banco.

SAIBA MAIS!
O FBI disponibiliza gratuitamente este programa aos governos
dos países interessados em utilizá-lo na área de segurança pública.
Além dos aproximadamente 180 laboratórios de DNA que utilizam o
CODIS nos EUA, mais de 40 laboratórios também utilizam em outros
27 países.

39
Nos EUA

Como parte da Lei de Identificação de DNA dos EUA (DNA Identification


Act), todos os laboratórios de DNA operados pelo governo federal americano,
que recebem fundos federais ou que empregam software preparado para o
CODIS, são obrigados a demonstrar conformidade com os padrões e requisitos
de qualidade emitidos pelo FBI. Mesmo os demais países que utilizam o software
nos seus bancos de perfis genéticos, precisam comprovar que seguem padrões
mínimos de qualidade, o que demanda processos de avaliação contínua, que
visam ajudar os laboratórios criminais a cumprir as normas federais americanas,
para integrar o CODIS e utilizar as tecnologias de análise de DNA com fins
criminais de forma eficaz e confiável.

No Brasil
O Brasil iniciou a implantação do CODIS (Combined DNA Index System)
em seus estados a partir de 2010, após curso de formação que contou com a
participação de Peritos Criminais das unidades que possuíam, ou estavam em
vias de implantação de laboratórios forenses de DNA.

Em 2008, a Polícia Federal norte-americana (FBI) e a Polícia Federal


brasileira, firmaram a “Letter of Agreement”. Foi estabelecido um convênio entre
as instituições, já em 2009, durante a identificação de vítimas do acidente aéreo
com o voo AF 447 (Rio‐Paris), os Peritos Criminais do Departamento da Polícia
Federal, utilizaram‐se do software CODIS, para comparações entre perfis
genéticos de corpos de identidade desconhecida e dos familiares em busca de
seus parentes.

40
Figura 17: Testes de DNA permitem identificar vítimas do AF 447, diz França
Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/05/testes-de-dna-permitem-identificar-vitimas-
do-af-447-diz-franca.html

41
AULA 3 – Arcabouço Legal Brasileiro que Normatiza a Identificação
Genética Criminal e Inclusão de Perfis Genéticos em Bancos de
DNA.

Será que a implantação do sistema aconteceu de um dia para o outro?


Acho que você deve imaginar que foram necessárias muitas discussões,
principalmente no âmbito legal, para que esta ferramenta pudesse se adequar
ao ordenamento jurídico brasileiro e para que o banco de dados genéticos,
pudesse funcionar a contento no auxílio às investigações criminais no nosso
país.

Apesar dos bancos de perfis genéticos para persecução penal estarem


bem estabelecidos há cerca de vinte anos nos EUA, no Brasil, somente após a
Lei n° 12.654/2012, que prevê a coleta de perfil genético como forma de
identificação criminal, passou a admitir a coleta e armazenamento de dados em
bancos de perfis genéticos para identificação criminal.

SAIBA MAIS!
A Lei n° 12.654 foi sancionada em 28 de maio de 2012, e
alterou dispositivos da lei de identificação criminal e de
execução penal, passando a prever a coleta compulsória e
armazenamento de perfis genéticos em bancos de dados para
identificação criminal, no caso dos condenados por crimes
específicos e previstos em lei, conforme veremos a seguir.

Abaixo você pode observar uma linha do tempo que, resume as leis que
sustentam atualmente a coleta de DNA, a identificação genética e a comparação
de perfis genéticos em bancos de dados no Brasil:

42
Figura 18: Linha do tempo que, resume as leis que sustentam atualmente a coleta de DNA, a
identificação genética e a comparação de perfis genéticos em bancos de dados no Brasil.
Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

Agora que você sabe quais são as leis que servem de arcabouço legal
para a coleta de DNA de condenados, vamos conhecer mais a fundo o que cada
uma delas diz sobre o assunto? Entender um pouco dessas leis permite que os
servidores envolvidos no processo possam agir com legalidade, ou seja, dentro
dos limites impostos pela lei.

Como você deve saber, dentro do ordenamento jurídico brasileiro, existem


leis que funcionam como base para determinados procedimentos legais e que
são frequentemente alteradas por outras que se sucedem, com o intuito de
complementar assuntos abordados pela lei original. É exatamente disso que
vamos tratar agora.

Lei nº 7.210/1984
A Lei nº 7.210/1984, que instituiu os procedimentos para execução penal,
é a lei que serve como base para execução de penas relacionadas ao código
penal brasileiro. Desde a data da sua publicação, foram promulgadas outras leis
que, paulatinamente, foram alterando artigos específicos da Lei de Execução
Penal, de modo que em sua versão atual vemos que alguns de seus dispositivos
apresentam modificações posteriores à sua data de publicação.

43
Lei nº 12.037/2009
O mesmo aconteceu com a Lei nº 12.037/2009, que dispõe sobre a
identificação criminal do civilmente identificado e que também foi alterada por
leis posteriores. Esta lei foi a responsável por estabelecer quais os
procedimentos e limites para que pessoas presas pelos mais diversos crimes
sejam identificadas criminalmente, isto é, sejam submetidas a outras formas de
identificação que não aquela possibilitada pelo documento de identificação civil,
bem como a utilização destas formas de identificação no sistema penal e nos
processos relacionados às investigações policiais.

Lei nº 12.654/2012
Já a Lei nº 12.654/2012, prevê a coleta de perfil genético como forma de
identificação criminal e foi responsável por alterar dispositivos, tanto da Lei nº
7.210/1984, quanto da Lei nº 12.037/2009. Por conta disso, abordaremos agora
quais foram as principais modificações promovidas por esta Lei e como elas
impactaram o ordenamento jurídico brasileiro.

Bom, no que se refere à Lei nº 12.037/2009, a modificação principal


promovida pela Lei nº 12.654/2012, foi a inclusão do perfil genético como forma
de identificação criminal que anteriormente contemplava apenas a coleta de
impressões digitais e registros fotográficos dentro do sistema penal. Essa
modificação, apesar de parecer simples, abriu ainda mais os caminhos para que
a genética forense pudesse auxiliar as investigações criminais.

A identificação genética por se tratar de um mecanismo inovador no


ordenamento jurídico, naturalmente, gerou muitos questionamentos éticos e
morais em torno de sua utilização nas investigações criminais. Muitos desses
questionamentos, incluíam o fato de algumas técnicas de coleta de materiais
biológicos serem dolorosas e invasivas, além de que as informações genéticas
poderiam revelar características físicas dos indivíduos, o que poderia causar
desvios no seu real propósito de identificar pessoas com fins criminais.

44
Em suma, a preocupação era que os dados genéticos pudessem revelar
traços físicos, históricos de doenças, dentre outras características que
pudessem ser utilizadas por interesses tanto pessoais, quanto de empresas que
pudessem ter interesses financeiros nas informações genéticas dessas pessoas,
o que poderia ameaçar a liberdade e privacidade individual, além de causar
desvios de finalidade na utilização das informações genéticas dos indivíduos
contemplados na lei. Esses questionamentos foram muito importantes para que
a Lei nº 12.654/2012 incluísse normas que pudesse proteger qualquer indivíduo
que tenha seu material biológico coletado, assim como proteger o sigilo de suas
informações.

Por isso, veja abaixo quais os dispositivos que protegem os indivíduos


submetidos à identificação genética. Vejamos o que diz o artigo a seguir da Lei
nº 12.654/2012:

Art. 5º-A. Os dados relacionados à coleta do perfil genético


deverão ser armazenados em banco de dados de perfis
genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal.

§ 1º As informações genéticas contidas nos bancos de dados de


perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou
comportamentais das pessoas, exceto determinação genética
de gênero, consoante as normas constitucionais e internacionais
sobre direitos humanos, genoma humano e dados genéticos.

§ 2º Os dados constantes dos bancos de dados de perfis


genéticos terão caráter sigiloso, respondendo civil, penal e
administrativamente aquele que permitir ou promover sua
utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em
decisão judicial.

§ 3º As informações obtidas a partir da coincidência de perfis


genéticos deverão ser consignadas em laudo pericial firmado
por perito oficial devidamente habilitado.

45
Se você analisar atentamente o que a lei nos diz, verá que foram incluídas
medidas de proteção na norma, como a necessidade de que o banco de perfis
seja gerenciado por uma unidade oficial de perícia criminal, visto que são
unidades que tem como função a produção de provas materiais e científicas,
agindo acima de tudo com imparcialidade, e que podem, através da emissão de
Laudo Pericial, relatar os dados científicos e com isso permitir a identificação
genética do autor de um crime.

Além disso, a lei determina que os dados genéticos armazenados não


podem revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, além de seu
gênero, o que significa que esses dados não podem estar relacionados a
nenhuma característica física do indivíduo como: tons de pele, cor de cabelo e
olhos, altura, dentre outros. Por isso, o perfil genético armazenado no banco,
consiste basicamente, em uma série de números que traduzem informações
relacionadas às regiões do DNA e que não informam os tipos de características
fenotípicas vetadas pela lei.

Outro caráter imprescindível apontado pela norma é que, os dados


armazenados nesse banco possuem caráter SIGILOSO, ou seja, não são
acessíveis por nenhum outro órgão, dentro ou fora da segurança pública, que
não os Laboratórios de Genética autorizados. Mesmo na emissão dos Laudos
Periciais que relatam as coincidências genéticas detectadas pelo banco, não
podem ser divulgadas informações sobre os perfis analisados, ou o código de
identificação das amostras de condenados, a fim de proteger ao máximo suas
informações.

A Lei nº 12.654/2012 ainda limita a forma de coleta, quando indica que


esta deverá ser realizada de maneira ADEQUADA e INDOLOR. Por isso,
atualmente, essa coleta é realizada por meio de esfregaço, com uso de um
suabe ou outro dispositivo de coleta, na mucosa bucal do indivíduo, mais
precisamente na parte interna da boca. Esse método, além de ser rápido, seguro
e indolor para o indivíduo que está tendo seu material coletado, também é de
fácil realização pelo profissional qualificado para a coleta.

Em conformidade com o que foi abordado anteriormente, não foi só a Lei


de Identificação Criminal que sofreu alterações importantes. A Lei nº 7.210/1984

46
de Execução Penal também sofreu modificações recentes que veremos a seguir.
Apesar da Lei n° 12.654/2012 ter modificado artigos relacionados a execução
penal, foi a Lei nº 13.964/2019 que incluiu as modificações mais recentes nos
artigos relacionados à coleta de DNA dos condenados por crimes descritos na
referida Lei n° 12.654/2012.

Lei nº 13.964/2019
A Lei nº 13.964 foi publicada em 2019, com o objetivo de aperfeiçoar a
legislação penal e processual penal. Apesar desta lei abordar diversos aspectos
sobre a execução penal, no que tange ao nosso assunto neste curso, a Lei previu
inicialmente a manutenção do que a Lei nº 12.654/2012 abordava quando se
referia ao artigo 9-A da Lei nº 7.210/1984 de Execução Penal, que incluía a
previsão de coleta de material biológico visando identificação genética para
indivíduos condenados por crimes hediondos. Entretanto, modificações recentes
fizeram com que o artigo fosse publicado conforme previsão original e, por conta
disso, os crimes hediondos não estão mais contemplados na Lei que permite a
identificação genética.

Veja agora como a Lei de Execução Penal se encontra atualmente


publicada e quais os crimes previstos nela que permitem que a identificação
genética criminal:

Art. 9º-A. O condenado por crime doloso praticado com violência


grave contra a pessoa, bem como por crime contra a vida, contra
a liberdade sexual ou por crime sexual contra vulnerável, será
submetido, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético,
mediante extração de DNA (ácido desoxirribonucleico), por
técnica adequada e indolor, por ocasião do ingresso no
estabelecimento prisional.

§ 5º A amostra biológica coletada só poderá ser utilizada para o


único e exclusivo fim de permitir a identificação pelo perfil
genético, não estando autorizadas as práticas de fenotipagem
genética ou de busca familiar.

§ 6º Uma vez identificado o perfil genético, a amostra biológica


recolhida nos termos do caput deste artigo deverá ser correta e

47
imediatamente descartada, de maneira a impedir a sua
utilização para qualquer outro fim.

