Você está na página 1de 50

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

DIRETORIA DE ENSINO E CULTURA


ESCOLA SUPERIOR DE SARGENTOS

CURSO SUPERIOR DE TECNÓLOGO DE


POLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO
DA ORDEM PÚBLICA II

MATÉRIA 8: DIREITOS HUMANOS

Divisão de Ensino e Administração


Seção Técnica
Setor de Planejamento

APOSTILA ELABORADA EM 29NOV10 PELO Cap PM TASSO, do GRPAe, e Cap PM KAGE, e


revisada EM 29NOV10 peloCap PM KAGE, da APMCMSP, 1º Ten PM MORALES, do 11ºBPM/I, 1º Ten
PM BELLO, do DSACG, 1º Ten PM LEAL, do 33º BPM/M e 1º Ten PM ENOS, do CSM/MTel. REVISADA
E ATUALIZADA EM 29AGO13 PELO 1º Sgt PM BARRIONUEVO, da ESSgt.

APOSTILA EDITADA PARA O CAS – I / 2014


2

“A força do direito deve superar o direito da força.”


Rui Barbosa
3

ÍNDICE

DESCRIÇÃO PÁG

1. Introdução aos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana __________________________ 4

2. Constituição da República Federativa do Brasil ___________________________________ 7

3. Os Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro aplicado ao exercício das atividades


de polícia ostensiva, preservação da ordem pública e defesa territorial afetas à polícia militar 19

4. Policial Militar – Promotor dos Direitos Humanos _______________________________ 23

5. Vítimas da criminalidade e do abuso de poder. __________________________________ 33

6. Comando e Gestão: procedimentos de supervisão. _______________________________ 35

7. Código de conduta para os funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Normas


internacionais que fundamentam e regem a aplicação da lei. Princípios básicos sobre a
utilização da força e de arma de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. _ 36

8. Comando, gestão e investigação sobre violações de Direitos Humanos.________________ 39

Questões de fixação _________________________________________________________ 42

Referências bibliográficas: ___________________________________________________ 47

Respostas das questões de fixação ______________________________________________ 50

Nota
Esta apostila é um material de apoio. O seu conteúdo não esgota o assunto e desde que
previsto curricularmente, poderá ser objeto de avaliação. Com isso, é essencial que você pesquise
profundamente os assuntos, tomando por base as referências bibliográficas dispostas, bem como
outras que achar por bem utilizar.
4

1. Introdução aos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana. Conceito de Direitos


Humanos; Fundamentos e proteção aos Direitos Humanos; Polícia, Democracia e 01 h/a
Direitos Humanos.

1.1 – CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS

Os “direitos humanos”, ou “direitos do homem”, são aqueles que visam ao aperfeiçoamento do


homem enquanto ser vivente e que tendem a preservar a dignidade da pessoa humana.

Alguns estudiosos fazem uma distinção entre “direitos humanos” (um conjunto de direitos
inatos que acompanham todo ser humano e que são inerentes a todos os povos) e “direitos
fundamentais” (que seriam apenas aqueles positivados – escritos – num texto normativo de um país, e
especialmente em sua Constituição.

Assim, conforme preleciona Canotilho, direitos do


Resumindo:
homem (direitos humanos) seriam os inerentes à própria
condição humana, válidos para todos os povos, em todos os
tempos.. E direitos fundamentais seriam os considerados
indispensáveis à pessoa humana, mas reconhecidos e
garantidos por uma determinada ordem jurídica.

1.2 PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS

Esses direitos-liberdades, resultado de inúmeras e seguidas conquistas sociais desde os tempos


antigos, após inscritos nos mais diversos textos normativos, necessitam de instrumentos que os
resguardem, com o que ganham a devida proteção e por meio de que se pode chegar à efetividade em
sua aplicação.

Neste ponto é interessante ressaltar a diferença conceitual entre “direito” e “garantia”. Diz-se
que direito é a disposição meramente declaratória, enquanto garantia é a disposição assecuratória do
direito.

Um exemplo pode aclarar facilmente a distinção: a liberdade de ir e vir é um DIREITO,


enquanto o habeas corpus é a GARANTIA que assegura o exercício do direito.

Os direitos são protegidos (ou garantidos) por meio da ordem jurídica editada pelo Estado. Isto
significa que possuem „coercibilidade‟, surgindo então duas situações:
5
1) uma vez reconhecidos e positivados, cabe ao Estado o
dever restaurá-los, de ofício, em caso de violação; da mesma
Importante!
forma, deve o Estado abster-se de condutas que possam lesar os
direitos humanos;

2) o homem, sentindo-se lesado, tem ação própria para ver


seu direito restaurado (o que será feito, em última análise,
também pelo Estado, através do Poder Judiciário).

Não é demais relembrar que o Estado contemporâneo nasce da filosofia que o justifica
expressamente pela necessidade de dar proteção aos direitos fundamentais. É o que está escrito, por
exemplo, no artigo 2º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789: “O fim de
qualquer associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do Homem”.

1.3 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Sendo os direitos fundamentais aqueles direitos humanos positivados, e reconhecidos por


determinada ordem jurídica, podemos dizer que possuem as seguintes características:

Imprescritibilidade: não se perdem pelo não-exercício num determinado prazo;


Inalienabilidade: são intransferíveis, a qualquer título (gratuito ou oneroso);
Irrenunciabilidade: assegurados em um texto normativo, pertencem a todos os homens, e por
isso não podem ser objeto de renúncia;
Inviolabilidade: não podem ser desrespeitados por atos normativos nem por atos de autoridades
públicas;
Universalidade: independentemente de raça, religião, sexo ou qualquer outro fator de
discriminação, pertencem a todos os seres humanos;
Efetividade: a maior preocupação se dá no sentido de que o Poder Público, além de reconhecer
tais direitos em documentos, faça sua real implementação, de modo que todos os homens
atinjam condições dignas de vida;
Interdependência: as várias previsões legais, apesar de possuírem previsão autônoma, possuem
intersecções para que possam completar-se e atingir suas finalidades;
Complementaridade: não podem ser interpretados isoladamente, mas sim de forma conjunta,
com a finalidade de alcance dos objetivos previstos pelo legislador.7
6
1.4 POLÍCIA, DEMOCRACIA E DIREITOS HUMANOS.

Os órgãos policiais, no Estado Democrático de Direito, devem exigir o cumprimento da lei por
parte dos cidadãos. No entanto, também deve ter a preocupação de que seus próprios integrantes a
respeitem. Nisto, aliás, reside o fundamento do Estado Democrático de Direito: o mesmo Estado que
edita as leis, a elas também se submete.

Neste contexto, ressalta-se a necessidade de se manter, na atividade policial, o mais alto grau de
respeito aos direitos humanos, desde o atendimento a situações que não envolvem a prática de crime
até aquelas ocorrências em que haja o cometimento de infrações graves por parte de meliantes.

A Polícia Militar, por sua vez, no sistema jurídico brasileiro, é órgão competente para patrocinar
a preservação da ordem pública. Sabendo-se que o policial militar representa diretamente o Estado,
qualquer desrespeito à cidadania é imediatamente entendido como sinal de desordem. Espera-se que o
Estado (e o policial militar, assim, consequentemente) não fira os direitos humanos dos cidadãos que
estão sob sua proteção. Aliás, perceba que a ostensividade decorrente de sua missão constitucional
torna mais visível a atuação policial-militar, tornando o exercício das funções mais sensível às críticas
(boas e más).

Seguindo esse raciocínio, quanto à atuação policial, mesmo o infrator da lei, sendo preso em
flagrante delito, e até que seja definitivamente julgado, não pode ser despojado de alguns direitos
básicos (caráter da imprescritibilidade, irrenunciabilidade e inviolabilidade dos direitos fundamentais).
Aliás, mesmo depois de definitivamente condenado, continua possuindo todos os direitos que não
sejam incompatíveis com sua condição de preso. Exemplificando: o preso não pode abrir mão do
devido processo legal; não perde o direito à sua integridade física; não perde o direito de se avistar com
seu advogado e com seus familiares, dentre outros. Mas ficam-lhe cerceados, por outro lado, o direito à
livre correspondência, à liberdade de ir e vir e estar nos logradouros públicos, o direito de votar (após
trânsito em julgado de sentença penal condenatória), o direito de exercer atividade profissional etc.

Assim, pelo exposto, é importante ao policial militar observar que a existência dos corpos
policiais dá-se exclusivamente, e somente por isso, à proteção de direitos. Desta forma, não se justifica
a afirmação de que o Direito, a proteção aos direitos humanos, prejudicou a atuação policial!

Durante toda sua carreira policial, pense em alguma ocorrência, Pense


em alguma atuação, em que você tenha agido, e essa ação não tenha nisso!
decorrido da necessidade de proteger algum direito? Não há, pois a
polícia só existe para proteger direitos!

Por fim, deve o policial lembrar-se de que direitos humanos são, atualmente, parte de qualquer
programa de governo. Aliás, não poderia ser diferente, pois o Estado deve se abster, como já estudado
exaustivamente, de praticar quaisquer atos que violem direitos, em especial os direitos humanos.
7
2. Constituição da República Federativa do Brasil. Classificação dos Direitos
Fundamentais; Proteção aos Direitos Fundamentais; Remédios Constitucionais e 04 h/a
Garantias de Ordem Criminal.

2.1 – CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

No tocante à Constituição brasileira de 1988, à primeira vista, poderíamos afirmar que os


direitos fundamentais eleitos pelo constituinte estariam restritos ao art. 5º em seus 78 incisos. No
entanto, cabe atenta leitura de seu § 2º, in verbis:

“os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros


decorrentes do regime e dos princípios por elas adotados ou dos Tratados Internacionais
em que a República Federativa do Brasil é parte”.

Pode-se afirmar, assim, que o constituinte não teve a intenção de restringir os direitos
fundamentais àqueles enumerados no artigo em tela. Não o teria redigido se não tivesse o nítido desejo
de possibilitar a expansão e atualização destes direitos ao longo da „vida‟ constitucional.

Considerado nossa cláusula aberta, este parágrafo encerra o princípio da não tipicidade dos
direitos fundamentais, de forma a confirmar o não congelamento destes direitos naqueles determinados
no processo constituinte. E ainda, como leciona Ingo Wolfgang Sarlet, os direitos fundamentais
“podem ter acento em outras partes do texto constitucional ou residir em outros textos legais
nacionais.”

Adicione-se ainda que ao referir-se aos “direitos e garantias expressos nesta Constituição”, o
legislador teve como preocupação não fazer qualquer menção à posição a ser ocupada pelos mesmos no
Texto. Assim, pode-se concluir que são considerados direitos e garantias fundamentais de mesma
hierarquia aqueles que ocupam diversas posições na Constituição Federal de 1988.

De acordo com a sistemática adotada pela Constituição brasileira de 1988, a expressão direitos
fundamentais é gênero de diversas modalidades de direitos: os denominados individuais, sociais,
coletivos, políticos e nacionais.

 direitos individuais: são limitações impostas pela soberania popular aos poderes
constituídos, com a finalidade de resguardar direitos indispensáveis à dignidade da pessoa
humana; o artigo 5º da Constituição Federal traz uma extensa relação de direitos fundamentais,
porém tal discriminação não é taxativa, e sim enumerativa, ou seja, pode haver (como já dito
anteriormente), em outras normas e em outros artigos da própria Constituição, previsão de
outros direitos fundamentais;

 direitos coletivos: são aqueles que têm como titular não uma pessoa individualmente
considerada, mas sim uma coletividade (ex.: o povo, uma classe profissional), desde que ligados
por uma relação jurídica básica;
8
 direitos sociais: caracterizam-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância
obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria das condições de
vida dos cidadãos em geral; visam à concretização da igualdade social (que é um dos
fundamentos de nosso Estado Democrático de Direito). Estão descritos na Constituição a partir
do artigo 6º. Ex.: direito à saúde, à educação, ao trabalho, ao lazer;

 direitos políticos: conjunto de regras que disciplinam as formas de atuação da soberania


popular. Tais normas constituem um desdobramento do princípio democrático inscrito no art 1º,
parágrafo único, da CF, que afirma que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de
seus representantes eleitos ou diretamente. A constituição regulamenta os direitos políticos no
art 14, dentre os quais destacamos o de votar e ser votado;

 direito à nacionalidade: nacionalidade é o vínculo jurídico político que liga um indivíduo


a certo e determinado Estado, fazendo deste indivíduo um componente do povo, dimensão pessoal
deste Estado, capacitando-o a exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento de deveres impostos.
Estão previstos nos arts 12 e 13 da CF.1

A título de exemplificação, veja alguns direitos fundamentais previstos na Constituição Federal:

 alguns constantes no art. 5º: direito à vida, igualdade, proibição de tortura, liberdade da
manifestação de pensamento, liberdade de consciência, crença e culto, inviolabilidade
domiciliar, sigilo de correspondência e comunicações, liberdade de profissão, liberdade
de locomoção, direito de reunião etc.

 alguns outros, nos demais artigos: relação de emprego protegida contra despedida
arbitrária ou sem justa causa (art. 7º, I); proibição de diferença de salários, de exercícios
de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (art.
7º, XXX); a lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados,
salvo nos casos previstos nesta constituição (Art 12, I, §2º); todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida (art 225) etc.

