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1 Introdução
Inicialmente, cabe mencionar que a atividade policial pode ser vista como um meio
essencial para a manutenção da ordem e da segurança pública dos cidadãos, direitos estes que
devem ser promovidos pelo Estado. Neste sentido, a importância dos órgãos encarregados de
tão nobre função indubitavelmente possui relevante apreço no Estado democrático.
Entretanto, em que pese o referido destaque das forças policias, algumas dificuldades
por parte de seus agentes, no cumprimento do seu dever, são percebidos. Entre estes
inconvenientes se encontram alguns conceitos (im)postos quase que sumariamente e de forma
generalizada, muitas vezes divulgados por meios de comunicação de massa, de que os
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Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Especialização em Gestão da
Segurança Pública e Investigação Criminal Aplicada da Academia da Polícia Civil de Santa Catarina –
ACADEPOL-IES.
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Agente de Polícia no estado de Santa Catarina. Graduado em Ciências Jurídicas pela UNIVILLE. E-mail:
guilherme-pasa@pc.sc.gov.br.
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Delegado de Polícia no estado de Santa Catarina. Bacharel em Direito, especialista em Segurança Pública,
Mestre em Direito, Doutor em Sociologia. Pesquisador do Centro de Estudos em Segurança Pública e
Direitos Humanos (CESPDH) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pós-doutor em Democracia e
Direitos Humanos pela Universidade de Coimbra, Portugal. Joinville, Santa Catarina, Brasil. E-mail:
gusso@gusso.com.br.
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operadores da segurança pública não estariam autorizados a fazer uso da força ou que o
estariam fazendo de forma equivocada.
Neste sentido vale a lição de VIEIRA (2013):
A massa que, tecnicamente, não pode manter diálogo com a mídia absorve a notícia
que é difundida de forma instantânea ou rápida, e seus integrantes não têm tempo de
formar uma opinião individual. Por conseguinte, surgem opiniões coletivas e, muitas
vezes, estereotipadas. As imagens, as palavras ou, ainda, as fotografias transmitidas
pela mídia são sujeitas à interpretação. Se os indivíduos que compõem a massa não
possuem outras informações e carecem de outros canais, não formam juízo próprio
sobre a mensagem recebida, e tendem a seguir a ideia sugerida pelo meio de
comunicação. (VIEIRA, 2003, p.58)
Assim, frente a uma formação de opinião midiática que se utiliza do senso comum,
com o ponto de vista de pessoas não técnicas e muitas vezes apelativas, as quais se sentem
legitimadas a discutir e opinar em campos de temas complexos como os limites da legítima
defesa e o consequente uso da arma de fogo por agentes de segurança, dando muitas às vezes
ideias equivocadas e respostas incoerentes, maiores esclarecimentos sobre o tema são
necessários.
Nas palavras de Teixeira:
Nesta linha, da mesma forma que a atuação das forças a serviço da segurança pública
precisa respeitar os direitos e liberdades fundamentais, consoante o Estado democrático de
direito, também devem promover a segurança de forma alinhada com o quadro normativo
vigente.
Cabe mencionar que para alcançar os fins impostos pelo ordenamento jurídico a
administração pública pode e deve priorizar o interesse público em detrimento do interesse
particular, de forma a impor ao administrado coerções, restringindo ou condicionando
direitos. Ausente esta prerrogativa a vida em sociedade restaria prejudicada.
Ora, dentro os instrumentos disponíveis pela administração pública para cumprir suas
finalidades se encontra o denominado poder de polícia, o qual nas palavras de Alexandrino e
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Paulo é poder de que dispõe a administração pública para, na forma da lei, condicionar ou
restringir o uso de bens, o exercício de direitos e a prática de atividades privadas, visando
proteger os interesses gerais da coletividade. (ALEXANDRINO e PAULO, 2012, p. 237).
