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LEGISLAÇÃO APLICADA AO MPU (JOÃO TRINDADE) – 2018.

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1. FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA


O estudo da legislação aplicada ao MPU envolve a análise da base constitucional do MP e da LC 75/93. Nesse ponto,
deve-se destacar que, embora a LC seja de 1993, alguns de seus pontos estão tacitamente revogados pela CF, haja vista as
alterações promovidas posteriormente, sobretudo pela EC 45/04.

Funções essenciais à justiça na CF

► Antes de mais nada, é relevante advertir que o estudo trata das funções essenciais à justiça, e não das funções
essenciais da justiça. Estudaremos, pois, apenas as funções essenciais ligadas ao Executivo e outras autônomas -
mas nenhuma delas faz parte do Judiciário.

É sintomático, nesse sentido, o fato de a CF, no âmbito da organização dos Poderes (Tít. IV), ter tratado
sequencialmente do Legislativo (Cap. I), do Executivo (Cap. II), do Judiciário (Cap. III) e, em separado, num
capítulo próprio, das funções essenciais à justiça (Cap. IV).

► O Judiciário só age se for provocado. Apenas pontualmente, e de forma bastante excepcional, é que poderá agir
de ofício. Como regra, portanto, aplica-se o princípio dispositivo. Em razão disso (embora não apenas) é que
existem as chamadas funções essenciais à justiça, atuando para provocar o Judiciário.

► São 4 as funções essenciais à Justiça:



└ Ministério Público (Seção I)

└ Advocacia Pública (Seção II)

└ Advocacia1(Seção III)

└ Defensoria Pública (Seção IV)

Objetivos

► No que tange aos objetivos de cada uma dessas funções/instituições, destaca-se o seguinte:


└ Ministério Público → defender a sociedade (espécie de ombudsman2), especialmente o interesse público

1 Fala-se também em advocacia privada, em oposição à ideia de advocacia pública. Não é equivocada essa referência.

2 No âmbito do MP estadual, a função de ombudsman é exercida de maneira difusa, estando a cargo de todo e qualquer promotor de justiça.
Por sua vez, no âmbito do MPF, foi criado órgão específico para essa tarefa, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC),
órgão que integra oficialmente a Federação Iberoamericana de Ombudsman (FIO), por ser instituição pública no Brasil dotada de
autonomia e destinada à proteção dos direito humanos.

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primário. Não defende o Estado (aliás, é proibido constitucionalmente de defender ou de representar o poder
público, papel esse que é da advocacia pública) 3. Nessa tarefa, nos termos do caput do art. 127 da CF, o MP
atua em 3 frentes de defesa: (i) defesa do ordenamento jurídico, como custos legis, garantindo a observância da
CF e das leis (p.e., com o PGR ingressando com ações de inconstitucionalidade); (ii) defesa do regime
democrático, ou seja, das regras do jogo democrático (p.e., fiscalizando as eleições e denunciando os abusos ao
Judiciário); e (iii) defesa de interesses sociais e de interesses individuais indisponíveis/irrenunciáveis4 (p.e., no
primeiro caso, ingressando com ACP para buscar a tutela de interesses de idosos, crianças, deficientes,
ambiental, consumidores; e, no segundo caso, atuando na tutela de interesses relativos à vida, à incolumidade
física, à saúde individual, etc).


└ Advocacia Pública → defender os 3 Poderes em juízo e prestar consultoria jurídica ao Executivo5. Isso
porque seria dispendioso, para o Estado, contratar um advogado para atuar em todas as demandas judiciais do
seu interesse. É mais vantajoso, assim, contratar servidores públicos, mediante o pagamento de subsídios, para
dar conta desse papel da advocacia para o Estado.


└ Advocacia → defender os particulares em juízo (advocacia contenciosa) e prestar-lhes consultoria jurídica
(advocacia consultiva). No âmbito extrajudicial, p.e., é relevante a atuação da advocacia privada na prevenção
de conflitos.


└ Defensoria Pública → defender os necessitados/hipossuficientes em juízo (advocacia contenciosa) e
prestar-lhes consultoria jurídica (advocacia consultiva). Ora, como é o Estado quem exige, em certos casos, que
o indivíduo seja assistido por profissional técnico, caso tal indivíduo não possua recursos para contratar um
advogado privado, o Estado deve garantir-lhe a assistência jurídica (não apenas a judiciária) integral e
gratuita.

Vinculação

► No que tange à vinculação dessas funções/instituições essenciais à justiça, destaca-se o seguinte:

3 Antes de 1988, o MPU era vinculado ao Executivo e atuava na defesa tanto da União, quanto dos interesses da sociedade. Era uma espécie
de aglutinação dos papéis da AGU e do MP. Com a CF/88, foi criada a AGU, vinculada ao Executivo, que assumiu o papel de representar
e defender a União; e destacado o MPU, instituição autônoma, com o papel de defesa da sociedade. Os membros do MPU pré-CF/88
puderam optar se continuariam no MPU ou migrariam para a AGU, inclusive mantendo o regime jurídico anterior (ADCT, art. 29).

4 Não é o caso, p.e., de direitos como à propriedade, intimidade, questões patrimoniais em geral, discussões tributárias (devendo cada
contribuinte cuidar dos seus interesses). Nesses casos, o MP não pode atuar.

5 Na atuação contenciosa da advocacia pública, a ideia de defesa do poder público em juízo, de fato, abrange os 3 Poderes. Na esfera federal,
p.e., temos a AGU (embora pertença à estrutura do Executivo da União, ela defenderá em juízo a União por atos praticados pelo
Executivo, pelo Legislativo e também pelo Judiciário. Desse modo, p.e., nas ações de responsabilidade civil por erro judiciário ou
legislativo da União, quem atuará será a própria AGU). Mas isso apenas com relação à atuação contenciosa em prol do Poder Público! Em
se tratando de atuação consultiva, no assessoramento jurídico, a Advocacia Pública atua somente com relação ao poder a que ela pertence
(Executivo). Por conta disso, o Legislativo e o Judiciário podem criar órgãos próprios de consultoria.

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└ Ministério Público → há divergência doutrinária quanto à sua posição constitucional. Historicamente,
temos que o MP nasceu vinculado ao Judiciário na Constituição de 1891; foi desvinculado de qualquer dos
Poderes em 1934; foi vinculado ao Executivo em 1937; foi novamente desvinculado em 1946; voltou a ser
vinculado ao Judiciário em 1967; depois foi vinculado mais uma vez ao Executivo em 1969; até que a CF/88, o
desvinculou finalmente dos Poderes, tratando-o como função essencial à justiça. Contudo, permanece a
seguinte divergência doutrinária: majoritariamente, entende-se que o MP é uma instituição autônoma, fora da
tradicional estrutura dos 3 Poderes; minoritariamente, entende-se que o MP é vinculado ao Executivo (José
Afonso da Silva) ou que representa um 4º Poder, com status equivalente ao do Executivo, do Legislativo e do
Judiciário (Emerson Garcia). Esse entendimento majoritário reflete-se no âmbito do estudo da sua autonomia,
de modo que o MP terá a mesma quádrupla autonomia que possui o Judiciário (funcional, administrativa,
financeira e orçamentária, nos termos dos §§ do art. 127 da CF).


└ Advocacia Pública → majoritariamente, entende-se que é vinculada ao Executivo6. Essa vinculação vai se
refletir no âmbito de sua autonomia, que é uma autonomia administrativa e parcial (pois não possui
autonomias financeira, orçamentária e funcional).


└ Advocacia → não integra a Administração Pública 7. Embora preste serviço de relevância pública, o
advogado não é servidor público.


└ Defensoria Pública → após a EC 80/14, passou a ser reconhecida como instituição autônoma.
Historicamente, temos que nasceu em 1988 vinculada ao Executivo, mas foi sendo gradativamente
desvinculada, até que em 2014 foi realizada a sua ruptura definitiva 8. Essa desvinculação, naturalmente, reflete-
se no âmbito de sua autonomia, de modo que a Defensoria Pública terá a mesma quádrupla autonomia que

6 Tanto é assim que, no âmbito da União, o cargo de ministro da AGU é cargo de livre nomeação e exoneração pelo Presidente da
República.

7 Nesse sentido, já decidiu o STF: "2. Não procede a alegação de que a OAB sujeita-se aos ditames impostos à Administração Pública
Direta e Indireta. 3. A OAB não é uma entidade da Administração Indireta da União. A Ordem é um serviço público independente,
categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. 4. A OAB não está incluída na categoria na qual
se inserem essas que se tem referido como "autarquias especiais" para pretender-se afirmar equivocada independência das hoje
chamadas "agências". 5. Por não consubstanciar uma entidade da Administração Indireta, a OAB não está sujeita a controle da
Administração, nem a qualquer das suas partes está vinculada. Essa não-vinculação é formal e materialmente necessária. 6. A OAB
ocupa-se de atividades atinentes aos advogados, que exercem função constitucionalmente privilegiada, na medida em que são
indispensáveis à administração da Justiça [artigo 133 da CF/88]. É entidade cuja finalidade é afeita a atribuições, interesses e seleção de
advogados. Não há ordem de relação ou dependência entre a OAB e qualquer órgão público. 7. A Ordem dos Advogados do Brasil, cujas
características são autonomia e independência, não pode ser tida como congênere dos demais órgãos de fiscalização profissional. A OAB
não está voltada exclusivamente a finalidades corporativas. Possui finalidade institucional. [...]. 10. Incabível a exigência de concurso
público para admissão dos contratados sob o regime trabalhista pela OAB" (STF - ADI 3026, Relator: Min. EROS GRAU, Tribunal
Pleno, julgado em 08/06/2006).

8 Essa autonomia institucional da Defensoria Pública, ainda que conferida pelo poder constituinte derivado, foi reconhecida pelo Pleno do
STF no julgamento da ADI-MC 5296: "Ao reconhecimento da legitimidade, à luz da separação dos Poderes, de emenda constitucional
assegurando autonomia funcional e administrativa à Defensoria Pública da União não se desconsidera a natureza das suas atribuições,
que não guardam vinculação direta à essência da atividade executiva" (STF - ADI 5296 MC, Relatora Min. ROSA WEBER, Tribunal
Pleno, julgado em 18/05/2016).

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possuem o Judiciário e o MP (funcional, administrativa, financeira e orçamentária, nos termos dos §§ 2º e 3º


do art. 134 da CF).

Autonomia

► No que tange à autonomia dessas funções/instituições essenciais à justiça, destaca-se o seguinte:


└ Ministério Público → possui a mesma quádrupla autonomia conferida ao Judiciário, qual seja, as
autonomias funcional, administrativa, financeira e orçamentária (nos termos dos §§ do art. 127 da CF). A
autonomia funcional corresponde à autonomia no exercício de sua atividade-fim. A autonomia administrativa
diz da autonomia para se autoadministrar (podendo propor ao Legislativo, p.e., a criação e extinção de seus
cargos e serviços auxiliares, a sua política remuneratória e os planos de carreira). As autonomias financeira e
orçamentária expressam-se no fato de que o próprio MP é quem elabora sua proposta orçamentária (devendo,
para tanto, obedecer os limites da LDO e seus respectivos prazos, sob pena de consolidação, pelo Executivo, da
proposta então em vigor).


└ Advocacia Pública → possui autonomia apenas administrativa parcial (pois não possui autonomia
financeira, orçamentária e nem funcional). Seu orçamento faz parte do Executivo. Em sua atuação, segue
pareceres normativos aprovados, muitas vezes, pelo próprio Executivo, não tendo liberdade funcional nesse
sentido. Em suma, sua autonomia é mesmo tão somente administrativa e, ainda assim, parcial.


└ Advocacia → possui autonomia total. O advogado pode cobrar o valor que quiser de seus clientes, variando
os preços de acordo com a autorregulação do mercado. Não possui vinculação alguma com o poder público.


└ Defensoria Pública → assim como o Judiciário e o MP, possui as autonomias funcional, administrativa,
financeira e orçamentária (nos termos dos §§ 2º e 3º do art. 134 da CF).

Estrutura constitucional

► No que tange à estrutura constitucional dessas funções/instituições essenciais à justiça, destaca-se o seguinte:


└ Ministério Público → encontra-se organizado nas esferas federal (MPU) e estadual (MPEs), possuindo,
ainda, um órgão de controle (CNMP).
No âmbito federal, temos o Ministério Público da União, que é chefiado pelo PGR. Abrange 4 carreiras
distintas, cada uma chefiada por um membro seu: MPF (chefiado pelo próprio PGR), MPT (chefiado pelo
PGT), MPM (chefiado pelo PGJM) e MPDFT (chefiado pelo seu PGJ).

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No âmbito estadual, cada estado tem o seu Ministério Público estadual, que é chefiado pelo Procurador-Geral
de Justiça.
Conta-se, ainda, com o Conselho Nacional do Ministério Público, presidido pelo PGR, que é um órgão de
controle e de fiscalização do MP brasileiro (responsável, mais especificamente, pelo controle da atuação
administrativa e financeira do MP e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, nos termos do §
2º do art. 130-A da CF). É composto de 14 membros nomeados pelo Presidente da República (depois de
aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal) para um mandato de 2 anos, admitida 1
recondução (caput do art. 130-A da CF).

O MP possui 4 princípios institucionais, sendo 3 deles expressos (cf. art. 127, § 1º, da CF) e 1 deles implícito.
Em suma, são os seguintes:

● Unidade
● Indivisibilidade
● Independência funcional
} Explícitos

● Promotor natural } Implícito


└ Advocacia Pública → encontra-se organizada nos 3 níveis da federação.
No âmbito federal, temos a Advocacia-Geral da União, que é chefiada pelo Advogado-Geral da União (cargo
de livre nomeação e exoneração pelo Presidente da República dente os cidadãos maiores de 35 anos, de notável
saber jurídico e reputação ilibada, nos termos do § 1º do art. 131 da CF - ou seja, não precisa ser membro de
carreira, não é necessária a formação de lista tríplice e tampouco há que se falar em exercício de mandato).
Atua contenciosamente na defesa da União em juízo por ato de quaisquer dos 3 Poderes e consultivamente
perante o Executivo federal. Internamente, a AGU é dividida em 4 carreiras, que são as de Advogado da União
(atuando na defesa da administração direta federal), Procurador Federal (atuando na defesa das autarquias e
fundações públicas federais) e Procurador da Fazenda Nacional (atuando na defesa da União em ações de
execução fiscal e prestando consultoria em matéria tributária) e, ainda, a de Procurador do Banco Central
(atuando contenciosa e consultivamente perante o Bacen). As 3 primeiras carreiras possuem previsão
constitucional; a última, apenas infraconstitucional.
No âmbito estadual, cada estado tem a sua Procuradoria-Geral do Estado, que é chefiada pelo Procurador-
Geral do Estado. Atua contenciosamente na defesa dos estados em juízo por ato de quaisquer dos 3 Poderes e
consultivamente perante o Executivo estadual.
No âmbito distrital, temos a Procuradoria-Geral do Distrito Federal, que é chefiada pelo Procurador-Geral do
DF. Atua contenciosamente na defesa do DF em juízo por ato de quaisquer dos 3 Poderes e consultivamente
perante o Executivo distrital.
A estruturação no âmbito municipal é facultativa (por isso, não têm previsão expressa na CF, cabendo a cada
município avaliar o que vale mais a pena, se é estruturar uma procuradoria municipal ou contratar advogados
ad hoc). Pode, então, existir nos municípios a Procuradoria-Geral do Município, a ser chefiada por um

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Procurador-Geral do Município.

└ Advocacia → não possui estrutura constitucional.
Sua organização é definida infraconstitucionalmente por meio do Estatuto da OAB (Lei 8.906/94).


└ Defensoria Pública → encontra-se organizada nas esferas federal e estadual/distrital.
No âmbito federal, temos a Defensoria Pública da União, que é chefiada pelo Defensor Público Geral Federal
e atua nas justiças federais (comum, trabalhista e militar).
No âmbito estadual, cada estado tem a sua Defensoria Pública, que é chefiada pelo Defensor Público Geral do
Estado e atua nas causas da justiça estadual.
No âmbito distrital, temos a Defensoria Pública do Distrito Federal, que é chefiada pelo Defensor Público
Geral do DF. Antigamente, a DPDF era vinculada à DPU, sendo hoje, desde a edição da EC 69/12, organizada,
custeada e mantida pelo próprio Distrito Federal.

