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PROCESSO COLETIVO

Ação coletiva para tutela de interesses coletivos “lato sensu”.

Profª Drª Maria Teresa de Souza Barboza


Ação coletiva – Introdução (1/4)
 Na segunda metade do século XX, ocorreu uma mudança nos rumos do direito processual civil, que de
instrumento para o exercício individual do direito de ação, passou a tutelar o interesse coletivo, o
interesse da sociedade ou de um grupo de pessoas.
 Corroborado com a implantação definitiva do Estado Social de Direito, impulsionado pela Constituição
Federal de 1988, esse movimento da ordem jurídica para o social foi sentida por todos os ramos do
Direito.
 CF, arts. 127 e 129, III, fazem referência aos direitos difusos e coletivos, abaixo transcritos:

“Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis”.

“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


(...)
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do
meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
(...)”.
Ação coletiva – Introdução (2/4)

 Diante dessa nova visão do Estado e suas funções, assumiram destaque os interesses difusos e
coletivos, para os quais o legislador dispensou especial atenção, no plano do direito material e direito
processual.
 Ocorreu uma ampliação no campo de atuação do direito, para nele incluir situações coletivas que até
então permaneciam à margem dos mecanismos de disciplina, garantia e sanção do direito positivo.
 Antes da promulgação da atual Constituição, já se deu início à ampliação da tutela jurisdicional, com a
introdução das ações coletivas, ou de grupo, no direito processual pátrio, por meio da instituição
da ação civil pública.
 Lei Complementar nº 40/1981, que estabelece normas gerais a serem adotadas na organização do
Ministério Público estadual. O art. 3º, III, dispõe:
“Art. 3º - São funções institucionais do Ministério Público:
(...)
III - promover a ação civil pública, nos termos da lei”.
 Lei nº 7.347/1985 (sofreu várias atualizações desde a sua vigência), que disciplina a ação civil
pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências..
Ação coletiva – Introdução (3/4)

 O CDC (Lei n. 8.078/1990) ampliou os limites estabelecidos para além da Lei da Ação Civil Pública,
passando a ser 3 as ações coletivas:
 as relativas a direitos coletivos.
 as relativas a direitos difusos.
 as relativas a direitos individuais homogêneos.
 Interesses coletivos “lato sensu” são defendidos por meio do ajuizamento das ações coletivas e ações
civis públicas.
 Ação coletiva é aquela que envolve um conjunto de pessoas ou até mesmo toda a sociedade, uma vez
que a decisão tomada em uma ação coletiva afeta não só as partes do processo como também todos
aqueles que se encontram na situação julgada e pretendem entrar com uma ação na Justiça.
 O objetivo da ação coletiva é reparar danos causados por uma coletividade de pessoas.
 Ação Civil Pública é de natureza essencialmente processual, isto é, meio processual adequado para
defesa de interesses transindividuais (interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos).
 Visa a defesa coletiva dos direitos e interesses difusos e coletivos, bem como os interesses
individuais homogêneos, através de um ente grupal.
Ação coletiva – Introdução (4/4)

 A Lei 7.347/85, art. 1º e § único, dispõe sobre os interesses tutelados por meio de ação civil
pública, a seguir transcrito:
“Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
l - ao meio-ambiente;
ll - ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
V - por infração da ordem econômica;
VI - à ordem urbanística.
VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos.
VIII – ao patrimônio público e social.
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam
tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou
outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados”.
Ação coletiva – Vantagens

 Concentração de muitas demandas individuais num único processo coletivo, com mesmo
pedido e a mesma causa de pedir, beneficiando várias pessoas ao mesmo tempo.

 Solução de macrolesões.

 Possibilidade de solução administrativa, através da assinatura de termo de ajuste de


conduta.

 Impede a existência de julgados distintos sobre a mesma matéria.

 Desafoga o Judiciário.

 Eficácia da coisa julgada será coletiva e não individual.


