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CERS TRIBUNAIS

TRIBUNAIS

DIREITO CIVIL

CAPÍTULO 12
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Tribunais. Preparamos todo esse material


para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade,

garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.

O CERS Book é um material em PDF desenvolvido especificadamente para a sua carreira.


O material tem o objetivo de ser autossuficiente e totalmente direcionado, dando prioridade
aos pontos mais importantes de cada disciplina!

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,

pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a

estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para

a gente!

O que você vai encontrar aqui?

 Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela


 Questões comentadas
 Questão desafio para aprendizagem proativa
1
 Jurisprudência comentada
 Indicação da legislação compilada para leitura
 Quadro sinótico para revisão
 Mapa mental para fixação

Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que

um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para
o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

2
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada

no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

3
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 


Capítulo 2 – Teoria Geral do Direito 
Capítulo 3 – Pessoa Jurídica 

Capítulo 4 – Direitos da Personalidade 


Capítulo 5 – Domicílio 
Capítulo 6 – Bens Jurídicos 
Capítulo 7 – Teoria do ato, fato e negócio jurídico 

Capítulo 8 – Prescrição e Decadência 

Capítulo 9 – Prova do Negócio Jurídico 

Capítulo 10 – Teoria Geral das Obrigações 


Capítulo 11 – Adimplemento, extinção e inadimplemento das

obrigações

Capítulo 12 (você está aqui!) – Responsabilidade Civil 

Capítulo 13 – Teoria Geral dos Contratos 


Capítulo 14 – Contratos em espécie I 
Capítulo 15 – Contratos em espécie II 
Capítulo 16 – Posse e Direitos Reais 
Capítulo 17 – Direito de família 
Capítulo 18 – Direito sucessório 

4
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Prezados alunos,

Muitos conceitos deste capítulo estão relacionados com o que estudamos no capítulo

referente aos direitos da personalidade. Isso porque o dano moral é aquele imposto quando há
violação de direitos fundamentais e desarrazoada agressão à direitos da personalidade,

conforme veremos. Assim, caso não se lembre muito do que foi exposto no Capítulo 4, volte
nele e revise principalmente o tópico acerca da tutela jurídica reparatória dos direitos da
personalidade.

Os artigos do Código Civil referentes a esse capítulo são bastante cobrados nas provas
de Tribunais. No entanto, o aluno deve dar mais atenção aos julgados dos tribunais superiores,

para entender como os conceitos estudados ao longo do capítulo são aplicados na prática.

Apesar de sua grande extensão, o tema a ser estudado é muito relevante dentro do
Direito Civil. Ousamos dizer que este é o capítulo mais importante dessa matéria, pois a

responsabilidade civil, bem como o termo inicial dos juros e da correção monetária são
incidentes é extremamente recorrente em provas de tribunais.

Por último, ressaltamos que o aluno perceberá, no futuro, em sua vida prática de

concursado, a elevada expressão que o presente tema possui no dia a dia forense.

Note que não há motivos para deixar de ler esse capítulo, pelo contrário! Então, mãos à
obra!

5
SUMÁRIO

DIREITO CIVIL ........................................................................................................................................... 9

Capítulo 12 ................................................................................................................................................ 9

12. Responsabilidade Civil ..................................................................................................................... 9

12.1 Responsabilidade Civil X Responsabilidade Criminal ......................................................................... 10

12.2 Ato Ilícito e Abuso de Direito....................................................................................................................... 11

12.2.1 Ato ilícito ............................................................................................................................................................... 11

12.2.2 Culpa na Responsabilidade Civil................................................................................................................. 12

12.2.3 Abuso de direito ................................................................................................................................................ 12

12.3 Pressupostos da Responsabilidade Civil .................................................................................................. 14

12.3.1 Conduta ................................................................................................................................................................. 14

12.3.2 Fator de atribuição (culpa) ............................................................................................................................ 16

12.3.3 Dano ....................................................................................................................................................................... 17

12.3.4 Nexo Causal ......................................................................................................................................................... 19

12.4 Questões especiais sobre o dano ............................................................................................................... 20

12.5 Modalidade de Responsabilidade Civil..................................................................................................... 22

12.5.1 Quanto ao Fundamento ................................................................................................................................. 22

12.5.1.1 Teoria do risco (responsabilidade objetiva) ................................................................................... 22

12.5.1.1.1 Origem........................................................................................................................................................ 23

12.5.1.1.2 Modalidades do Risco ......................................................................................................................... 23

12.5.2 Quanto ao Fato Gerador................................................................................................................................ 25

12.5.3 Quanto aos Sujeitos ......................................................................................................................................... 25

12.5.4 Quanto ao Agente ............................................................................................................................................ 26

12.6 Reparação .............................................................................................................................................................. 32

6
12.6.1 Danos Patrimoniais ou Materiais ............................................................................................................... 34

12.6.2 Danos Morais ...................................................................................................................................................... 35

12.6.2.2 Natureza Jurídica do Dano Moral ...................................................................................................... 36

12.6.3 Danos Estéticos .................................................................................................................................................. 37

12.6.4 Perda de uma Chance ..................................................................................................................................... 37

12.6.5 Danos Morais Coletivos.................................................................................................................................. 38

12.6.6 Critérios De Quantificação Do Dano Moral ........................................................................................... 40

12.6.7 Dano Sociais ou Difusos ................................................................................................................................ 41

12.7 Indenização ........................................................................................................................................................... 42

12.8 Termo inicial dos juros de mora e da correção monetária ............................................................. 42

12.9 Seguro DPVAT ..................................................................................................................................................... 44

12.10 Excludentes de Responsabilidade ............................................................................................................... 45

12.10.1Legítima Defesa ................................................................................................................................................ 45

12.10.2Estado de Necessidade ou Remoção de Perigo Iminente............................................................. 45

12.10.3Exercício Regular de Direito ou das Próprias Funções .................................................................... 46

12.10.4Excludentes de Nexo de Causalidade ..................................................................................................... 46

12.10.4.1 Caso Fortuito ou Força maior .............................................................................................................. 46

12.10.4.2 Culpa exclusiva da vítima ....................................................................................................................... 47

12.10.4.3 Culpa exclusiva de terceiro.................................................................................................................... 48

12.10.5Cláusula de Não Indenizar ........................................................................................................................... 49

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 51

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 57

GABARITO ............................................................................................................................................... 70

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 71

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 72


7
LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 74

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 78

MAPA MENTAL ................................................................................................................................... 130

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 131

8
DIREITO CIVIL

Capítulo 12

Aluno(a), esse capítulo é o único que tratará o instituto da responsabilidade civil. Ele é
muito relevante e deve ser lido caso você realmente busque a aprovação na carreira de Tribunais.

Além da responsabilidade civil, ele traz os termos iniciais dos juros e da correção

monetária, bem como o tema da indenização pelo seguro obrigatório DPVAT. Tais temas
também são importantes e não podem passar batidos.

É primordial que você estude os julgados dos tribunais superiores selecionados, bem

como as súmulas transcritas.

12. Responsabilidade Civil

O tema da responsabilidade civil encontra-se presente nos artigos 927 a 954 do Código
Civil e tem como consequência o dever de indenizar.

A responsabilidade civil é uma forma de contraprestação, cujo objetivo é o de restaurar


um equilíbrio moral ou patrimonial desfeito. A perda ou a diminuição do patrimônio do lesado
ou o dano moral sofrido por este desencadeiam uma reação legal. Assim, todo aquele que

causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo, restabelecendo o equilíbrio rompido. É o que
se infere da leitura do artigo 927 do CC:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 1871), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo”.

A responsabilidade civil consiste na obrigação que uma pessoa tem de reparar o dano

causado à outra, decorrente da violação de uma norma jurídica preexistente, contratual ou

1
Vide questão 3 do material
9
extracontratual. Neste sentido, os artigos 927 a 965 do CC regulam as hipóteses causadoras

de responsabilidade civil, bem como a forma pela qual será feito o pagamento da indenização.

Sempre que alguém, mediante a prática de um ato ilícito, causar dano a outrem, ficará
obrigado a repará-lo.

O ato ilícito resulta da ação ou omissão voluntária, negligente ou imprudente, que viola
direito e causa dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. Aquele que se excede
manifestamente em seus direitos, também pratica ato ilícito.

Não constituem atos ilícitos os danos causados em virtude de: legítima defesa e exercício
regular de um direito ou quando há destruição/deterioração de coisa ou lesão à pessoa, com
finalidade de remover perigo iminente.

Regra geral: a responsabilidade é subjetiva, auferida mediante a comprovação de culpa


de quem praticou o ato. Porém, excepcionalmente, nos casos previstos em lei, a
responsabilidade será objetiva, sendo desnecessária a comprovação de culpa do agente para

ser devida a indenização.

12.1 Responsabilidade Civil X Responsabilidade Criminal

Em regra, a responsabilidade civil independe da criminal, é o que nos informa o artigo

935 do CC:

Art. 935. “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se


podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem
seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo
criminal”.2

Trata-se do princípio da independência relativa da responsabilidade civil em relação à

criminal. O indivíduo poderá não ser penalmente responsabilizado, mas ser obrigado a reparar
o dano civil ou, por outra ótica, a pessoa poderá ser civilmente responsável, sem ter que prestar

contas de seu ato na esfera criminal.

2
Vide questão 8 do material
10
No entanto, art. 935 estabelece duas exceções a esse princípio: no que diz respeito à

existência do fato ou de quem seja o seu autor, se tais questões já estiverem decididas na esfera
criminal, não se pode mais questioná-las na esfera civil.

Por último, atente-se ao que determina o art. 200, CC, que cai bastante em prova de

Tribunais:

Art. 200. “Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no
juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença
definitiva”.

12.2 Ato Ilícito e Abuso de Direito

12.2.1 Ato ilícito

Ato ilícito é aquele praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direitos e
causando prejuízos a outrem. Diante da sua ocorrência, a norma jurídica cria o dever de reparar
o dano, o que justifica o fato de ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional.

O ato ilícito é considerado um fato jurídico em sentido amplo, uma vez que produz
efeitos jurídicos impostos pela lei, mas, muitas vezes, indesejados pelo agente.3

Logo, conforme se dispõe o art. 186 do CC (muito incidente em prova) comete ato ilícito

“aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral.”

Desse modo, para o cometimento de ato lícito se faz necessário o preenchimento de dois

requisitos, vejamos:

3 Flávio Tartuce. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2018, p. 468.
11
Violação
Ato
de um Dano
Ilícito
direito

12.2.2 Culpa na Responsabilidade Civil

A responsabilidade civil subjetiva, prevista nos artigos 186 e 927 do CC, exige a verificação

de culpa (em sentido amplo, dolo ou culpa), havendo duas modalidades de culpa:

 Culpa provada: que depende de prova do autor;


 Culpa presumida: há uma inversão no ônus da prova, de modo que há uma presunção
de que o agente agiu com culpa. Assim, se for caso culpa presumida, e a vítima ajuizar
uma ação de ressarcimento: é o réu que deve provar a inocorrência de sua culpa.

Importante lembrar, que a culpa não é um elemento essencial de toda responsabilidade

civil, uma vez que nos termos dos artigos 187 e 927 do CC, a responsabilidade civil pode ser
objetiva, como no caso de abuso de direito.

12.2.3 Abuso de direito4

O abuso de direito é o ato originariamente lícito, mas exercido fora dos limites

impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes, ou
seja, é um ato praticado em exercício irregular ou imoderado de um direito.

É assim que prevê o art. 187 do CC: “Também comete ato ilícito o titular de um direito

que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.”

4
Vide questão 4 do material
12
No art. 186, CC, o legislador, ao definir ato ilícito, utilizou o critério subjetivo, baseado na
culpa. No entanto, ao definir o que é abuso de direito, no art. 187, utilizou o elemento de

ilicitude objetivo, qual seja, o elemento finalístico ou critério funcional. Isto significa que, na
forma do artigo 187, para provar o abuso de direito, não é necessário provar que houve a

intenção de prejudicar outrem ou descuido (dolo ou culpa), visto que foi utilizado o critério
finalístico. Em outros termos, se ocorreu o desvio de finalidade (podendo esta ser: fim social;

fim econômico; boa-fé; e bons costumes), há abuso, independendo de culpa ou dolo.

Para que o abuso de direito reste configurado, a pessoa deve, em sua conduta, exceder

um direito que possui, atuando em exercício irregular de direito. Dessa forma, não há que se
cogitar o elemento culpa em sua configuração, bastando que o comportamento da pessoa

exceda os parâmetros, conforme reza o art. 187 do CC.

Como exemplos de abuso de direito, podemos apresentar:

 Publicidade abusiva, no âmbito do Direito do Consumidor;


 Greve abusiva e o abuso do direito do empregador, no âmbito do direito do

trabalho;
 O abuso no processo, a lide temerária e o assédio judicial, no âmbito do direito

processual civil ou penal;


 Abuso no exercício da propriedade, no âmbito do Direito Civil.

13
A aquisição de um direito via surrectio, face oposta da supressio, não traduz abuso de
direito, desde que haja respeito à boa-fé.

12.3 Pressupostos da Responsabilidade Civil

Para que uma pessoa seja responsabilizada civilmente são necessários quatro elementos:
conduta, dano, nexo de causalidade e fator de atribuição (culpa). A culpa apenas é
pressuposto no caso da responsabilidade civil subjetiva, conforme estudaremos adiante.

Tais requisitos são cumulativos: não há responsabilidade civil se apenas um ou alguns


deles estiverem presentes.

12.3.1 Conduta

A conduta humana é um dos requisitos da responsabilidade civil uma conduta humana.

A conduta humana deve ser um fato lesivo voluntário. Acontece quando o agente, por
ação ou omissão, ocasiona dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. O ato pode ser
próprio ou de terceiro que esteja sob guarda.

A conduta humana, para ser elemento da responsabilidade civil, deve traduzir um

comportamento omissivo/comissivo marcado pela voluntariedade, ou seja, vontade consciente,


que guarde capacidade de discernimento com aquilo que se está realizando. A vontade é a

pedra de toque para a noção de conduta humana no que tange à responsabilidade civil.

Conforme dito, mas vale frisar, a conduta humana pode ser causada tanto por uma ação
(conduta positiva ou culpa in comittendo) quanto por uma omissão (conduta negativa ou
culpa in omittendo), dolosa ou por negligência, imprudência ou imperícia.

14
A fim de a omissão gerar o dever de indenizar, é necessário que exista o

dever jurídico de o indivíduo praticar determinado ato, bem como a prova de que a conduta
não foi praticada. É necessária, ainda, a demonstração de que caso a conduta fosse praticada,

o dano poderia ter sido evitado.

Não é apenas a conduta humana ilícita que gera a responsabilidade civil, essa pode
decorrer também de um ato lícito. O exemplo clássico é o de um agente que age em estado

de necessidade; nessa situação ele age licitamente, mas tem o dever de indenizar a vítima.
Acerca dessa situação, é relevante observar que a indenização deve ser proporcional ao dano
causado, sem onerar o agente que agiu licitamente5.

Exemplos de condutas lícitas que geram indenização:

 Desapropriação;
 Direito de Passagem Forçada (previsto no art. 1285, CC, pertence ao direito de
vizinhança, que estudaremos no capítulo sobre Direitos Reais);
 Estado de necessidade agressivo em que se prejudica terceiro.

Deste modo, podemos concluir que a ilicitude da conduta não é obrigatória à configuração
da responsabilidade civil. Não é correto, portanto, dizer que o ato ilícito é um elemento

obrigatório da responsabilidade civil. Conforme vimos, excepcionalmente, o ato lícito pode


resultar em um dano e gerar a responsabilização do agente.

5 Vide julgado do Informativo 513 do STJ nas jurisprudências comentadas.


15
12.3.2 Fator de atribuição (culpa)

A culpabilidade, no campo do Direito Civil, envolve tanto a culpa stricto sensu, quanto o
dolo.

A culpa sticto sensu pode ser conceituada como o desrespeito a um dever preexistente,

não havendo propriamente uma intenção de violar o dever jurídico. A culpa stricto sensu,
no Direito Civil, é relacionada ao modelo de culpa retirado do inciso II do art. 18 do Código

Penal, podendo acontecer por:

Imprudência Falta de cuidado + ação


Negligência Falta de cuidado + omissão
Falta de qualificação ou treinamento para desempenhar uma
Imperícia
determinada função.

Já o dolo ocorre quando o agente pratica violação intencional de um dever jurídico, com
o objetivo de prejudicar outrem.

O art. 945 do CC estabelece a culpa concorrente. Ela ocorre quando tanto o agente

quanto a vítima agem com culpa. Nesse caso, a culpa da vítima acaba por diminuir a culpa do
agente. Assim, se a vítima também concorreu para o evento danoso, com sua própria conduta,

é comum a indenização ser concedida pela metade ou em fração diversa, dependendo do grau
de contribuição da vítima. Isso porque, como ambas as partes cooperaram para o evento, não

seria justo que apenas uma respondesse pelos prejuízos.

Quando se tem o dolo ou a culpa como elemento necessário para a caracterização do


dever de indenizar, estamos diante da responsabilidade civil subjetiva.

No entanto, existem várias situações para as quais o ordenamento dispensa o dolo para

a existência da responsabilidade civil, bastando o dano, a autoria e o nexo causal. É o que se


denomina responsabilidade civil objetiva, que será melhor analisada. Encontra-se se prevista
no parágrafo único do art. 927, CC:

16
Art. 927. (...) Parágrafo único. “Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem.”

Por meio da leitura do dispositivo acima, podemos perceber que são duas as situações
que dão ensejo à chamada responsabilidade civil objetiva:

 Casos especificados em lei;

 Atividade que, por sua natureza, implique risco ao direito de outrem.

Por último, no âmbito da culpa, examinemos o que significa imputabilidade: refere-se ao


termo jurídico utilizado para aferir se alguém pode ser responsabilizado por seu ato. Trata-se

de elemento constitutivo da culpa.

A constatação da imputabilidade do indivíduo dá-se, comumente, por exclusão (de forma


negativa). Isso significa que, se presentes características que minem (danifiquem) a livre vontade

do indivíduo, não haverá sua imputabilidade. Exemplos de casos que afastam a imputabilidade:

 Menoridade, conforme os artigos 3º e 4º do CC. Porém, o ato ilícito praticado pelo


menor de idade acarretará a responsabilidade objetiva de seus pais (art. 932, I e 933
do CC);
 Demência ou estado de grave desequilíbrio mental, acarretado pelo alcoolismo
ou pelo uso de drogas, ou de debilidade mental, que torne o agente incapaz de
controlar suas ações. Também nesse caso haverá a responsabilidade objetiva do
responsável pelo incapaz;
 Anuência da vítima que, por ato de vontade interna ou de simples escolha elege
um de seus interesses em detrimento de outro, concordando com o dano a ela
causado.

12.3.3 Dano

O dano pode ser material (patrimonial) ou moral (extrapatrimonial). Sendo assim, não
pode haver responsabilidade civil sem a existência de um dano. Em outras palavras, podemos

17
dizer que o dano é pressuposto da responsabilidade civil; sem dano não há que se falar em

indenização. Além disso, também é imprescindível que exista prova, real e concreta, da lesão.
O dano pode ser patrimonial ou moral.

O dano patrimonial traduz-se na lesão concreta a um interesse relativo a um bem

material da vítima, consistente em sua perda ou deterioração, total ou parcial, suscetível de


avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável. Pode atingir não somente o patrimônio

presente da vítima, como também o futuro; provocar sua diminuição ou impedir seu
crescimento.

O dano geralmente é dividido em:

 Dano emergente (positivo): é o que a pessoa efetivamente perdeu.


Refere-se, então à efetiva e imediata diminuição, desfalque no patrimônio da vítima.
Ocorrem efeitos diretos e imediatos no patrimônio da vítima.

 Lucro cessante: é o que a pessoa deixou de lucrar.


Representam efeitos mediatos ou futuros, reduzindo ganhos, impedindo lucros. É a
consequência futura de um fato já ocorrido. É a frustração da expectativa de lucro, perda
do ganho esperável. Importante destacar que o juiz deve ter cuidado para não confundir
o lucro cessante com o lucro imaginário, simplesmente hipotético ou dano remoto.
Exemplo: o que o taxista deixa de ganhar caso seu carro esteja no conserto devido a um
dano causado por terceiro. Outro exemplo: alimentos pagos pela morte causada por
acidente de trabalho (inciso II do art. 948, CC6 - que determina o pagamento de alimentos
à família que dependia do morto).

 Perda de uma chance (perte d’une chance): de acordo com o STJ, para existir, a vítima
deve perder um direito que tinha chances atuais, sérias e reais de ganhar na situação
futura esperada.

6
Art. 948, CC: “No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima”.
18
 Qual a natureza da indenização pela perda da chance? Trata-se de indenização por
danos morais ou materiais? Se material, trata-se de dano emergente ou lucro
cessante? Alguns tribunais indenizam a perda da chance a título de lucros cessantes;
outros como dano moral. Há outra corrente doutrinária que coloca a perda da chance
como terceiro gênero de indenização, no meio do caminho entre dano emergente e
lucro cessante. O STJ entende que é gênero intermediário, entre o lucro cessante
e o dano emergente.

Por sua vez, o dano moral representa uma lesão aos direitos da personalidade, de

pessoa natural ou jurídica. Vale lembrar, conforme vimos no Capítulo dos Direitos da
Personalidade, que o dano moral não está necessariamente vinculado a alguma reação psíquica

da vítima. A indenização por dano moral encontra respaldo na Constituição Federal em seu art.
5º, incisos V e X. Trataremos de forma mais específica sobre esta espécie de dano em tópico

posterior.

12.3.4 Nexo Causal

É o nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente. É uma ligação


virtual entre a ação e o dano resultante. A causa do dano deve ser o comportamento do

agente.

As principais excludentes de responsabilidade civil, que rompem o nexo causal, são: o

estado de necessidade; a legítima defesa; a culpa exclusiva da vítima; o fato de terceiro; o caso

fortuito ou força maior e a cláusula de não indenizar.

No momento da consumação do fato lesivo surge, para o lesado, a pretensão de


indenização, mas seu direito de crédito apenas se concretiza com a decisão judicial.

Em regra, a obrigação de reparar o dano é individual, mas nem sempre é direta.


19
A responsabilidade direta, simples ou por fato próprio decorre de um fato pessoal do

causador do dano. Ela resulta, portanto, de uma ação direta da pessoa violadora do direito ou
ao prejuízo ao patrimônio, por ato culposo ou doloso.

Já a responsabilidade complexa ou indireta é aquela que se vincula indiretamente ao

responsável.

12.4 Questões especiais sobre o dano

 Como se deve mensurar o redutor indenizatório de dano previsto no art. 944, CC?

O artigo 944 reza sobre a indenização:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único - Se houver excessiva desproporção entre a

gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente,


a indenização.

Em regra, se o dano que sofro é de R$5.000,00, devo receber R$5.000,00 (corrigidos

monetariamente). No entanto, o § único transcrito acima cria um redutor indenizatório: quando


o juiz verificar um descompasso entre o dano e a culpa do seu causador, ele pode reduzir, por

equidade, o valor da indenização.

Imagine esta situação hipotética: um indivíduo causa dano de R$20.000,00 a outro. Se o


magistrado verificar que o agente atuou com culpa leve, pode, por equidade, reduzir a

indenização, e fixá-la em R$18.000,00, com base em evidências do caso concreto.

 Essa redução pelo juiz (art. 944, §único, CC) é viável nas demandas de
responsabilidade objetiva, em que a culpa não é discutida? Conforme o Enunciado 46
da I Jornada de Direito Civil, essa redução do montante da indenização somente deve
ser aplicada em demandas de apuração de responsabilidade civil subjetiva7.

7 JDC 46 – Art. 944: “A possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente, estabelecida
no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente, por representar uma exceção ao
princípio da reparação integral do dano [,] não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva”. (Alterado pelo Enunciado
380 – IV Jornada)
20
 O que é dano INDIRETO? O que é dano REFLEXO (ou em RICOCHETE)?
 Dano INDIRETO: consiste em uma série de prejuízos sofridos pela mesma vítima.

Há uma cadeia de prejuízos. Por exemplo: a compra de um cavalo doente que


morre, e ainda infecta mais três animais. Há assim um dano em cadeia (dano direto
e indireto).

 Dano REFLEXO ou em RICOCHETE: desenvolvido no direito francês, consiste no


prejuízo sofrido por uma segunda vítima ligada à vítima direta do ato danoso.

Assim, há duas ou mais vítimas (a do dano direto e a do dano reflexo).


Exemplo: um pai de família, que sustenta a sustenta, é roubado na rua, leva um

tiro e é levado ao hospital, onde fica internado por alguns meses. O pai é a vítima
direta, por sua vez, seu o filho e sua esposa são as vítimas indiretas. Como o pai

está fisicamente incapacitado, sem poder trabalhar por meses e,


consequentemente, manter sua família, o filho e a esposa sofrem o dano reflexo
ou em ricochete.

o “Prejuízo de afeição”: consiste em expressão utilizada na jurisprudência do


STJ para se referir à modalidade de dano moral sofrido por familiares em

decorrência da morte de ente querido, constituindo um dano


extrapatrimonial de sofrimento imensurável. Trata-se de um DANO POR

RICOCHETE, tendo em vista que a vítima direta da conduta é o falecido,


sendo seus parentes atingidos apenas reflexamente pelo evento.

 Diferença: no dano indireto, a mesma vítima sofre dois ou mais danos; já no dano
reflexo ou em ricochete, temos outra(s) vítima(s), diferentes da vítima do dano
direto. Os dois tipos de dano geram responsabilidade e indenização. O que não
gera responsabilização é o dano remoto (que não tem relação ou tem uma relação
muito distante com a conduta do agente).

 O que é dano “IN RE IPSA”?

Esta nomenclatura, frequentemente utilizada em julgados do STJ, caracteriza uma situação


de dano que dispensa prova da dor em juízo para ser indenizado. Trata-se de dano

21
presumido. A classificação de um dano como in re ipsa, ocorre por causa de sua gravidade ou

por sua reiteração ou por sua natureza.

Se interpretarmos a Súmula 385, STJ, a negativação indevida, ou seja, a inscrição do


nome de uma pessoa em algum cadastro de proteção ao crédito (como o SERASA), sem

motivos, configura dano moral in re ipsa. Mas atente-se: nesse caso, são devidos danos morais
apenas se o nome da pessoa ainda não estava negativado8!

12.5 Modalidade de Responsabilidade Civil

As modalidades de responsabilidade civil podem ser classificadas de algumas maneiras:

12.5.1 Quanto ao Fundamento

 Responsabilidade subjetiva: é a forma clássica de responsabilidade civil. A culpa em

sentido amplo é elemento necessário para sua configuração.


 Responsabilidade objetiva: fundamenta-se no risco, mesmo sem culpa, sendo
necessários apenas a conduta, o dano e o nexo de causalidade para sua configuração.

A regra continua sendo a responsabilidade civil subjetiva (art. 927 do CC), que depende de

culpa.

12.5.1.1 Teoria do risco (responsabilidade objetiva)

Encontra-se prevista, basicamente, no art. 927, § único, CC. Risco é perigo, probabilidade
de dano. Portanto, aquele que desenvolve uma atividade perigosa deve assumir os riscos e

8 Para mais exemplos práticos de danos morais in re ipsa, veja os julgados comentados.
22
reparar os danos dela decorrentes. Está ligada à violação do dever de segurança, que se

contrapõe ao risco. Onde há risco, tem que haver segurança.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Essa norma está inserida na diretriz da sociabilidade do Código Civil. Quando a estrutura

ou natureza de um negócio jurídico, como o de transporte ou de trabalho, implica a existência


de riscos inerentes à atividade desenvolvida, impõe-se a responsabilidade objetiva de quem
tira dela proveito, haja ou não culpa.

12.5.1.1.1 Origem

Tem origem na França, no final do século XIX, quando os juristas buscavam um

fundamento para a responsabilidade objetiva, pois o desenvolvimento industrial intensificava o


problema da reparação dos acidentes de trabalho.

12.5.1.1.2 Modalidades do Risco


 Teoria do Risco Proveito

Preconiza que o responsável é aquele que tira proveito da atividade danosa, com base

no princípio de que, onde está o ganho, reside o encargo – ‘ubi emolumentum, ibis onus’.

Assim, o dano deve ser reparado por aquele que retira algum proveito ou vantagem do fato
lesivo.

Crítica: é difícil conceituar o proveito. É apenas o econômico ou pode ser de qualquer

tipo? Se for considerado apenas o proveito econômico, a responsabilidade fundada no risco-


proveito ficará restrita aos comerciantes e industriais, não se aplicando quando a fonte

23
causadora do dano não é fonte de ganho. Ademais, a vítima teria o ônus de provar o proveito
econômico.

 Teoria do Risco Profissional

Sustenta que o dever de indenizar tem lugar sempre que o fato prejudicial é uma
decorrência da atividade ou profissão do lesado. Foi especificamente criada para fundamentar

a reparação de acidentes ocorridos com os empregados no trabalho ou por ocasião dele,


independentemente da culpa do empregador, pois antes, a responsabilidade fundada na culpa

levava, quase sempre, à improcedência da ação acidentária.

 Teoria do Risco Excepcional

Para os adeptos dessa teoria, a reparação é devida sempre que o dano é consequência

de um risco excepcional, que escapa à atividade comum da vítima, ainda que estranho ao
trabalho que normalmente exerça, independente de culpa. Exemplo: rede elétrica de alta tensão.

 Teoria do Risco Criado

Aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um perigo, está sujeito à
reparação do dano que causar, salvo prova de haver adotado todas as medidas idôneas a evitá-
lo.

