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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA


SECRETARIA DE GESTÃO E ENSINO EM SEGURANÇA PÚBLICA
DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA

COORDENAÇÃO-GERAL DE ENSINO
COORDENAÇÃO DE ENSINO A DISTÂNCIA

CONTEUDISTA
Gabriella Henriques da Nobrega

REVISÃO DO CURSO
Ariele Louise Barichello Cunha

PRODUÇÃO (APOIO)
Danilo Moreira

REVISÃO PEDAGÓGICA
Gizele Ferreira dos Santos Siste

SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

PROGRAMAÇÃO E EDIÇÃO
Lúcio André Amorim
Renato Antunes dos Santos

DESIGNER
Fagner Fernandes Douetts
Renato Antunes dos Santos

DESIGNER INSTRUCIONAL
Wagner Henrique Varela da Silva

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Sumário
.................................................................................................................................... 1

Apresentação do Curso ............................................................................................... 5

Objetivos do Curso ...................................................................................................... 6

Objetivo Geral .......................................................................................................... 6

Objetivos Específicos .............................................................................................. 6

Estrutura do Curso ...................................................................................................... 6

Módulo I - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ................................................................. 7

Apresentação do módulo ......................................................................................... 7

Objetivos do módulo ................................................................................................ 7

Estrutura do módulo ................................................................................................ 7

Aula 1 - A prova material e a investigação criminal ................................................. 8

Aula 2 - Cadeia de custódia de vestígios ............................................................... 13

Aula 3 - A importância da cadeia de custódia de vestígios.................................... 17

Finalizando ............................................................................................................ 20

Módulo II - MARCOS NORMATIVOS ........................................................................ 21

Apresentação do módulo ....................................................................................... 21

Objetivos do módulo .............................................................................................. 21

Estrutura do módulo .............................................................................................. 21

Aula 1 - A Portaria Senasp nº 82/2014 .................................................................. 22

Aula 2 - A Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, e o aperfeiçoamento da


legislação nacional referente à cadeia de custódia de vestígios ........................... 23

Aula 3 - Consequências jurídicas da inobservância da cadeia de custódia de


vestígios................................................................................................................. 26

Finalizando ............................................................................................................ 29

Módulo III - PROCEDIMENTOS TÉCNICOS ............................................................ 31

Apresentação do módulo ....................................................................................... 31

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Objetivos do módulo .............................................................................................. 31

Estrutura do módulo .............................................................................................. 31

Aula 1 - As 10 etapas da cadeia de custódia de vestígios..................................... 32

Aula 2 - Os profissionais responsáveis pela cadeia de custódia de vestígios ....... 34

Aula 3 - Procedimentos básicos para a materialização da cadeia custódia de


vestígios................................................................................................................. 35

Finalizando ............................................................................................................ 45

Referências Bibliográficas ......................................................................................... 47

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Apresentação do Curso

Ouça o ÁUDIO 1

Caro(a) aluno(a),

Seja bem-vindo ao Curso Cadeia de Custódia de Vestígios: noções básicas.

Neste curso, você terá acesso aos conceitos básicos relacionados à cadeia de
custódia de vestígios, a procedimentos e atitudes que deverão ser observados pelos
agentes do Sistema Único de Segurança Pública (Susp) para a preservação da
validade da prova material.

Com esses conhecimentos, esperamos destacar a importância da manutenção


da cadeia de custódia de vestígios para os diversos profissionais do Susp. Afinal, sem
a observância desta, pode-se comprometer toda a idoneidade da prova material e,
consequentemente, causar sérios prejuízos à persecução penal.

Nesta proposta, além de apresentarmos os conceitos, os marcos normativos


pertinentes, os procedimentos técnicos básicos necessários para a cadeia de custódia
de vestígios, pretendemos dar ênfase para: as etapas da cadeia de custódia de
vestígios, a atuação profissional nesse cenário e a importância do cumprimento
desses procedimentos para a idoneidade e valorização da prova material.

Assim, esperamos contribuir para seu conhecimento teórico e prático, bem


como para futuras reflexões sobre a necessidade do respeito aos aspectos legais e
técnicos das etapas da cadeia de custódia.

Tenha um excelente curso!!!

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Objetivos do Curso

Objetivo Geral

Objetiva-se que, ao final do curso, o participante seja capaz de desempenhar


suas atividades em consonância com a manutenção da cadeia de custódia de
vestígios, colaborando para a validade da prova material e observando os princípios
éticos, técnicos e legais pertinentes.

Objetivos Específicos
 Definir os conceitos necessários para a preservação de vestígios de locais de
crimes;
 Relacionar os principais instrumentos regulatórios sobre a construção da
cadeia de custódia; e
 Identificar os procedimentos técnicos necessários para garantia do serviço
pericial.

Estrutura do Curso

Este curso compreende os seguintes módulos:

Módulo 1 - Aspectos introdutórios – Apresenta conceitos-chave sobre prova material


e cadeia de custódia de vestígios, além de abordar a importância de sua observação.

Módulo 2 - Marcos normativos – Aborda os marcos normativos que estabelecem a


obrigatoriedade da cadeia de custódia de vestígios e as consequências jurídicas de
sua inobservância.

Módulo 3 - Procedimentos técnicos – Versa sobre os procedimentos técnicos que


precisam ser observados pelos agentes integrantes do Susp para a manutenção da
cadeia de custódia de vestígios, permitindo sua aplicação na atuação profissional. O
módulo também faz uma breve discussão sobre quais são os profissionais
responsáveis pela cadeia de custódia de vestígios.

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Módulo I - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Ouça o ÁUDIO2

Apresentação do módulo
O módulo 1 apresenta os conceitos de prova material e cadeia de custódia de
vestígios, além de abordar a importância de sua observação.

Objetivos do módulo
Este módulo tem por objetivos:

 Apresentar o conceito de prova material no contexto da investigação criminal;


 Apresentar o conceito de cadeia de custódia de vestígios; e
 Abordar a importância da observação da cadeia de custódia de vestígios.

Estrutura do módulo
Este módulo compreende as seguintes aulas:

Aula 1 - A prova material e a investigação criminal

Aula 2 - Cadeia de custódia de vestígios

Aula 3 - A importância da cadeia de custódia de vestígios

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Aula 1 - A prova material e a investigação criminal

Diante da prática de uma infração penal, para que possa haver a


responsabilização do indivíduo criminoso e a consequente realização do jus puniendi
– poder dever de punir do Estado –, faz-se necessária a persecução penal, pois não
pode haver a imposição de pena sem o devido processo legal (LOPES JR., 2018,
grifo nosso).

O direito fundamental ao devido processo legal está previsto na Constituição


Federal da República Federativa do Brasil no seu artigo 5º, inciso LIV, que dispõe que
“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”
(BRASIL, 1988). Importante destacar que dito direito também é positivado em diversas
normativas internacionais dada a sua importância (DUDH, artigo 9; CADH, artigos 7(2)
e 8(2) e PIDCP, artigo 9(1)).

Não é demais ressaltar que o devido processo legal é consequência de outro


direito fundamental previsto no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal da
República Federativa do Brasil, qual seja a presunção da inocência: “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”
(BRASIL, 1988; DUDH, artigo 11 e PIDCP, artigo 14 (2)).

