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Noções de Direito

Unidade 2
Direito Constitucional e
a Organização do Estado
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
CAMILA COELHO MOREIRA
AUTORIA
Camila Coelho Moreira
Sou formada, pós-graduada e mestre em Direito, com experiência
técnico-profissional na área. Atualmente sou diretora da área de
contencioso civil de um escritório de advocacia no qual eu sou sócia na
cidade de Vitória/ES. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir
minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões.
Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase
de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Noções de Direito Civil ..............................................................................10

Conceito de Direito Civil..............................................................................................................10

Personalidade e capacidade civil........................................................................................ 12

Dos fatos e atos jurídicos........................................................................................................... 16

Bens e obrigações .......................................................................................19

Bens........................................................................................................................................................... 19

Bens quanto a si mesmos...................................................................................... 19

Bens reciprocamente considerados............................................................... 22

Bens em relação às pessoas................................................................................24

Bens em relação a sua comercialidade.......................................................25

Obrigações ..........................................................................................................................................26

Contratos e direitos das coisas...............................................................34

Contratos................................................................................................................................................34

Direito das coisas ......................................................................................................................... 40

Direito de família e direito das sucessões.........................................43

Direito de família...............................................................................................................................43

Direito das sucessões.................................................................................................................. 46


Noções de Direito 7

03
UNIDADE
8 Noções de Direito

INTRODUÇÃO
O Direito Civil é um ramo do Direito Privado Interno que cuida das
relações particulares das pessoas. Grande parte das normas civis do
direito brasileiro encontram-se previstas no Código Civil e ao longo dessa
unidade trabalharemos algumas delas. Iniciaremos tratando os direitos
da personalidade, a capacidade civil e os atos e negócios jurídicos.
Posteriormente vamos conhecer o significado de bens e em que consiste
o direito das obrigações. Uma vez que você aprendeu sobre bens e
obrigações, será o momento de aprender sobre o direito contratual e o
direito das coisas, importantes áreas do direito civil e por fim trataremos do
direito de família e do direito das sucessões. Perceba que nessa unidade,
em termos civis, abordaremos desde o nascimento do indivíduo até a
sua morte, passando por todos os acontecimentos civis, tentando trazer
para você os principais conceitos e definições para aplicação na sua vida
profissional e pessoal. Animado para mais essa jornada? Ao longo desta
unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
Noções de Direito 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no
desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término
desta etapa de estudos:

1. Reconhecer algumas noções introdutórias de Direito Civil.

2. Identificar em que consistem os bens e as obrigações na legislação


civil brasileira.

3. Interpretar as determinações legais sobre os contratos no direito


brasileiro e o direito em relação às coisas.

4. Analisar as determinações legislativas acerca do direito das


famílias e sucessões no Brasil.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Noções de Direito

Noções de Direito Civil

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


em que consiste o Direito Civil, bem como sobre os direitos
da personalidade e sobre capacidade civil. Além disso,
estudaremos sobre atos e fatos jurídicos e o conhecimento
adquirido neste capítulo será base para seu aprendizado
nos demais. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!

Conceito de Direito Civil


O Direito Civil consiste em um ramo do direito que surgiu na Roma
Antiga, cujo objetivo à época era reger a vida dos cidadãos, abrangendo
todo o direito existente, de modo que englobava os ramos dos direitos
penal, trabalhista, administrativo e processual (DINIZ, 2016).

Esse ramo do direito passou por diversas transformações e


influências durante a Idade Média e somente na idade moderna, ganhou,
através do direito anglo-americano, designação de private law, ou seja,
direito privado.

O Direito Civil, portanto, é um ramo do direito privado que regula


as relações entre pessoas físicas ou jurídicas, podendo tais relações ser
de caráter pessoal, familiar, patrimonial ou obrigacional, disciplinadas em
grande parte no Código Civil.

O Direito Civil é aplicado a todas as pessoas e disciplina o modo


de agir e de ser, independente da condição social ou cultural de cada
um. Tal regramento estabelece normas mínimas para a convivência em
sociedade, além de assegurar os direitos e deveres aos jurisdicionados.

Atualmente encontra-se em vigor o Código Civil de 2002 (Lei


10.406/2002), que, ao contrário do Código Civil de 1916, dispositivo legal
anterior à referida lei, passou a abordar em seus artigos os preceitos
Noções de Direito 11

constitucionais adotados pela Constituição de 1988. Segundo as lições


de Miguel Reale (2013), o Código Civil rege-se por princípios próprios, que
são eles:

a. Socialidade – esse princípio considera a coletividade em


detrimento da individualidade.

b. Eticidade – por esse princípio considera-se a ética e a boa-fé


acima de qualquer negócio jurídico.

c. Operabilidade – esse princípio leva em conta a simplificação dos


processos e a efetividade das cláusulas e conceitos trazidos pelo
atual Código Civil.

O Código Civil contém atualmente 2.046 (dois mil e quarenta e


seis) artigos e divide-se em duas partes: a geral, que trata dos direitos
individuais das pessoas, seus bens, fatos, atos e negócios jurídicos e
a parte especial, que cuida dos direitos das obrigações, do direito da
empresa, direito das coisas, direito de família e direito das sucessões.
Além disso, são considerados princípios gerais do Direito Civil por alguns
autores os seguintes:

a. Personalidade – todo ser humano é sujeito a direitos e obrigações.

b. Autonomia da vontade – reconhecimento da capacidade do


indivíduo em praticar ou não certos atos.

c. Liberdade de estipulação negocial – liberdade de restrição de


direitos (dentro dos limites legais) na celebração de negócios
jurídicos.

d. Propriedade individual – o homem possui, dentro das formas


admitidas pela lei, a possibilidade de exteriorizar seus ganhos
através de bens móveis e imóveis.

e. Intangibilidade familiar – a família é uma extensão da


personalidade individual, sendo protegida pelas normas jurídicas.

f. Legitimidade da herança e direito de testar – relacionado com


o poder que as pessoas têm sobre seus bens, inclusive após sua
morte, podendo dispor deles dentro dos limites legais.
12 Noções de Direito

g. Solidariedade social – possui o condão de conciliar os interesses


individuais com os interesses da coletividade.

Nesse sentido, tais princípios, juntamente com as normas, são os


responsáveis por regular as relações e o comportamento dos indivíduos
dentro da sociedade. Trata-se do denominado pela doutrina por relação
jurídica, que consiste nesse vínculo entre as pessoas diante de uma lide.
As pessoas ocupam o espaço de sujeito ativo (quem pede) ou sujeito
passivo (quem deve prestar a obrigação), em prol do objeto da lide.

EXEMPLO:

Ana deseja requerer alimentos (pensão alimentícia) a seu pai,


Roberto. Ana será o sujeito ativo da demanda, Roberto, o sujeito
passivo e os alimentos serão o objeto da lide.

A seguir trataremos pormenorizadamente das pessoas no Código Civil.

Personalidade e capacidade civil


Antes de iniciarmos o estudo sobre personalidade e capacidade
civil, é importante que você saiba o conceito de pessoa no direito. Assim
como outras definições que já estudamos, o sentido jurídico do termo
pessoa é algo mais complexo.

Doutrinadores do direito definem pessoa como alguém ou algo


coletivo sujeito de direitos e obrigações (DINIZ, 2016). Dizer que alguém é
sujeito de direito refere-se a uma pessoa que detém um dever jurídico,
uma pretensão ou que é o titular de um direito.

No direito brasileiro, o conceito de pessoa classifica-se em física


(natural) ou jurídica. Pessoa física é o indivíduo humano, enquanto
pessoa jurídica está relacionada com um conjunto de pessoas ou de
bens criados pela lei com uma finalidade. Sempre uma pessoa física será
responsável pela pessoa jurídica.

