Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Realidade Portuguesa
2016230129
COIMBRA, 2022
ÍNDICE
ABREVIATURAS E SIGLAS ....................................................................................... 3
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 4
CAPÍTULO 1 – Assédio sexual: definição do conceito e especial relevância no
âmbito das relações laborais .......................................................................................... 6
1.1. Distinção entre Assédio Moral e Assédio Sexual: tipos de assédio sexual no
âmbito laboral ............................................................................................................. 6
1.2. Assédio Sexual e Discriminação de Género: direitos fundamentais
violados e efeitos práticos do assédio no trabalho .................................................. 11
CAPÍTULO 2 – Regime Jurídico do Assédio Sexual Laboral ................................. 14
2.1. Consagrações legais do assédio sexual no plano europeu e internacional 14
2.2. Panorama Jurídico Português do Assédio Sexual ...................................... 16
CAPÍTULO 3 – Dificuldade de Prova nos casos de assédio sexual laboral ............ 22
3.1. O “primeiro caso” de assédio sexual no trabalho e uma visão geral de
outros acórdãos relevantes ....................................................................................... 22
3.2. Problemática e soluções no âmbito da prova .............................................. 24
CONCLUSÃO............................................................................................................... 27
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 29
2
ABREVIATURAS E SIGLAS
ACT – Autoridade para as Condições de Trabalho
Al. – Alínea
APODIT – Associação Portuguesa de Direito do Trabalho
Art.º(s) – Artigo(s)
APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
CC – Código Civil
CE – Comissão Europeia
Cfr. – Conforme
Cit. – Citação
CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego
CP – Código Penal
CPC – Código de Processo Civil
CPT – Código de Processo do Trabalho
CRP – Constituição da República Portuguesa
CT – Código do Trabalho
LGTF – Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas
N.º – Número
ONU – Organização das Nações Unidas
OIT – Organização Internacional do Trabalho
P. – página
PCP – Partido Comunista Português
Proc. – processo
ss. – seguintes
STJ – Supremo Tribunal de Justiça
TRL – Tribunal da Relação de Lisboa
UE – União Europeia
UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta
Vd. – vide
3
INTRODUÇÃO
Como sabemos, o Direito do Trabalho encontra a sua génese na desigualdade
negocial entre as partes caraterística das relações laborais.1 Esta relação profundamente
assimétrica inerente aos contratos de trabalho2 resulta fundamentalmente do elemento
de subordinação jurídica3 4
e dependência5 que o trabalhador tem para com o
empregador no contrato de trabalho e que coloca o primeiro numa posição de
fragilidade face ao segundo.
1
Cfr. AMADO, João Leal (2016) – Contrato de Trabalho: Noções Básicas, Almedina: Coimbra, pp. 12-
18.
2
Cfr. Art.º 1152.º CC e art. 11.º do CT.
3
A subordinação jurídica por si só é o centro de uma das maiores problemáticas do Direito do Trabalho
atual, todavia, focar-nos-emos apenas na noção dominante da mesma. A subordinação jurídica
consubstancia-se na situação de sujeição do trabalhador aos poderes de direção e disciplinares típicos do
empregador. Este entendimento advém da expressão “(…) no âmbito de organização e sob a autoridade
destas” presentes nos art.ºs 1152.º CC e 11.º CT, cfr. AMADO, João Leal (2016) – Contrato de
Trabalho: Noções Básicas, Almedina: Coimbra, pp. 44-45.
4
Neste sentido também, vd., Acórdão do STJ, de 21.05.2014, relator Mário Belo Morgado (proc. n.º
517/10.9TTLSB.L1.S1): “[a] subordinação jurídica encontra a sua génese: (i) na posição de
desigualdade/dependência do trabalhador que é inerente à sua inserção numa estrutura organizacional
alheia, dotada de regras de funcionamento próprias; (ii) na correspondente posição de domínio do
empregador, traduzida na titularidade do poder de direção e do poder disciplinar”.
5
Por força da dependência económica inerente ao elemento da retribuição caraterísticos do contrato de
trabalho. Neste seguimento, vd., art.º 1152.º do CC e 11.º do CT através da expressão “mediante
retribuição” e o art.º 59.º, n.º 2, al. a da CRP, o que respeita à obrigação do Estado de fixar um salário
mínimo nacional.
6
Vd., Art.º 2.º, al. c da Diretiva 2004/113/CE, de 13 de dezembro de 2004, que consagra o princípio da
igualdade de tratamento entre homens e mulheres no acesso a bens e serviços e seu fornecimento. Esta
diretiva contém também noções de assédio e assédio sexual já previstas em diretivas anteriores (Diretiva
97/80/CE, alterada pela Diretiva 98/52/CE).