No Brasil, o modelo de persecução penal adotado é composto por duas fases


distintas:

Figura 1: Fases da persecução penal


Fonte: (LIMA, 2016); SCD/EaD/Segen.

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Mas, afinal, o que é persecução penal?

“A persecução penal é o conjunto de atividades desenvolvidas pelo Estado que


possibilitam atribuir punição ao autor de um crime cometido” (SENASP, 2020a).

Na fase pré-processual, temos a investigação criminal materializada em um


procedimento administrativo denominado, inquérito policial, de competência da Polícia
Judiciária. Nesse momento, são realizadas diversas diligências com a finalidade de
reunir os elementos necessários à apuração das infrações penais e de sua autoria,
conforme o Código de Processo Penal Brasileiro (CPP). Segundo o artigo 4º do CPP
(BRASIL, 1941): “A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no
território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações
penais e da sua autoria.”

Assim, em uma investigação criminal, o que se busca basicamente é a prova


da materialidade do delito, isto é, a comprovação da existência do fato, a sua natureza
criminosa e a determinação da autoria, que significa a identificação do(s) autor(es) do
crime para a consequente responsabilização legal.

A segunda fase da persecução penal, qual seja, a fase processual ou a ação


penal propriamente dita, é o procedimento de natureza judicial que ocorre na vara
criminal competente sobre a presidência de um magistrado. Nessa fase, os elementos
de convicção produzidos no âmbito judicial assumem natureza jurídica de prova.

Portanto, no Brasil, em regra, é após a conclusão da investigação criminal, que


fica a cargo da Polícia Judiciária, que teremos o desenrolar de uma ação penal perante
o Poder Judiciário.

Durante a ação penal, para que o juiz forme sua convicção sobre a
materialidade dos fatos e sobre a autoria do crime, ele apreciará a prova produzida
para essa finalidade. Nossa legislação processual penal contempla quatro espécies
de prova: confessional, testemunhal, documental e pericial.

Você sabe o que é perícia e qual a sua finalidade?

Segundo Capez (2002), perícia:

é um meio de prova que consiste em um exame elaborado por


pessoa, em regra profissional, dotada de formação e

9
conhecimentos técnicos específicos, acerca de fatos
necessários ao deslinde da causa. Trata-se de um juízo de
valoração científico, artístico, contábil, avaliatório ou técnico,
exercido por especialista, com o propósito de prestar auxílio ao
magistrado em questões fora de sua área de conhecimento
profissional (CAPEZ, 2002, p. 272).

A finalidade da perícia é produzir prova. Assim, perícia é meio de prova


desenvolvida pelo indivíduo técnico especializado (perito).

No caso específico deste curso, nosso enfoque será do conceito de perícia


como “o conjunto de exames técnicos realizados no universo da Criminalística”
(ESPÍNDULA, 2014, p. 249).

A prova pericial no processo penal, por muitos, denominada prova material, é


a produzida pela perícia oficial de natureza criminal, conforme o artigo 159 do CPP:
“O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.”

Por sua vez, o corpo de delito “é o conjunto de vestígios materiais (elementos


sensíveis) deixados pela infração penal, ou seja, representa a materialidade do crime.
Os elementos sensíveis são os vestígios corpóreos perceptíveis por qualquer dos
sentidos humanos” (CAPEZ, 2002, p. 275). Ele também pode ser definido como o
conjunto de elementos materiais (vestígios) decorrentes do ilícito praticado.
Representa, portanto, a comprovação material do crime praticado.

Assim, exame de corpo de delito é toda perícia realizada no corpo de delito. É


o estudo do conjunto de elementos materiais (vestígios) decorrentes do ilícito
praticado. É importante destacar que a perícia oficial de natureza criminal analisa os
vestígios sob uma ótica científica.

E o que são vestígios?

Vestígios são elementos materiais que individualmente compõem o corpo de


delito. Segundo o CPP, art. 158-A, § 3º: “Vestígio é todo objeto ou material bruto,
visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal.”

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Portanto, vestígio “é tudo o que encontramos no local do crime que, após
estudado e interpretado pelos peritos, possa vir a se transformar – individualmente ou
associado a outros – em prova” (ESPÍNDULA, 2014, p. 255). Ainda segundo este
autor:

para que o vestígio exista é necessário que se tenha o agente


provocador, o suporte e o vestígio em si. O agente provocador é
que produziu – ou contribuiu para tal – o vestígio. O suporte é o
local onde fora produzido tal vestígio, já que estamos falando de
coisa material. E o vestígio, nada mais é do que o produto da
ação do agente provocador (ESPÍNDULA, 2014, p. 255).

Então, a partir da análise científica do vestígio feita pela perícia oficial, a prova
pericial/material é produzida.

Figura 2: Atenção
Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

Veja o que diz o artigo 155 do Código de Processo Penal Brasileiro (CPP):

Art. 155: “O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da


prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos

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informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.”

Assim, as perícias, mesmo que realizadas na fase de investigação criminal, são


consideradas provas, e não apenas elementos informativos.

Isto posto, é possível afirmar que, embora a prova material não seja plena ou
legalmente mais valiosa do que os outros meios de prova, é prova muito importante e
com certeza possui grande influência na convicção do julgador (LOPES JR., 2018).

Figura 3: Pense nisso


Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

Você concorda com essa afirmativa? Reflita.

Nesse sentido, é possível asseverar que a prova material oferece a melhor


perspectiva para prover informações objetivas e confiáveis em uma investigação, pois
as demais fontes de informação sofrem com problemas de confiabilidade limitada
(UNODC, 2010).

Podemos afirmar que o resultado dos exames periciais assume uma robustez
probatória que lhe confere alto poder de convencimento perante os usuários dessa
prova. Atreladas a este poder de convencimento estão as características de
autenticidade e confiabilidade da prova material.

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Figura 4: Características da Autenticidade e da Confiabilidade
Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

Para garantir estes últimos atributos, faz-se obrigatória a observação dos


procedimentos necessários para a manutenção da cadeia de custódia de vestígios,
conforme você verá ao longo do nosso curso.

Aula 2 - Cadeia de custódia de vestígios

O que você entende por cadeia de custódia de vestígios?

Em verdade, a cadeia de custódia de vestígios é um conjunto de procedimentos


para os quais são apresentadas várias conceituações.

A International Organization for Standardization (ISO), na sua norma nº 22095


(2020), conceitua cadeia de custódia como o “processo pelo qual entradas e saídas
de materiais e informações associadas são transferidas, monitoradas e controladas à
medida que avançam em cada etapa do processo”. Na norma ISO nº 21043 (2018), a
cadeia de custódia é definida como o “registro cronológico do manuseio e
armazenamento de um item desde o seu ponto de coleta até a sua restituição ou
descarte final”.

Segundo Prado (2014, p. 80), a cadeia de custódia é um “dispositivo que


pretende assegurar a integridade dos elementos probatórios”.

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Para Velho, Geiser e Espíndula (2012, p. 29), “o termo cadeia de custódia
refere-se à capacidade de garantir a identidade e integridade de um vestígio [...] é o
processo usado para documentar e manter a história cronológica desse vestígio.”

É possível compreender a cadeia de custódia como um processo usado na


manutenção e documentação da história cronológica dos vestígios, para possibilitar o
rastreio de seu manuseio e armazenamento do ponto de coleta até o descarte,
garantindo sua integridade e confiabilidade (BRENNER, 2004).

