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CERS TRIBUNAIS

TRIBUNAIS

CAPÍTULO 4
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Tribunais. Preparamos todo esse material


para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade,

garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.

O CERS Book é um material em PDF desenvolvido especificadamente para a sua carreira.


O material tem o objetivo de ser autossuficiente e totalmente direcionado, dando prioridade
aos pontos mais importantes de cada disciplina!

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,

pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a

estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para

a gente!

O que você vai encontrar aqui?

 Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela


 Questões comentadas
 Questão desafio para aprendizagem proativa
1
 Jurisprudência comentada
 Indicação da legislação compilada para leitura
 Quadro sinótico para revisão
 Mapa mental para fixação

Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que

um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para
o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

2
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada

no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

3
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 


Capítulo 2 – Teoria Geral do Direito 
Capítulo 3 – Pessoa Jurídica 

Capítulo 4 (você está aqui!) – Direitos da Personalidade 

Capítulo 5 – Domicílio 
Capítulo 6 – Bens Jurídicos 
Capítulo 7 – Teoria do ato, fato e negócio jurídico 

Capítulo 8 – Prescrição e Decadência 

Capítulo 9 – Prova do Negócio Jurídico 

Capítulo 10 – Teoria Geral das Obrigações 


Capítulo 11 – Adimplemento, extinção e inadimplemento das

obrigações

Capítulo 12 – Responsabilidade Civil 


Capítulo 13 – Teoria Geral dos Contratos 
Capítulo 14 – Contratos em espécie I 
Capítulo 15 – Contratos em espécie II 
Capítulo 16 – Posse e Direitos Reais 
Capítulo 17 – Direito de família 
Capítulo 18 – Direito sucessório 

4
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Prezados Alunos,

O presente capítulo é extenso, mas o seu tema é muito relevante, principalmente no


contexto atual, de constitucionalização do direito civil. Isso porque os direitos da personalidade
são expressões da cláusula geral da dignidade da pessoa humana. Portanto, leia-o com muita
atenção, já que traz temas basilares para serem expostos em provas discursivas e muito cobrados
em provas objetivas.

Apesar de os direitos da personalidade estarem previstos basicamente nos artigos 11 a


21 do Código Civil, esse rol não é taxativo. O presente capítulo será extenso, pois o tema
possui diversos desdobramentos e relevantes entendimentos jurisprudenciais.

Analisaremos o conceito dos direitos de personalidade, bem como suas principais


características. Também estudaremos se as pessoas jurídicas possuem tais direitos e se merecem
ser indenizadas em caso de violação. Ademais, veremos como deve ser usada a técnica de
ponderação no caso de conflito entre direitos da personalidade.

No campo dos direitos da personalidade em espécie, será bem estudada a teoria dos
círculos concêntricos, que organiza a proteção aos direitos à intimidade e a privacidade.
Também importante destacar o direito ao esquecimento, tema muito em voga, devido à
evolução da tecnologia, que facilitou o acesso às informações.

Ademais, estudaremos com detalhes quem são os legitimados ativos em eventual ação
de indenização por danos morais devido à violação de direitos da personalidade de alguém que
já faleceu.

A proteção ao nome, às obras autorais e ao próprio corpo, bem como suas decorrências
serão esmiuçadas.

Nesse capítulo é fundamental que o aluno leia as jurisprudências colacionadas, já que


o tema, mais do que legal, é jurisprudencial. O entendimento dos tribunais superiores acerca

5
dos direitos da personalidade vem sendo muito cobrado tanto em provas objetivas quanto
subjetivas, conforme verificaremos pelas questões trazidas.

Sem mais delongas, vamos aos estudos!

6
SUMÁRIO

DIREITO CIVIL ........................................................................................................................................... 9

Capítulo 4 .................................................................................................................................................. 9

4. Direitos da Personalidade ............................................................................................................... 9

4.1 Características dos Direitos da Personalidade ....................................................................................... 10

4.2 Direitos da Personalidade da Pessoa Jurídica ....................................................................................... 12

4.3 Tutela Jurídica dos Direitos da Personalidade ...................................................................................... 13

4.3.1 Tutela Preventiva ................................................................................................................................................ 14

4.3.2 Tutela Provisória ................................................................................................................................................. 14

4.4 Tutela Jurídica Coletiva dos Direitos da Personalidade .................................................................... 16

4.5 Classificação dos Direitos da Personalidade .......................................................................................... 18

4.5.1 Direitos da Personalidade relativos à Integridade Física .................................................................. 18

4.5.1.1 Tutela Jurídica do Corpo Vivo ..................................................................................................................... 18

4.5.1.2 Tutela Jurídica do Corpo Morto ................................................................................................................. 21

4.5.2 Direitos da Personalidade relativos à Integridade Psíquica ............................................................ 23

4.5.3 Direitos da Personalidade da Integridade Intelectual (Direito Autoral) ..................................... 33

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 36

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 40

GABARITO ............................................................................................................................................... 50

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 51

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 52

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 54

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 56

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 64

7
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 66

8
DIREITO CIVIL

Capítulo 4

A grande inovação do CC de 2002 foi proteger muito além do patrimônio – o qual já era
protegido no Código Civil de 1916 -, foi proteger a essência do homem, qual seja, os direitos

decorrentes da sua personalidade. A personalidade não é um direito, mas sim, um conceito


sobre o qual se apoiam os direitos a ela inerentes. Vamos juntos analisar todos os
desdobramentos desses direitos da personalidade!

4. Direitos da Personalidade

Qual o conceito de direitos da personalidade? Estes constituem uma categoria especial

de direitos subjetivos reconhecida ao titular da personalidade para que ele possa desenvolvê-la
plenamente, estando voltados à sua esfera privada. São do mesmo modo que a própria
personalidade, inerentes à condição humana.

Os direitos da personalidade constituem as garantias fundamentais para que a pessoa


seja titular de relações privadas. Estes direitos estão organizados em um rol exemplificativo,
porque o Código Civil, diante da dinamicidade das relações sociais, não consegue prever com

exatidão tudo aquilo que a pessoa precisa ter para ter uma vida digna.

Conforme vimos, quando estudamos a constitucionalização do direito civil, o direito

brasileiro reconhece uma cláusula geral de proteção à personalidade: a DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA. Todos os direitos estão atrelados a essa cláusula geral.

9
4.1 Características dos Direitos da Personalidade

Em regra, os direitos da personalidade são intransmissíveis (não podem ser transmitidos


a terceiros) e irrenunciáveis (o titular deles não pode abrir mão, não pode renunciar), não

podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária1. É o que preceitua o artigo 11 do CC.

A partir desse artigo, podemos dizer que as características dos direitos da personalidade
são: INSTRAMISSIBILIDADE e IRRENUNCIABILIDADE. Atenção aqui, aluno, pois ao contrário

do que uma interpretação rápida do que foi lido poderia dar a entender, os direitos da
personalidade podem sofrer limitação voluntária nas exceções previstas em lei. Sendo deste

modo, RELATIVAMENTE INDISPONÍVEIS.

Quais os parâmetros que o titular deve seguir para restringir voluntariamente um


direito da personalidade?

 O ato não pode ser permanente;


 O ato não pode ser genérico;
 O ato não pode violar a dignidade do titular.

Além disso, outras características são2:

 Absolutos – no sentido de oponíveis erga omnes;


 Extrapatrimoniais – porém sua violação pode implicar em efeito patrimonial;
 Impenhoráveis – pois, não possuem valores patrimoniais;
 Inatos – são vitalícios, podendo, inclusive, sua tutela ser reconhecida pós mortem;
 Imprescritíveis – não há prazo extintivo para requerer a sua proteção.

1
Vide questão 10 do material
2 Sobre o assunto, vide questão 9

10
Quanto a característica da imprescritividade é importante que o aluno entenda que essa
característica não implica na imprescritibilidade da reparação do dano, isto é, o direito não se

extingue pelo não uso, mas o direito de exigir a reparação pelo dano ao direito se extingue.

Nesse sentido, jurisprudência em tese do STJ, Edição nº 137: Direitos da Personalidade I:


“A pretensão de reconhecimento de ofensa a direito da personalidade é imprescritível.”

O STJ, ademais, criou uma exceção, na qual a reparação por dano também é
imprescritível: dano moral pela tortura no regime militar.

Veja como esse assunto foi cobrado na prova para o cargo de Procurador do Distrito

Federal. A assertiva abaixo foi considerada CORRETA:

“No âmbito da responsabilidade civil do Estado, são imprescritíveis as ações


indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante

o regime militar de exceção.”

11
4.2 Direitos da Personalidade da Pessoa Jurídica

Como já vimos no Capítulo anterior, o Código Civil em seu artigo 52, abraçou o
posicionamento da jurisprudência (súmula 227 do STJ3), e estendeu, no que couber, às pessoas

jurídicas a proteção dos direitos da personalidade.

Quanto ao entendimento do STJ, ainda temos duas jurisprudências em tese de alta


importância para o tema (edição n. 125: responsabilidade civil dano moral):

 A pessoa jurídica pode sofrer dano moral, desde que demonstrada ofensa à sua honra
objetiva.
 A pessoa jurídica de direito público não é titular de direito à indenização
por dano moral relacionado à ofensa de sua honra ou imagem, porquanto, tratando-se
de direito fundamental, seu titular imediato é o particular e o reconhecimento desse
direito ao Estado acarreta a subversão da ordem natural dos direitos fundamentais.

Quais são os direitos da personalidade que a PJ tem resguardados? Podemos desprender

da expressão “no que couber”, que a PJ tem direito à imagem (imagem atributo), ao nome e à
honra objetiva. O que veremos em tópico posterior.

Nos últimos anos, parcela significativa da doutrina – liderada pelo professor Gustavo Tepedino

(RJ) – se insurgiu contra a proteção dos direitos da personalidade das pessoas jurídicas.
Quais os fundamentos dessa insurgência?

 Se tais direitos são sustentados pela cláusula geral da dignidade humana, a PJ não pode
ser beneficiada, uma vez que não existe dignidade humana na PJ.

3 Súmula 227 STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.

12
 Esses autores defendem a tese de que todos os danos impostos sobre uma PJ vão incidir
sobre seus lucros, ou seja, sobre o seu patrimônio.
 Contra crítica: e as pessoas jurídicas sem fins lucrativos? Nesse caso, existiria um
dano institucional, jamais dano moral.
o Cristiano Chaves: o “dano institucional” na prática não passa de um dano
moral

Alunos, somente usem as divergências apresentadas em provas dissertativas. Em provas

objetivas usem o entendimento do CC e do STJ, apresentado acima.

4.3 Tutela Jurídica dos Direitos da Personalidade

Observe o que afirma o artigo 12 do CC: “Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça,
ou a lesão, a direito de personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras

sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para
requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha

reta, ou colateral até o quarto grau”4.

A partir de tal artigo podemos ver que a tutela jurídica dos direitos no atual ordenamento
jurídico se bifurca em dois diferentes ângulos: tutela PREVENTIVA e REPARATÓRIA. A primeira

busca obstar a ocorrência do dano, já a segunda busca sancionar e reparar o dano já ocorrido.
Cabe dizer, que nada obsta a ocorrência delas simultaneamente.

Desmembrando o artigo 12, temos:

 “cesse a ameaça” – tutela preventiva inibitória (preventiva específica): busca-se evitar


que o dano ou o ilícito ocorra;
 “ou a lesão” – tutela preventiva reintegratória (de remoção do ilícito – específica): o
ilícito já ocorreu, busca-se a cessação da prática danosa, a fim de que não ocorra dano;
 “reclamar perdas e danos” – tutela reparatória (repressiva): o dano já ocorreu e busca-
se a indenização pelo dano moral.