A personalidade jurídica, por sua vez, consiste em um atributo


jurídico, que nas lições de Diniz, “liga-se à pessoa a ideia de personalidade,
que exprime a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações”
(DINIZ, 2016, p. 130).
Noções de Direito 13

Quanto ao início da personalidade jurídica da pessoa natural, existem


três teorias sobre seu marco: a teoria natalista, pela qual a personalidade
jurídica se inicia com o nascimento; a teoria concepcionista, pela qual
a personalidade jurídica se inicia desde a concepção; e a teoria da
personalidade condicionada, adotada pelo Código Civil Brasileiro, pela
qual estabeleceu o nascimento como marco inicial da personalidade
humana, mas que também resguarda os direitos do nascituro (feto) desde
a concepção, condicionando sua efetivação ao nascimento.

A personalidade jurídica tem início com o nascimento com vida,


a partir da primeira respiração. Dessa forma, o nascimento com vida de
um bebê é o marco de atribuição da personalidade, mesmo que ele
venha a óbito posteriormente. Tal previsão encontra-se prevista no artigo
2º do Código Civil e por esse motivo que os direitos do nascituro estão
resguardados pela lei civil brasileira.

Já o marco final da personalidade jurídica da pessoa física é a morte


real, por meio do óbito ou presumida (declarada por um juiz, ocorre nos
casos previstos na lei em que a pessoa se encontra desaparecida e que
existem justos motivos para declarar seu óbito). Quanto à pessoa jurídica,
seu marco final pode se dar pela dissolução proveniente da vontade
dos sócios ou por morte ou incapacidade de sócio ou pela falência da
empresa.

Os direitos oriundos da personalidade, em regra, possuem as


seguintes garantias:

a. Erga omnes – oponíveis a todos, ou seja, valem perante toda a


sociedade.

b. Indisponíveis – não podem ser renunciados ou transferidos à


terceiros.

c. Vitalícios – são para a vida toda, enquanto o sujeito existir.

d. Intransmissíveis – não são passados de pais para filhos ou podem


ser vendidos.

e. Essenciais – fazem parte da essência do ser humano.


14 Noções de Direito

VOCÊ SABIA?

Um exemplo de exceção ao direito da personalidade, por


ser disponível, é o direito autoral, previsto na Lei 5.988/73.

A personalidade jurídica possui atributos, sendo eles o nome,


domicílio, estado civil e a capacidade e suas definições possibilitam
distinguir um indivíduo dos demais, de modo que cada particularidade o
torna único perante a coletividade.

O nome consiste em um meio de individualização da personalidade


jurídica. O nome é formado pelo prenome, nome (sobrenome) e, em
alguns casos, o agnome (Júnior, Neto, Sobrinho). Tanto a pessoa natural
quanto a pessoa jurídica possuem esse atributo da personalidade.

Quanto ao domicílio, este consiste no local em que a pessoa


estabelece sua residência fixa, sua morada com fim definitivo. O Código
Civil também considera como domicílio o local onde a pessoa exerce
sua profissão (art. 72). O título III do Código Civil é todo destinado a
especificidades ligadas ao domicílio. As pessoas jurídicas também
estabelecem domicílio, que é o local em que exercem suas atividades.

O estado civil, também denominado de estado familiar, consiste


na situação civil do indivíduo, podendo ser solteiro, casado, divorciado. O
estado civil, via de regra, é provado por meio de registros públicos.

Quanto à capacidade, essa merece uma atenção especial. A


capacidade civil, como conceito, consiste na aptidão da pessoa para
exercer direitos e assumir deveres no âmbito civil. O artigo 1º do Código
Civil considera que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem
civil, cabendo prova ao contrário.

A capacidade civil, portanto, é formada pela capacidade de direito


e capacidade de fato. A capacidade de direito é a comum a todos,
inerente à personalidade, relacionada com a personalidade jurídica. Já
a capacidade de fato está relacionada com a capacidade individual de
Noções de Direito 15

cada um para exercer os direitos e deveres na vida civil. Tal diferenciação


é necessária ao tratarmos da incapacidade.

Os incapazes encontram-se tipificados pelo artigo 3 e 4 do Código


Civil e foram alterados pela Lei n° 13.146, de julho de 2015, que instituiu o
Estatuto da Pessoa com Deficiência e conferiu uma nova roupagem sobre
as incapacidades no Direito Civil brasileiro. Os incapazes se classificam em
absolutamente incapazes e relativamente incapazes.

Os absolutamente incapazes, após a alteração trazida pela Lei


13.146/2015, são somente os menores de 16 (dezesseis) anos e todos os
atos civis praticados pelos absolutamente incapazes são absolutamente
nulos (art. 166, I do Código Civil).

Quanto aos relativamente incapazes, passaram a ser entendidos


como pessoas que precisam ser assistidas, auxiliadas na prática de atos
da vida civil. São relativamente incapazes os maiores de dezesseis e
menores de dezoito anos, os ébrios habituais e os viciados em tóxico,
aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir
sua vontade e os pródigos (art. 4º do Código Civil).

Os atos praticados pelos relativamente incapazes são anuláveis,


de modo que dependem de uma decisão judicial que analise cada caso
concreto, para que não haja prejuízo entre as partes. O interessado deve
propor a ação de anulação do ato jurídico no prazo de 4 (quatro) anos.

VOCÊ SABIA?

Antes da entrada em vigor da lei 13.146/2015, os indígenas


eram considerados incapazes, dependendo da FUNAI
a validação de seus atos. Com a entrada em vigor do
dispositivo legal, os indígenas integrados à comunhão
nacional passaram a poder exercer os atos civis livremente
e somente os indígenas que não estiverem integrados
passaram a ser assistidos pela FUNAI.

A seguir, trataremos mais detalhadamente dos fatos e atos jurídicos,


vamos nessa?
16 Noções de Direito

Dos fatos e atos jurídicos


Agora que você já conheceu quem é o sujeito de direito e quais
são suas características, é importante que você saiba em que consiste
o fato jurídico. Entende-se por fato jurídico o elemento que dá origem
aos direitos subjetivos, ou seja, a origem da relação jurídica, concretizada
na norma jurídica (DINIZ, 2016). Em suma, é fato jurídico todo evento que
produz efeitos jurídicos.

Os fatos jurídicos classificam-se em naturais ou humanos. Os fatos


jurídicos naturais são aqueles que ocorrem sem que haja interferência
da vontade humana, como o nascimento, a morte, a maioridade ou
até mesmo um alagamento, desabamento, incêndio. Note que tais
acontecimentos têm consequência jurídica, tornando alguém sujeito a
direitos e obrigações.

Por conseguinte, os fatos jurídicos humanos são aqueles cujo


acontecimento está diretamente ligado à vontade humana, podendo ser
voluntários ou involuntários. Voluntários são atos em que há a vontade do
agente e involuntários são aqueles sem a vontade do agente.

Nesse sentido, temos os atos ilícitos, que segundo a definição do


Código Civil, consiste em “ação ou omissão voluntária, culposa ou não,
conforme a espécie, praticada por pessoa imputável que, implicando
infração de dever absoluto ou relativo, viole direito ou cause prejuízo a
outrem” (BRASIL, 2002).

Por conseguinte, o ato jurídico consiste em um fato jurídico


decorrente de ação lícita ou ilícita, ou omissão humana. Note que o ato
jurídico é uma consequência de um fato jurídico. Um ato jurídico, para ser
considerado válido, precisa reunir os seguintes elementos: ser praticado
por pessoa capaz, o objeto do ato jurídico precisa ser lícito e a forma deve
ser prevista em lei (ou não proibida por lei). Estando presentes todos esses
requisitos, temos o que a doutrina chama de ato jurídico perfeito.