Figura 5: Características da Integridade e da Confiabilidade


Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

Para Edinger, a cadeia de custódia é:

[...] composta de elos, que dizem respeito a um vestígio que, por


sua vez, eventualmente, será considerado uma prova. Um elo é
qualquer pessoa que tenha manejado esse vestígio. É dever do
Estado e, também, direito do acusado, identificar, de maneira
coerente e concreta, cada elo, a partir do momento no qual o
vestígio foi encontrado. Assim, fala-se em cadeia de custódia
íntegra quando se fala em uma sucessão de elos provados
(EDINGER, 2016, p. 239).

Com a Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, o legislador brasileiro inseriu


o conceito legal de cadeia de custódia no CPP, no art. 158-A:

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Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os
procedimentos utilizados para manter e documentar a história
cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de
crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte.

Você percebeu que o conceito trazido pelo legislador brasileiro se


coaduna às definições internacionalmente e nacionalmente empregadas para a
cadeia de custódia?

Fica clara a preocupação com a documentação cronológica do vestígio de


maneira a permitir sua rastreabilidade. Assim, os procedimentos metodológicos que
devem ser adotados por todos aqueles que mantiverem contato com um vestígio (tais
procedimentos básicos serão abordados no Módulo 3 deste curso) obedecem ao
princípio criminalístico da documentação.

SAIBA MAIS!
No contexto da cadeia de custódia podemos compreender a
rastreabilidade como a capacidade de reconhecer todo o caminho de um
vestígio desde o seu reconhecimento até o seu descarte, sendo possível
um controle efetivo da sua posse (com quem esteve o vestígio) e de seu
manuseio (quem o manipulou).

Você conhece o princípio criminalístico da documentação? Veja a seguir.

O princípio criminalístico da documentação estabelece que “toda amostra


deve ser documentada, desde seu nascimento no local de crime até sua análise e
descrição final, de forma a se estabelecer um histórico completo e fiel de sua origem”
(DOREA, 2006, p. 11).

Informações escritas referentes a:

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Figura 6: “O quê?”, “Quem?”, “Onde?” e “Quando?”
Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

São essenciais para a adequada documentação de um vestígio. Todo o


caminho percorrido por um vestígio precisa ser documentado oficialmente, de modo a
não permitir dúvidas sobre sua credibilidade.

Portanto, os vestígios precisam possuir uma cadeia de custódia que garanta


sua integridade desde sua coleta até sua destinação final, haja vista que, a partir de
sua localização (em um local de crime por exemplo), passando por sua análise pela
perícia oficial até o encaminhamento para as autoridades competentes, esses
elementos materiais necessitam ser manuseados por diversos atores, transportados
entre órgãos oficiais e armazenados em vários momentos.

A cadeia de custódia se apresenta, então, como uma ferramenta essencial para


a garantia da autenticidade e confiabilidade da prova material (EDINGER, 2016)
dentro da persecução penal, conforme você verá na próxima aula.

16
Aula 3 - A importância da cadeia de custódia de vestígios

Iniciamos nossa terceira aula com o seguinte questionamento:

Figura7: Afinal para que serve a cadeia de custódia?


Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

A cadeia de custódia serve para promover a rastreabilidade, integridade e


idoneidade dos vestígios, de forma a garantir a autenticidade e confiabilidade da prova
material.

SAIBA MAIS!

A idoneidade do vestígio diz respeito à sua confiabilidade no


contexto da investigação. Vestígio idôneo é o vestígio verdadeiro, íntegro e
preservado.

A correta realização dos procedimentos de cadeia de custódia possibilita evitar


o extravio, a adulteração e a troca de vestígios, promovendo a segurança destes.

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IMPORTANTE!

Para que uma prova seja admissível em um julgamento,


não podem pairar dúvidas sobre sua autenticidade.
Questionamentos a esse respeito podem atingir fatalmente a
credibilidade da prova.

A importância da cadeia de custódia está exatamente na garantia da


autenticidade e confiabilidade da prova material.

O cuidado com o manuseio dos vestígios e o registro cronológico adequado,


desde a sua origem até o seu destino final, garantirão a robustez da prova material.

Exemplificando...

Imagine a seguinte situação hipotética: diante da ocorrência de


um crime de estupro seguido de morte contra uma mulher, coletou-se o
material biológico da cavidade vaginal da vítima e extraiu-se o perfil para o
confronto genético (através da análise de DNA). A amostra foi inserida no
Banco Nacional de Perfis Genéticos e apontou a correspondência com um
indivíduo X. Rapidamente, de posse dessa informação técnica e robusta,
foi identificado o autor. Todavia, durante o processo, a defesa questionou
a origem da amostra retirada da vítima, pois não havia o adequado registro
documental da coleta e do armazenamento do vestígio antes de seu
processamento e de sua inserção no Banco de Perfis.

Nesse cenário, mesmo diante da aplicação da técnica científica mais moderna


e da obtenção de informações-chave sobre o caso, se a origem do vestígio for
questionada, não sendo possível garantir sua idoneidade, a autenticidade da prova
não estará garantida. Teríamos o conhecimento da informação, mas a prova
estaria fatalmente comprometida!

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Assim, em um caso concreto, quando a prova material for essencial ao seu
esclarecimento, a garantia da sua autenticidade através da cadeia de custódia trará a
confiabilidade necessária para a promoção da justiça.

- O despertar que traduz a importância: caso real

No ano de 1976, Michael B. Anderson publicou o artigo “Chain of Custody


Requirements in Admissibility of Evidence”, onde cita decisões judiciais de estados
norte-americanos dos anos 1900 que já traziam preocupações com a cadeia de
custódia de vestígios.

Com o passar dos anos, embora a discussão sobre a temática tenha avançado,
ainda não havia uniformidade de entendimentos sobre a utilização e obrigatoriedade
da cadeia de custódia de vestígios até que a temática veio à tona a partir de um
episódio jurídico internacionalmente conhecido, o caso O. J. Simpson.

Exemplificando...

Você já ouviu falar no caso do norte-americano O. J. Simpson?

Orenthal James Simpson – O. J. Simpson – é um famoso ex-jogador


de futebol americano. Ele foi acusado de ser o principal suspeito dos
assassinatos de sua ex-mulher, Nicole Brown Simpson e de Ronald
Goldman, ocorridos na noite de 12 de junho de 1994. Ambas as vítimas
foram encontradas sem vida na casa de Nicole. Durante a investigação,
vários procedimentos de custódia de vestígios não foram observados,
permitindo à defesa questionar a autenticidade e confiabilidade das provas
materiais, chegando a afirmar, na construção de teses defensivas, que
alguns vestígios poderiam facilmente ter sido forjados ou contaminados, de
forma proposital, para incriminar o acusado. Ditas alegações introduziram
no julgamento um grau de “dúvida razoável” com relação à autoria do crime.
O. J. Simpson foi declarado inocente após 372 dias de julgamento.

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Ninguém foi responsabilizado criminalmente pelos dois homicídios (PAK,
2019).