4
Vide questões 1 e 3 do material
13
 “sem prejuízo de outras sanções”: outros mecanismos de proteção previstos em lei, tal
como o direito penal ou até mesmo as possibilidades de autotutela.

Mas você deve está se perguntando: como são concretizadas essas tutelas?

4.3.1 Tutela Preventiva

A tutela preventiva se concretiza através da tutela específica, isto é, uma medida especial
concedida para que se resolva um caso concreto. Em outras palavras, é um provimento judicial

adequado para resolver um caso concreto. Não há um rol taxativo, em cada caso a tutela
específica terá uma forma adequada.

Podemos ver, assim, que a proteção destes direitos não é apenas patrimonial

(despatrimonialização dos direitos da personalidade, do dano moral). A tutela preventiva se dá


através da tutela específica das obrigações de dar, fazer e não fazer.

A tutela específica pode ser: inibitória, com a aplicação de uma pena de multa no caso
de descumprimento da tutela específica; sub-rogatória, quando o juiz manda fazer uma coisa

específica; remoção do ilícito, quando se determina a retirada de alguma publicação pejorativa


em site, por exemplo. A tutela específica pode ser aplicada de ofício pelo juiz.

4.3.2 Tutela Provisória

Por sua vez, a tutela reparatória se materializa, via de regra, através da indenização por

danos morais.

CUIDADO, ALUNO: a indenização por dano moral não tem caráter reparatório, uma vez
que não consegue restituir o dano causado. Na realidade, a indenização tem caráter
COMPENSATÓRIO.

14
Aqui, resta compreender de uma vez por todas o que é o dano moral para o nosso

ordenamento: o dano moral é a violação a um direito da personalidade, sem que exista,


necessariamente, um sentimento negativo.

Este sentimento negativo serve para fins de arbitramento do dano moral, já a sua

caracterização é a violação a um direito de personalidade.

Para o STJ, basta a violação a um direito da personalidade, para que se configure o dano
moral, ou seja, tem caracterização objetiva, prova in re ipsa56.

Seguindo os entendimentos do STJ, tem-se que o mero aborrecimento não gera dano
moral. Este, por sua vez, serve somente para quantificar a indenização por dano moral.

Súmula 37, do STJ: São cumuláveis as indenizações por dano moral e dano material oriundos

do mesmo fato.

Súmula 387, do STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

Como se dá a fixação do valor da indenização?

Conforme vimos acima, o dano moral tem natureza compensatória e, sendo assim, o
direito brasileiro não admite o sistema de “punitive damage” (danos punitivos). Entretanto, o

STJ diz que a fixação do valor indenizatório deve levar em conta o desestimulo, o caráter
pedagógico, que acaba configurando reflexamente um dano punitivo.

5 Vide REsp 794.586/RJ na jurisprudência comentada do presente capítulo.


6 Sobre o assunto, vide questão 8.

15
A fixação desse valor é baseada em matéria de fato e não em matéria de direito. Assim,

pergunta-se: seria possível a interposição de um recurso especial para rediscutir o valor de


uma indenização? Pela Sumula 07 do STJ7 não seria possível, dada a vedação de revolvimento

da matéria fático-probatória. Entretanto, em se tratando de dano moral, o STJ excepciona a


sumula 07, admitindo REsp para a revisão dos valores fixados a título de reparação por dano

moral, mas tão somente quando se tratar de valores ínfimos ou exagerados, buscando assim
evitar decisões discrepantes entre os tribunais inferiores.

4.4 Tutela Jurídica Coletiva dos Direitos da Personalidade

Primeiro, cabe entendermos o que é o dano moral coletivo: este seria a violação de

direitos da personalidade de uma coletividade. Esta espécie de dano moral é aceita no Brasil?
Conforme o CDC, em seu artigo 6º, IV8 e Lei de Ação Civil Pública, art. 1º9, o dano moral coletivo
existe no ordenamento jurídico brasileiro.

Admite-se, deste modo, o dano moral coletivo quando houver uma violação coletiva
da personalidade, sendo nesse caso que a tutela processual deve se dar obrigatoriamente

através da ação civil pública. São exemplos desse dano coletivo: dano ambiental, dano moral
ao meio ambiente do trabalho, dano ao consumidor, entre outros.

Quem recebe esse valor? Nos termos do artigo 13 da Lei de Ação Civil Pública o dano
moral coletivo reverte-se em favor do fundo criado para esse fim (“fluid recovery”), que tem

como objetivo recompor o dano causado.

Vale ressaltar aqui, para fins de provas dissertativas, qual o argumento defendido por
aqueles que dizem não existir o dano moral coletivo: como a coletividade não tem

7 Sumula 7 STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.

8 Art. 6º, IV: “São direitos básicos do consumidor ... IV - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos
e difusos.
9 Atr. 1º LACP: “Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo de ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e
patrimoniais causados...”

16
personalidade, ela, consequentemente, não pode ter sua honra ou dignidade violada. Cada

pessoa deveria individualmente ir buscar sua indexação por dano moral individual.

Por outro lado, um importante argumento que defende a existência do dano coletivo é a

existência de um “inconsciente coletivo”, um sentimento geral de todas a coletividade, um


padrão de comportamento coletivo. Toda vez que esse for violado, dá-se ensejo a reparação do

dano moral. Exemplo: Estado do Amapá sem energia elétrica e sem água em
novembro/dezembro de 2020, em plena pandemia.

● Dano moral contratual: o STJ vem afirmando que, apesar de a violação de um


contrato, por si só, não gerar dano moral, ela pode refletir uma violação da dignidade
de uma das partes, como no caso do Plano de Saúde que nega cobertura.
● Dano moral coletivo: é a violação dos direitos da personalidade de um grupo
massificado, sendo prescindível a demonstração de dor, sofrimento ou angústia, para
restar caracterizado este tipo de dano. Ex.: violação de direito ambiental, de direito
do consumidor.
● Danos sociais: são violações à tranquilidade e ao nível de vida da sociedade, através
de comportamentos exemplares negativos ou condutas socialmente reprováveis,

causando o rebaixamento de seu patrimônio moral, da segurança e da qualidade de


vida. Ex.: pedestre que joga lixo no chão.

● Dano estético: é a violação da integridade física, isto é, espécie de direito da


personalidade. É atualmente entendido como espécie independente de dano,

podendo, assim ser acumulado numa mesma ação com o dano material e o dano
moral.

17
● Dano Ricochete, Oblíquo ou Indireto 10: A tutela dos direitos da personalidade

envolvendo pessoa morta cabe aos familiares do morto (cônjuge, parentes em linha
reta ou colateral até o quarto grau). Portanto, o parágrafo único do art. 12 permite

que essas pessoas possam ingressar com medida judicial representando o morto.

4.5 Classificação dos Direitos da Personalidade

Os direitos da Personalidade podem ser classificados de acordo com a proteção à:

 INTEGRIDADE FÍSICA: tutela do corpo humano (vivo ou morto; inteiro ou em partes);


 INTEGRIDADE PSÍQUICA: tutela jurídica dos valores imateriais (Direito a honra, imagem,
nome)
 INTEGRIDADE INTELECTUAL: tutela jurídica da criação, inteligência do homem (Direito
Autoral).

O direito a vida não está dentro dessas três espécies, uma vez que este se apresenta

como um pressuposto dos direitos da personalidade: é a cláusula geral da personalidade.

4.5.1 Direitos da Personalidade relativos à Integridade Física

Aqui estudaremos:

 Tutela jurídica do corpo vivo;


 Tutela jurídica do corpo morto;
 Autonomia do paciente (livre convencimento)

4.5.1.1 Tutela Jurídica do Corpo Vivo

O art. 13 do CC estabelece que salvo por exigência médica, é defeso (proibido) o ato
de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física,

ou contrariar os bons costumes11.

10 Será tratado melhor em tópico posterior.


11
Vide questão 6 do material
18
Além disso, o parágrafo único do art. 13 do CC admite a disposição do próprio corpo

para fins de transplante de órgãos, desde que ocorra na forma estabelecida em lei especial.

A violação à integridade física configura o já citado dano estético. Contudo, há uma


exceção prevista na lei, conforme já visto acima, que permite a disposição corporal, com

diminuição permanente da integridade física desde que por exigência médica.

Quanto ao dano estético, cabe se perguntar se o dano precisa ser permanente para a
sua configuração. O STJ já decidiu que o dano estético não precisa ter sequelas permanentes

para ser configurado, esta, na verdade, somente importa para a definição do quantum a ser
indenizado.

Cabe aqui lembrar a já citada Súmula 387 do STJ, a qual afirma que é lícita a cumulação

das indenizações de dano estético e dano moral. Tem-se, portanto, que essa súmula reconhece
a autonomia da proteção da integridade física em relação à proteção da psíquica.

Ressalta-se certas situações que ocorrem na sociedade e merecem uma explicação a parte:

 “Wannabes”: são pessoas que sofrem repulsa por determinada parte do corpo e querem
amputá-la. Tal conduta não é aceita pelo ordenamento brasileiro, pois implicaria na
redução permanente da integridade física.
 Mudança de sexo em Transexuais: a transgenitalização (nome dado à cirurgia de
mudança de sexo) é permitida pelo ordenamento, uma vez que a medicina recomenda
essa cirurgia, entrando assim tal procedimento na exceção do artigo 13 do CC. Em outras
palavras, havendo exigência médica para a conformação fisiopsíquica de uma pessoa
transexual, justifica-se a diminuição da integridade física para adequar o fenótipo ao
biótipo.
 Transplantes entre pessoas vivas: os requisitos previstos na Lei 9.434/97 para que uma
pessoa possa dispor de seu corpo para fins de transplante são:
 Órgãos dúplices ou regeneráveis, cuja perda não implique risco de vida ou
deformidade ao doador;
 Gratuidade do ato;
 Beneficiário e doador devem integrar o mesmo grupo familiar.

19
Caso, não seja do mesmo grupo familiar, é necessária a autorização judicial

(excepcionando a doação de medula óssea).

Conforme, o art. 1º, §único da Lei 9434/97 a doação de sangue, esperma e óvulo não

sofrem as limitações da lei. Isso porque não são considerados tecidos, órgãos, nem partes do
corpo humano. Vale ressaltar, que o leite materno também não tem sobre ele às citadas

limitações. A única exigência dessas doações é a gratuidade.

 Barriga de aluguel: quanto à barriga de aluguel, a Resolução 1352/92 do Conselho


Federal de Medicina diz ser possível a gestação em útero alheio não violando a proteção
da integridade física, desde que preenchidos quatro requisitos:
 Capacidade das partes;
 Gratuidade do procedimento;
 Impossibilidade gestacional da mãe biológica;
 Mãe biológica e mãe hospedeira devem integrar o mesmo núcleo familiar.

Novamente aqui, caso as pessoas não sejam do mesmo núcleo familiar, é necessária

a autorização judicial.

 Esterilização humana artificial: a lei 9263/96 permite a esterilização como mecanismo


de planejamento familiar. Desde que preenchidos os requisitos:
 Lapso temporal mínimo de 60 dias entre a manifestação de vontade e o
procedimento cirúrgico (direito a arrependimento);
 Ter mais de 25 anos OU ter mais de 18 anos e mais de 2 filhos.

