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Antônio Cerqueira
DIREITO PENAL
PARTE GERAL
CADERNO DE APONTAMENTOS
FORTALEZA
2006
ÍNDICE
1 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
2. O DIREITO PENAL COMO SUBSISTEMA DO CONTROLE SOCIAL
FORMAL
3. O DIREITO PENAL NO ESTADO SOCIAL E DEMOCRÁTICO DE DIREITO
IV - DO CONCURSO DE PESSOAS----------------------------------------------109
VI – APLICAÇÃO DA PENA------------------------------------------------------164
X – DA REABILITAÇÃO-----------------------------------------------------------176
2 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
3 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
Lex estrita: significa que a lei há que ser formal, portanto em sentido estrito
do termo conforme prevê a Constituição Federal.
Lex certa: significa que a conduta tipificada como delito deve evitar, tanto
quanto possível, a utilização dos chamados tipos abertos, que apresentam
definições incompletas, possibilitando ao julgador, não raro, exatamente o
que a CF quer evitar: uso do arbítrio judicial. O saudoso Heleno Fragoso
costumava dizer em sala de aula que o “tipo penal deveria ser tão claro no
seu conteúdo que qualquer pessoa devesse ser capaz de compreender a
proibição nele contida; tão claro que até uma criança tivesse essa
percepção...”. Exageros à parte, o tipo criminalizador não deve, por
exemplo, repetir o contido na lei 7.170/83, art. 20 (lei de segurança
nacional) que apenas prevê : “praticar atos de terrorismo”. O que são atos
6 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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7 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
I-emendas à Constituição;
II – leis complementares;
III – leis ordinárias;
IV – leis delegadas;
V – medidas provisórias;
VI – decretos legislativos;
VII – resoluções.
5.2. PRINCÍPIO DA IGUALDADE: Art. 5º, caput, CF. O legislador deve prever
condições igualitárias para os iguais. Recentemente, através da lei
8.072/90, esse princípio foi violado. Assim, embora também previstos com
idêntica definição legal, os crimes de estupro, atentado violento ao pudor,
latrocínio, etc., transformados em delitos hediondos pela citada lei, só o
foram para os crimes previstos no Código Penal; para aqueles tipos
8 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
cumprimento de dois terços da pena (Lei 8.072/90, art. 5º). Vencidos os Ministros
Carlos Velloso, Joaquim Barbosa, Ellen Gracie, Celso de Mello e Nelson Jobim,
que indeferiam a ordem, mantendo a orientação até então fixada pela Corte no
sentido da constitucionalidade da norma atacada. O Tribunal, por unanimidade,
explicitou que a declaração incidental de inconstitucionalidade do preceito legal
em questão não gerará conseqüências jurídicas com relação às penas já extintas
nesta data, uma vez que a decisão plenária envolve, unicamente, o afastamento
do óbice representado pela norma ora declarada inconstitucional, sem prejuízo da
apreciação, caso a caso, pelo magistrado competente, dos demais requisitos
pertinentes ao reconhecimento da possibilidade de progressão.
HC 82959/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 23.2.2006. (HC-82959)
5.4. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE: por esse princípio (artigo 5º, XLV, CF),
fica o legislador proibido de criar lei penal em que se pretenda
responsabilizar objetivamente certas condutas: “nullum crimem sine
culpa”.
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Direito Penal
Antônio Cerqueira
Por igual, o princípio da Reserva Legal, voltará a ser abordado por integrar
o Título I, do CP: “da aplicação da lei penal”.
11 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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12 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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INTRODUÇÃO:
13 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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14 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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A lei penal, como todas as leis, nasce, vive e morre. Cada artigo é
uma norma penal per se.
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Direito Penal
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18 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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TEMPO DO CRIME
Efeitos:
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Direito Penal
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Crime habitual aplica-se também a nova lei mesmo que mais severa
caso o agente continue reiterando a conduta. Há quem discorde nos
termos acima expostos.
21 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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23 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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No caso:
- O fato também é previsto como crime nos EUA, art. 7º, § 2º, b, CP;
24 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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LUGAR DO CRIME
Não confundir “lugar do crime” previsto no art. 6º, CP, com “lugar
do crime” previsto no Art. 70 do CPP. Nos delitos plurilocais dentro do
território nacional ou transnacional, a regra de competência é firmada pelo
26 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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regra beneficia o réu. Uma pena de um ano que se iniciou às 23:00h, do dia
10/10/98, terminará às 00:00h, do dia 09/10/99.
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Direito Penal
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Exemplo: Uma pena base fixada pelo juiz em 20 dias, aumentada de 1/3,
totalizaria 26 dias e 16 horas de detenção. Face o disposto no artigo 11,
CP, será apenas de 26 dias. A fração de horas será desprezada.
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
INTRODUÇÃO:
30 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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32 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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Sumarizando:
CRIME PROFISSIONAL: é qualquer delito praticado por aquele que exerce uma
profissão utilizando-se dela para a atividade ilícita. Ex.: O aborto praticado
por médicos ou parteiras; O furto qualificado com chave falsa ou
rompimento de obstáculo praticado por serralheiro, etc. Não se deve
confundir o crime profissional com criminoso profissional ou habitual, que
pratica o crime como se exercesse uma profissão (pistoleiro, por exemplo).
CRIME COMPLEXO: são aqueles que sofrem a fusão de mais de um tipo. Ex..:
Roubo – art. 157, CP, no qual se fundem o constrangimento ilegal – art. 146,
CP, e a subtração – art. 155, CP e eventualmente, lesões corporais leve –
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Direito Penal
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art. 129, caput, CP. Os crimes complexos são em geral pluriofensivos por
lesarem ou exporem a perigo de lesão mais de um bem juridicamente
tutelado. Assim, no roubo atinge-se a um só tempo o patrimônio, através da
subtração; a liberdade individual, por meio do constrangimento ilegal; ou a
integridade física, por meio de lesões corporais.
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Direito Penal
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ocorrência de lesões graves para a vítima (art. 122. CP). Importante: NÃO
ADMITEM TENTATIVA.
FATO TÍPICO
Prossegue Damásio “... qual juiz receberia uma denúncia, que por
exemplo, descrevesse um inequívoco furto culposo, não previsto
em lei (alguém que por comprovado equívoco, mas com negligência,
apanhasse um objeto alheio, e o levasse para casa?) Concordo
plenamente com Damásio. Só não concordo quando ele afirma que
a culpabilidade não integra o crime. Também não concordo quando
ele afirma que esta análise só seria efetuada na sentença que
absolvesse o réu. É exagero. Nada impediria que tal juízo fosse
exercido por ocasião do oferecimento da denúncia pelo promotor, ou
por ocasião do seu recebimento pelo juiz.
RESUMINDO O EX. N. º 1:
Características da conduta:
Só o homem pode realizar uma conduta. O animal pode, quando muito, ser
instrumento do crime. A criminalização da pessoa moral (Lei 9.605/98, Art.
3º e § Único), dependerá sempre de uma conduta humana.
Elementos da conduta:
sem que antes exista uma norma regulamentar que defina o que é
impedimento”.
Continuando na lição do ilustre penalista “ primeiro são as normas ( regras)
que definem o que entendemos socialmente por esta ou aquela ação, a
partir daí então, segundo estas regras, podemos identificar que matar
constitui um homicídio e assim por diante”.
Ausência de conduta:
Formas de conduta:
2. RESULTADO:
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Direito Penal
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Já foi dito que não há crime sem conduta. Todavia, nos denominados
delitos materiais, o aperfeiçoamento do crime depende ainda da ocorrência
de determinado resultado naturalístico previsto no tipo penal. De acordo
com o artigo 13, CP, todo crime possui resultado consistente no dano ou
perigo de dano ao bem jurídico. Nos denominados crimes materiais o
legislador diz qual o resultado que é exigido. Ex. No homicídio: a morte, etc.
Exemplos:
3 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE:
45 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
Desnecessário dizer que não há se invocar o art. 13, § 1º, CP, quando se
tratar de causas absolutamente independentes, sejam preexistentes
concomitantementes ou supervenientes, que por si só causou o resultado.
Em todos esses casos (A) não responde pelo resultado morte porque
suprimindo a conduta deste, (B) morreria de qualquer modo. Se ficar
comprovado, contudo, que suprimida a conduta de (A), (B) não morreria,
responde pelo resultado.