Mas e qual a diferença entre a Teoria do Risco Criado e a Teoria do Risco Proveito,
se ambas podem decorrer do exercício da profissão? Na Teoria do Risco Criado não se
cogita se o dano é relativo a algum proveito ou vantagem para o agente. O dever de reparar

não se subordina ao pressuposto da vantagem. Assim, a teoria do risco criado importa em


ampliação do conceito do risco proveito. A teoria do risco criado aumenta os encargos do

agente, mas é mais equitativa para a vítima, que não precisa provar que o dano resultou de
uma vantagem ou benefício obtido pelo causador do dano. O agente assume as consequências

e apenas isso.

 Teoria do Risco Integral

Trata-se de modalidade extremada da doutrina do risco, destinada a justificar o dever


de indenizar até nos casos de inexistência do nexo causal. Por esta teoria, o dever de

indenizar incide tão somente em razão da existência do dano. Não se exclui a responsabilidade

24
nem mesmo nos casos de culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou força

maior. É aplicável em casos restritos, como nos danos ambientais (mas não é pacífico) e
danos nucleares.

12.5.2 Quanto ao Fato Gerador

Poderá ser:

 Responsabilidade contratual ou negocial: quando oriunda de inexecução de negócio


jurídico bilateral ou unilateral. A responsabilidade contratual está intimamente

relacionada ao inadimplemento de obrigações.


 Responsabilidade extracontratual ou aquiliana: a fonte dessa responsabilidade é a

inobservância da lei, é a lesão a um direito, sem que entre as partes exista qualquer
relação jurídica.

Vimos no capítulo referente aos institutos da prescrição e decadência, que, quando se tratar de
controvérsia que diga respeito à responsabilidade CONTRATUAL, deve-se aplicar o prazo

previsto no artigo 205 do CC (10 anos de prazo prescricional). No entanto, quando envolver
responsabilidade civil EXTRACONTRATUAL, deve ser aplicado o prazo de 3 anos, do art. 206,

parágrafo 3º, inciso V, do CC (STJ. 2 Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado

em 27/06/2018 - Info 632).

12.5.3 Quanto aos Sujeitos

Quanto aos sujeitos responsáveis pelo adimplemento, os tipos de responsabilidade

podem ser:

25
 Responsabilidade solidária: quando em uma mesma obrigação houver mais de um

responsável pelo seu cumprimento.


 Responsabilidade subsidiária: a obrigação não é compartilhada entre dois ou mais

devedores. Há apenas um devedor principal; contudo, na hipótese do não


cumprimento da obrigação por parte deste, outro sujeito responderá

subsidiariamente pela obrigação (exemplo: em regra, o fiador possui


responsabilidade subsidiária, a não ser que renuncie ao benefício de ordem).

12.5.4 Quanto ao Agente

A responsabilidade do agente poderá ser:

 Direta: se proveniente da própria pessoa responsabilizada.


 Indireta ou complexa: se derivada de ato de terceiro na vigência de vínculo legal ou
de responsabilidade sobre animais (fato de animal) e objetos que estão sob sua

guarda.

12.5.4.1 Responsabilidade por Fato de Terceiro

O art. 932 do CC nos apresenta aqueles que são responsáveis por fato de terceiro:

I. Os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia9;
II. O tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas

condições;
III. O empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício

do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;


IV. Os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por
dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e

educandos;
V. Os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente

quantia.

9
Vide questão 5 do material
26
Enunciado n. 558, da VI Jornada de Direito Civil: “São solidariamente responsáveis pela

reparação civil, juntamente com os agentes públicos que praticaram atos de improbidade
administrativa, as pessoas, inclusive as jurídicas, que para eles concorreram ou deles se

beneficiaram direta ou indiretamente”.

Complementando o art. 932, CC, o art. 933 do CC prevê a responsabilidade objetiva dos
responsáveis pelos atos dos terceiros, ou seja, “ainda que não haja culpa de sua parte,
responderão pelos atos praticados pelos terceiros”. No entanto, para a configuração da

responsabilidade por atos dos terceiros, é necessário provar a culpa daqueles pelos quais são
responsáveis. Por isso a responsabilidade é denominada objetiva indireta ou objetiva

impura10.

O fato de terceiro não exclui a sua responsabilidade, mas aquele que ressarcir o dano
causado por outrem, se este não for seu descendente, absoluta ou relativamente incapaz, poderá

reaver o que pagou. Esse entendimento decorre do chamado direito de regresso do


responsável contra o culpado.

No caso de prática de ato ilícito por incapaz, se os seus pais não tiverem condições de

arcar com os prejuízos causados pela atividade danosa, este responderá subsidiariamente,
desde que tenha condições financeiras para tanto. Assim, a indenização a ser paga pelo incapaz
é subsidiária e equitativa, em respeito à dignidade humana e ao mínimo existencial, pois ele

não pode ser privado do essencial à sua subsistência.

Importante destacar que, a norma prevista no artigo 932, I determina que os pais
respondam objetivamente pelos danos causados pelos filhos. Tenha atenção, pois, para chegar

10
Vide questão 6 do material
27
ao resultado que conduz à responsabilidade, são dois aspectos a se analisar: a comprovação

da culpa do incapaz na prática do ato e responsabilidade objetiva dos pais.

A culpa não está ligada à responsabilidade dos pais, que é objetiva, mas à comprovação
do ato ilícito. Comprovado este, os pais responderão independentemente de culpa.

Ainda, com relação ao que determina o inciso I, do artigo 932, há jurisprudência que
busca identificar o termo “sob sua autoridade e em sua companhia”. Assim, nas palavras de
Márcio André, segundo o STJ:

A responsabilidade dos pais por filho menor (responsabilidade por ato ou


fato de terceiro) é objetiva, nos termos do artigo 932, I do CC, devendo-se
comprovar apenas a culpa na prática do ato ilícito daquele pelo qual os pais
são responsáveis legalmente.

Contudo, há uma exceção: os pais só respondem pelo filho incapaz que


esteja sob sua autoridade e em sua companhia; assim, os pais ou
responsáveis, que não exercem autoridade de fato sobre o filho, embora
ainda detenham o poder familiar, não respondem por ele.

Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor
de idade, residia permanentemente em local distinto daquele no qual
morava o menor – sobre quem apenas o pai exercia autoridade de fato –
não pode ser responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito,
mesmo considerando que ela não deixou de deter o poder familiar.11

Diante do exposto, para que um dos pais compartilhe a responsabilidade com o outro,
não basta que detenha o poder familiar, sendo indispensável que tenha condições

permanentes de controle sob os atos do filho. Isso, todavia, merece atenção especial, para
que o candidato não se confunda na prova. No caso julgado, a mãe residia permanentemente

em município distinto do de seu filho, que morava com o pai.

Isto é importante, uma vez que a justificativa de não estar presente no momento do ato
não exime os pais de responsabilidade, pois a autoridade permanece, mesmo que o

responsável não conviva sempre com o filho.

11 CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017 - Página: 238.
28
Por fim, sobre o incapaz, ainda vale apresentar decisão interessante do STJ acerca da

possibilidade de o absolutamente incapaz sofrer dano moral. De acordo com o STJ, é


plenamente possível o dano moral praticado em face de incapaz, ainda que ele não tenha

discernimento para entender o caráter ilícito da conduta. O dano moral é a ofensa ao direito de
personalidade, sendo o sofrimento, a dor, consequência deste ato, mas não essencial à sua

caracterização.12

12.5.4.2 Responsabilidade pelo Fato do Animal

O art. 936 do CC estabelece a responsabilidade pelo fato do animal: “o dono, ou detentor,

do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior”.

Nesse caso, o dono responderá de maneira objetiva.

No entanto, pode ocorrer também a responsabilidade solidária entre

o dono e o adestrador, no caso de o animal estar na posse do preposto do dono e atacar um


terceiro. Há a aplicação conjunta dos arts. 932, III, 933, 936 e 942, parágrafo único, do CC.
Esclareça-se que a responsabilidade do preposto é objetiva por fato do animal (art. 936, CC),

enquanto, a do dono, é objetiva indireta, desde que comprovada a culpa do seu preposto
(arts. 932, III, e 933 do CC).

12.5.4.3 Responsabilidade pelo Fato da Coisa

Já no que toca à responsabilidade pelo fato da coisa, o Código Civil estabelece:

Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os

empresários individuais e as empresas respondem


independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos
postos em circulação. (responsabilidade objetiva).

12 REsp. 1.245.550 – MG (vide julgado comentado).


29
O Código de Defesa do Consumidor também prevê a responsabilidade objetiva pelo fato do

produto ou do serviço (art. 12).

Art. 937. “O dono de edifício ou construção responde pelos danos


que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja
necessidade fosse manifesta”.

Atente-se ao Enunciado 556, VI, JDC: “A responsabilidade civil do dono do prédio ou


construção por sua ruína, tratada pelo art. 937 do CC, é objetiva”.

Além do mais, a jurisprudência tem sido rigorosa na responsabilização do dono,

entendendo que se caiu, havia necessidade manifesta de reparação. Assim, somente se afasta
o dever de indenização caso a ruína ocorra por fato totalmente alheio a sua atuação. Por

exemplo, no caso de abalo sísmico.

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo
dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em
lugar indevido.

O artigo 938 funda-se na obrigação geral de não colocar em risco a coletividade.

30
Tal artigo é claro ao estabelecer que o responsável será o habitante, não o proprietário. Se

estiver locado, a responsabilidade será do locatário.

A jurisprudência é pacifica no entendimento de que a vítima pode demandar o

condomínio, e que internamente, esse pode buscar o regresso contra a unidade autônoma (o
apartamento) que efetivamente causou o dano.

A Banca FGV, para AL-RO, Advogado, em 2018, considerou correta a seguinte assertiva:

“Se um objeto cai de uma janela de um apartamento edifício e não é possível identificar a
unidade de onde o mesmo foi lançado, a vítima do dano pode demandar do condomínio,

aplicando-se no caso a teoria da causalidade alternativa”.

A responsabilidade civil também se mostra muito presente nos contratos de transporte.

Veja os dispositivos abaixo:

Art. 734. “O transportador responde pelos danos causados às


pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força
maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.”

31
Súmula 161 do STF: Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar.

Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente

com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual


tem ação regressiva.

Art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o

feito gratuitamente, por amizade ou cortesia.

Súmula 145 do STJ: “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só


será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo

ou culpa grave”.

Nesse caso de carona, não é aplicável a responsabilidade objetiva do transportador. Esse só

responde no caso de dolo ou culpa grave. Trata-se, então, de responsabilidade subjetiva.

Mudando de assunto, se houver coautoria ou cumplicidade no fato lesivo, responderão


estas pessoas solidariamente, de acordo com o art. 942 do CC13.

Assim, a solidariedade possibilita que qualquer um dos codevedores seja demandado


pelo total da dívida, ou seja, permite que o titular do crédito possa exigir de qualquer deles o
que lhe é devido e instaura o direito de reembolso ao devedor, que, demandado pelo débito

solidário, satisfez a dívida por inteiro.

12.6 Reparação

O princípio que rege a profundidade de alcance da responsabilidade, ou seja, até onde


ela atingirá o patrimônio da pessoa que deve indenizar, é o Princípio da Responsabilidade

13
Vide questão 7 do material
32
Patrimonial. Significa que a pessoa deve responder com seu patrimônio pelos prejuízos

causados a terceiros. A reparação deve ser total, cobrindo o dano em todos os seus aspectos,
de modo que todos os bens do devedor, com exceção dos inalienáveis, respondam pelo

ressarcimento.

Para que haja pagamento de indenização, além da prova de culpa ou dolo na conduta, é
necessário comprovar o dano patrimonial ou extrapatrimonial suportado por alguém. Em regra,

não há responsabilidade civil sem dano, cabendo o ônus de sua prova ao autor da demanda
(art. 373, I, do CPC).

No entanto, em alguns casos, se admite a inversão do ônus da prova do dano ou prejuízo,

como nas hipóteses envolvendo as relações de consumo, presente a hipossuficiência do


consumidor ou a verossimilhança de suas alegações (art. 6.º, VIII, da Lei 8.078/1990).

Ademais, a obrigação de prestar a reparação transmite-se com a herança e o lesado

poderá demandar o espólio até onde se alcançar o saldo positivo deixado pelo de cujus aos
seus sucessores. Ou seja, os herdeiros responderão até o valor de seus montantes deixados

como herança. Não responderão com seu patrimônio pessoal.

Em tese, apenas o lesado ou seus herdeiros teriam legitimação para exigir a indenização do
prejuízo, porém, atualmente, tem-se admitido que a indenização possa ser reclamada também

pelos que viviam sob a dependência econômica da vítima.

Havendo direito à reparação do dano, surge a liquidação, que é a operação de vai

concretizar a indenização, fixando o quanto e o modo do ressarcimento. Este ressarcimento não


poderá exceder o valor do dano causado por não se permitir enriquecimento indevido. Ao

33
credor se deve dar aquilo que baste para restaurar a situação ao status quo ante, sem acréscimos

nem reduções.

Para se chegar ao quantum devido, de acordo com os arts. 944 e 945 do CC deverá o
magistrado analisar o grau de culpa do lesante e se houve participação (culpa) do lesado. O juiz

deverá analisar também: a situação da vítima e do causador do dano; a influência de


acontecimentos exteriores ao fato prejudicial (visto que a responsabilidade civil requer nexo de

causalidade entre o dano e a ação que o produziu); a possibilidade de lucro obtido pela vítima
com a reparação do dano.

12.6.1 Danos Patrimoniais ou Materiais

Os danos patrimoniais ou materiais constituem prejuízos ou perdas que atingem o


patrimônio corpóreo de alguém. Pelo que consta dos arts. 186 e 403 do CC, não cabe
reparação de dano hipotético ou eventual, necessitando tais danos de prova efetiva, em

regra.

Nos termos do art. 402 do CC, os danos materiais podem ser assim subclassificados:

 Danos emergentes ou danos positivos: o que efetivamente se perdeu. Como

exemplo típico, pode ser citado o estrago do automóvel, no caso de um acidente de


trânsito. Como outro exemplo, a regra do art. 948, I, do CC, para os casos de
homicídio, devendo os familiares da vítima serem reembolsados pelo pagamento das

despesas com o tratamento do morto, seu funeral e o luto da família.


 Lucros cessantes ou danos negativos: o que razoavelmente se deixou de lucrar. No

caso de acidente de trânsito, poderá pleitear lucros cessantes o taxista, que deixou
de receber valores com tal evento, fazendo-se o cálculo dos lucros cessantes de

acordo com a tabela fornecida pelo sindicato da classe e o tempo de impossibilidade


de trabalho. Como outro exemplo de lucros cessantes, cite-se, no caso de homicídio,

a prestação dos alimentos indenizatórios, ressarcitórios ou indenitários, devidos à


família do falecido, mencionada no art. 948, II, do CC.

34
12.6.2 Danos Morais

É a lesão a Direitos da Personalidade (já vimos alguns de seus aspectos no capítulo


referente aos direitos da personalidade).

Alerte-se que para a sua reparação não se requer a determinação de um preço para a

dor ou o sofrimento, mas sim um meio para atenuar, em parte, as consequências do prejuízo
imaterial, o que traz o conceito de lenitivo, derivativo ou sucedâneo. Por isso é que se utiliza a

expressão reparação e não ressarcimento para os danos morais.

Cumpre esclarecer que não há, no dano moral, uma finalidade de acréscimo
patrimonial para a vítima, mas sim de compensação pelos males suportados.

Na prova da banca VUNESP, foi considerada incorreta a seguinte assertiva: “são


cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato, mas não

são cumuláveis as indenizações de dano estético e dano moral”.

A primeira parte da alternativa está de acordo com a Súmula 37, STJ, a qual reza que:
“São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”. No
entanto, a segunda parte está incorreta, pois em desacordo com a Súmula 387, STJ: “É lícita a

cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”.

12.6.2.1 Danos Morais da Pessoa Jurídica

É possível a ocorrência de dano moral para a pessoa jurídica, pois se aplica à pessoa
jurídica, no que couber, o disposto quanto aos direitos da personalidade. Em verdade, o dano
moral da pessoa jurídica atinge a sua honra objetiva, que é a repercussão social da honra,
sendo certo que uma empresa tem uma reputação perante a coletividade.

35
No caso de corte de energia elétrica, a pessoa jurídica tem de comprovar o dano moral

para receber indenização (ou seja, não é dano in re ipsa, ao contrário do que se tem entendido
para pessoas naturais): “1. A pessoa jurídica pode sofrer dano moral desde que haja ferimento

à sua honra objetiva, ao conceito de que goza no meio social. 2. O mero corte no fornecimento
de energia elétrica não é, a princípio, motivo para condenação da empresa concessionária em
danos morais, exigindo-se, para tanto, demonstração do comprometimento da reputação da

empresa. ” (STJ, REsp 1298689/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em

09/04/2013, DJe 15/04/2013).

12.6.2.2 Natureza Jurídica do Dano Moral

A “Punitive Damage Theory”, também chamada de Teoria do Desestímulo,


desenvolvida por Boris Starck (1947, França), é muito aplicada na Europa e especialmente nos

EUA.

Preconiza que a indenização por dano moral não tem apenas caráter compensatório

da vítima, mas também tem um caráter pedagógico de desestímulo da reincidência do ato

ilícito.

A teoria do desestímulo pouco a pouco vem ganhando espaço em nosso país, embora

não tenha sido totalmente abraçada pela jurisprudência, principalmente no que diz respeito à
tutela individual. O próprio projeto de reforma do Código Civil, em sua redação original,
pretende alterar o art. 944 para estabelecer que a indenização deve compensar a vítima e

desestimular o lesante.

36
Além disso, o Enunciado 37914 da IV Jornada reforça a teoria. E o próprio STJ vem

amparando essa Teoria em alguns julgador (REsp. 860.705/DF e REsp. 965.500/ES).

12.6.3 Danos Estéticos

Os danos estéticos são tratados atualmente tanto pela doutrina quanto pela

jurisprudência como uma modalidade separada de dano extrapatrimonial. Basta à pessoa ter
sofrido uma “transformação” para que o referido dano esteja caracterizado. Tais danos, em regra,

estão presentes quando a pessoa sofre feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou profundos
em sua pele, lesão ou perda de órgãos internos ou externos do corpo, aleijões, amputações,

entre outras anomalias que atingem a própria dignidade humana.

Os danos estéticos, por serem autônomos, podem ser cumulados com os danos materiais
e com os danos morais (Súmula 387 STJ: “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético

e dano moral”).

12.6.4 Perda de uma Chance

A teoria da perda de uma chance tem origem francesa. Segundo ela, são reparáveis os
prejuízos que decorrem da frustração de uma expectativa, que possivelmente se concretizaria

em circunstâncias normais. Não é qualquer chance que é reparável. Segundo alguns autores, ela
é assim considerada quando tem mais de 50% de chance de acontecer.

Conforme o Enunciado 444 das Jornadas de Direito Civil, a responsabilidade civil pela

perda de chance não se limita à categoria de danos extrapatrimoniais. É considerada,


portanto, uma categoria autônoma, pois, conforme as circunstâncias do caso concreto, a chance

perdida pode apresentar também a natureza jurídica de dano patrimonial. A chance deve
ser séria e real, não ficando adstrita a percentuais apriorísticos.

A teoria da perda de uma chance é aplicada pelo STJ15, que exige, no entanto, que o

dano seja REAL, ATUAL e CERTO, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera

14 Enunciado 379, JDC: “O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou
pedagógica da responsabilidade civil”.
15 Vide julgados comentados.
37
possibilidade, porquanto o dano potencial ou incerto, no espectro da responsabilidade civil, em

regra, não é indenizável (REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 9/6/2009).

 Natureza do dano: Trata-se de uma terceira categoria. Com efeito, a teoria da perda
de uma chance visa à responsabilização do agente causador não de um dano
emergente, tampouco de lucros cessantes, mas de algo intermediário entre um e
outro, precisamente a perda da possibilidade de se buscar posição mais vantajosa
que muito provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado. (STJ. 4ª
Turma, REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/11/2010).
 Casos:
 A jurisprudência tem condenado advogados que perdem prazos de seus
clientes por perda da chance de uma vitória judicial. STJ. Crítica: isso faz a
obrigação do advogado parecer uma obrigação de resultado, o que, na verdade,
não é.
 Atuação médica. STJ Resp. 1.254.141/PR.
 Show do milhão. STJ Resp 788.459/BA.

Vide jurisprudência desse capítulo comentada para o estudo de outros casos.

 Indenização: a indenização será medida pela extensão do dano causado, mas, se a


vítima tiver concorrido para o resultado causado, a medida de sua culpa será levada
em consideração para a fixação do quantum devido.

Se do ato ilícito resultar lesão que impeça a vítima de exercer seu ofício habitual, ou lhe
diminua a capacidade para tanto, além da indenização, serão devidos alimentos na proporção
do prejuízo sofrido com a perda do ofício.

12.6.5 Danos Morais Coletivos

O dano moral difuso está previsto no CDC, art. 6º, VI e Lei de Ação Civil Pública, art.
1º. Somente pode ser caracterizado como uma lesão ao direito de toda e qualquer pessoa (e
não de um direito específico de personalidade).

Admite-se, quando houver uma violação coletiva da personalidade. Nesse caso, a tutela
processual deve se dar obrigatoriamente através de ação civil pública, cujos legitimados
38
estão no art. 5º da Lei 7.347/1985 (MP, Defensoria, Poder Público e Associações). Exemplo:

Dano ambiental; dano moral ao meio ambiente do trabalho.

Esse dano moral coletivo reverte em favor do fundo previsto no art. 13 da LACP. Esse
fundo é gerido por um Conselho, com participação do MP, e tem como objetivo recompor o
dano causado.

Houve mudança no entendimento do STJ, passando a admitir o dano moral coletivo.


Como exemplo, no caso de uma agência bancária em que para ter atendimento preferencial
(idosos, gestantes) era necessário o deslocamento, por meio de escadas, ao piso superior, o
que é incompatível. Na ocasião, foi fixado dano moral em 50 mil reais16.

Diferentemente da responsabilidade civil do direito comum, a responsabilidade civil ambiental,


que é objetiva e deriva de previsão legal, fundada na teoria do risco integral, necessita para

sua caracterização apenas de dois elementos, que são a ocorrência de evento danoso e do nexo
de causalidade. Não importa para o Direito Ambiental que o dano tenha origem em uma

atividade lícita, ainda que esta tenha se constituído sob a égide da regulamentação estatal, pois
não seria justo para com a sociedade que a regulamentação da exploração da atividade fosse

entendida como uma licença para poluir e degradar livremente.

16 Vide julgado comentado.


39
A ação civil pública não se presta apenas para esse fim. A Ação Civil Pública se presta à defesa

de (CDC, art. 81): (i) Interesses transindividuais (direitos difusos e coletivos); (ii) Interesses
individuais homogêneos.

Os interesses transindividuais somente podem ser pleiteados por ACP. Já os interesses

individuais homogêneos também podem ser pleiteados individualmente (cada particular pode
ajuizar uma ação). Em sendo ajuizada ACP, cada um dos interessados deve propor a liquidação
de seu próprio dano. Ou seja, a ACP se presta não apenas a interesses difusos e coletivos, mas

também a interesses individuais, DESDE SEJAM HOMOGÊNEOS.

12.6.6 Critérios De Quantificação Do Dano Moral

Doutrinariamente, a respeito da quantificação, existem dois sistemas básicos.

 Sistema livre ou do arbitramento (aberto): Defendido por Judith Martins Costa, Araken
de Assis e Ronaldo Andrade, se baseia no art. 4º da LINDB e no art. 140 do NCPC. Ambos
dispositivos falam que o juiz deve decidir com equidade e princípios do direito, ou seja,
com senso de justiça. É o sistema que confere discricionariedade ao juiz na definição do
quantum indenizatório. Esse sistema de arbitramento prevalece no Brasil. Nessa linha
de entendimento, seria inconstitucional uma tarifação legal.

 Sistema do tarifamento legal: Esse sistema pretende criar critérios normativos de


tabelamento do dano moral. Crítica: Arbitramento judicial cria a indústria do dano moral
no Brasil. Vale lembrar, o teor da súmula 362 do STJ, que a correção monetária do valor
da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.

STJ, Súmula nº 362 “A correção monetária do valor da indenização


do dano moral incide desde a data do arbitramento”.

40
Em um ilícito comum (sem ser dano moral: dano material, por exemplo) a correção

monetária incide desde o efetivo prejuízo.

12.6.7 Dano Sociais ou Difusos

São lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio

moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida.

O que se percebe é que esses danos podem gerar repercussões materiais ou morais.
Nesse ponto, diferenciam-se os danos sociais dos danos morais coletivos, pois os últimos são

apenas extrapatrimoniais.

Danos sociais e danos morais coletivos são expressões sinônimas? NÃO.

Danos sociais são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de

seu patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na


qualidade de vida. Os danos sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou culpa

grave, especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas de segurança, e


de indenização dissuasória.

O dano social é, portanto, uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde

com os danos materiais, morais e estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente


reprováveis, que diminuem o nível social de tranquilidade.

Alguns exemplos: o pedestre que joga papel no chão, o passageiro que atende ao celular

no avião, o pai que solta balão com seu filho. Tais condutas socialmente reprováveis podem
gerar danos como o entupimento de bueiros em dias de chuva, problemas de comunicação do

41
avião causando um acidente aéreo, o incêndio de casas ou de florestas por conta da queda do

balão etc.

Diante da prática dessas condutas socialmente reprováveis, o juiz deverá condenar o


agente a pagar uma indenização de caráter punitivo, dissuasório ou didático, a título de dano

social.

Conforme explica Flávio Tartuce17, os danos sociais são difusos e a sua indenização deve
ser destinada não para a vítima, mas sim para um fundo de proteção ao consumidor, ao meio

ambiente etc., ou mesmo para uma instituição de caridade, a critério do juiz.

Os danos sociais representam a aplicação da função social da responsabilidade civil.

12.7 Indenização

É medida pela extensão do dano causado, mas, se a vítima tiver concorrido para o

resultado causado, a medida de sua culpa será levada em consideração para a fixação do
quantum devido.

Se do ato ilícito resultar lesão que impeça a vítima de exercer seu ofício habitual, ou

lhe diminua a capacidade para tanto, além da indenização, serão devidos alimentos na
proporção do prejuízo sofrido com a perda do ofício.

É possível que alguém seja responsabilizado pelo pagamento de indenização, mesmo

que a prática do ato que gerou o dano tenha sido lícita. Porém, neste caso, a licitude será levada
em consideração para determinar o valor devido, cabendo ação de regresso ao condenado, em

face do verdadeiro causador do dano.

12.8 Termo inicial dos juros de mora e da correção monetária

É muito relevante saber a partir de quando correm os juros moratórios e a correção

monetária no caso de não pagamento de uma dívida determinada em contrato ou também no


caso de responsabilidade civil extracontratual, dentre outros.

17 Manual de Direito do Consumidor. São Paulo: Método, 2013, p. 58


42
Vamos sistematizar o assunto da seguinte forma:

 No caso de danos materiais

DANOS MATERIAIS18

Juros MORATÓRIOS

 Responsabilidade extracontratual: os juros


fluem a partir do EVENTO DANOSO (art. 398
CORREÇÃO MONETÁRIA
do CC e Súmula 54 do STJ).

 Responsabilidade contratual: Incide correção monetária a partir da data do


 Obrigação líquida (mora ex re): contados a efetivo PREJUÍZO (Súmula 43 do STJ).
partir do VENCIMENTO.
 Obrigação ilíquida (mora ex persona):
contados a partir da CITAÇÃO.

 No caso de danos morais

DANOS MORAIS

Juros MORATÓRIOS CORREÇÃO MONETÁRIA

 Responsabilidade extracontratual: os juros A correção monetária do valor da indenização


fluem a partir do EVENTO DANOSO (art. 398 do dano moral incide desde a data do
do CC e Súmula 54 do STJ). ARBITRAMENTO (Súmula 362 do STJ).
 Responsabilidade contratual:
 Obrigação líquida (mora ex re): contados a
partir do VENCIMENTO.
 Obrigação ilíquida (mora ex persona):
contados a partir da CITAÇÃO.

A súmula 54 do STJ (mencionada na segunda tabela) aplica-se somente às condenações


fixadas em parcela única. No caso de condenação em diversas parcelas (trato successivo),
deve-se calcular os juros de mora a partir do vencimento de casa prestação.

18 Tabela parcialmente retirada do site: https://www.dizerodireito.com.br/


43
12.9 Seguro DPVAT

Resolvemos tratar do seguro DPVAT no presente capítulo e não junto da análise dos

contratos de seguro, pois ele está muito ligado ao tema da responsabilidade civil.

Primeiro, devemos analisar se houve ou não a extinção do seguro DPVAT no Brasil.

No dia 12/11/2019, o Presidente da República editou a MP 904/2019, que pretendia

extinguir o DPVAT e o DPEM, a partir de 1º de janeiro de 2020. O DPVAT foi realmente extinto
nessa data? Não!

Não houve a extinção do seguro DPVAT, pois foi ajuizada ação direta de
inconstitucionalidade contra a MP 904/2019 e o STF deferiu a medida cautelar, acolhendo a

inconstitucionalidade e suspendendo os efeitos dessa medida provisória 19. Decidiu-se que


as alterações no seguro obrigatório só poderiam ser efetivadas por meio de lei complementar.

Portanto não pode ocorrer por meio de medida provisória (art. 62, §1º, III, CF). O sistema de
seguros integra o sistema financeiro nacional, subordinado ao Banco Central do Brasil, e de
acordo com o art. 192 da CF, é necessário lei complementar para tratar dos aspectos regulatórios

do sistema financeiro.

Em que consiste o DPVAT?