Processo coletivo - Procedimento único

 Para Humberto Theodoro Júnior, as ações coletivas se caracterizam “pela circunstância de


atuar o autor não em defesa de um direito próprio, mas em busca de uma tutela que
beneficia toda a comunidade ou grandes grupos, aos quais compete realmente a titularidade
do direito material invocado” (Direitos do Consumidor. Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2020, p. 501).
 Os direitos coletivos e difusos têm em comum a transindividualidade e a indivisibilidade,
pertencendo ao grupo o exercício desses direitos e em seu benefício.
 Procedimento único: o CDC uniformizou o procedimento de todas as ações coletivas, como
as ações civis públicas e as ações civis coletivas (Lei nº 8.078/1990, arts. 91 a 100 e 117).
 Para a defesa dos direitos coletivos e difusos não basta pluralidade de indivíduos, titulares
de pretensões homogêneas, é preciso suposta lesão ou ameaça com potencialidade de
atingir um número significativo de indivíduos.
 O sistema jurídico pressupõe a solução de uma situação concreta litigiosa, na qual o
detentor do direito de ação tenha interesse tutelável.
Processo coletivo – Interesses defendidos na ação coletiva (Lei n. 8.078/

 O CDC, no art. 81 dispõe sobre os interesses defendidos na ação coletivo, abaixo transcrito:

“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:


I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de
origem comum”.
Exemplos de situações defendidas por ação coletiva

 Banco envia mala direta a clientes informando que foi ampliado o serviço de proteção ao cartão
de crédito, contra perda e roubo, mediante o pagamento mensal de R$ 1,00, a ser cobrado na
próxima fatura, e oferece um seguro-cartão com cobertura e serviços para o caso de morte
acidental e invalidez permanente em decorrência de crime, pelo pagamento de R$ 3,50 mensal.
 Observe-se o abuso que o Banco já lançou o débito da fatura do cartão de crédito o valor de
R$1,00, sem a solicitação ou concordância do cliente.
 Caso o cliente não tenha interesse no novo produto lançado terá que ligar ao Banco para
cancelar o que não foi solicitado. Poderá encontrar dificuldade para ligar, falar a pessoa
responsável, eventualmente cobrar o cancelamento mais de uma vez, provar que requerer o
cancelamento anteriormente, etc.
 Às vezes pela falta de tempo e por tratar-se de R$1,00, o cliente toma nenhuma providência
quanto ao cancelamento, o que resulta em uma enorme vantagem ao Banco.
 Em 2000/2001, algumas indústrias reduziram o peso líquido dos produtos sem informar o
consumidor e manteve o preço dos mesmos.
 O prejuízo ao consumidor foi individual e coletivo.
 As associações de defesa do consumidor, como Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
(IDEC), têm legitimidade para a proteção coletiva dos consumidores no ajuizamento de ação
coletiva.
Processo coletivo – Condições da ação

 Condições da ação (CPC, art. 485, VI):


 Legitimidade ou
 Interesse processual: necessidade e adequação.
 Interesse processual:
 Necessidade de ajuizamento da ação para obter o bem jurídico almejado e
 Adequação refere-se à pertinência entre a ação aforada e a pretensão do autor.
 Na ausência de um dos requisitos da ação ocorre a carência da ação, acarreta a extinção do
processo, sem resolução do mérito (CPC, art. 485, VI).
 Para que haja interesse de agir, é preciso que a ação civil pública seja ajuizada para a
defesa de um dos interesses transindividuais: interesse difuso, interesse coletivo e interesse
individual homogêneo.
 Para que haja interesse de agir é preciso que a pretensão formulada seja juridicamente
possível.
 Embora a possibilidade jurídica do pedido tenha deixado de ser condição autônoma da
ação, a apresentação de pedido que afronte o ordenamento jurídico implica a extinção do
processo sem resolução de mérito, por falta de interesse de agir.
Processo coletivo – Pressupostos processuais

 Pressupostos processuais (CPC, art. 485, IV):