A Defensoria possui os mesmos 4 princípios institucionais garantidos ao MP, tendo sido constitucionalizados
pela EC 80/14 (art. 134, § 4º, da CF).

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2. PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS
► Conforme já visto, o MP possui 4 princípios institucionais, sendo 3 deles expressos (cf. art. 127, § 1º, da CF, e
art. 4º da LC 75/93) e 1 deles implícito. Em suma, são os seguintes:

}
● Unidade
● Indivisibilidade Explícitos

● Independência funcional

● Promotor natural } Implícito

► Destaca-se o seguinte a respeito de cada um dos princípios institucionais:

1. UNIDADE: o MPU é uma instituição una, sob o comando do PGR (embora se divida em 4 ramos).

▬ a carreira de servidor é unificada (diferentemente das carreiras de membros). Já as carreiras de membro


são separadas entre si, com concursos distintos e provimento autônomo. Assim, existe uma só carreira de
servidor do MPU, mas carreiras distintas para membro do MPF, do MPT, do MPM e do MPDFT 9;
▬ o PGR resolve os conflitos de atribuição entre órgãos de ramos diferentes;
▬ a divisão dos membros do MPU em 4 carreiras é meramente funcional, o que não compromete a sua
unidade porque seus objetivos são comuns e sua chefia ;
▬ não há unidade entre o MPU e cada MP estadual.

2. INDIVISIBILIDADE: cada membro atua em nome da instituição (e não em nome próprio).

▬ o MPU não se divide em seus membros, de modo que quem atua no processo não é a pessoa física,
mas, sim, a própria instituição;
▬ por consequência dessa unidade e indivisibilidade, os membros podem substituir-se uns aos outros no
curso do processo sem que haja nulidade.

3. INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL: na atividade-fim, o membro do MPU obedece apenas às leis e à


sua consciência (autonomia de convicção).

▬ no exercício de sua atividade-fim (funções institucionais), o membro do MPU não recebe ordens de

9 Nesse sentido, o art. 32 da LC no 75/1993 prevê o seguinte: "As carreiras [dos membros] dos diferentes ramos do Ministério Público da
União são independentes entre si, tendo cada uma delas organização própria, na forma desta lei complementar".

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quem quer que seja, nem mesmo do procurador-chefe ou do PGR. Já na atividade-meio (funções
administrativas), existe sim hierarquia;
▬ ao atuar em um processo, o membro do MPU não está vinculado às opiniões e às posições jurídicas do
membro que o antecedeu (obviamente, desde que respeitados requisitos legais de substituição, como, p.e.,
a identidade de carreiras e o grau de atribuição). Assim, p.e., o promotor presente à audiência, substituindo
outro (princípio da indivisibilidade), pode realizar sua sustentação oral fazendo pedido oposto àquele
constante da peça inicial (princípio da independência funcional);
▬ enquanto, na Administração Pública, existe e vigora o princípio da obediência hierárquica, no MP, a
regra que impera entre os membros é a independência funcional: estão vinculados apenas à lei e à
consciência;
▬ prova dessa independência é o fato de a CF prever como crime de responsabilidade qualquer ato do
Presidente da República que atentar contra o livre exercício do MP.

4. PROMOTOR NATURAL: veda designações casuísticas + exercício da função ministerial por alguém
que não seja membro da carreira.

▬ trata-se de princípio implícito, que está para o promotor assim como o princípio do juiz natural está
para o juiz;
▬ em ambos os seus aspectos, o princípio busca evitar a atuação de um promotor ad hoc, seja via
designações casuísticas (manipulação de distribuição), seja via ocupação funcional por pessoa não
investida naquela carreira;
▬ os membros do MPU podem substituir-se uns aos outros no curso do processo (princípio da
indivisibilidade), mas essa substituição não pode se dar com desvio de finalidade, com manipulações
(princípio do promotor natural);
▬ há 2 vertentes:

└ vertente radical → só admite a substituição de membros em casos excepcionais
(posição minoritária que contraria a indivisibilidade)

└ vertente moderada → o membro do MPU não pode ser designado com base em
critérios casuísticos para atuar em um processo e não pode
ser arbitrariamente retirado do processo
(posição adotada pelo STF no HC 103.038/PA10,11)
10 "O postulado do Promotor Natural 'consagra uma garantia de ordem jurídica, destinada tanto a proteger o membro do MP, na medida
em que lhe assegura o exercício pleno e independente do seu ofício, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem se reconhece o direito
de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o Promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e pré-determinados,
estabelecidos em lei'" (STF - HC 103038, Relator: Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 11/10/2011). Em decisão
mais recente: "Consoante o postulado do promotor natural, a definição do membro do MP competente para oficiar em um um caso deve
observar as regras previamente estabelecidas pela instituição para distribuição de atribuições em um determinado foro de atuação,
obstando-se a interferência hierárquica indevida da chefia do órgão por meio de eventuais designações especiais. A proteção efetiva e
substancial ao princípio do promotor natural impede que o superior hierárquico designe o promotor competente, bem como imponha a
orientação técnica a ser observada" (STF - HC 137637, Relator: Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 06/03/2018).

11 Segundo o CESPE: "O fundamento constitucional do princípio do promotor natural assenta-se nas cláusulas da independência funcional
e na inamovibilidade dos membros do MP".

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2. FUNÇÕES INSTITUCIONAIS
Introdução

► Funções institucionais são, basicamente, as tarefas que cabem ao Ministério Público em geral.

Segundo previsão expressa da CF, só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na
comarca da respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição (§ 2º do art. 129).

► As fontes normativas principais dessas funções institucionais são a própria CF (art. 129) e a LC 75/93 (art. 5º,
que trata das funções institucionais propriamente ditas, e art. 6º, que cuida das garantias processuais chamadas de
instrumentos de atuação).

Destaque-se que esses dispositivos referidos preveem um rol exemplificativo de tarefas. Tanto é assim que a própria
CF prevê que o Ministério Público poderá exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis
com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas (art.
129, IX). Na prática, isso significa que o fato de uma determinada tarefa não estar aqui listada não significa que não
possa ser reconhecida como sendo verdadeira função institucional. Por isso, é correto afirmar que a lei pode sim
criar novas funções institucionais para o Ministério Público.

Funções institucionais em espécie

► De acordo com a previsão da CF e da LC 75/93, destacam-se como funções institucionais do Ministério Público
as seguintes tarefas:

∙ promover privativamente a ação penal pública;


∙ promover concorrentemente a ação civil pública;
∙ promover exclusivamente o inquérito civil;
∙ zelar pelo efetivo respeito aos direitos fundamentais (por parte dos poderes públicos e dos serviços de
relevância pública);
∙ defender judicialmente os direitos das populações indígenas;
∙ ajuizar ações de inconstitucionalidade de leis e ações interventivas;
∙ expedir notificações, recomendações ou requisições de documentos;
∙ requisitar ao delegado a instauração de inquérito policial;
∙ exercer o controle externo da atividade policial; e
∙ promover investigação criminal.

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1. PROMOVER PRIVATIVAMENTE A AÇÃO PENAL PÚBLICA

Compete, privativamente, ao Ministério Público promover a ação penal de iniciativa pública (seja a
incondicionada, seja a condicionada à representação) por meio do oferecimento de denúncia12.

Essa competência é privativa do Ministério Público. Perceba-se que a CF não usou o termo
"exclusivamente". Isso porque, embora essa iniciativa não possa ser delegada, admite-se o oferecimento de
ação penal privada subsidiária da pública. De fato, a CF admite expressamente a "ação privada nos crimes
de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal" (art. 5º, LIX, da CF). Em casos assim, de absoluta
inércia do Ministério Público e quando há uma vítima determinada, o ofendido passa a deter a legitimidade
ad causam supletiva para o exercício da ação privada (no caso, subsidiária da pública), apresentando a
chamada queixa substitutiva. Isso sem prejuízo, é claro, de posterior atuação do Ministério Público para fins
de "aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo,
fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante,
retomar a ação como parte principal" (art. 29 do CPP). Destaque-se que as hipóteses de baixa à delegacia
com requisição de novas diligências e o pedido de arquivamento do inquérito não representam inércia do
Ministério Público.

2. PROMOVER CONCORRENTEMENTE A AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Compete ao Ministério Público promover, concorrentemente (com outras instituições), a ação civil pública.

Trata-se a ação civil pública de ação coletiva que se destina à tutela de (1) interesses difusos, que são os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato; de (2) interesses coletivos, que são os transindividuais, de natureza indivisível de que
seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação
jurídica base; e de (3) interesses individuais homogêneos, que são os individuais, mas que podem ser
tutelados coletivamente por serem decorrentes de uma origem em comum (cf. par. único do art. 81 do CDC).

Fala-se em "concorrentemente" porque, nos termos do art. 5º da Lei 7.347/85, são igualmente legitimados
para promover a ACP: (1) Ministério Público; (2) Defensoria Pública; (3) União, Estados, DF e Municípios;
(4) autarquia, fundação pública, EP e SEM; (5) associações (desde que, cumulativamente, constituídas há
mais de 1 ano e que incluam, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social,
ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais,
étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico).

Deve-se atentar para não confundir o regime jurídico da ACP (ação civil pública) com o da AP (ação
popular). Esta, aliás, embora tenha um âmbito de incidência menor, não pode ser promovida pelo Ministério

12 Nesse sentido, o CPP prevê que: "Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá,
quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-
lo" (caput do art. 24). Além disso, destaca que, "seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da
União, Estado e Município, a ação penal será pública" (§ 2º do art. 24).

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Público13. Contudo, deverá acompanhá-la, "cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a


responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese,
assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores" (§ 4º do art. 6º da Lei 4.717/65).

3. PROMOVER EXCLUSIVAMENTE O INQUÉRITO CIVIL

Compete ao Ministério Público, com exclusividade, a promoção de inquérito civil.

Instituto jurídico relativamente recente no direito brasileiro (criado pela Lei 7.347/85 e consagrado no art.
129, III, da CF), trata-se o inquérito civil de investigação administrativa, de caráter inquisitorial, unilateral e
facultativo, instaurado e presidido pelo Ministério Público e destinado a apurar a ocorrência de danos
efetivos ou potenciais a direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos (ou outros que
lhe incumba defender), servindo como instrumento preparatório para o exercício das atribuições inerentes às
suas funções institucionais.

Fala-se em "exclusivamente" porque, de fato, nos termos do art. 7º da Lei 7.347/85, só o Ministério Público
está autorizado a instaurar inquérito civil (i.e., os demais colegitimados à ACP não o podem). A União, os
Estados, os Municípios, as autarquias, as EP, as SEM, as fundações ou as associações civis podem propor a
ACP; antes de propô-la, é natural que recolham elementos de convicção necessários, e farão isso em
procedimentos quaisquer, mas inquérito civil propriamente dito só o Ministério Público pode instaurar. Na
forma como foi concebido na Lei 7.347/85 e na legislação subsequente, trata-se de instrumento exclusivo de
investigação do Ministério Público, de modo que só o inquérito civil produz os efeitos legais pertinentes à
sua instauração e encerramento (p.e., como o óbice à decadência, previsto no art. 26, § 2º, III, do CDC; ou o
controle de arquivamento, instituído no art. 9º da Lei 7.347/85).

Diferentemente do que ocorre com o inquérito policial, que é presidido pelo delegado, a presidência do
inquérito civil compete ao membro do Ministério Público. Da mesma forma, no inquérito civil, o membro do
Ministério Público não requer, e, sim, determina o arquivamento (embora seja sempre obrigatório reexame
pelo Conselho Superior do Ministério Público, independentemente de provocação ou requerimento de quem
quer que seja). Sua instauração, porém, é dispensável, tal qual ocorre com o inquérito policial.

13 Tratam-se ambas de ações coletivas, sendo que a ACP é mais ampla que a AP. De fato, a AP visa anular ato lesivo praticado contra 4 bens
jurídicos específicos (patrimônio público, moralidade administrativa, meio ambiente e patrimônio histórico e cultural), podendo ser
ajuizada por qualquer cidadão (art. 5º, LXXIII, da CF), não podendo ser ajuizada pelo MP. Já a ACP se destina a tutelar, além desses 4
bens jurídicos, a diversos outros, tais como os consumidores, os grupos socialmente vulneráveis (p.e., idosos, pessoas com deficiência,
crianças, adolescentes, etc), o combate à discriminação racial, dentre outros, só podendo ser ajuizada pelo MP, a Defensoria, as entidades
da administração pública e as associações (cf. art. 5º da Lei 7.347/85). Neste ponto, destaque-se a previsão da recém editada Súmula 601
do STJ: "O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos
consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público". Além disso, tem-se que o STF já entendeu que o MP não possui
legitimidade para impugnar, por meio de ACP, a cobrança de taxa de iluminação pública instituída por município (STF - RE 213631,
Relator: Min. ILMAR GALVÃO, Tribunal Pleno, julgado em 09/12/1999).

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LEGISLAÇÃO APLICADA AO MPU (JOÃO TRINDADE) – 2018.1
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4. ZELAR PELO EFETIVO RESPEITO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


(POR PARTE DOS PODERES PÚBLICOS E DOS SERVIÇOS DE
RELEVÂNCIA PÚBLICA)

Compete ao Ministério Público zelar pelo efetivo respeito aos direitos fundamentais, cobrando providências
tanto dos Poderes Públicos, quanto dos serviços de relevância pública (conceito este mais amplo que o de
serviços públicos, que são aqueles prestados diretamente pelo Estado ou, indiretamente, por meio de
delegação).

Seria o caso, p.e., de promoção de ACP pelo Ministério Público, em face de concessionária do serviço de
transporte público, visando determinar a circulação de uma determinada linha de ônibus durante toda a
madrugada em benefício dos trabalhadores noturnos, de modo a conferir efetiva garantia ao transporte como
direito social inserido pela EC 90/15 no caput do art. 6º da CF.

5. DEFENDER JUDICIALMENTE OS DIREITOS DAS POPULAÇÕES


INDÍGENAS (COLETIVAMENTE CONSIDERADAS)

Compete ao Ministério Público Federal a defesa, em juízo, dos direitos das populações indígenas
coletivamente consideradas.

Fala-se em "judicialmente" porque, no âmbito administrativo, quem defende os interesses das populações
indígenas é a FUNAI.

Essa tarefa de defesa em juízo compete ao MPU (mais especificamente ao MPF). Os ministérios públicos
estaduais não possuem atribuição neste campo.

Não se trata, aqui, de eventual defesa do interesse individual de um membro da população indígena. De fato,
a competência do MPF envolve apenas a defesa da coletividade indígena.

6. AJUIZAR AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEIS E AÇÕES


INTERVENTIVAS

Como fiscal do ordenamento jurídico, compete ao Ministério Público, na pessoa do PGR, a tarefa de ajuizar
ações de inconstitucionalidade e, igualmente, as ações interventivas.

Ações de inconstitucionalidade de leis são as ações de controle concentrado de constitucionalidade (i.e.,


aquelas ajuizadas perante o STF). São espécies: ADI, ADC, ADO e ADPF. Embora seja uma das tarefas do
Ministério Público, exercida pelo PGR, tem-se que ele não é o único legitimado a propor tais ações (cf. art.
103 da CF).

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LEGISLAÇÃO APLICADA AO MPU (JOÃO TRINDADE) – 2018.1
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Ações interventivas são ações que visam instar o STF a requerer ao Presidente da República a decretação de
intervenção federal (PGR → STF → Presidente da República). Basicamente, a intervenção federal é um
procedimento que restringe temporariamente a autonomia de um estado quando essa autonomia estiver
colocando em risco toda a federação. Mas atenção: o PGR não pode representar ao STF em todos os casos de
intervenção, mas somente naqueles previstos no inciso III do art. 36 da CF, que são os seguintes:

∙ para fins de assegurar a observância: da forma republicana, sistema representativo e regime


democrático; dos direitos da pessoa humana; da autonomia municipal; da prestação de contas da
administração pública, direta e indireta; e da aplicação do mínimo exigido da receita resultante de
impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento
do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde (art. 34, VII); e

∙ no caso de recusa à execução de lei federal (art. 34, VI, 1ª parte).