Finalizando
Neste módulo, você aprendeu que:

 O modelo de persecução penal brasileiro é composto por duas fases: a fase


pré-processual – investigação criminal – e a fase processual – ação penal.
 Em uma investigação criminal, o que se busca basicamente é a prova da
materialidade do delito e a determinação de sua autoria.
 Durante a ação penal, para que o magistrado forme sua convicção sobre os
fatos e sobre a autoria criminosa, ele apreciará as provas produzidas para essa
finalidade, dentre estas está a prova pericial.
 A prova pericial, por muitos denominada prova material, é a prova de natureza
criminal produzida pela perícia oficial a partir da análise científica dos vestígios.
 De acordo com o CPP, considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os
procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do
vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e
manuseio a partir de seu reconhecimento até o seu descarte.
 A cadeia de custódia serve para promover a rastreabilidade, integridade e
idoneidade dos vestígios, de forma a garantir a autenticidade e confiabilidade
da prova material.
 Para que uma prova seja admissível em um julgamento, não podem pairar
dúvidas sobre sua autenticidade. Questionamentos a esse respeito podem
atingir fatalmente a credibilidade da prova.
 A importância da cadeia de custódia está exatamente na garantia da
autenticidade e confiabilidade da prova material.

20
Módulo II - MARCOS NORMATIVOS

Ouça o ÁUDIO3

Apresentação do módulo
Este segundo módulo irá abordar os marcos normativos que estabelecem a
obrigatoriedade da cadeia de custódia de vestígios e as consequências jurídicas de
sua inobservância.

Objetivos do módulo
Este módulo tem por objetivos:

 Apresentar os principais marcos normativos nacionais sobre a cadeia de


custódia de vestígios; e
 Abordar as consequências jurídicas da inobservância da cadeia de custódia de
vestígios.

Estrutura do módulo
Este módulo compreende as seguintes aulas:

Aula 1 - A Portaria Senasp nº 82, de 16 de julho de 2014

Aula 2 - A Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, e o aperfeiçoamento da


legislação nacional referente à cadeia de custódia de vestígios

Aula 3 - Consequências jurídicas da inobservância da cadeia de custódia de vestígios

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Aula 1 - A Portaria Senasp nº 82/2014

Em 16 de julho de 2014, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp),


órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, publicou a Portaria
Senasp nº 82 que estabelecia as “diretrizes sobre os procedimentos a serem
observados no tocante à cadeia de custódia de vestígios.”

Você já tinha ouvido falar da Portaria Senasp nº 82/2014 e de seu


conteúdo?

O ato administrativo em questão propunha a uniformização nacional dos


procedimentos relacionados à custódia dos vestígios para a preservação da prova
material, significando um avanço em relação ao tema no Brasil.

Todavia, conforme seu artigo 2º, a normativa era de uso obrigatório somente
para a Força Nacional de Segurança Pública. Quanto aos órgãos periciais oficiais em
geral, tratava-se de um conjunto de diretrizes que visavam apenas orientar a cadeia
de custódia dos vestígios, não havendo naquele momento, vinculação ao seu uso.

Os procedimentos específicos referentes à cadeia de custódia constavam no


Anexo I da Portaria Senasp nº 82/2014, que trazia a seguinte definição:

“Denomina-se cadeia de custódia o conjunto de todos os


procedimentos utilizados para manter e documentar a história
cronológica do vestígio, para rastrear sua posse e manuseio a
partir de seu reconhecimento até o descarte”.

A portaria da Senasp apresentava a divisão das fases da cadeia de custódia


em externa e interna. Considerava como fase externa aquela que “compreende todos
os passos entre a preservação do local de crime ou apreensões dos elementos de
prova e a chegada do vestígio ao órgão pericial encarregado de processá-lo” e como
fase interna “todas as etapas entre a entrada do vestígio no órgão pericial até sua
devolução juntamente com o laudo pericial, ao órgão requisitante da perícia” (BRASIL,
2014).

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A normativa apresentava também as etapas da cadeia de custódia e
estabelecia procedimentos genéricos a serem observados para a custódia de
qualquer espécie de vestígio. Tais procedimentos eram relativos ao seu manuseio.
Havia também previsões para as Centrais de Custódias nas unidades de perícia sobre
a guarda e o controle dos vestígios com algumas regras mínimas de funcionamento.

É possível perceber que o manuseio e o registro cronológico do vestígio, desde


seu reconhecimento até seu descarte, eram as principais preocupações daquele
documento que, sem dúvidas, foi a base para a construção do texto normativo que
alterou o CPP no ano de 2019, conforme você verá na próxima aula.

Aula 2 - A Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, e o


aperfeiçoamento da legislação nacional referente à
cadeia de custódia de vestígios

A Lei nº 13.964, intitulada “Pacote Anticrime”, foi sancionada em 24 de


dezembro de 2019 e entrou em vigor no dia 23 de janeiro de 2020, promovendo
inúmeras alterações na legislação penal e processual penal brasileira.

De acordo com Junqueira, Vanzolini, Fuller e Pardal (2020, p. 7):

O foco do projeto foi o recrudescimento do tratamento à


criminalidade violenta, por um lado, e, em contrapartida, um
tratamento mais rápido e brando aos crimes leves e não
violentos, evitando o processo e o encarceramento, com a
criação de acordo de não persecução penal, desafogando as
Varas Criminais e evitando a pena de prisão nesses casos.

Segundo Nucci (2020, p.1) “a legislação tornou-se mais rigorosa em certos


pontos, exatamente onde havia necessidade”.

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Embora as mudanças promovidas pela Lei nº 13.964/2019 pudessem ter
avançado ainda mais na modernização de nossa legislação criminal, sem dúvidas
foram estabelecidas alterações muito positivas ao ordenamento jurídico brasileiro.

Dentre essas inovações positivas, temos a inserção da cadeia de custódia no


texto do Código de Processo Penal, especificamente no Capítulo II do Título VII. No
capítulo agora intitulado “Do exame de corpo de delito, da cadeia de custódia e das
perícias em geral”, o conteúdo relativo à cadeia de custódia foi inserido através dos
artigos 158-A até 158-F. Recomendamos a você a leitura completa desses artigos na
Lei nº 13.964/2019.

Veja, a seguir, os principais conteúdos sobre a cadeia de custódia de


vestígios positivados no CPP.

O artigo 158-A traz os conceitos legais de cadeia de custódia e de vestígio,


apresenta o ponto de início da cadeia de custódia na preservação do local de crime
ou em outros procedimentos policiais, ou periciais, nos quais seja detectada a
existência de um vestígio (uma busca e apreensão, por exemplo) e estabelece a
responsabilidade inicial pela preservação dos vestígios.

No artigo 158-B, o legislador estabelece dez (10) etapas necessárias para o


rastreamento de um vestígio:

Figura 8: Dez etapas necessárias para o rastreamento de um vestígio


Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

Você conhecerá melhor essas etapas no Módulo 3 de nosso curso.

24
A coleta dos vestígios, de maneira a preservar a sua cadeia de custódia, foi
prevista no artigo 158-C.

No tocante ao acondicionamento dos vestígios, etapa sensível para a


manutenção da integridade da prova, as regras genéricas foram dispostas no artigo
158-D e seus parágrafos.

A previsão da criação das Centrais de Custódia nos órgãos de criminalística,


sua gestão e funcionamento foram previstos no artigo 158-E.

Por fim, o artigo 158-F estabelece a custódia definitiva de vestígios.

Figura 9: Reflexão
Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

O texto atual traz poucos complementos, mas muito importantes, em relação à


normativa anterior, como: acrescenta o isolamento do local de crime como uma das
etapas da cadeia de custódia; e, na conceituação de cadeia de custódia, acrescenta
a expressão “coletado em locais ou em vítimas de crimes”.

