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Vítimas de Crimes
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Vitimização, Direitos
Humanos, Ética e Cidadania
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Conteudista:
Rosana Cathya Ragazzoni Mangin, (Conteudista, 2021);
Enap, 2021
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Sumário
Referências................................................................................................................................................................ 7
Referências..............................................................................................................................................................13
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MÓDULO
Neste momento em que se inicia mais um módulo de formação sobre temática tão atual e importante,
espera-se que você, leitor (a), após a leitura e consequente reflexão dos conteúdos apresentados, seja capaz
de analisar os conceitos de dignidade humana, ética e cidadania, preceitos fundamentais relacionados aos
direitos das vítimas de crime.
Relacionados a esses conceitos serão apresentados, também, os conceitos de direitos humanos e de direitos
fundamentais, para, ao final, conhecer a Declaração Universal dos Direitos Humanos e outros documentos
internacionais de proteção e cuidado às pessoas e ao planeta.
Você já leu a mais recente Constituição Federal do Brasil, na íntegra ou em pontos específicos?
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...) II – a cidadania;
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A Constituição brasileira, ordenamento nacional soberano, estabelece as diretrizes para todas as demais leis do país.
Pensando nos direitos das vítimas, você está convidado, desde já, a conhecer algumas leis que visam
proteger grupos específicos e podem auxiliar na garantia dos direitos dessas pessoas.
Agora, vamos refletir um pouco sobre alguns dos conceitos que estão relacionados a essa proteção, como
por exemplo, o de dignidade, ética e cidadania?
Carvalho e Coelho, no artigo “O princípio da Dignidade da Pessoa Humana e sua influência nas decisões
do STF”, traçam uma linha do tempo sobre a evolução do princípio da dignidade humana e apontam
que, em sua origem, a dignidade humana estaria relacionada à posição social ocupada pela pessoa,
relativizando sua importância e os direitos humanos.
Com fundamento nas ideias de Immanuel Kant (1724 - 1804), considera-se a dignidade humana um
fim em si mesma; deve ser atingido como princípio elementar que decorre da própria condição humana.
Pensando desse modo, a dignidade diz respeito a todas as pessoas, independentemente de sua
origem, condição socioeconômica, posição social, ou qualquer outra característica que possa diminuir
sua importância perante a coletividade.
Conforme ensina Marmelstein, na obra “Direitos Fundamentais”, a dignidade humana possui alguns
atributos, como por exemplo, o respeito à autonomia da vontade, à integridade física e moral, a não
coisificação do ser humano e à garantia de um mínimo para que exista e não pereça.
Se a dignidade humana, afinal, está relacionada à realização das necessidades de cada pessoa, quais
seriam, então, essas necessidades? Fundamentalmente, estão ligadas ao direito à vida que, bem
supremo, é objeto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Constituição Federal brasileira e
fundamento para tantas outras normas e leis.
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Como será que se apresenta esse direito à vida, no Brasil?
“Onde não houver respeito pela vida e pela integridade física do ser
humano, onde as condições mínimas para uma existência digna não
forem asseguradas, onde a intimidade e identidade do indivíduo
forem objeto de ingerências indevidas, onde a igualdade relativa-
mente aos demais não for garantida, bem como, onde não houver a
limitação do poder, não haverá espaço para a dignidade da pessoa
humana, e esta não passará de mero objeto de arbítrio e injustiças”.
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Referências
SARLET, I. W. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais
na perspectiva constitucional. 11 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012.
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Unidade 2 – Ética, cidadania e direitos fundamentais
“Necessitará, penso, de hábito para ver os objetos da região superior. Primeiro distinguirá
mais facilmente as sombras, depois, as imagens dos homens e dos outros objetos que se
refletem nas águas, a seguir, os próprios objetos. Após isso, poderá, enfrentando a claridade
dos astros e da lua, contemplar mais facilmente durante a noite os corpos celestes e o céu
mesmo, do que, durante o dia o Sol e sua luz”.