2.2 – REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS2 (“WRIT” CONSTITUCIONAIS)

Remédios constitucionais são os meios colocados à disposição dos indivíduos pela Constituição
para a proteção de seus direitos fundamentais. São previstos para o caso de o simples enunciado não ser
suficiente para assegurar o devido respeito aos direitos. Como ensina Manoel Gonçalves Ferreira Filho,
são “meios de reclamar o restabelecimento de direitos fundamentais violados – remédios para os males
da prepotência”.

1
MORAES (2005:39)
2
PINHO (2002:128)
9
Por visarem a provocar, em alguns casos, a própria atividade jurisdicional do Estado, são
também denominados “ações constitucionais”.

3.2.1 - “HABEAS CORPUS” (art 5º, LXVIII, CF)

“Conceder-se-á „habeas-corpus‟ sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado


de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder.”

CONCEITO

É a ação constitucional para a tutela da liberdade de locomoção, utilizada sempre que alguém
estiver sofrendo, ou na iminência de sofrer, constrangimento ilegal em seu direito de ir e vir.

Embora não seja o único remédio jurídico para fazer cessar uma prisão ilegal, trata-se do mais
eficaz e célere.

ORIGEM

Nasceu na Inglaterra, sendo apontado pelos doutrinadores na própria Carta Magna de 1215.

NATUREZA JURÍDICA

Possui natureza jurídica de ação constitucional, muito embora tenha sido incluído no Código de
Processo Penal no capítulo dos recursos, pois se invocava a tutela jurisdicional do Estado para a
proteção da liberdade de locomoção e tem previsão no texto constitucional.

Essa ação pode ser utilizada tanto em questões criminais como civis, desde que haja
constrangimento ilegal efetivo ou potencial a direito de ir e vir. É utilizado em questões civis referentes
à prisão por débitos alimentares ou depositários infiéis.

RESTRIÇÃO CONSTITUCIONAL

A Constituição em seu art 142, § 2º, dadas às peculiaridades da hierarquia e da disciplina


militar, estabelece que “não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares”. Essa
disposição é estendida aos membros das Policias Militares e Bombeiros Militares (art 42 e § 1º, CF).
Contudo, mesmo na hipótese de punição disciplinar militar, caberá habeas corpus se a sanção tiver sido
10
aplicada de forma ilegal: a) por autoridade incompetente; b) em desacordo com as formalidades legais;
ou c) além dos limites fixados em lei. O que não poderá ser objeto de análise é o mérito.

PROCEDIMENTO E PARTES

O Código de Processo Penal estabelece, em seus arts 647 a 667, o procedimento a ser adotado
em ações de habeas corpus. Trata-se de um rito especial onde são dispensadas maiores formalidades,
sempre em favor do bem jurídico maior, a liberdade de locomoção.

Impetrante (legitimidade ativa). O impetrante é a pessoa que ingressa com a ação de habeas
corpus. Qualquer pessoa, física ou jurídica, pode com ela ingressar. Para a propositura não se exige
capacidade postulatória, dessa forma, dispensa-se a juntada de procuração na ordem impetrada em
nome próprio ou de terceiro.

Paciente. O paciente é a pessoa em favor de quem é impetrada a ordem de habeas corpus.


Trata-se da pessoa que está sofrendo ou na iminência de sofrer constrangimento ilegal em seu direito de
ir e vir. O habeas corpus somente pode ser impetrado em favor de pessoas físicas, pois somente seres
humanos possuem a capacidade de ir e vir. O impetrante e o paciente, muitas vezes, são a mesma
pessoa, que ingressa com a ação em seu próprio favor.

Autoridade coatora (legitimidade passiva). Autoridade coatora é a pessoa em relação a quem é


impetrada a ordem de habeas corpus, apontada como a responsável pela coação ilegal. Tecnicamente,
autoridade coatora não é parte no Habeas Corpus, pois apenas presta informações, sendo parte
propriamente dita o Estado. Tanto é assim, que a ordem é impetrada contra o cargo, e não contra a
pessoa que o ocupa, sendo responsável por prestar as informações aquela autoridade que suceder a que
praticou o ato reputado como ilegal.

Ato de particular. Em princípio a ordem somente deveria ser concedida contra autoridades
públicas, mas, em face da realidade, a jurisprudência tem admitido habeas corpus impetrados contra
atos de particulares. Observa-se que o Texto Constitucional condiciona a concessão da ordem à
ilegalidade ou ao abuso de poder, não exigindo que o responsável seja autoridade pública, como ocorre
com o mandado de segurança.

ESPÉCIES

Há três modalidades de habeas corpus: LIBERATÓRIO, PREVENTIVO e DE OFÍCIO.

No “liberatório” ou “repressivo”, concede-se a ordem para fazer cessar o constrangimento à


liberdade de locomoção já existente.
11
No “preventivo”, quando houver ameaça ao direito de ir e vir. Expede-se um salvo-conduto,
documento emitido pela autoridade competente, para impedir que uma pessoa venha a ter restringido
seu direito de ir e vir por um determinado motivo.

Enquanto o “de ofício” é concedido pela autoridade judicial, sem pedido, quando verificar no
curso de um processo que alguém está sofrendo ou na iminência de sofrer constrangimento ilegal em
sua liberdade de locomoção (art 654. § 2º, CPP).

3.2.2 - “HABEAS DATA” (art 5º, LXXII, CF)

“Conceder-se-á "habeas-data":

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do


impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo.”

CONCEITO

Ação constitucional para a tutela do direito de informação e de intimidade do indivíduo,


assegurando o conhecimento de informações relativas a sua pessoa constantes de banco de dados de
entidades governamentais ou abertas ao público, bem como o direito de retificação desses dados.

ORIGEM

Essa nova forma de tutela jurídica foi introduzida pela Constituição de 1988. Após anos de
autoritarismo, em que os órgãos públicos mantiveram banco de dados contendo registros referentes às
convicções políticas, filosóficas, ideológicas, religiosas e de conduta pessoal, sentiu-se a necessidade
de conceder ao indivíduo meios para frear a tendência controladora do Estado. Protege-se o direito de
informação ao assegurar a qualquer pessoa o acesso aos dados constantes de registros existentes de
caráter público, bem como ao permitir a possibilidade de retificação e até mesmo a anotação de
justificação sobre algo verdadeiro, mas justificável. A intimidade, por sua vez, é garantida ao se vedar a
inclusão de informações, mesmo que verdadeiras, que sejam de interesse exclusivo do indivíduo, como,
por exemplo, dados sobre convicção filosófica ou religiosa e orientação sexual.
12
FINALIDADES

O habeas data possui dupla finalidade:

a) a primeira é o conhecimento de informações pessoais.

b) a segunda, a possibilidade de retificação de informações errôneas que constem dos


registros de dados.

Esses dois pedidos podem ser postulados de forma autônoma ou em conjunto. O pedido de
retificação pode abranger um pedido de complementação de dados, com atualização dos registros
referentes a determinado indivíduo. A Lei nº 9507/97 admite uma terceira hipótese de concessão de
habeas data para “anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado
verdadeiro, mas justificável, e que esteja sob pendência judicial ou amigável” (art 7º, III).

Não cabe habeas data se não houve recusa de informações por parte da autoridade
administrativa.

Qualquer pessoa, física ou jurídica, brasileira ou estrangeira, pode ingressar com uma ação de
habeas data. Podem ser solicitadas exclusivamente informações de caráter pessoal. Somente o próprio
indivíduo tem o direito de acesso a informações que digam a seu respeito. Em caráter absolutamente
excepcional, já foi reconhecido a herdeiro e a cônjuge de pessoa falecida direito de impetrar o habeas
data.

No pólo passivo, podem estar: a) entidades governamentais da Administração direta ou


indireta; ou b) pessoas jurídicas de direito privado que mantenham banco de dados aberto ao público.
Podem ser empresas de cadastramento, de proteção ao crédito, de divulgação de dados profissionais.
Exemplos: Serviço de Proteção ao Crédito, Telecheque e Serasa.

DADOS SIGILOSOS

O direito de informação deve ser compatibilizado com os dispositivos constitucionais que


autorizam o sigilo de dado “imprescindível à segurança da sociedade e do Estado” (art 5º, XXXIII).
Para Michel Temer, “todos os dados referentes ao impetrante devem ser fornecidos”. As restrições
referentes ao sigilo de dados imprescindíveis à segurança do próprio Estado não se aplicariam ao
indivíduo. Sustenta que em matéria de direito individual não há como utilizar interpretação restritiva.
13
3.2.3 - MANDADO DE SEGURANÇA (art 5º, LXIX, CF)

“Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não


amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade
ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público.”

CONCEITO

Ação constitucional para a tutela de direitos individuais líquidos e certos, não amparados por
habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Direito líquido e
certo. A jurisprudência entende que direito líquido e certo é o que pode ser comprovado de plano, pela
apresentação de documentos.

ORIGEM

Trata-se de uma criação constitucional brasileira, fruto da doutrina brasileira do habeas corpus
e da posterior reforma constitucional de 1926. A Constituição de 1934 criou o mandado de segurança,
esta ação foi suprimida na Carta de 1937 e reintroduzida em nosso ordenamento jurídico pelo Texto
Constitucional de 1946. Hoje, o Mandado de Segurança é disciplinado pela Lei nº 12.016/09, sendo
revogadas as leis anteriores.

OBJETO

São tutelados pelo mandado de segurança todos os direitos líquidos e certos não amparados pelo
habeas corpus ou habeas data. É por exclusão o alcance dessa ação constitucional.

Direito líquido e certo. A jurisprudência entende que direito líquido e certo é o que pode ser
comprovado de plano, pela apresentação de documentos. A prova é toda pré-constituída. Os
documentos comprobatórios do direito devem acompanhar a própria petição inicial, a não ser que essa
evidência se ache em repartição ou em poder de autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão (Lei
nº 12.016/09, art 6º, § 1º). No mandado de segurança não se admite a abertura da fase instrutória.
Salienta-se que a complexidade da discussão jurídica envolvida na lide não descaracteriza a certeza e
liquidez do direito.

ESPÉCIES

São duas: mandado de segurança: REPRESSIVO (visa cessar constrangimento ilegal já


existente) e PREVENTIVO (busca pôr fim à iminência de constrangimento ilegal à direito líquido e
certo).
14
PARTES

Legitimidade ativa.A pessoa que ingressa em juízo com o mandado de segurança é denominado
impetrante, podendo ser qualquer pessoa, física ou jurídica. É o titular do direito líquido e certo violado
ou ameaçado de violação.

Legitimidade passiva. A pessoa em relação a quem é proposto o mandado de segurança é


denominada autoridade coatora, isto é, a autoridade ou o agente da pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público responsável pela violação ou ameaça de violação de direito líquido e
certo. Autoridade pública é qualquer pessoa que exerça alguma função pública com poder de decisão.
Observa-se que a pessoa jurídica de direito público não pode ser autoridade coatora, mas pode ingressar
em juízo como assistente do coator ou litisconsorte do impetrado.

PRAZO PARA IMPETRAÇÃO

O prazo para impetração do mandado de segurança é de 120 dias, contados da ciência do ato
impugnado pelo interessado (Lei nº 12.016/09, art 23). Superado esse prazo, ocorre a decadência do
direito de impetra-lo, não a perda do direito material, podendo valer-se o titular do direito líquido e
certo violado somente das vias ordinárias.

3.2.4 - AÇÃO POPULAR (art 5º, LXXIII, CF)

“Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência.”

CONCEITO

Ação constitucional posta à disposição de qualquer cidadão para a tutela do patrimônio público ou
de entidade de que o Estado participe, da moralidade administrativa, do meio ambiente e do patrimônio
histórico e cultural, mediante a anulação do ato lesivo.