20
4.5.1.2 Tutela Jurídica do Corpo Morto

Já o artigo 14 do CC trata da tutela post mortem do corpo: “Art. 14. É válida, com
objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte,

para depois da morte.12”

Hipóteses permissivas:

 Para fins científicos. Ex: pesquisas, produção de prova no processo penal.


 Para fins altruísticos, ou seja, para fazer o bem. EX: transplantes.

Sobre os transplantes, a Lei 9434/97 afirma, em consonância com o CC, que a disposição
do cadáver é possível, desde que observado os seguintes requisitos:

 Gratuidade;
 Possibilidade de disposição integral do corpo;
 Impossibilidade da escolha do beneficiário.

Vale ressaltar que não se admite no direito brasileiro o chamado testamento vital ou
“living will”. O órgão vai ser encaminhado para uma pessoa, respeitando a fila estadual de
receptadores de órgãos por critério de urgência. É o chamado princípio da universalização da

saúde. Caso, alguém faça um testamento deixando um órgão seu para uma pessoa específica
e, caso, ela não receba, não quer doar para outra pessoa, o órgão não vai para ninguém.

É importante salientar que o art. 14 consagra o princípio do consenso afirmativo, ou

seja, que cada pessoa deve manifestar sua vontade de ser um doador, com objetivos
científicos ou terapêuticos, tendo o direito de a qualquer momento, cancelar sua doação

(parágrafo único do artigo 14).

Sobre esta disposição de vontade, havia anteriormente uma discussão sobre o que
deveria prevalecer, se era a vontade do de cujus ou da família, caso essa última fosse contra a

doação dos órgãos, mesmo com manifestação do primeiro a favor. Contudo, em 2017, houve
uma alteração legislativa no decreto 9175/2017, a qual definiu, de uma vez por todas, que se

12
Vide questão 9 do material
21
houver divergência entre a vontade expressa do falecido e da família, deve prevalecer a da

família.

4.5.1.3 Autonomia do Paciente ou livre consentimento informado

Esse tema encontra-se previsto no artigo 15 do CC: “Art. 15. Ninguém pode ser

constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou intervenção cirúrgica.”

A pessoa tem a faculdade de escolher se aceita ou não o tratamento ou intervenção


cirúrgica, sabendo de todos os riscos que estão envolvidos (direito a informação). Assim, toda

internação exige o consentimento do paciente ou a exigência médica baseada na urgência, esta


última com fundamento no art. 31 e 37 do Código de Ética Médico e por interpretação do STJ.

O que acontece se o médico violar o dever de informação?

Caberá a responsabilização civil do médico caso ele descumpra esse dever, pois o dever

de informação é um dever anexo ao da boa-fé objetiva (diretriz da eticidade do CC/02). Por


esse motivo que os médicos solicitam o consentimento informado do paciente, já que o ônus

de prova é deles de comprovar esse consentimento.

Testemunha de Jeová e a Transfusão de Sangue

As pessoas que professam a fé dos Testemunhas de Jeová, por conta de suas crenças
religiosas, não aceitam receber sangue alheio, através de procedimento transfusional. A questão

levanta debates: teria o Testemunha de Jeová direito de recusar a transfusão de sangue? Analise
abaixo o que se entende sobre o tema:

 Criança ou Adolescente: em se tratando de pessoa menor de 18 anos, não há dúvida na


doutrina e na jurisprudência que a transfusão de sangue é possível. Caso os pais do
menor sejam contra a transfusão, é possível que o médico, o hospital e/ou o MP entrem
com ação para conseguirem autorização judicial para o feito.
 Situação de emergência: entende-se que aqui a transfusão também será possível, uma
vez que em situação de emergência é o médico quem vai decidir as medidas a serem
tomadas para se salvar a vida do paciente.

22
 Maiores e capazes: a possibilidade de recusa de tratamento motivado por questões
religiosas ou filosóficas divide a doutrina:
 1ª Corrente: a testemunha de Jeová maior e capaz que não se encontra em
situação de emergência, tem o direito de não receber transfusão de sangue. Deve
prevalecer a autonomia da vontade e a liberdade de crença e, ainda, o direito a
vida implica o direito a vida digna, ou seja, se a transfusão violar a dignidade do
paciente, a fé deve ser respeitada.
 2ª Corrente: prevalece que a testemunha de Jeová deve ser compelida ao
procedimento de transfusão, mesmo sendo maior e capaz.

Já na jurisprudência, atualmente a questão está sendo discutida, com o reconhecimento


de repercussão geral pelo STF, na ADPF 618. Ainda não temos o resultado final do julgamento,
portanto, aluno, fique atento para a futura resolução da celeuma, em sede de controle
concentrado de constitucionalidade.

4.5.2 Direitos da Personalidade relativos à Integridade Psíquica

Aqui, serão tratados os seguintes direitos da personalidade: direito à honra; direito à


imagem, direito à privacidade e direito ao nome.

4.5.2.1 Direito à Honra

Previsto no artigo 5º, X da CF, o qual dispõe: “são invioláveis a intimidade, a vida privada,
a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito a indenização pelo dano material ou

moral decorrente de sua violação.”

O que é a honra? A honra é o a boa fama, a honorabilidade. É um direito que diz respeito
à reputação construída por uma pessoa. Esta pode ser manifestada de duas formas:

 Honra SUBJETIVA: aquilo que o próprio titular pensa de si mesmo;


 Honra OBJETIVA: aquilo que as demais pessoas pensam do titular do direito.

23
Apesar da honra se manifestar de duas formas, o direito à honra é um só. Assim, mesmo
se o dano for contra as duas espécies de honra, a indenização é uma só.

Ademais, é possível a mitigação do direito à honra quando se trate de interesse público.

Como no caso do crime de calúnia e da exceção da verdade (isto é, consiste na possibilidade


jurídica dada ao querelado de provar que o fato que imputara a outrem é verdadeiro).

4.5.2.2 Direito à Imagem

O artigo 20 do CC tutela o direito de palavra, à imagem e aos escritos. Ademais, o

direito à imagem é disposto no artigo 5º, incisos V e X da CF, sendo nestes reconhecido como
direito autônomo, podendo, portanto, ser violado sem que a honra seja violada

simultaneamente. Caso, a imagem de alguém seja violada junto com a sua honra, ter-se-á duas
indenizações.

Vale ressaltar, que o artigo 20 do CC não separa o direito à imagem do direito à honra,

contudo, do ponto de vista prático não há diferença, uma vez que aplica-se a CF e há a
constitucionalização do direito civil a ser considerada.

A imagem nada mais é do que a identificação de alguém. Tem-se que essa identificação

pode se dar de diferentes formas, ou seja, o direito à imagem é tridimensional:

 Imagem RETRATO: caraterísticas fisionômicas da pessoa. Exemplo: caricaturas


 Imagem ATRIBUTO: diz respeito às características emocionais da pessoa, ou seja, a
exteriorização da personalidade do individuo. Exemplo: pessoa alegre, pessoa mau
humorada;

24
 Jornada de Direito Civil, Enunciado 278: “art. 18: A publicidade que divulgar,
sem autorização, qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem
mencionar seu nome, mas sendo capaz de identifica-la, constitui violação a
direito de personalidade.” - “Qualidades inerentes”  imagem atributo.
 A imagem atributo também é aplicável à pessoa jurídica.
 Imagem VOZ: timbre sonoro identificador. Exemplo: vozes do Sílvio Santos ou do
jornalista William Bonner

Do mesmo modo que o direito à honra, por mais que o direito à imagem seja
tridimensional, ele é uno, não cabendo, assim, cumulação de indenizações por diferentes

danos à imagem.

Função Social da Imagem: são as hipóteses de flexibilização da proteção em


determinados casos, como liberdade de imprensa, ordem pública, administração da justiça, etc.

 O enunciado 279 da IV Jornada de Direito Civil traz o uso da função social da imagem:
“art. 20. A proteção à imagem deve ser ponderada com outros interesses
constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso à
informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-se-á em conta a
notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e,
ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica),
privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de informações”.

Ademais, cabe dizer que o direito à imagem admite cessão, que pode ser expressa

(contrato de publicidade) ou tácita (pessoa que dá entrevista para a TV).

 A imagem cedida pode ser explorada por 5 (cinco) anos, admitida a renovação por igual
período (art. 49, III da Lei de Direitos Autorais).

25
 Sobre a cessão tácita, um exemplo seria a permanência em locais públicos. Contudo,
somente é permitida a cessão em um contexto genérico, se houver um close de uma
pessoa específica, já há um contexto específico, o que não é permitido.
 Lembre-se que relativizações são possíveis, desde que não haja desvio da
finalidade, qual seja, por exemplo, a individualização de um indivíduo dentro do
contexto genérico.

O parágrafo único do art. 20 do CC estabelece que apenas os cônjuges, ascendentes

e descendentes podem requerer o dano moral ricochete ou reflexo, isto é, o direito de


indenização dos indivíduos intimamente ligados à vítima direta do evento danoso, sofrendo,

portanto, de forma reflexa, os danos causados. Assim, difere-se dos demais direitos da
personalidade que podem ser exigidos pelos colaterais até o quarto grau do morto, conforme
dispõe o artigo 12, § único do CC.

Sendo assim, observe quem pode requerer o dano contra morto, de forma concorrente
ou autônoma:13

Decore os legitimados da tabela abaixo, despenca em prova:

Art. 12, parágrafo único. Art. 20, parágrafo único.

Tutela os direitos da personalidade em geral Tutela o direito à imagem (regra especial)

Reconhece legitimidade para o cônjuge,


Reconhece legitimidade para o cônjuge,
ascendentes, descendentes e colaterais até 4º
descendentes e ascendentes.
grau.
A doutrina inclui o companheiro - Enunciado
A doutrina inclui o companheiro - Enunciado nº 275
nº 275 da IV Jornada de Direito Civil.
da IV Jornada de Direito Civil.

Citado na tabela acima, veja exatamente o que diz o Enunciado nº 275 da IV Jornada de
Direito Civil,: “Arts. 12 e 20: O rol dos legitimados de que tratam os arts. 12, parágrafo único, e

20, parágrafo único, do Código Civil também compreende o companheiro”.

13 Vide questão 5 e 10.

26
Abaixo, veja alguns entendimentos do STJ sobre o tema:

Em regra, não se pode usar a imagem de outra pessoa, uma vez que o direito à imagem é
de uso restrito, somente sendo possível sua utilização por terceiro quando:

 Expressamente autorizado pelo titular;


 Se for necessária à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública.

Caso a utilização da imagem de uma pessoa seja com fins econômicos ou comerciais, o

prejuízo será presumido, ou seja, in re ipsa. Esse entendimento já está consolidado no STJ,
Súmula 403:

 Súmula 403 STJ. “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação


não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”.

Por fim, o STJ entende que existe ofensa mesmo que a veiculação da imagem não tenha

caráter vexatório. Assim, se a utilização da imagem foi feita sem a autorização do titular e o
conteúdo exibido for capaz de individualizar o ofendido, haverá violação do direito da

personalidade.

4.5.2.3 Direito à Privacidade

O artigo 21 do CC protege a intimidade do indivíduo. Nela está incluído o direito ao


sigilo de correspondência, telefônico, e também via internet. Também estão o direito ao
sossego, ao silêncio, ao de não ser visto, observado ou ouvido em sua intimidade. A privacidade

traz a ideia do que pertence à pessoa e, por isso, fora do alcance do interesse da coletividade.