Preexistente:
Concomitante:
(A) atira em (B) que morre em razão de parada cardíaca causada pelo
disparo. Responde pelo resultado.
Superveniente:
(A) atira em (B) que vem a morrer em razão da imperícia dos médicos em
operá-lo. Responde pelo resultado.
Figure agora que (A) dispara em (B) ferindo-o. Ao ser conduzido ao hospital
a ambulância capota, vindo (B) a morrer de fratura craniana causada pelo
acidente. Neste último caso, a aplicação da conditio sine qua non levaria
(A) a responder pelo resultado, pois se suprimida a conduta de (A), (B) não
estaria na ambulância.
Todavia, aqui o código abre uma exceção: artigo 13, § 1º, CP. Exige-se
autonomia da causa superveniente. Ela há de "por si só" causar o
resultado. Na verdade não há rompimento causal do nexo, o que há é um
rompimento imposto pela lei.
"O resultado teria sido impedido pela ação omitida? Se a resposta for
afirmativa, é porque a omissão é causal em relação ao evento".
4. TIPICIDADE :
47 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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JUÍZO DE TIPICIDADE:
Quando a conformação da conduta humana se subsumir ao tipo legal
estaremos diante de uma conduta que se reveste de tipicidade. A contrario
sensu , quando não houver a conformação entre a conduta e o tipo legal
abstrato obteremos um juízo de tipicidade negativo, ou como prefiram
concluiremos que o fato é atípico.
Especialidade.
consunção
Além de conter todos os elementos especializantes, para que uma lei seja
especial em relação a outra é ainda preciso que ambas tutelem o mesmo
bem jurídico e que haja entre elas relação de gênero e espécie.
tácita;
expressa
48 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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Assim, o dano (art. 163), é subsidiário do furto qualificado (art. 155, § 4º, I);
o seqüestro e a extorsão (arts. 148 e 158), são subsidiários da extorsão
mediante seqüestro (art. 159); a grave ameaça é subsidiária do roubo; o
porte ilegal de arma de fogo – art. 10, lei 9.437/96 – é subsidiário do roubo
qualificado pelo uso de arma, etc.
49 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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TEORIA DO TIPO
1. FASE DA INDEPENDÊNCIA
Concebida por Beling, o tipo penal possuía caráter puramente descritivo,
era absolutamente desvalorado, tendo por escopo tão somente
descrever as condutas proibidas (comissivas ou omissivas) da lei penal.
Estava completamente separada da antijuridicidade e culpabilidade, sua
finalidade única era definir delitos.
50 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
FUNÇÕES DO TIPO
1. Garantia individual.
Todo e qualquer cidadão, antes de realizar um fato, deve ter a
possibilidade concreta de saber se sua conduta é ou não punível.
O tipo consoante Welzel tem o seguinte significado
“o tipo tem a função de descrever de forma objetiva a execução de
uma ação proibida”.
2. Fundamentar a ilicitude.
Por intermédio do tipo o Estado fundamente suas decisões, fazendo
prevalecer o direito de punir, ao mesmo tempo em que exerce uma
função limitadora do penalmente relevante, desta forma toda conduta
51 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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4. Função Selecionadora.
Ao tipo compete selecionar as condutas que deverão ser proibidas ou
impostas pela lei penal sob ameaça de sanção.
52 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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53 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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O DOLO
O CP, como se vê, ao conceituar o crime doloso, findou, por via indireta,
também definindo o que é dolo.
A definição do que é dolo contido no art. 18, I, CP, reforça a tese dos que,
como eu, defendem que todo crime possui resultado, por isso que o
legislador vincula o dolo à “vontade do agente de produzir o resultado ou
assumir o risco de produzi-lo”. Pode-se, portanto, afirmar que o CP adotou
a teoria normativa ou jurídica para o resultado: Todo crime possui resultado
(art. 13, caput, 1ª parte c/c art. 18, I, CP).
54 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
TEORIAS DO DOLO:
Brasil aqui fazendo um aborto por desconhecer ser ilícito, não teria agido
com dolo por isso que embora conscientemente aja com vontade de
praticar o fato, não tinha consciência da ilicitude. Logo não haveria fato
típico, por ausência de conduta dolosa.
ELEMENTOS DO DOLO
consciência da conduta;
vontade de realizar a conduta criminosa.
57 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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Alguns crimes não admitem dolo eventual: art. 180, caput; 237; 289, §2º;
339 etc. Em regra, contudo, as maiorias dos crimes admitem tanto o dolo
direto quanto o eventual.
Dolo de Dano: o agente quer causar o dano ao bem jurídico protegido: Ex.
Matar alguém - art.. 121, CP.
58 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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Dolo específico: verifica-se nos tipos penais que exigem uma finalidade
específica que ultrapassa os limites do fato material. Ex. raptar mulher
honesta para ato libidinoso - art. 219, CP. Outros exemplos: "com o fim de
transmitir..." - art. 131; para satisfazer interesse ou sentimento pessoal - art.
319, etc. Presentemente tem-se preferido às denominações “elemento
subjetivo expresso”, “especial fim de agir”, “elemento subjetivo do
injusto”.
DELITOS DE INTENÇÃO
DELITOS DE TENDÊNCIA
59 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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A CULPA
O CP, ao contrário do que fez com o dolo, não define a culpa, mas, sim, o
crime culposo. Porém, é possível extrair os modos reveladores da culpa:
imprudência, negligência e imperícia.
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Direito Penal
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63 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
64 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
Imputabilidade;
potencial consciência da ilicitude;
exigibilidade de conduta diversa.
Exemplo: 127, 129, § 3º, 133 §§ 1º e 2º, 135, § único, 136, §§ 1º e 2º, 137,
§ único, etc.
Por último cumpre acrescentar que nem todo crime agravado pelo resultado
(gênero) é preterdoloso (espécie).
66 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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O ERRO
ERRO DE TIPO
67 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
O agente supondo ser Mariel maior de 18 anos, mantém com ela conjunção
carnal, seduzindo-a, quando na verdade a vítima tinha apenas 17 anos, etc.
Como já dito o dolo do agente deve alcançar o crime no seu todo, incluindo
as circunstâncias genéricas e específicas de agravação, aumento ou
qualificação do delito (há quem discorde, entendendo que o erro deve
abranger apenas os elementos constitutivos do tipo, não as
circunstâncias). Não é a melhor doutrina .
Erro invencível é o que não emana de culpa do agente. Ainda que ele
empregasse a atenção do homem comum o erro ocorreria.
68 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
DESCRIMINANTES PUTATIVAS
Dispõe o artigo 20, §1º, CP: “É isento de pena quem, por erro,
plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato
que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena
quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo".
O agente supõe por erro, que sua conduta é lícita. Cuida-se, assim, de erro
sobre a ilicitude do fato, não sobre os elementos constitutivos do tipo. Ou
seja: no erro sobre elementos constitutivos do tipo "o agente não sabia o
que fazia; se soubesse não teria feito". No erro sobre a ilicitude do fato
(descriminantes putativas), o agente sabe o que faz e quer fazer. Apenas
supõe, erradamente, que a sua conduta é lícita.
Bem por isso a maioria dos autores dizem que não se trata de "erro de
tipo" mas "erro de proibição". Reconhecida, afasta a culpabilidade por
ausência de potencial consciência da ilicitude, não o fato típico nem a
antijuridicidade. Voltaremos ao tema mais adiante.
ERRO ACIDENTAL
Hipóteses:
erro sobre o objeto (error in objecto)
erro sobre a pessoa (error in personae)
erro sobre o nexo causal (aberratio causae)
erro na execução (aberratio ictus)
resultado diverso do pretendido (aberratio delicti)
70 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
Ocorre quando o agente acredita que sua conduta recai sobre uma coisa e
na verdade recai sobre outra. Pretendendo furtar um relógio de ouro, furta
relógio apenas dourado. Ou vice-versa. De qualquer forma subtraiu coisa
alheia móvel. Responderá pelo crime.
ERRO NA EXECUÇÃO
Ocorre quando o agente erra no uso dos meios de execução, em regra por
imperícia. Aqui não há confusão quanto a pessoa objetivada com sua
conduta. O agente sabe quem quer atingir, o tem no seu campo visual, mas
"erra na mira" no dizer de Nelson Hungria. Pode dar-se as seguintes
situações:
Atira em (A), erra, acerta (B), matando-o: responde como se tivesse matado
(A), (artigo 73, 1ª figura, CP).
