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Noções de Direito

Unidade 1
Fundamentos do Direito
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
CAMILA COELHO MOREIRA
AUTORIA
Camila Coelho Moreira
Sou formada, pós-graduada e mestre em Direito, com experiência
técnico-profissional na área. Atualmente sou diretora da área de
contencioso civil de um escritório de advocacia no qual eu sou sócia na
cidade de Vitória/ES. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir
minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões.
Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase
de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
O direito e sua relação com a justiça e a moral...............................12

Classificações, ramos e fontes do direito .........................................21

Classificações do direito............................................................................................................. 21

Ramos do direito ............................................................................................................................. 22

Direito Público e Direito Privado ......................................................................23

Direito Público Interno .............................................................................................24

Direito Constitucional ............................................................................24

Direito Administrativo ............................................................................24

Direito Penal .................................................................................................24

Direito Previdenciário ............................................................................24

Direito Eleitoral ...........................................................................................25

Direito Processual ....................................................................................25

Direito Tributário..........................................................................................25

Direito Público Externo . ..........................................................................................25

Direito Privado Interno............................................................................25

Direito Civil ....................................................................................................26

Direito Empresarial ..................................................................................26

Direito do Trabalho ..................................................................................26

Direito Privado Externo..........................................................................26

Fontes do direito .............................................................................................................................27


A Lei........................................................................................................................................27

Costumes............................................................................................................................28

Jurisprudência.................................................................................................................28

Doutrina................................................................................................................................29

Princípios gerais do direito ...................................................................................29

Analogia.............................................................................................................................. 30

Normas jurídicas, processos e procedimento..................................32

Normas jurídicas...............................................................................................................................32

Processo e procedimento......................................................................................................... 36

Teoria Geral do Estado ..............................................................................41

Conceito e evolução história do Estado ........................................................................ 41

Elementos do Estado....................................................................................................................44

Povo........................................................................................................................................44

Território...............................................................................................................................45

Soberania ......................................................................................................................... 46

Formas de Governo ......................................................................................................................47


Noções de Direito 9

01
UNIDADE
10 Noções de Direito

INTRODUÇÃO
O direito é uma área do conhecimento de extrema relevância, a qual
todos estamos sujeitos até o fim de nossas vidas. Além de sua importância
no mercado de trabalho, atos cotidianos, como atravessar a rua, pegar um
ônibus ou fazer um lanche, estão sujeitos a normas jurídicas que devem
ser observadas e respeitadas, sob pena de sanções. Meu objetivo nessa
unidade é proporcionar conhecimentos jurídicos básicos para que você
possa se destacar como profissional e enfrentar situações do dia a dia que
envolvam essa temática. Isso significa que, ao longo desta unidade letiva,
você vai mergulhar neste universo de leis, doutrinas, jurisprudências...
vamos nessa comigo?
Noções de Direito 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no
desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término
desta etapa de estudos:

1. Explicar o que é o direito e sua relação com a moral e com a justiça.

2. Explicar sobre as áreas, os ramos e as fontes do direito.

3. Identificar as espécies normativas e a diferença entre processo e


procedimento

4. Interpretar a teoria geral do Estado e os regimes políticos.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
12 Noções de Direito

O direito e sua relação com a justiça e a


moral

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


em que consiste a ciência do Direito e como ela está
relacionada com a moral e com a justiça. Certamente
isto será fundamental para a compreensão dos capítulos
a seguir. Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

Para darmos início ao estudo da disciplina, o nosso ponto de


partida será entender o que é o direito. Pode parecer algo simples, mas
conceituar o direito não é uma tarefa fácil, pois sua complexidade dificulta
estabelecer uma única definição.

Antes de adentrarmos no assunto propriamente dito, precisamos


pensar o mundo em que vivemos sob duas perspectivas distintas: o
natural e o cultural. O mundo natural é aquele que nos foi dado, ou seja,
aquele em que não há a interferência do homem. No mundo natural os
fenômenos como a chuva, o cair de uma fruta da árvore ou até mesmo as
estações do ano acontecem de acordo com as leis da Física, Matemática,
Gravidade e não têm a interferência direta dos sujeitos.
Figura 1 – Mundo natural

Fonte: Pixabay
Noções de Direito 13

Já o mundo cultural é aquele que vem sendo construído pelo


homem ao longo da história. Nele incluem-se a história, as tradições, os
costumes, a moral e o direito. Desse modo, o homem tem o poder de
planejar e construir esse mundo cultural, com base nas suas experiências
e no modo de vida da sociedade e o direito segue o mesmo pensamento.
Figura 2 – Mundo cultural

Fonte: Pixabay

Portanto, o direito surge como fruto da cultura social, a partir das


regras que foram conduzindo o comportamento humano ao longo dos
tempos. Se consultarmos um dicionário, por exemplo, encontraremos o
termo Direito definido como um “conjunto de normas e princípios legais
que regulam as relações dos indivíduos em sociedade” (PRIBERAM, 2020).

Essa definição se assemelha à de Hans Kelsen, criador da Teoria


Pura do Direito, a qual considerava ser o direito um conjunto de normas
(KELSEN, 2003).

Sob outra perspectiva, Pontes de Miranda define o direito como


algo que está em função da vida social, conceituando-o como um
“processo de adaptação social, que consiste em se estabelecerem regras
de conduta, cuja incidência é independente da adesão daqueles a que a
incidência da regra jurídica possa interessar” (PONTES DE MIRANDA apud
NADER, 2012, p. 20).

Perceba que como é complexo estabelecer um só conceito para o


direito.

Tal dificuldade está relacionada com o fato de ser o direito um


fenômeno que se manifesta em diferentes situações e momentos e por
14 Noções de Direito

esse motivo é classificado como ciência, denominada de ciência jurídica


ou ciência do direito, que nas definições de Miguel Reale, trata-se uma
“ciência complexa que estuda o fenômeno jurídico em todas as suas
manifestações e momentos” (REALE, 2003, p. 321).

VOCÊ SABIA?

Quando o termo Direito for utilizado como sinônimo de


ciência, deve ser usada a letra inicial maiúscula. Nos demais
casos, deve-se utilizar a letra minúscula.

Nesse ponto você já descobriu que o Direito é fruto do mundo


cultural, consiste em uma ciência, mas afinal: o que é o Direito?

Levando em conta os diferentes posicionamentos acerca do tema,


para fins de conceito trataremos o Direito como um conjunto de normas e
condutas que regulam as relações humanas vigentes em uma sociedade,
que devem ser observadas e seguidas por todos e todas.

Agora que você já sabe o que é o direito, é importante que você


entenda a sua finalidade, para que ele serve. O direito busca a pacificação
social e seu principal objetivo é promover a convivência em sociedade
de forma harmônica e pacífica.

Nas lições de Paulo Nader, o direito está em função da vida social. A


sua finalidade é a de favorecer o amplo relacionamento entre as pessoas
e os grupos sociais, que é uma das bases do progresso da sociedade
(NADER, 2003). Para que isso ocorra, é necessário que se estabeleçam
limites às vontades individuais de cada um com o fim de proporcionar o
bem comum, sendo o direito esse limite e a justiça esse equilíbrio. Por
esse motivo, a balança é um dos símbolos do direito.
Noções de Direito 15

Figura 3 – Balança da justiça

Fonte: Pixabay

Temos, portanto, que o direito serve para disciplinar as condutas


humanas na sociedade e que os preceitos jurídicos que o integram devem
buscar o bem comum e a realização da justiça.