Com o declarado objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de


privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural, foi editada pelo

27
legislador pátrio a Lei Geral sobre a Proteção de Dados Pessoais (Lei n.º 13.709/2018),

disciplinando a proteção de dados pessoais (cuida do tratamento dos dados pessoais, da forma
como os dados pessoais dos indivíduos podem ser armazenados por pessoas físicas ou jurídicas,

empresárias ou não).

Vale dizer que o direito à privacidade não admite exceção da verdade, uma vez que ao
investigar a verdade, haveria novamente violação à privacidade. Também, do mesmo modo que

os outros direitos, é um direito autônomo ao direito à honra.

Importante registrar que por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal Federal

julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4815 e declarou inexigível a


autorização prévia para a publicação de biografias. Entendeu-se que caso algum direito a

personalidade fosse violado, o titular do direito deveria, posteriormente, entrar com uma ação
visando a reparação dos danos materiais e/ou morais14.

DIREITO AO ESQUECIMENTO15

A doutrina, pacificamente, reconhece o direito ao esquecimento, como um direito da

personalidade, vinculado à privacidade. Veja o Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil: “A

14 Vide jurisprudência comentada no final do presente capítulo.


15 Vide questão 7.

28
tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao

esquecimento”.

Os danos provocados pelas novas tecnologias de informação vêm se acumulando nos


dias atuais. O direito ao esquecimento tem sua origem histórica no campo das condenações

criminais. Surge como parcela importante do direito do ex-detento à ressocialização. Não atribui
a ninguém o direito de apagar fatos ou reescrever a própria história, mas apenas assegura a

possibilidade de discutir o uso que é dado aos fatos pretéritos, mais especificamente o modo
e a finalidade com que são lembrados.

O direito ao esquecimento teve seu efeito reconhecido com a edição do já citado

Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil do CJF. Traduz-se no direito de a pessoa não ser
lembrada eternamente pelo equívoco pretérito ou por situações constrangedoras ou vexatórias.

É uma forma de proteção à dignidade humana. Trata-se de uma orientação doutrinária que
inclui entre os direitos da personalidade previstos no CC, o direito de ser esquecido.

A origem teórica do direito ao esquecimento, consagradora do "right to be let alone",

ou seja, do direito de permanecer sozinho, esquecido, deixado em paz, como um direito


personalíssimo a ser protegido. Ele tem sido invocado na defesa dos cidadãos frente às

agressões à privacidade pelas mídias sociais, provedores de conteúdo, e outros.

A teoria do direito ao esquecimento surgiu da ideia de que, mesmo quem comete um


crime, depois de determinado tempo, vê apagadas as consequências penais do seu ato. Assim,

com maior razão, o mesmo deve ocorrer com os atos da vida privada. Para sua aplicação é
necessário que haja uma grave ofensa à dignidade da pessoa humana, que a pessoa seja
exposta de maneira ofensiva.

Ademais, o direito ao esquecimento não é absoluto, ele é excepcional. Garante apenas


a possibilidade de discutir o uso que é dado aos eventos pretéritos nos meios de comunicação
social, sobretudo os meios eletrônicos.

O enunciado citado informa a interpretação/aplicação do art. 11 do CC, fundando-se nos


direitos contidos no art. 5º da CF, como direito inerente à pessoa e à sua dignidade, entre eles

29
a vida, a honra, a imagem, o nome e a intimidade. Os parâmetros de aplicação serão fixados e

orientados pela ponderação de valores constitucionais implícitos nos direitos fundamentais


e nas normas civis de proteção à intimidade e à imagem, de um lado, e, de outro, as normas

constitucionais de vedação à censura e da garantia à livre manifestação do pensamento.16

4.5.2.4 Direito ao Nome

Conforme preceitua o art. 16 do CC: “Toda pessoa tem direito ao nome, nele
compreendidos o prenome e o sobrenome.”

O nome é o sinal que representa a pessoa perante a sociedade, sendo necessário a

proteção de todos os elementos do nome. Assim, é garantido a todo indivíduo o direito ao


nome e sobrenome, bem como o respeito ao pseudônimo, desde que utilizado para fins lícitos.

Aspectos do nome:

 Prenome: identifica a pessoa, podendo ser simples ou composto;


 Sobrenome (patronímico): identifica a origem ancestral (familiar). É de livre escolha, não
sendo obrigatório constar primeiro o do pai ou da mãe.
 Agnome: partícula diferenciadora que distingue pessoas que pertencem à mesma família
e possuem o mesmo nome (exemplo: júnior, neto, filho, terceiro, etc).

Por sua vez, no direito brasileiro não são componentes do nome:

 Títulos de nobreza (conde, comendador);


 Títulos pessoais (doutor, mestre);

16 Vide jurisprudência comentada do capítulo.

30
 Pseudônimo (heterônimo): é o nome utilizado em atividades profissionais lícitas, ou seja,
é o nome que identifica alguém tão somente em sua esfera profissional. Exemplo: Silvo
Santos; José Sarney.

Não confundir: PSEUDÔNIMO vs. HIPOCORÍSTICO:

Conforme dito, o pseudônimo é a designação escolhida pelo titular para ser usada
somente profissionalmente. Por sua vez, o hipocorístico é uma alcunha (apelido) que serve
para identificar alguém pessoal e profissionalmente. Exemplo: Xuxa, Pelé, Lula. Este por

identificar alguém pessoalmente pode ser acrescentado ou até mesmo substituído no nome.
Assim, o hipocorístico irá fazer parte do nome e gozar da proteção que lhe é garantida.

Mas, atenção, pois o pseudônimo também é protegido pelo CC, desde que usado para
atividades lícitas (art. 19).

A utilização do nome de qualquer pessoa, em propagandas comerciais, deve ser

autorizada, sob pena de responsabilidade, sendo vedada a utilização deste em publicação que
exponha o indivíduo ao desprezo público, ainda que não haja intenção difamadora.

Já os artigos 17 e 18 do CC estabelecem o dano “in re ipsa” (presumido), ou seja, aquele


onde não precisa provar o prejuízo, bastando provar o ilícito. Portanto, configurado o dano,

cabe direito à reparação do dano. Vejamos:

“Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações
ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja
intenção difamatória17.”

“Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda
comercial.”

Por fim, é importante salientar que, em regra, o nome é inalterável (Princípio da

Imutabilidade relativa do nome). Contudo, nos termos da LRP, em seu art. 56, o titular do

17
Vide questão 2 do material
31
nome tem o direito de mudar imotivadamente o nome, no primeiro ano após a aquisição da

capacidade, respeitada somente a indicação de origem ancestral.

Porém existem algumas exceções ao princípio da inalterabilidade relativa do nome. Assim


podem ser mudados os nomes nas situações abaixo:

● Nome que expõe a pessoa ao ridículo, inclusive no caso de homonímias (nomes


iguais). Ex. Jacinto Aquino Rego;

● Erro crasso de grafia. Ex. Cráudio;

● Estatuto do estrangeiro: permite a mudança do nome estrangeiro quando a pessoa

adquire a cidadania brasileira.

● Introdução de alcunhas, apelidos sociais ou cognome. Ex.: Xuxa, Lula;

● Introdução de nome do cônjuge ou companheiro. Quando alguém incorpora o


nome do outro passa a ser um direito da personalidade do incorporador. Não pode

ser obrigado a retirar no divórcio. Importante dizer que tal mudança deve ser feita no
momento do casamento, caso queira ser feita posteriormente, necessitará de uma

autorização judicial para a mudança do nome.

● Reconhecimento de filho ou adoção;

● Proteção de testemunha (Lei 9807/99);

● Inclusão de sobrenome por enteado por padrasto ou madrasta, havendo motivo


ponderável e desde que haja concordância do último (Lei Clodovil – n.º 11.924/2009).

● Viuvez (hipótese já reconhecida pela jurisprudência do STJ);

Atualmente, confere-se aos transexuais o direito à alteração do prenome e do


sexo/gênero no registro civil, independentemente de realização de cirurgia de

transgenitalização ou de autorização judicial para tanto (STJ REsp 1.626.739-RS Info 608), em
atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Sobre o tema, o STJ decidiu que:


32
“Independentemente da realização de cirurgia de adequação sexual, é possível a
alteração do sexo constante no registro civil de transexual que comprove
judicialmente a mudança de gênero. Nesses casos, a averbação deve ser realizada
no assentamento de nascimento original com a indicação da determinação judicial,
proibida a inclusão, ainda que sigilosa, da expressão ‘transexual’, do sexo biológico
ou dos motivos das modificações registrais”.18

A Corregedoria Nacional de Justiça regulamentou em junho de 2018 a alteração, em


cartório, de prenome e gênero nos registros de casamento e nascimento de pessoas

transgênero. O Provimento n. 73/CNJ prevê a alteração das certidões sem a obrigatoriedade


da comprovação da cirurgia de mudança de sexo nem de decisão judicial.

Ainda sobre o tema, preservando a filiação socioafetiva e reconhecendo o nome com um


elemento da personalidade que não pode remeter a pessoa a angústia, o STJ autorizou que é
possível a exclusão dos sobrenomes paternos em razão de abandono pelo genitor 19.

4.5.3 Direitos da Personalidade da Integridade Intelectual


(Direito Autoral)

O direito autoral é híbrido, uma vez que é ao mesmo tempo direito da personalidade

e direito real:

 Direito a personalidade: no que diz respeito ao invento, à criação;


 Direito real (natureza patrimonial): no que diz respeito ao exercício, à sua exploração.

Nessa dualidade, o direito autoral é classificado como bem móvel e incorpóreo, não

sendo, assim, suscetível de posse ou de usucapião.

 Súmula 228 STJ: “É inadmissível o interdito proibitório para a proteção de direito


autoral”.

18http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Transexuais-t%C3%AAm-direito-
%C3%A0-altera%C3%A7%C3%A3o-do-registro-civil-sem-realiza%C3%A7%C3%A3o-de-cirurgia
19 STJ. 3ª Turma. REsp 1.304.718 SP, Rel. Min. Paulo Tarso Severino, julgado em 18/12/2014.

33
Como pode se proteger, então, o direito autoral? Este pode ser protegido por tutela

específica ou por tutela indenizatória, mas jamais por tutela possessória.

Vale dizer que o titular do direito autoral é o criador da obra, que pode ser pessoa

natural ou jurídica, podendo ser até mesmo o Estado.

Em razão do caráter patrimonial dos direitos autorais, é admitida sua transmissão por

ato inter vivos ou causa mortis.

 Transmissão em vida: presumidamente onerosa e reconhece ao autor o direito


irrenunciável à percepção de, no mínimo, 5% sobre o preço de comercialização
da obra (art. 38 da Lei de Direitos Autorais). Exemplo: escritor que escreve um livro,
cedendo a exploração a uma editora.
 Transmissão por morte: o direito autoral é transmitido pelo prazo de 70 anos,
contados de 1º de janeiro do ano seguinte à morte do autor (art. 41 da citada lei).
Findo esse período, a obra cai em domínio público, como por exemplo, as obras
de Machado de Assis.

A Lei dos Direitos Autorais, dispõe em seu artigo 33, sobre a proteção contra a execução
pública, ou seja, quem executa em público o direito autoral deve pagar por ele.

Sobre o tema, o STJ tem a Súmula 63: “São devidos direitos autorais pela retransmissão
radiofônica de músicas em estabelecimentos comerciais.” Deste modo, o STJ possui

entendimento consolidado de que é legítima a cobrança de direito autoral de clínicas médicas


pela disponibilização de aparelhos de rádio e televisão nas salas de espera.