4
criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou ofensivo.”7. Note-se
que a lei portuguesa só consagrou o instituto do assédio de forma expressa e autónoma
recentemente, nomeadamente através da Lei n.º 99/2003, de 27 de agosto, que aprovou
o CT, todavia, a atual noção de assédio foi afigurada na lei laboral apenas em 20098.
Mais recentemente, em janeiro deste ano, foi publicado pela APAV outro
relatório sobre o mesmo tema no qual foram inquiridos homens e mulheres, revelando
que duas em cada dez pessoas das 824 entrevistadas foram vítimas de assédio sexual no
seu lugar de emprego12. Este estudo divulgou ainda que a maioria dos inquiridos não
apresentou queixa havendo quem tenha sido despedido após denunciar tais práticas –
situação profundamente interligada à precariedade laboral supramencionada.
5
português, de modo a, já no terceiro capítulo, desvendarmos uma das maiores
problemáticas legais que surgem no âmbito deste instituto: a dificuldade de prova. Será
nessa terceira e última parte do relatório que procederemos à exposição de alguma
jurisprudência nacional relevante e, consequentemente, apresentaremos algumas
soluções passíveis de facilitar não só a denúncia como a investigação de práticas de
assédio.
13
Neste sentido AMADO, João Leal (2018) – “Pessoal e profissional: entre o romance e o assédio:
comentário ao Acórdão da Relação de Évora, de 14/09/2017” in Revista Questões Laborais, n.º 52, p.
177.
14
Relativamente às origens deste termo, vd., ROJO, José Vicente/CERVERA, Ana Maria (2005) –
Mobbing: o acosso laboral, Editorial Tébar, Madrid, p. 15.
6
desestabilizador.”. Esta definição surgiu no seguimento de exigências da UE15 de
transposição pelos Estados-Membros da Diretiva 2002/73/CE, do Parlamento Europeu e
do Conselho, de 23 de setembro de 2002.
15
Já em 1995 a CE tinha consagrado o assédio como “incidentes de abuso para com uma pessoa, com
ameaças ou ataques em contextos relacionados com o seu trabalho que implicam um risco implícito ou
explícito à sua segurança, bem-estar e saúde”, cfr., José Vicente/CERVERA, Ana Maria (2005) –
Mobbing: o acosso laboral, Editorial Tébar, Madrid, p. 17.
16
Neste sentido vd., GOMES, Júlio (2007) – Algumas observações sobre o mobbing nas relações de
trabalho subordinado, in Estudos Jurídicos em Homenagem ao Professor Doutor António Motta Veiga,
Coimbra: Almedina, pp. 165-184.
17
Remissão para o n.º 2 do mesmo artigo.
18
Outras definições de assédio sexual a nível comunitário podem ser encontradas nos seguintes diplomas:
Recomendação 92/131/CEE da Comissão; Código de Conduta contra o assédio sexual (anexo à
Recomendação 92/131/CEE da Comissão); Diretiva 2004/113/CE do Conselho; Art.º 40 da Convenção de
Istambul do Conselho da Europa.
7
emprego; controlar ou influenciar na carreira ou promoções da pessoa assediada;
prejudicar o rendimento profissional, humilhar, insultar ou intimidar a vítima.”19.
Isto posto, a distinção entre assédio sexual e moral é ténue, mas reside
essencialmente na natureza das condutas assediantes – se assumem uma vertente sexual
ou não – que devem ser avaliadas casuisticamente tendo em conta, entre diversos
aspetos concretos, os direitos de personalidade violados.
Ora, o assédio laboral, seja ele moral ou sexual, pode assumir diversas formas
consoante o tipo de conduta em apreço e a posição hierárquica que o perpetrador e a
vítima ocupam. Desde logo, podemos falar de assédio vertical ou horizontal22.
19
MAGALHÃES, Maria José (2011) – Assédio Sexual: um problema de direitos humanos das mulheres,
in Temas de vitimotologia: realidades emergentes na vitimação e respostas sociais, Coimbra: Almedina,
cit. p. 105.
20
Nas palavras de LEAL AMADO vd., AMADO, João Leal (2019) – “O assédio no trabalho” in
Boletim da Ordem dos Advogados, Edição n.º 24, p. 9.
21
Não exploraremos a fundo a problemática da frequência da conduta assediante, todavia importa referir
que a doutrina se divide neste assunto. Por um lado, há quem defenda que, para configurar assédio, o
comportamento assediante deve ser necessariamente reiterado e, por outro, quem argumente que a
frequência e duração da conduta não são relevantes para estarmos em sede de assédio laboral, bastando
verificar-se uma vez. A verdade é que, em regra, o assédio tem natureza duradoura e persistente causando
conflitos laborais que só se vão agudizando com o tempo, pese embora não pareça essencial ao legislador
laboral a reiteração da conduta; neste sentid vd., AMADO, João Leal (2019) – “O assédio no trabalho” in
Boletim da Ordem dos Advogados, Edição n.º 24, p. 9.
