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Ética e Direito Imobiliário

Unidade 1
Fundamentos da Ética
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
CAROLINE TEIXEIRA BARBOSA
AUTORIA
Caroline Teixeira Barbosa
Sou formada em Direito e mestre em Ciências Jurídico-políticas,
com uma experiência técnico-profissional na área de Direito do Trabalho
e Direito Civil de mais de quatro anos. Antes de iniciar a vida profissional
como advogada, já havia atuado como estagiária em alguns órgãos, como
a Procuradoria Geral do Município, Procon Municipal e Defensoria Pública
do Estado da Paraíba, oportunidade nas quais obtive uma bagagem
significativa de experiência. Na advocacia, passei pelo escritório David
Diniz (ADD), responsável por engrandecer ainda mais minha paixão pela
profissão. Sou apaixonada pelo que faço, motivo pelo qual busquei no
Mestrado aprimorar meus conhecimentos para que, assim, pudesse
compartilhar com outras pessoas. A interação com o outro sempre me
fascinou, seja como advogada ou dentro da sala de aula. Poder transmitir
experiências àqueles que estão iniciando suas profissões torna-se um
desafio ainda mais cativante quando se trata de uma editora sempre
empenhada em oferecer o seu melhor para os alunos, como é o caso da
Editora Telesapiens. Assim, fui convidada a integrar seu elenco de autores
independentes e me sinto feliz e lisonjeada em poder colaborar e ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Ética - construção e trajetória histórica ............................................ 10
Origem histórica da ética ..........................................................................................................10

Conceitos essenciais .................................................................................................................... 13

Importância da ética na sociedade ................................................................................... 16

Genealogia ética ......................................................................................... 19


Sobre a cidadania ........................................................................................................................... 19

Sobre a justiça ...................................................................................................................................23

Sobre a solidariedade ..................................................................................................................25

A ética e a moral ..........................................................................................28


Entendendo o que é a moral .................................................................................................28

Ética x moral ...................................................................................................................................... 31

Alguns casos práticos envolvendo a ética e moral ...............................................34

A ética profissional ..................................................................................... 37


Conceito e definições....................................................................................................................37

Ética médica ..................................................................................................................................... 40

Ética jurídica ........................................................................................................................................43


Ética e Direito Imobiliário 7

01
UNIDADE
8 Ética e Direito Imobiliário

INTRODUÇÃO
Você sabe dizer como se deu a construção e trajetória histórica
da ética? Qual foi a sua origem e o que se entende por ética? A
importância da ética na sociedade? Afinal, qual a relação existente
entre elementos como a cidadania, justiça e solidariedade no que se
refere à ética? Há diferenças entre ética e moral? Qual a importância da
ética profissional?

Para entender um pouco mais a respeito da história da ética e do


seu papel fundamental em nossa sociedade, analisaremos os principais
aspectos que envolvem a ética, discutindo conceitos, definições e,
inclusive, analisando alguns casos práticos que envolvem a ética e a
moral, por exemplo.

Ainda, analisaremos a importância da ética profissional, utilizando


como exemplo a ética médica e a ética jurídica, como forma de melhor
delinear o papel exercido pelos códigos de ética específicos para os
profissionais da área. E então? Animado para aprender um pouco mais
acerca da história e importância da ética em nossa sociedade? E de
que maneira ela se apresenta no nosso dia a dia? Está pronto? Vamos
juntos!
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OBJETIVOS
Olá! Seja muito bem-vindo à Unidade 1 – Fundamentos da ética.
Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de
aprendizagem até o término desta etapa de estudos:

1. Compreender o conceito e identificar a origem histórica da ética.

2. Definir conceitos como cidadania, justiça, solidariedade e sua


relação com a ética.

3. Discernir sobre a diferença entre ética e moral.

4. Aplicar o conceito de ética às várias situações e conflitos no


mundo do trabalho.

Então? Preparado para dedicar-se aos estudos e entender um


pouco mais sobre os principais fundamentos da ética? Sintetizaremos
de maneira didática o conceito e origem da ética, fazendo uma ponte
com outros conceitos igualmente importantes, a exemplo de conceitos
como cidadania, justiça e solidariedade. Ainda, analisaremos a diferença
entre ética e moral e a aplicação da ética nas mais variadas situações
profissionais no nosso dia a dia. Ao trabalho! Estaremos juntos para
enfrentar quaisquer desafios e colocar em prática tudo que aprendemos.
Será divertido! Conto com você!
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Ética - construção e trajetória histórica


OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender um


pouco mais acerca da origem histórica da ética e o papel de
alguns dos principais filósofos para tal surgimento. Ainda,
analisaremos alguns dos principais conceitos relativos
à ética, como forma de melhor compreender do que se
trata e qual o seu papel em nossa sociedade. Assim, será
possível compreender a importância da ética na sociedade
como norteadora das ações e dos comportamentos dos
indivíduos, na busca por uma convivência harmoniosa e
equilibrada entre todos. E então? Motivado para conhecer
um pouco mais da construção e trajetória histórica da
ética? Vamos lá!

Origem histórica da ética


Para entendermos os principais fundamentos da ética, é necessário
que haja uma compreensão da construção e trajetória histórica da ética,
conhecendo um pouco mais a forma como a ética se originou nas
sociedades. Assim, no decorrer do nosso estudo, compreenderemos que
a ética não se resume apenas a um conjunto de regras, por exemplo, mas
vai muito além, já que a ética engloba princípios norteadores de uma
sociedade.

Dessa forma, é imprescindível que se compreenda a importância


da Grécia para o surgimento da ética, considerando que foi o local de
nascimento da ética. Inclusive, é comum muitas pessoas acreditarem
que o tema sobre a ética é recente, mas, ao contrário, o tema sobre ética
remonta aos primórdios da humanidade. Afinal, desde aquele período era
necessário criar regras de comportamento que pudessem garantir um
melhor convívio em sociedade.

Nesse aspecto, os gregos possuem papel relevante, considerando


que foram os primeiros povos a lidarem com as relações entre as
pessoas, gerando discussões que envolviam comportamentos do
Ética e Direito Imobiliário 11

homem, questões religiosas e míticas, por exemplo, bem como o convívio


em sociedade. Assim, tais discussões permitiram reflexões éticas acerca
das regras de comportamento que seriam necessárias para que todos
conseguissem viver em sociedade.

Por esse motivo, durante o nosso estudo, perceberemos que foram


os gregos que não somente serviram de berço para o nascimento da
ética, mas também permitiram moldar e refletir sobre conceitos, termos
e significados que dizem respeito às relações entre os indivíduos e a
ética. Assim, para os gregos, o universo precisaria estar em equilíbrio, em
harmonia, motivo pelo qual as relações humanas precisariam acompanhar
tal equilíbrio, oportunidade na qual a ética surgiria com papel fundamental.

Alguns pensadores gregos exerceram papel fundamental para o


surgimento da ética, a exemplo de Sócrates, Platão e Aristóteles. Com
relação a Sócrates, esse filósofo nasceu em Atenas e é considerado um
dos grandes pensadores da Grécia Antiga. Esse filósofo sempre foi exemplo
de bom cidadão e possuía o costume de sempre dialogar e debater com as
pessoas da sua região, motivo pelo qual, inclusive, dividia seu conhecimento
e sabedoria em praças públicas e ginásios, por exemplo.

VOCÊ SABIA?

Atribui-se a Sócrates as famosas expressões “conhece-te a ti


mesmo” e “sei que nada sei”. Para o filósofo, o conhecimento
era primordial para que a conduta do ser humano
pudesse ser pautada na ética. Quando o homem possui
conhecimento, consequentemente, acaba conhecendo o
bem e, conhecendo-o, irá praticá-lo. Para ele, as ações do
homem tinham que ser pautadas na virtude e sabedoria,
por exemplo, de maneira que tais atitudes deveriam estar
em equilíbrio com a ética.

