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CRATO – CE
2020
UCAM – UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
GABRIEL DE ALENCAR PARENTE
CRATO – CE
2020
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RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO_______________________________________________________6
CONCLUSÃO 37
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INTRODUÇÃO
A esfera penal é integrante do quadro de ferramentas de controle social
formal empreendido pelo poder estatal, constituindo-se como forma mais árdua de
interferência nas condutas da sociedade. A severidade dos dispositivos sancionadores
desse âmbito delimita a sua área de operação, tendo de ser empregada subsidiariamente
às restantes esferas do ordenamento jurídico, ou melhor, a sanção punitiva será a ultima
ratio demandada pelo Estado ,quando todos os demais artifícios menos danosos forem
exauridos.
Não obstante o seu viés secundário, esse ramo tem sido aplicado de maneira
excessiva, ampliando seu perímetro de exercício de tal jeito que transborda as
limitações impostas pela própria Magna Carta de 1988.
A inflação legislativa penal é um acontecimento desencadeado pela
incompetência estatal no que tange ao combate ao crime. Com efeito, conferida a
ocorrência de um delito que cause grande reverberação na sociedade, fazendo com que
o aparato midiático aumenta a pressão pela retaliação da conduta praticada e acirre o
sentimento de descontentamento do povo.
O poder público, ao seu turno, reage ao clamor social por medidas pujantes e
instantâneas, vale-se da intercessão através do campo penal como alternativa imediata e
menos onerosa ao hipócrita embate às diversas formas de desavenças existentes na
sociedade.
O aumento do “ius puniendi” não está simplesmente relacionado com a
extensão da violência, mas sim, antes de mais nada, a representação da composição
coletiva de um Estado depauperado, estruturado por uma categoria de políticos
desengajados com as verdadeiras necessidades da população.
A evidência da ineficiência do complexo repressivo para solucionar as
matérias de sua competência, por intermédio da rotineira estipulação de leis penais,
somente majora a percepção de incredulidade nas entidades integrantes do maquinário
público.
O ordenamento jurídico-normativo não deverá amparar qualquer legislação
penal que confronte os princípios constitucionais, notadamente aqueles que infrinjam a
dignidade da pessoa humana, no subterfúgio de visar a pacificação social, pois as
normas infraconstitucionais só têm legitimidade quando harmonizam com os
fundamentos da Lei Maior. Busca-se com isso um Sistema Penal que coadune com os
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meio da sentença penal, de modo que a sanção seja exercida sobre a pessoa do
condenado como “verdadeira expiação, meio de neutralização da atividade criminosa
potencial ou, ainda, ensejo para recuperação, se possível, do delinquente, possibilitando
o seu retorno à convivência pacífica na comunidade dos homens livres
(TOLEDO,2007,p.14)”.
O ordenamento jurídico penal tem a característica exordial de atuar com o
fim preventivo, sendo assim, aplicando punição ou não, busca evitar a ação criminosa.
Conquanto, o aspecto ameaçador e intimidatório da pena através da existência de uma
norma tipificadora que comine sanções, tem a sua eficácia posta em xeque.
Consequentemente, é factível que delinqüentes potenciais não se intimidam com a mera
previsão legal de uma sanção, mesmo aquelas mais ríspidas.
A ciência da criminologia questiona fervorosamente a vocação preventiva
da pena, contudo, por mais que haja uma hesitação sobre a sua eficácia, não podemos
descartar o poderio intimidatório exercidos pelos dispositivos penais quando estes são
acompanhados por órgãos Estatais ostensivos, atuantes e obstinados no persecutio
criminis, fazendo com que as sanções penais sejam empregadas adequadamente. Dessa
forma, quando saímos do campo meramente abstrato e passamos a aplicar efetivamente
e proporcionalmente os tipos penais através do Estado, o caráter intimidatório também
sai do campo da ficção e se consubstancia num poderoso meio de apoio no combate ao
crime.
A ampla utilização do direito penal como solução dos litígios sociais à curto
prazo provoca a expansão do sistema penal brasileiro, motivo que aguça a consciência
da população na crença de uma legislação penal meramente simbólica.
É praticamente uníssono o discurso crítico sobre o sistema penal
contemporâneo, contudo, adotar medidas abolucionistas sugeridas por alguns
doutrinadores certamente não se perfaz uma atitude razoável. Mesmo com a sua
efetividade abalada com a série de adversidades que assolam o sistema, o direito penal
tem uma capacidade indiscutível de interferir e fazer cessar as condutas socialmente
inadequadas, faltando a aplicação no campo prático de medidas que aperfeiçoem a
esfera criminal, e não que a tornem reduzida.
social. Tal situação veio à tona exatamente pela abstenção do poder Estatal nas relações
entre os particulares, sendo assim, vigorava uma espécie de “lei da selva”, na qual o
detentor de maior força e poder prevalecia sobre os demais.