22
Cfr. LEAL AMADO vd., AMADO, João Leal (2019) – “O assédio no trabalho” in Boletim da Ordem
dos Advogados, Edição n.º 24, p. 9.
8
poder, assumindo a forma de assédio vertical descendente, pese embora, possa assumir
também a forma ascendente, na instância de o assediador ser um subordinado da vítima
na relação laboral23.
23
Esta forma de assédio, embora seja possível, é muito menos frequente uma vez que a posição negocial
do assediador é mais frágil que a da vítima, desencorajando-o na maior parte dos casos pela ameaça de
perder o emprego.
24
CITE (2013) – Guia informativo para a prevenção e combate de situações de assédio no local de
trabalho: um instrumento de apoio à autorregulação, Lisboa. Disponível em
https://cite.gov.pt/documents/14333/193238/guia_informativo.pdf/d8291a5c-8878-4c2b-b87f-
064ae1fd12e6 .
25
Cfr. Art.º 29.º, n.º 2 do CT através da expressão “(…) nomeadamente o baseado em fator de
discriminação (…)”, que reporta ao art.º 24.º, n.º 1 e art.º 25.º, n.º 1 e n.º 5 do CT.
26
Posteriormente no relatório explanaremos as diferenças de regime entre assédio discriminatório e não
discriminatório.
27
Cfr. STERBA, James P. (1999) – Feminist Justice and Sexual Harassment, in Feminist Justice and
Sexual Harassment, Leiden, The Netherlands: Brill, p. 177-184. O autor, seguindo o entendimento do
Supremo Tribunal dos Estados Unidos (no caso Meritor Savings Bank v. Vinson de 1986), reconheceu
9
assumir contornos específicos merecedores de autonomia conceitual. Assim, podemos
discriminar duas formas de assédio sexual no trabalho: o assédio sexual por chantagem
(ou quid pro quo) e o assédio sexual por intimidação (ou ambiental).
dois grandes tipos de assédio sexual: o quid pro quo (ou por chantagem) e o hostile work environment
(em português: assédio sexual ambiental ou por intimidação).
28
Isto porque o perpetrador do assédio tem de ter algum poder ou vantagem sobre a vítima, do qual
abusa, de modo a tentar constrangê-la a ceder às suas condutas, sob promessas ou ameaças.
29
Daqui decorre a sua outra denominação: assédio sexual ambiental.
30
SERQUEIRA, Alexandra Marques (2006) – Do assédio no local de trabalho: um caso de flirt
legislativo. Exercício de aproximação ao enquadramento jurídico do fenómeno in Revista Questões
Laborais, n.º 28, cit. p. 245.
10
1.2. Assédio Sexual e Discriminação de Género: direitos
fundamentais violados e efeitos práticos do assédio no trabalho
Em matéria de assédio existem diversos assuntos que causam divergências entre
autores, não obstante, no que toca às vítimas é consensual e inegável a este ponto31 que
na sua esmagadora maioria são mulheres. Ora, isto não é uma coincidência.
SILVA, COPETTI e BORGES32 são três autoras que esclarecem que, para a
antropologia, o género nada mais é que uma categoria respeitante à construção cultural
das diferenças entre o que é feminino e masculino, já o sexo será uma categoria que
distingue diferenças biológicas entre homens e mulheres. Assim, o género traduzirá o
papel de cada um na sociedade e as relações entre géneros serão por isso influenciadas
por razões históricas, económicas, ideológicas, religiosas e sociais.
No caso português, a experiência feminina ao longo dos séculos não foi muito
diferente daquela vivida em muitos outros países, destacando-se o 25 de abril como um
marco no caminho de emancipação das mulheres portuguesas. Com a revolução e todas
as mudanças políticas, económicas e sociais que esta trouxe, as mulheres começaram a
31
Veja-se os inúmeros estudos, notícias e testemunhos divulgados no país e no mundo concernentes ao
assédio.
32
SILVA, Juliana Franchi da/ COPETTI, Francieli Venturini/ BORGES, Zulmira Newlands (2009) –
Uma discussão sobre os direitos humanos e a violência de gênero na sociedade contemporânea in
Revista Sociais e Humanas, Santa Maria, volume 22, n.º 2, pp. 97-111. Disponível em:
https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/1183 . Acesso em: 11.05.2022
11
ingressar com cada vez mais peso no mercado de trabalho. Compreenda-se que este
mercado, à época, era maioritariamente dominado por homens, uma vez que as funções
da mulher se resumiam a ser cuidadora do lar e dos filhos o que naturalmente foi
gerando conflitos e consolidando-se em inúmeros atos de violência de género, como é o
caso do assédio.