25
IMPORTANTE!

Reiterar que, diferentemente da Portaria Senasp nº


82/2014, cujo texto era de uso obrigatório somente para a Força
Nacional de Segurança Pública, as disposições legais
positivadas no CPP sobre a cadeia de custódia são obrigatórias
para todo agente público que mantiver contato com qualquer
vestígio que será utilizado para a produção da prova pericial, em
qualquer fase de uma persecução penal.

Aula 3 - Consequências jurídicas da inobservância da


cadeia de custódia de vestígios

A comprovação da manutenção da cadeia custódia cabe ao Estado através de


seus agentes.

A quebra da cadeia de custódia (break on the chain of custody), sem sombra


de dúvidas, pode gerar consequências irreversíveis à persecução penal, porque
ocasionará a quebra da rastreabilidade da prova e, consequentemente, provocará a
perda de credibilidade daquele elemento probatório.

O que você imagina que pode provocar a quebra da cadeia de custódia?

Haverá a quebra da cadeia de custódia quando não existir comprovação válida


e suficiente em relação à custódia da prova em qualquer dos momentos de seu
manuseio, transporte e armazenamento, a partir de sua coleta ou recebimento até o
seu descarte (PARODI, 2021).

Essa quebra pode ocorrer, por exemplo, por inadequação no acondicionamento


e/ou no registro do vestígio. O registro cronológico da custódia do vestígio é a única
maneira de demonstrar a manutenção da cadeia de custódia deste.

26
Segundo Prado (2014, p. 83) “no caso de quebra da cadeia de custódia não se
cogita perquirir sobre a boa ou má-fé dos agentes”. Trata-se, portanto, de uma
situação fática que independe da intenção do sujeito. Portanto, o dano está feito!

Conforme Matos (2017, p. 1):

Por mais que os avanços tecnológicos e científicos venham


contribuindo com as ciências forenses para melhorar a
capacidade de reunir evidências utilizadas na solução em
processos criminais ou civis, estes avanços, por si só, não
representam garantia que estas evidências serão aceitas como
prova pericial pela justiça.

No seu entendimento, quais seriam então as consequências da quebra da


cadeia de custódia?

Inicialmente, é preciso registrar que ainda existem divergências doutrinárias a


respeito dos efeitos ocasionados pela quebra da cadeia de custódia. O debate gira
em torno da inadmissibilidade da prova ou da valoração probatória em razão da
quebra da cadeia de custódia.

A primeira corrente doutrinária sustenta que a quebra da cadeia de custódia


gera a ilicitude da prova, fazendo com que esta seja inadmissível no processo e
deva ser desentranhada dos autos.

Veja os seguintes conceitos da primeira corrente doutrinária:

Lopes Jr.

Segundo Lopes Jr. (2018, p. 414), a consequência da quebra da cadeia de


custódia “deve ser a proibição de valoração probatória com a consequente exclusão
física dela e de toda a derivada”.

Prado

De acordo com Prado (2014), a quebra da cadeia de custódia pode ocasionar


a imprestabilidade da prova não corretamente custodiada diante de suspeita insanável
quanto à sua lisura, fiabilidade e integridade.

27
Dias Filho

Para Dias Filho (2012), a quebra da cadeia de custódia provoca sua


inadmissibilidade, impedindo sua valoração e implicando em sua exclusão do
processo.

Edinger

Conforme Edinger (2016, p. 251), “a prova cuja cadeia de custódia for quebrada
será considerada ilícita ou ilegítima. Assim, uma vez reconhecida sua ilicitude, de
forma definitiva, haverá o desentranhamento e sua inutilização”.

STJ

Nessa mesma perspectiva, o STJ já decidiu pela exclusão da prova material


em caso de quebra da cadeia de custódia no julgamento do Recurso Especial nº
1.795.341/RS de Relatoria do Ministro Nefi Cordeiro.

Por sua vez, a segunda corrente defende que a quebra da cadeia de custódia
não deve gerar a ilicitude da prova, todavia provocará atribuição de “menor valor ao
meio de prova” em questão (BADARÓ, 2017).

Argumenta Nucci (2020, p. 71) que:

é preciso frisar que o Brasil é um país continental, de modo que,


se a cadeia de custódia pode ser bem executada num Estado
mais rico, como o Paraná, pode enfrentar muitas dificuldades,
até pelas imensas distâncias, em Estados como o Amazonas.
Portanto, o simples descumprimento da cadeia de custódia não
deve gerar nulidade absoluta.

Por outro lado, importa mencionar que, desde que a prova seja a única forma
de inocentar alguém, a doutrina defende a admissibilidade do uso desta, mesmo
diante da quebra da cadeia de custódia, todavia tal posicionamento não é unânime
(PACCELLI, 2017).

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Você percebeu a gravidade das consequências da quebra da cadeia de
custódia para a persecução penal?

É inegável que, diante desse cenário de incertezas, a quebra da cadeia de


custódia provoca graves prejuízos à prova material e, consequentemente, à
obtenção da justiça, pois, se não for reconhecida sua nulidade absoluta, reduzido
será seu valor probatório.

Finalizando
Neste módulo, você aprendeu que:

 Desde o ano de 2014, já existia uma normativa da Senasp, a Portaria nº 82,


que estabelecia as “diretrizes sobre os procedimentos a serem observados no
tocante à cadeia de custódia de vestígios”.
 A Portaria Senasp nº 82/2014 propunha a uniformização nacional quanto aos
procedimentos relacionados à preservação dos vestígios para a preservação
da prova material e foi um avanço no tocante à cadeia de custódia no Brasil.
 A Portaria Senasp nº 82/2014 era de uso obrigatório somente para a Força
Nacional de Segurança Pública.
 A Lei nº 13.964, intitulada “Pacote Anticrime”, sancionada em 24 de dezembro
de 2019, entrando em vigor no dia 23 de janeiro de 2020, promoveu inúmeras
alterações na legislação penal e processual penal brasileira.
 Dentre as inovações positivas trazidas pela Lei nº 13.964/2019, temos a
inserção da cadeia de custódia no texto do Código de Processo Penal,
especificamente através dos artigos 158-A até 158-F.
 O conteúdo sobre cadeia de custódia positivado pelo legislador federal no CPP
por meio da Lei nº 13.964/2019 reproduz quase a totalidade daquele trazido
pela Portaria Senasp nº 82/2014.
 As disposições legais sobre cadeia de custódia positivadas no CPP são
obrigatórias para todo agente público que mantiver contato com qualquer
vestígio que será utilizado para a produção da prova pericial, em qualquer fase
de uma persecução penal.

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 Haverá a quebra da cadeia de custódia quando não existir comprovação válida
e suficiente em relação à custódia da prova a partir da coleta ou do recebimento
até seu descarte.
 A quebra da cadeia de custódia provoca graves prejuízos à prova material e,
consequentemente, à obtenção da justiça, pois, se não for reconhecida sua
nulidade absoluta, reduzido será seu valor probatório.

30
Módulo III - PROCEDIMENTOS TÉCNICOS

Ouça o ÁUDIO4

Apresentação do módulo
Este módulo irá abordar os procedimentos básicos que precisam ser
observados pelos agentes integrantes do Susp para a manutenção da cadeia de
custódia de vestígios. O módulo também fará uma breve discussão sobre quais são
os profissionais responsáveis pela cadeia de custódia de vestígios.