Conforme exposto, o direito e o interesse social devem prevalecer sobre direitos
individuais, sendo possível pelo Estado, para o fiel cumprimento de sua atividade
administrativa e a manutenção do bem estar coletivo, o emprego da força por órgãos
especializados.
Sendo assim, o estudo da legítima defesa e o uso da arma de fogo são fundamentais
para uma melhor compreensão a respeito do instituto sob o prisma da atuação policial, a fim
de buscar uma compreensão mais técnica a respeito do tema.
2 Desenvolvimento
A este nível e de uma forma transversal aos temas até aqui aflorados, o problema
maior está nas dificuldades práticas, no terreno, em que quem decide tem de o fazer
de um modo tão racional e seguro como rápido e eficaz, adequando a sua conduta à
realidade com que se depara, sendo que nas mais dramáticas o agente enfrenta
elevados níveis de risco e stress, estando por diversas vezes em causa a sua
integridade física ou a sua vida. Estas situações extremas mas reais, obrigam o OPC
a optar pelo uso ou não uso do último recurso que tem disponível, sendo esta rápida
escolha, em regra tomada em frações de segundo, determinante para o resto da sua
vida. Falamos aqui do uso da arma de fogo, um instrumento auxiliar letal, mas que
lhe foi confiado pela sociedade como último recurso na defesa da sua segurança, de
outrem e de todos. (ESCALINHA, 2014, p. 12, negrito no original).
têm como objetivo solucionar conflito entre o bem jurídico atacado e outros interesses que o
ordenamento jurídico também considera relevante.
Conforme a doutrina, a legítima defesa possui dois fundamentos, se apresentando
tanto como meio de proteger o bem jurídico de uma agressão injusta, como uma forma de
proteger o próprio ordenamento jurídico. Nesta linha Nucci citando Jescheck afirma que:
Ora, conforme se observa, tal instituto representa uma reação quase que natural do
ser humano que pretende repelir a agressão ao seu bem jurídico tutelado (ou de terceiro) e
que, para tanto, se encontra autorizado a violar o bem jurídico do agressor. (BETTIOL, 1977,
P. 417). Trata-se de um direito de autodefesa inerente ao ser humano.
2.2.1 Pressupostos
Quanto a definição legal, o Código Penal Brasileiro em seu art. 25 assevera que:
Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
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Com base em tal definição, verifica-se que são elementos da legítima defesa:
agressão injusta, atual ou iminente; direito (bem jurídico) próprio ou alheio; meios necessários
usados moderadamente; elemento subjetivo (BITENCOURT, p. 416).
Segundo Sanches, o próprio texto legal fixa os seguintes limites da legítima
defesa:
2.2.1.1 Agressão
Verifica-se que uma defesa pressupõe sempre uma agressão, esta por sua vez é
definida como uma conduta humana que lesa ou põe em perigo um bem interesse
juridicamente tutelado (BITENCOURT, 2012, p. 416).
Entretanto, não basta que haja apenas agressão para a invocação da legítima
defesa, é necessário que a constrição seja ilícita (além de atual como se verá mais a frente).
Portanto, há que se admitir que, em uma situação hipotética, em que o policial
com base em uma ordem legal procede a prisão de uma pessoa, cerceando a sua liberdade de
ir e vir, estará praticando um agressão contra tal indivíduo. No entanto, em que pese tal
privação do direito de locomoção, esta agressão não poderá ser considerada ilícita, eis que
realizada de acordo com os ditames legais.
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A doutrina pátria costuma afirmar que agressão atual é a que está acontecendo e a
iminente a que está prestes a acontecer. Em que pese uma aparente clareza de tais definições,
estas têm se mostrado consideravelmente simplistas para alguns casos de ordem práticas,
colocando em dúvida questões quanto ao limite temporal da legítima defesa e,
consequentemente, quais condutas estariam ou não abarcadas pela excludente de ilicitude aqui
estudada.