§ 7º A coleta da amostra biológica e a elaboração do respectivo


laudo serão realizadas por perito oficial.

Após essa leitura, você pôde ver que, dentro do ordenamento jurídico
brasileiro, nem todos os crimes permitem a coleta de materiais biológicos para a
identificação genética. A publicação da lei limita quais os crimes que permitem a
identificação genética, assim como a inclusão dos perfis genéticos em bancos
de dados, o que quer dizer que a coleta só é autorizada pra indivíduos
condenados por crimes contra a vida, contra a liberdade sexual ou, por crime
sexual contra vulnerável.

Além de descrever os crimes que permitem a coleta, a lei reforça que as


técnicas de coleta deverão ser indolores, e que não pode ser revelada nenhuma
característica física a partir do perfil genético obtido. Adicionalmente, a lei limita
a retenção dos materiais coletados, indicando que eles deverão ser descartados
após a obtenção do perfil, com a finalidade de conferir maior proteção ao
indivíduo apenado.

Então, caro aluno, você pôde conhecer até agora alguns aspectos
dispostos pela Lei que normatizam a coleta de DNA em indivíduos apenados e
sobre a utilização de perfis genéticos na identificação criminal. Veja abaixo um
esquema de revisão sobre os requisitos legais relacionados ao assunto que você
viu até agora!

48
Figura 19: Requisitos legais para a coleta de DNA de condenados
Fonte: do conteudista.

Agora que você viu quais leis amparam a coleta do material genético de
condenados e quais são os requisitos para que ela aconteça, é essencial mostrar
como funciona então o Banco de Dados no qual os perfis genéticos serão
armazenados.

Neste módulo, você aprendeu que:

• A utilização do DNA como forma de identificação foi possível graças ao


geneticista Alec John Jeffreys, que utilizou de forma pioneira as técnicas
de identificação genética tanto para análise de vínculos familiares quanto
para a resolução de crimes;

49
• Apesar de extremamente assertiva, a técnica de identificação genética só
ganhou fama após sua utilização em casos de grande repercussão, que
mostraram sua eficácia, tanto no Brasil quanto no resto do mundo;
• Ainda que a identificação genética seja amplamente utilizada na
resolução de crimes, as possibilidades de utilização desta técnica foram
ampliadas com a criação e normatização de Bancos de Perfis Genéticos,
que contemplam tanto perfis obtidos de vestígios quando de indivíduos
condenados, buscando aumentar as identificações de autorias;

• As formas de coleta de DNA em indivíduos apenados, bem como os


crimes de permitem a identificação genética estão contidas em Leis
específicas do nosso ordenamento jurídico para garantir a lisura do
procedimento;

• As leis relacionadas à identificação genética criminal dispõem de maneira


clara sobre a necessidade de técnicas adequadas de coleta de material
biológico em indivíduos apenados nas unidades prisionais, sobre as
limitações no uso de informações genéticas obtidas desses indivíduos, tal
qual sobre a necessidade de órgão responsável pela gestão dessas
informações.

50
Módulo III - NORMAS E UTILIZAÇÃO DOS BANCOS DE PERFIS
GENÉTICOS

Após revisitar os conceitos da biologia básica relacionados à área da


Genética Forense e percorrer o caminho legal que fundamenta e possibilita a
coleta de DNA de Condenados, chegou a hora de conhecer um pouco sobre a
ferramenta que permite conectar as informações genéticas ligadas aos mais
diversos tipos de crime: O Banco de Perfis Genéticos. Assim compreenderá
como essa tecnologia auxilia na resolução de crimes e como ela funciona.

Esse módulo pretende criar condições para que você possa:

• Entender a importância da Rede Integrada e dos Bancos de Perfis


Genéticos;
• Conhecer as normas legais aplicadas aos Bancos de Perfis Genéticos;
• Entender os requisitos necessário dentro do Sistema de Gestão de
Qualidade dos laboratórios integrados à Rede Integrada de Bancos de
Perfis Genéticos (RIBPG); e
• Conhecer os resultados alcançados pela ferramenta no Brasil e sua
importância na resolução de crimes.

Este módulo compreende as seguintes aulas:

Aula 1 - A importância do Banco de Perfis Genéticos.

Aula 2 - Normas legais aplicadas aos Bancos de Perfis Genéticos.

Aula 3 - Sistema de Gestão de Qualidade dos laboratórios integrados à RIBPG.

Aula 4 - Casos resolvidos com o auxílio do Banco de Perfis Genéticos.

51
Provavelmente você pôde perceber, durante a leitura dos módulos
anteriores, que as informações obtidas a partir das análises realizadas na
Genética Forense, dependem de uma análise comparativa. Isto quer dizer que,
para determinar a quem pertence o material biológico relacionado a um ilícito
penal, não é suficiente somente a obtenção de um perfil genético, sendo
necessário adicionalmente que seja apresentado um suspeito para coleta de
Amostra de Referência e posterior comparação, na maioria dos casos. É nesse
ponto que, essa área de estudo encontrou uma grande limitação, já que
enquanto um suspeito não era apresentado para coleta, diversos crimes
permaneciam sem solução.

Conforme você estudou no Módulo II, a implantação


de um banco de dados de DNA, possibilita o confronto dos
perfis genéticos obtidos de vestígios coletados de vítimas e
de locais de crime, com perfis de criminosos condenados,
mesmo que por outro tipo de crime e em qualquer estado
da federação, além de possibilitar o cruzamento de dados
com perfis de vestígios obtidos de outras vítimas e locais de
crime, estabelecendo a relação entre diversos crimes
cometidos por um mesmo indivíduo.

Desta maneira, é possível fornecer às autoridades policiais não só a


indicação de autoria de crimes, mas também informações valiosas que podem
orientar linhas de investigação que poderiam estar paradas, por falta de novas
informações relacionadas àquele caso. Para ficar mais claro, analise o seguinte
exemplo: suponha que o Banco de Perfis Genéticos aponte a coincidência entre
os perfis masculinos obtidos de duas vítimas de crimes sexuais, relacionadas a
duas investigações distintas.

52
Enquanto uma das vítimas não conseguiu fornecer elementos que
auxiliassem na identificação do agressor, a segunda conseguiu reconhecer um
suspeito, preso após ser confirmado como sendo o autor do crime por meio das
provas de DNA. Quando o perfil obtido de um vestígio apresenta uma
coincidência previamente detectada com um suspeito, na ocasião de sua
inclusão no banco, o perfil é identificado como tendo autoria conhecida, o que
facilita uma análise posterior pelos Peritos Criminais do laboratório.

Ao passo que o Banco de Perfis Genéticos informa à Delegacia


responsável pela investigação que ambos os crimes foram cometidos pelo
mesmo indivíduo, o autor do primeiro crime passa a ser automaticamente
identificado. A partir daí, um crime que não tinha perspectiva de solução passa
a ter sua autoria indicada e o indivíduo passa a responder por ambos os crimes
que cometeu.

IMPORTANTE!

Outra ferramenta extremamente relevante que o


banco de DNA possibilita implementar, é a busca por
pessoas desaparecidas. A Lei nº 13.812, publicada em
março de 2019, instituiu a Política Nacional de Busca de
Pessoas Desaparecidas e criou o Cadastro Nacional de
Pessoas Desaparecidas. O objetivo é implementar e dar
suporte à política que trata esta Lei e é composto de bancos
de informações públicas e sigilosas que ficam à disposição
dos órgãos de segurança pública.

SAIBA MAIS!
A referida lei considera como pessoa desaparecida, todo ser
humano cujo paradeiro é desconhecido, não importando a causa de
seu desaparecimento, até que sua recuperação e identificação
tenham sido confirmadas por vias físicas ou científicas.

53
Recentemente, foi criado o Grupo de Trabalho – Identificação de
Pessoas Desaparecidas, exclusivamente focado na busca dessas
pessoas, através do cadastro dos perfis genéticos de familiares que
são confrontados com os perfis oriundos de cadáveres de identidade
desconhecida, cadastrados no banco, assim como com os obtidos de
amostras diretas dos desaparecidos, produzidas a partir de seus
objetos pessoais.

Apesar de nem todo desaparecimento estar necessariamente ligado a um


crime, o número de pessoas cujo paradeiro é desconhecido, aumenta
exponencialmente a cada ano, e os esforços para encontrá-las não era
proporcional a urgência demandada por milhares de famílias que buscam apoio
para encontrar seus familiares. Veja abaixo como esses números são
expressivos e como era urgente a mobilização dos órgãos da segurança pública
para auxiliar nesta questão.

Figura 20: Desparecidos no Brasil


Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/seguranca/audio/2020-
10/numero-de-desaparecidos-no-brasil-em-2019-ultrapassou-os-79-
mil#:~:text=O%20n%C3%BAmero%20de%20desaparecidos%20no,enquanto%20outras%2013
0%20foram%20assassinadas.

54
Aula 2 - Normas Legais Aplicadas aos Bancos de Perfis
Genéticos

Apesar das enormes contribuições à justiça que essa ferramenta


consegue proporcionar, sua implantação só foi possível a partir de um conjunto
de normas legais. Algumas delas você pôde estudar no Módulo II, e agora você
vai conhecer uma norma mais relacionada à criação e implantação do banco de
dados de DNA no Brasil.

IMPORTANTE!

O Decreto nº 7.950, publicado em 12 de março de


2013, instituiu o Banco Nacional de Perfis Genéticos
(BNPG) e a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos
(RIBPG), órgãos pertencentes ao Ministério da Justiça e
Segurança Pública. Estes têm como objetivo permitir o
compartilhamento e a comparação de perfis genéticos
constantes dos bancos de perfis genéticos da União, dos
Estados e do Distrito Federal. Veio para regulamentar a Lei
nº 12.654/2012, que em seu art. 9º § 1º determinava que a
identificação do perfil genético seria armazenada em banco
de dados sigiloso, conforme regulamento a ser expedido
pelo Poder Executivo.

Acessando o portal do Ministério da Justiça e Segurança Pública, você


pode encontrar diversas informações sobre a RIBPG e os resultados alcançados
a partir da utilização da ferramenta, nos diversos estados da federação.

Veja agora algumas informações sobre o funcionamento do Banco que se


encontram disponíveis no portal:

55
“Trata-se de uma ação conjunta entre Secretarias de Segurança Pública
(ou instituição equivalente), Secretaria Nacional de Segurança Pública
(SENASP) e Polícia Federal (PF) para o compartilhamento de perfis genéticos
obtidos em laboratórios de genética forense.

Regularmente, os perfis genéticos armazenados nos bancos de dados


são confrontados em busca de coincidências que permitam relacionar suspeitos
a locais de crime ou diferentes locais de crime entre si. Os perfis genéticos
gerados pelos laboratórios da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos
(RIBPG) e que atendem aos critérios de admissibilidade previstos no Manual de
Procedimentos Operacionais, são enviados rotineiramente ao Banco Nacional
de Perfis Genéticos (BNPG), onde são feitos os confrontos de forma nacional
com perfis gerados pelos laboratórios de genética forense que compõe a RIBPG,
bem como perfis encaminhados de outros países por meio da Interpol.

No contexto de apuração criminal, perfis genéticos oriundos de vestígios


de locais de crimes são confrontados entre si, assim como com perfis genéticos
de indivíduos cadastrados criminalmente. O efetivo cadastramento é
fundamental para que os vestígios sejam identificados e a RIBPG, possa auxiliar
na elucidação de crimes, verificação de reincidências, diminuição do sentimento
de impunidade e ainda evitar condenações equivocadas.

Outra utilização primordial dos bancos de perfis genéticos, é a


identificação de pessoas desaparecidas. Neste contexto, perfis oriundos de
restos mortais não identificados, bem como de pessoas de identidade
desconhecida, são confrontados com perfis de familiares ou de referência direta
do desaparecido, tais como escova de dente, ou roupa íntima. É garantido pela
legislação vigente, que a comparação de amostras e perfis genéticos doados
voluntariamente por parentes de pessoas desaparecidas, serão utilizadas
exclusivamente para a identificação da pessoa desaparecida, sendo vedado seu
uso para outras finalidades.”