Nas palavras de LOBO XAVIER “o homem que trabalha tem direitos, como
pessoa, como cidadão e como trabalhador, direitos que – condicionados embora pela
implicação pessoal numa relação permanente de subordinação e de intercâmbio –
haverão de ser reconhecidos num plano de concordância prática.”35.
De facto, o vínculo laboral não pode significar uma ameaça à condição humana
da pessoa do trabalhador, nem tão pouco pode a subordinação jurídica servir como
causa justificativa para constantes violações dos direitos fundamentais destes. Por este
33
SILVA, Amanda Raquel Cotrim da (2020) – Assédio Sexual no Âmbito Laboral e Discriminação de
Género, Artigo Científico: Universidade Católica de Goiás (PUC GOIÁS), Goiânia, p. 11.
34
Vd., Barómetro APAV/INTERCAMPUS (2022) – ESTUDO: Perceção da População sobre Assédio
Sexual no Local de Trabalho. Disponível em
https://apav.pt/apav_v3/images/pdf/Barometro_APAV_Intercampus_2022.pdf . Consultado a 11.05.2022.
35
Cfr. XAVIER, Bernardo da Gama Lobo (2011) – Manual de Direito do Trabalho, Lisboa: Verbo, cit. p.
446.
12
motivo, a CRP36 tem um capítulo especialmente reservado para os direitos, liberdades e
garantias dos trabalhadores, seguindo o CT37 e o CC38 a mesma linha.
Posto isto, não restam dúvidas que o assédio na sua vertente sexual em contexto
laboral tem especificidades que não podem ser desconsideradas nem tão pouco isoladas
36
A CRP tutela os direitos dos trabalhadores do art. 53.º ao art. 59.º.
37
O CT, nos arts. 14.º e ss. Consagra os direitos de personalidade dos trabalhadores.
38
O art. 70.º do CC procede à tutela jurídica da personalidade como um todo, aplicando-se naturalmente
aos trabalhadores.
39
OIT (2007) – O ABC dos direitos das mulheres trabalhadoras e da igualdade de género, 2ª edição, cit.
p. 34. Disponível em https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---europe/---ro-geneva/---ilo-
lisbon/documents/publication/wcms_714600.pdf . Consultado a 13.05.2022.
40
UMAR (2012) – Assédio Sexual no Local de Trabalho. Disponível em
https://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf?path=6148523063446f764c324679626d56304c334e7064
47567a4c31684a5355786c5a793944543030764d554e425130524d5279395451306b765247396a6457316
c626e52766330466a64476c32615752685a4756446232317063334e686279396b4f54497a5a544d354d433
0794e446b324c54526b4e7a6374596a6b344d793035596a4d7a4d7a566b4e575935593245756347526d&fi
ch=d923e390-2496-4d77-b983-9b3335d5f9ca.pdf&Inline=true . Consultado a 13.05.2022.
41
Nomeadamente ansiedade, stress, insónias, dores de cabeça, depressão, abuso de substâncias
psicoativas e álcool.
42
Art. 26.º n.º 1 da CRP.
43
Art. 25.º n.º 1 CRP.
44
Art. 25.º n.º 1 CRP.
45
Art.º 24.º, 26.º, n.º 1 CRP e art.º 70.º CC.
46
Art. 59.º n.º 1 al. c) CRP.
47
Art. 13.º CRP.
13
de toda a realidade social que o rodeia. Como forma de violência, discriminação de
género e atentado à dignidade laboral, cabe agora explorar o seu regime jurídico e
consagrações legais não só a nível nacional como europeu e internacional, de forma a
averiguarmos que respostas dá o direito a esta prática reprovável.
48
Consagra, no seu art. 7.º, a proibição da discriminação, e, no seu art.º 12.º, a proteção da intimidade da
vida privada e do direito à honra.
49
Destaca-se o art.º 7.º deste diploma que dispõe sobre o direito à existência de condições de trabalho
equitativas e satisfatórias.
50
Prevê no seu art. 2.º o direito a condições de trabalho justas; no art.º 20.º consagra o direito à igualdade
de oportunidades e de tratamento em matéria de emprego e de profissão, sem discriminação baseada no
sexo e no art. 26.º dispõem sobre a dignidade no trabalho.
14
No âmbito da OIT importa assinalar a Convenção sobre a Discriminação em
Matéria de Emprego e Profissão51 e a Convenção relativa à Segurança, à Saúde dos
Trabalhadores e ao Ambiente de Trabalho52.
51
Convenção n.º 111, acolhida no nosso ordenamento jurídico a 25 de junho de 1958
52
Convenção n.º 155, por nós adotada a 22 de junho de 1981.