(A), desejando quebrar uma janela alheia, atira uma pedra, erra, e fere uma
pessoa. No caso ele responde apenas por lesão culposa face a regra
contida no artigo 74, CP. Na verdade ocorreu 2 delitos: tentativa de dano e
lesão culposa. O CP, todavia, artigo 74, pune apenas a lesão culposa.
E se desejando atingir sua vítima que está atrás da janela, atira a pedra
sabendo que somente conseguirá lesioná-la quebrando a janela? Aqui não
há resultado diverso do pretendido. Ambos os resultados são queridos.
Aplica-se a regra do concurso formal impróprio - artigo 70, 2ª parte, CP.
72 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
CRIMES MATERIAIS
CRIMES PERMANENTES
CRIMES HABITUAIS
CRIME TENTADO
Início de execução;
Não-consumação por razões alheias à vontade do agente;
Vontade de consumar o crime.
Escola objetiva: ensina que a tentativa deve ser punida com pena mais
branda que o crime consumado, porque neste último o dano ao bem
jurídico é muito maior.
A diminuição pela tentativa (1/3 a 2/3), depende dos atos praticados pelo
agente, ou seja do caminho percorrido antes da interrupção.
Exemplo: (A) atira uma vez em (B) querendo matar. Acertou de raspão.
Ainda dispunha de mais 5 tiros mas desistiu de prosseguir: desistência
voluntária. Não responde por tentativa de homicídio, mas pelos atos já
praticados, ou seja lesão leve - artigo 129, caput, CP.
76 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
ARREPENDIMENTO POSTERIOR
Diz o artigo 16, CP: “nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça
à pessoa, reparado o dano ou restituída à coisa, até o recebimento da
denúncia ou queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de
um a dois terços". Sua natureza jurídica é de causa obrigatória de redução
da pena. O dispositivo revogou a súmula 554, STF. A reparação há que
ser pessoal, completa e voluntária. Não pode ser efetuada por terceira
pessoa. A devolução há também que ser voluntária, completa e pessoal.
Se a coisa estiver em poder do agente, ainda que a vítima concorde com a
sua não devolução, não aproveita ao agente a diminuição. O crime não
pode ter sido cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa.
Pode até ter sido cometido mediante violência à coisa.
CRIME IMPOSSÍVEL
Diz o artigo 17, CP: “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é
impossível consumar-se o crime”.
Suponha-se agora, que (A) querendo matar (B), adquira glicose supondo
ser veneno, ministra-a à sua "vítima", que não sendo portador de diabetes,
ingere o líquido oferecido por (A), acha “gostoso e agradece”. (A) queria
matar. Contudo o meio foi absolutamente ineficaz. Ou ainda: (A) atira em
(B) querendo matá-lo, ocorre que (B) já estava morto quando recebeu o
disparo. Absoluta impropriedade do objeto.
DA ANTIJURIDICIDADE OU ILICITUDE
CONCEITO
CARÁTER DA ANTIJURIDICIDADE
Estado de necessidade;
81 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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Legítima defesa;
Estrito cumprimento do dever legal;
Exercício regular do direito.
82 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
83 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
Assim, de acordo com esse pensar, se (A) atirar em (B) por vingança, no
momento que (B), sorrateiramente, prepara-se para assassinar (A) pelos
mesmos motivos, vindo (B) a morrer, (A) responderia por crime de
homicídio “pois lhe faltaria o elemento subjetivo, consistente no
conhecimento de que atuava conforme o Direito, embora houvesse uma
injusta agressão iminente contra ele”.
84 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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Assim, no exemplo supra, (A) não teria cometido crime por ausência do
requisito antijuridicidade, pois sua conduta foi conforme o Direito.
ESTADO DE NECESSIDADE
CONCEITO
CARACTERÍSTICA FUNDAMENTAL;
Colisão de interesses juridicamente protegidos, devendo um deles ser
sacrificado em prol do interesse social( Cezar Roberto Bitencourt)
O Brasil, através do CP, adotou a teoria unitária. Tanto faz que o bem
jurídico sacrificado seja igual ou menor que o protegido, aplica-se a
excludente da antijuridicidade.
85 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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Requisitos:
86 Caderno de Apontamentos
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Como regra, o perigo não pode ser nem doloso nem culposo.
Hodiernamente grande parte da doutrina tem preferido a corrente que
afasta a aplicação do estado de necessidade somente quando o perigo
foi causado dolosamente pelo agente. (Guilherme de Sousa Nucci)
Exemplo: Vigia dorme com cigarro aceso que caindo ao chão dá início à
incêndio. Cercado pelo fogo e na iminência de morrer, para salvar-se
destrói parede alheia. É possível reconhecer-se no caso o estado de
necessidade para que o agente não venha a responder por crime de dano -
art. 163, CP.
Exemplo: Cão feroz avança contra (A), que saca sua arma e o mata:
Estado de necessidade defensivo. Atacou a fonte do perigo. Se, contudo,
para fugir do cão, (A) arromba a porta da casa de (B), violando domicílio
alheio: Estado de necessidade agressivo.
87 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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A pessoa que, por lei, tem o dever de expor-se ao perigo, não pode, para
salvar-se, sacrificar o bem jurídico alheio. Exemplo: Bombeiro (que tem o
dever de enfrentar o fogo para salvar vidas em perigo); policial (que deve
enfrentar o bandido), etc. Admite-se, entretanto, v.g.: policial que em
perseguição a perigoso bandido, para salvar a própria vida, destrói
propriedade alheia, etc.
Que se deve entender por "dever legal"? Para uns a expressão deve
receber interpretação restrita: é o emanado de lei, decreto ou regulamento.
Para outros, a expressão abrange qualquer dever jurídico, ainda mesmo
decorrente de norma contratual. Prevalece a corrente restritiva. Pensamos,
contudo, com a corrente ampliativa, que o "dever legal" de que nos fala o
artigo 24, § 1º, deve alcançar as pessoas previstas no artigo 13, § 2º,
alíneas "a", "b", "c", do CP.
ESPÉCIES:
Pode ocorrer que uma pessoa atue em estado de necessidade contra outra
que também agiu em estado de necessidade. Denomina-se estado de
necessidade recíproco.
LEGÍTIMA DEFESA
Note que não havia injusta agressão por parte do dono da montaria. Se, ao
contrário, o dono da montaria resiste, matando o necessitado, também terá
agido em estado de necessidade, por isso que a agressão daquela era
justa, não injusta. Se, ao contrário, o sujeito pretendesse roubar a montaria,
e o dono o matasse, estaríamos diante de legítima defesa, não estado de
necessidade. Agora havia uma injusta agressão humana.
REQUISITOS
90 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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91 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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Exemplo: (A) surpreende (B) com sua mulher. Irado atira em (B), que para
não morrer saca sua arma e mata (A).
Exemplo: (A), supondo que (B), com péssima aparência está sacando do
bolso um revólver, quando na verdade busca um lenço, saca seu revólver e
o lesiona gravemente. Aqui subsiste a antijuridicidade. Se o erro for
escusável (art. 20, § 1º, CP) exclui-se a culpabilidade por ausência de
potencial consciência da ilicitude; se inescusável, responde por crime
culposo se houver previsão legal. É a chamada "culpa imprópria". Na
verdade o agente agiu com dolo, porém por questão de política criminal, o
92 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
Exemplo: Excesso doloso: (a) avança contra (B) para agredi-lo. (B)
defende-se o apunhalando gravemente. Em seguida, por maldade, fere-lhe
o rosto levemente. Responderá por lesão corporal leve dolosa. A lesão
grave fica impune porque foi praticada em legítima defesa.
Exemplo: (A) entra na residência de (B) para roubar. (B) reage, saca sua
arma e dispara na direção de (A). (A) pego de surpresa, guarda sua arma e
foge sem nada subtrair. (B), agora por maldade, mesmo cessada a injusta
agressão de (A) persegue-o disparando para matá-lo. (A) então, para não
morrer, saca novamente sua arma e dispara contra (B), matando-o. Agiu
em legítima defesa sucessiva contra (B). Responderá apenas por tentativa
de roubo.