O DPVAT é um seguro obrigatório contra danos pessoais causados por veículos


automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não. Ele tem por
objetivo mitigar os danos advindos da circulação de veículos automotores.

Tal seguro indeniza três categorias de danos: morte, invalidez permanente e despesas

médicas e suplementares. Abrange, de modo geral, os motoristas, os passageiros, os pedestres


ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros.

No entanto, se a vítima estava praticando um crime com o veículo no momento do

acidente, ela não tem direito ao seguro DPVAT, conforme entendimento do STJ.

19 Vide julgados comentados.


44
O STJ também pacificou que não se aplica o Código de Defesa do Consumidor para as

discussões envolvendo o DPVAT, já que se trata de um seguro obrigatório por força de lei,
custeado pelos próprios motoristas, quando do pagamento do IPVA de seus veículos.

12.10 Excludentes de Responsabilidade

12.10.1 Legítima Defesa

De acordo com o art. 188, I, do CC, não constituem atos ilícitos os praticados em legítima

defesa. Trata-se de importante excludente do dever de indenizar, da ilicitude, com relevância


prática indiscutível.

Podemos utilizar o Código Penal, no seu art. 25, para conceituar a legítima defesa:

“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.

Para a apuração da legítima defesa, cabe uma análise caso a caso. O agente não pode

atuar além do indispensável para afastar o dano ou a iminência de prejuízo material ou imaterial.
Mesmo agindo em legítima defesa, se o agente atinge um terceiro inocente, deverá indenizá-

lo, à luz do princípio da solidariedade social, cabendo a regressão ao causador do dano,


aplicando-se o art. 930, do CC.

Por outro lado, existe a figura da legítima defesa putativa, que ocorre quando o agente

imagina estar defendendo um direito seu, mas, na realidade, não está. A pessoa imagina um
perigo que, na realidade, não existe e, por isso, age imoderadamente, o que não exclui o dever

de indenizar.

12.10.2 Estado de Necessidade ou Remoção de Perigo


Iminente

Prescreve o art. 188, II, do CC que não constitui ato ilícito a deterioração ou destruição
da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes a acontecer.

45
Em complemento, o parágrafo único do dispositivo disciplina que o ato será legítimo

somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os


limites do indispensável à remoção do perigo.

Se, quando agir em estado de necessidade, o agente atingir terceiro inocente (que não

tiver sido responsável pelo dano), deverá indenizá-lo, com direito de regresso contra o causador
do dano, na forma dos arts. 929 e 930 do CC, à luz do princípio da solidariedade social.

12.10.3 Exercício Regular de Direito ou das Próprias


Funções

Interessante notar que o CC não consagrou uma regra específica para o estrito

cumprimento do dever legal. O art. 188, I, do CC, enuncia que não constitui ato ilícito o praticado
no exercício regular de um direito reconhecido. O estrito cumprimento do dever legal afasta a

responsabilização, desde que não haja abuso.

Como exemplos podemos utilizar os casos do policial, quanto ao combate ao crime, e do


bombeiro, ao apagar um incêndio.

12.10.4 Excludentes de Nexo de Causalidade

São excludentes de nexo de causalidade:

12.10.4.1 Caso Fortuito ou Força maior

A doutrina ainda não pacificou os conceitos de caso fortuito e de força maior.

A maioria da doutrina conceitua força maior como um evento inevitável, ainda que
previsível (um terremoto pode ser previsto, mas não pode ser evitado). Já o caso fortuito, é

marcado pela imprevisibilidade (um sequestro relâmpago não pode ser previsto). Anote-se
ainda, que o CC, ao tratar da matéria, no parágrafo único do art. 393, não distingue os institutos:

46
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de

caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por


eles responsabilizado.

Qual a diferença entre fortuito interno e fortuito externo?

O fortuito interno incide durante o processo de elaboração do produto ou de execução


do serviço, de maneira que, não exclui responsabilidade civil do réu (em tese).

Exemplo: recall – durante o processo de fabricação da parte eletrônica do carro, houve

um abalo sísmico. O carro, por isso, pode causar danos. Nem o recall, nem o fato de ser fortuito
interno são capazes de excluir a responsabilidade civil da empresa automotiva por eventuais
danos.

Já o fortuito externo, está fora da cadeia de elaboração do produto, ou execução do


serviço, decorrendo de fato não imputável ao fornecedor, excluindo a sua responsabilidade
civil.

Exemplo: um rádio (recém comprado) é ligado na energia e, em virtude de uma condição


climática, acaba queimando. Não se pode querer imputar a responsabilidade à empresa que
fabricou o produto.

12.10.4.2 Culpa exclusiva da vítima

Essa excludente aplica-se também no Direito do Consumidor e no Direito Administrativo.


A culpa exclusiva da vítima é causa de exclusão do próprio nexo causal porque o agente,

aparente causador do dano, é considerado mero instrumento do acidente.

Exemplo1: “A” se joga sob as rodas do veículo dirigido por “B”. Afasta-se o próprio
nexo causal em relação ao motorista, e não apenas a sua culpa.
47
Exemplo 2: a vítima liga aparelho na voltagem 220v, o qual tem um grande adesivo

avisando que a sua voltagem é de 110v. A empresa pode alegar a culpa exclusiva da vítima.

A culpa exclusiva da vítima (causa de exclusão de responsabilidade) não se confunde


com culpa concorrente, prevista no art. 945 do CC. Culpa concorrente da vítima, pode apenas
reduzir a indenização devida.

E observe que a redução indenizatória proveniente da culpa concorrente é feita pelo juiz
a partir da análise do caso concreto, não há um tabelamento previsto em lei.

12.10.4.3 Culpa exclusiva de terceiro

Esta excludente é parecida com a culpa exclusiva da vítima. O comportamento causal de


um terceiro pode excluir a responsabilidade do agente físico da ação.

Terceiro é qualquer pessoa além da vítima e do responsável: alguém que não tem

nenhuma ligação com o causador aparente do dano e o lesado. Mas, o fato de terceiro só
exclui a responsabilidade quando rompe o nexo causal entre o agente e o dano sofrido pela
vítima.

Nesses casos, o fato de terceiro equipara-se ao caso fortuito ou força maior, por ser
uma causa estranha à conduta do agente aparente, imprevisível ou inevitável.

Veja este exemplo: uma mulher ajuizou ação contra empresa de ônibus porque seu

marido foi atropelado e morto quando trafegava de bicicleta. Durante a ação ficou comprovado
que o ciclista caiu em um buraco existente na pista, e, no momento, foi atingido na cabeça
pelo ônibus. O buraco foi aberto por uma empresa prestadora de serviços públicos, que,
imprudentemente, deixou o buraco aberto. Assim, podemos concluir que a ação foi mal
endereçada.

48
Há casos em que a jurisprudência não admite a exclusão por fato de terceiros, como no

caso dos assaltos em bancos, no caso do transportador (art. 735 do CC).

A súmula 187 do STF estabelece que, em se tratando de responsabilidade contratual

do transportador, por acidente com passageiro, não se admite alegação de fato de terceiro.

Já que se trata de obrigação de fim (veremos melhor o contrato de transporte em capítulo


posterior).

STF, Súmula 187: “A responsabilidade contratual do transportador,


pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de

terceiro, contra o qual tem ação regressiva”.

Exemplo: em um trajeto com uma empresa de ônibus, esse se envolveu em um acidente.

A empresa deve indenizar o passageiro que sofreu alguma lesão, cabendo-lhe exercer o direito
de regresso contra o verdadeiro culpado.

12.10.5 Cláusula de Não Indenizar

A cláusula de não indenizar traduz-se na previsão contratual pela qual a parte exclui

totalmente a sua responsabilidade. Essa cláusula é também denominada “cláusula de


irresponsabilidade” ou “cláusula excludente de responsabilidade”.

Segundo Flávio Tartuce20, esta cláusula tem aplicação bem restrita:

A cláusula de não indenizar somente vale para os casos de responsabilidade contratual, uma
vez que a responsabilidade extracontratual, por ato ilícito, envolve ordem pública. A título
de exemplo, não tem qualquer validade jurídica uma placa colocada em condomínio edilício,
estabelecendo que “o condomínio não se responsabiliza pelos objetos lançados ou que caírem
das unidades”. Isso porque a responsabilidade civil, prevista pelo art. 938 do CC, supostamente
afastada pelo aviso, é extracontratual;
A cláusula também não incide nos casos em que houver conduta dolosa do agente ou na
presença de atos criminosos da parte, igualmente pela motivação na ordem pública;

20 Flávio Tartuce, pp. 565-567.


49
Também não incide a sua estipulação para a limitação ou exclusão de danos morais, que
envolvem lesões a direitos da personalidade, tidos como irrenunciáveis, em regra, pela lei
(art. 11 do CC);
A cláusula de irresponsabilidade é nula quando inserida em contrato de consumo, o que
está expresso no art. 25 e no art. 51, I, da Lei 8.078/1990;
A citada cláusula é nula nos contratos de adesão, aplicação do art. 424 do CC, “Nos contratos
de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito
resultante da natureza do negócio”;
A cláusula de não indenizar é nula no contrato de transporte (art. 734 do CC e Súmula 161
do STF);
A cláusula de não indenizar não tem validade e eficácia nos contratos de guarda em geral
em que a segurança é buscada pelo contratante, constituindo a causa contratual.

50
QUADRO SINÓTICO

RESPONSABILIDADE CIVIL
Art. 935, CC “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
Responsabilidade questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu
civil X criminal autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”
= Princípio da independência relativa.
Art. 927, CC “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo”.
ATO ILÍCITO Ato ilícito é o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica,
(violação de violando direitos e causando prejuízos a outrem. Diante da sua
um direito + ocorrência, a norma jurídica cria o dever de reparar o dano, o que
dano) justifica ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional. O ato ilícito é
ATO ILÍCITO X
considerado como fato jurídico em sentido amplo, uma vez que produz
ABUSO DE
efeitos jurídicos que não são desejados pelo agente, mas somente
DIREITO aqueles impostos pela lei.
Já o abuso de direito é o ato que originariamente lícito, mas exercido
ABUSO DE fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-
DIREITO fé objetiva ou pelos bons costumes, ou seja, é um ato praticado em
exercício irregular ou imoderado de um direito.
A conduta humana ou fato lesivo voluntário acontece quando o
agente, por ação ou omissão, ocasiona dano a outrem, ainda que
CONDUTA exclusivamente moral. O fato poderá estar relacionado tanto a ato
próprio como a ato de terceiro e que esteja sob a guarda da pessoa.
A culpa sticto sensu pode ser conceituada como sendo o desrespeito
a um dever preexistente, não havendo propriamente uma intenção de
CULPA violar o dever jurídico (negligência, imprudência e imperícia). Já o
dolo ocorre quando o agente pratica violação intencional do dever
jurídico com o objetivo de prejudicar outrem.
PRESSUSPOSTOS
DANO O dano pode ser material (patrimonial, lesão concreta a um
interesse relativo ao patrimônio da vítima) ou moral
(extrapatrimonial, é lesão aos direitos da personalidade, de pessoa
natural ou jurídica).
NEXO É o nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do
CAUSAL agente. É uma ligação virtual entre a ação e o dano resultante. A causa
do dano deve ser o comportamento do agente.

51
É medida pela extensão do dano causado, mas, se a vítima tiver concorrido para o
INDENIZAÇÃO
resultado causado, a medida de sua culpa será levada em consideração para a fixação
do quantum devido.
 Art. 944. “A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único - Se houver
excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitativamente, a indenização”. O redutor do parágrafo único do art. 944, somente
deverá ser aplicado em demandas de responsabilidade civil subjetiva.
Questões
 Dano indireto X Dano reflexo ou em ricochete: no dano indireto, a vítima sofre dois
especiais sobre o
ou mais danos; já no dano reflexo ou em ricochete, temos duas ou mais vítimas. Os
DANO
dois tipos de dano geram responsabilidade/indenização. O que não gera
responsabilidade é o dano remoto.
 Dano in re ipsa: caracteriza uma situação de dano que dispensa prova da dor em
juízo para ser indenizado.

MODALIDADES DA RESPONSABILIDADE CIVIL


QUANTO AO FUNDAMENTO
SUBJETIVA É a regra. Pressupõe a culpa em sentido amplo como elemento
necessário, como fundamento, para a responsabilização civil;
OBJETIVA Que se fundamentada no risco, no dano, mesmo sem culpa, sendo
necessários apenas o dano e o nexo de causalidade.
Teorias do risco Art. 927, §ú: “Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.
 Teoria do Risco Proveito - responsável é aquele que tira
proveito da atividade danosa, com base no princípio de que,
MODALIDADES onde está o ganho, reside o encargo
 Teoria do Risco Profissional - o dever de indenizar tem lugar
sempre que o fato prejudicial é uma decorrência da atividade
ou profissão do lesado.
 Teoria do Risco Excepcional - a reparação é devida sempre
que o dano é consequência de um risco excepcional, que
escapa à atividade comum da vítima. Exemplo: rede elétrica
de alta tensão.
 Teoria do Risco Criado - aquele que, em razão de sua
atividade ou profissão, cria um perigo, está sujeito à
reparação do dano que causar, salvo prova de haver adotado
todas as medidas idôneas a evitá-lo.

52
 Teoria do Risco Integral - modalidade extremada da
doutrina do risco destinada a justificar o dever de indenizar
até nos casos de inexistência do nexo causal.
QUANTO AO FATO GERADOR
CONTRATUAL Quando oriunda de inexecução de negócio jurídico bilateral ou
OU NEGOCIAL unilateral. Prazo prescricional de 10 anos (art. 205, CC).

EXTRACONTRA A fonte dessa responsabilidade é a inobservância da lei, é a lesão a


TUAL OU um direito, sem que entre as partes exista qualquer relação jurídica.
AQUILIANA Prazo prescricional de 3 anos (art. 206, § 3º, V, CC).

QUANTO AOS SUJEITOS


SOLIDÁRIA Quando em uma mesma obrigação houver mais de um
responsável pelo seu cumprimento
SUBSIDIÁRIA A obrigação não é compartilhada entre dois ou mais devedores.
QUANTO AO AGENTE
DIRETA Se proveniente da própria pessoa responsabilizada.
INDIRETA OU POR FATO DE  Os pais, pelos filhos menores que estiverem
COMPLEXA TERCEIRO - sob sua autoridade e em sua companhia;
arts. 932 e  O tutor e o curador, pelos pupilos e
933, CC curatelados, que se acharem nas mesmas
(responsabilid condições; (sob sua autoridade e em sua
ade objetiva companhia)
indireta dos  O empregador ou comitente, por seus
responsáveis) empregados, serviçais e prepostos, no exercício
do trabalho que lhes competir, ou em razão
dele;
 Os donos de hotéis, hospedarias, casas ou
estabelecimentos onde se albergue por
dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos
seus hóspedes, moradores e educandos;
 Os que gratuitamente houverem participado
nos produtos do crime, até a concorrente
quantia.
PELO FATO O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano
DO ANIMAL - por este causado, se não provar culpa da vítima ou
art. 936, CC força maior”. Nesse caso, o dono responderá de
maneira objetiva.

53
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei
especial, os empresários individuais e as empresas
respondem independentemente de culpa pelos
PELO FATO danos causados pelos produtos postos em
DA COISA circulação. (responsabilidade objetiva).
Art. 937. O dono de edifício ou construção
responde pelos danos que resultarem de sua
ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja
necessidade fosse manifesta.
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele,
responde pelo dano proveniente das coisas que
dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
Não precisa ser proprietário, basta habitar!
Os danos patrimoniais ou materiais constituem prejuízos ou
perdas que atingem o patrimônio corpóreo de alguém.
DANOS DANOS
PATRIMONIA EMERGENTES OU O que efetivamente se perdeu.
IS OU DANOS
MATERIAIS POSITIVOS
LUCROS
CESSANTES OU O que razoavelmente se deixou de lucrar.
DANOS
NEGATIVOS
É a lesão a direitos da personalidade.
DANOS DANOS MORAIS É possível a ocorrência de dano moral para a
MORAIS DA PESSOA pessoa jurídica, pois se aplica à pessoa
REPARAÇÃO JURÍDICA jurídica, no que couber, o disposto quanto
aos direitos da personalidade.
Os danos estéticos são tratados atualmente como uma
modalidade separada de dano extrapatrimonial. Estão presentes
quando a pessoa sofre feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou
DANOS profundos em sua pele, lesão ou perda de órgãos internos ou
ESTÉTICOS externos do corpo, aleijões, amputações, entre outras anomalias que
atingem a própria dignidade humana. Esse dano, nos casos em
questão, será também presumido (in re ipsa), como ocorre com o
dano moral objetivo.
TEORIA DA Tem origem francesa. são reparáveis os prejuízos que decorrem da
PERDA DE frustração de uma expectativa, que possivelmente se
UMA concretizaria em circunstâncias normais. Assim, ela é aplicada pelo
CHANCE

54
STJ , que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e CERTO,
dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade.
DANOS É o dano que atinge, ao mesmo tempo, direitos individuais
MORAIS homogêneos e coletivos em sentido estrito, e as vítimas são
COLETIVOS determinadas ou determináveis. Por isso, a indenização deve ser
destinada para elas, as vítimas.
DANO São lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por
SOCIAIS OU rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito
DIFUSOS da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida.
JUROS TANTO NO CASO DE DANOS MATERIAIS QUANTO DE DANOS
MORATÓRIO MORAIS:
S  Responsabilidade extracontratual: os juros fluem a partir do
TERMO INICIAL DOS EVENTO DANOSO (art. 398 do CC e Súmula 54 do STJ).
JUROS E CORREÇÃO  Responsabilidade contratual:
MONETÁRIA  Obrigação líquida (mora ex re): contados a partir do
VENCIMENTO.
 Obrigação ilíquida (mora ex persona): contados a partir da
CITAÇÃO.
CORREÇÃO NO CASO DE DANOS MATERIAIS: incide correção monetária a
MONETÁRIA partir da data do efetivo PREJUÍZO (Súmula 43 do STJ).
NO CASO DE DANOS MORAIS: a correção monetária incide desde a
data do ARBITRAMENTO (Súmula 362 do STJ).
Não houve a É um seguro obrigatório contra danos pessoais causados por
extinção do veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas
seguro transportadas ou não. Se a vítima estava praticando um crime com
SEGURO DPVAT
DPVAT o veículo no momento do acidente, ela não tem direito ao seguro
DPVAT.
Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor.
LEGÍTIMA “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
DEFESA meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a
direito seu ou de outrem”.
ESTADO DE
EXCLUDENTES DE
NECESSIDADE
RESPONSABILIDADE
OU Não constitui ato ilícito a deterioração ou destruição da coisa alheia,
REMOÇÃO DE ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes a
PERIGO acontecer.
IMINENTE

55
EXERCÍCIO
REGULAR DE Não constitui ato ilícito o praticado no exercício regular de um
DIREITO OU direito reconhecido. O estrito cumprimento do dever legal afasta a
DAS responsabilização, desde que não haja abuso.
PRÓPRIAS
FUNÇÕES
CULPA OU FATO Lembre-se: a culpa concorrente NÃO exclui a
EXCLUDENTE EXCLUSIVO DA responsabilidade, havendo apenas a redução da
S DE NEXO VÍTIMA indenização devida, com base na conduta de
DE ambas as partes.
CAUSALIDAD CULPA OU FATO Só exclui a responsabilidade quando rompe o
E EXCLUSIVO DE nexo causal entre o agente e o dano sofrido
TERCEIRO pela vítima. Nesses casos, o fato de terceiro
equipara-se ao caso fortuito ou força maior.
Exceção: STF, Súmula 187: “A responsabilidade
contratual do transportador, pelo acidente com
o passageiro, não é elidida por culpa de
terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
CASO FORTUITO Não já consenso quanto à definição. São
E FORÇA MAIOR eventos: totalmente imprevisíveis ou
previsíveis, mas inevitáveis.
CLÁUSULA A cláusula de não indenizar constitui a previsão contratual pela
DE NÃO qual a parte exclui totalmente a sua responsabilidade. Essa
INDENIZAR cláusula é também denominada cláusula de irresponsabilidade ou
cláusula excludente de responsabilidade.
A cláusula de não indenizar é nula no contrato de transporte.

56
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - Analista de Controle Externo - Especialidade:

Direito) Em hipótese de descumprimento do prazo de entrega do imóvel pelo promitente


vendedor, a cláusula penal moratória fixada em valor razoável é, em regra, inacumulável com

indenização pelos lucros cessantes decorrentes da não fruição do bem.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

CERTO. Para responder a questão deve-se estar atento ao entendimento do STJ sobre a
possibilidade ou não de cumulação da cláusula penal moratória com os lucros cessantes,

em caso de atraso na entrega de imóvel.

Pois bem, em primeiro lugar, é importante lembrar que a cláusula penal moratória é
aquela que, de acordo com a doutrina, é estipulada em contrato ou documento acessório,
para desestimular o devedor a incorrer em mora, ou seja, para evitar o atraso.

Os lucros cessantes, por sua vez, são definidos como o que se deixou de ganhar em razão
da prática lesiva de outrem.

Vejamos então, o que decidiu o STJ em caso no qual houve atraso da construtora em
entregar imóvel adquirido na planta, e o comprador pleiteou judicialmente tanto a multa
prevista na cláusula penal moratória como lucros cessantes:

57
“A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da

obrigação, e, em regra, estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua


cumulação com lucros cessantes". (REsp 1.498.484-DF, Relator Min. Luis Felipe Salomão,

julgado em 22/05/2019).

Questão 2

(Banca: FCC - 2019 - TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciário - Área Judiciária) Luciano,

empregado de XPTO Carretos e Mudanças Ltda., dirigia o caminhão da empresa, a fim de realizar
a mudança de determinado cliente, quando, por imperícia e imprudência, atropelou Renata, que

sofreu, por conta do acidente, lesões corporais graves. Nesse caso, de acordo com o Código
Civil, a empresa XPTO responde:

A) subsidiariamente a Luciano pelos danos causados a Renata, somente se tiver procedido com

culpa in eligendo.
B) subsidiariamente a Luciano pelos danos causados a Renata, independentemente de culpa.

C) solidariamente com Luciano pelos danos causados a Renata, somente se tiver procedido com
culpa in eligendo.

D) solidariamente com Luciano pelos danos causados a Renata, independentemente de culpa.


E) solidariamente com Luciano pelos danos materiais causados a Renata, mas subsidiariamente
a ele pelos danos morais, independentemente de culpa em qualquer dos casos.

Comentário:

A) ERRADA. A obrigação subsidiária é aquela que só pode ser cobrada quando a

obrigação originária não é cumprida pelo devedor principal. No caso em comento,


estabelece o Código Civil em seu artigo 932, III, que a responsabilidade do empregador

será solidária, ou seja, aquela em que há multiplicidade de credores e/ou devedores,

58
tendo cada credor o direito à totalidade da prestação, como se fosse credor único, ou

estando cada devedor obrigado ao pagamento integral da prestação, como se fosse único
devedor. Ademais, segundo os artigos 932 e 933, os pais, o tutor e o curador, o

empregador, os donos de hotéis, estabelecimentos de ensino e similares responderão


civilmente, “ainda que não haja culpa de sua parte, pelos atos praticados pelos terceiros

ali referidos". Logo, não há o que se falar em culpa in vigilando (entendida como aquela
que decorre da falta de atenção com o procedimento de outrem, cujo ato ilícito o

responsável deve pagar) ou in elegendo (compreendida como aquela que advém da má


escolha daquele em quem se confia à prática de um ato ou o adimplemento da
obrigação).

B) ERRADA. A responsabilidade é solidária.

C) ERRADA. Embora a empresa XPTO responda solidariamente com Luciano pelos danos
causados a Renata, a responsabilidade resta configurada independente de culpa.

D) CORRETA. Consoante entendimento sumulado do STF e com o Código Civil de 2002,

o empregador ou comitente, no que concerne aos atos praticados por seus empregados,
serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele, tem

presunção absoluta de culpa e responde objetivamente pelos danos causados, ou seja,


independentemente de culpa in vigilando ou in eligendo.

E) ERRADA. A responsabilidade solidária pela reparação civil abarca tanto os danos morais

quanto os materiais.

Questão 3

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-AM - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador)

De acordo com o Código Civil, julgue o próximo item, acerca de classes de bens, associações,
fundações, prova do fato jurídico e atos jurídicos. Situação hipotética: No exercício de
determinado direito de natureza civil, um indivíduo agiu de forma abusiva, excedendo os limites

impostos pela finalidade econômica e social do referido direito e causando dano a terceiro.
59
Assertiva: Nesse caso, a caracterização da responsabilidade desse indivíduo independe da

comprovação de culpa.

Comentário:

CERTO. De acordo com o art. 187 do CC, “também comete ato ilícito o titular de um
direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes". Trata-se do abuso de direito,

fonte da obrigação de indenizar e a controvérsia cinge-se a sua caracterização no campo


da responsabilidade subjetiva ou objetiva.

O Enunciado 37 do CJF dispõe no sentido de se tratar de RESPONSABILIDADE OBJETIVA:

“A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito INDEPENDE DE CULPA e


fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico". Em complemento, merece

destaque as lições do Prof. Silvio Venosa: “(...) o critério de culpa é acidental e não
essencial para a configuração do abuso" (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte

Geral. São Paulo: Atlas, 2001. v. 1. p. 499).

Ressalte-se que, embora o gabarito da questão seja neste sentido, há quem defenda
tratar-se de responsabilidade subjetiva, pois o caput do art. 927 do CC, ao tratar dela,

menciona o abuso de direito.

Questão 4

(Banca: FCC - 2019 - TRF - 4ª REGIÃO - Analista Judiciário - Área Judiciária) Comete abuso

de direito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos


pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Para o Código Civil, o

abuso de direito constitui ato

60
A) lícito, mas que dá causa ao dever de indenizar.

B) lícito, mas que não produz efeitos.

C) ilícito, que dá causa ao dever de indenizar.

D) ilícito, mas que não dá causa ao dever de indenizar.

E) ilícito, porém plenamente válido e eficaz.

Comentário:

A) ERRADA. Vide comentário da alternativa "C".

B) ERRADA. Vide comentário da alternativa "C".

C) CORRETA. O artigo 186 do Código Civil é claro ao prever que o ato ilícito decorre de

uma ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, onde o agente viola o


direito e causa dano a outrem, ainda que exclusivamente moral.

Neste sentido, o artigo 187 vem afirmar que o ato ilícito também pode ser caracterizado

quando o titular de um direito, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos


pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Trata-se do abuso de direito, abordado na questão. Assim, quando um indivíduo, no uso


de seu direito, o faz de maneira excessiva, acima dos limites impostos, se torna
responsável pelo dano que causar a outrem em virtude do ato praticado em excesso.

O artigo 927 garante ao lesado o direito à indenização, prevendo que, o autor do ato

ilícito (arts. 186 e 187), que causar o dano, fica obrigado a repará-lo.

Assim, conclui-se que o abuso de direito é um ato ilícito, portanto passível de


responsabilização, sendo a obrigação de indenizar uma consequência da responsabilidade
civil, tendo em vista que o dever de indenizar nasce com o dano ao patrimônio jurídico
de outrem, o que ocorre no caso do abuso de direito.
61
D) ERRADA. Vide comentário da alternativa "C".

E) ERRADA. Vide comentário da alternativa "C".

Questão 5

(Banca: FCC - 2018 - TRT - 15ª Região (SP) - Analista Judiciário - Área Judiciária) Rogério,

de 14 anos, briga na escola com Filipe, da mesma idade, e lhe quebra o braço, causando-lhe
prejuízo de R$ 2.000,00 nas despesas médicas e de hospital. Fica provado que Filipe não deu
causa à briga, razão pela qual seu pai, representando-o, quer receber o valor dos danos. Nessas

circunstâncias, Rogério,

A) ainda que devidamente representado, não responderá pelo prejuízo, porque o fato envolveu
duas pessoas absolutamente incapazes, sem discernimento para entenderem o caráter ilícito de

sua conduta, equiparando-se o evento a caso fortuito ou força maior.

B) por ser absolutamente incapaz, não responderá em nenhuma hipótese pelo prejuízo causado,
o que se restringe a pessoas maiores ou relativamente incapazes, caso em que haverá

solidariedade com seus responsáveis legais.

C) apesar de absolutamente incapaz, responde exclusiva e diretamente pelo prejuízo causado,


por se tratar de conduta dolosa e não culposa, sendo irrelevante a condição financeira de seus

responsáveis legais; no entanto, não pode ser privado de meios suficientes à sua subsistência.

D) apesar de absolutamente incapaz, responderá pelo prejuízo que causou, se as pessoas que
respondem por ele não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes;

nesse caso, a indenização deverá ser equitativa e não terá lugar se privar do necessário o incapaz
ou as pessoas que dele dependam.

E) em qualquer hipótese, responderá pelo prejuízo se seus responsáveis legais não tiverem

meios para indenizar a vítima, sem limitação quanto à extensão da indenização pela natureza
ilícita de sua conduta.

62
Comentário:

Pelo disposto no art. 932 do CC “São também responsáveis pela reparação civil: I - os
pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia".

Trata-se da responsabilidade civil por ato de terceiro. Percebam que os pais serão

chamados a responder objetivamente, de maneira que a vítima não precise provar a culpa
deles e é nesse sentido que temos o art. 933 do CC: “As pessoas indicadas nos incisos I

a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos
atos praticados pelos terceiros ali referidos".

Cuidado! À princípio, pelo disposto no § ú do art. 942 do CC, poderíamos afirmar que a

responsabilidade dos pais, com relação aos atos praticados pelos filhos menores, é
solidária. De fato, a responsabilidade das pessoas do art. 933 é solidária, com exceção do
incapaz, pois sua responsabilidade será subsidiária e é o que se extrai da regra do art.