Há casos em que o Presidente da República poderá agir de ofício para fins de decretação da intervenção
federal. É o caso, p.e., do inciso III do art. 34, que possibilita a intervenção para pôr termo a grave
comprometimento da ordem pública. Já nos casos previstos acima, porém, a decretação da intervenção
federal pelo Presidente da República dependerá da representação do PGR e do provimento desta
representação por parte do STF.

7. EXPEDIR NOTIFICAÇÕES, RECOMENDAÇÕES OU REQUISIÇÕES DE


DOCUMENTOS

A expedição de notificações, recomendações e requisições é regulada pelo art. 8º da LC 75/93.

Pode o Ministério Público, p.e., expedir notificação intimando uma testemunha para depor no âmbito de uma
ACP; expedir recomendações endereçadas a gestores públicos para que adotem determinada providência,
zelando, assim, pelo efetivo respeito aos direitos fundamentais; expedir requisições para fins de requisitar
informações e documentos de entes públicos e privados.

Tais requisições de documentos são de atendimento obrigatório (salvo nos casos de sigilo previstos pela CF).
A autoridade pública e os entes privados, portanto, terão de fornecer os documentos requisitados. No âmbito
da ACP, há dispositivo específico prevendo que é crime (punido com pena de reclusão de 1 a 3 anos, mais
multa) a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil,
quando requisitados pelo Ministério Público (art. 10 da Lei 7.347/85).

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LEGISLAÇÃO APLICADA AO MPU (JOÃO TRINDADE) – 2018.1
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8. REQUISITAR AO DELEGADO A INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO


POLICIAL

Como se sabe, o inquérito é dispensável. Assim, ao receber uma notitia criminis, o Ministério Público poder
oferecer denúncia sem que se tenha instaurado previamente um inquérito policial. A requisição de
instauração de inquérito pelo Ministério Público, portanto, vai se dar nos casos em que não houver provas
suficientes quanto à autoria ou materialidade para fins de oferecimento de denúncia.

Trata-se de requisição (e não de simples solicitação o u recomendação), sendo, pois, revestida de


atendimento obrigatório. Desse modo, o delegado é obrigado a instaurar o inquérito quando requisitado pelo
Ministério Público. Tal requisição, porém, deve ser motivada, indicando-se os fundamentos jurídicos dessa
manifestação

Essa requisição é feita diretamente ao delegado. Não há a necessidade de o Ministério Público se reportar
anteriormente ao juiz.

9. EXERCER O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL

Fala-se em controle EXTERNO porque o controle INTERNO é exercido pela própria Corregedoria da polícia
(civil ou federal).

De fato, esse controle externo não significa subordinação ou hierarquia da polícia aos membros do Ministério
Público. Trata-se tão somente de sujeição à tarefa fiscalizatória. O que o Ministério Público possui é uma
função correicional extraordinária, prevista constitucionalmente, sem prejuízo da atividade correicional
ordinária inerente à hierarquia administrativa e desempenhada pela Corregedoria da própria polícia.

A finalidade desse controle externo é dúplice: (1) garantir o respeito aos direitos fundamentais, inclusive das
vítimas e dos investigados, de modo a coibir abusos; e (2) assegurar a indisponibilidade da ação penal
pública, evitando, assim, omissões policiais.

Nesse sentido, o art. 3º da LC 75/93 prevê que o Ministério Público deve ter em vista:

∙ o respeito aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, aos objetivos fundamentais da


República, aos princípios informadores das relações internacionais, bem como aos direitos
assegurados na CF e na lei;
∙ a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio público;
∙ a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder;
∙ a indisponibilidade da persecução penal;
∙ a competência dos órgãos incumbidos da segurança pública.

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LEGISLAÇÃO APLICADA AO MPU (JOÃO TRINDADE) – 2018.1
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Já nos termos do art. 9º da LC 75/93, o Ministério Público, quanto a esta tarefa, poderá se valer das seguintes
medidas judiciais e extrajudiciais:

∙ ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais;


∙ ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial;
∙ representar à autoridade competente pela adoção de providências para sanar a omissão indevida, ou
para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder;
∙ requisitar à autoridade competente para instauração de inquérito policial sobre a omissão ou fato ilícito
ocorrido no exercício da atividade policial;
∙ promover a ação penal por abuso de poder.

São instrumentos dos quais o Ministério Público poderá se utilizar nesse controle externo:

∙ Correições → fiscalização nas unidades policiais para verificar o funcionamento das atividades-fins;

∙ Ajuizamento de ações de responsabilização dos agentes policiais → seja ações de improbidade


administrativa, seja ação penal pública (por abuso de poder, prevaricação, etc);

∙ Recomendações → para que a polícia adote determinada medida para fins de respeitar direitos
fundamentais ou desincumbir-se devidamente da tarefa investigativa.

A competência fiscalizatória depende do órgão policial envolvido:

∙ MPF → PF, PRF e PFF


∙ MPDFT → PCDF e MPDF
∙ MPE → PC e PM
∙ MPM → Forças Armadas (apenas no exercício da função investigativa em crimes militares)

Conclui-se assim, que nem todos os ramos do MPU exercem o controle externo da atividade policial: pois,
de fato, o MPT não possui atribuição penal, mas apenas trabalhista.

Do ponto de vista prático, essa atividade institucional é tão importante que o MPU criou uma Câmara de
Coordenação e Revisão própria para exercer o controle externo das polícias (mais especificamente, a 7ª
Câmara de Coordenação e Revisão, que também acumula atribuições atinentes ao sistema prisional).

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10. PROMOVER INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

A possibilidade de investigação criminal pelo Ministério Público era muito questionada sob o argumento de
que a CF teria atribuído tal poder, com exclusividade, ao delegado (art. 144, § 1º, da CF).

A controvérsia, porém, foi resolvida pelo STF em 2015, restando fixada a seguinte tese em sede de
repercussão geral (tema 184):

O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a
qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus
agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais
de que se acham investidos, em nosso País, os advogados, sem prejuízo da possibilidade do
permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados, praticados pelos membros
dessa instituição.

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3. PROCURAGOR-GERAL
DA REPÚBLICA
► PREVISÃO LEGAL: a previsão inicial está contida na CF (art. 128, §§ 1º a 3º). Há um maior detalhamento na
LC 75/93 (arts. 25, 26, 47, 48 e 49).

► REQUISITOS: estão previstos no § 1º do art. 128 da CF e no art. 25 da LC 75/93. É necessário que seja
brasileiro nato ou naturalizado (os cargos que só podem ser ocupados por brasileiros natos estão previstos no rol
taxativo do § 3º do art. 12 da CF); membro da carreira do MPF (desde a CF/88, não mais se admite que seja
alguém estranho aos quadros do MPU); e maior de 35 anos (mas não há idade máxima prevista nem na CF, nem na
LC 75/93, valendo então o limite máximo da aposentadoria compulsória, que é de 75 anos).

Quanto à necessidade de ser membro da carreira, embora a CF e a LC 75/93 não apontem expressamente de qual
das 4 carreiras, a lógica da LC 75/93 exige, implicitamente, que seja do MPF. Isso porque o PGR exercerá tanto a
chefia do MPU quanto do MPF (art. 45 da LC 75/93). Por isso, o PGR deve ser membro da carreira do MPF.

Além disso, o cargo de PGR não é privativo dos Subprocuradores-Gerais da República, ou seja, não é necessário
estar no último nível da carreira. Assim, o PGR pode ocupar quaisquer cargos da carreira do MPF, quais sejam,
Procurador da República, Procurador Regional da República ou Subprocurador-Geral da República (art. 44 da LC
75/93).

Em suma:

∙ brasileiro (nato ou naturalizado);


∙ maior de 35 anos;
∙ membro da carreira.

► ESCOLHA: o PGR será nomeado pelo Presidente da República após aprovação pelo Senado Federal (e não
pelo Congresso Nacional). Tal aprovação pelo Senado depende da maioria absoluta (i.e., pelo menos 41 votos a
favor) de seus membros mediante voto secreto (pois a EC 76/13 transformou quase todas as votações no legislativo
em voto aberto, exceto no que tange à escolha e destituição de autoridades) após sabatina (arguição pública).

Juridicamente, não há exigência de elaboração de lista tríplice para escolha do PGR. Existe sim lista tríplice para
vários outros cargos de chefia do Ministério Público, mas não para PGR. É praxe da ANPR, que é uma associação
nacional privada, a elaboração de uma enquete entre seus associados para saber qual o nome desejado para ocupar a
PGR (mas essa listagem não possui valor jurídico algum).

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Em suma:

∙ nomeado pelo Presidente da República;


∙ aprovação pelo Senado (maioria absoluta + voto secreto + sabatina).

► MANDATO: no âmbito do MPU, todo mandato tem a duração de 2 anos.

► RECONDUÇÕES: são admitidas várias reconduções.

A CF não limita o número de reconduções do PGR (ao contrário do que faz, p.e., no caso do PGJ nos estados e DF,
quando então é expressa ao limitar a uma recondução apenas). Mas, ao tratar do PGR, diz ser permitida a
recondução (cf. art. 128, § 1º, in fine). A doutrina, então, entende ser liberado o número de reconduções do PGR.

Mas atenção: cada recondução equivale a uma nova escolha, por isso depende de nova apreciação pelo Senado
Federal (indicação do Presidente + aprovação por maioria absoluta + voto secreto + após sabatina).

► SUBSTITUIÇÃO: substituir significa exercer interinamente o cargo, seja até o retorno do titular ausente
(impedimento), seja até a escolha de um novo titular (vacância).

É regulada pelo art. 27 da LC 75/93.

Diferentemente do que ocorre com o cargo de Presidente da República, não há sucessão do cargo de PGR. Se o
PGR morrer, renunciar ou for destituído antes do término do mandato, não haverá sucessão do mandato até seu
término. A solução será sempre a escolha de um novo nome pelo Presidente da República (indicação do Presidente
+ aprovação por maioria absoluta do Senado mediante voto secreto e após sabatina).

Se for em virtude de impedimento, será substituído pelo Vice-PGR, que, por sua vez, é um ocupante do último nível
da carreira do MPF (i.e., um Sub-PGR) escolhido pelo próprio PGR na forma do art. 27 da LC 75/93. Trata-se,
pois, de um cargo de livre nomeação e exoneração, de confiança do PGR, para substituí-lo em caso de impedimento
(p.e., em caso de viagem, afastamento por doença, etc).

Mas se for em virtude de vacância, será substituído pelo Vice-Presidente do Conselho Superior do MPF, até o
provimento definitivo do cargo. Atenção: não se trata do Vice-PGR! Isso porque o vice-PGR é um cargo de
confiança do PGR, caindo junto com a renúncia, destituição ou término do mandato do PGR. Em caso de vacância,
portanto, deve ser trazido outro membro. Além disso, a presidência do Conselho Superior do MPF é exercida pelo
PGR, mas a vice-presidência é ocupada por integrante eleito pelo próprio Conselho Superior do MPF, que
substituirá seu presidente em seus impedimentos e em caso de vacância (cf. § 2º do art. 54 da LC 75/93).

Em suma:

∙ Em virtude de IMPEDIMENTO → Vice-PGR;


∙ Em virtude de VACÂNCIA → Vice-Presidente do Conselho Superior do MPF.

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LEGISLAÇÃO APLICADA AO MPU (JOÃO TRINDADE) – 2018.1
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► DESTITUIÇÃO: se dá antes do término do mandato.

Nos termos da CF (art. 128, § 2º) e da LC 75/93 (art. 25, par. único), é necessária a intervenção dos mesmos órgãos
que atuam na escolha do PGR: o Presidente da República propõe a destituição e, se concordar, o Senado aprova
(pela maioria absoluta, mediante voto secreto).

Em suma:

∙ Presidente da República propõe → Senado Federal aprova (maioria absoluta + voto secreto);

► ATRIBUIÇÕES: o PGR acumula as funções de chefe do MPU (art. 26 da LC 75/93) com as de chefe do MPF
(art. 49). A seguir, serão analisadas as principais atribuições relativas a ambas as chefias:

CHEFE DO MPU:

∙ representar o MPU: é o PGR quem representa o MPU, sobretudo perante outros Poderes, na qualidade de
chefe do MPU.

∙ propor projetos de lei ao Congresso Nacional: a iniciativa de leis quanto a matérias relativas ao MPU, quem
o faz é o PGR (basicamente, projeto de lei ordinária sobre cargos e remunerações e projeto de lei
complementar sobre organização e funcionamento do MPU).

∙ encaminhar ao Executivo a proposta orçamentária do MPU: como consequência da atribuição anterior, em


razão de possuir autonomia financeira e orçamentária, é o próprio MPU quem elabora sua proposta
orçamentária, dentro dos limites contidos na LDO. Encaminhada a proposta do MPU ao Executivo, cabe ao
Executivo consolidar as várias propostas parciais dos vários Poderes.

Antes de efetuar esse encaminhamento, porém, o PGR deve ouvir previamente o Conselho de Assessoramento
Superior (CASMPU), que, como o próprio nome já sugere, é um órgão opinativo, e não deliberativo, formado
pelo PGR, PGT, PGJM, PGJ/DFT e vice-PGR (único que não é chefe de ramo).

∙ nomear e dar posse ao vice-PGR, ao PGT e ao PGJM.

∙ dar posse ao PGJ/DFT: quem o nomeia é o Presidente da República.

∙ resolver ORIGINARIAMENTE conflito de atribuição entre órgãos de ramos diferentes (inter-ramo): por
ser atribuição originária, esse conflito de atribuição entre ramos distintos do MPU já chega diretamente ao
PGR, na qualidade de chefe do MPU.

Quando o conflito é entre membros do mesmo ramo (intra-ramo), quem resolve é a Câmara de Coordenação e
Revisão, com recurso ao Conselho Institucional (se houver) e outro recurso ao Procurador-Geral daquele
ramo.

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Ex.: conflito entre procurador da república (MPF/RJ) e outro procurador da república (MPF/SP), por ser intra-ramo, será
resolvido originariamente por uma das Câmaras de Coordenação e Revisão do MPF. Dessa decisão, cabe recurso ao Conselho
Institucional (que só existe no MPF, onde há várias Câmaras de Coordenação e Revisão). Dessa decisão do Conselho
Institucional, cabe recurso ao PGR na qualidade de chefe do MPF.

Ex.: conflito entre promotor da justiça militar (MPM/RJ) e outro promotor da justiça militar (MPM/SP), por ser intra-ramo, será
resolvido originariamente pela Câmara de Coordenação e Revisão do MPM (que só possui uma). Dessa decisão, cabe recurso ao
PGJM.

Ex.: conflito entre procurador da república (MPF) e promotor da justiça militar (MPM), por ser inter-ramo, será resolvido
originariamente pelo PGR, na qualidade de chefe do MPU.

CHEFE DO MPF:

∙ resolver EM GRAU DE RECURSO conflito de atribuição entre órgãos do MPF: conflitos intra-ramo do
MPF passarão primeiro pela Câmara de Coordenação e Revisão, chegando ao PGR somente em grau de
recurso.

∙ atuar no STF e no STJ (Corte Especial): no STF, o PGR atuará ministerialmente se manifestando em todos
os processos. Já no STJ, na maioria dos órgãos a atuação ministerial será desempenhada pelos sub-PGR, de
modo que a atuação direta do PGR se dá perante o Órgão Especial, mais especificamente (1) na representação
para intervenção federal nos estados e no DF no caso de recusa à execução de lei federal; e (2) nas ações
penais originárias contra as autoridades indicadas no art. 105, I, a, da CF. Como a LC 75/93 permite a
delegação dessa atribuição perante o STJ (cf. art. 48, par. único), na prática, muito dificilmente o PGR atuará
lá. Mas atenção: eventual atuação de um sub-PGR, nesses casos, será por delegação, e não por atribuição
direta.