Nesse ponto, faço-lhe outro questionamento: direito e justiça são a


mesma coisa?

Essa é uma dúvida muito recorrente entre as pessoas, no dia a dia.


Certamente você já ouviu alguém falar que “fulano foi pra justiça”, ao dizer
que alguém ingressou ou está respondendo a um processo judicial. É
importante que nesse ponto você tenha em mente que esses conceitos
não se confundem, apesar de estarem relacionados.

Etimologicamente a palavra justiça deriva do latim iustitia, cujo


conceito é abstrato, relacionado a um estado ideal e imparcial de interesses.
Na Grécia antiga, a justiça era representada pela deusa Themis, que tinha
três símbolos marcantes: os olhos vendados, a balança e a espada.

Os olhos vendados simbolizam sua imparcialidade e ausência de


preconceitos, a balança em suas mãos simboliza a desigualdade e a
necessidade de equilíbrio e a espada simboliza seu poder.
16 Noções de Direito

Figura 4 – Representação da Themis/Deusa da Justiça

Fonte: Pixabay

Pensadores desde a idade antiga tentam estabelecer definições


sobre o que seria a justiça. Aristóteles define justiça como uma igualdade
proporcional, no sentido de tratar de forma igual entre os iguais e desigual
entre os desiguais, na proporção de sua desigualdade.

Já Platão reconhece a justiça como uma harmonia social, sendo


considerado justo tudo o que está de acordo com a lei.

Na Idade Média, São Tomás de Aquino definiu justiça como a vontade


de dar a cada um o que é seu. Já na idade moderna, Hanks Kelsen define
justiça como felicidade social utópica, considerando ser impossível de ser
alcançado, pois se o objetivo é alcançar a felicidade e que a felicidade
tem uma definição para cada um, a justiça seria inalcançável.

Partiremos dessa crítica estabelecida por Kelsen para discutir a


questão da justiça e seus valores morais.

Pense no seguinte exemplo: uma mulher dá à luz a uma criança


e entrega-a para outra pessoa para que a criança não morra de fome.
Digamos que após o ato da entrega, a mãe biológica dedicou-se dia
após dia ao trabalho com o fim de retomar a guarda de sua filha. A mãe
adotiva, por sua vez, passou os cinco anos dedicando-se aos cuidados
da pequena criança. Eis que a mãe biológica procura a mãe adotiva para
requerer a guarda da criança de volta e a mãe adotiva se nega a entregá-
Noções de Direito 17

la. O que seria justo nesse caso? Há quem diga que deve a criança ficar
com a mãe biológica e há quem defenda a mãe adotiva.

O caso mencionado anteriormente nos serve de referência para


refletirmos como o conceito de justiça está equiparado a outros fatores,
como concepções morais, religiosas e pessoais.

Certamente ao se decidir pelo caso anterior, você valorou questões,


como a vulnerabilidade da criança, o fator biológico, o elo afetivo da mãe
adotiva, entre outros. Note que involuntariamente sua concepção de
justiça foi ventilada por uma série de preceitos e concepções que vão
além de uma simples definição.

Nesse sentido, não podemos negar a relação que se estabelece


entre o direito, a justiça e a moral para a definição de normas de conduta
de uma sociedade.

Em um sentido amplo, a moral é um conjunto de normas e de


comportamentos que foram criados e aceitos pela sociedade ao longo
dos tempos e está relacionada com comportamentos subjetivos do homem.

Note que não se confunde com os conceitos de direito e nem de justiça.

O direito distingue-se da moral quando a moral permite que o


indivíduo tenha uma liberdade de escolha entre o certo e errado ao praticar
determinados atos, referindo-se a um sujeito, cujas consequências são
individuais.

Já o direito não proporciona tal discricionariedade, pois há uma


norma a ser seguida, uma regra de conduta posta, cujas consequências
são voltadas ao integrante da sociedade, não havendo liberdade de
escolha e com consequências ante a desobediência.

EXPLICANDO MELHOR:

Enquanto as normas morais consistem nos valores


individuais e coletivos da sociedade, as normas jurídicas
são impositivas, devendo ser obedecidas por todos, sob
pena de punição.
18 Noções de Direito

Apesar de espécies diferentes derivadas do mesmo gênero, é


possível que haja coincidência entre as normas morais e jurídicas.

É o caso de algumas condutas tipificadas no código penal, como


roubo, homicídio, estupro. Além de serem normas de condutas reprovadas
pela ótica da moral, também são vedadas pelas normas jurídicas, mais
especificamente nos artigos 157, 121 e 129 do Código Penal, cuja pena é a
de reclusão.

É importante que você saiba que mesmo que seja possível que
as normas jurídicas e morais coincidam, tal fato nem sempre é uma
regra, pois existem fatos que, apesar de condenados moralmente, não
constituem qualquer infração legislativa.

EXEMPLO:

Ana é filha de Carla. Por um capricho, Ana abre a carteira de sua


mãe e furta considerável quantia de dinheiro. A conduta de Ana,
apesar de ser reprovada moralmente, é isenta de pena, por força do
art. 181, II do Código Penal.

Neste ponto destacamos que o conceito de moral não se confunde


com o conceito de ética, também importante para o nosso estudo aqui
dentro dessa disciplina.

A ética está relacionada com a avaliação fundamentada dos


comportamentos humanos morais dentro da sociedade. A ética, portanto,
consiste no conjunto de conhecimentos extraídos dessa avaliação
do comportamento humano ao avaliar as normas morais de forma
racionalizada, fundamentada, a partir da ciência e da teoria.

NOTA:

A ética é uma reflexão da moral.

Em termos práticos, a ética e a moral possuem finalidades


semelhantes, no sentido de construir bases para guiar o comportamento
humano dentro da sociedade.
Noções de Direito 19

São as normais morais e éticas responsáveis por construir as bases


que irão guiar a forma de agir do homem, moldar seu caráter, construir
conceitos de altruísmo e virtudes.

São exemplos de ações que levam em conta os princípios éticos e


morais.

De cada indivíduo o ato de ajudar a quem precisa, de cometer ou


não ato ilícitos, jogar lixo na rua, furar fila, maltratar animais, prejudicar
colegas de trabalho para alcançar objetivos, entre outros.

Nesse sentido, podemos concluir que os valores que formam


a moral influenciam na construção das normas jurídicas, mas não
necessariamente vinculam uma a outra. Embora ambos sejam normas de
conduta humana, direito e moral não se confundem.

Aprendemos que a moral orienta o comportamento do homem


a partir das normas instituídas pela própria sociedade ou por um grupo
social, fazendo as leis parte desse conjunto de normas.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o


acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento:
Vídeo: “Saber Direito - Filosofia do Direito” (TV JUSTIÇA),
acessível por este link.
Sobre o que conversamos relacionados à moral, sugerimos
o vídeo a seguir para o aperfeiçoamento dos seus
conhecimentos. Vídeo “Casa do Saber – O que é Moral –
Clovis de Barros Filho, acessível por este link.
Caso você se interesse por esse tema, sugerimos o
documentário “Justiça”, acessível por este link.
20 Noções de Direito

RESUMINDO:

E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos


certeza de que você realmente entendeu o tema de
estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.
Você iniciou esse capítulo aprendendo sobre a diferença
do mundo natural e mundo cultural, este último ao qual
o direito faz parte e pode entender sobre a influência do
homem para sua criação e transformação. Além disso, você
conheceu algumas definições sobre o que é Direito dadas
por pensadores como Kelsen e Pontes de Miranda e pode
entender o porquê do direito ser considerado uma ciência.
Além disso, definimos que direito é um conjunto de normas
que regulam as relações humanas e qual é a finalidade
do direito: regular tais relações, busca a pacificação social.
Vimos também a relação entre direito e justiça, o significado
da representação mitológica pela famosa Themis e as
definições de justiça dadas ao longo da história. Por fim,
você pode entender sobre a relação entre o direito e a
moral e como essas regras de conduta podem influenciar a
vida em sociedade.
Noções de Direito 21

Classificações, ramos e fontes do direito

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será apresentado às


subdivisões, aos ramos e às fontes do direito, de modo que
você possa compreender aas peculiaridades e diferenças
dessa ciência tão fascinante. Motivado para desbravar esse
novo universo? Então vamos lá.