O ato jurídico que não é perfeito é denominado ato ilícito, que são
aqueles praticados em desconformidade com a lei. Esses atos que são
vedados pela lei violam a boa-fé e são fontes de obrigação para quem os
Noções de Direito 17

pratica, considerando o prejuízo que possa ser causado e a necessidade


de repará-lo. São excludentes de atos ilícitos os praticados em legítima
defesa, no exercício regular do direito ou em estado de necessidade. Os
atos ilícitos podem ter efeitos tanto na esfera civil quanto na esfera penal.

IMPORTANTE:

A legítima defesa, conforme definição do Código Penal,


entende-se por quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a
direito seu ou de outrem. Já o exercício regular do direito
é aplicável àqueles indivíduos que, geralmente em razão
de sua profissão, possuem o dever de proteger (policiais,
bombeiros) e age em estado de necessidade aquele que
pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou
por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito
próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era
razoável exigir-se.

Como estão as coisas até aqui? Animado sobre esse tema? A


seguir, continuaremos desbravando o Código Civil e seus artigos. Siga
aqui comigo!

SAIBA MAIS:

A Lei 13.146/2015, conforme já conversamos, trouxe


importantes alterações legislativas para as pessoas com
deficiência. O artigo a seguir traz mais detalhes sobre esse
importante tema, cuja leitura é imprescindível pra seu
aprendizado.
PEREIRA, R.C. Lei 13.146 acrescenta novo conceito para
capacidade civil. Disponível aqui.
18 Noções de Direito

RESUMINDO:

E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos


certeza de que você realmente entendeu o tema de
estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.
Você iniciou esse capítulo aprendendo sobre o conceito
de Direito Civil e a sua história desde o seu surgimento até
sua materialização no Código Civil de 2002. Além disso,
você foi apresentado aos princípios do Direito Civil, bem
como você pode aprender sobre a personalidade jurídica,
seus conceitos e que se tratam de direitos erga omnes,
indisponíveis, vitalícios, intransmissíveis e essenciais. Ainda
neste capítulo, você pode conhecer a figura do incapaz no
direito, aprendeu sobre a diferença entre o relativamente
incapaz e o absolutamente incapaz, bem como foi
apresentado à recente alteração legislativa sobre o tema
trazida através da Lei 13.146/2015. Por fim, nesse capítulo
você foi apresentado às diferenças entre atos e fatos
jurídicos, suas classificações e aprendemos sobre o que
consiste um ato ilícito.
Noções de Direito 19

Bens e obrigações

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


como a legislação civil brasileira regula a relação de
propriedade de um bem de determinada pessoa, bem como
terá a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos
sobre o direito obrigacional. Isto será fundamental para
o exercício de sua profissão, afinal, certamente sua
atividade profissional estará relacionada com algum direito
obrigacional. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!

Bens
Bem consiste em tudo aquilo que possui um valor para alguém.
Todo bem é individualizável, economicamente valorável e representa um
interesse de ordem econômica (DINIZ, 2016).

O legislador civilista estipulou quatro critérios para classificar os


bens no Código Civil, levando em conta suas características peculiares,
de modo que um bem pode enquadrar-se em mais de uma categoria, a
depender das suas características. De modo geral, eles são classificados
por si mesmos (arts. 79 a 91), em relação aos outros (arts. 92 a 97) e em
relação com o titular do domínio (98 a 103). A seguir, analisaremos cada
uma delas.

Bens quanto a si mesmos


A primeira distinção dos bens quanto a si mesmos é em móveis e
imóveis. Bens móveis são aqueles que podem removidos, transportados,
deslocados, sem que haja qualquer alteração em sua estrutura ou forma.
20 Noções de Direito

Figura 1 – O automóvel é um exemplo de bem fungível

Fonte: Pixabay

Já os bens imóveis são aqueles que o seu transporte ou


deslocamento acarreta em alteração significativa da sua composição.
Figura 2 – Bens imóveis

Fonte: Pixabay

Outra distinção que se faz no que diz respeito aos bens quanto a si
mesmos é por serem fungíveis ou infungíveis. Bens infungíveis são bens
únicos, que não podem ser substituídos, enquanto bens fungíveis são
aqueles que podem ser trocados.

EXEMPLO:

É um exemplo de bem infungível uma obra de arte exclusiva ou


até mesmo um produto comum que possua uma história para seu
proprietário, como uma joia de família ou um carro deixado por
algum parente para outro.
Noções de Direito 21

Figura 3 – A Monalisa é um exemplo de bem infungível

Fonte: Pixabay

A terceira distinção que se faz é entre os bens consumíveis e


inconsumíveis. Consumíveis são aqueles que permitem somente uma
utilização e perdem o seu conteúdo a partir do seu uso, enquanto os não
consumíveis consistem nos bens que podem ser utilizados por mais de
uma vez sem que sua integridade esteja ameaçada.

A última distinção é relacionada aos bens singulares e coletivos.


Singulares são os bens individualizados, cuja existência se dá por si
mesmo, enquanto os bens coletivos são aqueles que são considerados
em seu conjunto, em sua universalidade.

EXEMPLO:

O exemplo de um bem coletivo de alguém é uma biblioteca, que só


existe por meio da coletividade de livros que a integra.
22 Noções de Direito

Figura 4 – Bem coletivo – Biblioteca

Fonte: Pixabay

Bens reciprocamente considerados


A primeira distinção que se faz quanto a essa categoria de bens é
em relação aos bens principais e bens acessórios. Principais são os bens
que existem independentemente da existência de outros bens. Já os
bens acessórios são aqueles que, para existirem, dependem de um bem
principal. Os bens acessórios dividem-se em três classificações: frutos,
produtos e benfeitorias.
Figura 5 – O solo é um exemplo de bem principal a plantação de bem acessório

Fonte: Pixabay
Noções de Direito 23

Os frutos, por sua vez, consistem em utilidades produzidas pelo


bem principal que não afetam sua existência, ou seja, que podem sem
retirados ou excluídos sem prejuízo do bem principal. São exemplos de
frutos uma colheita, por exemplo, ou até mesmo o aluguel de um imóvel.

Outra espécie de bens reciprocamente considerados são os


produtos, que consistem em utilidades produzidas pelo bem principal,
mas que lhe diminuem a quantidade. São exemplos de produtos o ouro
ou pedras preciosas extraídas de determinado solo.

IMPORTANTE:

Os produtos distinguem-se dos frutos, porque a colheita


não diminui o valor e nem a substância da fonte, enquanto
os produtos sim.

As benfeitorias são melhorias realizadas no bem principal e


diferenciam-se por ser necessárias, aquelas intrínsecas à conservação
da coisa, úteis que são aquelas que otimizam a utilização da coisa ou
voluptuárias, que são melhorias supérfluas, para mero embelezamento.

EXEMPLO:

São exemplos de fruto uma safra de café ou de laranja; são exemplos


de produto a extração de carvão mineral ou granito; é um exemplo
de benfeitoria necessária a construção de uma estrutura de uma
casa que tenha desabado; de benfeitoria útil a construção de uma
rampa de acesso para um cadeirante e de benfeitoria voluptuosa a
instalação de uma piscina em um imóvel.
24 Noções de Direito

Figura 6 – As melhorias com fins estéticos, como a instalação de piscina ou decoração são
consideradas voluptuárias

Fonte: Pixabay

Bens em relação às pessoas


Quanto às pessoas, os bens distinguem-se em particulares,
públicos ou res nullis. Os bens particulares são aqueles que pertencem a
uma pessoa jurídica de direito privado ou a uma pessoa física. Já os bens
públicos são aqueles que pertencem a uma pessoa jurídica de direito
público interno, de modo que são bens de propriedade do povo.

