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Rafael de Lazari
Manual de
DIREITOS HUMANOS
3.ª edição,
revista, atualizada e ampliada
2017
I
TEORIA GERAL
DOS DIREITOS HUMANOS
É natural, no estudo dos direitos humanos tipicamente feito por alguém habituado
ao direito interno, “caseiro”, correlacioná-los aos direitos e garantias fundamentais
explícitos ou implícitos na Constituição Federal.
Ainda que sejam sobrelevadas as nuanças de cada país dito “democrático de
direito” na maneira como estruturam seus respectivos ordenamentos internos (orga-
nização do Estado, repartição de competências, organização dos Poderes, sistema de
tributação, sistema de administração pública, maior ou menor intervenção estatal,
regras procedimentais etc.), há entre eles um ponto de sinonímia representado
justamente pelos direitos humanos e pela forma como estes são encaixados dentro
do sistema particularizado de cada nação.
Em outras palavras, enquanto cada país erige-se nos moldes de seu povo, de
seu território e de sua ideologia no que diz respeito às pilastras embasadoras do
funcionalismo estatal, são os direitos humanos, necessariamente, supranacionais,
porque resultantes de uma evolução histórica que se deu por meio de documen-
tos internacionais, conflitos bélicos, acordos econômicos, entendimentos de paz,
delimitação de fronteiras, dentre outros tantos meios de convivência – positiva ou
negativa – no plano internacional.
Os direitos humanos ficam, portanto, em uma zona de flutuação acima dos
ordenamentos internos, pois necessariamente dependem de um consenso que trans-
cenda ao “quintal” de cada país. É exatamente por isso, por exemplo, que não há
consenso em se admitir a condição da mulher submissa tal como em vários países
dos continentes africano e asiático, ainda que pequenos grupos setoriais entendam
isso como algo absolutamente natural. O motivo pelo qual a mulher submissa não é
encarada como algo normal é simples: há absoluta discrepância entre sua condição
de subordinação e violência física/moral e a natureza consensual inerente a uma
democracia de que homens e mulheres são iguais perante a lei e na forma da lei.
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SEMELHANÇAS DIFERENÇAS
O respeito constitui marco Conferem atenção especial Por serem mais restritos
dos regimes de governo a questões de relativismo territorialmente, se
democráticos, fundados na cultural devido à abrangência preocupam menos com
lei (Estados Democráticos de territorial global questões de relativismo
Direito) cultural
Quais as principais vertentes de proteção dos direitos humanos? Quais são suas
principais características?
1
TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Direito Internacional dos Direitos Humanos, Direito Internacional Humanitário
e Direito Internacional dos Refugiados: Aproximações ou Convergências. In: COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ
VERMELHA (Org.). As três vertentes da proteção internacional dos direitos da pessoa humana: Direitos Huma-
nos, Direito Humanitário, Direito dos Refugiados. [s.n.], 2004. Disponível em: <http://www.icrc.org/por/resources/
documents/misc/direitos-da-pessoa-humana.htm>. Acesso em: 13 jun. 2013.
2
PAULA, Bruna Vieira de. As três vertentes da proteção internacional dos direitos da pessoa humana: direito inter-
nacional dos refugiados e o princípio do non-refoulement. Fronteira, Belo Horizonte, v. 5, n. 9, p. 31-65, jun. 2006.
Cap. I • TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS 55
Judiciário3. Com efeito, o direito das minorias é apontado como uma subvertente de
proteção, dentro da vertente do direito internacional dos direitos humanos.
Por sua vez, a regulamentação do direito internacional penal também está en-
volvida nos direitos humanos, notadamente no Estatuto de Roma, colocando a pessoa
humana como verdadeiro sujeito de direito internacional não apenas na busca de
direitos, mas na punição por graves violações conforme a competência do Tribunal
Penal Internacional, notadamente, crimes contra a humanidade, crimes de guerra,
genocídio e agressão internacional. O direito internacional penal é desenvolvido a
partir do fenômeno da fragmentação do direito internacional, mas assume impor-
tância também no campo dos direitos humanos, eis que aborda a responsabilidade
por delitos de caráter internacional. Sujeitam-se a suas normas indivíduos que
cometem este tipo de delito, evidenciando-se uma posição não apenas protetiva de
indivíduos pelo direito internacional dos direitos humanos, mas também punitiva.
Ainda assim, a possibilidade de punição de uma pessoa no âmbito internacional
reforça o status do indivíduo como parte integrante do sistema de proteção da
pessoa humana, de modo que o direito penal internacional pode ser apresentado
também como subvertente de proteção da pessoa humana, dentro da vertente do
direito internacional dos direitos humanos.
3
MARTINS, Argemiro Cardoso Moreira; MITUZANI, Larissa. Direito das minorias interpretado: o compromisso demo-
crático do direito brasileiro. Sequência, n. 63, p. 319-352, dez. 2011.
4
DEYRA, Michel. Direito internacional humanitário. Lisboa: Procuradoria-Geral da República, 2001.
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das Nações Unidas é a paz. Desde suas origens os ramos são autônomos, mas esta
mesma autonomia conduziu à complementaridade sistêmica. Logo, aplicam-se regras
de direitos humanos quando o direito humanitário não é aplicável. “Hoje em dia
esta convergência exprime-se através de três princípios comuns aos dois ramos do
direito: o princípio da inviolabilidade, que garante a todo o indivíduo não comba-
tente o direito de respeito pela sua vida, integridade física e moral; o princípio da
não discriminação no acesso aos direitos protegidos; e o princípio da segurança, que
implica nomeadamente o respeito pelas habituais garantias judiciárias. Apesar desta
aproximação a um núcleo duro irredutível, os dois ramos do direito continuam a
ter as suas especificidades no conteúdo dos direitos enunciados, na sua aplicação
e também no facto de serem consagrados em instrumentos jurídicos distintos, nos
quais nem todos os Estados são Partes”5.
5
Ibid.
6
Ibid.
58 MANUAL DE DIREITOS HUMANOS • Bruna Pinotti Garcia Oliveira e Rafael de Lazari
a) Princípios substantivos:
b) Princípios derivados:
c) Princípios orgânicos:
7
Ibid.