Exemplo: (A), supondo que (B) enfia a mão no bolso para sacar um
revólver com o qual pretende abatê-lo, quando na verdade (B) buscava um
cigarro, dispara seu revolver contra (B). (B), agora se sentindo injustamente
93 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
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agredido, também saca sua arma e dispara contra (A). Ambos caem
gravemente feridos.
94 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
Exemplo: (A) avança para apunhalar (B), que saca sua arma, dispara, erra
o tiro e acerta (C), transeunte inocente. Aqui houve erro na execução. O
alvo era (B), não (C).
OFENDÍCULAS OU OFENDÍCULOS
Vejamos alguns exemplos de licitude extra penal que torna o fato lícito
também no penal:
Retenção de coisa alheia para ressarcir-se de dívida - artigo 516, CC: não
pratica apropriação indébita - art. 168, CP.
O castigo corporal moderado praticado pelos pais - artigo 384, I, CC: não
comete o crime de maus tratos - art. 136, CP.
DA CULPABILIDADE
atualmente, tem interesse apenas histórico pelo que não vamos nos
estender muito na sua abordagem. Para esta teoria a culpabilidade é
composta de dolo abrangendo a consciência da ilicitude, e culpa,
tendo como pressuposto a imputabilidade.
Sintetizando: Para esta teoria, o dolo e a culpa não só eram as duas únicas
espécies de culpabilidade, mas também a sua totalidade, na medida em
que esta (culpabilidade) não apresentava nenhum outro elemento
constitutivo. A culpabilidade admitia somente como seu pressuposto a
imputabilidade, entendida como a capacidade de ser culpável.
99 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
Logo, aduzem: “o fato só será típico se não estiver presente uma causa
de exclusão da ilicitude”. Daí, “Teoria dos elementos negativos do
tipo”. Assim, de acordo com esta teoria, o sujeito que matasse alguém,
v.g., em legitima defesa teria praticado conduta atípica eis que presente
uma causa de justificação. O fato só será típico se não for justificado (pela
existência de uma causa de justificação, de exclusão da antijuricidade ou
ilicitude).
Exemplos: a) O agente supõe que seu inimigo vai sacar uma arma, e saca
a sua e o mata. Supôs, por erro, que havia uma injusta agressão iminente
(erro quanto um elemento fático – injusta agressão iminente do tipo
permissivo de legitima defesa). Neste caso, de acordo com os defensores
da Teoria Normativa Pura Limitada, ocorreria a atipicidade da conduta
por ausência de dolo e culpa, se escusável, ou apenas culpa, se
inescusável;
Para nós as excludentes putativas do art. 20, § 1º, CP, serão sempre erro
de proibição afastando a potencial consciência da ilicitude, jamais o dolo, e
nem conseqüência a conduta. A defendem, todavia, Damásio, Fernando
Capez e outros adeptos da Teoria Normativa Limitada da Culpabilidade.
Defendem a Teoria Normativa Extremada Mirabete, Flávio Augusto
Monteiro de Barros, César Roberto Bittuicourt e outros.
Limitada porque quando o erro fosse sobre elemento fático do tipo
permissivo o juiz teria que analisar o fato sobre a ótica do autor (dolo que é
juízo psicológico) para dizer se houve ou não consciência e vontade que
são elementos do dolo; extremada, porque o erro é de proibição que afasta
a potencial consciência da ilicitude, elemento da culpabilidade, ensejando
um juízo normativo sob a ótica do juiz, não do autor.
Sumarizando: a) Limitada: As excludentes putativas podem ora ensejar o
erro de tipo escusável – art. 20, caput, ora o erro de proibição – art. 21,
caput, CP. No primeiro caso o juízo é psicológico: está na cabeça do autor;
no segundo é normativo puro: está na cabeça do juiz;
b)Extremada: As excludentes putativas serão sempre erro de
proibição. Jamais retiram o dolo. Excluem apenas a potencial consciência a
ilicitude que é elemento da culpabilidade. O juízo será sempre normativo.
Estará sempre na cabeça do juiz. A conduta sempre será dolosa. Mesmo
porque a lei diz “é isento de pena”.
C0- CULPABILIDADE:
relação ao autor de uma infração penal, quando se verifica não ter sido
proporcionada a todos igualdade de oportunidades na vida, significando,
pois, que alguns tendem ao crime por falta de opção”
DA IMPUTABILIDADE
CONCEITO
EFEITOS
EMBRIAGUEZ E IMPUTABILIDADE
Não queria nem assumiu o risco de causar o resultado, mas agiu com
imprudência: homicídio culposo.
Por outro lado, a "actio libera in causa” não se limita à embriaguez. Aplica-
se também a outras hipóteses em que o agente dolosa ou culposamente,
põe-se voluntariamente ou propositadamente, em estado de inconsciência.
Nas hipóteses previstas nas letras "c" e "d", só responderá pelo crime
se este for previsto na forma culposa a doutrina, há que se reconhecer
três fases na embriaguez: 1ª fase: da excitação ou fase do "macaco; 2ª
fase. Convém lembrar, ainda, que de acordo com: da depressão, ou fase
do "leão"; 3ª fase: do coma, ou fase do "porco". O agente cai em sono
profundo.
106 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
Nesta fase, (do porco), o agente não responde por crime omissivo puro
ou próprio.
CLASSIFICAÇÃO DA EMBRIAGUEZ
Quanto a origem:
A EMOÇÃO E A PAIXÃO
CONCEITO
Exemplos:
Paixão: por inveja, mata seu desafeto: artigo 121, parágrafo 2 o, I, CP:
“motivo fútil” (circunstância desfavorável), antisocial.
CONCEITO
Erro de Proibição - art. 21, CP: a distinção entre ignorância e erro da lei é
puramente psicológica. Ignorância é o total desconhecimento sobre a
existência de certo objeto; Erro é a apreciação errônea acerca desse objeto.
O agente até pode conhecer o artigo da lei. O que ele não tem é a
possibilidade de conhecer a ilicitude do fato.
v.g., ser pessoa esclarecida; o estrangeiro não poderia ser pessoa com
farta entrada e permanência no Brasil, etc.
Exemplos:
Normativo deriva de norma, ou seja: tudo que tem sua origem em certo
assunto escrito na lei ou que se origina de conceitos petrificados, embora
não previstos em lei, no sentido amplo ou estrito, pela sociedade ou outras
vertentes científicas. Assim, o incesto embora não seja crime, é,
normativamente, através dos tempos, considerado um ilícito moral, e até
mesmo um ilícito civil.
Quando se diz que a teoria adotada pelo Código Penal para análise da
culpabilidade é a normativa pura, quer se afirmar com isso que ao
Magistrado caberá fazer um juízo de valor sobre o homem autor do
113 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
Outras considerações poderiam ainda ser trazidas à lune. Todavia este não
é o espaço adequado por pretender o autor apenas passar noções
elementares sobre a teoria do crime.
Vejamos um exemplo:
Figure agora:
Deve-se instaurar uma ação penal para, somente ao final de meses senão
anos, declarar-se o óbvio? Ou, neste caso em particular estaria o promotor
autorizado a propor o arquivamento do feito com base na inexistência de
crime por ausência de culpabilidade, ou se preferir, dependendo da teoria
adotada, pela existência de crime, mas não culpável, e por inexistir
interesse de agir, também propor o arquivamento?
O bom senso nos indica que o arquivamento, qualquer que seja a teoria
adotada para o caso, seria o caminho adequado.
Dirão os adeptos daqueles que entendem o crime como sendo o fato típico
e antijurídico apenas: “o crime continua a existir, embora seu autor não seja
culpável”. E diremos nós: Sim... Mas e daí “cara pálida?!”...
DO CONCURSO DE PESSOAS
INTRODUÇÃO
DEFINIÇÃO
Exemplo: quadrilha ou bando – art. 288; rixa – art. 137; adultério – art. 240,
etc.. Sem o número de agentes exigidos no tipo penal, não há o delito. O
nosso estudo versa sobre o concurso eventual de pessoas.
►Monista ou unitária. Esta teoria não faz qualquer distinção entre autor e
partícipe, instigação e cumplicidade. Todo aquele que concorre para o
crime origina-o em sua totalidade e por ele responde integralmente.
Consoante esta teoria o delito embora praticado por diversas pessoas,
permanece único.
