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TRIBUNAIS
DIREITO CIVIL
CAPÍTULO 12
Olá, aluno!
garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!
estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que
um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para
o estudo da disciplina.
2
Recado para você que está assistindo às videoaulas
Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:
O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!
Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;
A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada
no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;
3
CAPÍTULOS
4
SOBRE ESTE CAPÍTULO
Prezados alunos,
Muitos conceitos deste capítulo estão relacionados com o que estudamos no capítulo
referente aos direitos da personalidade. Isso porque o dano moral é aquele imposto quando há
violação de direitos fundamentais e desarrazoada agressão à direitos da personalidade,
conforme veremos. Assim, caso não se lembre muito do que foi exposto no Capítulo 4, volte
nele e revise principalmente o tópico acerca da tutela jurídica reparatória dos direitos da
personalidade.
Os artigos do Código Civil referentes a esse capítulo são bastante cobrados nas provas
de Tribunais. No entanto, o aluno deve dar mais atenção aos julgados dos tribunais superiores,
para entender como os conceitos estudados ao longo do capítulo são aplicados na prática.
Apesar de sua grande extensão, o tema a ser estudado é muito relevante dentro do
Direito Civil. Ousamos dizer que este é o capítulo mais importante dessa matéria, pois a
responsabilidade civil, bem como o termo inicial dos juros e da correção monetária são
incidentes é extremamente recorrente em provas de tribunais.
Por último, ressaltamos que o aluno perceberá, no futuro, em sua vida prática de
concursado, a elevada expressão que o presente tema possui no dia a dia forense.
Note que não há motivos para deixar de ler esse capítulo, pelo contrário! Então, mãos à
obra!
5
SUMÁRIO
Capítulo 12 ................................................................................................................................................ 9
12.5.1.1.1 Origem........................................................................................................................................................ 23
6
12.6.1 Danos Patrimoniais ou Materiais ............................................................................................................... 34
GABARITO ............................................................................................................................................... 70
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 78
8
DIREITO CIVIL
Capítulo 12
Aluno(a), esse capítulo é o único que tratará o instituto da responsabilidade civil. Ele é
muito relevante e deve ser lido caso você realmente busque a aprovação na carreira de Tribunais.
Além da responsabilidade civil, ele traz os termos iniciais dos juros e da correção
monetária, bem como o tema da indenização pelo seguro obrigatório DPVAT. Tais temas
também são importantes e não podem passar batidos.
É primordial que você estude os julgados dos tribunais superiores selecionados, bem
O tema da responsabilidade civil encontra-se presente nos artigos 927 a 954 do Código
Civil e tem como consequência o dever de indenizar.
causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo, restabelecendo o equilíbrio rompido. É o que
se infere da leitura do artigo 927 do CC:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 1871), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo”.
A responsabilidade civil consiste na obrigação que uma pessoa tem de reparar o dano
1
Vide questão 3 do material
9
extracontratual. Neste sentido, os artigos 927 a 965 do CC regulam as hipóteses causadoras
de responsabilidade civil, bem como a forma pela qual será feito o pagamento da indenização.
Sempre que alguém, mediante a prática de um ato ilícito, causar dano a outrem, ficará
obrigado a repará-lo.
O ato ilícito resulta da ação ou omissão voluntária, negligente ou imprudente, que viola
direito e causa dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. Aquele que se excede
manifestamente em seus direitos, também pratica ato ilícito.
Não constituem atos ilícitos os danos causados em virtude de: legítima defesa e exercício
regular de um direito ou quando há destruição/deterioração de coisa ou lesão à pessoa, com
finalidade de remover perigo iminente.
935 do CC:
criminal. O indivíduo poderá não ser penalmente responsabilizado, mas ser obrigado a reparar
o dano civil ou, por outra ótica, a pessoa poderá ser civilmente responsável, sem ter que prestar
2
Vide questão 8 do material
10
No entanto, art. 935 estabelece duas exceções a esse princípio: no que diz respeito à
existência do fato ou de quem seja o seu autor, se tais questões já estiverem decididas na esfera
criminal, não se pode mais questioná-las na esfera civil.
Por último, atente-se ao que determina o art. 200, CC, que cai bastante em prova de
Tribunais:
Art. 200. “Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no
juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença
definitiva”.
Ato ilícito é aquele praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando direitos e
causando prejuízos a outrem. Diante da sua ocorrência, a norma jurídica cria o dever de reparar
o dano, o que justifica o fato de ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional.
O ato ilícito é considerado um fato jurídico em sentido amplo, uma vez que produz
efeitos jurídicos impostos pela lei, mas, muitas vezes, indesejados pelo agente.3
Logo, conforme se dispõe o art. 186 do CC (muito incidente em prova) comete ato ilícito
“aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral.”
Desse modo, para o cometimento de ato lícito se faz necessário o preenchimento de dois
requisitos, vejamos:
3 Flávio Tartuce. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2018, p. 468.
11
Violação
Ato
de um Dano
Ilícito
direito
A responsabilidade civil subjetiva, prevista nos artigos 186 e 927 do CC, exige a verificação
de culpa (em sentido amplo, dolo ou culpa), havendo duas modalidades de culpa:
civil, uma vez que nos termos dos artigos 187 e 927 do CC, a responsabilidade civil pode ser
objetiva, como no caso de abuso de direito.
O abuso de direito é o ato originariamente lícito, mas exercido fora dos limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes, ou
seja, é um ato praticado em exercício irregular ou imoderado de um direito.
É assim que prevê o art. 187 do CC: “Também comete ato ilícito o titular de um direito
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.”
4
Vide questão 4 do material
12
No art. 186, CC, o legislador, ao definir ato ilícito, utilizou o critério subjetivo, baseado na
culpa. No entanto, ao definir o que é abuso de direito, no art. 187, utilizou o elemento de
ilicitude objetivo, qual seja, o elemento finalístico ou critério funcional. Isto significa que, na
forma do artigo 187, para provar o abuso de direito, não é necessário provar que houve a
intenção de prejudicar outrem ou descuido (dolo ou culpa), visto que foi utilizado o critério
finalístico. Em outros termos, se ocorreu o desvio de finalidade (podendo esta ser: fim social;
Para que o abuso de direito reste configurado, a pessoa deve, em sua conduta, exceder
um direito que possui, atuando em exercício irregular de direito. Dessa forma, não há que se
cogitar o elemento culpa em sua configuração, bastando que o comportamento da pessoa
trabalho;
O abuso no processo, a lide temerária e o assédio judicial, no âmbito do direito
13
A aquisição de um direito via surrectio, face oposta da supressio, não traduz abuso de
direito, desde que haja respeito à boa-fé.
Para que uma pessoa seja responsabilizada civilmente são necessários quatro elementos:
conduta, dano, nexo de causalidade e fator de atribuição (culpa). A culpa apenas é
pressuposto no caso da responsabilidade civil subjetiva, conforme estudaremos adiante.
12.3.1 Conduta
A conduta humana deve ser um fato lesivo voluntário. Acontece quando o agente, por
ação ou omissão, ocasiona dano a outrem, ainda que exclusivamente moral. O ato pode ser
próprio ou de terceiro que esteja sob guarda.
pedra de toque para a noção de conduta humana no que tange à responsabilidade civil.
Conforme dito, mas vale frisar, a conduta humana pode ser causada tanto por uma ação
(conduta positiva ou culpa in comittendo) quanto por uma omissão (conduta negativa ou
culpa in omittendo), dolosa ou por negligência, imprudência ou imperícia.
14
A fim de a omissão gerar o dever de indenizar, é necessário que exista o
dever jurídico de o indivíduo praticar determinado ato, bem como a prova de que a conduta
não foi praticada. É necessária, ainda, a demonstração de que caso a conduta fosse praticada,
Não é apenas a conduta humana ilícita que gera a responsabilidade civil, essa pode
decorrer também de um ato lícito. O exemplo clássico é o de um agente que age em estado
de necessidade; nessa situação ele age licitamente, mas tem o dever de indenizar a vítima.
Acerca dessa situação, é relevante observar que a indenização deve ser proporcional ao dano
causado, sem onerar o agente que agiu licitamente5.
Desapropriação;
Direito de Passagem Forçada (previsto no art. 1285, CC, pertence ao direito de
vizinhança, que estudaremos no capítulo sobre Direitos Reais);
Estado de necessidade agressivo em que se prejudica terceiro.
Deste modo, podemos concluir que a ilicitude da conduta não é obrigatória à configuração
da responsabilidade civil. Não é correto, portanto, dizer que o ato ilícito é um elemento
A culpabilidade, no campo do Direito Civil, envolve tanto a culpa stricto sensu, quanto o
dolo.
A culpa sticto sensu pode ser conceituada como o desrespeito a um dever preexistente,
não havendo propriamente uma intenção de violar o dever jurídico. A culpa stricto sensu,
no Direito Civil, é relacionada ao modelo de culpa retirado do inciso II do art. 18 do Código
Já o dolo ocorre quando o agente pratica violação intencional de um dever jurídico, com
o objetivo de prejudicar outrem.
O art. 945 do CC estabelece a culpa concorrente. Ela ocorre quando tanto o agente
quanto a vítima agem com culpa. Nesse caso, a culpa da vítima acaba por diminuir a culpa do
agente. Assim, se a vítima também concorreu para o evento danoso, com sua própria conduta,
é comum a indenização ser concedida pela metade ou em fração diversa, dependendo do grau
de contribuição da vítima. Isso porque, como ambas as partes cooperaram para o evento, não
No entanto, existem várias situações para as quais o ordenamento dispensa o dolo para
16
Art. 927. (...) Parágrafo único. “Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem.”
Por meio da leitura do dispositivo acima, podemos perceber que são duas as situações
que dão ensejo à chamada responsabilidade civil objetiva:
do indivíduo, não haverá sua imputabilidade. Exemplos de casos que afastam a imputabilidade:
12.3.3 Dano
O dano pode ser material (patrimonial) ou moral (extrapatrimonial). Sendo assim, não
pode haver responsabilidade civil sem a existência de um dano. Em outras palavras, podemos
17
dizer que o dano é pressuposto da responsabilidade civil; sem dano não há que se falar em
indenização. Além disso, também é imprescindível que exista prova, real e concreta, da lesão.
O dano pode ser patrimonial ou moral.
presente da vítima, como também o futuro; provocar sua diminuição ou impedir seu
crescimento.
Perda de uma chance (perte d’une chance): de acordo com o STJ, para existir, a vítima
deve perder um direito que tinha chances atuais, sérias e reais de ganhar na situação
futura esperada.
6
Art. 948, CC: “No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima”.
18
Qual a natureza da indenização pela perda da chance? Trata-se de indenização por
danos morais ou materiais? Se material, trata-se de dano emergente ou lucro
cessante? Alguns tribunais indenizam a perda da chance a título de lucros cessantes;
outros como dano moral. Há outra corrente doutrinária que coloca a perda da chance
como terceiro gênero de indenização, no meio do caminho entre dano emergente e
lucro cessante. O STJ entende que é gênero intermediário, entre o lucro cessante
e o dano emergente.
Por sua vez, o dano moral representa uma lesão aos direitos da personalidade, de
pessoa natural ou jurídica. Vale lembrar, conforme vimos no Capítulo dos Direitos da
Personalidade, que o dano moral não está necessariamente vinculado a alguma reação psíquica
da vítima. A indenização por dano moral encontra respaldo na Constituição Federal em seu art.
5º, incisos V e X. Trataremos de forma mais específica sobre esta espécie de dano em tópico
posterior.
agente.
estado de necessidade; a legítima defesa; a culpa exclusiva da vítima; o fato de terceiro; o caso
causador do dano. Ela resulta, portanto, de uma ação direta da pessoa violadora do direito ou
ao prejuízo ao patrimônio, por ato culposo ou doloso.
responsável.
Como se deve mensurar o redutor indenizatório de dano previsto no art. 944, CC?
Essa redução pelo juiz (art. 944, §único, CC) é viável nas demandas de
responsabilidade objetiva, em que a culpa não é discutida? Conforme o Enunciado 46
da I Jornada de Direito Civil, essa redução do montante da indenização somente deve
ser aplicada em demandas de apuração de responsabilidade civil subjetiva7.
7 JDC 46 – Art. 944: “A possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente, estabelecida
no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser interpretada restritivamente, por representar uma exceção ao
princípio da reparação integral do dano [,] não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva”. (Alterado pelo Enunciado
380 – IV Jornada)
20
O que é dano INDIRETO? O que é dano REFLEXO (ou em RICOCHETE)?
Dano INDIRETO: consiste em uma série de prejuízos sofridos pela mesma vítima.
tiro e é levado ao hospital, onde fica internado por alguns meses. O pai é a vítima
direta, por sua vez, seu o filho e sua esposa são as vítimas indiretas. Como o pai
Diferença: no dano indireto, a mesma vítima sofre dois ou mais danos; já no dano
reflexo ou em ricochete, temos outra(s) vítima(s), diferentes da vítima do dano
direto. Os dois tipos de dano geram responsabilidade e indenização. O que não
gera responsabilização é o dano remoto (que não tem relação ou tem uma relação
muito distante com a conduta do agente).
21
presumido. A classificação de um dano como in re ipsa, ocorre por causa de sua gravidade ou
motivos, configura dano moral in re ipsa. Mas atente-se: nesse caso, são devidos danos morais
apenas se o nome da pessoa ainda não estava negativado8!
A regra continua sendo a responsabilidade civil subjetiva (art. 927 do CC), que depende de
culpa.
Encontra-se prevista, basicamente, no art. 927, § único, CC. Risco é perigo, probabilidade
de dano. Portanto, aquele que desenvolve uma atividade perigosa deve assumir os riscos e
8 Para mais exemplos práticos de danos morais in re ipsa, veja os julgados comentados.
22
reparar os danos dela decorrentes. Está ligada à violação do dever de segurança, que se
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Essa norma está inserida na diretriz da sociabilidade do Código Civil. Quando a estrutura
12.5.1.1.1 Origem
Preconiza que o responsável é aquele que tira proveito da atividade danosa, com base
no princípio de que, onde está o ganho, reside o encargo – ‘ubi emolumentum, ibis onus’.
Assim, o dano deve ser reparado por aquele que retira algum proveito ou vantagem do fato
lesivo.
23
causadora do dano não é fonte de ganho. Ademais, a vítima teria o ônus de provar o proveito
econômico.
Sustenta que o dever de indenizar tem lugar sempre que o fato prejudicial é uma
decorrência da atividade ou profissão do lesado. Foi especificamente criada para fundamentar
Para os adeptos dessa teoria, a reparação é devida sempre que o dano é consequência
de um risco excepcional, que escapa à atividade comum da vítima, ainda que estranho ao
trabalho que normalmente exerça, independente de culpa. Exemplo: rede elétrica de alta tensão.
Aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um perigo, está sujeito à
reparação do dano que causar, salvo prova de haver adotado todas as medidas idôneas a evitá-
lo.
Mas e qual a diferença entre a Teoria do Risco Criado e a Teoria do Risco Proveito,
se ambas podem decorrer do exercício da profissão? Na Teoria do Risco Criado não se
cogita se o dano é relativo a algum proveito ou vantagem para o agente. O dever de reparar
agente, mas é mais equitativa para a vítima, que não precisa provar que o dano resultou de
uma vantagem ou benefício obtido pelo causador do dano. O agente assume as consequências
e apenas isso.
indenizar incide tão somente em razão da existência do dano. Não se exclui a responsabilidade
24
nem mesmo nos casos de culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou força
maior. É aplicável em casos restritos, como nos danos ambientais (mas não é pacífico) e
danos nucleares.
Poderá ser:
inobservância da lei, é a lesão a um direito, sem que entre as partes exista qualquer
relação jurídica.
Vimos no capítulo referente aos institutos da prescrição e decadência, que, quando se tratar de
controvérsia que diga respeito à responsabilidade CONTRATUAL, deve-se aplicar o prazo
previsto no artigo 205 do CC (10 anos de prazo prescricional). No entanto, quando envolver
responsabilidade civil EXTRACONTRATUAL, deve ser aplicado o prazo de 3 anos, do art. 206,
parágrafo 3º, inciso V, do CC (STJ. 2 Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
podem ser:
25
Responsabilidade solidária: quando em uma mesma obrigação houver mais de um
guarda.
O art. 932 do CC nos apresenta aqueles que são responsáveis por fato de terceiro:
I. Os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia9;
II. O tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas
condições;
III. O empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício
educandos;
V. Os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente
quantia.
9
Vide questão 5 do material
26
Enunciado n. 558, da VI Jornada de Direito Civil: “São solidariamente responsáveis pela
reparação civil, juntamente com os agentes públicos que praticaram atos de improbidade
administrativa, as pessoas, inclusive as jurídicas, que para eles concorreram ou deles se
Complementando o art. 932, CC, o art. 933 do CC prevê a responsabilidade objetiva dos
responsáveis pelos atos dos terceiros, ou seja, “ainda que não haja culpa de sua parte,
responderão pelos atos praticados pelos terceiros”. No entanto, para a configuração da
responsabilidade por atos dos terceiros, é necessário provar a culpa daqueles pelos quais são
responsáveis. Por isso a responsabilidade é denominada objetiva indireta ou objetiva
impura10.
O fato de terceiro não exclui a sua responsabilidade, mas aquele que ressarcir o dano
causado por outrem, se este não for seu descendente, absoluta ou relativamente incapaz, poderá
No caso de prática de ato ilícito por incapaz, se os seus pais não tiverem condições de
arcar com os prejuízos causados pela atividade danosa, este responderá subsidiariamente,
desde que tenha condições financeiras para tanto. Assim, a indenização a ser paga pelo incapaz
é subsidiária e equitativa, em respeito à dignidade humana e ao mínimo existencial, pois ele
Importante destacar que, a norma prevista no artigo 932, I determina que os pais
respondam objetivamente pelos danos causados pelos filhos. Tenha atenção, pois, para chegar
10
Vide questão 6 do material
27
ao resultado que conduz à responsabilidade, são dois aspectos a se analisar: a comprovação
A culpa não está ligada à responsabilidade dos pais, que é objetiva, mas à comprovação
do ato ilícito. Comprovado este, os pais responderão independentemente de culpa.
Ainda, com relação ao que determina o inciso I, do artigo 932, há jurisprudência que
busca identificar o termo “sob sua autoridade e em sua companhia”. Assim, nas palavras de
Márcio André, segundo o STJ:
Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor
de idade, residia permanentemente em local distinto daquele no qual
morava o menor – sobre quem apenas o pai exercia autoridade de fato –
não pode ser responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito,
mesmo considerando que ela não deixou de deter o poder familiar.11
Diante do exposto, para que um dos pais compartilhe a responsabilidade com o outro,
não basta que detenha o poder familiar, sendo indispensável que tenha condições
permanentes de controle sob os atos do filho. Isso, todavia, merece atenção especial, para
que o candidato não se confunda na prova. No caso julgado, a mãe residia permanentemente
Isto é importante, uma vez que a justificativa de não estar presente no momento do ato
não exime os pais de responsabilidade, pois a autoridade permanece, mesmo que o
11 CAVALCANTE, Márcio André Lopes – VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Juspodvim. 2017 - Página: 238.
28
Por fim, sobre o incapaz, ainda vale apresentar decisão interessante do STJ acerca da
discernimento para entender o caráter ilícito da conduta. O dano moral é a ofensa ao direito de
personalidade, sendo o sofrimento, a dor, consequência deste ato, mas não essencial à sua
caracterização.12
do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior”.
enquanto, a do dono, é objetiva indireta, desde que comprovada a culpa do seu preposto
(arts. 932, III, e 933 do CC).
entendendo que se caiu, havia necessidade manifesta de reparação. Assim, somente se afasta
o dever de indenização caso a ruína ocorra por fato totalmente alheio a sua atuação. Por
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo
dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em
lugar indevido.
30
Tal artigo é claro ao estabelecer que o responsável será o habitante, não o proprietário. Se
condomínio, e que internamente, esse pode buscar o regresso contra a unidade autônoma (o
apartamento) que efetivamente causou o dano.
A Banca FGV, para AL-RO, Advogado, em 2018, considerou correta a seguinte assertiva:
“Se um objeto cai de uma janela de um apartamento edifício e não é possível identificar a
unidade de onde o mesmo foi lançado, a vítima do dano pode demandar do condomínio,
31
Súmula 161 do STF: Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar.
ou culpa grave”.
12.6 Reparação
13
Vide questão 7 do material
32
Patrimonial. Significa que a pessoa deve responder com seu patrimônio pelos prejuízos
causados a terceiros. A reparação deve ser total, cobrindo o dano em todos os seus aspectos,
de modo que todos os bens do devedor, com exceção dos inalienáveis, respondam pelo
ressarcimento.