 Pressupostos de constituição e
 Desenvolvimento válido e regular do processo.
 Não preenchidos esses pressupostos processuais, não há viabilidade de desenvolver
regularmente o processo, eis que não se presta como instrumento hábil à composição do
litígio, impossibilitando o julgamento do mérito da causa, acarretando a extinção do processo
sem resolução do mérito (CPC, art. 485, IV).
 Requisitos e condições indispensáveis à própria existência e eficácia da ação, que são:
 capacidade da parte,
 representação por advogado,
 competência do juízo e
 forma adequada do procedimento.
Processo coletivo – Legitimidade “ad causam” (1/2)
 Legitimidade da parte é a titularidade ativa e passiva da ação, uma das condições necessárias para
que o processo seja conduzido até a sentença de mérito.
 Há duas espécies de legitimidade por ser:
 Legitimidade ordinária.
 Legitimidade extraordinária.
 Legitimidade originária: os sujeitos da lide, os titulares dos interesses conflitantes, que ajuízam ação
em nome próprio, pleiteando direito próprio.
 São estes o autor (legitimidade ativa), quando se apresenta como o possível titular do direito
material que quer fazer atuar em juízo, e o réu (legitimidade passiva), quando se coloca na posição
de ser a pessoa indicada, em sendo procedente a ação, a suportar os efeitos oriundos da sentença
(CPC, art. 18).
 Legitimidade extraordinária: os sujeitos que ajuízam ação em nome próprio, pleiteando direito alheio,
pertencente a um grupo, uma classe ou categoria de pessoas, que ora podem ser determinadas ou
determináveis, ora não.
 Ocorre quando a lei autoriza, em conjunturas excepcionais, a demanda pela parte, em nome
próprio, na defesa de direito alheio.
 Dá-se a esse tipo extraordinário de legitimidade a denominação substituição processual (CPC, art.
18, § único).
Processo coletivo – Legitimidade “ad causam” (2/2)

 CDC prevê no âmbito do ressarcimento do dano ocorrido nas relações de consumo, a


possibilidade do ajuizamento de:
 Ação individual comum ajuizada pelo consumidor prejudicado, segundo as condições
gerais do CPC.
 Ação coletiva, exercitável por determinados organismos públicos ou privados em defesa do
grupo de pessoas que tenham sido vítimas do mesmo tipo de lesão, dentro das
características da respectiva legislação especial.
 Legitimidade ativa, no campo da relação de consumo, para pleitear ressarcimento de danos
oriundos de produtos ou serviços, cabe
 às vítimas, que têm legitimidade direta e, também,
 aos organismos instituídos para defesa coletiva dos consumidores, que têm
legitimidade indireta.
o A legitimidade ativa é atribuída por lei a determinados órgãos públicos ou privados que
tenham por finalidade precípua a defesa dos interesses transindividuais.
 Legitimidade passiva é de quem praticou o dano.
Processo coletivo – Legitimidade indireta (1/2)

 Legitimidade concorrente e disjuntiva. Concorrente, porque cada um deles pode propor a ação; e
disjuntiva, porque não há necessidade de que eles venham juntos a juízo. Entes especiais (CDC, art.
82):
 Ministério Público: tem por atribuição a promoção do inquérito civil e da ação civil pública, sem
prejuízo, para a propositura de ação, da legitimidade de terceiros (CF, art. 129, III, e § 1º).
 Entidades estatais: União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal,
 Autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista (prestadoras de
serviços públicos e as exploradoras de atividade econômica).
 Associações civis organizadas: constituídas há pelo menos 1 ano e que incluam entre suas
finalidades a proteção e defender tais interesses, como:
o Sindicatos, que defendem o trabalhador protegido pelo ordenamento jurídico (quando o autor da
ação é o sindicato, o Ministério Público atua como fiscal da lei, dando parecer no processo) (CF,
art. 8º, III).
o Associações.
o Comunidades indígenas.
 Defensoria Pública (Lei 11.448/2007, alterou a redação do art. 5º da Lei 7.347/85).
Processo coletivo – Legitimidade indireta (2/2)

