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“Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis”.
Diante dessa nova visão do Estado e suas funções, assumiram destaque os interesses difusos e
coletivos, para os quais o legislador dispensou especial atenção, no plano do direito material e direito
processual.
Ocorreu uma ampliação no campo de atuação do direito, para nele incluir situações coletivas que até
então permaneciam à margem dos mecanismos de disciplina, garantia e sanção do direito positivo.
Antes da promulgação da atual Constituição, já se deu início à ampliação da tutela jurisdicional, com a
introdução das ações coletivas, ou de grupo, no direito processual pátrio, por meio da instituição
da ação civil pública.
Lei Complementar nº 40/1981, que estabelece normas gerais a serem adotadas na organização do
Ministério Público estadual. O art. 3º, III, dispõe:
“Art. 3º - São funções institucionais do Ministério Público:
(...)
III - promover a ação civil pública, nos termos da lei”.
Lei nº 7.347/1985 (sofreu várias atualizações desde a sua vigência), que disciplina a ação civil
pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências..
Ação coletiva – Introdução (3/4)
O CDC (Lei n. 8.078/1990) ampliou os limites estabelecidos para além da Lei da Ação Civil Pública,
passando a ser 3 as ações coletivas:
as relativas a direitos coletivos.
as relativas a direitos difusos.
as relativas a direitos individuais homogêneos.
Interesses coletivos “lato sensu” são defendidos por meio do ajuizamento das ações coletivas e ações
civis públicas.
Ação coletiva é aquela que envolve um conjunto de pessoas ou até mesmo toda a sociedade, uma vez
que a decisão tomada em uma ação coletiva afeta não só as partes do processo como também todos
aqueles que se encontram na situação julgada e pretendem entrar com uma ação na Justiça.
O objetivo da ação coletiva é reparar danos causados por uma coletividade de pessoas.
Ação Civil Pública é de natureza essencialmente processual, isto é, meio processual adequado para
defesa de interesses transindividuais (interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos).
Visa a defesa coletiva dos direitos e interesses difusos e coletivos, bem como os interesses
individuais homogêneos, através de um ente grupal.
Ação coletiva – Introdução (4/4)
A Lei 7.347/85, art. 1º e § único, dispõe sobre os interesses tutelados por meio de ação civil
pública, a seguir transcrito:
“Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
l - ao meio-ambiente;
ll - ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
V - por infração da ordem econômica;
VI - à ordem urbanística.
VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos.
VIII – ao patrimônio público e social.
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam
tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou
outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados”.
Ação coletiva – Vantagens
Concentração de muitas demandas individuais num único processo coletivo, com mesmo
pedido e a mesma causa de pedir, beneficiando várias pessoas ao mesmo tempo.
Solução de macrolesões.
Desafoga o Judiciário.
O CDC, no art. 81 dispõe sobre os interesses defendidos na ação coletivo, abaixo transcrito:
“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Banco envia mala direta a clientes informando que foi ampliado o serviço de proteção ao cartão
de crédito, contra perda e roubo, mediante o pagamento mensal de R$ 1,00, a ser cobrado na
próxima fatura, e oferece um seguro-cartão com cobertura e serviços para o caso de morte
acidental e invalidez permanente em decorrência de crime, pelo pagamento de R$ 3,50 mensal.
Observe-se o abuso que o Banco já lançou o débito da fatura do cartão de crédito o valor de
R$1,00, sem a solicitação ou concordância do cliente.
Caso o cliente não tenha interesse no novo produto lançado terá que ligar ao Banco para
cancelar o que não foi solicitado. Poderá encontrar dificuldade para ligar, falar a pessoa
responsável, eventualmente cobrar o cancelamento mais de uma vez, provar que requerer o
cancelamento anteriormente, etc.
Às vezes pela falta de tempo e por tratar-se de R$1,00, o cliente toma nenhuma providência
quanto ao cancelamento, o que resulta em uma enorme vantagem ao Banco.
Em 2000/2001, algumas indústrias reduziram o peso líquido dos produtos sem informar o
consumidor e manteve o preço dos mesmos.
O prejuízo ao consumidor foi individual e coletivo.
As associações de defesa do consumidor, como Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
(IDEC), têm legitimidade para a proteção coletiva dos consumidores no ajuizamento de ação
coletiva.
Processo coletivo – Condições da ação
Legitimidade concorrente e disjuntiva. Concorrente, porque cada um deles pode propor a ação; e
disjuntiva, porque não há necessidade de que eles venham juntos a juízo. Entes especiais (CDC, art.
82):
Ministério Público: tem por atribuição a promoção do inquérito civil e da ação civil pública, sem
prejuízo, para a propositura de ação, da legitimidade de terceiros (CF, art. 129, III, e § 1º).
Entidades estatais: União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal,
Autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista (prestadoras de
serviços públicos e as exploradoras de atividade econômica).