928 do CC: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes".

Por sua vez, o § ú do referido dispositivo legal vem mitigar a regra do caput, conciliando

o interesse da vítima com a situação de hipossuficiência do incapaz, ao dispor que “A


indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do

necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem".

Passemos à análise das assertivas.

A) ERRADA. Rogério praticou um ato ilícito ao quebrar o braço do colega. Por ser incapaz,
os pai do menor será chamado a responder (art. 932, inciso I do CC), tratando-se de

responsabilidade por ato de terceiro, responsabilidade esta objetiva, por força do art. 933
do CC.

B) ERRADA. Pelos mesmos fundamentos já apresentados.

63
C) ERRADA. O pai é chamado a responder, mas caso não tenha obrigação de fazê-lo (ex:

encontra-se em coma no hospital) ou não disponha de meios suficientes (ex: está


desempregado), a lei chama o incapaz, no art. 928, sendo a sua responsabilidade

subsidiária. O § ú do mesmo dispositivo legal, de fato, é no sentido de que a indenização


não terá lugar caso o incapaz seja privado de sua subsistência, bem como as pessoas que

dele dependam.

D) CORRETA. A assertiva está em consonância com o que dispõe o art. 928 caput e § ú
do CC.

E) ERRADA. Não é em qualquer hipótese, mas responderá quando os responsáveis não

tiverem obrigação ou não dispuserem de meios suficientes para reparar o dano. A


indenização deverá ser equitativa e não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou

as pessoas que dele dependem.

Questão 6

(Banca: INSTITUTO AOCP - 2018 - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Analista Judiciário - Área

Judiciária) Pedro, trabalhador, é funcionário da empresa Y. Em determinada eventualidade,


visando evitar um incêndio, Pedro destruiu um painel de energia responsável pela distribuição

de energia elétrica na empresa, arremessando-o para longe por três vezes e atingindo um
veículo estacionado em via pública, de propriedade de Jonas. De acordo com as disposições da
legislação civil, sobre o tema responsabilidade civil, assinale a alternativa INCORRETA.

A) Considerando que Jonas estivesse dentro do veículo, com seu consequente falecimento em
razão do praticado por Pedro, o direito de exigir a reparação será transmitido aos herdeiros de
Jonas.

B) Em eventual ação judicial indenizatória manejada pelo proprietário do veículo, poderá a


empresa Y ser condenada na reparação pelos danos materiais, visto que é ela civilmente
responsável por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes

competir, ou em razão dele.


64
C) Em eventual ação judicial indenizatória manejada pelo proprietário do veículo, em que conste

no polo passivo a empresa e Pedro, verificada a situação específica de inexistência de culpa da


empresa empregadora, não poderá ela ser responsabilizada pelo ato praticado por Pedro.

D) Caso reste consignado que Pedro praticou ato dentro dos limites necessários, visando à

remoção de perigo iminente, mesmo diante da destruição da coisa alheia, tal ato não será
tratado como ilícito, mas sim como legítimo.

E) No caso da alternativa "D", caso a prática do ato exceda manifestamente os limites impostos

para seu fim, poderá, sim, ser tratado como ato ilícito o montante excedente.

Comentário:

A) CORRETA. Considerando que Jonas estivesse dentro do veículo, com seu consequente

falecimento em razão do praticado por Pedro, o direito de exigir a reparação será


transmitido aos herdeiros de Jonas.

B) CORRETA. Em eventual ação judicial indenizatória manejada pelo proprietário do

veículo, poderá a empresa Y ser condenada na reparação pelos danos materiais, visto que
é ela civilmente responsável por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do

trabalho que lhes competir, ou em razão dele.

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício


do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja

culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

C) ERRADA. Em eventual ação judicial indenizatória manejada pelo proprietário do veículo,


em que conste no polo passivo a empresa e Pedro, verificada a situação específica de

inexistência de culpa da empresa empregadora, poderá ela ser responsabilizada pelo ato

65
praticado por Pedro, uma vez que a empresa responde independentemente de culpa de

sua parte, pelos atos praticados por seu funcionário, sendo a responsabilidade objetiva.

D) CORRETA. Caso reste consignado que Pedro praticou ato dentro dos limites
necessários, visando à remoção de perigo iminente, mesmo diante da destruição da coisa

alheia, tal ato não será tratado como ilícito, mas sim como legítimo.

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover

perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do

indispensável para a remoção do perigo.

E) CORRETA. No caso da alternativa "D", caso a prática do ato exceda manifestamente os


limites impostos para seu fim, poderá, sim, ser tratado como ato ilícito o montante

excedente.

Código Civil:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou

pelos bons costumes.

Questão 7

(Banca: FCC - 2018 - TRT - 6ª Região (PE) - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador

Federal) Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à
reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão

subsidiariamente pela reparação.

66
( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

ERRADO. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam


sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos

responderão solidariamente pela reparação.

Questão 8

(Banca: FCC - 2018 - TRT - 6ª Região (PE) - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador

Federal) A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais


sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem

decididas no juízo criminal.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

CERTO. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar

mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões
se acharem decididas no juízo criminal.

67
Questão 9

(Banca: FCC - 2018 - TRT - 6ª Região (PE) - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador
Federal) Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago

daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou
relativamente incapaz.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

CERTO. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago
daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou

relativamente incapaz.

Questão 10

(Banca: FCC - 2018 - TRT - 6ª Região (PE) - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador

Federal) Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou parcialmente, sem ressalvar as
quantias do que for devido, ficará no primeiro caso obrigado a devolver o equivalente do que

exigiu do devedor e, no segundo caso, a pagar-lhe o dobro do que foi cobrado, em qualquer
circunstância.

( ) CERTO

68
( ) ERRADO

Comentário:

ERRADO. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar
as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao

devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente


do que dele exigir, salvo se houver prescrição.

69
GABARITO

Questão 1 - CERTO

Questão 2 - D

Questão 3 - CERTO

Questão 4 - C

Questão 5 - D

Questão 6 - B

Questão 7 - ERRADO

Questão 8 - CERTO

Questão 9 - CERTO

Questão 10 - ERRADO

70
QUESTÃO DESAFIO

João está andando na rua e escuta um grito de socorro vindo de


uma casa que está em chamas. Assim, com o intuito de salvar a
vida da pessoa que está gritando, João arromba à porta da casa e
consegue retirar Joana do local. Desse modo, pergunta-se: Qual o
instituto João poderá alegar para não ser responsabilizado pelo ato
ilícito? Mesmo assim, João terá que indenizar o dono do imóvel
pela porta arrombada? Fundamente.
Responda em até 05 linhas

71
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

Trata-se do instituto do estado de necessidade. E, embora a lei declare que o ato

praticado em estado de necessidade não é ato ilícito, nem por isso libera quem o pratica
de reparar o prejuízo que causou, como estabelecem os arts. 929 e 930 do CC.

 Estado de Necessidade

Previsto no inciso II, do art. 188 do CC, o Estado de necessidade consiste na situação de agressão
a um direito alheio, de valor jurídico igual ou inferior àquele que se pretende proteger, para
remover perigo iminente, quando as circunstâncias do fato não autorizarem outra forma de
atuação.

Ademais, o parágrafo único do art. 188 do CC prevê que o estado de necessidade “somente
será considerado legítimo quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não
excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo”.

Assim, nas palavras dos doutrinadores Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho: “Com isso, quer-
se dizer que o agente, atuando em estado de necessidade, não está isento do dever de atuar
nos estritos limites de sua necessidade, para a remoção da situação de perigo. Será
responsabilizado, pois, por qualquer excesso que venha a cometer.” (Gagliano, Pablo Stolze;
Pamplona Filho, Rodolfo. Novo curso de direito civil, v. 3: responsabilidade civil – 17. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 165).

 Arts. 929 e 930 do CC.

De acordo com os art. 929 e 930 do CC, se o terceiro atingido não for o causador da situação
de perigo, poderá exigir indenização do agente que houvera atuado em estado de necessidade,
cabendo a este ação regressiva contra o verdadeiro culpado. Ora, conforme pode ser observado,
mesmo o agente atuando em uma causa de excludente de responsabilidade civil, continua tendo
o dever de reparar, apenas possuindo o direito de regresso caso se descubra quem foi o terceiro
causador do perigo.

Essa regra é bastante criticada pela doutrina, pois, conforme aduz o doutrinador Carlos Roberto
Gonçalves: “A solução dos arts. 929 e 930 não deixa de estar em contradição com o art. 188, II,
72
pois, enquanto este considera lícito o ato, aqueles obrigam o agente a indenizar a deterioração
da coisa alheia para remover perigo iminente. (...) Tal solução pode desencorajar muitas pessoas
a tomar certas atitudes necessárias para a remoção de perigo iminente.” (Gonçalves, Carlos
Roberto. Direito civil brasileiro, volume 4: responsabilidade civil – 14. ed. – São Paulo: Saraiva
Educação, 2019, p. 618).

Desse modo, mesmo João agindo em estado de necessidade, ele deverá indenizar o dono do
imóvel pelo arrombamento da porta, já que não se tem notícia de quem foi o responsável pelo
incêndio.

73
LEGISLAÇÃO COMPILADA

RESPONSABILIDADE CIVIL

 Código Civil/ Arts. 186 a 188, 402 a 405 e 927 a 954.


 Artigos mais relevantes:

 Súmula 37 - STJ

São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.

 Súmula 43 - STJ

Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.

 Súmula 54 - STJ

Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.

 Súmula 130 - STJ

A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorrido em seu
estacionamento.

 Súmula 132 - STJ

A ausência de registro da transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante
de acidente que envolva o veículo alienado.

 Súmula 145 - STJ

No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos
causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.

 Súmula 221 - STJ

São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor
do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.

 Súmula 227 - STJ

A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

74
 Súmula 246 - STJ

O valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada.

 Súmula 362 - STJ

A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.

 Súmula 370 - STJ

Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.

 Súmula 385 - STJ

Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando
preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.

 Súmula 388 - STJ

A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.

 Súmula 403 - STJ

Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais.

 Súmula 420 - STJ

Incabível, em embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos morais.

 Súmula 479 - STJ

As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e
delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.

 Súmula 529 - STJ

No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e
exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.

 Súmula 572 - STJ

O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a
responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco
legitimidade passiva para as ações de reparação de danos fundadas na ausência de prévia comunicação.

 Súmula 595 - STJ

75
As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela
realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e
adequada informação.

 Súmula 620 - STJ

A embriaguez do segurado não exime a seguradora do pagamento da indenização prevista em contrato de seguro
de vida.

 Súmula 624 - STJ

É possível cumular a indenização do dano moral com a reparação econômica da Lei n. 10.559/2002 (Lei da Anistia
Política).

 Súmula 629 - STJ

Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com
a de indenizar.

 Súmula 638 - STJ

É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de instituição financeira pelos danos decorrentes
de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito de contrato de penhor civil.

 Súmula 642-STJ

O direito à indenização por danos morais transmite-se com o falecimento do titular, possuindo os herdeiros da
vítima legitimidade ativa para ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória.

 Súmula 159 – STF

Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil.

 Súmula 161 - STF

Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar.

 Súmula 261 - STF

Para a ação de indenização, em caso de avaria, é dispensável que a vistoria se faça judicialmente.

 Súmula 491 - STF

É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado.

 Súmula 492 - STF

76
A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados a
terceiro, no uso do carro locado.

 Súmula 562 - STF

Na indenização de danos materiais decorrentes de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, para
esse fim, dentre outros critérios, dos índices de correção monetária.

77
JURISPRUDÊNCIA

É INVIÁVEL A CESSÃO DE DIREITO AO REEMBOLSO DAS DESPESAS


MÉDICO-HOSPITALARES, COBERTAS PELO SEGURO DPVAT,
REALIZADA POR VÍTIMAS DE ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO EM
FAVOR DE CLÍNICA PARTICULAR, NÃO CONVENIADA AO SUS, QUE
PRESTOU ATENDIMENTO AOS SEGURADOS

 STJ. 3ª Turma. REsp 1911618-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2021 (Info 699).

A lei de regência veda expressamente a cessão de direitos no que tange às despesas de assistência médica e
suplementares, efetuadas pela rede credenciada junto ao Sistema Único de Saúde, quando em caráter privado (art.
3º, § 2º, da Lei nº 6.194/64). A inviabilidade da cessão na espécie não se dá propriamente com base na restrição
feita pelo art. 3º, § 2º, da Lei 6.194/64. Isto é, não é a ausência da vinculação da clínica fisioterápica ao SUS a base
da conclusão adotada, mas sim o fato de que não houve diminuição patrimonial dos segurados. Em não havendo
o dispêndio de valores por parte das vítimas, não há que se falar em reembolso pela seguradora e, via de
consequência, inviável mostra-se qualquer cessão de tais direitos.

Comentário: Quem custeia as indenizações pagas pelo DPVAT? Os proprietários de veículos


automotores. Trata-se de um seguro obrigatório. Assim, sempre que o proprietário do veículo
paga o IPVA, está pagando também, na mesma guia, um valor cobrado a título de DPVAT. O
STJ afirma que a natureza jurídica do DPVAT é a de um contrato legal, de cunho social. O DPVAT
é regulamentado pela Lei nº 6.194/74.

Existe um prazo para pagamento? SIM. A Lei prevê que a indenização deve ser paga, em cheque
nominal aos beneficiários, no prazo de 30 dias da entrega dos documentos que comprovem o
acidente, o óbito, a invalidez etc. (art. 5º, § 1º).

NÃO GERA DIREITO À INDENIZAÇÃO A PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS


DE CARÁTER INFORMATIVO E OPINATIVO QUE, APESAR DE SEREM

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EXTREMAMENTE ÁCIDOS E IRÔNICOS, NÃO DESBORDARAM OS
LIMITES DO EXERCÍCIO REGULAR DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

 STJ. 4ª Turma. REsp 1729550-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/05/2021 (Info 696).

Não caracteriza hipótese de responsabilidade civil a publicação de matéria jornalística que narre fatos verídicos ou
verossímeis, embora eivados de opiniões severas, irônicas ou impiedosas, sobretudo quando se trate de figuras
públicas que exerçam atividades tipicamente estatais, gerindo interesses da coletividade, e a notícia e crítica
referirem-se a fatos de interesse geral relacionados à atividade pública desenvolvida pela pessoa noticiada. Pessoas
públicas estão submetidas à exposição de sua vida e de sua personalidade e, por conseguinte, são obrigadas a
tolerar críticas que, para o cidadão comum, poderiam significar uma séria lesão à honra. Assim, a crítica a pessoas
públicas somente pode gerar responsabilidade civil em situações nas quais é imputada, injustamente e sem a
necessária diligência, a prática de atos concretos que resvalem na criminalidade.

Comentário: Não caracteriza hipótese de responsabilidade civil a publicação de matéria


jornalística que narre fatos verídicos ou verossímeis, embora eivados de opiniões severas,
irônicas ou impiedosas, sobretudo quando se trate de figuras públicas que exerçam atividades
tipicamente estatais, gerindo interesses da coletividade, e a notícia e crítica referirem-se a fatos
de interesse geral relacionados à atividade pública desenvolvida pela pessoa noticiada.

A PROPRIETÁRIA, NA QUALIDADE DE ARRENDADORA DE


AERONAVE, NÃO PODE SER RESPONSABILIZADA CIVILMENTE PELOS
DANOS CAUSADOS POR ACIDENTE AÉREO, QUANDO HÁ O
ROMPIMENTO DO NEXO DE CAUSALIDADE, AFASTANDO-SE O
DEVER DE INDENIZAR

 STJ. 4ª Turma. REsp 1414803-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

Caso adaptado: estava sendo realizado um evento em comemoração aos 55 anos do aeródromo. Como parte das
comemorações, as pessoas podiam pagar um ingresso para participar de voo panorâmico no local. Larissa e outros
passageiros embarcaram, então, em um avião Cessna 310, pilotado por João. João, o piloto do primeiro avião,
agindo de forma imprudente e imperita, efetuou manobras arriscadas e, ao efetuar um rasante, acabou colidindo
com um segundo avião (Cessna 182), que estava em processo de decolagem. O piloto do segundo avião não teve

79
culpa pelo acidente. Todas as pessoas presentes nas duas aeronaves acabaram falecendo. Vale ressaltar que o
segundo avião (Cessna 182) pertencia à empresa Klabin e foi arrendado para o aeródromo para participar do
evento. Os pais de Larissa ajuizaram ação de indenização por danos morais e materiais contra a Klabin (arrendadora
da segunda aeronave). O STJ entendeu que a empresa arrendadora não tem o dever de indenizar, considerando
que não praticou ato suficiente para provocar o dano sofrido pela vítima.

Comentário: Só há falar em responsabilidade civil se houver uma relação de causa e efeito entre
a conduta e o dano, ou seja, se a causa for abstratamente idônea e adequada à produção do
resultado, não bastando ser antecedente.
Ao contrário do que ocorre na teoria da equivalência das condições (teoria da conditio sine qua
non), em que toda e qualquer circunstância que haja concorrido para produzir o dano pode ser
considerada capaz de gerar o dano, na causalidade adequada a ideia fundamental é a que só
há uma relação de causalidade entre fato e dano quando o ato praticado pelo agente seja de
molde a provocar o dano sofrido pela vítima, segundo o curso normal das coisas e a experiência
comum da vida.
Na aferição do nexo de causalidade, a doutrina majoritária de Direito Civil adota a teoria da
causalidade adequada ou do dano direto e imediato, de maneira que somente se considera
existente o nexo causal quando o dano é efeito necessário e adequado de uma causa (ação ou
omissão). Essa teoria foi acolhida pelo Código Civil de 1916 (art. 1.060) e pelo Código Civil de
2002 (art. 403).

O SIMPLES FATO DE O CONDUTOR RESPONSÁVEL PELO ACIDENTE


DE TRÂNSITO TER FUGIDO SEM PRESTAR SOCORRO À VÍTIMA NÃO
CONFIGURA DANO MORAL IN RE IPSA; LOGO, O DANO MORAL
TERÁ QUE SER DEMONSTRADO PARA QUE HAJA INDENIZAÇÃO

 STJ. 4ª Turma. REsp 1512001-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 27/04/2021 (Info 694).

A omissão de socorro à vítima de acidente de trânsito, por si, não configura hipótese de dano moral in reipsa. A
evasão do réu do local do acidente pode, a depender do caso concreto, causar ofensa à integridade física e
psicológica da vítima, no entanto, para isso, deverão ser analisadas as particularidades envolvidas. Haverá

80
circunstâncias em que a fuga do réu, sem previamente verificar se há necessidade de auxílio aos demais envolvidos
no acidente, superará os limites do mero aborrecimento e, por consequência, importará na devida compensação
pecuniária do sofrimento gerado. Por outro lado, é possível conceber situação hipotética em que a evasão do réu
do local do sinistro não causará transtorno emocional ou psicológico à vítima. Logo, o simples fato de ter havido
omissão de socorro não significa, por si só, que houve dano moral. Não se trata de hipótese de dano moral
presumido.

Comentário: A caracterização do dano moral in re ipsa não pode ser elastecida a ponto de
afastar a necessidade de sua efetiva demonstração em qualquer situação. Isso porque ao
proceder assim, se estaria a percorrer o caminho diametralmente oposto ao sentido da
despatrimonialização do direito civil, transformando em caráter meramente patrimonial os danos
extrapatrimoniais e fomentando a já bastante conhecida “indústria do dano moral”. Além disso,
no dano moral in re ipsa ocorre uma presunção judicial que dificulta a defesa do réu. Diante
disso, essas situações devem ficar restritas a casos muito específicos de ofensa a direitos da
personalidade.

O TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE OBTER O


RESSARCIMENTO PELA PERDA DE UMA CHANCE DECORRENTE DA
AUSÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO É A
DATA DO CONHECIMENTO DO DANO

 STJ. 3ª Turma. REsp 1622450/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/03/2021 (Info
689).

Exemplo hipotético: João contratou Marcelo para ajuizar uma ação ordinária contra o plano de saúde. Foi ajuizada
a ação, mas o juiz negou o pedido de tutela provisória de urgência. Marcelo, sem uma razão justificável, deixou de
interpor agravo de instrumento. Em 06/06/2016, transcorreu in albis o prazo recursal. O processo continuou
tramitando, no entanto, Marcelo sempre se mostrava negligente e sem compromisso para com seu cliente. Assim,
em 07/07/2017, João revogou os poderes conferidos a Marcelo e contratou outro advogado para acompanhar o
processo. O termo inicial do prazo prescricional para a ação de indenização pela perda de uma chance é 07/07/2017.
No caso, não é razoável considerar como marco inicial da prescrição a data limite para a interposição do agravo
de instrumento, haja vista inexistirem elementos nos autos - ou a comprovação por parte do causídico - de que o

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cliente tenha sido cientificado da perda de prazo para apresentar o recurso cabível. Portanto, o prazo prescricional
não pode ter início no momento da lesão ao direito da parte (dia em que o advogado perdeu o prazo), mas sim
na data do conhecimento do dano, aplicando-se excepcionalmente a actio nata em sua vertente subjetiva.

Comentário: O que é a teoria da perda de uma chance? Trata-se de teoria inspirada na doutrina
francesa (perte d’une chance). Na Inglaterra é chamada de loss-of-a-chance. Segundo esta teoria,
se alguém, praticando um ato ilícito, faz com que outra pessoa perca uma oportunidade de
obter uma vantagem ou de evitar um prejuízo, esta conduta enseja indenização pelos danos
causados. Em outras palavras, o autor do ato ilícito, com a sua conduta, faz com que a vítima
perca a oportunidade de obter uma situação futura melhor. Com base nesta teoria, indeniza-se
não o dano causado, mas sim a chance perdida.
A teoria da perda de uma chance é adotada no Brasil? SIM, esta teoria é aplicada pelo STJ, que
exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e CERTO, dentro de um juízo de probabilidade,
e não mera possibilidade, porquanto o dano potencial ou incerto, no espectro da
responsabilidade civil, em regra não é indenizável (REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda,
julgado em 9/6/2009). Em outros julgados, fala-se que a chance perdida deve ser REAL e SÉRIA,
que proporcione ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação futura esperada
(AgRg no REsp 1220911/RS, Segunda Turma, julgado em 17/03/2011).

FACEBOOK NÃO É OBRIGADO A FORNECER OS DADOS DE TODOS


OS USUÁRIOS QUE COMPARTILHARAM POST CONTENDO FAKE
NEWS

 STJ. 4ª Turma. REsp 1859665/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 09/03/2021 (Info 688).

É vedado ao provedor de aplicações de internet fornecer dados de forma indiscriminada dos usuários que tenham
compartilhado determinada postagem, em pedido genérico e coletivo, sem a especificação mínima de uma conduta
ilícita realizada.

Comentário: O STJ possui julgados, no âmbito criminal, afirmando que o mero


compartilhamento de postagem de internet, sem o animus de cometer o ilícito, não é suficiente
para indicar a ocorrência de delito.

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RESPONSABILIDADE CIVIL POR MORTE CAUSADA EM VIRTUDE DE
ACIDENTE COM CERCA DE ARAME FARPADO SEM SINALIZAÇÃO

 STJ. 3ª Turma. REsp 1860324/GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/02/2021.

Caso concreto: o proprietário de imóvel rural colocou cerca de arames em uma estrada de barro, considerando
que, a partir daquele local começava a sua propriedade. Ocorre que não foi inserida nenhuma sinalização
informando que havia a cerca. Uma pessoa vinha com sua moto nesta estrada de terra e, como estava de noite,
não viu a cerca, que era imperceptível a olho nu, e sem qualquer tipo de sinalização, tendo, então, colidido com o
arame farpado, o que lhe ceifou instantaneamente a vida. Os familiares da vítima possuem direito à indenização a
ser paga pelo proprietário do imóvel, que instalou a cerca. Não se pode afastar a responsabilidade do proprietário,
que não agiu com prudência ao deixar de sinalizar o local, sabendo da possibilidade de ali transitarem terceiros.
Não se pode admitir que a sua propriedade represente um risco a terceiros que ali trafegam ou possam trafegar,
pois, acaso ocorrido o dano, haverá a obrigação de repará-lo (arts. 186 e 927 do Código Civil).

PODER JUDICIÁRIO PODE OBRIGAR EMPRESA RESPONSÁVEL PELA


REDE SOCIAL A FORNECER OS DADOS DE TODOS OS USUÁRIOS QUE
ACESSARAM DETERMINADO PERFIL DESSA REDE SOCIAL EM
DETERMINADO INTERVALO DE TEMPO

 STJ. 3ª Turma. REsp 1738651-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/08/2020 (Info 678).

Caso concreto: um casal publicou, de livre e espontânea vontade, fotos e vídeos em uma rede social adulta voltada
para swing, chamada “Sexlog”. Esse material foi indevidamente capturado por algum usuário da rede e distribuído
por WhatsApp. O casal ajuizou ação contra a empresa responsável pela rede pedindo para que ela fornecesse os
dados de todos os usuários que acessaram o perfil dos requerentes no período compreendido entre janeiro e abril
de 2017. O pedido do casal pode ser acolhido? A empresa responsável pela rede tem a obrigação de fornecer
esses dados? SIM. O art. 15 da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) prevê: Art. 15. O provedor de aplicações
de internet constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça essa atividade de forma organizada,
profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos registros de acesso a aplicações de internet,
sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento.
Diante da obrigação legal de guarda de registros de acesso a aplicações de internet, não há como afastar a
possibilidade jurídica de obrigar os provedores de aplicação ao fornecimento dessas informações (quais usuários
acessaram um perfil na rede social num período), considerando que se trata de mero desdobramento dessas

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obrigações. Em suma: é juridicamente possível obrigar os provedores de aplicação ao fornecimento de IPs e de
dados cadastrais de usuários que acessaram perfil de rede social em um determinado período de tempo.

Comentário: Reconhecimento pela jurisprudência de um dever jurídico dos provedores de


acesso de armazenar dados cadastrais de seus usuários durante o prazo de prescrição de
eventual ação de reparação civil.

OS PROVEDORES DE APLICAÇÕES DE INTERNET NÃO SÃO


OBRIGADOS A GUARDAR E FORNECER DADOS PESSOAIS DOS
USUÁRIOS, SENDO SUFICIENTE A APRESENTAÇÃO DOS REGISTROS
DE NÚMERO IP

 STJ. REsp 1829821-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/08/2020 (Info 680).

Exemplo: João foi ofendido por meio de mensagens veiculadas em e-mail. O autor das mensagens utilizava um e-
mail com domínio do Hotmail (que pertence à Microsoft). João ajuizou ação contra a Microsoft pedindo que ela
fosse condenada a fornecer os dados pessoais do titular do e-mail utilizado para as ofensas (nome, RG, CPF e
endereço). O magistrado julgou o pedido procedente, sentença mantida pelo TJ. A empresa recorreu afirmando
que só é obrigada a guardar o IP dos usuários.

A tese da Microsoft é acolhida pelo STJ.

O provedor tem o dever de propiciar meios para que se possa identificar cada um dos usuários, coibindo o
anonimato e atribuindo a cada manifestação uma autoria certa e determinada.

Para cumprir essa obrigação, é suficiente que o provedor guarde e forneça o número IP correspondente à
publicação ofensiva indicada pela parte.

Ainda que não exija os dados pessoais dos seus usuários, o provedor de conteúdo, que registra o número de
protocolo na internet (IP) dos computadores utilizados para o cadastramento de cada conta, mantém um meio
razoavelmente eficiente de rastreamento dos seus usuários, medida de segurança que corresponde à diligência
média esperada dessa modalidade de provedor de serviço de internet.

Comentário: Os provedores de conteúdo não desenvolvem atividade de risco e não é possível


haver a fiscalização prévia das informações disponibilizadas em aplicações de internet. Por outro
lado, o provedor tem o dever de propiciar meios para que se possa identificar cada um dos
84
seus usuários. Isso porque é vedado o anonimato e cada uma das manifestações divulgadas na
internet precisam ter autoria certa e determinada.