FINALIDADE

A finalidade da ação popular é fazer de todo cidadão um fiscal do Poder Público, dos gastos feitos
com recursos públicos.
15

ORIGEM

A origem remota da ação popular encontra-se no direito romano, que atribuía legitimidade a
qualquer membro do povo para zelar pela res publica (coisa pública, patrimônio da coletividade). A
ação popular foi introduzida no Brasil pela Constituição de 1934, vindo a ser suprimida em 1937.
Reintroduzida pela Carta de 1946, foi mantida em todas as Constituições posteriores. A de 1988
ampliou o alcance da ação popular, incluindo a moralidade administrativa entre os objetos do
provimento jurisdicional.

PRESSUPOSTOS

A propositura da ação popular exige a presença de três requisitos: a) condição de eleitor; b)


ilegalidade; e c) lesividade.

a) a ação somente pode ser proposta por cidadão brasileiro, ou seja, por nacional que esteja no
gozo de seus direitos políticos. O que comprova a qualidade de cidadão é o título de eleitor. Trata-se de
documento indispensável para a propositura da ação, devendo acompanhar a própria petição inicial.

Enunciado da Súmula 365, do STF: pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação
popular.

b) o ato deve ser contrário ao ordenamento jurídico, por infringir regras e princípios
estabelecidos para a Administração Pública. A ilegalidade pode decorrer tanto de vício formal quanto
material.

c) o ato deve ser lesivo aos cofres públicos. Para a propositura da ação popular não basta a
constatação da ilegalidade. Deve ser comprovada também a ofensa ao patrimônio público, bem como
aos demais objetos da ação popular. Essa lesividade pode ser tanto efetiva como legalmente presumida,
podendo caracterizar-se com a ofensa à própria moralidade administrativa.

OBJETO

O objeto da ação popular é o ato ilegal ou lesivo ao patrimônio público, à moralidade


administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico cultural. Observa-se que nem todo ato legal
é honesto e que uma lei pode ser executada de forma moral ou imoral. A ofensa à moralidade
administrativa já é suficiente para a declaração da nulidade do ato, independente da verificação de
efetiva lesão patrimonial, ou seja, basta o prejuízo à Administração Pública pela violação dos princípios
éticos que devem dirigir a conduta dos responsáveis pelos seus atos.
16

ISENÇÃO DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA

Estabelece a Constituição como estímulo à propositura da Ação Popular, que o autor ficará
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência, salvo comprovada má-fé. Julgada procedente a
ação popular, contudo, os réus deverão ser condenados ao pagamento das verbas decorrentes da
sucumbência (custas judiciais e honorários advocatícios).

3.2.5 - MANDADO DE INJUNÇÃO (art 5º, LXXI, CF)

“Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma


regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.”

CONCEITO

Ação constitucional para tutela de direitos previstos na Constituição inerentes à


nacionalidade, à soberania e à cidadania que não possam ser exercidos em razão da falta de norma
regulamentadora.

PRESSUPOSTOS

A concessão do mandado de injunção depende da existência de dois pressupostos: a)


existência de um direito previsto na Constituição inerente à nacionalidade, soberania e cidadania não
auto-aplicável, pois se for auto-aplicável, a ausência de norma infraconstitucional que o regulamente
não impede o seu exercício, não cabendo a ordem de injunção. b) falta de norma infraconstitucional
regulamentadora que inviabilize o exercício do direito previsto na Constituição – omissão normativa.
Entende-se por norma regulamentadora toda medida, legislativa ou administrativa, necessária para
tornar efetivo um preceito previsto na Constituição.

FINALIDADE

Tem por finalidade efetivar concretamente um direito assegurado na Constituição, no caso de


não-elaboração da norma regulamentadora.
17

ORIGEM

Foi introduzido pelo constituinte brasileiro de 1988.

OBJETO

Alcança todos os direitos previstos na Constituição inerentes à nacionalidade, à soberania e à


cidadania que não possam ser exercidos por falta de norma regulamentadora. Alcança direitos
individuais, coletivos e sociais.

NATUREZA JURÍDICA DA DECISÃO

A jurisprudência majoritária do Supremo, embora não pacífica, é extremamente restritiva,


concedendo a ordem somente para declarar o Congresso Nacional em estado de mora. Mas não se
estabelece prazo, nem sanção em caso de não-cumprimento da ordem judicial.

A competência para julgamento do mandado de injunção depende da natureza do órgão ou da


pessoa responsável pela elaboração da norma regulamentadora.

3.3. GARANTIAS DE ORDEM CRIMINAL E PROCESSUAL

A Constituição Federal de 1988 traz em seu texto várias garantias de ordem criminal e
processual. Assim, ao lado dos direitos diretamente restringidos com a prisão, restam vários outros
absolutamente intocados e que não podem ser desconsiderados desde o ato de detenção da pessoa até a
fase de cumprimento da pena eventualmente imposta.

Vale lembrar que tais direitos e garantias não são deferidos somente aos que se encontrem
definitivamente presos, mas também aos suspeitos, indiciados, denunciados, aos provisoriamente
presos e, por fim, aos condenados com sentença transitada em julgado.

Trata-se, enfim, da segurança jurídica em matéria criminal, conforme previsto nos incisos
„XXXIX‟ a „LXVII‟ da Constituição Federal.

Pode-se citar, pois, alguns de tais direitos e garantias:

 princípio da estrita legalidade em matéria penal;


 irretroatividade da lei penal incriminadora e da lei penal in pejus;
18

 imprescritibilidade e inafiançabilidade do crime de racismo;


 inafiançabilidade e insuscetibilidade de graça ou anistia dos crimes de tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes, terrorismo e hediondos;
 inafiançabilidade e imprescritibilidade da ação de grupos armados, civis ou militares, contra a
ordem constitucional e o Estado Democrático;
 personalismo da pena;
 penas de privação ou restrição da liberdade, de perda de bens, de multa, de prestação social
alternativa, de suspensão ou interdição de direitos;
 vedação de penas de morte (salvo em caso de guerra declarada), de caráter perpétuo, de
trabalhos forçados, de banimento, crueis;
 cumprimento da pena em estabelecimentos próprios, de acordo com a natureza do delito, a
idade e o sexo do apenado;
 regra da excepcionalidade da prisão (que somente pode se dar em caso de flagrante delito ou
por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo os casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei);
 respeito à integridade física e moral;
 asseguração de direito às presidiárias para que possam permanecer com seus filhos durante o
período de amamentação;
 comunicação imediata da prisão e do local onde se encontre o preso, ao juiz, à família ou à
pessoa por ele indicada;
 informação ao preso de seus direitos, dentre os quais de permanecer calado;
 assistência ao preso pela família e por advogado;
 assistência jurídica integral e gratuita;
 identificação dos responsáveis pela prisão ou por seu interrogatório policial;
 presunção de inocência;
 vedação de prisão por dívida civil (exceto pelo inadimplemento inescusável de pensão
alimentícia);
 vedação de prisão civil por depósito infiel;
 contraditório e ampla defesa, seja em procedimento administrativo ou judicial;
 indenização por erro judiciário;
 celeridade processual;
 direito à citação válida;
 direitos de vistas dos autos do processo;
19

 direito de arrolar testemunhas;


 vedação ao uso de provas ilegais;
 indeclinabilidade do acesso do poder judiciário;
 proteção à coisa julgada; e
 relaxamento da prisão ilegal pela autoridade judiciária, de ofício ou mediante provocação, sob
pena de cometimento de crime de abuso de autoridade.

3. Os Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro aplicado ao exercício das


atividades de polícia ostensiva, preservação da ordem pública e defesa territorial 02 h/a
afetas à Polícia Militar.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

A Constituição Federal é a Lei Fundamental do nosso Estado, onde em seu bojo nos trás a
organização dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e o funcionamento do Estado brasileiro
com a finalidade de atender as necessidades do povo. Sendo nela definidos os direitos e garantias
fundamentais, como limitação do exercício dos poderes do Estado, para assim evitar abusos e
arbitrariedades.

A Constituição cria e estrutura o Estado de uma forma organizada política, social e


juridicamente, com a responsabilidade de constituir e estabelecer as bases do controle social e o
desenvolvimento de uma nação.

TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS

Conforme salienta o art. 21, I da CF é competência exclusiva da União “manter relações com
Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais”. Por seu turno, estabelece o art. 84,
VIII da CF, que compete privativamente ao Presidente da República “celebrar tratados, convenções e
atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional”. No entanto, a celebração de tratados
poderá ser feita por representante por ele designado, uma pessoa com plenos poderes, um:
Plenipotenciário.

A respeito da hierarquia dos tratados internacionais relativos a direitos humanos em


nosso ordenamento jurídico, sempre houve o seguinte questionamento: se possuía força de norma
constitucional ou de norma infraconstitucional.

Tal questionamento jurídico foi resolvido, na medida em que a Emenda Constitucional nº


45/2004 acrescentou ao art. 5º da CF o § 3º: “os tratados e convenções internacionais sobre direitos
20
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.

Ou seja: assinado o tratado internacional pelo Presidente da República, ou por pessoa por ele
designada, faz-se necessária sua aprovação pelo Poder Legislativo (Congresso Nacional), conforme o
rito apresentado acima, que, ratificando a decisão do Executivo, expedirá um Decreto Legislativo.
Contudo, para entrar efetivamente em vigor, deve ser expedido Decreto pelo Presidente da República –
e, a partir de então, tem-se a obrigatoriedade da norma em caráter geral e abstrato.

O procedimento acima descrito, envolvendo os poderes Executivo e Legislativo, garante o


princípio da representatividade dos Estados e do povo brasileiro, bem como realça a harmonia entre os
Poderes.

PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA NORMA MAIS FAVORÁVEL AO SER HUMANO

Em âmbito nacional, há uma infinidade de leis e tratados internacionais ratificados, o que pode
gerar conflitos de normas.

Para a resolução de tais conflitos, há no ramo do Direito Internacional dos Direitos Humanos o
princípio da “primazia da norma mais favorável ao ser humano”.

O princípio da prevalência da norma mais favorável ao ser humano impõe a observância de


duas regras de suma importância:

 a primeira de não suscitar disposições de direito interno para impedir a aplicação de


direitos mais benéficos ao ser humano previstos nos tratados ratificados e,

 a segunda, caso exista alguma disposição em lei promulgada internamente que seja mais
favorável às pessoas residentes no país, essa norma prevalece sobre as disposições que
constem de tratados aos quais o país aderiu.

As conseqüências da aplicação desse princípio são:

 minimizar a possibilidade de conflitos entre instrumentos legais;

 propósito da co-existência de distintos instrumentos jurídicos.

Ocorrendo essa pretendida integração, os beneficiários da proteção serão, numa última análise,
todos os seres humanos.

O principal objetivo dos tratados é conferir às pessoas a mais ampla proteção possível. Por isso,
busca-se incentivar a mais ampla harmonia e interação entre as suas disposições e as normas editadas
internamente, o que, na prática, reduz possíveis conflitos, pois estimula uma interpretação ampliativa
de todas as normas, sempre em benefício dos destinatários.
21
Alguns tratados constituem verdadeiros limites de atuação do Estado, especialmente os órgãos
policiais e de jurisdição, onde podemos citar o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966)
e a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica - 1969), ambos
estabelecem direitos individuais para aqueles que se submetem à ação do Estado, em razão da sua
atribuição de preservação da ordem pública.