56
SAIBA MAIS!

Acesse: https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-
publica/ribpg/institucional.

Uma das grandes vantagens possibilitada pela utilização do banco, é o


compartilhamento de informações genéticas relacionados aos diversos estados
do país. A partir do intercâmbio dessas informações, diversas quadrilhas que
atuam no país puderam ser desmontadas, através da identificação e prisão de
seus integrantes, o que contribui para a diminuição de crimes em série,
especialmente, os relacionados à explosão de caixas automáticos e ataques a
instituições financeiras.

A Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos, contava até 28 de


novembro de 2020, com a participação de 20 laboratórios estaduais, 1
laboratório distrital e 1 laboratório da Polícia Federal. Compartilham os perfis
obtidos em seus laboratórios de Genética Forense, e alimentam o Banco
Nacional de Perfis Genéticos que acumulava a marca de 91.902 perfis
cadastrados. Relatório emitido em novembro de 2020 pela RIBPG, e atualmente
já ultrapassou o número de 108.000 perfis inseridos segundo dados de abril de
2021.

A partir de ações específicas que visaram investir nos laboratórios de


genética do nosso país, observou-se o crescimento exponencial do número de
perfis cadastrados ao longo dos últimos anos. Essas ações tiveram uma
influência direta no número de coincidências genéticas detectadas, conforme os
gráficos abaixo disponibilizados no Relatório publicado pela RIBPG no final de
2020, que apresentou ao poder público 2662 coincidências genéticas
confirmadas, sendo 2088 entre vestígios e 574 entre vestígio e indivíduo
cadastrado criminalmente, e auxiliou 1977 investigações.

57
Figura 21: Crescimento do número total de perfis genéticos no BNPG
Fonte: https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/ribpg

Figura 22: Taxa de coincidências - divisão do total de coincidências na RIBPG pelo total de
perfis genéticos de vestígios no BNPG
Fonte: https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/ribpg

Os perfis obtidos nos laboratórios integrantes da Rede, são inseridos em


seus bancos de perfis estaduais, de acordo com categorias específicas, a
depender de sua natureza. Existem no momento, nove categorias disponíveis,

58
dentre elas se destacam a de vestígios e de condenados, que estão diretamente
relacionadas à indicação de autoria e demais informações relativas a casos
criminais. Em seguida, têm-se as categorias de restos mortais não identificados,
e familiares de pessoas desaparecidas que buscam auxiliar no estabelecimento
de vínculos genéticos de parentesco, com o objetivo de identificar pessoas
desaparecidas e trazer respostas às diversas famílias que buscam seus entes
queridos. Veja abaixo os números e gráfico representativo dos perfis
cadastrados em cada uma das categoriais, segundo dados emitidos no último
relatório publicado em maio de 2021 pela RIBPG.

“Verifica-se que atualmente há no BNPG uma maior proporção


de perfis genéticos de condenados (75,67%), seguido de
vestígios (16,56%), restos mortais não identificados (3,28%) e
familiares de pessoas desaparecidas (2,75%). Em menor
proporção temos indivíduos identificados criminalmente (0,95%),
decisões judiciais (0,46%), restos mortais identificados (0,27%),
pessoas de identidade desconhecida (0,03%) e referências
diretas de pessoa desaparecida (0,03%).” (RIBPG, 2021, página
26).

. Figura 23: Distribuição das categorias de perfis genéticos existentes no BNPG


Fonte: https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/ribpg/relatorio/xiv-
relatorio-da-rede-integrada-de-bancos-de-perfis-geneticos-ribpg.pdf/view

59
Com o objetivo de possibilitar o aumento no número de perfis genéticos
cadastrados no BNPG, a Rede organiza Grupos de Trabalho e Projetos, que tem
por objetivo fornecer aos laboratórios integrados, investimentos em
equipamentos, insumos e treinamentos que, em contrapartida, se comprometem
a inserir uma determinada quantidade de perfis no banco. Com o Projeto de
Identificação por Perfis Genéticos de Condenados, não foi diferente, visto que
após ser instituído através de Portaria do Ministério da Justiça, contou com a
contribuição de todos os laboratórios integrados à Rede, para que fosse efetuada
a coleta e processamento das amostras, bem como a inserção dos perfis
genéticos obtidos. Veja o que o Relatório da Rede emitido em novembro de
2018, fala sobre esse assunto:

“Apesar de previsto desde 2012, a obrigação de identificar o


perfil genético de condenados, por crime praticado,
dolosamente, com violência de natureza grave contra pessoa,
ou por qualquer dos crimes previstos no art. 1o da Lei no
8.072/1990, não vinha sendo cumprida efetivamente. Em
dezembro de 2017, o BNPG possuía pouco mais de dois mil
perfis genéticos de condenados cadastrados, o que
representava uma porcentagem ínfima dentre a população
carcerária que se enquadra no previsto na Lei nº 12.654/2012”
(RIBPG, 2018, página 9).

SAIBA MAIS!

Acesse: https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-
publica/ribpg/relatorio/ix-relatorio-da-rede-integrada-de-bancos-de-
perfis-geneticos-ribpg-1.pdf/view.

Após identificar as necessidades dos laboratórios que compõe a rede, e


mapear o sistema carcerário, a fim de verificar qual a população carcerária
enquadrada nas leis que permitem a coleta de material genético, foram

60
investidos nove milhões de reais em kits de coletas de amostras biológicas,
reagentes, picotadores semiautomáticos e analisadores genéticos, conforme
necessidade apontada na "Pesquisa Perfil dos Laboratórios de DNA” realizada
pela RIBPG.

Com a implantação do projeto nos estados, segundo artigo publicado em


revista da área, houve um crescimento de mais de 2621% no número de perfis
genéticos de criminosos condenados cadastrados no BNPG (2.008 em 29 de
novembro de 2017, comparado a 54.657 em 29 de novembro de 2019). Esse
crescimento expressivo também resultou em um aumento notável no número de
coincidências e investigações auxiliadas pelo uso de bancos de dados de perfis
genéticos. Um caso de bastante repercussão, foi a resolução do crime sexual e
assassinato da garota Rachel Genofre, onze anos após a ocorrência do delito.

Os resultados obtidos pela RIBPG, são um exemplo do sucesso


alcançado quando a união e ação conjunta de pessoas e órgãos, conectados e
comprometidos com sua missão: a de fazer a diferença na luta contra o crime e
de trazer justiça à sociedade. E para que essa união possa trazer à sociedade
resultados consistentes e confiáveis, existem inúmeras ações necessárias que
acontecem nos bastidores, e que são essenciais para elevar os laboratórios
envolvidos aos padrões internacionais de qualidade esperados.

61
Aula 3 - Sistema de Gestão de Qualidade dos Laboratórios
Integrados à RIBPG

Durante o caminho de aprendizado que você percorreu até agora, foi


possível verificar a força que a identificação genética possui, como prova
material para a resolução de diversos crimes. De acordo com o que você viu no
Módulo II, o Banco Nacional de Perfis Genéticos utiliza por meio de uma parceria
com o FBI, agência americana de investigação, o sistema de Índice de DNA
Combinado (CODIS-Combined DNA Index System). Esse sistema criado pelo
FBI, além de possibilitar os confrontos genéticos no banco de perfis, definiu um
número mínimo de regiões, que devem constar nos perfis genéticos que
alimentam o banco, com o objetivo de padronizar as comparações realizadas.

Apesar do FBI disponibilizar gratuitamente este programa aos governos


dos países interessados em utilizá-lo na área de segurança pública, ele exige
que os laboratórios que utilizam o sistema, cumpram requisitos mínimos de
qualidade, motivo pelo qual foi necessário que a RIBPG editasse normas que
pudessem orientar os laboratórios na implementação desses requisitos.

É exatamente por conta disso, que é indispensável que os Laboratórios


integrantes da RIBPG demonstrem a qualidade de seus trabalhos, a partir da
implementação de um sistema de gestão que foi pensado com o intuito de
estabelecer requisitos de qualidade específicos para a realidade da Genética
Forense, segundo as normas internacionais de acreditação em laboratórios.

Por esse motivo, os laboratórios membros da Rede Integrada de Bancos


de Perfis Genéticos (RIBPG), deverão estar comprometidos com os esforços
para a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) para a área
forense. Neste sentido, foi publicada em maio de 2014, a Resolução nº 5 do
Comitê Gestor, recentemente revogada pela Resolução nº 12 de 2019, que
complementou a norma anterior, e que dispõe sobre a instituição da Comissão
da Qualidade, e os requisitos técnicos para a realização de auditorias nos
laboratórios e bancos que compõem a RIBPG.

62
Dentro desta perspectiva, existe um comitê permanente dentro do órgão,
intitulado Comissão de Qualidade. Este visa: a) normatizar e revisar
periodicamente os requisitos de qualidade, que deverão ser seguidos pelos
laboratórios integrantes da rede, b) organizar e realizar auditorias externas que
buscam comprovar o cumprimento das normas aplicáveis, c) orientar os
laboratórios quanto à implementação de seus Sistemas de Gestão da Qualidade,
de modo a auxiliar os laboratórios que ainda não compõem a Rede no
atendimento aos requisitos mínimos necessários, para a filiação e
compartilhamento de perfis genéticos.

Na Resolução nº 12/2019 emitida pela RIBPG, estão


incluídos tantos requisitos da ISO 17.025, norma
internacional para acreditação de laboratórios, quanto
parâmetros de qualidade oriundos das normas seguidas
pelo FBI, que apresentam normativas mais relacionadas à
realidade da Genética Forense em si.

Os Laboratórios que conseguem demonstrar o


cumprimento dos requisitos descritos na norma, em
auditorias periódicas realizadas pela RIBPG, conseguem
manter-se integrado à Rede e, consequentemente,
permanecem participando dos projetos e recebendo
incentivos para alavancar o banco de perfis genéticos de
seus estados.

Em suma, a rede funciona conforme esquema apresentado abaixo, e


explicação que você verá em seguida:

63
Figura 24: Funcionamento da Rede
Fonte: Acervo da conteudista.

I) A RIBPG tem a finalidade de manter, compartilhar e comparar perfis


genéticos para auxiliar na investigação criminal e/ou na instrução
processual, coordenar ações dos órgãos gerenciadores dos bancos de
perfis genéticos (BPGs), definir diretrizes de funcionamento, além de
promover programas de incentivo e auditorias aos Laboratórios de
Genética Forense integrados à Rede;

II) Cabe aos Laboratórios manterem um Sistema de Gestão de Qualidade


que permita um registro confiável dos processamentos e exames
realizados, processar as amostras criminais e amostras de indivíduos
apenados do sistema carcerário, inserir os perfis genéticos em seus
bancos estaduais;

III) Realizar constantes uploads para o Banco Nacional de Perfis Genéticos


(BNPG);

IV) O BNPG hospeda todos os perfis enviado pelos Laboratórios da Polícia


Federal, do Distrito Federal, e dos Estados integrados. Os perfis
cadastrados no BNPG são comparados de acordo com as regras do Manual
de Procedimentos Operacionais da RIBPG, e as eventuais coincidências

64
genéticas detectadas pelo software são reportadas pelo Banco Nacional
aos laboratórios envolvidos.

V) Cabe à cada laboratório, confirmar as coincidências detectadas e emitir


Laudo Pericial, relatando a coincidência genética às autoridades policiais
responsáveis pelas investigações dos casos relacionados. Nos casos de
coincidências envolvendo casos de autoria definida ou a perfis de
condenados, a autoridade poderá reportá-las à Justiça, que prosseguirá
com os procedimentos judiciais cabíveis.

65
Agora que você já conhece como o banco de DNA funciona, sua
apresentação nos dias de hoje e o potencial que esta ferramenta possui no
auxílio à resolução de crimes, será mostrado alguns casos práticos que foram
auxiliados pelos bancos de perfis genéticos, nos diversos estados do país, para
que você entenda sua importância.