Para que haja pagamento de indenização, além da prova de culpa ou dolo na conduta, é
necessário comprovar o dano patrimonial ou extrapatrimonial suportado por alguém. Em regra,
não há responsabilidade civil sem dano, cabendo o ônus de sua prova ao autor da demanda
(art. 373, I, do CPC).
poderá demandar o espólio até onde se alcançar o saldo positivo deixado pelo de cujus aos
seus sucessores. Ou seja, os herdeiros responderão até o valor de seus montantes deixados
Em tese, apenas o lesado ou seus herdeiros teriam legitimação para exigir a indenização do
prejuízo, porém, atualmente, tem-se admitido que a indenização possa ser reclamada também
33
credor se deve dar aquilo que baste para restaurar a situação ao status quo ante, sem acréscimos
nem reduções.
Para se chegar ao quantum devido, de acordo com os arts. 944 e 945 do CC deverá o
magistrado analisar o grau de culpa do lesante e se houve participação (culpa) do lesado. O juiz
causalidade entre o dano e a ação que o produziu); a possibilidade de lucro obtido pela vítima
com a reparação do dano.
regra.
Nos termos do art. 402 do CC, os danos materiais podem ser assim subclassificados:
caso de acidente de trânsito, poderá pleitear lucros cessantes o taxista, que deixou
de receber valores com tal evento, fazendo-se o cálculo dos lucros cessantes de
34
12.6.2 Danos Morais
Alerte-se que para a sua reparação não se requer a determinação de um preço para a
dor ou o sofrimento, mas sim um meio para atenuar, em parte, as consequências do prejuízo
imaterial, o que traz o conceito de lenitivo, derivativo ou sucedâneo. Por isso é que se utiliza a
Cumpre esclarecer que não há, no dano moral, uma finalidade de acréscimo
patrimonial para a vítima, mas sim de compensação pelos males suportados.
A primeira parte da alternativa está de acordo com a Súmula 37, STJ, a qual reza que:
“São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”. No
entanto, a segunda parte está incorreta, pois em desacordo com a Súmula 387, STJ: “É lícita a
É possível a ocorrência de dano moral para a pessoa jurídica, pois se aplica à pessoa
jurídica, no que couber, o disposto quanto aos direitos da personalidade. Em verdade, o dano
moral da pessoa jurídica atinge a sua honra objetiva, que é a repercussão social da honra,
sendo certo que uma empresa tem uma reputação perante a coletividade.
35
No caso de corte de energia elétrica, a pessoa jurídica tem de comprovar o dano moral
para receber indenização (ou seja, não é dano in re ipsa, ao contrário do que se tem entendido
para pessoas naturais): “1. A pessoa jurídica pode sofrer dano moral desde que haja ferimento
à sua honra objetiva, ao conceito de que goza no meio social. 2. O mero corte no fornecimento
de energia elétrica não é, a princípio, motivo para condenação da empresa concessionária em
danos morais, exigindo-se, para tanto, demonstração do comprometimento da reputação da
empresa. ” (STJ, REsp 1298689/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em
EUA.
Preconiza que a indenização por dano moral não tem apenas caráter compensatório
ilícito.
A teoria do desestímulo pouco a pouco vem ganhando espaço em nosso país, embora
não tenha sido totalmente abraçada pela jurisprudência, principalmente no que diz respeito à
tutela individual. O próprio projeto de reforma do Código Civil, em sua redação original,
pretende alterar o art. 944 para estabelecer que a indenização deve compensar a vítima e
desestimular o lesante.
36
Além disso, o Enunciado 37914 da IV Jornada reforça a teoria. E o próprio STJ vem
Os danos estéticos são tratados atualmente tanto pela doutrina quanto pela
jurisprudência como uma modalidade separada de dano extrapatrimonial. Basta à pessoa ter
sofrido uma “transformação” para que o referido dano esteja caracterizado. Tais danos, em regra,
estão presentes quando a pessoa sofre feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou profundos
em sua pele, lesão ou perda de órgãos internos ou externos do corpo, aleijões, amputações,
Os danos estéticos, por serem autônomos, podem ser cumulados com os danos materiais
e com os danos morais (Súmula 387 STJ: “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético
e dano moral”).
A teoria da perda de uma chance tem origem francesa. Segundo ela, são reparáveis os
prejuízos que decorrem da frustração de uma expectativa, que possivelmente se concretizaria
em circunstâncias normais. Não é qualquer chance que é reparável. Segundo alguns autores, ela
é assim considerada quando tem mais de 50% de chance de acontecer.
Conforme o Enunciado 444 das Jornadas de Direito Civil, a responsabilidade civil pela
perdida pode apresentar também a natureza jurídica de dano patrimonial. A chance deve
ser séria e real, não ficando adstrita a percentuais apriorísticos.
A teoria da perda de uma chance é aplicada pelo STJ15, que exige, no entanto, que o
dano seja REAL, ATUAL e CERTO, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera
14 Enunciado 379, JDC: “O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou
pedagógica da responsabilidade civil”.
15 Vide julgados comentados.
37
possibilidade, porquanto o dano potencial ou incerto, no espectro da responsabilidade civil, em
regra, não é indenizável (REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 9/6/2009).
Natureza do dano: Trata-se de uma terceira categoria. Com efeito, a teoria da perda
de uma chance visa à responsabilização do agente causador não de um dano
emergente, tampouco de lucros cessantes, mas de algo intermediário entre um e
outro, precisamente a perda da possibilidade de se buscar posição mais vantajosa
que muito provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado. (STJ. 4ª
Turma, REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/11/2010).
Casos:
A jurisprudência tem condenado advogados que perdem prazos de seus
clientes por perda da chance de uma vitória judicial. STJ. Crítica: isso faz a
obrigação do advogado parecer uma obrigação de resultado, o que, na verdade,
não é.
Atuação médica. STJ Resp. 1.254.141/PR.
Show do milhão. STJ Resp 788.459/BA.
Se do ato ilícito resultar lesão que impeça a vítima de exercer seu ofício habitual, ou lhe
diminua a capacidade para tanto, além da indenização, serão devidos alimentos na proporção
do prejuízo sofrido com a perda do ofício.
O dano moral difuso está previsto no CDC, art. 6º, VI e Lei de Ação Civil Pública, art.
1º. Somente pode ser caracterizado como uma lesão ao direito de toda e qualquer pessoa (e
não de um direito específico de personalidade).
Admite-se, quando houver uma violação coletiva da personalidade. Nesse caso, a tutela
processual deve se dar obrigatoriamente através de ação civil pública, cujos legitimados
38
estão no art. 5º da Lei 7.347/1985 (MP, Defensoria, Poder Público e Associações). Exemplo:
Esse dano moral coletivo reverte em favor do fundo previsto no art. 13 da LACP. Esse
fundo é gerido por um Conselho, com participação do MP, e tem como objetivo recompor o
dano causado.
sua caracterização apenas de dois elementos, que são a ocorrência de evento danoso e do nexo
de causalidade. Não importa para o Direito Ambiental que o dano tenha origem em uma
atividade lícita, ainda que esta tenha se constituído sob a égide da regulamentação estatal, pois
não seria justo para com a sociedade que a regulamentação da exploração da atividade fosse
de (CDC, art. 81): (i) Interesses transindividuais (direitos difusos e coletivos); (ii) Interesses
individuais homogêneos.
individuais homogêneos também podem ser pleiteados individualmente (cada particular pode
ajuizar uma ação). Em sendo ajuizada ACP, cada um dos interessados deve propor a liquidação
de seu próprio dano. Ou seja, a ACP se presta não apenas a interesses difusos e coletivos, mas
Sistema livre ou do arbitramento (aberto): Defendido por Judith Martins Costa, Araken
de Assis e Ronaldo Andrade, se baseia no art. 4º da LINDB e no art. 140 do NCPC. Ambos
dispositivos falam que o juiz deve decidir com equidade e princípios do direito, ou seja,
com senso de justiça. É o sistema que confere discricionariedade ao juiz na definição do
quantum indenizatório. Esse sistema de arbitramento prevalece no Brasil. Nessa linha
de entendimento, seria inconstitucional uma tarifação legal.
40
Em um ilícito comum (sem ser dano moral: dano material, por exemplo) a correção
São lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio
O que se percebe é que esses danos podem gerar repercussões materiais ou morais.
Nesse ponto, diferenciam-se os danos sociais dos danos morais coletivos, pois os últimos são
apenas extrapatrimoniais.
Danos sociais são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de
O dano social é, portanto, uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde
Alguns exemplos: o pedestre que joga papel no chão, o passageiro que atende ao celular
no avião, o pai que solta balão com seu filho. Tais condutas socialmente reprováveis podem
gerar danos como o entupimento de bueiros em dias de chuva, problemas de comunicação do
41
avião causando um acidente aéreo, o incêndio de casas ou de florestas por conta da queda do
balão etc.
social.
Conforme explica Flávio Tartuce17, os danos sociais são difusos e a sua indenização deve
ser destinada não para a vítima, mas sim para um fundo de proteção ao consumidor, ao meio
12.7 Indenização
É medida pela extensão do dano causado, mas, se a vítima tiver concorrido para o
resultado causado, a medida de sua culpa será levada em consideração para a fixação do
quantum devido.
Se do ato ilícito resultar lesão que impeça a vítima de exercer seu ofício habitual, ou
lhe diminua a capacidade para tanto, além da indenização, serão devidos alimentos na
proporção do prejuízo sofrido com a perda do ofício.
que a prática do ato que gerou o dano tenha sido lícita. Porém, neste caso, a licitude será levada
em consideração para determinar o valor devido, cabendo ação de regresso ao condenado, em
DANOS MATERIAIS18
Juros MORATÓRIOS
DANOS MORAIS
Resolvemos tratar do seguro DPVAT no presente capítulo e não junto da análise dos
contratos de seguro, pois ele está muito ligado ao tema da responsabilidade civil.
extinguir o DPVAT e o DPEM, a partir de 1º de janeiro de 2020. O DPVAT foi realmente extinto
nessa data? Não!
Não houve a extinção do seguro DPVAT, pois foi ajuizada ação direta de
inconstitucionalidade contra a MP 904/2019 e o STF deferiu a medida cautelar, acolhendo a
Portanto não pode ocorrer por meio de medida provisória (art. 62, §1º, III, CF). O sistema de
seguros integra o sistema financeiro nacional, subordinado ao Banco Central do Brasil, e de
acordo com o art. 192 da CF, é necessário lei complementar para tratar dos aspectos regulatórios
do sistema financeiro.
Tal seguro indeniza três categorias de danos: morte, invalidez permanente e despesas
acidente, ela não tem direito ao seguro DPVAT, conforme entendimento do STJ.
discussões envolvendo o DPVAT, já que se trata de um seguro obrigatório por força de lei,
custeado pelos próprios motoristas, quando do pagamento do IPVA de seus veículos.
De acordo com o art. 188, I, do CC, não constituem atos ilícitos os praticados em legítima
Podemos utilizar o Código Penal, no seu art. 25, para conceituar a legítima defesa:
“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.
Para a apuração da legítima defesa, cabe uma análise caso a caso. O agente não pode
atuar além do indispensável para afastar o dano ou a iminência de prejuízo material ou imaterial.
Mesmo agindo em legítima defesa, se o agente atinge um terceiro inocente, deverá indenizá-
Por outro lado, existe a figura da legítima defesa putativa, que ocorre quando o agente
imagina estar defendendo um direito seu, mas, na realidade, não está. A pessoa imagina um
perigo que, na realidade, não existe e, por isso, age imoderadamente, o que não exclui o dever
de indenizar.
Prescreve o art. 188, II, do CC que não constitui ato ilícito a deterioração ou destruição
da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes a acontecer.
45
Em complemento, o parágrafo único do dispositivo disciplina que o ato será legítimo
Se, quando agir em estado de necessidade, o agente atingir terceiro inocente (que não
tiver sido responsável pelo dano), deverá indenizá-lo, com direito de regresso contra o causador
do dano, na forma dos arts. 929 e 930 do CC, à luz do princípio da solidariedade social.
Interessante notar que o CC não consagrou uma regra específica para o estrito
cumprimento do dever legal. O art. 188, I, do CC, enuncia que não constitui ato ilícito o praticado
no exercício regular de um direito reconhecido. O estrito cumprimento do dever legal afasta a
A maioria da doutrina conceitua força maior como um evento inevitável, ainda que
previsível (um terremoto pode ser previsto, mas não pode ser evitado). Já o caso fortuito, é
marcado pela imprevisibilidade (um sequestro relâmpago não pode ser previsto). Anote-se
ainda, que o CC, ao tratar da matéria, no parágrafo único do art. 393, não distingue os institutos:
46
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de
um abalo sísmico. O carro, por isso, pode causar danos. Nem o recall, nem o fato de ser fortuito
interno são capazes de excluir a responsabilidade civil da empresa automotiva por eventuais
danos.
Exemplo1: “A” se joga sob as rodas do veículo dirigido por “B”. Afasta-se o próprio
nexo causal em relação ao motorista, e não apenas a sua culpa.
47
Exemplo 2: a vítima liga aparelho na voltagem 220v, o qual tem um grande adesivo
avisando que a sua voltagem é de 110v. A empresa pode alegar a culpa exclusiva da vítima.
E observe que a redução indenizatória proveniente da culpa concorrente é feita pelo juiz
a partir da análise do caso concreto, não há um tabelamento previsto em lei.
Terceiro é qualquer pessoa além da vítima e do responsável: alguém que não tem
nenhuma ligação com o causador aparente do dano e o lesado. Mas, o fato de terceiro só
exclui a responsabilidade quando rompe o nexo causal entre o agente e o dano sofrido pela
vítima.
Nesses casos, o fato de terceiro equipara-se ao caso fortuito ou força maior, por ser
uma causa estranha à conduta do agente aparente, imprevisível ou inevitável.
Veja este exemplo: uma mulher ajuizou ação contra empresa de ônibus porque seu
marido foi atropelado e morto quando trafegava de bicicleta. Durante a ação ficou comprovado
que o ciclista caiu em um buraco existente na pista, e, no momento, foi atingido na cabeça
pelo ônibus. O buraco foi aberto por uma empresa prestadora de serviços públicos, que,
imprudentemente, deixou o buraco aberto. Assim, podemos concluir que a ação foi mal
endereçada.
48
Há casos em que a jurisprudência não admite a exclusão por fato de terceiros, como no
do transportador, por acidente com passageiro, não se admite alegação de fato de terceiro.
A empresa deve indenizar o passageiro que sofreu alguma lesão, cabendo-lhe exercer o direito
de regresso contra o verdadeiro culpado.
A cláusula de não indenizar traduz-se na previsão contratual pela qual a parte exclui
A cláusula de não indenizar somente vale para os casos de responsabilidade contratual, uma
vez que a responsabilidade extracontratual, por ato ilícito, envolve ordem pública. A título
de exemplo, não tem qualquer validade jurídica uma placa colocada em condomínio edilício,
estabelecendo que “o condomínio não se responsabiliza pelos objetos lançados ou que caírem
das unidades”. Isso porque a responsabilidade civil, prevista pelo art. 938 do CC, supostamente
afastada pelo aviso, é extracontratual;
A cláusula também não incide nos casos em que houver conduta dolosa do agente ou na
presença de atos criminosos da parte, igualmente pela motivação na ordem pública;
50
QUADRO SINÓTICO
RESPONSABILIDADE CIVIL
Art. 935, CC “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
Responsabilidade questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu
civil X criminal autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”
= Princípio da independência relativa.
Art. 927, CC “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo”.
ATO ILÍCITO Ato ilícito é o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica,
(violação de violando direitos e causando prejuízos a outrem. Diante da sua
um direito + ocorrência, a norma jurídica cria o dever de reparar o dano, o que
dano) justifica ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional. O ato ilícito é
ATO ILÍCITO X
considerado como fato jurídico em sentido amplo, uma vez que produz
ABUSO DE
efeitos jurídicos que não são desejados pelo agente, mas somente
DIREITO aqueles impostos pela lei.
Já o abuso de direito é o ato que originariamente lícito, mas exercido
ABUSO DE fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-
DIREITO fé objetiva ou pelos bons costumes, ou seja, é um ato praticado em
exercício irregular ou imoderado de um direito.
A conduta humana ou fato lesivo voluntário acontece quando o
agente, por ação ou omissão, ocasiona dano a outrem, ainda que
CONDUTA exclusivamente moral. O fato poderá estar relacionado tanto a ato
próprio como a ato de terceiro e que esteja sob a guarda da pessoa.
A culpa sticto sensu pode ser conceituada como sendo o desrespeito
a um dever preexistente, não havendo propriamente uma intenção de
CULPA violar o dever jurídico (negligência, imprudência e imperícia). Já o
dolo ocorre quando o agente pratica violação intencional do dever
jurídico com o objetivo de prejudicar outrem.
PRESSUSPOSTOS
DANO O dano pode ser material (patrimonial, lesão concreta a um
interesse relativo ao patrimônio da vítima) ou moral
(extrapatrimonial, é lesão aos direitos da personalidade, de pessoa
natural ou jurídica).
NEXO É o nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do
CAUSAL agente. É uma ligação virtual entre a ação e o dano resultante. A causa
do dano deve ser o comportamento do agente.
51
É medida pela extensão do dano causado, mas, se a vítima tiver concorrido para o
INDENIZAÇÃO
resultado causado, a medida de sua culpa será levada em consideração para a fixação
do quantum devido.
Art. 944. “A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único - Se houver
excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitativamente, a indenização”. O redutor do parágrafo único do art. 944, somente
deverá ser aplicado em demandas de responsabilidade civil subjetiva.
Questões
Dano indireto X Dano reflexo ou em ricochete: no dano indireto, a vítima sofre dois
especiais sobre o
ou mais danos; já no dano reflexo ou em ricochete, temos duas ou mais vítimas. Os
DANO
dois tipos de dano geram responsabilidade/indenização. O que não gera
responsabilidade é o dano remoto.
Dano in re ipsa: caracteriza uma situação de dano que dispensa prova da dor em
juízo para ser indenizado.
52
Teoria do Risco Integral - modalidade extremada da
doutrina do risco destinada a justificar o dever de indenizar
até nos casos de inexistência do nexo causal.
QUANTO AO FATO GERADOR
CONTRATUAL Quando oriunda de inexecução de negócio jurídico bilateral ou
OU NEGOCIAL unilateral. Prazo prescricional de 10 anos (art. 205, CC).
53
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei
especial, os empresários individuais e as empresas
respondem independentemente de culpa pelos
PELO FATO danos causados pelos produtos postos em
DA COISA circulação. (responsabilidade objetiva).
Art. 937. O dono de edifício ou construção
responde pelos danos que resultarem de sua
ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja
necessidade fosse manifesta.
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele,
responde pelo dano proveniente das coisas que
dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
Não precisa ser proprietário, basta habitar!
Os danos patrimoniais ou materiais constituem prejuízos ou
perdas que atingem o patrimônio corpóreo de alguém.
DANOS DANOS
PATRIMONIA EMERGENTES OU O que efetivamente se perdeu.
IS OU DANOS
MATERIAIS POSITIVOS
LUCROS
CESSANTES OU O que razoavelmente se deixou de lucrar.
DANOS
NEGATIVOS
É a lesão a direitos da personalidade.
DANOS DANOS MORAIS É possível a ocorrência de dano moral para a
MORAIS DA PESSOA pessoa jurídica, pois se aplica à pessoa
REPARAÇÃO JURÍDICA jurídica, no que couber, o disposto quanto
aos direitos da personalidade.
Os danos estéticos são tratados atualmente como uma
modalidade separada de dano extrapatrimonial. Estão presentes
quando a pessoa sofre feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou
DANOS profundos em sua pele, lesão ou perda de órgãos internos ou
ESTÉTICOS externos do corpo, aleijões, amputações, entre outras anomalias que
atingem a própria dignidade humana. Esse dano, nos casos em
questão, será também presumido (in re ipsa), como ocorre com o
dano moral objetivo.
TEORIA DA Tem origem francesa. são reparáveis os prejuízos que decorrem da
PERDA DE frustração de uma expectativa, que possivelmente se
UMA concretizaria em circunstâncias normais. Assim, ela é aplicada pelo
CHANCE
54
STJ , que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e CERTO,
dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade.
DANOS É o dano que atinge, ao mesmo tempo, direitos individuais
MORAIS homogêneos e coletivos em sentido estrito, e as vítimas são
COLETIVOS determinadas ou determináveis. Por isso, a indenização deve ser
destinada para elas, as vítimas.
DANO São lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por
SOCIAIS OU rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito
DIFUSOS da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida.
JUROS TANTO NO CASO DE DANOS MATERIAIS QUANTO DE DANOS
MORATÓRIO MORAIS:
S Responsabilidade extracontratual: os juros fluem a partir do
TERMO INICIAL DOS EVENTO DANOSO (art. 398 do CC e Súmula 54 do STJ).
JUROS E CORREÇÃO Responsabilidade contratual:
MONETÁRIA Obrigação líquida (mora ex re): contados a partir do
VENCIMENTO.
Obrigação ilíquida (mora ex persona): contados a partir da
CITAÇÃO.
CORREÇÃO NO CASO DE DANOS MATERIAIS: incide correção monetária a
MONETÁRIA partir da data do efetivo PREJUÍZO (Súmula 43 do STJ).