∙ decidir questões administrativas: tais como a nomeação e exoneração de servidores; homologação de


concursos públicos, depois de ouvido o Conselho Superior; elaborar a proposta orçamentária do MPF,
submetendo-a à aprovação do Conselho Superior; afastamento de membros, depois de ouvido o Conselho
Superior; dar posse aos membros; etc.

∙ escolher titulares de cargos do MPF: tais como a designação dos chefes da PRR e da PR de cada unidade; a
escolha do Corregedor, do Procurador Federal dos Direitos do Cidadão, etc.

∙ decidir processos disciplinares contra membro ou servidor: a decisão cabe ao PGR como chefe do MPF,
não havendo conflito com a norma que autoriza o Conselho Superior do MPF a instaurar PAD contra
membro (apenas, e não servidor), apreciar seus relatórios e propor as medidas cabíveis (art. 57, XV).

∙ aplicar penalidades administrativas aos membros e servidores.

* Além de ser chefe do MPU e de chefe do MPF, o PGR acumula as funções de presidente do CNMP, presidente do
Conselho Superior do MPF e PGE.

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4. OS VÁRIOS
MINISTÉRIOS PÚBLICOS
Visão geral

► Embora o MPU seja regido pelo princípio institucional da unidade, ele é composto de 4 ramos distintos: MPF,
MPT, MPDFT e MPM.

Institucionalmente, o esquema de atuação dos vários ministérios públicos vinculados ao MPU obedece à divisão
dos órgãos jurisdicionais:

∙ Justiça distrital comum: é composta por juízes de direito (1ª instância) e pelo TJDFT (2ª instância). Quem
atua é o MPDFT.

∙ Justiça federal comum: é composta por juízes federais (1ª instância) e pelo TRF (2ª instância) de cada uma
das 5 regiões em que se subdivide. Quem atua é o MPF (que é o maior ramo do MPU, atuando também junto
ao STJ e ao STF).

∙ Justiça especial trabalhista: é composta por juízes do trabalho (1ª instância), pelo TRT (2ª instância) de cada
uma das 24 regiões em que se subdivide; e pelo TST (tribunal superior). Quem atua é o MPT.

∙ Justiça especial militar da União: é composta pela Auditoria Militar (1ª instância) pertencente a uma das 12
Circunscrições Judiciárias Militares em que se subdivide; e, não possuindo 2ª instância em tempos de paz, os
recursos da 1ª instância são remetidos diretamente ao STM (tribunal superior). Quem atua é o MPM. No
âmbito dos estados, que podem criar a justiça militar estadual, quem atua é o Ministério Público estadual, que
não compõe a estrutura do MPU.

∙ Superior Tribunal de Justiça: tribunal superior que se sobrepõe às justiças comuns (federal, estadual e
distrital). Quem atua é o MPF.

∙ Supremo Tribunal Federal: instância máxima da justiça brasileira. Quem atua é o MPF.

► A LC 75/93 prevê que a função ministerial no âmbito do STF e do STJ é privativa do MPF (art. 37, I). Desse
modo, mesmo que o recurso seja oriundo de outras justiças, quem exercerá a função ministerial originária e a
função de custos legis é o MPF. Todavia, o STF tem relativizado essa regra para admitir que o MP estadual ou
distrital de origem continue recorrendo das decisões dos seus processos. Em suma: o MP estadual e o MPDFT têm
legitimidade para propor e atuar em recursos e meios de impugnação de decisões em trâmite no STF e no STJ,
oriundos de processos de sua atribuição, sem prejuízo da atuação do MPF (STF, tese firmada em repercussão geral,
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Tema 946, 2017). Isso sob o fundamento de a atuação ministerial estadual não é vinculada, nem subordinada, à
chefia do MPU, o que lhe garante ampla possibilidade de atuação autônoma perante os tribunais superiores,
podendo inclusive propor ação rescisória perante o STJ para reformar acórdão do próprio STJ (STF, ACO 2351
AgR, 2015). Mas atenção: embora possa interpor RE das decisões proferidas pelo TST (pois os arts. 83, VI, e 107,
caput, da LC 75/93 preveem que é atribuição do MPT oficiar perante o TST, o que abrange a legitimidade para
interpor recurso perante o STF), o MPT não pode atuar diretamente no STF (seja propondo ações originárias, seja
recorrendo de decisões), pois o exercício de funções do MPU perante o STF é privativa do PGR (STF, Info 759,
2014).Ex.: um membro do MPDFT ajuiza uma ACP perante um juiz de direito e ela é julgada procedente. A pessoa vencida apela ao
TJDFT, que reforma a decisão de origem para julgar improcedente a ACP. O próprio membro do MPDFT então interpõe um RE ao
STF para discutir a questão constitucional envolvida. Chegando ao STF, o RE receberá um parecer do MPF. Se o relator negar
provimento ao RE, pode ser que o MPF não demonstre interesse sequer em opor embargos de declaração. Nesse caso, o MPDFT
poderá recorrer nesse processo, opondo embargos de declaração, pois terá legitimidade recursal como se fosse parte do processo.

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Carreiras dos membros do MPU

► O MPU é composto por 4 carreiras de membros providas, cada uma, por concursos públicos separados: MPF,
MPDFT, MPT e MPM. Cada carreira dessa é estruturada em 3 níveis fixos. Cada um desses níveis atua perante
determinado órgão jurisdicional e, de acordo com esse âmbito de atuação, terá foro por prerrogativa de função
perante órgãos distintos:

MPF
membro atuação foro
Subprocurador-Geral da República STJ STJ
Procurador Regional da República TRF STJ
Procurador da República Juiz federal TRF

MPT
membro atuação foro
Subprocurador-Geral do Trabalho TST STJ
Procurador Regional do Trabalho TRT STJ
Procurador do Trabalho Juiz do trabalho TRF ou STJ (se atuar em TRT)

MPM
membro atuação foro
Subprocurador-Geral da Justiça Militar STM STJ
Procurador da Justiça Militar Auditoria Militar TRF
Promotor da Justiça Militar Auditoria Militar TRF

MPDFT
membro atuação foro
Procurador de Justiça TJDFT STJ
Promotor de Justiça Juiz de direito TRF
Promotor de Justiça Adjunto Juiz de direito TRF

► Seguem algumas observações gerais:

∙ cada membro é tratado pela LC 75/93 como verdadeiro órgão (cf. art. 43, 85, 118 e 153). Tanto é assim que as
comunicações transmitidas entre eles é chamada de ofício;

∙ no âmbito do MPF, é estranho o fato de o mais alto cargo da carreira ser chamado de Sub. Isso porque o PGR
não é um cargo de carreira do MPF, pois depende de nomeação pelo Presidente da República (art. 128, § 1º,

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da CF), não sendo acessível via promoção por antiguidade ou merecimento na carreira. Pode ocorrer,
inclusive, embora não seja comum, de o PGR ser um Procurador da República que atua em 1ª instância. Em
suma: o cargo mais alto da carreira do MPF é o de Subprocurador-Geral da República (cf. art. 44, par. único,
da LC 75/93);

∙ no âmbito do MPT, o último nível é o de Subprocurador-Geral do Trabalho (cf. art. 86, par. único, da LC
75/93). O cargo de Procurador-Geral do Trabalho não é de carreira, mas, sim, de confiança, sendo nomeado
pelo PGR (cf. art. 88 da LC 75/93);

∙ no âmbito do MPT, a atuação do Procurador do Trabalho, via de regra, vai se dar perante o Juiz do Trabalho
somente em alguns casos (quando envolver interesse de menor, de incapazes ou coletivo) e também junto aos
TRTs, auxiliando os Procuradores Regionais do Trabalho (cf. art. 112, caput, da LC 75/93). Isso porque,
como já visto, o MPT, como órgão que é do Ministério Público, não irá atuar em causas que envolvam apenas
interesses individuais disponíveis. Daí a distinção quanto ao foro por prerrogativa de função de um
Procurador do Trabalho: perante o TRF, se atuar somente em 1ª instância; ou perante o STJ, se oficiar perante
o TRT;

∙ no âmbito do MPM, deve-se ter cuidado com a afirmação falsa de o último nível é o de Procurador-Geral da
Justiça Militar. O cargo mais alto, como visto, é o de Subprocurador-Geral da Justiça Militar (cf. art. 119, par.
único, da LC 75/93). O cargo de Procurador-Geral da Justiça Militar não é de carreira, mas, sim, de confiança,
sendo nomeado pelo PGJ (art. 121 da LC 75/93);

∙ no âmbito do MPM, como visto, tem-se que a justiça militar é dividida apenas em Auditoria Militar (1ª
instância) e STM (órgão de cúpula), não havendo tribunal intermediário de 2ª instância em tempos de paz. Por
isso, o Procurador da Justiça Militar será designado para atuar junto às Auditorias Militares, chefiando as
unidades regionais do MPM, e, peculiarmente, terá foro por prerrogativa de função perante o TRF, e não o
STJ;

∙ no âmbito do MPDFT, o último nível da carreira será o de Procurador de Justiça (cf. art. 154, par. único, da
LC 75/93). O cargo de Procurador-Geral de Justiça não é de carreira, mas, sim, de confiança, sendo nomeado
pelo Presidente da República (e não pelo PGR!), nos termos do art. 156 da LC 75/93.

► A definição do foro por prerrogativa de função dos membros do MPU obedece somente a 3 regras previstas na
CF:

∙ PGR → mesmo foro do Presidente da República: STF para crimes comuns (art. 102, I, b) e Senado para
crimes de responsabilidade (art. 52, II);

∙ Membro do MPU que atua em tribunal → STJ, seja o crime comum ou de responsab. (art. 105, I, a);

∙ Membro do MPU que atua só na 1ª instância → TRF, seja o crime comum ou de responsab. (art. 108, I, a).

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LEGISLAÇÃO APLICADA AO MPU (JOÃO TRINDADE) – 2018.1
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5. ÓRGÃOS INTERNOS DOS RAMOS

Estrutura geral

► A análise dos órgãos internos dos 4 ramos do MPU pode ser feita com base no estudo da estrutura do MPF, seja
porque é o mais complexo dos ramos, seja porque a organização dos demais poderá ser tirada por simetria.

► São órgãos que compõem a estrutura do MPF (art. 43 e art. 41 da LC 75/93):

∙ Colégio de Procuradores (da República)


∙ Conselho Superior (do MPF)
∙ Corregedoria (do MPF)
∙ Câmaras de Coordenação e Revisão (do MPF)
∙ Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão

► São órgãos que compõem a estrutura do MPT (art. 85):

∙ Colégio de Procuradores (do Trabalho)


∙ Conselho Superior (do MPT)
∙ Corregedoria (do MPT)
∙ Câmara de Coordenação e Revisão (do MPT)

► São órgãos que compõem a estrutura do MPM (art. 118):

∙ Colégio de Procuradores (da Justiça Militar)


∙ Conselho Superior (do MPM)
∙ Corregedoria (do MPM)
∙ Câmara de Coordenação e Revisão (do MPM)

► São órgãos que compõem a estrutura do MPDFT (art. 153):

∙ Colégio de Procuradores (e Promotores de Justiça)


∙ Conselho Superior (do MPDFT)
∙ Corregedoria (do MPDFT)
∙ Câmara de Coordenação e Revisão (do MPDFT)

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LEGISLAÇÃO APLICADA AO MPU (JOÃO TRINDADE) – 2018.1
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Colégio de Procuradores

► COMPOSIÇÃO: todos os membros da carreira, de todos os níveis, em atividade (sendo excluídos apenas os
membros aposentados).

Não há que se falar, pois, em mandato, recondução ou restituição. Basta que o membro permaneça vinculado a um
dos ramos do MPU para que seja considerado componente do respectivo Colégio.

► ATRIBUIÇÕES: basicamente, giram em torno dos verbos eleger e opinar:

∙ eleger 4 membros do Conselho Superior;


∙ eleger listas sêxtuplas para a composição de tribunais (pelo quinto constitucional) por voto plurinominal
(podendo ser votado em até 6 nomes), facultativo e secreto;
∙ opinar sobre assuntos gerais de interesse da instituição.

Quanto ao quinto constitucional, deve-se recordar a regra geral de escolha (art. 94 da CF): a OAB ou o respectivo
MP elaboram uma lista sêxtupla, que será reduzida numa lista tríplice pelo tribunal, sendo então encaminhada ao
chefe do Executivo para a escolha de um dos nomes. Assim, no caso do MPF (para o TRF e para o STJ), do MPT
(para o TST) e do MPDFT (para o TJDFT), o órgão de representação da classe que elaborará a lista sêxtupla será o
respectivo Colégio de Procuradores. Lembre-se que a Justiça Militar não possui tribunal de 2ª instância; além disso,
os membros do STM são escolhidos pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado (art.
123 da CF), não havendo, pois, influência do quinto constitucional.

Conselho Superior

► COMPOSIÇÃO: é formado por 10 conselheiros:

∙ 2 membros natos: Procurador-Geral e o Vice-Procurador-Geral


∙ 8 membros do último nível da carreira: 4 eleitos pelo Colégio + 4 eleitos pelos seus pares

A presidência do Conselho Superior será exercida pelo Procurador-Geral. A vice-presidência, por sua vez, será
escolhida pelo próprio Conselho Superior.

Não se pode confundir o Conselho Superior de cada ramo com o CNMP (que tem previsão constitucional, sendo
composto por 14 membros).

Atenção: com a exceção do PGR (que não obrigatoriamente deve ser do último nível da carreira), todos os demais
componentes do Conselho Superior devem ser Subprocuradores-Gerais (no caso do MPF, do MPT e do MPM) ou
Procuradores de Justiça (no caso do MPDFT). Deve-se lembrar que o Vice-Procurador-Geral, obrigatoriamente,
será membro de fim de carreira.

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LEGISLAÇÃO APLICADA AO MPU (JOÃO TRINDADE) – 2018.1
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Uma importante função desempenhada pelo vice-presidente do Conselho Superior do MPF é a substituição do PGR
no caso de vacância (no caso de impedimento, frise-se, quem o substituirá será o Vice-PGR).

► MANDATO: 2 anos (assim como todos os mandatos ).

► RECONDUÇÃO: é permitida apenas 1.

► DESTITUIÇÃO: não há previsão acerca da destituição de membro do Conselho Superior. É possível que ele
não seja reconduzido, mas não destituído antes do fim do seu mandato.

► ATRIBUIÇÕES:

∙ exercer o poder normativo no seu respectivo âmbito;


∙ opinar em questões administrativas;
∙ aprovar escolhas e destituições;
∙ decidir sobre o cumprimento do estágio probatório
∙ decidir sobre o vitaliciamento

Em âmbito nacional, o exercício do poder normativo é atribuição do CNMP (art. 130-A, § 2º, I, da CF). Assim,
p.e., um Procurador da República se submeterá tanto às normativas do CNMP quanto do CSMPF. Embora não haja
hierarquia entre o CNMP e os Conselhos Superiores do MPF, do MPT, do MPM e do MPDFT, por possuir previsão
constitucional, em caso de conflito normativo, devem prevalecer as regras nacionais.

No âmbito do MPF, será o Conselho Superior do MPF quem aprovará o nome do Procurador Federal dos Direitos
do Cidadão.

Corregedoria

A par da Corregedoria Nacional, que funciona junto ao CNMP (art. 130-A, § 3º, da CF), existe uma Corregedoria
para cada ramo do MPU. Assim, o Corregedor Nacional tem a atribuição de fiscalizar todo o Ministério Público
brasileiro (membros e servidores), ao passo que cada Corregedor-Geral atuará como fiscal das atividades funcionais
e da conduta apenas dos membros do seu respectivo ramo (e não dos servidores).

► ESCOLHA: é feita pelo respectivo Procurador-Geral, com base numa lista tríplice elaborada pelo Conselho
Superior contendo membros do último nível da carreira (excluídos os membros que integram o Conselho Superior).
Os demais nomes dessa lista tríplice formarão o corpo de suplentes do Corregedor-Geral, conforme ordenação feita
pelo próprio Procurador-Geral.