Já com relação a Platão, também nasceu em Atenas e foi, inclusive,


discípulo e admirador de Sócrates. Ainda, a Platão é atribuída a teoria
das ideias, considerando que, para o filósofo, há dois mundos: o primeiro
mundo sendo composto de ideias imutáveis e invisíveis; e o segundo
mundo sendo o mundo “real”, formado por coisas mutáveis e sensíveis.
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Quando falamos nos dois mundos que Platão tratava, o segundo


mundo que nos referimos como sendo formado de coisas sensíveis
é justamente pelo fato de que conhecemos tal mundo por meio da
sensação, a exemplo da utilização da visão, paladar, olfato, audição ou
tato. Já no que tange ao mundo das ideias, é justamente constituído de
ideias que, tal como são, são imutáveis.

Vale salientar que a questão aqui defendida por Platão era


justamente a de que no mundo real existiriam sombras e os indivíduos
estão muito mais propícios a viverem de aparências, considerando que se
cada indivíduo se deixar levar pelos seus sentidos, poderá fazer com que
cada indivíduo tenha uma ideia distinta e, sobretudo, distorcida das coisas.
Assim, o mundo das ideias refletia a verdadeira realidade, considerando
que a razão é o principal elemento utilizado para compreender tal mundo,
utilizando a razão para a realização do bem.

Por fim, com relação as contribuições de Aristóteles para a ética,


ele nasceu na Macedônia e, posteriormente, foi para Atenas para estudar,
absorvendo aspectos importantes da cultura daquele local. Para esse
filósofo, a felicidade era o fim pelo qual todo homem buscava para estar
completamente realizado. Tal felicidade poderia ser alcançada de três
formas: pela virtude, pela sabedoria e pelo prazer.

SAIBA MAIS:

Uma ótima maneira de tentar visualizar um pouco a questão


da teoria dos dois mundos de Platão, é assistir ao filme de
ficção científica Matrix, de 1999. O filme trata de um sistema
de computador que manipula a mente das pessoas e acaba
forjando uma falsa realidade. A trama retrata a luta contra
esse mundo artificial, na busca por retornar à realidade,
de maneira que os personagens buscam se libertar desse
mundo que lhes foi apresentado como real quando, na
verdade, não era o mundo real. Vale a pena conferir!

Dessa forma, é possível relacionar que todos os filósofos exerceram


um importante papel para a fomentação de ideias e pensamentos que,
posteriormente, foram se aperfeiçoando no que diz respeito ao convívio
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em sociedade e, sobretudo, na utilização da ética para tal convívio ocorrer


de maneira equilibrada e em harmonia. Como já mencionado, Platão foi
discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles. Em outras palavras, apesar
de algumas diferenças de caráter intelectual e de pensamentos, os três
filósofos dividiam ideais em comum relativamente a ética.

ACESSE:

Uma forma de melhor compreender os ideais filosóficos


e de que maneira os filósofos contribuíram para a
propagação de ideias, que até os dias atuais são estudadas
por meio de alguns filmes. Assim, o filme O mundo de Sofia
é fundamentado em um dos mais famosos livros sobre a
filosofia, motivo pelo qual torna-se uma maneira didática
e divertida de entender as principais questões filosóficas,
entre elas questões sobre a ética e moral. A trama do filme
se desenvolve em cima de questões filosóficas, de maneira
que o telespectador consegue conhecer e absorver ideias
e pensamentos de grandes filósofos. Inclusive, permite
conhecer os conceitos de ética defendidos por Aristóteles
e de outros grandes filósofos da história ocidental. Por isso,
vale a pena assistir ao filme e relacionar com o tema em
estudo!

Dessa forma, ainda que de maneira introdutória, foi possível observar


que o estudo sobre a ética remonta a períodos muito antigos, surgindo
na Grécia e se desenvolvendo a partir dos pensamentos e estudos de
grandes filósofos daquele período. Dando continuidade ao tema, agora
conceituaremos de maneira mais pormenorizada o que se entende por
ética.

Conceitos essenciais
Depois de analisado um pouco do contexto histórico que deu origem
à ética, bem como o papel de alguns filósofos que contribuíram para tal
surgimento, agora nos debruçaremos sobre os principais conceitos que
definem o que pode ser entendido por ética, para que, assim, seja possível
compreender de maneira mais completa o tema em estudo.
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DEFINIÇÃO:

De acordo com o Dicionário Dicio, “ética” possui como


definição: “o segmento da filosofia que se dedica à
análise das razoes que ocasionam, alteram ou orientam
a maneira de agir do ser humano, geralmente tendo
em conta valores morais” (ÉTICA, 2021, on-line). Ainda, o
termo “ética” pode ser definido como: “reunião de normas
de valor moral presentes numa pessoa, sociedade ou
grupo social: ética parlamentar; ética médica” (ÉTICA,
2021, on-line). Por fim, apresenta que a palavra ética tem
origem do latim ethica, pelo grego éthikós. Além disso, a
palavra ética deriva da palavra grega êthos, que significa
“caráter moral”, sendo utilizada para descrever conjunto
de hábitos ou crenças que definem uma comunidade ou
nação (ETHOS, 2021, on-line).

Considerando a definição acima apresentada, podemos perceber


que a ética engloba os comportamentos dos indivíduos, suas ações
e suas formas de agir, por exemplo. Mas não apenas diz respeito a um
comportamento do indivíduo de maneira isolada, pelo contrário, reveste-
se de um comportamento individual que tem como base justamente um
código de ética com aplicabilidade geral para todos os indivíduos de uma
sociedade.

Assim, a ética buscaria justamente compreender os comportamentos


dos indivíduos em sociedade, analisando as ações humanas de maneira
que possam ser diferenciadas entre certas ou erradas. Ou seja, ações que
são consideradas corretas eticamente falando ou incorretas à luz de um
código de ética existente, por exemplo.

Nesse aspecto, podemos entender que a ética se preocupa,


justamente, com o certo e com o errado, conforme evidencia a Figura 1
abaixo destacada. Entretanto, apesar de se preocupar com o certo e o com
o errado, não se consubstancia tão somente em um conjunto de normas de
conduta, por exemplo, mas procura refletir um verdadeiro estilo de ação em
que todos os indivíduos em sociedade possam se respeitar e conviver uns
com os outros, respeitando, como é óbvio, a individualidade de cada um.
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Figura 1 – Representação do certo e do errado

Fonte: Freepik

Convém destacar que, quando falamos em ética, não devemos


imaginar que diz respeito a algo que seja utópico, inalcançável. Pelo
contrário, a ética é algo que enxergamos diariamente em nossa sociedade
e que, inclusive, precisa estar presente para que exista uma harmonia
entre os indivíduos.

Ainda, vale destacar que a ética também está presente em contexto


religioso. A ética deve nortear as ações dos indivíduos tanto fora quanto
em contextos religiosos, considerando que não é algo subjetivo, mas, ao
contrário, é objetivo.

Assim, quando falamos que um indivíduo deve agir com ética, por
exemplo, ele não deve agir com base no que ele, de maneira subjetiva e
individual acha correto, mas deve agir conforme o que é ético e, portanto,
correto, dentro de um contexto que envolve toda a sociedade e que é
considerado correto eticamente falando para todos os indivíduos, e não
somente para ele.

Inclusive, em tópico próprio, analisaremos que a ética não pode


ser confundida com a moral, possuindo significados diferentes. Desse
modo, podemos compreender que a ética diz respeito às ações e aos
16 Ética e Direito Imobiliário

comportamentos humanos que se relacionam com o que é certo e


errado, justo e injusto, por exemplo, possuindo caráter universal e se
fundamentando em princípios.

Podemos citar como exemplos de ética o respeito e a observância


para que as leis sejam justas para todos, que as atitudes no ambiente em
sociedade sejam sempre pautadas com justiça, agindo de maneira justa
e sem prejudicar outras pessoas, não se apropriando de algo que não
seja seu, respeitando o convívio social, entre tantas outras atitudes que
podem representar um agir com ética.

Inclusive, quando falamos de agir com ética, vale destacar que esse
agir não se refere apenas a um grupo de indivíduos, por exemplo. Mas,
como dito anteriormente, tem caráter universal, ou seja, é um tipo de ação
e/ou comportamento que precisa ser observado por todos os indivíduos,
valendo para todos, sem distinção.