Sendo assim, tal pressuposto em especial (atualidade da agressão) necessita de
elevada atenção, sobretudo para os operadores da atividade policial, que lidam com o Direito
Penal diariamente e, portanto, precisam conhecer os limites da legítima defesa atinentes a sua
temporalidade. Nesse toada, definir a atualidade ou iminência de uma agressão de que o art.
25 do Código Penal se refere não é tarefa fácil, eis que os posicionamentos sobre a questão
não são pacíficos.
Neste ponto, se Jakobs, entende que o início da tentativa é o ponto determinante
para justificar a norma permissiva, para Schmidhauser, a realização de atos preparatórios já
seriam suficientes para justificar a legítima defesa (no que a doutrina costuma chamar de
legítima defesa antecipada ou preordenada) (NETO, 2018, p. 4), a qual, diga-se de passagem,
não é aceita pela jurisprudência brasileira.
Roxin, por outro lado, buscando uma solução menos extrema que os autores
acima mencionados, critica Jakobs, afirmando que comparar atualidade da agressão com o
início dos atos de execução, é arriscado, eis que, aguardar que uma conduta se aproxime de
sua consumação para que então esteja autorizado o limite temporal para a adoção de uma
reação, poderia ser ineficaz. O autor também se posiciona contrário a Schmidhauser, pois uma
agressão futura sequer é uma agressão, muito menos atual (NETO, 2018, p. 5).
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Após essas análises técnicas percebe-se o quão vulnerável está aquele que age em
legítima defesa, pois, invariavelmente, iniciará o seu processo de resposta
(percepção, análise e avaliação, elaboração de um plano e início de uma ação
motora) quando o agressor já executa a ação, a motricidade. (LEANDRO, 2016, p.
98).
Portanto, a referida narrativa não deve prosperar, uma vez que sua aplicação é
capaz de conduzir a morte o atirador ou uma terceira pessoa agredida injustamente.
(LEANDRO, 2016, p. 98). Ao contrário, como se verá mais a frente, o agente de segurança
pública deve se antecipar e sim surpreender o agressor a fim de diminuir os riscos de ser
atingido.
Exigir-se que o policial tenha que esperar que uma arma lhe seja apontada, ou até
mesmo que seja alvejado, para então estar autorizado a esboçar uma reação, não parece a
posição mais acertada. Há que se entender que a reação pode ocorrer em momento anterior,
desde que tal risco não seja remoto.
Outra questão que merece ser trazida à baila, a qual ganhou notável destaque nos
noticiários, é a discussão sobre a possibilidade do tiro de comprometimento, capaz de
neutralizar o alvo, gerando, em regra a sua morte, por atiradores de elite contra criminosos
que ostentam fuzis.
Tal questão passou a ser calorosamente discutida após Wilson Witzel, a época
candidato a governador do Rio de Janeiro, ter afirmado durante a sua campanha que buscaria
a medida de autorização para abate de criminosos que estivessem portando armas de uso
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exclusivo das forças armadas, como fuzis, nos termos do que determina o art. 25 do Código
Penal, eis que considerado risco iminente4.
Ora, quanto ao tema, com base nos conceitos estudados, imagine-se a seguinte
hipótese: Policias estão em uma incursão numa área de risco onde corriqueiramente há
confronto armado e um atirador tripulante do helicóptero, que presta apoio aos policias em
terra, visualiza um integrante de uma facção criminosa, em posição de tiro, aguardando a
chegada dos policias que estão a fazer a incursão a pé. Neste caso hipotético, diante de uma
situação patente de hostilidade, o tiro de comprometimento, com a consequente neutralização
da ameaça, parece em consonância com os preceitos apresentados. (NETO, 2018, p. 7).
Por fim, quanto a questão temporal da legítima defesa, conclui-se que exigir que
uma pessoa visualizando uma agressão pendente seja obrigada a aguardar uma manifestação
hostil para então reagir seria infactível, uma vez que esta espera poderia ser fatal (NUCCI,
2011, p. 268). Conforme Bitencourt “a legítima defesa pode ser preventiva ante uma agressão
injusta iminente, estando orientada, prioritariamente, a impedir o início da ofensa”
(BITENCOURT, 2012, p. 418).