Em suma: o Conselho Superior elabora lista tríplice com nomes do último nível da carreira (Subprocuradores-
Gerais ou Procuradores de Justiça); o Procurador-Geral ordena essa lista tríplice, escolhendo um dos nomes para o
cargo de Corregedor-Geral e os demais serão ordenados como 1º Corregedor-Auxiliar e 2º Corregedor-Auxiliar.

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► MANDATO: 2 anos.

► RECONDUÇÃO: é permitida apenas 1 renovação (fala-se em renovação porque não será necessária a
elaboração de uma nova lista tríplice, sendo, pois, renovada a mesma lista de composição do biênio anterior).

► DESTITUIÇÃO: depende de iniciativa do Procurador-Geral e aprovação de 2/3 dos membros do Conselho


Superior.

► ATRIBUIÇÕES:

∙ realizar correições, ordinárias ou extraordinárias, de ofício ou por determinação do Procurador-Geral ou do


Conselho Superior;
∙ instaurar sindicâncias;
∙ direito a voz nas reuniões do Conselho Superior (sem direito a voto);
∙ acompanhar o estágio probatório dos membros (e não dos servidores, que ficam a cargo do CNMP), cobrando
relatórios, opinando sobre o vitaliciamento (cuja decisão é atribuição do Conselho Superior).

Câmara de Coordenação e Revisão

A Câmara de Coordenação e Revisão é um órgão de coordenação, integração e revisão do exercício funcional na


Instituição.

No âmbito do MPT e do MPM, há apenas uma Câmara.

No âmbito do MPF, há 7 Câmaras de Coordenação e Revisão, organizadas pelas seguintes matérias:

∙ 1ª CCR: direitos sociais e fiscalização de atos administrativos em geral;


∙ 2ª CCR: criminal;
∙ 3ª CCR: consumidor e ordem econômica;
∙ 4ª CCR: meio ambiente e patrimônio cultural;
∙ 5ª CCR: combate à corrupção;
∙ 6ª CCR: populações indígenas e comunidades tradicionais; e
∙ 7ª CCR: controle externo da atividade policial e sistema prisional.

Já no âmbito do MPDFT, há 8 Câmaras de Coordenação e Revisão, divididas nas áreas cível e criminal da seguinte
forma:

∙ 1ª Câmara Cível Especializada: patrimônio público e social;


∙ 2ª Câmara Cível Especializada: tributário e outros;
∙ 3ª Câmara Cível Especializada: meio ambiente e ordem urbanística;
∙ 4ª Câmara Cível Especializada: saúde, idoso e portador de deficiência;

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∙ 5ª Câmara Cível Especializada: fundações, registros públicos, criança e adolescente, mulher e filiação;
∙ 6ª Câmara Cível Especializada: consumidor e educação;
∙ 1ª Câmara Criminal; e
∙ 2ª Câmara Criminal.

► COMPOSIÇÃO: 3 membros e 3 suplentes, sempre que possível dentre os integrantes do último nível da
carreira:

∙ 1 indicado pelo Procurador-Geral;


∙ 2 indicados pelo Conselho Superior.

Um dos integrantes será designado pelo Procurador-Geral para exercer a função executiva de Coordenador, sendo
esse obrigatoriamente um membro de fim de carreira (não necessariamente será aquele membro que ele mesmo
indicou).

Em suma: o cargo de membro da Câmara de Coordenação e Revisão não é privativo do último nível da carreira,
mas o cargo de Coordenador sim, só podendo ser ocupado por Subprocuradores-Gerais (no caso do MPF, do MPT
e do MPM) ou Procuradores da República (no caso do MPDFT).

► MANDATO: 2 anos.

► RECONDUÇÃO: várias (a lei não limita).

► DESTITUIÇÃO: não é prevista em lei a possibilidade de destituir um membro da Câmara de Coordenação e


Revisão.

► ATRIBUIÇÕES:

∙ coordenar a atuação no seu respectivo ramo;


∙ organizar grupos de trabalho com o intuito de harmonizar a atuação dos membros (respeitada, obviamente, a
independência funcional);
∙ revisar (homologar) o arquivamento de inquéritos policiais (na forma do art. 28 do CPP), inquéritos cíveis,
inquéritos parlamentares e peças de informação;
∙ resolver sobre a distribuição especial de feitos que, por sua contínua reiteração, devam receber tratamento
uniforme;
∙ resolver sobre a distribuição especial de feitos e procedimentos, quando a matéria, por sua natureza ou
relevância, assim o exigir;
∙ resolver os conflitos de atribuições intra-ramo.

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Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão é um órgão exclusivo do MPF que atua na defesa dos direitos
constitucionais do cidadão, com vistas a garantir o seu efetivo respeito pelos Poderes Públicos e pelos prestadores
de serviços de relevância pública.

Não há órgão equivalente no âmbito do MPT e do MPM. No MPDFT, há a chamada Procuradoria Distrital dos
Direitos do Cidadão (cf. arts. 173 a 175 do RIMPDFT).

► ESCOLHA: a designação pelo PGR (na qualidade de chefe do MPF, cf. art. 49, III) depende de aprovação pelo
Conselho Superior do MPF.

É cargo privativo de Subprocurador-Geral da República (cf. art. 40, caput).

Sempre que possível, o Procurador dos Direitos do Cidadão não acumulará o exercício de suas funções com outras
do MPF.

► MANDATO: 2 anos.

► RECONDUÇÃO: é permitida apenas 1, precedida de nova decisão do Conselho Superior (cf. art. 40, caput).

► DESTITUIÇÃO: depende de iniciativa do PGR e aprovação pela maioria absoluta do Conselho Superior.

► ATRIBUIÇÕES: defender direitos difusos e coletivos dos cidadãos.

Apesar de o Ministério Público estar autorizado a defender direitos individuais desde que indisponíveis (cf. art. 127,
caput, da CF), a PFDC é proibida de promover em juízo a defesa de direitos individuais (cf. art. 15 da LC 75/93).
Nesses casos, verificada a violação de direitos individuais, a PFDC deverá remeter os elementos de informação ao
MP competente ou à Defensoria Pública.

O Procurador dos Direitos do Cidadão poderá agir de ofício ou mediante representação. Expedirá, então,
notificação à autoridade questionada para que preste informações em determinado prazo (art. 12). Se concluir pela
violação de direitos constitucionais, irá novamente expedir notificação, desta vez para que o responsável tome as
providências necessárias para prevenir a repetição do ato violador ou para cessar a conduta violadora (art. 13). Não
atendida, no prazo, essa última notificação, a PFDC representará ao Poder ou ao órgão competente para que seja
promovida a responsabilidade pela referida conduta inconstitucional (art. 14).

Cargos privativos do último nível da carreira:

∙ os 8 membros eleitos para integrar o Conselho Superior (afora o Procurador-Geral e o Vice-Procurador-Geral)


∙ Corregedor-Geral
∙ Coordenador da Câmara de Coordenação e Revisão
∙ Procurador dos Direitos do Cidadão

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6. CHEFIAS DOS RAMOS

MPF

► CHEFE: PGR (Procurador-Geral da República).

► ESCOLHA:

∙ nomeado pelo Presidente da República;


∙ aprovação pelo Senado (maioria absoluta + voto secreto + sabatina).

► REQUISITOS:

∙ brasileiro (nato ou naturalizado);


∙ maior de 35 anos;
∙ membro da carreira (não é obrigatório ser do último nível).

► MANDATO: 2 anos.

► RECONDUÇÃO: são permitidas várias reconduções (para tanto, deve ser repetido todo o processo de escolha,
cf. art. 128, § 1º, da CF).

► DESTITUIÇÃO: segue a mesma lógica da escolha: é destituído por iniciativa do Presidente da República,
dependendo de aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal (art. 128, § 1º, da CF), em votação secreta (cf
art. 25, par. único, da LC 75/93).

► ATUAÇÃO:

∙ STF
∙ STJ (nas matérias de competência da Corte Especial, cf. art. 48)
∙ TSE (cf. art. 73)
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MPT

► CHEFE: PGT (Procurador-Geral do Trabalho).

► ESCOLHA: é feita em 2 etapas:


∙ Colégio de Procuradores do Trabalho elabora lista tríplice (mediante voto plurinominal, facultativo e
secreto);∙ PGR escolhe um dos nomes (na qualidade de chefe do MPU).
► REQUISITOS:

∙ membro da carreira (não é obrigatório ser do último nível);


∙ maior de 35 anos de idade;
∙ mais de 5 anos de efetivo exercício (ou mais de 2 anos, se não houver candidato suficiente com mais de 5).

► MANDATO: 2 anos.

► RECONDUÇÃO: é permitida apenas 1, observado o mesmo processo de escolha (com a elaboração de uma
nova lista tríplice pelo Colégio e uma nova escolha pelo PGR).

► DESTITUIÇÃO: depende da iniciativa do PGR e aprovação por 2/3 do Conselho Superior do MPT.

► ATUAÇÃO: TST (mais especificamente junto ao Plenário, propondo as ações cabíveis e manifestando-se nos
processos de sua competência, nos termos do art. 90).

Já os Subprocuradores-Gerais do Trabalho serão designados para oficiar junto ao TST e à Câmara de Coordenação
e Revisão; e os Procuradores Regionais do Trabalho atuarão perante o TRT.

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MPM

► CHEFE: PGJM (Procurador-Geral da Justiça Militar).

► ESCOLHA: é feita em 2 etapas:

∙ Colégio de Procuradores da Justiça Militar elabora lista tríplice (mediante voto plurinominal, facultativo e
secreto);
∙ PGR escolhe um dos nomes (na qualidade de chefe do MPU).

► REQUISITOS:

∙ membro da carreira (não é obrigatório ser do último nível);


∙ maior de 35 anos de idade;
∙ mais de 5 anos de efetivo exercício (ou mais de 2 anos, se não houver candidato suficiente com mais de 5).

► MANDATO: 2 anos.

► RECONDUÇÃO: é permitida apenas 1, observado o mesmo processo de escolha (com a elaboração de uma
nova lista tríplice pelo Colégio e uma nova escolha pelo PGR).

► DESTITUIÇÃO: depende da iniciativa do PGR e aprovação por 2/3 do Conselho Superior do MPM.

► ATUAÇÃO: STM.

Já os Subprocuradores-Gerais da Justiça Militar serão designados para oficiar junto ao STM e à Câmara de
Coordenação e Revisão; e os Procuradores Regionais da Justiça Militar atuarão perante as Auditorias Militares.

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MPDFT

O regime jurídico do PGJ do MPDFT destoa dos demais ramos do MPU porque se aproxima mais da estrutura do
MP estadual.

► CHEFE: PGJ (Procurador-Geral de Justiça).

► ESCOLHA: é feita em 2 etapas:

∙ Colégio de Procuradores e Promotores de Justiça elabora lista tríplice (mediante voto plurinominal, facultativo
e secreto);
∙ Presidente da República escolhe um dos nomes (na qualidade de chefe do Executivo federal).

Atenção: o Governador do DF não nomeia o PGJ por um motivo simples: o MPDFT não integra a estrutura do DF,
mas, sim, da União. No âmbito do MP estadual, por sua vez, o PGJ é sim nomeado pelo respectivo governador.

► REQUISITOS:

∙ membro da carreira (não é obrigatório ser do último nível);


∙ mais de 5 anos de efetivo exercício;
∙ não ter sofrido, nos últimos 4 anos, qualquer condenação definitiva ou não estejam respondendo a processo
penal ou administrativo.

► MANDATO: 2 anos.

► RECONDUÇÃO: é permitida apenas 1, precedida de nova lista tríplice.

► DESTITUIÇÃO: há divergência. Isso porque a CF afirma que os PGJs dos estados e do DF poderão ser
destituídos por deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo, na forma da lei complementar respectiva (art.
128, § 4º). Na esfera estadual, não há dúvidas de que o Legislativo corresponde à Assembleia Legislativa. Já na
esfera da União, contudo, o art. 44 da CF é expresso no sentido de que o Legislativo é exercido pelo Congresso
Nacional, que é composto pelo Senado e pela Câmara.

Desse modo, uma interpretação literal da CF conduziria à conclusão de que a destituição do PGJ/DFT dependeria
de aprovação por maioria absoluta do Congresso Nacional, e não apenas do Senado.

Desse modo, a divergência pode ser resumida no seguinte sentido:

▬ Interpretação literal da CF: iniciativa do Presidente da República + aprovação pela maioria absoluta do
Congresso Nacional.

Essa é a posição de José Afonso da Silva. Contudo, essa interpretação revela uma grande distorção, já que seria

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o único caso constitucional em que a Câmara dos Deputados atuaria na aprovação da destituição de uma
autoridade (o que sempre é feito somente pelo Senado). Além disso, resultaria na conclusão de que a destituição
do PGJ/DFT (que é chefe de um ramo) seria mais rigorosa e difícil do que a destituição do PGR (que é chefe de
todo o MPU), o que seria verdadeiro contrasenso.

▬ Interpretação do art. 156, § 2º, da LC 75/93: representação do Presidente da República + aprovação pela
maioria absoluta do Senado Federal.

Essa é a posição de Pedro Lenza, para quem a LC 75/93 apenas regulamentou a exigência constitucional de que
a destituição do PGJ/DFT dependeria de aprovação do Legislativo. Além disso, fato é que toda lei possui
presunção de constitucionalidade, o que é reforçado pela inexistência de ADI questionando o seu teor.

► ATUAÇÃO: TJDFT (mais especificamente junto ao Plenário, propondo as ações cabíveis e manifestando-se nos
processos de sua competência, nos termos do art. 158).

Atenção quanto à atribuição para nomeações:

∙ o PGR nomeia e empossa os chefes do MPT e MPM;


∙ o PGR apenas empossa o chefe do MPDFT (que é nomeado pelo Presidente da República).

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7. FUNÇÃO ELEITORAL DO MPF
Função eleitoral

► FUNÇÃO DE MINISTÉRIO PÚBLICO PERANTE A JUSTIÇA ELEITORAL: é exercida pelo MPF, que
atuará em todas as fases e instâncias do processo eleitoral (cf. art. 72 da LC 75/93).

Nesse âmbito, o MPF tem atribuição para propor ações para declarar ou decretar a nulidade de negócios jurídicos
ou de atos administrativos que violarem normas eleitorais destinadas à proteção da normalidade e legitimidade das
eleições, bem como ao combate à influência do poder econômico e ao abuso do poder político ou administrativo
(art. 72, par. único).

Atenção: nem todos os membros que atuam na área eleitoral pertencem ao MPF. Os promotores eleitorais são
membros do MP local (MPE ou MPDFT). Ao atuarem perante a justiça eleitoral, porém, estarão desempenhando
uma função atribuída ao MPF.

► PROCURADOR-GERAL ELEITORAL: é o próprio PGR. Atua perante o TSE.

Além de atuar nas causas originárias e recursais do TSE, o PGE possui outras atribuições:

∙ dirimir conflitos de atribuições;


∙ designar o Vice-PGE;
∙ designar os PREs;
∙ acompanhar os procedimentos do Corregedor-Geral Eleitoral;
∙ por necessidade de serviço, designar membros do MPF para atuar, com a sua aprovação, perante o TSE;
∙ quando o exigir a necessidade de serviço, requisitar servidores da União e de suas autarquias (sem prejuízo
dos direitos e vantagens inerentes ao exercício de seus respectivos cargos ou empregos).

► VICE-PROCURADOR-GERAL ELEITORAL: é escolhido, juntamente com o seu substituto, pelo PGR


dentre os membros do último nível da carreira do MPF (ou seja, é necessariamente um Subprocurador-Geral da
República). Atua perante o TSE, além de substituir o PGE em caso de impedimento ou de vacância (neste caso, até
a escolha de um novo PGR; lembrar que, fora da área eleitoral, quem substitui o PGR em caso de vacância é o
Vice-Presidente do Conselho Superior do MPF, e não o Vice-PGR).