Posto isso, restou claro que, após observarmos os principais conceitos


de ética, podemos concluir que envolvem sobretudo o comportamento e
as ações humanas que fazem surgir o saber ético, com base justamente
nesse comportamento humano e em princípios que possam nortear tais
comportamentos, considerando a necessidade de uma vivência em
sociedade de forma harmônica, equilibrada, justa e correta.

Importância da ética na sociedade


Após a análise de como se deu o surgimento da ética e da
compreensão de alguns dos principais conceitos alusivos à ética, daremos
continuidade ao estudo, a fim de compreender um pouco da importância
da ética na sociedade, considerando a importância do tema em questão.

Portanto, a ética permite que os indivíduos possam viver de maneira


harmônica e equilibrada, fornecendo o caminho necessário e adequado
para que as ações dos indivíduos sejam pautadas em ações corretas e
justas. Dessa forma, a ética nos permite distinguir o bem do mal e o justo
do injusto, norteando a maneira como devemos agir em sociedade.

Sem a ética, a nossa vida em sociedade seria um completo caos.


Pare um pouco para refletir e se pergunte: por qual motivo eu faço
Ética e Direito Imobiliário 17

determinada coisa e não outra? Por qual motivo eu busco não prejudicar
ninguém? O que lhe faz agir dessa maneira? Se refletirmos sobre alguns
desses questionamentos, será possível enxergar de maneira mais clara
como a ética está presente em nossa vida e, sobretudo, nas relações dos
indivíduos em sociedade.

É claro que existem situações que podem parecer mais fácil agir de
determinada maneira, como evidencia a Figura 2 abaixo destacada. Mas o
que a ética procura é justamente nortear o comportamento dos indivíduos
para que eles possam agir de maneira correta, e não da maneira mais
“fácil”. A ética não defende que comportamentos ou ações dos indivíduos
possam prejudicar outras pessoas.

Ora, vivemos em constante interação com outros indivíduos, em


sociedade, e, por esse motivo, precisamos saber viver em sociedade,
caso contrário, não viveríamos como pessoas, mas como animais.
Considerando que vivemos em sociedade e, constantemente, podemos
ser influenciados pelo meio em que vivemos quando da tomada de
alguma decisão, por exemplo, é necessário que a ética norteie as ações
e os comportamentos humanos, de maneira que as influências do meio
em que vivemos não nos conduzam ao mau caminho, a comportamentos
ruins e ações que possam prejudicar outros indivíduos, por exemplo.
Figura 2 – Representação do agir com ética

Fonte: Freepik
18 Ética e Direito Imobiliário

Dessa maneira, é inegável que a ética exerce papel fundamental na


sociedade, considerando que norteará a forma como os indivíduos agem
em sociedade, permitindo um convívio social harmonioso e pautado no
respeito para com os demais, com base em determinadas normas que
são estabelecidas pela sociedade na qual vivemos.

Assim, a ética e, consequentemente, um comportamento ético, são


necessários não somente na vida pessoal, mas sobretudo na profissional
também. É necessário um agir ético em todos os quesitos da nossa
vivência em sociedade.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que viu até aqui? Espero que tenha


sido possível compreender como surgiu a ética e o papel
dos grandes filósofos para o nascimento da ética. Ainda, foi
possível compreender os principais conceitos que norteiam
a ética como forma de melhor visualizar de que maneira a
ética está presente no nosso dia a dia e de que maneira
impacta a vida em sociedade. Por fim, compreendemos um
pouco mais do papel da ética na sociedade, avaliando a
importância da ética como norteadora do comportamento
e das ações dos indivíduos, a fim de garantir um convívio
harmonioso e equilibrado em sociedade. Vamos continuar
aprendendo um pouco mais sobre os fundamentos da
ética. Está preparado? Avante!
Ética e Direito Imobiliário 19

Genealogia ética
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


alguns dos elementos que compõem a genealogia ética,
a exemplo de elementos como a cidadania, justiça e
solidariedade. Abordaremos conceitos enformadores de
tais elementos, enquadramento legal – quando houver – e
questões importantes pertinentes aos elementos e que se
relacionam com a ética. Assim, será possível entender não
somente a relação, mas, sobretudo, a importância de tais
elementos na construção e existência da ética. Motivado
para conhecer um pouco mais sobre o tema? Vamos juntos.
Avante!

Sobre a cidadania
Para falar sobre cidadania, será necessário entender alguns dos
sentidos que são empregados ao termo, considerando que, muitas vezes,
a palavra cidadania é utilizada em sentidos diversos. Iremos nos ater ao
sentido da palavra que está previsto em nossa Constituição, considerando
que cidadania, em essência, significa ter o direito de viver de maneira
decente.

Assim, diversos são os direitos inerentes aos “cidadãos”, pois ter


cidadania implica uma série de direitos e deveres aos indivíduos, como
veremos mais adiante. São, inclusive, direitos e deveres que, muitas vezes,
acabam passando despercebidos, considerando que as pessoas acabam
não associando tais direitos ao fato da cidadania em si. Exemplos desses
direitos são poder votar em quem quiser, o direito de ser negro ou mulher
sem ser discriminado, o de praticar uma religião sem ser perseguido,
entre tantos outros que apresentaremos a seguir.

Etimologicamente falando, a palavra cidadão deriva da palavra


civita, que, em latim, significa cidade. De acordo com o Departamento
de Direitos Humanos e Cidadania (PARANÁ, 2021), na Grécia antiga,
considerava-se cidadão aquele nascido em terras gregas. Já em Roma,
20 Ética e Direito Imobiliário

a palavra cidadania era utilizada para indicar a situação política de uma


pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer.

Dessa maneira, para nós, brasileiros, juridicamente falando, cidadão


é justamente o indivíduo que goza dos direitos civis e políticos de um
Estado. Ou seja, cidadania seria justamente a qualidade de ser cidadão e,
consequentemente, ser sujeito de direitos e deveres. Ainda, corroborando
com o apresentado, o significado de cidadania, de acordo com o dicionário
diz respeito à “condição de quem possui direitos civis, políticos e sociais,
que garante a participação na vida política”; “estado de cidadão, de quem
é membro de um Estado” (CIDADANIA, 2021, on-line).

Nesse aspecto, a cidadania constitui um dos fundamentos do


Estado Democrático de Direito, como dispõe o artigo 1°, inciso II, da
Constituição de 1988, vejamos:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o


exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição. (BRASIL, 1988, on-line, grifo
nosso)

Assim, a cidadania atua como fundamento imprescindível do


Estado Democrático de Direito, de maneira que cabe aos cidadãos
respeitar e participar ativamente das decisões da sociedade, no intuito de
não apenas melhorar o convívio, mas, sobretudo, garantir uma sociedade
justa e harmônica. Para isso, a nossa Constituição Federal de 1988 também
elenca, no artigo 5°, direitos e deveres individuais e coletivos, a exemplo
dos abaixo aqui destacados:
Ética e Direito Imobiliário 21

DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

CAPÍTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações,


nos termos desta Constituição;

II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer


alguma coisa senão em virtude de lei;

III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento


desumano ou degradante;

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado


o anonimato;

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao


agravo, além da indenização por dano material, moral ou
à imagem;

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença,


sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
e a suas liturgias;

VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de


assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva;

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença


religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as
invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta
e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística,


científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença. (BRASIL, 1988, on-line)

Assim, a cidadania representa a qualidade de cidadão de um Estado,


conferindo direitos e deveres inerentes à participação desse cidadão na
vida do Estado. Considerando tudo que já estudamos acerca da ética,
é inegável que cidadania e ética se relacionam, já que a ética implica
22 Ética e Direito Imobiliário

ações e comportamentos dos indivíduos que precisam estar de acordo no


plano coletivo, como forma de estabelecer uma convivência harmônica
em sociedade. Da mesma maneira, a cidadania implica, também, o uso
responsável dos direitos e deveres que lhe são conferidos, no intuito de
que a participação ativa no Estado se dê como prescreve a lei.

