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NOÇÕES INICIAIS: SOCIEDADE E DIREITO

O ser humano, por sua própria natureza, vive e coexiste em sociedade.


Esta tem sido sua situação em todos os tempos.

Os estudiosos se esforçam em buscar explicações para esse fenômeno.


Cremos que não é possível identificar uma razão específica para a
formação da sociedade. Ela se confunde com o próprio evoluir do
homem, perdendo-se nas origens da espécie humana.

Mas há um outro aspecto importante a salientar: na medida em que


foram surgindo as comunidades humanas primitivas, começaram a surgir
as regras de comportamento social.

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NOÇÕES INICIAIS: SOCIEDADE E DIREITO
Desde que o Homo Sapiens desenvolveu os conceitos de família,
religião e grupo social, teve a necessidade de estabelecer regras
mais complexas de convivência.
As normas jurídicas são regras de comportamento social que
prescrevem – ordenam ou proíbem – determinada maneira de agir,
regulando, assim, a vida do indivíduo em sociedade.
A sociedade e o direito se pressupõem mutuamente. O Direito
regula o convívio social, assegurando-lhe as condições mínimas de
existência, de desenvolvimento e de paz. Como ordem jurídica, é
importante fator de estabilidade e harmonia nas relações sociais.

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NOÇÕES INICIAIS: SOCIEDADE E DIREITO

A criminalidade, na visão do sociólogo francês Émile Durkhein, é um


fenômeno social normal, no sentido de que está presente em todas
as sociedades constituídas pelo homem.

As relações humanas são contaminadas pelo conflito e pela


violência, necessitando, portanto, de normas que as regulem.

O fato social que contraria a regra de direito constitui o ilícito


jurídico, cuja forma mais grave é o ilícito penal, que atenta contra os
bens mais importantes para a vida social.

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SISTEMA DE CONTROLE SOCIAL

Toda sociedade ou grupo social, portanto, necessita de uma


ordem ou disciplina que promova a convivência harmônica de
seus membros, razão pela qual desenvolve mecanismos
destinados a assegurar a conformidade dos indivíduos às suas
normas e padrões comunitários.

O sistema de controle social é entendido, assim, como o conjunto


de instituições, estratégias, e sanções, que pretende promover e
garantir a sujeição dos indivíduos às regras de comportamento
social.

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SISTEMA DE CONTROLE SOCIAL

Para alcançar essa meta, a sociedade lança mão de dois sistemas


articulados entre si. O controle social informal, exercido pelos órgãos
da sociedade civil: família, escola, igreja, opinião pública etc. E o
controle social formal, identificado com a atuação dos órgãos do
Estado: Polícia, Ministério Público, Judiciário, Administração Pública
etc.
Os órgãos da sociedade civil atuam na educação do indivíduo e na
sua inserção no meio social (processo de socialização). Quando as
instâncias de controle informal falham ou se revelam ineficazes,
entram em ação os órgãos de controle formais, que atuam de modo
coercitivo, impondo sanções representadas pela ameaça de
punição.

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SISTEMA DE CONTROLE SOCIAL

a) Numerosos sistemas normativos (a ética, os costumes, a religião, a filosofia, o


direito - civil, administrativo, trabalhista, penal etc.);

b) Diversas instituições, órgãos ou agentes (a família, a escola, a comunidade, a


igreja, as associações, os clubes, as empresas, os sindicatos, a Polícia, o
Ministério Público, a Justiça etc.);

c) Variadas estratégias de atuação ou respostas (educação, socialização,


prevenção, repressão, ressocialização etc.);

d) Diferentes modalidades de sanções (positivas, como ascensões, distinções, boa


reputação etc. ou negativas, como a reprovação social, a obrigação de reparar o
dano, a multa administrativa, a restrição de direitos, a privação da liberdade
etc.);

e) Particulares destinatários (estratos sociais específicos, criminoso potencial,


vítima potencial etc.).

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CONCEITO DE DIREITO PENAL

ENFOQUE DINÂMICO E SOCIAL

O Direito Penal como


instrumento do controle
social.