► PROCURADORES REGIONAIS ELEITORAIS: são escolhidos pelo PGE dentre os Procuradores Regionais
da República no respectivo estado ou DF (ou, onde não houver TRF, dentre os Procuradores da República
vitalícios). Atuam perante o TRE de cada estado e do DF.

O mandato é de 2 anos. É admitida 1 única recondução. Sua destituição depende de iniciativa do PGE e aprovação
do Conselho Superior do MPF por maioria absoluta (art. 76, § 2º). Atenção: nesse ponto, há um conflito aparente
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de normas acerca do quórum do Conselho Superior do MPF para a destituição do PRE. O art. 76, § 2º, fala em
maioria absoluta. Já o art. 57, par. único, exige a maioria qualificada de 2/3. Por ser uma norma mais específica e
expressa, que trata especialmente do PRE, deve ser dada prevalência à previsão do art. 76, § 2º. ► PROMOTORES
ELEITORAIS: são os promotores do MP local (MPE ou MPDFT) que atuam perante o juízo incumbido do serviço
eleitoral de cada zona (ou, não havendo promotor perante aquela zona, havendo impedimento ou recusa justificada,
o PGJ indicará ao PRE o substituto a ser designado). Atuam perante os juízes eleitorais e às juntas eleitorais. O
exercício dessas funções eleitorais se dá por delegação do MPF.

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8. REGIME JURÍDICO
DOS MEMBROS DO MPU
O regime jurídico aqui estudado é o dos membros do MPU (MPF, MPT, MPM e MPDFT), e não dos seus servidores.

As respectivas normas são extraídas das seguintes fontes:

∙ CF (principalmente o § 5º do art. 128, com a redação dada pela EC 45/04);


∙ LC 75/93 (prevalecendo, em caso de conflito, as inovações da EC 45/04);
∙ Lei 8.112/90 (supletivamente, nos termos do caput do art. 287 da LC 75/93).

Garantias

► Encontram-se previstas, basicamente, no inciso I do § 5º do art. 128 da CF:

∙ vitaliciedade;
∙ inamovibilidade;
∙ irredutibilidade de subsídio.

1. VITALICIEDADE: só perder o cargo em virtude de sentença judicial transitada em julgado.

A aquisição dessa garantia se dá após 2 anos de efetivo exercício, desde que aprovado no estágio probatório.
Ou seja, não basta o mero preenchimento do requisito temporal. Deve-se lembrar que o estágio probatório de
membro é de 2 anos (e não de 3 anos, como no caso dos servidores), sendo decidido pelo Conselho Superior
de cada um dos ramos.

Não se confunde com a mera estabilidade, que é assegurada aos servidores públicos efetivos em geral e que
pode ser perdida em 4 hipóteses (sentença judicial transitada em julgado, processo administrativo
disciplinar, procedimento de avaliação periódica de desempenho conforme lei complementar e por excesso
de despesas com pessoal previsto no art. 169 da CF). A vitaliciedade, por sua vez, só é garantida pela CF aos
membros do Judiciário, do Ministério Público e dos Tribunais de Contas. Além disso, só pode ser perdida em
1 hipótese: sentença judicial transitada em julgado. Assim, eventual condenação administrativa por falta
punível com demissão não será suficiente, devendo ser ajuizada uma ação específica para que seja declarada
a perda do cargo (pois administrativamente, a maior penalidade aplicável é a aposentadoria compulsória com
proventos proporcionais).

Essa exigência de sentença judicial retrata uma hipótese clara de reserva de jurisdição, de modo que apenas
por decisão judicial é que o membro do MPU poderá perder seu cargo. Além disso, exige-se o trânsito em
LEGISLAÇÃO APLICADA AO MPU (JOÃO TRINDADE) – 2018.1
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julgado, i.e., uma sentença judicial revestida pela irrecorribilidade. Desse modo, é incorreto afirmar que um
membro do MPU pode perder o cargo por decisão do CNMP.

2. INAMOVIBILIDADE: não ser removido de ofício, salvo por interesse público ou disciplinarmente.

Os servidores em geral não gozam da inamovibilidade, sendo removíveis. Nesse sentido, a Lei 8.112/90, no
seu art. 36, prevê que os servidor pode sim ser removido contra a sua vontade, de ofício (no interesse da
Administração). Já os membros não, sendo essa uma forma de proteção face a eventuais pressões ou
retaliações decorrentes da sua atuação funcional (garantindo-se, assim, tanto o princípio do promotor natural
quanto o princípio institucional da independência funcional).

As 2 únicas hipóteses de remoção ex officio de membros do MPU são as seguintes:

∙ Interesse público: p.e., se for inaugurada uma nova sede e não existir membro interessado
voluntariamente a se mudar para aquela localidade;

∙ Disciplinarmente: no âmbito do direito administrativo, sob o regime dos servidores ditado pela Lei
8.112, de fato, inexiste remoção como sanção disciplinar. Já no âmbito do direito constitucional, em
que é estudado o regime da LC 75/93, é sim possível a remoção como penalidade disciplinar, pois os
membros podem sim ser removidos disciplinarmente por decisão do CNMP, já que a própria CF traz
uma cláusula aberta para as sanções disciplinares aplicáveis pelo CNMP (art. 130-A, § 2º, III). Essa
possibilidade foi inserida pela EC 45/04 e chancelada pelo STF.

Para excepcionar a inamovibilidade, nas 2 hipóteses referidas, a CF exige expressamente a aprovação pela
maioria absoluta do Conselho Superior do respectivo ramo ou do CNMP. Além disso, deve ser sempre
assegurada a ampla defesa. Desse modo, jamais será possível a remoção de membro por decisão unipessoal,
ainda que por parte do PGR, mas tão somente colegiadamente e pela maioria absoluta dos seus integrantes.

Esse dispositivo foi alterado pela EC 45/04 para alterar o quórum de 2/3 para o de maioria absoluta. Por ser
lei posterior e, aliás, de hierarquia superior, o inciso II do § 5º do art. 128 da CF prevalece sobre o art. 17, II,
da LC 75/93 (que está tacitamente revogado).

3. IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIO: não ter o valor bruto do seu subsídio reduzido.

Essa irredutibilidade, destaque-se, refere-se ao valor nominal (bruto), e não ao valor líquido ou de compra.
Não se trata, pois, de uma garantia de recomposição salarial.

Esse sistema remuneratório obedece à sistemática da parcela única prevista para membros de Poder,
detentores de mandatos eletivos, Ministros e Secretários estaduais e municipais (art. 39, § 4º).

As ressalvas constantes do texto da CF referem-se à revisão geral anual (art. 37, X), ao teto constitucional
(art. 37, XI) e a impostos, i.e., à eventual redução do valor líquido por alteração das alíquotas, pois apenas o

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valor bruto é que não pode ser reduzido (cf. arts. 150, II, e 153, III e § 2º).

Essa garantia, prevista constitucionalmente, foi objeto de veto quando da edição da LC 75/95, razão pela
qual não consta no inciso III do seu art. 17.

Para os servidores em geral, há uma garantia equivalente, que é a de irredutibilidade de vencimentos (pois
recebem em regime de remuneração, e não em parcela única mensal do regime de subsídios do art. 39, § 4º).

Vedações

► Encontram-se previstas, basicamente, no inciso II do § 5º do art. 128 da CF, podendo ser divididas em vedações
absolutas e vedações relativas.

São vedações absolutas:

∙ receber honorários, percentagens ou custas processuais (a qualquer título e sob qualquer pretexto);
∙ advogar;
∙ exercer atividade político-partidária.

São vedações relativas, i.e., que possuem exceções previstas pela própria CF:

∙ exercer comércio (salvo como cotista ou acionista);


∙ exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função pública (salvo uma de magistério);
∙ receber presentes ou valores (salvo nos casos previstos em lei);
∙ "quarentena de saída" (só pode advogar no juízo ou tribunal em que atuava após 3 anos).

► VEDAÇÕES ABSOLUTAS:

∙ receber honorários, percentagens ou custas processuais (a qualquer título e sob qualquer pretexto):
algumas carreiras específicas admitem o recebimento de honorários (como é o caso da advocacia pública),
mas no âmbito do Ministério Público essa é uma vedação absoluta, não admitindo exceção. Trata-se de uma
contrapartida à garantia da irredutibilidade dos subsídios, de modo que receberão a mesma remuneração,
independentemente do valor dos processos em que atuarem.

∙ advogar: é uma proibição absoluta, que não admite exceções, nem mesmo para atuar em causa própria. Aliás,
a hipótese do art. 29, § 3º, do ADCT, não é uma exceção a essa regra, mas, sim, uma ressalva relativa à opção
do regime jurídico por parte dos membros do Ministério Público admitido antes da promulgação da CF/88
(garantias, vantagens e vedações). Assim, esses membros protegidos pelo § 3º do art. 29 do ADCT poderão
advogar e, inclusive, exercer atividade político-partidária. Em suma: alguns membros do Ministério Público
podem advogar não por exceção à vedação do art. 128, § 5º, II, b, da CF, mas porque optaram pelo regime
jurídico anterior, não incidindo sobre eles essa vedação nova (só não poderão advogar contra a Fazenda

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Pública que os remunera, nos termos do art. 30, I, do EOAB). Entretanto, os membros do MPU admitidos
após a CF/88 não poderão, em hipótese alguma, advogar.

∙ exercer atividade político-partidária: essa vedação foi transformada em absoluta pela EC 45/04, razão pela
qual está em contraste com a exceção então previsão do art. 237, V, da LC 75/93. Quanto à sua abrangência,
destaca-se que todo cidadão pode exercer atividades políticas, mas o exercício da atividade político-partidária
se tornou uma vedação absoluta para os membros do MPU após a edição da EC 45/04. Para exercerem cargo
eletivo, devem antes pedir exoneração. Faz-se, aqui, a mesma ressalva decorrente do art. 29, § 3º, do ADCT:
alguns membros do Ministério Público podem exercer atividade político-partidária (filiar-se a partido e
afastar-se para exercer ou concorrer a cargo eletivo) não por exceção à vedação do art. 128, § 5º, II, e, da CF,
mas porque optaram pelo regime jurídico anterior, não incidindo sobre eles essa vedação nova. Entretanto, os
membros do MPU admitidos após a EC 45/04 não poderão, em hipótese alguma, exercer atividade político-
partidária. Uma situação intermediária quanto ao exercício de atividade político-partidária envolve os
membros do MPU admitidos entre a CF/88 e a EC 45/04: o STF ainda não decidiu esse tema, ainda
imperando tal dúvida, mas tende-se a permitir que quem já estava licenciado permaneça exercendo seu cargo
eletivo, impedindo-se apenas novos pedidos de licença.

► VEDAÇÕES RELATIVAS:

∙ exercer atividade empresarial (salvo como cotista ou acionista): a vedação constitucional traz uma cláusula
de eficácia limitada ao prever que o membro do Ministério Público não poderá participar de sociedade
comercial, na forma da lei.

O inciso III do art. 237 da LC 75/93 regula a matéria ao trazer uma exceção expressa: afirma ser possível a
participação em sociedade comercial desde que como cotista ou acionista. Assim, não poderá exercer nem a
empresa (como empresário), tampouco a sua administração (como sócio-administrador). A intenção da norma
é evitar eventuais conflitos de interesses.

∙ exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função pública (salvo uma de magistério): a
acumulação de outro cargo ou função de natureza privada não é proibida. A vedação se dá especificamente
com relação à acumulação de atividade pública (que não seja cargo de confiança na administração superior da
própria instituição ministerial, o que é permitido), ainda que o membro esteja licenciado do MPU.

A própria CF, entretanto, traz uma exceção expressa: é permitida a acumulação pública de uma função de
magistério. Quanto ao alcance da expressão "uma", o STF, ao decidir um caso envolvendo membro do
Judiciário, afirmou que não se trata de uma restrição numérica, mas, sim, da permissão do exercício de
"alguma" função de magistério, seja uma ou mais, concomitantemente, desde que não haja prejuízo ao
exercício da função jurisdicional. Embora se trate de um precedente relativamente antigo e que diz respeito a
um juiz, é possível aplicar a mesma lógica aos membros do MPU.

∙ receber presentes ou valores (salvo nos casos previstos em lei): a vedação ao recebimento, a qualquer título

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ou pretexto, de auxílios ou contribuições (de pessoas físicas e de entidades públicas ou privadas) foi trazida
pela EC 45/04, inexistindo anteriormente.

∙ "quarentena de saída" (só pode advogar no juízo ou tribunal em que atuava após 3 anos): essa vedação
decorre da previsão do § 6º do art. 128 da CF, que afirma ser aplicável aos membros do Ministério Público o
disposto no art. 95, par. único, V. Trata-se de vedação prevista para os juízes que proíbe o exercício da
advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos 3 anos do afastamento do cargo por
aposentadoria ou exoneração.

Assim, ao se aposentar ou ser exonerado, o membro do MPU deixará de se submeter às vedações contidas no
art. 128, § 5º. Poderá, portanto, passar a exercer a advocacia imediatamente, mas fica proibido de atuar
perante o juízo ou o tribunal do qual se afastou antes de completados 3 anos da sua aposentadoria ou
exoneração. Em suma: o membro do MPU que for aposentado ou que pedir exoneração poderá sim exercer
advocacia antes do período de 3 anos, ficando limitado apenas com relação à atuação perante o órgão
jurisdicional junto ao qual atuava.

Prerrogativas

► Encontram-se previstas, basicamente, no art. 18 da LC 75/93. Com a exceção do foro por prerrogativa de função,
que possui assento na CF, trata-se de matéria regulada quase que inteiramente por normas infraconstitucionais.

Dividem-se entre prerrogativas institucionais e prerrogativas processuais. As institucionais guardam relação com a
atuação do membro num processo ou fora dele; já as processuais tratam apenas de processos a que os membros
respondem (foro por prerrogativa de função e condições especiais de prisão e indiciamento) ou em que estão
atuando como parte ou colaborador.

São prerrogativas institucionais:

∙ sentar-se no mesmo plano e imediatamente à direita dos juízes singulares ou presidentes dos órgãos
judiciários perante os quais oficiem;
∙ usar vestes talares;
∙ em razão de serviço, ter ingresso e trânsito livres em qualquer recinto público ou privado (respeitada a
garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio): destaque-se que mesmo em recinto público e em
recinto privado que não configure domicílio, o ingresso e o trânsito serão livres. Entretanto, em domicílios
privados, o ingresso só será permitido nas hipóteses constitucionais do art. 5º, XI. Esse ingresso e trânsito
devem guardar relação com o exercício das atribuições ministeriais;
∙ quando em serviço de caráter urgente, a prioridade em qualquer serviço de transporte ou comunicação,
público ou privado, no território nacional: em caso de overbooking em avião comercial, p.e., terá o
membro do MPU prioridade para embarcar se estiver em trânsito para fins de serviço caracterizado como
urgente;
∙ o porte de arma (independentemente de autorização): trata-se do chamado porte de armas ex lege, para fins

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de autodefesa, sendo norma específica que prevalece sobre a exigência de autorização prevista no Estatuto do
Desarmamento. Trata-se da única prerrogativa que se estende aos membros aposentados (cf. art. 234), pois,
mesmo fora da instituição, é possível que continue sofrendo ameaças em razão de sua atuação passada; e
∙ carteira de identidade especial (de acordo com modelo aprovado pelo PGR e por ele expedida), nela se
consignando as prerrogativas constantes do inciso I (alíneas c, d e e) e do inciso II (alíneas d, e e f) do
art. 18.