Apesar de já terem sido mencionados pelos relatórios emitidos pela Rede


Integrada matches (coincidências genéticas) entre vestígios desde 2014, o
primeiro match entre perfis de vestígios e de um indivíduo identificado
criminalmente, ocorreu apenas em 2015. Veja a descrição do ocorrido, conforme
descrito no Relatório da RIBPG, emitido em novembro de 2015:

Estudo de Caso
Trata-se de um caso envolvendo a explosão de um caixa
eletrônico no bairro de Cajuru na capital paranaense, em janeiro de
2015, onde foram coletados vestígios biológicos pela equipe de
perícia para inserção no banco de perfis genéticos do laboratório da
polícia científica do estado, membro da RIBPG.

Em setembro do mesmo ano, a PF deflagrou a operação


“Dunamis” contra roubos a caixas eletrônicos no Paraná e coletou,
baseada na Lei nº 12.654/12, o DNA de 16 suspeitos. Esse material
foi enviado ao laboratório da PF em Brasília e os perfis genéticos
obtidos inseridos no Banco Federal também membro da RIBPG.

Por estarem ambos os bancos integrados através do Banco


Nacional de Perfis Genéticos (BNPG) pôde ser observado pelos
peritos criminais que o DNA de um dos suspeitos alvo da operação

66
Dunamis era idêntico aquele obtido na cena de crime do bairro de
Cajuru. (RIBPG, 2015, página 13).
Disponível em: https://www.justica.gov.br/sua-
seguranca/seguranca-
publica/ribpg/relatorio/relatorio_ribpg_nov_2015.pdf/view

Dentre as inúmeras investigações auxiliadas pelo banco de perfis, se


destaca o caso da menina Rachel Maria Lobo Oliveira Genofre, nascida em
fevereiro de 1999, em Curitiba-Paraná, que desapareceu após sair da escola no
centro de Curitiba, no dia 03 de novembro de 2008. Seu corpo foi encontrado
dois dias após o desaparecimento, no interior de uma mala, que foi abandonada
debaixo de uma escada na rodoferroviária de Curitiba, com sinais de abusos
físicos e sexuais. A polícia tentou diversas linhas de investigação e foram
realizados cerca de 170 exames de confrontos genéticos com eventuais
suspeitos, contudo, nenhum deles apresentou compatibilidade com o perfil
genético masculino obtido a partir do material coletado da cavidade anal da
vítima, por isso o caso permaneceu mais de uma década sem solução.

Quando o Banco Estadual de Perfis Genéticos do Paraná entrou em


operação, no ano de 2014, o referido perfil genético foi o primeiro perfil de
vestígio a ser inserido. Entretanto, o caso só pôde ser solucionado em 2019,
quando uma equipe de peritos criminais de São Paulo realizou a coleta e
inserção dos perfis genéticos de 561 condenados, apenados na Penitenciária de
Sorocaba/São Paulo. Na ocasião, o sistema apresentou a compatibilidade entre
o perfil coletado da vítima Rachel Genofre e o perfil do condenado identificado
como C. E. S, que já havia cometido uma série de crimes, dentre eles o de
atentado violento ao pudor contra um menor de idade, estupros, roubos e
estelionatos.

67
Figura 25: Caso Rachel Genofre
Fonte: g1.globo.com/parana

A cada Relatório emitido pela RIBPG, vemos a descrição de mais e mais


casos, cuja elucidação só foi possível por conta da utilização do banco de perfis
genéticos. O sucesso da ferramenta é tão grande que, em 2020 o Brasil foi o
vencedor do prêmio DNA Hit of the Year 2020, que é uma premiação
internacional criada em 2017 como reconhecimento ao potencial dos bancos de
perfis genéticos na resolução e prevenção de crimes.

Na edição de 2019, o uso dos bancos de perfis


genéticos na elucidação do caso de um estuprador em
série, que fez mais de 50 vítimas nos estados do Amazonas,
Mato Grosso, Rondônia e Goiás, ficou em 3° lugar após
concorrer com 70 casos de 20 países. Em 2020, 6 trabalhos
da RIBPG foram inscritos no DNA Hit of the Year, dentre 53
casos de 20 países. Na primeira etapa da premiação, 3
foram selecionados entre os 17 casos mais impactantes do

68
mundo: 2 casos de estupros em série, elucidados nos
estados de Goiás e São Paulo, e 1 caso de assalto a
transportadora de valores, analisado pela Polícia Federal.
Este último foi selecionado para a etapa seguinte, como um
dos 6 finalistas, e, em 24 de junho, anunciado como o DNA
Hit of the Year 2020.

O caso foi relacionado a um assalto à filial da empresa


Prosegur em Ciudad del Este/Paraguai, ocorrido em 24 abril
de 2017. Dezenas de assaltantes, fortemente armados e
com explosivos, roubaram cerca de US$ 11,7 milhões, em
uma ação que ficou conhecida como “O Roubo do Século”.
A investigação culminou com a coleta de 457 vestígios, em
4 locais e mais de 10 veículos diferentes periciados,
resultando em 240 perfis genéticos.

Leia abaixo a descrição da busca de autorias deste caso, segundo


descrito no Relatório emitido pela RIBPG em novembro de 2020:

“Até novembro de 2020, o laboratório também havia obtido perfil


genético de referência de 67 suspeitos do caso (...), sendo 12
com perfis coincidentes com perfis de vestígios, dos quais 22
foram identificados criminalmente em cumprimento às Leis nº
12.037/2009 e nº 7.210/1984, 10 dos quais conectados ao caso
através do DNA.

A inserção dos perfis genéticos obtidos no Banco Federal de


Perfis Genéticos (BFPG) em sincronização com o Banco
Nacional de Perfis Genéticos (BNPG), possibilitou a conexão do
Caso Prosegur Paraguai com outros 19 crimes não
relacionados, ocorridos entre 2013 e 2019 em 7 estados
brasileiros diferentes (Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Piauí,
Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul). Até o momento, 15
perfis genéticos questionados, apresentaram coincidências com
perfis de outras cenas de crime, de jurisdição federal e estadual,
em um total de 26 forensic hits. Através do BNPG, foram ainda
identificados, mais 4 indivíduos. Ao todo, 16 indivíduos foram
vinculados ao assalto à filial da Prosegur no Paraguai através de
seus perfis genéticos.” (RIBPG, 2020, páginas 40 e 41).

69
Figura 26: Matéria sobre o Maior caso de DNA da Polícia Federal
Fonte: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/maior-caso-de-dna-da-policia-
federal-diz-perito-do-caso-prosegur/

O sucesso do Banco de Perfis Genéticos, conforme você pôde perceber


durante os estudos deste Módulo e dos Módulos anteriores, depende de uma
ação conjunta de vários agentes da segurança pública. Para que este trabalho
alcance todo o seu potencial, é necessário que os agentes envolvidos, conheçam
como a identificação genética acontece, qual o arcabouço legal que a sustenta,
como a ferramenta de comparação de perfis genéticos funciona e,
principalmente, como a coleta de DNA de condenados deve ocorrer e quais os
procedimentos adotados para que se obtenham resultados válidos e confiáveis,
a partir dessa coleta.

70
Neste módulo, você aprendeu que:

• O Banco de Perfis Genéticos apresenta grande importância na resolução


de crimes pois realiza a comparação entre perfis genéticos obtidos de
amostras criminais e de indivíduos identificados criminalmente, com o
objetivo de indicar a autoria de crimes;
• Além de indicação de autorias a comparação entre os perfis cadastrados
permite relacionar crimes distintos cometidos por um mesmo indivíduo,
além de estabelecer vínculos genéticos de parentesco, o que auxilia na
identificação de pessoas desaparecidas, trazendo respostas às diversas
famílias em busca de seus familiares;
• Através da criação de Projetos e Grupos de Trabalho, a RIBPG realiza
grandes investimentos nos laboratórios integrados à Rede, com o objetivo
de alavancar o número de perfis genéticos inseridos no banco e,
consequentemente, de coincidências genéticas detectadas pelo sistema;
• A fim de estabelecer parâmetros mínimos de qualidade para a garantia da
confiabilidade dos resultados emitidos pelos laboratórios da Rede, a
RIBPG procura emitir e revisar periodicamente normas que devem ser
seguidas por esses laboratórios, para a manutenção dos seus Sistemas
de Gestão de Qualidade;
• Os laboratórios que cumprem os requisitos de qualidade, tem autorização
para compartilhar seus perfis no Banco Nacional de Perfis Genéticos, que
são comparados com os inseridos por todos os estados integrantes da
Rede e, adicionalmente, com os perfis oriundos de casos internacionais,
encaminhados pela Interpol;
• Os investimentos e trabalho integrado dos Laboratórios de Genética
Forense de todo o país, fazem com que sejam reportados cada vez mais
casos de sucesso na resolução de diversos tipos de crimes, auxiliando
inúmeras investigações criminais.

71
Módulo IV - PROCEDIMENTOS BÁSICOS PARA A REALIZAÇÃO
DE COLETA DE DNA DE CONDENADOS

Caro cursista, chegamos ao último módulo do nosso curso.

Antes de iniciar este módulo, você deve ter em mente a seguinte frase:

PLANEJAMENTO É PRECISO!

Figura 27: Planejamento é preciso


Fonte: do conteudista.

Agora que você já viu nos módulos anteriores como a Genética Forense
auxilia na resolução de crimes, os marcos legais da implementação do Banco de
Perfis Genéticos no Brasil, o funcionamento do referido banco e como ele vem
ajudando nas investigações criminais. Será apresentado como funciona a coleta
de DNA de condenados e, para isso, serão abordados os aspectos legais para
a execução das coletas, uma breve introdução sobre os cuidados que os
responsáveis pela coleta devem ter durante os procedimentos, as técnicas que
são utilizadas e como acondicionar, armazenar e transportar as amostras para
as unidades periciais, responsáveis pelo processamento.

72
Esse módulo pretende criar condições para que você possa:

• Entender como funciona legalmente a coleta de DNA dos condenados


pelo estudo da Resolução nº 10, de 28 de fevereiro de 2019;
• Elaborar documentações necessárias para a execução do trabalho;
• Planejar as atividades da coleta de DNA dos condenados, junto às
unidades prisionais;
• Elaborar formas de identificação das amostras coletadas, formas de
registro e vinculação aos indivíduos correspondentes;
• Identificar e usar, de forma adequada, Equipamentos de Proteção
Individual (EPIs) para a realização de coleta segura;
• Executar técnicas de coleta de Amostras de Referência por meio de
suabes estéreis e cartões do tipo FTA®; e
• Acondicionar, armazenar e transportar Amostras de Referência aos
laboratórios de Genética Forense.

Este módulo compreende as seguintes aulas:

Aula 1 - Fundamentação Legal sobre Procedimentos Relativos à Coleta de


Material Biológico de Condenados.

Aula 2 - Introdução à Biossegurança e Equipamentos de Proteção Individual.

Aula 3 - Técnicas de Coleta de Amostras de Referência.

Aula 4 - Acondicionamento, Armazenamento e Transporte de Amostras de


Referência para as Unidades Periciais de Processamento.

73
Caro discente, antes de iniciar as discussões sobre a coleta de material
biológico dos condenados no rol dos crimes previstos no art. 9º-A da Lei nº 7210,
de 11 de julho de 1984, você deverá, primeiramente, fazer uma análise de
trechos da Resolução nº 10, de 28 de fevereiro de 2019, que regulamenta a
padronização de procedimentos relativos à coleta de material biológico, para fins
de inclusão, armazenamento e manutenção dos perfis genéticos nos bancos de
dados.

Para facilitar o estudo, serão destacados os principais trechos que


usaremos como base para a elaboração de documentos e execução de técnicas
de coleta.

Vamos observar o que diz o Artigo 2° da Resolução:

<Strong>Art. 2º A coleta obrigatória de material biológico


deve ser realizada com técnica adequada e indolor.
</Strong>

§ 1º A metodologia a ser utilizada deverá ser a descrita no


Procedimento Operacional Padrão, de coleta de células da
mucosa oral, da Secretaria Nacional de Segurança Pública do
Ministério da Justiça e Segurança Pública.

§ 2º Pode o órgão estadual competente desenvolver


procedimento operacional padrão próprio, mais específico,
desde que siga as diretrizes gerais previstas no procedimento
da Secretaria Nacional de Segurança Pública.