Objetivos do módulo
Este módulo tem por objetivos:

 Apresentar as etapas da cadeia de custódia de vestígios;


 Identificar quais são os profissionais responsáveis pela cadeia de custódia de
vestígios; e
 Explicitar os procedimentos básicos de cada uma das etapas da cadeia de
custódia de vestígios.

Estrutura do módulo
Este módulo compreende as seguintes aulas:

Aula 1 - As 10 etapas da cadeia de custódia de vestígios

Aula 2 - Os profissionais responsáveis pela cadeia de custódia de vestígios

Aula 3 - Procedimentos básicos para a materialização da cadeia de custódia de


vestígios

31
Aula 1 - As 10 etapas da cadeia de custódia de vestígios

Conforme você estudou no Módulo 2 de nosso curso, o CPP, no seu artigo 158-
B, estabelece dez (10) etapas necessárias para a cadeia de custódia:
reconhecimento, isolamento, fixação, coleta, acondicionamento, transporte,
recebimento, processamento, armazenamento e descarte.

Essas etapas ocorrem nas fases externa e interna da cadeia de custódia.


Podemos entender que:

Figura 10: Fases externa e interna da cadeia de custódia


Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.

Em ambas as fases, as etapas descritas a seguir deverão ser realizadas


dependendo da dinâmica necessária e, durante todo o procedimento da cadeia de
custódia, a documentação oficial deve ser constante.

Na Lei nº 13.964/2019, o legislador federal cuidou de conceituar cada uma das


dez (10) etapas da cadeia de custódia nos incisos do artigo 158-B, de modo a trazer
as informações mínimas essenciais acerca de cada uma delas:

I. Reconhecimento:

Ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da


prova pericial;

II. Isolamento:

Ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o
ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime;

32
III. Fixação:

Descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no


corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por
fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial
produzido pelo perito responsável pelo atendimento;

IV. Coleta:

Ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando


suas características e natureza;

V. Acondicionamento:

Procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma


individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas,
para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta
e o acondicionamento;

VI. Transporte:

Ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições


adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a
manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse;

VII. Recebimento:

Ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado


com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de
polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio,
código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e
identificação de quem o recebeu;

VIII. Processamento:

Exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia


adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o
resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito;

IX. Armazenamento:

Procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser

33
processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado,
com vinculação ao número do laudo correspondente; e

X. Descarte:

Procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação


vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial.

OBS: na última aula deste módulo, você irá conhecer


alguns procedimentos básicos referentes a cada uma dessas
etapas para a garantia da cadeia de custódia.

Não existe nenhuma hierarquia entre as etapas, pois todas são essenciais. No
caso da não realização de uma delas ou de sua ineficiência ou inadequação, conforme
já dissemos em aula anterior, toda a cadeia de custódia estará comprometida e com
ela a própria prova material.

Do contrário, sendo adequadamente executadas todas as etapas previstas pelo


legislador, teremos a manutenção da cadeia de custódia e, consequentemente, a
garantia da autenticidade e confiabilidade da prova material, minimizando ou
extinguindo qualquer questionamento que porventura possa ser proposto a esse
respeito.

Aula 2 - Os profissionais responsáveis pela cadeia de


custódia de vestígios

Cabe ao Estado, através de seus agentes, a obrigação de conservar a prova


material para garantir sua autenticidade e confiabilidade, assegurando que a prova
colhida em um local ou em uma vítima seja a mesma que a apresentada em juízo.

Os procedimentos para a cadeia de custódia são de responsabilidade


apenas da perícia oficial?

34
A realização da cadeia de custódia nas suas fases externa e interna depende
de um trabalho conjunto do qual resulta, em grande parte, a idoneidade da prova.
Podem ser responsáveis pela sua execução distintos profissionais do Susp,
dependendo da situação fática, a saber: polícias Federal, Rodoviária Federal, Civis,
Militares e Penais; Corpos de Bombeiros Militares; Institutos Oficiais de Criminalística,
Medicina Legal e Identificação; Guardas Municipais; Agentes de Trânsito; Guarda
Portuária; Força Nacional de Segurança Pública e demais integrantes estratégicos e
operacionais do segmento da segurança pública. Portanto, a cadeia de custódia não
é uma atribuição exclusiva do perito oficial, mas de todos os envolvidos na
investigação criminal.

Em verdade, qualquer agente público que reconhecer um possível vestígio ou


que for receptor deste deve, desde o momento do seu achado ou recebimento,
proceder com os cuidados para a realização da cadeia de custódia da prova. Essas
medidas vão além das forças de segurança pública, estendendo-se também à
custódia dessa prova material na fase processual, no âmbito do Ministério Público e
do próprio judiciário (ESPÍNDULA, 2009).

Assim, a constante documentação da cadeia de custódia (com o registro de


cada ação realizada) e o cumprimento de todos os procedimentos necessários à etapa
em que se encontre vão garantir a autenticidade e a confiabilidade da prova. Por isso,
cada um dos profissionais, dentro de sua competência e de acordo com a respectiva
etapa da cadeia de custódia, deve executar cuidadosamente os procedimentos
relativos às dez etapas já indicadas.

Na próxima aula, você conhecerá os procedimentos básicos necessários


para a materialização da cadeia de custódia.

Aula 3 - Procedimentos básicos para a materialização da


cadeia custódia de vestígios

Em cada uma das dez (10) etapas da cadeia de custódia,


deverão ser observados os procedimentos técnicos adequados,
utilizados os materiais essenciais à preservação da integridade

35
do vestígio, realizados os registros necessários para garantir sua
confiabilidade e adotados os protocolos de segurança exigidos.

Tais procedimentos básicos demandam, além de seu conhecimento, método e


zelo para a sua realização. Uma vez familiarizado com eles e dispondo dos elementos
materiais minimamente necessários à sua execução, você conseguirá exercer
adequadamente seu papel no contexto da cadeia de custódia da prova material.

Os procedimentos que você irá conhecer a seguir devem ser realizados para a
manutenção da cadeia de custódia de quaisquer vestígios oriundos de locais de
crimes ou de locais de apreensão e, no que forem cabíveis, para vestígios coletados
em vítimas de crimes.

Vejamos, então, quais os procedimentos básicos a serem adotados em cada


uma das 10 (dez) etapas da cadeia de custódia de vestígios.

I. Reconhecimento (CPP, art. 158-B, I):

Conforme já estudado, o CPP define a etapa de reconhecimento como o “ato


de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da prova
pericial”.

Deste primeiro procedimento surge o interesse por determinado objeto. É a


partir do olhar atento do agente público em um local (de crime ou de busca) que se
pode identificar precocemente um possível vestígio relacionado a um fato em
apuração. Portanto, o reconhecimento de um vestígio se faz a partir das observações
iniciais do local, considerando o contexto do caso sob investigação.

O agente público que reconhecer um elemento como potencial prova pericial


fica responsável por sua preservação, conforme o texto do § 2º do artigo 158-A do
CPP. Por isso, o treinamento adequado para o reconhecimento do vestígio e sua
correta preservação é essencial.