Termo inicial dos juros e da correção monetária

 STJ. 4ª Turma. REsp 1374735-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/8/2014 (Info 545).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. REDISCUSSÃO. IMPOSSIBILIDADE. CARACTERIZAÇÃO


DA COISA JULGADA. ART. 301, § 3°, DO CPC. PERÍCIA. FIDELIDADE DO TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. TERMO INICIAL
DA CONTAGEM DOS JUROS DE MORA. MARCO NÃO ESTABELECIDO. CITAÇÃO. PRECEDENTES. 1. Inexiste violação
do art. 535 do Código de Processo Civil se todas as questões jurídicas relevantes para a solução da controvérsia
são apreciadas, de forma fundamentada, sobrevindo, porém, conclusão em sentido contrário ao almejado pela
parte. 2. Para que se configure o prequestionamento da matéria, há que se extrair do acórdão recorrido
pronunciamento sobre as teses jurídicas em torno dos dispositivos legais tidos como violados, a fim de que se
possa, na instância especial, abrir discussão sobre determinada questão de direito, definindo-se, por conseguinte,
a correta interpretação da legislação federal (Súmula 211/STJ). 3. A apreciação da matéria quanto à análise da
efetiva ocorrência ou não de liquidação por arbitramento - em razão da mera homologação do laudo pericial (que
teria realizado meros cálculos aritméticos) - esbarra no comando da Súmula 07/STJ. 4. "Incluem-se os juros
moratórios na liquidação, embora omisso o pedido inicial ou a condenação" (Súm. 254 do STF). 5. Segundo
a jurisprudência do STJ, na responsabilidade contratual, os juros moratórios devem ser aplicados a partir da
citação inicial do réu, nos termos do art. 405 do CC. Precedentes. 6. Na hipótese, realmente deveria o Juízo ter
corrigido eventuais erros de cálculo constantes do laudo pericial, justamente por não se manter fiel ao título
executivo liquidando, notadamente no tocante ao termo inicial da incidência dos juros de mora e na existência de
capitalização de juros. 7. Recurso especial parcialmente provido de BRF - Brasil Foods S.A. Recurso especial de José
Ademar Schmitz a que se nega provimento.” (negritamos)

Comentário: De acordo com esse julgado, caso o magistrado não definir, na fase de
conhecimento, o termo inicial para a contabilização dos juros moratórios, deve-se considerar,
como termo inicial, a data da citação válida.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1513262-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/8/2015 (Info 567).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. MENSALIDADES ESCOLARES. JUROS
MORATÓRIOS. TERMO INICIAL. VENCIMENTO. MORA EX RE. ART. 397 DO CÓDIGO CIVIL. PRECEDENTES.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO EDUCACIONAL. PROCESSUAL CIVIL. 1. A controvérsia diz respeito ao termo inicial dos

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juros de mora em cobrança de mensalidades escolares: se deve ser a data de vencimento de cada prestação
ou da citação da devedora. 2. Os artigos 219 do CPC e 405 do CC/2002 devem ser interpretados à luz do
ordenamento jurídico, tendo aplicação residual para casos de mora ex persona - evidentemente, se ainda não
houve a prévia constituição em mora por outra forma legalmente admitida. 3. A mora ex re independe de qualquer
ato do credor, como interpelação ou citação, porquanto decorre do próprio inadimplemento de obrigação positiva,
líquida e com termo implementado. Precedentes. 4. Se o contrato de prestação de serviço educacional especifica
o valor da mensalidade e a data de pagamento, os juros de mora fluem a partir do vencimento das prestações,
a teor do artigo 397 do Código Civil. 5. Recurso especial provido.” (negritamos)

Comentário:
Lembre-se do que determina o caput do art. 397, CC:
Art. 397. “O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de

pleno direito em mora o devedor.”


A partir da leitura desse artigo depreendemos quando um documento traz a data de
vencimento, os juros de mora, no caso de não pagamento, começam a contar a partir dela. No
caso, tratam-se de mensalidades escolares, que tinham data certa de vencimento.
O STJ determinou que a mora é ex re (ou automática), ou seja, não é necessária mais
nenhuma providência adicional por parte do credor para constituir o devedor em mora. Assim,
os juros de mora fluem a partir do vencimento das prestações (e não da data da citação).

 STJ. 4ª Turma. REsp 1270983-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/3/2016 (Info 580).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS REFLEXOS. VERIFICAÇÃO DO


QUANTUM INDENIZATÓRIO. VALORES MANTIDOS. PENSÃO FIXADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM AO MENOR.
JUROS DE MORA. TERMO A QUO. JUROS CONTADOS A PARTIR DO VENCIMENTO MENSAL DE CADA PRESTAÇÃO.
PARCELAS VINCENDAS. EXCLUÍDAS. 1. O princípio da integral reparação deve ser entendido como a exigência de
conceder reparação plena àqueles legitimados a tanto pelo ordenamento jurídico. A norma prevista no art. 944,
parágrafo único, do Código Civil de 2002 consubstancia a baliza para um juízo de ponderação pautado na
proporcionalidade e na equidade, quando houver evidente desproporção entre a culpa e o dano causado. 2. O
Tribunal de origem fixou danos morais reflexos ao primeiro autor - menor impúbere, filho e irmão das vítimas -, à
segunda autora - mãe, sogra e avó dos falecidos - e aos dois últimos autores - ambos irmãos, cunhados e tios dos
de cujus -, entregando a cada um, respectivamente, o valor de R$ 140.000,00, R$ 70.000,00 e R$ 47.000 para os
dois últimos, devendo tais valores serem mantidos diante das particularidades de cada demandante. 3. Enuncia a
Súmula 54 do STJ: "Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual." 4. Da ratio decidendi refletida na Súmula 54, infere-se que a fixação do valor indenizatório
- sobre o qual incidirá os juros de mora, a partir do evento danoso - corresponde a uma única prestação

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pecuniária. 5. No tocante ao pensionamento fixado pelo Tribunal de origem, por ser uma prestação de trato
sucessivo, os juros moratórios não devem iniciar a partir do ato ilícito - por não ser uma quantia singular -,
tampouco da citação - por não ser ilíquida -, mas devem ser contabilizados a partir do vencimento de cada
prestação, que ocorre mensalmente. 6. Quanto às parcelas vincendas, não há razões para mantê-las na relação
estabelecida com os juros de mora. Sem o perfazimento da dívida, não há como imputar ao devedor o estigma
de inadimplente, tampouco o indébito da mora, notadamente se este for pontual no seu pagamento. 7. Recurso
especial parcialmente provido para determinar o vencimento mensal da pensão como termo inicial dos juros
de mora, excluindo, nesse caso, as parcelas vincendas.” (negritamos)

Comentário:
Na responsabilidade civil extracontratual, se houver a fixação de pensionamento mensal,
os juros moratórios deverão ser contabilizados a partir do vencimento de cada prestação, e
não da data do evento danoso ou da citação.
Sobre as parcelas que ainda irão vencer (vincendas), não há a incidência do juros de mora.
Portanto, a súmula 54, STJ aplica-se apenas às condenações por responsabilidade civil
extracontratual em parcela única.

Teoria da perda de uma chance

 STJ. 3ª Turma. REsp 1291247-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/8/2014 (Info
549).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PERDA DE UMA CHANCE. DESCUMPRIMENTO DE


CONTRATO DE COLETA DE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS DO CORDÃO UMBILICAL DO RECÉM NASCIDO.
NÃO COMPARECIMENTO AO HOSPITAL. LEGITIMIDADE DA CRIANÇA PREJUDICADA. DANO EXTRAPATRIMONIAL
CARACTERIZADO. 1. Demanda indenizatória movida contra empresa especializada em coleta e armazenagem de
células tronco embrionárias, em face da falha na prestação de serviço caracterizada pela ausência de prepostos no
momento do parto. 2. Legitimidade do recém nascido, pois "as crianças, mesmo da mais tenra idade, fazem jus
à proteção irrestrita dos direitos da personalidade, entre os quais se inclui o direito à integralidade mental,
assegurada a indenização pelo dano moral decorrente de sua violação" (REsp. 1.037.759/RJ, Rel. Min. Nancy
Andrighi, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/02/2010, DJe 05/03/2010). 3. A teoria da perda de uma chance aplica-
se quando o evento danoso acarreta para alguém a frustração da chance de obter um proveito determinado ou
de evitar uma perda. 4. Não se exige a comprovação da existência do dano final, bastando prova da certeza da
chance perdida, pois esta é o objeto de reparação. 5. Caracterização de dano extrapatrimonial para criança que
tem frustrada a chance de ter suas células embrionárias colhidas e armazenadas para, se for preciso, no futuro,

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fazer uso em tratamento de saúde. 6. Arbitramento de indenização pelo dano extrapatrimonial sofrido pela criança
prejudicda. 7. Doutrina e jurisprudência acerca do tema. 8. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.” (negritamos)

Comentário:
De acordo com este julgado, a criança tem direito a indenização com base na teoria da
perda de uma chance se não tiver recolhidas suas células-tronco embrionárias no momento
de seu parto.
No caso, os pais da criança, antes de seu nascimento, contrataram os serviços de uma
empresa de coleta e armazenamento de células-tronco do cordão umbilical. No entanto, no dia
do parto, nenhum representante da empresa conpareceu e a coleta do cordão umbilical não foi
mais possível.
Diante disso, o recém-nascido do casal, representado por seus pais, ajuizou ação de
indenização por danos morais contra a empresa.
O caso chegou ao STJ, que sedimentou ser cabível a indenização pelo fato de a criança
ter frustrada a chance de, no futuro, usar suas células embrionárias em algum tratamento
de saúde.
A chance perdida foi indenizada em R$60.000,00 (sessenta mil reais).
Sempre se lembre que, no caso do uso da teoria da perda de uma chance, a indenização
se dá pela chance perdida e não pelo dano causado.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1254141-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012 (Info 513).

EMENTA: “DIREITO CIVIL. CÂNCER. TRATAMENTO INADEQUADO. REDUÇÃO DAS POSSIBILIDADES DE CURA.
ÓBITO. IMPUTAÇÃO DE CULPA AO MÉDICO. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA TEORIA DA RESPONSABILIDADE
CIVIL PELA PERDA DE UMA CHANCE. REDUÇÃO PROPORCIONAL DA INDENIZAÇÃO. RECURSO ESPECIAL
PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O STJ vem enfrentando diversas hipóteses de responsabilidade civil pela perda de
uma chance em sua versão tradicional, na qual o agente frustra à vítima uma oportunidade de ganho. Nessas
situações, há certeza quanto ao causador do dano e incerteza quanto à respectiva extensão, o que torna
aplicável o critério de ponderação característico da referida teoria para a fixação do montante da indenização
a ser fixada. Precedentes. 2. Nas hipóteses em que se discute erro médico, a incerteza não está no dano
experimentado, notadamente nas situações em que a vítima vem a óbito. A incerteza está na participação do
médico nesse resultado, à medida que, em princípio, o dano é causado por força da doença, e não pela falha de
tratamento. 3. Conquanto seja viva a controvérsia, sobretudo no direito francês, acerca da aplicabilidade da teoria
da responsabilidade civil pela perda de uma chance nas situações de erro médico, é forçoso reconhecer sua
aplicabilidade. Basta, nesse sentido, notar que a chance, em si, pode ser considerado um bem autônomo, cuja

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violação pode dar lugar à indenização de seu equivalente econômico, a exemplo do que se defende no direito
americano. Prescinde-se, assim, da difícil sustentação da teoria da causalidade proporcional. 4. Admitida a
indenização pela chance perdida, o valor do bem deve ser calculado em uma proporção sobre o prejuízo final
experimentado pela vítima. A chance, contudo, jamais pode alcançar o valor do bem perdido. É necessária uma
redução proporcional. 5. Recurso especial conhecido e provido em parte, para o fim de reduzir a indenização
fixada.” (negritamos)

Comentário:
De acordo com o STJ, pode a teoria da perda de uma chance ser aplicada em casos de
erro médico.

Deve o magistrado analisar o caso concreto e aplicar tal teoria caso restar provado que

o erro do médico realmente reduziu possibilidades concretas da cura do paciente.

 STJ. 4ª Turma. EDcl no AgRg no Ag 1196957/DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/04/2012
(Info 495).

EMENTA: “EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. OMISSÃO. E


CONTRADIÇÃO. EXISTÊNCIA. SORTEIO. PROMOÇÃO PUBLICITÁRIA. VIOLAÇÃO DE DEVER CONTRATUAL. PERDA DE
UMA CHANCE. 1. A recorrente recebeu bilhete para participar de sorteio em razão de compras efetuadas em
hipermercado. Neste constava "você concorre a 900 vales-compras de R$ 100,00 e a 30 casas." Foi sorteada
e, ao comparecer para receber o prêmio, obteve apenas um vale-compras, tomando, então, conhecimento de
que, segundo o regulamento, as casas seriam sorteadas àqueles que tivessem sido premiados com os vale-
compras. Este segundo sorteio, todavia, já tinha ocorrido, sem a sua participação. As trinta casas já haviam sido
sorteadas entre os demais participantes. 2. Violação do dever contratual, previsto no regulamento, de comunicação
à autora de que fora uma das contempladas no primeiro sorteio e de que receberia um segundo bilhete, com novo
número, para concorrer às casas em novo sorteio. Fato incontroverso, reconhecido pelo acórdão recorrido, de que
a falta de comunicação a cargo dos recorridos a impediu de participar do segundo sorteio e, portanto, de concorrer,
efetivamente, a uma das trinta casas. 3. A circunstância de a participação no sorteio não ter sido diretamente
remunerada pelos consumidores, sendo contrapartida à aquisição de produtos no hipermercado, não exime
os promotores do evento do dever de cumprir o regulamento da promoção, ao qual se vincularam. 4. Dano
material que, na espécie, não corresponde ao valor de uma das trinta casas sorteadas, mas à perda da chance,
no caso, de 30 chances, em 900, de obter o bem da vida almejado. 5. Ausência de publicidade enganosa ou
fraude a justificar indenização por dano moral. O hipermercado sorteou as trinta casas prometidas entre os
participantes, faltando apenas com o dever contratual de informar, a tempo, a autora do segundo sorteio. Não
é conseqüência inerente a qualquer dano material a existência de dano moral indenizável. Não foram descritas nos

89
autos consequências extrapatrimoniais passíveis de indenização em decorrência do aborrecimento de se ver a
autora privada de participar do segundo sorteio. 6. Embargos de declaração acolhidos com efeitos modificativos .”
(negritamos)

Comentário:
Aluno, leia os trechos da ementa por nós grifados para entender o caso concreto.

Destacamos que o STJ entendeu haver a violação, pelo hipermercado, do regulamento


de um sorteio, o que fez com que uma das 900 sorteadas ficasse impedida de participar do
segundo sorteio e, portanto, de concorrer, efetivamente, a uma das trinta casas.

Foi discutido como deve ser calculado o quantum da indenização quando for baseado
na teoria da perda de uma chance.

O STJ entende que a quantia a ser dimensionada pelo juiz não deve se basear no valor
do resultado final que deixou de ser obtido devido a perda da oportunidade. Assim, no caso,

a consumidora não merece o valor de uma casa sorteada (pois não foi a casa que ela perdeu),
mas sim uma indenização pela chance séria e real de ganhar a casa.

Como a consumidora foi informada que seriam 900 pessoas concorrendo a 30 casas, a
probabilidade de que ela ganhasse seria de 1/30. Logo a indenização a ser paga pelo

hipermercado foi fixada em 1/30 do valor da casa.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1637375-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 17/11/2020 (Info
683)

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MATERIAIS. PERDA DE PRAZO. EMBARGOS
MONITÓRIOS. DESÍDIA DO ADVOGADO. ART. 535 DO CPC/1973. VIOLAÇÃO. INEXISTÊNCIA. REPARAÇÃO CIVIL.
SÚMULAS NºS 283 E 284/STF. REVELIA. INDENIZAÇÃO. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Recurso especial interposto contra
acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. Cinge-se a controvérsia dos autos (i) a definir se houve julgamento extra petita decorrente da condenação
pela perda de uma chance e (iii) a verificar a existência de dano decorrente da perda de prazo para oposição
de defesa em ação monitória. 3. O princípio da congruência ou da adstrição determina que o magistrado deve
decidir a lide dentro dos limites fixados pelas partes (arts. 128 e 460 do CPC/1973). 4. Os pedidos formulados
devem ser examinados a partir de uma interpretação lógico-sistemática, não podendo o magistrado se
esquivar da análise ampla e detida da relação jurídica posta, mesmo porque a obrigatória adstrição do
julgador ao pedido expressamente formulado pelo autor pode ser mitigada em observância aos brocardos da
mihi factum dabo tibi ius (dá-me os fatos que te darei o direito) e iura novit curia (o juiz é quem conhece o

90
direito). 5. Na hipótese, a causa de pedir está fundada na oposição intempestiva dos embargos monitórios
e na ausência de informações acerca da revelia decretada nos autos, enquanto o pedido é de indenização
por danos materiais. 6. Inexiste o alegado julgamento extra petita, pois o autor postulou indenização por
danos materiais e as instâncias ordinárias condenaram o réu em conformidade com o pedido ao
fundamento da perda de uma chance, apenas concedendo a reparação em menor extensão. 7. O recurso
não ataca os fundamentos do acórdão recorrido, motivo pelo qual incidem, por analogia, as Súmulas nºs 283
e 284/STF. 8. Rever as conclusões da Corte local, inclusive aquelas referentes aos efeitos da revelia na ação
monitória, demandaria o revolvimento do conjunto fático-probatório carreado aos autos, procedimento que
atrai o óbice da Súmula nº 7/STJ. 9. Recurso especial não provido .” (negritamos)

Comentário:
No caso, o autor fez o pedido de indenização por danos materiais devido ao fato de seu
advogado ter perdido o prazo para apresentar embargos monitórios. O juiz condenou o
advogado por indenização baseada na teoria da perda de uma chance. O juiz agiu corretamente
ou seu julgamento foi extra petita? Conforme o STJ, o juiz agiu de maneira correta, não ferindo
o princípio da congruência.

Conforme lemos na ementa acima, o juiz decidiu a lide dentro dos limites fixados
pelo autor, apenas modificou o fundamento jurídico. Aplica-se ao caso os brocardos da mihi

factum dabo tibi ius (dá-me os fatos que te darei o direito) e iura novit curia (o juiz é quem
conhece o direito).

 STJ. 4ª Turma, REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/11/2010

EMENTA: “RESPONSABILIDADE CIVIL. ADVOCACIA. PERDA DO PRAZO PARA CONTESTAR. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS FORMULADA PELO CLIENTE EM FACE DO PATRONO. PREJUÍZO MATERIAL PLENAMENTE
INDIVIDUALIZADO NA INICIAL. APLICAÇÃO DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE. CONDENAÇÃO EM DANOS
MORAIS. JULGAMENTO EXTRA PETITA RECONHECIDO. 1. A teoria da perda de uma chance (perte d'une chance)
visa à responsabilização do agente causador não de um dano emergente, tampouco de lucros cessantes, mas
de algo intermediário entre um e outro, precisamente a perda da possibilidade de se buscar posição mais
vantajosa que muito provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado. Nesse passo, a perda de
uma chance - desde que essa seja razoável, séria e real, e não somente fluida ou hipotética - é considerada uma
lesão às justas expectativas frustradas do indivíduo, que, ao perseguir uma posição jurídica mais vantajosa,
teve o curso normal dos acontecimentos interrompido por ato ilícito de terceiro. 2. Em caso de responsabilidade
de profissionais da advocacia por condutas apontadas como ‘, e diante do aspecto relativo à incerteza da vantagem

91
não experimentada, as demandas que invocam a teoria da "perda de uma chance" devem ser solucionadas a partir
de uma detida análise acerca das reais possibilidades de êxito do processo, eventualmente perdidas em razão da
desídia do causídico. Vale dizer, não é o só fato de o advogado ter perdido o prazo para a contestação, como
no caso em apreço, ou para a interposição de recursos, que enseja sua automática responsabilização civil com
base na teoria da perda de uma chance. É absolutamente necessária a ponderação acerca da probabilidade -
que se supõe real - que a parte teria de se sagrar vitoriosa. 3. Assim, a pretensão à indenização por danos
materiais individualizados e bem definidos na inicial, possui causa de pedir totalmente diversa daquela admitida
no acórdão recorrido, de modo que há julgamento extra petita se o autor deduz pedido certo de indenização por
danos materiais absolutamente identificados na inicial e o acórdão, com base na teoria da "perda de uma chance",
condena o réu ao pagamento de indenização por danos morais. 4. Recurso especial conhecido em parte e provido.”
(negritamos)

Comentário:
Em caso de responsabilidade de profissionais da advocacia por condutas apontadas como

negligentes, e diante do aspecto relativo à incerteza da vantagem não experimentada, as


demandas que invocam a teoria da "perda de uma chance" devem ser solucionadas a partir de

uma detida análise acerca das reais possibilidades de êxito do processo, eventualmente
perdidas em razão da desídia do causídico.

Vale dizer, não é o só fato de o advogado ter perdido o prazo para a contestação, como
no caso em apreço, ou para a interposição de recursos, que enseja sua automática
responsabilização civil com base na teoria da perda de uma chance. É absolutamente necessária

a ponderação acerca da probabilidade — que se supõe real — que a parte teria de se sagrar
vitoriosa. Portanto, em casos similares, deve haver a análise de cada caso concreto.

De acordo com o STJ, a teoria da perda de uma chance insere-se em uma terceira
categoria, visando à responsabilização do agente causador não por dano emergente e nem por

lucros cessantes, mas sim por algo intermediário entre eles. Analisa-se a perda de uma posição
mais vantajosa que, provavelmente, o lesado alcançaria no caso de não ser sido cometido

o ato ilícito.

ABUSO DE DIREITO

 STJ. 3ª Turma. REsp 1467888-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/10/2016 (Info 592).
92
EMENTA: “Controvérsia: dizer se o manejo de habeas corpus, pelo recorrido, com o fito de impedir a
interrupção da gestação da primeira recorrente, que tinha sido judicialmente deferida, caracteriza-se como
abuso do direito de ação e/ou ação passível de gerar responsabilidade civil de sua parte, pelo manejo indevido
de tutela de urgência. Diploma legal aplicável à espécie: Código Civil - arts. 186, 187, 188 e 927. Inconteste a
existência de dano aos recorrentes, na espécie, porquanto a interrupção da gestação do feto com síndrome de
Body Stalk, que era uma decisão pensada e avalizada por médicos e pelo Poder Judiciário, e ainda assim, de
impactos emocionais incalculáveis, foi sustada pela atuação do recorrido. Necessidade de perquirir sobre a
ilicitude do ato praticado pelo recorrido, buscando, na existência ou não - de amparo legal ao procedimento de
interrupção de gestação, na hipótese de ocorrência da síndrome de body stalk e na possibilidade de
responsabilização, do recorrido, pelo exercício do direito de ação - dizer da existência do ilícito compensável;
Reproduzidas, salvo pela patologia em si, todos efeitos deletérios da anencefalia, hipótese para qual o STF,
no julgamento da ADPF 54, afastou a possibilidade de criminalização da interrupção da gestação, também na
síndrome de body-stalk, impõe-se dizer que a interrupção da gravidez, nas circunstâncias que experimentou
a recorrente, era direito próprio, do qual poderia fazer uso, sem risco de persecução penal posterior e,
principalmente, sem possibilidade de interferências de terceiros, porquanto, ubi eadem ratio, ibi eadem legis
dispositio. (Onde existe a mesma razão, deve haver a mesma regra de Direito) Nessa linha, e sob a égide da
laicidade do Estado, aquele que se arrosta contra o direito à liberdade, à intimidade e a disposição do próprio
corpo por parte de gestante, que busca a interrupção da gravidez de feto sem viabilidade de vida extrauterina,
brandindo a garantia constitucional ao próprio direito de ação e à defesa da vida humana, mesmo que ainda
em estágio fetal e mesmo com um diagnóstico de síndrome incompatível com a vida extrauterina, exercita,
abusivamente, seu direito de ação. A sôfrega e imprudente busca por um direito, em tese, legítimo, que, no
entanto, faz perecer no caminho, direito de outrem, ou mesmo uma toldada percepção do próprio direito,
que impele alguém a avançar sobre direito alheio, são considerados abuso de direito, porque o exercício
regular do direito, não pode se subverter, ele mesmo, em uma transgressão à lei, na modalidade abuso do
direito, desvirtuando um interesse aparentemente legítimo, pelo excesso. A base axiológica de quem defende
uma tese comportamental qualquer, só tem terreno fértil, dentro de um Estado de Direito laico, no campo das
próprias ideias ou nos Órgãos legislativos competentes, podendo neles defender todo e qualquer conceito que
reproduza seus postulados de fé, ou do seu imo, havendo aí, não apenas liberdade, mas garantia estatal de que
poderá propagar o que entende por correto, não possibilitando contudo, essa faculdade, o ingresso no círculo
íntimo de terceiro para lhe ditar, ou tentar ditar, seus conceitos ou preconceitos. Esse tipo de ação faz medrar, em
seara imprópria, o corpo de valores que defende - e isso caracteriza o abuso de direito - pois a busca, mesmo que
por via estatal, da imposição de particulares conceitos a terceiros, tem por escopo retirar de outrem, a mesma
liberdade de ação que vigorosamente defende para si. Dessa forma, assentado que foi, anteriormente, que a
interrupção da gestação da recorrente, no cenário apresentado, era lídimo, sendo opção do casal - notadamente
da gestante - assumir ou descontinuar a gestação de feto sem viabilidade de vida extrauterina, há uma
vinculada remissão à proteção constitucional aos valores da intimidade, da vida privada, da honra e da própria
93
imagem dos recorrentes (art. 5º, X, da CF), fato que impõe, para aquele que invade esse círculo íntimo e
inviolável, responsabilidade pelos danos daí decorrentes. Recurso especial conhecido e provido.” (negritamos)

Comentário:
Aluno, leia pelo menos os trechos por nós negritados na ementa acima, pois ela está
muito didática.
Em suma, de acordo com o STJ, mostra-se caracterizado o abuso de direito, daquele que

impetra habeas corpus contra decisão judicial que autorizou a interrupção de gravidez em
que o feto tem síndrome irreversível, incompatível com a vida extrauterina.

No caso, um padre que impetrou o HC em favor de um feto que portava uma má


formação conhecida como "Síndrome de Body Stalk". Algum tempo depois, os pais do nascituro,

ajuizaram ação de indenização por danos morais contra o padre, alegando que a sua conduta
foi abusiva, que resultou em sofrimento e angústia para o casal, já que tiveram que prosseguir

com a gravidez, sendo que houve o nascimento da criança, que faleceu poucos minutos depois.
O caso chegou ao STJ, que definiu estar caracterizado o abuso de direito, fixando
consequente indenização por danos morais. Houve clara violação ao direito de intimidade,

vida privada, honra e imagem do casal e principalmente da mãe (art. 5º, X, da CF/88).

Responsabilidade civil – aplicação dos arts. 932 e 933, CC21

 STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/3/2020 (repercussão geral
– Tema 932) (Info 969).

EMENTA: “DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO DO TRABALHO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO


GERAL RECONHECIDA. TEMA 932. EFETIVA PROTEÇÃO AOS DIREITOS SOCIAIS. POSSIBILIDADE DE
RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA DO EMPREGADOR POR DANOS DECORRENTES DE ACIDENTES DE TRABALHO.
COMPATIBILIDADE DO ART. 7, XXVIII DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL COM O ART. 927, PARÁGRAFO ÚNICO, DO
CÓDIGO CIVIL. APLICABILIDADE PELA JUSTIÇA DO TRABALHO. 1. A responsabilidade civil subjetiva é a regra no
Direito brasileiro, exigindo-se a comprovação de dolo ou culpa. Possibilidade, entretanto, de previsões
excepcionais de responsabilidade objetiva pelo legislador ordinário em face da necessidade de justiça plena
de se indenizar as vítimas em situações perigosas e de risco como acidentes nucleares e desastres ambientais.
2. O legislador constituinte estabeleceu um mínimo protetivo ao trabalhador no art. 7º, XXVIII, do texto

21
Vide questão 2 do material
94
constitucional, que não impede sua ampliação razoável por meio de legislação ordinária . Rol exemplificativo
de direitos sociais nos artigos 6º e 7º da Constituição Federal. 3. Plena compatibilidade do art. 927, parágrafo único,
do Código Civil com o art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal, ao permitir hipótese excepcional de responsabilização
objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho, nos casos especificados em lei ou quando
a atividade normalmente desenvolvida pelo autor implicar, por sua natureza, outros riscos, extraordinários e
especiais. Possibilidade de aplicação pela Justiça do Trabalho. 4. Recurso Extraordinário desprovido. TEMA 932. Tese
de repercussão geral: "O artigo 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o artigo 7º, XXVIII, da
Constituição Federal, sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes
de acidentes de trabalho, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida,
por sua natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva e implicar ao
trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade". (negritamos)

Comentário:
O STF decidiu, em sede de repercussão geral, que o art. 927, § único, do CC é compatível

com o art. 7º, XXVIII da CF. Julgou, portanto, constitucional a responsabilização objetiva do
empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho nos casos especificados em

lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua natureza, apresentar


exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, e implicar ao trabalhador

ônus maior do que aos demais membros da coletividade.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1436401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599).

EMENTA: “DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE OUTREM - PAIS PELOS ATOS PRATICADOS
PELOS FILHOS MENORES. ATO ILÍCITO COMETIDO POR MENOR. RESPONSABILIDADE CIVIL MITIGADA E
SUBSIDIÁRIA DO INCAPAZ PELOS SEUS ATOS (CC, ART. 928). LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INOCORRÊNCIA. 1. A
responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária e mitigada (CC, art. 928). 2. É subsidiária
porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima; é condicional e
mitigada porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio mínimo do infante (CC, art. 928,
par. único e En. 39/CJF); e deve ser equitativa, tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a
privação do mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz (CC, art. 928, par. único e En. 449/CJF).
3. Não há litisconsórcio passivo necessário, pois não há obrigação - nem legal, nem por força da relação jurídica
(unitária) - da vítima lesada em litigar contra o responsável e o incapaz. É possível, no entanto, que o autor, por
sua opção e liberalidade, tendo em conta que os direitos ou obrigações derivem do mesmo fundamento de fato
ou de direito (CPC,73, art. 46, II) intente ação contra ambos - pai e filho -, formando-se um litisconsórcio facultativo
e simples. 4. O art. 932, I do CC ao se referir a autoridade e companhia dos pais em relação aos filhos, quis explicitar

95
o poder familiar (a autoridade parental não se esgota na guarda), compreendendo um plexo de deveres como,
proteção, cuidado, educação, informação, afeto, dentre outros, independentemente da vigilância investigativa e
diária, sendo irrelevante a proximidade física no momento em que os menores venham a causar danos. 5.
Recurso especial não provido”. (negritamos)

Comentário:
A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária, condicional,
mitigada e equitativa. Os incapazes (ex: filhos menores), quando praticarem atos que causem
prejuízos, terão responsabilidade subsidiária, condicional, mitigada e equitativa, nos termos do
art. 928 do CC.
Subsidiária: porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para
ressarcir a vítima.
Condicional e mitigada: porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do
patrimônio mínimo do infante.
Equitativa: tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação do
mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz.
A responsabilidade dos pais dos filhos menores será substitutiva, exclusiva e não
solidária.
Ressalta-se que o litisconsórcio entre o pai (ou mãe) e filho não é necessário (art. 932, I,
CC). O autor da ação (vítima do dano), se quiser, pode intentá-la contra ambos. E, caso o fizer,
evidencia-se um litisconsórcio passivo facultativo e simples.
Por último, o STJ também destacou que o responsável pelo filho não se isentará das
obrigações derivadas do poder familiar, apenas pelo fato de não viver companhia do menor. É,
portanto, irrelevante a proximidade física no momento em que o menor venha a causar danos.

 STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1414776-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/02/2020 (Info 666)

EMENTA: “AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS.
FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS HOSPITALARES. DEMORA PARA AUTORIZAÇÃO DE CIRURGIA DE URGÊNCIA.
ÓBITO DA PACIENTE. HOSPITAL E PLANO DE SAÚDE PERTENCENTES À MESMA REDE. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA. NEXO CAUSAL ENTRE CONDUTA E RESULTADO. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. Se o contrato
é fundado na prestação de serviços médicos e hospitalares próprios e/ou credenciados, no qual a operadora

96
de plano de saúde mantém hospitais e emprega médicos ou indica um rol de conveniados, não há como
afastar sua responsabilidade solidária pela má prestação do serviço. 2. A operadora do plano de saúde, na
condição de fornecedora de serviço, responde perante o consumidor pelos defeitos em sua prestação, seja
quando os fornece por meio de hospital próprio e médicos contratados ou por meio de médicos e hospitais
credenciados, nos termos dos arts. 2º, 3º, 14 e 34 do Código de Defesa do Consumidor, art. 1.521, III, do Código
Civil de 1916 e art. 932, III, do Código Civil de 2002. Essa responsabilidade é objetiva e solidária em relação ao
consumidor, mas, na relação interna, respondem o hospital, o médico e a operadora do plano de saúde nos
limites da sua culpa. (REsp 866.371/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe
de 20/08/2012). 3. Hipótese em que a paciente, tendo sofrido uma queda em 20/05/2013, foi diagnosticada com
trauma grave na coluna cervical, com indicação de cirurgia de urgência, e somente foi operada em 12/06/2013,
vindo a óbito no dia seguinte, em virtude de tromboembolia pulmonar. Nos termos do consignado pelas instâncias
ordinárias, o estado de saúde da paciente, idosa e portadora de patologias de alto risco, agravou-se em decorrência
da demora injustificada - 22 (vinte e dois) dias - para a autorização da cirurgia, resultando na evolução para o
quadro de choque fatal. 4. A demora para a autorização da cirurgia indicada como urgente pela equipe médica do
hospital, sem justificativa plausível, caracteriza defeito na prestação do serviço da operadora do plano de saúde,
resultando na sua responsabilização. 5. Agravo interno a que se nega provimento .” (negritamos)

Comentário:
A operadora de plano de saúde tem responsabilidade solidária por defeito na
prestação de serviço médico, quando o presta por meio de hospital próprio e médicos
contratados, ou por meio de médicos e hospitais credenciados.
No caso, houve uma grande demora (22 dias) para a autorização de uma cirurgia
considerada urgente pela equipe médica do hospital credenciado ao plano, resultando no óbito
da paciente. Isso caracterizou defeito na prestação do serviço, devendo o plano ser
responsabilizado solidariamente com o hospital e os médicos em relação ao consumidor.
No entanto, preste atenção no seguinte detalhe: se o plano de saúde houver pago ao
consumidor ou aos seus herdeiro a dívida toda, pode, em ação regressiva, averiguar a culpa
do médico ou do hospital, que responderão pelos danos no limite de suas culpas. Assim
entendeu o STJ também no seguinte julgado: STJ. 4ª Turma. REsp 866371-RS, Rel. Min. Raul
Araújo, julgado em 27/3/2012 (Info 494).

Danos morais

 STJ. 4ª Turma. REsp 1.760.943-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/03/2019 (Info 647).

97
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AIDS. RELAÇÃO DE FAMÍLIA. TRANSMISSÃO DO VÍRUS
HIV. COMPANHEIRO QUE INFECTOU A PARCEIRA NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL. CARACTERIZAÇÃO
DA CULPA. OCORRÊNCIA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E DANOS MORAIS. CABIMENTO. 1. A família
deve cumprir papel funcionalizado, servindo como ambiente propício para a promoção da dignidade e a realização
da personalidade de seus membros, integrando sentimentos, esperanças e valores, servindo como alicerce
fundamental para o alcance da felicidade. No entanto, muitas vezes este mesmo núcleo vem sendo justamente
o espaço para surgimento de intensas angústias e tristezas dos entes que o compõem, cabendo ao aplicador do
direito a tarefa de reconhecer a ocorrência de eventual ilícito e o correspondente dever de indenizar. 2. O parceiro
que suspeita de sua condição soropositiva, por ter adotado comportamento sabidamente temerário (vida
promíscua, utilização de drogas injetáveis, entre outros), deve assumir os riscos de sua conduta, respondendo
civilmente pelos danos causados. 3. A negligência, incúria e imprudência ressoam evidentes quando o
cônjuge/companheiro, ciente de sua possível contaminação, não realiza o exame de HIV (o Sistema Único de
Saúde - SUS disponibiliza testes rápidos para a detecção do vírus nas unidades de saúde do país), não informa
o parceiro sobre a probabilidade de estar infectado nem utiliza métodos de prevenção, notadamente numa
relação conjugal, em que se espera das pessoas, intimamente ligadas por laços de afeto, um forte vínculo de
confiança de uma com a outra. 4. Assim, considera-se comportamento de risco a pluralidade de parceiros sexuais
e a utilização, em grupo, de drogas psicotrópicas injetáveis, e encontram-se em situação de risco as pessoas que
receberam transfusão de sangue ou doações de leite, órgãos e tecidos humanos. Essas pessoas integram os
denominados "grupos de risco" em razão de seu comportamento facilitar a sua contaminação. 5. Na hipótese dos
autos, há responsabilidade civil do requerido, seja por ter ele confirmado ser o transmissor (já tinha ciência
de sua condição), seja por ter assumido o risco com o seu comportamento , estando patente a violação a
direito da personalidade da autora (lesão de sua honra, de sua intimidade e, sobretudo, de sua integridade moral
e física), a ensejar reparação pelos danos morais sofridos. 6. Na espécie, ficou constatado o liame causal entre a
conduta do réu e o contágio da autora, diante da vida pregressa do causador do dano, que, numa cadeia
epidêmica, acarretou a transmissão do vírus HIV. Não se verificou, por outro lado, culpa exclusiva ou, ao menos,
concorrente da vítima, não tendo sido demonstrado que ela tivesse conhecimento da moléstia e ainda assim
mantivesse relações sexuais, nem que ela houvesse utilizado mal ou erroneamente o preservativo. Logo, não se
apreciou a questão à luz da participação da vítima para o resultado no sentido de considerar eventual exclusão do
nexo causal ou redução da indenização. Concluir de forma diversa do acórdão recorrido ensejaria o revolvimento
fático-probatório dos autos, o que encontra óbice na Súmula n. 7 do STJ. 7. No que toca aos danos materiais, a
indenização, em regra, deverá ter em vista os custos para manter certas resistências contra a propensão de
infecções, o que se consegue por meio de coquetéis de medicamentos (ou drogas poderosas), em combinação
com medicações antivirais comuns, mais de finalidade inibidora, a serem ingeridos ciclicamente, mas em constante
repetição. Deverá compreender as despesas médico-hospitalares e as exigidas para a assistência terapêutica e
psicológica, bem como aquilo que a pessoa contaminada deixou de ganhar, se interrompida a atividade que exercia.
No caso, justamente com base na causa de pedir e do pedido, delimitantes da controvérsia, é que foi indeferido o

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pleito indenizatório quanto ao dano material, haja vista a ausência de provas de que a vítima estaria incapacitada
para o trabalho. Decidir fora da pretensão autoral ensejaria julgamento extra petita. Por outro lado, chegar a
conclusão diversa do acórdão recorrido em relação à capacidade para o exercício da atividade laboral demandaria
o revolvimento fático-probatório dos autos, o que encontra óbice na súmula 7 do STJ. 8. Em relação aos danos
morais, o acórdão recorrido utilizou o critério bifásico - inclusive se valendo de precedentes do STJ a respaldar o
quantum indenizatório -, além de ter ponderado as peculiaridades do caso com o interesse jurídico lesado. Dessarte,
somente com a demonstração de que a quantia arbitrada se revelou ínfima ou irrisória ante valores comumente
estabelecidos em situações análogas por este STJ é que se poderia ensejar nova análise por esta Corte, o que não
ocorreu na espécie. 9. Recursos especiais não providos.” (negritamos)

Comentário:
Conforme lemos na ementa do presente julgado, o STJ decidiu que o cônjuge deve
indenizar o outro por danos materiais e morais no caso de transmissão de HIV sem ter lhe
avisado da possibilidade de estar infectado.
No caso concreto, o transmissor de HIV não sabia que era soropositivo, no entanto, tinha
um comportamento sabidamente temerário (vida promíscua, utilização de drogas injetáveis,
entre outros). Não se verificou, por outro lado, culpa exclusiva ou, ao menos, concorrente da
vítima, não tendo sido demonstrado que ela tivesse conhecimento da moléstia e ainda assim
mantivesse relações sexuais, nem que ela houvesse utilizado mal ou erroneamente o
preservativo.
Se existentes, os danos materiais podem abarcar despesas médico-hospitalares, as
exigidas para a assistência terapêutica e psicológica e também o que a pessoa infectada deixou
de ganhar caso tenha interrompido a atividade que exercia.
O mais importante é lembrar o seguinte: deve haver a responsabilidade civil do cônjuge
(ou companheiro), seja por ter ele confirmado ser o transmissor de HIV (já tinha ciência de sua
condição), seja por ter assumido o risco com o seu comportamento, estando patente a
violação a direito da personalidade de seu cônjuge (lesão de sua honra, de sua intimidade e,
sobretudo, de sua integridade moral e física), a ensejar reparação pelos danos morais sofridos.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.786-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/10/2018 (Info
637)

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AGRESSÕES. FÍSICAS E VERBAL.
MORAL. ÁRBITRO. PARTIDA DE FUTEBOL. RESPONSABILIDADE CIVIL. JOGADOR. ATO ILÍCITO. CONFIGURAÇÃO.
CONDUTA. DESPROPORCIONALIDADE. DANO À HONRA E IMAGEM. CONFIGURAÇÃO. REPARAÇÃO DEVIDA.
JUSTIÇA COMUM. CONDENAÇÃO. JUSTIÇA DESPORTIVA. IRRELEVÂNCIA. 1. Recurso especial interposto contra
99
acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2.
A controvérsia a ser dirimida no recurso especial reside em verificar se as agressões físicas e verbais
perpetradas por jogador profissional contra árbitro de futebol, na ocasião de disputa da partida final de
importante campeonato estadual de futebol, constituem ato ilícito indenizável na Justiça Comum,
independentemente de eventual punição aplicada na esfera da Justiça Desportiva. 3. Nos termos da Constituição
Federal e da Lei nº 9.615/1998 (denominada "Lei Pelé"), a competência da Justiça Desportiva limita-se a
transgressões de natureza eminentemente esportivas, relativas à disciplina e às competições desportivas. 4.
O alegado ilícito que o autor da demanda atribui ao réu, por não se fundar em transgressão de cunho estritamente
esportivo, pode ser submetido ao crivo do Poder Judiciário Estatal, para que seja julgado à luz da legislação que
norteia as relações de natureza privada, no caso, o Código Civil. 5. A conduta do jogador, mormente a sorrateira
agressão física pelas costas, revelou-se despropositada e desproporcional, transbordando em muito o mínimo
socialmente aceitável em partidas de futebol, apta a ofender a honra e a imagem do árbitro, que estava
zelando pela correta aplicação das regras esportivas. 6. O evento no qual as agressões foram perpetradas, final do
Campeonato Paulista de Futebol, envolvendo dois dos maiores clubes do Brasil, foi televisionado para todo o país,
o que evidencia sua enorme audiência e, em consequência, o número de pessoas que assistiram o episódio. 7.
Recurso especial conhecido e provido.” (negritamos)

Comentário:
Agressões físicas e verbais perpetradas por jogador profissional contra árbitro de
futebol, na ocasião de disputa de partida de futebol, constituem ato ilícito indenizável na Justiça
Comum, independentemente de eventual punição aplicada na esfera da Justiça Desportiva.
Caso concreto: na final do campeonato paulista de 2015, o jogador do Palmeiras, após
ser expulso, empurrou as costas do árbitro e proferiu xingamentos contra ele. Vale ressaltar que
a conclusão acima exposta não é a regra, ou seja, não é toda agressão em uma partida de
futebol que gerará indenização por danos morais.
O STJ entendeu, na situação concreta, que a conduta do jogador transbordou o
mínimo socialmente aceitável em partidas de futebol. Além disso, o evento no qual as
agressões foram perpetradas, final do Campeonato Paulista de Futebol, envolvendo dois dos
maiores clubes do Brasil, foi televisionado para todo o país, o que evidencia sua enorme
audiência e, em consequência, o número de pessoas que assistiram o episódio.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1689074-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 16/10/2018 (Info 636).

EMENTA: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. IRRESIGNAÇÃO SUBMETIDA AO NCPC. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTROS DE INADIMPLENTES. DANO MORAL CONFIGURADO.
MULTA COMINATÓRIA FIXADA EM DEMANDA PRETÉRITA. DESCUMPRIMENTO. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. 1.

100
As disposições do NCPC são aplicáveis ao caso concreto ante os termos do Enunciado n.º 3, aprovado pelo Plenário
do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões
publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do
novo CPC. 2. Cinge-se a controvérsia em definir se é possível prosperar o pedido de indenização por danos
morais em razão de descumprimento de ordem judicial em demanda pretérita, na qual foi fixada multa
cominatória. 3. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a inscrição indevida em cadastro de
inadimplentes gera dano moral passível de indenização, salvo constatada a existência de outras anotações
preexistentes àquela que deu origem a ação reparatória (Súmula nº 385 do STJ). 4. Referida indenização visa
a reparar o abalo moral sofrido em decorrência da verdadeira agressão ou atentado contra dignidade da
pessoa humana. 5. A multa cominatória, por outro lado, tem cabimento nas hipóteses de descumprimento de
ordens judiciais, sendo fixada justamente com o objetivo de compelir a parte ao cumprimento daquela
obrigação. Encontra justificativa no princípio da efetividade da tutela jurisdicional e na necessidade de se assegurar
o pronto cumprimento das decisões judiciais cominatórias. 6. Considerando, portanto, que os institutos em
questão têm natureza jurídica e finalidades distintas, é possível a cumulação. 7. Recurso especial provido.”
(negritamos)

Comentário:
O presente julgado também está no campo do Direito Processual Civil. Nele, o STJ decidiu
que é possível a fixação de indenização por danos morais devido ao descumprimento de ordem
judicial, mesmo se o juiz já tiver fixado multa cominatória (coercitiva) para compelir a parte ao
seu cumprimento (art. 537, CPC). Portanto, é possível a cumulação de ambos institutos.
Essa decisão justifica-se no fato de que a multa coercitiva tem natureza diversa da
indenização extrapatrimonial. Enquanto a multa tem a finalidade de forçar, indiretamente, o
pagamento pelo condenado, a indenização por danos morais tem a finalidade de reparar um
abalo aos direitos da personalidade, sofrido pelo credor.
No caso, além de não pagar a dívida determinada em ação revisional de contrato, o
devedor (banco) incluiu o nome do credor no SERASA, restando justificada a cobrança
também de danos morais, conforme a súmula 385, STJ e o seguinte julgado: STJ, 3ª Turma.
AgRg no AgRg no AREsp 727.829/SC, Rel. Min. Marco Aurélio bellizze, julgado em 3/12/2015,
julgado (comentado no tópico abaixo, acerca dos danos morais in re ipsa).

 STJ. 3ª Turma.REsp 1631329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 24/10/2017 (Info 614).

EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. REPORTAGEM JORNALÍSTICA. DIVULGAÇÃO DE IMAGEM SEM
101
AUTORIZAÇÃO. SÚMULA 403/STJ. FATOS HISTÓRICOS DE REPERCUSSÃO SOCIAL. DIREITO À MEMÓRIA. PRÉVIA
AUTORIZAÇÃO. DESNECESSIDADE. INTERPRETAÇÃO DO ART. 20 DO CÓDIGO CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
RECURSAIS. MAJORAÇÃO. 1. Ação ajuizada em 18/12/2012. Recurso especial interposto em 07/06/2016.
Julgamento: CPC/15. 2. O propósito recursal é definir se a veiculação não autorizada da imagem da filha da
autora em programa televisivo configura dano moral indenizável, além de ensejar a reparação por danos
materiais. 3. É inexigível a autorização prévia para divulgação de imagem vinculada a fato histórico de
repercussão social. Nessa hipótese, não se aplica a Súmula 403/STJ. 4. Ao resgatar da memória coletiva um fato
histórico de repercussão social, a atividade jornalística reforça a promessa em sociedade de que é necessário
superar, em todos os tempos, a injustiça e a intolerância, contra os riscos do esquecimento dos valores fundamentais
da coletividade. 5. Eventual abuso na transmissão do fato, cometido, entre outras formas, por meio de um
desvirtuado destaque da intimidade da vítima ou do agressor, deve ser objeto de controle sancionador. A
razão jurídica que atribui ao portador da informação uma sanção, entretanto, está vinculada ao abuso do direito e
não à reinstituição do fato histórico. 6. Na espécie, a Rádio e Televisão Record veiculou reportagem acerca de
trágico assassinato de uma atriz, ocorrido em 1992, com divulgação de sua imagem, sem prévia autorização. De
acordo com a conjuntura fática cristalizada pelas instâncias ordinárias, há relevância nacional na reportagem
veiculada pela emissora, sem qualquer abuso na divulgação da imagem da vítima. Não há se falar, portanto,
em ato ilícito passível de indenização. 7. Recurso especial conhecido e não provido, com majoração dos honorários
advocatícios.” (negritamos)

Comentário:
A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada
a fato histórico de repercussão social.
Súmula 403-STJ: “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não
autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”.
Caso concreto: a TV Record fez matéria sobre o assassinato da atriz Daniela Perez,
entrevista com Guilherme de Pádua, sem prévia autorização da família, fotos da vítima Daniela.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1245550-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/3/2015 (Info 559).

EMENTA: RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. SAQUE INDEVIDO EM CONTA- CORRENTE. FALHA NA PRESTAÇÃO
DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. SUJEITO ABSOLUTAMENTE INCAPAZ. ATAQUE A
DIREITO DA PERSONALIDADE. CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL. IRRELEVÂNCIA QUANTO AO ESTADO DA
PESSOA. DIREITO À DIGNIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL. PROTEÇÃO DEVIDA. 1. A instituição bancária é
responsável pela segurança das operações realizadas pelos seus clientes, de forma que, havendo falha na prestação
do serviço que ofenda direito da personalidade daqueles, tais como o respeito e a honra, estará configurado o
dano moral, nascendo o dever de indenizar. Precedentes do STJ. 2. A atual Constituição Federal deu ao homem

102
lugar de destaque entre suas previsões. Realçou seus direitos e fez deles o fio condutor de todos os ramos jurídicos.
A dignidade humana pode ser considerada, assim, um direito constitucional subjetivo, essência de todos os
direitos personalíssimos e o ataque àquele direito é o que se convencionou chamar dano moral . 3. Portanto,
dano moral é todo prejuízo que o sujeito de direito vem a sofrer por meio de violação a bem jurídico específico.
É toda ofensa aos valores da pessoa humana, capaz de atingir os componentes da personalidade e do prestígio
social. 4. O dano moral não se revela na dor, no padecimento, que são, na verdade, sua consequência, seu
resultado. O dano é fato que antecede os sentimentos de aflição e angústia experimentados pela vítima, não
estando necessariamente vinculado a alguma reação psíquica da vítima. 5. Em situações nas quais a vítima
não é passível de detrimento anímico, como ocorre com doentes mentais, a configuração do dano moral é
absoluta e perfeitamente possível, tendo em vista que, como ser humano, aquelas pessoas são igualmente
detentoras de um conjunto de bens integrantes da personalidade. 6. Recurso especial provido.” (negritamos)

Comentário:
Conforme estudamos durante o capítulo, o dano moral é a ofensa a determinados direitos
ou interesses, bastando isso para caracterizá-lo.
Assim, o STJ determinou que mesmo se o indivíduo for portador de doença mental
grave e não entender seus atos e nem atos de terceiros, ele pode sofrer danos morais.
O sofrimento e a humilhação não caracterizam os danos morais, podendo ser apenas
suas consequências.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1087561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. ABANDONO MATERIAL. MENOR. DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE


PRESTAR ASSISTÊNCIA MATERIAL AO FILHO. ATO ILÍCITO (CC/2002, ARTS. 186, 1.566, IV, 1.568, 1.579, 1.632 E 1.634,
I; ECA, ARTS. 18-A, 18-B E 22). REPARAÇÃO. DANOS MORAIS. POSSIBILIDADE. RECURSO IMPROVIDO. 1. O
descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de prestar assistência material
ao filho, não proporcionando a este condições dignas de sobrevivência e causando danos à sua integridade
física, moral, intelectual e psicológica, configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do Código Civil de 2002. 2.
Estabelecida a correlação entre a omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo material e os
danos morais ao filho dali decorrentes, é possível a condenação ao pagamento de reparação por danos morais,
com fulcro também no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. 3. Recurso especial improvido.”
(negritamos)

Comentário:
A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo material do filho gera
danos morais, passíveis de compensação pecuniária.

103
O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de
prestar assistência material ao filho, não proporcionando a este condições dignas de
sobrevivência e causando danos à sua integridade física, moral, intelectual e psicológica,
configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do Código Civil.

Danos morais coletivos

 STJ. 3ª Turma. REsp 1840463-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/11/2019 (Info 663).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO E PROTEÇÃO À CRIANÇA E
A ADOLESCENTE. RESPONSABILIDADE CIVIL DA EMISSORA DE TELEVISÃO. EXIBIÇÃO DE FILME EM HORÁRIO
DIVERSO DAQUELE RECOMENDADO PELA CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA. AUSÊNCIA DE OBSERVÂNCIA
OBRIGATÓRIA (ADI N. 2.404/DF). DANOS MORAIS COLETIVOS POR ABUSO DE DIREITO. POSSIBILIDADE, EM TESE.
HIPÓTESE NÃO VERIFICADA NO CASO DOS AUTOS. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. O propósito recursal
cinge-se em saber se é possível a condenação de emissora de televisão ao pagamento de indenização por danos
morais coletivos em razão da exibição de filme fora do horário recomendado pelo órgão competente. 2. No
julgamento da ADI n. 2.404/DF, o STF reconheceu a inconstitucionalidade da expressão "em horário diverso do
autorizado", contida no art. 254 do ECA, asseverando, ainda, que a classificação indicativa não pode ser vista como
obrigatória ou como uma censura prévia dos conteúdos veiculados em rádio e televisão, haja vista seu caráter
pedagógico e complementar ao auxiliar os pais a definir o que seus filhos podem, ou não, assistir e ouvir. 3. A
despeito de ser a classificação da programação apenas indicativa e não proibir a sua veiculação em horários diversos
daqueles recomendados, cabe ao Poder Judiciário controlar eventuais abusos e violações ao direito à programação
sadia. 4. O dano moral coletivo se dá in re ipsa, contudo, sua configuração somente ocorrerá quando a conduta
antijurídica afetar, intoleravelmente, os valores e interesses coletivos fundamentais, mediante conduta
maculada de grave lesão, para que o instituto não seja tratado de forma trivial, notadamente em decorrência
da sua repercussão social. 5. É possível, em tese, a condenação da emissora de televisão ao pagamento de
indenização por danos morais coletivos, quando, ao exibir determinada programação fora do horário
recomendado, verificar-se uma conduta que afronte gravemente os valores e interesse coletivos fundamentais.
6. A conduta perpetrada pela ré no caso vertente, a despeito de ser irregular, não foi capaz de abalar, de forma
intolerável, a tranquilidade social dos telespectadores, de modo que não está configurado o ato ilícito
indenizável. 7. Recurso especial desprovido.” (negritamos)

Comentário:
É possível, em tese, a condenação da emissora de televisão ao pagamento de

indenização por danos morais coletivos, quando, ao exibir determinada programação fora

104
do horário recomendado, verificar-se uma conduta que afronte gravemente os valores e

interesses coletivos fundamentais.


Não confunda! A emissora não é proibida de exibir determinada programação fora do

horário recomendado, devido a priorização da liberdade de expressão e da vedação à censura.


No entanto, pode o Poder Judiciário controlar eventuais abusos e violações ao direito à

programação sadia, previsto no art. 221 da CF/88, por meio da fixação da indenização por danos

morais coletivos.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1737412/SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/02/2019.

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. TEMPO DE ATENDIMENTO PRESENCIAL EM AGÊNCIAS BANCÁRIAS.


DEVER DE QUALIDADE, SEGURANÇA, DURABILIDADE E DESEMPENHO. ART. 4º, II, "D", DO CDC. FUNÇÃO SOCIAL
DA ATIVIDADE PRODUTIVA. MÁXIMO APROVEITAMENTO DOS RECURSOS PRODUTIVOS. TEORIA DO DESVIO
PRODUTIVO DO CONSUMIDOR. DANO MORAL COLETIVO. OFENSA INJUSTA E INTOLERÁVEL. VALORES ESSENCIAIS
DA SOCIEDADE. FUNÇÕES. PUNITIVA, REPRESSIVA E REDISTRIBUTIVA. 1. Cuida-se de coletiva de consumo, por
meio da qual a recorrente requereu a condenação do recorrido ao cumprimento das regras de atendimento
presencial em suas agências bancárias relacionadas ao tempo máximo de espera em filas, à disponibilização
de sanitários e ao oferecimento de assentos a pessoas com dificuldades de locomoção, além da compensação
dos danos morais coletivos causados pelo não cumprimento de referidas obrigações. 2. Recurso especial
interposto em: 23/03/2016; conclusos ao gabinete em: 11/04/2017; julgamento: CPC/73. 3. O propósito recursal é
determinar se o descumprimento de normas municipais e federais que estabelecem parâmetros para a adequada
prestação do serviço de atendimento presencial em agências bancárias é capaz de configurar dano moral de
natureza coletiva. 4. O dano moral coletivo é espécie autônoma de dano que está relacionada à integridade
psico-física da coletividade, bem de natureza estritamente transindividual e que, portanto, não se identifica
com aqueles tradicionais atributos da pessoa humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico), amparados pelos
danos morais individuais. 5. O dano moral coletivo não se confunde com o somatório das lesões
extrapatrimoniais singulares, por isso não se submete ao princípio da reparação integral (art. 944, caput, do
CC/02), cumprindo, ademais, funções específicas. 6. No dano moral coletivo, a função punitiva - sancionamento
exemplar ao ofensor - é, aliada ao caráter preventivo - de inibição da reiteração da prática ilícita - e ao
princípio da vedação do enriquecimento ilícito do agente, a fim de que o eventual proveito patrimonial obtido
com a prática do ato irregular seja revertido em favor da sociedade. 7. O dever de qualidade, segurança,
durabilidade e desempenho que é atribuído aos fornecedores de produtos e serviços pelo art. 4º, II, d, do CDC,
tem um conteúdo coletivo implícito, uma função social, relacionada à otimização e ao máximo aproveitamento dos
recursos produtivos disponíveis na sociedade, entre eles, o tempo.
8. O desrespeito voluntário das garantias legais, com o nítido intuito de otimizar o lucro em prejuízo da qualidade
105
do serviço, revela ofensa aos deveres anexos ao princípio boa-fé objetiva e configura lesão injusta e intolerável
à função social da atividade produtiva e à proteção do tempo útil do consumidor. 9. Na hipótese concreta, a
instituição financeira recorrida optou por não adequar seu serviço aos padrões de qualidade previstos em lei
municipal e federal, impondo à sociedade o desperdício de tempo útil e acarretando violação injusta e
intolerável ao interesse social de máximo aproveitamento dos recursos produtivos, o que é suficiente para a
configuração do dano moral coletivo. 10. Recurso especial provido.” (negritamos)

Comentário:
Aluno, leia os trechos grifados da ementa, eles são fundamentais para você conhecer a
definição e as características dos danos morais coletivos.

Nesse julgado o STJ decidiu que houve violação pela instituição financeira aos deveres
de qualidade do atendimento presencial, ao exigir do consumidor tempo muito superior
aos limites fixados pela legislação municipal pertinente. Isso afronta valores essenciais da
sociedade, sendo conduta grave e intolerável, de forma que se mostra suficiente para a

configuração do dano moral coletivo.

Danos morais in re ipsa

 STJ. 3ª Turma. REsp 1628700/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/02/2018.