§ 3º As técnicas de coleta de sangue não devem ser utilizadas.

74
Pelo exposto, o material biológico de escolha para as coletas de Amostra
de Referência, serão células de mucosa oral, não devendo ser utilizadas
quaisquer outras fontes de amostras biológicas para tal finalidade. Essa é uma
das informações mais importantes que se deve ter em mente, durante todo o
processo.

Agora, vamos explorar a fase seguinte, que é a de elencar quais


documentações são necessárias para incluir legalmente o perfil genético das
amostras dos condenados nos bancos de dados de perfis genéticos.

Veja o que apresenta o Artigo 4° da referida Resolução:

Art. 4º No caso de condenados no rol dos crimes previstos


no art. 9º-A da Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984, exigir-se-
á para a realização da coleta obrigatória do material
biológico:

I - guia de recolhimento do condenado ou documento


equivalente;

II – documento ou extrato de sistema de informação oficial


contendo identificação do condenado, tipificação penal da
condenação e número do processo judicial;

III - sentença condenatória; ou

IV - manifestação expressa do Poder Judiciário determinando a


coleta de material biológico para fins de inserção no banco de
perfis genéticos.

Além dos documentos acima elencados, é necessário que seja elaborado


um “formulário de coleta de material biológico”, no qual serão registradas
informações sobre o indivíduo doador do material biológico, a identificação da
razão judicial pela qual o indivíduo está doando sua Amostra de Referência, bem
como dados sobre os responsáveis pela coleta.

75
Veja o que diz o Artigo 5°:

Art. 5º Deverão constar do formulário de coleta de material


biológico:

I - identificação única e inequívoca do formulário;

II - indicação de que a coleta se refere a:


a) condenado;
b) identificado criminalmente; ou
c) outro tipo de decisão judicial que determine a coleta;

III - número do processo judicial ou se não houver, número do


inquérito policial;

Além destas informações, outras são necessárias para que o formulário de


coleta de material biológico tenha validade legal. Estes são os dados sobre a
identificação do doador do material biológico e dos responsáveis pela coleta.

Veja o que está descrito nos Incisos IV, V, VI e VII do Artigo 5°:

IV - dados da pessoa submetida à coleta, a saber:


a) nome;
b) número do documento de identidade civil, se houver;
c) CPF, se houver;
d) impressão digital; e
e) registro fotográfico.

V - dados da testemunha que acompanhará a coleta, a


saber:
a) nome;
b) identificação funcional ou civil; e
c) assinatura;

VI - dados do responsável pela coleta a saber:


a) nome;
b) identificação funcional; e
c) assinatura.

VII - local e data da coleta.

76
Observação: O registro fotográfico poderá ser realizado no momento da
coleta da amostra biológica do condenado. Poderá ser utilizado o registro
fotográfico da ficha de identificação criminal, ou documento semelhante
apresentado pelo sistema penitenciário.

IMPORTANTE!

O correto preenchimento do formulário de coleta de


material biológico, é fundamental para validar a legalidade
do perfil de DNA a ser inserido nos bancos de perfis
genéticos. O seu preenchimento incompleto pode acarretar
nulidade das eventuais provas materiais geradas com a
análise de tais perfis.

Veja abaixo um modelo de formulário de coleta de material biológico:

77
Figura 28: Modelo de formulário de coleta de material biológico
Fonte: acervo do conteudista.

Antes da realização dos procedimentos, os indivíduos deverão ser


informados sobre as razões legais que fundamentam a coleta de seu material
biológico, em que devem estar presentes no momento de tal procedimento uma
testemunha e o responsável pela coleta.

A pessoa que será submetida ao processo, pode se recusar a doar seu


material biológico, mesmo sendo informada posteriormente do caráter
obrigatório. Quando o acusado insiste na recusa, o procedimento de coleta não

78
será feito naquele momento, o fato é registrado em documento específico (Termo
de Recusa) e assinado pela testemunha e pelo responsável pela coleta.

Veja o que diz o Artigo 8°:

Art. 8º Em caso de recusa, o fato será consignado em


documento assinado pela testemunha e pelo responsável
pela coleta.

Parágrafo único. O responsável pela coleta comunicará a recusa


à autoridade judiciária competente, solicitando que decida sobre
a submissão do acusado à coleta compulsória ou a outras
providências que entender cabíveis, a fim de atender à
obrigatoriedade prevista na Lei nº 12.654/2012.

SAIBA MAIS!
O preso que se recusa a doar o material, deverá ser informado
que sua conduta poderá implicar falta em regime disciplinar. A
autoridade judiciária, após notificada sobre tal situação, poderá adotar
medidas, por exemplo, que causem impacto na progressão de regime
do condenado e no uso de seus benefícios previstos em lei, tal como
as saídas temporárias. Ainda, a autoridade judicial pode determinar a
apreensão de peças de roupa e/ou utensílios de uso pessoal e
exclusivo do condenado, para que seja obtido o referido perfil
genético, principalmente nos casos mais resistentes.

79
Veja agora um modelo do termo de recusa:

Figura 29: Modelo de formulário de termo de recusa de coleta de material biológico


Fonte: Acervo do conteudista

Finda esta etapa, a cópia dos documentos que fundamentaram a coleta


compulsória, deve ser encaminhada ao respectivo órgão gerenciador de banco
de dados de perfil genético, para que as amostras biológicas possam ser
analisadas e inseridas no banco de dados.

Agora que você já sabe a base legal sobre a coleta de DNA de condenados,
vamos iniciar o planejamento de como essas coletas serão executadas.

80
1.1 Sistema prisional e coleta de material biológico:

Imagine a seguinte situação: você é nomeado responsável para executar


as ações de coleta de condenados no seu Estado. Como você irá realizar essas
atividades sem nenhuma informação em mãos?

Calma! Antes que qualquer ação seja feita, é


imprescindível que você tenha em mãos, informações
importantes que possam te ajudar a planejar melhor as suas
atribuições.

Mas que informações são essas e onde procurá-las?

As informações que serão utilizadas para executar as tarefas, são obtidas


através de um estudo prévio sobre os sistemas prisionais existentes nas
diferentes unidades da federação. Essa análise inicial, consiste em captar dados
sobre o número de unidades penais, a distribuição geográfica dessas
instituições, além da quantidade de indivíduos condenados que estão lotados em
suas unidades. Os dados mais importantes, entretanto, referem-se à quantidade
de indivíduos condenados incluídos no rol dos crimes previstos no art. 9º-A da
Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984, e serão submetidos à coleta compulsória.

Estes dados são extremamente importantes para previsão orçamentária,


da equipe e do tempo que será necessário para a execução das coletas, bem
como o processamento e análise do material obtido ao longo do processo.

Mas ainda a questão permanece: onde achar essas informações?

Inicialmente, os órgãos gerenciadores de banco de dados de perfil


genético, podem buscar essas informações com as Secretarias de
Administração penitenciárias da União, dos Estados ou do Distrito Federal. Com
tais dados em mãos, os órgãos podem estabelecer estratégias de coleta, por
meio de contato com a administração das unidades prisionais, realizar visitas
prévias de reconhecimento do local e obter documentos dos indivíduos
condenados, juntos à unidade penal.

81
ATENÇÃO!

Para iniciar as coletas, é necessária a autorização


expressa das chefias das unidades penais. Esta
autorização pode ser feita através de um ofício, que deverá
conter as seguintes informações:

a) Nome da Unidade Penitenciária

b) Nome dos membros da equipe que irão realizar


a coleta, bem como identificação funcional

c) Data prevista da execução da coleta.

1.2 Fluxo de Trabalho:

Bom, agora que foi visto como acontece a captação de dados e recursos
cruciais para a realização desse processo, chegou a hora de realizar a coleta.

Será que é coletar as informações, obter a autorização e iniciar as


atividades? Claro que não!

Tenha em mente o seguinte: as unidades prisionais são locais onde estão


lotadas muitas pessoas ao mesmo tempo. Se você chegar em uma dessas
instituições sem saber o melhor ambiente para realizar as coletas, quantas
pessoas terão suas amostras coletadas naquele dia, bem como um método de
chamada dos indivíduos, certamente irá demorar muito mais do que o previsto
no seu cronograma inicial. Para resolver essa questão e tornar as coletas mais
eficientes, pode-se criar um sistema de fluxo de trabalho.

O estabelecimento de um fluxo de trabalho para as coletas é vital para o


sucesso da operação, pois evita tumultos ou circulação de muitas pessoas no
ambiente em que os procedimentos serão realizados, o que não é o ideal. Para
isso, é necessário conhecer primeiramente a quantidade de pessoas designadas

82
para executar tal serviço (incluindo aqui peritos criminais e auxiliares de perito).
Como no exemplo a seguir, a equipe pode ser dividida em seções menores para
realizar a identificação dos condenados, conferir a documentação referente e a
coleta do material biológico.

Figura 30: Fluxo de trabalho da coleta de material biológico com subdivisões da equipe de
trabalho
Fonte: Acervo da conteudista

Além da divisão do trabalho, uma outra opção é, adotar critérios para


ordenar quais indivíduos terão suas Amostras de Referência coletadas em um
determinado período do dia da coleta. Esta divisão pode ser feita, por exemplo,
por tipo de regime penal, ou ainda por pavilhões das instituições prisionais.
Existem várias maneiras de estabelecer categorias, mas a equipe responsável
pela coleta é quem deve determinar qual o melhor critério a ser seguido.

83
1.3 Codificação de Amostras de Referência oriundas da
coleta obrigatória

Um dos aspectos mais importantes da coleta de materiais biológicos, é


saber distinguir as amostras umas das outras. Uma das maneiras de conseguir
isso é, o emprego de um método eficiente de identificação.

O processo de coleta de DNA de condenados, deve ser feito de maneira


que consiga identificar de forma precisa as informações dos indivíduos doadores
do material biológico, bem como em qual local estas amostras foram originadas,
para evitar trocas de dados durante o processamento. Uma forma de evitar isso,
seria a adoção de um sistema de codificação simples, que possa fornecer uma
identificação única para o material coletado, relacionando-os com a unidade
prisional em que o acusado esteja lotado. Pode-se, por exemplo, adotar sistemas
alfanuméricos como nos exemplos a seguir:

Exemplo 1
Nome: Fulano da Silva

Unidade Prisional e Código: Penitenciária Amaral Filho - A

Ordem da coleta: 01

Ano da coleta: 2021

Código da amostra coletada: A012021.

Exemplo 2

Nome: Beltrano da Silva

Unidade Prisional e Código: Penitenciária Xavier Carvalho - 05

Ordem da coleta: 03

Ano da coleta: 2022

Código da amostra coletada: 05032022.

84
O emprego deste sistema, facilita a organização e o cadastro dos dados
obtidos pela equipe responsável pelo de banco de dados de perfil genético das
unidades de perícia criminal, bem como a identificação inequívoca da amostra,
a fim de garantir a cadeia de custódia do processo.

Dicas importantes!

Planejamento é a palavra-chave de uma grande operação, como é o caso


da coleta de DNA envolvendo várias pessoas ao mesmo tempo. Para otimizar o
serviço, são sugeridas ações em ordem de execução e algumas etapas que
podem ser utilizadas para a realização deste trabalho:

I) Análise da fundamentação legal da coleta;

II) Elaboração da documentação necessária para as atividades;

III) Contato com representantes das Secretarias de Administração


Penitenciárias para solicitar autorização das coletas;

IV) Estudo das informações obtidas sobre os indivíduos lotados nas


unidades penais que serão submetidos à coleta compulsória;

V) Elaborar cronograma de execução das atividades relativas nas


diferentes unidades prisionais, otimizando o deslocamento das equipes;

VI) Captação de recursos;

VII) Conferência de documentação bem como materiais a serem usados


nas atividades; e

VIII) Realização das coletas.

Outra etapa importante, é a organização do material a ser utilizado.

Por exemplo, antes de se dirigir à unidade prisional onde será feita a coleta,
todos os dados referentes aos indivíduos que serão submetidos ao processo,
devem estar devidamente organizados. Para facilitar o trabalho, uma sugestão

85
é imprimir todos os formulários de coleta de material biológico com os
respectivos nomes das pessoas e codificação preenchidos, distribuídos em
ordem alfabética e inseridos em pastas, em que poderão ser armazenados os
outros documentos exigidos para a inserção do perfil genético correspondente
no banco de dados.