Os temas propostos neste tópico são objetos de considerações e reflexões desde a Antiguidade. O
excerto acima, alusivo ao “Mito da Caverna”, de Platão, filósofo grego que viveu entre 428 a.C. e 348
a.C., indica essa origem e convida, você, leitor(a), a refletir criticamente sobre os conceitos expostos a
seguir, deixando a caverna, onde podemos nos encontrar comodamente, e estabelecendo conexões entre
o conhecimento de mundo e a realidade brasileira.
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2.1 Conceitos de ética e cidadania
Ética
O que se sabe hoje sobre a Ética vem sendo em ação os indivíduos, exigindo deles uma decisão
construído desde a Antiguidade. Analise, caro(a) livre e consciente, assumida por uma convicção
leitor(a): se algo é tão longevo, sobrevivendo a interior e não por uma atitude exterior e impessoal.
guerras e pandemias e se difundindo em todos A ética seria essa disponibilidade interior para uma
os povos (cada qual com sua cultura), é porque ação que levasse moralmente em consideração o
deve ser importante; e é! conjunto da sociedade e da natureza.
(As aventuras de Mafalda, de Quino). Você poderá ler outras tirinhas interessantes
em: https://br.pinterest.com/tainastauffer/mafalda-quino/
Para concluirmos este assunto, que não se esgota nesta breve análise, podemos introduzir o que se entende
por juízo de FATO e juízo de VALOR. Ao tratar de Juízos, quer-se dizer que nos referimos as coisas como são e
como as interpretamos.
No juízo de fato, constata-se algo observado e que não se pode mudar, como os fenômenos naturais, por
exemplo. Esses fenômenos dizem o que, como e porque as coisas são como são. Por exemplo: “Está chovendo;
“Pedro tem 40 anos”.
Já quando se refere a juízos de valor, expressa-se uma interpretação do fato observado. Diz-nos sobre as
relações culturais estabelecidas entre as pessoas e delas com relação a coisas, fatos, ideias. Exemplos podem
ser: “Adoro a chuva pois, para mim, ela é bela”; “Odeio o frio que faz hoje; prefiro o calor”. A tirinha abaixo pode
ajudar a ilustrar esses nossos juízos (ou maus juízos!).
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Fonte: http://www.espitirinhas.com.br/2012/01/92-mau-juizo.html
Cidadania
Ei, cidadão! Tudo bem, cidadã? É inegável que todos nós, em algum momento de nossas vidas, tenhamos
nos defrontado com este conceito. O que ele significa, de fato? Vamos aprofundar mais este termo?
Saiba mais
Pode-se, para fins didáticos, resumir o conceito: que as decisões de assuntos importantes não
ser cidadão significa ter acesso pleno a todos os deveriam ser tomadas por uma única pessoa.
direitos individuais e políticos, sociais e econômicos Deveriam ser discutidas com muitas pessoas.
que assegurem uma vida digna ao ser humano, à
comunidade e à sociedade. Ser cidadão significa ter Em 1215, o Rei João da Inglaterra assinou a Magna
direitos e deveres. Carta (Magna Charta Libertatum), limitando os
poderes dos monarcas, que pode ser considerada
Vamos, novamente, a um passeio pelo tempo? como o primeiro esboço de uma Constituição escrita.
Veremos que a questão dos direitos e dos deveres,
tal qual o conceito de ética e de dignidade não Em 1222, deu-se a Declaração Fundacional do
nasceram outro dia, essas ideias estão contidas Império de Mali, ou Carta de Mandén. Importante
num livro chamado “História Social dos Direitos mencionar que não existiu, até a idade moderna, nas
Humanos”, de José Damião de Lima Trindade. declarações japonesas ou sânscritas tradicionais,
menção à palavra “direitos”, em razão de esses
No século III a. C., um Conselho de Pessoas do Povo povos priorizarem os “deveres”.