Associações civis organizadas: constituídas há pelo menos 1 ano e que incluam entre suas
finalidades a proteção e defender tais interesses, como:
o Sindicatos, que defendem o trabalhador protegido pelo ordenamento jurídico (quando o autor da
ação é o sindicato, o Ministério Público atua como fiscal da lei, dando parecer no processo) (CF,
art. 8º, III).
o Associações.
o Comunidades indígenas.
Defensoria Pública (Lei 11.448/2007, alterou a redação do art. 5º da Lei 7.347/85).
Processo coletivo – Legitimidade indireta (2/2)
Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública (Lei n. 11.448/2007 alterou
o art. 5º da Lei de Ação Civil Pública).
A defensoria pública tem como atribuição principal prestar assistência judiciária integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos (CF, art. 5º, LXXIV).
Associações civis têm representatividade para ajuizar ação coletiva se preencherem 2 requisitos:
constituídas há mais de um ano, contado do registro da associação no Cartório de Registro Civil das
Pessoas Jurídicas, e deve estar preenchido na data do ajuizamento da demanda;
haver pertinência entre a finalidade institucional da associação e o interesse coletivo que visa defender
na ação civil pública.
o Pertinência entre a finalidade institucional da associação e o objeto da ação civil pública. Associação
com a finalidade institucional na defesa do consumidor ou na proteção do meio ambiente.
o O objeto da ação civil pública deve estar relacionado à finalidade institucional, mediante comprovação
por autorização assemblear ou autorização estatutária
o Não se exige o requisito da pertinência temática do Ministério Público, nem da União, Estados,
Municípios ou Distrito Federal.
Exceção prevista na LACP, art. 5º, § 4º: “O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz,
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido”.
Interesse social deve ser entendido como aquele que, de acordo com o juiz, vá ao encontro dos
interesses relevantes para a comunidade.
Interesse social é distinto do interesse coletivo, que é requisito para o ajuizamento da ação civil pública.
Legitimidade ativa – Associações Civis e Partidos Políticos
Associações Civis:
A função da associação civil é privada e não vai além do interesse dos seus associados.
Lei n. 9.494/97, art. 2º-A, acrescentou outras exigências a serem observadas pela associação civil, por
ocasião do ajuizamento da ação civil pública:
“Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa,
na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que
tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão
prolator”.
Logo, quanto aos limites subjetivos da coisa julgada na ação coletiva ajuizada pela associação civil,
apenas os filiados da associação à data da propositura da ação e no âmbito de competência do órgão
julgador serão beneficiados pela sentença de procedência.
Partidos Políticos:
Há controvérsias sobre a legitimidade dos partidos políticos para o ajuizamento de ações civis
públicas, havendo decisões que não a admitem sob o fundamento de que a Lei da Ação Civil Pública,
art. 5º, não os menciona e que o rol é taxativo.
Mas não se pode negar que eles tenham natureza associativa, conforme estabelecido na Constituição
Federal.
Diante disso, serão legitimados para a ação.
Legitimidade ativa – Sindicato
A legitimidade dos sindicatos para aforar ação civil pública está expressa na CF, art. 8º,
“caput” e III, que considerou livre a associação profissional ou sindical, permitindo ao
sindicato a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, até mesmo
em questões judiciais e administrativas.
Sindicato é uma forma de associação civil, que deve observar os 2 requisitos de
representatividade adequada:
a pré-constituição por um ano e
a pertinência temática.
Sindicato tem legitimidade para defender os interesses difusos, coletivos ou individuais
homogêneos relacionados à categoria profissional ou econômica à qual está vinculado.
Na ação para defesa de interesses individuais homogêneos, julgada procedente, a sentença
beneficiará todos os integrantes da categoria, mas desde que vinculados ao sindicato. Não
há necessidade de que o interesse verse sobre a relação de trabalho, mas é preciso que
este pertença à categoria representada pelo sindicato.
Exemplo: é possível o ajuizamento de ação relacionada à relação de consumo, desde que
os consumidores vitimados pertençam a essa categoria.
Legitimidade passiva
Réus da ação civil pública: pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado, ou
quem mais tenha capacidade de ser parte, incluindo os entes despersonalizados, mas
sempre como legitimados ordinários.
Devem figurar no polo passivo como réus e, consequentemente, citados, todos os que
tenham a sua esfera jurídica atingida, o que inclui não apenas os causadores do ato lesivo,
mas aqueles que tenham sido por ele beneficiados.
Exemplo: ajuizada ação civil pública para discutir a legalidade de um loteamento, deverão ser
citados os seus responsáveis e os adquirentes que estejam ocupando a área. Se eles forem
desconhecidos, ou se não for possível a cientificação pessoal de todos, a citação será feita
por edital.
Litisconsórcio (1/2)
Julgada a ação coletiva, os seus efeitos serão diferentes conforme o particular tenha ou não
intervindo.
Em caso de procedência, todos serão beneficiados, os que intervieram ou não.
Em caso de improcedência, só os que participaram serão atingidos pela coisa julgada (LACP, art.
103, § 2º), e não poderão propor suas demandas individuais. Os demais poderão fazê-lo ajuizar
nova demanda a título individual.
