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20/12/2023, 10:55 Perspectiva atual e decisões jurisprudenciais recentes acerca dos direitos fundamentais - Artigo de Direito Constitucional

Artigos

Perspectiva atual e decisões


jurisprudenciais recentes acerca dos
direitos fundamentais
Tem como objetivo trazer uma visão atualizada dos direitos
fundamentais, apresentando importantes decisões judiciais e
descrevendo o desenvolvimento ocorrido acerca do tema.
Conrado Rangel Moreira Direito Constitucional 16/11/2007

1 - Conceitos: direitos do homem, direitos humanos e direitos


fundamentais

Inicialmente, cabe ressaltar que boa parte da doutrina faz


diferenciação entre os termos direitos do homem, direitos humanos e
direitos fundamentais.

Ensinam alguns autores, nesse sentido Ingo W. Sarlet (1), que os


direitos do homem são os direitos que decorrem da própria condição
humana, inatos, conotando direitos naturais não positivados. Por
direitos humanos entende aqueles inscritos no plano internacional,
reconhecidos em Tratados e Convenções Internacionais. Já os direitos
fundamentais constituem corolário da expressão direitos do homem,
que deixa de ser uma expressão apenas de cunho naturalista para ser
inserido no texto constitucional.

A distinção entre os direitos fundamentais, direitos humanos e


direitos do homem, foi adotada pela Carta das Nações Unidas que
repetiu ao longo do seu texto a necessidade do respeito universal e
efetivo dos direitos do homem.

Ademais, importa salientar que a Constituição Federal do mesmo


modo seguiu a referida distinção. Pode-se observar abaixo que a Lei
Maior tratou tecnicamente do assunto.

https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3843/Perspectiva-atual-e-decisoes-jurisprudenciais-recentes-acerca-dos-direitos-fundamentais 1/12
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Art. 5 da Constituição Federal:

“ § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm


aplicação imediata.

§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem


outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte.

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que


forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais.” (grifo nosso).

Nota-se que o parágrafo 1º do art. 5 da Constituição Federal


denomina direitos fundamentais os direitos previstos no próprio texto
constitucional. No parágrafo 3º do mesmo artigo da Constituição,
quando trata de direitos reconhecidos no plano internacional –
Tratados e Convenções Internacionais – adota o termo direitos
humanos. Ademais, corretamente coloca no parágrafo 3º do art. 5º
apenas a palavra “direitos”, por se referir tanto a direitos humanos
quanto a direitos fundamentais.

Neste ponto, deve-se considerar que os direitos fundamentais não


pode ser examinado apenas pela análise do Título II ou do art. 5º da
CRFB/88. Tais direitos podem ser encontrados ao longo do texto
constitucional e estão radicalmente ligados ao princípio incrustado no
art. 1º, inciso III, da Lei Suprema.

2 – Princípio da dignidade da pessoa humana e direitos


fundamentais

A dignidade da pessoa humana é o núcleo em torno do qual gravitam


os direitos fundamentais.

Ensina o professor Marcelo Novelino (2) que a dignidade não é um


direito - não é o ordenamento jurídico que confere dignidade.
Dignidade é um atributo que todo o ser humano tem
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independentemente de qualquer condição, deve ser protegido pelo


ordenamento jurídico.

A dignidade é o ponto comum de todos os direitos fundamentais. Por


isso, os direitos fundamentais formam um sistema e a dignidade é
que dá o caráter unitário a esse sistema.

Mais que simples fundamento do Estado, a dignidade da pessoa


humana constitui núcleo axiológico da Constituição, entendido com
um valor constitucional supremo e essencial.

Do cunho essencial dos direitos fundamentais subsume as


características da inalienabilidade, imprescritibilidade e
universalidade.

Os direitos fundamentais são históricos, por não nascerem em


momento determinado, são construídos da convivência coletiva.
Ademais, pertence ao universo de todas as pessoas e não permite sua
desinvestidura.

Há violação da dignidade humana toda vez que o homem for tratado


como meio e que este tratamento consistir numa expressão de
desprezo pela vida, como, por exemplo, uma lei que imponha aos
presos a condição de cobaias para pesquisas.