NO CASO DE DANOS MORAIS: a correção monetária incide desde a
data do ARBITRAMENTO (Súmula 362 do STJ).
Não houve a É um seguro obrigatório contra danos pessoais causados por
extinção do veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas
seguro transportadas ou não. Se a vítima estava praticando um crime com
SEGURO DPVAT
DPVAT o veículo no momento do acidente, ela não tem direito ao seguro
DPVAT.
Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor.
LEGÍTIMA “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
DEFESA meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a
direito seu ou de outrem”.
ESTADO DE
EXCLUDENTES DE
NECESSIDADE
RESPONSABILIDADE
OU Não constitui ato ilícito a deterioração ou destruição da coisa alheia,
REMOÇÃO DE ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes a
PERIGO acontecer.
IMINENTE
55
EXERCÍCIO
REGULAR DE Não constitui ato ilícito o praticado no exercício regular de um
DIREITO OU direito reconhecido. O estrito cumprimento do dever legal afasta a
DAS responsabilização, desde que não haja abuso.
PRÓPRIAS
FUNÇÕES
CULPA OU FATO Lembre-se: a culpa concorrente NÃO exclui a
EXCLUDENTE EXCLUSIVO DA responsabilidade, havendo apenas a redução da
S DE NEXO VÍTIMA indenização devida, com base na conduta de
DE ambas as partes.
CAUSALIDAD CULPA OU FATO Só exclui a responsabilidade quando rompe o
E EXCLUSIVO DE nexo causal entre o agente e o dano sofrido
TERCEIRO pela vítima. Nesses casos, o fato de terceiro
equipara-se ao caso fortuito ou força maior.
Exceção: STF, Súmula 187: “A responsabilidade
contratual do transportador, pelo acidente com
o passageiro, não é elidida por culpa de
terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
CASO FORTUITO Não já consenso quanto à definição. São
E FORÇA MAIOR eventos: totalmente imprevisíveis ou
previsíveis, mas inevitáveis.
CLÁUSULA A cláusula de não indenizar constitui a previsão contratual pela
DE NÃO qual a parte exclui totalmente a sua responsabilidade. Essa
INDENIZAR cláusula é também denominada cláusula de irresponsabilidade ou
cláusula excludente de responsabilidade.
A cláusula de não indenizar é nula no contrato de transporte.
56
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
( ) Certo
( ) Errado
Comentário:
CERTO. Para responder a questão deve-se estar atento ao entendimento do STJ sobre a
possibilidade ou não de cumulação da cláusula penal moratória com os lucros cessantes,
Pois bem, em primeiro lugar, é importante lembrar que a cláusula penal moratória é
aquela que, de acordo com a doutrina, é estipulada em contrato ou documento acessório,
para desestimular o devedor a incorrer em mora, ou seja, para evitar o atraso.
Os lucros cessantes, por sua vez, são definidos como o que se deixou de ganhar em razão
da prática lesiva de outrem.
Vejamos então, o que decidiu o STJ em caso no qual houve atraso da construtora em
entregar imóvel adquirido na planta, e o comprador pleiteou judicialmente tanto a multa
prevista na cláusula penal moratória como lucros cessantes:
57
“A cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da
julgado em 22/05/2019).
Questão 2
(Banca: FCC - 2019 - TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciário - Área Judiciária) Luciano,
empregado de XPTO Carretos e Mudanças Ltda., dirigia o caminhão da empresa, a fim de realizar
a mudança de determinado cliente, quando, por imperícia e imprudência, atropelou Renata, que
sofreu, por conta do acidente, lesões corporais graves. Nesse caso, de acordo com o Código
Civil, a empresa XPTO responde:
A) subsidiariamente a Luciano pelos danos causados a Renata, somente se tiver procedido com
culpa in eligendo.
B) subsidiariamente a Luciano pelos danos causados a Renata, independentemente de culpa.
C) solidariamente com Luciano pelos danos causados a Renata, somente se tiver procedido com
culpa in eligendo.
Comentário:
58
tendo cada credor o direito à totalidade da prestação, como se fosse credor único, ou
estando cada devedor obrigado ao pagamento integral da prestação, como se fosse único
devedor. Ademais, segundo os artigos 932 e 933, os pais, o tutor e o curador, o
ali referidos". Logo, não há o que se falar em culpa in vigilando (entendida como aquela
que decorre da falta de atenção com o procedimento de outrem, cujo ato ilícito o
C) ERRADA. Embora a empresa XPTO responda solidariamente com Luciano pelos danos
causados a Renata, a responsabilidade resta configurada independente de culpa.
o empregador ou comitente, no que concerne aos atos praticados por seus empregados,
serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele, tem
E) ERRADA. A responsabilidade solidária pela reparação civil abarca tanto os danos morais
quanto os materiais.
Questão 3
(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-AM - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador)
De acordo com o Código Civil, julgue o próximo item, acerca de classes de bens, associações,
fundações, prova do fato jurídico e atos jurídicos. Situação hipotética: No exercício de
determinado direito de natureza civil, um indivíduo agiu de forma abusiva, excedendo os limites
impostos pela finalidade econômica e social do referido direito e causando dano a terceiro.
59
Assertiva: Nesse caso, a caracterização da responsabilidade desse indivíduo independe da
comprovação de culpa.
Comentário:
CERTO. De acordo com o art. 187 do CC, “também comete ato ilícito o titular de um
direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes". Trata-se do abuso de direito,
destaque as lições do Prof. Silvio Venosa: “(...) o critério de culpa é acidental e não
essencial para a configuração do abuso" (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Parte
Ressalte-se que, embora o gabarito da questão seja neste sentido, há quem defenda
tratar-se de responsabilidade subjetiva, pois o caput do art. 927 do CC, ao tratar dela,
Questão 4
(Banca: FCC - 2019 - TRF - 4ª REGIÃO - Analista Judiciário - Área Judiciária) Comete abuso
60
A) lícito, mas que dá causa ao dever de indenizar.
Comentário:
C) CORRETA. O artigo 186 do Código Civil é claro ao prever que o ato ilícito decorre de
Neste sentido, o artigo 187 vem afirmar que o ato ilícito também pode ser caracterizado
O artigo 927 garante ao lesado o direito à indenização, prevendo que, o autor do ato
ilícito (arts. 186 e 187), que causar o dano, fica obrigado a repará-lo.
Questão 5
(Banca: FCC - 2018 - TRT - 15ª Região (SP) - Analista Judiciário - Área Judiciária) Rogério,
de 14 anos, briga na escola com Filipe, da mesma idade, e lhe quebra o braço, causando-lhe
prejuízo de R$ 2.000,00 nas despesas médicas e de hospital. Fica provado que Filipe não deu
causa à briga, razão pela qual seu pai, representando-o, quer receber o valor dos danos. Nessas
circunstâncias, Rogério,
A) ainda que devidamente representado, não responderá pelo prejuízo, porque o fato envolveu
duas pessoas absolutamente incapazes, sem discernimento para entenderem o caráter ilícito de
B) por ser absolutamente incapaz, não responderá em nenhuma hipótese pelo prejuízo causado,
o que se restringe a pessoas maiores ou relativamente incapazes, caso em que haverá
responsáveis legais; no entanto, não pode ser privado de meios suficientes à sua subsistência.
D) apesar de absolutamente incapaz, responderá pelo prejuízo que causou, se as pessoas que
respondem por ele não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes;
nesse caso, a indenização deverá ser equitativa e não terá lugar se privar do necessário o incapaz
ou as pessoas que dele dependam.
E) em qualquer hipótese, responderá pelo prejuízo se seus responsáveis legais não tiverem
meios para indenizar a vítima, sem limitação quanto à extensão da indenização pela natureza
ilícita de sua conduta.
62
Comentário:
Pelo disposto no art. 932 do CC “São também responsáveis pela reparação civil: I - os
pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia".
Trata-se da responsabilidade civil por ato de terceiro. Percebam que os pais serão
chamados a responder objetivamente, de maneira que a vítima não precise provar a culpa
deles e é nesse sentido que temos o art. 933 do CC: “As pessoas indicadas nos incisos I
a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos
atos praticados pelos terceiros ali referidos".
Cuidado! À princípio, pelo disposto no § ú do art. 942 do CC, poderíamos afirmar que a
responsabilidade dos pais, com relação aos atos praticados pelos filhos menores, é
solidária. De fato, a responsabilidade das pessoas do art. 933 é solidária, com exceção do
incapaz, pois sua responsabilidade será subsidiária e é o que se extrai da regra do art.
928 do CC: “O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele
responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes".
Por sua vez, o § ú do referido dispositivo legal vem mitigar a regra do caput, conciliando
A) ERRADA. Rogério praticou um ato ilícito ao quebrar o braço do colega. Por ser incapaz,
os pai do menor será chamado a responder (art. 932, inciso I do CC), tratando-se de
responsabilidade por ato de terceiro, responsabilidade esta objetiva, por força do art. 933
do CC.
63
C) ERRADA. O pai é chamado a responder, mas caso não tenha obrigação de fazê-lo (ex:
dele dependam.
D) CORRETA. A assertiva está em consonância com o que dispõe o art. 928 caput e § ú
do CC.
Questão 6
(Banca: INSTITUTO AOCP - 2018 - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Analista Judiciário - Área
de energia elétrica na empresa, arremessando-o para longe por três vezes e atingindo um
veículo estacionado em via pública, de propriedade de Jonas. De acordo com as disposições da
legislação civil, sobre o tema responsabilidade civil, assinale a alternativa INCORRETA.
A) Considerando que Jonas estivesse dentro do veículo, com seu consequente falecimento em
razão do praticado por Pedro, o direito de exigir a reparação será transmitido aos herdeiros de
Jonas.
D) Caso reste consignado que Pedro praticou ato dentro dos limites necessários, visando à
remoção de perigo iminente, mesmo diante da destruição da coisa alheia, tal ato não será
tratado como ilícito, mas sim como legítimo.
E) No caso da alternativa "D", caso a prática do ato exceda manifestamente os limites impostos
para seu fim, poderá, sim, ser tratado como ato ilícito o montante excedente.
Comentário:
A) CORRETA. Considerando que Jonas estivesse dentro do veículo, com seu consequente
veículo, poderá a empresa Y ser condenada na reparação pelos danos materiais, visto que
é ela civilmente responsável por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja
culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.
inexistência de culpa da empresa empregadora, poderá ela ser responsabilizada pelo ato
65
praticado por Pedro, uma vez que a empresa responde independentemente de culpa de
sua parte, pelos atos praticados por seu funcionário, sendo a responsabilidade objetiva.
D) CORRETA. Caso reste consignado que Pedro praticou ato dentro dos limites
necessários, visando à remoção de perigo iminente, mesmo diante da destruição da coisa
alheia, tal ato não será tratado como ilícito, mas sim como legítimo.
perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
excedente.
Código Civil:
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
Questão 7
(Banca: FCC - 2018 - TRT - 6ª Região (PE) - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador
Federal) Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à
reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão
66
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
Questão 8
(Banca: FCC - 2018 - TRT - 6ª Região (PE) - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões
se acharem decididas no juízo criminal.
67
Questão 9
(Banca: FCC - 2018 - TRT - 6ª Região (PE) - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador
Federal) Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago
daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou
relativamente incapaz.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
CERTO. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago
daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou
relativamente incapaz.
Questão 10
(Banca: FCC - 2018 - TRT - 6ª Região (PE) - Analista Judiciário - Oficial de Justiça Avaliador
Federal) Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou parcialmente, sem ressalvar as
quantias do que for devido, ficará no primeiro caso obrigado a devolver o equivalente do que
exigiu do devedor e, no segundo caso, a pagar-lhe o dobro do que foi cobrado, em qualquer
circunstância.
( ) CERTO
68
( ) ERRADO
Comentário:
ERRADO. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar
as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao
69
GABARITO
Questão 1 - CERTO
Questão 2 - D
Questão 3 - CERTO
Questão 4 - C
Questão 5 - D
Questão 6 - B
Questão 7 - ERRADO
Questão 8 - CERTO
Questão 9 - CERTO
Questão 10 - ERRADO
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QUESTÃO DESAFIO
71
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
praticado em estado de necessidade não é ato ilícito, nem por isso libera quem o pratica
de reparar o prejuízo que causou, como estabelecem os arts. 929 e 930 do CC.
Estado de Necessidade
Previsto no inciso II, do art. 188 do CC, o Estado de necessidade consiste na situação de agressão
a um direito alheio, de valor jurídico igual ou inferior àquele que se pretende proteger, para
remover perigo iminente, quando as circunstâncias do fato não autorizarem outra forma de
atuação.
Ademais, o parágrafo único do art. 188 do CC prevê que o estado de necessidade “somente
será considerado legítimo quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não
excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo”.
Assim, nas palavras dos doutrinadores Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho: “Com isso, quer-
se dizer que o agente, atuando em estado de necessidade, não está isento do dever de atuar
nos estritos limites de sua necessidade, para a remoção da situação de perigo. Será
responsabilizado, pois, por qualquer excesso que venha a cometer.” (Gagliano, Pablo Stolze;
Pamplona Filho, Rodolfo. Novo curso de direito civil, v. 3: responsabilidade civil – 17. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 165).
De acordo com os art. 929 e 930 do CC, se o terceiro atingido não for o causador da situação
de perigo, poderá exigir indenização do agente que houvera atuado em estado de necessidade,
cabendo a este ação regressiva contra o verdadeiro culpado. Ora, conforme pode ser observado,
mesmo o agente atuando em uma causa de excludente de responsabilidade civil, continua tendo
o dever de reparar, apenas possuindo o direito de regresso caso se descubra quem foi o terceiro
causador do perigo.
Essa regra é bastante criticada pela doutrina, pois, conforme aduz o doutrinador Carlos Roberto
Gonçalves: “A solução dos arts. 929 e 930 não deixa de estar em contradição com o art. 188, II,
72
pois, enquanto este considera lícito o ato, aqueles obrigam o agente a indenizar a deterioração
da coisa alheia para remover perigo iminente. (...) Tal solução pode desencorajar muitas pessoas
a tomar certas atitudes necessárias para a remoção de perigo iminente.” (Gonçalves, Carlos
Roberto. Direito civil brasileiro, volume 4: responsabilidade civil – 14. ed. – São Paulo: Saraiva
Educação, 2019, p. 618).
Desse modo, mesmo João agindo em estado de necessidade, ele deverá indenizar o dono do
imóvel pelo arrombamento da porta, já que não se tem notícia de quem foi o responsável pelo
incêndio.
73
LEGISLAÇÃO COMPILADA
RESPONSABILIDADE CIVIL
Súmula 37 - STJ
São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
Súmula 43 - STJ
Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.
Súmula 54 - STJ
A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorrido em seu
estacionamento.
A ausência de registro da transferência não implica a responsabilidade do antigo proprietário por dano resultante
de acidente que envolva o veículo alienado.
No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos
causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.
São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor
do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.
74
Súmula 246 - STJ
A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.
Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando
preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais.
As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e
delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.
No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e
exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.
O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a
responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco
legitimidade passiva para as ações de reparação de danos fundadas na ausência de prévia comunicação.
75
As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela
realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e
adequada informação.
A embriaguez do segurado não exime a seguradora do pagamento da indenização prevista em contrato de seguro
de vida.
É possível cumular a indenização do dano moral com a reparação econômica da Lei n. 10.559/2002 (Lei da Anistia
Política).
Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com
a de indenizar.
É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de instituição financeira pelos danos decorrentes
de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito de contrato de penhor civil.
Súmula 642-STJ
O direito à indenização por danos morais transmite-se com o falecimento do titular, possuindo os herdeiros da
vítima legitimidade ativa para ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória.
Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil.
Para a ação de indenização, em caso de avaria, é dispensável que a vistoria se faça judicialmente.
É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado.
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A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados a
terceiro, no uso do carro locado.
Na indenização de danos materiais decorrentes de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, para
esse fim, dentre outros critérios, dos índices de correção monetária.
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JURISPRUDÊNCIA
STJ. 3ª Turma. REsp 1911618-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2021 (Info 699).
A lei de regência veda expressamente a cessão de direitos no que tange às despesas de assistência médica e
suplementares, efetuadas pela rede credenciada junto ao Sistema Único de Saúde, quando em caráter privado (art.
3º, § 2º, da Lei nº 6.194/64). A inviabilidade da cessão na espécie não se dá propriamente com base na restrição
feita pelo art. 3º, § 2º, da Lei 6.194/64. Isto é, não é a ausência da vinculação da clínica fisioterápica ao SUS a base
da conclusão adotada, mas sim o fato de que não houve diminuição patrimonial dos segurados. Em não havendo
o dispêndio de valores por parte das vítimas, não há que se falar em reembolso pela seguradora e, via de
consequência, inviável mostra-se qualquer cessão de tais direitos.
Existe um prazo para pagamento? SIM. A Lei prevê que a indenização deve ser paga, em cheque
nominal aos beneficiários, no prazo de 30 dias da entrega dos documentos que comprovem o
acidente, o óbito, a invalidez etc. (art. 5º, § 1º).
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EXTREMAMENTE ÁCIDOS E IRÔNICOS, NÃO DESBORDARAM OS
LIMITES DO EXERCÍCIO REGULAR DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
STJ. 4ª Turma. REsp 1729550-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/05/2021 (Info 696).
Não caracteriza hipótese de responsabilidade civil a publicação de matéria jornalística que narre fatos verídicos ou
verossímeis, embora eivados de opiniões severas, irônicas ou impiedosas, sobretudo quando se trate de figuras
públicas que exerçam atividades tipicamente estatais, gerindo interesses da coletividade, e a notícia e crítica
referirem-se a fatos de interesse geral relacionados à atividade pública desenvolvida pela pessoa noticiada. Pessoas
públicas estão submetidas à exposição de sua vida e de sua personalidade e, por conseguinte, são obrigadas a
tolerar críticas que, para o cidadão comum, poderiam significar uma séria lesão à honra. Assim, a crítica a pessoas
públicas somente pode gerar responsabilidade civil em situações nas quais é imputada, injustamente e sem a
necessária diligência, a prática de atos concretos que resvalem na criminalidade.
STJ. 4ª Turma. REsp 1414803-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 04/05/2021 (Info 695).
Caso adaptado: estava sendo realizado um evento em comemoração aos 55 anos do aeródromo. Como parte das
comemorações, as pessoas podiam pagar um ingresso para participar de voo panorâmico no local. Larissa e outros
passageiros embarcaram, então, em um avião Cessna 310, pilotado por João. João, o piloto do primeiro avião,
agindo de forma imprudente e imperita, efetuou manobras arriscadas e, ao efetuar um rasante, acabou colidindo
com um segundo avião (Cessna 182), que estava em processo de decolagem. O piloto do segundo avião não teve
79
culpa pelo acidente. Todas as pessoas presentes nas duas aeronaves acabaram falecendo. Vale ressaltar que o
segundo avião (Cessna 182) pertencia à empresa Klabin e foi arrendado para o aeródromo para participar do
evento. Os pais de Larissa ajuizaram ação de indenização por danos morais e materiais contra a Klabin (arrendadora
da segunda aeronave). O STJ entendeu que a empresa arrendadora não tem o dever de indenizar, considerando
que não praticou ato suficiente para provocar o dano sofrido pela vítima.
Comentário: Só há falar em responsabilidade civil se houver uma relação de causa e efeito entre
a conduta e o dano, ou seja, se a causa for abstratamente idônea e adequada à produção do
resultado, não bastando ser antecedente.
Ao contrário do que ocorre na teoria da equivalência das condições (teoria da conditio sine qua
non), em que toda e qualquer circunstância que haja concorrido para produzir o dano pode ser
considerada capaz de gerar o dano, na causalidade adequada a ideia fundamental é a que só
há uma relação de causalidade entre fato e dano quando o ato praticado pelo agente seja de
molde a provocar o dano sofrido pela vítima, segundo o curso normal das coisas e a experiência
comum da vida.
Na aferição do nexo de causalidade, a doutrina majoritária de Direito Civil adota a teoria da
causalidade adequada ou do dano direto e imediato, de maneira que somente se considera
existente o nexo causal quando o dano é efeito necessário e adequado de uma causa (ação ou
omissão). Essa teoria foi acolhida pelo Código Civil de 1916 (art. 1.060) e pelo Código Civil de
2002 (art. 403).
STJ. 4ª Turma. REsp 1512001-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 27/04/2021 (Info 694).
A omissão de socorro à vítima de acidente de trânsito, por si, não configura hipótese de dano moral in reipsa. A
evasão do réu do local do acidente pode, a depender do caso concreto, causar ofensa à integridade física e
psicológica da vítima, no entanto, para isso, deverão ser analisadas as particularidades envolvidas. Haverá
80
circunstâncias em que a fuga do réu, sem previamente verificar se há necessidade de auxílio aos demais envolvidos
no acidente, superará os limites do mero aborrecimento e, por consequência, importará na devida compensação
pecuniária do sofrimento gerado. Por outro lado, é possível conceber situação hipotética em que a evasão do réu
do local do sinistro não causará transtorno emocional ou psicológico à vítima. Logo, o simples fato de ter havido
omissão de socorro não significa, por si só, que houve dano moral. Não se trata de hipótese de dano moral
presumido.