Tem-se, assim, que a simples circunstância de promover a exibição pública da obra


artística em local de frequência coletiva caracteriza o fato gerador da contribuição pelo uso da

obra, sendo irrelevante o aferimento de lucro como critério indicador do dever de pagar
retribuição autoral.

Por sua vez, em relação aos direitos extrapatrimoniais do autor, há o direito à


paternidade da obra, pela qual o autor pode modificar, a qualquer tempo, sua obra, podendo,
inclusive, preferindo, mantê-la inédita, não a divulgando e impedindo que terceiros
34
indevidamente a divulguem. Terceiros não podem modificar obras de outrem, e os herdeiros

do direito autoral tampouco, podendo somente atualizar a obra, quando houver autorização.

35
QUADRO SINÓPTICO

DIREITOS DA PERSONALIDADE
 Intransmissíveis
 Irrenunciáveis
 Absolutos
 Extrapatrimoniais
 Impenhoráveis
 Inatos
Características dos  Imprescritíveis.
Direitos da Obs. 1: Na verdade, são direitos relativamente indisponíveis. O titular

Personalidade pode restringir voluntariamente um direito da personalidade se: o ato


não for permanente; o ato não for genérico; e o ato não violar a sua
dignidade.
Obs. 2: A pretensão de reconhecimento de ofensa a direito da
personalidade é imprescritível. No entanto, o direito de exigir a
reparação pelo dano prescreve, exceto o direito de exigir a reparação
de dano advindo de tortura cometida no Regime Militar.
 Os direitos da personalidade aplicam-se, no que couber, às PJ.
 A pessoa jurídica pode sofrer dano moral, desde que demonstrada
Direitos da
ofensa à sua honra objetiva.
Personalidade da
 Mas, a pessoa jurídica de direito público não é titular de direito à
Pessoa Jurídica indenização por dano moral relacionado à ofensa de sua honra ou
imagem.

Tutela Jurídica dos Art. 12, CC: Pode-se exigir que cesse a ameaça (tutela preventiva), ou
a lesão, a direito de personalidade, e reclamar perdas e danos (tutela
Direitos da
reparatória), sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.”
Personalidade
 Não tem um rol taxativo.
 Pode ocorrer por meio da tutela inibitória, com a aplicação de uma
Tutela Preventiva
pena de multa no caso de descumprimento; ou sub-rogatória, quando
o juiz manda fazer uma coisa específica, por exemplo.
 Em regra, ocorre pela indenização por danos morais, que tem, na
Tutela Reparatória
verdade, caráter compensatório (e não reparatório).

36
 Para o STJ, basta a violação a um direito da personalidade, para que
se configure o dano moral, ou seja, tem caracterização objetiva, sendo
in re ipsa.
 Para o STJ, a fixação do valor indenizatório deve considerar o
desestimulo, o caráter pedagógico para que aquela conduta não
ocorra novamente
 Dano moral coletivo: quando houver uma violação coletiva da
personalidade.
Tutela Coletiva dos
 Tutela processual: por meio de ação civil pública.
Direitos da
 Exemplos: danos difusos ao consumidor, dano ambiental.
Personalidade  O valor da indenização reverte-se em favor do fundo criado
para esse fim (art. 13, Lei 7.347/1985).
Art. 13, caput, CC: Salvo por exigência médica, é PROIBIDO o ato de
disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente
da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Art. 13, §ú, CC É PERMITIDA disposição do próprio corpo para fins de
transplante de órgãos, desde que ocorra na forma estabelecida em lei
especial.
 “Wannabes”: não é aceita pelo ordenamento brasileiro.
 Mudança de sexo em Transexuais: a transgenitalização é permitida
pelo ordenamento.
 Transplantes entre pessoas vivas: permitidos desde que:
 Órgãos dúplices ou regeneráveis, cuja perda não implique risco
de vida ou deformidade ao doador;
Tutela Jurídica do  Gratuidade do ato;
Corpo Vivo  Beneficiário e doador devem integrar o mesmo grupo familiar
(caso não integrem, deve haver autorização judicial).
 Barriga de aluguel: permitida desde que:
 As partes sejam capazes;
 Gratuidade do procedimento;
 Impossibilidade gestacional da mãe biológica;
 Mãe biológica e mãe hospedeira devem integrar o mesmo
núcleo familiar (caso não integrem, deve haver autorização
judicial).
 Esterilização humana artificial: permitida desde que:
 Lapso temporal mínimo de 60 dias entre a manifestação de
vontade e o procedimento cirúrgico.
 Ter mais de 25 anos OU ter mais de 18 anos e mais de 2 filhos.

Autonomia do Art. 15, CC: Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco
de vida, a tratamento médico ou intervenção cirúrgica.
Paciente ou Livre

37
Consentimento  Cabe responsabilização civil do médico caso ele descumpra, pois o
dever de informação é um dever anexo ao da boa-fé objetiva.
Informado
Art. 14, CC: É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição
gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte
Tutela Jurídica do (consagra o princípio do consenso afirmativo: o indivíduo deve
Corpo Morto manifestar sua vontade de ser um doador).
 Se houver divergência entre a vontade expressa do falecido e da
família, deve prevalecer a da família.
Art. 5º, X, CF: são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurando o direito a indenização pelo dano
Direito à Honra material ou moral decorrente de sua violação.
Honra subjetiva: o que próprio titular pensa de si mesmo.
Honra objetiva: o que as pessoas pensam do titular do direito.
Art. 5º, V e X, CF.
Art. 20, CC: tutela o direito de palavra, à imagem e aos escritos.
 Imagem RETRATO: caraterísticas fisionômicas da pessoa.
 Imagem ATRIBUTO: exteriorização da personalidade do individuo.
 A imagem atributo também é aplicável à pessoa jurídica.
 Imagem VOZ: timbre sonoro identificador.
Súmula 403 STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela
publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos
ou comerciais.
Direito à Imagem  Existe ofensa mesmo que a veiculação da imagem não tenha caráter
vexatório.
 Art. 20: a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
publicação, a exposição ou a utilização da imagem.
 Art. 20, §ú, CC: Se morto ou ausente o titular são legitimados
apenas: cônjuge, descendentes e ascendentes.
 Não confunda com o art. 12, caput e §ú, que abrange todos os
diretos da personalidade e, caso morto o titular, são legitimados
além do cônjuge, descendentes e ascendentes, os colaterais até
o 4º grau.
Art. 21, CC: protege a intimidade do indivíduo (incluídos o direito ao
sigilo de correspondência, telefônico, e via internet).
Direito à Privacidade O direito à privacidade não admite exceção da verdade.
O STF entende inexigível a autorização prévia para a publicação de
biografias.

Direito ao  Decorre do art. 5, X, CF; art. 21, CC; e da dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, CF).
Esquecimento

38
 É o direito que um indivíduo tem de não aquiescer que um fato a ele
ocorrido, mesmo que verdadeiro, seja exposto ao público após um
grande período de tempo de seu acontecimento.
 Uso excepcional, para que não viole o direito à informação e não
ocorra qualquer tipo de cencura. Em sua aplicação deve haver uma
ponderação entre a proteção à intimidade ou à imagem e a vedação
à censura e a garantia à livre manifestação do pensamento.
 art. 16, CC: Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o
prenome e o sobrenome.
 Aspectos do nome:
 Prenome: identifica a pessoa, podendo ser simples ou composto;
 Sobrenome (patronímico): identifica a origem ancestral. Não é
obrigatório constar primeiro o do pai ou da mãe.
 Agnome: partícula diferenciadora que distingue pessoas que
pertencem à mesma família e possuem o mesmo nome (exemplo:
júnior, neto, filho, terceiro, etc).
 Não são componentes do nome: títulos de nobreza (conde); títulos
pessoais (doutor); pseudônimo (nome que identifica alguém tão
Direito ao Nome somente em sua esfera profissional lícita).
 Uso do nome alheio - dano in re ipsa (arts. 17 e 18, CC).
 Em regra, é inalterável. Mas, há exceções, como a possuibilidade de
mudar imotivadamente o nome, no primeiro ano após a aquisição
da capacidade; a introdução do nome do cônjuge; a introdução de
alcunhas; a mudança do nome que expõe a pessoa ao ridículo, dentre
outras.
 Os transexuais podem alterar o prenome e o sexo/gênero no
registro civil, independentemente de realização de cirurgia de
transgenitalização ou de autorização judicial.
 É possível a exclusão dos sobrenomes paternos em razão de
abandono pelo genitor.
 É bem móvel e incorpóreo, insuscetível de posse ou de usucapião.
 O titular do direito autoral é o criador da obra, que pode ser pessoa
natural ou jurídica, podendo ser até mesmo o Estado.
 Transmissão em vida: presumidamente onerosa e reconhece ao autor
Direito Autoral o direito irrenunciável à percepção de, no mínimo, 5% sobre o preço
de comercialização da obra.
 Transmissão por morte: o direito autoral é transmitido pelo prazo de
70 anos, contados de 1º de janeiro do ano seguinte à morte do autor
Findo esse período, a obra cai em domínio público.

39
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Banca: FCC - 2019 - TJ-MA - Analista Judiciário - Direito) Quando se tratar de morto, lesões

a direito da personalidade podem ser reclamadas, pleiteando-se perdas e danos, pelo cônjuge
sobrevivente ou por qualquer parente até o segundo grau.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

ERRADO. Vejamos a literalidade do artigo 12:

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista

neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o
quarto grau.

Temos, portanto, que quando se tratar de morto, lesões a direito da personalidade podem

ser reclamadas, pleiteando-se perdas e danos, pelo cônjuge sobrevivente ou ou qualquer


parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau, e não somente até o segundo grau,

conforme erroneamente exposto na assertiva.

40
Questão 2

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-BA - Conciliador) A respeito de nome civil, assinale a

opção correta, conforme o Código Civil.

A) O nome da pessoa pode ser utilizado em propaganda comercial, mesmo sem a sua
autorização.

B) A utilização do nome de uma pessoa por outrem em publicação cujo conteúdo a expõe a

desprezo público não é ilegal.

C) Pseudônimo adotado para o exercício de atividades lícitas não possui proteção.

D) Pseudônimo adotado para o exercício de atividades lícitas possui a mesma proteção

assegurada ao nome.

E) O nome da pessoa não pode ser utilizado em propaganda comercial, mesmo com a sua
autorização.

Comentário:

A) Errada. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial"

(art. 18 do CC). Em consonância com o art. 18 do CC, temos, ainda, o Enunciado 278 do
CJF: “A publicidade que divulgar, sem autorização, qualidades inerentes a determinada

pessoa, ainda que sem mencionar seu nome, mas sendo capaz de identificá-la, constitui
violação a direito da personalidade".

B) Errada. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou

representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória" (art. 17 do CC). E mais: alguns doutrinadores, entre eles o Flavio Tartuce e a
Silmara Chinellato, consideram este dispositivo um retrocesso, pois, ainda que não haja

exposição da pessoa ao desprezo público, caberá a tutela do nome quando este for
41
utilizado indevidamente (TARTUCE, Flavio. Direito Civil. Lei de Introdução e Parte Geral. 15.

ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. v. 1. p. 288).

Este dispositivo protege tanto o nome das pessoas físicas, quanto das pessoas jurídicas.
No mais, os elementos que compõe o nome encontram-se arrolados no art. 16 do CC.