Classificações do direito
O termo direito pode ser empregado com diversos significados.
Aqui chamaremos de classificações do direito, mas quero que você
tenha em mente que não se trata de formas diferentes de direito, mas sim
de diferentes significados para esse mesmo termo. Tudo bem?

O direito natural, como o próprio nome já diz, é aquele proveniente


da natureza, da existência humana. O direito natural não precisa estar
escrito, criado por alguém ou formulado pelo Estado. Trata-se de direitos
que são originados na própria existência ou razão do homem. Alguns
acreditam que o direito natural deriva da vontade de Deus (teólogos),
outros, que correspondem à natureza cósmica (helenistas), bem como há
quem acredite que o direito natural derive da razão humana (racionalistas).

EXEMPLO:

São exemplos de direito natural o direito à vida, a liberdade, à


reprodução, à constituição de uma família.

O direito positivo, por sua vez, consiste no conjunto de normas


jurídicas que podem ser escritas ou não, vigentes em determinada
sociedade, impostas pelo Estado. O direito positivo surgiu a partir do
século XIX, na transição da Idade Média para a Idade Moderna, diante
da revolta da população com os reis absolutistas da época, que, sob o
argumento de serem enviados por Deus, praticavam injustiças com as
classes sociais menos privilegiadas.
22 Noções de Direito

EXEMPLO:

É um exemplo de direito positivo a Constituição e as leis de um


Estado.

O direito natural inspira e norteia a formação do direito positivo e


tem uma importante influência na definição dos princípios gerais que
norteiam o direito.

O direito objetivo está relacionado com as normas jurídicas, com


o conjunto de regras que regulam a vida em sociedade. O direito objetivo
estabelece regras de conduta social, a forma com que os indivíduos
devem ou não agir. Já o direito subjetivo está relacionado com uma
situação jurídica, com o direito do indivíduo. O direito subjetivo está
relacionado com a faculdade de agir e com o direito de um beneficiário
da justiça invocar a aplicação das normas a seu favor.

EXPLICANDO MELHOR:

O Código Civil prevê a obrigação dos genitores prestarem


alimentos (pensão alimentícia) a seus filhos. Esse é um
direito objetivo previsto no Código Civil. Joana mora com a
avó e não recebe pensão de seu pai, Jorge. Joana possui o
direito subjetivo de requerer alimentos a Jorge.

Agora que você já aprendeu sobre as classificações do direito,


vamos aprender um pouco mais sobre os ramos do direito? Vem comigo!

Ramos do direito
Conforme você já aprendeu, integram o direito as normas jurídicas
que se destinam a regular a convivência social. Considerando as múltiplas
formas de relações sociais, quero que você pense as classificações do
direito como ramos de uma árvore, subdivididos para facilitar a sua
compreensão sobre o tema (não havendo o que se falar em diferenças
nas categorias aqui apresentadas).
Noções de Direito 23

Figura 5 – Ramos do direito

Classificações do Direito

PÚBLICO PRIVADO

INTERNO EXTERNO INTERNO EXTERNO

CONSTITUCIONAL INTERNACIONAL CIVIL INTERNACIONAL

ADMINISTRATIVO EMPRESARIAL

PENAL TRABALHISTA

PREVIDENCIÁRIO

ELEITORAL

TRIBUTÁRIO

PROCESSUAL

Fonte: Elaborada pela autora (2021).

Direito Público e Direito Privado


A primeira categoria que iremos abordar, o primeiro ramo nossa
árvore será a diferença entre direito público e privado. Direito Público
consiste nas normas jurídicas que são voltadas para a coletividade, para o
todo, enquanto o Direito Privado está relacionado a normas que regulam
as relações particulares entre os sujeitos.

O Direito Público possui um maior poder normativo e uma menor


margem de escolha das pessoas a ele subordinada, tendo em vista que
no direito público o que prevalece é o interesse público, pois é voltado
para a construção de normas coletivas. Já o Direito Privado consiste em
um conjunto de normas que permitem uma maior liberdade de escolha
por parte do indivíduo, considerando sua aplicabilidade nas relações
entre particulares, associações civis e sociedades.
24 Noções de Direito

Ainda mentalizando nossa árvore, o ramo do Direito Público se


subdivide em duas categorias, o Direito Público Interno e o Externo.

Direito Público Interno


O Direito Público interno divide-se em sete categorias, sendo
elas: Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Penal, Direito
Previdenciário, Direito Eleitoral, Direito Processual e Direito Tributário, as
quais trataremos pormenorizadamente a seguir.

Direito Constitucional
O Direito Constitucional é o ramo do direito que inevitavelmente
está relacionado com todos os demais ramos do direito, uma vez que
se refere ao que se encontra previsto na Constituição. Dessa forma, ele
engloba os direitos fundamentais, a política, as formas de governo do
Estado e a organização da sociedade.

Direito Administrativo
O Direito Administrativo é ramo do direito responsável por reger
tudo o que diz respeito à Administração Pública. Enquanto o Direito
Constitucional determina a estrutura político-administrativa do Estado, as
regras de funcionamento e observância dessa estrutura são ditadas pelo
Direito Administrativo.

Direito Penal
O Direito Penal, terceiro integrante da categoria de Direito Público
Interno, é o responsável por disciplinar os crimes e as contravenções penais.
Sua principal finalidade é a manutenção da ordem pública e proteção dos
direitos fundamentais, como a vida, a liberdade e a propriedade.

Direito Previdenciário
O Direito Previdenciário é um ramo do direito público interno que
cuida dos direitos sociais. Esse ramo do direito é o responsável por regular
a relação entre o Estado e os segurados que dele dependem.
Noções de Direito 25

Direito Eleitoral
O Direito Eleitoral é o ramo do direito que está relacionado com
o processo eleitoral, estabelecendo regras desde a candidatura até a
prestação de contas do mandato.

Direito Processual
O Direito Processual, sétima categoria do Direito Público Interno,
disciplina em suma as normas jurídicas para o exercício do direito, ou
seja, as formalidades e regras a serem obedecidas pelas partes no litígio.
O direito processual subdivide-se em categorias, de acordo com a área
do direito ao qual se refere, podendo ser do trabalho, civil, penal. Apesar
dessa subdivisão, a finalidade é a mesma, ou seja, regular a aplicação do
direito.

Direito Tributário
O Direito Tributário, por sua vez, rege as relações tributárias entre
o fisco (Estado) e o contribuinte (indivíduo), de modo a garantir a receita
do Estado e a prestação de serviços essenciais previstos na Constituição.