A classe burguesa concentrava em seu poder tanto o capital econômico
quanto o predomínio nas decisões, já o restante do povo se via ainda mais excluído,
sobrevivendo à margem do corpo social. A selvageria das ações burguesas na busca da
“mais-valia” de maneira inescrupulosa e a ambiciosa busca por novas formas de
dominação das massas acarretaram, através de levante popular, na conversão do
presente Estado Liberal em Estado Social.
Com essa mudança o Poder Público não mais deve se abster de intervir nas
relações, muito pelo contrário, ele tem o dever de prestar ações afirmativas em prol do
bem comum. Houve também uma completa reestruturação do Estado no viés jurídico-
constitucional. Com isso, os direitos fundamentais e sociais trazidos desde a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), tornaram-se efetivamente
constitucionalizados.
As constituições, portanto, oficializam e estabelecem limites ao poder
Estatal, sistematizando-o em atribuições elementares para sua organização e equilíbrio,
como por exemplo as funções de criar, julgar e executar as leis. Diante disso, havia o
desejo de fixar na Carta Maior os direitos em outros ordenamentos jurídicos de
ratificação internacional, resguardando a população das arbitrariedades.
O Estado Social, no entendimento atual, foi o símbolo de um inabalável
comprometimento com a sociedade no tocante à tutela dos interesses coletivos, contudo,
segundo Paulo Bonavides (BONAVIDES,2016), “O Estado Social se compadece com
regimes políticos antagônicos, como sejam a democracia, o fascismo e o nacional-
socialismo”.
O revés do Estado Social foi escancarado com o surgimento dos regimes
ditatoriais ocorridos na Europa, mais precisamente na Alemanha e Itália, que tinham
como seus líderes respectivos, Adolf Hitler e Benito Mussolini. Em ambos os países,
embora o Estado atendesse algumas necessidades primárias da população através de
ações afirmativas, outras prerrogativas e direitos eram abolidos por conta do
totalitarismo vigente, como a democracia, a liberdade de pensamento e a garantia dos
direitos humanos.
Os ditadores se utilizavam de grande eloqüência para persuadir o povo e
adquirirem novos adeptos para alcançarem seus propósitos mais escusos e obscuros,
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afastando com isso a real finalidade do Estado e silenciando a população iludida que se
mantém inerte com o tolhimento de seus direitos fundamentais.
Isto posto, num período pós Segunda Guerra Mundial, com a missão de
obstar uma possível formação de novos regimes ditatoriais, surge o Estado Democrático
de Direito, a medida assecuratória dos direitos e garantias do cidadão. Considerado
como uma das principais idealizações jurídicas de todos os tempos, ele é o resultado do
amplo debate científico sobre as finalidades do Estado, sendo este o legítimo
responsável pela manutenção da ordem, paz social e segurança jurídica. As suas funções
jurisdicionais, executivas e legislativas, assim como a sua própria organização, terão
que obedecer aos mandamentos constitucionais.
A tutela exercida pelo Estado através da intervenção nas relações
interpessoais ocorrerá na medida em que estas interações tornem-se injustas ou
desproporcionais, momento em que o poder Estatal exercerá a sua legítima atribuição
legal de atuar na busca do bem comum, isto é, equiparar os desiguais. Essa
determinação, mencionada no próprio texto constitucional, ocorre através das funções
desempenhadas por meio de atos da administração pública.
De acordo com Alexandre Moraes, a obediência do poder à ordem jurídica é
patente, pois:
O Estado Democrático de Direito, que significa a exigência de reger-
se pelo Direito e por normas democráticas, com eleições livres,
periódicas e pelo povo bem como o respeito das autoridades públicas
aos direitos e garantias fundamentais, proclamado no caput do artigo
1° da Constituição Federal de 1988, adotou, igualmente em seu
parágrafo único, o denominado princípio democrático, ao afirmar que
“todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição
(MORAES,2008).
litígios sociais instalados, por meio de ações concretas no combate à exclusão social e
ao crime, repercute no expansionismo do sistema penal, que recorre ao Direito Penal
como cura para todas as doenças.
Sobre isso, os mestres Zaffaroni e Pierangeli (ZAFFARONI;
PIERANGELI,2011,) observam que elaborar projetos de lei é muito mais simples e
barato ao legislador, pois não onera custos. Dessa maneira, a ciência penal intervirá em
ocasiões alheias às suas competências, atuação em que revelará o claro ultraje à base
principiológica do Estado Democrático de Direito.