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Informação constante no plano de governo do candidato eleito. Disponível em
http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/RJ/2022802018/190000612301/proposta_15342
18285632.pdf . Acesso em: 19 de nov. 2018.
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muitas vezes da arma de fogo, devem sempre ser balizados pelos limites da proporcionalidade
(necessidade e adequação).
É notório que na atividade policial os operadores da segurança pública devem
fazer uma análise prévia do caso concreto, dando sempre que possível uma abordagem menos
prejudicial à integridade física do suspeito, aumentando a potencialidade da força de forma
proporcional a ameaça ou resistência do agressor, no chamado uso diferenciado da força.
A atuação deve ser proporcional, não sendo admitidos abusos por parte do policial
que extrapola na intensidade ou do meio utilizado. Ocorre que, conforme apontamento
anterior, por vezes o único instrumento disponível pelo policial é a arma de fogo, motivo pelo
qual, a depender do caso concreto, mesmo havendo agressão por pessoa que não porta arma
de fogo, o agente estaria autorizado a utilizar tal instrumento.
Tratando-se de seres humanos, tais limites estabelecidos pelo direito não podem
seguir uma adequação perfeita, frente as dificuldades anteriormente elencadas. Afinal de
contas o operador policial também é humano e o calor do momento gera maiores dificuldades
de avaliação.
Neste diapasão:
“não se exige uma adequação perfeita, milimetrada, entre ataque e defesa, para se
estabelecer a necessidade dos meios e a moderação no seu uso. Reconhece-se a
dificuldade valorativa de quem se encontra emocionalmente envolvido em um
conflito no qual é vítima de ataque injusto” (BITENCOURT, 2012, p. 419)
Feita esta breve análise, cabe definir como necessários os meios eficazes e
suficientes para repelir a agressão gerando os menores danos possíveis a quem ataca (NUCCI,
2011, p. 273). Contudo, se o único meio disponível for superior aos meios do agressor poderá
este ser considerado necessário, ou seja, não se exige a equiparação absoluta de armas.
Sendo assim, se em situação hipotética, a depender do caso concreto, o policial
estiver armado e o agressor, desarmado, e, ainda, sendo a arma de fogo o único meio de
repelir a agressão (ainda que com o potencial de gerar maiores danos) ainda assim poderá o
instrumento utilizado pelo policial ser considerado necessário. Afinal, conforme Nucci: O
direito não pode ceder ao injusto, seja a que pretexto for (NUCCI, 2011, p. 274).
No mesmo sentido cabe a afirmação de Bento de Faria reproduzida pelo penalista
Nucci:
Um agressor armado com uma faca pode percorrer uma distância de pelo menos 21
pés, talvez mais, antes de uma pessoa armado com uma arma de fogo poder reagir,
sacar, disparar. Verifica-se essa possibilidade para uma pessoa comum armada com
uma faca, não há necessidade de ser lutador marcial treinado. Portanto, praticamente
qualquer pessoa segurando uma faca dentro de 21 pés representa uma ameaça
potencialmente letal (...) muitos comentaristas da mídia sabem pouco ou nada sobre
armas e táticas. Armas de fogo não são máquinas mágicas de morte. (LEANDRO,
2016, p. 80).
Ora, diante de tais estudos e constatações, assim como do potencial lesivo de uma
lâmina, salta aos olhos a viabilidade da utilização de arma de fogo contra agressor portando
facas.
O requisito da moderação exige que aquele que se defende não permite que a sua
reação cresça em intensidade além do razoavelmente exigido pelas circunstâncias
para fazer cessar a agressão. Se, no primeiro golpe, o agredido prostra o agressor,
tornando-o inofensivo, não pode seguir na reação até mata-lo (TOLEDO, 1994, p.