Assim, não há cidadania sem ética. Para que um indivíduo possa


atuar como verdadeiro cidadão, de acordo com os direitos e deveres que
lhe são conferidos, tal indivíduo precisa agir com ética, contribuindo, assim,
para o bom funcionamento da sociedade e em prol do bem comum.

Podemos citar alguns exemplos de como a cidadania precisa


andar de mãos dadas com a ética. São exemplos do nosso cotidiano,
que representam alguns dos nossos deveres como cidadãos e que,
consequentemente, relacionam-se com o fato de agirmos de maneira
ética. Não oferecer propina ao guarda de trânsito para não ser multado;
tentar burlar o imposto de renda; furar alguma fila de banco ou
supermercado; dirigir acima da velocidade permitida; não parar na faixa
de pedestres; estacionar em uma vaga que seja destinada a portadores
de necessidades especiais, entre outros.

Assim, os exemplos aqui citados dizem respeito a atitudes que,


como cidadão, não devem e nem podem acontecer e, consequentemente,
estão atreladas a um agir ético por parte do indivíduo, de maneira que tal
indivíduo deve agir corretamente, fazendo o certo, não sendo injusto e em
respeito ao que está disposto na lei.

Posto isso, é possível perceber e identificar de maneira simples


a presença tanto da responsabilidade como cidadão quanto da
responsabilidade ética de cada indivíduo. Essas responsabilidades
precisam andar de mãos juntas, considerando que, ao mesmo tempo
que a responsabilidade ética lhe cobra como indivíduo pertencente a
uma sociedade, a responsabilidade cidadã lhe cobre na condição de
cidadão e pertencente ao Estado. Assim, a ética funciona como elemento
construtivo da cidadania.
Ética e Direito Imobiliário 23

Sobre a justiça
Ultrapassada a análise da relação existente entre cidadania e ética,
agora compreenderemos um pouco mais da relação também existente
entre justiça e ética, por meio da análise de alguns conceitos e exemplos
do dia a dia.

De forma etimológica, o termo “justiça” vem do latim justitia, sendo


o princípio básico que mantém a ordem social por meio da preservação
dos direitos em sua forma legal (JUSTIÇA, 2021). Em outras palavras,
quando falamos de justiça, queremos nos referir a algo que seja justo e
correto, respeitando a igualdade de todos os cidadãos e os direitos que
lhes são inerentes.

Essa justiça, inclusive, pode se manifestar socialmente falando de


maneira intuitiva, por exemplo, quando sabemos que determinada ação
é certa ou errada e, consequentemente, agimos de maneira justa em
nossas relações sociais, mas também pode se manifestar por meio dos
tribunais, como será mais bem delineado a seguir.

SAIBA MAIS:

Em Roma, a justiça é representada por uma estátua com


olhos vendados, conforme evidencia a Figura 3 abaixo
destacada, buscando enaltecer que “todos são iguais
perante a lei” e defendendo que todos tenham iguais
garantias legais e, portanto, iguais direitos. Assim, a justiça
não deve olhar de maneira distinta para determinado
indivíduo em detrimento de outro, mas, ao contrário,
a justiça deve buscar a igualdade entre todos, sem
distinção. É por isso que é utilizada a representação da
estátua com olhos vendados, para que, quando houver
a análise de ocorrência de injustiça em determinada
situação, por exemplo, não seja possível fazer distinção
entre os indivíduos, não dando margem para que ocorra
discriminação e, consequentemente, uma possível injustiça
em determinado caso concreto.
24 Ética e Direito Imobiliário

Figura 3 – Representação da justiça

Fonte: Freepik

De acordo com Aristóteles, o termo “justiça” está alinhado com a


legalidade e a igualdade, visto que, para ser justo, é necessário estar tanto
de acordo com a lei em sentido estrito quanto também buscar a igualdade
em sentido universal, sem que haja discriminação, como representa a
Figura 4 abaixo destacada. Inclusive, nas palavras de Aristóteles:
A justiça é a forma perfeita de excelência moral porque
ela é a prática efetiva da excelência moral perfeita. Ela é
perfeita porque as pessoas que possuem o sentimento
de justiça podem praticá-la não somente a sim mesmas
como também em relação ao próximo. (ARISTÓTELES,
1996, p. 195)

Figura 4 – Representação de igualdade

Fonte: Freepik
Ética e Direito Imobiliário 25

Dessa forma, a justiça acaba sendo, também, uma constante busca


por liberdade, felicidade e igualdade. Assim, para a realização de justiça
não podemos nos ater a convicções religiosas e a crenças particulares,
por exemplo, pois é necessário que haja uma igualdade entre todos, tanto
na justiça social quanto na justiça universal. Um juiz, por exemplo, não
pode se valer de convicções pessoais para decidir determinado caso,
mas tão somente se ater à lei e aos princípios pertinentes.

Justiça e ética andam de mãos dadas, pois o bem comum precisa


ser colocado em primeiro plano, como forma de permitir a vida em
sociedade de maneira harmônica. Até porque, muitas vezes, as pessoas
podem agir de determinada maneira, achando que estão sendo justos,
mas não agiram de maneira ética ou vice-versa. Por isso, é necessário que
a ética e a justiça caminhem de mãos dadas, sendo uma o complemento
da outra.

Sobre a solidariedade
Na continuidade de buscar relacionar alguns elementos importantes
em nossa sociedade com a ética, trataremos um pouco agora sobre a
solidariedade. Assim, quando falamos em solidariedade, estamos nos
referindo à qualidade de alguém ser solidário, ou seja, de se compadecer
com a situação de outrem, querendo ajudar ou querendo colaborar de
alguma maneira.

Etimologicamente falando, a palavra solidariedade tem origem


no francês solidarité, que também remete para uma responsabilidade
recíproca (SOLIDARIEDADE, 2021). Assim, quando falamos em uma
responsabilidade recíproca, pensamos que é justamente o ato de se
preocupar com os outros, e não somente pensar em si mesmo. Ainda, é
estar atento às situações pelas quais algumas pessoas podem precisar
de ajuda e, assim, ser solidário. De maneira geral, atitudes solidárias
consistem em ajudar pessoas que estejam desemparadas e precisando
de ajuda de diversas formas.
26 Ética e Direito Imobiliário

REFLITA:

O ano de 2020 foi, sem sombra de dúvidas, de muitos


desafios para todas as pessoas ao redor do mundo,
nomeadamente por causa do grande caos que se instalou
em virtude da covid-19. Assim, para exemplificar melhor
as atitudes solidárias, há uma reportagem da Ecoa (2020)
que traz uma retrospectiva do ano de 2020, apresentando
algumas redes de solidariedade contra crises. São
exemplos dignos de serem compartilhados, considerando
que esses atos solidários ajudaram muitas pessoas e
famílias em um momento tão difícil. Vamos refletir um
pouquinho mais sobre esses atos solidários e imaginar
em qual área da nossa vida precisamos investir mais e
sermos mais solidários uns com os outros? Caso queira
se aprofundar no assunto, acesse a reportagem completa
clicando aqui.

Assim, é possível notar que, quando falamos em solidariedade,


estamos falando de uma assistência recíproca. Convém ressaltar que
a solidariedade só pode ocorrer entre as pessoas, considerando que
vivemos em sociedade e, portanto, por sermos seres racionais, podemos
agir com solidariedade. Trazendo para o nosso estudo sobre a ética, Pérez
(1987, p. 24) diz o seguinte:
A solidariedade humana se embasa na igualdade de
dignidade de todos os seres humanos, pressupõem,
portanto, a mediação ética da justiça. Não podemos falar
de solidariedade humana sem o respeito e a dignidade do
homem e aos direitos humanos. Ainda que a justiça serve
de intermédio para a solidariedade, esta vai mais além da
justiça.