Os bens públicos dividem-se em bens de uso comum do povo,


sendo aqueles que podem ser utilizados livremente pela coletividade,
como rios, praias, lagos; bens de uso especial, que são aqueles que são
destinados à atividade pública, como hospitais públicos e ministérios e os
bens dominicais, entendidos por aqueles que fazem parte do patrimônio
da administração pública.

Há ainda uma terceira divisão, a res nullis, que, em tradução livre


do latim, são as coisas sem dono, como os peixes do oceano e pássaros
do céu.
Noções de Direito 25

Figura 7 – Os animais da natureza são um exemplo de res nullis

Fonte: Pixabay

Bens em relação a sua comercialidade


Quanto à comercialidade, os bens dividem-se em bens de comércio
e bens fora do comércio. Bens de comércio são aqueles bens que podem
ser comercializados sem nenhum impedimento. Já os bens fora do
comércio são aqueles que que não podem ser comercializados, como o
sol, as estrelas, a lua etc.
Figura 8 – Bens incomerciáveis são aqueles que não são passíveis de negociação, como as
estrelas do céu

Fonte: Pixabay
26 Noções de Direito

Agora que você já aprendeu sobre o conceito e bens e suas


classificações, trataremos brevemente sobre o direito das obrigações!
Respira fundo e vamos nessa!

Obrigações
O Direito das Obrigações é disciplinado pelo Código Civil entre os
artigos 233 e 285 e consiste em regular o vínculo jurídico que liga o sujeito
ativo, que neste caso é o credor ao sujeito passivo, que é o devedor, com
o fim de exigir alguma obrigação existente entre eles.

O vínculo jurídico que dá origem à relação obrigacional pode ser


originário por meio da lei ou pela vontade das partes. As obrigações,
assim como os bens, classificam-se conforme algumas variantes que
iremos analisar a seguir.

O direito das obrigações difere-se dos direitos reais, pois estão


relacionados com um vínculo transitório, diferente do direito real, se
paga a dívida acaba a obrigação, por exemplo. Nesse sentido, o direito
das obrigações consiste em um direito pessoal, que só gera efeitos entre
partes, não configurando efeitos para terceiro e o direito real, ao contrário
do direito das obrigações, gera efeitos para terceiro.
Figura 9 – Direito das obrigações

Fonte: Pixabay
Noções de Direito 27

As obrigações, portanto, podem ser classificadas como relações


jurídicas estabelecidas de forma provisória pelo sujeito ativo (credor)
e pelo sujeito passivo (devedor), tendo como objeto uma prestação
econômica que pode ser positiva (obrigações de dar e de fazer) ou
negativa (obrigação de não fazer) e que uma vez inadimplida, terá como
garantia o patrimônio do próprio devedor ou por quem ele responsável,
no caso da existência da figura do fiador.

VOCÊ SABIA?

O fiador é alguém que se responsabiliza pelo pagamento


(obrigação de pagar) de uma dívida, caso a outra pessoa
não consiga cumprir com seu compromisso.

A fonte da obrigação pode ser um contrato, um acordo, um ato


ilícito ou um ato unilateral de vontade, que caracterizam o vínculo jurídico,
ou seja, o liame legal que une os sujeitos da obrigação.

A prestação econômica, doravante elemento objetivo da obrigação,


consiste no objeto da obrigação. A lei civil estabelece que o objeto da
relação obrigacional deve ser lícito, possível e economicamente apreciável
e pode constituir-se em: dar, fazer e não fazer, as quais estudaremos
detalhadamente a seguir.

A obrigação de dar ou entregar, como o próprio nome já diz,


consiste em uma obrigação entre as partes (credor e devedor) e dar ou
entregar alguma coisa. A doutrina ainda estabelece uma classificação
entre coisa certa e incerta. A obrigação de entregar coisa certa ocorre
quando o devedor se obriga a entregar algo específico e individual,
cabendo ao credor exigir o cumprimento literal da obrigação.
28 Noções de Direito

Figura 10 – Obrigação de dar ou entregar

Fonte: Pixabay

Pense na seguinte situação: Pedro se obrigou a entregar um colar


de pérolas de sua mãe falecida à sua filha quando ela completasse
dezoito anos. Note que se trata de uma obrigação bem específica, não se
limitando apenas a um colar de pérola, mas sim o colar de pérola de sua
mãe falecida.

A obrigação de dar coisa certa se extingue com o perecimento da


coisa, podendo gerar obrigação de indenizar, caso haja culpa do devedor.
A coisa pertencerá ao devedor, com seus acréscimos, até a entrega ao
devedor e se houverem frutos serão de propriedade do devedor.

Exemplificando com o exemplo de Pedro, caso o colar de pérolas


seja roubado, Pedro não precisará mais entregá-lo a sua filha, mas caso
Pedro perca o colar (tenha culpa), ele deverá indenizar sua filha com o
valor do colar, além de perdas e danos.

Já a obrigação de dar ou entregar coisa incerta, o devedor


estabelece somente o gênero e a quantidade, cabendo ao devedor
escolher a qualidade. Ainda sobre o exemplo acima, se a obrigação fosse
de somente dar um colar de pérolas, caberia a Pedro escolher em qual
loja iria comprá-lo, por exemplo.

Outro tipo de obrigação é a obrigação de fazer, que consiste


em um ato imperativo de praticar um determinado ato ou realizar um
determinado serviço. A obrigação será inadimplida quando o devedor
Noções de Direito 29

não puder fazê-la por impossibilidade ou recusa. Em caso de recusa,


caberá ao devedor indenizar o credor por perdas e danos e, em caso de
impossibilidade, a obrigação restará resolvida.
Figura 11 – Obrigação de fazer

Fonte: Pixabay

A obrigação de fazer pode ser personalíssima ou não personalíssima.


Personalíssima é a obrigação que deve ser realizada somente por
um profissional específico, devido a sua expertise ou exclusividade na
prestação do serviço. Caso a obrigação não seja personalíssima e que
o devedor originário não cumpra com sua obrigação, pode o credor
contratar outro profissional às expensas do devedor, porém, em se
tratando de obrigação personalíssima, é cabível perdas e danos.

EXEMPLO:

Renan contratou uma banda para tocar em seu aniversário e Larissa


contratou um pintor para pintar seu escritório. Note que a obrigação
de Renan é personalíssima, pois trata-se de uma banda específica.
Já em relação à Larissa, a mesma contratou um pintor que pode
ser substituído por outro, configurando, portanto, uma relação não
personalíssima.
30 Noções de Direito

Figura 12 – Obrigação personalíssima

Fonte: Pixabay

A terceira e última classificação é a obrigação de não fazer. Por ela,


obriga-se uma das partes a obrigatoriamente não praticar um ato. No caso
de inadimplemento, vigora a mesma regra: se por culpa, deverá indenizar
o credor e, mediante impossibilidade, a obrigação estará resolvida.

EXEMPLO:

André é um youtuber que recentemente foi contratado por uma


grande emissora brasileira para apresentar um show, porém no
contrato existe uma cláusula que impede André de trabalhar ou
conceder entrevistas para outras emissoras no país. Esse é um
exemplo de obrigação de não fazer e caso André descumpra a
obrigação, deverá arcar com as consequências de seu ato ilícito.

Os exemplos trazidos até o momento ilustram o que a doutrina


classifica como obrigações simples, que são aquelas que possuem o
credor, o devedor e o objeto da obrigação é uma coisa certa, como um
valor, um imóvel ou um bem móvel como um carro, uma joia.

É possível também que entre as partes haja o que se chama de


obrigação alternativa, cujo objeto da relação obrigacional pode ser uma
coisa ou outra.
Noções de Direito 31

EXEMPLO:

Paulo contraiu uma obrigação com Leonardo e tem o dever de


entregar a Julio um carro X ou o valor desse carro em dinheiro.