São prerrogativas processuais:

∙ do PGR, foro especial perante o STF (crime comum) e o Senado (crime de responsabilidade);
∙ do membro do MPU que atua perante tribunal, foro especial perante o STJ (em ambos os casos);
∙ do membro do MPU que atua perante juízo de 1ª instância, foro especial perante o TRF (em ambos os
casos, ressalvada a competência da justiça eleitoral);
∙ ser preso ou detido somente por ordem escrita do tribunal competente ou em razão de flagrante de
crime inafiançável (caso em que a autoridade fará imediata comunicação àquele tribunal e ao PGR, sob
pena de responsabilidade): destaque-se que, similarmente ao regime dos parlamentares, o membro do MPU
só poderá ser preso em flagrante por crime inafiançável. Nesse caso, o PGR e o tribunal perante o qual possua
foro deverão ser imediatamente comunicado;
∙ ser recolhido à prisão especial ou à sala especial de Estado-Maior, com direito a privacidade e à
disposição do tribunal competente para o julgamento (no caso de prisão cautelar); e a dependência
separada no estabelecimento em que tiver de ser cumprida a pena (no caso de prisão penal): essa
separação é necessária porque a integridade física e a vida do membro estariam em risco se ele fosse recolhido
à mesma prisão dos demais jurisdicionados, contra os quais, inclusive, muito possivelmente, ele poderá ter
atuado;
∙ não ser indiciado em inquérito policial (observado o disposto no par. único do art. 18): a lógica dessa
previsão recai no fato de o Ministério Público funcionar como órgão de controle externo da atividade policial,
de modo que poderia a polícia estar investigando alguém que a fiscaliza. Nesses casos em que há indício de
envolvimento de membro do MPU, nos termos do par. único do art. 18, a autoridade policial (civil ou militar)
remeterá imediatamente os autos ao PGR, que designará membro do MPU para prosseguir na apuração do
fato (pois os membros do MPU não podem ser investigados e nem indiciados por meio de inquéritos
policiais);
∙ ser ouvido, como testemunha, em dia, hora e local previamente ajustados (com o magistrado, no âmbito
de processo judicial, ou a autoridade competente, em eventuais investigações); e
∙ receber intimação pessoalmente nos autos (em qualquer processo e grau de jurisdição nos feitos em que
tiver que oficiar): ou seja, o membro do MPU não será intimado via publicação no Diário Oficial ou
eletronicamente, mas, sim, por remessa dos autos ou por Oficial de Justiça. O prazo será contado desde a
entrada dos autos no setor de distribuição do órgão (seja por remessa física ou eletrônica) ou da assinatura do
próprio membro (quando intimado por Oficial de Justiça). Conforme já decidido pelo STJ em sede de recursos
repetitivos, em se tratando de processos criminais, o termo inicial da contagem do prazo para impugnar
decisão judicial será a data da entrega dos autos na repartição administrativa do órgão (sendo irrelevante que a

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intimação pessoal tenha se dado em audiência, em cartório ou por mandado).

Há, ainda, no art. 19 da LC 75/93, previsão quanto ao tratamento a ser dispensado aos membros do MPU,
equiparando-o à figura dos magistrados:

∙ o PGR terá as mesmas honras e tratamento dos Ministros do STF; e os demais membros da instituição,
as que forem reservadas aos magistrados perante os quais oficiem.

Promoção

► As regras sobre promoção de membros do MPU encontram-se previstas nos arts. 199 a 202 da LC 75/93.

► A promoção diz respeito ao desenvolvimento do membro na respectiva carreira do MPU. O ingresso na carreira
(provimento originário) se dá mediante concurso de provas e títulos. Já a promoção (provimento derivado vertical)
se dá por antiguidade ou merecimento, alternadamente (cf. caput do art. 199).

A expressão alternadamente, frise-se, refere-se não à pessoa, mas às vagas. Desse modo, p.e., se a última vaga para
Procurador Regional da República se deu por antiguidade, a próxima vaga deverá ser provida por antiguidade, e
assim sucessivamente.

Não há periodicidade fixa para a ocorrência das promoções. Elas dependerão da existência de vaga para aquele
nível específico da carreira. Uma vez existente a vaga, a promoção deverá ser realizada em até 30 dias (cf. art. 199,
§ 1º).

► A recusa e a renúncia à promoção não se confundem.

A recusa à promoção diz da hipótese em que um membro, embora chamado a ser promovido, não deseja assumir o
cargo que se encontra vago. A promoção sequer chega a ocorrer. Nesse caso, o mesmo critério utilizado para
chamá-lo à promoção será utilizado para o preenchimento daquela vaga, de modo que a recusa não provocará a
alteração do critério (cf. art. 199, § 3º).

Já a renúncia ocorre posteriormente à promoção. O membro é promovido, assume o novo cargo no degrau acima da
carreira, mas posteriormente volta atrás e solicita o retorno à categoria anterior. Nos termos do § 4º do art. 199, a
renúncia é possível a qualquer tempo, desde que haja vaga na categoria imediatamente anterior.

Ex.: Eugênio Pacelli, antes de pedir exoneração para atuar na advocacia privada, era Procurador da República em MG. Foi promovido
a Procurador Regional da República da 1ª Região e, então, se mudou para o DF. Passados poucos anos, entrou com requerimento de
renúncia à promoção e retornou para o cargo anterior de Procurador da República em MG.

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► Os critérios de promoção são, basicamente, os seguintes:


└ ANTIGUIDADE → será promovido o membro mais antigo da carreira, salvo se recusado por 2/3 do CS.

Assim, quando o critério vigente para determinada vaga é o da antiguidade, tem-se a presunção de que quem a
assumirá será o membro mais antigo da carreira do respectivo ramo. É possível, porém, que o nome indicado
seja recusado pelo Conselho Superior, sendo para tanto exigido o quórum qualificado de 2/3 de seus
integrantes, repetindo-se a votação até que seja fixada a indicação (art. 202, § 4º). Tal veto deve se dar de forma
fundamentada, garantindo-se a ampla defesa e o contraditório.

Quem elabora a lista de antiguidade, no primeiro trimestre de cada ano, é o Conselho Superior do respectivo
ramo. Tal lista será então publicada no Diário Oficial até o último dia do mês seguinte (cf. art. 202, § 1º). O
prazo para reclamação contra a lista de antiguidade é de 30 dias, contados da sua publicação (art. 202, § 2º).

Nos termos do art. 202, § 3º, o desempate na classificação por antiguidade será determinado, sucessivamente,
pelos seguintes critérios:

∙ tempo de serviço na respectiva carreira do MPU


∙ tempo de serviço público federal
∙ tempo de serviço público em geral
∙ idade dos candidatos (em favor do mais idoso).

Na classificação inicial (primeira promoção), o primeiro desempate será determinado pela classificação no
concurso (pois eles terão tomado posse na mesma data).


└ MERECIMENTO → será promovido o membro que mais mereça, dentre os que compõem a primeira
quinta parte da lista de antiguidade (salvo se não houver quem, nessas condições,
aceite).

O merecimento, para efeito de promoção, será apurado mediante critérios de ordem objetiva (cf. art. 200,
caput). Tais critérios são delineados em regulamento elaborado pelo CNMP e pelo Conselho Superior de cada
ramo do MPU.

Nos termos do art. 200, § 1º, a promoção por merecimento possui 2 requisitos: (1) efetivo exercício na
categoria por pelo menos 2 anos; e (2) integrar a primeira quinta parte da lista de antiguidade. Se não houver
membro com tais requisitos que aceitem o lugar vago, tais requisitos não precisarão ser observados. Em caso de
recusa, a fração de interessados (primeira quinta parte) será completada com outros integrantes da categoria, na
sequência da ordem de antiguidade. Na sequência, o Conselho Superior formará uma lista tríplice para que o
chefe do ramo escolha um dos nomes.

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Em suma: a promoção por merecimento também leva em conta a antiguidade, pois exige-se, além do
vitaliciamento, a localização na primeira quinta parte da lista de antiguidade dos membros (o que corresponde
à fatia dos 20% mais antigos). Cada vez que um membro dessa parcela recusar à promoção, seu nome será
desconsiderado para fins de determinação da fatia, de modo que um novo membro será incluído na lista para
concorrer por merecimento (na sequência da ordem de antiguidade). Uma vez consolidada a lista da primeira
quinta parte dos interessados, o Conselho Superior aplicará os critérios objetivos de merecimento e
encaminhará à chefia do ramo uma lista tríplice para a escolha do membro que será, então, promovido.

Frise-se: quem escolherá o nome do membro a ser promovido será o chefe do ramo, a partir da lista tríplice
formada pelo respectivo Conselho Superior.

Será obrigatoriamente promovido por merecimento quem houver figurado na lista tríplice por 3 vezes seguidas
ou por 5 vezes alternadas (cf. art. 200, § 3º). Por óbvio, essa obrigatoriedade se dá do ponto de vista do chefe
do ramo, e não do membro, que não é obrigado a ser promovido (podendo, pois, recusar a promoção ou, uma
vez promovido, renunciá-la). Desse modo, o ato administrativo de promoção por merecimento deixa de ser
discricionário (eleger um nome dentre os componentes da lista tríplice) e passa a ser discricionário (promover
o que figurar por 3 vezes consecutivas ou 5 vezes alternativas na lista tríplice formulada pelo Conselho
Superior).

Não poderá concorrer à promoção por merecimento o membro do MPU que estiver afastado para (1) concorrer
ou exercer cargo eletivo ou (2) exercer outro cargo público permitido por lei (art. 201). A inclusão do seu
nome na lista de interessados só poderá ocorrer 1 dia após retornar do seu afastamento.

Concurso

► As regras sobre o concurso para ingresso em cada ramo do MPU encontram-se previstas nos arts. 186 a 194 da
LC 75/93.

► O concurso para servidores do MPU é unificado, mas para membro é específico para cada ramo. Não é admitido
sequer o aproveitamento da lista de aprovados de um para outro ramo. Nos termos dos arts. 183 e 185, os cargos
das classes iniciais serão providos por nomeação, em caráter vitalício, mediante concurso público específico para
cada ramo, sendo vedada a transferência ou aproveitamento nos cargos do MPU, mesmo de um para outro de seus
ramos.

► Nos termos do art. 37, III, da CF, o concurso para servidores do MPU terá validade de até 2 anos, prorrogável
apenas 1 vez, por igual período (até 2 anos + 2 anos). Já os concursos para membro do MPU, nos termos do art.
193, terão validade fixa de 2 anos (contados da publicação do ato homologatório), prorrogável 1 vez pelo mesmo
período (2 anos + 2 anos). Não poderá ter validade maior e nem menor do que 2 anos.

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► O concurso para membros é de provas e títulos (art. 186), de modo que a etapa de títulos é obrigatória e
classificatória (não eliminatória). Assim, o candidato sem títulos pode ter sua classificação alterada, mas não poderá
ser eliminado. Já no concurso para servidores, a etapa de títulos é facultativa (concurso público de provas ou de
provas e títulos, cf. art. 37, II, da CF).

► O cargo de membro é privativo de bacharel em Direito (art. 187). Além disso, exigem-se 3 anos de atividade
jurídica. A exigência, pois, não é de 2 anos, nem de atividade forense (que contaria o estágio acadêmico). Isso
porque a previsão da LC 75/93 foi tacitamente revogada pela EC 45/04, a qual passou a exigir para juízes e
membros do Ministério Público os 3 anos de atividade jurídica (art. 93, I, e art. 129, § 3º, da CF).

Segundo a jurisprudência do STF, o conceito de atividade jurídica engloba apenas as atividades após a colação de
grau, não sendo incluída a experiência do estágio acadêmico. Além disso, não é exigida a inscrição na OAB, já que
a advocacia é apenas uma das possíveis atividades jurídicas.

Como se vê, a exigência dos 3 anos de atividade jurídica é requisito para o concurso, e não para o cargo. Por isso,
segundo o STF, a comprovação do triênio de atividade jurídica deve se dar no momento da inscrição definitiva, e
não no da posse (Info 821, 2016, em sede de repercussão geral).

No concurso para o MPF, p.e., que tem 4 fases (objetiva, discursiva, oral e exames médicos), a inscrição definitiva
ocorre entre as fases discursiva e oral.

Estágio probatório

► Nos termos do art. 197 da LC 75/93, o estágio probatório dos membros do MPU é o período dos 2 primeiros anos
de efetivo exercício do cargo. Ao ser aprovado no estágio probatório, o membro adquire o vitaliciamento.

Para os servidores, o estágio probatório será de 3 anos. Se aprovado, o servidor adquire a estabilidade.

► O acompanhamento do estágio probatório dos membros se dá pelo Corregedor-Geral, mas a decisão sobre o
vitaliciamento compete ao Conselho Superior de cada ramo.

► Durante esse período de estágio probatório, os membros só poderão perder o cargo mediante decisão da maioria
absoluta do respectivo Conselho Superior (cf. art. 198).

Aposentadoria

► A LC 75/93 traz regras especiais sobre aposentadoria entre seus arts. 231 e 235. A maioria dessas normas,
contudo, encontra-se revogada pela EC 20/98 (primeira reforma da previdência, aprovada durante o governo de
FHC), além da EC 41/03 e da EC 47/05 (reformas da previdência do governo Lula).

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Diante disso, o regime de aposentadoria dos membros do MPU passou a ser igual ao regime jurídico dos servidores
públicos em geral, i.e., obedecem às normas do Regime Próprio de Previdência dos Servidores (art. 40 da CF).

Obviamente, os membros que ingressaram na carreira antes das referidas reformas previdenciárias possuem regras
próprias de transição.

► Quanto ao tema, permanece em vigor apenas o art. 234, que prevê a conservação, pelos membros aposentados, da
prerrogativa do porte de arma independentemente de autorização.

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9. TEMAS ESPECÍFICOS

Autonomia do MPU

► A autonomia do MPU é garantida não só a nível constitucional, como também legal (cf. art. 127, da CF, e arts.
22 e 23 da LC 75/93).

Trata-se da mesma autonomia assegurada ao Poder Judiciário:

∙ funcional (poder normativo e poder de iniciativa legislativa);


∙ administrativa;
∙ financeira; e
∙ orçamentária.

► FUNCIONAL: autonomia para definir o exercício da sua atividade-fim (i.e., das suas funções institucionais,
sobretudo aquelas previstas no art. 129 da CF e nos arts. 5º e 6º da LC 75/93).

Os principais aspectos dessa autonomia funcional são os seguintes:

∙ Poder normativo: poder de normatizar o exercício das funções institucionais, dizendo como serão exercidas
as tarefas do Ministério Público. Tal poder compete ao CNMP (a nível nacional, valendo tanto para o MPU
quanto para os Ministérios Públicos estaduais) e ao Conselho Superior (a nível de cada ramo).

∙ Poder de iniciativa legislativa: poder de propor projetos de lei sobre o funcionamento da instituição ao
Congresso Nacional. Em nome do MPU, tal poder compete ao PGR (art. 26, II, da LC 75/93).

São apenas 2 os tipos de projetos de lei que podem ser propostos pelo PGR:

∙ de lei ordinária → sobre criação e extinção de cargos (de membros e servidores) e fixação de
subsídios e remunerações do MPU (cf. art. 22, I, da LC 75/93). É de iniciativa exclusiva do PGR (art.
127, § 2º, da CF).

∙ de lei complementar → sobre a organização, as atribuições e o estatuto, matérias essas tratadas via lei
orgânica do MPU. É de iniciativa concorrente entre o PGR e o Presidente da República (juntos ou não,
nos termos do art. 128, § 5º, e art. 61, § 1º, II, d, da CF, sendo falsa a afirmativa de que o PGR deve
encaminhar o projeto antes ao Presidente da República). A atual LC 75/93, p.e., foi proposta
isoladamente pelo então PGR Aristides Junqueira Alvarenga, sem a participação do então Presidente da
República Itamar Franco.
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► ADMINISTRATIVA: poder de autoadministração, i.e., de definir o seu próprio funcionamento


administrativo.Tal poder compete ao chefe de cada ramo, que é quem irá nomear e exonerar seus próprios
servidores, decidir questões administrativas, etc.

► FINANCEIRA: poder de gerenciar os próprios recursos financeiros.

Essa autonomia financeira está expressa no caput do art. 22 da LC 75/93, mas implícita na CF. Nesse sentido, tem-
se a previsão constitucional dos duodécimos no art. 168: o Executivo deve entregar os recursos correspondentes às
dotações orçamentárias mensais do MPU até o dia 20 de cada mês. Fala-se em duodécimo exatamente por se tratar
de 1/12 da dotação anual do MPU. Não é o Executivo, porém, que administra financeiramente esses recursos; ele
apenas entrega o dinheiro ao MPU, que irá destiná-lo de acordo com a sua organização.