É de se ressaltar que o artigo 3º do Pacto dos Direitos Civis e Políticos impõe aos Estados
pactuantes o compromisso de assegurar-se a homens e mulheres igualdade no gozo de todos os direitos
civis e políticos nele previstos

A título explicativo veja as principais proteções (note a presença dos seguintes direitos e
garantias em nosso ordenamento jurídico) (de acordo com a cultura de cada Estado):

 direito à vida (embora admita a pena de morte em caso de crimes graves cometidos sob a
égide de legislação anterior e com sentença já transitada em julgado);

 proibição da tortura e das penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes;

 proibição de submeter uma pessoa, sem seu consentimento, a experiência médica ou


científica;

 proibição da escravidão e do tráfico de escravos;

 proibição de alguém ser obrigado a executar trabalhos forçados ou obrigatórios (o que


não inclui o trabalho em caso de prisão);

 direito à liberdade e segurança pessoais, incluindo-se a proibição de encarceramento e de


prisão arbitrários;

 direito de o preso ser informado das razões de sua prisão e das acusações contra si
existentes;

 direito de ser julgado em prazo razoável ou ser posto em liberdade;

 direito de reparação no caso de a pessoa ser vítima de prisão ou encarceramento ilegais;

 direito do preso a ser tratado com humanidade e dignidade;

 direito de julgamento prioritário para jovens em relação aos adultos;

 proibição de prisão por não cumprimento de obrigação contratual;

 direito de circular livremente no país e nele ter sua residência, bem como de sair do país
ou entrar no seu país;

 direito de igualdade das pessoas perante os tribunais;


22
 possibilidade de se excluir o acesso da imprensa e do público a julgamento, quando isso
puder prejudicar os interesses da justiça;

 obrigatoriedade de se dar publicidade a sentenças judiciais, penais ou cíveis;

 presunção de inocência;

 direito a recurso em pelo menos uma instância, no caso de condenação penal;

 princípio da anterioridade da lei penal e do benefício da lei penal posterior mais


benéfica;

 direito de toda pessoa ao reconhecimento de sua personalidade jurídica;

 direito das pessoas a não terem ingerência arbitrárias ou ilegais em sua vida privada,
família, domicílio e correspondência, nem ofensas à sua honra ou reputação;

 direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião;

 direito de opinião e de expressão;

 proibição de propaganda em favor da guerra;

 direito de reunião;

 direito de associação;

 dever de proteção da família pelo Estado;

 direito de o homem e a mulher contraírem casamento, desde que com mútuo e livre
consentimento ;

 direito da criança a medidas de proteção em virtude de sua condição;

 direito da criança ao nome e ao registro logo após o nascimento, bem como à


nacionalidade;

 direito ao cidadão de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por


meio de representantes, de votar e de ser eleito em eleições periódicas, por sufrágio
universal e por voto secreto;

 direito de igualdade dos cidadãos às funções públicas do país;

 direito de igualdade das pessoas perante a lei.


23

4. Policial Militar – Promotor dos Direitos Humanos. Atuação policial na 03


proteção dos Direitos Humanos de Pessoas em situação de Vulnerabilidade. h/a

A cultura brasileira é a miscelânea de costumes de diversos povos, bem como a miscigenação


de etnias, o que gerou uma diversidade proporcionando ao nosso país uma imensurável riqueza cultural
e social. Porém quando estas diferenças se transformam em desigualdade, acabam por criar um espaço
propício à violação de direitos, tornando as pessoas, as quais estão em condições diferentes,
vulneráveis. Podemos citar como exemplos as mulheres, idosos, grupo LGBT, pessoas em situação de
rua, pessoas com deficiência e crianças e adolescentes.

Então: O que são pessoas em situação de Vulnerabilidade?

São aqueles conjuntos de pessoas que por alguma questão ligada a gênero, idade, condição
social, deficiência e orientação sexual, são suscetíveis à violação de seus direitos.

Podemos observar no exemplo anterior que não foram citados os grupos étnicos, religiosos
e linguísticos, por quê?

Porque estes grupos são definidos como minorias nos termos do artigo 27 do Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos:

“ art. 27 – Nos Estados em que existam


minorias étnicas, religiosas ou linguísticas não será
negado o direito que assiste às pessoas que pertençam a
essas minorias, em conjunto com os restantes membros
do seu grupo, a ter a sua própria vida cultural, a
professar e praticar a sua própria religião e a utilizar a
sua própria língua.”

DIFERENÇA ENTRE GRUPOS VULNERÁVEIS E MINORIAS

A diferença entre os grupos vulneráveis e as minorias é que este está relacionado as


características étnicas, linguísticas e religiosas, enquanto os vulneráveis estão relacionados com as
características que as pessoas adquirem em razão da idade, gênero, orientação sexual, deficiência física
ou condição social.

ATUAÇÃO POLICIAL E OS GRUPOS VULNERÁVEIS

O Policial Militar deve conhecer estes grupos vulneráveis e minorias para poder atuar de forma
imparcial, podendo auxiliar, proteger e promover os seus direitos, sabendo lidar com as diferenças sem
discriminá-las.
24

PESSOAS IDOSAS

Nos termos do artigo 1° da Lei 10.741, de 01 de outubro de 2003, pessoa idosa é aquela com
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm)

Em sua atividade policial você já deve ter atendido casos de violência praticados contra idosos
ou ter o conhecimento de ocorrências à respeito, onde em sua maioria os agressores são pessoas
próximas às vítimas. A violência contra os idosos ocorrem das mais variadas formas, dentre as quais
abuso físico, psicológico, sexual, abandono e negligência.

Por outro lado temos também o idoso suspeito da prática de delitos e, em razão de sua idade
deve ser tratado de forma diferenciada pela autoridade policial, onde devemos respeitar também as suas
condições de saúde.

PESSOA EM SITUAÇÃO DE RUA

Segundo SILVA (2006), população em situação de rua é um grupo populacional heterogêneo,


que tem em comum a pobreza absoluta, os vínculos familiares fragilizados ou interrompidos e não
possui moradia convencional regular e faz da rua espaço de moradia e sustento por contingência
temporária ou de forma permanente, podendo utilizar albergues para pernoitar e abrigos, repúblicas,
casas de acolhida temporária ou moradias provisórias, no processo de construção de saída das ruas.

As pessoas em situação de rua devem ser tratadas com respeito pela sua dignidade de pessoa,
independente da aparência ou qualquer outra condição física, psicológica ou social. Devendo ser
atendida e encaminhada aos órgãos competentes para que possa recuperar as condições dignas de vida.

“Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei – artigo
5° inciso II, CF”, portanto as pessoas em situação de rua não podem ser obrigadas a fazer nada que não
seja exigido por lei, sendo livres para ficar, estar e permanecer em qualquer lugar, sem que sua
presença signifique desrespeito à lei, com exceção se estiver na prática de crime. Sendo também
proibidos outros tipos de tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, devendo ser tratados com
respeito e sem agressões de qualquer natureza.

PESSOA COM DEFICIÊNCIA

A deficiência é um tema de direitos humanos e como tal obedece ao princípio de que todo ser
humano tem o direito de desfrutar de todas as condições necessárias para o desenvolvimento de seus
talentos e aspirações, sem ser submetido a qualquer tipo de discriminação.

O censo demográfico do IBGE 2010 apurou que 45.606.048 milhões de brasileiros, 23,9% da
população total, têm algum tipo de deficiência – visual, auditiva, motora e mental ou intelectual.
25
Em 2010, 8,3% da população brasileira apresentava pelo menos um tipo de deficiência severa,
sendo: 3,46% com deficiência visual severa, 1,12% com deficiência auditiva severa; 2,33% com
deficiência motora severa; 1,4% com deficiência mental ou intelectual

• Das 45.606.048 de pessoas com deficiência 1,6% são totalmente cegas, 7,6% são totalmente
surdas, 1,62% não conseguem se locomover.

Durante o atendimento à uma pessoa com deficiência, seja para orientação ou auxilio, o policial
militar deve adotar algumas medidas, como por exemplo:

Procure:

 olhar diretamente para a pessoa ao dialogar com ela;

 ser atencioso e paciente, especialmente se ela tiver dificuldade de fala ou audição;

 não enfatizar o atendimento ou diálogo;

 dirigir-se diretamente a pessoa com deficiência, mesmo que ela esteja acompanhada; e

 utilizar mais de uma forma de comunicação de for necessário.

Evite:

 se apressar no diálogo;

 completar as frases ou falar pela pessoa que está sendo atendida;

 ficar olhando de maneira fixa ou repetidamente para algo que lhe chame a atenção na
pessoa; e

 ajudar sem que seja pedido, salvo em caso de acidente ou de a pessoa passar mal.

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A legislação específica que trata de crianças e adolescentes é o Estatuto da Criança e do


Adolescente (ECA). Em sua interpretação, leva-se sempre em consideração a peculiar condição de
criança e de adolescente como pessoas em desenvolvimento, prevalecendo seus interesses.

De acordo com o art 2º do ECA, criança é a pessoa até 12 anos de idade incompletos e
adolescente é a pessoa entre os 12 e os 18 anos incompletos. Ambos estão sempre dentro da proteção
do Estatuto.

Os maiores de 18 anos, em regra, estão fora do âmbito de atuação do ECA, ficando, então,
sujeitos diretamente à legislação civil e penal. Excepcionalmente, as pessoas entre 18 e 21 anos, as
quais poderão estar sob a proteção do ECA nos casos previstos em lei.
26
Assim, deve-se considerar, para a apuração do delito (ato infracional), a idade do menor no
tempo em que ocorreu o fato. Assim, praticando um delito enquanto ainda for considerado
juridicamente menor de idade, responderá de acordo com as medidas previstas no Estatuto.

De acordo com a doutrina da proteção integral, adotada pelo ECA, que atribui ao menor uma
série de direitos necessários ao seu pleno desenvolvimento, essa proteção deve abranger todas as
necessidades do ser humano para o pleno desenvolvimento de sua personalidade. SMANIO (2003:18).
Não devendo ser voltada apenas ao menor carente ou em situação de risco, mas a proteger o menor em
qualquer situação que ele se encontre, logicamente, sem afastar a atenção aos grupos vulneráveis.

O art 4º do ECA, define como responsáveis pelos direitos da criança e do adolescente a família,
a comunidade, a sociedade em geral e o Poder Público, todos podendo ser juridicamente cobrados,
dependendo do caso concreto.

A atividade dos órgãos públicos deve se pautar pelo exato cumprimento desse dever, vez que a
finalidade do Estado constituído não é outra senão o bem estar social (bem comum).

A Constituição Federal de 1988, expressamente em seu art 228, previu, dentre os vários direitos
e garantias específicos das crianças e dos adolescentes, a seguinte regra: são penalmente inimputáveis
os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. Essa previsão transforma em
especialíssimo o tratamento dado ao menor de 18 anos em relação à lei penal. Dessa forma, impossível
a legislação ordinária prever responsabilidade penal aos menores de 18 anos. Para incidência do ECA,
o que importa é a idade do autor do fato na data em que o praticou (art 104, parágrafo único), sendo
garantidos todos os direitos individuais previstos no artigo 5º da CF.

Em decorrência da citada norma constitucional, a criança e o adolescente não cometem um


crime ou contravenção penal, mas sim ATO INFRACIONAL, ou seja, as condutas descritas no Código
Penal, bem como na Lei das Contravenções Penais, quando cometidas por criança ou adolescente,
recebem a denominação de Ato Infracional.

A prática de um Ato Infracional gera conseqüências diferentes para crianças e adolescentes. Aos
adolescentes são aplicadas as medidas sócio-educativas ou medidas de proteção (artigo 112 do ECA) e
às crianças as medidas de proteção (artigo 101 do ECA).

O adolescente apreendido em flagrante será, desde logo, encaminhado à autoridade policial


competente.

Poderá haver delegacia especializada para menores (art 172, parágrafo único do ECA), que terá
atribuição prevalecente em caso de co-autoria com maior, que será encaminhado posteriormente à
repartição policial própria.

REGRA ESPECIAL: A criança que cometer ato infracional não será apreendida, mas será
encaminhada ao Conselho Tutelar (art 136 do ECA) ou, em sua falta, ao Juiz da Infância e da Juventude
(art 262 do ECA).

O ECA e a Resolução SSP/72/90 disciplinam a não condução de criança ao Distrito Policial


(DP), determinando seu encaminhamento ao Conselho Tutelar ou Juízo da Infância e da Juventude.
27
Porém devido à falta dos Conselhos Tutelares, conduz-se ao DP, normalmente, por exigência do próprio
Poder Judiciário. A regra é a condução ao Conselho Tutelar ou Juízo da Infância e da Juventude.

Por esta mesma Resolução, o adolescente não poderá ser conduzido ou transportado:

I – em compartimento fechado de veículo policial, não sendo vedado o transporte do adolescente


no banco traseiro da viatura policial, ainda que o acesso ao banco dianteiro esteja impedido por
dispositivo de segurança;

II – em condições atentatórias a sua dignidade ou que implique risco à sua integridade física e
mental ( artigo 178 do ECA).

Porém, o uso de algemas não é vedado, bem como a condução no compartimento fechado
da viatura, devendo a sua utilização justificar-se pelo desenvolvimento do adolescente ou sua manifesta
periculosidade, conforme exposto no Aviso n.º22 do Ministério Público de 04 de fevereiro de 1.992.