aconteceu com o apoio do Imperador Ashoka, em
Paliputra, na Índia. Uma das regras desse Conselho Na Declaração dos Direitos do Bom Povo da
era a moderação com a linguagem de modo que a Virgínia, de 1776, já estava enunciada a
pessoa não faria a glorificação de sua própria seita “igualdade natural de todos os homens e a
ou facção, nem o desmerecimento de outras seitas existência de direitos inatos”. Já em 1787, tem-se
e facções em ocasiões impróprias, e deveria ser a Constituição dos Estados Unidos da América, com
moderada, mesmo quando em ocasiões apropriadas. apenas sete artigos no texto original. Importante
salientar que, tanto a mencionada Declaração,
No Japão do ano de 604 de nossa era, o príncipe como esta última Constituição, tratavam apenas
budista Shotoku, produziu a chamada Constituição de direitos civis e políticos, não fazendo menção
dos Dezessete Artigos. Essa Constituição insistia aos direitos sociais.
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Em 07 de julho de 1789, os Estados Gerais na França adotaram o nome de Assembleia Nacional Constituinte
e, no dia 11, foi apresentada uma primeira versão do que em breve viria a ser a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão. Palavras como pátria, cidadão e povo subitamente se valorizaram. Mais que tudo,
valorizou-se a participação do povo nas decisões estatais.
Outros eventos e declarações ou encíclicas, no caso de documentos religiosos, foram elaborados e promulgados
ao longo da história. Apenas com o intuito de ilustrá-los, sem desmerecer a importância de cada um deles, vale a
pena mencionar: em 1891, o Papa Leão XIII, propõe a intervenção estatal nas questões sociais com a publicação
da Encíclica Papal Rerum Novarum.
E, finalmente, em 1948, uma Assembleia dessa Organização aprova o que se conhece como Declaração Universal
dos Direitos Humanos, documento que sintetiza a luta por direitos dos povos ao longo da história.
Para concluir este tópico, é importante que você saiba que, ao lado dos direitos constituídos, soberana e legalmente,
também temos deveres: ser o próprio fomentador da existência dos direitos a todos, ter responsabilidade em
conjunto pela coletividade, cumprir as normas e propostas elaboradas e decididas coletivamente; fazer parte do
governo, direta ou indiretamente, ao votar e ao participar de movimentos sociais e comunitários.
É importante ressaltar que a menção ao termo direitos humanos é utilizada de modo inapropriado
em alguns contextos e situações, minimizando sua importância e/ou distorcendo seu significado,
especialmente quando se confrontam direitos que deveriam coexistir pacificamente.
A noção de direitos humanos, portanto, deve conduzir à ideia de proteção, cuidado, equanimidade,
respeito e responsabilidade de todas as pessoas para com a coletividade. Assim, temos que:
Caro(a) leitor(a): você sabia que os princípios e direitos fundamentais determinados na Constituição
Federal revelam a síntese de todos os direitos necessários à existência humana digna?
Deve-se ter em conta de que a violação de direitos (por alguém) provoca vitimização (de outrem). O
direito das pessoas de serem protegidas contra a violência e o crime e o direito das vítimas (e/ou de
seus familiares) de serem atendidas dignamente, respeitadas, amparadas e cuidadas, encontra-se aqui
positivado.
Concluindo, é importante que você saiba que os Direitos Humanos e Fundamentais possuem importantes
características, como a inalienabilidade, a inviolabilidade e a universalidade, dentre outras; e que eles
não surgiram todos de uma só vez, foram pensados e construídos ao longo dos tempos.
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Saiba mais aqui
inalienabilidade: os direitos não são transferidos de uma pessoa para outra, quer
gratuita ou onerosamente;
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Referências
CHAUI, M. Convite à filosofia. 12ª ed. 6ª reimpr. São Paulo: Ática, 2002.
FIORELLI, J. O. e MANGINI, R. C. R. Psicologia Jurídica. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2021.
GUINSBURG, J. (Org.). A República de Platão. Obras I. São Paulo: Perspectiva, 2014. (Textos 19).
TRINDADE, J. D. L. História social dos direitos humanos. São Paulo: Petrópolis, 2011.
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