Vejamos um acórdão do STJ: “O direito ao nome é parte integrante dos direitos de


personalidade tanto das pessoas físicas quanto das pessoas jurídicas, constituindo o motivo
pelo qual o nome (empresarial ou fantasia) de pessoa jurídica não pode ser empregado

por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público nem


tampouco utilizado por terceiro, sem sua autorização prévia, em propaganda comercial"

(REsp 1481124 / SC, Relator RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, DJe 13/04/2015).

C) Errada. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao


nome" (art. 19 do CC). Pseudônimo, segundo a definição da doutrina, é o “nome atrás do

qual se esconde um autor de obra artística, literária ou cientifica" (TARTUCE, Flavio. Direito
Civil. Lei de Introdução e Parte Geral. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. v. 1. p. 194). A

proteção restringe-se a atividades lícitas.

D) Correta. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao


nome.

E) Errada. Conforme já explicado na assertiva A, “sem autorização, não se pode usar o

nome alheio em propaganda comercial" (art. 18 do CC).

Questão 3

(Banca: AOCP - 2021 - MPE-RS - Analista do Ministério Público) A ameaça ou a lesão ao


nome pode ser objeto de tutela inibitória, podendo até mesmo ser solicitada a providência por

qualquer parente em linha reta em caso de pessoa falecida, caso a ameaça ou lesão tenha o
condão de atingir o de cujus.

42
( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

CERTO. Conforme o Art. 12, Parágrafo único, do CC, em se tratando de morto, terá
legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou

qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Questão 4

(Banca Própria - TJ-AC – Conciliador criminal - 2016) Os direitos da personalidade:

a) Não estão previstos no Código Civil Brasileiro.

b) São renunciáveis.

c) Não pode o seu exercício sofrer limitação voluntária.

d) São transmissíveis.

Comentário:

O gabarito da questão é a letra C, de acordo, novamente, com o art. 11, CC: “Com exceção

dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e


irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”

Questão 5

43
(CS-UFG – Câmara de Anápolis - Analista Administrativo - 2017) No tocante aos direitos da
personalidade, o artigo 12 do Código Civil de 2002 dispõe que “pode-se exigir que cesse a
ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de
outras sanções previstas em lei”. Em se tratando de pessoa morta, terá legitimação para requerer
a medida prevista neste artigo

a) o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente.


b) o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o segundo grau.
c) o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o terceiro grau.
d) o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Comentário:

A resposta está baseada no art.12, parágrafo único, CC:

“Art.12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e


reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida


prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou
colateral até o quarto grau”.

Assim, correta está a alternativa D.

Atenção! Tomem muito cuidado para não confundirem o parágrafo único do art. 12 com
o do art. 20.

“Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à


manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou
a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser
proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem
a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para
requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes”.

Percebam que há mais partes legítimas no art. 12, parágrafo único, CC em que há uma
lesão geral aos direitos da personalidade.

44
Questão 6

(Banca: AOCP - 2021 - MPE-RS - Analista do Ministério Público) É vedado o ato de disposição
do próprio corpo que venha a contrariar os bons costumes, excepcionando-se a essa regra a
exigência médica ou posteriormente à morte, sendo possível, nesse último caso, que assim seja
feito com objetivo altruístico, caso realizado de forma gratuita.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

CERTO: Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os

bons costumes. Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de
transplante, na forma estabelecida em lei especial. Art. 14. É válida, com objetivo científico,
ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois

da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer
tempo.

Questão 7

(Quadrix - IDURB - Analista de Desenvolvimento Urbano – 2020) Acerca dos direitos de

personalidade, julgue o item.

Em razão da teoria do direito ao esquecimento, antecedentes criminais muito antigos podem


ser afastados como subsídio a uma análise desfavorável de caráter do indivíduo.

( ) CERTO

45
( ) ERRADO

Comentário:

A assertiva está correta, devendo ser aplicado o direito ao esquecimento.

Sobre o tema, interessante conhecer a Jurisprudência em Teses do STJ - Edição nº 137 -


I: “Quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, admite-se

o afastamento de sua análise desfavorável, em aplicação à teoria do direito do


esquecimento”.

Conforme vimos, o direito ao esquecimento é um direito da personalidade que não

consta em qualquer norma jurídica, embora seja muito debatido, atualmente, pela doutrina e
jurisprudência. No que toca ao tema, também temos o Enunciado nº 531, do CJF: “A tutela da

dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento".


Tem sua origem histórica no campo das condenações criminais, surgindo como direito do ex-

detento à ressocialização.

Destaque-se a decisão prolatada pela Quarta Turma do STJ, no Recurso Especial


1.334.097/RJ, que reconheceu o direito ao esquecimento de homem inocentado da acusação

de envolvimento na chacina da Candelária e que foi retratado pelo extinto programa “Linha
Direta", da TV Globo, mesmo após a absolvição criminal. A emissora foi condenada a indenizar
o autor da demanda, por danos morais, em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) (TARTUCE, Flavio.

Direito Civil. Lei de Introdução e Parte Geral. 15. ed. Rio de janeiro: Forense, 2019. v. 1, p. 231).

Questão 8

(Quadrix - IDURB - Analista de Desenvolvimento Urbano - 2020) Acerca dos direitos de


personalidade, julgue o item.
O uso, por sociedade empresária, de imagem de pessoa, isoladamente, em local público, sem
conotação vexaminosa, não configura dano moral.

46
( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

O item está incorreto.

De acordo com o STJ, o uso, por sociedade empresária, de imagem de pessoa física
fotografada isoladamente em local público, em meio a cenário destacado, configura dano moral
mesmo que não tenha havido nenhuma conotação ofensiva ou vexaminosa na
divulgação. O dano moral decorre tão somente do fato de ter sido usada a imagem da
pessoa sem a sua autorização.

Veja a ementa abaixo

“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. DIREITO À IMAGEM. VIOLAÇÃO AO ART.


535 DO CPC: INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF. CONTRARIEDADE AOS ARTS. 28, 30 E 79
DA LEI 9.610/98: AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO (SÚMULA 211/STJ). IMAGEM DE
PESCADOR EM ATIVIDADE CAPTADA EM LOCAL PÚBLICO. AUSÊNCIA DE CONTEÚDO
OFENSIVO. DIVULGAÇÃO: CAMPANHA PUBLICITÁRIA. FINALIDADE COMERCIAL.
INEXISTÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO. PROVEITO ECONÔMICO. USO INDEVIDO DA IMAGEM.
DANO MORAL CONFIGURADO (SÚMULA 403/STJ). RECURSO IMPROVIDO. 1.
Relativamente à infringência ao art. 535 do CPC, cumpre salientar que a recorrente fez
apenas alegação genérica de sua vulneração, apresentando uma fundamentação deficiente
que impede a exata compreensão da controvérsia. Incidência da Súmula 284/STF. 2. Os
arts. 28, 30 e 79 da Lei 9.610/98 não foram prequestionados no v. acórdão recorrido.
Incidência da Súmula 211/STJ. 3. O uso e divulgação, por sociedade empresária, de
imagem de pessoa física fotografada isoladamente em local público, em meio a cenário
destacado, sem nenhuma conotação ofensiva ou vexaminosa, configura dano moral
decorrente de violação do direito à imagem por ausência de autorização do titular. É
cabível indenização por dano moral decorrente da simples utilização de imagem de
pessoa física, em campanha publicitária, sem autorização do fotografado (Súmula
403/STJ: “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não
autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”). 4. Recurso

47
especial improvido”. (REsp 1307366/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 03/06/2014, DJe 07/08/2014).

Questão 9

(Banca: FCC - 2019 - TJ-MA - Analista Judiciário - Direito) É válida, com objetivo científico,
apenas, a disposição gratuita do próprio corpo, desde que no todo, para depois da morte.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

ERRADO. O artigo 14 assim prevê: É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a


disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Ora, perceba que a disposição gratuita do próprio corpo, é válida no todo ou em parte,
para depois da morte, estando admitido o ato de disposição gratuita de órgãos, tecidos
e partes do corpo humano post mortem para fins científicos ou de transplante em
paciente com doença progressiva ou incapacitante, irreversível por outras técnicas
terapêutica.

Questão 10

(Banca: FCC - 2019 - TJ-MA - Analista Judiciário - Direito) Como regra, os direitos da
personalidade são irrenunciáveis mas transmissíveis, podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária.

( ) CERTO

( ) ERRADO

48
Comentário:

ERRADO. Prescreve o artigo art. 11 que, com exceção dos casos previstos em lei, os
direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária.

Importante registrar aqui que, apesar de o Código Civil de 2002 fazer menção apenas à
três características, sendo elas, intransmissibilidade, irrenunciabilidade e indisponibilidade,
os direitos da personalidade, que são aqueles direitos subjetivos da pessoa de defender
o que lhe é próprio, ou seja, a vida, a integridade, a liberdade, a sociabilidade, a reputação
ou honra, a imagem, a privacidade, a autoria etc, são também inatos, absolutos,
intransmissíveis, imprescritíveis, impenhoráveis, inexpropriáveis e ilimitados.

49
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - D

Questão 3 - CERTO

Questão 4 - C

Questão 5 - D

Questão 6 - D

Questão 7 - CERTO

Questão 8 - ERRADO

Questão 9 - ERRADO

Questão 10 - ERRADO

50
QUESTÃO DESAFIO

Antônio e Jéssica eram namorados. Na constância da relação, Antônio tirou

fotografias de Jéssica em que ela aparece de biquíni, em poses sensuais, mas

sem aparecer seu rosto. Acontece que, após o fim do relacionamento,

Antônio, como forma de vingança, publicou tais imagens em uma rede


social. Jéssica denunciou as publicações por meio dos canais disponibilizados

pela rede social, no entanto, a plataforma não aceitou retirar as fotografias

alegando que não são fotografias pornográficas (considerando que não há


nudez), além do fato de não estar sendo exposto de forma evidente. Desse

modo, pergunta-se: Houve violação de algum direito (civil) de Jéssica com


essas publicações? E por não ser possível ver o rosto de Jéssica, não

configura dano moral? Explique.

Responda em até 5 linhas

51
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

De acordo com o STJ, a exposição pornográfica não consentida, mesmo que não seja

de nudez, configura uma grave lesão aos direitos da personalidade. Ademais, o fato de não
ser possível identificar o rosto de Jéssica nas fotos é irrelevante para a configuração dos
danos morais.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Lesão aos direitos de personalidade.

A defesa da dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos constitucionais pelos


quais se orienta o ordenamento jurídico brasileiro, de acordo com o art. 1º, III, da Constituição

Federal. Ademais, no seu art. 5º, X, a Constituição Federal prevê que: “são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização

pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;” Nestes termos, para garantir a
proteção aos direitos da personalidade, o respeitável doutrinador Carlos Roberto Gonçalves aduz

que: “destinam-se os direitos da personalidade a resguardar a dignidade humana, por meio de


medidas judiciais adequadas, que devem ser ajuizadas pelo ofendido ou pelo lesado indireto.”
(Gonçalves, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral – 15. ed. – São Paulo:

Saraiva, 2017, p. 208).

Assim, a divulgação das fotos de caráter pornográfico sem consentimento configura

violação ao direito da personalidade de Jéssica, devendo tal atitude ser indenizada, inclusive
pela rede social que manteve a publicação após a solicitação de retirada.

 Irrelevante para a configuração dos danos morais.