Desse modo, podemos agir com solidariedade em diversos


âmbitos da nossa vida, seja no âmbito econômico, político, social, cultural
ou religioso. Quando agimos de maneira não solidária, acabamos indo
de encontro ao agir com ética, considerando que atitudes solidárias
contribuem para um convívio mais harmônico e equilibrado em sociedade.
Ética e Direito Imobiliário 27

Por isso, agir com ética contribui para adquirir virtudes e, entre essas
virtudes, está a solidariedade, visto que a solidariedade pode ser passada
de pessoa a pessoa por meio, sobretudo, do exemplo, fazendo com que
a atitude de uma pessoa possa servir de exemplo para outra, buscando
sempre se tornar cada vez mais virtuoso e, também, o bem social.

RESUMINDO:

A análise de elementos como cidadania, justiça e


solidariedade são de suma importância, considerando
que se constituem como bases sólidas para a promoção
da ética. Todos os elementos estão interligados entre si,
considerando que o agir ético pede, sobretudo, a devida
observância aos direitos e deveres do cidadão, a busca
por justiça e a realização de atos solidários. Foi possível
observar que todos se complementam, na busca por um
bem social e convivência harmônica em sociedade. Assim,
é imprescindível que tais elementos estejam presentes na
procura por uma sociedade cada vez mais ética, justa e
solidária. Mas não para por aqui. Temos ainda um estudo
acerca da moral e da ética. Está pronto? Avancemos juntos!
28 Ética e Direito Imobiliário

A ética e a moral
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender


a relação existente entre a ética e a moral, bem como quais as
principais diferenças entre os dois institutos, considerando
que é muito comum confundirem e acharem que se trata
da mesma coisa. Além disso, analisaremos alguns casos
práticos nos quais podemos vislumbrar a prática da moral
e da ética como forma de enxergar o papel e a importância
delas em nossa sociedade. Preparado? Vamos juntos!

Entendendo o que é a moral


É muito comum que as pessoas confundam ética com moral,
ponderando que os dois institutos possuem algumas semelhanças.
Contudo, não podemos e nem devemos confundir ética e moral e, por
esse motivo, analisaremos alguns conceitos e definições de moral, como
forma de fazer um contraponto do que já foi visto com relação à ética,
entendendo as diferenças.

Assim, a moral se consubstancia em um conjunto de hábitos e


costumes de uma sociedade. Quando falamos em hábitos e costumes,
já podemos subentender que a moral de um local não necessariamente
coincidirá com a moral de outro local, considerando que algumas
sociedades possuem hábitos e costumes diferentes.

Inclusive, convém destacar que esses hábitos e costumes podem


ser influenciados não somente a depender do local, mas também do
período que está em causa. Ora, se paramos para pensar, na Grécia antiga
não havia os mesmos costumes e hábitos dos dias atuais.

Assim, o tempo e o local vão, naturalmente, alterando alguns


hábitos e costumes e, consequentemente, a determinada moral de uma
sociedade, considerando que diversos são os elementos que podem
influenciar nesse processo. Nesse aspecto, o modo de viver, religiões e
crenças, por exemplo, também são elementos que influenciam a moral
Ética e Direito Imobiliário 29

de determinada sociedade, pois, dependendo da crença ou religião que é


seguida por determinada sociedade, existirão coisas que serão permitidas
ou proibidas nesse local.

Nesse contexto, é muito comum associarmos a moral às normas


de proibição e permissão, considerando que, se determinada atitude é
permitida, é porque respeita a moral daquele local e, do mesmo modo, se
determinada situação é proibida, é porque pode atentar contra a moral e
os bons costumes de determinado local.

VOCÊ SABIA?

A novela “Despedida de casado”, escrita por Walter George


Durst, deveria ter ido ao ar em 1977, possuindo no elenco
nomes como o de Regina Duarte, Antônio Fagundes e
Rosamaria Murtinho. Contudo, foi proibida de ir ao ar um
dia antes de estrear, apesar de já contar com 30 capítulos
prontos. Referida trama discorria sobre a história de três
casais, discutindo temas como desgaste no casamento,
desquite – como era chamado o divórcio, naquele período
– bem como assuntos sobre outros problemas familiares.
Naquele período de censura, acreditava-se que novelas
como essa poderiam contribuir para o desgaste das
famílias, contribuindo, assim, para conflitos e “atentando
para a moral e os bons costumes” (ROCHA, 2019, on-line). É
interessante observar que, em períodos diferentes, a moral
pode ser enxergada sob óticas diferentes.

Nessa perspectiva, podemos perceber que a moral funciona como


uma norma de conduta social, indicando se algo é certo ou errado naquela
sociedade. Como já tratado anteriormente aqui, quando declaramos
que a moral é uma espécie de conjunto de hábitos e costumes de uma
sociedade, podemos perceber, portanto, que ela possui um caráter
cultural e subjetivo, já que, a depender dos costumes e hábitos de
determinada sociedade em determinado período temporal, algo poderá
ser considerado moralmente correto ou não. Assim, algo pode ser
permitido em determinada cultura, enquanto em cultura diversa pode ser
moralmente mal visto.
30 Ética e Direito Imobiliário

Podemos citar alguns exemplos de que determinadas situações


são moralmente aceitas em uma sociedade, enquanto essas mesmas
situações podem não ser moralmente aceitas em outra sociedade. Ora,
nem todas as sociedades são construídas da mesma forma, pautada nos
mesmos valores e costumes, motivo pelo qual, a depender da sociedade,
o conceito do moralmente permitido ou proibido pode variar. Como
exemplo, temos as normas de conduta no que se refere ao sexo e à
sexualidade.

Em sociedades que têm como base uma religião cristã, é comum


considerar como pecado a relação sexual que ocorre antes do matrimônio.
Assim, tal relação não teria a benção divina. Ainda, questões que envolvem
a homossexualidade são tratadas de maneiras diversas pelas sociedades.

Na Grécia antiga, por exemplo, a homossexualidade era


considerada um elemento cultural comum da sociedade, considerando,
inclusive, que as mulheres tão somente tinham como função o lugar de
fêmea reprodutora, sem que pudesse oferecer a plenitude do prazer a
um homem.

Sobre esse tema, inclusive, Frida Kahlo, conforme evidencia a


Figura 5 abaixo destacada, foi um exemplo de mulher que lutou contra as
injustiças de gênero da sua época, questionando diversas normas morais
daquela sociedade na qual ela estava inserida. Vale a pena uma leitura
sobre a vida e os feitos dessa mulher que tanto impactou a sociedade de
sua época, refletindo até os dias atuais.
Figura 5 – Representação de Frida Kahlo

Fonte: Pixabay
Ética e Direito Imobiliário 31

Diante de tudo que já foi exposto, é importante destacar a sua


definição etimologicamente falando, para que não reste dúvidas acerca
do que se entende por moral. Assim, o termo “moral” tem origem no latim
morales, cujo significado é justamente “relativo aos costumes”. Ou seja,
regras que são definidas pela moral e que passam a regular o modo de
agir das pessoas em determinada sociedade (MORAL, 2021).

Ainda, quando falamos em moral, falamos em costumes e hábitos


de determinada sociedade, pensando justamente na coletividade. Ou
seja, tais regras são construídas por um grupo de pessoas, pelo coletivo.
Tais condutas são formadas pensando no bem-estar da coletividade,
acreditando que determinados hábitos ou regras poderão melhorar a
convivência social, tornando-a mais harmoniosa.

ACESSE:

De maneira um pouco mais diferente, podemos também


analisar a moral a partir de alguns filmes que marcaram
época, a exemplo do filme Carol, de 2015. O filme retrata
a década de 1950, em Nova York, na qual uma aspirante
a fotógrafa acaba vivendo um relacionamento com uma
mulher mais velha. Contudo, a sociedade daquele período
era muito machista e conservadora, apresentando o
que moralmente era considerado correto e, portanto,
desconstruindo alguns aspectos morais.

Restou claro, assim, o que se entende por moral e de que maneira


a moral pode ser aplicada ao nosso cotidiano, considerando o conjunto
de regras que norteiam a sociedade e passam a ser aplicadas e usadas
por todo cidadão. Daremos continuidade ao estudo, analisando, agora,
as diferenças e possíveis semelhanças existentes entre ética e moral,
fazendo um contraponto entre elas. Vamos juntos continuar aprendendo
um pouco mais!