53
Vd., art. 33.º e 40.º da Convenção de Istambul.
54
Relativa à proteção da dignidade da mulher e do homem no trabalho.
55
Esta diretiva aplica o princípio da igualdade de tratamento entre as pessoas, sem discriminação racial
ou étnica.
56
Estabelece um quadro geral de igualdade de tratamento no emprego e na atividade profissional.
57
Vem alterar a Diretiva 76/207/CEE do Conselho que concretiza o princípio da igualdade de tratamento
entre homens e mulheres no concernente ao acesso ao emprego, à formação e promoção profissionais e às
condições de trabalho.
58
Pioneira no estudo e determinação das causas, efeitos e dados estatísticos diretamente relacionados com
o assédio em contexto laboral.
59
Destaca-se o seu art.º 6.º.
60
Relativa à aplicação do princípio da igualdade de tratamento entre homens e mulheres que exerçam
uma atividade independente e que revoga a Diretiva 86/613/CEE do Conselho.
15
Importa agora versar sobre os contornos legais de que goza o ordenamento
jurídico nacional, nunca perdendo de vista a influência comunitária e internacional no
mesmo.
No que toca aos sujeitos da relação assediante62, importa notar que tanto do lado
passivo63 como do lado ativo64 podemos ter mais do que um sujeito, principalmente
quando o assédio é não discriminatório. Basta pensar numa situação em que o
empregador, por exemplo, dirige condutas assediantes a mais que um trabalhador. A
61
Entendimento manifestado por RAMIREZ FERNANDES na Conferência sobre “O Assédio no Local
de Trabalho e as Recentes Alterações aos Códigos de Trabalho e de Processo de Trabalho”, promovida
pelo Conselho Regional de Lisboa e pela Delegação do Barreiro da Ordem dos Advogados e realizada no
dia 07/02/2018, na Biblioteca Municipal do Barreiro apud MIRA, Matilde Teixeira Motta Silva (2018) –
Assédio Laboral – Contributos para uma Análise Crítica da Lei n.º 73 3/2017, de 16 de agosto.
Dissertação de Mestrado: Faculdade de Direito Nova de Lisboa, cit. p. 59. Disponível em
https://www.animar-dl.pt/site/assets/files/5331/assedio_laboral.pdf . Consultado a 15.05.2022.
62
Relação esta que agregada ao vínculo laboral agrava as desigualdades inerentes ao contrato de trabalho.
63
Posição ocupada pelo(s) autor(es) das condutas assediantes.
64
Posição ocupada pela(s) vítima(s) de assédio.
16
parte ativa é, em regra, aquela que dispõe de mais poder65, embora a lei também se
aplique aos casos em que esta posição é ocupada por um trabalhador.
65
Cfr. PACHECO, Mago Graciano de Rocha (2007) – O Assédio Moral no Trabalho: O Elo mais Fraco,
Almedina, p. 26.
66
Estabelece situações equiparadas onde as normais pensadas para os contratos de trabalho clássicos –
leia-se subordinados – são passíveis de serem aplicadas a contratos onde não há subordinação jurídica
desde que, como expressa o texto da lei, se verifique dependência económica entre prestador e
beneficiário do serviço.
67
Como é o caso dos prestadores de serviços, por exemplo.
68
Note-se que falamos de um verdadeiro consentimento e não de um aparente consentimento do
trabalhador-vítima que, por se sentir constrangido ou ameaçado com a prática de assédio, parece
compactuar ou aceitar a conduta assediante.
17
A problemática da duração e reiteração do comportamento assediante tem se
colocado mais em sede de assédio moral, coexistindo atualmente uma diversidade de
opiniões. Em matéria de assédio sexual no trabalho, somos da opinião de que, para
estarmos perante um caso de assédio sexual não é impreterível que a conduta se repita
ou se prolongue por um alargado período de tempo69. Claro está que a análise da
situação de assédio deve ser feita tendo em conta todos os seus elementos e contexto
concreto, servindo a reiteração e duração do comportamento assediante apenas como
fator para delimitar a gravidade da conduta.
69
Este entendimento decorre também da letra do art. 29.º que não prevê expressamente requisitos
temporais para as condutas assediantes. Acreditamos que a intenção do legislador aqui foi exatamente a
de tentar não excluir à partida nenhuma conduta, ainda que ela tenha sido praticada apenas uma vez.
70
Vd., Acórdão do STJ de 29.03.2012, Relator Gonçalves Rocha (proc. n.º 429/09.9TTLSB.L1.S1), e
Acórdão do TRL de 13.04.2011, Relator Natalino Bolas (proc. n.º 71/09.4TTVFX.L1-4).