3 – Vertentes da dignidade da pessoa humana

Os direitos fundamentais surgiram primordialmente com a finalidade


de proteger a dignidade da pessoa humana, o que explica o seu
caráter unitário e revela um ponto comum.

O princípio da dignidade da pessoa humana apresenta conteúdo


negativo, segundo o qual prescinde da atuação do Estado e impede
principalmente que o Poder Público trate o ser humano com um meio
ou objeto.

Revela ainda um caráter positivo que correntemente é associado ao


“mínimo existencial”.

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A doutrina mais atualizada, com base na relevância do princípio da


dignidade da pessoa humana, avança no delineamento do mínimo
existencial. Para Luis Roberto Barroso, o mínimo existencial está
associado à promoção de meios indispensável a uma vida humana
digna, visto como conjunto de bens e utilidades indispensável ao
tratamento digno.

4- Eficácia dos direitos fundamentais

Os direitos fundamentais, que outrora se limitavam a representar


disposições positivadas protetoras dos indivíduos contra ações do
Estado, inicialmente oponível ao Estado, passaram a gozar da
chamada eficácia horizontal.

A eficácia horizontal é a aplicação dos direitos fundamentais às


relações firmadas entre particulares. Hipoteticamente, as relações
entre indivíduos são relações jurídicas de igualdade, daí a
denominação eficácia horizontal dos direitos fundamentais.

Cabe, no entanto, notar que existem três teorias que se destacam


acerca da eficácia horizontal:

1) Teoria da Ineficácia Horizontal, adotada nos Estados Unidos da


América, segundo o qual os direitos fundamentais não se aplicariam
as relações privadas, apenas à relações entre o particular e o Estado;

2) Teoria da Eficácia Horizontal Indireta e Mediata dos direitos


fundamentais, adotada na Alemanha, para o qual os direitos
fundamentais têm eficácia horizontal apenas de forma indireta e
mediata, onde somente será aplicada quando houver intermediação
do legislador;

3) Teoria da Eficácia Horizontal Direta e Imediata, adotada pelo Brasil,


que considera possuir os direitos fundamentais aplicação direta às
relações interprivadas, mesmo que não haja intermediação do
legislador.

Importante lembrar que o STF, como se pode notar na decisão abaixo


transcrita, corroborando a doutrina mais atualizada, claramente se
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manifestou pelo reconhecimento da teoria da eficácia horizontal


direta e imediata dos direitos fundamentais.

“...As violações a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito


das relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações
travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os
direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam
diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados
também à proteção dos particulares em face dos poderes privados. II.
OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS COMO LIMITES À AUTONOMIA PRIVADA
DAS ASSOCIAÇÕES. A ordem jurídico-constitucional brasileira não conferiu
a qualquer associação civil a possibilidade de agir à revelia dos princípios
inscritos nas leis e, em especial, dos postulados que têm por fundamento
direto o próprio texto da Constituição da República, notadamente em
tema de proteção às liberdades e garantias fundamentais. O espaço de
autonomia privada garantido pela Constituição às associações não está
imune à incidência dos princípios constitucionais que asseguram o
respeito aos direitos fundamentais de seus associados. A autonomia
privada, que encontra claras limitações de ordem jurídica, não pode ser
exercida em detrimento ou com desrespeito aos direitos e garantias de
terceiros, especialmente aqueles positivados em sede constitucional, pois
a autonomia da vontade não confere aos particulares, no domínio de sua
incidência e atuação, o poder de transgredir ou de ignorar as restrições
postas e definidas pela própria Constituição, cuja eficácia e força
normativa também se impõem, aos particulares, no âmbito de suas
relações privadas, em tema de liberdades fundamentais.” (grifo nosso)

(Re 201819/RJ – Rel. Min. Ellen Grace – Publicado em 27/10/2005)

5 – Crítica a Gerações de Diretos Fundamentais.

Outro assunto que merece ser analisado é a famigerada tese,


causadora de debate, denominada "Gerações de Direitos
Fundamentais" de Norberto Bobbio.