Comentário: A caracterização do dano moral in re ipsa não pode ser elastecida a ponto de
afastar a necessidade de sua efetiva demonstração em qualquer situação. Isso porque ao
proceder assim, se estaria a percorrer o caminho diametralmente oposto ao sentido da
despatrimonialização do direito civil, transformando em caráter meramente patrimonial os danos
extrapatrimoniais e fomentando a já bastante conhecida “indústria do dano moral”. Além disso,
no dano moral in re ipsa ocorre uma presunção judicial que dificulta a defesa do réu. Diante
disso, essas situações devem ficar restritas a casos muito específicos de ofensa a direitos da
personalidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1622450/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/03/2021 (Info
689).
Exemplo hipotético: João contratou Marcelo para ajuizar uma ação ordinária contra o plano de saúde. Foi ajuizada
a ação, mas o juiz negou o pedido de tutela provisória de urgência. Marcelo, sem uma razão justificável, deixou de
interpor agravo de instrumento. Em 06/06/2016, transcorreu in albis o prazo recursal. O processo continuou
tramitando, no entanto, Marcelo sempre se mostrava negligente e sem compromisso para com seu cliente. Assim,
em 07/07/2017, João revogou os poderes conferidos a Marcelo e contratou outro advogado para acompanhar o
processo. O termo inicial do prazo prescricional para a ação de indenização pela perda de uma chance é 07/07/2017.
No caso, não é razoável considerar como marco inicial da prescrição a data limite para a interposição do agravo
de instrumento, haja vista inexistirem elementos nos autos - ou a comprovação por parte do causídico - de que o
81
cliente tenha sido cientificado da perda de prazo para apresentar o recurso cabível. Portanto, o prazo prescricional
não pode ter início no momento da lesão ao direito da parte (dia em que o advogado perdeu o prazo), mas sim
na data do conhecimento do dano, aplicando-se excepcionalmente a actio nata em sua vertente subjetiva.
Comentário: O que é a teoria da perda de uma chance? Trata-se de teoria inspirada na doutrina
francesa (perte d’une chance). Na Inglaterra é chamada de loss-of-a-chance. Segundo esta teoria,
se alguém, praticando um ato ilícito, faz com que outra pessoa perca uma oportunidade de
obter uma vantagem ou de evitar um prejuízo, esta conduta enseja indenização pelos danos
causados. Em outras palavras, o autor do ato ilícito, com a sua conduta, faz com que a vítima
perca a oportunidade de obter uma situação futura melhor. Com base nesta teoria, indeniza-se
não o dano causado, mas sim a chance perdida.
A teoria da perda de uma chance é adotada no Brasil? SIM, esta teoria é aplicada pelo STJ, que
exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e CERTO, dentro de um juízo de probabilidade,
e não mera possibilidade, porquanto o dano potencial ou incerto, no espectro da
responsabilidade civil, em regra não é indenizável (REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda,
julgado em 9/6/2009). Em outros julgados, fala-se que a chance perdida deve ser REAL e SÉRIA,
que proporcione ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação futura esperada
(AgRg no REsp 1220911/RS, Segunda Turma, julgado em 17/03/2011).
STJ. 4ª Turma. REsp 1859665/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 09/03/2021 (Info 688).
É vedado ao provedor de aplicações de internet fornecer dados de forma indiscriminada dos usuários que tenham
compartilhado determinada postagem, em pedido genérico e coletivo, sem a especificação mínima de uma conduta
ilícita realizada.
82
RESPONSABILIDADE CIVIL POR MORTE CAUSADA EM VIRTUDE DE
ACIDENTE COM CERCA DE ARAME FARPADO SEM SINALIZAÇÃO
STJ. 3ª Turma. REsp 1860324/GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/02/2021.
Caso concreto: o proprietário de imóvel rural colocou cerca de arames em uma estrada de barro, considerando
que, a partir daquele local começava a sua propriedade. Ocorre que não foi inserida nenhuma sinalização
informando que havia a cerca. Uma pessoa vinha com sua moto nesta estrada de terra e, como estava de noite,
não viu a cerca, que era imperceptível a olho nu, e sem qualquer tipo de sinalização, tendo, então, colidido com o
arame farpado, o que lhe ceifou instantaneamente a vida. Os familiares da vítima possuem direito à indenização a
ser paga pelo proprietário do imóvel, que instalou a cerca. Não se pode afastar a responsabilidade do proprietário,
que não agiu com prudência ao deixar de sinalizar o local, sabendo da possibilidade de ali transitarem terceiros.
Não se pode admitir que a sua propriedade represente um risco a terceiros que ali trafegam ou possam trafegar,
pois, acaso ocorrido o dano, haverá a obrigação de repará-lo (arts. 186 e 927 do Código Civil).
STJ. 3ª Turma. REsp 1738651-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/08/2020 (Info 678).
Caso concreto: um casal publicou, de livre e espontânea vontade, fotos e vídeos em uma rede social adulta voltada
para swing, chamada “Sexlog”. Esse material foi indevidamente capturado por algum usuário da rede e distribuído
por WhatsApp. O casal ajuizou ação contra a empresa responsável pela rede pedindo para que ela fornecesse os
dados de todos os usuários que acessaram o perfil dos requerentes no período compreendido entre janeiro e abril
de 2017. O pedido do casal pode ser acolhido? A empresa responsável pela rede tem a obrigação de fornecer
esses dados? SIM. O art. 15 da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) prevê: Art. 15. O provedor de aplicações
de internet constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça essa atividade de forma organizada,
profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos registros de acesso a aplicações de internet,
sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento.
Diante da obrigação legal de guarda de registros de acesso a aplicações de internet, não há como afastar a
possibilidade jurídica de obrigar os provedores de aplicação ao fornecimento dessas informações (quais usuários
acessaram um perfil na rede social num período), considerando que se trata de mero desdobramento dessas
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obrigações. Em suma: é juridicamente possível obrigar os provedores de aplicação ao fornecimento de IPs e de
dados cadastrais de usuários que acessaram perfil de rede social em um determinado período de tempo.
STJ. REsp 1829821-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/08/2020 (Info 680).
Exemplo: João foi ofendido por meio de mensagens veiculadas em e-mail. O autor das mensagens utilizava um e-
mail com domínio do Hotmail (que pertence à Microsoft). João ajuizou ação contra a Microsoft pedindo que ela
fosse condenada a fornecer os dados pessoais do titular do e-mail utilizado para as ofensas (nome, RG, CPF e
endereço). O magistrado julgou o pedido procedente, sentença mantida pelo TJ. A empresa recorreu afirmando
que só é obrigada a guardar o IP dos usuários.
O provedor tem o dever de propiciar meios para que se possa identificar cada um dos usuários, coibindo o
anonimato e atribuindo a cada manifestação uma autoria certa e determinada.
Para cumprir essa obrigação, é suficiente que o provedor guarde e forneça o número IP correspondente à
publicação ofensiva indicada pela parte.
Ainda que não exija os dados pessoais dos seus usuários, o provedor de conteúdo, que registra o número de
protocolo na internet (IP) dos computadores utilizados para o cadastramento de cada conta, mantém um meio
razoavelmente eficiente de rastreamento dos seus usuários, medida de segurança que corresponde à diligência
média esperada dessa modalidade de provedor de serviço de internet.
STJ. 4ª Turma. REsp 1374735-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/8/2014 (Info 545).
Comentário: De acordo com esse julgado, caso o magistrado não definir, na fase de
conhecimento, o termo inicial para a contabilização dos juros moratórios, deve-se considerar,
como termo inicial, a data da citação válida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1513262-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/8/2015 (Info 567).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. MENSALIDADES ESCOLARES. JUROS
MORATÓRIOS. TERMO INICIAL. VENCIMENTO. MORA EX RE. ART. 397 DO CÓDIGO CIVIL. PRECEDENTES.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO EDUCACIONAL. PROCESSUAL CIVIL. 1. A controvérsia diz respeito ao termo inicial dos
85
juros de mora em cobrança de mensalidades escolares: se deve ser a data de vencimento de cada prestação
ou da citação da devedora. 2. Os artigos 219 do CPC e 405 do CC/2002 devem ser interpretados à luz do
ordenamento jurídico, tendo aplicação residual para casos de mora ex persona - evidentemente, se ainda não
houve a prévia constituição em mora por outra forma legalmente admitida. 3. A mora ex re independe de qualquer
ato do credor, como interpelação ou citação, porquanto decorre do próprio inadimplemento de obrigação positiva,
líquida e com termo implementado. Precedentes. 4. Se o contrato de prestação de serviço educacional especifica
o valor da mensalidade e a data de pagamento, os juros de mora fluem a partir do vencimento das prestações,
a teor do artigo 397 do Código Civil. 5. Recurso especial provido.” (negritamos)
Comentário:
Lembre-se do que determina o caput do art. 397, CC:
Art. 397. “O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de
STJ. 4ª Turma. REsp 1270983-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/3/2016 (Info 580).
86
pecuniária. 5. No tocante ao pensionamento fixado pelo Tribunal de origem, por ser uma prestação de trato
sucessivo, os juros moratórios não devem iniciar a partir do ato ilícito - por não ser uma quantia singular -,
tampouco da citação - por não ser ilíquida -, mas devem ser contabilizados a partir do vencimento de cada
prestação, que ocorre mensalmente. 6. Quanto às parcelas vincendas, não há razões para mantê-las na relação
estabelecida com os juros de mora. Sem o perfazimento da dívida, não há como imputar ao devedor o estigma
de inadimplente, tampouco o indébito da mora, notadamente se este for pontual no seu pagamento. 7. Recurso
especial parcialmente provido para determinar o vencimento mensal da pensão como termo inicial dos juros
de mora, excluindo, nesse caso, as parcelas vincendas.” (negritamos)
Comentário:
Na responsabilidade civil extracontratual, se houver a fixação de pensionamento mensal,
os juros moratórios deverão ser contabilizados a partir do vencimento de cada prestação, e
não da data do evento danoso ou da citação.
Sobre as parcelas que ainda irão vencer (vincendas), não há a incidência do juros de mora.
Portanto, a súmula 54, STJ aplica-se apenas às condenações por responsabilidade civil
extracontratual em parcela única.
STJ. 3ª Turma. REsp 1291247-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/8/2014 (Info
549).
87
fazer uso em tratamento de saúde. 6. Arbitramento de indenização pelo dano extrapatrimonial sofrido pela criança
prejudicda. 7. Doutrina e jurisprudência acerca do tema. 8. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.” (negritamos)
Comentário:
De acordo com este julgado, a criança tem direito a indenização com base na teoria da
perda de uma chance se não tiver recolhidas suas células-tronco embrionárias no momento
de seu parto.
No caso, os pais da criança, antes de seu nascimento, contrataram os serviços de uma
empresa de coleta e armazenamento de células-tronco do cordão umbilical. No entanto, no dia
do parto, nenhum representante da empresa conpareceu e a coleta do cordão umbilical não foi
mais possível.
Diante disso, o recém-nascido do casal, representado por seus pais, ajuizou ação de
indenização por danos morais contra a empresa.
O caso chegou ao STJ, que sedimentou ser cabível a indenização pelo fato de a criança
ter frustrada a chance de, no futuro, usar suas células embrionárias em algum tratamento
de saúde.
A chance perdida foi indenizada em R$60.000,00 (sessenta mil reais).
Sempre se lembre que, no caso do uso da teoria da perda de uma chance, a indenização
se dá pela chance perdida e não pelo dano causado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1254141-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012 (Info 513).
EMENTA: “DIREITO CIVIL. CÂNCER. TRATAMENTO INADEQUADO. REDUÇÃO DAS POSSIBILIDADES DE CURA.
ÓBITO. IMPUTAÇÃO DE CULPA AO MÉDICO. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA TEORIA DA RESPONSABILIDADE
CIVIL PELA PERDA DE UMA CHANCE. REDUÇÃO PROPORCIONAL DA INDENIZAÇÃO. RECURSO ESPECIAL
PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O STJ vem enfrentando diversas hipóteses de responsabilidade civil pela perda de
uma chance em sua versão tradicional, na qual o agente frustra à vítima uma oportunidade de ganho. Nessas
situações, há certeza quanto ao causador do dano e incerteza quanto à respectiva extensão, o que torna
aplicável o critério de ponderação característico da referida teoria para a fixação do montante da indenização
a ser fixada. Precedentes. 2. Nas hipóteses em que se discute erro médico, a incerteza não está no dano
experimentado, notadamente nas situações em que a vítima vem a óbito. A incerteza está na participação do
médico nesse resultado, à medida que, em princípio, o dano é causado por força da doença, e não pela falha de
tratamento. 3. Conquanto seja viva a controvérsia, sobretudo no direito francês, acerca da aplicabilidade da teoria
da responsabilidade civil pela perda de uma chance nas situações de erro médico, é forçoso reconhecer sua
aplicabilidade. Basta, nesse sentido, notar que a chance, em si, pode ser considerado um bem autônomo, cuja
88
violação pode dar lugar à indenização de seu equivalente econômico, a exemplo do que se defende no direito
americano. Prescinde-se, assim, da difícil sustentação da teoria da causalidade proporcional. 4. Admitida a
indenização pela chance perdida, o valor do bem deve ser calculado em uma proporção sobre o prejuízo final
experimentado pela vítima. A chance, contudo, jamais pode alcançar o valor do bem perdido. É necessária uma
redução proporcional. 5. Recurso especial conhecido e provido em parte, para o fim de reduzir a indenização
fixada.” (negritamos)
Comentário:
De acordo com o STJ, pode a teoria da perda de uma chance ser aplicada em casos de
erro médico.
Deve o magistrado analisar o caso concreto e aplicar tal teoria caso restar provado que
STJ. 4ª Turma. EDcl no AgRg no Ag 1196957/DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/04/2012
(Info 495).
89
autos consequências extrapatrimoniais passíveis de indenização em decorrência do aborrecimento de se ver a
autora privada de participar do segundo sorteio. 6. Embargos de declaração acolhidos com efeitos modificativos .”
(negritamos)
Comentário:
Aluno, leia os trechos da ementa por nós grifados para entender o caso concreto.
Foi discutido como deve ser calculado o quantum da indenização quando for baseado
na teoria da perda de uma chance.
O STJ entende que a quantia a ser dimensionada pelo juiz não deve se basear no valor
do resultado final que deixou de ser obtido devido a perda da oportunidade. Assim, no caso,
a consumidora não merece o valor de uma casa sorteada (pois não foi a casa que ela perdeu),
mas sim uma indenização pela chance séria e real de ganhar a casa.
Como a consumidora foi informada que seriam 900 pessoas concorrendo a 30 casas, a
probabilidade de que ela ganhasse seria de 1/30. Logo a indenização a ser paga pelo
STJ. 3ª Turma. REsp 1637375-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 17/11/2020 (Info
683)
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MATERIAIS. PERDA DE PRAZO. EMBARGOS
MONITÓRIOS. DESÍDIA DO ADVOGADO. ART. 535 DO CPC/1973. VIOLAÇÃO. INEXISTÊNCIA. REPARAÇÃO CIVIL.
SÚMULAS NºS 283 E 284/STF. REVELIA. INDENIZAÇÃO. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Recurso especial interposto contra
acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. Cinge-se a controvérsia dos autos (i) a definir se houve julgamento extra petita decorrente da condenação
pela perda de uma chance e (iii) a verificar a existência de dano decorrente da perda de prazo para oposição
de defesa em ação monitória. 3. O princípio da congruência ou da adstrição determina que o magistrado deve
decidir a lide dentro dos limites fixados pelas partes (arts. 128 e 460 do CPC/1973). 4. Os pedidos formulados
devem ser examinados a partir de uma interpretação lógico-sistemática, não podendo o magistrado se
esquivar da análise ampla e detida da relação jurídica posta, mesmo porque a obrigatória adstrição do
julgador ao pedido expressamente formulado pelo autor pode ser mitigada em observância aos brocardos da
mihi factum dabo tibi ius (dá-me os fatos que te darei o direito) e iura novit curia (o juiz é quem conhece o
90
direito). 5. Na hipótese, a causa de pedir está fundada na oposição intempestiva dos embargos monitórios
e na ausência de informações acerca da revelia decretada nos autos, enquanto o pedido é de indenização
por danos materiais. 6. Inexiste o alegado julgamento extra petita, pois o autor postulou indenização por
danos materiais e as instâncias ordinárias condenaram o réu em conformidade com o pedido ao
fundamento da perda de uma chance, apenas concedendo a reparação em menor extensão. 7. O recurso
não ataca os fundamentos do acórdão recorrido, motivo pelo qual incidem, por analogia, as Súmulas nºs 283
e 284/STF. 8. Rever as conclusões da Corte local, inclusive aquelas referentes aos efeitos da revelia na ação
monitória, demandaria o revolvimento do conjunto fático-probatório carreado aos autos, procedimento que
atrai o óbice da Súmula nº 7/STJ. 9. Recurso especial não provido .” (negritamos)
Comentário:
No caso, o autor fez o pedido de indenização por danos materiais devido ao fato de seu
advogado ter perdido o prazo para apresentar embargos monitórios. O juiz condenou o
advogado por indenização baseada na teoria da perda de uma chance. O juiz agiu corretamente
ou seu julgamento foi extra petita? Conforme o STJ, o juiz agiu de maneira correta, não ferindo
o princípio da congruência.
Conforme lemos na ementa acima, o juiz decidiu a lide dentro dos limites fixados
pelo autor, apenas modificou o fundamento jurídico. Aplica-se ao caso os brocardos da mihi
factum dabo tibi ius (dá-me os fatos que te darei o direito) e iura novit curia (o juiz é quem
conhece o direito).
STJ. 4ª Turma, REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/11/2010
EMENTA: “RESPONSABILIDADE CIVIL. ADVOCACIA. PERDA DO PRAZO PARA CONTESTAR. INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS FORMULADA PELO CLIENTE EM FACE DO PATRONO. PREJUÍZO MATERIAL PLENAMENTE
INDIVIDUALIZADO NA INICIAL. APLICAÇÃO DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE. CONDENAÇÃO EM DANOS
MORAIS. JULGAMENTO EXTRA PETITA RECONHECIDO. 1. A teoria da perda de uma chance (perte d'une chance)
visa à responsabilização do agente causador não de um dano emergente, tampouco de lucros cessantes, mas
de algo intermediário entre um e outro, precisamente a perda da possibilidade de se buscar posição mais
vantajosa que muito provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado. Nesse passo, a perda de
uma chance - desde que essa seja razoável, séria e real, e não somente fluida ou hipotética - é considerada uma
lesão às justas expectativas frustradas do indivíduo, que, ao perseguir uma posição jurídica mais vantajosa,
teve o curso normal dos acontecimentos interrompido por ato ilícito de terceiro. 2. Em caso de responsabilidade
de profissionais da advocacia por condutas apontadas como ‘, e diante do aspecto relativo à incerteza da vantagem
91
não experimentada, as demandas que invocam a teoria da "perda de uma chance" devem ser solucionadas a partir
de uma detida análise acerca das reais possibilidades de êxito do processo, eventualmente perdidas em razão da
desídia do causídico. Vale dizer, não é o só fato de o advogado ter perdido o prazo para a contestação, como
no caso em apreço, ou para a interposição de recursos, que enseja sua automática responsabilização civil com
base na teoria da perda de uma chance. É absolutamente necessária a ponderação acerca da probabilidade -
que se supõe real - que a parte teria de se sagrar vitoriosa. 3. Assim, a pretensão à indenização por danos
materiais individualizados e bem definidos na inicial, possui causa de pedir totalmente diversa daquela admitida
no acórdão recorrido, de modo que há julgamento extra petita se o autor deduz pedido certo de indenização por
danos materiais absolutamente identificados na inicial e o acórdão, com base na teoria da "perda de uma chance",
condena o réu ao pagamento de indenização por danos morais. 4. Recurso especial conhecido em parte e provido.”
(negritamos)
Comentário:
Em caso de responsabilidade de profissionais da advocacia por condutas apontadas como
uma detida análise acerca das reais possibilidades de êxito do processo, eventualmente
perdidas em razão da desídia do causídico.
Vale dizer, não é o só fato de o advogado ter perdido o prazo para a contestação, como
no caso em apreço, ou para a interposição de recursos, que enseja sua automática
responsabilização civil com base na teoria da perda de uma chance. É absolutamente necessária
a ponderação acerca da probabilidade — que se supõe real — que a parte teria de se sagrar
vitoriosa. Portanto, em casos similares, deve haver a análise de cada caso concreto.
De acordo com o STJ, a teoria da perda de uma chance insere-se em uma terceira
categoria, visando à responsabilização do agente causador não por dano emergente e nem por
lucros cessantes, mas sim por algo intermediário entre eles. Analisa-se a perda de uma posição
mais vantajosa que, provavelmente, o lesado alcançaria no caso de não ser sido cometido
o ato ilícito.