► ORÇAMENTÁRIA: poder de elaborar a sua própria proposta orçamentária, dentro dos limites previstos na
LDO (art. 23, caput, da LC 75/93). Essa proposta deve ser encaminhada pelo PGR ao Executivo no prazo também
previsto pela LDO.

É incorreto afirmar que o MPU possui o poder de elaborar a sua própria lei orçamentária. Obviamente, a lei
orçamentária não é elaborada pelo MPU, mas pelo Congresso Nacional, sendo, na verdade, uma única lei
orçamentária para todos os órgãos federais. Dentro dos limites da LDO, porém, poderá o próprio MPU elaborar a
sua proposta.

A elaboração da proposta orçamentária obedece, basicamente, a seguinte ordem:

1 ∙ a LDO de um ano fixa os limites e os prazos para o envio das propostas orçamentárias do ano seguinte;
2 ∙ cada ramo do MPU irá elaborar sua proposta parcial, sendo então encaminhada ao PGR;
3 ∙ o PGR, ouvido o Conselho de Assessoramento Superior do MPU, consolida as propostas dos ramos em
uma única proposta, encaminhando-a ao Poder Executivo (e não ao Congresso Nacional, pois o PGR
não possui iniciativa de propor lei orçamentária);
4 ∙ o Executivo (mais precisamente a Secretaria do Orçamento Federal do MPOG) consolida as propostas
parciais dos Poderes, do MPU e da DPU numa só proposta orçamentária anual;
5 ∙ o Executivo apresenta ao Congresso Nacional o PLOA (projeto de lei orçamentária anual);
6 ∙ aprovado o PLOA pelo Congresso Nacional, competirá ao Presidente da República sancioná-lo;
7 ∙ é, finalmente, promulgada a LOA.

Se o PGR não encaminhar a proposta orçamentária no prazo, o Executivo irá replicar a proposta atualmente
vigente para o ano seguinte (art. 127, § 4º, da CF).

Se o PGR encaminhar a proposta acima dos limites estipulados na LDO, o Executivo irá proceder aos devidos
ajustes para fins de consolidação (art. 127, § 5º, da CF). Segundo o STF, porém, esses cortes não poderão ser
unilaterais, devendo o Executivo, previamente, ouvir o próprio MPU.

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Além disso, durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas ou a assunção
de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na LDO, exceto se previamente autorizadas, mediante a
abertura de créditos suplementares ou especiais (art. 127, § 6º, da CF).

Poder investigatório do MPU (cível e criminal)

► O MPU pode realizar investigações diretamente? Atualmente reconhece-se que sim. Tal poder investigatório,
aliás, é exercido tanto no âmbito cível quanto no criminal, sendo este o mais discutido.

► CÍVEL: trata-se do poder de promover diretamente investigações cíveis por meio da instauração de inquéritos
civis.

∙ Fundamento: possui previsão expressa na CF (art. 129, III) e na legislação infraconstitucional (art. 7º da Lei
7.347/85).

∙ Instrumento: inquérito civil (cuja instauração é atribuição exclusiva do Ministério Público).

► CRIMINAL: trata-se do poder de promover diretamente investigações criminais por meio da instauração de
procedimento investigativo próprio e interno (procedimento investigatório criminal).

∙ Fundamento: não possui previsão expressa, mas é reconhecido pela jurisprudência do STF e do STJ com
base na teoria dos poderes implícitos (se o MP pode oferecer denúncia criminal e se o inquérito policial tem
natureza dispensável, poderá sim o MP colher diretamente elementos de provas e oferecer denúncia,
independentemente da instauração prévia de inquérito policial).

Nesse sentido, foi fixada pelo STF, em 2015, a seguinte tese em sede de repercussão geral: "O Ministério
Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações
de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a
qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva
constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso
País, os Advogados (Lei 8.906/94, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo
da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional
dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa
instituição".

∙ Instrumento: procedimento investigatório criminal (PIC). Diferentemente do inquérito policial, é conduzido e


presidido pelo próprio membro do MP (e não por um delegado), além de inexistir, ao final, relatório
encaminhando os elementos de prova (podendo haver apenas dois destinos: ou o oferecimento de denúncia,
ou o arquivamento, sujeito a confirmação pela Câmara de Coordenação e Revisão).

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∙ Limites: excepcionalidade, controle jurisdicional, publicidade (acesso pela defesa) e respeito à reserva de
jurisdição com relação a determinadas matérias:

- Excepcionalidade: a instauração e condução direta de investigação pelo MP não poderá ser uma
regra, sendo admitida somente em situação excepcional (p.e., quando houver indícios de desídia
ou envolvimento de agentes policiais). Isso porque, no nosso ordenamento jurídico, há atribuição
investigatória constitucionalmente assegurada a um órgão especializado, que é a polícia judiciária
(civil ou federal).

- Controle jurisdicional: eventual questionamento sobre ilegalidades envolvendo o PIC poderá


ser submetido ao exame jurisdicional (cf. art. 5º, XXXV). O PIC, aliás, assim como o inquérito, é
um procedimento inquisitorial.

- Publicidade (acesso pela defesa): os atos investigatórios devem ser necessariamente


documentados e praticados por membros do MP, observando-se as prerrogativas profissionais
asseguradas por lei aos advogados, além da garantia prevista na Súmula Vinculante 14, no
sentido de que é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de polícia judiciária (ainda que não seja a própria polícia), digam respeito ao
exercício do direito de defesa.

- Respeito à reserva de jurisdição: somente o juiz competente é que poderá determinar, p.e.,
prisão (salvo em flagrante), interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário, violação de
domicílio durante o dia, indisponibilidade de bens, etc. Nenhuma dessas medidas poderá ser
determinada diretamente pelo membro do MP.

Ministério Público de Contas (junto ao TCU)

► NÃO INTEGRA O MPU: o Ministério Público vinculado ao TCU não pertence à estrutura do MPU. Na
verdade, é carreira interna do próprio TCU (Procurador de Contas). De semelhante ao MP comum, só tem o nome,
os direitos, as vedações e a forma de investidura no cargo.

► PREVISÃO LEGAL: a CF não se refere propriamente ao MP de Contas, mas sim a seus membros (art. 130):
aos membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as disposições pertinentes a direitos,
vedações e forma de investidura previstas para os membros do MP. Assim, não é considerado como sendo uma
entidade com fisionomia institucional própria.

► REGULAMENTAÇÃO: Lei Orgânica do TCU (que é lei ordinária, e não na Lei Orgânica do MPU).

► NATUREZA JURÍDICA: é carreira interna do TCU.

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► VINCULAÇÃO: está na intimidade estrutural do TCU, não integrando o MPU. Consequência disso é que o STF
reconheceu a inconstitucionalidade de constituições estaduais que previam a possibilidade de exercício transitório
do papel de MP junto ao TCE por promotores e Procuradores do MP estadual.

► INICIATIVA LEGISLATIVA: o MP de Contas é regido por lei ordinária de iniciativa do próprio TCU, nos
termos do art. 73, caput, da CF (ao passo que o MPU é regido por lei complementar de iniciativa do PGR ou do
Presidente da República).

► MEMBROS: são chamados de Procuradores de Contas (os quais têm os mesmos direitos, vedações e forma de
ingresso dos membros do MPU, nos termos do art. 130 da CF).

► ADI 789: em 1994, o STF proferiu importante decisão acerca do MP de Contas:

O Ministério Público que atua perante o TCU qualifica-se como órgão de extração constitucional, eis que a sua
existência jurídica resulta de expressa previsão normativa constante da CF (art. 73, § 2º., I, e art. 130), sendo
indiferente, para efeito de sua configuração jurídico-institucional, a circunstância de não constar do rol taxativo inscrito
no art. 128, I, que define a estrutura orgânica do MPU.
O Ministério Público junto ao TCU não dispõe de fisionomia institucional própria e, não obstante as expressivas
garantias de ordem subjetiva concedidas aos seus Procuradores pela própria CF (art. 130), encontra-se consolidado na
"intimidade estrutural" dessa Corte de Contas, que se acha investida - até mesmo em função do poder de autogoverno
que lhe confere a CF (art. 73, caput, in fine) - da prerrogativa de fazer instaurar o processo legislativo concernente a sua
organização, a sua estruturação interna, a definição do seu quadro de pessoal e a criação dos cargos respectivos.
[...] A especificidade do Ministério Público que atua perante o TCU, e cuja existência se projeta num domínio
institucional absolutamente diverso daquele em que se insere o MPU, faz com que a regulação de sua organização, a
discriminação de suas atribuições e a definição de seu estatuto sejam passíveis de veiculação mediante simples lei
ordinária, eis que a edição de lei complementar e reclamada, no que concerne ao Parquet, tão-somente para a
disciplinação normativa do Ministério Público comum (CF, art. 128, § 5º).
A cláusula de garantia inscrita no art. 130 da CF não se reveste de conteúdo orgânico-institucional. Acha-se
vocacionada, no âmbito de sua destinação tutelar, a proteger os membros do Ministério Público especial no relevante
desempenho de suas funções perante os Tribunais de Contas. Esse preceito da CF submete os integrantes do MP junto
aos Tribunais de Contas ao mesmo estatuto jurídico que rege, no que concerne a direitos, vedações e forma de
investidura no cargo, os membros do Ministério Público comum (STF - ADI 789, Relator: Min. CELSO DE MELLO,
Tribunal Pleno, julgado em 26/05/1994).

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Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)

► PREVISÃO LEGAL: art. 130-A da CF.

► CRIAÇÃO: foi criado por manifestação do poder constituinte derivado reformador, via EC 45/04 (emenda da
reforma do Poder Judiciário, criando o CNJ para fiscalizar os juízes e o CNMP para fiscalizar o Ministério
Público). Não se trata, pois, de órgão instituído pelo poder constituinte originário.

► NATUREZA: órgão de controle do Ministério Público brasileiro.

Quando se fala em MP brasileiro, refere-se não só ao MPU (que engloba o MPF, o MPT, o MPM e o MPDFT),
como também os MP estaduais. Daí a denominação de Conselho Nacional.

Com relação à sua função de controle, há divergência doutrinária a respeito da natureza desse controle, se interno
ou externo. Como já visto, o MP brasileiro é a soma do MPU, dos 26 MP estaduais e do CNMP. Daí a duplicidade
de óticas, dependendo a natureza do controle do referencial adotado: exerce (1) controle interno em relação ao MP
brasileiro e (2) controle externo com relação ao MPU e aos MP estaduais.

Em suma:

└ Controle INTERNO → em relação ao MP brasileiro

└ Controle EXTERNO → em relação ao MPU e aos 26 MP estaduais

► COMPOSIÇÃO: 14 conselheiros. Desse total, 1 é membro nato (PGR, que o preside) e 13 membros são
escolhidos de forma diversa, mas nomeados pelo Presidente da República depois de aprovada a escolha pelo
Senado Federal (maioria absoluta + voto secreto). A pessoa escolhida para ser PGR integrará automaticamente o
CNMP na qualidade de presidente, exercendo nele as suas funções enquanto durar o mandato como PGR. Já o
mandato dos 13 membros escolhidos será de 2 anos, admitida 1 recondução.

É interessante notar que há advogados representando a OAB tanto no CNJ (art. 103-B, XII) quanto no CNMP (art.
130-A, V). Além disso, há 2 membros do MP no CNJ (art. 103-B, X e XI) e 2 membros do Judiciário no CNMP
(art. 130-A, IV).

Dentre os cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro
pelo Senado, entende-se que não podem ser deputados e nem senadores. Isso porque eles serão representantes da
sociedade em geral, e não das Casas do Congresso.

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Em suma:

▬ 1 membro nato → PGR, que preside o CNMP

▬ 13 escolhidos → mandato de 2 anos + 1 recondução (aprovação pelo Senado: maioria absoluta + voto secreto)

∙ 4 do MPU: sendo 1 de cada ramo, escolhidos pelo PGR


∙ 3 de MPEs: também escolhidos pelo PGR

∙ 2 juízes: 1 juiz federal escolhido pelo STJ + 1 juiz de Direito escolhido pelo STF

∙ 2 advogados: escolhidos pelo CFOAB

∙ 2 cidadãos: de notável saber jurídico e reputação ilibada, sendo 1 escolhido pela


Câmara dos Deputados e 1 escolhido pelo Senado Federal

► ATRIBUIÇÕES: destacam-se, nos termos do art. 130-A, § 2º e incisos, as seguintes:

∙ exercer o controle (fiscalização) financeiro, orçamentário, administrativo e disciplinar do MP brasileiro:


o que envolve o MPU e os 26 MP estaduais (com a exceção do PGR, que não se submete ao CNMP, por
analogia ao fato de o CNJ fiscalizar todo o Judiciário, menos o STF). Esse controle, frise-se, se dá sem
prejuízo do controle externo exercido pelo TCU ou pelos TCEs (auxiliando o Congresso Nacional e a
Assembleia Legislativa);

∙ zelar para autonomia funcional e administrativa do MP;

∙ rever atos administrativos do MP: não sendo possível, porém, rever atos funcionais, relativos à atividade-
fim (mas apenas os de natureza administrativa). Assim, p.e., se foi ajuizada ilegalmente uma ação civil
pública, deve-se recorrer ao controle jurisdicional, ou até mesmo às instâncias administrativas do respectivo
órgão ministerial, mas não ao CNMP;

∙ editar resoluções (poder normativo): possuindo abrangência nacional, de modo que prevalecerá sobre
eventuais resoluções do MPU ou dos MP estaduais que contenham previsão em sentido contrário;

∙ instaurar e avocar PAD envolvendo servidores ou membros: receber e conhecer das reclamações contra
membros ou servidores, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional da respectiva instituição,
podendo avocar processos disciplinares em curso (p.e., em caso de demora);

∙ rever PAD envolvendo membros: há aqui 2 limitações: (1) apenas aqueles envolvendo membros, e não
servidores, e que tiverem sido (2) julgados há menos de 1 ano. Assim, poderá o CNMP, de ofício ou mediante
provocação, substituir eventual decisão já tomada pela corregedoria do órgão ou então determinar o seu

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desarquivamento;

∙ aplicar penalidades: com a exceção da demissão de membro vitalício (o que só poderá ser determinado por
sentença judicial transitado em julgado). Qualquer outra penalidade poderá ser aplicada pelo CNMP, tais
como determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais
ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;

∙ elaborar relatório anual: propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação do MP no País e
as atividades do CNMP, devendo integrar, tal relatório, a mensagem prevista no art. 84, XI (elaborada pelo
Presidente da República, a ser encaminhada ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão
legislativa).

► CORREGEDOR NACIONAL DO CNMP: o CNMP escolherá, mediante votação secreta, dentre os membros
oriundos do MP (4 membros do MPU ou 3 membros dos MP estaduais), para exercer a função de Corregedor
Nacional por um mandato de 2 anos, sendo vedada a recondução (sem prejuízo de sua eventual recondução na
qualidade de conselheiro, e não de corregedor).

Diferentemente do que ocorre no âmbito do CNJ (em que, automaticamente, o membro do STJ será o Corregedor),
a escolha do Corregedor Nacional do CNMP se dá por meio de eleição colegiada.

São atribuições do Corregedor Nacional do CNMP:

∙ receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos membros e servidores do MP;
∙ exercer funções executivas de inspeção e correição geral no âmbito do CNMP; e
∙ requisitar e designar membros do MP, delegando-lhes atribuições; e requisitar servidores de órgãos do MP.

► PRESIDENTE DA OAB-NACIONAL: o Presidente do CFOAB oficiará junto ao CNMP (cf. § 4º do art. 1130-
A da CF).

► OUVIDORIAS: leis federal e estaduais criarão ouvidorias do MP, competentes para receber reclamações e
denúncias de qualquer interessado contra membros ou servidores do MP, representando diretamente ao CNMP (cf.
§ 5º do art. 130-A da CF).

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