Com isso, o Direito Penal de ultima ratio obteve uma nova perspectiva,
procurando gerar apenas uma falsa sensação para a sociedade do controle do poder
público em relação à crescente criminalidade. Sobre o tema, pontua Cezar Roberto
Bitencourt:
[...]todo esse estardalhaço na mídia e nos meios políticos serve apenas
como discurso legitimador do abandono progressivo das garantias
fundamentais do Direito Penal da culpabilidade, com a desproteção de
bens jurídicos individuais determinados, a renúncia dos princípios da
proporcionalidade, da presunção da inocência, do devido processo
legal etc.[...] (BITENCOURT,p.13,2007)
são os mais prejudiciais, uma vez que instiga nas pessoas o sentimento de ódio e
vingança, enrijecendo drasticamente o sistema penal quanto às suas reprimendas. Logo,
a sensação que predomina é a de que a mera elaboração de leis ou o recrudescimento
das punições diminuirá a expressiva criminalidade.
Por conseguinte, a vultosa edição de leis criadas como respostas aos anseios
sociais, especialmente aos mais desfavorecidos e marginalizados, os mais carentes de
uma gama de normas sociais, ainda que deixe a sensação de tranqüilidade, não
apresenta qualquer benesses no tocante à finalidade precípua do Direito Penal, isto é:
inibir as práticas delituosas.
respeitabilidade inerentes a pessoa humana, em relação aos quais não se pode renunciá-
los ou muito menos abandoná-los.
Esse princípio também está positivado no art. 5º da Convenção Americana
de Direitos Humanos anuncia:
Art. 5º: “Toda pessoa humana tem direito a que se respeite sua
integridade física, psíquica e moral. Ninguém deve ser submetido a
torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes.
Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o devido
respeito à dignidade inerente ao ser humano”
olvidar que está também presente no art. 9º da Convenção Americana Sobre Direitos
humanos (Pacto San José da Costa Rica), tanto o principio em comento quanto o princío
da retroatividade:
“Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no
momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo
com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave que
a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da
perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o
delinquente será por isso beneficiado”.
de acordo com esse entendimento, e não podendo agir de outra forma. Portanto, os
elementos da culpabilidade são: I) imputabilidade; II) potencial consciência da ilicitude
e III) exigibilidade de conduta diversa.
Cezar Roberto Bitencourt ensina que há um triplo aspecto ao conceito de
culpabilidade. Primeiramente, a culpabilidade (como fundamento da pena), significa um
juízo de valor que permite responsabilizar uma pessoa pela prática de um fato típico e
antijurídico com imposição de uma reprimenda penal.
O segundo aspecto deve-se entender a culpabilidade como elemento de
limitação da pena. Nesse plano, a culpabilidade não funciona como fundamento da
pena, mas como limite dela, pois o limite e a medida da pena devem ser razoáveis e
proporcionais à gravidade do fato típico e antijurídico.
Por último, deve-se entender a culpabilidade como proibição da aplicação da
responsabilidade penal objetiva, o que é vedado pelo nosso ordenamento jurídico
vigente. Portanto, ninguém será culpabilizado por um resultado absolutamente
imprevisível se agir dolosamente ou de forma culposa.
CONCLUSÃO
A progressiva ampliação do crime demonstra o colapso da justiça nos dias
atuais. Vários vetores têm corroborado com este panorama, dentre eles: a omissão
estatal na execução de políticas públicas essenciais; a ineficácia do Estado na
administração e fiscalização do sistema penitenciário, proporcionando a aplicação de
ferramentas que contribuem na correta execução das penas, de maneira a reduzir a
problemática da reincidência eo uso da ciência penal como pronta resposta a todos os
dissídios instalados, culminando na inflação do sistema penal..
Por conta do notório revés das instituições do Estado, tem prevalecido no
nosso país a chamada “técnica legislativa casuística”, onde a prática de um determinado
crime instiga o clamor público e, de forma demagógica, se recrudesce as penas ou
fabricam novos delitos; a invocação ao sistema penal se transforma na única ferramenta
com poder de reparar as mazelas sociais, cuja gênese advém do insucesso do sistema
gestor.
Perante essa alarmante conjuntura, se faz indispensável a moderação das
ações arbitrárias do Estado por meio do controle da aplicação do sistema repressivo.
Somente com isso constataremos a revalidação de um Estado Democrático de Direito.
Os princípios constitucionais de âmbito penal mostram-se eficazes
ferramentas de controle e remediação dessas deformidades. Eles integram o presente
Estado Democrático, tratando-se de técnicas de legitimação e racionalização do Direito
Penal, os quais impelem que a atividade estatal seja desempenhada em consonância com
os direitos fundamentais do homem, especialmente os direitos à vida, à liberdade e à
dignidade, sob pena de se converter em ilegítima e arbitrária.
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