 Os legitimados concorrentes podem ajuizar a ação coletiva individualmente, mas nada


impede que mais de um legitimado proponha ação, formando um litisconsórcio ativo e
facultativo.
 A legitimidade atribuída a tais entes não obsta a legitimidade individual de eventuais lesados
para o ajuizamento de ação própria que objetiva o ressarcimento dos danos sofridos.
 Exemplo: os interesses individuais homogêneos decorrentes de danos causados por veículo
vendido com defeito de fabricação, que provocou numerosos acidentes.
 Legitimados da Lei da Ação Civil Pública e do Código de Defesa do Consumidor podem
ajuizar ações coletivas que beneficiarão todas as vítimas e a sentença de procedência
proferida na ação civil pública terá eficácia “erga omnes”.
 Qualquer das vítimas pode ajuizar ação individual, para postular o seu direito.
Legitimidade ativa – Ministério Público (MP) como autor da ação coletiva
(1/2)
 Atribuições do Ministério Público (CF, art. 127): caráter de instituição permanente, essencial
à função jurisdicional do Estado, incumbido da defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
 É destinação institucional do “Parquet” a tutela dos interesses coletivos.
 O MP pode atuar, nas ações civis públicas, em duas qualidades:
 autor ou
 fiscal da lei.
 MP como autor da ação:
 incumbe a defesa, em juízo, dos interesses coletivos, “lato sensu”.
 cabe defender, concorrentemente, os interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos (CDC, arts. 81, § único, e 82, I; Lei ACP, arts. 5º e 27; Súmula 7 do Conselho
Superior do Ministério Público de São Paulo).
 Compete à própria instituição verificar, fundamentadamente, se estão preenchidos os
requisitos que justificam o ajuizamento da ação coletiva.
Legitimidade ativa – Ministério Público (MP) como autor da ação coletiva
(2/2)
 Compete ao MP ajuizar a ação coletiva se houver interesse público e elementos suficientes
para a propositura da demanda.
 A legitimidade decorre da relevância social, podendo esta decorrer, exemplificativamente,
da natureza do interesse ou direito pleiteado, da considerável dispersão de lesados, da
condição dos lesados, da necessidade de garantia de acesso à Justiça, da conveniência
de se evitar inúmeras ações individuais, e/ou de outros motivos relevantes.
 O MP só está legitimado para a defesa dos interesses individuais homogêneos, que sejam
também indisponíveis ou que tenham relevância social, como ocorre nos exemplos
apontados na referida Súmula 7 do Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo.
o Se não apresentar esses requisitos, a legitimidade para a defesa dos interesses
individuais homogêneos cabe às Associações civis organizadas.
 STF reconhece ao MP legitimidade para promover ação civil pública em caso de ilegalidade
de reajuste de mensalidades escolares (Súmula 643).
 STJ, reconhece a legitimidade do MP para promover ações em defesa do patrimônio público
(Súmula 329).
 Não se lhe reconhece legitimidade para pleitear indenização decorrente do DPVAT em
benefício do segurado (Súmula 470 do STJ).
Legitimidade ativa – Ministério Público (MP) como fiscal da lei
 Lei da ACP, art. 5º, § 1º, estabelece que “o Ministério Público, se não intervier no processo como
parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei”.
 Quando a ação civil pública é proposta por outro legitimado, é indispensável a sua participação para
fiscalizar o processamento.
 Exemplo: o risco de a entidade autora exigir vantagens pessoais em troca de uma eventual
desistência ou abandono da causa, ou ainda para não dar ao processo o andamento adequado.
 O MP atua como fiscal da lei ou “custos legis” no processo civil em geral por 2 hipóteses:
 a qualidade da parte ou
o um dos litigantes ou intervenientes é, presumivelmente, mais fraco, e a sua função é restaurar o
equilíbrio.
• Exemplo: quando há um incapaz cujos interesses são zelados pelo MP.
 a natureza da matéria discutida
o intervém em razão da natureza da lide, a atuação ministerial não favorece nenhuma das partes,
mas busca salvaguardar o interesse que justificou a sua intervenção.
 Quanto do MP atua como fiscal da ordem jurídica, não precisa manifestar-se sempre a favor do autor
da ação.
 Sua atuação não é vinculada, mas livre, cabendo-lhe manifestar-se de acordo com a sua convicção.
 Deve se observar os princípios da autonomia e independência funcional.
Legitimidade ativa – Defensor Público

 Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública (Lei n. 11.448/2007 alterou
o art. 5º da Lei de Ação Civil Pública).