ABUSO DE DIREITO
STJ. 3ª Turma. REsp 1467888-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/10/2016 (Info 592).
92
EMENTA: “Controvérsia: dizer se o manejo de habeas corpus, pelo recorrido, com o fito de impedir a
interrupção da gestação da primeira recorrente, que tinha sido judicialmente deferida, caracteriza-se como
abuso do direito de ação e/ou ação passível de gerar responsabilidade civil de sua parte, pelo manejo indevido
de tutela de urgência. Diploma legal aplicável à espécie: Código Civil - arts. 186, 187, 188 e 927. Inconteste a
existência de dano aos recorrentes, na espécie, porquanto a interrupção da gestação do feto com síndrome de
Body Stalk, que era uma decisão pensada e avalizada por médicos e pelo Poder Judiciário, e ainda assim, de
impactos emocionais incalculáveis, foi sustada pela atuação do recorrido. Necessidade de perquirir sobre a
ilicitude do ato praticado pelo recorrido, buscando, na existência ou não - de amparo legal ao procedimento de
interrupção de gestação, na hipótese de ocorrência da síndrome de body stalk e na possibilidade de
responsabilização, do recorrido, pelo exercício do direito de ação - dizer da existência do ilícito compensável;
Reproduzidas, salvo pela patologia em si, todos efeitos deletérios da anencefalia, hipótese para qual o STF,
no julgamento da ADPF 54, afastou a possibilidade de criminalização da interrupção da gestação, também na
síndrome de body-stalk, impõe-se dizer que a interrupção da gravidez, nas circunstâncias que experimentou
a recorrente, era direito próprio, do qual poderia fazer uso, sem risco de persecução penal posterior e,
principalmente, sem possibilidade de interferências de terceiros, porquanto, ubi eadem ratio, ibi eadem legis
dispositio. (Onde existe a mesma razão, deve haver a mesma regra de Direito) Nessa linha, e sob a égide da
laicidade do Estado, aquele que se arrosta contra o direito à liberdade, à intimidade e a disposição do próprio
corpo por parte de gestante, que busca a interrupção da gravidez de feto sem viabilidade de vida extrauterina,
brandindo a garantia constitucional ao próprio direito de ação e à defesa da vida humana, mesmo que ainda
em estágio fetal e mesmo com um diagnóstico de síndrome incompatível com a vida extrauterina, exercita,
abusivamente, seu direito de ação. A sôfrega e imprudente busca por um direito, em tese, legítimo, que, no
entanto, faz perecer no caminho, direito de outrem, ou mesmo uma toldada percepção do próprio direito,
que impele alguém a avançar sobre direito alheio, são considerados abuso de direito, porque o exercício
regular do direito, não pode se subverter, ele mesmo, em uma transgressão à lei, na modalidade abuso do
direito, desvirtuando um interesse aparentemente legítimo, pelo excesso. A base axiológica de quem defende
uma tese comportamental qualquer, só tem terreno fértil, dentro de um Estado de Direito laico, no campo das
próprias ideias ou nos Órgãos legislativos competentes, podendo neles defender todo e qualquer conceito que
reproduza seus postulados de fé, ou do seu imo, havendo aí, não apenas liberdade, mas garantia estatal de que
poderá propagar o que entende por correto, não possibilitando contudo, essa faculdade, o ingresso no círculo
íntimo de terceiro para lhe ditar, ou tentar ditar, seus conceitos ou preconceitos. Esse tipo de ação faz medrar, em
seara imprópria, o corpo de valores que defende - e isso caracteriza o abuso de direito - pois a busca, mesmo que
por via estatal, da imposição de particulares conceitos a terceiros, tem por escopo retirar de outrem, a mesma
liberdade de ação que vigorosamente defende para si. Dessa forma, assentado que foi, anteriormente, que a
interrupção da gestação da recorrente, no cenário apresentado, era lídimo, sendo opção do casal - notadamente
da gestante - assumir ou descontinuar a gestação de feto sem viabilidade de vida extrauterina, há uma
vinculada remissão à proteção constitucional aos valores da intimidade, da vida privada, da honra e da própria
93
imagem dos recorrentes (art. 5º, X, da CF), fato que impõe, para aquele que invade esse círculo íntimo e
inviolável, responsabilidade pelos danos daí decorrentes. Recurso especial conhecido e provido.” (negritamos)
Comentário:
Aluno, leia pelo menos os trechos por nós negritados na ementa acima, pois ela está
muito didática.
Em suma, de acordo com o STJ, mostra-se caracterizado o abuso de direito, daquele que
impetra habeas corpus contra decisão judicial que autorizou a interrupção de gravidez em
que o feto tem síndrome irreversível, incompatível com a vida extrauterina.
ajuizaram ação de indenização por danos morais contra o padre, alegando que a sua conduta
foi abusiva, que resultou em sofrimento e angústia para o casal, já que tiveram que prosseguir
com a gravidez, sendo que houve o nascimento da criança, que faleceu poucos minutos depois.
O caso chegou ao STJ, que definiu estar caracterizado o abuso de direito, fixando
consequente indenização por danos morais. Houve clara violação ao direito de intimidade,
vida privada, honra e imagem do casal e principalmente da mãe (art. 5º, X, da CF/88).
STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/3/2020 (repercussão geral
– Tema 932) (Info 969).
21
Vide questão 2 do material
94
constitucional, que não impede sua ampliação razoável por meio de legislação ordinária . Rol exemplificativo
de direitos sociais nos artigos 6º e 7º da Constituição Federal. 3. Plena compatibilidade do art. 927, parágrafo único,
do Código Civil com o art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal, ao permitir hipótese excepcional de responsabilização
objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho, nos casos especificados em lei ou quando
a atividade normalmente desenvolvida pelo autor implicar, por sua natureza, outros riscos, extraordinários e
especiais. Possibilidade de aplicação pela Justiça do Trabalho. 4. Recurso Extraordinário desprovido. TEMA 932. Tese
de repercussão geral: "O artigo 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o artigo 7º, XXVIII, da
Constituição Federal, sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes
de acidentes de trabalho, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida,
por sua natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva e implicar ao
trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade". (negritamos)
Comentário:
O STF decidiu, em sede de repercussão geral, que o art. 927, § único, do CC é compatível
com o art. 7º, XXVIII da CF. Julgou, portanto, constitucional a responsabilização objetiva do
empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho nos casos especificados em
STJ. 4ª Turma. REsp 1436401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599).
EMENTA: “DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE OUTREM - PAIS PELOS ATOS PRATICADOS
PELOS FILHOS MENORES. ATO ILÍCITO COMETIDO POR MENOR. RESPONSABILIDADE CIVIL MITIGADA E
SUBSIDIÁRIA DO INCAPAZ PELOS SEUS ATOS (CC, ART. 928). LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INOCORRÊNCIA. 1. A
responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária e mitigada (CC, art. 928). 2. É subsidiária
porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima; é condicional e
mitigada porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio mínimo do infante (CC, art. 928,
par. único e En. 39/CJF); e deve ser equitativa, tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a
privação do mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz (CC, art. 928, par. único e En. 449/CJF).
3. Não há litisconsórcio passivo necessário, pois não há obrigação - nem legal, nem por força da relação jurídica
(unitária) - da vítima lesada em litigar contra o responsável e o incapaz. É possível, no entanto, que o autor, por
sua opção e liberalidade, tendo em conta que os direitos ou obrigações derivem do mesmo fundamento de fato
ou de direito (CPC,73, art. 46, II) intente ação contra ambos - pai e filho -, formando-se um litisconsórcio facultativo
e simples. 4. O art. 932, I do CC ao se referir a autoridade e companhia dos pais em relação aos filhos, quis explicitar
95
o poder familiar (a autoridade parental não se esgota na guarda), compreendendo um plexo de deveres como,
proteção, cuidado, educação, informação, afeto, dentre outros, independentemente da vigilância investigativa e
diária, sendo irrelevante a proximidade física no momento em que os menores venham a causar danos. 5.
Recurso especial não provido”. (negritamos)
Comentário:
A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária, condicional,
mitigada e equitativa. Os incapazes (ex: filhos menores), quando praticarem atos que causem
prejuízos, terão responsabilidade subsidiária, condicional, mitigada e equitativa, nos termos do
art. 928 do CC.
Subsidiária: porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para
ressarcir a vítima.
Condicional e mitigada: porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do
patrimônio mínimo do infante.
Equitativa: tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação do
mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz.
A responsabilidade dos pais dos filhos menores será substitutiva, exclusiva e não
solidária.
Ressalta-se que o litisconsórcio entre o pai (ou mãe) e filho não é necessário (art. 932, I,
CC). O autor da ação (vítima do dano), se quiser, pode intentá-la contra ambos. E, caso o fizer,
evidencia-se um litisconsórcio passivo facultativo e simples.
Por último, o STJ também destacou que o responsável pelo filho não se isentará das
obrigações derivadas do poder familiar, apenas pelo fato de não viver companhia do menor. É,
portanto, irrelevante a proximidade física no momento em que o menor venha a causar danos.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1414776-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/02/2020 (Info 666)
EMENTA: “AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS.
FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS HOSPITALARES. DEMORA PARA AUTORIZAÇÃO DE CIRURGIA DE URGÊNCIA.
ÓBITO DA PACIENTE. HOSPITAL E PLANO DE SAÚDE PERTENCENTES À MESMA REDE. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA. NEXO CAUSAL ENTRE CONDUTA E RESULTADO. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. Se o contrato
é fundado na prestação de serviços médicos e hospitalares próprios e/ou credenciados, no qual a operadora
96
de plano de saúde mantém hospitais e emprega médicos ou indica um rol de conveniados, não há como
afastar sua responsabilidade solidária pela má prestação do serviço. 2. A operadora do plano de saúde, na
condição de fornecedora de serviço, responde perante o consumidor pelos defeitos em sua prestação, seja
quando os fornece por meio de hospital próprio e médicos contratados ou por meio de médicos e hospitais
credenciados, nos termos dos arts. 2º, 3º, 14 e 34 do Código de Defesa do Consumidor, art. 1.521, III, do Código
Civil de 1916 e art. 932, III, do Código Civil de 2002. Essa responsabilidade é objetiva e solidária em relação ao
consumidor, mas, na relação interna, respondem o hospital, o médico e a operadora do plano de saúde nos
limites da sua culpa. (REsp 866.371/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe
de 20/08/2012). 3. Hipótese em que a paciente, tendo sofrido uma queda em 20/05/2013, foi diagnosticada com
trauma grave na coluna cervical, com indicação de cirurgia de urgência, e somente foi operada em 12/06/2013,
vindo a óbito no dia seguinte, em virtude de tromboembolia pulmonar. Nos termos do consignado pelas instâncias
ordinárias, o estado de saúde da paciente, idosa e portadora de patologias de alto risco, agravou-se em decorrência
da demora injustificada - 22 (vinte e dois) dias - para a autorização da cirurgia, resultando na evolução para o
quadro de choque fatal. 4. A demora para a autorização da cirurgia indicada como urgente pela equipe médica do
hospital, sem justificativa plausível, caracteriza defeito na prestação do serviço da operadora do plano de saúde,
resultando na sua responsabilização. 5. Agravo interno a que se nega provimento .” (negritamos)
Comentário:
A operadora de plano de saúde tem responsabilidade solidária por defeito na
prestação de serviço médico, quando o presta por meio de hospital próprio e médicos
contratados, ou por meio de médicos e hospitais credenciados.
No caso, houve uma grande demora (22 dias) para a autorização de uma cirurgia
considerada urgente pela equipe médica do hospital credenciado ao plano, resultando no óbito
da paciente. Isso caracterizou defeito na prestação do serviço, devendo o plano ser
responsabilizado solidariamente com o hospital e os médicos em relação ao consumidor.
No entanto, preste atenção no seguinte detalhe: se o plano de saúde houver pago ao
consumidor ou aos seus herdeiro a dívida toda, pode, em ação regressiva, averiguar a culpa
do médico ou do hospital, que responderão pelos danos no limite de suas culpas. Assim
entendeu o STJ também no seguinte julgado: STJ. 4ª Turma. REsp 866371-RS, Rel. Min. Raul
Araújo, julgado em 27/3/2012 (Info 494).
Danos morais
STJ. 4ª Turma. REsp 1.760.943-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/03/2019 (Info 647).
97
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AIDS. RELAÇÃO DE FAMÍLIA. TRANSMISSÃO DO VÍRUS
HIV. COMPANHEIRO QUE INFECTOU A PARCEIRA NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL. CARACTERIZAÇÃO
DA CULPA. OCORRÊNCIA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E DANOS MORAIS. CABIMENTO. 1. A família
deve cumprir papel funcionalizado, servindo como ambiente propício para a promoção da dignidade e a realização
da personalidade de seus membros, integrando sentimentos, esperanças e valores, servindo como alicerce
fundamental para o alcance da felicidade. No entanto, muitas vezes este mesmo núcleo vem sendo justamente
o espaço para surgimento de intensas angústias e tristezas dos entes que o compõem, cabendo ao aplicador do
direito a tarefa de reconhecer a ocorrência de eventual ilícito e o correspondente dever de indenizar. 2. O parceiro
que suspeita de sua condição soropositiva, por ter adotado comportamento sabidamente temerário (vida
promíscua, utilização de drogas injetáveis, entre outros), deve assumir os riscos de sua conduta, respondendo
civilmente pelos danos causados. 3. A negligência, incúria e imprudência ressoam evidentes quando o
cônjuge/companheiro, ciente de sua possível contaminação, não realiza o exame de HIV (o Sistema Único de
Saúde - SUS disponibiliza testes rápidos para a detecção do vírus nas unidades de saúde do país), não informa
o parceiro sobre a probabilidade de estar infectado nem utiliza métodos de prevenção, notadamente numa
relação conjugal, em que se espera das pessoas, intimamente ligadas por laços de afeto, um forte vínculo de
confiança de uma com a outra. 4. Assim, considera-se comportamento de risco a pluralidade de parceiros sexuais
e a utilização, em grupo, de drogas psicotrópicas injetáveis, e encontram-se em situação de risco as pessoas que
receberam transfusão de sangue ou doações de leite, órgãos e tecidos humanos. Essas pessoas integram os
denominados "grupos de risco" em razão de seu comportamento facilitar a sua contaminação. 5. Na hipótese dos
autos, há responsabilidade civil do requerido, seja por ter ele confirmado ser o transmissor (já tinha ciência
de sua condição), seja por ter assumido o risco com o seu comportamento , estando patente a violação a
direito da personalidade da autora (lesão de sua honra, de sua intimidade e, sobretudo, de sua integridade moral
e física), a ensejar reparação pelos danos morais sofridos. 6. Na espécie, ficou constatado o liame causal entre a
conduta do réu e o contágio da autora, diante da vida pregressa do causador do dano, que, numa cadeia
epidêmica, acarretou a transmissão do vírus HIV. Não se verificou, por outro lado, culpa exclusiva ou, ao menos,
concorrente da vítima, não tendo sido demonstrado que ela tivesse conhecimento da moléstia e ainda assim
mantivesse relações sexuais, nem que ela houvesse utilizado mal ou erroneamente o preservativo. Logo, não se
apreciou a questão à luz da participação da vítima para o resultado no sentido de considerar eventual exclusão do
nexo causal ou redução da indenização. Concluir de forma diversa do acórdão recorrido ensejaria o revolvimento
fático-probatório dos autos, o que encontra óbice na Súmula n. 7 do STJ. 7. No que toca aos danos materiais, a
indenização, em regra, deverá ter em vista os custos para manter certas resistências contra a propensão de
infecções, o que se consegue por meio de coquetéis de medicamentos (ou drogas poderosas), em combinação
com medicações antivirais comuns, mais de finalidade inibidora, a serem ingeridos ciclicamente, mas em constante
repetição. Deverá compreender as despesas médico-hospitalares e as exigidas para a assistência terapêutica e
psicológica, bem como aquilo que a pessoa contaminada deixou de ganhar, se interrompida a atividade que exercia.
No caso, justamente com base na causa de pedir e do pedido, delimitantes da controvérsia, é que foi indeferido o
98
pleito indenizatório quanto ao dano material, haja vista a ausência de provas de que a vítima estaria incapacitada
para o trabalho. Decidir fora da pretensão autoral ensejaria julgamento extra petita. Por outro lado, chegar a
conclusão diversa do acórdão recorrido em relação à capacidade para o exercício da atividade laboral demandaria
o revolvimento fático-probatório dos autos, o que encontra óbice na súmula 7 do STJ. 8. Em relação aos danos
morais, o acórdão recorrido utilizou o critério bifásico - inclusive se valendo de precedentes do STJ a respaldar o
quantum indenizatório -, além de ter ponderado as peculiaridades do caso com o interesse jurídico lesado. Dessarte,
somente com a demonstração de que a quantia arbitrada se revelou ínfima ou irrisória ante valores comumente
estabelecidos em situações análogas por este STJ é que se poderia ensejar nova análise por esta Corte, o que não
ocorreu na espécie. 9. Recursos especiais não providos.” (negritamos)
Comentário:
Conforme lemos na ementa do presente julgado, o STJ decidiu que o cônjuge deve
indenizar o outro por danos materiais e morais no caso de transmissão de HIV sem ter lhe
avisado da possibilidade de estar infectado.
No caso concreto, o transmissor de HIV não sabia que era soropositivo, no entanto, tinha
um comportamento sabidamente temerário (vida promíscua, utilização de drogas injetáveis,
entre outros). Não se verificou, por outro lado, culpa exclusiva ou, ao menos, concorrente da
vítima, não tendo sido demonstrado que ela tivesse conhecimento da moléstia e ainda assim
mantivesse relações sexuais, nem que ela houvesse utilizado mal ou erroneamente o
preservativo.
Se existentes, os danos materiais podem abarcar despesas médico-hospitalares, as
exigidas para a assistência terapêutica e psicológica e também o que a pessoa infectada deixou
de ganhar caso tenha interrompido a atividade que exercia.
O mais importante é lembrar o seguinte: deve haver a responsabilidade civil do cônjuge
(ou companheiro), seja por ter ele confirmado ser o transmissor de HIV (já tinha ciência de sua
condição), seja por ter assumido o risco com o seu comportamento, estando patente a
violação a direito da personalidade de seu cônjuge (lesão de sua honra, de sua intimidade e,
sobretudo, de sua integridade moral e física), a ensejar reparação pelos danos morais sofridos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.786-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/10/2018 (Info
637)
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AGRESSÕES. FÍSICAS E VERBAL.
MORAL. ÁRBITRO. PARTIDA DE FUTEBOL. RESPONSABILIDADE CIVIL. JOGADOR. ATO ILÍCITO. CONFIGURAÇÃO.
CONDUTA. DESPROPORCIONALIDADE. DANO À HONRA E IMAGEM. CONFIGURAÇÃO. REPARAÇÃO DEVIDA.
JUSTIÇA COMUM. CONDENAÇÃO. JUSTIÇA DESPORTIVA. IRRELEVÂNCIA. 1. Recurso especial interposto contra
99
acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2.
A controvérsia a ser dirimida no recurso especial reside em verificar se as agressões físicas e verbais
perpetradas por jogador profissional contra árbitro de futebol, na ocasião de disputa da partida final de
importante campeonato estadual de futebol, constituem ato ilícito indenizável na Justiça Comum,
independentemente de eventual punição aplicada na esfera da Justiça Desportiva. 3. Nos termos da Constituição
Federal e da Lei nº 9.615/1998 (denominada "Lei Pelé"), a competência da Justiça Desportiva limita-se a
transgressões de natureza eminentemente esportivas, relativas à disciplina e às competições desportivas. 4.
O alegado ilícito que o autor da demanda atribui ao réu, por não se fundar em transgressão de cunho estritamente
esportivo, pode ser submetido ao crivo do Poder Judiciário Estatal, para que seja julgado à luz da legislação que
norteia as relações de natureza privada, no caso, o Código Civil. 5. A conduta do jogador, mormente a sorrateira
agressão física pelas costas, revelou-se despropositada e desproporcional, transbordando em muito o mínimo
socialmente aceitável em partidas de futebol, apta a ofender a honra e a imagem do árbitro, que estava
zelando pela correta aplicação das regras esportivas. 6. O evento no qual as agressões foram perpetradas, final do
Campeonato Paulista de Futebol, envolvendo dois dos maiores clubes do Brasil, foi televisionado para todo o país,
o que evidencia sua enorme audiência e, em consequência, o número de pessoas que assistiram o episódio. 7.
Recurso especial conhecido e provido.” (negritamos)
Comentário:
Agressões físicas e verbais perpetradas por jogador profissional contra árbitro de
futebol, na ocasião de disputa de partida de futebol, constituem ato ilícito indenizável na Justiça
Comum, independentemente de eventual punição aplicada na esfera da Justiça Desportiva.
Caso concreto: na final do campeonato paulista de 2015, o jogador do Palmeiras, após
ser expulso, empurrou as costas do árbitro e proferiu xingamentos contra ele. Vale ressaltar que
a conclusão acima exposta não é a regra, ou seja, não é toda agressão em uma partida de
futebol que gerará indenização por danos morais.