Direito Público Externo


O Direito Público Externo, denominado de Direito Internacional
Público, cuida das relações públicas exteriores do Estado. Esse ramo
do direito é o responsável por disciplinar as relações exteriores, ou seja,
com outros Estados, nas esferas políticas, econômicas e sociais. É por
meio desse ramo do direito que são celebrados acordos e tratados
internacionais.

Direito Privado Interno


Assim como o direito público, ele subdivide-se em interno e
externo. O direito privado interno divide-se em quatro categorias: Civil,
Empresarial, Trabalho e Direito Internacional Privado.
26 Noções de Direito

Direito Civil
O Direito Civil é o ramo que regula as relações civis individuais
em geral, desde o nascimento até a morte do indivíduo, disciplinando
questões relativas a negócios jurídicos, casamento, filiação e sucessão. O
Código Civil é dividido em 2.046 artigos e é objeto do estudante de direito
durante toda a graduação.

Direito Empresarial
O Direito Empresarial é o ramo do Direito que trata da relação
jurídica entre o indivíduo e empresas e/ou a sociedade empresarial. Em
geral ele é formado por normas que regulam a atividade do empresário,
atribuindo-lhe deveres e garantias.

Direito do Trabalho
O Direito do Trabalho é o responsável por regular as relações
de emprego e trabalho. Derivado do Direito Civil, esse ramo do Direito
surgiu no ordenamento jurídico para estabelecer medidas de proteção e
proporcionar aos trabalhadores condições dignas de trabalho.

Direito Privado Externo


Integra a categoria de Direito Privado Externo um único ramo
do direito, o Direito Internacional Privado. Esse ramo do direito é o
responsável por estabelecer as normas que serão aplicadas às relações
jurídicas particulares com outros Estados.

EXPLICANDO MELHOR:

O Direito Público Externo e o Direito Privado Externo estarão


sempre relacionados com as relações exteriores do Estado,
ou seja, com o Direito Internacional.

Agora que você já pode entender quais são os ramos dessa árvore
do direito, quero te convidar a conhecer as fontes do direito, vamos nessa?
Noções de Direito 27

Fontes do direito
Quando falamos de fontes do direito, estamos falando da origem,
da causa. A fonte do é onde nasce o direito, pense em algo semelhante
a uma fonte de água, de onde tudo começa. De acordo com Reale, “por
fonte do direito designamos os processos ou meios em virtude dos quais
as regras jurídicas se positivam com legítima força obrigatória, isto é, com
vigência e eficácia no contexto de uma estrutura normativa” (REALE, 2003,
p. 140).

As fontes do direito servem como uma espécie de garantia,


auxiliando os operadores a aplicarem o direito ao caso concreto e
delimitando a atuação do juiz, de modo a impedir que sejam aplicadas
concepções pessoais nos casos concretos.

As fontes do direito classificam-se em: primárias (também


chamadas de diretas ou imediatas) ou secundárias (indiretas ou mediatas);
materiais ou formais.

As fontes primárias, também denominadas de fontes diretas


ou fontes imediatas, são as normas jurídicas criadas pelo Estado, que
emanam do Poder Legislativo ou do Poder Constituinte. São exemplos de
fontes primárias a Constituição Federal, o Código Civil e o Código Penal.

As fontes secundárias, também denominadas de fontes indiretas


ou mediatas, são aquelas que atuam como auxiliares na aplicação das
leis, auxiliando na interpretação de uma fonte primária. São exemplos
de fontes secundárias os costumes, a analogia, os princípios gerais do
direito, a jurisprudência e a doutrina. Trataremos de cada uma dessas
fontes a seguir.

A Lei
Principal fonte do Direito, o termo lei refere-se ao conjunto de normas
gerais abstratas e de caráter imperativo existentes no ordenamento
jurídico brasileiro. Fazem parte dessa classificação a Constituição, as
emendas constitucionais, as leis ordinárias, as leis delegadas, as medidas
28 Noções de Direito

provisórias, os decretos e as resoluções legislativas. Todas essas normas


de caráter legislativo integram a classificação de lei.

Costumes
Os costumes, classificados como fonte indireta ou imediata,
referem-se ao conjunto de atos praticados por um povo reiteradamente e
que, ao longo do tempo, passam a se tornarem obrigatórios. Os costumes
se assemelham às leis, pois devem ser obrigatoriamente observados pelo
aplicador do direito.

As normas jurídicas que derivam dos costumes são denominadas de


normas consuetudinárias. Importante destacar que um costume não pode
ser imposto pelo Estado, nem revogar ou contrariar com uma lei, devendo
os costumes servirem como fonte do direito de forma secundária, ou seja,
na ausência de lei específica para regular o caso.

EXPLICANDO MELHOR:

Via de regra, diante de um conflito entre costume e lei,


prevalecerá sempre a lei.

Jurisprudência
A jurisprudência consiste no conjunto de decisões uniformes
e constantes dos tribunais, proferidas para a solução judicial de
conflitos, envolvendo casos semelhantes (DINIZ, 2016). Nesse sentido,
jurisprudência é “a forma de revelação do Direito” resultante do exercício
da jurisdição, decorrente de uma “sucessão harmônica de decisões dos
tribunais (REALE, 2003, p. 167). Aqui salientamos que não se tratam de
julgamentos isolados sobre determinado assunto, mas sim julgamentos
reiterados sobre o mesmo tema.
Noções de Direito 29

IMPORTANTE:

Julgamentos isolados de casos criam precedentes, mas


não jurisprudência.

A jurisprudência criada por esses tribunais pode, além de guiar


o magistrado na decisão sobre assuntos que não possuem legislação
específica sobre o tema, dar origem às súmulas. As súmulas consistem
na publicação do enunciado de uma jurisprudência de forma resumida.
Elas proporcionam uma maior estabilidade jurídica à jurisprudência. Uma
espécie de súmula são as súmulas vinculantes, que entraram em vigor no
ordenamento jurídico a partir da promulgação da Constituição de 1988 e
diferem-se das súmulas por seu caráter obrigatório.

ACESSE:

Para conhecer as súmulas vinculantes, acesse aqui.

Doutrina
A doutrina, outra espécie de fonte indireta, é o fruto do estudo de
operadores e pesquisadores da ciência do direito, por meio dos escritos
publicados em formato de livro, artigo ou periódico. Apesar de não ser
uma norma jurídica, a doutrina exerce uma importante função ao auxiliar
na interpretação e aplicação da lei ao caso concreto.

Princípios gerais do direito


Os princípios gerais do direito estão para a ciência de direito como
uma espécie de bússola, auxiliando os operadores do direito a alcançarem
a justiça para o caso concreto.

Como define Miguel Reale, “princípios gerais de direito são


enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam
30 Noções de Direito

a compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação e


integração, quer para a elaboração de novas normas”. (REALE, 2002, p. 305)

Os princípios podem estar previstos expressamente na Constituição,


como é o caso do princípio da soberania, da cidadania, da dignidade da
pessoa humana, mas também podem estar relacionados especificamente
a determinados ramos do direito, como o princípio da autonomia da
vontade e da afetividade.