A doutrina constitucionalista passou a dividir os direitos fundamentais


em “Gerações”. Basicamente a doutrina separou em três gerações os
direitos fundamentais:
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Consideram-se direitos de primeira geração os direitos civis e


políticos, motivados pelo discurso liberal (revoluções liberais),
conquistados no séc. XVIII. De cunho negativo, exigem a abstenção
por parte do Estado.

Por direitos de segunda geração entendem ser os direitos


econômicos, sociais e culturais conquistados no séc. XIX, que
estabelecem uma atuação positiva por parte do Poder Público.
Normalmente, têm por finalidade a redução de desigualdades.

Já os direitos de terceira geração surgem da preocupação com


questões afetas a própria coletividade. São os direitos coletivos,
ligados ao direito ao meio ambiente e ao direito de propriedade sobre
o patrimônio comum da humanidade.

Alguns autores sustentam haver a quarta geração e até uma quinta


geração de direitos fundamentais.

O professor Paulo Bonavides coloca como direito de quarta geração o


direito a democracia, informação e pluralismo político. Direitos
influenciados principalmente pela globalização política. Já, por direito
de quinta geração considera a paz mundial.

No entanto, essa divisão em gerações de direitos é desmontada por


alguns doutrinadores, nesse sentido, A. A. Cançado Trindade e Valério
de Oliveira M.(3).

A tese das gerações de direitos é incorreta e infundada. Não tem


fundamento político. Geracionar direitos pode levar a idéia de maior
proteção aos direitos de primeira geração do que os de segunda
geração - o que é um equivoco.

Ademais, é incorreta por tais direitos não terem se conduzidos


historicamente dessa forma no plano internacional. Como, por
exemplo, o fato da Organização Internacional do Trabalho ter sido
fundada em 1919 (direito de segunda geração), enquanto o Pacto de
Nova Iorque, que trata de direitos civis e político, é de 1966.

Adverte Antônio A. Cançado Trindade (4) que quem formulou a tese


das gerações de direito foi Karel Vasak, em conferência ministrada em

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1979, no Instituto Internacional de Direitos Humanos, em Estrasburgo.


Pela primeira vez, ele falou em gerações de direitos, inspirado na
bandeira francesa: liberté, egalité, fraternité.

Comenta A. A. Cançado Trindade que “essa tese das gerações de direitos


não tem nenhum fundamento jurídico, nem na realidade. Essa teoria é
fragmentadora, atomista e toma os direitos de maneira absolutamente
dividida, o que não corresponde à realidade”.

Continua ainda a dizer que o “mesmo o autor não levou essa tese muita
a sério, mas, como tudo que é palavra “chavão”, pegou. Aí Norberto
Bobbio começou a construir gerações de direitos etc”.

Cabe registrar, no entanto, que a boa doutrina não divide os direitos


fundamentais em ‘gerações’, classifica os basicamente em três grupos.
Em direitos de defesa, por protegerem a liberdade dos indivíduos,
blindando o indivíduo contra o arbítrio estatal (caráter negativo). Em
direitos prestacionais, por exigirem prestações materiais e prestações
jurídicas por parte do Poder Público (direitos de cunho positivo). E, por
fim, em direitos de participação, por abrir a possibilidade de
participação dos indivíduos na vida política do Estado.

6 – Reconhecimento da influência dos direitos fundamentais no


ordenamento jurídico

Sabe-se que nossa lei suprema contém as normas fundamentais do


Estado e nisso já se nota sua superioridade em relação às demais
normas jurídicas. Os direitos fundamentais, além de constituírem
núcleo duro da Constituição (5), irradiam efeitos por todo
ordenamento jurídico, conferindo direcionamento e coerência ao
intérprete e ao aplicador do direito objetivo.

Cabe perceber que o Direito penal, ramo que define infrações penais
e estabelece penas e medidas de segurança, se vale dos princípios
fundamentais como balizamento para a correta interpretação e a
justa aplicação das normas penas.