204)
ou a sobrevivência em um confronto armado (LEANDRO, 2016, p. 74), motivo pelo qual não
é plausível exigir-se que o operador atire em alvos errantes colocando em risco a sua
integridade física.
Outra teoria que ganhou notável força durante um período foi a técnica do Double
Tap, em que foi difundida a ideia por clubes de tiros e academias de polícia de que dois
disparo seriam suficientes, diante do poder de parada e a junção das cavidades temporárias
formadas por tais disparos. (LEANDRO, 2016, p. 59).
O emprego desta lógica vale ser reavaliada, eis que não há como determinar a
incapacitação do agressor com base em um número pré-determinado de disparos. Fatores
como pré-disposição ao combate do agressor, locais em que tais disparos atingiram, entre
outras questões, também devem ser levados em conta.
Em resposta a alguns mitos difundidos, quebrando paradigmas impostos, como
exemplo os anteriormente elencados, surge a teoria da resposta não convencional, que possui
como norte a ideia de que o agredido deve efetuar quantos disparos forem necessários para
cessar a agressão. Enquanto houver ataque ou possibilidade deste a resistência não deve
cessar, o agredido não deve “baixar a guarda” (LEANDRO, 2016 p. 63).
Cabe destacar que mesmo uma pessoa atingida por um disparo de arma de fogo,
ainda que fatalmente, ainda é passível de reação, na chamada sobrevida. Neste diapasão
Leandro citando Oliveira:
(...) não há nenhuma garantia de que um ou dois disparos sejam suficientes para
incapacitar um criminoso. Cada indivíduo responderá de modo particular durante um
confronto armado. Alguns irão correr cair ao ouvirem o disparo, outros serão
incapacitados com um ou dois disparos, e outro simplesmente resistirão mais tempo,
não importando a quantidade de ferimentos. Assim, o único indicativo de que a
incapacitação talvez tenha tido efeito ocorrerá com a queda do criminoso no chão. O
problema está no bandido que consegue resistir aos ferimentos, o que implica a
necessidade de continuar atirando. Infelizmente, a medida que a quantidade de
disparos aumenta, cresce as chances de morte. Então, a morte do criminoso pode até
ocorrer, mas por azar. O fato é que pode ser necessário disparar mais vezes porque o
agressor simplesmente pode não cair incapacitado imediatamente. (LEANDRO,
2016, p. 66).
risco para o policial ou terceiro, devem ser levadas em consideração no que diz respeito ao
pressuposto da moderação da reação, sob pena de colocar em grave risco a vida e a
integridade física daquele que está em situação de defesa.
Suponhamos que agindo com animus necandi (vontade de matar alguém – dolo de
matar), Alberto se dirija à residência de Pedro, seu inimigo, e atire nele no exato
momento em que este brandia um punhal a fim de causar a morte de João, que se
encontrava já prostrado e não tinha visto Alberto. Se tirássemos uma fotografia dos
fatos sem analisar o elemento subjetivo de Alberto, diríamos que ele teria agido em
situação de legítima defesa de terceiro, haja vista que, ao atirar em Pedro, acabou
por salvar a vida de João.
Contudo, como Alberto não tinha conhecimento de que agia nessa condição, ou seja,
não sabia que atuava na defesa de terceira pessoa, devera responder pelo crime de
homicídio, pois sua vontade não se dirigia a salvar alguém, mas sim, a causar a
morte de seu desafeto, e, não, a defender terceira pessoa. (GRECO, 2012, p. 345).
Resta claro, por fim, que a depender das circunstâncias, motivos e também do
elemento subjetivo, ou seja, da vontade do agente, um fato como matar alguém pode receber
definição jurídica variada, como exemplo, homicídio ou uma causa de justificação.