O STJ entendeu, na situação concreta, que a conduta do jogador transbordou o
mínimo socialmente aceitável em partidas de futebol. Além disso, o evento no qual as
agressões foram perpetradas, final do Campeonato Paulista de Futebol, envolvendo dois dos
maiores clubes do Brasil, foi televisionado para todo o país, o que evidencia sua enorme
audiência e, em consequência, o número de pessoas que assistiram o episódio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1689074-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 16/10/2018 (Info 636).
EMENTA: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. IRRESIGNAÇÃO SUBMETIDA AO NCPC. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTROS DE INADIMPLENTES. DANO MORAL CONFIGURADO.
MULTA COMINATÓRIA FIXADA EM DEMANDA PRETÉRITA. DESCUMPRIMENTO. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. 1.
100
As disposições do NCPC são aplicáveis ao caso concreto ante os termos do Enunciado n.º 3, aprovado pelo Plenário
do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões
publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do
novo CPC. 2. Cinge-se a controvérsia em definir se é possível prosperar o pedido de indenização por danos
morais em razão de descumprimento de ordem judicial em demanda pretérita, na qual foi fixada multa
cominatória. 3. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que a inscrição indevida em cadastro de
inadimplentes gera dano moral passível de indenização, salvo constatada a existência de outras anotações
preexistentes àquela que deu origem a ação reparatória (Súmula nº 385 do STJ). 4. Referida indenização visa
a reparar o abalo moral sofrido em decorrência da verdadeira agressão ou atentado contra dignidade da
pessoa humana. 5. A multa cominatória, por outro lado, tem cabimento nas hipóteses de descumprimento de
ordens judiciais, sendo fixada justamente com o objetivo de compelir a parte ao cumprimento daquela
obrigação. Encontra justificativa no princípio da efetividade da tutela jurisdicional e na necessidade de se assegurar
o pronto cumprimento das decisões judiciais cominatórias. 6. Considerando, portanto, que os institutos em
questão têm natureza jurídica e finalidades distintas, é possível a cumulação. 7. Recurso especial provido.”
(negritamos)
Comentário:
O presente julgado também está no campo do Direito Processual Civil. Nele, o STJ decidiu
que é possível a fixação de indenização por danos morais devido ao descumprimento de ordem
judicial, mesmo se o juiz já tiver fixado multa cominatória (coercitiva) para compelir a parte ao
seu cumprimento (art. 537, CPC). Portanto, é possível a cumulação de ambos institutos.
Essa decisão justifica-se no fato de que a multa coercitiva tem natureza diversa da
indenização extrapatrimonial. Enquanto a multa tem a finalidade de forçar, indiretamente, o
pagamento pelo condenado, a indenização por danos morais tem a finalidade de reparar um
abalo aos direitos da personalidade, sofrido pelo credor.
No caso, além de não pagar a dívida determinada em ação revisional de contrato, o
devedor (banco) incluiu o nome do credor no SERASA, restando justificada a cobrança
também de danos morais, conforme a súmula 385, STJ e o seguinte julgado: STJ, 3ª Turma.
AgRg no AgRg no AREsp 727.829/SC, Rel. Min. Marco Aurélio bellizze, julgado em 3/12/2015,
julgado (comentado no tópico abaixo, acerca dos danos morais in re ipsa).
STJ. 3ª Turma.REsp 1631329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 24/10/2017 (Info 614).
EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. REPORTAGEM JORNALÍSTICA. DIVULGAÇÃO DE IMAGEM SEM
101
AUTORIZAÇÃO. SÚMULA 403/STJ. FATOS HISTÓRICOS DE REPERCUSSÃO SOCIAL. DIREITO À MEMÓRIA. PRÉVIA
AUTORIZAÇÃO. DESNECESSIDADE. INTERPRETAÇÃO DO ART. 20 DO CÓDIGO CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
RECURSAIS. MAJORAÇÃO. 1. Ação ajuizada em 18/12/2012. Recurso especial interposto em 07/06/2016.
Julgamento: CPC/15. 2. O propósito recursal é definir se a veiculação não autorizada da imagem da filha da
autora em programa televisivo configura dano moral indenizável, além de ensejar a reparação por danos
materiais. 3. É inexigível a autorização prévia para divulgação de imagem vinculada a fato histórico de
repercussão social. Nessa hipótese, não se aplica a Súmula 403/STJ. 4. Ao resgatar da memória coletiva um fato
histórico de repercussão social, a atividade jornalística reforça a promessa em sociedade de que é necessário
superar, em todos os tempos, a injustiça e a intolerância, contra os riscos do esquecimento dos valores fundamentais
da coletividade. 5. Eventual abuso na transmissão do fato, cometido, entre outras formas, por meio de um
desvirtuado destaque da intimidade da vítima ou do agressor, deve ser objeto de controle sancionador. A
razão jurídica que atribui ao portador da informação uma sanção, entretanto, está vinculada ao abuso do direito e
não à reinstituição do fato histórico. 6. Na espécie, a Rádio e Televisão Record veiculou reportagem acerca de
trágico assassinato de uma atriz, ocorrido em 1992, com divulgação de sua imagem, sem prévia autorização. De
acordo com a conjuntura fática cristalizada pelas instâncias ordinárias, há relevância nacional na reportagem
veiculada pela emissora, sem qualquer abuso na divulgação da imagem da vítima. Não há se falar, portanto,
em ato ilícito passível de indenização. 7. Recurso especial conhecido e não provido, com majoração dos honorários
advocatícios.” (negritamos)
Comentário:
A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada
a fato histórico de repercussão social.
Súmula 403-STJ: “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não
autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”.
Caso concreto: a TV Record fez matéria sobre o assassinato da atriz Daniela Perez,
entrevista com Guilherme de Pádua, sem prévia autorização da família, fotos da vítima Daniela.
STJ. 4ª Turma. REsp 1245550-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/3/2015 (Info 559).
EMENTA: RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. SAQUE INDEVIDO EM CONTA- CORRENTE. FALHA NA PRESTAÇÃO
DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. SUJEITO ABSOLUTAMENTE INCAPAZ. ATAQUE A
DIREITO DA PERSONALIDADE. CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL. IRRELEVÂNCIA QUANTO AO ESTADO DA
PESSOA. DIREITO À DIGNIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL. PROTEÇÃO DEVIDA. 1. A instituição bancária é
responsável pela segurança das operações realizadas pelos seus clientes, de forma que, havendo falha na prestação
do serviço que ofenda direito da personalidade daqueles, tais como o respeito e a honra, estará configurado o
dano moral, nascendo o dever de indenizar. Precedentes do STJ. 2. A atual Constituição Federal deu ao homem
102
lugar de destaque entre suas previsões. Realçou seus direitos e fez deles o fio condutor de todos os ramos jurídicos.
A dignidade humana pode ser considerada, assim, um direito constitucional subjetivo, essência de todos os
direitos personalíssimos e o ataque àquele direito é o que se convencionou chamar dano moral . 3. Portanto,
dano moral é todo prejuízo que o sujeito de direito vem a sofrer por meio de violação a bem jurídico específico.
É toda ofensa aos valores da pessoa humana, capaz de atingir os componentes da personalidade e do prestígio
social. 4. O dano moral não se revela na dor, no padecimento, que são, na verdade, sua consequência, seu
resultado. O dano é fato que antecede os sentimentos de aflição e angústia experimentados pela vítima, não
estando necessariamente vinculado a alguma reação psíquica da vítima. 5. Em situações nas quais a vítima
não é passível de detrimento anímico, como ocorre com doentes mentais, a configuração do dano moral é
absoluta e perfeitamente possível, tendo em vista que, como ser humano, aquelas pessoas são igualmente
detentoras de um conjunto de bens integrantes da personalidade. 6. Recurso especial provido.” (negritamos)
Comentário:
Conforme estudamos durante o capítulo, o dano moral é a ofensa a determinados direitos
ou interesses, bastando isso para caracterizá-lo.
Assim, o STJ determinou que mesmo se o indivíduo for portador de doença mental
grave e não entender seus atos e nem atos de terceiros, ele pode sofrer danos morais.
O sofrimento e a humilhação não caracterizam os danos morais, podendo ser apenas
suas consequências.
STJ. 4ª Turma. REsp 1087561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/6/2017 (Info 609).
Comentário:
A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo material do filho gera
danos morais, passíveis de compensação pecuniária.
103
O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa de
prestar assistência material ao filho, não proporcionando a este condições dignas de
sobrevivência e causando danos à sua integridade física, moral, intelectual e psicológica,
configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1840463-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/11/2019 (Info 663).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO E PROTEÇÃO À CRIANÇA E
A ADOLESCENTE. RESPONSABILIDADE CIVIL DA EMISSORA DE TELEVISÃO. EXIBIÇÃO DE FILME EM HORÁRIO
DIVERSO DAQUELE RECOMENDADO PELA CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA. AUSÊNCIA DE OBSERVÂNCIA
OBRIGATÓRIA (ADI N. 2.404/DF). DANOS MORAIS COLETIVOS POR ABUSO DE DIREITO. POSSIBILIDADE, EM TESE.
HIPÓTESE NÃO VERIFICADA NO CASO DOS AUTOS. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. O propósito recursal
cinge-se em saber se é possível a condenação de emissora de televisão ao pagamento de indenização por danos
morais coletivos em razão da exibição de filme fora do horário recomendado pelo órgão competente. 2. No
julgamento da ADI n. 2.404/DF, o STF reconheceu a inconstitucionalidade da expressão "em horário diverso do
autorizado", contida no art. 254 do ECA, asseverando, ainda, que a classificação indicativa não pode ser vista como
obrigatória ou como uma censura prévia dos conteúdos veiculados em rádio e televisão, haja vista seu caráter
pedagógico e complementar ao auxiliar os pais a definir o que seus filhos podem, ou não, assistir e ouvir. 3. A
despeito de ser a classificação da programação apenas indicativa e não proibir a sua veiculação em horários diversos
daqueles recomendados, cabe ao Poder Judiciário controlar eventuais abusos e violações ao direito à programação
sadia. 4. O dano moral coletivo se dá in re ipsa, contudo, sua configuração somente ocorrerá quando a conduta
antijurídica afetar, intoleravelmente, os valores e interesses coletivos fundamentais, mediante conduta
maculada de grave lesão, para que o instituto não seja tratado de forma trivial, notadamente em decorrência
da sua repercussão social. 5. É possível, em tese, a condenação da emissora de televisão ao pagamento de
indenização por danos morais coletivos, quando, ao exibir determinada programação fora do horário
recomendado, verificar-se uma conduta que afronte gravemente os valores e interesse coletivos fundamentais.
6. A conduta perpetrada pela ré no caso vertente, a despeito de ser irregular, não foi capaz de abalar, de forma
intolerável, a tranquilidade social dos telespectadores, de modo que não está configurado o ato ilícito
indenizável. 7. Recurso especial desprovido.” (negritamos)
Comentário:
É possível, em tese, a condenação da emissora de televisão ao pagamento de
indenização por danos morais coletivos, quando, ao exibir determinada programação fora
104
do horário recomendado, verificar-se uma conduta que afronte gravemente os valores e
programação sadia, previsto no art. 221 da CF/88, por meio da fixação da indenização por danos
morais coletivos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1737412/SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/02/2019.
Comentário:
Aluno, leia os trechos grifados da ementa, eles são fundamentais para você conhecer a
definição e as características dos danos morais coletivos.
Nesse julgado o STJ decidiu que houve violação pela instituição financeira aos deveres
de qualidade do atendimento presencial, ao exigir do consumidor tempo muito superior
aos limites fixados pela legislação municipal pertinente. Isso afronta valores essenciais da
sociedade, sendo conduta grave e intolerável, de forma que se mostra suficiente para a
STJ. 3ª Turma. REsp 1628700/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/02/2018.
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS MORAIS. PEDIDO ILÍQUIDO. SENTENÇA LÍQUIDA.
POSSIBILIDADE. REPORTAGEM JORNALÍSTICA. IMAGEM DE CRIANÇAS. DIVULGAÇÃO. AUTORIZAÇÃO DOS
REPRESENTANTES LEGAIS. INEXISTÊNCIA. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. VIOLAÇÃO. MINISTÉRIO
PÚBLICO. LEGITIMIDADE. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de
Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. É possível a sentença determinar valor certo
quando apoiada nos elementos probatórios dos autos, ainda que o pedido tenha sido genérico. 3. O dever de
indenização por dano à imagem de criança veiculada sem a autorização do representante legal é in re ipsa. 4.
Na hipótese, as fotos veiculadas na reportagem retrataram simulação de trabalho infantil, situação
manifestamente vexatória. 5. O ordenamento pátrio assegura o direito fundamental da dignidade das crianças
(art. 227 do CF), cujo melhor interesse deve ser preservado de interesses econômicos de veículos de
comunicação. 6. O bem jurídico tutelado, no caso, interesse de crianças, está atrelado à finalidade institucional do
Ministério Público, em conformidade com os artigos 127 e 129, III, da Constituição Federal e arts. 1º e 5º da Lei nº
7.347/1985 7. Recursos não providos.” (negritamos)
106
Comentário:
Nesse julgado o STJ frisou que se a imagem de uma criança for usada em uma revista
sem a autorização do seu representante e de forma vexatória, o dever de indenizar por
dano à imagem é in re ipsa, em conformidade com o art. 227, CF e com o ECA, que protegem
a dignidade da criança e do adolescente.
Obs.: nesse caso concreto, a revista utilizou fotos de crianças imitando trabalho infantil em
minas de talco.
STJ. 3ª Turma. REsp 1642318-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/2/2017 (Info 598).
EMENTA: “CIVIL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CARÁTER
INFRINGENTE. POSSIBILIDADE. AGRESSÃO VERBAL E FÍSICA. INJUSTIÇA. CRIANÇA. ÔNUS DA PROVA. DANO MORAL
IN RE IPSA. ALTERAÇÃO DO VALOR. IMPOSSIBILIDADE. 1. Ação de compensação por dano moral ajuizada em
01.04.2014. Agravo em Recurso especial atribuído ao gabinete em 04.07.2016. Julgamento: CPC/2015. 2. Cinge-se
a controvérsia a definir ocorrência de violação do art. 535 do CPC; e, se as alegadas agressões físicas e verbais
sofridas pela recorrida lhe geraram danos morais passíveis de compensação. 3. Admite-se, excepcionalmente, que
os embargos de declaração, ordinariamente integrativos, tenham efeitos infringentes desde que constatada a
presença de um dos vícios do artigo 535 do CPC/73, cuja correção importe alterar a conclusão do julgado.
Precedente. 4. As crianças, mesmo da mais tenra idade, fazem jus à proteção irrestrita dos direitos da
personalidade, assegurada a indenização pelo dano moral decorrente de sua violação, nos termos dos arts.
5º, X, in fine, da CF e 12, caput, do CC/02. 5. A sensibilidade ético-social do homem comum na hipótese, permite
concluir que os sentimentos de inferioridade, dor e submissão, sofridos por quem é agredido injustamente,
verbal ou fisicamente, são elementos caracterizadores da espécie do dano moral in re ipsa. 6. Sendo presumido
o dano moral, desnecessário o embate sobre a repartição do ônus probatório. 7. A alteração do valor fixado a
título de compensação por danos morais somente é possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia
estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada. 8. Recurso especial parcialmente conhecido, e
nessa parte, desprovido.” (negritamos)
Comentário:
O art. 227 da CF/88 dispõe que é dever da família, da sociedade e do Estado “assegurar
à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
107
Corroborando com esse dispositivo, podemos citar o art. 17 do ECA: “o direito ao
respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente”.
Diante de tal proteção à criança, o STJ solidificou que resta evidenciada conduta ilícita,
causadora de dano moral in re ipsa, as agressões de um adulto praticadas contra uma
criança, mesmo se de pouca idade.
STJ. 3ª Turma.REsp 1675015-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/9/2017 (Info 612).
EMENTA: “DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRISÃO EFETUADA
POR POLICIAL MILITAR FORA DO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES. OFENSA À LIBERDADE PESSOAL. DANO MORAL
CONFIGURADO. VALOR ARBITRADO. MÉTODO BIFÁSICO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO COMPROVAÇÃO. 1.
Ação de compensação por danos morais ajuizada em 17/10/2014, de que foi extraído o presente recurso especial,
interposto em 02/03/2016 e concluso ao Gabinete em 08/06/2017. Julgamento pelo CPC/73. 2. O propósito recursal
é dizer sobre a ocorrência de dano moral e sobre a proporcionalidade do valor arbitrado a título compensatório.
3. Constitui grave violação da integridade física e psíquica do indivíduo, e, portanto, ofensa à sua dignidade
enquanto ser humano, a privação indevida da liberdade, sobretudo por preposto do Estado e fora do exercício
das funções, caracterizando dano moral in re ipsa. 4. O contexto delineado no acórdão recorrido revela que, ao
largo da discussão acerca da prática de eventual crime de desacato, houve, por parte do recorrente, uma atuação
arbitrária, ao algemar o recorrido, pessoa idosa, no interior do condomínio onde moram, em meio à uma discussão,
e ainda lhe causar severas lesões corporais, caracterizando-se, assim, a ofensa a sua liberdade pessoal e,
consequentemente, a sua dignidade; causadora, portanto, do dano moral. 5. As Turmas da Seção de Direito Privado
têm adotado o método bifásico como parâmetro para valorar a compensação dos danos morais. 6. No particular,
o TJ/DFT levou em conta a gravidade do fato em si, tendo em vista o interesse jurídico lesado, bem como as
condições pessoais do ofendido e do ofensor, de modo a arbitrar a quantia considerada razoável, diante das
circunstâncias concretas, para compensar o dano moral suportado pelo recorrido. 7. Assim sopesadas as
peculiaridades dos autos, o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), arbitrado no acórdão recorrido para compensar
o dano moral, não se mostra exorbitante. 8. Não se conhece do recurso pela divergência jurisprudencial nas
hipóteses em que o recorrente se limita à transcrição de ementas, sem promover o cotejo analítico a que se refere
o art. 541, parágrafo único, do CPC/73. 9. Recurso especial desprovido. ” (negritamos)
Comentário:
A privação da liberdade por policial fora do exercício de suas funções e com
reconhecido excesso na conduta caracteriza dano moral in re ipsa. Durante uma discussão
108
no condomínio, um morador, que é policial, algemou e prendeu seu vizinho, após ser por ele
ofendido verbalmente.
STJ, 3ª Turma. REsp 1292141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012 (Info 513).
EMENTA: “DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACIDENTE EM
OBRAS DO RODOANEL MÁRIO COVAS. NECESSIDADE DE DESOCUPAÇÃO TEMPORÁRIA DE RESIDÊNCIAS.
DANO MORAL IN RE IPSA. 1. Dispensa-se a comprovação de dor e sofrimento, sempre que demonstrada a
ocorrência de ofensa injusta à dignidade da pessoa humana. 2. A violação de direitos individuais relacionados à
moradia, bem como da legítima expectativa de segurança dos recorrentes, caracteriza dano moral in re ipsa a ser
compensado. 3. Por não se enquadrar como excludente de responsabilidade, nos termos do art. 1.519 do
CC/16, o estado de necessidade, embora não exclua o dever de indenizar, fundamenta a fixação das
indenizações segundo o critério da proporcionalidade. 4. Indenização por danos morais fixada em R$ 500,00
(quinhentos reais) por dia de efetivo afastamento do lar, valor a ser corrigido monetariamente, a contar dessa data,
e acrescidos de juros moratórios no percentual de 0,5% (meio por cento) ao mês na vigência do CC/16 e de 1%
(um por cento) ao mês na vigência do CC/02, incidentes desde a data do evento danoso. 5. Recurso especial
provido.” (negritamos)
Comentário:
No caso, aplicou-se a Teoria do Sacrifício, que consiste em: diante de uma colisão entre
os direitos da vítima e os do autor do dano, estando os dois na faixa de licitude (os dois
comportamentos são lícitos), o ordenamento jurídico opta por proteger o mais inocente dos
interesses em conflito (o da vítima), sacrificando o outro (o do autor do dano).
Apesar de o ato praticado em estado de necessidade ser lícito (art. 188, II, CC), a vítima
deve ser indenizada por quem o praticou, caso ela não seja a criadora do perigo (art. 929).
Assim, o autor do dano, que agiu em estado de necessidade, deve indenizar a vítima. Mas
pode, posteriormente, cobrar do autor do perigo a quantia que pagou (art. 930).
Ressalta-se que o valor da indenização deve ser fixado com base no princípio da
proporcionalidade, considerando que como a pessoa agiu de forma lícita, dela não deve ser
cobrado um valor abusivo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.465-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638).