18
A verdade é que pela novidade deste ramo do direito, e pela complexidade de
relações que tem na sua base, a correspondente legislação está em constante construção
e transformação pelo que, desde 2009, o CT assistiu a diversas mudanças. Cabe realçar
de entre estas alterações, aquelas que de alguma forma modificaram o instituto do
assédio, designadamente através da Lei n.º 73/2017, de 16 de agosto e da Lei n.º
93/2019, de 4 de setembro.
71
Destaca-se a recomendação do CITE de um Modelo de Código de Boa Conduta, onde estabelece três
níveis de ação contra o assédio dentro das empresas. A nível primário, fixa a exigência da delimitação de
estratégias de divulgação e informação agregadas à recomendação de realização de ações de formação no
sentido da prevenção de condutas assediantes. A nível secundário, prevê a implementação de uma
unidade dentro da empresa especificamente voltada à prevenção e combate do assédio. Finalmente, a
nível terciário recomenda a definição de um quadro sancionatório voltado para as situações em apreço.
Vd., CITE – Guia para a Elaboração de Código de Boa Conduta para a Prevenção e Combate ao
Assédio no Trabalho, Lisboa. Disponível em
https://cite.gov.pt/documents/14333/193238/Guia+para+a+elabora%C3%A7%C3%A3o+do+c%C3%B3d
igo+de+boa+conduta+para+a+preven%C3%A7%C3%A3o+e+combate+ao+ass%C3%A9dio+no+trabalh
o/395a274d-7df7-4cd8-a6a8-b917f90b19d4 . Consultado a 15.05.2022.
72
Art.º 127.º, n.º 1, al. k do CT – a adoção de códigos de boa conduta é obrigatória para empresas com
sete ou mais trabalhadores.
73
Art.º 127.º, n.º 1, al. l do CT, remetendo para o art.º 98.º que legitima o poder disciplinar do
empregador bem como o art.º 328.º do CT que dispõe sobre sanções disciplinares.
74
Quando o trabalhador pertença a um.
75
Caso exista.
76
De acordo com art.º 127.º, n.º 1, al. l.
19
Consoante o n.º 5 do art.º 29.º do CT, e não obstante as sanções disciplinares
aplicáveis, a prática de assédio além de se consubstanciar em contraordenação muito
grave77, pode trazer consigo também responsabilidade penal, nos termos do art. 163.º e
170.º do CP. Ademais, a responsabilidade civil, no respeitante a danos patrimoniais78 e
não patrimoniais79 também poderá ser invocada – assim dispõem o n.º 4 do art.º 29, que
remete para o art. 28.º do CT80. Neste sentido ainda a lei, em linha com os estudos
realizados, reconhece que da prática de assédio poderão advir doenças profissionais,
fixando a obrigação do empregador em reparar estes danos. O valor estabelecido neste
âmbito será pago à segurança social que, sub-rogando-se ao trabalhador, encarregar-se-á
de lhe fazer chegar os montantes devidos81.
20
fazer prova disso mesmo.”84. A alteração legal promovida pela Lei n.º 93/2019, veio
reforçar ainda mais esta solução, reiterando na al. b do art.º em análise, aquilo que em
2017 explicitou na al. f. Não se compreende por completo a opção do legislador em
repetir em duas alíneas diferentes, dentro do mesmo art.º, que o assédio constitui justa
causa de demissão; podemos apenas pressupor que o faz na intenção de reforçar o
instituto da proibição do assédio, reafirmando-o e consolidando-o através do mecanismo
da resolução do contrato cujo trabalhador-vítima pode lançar mão.
Dito isto, impõe-se a questão de saber como os tribunais nacionais têm tratado
os casos concretos de assédio e se as soluções legais apresentam eficácia prática.
84
Cfr. AMADO, João Leal (2019) – “O assédio no trabalho” in Boletim da Ordem dos Advogados,
Edição n.º 24, cit. p. 11.
85
Cfr. Barómetro APAV/INTERCAMPUS (2022) – ESTUDO: Perceção da População sobre Assédio
Sexual no Local de Trabalho. Disponível em
https://apav.pt/apav_v3/images/pdf/Barometro_APAV_Intercampus_2022.pdf .
86
Cfr. Art.º 389.º, n.º 1, als. a e b do CT.
87
Calculada nos termos do art.º 390.º do CT.