No entanto, quanto ao uso de algemas, atualmente a única norma diretiva é a Súmula Vinculante
nº 11, editada pelo Supremo Tribunal Federal com base no artigo 103-A da Constituição Federal e
publicada em 22 de agosto de 2008.

GRUPO LGBT

O Brasil é signatário de duas Convenções Internacionais: “Sobre a eliminação de todas as


formas de discriminação racial”3 e “Sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a
mulher”4. Ambas traduzem o termo discriminação, como toda forma de distinção, exclusão, restrição
ou preferência que tenha por objetivo ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou
exercício, em igualdade de condições, dos direitos humanos e liberdades fundamentais, nos campos
políticos, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo, subentendendo-se, assim,
discriminação como toda forma de desigualdade.5

3
Em seu art. 1º a Convenção define a discriminação racial como “qualquer distinção, exclusão,
restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, que tenha o
propósito ou o efeito de anular ou prejudicar o reconhecimento, gozo ou o exercício em pé de igualdade
dos direitos humanos e fundamentais”.
4
Já a Convenção contra a Discriminação contra a Mulher, define: “toda discriminação, exclusão
ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o
reconhecimento, gozo, exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com base na
igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais nos campos
político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo”.
5
PIOVESAN (1998:196)
28
Para que se garanta o exercício de todos os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e
culturais, há que se combater a discriminação em todas as suas formas, pois são medidas fundamentais
para tal. Neste sentido, ao ratificar os sobreditos tratados internacionais sobre esta matéria, os Estados
assumem a obrigação internacional de, progressivamente, eliminar todas as formas de discriminação,
assegurando a efetiva igualdade.

Em âmbito nacional, a Constituição Federal, em seu art. 5º, inc. XLI e XLII, estabelece que
a “lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”, acrescentando
que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
termos da lei”. Em 1989, foi promulgada a Lei nº 7.716, que definiu os crimes resultantes de
preconceito de raça ou cor; e em 1997, a Lei nº 9.459 ampliou o objeto de proteção da 7.716, punindo a
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (xenofobia)

No entanto, nota-se que ainda há lacuna, no que se refere à discriminação referente à


orientação sexual, na medida em que Juízes e Tribunais consolidam jurisprudências protetivas à
diversidade sexual. Tramita no Senado Federal, Projeto de Lei, de autoria do Senador Antonio Carlos
Valadares (PSB-SE), que visa proibir diversas formas de discriminação por parte dos empregadores na
contratação, no remanejamento, na ascensão profissional ou na permanência no trabalho de
funcionários, devido à orientação ou identidade sexual, à etnia ou ao fato de a pessoa portar alguma
deficiência.

O combate é medida emergencial à tutela dos direitos de igualdade; mas, somente a


existência de leis repressivas não garante a plena igualdade e a inserção de grupos vulneráveis na
sociedade, pois a defesa da igualdade pressupõe-se inclusão social, enquanto a discriminação sua
exclusão. Assim, são necessárias políticas públicas – a propositura de ações afirmativas – voltadas à
inserção e inclusão desses grupos socialmente vulneráveis nos espaços sociais.

Vimos, então, existir aparato legal que vise coibir atos discriminatórios. Com isto, insere-se
nas atribuições legais da Corporação a defesa de direitos – lembrando-se que a todos é permitida a
execução de atos até que lei assim proíba –, até o limite da legalidade. Nesse sentido, movimentos
culturais de defesa da igualdade, a exemplo da “Passeata do Orgulho Gay”, são permitidos e cabe à
Polícia Militar a proteção dos manifestantes e do movimento, bem como estar presente para coibir a
prática de atos atentatórios à moralidade pública, caso assim surja.

MULHERES

A violência contra a mulher constitui um problema que atinge mulheres de diferentes classes
sociais, origens, regiões, estados civis, escolaridades ou raças. Os números relativos aos casos de
violência contra as mulheres são alarmantes e representam um alto custo para os governos, com gastos
nas áreas de saúde, jurídica, do trabalho, entre outras (Faleiros, 2007; Jacobucci & Cabral, 2004). Além
disso, a violência contra as mulheres tem repercussões para sua saúde física e mental.

A violência contra a mulher constitui uma forma de violência que foi definida pela Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher –“Convenção de Belém do
29
Pará”, como: Qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento
físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado. (Art. 1º da Convenção
do Pará).

De acordo com Lei 11.340, de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), a violência doméstica e
familiar contra a mulher deve ser entendida como:

Qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause à mulher morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial no âmbito da unidade doméstica, no âmbito
da família ou em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com
a ofendida, independentemente de coabitação (Lei Maria da Penha).

A Lei Maria da Penha traz um rol de medidas que podem ser decretadas pelo juiz a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da mulher. Essas medidas visam garantir maior
efetividade à lei e proteção à mulher vítima de violência, resguardando sua integridade física, além de
proteger seus bens.

O juiz pode obrigar o agressor a:

I – Suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente,


nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II – Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III – Proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de
distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da
ofendida;
d) restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento
multidisciplinar ou serviço similar; e
e) prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

Em relação à mulher, o juiz poderá:

I – Encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou


de atendimento;
II – Determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após
afastamento do agressor;
III – Determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens,
guarda dos filhos e alimentos;
IV – Determinar a separação de corpos.

Para proteger os bens do casal ou de propriedade particular da mulher, o juiz pode determinar:

I – Restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;


II – Proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de
propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;
III – Suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
30
IV – Prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.

PRECONCEITO DE RAÇA E DE COR

No Brasil, o início da escravidão negra deu-se já no início de sua descoberta, com a chegada dos
portugueses.
Sabemos que o término da escravidão no Brasil ocorreu em 1.888, com a Lei Áurea. No
entanto, para que isso ocorre-se, aconteceram alguns fatores importantes a serem analisados:

 A Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 1776, influenciada pela


Declaração da Virgínia;

 A Revolução Francesa, em 1789, e seus princípios de Liberdade, Igualdade e


Fraternidade, transcritos na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão;

 A Revolução Industrial da Inglaterra, que implicou a adoção da máquina e o aumento


considerável das mercadorias produzidas, levou os economistas a defenderem o trabalho
livre como sendo mais lucrativo do que o escravo, aliado a questão de necessitar de
novos mercados para escoarem seus produtos.

Desde 1810, os ingleses começaram a pressionar o governo português no Brasil para que
proibisse o tráfico de escravos como forma de extinguir lentamente a escravidão. No entanto, as
pressões internas de grupos escravistas eram mais fortes. Passaram-se quase quarenta anos sem que, na
prática, o comércio de escravos fosse interrompido.

Todas essas mudanças sociais, políticas e econômicas começam a disseminar a ideia de que a
escravidão era inaceitável. Têm início, assim, as campanhas e apelos internacionais pela abolição da
escravatura no mundo, e também no Brasil.

Ocorre que, neste processo, não houve preocupação com a inserção de ex-escravo no mercado
de trabalho, pois houve a partir de 1860 a implantação de políticas federais de motivação à imigração
ao Brasil, mão de obra gratuita, que com sua chegada era imediatamente lançada às atividades de
trabalhador, em detrimento do aproveitamento da própria massa escrava que passava à alforria sem
trabalho. Além disso, havia a ideologia que uma população branca no Brasil, às semelhanças com a
européia, traria desenvolvimento, portanto a necessidade de se “branquear” a população brasileira,
excluindo o negro dessa população pela genética.

O africano, apesar de livre, continuou a sofrer discriminação social, política, cultural,


econômica e religiosa. Na data de celebração de sua liberdade, comemorada nos anos seguintes, os
jornais e a sociedade comemoraram em teatros e recintos fechados, inacessíveis para aqueles por quem
se comemorava. Essa situação indicava que os negros, apesar de livres, ainda não tinham conquistado,
de fato, a condição de igualdade que na lei se registrava.
31
Como retratado, acima, os problemas decorrentes do longo e não estruturado processo de
abolição da escravatura no Brasil levaram a uma grave disparidade social entre negros e a população
“branca”. Para diminuir esse abismo, surge a necessidade de se adotar ações afirmativas.

Uma conceituação sobre o que seja ação afirmativa pode ser retirada da dissertação de Sabrina
Moehlecke, citando Bárbara Bergmann:

“Ação afirmativa é planejar e atuar no sentido de promover a representação


de certos tipos de pessoas - aquelas pertencentes a grupos que têm sido
subordinados ou excluídos - em determinados empregos ou escolas. Ações
Afirmativas podem ser um programa formal e escrito, um plano envolvendo
múltiplas partes e com funcionários dele encarregados, ou pode ser a atividade de
um empresário que consultou sua consciência e decidiu fazer as coisas de uma
maneira diferente.”

O maior objetivo das ações afirmativas é buscar garantir a igualdade de oportunidades adotando
um tratamento preferencial para permitir que grupos historicamente discriminados alcancem um nível
de competitividade similar aos demais grupos sociais, por meio de políticas que:

 aumentem a qualificação dos desprivilegiados;


 promovam a melhoria de seu acesso ao mercado de trabalho;
 apoiem empresas (públicas e privadas) que promovam a diversidade;
 garantam sua inserção e participação nos meios de comunicação.

Assinado pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em 20 de julho de 2010, o
Estatuto da Igualdade Racial, com “vacatio legis” de noventa dias, motivador de diversos debates, tem
em seu bojo inovações e alterações em situações que estavam implantadas até o presente.

Principais pontos que permaneceram no texto foram:

 Inclusão de história da África e da população negra brasileira no currículo da educação


pública (art. 11).

 Regulamentação da capoeira como esporte a ser praticado nas escolas públicas (art. 20 e
22).

 Implementação de política de inclusão de mulheres negras (§ 5º e 6º do art. 39).

 Remanescentes de quilombolas terão direito ao reconhecimento de posse de terras (art.


17, 18 e 31).

 Defensoria pública deve se adaptar para fortalecer suporte às vítimas de racismo.


32
 Incentivo à inclusão do negro no campo, com capacitação para produção agrária (art. 27
ao 34)

 Incentivo ao turismo étnico.

 Meios de comunicação terão que garantir participação de negros em filmes e peças


publicitárias (Cap. VI – Dos Meios de Comunicação – art. 43 e seguintes).

Em nosso maior diploma legal, contaminado com posicionamentos emanados das


movimentações internacionais sobre Direitos Humanos, abordou a questão racial inicialmente em seus
primeiros artigos, conforme abaixo:

 Artigo 3º, inciso IV (objetivos fundamentais):


“IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer normas de discriminação.

 Artigo 4º (princípios que regem as relações internacionais brasileiras):

VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo.

 Artigo 5º (direitos e garantias fundamentais):


“XLII – a prática de racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão, nos termos da lei”.

As políticas de ações afirmativas para a população afro-descendente, no Estado de São Paulo,


ganham relevância na medida em que reconhecem a responsabilidade da administração pública na
difícil tarefa de promoção e inserção produtiva dessa parcela da população.

Diferentemente das experiências registradas anteriormente, localizadas, dispersas e provisórias,


institui-se agora uma política de Estado, perene e que inscreve a promoção da igualdade étnica/racial
como uma das prioridades da agenda política do Estado de São Paulo. Tal política é regulada pelo
Decreto 48.328, de 15 de dezembro de 2003.

O Programa de Ações Afirmativas do Governo do Estado de São Paulo, desenvolvido pela atual
administração, tem base nos seguintes instrumentos:

a) os compromissos assumidos pelo Governo brasileiro junto à comunidade internacional,


especialmente na III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e
Intolerância Correlata, realizada em Durban (África do Sul), bem como as normas internacionais de
proteção aos direitos humanos, sublinhando-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e Apartheid;
e
33
b) o Programa Nacional de Direitos Humanos, o Programa Estadual de Direitos Humanos de
São Paulo - pioneiro dentre os Estados do Brasil - e a Conferência contra o Racismo, Discriminação
Racial, Xenofobia e Outras Formas de Intolerância do Estado de São Paulo, ocorrida em julho de 2001.

Pela magnitude do tema, uma política não pode ser viabilizada somente por um único órgão
público, tampouco somente pelo governo, mas por uma conjugação de esforços que une Estado,
sociedade civil, setor empresarial e todos os envolvidos e comprometidos com a justiça social no
Brasil.