Uma vez que você tenha reconhecido um elemento material como um

36
vestígio em potencial, deve atuar para preservá-lo. Você não deve manuseá-lo
ou permitir seu manuseio por outras pessoas até a chegada da perícia oficial.

II. Isolamento (CPP, art. 158-B, II):

A atividade de isolamento – conceituada pelo legislador como o “ato de evitar


que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o ambiente imediato,
mediato e relacionado aos vestígios e local de crime” – é de suma importância para a
integridade da prova.

A etapa do isolamento não constava na Portaria Senasp nº 82/2014, sendo


inserida, diante da sua extrema relevância, pela Lei nº 13.964/2019 no contexto da
cadeia de custódia no CPP.

O adequado isolamento do local é importante para evitar/minimizar a possível


perda, adulteração ou contaminação de um vestígio.

A preservação do local deve ser iniciada logo quando do descobrimento do


evento criminoso, permanecendo até a liberação feita pelos peritos após a conclusão
do exame pericial.

A importância do isolamento para a preservação da idoneidade dos vestígios e


a consequente manutenção da cadeia de custódia ficou ainda mais explícita em razão
da inclusão do conteúdo do § 2º do artigo 158-C do CPP que criminalizou a entrada
em locais isolados e a remoção de vestígios antes da liberação pela perícia oficial: “É
proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de
locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada
como fraude processual a sua realização”.

Diante da complexidade e relevância da temática, a Segen disponibiliza um


curso específico sobre “Local de crime: isolamento e preservação –noções básicas”.

Você já fez esse curso?

A partir de um treinamento específico sobre isolamento de local de crime, você


poderá contribuir de maneira efetiva para a adequada realização dessa etapa
essencial para a cadeia de custódia.

37
III. Fixação (CPP, art. 158-B, III):

A lei estabelece que, no tocante à fixação, deve ser feita a descrição


detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo de
delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias,
filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial
produzido pelo perito responsável pelo atendimento.

Todos os vestígios precisam ser registrados (através de anotações, fotos,


filmagens, croquis etc.) exatamente conforme se encontravam no local antes de
qualquer alteração. Conhecer o posicionamento de um vestígio na cena de crime faz
toda a diferença para o estabelecimento de uma dinâmica criminosa.

Nesse sentido, é essencial que sejam tomadas todas as medidas necessárias


para que o vestígio se mantenha na posição deixada após a prática criminosa até a
análise por parte dos peritos oficiais. Nenhum elemento material pode ser movido na
cena de crime a não ser pela perícia oficial ou após a liberação dos objetos por parte
dos peritos.

Durante todo o levantamento de local de crime pela perícia oficial, registros


para a fixação daquele vestígio (através de anotações, fotos, filmagens, croquis
etc.) serão também necessários.

IV. Coleta (CPP, art. 158-B, IV):

A etapa da coleta de vestígios está positivada pelo legislador como “ato de


recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas
características e natureza”.

A coleta deve ser realizada de modo a evitar/minimizar riscos de perda,


adulteração ou contaminação do vestígio, promovendo sua segurança e integridade.

Quanto mais conhecimento a respeito das características do vestígio, mais


eficiente será sua coleta através dos procedimentos específicos cabíveis. Assim,
devem ser utilizados os métodos apropriados de coleta em cada situação, sempre
com o uso de luvas (e de outros EPI´s necessários) e, por vezes, com o auxílio de
ferramentas específicas, como: pinças, seringas, fitas adesivas, swabs etc.

Exatamente em razão dessas especificidades, no artigo 158-C do CPP, o

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legislador estabelece que “a coleta dos vestígios deverá ser realizada
preferencialmente por perito oficial...” (grifo nosso).

V. Acondicionamento (CPP, art. 158-B, V):

Uma vez coletado o vestígio, ele deve ser adequadamente acondicionado.

O CPP estabelece que o acondicionamento é o procedimento por meio do


qual cada vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo com
suas características físicas, químicas e biológicas, para posterior análise, com
anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento.

O acondicionamento deve possibilitar a manutenção das características


originais do vestígio, impedindo sua perda, adulteração ou contaminação. Em razão
disso, obrigatoriamente devem ser consideradas as características físicas, químicas
e biológicas do vestígio para a escolha correta do recipiente a ser utilizado. O
acondicionamento será realizado, por exemplo, em sacos ou caixas de coleta,
recipientes de vidro, embalagens para objetos cortantes etc.

CPP, art. 158-D: “O recipiente para acondicionamento do vestígio será


determinado pela natureza do material.”

O recipiente também deve possibilitar a segurança física do vestígio pelo uso


de lacres.

CPP, art. 158-D, § 1º: “Todos os recipientes deverão ser selados com lacres,
com numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade
do vestígio durante o transporte.”

A colocação de uma numeração individualizada possibilitará a rastreabilidade


do vestígio.

O vestígio deve ser acondicionado de forma individualizada, com anotação de


data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento, para possibilitar
seu rastreio, evitando-se trocas e/ou contaminações.

Os registros referentes à data e hora da coleta e o nome de quem coletou o


vestígio irão compor a Ficha de Acompanhamento do Vestígio (FAV), cujo modelo
você irá conhecer acessando o Material Complementar.

39
CPP, art. 158-D, § 2º: “O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar
suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência
adequado e espaço para registro de informações sobre seu conteúdo.”

OBS: em se tratando de vestígios contaminantes ou que possam oferecer risco


à integridade de quem os transporta, armazena ou examina, tais informações devem
constar em uma etiqueta a ser afixada de maneira visível no invólucro.

Por fim, é essencial que o órgão estatal providencie os lacres e as embalagens


diversificadas (em tamanho e espécie) para a utilização pelo agente público nesta
etapa da cadeia de custódia.

VI. Transporte (CPP, art. 158-B, VI):

A etapa do transporte de vestígios está legalmente prevista no CPP como “ato


de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas
(embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção
de suas características originais, bem como o controle de sua posse.”

Na ocasião de transporte do vestígio, deve-se evitar/minimizar riscos de perda,


adulteração ou contaminação, promovendo sua segurança e integridade.

É necessário que o transporte seja realizado em veículo adequado, com


possibilidade de refrigeração (quando necessário) e através de uma rota predefinida,
sem paradas desnecessárias no trajeto a fim de evitar questionamentos sobre essa
conduta.

O transporte de alguns tipos de vestígios (drogas e armas de fogo por exemplo)


pode também exigir procedimentos específicos de segurança.

O transporte deve ser feito por pessoa autorizada.

A identificação do transportador e a data do transporte devem constar na FAV.

As recomendações a respeito do transporte de vestígios se aplicam em todas


as ocasiões: do local de crime ou de apreensão até o instituto de perícia oficial; entre
as unidades de perícia oficial; entre as unidades de perícia até os órgãos requisitantes
(quando houver devolução do vestígio após a perícia, por exemplo: em razão do seu
valor econômico para a restituição ao legítimo proprietário, para apresentação do
objeto em audiência judicial etc.).

40
VII. Recebimento (CPP, art. 158-B, VII):

Conforme o CPP, recebimento é o ato formal de transferência da posse do


vestígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informações referentes ao
número de procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local de
origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza
do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o
recebeu.

Qualquer transferência de posse deve ser registrada na FAV. Uma única lacuna
nesse registro cronológico poderá gerar a quebra da cadeia de custódia.