120 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
Adotou assim o Código Penal como regra quanto aos realizadores do crime
à teoria monista ou igualitária. Não faz qualquer distinção entre autor, co-
autor ou partícipe. Todos são co-autores em sentido amplo. Como exceção
adotou a teoria dualística mitigada, distinguindo a atuação de autores e
partícipes, permitindo uma melhor adequação quando da dosagem da pena
de acordo com a efetiva participação e eficácia causal da conduta de cada
partícipe, de acordo com a culpabilidade perfeitamente individualizada.
Mas se a lei não distingue entre autor e partícipe (para ela todos são co-
autores), tal distinção, no entanto, está na natureza das coisas e não pode
ser desconhecida pela doutrina, pois dela resultam conseqüências jurídicas
graves.
DA AUTORIA
Esta teoria conta com adesão de grandes nomes do Direito Penal dentro e
fora do Brasil, sendo que o último a aderir foi Damásio E. de Jesus, que a
propósito publicou recente opúsculo. Ela complementaria a teoria restritiva.
Por derradeiro, vale ressaltar que esta teoria só é aplicável aos delitos
dolosos. Aos culposos, não.
AUTOR DE DETERMINAÇÃO:
“Alguém que se valha de outro, que não realiza conduta para cometer um
delito de mão própria: uma mulher dá sonífero a outra e depois hipnotiza
um amigo, ordenando-lhe que com aquela mantenha relações sexuais
durante o transe. O hipnotizado não realiza conduta, ao passo que a mulher
não pode ser autora de estupro, porque é delito de mão própria. Tampouco
é partícipe, pois falta o injusto alheio em que cooperar ou a que
determinar”.
Como resolver essa situação criada pela mulher que ministrou sonífero, já
que não se pode falar em autoria mediata, ou mesmo co-autoria, nos
delitos de mão própria, considerando ainda de acordo com a doutrina ser o
estupro um crime de mão própria?
AUTORIA DE ESCRITÓRIO:
DA CO-AUTORIA
Exemplos:
(A) segura (B), para que (C) o esfaqueie, matando-o. Ambos serão co-
autores do crime de homicídio.
(A) contrata (B) para matar (C). Ambos são co-autores: (A) tem o
domínio do fato; (B), autor direto, material.
CO-AUTORIA SUCESSIVA
DA PARTICIPAÇÃO
desconheça que recebeu auxílio, por isso que não é exigível prévio acordo,
bastando que o partícipe tenha consciência de contribuir para o crime.
Exemplo: peculato culposo – art. 312, § 2º, CP. O autor responde pelo
crime doloso e o funcionário público por peculato culposo. Por igual inexiste
participação dolosa em crime culposo. A hipótese seria de autoria mediata
daquele que agisse com dolo, por isso que teria o domínio final do fato.
EXEMPLOS DE PARTICIPAÇÃO
empresta arma;
Art. 29, § 1º, CP: nem toda participação será tomada à conta de “menor
importância”. Somente aquelas cuja relevância na realização do crime, de
fato, foi pequena. A participação de menor importância que funciona como
causa de diminuição da pena deve ser mensurada, concretamente, caso a
caso.
(A), com desejo de matar (B), comenta com (C) sua intenção, vindo este a
aprovar a empreitada, eis que também é inimigo daquele. Sabedor das
intenções de (A), (D), oferece-lhe a arma de presente, por isso que devedor
de (B) e, morrendo este, sua dívida estará liquidada. (E), também inimigo
de (B), prontifica-se a levar (A) até a casa de (B) em seu automóvel, vindo
126 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
(A), de fato, a matar (B). Situação de cada um perante o artigo 29, caput e
§ 1º, CP:
e: idem.
AUTORIA MEDIATA
OBS: Vale não deslembrar, ainda, que nos crimes agravados pela
pluralidade de pessoas no seu cometimento, a agravação incidirá mesmo
quando se der o fenômeno da autoria mediata, por isso que mesmo
inculpável, o autor imediato perfaz pluralidade de pessoas, aumentando o
temor da vítima ou potencializando o dano ao bem jurídico. Exemplos: art.
155, § 4º, IV; 157, § 2º, II, CP, etc.
(A), empregado de (B), é procurado por (C), que lhe informa que irá furtar a
casa daquele naquela noite, e solicita-lhe a chave da porta de acesso à
mesma. (A) empresta a chave à (C). Contudo, na hora do furto, (C) resolve
penetrar na casa pelo telhado e pratica a subtração.
Exemplo: (A) induz (B) a instigar (C) a seqüestrar (D). Todos, (A), (B), (C),
respondem pelo crime de seqüestro. (A) e (B) partícipes e (C), autor.
Um policial que assiste inerte alguém sendo roubado sem nada fazer,
responde como partícipe do roubo. Contudo, requer dolo do policial em
aderir subjetivamente à conduta do ladrão. Se não intervier por medo, não
responde como partícipe. Não havendo dever jurídico, conforme o caso
poderá responder pelo crime autônomo de omissão de socorro.
De acordo com a teoria adotada pelo Código Penal no artigo 29, todos os
co-autores e partícipes se enquadram no mesmo tipo penal.
TEORIA DA ACESSORIEDADE:
jurídico; ou ainda: fato típico e antijurídico, mas não culpável. Como ficaria
a situação do partícipe?
A partir daí, para tentar resolver tais questões, criou-se algumas teorias,
denominadas teorias da acessoriedade, objetivando dar solução ao
problema envolvendo o partícipe (somente ele; co-autor é igual ao autor),
vejamos:
Exige-se, para que o partícipe seja incriminado, que o autor realize fato
típico e antijurídico. O autor até pode atuar sem culpabilidade, que é
sempre pessoal. O partícipe somente não responderia pelo delito se
também tiver a seu favor alguma causa de exclusão da culpabilidade.
O fato praticado pelo autor, para que a participação fosse punível, haveria
que ser típico, antijurídico, culpável. Essa teoria deve ser repudiada, pois
ao contrário do que afirma o ilustre penalista acima citado, deixaria impune
algumas espécies de participação. Exemplo: (A), desconhecendo a
condição de inimputável de (B), e desejando a morte de (C), instiga-o a
matar este. Posteriormente descobre-se que (B) é inimputável. (B) foi o
autor material. Pela teoria da acessoriedade extremada (A) ficaria impune,
porque o fato praticado por (B) é típico, antijurídico, mas não culpável.
Este e outros problemas poderiam surgir com a adoção desta teoria. É
óbvio que tal teoria não precisaria ser invocada no caso de (A) saber da
condição de inimputabilidade de (B), porquanto agora se trataria de autoria
mediata. Não haveria concurso de pessoas. Só um autor mediato. (A) teria
o domínio final do fato.
4. TEORIA DA HIPERACESSORIEDADE
Exemplos:
a) (A) manda (B) espancar (C). Por crueldade, (B) mata (C) de pancadas.
(A) não queria a morte de (C). Responderá (A) por lesões e (B) por
homicídio. Se contudo (A) era sabedor da truculência de (B), com tendência
ao homicídio, agiu, ao menos, com dolo eventual, respondendo pelo
resultado morte por dolo eventual. Haveria neste último caso concurso de
pessoas; no primeiro, não.
Se, finalmente, (A) manda (B), homem forte, aplicar surra em (C), homem
franzino, vindo (B) a exceder-se na surra, a ponto de (C) vir a morrer em
razão das lesões, por ser previsível a possibilidade, embora não querida da
morte de (C), (A) responde por lesões leves, graves ou gravíssimas, e (B)
por lesões corporais seguida de morte. Contudo, a pena de (A) será
aumentada até a metade Art. 29, § 2º, 2ª parte, CP.
Figure agora que (A) convida (B) para roubarem uma agência bancária. (A)
ingressa na agência anunciando o roubo. (B) fica do lado de fora ao volante
do automóvel da fuga. No interior da agência, (A) que não contava com a
reação do vigilante, é obrigado a matá-lo, consumando a subtração.
Pergunta-se: (B) quis participar de roubo simples, ou, até qualificado pelo
uso de arma ou pelo concurso de pessoas, ou também assumiu o risco de
participar de latrocínio, já que quem ingressa em agência bancária para
roubar assume o risco de travar tiroteio com seguranças, ou tal
possibilidade era apenas previsível (não prevista)?
PARTICIPAÇÃO EM CADEIA
Também denominada participação de participação. Ilustrativamente: é
possível que A, induza B a induzir C matar D. O importante da participação
em cadeia refere-se ao fato de que somente será punível se o autor da
figura delitiva vier a praticar a infração para a qual foi estimulado pelo
partícipe, observando-se a regra contida no art.31 do CP.