Analogia
A analogia consiste em um método de interpretação jurídica que
deve ser utilizado quando da ausência de uma norma jurídica específica
para um caso e da existência de uma norma jurídica semelhante. Um
exemplo clássico para você entender sobre a analogia está relacionado
com união estável e o código civil. A união estável passou a ser reconhecida
após a edição Código Civil, de modo que não há na lei civil nenhuma
menção à união estável. Desse modo, os juristas analogicamente aplicam,
no que não houver conflito, as disposições relativas ao casamento à união
estável.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso


à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “O
começo da história. A nova interpretação constitucional
e o papel dos princípios no direito brasileiro” (BARROSO;
BARCELLOS, 2003), disponível clicando aqui.
Noções de Direito 31

RESUMINDO:

E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos


certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você
iniciou esse capítulo aprendendo sobre as classificações
do direito, oportunidade em que você foi apresentado aos
conceitos de direito natural, direito positivo, direito objetivo
e direito subjetivo. Além disso, trabalhamos nesse capítulo
com os ramos do direito e você aprendeu sobre a divisão
do Direito Público e Privado e as áreas derivadas dessa
classificação. Por fim, trabalhamos as fontes do direito, a
classificação entre fontes primárias, secundárias, materiais
e formais e quanto às fontes formais, você pode entender
em que consiste a lei e sua diferença para as demais fontes
formais, como a jurisprudência, doutrina e os princípios
gerais do direito. Nesse capítulo eu espero que você tenha
entendido como que o direito é uma construção social, fruto
da evolução da sociedade, criado a partir da necessidade
de regulação das condutas vividas ao longo dos tempos.
Bom, chegamos à metade do caminho. Vamos continuar
nessa jornada incrível em busca do conhecimento junto
comigo?
32 Noções de Direito

Normas jurídicas, processos e procedimento

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, iremos identificar as espécies


normativas e a diferença entre processo e procedimento, de
modo que você entenda quais são as espécies normativas
e como se dá a sua aplicação nos casos concretos.
Preparado? Então vamos lá.

Normas jurídicas
Conforme já aprendemos, as normas jurídicas consistem em uma
fonte formal do direito que traduzem as normas de conduta determinadas
pelo Estado. Consistem na vontade do Estado, traduzida pelo legislador e
materializada na lei. São características das normas jurídicas:

a. Generalidade – obriga a todos, sem exceção.

b. Abstratividade – as normas abarcam situações abstratas, cabendo


ao operador do direito aplicá-las aos casos concretos.

c. Bilateralidade – as normas jurídicas estabelecem deveres e


resguardam direitos.

d. Imperatividade – trata-se de comandos imperativos, ou seja, que


devem ser obrigatórios.

e. Coercibilidade – sua não observância gera consequências


aplicadas pelo Estado.

f. Heteronomia – o comando é vindo de um único ente, o Estado.

Quanto à esfera do Poder Público, as normas jurídicas podem


ser municipais, estaduais ou federais. A própria Constituição estabelece
as competências legislativas de cada ente da Federação e tal
competência deve ser observada com rigor, sob pena de ser declarada a
inconstitucionalidade.
Noções de Direito 33

EXEMPLO:

Ao município não cabe legislar sobre questões estaduais.

Assim como há uma hierarquia entre os entes da federação,


também existe uma hierarquia entre as normas jurídicas, tendo em vista a
ordem de subordinação entre elas. Kelsen, a partir da sua teoria pura do
Direito, é o autor de uma valiosa ilustração que traduz essa hierarquia das
normas, conhecida popularmente como a pirâmide de Kelsen.
Figura 6 – Pirâmide de Kelsen

Fonte: Elaborada pela autora (2021).

No primeiro plano dessa hierarquia figura a Constituição Federal e


as Emendas Constitucionais, pois elas possuem o condão de condicionar
a existência das demais normas bem como de revogá-las.

VOCÊ SABIA?

Qualquer norma jurídica que seja de categoria diversa e


que tenha disposições contrárias ao que está estabelecido
na constituição é considerada inconstitucional.

Em segundo plano encontram-se as normas complementares,


que são normas previstas com o fim de complementar as normas
constitucionais, por meio de lei complementar. A aprovação desse tipo
34 Noções de Direito

de norma requer um procedimento legislativo especial, previsto no artigo


69 da Constituição Federal.

Em terceiro plano encontram-se as normas ordinárias. Consistem


em normas ordinárias as leis ordinárias, as leis delegadas, as medidas
provisórias, as leis delegadas e os decretos.

A lei ordinária é residual, de modo que será lei ordinária tudo o que
não for lei complementar, decreto ou resolução. A lei delegada, por sua
vez, é fruto de uma delegação de competência do poder legislativo para
o poder executivo. O art. 68 §1º da Constituição estabelece as hipóteses
em que é vedada tal delegação.

As medidas provisórias consistem em normas que precisam que


ser criadas com urgência, diante de situações excepcionais. Elas possuem
um trâmite mais célere do que as leis, mas possuem um período de
vigência limitado a 120 (cento e vinte) dias.

O decreto legislativo consiste em uma espécie de norma que


traduz atos individuais ou gerais emanados dos chefes do Poder Executivo
(Presidente da República, Governador e Prefeito) enquanto a resolução
é uma espécie de norma privativa para regular atos internos do poder
legislativo. Ambos possuem competência residual, para tratar de assuntos
que não sejam objeto de lei.

Por fim, na base da pirâmide de Kelsen encontram-se os negócios


jurídicos e os atos celebrados por particulares. Derivados das relações
privadas, o objeto dessa classificação são as relações entre particulares,
como contratos e acordos.

Agora que você já aprendeu sobre as classificações das normas,


vamos aprender o processo legislativo que as coloca em vigor?

O processo legislativo consiste no caminho que um projeto de


lei deve seguir obrigatoriamente, até que ele se torne uma lei em vigor,
sob pena da lei ser inconstitucional. Todas as determinações que você
encontrar aqui estão expressamente inscritas na Constituição.

O primeiro ponto que é importante você saber que hoje, no Brasil,


vigora o regime bicameral, ou seja, que para uma lei ser aprovada, via
Noções de Direito 35

de regra, ela deve passar obrigatoriamente pela Câmara e pelo Senado


Federal. Nesse sentido, o projeto legislativo, via de regra, deve criado e
apresentado para a casa revisora.

Um projeto de lei pode ser proposto por qualquer deputado,


qualquer senador, qualquer comissão da Câmara, do Senado ou do
Congresso, pelo Presidente da República, pelo Procurador Geral da
República, pelo Supremo Tribunal Federal, pelos tribunais superiores e
pelo povo obedecidas as regras da iniciativa popular.

VOCÊ SABIA?

O povo pode propor projetos de lei, desde que respeitados


os requisitos estabelecidos na Constituição. A Lei da Ficha
Limpa (LC135/2010) foi fruto de um projeto de lei que surgiu
a partir da iniciativa popular.

A etapa de revisão do projeto de lei, obrigatória dentro do processo


legislativo, é feita pela casa oposta que criou o projeto. Isso significa dizer
que se quem propôs o projeto foi a Câmara, cabe ao Senado fazer a
revisão e o mesmo se aplica ao contrário.

Após a revisão, o projeto de lei será encaminhado ao Chefe do


Executivo. Uma das funções do Chefe do Executivo (prefeito, governador
ou presidente) é a de sancionar as leis. Nesse sentido, o chefe do executivo
terá duas opções: ou sancionar a lei ou vetá-la.

Caso o Chefe do Executivo vete a lei, caberá ao Congresso (câmara +


senado), dentro do prazo de 30 dias, para reapreciar o projeto e regularizar
suas inconsistências.

Caso o Chefe do Executivo sancione (aprove) a Lei, ela deverá entrar


em vigor por meio de publicação no Diário Oficial. Passados 45 (quarenta e
cinco) dias da publicação da lei, ela é considerada em vigor.
36 Noções de Direito

VOCÊ SABIA?