Quando não tiver participado como assistente litisconsorcial na ação coletivo, se o lesado propuser
ação individual, não haverá litispendência entre ela e a coletiva, mas haverá conexão ou continência
entre as duas, cabendo a reunião de processos, para evitar decisões conflitantes. Exemplo:
Se houver uma ação coletiva para reparação de danos decorrentes de defeito na fabricação de um
produto, e uma ação individual fundada no mesmo problema, as duas deverão ser reunidas por
conexão ou continência. Não haverá litispendência, porque as duas ações são diferentes, sendo
uma delas coletiva e a outra individual.
Haverá litispendência se houver ação individual, ajuizada por determinado particular, que já figurar
como litisconsorte (assistente litisconsorcial) em ação civil pública.
É possível o litisconsórcio entre Ministério Público Federal e Estadual (LACP, art. 5º, § 5º; CDC, art.
113).
Intervenção de Terceiro
No polo ativo da ação civil pública admitir-se apenas a assistência litisconsorcial, seja dos
demais entes colegitimados, seja do próprio lesado referente aos interesses individuais
homogêneos.
No polo passivo da ação civil pública admite-se a intervenção de terceiros.
Admite-se que o réu possa fazer a denunciação da lide e o chamamento ao processo, nos
casos estabelecidos no Código de Processo Civil.
Admite-se o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e à intervenção do
“amicus curiae”, preenchidos os requisitos estabelecidos no CPC.
Não há óbice a que terceiro requeira o seu ingresso como assistente do réu, desde que
tenha interesse jurídico em que ele saia vencedor.
Processo coletivo – Direitos difusos (1/2)
Direitos difusos são aqueles cujos titulares não são determináveis, isto é, os detentores do
direito subjetivo que se pretende regrar e proteger são indeterminados e indetermináveis.
Exemplo: fornecedor veicula uma publicidade enganosa na televisão, vez que de forma
indiscriminada e geral, o anúncio sujeita toda a população a ele submetido. Vendedor de
remédios anuncia um medicamento milagroso que permita que o usuário emagreça 5 kg por
dia apenas tomando um comprimido, sem nenhum comprometimento à sua saúde.
Circunstâncias de fato: o anúncio e sua projeção objetiva e significa-tiva sobre toda a
população difusamente considerada.
Sujeito ativo: sujeitos indeterminados e indetermináveis detentores do direito subjetivo.
Sujeito passivo: sujeitos obrigados a respeitarem os direitos difusos, são todos aqueles que
direta ou indiretamente vendem, produzem, distribuem, comercializam etc. produtos e
serviços, isto é, são todos os fornecedores (CDC, art. 3º, definição de fornecedores).
Relação de fato: inexiste uma relação jurídica base, são as circunstâncias de fato que
estabelecem a ligação entre as pessoas difusamente consideradas e o obrigado.
Bem protegido: o objeto ou bem jurídico protegido é indivisível, exatamente por atingir e
pertencer a todos indistintamente.
Processo coletivo – Direitos difusos (2/2)
(NUNES, Rizzato. Curso de direito do consumidor . Disponível em: Minha Biblioteca, (13ª edição). Editora Saraiva, 2018, p. 819)
Processo coletivo – Direitos coletivos (1/2)
(NUNES, Rizzato. Curso de direito do consumidor . Disponível em: Minha Biblioteca, (13ª edição). Editora Saraiva, 2018, p. 821)
Processo coletivo – Direitos individuais homogêneos
Direitos individuais homogêneos: é uma espécie de direito coletivo, que apresenta a característica de
divisibilidade do objeto, sendo certo que seus titulares são perfeitamente identificados.
Exemplos: as quedas de aviões, como o da TAM no Jabaquara em São Paulo; o naufrágio do barco
“Bateau Mouche” no Rio de Janeiro etc.
Sujeito ativo: os sujeitos são sempre mais de um e determinados.
Mais de um porque, se for um só, o direito é individual simples, e determinado porque neste caso,
como o próprio nome diz, apesar de homogêneo, o direito é individual.
Sujeito passivo: os responsáveis pelos danos causados aos sujeitos ativos são todos aqueles que
direta ou indiretamente tenham causado o dano ou participado do evento danoso, ou, ainda, que
tenham contribuído para tal.
Relação jurídica: o estabelecimento do nexo entre os sujeitos ativos e os responsáveis pelos danos se
dá numa situação jurídica (fato, ato, contrato etc.), que tenha origem comum para todos os titulares do
direito violado.
O liame que une os titulares do direito violado há de ser comum a todos.
Bem protegido: objeto é divisível, de origem comum que venha a atingir a todos os titulares
determinados do direito individual homogêneo, mas o resultado real da violação é diverso para cada
um, de tal modo que se trata de objeto que se cinde, que é divisível.
Relação jurídica de direito individual homogêneo
(NUNES, Rizzato. Curso de direito do consumidor . Disponível em: Minha Biblioteca, (13ª edição). Editora Saraiva, 2018, p. 824)
OBRIGADA
E
ATÉ A PRÓXIMA!