Por fim, outra dica também, é elaborar um checklist dos itens que serão
utilizados no momento da coleta, tais como canetas esferográficas, carimbos,
equipamentos de proteção individual, dentre outros, que devem ser conferidos
antes da equipe se dirigir à unidade penal.

Assista o vídeo:
Para ajudar melhor a elaborar um planejamento das ações,
assista ao vídeo “Como criar Planos de Ação?”.
Disponível em: https://youtu.be/2vD_LcoUA_c

86
Aula 2 - Introdução à Biossegurança e Equipamentos de
Proteção Individual

2.1 Introdução à Biossegurança

Antes de começar a entender os cuidados que se deve ter ao proceder à


coleta de materiais biológicos, assista o vídeo INTERPOL a seguir, elaborado
para entender a importância sobre o uso de procedimentos corretos nas
atividades periciais:

Assista o vídeo:
“Treinamento Básico de Biossegurança”. Disponível
em: https://youtu.be/btfJSrncCqQ

Para entender os riscos potenciais em atividades que envolvem


manipulação de amostras biológicas humanas, deve-se entender primeiramente
o conceito de Biossegurança.

Segundo o Ministério da Saúde (2010), a Biossegurança compreende um


conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, mitigar ou eliminar riscos
inerentes às atividades que possam interferir ou comprometer a qualidade de
vida, a saúde humana e o meio ambiente.

Em termos epistemológicos e educacionais, o conceito de biossegurança


pode ser definido em três partes:

Módulo

Porque a biossegurança trata-se de um conjunto de conhecimentos


interdisciplinares que se expressa nas matrizes curriculares dos de cursos e
programas acadêmicos.

87
Processo
Porque trata-se de uma ação educativa e que pode ser entendida como
um método de aquisição de conteúdos e habilidades, com o objetivo de
preservação da saúde do homem, das plantas, dos animais e do meio ambiente.

Conduta
Quando é analisada sob a ótica de um somatório de conhecimentos,
hábitos e comportamentos que devem ser incorporados ao homem, para que
esse desenvolva, de forma segura, sua atividade.

Os agentes biológicos constituem-se no mais antigo dos riscos


relacionados ao ambiente de trabalho em saúde. Baseando-se nesse fato, os
pesquisadores Meyer e Eddie, em 1941, nos Estados Unidos, publicaram uma
pesquisa sobre 74 casos de brucelose relacionados ao ambiente laboratorial e
concluíram que, a falta de cuidados na manipulação de culturas de bactérias do
gênero Brucella, ou ainda a inalação de poeira contendo este patógeno era
intrinsecamente prejudicial aos profissionais, em que tal fato foi considerado um
dos principais marcos que iriam ajudar no entendimento sobre a adoção de
procedimentos seguros em ambientes de trabalho.

CURIOSIDADE!

No ano de 1943, foi criado pelo governo dos Estados


Unidos, em Washington, o primeiro laboratório de
segurança biológica, denominado Black Maria, nas
instalações no Forte Detrick. O objetivo do governo
americano na época era o preparo para o combate a uma
possível guerra biológica e neste laboratório eram utilizados
padrões de biossegurança comparados aos de níveis 3 e 4
atualmente.

88
Figura 31: Fotografia do primeiro laboratório de segurança biológica, o “Black
Maria”, nas instalações do Forte Detrick, nos EUA
Fonte:
http://rmct.ime.eb.br/arquivos/RMCT_2_quad_2008/defesa_contra_agentes_bio.pd
f e http://alunosbiotec.blogspot.com/2014/05/historico-da-biosseguranca-os-
registros.html.

Somente a partir da década de 70, é que o conceito de Biossegurança foi


amplamente divulgado, surgido após o desenvolvimento da engenharia genética
e o aumento de estudos envolvendo a biologia molecular, em que experimentos
com Escherichia coli provocaram alerta entre os pesquisadores, pensando-se na
criação de procedimentos que visam diminuir os riscos empregados em
atividades de manipulação de ácidos nucléicos, micro-organismos e produtos
químicos, que possam levar a alteração da vida do profissional.

Tais fatos culminaram na Conferência de Asilomar, nos EUA, em 1975,


tendo sido um marco na história da ética aplicada à pesquisa, onde se discutiu
os aspectos de proteção aos pesquisadores e demais profissionais envolvidos
em pesquisas na área biológica, principalmente com DNA recombinante.

89
Figura 32: Conferência de Asilomar (1975). Na foto, encontra-se os quatro principais
participantes da Conferência – da esquerda para a direita: Maxine Singer, Norton Zinder,
Sydney Brenner e Paul Berg
Fonte: https://www.tectonia.com.br/biotecnologia/conferencia-de-asilomar/

Foi também na década de 80, em consequência do grande número de


relatos de doenças relacionadas ao ambiente laboratorial e de uma maior
preocupação em relação às consequências que a manipulação experimental de
animais, plantas e micro-organismos, poderiam trazer ao homem e ao meio
ambiente, que o termo Biossegurança foi consolidado pela Organização Mundial
de Saúde.

Veja a matéria a seguir, que relata como uma negligência nas regras de
segurança laboratorial ocasionou em um acidente fatal:

Estudo de Caso

Como a varíola fez sua última vítima

No verão de 1978, foi relatado o último caso conhecido de


varíola no mundo, que tirou a vida da fotógrafa médica Janet Parker,

90
de 40 anos. Mas como a doença, que se pensava ter sido erradicada,
chegou à segunda maior cidade da Inglaterra?
Era sexta-feira, 11 de agosto, quando Janet Parker começou a
se sentir mal. Em poucos dias, Janet, que trabalhava no departamento
de anatomia da Escola de Medicina de Birmingham, desenvolveu
manchas vermelhas nas costas, nos membros e no rosto.
Quando um médico local foi chamado para analisar sua
situação, ela foi informada de que estava com catapora, mas a mãe
de Janet, Hilda Witcomb, estava cética. Hilda, que havia cuidado da
filha quando esta contraiu catapora na infância, observou que as
grandes pústulas que agora apareciam no corpo de Janet eram muito
diferentes.
Sem sinais de melhora, uma consulta hospitalar foi marcada e
Janet acabou tendo que ser internada no Hospital de Isolamento
Catherine-de-Barnes em Solihull. Após exames médicos, foi
confirmado que a doença adquirida pela paciente era, de fato, a
varíola, mesmo após a implementação do programa global de
vacinação, liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na
década de 70.
O professor Henry Bedson chefiava o laboratório de varíola na
Escola de Medicina de Birmingham - onde Janet trabalhava - um dos
poucos comissionados pela OMS para pesquisar a doença. Ao
examinar as amostras coletadas da fotógrafa médica, ele confirmou
que o vírus causador da doença de Janet era, de fato, o vírus da
varíola.
A doença evoluiu rapidamente e, no dia, 11 de setembro, Janet
faleceu.
No entanto, uma dúvida ainda permanecia: como Janet foi
infectada?
Uma investigação conduzida posteriormente à morte de Janet
na Universidade de Birmingham para averiguar as causas da
contaminação de Janet pelo vírus da varíola revelou que a
transmissão do vírus deve ter ocorrido provavelmente três vias- por

91
corrente de ar, por contato pessoal próximo ou por contato com
equipamentos ou aparelhos contaminados.

Adaptado do texto How smallpox claimed its final victim, da


BBC News, de Monica Rimmer, 2018.
Fonte: www.bbc.com/news/uk-england-birmingham-45101091.
Acesso em 10 set. 2021.

No Brasil, a biossegurança teve início em 1984, quando foi realizado o


Primeiro Workshop de Biossegurança (Biossegurança em laboratórios) pela
Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e gerou os primeiros levantamentos
de risco nos laboratórios desta instituição.

Na década de 1990, a biossegurança começou a ser direcionada para as


preocupações advindas do uso da tecnologia do DNA recombinante, levando o
Ministério da Saúde do Governo Federal a realizar um primeiro projeto de
fortalecimento das ações em Biossegurança, criando um Núcleo de
Biossegurança, cujas ações levaram à elaboração da primeira Lei de
Biossegurança no Brasil (Lei nº 8.974/1995).

Essa Lei, estabelecia as regras para o trabalho com DNA recombinante no


país, incluindo pesquisa, produção e comercialização de Organismos
Geneticamente Modificados (OGMs), de modo a proteger a saúde do homem,
de animais e do meio ambiente. Esta lei ainda, instituiu a Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança (CTNBio), ligada ao Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT), órgão responsável pela regulamentação das atividades
acima descritas no país.

92
Figura 33: Símbolo do CNTBio, órgão brasileiro responsável pelas atividades de pesquisa,
produção e comercialização de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs).
Fonte: http://ctnbio.mctic.gov.br/documents

Entretanto, quando a lei começou a ser aplicada, foram vistas inúmeras


incongruências que levaram a muitos problemas. Tal fato culminou com a
aprovação de uma nova Lei de Biossegurança em 2005 (Lei nº 11.105/2005),
que revogava a anterior e revia as normas de segurança e os mecanismos de
fiscalização de atividades que envolvam OGM e seus derivados. Além disso, a
lei reestruturou a CTNBio e criou o Conselho Nacional de Biossegurança
(CNBS), cuja função é elaborar a Política Nacional de Biossegurança (PNB).

2.2 Riscos Biológicos envolvidos na coleta de materiais


biológicos

Um dos grandes problemas que existe no trabalho de manipulação de


amostras biológicas, consiste principalmente no comportamento dos
profissionais envolvidos. Os riscos existentes podem ser diminuídos com o uso
de sistemas modernos de esterilização do ar de um laboratório ou câmaras de
desinfecção das roupas de segurança, mas se o trabalhador não segue as
normas de proteção preconizadas pelo local de trabalho, a exposição aos riscos
torna-se muito maior.

93
Figura 34: Símbolo do risco biológico. Os quatro círculos contidos no símbolo representam
uma cadeia de infecção: o agente, o hospedeiro, a fonte da infecção e a transmissão de uma
doença.
Fonte: https://ecobear.co/knowledge-center/origin-biohazard-symbol/

Os membros responsáveis pela coleta e processamento de Amostras de


Referência de condenados criminalmente, além de estarem expostos aos riscos
ergonômicos, físicos e químicos, trabalham com agentes infecciosos e com
materiais potencialmente contaminados, que se constituem nos riscos
biológicos.

Os riscos biológicos são quaisquer probabilidades de exposição


ocupacional de um profissional a algum tipo de agente biológico. Para um melhor
entendimento das medidas que podem ser utilizadas para evitar o contato com
tais agentes, os riscos biológicos são classificados em 4 categorias, em que são
analisados os seguintes fatores:

94
Figura 35: Fatores analisados para a classificação dos riscos biológicos
Fonte: Acervo do conteudista

Levando-se em consideração os fatores citados acima, os riscos


biológicos são classificados em:

CLASSE DE RISCO I
O risco individual e o risco para comunidade são baixos. São agentes biológicos
que têm probabilidade nula ou baixa de provocar infecções no homem ou em
animais sadios e de risco potencial mínimo para o profissional e para o ambiente.

Exemplos: Lactobacillus sp. e Bacillus subtilis.

CLASSE DE RISCO II

O risco individual é moderado e para comunidade é limitado. Aplica-se a agentes


biológicos que provocam infecções no homem ou nos animais, cujo risco de
propagação na comunidade e de disseminação no meio ambiente é limitado, não
constituindo em sério risco a quem os manipula em condições de contenção,
pois existem medidas terapêuticas e profiláticas eficientes.

Exemplos: Schistossoma mansoni e vírus da rubéola.

95
CLASSE DE RISCO III
O risco individual é alto e para comunidade é limitado. Aplica-se a agentes
biológicos que provocam infecções, graves ou letais, no homem e nos animais e
representam um sério risco a quem os manipulam. Representam risco se
disseminados na comunidade e no meio ambiente, podendo se propagar de
indivíduo para indivíduo, mas existem medidas de tratamento e prevenção.