 A defensoria pública tem como atribuição principal prestar assistência judiciária integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos (CF, art. 5º, LXXIV).

 Muito se questionava se haveria limitação à essa legitimidade, o que restou esclarecido


diante da ADI 3.943, que foi julgada improcedente, por unanimidade, pelo Plenário do STF,
em 7 de maio de 2015, ficando reconhecida a plena legitimidade da Defensoria para o
ajuizamento das ações civis públicas.
Legitimidade ativa – Entes da Administração Pública Direta e Indireta
 LACP, art. 5º, atribui legitimidade para o ajuizamento de ações civis públicas à União, aos Estados, aos
Municípios e ao Distrito Federal, às autarquias, empresas públicas, fundações públicas, sociedades de
economia mista e associações que preencherem os requisitos da pré-constituição e da pertinência
temática.
 Requisitos da pré-constituição: necessária comprovação do preenchimento às associações civis, sendo
desnecessário para as entidades de administração direta ou indireta.
 Requisitos da pertinência temática: exigido às associações civis e para os órgãos da administração indireta,
que pelo princípio da especialidade, eles só podem ajuizar ações civis públicas que estejam relacionadas
com as suas funções.
 Exemplo: Uma estatal criada para prestar serviços de saúde não pode promover ação civil pública para a
defesa dos consumidores dos serviços de telefonia porque estaria se desviando das funções para as
quais foi criada.
 Exemplo: Entes estatais só podem propor ação que verse sobre danos que lhes digam respeito, sob pena
de carecerem de interesse de agir.
 Se o dano se limitou ao Estado de São Paulo, a demanda só poderá ser proposta por São Paulo.
 O mesmo vale no âmbito municipal.
 Se o dano ocorrer em vários Estados, qualquer um deles poderá propor a demanda.
 Apesar da atribuição que lhes foi concedida, na prática são raras as ações civis públicas ajuizadas pelos
entes estatais.
Legitimidade ativa – Associações Civis

 Associações civis têm representatividade para ajuizar ação coletiva se preencherem 2 requisitos:
 constituídas há mais de um ano, contado do registro da associação no Cartório de Registro Civil das
Pessoas Jurídicas, e deve estar preenchido na data do ajuizamento da demanda;
 haver pertinência entre a finalidade institucional da associação e o interesse coletivo que visa defender
na ação civil pública.
o Pertinência entre a finalidade institucional da associação e o objeto da ação civil pública. Associação
com a finalidade institucional na defesa do consumidor ou na proteção do meio ambiente.
o O objeto da ação civil pública deve estar relacionado à finalidade institucional, mediante comprovação
por autorização assemblear ou autorização estatutária
o Não se exige o requisito da pertinência temática do Ministério Público, nem da União, Estados,
Municípios ou Distrito Federal.
 Exceção prevista na LACP, art. 5º, § 4º: “O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz,
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido”.
 Interesse social deve ser entendido como aquele que, de acordo com o juiz, vá ao encontro dos
interesses relevantes para a comunidade.
 Interesse social é distinto do interesse coletivo, que é requisito para o ajuizamento da ação civil pública.
Legitimidade ativa – Associações Civis e Partidos Políticos
Associações Civis:
 A função da associação civil é privada e não vai além do interesse dos seus associados.
 Lei n. 9.494/97, art. 2º-A, acrescentou outras exigências a serem observadas pela associação civil, por
ocasião do ajuizamento da ação civil pública:
“Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa,
na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que
tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão
prolator”.
 Logo, quanto aos limites subjetivos da coisa julgada na ação coletiva ajuizada pela associação civil,
apenas os filiados da associação à data da propositura da ação e no âmbito de competência do órgão
julgador serão beneficiados pela sentença de procedência.
Partidos Políticos:
 Há controvérsias sobre a legitimidade dos partidos políticos para o ajuizamento de ações civis
públicas, havendo decisões que não a admitem sob o fundamento de que a Lei da Ação Civil Pública,
art. 5º, não os menciona e que o rol é taxativo.
 Mas não se pode negar que eles tenham natureza associativa, conforme estabelecido na Constituição
Federal.
 Diante disso, serão legitimados para a ação.
Legitimidade ativa – Sindicato