Sendo a participação conceitualmente atividade acessória e sendo
inadmissível a tentativa de participação, o partícipe somente será
responsabilizado se o autor tiver pelo menos tentado praticar a infração
penal.
PARTICIPAÇÃO SUCESSIVA
DA PARTICIPAÇÃO IMPUNÍVEL
Exemplos: quadrilha ou bando - art. 288; incitação ao crime - art. 286, CP,
etc. Em regra, todavia, prevalece o disposto no art. 31, CP.
DA AUTORIA COLATERAL
Definição: Há autoria colateral quando dois agentes, convergindo suas
condutas para a prática de determinada infração penal, não atuam unidos
pelo liame subjetivo.
Aqui não há concurso de pessoas. Os agentes atuam desconhecendo a
conduta do outro. Cada qual responde pelo seu próprio atuar.
AUTORIA INCERTA
Exemplos:
3. Figure, por derradeiro, que (A) desejando matar (B) por envenenamento,
coloque uma quantidade de veneno na bebida deste, “per si” inócua, para
causar o resultado morte de (B). (C) desconhecendo o desiderato de (A),
mas também desejando a morte de (B), coloca igual quantidade de veneno
na mesma bebida enquanto (B) estava no banheiro. As quantidades de
veneno colocadas por cada um dos agentes, separadamente, eram
inócuas; ao se somarem, causou a morte de (B) por envenenamento.
Solução ? Absolve-se os dois por existência de crime impossível. E se
tivesse havido prévio acordo ? Homicídio qualificado para ambos em
concurso de pessoas. E se o indivíduo (A), percebendo a conduta de (C),
completasse o veneno colocado por aquele ? (A), homicídio qualificado;
(C), crime impossível.
Exemplo: (A) contrata (B) para matar seu próprio pai. Ainda que (B) tenha
conhecimento que está matando o pai de (A), não incidirá para ele, (B), a
agravante prevista no artigo 61, II, “e”, CP. A condição de ascendente da
vítima é respeitante apenas a (A).
Exemplo: (A) contrata (B), pistoleiro conhecido, para matar (C) a tiros. Por
crueldade, (B) resolve matar (C) por asfixia. (A) não responde pela
qualificadora da asfixia porque não teve conhecimento. Se, contudo, tivesse
mandado matar por esse modo, por ser de caráter objetivo ou material essa
circunstância haveria a comunicabilidade entre os agentes e ambos
responderiam pela qualificadora da asfixia - Art. 121, § 2º, III, CP.
INTRODUÇÃO
Por óbvio não pretendemos abordar a pena nos seus aspectos sócios –
filosóficos. Essa tarefa deixamos com os estudiosos desse tema. Aqui
buscaremos apenas tentar compreender os métodos de aplicação e
execução das diversas sanções penais conforme previsões da lei.
TEORIAS DA PENA:
Abolicionismo Penal.
Teoria surgida na Europa, que em linhas gerais propõe um novo modo de
pensar o Direito Penal, questionando o real significado das punições e
instituições, bem como pretende formular outras formas de liberdade e
justiça.
Sustenta sua tese em dois postulados: Descriminalização (deixando de
considerar infrações penais determinadas condutas) e Despenalização
(eliminação da pena para a prática de certas condutas, embora continuem
delituosas). Objetiva com isto evitar o encarceramento de pessoas a
pretexto de castigá-las ou promover sua recuperação.
Garantismo Penal.
Modelo que procura selecionar dentre os cidadãos aqueles que devam ser
considerados como inimigos (terroristas autores de crimes sexuais
violentos, crime organizado). Conforme esta teoria os inimigos do estado
não estariam amparados pelas mesmas garantias fundamentais, como
estão os membros da sociedade civilizada.
Da pena: Não existe mais, com a reforma de 1984, distinção entre penas
principais e penas acessórias. Todas são penas principais.
– Privativas de liberdade.
– Restritivas de direitos.
– De multa.
A CF, art. 5º, XLVI, alínea “b” c/c art. 243, prevê uma outra espécie de pena
(perda de bens), que inclusive, já foi regulamentada por lei ordinária – Lei
8.257/91, e lei 9.714/99, atual art. 45, § 3º, CP.
– Fechado;
– Semi-aberto;
– Semi-aberto; ou
REGRAS:
A legislação especial de que nos fala o artigo 40, CP, é a LEP – Lei de
Execuções Penais, N.º.210, de 11/07/84, artigos 28 a 37 e 40 a 43.
“Art. 52”. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso
O RDD somente poderá ser decretado pelo juiz da execução penal, desde que
proposto:
“Art. 54”. As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato
motivado do diretor do estabelecimento e a do inciso V, por prévio e
fundamentado despacho do juiz competente.
§ 1o A autorização para a inclusão do preso em regime disciplinar dependerá
de requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento
ou outra autoridade administrativa.
§ 2o A decisão judicial sobre inclusão de preso em regime disciplinar será
precedida de manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no
prazo máximo de quinze dias
Ocorre (art. 41, CP) quando o agente que ao tempo do crime era imputável
ou semi-imputável e foi condenado a pena privativa de liberdade, e durante
o seu cumprimento eclode doença mental que agora o torna inimputável.
Neste caso o juiz da execução interrompe o cumprimento da pena privativa
da liberdade e o submete a medida de segurança internativa.
DETRAÇÃO.
É a contagem no tempo da pena privativa de liberdade e da medida de
segurança do período em que ficou detido o condenado em prisão
provisória, no Brasil ou no exterior, de prisão administrativa ou mesmo em
hospital de custódia e tratamento.
Figure que um indivíduo foi preso em fragrante por 6 meses pela prática de
determinado crime. Findo o processo ele restou condenado a 7 meses de
pena privativa da liberdade. Neste caso cumprirá apenas mais 1 mês.
Também no caso anterior (superveniência de doença mental) sobrevindo a
cura do internando, o período que passou cumprindo a medida de
segurança detrairá o que ainda lhe restar de pena a cumprir art. 42, CP. É o
fenômeno da detração.
Contávamos no nosso Código Penal, antes do advento dessa lei, com seis
penas alternativas substitutivas (multa, prestação de serviços à
comunidade, limitação de fim de semana, proibição do exercício de cargo
ou função, proibição do exercício de profissão e suspensão da habilitação
146 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
para dirigir veículo). Quatro novas sanções restritivas foram acolhidas pela
lex nova (prestação pecuniária em favor da vítima, perda de bens e
valores, proibição de freqüentar determinados lugares e prestação de outra
natureza). Logo, agora, no total, temos dez sanções substitutivas.
De qualquer maneira, fica claro que a prestação de serviços, como tal, não
pode ser a entidades privadas que não cumprem nenhum programa
comunitário ou estatal.
148 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
§ 1º Vetado.
Não importa se trata de dolo direto ou eventual. O que a lei exige é que não
haja reincidência “em crime doloso” (leia-se: dois crimes dolosos).
espécie de pena (inc. IV). A ordem da enumeração legal deveria ser outra:
escolha da pena, quantificação da pena, eventual substituição e, não sendo
o caso, fixação do regime, sem prejuízo de virtual cabimento do sursis.
Aliás, assim deve ser lido hoje o art. 59.
A pena alternativa (substitutiva) deve ser clara, precisa, isto é, não pode
haver dúvida sobre seu conteúdo ou extensão. Se no plano da cominação
exige-se lex clara, na fase de aplicação torna-se imprescindível uma
poena clara. Tomemos como exemplo a nova pena de proibição de
freqüentar determinados lugares: ao juiz cabe esclarecer quais são os
lugares, porque somente assim se delimita o âmbito do proibido e do
permitido.
Não é possível deixar por conta do réu optar por uma ou outra pena
restritiva de direitos. Cabe ao juiz fixar a pena alternativa com clareza,
respeitando sempre o limite da culpabilidade, bem como o princípio da
proporcionalidade. A única pena em que é indispensável o consenso do
beneficiário da medida alternativa é a prestação de outra natureza.
FORMAS DE SUBSTITUIÇÃO
A nova regra prevista no art. 44, § 2º, sendo de caráter geral, é aplicável
para crimes previstos no Código Penal, assim como na legislação especial
(CP, art. 12), salvo disposição em contrário.