O STJ, no informativo 672, tratando sobre o tema, decidiu que:

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E DE


INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS. RETIRADA DE CONTEÚDO ILEGAL. EXPOSIÇÃO
PORNOGRÁFICA NÃO CONSENTIDA. PORNOGRAFIA DE VINGANÇA. DIREITOS DE

52
PERSONALIDADE. INTIMIDADE. PRIVACIDADE. GRAVE LESÃO. (...) 4. A "exposição
pornográfica não consentida", da qual a "pornografia de vingança" é uma espécie,
constituiu uma grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta
indevidamente, além de configurar uma grave forma de violência de gênero que deve ser
combatida de forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis. 5. Não há como
descaracterizar um material pornográfica apenas pela ausência de nudez total. Na
hipótese, a recorrente encontra-se sumariamente vestida, em posições com forte apelo
sexual. 6. O fato de o rosto da vítima não estar evidenciado nas fotos de maneira flagrante
é irrelevante para a configuração dos danos morais na hipótese, uma vez que a mulher
vítima da pornografia de vingança sabe que sua intimidade foi indevidamente
desrespeitada e, igualmente, sua exposição não autorizada lhe é humilhante e viola
flagrantemente seus direitos de personalidade. 7. O art. 21 do Marco Civil da Internet não
abarca somente a nudez total e completa da vítima, tampouco os "atos sexuais" devem
ser interpretados como somente aqueles que envolvam conjunção carnal. Isso porque o
combate à exposição pornográfica não consentida - que é a finalidade deste dispositivo
legal - pode envolver situações distintas e não tão óbvias, mas que geral igualmente dano
à personalidade da vítima. 8. Recurso conhecido e provido. (REsp 1735712/SP, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/05/2020, DJe 27/05/2020).”

Desse modo, é possível verificar que a decisão da Corte Superior foi bastante acertada,

tendo em vista que a violação intimidade não ocorre apenas quando terceiros identificam tal
violação. O direito da personalidade é acima de tudo um direito inerente à pessoa e à sua

dignidade. Ademais, o art 7º da Lei nº 12.965/14 (Lei do Marco Civil da Internet) assegura a
“inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação;” Com isso, Jéssica poderia muito bem solicitar uma

reparação dos danos morais em face de Antônio.

53
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Direitos da personalidade

 Muito importante: Código Civil, arts. 11 a 21.


 Lei 9.610/1998, arts. 33, 38, 41.
 Lei 6.015/1973, arts. 56, 57.
 Lei 9.434/1997, arts. 1º, 3º, 4º.

 Súmula 37, STJ

“São cumuláveis as indenizações por dano moral e dano material oriundos do mesmo fato”

 Súmula 63, STJ

“São devidos direitos autorais pela retransmissão radiofônica de músicas em estabelecimentos comerciais.”

 Súmula 221, STJ

“São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor
do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação”.

 Súmula 227, STJ

“A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”

 Súmula 228, STJ

“É inadmissível o interdito proibitório para a proteção de direito autoral”.

 Súmula 261, STJ

“A cobrança de direitos autorais pela retransmissão radiofônica de músicas, em estabelecimentos hoteleiros, deve
ser feita conforme a taxa média de utilização do equipamento, apurada em liquidação”.

 Súmula 281, STJ

“A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa”.

 Súmula 362, STJ

“A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento”.

54
 Súmula 387, STJ

“É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”

 Súmula 403, STJ

“Independe da comprovação do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com
fins econômicos ou empresariais”

55
JURISPRUDÊNCIA

É ADMISSÍVEL A EXCLUSÃO DE PRENOME DA CRIANÇA NA


HIPÓTESE EM QUE O PAI INFORMOU, PERANTE O CARTÓRIO DE
REGISTRO CIVIL, NOME DIFERENTE DAQUELE QUE HAVIA SIDO
CONSENSUALMENTE ESCOLHIDO PELOS GENITORES

 STJ. 3ª Turma. REsp 1905614-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

No caso concreto, havia um consenso prévio entre os genitores sobre o nome a ser dado à filha. Esse acordo foi
unilateralmente rompido pelo pai no momento do registro da criança. Em palavras mais simples, os pais da criança
haviam ajustado um nome, mas o pai, no momento do registro, decidiu alterar o combinado. Trata-se de ato que
violou o dever de lealdade familiar e o dever de boa-fé objetiva e que, por isso mesmo, não deve merecer guarida
pelo ordenamento jurídico, na medida em que a conduta do pai configurou exercício abusivo do direito de nomear
a criança. Vale ressaltar que é irrelevante apurar se houve, ou não, má-fé ou intuito de vingança do genitor. A
conduta do pai de descumprir o que foi combinado é considerada um ato ilícito independentemente da sua
intenção. Houve, neste caso, exercício abusivo do direito de nomear o filho, o que autoriza a modificação posterior
do nome da criança, na forma do art. 57, caput, da Lei nº 6.015/73. Nomear o filho é típico ato de exercício do
poder familiar, que pressupõe bilateralidade e consensualidade, ressalvada a possibilidade de o juiz solucionar
eventual desacordo entre eles, inadmitindo-se, na hipótese, a autotutela.

Comentário: A escolha do nome da criança, formalizada em ato solene perante o registro civil consiste,
portanto, na concretização de muitos atos anteriormente praticados. Esses atos não ficam limitados à
esfera íntima dos pais, envolvendo também outras pessoas e atos concretos, como, por exemplo, a
confecção de enxovais, lembranças, decorações, além do recebimento de presentes com o nome da
criança.

NÃO SE ADMITE A DECLARAÇÃO DE INCAPACIDADE ABSOLUTA ÀS


PESSOAS COM ENFERMIDADE OU DEFICIÊNCIA MENTAL

 STJ. 3ª Turma. REsp 1927423/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/04/2021 (Info
694).

56
Depois do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), que alterou os arts. 3º e 4º do Código Civil,
não é mais possível declarar como absolutamente incapaz o maior de 16 anos que, em razão de enfermidade
permanente, encontra-se inapto para gerir sua pessoa e administrar seus bens de modo voluntário e consciente. A
Lei nº 13.146/2015 teve por objetivo assegurar e promover a inclusão social das pessoas com deficiência física ou
psíquica e garantir o exercício de sua capacidade em igualdade de condições com as demais pessoas. A partir da
entrada em vigor da referida lei, só podem ser considerados absolutamente incapazes os menores de 16 anos, ou
seja, o critério passou a ser apenas etário, tendo sido eliminadas as hipóteses de deficiência mental ou intelectual
anteriormente previstas no Código Civil. O instituto da curatela pode ser excepcionalmente aplicado às pessoas
com deficiência, ainda que agora sejam consideradas relativamente capazes, devendo, contudo, ser proporcional
às necessidades e às circunstâncias de cada caso concreto (art. 84, § 3º, da Lei nº 13.146/2015).

Comentário: Não confundir o curador do interditando, que é nomeado ao final, caso a ação seja julgada
procedente (art. 755, I, do CPC/2015), com o curador especial, que é designado logo no início da ação
e unicamente para resguardar os interesses processuais do interditando. Apesar de o nome ser parecido,
são figuras completamente diferentes. O curador à lide é um instituto processual, que só existe enquanto
perdurar o processo. O curador do interditando é uma figura de direito material, que vai surgir caso a
ação de interdição seja julgada procedente.

É ADMISSÍVEL O RETORNO AO NOME DE SOLTEIRO DO CÔNJUGE


AINDA NA CONSTÂNCIA DO VÍNCULO CONJUGAL

 STJ. 3ª Turma. REsp 1873918-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/03/2021 (Info 687).

É admissível o retorno ao nome de solteiro do cônjuge ainda na constância do vínculo conjugal. Exemplo hipotético:
Regina Andrade Medina casou-se com João da Costa Teixeira. Com o casamento, ela passou a ser chamada de
Regina Medina Teixeira. Ocorre que, após anos de casada, Regina arrependeu-se da troca e deseja retornar ao
nome de solteira. Ela apresentou justas razões de ordem sentimental e existencial. O pedido deve ser acolhido a
fim de ser preservada a intimidade, a autonomia da vontade, a vida privada, os valores e as crenças das pessoas,
bem como a manutenção e perpetuação da herança familiar.

Comentário: O direito ao nome é um dos elementos estruturantes dos direitos da personalidade e da


dignidade da pessoa humana, pois diz respeito à própria identidade pessoal do indivíduo, não apenas
em relação a si, como também em ambiente familiar e perante a sociedade.

O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO NÃO CONSAGRA O


DENOMINADO DIREITO AO ESQUECIMENTO

 STF. Plenário. RE 1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021 (Repercussão Geral
– Tema 786) (Info 1005).

57
É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim entendido como o poder de
obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e
publicados em meios de comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no exercício da
liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a caso, a partir dos parâmetros constitucionais
– especialmente os relativos à proteção da honra, da imagem, da privacidade e da personalidade em geral – e as
expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível.

Comentário: “(...) o direito ao esquecimento é, portanto, um direito (a) exercido necessariamente por
uma pessoa humana; (b) em face de agentes públicos ou privados que tenham a aptidão fática de
promover representações daquela pessoa sobre a esfera pública (opinião social); incluindo veículos de
imprensa, emissoras de TV, fornecedores de serviços de busca na internet etc.; (c) em oposição a uma
recordação opressiva dos fatos, assim entendida a recordação que se caracteriza, a um só tempo, por
ser desatual e recair sobre aspecto sensível da personalidade, comprometendo a plena realização da
identidade daquela pessoa humana, ao apresenta-la sob falsas luzes à sociedade.” (Anderson SCHREIBER.
Direito ao esquecimento e proteção de dados pessoais na Lei 13.709/2018. In: TEPEDINO, G; FRAZÃO, A;
OLIVA, M.D. Lei geral de proteção de dados pessoais e suas repercussões no direito brasileiro. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 376).

O USO DA IMAGEM DE TORCEDOR INSERIDO NO CONTEXTO DE


UMA TORCIDA NÃO INDUZ A REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS
QUANDO NÃO CONFIGURADA A PROJEÇÃO, A IDENTIFICAÇÃO E A
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NELA REPRESENTADA

 STJ. 3ª Turma. REsp 1772593-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/06/2020 (Info 674).

Em regra, a autorização para uso da imagem deve ser expressa; no entanto, a depender das circunstâncias,
especialmente quando se trata de imagem de multidão, de pessoa famosa ou ocupante de cargo público, há
julgados do STJ em que se admite o consentimento presumível, o qual deve ser analisado com extrema cautela e
interpretado de forma restrita e excepcional.

De um lado, o uso da imagem da torcida - em que aparecem vários dos seus integrantes - associada à partida de
futebol, é ato plenamente esperado pelos torcedores, porque costumeiro nesse tipo de evento; de outro lado,
quem comparece a um jogo esportivo não tem a expectativa de que sua imagem seja explorada comercialmente,
associada à propaganda de um produto ou serviço, porque, nesse caso, o uso não decorre diretamente da existência
do espetáculo.

A imagem é a emanação de uma pessoa, a forma com a qual ela se projeta, se identifica e se individualiza no meio
social. Não há violação ao direito à imagem se a divulgação ocorrida não configura projeção, identificação e
individualização da pessoa nela representada.
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No caso concreto, o autor não autorizou ainda que tacitamente a divulgação de sua imagem em campanha
publicitária de automóvel. Ocorre que, pelas circunstâncias, não há que se falar em utilização abusiva da imagem,
tampouco em dano moral porque o vídeo divulgado não destaca a sua imagem, mostrando o autor durante poucos
segundos inserido na torcida, juntamente com vários outros torcedores.