Ética x moral
Agora, analisaremos as principais diferenças e possíveis
semelhanças entre a ética e a moral, considerando que, muitas vezes, os
32 Ética e Direito Imobiliário

dois termos são confundidos de maneira errônea. Apesar de ambos os


termos possuírem finalidades semelhantes, seus conceitos e definições
não se confundem.

É bem verdade que tanto a ética quanto a moral contribuem no


sentido de nortear e guiar a conduta dos indivíduos, de maneira que
as pessoas consigam viver cada vez melhor em sociedade e de forma
cada vez harmônica e equilibrada, indicando a melhor maneira de se
comportarem em sociedade, priorizando, sobretudo, o bem comum e o
bem-estar social.

Contudo, é preciso compreender que a ética não pode se confundir


com a moral. Enquanto a ética busca compreender as ações do homem
justamente considerando os valores morais que orientam essas ações,
definindo-as como certas ou erradas, conforme evidencia a Figura 6
abaixo destacada, a moral tem como base os costumes, hábitos, crenças
e modos de pensar que são construídos em determinada sociedade.
Ou seja, a ética independe de práticas culturais, enquanto a moral leva
em consideração práticas culturais para a formação do que pode ser
considerado moralmente aceito ou não.
Figura 6 – Representação do dilema ético

Fonte: Freepik
Ética e Direito Imobiliário 33

Outro ponto que é importante destacar é que a ética se relaciona


mais com questões individuais das pessoas, enquanto a moral leva em
consideração o processo coletivo, pois representa costumes e hábitos
de uma coletividade, de uma sociedade. Assim, podemos destacar que a
ética é, justamente, uma reflexão moral acerca da ação.

Quando dizemos que a ética pode ser considerada uma reflexão


moral acerca da ação, precisamos compreender que algumas ações
moralmente éticas podem não se enquadrar na moral de determinada
sociedade. Vamos exemplificar para clarificar mais o entendimento.

Se, em determinada sociedade, a exemplo da sociedade islâmica,


uma mulher comete um adultério, essa mesma mulher pode ser
condenada à morte por apedrejamento, considerando que tal conduta
faz parte da moral dessa sociedade. Apesar de ser moralmente aceito
que essa condenação aconteça, não pode ser considerado eticamente
correta. Desse modo, se determinada pessoa impede que essa mulher
seja apedrejada, ela estará atentando contra a moral dessa sociedade,
apesar de estar agindo de maneira correta, eticamente falando. Por isso, é
importante distinguir ética da moral.

Nesse contexto, uma pessoa terá um comportamento moral ou


imoral a depender da escolha que tomar, da reflexão ética que fizer,
partindo da convicção íntima da pessoa que decidirá se cumprirá ou não
com as normas morais estabelecidas em determinada sociedade. Logo,
a pessoa que decide seguir os códigos morais pode ser considerada uma
pessoa moral, enquanto uma pessoa que resolva desobedecer a tais
regras será considerada uma pessoa imoral.

Podemos perceber, portanto, que algumas condutas podem


ser consideradas imorais sem, necessariamente, serem condutas que
violarem leis, por exemplo. Quando determinada pessoa joga lixo no chão,
fala mal de um colega de trabalho na frente de outro ou não respeita os
idosos, não necessariamente está cometendo nenhuma conduta ilegal,
contudo está agindo de maneira imoral, considerando os costumes da
nossa sociedade, por meio dos quais as condutas anteriormente citadas
não são moralmente aceitas.
34 Ética e Direito Imobiliário

Resta claro, portanto, que ética e moral não possuem os mesmos


conceitos e definições. São termos diferentes e com significados diversos,
já que a ética acaba refletindo e questionando as regras morais, enquanto
a moral é constituída por valores, costumes e hábitos que vão derivando
de comportamentos dos indivíduos e sendo aceitos socialmente falando.

Em outras palavras, a ética é mais universal, diferentemente


da moral, que depende do local onde você está, considerando que
determinada atitude pode ser considerada certa ou errada, a depender da
sociedade a qual estamos nos referindo, como já exemplificado durante o
nosso estudo. Passaremos agora para a análise de alguns casos práticos
envolvendo a moral, como forma de deixar ainda mais completo o nosso
estudo.

Alguns casos práticos envolvendo a ética e


moral
Agora, analisaremos alguns casos práticos que envolvem tanto a
ética quanto a moral. Considerando o que já estudamos acerca da moral,
podemos citar algumas situações que eram aceitas pela sociedade
antigamente e que hoje são inaceitáveis, eticamente e moralmente
falando.

Podemos citar como exemplo a escravidão existente no período


do Brasil Colônia e Brasil Império, conforme demonstra a Figura 7 abaixo
destacada. Naquele período, a escravidão existia e fazia parte do dia a
dia daquela sociedade. Contudo, atualmente, é uma situação inaceitável,
tanto sob a ótica da ética quanto da moral, além de ir contra os direitos
humanos.

Direitos trabalhistas inexistentes, como ocorria no início da Revolução


Industrial, e punições e torturas que ocorreram durante a ditadura militar
também são exemplos de situações que, em determinado período, já
foram aceitas, mas são inaceitáveis ética e moralmente falando.
Ética e Direito Imobiliário 35

Figura 7 – Representação da escravidão antigamente

Fonte: Freepik

Além das situações que hoje não mais aceitas nem pela ótica da
ética, tampouco pela moral, há comportamentos de nosso cotidiano que
são exemplos éticos e morais do que pode ser considerado certo ou
errado e são, diariamente, colocados em prática.

Dizer sempre a verdade é um comportamento moral correto,


considerando que uma das bases da moralidade é justamente a
honestidade, utilizando-se da verdade sempre. Mas, se pararmos para
refletir, nem todas as situações dizer a verdade será a escolha mais
acertada a se fazer.

Vamos explicar melhor. Se um sequestrador perguntar a você


onde a sua família está, porque pretende sequestrá-los para praticar
algum roubo, por exemplo, a coisa mais correta a se fazer é não dar essa
informação, não dizendo a verdade sobre o paradeiro da sua família, ainda
que saiba onde sua família se encontra. Ou seja, nessa situação, você
deixou de dizer a verdade, mas não agiu imoralmente, pelo contrário, agiu
de maneira correta.

Outro comportamento que, na prática, envolvem comportamentos


moralmente e eticamente corretos são os de não trapacear, sendo honesto
com as pessoas que convivem conosco, buscando evitar enganar outras
pessoas e, assim, evitar um comportamento que seja imoral. Ajudar quem
precisa, considerando que a moral está mais relacionada aos valores e
36 Ética e Direito Imobiliário

convicções individuais, e perceber que alguém precisa de ajuda irá fazer


com que você reflita sobre essa situação e decida ou não ajudar, conforme
as suas crenças e os seus costumes morais.

Não furar fila, não maltratar os animais, não jogar lixo na rua e
não prejudicar nenhum colega de trabalho também são exemplos de
situações que podemos colocar em prática, com comportamentos que
sejam corretos sob a ótica da ética e da moral. Portanto, é necessário
que a nossa vivência em sociedade tenha como base valores morais
e, sobretudo, princípios éticos que possam nortear e guiar as nossas
condutas, garantindo um bem-estar social.

RESUMINDO:

E então? Aprendeu direitinho o que se entende por moral


e o porquê de ela não poder ser confundida com a ética?
O estudo da moral nos permitiu compreender quais as
suas características, bem como as principais diferenças
em relação à ética, considerando a confusão que costuma
ocorrer entre esses dois termos. Ainda, foi possível observar
a relação existente entre a ética e a moral e de que maneira
elas estão presentes no nosso dia a dia, com a análise de
alguns casos práticos de comportamentos em sociedade.
São situações rotineiras que comprovam a importância do
estudo acerca da ética e da moral. Espero que tenha sido
possível assimilar todas as informações e entender um
pouquinho sobre esse tema. Preparado para aprender um
pouco mais sobre a ética profissional? Vamos juntos!
Ética e Direito Imobiliário 37

A ética profissional
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de analisar a


ética profissional, de maneira que seja possível aplicar tudo
que estudamos até agora sobre ética às várias situações
e conflitos no mundo do trabalho. Assim, analisaremos
alguns conceitos e definições do que se entende por ética
profissional, para, posteriormente, observar de que maneira
essa ética pode ser aplicada ao âmbito médico e jurídico.
São contribuições importantes para toda e qualquer
profissão e que serão melhor delineadas durante o nosso
estudo. E então? Preparado? Vamos juntos!