EMENTA: “DIREITO DO CONSUMIDOR E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS
E COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF. ATRASO EM VOO
INTERNACIONAL. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. EXTRAVIO DE BAGAGEM. ALTERAÇÃO DO VALOR FIXADO
109
A TÍTULO DE DANOS MORAIS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 1. Ação de reparação de danos materiais e
compensação de danos morais, tendo em vista falha na prestação de serviços aéreos, decorrentes de atraso de voo
internacional e extravio de bagagem. 2. Ação ajuizada em 03/06/2011. Recurso especial concluso ao gabinete em
26/08/2016. Julgamento: CPC/73. 3. O propósito recursal é definir i) se a companhia aérea recorrida deve ser
condenada a compensar os danos morais supostamente sofridos pelo recorrente, em razão de atraso de voo
internacional; e ii) se o valor arbitrado a título de danos morais em virtude do extravio de bagagem deve ser
majorado. 4. A ausência de decisão acerca dos argumentos invocados pelo recorrente em suas razões recursais
impede o conhecimento do recurso especial. 5. Na específica hipótese de atraso de voo operado por companhia
aérea, não se vislumbra que o dano moral possa ser presumido em decorrência da mera demora e eventual
desconforto, aflição e transtornos suportados pelo passageiro. Isso porque vários outros fatores devem ser
considerados a fim de que se possa investigar acerca da real ocorrência do dano moral, exigindo-se, por
conseguinte, a prova, por parte do passageiro, da lesão extrapatrimonial sofrida. 6. Sem dúvida, as
circunstâncias que envolvem o caso concreto servirão de baliza para a possível comprovação e a consequente
constatação da ocorrência do dano moral. A exemplo, pode-se citar particularidades a serem observadas: i) a
averiguação acerca do tempo que se levou para a solução do problema, isto é, a real duração do atraso; ii) se a
companhia aérea ofertou alternativas para melhor atender aos passageiros; iii) se foram prestadas a tempo e modo
informações claras e precisas por parte da companhia aérea a fim de amenizar os desconfortos inerentes à ocasião;
iv) se foi oferecido suporte material (alimentação, hospedagem, etc.) quando o atraso for considerável; v) se o
passageiro, devido ao atraso da aeronave, acabou por perder compromisso inadiável no destino, dentre outros. 7.
Na hipótese, não foi invocado nenhum fato extraordinário que tenha ofendido o âmago da personalidade do
recorrente. Via de consequência, não há como se falar em abalo moral indenizável. 8. Quanto ao pleito de
majoração do valor a título de danos morais, arbitrado em virtude do extravio de bagagem, tem-se que a alteração
do valor fixado a título de compensação dos danos morais somente é possível, em recurso especial, nas hipóteses
em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada, o que não ocorreu na espécie,
tendo em vista que foi fixado em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa
extensão, não provido.” (negritamos)
Comentário:
O STJ pacificou que na hipótese de atraso de voo, não se admite a configuração do
dano moral in re ipsa. Assim, deve o magistrado analisar cada caso concreto para constatar a
possível presença de requisitos da responsabilidade civil por danos morais, os quais não são
automáticos.
Corrobora com tal entendimento o art. 251-A do do Código Brasileiro de Aeronáutica: “A
indenização por dano extrapatrimonial em decorrência de falha na execução do contrato de
110
transporte fica condicionada à demonstração da efetiva ocorrência do prejuízo e de sua
extensão pelo passageiro ou pelo expedidor ou destinatário de carga”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.955-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/02/2018 (Info 619).
EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. PROTESTO INDEVIDO. PAGAMENTO EM ATRASO.
DANOS MORAIS. PESSOA JURÍDICA. 1. Ação ajuizada em 14/01/2011. Recurso especial interposto em 11/02/2015
e atribuído a este gabinete em 25/08/2016. 2. Para a pessoa jurídica, o dano moral não se configura in re ipsa,
por se tratar de fenômeno muito distinto daquele relacionado à pessoa natural. É, contudo, possível a
utilização de presunções e regras de experiência no julgamento. 3. Afigura-se a ilegalidade no protesto de título
cambial, mesmo quando pagamento ocorre em atraso. 4. Nas hipóteses de protesto indevido de cambial ou outros
documentos de dívida, há forte presunção de configuração de danos morais. Precedentes. 5. Recurso especial
provido.” (negritamos)
Comentário:
Não se admite que o dano moral de pessoa jurídica seja considerado como in re ipsa,
sendo necessária a comprovação nos autos do prejuízo sofrido.
Apesar disso, é possível a utilização de presunções e regras de experiência para a
configuração do dano, mesmo sem prova expressa do prejuízo, o que sempre comportará a
possibilidade de contraprova pela parte ou de reavaliação pelo julgador. Ex: caso a pessoa
jurídica tenha sido vítima de um protesto indevido de cambial, há uma presunção de que ela
sofreu danos morais.
Cuidado: existem julgados em sentido contrário, ou seja, dizendo que pessoa jurídica
pode sofrer dano moral in re ipsa. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 1327773/MG, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017; STJ. 4ª Turma. AgInt-AREsp 1.328.587/ DF. Rel. Min.
Raul Araújo, julgado em 07/05/2019. STJ. 3ª Turma AgInt-AREsp 1.345.802/ MT. Rel. Min. Moura
Ribeiro, julgado em 25/02/2019.
STJ. 3ª Turma. REsp 1653413-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018 (Info 627).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS DECORRENTES DE COLISÃO DE VEÍCULOS.
ACIDENTE SEM VÍTIMA. DANO MORAL IN RE IPSA. AFASTAMENTO. NECESSIDADE DE APRECIAÇÃO DE
CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INVIABILIDADE EM RECURSO ESPECIAL. RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. O movimento de despatrimonialização do direito privado, que permitiu, antes
mesmo da existência de previsão legal, a compensação de dano moral não se compatibiliza com a vulgarização
111
dos danos extrapatrimoniais. 2. O dano moral in re ipsa reconhecido pela jurisprudência do STJ é aquele decorrente
da prática de condutas lesivas aos direitos individuais ou perpetradas contra bens personalíssimos. Precedentes. 3.
Não caracteriza dano moral in re ipsa os danos decorrentes de acidentes de veículos automotores sem vítimas,
os quais normalmente se resolvem por meio de reparação de danos patrimoniais. 4. A condenação à
compensação de danos morais, nesses casos, depende de comprovação de circunstâncias peculiares que
demonstrem o extrapolamento da esfera exclusivamente patrimonial, o que demanda exame de fatos e provas.
5. Recurso especial provido.” (negritamos)
Comentário:
Nesse julgado o STJ esclareceu que, no caso de acidente de carro sem vítimas, os danos
morais devem ser provados, não sendo, portanto, in re ipsa.
O lesado deve demonstrar que os danos por ele sofridos foram além da esfera
patrimonial.
Fixação da indenização
STJ. 3ª Turma. REsp 1.152.541 – RS. Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/09/2011.
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO
RESTRITIVO DE CRÉDITO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. CRITÉRIOS DE
ARBITRAMENTO EQUITATIVO PELO JUIZ. MÉTODO BIFÁSICO. VALORIZAÇÃO DO INTERESSE JURÍDICO LESADO E
DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO. 1. Discussão restrita à quantificação da indenização por dano moral sofrido
pelo devedor por ausência de notificação prévia antes de sua inclusão em cadastro restritivo de crédito (SPC).
2. Indenização arbitrada pelo tribunal de origem em R$ 300,00 (trezentos reais). 3. Dissídio jurisprudencial
caracterizado com os precedentes das duas turmas integrantes da Segunda Secção do STJ. 4. Elevação do valor da
indenização por dano moral na linha dos precedentes desta Corte, considerando as duas etapas que devem ser
percorridas para esse arbitramento. 5. Na primeira etapa, deve-se estabelecer um valor básico para a
indenização, considerando o interesse jurídico lesado, com base em grupo de precedentes jurisprudenciais que
apreciaram casos semelhantes. 6. Na segunda etapa, devem ser consideradas as circunstâncias do caso, para
fixação definitiva do valor da indenização, atendendo a determinação legal de arbitramento equitativo pelo
juiz. 7. Aplicação analógica do enunciado normativo do parágrafo único do art. 953 do CC/2002. 8.
Arbitramento do valor definitivo da indenização, no caso concreto, no montante aproximado de vinte salários
mínimos no dia da sessão de julgamento, com atualização monetária a partir dessa data (Súmula 362/STJ). 9.
Doutrina e jurisprudência acerca do tema. 10. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.” (negritamos)
112
Comentário22:
Esse julgado trouxe o detalhamento do método bifásico, que é o método a ser usado
pelo magistrado quando da fixação do quantum dos danos morais.
No caso concreto, uma mulher havia sido incluída em cadastro de devedores sem aviso
prévio. O tribunal de segunda instância reconheceu o direito da consumidora à indenização,
fixada em R$ 300,00. No STJ, os ministros aumentaram o valor para 20 salários mínimos.
Na ocasião, o ministro relator destacou a necessidade de elevar a indenização na linha
dos precedentes da corte, considerando as duas etapas que devem ser percorridas para o
arbitramento do valor.
Conforme o Ministro: “Na primeira etapa, deve-se estabelecer um valor básico para a
indenização, considerando o interesse jurídico lesado, com base em grupo de precedentes
jurisprudenciais que apreciaram casos semelhantes. Na segunda etapa, devem ser consideradas
as circunstâncias do caso, para fixação definitiva do valor da indenização, atendendo à
determinação legal de arbitramento equitativo pelo juiz”, justificou.
Especificando, ainda de acordo com o relator, na primeira etapa assegura-se uma
exigência da justiça comutativa, que é uma razoável igualdade de tratamento para casos
semelhantes, da mesma forma como situações distintas devem ser tratadas desigualmente na
medida em que se diferenciam.
Na segunda, partindo-se da indenização básica, eleva-se ou reduz-se o valor definido
de acordo com as circunstâncias particulares do caso (gravidade do fato em si, culpabilidade
do agente, culpa concorrente da vítima, condição econômica das partes), até se alcançar o
montante definitivo, realizando um “arbitramento efetivamente equitativo, que respeita as
peculiaridades do caso”.
Segundo Sanseverino, a legislação nacional evoluiu de hipóteses de tarifamento legal
indenizatório para o arbitramento equitativo, conforme disposto no artigo 953 do Código
Civil.
Em suma, o critério bifásico, procura compatibilizar o interesse jurídico lesado com as
circunstâncias do caso.
EMENTA: “DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. PUBLICAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA
OFENSIVA À HONRA. MODIFICAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL. ELEVAÇÃO
NECESSÁRIA, COMO DESESTÍMULO AO COMETIMENTO DE INJÚRIA. CONSIDERAÇÃO DAS CONDIÇÕES
ECONÔMICAS DOS OFENSORES, DA CONCRETIZAÇÃO POR INTERMÉDIO DE VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DE
GRANDE CIRCULAÇÃO E RESPEITABILIDADE E DAS CONDIÇÕES PESSOAIS DO OFENDIDO. PREVALECIMENTO DE
VALOR MAIOR, ESTABELECIDO PELA MAIORIA JULGADORA EM R$ 500.000,00. 1.- Matéria jornalística publicada em
revista semanal de grande circulação que atribui a ex-Presidente da República a qualidade de "corrupto desvairado".
2.- De rigor a elevação do valor da indenização por dano moral, com desestímulo ao cometimento da figura
jurídica da injúria, realizada por intermédio de veículos de grande circulação e respeitabilidade nacionais e
consideradas as condições econômicas dos ofensores e pessoais do ofendido, Ex-Presidente da República,
que foi absolvido de acusação de corrupção cumpriu suspensão de direitos políticos e veio a ser eleito Senador
da República. 3. Por unanimidade elevado o valor da indenização, fixado em R$ 500.000,00 pelo entendimento
da D. Maioria, vencido, nessa parte, o voto do Relator, acompanhado de um voto, que fixavam a indenização em
R$ 150.000,00. 4. Recurso Especial provido para fixação do valor da indenização em R$ 500.000,00 (quinhentos mil
reais).” (negritamos)
Comentário:
Nesse julgado a revista “Veja” foi condenada a R$500.000,00 por ter chamado o ex-
presidente F. Collor de “corrupto desvairado”. A maioria da Terceira Turma do STJ considerou
que foi um termo injurioso e não apenas uma crítica.
Quais os elementos que basearam o cálculo da indenização? Foram considerados: (i) as
consequências da ofensa; (ii) a capacidade econômica do ofensor; (iii) a pessoa do ofendido.
Nesse âmbito, foi levado em conta que o ex-presidente já havia sido sancionado com o
impeachment, e já havia cumprido seu período legal de suspensão dos direitos políticos.
Também, como o termo ofensivo foi veiculado em uma revista famosa, a indenização foi
elevada pela turma, com base no punitive dammage ou teoria do desestímulo do direito
anglo-americano.
Então esse julgado traz um exemplo de influência da teoria do desestímulo, o que não
significa, no entanto, que ela é amplamente aplicada (veja o julgado abaixo)
Quanto à aplicação do punitive dammage, ainda há muita polêmica no Brasil. Por isso,
fiquem atentos, principalmente quando forem realizar provas subjetivas, ao posicionamento dos
examinadores de Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Ambiental ou Direitos Difusos e
Coletivos. O posicionamento pode mudar em cada Estado e não está solidificado no STJ.
114
STJ. 2ª Seção. REsp 1354536-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/3/2014 (recurso
repetitivo) (Info 538).
Comentário:
Apesar de estar no campo do Direito Ambiental, trouxemos esse julgado para expor dois
entendimentos.
1) Com fundamento nos artigos 225, parágrafos 2º e 3º da CF e 14, §1º, da Lei 6.938/1981, a
responsabilidade por dano ambiental é objetiva, com base na teoria do risco integral.
2) Nesse julgado o STJ não considerou pertinente conferir à reparação civil dos danos
ambientais caráter punitivo imediato. Isso porque outros ramos do direito já possuem função
115
punitiva, como o Direito Administrativo e o Direito Penal. Ademais, não foi aplicada a teoria do
desestímulo (punitive damages) pois como não é preciso averiguar a culpa na responsabilidade
civil por dano ambiental, caso ela fosse avaliada, haveria evidente bis in idem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1677773/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/06/2019.
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO.
FALECIMENTO DE FILHO. PROPOSITURA DA AÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL. PENÚLTIMO DIA. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. DECURSO DE TEMPO. DESINFLUÊNCIA. CPC/20015. NOVO REGRAMENTO NORMATIVO.
REPARAÇÃO CIVIL. RELAÇÃO EXTRACONTRATUAL. PRAZO PRESCRICIONAL DIMINUÍDO. TRÊS ANOS.
RAZOABILIDADE. REVISÃO. QUANTIA. SÚMULA 7/STJ. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na
vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. A controvérsia a ser
dirimida reside em verificar se o lapso temporal decorrido entre o acidente de trânsito que vitimou o filho
dos autores e o ajuizamento da demanda reparatória de danos morais deve ser considerado na fixação do
valor da indenização. 3. Na vigência do Código Civil de 1916, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
consolidou-se no sentido de que a demora na busca da reparação do dano moral deveria ser considerada na
fixação do valor da indenização. Esse entendimento baseia-se em fatos ocorridos na vigência do Código Civil
de 1916 e, portanto, sofreram os influxos do dilatado prazo prescricional vintenário previsto no art. 177 da
referida lei substantiva para ajuizamento de pretensões reparatórias. 4. O prazo prescricional muito longo previsto
no Código Civil anterior resultava em situações extremas, nas quais o período decorrido entre o evento danoso e
a propositura da ação indenizatória se revelava nitidamente exagerado ou desproporcional. 5. Em casos julgados
com base no Código de Civil de 2002, que prevê, no art. 206, § 3º, V, o prazo prescricional de 3 (três) anos para a
pretensão de reparação civil fundamentada em relação extracontratual, as situações extremas não mais persistem.
6. O prazo de 3 (três) anos, aplicável às relações de natureza extracontratual, revela-se extremamente razoável para
que o titular de pretensão indenizatória decorrente de falecimento de ente familiar promova a demanda. 7. No
atual panorama normativo, o momento em que a ação será proposta, desde que na fluência do prazo
prescricional, mostra-se desinfluente para aferição do valor da indenização, tendo em vista o novo prazo
prescricional previsto no art. 206, § 3º, V, Código Civil de 2002 (três anos), extremamente reduzido em
comparação ao anterior (vintenário). 8. No ordenamento jurídico brasileiro inexiste previsão legal de prescrição
gradual da pretensão. Ainda que ajuizada a demanda no dia anterior ao término do prazo prescricional, a parte
autora faz jus ao amparo judicial de sua pretensão por inteiro. 9. Não se mostra razoável presumir que o
abalo psicológico suportado por aquele que perde um ente familiar é diminuído pela não manifestação
imediata do seu inconformismo por intermédio de uma demanda judicial. 10. O Superior Tribunal de Justiça,
afastando a incidência da Súmula nº 7/STJ, tem reexaminado o montante fixado pelas instâncias ordinárias a título
de danos morais apenas quando irrisório ou abusivo, circunstâncias inexistentes na espécie. 11. Recurso especial
conhecido e não provido.” (negritamos)
116
Comentário:
O STJ pacificou o entendimento de que na vigência do Código Civil de 2002, mesmo
se o indivíduo que sofreu um abalo ajuizar ação de indenização por danos morais no último
dia do prazo, tal fato não irá influenciar no decréscimo do valor de sua indenização.
Isso porque o prazo prescricional para ação de reparação civil (extracontratual) é de 3
anos (art. 206, §3º, V, CC) e o abalo psicológico sofrido dificilmente irá diminuir nesse tempo.
Em sua, o tempo que a pessoa demora para ajuizar a ação (desde que dentro dos três
anos) não influência no quantum indenizatório.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1833847-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info
671).
Comentário:
O curto espaço de tempo entre o acidente e a assinatura do acordo e o
desconhecimento da integralidade dos danos podem excepcionar a regra de que a quitação
plena e geral desautoriza o ajuizamento de ação para ampliar a verba indenizatória aceita e
recebida.
Explicando melhor: em regra, a quitação realizada por meio de um acordo em âmbito
não judicial é considerada válida. Assim, o credor não pode ajuizar uma ação pedindo o que já
foi quitado.
No entanto, há exceções a essa regra e o caso ora analisado é uma delas. No caso, houve
um acidente de trânsito e o acordo entre a vítima e o causador do dano foi realizado
aproximadamente quinze dias após o sinistro. Nessa época, por ser muito próximo do acidente,
a vítima não conhecia realmente a extensão do dano que sofreu. Algum tempo depois, tomou
117
ciência de que necessitaria de um tratamento médico mais amplo. Devido a tal peculiaridade, o
STJ entendeu que é possível ajuizar ação cobrando o que não foi coberto pelo acordo inicial.
Assim, nesse caso específico, a indenização pôde ser ampliada mesmo após a citação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1354346-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/9/2015 (Info 572).
EMENTA: “CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. MORTE POR DISPARO DE
ARMA DE FOGO. CONDENAÇÃO POR HOMICÍDIO CULPOSO NA ESFERA CRIMINAL. SENTENÇA QUE TORNA
CERTO O DEVER DE INDENIZAR. POSSIBILIDADE DE O JUÍZO CIVIL RECONHECER A CULPA CONCORRENTE.
PRECEDENTES DO STJ. VÍTIMA QUE PRATICA FURTO EM PROPRIEDADE ALHEIA NO MOMENTO EM FOI ALVEJADA
POR TIRO. RELEVÂNCIA DA CONDUTA DA VÍTIMA. CIRCUNSTÂNCIA QUE INTERFERE DECISIVAMENTE NA
FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO. PENSÃO CIVIL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. 1. "A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a
existência do fato, ou sobre quem seja o autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal"
(art. 935 do Código Civil). 2. A sentença penal condenatória decorrente da mesma situação fática geradora da
responsabilidade civil provoca incontornável dever de indenizar, não podendo o aresto impugnado reexaminar
os fundamentos do julgado criminal, sob pena de afronta direta ao art. 91, I, do CP. 3. Apesar da impossibilidade
de discussão sobre os fatos e sua autoria, nada obsta que o juízo cível, após o exame dos autos e das
circunstâncias que envolveram as condutas do autor e da vítima, conclua pela existência de concorrência de
culpa em relação ao evento danoso. 4. Diante das peculiaridades do caso, especialmente a prática de crime de
furto pela vítima, invasão em propriedade alheia e idade avançada da parte autora, a indenização deve ser fixada
em R$ 10.000,00 (dez mil reais). 5. Incide, por analogia, a Súmula 284/STF na hipótese em que o recorrente não
deduz nenhum argumento sobre o cabimento da pensão civil, limitando-se a formular pedido genérico de
condenação ao final do recurso. 6. Recurso especial parcialmente provido.” (negritamos)
Comentário:
Nesse caso o STJ deixou claro que a concorrência de culpas entre o autor do crime e a
vítima não serve como argumento para afastar a obrigação de reparar o dano na esfera cível.
No entanto, a concorrência de culpas pode influenciar no quantum da indenização, o
que ocorreu no caso concreto.
DPVAT
STF. Plenário virtual. ADI 6262/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/12/2019.