Era o art. 45 do CP, antes, que cuidava da conversão das penas restritivas
de direitos. Vinha, portanto, precedido dessa indicação superior. O tema da
conversão, agora, vem disciplinado nos §§ 4º e 5º do art. 44.
FORMA DE CONVERSÃO
Das dez penas substitutivas que temos agora, uma, desde logo, e
como vimos acima, está fora de qualquer possibilidade de conversão:
é a multa substitutiva. Há uma pena restritiva que não admite
descumprimento porque não se exige nenhuma obrigação de fazer ou não
fazer do condenado: é a pena de perda de bens. Das oito penas
substitutivas restantes seis são temporalmente mensuráveis (prestação de
serviços à comunidade, limitação de fim de semana e as quatro interdições
temporárias de direitos) e duas são temporalmente imensuráveis
(prestação pecuniária e prestação de outra natureza - § 2º, art. 45).
Cremos que o saldo de que nos fala a lei refere-se ao que faltava ao
condenado cumprir de pena restritiva. Não poderia ser outro o
entendimento sob pena de ser inconstitucional. Senão vejamos: suponha
alguém que faltando uma semana para o término da pena de prestação de
serviços, deixa-a de cumprir. Numa primeira interpretação tem-se que a
156 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
A forma desse pagamento pode ser à vista (de uma só vez) ou em parcelas
(mesmo porque até a multa estatal pode ser parcelada). Pode o pagamento
ser efetuado, de outro lado, em dinheiro vivo, em cheque, em depósito
judicial, etc. O fundamental é que a prestação seja satisfeita, para que o réu
se desobrigue da pena substitutiva.
157 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
DIREITO DE COMPENSAÇÃO
Exposição de Motivos consta que uma dessas penas, além das cestas
básicas, seria a mão-de-obra que o sujeito pudesse prestar. Essa, aliás, é a
posição de Damásio E. de Jesus e Luiz Flávio Gomes.
CONVERSÃO DA PENA
O que o condenado vai perder são bens ou valores legítimos seus, os que
integram seu patrimônio lícito. Nesse caso, portanto, dispensa-se a prova
da origem ilícita deles.
A lei só estabeleceu limite máximo (teto) que será, o que for maior, o
montante do prejuízo causado (danos provocados) ou do provento (que
significa proveito, rendimento, lucro) obtido pelo agente ou por terceiro, em
conseqüência da prática do crime. Em um crime financeiro, por exemplo,
uma coisa é o prejuízo causado, outra bem diferente é o proveito (que inclui
todos os rendimentos e lucros) que o sujeito obteve com a vantagem
alcançada inicialmente.
Em conseqüência, tanto a pena nova de perda de bens (art. 45, § 3º) como
a prestação pecuniária (art. 45, § 1º), esta nada mais é que uma
antecipação da reparação dos danos, podem ser estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido. Ambas exprimem as exceções constitucionais, valendo
observar que a mesma ilação não se pode extrair no concernente à multa.
Na prática essa pena substitutiva até hoje, tem sido um fracasso porque
não existe casa do albergado na grande maioria das comarcas.
Essa multa está contemplada agora no art. 44, § 2º. Desse modo, onde
está escrito “parágrafo único do art. 44 e § 2º do art. 60” leia-se “§ 2º do art.
44”.
DA PENA DE MULTA
Deve ser fixada pelo Juiz, variando de, no mínimo, dez-dias multa e, no
máximo, trezentos e sessenta dias-multa (art. 49, caput).
O art. 60, contudo, manda que o Juiz observe a condição econômica do réu,
permitindo, no seu parágrafo 1º, que a multa seja aumentada até o triplo,
dependendo da situação econômica deste.
O valor do dia - multa deve ser também fixado pelo Juiz na sentença, não
podendo ser inferior a um trigésimo do salário mínimo mensal vigente ao
tempo do fato, nem superior a cinco vezes esse salário (art. 49, parágrafo
172 Caderno de Apontamentos
Direito Penal
Antônio Cerqueira
1º). Ex: Suponha que sujeito de grandes haveres tenha praticado o crime de
furto, Art. 155, caput do CP. O juiz aplicou-lhe dois anos de reclusão e
multa, nos termos seguintes:
O artigo 51 do CP, portanto, passou a ter a nova redação da Lei supra. Seus
parágrafos estão revogados.
APLICAÇÃO DA PENA.
1ª Fase: Fixação da Pena Base – art. 68, 1ª parte, na forma do art. 59, CP.
1ª.) Pena base – art. 59, CP. Entre o mínimo e o máximo cominável à
espécie de delito praticado pelo autor, o juiz após analisar as circunstâncias
previstas no artigo 59, CP, fixará a pena base. É a primeira fase da fixação
da pena.
Primeira fase: conquanto reincidente, o juiz conclui que Tício tenha todas
as circunstâncias do artigo 59, CP, a seu favor e fixou a pena base no
mínimo: 1 ano de reclusão.
Segunda fase: o artigo 68, CP, determina que o juiz primeiro deve aplicar a
atenuante e depois a agravante. Neste exemplo, e para manter o princípio
constitucional da equidade, ele deve primeiro aplicar a agravante e depois a
atenuante, caso contrário o réu será prejudicado. Senão vejamos: é
entendimento majoritário, tanto na doutrina quanto na jurisprudência, que as
circunstâncias atenuantes e agravantes não possuem o condão de reduzir a
pena aquém do mínimo ou agravá-la além do máximo cominável à espécie
legal de crime. Sendo assim, e porque o juiz no exemplo supra já fixou a
pena base no mínimo cominável ao crime de furto simples (1 ano), se ele
não inverter a ordem de aplicação das circunstâncias, o réu sofrerá prejuízo,
plicar a atenuante, mas porque ainda dispõe de margem eis que o máximo
cominável é de 4 anos no delito em análise, ele agravará pela reincidência.
Seria injusto. Todavia se houver margem tanto para a atenuante quanto a
agravante, o juiz deverá obedecer a ordem de aplicação porque agora nenhum
prejuízo causará ao réu. Considerando que no caso “sub oculi” a agravante
da reincidência é preponderante – art. 67, CP - (deve receber maior valor), e a
atenuante não é preponderante (deve receber menor valor), o juiz poderia, por
exemplo, agravar a pena base em 6 meses e atenuá-la em seguida em 4
meses, completando a segunda fase da fixação da pena: 1 ano e 2 meses. Se
não fizer a inversão, no mesmo exemplo, o réu será condenado, nesta fase, a 1
ano e 6 meses. O juiz não poderia aplicar a atenuante, mas aplicaria a
agravante. Há quem entenda que a atenuante sempre deverá ser aplicada. É
entendimento minoritário.
4ª.) Fixação do regime inicial a ser cumprido pelo condenado (fechado, semi-
aberto ou aberto) – art. 59, III, c/c artigo 33, 2º, “a”, “b” e “c”, do CP .
● LIMITES DE PENAS.
DA REINCIDÊNCIA
Exemplo:
De acordo com o artigo 64, CP, o agente volta a ser primário nas
seguintes hipóteses:
OCORRÊNCIA:
ESPÉCIES DE REINCIDÊNCIA:
IMPORTANTE:
REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA:
OBSERVAÇÃO FINAL:
CONCURSO DE CRIMES:
Espécies:
Crime continuado
REQUISITOS:
As penas de multa são aplicadas distinta e integralmente (art. 72), para cada
crime “per si” da cadeia delitiva.
Aberratio ictus, art. 73: Pode ocorrer também numa causa justificativa
como já exposto linhas atrás.
ESPÉCIES:
3) Etário e Humanitário – art. 77, parágrafo 2º, que poderá ser tanto na
forma do art. 78, parágrafo 1º ou parágrafo 2º. Deverá possuir 70 anos na
data da sentença condenatória, ou ser portador de moléstia grave. Só se
aplica “sursis” nas penas privativas de liberdade, art. 80, CP.
DO LIVRAMENTO CONDICIONAL
A pena aplicada há que ser igual ou superior a 2 (dois anos), artigo 83, CP
além de:
1) Não ser reincidente em crime doloso: após cumprir mais de 1/3 da pena
(83 I).
OBS.: Sendo Lei penal, a Lei 8.72/90 não deve retroagir para prejudicar
casos anteriores. Assim, não deve prevalecer à exigência de 2/3 de
cumprimento da pena para casos ocorridos anteriormente à vigência da Lei
8.072/90, nem a inaplicabilidade do LC, quando o outro crime ocorreu
antes dela.