A dignidade humana é o princípio genérico e reitor do direito penal, e


dela partem outros princípios mais específicos, como o princípio
expresso no art. 5º, inciso LXVI, da CRFB.
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Inclusive, considerando haver afronta ao princípio da individualização


da pena, em importantíssima decisão, o Supremo Tribunal Federal,
por maioria, declarou a inconstitucionalidade do §1º do art. 2º da Lei
dos Crimes Hediondos.

Nesse sentido o Informativo 418/ STF:

“Em conclusão de julgamento, o Tribunal, por maioria, deferiu pedido de


habeas corpus e declarou, incidenter tantum, a inconstitucionalidade do §
1º do art. 2º da Lei 8.072/90, que veda a possibilidade de progressão do
regime de cumprimento da pena nos crimes hediondos definidos no art.
1º do mesmo diploma legal — v. Informativos 315, 334 e 372.
Inicialmente, o Tribunal resolveu restringir a análise da matéria à
progressão de regime, tendo em conta o pedido formulado. Quanto a esse
ponto, entendeu-se que a vedação de progressão de regime prevista na
norma impugnada afronta o direito à individualização da pena (CF, art.
5º, LXVI), já que, ao não permitir que se considerem as particularidades de
cada pessoa, a sua capacidade de reintegração social e os esforços
aplicados com vistas à ressocialização, acaba tornando inócua a garantia
constitucional. Ressaltou-se, também, que o dispositivo impugnado
apresenta incoerência, porquanto impede a progressividade, mas admite
o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena (Lei
8.072/90, art. 5º)...”

HC 82959/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 23.2.2006. (HC-82959)

É importante lembrar que também o direito ambiental se submete à


influência dos direitos fundamentais, principalmente por ser um
direito que cumpre a função de integrar os direitos à saudável
qualidade de vida, o desenvolvimento econômico e à proteção dos
recursos naturais.

Cabe compreender que o art. 225 da Constituição Federal representa


um direito-dever fundamental a um meio ambiente ecologicamente
equilibrado que constitui o núcleo normativo do tratamento
ambiental constitucional. Ademais, traz o referido artigo importantes
princípios constitucionais, como o princípio da cooperação e o
princípio da justiça ambiental inter-geracional.
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Em razão da relevância do tema, oportuno transcrever a Ementa do


acórdão publicado em 03/02/2006, ADI-MC 3540/DF – Rel. Min. Celso
de Mello – Tribunal Pleno:

” E M E N T A: MEIO AMBIENTE - DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA


INTEGRIDADE (CF, ART. 225) - PRERROGATIVA QUALIFICADA POR SEU
CARÁTER DE METAINDIVIDUALIDADE - DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO
(OU DE NOVÍSSIMA DIMENSÃO) QUE CONSAGRA O POSTULADO DA
SOLIDARIEDADE - NECESSIDADE DE IMPEDIR QUE A TRANSGRESSÃO A
ESSE DIREITO FAÇA IRROMPER, NO SEIO DA COLETIVIDADE,
CONFLITOS INTERGENERACIONAIS - ESPAÇOS TERRITORIAIS
ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (CF, ART. 225, § 1º, III) - ALTERAÇÃO E
SUPRESSÃO DO REGIME JURÍDICO A ELES PERTINENTE - MEDIDAS
SUJEITAS AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI -
SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
- POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CUMPRIDAS AS
EXIGÊNCIAS LEGAIS, AUTORIZAR, LICENCIAR OU PERMITIR OBRAS
E/OU ATIVIDADES NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE
QUE RESPEITADA, QUANTO A ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS
JUSTIFICADORES DO REGIME DE PROTEÇÃO ESPECIAL - RELAÇÕES
ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II, C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF,
ART. 225) - COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS - CRITÉRIOS DE
SUPERAÇÃO DESSE ESTADO DE TENSÃO ENTRE VALORES
CONSTITUCIONAIS RELEVANTES - OS DIREITOS BÁSICOS DA PESSOA
HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES (FASES OU DIMENSÕES) DE
DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161) - A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO
DIREITO À PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO
CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À ATIVIDADE ECONÔMICA (CF, ART. 170,
VI) - DECISÃO NÃO REFERENDADA - CONSEQÜENTE INDEFERIMENTO
DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. A PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE
DO MEIO AMBIENTE: EXPRESSÃO CONSTITUCIONAL DE UM DIREITO
FUNDAMENTAL QUE ASSISTE À GENERALIDADE DAS PESSOAS”

O direito civil, do mesmo modo, se sujeita às modificações


ocasionadas pela adequada aplicação dos direitos fundamentais.