São metas do programa de ações afirmativas do Estado de São Paulo:

1) Adequação da estrutura do Estado para implementar as políticas de promoção de igualdade


racial;
2) Adoção de estratégias que garantam a produção de conhecimento, informações e subsídios,
bem como de condições técnicas, operacionais e financeiras para o desenvolvimento de seus
programas;
3) Incorporação da questão racial no âmbito da ação governamental através da Comissão de
Coordenação e Acompanhamento da Política de Ações Afirmativas;
4) Divulgar os propósitos das ações afirmativas no Estado de São Paulo para este segmento da
população;
5) Envolver os vários setores da administração pública estadual na implementação de ações
afirmativas para afro-descendentes;
6) Tornar os instrumentos nacionais e internacionais de defesa de direitos materialmente
operantes para atender às necessidades das pessoas em situação de privação ou em condição de
fragilidade social, a fim de que elas possam usufruir dos bens produzidos pela sociedade, e que também
se sintam incluídas sob a proteção do ordenamento jurídico em vigor.

5. Vítimas da criminalidade e do abuso de poder. 03 h/a

Sendo apenas uma declaração, portanto não cria obrigação legal aos Estados partes com respeito
ao tratamento das vítimas da criminalidade e do abuso de poder, a Declaração das Nações Unidas
sobre os Princípios Fundamentais de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e do Abuso do
Poder (Declaração das Vítimas) é o único instrumento internacional que oferece orientação aos Estados
Membros sobre a questão da proteção e reparação às vítimas da criminalidade e do abuso de poder.
Porém alguns dispositivos de tratados criam obrigações legais aos Estados Partes com respeito
ao tratamento dispensado às vítimas do crime e do abuso do poder. Como podemos observar abaixo:

- o direito exequível das vítimas de captura ou detenção ilegal à indenização (PIDCP, artigo
9.5);
- as vítimas de pena cumprida em virtude de erro judicial devem ser indenizadas em
conformidade com a lei (PIDCP, artigo 14.6);
34
- as vítimas de tortura possuem o direito exequível à indenização justa e adequada
(Convenção contra a Tortura, artigo 14.1)

Quem são as pessoas vítimas da Criminalidade?

Conforme a Declaração das Vítimas em seu artigo 1°, podemos definir como vítimas de crime:
“as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido danos, nomeadamente a sua
integridade física ou mental, ou sofrimento de ordem emocional, ou perda material, ou grave
atentado a seus direitos fundamentais, como consequência de atos ou omissões que violem as leis
penais em vigor em um Estado Membro, incluindo as que proíbem o abuso do poder”.

Em seu artigo 18, a mesma Declaração nos trás a definição das vítimas de abuso do poder,
como sendo: “as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido danos, nomeadamente a
sua integridade física ou mental, ou sofrimento de ordem emocional, ou perda material, ou grave
atentado aos seus direitos fundamentais, como conseqüência de atos ou omissões que, não
constituindo ainda uma violação da legislação penal nacional, representam violações das normas
internacionalmente reconhecidas em matéria de direitos humanos”.

A Declaração das Vítimas afirma ainda que uma pessoa pode ser considerada uma vítima quer o
autor seja ou não identificado, capturado, julgado ou declarado culpado, e quaisquer que sejam os laços
de parentesco deste com a vítima (artigo 2º). O termo vítima inclui também a família próxima ou
dependentes da vítima, assim como as pessoas que tenham sofrido algum dano ao intervirem em nome
da vítima.

Também estabelece disposições relativas ao acesso à justiça e ao tratamento, restituição,


indenização e assistência equitativos, afirmando os seguintes direitos a serem exercidos pelas vítimas
da criminalidade e abuso de poder:
- de serem tratadas com compaixão e respeito por sua dignidade. Têm direito ao acesso às
instâncias judiciárias e a uma rápida reparação (artigo 4o);
- de beneficiarem-se da criação de procedimentos de reparação, oficiais ou oficiosos, que
sejam equitativos, de baixo custo e acessíveis (artigo 5o);
- de serem informadas da função das instâncias que conduzem os procedimentos, do âmbito,
das datas e do progresso dos processos e da decisão de suas causas, especialmente quando se tratar
de crimes graves e quando tenham pedido essas informações (artigo 6º a);
- de apresentarem suas opiniões e que estas sejam examinadas nas fases adequadas do
processo quando seus interesses pessoais estejam em jogo (artigo 6º b);
- de receberem assistência adequada ao longo de todo o processo (artigo 6º c);
- à proteção de sua privacidade e às medidas que garantam sua segurança e a de sua família,
preservando-as de intimidação e represálias (artigo 6º d);
- de que se evitem demoras desnecessárias na resolução das causas e na execução das
decisões que lhes concedam indenizações (artigo 6º e);
- de beneficiarem-se de mecanismos extrajudiciários de resolução de disputas, incluindo a
mediação, a arbitragem e as práticas de direito costumeiro ou as práticas autóctones de justiça, que
devem ser utilizados, quando adequados, para facilitar a conciliação e obter a reparação em favor
das vítimas.
Os artigos de 8° a 13° estabelecem vários princípios relativos à restituição e reparação: os
infratores devem fazer a restituição a suas vítimas; incentiva-se aos Estados que mantenham sob
escrutínio constante os mecanismos de restituição, e que considerem sua inserção nas leis penais;
nos casos em que o infrator for um funcionário ou agente do Estado (por exemplo, um encarregado
35
de aplicação da lei), este deve ser responsável pela restituição; quando não seja possível obter do
infrator ou de outras fontes a indenização, os Estados devem procurar assegurá-la. É incentivada a
criação de fundos para esta finalidade em particular.

Além disso:
- as vítimas devem receber a assistência material, médica, psicológica e social de que
necessitem (artigo 14);
- as vítimas devem ser informadas da possível existência de serviços de assistência que lhes
possam ser úteis (artigo 15);
- o pessoal dos serviços de polícia, de justiça e de saúde, tal como o dos serviços sociais e
outros serviços interessados, deve receber uma formação que os sensibilize para as necessidades das
vítimas, bem como instruções que garantam uma ajuda pronta e adequada às vítimas (artigo 16).

Em muitos casos, os encarregados da aplicação da lei serão o primeiro contato que uma vítima
de um crime terá, o que se poderia considerar, nesta situação, como a fase de primeiros-socorros,
quando é essencial que se dispensem cuidados e assistência adequados às vítimas.

No entanto, a preocupação dos encarregados é com o progresso e o resultado das investigações.


É importante que sejam convencidos de que o bem-estar das vítimas deveria ser da mais alta
prioridade. Não se pode desfazer o crime cometido, porém, o auxílio e a assistência adequados fazem
com que as consequências negativas do crime para com as vítimas sejam definitivamente limitadas.

6. Comando e Gestão: procedimentos de supervisão. 01 h/a

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei detêm poderes, os quais podem se tornar
conflitantes em relação aos direitos humanos. Pois sua principal função é a de promover e proteger os
direitos humanos e liberdades fundamentais, em razão das suas atividades e peculiaridades em relação
ao exercício de seus deveres, os tornam infratores potenciais dos próprios direitos que deveriam manter
e apoiar. Esta situação paradoxal decorre pelo acúmulo de poderes e prerrogativas legais delegados à
estes funcionários com a finalidade de habilitá-los ao cumprimento de suas obrigações.

Junto ao cenário internacional os Estados partes possuem obrigações complementares


decorrentes, sendo que a primeira é adequar (ou promulgar) a legislação no âmbito nacional, de modo a
garantir o cumprimento das disposições contidas naqueles instrumentos. A segunda requer que as
Partes se abstenham de práticas contrárias ao disposto nos tratados.

Os Estados Partes deverão tomar medidas efetivas para garantir tanto a implementação eficaz
quanto a observância das obrigações decorrentes dos tratados por parte de todos os funcionários do
poder público. Para a aplicação da lei, isto se traduz por obrigações relacionadas à formação e
treinamento, ou à necessidade de rever continuamente os procedimentos de execução da lei e garantir
sua conformidade com o direito internacional humanitário. Além desta obrigação relativa à supervisão
no âmbito nacional, os Estados deverão tomar medidas rigorosas para evitar e opor-se a quaisquer
violações dos direitos humanos por parte dos encarregados da aplicação da lei. O Estado é responsável
em última instância pelas práticas de aplicação da lei.
36
7. Código de Conduta para os funcionários responsáveis pela aplicação da lei.
Normas internacionais que fundamentam e regem a aplicação da lei. Princípios
Básicos sobre a utilização da força e de arma de fogo pelos funcionários responsáveis 03 h/a
pela aplicação da lei.

Não é um tratado na acepção técnica do conceito, configurando-se como um instrumento


orientador e referencial da ONU aos seus Estados-membros. Foi adotado pela Assembleia Geral das
Nações Unidas em 17 de dezembro de 1979. É um instrumento de linguagem simples, composto por
apenas oito artigos, que apresenta muitos conceitos genéricos.

Conforme estabelece o Código, a expressão FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA


APLICAÇÃO DA LEI inclui todos os agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos, quer exerçam poderes
policiais ou judiciais, e especialmente os que detêm poderes de detenção ou prisão. Nos países onde os
poderes policiais são exercidos por autoridades militares, ou por qualquer força de segurança do
Estado, deve-se entender que a definição do conceito de „funcionários responsáveis pela aplicação da
lei‟ incluirá os funcionários de tais serviços.

O código tem com principal objetivo criar padrões para as práticas de aplicação da lei de acordo
com os direitos e liberdades humanos. As diretrizes, nele contidas, podem ser encontradas em cada um
dos seus artigos, sendo elas as seguintes:

- Cumprir os deveres, servindo a comunidade.


- Respeito à dignidade humana.
- Uso da força quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do
dever.
- Segredo das questões confidenciais em serviço.
- Proibição da tortura e tratamento ou pena cruel, desumano ou degradante.
- Proteção da saúde das pessoas sob sua custódia.
- Proibição da prática de ato de corrupção.
- Respeito ao Código e a Lei.
37

Observe-se que qualquer prática da aplicação da lei deve estar fundamentada na própria lei. O
emprego da força, por exemplo, deve ser estritamente necessário, considerando-se as circunstâncias
específicas de cada caso que se apresentar, sendo o objetivo a ser alcançado legítimo.

Também não é um tratado na acepção técnica do

Fonte:Direitos Humanos –
Uma perspectiva Interdisciplinar e
conceito, mas sim um instrumento orientador e referencial da
ONU a seus Estados-membros.
Estes princípios foram adotados no Oitavo Congresso
das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento

Transversal. CICV
dos Infratores (Havana, Cuba, 1990).

Importante ressaltar que tais princípios devem ser


levados ao conhecimento, além dos FUNCIONÁRIOS
RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI, também dos
magistrados, membros do Ministério Público, advogados e
membros dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem
como do público em geral.

 Os princípios têm como objetivos básicos orientar quanto: à legitimidade e moderação


no uso da força;

 o treinamento e a conduta dos encarregados de aplicação da lei.

Apresenta ainda três princípios essenciais que devem ser respeitados sempre que for necessário
o emprego da força ou de arma de fogo:

 LEGALIDADE;

 NECESSIDADE; e

 PROPORCIONALIDADE.
38
Deve ser feita uma avaliação individual quando for necessário empregar força ou arma
de fogo.

Portanto:

 uso da força → EXCEPCIONAL;

 uso da arma de fogo → MEDIDA EXTREMA.

O texto discorre sobre os seguintes assuntos, dentre outros:

- necessidade de qualificação, treinamento e aconselhamento dos encarregados de aplicação da


lei;

- uso indevido da força ou arma de fogo;

- policiamento em reuniões ilegais (o uso da arma de fogo é medida extrema e não deve ser
feito disparo, indiscriminadamente, na direção da multidão para dispersá-la);

- procedimentos de comunicação e revisão sobre uso da arma de fogo;

- observar sempre a lei nos casos de ordem ilegal ou ilegítima.

Um ponto fundamental é a observação de que, havendo um individuo afetado ou atingido por


disparo de arma de fogo, deverá ser prontamente providenciada a assistência e os cuidados médicos.

Policiamento em reuniões ilegais

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) reconhece no art 20 o direito de


todos a participarem de reuniões pacíficas, reiterado pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos (PIDCP) no art 21. É por essa razão que os governos e as organizações de aplicação da lei
deverão reconhecer que a força e as armas de fogo contra reuniões ilegais só poderão ser empregadas
de acordo com os princípios básicos do uso da força e de armas de fogo.

Ao dispersar grupos ilegais, mas não violentos os policiais deverão evitar o uso da força
ou, quando tal não for possível, deverão restringir o uso da força ao mínimo necessário (PB 13).