Outro tipo de obrigação permitida no direito brasileiro é a obrigação


cumulativa, que, conforme o próprio nome sugere, é composta por dois
ou mais objetos, como, por exemplo, dar um dinheiro e um carro.

As obrigações podem ser divisíveis ou indivisíveis. As obrigações


divisíveis são aquelas que possuem dois ou mais sujeitos em um dos
polos da relação obrigacional. O artigo 257 do Código Civil estabelece
que “havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação
divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas,
quanto os credores ou devedores”.

As obrigações indivisíveis, por sua vez, ocorrem diante de um


objeto indivisível e quando duas ou mais pessoas ocupando o mesmo
polo da relação jurídica. Imagine que Anna e Julia se obrigaram a dar
um carro a Murilo. Como Murilo não pode dividir o carro ao meio e exigir
metade de cada uma, o Código Civil permite que Murilo cobre a dívida
integralmente de uma das devedoras, cabendo a elas se resolverem
posteriormente.

Há ainda as obrigações solidárias, que ocorrem quando há mais de


um devedor ou credor e que, entre ambos, existe um vínculo. O artigo 265
do Código Civil estabelece que a solidariedade não se presume, e resulta
sim da lei ou da vontade das partes. Nesse caso, ambos são responsáveis
pelo pagamento da dívida, cabendo a eles resolverem sua situação em
processo posterior.
32 Noções de Direito

Figura 13 – Obrigação solidária é aquele assumida por duas ou mais pessoas

Fonte: Pixabay

As obrigações constituídas pelas vontades das partes são, em


grande parte, oriundas de um contrato celebrado pelo credor e devedor.
No capítulo a seguir, trataremos mais detalhadamente sobre o tema
contratos.

SAIBA MAIS:

O direito obrigacional é um ramo de suma importância para


as relações civis. A seguir, temos um artigo de extrema
relevância que envolve do direito do esquecimento, oriundo
do direito da personalidade, direito obrigacional e direito
digital. Se eu fosse você eu não perdia essa leitura! Artigo:
Direito ao esquecimento criou obrigações para veículos de
comunicação. Autor: Tadeu Rover. Disponível aqui.
Noções de Direito 33

RESUMINDO:

E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos


certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você
iniciou esse capítulo aprendendo sobre o que é um bem
para o direito brasileiro e a diferença entre bens móveis
e imóveis, bens fungíveis e infungíveis, bens consumíveis
e não consumíveis, bens singulares e coletivos, bens
principais e bens acessórios, bens particulares e públicos
e bens de comércio e bens fora do comércio. Nesse
mesmo capítulo você também teve a oportunidade de
aprender sobre o direito obrigacional, ramo do Direito Civil
que regula as relações estabelecidas por particulares.
Você pode conhecer as obrigações existentes no direito:
obrigação de dar, obrigação de fazer e obrigação de
não fazer, oportunidade em que aprendemos todas as
consequências quando elas não são cumpridas e as
possibilidades mediante o descumprimento. Vimos ainda
a diferença entre as obrigações, podendo ser simples,
alternativas, cumulativas, divisíveis, indivisíveis e as
obrigações solidárias.
34 Noções de Direito

Contratos e direitos das coisas

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


em que consiste o direito contratual e de que forma ele
interfere nas relações entre particulares, além de aprender
também sobre as coisas que são objetos desses contratos.
Isto será fundamental para o exercício de sua profissão.
E então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

Contratos
O direito contratual é um sub-ramo do Direito Civil que surgiu há
muito tempo e faz parte da história do homem até os dias atuais. Trata-
se de um ramo do Direito Civil extremamente importante na vida do
indivíduo, uma vez que faz parte das relações civis por ele vivenciadas
cotidianamente.

O fato de você ter acesso a esse material e estar participando deste


curso por si só é um exemplo de uma relação contratual, celebrada entre
você, o aluno, e a instituição de ensino. Além disso, atos rotineiros, como
andar de ônibus e comprar coisas no mercado, são elementos do direito
contratual.
Figura 14 – Contratos cotidianos

Fonte: Pixabay
Noções de Direito 35

O marco do surgimento do direito contratual surgiu no direito romano,


expressão designada às regras do Corpus Juris Civilis que era o equivalente
ao nosso Código Civil. O Corpus Juris Civilis consistia no conjunto de leis
e princípios criado pelo imperador Justiniano, considerado até hoje como
um importante instrumento do direito na história da humanidade.

Na era do Imperador Justiniano, as obrigações entre os cidadãos


romanos eram definidas como vinculum, ou seja, uma conexão entre
duas pessoas, podendo uma cobrar da outra a execução da obrigação.
Inicialmente, no direito romano, os contratos eram pré-estabelecidos,
sendo somente o contrato de venda, locação, mandato e sociedade. Com
o tempo, as relações interpessoais dos cidadãos romanos foram evoluindo
de modo que as demais relações ocorridas nessa época passaram a ser
objeto do direito contratual.

Ainda sobre a história do direito contratual na sociedade, é


importante ressaltar que até o século XV os contratos carregavam em
si a carga religiosa que era vivida na sociedade, com apego a doutrinas
religiosas e vinculação do cumprimento a obrigações divinas.

Com o evoluir da sociedade e principalmente com a laicidade


do Estado, as influencias religiosas deixaram de refletir nas relações
particulares dos indivíduos e o que une as partes é somente a autonomia
da vontade entre elas.

Sendo assim, o contrato, em termos de conceito, consiste em um


acordo celebrado entre duas ou mais pessoas capazes com o fim de
criar, extinguir, construir ou modificar uma situação jurídica de natureza
patrimonial (DINIZ, 2016).

O direito contratual encontra-se tipificado no Código Civil dos


artigos 421 a 480 e nele encontram-se normas que buscam interferir
minimamente na vontade das partes, mas sem deixar de regular tais
relações. Para tanto, devem ser respeitados os seguintes princípios:

a. Boa-fé – um dos mais importantes princípios do direito contratual,


determina que as partes devem agir sempre utilizando a lealdade
nas relações contratuais.
36 Noções de Direito

b. Autonomia da vontade – as partes possuem liberdade para


estipulares o que quiserem, dentro dos limites da lei.

c. Supremacia das normas de ordem pública – os contratos devem


respeitar as normas legais existentes no direito.

d. Relatividade dos efeitos dos contratos – em regra os contratos


fazem lei somente entre as partes.

e. Obrigatoriedade dos contratos (pacta sunt servanda) – o


contrato, se atendida todas as determinações legais, faz lei entre
as partes.

f. Revisão dos contratos (rebus sic stantibus) – essa previsão


permite que, caso haja alguma modificação da situação fática que
torne o contrato extremamente oneroso para uma das partes, ele
possa ser revisado judicialmente.

É muito comum que as pessoas associem o direito contratual


somente às relações solenes de assinatura de contratos, sem se dar conta
que atos cotidianos como comprar um pão na padaria e pegar um ônibus
também são formas de relações contratuais. Isso porque existem diversas
classificações de contratos, de acordo com vários fatores.
Figura 15 – Atos cotidianos podem ser contratos

Fonte: Pixabay
Noções de Direito 37

Quanto aos efeitos, o contrato pode ser unilateral ou bilateral.


Unilateral é o contrato que obriga somente uma das partes, enquanto
bilateral é o contrato em que ambas as partes se obrigam a alguma
coisa. Repare que sempre um contrato será bilateral em relação as partes,
devendo ter um sujeito ativo e um sujeito passivo, porém é possível que
somente uma das partes tenha que prestar alguma obrigação.