 A legitimidade dos sindicatos para aforar ação civil pública está expressa na CF, art. 8º,
“caput” e III, que considerou livre a associação profissional ou sindical, permitindo ao
sindicato a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, até mesmo
em questões judiciais e administrativas.
 Sindicato é uma forma de associação civil, que deve observar os 2 requisitos de
representatividade adequada:
 a pré-constituição por um ano e
 a pertinência temática.
 Sindicato tem legitimidade para defender os interesses difusos, coletivos ou individuais
homogêneos relacionados à categoria profissional ou econômica à qual está vinculado.
 Na ação para defesa de interesses individuais homogêneos, julgada procedente, a sentença
beneficiará todos os integrantes da categoria, mas desde que vinculados ao sindicato. Não
há necessidade de que o interesse verse sobre a relação de trabalho, mas é preciso que
este pertença à categoria representada pelo sindicato.
 Exemplo: é possível o ajuizamento de ação relacionada à relação de consumo, desde que
os consumidores vitimados pertençam a essa categoria.
Legitimidade passiva

 Réus da ação civil pública: pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado, ou
quem mais tenha capacidade de ser parte, incluindo os entes despersonalizados, mas
sempre como legitimados ordinários.
 Devem figurar no polo passivo como réus e, consequentemente, citados, todos os que
tenham a sua esfera jurídica atingida, o que inclui não apenas os causadores do ato lesivo,
mas aqueles que tenham sido por ele beneficiados.
 Exemplo: ajuizada ação civil pública para discutir a legalidade de um loteamento, deverão ser
citados os seus responsáveis e os adquirentes que estejam ocupando a área. Se eles forem
desconhecidos, ou se não for possível a cientificação pessoal de todos, a citação será feita
por edital.
Litisconsórcio (1/2)

 Admite-se o litisconsórcio ativo nas ações civis públicas.


 A lei atribuiu legitimidade concorrente e disjuntiva a vários entes, e cada um deles tem
legitimidade para propor a ação, mas nada impede que possam propô-la juntos.
 Trata-se de litisconsórcio facultativo e unitário.
 LACP, art. 5º, § 2º, permite que, após o ajuizamento da demanda por um deles, os outros
possam ingressar como litisconsortes, o que trata-se de assistência litisconsorcial, fenômeno
típico do campo da substituição processual.
 Na defesa dos interesses individuais homogêneos, pode o particular lesado ingressar
como assistente litisconsorcial do ente legitimado, como dispõe o CDC, art. 94, a seguir:
“Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os
interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla
divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor”.
 Os vários interesses individuais são enfeixados em uma única demanda, e a inclusão de
um assistente litisconsorcial não alterará a natureza do direito que está sendo discutido.
Litisconsórcio (2/2)

 Julgada a ação coletiva, os seus efeitos serão diferentes conforme o particular tenha ou não
intervindo.
 Em caso de procedência, todos serão beneficiados, os que intervieram ou não.
 Em caso de improcedência, só os que participaram serão atingidos pela coisa julgada (LACP, art.
103, § 2º), e não poderão propor suas demandas individuais. Os demais poderão fazê-lo ajuizar
nova demanda a título individual.
 Quando não tiver participado como assistente litisconsorcial na ação coletivo, se o lesado propuser
ação individual, não haverá litispendência entre ela e a coletiva, mas haverá conexão ou continência
entre as duas, cabendo a reunião de processos, para evitar decisões conflitantes. Exemplo:
 Se houver uma ação coletiva para reparação de danos decorrentes de defeito na fabricação de um
produto, e uma ação individual fundada no mesmo problema, as duas deverão ser reunidas por
conexão ou continência. Não haverá litispendência, porque as duas ações são diferentes, sendo
uma delas coletiva e a outra individual.
 Haverá litispendência se houver ação individual, ajuizada por determinado particular, que já figurar
como litisconsorte (assistente litisconsorcial) em ação civil pública.
 É possível o litisconsórcio entre Ministério Público Federal e Estadual (LACP, art. 5º, § 5º; CDC, art.
113).
Intervenção de Terceiro