O prazo de 45 dias entre a publicação e a entrada em vigor


da lei é chamado de vacatio legis. O legislador pode optar
por um período diferente ou até suprimi-lo, a depender do
caso concreto.

Uma vez em vigor, a lei só será revogada pelo decurso do tempo,


pela revogação por lei de hierarquia equivalente ou superior ou pelo
desuso.

IMPORTANTE:

Pelo princípio da irretroatividade da lei, uma lei jamais


poderá regular situações passadas, seus efeitos serão
aplicados somente para situações que ocorrerem a partir
da sua entrada em vigor.

Bom, agora que você já está ambientado no mundo jurídico e


está afiado no que diz respeito às leis, doutrinas, jurisprudências, vamos
aprender a aplicação dessas leis nos casos concretos? Tenho certeza que
você não vai se arrepender.

Processo e procedimento
A definição de processo e procedimento não se confunde, mas
se correlaciona. O processo consiste no instrumento de provocação
da jurisdição, o meio em que leva a pretensão de um indivíduo ao
conhecimento do poder judiciário. Já o procedimento consiste na
materialização do processo, no caminho a ser percorrido em busca da
prestação jurisdicional do Estado.

A relação jurídica processual consiste na relação entre autor, réu e


o juiz. O autor figura como quem invoca ao Estado postulando um direito,
o réu consiste na pessoa contra quem esse direito está sendo requerido e
Noções de Direito 37

o juiz é o representante do Estado e aplicador do direito. Nesse sentido, a


relação jurídica processual é triangular e via de regra pública.
Figura 7 – Sujeitos processuais

ESTADO
Juiz

RÉU AUTOR
Requerido Requerente
Partes
Reclamado Reclamante
Acusado Autor

Fonte: Elaborada pela autora (2021)

O juiz, dentro da estrutura processual, exerce a jurisdição, ou seja,


o poder conferido pelo Estado de interpretar as leis e aplicá-las ao caso
concreto. Nas lições de Maria Helena Diniz:
Na determinação do direito que deve prevalecer no caso
concreto, o juiz deve verificar se o direito existe, qual o
sentido da norma aplicável e se esta norma aplica-se ao
fato sub judice. Portanto, para a subsunção é necessária
uma correta interpretação para determinar a qualificação
jurídica da matéria fática sobre a qual deve incidir uma
norma geral. (DINIZ, 2016, p.423)

É possível que o juiz se depare com casos que não se enquadram


perfeitamente nas normas jurídicas existentes, ou que quanto à
determinada ocasião a lei seja omissa, obscura ou ambígua. Diante
desses casos, caberá ao juiz utilizar técnicas de interpretação do direito
para aplicá-lo ao caso concreto.

Considerando que a estrutura judiciária brasileira se encontra cada


vez mais abarrotada de processos, há uma tendência moderna de que as
pessoas procurem meios alternativos de resolução de conflitos. Nesses
casos não será o juiz quem irá exercer a jurisdição, mas sim esses órgãos
e sujeitos que promovem a resolução dos litígios.
38 Noções de Direito

É muito comum que nessa etapa da disciplina os alunos se


questionem sobre a estrutura do judiciário, sobre como é escolhido o juiz
que julgará o caso e será sobre isso que vamos aprender agora.

O Poder Judiciário brasileiro encontra-se organizado por meio


das competências que integram os âmbitos estaduais e federais. Toda
a matéria relativa à organização encontra-se tipificada no artigo 92 da
Constituição.

O primeiro órgão integrante do Poder Judiciário é o Supremo


Tribunal Federal (STF). O STF é órgão máximo do judiciário e guardião
da Constituição. Ele é composto por onze ministros que devem ser
reconhecidos pelo seu amplo saber jurídico e por sua reputação ilibada.
O STF é denominado de guardião da Constituição, pois cabe a ele julgar
as ações relativas a assuntos constitucionais. O presidente do STF é eleito
pelos próprios ministros e tem um mandato de dois anos.

O segundo órgão integrante do Poder Judiciário é o Conselho


Nacional de Justiça (CNJ). O CNJ é o responsável pelo controle dos atos
administrativos e financeiros de todos os órgãos integrantes do Poder
Judiciário, além de ser o responsável por supervisionar e fiscalizar as
atividades de seus integrantes.

Seguindo, temos o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Esse órgão é


o composto por 33 ministros e consiste na última instância de julgamento
do Brasil de crimes infraconstitucionais, ou seja, que não sejam de
competência do STF. Cabe ao STJ, entre outras coisas, a homologação de
sentenças estrangeiras.

Temos, no âmbito superior, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que


figura como última instância no julgamento de causas de Direito Eleitoral,
principalmente relacionadas aos direitos políticos da população. O TSE é
composto por sete membros, sendo que três deles são escolhidos por
meio de votação entre os ministros do STF; dois, entre os do STJ; e os
outros dois são nomeados pelo presidente da República.

Assim como o TSE está para o Direito Eleitoral, integra o Poder


Judiciário o Tribunal Superior do Trabalho, cuja função é apreciar
em última instância os casos relacionados com o Direito do Trabalho.
Noções de Direito 39

Compõem esse tribunal vinte e sete ministros, que são nomeados pelo
Presidente da República.

Também integra o Poder Judiciário em sede superior o Tribunal


Superior Militar (TSM), que é a mais antiga corte do país, especializado
no julgamento de casos envolvendo a Marinha, a Aeronáutica e o Exército.
O TSM é composto por quinze ministros, sendo eles três ministros são
da Marinha, quatro do Exército e três da Aeronáutica, os outros cinco são
civis.

VOCÊ SABIA?

Os tribunais superiores ficam todos localizados em Brasília,


no Distrito Federal.

Os tribunais regionais integram a segunda instância e podem ser


divididos de acordo com a competência.

Os Tribunais Regionais do Trabalho (TRT) integram a justiça do


trabalho no Brasil, juntamente com as varas do trabalho e o Superior
Tribunal do Trabalho (TST). Existem atualmente no Brasil 24 tribunais
regionais, distribuídos nos estados da federação por região, sendo que o
estado de São Paulo é o único que conta com dois tribunais.

Os Tribunais Regionais Eleitorais (TRE) estão presentes em


cada um dos estados brasileiros e, juntamente com o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), integram a justiça eleitoral. Os TREs são compostos por
sete julgadores: dois desembargadores do Tribunal de Justiça; um juiz
do Tribunal Regional Federal, dois juízes de direito e dois advogados
indicados pelo Tribunal de Justiça.

Os Tribunais de Justiça integram a segunda instância e são os


responsáveis por decidirem os processos em grau de recurso, após
o julgamento do juiz singular. Eles podem ser estaduais ou federais, a
depender da matéria de julgamento.

Por fim, integra o Poder Judiciário os Juízes Singulares, magistrados


que devem ser aprovados em concurso público que integram o juízo de
40 Noções de Direito

primeira instância. Esses magistrados são os responsáveis, via de regra, a


decidirem primeiro os casos. Integram a categoria de juízes singulares os
juízes estaduais, federais, do trabalho, eleitoral e militar.

Esses órgãos foram estabelecidos justamente com o objetivo de


garantir a imparcialidade dos processos, de modo que qualquer pessoa
que ingresse com um processo no Poder Judiciário hoje pode recorrer às
três instâncias.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Que tal uma leitura


rápida à Constituição, principalmente no Capítulo 3?
Acesse e confira aqui.