Ao dispersar grupos violentos, só poderão fazer o uso de armas de fogo quando não for possível
usar outros meios menos lesivos; e apenas nos termos minimamente necessários; assim como somente
segundo as condições estipuladas no PB 9 (PB 14).
39

8. Comando, gestão e investigação sobre violações de Direitos Humanos. 03 h/a

VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Ao falarmos em violações de Direitos Humanos, em princípio, existem duas formas de tratar o


problema, segundo a Declaração dos Princípios Básicos de Justiça para Vítimas de Crime e Abuso
do Poder, sendo a primeira do ponto de vista da vítima e a segunda relacionada as ações e omissões do
Estado.

A primeira caracteriza-as como uma violação de leis criminais que vigoram dentro dos
Estados Membros, incluindo aquelas leis que proscrevem criminalmente o abuso de poder. O
principal aspecto de tais violações é o dano e sofrimento individual ou coletivo causado às pessoas,
incluindo dano físico ou mental, sofrimento emocional, prejuízo econômico ou dano substancial de
seus direitos fundamentais, por meio de atos ou omissões que possam ser imputadas ao Estado. A
segunda definição concerne àqueles atos e omissões [imputáveis ao Estado] que não constituem ainda
violações de leis penais nacionais, mas de normas internacionalmente reconhecidas relativas a
direitos humanos.

A palavra reconhecidas deve ser entendida para se referir às normas contidas em tratados de
direitos humanos, normas que fazem parte do direito costumeiro internacional ou normas que fazem
parte de princípios de direito reconhecidos pelas nações civilizadas.

RESPONSABILIDADE DO ESTADO

O direito internacional estabelece e regula as relações entre Estados. As mais importantes fontes
de direito internacional são constituídas pelo costume, pelo direito dos tratados e pelos princípios de
direito que são reconhecidos pelas nações civilizadas.

O direito internacional de direitos humanos cria obrigações legais para os Estados. Essas
obrigações incluem a exigência de adaptar (ou criar) legislação nacional de acordo com as normas
internacionais, bem como a de reprimir práticas que estejam em contravenção com aquelas normas.
Esta última exigência em relação às práticas dos Estados se estende a todas as entidades e pessoas
agindo como representantes do Estado, incluindo funcionários públicos, tais como os encarregados da
aplicação da lei. A responsabilidade última pelos atos dos funcionários repousa no Estado. Esta
disposição não interfere ou substitui os níveis existentes de responsabilidade individual ou
organizacional em âmbito nacional, constituindo, na verdade, uma responsabilidade no plano
internacional. No âmbito dos Estados, eles mesmos são responsáveis pelas práticas individuais de seus
funcionários, bem como pelas ações (legislativas ou outras) de seus órgãos governamentais.

MECANISMOS INTERNACIONAIS DE DENÚNCIA

Há várias formas de chamar os Estados a prestar contas, no plano internacional, de suas


decisões e práticas (ou da falta destas) em relação aos direitos humanos. O procedimento exato pelo
40
qual os Estados podem ser considerados responsáveis por violações de direitos humanos pode ser
encontrado em todas as fontes do direito, incluindo decisões de cortes internacionais ou regionais,
resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas e, naturalmente, nos próprios instrumentos
especializados de direitos humanos. Existem dois tipos de procedimentos que serão examinados mais
rigorosamente, com respeito, especificamente, à investigação de violações de direitos humanos. São
eles o procedimento de denúncias entre Estados e o de comunicações individuais concernentes a
violações de direitos humanos. (ROOVER. 2005. Pag.414).

DENÚNCIAS ENTRE ESTADOS

Segundo Roover, existem somente três instrumentos especializados de Direitos Humanos


referentes às denúncias entre os Estados. São elas o PIDCP (Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos), a CCT (Convenção contra a Tortura) e a CIEDR (Convenção Internacional para a
Eliminação Todas as Formas de Discriminação Racial).
Conforme previsto nas duas primeiras, os Estados para submeterem tais denúncias devem
reconhecer a competência do Comitê de Direitos Humanos e do Comitê contra a Tortura,
respectivamente, podendo um Estado Denunciar o outro por violar suas obrigações em relação ao Pacto
ou a Convenção. Em relação ao CIEDR há a obrigação de reconhecimento de competência do Comitê
pelos Estados partes.
Cabe aos Comitês, quando houver denúncia entre os Estados, de mediar e conciliar os conflitos
chegando a um acordo amigável entre as partes, dentro do previsto nas obrigações impostas pelos
respectivos instrumentos.

COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

Os procedimentos de denúncias individuais existem somente sob os regimes do PIDCP, da


CIEDR e a CCT. O procedimento (por meio do qual indivíduos podem denunciar violações de
obrigações de tratados cometidas por um Estado Parte) é opcional para os Estados Partes, i.e., em
situações em que um Estado Parte não aceitou a competência de um Comitê para receber e considerar
comunicações individuais, tais comunicações são inadmissíveis. As comunicações individuais
submetidas de acordo com esses instrumentos são endereçadas ao Comitê concernente. Conforme o
PIDCP, somente comunicações de indivíduos que alegam ser as vítimas da violação de disposições do
Pacto serão consideradas pelo Comitê de Direitos Humanos. Para a CCT, a provisão é semelhante,
embora a comunicação, endereçada ao Comitê contra a Tortura, possa também ser enviada em nome do
indivíduo que alega ser vítima de uma violação da Convenção. O CIEDR somente admite que
comunicações de indivíduos ou grupos de indivíduos que alegam ser vítimas de violações da CIEDR
sejam recebidas para consideração pelo Comitê sobre a Eliminação da Discriminação Racial.
Para a admissibilidade de petições individuais, os três instrumentos estipulam critérios
específicos:
- a competência do Comitê precisa ser reconhecida (PIDCP/PO, art. 1; CCT, 22.1; CIEDR,
14.1);
- esgotamento dos recursos internos (PIDCP/PO, arts. 2 e 5.2(a); CCT, 22.5(b); CIEDR, 14.7);
- nenhuma comunicação anônima, nenhum abuso (PIDCP/ PO, art. 3; CCT, 22.2; CIEDR,
14.6);
- compatibilidade (ratione temporis, personae, loci, materiae) com as disposições do
Pacto/da Convenção (PIDCP/PO, art. 3; CCT, 22.2); 416 417
- não haver exame em curso da matéria sob outro procedimento internacional (PIDCP/PO,
art. 5.2 a);
41
- não haver exame passado ou presente da matéria sob outro procedimento internacional
(CCT, 22.5 a);
- substância das alegações (caso prima facie) (PIDCP/PO I, art. 2; CCT, 22.1).

Quando uma denúncia é considerada admissível, o Comitê prosseguirá, levando-a à atenção do


Estado Parte concernente. Dentro de seis meses, o Estado que a recebeu deverá submeter ao Comitê
esclarecimentos por escrito ou declarações elucidando a matéria e o recurso, se houver, que possa ter
sido adotado por aquele Estado.
42
Questões de Fixação

01- Ao falarmos em Direitos Humanos podemos verificar que alguns estudiosos fazem
distinção entre “direitos humanos” e “direitos fundamentais”, segundo José Joaquim Gomes Canotilho
podemos afirmar que:
a. ( ) “direitos do homem ou direitos humanos” são aqueles inerentes à própria condição
humana, válidos para todos os povos em todos os tempos e “direitos fundamentais” são aqueles
reconhecidos pelo ordenamento jurídico.
b. ( ) “direitos do homem ou direitos humanos” são aqueles reconhecidos pelo ordenamento
jurídico e “direitos fundamentais” são aqueles inerentes à própria condição humana, válidos para todos
os povos em todos os tempos.
c. ( ) “direitos do homem ou direitos humanos” são aqueles inerentes à própria condição
humana, válidos para determinados povos e “direitos fundamentais” são aqueles reconhecidos pelo
ordenamento jurídico.
d. ( ) “direitos do homem ou direitos humanos” e “direitos fundamentais” são aqueles direitos
previstos na constituição do Estado.

02. Um cidadão que foi preso de forma arbitrária teve o seu direito de locomoção violado,
sendo que o seu advogado de imediato impetrou um habeas corpus, para conseguir a liberdade do seu
cliente. Diante de tal situação podemos dizer que:
a. ( ) o habeas corpus é um direito que irá assegurar a garantia de liberdade de ir e vir daquele
cidadão.
b.( ) o habeas data seria o remédio constitucional correto para assegurar o direito de ir e vir.
c. ( ) o direito de locomoção (ir e vir) é um direito previsto na CF, sendo uma disposição
meramente declaratória, enquanto que o habeas corpus é a garantia que irá assegurar o exercício do
direito de ir e vir.
d.( ) tanto o habeas data, como o habeas corpus garantem o direito de ir e vir do cidadão que
foi preso de forma arbitrária.
43
03. Sendo os direitos fundamentais, previstos na Constituição Federal, gênero de diversas
modalidades de direitos, diante do estudo realizado podemos dizer que direitos individuais são:
a.( ) aqueles que tem como titular não uma pessoa individualmente considerada, mas sim uma
coletividade, desde que ligados por uma relação jurídica básica.
b.( ) são as limitações impostas pela soberania popular aos poderes constituídos, com a
finalidade de resguardar direitos indispensáveis à dignidade da pessoa humana.
c.( ) são caracterizados como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em
um Estado Social de Direito, tendo como finalidade a melhoria das condições de vida dos cidadãos em
geral.
d.( ) conjunto de regras que disciplinam as formas de atuação da soberania popular, onde todo
poder emana do povo para o próprio povo.

04. Sendo os direitos fundamentais, previstos na Constituição Federal, gênero de diversas


modalidades de direitos, diante do estudo realizado podemos dizer que direitos sociais são:
a.( ) aqueles que tem como titular não uma pessoa individualmente considerada, mas sim uma
coletividade, desde que ligados por uma relação jurídica básica.
b.( ) são as limitações impostas pela soberania popular aos poderes constituídos, com a
finalidade de resguardar direitos indispensáveis à dignidade da pessoa humana.
c.( ) são caracterizados como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em
um Estado Social de Direito, tendo como finalidade a melhoria das condições de vida dos cidadãos em
geral.
d.( ) conjunto de regras que disciplinam as formas de atuação da soberania popular, onde todo
poder emana do povo para o próprio povo.

05. Sendo os direitos fundamentais, previstos na Constituição Federal, gênero de diversas


modalidades de direitos, diante do estudo realizado podemos dizer que direitos políticos são:
a.( ) aqueles que tem como titular não uma pessoa individualmente considerada, mas sim uma
coletividade, desde que ligados por uma relação jurídica básica.
b.( ) são as limitações impostas pela soberania popular aos poderes constituídos, com a
finalidade de resguardar direitos indispensáveis à dignidade da pessoa humana.
c.( ) são caracterizados como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em
um Estado Social de Direito, tendo como finalidade a melhoria das condições de vida dos cidadãos em
geral.
44
d.( ) conjunto de regras que disciplinam as formas de atuação da soberania popular, onde todo
poder emana do povo para o próprio povo.

06. Sendo os direitos fundamentais, previstos na Constituição Federal, gênero de diversas


modalidades de direitos, diante do estudo realizado podemos dizer que direitos coletivos são:
a.( ) aqueles que tem como titular não uma pessoa individualmente considerada, mas sim uma
coletividade, desde que ligados por uma relação jurídica básica.
b.( ) são as limitações impostas pela soberania popular aos poderes constituídos, com a
finalidade de resguardar direitos indispensáveis à dignidade da pessoa humana.
c.( ) são caracterizados como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em
um Estado Social de Direito, tendo como finalidade a melhoria das condições de vida dos cidadãos em
geral.
d.( ) conjunto de regras que disciplinam as formas de atuação da soberania popular, onde todo
poder emana do povo para o próprio povo.