EXEMPLO:

O contrato de compra e venda é um contrato bilateral, pois uma


pessoa se obriga a pagar um valor enquanto a outra se obriga a
entregar o bem. Já um contrato de doação é um exemplo de contrato
unilateral, pois somente uma das partes se obriga a entregar o bem,
não havendo contraprestação.
Figura 16 – Contrato Bilateral

Fonte: Pixabay

Quanto ao proveito econômico, os contratos podem ser onerosos


ou gratuitos. Onerosos são os contratos em que ambas as partes
possuem vantagem e proveito econômico. Já os contratos gratuitos são
aqueles em que somente uma das partes possui proveito econômico. Via
de regra, os contratos unilaterais são gratuitos, porém o direito permite
alguns casos que os contratos unilaterais sejam onerosos, como no caso
de uma doação em que haja uma obrigação a ser prestada.
38 Noções de Direito

Figura 17 – A doação é um exemplo de contrato gratuito

Fonte: Pixabay

Quanto à natureza da obrigação, os contratos classificam-se como


comutativos ou aleatórios. Comutativos são os contratos em que possuem
prestações equivalentes, já os aleatórios são os contratos que tratam de
coisas futuras que podem inclusive não existir ou coisas arriscadas.

EXEMPLO:

Um exemplo de contrato comutativo são os de compra e venda,


troca, prestação de serviços em geral. Já os contratos aleatórios são
os de jogo de loteria, por exemplo.

Além disso, o contrato pode ser expresso ou tácito. Expresso é


o contrato em que todas as cláusulas são estipuladas entre as partes
previamente, enquanto o contrato tácito consiste no contrato em que as
partes, sem declarar suas intenções, agem de forma consonante com
determinada obrigação, de modo que dessa relação surgem direitos e
obrigações.

EXEMPLO:

Marli é tia de Paula, que teve um filho recentemente. Por conta da


chegada do novo sobrinho, Marli passou a ir todas as quartas-feiras
à casa de Paula e dar uma faxina e Paula, por gratidão, sempre
deixava um dinheiro para a tia como forma de compensar o serviço.
Noções de Direito 39

Mesmo não havendo um acordo formal entre elas, ambas possuem


um contrato tácito.

Importante destacar que o contrato tácito não se confunde com o


contrato não formal. O contrato não formal é aquele em que as partes
possuem um pacto prévio, porém não o formalizaram na forma da lei.
Já os contratos solenes são aqueles que seguem a previsão legal do
Código Civil.
Figura 18 – Contrato solene

Fonte: Pixabay

Um contrato se origina a partir da proposta e se concretiza por meio


da sua formalização. A proposta contratual possui valor entre as partes,
obrigando o proponente a cumpri-la, caso não a desfaça anteriormente.

Sobre o direito contratual e a previsão existente no Código Civil, é


importante mencionarmos os vícios redibitórios. Os vícios redibitórios
consistem em defeitos ocultos do bem objeto de negociação em um
contrato, de modo que tais defeitos tornem o bem impróprios para o uso
a que se destinam ou que lhe diminuam seu valor.

Diante de tal situação acima mencionada, o adquirente do bem


poderá redibir (desfazer) o contrato devolvendo o bem, requerer o
abatimento no preço ou ainda solicitar sua reparação.

Importante mencionarmos que a Lei 8.078/1990, que deu origem


ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC), também possui
40 Noções de Direito

determinação semelhante, porém aplicada aos casos de vícios ou defeitos


dos produtos nas relações de consumo.

Existe ainda nas relações contratuais e evicção, que ocorre quando


o objeto de determinado contrato é perdido por conta de sentença judicial
anterior. Imagine a situação de alguém que te venda um carro e dois dias
após a compra você é notificado de uma busca e apreensão do veículo.
Neste caso, você terá direito a receber o valor pago pelo bem (no caso,
o carro), além de perdas e danos, custas judiciais e todas as despesas
causadas pelo vendedor.

Via de regra, o contrato se extingue por meio do cumprimento


das obrigações que foram ajustadas, dentro dos prazos e condições
estabelecidas entre as partes. Porém, existem algumas ocasiões previstas
pelo legislador que o contrato pode ser extinto sem que as obrigações
tenham sido cumpridas, sendo elas:

a. Nulidade – se alguma cláusula contratual desrespeitar a previsão


legal, o contrato será considerado nulo.

b. Condição resolutiva – ocorre nos casos em que há previsão para


o contrato se resolver. Ocorre nos casos em que descumprimento
da obrigação por impossibilidade, por exemplo.

c. Direito de arrependimento – previsto no artigo 420 do Código


Civil, deve estar previsto expressamente nos contratos.

d. Morte de uma das partes – ocorrerá caso de uma das partes


venha a falecer e o contrato seja personalíssimo.

Direito das coisas


O Direito das coisas, também chamado de direitos reais (res latim =
coisa), é uma área do Direito Civil que regulamenta as relações jurídicas
entre o homem e os bens.

O direito das coisas distingue-se do direito contratual, pois o direito


contratual regula a relação jurídica entre as partes, entre as pessoas
envolvidas no contrato, enquanto o direito das coisas regulamenta a
relação entre as partes e os bens objeto do contrato.
Noções de Direito 41

A posse, regulamentada pelo Código Civil nos artigos 1196 a 1224,


consiste na detenção da coisa em nome próprio ou como se dono fosse. A
posse difere-se da detenção, que consiste na condição de quem detém o
bem em nome de outrem. Considera-se possuidor, portanto, aquele que
tem de fato o exercício dos direitos relacionados ao domínio da coisa. É
objeto da posse tudo que pode ser dominado.

EXEMPLO:

O dono de um imóvel que reside no imóvel é considerado


possuidor. Se esse dono resolve alugar o imóvel, o inquilino torna-
se possuidor, pois a ele são conferidos todos os direitos inerentes
à posse. Porém caso o dono deseje contratar um caseiro, este é
considerado detentor, pois ele não é o dono e nem age como dono.

O possuidor, se de boa-fé, possui direito aos frutos, à indenização


pelas benfeitorias necessárias e úteis, direito de retenção pelo pagamento
das benfeitorias e direito de retirar as benfeitorias voluptuárias. Tais
direitos não se aplicam ao possuidor de má-fé, que deverá pagar pelos
frutos colhidos, se responsabilizar pela perda da coisa e possui o direito
de ressarcimento somente das benfeitorias necessárias.

A posse se encerra quando o possuidor perde o bem (abandono,


perda, destruição), quando outra pessoa passa a se apropriar do bem
ou quando quem possui a posse passa a possuí-la em nome alheio
(constituto possessório).

A propriedade, por sua vez, consiste no direito que possui a pessoa


(física ou jurídica) de usar, gozar, dispor ou reivindicar o bem de quem
injustamente o possua. São elementos constitutivos da propriedade:

a. Direito de uso – utilização do bem da forma que convém.

b. Direito de gozo – poder de perceber os frutos naturais e civis do


bem, bem como tirar proveito econômico delas.

c. Direito de dispor – direito de vender a coisa ou transferir a posse.

d. Direito de reivindicar – poder reaver a coisa de quem o possua


injustamente.

A propriedade abrange, além do bem, o solo, tudo o que está


abaixo da superfície e dentro dos seus limites (art. 1229 CC). As jazidas,
minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica,
42 Noções de Direito

os monumentos arqueológicos e outros bens que estejam dentro da


propriedade de alguém pertencem à União (BRASIL, 2002). Além disso, o
direito de propriedade deve ser exercido de acordo com a função social
da propriedade, atendendo às suas finalidades econômicas e sociais.

A propriedade pode extinguir-se por meio da alienação do bem, de


seu abandono, por meio da perda do objeto (destruição) ou por meio da
desapropriação, que consiste na reivindicação do bem por ato unilateral
do Poder Público em prol da coletividade.