Conceito e definições
Com certeza, você já ouviu falar de ética profissional e da forma
como a ética é um ponto positivo em toda e qualquer profissão. Desse
modo, analisaremos agora o que se entende por ética profissional e qual
o papel que desempenha em todas as profissões de maneira geral.

A ética profissional é responsável por fazer com que todos os


profissionais, independentemente da profissão que desempenham,
adequem-se a normas de conduta de uma determinada empresa, de
maneira que estejam de acordo com condutas que são valorizadas
pela empresa, agregando, assim, valor a essa empresa. Assim, a ética
profissional vai se valer justamente de um conjunto de valores e normas
de comportamento e relacionamento que serão adotadas no ambiente
de trabalho e, como dito anteriormente, que valem para todo e qualquer
exercício profissional. Isso porque, quando falamos de ser ético e ter ética
profissional, não podemos apenas falar que um professor deve ser ético
ou que um dentista precisa ser. Em todas as profissões, os profissionais
precisam agir eticamente e, portanto, de maneira correta.

Ou seja, a ética profissional não cabe apenas a algumas profissões


em específico, mas a todas elas, considerando que é essencial que todos
38 Ética e Direito Imobiliário

os profissionais ajam com ética, construindo relações harmônicas entre


colegas, chefes, subordinados, entre outros.

Ter ética profissional não apenas cria um ambiente adequado de


trabalho, mas também cria uma imagem positiva da instituição/empresa
perante o seu público, clientes e sociedade em geral, já que, atualmente,
cada vez mais são valorizadas empresas que priorizem profissionais éticos
e, sobretudo, instituições que se comprometam com normas e condutas
éticas para com os seus profissionais e clientes, garantindo, assim, um
nível maior de confiança.

Tem sido cada vez mais comum que grandes líderes de empresas
e instituições defendam que, para o bom funcionamento de qualquer
empresa que se preze, é necessário um ambiente de trabalho adequado,
harmonioso, equilibrado, pautado em relações amigáveis e respeitosas,
contribuindo para o bem-estar entre os colegas, conforme evidencia a
Figura 8 abaixo destacada e, sobretudo, refletindo no desenvolvimento
da empresa.
Figura 8 – Representação de uma boa relação entre colegas de trabalho

Fonte: Freepik

Ora, é inegável que, quando há um bom ambiente de trabalho, no


qual todos os funcionários agem com ética profissional e de acordo com
as normas e condutas estipuladas pelas empresas, esse bom ambiente
Ética e Direito Imobiliário 39

propiciará um maior rendimento desses funcionários, considerando que


o ambiente impacta diretamente o bom funcionamento ou não de uma
empresa.

Quando é um ambiente hostil, no qual não há respeito entre os


funcionários, há um clima de competitividade maior que o normal, não há
respeito entre os colegas, entre outras situações que não condizem com
a ética profissional, dificilmente um profissional se sentirá motivado para
continuar trabalhando de maneira produtiva e, até mesmo, motivado a
querer continuar nessa empresa.

Assim, da mesma forma que um bom ambiente de trabalho reflete


de maneira positiva perante os clientes e sociedade, por exemplo, um
ambiente em desacordo com a ética profissional também irá refletir, só
que de maneira negativa perante os clientes e a sociedade.

Inclusive, convém destacar que um agir com ética profissional não


é bom apenas para as empresas e instituições de uma maneira geral. Mas
quando um profissional decide agir com ética profissional, de acordo com
as normas e condutas estipuladas por uma empresa, ele se destacará
tanto no seu ambiente de trabalho quanto também fora dele.

Um profissional que respeita os limites da sua função, que respeita


seus colegas de trabalho, zela pelos instrumentos utilizados bem como
zela pela organização, não apenas contribui para um bom rendimento seu
e de sua equipe, mas também se destaca no mundo profissional como
um todo, sendo uma mais valia.

Podemos citar alguns exemplos de práticas que auxiliam no


processo de comprometimento com a ética profissional e que, inclusive, já
foram anteriormente citadas aqui durante o nosso estudo. Assim, agir com
honestidade, falando sempre a verdade entre seus colegas e para seus
superiores, sabendo ser discreto e agir com cautela com informações
que lhe são transmitidas, cumprindo sua função com comprometimento,
sem prejudicar outras pessoas, agindo com prudência e humildade,
reconhecendo seus limites e buscando sempre melhorar são alguns dos
exemplos de comportamentos que auxiliam no processo de agir com
ética profissional.
40 Ética e Direito Imobiliário

Os comportamentos acima referidos são atitudes aceitas pelo


senso comum, considerando que toda e qualquer pessoa deve agir dessa
maneira, de acordo com a sociedade em que vivemos e a necessidade de
buscarmos sempre viver da maneira mais harmoniosa possível dentro da
sociedade. Contudo, além disso, existem alguns códigos de conduta ética
organizacional nos quais determinadas empresas criam suas próprias
regras para garantir o seu bom funcionamento.

Essas regras precisam estar de acordo com as regras gerais do


senso comum. O que ocorre é que, dependendo da empresa e do seu
tipo de funcionamento, são necessárias algumas regras específicas para
padronizar os procedimentos de trabalho, de maneira a respeitar os
valores desta empresa e tratar seus funcionários de maneira ainda mais
igualitária.

Ainda, há algumas profissões que dispõem de Conselhos de


Representação que possuem Códigos de Ética específicos para referida
profissão, a exemplo do Conselho Federal de Medicina e do Código
de Ética da Ordem dos Advogados, que analisaremos de maneira mais
detalhada a partir de agora.

Ética médica
Agora, veremos de maneira mais específica um pouco mais sobre
a ética médica, buscando compreender qual o papel desse conjunto
de normas para a profissão. Assim, é preciso esclarecer que a ética na
medicina deverá ser aplicada a todos os profissionais da área médica,
sendo um conjunto de normas que têm como base valores da sociedade
e valores morais, mas que também tratam de maneira um pouco mais
específica de situações que ocorrem no cotidiano dos profissionais da
área médica.

Convém destacar que, como já debatido anteriormente, a moral


acompanha os costumes e hábitos de determinada sociedade, tendo
a ética também como base esses princípios morais. Portanto, como os
hábitos e costumes de determinada sociedade mudam com o passar
do tempo, os valores também vão se alterando, motivo pelo qual a ética
Ética e Direito Imobiliário 41

médica obedece a regras que são constantemente revisadas, para que


possam estar de acordo com as necessidades da sociedade.

Nesse contexto, a ética médica pode ser analisada sob a ótica da


relação entre o médico e o paciente, entre os próprios médicos e entre
o médico e a sociedade. Assim, o Código de Ética Médica regerá as três
relações acima apresentadas, orientando as condutas que sejam mais
adequadas a depender das situações no caso concreto, como na doação
de órgãos, por exemplo.

SAIBA MAIS:

A ética médica não é um tema atual apenas, já que, desde


a Grécia antiga, era tema entre os médicos ocidentais.
Inclusive, o juramento de Hipócrates, um dos textos
mais famosos daquele período entre os médicos, trazia
o seguinte: “Aplicarei os regimes para o bem do doente
segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar
dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer,
nem remédio mortal nem um conselho que induza à perda”
(JURAMENTO, 2021, on-line). Por esse trecho, podemos
observar que havia o comprometimento em, como médico,
agir com honestidade, caridade e cuidado para com o
paciente. Nesse período, não havia necessariamente
um código formal que tratasse da ética médica, mas tão
somente comportamentos sociais que consideravam a
honra e a palavra do médico, sem que fossem necessárias
regras escritas a serem adotadas. Contudo, em 1803, essas
regras e condutas foram finalmente organizadas no Código
de Ética Médica, feito pelo médico, filósofo e escritor inglês
Thomas Percival (NEVES, 2009).