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS MORAIS. PEDIDO ILÍQUIDO. SENTENÇA LÍQUIDA.
POSSIBILIDADE. REPORTAGEM JORNALÍSTICA. IMAGEM DE CRIANÇAS. DIVULGAÇÃO. AUTORIZAÇÃO DOS
REPRESENTANTES LEGAIS. INEXISTÊNCIA. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. VIOLAÇÃO. MINISTÉRIO
PÚBLICO. LEGITIMIDADE. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de
Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. É possível a sentença determinar valor certo
quando apoiada nos elementos probatórios dos autos, ainda que o pedido tenha sido genérico. 3. O dever de
indenização por dano à imagem de criança veiculada sem a autorização do representante legal é in re ipsa. 4.
Na hipótese, as fotos veiculadas na reportagem retrataram simulação de trabalho infantil, situação
manifestamente vexatória. 5. O ordenamento pátrio assegura o direito fundamental da dignidade das crianças
(art. 227 do CF), cujo melhor interesse deve ser preservado de interesses econômicos de veículos de
comunicação. 6. O bem jurídico tutelado, no caso, interesse de crianças, está atrelado à finalidade institucional do
Ministério Público, em conformidade com os artigos 127 e 129, III, da Constituição Federal e arts. 1º e 5º da Lei nº
7.347/1985 7. Recursos não providos.” (negritamos)

106
Comentário:
Nesse julgado o STJ frisou que se a imagem de uma criança for usada em uma revista
sem a autorização do seu representante e de forma vexatória, o dever de indenizar por
dano à imagem é in re ipsa, em conformidade com o art. 227, CF e com o ECA, que protegem
a dignidade da criança e do adolescente.
Obs.: nesse caso concreto, a revista utilizou fotos de crianças imitando trabalho infantil em
minas de talco.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1642318-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/2/2017 (Info 598).

EMENTA: “CIVIL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CARÁTER
INFRINGENTE. POSSIBILIDADE. AGRESSÃO VERBAL E FÍSICA. INJUSTIÇA. CRIANÇA. ÔNUS DA PROVA. DANO MORAL
IN RE IPSA. ALTERAÇÃO DO VALOR. IMPOSSIBILIDADE. 1. Ação de compensação por dano moral ajuizada em
01.04.2014. Agravo em Recurso especial atribuído ao gabinete em 04.07.2016. Julgamento: CPC/2015. 2. Cinge-se
a controvérsia a definir ocorrência de violação do art. 535 do CPC; e, se as alegadas agressões físicas e verbais
sofridas pela recorrida lhe geraram danos morais passíveis de compensação. 3. Admite-se, excepcionalmente, que
os embargos de declaração, ordinariamente integrativos, tenham efeitos infringentes desde que constatada a
presença de um dos vícios do artigo 535 do CPC/73, cuja correção importe alterar a conclusão do julgado.
Precedente. 4. As crianças, mesmo da mais tenra idade, fazem jus à proteção irrestrita dos direitos da
personalidade, assegurada a indenização pelo dano moral decorrente de sua violação, nos termos dos arts.
5º, X, in fine, da CF e 12, caput, do CC/02. 5. A sensibilidade ético-social do homem comum na hipótese, permite
concluir que os sentimentos de inferioridade, dor e submissão, sofridos por quem é agredido injustamente,
verbal ou fisicamente, são elementos caracterizadores da espécie do dano moral in re ipsa. 6. Sendo presumido
o dano moral, desnecessário o embate sobre a repartição do ônus probatório. 7. A alteração do valor fixado a
título de compensação por danos morais somente é possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia
estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada. 8. Recurso especial parcialmente conhecido, e
nessa parte, desprovido.” (negritamos)

Comentário:
O art. 227 da CF/88 dispõe que é dever da família, da sociedade e do Estado “assegurar
à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

107
Corroborando com esse dispositivo, podemos citar o art. 17 do ECA: “o direito ao
respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente”.
Diante de tal proteção à criança, o STJ solidificou que resta evidenciada conduta ilícita,
causadora de dano moral in re ipsa, as agressões de um adulto praticadas contra uma
criança, mesmo se de pouca idade.

 STJ. 3ª Turma.REsp 1675015-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/9/2017 (Info 612).

EMENTA: “DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRISÃO EFETUADA
POR POLICIAL MILITAR FORA DO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES. OFENSA À LIBERDADE PESSOAL. DANO MORAL
CONFIGURADO. VALOR ARBITRADO. MÉTODO BIFÁSICO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO COMPROVAÇÃO. 1.
Ação de compensação por danos morais ajuizada em 17/10/2014, de que foi extraído o presente recurso especial,
interposto em 02/03/2016 e concluso ao Gabinete em 08/06/2017. Julgamento pelo CPC/73. 2. O propósito recursal
é dizer sobre a ocorrência de dano moral e sobre a proporcionalidade do valor arbitrado a título compensatório.
3. Constitui grave violação da integridade física e psíquica do indivíduo, e, portanto, ofensa à sua dignidade
enquanto ser humano, a privação indevida da liberdade, sobretudo por preposto do Estado e fora do exercício
das funções, caracterizando dano moral in re ipsa. 4. O contexto delineado no acórdão recorrido revela que, ao
largo da discussão acerca da prática de eventual crime de desacato, houve, por parte do recorrente, uma atuação
arbitrária, ao algemar o recorrido, pessoa idosa, no interior do condomínio onde moram, em meio à uma discussão,
e ainda lhe causar severas lesões corporais, caracterizando-se, assim, a ofensa a sua liberdade pessoal e,
consequentemente, a sua dignidade; causadora, portanto, do dano moral. 5. As Turmas da Seção de Direito Privado
têm adotado o método bifásico como parâmetro para valorar a compensação dos danos morais. 6. No particular,
o TJ/DFT levou em conta a gravidade do fato em si, tendo em vista o interesse jurídico lesado, bem como as
condições pessoais do ofendido e do ofensor, de modo a arbitrar a quantia considerada razoável, diante das
circunstâncias concretas, para compensar o dano moral suportado pelo recorrido. 7. Assim sopesadas as
peculiaridades dos autos, o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), arbitrado no acórdão recorrido para compensar
o dano moral, não se mostra exorbitante. 8. Não se conhece do recurso pela divergência jurisprudencial nas
hipóteses em que o recorrente se limita à transcrição de ementas, sem promover o cotejo analítico a que se refere
o art. 541, parágrafo único, do CPC/73. 9. Recurso especial desprovido. ” (negritamos)

Comentário:
A privação da liberdade por policial fora do exercício de suas funções e com
reconhecido excesso na conduta caracteriza dano moral in re ipsa. Durante uma discussão

108
no condomínio, um morador, que é policial, algemou e prendeu seu vizinho, após ser por ele
ofendido verbalmente.

 STJ, 3ª Turma. REsp 1292141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012 (Info 513).

EMENTA: “DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACIDENTE EM
OBRAS DO RODOANEL MÁRIO COVAS. NECESSIDADE DE DESOCUPAÇÃO TEMPORÁRIA DE RESIDÊNCIAS.
DANO MORAL IN RE IPSA. 1. Dispensa-se a comprovação de dor e sofrimento, sempre que demonstrada a
ocorrência de ofensa injusta à dignidade da pessoa humana. 2. A violação de direitos individuais relacionados à
moradia, bem como da legítima expectativa de segurança dos recorrentes, caracteriza dano moral in re ipsa a ser
compensado. 3. Por não se enquadrar como excludente de responsabilidade, nos termos do art. 1.519 do
CC/16, o estado de necessidade, embora não exclua o dever de indenizar, fundamenta a fixação das
indenizações segundo o critério da proporcionalidade. 4. Indenização por danos morais fixada em R$ 500,00
(quinhentos reais) por dia de efetivo afastamento do lar, valor a ser corrigido monetariamente, a contar dessa data,
e acrescidos de juros moratórios no percentual de 0,5% (meio por cento) ao mês na vigência do CC/16 e de 1%
(um por cento) ao mês na vigência do CC/02, incidentes desde a data do evento danoso. 5. Recurso especial
provido.” (negritamos)

Comentário:
No caso, aplicou-se a Teoria do Sacrifício, que consiste em: diante de uma colisão entre
os direitos da vítima e os do autor do dano, estando os dois na faixa de licitude (os dois
comportamentos são lícitos), o ordenamento jurídico opta por proteger o mais inocente dos
interesses em conflito (o da vítima), sacrificando o outro (o do autor do dano).
Apesar de o ato praticado em estado de necessidade ser lícito (art. 188, II, CC), a vítima
deve ser indenizada por quem o praticou, caso ela não seja a criadora do perigo (art. 929).
Assim, o autor do dano, que agiu em estado de necessidade, deve indenizar a vítima. Mas
pode, posteriormente, cobrar do autor do perigo a quantia que pagou (art. 930).
Ressalta-se que o valor da indenização deve ser fixado com base no princípio da
proporcionalidade, considerando que como a pessoa agiu de forma lícita, dela não deve ser
cobrado um valor abusivo.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.465-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

EMENTA: “DIREITO DO CONSUMIDOR E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS
E COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF. ATRASO EM VOO
INTERNACIONAL. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. EXTRAVIO DE BAGAGEM. ALTERAÇÃO DO VALOR FIXADO

109
A TÍTULO DE DANOS MORAIS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 1. Ação de reparação de danos materiais e
compensação de danos morais, tendo em vista falha na prestação de serviços aéreos, decorrentes de atraso de voo
internacional e extravio de bagagem. 2. Ação ajuizada em 03/06/2011. Recurso especial concluso ao gabinete em
26/08/2016. Julgamento: CPC/73. 3. O propósito recursal é definir i) se a companhia aérea recorrida deve ser
condenada a compensar os danos morais supostamente sofridos pelo recorrente, em razão de atraso de voo
internacional; e ii) se o valor arbitrado a título de danos morais em virtude do extravio de bagagem deve ser
majorado. 4. A ausência de decisão acerca dos argumentos invocados pelo recorrente em suas razões recursais
impede o conhecimento do recurso especial. 5. Na específica hipótese de atraso de voo operado por companhia
aérea, não se vislumbra que o dano moral possa ser presumido em decorrência da mera demora e eventual
desconforto, aflição e transtornos suportados pelo passageiro. Isso porque vários outros fatores devem ser
considerados a fim de que se possa investigar acerca da real ocorrência do dano moral, exigindo-se, por
conseguinte, a prova, por parte do passageiro, da lesão extrapatrimonial sofrida. 6. Sem dúvida, as
circunstâncias que envolvem o caso concreto servirão de baliza para a possível comprovação e a consequente
constatação da ocorrência do dano moral. A exemplo, pode-se citar particularidades a serem observadas: i) a
averiguação acerca do tempo que se levou para a solução do problema, isto é, a real duração do atraso; ii) se a
companhia aérea ofertou alternativas para melhor atender aos passageiros; iii) se foram prestadas a tempo e modo
informações claras e precisas por parte da companhia aérea a fim de amenizar os desconfortos inerentes à ocasião;
iv) se foi oferecido suporte material (alimentação, hospedagem, etc.) quando o atraso for considerável; v) se o
passageiro, devido ao atraso da aeronave, acabou por perder compromisso inadiável no destino, dentre outros. 7.
Na hipótese, não foi invocado nenhum fato extraordinário que tenha ofendido o âmago da personalidade do
recorrente. Via de consequência, não há como se falar em abalo moral indenizável. 8. Quanto ao pleito de
majoração do valor a título de danos morais, arbitrado em virtude do extravio de bagagem, tem-se que a alteração
do valor fixado a título de compensação dos danos morais somente é possível, em recurso especial, nas hipóteses
em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada, o que não ocorreu na espécie,
tendo em vista que foi fixado em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa
extensão, não provido.” (negritamos)

Comentário:
O STJ pacificou que na hipótese de atraso de voo, não se admite a configuração do
dano moral in re ipsa. Assim, deve o magistrado analisar cada caso concreto para constatar a
possível presença de requisitos da responsabilidade civil por danos morais, os quais não são
automáticos.
Corrobora com tal entendimento o art. 251-A do do Código Brasileiro de Aeronáutica: “A
indenização por dano extrapatrimonial em decorrência de falha na execução do contrato de

110
transporte fica condicionada à demonstração da efetiva ocorrência do prejuízo e de sua
extensão pelo passageiro ou pelo expedidor ou destinatário de carga”.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.955-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619).

EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. PROTESTO INDEVIDO. PAGAMENTO EM ATRASO.
DANOS MORAIS. PESSOA JURÍDICA. 1. Ação ajuizada em 14/01/2011. Recurso especial interposto em 11/02/2015
e atribuído a este gabinete em 25/08/2016. 2. Para a pessoa jurídica, o dano moral não se configura in re ipsa,
por se tratar de fenômeno muito distinto daquele relacionado à pessoa natural. É, contudo, possível a
utilização de presunções e regras de experiência no julgamento. 3. Afigura-se a ilegalidade no protesto de título
cambial, mesmo quando pagamento ocorre em atraso. 4. Nas hipóteses de protesto indevido de cambial ou outros
documentos de dívida, há forte presunção de configuração de danos morais. Precedentes. 5. Recurso especial
provido.” (negritamos)

Comentário:
Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja considerado como in re ipsa,
sendo necessária a comprovação nos autos do prejuízo sofrido.
Apesar disso, é possível a utilização de presunções e regras de experiência para a
configuração do dano, mesmo sem prova expressa do prejuízo, o que sempre comportará a
possibilidade de contraprova pela parte ou de reavaliação pelo julgador. Ex: caso a pessoa
jurídica tenha sido vítima de um protesto indevido de cambial, há uma presunção de que ela
sofreu danos morais.
Cuidado: existem julgados em sentido contrário, ou seja, dizendo que pessoa jurídica
pode sofrer dano moral in re ipsa. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 1327773/MG, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017; STJ. 4ª Turma. AgInt-AREsp 1.328.587/ DF. Rel. Min.
Raul Araújo, julgado em 07/05/2019. STJ. 3ª Turma AgInt-AREsp 1.345.802/ MT. Rel. Min. Moura
Ribeiro, julgado em 25/02/2019.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1653413-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018 (Info 627).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS DECORRENTES DE COLISÃO DE VEÍCULOS.
ACIDENTE SEM VÍTIMA. DANO MORAL IN RE IPSA. AFASTAMENTO. NECESSIDADE DE APRECIAÇÃO DE
CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INVIABILIDADE EM RECURSO ESPECIAL. RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. O movimento de despatrimonialização do direito privado, que permitiu, antes
mesmo da existência de previsão legal, a compensação de dano moral não se compatibiliza com a vulgarização

111
dos danos extrapatrimoniais. 2. O dano moral in re ipsa reconhecido pela jurisprudência do STJ é aquele decorrente
da prática de condutas lesivas aos direitos individuais ou perpetradas contra bens personalíssimos. Precedentes. 3.
Não caracteriza dano moral in re ipsa os danos decorrentes de acidentes de veículos automotores sem vítimas,
os quais normalmente se resolvem por meio de reparação de danos patrimoniais. 4. A condenação à
compensação de danos morais, nesses casos, depende de comprovação de circunstâncias peculiares que
demonstrem o extrapolamento da esfera exclusivamente patrimonial, o que demanda exame de fatos e provas.
5. Recurso especial provido.” (negritamos)

Comentário:
Nesse julgado o STJ esclareceu que, no caso de acidente de carro sem vítimas, os danos
morais devem ser provados, não sendo, portanto, in re ipsa.
O lesado deve demonstrar que os danos por ele sofridos foram além da esfera
patrimonial.

Fixação da indenização

 STJ. 3ª Turma. REsp 1.152.541 – RS. Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/09/2011.

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO
RESTRITIVO DE CRÉDITO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. CRITÉRIOS DE
ARBITRAMENTO EQUITATIVO PELO JUIZ. MÉTODO BIFÁSICO. VALORIZAÇÃO DO INTERESSE JURÍDICO LESADO E
DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO. 1. Discussão restrita à quantificação da indenização por dano moral sofrido
pelo devedor por ausência de notificação prévia antes de sua inclusão em cadastro restritivo de crédito (SPC).
2. Indenização arbitrada pelo tribunal de origem em R$ 300,00 (trezentos reais). 3. Dissídio jurisprudencial
caracterizado com os precedentes das duas turmas integrantes da Segunda Secção do STJ. 4. Elevação do valor da
indenização por dano moral na linha dos precedentes desta Corte, considerando as duas etapas que devem ser
percorridas para esse arbitramento. 5. Na primeira etapa, deve-se estabelecer um valor básico para a
indenização, considerando o interesse jurídico lesado, com base em grupo de precedentes jurisprudenciais que
apreciaram casos semelhantes. 6. Na segunda etapa, devem ser consideradas as circunstâncias do caso, para
fixação definitiva do valor da indenização, atendendo a determinação legal de arbitramento equitativo pelo
juiz. 7. Aplicação analógica do enunciado normativo do parágrafo único do art. 953 do CC/2002. 8.
Arbitramento do valor definitivo da indenização, no caso concreto, no montante aproximado de vinte salários
mínimos no dia da sessão de julgamento, com atualização monetária a partir dessa data (Súmula 362/STJ). 9.
Doutrina e jurisprudência acerca do tema. 10. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.” (negritamos)

112
Comentário22:
Esse julgado trouxe o detalhamento do método bifásico, que é o método a ser usado
pelo magistrado quando da fixação do quantum dos danos morais.
No caso concreto, uma mulher havia sido incluída em cadastro de devedores sem aviso
prévio. O tribunal de segunda instância reconheceu o direito da consumidora à indenização,
fixada em R$ 300,00. No STJ, os ministros aumentaram o valor para 20 salários mínimos.
Na ocasião, o ministro relator destacou a necessidade de elevar a indenização na linha
dos precedentes da corte, considerando as duas etapas que devem ser percorridas para o
arbitramento do valor.
Conforme o Ministro: “Na primeira etapa, deve-se estabelecer um valor básico para a
indenização, considerando o interesse jurídico lesado, com base em grupo de precedentes
jurisprudenciais que apreciaram casos semelhantes. Na segunda etapa, devem ser consideradas
as circunstâncias do caso, para fixação definitiva do valor da indenização, atendendo à
determinação legal de arbitramento equitativo pelo juiz”, justificou.
Especificando, ainda de acordo com o relator, na primeira etapa assegura-se uma
exigência da justiça comutativa, que é uma razoável igualdade de tratamento para casos
semelhantes, da mesma forma como situações distintas devem ser tratadas desigualmente na
medida em que se diferenciam.
Na segunda, partindo-se da indenização básica, eleva-se ou reduz-se o valor definido
de acordo com as circunstâncias particulares do caso (gravidade do fato em si, culpabilidade
do agente, culpa concorrente da vítima, condição econômica das partes), até se alcançar o
montante definitivo, realizando um “arbitramento efetivamente equitativo, que respeita as
peculiaridades do caso”.
Segundo Sanseverino, a legislação nacional evoluiu de hipóteses de tarifamento legal
indenizatório para o arbitramento equitativo, conforme disposto no artigo 953 do Código
Civil.
Em suma, o critério bifásico, procura compatibilizar o interesse jurídico lesado com as
circunstâncias do caso.

22 Comentário extraído parcialmente da seguinte notícia do próprio STJ, disponível em:


https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-antigas/2018/2018-10-21_06-56_O-metodo-
bifasico-para-fixacao-de-indenizacoes-por-dano-
moral.aspx#:~:text=Um%20meio%20de%20definir%20o,e%20um%20grupo%20de%20precedentes.
113
 STJ. 3ª Turma. REsp 1120971-RJ. Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 28/2/2012.

EMENTA: “DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. PUBLICAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA
OFENSIVA À HONRA. MODIFICAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL. ELEVAÇÃO
NECESSÁRIA, COMO DESESTÍMULO AO COMETIMENTO DE INJÚRIA. CONSIDERAÇÃO DAS CONDIÇÕES
ECONÔMICAS DOS OFENSORES, DA CONCRETIZAÇÃO POR INTERMÉDIO DE VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DE
GRANDE CIRCULAÇÃO E RESPEITABILIDADE E DAS CONDIÇÕES PESSOAIS DO OFENDIDO. PREVALECIMENTO DE
VALOR MAIOR, ESTABELECIDO PELA MAIORIA JULGADORA EM R$ 500.000,00. 1.- Matéria jornalística publicada em
revista semanal de grande circulação que atribui a ex-Presidente da República a qualidade de "corrupto desvairado".
2.- De rigor a elevação do valor da indenização por dano moral, com desestímulo ao cometimento da figura
jurídica da injúria, realizada por intermédio de veículos de grande circulação e respeitabilidade nacionais e
consideradas as condições econômicas dos ofensores e pessoais do ofendido, Ex-Presidente da República,
que foi absolvido de acusação de corrupção cumpriu suspensão de direitos políticos e veio a ser eleito Senador
da República. 3. Por unanimidade elevado o valor da indenização, fixado em R$ 500.000,00 pelo entendimento
da D. Maioria, vencido, nessa parte, o voto do Relator, acompanhado de um voto, que fixavam a indenização em
R$ 150.000,00. 4. Recurso Especial provido para fixação do valor da indenização em R$ 500.000,00 (quinhentos mil
reais).” (negritamos)

Comentário:
Nesse julgado a revista “Veja” foi condenada a R$500.000,00 por ter chamado o ex-
presidente F. Collor de “corrupto desvairado”. A maioria da Terceira Turma do STJ considerou
que foi um termo injurioso e não apenas uma crítica.
Quais os elementos que basearam o cálculo da indenização? Foram considerados: (i) as
consequências da ofensa; (ii) a capacidade econômica do ofensor; (iii) a pessoa do ofendido.
Nesse âmbito, foi levado em conta que o ex-presidente já havia sido sancionado com o
impeachment, e já havia cumprido seu período legal de suspensão dos direitos políticos.
Também, como o termo ofensivo foi veiculado em uma revista famosa, a indenização foi
elevada pela turma, com base no punitive dammage ou teoria do desestímulo do direito
anglo-americano.
Então esse julgado traz um exemplo de influência da teoria do desestímulo, o que não
significa, no entanto, que ela é amplamente aplicada (veja o julgado abaixo)
Quanto à aplicação do punitive dammage, ainda há muita polêmica no Brasil. Por isso,
fiquem atentos, principalmente quando forem realizar provas subjetivas, ao posicionamento dos
examinadores de Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Ambiental ou Direitos Difusos e
Coletivos. O posicionamento pode mudar em cada Estado e não está solidificado no STJ.

114
 STJ. 2ª Seção. REsp 1354536-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/3/2014 (recurso
repetitivo) (Info 538).

EMENTA: “RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DANOS DECORRENTES DE VAZAMENTO DE AMÔNIA NO RIO SERGIPE.
ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO EM OUTUBRO DE 2008. 1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil:
a) para demonstração da legitimidade para vindicar indenização por dano ambiental que resultou na redução da
pesca na área atingida, o registro de pescador profissional e a habilitação ao benefício do seguro-desemprego,
durante o período de defeso, somados a outros elementos de prova que permitam o convencimento do magistrado
acerca do exercício dessa atividade, são idôneos à sua comprovação; b) a responsabilidade por dano ambiental
é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que
permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável
pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar; c) é
inadequado pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a
punição é função que incumbe ao direito penal e administrativo; d) em vista das circunstâncias específicas e
homogeneidade dos efeitos do dano ambiental verificado no ecossistema do rio Sergipe - afetando
significativamente, por cerca de seis meses, o volume pescado e a renda dos pescadores na região afetada -, sem
que tenha sido dado amparo pela poluidora para mitigação dos danos morais experimentados e demonstrados
por aqueles que extraem o sustento da pesca profissional, não se justifica, em sede de recurso especial, a revisão
do quantum arbitrado, a título de compensação por danos morais, em R$ 3.000,00 (três mil reais); e) o dano
material somente é indenizável mediante prova efetiva de sua ocorrência, não havendo falar em indenização
por lucros cessantes dissociada do dano efetivamente demonstrado nos autos; assim, se durante o interregno em
que foram experimentados os efeitos do dano ambiental houve o período de "defeso" - incidindo a proibição sobre
toda atividade de pesca do lesado -, não há cogitar em indenização por lucros cessantes durante essa vedação; f)
no caso concreto, os honorários advocatícios, fixados em 20% (vinte por cento) do valor da condenação arbitrada
para o acidente - em atenção às características específicas da demanda e à ampla dilação probatória -, mostram-
se adequados, não se justificando a revisão, em sede de recurso especial. 2. Recursos especiais não providos .”
(negritamos)

Comentário:
Apesar de estar no campo do Direito Ambiental, trouxemos esse julgado para expor dois
entendimentos.
1) Com fundamento nos artigos 225, parágrafos 2º e 3º da CF e 14, §1º, da Lei 6.938/1981, a
responsabilidade por dano ambiental é objetiva, com base na teoria do risco integral.
2) Nesse julgado o STJ não considerou pertinente conferir à reparação civil dos danos
ambientais caráter punitivo imediato. Isso porque outros ramos do direito já possuem função

115
punitiva, como o Direito Administrativo e o Direito Penal. Ademais, não foi aplicada a teoria do
desestímulo (punitive damages) pois como não é preciso averiguar a culpa na responsabilidade
civil por dano ambiental, caso ela fosse avaliada, haveria evidente bis in idem.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1677773/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/06/2019.

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO.
FALECIMENTO DE FILHO. PROPOSITURA DA AÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL. PENÚLTIMO DIA. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. DECURSO DE TEMPO. DESINFLUÊNCIA. CPC/20015. NOVO REGRAMENTO NORMATIVO.
REPARAÇÃO CIVIL. RELAÇÃO EXTRACONTRATUAL. PRAZO PRESCRICIONAL DIMINUÍDO. TRÊS ANOS.
RAZOABILIDADE. REVISÃO. QUANTIA. SÚMULA 7/STJ. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na
vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. A controvérsia a ser
dirimida reside em verificar se o lapso temporal decorrido entre o acidente de trânsito que vitimou o filho
dos autores e o ajuizamento da demanda reparatória de danos morais deve ser considerado na fixação do
valor da indenização. 3. Na vigência do Código Civil de 1916, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
consolidou-se no sentido de que a demora na busca da reparação do dano moral deveria ser considerada na
fixação do valor da indenização. Esse entendimento baseia-se em fatos ocorridos na vigência do Código Civil
de 1916 e, portanto, sofreram os influxos do dilatado prazo prescricional vintenário previsto no art. 177 da
referida lei substantiva para ajuizamento de pretensões reparatórias. 4. O prazo prescricional muito longo previsto
no Código Civil anterior resultava em situações extremas, nas quais o período decorrido entre o evento danoso e
a propositura da ação indenizatória se revelava nitidamente exagerado ou desproporcional. 5. Em casos julgados
com base no Código de Civil de 2002, que prevê, no art. 206, § 3º, V, o prazo prescricional de 3 (três) anos para a
pretensão de reparação civil fundamentada em relação extracontratual, as situações extremas não mais persistem.
6. O prazo de 3 (três) anos, aplicável às relações de natureza extracontratual, revela-se extremamente razoável para
que o titular de pretensão indenizatória decorrente de falecimento de ente familiar promova a demanda. 7. No
atual panorama normativo, o momento em que a ação será proposta, desde que na fluência do prazo
prescricional, mostra-se desinfluente para aferição do valor da indenização, tendo em vista o novo prazo
prescricional previsto no art. 206, § 3º, V, Código Civil de 2002 (três anos), extremamente reduzido em
comparação ao anterior (vintenário). 8. No ordenamento jurídico brasileiro inexiste previsão legal de prescrição
gradual da pretensão. Ainda que ajuizada a demanda no dia anterior ao término do prazo prescricional, a parte
autora faz jus ao amparo judicial de sua pretensão por inteiro. 9. Não se mostra razoável presumir que o
abalo psicológico suportado por aquele que perde um ente familiar é diminuído pela não manifestação
imediata do seu inconformismo por intermédio de uma demanda judicial. 10. O Superior Tribunal de Justiça,
afastando a incidência da Súmula nº 7/STJ, tem reexaminado o montante fixado pelas instâncias ordinárias a título
de danos morais apenas quando irrisório ou abusivo, circunstâncias inexistentes na espécie. 11. Recurso especial
conhecido e não provido.” (negritamos)
116
Comentário:
O STJ pacificou o entendimento de que na vigência do Código Civil de 2002, mesmo
se o indivíduo que sofreu um abalo ajuizar ação de indenização por danos morais no último
dia do prazo, tal fato não irá influenciar no decréscimo do valor de sua indenização.
Isso porque o prazo prescricional para ação de reparação civil (extracontratual) é de 3
anos (art. 206, §3º, V, CC) e o abalo psicológico sofrido dificilmente irá diminuir nesse tempo.
Em sua, o tempo que a pessoa demora para ajuizar a ação (desde que dentro dos três
anos) não influência no quantum indenizatório.

 STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1833847-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info
671).

EMENTA: “AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO NO JULGADO. INEXISTÊNCIA. RESPONSABILIDADE


CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. ACORDO EXTRAJUDICIAL. POSSIBILIDADE DE AJUIZAMENTO DE AÇÃO PARA
COMPLEMENTAÇÃO DA VERBA RECEBIDA. PARTICULARIDADES DO CASO CONCRETO. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1.
Se as questões trazidas à discussão foram dirimidas, pelo Tribunal de origem, de forma suficientemente ampla,
fundamentada e sem omissões, deve ser afastada a alegada violação ao art. 1.022, I e II, do Código de Processo
Civil de 2015. 2. O caso dos autos - curto espaço de tempo entre o acidente e a assinatura do acordo e
desconhecimento da integralidade dos danos - constitui exceção à regra de que a quitação plena e geral
desautoriza o ajuizamento de ação para ampliar a verba indenizatória aceita e recebida. 3. Agravo interno a
que se nega provimento.” (negritamos)

Comentário:
O curto espaço de tempo entre o acidente e a assinatura do acordo e o
desconhecimento da integralidade dos danos podem excepcionar a regra de que a quitação
plena e geral desautoriza o ajuizamento de ação para ampliar a verba indenizatória aceita e
recebida.
Explicando melhor: em regra, a quitação realizada por meio de um acordo em âmbito
não judicial é considerada válida. Assim, o credor não pode ajuizar uma ação pedindo o que já
foi quitado.
No entanto, há exceções a essa regra e o caso ora analisado é uma delas. No caso, houve
um acidente de trânsito e o acordo entre a vítima e o causador do dano foi realizado
aproximadamente quinze dias após o sinistro. Nessa época, por ser muito próximo do acidente,
a vítima não conhecia realmente a extensão do dano que sofreu. Algum tempo depois, tomou

117
ciência de que necessitaria de um tratamento médico mais amplo. Devido a tal peculiaridade, o
STJ entendeu que é possível ajuizar ação cobrando o que não foi coberto pelo acordo inicial.
Assim, nesse caso específico, a indenização pôde ser ampliada mesmo após a citação.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1354346-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/9/2015 (Info 572).

EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. MORTE POR DISPARO DE
ARMA DE FOGO. CONDENAÇÃO POR HOMICÍDIO CULPOSO NA ESFERA CRIMINAL. SENTENÇA QUE TORNA
CERTO O DEVER DE INDENIZAR. POSSIBILIDADE DE O JUÍZO CIVIL RECONHECER A CULPA CONCORRENTE.
PRECEDENTES DO STJ. VÍTIMA QUE PRATICA FURTO EM PROPRIEDADE ALHEIA NO MOMENTO EM FOI ALVEJADA
POR TIRO. RELEVÂNCIA DA CONDUTA DA VÍTIMA. CIRCUNSTÂNCIA QUE INTERFERE DECISIVAMENTE NA
FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO. PENSÃO CIVIL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. 1. "A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a
existência do fato, ou sobre quem seja o autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal"
(art. 935 do Código Civil). 2. A sentença penal condenatória decorrente da mesma situação fática geradora da
responsabilidade civil provoca incontornável dever de indenizar, não podendo o aresto impugnado reexaminar
os fundamentos do julgado criminal, sob pena de afronta direta ao art. 91, I, do CP. 3. Apesar da impossibilidade
de discussão sobre os fatos e sua autoria, nada obsta que o juízo cível, após o exame dos autos e das
circunstâncias que envolveram as condutas do autor e da vítima, conclua pela existência de concorrência de
culpa em relação ao evento danoso. 4. Diante das peculiaridades do caso, especialmente a prática de crime de
furto pela vítima, invasão em propriedade alheia e idade avançada da parte autora, a indenização deve ser fixada
em R$ 10.000,00 (dez mil reais). 5. Incide, por analogia, a Súmula 284/STF na hipótese em que o recorrente não
deduz nenhum argumento sobre o cabimento da pensão civil, limitando-se a formular pedido genérico de
condenação ao final do recurso. 6. Recurso especial parcialmente provido.” (negritamos)

Comentário:
Nesse caso o STJ deixou claro que a concorrência de culpas entre o autor do crime e a
vítima não serve como argumento para afastar a obrigação de reparar o dano na esfera cível.
No entanto, a concorrência de culpas pode influenciar no quantum da indenização, o
que ocorreu no caso concreto.

DPVAT

 STF. Plenário virtual. ADI 6262/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/12/2019.

118
EMENTA: “CONSTITUCIONAL. MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MPV 904, DE
2019. EXTINÇÃO DO SEGURO OBRIGATÓRIO DE DANOS PESSOAIS CAUSADOS POR VEÍCULOS AUTOMOTORES DE
VIAS TERRESTRES – DPVAT E DO SEGURO OBRIGATÓRIO DE DANOS PESSOAIS CAUSADOS POR EMBARCAÇÕES
OU POR SUAS CARGAS – DPEM. MATÉRIA RESERVADA A LEI COMPLEMENTAR. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. EXCEPCIONAL URGÊNCIA. DEFERIMENTO DA MEDIDA CAUTELAR. 1. É vedada
a edição de medida provisória que disponha sobre matéria sob reserva de lei complementar. 2. A regulação do
Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres e do Seguro
Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Embarcações ou por sua Carga exige, nos termos do art. 192 da
Constituição Federal, lei complementar. 3. Medida cautelar deferida, nos termos do art. 10, § 3º, da Lei 9.868,
para suspender os efeitos da Medida Provisória 904, de 11 de novembro de 2019.” (negritamos)

Comentário:
O STF acolheu a liminar de ADI interposta contra a MP 904/2019, a qual pretendia
extinguir o DPVAT e o DPEM, a partir de 1º de janeiro de 2020. De acordo com o STF, essa
MP violaria os arts 62, § 1º, III e 192 da CF/88.
Como o sistema de seguros é um subsistema do sistema financeiro nacional e a CF
determina, no art. 192, que matérias a ele atinentes devem ser tratadas por lei complementar,
inconstitucional é a MP que dispôs sobre os seguros (DPVAT e DPEM).

 STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1844330/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2020.

EMENTA: “DIREITO CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DPVAT.
SINISTRO ENVOLVENDO VEÍCULO AGRÍCOLA OCORRIDO NUM CONTEXTO DE ACIDENTE DE TRABALHO.
IRRELEVÂNCIA. SEGURO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. 1. Cuida-se, na origem, de ação de cobrança relativa ao seguro
DPVAT, ajuizada em razão de sinistro que levou a vítima a óbito. 2. A cobertura do seguro obrigatório do DPVAT
não está condicionada à caracterização de acidente de trânsito, mas sim, à ocorrência de dano pessoal causado
por veículo automotor de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não, nos exatos termos
do art. 2º da Lei 6.194/74. 3. Consoante orienta a jurisprudência desta Corte, a caracterização do infortúnio
como acidente de trabalho não impede, necessariamente, que esse também seja considerado como um
acidente causado por veículo automotor e, portanto, coberto pelo seguro DPVAT. Precedentes. 4. Ademais,
tampouco o fato de o sinistro envolver veículo agrícola afasta a cobertura do seguro. Precedentes. 5. Agravo interno
não provido.” (negritamos)

Comentário:
De acordo com esse entendimento recente do STJ, um acidente pode ao mesmo tempo
ser de trabalho e ser coberto pelo seguro DPVAT. Conforme o art. 2º da Lei 6.194/74, a

119
cobertura do seguro obrigatório do DPVAT não está condicionada à caracterização de
acidente de trânsito, mas sim, à ocorrência de dano pessoal causado por veículo automotor
de via terrestre, ou por sua carga.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1635398-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/10/2017 (Info 614).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). OBRIGAÇÃO IMPOSTA
POR LEI. AUSÊNCIA DE QUALQUER MARGEM DE DISCRICIONARIEDADE NO TOCANTE AO OFERECIMENTO E ÀS
REGRAS DA INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA PELAS RESPECTIVAS SEGURADORAS, NÃO HAVENDO SEQUER A OPÇÃO
DE CONTRATAÇÃO, TAMPOUCO DE ESCOLHA DO FORNECEDOR E/OU DO PRODUTO PELO SEGURADO.
INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO. IMPOSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA COM BASE NO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RECURSO DESPROVIDO. 1. Diversamente do que se dá no âmbito da
contratação de seguro facultativo, as normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor não se aplicam
ao seguro obrigatório (DPVAT). 1.1. Com efeito, em se tratando de obrigação imposta por lei, na qual não há
acordo de vontade entre as partes, tampouco qualquer ingerência das seguradoras componentes do consórcio
do seguro DPVAT nas regras atinentes à indenização securitária (extensão do seguro; hipóteses de cobertura;
valores correspondentes; dentre outras), além de inexistir sequer a opção de contratação ou escolha do produto
ou fornecedor pelo segurado, revela-se ausente relação consumerista na espécie, ainda que se valha das figuras
equiparadas de consumidor dispostas na Lei n. 8.078/90. 2. Recurso especial desprovido.” (negritamos)

Comentário:
De acordo com esse entendimento do STJ, as normas protetivas do Código de Defesa
do Consumidor não se aplicam ao seguro obrigatório (DPVAT).

 STJ. 3ª Turma.REsp 1661120-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 9/5/2017 (Info 604).

EMENTA: “CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. INDENIZAÇÃO SECURTIÁRIA. SEGURO OBRIGATÓRIO
- DPVAT. FILHOS MENORES DA VÍTIMA QUE PLEITEAM O RECEBIMENTO DA INDENIZAÇÃO. VÍTIMA QUE SE
ENVOLVEU EM ACIDENTE DE TRÂNSITO NO MOMENTO DA PRÁTICA DE ILÍCITO PENAL. TENTATIVA DE ROUBO A
CARRO-FORTE. 1. Ação ajuizada em 08/04/2011. Recurso especial concluso ao gabinete em 26/08/2016.
Julgamento: CPC/73. 2. O propósito recursal é determinar se os recorrentes fazem jus ao recebimento da
indenização relativa ao seguro obrigatório - DPVAT, em virtude de acidente de trânsito - ocorrido no momento de
prática de ilícito penal (tentativa de roubo a carro-forte) - que teria vitimado seu pai. 3. Não é obstáculo ao
conhecimento do recurso o fato de o recorrente ter interposto o recurso especial com fundamento na alínea "c",
e fundamentado a insurgência na ofensa à lei federal, demonstrando ter apenas se equivocado na indicação da

120
alínea fundamentadora do recurso. Precedentes. 4. Embora a Lei 6.194/74 preveja que a indenização será devida
independentemente da apuração de culpa, é forçoso convir que a lei não alcança situações em que o acidente
provocado decorre da prática de um ato doloso (como, na hipótese, em que o acidente de trânsito ocorreu em
meio a tentativa de roubo a carro-forte). 5. Recurso especial conhecido e não provido.” (negritamos)

Comentário:
Nesse julgado o STJ firmou o entendimento de que é indevida a indenização relativa
ao seguro DPVAT, no caso em que o acidente de trânsito que vitimou o segurado tenha
ocorrido no momento de prática de ilícito penal doloso.
Apesar de o art. 5º da Lei 6.194/1974 determinar que o pagamento do DPVAT não
depende do aferimento de culpa, o STJ entendeu que caso haja dolo, ou seja, caso a vítima do
acidente esteja agindo em uma prática criminosa, não terá direito à indenização.

Responsabilidade civil do fornecedor

Além de julgados esparsos acima, neste tópico, trouxemos também alguns julgados referentes ao campo
do Direito do Consumidor. Resolvemos também abordá-lo no presente capítulo devido a sua grande relevância.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1786722-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info 673).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS. ACIDENTE EM LINHA FÉRREA.
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. ART. 734 DO CC/02. TEORIA DO RISCO
CRIADO. ART. 927, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC/02. CONCRETIZAÇÃO DO RISCO EM DANO. EXCLUDENTES DA
RESPONSABILIDADE. ROMPIMENTO DO NEXO CAUSAL. FORTUITOS INTERNOS. PADRÕES MÍNIMOS DE
QUALIDADE NO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE DE RISCO. FORTUITOS EXTERNOS. INOCORRÊNCIA. FATO DE
TERCEIRO. CAUSA EXCLUSIVA DO DANO. NÃO DEMONSTRAÇÃO. EXONERAÇÃO DA RESPONSABILIDADE.
HIPÓTESE CONCRETA. IMPOSSIBILIDADE. 1. Ação de compensação de danos morais, em virtude de explosão elétrica
no vagão da recorrente durante o transporte entre a Estação de Guaianases e Ferraz de Vasconcelos que gerou
tumulto e pânico entre os passageiros. 2. Recurso especial interposto em: 17/11/2017; conclusos ao gabinete em:
10/12/2018; aplicação do CPC/15. 3. O propósito recursal cinge-se a determinar se, na hipótese concreta, o
evento causador do dano moral sofrido pelo recorrido se enquadra nos riscos inerentes aos serviços de
transporte de passageiros prestados pela recorrente, ou se, alternativamente, se encontra fora desses riscos,
caracterizando um fortuito externo, apto a afastar sua responsabilidade objetiva. 4. Na responsabilidade civil
objetiva, os danos deixam de ser considerados acontecimentos extraordinários, ocorrências inesperadas e atribuíveis
unicamente à fatalidade ou à conduta (necessariamente no mínimo) culposa de alguém, para se tornarem

121
consequências, na medida do possível, previsíveis e até mesmo naturais do exercício de atividades inerentemente
geradoras de perigo, cujos danos demandam, por imperativo de solidariedade e justiça social, a adequada
reparação. 5. Para a responsabilidade objetiva da teoria do risco criado, adotada pelo art. 927, parágrafo
único, do CC/02, o dever de reparar exsurge da materialização do risco - da inerente e inexorável potencialidade
de qualquer atividade lesionar interesses alheios - em um dano; da conversão do perigo genérico e abstrato em
um prejuízo concreto e individual. Assim, o exercício de uma atividade obriga a reparar um dano, não na
medida em que seja culposa (ou dolosa), porém na medida em que tenha sido causal. 6. A exoneração da
responsabilidade objetiva ocorre com o rompimento do nexo causal, sendo que, no fato de terceiro, pouco importa
que o ato tenha sido doloso ou culposo, sendo unicamente indispensável que ele tenha sido a única e exclusiva
causa do evento lesivo, isto é, que se configure como causa absolutamente independente da relação causal
estabelecida entre o dano e o risco do serviço. 7. Ademais, na teoria do risco criado, somente o fortuito externo,
a impossibilidade absoluta - em qualquer contexto abstrato, e não unicamente em uma situação fática específica
- de que o risco inerente à atividade tenha se concretizado no dano, é capaz de romper o nexo de causalidade,
isentando, com isso, aquele que exerce a atividade da obrigação de indenizar. 8. O conceito de fortuito interno
reflete um padrão de comportamento, um standard de atuação, que nada mais representa que a fixação de um
quadrante à luz das condições mínimas esperadas do exercício profissional, que deve ser essencialmente dinâmico,
e dentro dos quais a concretização dos riscos em dano é atribuível àquele que exerce a atividade. 9. Se a conduta
do terceiro, mesmo causadora do evento danoso, coloca-se nos lindes do risco do transportador, se
relacionando, mostrando-se ligada à sua atividade, então não configura fortuito externo, não se excluindo a
responsabilidade. 10. O contrato de transporte de passageiros envolve a chamada cláusula de incolumidade,
segundo a qual o transportador deve empregar todos os expedientes que são próprios da atividade para
preservar a integridade física do passageiro, contra os riscos inerentes ao negócio, durante todo o trajeto, até o
destino final da viagem. Precedente. 11. Na hipótese dos autos, segundo a moldura fática delimitada pelo acórdão
recorrido, o ato de vandalismo não foi a causa única e exclusiva da ocorrência do abalo moral sofrido pelo
autor, pois outros fatores, como o tumulto decorrente da falta de informações sobre a causa, gravidade e
precauções a serem tomadas pelos passageiros diante das explosões elétricas no vagão de trem que os
transportava, aliada à falta de socorro às pessoas que se jogavam às vias férreas, contribuíram para as lesões
reportadas nos presentes autos. 12. Não o suficiente, a incolumidade dos passageiros diante de eventos
inesperados, mas previsíveis, como o rompimento de um cabo elétrico, encontra-se indubitavelmente inserido nos
fortuitos internos da prestação do serviço de transporte, pois o transportador deve possuir protocolos de atuação
para evitar o tumulto, o pânico e a submissão dos passageiros a mais situações de perigo, como ocorreu com o
rompimento dos lacres das portas de segurança dos vagões e o posterior salto às linhas férreas de altura
considerável e entre duas estações de parada. 13. Recurso especial desprovido .” (negritamos)

Comentário:

122
Nesse julgado o STJ discutiu se o vandalismo em um trem que causou explosões elétricas,
tumulto e pânico dos passageiros é abarcado pelos riscos da atividade de transporte ou se ele
caracteriza um fortuito externo. Caso fosse considerada a última hipótese, a responsabilidade
civil objetiva do transportador seria afastada.
No entanto, o STJ entendeu que mesmo sendo o vandalismo praticado por terceiro, o
transportador está obrigado a proteger a integridade física dos passageiros até o local do
destino (cláusula de incolumidade). No caso, a concessionária responsável pelo transporte
deveria ter adotado de maneira mais eficaz os protocolos para evitar o tumulto, socorrer, acalmar
e preservar a saúde dos passageiros. O vandalismo em si foi apenas um dos fatores desse caso
concreto.
Assim, não foi afastada a responsabilidade civil do transportador, que respondeu
objetivamente com base na teoria do risco criado (art. 927, CC).
Cabe ao magistrado analisar cada caso concreto para pondenar se o ocorrido insere-se
em hipótese de fortuito interno ou externo e se o transportador agiu conforme os protocolos
de segurança.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1611915-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/12/2018 (Info 642).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL - AÇÃO CONDENATÓRIA - ACESSIBILIDADE EM TRANSPORTE AÉREO - CADEIRANTE


SUBMETIDO A TRATAMENTO INDIGNO AO EMBARCAR EM AERONAVE - AUSÊNCIA DOS MEIOS MATERIAIS
NECESSÁRIOS AO INGRESSO DESEMBARAÇADO NO AVIÃO DO DEPENDENTE DE TRATAMENTO ESPECIAL -
RESPONSABILIDADE DA PRESTADORA DE SERVIÇOS CONFIGURADA - REDUÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO
IMPROCEDENTE. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. Hipótese: Trata-se de ação condenatória cuja pretensão é o
reconhecimento da responsabilidade civil da companhia aérea por não promover condições dignas de
acessibilidade de pessoa cadeirante ao interior da aeronave. 1. Recurso sujeito aos requisitos de admissibilidade
do Código de Processo Civil de 1973, conforme Enunciado Administrativo 2/2016 do STJ. 2. Não há violação ao art.
535 do CPC/73 quando não indicada a omissão e a demonstrada a importância da análise da matéria para a
resolução da controvérsia. Na hipótese de fundamentação genérica incide a regra da Súmula 284 do STF. 3. O
Brasil assumiu no plano internacional compromissos destinados à concretização do convívio social de forma
independente da pessoa portadora de deficiência, sobretudo por meio da garantia da acessibilidade,
imprescindível à autodeterminação do indivíduo com dificuldade de locomoção . 3.1. A Resolução n. 9/2007 da
Agência Nacional de Aviação Civil, cuja vigência perdurou de 14/6/2007 até 12/1/2014, atribuiu às empresas aéreas
a obrigação de assegurar os meios para o acesso desembaraçado da pessoa com deficiência no interior da
aeronave, aplicando-se, portanto, aos fatos versados na demanda. 4. Nos termos do art. 14, caput, da Lei n. 8.078/90,

123
o fornecedor de serviços responde, objetivamente, pela reparação dos danos causados ao consumidor, em
razão da incontroversa má-prestação do serviço por ela fornecido, o que ocorreu na hipótese. 4.1. O fato de
terceiro, excludente da responsabilidade do transportador, é aquele imprevisto e que não tem relação com a
atividade de transporte, não sendo o caso dos autos, uma vez que o constrangimento, previsível no deslocamento
coletivo de pessoas, decorreu da própria relação contratual entre os envolvidos e, preponderantemente, da
forma que o serviço foi prestado pela ora recorrente. 5. A indenização por danos morais fixada em quantia
sintonizada aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade não enseja a interposição do recurso especial, dada
a necessidade de exame de elementos de ordem fática, cabendo sua revisão apenas em casos de manifesta
excessividade ou irrisoriedade do montante arbitrado. Incidência da Súmula 7 do STJ. Verba indenizatória mantida
em R$ 15.000,00 (quinze mil reais). 6. Recurso parcialmente conhecido e, nessa extensão, desprovido.” (negritamos)

Comentário:
Companhia aérea é civilmente responsável por não promover condições dignas de
acessibilidade de pessoa cadeirante ao interior da aeronave. A sociedade empresária atuante
no ramo da aviação civil possui a obrigação de providenciar a acessibilidade do cadeirante no
processo de embarque quando indisponível ponte de conexão ao terminal aeroportuário
(“finger”). Se não houver meio adequado (com segurança e dignidade) para o acesso do
cadeirante ao interior da aeronave, isso configura defeito na prestação do serviço, ensejando
reparação por danos morais. Assim, caso a pessoa com deficiência (“cadeirante”) tenha que ser
carregado pelos funcionários da companhia aérea para entrar no avião, este fato configura
defeito na prestação do serviço, gerando indenização por danos morais. A companhia aérea
não se exime do pagamento da indenização alegando que o dever de fornecer o equipamento
para a entrada da pessoa com deficiência na aeronave seria da ANAC. Isso porque a companhia
aérea integra a cadeia de fornecimento, de forma que possui responsabilidade solidária em caso
de fato do serviço, nos termos do art. 14 do CDC. Ademais, tal alegação não se amolda à
excludente de responsabilidade por fato de terceiro (art. 14, § 3º, II, do CDC).

 STJ. 3ª Turma.REsp 1431606-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 15/08/2017 (Info 613).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS E MATERIAIS. ROUBO DE MOTOCICLETA.
EMPREGO DE ARMA DE FOGO. ÁREA EXTERNA DE LANCHONETE. ESTACIONAMENTO GRATUITO. CASO
FORTUITO OU FORÇA MAIOR. FORTUITO EXTERNO. SÚMULA Nº 130/STJ. INAPLICABILIDADE AO CASO. 1.
Ação indenizatória promovida por cliente, vítima do roubo de sua motocicleta no estacionamento externo e gratuito

124
oferecido por lanchonete. 2. Acórdão recorrido que, entendendo aplicável à hipótese a inteligência da Súmula nº
130/STJ, concluiu pela procedência parcial do pedido autoral, condenando a requerida a reparar a vítima do crime
de roubo pelo prejuízo material por ela suportado. 3. A teor do que dispõe a Súmula nº 130/STJ, a empresa
responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículos ocorridos no seu estacionamento. 4. Em
casos de roubo, a jurisprudência desta Corte tem admitido a interpretação extensiva da Súmula nº 130/STJ
para entender configurado o dever de indenizar de estabelecimentos comerciais quando o crime for praticado
no estacionamento de empresas destinadas à exploração econômica direta da referida atividade (hipótese em
que configurado fortuito interno) ou quando esta for explorada de forma indireta por grandes shopping
centers ou redes de hipermercados (hipótese em que o dever de reparar resulta da frustração de legítima
expectativa de segurança do consumidor). 5. No caso, a prática do crime de roubo, com emprego inclusive de
arma de fogo, de cliente de lanchonete fast-food, ocorrido no estacionamento externo e gratuito por ela
oferecido, constitui verdadeira hipótese de caso fortuito (ou motivo de força maior) que afasta do
estabelecimento comercial proprietário da mencionada área o dever de indenizar (art. 393 do Código Civil). 6.
Recurso especial provido”. (negritamos)

Comentário:
Lanchonete não tem o dever de indenizar consumidor vítima de roubo ocorrido no
estacionamento externo e gratuito do estabelecimento.

Importante colacionar as hipóteses de responsabilidade trazido pela jurisprudência:

ESTACIONAMENTO PRIVADO Responde pelo FURTO


ESTACIONAMENTO EM RELAÇAO DE
FURTO E ROUBO
CONSUMO
VALLET PARKING EM VIA PÚBLICA FURTO

125
Veja a seguir um quadro com situações similares já enfrentadas pela jurisprudência do

STJ (retirado do site www.dizerodireito.com.br)23:

Fornecedor
Situação Explicação
responde?

O roubo ou furto praticado contra instituição financeira e


que atinge o cofre locado ao cliente constitui risco
Furto ou roubo no cofre do
assumido pelo banco, sendo algo próprio da atividade
banco que estava locado SIM
empresarial, configurando, assim, hipótese de fortuito
para guardar bens de cliente.
interno, que não exclui o dever de indenizar (REsp
1250997/SP, DJe 14/02/2013).

Há responsabilidade objetiva do banco em razão do risco


Cliente roubado no interior
SIM inerente à atividade bancária (art. 927, p. ún., CC e art. 14,
da agência bancária.
CDC) (REsp 1.093.617-PE, DJe 23/03/2009).

Se o roubo ocorre em via pública, é do Estado (e não do


Cliente roubado na rua, após banco) o dever de garantir a segurança dos cidadãos e de
NÃO
sacar dinheiro na agência. evitar a atuação dos criminosos (REsp 1.284.962-MG, DJe
04/02/2013).

O estacionamento pode ser considerado como uma


Cliente roubado no
SIM extensão da própria agência (REsp 1.045.775-ES, DJe
estacionamento do banco.
04/08/2009).

Tanto o banco como a empresa de estacionamento têm


Roubo ocorrido no responsabilidade civil, considerando que, ao oferecerem tal
estacionamento privado que serviço especificamente aos clientes do banco, assumiram o
é oferecido pelo banco aos SIM dever de segurança em relação ao público em geral (Lei
seus clientes e administrado 7.102/1983), dever este que não pode ser afastado por fato
por uma empresa privada. doloso de terceiro. Logo, não se admite a alegação de caso
fortuito ou força maior já que a ocorrência de tais eventos

23 Como o tema está no campo do Direito do Consumidor, optamos por não trazer a ementa de todas as
situações citada no quadro.

126
é previsível na atividade bancária (AgRg nos EDcl no REsp
844186/RS, DJe 29/06/2012).

Passageiro roubado no Constitui causa excludente da responsabilidade da empresa


interior do transporte transportadora o fato inteiramente estranho ao
NÃO
coletivo (exs.: ônibus, trem transporte em si, como é o assalto ocorrido no interior do
etc.). coletivo (AgRg no Ag 1389181/SP, DJe 29/06/2012).

Tratando-se de postos de combustíveis, a ocorrência de


roubo praticado contra clientes não pode ser enquadrado,
Cliente roubado no posto em regra, como um evento que esteja no rol de
de gasolina enquanto NÃO responsabilidades do empresário para com os clientes,
abastecia seu veículo. sendo essa situação um exemplo de caso fortuito externo,
ensejando-se, por conseguinte, a exclusão da
responsabilidade (REsp 1243970/SE, DJe 10/05/2012).

No serviço de manobrista em via pública não existe


exploração de estacionamento cercado com grades, mas
Roubo ocorrido em veículo
simples comodidade posta à disposição do cliente. Logo,
sob a guarda de vallet
NÃO as exigências de garantia da segurança física e patrimonial
parking que fica localizado
do consumidor são menos contundentes do que aquelas
em via pública.
atinentes aos estacionamentos de shopping centers e
hipermercados (REsp 1.321.739-SP, DJe 10/09/2013).

Furto ocorrido em veículo Nas hipóteses de furto, em que não há violência,


sob a guarda de vallet permanece a responsabilidade, pois o serviço prestado
SIM
parking que fica localizado mostra-se defeituoso, por não apresentar a segurança
em via pública. legitimamente esperada pelo consumidor.

Furto ou roubo ocorrido em A ocorrência de roubo não constitui causa excludente de


veículo sob a guarda responsabilidade civil nos casos em que a garantia de
SIM
de vallet parking localizado segurança física e patrimonial do consumidor é inerente ao
dentro do shopping center. serviço prestado pelo estabelecimento comercial.

A ocorrência de roubo não constitui causa excludente de


Tentativa de roubo ocorrida SIM responsabilidade civil nos casos em que a garantia de
na cancela do
segurança física e patrimonial do consumidor é inerente

127
estacionamento ao serviço prestado pelo estabelecimento comercial
do shopping center. (REsp 1269691/PB, DJe 05/03/2014).

Roubo ocorrido em Constitui verdadeira hipótese de caso fortuito (ou motivo


estacionamento externo e NÃO de força maior), de forma que não se aplica a Súmula 130
gratuito de lanchonete. do STJ.

Responsabilidade civil em caso de morte de filho

 STJ. 3ª Turma. REsp 1279173-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/4/2013 (Info
519).

EMENTA: “RECURSOS ESPECIAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE FERROVIÁRIO. MORTE. DANO MORAL.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. PENSÃO POR MORTE DE FILHO COM 17 ANOS. 13º
SALÁRIO. TAXA DE JUROS LEGAIS MORATÓRIOS APÓS O ADVENTO DO NOVO CÓDIGO CIVIL. TAXA SELIC.
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. 1. Ação de indenização por danos materiais e morais movida pela mãe de
adolescente morto em acidente em estação de trem, em razão de falha na prestação de serviço da ré, acarretando
a morte de seu filho, com apenas 17 anos (queda da composição ferroviária, em razão de uma porta que se
encontrava indevidamente aberta). 2. Majoração do valor da indenização por dano moral na linha dos precedentes
desta Corte, considerando as duas etapas que devem ser percorridas para esse arbitramento, para o montante
correspondente a 400 salários mínimos. Método bifásico. 3. Concessão de pensão por morte em favor da mãe
da vítima adolescente, fixada inicialmente em dois terços do salário mínimo, a partir da data do óbito até o
dia em que completaria 65 anos de idade, reduzindo-se para um terço do salário mínimo a partir do momento
em que faria 25 anos de idade. Aplicação da Súmula 491 do STF na linha da jurisprudência do STJ. 4. Fixação da
taxa dos juros legais moratórios, a partir da entrada em vigor do artigo 406 do Código Civil de 2002, com base na
taxa Selic, seguindo os precedentes da Corte Especial do STJ (REsp. 1.102.552/CE e EREsp 267.080/SC, em ambos
o rel. Min. Teori Zavascki). 5. Exclusão da parcela relativa ao 13ª salário por não ter sido demonstrado que a vítima
trabalhava na época do fato. 6. Sucumbência redimensionada, sendo reconhecido o decaimento mínimo da autora.
7. RECURSOS ESPECIAIS PROVIDOS.” (negritamos)

Comentário:
O STJ, nesse julgado, aplicou sua súmula 491: “É indenizável o acidente que cause a morte
de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado”.
De acordo com o STJ, os valores da pensão mensal indenizatória devida aos pais pela
morte do filho menor deve ser fixada em valor equivalente a 2/3 do salário mínimo, dos 14

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até os 25 anos de idade da vítima. Depois, será reduzido para 1/3 até a data em que o de
cujus completaria 65 anos.

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2018.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações - 14. ed. - São Paulo: Saraiva,
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CAVALCANTE, Márcio André Lopes. VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Salvador: Juspodvim,
2017

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