07. Remédios Constitucionais são os meios colocados à disposição dos indivíduos pela
Constituição para a proteção dos seus direitos fundamentais. Qual remédio constitucional tutela a
liberdade de locomoção sempre que alguém sofrer constrangimento ilegal no seu direito de ir e vir:
a.( ) mandado de injunção
b.( ) mandado de segurança
c.( ) habeas data
d.( ) habeas corpus

08. Remédios Constitucionais são os meios colocados à disposição dos indivíduos pela
Constituição para a proteção dos seus direitos fundamentais. Qual remédio constitucional tutela o
direito de informação e de intimidade do indivíduo, assegurando o conhecimento e a retificação de
informações relativas à sua pessoa:
a.( ) mandado de injunção
b.( ) mandado de segurança
c.( ) habeas data
d.( ) habeas corpus
45
09. Remédios Constitucionais são os meios colocados à disposição dos indivíduos pela
Constituição para a proteção dos seus direitos fundamentais. Qual remédio constitucional tutela os
direitos individuais líquidos e certos, não amparados por habeas corpus ou habeas data:
a.( ) mandado de injunção
b.( ) mandado de segurança
c.( ) habeas data
d.( ) habeas corpus

10. O que são pessoas em situação de Vunerabilidade?

11. Qual a diferença entre grupos vulneráveis e minorias?

12. De acordo com o Estatuto da criança e do adolescente definimos como criança e


adolescente, respectivamente:
a. ( ) criança é a pessoa até 12 anos de idade incompletos e adolescente é a pessoa entre os 12 e
os 18 anos incompletos.
b.( ) criança é a pessoa até 12 anos de idade completos e adolescente é a pessoa entre os 13 e os
18 anos incompletos.
c.( ) criança é a pessoa até 11 anos de idade incompletos e adolescente é a pessoa entre os 12 e
os 18 anos incompletos.
d.( ) criança é a pessoa até 13 anos de idade incompletos e adolescente é a pessoa entre os 13 e
os 18 anos incompletos.

13. A prática de ato infracional gera consequências diferentes para crianças e adolescentes, onde
são aplicadas na seguinte conformidade:
a.( ) para criança são aplicadas as medidas sócio-educativas e para os adolescentes as medidas
de proteção.
b.( ) para criança são aplicadas as medidas de proteção sócio-educativas e para os adolescentes
as medidas de proteção.
c.( ) para a criança são aplicadas as medidas de proteção e aos adolescentes as medidas sócio-
educativas ou medidas de proteção.
d.( ) são aplicadas para ambos as mesmas medidas.
46
14. Podemos afirmar que “os direitos fundamentais não podem ser desrespeitados por atos
normativos, nem por atos de autoridades públicas” esta afirmação diz respeito a qual característica
dos Direitos Fundamentais:
a. ( ) Inalienabilidade.
b. ( ) Irrenunciabilidade.
c. ( ) Imprescritibilidade.
d. ( ) Inviolabilidade.

15. Os direitos humanos fundamentais “não devem ser interpretados isoladamente, mas sim
de forma conjunta com a finalidade de alcance dos objetivos previstos pelo legislador
constituinte”estamos nos referindo a qual característica dos direitos fundamentais:
a. ( ) inalienabilidade.
b. ( ) imprescritibilidade.
c. ( ) complementariedade.
d. ( ) universalidade.

16. Quando afirmamos que “não há a possibilidade de transferência dos direitos humanos
fundamentais, seja a título gratuito ou oneroso”, nos referimos a qual de suas características:
a. ( ) irrenunciabilidade.
b. ( ) efetividade.
c. ( ) inviolabilidade.
d. ( ) inalienabilidade.

17. Quanto ao papel da polícia em relação aos Direitos Humanos e a Democracia é


INCORRETO afirmar que:
a. ( ) A Polícia Militar é o órgão competente para preservação da ordem pública.
b. ( ) Direitos humanos, segurança pública e democracia são temas antagônicos.
c. ( ) A polícia, no Estado Democrático de Direito, deve exigir o cumprimento da lei por
parte dos cidadãos.
d. ( ) Os Direitos Humanos, estão cada vez mais relacionados à atividade de polícia.

18. O ECA e a resolução SSP-72/90 disciplinam a não condução de criança ao DP,


determinando o seu encaminhamento ao Conselho Tutelar ou Juízo da Infância e da Juventude e esta
mesma Resolução determina que o Adolescente não poderá ser conduzido ou transportado em quais
situações:

19. De acordo com os Princípios Básicos sobre utilização de arma de fogo pelos funcionários
responsáveis pela aplicação da lei quais são os três princípios essenciais que devem ser respeitados
quando for necessário o emprego de força ou uso de arma de fogo:

20. O conjunto de direitos indispensáveis à pessoa humana, reconhecidos e garantidos por uma
determinada ordem jurídica corresponde tecnicamente ao conceito de:
a. ( ) Direitos e Garantias.
b. ( ) Direitos Fundamentais.
c. ( ) Direitos do Homem.

d. ( ) Direitos Sociais.
47
REFERÊNCIAS:

 A Incorporação das Normas Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos no


Direito Brasileiro. Instituto Interamericano, Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Alto
Comissariado das Nações Unidas Para os Refugiados, Comissão da União Européia, Governo da
Suécia. San José: Mars Editores S.A., 2 ed., 1996.

 Anistia Internacional. Pactos da Humanidade. 24 Documentos que influenciam o


presente e o futuro. Passo Fundo, RS: Aldeia Sul Editora, 1 ed., 1997.

 Aprendiz do Futuro. São Paulo: Ed Ática, 9 ed, 2001.

 BALESTRERI, Ricardo Brisolla. Cidadania e Direitos Humanos: Um Sentido para a


Educação. RS, Passo Fundo: CAPEC, Pater Editora.

 BARBOSA, Riezo. Estatuto da Criança e do Adolescente Interpretado. São Paulo: Ed


Lawbook, 4 ed, 2000.

 BICUDO, Hélio. Direitos Humanos e sua proteção. São Paulo: Editora FTD, 1997.

 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 16 ed., 2002.

 Cidadania Verso e Reverso. Centro de Integração da Cidadania da Secretaria da Justiça


e da Defesa da Cidadania. São Paulo, 1998.

 COCCO, Giuseppe. Trabalho e Cidadania. São Paulo: Cortez Editora, 3 ed, 2001.

 Código de Conduta para Funcionários Encarregados de Fazer Cumprir a Lei;

 COMPARATO, Fábio Konder. A Firmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo:
Saraiva, 3 ed., 2004.

 Congresso Nacional. Constituição da República Federativa do Brasil São Paulo:


IMPRENSA OFICIAL, 2002.

 DALARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Ed Moderna,


2002.

 Declaração Universal dos Direitos Humanos;

 DIMENSTEIN, Gilberto. O Papel do Cidadão. São Paulo: Ática, 19 ed, 2003.

 Direitos Humanos um novo caminho. Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana


da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania. São Paulo, 1997.

 Direitos Humanos: construção da liberdade e da liberdade e da igualdade. Centro de


Estudos da Procuradoria Geral do Estado. São Paulo: Ed Páginas e Letras, 1998.

 DOSSIÊ DIREITOS HUMANOS. São Paulo: Revista ESTUDOS AVANÇADOS, USP;


vol II, nº 30, maio/agosto 1997.
48
 DOTTI, René Ariel. Declaração Universal dos Direitos do Homem. 50 anos e Notas da
legislação brasileira. Curitiba, Paraná: JM Editora, 1 ed, 1998.

 Dtz PM3-002/02/90, de 01 de outubro de 1990. Aplicação do Estatuto da Criança e do


Adolescente. PMESP, 1990.

 Educando para a cidadania. Os direitos humanos no currículo escolar. Ed. Pallottim,


1992.

 Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. São Paulo:


Imprensa Oficial, 1990.

 FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Direitos Humanos Fundamentais. São Paulo:


Saraiva, 6 ed., 2004.

 Guia Cidadania e Comunidade. Centro de Integração da Cidadania da Secretaria da


Justiça e da Defesa da Cidadania. São Paulo, 1997.

 GUSDORF, Georges. As Revoluções da França e da América. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 2004.

 Instrumentos Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos. Centro de Estudos da


Procuradoria Geral do Estado. São Paulo: IMPRENSA OFICIAL, 1997.

 JURIC, Paulo. Crime de Tortura (Lei 9455 de0 7/04/1997). São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2 ed, 2003.

 LAZZARINI, Álvaro. Poder de Polícia e Direitos Humanos. Revista A Força Policial, nº


30, pág. 007.

 Lei Federal n. 9.459 de 13Mai97. Altera os artigos 1° e 20 da Lei 7716 – crimes


resultantes de preconceito de raça ou de cor e acrescenta artigo ao Decreto-lei Federal n. 2848.
Revista A Força Policial, n. 17, pág. 119

 Lei n. 10.237 de 12Mar99. Institui política para a superação racial no Estado e dá


outras providências.

 LEWANDOWSKI, Enrique Ricardo. Revista da Faculdade de Direito da , São Paulo, v.


98, 2003.

 Manual da Cidadania da Polícia Militar – M-18-PM. PMESP. São Paulo: publicado em


anexo ao Boletim Geral PM nº 047, de 11 de março de 1998, com alteração publicada no Bol G PM nº
40, de 02 de março de 1999.

 MIRABETE, Júlio Fabrini. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 9 ed., 1999.

 MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais. São Paulo: Ed Atlas, 5 ed,
2002.

 NOGUEIRA, Plácido Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. São


Paulo: Saraiva, 1 ed, 1991.
49
PINHO, Rodrigo César Rebello. Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais.
São Paulo: Saraiva, 3 ed., 2002.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. São



Paulo: Max Limonad, 3 ed., 1999.

 Plano Nacional e Estadual de Direitos Humanos.

 Poder Executivo. Documentação Civil. Política Antidiscriminatória Crimes de Tortura.


Programa Nacional de Direitos Humanos. Secretaria Nacional dos Direitos Humanos do Ministério da
Justiça. Brasília - DF: Imprensa Nacional , 1998.

 Programa Estadual de Direitos Humanos. Secretaria da Justiça e da Defesa da


Cidadania. São Paulo: IMPRENSA OFICIAL, 1997.

 ROOVER, Cees de. Para Servir e Proteger; Direitos Humanos e Direito Internacional
Humanitário para Forças Policiais e de Segurança. Manual para Instrutores composto de 16 Capítulos
(fascículos); CICV – MJ/Brasília-DF - PM, 2005.

SANTOS JR, Belisário et al. Cidadania. Verso e Reverso. Secretaria da Justiça e da



Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo e Centro Acadêmico “XI de Agosto”. São Paulo:
IMPRENSA OFICIAL, 1997/1998.

 SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 13
ed., 1997.

 SMANIO, Gianpaolo Poggio. Interesses Difusos e Coletivos. São Paulo: Ed Atlas, 5 ed.,
2003.

 Temas de Direitos Humanos. São Paulo: Max Limonad, 1998.

 Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos.Porto Alegre, RS: Sergio


Antonio Fabris Editor, 1ª ed., volume I, 1997.

 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado et al. As Três Vertentes da Proteção


Internacional dos Direitos da Pessoa Humana. Direitos Humanos, Direitos Humanitários, Direito dos
Refugiados. Instituto Interamericano de Direitos Humanos, Comitê Internacional da Cruz Vermelha,
Alto Comissariado das Nações Unidas Para os Refugiados. San José, Costa Rica/Brasília: Mundo
Gráfico S.A., 1996.

 Atuação Policial Frente À Grupos Vulneráveis. Secretaria Nacional de Segurança


Pública - SENASP. Brasília/DF, 2009.

 Cartilha do Censo 2010 – Pessoas com Deficiência / Luiza Maria Borges Oliveira /
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) / Secretaria Nacional de
Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD) / Coordenação-Geral do Sistema de
Informações sobre a Pessoa com Deficiência; Brasília : SDH-PR/SNPD, 2012.
50
Gabarito de respostas múltipla escolha

Questões Respostas Questões Respostas


1 A 9 B
2 C 12 A
3 B 13 C
4 C 14 D
5 D 15 C
6 A 16 D
7 D 17 B
8 C 20 B

Gabarito de perguntas abertas


Questões Respostas
R: São aqueles conjuntos de pessoas que por alguma questão ligada a
10 gênero, idade, condição social, deficiência e orientação sexual, são suscetíveis
à violação de seus direitos.
R: A diferença entre os grupos vulneráveis e as minorias é que este está
relacionado as características étnicas, linguísticas e religiosas, enquanto os
11 vulneráveis estão relacionados com as características que as pessoas adquirem
em razão da idade, gênero, orientação sexual, deficiência física ou condição
social.

R. I – em compartimento fechado de veículo policial, não sendo vedado o


transporte do adolescente no banco traseiro da viatura policial, ainda que o acesso
ao banco dianteiro esteja impedido por dispositivo de segurança;
18
II – em condições atentatórias a sua dignidade ou que implique risco à sua
integridade física e mental ( artigo 178 do ECA).

19 R. Legalidade, Necessidade e Proporcionalidade.

Você também pode gostar