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Estruturado pelo anterior Código Civil de 1916, sob uma visão


patrimonialista e individualista, com o influxo das normas
fundamentais, o direito civil sofre significativa mudança de concepção.
A doutrina mais moderna chama de Constitucionalização do Direito
Civil ou Direito Civil Constitucional, considerando a penetração das
normas constitucionais e fundamentais dentro de institutos básicos
do direito civil.

Pode-se notar tal fenômeno pelo tratamento conferido


hodiernamente a institutos afetos à direitos reais, direito contratual e
principalmente aos institutos pertencentes ao campo direito de
família.

Recentemente, decisão proferida em 03/02/2006, o Ministro do


Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, ADI 3300 MC/DF, se
manifestou brilhantemente, embasado em princípios fundamentais,
pela necessidade de se atribuir verdadeira estatuto de cidadania às
união estáveis homoafetivas.

Considerou que:

“Não obstante as razões de ordem estritamente formal, que tornam


insuscetível de conhecimento a presente ação direta, mas
considerando a extrema importância jurídico-social da matéria – cuja
apreciação talvez pudesse viabilizar-se em sede de argüição de
descumprimento de preceito fundamental -, cumpre registrar, quanto
à tese sustentada pelas entidades autoras, que o magistério da
doutrina, apoiando-se em valiosa hermenêutica construtiva,
utilizando-se da analogia e invocando princípios fundamentais
(como os da dignidade da pessoa humana, da liberdade, da
autodeterminação, da igualdade, do pluralismo, da intimidade,
da não-discriminação e da busca da felicidade), tem revelado
admirável percepção do alto significado de que se revestem tanto
o reconhecimento do direito personalíssimo à orientação sexual,
de um lado, quanto a proclamação da legitimidade ético-jurídica
da união homoafetiva como entidade familiar, de outro, em
ordem a permitir que se extraiam, em favor de parceiros
homossexuais, relevantes conseqüências no plano do Direito e na
esfera das relações sociais”. (grifo nosso)
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De fato, a Constituição é o estatuto legal básico que orienta todos os


ramos do Direito, portanto não se pode ignorar a matéria posta e
definida pelo texto constitucional, cuja eficácia e força normativa se
impõem às relações jurídicas.

7 – Conclusão

A consagração dos direitos fundamentais tem se refletido na


jurisprudência constitucional dos Tribunais Superiores e,
principalmente, na jurisprudência da Corte Suprema, como resulta
claro das decisões que esta Corte profere.

Nesse contexto, releva notar que a significativa contribuição da


utilização da técnica de efetivação dos direitos fundamentais é capaz
de provocar arejamento e renovação na interpretação do
ordenamento jurídico, demonstrando constituir mecanismo apto à
legitimação do verdadeiro Estado Democrático de Direito.

Nota e BIBLIOGRAFIA

[1] SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6ª ed.,


Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 35.

[2] CAMARGO, Marcelo Novelino. Direito Constitucional para


Concursos. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007, p. 204.

[3] MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direitos Humanos, Constituição e os


Tratados. 1ª ed. Editora: Juarez de Oliveira. 2006.

[4] Fonte – internet – consulta realizada em 21 de julho de 2007 - site:

http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/cancadotrindade/cancado
_bob.htm.

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20/12/2023, 10:55 Perspectiva atual e decisões jurisprudenciais recentes acerca dos direitos fundamentais - Artigo de Direito Constitucional

[5] MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direitos Humanos, Constituição e os


Tratados. 1ª ed. Editora: Juarez de Oliveira. 2006.

Sobre o(a) autor(a)


Conrado Rangel Moreira
Advogado

O conteúdo deste artigo é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a


opinião do DireitoNet. Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.
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