Comentário: Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação


não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.

NA EXPOSIÇÃO PORNOGRÁFICA NÃO CONSENTIDA, O FATO DE O


ROSTO DA VÍTIMA NÃO ESTAR EVIDENCIADO DE MANEIRA
FLAGRANTE É IRRELEVANTE PARA A CONFIGURAÇÃO DOS DANOS
MORAIS

 STJ. 3ª Turma. REsp 1735712-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Caso concreto: Paulo e Letícia eram namorados. Paulo tirou fotografias de Letícia em que ela aparece de biquini,
em poses sensuais, mas sem aparecer seu rosto. Após o fim do relacionamento, Paulo, como forma de vingança,
publicou tais imagens em um perfil criado no Facebook. Letícia denunciou as publicações por meio dos canais
disponibilizados pelo Facebook, no entanto, a plataforma não aceitou retirar as fotografias alegando que não são
fotografias pornográficas (considerando que não há nudez), além do fato de não estar sendo exposto de forma
evidente. O STJ não concordou com os argumentos do Facebook e o condenou a pagar indenização por danos
morais em favor da autora. A “exposição pornográfica não consentida”, da qual a “pornografia de vingança” é uma
espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de
configurar uma grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma contundente pelos meios
jurídicos disponíveis. Não há como descaracterizar um material pornográfico apenas pela ausência de nudez total.
Neste caso concreto, a autora encontra-se sumariamente vestida, em posições com forte apelo sexual. O fato de o
rosto da vítima não estar evidenciado nas fotos de maneira flagrante é irrelevante para a configuração dos danos
morais na hipótese, uma vez que a mulher vítima da pornografia de vingança sabe que sua intimidade foi
indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição não autorizada lhe é humilhante e viola flagrantemente
seus direitos de personalidade.

Comentário: A “exposição pornográfica não consentida”, da qual a “pornografia de vingança” (revenge


porn) é uma espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta
indevidamente, além de configurar uma grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de
forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis.

EXISTINDO INTERESSE SOCIAL À MEMÓRIA HISTÓRICA DE CRIME


NOTÓRIO, NÃO É POSSÍVEL ACOLHER A TESE DO DIREITO AO
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ESQUECIMENTO PARA PROIBIR QUALQUER VEICULAÇÃO FUTURA
DE MATÉRIAS JORNALÍSTICAS RELACIONADAS AO FATO

 STF. Plenário. RE 1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021 (Repercussão Geral
– Tema 786) (Info 1005).

Existindo evidente interesse social no cultivo à memória histórica e coletiva de delito notório, incabível o
acolhimento da tese do direito ao esquecimento para proibir qualquer veiculação futura de matérias jornalísticas
relacionadas ao fato criminoso cuja pena já se encontra cumprida. O chamado direito ao esquecimento, apesar de
ser reconhecido pela jurisprudência, não possui caráter absoluto. Em caso de evidente interesse social no cultivo à
memória histórica e coletiva de delito notório, não se pode proibir a veiculação de matérias jornalísticas
relacionados com o fato criminoso, sob pena de configuração de censura prévia, vedada pelo ordenamento jurídico
pátrio. Em tal situação, não se aplica o direito ao esquecimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1736803-RJ, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670). STF Posteriormente a esse julgado, o STF decidiu que
ordenamento jurídico brasileiro não consagra o denominado direito ao esquecimento: É incompatível com a
Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim entendido como o poder de obstar, em razão da
passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios de
comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no exercício da liberdade de expressão e
de informação devem ser analisados caso a caso, a partir dos parâmetros constitucionais – especialmente os
relativos à proteção da honra, da imagem, da privacidade e da personalidade em geral – e as expressas e específicas
previsões legais nos âmbitos penal e cível.

Comentário: No Brasil, o direito ao esquecimento possui assento constitucional e legal,


considerando que é uma consequência do direito à vida privada (privacidade), intimidade e
honra, assegurados pela CF/88 (art. 5º, X) e pelo CC/02 (art. 21).

A VEICULAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA SOBRE DELITO


HISTÓRICO QUE EXPÕE A VIDA COTIDIANA DE TERCEIROS NÃO
ENVOLVIDOS NO FATO CRIMINOSO, EM ESPECIAL DE CRIANÇA E DE
ADOLESCENTE, REPRESENTA OFENSA AO PRINCÍPIO DA
INTRANSCENDÊNCIA

 STF. Plenário. RE 1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021 (Repercussão Geral
– Tema 786) (Info 1005).

Matéria jornalística que, sob o pretexto de noticiar crime histórico, expõe a intimidade do atual marido e dos filhos
da condenada, pessoas que não têm relação direta com o fato, ofende o princípio da intranscendência ou da

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pessoalidade da pena, descrito no art. 5º, XLV, da CF/88 e no art. 13 do Código Penal. Isso porque, ao expor
publicamente a intimidade dos referidos familiares em razão do crime ocorrido, a reportagem compartilhou
dimensões evitáveis e indesejáveis dos efeitos da condenação então estendidas à atual família da ex-condenada.
Especificamente quanto aos filhos, menores de idade, ressalta-se a Opinião Consultiva n. 17, de 28 de agosto de
2002 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que entende que o melhor interesse das crianças e dos
adolescentes é reconhecido como critério regente na aplicação de normas em todos os aspectos da vida dos
denominados “sujeitos em desenvolvimento”. Ademais, a exposição jornalística da vida cotidiana dos infantes,
relacionando-os, assim, ao ato criminoso, representa ofensa ao direito ao pleno desenvolvimento de forma sadia e
integral, nos termos do art. 3º do ECA e do art. 16 da Convenção sobre os Direitos da Criança, promulgada pelo
Decreto nº 99.710/90. STJ. 3ª Turma. REsp 1736803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020
(Info 670). STF Posteriormente a esse julgado, o STF decidiu que ordenamento jurídico brasileiro não consagra o
denominado direito ao esquecimento: É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento,
assim entendido como o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados
verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios de comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais
excessos ou abusos no exercício da liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a caso, a
partir dos parâmetros constitucionais – especialmente os relativos à proteção da honra, da imagem, da privacidade
e da personalidade em geral – e as expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível.

Comentário: O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa possui de não permitir que
um fato, ainda que verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao
público em geral, causando-lhe sofrimento ou transtornos.

É POSSÍVEL A RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL PARA ACRÉSCIMO


DO SEGUNDO PATRONÍMICO DO MARIDO AO NOME DA MULHER
DURANTE A CONVIVÊNCIA MATRIMONIAL

 STJ. 3ª Turma. REsp 1648858-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/08/2019
(Info 655).

O cônjuge pode acrescentar sobrenome do outro (§ 1º do art. 1.565, do Código Civil). Em regra, o sobrenome do
marido/esposa é acrescido no momento do matrimônio, sendo essa providência requerida no processo de
habilitação do casamento. A despeito disso, não existe uma vedação legal expressa para que, posteriormente, no
curso do relacionamento, um dos cônjuges requeira o acréscimo do outro patronímico do seu cônjuge por meio
de ação de retificação de registro civil, especialmente se o cônjuge apresenta uma justificativa. Vale ressaltar que
o art. 1.565, §1º do CC não estabelece prazo para que o cônjuge adote o apelido de família do outro, em se
tratando, no caso, de mera complementação, e não alteração do nome. Assim, é possível a retificação do registro
civil para acréscimo do segundo patronímico do marido ao nome da mulher durante a convivência matrimonial.

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Comentário: É possível a alteração de assento registral de nascimento para a inclusão do patronímico
do companheiro na constância de uma união estável, em aplicação analógica do art. 1.565, § 1º, do CC,
desde que:

• seja feita prova documental da relação por instrumento público e

• haja anuência do companheiro cujo nome será adotado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.206.656-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2012.

NÃO SE EXIGE QUE O INDIVÍDUO TENHA DEIXADO UM


DOCUMENTO ESCRITO DIZENDO QUE DESEJAVA SER SUBMETIDO À
CRIOGENIA, PODENDO ESSA VONTADE SER PROVADA POR OUTROS
MEIOS, COMO A DECLARAÇÃO DO FAMILIAR MAIS PRÓXIMO

 STJ. 3ª Turma. REsp 1693718-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/03/2019 (Info
645).

Não há exigência de formalidade específica acerca da manifestação de última vontade do indivíduo sobre a
destinação de seu corpo após a morte, sendo possível a submissão do cadáver ao procedimento de criogenia em
atenção à vontade manifestada em vida. A criogenia (ou criopreservação) é a técnica de congelamento do corpo
humano após a morte, em baixíssima temperatura, a fim de conservá-lo, com o intuito de reanimação futura da
pessoa caso sobrevenha alguma importante descoberta científica que possibilite o seu retorno à vida. Em outras
palavras, a criogenia consiste no congelamento de cadáveres a baixas temperaturas, com a finalidade de que, com
os possíveis avanços da ciência, sejam, um dia, ressuscitados.

Comentário: Outra forma de destinação do corpo humano para depois da morte não prevista em nossa
legislação que vem ganhando muitos adeptos no mundo todo é a criogenia.

A criogenia (ou criopreservação) é a técnica de congelamento do corpo humano após a morte, em


baixíssima temperatura, a fim de conservá-lo, com o intuito de reanimação futura da pessoa caso
sobrevenha alguma importante descoberta científica que possibilite o seu retorno à vida.

Em outras palavras, a criogenia consiste no congelamento de cadáveres a baixas temperaturas, com a


finalidade de que, com os possíveis avanços da ciência, sejam, um dia, ressuscitados.

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INEXISTÊNCIA DO DIREITO À INDENIZAÇÃO EM RAZÃO DA
DIVULGAÇÃO, NO JORNAL, DE IMAGEM DO CADÁVER MORTO EM
VIA PÚBLICA

 STF. 2ª Turma. ARE 892127 AgR/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/10/2018 (Info 921).

Jornal divulgou a foto do cadáver de um indivíduo morto em tiroteio ocorrido em via pública.

Os familiares do morto ajuizaram ação de indenização por danos morais contra o jornal alegando que houve
violação aos direitos de imagem.

O STF julgou a ação improcedente argumentando que condenar o jornal seria uma forma de censura, o que afronta
a liberdade de informação jornalística.

Comentário: O STF manteve a condenação?

NÃO.

O STF entendeu que o juiz assumiu o papel do jornalista e do jornal de escolher o conteúdo da
reportagem e ele próprio decidiu o que seria necessário ou não mostrar na matéria jornalística,
realizando, assim, restrição censória (censura) ao agir da imprensa.

O fato noticiado existiu (é verídico) e o juiz condenou o jornal unicamente por não ter feito o
“sombreamento” da imagem divulgada e que, na sua visão, seria necessária para não expor o cadáver.

Assim, para a Min. Cármen Lúcia, não houve exercício irregular ou abusivo da liberdade de imprensa,
que é assegurada pela Constituição Federal.

A decisão das instâncias inferiores condenando o jornal vai contra a jurisprudência do STF que garante
a liberdade de informação jornalística e proíbe a censura. Isso foi assentado pelo STF no julgamento que
declarou a não-recepção da Lei de Imprensa (ADPF 130).

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil - Volume Único - 2. ed. atual. e ampl. - Salvador: JusPodivm,
2018.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral v. 1. 10. ed. - São Paulo: Atlas, 2010.

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