21
CAPÍTULO 3 – Dificuldade de Prova nos casos de assédio
sexual laboral
3.1. O “primeiro caso” de assédio sexual no trabalho e uma visão
geral de outros acórdãos relevantes
A multiplicidade de diplomas, estudos e mecanismos desenvolvidos para
combater o assédio sexual no trabalho demonstra a preocupação generalizada em
erradicar este fenómeno do meio laboral. Todavia, a verdade é que a jurisprudência
nacional existente nesta matéria é escassa. Isto pode dever-se a diversos fatores
diretamente relacionados aos efeitos do assédio na vida da vítima, como por exemplo,
sentimento de vergonha, culpa, ansiedade, stress, medo de despedimento ou represálias,
etc. Poderá ainda estar relacionado com a morosidade associada aos processos judiciais,
bem como à dificuldade de provar condutas assediantes. De qualquer modo, existem
alguns acórdãos importantes que esclarecem como têm sido resolvidos casos de assédio
sexual laboral em Portugal.
88
Cfr. Acórdão do TRL de 08.01.1997, Relator Guilherme Pires (Proc. n.º 0001854).
89
Falamos, portanto, de assédio sexual vertical e por intimidação.
90
Verifica-se aqui uma situação concreta onde claramente o assédio sexual se mistura com o assédio
moral, quase numa lógica de causa-efeito. Pelo facto de a vítima ter rejeitado as condutas de cariz sexual
do assediador, este passa a mobilizar o assédio moral para continuar e até mesmo intensificar o ataque aos
seus direitos e dignidade. Não raras vezes, na prática, estes dois fenómenos encontram-se interligados.
22
indemnização por danos não patrimoniais advindos do despedimento, o que não se
verificou, pois, o TRL entendeu que este agia culposamente91.
91
Decisão que aplaudimos pela novidade do instituto à época, novidade esta que certamente se figurava
numa discussão muito mais difícil e complexa que a atual.
92
Vd., Acórdão do STJ, de 03.12.2003, Relator Ferreira Neto (Proc. n.º 03S2944).
93
Vd., Acórdão do TRL de 21.03.2019, Relatora Margarida Vieira de Almeida (Proc. n.º
1784/17.2T9AMD.L1-9).
94
A empresa justificou a aplicação deste processo disciplinar na ilegítima conduta da trabalhadora-vítima
em gravar conversações privadas, sem o consentimento do seu colega autor do assédio, no local de
trabalho.
23
análise, onde o TRL considerou a gravação como prova aceitável e devolveu o processo
ao MP para que fosse reapreciado.
95
Com exceção das condutas afiguradas em assédio moral e cometidas em frente a testemunhas de que
trata o primeiro acórdão mencionado, vd., Acórdão do TRL de 08.01.1997, Relator Guilherme Pires
(Proc. n.º 0001854).
24
fator discriminatório, já que a tutela geral a vítimas e testemunhas de assédio prevista no
n.º 6 do art.º 29.º demonstra ser mais restrita, uma vez que dispõe apenas sobre sanções
disciplinares. Ora, esta solução parece-nos demasiado rígida para um instituto com
tantas particularidades concretas, nomeadamente, a dificuldade inerente de produzir
prova das alegadas condutas assediantes, especialmente as mais subtis e não tão
frequentes.
96
Cfr. REDINHA, Maria Regina Gomes (2011) – Assédio – Uma Noção Binária?, in Direito do Trabalho
+ Crise = Crise do Direito do Trabalho? Atas do Congresso de Direito do Trabalho, Escola de Direito do
Porto da Universidade Católica Portuguesa, 1.ª edição, Coimbra Editora, p. 270-271.
97
Cfr. REDINHA, Maria Regina Gomes (2003) – Assédio Moral ou Mobbing no Trabalho, in Estudos
em Homenagem ao Professor Doutor Raúl Ventura, vol. II, Faculdade de Direito da Universidade de
Coimbra, Coimbra Editora, cit. p. 844.
98
É certo que a autora direciona a sua análise relativamente ao ónus da prova aos casos de mobbing, não
obstante, as suas conclusões parecem-nos adequar-se perfeitamente aos casos de assédio sexual laboral.
99
Neste sentido vd., Acórdão do STJ de 21.04.2010, Relator Vasques Dinis (proc. n.º
1030/06.4TTPRT.S1) e Acórdão do TRL de 25.09.2013, Relatora Isabel Tapadinhas (proc. n.º
201/11.6TTFUN.L1-4).
100
Neste sentido vd., SANTOS, Pedro Barrambana (2017) – Do Assédio Laboral: Pelo reenquadramento
do assédio moral no ordenamento jurídico português, Almedina, Coimbra.
101
A proposta foi apresentada no Projeto de Lei n.º 375/XIII do PCP.
25
A verdade é que as mais recentes alterações legais promovidas pela Lei n.º
73/2017102 e pela Lei n.º 93/2019103, embora não tenham apresentado mudanças no
âmbito da prova, trouxeram melhorias de regime que direta ou indiretamente auxiliam a
ultrapassar as dificuldades de prova. Contudo, é possível ainda propor algumas soluções
de modo a suprir as insuficiências atuais no âmbito do assédio sexual laboral.