 No polo ativo da ação civil pública admitir-se apenas a assistência litisconsorcial, seja dos
demais entes colegitimados, seja do próprio lesado referente aos interesses individuais
homogêneos.
 No polo passivo da ação civil pública admite-se a intervenção de terceiros.
 Admite-se que o réu possa fazer a denunciação da lide e o chamamento ao processo, nos
casos estabelecidos no Código de Processo Civil.
 Admite-se o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e à intervenção do
“amicus curiae”, preenchidos os requisitos estabelecidos no CPC.
 Não há óbice a que terceiro requeira o seu ingresso como assistente do réu, desde que
tenha interesse jurídico em que ele saia vencedor.
Processo coletivo – Direitos difusos (1/2)

 Direitos difusos são aqueles cujos titulares não são determináveis, isto é, os detentores do
direito subjetivo que se pretende regrar e proteger são indeterminados e indetermináveis.
 Exemplo: fornecedor veicula uma publicidade enganosa na televisão, vez que de forma
indiscriminada e geral, o anúncio sujeita toda a população a ele submetido. Vendedor de
remédios anuncia um medicamento milagroso que permita que o usuário emagreça 5 kg por
dia apenas tomando um comprimido, sem nenhum comprometimento à sua saúde.
 Circunstâncias de fato: o anúncio e sua projeção objetiva e significa-tiva sobre toda a
população difusamente considerada.
 Sujeito ativo: sujeitos indeterminados e indetermináveis detentores do direito subjetivo.
 Sujeito passivo: sujeitos obrigados a respeitarem os direitos difusos, são todos aqueles que
direta ou indiretamente vendem, produzem, distribuem, comercializam etc. produtos e
serviços, isto é, são todos os fornecedores (CDC, art. 3º, definição de fornecedores).
 Relação de fato: inexiste uma relação jurídica base, são as circunstâncias de fato que
estabelecem a ligação entre as pessoas difusamente consideradas e o obrigado.
 Bem protegido: o objeto ou bem jurídico protegido é indivisível, exatamente por atingir e
pertencer a todos indistintamente.
Processo coletivo – Direitos difusos (2/2)

 Fato (dano causado) pode gerar 2 tipos de direito:


 Direito individual de uma pessoa que foi à farmácia, comprou e ingeriu o medicamento,
causando-lhe intoxicação.
o Essa vítima pode exercer o seu direito subjetivo e ingressar com ação de indenização
por danos materiais e morais.
 Direito coletivo exige uma rápida atuação dos legitimados para a tomada das medidas
capazes de impedir a violação ao direito difuso (no caso, o anúncio enganoso).
o Característica é a indeterminabilidade da pessoa concretamente violada e a natureza de
indivisibilidade do objeto relativo no direito difuso.
 Exemplos de fatos de direitos difusos: a publicidade em geral, a distribuição e venda de
medicamentos, a poluição do ar e as questões ambientais em geral.
Relação jurídica de direito difuso

(NUNES, Rizzato. Curso de direito do consumidor . Disponível em: Minha Biblioteca, (13ª edição). Editora Saraiva, 2018, p. 819)
Processo coletivo – Direitos coletivos (1/2)