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Pode-se definir o Direito Penal, do ponto de vista
dinâmico e social, como um dos instrumentos do
controle social formal por meio do qual o Estado,
mediante um determinado sistema normativo (as
leis penais), castiga com sanções de particular
gravidade (penas, medidas de segurança e outras
conseqüências afins) as condutas desviadas mais
nocivas à convivência social (crimes e contraven-
ções).
Luiz Flávio Gomes, Antonio García-Pablos de Molina e Alice
Bianchini.

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CONCEITO DE DIREITO PENAL

ENFOQUE ESTÁTICO OU FORMAL

O Direito Penal como parte do


ordenamento jurídico, ou seja, como
conjunto de normas.

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Sob o enfoque estático ou formal, pode-se afirmar que o Direito Penal é
um conjunto de normas jurídicas que definem certas condutas como
infração (crimes ou contravenções), associando-lhes penas ou medidas
de segurança e outras consequências afins (Luiz Flávio Gomes,
Antonio García-Pablos de Molina e Alice Bianchini).

No mesmo sentido: o Direito Penal apresenta-se como um conjunto de


normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de
natureza penal e suas sanções correspondentes – penas e medidas de
segurança (Cezar Roberto Bitencourt).

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FUNÇÕES DO DIREITO PENAL
• a) Proteção de bens jurídicos
• A função primordial do Direito Penal consiste na proteção dos bens
jurídicos essenciais ao indivíduo e à sociedade (vida, integridade física,
saúde, liberdade, honra, dignidade sexual, patrimônio, fé pública etc.).
• Para cumprir essa finalidade, o legislador seleciona os bens jurídicos
especialmente relevantes para a vida social e, por isso mesmo,
merecedores da tutela penal. E sanciona as condutas lesivas ou perigosas
a esses bens essenciais, utilizando-se de peculiares formas de reação – as
penas e medidas de segurança.
• Nesse particular aspecto, mais que um instrumento de controle social,
atribui-se à lei penal uma função de proteção dos bens jurídicos
fundamentais.

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FUNÇÕES DO DIREITO PENAL

• b) Contenção ou redução da violência estatal

• Ao intervir na realidade social para impor uma sanção penal, o


Estado também exercita a violência. O Direito Penal tem por finalidade
disciplinar essa violência estatal, mantendo-a dentro de certos limites.

• Por outras palavras, o Estado tem o direito de punir o infrator da


norma penal, mas deve fazê-lo dentro dos limites estabelecidos pela
Constituição e pelo Direito Penal, ou seja, pelo conjunto de regras
objetivas que disciplinam esse poder de punir.

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FUNÇÕES DO DIREITO PENAL

• c) Prevenção da vingança privada

• Como ensina Luigi Ferrajoli, na medida em que o Direito Penal tem


incidência, evita-se que a vítima ou seus familiares assumam por si
mesmos a tarefa de castigar ou punir o infrator, fazendo justiça pelas
próprias mãos.

• Desde o momento em que o Estado assumiu o monopólio da justiça,


cabe somente a ele definir crimes, impor e executar as penas.

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FUNÇÕES DO DIREITO PENAL
• d) Função simbólica

• Diz respeito ao efeito psicológico que a norma penal incriminadora suscita


na mente dos governantes e dos cidadãos. Os primeiros ficam com a
sensação de terem contribuído para a defesa social e aparecem perante a
opinião pública como representantes atentos e operosos. Os últimos ficam
com a impressão tranquilizadora de que algo está sendo feito para
combater a criminalidade e proteger a população.
• O problema exsurge quando o Poder Político usa o Direito Penal para
produzir um mero efeito simbólico perante a opinião pública, um impacto
psicossocial, tranquilizador dos cidadãos, e não para proteger com eficácia
os bens jurídicos essenciais ao convívio social.

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FUNÇÕES DO DIREITO PENAL

• e) Função promocional

• Para os adeptos dessa teoria, o Direito Penal não tem por finalidade
promover a conservação do status quo ou a consolidação dos valores da
sociedade em que se insere, mas deve atuar como instrumento de
transformação social.
• Assim, com certa frequência, o Poder Político tenta promover na
sociedade o convencimento da relevância do Direito Penal para a tutela
de determinados bens jurídicos. Isso ocorreu em nosso país, por
exemplo, com a lei ambiental, que prevê mais de 60 figuras criminais (a
média mundial não chega a uma dezena).
• A função promocional inspira uma política criminal intervencionista,
que se antagoniza com o princípio da intervenção mínima.

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