Além dos registros dos dados referentes à transferência de posse, destaque-


se a necessidade da assinatura e identificação de quem recebeu o vestígio.

VIII. Processamento (CPP, art. 158-B, VIII):

A etapa do processamento, conforme o texto legal, corresponde ao “exame


pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia adequada às
suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado
desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito.”

O processamento é de competência do perito oficial. Corresponde ao exame


pericial do vestígio, cujo resultado deverá ser formalizado no respectivo laudo pericial.

Para o processamento do vestígio, será necessário o rompimento do lacre e a


abertura da embalagem na qual ele estava acondicionado anteriormente (via de
regra), devendo ser seguidos os procedimentos previstos nos parágrafos 3º, 4º e 5º
do artigo 158-D do CPP.

Veja o que dispõe o CPP a esse respeito:

CPP, art. 158-D, § 3º: “O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai
proceder à análise e, motivadamente, por pessoa autorizada.”

CPP, art. 158-D, § 4º: “Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar
na ficha de acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data,
o local, a finalidade, bem como as informações referentes ao novo lacre utilizado.”

CPP, art. 158-D, § 5º: “O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do

41
novo recipiente.”

IX. Armazenamento (CPP, art. 158-B, IX):

Para o legislador, armazenamento é o “procedimento referente à guarda, em


condições adequadas, do material a ser processado, guardado para realização de
contraperícia, descartado ou transportado, com vinculação ao número do laudo
correspondente.”

A etapa do armazenamento relaciona-se principalmente às centrais de


custódia. Segundo o caput do artigo 158-E do CPP, “todos os Institutos de
Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e controle dos
vestígios”. A gestão da central de custódia deve ser vinculada diretamente ao órgão
central de perícia oficial de natureza criminal.

O armazenamento dos vestígios na central de custódia deve ser feito de


maneira:

• Organizada – permitindo sua rápida e inequívoca localização no


ambiente;

• Documentada – a entrada e a saída de vestígio deverão ser


protocoladas, possibilitando sua rastreabilidade;

• Adequada – o armazenamento deve possibilitar a manutenção das


características originais do vestígio, impedindo sua perda, adulteração ou
contaminação;

• Segura – o controle de acesso ao ambiente e a utilização de medidas


de segurança devem evitar a adulteração e a perda de vestígios.

Ainda, sobre a segurança no armazenamento dos vestígios:

CPP, art. 158-E, § 3º: “Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio
armazenado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do
acesso.”

Importante salientar que os vestígios poderão ser armazenados nas centrais


de custódia por muito tempo, o que indica que a elaboração de uma política de
armazenamento de longo prazo desses materiais é uma medida necessária a ser

42
tomada pelo órgão pericial responsável (UNODC, 2010).

CPP, art. 158-F: “Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido
à central de custódia, devendo nela permanecer.”

A depender da natureza do vestígio, quando cabível e necessário para fins de


material para contraperícia, pode ser armazenada na central de custódia apenas uma
amostra do material após a conclusão do exame (por exemplo: no processamento de
drogas ilícitas, uma pequena amostra será suficiente para armazenamento para
contraprova; o restante do material periciado será encaminhado para destruição pela
autoridade conforme os procedimentos legais previstos na Lei nº 11.343, de 23 de
agosto de 2006).

X. Descarte (CPP, art. 158-B, X):

Descarte, conforme conceituação legal, é o “procedimento referente à liberação


do vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante
autorização judicial.”

O descarte pode corresponder ao envio do material já periciado à autoridade


competente para providências cabíveis – exemplo: drogas para destruição – ou à
restituição do material já periciado a quem interessar possa – exemplo: um celular
periciado para a vítima de um crime.

Em todos os casos, o descarte encerra a cadeia de custódia.

ATENÇÃO: a exigência de documentação do vestígio permanece durante toda


a cadeia de custódia.

O registro minucioso de cada etapa realizada possibilitando a identificação do


vestígio (a fim de evitar perdas, trocas ou adulterações) é sempre necessário. A
identificação dos agentes públicos envolvidos no procedimento, conforme dito,
também é obrigatória.

A documentação do vestígio para a cadeia de custódia inicia-se no local,


através de anotações, fotografias, vídeos etc. Esse registro documental deve ser feito

43
até o descarte do material.

É essencial documentar cronologicamente todos os procedimentos de


transporte, transferência de posse e armazenamento dos vestígios quantas vezes
eles se repitam no caso concreto, pois o registro documental cronológico adequado
é o que possibilitará a garantia de sua rastreabilidade.

Sempre que possível, a FAV deve constar impressa nos recipientes para
acondicionamento dos vestígios como campos a serem preenchidos. Caso isso não
seja possível, o documento deve acompanhar o vestígio em todo o seu transporte e
armazenamento.

A título de sugestão, convido você a conhecer a Ficha de Acompanhamento


de Vestígio (FAV) no Material Complementar (SENASP, 2020b).

44
Finalizando
Neste módulo, você aprendeu que:

 As etapas da cadeia de custódia ocorrem nas fases externa e interna.


 A fase externa compreende todas as etapas desde o reconhecimento do
vestígio – em um local de crime, em um local de apreensão ou até mesmo em
uma vítima – até antes de sua chegada ao órgão pericial encarregado de
processá-lo.
 A fase interna compreende todas as etapas entre a entrada do vestígio no
órgão pericial até o seu descarte.
 O CPP estabeleceu a conceituação legal de cada uma das dez etapas da
cadeia de custódia nos incisos do artigo 158-B.
 Cabe ao Estado através de seus agentes a obrigação de conservar a prova
material para garantir sua autenticidade e confiabilidade, assegurando que a
prova colhida em um local ou em uma vítima seja a mesma que a apresentada
em juízo.
 A realização da cadeia de custódia nas suas fases interna e externa é um
trabalho conjunto do qual depende, em grande parte, a idoneidade da prova.
 Podem ser responsáveis pela execução dos procedimentos necessários à
cadeia de custódia distintos profissionais do Susp.
 A simples fé pública do agente público para resguardar a autenticidade e
confiabilidade da prova não basta, é necessário que a cadeia de custódia seja
cumprida e totalmente documentada.
 Cada profissional, dentro de sua competência e mantendo sempre o registro
documental de cada ação realizada, deve executar cuidadosamente o
procedimento relativo às etapas da cadeia de custódia em que esteja envolvido,
quais sejam: reconhecimento, isolamento, fixação, coleta, acondicionamento,
transporte, recebimento, processamento, armazenamento e descarte do
vestígio.
 Em cada etapa da cadeia de custódia deverão ser observados os
procedimentos técnicos adequados, utilizados os materiais essenciais à
preservação da integridade do vestígio, realizados os registros necessários

45
para garantir a sua confiabilidade e adotados os protocolos exigidos de
segurança.
 Os procedimentos básicos para a realização da cadeia de custódia demandam
conhecimento, método e zelo para sua realização.
 A exigência de documentação do vestígio permanece durante toda a cadeia de
custódia.
 O instrumento apontado pelo CPP no § 4º do artigo 158-D para a
documentação durante a cadeia de custódia é a Ficha de Acompanhamento de
Vestígio (FAV).

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básicas! Parabéns!

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Referências Bibliográficas

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Políticas Públicas sobre Drogas – Sisnad; prescreve medidas para prevenção do
uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
drogas; define crimes e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da
República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
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