 Direitos coletivos: é a existência de uma relação jurídica base ligando os titulares de um


grupo, de uma categoria ou de uma classe. Essa relação que une os interessados deverá ser
preexistente à lesão ou à ameaça de lesão ao interesse do grupo, categoria ou classe.
 Exemplo: é direito coletivo a qualidade de ensino oferecido por uma escola, que é direito de
todos os alunos indistintamente, mas também afeta cada aluno em particular.
 Sujeito ativo: os titulares do direito são indeterminados, mas determináveis.
 Para a verificação da existência de um direito coletivo não há necessidade de se apontar
concretamente um titular específico e real.
 No exemplo acima, esse titular é facilmente determinado, a partir da verificação do direito
em jogo, qual seja, a qualidade de ensino é direito de todos os alunos indistintamente.
 Sujeito passivo: os obrigados a respeitarem os direitos coletivos são os fornecedores
envolvidos na relação jurídica base ou aqueles que se relacionam com o grupo de
consumidores que formam uma relação jurídica base entre si.
 No exemplo acima é a escola.
Processo coletivo – Direitos coletivos (2/2)

 Relação jurídica: formam-se 2 relações jurídicas entre os sujeitos ativo e passivo:


 Aquela em que os titulares (sujeito ativo) estão ligados entre si por uma relação jurídica.
o Exemplo: os pais e alunos pertencentes a Associação de Pais e Mestres; os associados de uma
Associação de Proteção ao Consumidor; os membros de uma entidade de classe etc.
 Aquela em que os titulares (sujeito ativo) estão ligados com o sujeito passivo por uma relação
jurídica.
o Exemplo: os alunos de uma mesma escola, os clientes de um mesmo banco, os usuários de um
mesmo serviço público essencial como o fornecimento de água, energia elétrica, gás etc.
 Bem protegido: objeto ou bem jurídico protegido é indivisível. O bem não pertence a nenhum
consumidor individual em particular, mas a todos em conjunto e simultaneamente.
 Exemplos: a qualidade do ensino oferecido por uma escola é indivisível; o tratamento da água
conferido pelo prestador do serviço público afeta toda a água a ser fornecida.
 Distinção entre direito coletivo e individual homogêneo: o objeto do direito coletivo é indivisível, mas o
efeito da violação a um direito coletivo gera também um direito individual ou individual homogêneo.
 Exemplo: mau tratamento da água fornecida aos usuários é típico caso de direito coletivo com objeto
indivisível, mas simultaneamente seu fornecimento e consumo pode gerar dano à saúde de um
consumidor individualmente considerado.
Relação jurídica de direito coletivo

(NUNES, Rizzato. Curso de direito do consumidor . Disponível em: Minha Biblioteca, (13ª edição). Editora Saraiva, 2018, p. 821)
Processo coletivo – Direitos individuais homogêneos

 Direitos individuais homogêneos: é uma espécie de direito coletivo, que apresenta a característica de
divisibilidade do objeto, sendo certo que seus titulares são perfeitamente identificados.
 Exemplos: as quedas de aviões, como o da TAM no Jabaquara em São Paulo; o naufrágio do barco
“Bateau Mouche” no Rio de Janeiro etc.
 Sujeito ativo: os sujeitos são sempre mais de um e determinados.
 Mais de um porque, se for um só, o direito é individual simples, e determinado porque neste caso,
como o próprio nome diz, apesar de homogêneo, o direito é individual.
 Sujeito passivo: os responsáveis pelos danos causados aos sujeitos ativos são todos aqueles que
direta ou indiretamente tenham causado o dano ou participado do evento danoso, ou, ainda, que
tenham contribuído para tal.
 Relação jurídica: o estabelecimento do nexo entre os sujeitos ativos e os responsáveis pelos danos se
dá numa situação jurídica (fato, ato, contrato etc.), que tenha origem comum para todos os titulares do
direito violado.
 O liame que une os titulares do direito violado há de ser comum a todos.
 Bem protegido: objeto é divisível, de origem comum que venha a atingir a todos os titulares
determinados do direito individual homogêneo, mas o resultado real da violação é diverso para cada
um, de tal modo que se trata de objeto que se cinde, que é divisível.
Relação jurídica de direito individual homogêneo

(NUNES, Rizzato. Curso de direito do consumidor . Disponível em: Minha Biblioteca, (13ª edição). Editora Saraiva, 2018, p. 824)
OBRIGADA
E
ATÉ A PRÓXIMA!

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