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https://arte.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/05/13/letalidade-policial/
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A atividade policial sem dúvida leva o profissional que abraça tamanho sacerdócio a
se inserir em um grupo de risco contra sua própria segurança. A compreensão deste
paradoxo conduz a um dos instrumentos de vital importância para o exercício da
profissão: para adquirir capacitação, confiança e segurança em sua atuação é
necessário que o profissional de Segurança Pública aja pro-ativamente, se
preparando, técnica e psicologicamente, pois pode se envolver tanto em ocorrências
cotidianamente consideradas comuns, quanto em situações de extrema necessidade.
Ao mesmo tempo, a instituição e a sociedade esperam uma tomada de decisão
equilibrada e uma ação eficiente, podendo ainda, o policial, como qualquer cidadão,
ser vítima de violência em momento de folga. (CAMPOS, 2009, p. 33)
Frente a este quadro, o operador policial precisa estar atualizado e confiante para lidar
com as mais adversas condições, entre elas as de confronto, motivo pelo qual o treinamento é
uma questão de sobrevivência.
Ademais, o policial, apesar de suas funções, não deixa de ser homem, com limitações
naturais e portador de necessidades inerentes a qualquer ser humano como à dignidade e o
amparo do Estado diante de suas necessidades para o fiel cumprimento do exercício de sua
profissão. (CAMPOS, 2009, p. 30).
Ocorre que algumas dificuldades para que haja o devido treinamento são percebidas,
tais como: efetivo insuficiente e sobrecarregado, dificultando o remanejamento para a
instrução; falta de investimento em armamento e munição para a realização de treinamento; e
principalmente a falta de uma reflexão sobre o fato de que a ausência de investimento no
policial pode comprometer a sua sobrevivência (CAMPOS, 2009 p. 33).
Sobre o assunto Pinc afirma:
3 Considerações Finais
teórico. Nas palavras de Nunes “é meridiano reconhecer a frivolidade das idéias do senso
comum, cujo pensamento emerge pela adoção de soluções simplistas, decorrentes do terror
midiático quotidianamente presente na televisão de todo o país” (NUNES, 2010 p. 8)
O estudo da legítima defesa e os seus aspectos são de inegável importância para o
amadurecimento da discussão no âmbito da atividade policial. A dogmática e a realidade
fática precisam caminhar juntas, evitando, assim, o esvaziamento dos institutos jurídicos ou a
sua aplicação de forma obtusa.
Os agentes de segurança pública precisam estar preparados no sentido de
compreender os limites de um atributo inerente a sua profissão, qual seja o uso da força, que é
legítimo desde que corretamente empregado.
Destaca-se, por fim, a importância da capacitação policial, com qualificação e
investimentos técnicos capazes de auxiliar as força da segurança pública no cumprimento de
sua atividade, buscando-se a preservação da vida tanto do policial quanto daquele que
depende da ação deste profissional.
Abstract: The present article seeks to study the main characteristics of the institute of self
defense, with the analysis of its legal definition provided in the legal system, as well as
concepts taught by Brazilian doctrinators on the subject that is of extreme importance, mainly
for a portion of society which is more susceptible to its application, such as public security
agents. Thus, during the work, a clarification is sought on issues sensitive to police action,
such as the use of force and, ultimately, the firearm, drawing a parallel between practical
issues that can affect the routine of a police officer and the limits laid down for the application
of legitimate defense.
Referências
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BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. São Paulo:
Saraiva, 2012.
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GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. Rio de Janeiro: Impetus, 2012.
MORA, Lucas Daniel. Balística Dorense e Legítima Defesa: Uma revisão da literatura. 2016.
61f. Monografia (Especialização em Ciências Forenses) – Instituto Paulista de Estudos
Bioéticos e Jurídicos, IPEBJ, Ribeirão Preto, 2016.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: Parte Geral: Parte Especial. São
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21
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RIVERO, Jean. Direito Administrativo. Tradução de Dr. Rogério Ehrhardt Soares. Coimbra.
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