118
EMENTA: “CONSTITUCIONAL. MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MPV 904, DE
2019. EXTINÇÃO DO SEGURO OBRIGATÓRIO DE DANOS PESSOAIS CAUSADOS POR VEÍCULOS AUTOMOTORES DE
VIAS TERRESTRES – DPVAT E DO SEGURO OBRIGATÓRIO DE DANOS PESSOAIS CAUSADOS POR EMBARCAÇÕES
OU POR SUAS CARGAS – DPEM. MATÉRIA RESERVADA A LEI COMPLEMENTAR. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. EXCEPCIONAL URGÊNCIA. DEFERIMENTO DA MEDIDA CAUTELAR. 1. É vedada
a edição de medida provisória que disponha sobre matéria sob reserva de lei complementar. 2. A regulação do
Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres e do Seguro
Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Embarcações ou por sua Carga exige, nos termos do art. 192 da
Constituição Federal, lei complementar. 3. Medida cautelar deferida, nos termos do art. 10, § 3º, da Lei 9.868,
para suspender os efeitos da Medida Provisória 904, de 11 de novembro de 2019.” (negritamos)
Comentário:
O STF acolheu a liminar de ADI interposta contra a MP 904/2019, a qual pretendia
extinguir o DPVAT e o DPEM, a partir de 1º de janeiro de 2020. De acordo com o STF, essa
MP violaria os arts 62, § 1º, III e 192 da CF/88.
Como o sistema de seguros é um subsistema do sistema financeiro nacional e a CF
determina, no art. 192, que matérias a ele atinentes devem ser tratadas por lei complementar,
inconstitucional é a MP que dispôs sobre os seguros (DPVAT e DPEM).
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1844330/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2020.
EMENTA: “DIREITO CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DPVAT.
SINISTRO ENVOLVENDO VEÍCULO AGRÍCOLA OCORRIDO NUM CONTEXTO DE ACIDENTE DE TRABALHO.
IRRELEVÂNCIA. SEGURO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. 1. Cuida-se, na origem, de ação de cobrança relativa ao seguro
DPVAT, ajuizada em razão de sinistro que levou a vítima a óbito. 2. A cobertura do seguro obrigatório do DPVAT
não está condicionada à caracterização de acidente de trânsito, mas sim, à ocorrência de dano pessoal causado
por veículo automotor de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não, nos exatos termos
do art. 2º da Lei 6.194/74. 3. Consoante orienta a jurisprudência desta Corte, a caracterização do infortúnio
como acidente de trabalho não impede, necessariamente, que esse também seja considerado como um
acidente causado por veículo automotor e, portanto, coberto pelo seguro DPVAT. Precedentes. 4. Ademais,
tampouco o fato de o sinistro envolver veículo agrícola afasta a cobertura do seguro. Precedentes. 5. Agravo interno
não provido.” (negritamos)
Comentário:
De acordo com esse entendimento recente do STJ, um acidente pode ao mesmo tempo
ser de trabalho e ser coberto pelo seguro DPVAT. Conforme o art. 2º da Lei 6.194/74, a
119
cobertura do seguro obrigatório do DPVAT não está condicionada à caracterização de
acidente de trânsito, mas sim, à ocorrência de dano pessoal causado por veículo automotor
de via terrestre, ou por sua carga.
STJ. 3ª Turma. REsp 1635398-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 17/10/2017 (Info 614).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). OBRIGAÇÃO IMPOSTA
POR LEI. AUSÊNCIA DE QUALQUER MARGEM DE DISCRICIONARIEDADE NO TOCANTE AO OFERECIMENTO E ÀS
REGRAS DA INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA PELAS RESPECTIVAS SEGURADORAS, NÃO HAVENDO SEQUER A OPÇÃO
DE CONTRATAÇÃO, TAMPOUCO DE ESCOLHA DO FORNECEDOR E/OU DO PRODUTO PELO SEGURADO.
INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO. IMPOSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA COM BASE NO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RECURSO DESPROVIDO. 1. Diversamente do que se dá no âmbito da
contratação de seguro facultativo, as normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor não se aplicam
ao seguro obrigatório (DPVAT). 1.1. Com efeito, em se tratando de obrigação imposta por lei, na qual não há
acordo de vontade entre as partes, tampouco qualquer ingerência das seguradoras componentes do consórcio
do seguro DPVAT nas regras atinentes à indenização securitária (extensão do seguro; hipóteses de cobertura;
valores correspondentes; dentre outras), além de inexistir sequer a opção de contratação ou escolha do produto
ou fornecedor pelo segurado, revela-se ausente relação consumerista na espécie, ainda que se valha das figuras
equiparadas de consumidor dispostas na Lei n. 8.078/90. 2. Recurso especial desprovido.” (negritamos)
Comentário:
De acordo com esse entendimento do STJ, as normas protetivas do Código de Defesa
do Consumidor não se aplicam ao seguro obrigatório (DPVAT).
STJ. 3ª Turma.REsp 1661120-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 9/5/2017 (Info 604).
EMENTA: “CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. INDENIZAÇÃO SECURTIÁRIA. SEGURO OBRIGATÓRIO
- DPVAT. FILHOS MENORES DA VÍTIMA QUE PLEITEAM O RECEBIMENTO DA INDENIZAÇÃO. VÍTIMA QUE SE
ENVOLVEU EM ACIDENTE DE TRÂNSITO NO MOMENTO DA PRÁTICA DE ILÍCITO PENAL. TENTATIVA DE ROUBO A
CARRO-FORTE. 1. Ação ajuizada em 08/04/2011. Recurso especial concluso ao gabinete em 26/08/2016.
Julgamento: CPC/73. 2. O propósito recursal é determinar se os recorrentes fazem jus ao recebimento da
indenização relativa ao seguro obrigatório - DPVAT, em virtude de acidente de trânsito - ocorrido no momento de
prática de ilícito penal (tentativa de roubo a carro-forte) - que teria vitimado seu pai. 3. Não é obstáculo ao
conhecimento do recurso o fato de o recorrente ter interposto o recurso especial com fundamento na alínea "c",
e fundamentado a insurgência na ofensa à lei federal, demonstrando ter apenas se equivocado na indicação da
120
alínea fundamentadora do recurso. Precedentes. 4. Embora a Lei 6.194/74 preveja que a indenização será devida
independentemente da apuração de culpa, é forçoso convir que a lei não alcança situações em que o acidente
provocado decorre da prática de um ato doloso (como, na hipótese, em que o acidente de trânsito ocorreu em
meio a tentativa de roubo a carro-forte). 5. Recurso especial conhecido e não provido.” (negritamos)
Comentário:
Nesse julgado o STJ firmou o entendimento de que é indevida a indenização relativa
ao seguro DPVAT, no caso em que o acidente de trânsito que vitimou o segurado tenha
ocorrido no momento de prática de ilícito penal doloso.
Apesar de o art. 5º da Lei 6.194/1974 determinar que o pagamento do DPVAT não
depende do aferimento de culpa, o STJ entendeu que caso haja dolo, ou seja, caso a vítima do
acidente esteja agindo em uma prática criminosa, não terá direito à indenização.
Além de julgados esparsos acima, neste tópico, trouxemos também alguns julgados referentes ao campo
do Direito do Consumidor. Resolvemos também abordá-lo no presente capítulo devido a sua grande relevância.
STJ. 3ª Turma. REsp 1786722-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info 673).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO DE DANOS MORAIS. ACIDENTE EM LINHA FÉRREA.
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. ART. 734 DO CC/02. TEORIA DO RISCO
CRIADO. ART. 927, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC/02. CONCRETIZAÇÃO DO RISCO EM DANO. EXCLUDENTES DA
RESPONSABILIDADE. ROMPIMENTO DO NEXO CAUSAL. FORTUITOS INTERNOS. PADRÕES MÍNIMOS DE
QUALIDADE NO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE DE RISCO. FORTUITOS EXTERNOS. INOCORRÊNCIA. FATO DE
TERCEIRO. CAUSA EXCLUSIVA DO DANO. NÃO DEMONSTRAÇÃO. EXONERAÇÃO DA RESPONSABILIDADE.
HIPÓTESE CONCRETA. IMPOSSIBILIDADE. 1. Ação de compensação de danos morais, em virtude de explosão elétrica
no vagão da recorrente durante o transporte entre a Estação de Guaianases e Ferraz de Vasconcelos que gerou
tumulto e pânico entre os passageiros. 2. Recurso especial interposto em: 17/11/2017; conclusos ao gabinete em:
10/12/2018; aplicação do CPC/15. 3. O propósito recursal cinge-se a determinar se, na hipótese concreta, o
evento causador do dano moral sofrido pelo recorrido se enquadra nos riscos inerentes aos serviços de
transporte de passageiros prestados pela recorrente, ou se, alternativamente, se encontra fora desses riscos,
caracterizando um fortuito externo, apto a afastar sua responsabilidade objetiva. 4. Na responsabilidade civil
objetiva, os danos deixam de ser considerados acontecimentos extraordinários, ocorrências inesperadas e atribuíveis
unicamente à fatalidade ou à conduta (necessariamente no mínimo) culposa de alguém, para se tornarem
121
consequências, na medida do possível, previsíveis e até mesmo naturais do exercício de atividades inerentemente
geradoras de perigo, cujos danos demandam, por imperativo de solidariedade e justiça social, a adequada
reparação. 5. Para a responsabilidade objetiva da teoria do risco criado, adotada pelo art. 927, parágrafo
único, do CC/02, o dever de reparar exsurge da materialização do risco - da inerente e inexorável potencialidade
de qualquer atividade lesionar interesses alheios - em um dano; da conversão do perigo genérico e abstrato em
um prejuízo concreto e individual. Assim, o exercício de uma atividade obriga a reparar um dano, não na
medida em que seja culposa (ou dolosa), porém na medida em que tenha sido causal. 6. A exoneração da
responsabilidade objetiva ocorre com o rompimento do nexo causal, sendo que, no fato de terceiro, pouco importa
que o ato tenha sido doloso ou culposo, sendo unicamente indispensável que ele tenha sido a única e exclusiva
causa do evento lesivo, isto é, que se configure como causa absolutamente independente da relação causal
estabelecida entre o dano e o risco do serviço. 7. Ademais, na teoria do risco criado, somente o fortuito externo,
a impossibilidade absoluta - em qualquer contexto abstrato, e não unicamente em uma situação fática específica
- de que o risco inerente à atividade tenha se concretizado no dano, é capaz de romper o nexo de causalidade,
isentando, com isso, aquele que exerce a atividade da obrigação de indenizar. 8. O conceito de fortuito interno
reflete um padrão de comportamento, um standard de atuação, que nada mais representa que a fixação de um
quadrante à luz das condições mínimas esperadas do exercício profissional, que deve ser essencialmente dinâmico,
e dentro dos quais a concretização dos riscos em dano é atribuível àquele que exerce a atividade. 9. Se a conduta
do terceiro, mesmo causadora do evento danoso, coloca-se nos lindes do risco do transportador, se
relacionando, mostrando-se ligada à sua atividade, então não configura fortuito externo, não se excluindo a
responsabilidade. 10. O contrato de transporte de passageiros envolve a chamada cláusula de incolumidade,
segundo a qual o transportador deve empregar todos os expedientes que são próprios da atividade para
preservar a integridade física do passageiro, contra os riscos inerentes ao negócio, durante todo o trajeto, até o
destino final da viagem. Precedente. 11. Na hipótese dos autos, segundo a moldura fática delimitada pelo acórdão
recorrido, o ato de vandalismo não foi a causa única e exclusiva da ocorrência do abalo moral sofrido pelo
autor, pois outros fatores, como o tumulto decorrente da falta de informações sobre a causa, gravidade e
precauções a serem tomadas pelos passageiros diante das explosões elétricas no vagão de trem que os
transportava, aliada à falta de socorro às pessoas que se jogavam às vias férreas, contribuíram para as lesões
reportadas nos presentes autos. 12. Não o suficiente, a incolumidade dos passageiros diante de eventos
inesperados, mas previsíveis, como o rompimento de um cabo elétrico, encontra-se indubitavelmente inserido nos
fortuitos internos da prestação do serviço de transporte, pois o transportador deve possuir protocolos de atuação
para evitar o tumulto, o pânico e a submissão dos passageiros a mais situações de perigo, como ocorreu com o
rompimento dos lacres das portas de segurança dos vagões e o posterior salto às linhas férreas de altura
considerável e entre duas estações de parada. 13. Recurso especial desprovido .” (negritamos)
Comentário:
122
Nesse julgado o STJ discutiu se o vandalismo em um trem que causou explosões elétricas,
tumulto e pânico dos passageiros é abarcado pelos riscos da atividade de transporte ou se ele
caracteriza um fortuito externo. Caso fosse considerada a última hipótese, a responsabilidade
civil objetiva do transportador seria afastada.
No entanto, o STJ entendeu que mesmo sendo o vandalismo praticado por terceiro, o
transportador está obrigado a proteger a integridade física dos passageiros até o local do
destino (cláusula de incolumidade). No caso, a concessionária responsável pelo transporte
deveria ter adotado de maneira mais eficaz os protocolos para evitar o tumulto, socorrer, acalmar
e preservar a saúde dos passageiros. O vandalismo em si foi apenas um dos fatores desse caso
concreto.
Assim, não foi afastada a responsabilidade civil do transportador, que respondeu
objetivamente com base na teoria do risco criado (art. 927, CC).
Cabe ao magistrado analisar cada caso concreto para pondenar se o ocorrido insere-se
em hipótese de fortuito interno ou externo e se o transportador agiu conforme os protocolos
de segurança.
STJ. 4ª Turma. REsp 1611915-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 06/12/2018 (Info 642).
123
o fornecedor de serviços responde, objetivamente, pela reparação dos danos causados ao consumidor, em
razão da incontroversa má-prestação do serviço por ela fornecido, o que ocorreu na hipótese. 4.1. O fato de
terceiro, excludente da responsabilidade do transportador, é aquele imprevisto e que não tem relação com a
atividade de transporte, não sendo o caso dos autos, uma vez que o constrangimento, previsível no deslocamento
coletivo de pessoas, decorreu da própria relação contratual entre os envolvidos e, preponderantemente, da
forma que o serviço foi prestado pela ora recorrente. 5. A indenização por danos morais fixada em quantia
sintonizada aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade não enseja a interposição do recurso especial, dada
a necessidade de exame de elementos de ordem fática, cabendo sua revisão apenas em casos de manifesta
excessividade ou irrisoriedade do montante arbitrado. Incidência da Súmula 7 do STJ. Verba indenizatória mantida
em R$ 15.000,00 (quinze mil reais). 6. Recurso parcialmente conhecido e, nessa extensão, desprovido.” (negritamos)
Comentário:
Companhia aérea é civilmente responsável por não promover condições dignas de
acessibilidade de pessoa cadeirante ao interior da aeronave. A sociedade empresária atuante
no ramo da aviação civil possui a obrigação de providenciar a acessibilidade do cadeirante no
processo de embarque quando indisponível ponte de conexão ao terminal aeroportuário
(“finger”). Se não houver meio adequado (com segurança e dignidade) para o acesso do
cadeirante ao interior da aeronave, isso configura defeito na prestação do serviço, ensejando
reparação por danos morais. Assim, caso a pessoa com deficiência (“cadeirante”) tenha que ser
carregado pelos funcionários da companhia aérea para entrar no avião, este fato configura
defeito na prestação do serviço, gerando indenização por danos morais. A companhia aérea
não se exime do pagamento da indenização alegando que o dever de fornecer o equipamento
para a entrada da pessoa com deficiência na aeronave seria da ANAC. Isso porque a companhia
aérea integra a cadeia de fornecimento, de forma que possui responsabilidade solidária em caso
de fato do serviço, nos termos do art. 14 do CDC. Ademais, tal alegação não se amolda à
excludente de responsabilidade por fato de terceiro (art. 14, § 3º, II, do CDC).
STJ. 3ª Turma.REsp 1431606-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 15/08/2017 (Info 613).
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS E MATERIAIS. ROUBO DE MOTOCICLETA.
EMPREGO DE ARMA DE FOGO. ÁREA EXTERNA DE LANCHONETE. ESTACIONAMENTO GRATUITO. CASO
FORTUITO OU FORÇA MAIOR. FORTUITO EXTERNO. SÚMULA Nº 130/STJ. INAPLICABILIDADE AO CASO. 1.
Ação indenizatória promovida por cliente, vítima do roubo de sua motocicleta no estacionamento externo e gratuito
124
oferecido por lanchonete. 2. Acórdão recorrido que, entendendo aplicável à hipótese a inteligência da Súmula nº
130/STJ, concluiu pela procedência parcial do pedido autoral, condenando a requerida a reparar a vítima do crime
de roubo pelo prejuízo material por ela suportado. 3. A teor do que dispõe a Súmula nº 130/STJ, a empresa
responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículos ocorridos no seu estacionamento. 4. Em
casos de roubo, a jurisprudência desta Corte tem admitido a interpretação extensiva da Súmula nº 130/STJ
para entender configurado o dever de indenizar de estabelecimentos comerciais quando o crime for praticado
no estacionamento de empresas destinadas à exploração econômica direta da referida atividade (hipótese em
que configurado fortuito interno) ou quando esta for explorada de forma indireta por grandes shopping
centers ou redes de hipermercados (hipótese em que o dever de reparar resulta da frustração de legítima
expectativa de segurança do consumidor). 5. No caso, a prática do crime de roubo, com emprego inclusive de
arma de fogo, de cliente de lanchonete fast-food, ocorrido no estacionamento externo e gratuito por ela
oferecido, constitui verdadeira hipótese de caso fortuito (ou motivo de força maior) que afasta do
estabelecimento comercial proprietário da mencionada área o dever de indenizar (art. 393 do Código Civil). 6.
Recurso especial provido”. (negritamos)
Comentário:
Lanchonete não tem o dever de indenizar consumidor vítima de roubo ocorrido no
estacionamento externo e gratuito do estabelecimento.
125
Veja a seguir um quadro com situações similares já enfrentadas pela jurisprudência do
Fornecedor
Situação Explicação
responde?
23 Como o tema está no campo do Direito do Consumidor, optamos por não trazer a ementa de todas as
situações citada no quadro.
126
é previsível na atividade bancária (AgRg nos EDcl no REsp
844186/RS, DJe 29/06/2012).
127
estacionamento ao serviço prestado pelo estabelecimento comercial
do shopping center. (REsp 1269691/PB, DJe 05/03/2014).
STJ. 3ª Turma. REsp 1279173-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/4/2013 (Info
519).
EMENTA: “RECURSOS ESPECIAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE FERROVIÁRIO. MORTE. DANO MORAL.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. PENSÃO POR MORTE DE FILHO COM 17 ANOS. 13º
SALÁRIO. TAXA DE JUROS LEGAIS MORATÓRIOS APÓS O ADVENTO DO NOVO CÓDIGO CIVIL. TAXA SELIC.
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. 1. Ação de indenização por danos materiais e morais movida pela mãe de
adolescente morto em acidente em estação de trem, em razão de falha na prestação de serviço da ré, acarretando
a morte de seu filho, com apenas 17 anos (queda da composição ferroviária, em razão de uma porta que se
encontrava indevidamente aberta). 2. Majoração do valor da indenização por dano moral na linha dos precedentes
desta Corte, considerando as duas etapas que devem ser percorridas para esse arbitramento, para o montante
correspondente a 400 salários mínimos. Método bifásico. 3. Concessão de pensão por morte em favor da mãe
da vítima adolescente, fixada inicialmente em dois terços do salário mínimo, a partir da data do óbito até o
dia em que completaria 65 anos de idade, reduzindo-se para um terço do salário mínimo a partir do momento
em que faria 25 anos de idade. Aplicação da Súmula 491 do STF na linha da jurisprudência do STJ. 4. Fixação da
taxa dos juros legais moratórios, a partir da entrada em vigor do artigo 406 do Código Civil de 2002, com base na
taxa Selic, seguindo os precedentes da Corte Especial do STJ (REsp. 1.102.552/CE e EREsp 267.080/SC, em ambos
o rel. Min. Teori Zavascki). 5. Exclusão da parcela relativa ao 13ª salário por não ter sido demonstrado que a vítima
trabalhava na época do fato. 6. Sucumbência redimensionada, sendo reconhecido o decaimento mínimo da autora.
7. RECURSOS ESPECIAIS PROVIDOS.” (negritamos)
Comentário:
O STJ, nesse julgado, aplicou sua súmula 491: “É indenizável o acidente que cause a morte
de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado”.
De acordo com o STJ, os valores da pensão mensal indenizatória devida aos pais pela
morte do filho menor deve ser fixada em valor equivalente a 2/3 do salário mínimo, dos 14
128
até os 25 anos de idade da vítima. Depois, será reduzido para 1/3 até a data em que o de
cujus completaria 65 anos.
129
MAPA MENTAL
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2018.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos – 10. ed. – São
Paulo: Atlas, 2010.
FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil - Volume Único - 2. ed. atual. e ampl. - Salvador: JusPodivm,
2018.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral das Obrigações - 14. ed. - São Paulo: Saraiva,
2017.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. VADE MECUM DE JURISPRUDÊNCIA DIZER O DIREITO. Salvador: Juspodvim,
2017
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