No Brasil, o primeiro documento que veio disciplinar a ética médica


foi publicado em 1988. de acordo com o Conselho Federal de Medicina, o
documento disciplinava o seguinte:
A primeira versão do Código de Ética Médica foi publicada,
de fato, em 1988. Porém, antes disso, houve sete versões
reconhecidas oficialmente pela classe médica. Desde a
primeira formulação (Código de Moral Médica, 1929) até
sua última versão (Código de Ética Médica, 2009/2010), o
42 Ética e Direito Imobiliário

conteúdo do documento evoluiu continuamente, e suas


contribuições foram fundamentais para estabelecer o
atual escopo ético da profissão. (CÓDIGO, 2021, on-line)

Nesse contexto, o atual Código de Ética Médica estipula regras


e condutas que precisam ser seguidas por todos os profissionais que
atuam na área, considerando a importância da profissão médica, que lida
com vidas e com a saúde humana. Assim, é necessário que os médicos
coloquem os interesses do paciente acima de qualquer outro, pois a vida
é o bem mais importante. Alguns dos incisos do preâmbulo do Código de
Ética Médica dispõem o seguinte:
PREÂMBULO

I - O presente Código de Ética Médica contém as normas


que

devem ser seguidas pelos médicos no exercício de sua


profissão, inclusive nas atividades relativas a ensino,
pesquisa e administração de serviços de saúde, bem
como em quaisquer outras que utilizem o conhecimento
advindo do estudo da medicina.

II - As organizações de prestação de serviços médicos


estão

sujeitas às normas deste Código.

III - Para o exercício da medicina, impõe-se a inscrição


no Conselho Regional do respectivo estado, território ou
Distrito

Federal. (CFM, 2018, on-line)

Uma questão muito interesse que acaba envolvendo a ética médica


e o fato de colocar os interesses do paciente acima de qualquer outro diz
respeito às transfusões de sangue das pessoas que professam a religião
Testemunhas de Jeová. Essas pessoas não aceitam o procedimento de
transfusão de sangue, pois a religião considera que tal procedimento as
torna impuras e indignas do reino de Deus.

Contudo, o que está em causa é a vida do paciente, que, muitas


vezes, necessita da transfusão para sobreviver. Coloca-se em causa a
conduta do médico em priorizar a vida do paciente ou respeitar a vontade
dele quando não aceita realizar a transfusão.
Ética e Direito Imobiliário 43

SAIBA MAIS:

Para saber mais sobre o tema, há um texto disponível no


site Migalhas desenvolvido por Eudes Quintino de Oliveira,
intitulado “Testemunhas de Jeová e a transfusão de sangue”,
que trata exatamente dessa opção religiosa, a conduta do
médico e os direitos envolvidos. Caso queira se aprofundar
no assunto, acesso o texto na íntegra, Clique aqui.

Assim, não resta dúvidas de que o Código de Ética Médica tem


papel fundamental para os profissionais da área, visto que o referido
código proporciona maior segurança tanto para os profissionais quanto
para os pacientes, considerando que há regras específicas para serem
observadas nas relações médico paciente, entre médicos, e médico e
sociedade.

Por esse motivo, a observância ao Código de Ética Médica não é


uma opção, sendo uma obrigação por parte dos profissionais, no intuito
de garantir uma maior humanização no atendimento e clareza para com
seus pacientes de todos os procedimentos que são realizados.

Trataremos agora da ética jurídica, tão importante quanto a ética


médica. É importante ressaltar que estamos apenas apontando alguns
códigos de ética específicos de determinadas profissões, mas não
se esgotam nas aqui apresentadas, existindo muitas outras que são
igualmente importantes. Estamos tomando como exemplo apenas duas
para clarear um pouco mais o nosso estudo sobre a importância da ética
na prática em situações profissionais.

Ética jurídica
Por fim, e não menos importante, temos a ética jurídica, que se
apresenta por meio do Código de Ética preconizado pela Ordem dos
Advogados (OAB). Esse texto normativo tem como função disciplinar a
atividade jurisdicional, para que os profissionais da área jurídica atuem
em conformidade com a ética e a moral, fundamentados por princípios
norteadores da atividade jurisdicional.
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O Código de Ética do Advogado preza não somente pelo respeito


entre os colegas de profissão, mas também estabelece deveres dos
advogados que precisam ser observados durante a atividade jurisdicional.
Vejamos o que dispõem alguns dos artigos desse Código de Ética:
TÍTULO I

DA ÉTICA DO ADVOGADO

CAPÍTULO I

DAS REGRAS DEONTOLÓGICAS FUNDAMENTAIS

Art. 1º O exercício da advocacia exige conduta compatível


com os preceitos deste Código, do Estatuto, do
Regulamento Geral, dos Provimentos e com os demais
princípios da moral individual, social e profissional.

Art. 2º O advogado, indispensável à administração da


Justiça, é defensor do Estado democrático de direito, da
cidadania, da moralidade pública, da Justiça e da paz
social, subordinando a atividade do seu Ministério Privado
à elevada função pública que exerce.

Parágrafo único. São deveres do advogado:

I – preservar, em sua conduta, a honra, a nobreza e a


dignidade da profissão, zelando pelo seu caráter de
essencialidade e indispensabilidade;

II – atuar com destemor, independência, honestidade,


decoro, veracidade, lealdade, dignidade e boa-fé;

III – velar por sua reputação pessoal e profissional;

IV – empenhar-se, permanentemente, em seu


aperfeiçoamento pessoal e profissional;

V – contribuir para o aprimoramento das instituições, do


Direito e das leis;

VI – estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo,


sempre que possível, a

instauração de litígios;

VII – aconselhar o cliente a não ingressar em aventura


judicial; [...] (OAB, 2015, on-line)
Ética e Direito Imobiliário 45

Essas são apenas algumas das disposições presentes no Código


de Ética do Advogado, de maneira que as regras ali estabelecidas sejam
rigorosamente observadas por todos os advogados, servindo de base
para o exercício da profissão de advogado e, assim, assegurando o
respeito para com os profissionais de toda a classe.

Ora, os advogados estão constantemente lutando pelos direitos de


seus clientes e, assim, buscando que a justiça seja feita. É inegável que o
agir com ética se torna ainda mais necessário, considerando que somente
com a ética conseguiremos viver em harmonia na sociedade, respeitando
nossos colegas, clientes e, sobretudo, a sociedade como um todo.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Só para termos certeza de que você realmente
entendeu, vamos recapitular algumas coisas. Você deve
ter aprendido que a ética profissional é extremamente
importante para toda e qualquer profissão, considerando
que em todas as profissões há regras de senso comum
que precisam ser observadas. Afinal, para que as relações
profissionais estabelecidas não gerem problemas, mas, ao
contrário, sejam harmoniosas, é necessário um agir com
ética. Além disso, aprendemos um pouco sobre a existência
de alguns códigos de ética específicos, com regras e
condutas voltadas a determinadas profissões, norteando e
guiando a maneira como os profissionais da área precisam
seguir. Vimos o exemplo de apenas duas profissões, a saber:
a ética médica e a ética jurídica. Analisamos alguns artigos
dos referidos códigos, como forma de pincelar do que se
tratam, reforçando a importância desses. E aí? Gostou de
tudo que viu? Espero que você tenha conseguido absorver
tudo. Vamos continuar aprendendo um pouquinho mais
sobre o tema. Conto com você!
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REFERÊNCIAS
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ARISTÓTELES. Ética à nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

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do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível
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2.217, de 27 de setembro de 2018. Aprova o Código de Ética Médica.
Brasília, DF: CFM, 2018. Disponível em: https://bit.ly/3iIpxvU. Acesso em:
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