RESUMINDO:

E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos


certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Iniciou
esse capítulo aprendendo retomando os ensinamentos
sobre as normas jurídicas como fontes formais objetivas
do direito e descobrindo suas classificações: generalidade,
abstratividade, bilateralidade, imperatividade, coercitividade
e heteronomia. Além disso, aprendemos que as normas
jurídicas podem ser municipais, estaduais ou federais,
a depender do assunto sobre o que elas tratam.
Aprendemos nessa unidade sobre a hierarquia das normas
e a importância da Constituição perante as demais normas,
além de conhecermos a diferença entre leis ordinárias,
complementares e delegadas. Por fim, aprendemos a
importância dos decretos legislativos e resoluções, além
dos negócios jurídicos. Nesse capítulo você foi apresentado
ao processo legislativo, de todo o caminho percorrido por
um projeto de lei até que ele se torne uma lei em vigor. Por
fim, aprendeu a diferença entre processo e procedimento e
pode conhecer a estrutura do poder judiciário brasileiro.
Noções de Direito 41

Teoria Geral do Estado

OBJETIVO:

Agora que você já aprendeu o que é o direito, seus


conceitos, suas áreas, suas fontes, seus ramos, iremos
trabalhar neste capítulo noções básicas sobre a Teoria
Geral do Estado, abordando suas formas de organização
e seus regimes políticos. Preparados para nosso quarto e
último capítulo desta unidade?

Conceito e evolução história do Estado


O Estado consiste na organização política e jurídica de uma
sociedade. De maneira sintetizada, constitui Estado uma ordem jurídica
soberana que objetiva o bem de um povo situado em determinado
território. A partir desse conceito, podemos concluir que são elementos
constitutivos do Estado o povo, o território e um governo soberano.

NOTA:

Cuidado para não confundir o conceito de Estado com o


de estados-membros. Pense em Estado como o Brasil e
estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, por
exemplo.

O primeiro registro de Estado existente na sociedade é o denominado


Estado Antigo surgiram nas antigas civilizações. Na época não havia muita
distinção sobre a família, o Estado e, portanto, o pensamento político da
época era um misto de moral, filosofia e religião.

Esse período foi marcado pela unidade do Estado (não havia divisões
entre estados e municípios) e o domínio da religiosidade, esta última
utilizada como instrumento de coação e modo de agir, sob alegação de
ser “a vontade de Deus.
42 Noções de Direito

Seguindo a linha do tempo, tem-se como evolução do Estado Antigo


o Estado Grego, cujas características eram o fortalecimento do Estado
e o aumento da participação das pessoas na organização deste. Surge
nessa época o conceito de cidades bem como se valoriza o pensamento
de filósofos e cientistas.

É no Estado Grego que surgem as primeiras noções do que é a


democracia e a sociedade política, denominada de polis.

A seguir surge o Estado Romano, cuja base organizacional do


Estado eram as civitas, formadas por grupos familiares que possuíam
privilégios e eram considerados os herdeiros e descendentes do próprio
Estado.

O Estado Romano foi marcado pela forte presença do cristianismo


e onde surgiram os primeiros registros da figura do Magistrado para a
resolução de conflitos do povo.

Já na era medieval passou a vigorar o Estado Medieval, considerado


por muitos um Estado cruel e desigual e, por outros, um importante
período de transformação.

Essa era sofreu uma forte influência do cristianismo e do feudalismo


e foi marcada por conflitos entre os imperadores e papas da época, que
viriam a acabar com o surgimento do Estado Moderno.

Dos conflitos e batalhas travadas na Idade Média surge o Estado


Absolutista, cujas principais características era o poder soberano e
generalizado concentrado nas mãos do monarca.

Essa forma de Estado foi construída a partir das ameaças que


a Igreja Católica vinha sofrendo na época por conta do surgimento do
liberalismo religioso e da filosofia racionalista que passou a questionar
atos da Igreja na época.

Fadado ao fracasso por conta da exagerada forma de controle


social adotada pelo Absolutismo, surge a figura do Estado Moderno,
época em que os senhores feudais passaram a questionar as exigências
dos monarcas da época que cada vez impunham o aumento de tributos
Noções de Direito 43

para custearem seus luxos e patrocinarem guerras enquanto a população


vivia em situação miserável.

O despertar do povo fez com que buscassem a unidade de um


poder soberano, supremo, em prol da coletividade. É no Estado Moderno
que surgem os primeiros elementos essenciais do Estado.

Ainda sobre a evolução das formas de Estado cumpre destacar


o Estado Liberal. Guiado pelas regras do direito natural, essa forma de
Estado valoriza o pensamento racional e político do homem. Podendo
variar a forma de governo como monarquia ou república, o Estado Liberal
passou a traduzir os ideais presentes nas revoluções francesas, americanas
e inglesas, trazendo a soberania nacional, o regime constitucional
assegurado pela supremacia da lei, a tripartição dos poderes, a separação
do direito em público e privado, a laicidade do Estado e a liberdade do
homem, a não intervenção do poder público na esfera privada, entre
outros.

Apesar de tentador, após o histórico de autoritarismo e desigualdade


vivido ao longo da história, o Estado Liberal passou a ser um ideal a ser
alcançado e não uma realidade, tendo em vista os problemas vividos
na sociedade da época que não eram compatíveis com essa forma de
Estado.

Surge, portanto, o Estado Constitucional, cujas raízes são fruto


da queda do sistema político medieval, marcado por sua crueldade e
desigualdade.

Influenciado pelo jusnaturalismo, o Estado Constitucional privilegia


a soberania do indivíduo, condena o absolutismo monárquico, lutando
pela limitação do poder dos governantes e valoriza o racionalismo político.

Fruto da luta da sociedade pela queda dos regimes autoritários,


o Estado Constitucional consagra a Constituição como a legislação
soberana e absoluta que consagre o interesse de todo o povo, devendo
conjugar os valores individuais e sociais do próprio povo. Pode-se dizer
que o Estado Constitucional foi um marco na conquista de direitos e
deveres da sociedade.
44 Noções de Direito

Elementos do Estado
Ao nos referirmos aos elementos do Estado estamos tratando
do conjunto de requisitos essenciais para a existência do Estado. Esses
elementos consistem no povo, território e soberania, os quais trataremos
mais detalhadamente a seguir.

Povo
O povo consiste no conjunto humano de uma ordem estatal sujeito
às mesmas leis. Para fazer parte do povo é preciso que esse conjunto
humano exerça a cidadania, ou seja, que tenha participação política ativa
no Estado. O povo é a entidade jurídica do Estado.

O conceito de povo não se confunde com o conceito de população.


Enquanto o povo consiste no conjunto de cidadãos de um Estado, a
população é a soma aritmética dos habitantes que vivem dentro de uma
fronteira, respeitando as mesmas leis de um determinado país (Estado).
Figura 8 – População

Fonte: Pixabay

Já a cidadania, mencionada como elemento essencial a ser exercido


pelo povo, consiste na participação ativa civil e política de todos os atos
praticados pelo Estado.
Noções de Direito 45

Relacionado com esse elemento estatal, é importante definirmos


o que se entende por nação. A nação consiste no conjunto de pessoas
reunidas por um interesse e ideais em comum.

A nação é uma entidade histórica e é formada por um conjunto


de pessoas que se encontram ligadas por vínculos que podem ser de
sangue, idioma, religião. A nação é o elemento moral do Estado e não é
sinônimo de Estado.