Exemplos: SARS-CoV-2 (novo coronavírus) e Bacillus anthracis.

CLASSE DE RISCO IV

O risco individual e para a comunidade são elevados. Aplica-se a agentes


biológicos de fácil propagação, altamente patogênicos para o homem, animais e
meio ambiente, representando grande risco a quem os manipula, com grande
poder de transmissibilidade via aerossol ou com riscos de transmissão
desconhecido, não existindo medidas profiláticas ou terapêuticas.

Exemplos: vírus Ebola.

A Classe de Risco II aplica-se geralmente a atividades em que o trabalho


envolve a manipulação de materiais de origem humana, como coletas de líquidos
corporais ou tecidos de mucosas, em que onde a presença do agente infeccioso
pode ser desconhecida. Portanto, devem ser pensados quais os equipamentos
de proteção mais adequados a serem usados pelos membros responsáveis pela
coleta de DNA durante as ações nas unidades prisionais.

2.3 Equipamentos de proteção individual

Os equipamentos de proteção individual (EPIs) servem para proteção do


contato com agentes infecciosos, substâncias irritantes e tóxicas, materiais
perfurocortantes e submetidos a aquecimento ou congelamento.

96
Os procedimentos de manipulação de amostras biológicas produzem
partículas que podem entrar pelas vias aéreas ou via cutânea, e causam
infecções, além de causar contaminação em roupas, bancadas e equipamentos.

Figura 36: Atenção


Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

Usar Equipamentos de Proteção Individual - EPIs é um direito do profissional e


a instituição responsável é obrigada a fornecê-los. Os EPIs, descartáveis ou não,
deverão estar à disposição em número suficiente nos postos de trabalho, de
forma que seja garantido o imediato fornecimento ou reposição.

Para a realização das coletas nas unidades penais, os EPIs que devem
estar disponíveis, obrigatoriamente, para todos os membros da equipe que irão
realizar as coletas são: jalecos, luvas, máscaras, óculos, touca e/ou protetores
faciais.

O jaleco protege a roupa e a pele do profissional da contaminação por


fluidos corporais e respingos, que pode ocorrer durante a coleta e nas etapas
posteriores, como o transporte, a manipulação e o descarte das amostras. O
jaleco deve ser confeccionado em tecido resistente à penetração de líquidos,
resistente à descontaminação e autoclavagem, com comprimento abaixo do
joelho e mangas longas. Em substituição ao jaleco, pode-se utilizar avental
descartável.

97
Figura 37: Equipamentos de proteção individual obrigatórios para a coleta de materiais
biológicos.
Fonte: Acervo do conteudista.

As luvas descartáveis servem para manipulação de materiais


potencialmente infectantes, sendo também conhecidas como luvas de
procedimentos, que são feitas de látex (borracha natural) ou de material sintético
(vinil). Estas últimas, além de mais resistentes aos objetos perfurocortantes, são
também indicadas a pessoas alérgicas às luvas de borracha natural.

As luvas descartáveis devem ser usadas em todos os procedimentos,


desde a coleta, até o descarte das amostras biológicas, pois elas são uma
barreira de proteção contra agentes infecciosos. É importante que as luvas
devam ser calçadas com cuidado para que não rasguem e que fique bem
aderidas à pele.

As máscaras descartáveis e os óculos de proteção, devem ser utilizados


em todas as atividades que envolvam a formação de aerossol ou suspensão de
partículas, como coleta de materiais como sangue venoso ou coletas de mucosa
oral. Neste último caso, recomenda-se o uso da máscara N95 pelo fato de que
a via oral pode ser uma fonte de propagação de agentes infecciosos da Classe
de Risco III, como a Mycobacterium tuberculosis, a bactéria causadora da
tuberculose ou o SARS-CoV-2, vírus responsável pela doença do coronavírus
(COVID-19).

98
Os óculos de proteção devem ser feitos de material rígido e leve e cobrir
completamente a área dos olhos. É importante lembrar que os óculos de grau
não substituem os óculos de proteção.

Outra opção para proteger o rosto é o protetor facial. Ele deve ser feito do
mesmo material que os óculos de proteção, ser ajustável, de forma a cobrir todo
o rosto. Os óculos e os protetores faciais são equipamentos reutilizáveis e devem
ser desinfectados após o uso.

As toucas descartáveis, por sua vez, proporcionam barreira efetiva contra


gotículas ou aerossóis, ou ainda, queda de fios de cabelo sobre a superfície de
trabalho, o que é de extrema importância ao tratar-se de coleta de materiais para
exames de DNA, uma vez que a contaminação do material coletado com
qualquer amostra do coletador pode acarretar erros na obtenção de perfis
genéticos, para serem confrontados com outros no ambiente do banco de dados.

Todos esses equipamentos de proteção individual, funcionam como


barreiras para olhos, nariz, boca e pele contra respingos e aerossóis de materiais
infectados por agentes patogênicos, bem como o contato direto com substâncias
químicas, de modo a evitar possíveis acidentes.

O vídeo a seguir mostra um resumo das aplicações do uso de EPIs em


cenas de crime que envolvem riscos biológicos:

Assista o vídeo:
“Treinamento em local de crime envolvendo materiais
biológicos”. Disponível em:
https://youtu.be/olWRBEbW1dc

Além do uso de EPIs no momento da coleta, para que seja mantido um


bom ambiente de trabalho, com redução de riscos, bons resultados em relação
às análises, é necessário seguir um protocolo de cuidados e regras. Para tal, as
Boas Práticas Laboratoriais (BPL) podem ser utilizadas. As seguintes normas
devem ser utilizadas durante as atividades:

• Manter cabelos longos presos;


• Usar exclusivamente sapatos fechados;

99
• Manter as unhas cortadas e limpas;
• Não usar acessórios e adornos durante as atividades;
• Lavar as mãos com água e sabão, por meio de técnica adequada
(descritos na figura a seguir) para a remoção mecânica de sujidades
e a microbiota transitória da pele.

NOTAS:

I) - As mãos devem ser lavadas antes de iniciar as atividades, depois de


manipular amostras, depois de tirar luvas e jaleco e antes de sair do
laboratório;

II) Após a lavagem das mãos, aplicar antissépticos, preferencialmente


álcool a 70% (glicerinado ou não).

100
Figura 38: Esquema de higienização das mãos
Fonte: https://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/higienizacao_simplesmao.pdf

101
Aula 3 - Técnicas de coleta de Amostras de Referência

Antes de iniciar a apresentação sobre quais técnicas podem ser utilizadas


para a coleta de material biológico.

Vamos relembrar o seguinte trecho da Resolução nº 10:

Art. 2º A coleta obrigatória de material biológico deve ser


realizada com técnica adequada e indolor.

§ 1º A metodologia a ser utilizada deverá ser a descrita no


Procedimento Operacional Padrão, de coleta de células da
mucosa oral, da Secretaria Nacional de Segurança Pública do
Ministério da Justiça e Segurança Pública.

§ 2º Pode o órgão estadual competente desenvolver


procedimento operacional padrão próprio, mais específico,
desde que siga as diretrizes gerais previstas no procedimento
da Secretaria Nacional de Segurança Pública.

§ 3º As técnicas de coleta de sangue não devem ser utilizadas.

Pelo fato de que os métodos de coleta de células da mucosa bucal,


geralmente obtida por raspagem das células epiteliais, não serem invasivos e
que sua prática diminui consideravelmente os perigos operacionais presentes
em um procedimento invasivo, quando comparada à coleta de amostras de
sangue, esta técnica foi implementada como padrão na coleta de DNA de
condenados.

Além disso, em termos de processamento em laboratórios, observa-se uma


redução substancial nas etapas necessárias para realizar a extração de
amostras de mucosa oral, quando comparada com outros tecidos biológicos,
como por exemplo, músculos, sêmen e bulbos capilares, em que, ao final da
extração, obtem-se um DNA extraído de alta qualidade e elevado peso
molecular.

102
Para a realização das coletas de células da mucosa oral, podem ser
utilizados dois tipos de materiais: suabes estéreis e cartões do tipo FTA®.

Os suabes estéreis são uma espécie de cotonetes esterilizados, com uma


haste longa e uma ponta constituída geralmente de algodão, que servem para
coletar amostras biológicas, podendo ser encontrado em diferentes tipos, como
ilustrado na figura abaixo:

Figura 39: Tipos de suabes estéreis: (A) suabes com hastes de madeira, (B) suabes com
hastes plásticas e (C) suabes estéreis com tubo
Fonte: www.ictsl.net/productos/instrumental/hisoposdemaderaconalgodonest2deltalab.html.

A função do suabe consiste em realizar a adesão e captura de amostras


biológicas de uma determinada região, com baixa geração de partículas durante
a coleta, para que tal material seja transferido sem perdas do local da coleta,
para o posterior ambiente de processamento e análise. Uma das vantagens de
seu uso é o fato de permitir o prático manuseio de substâncias, sem o risco de
ocorrer contato direto com os coletadores ou intervenções de materiais que
possam danificar a amostra.

Os cartões FTA® (sigla de Flinders Technology Associates filter paper,


patenteado pela Whatman®), por sua vez, são suportes feitos de papel de filtro
impregnados com uma fórmula química patenteada, que é composta por uma
base fraca, um agente quelante e ácido úrico ou sais de urato, que em conjunto,
acabam por lisar as células contidas na amostra biológica coletada pela

103
desnaturação das proteínas. Por este fato, os ácidos nucléicos existentes são
fisicamente retidos nos cartões, permanecendo estáveis em temperatura
ambiente.

Figura 40: Modelo de cartão FTA®


Fonte: https://www.fishersci.pt/shop/products/whatman-fta-elute-cards/11938117

As vantagens do uso dos cartões FTA® são essencialmente a redução de


etapas de processamento do DNA, visto que este, quando é acoplado com
dispositivos coletores, a molécula é extraída imediatamente após a coleta, bem
como a possibilidade de acondicionar tal suporte em temperatura ambiente, em
que a amostra armazenada no cartão fica protegida da presença de agentes
inibidores, da oxidação, dos danos causados por raios UV e da contaminação
por agentes microbiológicos. Estes motivos têm levado os cartões FTA a
substituírem os suabes estéreis na coleta de Amostras de Referência.

104
Figura 41: Exemplo de dispositivo de coleta de células de mucosa oral com cartão FTA®.
Fonte: Adaptado de https://www.sigmaaldrich.com/technical-
documents/articles/biology/instructions-for-easicollect.html

3.1 Etapas a serem realizadas antes das coletas

As técnicas de coleta de células de mucosa oral que serão descritas aqui,


baseiam-se no conteúdo do livro Procedimento Operacionais Padrão, de
publicação da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) e de manuais
de instrução de fabricantes de kits coletores com cartão FTA®.

105
Figura 42: Capa do livro Procedimento Operacional Padrão, publicada pela SENASP.
Fonte: https://www.novo.justica.gov.br/sua-seguranca-2/seguranca-publica/analise-e-
pesquisa/download/pop/procedimento_operacional_padrao-pericia_criminal.pdf

Primeiramente, antes de realizar a coleta, deve ser feita a conferência das


documentações referentes a cada pessoa que for submetida ao processo, bem
como a identificação presencial do doador. Esta deve ser feita através da coleta
de impressões digitais, do preenchimento do formulário de coleta de material
biológico, e pela captura da foto do doador no ato da coleta, em que esta pode
ser substituída pela comparação dos aspectos físicos presenciais do acusado,
com a fotografia relativa registrada no documento ou extrato de sistema de
informação oficial, contendo a identificação do condenado.

106
3.1.1. Etapas da coleta de mucosa oral com suabes estéreis

1. O coletador deve lavar ou higienizar as mãos e, posteriormente, colocar


todos os equipamentos de proteção individuais (jaleco, touca, máscara,
óculos de proteção e luvas descartáveis).

2. Identifique as embalagens que os suabes serão acondicionados após a


coleta de acordo com a identificação da amostra descrita no formulário de
coleta de material biológico. Recomenda-se a coleta com o uso de dois
suabes com amostra de mucosa oral.