SAIBA MAIS:

Quer saber mais sobre o assunto, recomendamos o artigo


do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, que
traz explicações sobre uma ação muito importante sobre a
propriedade: a usucapião. Acesse por meio deste link.

RESUMINDO:

E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos


certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você iniciou
esse capítulo aprendendo o que é o direito contratual e sua
previsão no Código Civil. Vimos quais são os princípios do
direito contratual, como boa-fé, autonomia da vontade,
relatividade dos efeitos dos contratos, obrigatoriedade
dos contratos e a possibilidade de revisão dos contratos,
além de trabalharmos juntos em algumas classificações
dos contratos, uma vez que aprendemos que existem
várias formas das partes celebrarem contratos. Ainda neste
capítulo você pode aprender sobre os vícios redibitórios,
defeitos ocultos presentes nos objetos dos contratos e as
consequências jurídicas para as partes. Na outra metade
desse capítulo trabalhamos com os direitos reais, direitos
das coisas. Pudemos aprender sobre os conceitos de posse
e propriedade e as formas de adquiri-la. Vimos as formas
de obtenção e fim da posse e propriedade bem como os
direitos do possuidor e proprietário.
Noções de Direito 43

Direito de família e direito das sucessões

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


como funciona o sistema legislativo brasileiro que cuida do
direito de família, além de estudarmos juntos sobre temas
que dizem respeito ao direito das sucessões. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então
vamos lá. Avante!

Direito de família
O Direito de família consiste em um ramo do direito familiar que
regula as relações de convivência, organização, estrutura e proteção dos
integrantes da família. Destacaremos alguns pontos importantes no que
diz respeito a esse ramo do Direito Civil.

O início do Direito de família se dá por meio da regulamentação do


casamento, por meio dos artigos 1.511 a 1.590 do Código Civil. Ressaltamos
que o Código Civil reconhece a família independente da formalização do
casamento, mas essa foi somente uma escolha do legislador ao disciplinar
o tema.

O casamento consiste, em termos legais, na união entre homem


e mulher com o objetivo de constituir uma família e deve ser baseada
na igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges, sendo proibido a
qualquer pessoa interferir na comunhão de vida instituída pela família.

A relação entre homem e mulher sem a formalização do casamento


até 1988 era chamada de concubinato e os integrantes dessa relação não
possuíam qualquer direito, sendo considerada uma relação ilegítima.
Com a entrada em vigor da Constituição de 1988, o artigo 226 estabelece
que “a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado” e
no parágrafo terceiro do mesmo artigo, reconheceu que “para efeito da
proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
44 Noções de Direito

casamento”. Nesse sentido, a partir da entrada em vigor desse dispositivo


e com a redação do Código Civil de 2002, os conviventes em união estável
passaram a ter os mesmos direitos e deveres de quem é casado pelo
regime da comunhão parcial de bens.

Em 5 de maio de 2011, durante o julgamento a Ação Direita de


Inconstitucionalidade (ADI) no 4277 e da Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental (ADPF) no 132, o Supremo Tribunal Federal
reconheceu como legítimas as uniões estáveis homo afetivas e consagrou
aos casais homossexuais todos os direitos conferidos às uniões estáveis
entre casais heterossexuais.

Feitas essas considerações sobre a união estável, no Brasil são


permitidos os seguintes regimes de casamento:

a. Comunhão total ou universal de bens – por esse regime, todos


os bens que são de um cônjuge devem ser compartilhados com
o outro, sendo excluídos os bens doados e as dívidas anteriores
ao casamento, além de pensões e bens essenciais ao exercício da
profissão.

b. Comunhão parcial de bens – também conhecido como regime


geral, por eles todos os bens adquiridos na constância do
casamento deverão ser compartilhados, excluindo-se da divisão
os bens particulares que as partes tiverem antes da união.

c. Separação total de bens – por esse regime todos os bens


adquiridos antes ou depois do casamento são incomunicáveis, ou
seja, não serão divididos entre as partes.

d. Participação final nos aquestos – trata-se de um regime instituído


pelo Código Civil de 2002 e pode ser considerado um regime
misto, pois cada cônjuge possui seu próprio patrimônio (separação
total) e somente o adquirido na constância do casamento será
compartilhado entre as partes (comunhão parcial). Aquestos é
sinônimo de patrimônio adquirido onerosamente na constância do
casamento.
Noções de Direito 45

O divórcio é o marco final do casamento, não admitindo


restabelecimento. Caso as partes se divorciem e desejem retomar o
relacionamento, deverão constituir um novo casamento. Importante
destacar que o divórcio encerra o vínculo conjugal entre as partes, mas
não desfaz o vínculo familiar caso da união sobressaiam filhos, de modo
que o casal deverá, juntos, continuar o exercício do poder familiar.

O divórcio, do jeito que você conhece, é uma figura recente no


direito brasileiro. Apesar de ser previsto pela Constituição de 1988, o artigo
226 originalmente determinava que as pessoas que não desejassem mais
conviver conjugalmente deveriam ingressar com uma ação de separação
judicial e após o período de dois anos poderiam se divorciar de fato.
Somente após a entrada em vigor da Emenda Constitucional 66/2010,
que a vontade de uma das partes se tornou o único requisito para que o
divórcio aconteça.

Sobre o direito de família, o Código Civil também regula as relações


de parentesco, que consistem na relação existente entre as pessoas de
uma mesma família. Existe, no direito de família, o que chamamos de
parentesco consanguíneo, aquele derivado das relações de sangue (pai
e filho) e o parentesco por afinidade, originado através da vontade das
partes em se unirem (marido e mulher).

Além dessa classificação, os graus de parentesco podem se dar


horizontalmente ou verticalmente a partir de você, surgindo, portanto,
as figuras dos ascendentes (pais, avós e bisavós), descendentes (filhos e
netos) e parentes colaterais (tios, primos).

Após a promulgação da Constituição de 1988, os filhos havidos


fora do casamento passaram a ser considerados legítimos, possuindo
os mesmos direitos dos filhos havidos na constância do casamento,
fazendo desaparecer do mundo jurídico o termo bastardo. Via de regra, a
paternidade é reconhecida por meio da certidão de nascimento, porém a
lei permite, diante da dúvida, a investigação da paternidade.

Outro ponto importante sobre direito de família presente no


Código Civil é a questão dos alimentos. Os alimentos são tudo aquilo
que é necessário para manutenção da vida e sobrevivência de uma
46 Noções de Direito

pessoa dentro de um modo compatível com sua condição social, como


alimentação, vestuário, saúde, lazer, entre outros.

O Código Civil determina que cabe aos descendentes, ascendentes,


irmãos, cônjuges e companheiros a obrigação de prestação de alimentos
de forma recíproca. A fixação de alimentos deve sempre levar em conta o
binômio necessidade e possibilidade, de modo que deve atender sempre
à necessidade de quem precisa dos alimentos, mas também observada a
possibilidade de quem deverá paga-los.

Por fim, abordaremos sobre o bem de família, que se encontra


disciplinado entre os artigos 1711 e 1722 que constitui um importante
instituto jurídico. O bem de família constitui uma roupagem, uma proteção
estabelecida pelo Direito Brasileiro à propriedade familiar. Essa proteção
dada pelo bem de família impede que o bem seja penhorado, não
servindo de garantia para o pagamento de dívidas.

Para que o bem seja considerado de família, a lei civil estabelece


que eles podem ser determinados pelo cônjuge por escritura pública e
pode recair sobre imóvel urbano ou rural.

A legislação também determina que será considerado bem de


família o único bem de propriedade da entidade familiar, mesmo que
não haja nenhum registro a respeito, porém, caso o casal possua mais de
um imóvel com destinação de moraria, será considerado bem de família
o imóvel de menor valor, salvo se houver determinação no registro no
imóvel de maior valor para tanto.