EXEMPLO:

A nação coreana está separada entre a República da Coreia (Coreia


do Sul) e a República Democrática Popular da Coreia (Coreia do
Norte).

Ainda sobre a população, o critério raça constitui caráter


exclusivamente biológico e antropológico, irrelevante para o Estado.

Território
O território, segundo elemento essencial do Estado, está ligado à
geografia de um Estado, onde sua ordem jurídica é validada e exercida.
Dessa forma, consiste na base física do Estado e não se confunde com o
povo e a nação.

O conceito de território não se confunde com o de fronteira, pois


enquanto o território consiste na área pertencente a um Estado. A fronteira
está relacionada com os limites do território, suas bordas, ou seja, uma
linha que delimita a área entre dois ou mais territórios.

Um exemplo de fronteira interessante é o existente na cidade de Foz


do Iguaçu, que reúne as fronteiras dos países Brasil, Argentina e Paraguai.
46 Noções de Direito

Figura 9 – Território e fronteiras

Fonte: Wikimedia

Soberania
A soberania consiste no poder do Estado e pode se manifestar tanto
interna quanto externamente. Internamente, a soberania se manifesta por
meio da criação de leis, por exemplo, e de forma externa por meio de
acordos entre os Estados. Segundo a escola clássica, possui as seguintes
características:

a. Una – exercida por somente uma autoridade, não podendo existir


mais de uma autoridade soberana dentro do mesmo território.

b. Indivisível – o poder conferido ao Estado permite a delegação de


funções ou a repartição de algumas competências, mas jamais a
divisão do poder conferido a alguém.

c. Inalienável – a soberania não permite que a autoridade que a


detém comercialize seus bens, pois a propriedade dos bens do
Estado pertence ao povo.

d. Imprescritível – a soberania não pode ter “prazo de validade”


devendo nascer definitivamente junto com o estado.
Noções de Direito 47

A soberania não é absoluta e é limitada pelos princípios oriundos do


direito natural bem como dos costumes de modo a permitir um convívio
pacífico dos povos.

Formas de Governo
O Governo, na estrutura estatal, consiste no conjunto de funções
necessárias para manter a ordem jurídica de um Estado e administrar
os bens públicos. Conforme vimos a partir da trajetória histórica dos
Estados, existem diferentes as formas de governo, as quais detalharemos
pormenorizadamente a seguir.

Para fins didáticos, adotaremos a classificação de Aristóteles, que


separou as formas de governo como em puras ou impuras (baseando-se
no critério moral) e quanto ao número de governantes. Para tanto, seriam
formas puras de governo a monarquia (governo de um só), aristocracia
(governo de vários) e democracia (governo do povo). As formas impuras
de governo são a tirania (corrupção da monarquia), oligarquia (corrupção
da aristocracia) e demagogia (corrupção da democracia).

A monarquia consiste em uma forma de governo cujo poder é


concentrado nas mãos do monarca. O cargo de monarca é vitalício, ou
seja, só será extinto com a morte e diante da morte, o próximo monarca
a assumir o cargo deverá seguir a linha de sucessão. As críticas que se
fazem a esse regime de governo estão relacionadas com o fato de que
o futuro de um Estado não pode estar atrelado aos interesses de uma
família, além do fato de ser um regime antidemocrático, ou seja, não há
nenhuma participação do povo nas decisões do governo.

EXEMPLO:

Um exemplo de país que adota o regime da monarquia que


prevalece até os dias atuais é a Inglaterra, comandada pela família
real britânica composta pela rainha Elisabeth e seus familiares.
48 Noções de Direito

Figura 10 – Família Real Britânica

Fonte: Wikimedia

Diante de tais críticas surge a república, forma de governo que se


opõe à monarquia e aproxima-se da democracia. Sua origem foi marcada
pelas lutas em prol da soberania popular. Suas características principais
são a duração do mandato, que é por tempo limitado, a eletividade do
chefe de Estado que é feita pelo povo e a responsabilidade do chefe
de Estado por suas ações nas esferas civil e penal. A república pode
ser dividida em aristocracia, que é quando uma classe privilegiada por
direitos de nascimento ou conquista é a responsável pela administração
pública, ou pela democracia, forma de governo em que todo o poder
emana do povo.

A democracia é o regime de governo que vigora no Brasil desde a


Proclamação da República em 1889. A palavra democracia tem origem
grega e significa que o poder emana do povo. A democracia surge no
Estado Moderno e consiste em um regime político que o poder é do
povo e exercido em prol dos interesses da coletividade, os mandatos
são temporários e eletivos e a ordem pública é baseada na Constituição
suprema e na tripartição dos poderes (executivo, legislativo e judiciário).
Além disso, há pluralidade de partidos políticos, respeito aos direitos
fundamentais, é assegurada a supremacia da lei e há responsabilidade
dos governantes por seus atos.
Noções de Direito 49

Os mecanismos de participação do povo na democracia são o


sufrágio universal (voto direito, secreto e de igual valor para todos), o
plesbicito (os eleitores decidirem os destinos da sociedade – possui efeito
vinculante), referendo (possui a função de confirmar – ou não – um ato de
governo) e a iniciativa popular (poder de propor determinado projeto de lei).

A democracia é o regime político adotado pelo Brasil.

As eleições brasileiras acontecem em todo ano par, e é o meio


utilizado para eleger prefeitos, vereadores, deputados, governadores,
senadores e o presidente da república.

A urna eletrônica é o meio utilizado pelos brasileiros, sendo


destaque ao redor do mundo por conta de se tratar de um mecanismo
desenvolvido aqui no Brasil.
Figura 11 – Urna eletrônica brasileira

Fonte: Wikimedia
50 Noções de Direito

SAIBA MAIS:

Gostou desse assunto? Recomendamos a leitura do


seguinte material para se aprofundar um pouco mais sobre
esse tema: CABRAL, João Francisco Pereira. “Os Regimes
políticos e as Formas de governo segundo Aristóteles “;
Brasil Escola. Disponível aqui.
Ainda sobre o tema democracia, sugerimos a leitura do
artigo a seguir caso você queira aprender um pouco
mais sobre a evolução da democracia no Brasil. “Uma
história política da transição brasileira: da ditadura militar à
democracia” (Adriano Nervo Codato). Disponível aqui.

RESUMINDO:

Nesse capítulo você foi apresentado à Teoria Geral do


Estado. Iniciamos o capítulo aprendendo sobre o conceito
e a evolução histórica do Estado, desde o Estado Antigo
até o Estado Moderno, passando pelos Estados Gregos,
Romano e Medieval. Além disso, trabalhamos os elementos
do Estado, povo, território e soberania, e as formas de
governo existentes ao longo da história como a monarquia,
aristocracia e, em especial, a democracia, forma de governo
à qual prevalece no Brasil. Por fim, aprendemos sobre
os mecanismos de participação do povo na democracia,
como o sufrágio universal, o plebiscito, referendo e a
iniciativa popular.
Noções de Direito 51

REFERÊNCIAS
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República,
[1988]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm Acesso em: 20 jan. 2020.

DINIZ, M.H. Curso de Direito Civil Brasileiro. Saraiva: São Paulo,


2016.

DIREITO. In: DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa: Priberam


Informática, 1998. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/direito.
Acesso em: 20 jan. 2020.

KELSEN, H. Teoria Pura do Direito: Introdução à problemática


científica do direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

NADER, P. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro:


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