107
3. Questione ao doador se fez consumo de alimentos, bebidas ou cigarros
por pelo menos uma hora antes do procedimento da coleta. Em caso
afirmativo, deve-se oferecer um copo de água para consumo e
consequente limpeza de restos de alimentos na cavidade oral. Verifique se
a cavidade oral está limpa para prosseguir com a coleta.

4. Remova com cuidado o suabe de sua embalagem original, evitando tocar


na ponta revestida com algodão ou mesmo encostá-la em qualquer
superfície.

108
5. Segure o suabe pela haste.

6. Peça ao doador que abra a boca e imediatamente posicione a ponta do


suabe em uma das superfícies da bochecha.

109
7. Esfregue firmemente e rotacione o suabe na bochecha entre 5-10
segundos, assegurando que toda a ponta do suabe entrou em contato com
a mucosa.

8. Repita a etapa anterior no lado oposto da bochecha.

110
9. Remova o suabe da boca do doador, com o cuidado para não tocar a
ponta nos dentes, nos lábios ou em qualquer outra superfície.

10. Coloque o suabe imediatamente na sua embalagem de


acondicionamento e refrigerá-lo, mas, sempre que possível, o suabe deve
ser deixado em temperatura ambiente até que seque naturalmente ou
acondicionados em embalagens que permitam a secagem.

111
11. Descarte os resíduos gerados em recipientes adequados.

12. Lave e higienize as mãos após o término da coleta.

Obs.: Todas as imagens utilizadas acima no item 3.1.1 são adaptadas do


vídeo How to Collect a Buccal Swab Sample for Forensic Analysis -
https://www.youtube.com/watch?v=azpmJ4cXilM.

112
3.1.2. Etapas da coleta de mucosa oral com suabes estéreis

1. O coletor deve lavar ou higienizar as mãos e, posteriormente,


colocar todos os equipamentos de proteção individuais (jaleco, touca, máscara,
óculos de proteção e luvas descartáveis).

2. Questione ao doador se fez consumo de alimentos, bebidas ou


cigarros por pelo menos uma hora antes do procedimento da coleta. Em caso
afirmativo, deve-se oferecer um copo de água para consumo e consequente
limpeza de restos de alimentos na cavidade oral. Verificar se a cavidade oral está
limpa para prosseguir com a coleta.

3. Abra a embalagem que contém o kit de coleta e retire o coletor com


o cartão FTA®, bem como o envelope de acondicionamento do cartão e um
sachê dessecante.

4. Identifique a embalagem que o cartão será acondicionado após a


coleta de acordo com a identificação da amostra descrita no formulário de coleta
de material biológico e insira neste o sachê dessecante.

5. Abra a embalagem imediata do coletor onde está o cartão FTA®,


mantendo a extremidade que contém a esponja dentro do invólucro.

6. Registre a identificação da Amostra de Referência na parte de trás


do cartão FTA® e, em seguida, remova o coletor completamente do invólucro,
evitando tocar na esponja ou mesmo encostá-la em qualquer superfície.

7. Segure o coletor pela base.

8. Peça ao doador que abra a boca, passando, logo em seguida, a


esponja do coletor ao longo da linha da gengiva e sob a língua, usando pressão
moderada.

9. Uma vez que a esponja estiver embebida com saliva, esfregue no


interior de cada bochecha por 15 segundos. É extremamente importante garantir
que a esponja esteja revestida com saliva durante esta etapa para permitir,
posteriormente, uma boa transferência da amostra para o cartão FTA®.

113
10. Remova a esponja da boca do doador.

11. Remova com cuidado o filme plástico de proteção do cartão FTA®.

12. Dobre o dispositivo pela haste dobradiça e pressione a esponja no


cartão FTA®.

13. Certifique-se de que a esponja seja mantida no lugar utilizando a


trava da haste na posição inferior, fixada sob a aba da trava da esponja.

14. Deixe a esponja em contato com o cartão FTA® por 10 segundos.

15. Solte a aba da trava da esponja flexionando o dispositivo.

16. Puxe a haste para a posição superior na trava da haste, removendo


o contato da esponja com o cartão FTA®.

17. Deixe a amostra secar.

18. Após a secagem, verifique o cartão FTA e confirme se a cor mudou


para branco dentro da área de deposição da amostra. Se esta mudança de cor
não ocorreu, então a transferência de amostra não foi suficiente, devendo ser
repetida a coleta com um novo dispositivo.

19. Com a confirmação da cor branca no cartão FTA®, coloque o


coletor dentro da embalagem de acondicionamento com o sachê dessecante,
selando-a com adesivo. O cartão pode ser acondicionado em temperatura
ambiente.

20. Descarte os resíduos gerados, bem como as luvas descartáveis em


recipientes adequados.

21. Lave e higienize as mãos após o término da coleta.

114
IMPORTANTE!

Os resíduos gerados na coleta de Amostras de


Referência devem ser tratados como resíduos biológicos e
identificados como tal. Ao dirigir-se às unidades penais, a
equipe de coleta DEVE estar munida com recipientes
coletores dos resíduos, sendo estes identificados como
“material infectante” e devem ser recolhidos ao final das
atividades, sendo descartados de forma adequada
conforme a legislação vigente.

SAIBA MAIS!
Se a transferência de amostra não foi o suficiente e uma área
branca não foi produzida, deve-se atentar para os seguintes fatos:
- Certifique-se de que a esponja esteja bem umedecida com
saliva antes de esfregá-la nas bochechas, pois a saliva ajuda na
transferência da amostra para o cartão FTA.
- Certifique-se de que o dispositivo seja mantido na posição de
transferência de amostra por 10 segundos completos. Verifique se a
esponja está localizada embaixo da aba de trava da esponja e se a
haste dobradiça está posicionada em sua trave na posição inferior,
quando a transferência da amostra para o cartão é realizada. Esse
fato garante uma aplicação de pressão uniforme da esponja na área
de deposição da amostra.

115
Figura 43: Ilustração de um Cartão FTA® quando a amostra de mucosa bucal é transferida
corretamente para superfície do cartão (lado esquerdo, coloração branca ao centro) e quando a
transferência é insuficiente (lado direito, coloração rosa ao centro).
Fonte: Adaptado de https://www.sigmaaldrich.com/technical-
documents/articles/biology/instructions-for-easicollect.html.

116
Aula 4 - Acondicionamento, Armazenamento e Transporte de
Amostras de Referência para as Unidades Periciais de
Processamento

Chegamos ao ponto final das coletas: o momento de armazenar as


amostras e encaminhá-las às unidades periciais responsáveis pelo
processamento. Mas antes disso, relembrando o que foi ensinado na aula I sobre
organização, veja alguns fatos importantes.

Após a finalização das coletas, deve-se realizar uma última checagem do


material produzido durante procedimento.

Os pontos importantes de conferência são os seguintes:

I) Verificar se a pasta-arquivo de cada doador contém os documentos exigidos


para a realização da coleta obrigatória do material biológico (guia de
recolhimento do condenado ou equivalente, documento ou extrato de sistema de
informação oficial sobre informações do condenado, documento com sentença
condenatória ou documento de autorização judicial determinando a coleta de
material biológico), bem como o formulário de coleta de material biológico;

II) Conferir a correspondência das amostras coletadas com os referentes


arquivos (observando, principalmente, o código de identificação das amostras);

III) Conferir se as amostras estão acondicionadas corretamente e dispostas em


embalagens adequadas para transporte; e

IV) Checar se todo resíduo gerado foi recolhido e descartado de maneira


adequada.

Os suabes e os cartões FTA® possuem diferentes maneiras de serem


armazenados e isso deve ser levado em consideração no momento do transporte
dos materiais às unidades de processamento das amostras.

117
4.1 Armazenamento e transporte de amostras de mucosa
oral coletadas com suabes estéreis

Preferencialmente, os suabes devem ser mantidos refrigerados (0-7°C)


desde a coleta até a chegada no destino e serem enviados o mais rápido
possível para os laboratórios.

Para tal, os suabes, dentro de suas embalagens primárias, devem ser


acondicionados em sacos plásticos, transparentes e bem vedados e colocados
em caixas térmicas para transporte. Estas caixas devem ser de material rígido,
lavável, impermeável, com tampa, cantos e bordas arredondados e devidamente
identificados. Além disso é imprescindível que, junto com as amostras, seja
utilizado gelo para manter a refrigeração constante, em que a quantidade de gelo
deva corresponder a, no mínimo, um terço do volume da caixa térmica.

ATENÇÃO
Gelo reciclável é o material de escolha a ser utilizado no
armazenamento e transporte de amostras biológicas.
No entanto, caso este não esteja disponível, pode-se
utilizar cubos de gelo comum em dentro de um saco
plástico, de modo a evitar o vazamento da água
decorrente de um eventual descongelamento.

Figura 44: Atenção


Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

118
4.2 Armazenamento e transporte de amostras de mucosa
oral coletadas com cartões FTA®

O uso dos cartões FTA® vem substituindo os suabes estéreis por


contarem com a possibilidade de serem estáveis em temperatura ambiente, o
que acarreta a possibilidade da realização de coletas em locais mais distantes
das unidades de processamento das Amostras de Referência, menor
suscetibilidade das amostras a interferentes como oscilações de temperatura,
umidade e contaminação por microrganismos.

Para a realização de seu transporte, é necessário apenas que as


embalagens primárias, contendo os coletores com os cartões FTA® sejam
acondicionadas em qualquer recipiente rígido utilizado para transporte de
objetos.

SAIBA MAIS!
O cartão FTA® DEVE ser armazenado em temperatura
ambiente. Quando armazenadas corretamente, as amostras de
mucosa oral contidas nos cartões FTA estão em condições ótimas
para processamento até a data de validade do kit. Além disso, os
cartões devidamente secos podem ser armazenados por longos
períodos em embalagens do tipo multibarreira, juntamente com um
sachê contendo material dessecante (geralmente sílica).

Agora que você viu como funciona as etapas de planejamento, organização


previas das coletas de DNA de condenados e aprendeu também como realizar
as coletas de forma segura e padronizadas, você já pode começar a executar as
atividades. Mas antes disso, vamos revisar o que foi estudado até aqui para fixar
melhor os pontos mais importantes.

119
Neste módulo, você aprendeu que:

• O estudo da Resolução nº 10, de 28 de fevereiro de 2019, que


regulamenta a padronização de procedimentos relativos à coleta de
material biológico para fins de inclusão, armazenamento e manutenção
dos perfis genéticos nos bancos de dados é necessária para entender de
que forma as coletas devem ser conduzidas, bem como quais as
documentações são necessárias para sua validade legal;
• Planejar as ações e organizar os dados obtidos dos condenados que
serão submetidos às coletas compulsórias são fundamentais para a
otimização das atividades;
• A execução do trabalho a ser realizada pela equipe deve ser feita de forma
segura. Para isso, noções de Biossegurança para entendimento dos
riscos biológicos que o trabalho com manipulação de amostras produz,
bem como o uso correto de equipamentos de proteção individual, além de
boas práticas de trabalho são cruciais para o trabalho;
• O uso de técnicas padronizadas para a coleta de células de mucosa oral,
como preconizado pela Resolução n° 10 é essencial para uma melhor
uniformização do trabalho da equipe responsável pelas coletas, bem para
o rendimento ótimo das amostras de DNA obtidas pelo posterior
processamento;
• O acondicionamento, armazenamento e transporte das amostras
coletadas deve ser realizado de acordo com o tipo de suporte utilizado
(suabes estéreis ou cartões FTA®), visando manter a qualidade do
material desde o momento de sua coleta até a chegada na unidade de
processamento laboratorial.

120
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prever a coleta de perfil genético como forma de identificação criminal, e dá
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________. Ministério da Justiça e Segurança Pública. RESOLUÇÃO Nº 10, DE


28 DE FEVEREIRO DE 2019 - Dispõe sobre a padronização de procedimentos
relativos à coleta obrigatória de material biológico para fins de inclusão,
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compõem a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos. Brasília, 3p., 2019.

________. Ministério da Justiça. INSTRUÇÃO TÉCNICA Nº 29/2016-DITEC/PF:


Dispõe sobre a padronização de procedimentos de coleta, identificação,
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121
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123

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