Período da prova no LC: Será igual ao que resta para o término da pena.
REVOGAÇÃO:
EFEITOS DA CONDENAÇÃO
EFEITOS DA CONDENAÇÃO:
m) O confisco (CP, art. 91, II). O confisco permitido pelo CP não incide
sobre bens particulares do sujeito, mas sim sobre instrumentos e
produtos do crime. Só é permitido em relação aos crimes, sendo
inadmissível nas contravenções.
SECUNDÁRIOS EXTRAPENAL:
(EFEITOS CIVIS):
(EFEITOS ADMINISTRATIVOS):
a) Perda do cargo ou função pública (art. 92, I). Atualmente, por força do art.
1º da Lei 9.268/96, que deu nova redação ao art. 92 do CP, o dispositivo
passou a ter a seguinte previsão.
(EFEITO POLÍTICO):
a) Perda do mandato eletivo (CP, art. 92, I, CF, art. 15, III ).
I- DA REABILITAÇÃO:
Conceito: É a reintegração do condenado no exercício dos direitos
atingidos pela sentença.
REQUISITOS:
Este instituto tornou-se inócuo face o que dispõe o artigo 202, da LEP:
“Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida,
atestados ou certidões fornecidas por autoridades policiais ou por
auxiliares da justiça qualquer notícia ou referência à condenação,
salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou
outros casos expressos em lei”.
I- MEDIDAS DE SEGURANÇA.
É espécie do gênero sanção penal. Na sua aplicação deve ser observado
o princípio da legalidade somente sendo possível a imposição daquela
que estiver prevista em lei.
caso. Após esse prazo inicial e não havendo cura, a medida de segurança
passa a ser por tempo indeterminado.
II - DA AÇÃO PENAL
ESPÉCIES:
d) Privada Subsidiária da Pública – Art. 100, § 3º, CP e Art. 5º, LIX, CF.
Exemplos raros:
I- EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
O art. 107 não esgota as hipóteses de extinção da punibilidade: Alguns
exemplos não tipificados no art.107:
1. O ressarcimento do dano no peculato culposo, art.312, § 3º do CP.
2. O decurso do prazo do sursis, sem revogação (art.82, CP).
3. O término do livramento condicional (art.90, CP).
4. O cumprimento de pena no exterior por crime lá cometido (art.7, §
2º, d, CP).
5. A morte do ofendido no caso do art. 236 CP, pois a ação sendo
personalíssima, só pode ser intentada pelo contraente enganado.
6. O pagamento do tributo antes do oferecimento da Denúncia, nos
crimes de sonegação fiscal, art. 34, Lei 9.249/95.
7. A não representação do ofendido na Lei 9.099/95
PUNIBILIDADE:
Morte do agente – art. 107, I: “mors omnia solvit” – a morte dissolve tudo.
a) Geral
b) Restrita.
Abolitio criminis – CP, art. 107, III e CP, art. 2º: A lei posterior deixa de
considerar o fato como crime. Já comentamos este instituto no capítulo
dedicado à aplicação da lei penal, para onde remetemos.
Retratação do agente nos casos em que a lei a admite – CP, 107, IV: Cabe
nos crimes de calúnia, e difamação; falso testemunho ou falsa perícia –
art. 342, parágrafo 3º; nos crimes de calúnia, injúria e difamação por
meio de imprensa – Lei 5.250/67, art. 26. Não se trata de mero pedido
de desculpas. É verdadeira confissão do ofensor, ou do autor da
mendacidade no caso do art. 342, CP.
Casamento do agente com a vítima - CP, art. 107, VII: Nos crimes
praticados contra os costumes previstos nos capítulos I, II e III, do
Título VI, do CP (arts. 213 a 220, estupro, etc.), o casamento da vítima
com o agente extingue a punibilidade. Se o crime está elencado no
Capítulo IV, não. Ex.: estupro qualificado pela lesão grave – art. 223,
caput, CP. Discute-se na doutrina se na hipótese de lesões leves, face o
que dispõe a Súmula 608 do STF, também haveria a extinção da
punibilidade previsto no art. 107, VII. A resposta é sim. Por isso que,
apesar de neste caso a violência ser real, e a ação penal pública
(segundo o STF), o crime ainda estará incluído no rol dos Capítulos I,
II, III, do Título VI, do CP. Embora meu entendimento seja no sentido
de que esta súmula tenha sido revogada pela lei 9.099/95 (Art. 88).
“Vítima” tanto pode ser homem ou mulher. No atentado violento ao
pudor a vítima pode ser homem ou mulher. Idem os crimes dos artigos
216 e 218, do CP. O STF entende que o artigo 101, CP, é especial em
relação ao artigo 225, caput, do mesmo Diploma. (INCISO
REVOGADO PELA LEI 11.106/2005)
Casamento da vítima com terceiro – CP, art. 107, VIII: Não havendo
violência real ou grave ameaça nos crimes contra os costumes, o
casamento da vítima com 3º também extingue a punibilidade se não
houver requerimento daquela pelo prosseguimento do inquérito, ou
ação penal dentro de 60 dias contados da data do casamento. A lei fala
em violência real ou grave ameaça (CP, art. 107, VIII). Logo, se a
violência for ficta – CP, art. 224 – também aproveita ao agente. Assim,
o casamento da vítima com terceiro poderá provocar a extinção da
punibilidade nos seguintes crimes: 215, 216, 217, 218; 219 (na
modalidade “... fraude”), e 220; também os arts. 213, 214 e 219, quando
se tratar de violência ficta (art. 224). “Vítima” aqui também deve ser
interpretado como homem ou mulher. O atentado ao pudor pode ter
como vítima homem ou mulher, idem os crimes previstos nos artigos
216 e 218, todos do CP.
DA PRESCRIÇÃO:
“Art. 366 – Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional,
podendo o Juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas
urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto
no art. 312”.
ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO:
Prescrição retroativa – art. 109, caput c’/c art. 110, § 2º, CP.
Prescrição superveniente – art. 109, caput c/c art. 110, § 1º, CP.
partir deste momento até a sentença – art. 109, caput c/c art. 111, CP.
Pode ser declarada enquanto não houver trânsito em julgado de
sentença condenatória.
Regula-se pela pena máxima em abstrato (art. 109 incisos I a VI, CP).
A contagem é efetuada na forma do art. 10. Afastam-se os efeitos
secundários. É como “se o crime nunca tivesse existido”.
Exemplo:
Exemplo:
Figure que Tício tenha sido condenado a 1 ano de reclusão pela prática
de um furto em 01.01.80. O MP não recorreu entendendo que a
condenação estava justa. A sentença transitou em julgado para o MP
em 10.01.80. O réu, contudo, recorreu buscando absolvição. Em
10.01.81 o tribunal apreciando o recurso de apelação não lhe deu
provimento e manteve a condenação. Em 20.01.81 transitou um
julgado também para o réu que está foragido. Quando se dará a
prescrição da pretensão executória? Em 10.01.84. Aqui o prazo começa
a correr, não da data em que transitou em julgado em definitivo a
sentença, senão da data em que transitou em julgado para a acusação.
Salvo se coincidir para ambos. No caso o trânsito em julgado para a
acusação deu-se em 10.01.80, não em 20.01.81. Nesta data transitou em
julgado para o réu também.
SEMI-IMPUTÁVEIS:
Se, contudo, o Juiz não indicou a pena aplicável, efetuando desde logo a
substituição pela medida de segurança, teremos que usar como índice a
pena mínima cominada abstratamente ao crime. Não se poderá inferir
que a pena aplicável fosse superior ou inferior ao mínimo legal
cominada abstratamente para o delito cometido pelo semi-imputável.
Figure que Tício atropelou culposamente (A) e (B). (A) morreu; (B)
sofreu lesões. O juiz condenou Tício na forma do artigo 70, 1ª parte,
CP: 2 anos de detenção (art. 302, CTB), acrescida de metade por conta
do concurso formal. A pena definitiva restou em 3 anos. A prescrição
seja ela superveniente retroativa ou da pretensão executória será calculada
sobre a pena base aplicada, ou seja, 2 anos, não 3.
NOTAS FINAIS
ANTÔNIO CERQUEIRA