102
Nomeadamente através da introdução e alteração dos preceitos do art.º 29.º, n.º 6; art.º 127.º, n.º 1, al. k
e l e art.º 394.º, n.º 2, al. f do CT e art.º 66.º, n.º 2 do CPT.
103
Designadamente através da densificação do art.º 127.º, n.º 1, al. a e 394.º, n.º 3, al. f do CT.
104
COSTA, Ana Cristina Ribeiro (2017) – Notas sobre o ónus da prova e danos morais no assédio:
caminhos a desbravar in apresentação no âmbito do IX Colóquio sobre o Direito do Trabalho, com o
tema «Assédio na relação laboral», organizado pelo STJ e pela APODIT. Disponível em
https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/23993/1/Notas%20sobre%20o%20%C3%B3nus%20.pdf .
Consultado a 01.06.2022.
105
Isto, claro está, quando o recusante é parte do processo.
106
Cfr. Art.º 474.º e ss. do CPC.
26
tornar-se impossível ou muito difícil” a recolha de provas – situação que, nas situações
de assédio, significaria um enorme progresso na busca pela verdade.
CONCLUSÃO
Desde logo, é importante louvar as alterações legislativas que têm sido feitas nos
últimos anos à legislação nacional e que em muito auxiliaram a que o conceito de
assédio saísse do abstrato e pudesse ser reconhecido e tratado na prática como tal.
27
Além disto, mostra-se premente reforçar as ações de formação, debate e
discussão sobre o assédio sexual nos locais de trabalho, uma vez que, como vimos, o
assédio, sendo tão ou mais antigo que o próprio trabalhador, está enraizado na sociedade
e é um produto cultural. Só através da educação e desconstrução de ideias ultrapassadas
poderemos verdadeiramente erradicar esta fenómeno dos locais de trabalho e, como é
claro, da comunidade como um todo.
Por fim, entendemos que a lei não se deve ficar por estabelecer mecanismos de
combate e punição de condutas assediantes, devendo ir mais longe ao prever
acompanhamento psicológico gratuito e, possivelmente até médico, dos trabalhadores-
vítimas após a denúncia. Isto porque sabemos que os efeitos do assédio se prolongam
para além do fim da conduta assediante, podendo comprometer gravemente a saúde
mental e física do assediado. Neste sentido, é do maior interesse do legislador suprir
também esta necessidade das vítimas, de modo a reestabelecer um ambiente laboral
sadio para as mesmas.
28
BIBLIOGRAFIA
AMÂNCIO, Lígia /LIMA, Maria Luísa Pedroso de (1994) – Assédio Sexual no
Mercado de Trabalho, Lisboa, CITE.
COSTA, Ana Cristina Ribeiro (2017) – Notas sobre o ónus da prova e danos morais no
assédio: caminhos a desbravar, in apresentação no âmbito do IX Colóquio sobre o
Direito do Trabalho, com o tema «Assédio na relação laboral», organizado pelo STJ e
pela APODIT. Disponível em
https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/23993/1/Notas%20sobre%20o%20%C3%
B3nus%20.pdf .
29
GOMES, Júlio (2007) – Algumas observações sobre o mobbing nas relações de
trabalho subordinado, in Estudos Jurídicos em Homenagem ao Professor Doutor
António Motta Veiga, Coimbra: Almedina
GOMES, Júlio Vieira (2011) – Algumas reflexões sobre a evolução recente do conceito
jurídico de assédio moral (laboral), in Prontuário de Direito do Trabalho.
MIRA, Matilde Teixeira Motta Silva (2018) – Assédio Laboral – Contributos para uma
Análise Crítica da Lei n.º 73 3/2017, de 16 de agosto. Dissertação de Mestrado:
Faculdade de Direito Nova de Lisboa. Disponível em https://www.animar-
dl.pt/site/assets/files/5331/assedio_laboral.pdf .
REDINHA, Maria Regina Gomes (2011) – Assédio – Uma Noção Binária?, in Direito
do Trabalho + Crise = Crise do Direito do Trabalho? Atas do Congresso de Direito do
Trabalho, Escola de Direito do Porto da Universidade Católica Portuguesa, 1.ª edição,
Coimbra Editora.
30
SANTOS, Pedro Barrambana (2017) – Do Assédio Laboral: Pelo reenquadramento do
assédio moral no ordenamento jurídico português, Almedina, Coimbra.
ACÓRDÃOS
31
Acórdão do STJ de 21.05.2014, relator Mário Belo Morgado (proc. n.º
517/10.9TTLSB.L1.S1).
LEGISLAÇÃO NACIONAL
Código Civil
Código Penal
Código do Trabalho
LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL
32
Diretiva 2006/54/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de julho de 2006
33