Direito das sucessões


Conforme combinamos no início desse e-book, iríamos tratar de
questões da vida civil do indivíduo desde o seu nascimento até a sua morte
e aqui estamos. O Direito das Sucessões é o ramo do Direito Civil que irá
disciplinar a transmissão das obrigações e do patrimônio de alguém após
a sua morte aos herdeiros e legatários.

A sucessão deve ser aberta sempre após o falecimento do autor da


herança e no local de seu último domicílio. Aberta a sucessão, a herança
Noções de Direito 47

deixada pelo falecido, que é chamado pelo Código Civil de cujus, será
transmitida a seus herdeiros, meeiros e legatários.

Herdeiro será toda pessoa que recebe os bens do de cujus. Os


herdeiros classificam-se da seguinte maneira:

a. Herdeiro legítimo – é aquele que é indicado pela lei por ter


preferência em relação aos demais. São herdeiros legítimos os
descendentes, o cônjuge sobrevivente, os ascendentes, o cônjuge
sobrevivente e os colaterais (artigo 1829 do Código Civil);

b. Herdeiro testamentário – é aquele designado em função de


testamento prévio.

c. Herdeiro universal – é o herdeiro único, quem receberá a


totalidade da herança.

A figura do meeiro refere-se ao cônjuge sobrevivente, que terá


direito à metade do patrimônio do de cujus (a depender do regime de
casamento). É importante ressaltar que pessoas que são casadas pelo
regime da separação total de bens não dividem patrimônio, de modo que
não há o que se falar em meação. Por outro lado, o quantitativo de bens
que serão objeto da meação também irá variar de acordo com o regime:
comunhão universal de bens (todos os bens do de cujus) ou comunhão
parcial de bens (somente os bens adquiridos após o casamento).

O legatário, por sua vez, constitui pessoa que herda algo certo e
individualizado do de cujus. O legatário difere-se do herdeiro legítimo
por não necessariamente ser uma das pessoas do 1829. Além disso, o
herdeiro é sucessor pela universalidade dos bens, enquanto o legatário
recebe uma coisa certa e determinada.

Toda pessoa, ao falecer, possui liberdade de testar sobre 50% do


seu patrimônio, ou seja, ao morrer, você pode fazer o que quiser com
metade dos seus bens, sendo a outra metade destinada necessariamente
a seus herdeiros.

A sucessão classifica-se em legítima e testamentária. Legítima será


a sucessão em que ocorrerá de acordo com a vontade do legislador,
48 Noções de Direito

enquanto a sucessão testamentária seguirá as disposições do de cujus


antes de seu falecimento.

A sucessão legítima deverá obedecer a ordem de sucessão


hereditária estabelecida no artigo 1829 do Código Civil e ocorrerá nos
casos em que não houver testamento ou que o testamento for declarado
nulo. A ordem de vocação será sempre: descendentes, ascendentes,
cônjuges, colaterais até o quarto grau (primos ou tio-avô). Caso o de cujus
não tenha nenhum parente nessas linhas de sucessão, sua herança será
considerada jacente e o patrimônio será destinado ao poder público.

Na ausência de ascendentes (pais e avós) e descendentes (filhos


e netos), o cônjuge sobrevivente herdará todo o patrimônio do de cujus.
Independentemente do regime de bens, o cônjuge sobrevivente possui
direito real de habitação na residência da família quando o imóvel for
o único do casal, de modo que mesmo que não seja considerado o
proprietário do imóvel, terá sua posse pelo tempo em que residir no
imóvel.

O testamento constitui o ato de última vontade de uma pessoa, pelo


qual você pode fazer suas últimas declarações. Muitas pessoas no Brasil
ainda acreditam que o testamento é algo que deve ser feito somente por
pessoas de muitas posses, não se dando conta que o testamento é um
ato de última vontade, de modo que você pode dispor do que quiser e
não somente sobre questões patrimoniais.

Nesse sentido, é possível que, em sede de testamento, seja


reconhecido um filho havido fora do casamento, pode-se deserdar
algum herdeiro ou até mesmo organizar sua vida após a morte, como
estabelecer quem deve cuidar de seus animais de estimação ou de que
modo a pessoa deverá dispor de seu patrimônio.

EXEMPLO:

“Quanto aos meus livros, quero que Renata, minha secretária,


procure a instituição de ensino carente e doe-os. Desejo que Alicia
de Tal, minha vizinha, cuide do meu gato Lary. Desejo que Betina,
minha amiga, continue honrando o financiamento que fiz para minha
mãe por meio do meu saldo bancário.”
Noções de Direito 49

Conforme já aprendemos, qualquer pessoa só poderá testar o


equivalente a metade de seu patrimônio, devendo a outra metade
constituir a herança necessária. Caso alguém teste um valor acima do
permitido, a lei civil irá reduzi-lo ao valor legalmente estabelecido no
processo de inventário.

O inventário consiste em um processo judicial por meio do qual são


levantados todos os ativos e passivos da herança. O inventário deve ser
aberto no local de último domicílio do de cujus e todos os interessados
(herdeiros, meeiros, legatários) deverão se habilitar por meio de petição feita
por advogado. Durante o período em que o processo de inventário vai se
desenvolvendo, o juiz deverá nomear uma pessoa de confiança chamada
de inventariante para administrar os bens, devendo prestar contas.

A partilha dos bens consiste em uma das etapas do inventário que


sucede a habilitação dos herdeiros. É nela em que serão divididos os bens
conforme o quantitativo de bens e na proporcionalidade dos sucessores.
É possível que a partilha seja feita pelos sucessores e só homologada pelo
juiz, nos casos em que não há conflito entre as partes, sendo uma etapa
que agiliza consideravelmente o processo. Porém, diante de conflito entre
os herdeiros, é necessário que o juiz interfira no processo e decida como
proceder.

A lei civil permite que o inventário e a partilha sejam feitos


extrajudicialmente, sem a necessidade de se recorrer ao judiciário, nos
casos em que todos os sucessores estejam de acordo e que não haja
menores de idade.

SAIBA MAIS:

A seguir temos um artigo que aborda de maneira brilhante


a relação entre os companheiros e o direito sucessório,
ambos temas abordados neste capítulo, que tal conferi-lo?
Companheiros são herdeiros necessários ou facultativos?
Disponível aqui.
50 Noções de Direito

RESUMINDO:

E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos


certeza de que você realmente entendeu o tema de
estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.
Você iniciou esse capítulo aprendendo sobre o início da
família por meio do casamento, oportunidade em que
vimos a diferença entre o casamento e a união estável, a
possibilidade da união homo afetiva no Brasil e os regimes
de casamento que vigoram no Brasil: a comunhão universal
de bens, a comunhão parcial de bens, a separação total
de bens e o regime de participação final nos aquestos.
Estudamos também a figura do divórcio e suas alterações
legislativas. Ainda neste capítulo, em sua primeira parte,
você pode aprender sobre as relações de parentesco e os
alimentos, de que forma essa relação se estabelece e, por
fim, estudamos em que consiste o bem de família no direito
brasileiro. Na segunda parte deste capítulo você teve a
oportunidade de aprender sobre o direito das sucessões no
Brasil. Você pode aprender sobre os conceitos de herdeiros
existentes no código civil e a diferença entre herdeiro,
meeiro e legatário. Por fim, aprendemos sobre o processo
de inventário e partilha.
Noções de Direito 51

REFERÊNCIAS
BRASIL. LEI 10.406/2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, [2002]. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em 18 fev. 2020.

DIAS, M.B. Manual das Sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015.

DINIZ, M.H. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva,


2016.

REALE, M. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 2013.

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